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Um

Como minha vida se transformou


assim tão rápido, ontem eu era uma
jovem universitária e hoje estou
arrumando minhas malas, vou me mudar
para uma cidade grande e desconhecida.
Vou dormir no meu quarto pela última
vez, quero aproveitar cada minuto. Faz
uma semana que me formei em
jornalismo, estou com meu diploma em
mãos e agora nem sei o que fazer com
ele. Procurava um estágio na tela do meu
computador, e pra minha surpresa uma
vaga me chamou a atenção. Não penso
duas vezes em me candidatar, claro que
não tenho nenhuma pretensão, milhares
de estagiárias com certeza já teriam se
candidatado.
- Emily! - minha mãe gritava da base da
escada, com certeza estava irritada, só
me chama de Emily quando alguma
coisa a incomodava.
- Oi mãe? Estou descendo
- Você já arrumou suas coisas? Seu pai
já está pronto para te levar para casa da
Sabrine - minha mãe é tão desesperada!
- Sim mãe, já está tudo pronto, mas a Sá
só vai estar em casa à noite, então não
precisamos ter pressa - minha mãe pensa
que ainda sou uma criança, ela se
esquece de que já completei 21 anos.
Eu sei por que ela está com os
nervos em frangalhos, nós nunca nos
separamos, sou filha única e somos
muito amigas, minha mãe é jovem, tem
41 anos, eu até acho ela bem mais bonita
que eu, todos acham que somos irmãs,
tem o cabelo longo e preto, baixinha e
por incrível que pareça não tem uma
ruga naquela pele de pêssego. Eu pelo
contrário sou alta, meu cabelo é na
altura dos ombros, preto azulado,
diferente da minha mãe, sou branca
como um papel. Minha mãe diz que a
melhor parte de mim, são meus olhos
expressivos. Eu digo que tenho os olhos
grandes.
Nunca me considerei uma mulher
bonita, me acho um pouco atrapalhada,
estabanada, ao menos sou muito
inteligente, isso deve compensar minha
falta de elegância.
Minhas malas estão prontas, meus
livros estão em uma caixa, encaixotei
tudo o que pude. Meu quarto ficou vazio,
um aperto no meu peito me pegou de
surpresa, minha vida está mudando,
estou saindo da casa dos meus pais e
vou viver por conta própria. Sabrine me
arrumou um emprego em uma cafeteria,
até eu conseguir alguma coisa na minha
área. Começo na segunda-feira estou tão
ansiosa, tão nervosa, que parece que vou
para outro planeta.
Coloquei a mochila nas costas, fechei
a porta do meu quarto e desci as
escadas, uma etapa da minha vida foi
concluída. Meu pai colocou minhas
malas e caixas na caminhonete e me
aguarda atrás do volante, minha mãe está
parada na porta com os olhos marejados
os braços cruzados, parece sentir frio.
- Mãe! Eu não vou para marte, são três
horas de carro até a casa da Sá, vocês
podem me visitar sempre, eu também
posso vir nos finais de semana.
- Eu sei filha - Ela me puxa para um
abraço e eu sinto suas lágrimas em meus
ombros
Meu pai começa buzinar
freneticamente chamando nossa atenção,
eu me solto do abraço da minha mãe
com certa dificuldade, quando será que
minha mãe me verá como uma adulta,
acho que nunca.
A viagem até a casa da Sabrine foi
tranquila, fomos ouvindo música e meu
pai foi pontuando tudo que eu poderia ou
não fazer. Alguns tópicos até achei
engraçado, veja só, ele disse que eu só
poderia transar depois do casamento.
Claro que não sou mais virgem, eu e
Jonas meu namorado da adolescência
tivemos nossa primeira vez ainda no
ensino médio, eu pensei que casaria com
ele, ele é tudo que uma garota quer,
lindo, louro, atlético e popular. Mas as
coisas foram esfriando entre nós até que
terminamos, hoje somos bons amigos.
Ele também é jornalista e já está situado
na vida, trabalha numa grande empresa
de mídia digital.
Chegamos ao apartamento, e Sabrine
pareceu enlouquecer quando me viu,
parecia que não me via há 200 anos,
meu pai entrou no apartamento, olhando
cada canto, eu o conheço muito bem, ele
quer saber em que tipo de ambiente vou
ficar. E para sua surpresa o apartamento
da Sá, não poderia ser mais chique, na
verdade o apartamento é dos pais dela,
só que a mãe resolveu passar uma
temporada na Itália, onde o marido tem
negócios. E a Sá não pensou duas vezes
em me chamar para morar com ela e eu
não pensei duas vezes em aceitar.
Eu conheci Sabrine há uns cinco anos
quando fui fazer um intercâmbio no
Canadá, pensei que ficaria isolada sem
conhecer ninguém, num país estranho,
onde ninguém falava minha língua, e
fiquei bem feliz quando entrei na sala do
cursinho, e lá estava ela, falando ao
celular em português, parecia uma
boneca, com o cabelo curtinho e o rosto
delicado. Brasileira? Perguntei, ela
sorriu com aquela boca vermelho
escarlate e disse: sim de São Paulo, e
ali conheci minha melhor amiga.
- Senhor Pedro não quer um café? -
Sabrine ofereceu ao meu pai.
- Quero sim filha, obrigado - Sabrine
desapareceu na cozinha e eu fiquei
sentada ao lado do meu pai, ouvindo o
restante das recomendações.
Tomamos café e conversamos muito
até meu pai se despedir, levei meu pai
até a portaria e o abracei muito forte.
- Se cuida filha, eu te amo!
- Eu também pai.
Votei ao apartamento e começamos a
desfazer as malas, estou muito animada
em começar uma nova vida, quero que
tudo dê certo, é como um sonho
realizado. Passamos o final de semana
colocando a conversa em dia, Sabrine
trabalha como estagiária num escritório
de um advogado amigo de seu pai, Sá eu
temos a mesma idade. No domingo
fomos à cafeteria em que eu começaria a
trabalhar, fomos de metrô para eu
aprender o caminho, quando fui acertar
os detalhes da minha contratação Sá
havia me levado de carro.
Na segunda-feira acordei cedo,
começaria no trabalho às 10h, preparei
o café e quando Sabrine acordou o café
da manhã já estava na mesa, ela estava
uma perfeita advogada, com aquele
terninho elegante. Eu estava de calça
jeans e camisa, de qualquer forma iria
colocar um avental por cima da minha
roupa, então não era necessário nada tão
requintado.
Aproveitei a carona de Sabrine até a
estação de metrô, e de lá segui meu
caminho, estava nervosa para cacete, só
esperava não derrubar uma xícara de
café quente no meu primeiro cliente.
- Boa sorte Emi - Sabrine tocou o meu
braço
- Obrigada! - eu vou precisar.
Cheguei faltando 20 minutos para
começar o expediente, fui apresentada a
equipe que me recebeu com simpatia,
coloquei meu avental preto, prendi meu
cabelo em um rabo de cavalo e estava
pronta para começar, tive um pequeno
treinamento de como usar a máquina de
café e servir bolinhos, não tive grandes
dificuldades. Muitos clientes entravam e
saíam e praticamente pediam as mesmas
coisas, e saíam apressados para seus
trabalhos e assim seguiu o restante do
dia. Minhas pernas estavam cansadas de
tanto ficar em pé, mas não reclamei eu
precisava daquele emprego.
Após o final do expediente só queria
cama e fui direto pra casa, o metrô
estava lotado, quase não consegui
respirar, na minha cidade os trens e
metrôs são vazios, circulam com meia
dúzia de pessoas, eu realmente
precisava me acostumar.
Cheguei em casa exausta, os pés
estavam calejados, as costas doíam
parecia que eu tinha corrido uma
maratona. Sabrine já estava em casa de
banho tomado esparramada no sofá
assistindo alguma coisa na TV. Peguei
meu notebook e me juntei a ela. Abri
meus e-mails e não acreditei no que eu
vi, eu tinha uma entrevista de emprego.
- Sá, você não vai acreditar.
- O que garota, fala logo! Tá me
assustando com essa cara de espanto
- Eu me candidatei a uma vaga de
estágio, e fui selecionada para uma
entrevista.
- Isso é ótimo! Qual empresa? - Sabrine
ficou empolgada
- Maximus Jornalismo Empresarial - a
boca de Sabrine se escancarou
- O que foi? - quis saber
- Emily essa empresa é a top em se
tratando de jornalismo! - agora foi a
minha boca que se abriu
- Não brinca!
- Precisamos te preparar pra essa
entrevista, esse emprego tem que ser
seu! - fiquei feliz com o entusiasmo da
minha amiga
- É uma vaga, e deve ter 200 pessoas
fazendo entrevista - falei derrotada.
- Não interessa! Essa vaga tem que ser
sua.

Eu não poderia acreditar que em


menos de 72h na cidade grande eu
estava indo para minha primeira
entrevista de emprego. Peguei uns dos
terninhos emprestados do guarda-roupa
da Sabrine, fiz um coque no cabelo e
estava pronta. Ok! Talvez pronta seja um
pouco demais, eu estava em pânico.
Cheguei ao enorme arranha-céu,
minha nossa nunca vi nada tão incrível,
parecia mais um hotel cinco estrelas,
parei na portaria, porta duplas
espelhadas, onde um segurança todo de
preto pediu para que eu me apresentasse
na recepção. Eu fiquei tão boquiaberta,
que não prestei atenção nos dois degraus
a minha frente, segundos depois estava
sendo ajudada por um homem elegante
de terno risca de giz. Senti meu rosto
pegando fogo, quando ele me ofereceu a
mão, eu levantei. Ele gentilmente pegou
minha pasta que estava aberta e os
papéis espalhados pelo chão e me
entregou.
- Obrigada - falei limpando os joelhos,
ele não me respondeu, apenas meneou a
cabeça.
Senti-me a pior das idiotas, fui até a
recepcionista, que era bonita demais e
elegante demais para o meu gosto, a
maquiagem bem feita, os cabelos presos
em um coque parecido com o meu. Ela
me entregou um crachá me orientando a
seguir até o 15° andar. Apertei o botão
do elevador e fiquei aguardando
impaciente, as portas se abriram eu
entrei. Pareceram horas até aquele
elevador panorâmico chegar ao andar
desejado.
Ao chegar no 15° andar às portas se
abriram e dei de cara com uma segunda
recepcionista atrás de um balcão, tão
bonita quanto a primeira e tão maquiada
quanto, me aproximei remexendo minha
pasta.
- Eu tenho uma entrevista - me
direcionei a ela
- Ah claro! Por favor, aguarde com as
demais candidatas na sala 203 - ela
apontou uma sala a esquerda.
Ao chegar em frente à porta respirei
antes de abri-la, e para minha surpresa
apenas duas candidatas aguardavam,
fiquei ali retorcendo os dedos,
aguardando a minha vez de ser
entrevistada, quando a recepcionista
levou uma das garotas. Uma loira alta de
cabelos compridos que desciam soltos
até o meio da cintura. Dez minutos
depois, a recepcionista levou a morena
de olhos verdes e cabelos Chanel.
Fiquei sozinha naquela enorme sala
gelada, levantei-me e fui até a enorme
janela de vidro, a vista era incrível,
visualizava prédios enormes, e uma rua
larga e barulhenta.
- É a sua vez - levei um susto com a
recepcionista me aguardando com a
porta aberta
- Ah claro! Obrigada!
A recepcionista andava em seu
enorme salto 15 em sua roupa elegante
rebolando, parecia estar em uma
passarela, abriu outra porta pra mim,
onde uma mulher de meia idade me
aguardava.
- Sente-se, eu sou Marília gerente do RH
- ela disse, eu me sentei um tanto
desajeitada.
- Obrigada - cruzei as mãos no colo em
cima da pasta para que parassem de
tremer
- Currículo - ela me olhava por trás dos
óculos de grau.
Comecei a revirar minha pasta em
busca do meu currículo, porque eu
trouxe tantos papéis, ela me olhava
impaciente, tamborilando os dedos na
mesa. Meu rosto estava pegando fogo e
meus dedos tremiam, por fim achei o
bendito currículo que entreguei a ela as
pressas. A mulher carrancuda começou a
analisar. Recém-formada, 21 anos, fala
inglês fluente, ótimo. Ela falava consigo
mesma, parecia que eu nem estava
naquela sala.
- Emily, certo? - não que tivesse me
deixado responder - Me fale dos seus
objetivos e porque escolheu essa
empresa, e porque devemos te contratar?
Eu odiava entrevistas de emprego,
parece que nada que a gente fala é
suficientemente bom, eu pensei por um
momento antes de responder, ela me
olhava novamente com ar impaciente
como quem dizia, "não tenho o dia
inteiro". Para ser sincera eu não treinei
respostas para essas perguntas, achei
que seriam perguntas mais elaboradas, e
acho que me ferrei.
- Bem, meu objetivo é ter uma carreira
de sucesso, investir em mim para
futuramente ajudar a empresa de alguma
forma, vocês deveriam me contratar
porque eu tenho sede de aprender e
quero contribuir oferecendo minha
garra, eu escolhi essa empresa porque
me identifico com o tipo de jornalismo
que ela faz.
A mulher de cabelos grisalhos atrás
da mesa me analisava como se eu fosse
um animal exótico em um zoológico, eu
devo ter falado muita besteira, porque
ela escreve alguma coisa em um papel e
grampeia ao meu currículo.
- Ok - só isso? Com certeza eu já estou
descartada
- Obrigada mais uma vez e...
- Você tem mais uma entrevista com o
gestor da área, bem ele é bem mais que
gestor, é o CEO da empresa, claro que
ele não precisa fazer isso, mas faz
questão de conhecer todos os
funcionários, antes de contrata-lo - Será
que eu vou ser contratada?
Minha empolgação se fez parecer,
mas também meu nervosismo. Nunca em
toda minha vida falei com um CEO,
achava que eles eram inacessíveis, e
agora ele quer entrevistar uma simples
estagiária.
- Venha comigo - Marília me fez cruzar
um corredor imenso, pode parecer
estranho ou coincidência, todas as
mulheres que me deparei nessa empresa
usam o cabelo em um coque elegante,
será que era norma?
Eu fiquei aguardando em um pequeno
saguão em quanto ela entrava em uma
sala. Peguei um espelho dentro da bolsa
e dei uma boa olhada no meu reflexo,
ainda continuava com a maquiagem
perfeita e o cabelo imaculado. Guardei
rapidamente na bolsa quando Marília me
mandou entrar na sala.
- O senhor Enrico está aguardando - Ele
deve ser um velho de uns 100 anos
- Ok, muito obrigada.
Eu entrei e fiquei parada na porta,
visualizei um homem de terno elegante
em pé em frente a enorme janela de
vidro, estava com as mãos nos bolsos
olhando alguma coisa através da
vidraça. Tive que pigarrear para ser
notada. Foi quando ele se virou e eu
pude perceber ele não tinha 100 anos,
ele tinha no máximo 30, usava uma
barba bem feita, a pele era branca e os
olhos, aqueles olhos, aquilo sim era
expressivo. O homem era tão alto que eu
demorei alguns minutos para analisar
todo seu belo corpo em forma, eu tive
impressão de que conhecia aquele
homem de algum lugar, e não precisou
puxar muito pela memória para lembrar,
foi o cara que me ajudou a levantar na
entrada do prédio.
Eu deveria estar com a cara de tola,
porque o homem a minha frente me
analisava com as mãos no queixo, ele
estava andando lentamente até mim, eu
não conseguia respirar direito, minhas
pernas e mãos não obedeciam, eu
derrubei minha pasta novamente no chão
espalhando papel por toda aquela sala
grandiosa, e mais uma vez eu estava de
joelhos na frente daquele homem lindo.
Dois
Comecei a recolher meus papéis,
minhas mãos tremiam muito e "ele" se
juntou a mim, pegando meu currículo do
chão. Numa fração de segundos a mão
dele tocou a minha e minha pele pareceu
queimar. Tenho certeza que estou rubra,
pois meu rosto queima sem parar, estou
morrendo de vergonha, ele me ajudou a
me levantar oferecendo-me sua mão.
Juntei o pouco de dignidade que tinha
e o cumprimentei com um sorriso, que é
claro ele não retribuiu, apenas deu a
volta pela mesa e se sentou. Fez um
gesto para que eu me sentasse também, e
foi o que fiz, antes que meus joelhos
fraquejassem. Os olhos dele não
encontraram os meus nem por um
segundo, ele analisava meu currículo e
por fim falou.
- Me fale um pouco de você? - ele
colocou a mão no queixo e começou a
me analisar, espero não falar nenhuma
bobagem, minha boca estava seca, e
pensei por um minuto, parecia que havia
esquecido quem eu era.
- Tenho 21 anos, sou recém-formada,
atualmente estou morando com uma
amiga e... - ele não esperou que eu
terminasse e já passou para próxima
pergunta. Que espécie de entrevistador é
esse que não me deixa concluir minhas
respostas.
- O que faz no seu tempo livre? - o que
importa o que eu faço no meu tempo
livre? Que raio de pergunta é essa?
- Gosto de ler, assistir filmes, saio de
vez em quando com amigas, nada em
especial - ele pareceu mais interessado,
uma de suas sobrancelhas se curvaram.
- Como você lidaria com a pressão no
trabalho? - Eu nunca trabalhei sobre
pressão, na verdade nunca trabalhei de
verdade, então tive que improvisar.
- Procuraria me manter calma e
concentrada, para desenvolver um bom
trabalho e... - mais uma vez ele me
interrompeu, acho que devo ter falado
asneiras. Com certeza ele quer encerrar
logo essa entrevista, ele deve ter coisas
mais importantes a fazer.
- Qual seu diferencial? E porque você
deve ser contratada? - como eu odeio
entrevistas odeio ser avaliada de todas
as formas. Com certeza esse homem está
me avaliando, agora está com o olhar
atento, os olhos dele tem um brilho
diferente, me deixa vidrada. Respondo a
pergunta que nem me dou conta. Nem sei
que maluquice falei, foi como se eu
tivesse sido hipnotizada.
- Ok, você começa na segunda-feira,
esse será seu salário - ele me empurrou
um papel rabiscado com um valor,
melhor do que eu imaginei para uma
simples estagiária, ele se levantou
seguindo em direção à porta e eu fiquei
feito uma babaca sentada na mesma
posição, no mínimo com a cara de
idiota, foi quando ouvi falar.
- Senhorita Emily por hoje é só -
levantei com tudo da cadeira,
tropeçando na mesa e derrubando um
porta lápis, olhei sem graça e achei ter
visto um sorriso naquela boca perfeita.
- A claro obrigada, foi um prazer
senhor...
- Enrico, eu me chamo Enrico - tenho
certeza que jamais vou esquecer.
Saí daquele arranha-céu tão
deslumbrada que sorria sem parar,
primeiro porque não acreditava que
estava empregada, tive muita sorte, só
precisei trabalhar um dia na cafeteria, já
começaria com o pé direito, na minha
área. Na segunda-feira levaria os
documentos e assinaria o contrato. O
meu sorriso também se devia a eu ter
conhecido um homem tão interessante,
na verdade nunca havia visto um homem
tão bonito. Claro que aquela delicia toda
jamais olharia pra mim. Sonhar ainda é
de graça.
Chegando em casa caí de costas no
sofá, chutando os meus sapatos longe, a
Sá estava trabalhando então aproveitei
para descansar um pouquinho, no mesmo
instante levantei em um pulo e resolvi
pesquisar o meu mais novo empregador.
Corri no quarto e peguei meu notebook,
digitei o nome Enrico Maximus, que
nome mais sugestivo. A primeira página
que abriu tinha uma manchete em
destaque:

O jovem empresário Enrico Maximus,


apoia causas humanitárias.
O empresário e filantropo Enrico
Maximus de 30 anos dedica parte de seu
tempo a causas das mais variadas, como
combate contra a fome e proteção ao
meio ambiente.
Quer dizer que além de lindo é bem
feitor, ele pousava na foto com uma
mulher lindíssima que mais parecia uma
deusa grega. Deveria ser uma modelo da
Victoria Secrets ou algo do tipo, os
dentes eram tão brancos que deveria
cegar qualquer um que olhasse para ela.
O corpo era perfeito cheio de curvas, os
cabelos nem se fala. Os dois pareciam o
casal perfeito. Fechei o notebook e me
deitei novamente no sofá, em algum
momento peguei no sono, só despertei
quando Sabrine abriu a porta.
- Boa noite! - Sabrine falou animada,
jogando a chave na bancada.
- Boa noite - respondi sonolenta
- E aí me conta as novidades? - ela
colocou os pés em cima da mesa de
centro
Eu comecei o desenrolar da minha
história e Sabrine aos poucos foi
escancarando a boca, parecia não
acreditar que eu estava empregada assim
tão depressa, ficou bem interessada
quando falei dos atributos do meu chefe,
que ela sem dúvida já ouvira falar, mas
que sempre achou aquela beleza toda
surreal.
- Aquele homem nem parece de verdade
- ela falou dando de ombros
- Pois te asseguro que ele é de verdade,
um pouco intimidador eu confesso - um
suspiro me escapou e Sabrine riu.
- Ok ele é muito gato, quem sabe um dia
você terá uma chance com ele - ela
abafou um sorriso.
- Só se for nos meus sonhos - eu joguei
uma almofada nela que se esquivou.
Tenho o restante da semana antes de
começar a trabalhar, vou conseguir
colocar minhas coisas no lugar,
desempacotar o restante dos meus
objetos, colocar meus livros na estante
que a Sá colocou no quarto, eu sempre
amei ler, e não suportaria deixar minhas
preciosidades pra trás. Liguei para
minha mãe e contei que estava
empregada, ela falava sem parar, e dizia
que estava morrendo de saudades, não
fazia nem uma semana que ela havia me
visto. Minha mãe sempre exagerada. Eu
amo minha mãe por isso, a ligação foi
encerrada, dei boa noite para Sabrine e
fui para o quarto tentar descansar e
tentar assimilar todos os acontecimentos
do dia.
Naquela noite, demorei pegar no sono
virava de um lado para outro, ansiosa,
nervosa, não sabia o que estava
acontecendo comigo, não conseguia tirar
aquela imagem da minha cabeça, Enrico
aquele homem que olhava através da
vidraça, parecia ser o dono do mundo. E
os olhos, o que tinha naqueles olhos que
me enfeitiçavam. Nem consigo me
lembrar da última resposta que dei a ele
na minha entrevista. Nunca me senti tão
vulnerável, de alguma forma eu me sinto
ligada a ele, sei que estou sendo uma
garota estúpida, mas é assim que eu me
sinto. Não vai ser nada fácil estar no
mesmo ambiente que ele, espero não
protagonizar mais nenhuma cena
vergonhosa.
Três
A semana passou como o piscar dos
meus olhos, já estava completamente
instalada no apartamento de Sabrine,
precisei comprar roupas novas para
começar no trabalho, afinal não queria
fazer feio, as roupas que eu havia
trazido eram muito simples, e não
combinava nada com o ambiente em que
eu iria trabalhar.
Sabrine me ajudou como sempre, devo
confessar que o gosto dela é mais
refinado que o meu, na verdade, meu
gosto não é nada requintado, para mim,
andar de calça jeans e All Star já está de
bom tamanho. Mas como poderia
trabalhar numa empresa daquelas com
essas roupas? Fora de cogitação. Não
que me importe com isso.
No domingo fomos à cafeteria acertar
as minhas contas do único dia
trabalhado, todos ficaram contentes por
mim, me parabenizando. No final da
tarde fomos assistir a um filme para
descontrair, precisava relaxar, eu
transmitia tranquilidade, mas por dentro
estava uma pilha. Sá queria um filme de
terror e eu uma comédia, então
resolvemos tirar no par ou ímpar, que
por sorte eu ganhei.
- Não é justo! - Sabrine fazia biquinho
- Claro que é justo - eu digo - Foi um
jogo limpo!
- Está pronta para seu primeiro dia de
trabalho? - Ela falava arqueando a
sobrancelha perfeita
- Sem dúvida! Vai ser moleza! - Menti
- Te dou uma carona, e vai com o seu
terninho novo risca de giz, afinal você
tem que parecer uma jornalista de
verdade. - Sinceramente, eu não acredito
que já me formei. Que sim, eu sou uma
jornalista, (ainda não de verdade!).
- Ok! Pode deixar, seu pedido é uma
ordem - falei me aconchegando mais no
sofá.
Terminamos nosso filme e rimos
muito com as caras e bocas de Jim
Carrey, a minha tentativa de me distrair
foi frustrada, uma parte de mim estava
focada no filme, mas a outra estava no
meu primeiro dia de trabalho, nunca
pensei que ficaria tão nervosa, achei que
ficaria empolgada, contando as horas
pra começar, querendo colocar em
prática o que aprendi na faculdade, mas
não foi nada disso, o frio na barriga me
dominava, percebi que seria difícil
pegar no sono e foi isso mesmo que
aconteceu.
Naquela noite demorei mais que o
normal para dormir. Peguei um livro
para me distrair, mas não conseguia me
concentrar em nenhuma palavra se quer,
por fim desisti, virava de um lado para
outro na cama e o sono não vinha, a
última vez que olhei no relógio eram
03h da manhã.
Acordei com o corpo dolorido os
olhos pesados, olhei no relógio 07h da
manhã, tinha menos de meia hora para
tomar banho, me arrumar e correr para o
trabalho, eu não quero chegar atrasada
no meu primeiro dia. Corri para o
chuveiro e me deparei com a Sabrine
toda elegante em seu terninho de
advogada.
- Ainda não está pronta? - Ela apontou
para minha camisola
- Demorei pra dormir e quase perdi a
hora - ela olhou no relógio
- Tá tá tá, vai logo tomar banho, vamos
sair em 20 minutos - corri e bati a porta
do banheiro.
Meu banho não demorou mais que 10
minutos, saí enrolada numa toalha
correndo para o quarto, ainda bem que
tinha lavado meu cabelo no dia anterior,
abri a porta do armário e peguei meu
terninho risca de giz, me troquei o mais
rápido que pude, fiz um coque frouxo no
cabelo e fiz uma maquiagem simples,
passei perfume coloquei meu scarpim e
saí correndo para sala levando a bolsa
que estava pendurada na porta.
Sabrine estava a minha espera sentada
no sofá com uma caneca de café nas
mãos, ela me olhava despreocupada,
enquanto eu estava uma pilha.
- Pronta? - ela perguntou se levantando
do sofá
- Como eu estou? - dei uma volta para
ela visualizar meu look
- Uma perfeita jornalista - ela deixou a
caneca na mesa de centro e bateu palmas
- Então vamos, não quero chegar
atrasada no meu primeiro dia – falei.
- Estou tão empolgada - Sá falou
pegando a chave do carro.
- Espere aí, é meu primeiro dia ou o
seu? - Nós duas rimos sem parar
Descemos até a garagem e Sabrine
apertou o alarme do seu carro, ela tem
um SUV lindíssimo, ganhou em seu
aniversário de 21 anos, dos pais, ela é
uma típica patricinha rica, não há nada
que ela não queira que os pais não
estejam prontos para lhe dar. O trânsito
estava uma loucura, na minha cidade não
tem nada disso, os carros fluem
naturalmente, não tem essa loucura de
gente buzinando, motoqueiros se
espremendo em meios aos carros, é tudo
tão calmo e tão tranquilo, fora que todos
os motorista se cumprimentam. Claro
todo mundo se conhece naquela cidade.
Apesar do trânsito chegamos ao meu
mais novo local de trabalho, 15 minutos
antes de o expediente começar, Sabrine
parou em frente ao enorme arranha-céu,
e eu suspirei.
- Pronta - Sá apertou a minha mão
- Sim!
- Boa sorte amiga
- Obrigada Sá, acho que vou precisar.
Me despedi de Sabrine e saí do carro
entrando no prédio, fiquei parada na
porta do elevador enquanto aguardava a
sua chegada. Pareceram horas até eu
ouvir o plim da sua parada e entrei, as
portas estavam se fechando, quando
alguém chegou correndo e eu
gentilmente segurei as portas. Era ele,
me chefe, Enrico Maximus, ele estava
usando um terno preto, que caía em seu
corpo perfeitamente bem, sem dúvida
era um terno sob medida. Os cabelos
estavam molhados, penteado para trás,
seu perfume inundou o pequeno
ambiente, ele se encostou ao lado oposto
ao meu, foi aí que ele notou minha
presença.
Ele olhou para mim, seu olhar
percorreu todo meu corpo, o que fez meu
coração gelar, os pelos do meu braço se
arrepiarem, meu olhar se prendeu ao
dele, não conseguia desviar, estava
enfeitiçada, até que eu ouvi o som da sua
voz, o que me trouxe de volta ao meu
lugar de origem.
- Bom dia Senhorita Emily - sua voz
grave fez meu coração disparar
- Bo... Bom dia - eu tinha que gaguejar!
Subimos até nosso andar em silêncio,
eu sentia seus olhos presos em mim, e
minha pele formigava, pareceram horas
até eu conseguir respirar de novo, foi
quando as portas do elevador se
abriram. Ele esperou que eu saísse e
seguiu meus passos. Não sabia ao certo
o que acontecia comigo, quando estava
na presença daquele homem. Ficava
tímida e retraída, nunca fui nada disso,
ficava vermelha sem motivos, era o
efeito dele sobre mim.
Chegamos até a recepcionista que
parecia me aguardar, me acompanhou
até o RH onde finalizei os trâmites do
contrato. Teria um contrato de um ano, e
se eu me saísse bem, poderia passar de
estagiária a efetiva.
Não sabia se conseguiria durar tanto
tempo, mas aqui estou eu, uma mesa
pequena e sem muitos atrativos me
esperava, apenas um computador um
telefone e um bloquinho de notas. Sara a
ex-estagiária, ficaria comigo três dias
me ensinando tudo que fosse preciso.
- Sente-se aqui - ela falou com um
sorriso amistoso
- Obrigada - falei sentando-me na
cadeira confortável
Eu ficaria cuidando da parte de filtrar
e-mails, responderiam os de
propaganda, e pedidos de emprego, que
por sinal eram muitos, e passaria os dos
clientes top para meu chefe Sr. Enrico.
Parecia moleza, cuidaria também da
parte de marketing, mas isso seria mais
para o futuro. Não era isso que eu tinha
em mente, pensei que teria uma coluna
ou algo do tipo, ficar só respondendo e-
mails, não parecia um trabalho muito
empolgante.
- Eu sei que você é formada em
jornalismo, e que esse trabalho não
parece assim... Uau que maravilha! Mas
é um começo - Sara pareceu ler meus
pensamentos
- Foi o que pensei - disse sem ânimo
- Eu comecei respondendo e-mails, e
olha só pra mim, hoje posso dizer que
sou uma jornalista de verdade, vou ter
uma coluna e vou fazer trabalho de
campo - ela estava feliz com sua nova
ocupação, tinha um brilho nos olhos.
- Isso é ótimo, espero que aconteça o
mesmo comigo - vai acontecer - ela
disse.
Não tinha muito que aprender,
responder e-mails não era tão difícil
assim, e Sara parecia entediada, ela não
era muito mais velha que eu, tinha um
cabelo encaracolado avermelhado, a
pele cheia de sardas, que a deixava
muito charmosa. Olhei para ela, não
prestava atenção em nada que eu estava
fazendo, então segui seu olhar, os olhos
estavam vidrados e a boca escancarada,
olhava para Enrico que passava no
corredor falando ao celular.
- Está tudo bem aí? - falei cutucando seu
ombro
- Ah desculpa, o que foi que você disse?
- ela voltou do seu devaneio
- Você estava babando no Sr. Enrico -
ela ficou sem graça
- É... Um pouco, faz mais de um ano que
estou aqui, e ainda não consigo me
acostumar com tanta beleza - ela
suspirou - Quer dizer que você não
achou ele bonito?
- Bonito? Você está sendo modesta, eu
nunca vi um homem tão lindo, nem
parece real.
- Parece que ninguém é boa o suficiente
para ele, ele está sempre sozinho, só tira
fotos com modelos porque elas grudam
nele.
- É mesmo? - aquilo me interessou
- Dizem que ele é gay, mas eu não
acredito, ele só não me descobriu ainda
- ela passou a mão nos cabelos fazendo
pose.
- Deve ser isso então - coloquei a mão
na boca e abafei uma risada
A parte da manhã passou que nem
percebemos, Sara me falou tudo a
respeito de Enrico, tudo a respeito da
Maximus. Fomos almoçar num
restaurante ali pertinho, comida caseira,
continuamos nosso bate papo. Ela me
contou que tinha 25 anos, ainda morava
com os pais, estava trabalhando na
empresa há dois anos, um ano como
recepcionista e um ano com como
estagiária. Eu falei um pouco sobre mim,
que era do interior e que estava morando
com uma amiga, deixei de fora a parte
de que fiquei atraída por Enrico desde o
primeiro momento em que coloquei os
olhos nele.
Nosso horário de almoço terminou e
voltamos vagarosamente para empresa,
ela me explicou que na parte da tarde eu
seria uma espécie de secretaria de
Enrico, fazendo anotações, confirmando
ou recusando convites para eventos.
Meu estômago se revirou, eu ficaria
sozinha na sala com aquele homem,
sentindo aquele perfume e me perdendo
naquele olhar hipnotizante.
- Eu vou estar com você na sala, para te
auxiliar - Sara tirou um peso dos meus
ombros.
- Ainda bem - suspirei aliviada
Começava a chover e corremos em
direção ao enorme prédio de portas
duplas, mas não conseguimos chegar
antes que a chuva nos pegasse, meu
cabelo estava pingando, e minha blusa
branca estava transparente. O vestido
tubinho de Sara grudou ainda mais em
seu corpo.
Pegamos o elevador e seguimos até
nosso andar, passamos no toalete para
dar uma melhorada no visual, se é que
era possível, meus cabelos estavam um
desastre, e minhas roupas uma tragédia,
como chegaria até o final do expediente
nessas condições. Passei os dedos nos
cabelos, na esperança de doma-los,
escovei os dentes e passei batom, deu
uma disfarçada. Sara fez o mesmo, e
fomos para a segunda etapa do dia.
Passei na minha mesa e peguei a
agenda e uma caneta, se a segunda parte
do dia era ser secretária então vamos lá,
eu segui Sara até a enorme sala, ela
bateu na porta com leveza e abriu
somente o suficiente para que ele a
visse. Ele estava sentado atrás de sua
mesa enorme falando ao celular, ele
levantou o olhar e fez um sinal para que
entrássemos, ficamos em pé até que ele
terminasse a ligação.
- Sara, temos muito que fazer hoje - a
voz dele era música para meus ouvidos.
- Eu trouxe a Emily para acompanhar -
ela apontou par mim
- Pode deixar que dou suporte a ela -
engoli em seco
- Mas... - Sara tentou argumentar, ele
interrompeu.
- Pode ir Sara - ele se levantou e a
acompanhou até a porta
Ela saiu nos deixando sozinhos
naquela sala imensa, eu estava
tremendo, não sabia se era de frio por
ainda estar molhada da chuva, ou se era
por estar na presença daquele homem
intimidador. Ele fechou a porta e voltou
a me observar.
- O que houve com você? Está toda
molhada - ele falou com os olhos nos
meus
- A chuva - passei as mãos nos cabelos
Ele se afastou de mim e entrou em
uma porta no fundo da sala, voltou com
uma toalha nas mãos, eu fiquei surpresa.
Porque ele estava se importando
comigo? Ele se aproximou de mim com
aquela toalha, e pra minha surpresa ele
não me entregou, ele secou os meus
cabelos delicadamente, senti meu
coração acelerar. Eu estava no mesmo
lugar, encostada na porta, menos de 30
centímetros nos separava, ele secava
meus cabelos e meu rosto, prendi a
respiração. Sua mão tocou meu braço,
era fria e os olhos que eu tinha certeza
ter visto castanho, agora estavam
dourados.
Ele falou em meu ouvido, mas não
pude entender, não era uma língua que eu
conhecia, era bela e sensual, fechei os
olhos por um minuto, e quando abri ele
estava sentado em sua cadeira com
minha agenda nas mãos.
Quatro
Eu estava encostada na porta com a
respiração irregular, eu deveria estar
com a cara de idiota, tentei me controlar,
andei a passos curtos até ele, estava com
medo de minhas pernas me traírem. Ele
tamborilava os dedos em minha agenda,
pareceu querer chamar minha atenção.
- Podemos começar senhorita Emily?
- Clã... Claro – a intenção de me manter
calma foi por água abaixo.
- Creio que a senhorita já foi informada
sobre o procedimento da nossa reunião
de final de tarde – ele fazia anotações,
não olhava pra mim.
- Si... Sim – eu continuava gaguejando
Aquilo parecia uma tortura, ele
começou a me encarar, os olhos me
intrigavam, há menos de meia hora
aquele par de olhos estavam dourados e
agora novamente castanhos, o que tinha
de errado, eu não fazia ideia.
Ele pegou um envelope pardo e abriu
com destreza, dentro havia uma porção
de envelopes menores, com caligrafias
elegantes, ele estava separando em
alguma ordem, que tipo de ordem e
requisito eu não fazia ideia.
- Esses... Sim – balancei a cabeça
concordando sem saber com o que
- Ok – eu disse com convicção
- Esses... Não - balancei a cabeça mais
uma vez – foi aí que veio a explicação
- Esses convites à senhorita confirmar
minha presença – ele indicou a pilha
menor, deveria ter três convites.
- Ok
- Esses... A senhorita vai inventar
qualquer desculpa convincente e recusar
– ele apontou para uma pilha de uns dez
convites
- Ok - Meu Deus! Nunca me senti tão
inútil, parecia que a única palavra que
tinha no meu vocabulário era Ok.
- Algum problema senhorita Emily? –
porque ele me chamava de senhorita?
- Na... Não nenhum
- Pode fazer isso por mim? – eu faria
qualquer coisa por você, pensei com
meus botões.
- Clã... Claro – engoli em seco
- Ótimo é só isso, pode voltar para sua
mesa.
- Ok
Saí o mais rápido que pude sem olhar
para trás, queria estar livre e poder
respirar, quando coloquei a mão na
maçaneta da porta, percebi que havia
deixado minha agenda na mesa dele.
Mais que merda! Suspirei antes de me
virar e voltar naquela direção.
Ao me virar percebi que ele tinha
tirado o paletó e estava dobrando a
manga da camisa até o cotovelo, eu
pigarreei – era a visão dos deuses.
- Esqueci a minha agenda – apontei em
direção a ela
- E os convites – ele apontou em direção
a eles
- Ah mil desculpas – peguei minha
agenda e os convites um tanto
desajeitada
- Não tem problema, só faça o seu
trabalho.
Assenti com a cabeça e saí em
disparada antes que acontecesse mais
alguma esquisitice, eu estava me saindo
muito bem no meu primeiro dia, estava
parecendo uma estúpida.
Voltei para minha mesa, com certeza
estava vermelha feito um tomate, o que
deu em mim? Porque estou agindo desse
jeito? Tentei me concentrar na minha
tarefa, voltei aos meus afazeres, fiz o
que me foi ordenado, confirmei presença
em alguns eventos e recusei vários
outros em nomes do Sr. Enrico.
Quase no final do expediente estava
entediada, não havia muito a ser feito,
não tinha nenhum dinamismo e nenhuma
emoção naquilo que eu estava
desempenhando, mas se eu quisesse ser
uma jornalista renomada, teria que
começar de alguma forma.
O final do expediente demorou a
chegar, eu estava louca para voltar para
casa e cair no sofá. Sei que antes disso
terei que passar todo o relatório do meu
primeiro dia para Sabrine, ou ela não
me deixaria dormir em paz.
E foi isso que aconteceu e por sorte
Sabrine me ligou avisando que estaria
me esperando no final do expediente, o
que eu agradeci em pensamento, no
caminho para casa contei tudo que havia
acontecido no meu primeiro dia, e de
como eu fiquei parecendo uma tola.
Sério? Você fez isso? Sério você falou
aquilo? Esse foi o comentário da minha
amiga sobre tudo que aconteceu.
Chegando em casa precisei ligar para
minha mãe, ela aguardava ansiosamente
meu relato, claro que omiti algumas
coisas, mas a grande parte eu falei, ela
dizia que estava orgulhosa da sua
menininha.
Não demorou muito para que eu
caísse no sono, tive um sonho
conturbado, sonhei que estava nas garras
de um predador, mas não era um
predador comum como um leão ou um
urso, era uma espécie bem diferente...
Era um vampiro.
Aquele sonho esdruxulo me perturbou
o dia todo, e sempre que me deparava
com Enrico nos corredores da empresa
eu ficava rubra. Aquilo já estava ficando
chato.
Nos dias seguintes me inteirava cada
vez mais com minha função, já não era
mais necessária a ajuda de Sara, que
saiu agradecida e feliz para sua primeira
reportagem. Já tirava de letra, a única
coisa que ainda me incomodava eram as
tardes como secretaria do meu chefe.
Na sexta-feira, fui convidada a
participar de um happy hour, pelo que
Sara me contou, era de lei, sexta-feira
era dia de bebedeira no bar, claro que
eu topei.
Sara e eu fomos no carro de Enzo, um
fotografo gato que fazia trabalhos
esporádicos para empresa. Mariana a
recepcionista foi no carro do Rodrigo,
um jornalista que como dizia Sara, havia
fundado a empresa com Enrico, pelo que
fiquei sabendo ele trabalha na empresa
desde sempre e começou como
estagiário assim como eu.
Fiquei chateada por não ter chamado
Sabrine, ela vai perguntar se eu achei
uma melhor amiga ruiva.
Chegamos ao barzinho era quase 19h e
estava lotado, para mim o bar era mal
iluminado e para Sara era requintado.
Ocupamos uma mesa no fundo do bar.
Começamos a experimentar todos os
tipos de drinks, eu nunca havia bebido
nada tão elaborado como aquelas
bebidas que me foram apresentadas.
Sara estava entrosada com Rodrigo,
Mariana estava de olho no barman.
Enzo, o fotografo gato se aproximou de
mim, aquela altura eu já estava meio
zonza, não tive coragem de dispensar,
além de gato era inteligente e engraçado.
Enzo tinha a pele bronzeada, parecia que
acabava de chegar de férias no Caribe,
os olhos eram verdes esmeraldas, era
alto e tinha um corpo atlético.
Falamos sobre minha vida no interior,
sobre minha nova vida na cidade grande,
me contou que morava sozinho em um
apartamento no centro da cidade e que
estava solteiro a procura de uma
namorada, ele enfatizou a palavra
solteiro. Meu risinho era típico de uma
adolescente que recebe um elogio.
Ele tinha um cabelo macio, e como eu
sei disso? Não me lembro em que
momento eu me aproximei dele, passei a
mão pela sua nuca acariciando seus
cabelos dourados. Ele se aproximou
mais de mim e falava no meu ouvido,
começou a beijar o meu queijo e eu me
derreti. Nos afastamos quando Mariana
pigarreou quebrando o clima.
- Eu não quero ficar de vela pra ninguém
– ela falava cruzando os braços e
fazendo biquinho
- Vai atrás do seu barman – Enzo falou
apontando para o balcão
Fiquei sabendo mais tarde que todas
as sextas-feiras Mariana e o cara do
balcão acabavam na cama.
- Ele vai cobrir o turno de um amigo,
vou ter que ficar aqui com vocês, não é
ótimo? – era sorriu sem graça
- Maravilhoso – a resposta veio de Enzo
Sara e Rodrigo nem deram ouvidos
para nossa conversa e muito menos
parecia notar nossa presença. Enzo e eu
continuamos a conversar, incluí Mari em
nosso assunto, não queria que ela ficasse
isolada. Eu pedi mais uma bebida que
Enzo foi buscar no mesmo instante.
- Acho que ele está afim de você – Mari
falou dando um gole na cerveja de Sara
- Que nada! Ele é um fofo – dei de
ombros
- Você não reparou como ele te olha
quando vai à Maximus?
- Não – falei com sinceridade
- Se eu fosse você não deixaria esse
gato escapar, ele é um partidão – eu ri
com a piada.
- Vou prestar mais atenção – eu falei
olhando Enzo que ainda estava no
balcão
- Ai meu Deus! – Mari falou mais alto
que o necessário
- O que foi? – os olhos estavam
arregalados
- Não olha agora, mas você não vai
acreditar quem estar entrando nesse bar
– não fazia ideia.
- Johnny Depp? – brinquei
- Não, mais bonito – virei para trás na
hora.
- Que homem pode ser mais bonito que
Johnny Depp? – levei um susto
Era tão bonito quanto Johnny Depp,
porém tinha um ar de mistério, o olhar
mais sexy que eu já vira em toda minha
vida, e mexia com todo meu ser, meu
corpo dava sinais de que eu queria
aquele homem, mas como falar paro o
meu cérebro e para o meu coração que
eu não poderia ter nada daquilo, só nos
meus sonhos.
Meus reflexos não estavam lá grande
coisa, mais pude notar a maravilha,
estava conversando com um dos
seguranças na entrada. Ele estava ainda
mais bonito, estava com uma calça jeans
desbotada nos joelhos e uma camiseta
preta gola V, nunca havia visto sem
aquele habitual terno, ele estava lindo
demais.
- Ah se ele me desse bola! – Mari disse
e eu tive que concordar
- Ah merda! – ele me pegou olhando, me
virei rapidamente.
- Ele está vindo para cá – Mari falou
quase sem abrir a boca
- Vou ao banheiro – me levantei, tarde
demais.
- Boa noite meninas! – a voz dele
arrepiou até meu último fio de cabelo
- Boa noite! – Mari e eu falamos em
uníssono
- O senhor por aqui? – as palavras
foram de Sara que de repente se deu
conta da nossa existência.
- O senhor está tão bonito, senhor?
Porque senhor? Você é tão jovem e sexy
– não acredito que eu falei uma coisa
dessas
- Vou levar isso como um elogio,
senhorita Emily – ele sorriu.
- Porque me chama de senhorita, parece
de outro século – minha voz estava
irreconhecível.
- Talvez seja! – ele piscou para mim
- Enrico Enrico Enrico – o álcool deixa
as pessoas corajosas
- Meninas, foi um prazer! Rodrigo boa
noite – ele sumiu na multidão
- Mas o que deu em você? – Mari levou
a mão na boca
- Falei o que penso – dei de ombros
Enzo voltou com nossas bebidas e
continuamos de onde paramos, quero
dizer do papo com Mariana, se eu estava
atraída por ele, depois da súbita
aparição de Enrico, meu interesse
desapareceu.
Ficamos no bar até o fechamento,
fomos obrigados a sair claro. Mari foi
para casa do seu barman, Rodrigo levou
Sara para casa, ao menos eu acho que
foram pra casa.
Enzo queria que fôssemos para o
apartamento dele, recusei. Não tinha
mais clima nenhum, meu interesse por
ele desapareceu da mesma forma que
surgiu. Ele me levou em casa e me
acompanhou até a porta, eu estava
literalmente tropeçando entre as pernas.
- Vai me convidar para entrar? – Ele
falou assim que parou o carro em frente
ao prédio
- Hoje não, minha amiga deve estar me
esperando acordada – porque eu disse
isso? ¨Hoje não¨ fiquei feliz por ele não
ter insistido
- Tudo bem... Adorei a noite e gostei de
te conhecer um pouco melhor – ele me
beijou no rosto e se foi.
Entrei no apartamento nas pontas dos
pés, não queria acordar Sá, fui direto
para cama, caí sem ao menos trocar de
roupa, só acordei 12 horas depois.
Cinco
Acordei com um baita dor de cabeça,
uma ressaca das bravas, consegui
levantar da cama já passava das 17h,
nunca dormi tanto em toda minha vida,
ainda mais nas condições em que estava,
se minha mãe me visse nesse momento,
teria um colapso nervoso, parece que
estou ouvindo sua voz.
- Mas o que deu em você? – suas mãos
estariam na cintura me encarando
- Ah mãe! – eu colocaria o travesseiro
em minha cabeça e dormiria mais 12
horas.
Segui vagarosamente até a cozinha
onde Sabrine mexia as panelas,
encostei-me ao batente da porta
silenciosamente até ser notada.
- Já era hora – me sentei na cadeira e
levei à mão a testa
- Nunca bebi tanto – ela soltou uma
risadinha
- Vou fazer um chá pra você – ela
colocou água para ferver e se juntou a
mim
- Ai Sá, você não vai acreditar o mico
que paguei – os olhos de Sabrine
grudaram em mim.
- Me conta tudo – ela colocou as mãos
abaixo do queixo
- Meu chefe apareceu no bar e eu disse
que ele era sexy, não me lembro se falei
mais alguma coisa.
- Tá brincando? Aliás, porque não me
chamou para ir com você? – ela apontou
o dedo indicador para mim.
- Me desculpa, foi de última hora e eu
não pretendia demorar – ela torceu
aquela boca desenhada se levantando e
seguindo até o fogão.
- Ok dessa vez passa – ela pegou duas
canecas no armário e colocou sobre a
mesa
- Eu estou com tanta vergonha, como vou
trabalhar segunda-feira?
- Como assim? Só porque disse que seu
chefe é sexy? – ela ainda acha pouco?
- Isso é porque é a única parte que me
lembro, tem mais, eu flertei a noite
inteira com Enzo – ainda pode ser pior.
- Isso está ficando interessante – Sabrine
deu um gole no seu chá
Comecei o desenrolar da minha
história um tanto vergonhosa, ao menos
as partes que me lembrava, ele ficou
horrorizada por eu ter dito que dei um
fora no fotografo gato. Após a aparição
de Enrico qualquer homem, pareceria
um simples mortal.
Passei o restante do domingo curando
a ressaca, para minha surpresa o
fotografo gato me ligou no início da
noite, eu fiquei um tanto sem graça,
ainda bem que ele não conseguia ver
meu rosto corando do outro lado da
linha. Espero estar mais controlada
amanhã, onde eu fui me meter.
Na segunda-feira acordei disposta,
tomei um banho revigorante e parei em
frente ao guarda-roupa para escolher o
look do dia, queria passar confiança e
profissionalismo, não queria que meus
colegas de trabalho me visse como a
garota que ficou de pileque no happy
hour de sexta-feira.
Optei por uma saia lápis preta e uma
camisa de seda branca, preto e branco é
o coringa de qualquer guarda-roupa, não
têm como errar, coloquei sapatos nude
que combinou perfeitamente com minha
bolsa, meus cabelos deixei soltos caindo
nos ombros, caprichei na maquiagem.
Olhei-me no espelho e gostei do que vi,
estava parecendo uma mulher de
negócios, totalmente sexy sem ser
vulgar.
Atravessei o corredor e me deparei
com Sabrine saindo do seu quarto, linda
como sempre.
- Uau está arrasando – ela falou
segurando uma das minhas mãos
- Sério? Hoje eu quero impressionar –
ela me fez dar uma volta
- Tá conseguindo!
Hoje não peguei carona com a
Sabrine, não quero que ela fique
desviando do seu caminho por minha
causa, fui de táxi, que me deu tempo
suficiente para colocar a cabeça em
ordem. Segui meu caminho, imersa em
pensamentos, não tive nem a
oportunidade de prestar atenção no
trânsito caótica da cidade grande da
qual eu estava quase me acostumando.
Meia hora depois estava em frente ao
meu local de trabalho, havia um entra e
sai de pessoas, que há muito não
reparava. Paguei a corrida, e me
aventurei nas grandes portas duplas.
- Bom dia Emily – Bruno o jovem
porteiro meu saudou, achei que ele nem
soubesse meu nome.
- Bom dia Bruno, bom trabalho – ele fez
uma reverência.
Apertei o botão e fiquei aguardando a
chegada do elevador, não demorou
muito e lá estava ele com suas portas
abertas, eu entrei e apertei o número 15,
o último andar que maravilha, nunca
gostei muito de elevadores, me faz sentir
claustrofóbica, esse nem tanto, talvez
seja por ser panorâmico.
Enfim o 15° andar me aguardava,
cruzei com Mariana a recepcionista e
sussurrei um bom dia. Ela me puxou
para o lado, eu tropecei e acabei me
segurando em seu braço. De onde eu
estava conseguia ver que as mesas,
exceto a minha, estavam todas ocupadas.
Enzo ocupava a mesa no canto perto da
janela, do lado oposto a minha, e eu que
achei que teria a sorte grande de ficar a
semana inteira sem vê-lo, achei que o
fotografo gato tinha muito que fotografar
nesse mundo a fora.
- Você está bem? – Mari tinha os olhos
do tamanho de uma uva
- E porque não estaria? – quis saber
- Sexta-feira você bebeu além da conta –
pensei que a sexta-feira estava
esquecida
- Tive uma dor de cabeça no sábado,
mas foi só isso – menti.
- Que bom! – ela pareceu desapontada
- Mari... Posso te fazer uma pergunta? –
os olhos dela brilhavam de curiosidade
- Claro! Quantas quiser – eu precisava
fazer aquilo
- Eu sei que falei o que não devia, mas
não lembro direito – falei o mais baixo
que pude.
- Você não se lembra mesmo? – ela
conseguiu falar ainda mais baixo que eu
- Só de ter falado que o Sr. Enrico era
sexy – falei desviando o olhar para os
lados.
Ela me contou cada detalhe daquela
noite, eu não pude acreditar que tanta
besteira saiu da minha boca. Não
acredito que fiz tanto comentário infeliz,
pensando bem nada do que eu falei era
mentira, mas poderia ter ficado calada,
eu precisava falar que o homem era de
outro século, eu precisava ficar
repetindo o nome dele como um disco
arranhado. Não posso esquecer de
colocar na minha lista de prioridades,
evitar a bebida em happy hour, ou
melhor, para não correr riscos de minha
boca grande me trair novamente, evitar
os happy hours.
Segui em direção a minha mesa,
desejei bom dia a ninguém em especial,
só queria começar logo meu dia, eu tinha
a impressão que todos os olhares
estavam em mim.
- Está tudo bem? – Enzo se aproximou
de mim
- Sim, está – não quis prolongar a
conversa.
- Emily está tudo bem? – Sara gritou da
sua mesa
- Estou ótima! – o que é isso?
- Você tá legal? – a voz era de Rodrigo,
eu me levantei.
- Mais alguém quer perguntar se estou
bem? Eu estou ótima ok? – falei quase
gritando
Os meus colegas de trabalho voltaram
aos seus afazeres, achei que era por eu
ter sido um pouco grosseira, eu
continuava em pé, pronta pra responder
mais algum comentário, foi aí que
descobrir que o que intimidou meus
colegas, não foi a minha falta de
compostura e sim o homem que estava
parado perto da mesa da recepcionista
assistindo ao meu espetáculo.
Sentei as pressas sem elegância
nenhuma derrubando minha bolsa no
chão. Coloquei minha cara na tela do
computador fingindo trabalhar, mas logo
percebi que a tela estava preta, ainda
não tinha ligado à máquina. Enrico
passou entre as mesas, desejando bom
dia e todos responderam como um coro.
Graças a Deus ele não olhou pra minha
tela, acho que foi pior, porque ele olhou
para mim.
A conversa cessou no mesmo instante
em que Enrico colocou os pés na
empresa, eu fui à única que não me dei
conta, como sempre. Precisava de algo
forte para aguentar o decorrer daquela
manhã, porém a única coisa que eu
poderia tomar era um café expresso, era
contra a politica da empresa bebida
alcoólica em suas dependências.
Fui de encontro com a máquina de
café, queria um momento de paz, mas
logo apareceu aquele que eu queria
evitar pelo menos mais um século. Enzo,
o fotografo gato chegou logo atrás de
mim.
- Está me seguindo? – falei com um
sorriso no rosto
- Estou – ele retribuiu o sorriso,
mostrando os dentes mais que brancos.
- O que você quer? – falei mexendo meu
café
- Calma estou brincando, só vim pegar
um café, se quiser posso voltar depois.
- Imagina, desculpe minha grosseria –
ofereci meu café a ele.
- Obrigado!
- Eu não estou tendo um bom dia – ele
deu um gole no café
- Eu posso melhora-lo se você quiser -
ele se aproximou de mim e tocou uma
mexa do meu cabelo
- Enzo! – eu estava começando a me
derreter
- Eu posso te levar em casa no final do
expediente, o que acha? – Aqueles olhos
verdes faz qualquer mulher perder o
rumo da conversa
- Estou interrompendo alguma coisa? –
não precisei me virar para saber quem
estava falando, aquela voz eu
reconheceria até em outro planeta.
- Sr. Enrico, ah me desculpe nós só
estávamos... É... A gente estava... Bem –
não conseguia terminar a frase
- Só estávamos tomando café – Enzo se
pronunciou
- Enzo... Preciso que vá cobrir um
evento na Ênfase Publicidade e
Propaganda, e leve a senhorita Sara com
você.
- Assim de última hora? – Enzo falou
desconfiado
- Algum problema? Se tiver outro
compromisso, eu posso arranjar outro
fotografo.
- Vou arrumar meu equipamento – ele se
voltou pra mim – nos falamos depois?
- Claro – ele saiu me deixando com
Enrico
- O que está acontecendo entre a
senhorita e o Enzo? – aquela pergunta
me pegou de surpresa
- Somos amigos – falei dando de ombros
- Não é o que está parecendo – e o que
ele tem com isso?
- Olha Sr. Enrico... – ele me silenciou
Ele me silenciou da maneira mais
inesperada possível, ele colocou o dedo
indicador em meus lábios, senti um
calafrio, um arrepio bom, os olhos dele
encontraram os meus, o corpo dele
colou ao meu, eu pude sentir toda sua
masculinidade, o que fez as minhas
pernas tremerem. Ele envolveu minha
cintura com as mãos, naquele momento
eu fiquei sem reação, mas uma coisa eu
tinha certeza, eu queria aquilo, queria
que ele me beijasse, queria que ele me
tocasse.
Eu queria tocar os seus braços
musculosos, e tocar seus cabelos
macios, eu queria experimentar cada
centímetro do seu corpo. E foi o que
aconteceu, ele me beijou e eu retribuí. O
gosto dele era bom, as mãos dele
caminhavam pelo meu quadril. O tempo
parecia ter parado, parecia que naquele
lugar só existia ele e eu, a boca dele se
afastou da minha, ambos estávamos
ofegantes, eu não tinha ideia como
aquilo foi acontecer, só sei dizer que a
química entre nós era palpável, tive a
impressão que aquilo já havia
acontecido antes, mas como era
possível? Talvez tenha sido nos meus
sonhos.
- Não consigo ficar longe de você – a
voz de veludo não me surpreendeu o que
surpreendeu foi o que ele acabara de
dizer
- Enrico – minha voz era um sussurro
- Ah Emily, eu te esperei por tanto
tempo.
- E agora eu estou aqui – grudei
novamente meus lábios aos dele

Seis
Voltei a minha mesa meio atordoada,
ainda não conseguia assimilar o que
havia acontecido, Enrico havia me
beijado, e não foi um sonho, eu tenho
certeza que estava muito mais que
acordada. Passei os dedos nos lábios,
ainda sentia o gosto da sua boca macia.
Ele retornou para sua sala como se nada
tivesse acontecido, eu queria ter toda
essa segurança.
De todas as mulheres que ele poderia
beijar no mundo, porque ele escolheu a
mim? Isso também me martelava. Não
que eu não tivesse gostado, pelo
contrário, aquele homem me despertou
um sentimento que eu nunca tinha vivido
antes.
Eu sei que parece pouco tempo, tem
menos de um mês que eu trabalho aqui,
porém ele me atraiu desde o primeiro
momento, e não era somente atração
física, tinha muito mais que isso, era
como se eu estivesse esperando
encontrar um sentimento desses há muito
tempo. Não esperava que fosse cair de
quatro pelo homem mais inacessível do
mundo corporativo. Sei que parece
loucura, é uma loucura.
Sara chamou meu nome três vezes e eu
não ouvi, de tão alheia que estava aos
meus pensamentos.
- Algum problema? – ela falou
- Ah não, está tudo ótimo, só estou
concentrada em meu trabalho.
- Você está com a cara tão esquisita –
ela levou à caneta a boca me analisando.
- Besteira! Você não tem nada pra fazer?
- cuspi
- Nossa! Desculpa, não pergunto mais
nada.
- Gata, nosso encontro vai ter que ficar
para outro dia – agora foi à vez de Enzo.
- Que encontro?
- Eu não ia te levar pra casa hoje? –
desde quando isso é um encontro?
- Sem problemas – falei aliviada
Voltei a minha atenção ao meu
trabalho, comecei a prestar bem mais
atenção nos e-mails que estava
respondendo, estava fazendo no
automático. Sabrine não vai acreditar o
que aconteceu, ela vai ficar pasmem
assim como eu estou agora. Com a
cabeça quase no lugar eu tentei reviver
tudo aquilo, e comecei a recapitular
cada cena, inclusive o que ele havia
falado. E uma das frases me chamou a
atenção. O que ele quis dizer com: Eu te
esperei por tanto tempo. Aquela frase
sem dúvida me intrigou, e assim que eu
tiver a oportunidade vou confronta-lo.
Não percebi quando Enrico se
aproximou de minha mesa.
- Senhorita Emily?
- Sim?
- Preciso que a senhorita me acompanhe
a um almoço de negócios
- Claro – eu respondi
- Ótimo, saímos 12h em ponto, não se
atrase – ele não esperou minha resposta
e retornou a sua sala.
A boca de Mari estava aberta, Sara
parecia comer a caneta, Enzo coçava a
cabeça, Rodrigo franzia a testa. E todos
olhavam para mim como se eu tivesse
cometido um crime hediondo.
- Algum problema pessoal?
- Na... Nada – Sara gaguejou
- O Sr. Enrico, nunca levou ninguém a
nenhum almoço de negócios – Mariana
falou aproximando-se de mim.
- Ah! – eu também não tinha palavras.
Um pouco antes do meio dia fui ao
toalete, precisava retocar a maquiagem,
ainda bem que naquele dia eu estava
como uma das minhas melhores roupas.
Se fosse a algum lugar fino não passaria
vergonha. Pois meu acompanhante como
sempre estava um escândalo de lindo.
Retoquei meu batom dei uma escovada
nos cabelos, ainda bem que meus
cabelos são fáceis de domar, passei uma
gotinha de perfume, não queria que
parecesse que eu estava me arrumando
para ele, mesmo sabendo que eu estava.
Voltei ao meu departamento e Enrico
estava conversando com Mari, dando
alguma instrução ou sei lá o que.
- Estou pronta – eu falei enrolando o
dedo na alça da bolsa disfarçando o
nervosismo
- Vamos – ele falou sem olhar para mim,
sua atenção ainda estava no que Mari
falava.
Seguimos até o elevador, as portas se
abriram e entramos, encostei-me ao lado
oposto ao dele, o silêncio era
constrangedor. O silêncio foi quebrado
com o toque do seu Iphone. Ele atendeu
falando seu sobrenome, o que o fez
parecer ainda mais importante.
- Maximus – faça o que for preciso – ele
falava com alguém do outro lado da
linha – continuou falando – Eu não te
pago uma fortuna para você ficar me
incomodando com besteiras.
A ligação demorou o mesmo tempo
que chegamos à portaria do prédio,
Bruno o porteiro fez menção de abrir as
portas para mim, mas Enrico o fez parar
com um gesto de mão. E fez o seu
trabalho segurando a porta para que eu
passasse. Um SUV prateado nos
aguardava encostado ao meio fio. Um
homem forte na casa dos 45 anos, nos
aguardava, fez um aceno com a cabeça e
abriu a porta para que entrássemos. Eu
entrei primeiro e me acomodei ao canto,
dando bastante espaço a Enrico.
Ele sentou ao meu lado, por mais que
eu mantivesse certa distância, era tão
imponente que foi quase impossível sua
perna não encostar à minha. Ele pediu
para o motorista seguir, e logo descobri
que seu nome era Tyler, um nome bem
incomum.
A viagem de carro foi silenciosa, por
mais que eu quisesse confronta-lo e
perguntar o que estava acontecendo, não
tive coragem, ele agia como se nada
tivesse acontecido, talvez não tivesse
significado nada para ele. E aquilo me
doía, ele quase me levou ao céu, com um
simples beijo e pra ele parece que eu fui
apenas mais uma na sua lista, como se
ele fizesse aquilo todos os dias.
Menos de 30 minutos e estávamos
parando em frente ao um hotel cinco
estrelas no coração da cidade. Tyler
abriu a porta, Enrico saiu e me ofereceu
a mão. Não conseguia me acostumar
com suas mãos frias.
Desci do carro alisando minha saia,
fazia um calor de 30 graus, o vento que
soprava era quente, aquilo fazia a
sensação térmica subir. O restaurante
ficava no segundo andar, nunca havia
entrado em um lugar tão fino, tudo
parecia caro demais, logo na entrada
tinha um lustre que deveria custar 20
vezes o meu salário. A hostess abriu um
enorme sorriso quando nos viu chegar,
mas tarde percebi que aquele sorriso
enorme não era para “nós” e sim para
“ele”.
- Sr. Enrico é um prazer revê-lo – ela
piscava sem parar
- Como vai Anne? – ele foi educado e
galanteador, aquilo me fez sentir uma
pontinha de ciúme.
- Eu estou bem, obrigada por perguntar –
ela jogava charme pra ele.
- Essa é minha assistente Emily – ele me
apresentou
- Olá – Ela falou sem olhar pra mim
- Sua mesa está pronta – ela seguiu na
nossa frente, rebolando.
Eu revirei os olhos com aquela cena,
Enrico nem pareceu notar, o que eu
achei ótimo, ele puxou a cadeira para
que eu me sentasse e Anne ainda estava
em pé ao seu lado e dizia toda melosa:
Já pedi para trazer o vinho de sempre,
ele agradeceu. Eu queria que ela
sumisse logo dali antes que eu voasse
em seu pescoço.
Ela entregou-lhe o cardápio, pela
primeira vez eu o vi sorrindo para ela, e
aquilo não me agradou em nada, ele fez
os pedidos, engraçado que não me
perguntou o que eu iria comer,
simplesmente pediu. Claro que eu nem
saberia o que escolher.
- Se quiser alguma coisa é só me chamar
– Anne piscou pra ele e saiu rebolando
- Ela gosta de você – falei mexendo no
guardanapo que me pareceu muito
interessante
- Anne? É uma boa moça
- Você vem sempre aqui? Ela parece
saber bem seu gosto – minha
curiosidade era genuína.
- Venho sempre que posso afinal eu sou
o dono – ele falou como se aquilo não
fosse nada demais
- Você é dono desse restaurante
maravilhoso? – falei deslumbrada
- Não só do restaurante, do hotel todo –
fiquei sem palavras, ainda bem que
nossas taças de vinho estavam cheias,
tomei um grande gole. O convidado de
Enrico acaba de chegar, parece muito
jovem para ser um empresário, mas o
estereótipo estava sendo desmistificado,
Enrico também é um jovem empresário
de sucesso. Ele se levantou
cumprimentando o homem que acabara
de chegar que era quase tão belo quanto
ele.
- Essa é minha assistente, senhorita
Emily – ele beijou a minha mão
suavemente.
- É um prazer conhecer uma moça tão
bela – eu sorri agradecendo
- O prazer é meu – falei
A conversa entre os dois começou a
se desenrolar, não sabia ao certo o que
eu estava fazendo ali, não estava
entendo uma vírgula daquela conversa
toda, falavam sobre finanças, bolsa de
valores, alta do dólar, compra e venda
de empresas. Aquela conversa estava
me deixando entediada.
- Mas já chega de falar de negócios -
Amom o convidado de Enrico falou
- Senhorita Emily já conhece Dubai? –
ele segurou as minhas mãos
- Infelizmente não – falei
- Então precisa conhecer, é um lugar
belíssimo, vivo lá há muitos anos,
quando quiser será bem vinda a minha
humilde morada – ele estava sendo
simpático.
Já estou até me imaginando em Dubai,
fazendo turismo visitando aqueles
enormes arranha-céus, e passeando por
aquelas ruas largas, tudo naquela cidade
deveria ser encantador. Amom começou
a me falar tudo sobre a cidade, os
melhores lugares para serem visitados,
os melhores restaurantes, tudo que havia
de bom e de ruim em Dubai.
Enrico olhava atentamente, a testa
vincada não parecia interessado naquela
conversa, por diversas vezes ele tentou
desviar o foco, interromper, mas Amom
era astuto e não se deixava intimidar. No
final do almoço eu estava relaxada e
estava encantada com tudo que acabara
de ouvir, nunca pensei que um almoço
de negócios fosse tão prazeroso.
Tomamos café e Amom se despediu
de Enrico e de mim, foi um prazer
negociar novamente com você Enrico
ele falou, e foi uma surpresa
maravilhosa conhecer uma moça tão
encantadora, ele beijou novamente
minha mão, espero nos encontrar
novamente. Ele se afastou e a hostess o
acompanhou até a saída, no caminho ele
foi interceptado por um homem que o
cumprimentava com vigor.
- Qual é a graça?
- Nenhuma – não percebi que ainda
estava sorrindo
- Vamos voltar para empresa – ele falou
com certa irritação na voz.
Assim que Enrico se levantou Anne já
estava ao seu lado, jogando charme,
dizendo que foi ótimo revê-lo, que
esperava que ele tivesse uma boa tarde e
blábláblá.
Tyler nos aguardava encostado no
carro e correu para abrir porta, não
rápido o suficiente. Entramos e
seguimos de volta para Maximus.
Achei que a viagem de volta fosse tão
silenciosa quanto à ida ao restaurante,
mas me enganei e me surpreendi com o
diálogo que Enrico acabava de começar.
- Eu queria pedir-lhe desculpas por o
que aconteceu mais cedo – ele disse e eu
o encarei
- Eu é que devo desculpas, não sei o que
deu em mim – desviei o olhar para a
janela.
- Eu sinto que eu devo protegê-la, - ele
falou colocando uma mecha do meu
cabelo atrás da orelha.
- Por quê? – eu quis saber
- Não sei explicar, eu preciso estar perto
de você, é como se... É como se... Eu te
conhecesse de vidas passadas.
- Então não fique longe de mim – passei
o polegar em seus lábios, ele fechou os
olhos encostando a cabeça no encosto
do banco.
Ainda de olhos fechados, ele
percorreu as mãos pela fenda da minha
saia, parando na altura da minha coxa,
aquele toque me fez estremecer, eu gemi
baixinho ele sorriu de prazer, ele abriu
os olhos, e sem tirar os olhos dos meus,
ele apertou um botão ao lado da sua
janela e um compartimento subiu
fechando o espaço entre o banco traseiro
e o motorista.
Em menos de dois segundo ele me
puxou para o seu colo, me beijou como
se fosse à última coisa que ele fosse
fazer na vida, eu comecei a puxar sua
gravata eu queria me livrar de toda
aquela roupa, ele colocou a mão por
baixo da minha saia e foi aí que eu
derreti. Arqueei meu corpo para trás
enquanto ele mordiscava meu pescoço,
aquilo era bom, eu não tinha certeza se
duraria, mas de uma coisa eu tinha
certeza absoluta, eu queria aquele
homem dentro de mim.
Sete
Aquilo parecia ser bom demais para
ser verdade, eu queria aquele homem e
ele me queria. Eu tinha certeza, da
mesma forma como sei corre sangue nas
minhas veias.
Era o certo a fazer, apagar o fogo que
queimava dentro de nós, mas aquela
sensação foi se dissipando.
Enrico abriu os olhos se afastando
lentamente de mim, passou o polegar em
meus lábios, tirando-me do seu colo,
colocando-me sentada ao seu lado
esquerdo, abriu o compartimento que
nos separava de Tyler.
Fui do céu ao inferno em menos de
cinco minutos. O que havia de errado?
Em menos de um minuto estávamos
pegando fogo, sei que ele me queria,
tanto quanto eu. Pude sentir seu nível de
excitação, devo confessar que não era
pouco, eu parecia explodir de excitação.
Um fogo que subia pelas minhas pernas
foi se apagando no momento em que ele
foi falando, parecia que alguém acabava
de jogar um balde de água com gelo em
mim.
- Eu não posso fazer isso com você –
estava com o olhar perdido
- Eu quero que você faça isso comigo –
falei frustrada
- Você merece alguém melhor – não
acredito que estou ouvindo essa frase
clichê
- Você não acha que eu sou bem
crescidinha para decidir?
- Há muitas coisas que você não entende
– ele colocava sua gravata no lugar
- Acho que sou capaz de entender – falei
Chegamos a Maximus e retomamos
nossos afazeres, eu voltei um tanto
contrariada para minha mesa, e Enrico
foi para sua sala como se nada tivesse
acontecido, aquela calma toda me
deixava irritada, como ele pôde fazer
isso comigo, era como se tivesse tirado
doce de criança.
Não consegui fugir dos olhares
curiosos de Mari e Sara me esforcei ao
máximo para não transparecer aquilo
que estava sentido, Sara queria saber
como foi o almoço, o que eu havia
comido quem era o empresário
convidado. Eu estava a ponto de gritar e
espantar aquela gente toda, mas me
contive. Quando pronunciei o nome
Amom Haz, Mari levou à mão a boca.
- Aquele homem é um deus grego, ele já
esteve aqui certa vez – realmente ele é
bonito.
- Aqueles dois só podem ter saído de
uma revista de celebridades – Sara falou
suspirando
- Não sei o que vocês veem nesses dois
panacas – Rodrigo falou e Enzo
concordou
E foi assim que começou a discussão,
eu me desliguei totalmente e deixei os
quatro debatendo sobre a beleza ou não
de Enrico e Amom, saí de fininho e fui
até a máquina de café, enquanto eu
preparava um cappuccino resolvi checar
meu celular, meu pai havia mandado
uma mensagem mais cedo eu ainda não
tivera tempo para responder. Comecei
digitar uma mensagem, confirmando que
no final de semana iria para casa, estava
morrendo de saudade.
- Emily? – levei um susto e acabei
derrubando o celular no chão
- Sr. Enrico, precisa de alguma coisa? –
abaixei para pegar o celular, que por
sinal estava com a tela trincada.
- Acho melhor não sermos amigos –
amigos? Era só o que me faltava
- Que droga! – falei olhando para o
celular, ele pegou o aparelho da minha
mão.
- Não serve mais pra nada – ele falou
esmagando meu telefone com uma das
mãos
- Co.. Como você fez isso? – meu
celular virou pó
- Essas porcarias de tecnologia, são tão
frágeis como uma flor – ele não
respondeu minha pergunta.
- Eu iria mandar arrumar, agora vou ter
que gastar dinheiro com um novo.
- Sim
- Sim? Vou gastar dois meses do meu
salário
- Você ganha tão pouco assim?
- Você não sabe quanto uma estagiária
ganha?
- Não
- Deixa pra lá – levei as mãos à cabeça,
saí batendo os pés.
Voltei a minha mesa e o burburinho
estava de enlouquecer, todos falando ao
mesmo tempo, eu não consegui entender
do que se tratava. Todos ficaram em
silêncio quando Enrico chegou e Mari
começou a gaguejar dirigindo-se a ele.
- Sr. Enrico – ela pigarreou
- Sim? – ele arqueou a sobrancelha ao
olhar para ela
- A dona Jasmine está subindo aí – ela
levou a mão à boca abafando uma tosse
- Mais que inferno, o que ela quer aqui?
– ele passou as mãos pelo cabelo
visivelmente irritado.
Será que eu havia perdido alguma
coisa? Porque todos estavam alarmados,
Sara estava com os olhos esbugalhados
concentrada na conversa dos dois, Enzo
o fotografo gato fingia examinar a lente
da sua câmera, e Rodrigo fingia atender
uma ligação que claramente não existia.
E quem é essa Jasmine? Fiquei tão
curiosa que comecei a roer a unha do
dedão.
- Ok, assim que ela chegar mande-a
direto para minha sala, em hipótese
alguma ela deverá ficar solta pelos
corredores, e muito menos ficar
bisbilhotando os arquivos – ele colocou
as mãos na cintura respirando
pesadamente.
- Eu farei isso – Mari correu para sua
mesa, enquanto Enrico batia a porta da
sua sala violentamente.
Só foi as portas se fecharem e as
conversas retomaram, não sei quem
falava mais alto, só sei que eu ainda
estava sem entender.
- Alguém pode me explicar o que está
acontecendo?
- A tragédia está anunciada – Enzo falou
- Ainda bem que vamos fazer trabalho
externo – Sara tocou o ombro de Enzo
- Afinal, quem é Jasmine?
- É a bruxa malvada o oeste – a gracinha
veio de Rodrigo
- Jasmine é a mãe de Enrico – mãe!
Falei alarmada!
- Mãe! Porque ele ficou tão irritado com
a chegada dela?
- Você vai ver – Sara comentou
Não teve mais tempo para
explicações, a mulher que todos
aparentemente temiam apareceu na porta
do nosso departamento. Ela era
inumanamente linda. Não parecia ter
mais que 45 anos, a pele era de pêssego,
cabelo preto e sedoso no estilo Chanel
de pontas, usava óculos escuro enorme,
uma boca perfeita com um batom cor de
vinho.
Um corpo esguio e elegante usava um
tailleur da cor do batom, a bolsa era
Louis Vuitton, usava um colar delicado
com uma pedra que sem dúvidas era um
diamante. Enrico era bem parecido com
ela, à pele branca, a mesma cor de
cabelo, e a mesma altivez.
Ela jogou o casaco e a bolsa na mesa
da Mari, o que lembrou muito a cena de
um filme, parou no meio do nosso
departamento tirando os óculos, aquilo
me fez parar, os olhos eram idênticos os
de Enrico.
- Cadê meu filho? – não tinha a mesma
educação, claro.
- Está em sua sala, eu acompanho a
senhora – a voz de Mari saiu graciosa e
comedida.
- Não será necessário, sei o caminho –
ela seguiu em direção à sala do filho,
parecia desfilar em uma passarela.
- Claro – foi à única palavra que
Mariana usou
- Garota? – ela se virou antes de abrir a
porta
- Sim
- E não vá mexer na minha bolsa! – Mari
ficou aparentemente mortificada
Ela entrou na sala de Enrico e bateu a
porta, assim como ele faz todos os dias,
depois dessa cena esdruxula, comecei a
dar créditos ao que Rodrigo falou,
realmente não passava de uma bruxa.
Mari resmungava arrumando a bolsa e o
casaco na cadeira a sua frente.
- Eu não sou paga pra ser tratada assim
- Que megera – fui solidaria com
Mariana
Mesmo com as portas fechadas, não
podíamos deixar de ouvir a conversa
dos dois, nossa sala estava silenciosa,
realmente a intenção era ouvir o que
aqueles dois diziam.
- Enrico, está na hora de voltarmos para
Itália, não podemos ficar mais tempo
aqui – a mãe falou ligeiramente alterada.
- Jasmine, eu não vou voltar para Itália,
meus negócios estão aqui – Enrico falou
um pouco mais baixo que a mãe.
- Não me chame de Jasmine, eu sou sua
mãe!
- Ok mãe, como eu disse minha vida está
aqui.
- Não me interessa! Venda tudo! Você
vai acabar se complicando –
complicando? O que ela quer dizer com
isso?
- Jasmine, eu não vou vender ok? – ele
falou pausadamente
- Vou ficar uma semana na sua casa, até
você mudar de ideia, minha passagem já
está comprada para semana que vem, já
mandei arrumar nossa casa em Milão.
- Vai ficar na minha casa? Uma semana?
– ela não parecia bem vinda
- Sim, onde mais ficaria.
- Você vai me enlouquecer
- Já liguei para sua empregada preparar
o quarto de hóspedes e colocar os
lençóis de fios egípcios.
- Minha empregada? Meus lençóis?
Realmente você quer me enlouquecer –
os dois já estavam do lado de fora da
sala
- Tyler vai me levar, eu já estou indo
meu amor – a voz era maternal.
- Meu motorista? O que mais quer? – o
tom de voz era quase sussurrado
- Que volte para Itália com sua mãe –
Enrico ficou parado na porta enquanto
sua mãe desfila pelo nosso departamento
- Garota? – ela estalou os dedos
- Pois não dona Jasmine – Mari olhava
assustada, parecia querer correr.
- Minha bolsa e meu casaco? Rápido
garota! Não tenho o dia todo, tenho
muito que fazer – Mari pegou
desajeitada a bolsa em uma mão e o
casaco na outra e entregou a bruxa
malvada do oeste ou era do leste? Tanto
faz é tudo bruxa mesmo.
Enrico olhava balançando a cabeça
negativamente. Visivelmente
incomodado com a vinda de Jasmine,
ela por sua vez colocou a bolsa nos
ombros e acomodou os óculos escuros
no topo da cabeça, acenou com a mão
como se fosse uma miss, e entrou no
elevador sumindo de nossas vistas.
O final do expediente se aproximava
depois da passagem do furacão Jasmine,
o clima em nosso departamento ficou tão
pesado quanto uma bigorna, Enrico
estava de péssimo humor, até me
dispensou de atuar como secretária.
Sara e Enzo foram fazer a matéria na
qual Enrico os designou, e eu por fim
fiquei sem minha carona, e para
completar caia uma chuva torrencial.
Desliguei meu computador e arrumei
minhas coisas pra enfrentar o metrô,
queria chegar em casa logo, precisava
arrumar minhas malas, afinal já era
quinta-feira e no dia seguinte depois do
trabalho iria pegar o último ônibus para
casa, estava ansiosa para rever meus
pais. Tinha impressão de que não os via
há séculos.
Coloquei minha bolsa no ombro e
peguei o guarda-chuva na gaveta da
minha mesa, sempre tinha um de reserva.
Desci o elevador e passei pelas portas
duplas cumprimentando Bruno. A chuva
estava mais forte que eu imaginava.
Abriguei-me debaixo da marquise para
abrir o guarda-chuva, olhei para os dois
lados da rua e atravessei, ou pelo menos
tentei.
A chuva estava tão forte que fez o meu
guarda-chuva voar, além de ensopada
estava tremendo de frio, e para
completar quando fui atravessar a rua
para chegar à estação, um carro
apareceu não sei de onde, estava
chegando a todo vapor em minha
direção. Eu tinha certeza que eu iria
morrer atropelada naquele momento, foi
como se minha vida passasse em câmera
lenta, foi como um filme de terror.
Enquanto eu estava oferecendo minha
alma aos céus, o carro passou há cinco
centímetros de mim. E como isso
aconteceu? Se eu não estivesse com os
olhos bem abertos, acharia que estava
alucinando, Enrico apareceu do nada me
puxando com uma velocidade
inexplicável. Como ele chegou tão
rápido? Talvez eu tenha mesmo
alucinado, talvez meus sentidos
estivessem voltando, quando senti o
peso do seu corpo em cima de mim,
estávamos do outro lado da calçada.
Oito
Eu tentei me desvencilhar dele, estava
atordoada, mas ele era tão forte que não
consegui me mover um milímetro. Meus
olhos deveriam estar saltando das
orbitas, eu não conseguia colocar minha
cabeça no lugar, foi tudo tão rápido que
é difícil explicar, mas de uma coisa eu
tinha certeza, Enrico possuía uma
velocidade quase sobrenatural.
Mas que ser humano normal faria uma
coisa dessas? A não ser que... Levei a
mão á boca. Ele se levantou e ofereceu a
mão para eu me levantar, seu olhar era
de desespero, ele começou a examinar
todo meu corpo, e percebeu o quanto eu
sangrava.
Meus joelhos e meus cotovelos
estavam esfolados, sangravam sem
parar, tentei andar, mas minhas pernas
fraquejaram, Enrico me apoio pegando-
me no colo, Tyler já estava estacionando
ao meio fio, vendo aquela cena, correu e
abriu a porta traseira. Tentei me afastar,
mas estava fraca demais e confusa
demais, parecia que eu havia perdido o
dom da fala.
Enrico ordenou que Tyler nos levasse
o mais rápido possível a um hospital,
mesmo não achando necessário, era só
um raladinho à toa. Mas se eu tivesse
realmente batido com a cabeça e estava
alucinando de verdade, não era
possível, pois eu vi tudo acontecer antes
de cair no chão, isso quer dizer que eu
ainda não tinha batido com a cabeça.
- Você está bem? Está sentido dor? – a
voz dele estava mais aveludada que
nunca, mesmo assim conseguia sentir o
tom de nervosismo.
- Eu. Eu acho que sim – levei à mão a
cabeça
- Você vai a um hospital, aí sim teremos
certeza se está tudo certo com você,
você não me parece bem.
- Eu estou meio confusa – ele virou a
cabeça para o lado
- Você vai ficar bem – ele beijou a
minha testa, aquele gesto me pegou de
surpresa.
- Como você fez aquilo? – eu quis saber
- Aquilo, o que? – ele sabia disfarçar
muito bem
- Chegou tão rápido onde eu estava? –
ele fez uma cara de confusão
- Eu acho que você bateu com muita
força essa sua cabecinha linda
- Eu sei o que eu vi – olhei fixamente em
seus olhos
- Não, você não sabe.
- Eu quero ir pra casa – cruzei o braço
feito uma criança birrenta
- Só depois que um médico examinar
você
Aquela discussão parecia
desnecessária, eu não iria ganhar, então
resolvi ir em silêncio até o hospital,
Tyler parecia que levava alguém que
estava prestes a morrer de tão rápido
que passava entre os carros.
Chegamos ao hospital e Enrico insistia
em me levar no colo, eu disse que estava
bem que poderia andar. Apesar dar dor
nos joelhos andava sem dificuldades até
a entrada. Ele me colocou sentada em
uma cadeira como se eu fosse uma
criança e correu até a moça atrás do
balcão. Não pude ouvir o que eles
falavam, mas vi que a recepcionista
sorria pra ele, em menos de dois minutas
um médico já me atendia ali mesmo
onde eu estava sentada, depois de um
exame rápido ele me levou para tirar
umas radiografias, mesmo eu achando
não ser necessário.
Depois fui para um quarto onde uma
enfermeira me aguardava para fazer os
curativos. Enrico estava o tempo todo ao
meu lado, observando tudo, com os
braços cruzados, não tirava o olho das
gazes sujas de sangue, achei que ele
fosse do tipo de pessoa que desmaia
quando vê sangue, ele parecia bem
incomodado.
- Emily não é? – a enfermeira de meia
idade dirigiu-se a mim
- Acho que você pode ir para casa
- Tem certeza? – o questionamento veio
de Enrico
- Claro que eu tenho certeza, eu trabalho
nessa profissão mais de vinte anos – ela
pareceu ofendida.
- Desculpe não quis parecer grosseiro –
ela não se deu o trabalho de responder
- Agora leve sua namorada pra casa –
ela saiu do quarto nos deixando a sós
- Preciso ir, minha amiga deve estar
preocupada, agora nem celular tenho pra
ligar pra ela.
- Use o meu – ele esticou seu aparelho
em minha direção
Liguei para Sabrine que pareceu
surtar, gritava tão alto que quase me
deixou surda, eu insistia em dizer que
estava bem que havia sido somente um
susto, mas ela pareceu não acreditar, me
intimou a estar em casa dentro de meia
hora ou ligaria para meus pais. Era tudo
que eu não queria, se minha mãe
soubesse do meu quase atropelamento,
ela enlouqueceria e enlouqueceria meu
pai também, até que ele a trouxesse para
me ver.
- Vem, eu te levo pra casa – eu entreguei
o celular a ele.
- Não é necessário eu pego um táxi – me
levantei com dificuldade
- De jeito nenhum, Tyler está nos
esperando lá fora – e mais uma vez ele
pegou-me no colo e saímos do hospital.
Tyler como um fiel escudeiro nos
aguardava pacientemente, Enrico me
colocou no carro e entrou, e para minha
surpresa ele passou meu endereço para
Tyler. Como ele sabia onde eu morava?
Olhei para ele incrédula, não precisou
eu perguntar.
- Você trabalha para mim, eu tenho
acesso a esse tipo de informação.
Aquela resposta não me convenceu eu
achei muito estranho, quer dizer que ele
tem guardado na memória o endereço de
todos os seus funcionários? Eu não acho
provável.
- Você não vai mesmo me dizer como fez
aquilo?
- Vou falar tudo que você precisa saber,
mas não creio que esse seja o momento
certo.
- E quando será o momento certo?
- Quando você estiver recuperada
- Eu só tive uns arranhões, olhe pra
mim?
- Você acredita que eu seja tão rápido
assim? – ele se virou olhando para mim
- Eu tenho certeza! – falei olhando para
Tyler
- Você está confusa é só isso? – Ele
fechou o compartimento nos isolando do
motorista
- Acho que não é essa questão – ele não
confiava em mim
- Há muitas coisas que você não sabe –
de novo com esse papo
- Isso você já me disse, eu quero que me
conte tudo.
- Está preparada para se decepcionar?
- Eu preciso saber
- Eu nunca contei minha história para
ninguém, talvez depois de ouvi-la você
nunca mais olhará pra mim, talvez até se
demita da empresa – eu engoli em seco.
- Eu estou preparada – menti
Como você já deve saber eu sou
italiano, minha família é toda da Itália.
Morei muitos anos na Europa, até que
decidi mudar de ares. Minha vida ficou
sem sentido quando perdi a mulher que
eu amava Isabela. Estávamos
preparando nosso casamento quando
uma tragédia se abateu e minha Isabela
foi assassinada em um assalto, sem
sentido.
Minha mãe que você conheceu me
ajudou muito, e achava que eu mudando
para o Brasil poderia diminuir a minha
dor. Pois tudo naquela cidade lembrava
Isabela.
Então minha mãe e eu, entramos em
contato com Amom que nos ajudou a
estabelecer residência fixa aqui, e foi
ele que me vendeu a primeira empresa
que eu possuo. Aquele hotel em que
fomos almoçar e que você o conheceu. A
partir daí não parei mais, fui crescendo
como empresário, e fui tomando gosto
por essa terra.
- Você nunca amou mais ninguém?
- Muitas mulheres passaram pela minha
vida, mas mesmo assim eu sentia um
vazio.
Um amigo muito próximo me dizia
que eu ainda encontraria o amor
verdadeiro, era só ter paciência e
esperar, e é isso que faço há muitos
anos, mas agora acredito que minha
espera acabou. Antes eu enxergava
minha vida em preto e branco, se é que
eu tinha uma vida, eu me sentia mais
como um zumbi perambulando por aí.
Então você apareceu na minha empresa
e foi como se eu já te conhecesse, como
se você fosse preencher o vazio que
existia dentro de mim. Foi como se meu
coração voltasse a bater.
Eu tentei me afastar de você, tentei
manter meus pensamentos longe de você,
mas não consegui. Você é a mulher que
eu espero há pelo menos um século.
Eu estava tentando assimilar tudo que
ele acabará de falar, eu não poderia
acreditar que ele estava falando de mim,
uma garota sem graça do interior cheia
de defeitos. Ele disse um século? Tenho
certeza que não foi no sentido literal.
Como poderia ser? Eu não queria
interromper, queria ouvir cada palavra,
queria entender aquele homem que
mexeu tanto comigo.
- O que você quer dizer com pelo menos
um século de espera? – eu falei
cautelosamente, fiquei com medo da
resposta, mas precisava saber.
- Você percebeu que eu sou um tanto
diferente. Percebeu bem antes do que eu
esperava. Se depois dessa conversa
você quiser ir embora e não olhar para
trás eu vou entender
- Continua... Por favor – eu não estava
certa daquilo que estava pedindo
Eu nasci no inicio do século 19, mais
precisamente em 15 de dezembro de
1801, e vivi a minha vida humana
durante 30 anos. Eu tinha uma vida feliz
até o falecimento da minha amada
Isabela, cinco anos antes de eu ser
transformado.
Eu deveria estar com medo, mas não
estava, pelo contrário eu estava
fascinada com aquela história de amor e
tragédia, parecia mais um roteiro de
Shakespeare. Ele continuou.
Depois que Isabela se foi, meu único
objetivo era vingar sua morte e achar o
seu agressor, passei anos da minha vida
em prol disso, não era mais um homem,
era um espantalho, que não comia não
dormia, fiquei fora de casa por muito
tempo, minha mãe quase enlouqueceu.
Quando encontrei o agressor eu estava
determinado a matar ou morrer, e foi o
que aconteceu. Marcamos um duelo para
antes do nascer do sol e aquele dia foi o
último dia da minha vida humana.
Escolhemos nossas armas e apontamos
um para o outro, os disparos foram
simultâneos, ele caiu para um lado e eu
para o outro.
Amom que me acompanhava me levou
para morrer em casa, não tinha mais
nada a ser feito. Foi à promessa que ele
fez pra minha mãe, ele me acompanharia
e se alguma coisa desse errado ele me
levaria pra casa, mesmo que fosse um
corpo sem vida.
E foi assim que aconteceu, Amom era
um ser obscuro, mas não era do mal,
pelo contrario ele ajudou muita gente,
ele não escolheu que aquilo acontecesse
com ele. Minha mãe que já conhecia sua
história suplicou para que ele me
transformasse, e ele me transformou.
- Quer dizer que você é um vam-pi-ro? –
falei pausadamente
- Sim, sou um mostro das trevas – eu
toquei sua mão gelada.
- Você não é um monstro – eu estava
espantada com minha tranquilidade
- Se quiser pode ir, e se quiser me
entregar para os cientistas estudarem
meu corpo, pode entregar.
- Nem em um milhão de anos eu faria
isso – falei com sinceridade, jamais
seria capaz de prejudica-lo.
Não percebi que já estávamos
parados em frente a o prédio de Sabrine,
não sei há quanto tempo. Eu queria saber
o final daquela história, queria fazer mil
perguntas, mas fui devagar.
- Como você sai no sol? Aquilo de os
vampiros queimarem a luz do sol é
mito? – ele pareceu analisar minha
pergunta
- Não é mito, é verdade, mas com o
passar dos anos nossa raça foi se
aprimorando, é como se fosse uma
vacina, nós injetamos uma vez por mês e
isso nos protege da luz do dia –
fascinante.
- E a aquela coisa toda de vampiro e
sangue? – me arrisquei em mais uma
pergunta, que talvez seja a mais óbvia.
- Nós sobrevivemos com os dois, sangue
ou comida humana, claro que o sangue
nos deixa mais forte. Mas evitamos a
todo custo, não queremos causar mal a
ninguém. Claro que tem alguns de nossa
espécie que não pensam da mesma
forma e que não tem nenhuma
consideração à vida humana.
- Existem muitos de vocês por aí? –
minha curiosidade era evidente
- Sim, espalhados nos quatro cantos do
mundo, talvez pessoas sob qualquer
suspeita.
Eu estava preparando a minha
próxima pergunta, mas o celular de
Enrico tocou me tirando do meu
devaneio.
- Maximus? Sim claro, um momento –
ele falava com a outra pessoa do outro
lado da linha, ele me entregou o
telefone.
- Pra mim? – falei incrédula
- Sim, sua amiga Sabrine – ai meu Deus
eu havia me esquecido da Sá.
Falei com a Sabrine que estava em
pânico, falei que já estava do lado de
fora do prédio, ela só acreditou quando
apareceu na janela e eu acenei de dentro
do carro.
- Então porque não sobe logo? – ela
intimou
- Estou indo! – falei com a mão na
maçaneta da porta
- O que Enrico Maximus está fazendo aí
com você? – eu olhei pra ele pensando
no que responder
- Depois eu te explico – e encerrei a
ligação
Quando fiz menção de sair do carro,
Enrico segurou meu braço me
entregando uma sacola que estava ao seu
lado, que eu não havia notado antes.
- O que é isso? - falei
- Um pedido de desculpas por ter
quebrado seu celular – eu abri a sacola
delicada
- Ah Enrico não precisava – falei
tirando o Iphone dourado de dentro da
sacola
- Vêm vou te levar até seu apartamento –
ele abriu a porta oferecendo-me a mão.
Como um típico cavalheiro do século 19
ele fez uma reverência para mim,
abrindo o portão do prédio.
- Você não quer entrar? – ele pareceu
surpreso com meu convite
- Claro
- Isso é, se você não tiver coisas mais
importantes para fazer, podemos tomar
um chá, conversar mais um pouco – ele
abriu um sorriso enorme mostrando
lindas covinhas.
- Seria um prazer, fazer-lhe companhia.
- Ótimo – falei apoiando-me em seu
braço.
- Primeiro preciso dispensar Tyler – ele
desceu os degraus de dois em dois e
abaixou na janela de seu carro, falou
com Tyler que logo deu partida.
- Pronto?
- Sim – ele me ofereceu o braço
novamente e seguimos para meu
apartamento.
Sabrine nos esperava na porta, não sei
se ela ficou mais surpresa em ver o
homem que estava do meu lado, ou as
ataduras que estavam em meus joelhos e
cotovelos.
- Você está bem? Como isso foi
acontecer?
- Eu estou bem, Sá quero te apresentar
meu chefe Sr. Enrico Maximus – Sabrine
estendeu a mão.
- É um prazer conhecer a senhorita – ele
beijou o dorso de sua mão
- O prazer é meu – ela falou
ruborizando, nem minha melhor amiga
era imune aquele encanto.
- A senhorita Emily precisa descansar,
posso acompanha-la até seu quarto?
- Claro! Emi... Mostre o caminho a ele,
eu posso oferecer alguma coisa para
beber senhor Enrico.
- Me chame de Enrico, não precisa de
formalidades, não é necessário se
incomodar, não vou demorar.
Fomos para meu quarto, enquanto
Sabrine ficava sem fala na sala de estar,
tenho certeza que após a saída de Enrico
ela vai me bombardear de perguntas, já
estou me preparando psicologicamente.
Entramos no meu quarto, enquanto eu
sentava na cama, Enrico trancou a porta.
Aquele arrepiou os pelos da minha nuca,
não que eu estivesse com medo daquele
vampiro lindo.
- Então decidiu se vai sair correndo? –
ele curvou os lábios em um sorriso, ele
tinha um sorriso lindo.
- De forma alguma, eu não estou com
medo – era verdade, eu não tinha
nenhum medo daquele homem que estava
a minha frente encostado na porta do
meu quarto.
- E o que pretende fazer? – ele se
aproximava de mim lentamente
- Eu pretendo beijar você – me assustei
com minha franqueza
Ele se ajoelhou a minha frente, tirou
meus sapatos e começou a massagear
meus pés. Aquilo era tão bom.
- Não tem medo de mim? – as mãos dele
caminhavam por minhas pernas
- Eu não tenho – meu coração começava
acelerar com seu toque
- E seu eu morder seu pescoço? E se eu
chupar o seu sangue? – ele levantava
minha saia até a altura das minhas coxas
- Ainda não sim eu não tenho medo – eu
estava arfando
- Emi, eu te quero tanto – ele beijava a
parte interna da minha coxa.
- Eu também quero Enrico – ele segurou
a lateral da minha calcinha e arrancou
sem dificuldades
Ele beijou cada centímetro da minha
pele exposta, até chegar à parte mais
úmida do meu corpo, eu estava molhada
de excitação e ele fez aquilo com
maestria, ele sabia o que estava fazendo,
a língua dele em mim, me levava à
loucura, eu gemia baixinho. Ele colocou
minhas pernas em seus ombros, e aquilo
me fez gritar, arqueei meu corpo para
trás e ele se aprofundar mais e mais, eu
segurei com toda força em seus cabelos,
enquanto eu me contorcia de prazer. Ele
me levou ao céu, foi o melhor orgasmo
de toda minha vida. Ele ser vampiro era
só um detalhe, aquele homem sabia fazer
uma mulher delirar foi o que aconteceu
comigo, cai de costas no colchão,
esgotada e feliz.
Nove
Enrico deitou ao meu lado, eu ainda
ofegava e sorria como uma idiota. Eu
queria mais, então o puxei para mais
perto de mim, beijei sua boca
incansavelmente. Não sentia mais dor
em meus joelhos e cotovelos, sentia-me
anestesiada. Depois do maravilhoso
orgasmo que ele me proporcionou eu só
queria retribuir. Ele tirou sua camisa
com uma velocidade impressionante,
deixando sua tatuagem tribal à mostra.
- “Emi” – ele sussurra, e me beija
novamente.
Sua boca tem gosto de menta, não
consigo comandar minha mente, meu
corpo e muito menos minhas mãos.
Passei as mãos por todo seu corpo
malhado e me deliciei em seu abdômen
definido. Seu sorriso era lindo e
malicioso, me enlouquecia.
Levei minhas mãos ao seu zíper, abri
sem dificuldades, puxei sua calça até a
altura do quadril, ele usava uma cueca
boxer branca, não poderia ser mais
perfeito, era uma visão e tanta, estava
chegando ao paraíso, pude sentir sua
excitação, eu estava em chamas. Passei
a língua pelo seu pescoço e ele mais
uma vez sussurrou meu nome “Emi”
“Emi” Ah! Doce Emi.
Quando uma batida na porta me fez
pular pra trás. Mas que inferno! O que
Sabrine pode querer? Enrico passou a
mão pelos cabelos, naturalmente
frustrado.
- Depois eu te recompenso – prometi,
ele se recompôs rapidamente, ficando
em pé.
- Emi? – Ah Sabrine
- Oi Sá – Enrico destrancou a porta, ela
abriu vagarosamente.
- Tá tudo bem aí? – espero que o rubor
no meu rosto não tenha me entregado
- Estamos bem – falei já sentada na
cama
- Não queria incomodar, mas o celular
do senh... Do Enrico não para de tocar,
ele deixou na mesa da sala – ela fez um
gesto com a mão.
- Que cabeça a minha, me desculpe
senhorita Sabrine.
- Por favor, me chame somente de
Sabrine.
- Desculpa, vou me lembrar da próxima
vez... Sabrine, eu estava de saída – ele
apontou para porta.
- O que? Não! – falei mais alto do que
pretendia e Sabrine olhou para mim
desconfiada
- Posso ficar mais um pouco – ele
pigarreou
- Seria ótimo – Sabrine olhava de
Enrico para mim.
- Vou pegar meu celular – ele saiu do
quarto nos deixam a sós
- O que está acontecendo aqui? –
Sabrine inquiriu
- Depois eu te explico – dei um risinho
sem graça
- Pelo tom da sua pele nem precisa
explicar
- Tô apaixonada! – cobri a cabeça com
o travesseiro
- Sua cachorra, tá me escondendo o
ouro? – Ela falava quase sussurrando
- Depois te conto todos os detalhes
- Não vejo a hora! Não posso acreditar!
Você e Maximus – ela se abanou
teatralmente
Enrico apareceu na porta, estava
lindo com aquele cabelo desgrenhado,
sugeriu que já que ele ficaria até mais
tarde, pagaria nosso jantar. Sá disse que
não era necessário que ela preparava
uma comida rápida, mas ele insistiu.
Disse que conhecia um restaurante ali
perto que fazia uma comida italiana que
só perdia para um restaurante em Roma.
Não aceitou não como resposta e já
digitava nas teclas do seu telefone.
Depois daquele momento de
intimidade, ele resolveu deixar a porta
aberta, não queria constranger Sabrine,
não que eu ou ela fossemos nos
importar. Tenho certeza que não era
constrangimento nenhum, mas acabei
cedendo. Enquanto nossa comida não
chegava ficamos conversando, ele
queria saber tudo sobre minha vida. Não
que minha vida fosse interessante, ele
dizia que queria me conhecer melhor, e
que depois eu poderia fazer as perguntas
que desejasse, já estava estocando tudo
em minha memória.
Nosso jantar chegou e fomos para
sala, enquanto Sabrine arrumava a mesa,
Enrico abriu o vinho. Não me deixou
mover uma palha dizendo que eu estava
debilitada. Debilitada eu? Dois
raladinhos de nada!
Durante o jantar ele contava histórias
de sua terra natal, fascinando Sabrine e
eu. Às vezes me pegava olhando para
sua boca perfeita. Aqueles olhos lindos
e intensos me seduziam sem intenção.
Depois do jantar, Sabrine levou os
pratos até a cozinha e ele insistiu em
ajudar com a louça, mas Sá recusou,
dizendo que ele já havia feito muito em
nos pagar o jantar. Ficamos no sofá
assistindo um seriado, ele me colocou
deitada em seu colo e eu adormeci.
Despertei já era madrugada, eu estava
na cama e Enrico deitado ao meu lado.
Fiquei um pouco atordoada ao vê-lo ali,
não imaginava que ele fosse passar a
noite comigo, fiquei feliz.
- Achei que tivesse ido embora
- Fui, mas voltei.
- Não está com sono?
- Emi – ele passou as mãos em meus
cabelos – vampiros são criaturas
noturnas
- Porque a Jasmine quer que você volte
para Itália? – encostei-me na cabeceira
da cama
- É uma longa história
- Eu tenho tempo para ouvir
- Negativo! Amanhã é sexta-feira e você
ainda tem que trabalhar – eu havia me
esquecido disso
- E isso não é tudo, amanhã após o
expediente vou viajar – foi aí que ele
notou minha mala semiaberta ao canto.
- Pra onde? Posso saber? – ele enrugou
a testa
- Pra casa, visitar meus pais.
- Tyler pode te levar, ou até mesmo eu –
não queria ter que explicar nada para
minha mãe, ao menos por enquanto.
- Não é necessário, já comprei as
passagens – ele beijou meus lábios,
passando a língua por todo seu contorno.
- Então descansa que amanhã será um
longo dia – ele me puxou mais para
perto, eu envolvi meus braços em sua
cintura.
Senti-me tão protegida como há muito
não sentia, Enrico era tudo que eu
queria. Aquele homem misterioso me
encantou. Aquele que fez minhas pernas
tremerem no primeiro dia em que
coloquei olhos nele. Aquele que fez meu
coração derreter a cada palavra dita
com aquela voz aveluda. Eu precisava
dele como do ar que respiro, aquele era
o homem da minha vida, era fato. Mas
como ter um relacionamento normal com
um homem imortal?
Dormi agarrada ao seu corpo e ao seu
corpo agarrada acordei, me espreguicei
dando um pulo da cama. Ele continuava
sentado, como se o dia não estivesse
prestes a começar.
- Bom dia Emi – como ele conseguia ser
tão lindo?
- Bom dia, porque não me acordou?
Estou atrasada – ele olhou em seu
relógio de pulso
- Não está não – ele se levantou se
aproximando de mim
- Tyler vai te levar – ele tocou a palma
da mão em meu rosto
- Vamos juntos? – quis saber
- Não, preciso passar em casa – aquilo
me confundiu.
- Não vai precisar do carro? – ele
balançou a cabeça negativamente
Ele beijou a minha testa e se foi, nos
encontraríamos no trabalho, tive que
tomar banho em tempo recorde, coloquei
a primeira roupa que estava na minha
frente, fiz um coque no cabelo, uma
maquiagem rápida. Peguei minha bolsa e
passei na cozinha para tomar um café,
estava faminta. Sabrine já tinha saído, eu
olhava no relógio enquanto meu café não
ficava pronto.
Desci correndo até a portaria e Tyler
estava a minha espera, parei
repentinamente sem saber o que falar ou
fazer, até que ele me desejou bom dia e
abriu a porta do carro para que eu
entrasse, não sei por que, estava
constrangida, parecia que estava escrito
na minha testa “ontem tive o melhor
orgasmo da vida”.
Tyler me levou até o trabalho e antes
que ele saisse para abrir a porta do
carro me adiantei e pulei para fora. Eu
não era acostumada a ser tratada como
um dondoca. Agradeci a gentileza e
passei pelas portas duplas da Maximus.
- Bom dia Bruno, como está hoje?
- Bom dia, eu estou bem, obrigado por
perguntar – ele pareceu surpreso.
Fui à última a chegar ao meu
departamento, 15 minutos atrasada.
Odeio chegar atrasada em qualquer
lugar, da impressão que todo mundo está
olhando para mim, mesmo que estejam
cuidando de suas vidas.
- Um ótimo dia a todos – falei animada
- Que bicho te mordeu – Mari disse e eu
ri (Ah se ele soubesse!).
- Estou feliz, só isso – falei ligando meu
computador.
Eu comecei meu dia de trabalho,
minha vontade era ficar cantarolando o
dia inteiro, mas não queria dar bandeira,
não queria que as pessoas falassem que
eu estava saindo com o chefe, se bem
que de certa forma era isso mesmo que
estava acontecendo. Me encolhi quando
senti um hálito quente em meu pescoço,
era Enzo.
- Gata, e aquele nosso encontro, está de
pé? – ele me pegou de surpresa, achei
que ele já estivesse esquecido.
- Não vai dar, vou viajar hoje à noite,
vou pra casa dos meus pais passar o
final de semana.
- Mas almoçar a gente pode né? – ele
estava debruçado na minha mesa
- É bem...
- Aceita logo esse convite, não aguento
mais ouvir a voz dele – Sara falou
irritada.
- Tudo bem, eu aceito – ele saiu quase
saltitando.
Tenho certeza que aquela intimidade
toda não agradou Enrico, que estava na
mesa da Mari, apesar de parecer
entrosado com a conversa ele não tirava
os olhos de mim e de Enzo, eu engoli em
seco. Respirei fundo e voltei meus olhos
para tela do computador, comecei meu
“difícil” trabalho de filtrar e-mails,
aquilo já estava me cansando. Enquanto
Sara fazia o trabalho de verdade, eu
ficava ali esperando a hora passar. A
hora demorou horrores, eu não tinha
mais nada para fazer, resolvi navegar na
internet, procurar por um livro, fazia
tempo que não lia um romance.
- Oi gata? Bora almoçar? – Enzo cheirou
o meu pescoço... “de novo”
- Vamos... Sara quer vir com a gente? –
convidei na esperança que ela aceitasse
- Nem morta! – ela colocou a bolsa no
ombro, e saiu.
- Não acredito que você convidou a
Sara – Enzo falou no meu ouvido e eu
dei de ombros
Enzo me levou a um restaurante mais
afastado, e mais sofisticado também,
acho que ele estava querendo me
impressionar, se essa era a intenção,
conseguiu. Foi todo cavalheiro abrindo
e fechando a porta do carro, puxou a
cadeira para que eu sentasse e disse que
eu poderia escolher o que quisesse do
cardápio. Eu disse que comeria o que
ele fosse escolher para ele, eu nunca em
minha vida conseguiria ler aquele
cardápio, estava tudo em francês.
- Já esteve em Paris? – ele piscou para
mim
- Paris eu? – eu ri escandalosamente
- Se você quiser posso te levar um dia –
ele colocou a mão sobre a minha
Ele pediu um Ratatouille e de
sobremesa Profiteroles, foi à primeira
vez que comi comida francesa, uma
grata experiência. Enzo falava de suas
viagens pelo mundo, dizia que muitos
dos lugares que conheceu, foi graças ao
seu trabalho de fotógrafo. Conheceu
lugares incríveis, que nem em sonho eu
imaginei estar. O mundo fora da minha
pequena cidade de interior é tão vasto
que é difícil acreditar, eu estava
fascinada com tudo que ele falava.
Sobre a cultura e costumes de cada país,
foi como se eu estivesse estado junto
com ele, de tanta riqueza de detalhes que
ele me dava.
Ele disse que o melhor lugar que
conheceu foi Filipinas, dizia como as
ilhas são preciosas de águas límpidas,
que poderia ver peixes nadando, dizia
que o povo de lá adorava um Karaoquê,
a felicidade daquele povo é cantar, dizia
ele. Em cada esquina tem um aparelho
de Karaoquê.
- O lugar mais incrível que conheci – ele
disse, servindo vinho em nossas taças.
- Enzo! É incrível, tantos lugares – eu
beberiquei meu vinho.
- Ficarei feliz em ser seu guia – ele
ergueu a taça em um brinde
Enzo é um cara cheio de qualidades,
lindo, inteligente, culto e gostoso pra
caramba. Eu poderia me apaixonar com
facilidade por ele.
- Não deveríamos estar bebendo, afinal
vamos voltar ao trabalho – eu olhei no
relógio – em 10 minutos!
- Relaxa gata!
- Como eu posso relaxar? Vou passar o
restante da tarde na sala do Enr.. Do
senhor Enrico – tomei o restante do
vinho em um gole
- Ele não é tão ruim assim
- Na verdade, ele é ótimo! - ele não
percebeu o duplo sentido no meu
comentário
- Vamos, não quero te deixar mal com o
chefe – ele acenou para que o garçom
trouxesse a conta.
O almoço com Enzo foi mais
agradável do que eu previa, ainda não
entendi porque um homem tão completo
está solto na praça, ou talvez ele não
seja tão completo assim.
As gentilezas não pararam, ao
caminho da Maximus, ele parou em uma
floricultura e comprou um buquê de
flores pra mim, rosas vermelhas, ele
sabia mesmo agradar uma garota.
Chegamos à empresa com 15 minutos de
atraso, hoje realmente não foi meu dia.
Mais uma vez pareciam que dezenas de
olhos nos observavam, mas era paranoia
minha. Ninguém nem deu à mínima
quando chegamos, a não ser Mari que
elogiou minhas rosas.
Ela correu na copa e pegou um vaso
de flores, colocou minhas rosas e
acomodou num canto da minha mesa. Ah
eu amo flores ela disse suspirando.
- Foi o Enzo que te deu? – ela perguntou
incrédula
- Foi
- Ele deve estar mesmo afim de você,
porque não dá uma chance a ele?
- Somos amigos, só isso – falei pegando
minha agenda.
- Veremos até quando? – ela seguiu pra
sua mesa e eu não entendi o comentário
- Por quê? Um homem não pode ser
amigo de uma mulher? – ela me olhou
por cima dos óculos de grau
- Não é isso, ele é um homem difícil de
resistir – eu me calei.
Ainda bem que ele não estava na sala,
ou eu morreria de vergonha, ele havia
saído com Sara, para finalizarem seus
trabalhos, então estávamos somente
Mari e eu. Não por muito tempo, foi só
eu fechar a minha boca grande e Enrico
saiu do elevador.
Ele passou por Mariana e perguntou
se tinha alguma coisa importante para o
restante do dia. Mari disse que teria uma
reunião no final da tarde e ele pediu que
ela cancelasse.
- Mas senhor Enrico...
- Cancele – ele ordenou
Ele andou até minha mesa e não se deu
o trabalho de olhar para mim, seus olhos
pousaram em meu buquê.
- Você, pra minha sala – ele jogou o
paletó sobre o ombro e bateu a porta da
sala.
- Que bicho mordeu esse homem? – falei
sussurrando
- Eu não sei! Boa sorte amiga!
Peguei minha agenda e apertei no
peito, andava como uma tartaruga, na
esperança de retardar a minha chegada,
Mari fez um gesto com a mão pra que eu
entrasse logo. Quando eu estava na
metade do caminho, que parecia curto
demais, a porta se abriu nos pegando de
surpresa, Mari fingiu que anotava
alguma coisa e eu olhei para o homem a
minha frente.
- O que está esperando? Ande logo
temos muito que fazer – eu corri
literalmente e entrei naquela sala gelada.
Aquela sala estava mais gelada que
meu coração, Enrico fechou a porta
assim que entrei. Encostei-me à porta e
Enrico colou seu corpo no meu, ele
ergueu meu queixo com o dedo
indicador me fazendo olhar em seus
olhos dourados, ele passou a língua nos
lábios umedecendo-os, eu estava
ficando ofegante, ele beijou a lateral do
meu corpo e eu estremeci.
- Ah minha doce Emi, te quero tanto –
ele tocava meu rosto delicadamente.
- Eu também te quero tanto – eu gemi em
sua boca
- Você tem certeza disso? – ele dizia
entre um beijo e outro
- Si...sim – eu tentava tirar sua camisa
- Quando um vampiro ama, e pra toda
eternidade, então você ainda tem tempo
para desistir.
- Eu não quero desistir, eu quero você eu
quero estar com você pra sempre.
Ele me levantou e eu entrelacei as
pernas em sua cintura, o toque os beijos
dele, eram intensos. As mãos dele no
meu corpo me deixavam em chamas. Eu
só pensava naquele homem nu em cima
de mim, o peso do seu corpo mexendo
sobre o meu. Só de pensar eu ficava
mais excitada. Ele me colocou no chão
enquanto os beijos foram cessando, não
estava acreditando que mais uma vez eu
ficaria na vontade.
- Agora você vai pra casa – franzi o
cenho
- Pra casa?
- Vai terminar de arrumar suas coisas,
vou te levar para a casa dos seus pais –
eu tentei argumentar.
- Já está tudo acertado, Tyler está te
esperando, quando você voltar vai ter
uma surpresa – ele piscou me puxando
pela cintura.
- Hum estou louca pra saber o que está
preparando pra mim – levantei os pés e
beijei sua boca gostosa
- Estou preparando pra nós – ele
sussurrou em meu ouvido
- A propósito... Quem te deu aquelas
flores? Deixa-me adivinhar. Enzo, o
fotografo babaca?
- Sim foi ele
- Ele que não se atreva a chegar perto da
minha Emi, ou eu cravo meus dentes em
seu pescoço – eu fiquei paralisada.
- Não falei sério, fica calma – eu vi um
meio sorriso em seus lábios e relaxei.
- Enrico, você me encanta.
- Agora vai pra casa e fique linda – eu o
beijei e sai
Tyler me esperava encostado no capô
do carro com os braços cruzados. Assim
que viu, abriu a porta imediatamente, eu
fiz um movimento com a cabeça e ele fez
o mesmo. Mari ficou curiosa, queria
fazer todos os tipos de perguntas com
um só objetivo, porque Enrico havia me
dispensado mais cedo? Eu não menti,
omiti algumas partes obviamente, mas
disse que precisava ver meus pais e que
ele disse que eu poderia ir mais cedo.
Ela me olhou desconfiada e disse que
em todos esses anos trabalhando na
Maximus nunca vi o senhor Enrico se
importar com a vida pessoal de alguém,
que certamente era muito estranho. Eu
dei de ombros e disse que eu tive sorte.
Cheguei em casa em menos de meia
hora, Tyler disse que me aguardaria o
tempo que fosse necessário e me levaria
onde eu precisasse, disse também que
eram ordens expressas do senhor
Maximus.
Terminei minha mala tomei um banho,
coloquei um vestido comprido e leve,
pois estava um calor infernal. Ainda não
havia acostumado com aquelas
oscilações meteorológicas. Havia dias
em que experimentávamos as quatro
estações em um único só dia. Prendi o
meu cabelo em um rabo de cavalo e
passei apenas um gloss, antes de eu
terminar de me arrumar Sabrine passou
pela porta do quarto.
- Uau tá muito gata! Chegou cedo? – ela
olhou no relógio da cômoda
- Tyler me trouxe – falei puxando meu
rabo de cavalo
- Tyler? Quem é Tyler, já arrumou outro
namorado? – ela torceu aquela boca
escarlate
- Que eu saiba, eu não tenho nenhum
namorado.
- E aquele gostoso do senhor Maximus?
Aliás, você tem muito que me contar
mocinha – ela apontou aquele dedo
esguio e de unhas compridas pra mim.
- Aquele gostoso do senhor Maximus,
bom... Bem – eu não tinha uma resposta
- E aí? Quero respostas
- Bem... Acho que a gente está...
Ficando, e Tyler, é o motorista dele e
está lá fora me esperando pra me levar
para casa.
- Isso é incrível, você namorando o
Maximus – ela ergueu as mãos para o ar.
- Não é namoro! – eu ri
- Por enquanto, ele tá caidinho por você,
eu vi quando ele esteve aqui, no seu
quarto.
- Imagina! Ele pode escolher qualquer
mulher do mundo e vai escolher a mim?
- Aliás, ontem aqui no seu quarto, o que
foi que eu interrompi? – ela não ouviu
nada que eu falei
- Você não interrompeu nada – falei
puxando minha mala de rodinhas
- Emi!!! Você não vai sair daqui até me
contar tudo
- Quem sabe quando eu voltar?
- Você não vai me deixar aqui me
coçando de curiosidade por um final de
semana inteirinho, vai? – eu queria
tortura-la mais não havia tempo pra isso,
então resolvi contar.
Contei toda minha saga desde o
inicio, do momento da entrevista, do
sexo oral e pelo quase sexo no meu
quarto antes de ela nos interrompesse,
ela não tirava a mão da boca, e os olhos
pareciam que iria saltar das órbitas.
Claro que omiti a parte do “vampiro”,
como poderia contar se nem mesmo eu
acreditava naquilo. Era tão surreal tão
absurdo que eu nem sei como não estava
enlouquecendo com tudo isso. Eu
deveria estar de cara de tola apaixonada
revivendo toda aquela maravilha.
- Isso é ótimo!
- Agora preciso ir – disse abraçando
minha melhor amiga
Assim que cheguei à portaria, Tyler se
apressou pegando minha mala, eu não
esperei que ele abrisse a porta, eu
mesmo abri e entrei. Tyler pareceu
surpreso, mas não fez nenhum
comentário. O trajeto foi em silêncio,
Tyler não era do tipo falante. A noite
estava quente, linda, com céu estrelado.
Tyler fazia o trajeto da Maximus e eu
quis perguntar por que estávamos
voltando pra empresa.
- Tyler?
- Pois não, senhorita?
- Porque estamos voltando para
empresa?
- O senhor Maximus está nos
aguardando
Ele entrou pela garagem e estacionou,
novamente não esperei que ele abrisse a
porta e dessa vez ele pareceu
incomodado, foi até o porta-malas e
pegou minha bagagem, fomos para o
elevador e ele apertou cobertura. O que
Enrico está fazendo na cobertura? Achei
que Tyler me levaria direto para a
rodoviária. Se demorasse muito
perderia meu ônibus.
Foi aí que eu o vi, aquele homem
lindo de terno e com as mãos no bolso
da calça, o cabelo estava impecável, a
boca lindamente desenhada sorria pra
mim, os olhos dourados tinham um
brilho intenso. E atrás dele um
helicóptero preto com o nome Maximus
escrito em vermelho.
- Bem vinda senhorita Emily Malves,
aqui está seu transporte – ele fez uma
reverência.
- Obrigada senhor Enrico Maximus, é
um prazer, tão ilustre companhia – eu
ofereci minha mão.
- O prazer é todo meu... Senhorita – ele
beijou minha mão estendida
- Você pilota? – apontei para o
helicóptero
- Não! Eu ainda não tirei minha licença,
quem pilota é Tyler – não percebi que
Tyler estava na posição de piloto,
apertando vários botões. Enrico me
ajudou a subir no helicóptero e juntou-se
a mim. A máquina ganhou vida, o
barulho era ensurdecedor. Colocamos os
fones de ouvido e voamos rumo à noite
estrelada.

Dez
Antes de seguirmos ao destino final,
fizemos um voo panorâmico pela
cidade, uma cidade iluminada e cheia de
encantos, com a arquitetura que se
mesclava entre o tradicional e o
contemporâneo, Tyler sobrevoou os
principais pontos turísticos da grande
metrópole, nunca pensei que São Paulo
pudesse ser tão bonita vista de cima. No
dia-a-dia estamos sempre com tanta
pressa que não conseguimos admirar o
quão atraente é essa cidade.
Enrico estava me proporcionando
uma experiência incrível, estava me
apresentando um mundo que eu não
conhecia e que jamais pensei que um dia
faria parte, era tudo tão diferente
daquilo que eu estava habituada, mas
confesso que estava mais que encantada.
Uma hora mais tarde estávamos
pousando num campo aberto destinado
ao exército. Um carro preto estava um
pouco mais a frente, Tyler desceu e foi
cumprimentar o motorista. Enrico me
ajudou a descer, eu estava um pouco
tonta, não sei se pela viagem, ou pela
emoção de estar perto dele. Cambaleei e
Enrico me amparou.
- Está se sentindo bem? – ele tirou um
fio de cabelo que grudava nos meus
lábios
- Meio tonta – envolvi meus braços em
seu pescoço
- Gostou da surpresa?
- Se gostei? Você só pode estar
brincando, eu amei! – ele sorriu – quem
é aquele cara com Tyler?
- Um colega do exército, eu acho – ele
deu de ombros.
- Tyler era do exército?
- Sim
- Tá explicado a postura de armário, é
motorista, piloto e o que mais?
- Tyler tem muitos talentos, é por isso
que pago uma fortuna.
Tyler se despediu do seu amigo e
entrou no carro, Enrico puxou minha
mão e me levou até onde Tyler estava,
entramos no carro e fomos rodar por
minha cidade natal. Não que tivesse
muitos atrativos, na verdade não tinha
nenhum, a não ser um shopping de um
andar onde funcionava um cinema e um
boliche, aos finais de semana com chuva
ou de frio aquele lugar eram
movimentado, parecia que toda cidade
se concentrava ali. Nos dias de sol e
verão, os parques eram que ficavam
lotados. Com a mudança de transporte,
cheguei com duas horas de antecedência,
esqueci-me de avisar ao meu pai que
não era mais necessário me esperar na
rodoviária, então mandei uma mensagem
de texto, dizendo que já estava na
cidade, e que logo mais estaria entrando
pela porta.
A chuva começava a cair e o cheiro
de terra molhada se espalhava pelo ar,
eu até que sentia falta daquilo. Enrico
disse que viria me buscar no domingo à
noite, que eu não precisava me
preocupar em pegar ônibus, eu disse que
ele já havia feito muito por mim.
- Enrico... Você já cancelou uma
reunião, não quero que mude seus planos
pra poder encaixar os meus.
- Emi, você agora é a minha prioridade,
meu mundo agora é você, meu prazer é
servir você – ele passou o polegar no
meu lábio inferior.
- Ah Enrico – minha voz era um fiapo
- Posso te fazer uma pergunta? – ele
desviou o olhar
- Quantas desejar – falei.
- Você não se importa que eu seja um
mostro? – sua voz era sedosa
- Você não é um mostro – virei seu rosto
em minha direção
Ele estava enganado, ele não era um
monstro, que espécie de mostro ajuda
crianças e se preocupa com o meio
ambiente? Que espécie de mostro
emprega milhares de pessoas? O fato de
ele ser vampiro não tira o mérito de ele
ser um bom homem. Ele olhava pra mim
como se tivesse abalado, os olhos eram
tão hipnóticos quanto à voz.
- Emi... Isso é um erro – não entendi o
que ele quis dizer
- Do que está falando?
- Não quero machucar você
- Você nunca me machucaria! Não me
importa o que você é, eu não vou me
afastar de você – ele me lançou um meio
sorriso e eu continuei.
- E você, o que viu em mim? Não passo
de uma garota comum
- Você não tem nada de comum, é a
mulher mais forte e destemida que já
conheci, e a mais bonita também.
- Mentiroso!
- Emily minha doce Emily, você me
trouxe de volta do mundo dos mortos,
você me mostrou uma vida colorida,
como não admirar e amar-te? Você agora
é o ar que eu respiro. Você é tudo que eu
quero, estou quebrando todas as regras.
Eu não entendi o que ele quis dizer,
tentei me aprofundar no assunto, mas ele
se esquivou, dizendo que era pra eu
aproveitar o final de semana com meus
pais, que depois conversaríamos sobre o
assunto. Ele me deixou na entrada da
minha casa, parecia que fazia tanto
tempo que eu estava fora, tudo era tão
diferente. Disse que se precisasse dele,
poderia ligar a qualquer hora. Lembrei
que não tinha o número do celular
particular dele.
- Eu não tenho seu número
- Tem sim, eu gravei na sua agenda.
Ele beijou minha testa e ficou me
observando até eu passar pelo enorme
portão, depois se foi. Meu pai apareceu
na porta de entrada, correu para me
abraçar.
- Emi filha, papai estava morrendo de
saudades – ele me abraçou forte.
- Ah pai senti tanto sua falta – uma
lágrima caiu
- Vem meu amor, sua mãe está
esperando. Mas me conta porque chegou
tão cedo?
- Peguei uma carona Pai
- Emi, já falei que pegar carona é
perigoso, ainda mais em São Paulo – já
conhecia aquele discurso.
- Não peguei carona com desconhecido
Entrei na sala olhando ao redor, como
é bom estar em casa, sinto tanta falta de
tudo, da disposição dos móveis, do
cheiro peculiar de comida caseira, até
do cachorro da vizinha latindo. Minha
mãe gritou meu nome do segundo andar.
- Emi, é você?
- Sou eu mãe, estou em casa!
Minha mãe desceu as escadas
correndo, me abraçou quase caímos no
sofá, dizia que não aguentava de tanta
saudade, que quase arruma as malas pra
ir morar comigo, mas que papai não
havia deixado. Enquanto meu pai levava
minha mala para o quarto, minha mãe me
puxava para o sofá.
- Me conta tudo filha. Como está se
saindo morando com a Sá? Como está
indo no estágio? Como é a empresa? Já
arrumou um namorado? Quando vai
voltar para casa de vez? – minha mãe
me bombardeou de perguntas, nem sabia
por onde começar.
- Só isso a senhora quer saber? Não tem
mais nada para perguntar? – falei rindo
e ela deu um tapinha na minha perna
- Deixa a menina descansar mulher –
meu pai disse sentando em sua poltrona
- Mas essa menina está tão magra Pedro
– minha mãe e essa mania de dizer que
estou magra
Meu pai ficou na sala assistindo um
jogo de futebol enquanto minha mãe e eu
fomos para cozinha. Era naquele
ambiente que conversamos sobre tudo, e
foi ali que comecei a responder ao
interrogatório. Comecei falando como
era morar com Sabrine, que ela era
muito organizada, que no começo
apanhei um pouco pra pegar o ritmo, que
a empresa era uma das melhores no
ramo, que estava me dando bem no
estágio que todos me receberam de
braços abertos.
- E os garotos? Algum interessante? – eu
comecei a gaguejar, se tinha uma coisa
que eu não sabia, era mentir pra minha
mãe.
- Err.. Acho que não
- Eu acho que tem sim, me conta tudo.
- Mãe!
- Se não tivesse, você não estaria
vermelha como um tomate – ela cravou
os olhos em mim.
Minha situação era mais delicada do
que eu previa, teria que contar pelo
menos partes da história. Estava pisando
em ovos, escolhendo as palavras.
- Estou ficando com um cara – ela deu
gritinho
- Me conta tudo, como ele é? Estagiário
também? Ele é bonitinho?
- O nome dele é Enrico – falei sem
rodeios.
- Tá... Enrico e o que mais? Estagiário?
- Enrico Maximus, ele não é estagiário e
ele é bonitinho – falei pausadamente.
- Enrico Maximus, que engraçado tem o
mesmo nome do dono da empresa que
você trabalha – eu desviei o olhar.
- É com o meu chefe que eu estou
ficando – minha mãe ficou pálida
- Não! Você não está falando sério?
- Eu estou sim, estou ficando com o meu
chefe, Enrico Maximus.
- Quem está ficando com quem? – meu
pai apareceu na porta da cozinha.
Os dois olhavam pra mim como se eu
tivesse dito que tinha feito um assalto,
meu pai com os braços cruzados e minha
mãe com as sobrancelhas arqueadas.
Não era minha intenção tocar nesse
assunto assim tão cedo. Queria deixar as
coisas rolarem, está rolando tudo tão
bem, não queria estragar. Mas não
conseguia sair daquela sinuca de bico,
teria que me explicar de alguma forma,
ou meu final de semana seria
desgastante.
Limpei a garganta querendo ganhar
tempo, na esperança de formular uma
história convincente, não queria nem
poderia dar muitos detalhes.
- Pai, mãe... Estou ficando com Enrico
Maximus, meu chefe, não era minha
intenção me envolver com ele e nem
com ninguém, mas aconteceu – mexia na
pulseira do meu relógio sem parar.
- O que você quer dizer com...
Aconteceu? – o questionamento veio do
meu pai
- Essas coisas acontecem pai, não foi
nada premeditado.
- Esse homem só quer diversão minha
filha, acho bom colocar um ponto final
nessa história.
- Como pode cair na conversa desse
homem? Ele é muito velho para você –
minha mão colocou a mão sobre a minha
- Mãe! Ele só tem 30 anos, meu pai
também é 10 anos mais velho que a
senhora.
- Isso não vem ao caso – ela retrucou
- E por quê? Posso saber? – não
aceitaria aquela bobagem como
argumento.
- Eu e sua mãe temos uma história, você
e esse Maximus se conheceram quando?
Há uma semana? – ele elevou o tom de
voz
- Vocês estão fazendo tempestade num
copo de água, não estou dizendo que vou
casar, só estou ficando só isso.
- Ele não é homem pra você – meu pai
cuspiu as palavras
- Nenhum homem vai ser bom o bastante
para mim, com o Jonas foi à mesma
coisa lembra?
- Chega de falação vocês dois! – minha
mãe se levantou – não vamos estragar
nosso final de semana com briguinhas.
Depois conversamos sobre isso ok? –
suspirei aliviada
Meu pai voltou para seu jogo e eu
fiquei na cozinha com minha mãe. Meu
pai aprendeu a não questionar as
decisões da dona Helena.
- Obrigada mãe! – escorreguei na
cadeira
- Obrigada nada, pode me contar tudo.
Nunca tive segredos com minha mãe,
então poderia contar tudo, ou quase
tudo, contaria somente o que ela
precisasse saber. Contei cada detalhe do
dia da minha entrevista e como me
sentia atraída por Enrico desde o
primeiro dia, como ele era gentil e que
se preocupava comigo, que ele me
trouxe de helicóptero, e que eu não
parava de pensar nele nem se quer por
um minuto, o melhor de tudo que eu
estava feliz.
- Eu nunca vi seus olhos brilharem tanto,
mesmo quando você falava do Jonas na
época do namoro de vocês – ela pareceu
surpresa.
- Com Enrico é diferente, ele é como se
fosse parte de mim, é como se... Eu
precisasse dele pra respirar
- Emi, você está amando, e isso é tão
bonito, só espero que ele não te magoe.
- Porque ele me magoaria? Isso não vai
acontecer – meus olhos estavam ardendo
- E não vai meu amor, não vai
acontecer.
Minha mãe disse que apoiaria minhas
decisões, e que eu seguisse meu
coração. Meu pai não tocou mais no
assunto, sábado pela manhã fomos tomar
café numa confeitaria, que sempre me
encontrava com minhas amigas de
colégio. Na parte da parte fui ao cinema
com duas delas, que me encheram de
perguntas, me diverti, estava curtindo
demais meu final de semana, era bom
estar em casa era bom encontrar velhos
amigos. Porém minha vida atual me
chamava, queria ver Enrico, estava
louca de saudade, parecia uma garota
apaixonada e insegura.
Já era tarde da noite de sábado, estava
deitada na minha cama olhando para o
teto, às vezes pegava o telefone e olhava
pra ele, como se ali eu fosse achar
respostas, não consegui evitar. No
primeiro toque ele atendeu.
- Emi? Tá tudo bem? – a voz era ansiosa
- Estou morrendo de saudade – falei
melosa
- Eu posso estar com você em um piscar
de olhos – pensei por um momento,
aquela proposta me fez sorrir, queria ele
aqui e agora, mas me contive. Aquele
final de semana era destinado somente a
minha mãe e meu pai
- Tudo bem, eu aguento, amanhã a gente
se vê.
- Estou contando os minutos – ele
sussurrou com uma voz sexy me fazendo
derreter
- Nos vemos amanhã
- Boa noite minha doce Emi – a ligação
foi encerrada
Naquela noite demorei a dormir, meu
coração transbordava de alegria e
saudade, minha intenção era acordar no
domingo bem cedo, mas não consegui
por conta da noite agitada com sonhos
ruins. Acordei quebrada com dores por
todo meu corpo, fui me arrastando pra
cozinha ainda de pijama. Encontrei uma
mãe chorosa com os olhos marejados.
- Mãe! Para com isso, só estou há três
horas daqui – sequei uma lágrima
teimosa.
- Eu sei... Eu sei...
- Então vamos parar de bobagem e
vamos curtir nosso domingo
Liguei o rádio e tocava Viva La vida
do Coldplay, puxei minha mãe e
começamos a dançar pela cozinha. Meu
pai encostado no batente da porta só
olhava e testemunhava a nossa
felicidade.
Depois do almoço fui arrumar minhas
coisas, um final de semana foi pouco pra
matar a saudade, haveria outros. Com as
malas prontas eu me despedi dos meus
pais, enquanto aguardava a chegada de
Tyler. Enrico me ligou mais cedo,
dizendo que não poderia vir por um
imprevisto de última hora, alguma coisa
em uma das empresas.
Tentei persuadir Tyler, foi em vão ele
não abria aquela boca por nada. Depois
da chorosa despedida me concentrei na
expectativa de chegar em casa. Fizemos
o mesmo trajeto, o helicóptero nos
aguardava com motores ligados. Na
decolagem um frio percorreu a minha
espinha e um gelo no estômago. Uma
hora depois estávamos aterrissando no
heliporto da Maximus. Aproveitei cada
momento, cada monumento e cada
sensação daquela viagem.
Tyler me ajudou a descer pegou minha
mala e descemos ao subsolo, apertou o
alarme do carro importado destravando
as portas, abriu a porta pra mim, eu
olhei torto, ele nem se abalou. Me
levava por um caminho desconhecido,
não me lembrava daquela ruas de casas
amontoadas, de ver aquelas crianças de
pés descalços correndo pela rua.
- Tyler? Onde estamos indo?
- Para casa do senhor Maximus, ele
gostaria de ver a senhorita antes de eu
leva-la pra casa – dei de ombros, ainda
estava cedo.
A luz do dia ainda iluminava as ruas
arborizadas, o choque de realidade era
imenso, minutos atrás estávamos, em um
bairro de classe baixa, não demorou
muito e já se via mansões e prédios
residenciais luxuosos. Tyler virou a
esquerda entrando num condomínio
fechado, mansões de alto nível, como
aquelas que vemos nos filmes de
Hollywood. Paramos em frente a uma
casa de três andares e gramado
verdinho, com portas enormes. Uma
mulher aparentando 60 anos de uniforme
nos aguardava na escadaria. O interior
da casa era ainda mais impressionante,
um ambiente claro, com móveis
contemporâneos, com janelas que iam
do chão ao teto, o ambiente era
tipicamente masculino.
- Sr. Maximus está aguardando a
senhorita no escritório – Tyler me
acompanhou
Cruzamos um enorme corredor, com
estantes repletas de livros, no final do
corredor uma porta fechada me
aguardava, Tyler apontou o escritório e
dali, segui sozinha. Andei a passos
curtos, respirei fundo e bati na porta.
- Entre – os pelos do meu braço se
iriaram
- Oi – coloquei a cabeça no vão da porta
Ele se virou pra me olhar, ele usava
uma calça jeans desbotada e uma
camiseta azul marinho que se moldava
perfeitamente ao seu corpo, estava
descalço, ele se aproximou da porta me
puxando pra dentro, em instantes sua
boca colou na minha.
Levei minhas mãos ao seu pescoço
acariciando sua nuca, ele tirou a camisa
e eu me delicie com a visão daquele
abdômen definido, minhas mãos foram
direito para o botão da sua calça, eu
abri e lancei minha mão pra dentro,
acariciando cada centímetro do seu
membro rígido. Ele me ajudou, tirou a
calça ficando de boxer preta. Ele
beijava do meu maxilar até a orelha, eu
gemia e isso o agradava.
Ele abaixou a alça da minha blusa
beijando o meu ombro nu, a cada beijo
minha pele queimava, ele tirou minha
blusa jogando no chão, tirou meu sutiã
com delicadeza e admirou meus seios,
tocou cada um, antes de capturar um
deles com a boca. Minhas pernas já
estavam ficando tremulas. Ele tirou
minha calça e também jogou do outro
lado.
- Nada de calcinha?
- Nenhuma – eu estava nua na frente
daquele homem que eu desejava tanto
Ele me levantou me encaixando em
sua cintura, nossos beijos eram urgentes
e famintos, ele me levou para um enorme
sofá ao canto, colocando-me
delicadamente, tirou a boxer, eu fiquei
sem fala, minha nossa... Uau, aquilo
era... Uau... Bom demais, perfeito
demais, e era tudo pra mim. Ele afastou
minhas pernas com seu joelho e
encostou seu membro na entrada da
minha parte mais sensível, eu arfei, ele
capturou minha boca mordendo
suavemente meu lábio inferior, enquanto
entrava e saía de dentro de mim.
Minutos depois eu estava gritando
pedindo mais, ele conseguia me
preencher por completo, estendi a mão
apertando sua bunda dura, guiando
enquanto ele entrava em mim. Conforme
eu gemia ele sorria nos meus lábios,
conforme ele gemia eu apertava cada
vez mais, levando meu quadril de
encontro ao dele.
Depois de uns 20 minutos suando
naquele sofá, enfim relaxamos, parecia
estar pisando nas nuvens, ele desabou
sobre mim. Eu acariciei seu cabelo
suado.
- Ah minha doce Emi, agora você é
minha pra sempre!
Onze
Depois da performance naquele sofá,
fomos para o quarto, atravessamos o
corredor na pontinha dos pés, não queria
que ninguém me visse. Enrico
gargalhava, dizia que ele morava
sozinho, não teria ninguém pra nos
espiar, mesmo assim ficaria
envergonhada se aquela senhora que me
recebeu cruzasse comigo no trajeto. O
quarto era um espetáculo a parte, a cama
era enorme com lençóis finos de seda,
as janelas tão grandes quanto do andar
de baixo. Repetimos as manobras de
minutos atrás, balançamos aquela cama
mais vezes do que eu consigo lembrar.
Ele não se cansava, eu consegui
acompanhar seu ritmo até o inicio da
madrugada, ele me deixou exausta,
saciada e feliz.
Os lençóis de seda azul cheirava a
Enrico, aquele cheiro de homem que
acaba de sair do banho, inebriante. Os
lençóis cobriam a sua cintura, olhando
aquela delicia toda tive vontade de cair
novamente em seus braços, queria me
aconchegar naquele corpo gostoso. Ele
pareceu ler meus pensamentos, me
puxou pra junto de si.
- Emily... O que você está fazendo
comigo?
- Estou amando você! – falei sem
pensar, ele se levantou descobrindo a
única parte que estava coberta.
- O que você disse? – eu via um sorriso
torto em sua boca
- Bem...
- Não seja covarde Emily – ele me
provocava
- Não falei nada que você ainda não
saiba
- Eu quero ouvir
- Você é bem autoritário senhor Enrico –
falei sorrindo
- E persuasivo – ele falou mordendo
minha orelha
- Eu amo você, eu quero você, eu
preciso estar com você, ok?
- Ok – ele respondeu – me deixa mostrar
o quanto te quero

Desabei em cima do seu corpo pela


quinta vez? Estava exausta, naquela
altura eu realmente precisava dormir.
Dormi agarrada ao seu corpo esculpido.
Quando abri meus olhos o sol
inundava o quarto, estava um pouco
desorientada. Enrico estava em frente ao
espelho colocando a gravata, olhei no
relógio assustada, entrei em pânico já
deveria estar trabalhando àquela hora.
- Bom dia – ele falou calmamente me
olhando através do reflexo do espelho
- Porque não me acordou? – sentei na
cama puxando o lençol até o pescoço
- Hoje você está de folga – ele abotoava
os botões do seu terno Armani
- E quem disso isso? E por quê? –
questionei
- Eu disse, sou seu chefe e tomo as
decisões que achar melhor, se eu disser
que hoje você está de folga, você estará
de folga – sua calma era enervante.
- Negativo, eu não estou de folga e não
quero mordomias, só porque estamos
transando.
- Você acha que é por isso? Emi Emi
você deveria me agradecer – meu
sangue fervia
- E por quê?
- Porque eu quero que você descanse –
aquela altura eu já estava em pé
- Eu vou com você – falei enquanto
procurava uma roupa descente na mala
- Você é teimosa pra caralho!
- Você não imagina o quanto – joguei
todas as roupas que eu tinha não chão,
não levei nada apropriado pra trabalho.
Só tinha uma calça jeans e foi o que
eu vesti, Enrico estava sexy como nunca
e eu... Uma simples mortal. Ele se
rendeu a minha persuasão, não ficaria
em casa nem morta, eu iria trabalhar eu
tinha metas e objetivos para alcançar.
Quando estávamos descendo a escada
para o primeiro andar ele colocou o
braço sobre meus ombros e disse:
- Eu já te disse que você é gostosa pra
caramba?
Não tive tempo de responder, quando
abri a boca pra soltar uma provocação
olhei para a base da escada e lá estava
ela em todo seu glamour, eu congelei ao
ouvir aquela voz de soprano.
- Aí está você Enrico Maximus – ela
colocou a mão na cintura
- Pelos deuses, o que faz aqui Jasmine?
- Já falei pra não me chamar de Jasmine!
– ela intimou
- Enfim, o que faz aqui mãe? Achei que
já tivesse na Itália
- Bom... - Ela olhou para as unhas
compridas e bem pintadas
- E então? – Enrico incentivou a
continuar fazendo um gesto com a mão
- Resolvi adiar - ela olhava dentro da
bolsa
- Você conhece a Emily?
- Que Emily? Ah sim a estagiária. Aliás,
o que ela faz aqui? – ele entrelaçou os
dedos nos meus.
Os olhos dela pousaram em nossas
mãos entrelaçadas, depois me olhou dos
pés até chegar à altura dos meus olhos,
foi como se quisesse voar no meu
pescoço. Ela era intimidadora com
olhos de predadora. Ela me olhou como
se eu fosse um inseto. O silêncio estava
quase constrangedor, quando pensei que
as coisas não poderiam piorar, eis que
aparece uma loira linda, com mais de
1.75 de altura, cabelos encaracolados e
olhos azuis como o mar do caribe. O
corpo era magro e elegante, parecia uma
modelo de capa de revista.
- Aí estão vocês! – ela jogava os
cabelos para o lado
- Ah minha querida, venha – Jasmine
puxou a mão da loira.
- O que ela está fazendo aqui? – Enrico
falou entre os dentes
- Kiara veio nos fazer uma visita, não
ótimo?
- Oi Enrico, há quanto tempo não o vejo
- ela alisou a lapela do seu paletó.
- Eu estou bem Kiara – ele tirou a mão
dela de cima dele
- Essa é Emily, minha namorada – eu
devo ter ficado tão branca quanto à
loira.
- Namorada? Imagina, Enrico está
brincando, essa moça trabalha pra ele, é
só isso – Jasmine falou com desdém.
- Ah claro! – A loira pareceu não dar a
mínima pra mim
- Acho que seria interessante Enrico te
levar para almoçar, assim vocês
colocam a conversa em dia. Há quanto
tempo você não vê a Kiara filho?
- Dois anos – a loira respondeu
- Eu preciso trabalhar – Enrico me
puxava pela mão
- Enrico, você não parece contente em
me ver – a loira falava toda melosa que
me fez ter náuseas.
- Kiara vai jantar com a gente hoje a
noite está decidido – eu era uma pessoa
invisível
Se eu saisse daquela sala certamente
não seria notada, só não consegui seguir
em frente, porque Enrico apertava minha
mão, a cada momento que eu fazia
menção de me afastar ele me segurava.
Aquela loira não parava de jogar
charme pra Enrico e aquilo estava me
perturbando, eu nunca vi Jasmine tão
empenhada em jogar aquela loira para o
filho, a cada passo que dávamos,
Jasmine inventava alguma coisa pra
chamar atenção.
- Senhoras, precisamos trabalhar. Foi
um prazer revê-la Kiara – Enrico me
puxou pela mão, Jasmine acompanhou
nossos passos.
- Jasmine, não vai funcionar – ele disse
deixando-a na porta de entrada.
- Mas que merda foi aquela? – exigi
saber
- Eu te conto no caminho – ele suspirou
pesadamente.
- E desde quando eu sou sua namorada?
– eu o encarei
- Por quê? Você não quer? – ele enrugou
a testa
Assim que as portas do carro se
fecharam eu olhei em seus olhos
aguardando o que ele teria pra contar.
- Enrico Enrico, o que está
acontecendo? – eu segurei sua mão
- Kiara e eu... Nós – ele afrouxou o nó
da gravata
- Vocês o que? – claro que eu já sabia a
resposta
- Éramos um casal – uma pontada de
ciúme me percorreu – ele continuou
Kiara e eu ficamos algum tempo
juntos, foi à dor da perda que nos uniu,
ela também havia perdido um amor. Sua
mãe era amiga da Jasmine, claro que
Jasmine fez de tudo pra nos juntar, ela
dizia que estava cansada de me ver
vivendo no luto. No começo acreditei
que fosse dar certo, Kiara era
inteligente, bem humorada e gostava de
mim. Conforme o tempo foi passando eu
ainda sentia um vazio dentro do peito,
não queria magoa-la, mas sabia que
nunca poderia ser feliz ao seu lado.
Tentei fazer dar certo, eu juro que tentei,
mas foi em vão, o tempo foi nos
separando até que um dia, eu disse que
não voltaria mais para Itália.
Jasmine está tentando nos juntar
novamente, eu conheço todas as
artimanhas dela, e agora que eu tenho
você, ela vai se esforçar ainda mais.
- Ela está tentando me separar de você?
– ele balançou a cabeça
- Está, mas não se preocupe, ela não vai
conseguir.
- Mas ela nem me conhece? E como ela
soube que estamos juntos?
- Emily meu amor, você não conhece os
talentos de Jasmine, ela tem um dom
excepcional, ela sabe muito bem lê as
pessoas, e ela me conhece melhor que
ninguém, pra ela eu sou transparente –
eu queria saber mais.
- Eu não sou boa o bastante pra você? É
isso? – ele tocou meu rosto beijando
suavemente meus lábios
- Eu sou um vampiro, e nós temos leis,
estou infringindo a mais grave, estou
ultrapassando um limite.
- Vampiro e humana? Essa é lei
infringida? – eu estava com medo da
resposta
- Sim, eu estou ultrapassando todos os
limites e Jasmine sabe das
consequências disso.
Aquela conversa revirou meu
estômago, senti meus olhos pinicarem,
eu não queria acreditar que eu de alguma
forma estava prejudicando Enrico. Ele
perceber meu olhar perdido e me puxou
para seu colo.
- Emi, eu vou dar um jeito, não precisa
ficar preocupada, nada de ruim vai
acontecer – ele beijou o topo da minha
cabeça.
Eu não tinha certeza que tudo ficaria
bem, eu queria acreditar, eu queria
mesmo, mas não consegui.
Tyler estacionou na porta da Maximus,
eu estava absorta em pensamentos, como
eu não ficaria preocupada com tudo que
acabei de ouvir. Entramos no elevador e
Enrico me abraçou forte, vai ficar tudo
bem ele dizia. Ele não poderia garantir
aquilo que estava me prometendo, eu
queria acreditar que tudo terminaria
bem, mas nosso futuro era incerto.
Ao entrarmos no nosso departamento,
todos os olhares se voltaram pra nós, já
passava das 10h e eu ainda chegava com
o chefe, à cabeça de todos estavam
trabalhando a todo vapor, imaginando o
que a estagiária estaria fazendo com o
CEO. Mari derrubou a caneta que
segurava.
- Algum problema? Ninguém tem nada
pra fazer? – Enrico falou alto e em bom
som
- Nenhum – Mari respondeu
- E você Enzo o que ainda faz aqui? Não
tem trabalho pra fazer? Ou será que vou
ter que fazer seu trabalho também? –
Enrico estava me dando arrepio.
- É que... Sara ainda não chegou – ele
pigarreou
- Ainda não chegou? Isso é uma empresa
ou o que? – ele olhou em seu relógio de
pulso
- Emily, você vai trabalhar com Enzo
hoje.
- E.. Eu? – ele passou as mãos pelo
cabelo olhando para o teto
- Tem outra Emily aqui? Ou você não é
capaz?
- Sou muito capaz senhor – eu olhei
furiosa
- Os dois, caiam fora daqui – ele
apontou para saída.
Enzo colocou seu material de trabalho
dentro da mochila e colocou o celular no
bolso, enquanto eu pegava minha bolsa e
minha agenda, não sabia o que levar,
nem sabia para onde estava indo.
- Ainda estão aqui? – Enricou olhou pra
nós
Enzo apressou o passo me puxando
pela mão até chegarmos salvos dentro
do elevador.
Doze
Aquela atitude de Enrico só mostrou o
quanto ele está desestabilizado, não sei
se é por mim, por Jasmine ou pela loira
de pernas compridas. Enzo me falou que
iriamos trabalhar num relise de uma
empresa automotiva, uma marca alemã
que estaria se estabelecendo aqui. O
estresse que havíamos passado a pouco
na Maximus não havia me deixado cair
na real. Eu Emily estaria fazendo
trabalho de campo, faria um trabalho de
jornalista de verdade, eu almejei tanto
por isso e agora estava morrendo de
medo.
Medo de me decepcionar, medo de
decepcionar Enrico, medo de ser um
fracasso total. Apesar da minha falta de
confiança eu me esforçaria o máximo
para que tudo saísse da melhor forma
possível. Fomos no carro de Enzo, ele
não perdeu a oportunidade de me
convidar mais uma vez pra sair. Ele é
um cara legal, não queria ferir seus
sentimentos. Mas é sério, não vai rolar,
mesmo porque meu coração está
totalmente ocupado por um único
homem... Enrico Maximus.
- O que deu no babaca do Maximus
hoje? – Ele disse batendo a mão no
volante
- Vai saber – não queria prolongar a
conversa e odiando ouvir ele chamado
Enrico de babaca
- Esses caras riquinhos pensam que são
donos do mundo – ele disse ligando o ar
condicionado do carro
- Você também é rico – objetei
- Não tanto quanto o Maximus, o cara é
praticamente dono de metade da Itália,
você sabia disso? – eu dei de ombros,
nem um pouco impressionada.
- Eu não, como poderia saber – fingi
desinteresse.
- Vocês parecem que estão ficando
íntimos – ele aproveitou que estava
parado no farol vermelho e olhou
diretamente no fundo dos meus olhos
- Não sei do que você está falando –
olhei pra janela na esperança de
disfarçar a queimação na minha pele
- Então porque não quer nada comigo?
Achei que fosse por causa dele, ele te
olha como se fosse capaz de levar um
tiro por você – minha garganta estava
ficando seca.
- Para de bobagem, você está vendo
coisas – forcei um sorriso.
- Espero que esteja vendo mesmo,
porque não quero desistir de você.
- Enzo... Para com isso
- Por quê? Eu estou solteiro você está
solteira, qual o problema se a gente se
conhecer melhor?
- Eu não estou procurando um namorado
– falei
- Não precisamos ir direto para o
namoro, podemos sair ir ao cinema, e
quem sabe vire alguma coisa mais séria
– eu via sinceridade em seu olhar.
- Enzo...
- Só um cineminha? – ele mostrou um
lindo sorriso de dentes perolados
Eu estava ficando encurralada, não
estava preparada para lidar com um
homem, imagina com dois. Passei um
ano inteirinho sem ninguém, depois do
fim do namoro com Jonas, agora me
aparecem dois homens lindos, cada um
com um diferencial, um vampiro e um
humano. Ai meu Deus, era muito pra
minha cabeça.
Meia hora depois estávamos parando
em frente à empresa automotiva, eu olhei
pra mim mesma, lembrando que não
estava vestida para tal, estava de calça
jeans regata e tênis, mas teria que servir,
não tinha outra solução, não poderia
perder aquela chance. Fomos
recepcionados pelo gerente do local,
Adrian, que nos convidou para a sala de
reuniões, onde seria decido qual o tipo
de assessoria daríamos a ele. Enzo
acabou me dando uma breve explicação
daquilo que faríamos, assimilei o
máximo que pude. Não queria estragar
nada.
O gerente era muito jovem, eu
chutaria 25 anos, mas logo me
surpreendeu dizendo que tinha 23, tinha
um sotaque diferente, aquele sotaque
mostrava que ele vinha de fora, eu com
minha curiosidade de jornalista
perguntei de que lugar ele era, ele sorriu
parecendo desconcentrado, dizendo que
era natural da Alemanha. Eu deveria ter
imaginado, já que a empresa é alemã.
Com a conversa fluindo, fomos
descobrindo que tipo de assessoria ele
queria, fui anotando cada palavra, Enzo
pediu para tirar algumas fotos para que
adiantássemos nosso trabalho.
Como a empresa era relativamente
nova, foi solicitado que fizemos algum
tipo de comunicação online, atualização
do website. Ele queria que sua empresa
ficasse conhecida, que tivesse uma boa
imagem institucional. E faríamos isso da
melhor forma possível, Enzo finalizou a
sessão de fotos para nosso relise e
sentou-se ao meu lado, prestando
atenção em cada palavra que eu dizia,
balançava a cabeça positivamente sem
parar.
- Acho que terminamos – falei olhando
para Enzo
- Ah que ótimo, já tenho todo material
necessário – ele deu tapinhas em sua
máquina fotográfica.
- Espero que fique do seu agrado senhor
Adrian – eu me levei e Adrian também
- Ah, por favor, só Adrian – ele falava
em seu sotaque característico.
- Assim que tivermos colocado tudo isso
em uma apresentação PowerPoint,
retornaremos para sua aprovação.
- Não vejo a hora – Enzo olhou para
Adrian franzindo o cenho
- Foi um prazer, agora precisamos ir –
Enzo estendeu a mão para Adrian que
apertou.
Juntei minhas coisas contornando a
mesa para cumprimentar Adrian, que me
surpreendeu beijando minha mão. Ele
nos acompanhou até a saída. Como já
estava perto da hora do almoço fomos
almoçar antes de retornar a Maximus.
- Você foi incrível – Enzo deu um
soquinho no meu braço
- Você acha? – perguntei insegura
- Você é uma jornalista nata
- Você tá falando isso só pra me agradar,
Enzo? – falei desconfiada
- Deixa de bobagem, eu falo sério, o
senhor babaca vai ficar impressionado.
- Ele não é babaca - ele olhou pra mim
- Tá defendo o cara por quê? Também tá
afim dele?
- O que quer dizer com também? – eu o
encarei
- 90% da população feminina daquela
empresa estão afim daquele babaca
- Nada disso, vamos mudar de assunto?
– ele não pareceu convencido.
- Agora pra você arrebentar, faz uma
excelente apresentação e um relise
completo – ele deu uma mordida num
pãozinho.
Ele levantou a mão para que eu desse
um tapinha, acho que é um cumprimento
relativamente masculino, eu imitei e
rimos pra valer. No cominho para
empresa fiquei pensando em como
finalizaria esse trabalho, queria que
ficasse perfeito, não para mostrar para
ninguém que eu era capaz, porque sem
dúvida eu era. Afinal não passei quatro
anos da minha vida estudando para ser
uma jornalista medíocre. Colocaria toda
minha dedicação naquelas informações.
- Ah gata, da próxima vez traz seu
notebook, agenda é uma coisa arcaica.
- Eu não tenho notebook, babaca.
Chegamos a Maximus e fui direto
para minha mesa, estava animada para
colocar em prática todas as minhas
ideias, Mari olhou pra mim erguendo a
sobrancelha, não entendi o que ela
estava querendo me contar. Não
demorou muito para eu descobrir o que
aquela sobrancelha estava tentando me
dizer.
- Emily? – olhei sobre os ombros
- Sim?
- Como foi com Enzo? Quero dizer,
como foi o trabalho com Enzo – senti
uma pontada de amargura em sua voz.
- Foi ótimo – ele colocou as mãos no
bolso da calça
- Quero ver seu relise antes de entrega-
lo ao editor chefe
- Claro – eu tentava parecer o mais
profissional possível
- Tenho outra tarefa pra você, em 10
minutos na minha sala – ele saiu sem
esperar minha resposta.
Enzo olhou pra mim e falou babaca
sem sair som da boca, eu revirei os
olhos, ele pegou seu equipamento e saiu,
disse que tinha outro trabalho a fazer.
- Mari, o que aconteceu com a Sara? Ela
deu noticias? – eu falei baixinho
- Ela ligou, disse que pegou uma baita
de uma virose – Mari também falou
baixo.
- Ah coitada! – escorreguei na minha
cadeira
- O senhor Maximus, não ficou nada
contente, mas disse que ela poderia ficar
em casa o tempo que fosse necessário,
até se curar, disse que não queria
ninguém mais pegando virose por aqui.
- Espero que ela se recupere logo
- Às vezes eu acho que o senhor
Maximus não tem coração, aquilo foi
jeito de falar com você, que cara mais
babaca – porque todos resolveram
chama-lo de babaca?
- Não me importo, acho que ele deve
estar preocupado com alguma coisa –
me arrependi no mesmo instante que
terminei a frase.
- Por falar nisso, me conta? Você
chegaram juntos por quê?
- Foi coincidência só isso – tentei
parecer convincente, claro que não
funcionou.
- Pois pra mim pareceu mais que isso –
ela levou a caneta na boca
- Ai meu Deus, já se passaram 20
minutos e já deveria estar na sala do
senhor Maximus, ele vai arrancar meu
fígado.
Foi uma deixa para sair daquela
conversa embaraçosa, eu precisava
urgentemente dar um jeito nessas
suposições. Eu não sabia mentir, nem
era uma boa atriz, interpretar papéis não
era minha praia.
Corri para sala de Enrico, antes de
chegar até a porta tropecei entre as
pernas, não seria eu se não fizesse uma
cena, ainda bem que minha única
espectadora era Mari, que já estava
habituada com minhas atrapalhadas. Bati
de leve na porta e abri vagarosamente,
colocando a cabeça para dentro da sala.
- Posso entrar?
- Claro – ele fez um gesto com a mão
- Queria falar comigo? – falei cautelosa
Ele saiu da sua cadeira confortável e
veio em minha direção, passou a mão
pela minha cintura, me puxando pra
perto de si beijando meu cabelo.
- Me desculpa, eu não quis ser grosseiro
com você mais cedo – ele me apertava
fortemente.
- Tudo bem, eu entendo – falei tentando
me afastar.
- Vem pra casa comigo hoje? – ele tinha
dor no olhar
- Não posso, já combinei de jantar com
a Sabrine – ele me soltou se virando pra
janela.
- Eu sei que é difícil pra você, mas pra
mim também, eu não me sentia assim há
muito tempo, eu simplesmente não
consigo ficar longe de você – eu abracei
por trás, colocando meu rosto em suas
costas.
- Ah Enrico você está virando minha
vida de cabeça pra baixo – ele segurou
meus pulsos
- Eu sei minha doce Emi, eu sei... Dorme
comigo? Preciso do seu abraço – eu
respirei fundo
- Eu vou para casa com você, mas antes
eu preciso passar em casa, pegar
algumas roupas e...
- Não é necessário, Tyler cuida de tudo -
ele pegou o celular no bolso.
- Tyler? – falei confusa
- Tyler... Preciso que faça uma coisa,
venha aqui na minha sala – ele encerrou
a chamada e pousou o celular sobre a
mesa.
- Se é assim vou voltar para o meu
trabalho, meu chefe é muito exigente,
sabe? – ele beijou meus lábios
- Seu chefe? Estou ficando com ciúmes.
A gente se vê mais tarde? Tenho uma
reunião agora.
- Sim meu amor, nos vemos mais tarde –
o sorriso me mostrou covinhas
encantadoras.
Assim que cruzei a porta, dei de cara
com Tyler que me cumprimentou com um
sorriso. Um sorriso? Eu vi um sorriso
naquele naqueles lábios, achei que ele
nem soubesse o que era isso.
Sentei-me na minha pequena mesa, e
antes de voltar para o trabalho resolvi
checar meu celular, com aquela correria
toda eu não tive tempo de mandar uma
mensagem pra Sabrine e nem para minha
mãe que já deveria estar surtando.
Revirei os olhos quando vi que estava
sem bateria, coloquei para carregar o
suficiente para que eu visse as
mensagens que eram muitas. Sete da
minha mãe e cinco da Sabrine. Quase
todas com os mesmos conteúdos, “onde
você está?”, “porque não me ligou?”,
“filha desnaturada?”, “você tem cinco
minutos para me ligar?”. Liguei para
minha mãe e mandei uma mensagem para
a Sabrine. Minha mãe gritou tanto que
tive que colocar o telefone longe da
orelha, mas ela tinha razão eu era
mesmo uma filha desnaturada e estava
me saindo uma péssima amiga.
Suspirei fundo e voltei minha atenção
ao meu trabalho, estava tão concentrada
que nem percebi quando Tyler saiu da
sala de Enrico, só voltei ao mundo real
quando Enrico disse a Mari que estava
indo para reunião, ele olhou pra mim e
piscou. No final da tarde já estava com
o relise e a apresentação prontos,
encaminhei via e-mail pra Enrico.
Desliguei meu computador coloquei
minha bolsa no ombro e fui para o
elevador, Enrico iria direto para casa
após a reunião, eu sabia que Tyler
estaria me esperando do lado de fora.
Achei que Tyler me levaria para
minha casa, mas ele foi direto para a
casa de Enrico, o caminho eu já estava
familiarizada, e logo paramos na entrada
da enorme mansão. A senhora de
uniforme estava mais uma vez nos
aguardando na entrada, soube que o
nome dela era Dora e que trabalhava
para Enrico havia cinco anos. Tyler me
deixou nas mãos de Dora e saiu pela
lateral.
- Venha querida, vamos arrumar suas
coisas – ela me conduziu ao segundo
andar.
Ela me levou a um longo corredor e
entramos na última porta a esquerda, era
um quarto enorme, com as mesmas
janelas do chão ao teto, que faziam o
quarto ter uma claridade, como se
tivéssemos ao ar livre, com uma cama
de casal com lençóis verde claro, um
armário que cobria toda uma parede, e
uma penteadeira com muitos artigos de
perfumaria e maquiagem.
- Quem dorme aqui? – perguntei curiosa
- Esse é o seu quarto – ela falou,
gesticulando com as mãos.
- Meu quarto? – eu não estava
entendendo
- Sim, o senhor Maximus me pediu para
arrumar tudo – ela andou em direção a
uma passagem que certamente era um
closet.
- Porque ele me daria um quarto em sua
casa? – eu achei que tivesse pensado,
mais falei em voz alta.
- Ele deve gostar muito de você, eu
nunca via o senhor Maximus tão feliz.
Venha vamos desempacotar suas coisas -
que coisas?
- Não preciso de ajudar para guardar
meia dúzia de roupas – falei rindo
- Eu acho que é um pouco mais que meia
dúzia – ela apontou para a cama
Ao olhar em cima da cama, minha
boca quase se escancarou, eu nunca
havia visto tantas sacolas e caixas de
sapatos, me aproximei de vagar e abri
uma delas, um vestido tubinho preto,
tamanho médio, na medida certa.
Coloquei em frente ao meu corpo e me
olhei em frente ao enorme espelho que
ocupava a parede oposta. Caberia
perfeitamente em mim, como uma luva.
Ainda estava com etiqueta, o preço era
sem dúvida duas vezes o meu salário.
Abri uma caixa de sapatos e nela tinha
um Jimmy Choo, azul com um salto
enorme.
- Tyler comprou tudo isso?
- Valentina escolheu tudo, Tyler só
acompanhou.
- Quem é Valentina? – aquilo estava
ficando esquisito
- É a Personal alguma coisa – ela riu e
eu ri também
- Personal Stylist?
- É... Isso mesmo, ela trabalha para a
senhora Jasmine – fique chocada.
Eu não queria acreditar que tudo
aquilo era para mim, era muito coisa
para eu passar somente uma noite, um
guarda roupa completo, eu não teria nem
onde usar tantas roupas bonitas. Dora
me ajudou a pendurar todas elas e
alinhar os sapatos e bolsas, depois de
tudo arrumado Dora me deixou sozinha e
voltou para o andar de baixo, aquilo
tudo era surreal pra mim. Deitei naquela
cama macia e adormeci, por um tempo
que pareceram horas. Acordei meio
desorientada, sabe quando a gente
acorda e não sabe onde estamos? Foi
essa minha sensação.
O quarto estava escuro, andei em
direção à porta e cruzei o corredor, ouvi
vozes no andar de baixo, e não demorou
para distingui-las, era de Enrico e
Jasmine, desci as escadas na pontas dos
pés, não queria que me vissem, e me
aproximei da porta do escritório, ela
estava entreaberta e pude ouvir
nitidamente a conversa dos dois.
- O que aquela garota está fazendo
dormindo lá em cima? – Jasmine
questionava o filho
- Aquela garota se chama Emily e já
disse que eu a amo.
- Você sabe que não pode ama-la
- E porque não? Depois de muito tempo
foi ela que me fez sentir vivo de novo,
não posso me arriscar perdê-la.
- Seria tão mais fácil se você se
entendesse com Kiara, ela é como nós,
não seriamos questionados por nada.
- Kiara está no passado você sabe disso,
não há nenhuma chance de ficarmos
juntos novamente, não precisa nem se
dar ao trabalho de ficar inventando
pretextos para trazê-la pra cá – a mãe
suspirava.
É aquela mulher lá em cima que eu
quero, é ela que eu amo.
- Você não entende o que vai acontecer
se Lorenzo Sartori descobrir que
estamos nos metendo com uma humana,
e o pior se souber que você já contou
seu segredo a ela?
- Emi não falaria nada a ninguém, eu
confio nela.
- O clã dos Sartori não perdoa os que
desprezam as leis da nossa raça, isso
seria imperdoável.
- Eu vou dar um jeito – Enrico falou num
tom sussurrado
- Que jeito? A não ser que... – Jasmine
hesitou
- O que está pensando? – Enrico
questionou
- A não ser que você a transforme – uma
vertigem me atingiu
- Nunca! Eu jamais condenaria a alma
da mulher que eu amo!
Treze
Lágrimas queimavam meu rosto,
atravessei a porta de saída como um
furacão, eu ainda estava descalça, mas
não me importava, não voltaria lá pra
cima. Corri pelo gramado bem cuidado
na esperança de encontrar uma saída o
mais rápido possível, acabei
encontrando Tyler fumando com um dos
seguranças da casa.
- Tyler me leva pra casa? – falei entre
lágrimas
- Aconteceu alguma coisa? Eu posso
ajudar? – ele estava claramente
preocupado
- Só me leva para casa, por favor – eu
abraçava meus braços.
- O senhor Maximus não vai gostar – ele
coçou a cabeça
- Ele vai gostar menos ainda se souber
que você me deixou ir embora a pé.
Tyler resolveu não protestar me
colocando dentro do carro, correndo
para o volante. Encostei minha cabeça
no encosto do banco e desabei. A todo o
momento Tyler me olhava através do
espelho retrovisor, parecendo querer
checar se eu estava bem. Meu choro era
tão alto que eu estava soluçando. Carros
e casas passavam pela janela do SUV
como um borrão. Não sei se pela
velocidade que Tyler dirigia ou se por
minha visão embaçada.
O carro foi parando ao meio fio em
frente ao prédio da Sá, não esperei que
ele parasse por completo, me atirando
para fora, passei pela portaria e segui
para o elevador, eu estava descalça, sem
bolsa, sem chave, sem celular. Toquei a
campainha bati na porta e nada, não
tinha ninguém em casa. Escorrei
sentando no chão abraçando meus
joelhos. E ali fiquei não sei por quanto
tempo até Sabrine chegar. Assim que me
viu, o pânico ficou estampado em seu
rosto, ela jogou a bolsa no chão
ajoelhando perto de mim.
- Emi, por Deus o que foi que
aconteceu? – eu levantei minha cabeça
escondida entre os braços
- Ai Sá – chorei mais ainda
Ela abriu a porta do apartamento e me
ajudou a levantar, segurava em minha
cintura me levando para a sala. Parecia
que eu estava bêbeda de tão
desorientada que eu estava. Me encolhi
no sofá, sem ter coragem de contar o
motivo do meu desespero, me afundei
nas almofadas.
- Você foi assaltada? Fizeram alguma
coisa com você? – ela colocava a mão
na cintura andando de um lado para o
outro
- Não foi nada disso eu estou bem – na
medida do possível
- O que foi então? – ainda estava
alarmada
- Enrico...
- O que aquela sacana fez? – ela
digitava no celular com agressividade
- Nada! – gritei antes que ela fizesse
alguma besteira
- Você está com a cara toda borrada –
ela limpou meu rímel com a palma da
mão
- Desculpa – eu funguei
- E então? Mais calma?
- Sim – eu balancei a cabeça
- Então, pode começar!
- O Enrico, eu... O Enrico... Eu – ela
continuava na minha frente com os
braços cruzados
Mas o que eu falaria pra ela? Ah meu
namorado é um vampiro! E ele corre
perigo se alguém souber que eu sei seu
segredo? E que talvez eu também corra
perigo por saber? Eu não queria mais
ninguém em perigo, muito menos minha
melhor amiga. Então resolvi mentir.
- Eu terminei com Enrico, e meu coração
está despedaçado – levei minha mão ao
rosto.
- Namoro relâmpago! Mal começou –
ele torceu aquela boca rosa
- Eu sei, eu sei, mas melhor parar por
aqui, ele eu não combinamos.
- Quem disse isso? Pois acho que
formam um casal lindo
- Não! Eu prefiro parar por aqui – tirei
um fio de cabelo grudado na minha boca
- Porque está sofrendo tanto, se a
decisão foi sua? – advogada filha da
mãe!
- Sá... Eu quero assim – ela levantou as
mãos se rendendo
- Só mais uma pergunta... Porque está
toda molambenta? Cadê seus sapatos?
- Eu estava na casa de Enrico e acabei
largando tudo – ela apertou os olhos,
não acreditando em nada daquilo que eu
falava.
- Entendo... Mas
- Sá... Vou para o quarto, minha cabeça
está explodindo.
Deitei na minha cama e vi o quarto
girando, era pior do que eu pensava, eu
estava arrasada. Tudo que eu não queria
era complicar a vida do homem que sem
dúvida eu amava. Ah pelo amor Deus!
Porque a vida tem que ser assim, porque
não poderia ser menos complicada. Eu
teria que arrumar um jeito de sair da
vida dele, eu não suportaria viver se
alguma coisa de ruim acontecesse a ele,
ainda mais sendo eu a culpada.
A chuva caía lá fora e o vento
soprava as cortinas da minha janela.
Levantei-me para fechar o vidro olhando
brevemente para o lado de fora, ele
estava debaixo daquela chuva,
conseguia ver o contorno do seu corpo
no meio do temporal. Baixei o vidro e
puxei as cortinas com força, não estava
preparada para falar com ele, não
naquele momento, voltei para cama e
adormeci.
Uma leve batida na porta me fez
pular, Sabrine estava parada em costada
no batente com o celular na mão. O
cabelo curto estava molhado penteado
para trás, usava seu pijama de flanela.
- O senhor gostoso já te ligou três vezes,
quer atender agora? – eu olhava
fixamente para aquele aparelho
- Não acho uma boa ideia – falei me
virando para o lado
- Em algum momento você terá que falar
com ele, afinal trabalha na empresa
dele. Ou pretende se demitir também? –
eu não havia pensado nisso
- Ah merda! – ela esticou o telefone na
minha direção
Estiquei meu braço vagarosamente,
parecia estar com medo daquele
aparelho, peguei e encostei junto ao
peito enquanto Sabrine me deixava
sozinha no quarto fechando a porta.
Respirei fundo levando o aparelho até o
ouvido criando coragem para falar.
- Alô – atendi
- Emily! Que inferno, o que aconteceu? –
ele falava alto do outro lado da linha
- Eu...
- Tyler disse que você saiu desesperada.
Foi alguma coisa que eu fiz? – sua voz
era cautelosa
- Não foi nada – minha capacidade de
raciocinar estavam se esvaindo
- Para o inferno que não foi nada!
Alguma coisa aconteceu e você vai me
falar, ou em cinco minutos estarei aí
pulando pela sua janela – fiquei com
medo que aquela ameaça sutil fosse de
fato verdadeira.
- Eu ouvi sua conversa com Jasmine –
falei pausadamente, a linha ficou muda
por segundos.
- Emily eu posso explicar – ele falava
comedido
- Não há o que explicar eu já entendi
- Eu jamais transformaria você, eu nunca
tiraria a chance de você viver todas as
experiências que eu não vivi – essa era
a última das minhas preocupações.
- Você acha que é com isso que estou
preocupada? – coloquei o dedo
indicador no peito
- Não? Então... – eu senti confusão na
sua voz
- Enrico, eu não quero prejudicar você,
nem quero imaginar o que fariam se
soubesse que um segredo guardado há
milênios não está mais seguro – mesmo
que eu não fosse contar nada a ninguém.
- É comigo que você está preocupada? –
ele pareceu não acreditar
- Sim
- Ah minha doce Emi, o que me
adiantaria viver em um mundo sem
você? Eu arriscaria a minha existência
por você – era tudo que eu não queria
- Eu não quero que se machuque
- Eu prometo que vou pensar em alguma
coisa, não se preocupe comigo – como
não me preocupar?
- Eu não posso fazer isso, me desculpe.
- Emi
- Eu não posso deixar você violar essa
lei – eu encerrei a ligação.
A chuva já não era mais intensa, só
gotículas manchando minha janela, me
encolhi na cama em posição fetal, era
como se um buraco estivesse aberto
dentro do meu peito, um vazio e uma dor
sem tamanho me consumia. Eu tinha
impressão que aquele homem me
pertencia há séculos, não achava que era
capaz de suportar tanta dor. Nem quando
eu havia terminado o namoro com o
Jonas eu me senti assim tão deprimente.
Já passava das 22h horas quando
Sabrine entrou no quarto com uma
bandeja na mão, eu não queria comer
nada, tinha certeza que não passaria nem
água por minha garganta.
- Eu trouxe uma sopinha pra você – ela
deu um chute na porta e fechou
- Não quero comer Sá, estou sem fome.
- Você precisa comer só um pouquinho,
por favor, por mim? – ela jogava sujo.
Eu me recostei na cabeceira da cama
e aceitei a bandeja, tomei duas
colheradas e coloquei a bandeja no
criado mudo. Ela acompanhou minhas
mãos com os olhos.
- Vem, deita aqui no meu colo – ela
bateu a palma da mão na perna.
- Acho que vou voltar para casa –
solucei
- Não seja boba, não sei o que realmente
aconteceu entre você e o senhor gostoso,
mas não creio que vá acabar assim.
- Sá... Eu não quero mais vê-lo
- Você está me escondendo alguma
coisa? Tô achando isso tão esquisito. Ah
meu Deus! Ele bateu em você? – ela me
tirou do colo para olhar pra mim
- Não, ele não seria capaz – ela
arregalava aqueles olhos delineados.
- Assim espero, porque se ele fizer algo
do tipo eu o coloco na cadeia – eu
revirei os olhos.
Não conseguiria lidar com a situação,
eu queria mesmo era estar nos braços do
meu Enrico. Se não fosse por toda essa
complicação, era com ele que estaria
naquele momento. Mil coisas passavam
na minha cabeça, mil maneiras de
resolver aquela situação, coisas que eu
nunca achei que faria.
E se ele me transformasse? Será que
acabaria com nossos problemas? Ou me
arranjaria mais problemas? Como
explicaria minha nova condição? Deitei
novamente no colo da Sabrine, que
graças aos deuses não falou mais nada,
apenas ouvia o som da minha
respiração.
Acordei na manhã seguinte com
Sabrine deitada ao meu lado, o que eu
fiz para merecer uma amiga tão boa. Saí
da cama devagar para não acorda-la,
ainda era cedo demais. Fui para o
banheiro olhei-me no espelho e me
assustei com o reflexo, estava horrível.
Os olhos inchados e todo borrado de
rímel, o cabelo um desastre. Entrei no
chuveiro deixando a água quente cair no
meu rosto, precisava reunir forças para
trabalhar, precisava reunir forças para
estar na Maximus.
Demorei mais do que o necessário,
me enrolei na toalha e voltei para o
quarto, tropecei num par de botas da
Sabrine e soltei um palavrão fazendo Sá
acordar.
- Bom dia – ela bocejava
- Bom dia Sá, se importa de me dar uma
carona hoje?
- Claro que não, vou me arrumar – ela
correu para o chuveiro.
Procurei uma roupa discreta no
armário, queria estar invisível, e
adoraria se ninguém dirigisse uma única
palavra para mim. Uma calça preta e
blusa branca estavam ótimas. Fiz um
rabo de cavalo e passei uma maquiagem
que disfarçou bem minha cara de
depressão. Enquanto Sabrine terminava
de se arrumar eu fazia o café, teria que
ser forte para espantar tudo que fosse de
ruim.
Sabrine estava pronta, usava um
batom roxo da cor do esmalte, um
conjunto de saia e blusa elegante. Ela
pegou as chaves do carro na mesa do
corredor e me ofereceu o braço.
Sá me deixou em frente à Maximus,
antes de eu descer ela me desejou boa
sorte, dizendo que eu poderia ligar a
qualquer hora do dia, sai sem a menor
vontade de enfrentar aquele dia que só
estava começando, mas não poderia
para minha vida. Precisava continuar, eu
era forte e decidida e não deixaria nada
e nem ninguém me derrubar. Ao menos
era sim que eu pensava, mas minha
positividade e certeza caíram por terra
quando vi Enrico sair daquele elevador.
Já estava na minha mesa tentando
colocar minha cabeça e minhas coisas
em ordem, quando aquele homem entrou
no nosso departamento. Rodrigo estava
na mesa de Enzo, parecia falar sobre
futebol, Mari estava ao telefone, Sara
ainda não havia chegado, espero que ela
tenha se recuperado daquela virose. E
eu parecia sozinha naquela sala enorme.
- Bom dia – Enrico falou sem direcionar
a ninguém em especial
Todos responderam em uníssono, a
minha voz saiu tão baixa que pareceu um
sussurro, voltei minha atenção ao meu
computador tentando inutilmente, abrir
meu sistema.
- Onde está a Sara? – a voz dele estava
mais grave que nunca
- Ainda doente senhor Enrico – Mari
explicou
- Emily? – ele colocou aquelas mãos
enorme na minha mesa
- Sim? – levantei o meu olhar tentando
encontrar seus olhos
- Assuma as funções da Sara
- Co..como? – eu tinha que gaguejar!
- Não está preparada? – ele apertou os
olhos
- Ee. Estou – eu parecia uma fracote
- Ótimo! Aliás, seu relise ficou muito
bom – todos nos olhavam como se fosse
um jogo de ping-pong.
- E vocês? Também querem ser
substituídos? Ou vão fazer jus ao alto
salário que eu pago? - Ele olhou para
cada rosto que estava presente naquela
sala.
Ele ajeitou a gravata e seguiu para sua
sala, ainda me causava arrepios vê-lo
naquele terno sob medida, cabelos
ligeiramente molhados penteados com
perfeição. Ele deixou aquele perfume
maravilhoso por todo ambiente, fechei
os olhos por um momento, tentando
gravar aquela imagem na minha mente.
Era assim que eu viveria de lembranças.
- Você não acha Emily? – me voltei em
direção à voz, pois não tinha ouvido
uma palavra.
- O que disse Enzo? Não prestei atenção
- Eu disse que o Maximus tá mais
babaca que nunca – não aguentava mais
ouvir a palavra “babaca”
- Concordo com você! – falei, voltando
minha atenção para a tela do meu
computador.
Quatorze
Dediquei toda atenção ao meu
trabalho, se não poderia ter uma vida
amorosa normal, ao menos no trabalho
queria que chegasse perto da perfeição.
Estava me sentindo culpada por estar tão
feliz em assumir as funções de Sara. Eu
sei, é egoísta da minha parte, a garota
adoentada e eu pulando de alegria por
fazer o que eu sempre sonhei.
Eu sempre quis ser jornalista e aquela
era minha chance, não desperdiçaria,
daria o meu melhor. Depois do almoço,
Enzo e eu voltaríamos à concessionária
de Adrian, para apresentar nosso
projeto. Eu estava empolgada com meu
primeiro trabalho e estava torcendo para
que aquele contrato fosse fechado.
Mariana puxava assunto a todo o
momento, eu acabei me tornando
monossilábica, nem Mari nem Enzo
percebiam que eu não estava interessada
em conversar. Resolvi colocar os fones
de ouvido, eu sempre me acalmo e me
concentro melhor quando estou ouvindo
música. Música é vida, o que seria do
mundo se não existem os acordes?
Coloquei Adele pra cantar, a voz
daquela mulher fazia os pelos dos meus
braços se arrepiarem. Cantava baixinho
acompanhado a letra Hello, quando
Mari fez sinal para que Enzo se
aproximasse, ele debruçou na mesa e me
olhou por cima do ombro. O que os dois
estavam aprontando? A cara de Mariana
sugeria conspiração.
Não me aguentei de curiosidade,
sabia que falavam de mim, abaixei o
volume e comecei a prestar atenção na
conversa daqueles dois.
- E então já convidou a Emi pra sair? –
Mari falava quase sussurrando
- Convidei, mas ela me ignora. Mulher
difícil da porra!
- Eu acho que ela está interessada em
outra pessoa – ele me olhou novamente
- Quem? – ele perguntou e ela fez uma
leve menção com a cabeça, apontando
para a porta da sala de Enrico.
- Ele mesmo! – ela confirmou
É o fim, minha vida sendo especulada
pelos cantos. Aumentei novamente o
volume e me concentrei na voz incrível
da Adele. A manhã estava quase
tranquila quando o furação resolveu dar
o ar da graça. Jasmine atravessa a porta
com aquela loira a tira colo, só o que
faltava para animar ainda mais minha
manhã. Me afundei na cadeira,
desejando naquele momento ser a garota
invisível, aquele olhar intenso me fez
lembrar que eu estava na frente de uma
predadora.
- Garotinha? – ela colocou a bolsa na
mesa da Mariana
- Eu vou avisar ao senhor Maximus que
a senhora está aqui – a loira de pernas
compridas jogava os cabelos para o
lado
- Não é necessário, eu sei o caminho –
Jasmine desfilava pela passarela
seguida pela loira azeda.
Se a loira queria chamar atenção
conseguiu, Rodrigo estava babando.
Assim que as duas entraram por aquela
porta ele soltou aquilo que estava
guardando.
- Esse desgraçado do Maximus é um
sortudo filho da mãe – ele gesticulava
- Eu acho bom eles se acertarem, ao
menos o caminho fica livre pra mim –
Enzo piscou.
- Cara, vai ter sorte assim lá no inferno,
essa loira é gostosa pra caralho –
Rodrigo estava inconformado.
- Eu pensei que você e Sara estavam se
acertando – eu alfinetei
- Pô gata! Foi só um comentário, não
conta nada pra Sarinha não–sorri
triunfante.
- Fica tranquilo não vou falar nada – se
bem que ele merecia
- Ai Rô, não vejo graça nessa aí – Mari
falou da loira com despeito.
Não queria dar o braço a torcer, era
fato que Kiara era uma mulher
belíssima, quem dissesse o contrário
estava mentindo ou com inveja. Claro
que eu estava com uma pontinha de
ciúmes, uma pontinha nada, modéstia
minha, eu estava me roendo de ciúmes
de raiva, eu só queria mata-la.
Só de pensar que ela já esteve nos
braços do meu Enrico, minha pele ardia
de raiva. Jasmine estava movendo céus
e terras para que os dois se acertassem
novamente, pra ela, Kiara era a mulher
perfeita.
Fingi analisar minhas planilhas
quando a porta se abriu, a loira agarrou
o braço de Enrico que a conduziu até o
elevador. Pela minha visão periférica vi
quando ele retornou sozinho, minha
vontade era correr para seus braços.
Quando Enzo e eu retornamos do
almoço, tive uma surpresa, ou foi uma
decepção? Jasmine me aguardava no
saguão do prédio. Eu até tentei fingir
que ela não me analisava com olhos de
lince, mas não foi o suficiente.
- Emily? – ela acenava do outro lado,
perto da sala de espera.
- O que a Jasmine pode querer como
você? – Enzo me perguntou
- Não faço ideia – eu acenei forçando
um sorriso
- Boa sorte com a fera – Enzo beijou
meu rosto e saiu
Segui em direção àquela mulher, já
imaginava que tipo de conversa seria,
levantei o queixo e me aproximei.
- Como vai à senhora? – eu cruzei meus
braços
- Por favor, não me chame de senhora,
apenas Jasmine.
- Pois não... Jasmine, como posso ajuda-
la? – me fingi de desentendida
- Como sabe, sou uma mulher ocupada,
então vou direto ao assunto – não
imagino que tipo de ocupação ela teria.
- Imagino
- Quero que se afaste do meu filho
- Acho que isso é um assunto entre seu
filho e eu – queria demonstrar controle,
mas estava fracassando.
- Você não sabe o que sou capaz de fazer
para que meu filho esteja a salvo, a essa
altura você já sabe muito sobre nós, e
isso pode custar à vida do meu único
filho, você não tem ideia do que uma
mãe é capaz, você não tem ideia do que
eu sou capaz – ela deu um passo para
frente eu recuei.
- Eu jamais, falaria nada sobre isso com
ninguém, eu nunca prejudicaria seu filho
– ela me analisou.
- Eu acredito em você! Aliás, nunca vi
meu filho tão feliz, isso aconteceu
depois que conheceu você – não pude
evitar sorrir.
- Jasmine, seu filho é importante pra
mim.
- Emily não é nada contra você, só quero
proteger Enrico.
Depois daquela conversa esquisita,
voltei ao meu trabalho, àquilo só me deu
mais motivos para pensar e analisar o
quanto ela estava certa. Se eu tinha
alguma intenção de voltar atrás da minha
decisão, naquele momento desisti. As
palavras me acertaram em cheio, como
um soco no estômago, quem poderia
culpa-la por querer protege-lo.

Felizmente a semana passou mais


rápido que imaginei na quinta-feira a
Sara voltou e ficou preocupada quando
ficou sabendo que Enrico me colocou
para cuidar de suas funções. Ela ficou
apreensiva achando que seria demitida,
respirou aliviada quando Enrico
comunicou que havia muito trabalho
para nós duas, ela ficaria com os
clientes antigos e eu me encarregaria
dos novos clientes. E todo mundo ficou
feliz. A única coisa que teríamos que
dividir era o fotógrafo, mas Mari disse
que logo teria outro contratado.
Na sexta-feira eu estava destruída por
dentro e por fora, Mariana passou a
cuidar da agenda pessoal de Enrico. Ele
tentou falar comigo algumas vezes
tentando me fazer mudar de ideia, porem
não cedi. Às vezes me sentia uma idiota.
Como pude ser tão fraca? Eu nunca
desisti dos meus sonhos, eu estava
desistindo dele fácil demais. Sei que a
situação é atípica, mas quem sabe
daríamos um jeito, como ele disse
várias vezes e eu o ignorei. Depois da
última conversa eu passei a evita-lo, eu
queria tira-lo da minha cabeça e do meu
coração. Ah que besteira a minha, como
se isso fosse possível.
Sabrine não tocava mais no assunto, o
nome Enrico foi proibido dentro de
casa, ela não concordava, mas
respeitava.
Depois de um dia estressante e de
tudo acontecendo ao mesmo tempo,
precisava relaxar, chamei Sabrine para
dar uma volta comigo. Ela aceitou com
uma condição, disse que só iria se
pudesse levar seu irmão Felipe. Eu
disse que não haveria problema, Felipe
é um fofo.
É o irmão mais velho, muito protetor
e a trata como a irmãzinha que ela
sempre vai ser. Eu o conheci depois que
voltamos do intercâmbio. Ele também
me considera como uma irmã, eu
também considero como um irmão que
nunca tive. Ele é um cara divertido,
inteligente, e bonito. Eu sempre falo que
ele é o sósia do Oliver Queen, só que
mais bonito. Sei que ele está numa fase
ruim, levou um pé na bunda da noiva.
Então seremos dois enchendo a cara.
Iriamos nos encontrar no barzinho
perto da Maximus, era mais fácil eles
me encontrarem, do que eu ter que
atravessar a cidade, eu preciso urgente
comprar um carro, mas com o salário de
estagiara tá ficando cada dia mais
difícil. Eu economizava cada centavo,
talvez depois de dois anos de economia
eu conseguiria comprar um carro
popular.
Eu me sentei no balcão, não queria
parecer solitária numa mesa, pedi um
refrigerante e aguardei. Enquanto
assistia o entra e sai de pessoas.
Não demorou, e logo vi Sabrine e
Oliver Queen, quero dizer Felipe
atravessando a porta. Sá sorriu quando
me viu. Seguiu em minha direção, me
abraçando enquanto Felipe beijava meu
rosto.
- Oi Fê tudo bem? – que pergunta idiota
a minha
- Tudo bem e você Emi? – ele forçou um
sorriso
- Indo – falei
- Somos dois! – ele replicou
- Sua irmã já falou sobre meu drama? –
Sabrine fingiu analisar as unhas pintadas
de azul
- Cada detalhe – ele olhou para irmã
- Gente! – Sabrine exclamou
- Suponho que ela tenha falado... – ele
pigarreou
- Do seu pé na bunda? Cada palavra!
Vamos pegar uma mesa, e vamos deixar
essas porcarias de dor de corno pra lá –
Sá falou me puxando pela mão.
Sentamos em uma mesa perto do
palco, era sexta-feira dia de música ao
vivo. Espero que não seja música
romântica, já basta as que escuto na
calada da noite no meu quarto, que me
fazem desabar.
Aos poucos o bar foi ficando lotado,
o lugar era acolhedor num estilo rústico,
que dava vontade de ficar um bom
tempo por ali. Felipe pediu uma rodada
de cervejas, fazia tempo que não bebia
cerveja. À medida que o nível de álcool
ia subindo Fê e eu, começamos a
esquecer da semana difícil. Sabrine
ficaria no suco de laranja, foi escolhida
como a motorista da noite. Isso me fez
lembrar a nossa temporada no Canadá.
A banda no palco começou a tocar,
suspirei aliviada, não era música de
coração partido. Felipe e eu nos
olhamos e batemos nossos copos, era
como se fosse uma piada interna, eu
sabia o que ele sentia e vice versa.
- O senhor gostoso vem aí – Sá
balançava os cabelos curtos
O que era aquilo? Enrico
conversando com o mesmo segurança da
última vez. Ele usava uma calça preta,
camiseta branca e jaqueta preta de
couro. Ele estava sexy demais, minha
nossa, aquilo tudo era meu e deixei
escapar entre meus dedos.
- Amiga? Fecha a boca – voltei minha
atenção a Sabrine um tanto atordoada
- É ele? – Felipe moveu a cabeça
discretamente
- É – falei numa voz arrastada
- Não esquenta não Emi! – ele deu um
soquinho no meu queixo e eu sorri
A banda parou de tocar e o gerente do
bar se posicionou no palco com um
microfone nas mãos. Dizia que aquela
era uma noite especial que teríamos um
bônus, uma última música para embalar
os corações apaixonados. Felipe e eu
nos olhamos e fizemos uma careta,
Sabrine morreu de ri. O gerente continua
dizendo, tenho a honra de apresentar
nossa última atração, ele que é nosso
anfitrião, o dono de tudo isso aqui, ele
faz um gesto com a mão demonstrando a
dimensão do lugar. Senhor Enrico
Maximus, por favor, venha pra cá.
- Que merda é essa? Dono daqui
também? – eu apontei o copo na direção
do palco
Enrico pegou o microfone colocando
num pedestal e se virou para banda
dando algum tipo de instrução. Logo
depois, posicionou uma guitarra e as
luzes diminuíram. Mulheres histéricas
começavam a gritar, elas queriam ser
dele, tenho certeza, porque eu também
queria.
Meu coração quase saiu pela boca
quando ele fez aquela guitarra ganhar
vida. E quando a voz dele saia pelos
alto falantes meu coração quase parou.
Aquela música me fez derreter, ele
cantava Iris (Goo Goo Dolls).
And I'd give up forever to touch you
'Cause I know that you feel me somehow
You're the closest to heaven that I'll ever
be
And I don't want to go home right now

Eu desistiria da eternidade para toca-la


Pois eu sei que você me sente de alguma
maneira
Você é o mais perto do paraíso do que
eu jamais estarei
E eu não quero ir para casa agora

Era como se naquele lugar só


existissem duas pessoas, Enrico e eu.
Enquanto ele cantava numa voz
incrivelmente afinada e sensual, seus
olhos encontraram os meus, era como se
ele quisesse dizer alguma coisa. Mesmo
sem palavras eu entendia tudo, eu queria
aquele homem e ele me queria.
Era como se cada estrofe e cada
palavra, fossem pra mim. Ele poderia
ser facilmente um astro do rock com
aquela postura e aquela voz totalmente
deliciosa. A camiseta branca grudava ao
corpo com o suor, os músculos
proeminentes saltavam enquanto ele
movia os dedos nas cordas da guitarra.
O bar estava em silêncio, o único som
ouvido era o da sua voz.
Quinze
Aquele momento foi hipnotizante,
parecia que o tempo tinha parado, eu
queria que o tempo tivesse parado,
queria eternizar aquele momento. As
luzes se acenderam após o final da
apresentação. Palmas e assovios
mediam o quanto ele fez sucesso com
aquela canção, ele se livrou da guitarra
e a colocou num canto qualquer,
agradecendo aos músicos.
Assim que desceu do palco mulheres
o acompanhavam com o olhar e uma ou
outra mais assanhada, aproximavam-se
com adoração. O gerente do bar afastou
uma delas levando Enrico para o bar.
Meu olhar acompanhava sua trajetória a
todo tempo.
- Esse cara tá apaixonado – Felipe me
trouxe de volta ao mundo dos vivos
- Você acha Fê? – peguei sua mão por
cima da mesa
- Você tem dúvidas? Olha como ele está
me olhando como se quisesse me
assassinar, só por você estar com a mão
na minha – eu puxei minha mão
rapidamente.
- A Emi é uma tonta, como deixa um
homem tão gostoso solto por aí? –
Sabrine me cutucava.
Não demorou muito e a equipe da
empresa Maximus estava de frente a
nossa mesa, Enzo puxou uma cadeira
sentando-se sem cerimônia, Rodrigo
abraçava Sara de um jeito protetor, e
Mariana cresceu os olhos na direção de
Felipe. Eu fiz as apresentações
necessárias e sem serem convidados,
todos se sentaram compartilhando
nossas cervejas. O assunto principal,
Maximus cantor? Era só que faltava,
Rodrigo falou desdenhando. Eu achei o
máximo, Sara emendou, fazendo
Rodrigo olhar com ciúmes.
Enzo estava perto demais para meu
gosto, sei que ele não perderia a chance
de dar uma investida. Pedimos mais uma
rodada de cerveja, parecia que todos
estavam curtindo a noite. Eu não sei se
eu estava enxergando direito, mas Felipe
e Mariana estavam numa conversa
entrosada, Sá estava com um olhar
perdido, imagino que esteja com
saudades do namorado, já que ele estava
viajando a trabalho e ela não saia
daquele celular.
- O que vai fazer depois que sair daqui?
– Enzo falava no meu ouvido
- Vou pra casa com o Felipe – eu falei
tentando encerrar o assunto
- O Oliver Queen ali? – eu revirei os
olhos
- Sim, ele mesmo! – tirei o braço dele
do meu ombro
- Porque você quer qualquer homem
menos eu? – ele se sentiu ofendido
- Eu não quero qualquer homem, eu
quero um único homem – apontei meu
copo em direção ao Enrico.
Eu não estava em meu juízo perfeito,
se tivesse, não teria falado nada do tipo,
mas era tarde eu havia falado e não me
arrependia, queria aproveitar a coragem
que estava sentindo. Levantei da cadeira
pedindo licença, a conversa estava
animada, o barulho para mim era
ensurdecedor. Enzo segurou meu braço
me encarando, aquilo me irritou.
- Aonde você vai? – eu olhei para mão
que segurava meu braço
- Não interessa – puxei meu braço e saí.
Andei em direção ao bar, eu
precisava aproveitar a minha coragem,
estava controlando a minha ansiedade
enquanto meus passos diminuam a
distância entre nós. Ele havia tirado a
jaqueta de couro, aquela camiseta
branca grudada no corpo estava me
deixando louca, ele continuava de costas
não percebendo minha aproximação.
Ajeitei o cabelo, colocando para trás
dos ombros, passei a mão na minha
calça jeans, tirando uma poeira
invisível.
Parei atrás dele respirando com
dificuldades, parecia que eu tinha
corrido uma maratona, minhas pernas
estavam fraquejando, quando pensei em
voltar pra minha mesa, ele se vira para
trás. Eu engoli em seco olhando seu
rosto perfeito, a barba perfeita e bem
cuidada pedia para ser tocada, a boca
era uma linha fina que pedia para ser
beijada, os olhos dourados me
analisavam de cima a baixo. Nem uma
palavra era dita com a boca, apenas com
o olhar. Me senti despida com aquele
olhar sexy, eu queria estar despida. Eu
queria ser dele mais uma vez.
- Enrico? – falei num sussurro
- Emily? – ele respondeu em uma voz
sensual
- Eu sinto muito – falei torcendo as mãos
- Não precisa se desculpar de nada – ele
falou se levantando
Ele se aproximou de mim, me
puxando pela cintura colando meu corpo
ao dele, ele beijou minha testa me
abraçando fortemente.
- Eu senti tanto sua falta – falei
segurando a barra da sua camiseta
- Eu também, eu também – ele encostou
a testa na minha.
Fechei os olhos, e descobri que ali
era meu lugar, em seus braços, não me
separaria dele nunca mais, iriamos
enfrentar qualquer coisa, qualquer
barreira juntos. Eu sei que teria uma
tarefa difícil pela frente, mas eu estava
preparada, o que sentia por ele me
davam forças.
- Quer sair daqui? – ele falou pertinho
da minha orelha e eu estremeci
- Sim, só preciso me despedir dos meus
amigos – passei a mão pelo seu
abdômen.
Ele ficou no bar enquanto eu voltava a
minha mesa, não sabia que cada passo
que eu tinha dado estava sendo
observado por todos da empresa,
inclusive por Enzo. Mas quer saber, não
estou nem aí, vou seguir meus instintos e
meu coração, e meu coração clama por
Enrico Maximus.
- E aí se acertaram? – Sabrine soltou eu
ri
- Sá... Você se importa se eu for embora
agora? – a última palavra saiu mais
baixo
- Amiga tá fazendo o que aqui ainda? –
Sabrine fez um sinal com a mão
- Fê, tudo bem se eu for? – não queria
parecer mal educada.
- Problema nenhum – ele parecia estar
bem ocupado com Mariana
- Você vai sair com o Maximus? – Enzo
segurou novamente meu braço
- Não é da sua conta – e mais uma vez
eu puxei
- Emi? Tá fazendo o que aqui ainda?
Vaza! – Sabrine me lançou aquele olhar
autoritário.
Me despedi de todos pegando minha
bolsa, voltei ao bar onde Enrico me
aguardava com sua jaqueta nas mãos.
Ele me ofereceu a mão e eu aceitei.
Entrelacei meus dedos aos seus dedos
frios, mas não me importava. Nada mais
me importava. Eu só queria estar com
ele. Seguimos em direção à saída, a
noite estava fria. O vento era cortante,
ele colocou sua jaqueta nos meus
ombros, até chegarmos ao
estacionamento. Era noite de folga de
Tyler então Enrico estava no comando
do SUV.
Encostei-me à porta do carro e ele
encostou em mim, levou a mão ao meu
rosto me fazendo fechar os olhos, ele
mordeu meu lábio inferior e eu
estremeci, ele tocou a língua na minha e
eu aceitei abrindo minha boca, o beijo
começou doce e delicado, até se tornar
mais urgente. Eu coloquei meus braços
em volta do seu pescoço e ele se
aproximou ainda mais, se é que era
possível, não pude deixar de sentir sua
ereção. Coloquei minha mão por dentro
da sua camiseta acariciando seu
abdômen com as pontas dos dedos, ele
gemeu.
- Vamos logo pra casa ou eu não
respondo por mim – ele falou ainda com
a boca encostada na minha
- E o que está pensando Sr. Maximus? –
dei um risinho
- Estou pensando em deixar você bem
feliz – ele sorriu maliciosamente
- Mal posso esperar – abri a porta do
carro e entrei
Enrico contornou o carro, entrou
ligando o ar quente, meu corpo já estava
aquecido, mas era de adrenalina e
desejo. Ele dirigia com uma mão e com
a outra segurava a minha, beijando-a de
tempos em tempos. Eu estava feliz, cada
partícula do meu corpo vibrava e
ansiava por ele.
- Eu fui tão idiota! – falei balançando a
cabeça
- Não foi não – ele beijou os nos dos
meus dedos
- Eu não queria te magoar, não queria te
perder.
- Eu estou aqui, sou seu, nada nem
ninguém vai mudar isso.
Eu olhei pra ele com ar de admiração,
como pude pensar que poderia esquecer
esses olhos dourados, como pude pensar
que poderia esquecer esse homem. Eu
não sei no que estava pensando,
agradeço por minha tentativa de querer
afasta-lo tenha sido em vão. Ele virou
a esquerda entrando no seu condomínio,
a cancela se abriu com a aproximação
do seu carro, ele parou em frente ao seu
gramado silenciando o motor. Eu abri a
porta e sai esperando que ele viesse de
encontro a mim. Ele segurou minha mão
e entramos na casa, subimos as escadas
para o andar de cima. Ele parou na porta
do seu quarto me pegando no colo com
uma facilidade incrível. Me levou até a
enorme cama me colocando com
cuidado, ele me olhava com desejo e
adoração. Eu não esperava nada menos
que isso, ele era intenso e aquilo se
transmitia através do seu olhar, eu era
dele mais uma vez.
Na manhã de sábado acordei com
Enrico me agarrando pela cintura e
cheirando minha nuca, respirei fundo me
virando para olhar em seus olhos, ele
sorriu mostrando as covinhas lindas.
Passei a mão pela sua barba e ele beijou
a ponta do meu nariz.
- Eu estou feliz por estar aqui – me
aconcheguei em seu corpo
- Eu também – ele beijou meu cabelo
- Eu fui tão burra, por achar que poderia
esquecer você – não queria pensar, mas
era difícil.
- Eu amo você Emily, você é o que tenho
de mais importante – eu levantei os
olhos para olhar os seus.
- Enrico... Posso fazer uma pergunta? –
falei com cautela, estaria entrando em
um campo minado.
- Pode perguntar qualquer coisa
- Você ainda ama Isabela? – baixei meu
olhar
- Ah minha doce Emily – ele levantou o
meu queixo e continuou – Isabela foi à
primeira mulher que amei. Mas você é a
última que vou amar.
- Sinto tanto por eu ser tão insegura –
uma lágrima surgiu no canto dos meus
olhos
- Eu vou te amar por toda eternidade –
os lábios dele tocaram os meus

Eu o abracei o mais forte que consegui.


Nunca me senti daquele jeito, estava
amando aquele homem de verdade. Tudo
que senti até aquele momento não era
nada comparado ao que estava sentindo
agora. Ele era o homem que eu queria
por toda vida e talvez até depois. Não
sei como faria, mas queria que ele me
transformasse, só assim poderia ser dele
pra sempre. Sei que é uma causa quase
perdida, ele era bom demais para
condenar minha alma como ele mesmo
havia falado. Eu não via dessa forma,
não acreditaria que eu fosse condenada,
pelo contrário acredito que só assim
poderia viver esse amor que não cabe
dentro do meu peito.
- Eu preciso fazer uma coisa – Enrico
beijou o meu rosto pulando da cama
- O que? – perguntei admirando sua
bunda perfeita, enquanto ele vestia uma
calça de moletom.
- Surpresa! – ele fechou a porta do
quarto me deixando curiosa
Enquanto me espreguiçava feita uma
gata, resolvi checar meu celular, apenas
duas mensagens da Sabrine, dizendo pra
mandar noticias, digitei uma mensagem
rápida dizendo que não poderia estar
melhor. Levantei e fui direto para o
chuveiro, precisava renovar as energias.
Tomei um banho demorado, saí enrolada
em uma toalha macia. Ainda com os
cabelos pingando, fui até o outro quarto
onde estavam todas as roupas e sapatos
que eu havia ganhado. Procurei por algo
confortável, abri a primeira gaveta que
era dedicada a todo tipo de lingerie,
coloquei uma calcinha branca com um
sutiã tomara que caia, achei um vestido
florido acima dos joelhos, com alcinhas
delicadas, que caia perfeitamente ao
meu corpo. Fui até a parte oposta do
closet onde faria qualquer mulher
suspirar com tantos pares de sapatos,
era tanta variedade tudo tão lindo.
Experimentei ao menos dez pares.
Para combinar com o vestido florido
verde e branco, coloquei uma rasteirinha
de pedras verdes, deixei meus cabelos
soltos, não passei maquiagem nenhuma,
mesmo tendo uma penteadeira repleta
delas.
Desci até o primeiro andar, Enrico
estava sentado no sofá com os pés na
mesa de centro, assistindo alguma coisa
na TV, quando me viu, bateu no sofá me
chamando pra sentar ao seu lado. Eu me
sentei, ele passou o braço por meus
ombros dizendo que já íamos tomar café
da manhã, o cheiro que vinha da cozida
era maravilhoso e fez meu estômago
roncar. Um toque soou lá no fundo, a
principio achei que fosse o telefone, mas
não era. Dora apareceu na porta da sala,
segurando um pano de prato nas mãos.
- Senhorita Emily, sua encomenda
chegou – olhei para Enrico, confusa, ele
deu de ombros.
- Eu não encomendei nada! Ah Dora, por
favor, me chame somente de Emily – ela
limpou a garganta.
- Eu acho bom você ir lá fora ver –
Enrico franziu a testa.
- Tá – falei me levantando
Enrico não se moveu, continuava
assistindo televisão, Dora me
acompanhou até a entrada principal, eu
estava apreensiva, o que poderia ser?
Eu não me lembro de ter comprado nada
pela internet, e mesmo que tivesse
comprado, mandaria entregar no
apartamento da Sabrine não na casa de
Enrico, aquilo não fazia sentido algum.
Quando cheguei à entrada principal um
homem de terno elegante me aguardava
com um envelope nas mãos.
- Emily Malves?
- Sim?
- Assine aqui, por favor – eu peguei a
caneta.
- Eu não comprei nada!
- Então alguém comprou pra você – ele
apontava para um carro a sua esquerda
- Enrico – levei à mão a cintura
- Sim, o senhor Maximus pediu que
entregássemos hoje pela manhã – assinei
a papelada.
- Renault Duster na cor vinho
- Isso senhora, aproveite seu presente.
O homem me entregou a chave e foi
embora, eu olhava aquele carro lindo,
embasbacada, voltei pra casa com as
chaves e os documentos nas mãos.
Enrico ainda estava sentado em frente à
televisão, tomava sorvete direto do pote.
- Porque me deu um carro? – ele olhou
pra mim
- Eu já te falei que sou bilionário né? –
ele falou em tom de brincadeira
- Não é necessário, eu não posso aceitar
– coloquei as chaves na sua frente.
- E porque não?
- Porque, por que... Você já me deu
muita coisa, olha aquele quarto lá em
cima, aquelas roupas todas – apontei
para o andar de cima.
- Emi, é só um carro – ele falava como
se não fosse nada.
- Você já me deu muito eu não tenho
nada para te dar – passei as mãos pelos
cabelos, claramente nervosa.
- Você me deu o que tenho de mais
importante, uma razão para continuar
vivendo. Além do mais eu não quero que
fique por aí andando de transporte
público – ele puxou minha mão me
fazendo sentar em seu colo.
- Obrigada!
- Não precisa agradecer – ele colocou a
mão por baixo do meu vestido
Ele me beijava intensamente
segurando minha cintura com força, eu
estava esquecendo o nervosismo e
aquilo estava me acalmando. Aquele
homem me fazia derreter, virar líquido,
o que mais eu poderia querer? Eu tinha
um homem que me amava e que eu
amava também, parecia tudo perfeito,
até Dora pigarrear nos tirando do nosso
transe.
- Senhor Enrico, o café está na mesa.
- Não tinha hora mais oportuna pra me
chamar?
- O senhor falou que a menina precisa
comer, então aqui estou – ela enfrentou o
patrão!
- É justo – ele falou me tirando do seu
colo
Dezesseis
Passei o melhor final de semana de
todos os tempos, acordei na manhã de
segunda-feira com um homem
maravilhoso na cama, assim que abri os
olhos ele sorriu. Eu beijei seus lábios
desejando bom dia, tentei me levantar,
mas ele me puxou pela cintura. Onde
você pensa que vai? Ele me perguntou.
Precisava tomar banho se quisesse
chegar ao trabalho no horário, não quero
que meu chefe reclame. Com muita
dificuldade me desvencilhei dos seus
braços, não que eu quisesse claro, mas o
dever me chamava. Meu dia seria longo,
tinha muito que fazer.
Estava de ótimo humor, nunca pensei
que cantaria em plena segunda-feira, é
verdade eu cantei debaixo do chuveiro.
Enrico continuava na cama lendo um
livro, disse que teria alguns assuntos pra
resolver, que só iria pra empresa mais
tarde. Não quis parecer curiosa e nem
me intrometer nos seus assuntos de
trabalho, mesmo sem perguntar ele me
disse que teria uma reunião com Amom.
Queria uma roupa que expressasse
tudo àquilo que estava sentindo, mas não
poderia usar um vestido leve de verão.
Parei em frente ao closet e analisei,
pensei, analisei e pensei. O tempo
estava nublado e estava frio, um ótimo
dia pra eu estrear as botas Jimmy Choo
que combinava perfeitamente com a
calça de couro preta, acabei pegando
uma camisa aleatória da Zara. Olhei meu
reflexo no espelho e adorei o resultado
final.
Fui para o trabalho de carro novo, o
cheirinho de couro pairava no ar. Vários
cds descansavam no banco do
passageiro, peguei um deles, era de
música clássica, aquilo era coisa de
Enrico.
Para minha sorte, ou não, quando
cheguei ao estacionamento, dei de cara
com Enzo saindo do seu carro.
- Belo carro – ele assoviou
- Obrigada – falei travando as portas
com o alarme
- Presente do Maximus? – eu desviei o
olhar
- Não que eu te deva satisfação, mas
sim, presente do Maximus – se eu
falasse que havia comprado com meu
salário de estagiária, não iria rolar.
- O cara tá apostando alto hem? – ele
ascendeu um cigarro
- O que quer dizer? – ele abriu a boca,
mas fechou.
- Carro maneiro hem? – Rodrigo se
aproximava com Sara
- Olha! Gostei, quando vamos dar uma
volta? – Mariana falou passando a mão
sobre o capô
- O que é isso? Todo mundo resolveu
cuidar da minha vida hoje? – falei
enquanto saí pisando duro
Não preciso nem falar que as fofocas
e especulações estavam a todo vapor.
Parecia que rolava até algum tipo de
aposta. Quanto tempo o romance entre
Emily Malves e Enrico Maximus vai
durar?
Não tinha mais como esconder o
relacionamento que eu e Maximus
tínhamos, era de conhecimento público e
sinceramente eu estava feliz demais para
dar ouvidos aos desocupados. Mas tinha
que lidar com isso, era parte do pacote.

No final do expediente arrumei


minhas coisas e fui pra casa, Sabrine já
estava surtando, dizendo que agora eu só
tinha Enrico na minha vida. Entrei pela
porta, ela já estava esparramada no sofá.
- Oi – falei colando as chaves na
mesinha do corredor
- Ah que honra ter sua ilustre companhia
– ela fez uma reverência
- Para de drama Sá – sentei ao seu lado
- Me conta como vão as coisas? – eu
deitei em seu colo
- Tô tão feliz!
- Dá pra perceber – eu levantei de
supetão
- Sá... Dá uma olhada pela janela – ela
me olhou confusa
- O que tem? Não tô vendo nada! – ela
abria a persiana com dois dedos,
estreitando os olhos.
- E aquele carro estacionado ali, você tá
vendo?
- Sim – ela me olhou com a boca aberta
- Acredita que o Enrico me deu esse
carro? O que eu faço? Não posso ficar
aceitando os presentes dele
- E porque não? Ele gosta de você!
- Estou pirando – me joguei no sofá
- Ah pelo amor de Deus, esse homem te
ama e só quer te fazer feliz, que mal há
se ele te der alguns presentes?
- Um carro é demais né Sá... Não
estamos falando de chocolates ou flores,
é um carro!
- Para de ser boba, agora me conta, o
sexo é bom? Porque ele parece bom de
cama – eu imagino que eu tenha
enrubescido
- Bom é pouco, ele é demais!

Nas semanas que se seguiam eu


passava os dias da semana em casa com
a Sabrine e os finais de semana na casa
de Enrico.
Meu trabalho estava indo a todo
vapor, estava cada dia melhor naquilo
que fazia, infelizmente Sara e eu ainda
dividíamos o fotografo. Minha vida já
não era mais o alvo das fofocas, ou eles
se acostumaram ou estavam sendo mais
discretos. Coisa que duvido, fiquei
sabendo que ninguém ganhou a aposta,
ninguém apostou que Enrico e eu
ficaríamos mais que um mês.
Para minha surpresa fui chamada até o
RH, não fazia ideia o que Marilia queria
comigo, ela só chamava algum de nós
quando tinha alguma coisa errada.
Assim que recebi o recado, fui até lá.
Ela me fez sentar, me senti como
estivesse prestes a fazer uma entrevista
de emprego.
- Ah Emily como vai você? – nunca a vi
tão simpática
- Vou bem, obrigada!
- Não vou tomar muito seu tempo, sei
que tem coisas a fazer – ela falou
tirando um papel de dentro de um
envelope.
- Sim – ainda estava sem entender, até
ler o que estava escrito naquela folha.
- A partir dessa data, você passa de
estagiária a jornalista em tempo integral,
esse será seu salário a partir de agora –
ela apontou um valor rabiscando em um
papel.
Eu não sabia o que pensar, me
dediquei tanto pra conseguir que meu
trabalho fosse reconhecido, estava com
medo de que essa promoção tivesse se
dado ao fato de que eu estava
namorando Enrico. Meu salário triplicou
e eu não ficaria nada feliz se
descobrisse que estava ganhando mais
que Sara. Não seria justo, já que ela
fazia o mesmo tipo de trabalho que eu.
Desde o inicio, eu disse a ele que não
queria regalias, queria ser reconhecida
pelo meu esforço e dedicação. Marilia
pareceu adivinhar meus pensamentos, eu
deveria estar com o olhar perdido.
- Não se preocupe, essa promoção é por
mérito, não tem nada a ver com sua
relação com o senhor Maximus, aliás,
ele não se intromete nesses assuntos,
essa é minha função – eu queria
acreditar nela.
- Entendo – falei atordoada
- O seu salário se equiparou ao de Sara
– respirei aliviada
- Fico feliz
- Parabéns! Desejo sucesso!
Saí da sala de Marilia rindo a toa,
tudo estava indo de vento em poupa, eu
estava conseguindo tudo aquilo que
sempre almejei, a minha saída de casa,
enfim estava valendo a pena. Não
somente pelo lado profissional, mas
pelo pessoal também. Aquele homem
que me abraçava e me fazia sentir
desejada era meu maior presente. Dividi
minha alegria com meus pais e com
minha melhor amiga. Felipe também
estava feliz por mim, agora que ele
estava solteiro passava grande parte das
noites em casa com a irmã. Enrico me
garantiu que não tinha dedo dele na
minha promoção, que esse departamento
pertencia a Marilia que fazia um
excelente trabalhado. Eu acreditava nele
piamente.
Mari e Sara ficaram felizes por mim,
não vi nenhum tipo de ressentimento,
apenas satisfação por eu ter conseguido
aquilo que desejei desde o primeiro dia
que coloquei meus pés na Maximus.
Enrico não misturava as coisas, na
empresa me tratava como profissional, e
fora dela como a mulher que ele amava.
Eu gostaria de conseguir fazer essa
distinção, mas morria de ciúmes a
qualquer hora do dia ou da noite. Nunca
pensei que fosse me transformar em uma
mulher tão insegura. Também com um
deus grego do lado é difícil manter a
sanidade.
Mariana me disse que na sexta-feira
iria acontecer um evento beneficente
patrocinado pela Maximus. Disse que
ficaria muito feliz se eu levasse o
Felipe.
- Eu nem tenho roupa pra isso – Sara
falou se juntando a nós
- Ah Sara me poupe, tudo o que você
mais tem são roupas – Mari dizia.
- Eu nunca fui a uma festa dessas – falei
pensativa
- Então gata, escolha seu melhor vestido
– Mari abria uma aba no seu
computador.
Ela virou a tela do computador para
mim, me mostrando o tipo de festa que
seria. Segundo ela, aquela foi realizada
no ano passado. E uma das fotos me
chamou atenção, Enrico de smoking ao
lado de Kiara, que usava um vestido
longo vermelho. Aqueles peitos
siliconados pareciam que iam saltar do
decote. Ela segurava o braço dele, e
olhava pra ele como se fosse o último
homem da face da terra.
- Então queridinha você tem que estar
mais bonita que essa aqui – Mari batia
com o dedo na tela do computador
- Como é possível eu ficar mais bonita
que essa... Loira oxigenada? – pergunto
inquieta
- Essa loira nem parece de verdade,
olha só que cabelo horrível, não gosto
dela nada nada – Sara balançava a
cabeça sem parar.
- E esses peitos? Tá na cara que não são
de verdade, querida você é mais bonita
fácil fácil – Mari fechou a aba.
- Eu sei que vocês duas estão querendo
me animar, mas ela é linda essa é real.
- Tudo bem ela é linda! Mas você é
mais, e porque o Maximus tá com você e
não com ela? – o comentário veio da
Sara, minha ruiva preferida.
- Obrigada! Amo vocês por isso, e
Mari... Pode deixar que vou levar o Fê
nem que for amarrado – ela bateu
palmas e nós gargalhamos
- É alguma comemoração e eu não fui
convidado? – Enrico apareceu na porta
da sala com as mãos nos bolsos
franzindo a testa
- Desculpa senhor Maximus, eu estava...
– Mariana pigarreou
- Aqui é um ambiente de trabalho, vocês
estão rindo tão alto que não consigo
falar ao telefone, francamente – ele falou
batendo a porta da sala.
- Xi! Você dormiu de calça jeans ontem?
– Sara abafou uma risada
- Para de graça Sara, vamos trabalhar –
voltei pra minha mesa contendo um
sorriso, claro que eu não tinha dormido
de calça jeans.
Depois de Enrico chamar nossa
atenção ficamos num silêncio absoluto,
só se escutava o som das teclas do
computador. Enzo e Rodrigo estavam
fazendo trabalhos externos, e quando
chegaram olharam pra gente com ar
inquisidor.
- Que silêncio da porra é esse? – Enzo
movia os braços
- Essas mulheres falam até pelo
cotovelo, o que tá acontecendo hoje? –
Rodrigo se aproximou beijando Sara no
rosto
- Temos muito trabalho só isso –
Mariana respondeu
- Ah bom, pensei que corno do Maximus
tivesse dado um esporro em vocês, sem
ofensa – Rodrigo falou olhando pra
mim.

Eu estava trabalhando num projeto pra


promover um hotel no centro da cidade,
estava concentrada e não percebi a
aproximação de Enzo, parecia um
fantasma aproximando-se daquele jeito.
Ele sentou no canto da minha mesa.
- Posso ajudar? – eu o encarei
- O que eu quero você não pode me dar
– ele falou na maior cara de pau
- Porque você não me deixa em paz?
Não estou interessada, você ainda não
percebeu?
- Tô apaixonado por você porra! Será
que você não percebe isso? – olhei ao
redor e ninguém pareceu ouvir aquela
bobagem
- Vamos tomar um café – saí andando e
ele me seguiu, precisava por um ponto
final naquela perseguição.
- Cappuccino? – fiz que sim com a
cabeça
- Enzo, você tem que parar com isso,
você sabe que eu tô com Enrico, e não
tenho olhos pra mais ninguém.
- Eu sei, mas quero que saiba que tem
um cara aqui, que pode te fazer feliz –
ele bateu a mão no peito.
- Você é um cara legal, mas eu amo outra
pessoa, sei que vai encontrar uma garota
que te mereça – ele sorriu sem emoção.
- Sem essa de que sou um cara legal –
ele colocou o copo sobre a mesa
- Mas você é! – toquei seu braço
olhando nos olhos verdes
- Prometi a mim mesmo que essa seria a
última tentativa, não vou mais dar em
cima de você, prometo. A porra do meu
contrato está acabando e não pretendo
renovar, vou dar a volta pelo mundo,
fotografando a vida a natureza, mulheres
de biquíni, qualquer merda que faça
esquecer você.
- Ah Enzo, você merece ser feliz – eu
puxei para um abraço.
- Você é a garota mais incrível que eu
conheci, tão audaciosa, destemida,
marrenta também – eu ri ainda no calor
dos seus braços.
- E você é um babaca!
- Só saiba que se você me quiser, eu te
quero – tentei me desvencilhar dos seus
braços, ele me puxou novamente.
- Você é um cretino, sabia?
Vou sentir sua falta ele disse
acariciando meus cabelos, aquilo estava
ficando íntimo demais, antes de eu me
afastar vi Enrico parado na porta. Enzo
não viu, mas eu vi o suficiente. Os olhos
dourados se tornaram vermelhos, ele
saiu antes que eu explicasse.
- Enzo me larga que eu preciso trabalhar
– ele ainda me apertava
- Desculpa gata, quis aproveitar o
momento.
Passei por minha mesa, e fui até a
sala de Enrico, todos estavam alheios
aos acontecimentos, dei duas batidas na
porta e sem esperar que ele respondesse
eu entrei. Ele estava em pé com as
palmas das mãos sobre a mesa de costas
pra mim. Eu via sua respiração
irregular.
- Enrico – falei baixinho
- Não se aproxime – ele continuava de
costas
- Não é nada daquilo que você está
pensando – fui me aproximando, até
estar perto o suficiente para toca-lo.
- Você não sabe o que estou pensando –
ele se virou e eu me assustei dando dois
passos pra trás.
Meu sangue gelou e minhas pernas
viraram gelatina, Enrico me analisava,
os olhos estavam vermelhos como
sangue. As presas estavam à mostra,
aquelas pontas afiadas poderiam
dilacerar qualquer coisa, instintivamente
levei minha mão ao pescoço. Meu Deus,
nunca tinha visto suas presas. Eu fiquei
em choque, paralisada, ele virou de
costas novamente, balançando a cabeça
negativamente dizendo, “não vou te
machucar”. Eu me concentrei em me
acalmar, eu não havia ficado com medo,
fui pega de surpresa, era isso. Suspirei
fundo e me aproximei novamente
abraçando pelas costas.
- Acho que ele é o melhor pra você
- Do que você tá falando?
- Enzo
- Enrico, por favor, ele só estava se
despedindo – ele virou em minha
direção, as presas haviam desaparecido
e os olhos voltando ao dourado.
- Eu deveria apagar você da mente dele
– ele me puxou pela cintura
- Como assim? - Eu me afastei para
olhar em seus olhos
- É complicado – ele passou as mãos
pelos cabelos
- Sou capaz de entender – cruzei os
braços e esperei
- Não pode esperar até mais tard...
- Não! – ele segurou meu rosto com as
duas mãos e me beijou de leve
- Sempre teimosa – ele dobrou as
mangas da camisa até o cotovelo,
encostando-se à mesa.
- Então? – eu disse enquanto ele passava
a mão pela barba
- Eu tenho um poder sobre a mente, eu
consigo apagar memórias até mesmo
criar memórias falsas – eu estava atenta
a cada palavra.
- Isso é sério? – falei desacreditada
- Se eu quisesse poderia apagar todas as
memórias que Enzo tem de você
- Você faria isso? – levei à mão a boca
- Você quer que eu faça isso? – ele
devolve a pergunta
- Claro que não! Isso me parece tão...
Errado.
- Só faria se fosse realmente necessário,
pode causar danos irreversíveis e essa
não é minha intenção – minha mão saiu
da boca e foi ao peito, me virei de
costas.
Andava em círculos, estava pensativa,
aquilo era surpreendente, o que mais eu
não sabia sobre Enrico? Como poderia
existir um mundo paralelo àquele que
vivi até dois meses atrás? Se outra
pessoa me contasse certamente não
acreditaria. Fico imaginando, como
seria se alguém apagasse a minha
memória.
Dezessete
Aquela revelação mexeu com meu
emocional, eu sei que não deveria fazer
julgamentos, mas fiz. Enrico tocou meu
rosto me fazendo olhar pra ele, meus
olhos estavam marejados, eu sentia seu
pesar, eu conseguia sentir tudo que
estava dentro dele. Eu queria saber cada
detalhe.
- Enrico, você já apagou a memória de
alguém? – ele me soltou e sentou atrás
da sua mesa se tornando um homem
imponente.
- Sim – ele entrelaçou os dedos debaixo
do queixo
- Me conta? – sentei-me a sua frente
- Isso foi há muito tempo, como eu disse
pode causar danos irreversíveis.
- Eu quero saber – insisti
Foi assim que me transformei, ele
começou dizendo. Eu ainda não
conseguia controlar meus instintos e mal
sabia que tinha poderes. Amom me
ensinou a lidar com tudo isso, me
treinado. Ele passava dias a fio na
esperança de me fazer aceitar minha
nova condição.
No início fiquei com raiva de mim, de
Amom e principalmente da Jasmine que
implorou para que ele me transformasse.
Demorou uma eternidade pra eu me
aceitar. Passei um tempo na escuridão,
minha sede por sangue era incontrolável
e foi aí que descobri o que eu poderia
fazer com a mente humana.
Certa vez estava em Londres, ainda
me lembro daquela noite, é como se
voltasse ao passado, aquela terra fria
que combinava perfeitamente comigo,
me sentia não só gelado por fora, mas
por dentro também, era como se eu fosse
oco, e precisava ficar vagando sem
rumo, procurando um motivo para não
me matar com uma adaga no coração.
Estava saindo de um bar, naquela
época eu vivia anestesiado com bebidas,
mas nada me fazia esquecer. Passei por
um beco escuro e me deparei com uma
cena perturbadora, eu poderia ser um
mostro, mas nunca, jamais deixaria um
homem maltratar uma mulher. Um sujeito
aparentemente bêbado estava tentando
estuprar uma jovem no meio a
penumbra. Eu libertei a jovem dos
braços do seu agressor, enquanto ela
corria agradecida, eu encostei o
bastardo na parede apertando seu
pescoço, olhei bem no fundo dos seus
olhos. Quando pensei em cravar meus
dentes em seu pescoço, senti todas suas
emoções e o quanto ele era um ser
maligno obscuro, um ser das trevas
como eu. Só com um diferencial, eu
jamais abusei de mulheres, ele sim,
várias por sinal. Eu senti que poderia
fazer alguma coisa e me aprofundei em
sua mente, através dos olhos. Consegui
apagar todo e qualquer pensamento que
ele tinha sobre atrair mulheres para
armadilhas. Fui além, talvez em um
momento de irracionalidade apaguei
tudo o que ele tinha naquela cabeça suja,
implantando memórias falsas de coisas
boas. Eu sei que o mundo ficou bem
melhor sem ele, ainda sim minha
consciência pesou, por ter mandado
aquele asqueroso para um hospício.
Amom me ajudou nos tempos
turbulentos, e prometi a mim mesmo que
jamais em hipótese alguma usaria esse
talento degenerativo de mentes. E foi
assim que tudo aconteceu, mas nunca
mais me atrevi a usar essa habilidade, já
que as consequências são catastróficas.
- Foi assim que aconteceu Emi, se quiser
sair por aquela porta e nunca mais me
procurar eu vou entender – ele se
recostou na cadeira parecendo exausto.
Apesar de aquela história me sufocar
eu jamais poderia me afastar dele,
mesmo que eu quisesse, ele era parte de
mim, o homem que eu escolhi para estar
ao lado, o homem que eu amava, apesar
de toda aquela bagagem emocional.
- Nunca vou me afastar de você, eu te
amo lembra? – contornei a mesa e me
sentei em seu colo, ele envolveu minha
cintura.
Eu sei que é muita coisa pra você
assimilar, ele disse e continuou, mas
essa é minha vida, esse sou eu, se eu
pudesse teria apagado minha própria
memória.
- Não sei o que faria se te perdesse – ele
ergueu meu queixo com o dedo e beijou
minha boca suavemente.
- Eu só quero que me conte tudo sobre
você – mordi seu queixo e ele gemeu.
- Prometo que te conto tudo com o tempo
– ele levou uma das mãos a um dos meus
seios, foi minha vez de gemer.
- Enrico... Você me quer por toda
eternidade? - Falei enquanto me ajeitava
em seu colo como se fossemos um
encaixe perfeito
- É o que mais quero! – ele falou
enquanto tentava abrir o zíper da minha
calça.
- Me transforme? – ele abriu os olhos
imediatamente e parou com a mão no
meu zíper me encarando.
- Nunca! Fora de questão! Jamais faria
uma coisa dessas, você não tem ideia do
que está me pedindo. – ele não achou
que eu tivesse falado no sentido literal.
- Eu quero poder estar com você sem ter
medo da vida ou da morte – falei na
esperança de que ele mudasse de ideia.
- Já parou pra pensar em tudo que vai
deixar pra trás, sua vida e aqueles que
ama? Eu não tive escolha – ele pareceu
transtornado.
- Ok, não vamos mais falar sobre isso –
levantei do seu colo beijando seu rosto.
- Tira essa maluquice da cabeça, não vai
acontecer, espero que meu amor por
você baste – ele falou enquanto eu
girava a maçaneta da porta.
Voltei pra minha mesa meia hora
depois, não percebi que já tinha passado
tanto tempo, Mari olhou pra mim
franzindo a testa, como quem
perguntasse alguma coisa. Tá tudo bem
falei sem que saisse som da minha boca.
Meu celular tocou me tirando do transe,
me fazendo pular da cadeira.
- Oi pai, tá tudo bem?
- Eu que pergunto se tá tudo bem, tem
mais de uma semana que não liga pra
sua mãe, ela está me enlouquecendo.
- Eu mando mensagem todos os dias –
me justifiquei
- Ela diz que esse tipo de comunicação
não aceita, que precisa ouvir sua voz.
Ainda falei, liga pra ela mulher, ela
disse que toda vez que liga cai direto na
caixa postal. Tá com algum problema
filha?
- Pai pelo amor de Deus, não! Só estou
com muito trabalho
- As coisas estão indo bem com seu
namorado? – ele perguntou com cautela
- Sim pai, está indo tudo muito bem.
- Sua mãe quer marcar um jantar,
precisamos conhece-lo – coloquei a mão
na testa pensativa.
- Vamos marcar sim – eu iria prolongar
o máximo possível
- Então está marcado para sábado, não
se atrase querida.
- Pai!
- Eu te amo querida, até sábado – ele
desligou o telefone.
Meu pai sempre consegue tudo que
quer, com todos esses anos de
convivência ainda caio nas suas
armadilhas, agora tínhamos um jantar
pra sábado e eu nem se quer perguntei a
Enrico se ele queria conhecer os meus
pais. Peguei meu celular mandei uma
mensagem de texto.
- Topa um jantar em família no
sábado?
Ele não demorou a responder
- Sua família? Quer dizer seus pais?

- Sim... Desculpa, fui pega de


surpresa.

- Eu acho ótimo, quero muito


conhece-los, achei que nunca fosse me
convidar.
Aquela mensagem me fez sorrir

- Então está marcado


- Combinado
Achei que não teriam mais mensagens,
mas logo meu celular vibrou novamente.

- Só pra lembrar que eu te amo... Você


é minha vida
- Eu também te amo <3
Mas uma vez meu celular vibrou
- Jantar hoje?

- será um prazer

Saímos do trabalho direto para o


restaurante, meu carro ficou na garagem
da Maximus, fomos com Tyler. Enrico
segurava minha mão e acariciava meu
polegar. O trânsito estava intenso, mas
não me importei à pessoa ao meu lado,
compensava qualquer estresse.
Fomos jantar no Terraço Itália, era a
primeira vez que estava indo naquele
lugar, já tinha ouvido falar maravilhas,
mas nada comparado ao que eu estava
presenciando, a melhor vista da cidade,
era de tirar o fôlego. Enrico era mesmo
um cavalheiro e por onde passava atraia
olhares. Era difícil não notar um homem
de quase dois metros de altura. O maitrê
abriu um largo sorriso quando o viu, o
homem calvo apertou sua mão.
- Senhor Maximus que bom revê-lo – ele
o cumprimentou
- Como vai Marcelo, conhece minha
namorada? – ele me aproximou do seu
corpo
- É um prazer conhece-la minha jovem –
ele beijou minha mão
- Encantada – sorri cordialmente
Marcelo nos acompanhou até uma
mesa reserva. Apenas uma vidraça nos
separava daquele amontoado de prédios
iluminados. O lugar mais romântico que
poderia estar. Se não fosse apaixonada
por Enrico, me apaixonaria naquele
momento. Enrico puxou a cadeira para
que eu sentasse e beijou minha testa,
ainda não havia me acostumado com
tanto carinho. Ele se sentou, e sem pegar
o cardápio pediu a Marcelo que
trouxesse badejo com crosta de amêndoa
e risoto de limão siciliano.
- Você está prestes de experimentar a
melhor comida de São Paulo – ele disse
orgulhoso.
- Parece ótimo – coloquei o guardanapo
no meu colo
Após o creme brullé que estava
divino, segurei a mão de Enrico por
cima da mesa percebendo sua tensão,
segui seu olhar, e percebi que um homem
nos olhava fixamente. Não tive tempo de
perguntar quem era aquele homem que
nos encarava, ele estava ao lado de
nossa mesa, um homem alto, cabelos
curtos e uma elegância sem tamanho
trocava olhares com Enrico.
- Ora... Ora, mas não é o lendário
Enrico Maximus – ele ofereceu a mão.
- Pietro Lucca, como vai? – eu via
desconforto no olhar de Enrico
- Não vai me apresentar essa
encantadora dama?
- O que faz aqui? – Enrico ignorou a sua
pergunta
- Negócios! – ele olhou pra mim dizendo
– Sua acompanhante é muito bonita, veja
como sua pele é corada – ele continuou
– Não quero atrapalhar a noite de vocês.
- Muito obrigado! – Enrico jogou o
guardanapo sobre a mesa
- Eu vou indo, quer que eu mande
lembranças suas ao Lorenzo? – Enrico
trincou a mandíbula e serrou os punhos,
por um momento achei que ele fosse pra
cima do tal cara.
- Acho bom você se mandar daqui – eu
segurei o braço de Enrico impedindo de
se levantar, não que eu tivesse forças
pra isso.
- Foi um prazer, bela dama, tenho
certeza que nos veremos por aí – ele
saiu andando elegantemente até sumir
entre as mesas do restaurante.
Depois daquela visita indesejável
Enrico se transformou, ele estava
claramente abalado, sem dúvidas aquele
homem arruinou nossa noite, não
consegui entender muita coisa, mas
imagino que no meio daquela conversa,
tinha uma ameaça velada. Enrico pagou
a conta me puxando pela mão. Eu não
entendia porque ele corria tanto, ele me
colocou dentro do carro.
- Enrico o que está acontecendo?
- Vai ficar tudo bem, vamos pra casa –
ele dizia querendo parecer calmo, mas
aqueles olhos demonstravam muito mais
do que estava sentido.
Dezoito
Porque a vida tem que ser tão
complicada? Quando penso que vou
ficar numa boa com Enrico, vem uma
tempestade para desequilibrar. Estou no
escuro, não sei o que houve, estou
tentando juntar as peças do quebra-
cabeça. Tenho certeza que não vai ser
muito difícil desvendar esse mistério, ao
menos aquele cara, falou um nome que
eu já ouvira falar. Jasmine mencionou o
nome de Lorenzo em uma das conversas
com Enrico.
O caminho de volta foi silencioso,
Enrico encostou a cabeça no banco do
carro, fechando os olhos afrouxando a
gravata. Beijou minha testa me puxando
pra perto o máximo que pode. Tive
impressão de que ele queria me
proteger. Mas proteger do que? Eu
tentava a todo o momento trazer o
assunto à tona, mas não teve jeito, não
consegui arrancar nenhuma palavra,
somente suspiros. Achei que ele me
levaria pra minha casa, mas fomos para
dele. Tyler sabia exatamente o que
estava fazendo.
A casa estava escura e silenciosa,
nem sinal de Dora e graça aos deuses
nem de Jasmine. Fomos direto para o
andar de cima entramos em seu quarto,
ele não soltou minha mão nem por um
segundo. Eu só queria entender. Ele
fechou a porta e me envolveu pela
cintura.
- Quem era aquele homem no
restaurante? – tentei outra vez
- Ninguém importante – ele foi em
direção ao banheiro
- Ele te deixou nervoso – quase tive que
gritar
- Foi só impressão – eu escutava a água
do chuveiro caindo
Enquanto ele tomava banho fui até a
estante, estava perdida em pensamentos,
passei a mão por várias lombadas de
livros e parei na pilha de CDs, ele tinha
muita coisa boa. Alguns títulos eu não
conhecia, muitos cantores italianos.
Coloquei John Mayer para tocar, sempre
achei aquela voz rouca deliciosa de
ouvir.
A primeira música que tocou foi XO,
abri a vidraça e fui para sacada, o vento
agitou meus cabelos, um vento úmido
anunciava chuva.
Coloquei minhas mãos na grade da
enorme varanda, admirava o céu sem
estrelas. Levei um susto quando Enrico
tocou minha cintura, seu cheiro
entorpeceu meus sentidos, ele se movia
atrás de mim suavemente, ele estava
dançando. A mão caminhava pelo meu
quadril, e o nariz no meu pescoço. Ele
se movia numa dança sensual, mexendo
minha cintura para que eu acompanhasse
seu ritmo, eu acompanhei me movendo
com graça. Eu estava ficando excitada
assim como ele.
Ele me colocou de frente a ele, pude
ver que ele estava de calça jeans e sem
camisa, a calça modelava aquele quadril
perfeito. Ainda dançando ele colocou a
mão na minha cintura, eu toquei cada
parte de pele nua, encostei-me ao seu
peito. Antes de a música acabar ele me
levantou com facilidade, me encaixou na
sua cintura me fazendo cruzar os
tornozelos, enquanto sua mão ficava
abaixo da minha bunda.
Continuamos dançando, eu estava da
sua altura, o olhar dele era sexy a boca
era gostosa, ele queria me devorar, e eu
nunca gostei tanto de John Mayer.
Não consegui pensar em mais nada,
apenas me entreguei a ele, era como se
ele precisasse de um antidoto e eu fosse
essa poção mágica, ele silenciava meus
gemidos com seus beijos e eu provocava
muito mais do que ele parecia aguentar.
A noite inteira foi um frenesi e só nos
acalmamos quando nossos corpos se
uniram.
Na manhã seguinte acordei sozinha na
cama, olhei para os lados atordoada a
sua procura. O vento agitou a cortina da
sacada, pude ver o contorno das suas
costas. Prendi o lençol entre os braços e
fui até ele, abracei suas costas. Estava
claro pra mim que ele estava me
escondendo coisas. Ele havia se fechado
como um casulo.
- Enrico o que está acontecendo? – eu
estava ficando apreensiva
- Já disse que não há com que se
preocupar – ele beijou minha testa
- Você está mentindo! – acusei
- O que? Não! – ele tentou se defender
- Ah Enrico, não finja que não aconteceu
nada, você só está adiando o que mais
cedo ou mais tarde eu vou descobrir –
falei irritada, voltei para o quarto.
- Tenho uma reunião agora cedo – ele
mudou de assunto facilmente
- Bom pra você – falei ao sair do quarto.
Depois de tomar banho e pronta para
o trabalho, desci as escadas, parando na
cozinha. Pedi a Dora um café, ela me
atendeu prontamente. Eu queria um café
forte e sem açúcar, combinaria
perfeitamente com meu humor.
Enquanto dava um gole no meu café,
percebi que Dora me observava. Achei
que ela quisesse falar ou fazer algum
comentário, mas se essa era a intenção
não teve coragem para perguntar. Enrico
apareceu na porta da cozinha com seu
habitual terno de grife.
- Vamos? – ele colocou as mãos no
bolso
- Deixa a menina tomar o café – Dora
falou sem pestanejar
- Tudo bem Dora eu já terminei – falei
em quanto me levantava
- De jeito nenhum, nem comeu seu
pedaço de bolo – ela empurrou o prato
em minha direção.
- Senhor Enrico, a menina vai demorar
mais uns cinco minutos – ela colocou
mais café na minha xicara.
- Tudo bem, eu aguardo o tempo que for
preciso – ele encostou-se ao batente da
porta.
- E o senhor não vai comer nada? – ela
já pegava outra xícara
- Não, estou sem fome – ele falou
enquanto digitava nas teclas do seu
telefone.
Eu sorri pra Dora e ela retribuiu,
Enrico se afastou falando com Amon no
telefone. “Sim é muito importante” Só
você pode me aju... E eu não conseguiu
ouvir mais nada.
- Vocês brigaram? – Dora por fim falou
- Não, porque diz isso? – perguntei
curiosa
- Ele passou boa parte da madrugada
aqui na sala, enquanto você estava no
quarto – ela desviou o olhar.
- Ele passou a madrugada aqui em
baixo? – porque eu não percebi? Devo
ter dormido como uma pedra
- Sim, eu havia perdido o sono e estava
lendo, quando ouvi um barulho e vim
dar uma olhada.
- Não, nós não brigamos, eu também
gostaria de entender o que aconteceu
ontem – me senti na obrigação de ser
sincera.
- Está pronta? – Enrico apareceu
novamente na cozinha
- Estou... Dora obrigada pelo café – me
juntei a ele
Ele segurou minha mão e seguimos até
onde o motorista nos aguardava, Tyler
correu para abrir a porta pra mim, mas
Enrico fez um movimento com a mão
que o fez parar. Ele mesmo se
encarregou de abrir e entrou logo
depois. Ele entrelaçou a mão na minha e
beijou os nos dos meus dedos, olhou
bem no fundo dos meus olhos me
arrepiando inteira.
- Vou precisar ir à Itália daqui duas
semanas – ele falou enquanto acaricia
meu rosto
- Itália? – aquilo me pegou de surpresa
- Sim
- O que vai fazer na Itália? – erguei uma
das sobrancelhas
- Negócios
- Que tipo de negócios?
- Emi, meu amor, tenho muitos negócios
na Itália.
- Por quanto tempo? – quis saber
- Dois ou três dias, Amom vai comigo –
fiquei ainda mais intrigada.
Eu olhava para janela, vendo o
trânsito fluir, ele virou meu rosto com o
dedo indicador me fazendo olhar pra
ele, imagino o que se passava em sua
cabeça. Aquilo não estava certo, estava
tudo muito errado. Chegamos na
Maximus trinta minutos depois, eu me
fechei assim como ele. Já havia perdido
as esperanças de conseguir tirar alguma
coisa daquele homem. Então eu
colocaria o plano B em prática.
Seguimos para o 15° andar, fomos os
primeiros a chegar, coloquei minha
bolsa no encosto da cadeira e liguei meu
computador.
- Nos vemos depois? – ele colocou a
palma da mão na minha mesa
- Sim – falei olhando para tela do
computador que ainda se iniciava
- Ei... Eu volto o mais rápido que eu
puder, se eu pudesse te levaria, mas é
trabalho.
– eu sei
- Falamos depois – ele beijou o topo da
minha cabeça e foi pra sua sala.
- Bom dia Emily? Que dia lindo está lá
fora – Mari deve estar muito feliz,
porque o tempo está nublado, assim
como minha mente.
- Bom dia
– xi que bom dia mais sem graça
Dez minutos depois Sara chegou com
o Rodrigo, estavam ocupados demais
para notar minha cara amarrada, mas
Enzo não deixou de notar que alguma
coisa não ia bem. Mas não fez muitas
perguntas, disse que se precisasse
conversar poderia contar com ele. Ele é
um bom amigo e um dia vai fazer uma
garota muito feliz. Mergulhei o máximo
que pude no meu trabalho, coloquei os
fones de ouvidos e deixei as horas
passarem. Fui até a mesa da Mari, tinha
certeza que naquela agenda dos anos 90
tinha aquilo que eu precisava.
- Mari, você tem o telefone da Jasmine?
– ela me olhou desconfiada
- E porque você quer o telefone da bruxa
malvada do leste? Ou será que é oeste?
– ela colocou o dedo na bochecha
olhando pra cima
- Eu realmente tenho que explicar? – ela
folheava a agenda antiga
- Claro!
- Eu quero me aproximar, só isso, afinal
estou namorando o filho dela – que
desculpa mais estúpida eu arrumei, mas
não pensei em nada melhor.
- Não me convenceu – ela anotou o
telefone em um pedaço de papel
- Obrigada! – peguei o papel e voltei
para minha mesa
O que Sara tinha de desligada,
Mariana tinha um radar à cima da
cabeça, nada passava despercebido.
Queria ligar e falar com Jasmine, mas
Mari estava atenta e eu não queria
envolver ninguém nos meus problemas.
A mesa de Sara era próxima a minha e
ela era alheia a tudo que eu falava ou
fazia, muitas vezes tive que chamar seu
nome três vezes para que ela se desse
conta daquilo que eu estava falando. Eu
poderia ligar na hora do almoço, mas
estava muito ansiosa para esperar tanto.
Decidi mandar uma mensagem de texto,
e torci para que ela fosse adepta da
tecnologia e visse minha mensagem.

- Oi Jasmine preciso falar com você,


podemos almoçar juntas?

- E quem é você? – a resposta veio


quase que instantânea

- Ah me desculpe, é a Emily,
namorada do seu filho.

- Eu sei quem é Emily, não preciso


saber dos detalhes, o que teria pra
falar comigo?
- Sobre Enrico ir para Itália

- Te encontro às 13h no restaurante do


Enrico

O tempo era meu aliado, horas,


minutos e segundos passaram como um
piscar de olhos, Mari e Sara queriam me
acompanhar no almoço, claro que
recusei. Peguei minha bolsa e saí sem
explicações. Vinte minutos depois
estava estacionando no restaurante de
Enrico. Mais uma vez tive o desprazer
de ser acompanhada pela hostess, que
claramente não se lembrava de mim.
- Mesa pra dois – eu pedi
- Queira me acompanhar – ela seguiu a
minha frente
Sentei em uma mesa que tinha uma
visão ampla de todo restaurante, pude
notar cada detalhe. Um lugar
aconchegante de muito bom gosto.
- Gostaria de pedir?
- Ainda não, obrigada.
Faltavam cinco minutos para a hora
marcada, quando Jasmine apareceu na
porta. Ela parou tirou os óculos escuros
e olhou ao redor, me avistando. A
hostess ao perceber sua chegada correu
para cumprimenta-la, Jasmine fez um
gesto com a mão dispensando-a, ela
ficou parada com os braços cruzados
imaginando aonde Jasmine iria com
tanta pressa, ela usava uma saia lápis
preta e uma blusa de seda branca, os
sapatos eram idênticos aos meus. Salto
15 com solado vermelho. Ela não me
cumprimentou se sentou cruzando as
mãos sobre a mesa.
- Gostariam de pedir agora? – a hostess
ofereceu o cardápio
- Não! E por favor, não nos interrompa –
Jasmine falou sem ao menos olhar pra
moça.
- Eu quero uma água – falei tentando
amenizar o clima
- Ainda aqui? – Jasmine olhou pra
mulher por cima do ombro
- O que você sabe? – Jasmine perguntou
sem rodeios
- Nada de concreto, imaginei que você
pudesse me contar, a única coisa que sei
é que Enrico mudou totalmente depois
que encontrou um homem no restaurante,
depois disse que tinha negócios na Itália
– ela me analisava, e ouvia cada
palavra.
- De que homem você fala? Quero um
nome – ela intimou
- Pietro Lucca – achava que não fosse
possível ela ficar mais pálida.
- E o que ele disse? – o garçom trouxe
minha água e quem bebeu foi Jasmine,
suas mãos tremiam.
Contei a breve conversa dos dois, eu
não havia entendido nada, mas com
certeza Jasmine entendeu tudo, seus
olhos ganhou um tom de vermelho, me
fazendo ficar retraída, ela percebeu
colocando os óculos.
- Está contente?
- Como?
- Perguntei se está contente em ter
colocado meu filho em uma situação
como essa? – ela levou a mão ao peito
- Continuo sem entender – ela bateu um
punho na mesa
- Você sabe qual é a lei mais absoluta
dos vampiros? – ela falou tão baixo que
quase não ouvi.
- Qual? – eu sabia, mas precisava ter
certeza.
- A lei mais absoluta dos vampiros é
nunca, em hipótese alguma se envolver
com um humano, nosso segredo deve ser
preservado e mantido longe da raça
humana.
- Eu jamais falaria nada a ninguém – me
justifiquei
- Graças a você, meu filho será julgado.
Dezenove
Fechei os olhos e levei à mão a testa,
aquelas palavras teve o impacto de uma
bomba, fiquei devastada, aquilo não
poderia estar acontecendo, estava
vivendo um pesadelo.
Minha visão turvou, se eu tivesse em
pé teria caído, não posso acreditar que
causei tudo isso. Meu coração batia
descompassado e minhas mãos suavam
frio, tomei o restante da água do copo de
Jasmine, ela me olhava como se eu fosse
uma louca. Mas eu sei que estava
sofrendo assim como eu. Ela fez menção
de se levantar, eu segurei sua mão.
Chamei o garçom e pedi que me
trouxesse uísque duplo, precisava de
alguma coisa forte. Assim que ele
colocou o copo sobre a mesa, virei à
bebida âmbar de uma vez, pedi mais um.
- Por favor, Jasmine fica – ela olhou
para mão que segurava a sua.
- O que você ainda quer? – ela voltou a
se sentar
- Quero que me ajude
- Quem precisa de ajuda é Enrico e não
você! – ela colocou os óculos no topo
da cabeça
- Eu preciso saber o que posso fazer pra
ajudar, não queria que nada disso
tivesse acontecido.
- Eu avisei pra você se afastar dele, e
nem você e nem ele me deram ouvidos.
- O que é esse julgamento? – eu
precisava saber o que viria pela frente.
No meu pensamento amor é amor, não
importa a raça, situação financeira, ou
religião. O amor deveria ser livre, ele
ou eu deveríamos amar quem nosso
coração escolhesse independente de
qualquer coisa. Mas creio que minha
visão é limitada, e há muito mais que
isso, é um preconceito que ultrapassa
séculos. Ele não pensou duas vezes em
colocar sua vida em risco no momento
em que decidiu ficar comigo. E isso me
faz ama-lo ainda mais. Jasmine falou me
tirando do devaneio, olhei pra ela um
tanto atordoada.
- Você não prefere almoçar primeiro?
Depois de ouvir o que tenho pra falar,
talvez você perca a fome – seus cílios
enormes piscavam sem parar.
- Eu já perdi a fome! – salientei
- Eu não sei o que você sabe sobre
nossa raça, mas tenho certeza que não é
nada daquilo que imagina. A história
entre vampiros e humanos é muito
complexa – ela colocou o cabelo atrás
dos ombros e continuou.

Não sei ao certo onde o primeiro


vampiro surgiu, uns dizem que foi na
Itália outros dizem que foi na Romênia.
Uma coisa é certa, a rivalidade entre
humano e vampiros é milenar. Dizem
que os primeiros vampiros fizeram um
tratado com os humanos, onde cada um
deveria viver no seu mundo. Humanos
com humanos e vampiros com vampiros.
Tivemos relatos que quando um vampiro
se apaixonava por uma humana ou vice-
versa... (Jasmine mudou de assunto).
Como já deve saber depois da
transformação de Enrico, foi difícil
continuar na Itália, ele se rebelou e
passou anos vagando. Eu rodei grande
parte da Europa a sua procura. Meu
falecido marido havia me deixado em
uma situação financeira confortável que
me proporcionou sair em busca do meu
filho. Não tive sorte, ele não queria ser
encontrado.
Após tantas buscas em vão, Amom se
prontificou a procura-lo, eu já estava
exausta. Amom procurou nos lugares
mais remotos, onde jamais imaginei.
Enrico estava numa ilha na Ásia, não
imagino como foi tão longe. Ele estava
irredutível dizia que não voltaria mais a
Itália, mas prometeu manter contato
através de cartas. De tempos em tempos
ele escrevia para Amom que me dava
noticias que acalmavam meu coração.
Tenho Amom como um filho e o tenho
em alta estima. Os tempos foram
turbulentos, eu estava enlouquecendo,
sem saber o que Enrico seria capaz de
fazer com a própria vida, ou o que
sobrou dela, você não imagina como ele
ficou, era um farrapo, havia perdido
peso e não se importava com mais nada.
Pois bem, quando fiquei doente os
médicos haviam me desenganado.
Pudera, naquela época não se tinha
medicina avançada como hoje, e minha
doença era desconhecida. Eu estava com
50 anos, foi com essa idade que deixei
minha vida humana.
Amom fez contato com Enrico e
contou da minha doença. Ele ficou
comigo enquanto Enrico não aparecia,
eu tive medo de morrer e não fosse ver
meu único filho pela última vez.
Amom cogitou a hipótese de me
transformar, mas eu não consenti, eu não
tinha motivos pra viver. Meu único
motivo me abandonou e sumiu no mundo
sem explicações. Eu sei que a morte de
Isabela foi um golpe duro pra ele, e que
ele não me perdoava por ter implorado a
Amom que o transformasse, tinha
consciência disso. Na época não pensei
nas consequências, só queria ter meu
filho do jeito que fosse.
Eu estava fraca, mas tive forças o
suficiente para escrever uma carta e
pedi perdão, só havia feito aquilo com a
melhor das intenções. Eu não queria que
meu filho sofresse e nem que me
odiasse.
Assim que finalizei a carta, dobrei em
quatro partes e entreguei a Amom, eu
tossia sem parar e me deitei novamente,
fechei os olhos por um instante que
pareceram longas horas. Quando abri,
Enrico estava parado na porta. Achei
que fosse uma visão em decorrência do
meu estado critico, eu tive momentos de
delírios e alucinações.
Mas não era uma visão era ele, era
meu filho, estava diferente, não via sinal
daquele rapaz feliz e apaixonado que era
antes de toda aquela tragédia. Estava
ainda mais magro desde a última vez,
estava cheio de olheiras, usava roupas
rasgadas, era como se nada mais
importasse, creio que era assim mesmo
que ele se sentia.
Ele tocou no ombro de Amom que
estava sentado na cadeira ao meu lado,
ele se levantou nos deixando a sós.
Sentou-se na cama segurando minha
mão, uma lágrima correu por minha face.
Eu estava tão feliz de vê-lo, naquele
momento poderia morrer que morreria
feliz.
- Mãe! - Ele falou, e naquele momento
eu soube que ele havia me perdoado.
Eu já falava com dificuldades, mas
estava preparada para deixar esse
mundo tendo como última visão o meu
filho amado, ele estava com a cabeça
baixa e ombros caídos, quando proferiu
as palavras, que a principio eu não
havia entendido, até ele repetir.
-Eu vou transforma-la - eu entrei em
pânico. Eu não queria aquilo pra mim,
mas ele também não quis aquilo pra ele.
- Mãe, você e Amom são as únicas
pessoas que tenho na vida e não vou
conseguir viver se um de vocês... – eu
me lembro bem ele não conseguiu
terminar a frase.
Eu sei filho, vocês são minha família,
eu amo muito vocês, não viveria se
alguma coisa acontecesse, estava
morrendo de preocupação.
- Desculpa mãe, nunca mais vai
acontecer.
E foi aí que me rendi, disse que ele
poderia me transformar e que ficaríamos
juntos pra sempre por toda eternidade,
sei que às vezes sou protetora, mas qual
mãe não é? Ele passou a mão no meu
rosto, fechei os olhos, pronta para meu
último suspiro, meus batimentos
cardíacos estavam fracos e quase não
tinha pulso. Eu vi quando Amom se
aproximou fazendo um sinal afirmativo
com a cabeça. Acredito que foi assim
que ele disse a Enrico que já estava na
hora de me transformar. Enrico se
aproximou e cravou suas presas em meu
pescoço. No inicio não sentia nada,
depois uma dor lancinante queimava
minha cabeça, eu realmente pensei que
estava morrendo, de certa forma estava,
deixei minha vida humana e me tornei o
que sou.
Ficamos algum tempo na Itália até
decidirmos vir para o Brasil com
Amom. Depois de algum tempo ele fixou
moradia em Dubai, ele dizia que lá era
seu lar verdadeiro, foi onde encontrou
paz, só voltava à Itália quando era
chamado pelo conselho.
Passamos férias em Dubai, mas
Enrico nunca quis deixar o Brasil, eu
sempre quis voltar à Itália, mas nunca
deixaria meu filho aqui sozinho, mesmo
que ele não precisasse tanto de mim
como eu gostaria.
Amom é o vampiro mais velho que
conheço, e essa experiência toda
garantiu a ele uma cadeira no conselho
de Lorenzo Sartori, que é o vampiro
mais velho do mundo, não tive o
desprazer de conhecê-lo, mas conheço
bem suas histórias. Minha esperança é
que a influência de Amom consiga
salvar meu Enrico da morte.
- Morte? – o sangue fugiu do meu rosto
- Sim, Enrico desrespeitou uma lei, e a
sentença pra esse “crime” é assim que
eles intitulam, é a morte – sua voz saiu
embargada.
- Deve haver alguma coisa que
possamos fazer, ou que eu possa fazer,
vou falar com Amom, preciso fazer
alguma coisa – me levantei.
- Vou te ajudar, juntas vamos achar uma
saída – Jasmine me abraçou.
Na primeira vez que te vi, eu consegui
ver além de você, e tudo que estava no
seu coração, Enrico odeia quando eu
faço isso, diz que é invadir a
privacidade das pessoas. Mas estamos
falando de Jasmine Maximus, e isso não
se aplica a mim. A partir daquele dia eu
comecei a ter ideias, achei que se
trouxesse Kiara de volta pra vida dele,
ele poderia esquecer você. Mas o que
ele sentia ia além da minha
compreensão, e as coisas foram se
complicando a cada dia.
Tudo que eu mais queria era que
Enrico se afastasse de você, consegui
enxergar de longe onde essa história iria
acabar. Mas como afastar um homem
apaixonado de sua amada? Ele estava
tão feliz, uma felicidade que não via há
tanto tempo, porém sabia que isso não
acabaria bem.
Eu só queria que voltasse comigo pra
Itália, mas ele foi teimoso e não me
ouviu, agora tudo que eu quero é tê-lo
vivo. A Itália nesse momento é o pior
lugar do mundo. Aquela corja italiana
não brinca em serviço, levam as leis
muito a sério e Enrico foi muito
imprudente em não levar isso em
consideração.
Eu fiquei desnorteada, senti falta de ar
as pernas bambas e uma vontade enorme
de chorar. Queria estar com Enrico e
dizer que ficaria tudo bem, eu daria um
jeito.

Duas horas depois eu voltava para


Maximus com Jasmine, resolvemos
guardar segredo, Enrico jamais
concordaria com nada que estivéssemos
planejando. Ele é do tipo que abraça
todas as causas e aceita todas as
consequências. Ao chegar ao 15º andar
Jasmine como sempre largou a bolsa na
mesa da Mariana e entrou na sala do
filho. Agora que conheço um pouco da
sua história não imagino de onde saiu
tanta frieza.
- Tá famosa hem?! – Sara falou
levantando a cabeça
- Do que você tá falando Sara? – não
fazia ideia
- O solteirão mais cobiçado de São
Paulo, enfim foi arrebatado – Rodrigo
lia na tela do computador da Sara.
- Que conversa é essa? – quis saber me
aproximando
O jovem empresário Enrico Maximus
se rendeu ao amor, ele foi visto ao
lado de uma bela mulher jantando no
Terraço Itália.

Abaixo da manchete havia uma foto


minha com Enrico no restaurante, fomos
flagrados bem no momento em que ele
beijava minha testa. Era só o que me
faltava ficar saindo em sites de fofocas.
- Como foi o almoço com a sogra? –
Mari ironizou
- Pela demora já devem até ter marcado
o casamento – Sara brincou me fazendo
rir
- Ei vocês, não tem o que fazer não? –
me sentei ligando meu computador.
Depois de horas trabalhadas, lembrei
que não havia comido nada e meu
estômago dava sinal. Liguei no delivery
e pedi um lanche natural. Enquanto
comia, Jasmine passou por mim,
seguindo para o elevador, ela nunca
havia demorando tanto numa conversa
com o filho. Dessa vez eu sabia
perfeitamente o teor da conversa, não
via a hora de confronta-lo. Precisava
saber o que poderia fazer, se fosse
preciso eu desaparecer da sua vida eu
faria isso, mesmo que meu coração fosse
dilacerado. Queria Enrico vivo, não
importava as consequências, só queria
que ele vivesse.
Vi as horas passarem como conta
gotas. Pesquisei tudo que pude na
internet sobre vampiros, as mais
variadas histórias. Fiquei chocada ao
saber o que acontecia com aqueles que
não seguiam de acordo com suas leis, as
mortes das mais terríveis. Cabeça
separada do corpo, adagas no coração,
esquartejamento seguindo de fogo.
Aquilo tudo me fez pirar e imaginar
Enrico em cada uma dessas situações.
Eu precisava fazer alguma coisa e logo,
Jasmine marcaria uma reunião com
Amom. É nisso que estou me apegando,
em que ele possa me ajudar, eu farei o
que for preciso.
Meu celular tocou, era um número
desconhecido, atendi e pra minha
surpresa ou não, era Amom. Ele falava
que Jasmine já deixará a par de tudo, e
que sabia que ela estava ao meu lado, e
que ele também estava. Faria tudo que
fosse possível pra ajudar Enrico.
Marcamos um jantar para o próximo
fim de semana, já que nesse teríamos o
evento beneficente e o jantar com meus
pais. Eu senti um alivio e um fio de
esperança, ele me passou segurança. Eu
estava certa de que encontraríamos uma
solução.
Vinte
No final do expediente estava exausta,
não fisicamente, mas emocionalmente,
os acontecimentos do dia me deixaram
extremamente abalada. Vi um a um
deixar suas estações de trabalho e me
desejar boa noite. Só iria embora
quando Enrico abrisse aquela porta. Ele
passou o dia inteiro trancafiado. Mari
comentou que ele recusou todas as
ligações.
A noite caiu e eu esperei, esperei e
esperei. Vi as luzes dos prédios vizinhos
sendo apagadas. Grande parte do nosso
prédio também. O senhor que fazia a
limpeza não viu que eu ainda estava no
departamento e apagou a luz. A única luz
daquele ambiente era do meu
computador. Meus olhos estavam
pesando, o cansaço físico havia me
pegado e acabei deitando sobre a mesa.
Não sei ao certo por quanto tempo fiquei
ali.
Despertei quando Enrico me pegou no
colo me levando para o elevador, levei
meus braços ao seu pescoço encostando
minha cabeça no seu peito.
- Ah Enrico é tudo minha culpa –
murmurei
Entramos no carro com Tyler no
volante, ainda continuava nos braços
dele, queria ser forte, mas desabei.
Chorei como se fosse uma criança, ele
me consolou.
- Vai ficar tudo bem – ele beijou minha
testa
- Não vai não, é tudo minha culpa, você
pode até morrer.
- O que Jasmine te falou? – ele trincou a
mandíbula
- O suficiente
- Eu não me arrependo de nada, você foi
a melhor coisa que me aconteceu nos
últimos tempos, se tivesse que escolher,
escolheria passar por tudo isso de novo,
eu te amo e por você posso até morrer...
– eu o calei com meus lábios, não
suportaria ouvir mais nada.
Fomos até sua casa em silêncio, não
queria colocar pra fora tudo aquilo que
estava sentindo e ele pareceu fazer o
mesmo. Era tudo tão tenso, queria ter o
poder de tirar todo o peso do meu
coração e toda a preocupação que
estava na mente de Enrico, sei que a
maior preocupação dele, não era o
julgamento e sim como eu me sentia, e o
que aconteceria comigo se ele se fosse,
só de pensar as lágrimas escorriam cada
vez mais, eu não estava conseguindo me
controlar e ele tentava me consolar,
apesar de que deveria ser o contrário.
Tyler estacionou na entrada de carros e
nós descemos, Enrico colocou minha
bolsa no seu ombro e segurava minha
mão firmemente. Eu queria ser tão forte
quanto ele, mas não era da minha
natureza, eu era fraca eu era humana.
Enrico pediu a Dora que fizesse uma
comida leve pra mim, pois eu não havia
comido direito, e como ele soube disso
não faço ideia. Dora disse que
prepararia uma sopa de aspargos no pão
italiano. Eu fiz uma cara de dor.
- O que foi querida, não gosta de sopa
de aspargos? – ela pareceu chateada
- Gosto sim, obrigada – não queria
desapontar mais ninguém.
Na verdade não queria ouvir falar
nada que tivesse origem na Itália,
italiano, etc. Parecia mais uma
conspiração. Fomos para o quarto até a
sopa de aspargos no pão “italiano” ficar
pronta. Deitei na cama de Enrico e ali
fiquei imóvel, na esperança de que uma
solução entrasse pela janela. Ele deitou
ao meu lado me puxando pela cintura
fazendo meu corpo colar ao seu.
- Eu sei que você será julgado, e pode
até morrer por ter se apaixonado por
mim, por ter confiado seu segredo a mim
– ele não respondeu.
Ele beijou meu pescoço, colocando a
mão na minha barriga, eu queria
aproveitar aquele momento, mas não
conseguia tirar o maldito julgamento da
cabeça.
- Eu vou pra Itália daqui duas semanas,
e se eu for condenado quero me lembrar
das últimas semanas como as melhores
da minha vida. Você pode fazer isso por
mim? – ele parou a mão entre minhas
pernas
- Não fala isso, porque se você for
condenado, a vida não terá sentido pra
mim – ele me fez virar pra olhar no
fundo dos meus olhos.
- Nem pense em desistir, você vai ter
que me prometer – eu desviei meu olhar.
- Eu não posso
- Olha pra mim – ele segurou meu
queixo com força
- Eu não vou prometer aquilo que não
posso cumprir. Vamos ter que sair dessa,
juntos – ele me abraçou forte.
- Não seja teimosa Emily
- Vou fazer o que for preciso, essa é
minha decisão – ele balançou a cabeça.
- Eu te amo tanto – ele beijou meus
lábios
- Eu também te amo Enrico Maximus
Ele beijou minha boca e rasgou minha
blusa, ele rasgou mesmo, literalmente,
jogou o que restou dela na direção da
porta, em menos de dez segundos eu
estava nua e debaixo dele, ele envolveu
um dos meus seios com a mão, e outro
com a boca, ele tinha o dom de me fazer
esquecer qualquer coisa. Naquele
momento eu só pensava em tirar sua
roupa assim como ele fez com a minha.
Segurei forte os seus cabelos,
enquanto ele se movia dentro de mim, eu
estava quase andando nas nuvens, era
assim que eu me sentia toda vez que ele
tocava meu corpo. Ele sabia como me
fazer esquecer, eu quis retribuir cada
sensação que ele estava me
proporcionando. Mudamos a posição, eu
subi em cima dele e comecei beijar cada
pedacinho do seu corpo, não pude
deixar de admirar como ele era bonito
sem roupa, o corpo bem esculpido, o
abdômen retinho e as coxas bem
torneadas, era forte e aquilo me
excitava. Beijava vagarosamente cada
parte de pele exposta, me deliciava com
cada sensação que provocava nele, não
precisei ser guiada, sabia muito bem
onde deveria parar. E foi o que fiz,
naquele momento ele conseguiu
esquecer qualquer coisa que estava
acontecendo lá fora, e eu fiquei feliz em
fazê-lo estremecer.

Depois de alguns momentos de


descanso e cumplicidade, em que eu
queria que durasse por toda eternidade,
ele se afastou de mim. Seguiu até o
closet e voltou de calça de moletom
cinza e camiseta de algodão branca,
voltou até a cama me beijando no rosto.
- Vou pegar seu jantar – só balancei a
cabeça, se falasse choraria de novo e
não era minha intenção preocupa-lo
ainda mais.
Aproveitei pra mandar uma mensagem
pra Sabrine, eu precisava tanto da minha
amiga, mas não poderia contar
exatamente o que estava acontecendo,
não precisava envolvê-la nessa história,
ainda sim precisava do seu colo. Não
precisei falar mais nada, só com meu
“Ai Sá”, ela conseguiu entender que eu
precisava dela, não sei como ela
consegue ler nas entrelinhas dessa
forma. E me respondeu: “Sorvete de
chocolate quando chegar?”. Sequei uma
lágrima assim que ouvi a porta do quarto
bater, Enrico entrou com uma bandeja, a
sopa no pão italiano. Eu revirei os
olhos, assim que ele colocou a bandeja
na minha frente.
Já era madrugada quando despertei
Enrico não estava na cama, aproveitei
para tomar um banho, queria que a água
levasse tudo que fosse ruim pelo o ralo.
Coloquei uma camisola branca e voltei
pra cama, ele estava lá e me ofereceu o
braço assim que apareci na porta do
quarto. Aconcheguei-me em seu peito e
dormi.

Acordei mais cedo que de costume na


manhã de quinta-feira, o dia seria longo.
Fora os preparativos para o evento
beneficente, teria que visitar um cliente
com Enzo. Queria finalizar tudo antes de
o expediente acabar, queria voltar pra
casa, Sabrine me devia um sorvete de
chocolate. Tomei um banho rápido e
peguei a primeira roupa que vi pela
frente, não tinha mais aquele problema
de ficar procurando o que usar, tudo
naquele closet era lindo, então o que eu
pegasse cairia bem.
Era inverno, mas estava calor, vai
entender esse clima, há quem diga que é
culpa do aquecimento global, el ninho e
sei lá mais o que. Coloquei uma calça
justa branca, uma regata de seda de Poá.
Coloquei uma sandália de tiras preta,
levei um blazer preto, caso o tempo
mudasse.
Desci as escadas e lá estava ele
olhando através da vidraça, foi como a
primeira vez que o vi. Ele usava uma
calça azul, uma camisa branca e um
colete azul, os cabelos estavam
molhados, ele se virou pra mim com
aquele sorriso de pérolas, me fazendo
retribuir.
- Está linda – ele falou me oferecendo a
mão
- E você não está nada mal – passei a
mão por seus braços
- Tem tudo que você gosta naquela mesa
– ele apontou na direção da sala de
jantar
- Estou realmente faminta – puxei sua
mão
- Vou pra casa hoje – ele parou o copo
no ar, antes de chegar à boca, dando
toda atenção pra mim.
- Por quê?
- Não posso ficar aqui todos os dias
- E porque não? Por mim você moraria
aqui de vez – eu ri sem emoção
- Sabrine precisa de mim – eu queria
dizer o contrário, mas não achei uma
boa ideia.
- Se é assim – ele tomou um gole de
suco
Após o término do café da manhã
fomos pra empresa, fui no carro de
Enrico, já que meu carro estava na
Maximus pelo menos há dois dias.
Assim que entramos no elevador ele
me beijou me desejando bom dia,
passou a mão pelo meu rosto me fazendo
fechar os olhos, eu segurei na lapela do
seu terno azul, e inspirei seu perfume,
seria tão bom se pudéssemos fugir dos
problemas, mas não é assim que as
coisas funcionam. O problema seguiria a
gente por qualquer lugar que fossemos.
- Se comporta com Enzo hoje, se ele
continuar te incomodando me avisa que
o coloco pra correr em dois tempos,
minha paciência de esgotou – eu ri.
- No fundo ele é uma boa pessoa
- Fora o fato de ele estar querendo
roubar minha mulher, sim ele é um bom
fotografo que pode ser substituído a
qualquer momento – ele colocou o
queixo na minha cabeça me envolvendo
pela cintura.
- Ele não vai renovar o contrato sabia?
- Ótimo! Assim não perco meu tempo
O elevador chegou ao 15º andar e
entramos no nosso departamento, ele não
soltou minha mão, olhei pra mão que
segurava a minha, ele levou minha mão
aos lábios e beijou. Todos presenciaram
sua demonstração de carinho, ele
pareceu não se importar, tirou minha
bolsa do ombro, colocando no encosto
da minha cadeira e beijou minha testa.
- Bom dia pessoal – ele soltou e foi pra
sua sala, assim que a porta se fechou
Mariana soltou a boa do dia.
- Ai que romântico! – levou a mão ao
peito
- Porque você não carrega minha bolsa?
– Sara deu um tapa no braço de Rodrigo
- Babaca! – Enzo ironizou
- Mari, como vão às coisas para o
evento de amanhã? – mudei de assunto e
ela se empolgou revirando a agenda dos
anos 90, cheia de clip colorido.
Mariana participava efetivamente
dessas organizações, ela não deveria ser
recepcionista/secretária, deveria ser
Promoter, nunca vi mulher mais
habilidosa. Ela gostava de fazer aquilo,
se via no brilho dos seus olhos.
- Está tudo sobre controle, a banda vai
passar o som no final da tarde.
- Que ótimo!
- Tá tudo tão lindo, já escolheu seu
vestido? – eu nem havia pensado nisso
- Ainda não!
- O que está esperando? Precisamos
comprar um na hora do almoço – eu
analisei
- Acho que deve ter algum no meu
guarda-roupa novo – pensei alto
- Você tem um guarda-roupa novo? –
Sara perguntou
- Sim, na casa de Enrico – Sara deu
mais um tapa no braço de Rodrigo.
- Chega de conversa fiada, precisamos
trabalhar. Está pronta Emily? – Enzo
perguntou tocando meu braço
- Sim, hoje o dia será longo.
Por incrível que pareça Enzo se
comportou bem, contou dos seus planos
para o próximo ano, a viagem pra África
e todos os lugares que pretendia passar.
Ele estava preocupado com o evento de
sexta-feira, não sei por que, ele é um
excelente profissional. Ele dizia que não
gostava de tirar fotos de celebridades,
gostava de fotografar aquilo que era
real, não um bando de gente que só quer
aparecer. Pode até ser verdade, mas as
crianças do hospital do câncer
agradecem as doações.
- Eu prefiro fotografar os elefantes na
África – ele riu
- Vem... Te pago o almoço - falei

Voltamos para empresa e parecia à


bolsa de valores, todos falando alto e ao
mesmo tempo, Mariana estava alarmada,
antes mesmo do elevador se fechar ela
pegou meu braço, olhei sem entender.
- Ah graças a Deus você chegou!
- Que foi Mari? – estava preocupada
- Nosso evento está acabado! – ela fez
uma cena teatral
- O que aconteceu?
- O guitarrista da banda ficou doente, e
não vai poder tocar.
- Tudo isso por causa de um guitarrista?
– não estava acreditando
- Onde eu vou arrumar outro guitarrista?
- A banda não pode improvisar e tocar
sem guitarra?
- Não seja boba!
- Só perguntei – dei de ombros
- Se não tiver guitarra não tem banda –
Mariana deveria ser a rainha do drama
- Eu conheço um cara que toca guitarra,
mas não sei se ele vai topar.
- Você vai salvar a minha vida, serão
três ou quatro músicas.
- Vou falar com o Felipe
- Felipe? Aquele Felipe?
- É o único que conheço – o sorriso dela
se iluminou

Antes de ir pra casa, passei na sala de


Enrico pra me despedir e ver se estava
tudo bem, ele parecia o mesmo de
sempre, carinhoso, atencioso, o homem
que me faz querer ser uma pessoa
melhor a cada dia.
- Estou indo!
- Quer que Tyler te leve? – ele beijou
meu cabelo
- Não precisa tá tudo bem
- Nos vemos amanhã? – ele piscou pra
mim e me mostrou aquele sorriso
encantador
- Te ligo mais tarde – fui me afastando
devagar ou não iria embora tão cedo
- Emi? – eu me virei
- Sim
- Eu te amo! Nunca se esqueça disso.

Cheguei em casa um pouco mais tarde


que o esperado, coloquei as chaves na
mesinha do corredor, Sabrine estava
mexendo alguma coisa na cozinha e
Felipe estava sentado no chão, colocava
o banco imobiliário sobre a mesa de
centro. Sá encheu as taças com sorvete,
e caprichava na calda de morango e
chocolate.
- Banco imobiliário e sorvete?
- Tudo pra minha melhor amiga! – ela
me abraçou
- Vocês tem um evento amanhã – falei
me sentando no chão ao lado de Felipe -
O evento da Maximus, não esqueceu né
Sá?
- Claro que não, não perderia por nada.
- E Fê... Você ainda toca guitarra?

Passamos a noite jogando banco


imobiliário e tomando sorvete, fazia
muito tempo que eu não me sentia assim,
eu precisava daquilo, esquecer um
pouco o que perturbava minha mente.
Jogamos até o cansaço me vencer e o
sorvete acabar. Antes de dormir liguei
para Erico, precisava ouvir sua voz, nos
falamos até eu adormecer.
Vinte e um
Acordei com o celular ainda nas
mãos, não me lembro em que momento
adormeci deixando Enrico do outro lado
da linha. Tudo que eu queria era estar
com ele, deitar em seu colo e sentir meu
coração disparando por estar ao seu
lado. Nos últimos dias tenho sentido um
turbilhão de emoções, coisas demais
para minha mente e pro meu coração. É
uma tortura cruel e diária, uma batalha
que estou travando por saber que o
futuro do homem que amo é incerto, pelo
simples fato de eu estar em sua vida.
Estou sentindo um frio na barriga, um
pressentimento de que fiz ou de ter
acontecido algo de ruim. Na verdade é
um sentimento estranho, algo difícil de
explicar. Tento dissipar esses
pensamentos, me concentrado no que
aconteceria mais tarde.
Tomei um banho rápido, coloquei uma
calça jeans e uma blusinha soltinha azul,
encontrei com Sabrine e Felipe na mesa
do café da manhã. Conversavam
animadamente, na verdade estavam
discutindo sobre o final do filme Ilha do
medo. Sabrine não concorda com os
argumentos de Felipe, nem entrei na
discussão, porque pra mim aquele final
foi ambíguo. Talvez se eu assistisse
outra vez teria outra opinião.
- Bom dia Emi dormiu bem? – Felipe
passava manteiga no pão
- Dormi sim, obrigada Fê.
- Dormiu nada, escutei você chorando
baixinho ontem à noite – Sabrine me
encarava cruzando os braços.
- O que?
- Vai me contar ou não? – Era difícil
fugir daquela mulher inquisidora
- Não é nada, é que Enrico vai para
Itália e...
- Todo esse chororô porque seu
namorado vai viajar? – Felipe inquiriu
- Sim – de certa forma era verdade
- Ela está apaixonada mesmo! – Sabrine
levou à mão a boca, ela e essa mania.
- Ainda tinha dúvidas? – Felipe
perguntou a irmã.
- É... pensando bem, não é nenhuma
surpresa – ela colocou a mão no queixo.
- O fato é que ele também está
apaixonado por ela – Felipe ponderou
- Eles formam um casal lindo – Sabrine
suspirou
- Olá... Estou bem aqui! – falavam como
se eu não existisse
- Ah claro! – Sá deu de ombros
- Fê... Preciso que toque duas ou três
músicas no evento de hoje – Felipe
engasgou
- O que? Eu? Faz muito tempo que não
toco, ainda mais em público. Não! Pode
esquecer! – ele deu uma mordida no pão
- Eu acho o máximo – Sá bateu palmas,
parecendo uma menina de sete anos.
- Felipe, por favor, a Mariana tá
contando com isso – acho que consegui
sua atenção.
- Mariana, aquela sua amiga gata?
- Sim, ela está organizando o evento.
- Fê... Mulheres adoram astro do rock,
imagina quantas mulheres você vai
pegar depois que descer do palco –
Sabrine deu uma cotovelada no irmão.
- Isso é verdade – incentivei
- Duas ou três músicas? – ele pareceu
analisar
- Isso! Diz que sim?
- Tudo bem, o que eu não faço por
vocês?
- Vou passar seu telefone pra Mariana
para acertarem os detalhes – ele deu um
sorriso canalha
- Meu irmão quer pegar sua amiga, tô
sentindo!
- A Mariana é linda, além disso, ela
ficou caidinha por ele.
- É sério? – Felipe questionou
- Vai fundo Fê!
O dia na Maximus estava agitado, um
entra e sai de gente o telefone tocando a
todo o momento, como Mariana estava
se dedicando em tempo integral ao
evento, nós tínhamos que puxar todas as
ligações. Eram das mais variadas
perguntas, gente querendo confirmar o
endereço do evento, pessoas se
desculpando por não poderem ir, alguns
parabenizando Enrico pela iniciativa.
Até a hora do almoço achei que ficaria
louca, minha cabeça estava latejando
com tanto barulho.
Nosso expediente terminou
pontualmente às 15h, precisávamos nos
preparar para mais tarde, se bem que eu
não trabalharia no evento, só iria
prestigiar. Sara e Rodrigo ficaram
incumbidos de escreverem a matéria,
Enzo de fotografar os convidados e
Mariana a nossa Promoter já estava a
todo vapor. Eu me ofereci para ajudar,
mas disseram que não seria necessário,
que eu poderia curtir a festa com meu
namorado. Não era bem a resposta que
eu esperava, mas foi o que aconteceu.
Enrico só trabalhou na parte da
manhã, disse que tinha assuntos a tratar
com Amom e estaria me esperando em
casa. Eu estava ficando cada vez mais
preocupada com esses assuntos urgentes.
Só ficaria tranquila quando conversasse
pessoalmente com Amom, se é que ele
me contaria alguma coisa relevante.
Cheguei na casa de Enrico no
comecinho da noite, Sabrine e eu,
havíamos combinado de passar no salão
de beleza pra fazer unhas e cabelos e
combinamos de nos encontrar no evento
por volta das 22h.
Quando entrei no quarto, Enrico
arrumava a abotoadura da camisa,
estava lindo naquele smoking, ele
levantou o olhar, fiquei sem fala, e
gaguejei como na primeira vez.
- Está lin... Lindo – consegui concluir e
ele sorriu
- Você também – eu olhei para o meu
jeans surrado
- Vou me arrumar – estava saindo por
onde havia acabado de entrar
- Não vai nem me dar um beijo? – ele
ergueu a sobrancelha perfeita
- É o que mais quero! – me aproximei
beijando seus lábios macios

De pé em frente ao closet procurava


algo perfeito pra vestir, não demorou
muito achar o que procurava, peguei
uma peça que ainda não havia visto no
meu novo guarda-roupa. Um vestido
lindo num tom de areia com prata, um
tomara que caia longo e elegante.
Coloquei com cuidado em cima da
cama, e fui fazer meu ritual, banho,
depilação e maquiagem. Deixei meu
cabelo preso em um coque elegante com
a franja de lado, procurei um brinco que
combinasse com o vestido e um sapato
no mesmo tom.
O vestido emoldurou meu corpo,
meus seios pequenos ficaram maiores
naquele decote, deixando meu colo
lindo. Caiu como uma luva, nunca na
vida vesti algo tão lindo. Teria que estar
à altura do meu acompanhante, se é que
era possível, o homem que estava no
andar de baixo me esperando ansioso.
Não queria decepcionar, queria ser a
acompanhante mais bonita, queria que
ele se orgulhasse de mim.
Desci as escadas segurando a barra
do vestido para que eu não tropeçasse e
fosse parar no hospital. Eu me sentia
bonita, me sentia confiante, até aquele
homem maravilhoso me olhar de cima a
baixo e não proferir nenhuma palavra
nos minutos seguintes. A beleza de
Enrico era ofuscante. Parei onde estava
não conseguia dar mais nenhum passo,
até ver um sorriso naquele rosto bonito.
- Você está linda! – ele se aproximou da
base da escada
- Obrigada senhor Maximus – avancei
um degrau
- Gostaria de me acompanhar essa
noite?
- Seria um prazer – avancei mais um
degrau
- Estou atônito com tanta beleza – ele me
ofereceu a mão
- Eu também estou com a sua – desci o
restante dos degraus e segurei sua mão
Ele beijou minha testa, me abraçou
dizendo que eu estava cheirosa, cada
elogio me fazia derreter. Esse homem
me faz esquecer qualquer adversidade
que a vida possa me trazer, ele é como
meu porto seguro, é o ar que eu respiro,
é minha alma gêmea.
Atravessamos a porta e o vento da
noite nos saudou, o céu estava estrelado,
era uma noite perfeita para amantes
assim como nós, uma noite perfeita para
se apaixonar. Enrico foi no comando do
seu SUV, ele dizia que Tyler trabalhava
demais e deveria ter ao menos três dias
de folga pra estar com sua família.
Fiquei sabendo que Tyler tem um casal
de filhos gêmeos de dez anos de idade,
soube também que Enrico pagava o
colégio das crianças, e que ficou
responsável pelos seus estudos até a
formação na faculdade. Enrico não me
contou esse fato, quem me contou toda a
história foi Dora, num dia em que
perguntei por que Tyler era tão devoto a
Enrico, foi aí que entendi o motivo de
tanta gratidão.
Chegamos ao hotel de Enrico onde o
evento já estava acontecendo, não fiquei
feliz em saber que “aquela” hostess
estaria trabalhando naquela noite.
Mariana estava na entrada, dando ordens
a um dos garçons, ela usava um vestido
preto de rendas com as costas nuas
acima do joelho, estava realmente
ousada. A decoração, um espetáculo a
parte, a disposição das mesas, as
porcelanas, as taças de cristais e o lustre
que teria sido encomendado
especialmente para a ocasião.
Na parte externa foi montado o palco e
uma pista de dança toda iluminada,
havia arranjos de flores espalhados nos
quatro cantos, tudo tinha um toque de
dourado, Mariana se superou, estava
tudo maravilhoso.
Jasmine fez um discurso de abertura,
fez agradecimentos e pediu que todos
fizessem suas doações, ela ergueu a taça
fazendo um brinde, logo em seguida a
banda começou a tocar. Olhei para o
palco e vi Felipe dedilhando sua
guitarra, Mariana olhava pra ele
admirada seguia a banda cantando uma
música dos Beatles. Enrico me pegou
pelo braço me levando para pista de
dança, encostei minha cabeça em seu
peito e dançamos como se não houvesse
amanhã.
A Maximus recebeu alguns itens para
a organização de um leilão, assim que a
música cessou o leiloeiro deu início, o
primeiro item leiloado foi um colar de
ouro com pedra de esmeralda, doado
pela loja da H.Stern. Após o primeiro
lance dado por Jasmine a coisa
deslanchou. Acabou sendo arrematado
por Enzo, por uma grana absurda.
Depois do terceiro item leiloado,
Enrico foi chamado ao palco, ele fez um
breve discurso diante dos holofotes e
agradeceu pelos doadores e por aqueles
que deram seus lances. Fui me encontrar
com Sabrine e Felipe que estavam
sentados em uma mesa mais a frente.
Agradeci a ele por ter tocado as três
músicas e ele disse que foi um prazer.
Sabrine usava um vestido vermelho com
rendas nas mangas, os cabelos estavam
maiores, já não tinha aquele ar de
cabelo desfiado, estava quase um
Chanel.
Mariana se aproximou da mesa
convidando Felipe para dançar, foi
incrível ela ofereceu a mão a ele, que
não demorou em aceitar, os dois foram
para a pista de dança ao som de U2.
- Estou com tanta saudade do meu amor
- Sabrine suspirou.
- Quando ele volta? – O namorado de
Sabrine viaja a trabalho é muito difícil
os dois estarem juntos.
- Graças a Deus o contrato dele acaba
no final do ano, aí ele poderá encontrar
um emprego perto de mim.
- Você tem razão
Às vezes Sabrine se faz de forte, mas
eu não sou a única que chora no meio da
noite e passa a madrugada inteira
falando com o namorado. Ela faz isso às
vezes, eu sinto tanto, pois sei o quanto
ela ama aquele homem, mas também sei
que assim que o contrato dele acabar os
dois terão uma vida longa e feliz.
Sabrine recebeu um convite para
dançar de um senhor de uns 80 anos de
idade, foi difícil recusar tanta doçura,
enquanto ela bailava na pista, resolvi
sair à procura de Enrico, encontrei
conversando com Jasmine, que ignorou
minha existência, como se eu não
soubesse da sua dor, como seu eu não
compartilha a mesma preocupação.
Homens e mulheres transitavam pela
área externa de braços dados com suas
roupas elegantes, e sorrisos iluminados,
ao longe vi Enzo fotografando um casal,
e logo atrás dele estava Sara e Rodrigo
conversando com um homem que eu
reconheci de imediato, era Amom.
Rodrigo gesticulava e Sara anotava
alguma coisa em um bloco de notas.
Enrico também notou, e me conduziu
até onde seu amigo estava, ficamos a
certa distância, até que Sara e Rodrigo
terminassem seus trabalhos, assim que
me viu Sara veio ao meu encontro me
abraçando, enquanto Enrico se
aproximava de Amom.
Sara estava espetacular, usava um
vestido esvoaçante verde que
combinava perfeitamente com seu tom
de pele, usava os cabelos soltos com
cachos bem modelados, ela nem
precisava de maquiagem tinha uma
beleza natural que não se via por aí,
Rodrigo estava todo orgulhoso com a
mão em sua cintura. Ela falava quem já
havia entrevistado com uma
empolgação, devo confessar que não
estava ouvindo, não por não ser
interessante, mas porque minha atenção
estava em Enrico e Amom. Enrico
estava de costas pra mim, então não
sabia que eu estava com o radar de
jornalista ligado. Rodrigo viu um ator e
disse que precisava falar com ele, saiu
puxando Sara pelo braço.
Aproveitei a deixa e fui me
aproximando moderadamente do motivo
da minha felicidade e das minhas noites
mal dormidas, Amom gesticulava como
se pedisse calma pra Enrico, me
aproximei mais um pouco até consegui
ouvir suas vozes, eu não queria chegar
de surpresa, mas também não queria que
parecesse que estava na espreita
querendo ouvir a conversa dos dois, mas
era realmente isso que eu estava
fazendo.
- Você não pode fazer isso – Amom
falava
- Eu preciso fazer, não quero que ela
sofra mais – Enrico disse.
- Se fizer quem sofre é você – Amom
falou alterando o tom de voz
- Eu não sei o que vai acontecer na Itália
– ele fez uma pausa – eu preciso fazer.
- Você não treinou sua habilidade pra
chegar nesse nível. Apagar memória
dela, Enrico, não é a solução.
- Você vai me treinar Amom
- Não vou não – Amom pareceu
contrariado
- Eu preciso apagar a memória dela, ela
precisa esquecer que um dia me amou. –
me aproximei sobressaltada
- Enrico... Você vai apagar a memória de
quem? – os dois homens se viram em
minha direção.

Vinte e dois
Foi um choque, não era verdade, eu
estava entendendo errado era isso.
Enrico jamais faria isso comigo, ele me
amava, e quem ama não trai, não tem
segredos. Tive dificuldades em colocar
minha cabeça em ordem, estava
atordoada e não conseguia pensar
direito, respirei fundo tentando assimilar
o que acabará de ouvir, e o veredito não
foi satisfatório.
Não! Eu não estava enganada, Enrico
queria apagar minha memória? Porque
ele cogitou essa hipótese? Senti como se
tivesse sido apunhalada pelas costas,
levei à mão a garganta, estava sufocada,
tinha dificuldades pra respirar. Tentei
sair em disparada, mas não rápido o
suficiente, Enrico me segurou pelo
braço.
- Eu posso explicar – ele disse
- Não toca em mim – olhei para sua mão
furiosa
- Emi? Por favor – ele sussurrou
- Tarde mais! – puxei meu braço e saí
Minha visão estava embaçada com as
lágrimas que se formaram tão rápido que
não pude conter, passei entre as pessoas
empurrando um ou outro, sem me
desculpar. Avistei Sabrine na pista de
dança, não era minha intenção estragar
sua noite, mas precisava dela, precisava
voltar pra casa. Ela balançava a cabeça
pra lá e pra cá, dançava com um sujeito
desengonçado. Segurei em seu braço
ganhando sua atenção, ela olhou pra mim
e o sorriso que tinha nos lábios
desapareceu assim que olhou nos meus
olhos, certamente estavam vermelhos,
ela me seguiu fugindo daquela
movimentação.
- O que aconteceu? – ela segurava meus
ombros
- Preciso ir embora – meu peito subia e
descia
- Vou buscar o Felipe, fica aqui – ela
saiu correndo, enquanto eu ficava
encostada em uma pilastra.
Ao longe vi Enrico se aproximando,
me encostei ainda mais, por sorte ele
não me viu, olhava em todos os lugares
possíveis, menos na minha direção. Uma
mão tocou meu ombro me fazendo pular
assuntada, queria ser invisível, não
queria encontrar meus colegas de
trabalho e ter que explicar porque sairia
no meio do evento, não tinha nada em
mente e não queria parecer grosseira,
nenhum deles tinham culpa de nada.
- O Felipe já está no carro, vamos pra
casa – Sá me segurou pela cintura.
Minha respiração estava irregular, o
mundo parecia ter desabado na minha
cabeça, Sabrine e Felipe me conheciam
o suficiente para não me perguntarem
nada, não naquele momento, eu só
precisa de um tempo para colocar minha
cabeça em ordem.
Fui no banco de trás enquanto Sabrine
estava no banco do carona, era melhor
assim, não suportaria seu olhar de pena,
mesmo sem saber o que estava
acontecendo, do jeito que eu estava
frágil ela arrancaria até meus segredos
mais íntimos, e eu não poderia abrir meu
coração. Coloquei a mão no peito, meu
coração parecia quebrado despedaçado.
Encostei a cabeça no encosto do banco e
chorei silenciosamente, chorei por não
acreditar que Enrico queria apagar
minha memória, chorei por me sentia
traída.
- Eu não sei o que aconteceu “ainda” –
Sabrine comentava com Felipe
- Sá... Agora não! – falei antes que ela
começasse com as perguntas.
Pareceu uma eternidade até Felipe
entrar por aquela garagem, assim que o
carro foi desligado destravei o cinto e
saí, tentei correr, mas, meu vestido me
atrapalhou, pisei na barra e quase fui
parar no chão se não fosse Felipe para
me amparar. Entramos no elevador em
silêncio, e assim permanecemos até
parar no nosso andar.
- Caralho! Como esse cara chegou aqui
tão rápido? – Felipe falou quando
saímos do elevador.
- Ele te machucou? – Sabrine olhou pra
mim enquanto falava
- Não fisicamente
Sabrine e Felipe aproximavam-se da
nossa porta e eu fiquei paralisada,
precisava ser forte e seguir meus
instintos. Felipe pegou a chave no bolso
do casaco e destrancou a porta, os dois
olhavam pra mim, ficaram sem saber se
entravam ou se ficavam me esperando.
Foi então que Felipe puxou o braço de
Sabrine arrastando-a para dentro do
apartamento.
Enrico continuou imóvel encostado na
parede ao lado da porta, estava com as
mãos nos bolso e olhava fixamente
enquanto eu me aproximava lentamente.
- Precisamos conversar - ele disse
enquanto eu tentava passar pela porta
- Hoje não! – entrei sem olhar pra trás

Corri para o quarto batendo a porta,


tudo que eu mais queria era gritar com
ele e perguntar: por quê? Porque queria
fazer aquilo comigo? Dormi enquanto
minhas lágrimas molhavam o
travesseiro.
Quando acordei, ainda usava o
vestido da noite passada. Fui para o
banheiro e tomei um banho, coloquei
uma calça jeans meu All star e uma
regata. Não era nem 07h da manhã
quando fui pra cozinha tomar café.
Estava no piloto automático quando
peguei minha mochila e fui para a
rodoviária. Deixei um bilhete pra
Sabrine dizendo onde estaria.
Peguei o ônibus com destino ao
interior de São Paulo, para casa dos
meus pais, para minha casa. Onde
encontraria tudo que precisava naquele
momento. Sentei na janela com o olhar
perdido, via o tempo passar, vi quando
saímos da cidade e o momento em que a
selva de pedra ficava pra trás e
passávamos por campos gramados e
pastos.
Cheguei em casa quase 11h da manhã,
do outro lado da rua vi meu pai,
ajoelhado no chão afofando a terra, ele
adorava cultivar plantas, era seu hobby
preferido. Como eu senti falta daquilo,
lembro-me quando era criança ficava ali
horas a fio, plantando mudas de plantas,
brincando de jardinagem, ele tinha tanta
paciência e fazia questão de contar a
história de cada sementinha, até hoje não
descobri o que era real e o que era fruto
da imaginação do meu pai. Ajeitei a alça
da mochila antes de atravessar a rua.
- Pai! – chamei enquanto abria o portão
- Emi filha – ele limpou as mãos na
calça e me abraçou
- Ai pai, senti tanto sua falta – ele tirou a
mochila do meu ombro.
- Vamos entrar tá um calor infernal,
Helena, veja quem está aqui – ele
chamava minha mãe que veio correndo
da cozinha.
- Emi, ah filha que bom que chegou.
Estou preparando um assado – ela olhou
por cima dos meus ombros
- Ele não vem mãe – falei antes que ela
perguntasse alguma coisa
- Por quê? – não adiantou
- Longa história – eu disse me jogando
no sofá
- Deixa a menina em paz, vou buscar
uma limonada – meu pai dizia enquanto
seguia até a geladeira.
- Tudo bem, falamos sobre isso depois –
suspirei.
- Mãe, se importa se eu for para o meu
quarto descansar? A viagem foi
cansativa e ontem cheguei tarde, preciso
de uma horinha de sono.
- Claro meu amor, vá lá pra cima,
enquanto eu termino o almoço.
Meu pai me trouxe limonada e um
pacote de biscoitos, levei para o quarto
deixando na mesinha de cabeceira, meu
quarto estava tão igual, era como se eu
nunca tivesse saído de casa. A cama
estava com um lençol rosa e branco, as
cortinas de rendas balançavam com o
vento que entrava pela janela. Minha
estante de livros estava intocada, eu
havia levado alguns, minha mãe
compensou comprando outros títulos.
Deitei na cama, meu colchão macio
afundou com o peso do meu corpo, como
sentia falta daquilo, como fui feliz
naquele lugar, como fui crescer assim
tão depressa. Quando estava no ensino
médio, meu sonho era me formar e sair
de casa. Sonhava em morar numa cidade
grande como São Paulo. Nunca imaginei
que o mundo lá fora fosse tão difícil,
tudo que eu mais queria era estar no
conforto da minha casa, onde me sentia
protegida, onde nada poderia me abalar.
Estava confusa, meus sentimentos era um
tanto contraditórios, e foi com esses
pensamentos que adormeci.
Acordei atordoada com alguém
chamando meu nome, levei um minuto
para me conectar e perceber onde
estava.
- Emily? – Minha mãe me chamando de
Emily?
Dei uma olhada no espelho e levei um
susto, estava horrível, o rímel estava
borrado, a boca estava seca e sem cor.
Antes de descer dei uma melhorada nas
minhas olheiras com corretivo e
coloquei uma cor nos lábios.
Do topo da escada conseguia ver meu
pai sentado em sua poltrona preferida,
estava gesticulando. Desci dois degraus
e percebi que ele gesticulava para
alguém que certamente não era minha
mãe. Parei no último degrau e ele estava
lá, sentado no sofá como se nada tivesse
acontecido, ele olhou pra mim e sorriu.
Fiquei parada no último degrau como se
estivesse grudada, foi aí que ele se
levantou e veio em minha direção.
- Oi – ele falou
- O que você...
- Eu fui convidado para o almoço
lembra?
- Ah senhor Enrico é um prazer recebe-
lo aqui na minha casa – minha mãe falou
num tom alegre
- Por favor, me chame apenas de Enrico.
- Só se você me chamar somente de
Helena – minha mãe sorriu, foi aí que
percebi que ela também caiu nas graças
dele.
- Combinado, agora sei de onde a Emi
puxou tanta beleza – minha mãe sorriu
de novo.
- Ele não é um amor? – meu pai revirou
os olhos
- Mãe!
- O que? Olha as flores lindas que
Enrico trouxe – Ela tocou a pétala de
rosa delicadamente, as flores pousavam
num jarro de cristal.
Fomos almoçar e os dois continuavam
rasgando seda, Enrico elogiava a
comida da minha mãe e ela fingia falsa
modéstia. Meu pai só observava e vez
ou outra perguntava sobre os negócios e
a empresa.
Enrico não só encantou minha mãe
como conseguiu conquistar o meu pai,
meu pai ficou fascinado com suas
histórias de pesca, ecologia, e
filantropia, não sei de onde saiu tanto
fascínio. Os dois conversavam
animadamente na sala enquanto eu
ajudava minha mãe com a louça. Minha
mãe ficava enumerando todas as
qualidades que viu em Enrico. Sua
beleza, sua educação, seu porte físico.
- Chega né mãe!
- Ele te ama da pra ver o jeito que ele te
olha – eu revirei os olhos
- Eu também o amo, mas não sei se vai
dar certo – meus olhos arderam.
- Não sei o que houve entre vocês, mas
torço para que se entendam.
Minha mãe sempre falava a coisa
certa na hora certa, porém dessa vez não
tive tanta certeza. Sentamos todos no
sofá da sala, numa conversa animada.
Bem, nem todos compartilhavam dessa
animação, meu pai estranhou o motivo
de eu estar tão calada, Enrico sentou-se
ao meu lado e segurou minha mão, eu
relutei tentando puxar, mas ele foi mais
forte, claro. E a conversa rendeu até
tarde da noite, quando minha mãe
resolveu trazer café com biscoitos.
- Está tarde, vou indo – ele levou minha
mão aos lábios.
- Ok – eu balancei a cabeça
- Se quiser amanhã venho te buscar – ele
se levantou
- De jeito nenhum, você dorme aqui está
noite, temos um quarto de hóspedes, e
não tem sentido você enfrentar três horas
de estrada e voltar amanhã – minha mãe
não sabe o que fala.
- Não quero incomodar – Enrico dizia
- Não é incomodo nenhum, está decidido
Enrico dorme aqui! – os olhos do meu
pai saltaram
- Realmente não quero incomodar –
Enrico olhou pra mim, procurando
algum sinal.
- Já está decidido, vou arrumar o quarto
de hóspedes – minha mãe foi para o
andar superior.
Enrico ainda segurava minha mão,
meu pai não tirava os olhos dele, sua
testa estava vincada, imaginei o que se
passava em sua cabeça, ele nunca
pensou que outro homem fosse dormir
debaixo do seu teto, ainda mais esse
homem sendo “namorado” da sua filha.
Ele nunca permitiu que meu ex-
namorado dormisse na nossa casa. Era
tudo novidade pra ele, ele saiu de
mansinho e subiu as escadas, certamente
foi tirar satisfações com a minha mãe,
perguntaria se ela estaria louca ou coisa
do tipo.
- Porque está aqui? – puxei minha mão
que ele segurava
- Preciso explicar... – eu o interrompi
fazendo um gesto com a mão
- Não há o que explicar. Se não me
queria mais na sua vida, era só falar –
minha voz saiu embargada.
- Não é nada disso – ele passou as mãos
pelo cabelo
- Não?
- Eu não queria que você sofresse – seus
olhos passaram de vermelhos para
dourados em segundos
- Estou sofrendo agora – repliquei
Pedi a Amom que me ajudasse, mas...
- Ele não ajudou – completei sua frase
- Ele acha que podemos encontrar outra
saída
- Podemos?
- Emi para de me tratar assim, eu sou um
idiota – ele tocou meu rosto.
- Completo idiota!
- Não seja tão hostil comigo, apesar de
eu merecer – ele virou de costas pra
mim.
- Emi, o quarto do Enrico está pronto –
minha mãe gritou do topo da escada.
- Você ouviu minha mãe, seu quarto está
pronto.
Subimos degrau por degrau, os olhos
deles estavam grudados em mim, eu
queria ser mais forte do que estava
sendo naquele momento, queria ter
coragem de manda-lo embora, mas não
fui capaz.
- Emi, instala o Enrico no quarto –
minha mãe colocou toalhas limpas nos
meus braços.
- Não precisa se incomodar com nada
Helena, vou ficar bem, obrigado.
- Para com isso, é um prazer. Emi vou
ver o que seu pai quer “de novo” Ah
meu Deus esse homem está me
enlouquecendo – ela saiu falando pelo
corredor
Deixei Enrico em seu quarto e fui
para o meu, ele relutou em soltar a
minha mão, não queria que eu saisse,
mas meu pai estava atento aos nossos
movimentos. Meu pai disse pra eu
trancar a porta eu ri, e ele me
repreendeu dizendo que não estava
brincando, que falava sério.
Assim que entrei no meu quarto,
fechei a porta, mas não tranquei, se
Enrico quisesse entrar ele entraria com a
porta trancada ou não, coloquei meu
pijama, e tentei dormir. Como poderia
dormir com Enrico a uma parede de
distância? As horas passavam e eu
virava de um lado para o outro, até meus
olhos pesarem e eu adormecer.
Estava em um sono sem sonhos,
quando senti o corpo dele grudar ao
meu, como ele fez inúmeras vezes me
abraçando pelas costas colocando a mão
na minha barriga, não fiz movimento
algum, apenas abri os olhos e fechei
novamente, quando escutei sua voz doce
e aveludada no meu ouvido.
- Emi... Me perdoa... Eu te amo!
Vinte e três
O final de semana foi no mínimo
estranho, no domingo ao chegar em casa
tive que explicar parte da minha briga
com Enrico. Felipe tinha ido pra casa,
Sabrine disse que ele havia ficado
preocupado, e que sexta-feira viria ver
como as coisas estavam. Fiquei
imaginado dezenas de possibilidades,
era o que eu mais precisava
“possibilidades”.
A primeira possibilidade que me
passou pela cabeça foi sair da Maximus,
comecei a me candidatar a diversas
vagas de emprego. Como poderia
continuar trabalhando na Maximus e
olhar nos olhos daquele homem todos os
dias? Era perturbador, era angustiante.
Na segunda-feira o assunto mais
falado foi o sucesso do evento, Mariana
estava radiante e orgulhosa do seu
trabalho, questionou onde eu havia me
metido, e porque fui embora tão cedo.
Rodrigo e Sara, colhiam os frutos do seu
trabalho, o site da Maximus estava
congestionado de elogios para o casal
de jornalistas. Enzo também não ficou
pra trás, os créditos de suas fotos
atravessaram fronteiras.
- Porque a imã de Felipe interrompeu
nosso beijo? – Mari falou aproximando-
se da minha mesa
- Vocês se beijaram? – levei a mão ao
peito, fazendo cara de surpresa.
- Sim, e foi maravilho! Mas sua amiga o
arrancou dos meus braços me deixando
sozinha a ver navios.
- Eu sinto muitíssimo!
- Outras oportunidades virão, ela voltou
para sua mesa balançando os cabelos.
Enzo me olhava de longe, não queria
acreditar que ainda está vivendo aquele
amor platônico, um homem tão lindo não
deveria ter dificuldades em arrumar uma
mulher bacana que preenchesse seus
dias e suas noites, olhei de relance e
seus olhos encontraram os meus. Voltei
minha atenção ao trabalho, coloquei os
fones de ouvido e sabia que ninguém me
perturbaria naquele momento. Recebi
uma mensagem de texto de Amom,
confirmando nosso encontro de mais
tarde. Eu não via mais motivos pra levar
essa reunião adiante, mas ele insistiu,
disse que precisava falar comigo mesmo
assim, eu não poderia mudar a situação
que estava pra lá de complicada. Na
verdade só tinha uma solução e essa
seria difícil colocar em prática. De
qualquer formar respondi sua mensagem
com um Ok. Mas tarde me encontraria
com ele em sua casa, ele achou melhor
que um lugar público.
Enrico chegou a Maximus após o
almoço, a cara dele não estava nada
boa, ele não olhou pra mim ao passar
por minha mesa falando ao celular.
Porque todos olhavam na minha
direção? Como se esperassem por
respostas, mais um motivo pra eu
arrumar outro emprego.
Saí meia hora antes de o expediente
terminar, usei uma desculpa de que
precisava resolver um assunto
profissional, iria para a casa de Amom
de táxi, meu carro havia ficado na casa
de Enrico, a essa altura nem considerava
mais meu. Amom tinha um apartamento
no centro da cidade, onde ficava quando
tinha negócios a resolver no Brasil. Não
era tão longe da Maximus, a viagem
durou em torno de meia hora.
Olhei no endereço que ele havia
passado por mensagem de texto e
conferi assim que o táxi estacionou.
Paguei a corrida e desci, olhando para o
prédio de mais ou menos vinte andares.
Me apresentei na portaria, disse que o
senhor Amom Haz estaria me esperando,
o porteiro interfonou e logo fui
convidada a subir, Amom morava na
cobertura, era um apartamento por
andar, já no Hall de entrada se via a
elegância e bom gosto, com obras de
artes por todo corredor. Ele me
aguardava na porta de entrada, usava
uma roupa despojada, jeans rasgado e
camiseta de algodão. Ele parecia mais
jovem do que da última vez que o vi.
Amom desmistificava a ideia de que
todos os vampiros eram brancos feito
papel.
- Olá Emily, é um prazer revê-la – ele
beijou minha mão.
- Olá Amom, como está? – dei um meio
sorriso.
- Bem, mas, por favor, entre – ele me
deu passagem.
O apartamento de Amom era amplo e
claro, tinha certeza que a luz natural
penetrava entre as cortinas o dia todo. A
sala de estar era conjugada com a sala
de jantar. Uma enorme mesa de vidro
com seis cadeiras, tudo em tom pastel,
ele me convidou a sentar na sacada. A
sacada era um lugar tranquilo, era toda
cercada por uma vidraça que estava
fechada, tenho certeza se abrisse o som
de carros e motos dominariam o
ambiente. Tinha um enorme sofá de
couro branco com almofadas, uma mesa
de centro, e mais ao fundo um aparador
com três banquetas.
- O que eu posso fazer para salvar
Enrico da condenação? – fui direto ao
assunto.
- Não temos muitas opções
- Quais?
- Ou Enrico te transforma, ou... – ele
desviou o olhar
- Ou ele morre, na verdade não temos
opções – falei.
- Estou tentando um acordo, mas Sartori
é irredutível, vou me oferecer pra ser
parte integral do conselho, estou
tentando convencer Enrico de que posso
fazer isso.
- Como assim parte integral do
conselho? – queria saber tudo sobre os
vampiros, e ninguém melhor que Amom
pra explicar.
- Longa história que atravessam séculos
– ele deu um sorriso triste.
- Amom... Preciso salvar Enrico, mesmo
que pra isso eu tenha que ser
transformada.
- Você faria isso por ele?
- Sim – falei sem pestanejar
- Enrico tem muita sorte em ter
encontrado uma mulher como você,
aliás, ele merece viver um grande amor,
a vida já lhe tirou muito.
- Você já viveu um grande amor? –
perguntei curiosa
- Não, em todos esses séculos ainda não
tive a sorte de encontrar o amor
verdadeiro.
- Tenho certeza que vai encontrar - dei
tapinhas na sua mão
- Obrigado, significa muito pra mim –
ele colocou sua mão sobre a minha
retribuindo o carinho.
- Agora quanto a minha transformação?
- Enrico nunca fará isso, ele te ama
demais pra te condenar.
- Você pode me transformar – ele se
levantou
- Nunca! Enrico me mataria
- Eu tenho um plano, que fará com que
nós ganhemos tempo, não sei dará certo,
mas temos que esgotar todas as
possibilidades – ele pegou um
refrigerante no frigobar.
- Qual? – minha curiosidade foi aguçada
- Prefiro não falar agora, só peço que
confie em mim – qual era minha opção?
- Eu confio – estava me remoendo por
dentro
- Obrigado! Você é uma boa garota,
Enrico estava louco quando cogitou
apagar sua memória – ele falou com
pesar.
- Eu me senti traída, foi meu pior
pesadelo – o ar me faltou só de pensar
naquela situação.
- Se quer um conselho, perdoe. Enrico
só quis te proteger, mesmo querendo
tomar uma decisão tão drástica como
aquela. Sei que ele está arrependido, ele
se odeia por ter cogitado fazer aquela
loucura. O pior castigo pra ele é saber
que você o odeia.
- Eu não odeio, eu amo!
- Sabias palavras – houve um momento
de silêncio até eu fazer outra pergunta.
- O que você quis dizer com parte
integral do conselho? – voltei ao assunto
- Quer mesmo saber? – ele abriu a
latinha de refrigerante colocando o
liquido escuro no copo.
- Sim – e ele deu inicio a sua história
Nasci no início no início do sec. XV,
ou melhor, fui transformado nesse
século, mas precisamente no ano de
1408. Sou filho de uma indiana e um
italiano, meus pais se apaixonaram
ainda jovens. Minha mãe Ananda e meu
pai Alonzo se conheceram em uma
viagem que meu pai fez a Índia, e como
dizem, foi amor à primeira vista.
Foi um choque de cultura pro meu pai,
mas ele não se importou o que sentia por
minha mãe era mais forte que qualquer
coisa, e naquele mesmo ano, os dois se
casaram. Alonzo largou sua família na
Itália, pois meu avô não aprovava o
casamento, e acabou fixando residência
na Índia.
Anos mais tarde, meu avô pediu ao
meu tio que fosse a nossa procura e que
nos trouxesse a qualquer custo, meu pai
voltaria para Itália com uma condição,
que ele pudesse levar sua família, minha
mãe e eu.
Naquela época eu já estava com 15
anos, era um adolescente rebelde, não
fiquei feliz em conhecer uma família que
virou as costas pra nós. Meu pai me
convenceu de que precisávamos ir, pois
meu avô já estava velho e havia se
arrependido da escolha que fizera,
queria conhecer seu único neto. Meu tio
o único irmão do meu pai, não havia se
casado e não tinha filhos. A família não
era numerosa, eram apenas meu avô,
meu tio, meus pais e eu. O certo seria
que a família fosse unida, mas naquela
altura não me importava mais.
Ao chegarmos à Itália, fomos direto
pra casa do meu avô, meu pai dizia que
não havia mudado nada em todos
aqueles anos, meu avô estava velho e
debilitado, achava que ainda havia
tempo de se redimir. Pra mim era tudo
besteira. Fomos recebidos com banquete
e música, assim era nossa cultura na
Índia. Meu avô fez de tudo pra me
conquistar, pediu perdão a minha mãe e
dizia que lamentava todos os anos
perdidos.
Meu pai não via maldade em nada,
mas uma coisa me chamou atenção, meu
tio olhava pra minha mãe de uma forma
diferente, como se ela fosse um objeto
de desejo. Eu tentei alertar meu pai, mas
ele não ouviu, dizia que eu estava vendo
coisas. Se eu pudesse teria ido embora
naquele mesmo momento.
Numa noite estrelada, eu estava
deitado na varanda observando o céu e
fumando um cigarro, teria que fazer isso
longe do meu pai se quisesse chegar aos
20 anos. Foi quando ouvi vozes, me
espreitei no muro e o vi. Meu tio
segurava o braço da minha mãe,
tentando beija-la, ela tentava empurra-
lo, mas ele era forte demais, eu com
minha valentia de adolescente pulei em
suas costas tentando afasta-lo, ela se
desvencilhou e conseguiu correr. Meu
tio me acertou um soco no estômago, eu
sabia que teríamos que ir embora antes
que a tragédia se anunciasse.
Ele pegou no meu pescoço me tirando
do chão, eu era um moleque franzino,
mas tinha coragem. Sua mãe é uma
mulher muito bonita ele falou, eu fiquei
com nojo e cuspi na sua cara.
- Não se atreva a se aproximar da minha
mãe! – gritei o mais alto que pude
- Sua mãe será minha! – ele me largou
no chão
Fui atrás do meu pai, e contei toda a
história, meu pai só não matou o irmão
em consideração ao meu avô e minha
mãe que havia implorado. No dia
seguinte antes do sol raiar voltamos pra
Índia, daquele dia em diante, minha mãe
se tornou a obsessão do meu tio.
Três anos mais tarde, numa tarde
tranquila meu tio bateu na porta da nossa
casa, ele parecia diferente, tinha um
olhar frio e calculista, e trouxera a
notícia de que meu avô havia falecido,
os olhos analisavam minha mãe, e eu
compreendi que a obsessão estava
contida, mas viva.
Voltamos à Itália cinco anos mais
tarde, em uma viagem de férias após a
morte do meu pai, não passamos pela
cidade do meu tio, ficamos apenas em
Veneza. A morte do meu pai foi
repentina e sem explicação, nunca me
conformei, que um homem tão saudável
e cheio de vida, pudesse um dia morrer
enquanto trabalhava. Quando meu tio
teve conhecimento da nossa visita em
Veneza, nos ofereceu uma vida melhor
em Roma que certamente minha mãe e eu
recusamos. Ele insistia a cada semana, a
cada mês e a cada ano. Ele havia
enriquecido num tempo muito curto, não
sabia que tipo negócios ele estava se
envolvendo, tinha certeza de que não
poderia ser nada lícito.
Um dia sem explicações encontrei
minha mãe arrumando as malas, ela
dizia que iriamos nos mudar. Eu tinha
uma vida na Índia, tinha meu trabalho,
uma namorada, tudo que eu amava
estava naquele lugar inclusive minha
mãe. E pra onde você acha que vamos?
Perguntei.
- Pra Itália! – minha mãe só poderia
estar brincando
- O que?
- Vamos morar com o seu tio
– Do que está falando?
- Seu tio vem nos buscar amanhã
Eu já estava com 23 anos e não fazia
sentido algum ela me tratar como
criança, tinha alguma coisa muito errada
ali, eu iria descobrir. Quando meu tio
chegou eu apertei seu pescoço assim
como ele fizera com o meu, anos antes.
Com um diferencial eu era um homem,
não tinha mais 15 anos.
- O que você fez com ela? – exigi saber
- Sua mãe e eu estamos juntos! Hora...
Hora não contou a ele Ananda? – minha
mãe baixou os olhos, parecia
envergonhada.
- Mãe! Do que ele está falando? – minha
respiração era irregular
- É verdade Amom, estamos juntos.
- E meu pai? Vocês não honram a
memória do meu pai?
- Seu pai está morto! – meu tio
esbravejou - Você indo ou não, sua mãe
vai comigo.
Eu não poderia deixar minha mãe nas
mãos daquele homem, e foi aí que decidi
ir. Meramente pra descobrir o que
estava por trás daquela história
horrenda, não acreditei nem por um
minuto que minha mãe, a mulher que eu
sempre admirei e que amou meu pai até
depois da sua morte, estaria se unindo
aquele homem.
Depois de um ano descobri suas reais
intenções, ele tinha se transformado em
vampiro e fazia parte da “realeza” Ele
me queria pra ser seu súdito, ele teria
mais força no conselho se me tivesse ao
seu lado. Só que tinha um diferencial eu
não era um vampiro, eu não queria ser
um bebedor de sangue, não queria sugar
a vida das pessoas, era assim que eu via
aquela raça, sanguessugas. Soube que
ele chantageava minha mãe, dizia que
me mataria se ela não cedesse e não se
casasse com ele. Eu nunca aceitaria que
minha mãe se casasse com aquele
homem, primeiro, por honrar a memória
do meu pai e em segundo, ela não
precisaria fazer nenhum sacrifício por
mim, eu era um homem feito, e saberia
me defender.
Demorou cinco anos até ele me
transformar, eu estava com 28 anos
quando minha mãe me contou que havia
se apaixonado de verdade, ela estava
feliz, claro que eu incentivei, eu queria
que ela fosse feliz, e disse que ela
poderia seguir seu coração, ela tomou a
decisão mais extrema, iria fugir com seu
amado, voltaria pra Índia onde era seu
lugar. Mas meu tio descobriu seus
planos, e foi atrás do homem que ela
amava, e o matou, jogando seu corpo no
rio.
Não preciso nem falar que minha mãe
enlouqueceu, meu tio queria acabar com
sua vida, disse que ela não o honrou, e
foi pra cima dela com um punhal, entrei
na frente e quem foi apunhalado fui eu.
Caí com a mão no peito com o sangue se
esvaindo, minha visão estava turvada e
acabei desmaiando, minha mãe chorou
achando que eu já estava morto e acabou
se apunhalando. Meu tio a deixou
morrer, ali ao meu lado, enquanto ele me
transformava em um vampiro. Enquanto
a transformação ocorria, olhei para o
lado e vi o corpo da minha mãe sem
vida, foi à última vez que chorei.
Eu também queria estar morto, achei
que estava morrendo, mas a dor que
sentia era da transformação, apaguei, e
quando acordei já era um vampiro
sedento por sangue.
Por muitas vezes tentei me vingar e
acabar com a raça do meu tio, por ter
feito isso comigo, e principalmente por
ter causado a morte da minha mãe, eu
quis fazer justiça, mas não fiz. Nunca
quis me tornar um homem como ele.
Então passo os meus dias tentando ser
uma pessoa diferente, tentando ajudar
famílias e não destruí-las.
Depois desse triste episódio eu sumi
por alguns anos, e quando descobri que
poderia fazer a diferença fazendo parte
do conselho, voltei à Itália, para
participar de julgamentos esporádicos,
mas nunca quis se um membro em tempo
integral, e por não querer que meu tio
tivesse poderes plenos.
Para que meu tio seja o membro mais
poderoso do clã ele precisa de mim,
sangue do seu sangue, a primeira
linhagem de vampiros. Para isso eu
preciso largar tudo e viver de vez na
Itália, pra julgar e sentenciar vampiros,
mas essa nunca foi minha intenção.
Eu disse a Enrico que me ofereceria
em troca de sua absolvição, mas ele me
ameaçou se eu fizer uma tolice tão
grande. Ele disse que aceitaria seu
destino.
- Você faria isso por Enrico? – perguntei
- Sim, ele é o irmão que nunca tive, ele e
Jasmine são minha família.
- E quando conheceu Enrico? – queria
explorar o máximo daquela conversa
- Foi nos meus anos turbulentos e de
solidão, nos encontramos em um bar,
onde eu o defendi de um bando de
delinquentes, ele era forte, estava se
virando bem, não por muito tempo.
Eram muitos, eu o ajudei a derrubar um
por um, ele era um cara durão. Ele
percebeu que eu tinha força o suficiente
pra derrubar todos aqueles caras de uma
só vez, mas não fez questionamentos, me
aceitou como eu era. Eu não via medo
em seus olhos, não me senti julgado, me
senti comum, me senti em paz. Por
muitos anos frequentei sua casa, e para
todos os efeitos ele fingia não saber
quem eu era, eu concordava, era para
segurança dele e de sua mãe.
- Ele tem um bom amigo – elogiei
- Obrigado.
Fiquei fascinada com tudo que Amom
me contou, não imaginei que sua história
fosse tão trágica, fiquei apreensiva e
odiei seu tio com cada célula do meu
corpo. Como um homem pode ser tão
asqueroso?
- Espera... Você disse que se juntasse ao
conselho, seu tio teria mais força? Não
sei se entendi bem, mas seu tio é... – ele
me interrompeu e continuou com minha
linha de raciocínio.
- Sim, Lorenzo Sartori é meu tio, o
homem que acabou com minha vida, é
por isso que nunca uso meu nome de
batismo.
Amom Haz Mênfiz Sartori.

Vinte e quatro
Nunca pensei que fosse passar por
tantos desafios em um espaço tão curto
de tempo, minha vidinha pacata e
politicamente correta havia ficado pra
trás. Conheci pessoas fortes e capazes
de suportar fardos que jamais
imaginaria. Conheci pessoas que
inspiram. Tornei-me uma mulher
diferente, me sinto mais forte, capaz de
enfrentar e travar batalhas, esse meu
lado não conhecia, não era mais aquela
garota frágil.
Depois de sair da casa de Amom
resolvi caminhar para espairecer, ele
insistiu em me levar em casa, mas não
aceitei, precisava de um tempo sozinha.
Precisava colocar minha cabeça em
ordem, minha mente borbulhava. O
vento soprava me fazendo sentir frio,
abracei meus braços na tentativa de me
aquecer, vi casais andando de mãos
dadas, outros em suas conversas
entrosadas. E nada me fazia esquecer
meu vampiro CEO.
Cheguei em casa exausta, Sabrine me
disse que eu estava com a cara péssima,
estava com olheiras e realmente abatida,
constatei assim que vi meu reflexo no
espelho do corredor.
Eu só precisava de uma noite entre
garotas, e Sabrine era a melhor, quando
se tratava de “coisas” de garotas. Ela
espalhou vários DVDs no chão, parecia
uma criança, eu amava aquela essência.
Ela olhou pra trás e perguntou:
- Você está a fim de chorar? – balancei a
cabeça
- Eu não choro à toa – falei dando de
ombros
- Pois eu sim – ela falou colocando o
disco no aparelho
Enquanto passava os trailers fui fazer
pipoca de micro-ondas, peguei duas
latinhas de guaraná e coloquei sobre a
mesa de centro. Quando o micro-ondas
deu sinal, o filme começou. Corri pra
colocar a pipoca em uma tigela de
vidro, não queria perder o começo do
filme, sentamos lado a lado com as mãos
cheias de pipoca e já no começo do
filme Antes que termine o dia, eu já me
acabava em lágrimas.
- Não quer mesmo me contar o que está
acontecendo? – Sabrine pausou o filme.
- Não tem mais nada pra falar Sá! –
enchi minha boca com pipoca
- Eu não estou mais vendo aquele brilho
nos seus olhos, não quero te ver sofrer
por ninguém, ainda mais por esses putos
que acabam ferrando com o coração da
gente – ela colocou o cabelo atrás da
orelha, aquele sinal de nervosismo.
- Você está falando de mim? Ou de
você? Cadê seu amor? – era assim que
ela se referia ao namorado ausente
- Terminamos! Na verdade ele terminou
– seus olhos brilhavam e seu lábio
tremia.
- Ah Sá, eu sinto tanto! – acomodei sua
cabeça no meu colo
- Ele me traiu, ele se apaixonou por
outra – ela chorou copiosamente.
Me coração se partiu ao ver minha
amiga naquela tristeza, eu queria poder
dizer que ficaria tudo bem, mas não
ficaria. Essa é uma dor que só o tempo
cura. Eu queria ter o poder de tirar toda
aquela dor do seu coração, uma pessoa
tão boa não deveria sofrer tanto, e eu
odiava aquele homem com todas minhas
forças. Eu sei que não escolhemos por
quem nos apaixonamos, qualquer um
está sujeito a isso, mas ninguém quer
que aconteça.
Naquele momento era Sabrine que
precisava ser confortada e eu estava
disposta a levantar o astral da minha
melhor amiga, aquela que sempre esteve
ao meu lado e sempre me apoiou nas
maiores loucuras.
- O que você acha se fossemos tomar
todas hoje? – ela riu sem humor
- Essa hora? – ela olhou no relógio de
pulso
- Ainda não são nem dez – falei sorrindo
- Mas é segunda-feira!
- E dai?
- Vou me arrumar – não precisou muito
pra convencer Sá
Fomos ao bar de Enrico, irônico eu
sei, mas também sabia que ele não
estaria lá. Ele deixa tudo nas mãos do
seu competente gerente. Era um lugar
que eu gostava de frequentar, além do
ambiente familiar, era um lugar que me
trazia ótimas recordações.
Foi ali que me rendi aos encantos do
senhor Maximus, foi naquele ambiente
que nos reconciliamos da nossa primeira
briga e foi ali que morri de amores ao
vê-lo cantar.
Fomos de táxi, se a ideia era afogar
as mágoas, não seria boa ideia dirigir,
sentamos à mesa de sempre, antes
mesmo de pedirmos nossas bebidas, um
garçom se aproximou com duas taças
com coquetéis de frutas, dizendo que era
cortesia do cavalheiro da mesa à
esquerda, Sá e eu olhamos na mesma
direção. O referido cavalheiro nos
saudou com um sorriso, era Amom.
- Aimeudeus!Aimeudeus, pelo visto já
conhece todos os homens lindos de São
Paulo - ela ergueu seu copo saudando-o.
- Pelo menos isso – reproduzi o gesto da
Sabrine
- Quem é? Gato demais! – ela olhou
novamente
- Amom, amigo de Enrico – Amom
vinha em nossa direção.
- Puta que pariu ele é gostoso, tô
morrendo de calor – ela tomou um
grande gole de sua bebida.
Antes deu eu responder, Amom já
estava parado em frente a nossa mesa.
Ele realmente estava bonito, usava uma
calça preta que modelava bem o seu
corpo e uma camiseta também preta. Ele
não tinha o corpo tão definido quanto
Enrico, ele era mais magro, tinha porte e
elegância de um príncipe.
- Emily, que sorte a minha vê-la duas
vezes no mesmo dia – ele beijou minha
mão, não posso deixar de mencionar que
além de lindo é galanteador.
- Como vai Amom?
- Muito bem – ele deu seu melhor
sorriso
- Essa é minha amiga Sabrine –
apresentei.
- Não pude deixar de notar quão bela
está essa mesa – ele beijou sua mão e
ela corou
Em todos nossos anos de amizade,
nunca vi Sabrine corar, e ficar sem fala,
não achei que viveria pra ver essa cena.
Tá, tudo bem, eu posso ter visto uma ou
duas vezes, mas não nessa intensidade.
- Que coincidência você aqui, não quer
se sentar? – puxei uma cadeira
- Obrigado! – ele se aproximou mais de
mim – Enrico pediu pra eu cuidar de
você
- Que? – falei assustada, acho que fiquei
pálida.
- Brincadeira – ele se apressou em
dizer.
- Ele está bem? – me arrependi de ter
perguntado
- Já o perdoou? – ele respondeu com
outra pergunta
- É complicado
- Ele não está bem, dê uma chance a ele
– Amom deu tapinhas na minha mão.
- Sá, Amom mora em Dubai não é
incrível? – mudei de assunto.
- A senhorita conhece Dubai? – Ele
lançou um olhar a Sabrine que faria
qualquer iceberg derreter.
- Nã... não, mas adoraria – ela gaguejou
- Vocês duas são bem vindas à minha
casa – A imunidade dela já era.
Sabrine acabou contando a vida
inteira para Amom, sobre como passou
na faculdade de Direito, como foi
maravilhoso o tempo que passamos no
Canadá. E como achava a Itália uma
cidade linda e romântica, já que seus
pais possuem uma casa lá, e ela passou
algumas férias naquele lugar encantador.
Dizia como amava o filme Meia noite
em Paris, e como Paris ficava mais
bonita quando chovia.
Eu estava ficando entediada, pois
conhecia aquela vida, como se fosse
minha, e às vezes me sentia uma
impostora por estar escondendo tantas
coisas da minha melhor amiga.
Amom parecia encantado, a cada
frase ele concordava, ele estava ouvindo
com interesse genuíno.
Pedimos mais uma rodada de bebidas,
e uma tábua de frios, a noite estava
realmente agradável, e ver Amom foi
uma grata surpresa. Amom conseguiu
fazer com que Sabrine se divertisse
coisa que achei que fosse impossível.
Seus olhos não estavam perdidos, não
via sinal de tristeza e ressentimento, por
um momento, mesmo que pequeno, ela
esqueceu que tinha sido traída. Coloquei
minhas mãos debaixo do queixo e me
deliciei com todas as histórias que
Amom tinha pra contar. Ele contava de
suas andanças pelo mundo e concordou
que Paris ficava mais bonita quando
chovia, dizia que sempre se interessou
pelos costumes dos séculos passados, e
que seu século favorito era o XIX.
Não pude deixar de pensar na história
que ele havia contado mais cedo, foi
nesse século que ele conheceu Enrico,
tenho certeza que foi nesse século que
ele havia se aceitado. Dizia que do
mesmo jeito que conheceu gente
interessante e inteligente, conheceu gente
mesquinha e vazia. A conversa estava
incrivelmente interessante, que não
vimos que já era tarde, ou melhor, cedo,
sei lá, depende do ponto de vista. Eram
03h da manhã.
Amom insistiu em nos levar pra casa,
por um momento achei mesmo que ele
estava cuidando de mim, mas talvez
fosse paranoia minha, ele pagou a conta
e cumprimentou o gerente, ofereceu um
braço a mim e o outro a Sá, nos
conduzindo até a saída.
Quando Amom abriu a porta do carro,
num ato impensado sentei no banco de
trás, Sabrine me olhou desconfiada,
assim que a porta se fechou, percebi que
minha atitude não foi tão impensada
assim. Ele abriu a porta do passageiro
ajudando Sabrine a entrar afivelando seu
cinto de segurança, aquele gesto
surpreendeu minha amiga, que virou pra
trás me olhando enquanto ele contornava
o carro para ocupar seu lugar atrás do
volante. Eu achei lindo o cuidado que
ele teve com ela, só poderia vir de um
príncipe. A conversa no caminho de
volta continuou interessante, nem
percebemos quando paramos.
Ao estacionar em frente ao nosso
prédio, o ritual foi o mesmo,
agradecemos a gentileza e nos
despedimos.
- Boa noite Amom – beijei seu rosto
- Boa noite Emily
- Boa noite Amom – Sabrine também o
beijou
- Boa noite Sabrine, foi realmente um
prazer conhecê-la – ela mais uma vez
ruborizou.
Assim que cruzamos a portaria,
Amom deu partida, por coincidência, ou
não, meu celular vibrou com uma
mensagem de Enrico. Só de ver seu
nome na tela meu coração deu
cambalhota, eu amava aquele homem
com todo meu coração. A quem eu
estava enganando? Sabrine contava as
maravilhas de Amom, e eu pensando se
responderia aquela mensagem ou não, às
vezes me acho tão idiota, não fundo do
meu coração eu já havia perdoado, o
que eu sentia era medo.
- Emi?
- Oi Sá
- Obrigada pela noite! Eu te amo amiga
– ela me abraçou e foi para o seu quarto
Na verdade eu não fiz nada, quem
colocou um sorriso naquele rosto foi
Amom, eu sorri com a ideia dos dois
juntos, formariam um casal lindo, fui
para meu quarto, precisava fazer as
pazes com aquela cama, precisava de
uma boa noite de sono. Tudo bem que
seriam poucas horas. Quem teve a ideia
de sair em plena segunda-feira?
Tirei o celular do bolso e li à
mensagem, tudo me fazia lembrar ele, na
verdade eu nunca o esqueceria, a
mensagem era simples e direta.
Emi... Me perdoa?
Eu poderia perder aquele homem em
uma semana, e não era como no caso de
Sabrine, que perdeu para outra mulher.
Eu o perderia para morte, meu estômago
revirava só de pensar nessa hipótese. E
se isso acontecer eu vou me odiar pelo
resto da vida, me odiaria por não ter
perdoado, me odiaria por ter perdido
tanto tempo e não tê-lo amado mais, me
odiaria por não dormir e acordar em
seus braços. Eu sei que era odioso
pensar nisso, mais era uma
possibilidade. Meus dedos tremiam ao
digitar a mensagem.
Sim!

Procurei o que vestir em uma das


gavetas da cômoda e achei uma camisa
dele, deveria ter vindo junto com a
última muda de roupa que eu trouxe no
final de semana, fui para o chuveiro,
entrei na ducha quase fria e por incrível
que pareça relaxei, saí do chuveiro e me
enrolei na toalha, sequei meus cabelos
com o secador, coloquei a camisa de
Enrico e dormi. Dormi como não dormia
há dias, dormi com o cheiro dele, e
acabei sonhando com ele. Foi um sonho
lindo que me fez acordar sorrindo.
Vinte e cinco
Acordei inspirada, louca para
começar meu dia, não estava mais
angustiada como costumava ficar, apesar
de minha felicidade não estar plena, era
um começo. Espreguicei-me antes de ir
para o chuveiro, foram poucas horas de
sono que valeram a pena, tirei a camisa
de Enrico e cheirei, aquele cheiro
intenso me fez sentir coisas. Era uma
manhã típica de inverno, típica
paulistana, frio e garoa, mas para mim
era como se o sol brilhasse lá fora.
Ao sair do banho não tinha ideia do
que vestir, acabei decidindo pelo
básico, uma calça preta e uma blusinha
de maga comprida também preta, para
quebrar o gelo, coloquei uma jaqueta de
couro vermelha. Caprichei na
maquiagem, queria estar bonita, queria
encontrar Enrico no meu melhor
momento. Fiz um rabo de cavalo, e pra
finalizar meu look, coloquei argolas de
prata, meu rosto não estava mais
abatido, estava corada, com um brilho
no olhar.
Ao atravessar o corredor, vi que
Sabrine ainda dormia, ela pegou uns
dias de folga, mais que merecidas.
Depois de dois anos estagiando, foi
efetivada e abriu mão dos dias de
descanso que lhe foram dados. Foi um
grande desafio conseguir convencê-la de
que sim, ela precisava desses dias.
Felipe me ajudou nessa empreitada.
Entrei em seu quarto nas pontas dos
pés, olhei seu rosto de porcelana, seu
nariz estava com a ponta vermelha,
indicando que havia chorado, tenho
certeza que não foi pouco, meu coração
se apertou só de pensar como está
sofrendo. Beijo sua testa e vou rumo à
cozinha. Coloquei água na cafeteira fiz
um sanduiche de peito de peru, estava
faminta. Esperei o café ficar pronto,
numa impaciente dos infernos, estava
ansiosa para ver meu Enrico, deveria ter
comprado café no caminho.
Chamei um táxi, nem ferrando iria pra
Maximus de metrô, nada contra, até
gosto, me dá tempo pra pensar, é o
tempo que uso quando quero ler meus
romances. Mas hoje não, não queria
chegar à Maximus nem amassada e nem
atrasada, já eram quase 08h00.
Retoquei o batom e segui para o
elevador, enquanto esperava mandava
uma mensagem para minha mãe, que já
deveria estar surtando por estar sem
noticias minhas, minha mãe quer que eu
ligue todos os dias, e meu pai pergunta
se eu esqueci que tenho uma família. É...
Sou mesmo uma ingrata. Mas prometo
que depois que esses tempos turbulentos
passarem, vou passar mais um final de
semana em casa. Assim que o elevador
chega clico em enviar.
Passei pela portaria e cumprimentei
Lucas, o filho do zelador que fazia bicos
de porteiro, era um jovem arrojado e
cheio de atitude, havia contado que fazia
faculdade, e que trabalhava com
eventos, foi muito engraçado sua
abordagem. Da próxima vez que Mari
tiver um evento, vou pedir para dar uma
forcinha a ele.
Assim que atravessei o portão, meu
coração quase saiu pela boca, eu queria
tanto aquilo, aquela visão com certeza
será o ponto alto do meu dia, me peguei
sorrindo quando notei que Enrico estava
em frente ao nosso prédio, encostado em
seu carro.
Meus lábios ficaram secos, mas
loucos de vontades de serem molhados
por sua boca absurdamente perfeita.
Fiquei paralisada, não sabia se corria
para seus braços, ou se ficava feito uma
estatua até ele tomar alguma atitude. Ele
sorriu pra mim, meu coração virou
liquido.
Corri para seus braços, aquele abraço
tinha gosto de saudade, ele me apertou e
beijou meus cabelos, suas mãos subiam
e desciam por minhas costas, ergui meus
pés e beijei sua boca, como senti falta
daquela boca na minha, passei as mãos
por seus cabelos macios, e logo depois
toquei sua barba bem feita, eu não tinha
palavras, queria rir e chorar ao mesmo
tempo. Meu coração acelerou quando
ele sussurrou no meu ouvido.
- Desculpe, eu sinto muito fui tão
estupi... – eu balancei a cabeça em
negativa
- Não fala nada, só me beija.
Nos entregamos a um beijo
apaixonado, cheio de desejo e saudade.
Estava mais que claro para mim, não
poderia viver sem ele e nem ele sem
mim, ele era parte de mim, parte do que
sou. Meu coração não fica inteiro sem
ele, tenho certeza que nós nos
completamos, sei que é amor
verdadeiro.
Antes de entrar no carro, dispensei o
taxista desculpando-me, pagando a
corrida até nosso prédio. Entramos no
carro, seguimos por um caminho
desconhecido, estava feliz, queria que
essa felicidade durasse por toda vida,
mas sabia que teríamos uma barra
grande a enfrentar, mas naquele
momento não queria pensar em nada.
Simplesmente não queria pensar, só
queria viver aquele momento, o hoje era
o que me importava, enquanto Enrico
dirigia eu acariciava sua nuca, fazendo-
o estremecer.
- Se continuar assim, vamos parar no
primeiro Motel que encontrar no
caminho – não seria uma má ideia.
Eu provocava mais e mais, mordendo
seu queixo, acariciando de leve sua
perna, eu queria que ele desviasse o
caminho, quando ele estava cedendo,
seu telefone tocou, me fazendo voltar ao
meu lugar.
Pelo teor da conversa, era algum tipo
de reunião para acertar o destino de suas
empresas. Que merda ele estava
pensando? Aquela conversa estava me
deixando desconfiada, quando ele
percebeu logo encerrou a ligação.
- Quem era? – quis saber
- Meu advogado – ele falou sem rodeios
- E o que ele queria? – inqueri
- Negócios minha doce Emi, não se
preocupe.
Ainda não havia percebido onde
estávamos indo, com certeza não era pra
Maximus.
- Para onde vamos?
- Vamos passar dois dias fora – ele
sorriu maliciosamente
- E o nosso trabalho? E a Sabrine? Não
posso deixa-la dois dias sozinha, ela
acabou de terminar seu namoro, está
precisando de mim – eu estava
preocupada.
- Já acertei todos os detalhes, Amom vai
ficar tomando conta da Maximus, Sara
não se importou em cuidar dos seus
clientes, e pedi a Felipe que passasse
dois dias com Sabrine.
- Você fez o que?
- Como pode notar minha doce Emily,
esses dois dias seremos só você eu
- Não tenho roupa para dois dias?
- Tem sim, sua mala está lá atrás –
realmente ele pensou em tudo.
Depois de algum tempo, reconheci o
caminho e sabia onde estávamos indo,
seguimos para o aeroporto de
Congonhas. Para onde iriamos de avião?
Enrico deixou seu carro em um
estacionamento privado, pegou uma
mala de rodinhas rosa no porta-malas,
que supus ser minha, e uma mochila da
Ferrari vermelha que supus ser dele.
Eu quis ajudar carregar a bagagem,
mas foi em vão, ele saiu puxando a mala
rosa com a mochila nas costas. Eu
deveria ter imaginado que ele não
pretendia trabalhar, já que estava de
calça jeans e camiseta. No calor do
momento nem havia me dado conta.
Atravessamos o saguão e fomos fazer
o check-in, achei que enfrentaríamos
uma fila quilométrica, mas havia me
esquecido que Enrico era cliente VIP,
onde tudo era mais rápido e mais fácil, o
check-in para quem viaja de primeira
classe não demora nem cinco minutos,
tive que assistir a atendente sorridente,
tentando agradar de todas as formas.
Tenho certeza que não era a mim que ela
queria agradar, aliás, ela nem notou
minha presença.
Continuava fazendo charme, me
posicionei ao seu lado, para que visse
que aquele homem não estava
disponível, fiquei encarando até ela se
tocar. Ainda não sabia para onde
estávamos indo, se aquela mulher falou
o destino não prestei atenção, meu olhar
a fulminava.
Fomos para a sala de espera até nosso
voo ser chamado, sentei e Enrico levou
minha mão aos lábios.
- Você viu como aquela atendente não
tirava os olhos de você? – falei irritada
- Não – ele respondeu tranquilamente
- Só isso que tem a me dizer? – não
acreditava que estava fazendo uma cena
de ciúmes, eu que sempre odiei cenas.
- Emi, só tenho olhos para você,
nenhuma mulher no mundo me é
interessante, a única mulher que eu
quero é você, para ciúme bobo, eu te
amo.
- Às vezes eu não me reconheço –
encostei a cabeça em seu ombro.
Olhei no painel, e por fim descobri
para onde estávamos indo, Enrico sabe
surpreender.
Voo 3263
Saída: 10h30min – CGH (Congonhas)
Chegada: 11h25min – SDU (Santos
Dumont)

Estamos indo para o Rio de Janeiro,


estive lá algumas vezes com meus pais,
amava a cidade maravilhosa, onde é
calor o ano inteiro, praias belíssimas e
muita gente bonita.
- Rio de Janeiro? – Olhei pra ele
sorrindo
- Gosta? – beijei sua boca empolgada
- Muito!
Nosso voo foi chamado e Enrico
puxou minha mão me conduzido, em
menos de cinco minutos estávamos
dentro do avião. A primeira classe era
top em conforto, poltronas reclináveis
enormes e muito confortáveis, televisão
fones de ouvidos e notebooks,
travesseiros macios, bebida de primeira,
a todo o momento, uma comissária de
bordo perguntava se estávamos
confortáveis e se precisávamos de
alguma coisa.
- Estamos bem, obrigado! Só
precisamos de um pouco de privacidade
– aquela resposta me deixou cheia de
orgulho.
Senti um frio no estômago quando o
avião decolou, aviões sempre me
causavam nervosismo, ele sentiu meu
desconforto e me puxou para mais perto,
ligou a televisão e beijou o topo da
minha cabeça, e foi assim, até o avião
aterrissar na cidade maravilhosa.
Assim que desembarcamos, pedimos
um táxi, o choque térmico era
indiscutível, São Paulo beirava aos 20º
graus, tempo fresco para os paulistanos,
enquanto no Rio chegava aos 40º graus,
era o que se via no termômetro, céus
estava quente pra cacete.
Entramos no táxi e estava fresquinho,
relaxei. Enrico pediu ao taxista que nos
levasse ao Copacabana Palace, aquele
hotel era um luxo, claro que só conhecia
por fotos. Enrico deu uma generosa
gorjeta ao taxista que insistiu em deixar
seu cartão caso precisássemos de seus
serviços durante nossa estadia no Rio,
ou quando fossemos para o aeroporto.
Entramos no hotel, e por dentro era
ainda mais bonito que por fora, aquilo
não era um hotel era um palácio, achei
que encontraria a rainha da Inglaterra a
qualquer momento.
Já na recepção fomos paparicados,
um rapaz simpático pegou minha mala e
a mochila de Enrico enquanto
pegávamos a chave do nosso quarto, era
intitulada como suíte máster. O rapaz
uniformizado nos acompanhou até o
elevador, que parou no sexto andar.
Abriu a porta e esperou que
entrássemos, para depois colocar nossa
bagagem sobre a cama. Enrico
agradeceu dando-lhe uma gorjeta, que o
fez sorrir de orelha a orelha.
A suíte era quase do tamanho do
nosso apartamento, a sala de estar era
bem decorada, com móveis branco e
bege. Não entendendo muito de
tapeçaria, mas posso apostar que aquele
tapete era persa, as cortinas num tom de
marrom casavam com a cor dos
estofados, na mesa de centro, um
recipiente de cristal com variedades de
chocolates.
O quarto igualmente grande, uma
cama gigantesca, tudo ali era lindo, mas
o que mais me encantou foi à varanda,
com uma vista incrível, como seria
acordar todos os dias e dar de cara com
essa beleza de natureza, a praia de
Copacabana como quintal. Era o cenário
perfeito para uma grande história de
amor. Enrico me abraçou por trás
beijando minha orelha.
- Gostou? – me virei pra ele
- Tá brincando! Isso tudo é perfeito –
entrelacei meus dedos em seu pescoço.
- Você quer andar por aí? Aproveitar o
Sol? – ele mordiscou meu queixo
- Acho que tenho outra coisa em mente –
colei meu corpo ao dele
Ele andava com cuidado, sem
desgrudar a boca da minha, fui andando
para trás até minhas pernas encostarem
na cama, ele começou a beijar meu
pescoço, sua mão estava no zíper da
minha calça, ele descia lentamente.
Como eu amava aquele homem, como
senti sua falta, como senti falta daquele
toque. Ele tirou minha calça e admirou
minha calcinha, beijava minha barriga,
as mãos experientes arrancaram minha
blusa, me deixando apenas de lingerie.
Ele tirou sua calça e a camiseta, ficou
apenas de boxer, como senti saudade de
admirar aquele corpo, aquela boxer
branca me enlouquecia.
Eu estava arfando, antes mesmo de
ele tocar em mim. Ele deitou sobre mim,
e o peso do seu corpo me fez sentir viva,
o toque dele me fazia arder em chamas,
ele tirou as peças de roupas que nos
separavam, e aquilo não poderia ser
melhor, eu queria, eu precisava dele
dentro de mim, mas ele hesitou, ele
estava me matando aos poucos, ele não
tinha pressa, ele queria me satisfazer de
todas as maneiras possíveis, ele queria
apreciar cada sensação que estava me
proporcionando, e devo confessar que
era tudo intenso demais.
Eu queria gritar, queria implorar,
queria ser dele, ele tocava cada parte do
meu corpo me excitando cada vez mais,
até eu não aguentar mais. Por fim ele se
encaixou em mim, aquilo era tudo que eu
precisava, ele me fez derreter e explodir
em mil pedaços, até que ele desabou
sobre mim, eu estava exausta, mas
queria mais, não perdi tempo e subi em
cima dele, fazendo com que ele ficasse
surpreso, era minha vez de enlouquecer
aquele homem, assim como ele fez
comigo, eu me mexia suavemente e
coordenadamente, segurava seus cabelos
com força, enquanto ele apertava minha
cintura carinhosamente, ele fechou os
olhos, apenas sentindo o que eu estava
oferecendo. Ah Enrico eu te quero tanto
sussurrei.
Seus lábios estavam entreabertos,
seus olhos lindos me olhavam
intensamente, eu sabia que aquele
homem me queria, assim como eu o
queria, nossa conexão era perfeita,
nossa química era perfeita, não vejo
minha vida sem ele. Meus movimentos
sincronizados estavam fazendo-o gemer,
ele segurou meu cabelo com firmeza, e
tomou minha boca pra si.

Vinte e seis
Foi tudo perfeito, esses dias no Rio
de Janeiro vão ficar pra sempre
marcado na minha memória e no meu
coração. Cada lugar que visitamos, cada
conversa que tivemos me fez ficar ainda
mais apaixonada. Na última noite
estávamos sentados na areia, olhando
aquele mar revolto, o vento anunciava
chuva, mas queria continuar ali, eu
usava uma saia comprida branca que
ficou transparente quando a chuva caiu,
assim como minha regata rosa, Enrico
queria me proteger de todas as formas,
mas minha reação era outra, não queria
me esconder, queria ficar ali com ele.
Queria que água levasse tudo que tinha
de ruim, e purificasse nossa alma. Beije-
me eu disse, ele segurou com delicadeza
meu queixo me olhando nos olhos, nem a
água que caia da chuva era capaz de
apagar aquela chama. Foi um beijo
intenso cheio de paixão, todos deveriam
experimentar um amor assim, ao menos
uma vez na vida. Um amor que nos faz
andar nas nuvens, que nos embriaga.
Coloquei a mão no coração, como que
se tudo que eu sentisse quisesse escapar
dali.
Meu pensamento romântico foi por
água a baixo assim que coloquei a chave
na fechadura.
- Caralho Sabrine vai tomar um banho –
foi o que ouvi assim que passei pela
porta do nosso apartamento
- Vai se ferrar! – Sabrine rebateu
- Epa epa o que está acontecendo aqui?
– falei assim que coloquei os pés na
cozinha
- Emi, não aguento mais sua amiga, da
um jeito – Felipe lavava a louça.
- Vai se ferrar Felipe – Sabrine berrava
do sofá
- Essa fossa aí já era! Parte pra outra –
Felipe secava as mãos no pano de prato
- Vai se ferrar! – ela estava
insuportavelmente irritante
- Olha boca! – eu a repreendi
- Você está radiante, sua pele está linda
– Sabrine falou sem olhar pra mim.
- Acho que o Fê tem razão, vai ficar se
lamentando até quando? – caí no sofá ao
seu lado
- Até quando meu coração parar de doer.
E você Felipe, quem pensa que é pra me
dar lição de moral? Não era você que
estava chorando até outro dia por sua
noivinha?
- Superei, parti pra outra – ele deu de
ombros – acho que você deveria fazer o
mesmo – ele emendou e ela o ignorou.
- Me conta como foi lá no Rio? – ela se
animou
- Foi tão romântico – suspirei
- Pelo menos uma de nós está transando
– ela ligou a televisão
- Eu não estou interessado na vida
sexual de vocês ok? Poupe-me dos
detalhes sórdidos – Felipe juntou-se a
nós.
- Pois eu estou interessada e quero
todos, todos os detalhes – Sá sorriu.
- Agora que a Emi chegou vou cair fora,
estava ficando com o estômago revirado
de ver essa daí chorando o tempo todo,
aquele cara nem era tão bom assim –
Sabrine jogou a almofada nele.
- Felipe, pela última vez, vai se ferrar! –
ela riu, não estava mais chateada.
- Fui – ele pegou a mochila e seguiu até
a porta
- Fê – Sabrine gritou – obrigada meu
irmão – Felipe piscou pra ela e foi
embora.
Passava das onze quando fomos
dormir, Sabrine e eu colocamos nossa
conversa em dia, pelo que pude entender
ela está se conformando com o fim do
relacionamento, infelizmente a vida
continua. Ao menos era pra ser assim, eu
não sei se a minha vida vai continuar se
alguma coisa acontecer no sábado. Só
de pensar, parece que fui transportada
para o inferno. Eu queria que essa
semana não acabasse nunca, amanhã já é
quinta-feira, e sexta-feira Enrico vai
para Itália, aquele maldito julgamento
será no sábado.
Caí na cama, o sono veio rápido,
estava cansada que adormeci quase que
imediatamente, meu sono foi tranquilo e
relaxante, estava pronta pra enfrentar o
restante da semana. Seria forte, era
disso que eu precisava. Desmontar na
frente de Enrico não era opção, tudo que
eu não queria era que ele me visse sendo
fraca e levasse com ele essa imagem.

Tyler havia deixado meu carro na


garagem enquanto estávamos no Rio, saí
cedo antes mesmo de Sabrine acordar.
Cheguei à Maximus uma hora antes de o
expediente começar, precisava trabalhar,
precisava colocar meus assuntos em dia.
Eu sei, será difícil trabalhar,
organizar pensamentos, acalmar meu
coração, coloquei os fones de ouvido e
tentei esquecer, se é que era possível.
Não demorou até Mariana chegar, disse
que estava com saudades, que eu estava
linda bronzeada, contou também que
anda se encontrando com Felipe, aquele
danadinho não me disse nada, partiu
mesmo pra outra.
Sara e Rodrigo chegaram logo em
seguida, Sara estava verde parecia
passar mal. Segundo Rodrigo, ela nem
deveria ter saído da cama, já que o bebê
estava fazendo ela ficar enjoada.
Grávida! Mari e eu falamos juntas,
fazendo Rodrigo sorrir. Ele colocou a
mão na barriga da Sara e disse: “É...
vou ser papai” ele falou todo orgulhoso.
- Meu Deus! Grávida! Isso é tão
incrível! Um dia também quero ser mãe
– Mari enrolava os cabelos no dedo.
- Não se importa em ficar enorme feito
uma melancia querendo explodir? – Sara
falava acariciando a barriga, que ainda
nem se notava.
- Não! Ser mãe é uma experiência que
toda mulher tem que experimentar, sonho
em ter uma família algum dia – Mari
falava sonhadora.
Aquele papo de gestação me fez
pensar, eu também queria ter uma
família, eu também queria ser mãe um
dia, uma coisa que Enrico e eu nunca
conversamos, o futuro me assustava. Eu
uso anticoncepcional desde o namoro
com o Jonas, então isso nunca me
preocupou. Só que agora que esse
assunto veio à tona, eu queria muito
saber se um dia eu também poderia ser
mãe, mas era um filho de Enrico que eu
queria. Minha cabeça deu um nó, será
que vampiros... Oh céus!
- Emily? – Sara entrou no meu campo de
visão
- Oi – saí do meu devaneio
- Eu perguntei se você pretende ter
filhos
- Sim, claro! – respondi sem segurança
Sara colocou a mão em concha na
boca e saiu em disparada para o
banheiro, ouvi dizer que os primeiros
meses de gravidez são terríveis,
Rodrigo foi logo atrás para apoiar sua
namorada, já consigo ver o ótimo pai
que ele vai se tornar.
Enrico chegou e graças aos deuses
todo aquele papo de maternidade tinha
ido para o banheiro junto com Sara.
Mari falava com um cliente ao telefone e
quando o casal retornou, sentaram-se em
suas estações de trabalho. Via-se que
Sara estava tão enjoada que preferia
ficar sozinha e calada. Rodrigo sabia
respeitar seu espaço. Enrico estava
lindo como sempre, usava terno preto,
os cabelos penteados pra trás, o sorriso
lindo e cativante, que me fazia virar
gelatina. Antes de beijar minha testa,
desejou bom dia aos presentes.
- Almoça comigo? – ele falou num tom
sussurrado
- Com todo prazer, senhor Maximus – eu
pisquei.
E ele se vai, a porta se fecha e
Mariana já estava diante da minha mesa
novamente. Que mulher impossível.
- As coisas entre vocês estão sérias
mesmo hem? Será que vai dar
casamento? Acho que vou ter um
casamento para organizar – ela batia
palmas
- Casamento? Tá doida Mari?
- Porque não? As pessoas se casam
quando se amam, e tá na cara que vocês
se amam – ela me deu uma cotovelada
fazendo graça.
- E é por isso que Sarinha e eu vamos
nos casar – Mari e eu corremos para
abraçar Sara
- Você já tem um casamento para
organizar – eu disse
- Ai meninas estou tão feliz! A principio
achei que o Rô só queria casar comigo
por causa do bebê, mas ele me ama de
verdade – Sara falava com os olhos
marejados, os hormônios aflorando.
- Sem dúvida que ele te ama, aliás, você
será uma noiva linda – meus olhos
também se encheram de lágrimas,
casamentos me emocionam.
- Perdi alguma coisa? – Enzo entrou
enquanto estávamos em um abraço
triplo.
- E aí cara, beleza? – Rodrigo
cumprimentou
- Beleza! – Enzo respondeu esvaziando
suas gavetas
- O que tá fazendo? – Mari perguntou
- Meu contrato acabou! Então não tenho
mais nada a fazer aqui – ele falava
olhando pra mim
- E vai pra onde? – Foi à vez de Sara
perguntar
- África, talvez – ele deu de ombros.

Enrico
Após um século vivendo nas sombras,
descobri que ainda existia luz, aquela
imagem estava viva em minha mente,
aquele rosto perfeito entrando no meu
escritório, parecia um anjo. Não tive
dúvidas que aquela mulher me levaria à
perdição, me faria perder a sanidade, se
fosse capaz de dormir, perderia todas as
noites de sono, imaginando mil maneiras
de tê-la ao meu lado.
Não foi fácil controlar meus instintos,
soube assim que coloquei os olhos nela,
que meu destino seria ama-la. Tentei me
afastar não consegui, era como um imã,
um magnetismo que me guiava somente
para ela. Era como se ela pertencesse a
mim, quando estava perto me sentia
vivo, como há muito não sentia. Eu
soube desde o inicio que ela merecia
alguém melhor, um homem que pudesse
dar-lhe tudo aquilo que ela merecia.
Alguém que pudesse dar-lhe uma vida
longa e feliz, e isso me matava aos
poucos. Como poderia amar uma
humana sendo o que sou?
Seus olhos são tão expressivos e
dizem tantas coisas, um coração puro, os
lábios tão doces e delicados, que por
muitas vezes tive vontade de beijar, ela
despertou em mim um instinto protetor,
faria tudo para proteger Emi, com minha
vida se fosse preciso. E foi aí que me
perdi, estava apaixonado.
Emi me fez ser diferente, eu era um
homem amargurado, por ter perdido
tanto e por ter me transformado no que
sou. Por ela me aceitei, por ela fiz
coisas que jamais imaginaria fazer,
como subir em um palco e cantar, foi o
auge da minha mudança.
Eu cantava quando era humano,
frequentava bares de música ao vivo na
Itália, depois da transformação, o que
pra mim era divertido perdeu a graça,
afinal eu era um ser rancoroso cheio de
ódio. Depois de Emi fui capaz de cantar
em um bar abarrotado de pessoas que se
silenciaram para me ouvir.
Pra mim era como se naquele lugar
existisse somente minha doce Emi. Cada
estrofe daquela música era pra ela que
eu cantava, queria que ela sentisse o que
eu estava sentindo, queria que ela
soubesse tudo aquilo que eu queria
transmitir. Ah minha doce Emily, o que
fez comigo?
Um lado adormecido acordou, o
ciumento e possessivo, Emily era minha
e me incomodava que ela fosse
cortejada por outros homens, me
controlei o máximo que pude para não
mandar Enzo para o inferno. Eu o queria
longe dela, e se fosse preciso faria
qualquer coisa para afasta-lo. E quando
finalmente a tive em meus braços, meu
único propósito, era fazê-la feliz, e eu
fracassei.
Eu a fiz sofrer, eu menti, manipulei e
por uma fração de segundos, não cometi
a loucura de apagar parte de sua
memória, sei que foi uma idiotice, uma
tolice, magoei e temi que ela não me
perdoasse. Eu estava cego, só queria
protege-la, se afasta-la de mim a
manteria segura, era o que eu faria. Mas
o destino conspirou contra nós.
Fui um estúpido em querer apagar o
amor que Emi sente por mim, poderia
até conseguir tirar de sua memória, mas
quem garantiria que tiraria do coração.
É uma lacuna que talvez não fosse
preenchida, além do mais, não tinha
habilidade suficiente para tal, um risco
que correria.
Implorei a Amom que me ajudasse,
não queria ver Emily sofrendo, ele abriu
meus olhos, sem dúvida é um sábio, essa
não era a solução, ele dizia, eu só
conseguiria se ele me treinasse. Com
seus séculos de vida, ele sabe muito
mais do que aparenta, ele adquiriu muito
conhecimento quando esteve vagando
pelo mundo. Eu pelo contrário me
fechei.
Amom foi categórico quando disse que
não me ajudaria a fazer aquela loucura,
eu agradeço por ele ter me mostrado o
quanto estava sendo um idiota. Eu
poderia arruinar a vida da mulher que
amo, e se acontecesse alguma coisa a
ela, eu me entregaria a Sartori sem
precisar de julgamentos, eu mesmo me
sentenciaria a morte. Eu amo Emi de
todas as formas possíveis. A dor dela é
minha dor, a felicidade dela é a minha
felicidade. Daria e faria qualquer coisa
para que ela fosse feliz, ela me trouxe
luz no momento em que eu não mais
acreditava.
Por ela vou aceitar meu destino, vou
pedir a Jasmine e a Amom que a
mantenha a salvo e feliz, caso eu acabe
virando cinzas. Jasmine insiste em que
eu tenho que transforma-la, mas como
posso fazer isso? Quero que ela tenha
todas as experiências humanas
possíveis, ela ainda é muito jovem e tem
muito que viver. Emily Malves, se eu
tivesse o dom realizar sonhos, realizar
meu próprio sonho, faria você à mulher
mais feliz desse mundo.
Detesto admitir, mas Jasmine tinha
razão, eu acabaria me machucando ou
machucando alguém. Não me lembro da
última vez que estive na Itália e não era
minha intenção voltar tão cedo. Mas
dessa vez não tenho escolha, ou
compareço naquele julgamento, ou serei
morto sem ter a chance de ao menos
tentar uma absolvição. Aquele bastardo
do Sartori não perdoa ninguém, quanto
mais vampiros forem condenados, mas
ele se torna temido e poderoso.
Minha vida se transformou num
inferno, mas o amor que sinto por Emily
e os momentos que passamos juntos, vão
fazer tudo valer a pena.
Vinte e sete (Quinta-feira)
Assim que Dr. Marcelo saiu da sala
de Enrico, me preparei para sair para
almoçar, dei uma conferida no espelho
para retocar o batom. Enrico verificou
sua agenda com Mariana, sei que tem
mais uma reunião com os acionistas.
Não estava gostando do entra e sai de
Dr. Marcelo no nosso departamento, era
raro cruzarmos com ele pelos
corredores, só nessa semana foram
quatro vezes.
- Está pronta? – Enrico estava parado ao
meu lado
- Estou – falei enquanto me levantava
Ele pegou minha bolsa e como sempre
colocou no ombro, segurou minha mão
me conduzindo até ao elevador, me
abraçou forte e permanecemos assim até
pararmos no térreo. Acaricie suas costas
e alisei a lapela do seu terno, seus olhos
denunciavam sua preocupação que
insistia em esconder.
Quis ir andando até o restaurante, o
céu estava tão lindo e tão azul, queria
aproveitar todo o tempo que agora é tão
precioso, Enrico segurava minha mão e
de tempos em tempos beijava os meus
dedos. Fomos cumprimentados pelo
maitre logo na entrada, Enrico pediu o
vinho de sempre e perguntou o que eu
gostaria de comer, na verdade nem sabia
se conseguiria comer, sentia um frio no
estômago uma dor perturbadora que
estava me fazendo suar.
- Acho que quero salada – falava
enquanto remexia o guardanapo
- Emi... Salada?
- Estou sem fome – a ansiedade e o
nervosismo faz isso comigo
- Traga duas saladas Caesar – ele pediu
ao garçom
Virei à taça de vinho de uma vez, meu
descontrole fez as sobrancelhas de
Enrico se curvarem e a testa franzir. Ok
minha vontade era correr para seu colo e
chorar, mas não demostraria essa
fraqueza, não deixaria Enrico ainda mais
preocupado. Sei que ele não estava
pensando no que aconteceria na Itália,
estava mais preocupado com o que
estaria acontecendo aqui no Brasil.
- Emi, não precisa ficar nervosa, vai
acabar tudo bem – ele passou o polegar
no dorso da minha mão.
- Não estou nervosa – falei tentando
parecer convincente
- Você mente muito mal – ele deu um
sorriso torto
- Como consegue sorrir, numa situação
dessas? – inquiri
- Só quero que você fique bem – ele
falou aproximando a cadeira da minha
- Você não está com medo? – ele parecia
mais forte que uma rocha
- Não, estou preparado para qualquer
resultado, mas tenho medo do que possa
acontecer com você, preciso que seja
forte. Preciso que faça isso por mim,
você consegue? – não pisquei para que
as lágrimas não me denunciassem
- Sim – balancei a cabeça positivamente
Claro que eu estava mentido, estava
sendo uma impostora, estava tentando
me enganar, mas não enganaria Enrico,
obvio que ele sabia que eu estava
tentando parecer forte, se pudesse ver
meus olhos, tenho certeza que estavam
denunciando meu pavor. Ele beijou o
meu rosto e passou o polegar nos meus
lábios, nos separamos assim que o
garçom aproximou-se da nossa mesa.
Comi a minha salada sem vontade,
enquanto Enrico me observa e tentava
me animar.
- Quando eu voltar da Itália, vamos
viajar, pode escolher qualquer lugar do
mundo – A sua fé me fazia acreditar no
impossível.
- Quando você voltar da Itália eu só
quero estar com você, na sua casa no seu
mundo – o sorriso que ele tinha no rosto
desapareceu.
- Emi... De novo não! – ele se retraiu
- Seria tão mais fácil se você me
transformasse – eu precisava tentar
- Acho que já conversamos sobre isso –
ele limpou a boca com o guardanapo
jogando violentamente sobre a mesa
- Nada que eu fale ou faça fará você
mudar de ideia não é? – elevei o tom de
voz.
- Não! Vamos aproveitar o tempo que
nos resta, não vamos brigar e nem ficar
discutindo assuntos sem fundamento.
Não vai acontecer entendeu?
Eu tinha duas opções, ou ficaria com
ele sem cobranças e curtindo cada
minuto juntos, ou ficaria martelando a
ideia de ele me transformar, beirando
uma briga ou desconforto por parte dele.
Que homem teimoso, seria tão mais fácil
se ele me transformasse, venho me
preparando psicologicamente.
- Se eu pedir a Jasmine ou Amom que
me transforme? – era minha última
cartada
- Emi... Não fala besteira, a não ser que
queira levar a morte de Amom e Jasmine
nas costas – seus olhos mudaram de cor.
- Você não seria capaz – não conseguia
decifrar sua expressão
- Vamos embora – ele fez sinal para o
garçom.
- Não vamos mais falar nesse assunto –
a minha batalha estava perdida.
- Quero que fique com isso – ele tirou
uma caixinha de veludo do bolso do
casaco e empurrou em minha direção
- Enrico...
- Abre
- É linda! Obrigada – Enrico não parava
de me surpreender, dentro da caixinha
de veludo azul, pousava uma pulseira de
ouro branco com um delicado coração
com as nossas iniciais E&E.
- Pra você nunca se esquecer de mim –
como se aquilo fosse possível
- Eu te amo tanto – não pude segurar as
lágrimas, fico impressionada o quanto
consegui segurar até aquele momento.
- Eu também te amo

Antes que me desse conta o


expediente havia acabado, Mari se
despediu dizendo que tinha um
compromisso, sei que seu compromisso
é com Felipe, estou feliz por eles,
Felipe é um amor e Mariana é
encantadora, espero que sejam felizes
juntos. Sara e Rodrigo estão procurando
um apartamento para alugar, já que logo
vão se casar. Sara já saiu da casa dos
pais, e está morando com Rodrigo, mas
precisam de um apartamento maior, um
quarto para o bebê.
Fiquei olhando para a tela do meu
celular até que Enrico bateu a porta de
sua sala, passaríamos a noite juntos,
quero ficar acordada o maior tempo
possível, quero estar em seus braços,
conversar sobre qualquer assunto que
ele queira, quero mais uma vez dizer que
o amo, que ele foi a melhor coisa que
me aconteceu na vida.
Mais foi o contrário, fizemos todo o
trajeto até sua casa em silêncio, sentia
que tinha um abismo entre nós e não era
bem isso que eu queria.
- Tá tudo bem? – que idiotice a minha
fazer essa pergunta
- Sim, só preciso que fique comigo essa
noite.
- É tudo que quero!
Enquanto Enrico tomava banho, fui
até a cozinha ver o que Dora preparava
para o jantar, assim que ela me viu
sorriu.
- Está tudo bem Emily? – ela remexia as
panelas
- Sim, está um cheiro ótimo – elogiei.
- O Sr. Maximus pediu que fizesse uma
comida bem gostosa pra você, disse que
você não comeu nada no almoço.
- Ele está exagerando
- Estou fazendo purê de batatas e peixe,
espero que goste – ela disse.
- Adoro – não queria decepcionar
- Senhor Maximus, o jantar está quase
pronto – Enrico estava parado na porta
da cozinha, usava uma bermuda de
corrida Adidas e uma regata branca.
- Emi está faminta
- Eu pareço faminta? Passei as mãos por
seus ombros largos – ele fez sinal de
positivo
- Sim – levantei meus pés e beijei
aquela boca absurdamente convidativa.
Ele me puxou pela cintura, enquanto
nosso beijo se aprofundava, ao longe
ouvi os risinhos de Dora que pareceu
não se importar, Enrico me pegou no
colo e me levou para o quarto. Ele
empurrou a porta com o pé e fechou da
mesma forma.
- Enrico eu preciso de um banho – falei
enquanto ele tentava tirar minha roupa
- Pode deixar comigo, hoje serei seu
servo – ele abriu a torneira para que
pudesse encher a Jacuzzi.
Ele tirou minha blusa, os olhos fixos
em mim, abriu o zíper da minha calça,
ajoelhou-se no chão e puxou
delicadamente, levantei uma perna
depois outra para que pudesse tirar por
completo, ele segurou meus tornozelos e
foi subindo vagarosamente. Por onde sua
mão passava minha pele queimava.
Ainda de joelhos beijava minha barriga,
sua língua circulou meu umbigo, as mãos
pousaram em meus seios. Ele abriu o
fecho do meu sutiã, passou as alças
pelos meus braços, roçando seus dedos
nos meus ombros, tirou minha calcinha e
seu olhar me fez queimar de desejo. Ele
beijava a parte interna da minha coxa,
minhas mãos foram direto ao seu cabelo,
precisava me apoiar em alguma coisa ou
cairia naquele chão.
Os dedos tocavam ligeiramente a
parte molhada e delicada do meu corpo
me fazendo estremecer, sua língua
habilidosa me fez delirar gemer e gritar
seu nome. Estava perdendo os sentidos,
ele me fazia querer mais. Ele se
levantou e segurou meu rosto, não havia
nem um milímetro nos separando e pude
sentir sua ereção pulsando em minha
barriga, enquanto ele me beijava eu
acariciava tudo aquilo que me pertencia.
- Eu te quero tanto – ele falou entre um
beijo e outro
- Ah Enrico, você me faz tão feliz! –
tirei sua camiseta, e beijei cada
pedacinho daquele peito definido
enquanto ele se livrava da boxer preta.
Ele me pegou no colo e me levou para
a banheira, a água estava morna,
perfeita. Ele se posicionou atrás de mim,
molhou meu corpo colocou sabonete
liquido na esponja e passou nas minhas
costas, ele beijava meu pescoço. A
esponja passeava por todo meu corpo,
me virei de frente e sentei sob seu colo,
as pernas uma de cada lado do seu
quadril, ele beijava meus seios um
depois outro, enquanto eu arqueava as
costas. Aquilo estava bom demais, eu
busquei sua boca, queria saciar minha
sede minha vontade dele, queria ser
dele, eu mordi seu queixo fazendo seus
olhos se fecharem e a boca abrir
buscando a minha. Segurei fortemente
sua nuca ele se encaixou em mim, senti
ele me preencher sentia um misto de
melancolia e prazer, ele era meu e eu era
dele, era assim que deveria continuar
sendo.
Nosso ritmo de vai e vem era
perfeitamente sincronizado, era assim
que a gente se completava, naquele
momento todos os problemas e
incertezas ficaram do lado de fora,
Enrico me fazia à mulher mais feliz do
mundo.
Depois daquele momento de tanta
intimidade, ele me pegou no colo e me
enrolou em uma toalha, secou meus
cabelos e cada parte do meu corpo,
colocou um roupão sob meus ombros e
me fez deitar na cama, foi para o closet
e voltou vestido com uma calça de
moletom.
- Vou buscar seu jantar – não tive nem
tempo de argumentar, ele já havia
desaparecido.
Depois do jantar, ficamos horas a fio
conversando, meus olhos estavam
pesando, mas não queria dormir. Queria
aproveitar cada momento, me acomodei
em seu peito.
- Vai ficar tudo bem – eu precisava
acreditar naquilo que eu falava
- Eu sei que vai – ele respondeu
- Vou colocar uma música, me acalma –
eu disse enquanto procurava minha
playlist.
Eu te amo tanto, você foi a melhor coisa
que aconteceu na minha vida- falei
enquanto meus olhos pesavam. Ele me
cobriu com um lençol, perdi a noção do
tempo enquanto ele falava, meus olhos
se fecharam e estava perdida no
inconsciente.
Vinte e oito
Sexta-feira
02h52min
Amanhã será minha sentença, quis me
despedir de Emily, pedi que passasse a
noite comigo, simplesmente para eu tê-la
em meus braços, para sentir seu coração
batendo, sentir o cheiro da sua pele, é
tudo que mais quero.
Ela dorme como um anjo, seu corpo
nu me enlouquece. Preciso me lembrar
dessa visão, está deitada de bruços, sua
respiração é regular e tranquila. Beijei
seu ombro ela se mexeu, não queria
acorda-la, só queria eternizar esse
momento. Ela acorda e transamos mais
uma vez, é uma dor que enche meu peito,
é como se jamais pudesse toca-la, como
se jamais pudesse beija-la, é como se
minha sentença já estivesse decretada.
Ela deita em meus braços e diz que vai
ficar tudo bem, diz que me ama e que fui
a melhor coisa que aconteceu em sua
vida, ela coloca uma música para tocar
em seu celular, dizendo que música a
acalma, só uma garota tão doce e tão
forte pode gostar de Ed Sheeran. Meus
olhos se apertam enquanto ela canta
baixinho Photograph, eu quero muito que
aconteça o mesmo que diz a letra dessa
música “Wait for me to come home”
(Espere pela minha volta pra casa).
Ela esteve em meus braços até
adormecer, é fascinante vê-la dormir,
queria que ela não sofresse com minha
partida, mas mesmo dormindo ela molha
meu peito com suas lágrimas. Ela deve
estar sonhando com o que possivelmente
acontecerá e isso me dilacera.
Passei toda parte do tempo olhando
seu rosto, Deus como ela é linda! Os
cabelos escuros estão caídos em cascata
sobre o travesseiro, é a mais bela visão.
Pedi a Dora que fizesse um café da
manhã de rainha, tudo que ela gostava
estaria ali, queria que nossa manhã fosse
especial, ela desceu as escadas ainda de
roupão e descalça, seus olhos estavam
vermelhos e um lágrima correu quando
ela me abraçou, acariciei suas costas
tentando conforta-la, era tudo em vão,
nada que eu fizesse naquele momento
faria minha doce Emi feliz. Ela comeu
sem ter vontade, disse que estava sem
fome, sei que ela fica sem fome quando
está nervosa, mas insisti, ela comeu um
pedaço de queijo e tomou um copo de
iogurte, na minha visão não era
suficiente, mas ela me disse que nada
descia por sua garganta que era melhor
não insistir.
Assim que terminou o café da manhã
ela foi se vestir, eu precisava leva-la
pra casa, em hipótese alguma eu seria
capaz de deixa-la me ver partir, era
doloroso demais, não só pra ela, como
pra mim.
Meu coração se partiu quando ela me
abraçou e chorou, quando se despediu
antes de eu leva-la pra casa, disse que
me amava e que estaria me esperando
quando eu voltasse da Itália. Não tinha
certeza se voltaria, mas disse a ela que
estaria ansioso em voltar para seus
braços. Antes de ela sair do carro eu
beijei sua testa, fazendo um esforço
enorme em larga-la, sequei uma lágrima
que surgiu no canto de seus olhos lindos,
e disse mais uma vez que iria ficar tudo
bem.
Ela olhou pra trás uma última vez e
entrou na portaria do prédio, voltei pra
casa, imerso em pensamentos, estava
resolvendo os trâmites legais das minhas
empresas, para o caso de eu não
sobreviver. É mórbido, mas necessário.
A noite estava pronto para ir, assim
que desci as escadas Jasmine estava
sentada no sofá, abalada era a palavra
que descrevia minha mãe.
- Eu te avisei – ela falou levantando-se
- Não está ajudando - argumentei
Ela me abraçou me disse que tudo iria
acabar bem, eu sei disso, eu sei, ela
soluçou. Eu coloquei meu queixo em sua
cabeça e confortei minha mãe, disse que
voltaria pra casa, de tanto falar essa
frase eu estava quase acreditando que
voltaria mesmo para casa.
Amom e eu poderíamos chegar à
Itália em um piscar de olhos, mas preferi
ir de avião, queria ter mais tempo pra
pensar e viagens de avião sempre me
acalmavam, a sensação de estar entre as
nuvens era uma sensação boa, eu
precisava fazer isso, nem que fosse a
última vez.
Amom estava mais calado do que o
normal, não sei se era em solidariedade
a mim, ou se estava maquinando alguma
coisa, eu aprendi nunca subestimar
Amom Haz.
Onze horas e treze minutos depois
aterrissamos em solo italiano, a cidade
me parecia mórbida e sem atrativo,
estava envolta em uma nuvem negra.
Fomos direto para o tribunal, queria
acabar logo com aquilo, Emily não saia
dos meus pensamentos, imagino o que
ela deva estar sentindo nesse momento,
e só de pensar me odeio ainda mais.
Amom entrou na frente, foi
cumprimentar o seus companheiros de
júri, sei que ele odeia essa função e foi
por esse motivo que não aceitei que
fizesse aquela proposta a Sartori, não
queria condenar mais ninguém, ele é um
bom amigo, mas já sacrifiquei pessoas
demais.
Aquele lugar me causava arrepios,
nunca imaginei que um dia fosse me
sentar na cadeira de réu, por fora era
uma estrutura arquitetônica, mas por
dentro era como um calabouço da era
medieval. Era como se eu estivesse num
limbo.
Amom acomodou-se em sua cadeira,
ao lado de Lorenzo Sartori, seguido por
mais seis vampiros centenários, me
sentei no centro do semicírculo. Lorenzo
se levantou pedindo silêncio, o silêncio
imperou no mesmo instante. Sartori
aparentava 50 anos de vida humana, a
pele bronzeada assim como de Amom,
os cabelos levemente grisalhos. Era
refinado, usava um terno escuro com
abotoaduras de ouro. Fez um discurso
que achei totalmente desnecessário, vi a
repulsa nos olhos de Amom enquanto
seu tio falava:
“Como todos sabem a lei mais absoluta
dos vampiros não pode ser violada, e
quem se atreve a ultrapassar esse limite,
tem que pagar o preço, o senhor Enrico
Maximus está aqui por ter violado uma
lei, é uma pena, pois o senhor Maximus
é um dos vampiros mais admiráveis que
conheço. Possuidor de um grande talento
que seria uma pena desperdiça-lo”.
Ele falava da minha habilidade de
apagar memórias, aquele bastardo
achava que eu poderia ser de grande
utilidade para seu clã.
“Mas... a lei se aplica a qualquer um de
nós, independente do talento que
possuímos, somos responsáveis por
nossos próprios atos e devemos ter em
mente as consequências, sendo assim
digo que pensem repensem e pensem de
novo, antes de cometer qualquer
violação, não queremos que nossa raça
seja extinta.”
Amom balançava a cabeça
negativamente. Sartori sentou ao seu
lado falava discretamente, Amom
pareceu responder a sua pergunta ou seu
comentário, Lorenzo Sartori levantou-se
novamente.
- Sr. Enrico Maximus, está sendo
acusado em revelar nosso segredo a uma
humana, pelo que me foi informado está
apaixonado por ela – isso não deveria
ser crime.
Senhor Enrico Maximus, tem alguma
coisa a dizer em sua defesa? – ele
espalmou as mãos sobre a mesa, os
olhos vermelhos me analisavam com
curiosidade.
- Eu amo aquela mulher mais que minha
própria vida – falei assim que ele
repetiu a pergunta
- Amor... amor, como é lindo! Só isso
tem a dizer? – Amom revirou os olhos
- Sim
- Sr. Enrico... pretende transforma-la ou
aceitará sua pena? – ele falava sem
paciência.
Vi minha vida inteira passando sob
meus olhos, tudo de bom e de ruim que
me aconteceu durante minha vida
humana, e tudo que aconteceu após
minha transformação, apertei os olhos e
memorizei o rosto da minha amada
Emily, se era pra ser assim, assim seria.
Estava pronto para responder um
sonoro “não” nem que me torturasse eu
tiraria de Emi a chance de viver suas
experiências humanas, por mais que eu a
amasse, por mais que eu a quisesse por
toda a eternidade, não poderia tirar isso
dela.
Mas alguma coisa não estava em sua
ordem perfeita, me sentia tonto, me
faltava o ar, não consegui formular uma
frase, nem se quer conseguir falar uma
palavra, não conseguia sequer racionar.
Olhei para Amom, e seus olhos estavam
focados em mim, e foi aí que entendi o
que estava acontecendo.
Amom tem um dos maiores poderes
que já conheci, ele tem total controle
sobre os sentidos. Ele faz qualquer ser
vivo ouvir o que ele quiser, falar o que
ele ordenar, ver o que ele achar
necessário, sentir o cheiro que ele
imaginar e tocar o que ele permitir.
Era justamente o que ele estava
fazendo comigo, estava controlando
meus sentidos, estava me manipulando.
Ele percebeu que me dei conta do que
estava acontecendo, vi um sorriso torto
na cara daquele vampiro traidor.
- Sr. Enrico Maximus, vou repetir minha
pergunta. O senhor pretende transformar
sua namorada Emily Malves? – Sartori
não parecia contente com a minha falta
de atenção.
Eu lutei para fazer valer minha
vontade, fazer valer o meu livre arbítrio,
mas estava perdido, Amom estava no
comando, e mesmo relutante aquela
palavra saiu.
- Si... Sim – Amom continuava me
controlando
Ele projetou a imagem de Emily em
minha frente, eu a via nitidamente
dizendo que me amava, sentia seu
cheiro, sentia sua mão macia tocando
meu rosto, não conseguia lutar contra
aquilo, aquele filho da mãe estava
fazendo um excelente trabalho, ele não
aceitaria uma derrota assim tão fácil, eu
deveria saber.
Ele sabia se me contasse, eu jamais
chegaria até esse tribunal. Eu estava
entorpecido, paralisado e totalmente
sem controle de mim.
- Diante desse fato senhor Maximus, não
precisarei pedir os votos dos meus
colegas aqui presentes, o senhor tem
exatamente oito semanas para
transformar a senhorita Emily Malves
em uma de nós.
Essas foram às últimas palavras de
Sartori antes de ele deixar o tribunal e
foi à última coisa que ouvi antes de
desabar no chão.
Vinte e nove
Sábado
07h00min
Já era esperado, passei a noite em
claro, como poderia dormir sabendo que
Enrico está do outro lado do mundo a
ponto de... Ah meus deuses, não quero
nem imaginar. Passei a noite vagando
pela casa como uma alma penada, ainda
bem que Sabrine havia tomado um
calmante e apagou.
Fui até a cozinha fazer chá, achei que
aquele líquido fumegante me acalmaria,
sentei-me olhando para o nada, enquanto
o meu chá esfriava. Como poderia me
acalmar? Eu vi a noite ir embora e o dia
clarear, continuava na mesma posição
sentada à mesa com uma xícara de chá
gelado na minha frente.
Pedi a Amom que me desse noticias,
então o celular também fazia parte da
minha tortura, onde quer que eu fosse ele
estava em minhas mãos. Era uma espera
dolorosa e cheia de porquês.
Tirei o pijama coloquei uma calça
jeans, e fui andar, não conseguiria de
forma alguma ficar presa dentro daquele
apartamento, eu sabia que não havia
nada que eu pudesse fazer. Passei em
uma cafeteria e peguei um café expresso
forte, já que ainda era cedo pra bebida
alcoólica, era o que estava precisando
naquele momento.
Sentei-me no ponto de táxi, e em
questão de segundos meus planos
mudaram, fui parar no Ibirapuera, é um
lugar que gosto de ir quando quero
pensar, estava precisando sentar de
frente ao lago e deixar as horas
passarem, era quase 08h e sabia que
nesse momento Enrico estava no
tribunal, queria muito ter ido, mas ele
não achou uma boa ideia, sei que minha
presença não ajudaria em nada naquele
momento.
Sentei na grama e simplesmente me
desliguei, mas não antes de conferir se
meu celular estava com bateria, se
estava na área de cobertura, não queria
perder a ligação de Amom.
- Oi – uma sombra me vez abrir meus
olhos
- Oi, o que faz aqui?
- Moro aqui perto – ele deu de ombros
- E você o que faz aqui? – ele devolveu
a pergunta
- Gosto de vir aqui para pensar – falei
com os olhos no lago
- Posso me sentar ao seu lado?
- Enzo... não acho uma boa ideia
- Relaxa... não vou te agarrar, aliás, foi
até bom te encontrar, assim posso me
despedir. Vou para África amanhã – ele
falou enquanto se sentava sem minha
permissão.
- Que ótimo ficou feliz por você – falei
com sinceridade
- Vou passar um ano fora, assinei meu
contrato hoje. Só quero ter certeza que
não há mágoas entre nós, apesar de você
ter escolhido o babaca do Maximus, eu
te quero muito bem. Você é uma boa
garota – eu ri, sabia que ele estava
sendo sincero.
- Vou sentir sua falta – ele segurou minha
mão e beijou
- Também vou sentir a sua, você é um
cara legal.
Enquanto Enzo me fazia companhia e
falava sobre o cotidiano e coisas sem
importância, eu olhava no celular a cada
minuto que se passava.
- Tem certeza que está tudo bem?
- Só um pouco ansiosa – falei enquanto
jogava o celular de uma mão para outra
- Posso fazer alguma coisa pra ajudar?
- Não, mesmo assim obrigada.
Nesse momento meu celular tocou, vi
no visor o nome de Amom, atendi com
as mãos tremulas, não entendia o que ele
falava, a ligação estava péssima, só
ouvia ecos, então a ligação caiu.
Levantei, fiquei olhando para o
celular na esperança de que ele tocasse
novamente, em uma fração de segundos
vibrou com uma mensagem de texto.

Enrico está bem, estamos voltando


ainda hoje.

Foi à frase mais bonita que li nos


últimos tempos, ele estava bem era tudo
que eu precisava saber. Meus olhos
começaram arder e minha voz saiu
embargada quando falei com Enzo.
- Ele está bem – falei abraçando-o forte,
ele me segurou sem jeito.
Soltei-me de seus braços rapidamente
e me recompus, peguei minha bolsa que
pousava no chão, colocando no ombro.
- Preciso ir – falei
Apertei o passo e ele me seguiu,
assim que saí do parque dei sinal a um
táxi, mas infelizmente ele não parou,
coloquei a mão na cintura e olhei para o
céu frustrada.
- Ei calma aí, te levo onde precisar – ele
ofereceu uma carona e eu não estava em
condições de recusar.
- Pra casa, só me leva pra casa – ele
estava preocupado eu via em seus olhos,
ou era isso ou estava achando que eu
estava louca, acho que não falei nada
com nexo até aquele momento.
- O Maximus está bem? – ele perguntou
pausadamente
- Ele está bem! Obrigada Deus!
Enquanto ele seguia para meu
endereço eu digitei uma mensagem para
Amom.

Estou aliviada, preciso falar com ele.


Não demorou, e recebi a resposta.

Melhor vocês conversarem


pessoalmente, ele está irredutível
nesse momento.

O que Amom quis dizer com isso, o


que de fato aconteceu naquele tribunal.
Enzo me deixou em frente ao prédio, eu
o abracei e me despedi, pedi desculpas
pelo descontrole.
- Boa viagem... Enzo
- Obrigado! Mando um cartão postal.
Assim que o carro virou a esquina,
corri através da portaria, apertei o botão
para que o elevador descesse, a espera
era longa demais, sei que só veria
Enrico no dia seguinte, mas isso não
ajudava em nada, continuava apreensiva.
Aquele sábado seria o mais longo de
minha vida.
Sabrine estava sentada no sofá
assistindo uma reprise de Grey’s
Anatomy, ela é apaixonada por Patrick
Dempsey, não a culpo ele realmente é
um gato. Sá estava cada dia melhor,
estava superando o fim do namoro,
Felipe me contou que o “ex” (fomos
proibidos de falar o nome dele) vai se
casar no final do ano. Foi um golpe duro
pra Sá, que se dedicou durante anos,
mas a vida segue e ela não quis ficar
parada no tempo se lamentando, disse
que o tempo de luto já passou. Está
fazendo planos de fazer uma viagem e
logo depois uma pós-graduação.
- Oi – falei me sentando na poltrona a
sua frente
- Saiu cedo, o que anda aprontando?
- Esperando o dia passar, Enrico chega
amanhã.
- Isso é ótimo! Pela sua choradeira achei
que ele ficaria fora pra sempre – ela
suspirava por Patrick
- Eu morreria se isso acontecesse – ela
jamais entenderia meus motivos.
- O que tem pra hoje?
- Tem alguma coisa em mente? – ela
tamborilou os dedos na bochecha
- Compras? – revirei os olhos
E nossa tarde de sábado foi assim,
enfiadas no shopping entrando de loja
em loja, Sabrine queria experimentar
tudo que fosse tendência, ela entendia de
moda, seu sonho de adolescência era ser
estilista. Mas com a influência dos pais
acabou entrando para faculdade de
direito, diz que foi a melhor escolha da
vida, pois adora essa profissão, moda
ficou somente como hobby.
Voltamos pra casa estava exausta,
meus pés estavam doendo de tanto
andar, Sá trouxe sacolas de todos os
tamanhos, eu trouxe apenas uma,
comprei um relógio, era meu presente de
boas vidas a Enrico. Ainda no caminho
para casa Sá ligou pedindo a Felipe que
trouxesse uma pizza, quando chegamos,
ele já estava esparramado no sofá.
- Oi Fê – falei enquanto ajudava Sabrine
com as sacolas
- Compraram o shopping todo?
- Sua irmã comprou, eu só comprei essa
– levantei minha sacolinha.
- Presente pro Enrico – Sabrine imitou
minha voz me fazendo gargalhar
- Mulheres! – Felipe balançou a cabeça
- E você e a Mari? Fiquei sabendo que
andam se encontrando
- Ás vezes, quero ir com calma dessa
vez – ele estava certo.

Sentamos os três em frente à televisão


assistindo a mais um episódio de Arrow.
Meus olhos estavam pesados quando fui
para cama, queria acordar cedo, tinha
um dia cheio pela frente. Mas minha
ideia de sono tranquilo foi por água a
baixo, meu sono foi inconstante
acordava de hora em hora, imagino que
tenha dormido três horas no máximo.
Acordei no domingo antes das 07h, a
previsão de chegada do voo de Enrico e
Amom era às 10h no aeroporto de
Guarulhos. Combinei com Amom que
iria busca-los.
Amom me contou um pouco do que
aconteceu na viagem, me disse também
que Enrico prometeu nunca perdoa-lo.
Disse que contava comigo para amenizar
a situação já que “ele” fingia que Amom
não existia, foi surpreendente o que ele
fez, nunca pensei que Amom fosse um
vampiro tão poderoso. “Sei que pode
levar um tempo, mas Enrico me
perdoará” Amom falou antes de finalizar
a ligação.
Me vesti de maneira casual, coloquei
um vestido de verão azul assim como o
céu que me acompanhava. Cheguei ao
aeroporto de GRU, meia hora antes de o
avião pousar. Foi difícil achar uma vaga
naquele estacionamento lotado, fiquei
esperando um carro sair para eu
conseguir estacionar. Antes de sair de
casa fiz uma placa com os dizeres:

****** Enrico Maximus******


Eu te amo

É piegas eu sei, estou apaixonada e o


amor faz essas coisas, eu não ligo, gosto
de ser piegas.
Olhei no painel de informações e vi
que o voo estava no horário, estava
ansiosa para ver o homem da minha
vida. Assim que os passageiros
começavam a sair, levantei minha
plaquinha apaixonada, meu coração
disparou. Amom apareceu primeiro no
meu campo de visão, usava uma calça
jeans clara e uma camiseta azul marinho,
os cabelos estavam imaculadamente
perfeitos. Logo atrás dele, Enrico
ajeitava a alça da mochila nos ombros,
usava uma camiseta branca e calça
preta, usava óculos escuros e os cabelos
levemente bagunçados. Os dois
pareciam modelos Armani, era muita
beleza para os meus olhos.
Assim como Amom havia falado,
Enrico estava com a cara amarrada de
poucos amigos, ainda sim estava sexy
pra caramba.
Assim que me viu ele sorriu, não sei
se era pra mim ou pra minha plaquinha
ridícula. Ele tentava se desvencilhar da
multidão pra chegar até mim, enquanto a
distância diminuía meu coração saltava
do peito.
Por fim nos corpos se encontraram em
um abraço forte e cheio de emoção, ele
passava a mão em meu rosto e me beijou
como nunca havia me beijado antes. Era
como estar nas nuvens, estava mais que
feliz e grata por ter ele sã e salvo ali na
minha frente e se dependesse de mim,
jamais me separaria daquele homem.
- Senti tanto medo – falei encostando a
cabeça em seu peito
- Eu também – ele me beijou novamente
- Eu também estou bem – Amom falava
enquanto Enrico me beijava
- Amom! Ah meu Deus! Desculpa! É
muito bom vê-lo, é muito bom ver vocês
dois – Eu o abracei, sussurrei...
obrigada.
- Acho que podemos ir – Enrico segurou
minha mão
- Até quando vai fingir que não existo? –
Amom perguntou a Enrico
Enrico não respondeu, saiu me
puxando pelo saguão do aeroporto,
aquilo estava esquisito, não queria ver
os dois brigando, sei que Enrico não
concordava com os métodos de Amom,
mas ele fez com a melhor das intenções,
e imagino que se fosse o contrário
Enrico faria a mesma coisa por seu
amigo.
Amom pegou as chaves do caso e se
posicionou no banco do motorista,
Enrico sentou-se no banco do passageiro
e eu fiquei no banco de trás.
- Se quiser ficar lá atrás com ela fique a
vontade – Amom falou enquanto ligava o
carro
- Você! Nem uma palavra – Enrico
apontou o dedo pra Amom
- Você vai me ignorar até quando? –
Amom saiu com o carro
- O que você fez foi... Foi – Enrico
gritou
- Eu salvei sua vida! – Amom gritou
ainda mais alto
- Não! Você me ferrou!
- Não seja tão dramático – Amom bateu
uma das mãos no volante
- Você não tinha o direito de interferir na
minha vida – A voz grave de Enrico me
assustou
- Eu faria qualquer coisa pra salvar um
irmão da morte, e você seu petulante é
mais que um irmão – Amom jogou sujo,
mas Enrico mereceu ouvir cada palavra.
- E o que eu faço agora? – Enrico
engasgou
- Enrico, transforme a Emi e vai viver
seu amor, você tem sorte de ter
encontrado um, não a deixe escapar
entre os dedos – eu queria falar, mais
permaneci calada.
- Eu não posso fazer isso, eu a amo
demais – seus olhos se voltaram pra
mim.
– É por isso que você tem que fazer! Eu
fico por aqui – Amom parou em frente
ao seu prédio.
Ele desceu do carro parecendo
chateado, abri a porta e o segui até a
portaria, abracei novamente
demostrando minha gratidão. Vi o
sacrifício que ele fez por Enrico e eu
estava grata, nem que vivesse mil anos
poderia agradecer o suficiente.
- Amom, obrigada mais uma vez por ter
salvado aquele ingrato – apontei para
Enrico que fico no mesmo lugar que
estava.
- Espero que dê tudo certo – ele segurou
minhas mãos
- Também espero
- E se precisar de mim, sabe onde me
encontrar e lembre-se Enrico tem oito
semanas para transforma-la, ou Sartori
virá atrás dele e agora de você também
– meu estômago deu um salto.
- A gente se fala – eu o abracei
novamente
Assim que voltei para o carro, Enrico
sentou no banco do motorista, antes
deixou a porta aberta para eu entrar.
Acenei para Amom antes de o carro
partir.
- Você foi duro com ele – falei
- Ele mereceu – ele rebateu
- Ele é seu melhor amigo e se importa
com você – ele passou uma das mãos no
cabelo
- Ele te contou o que aconteceu?
- Grande parte
Ele pareceu exausto com tudo aquilo,
acabamos finalizando nosso trajeto em
silêncio, não queria perturba-lo. Queria
deixa-lo com seus pensamentos, era
muita coisa para assimilar. Sei que
ainda estava preocupado com o que
aconteceria daqui pra frente.
Quando paramos na entrada de sua
casa, vi o carro de Jasmine estacionado,
sua mãe estava preocupada assim como
eu. Assim que Enrico estacionou, ela
abriu a porta. Seu rosto se suavizou
assim que viu seu filho sair do carro. Os
dois se abraçaram carinhosamente, ele a
chamou de mãe, coisa que era raro. Ele
passou um braço pelos ombros de
Jasmine e o outro nos meus.
Entramos em casa, ele tinha muita
história pra contar e foi isso que fez,
contou todo seu martírio com detalhes,
Jasmine e eu éramos apenas
expectadoras. Vi um sorriso no rosto de
Jasmine quando ele contou o que Amom
havia feito, sem dúvida Amom é um
exímio controlador.
Jasmine foi embora logo após o
almoço, Enrico e eu estávamos mais
unidos que nunca, seus olhos escuros
estavam cravados nos meus, e mais uma
vez me senti vulnerável e cheia de
desejo, sentei em seu colo beijando seu
rosto, eu tocaria mais uma vez no
assunto “transformação”. Estava me
preparando para o cenário que se
desenhava.
- Amom disse que se você não me
transformar Sartori virá atrás de mim –
passei minhas mãos pelo seu pescoço
- Céus! O que mais ele falou?
- É verdade não é? Isso me faz pensar
que não nos restam mais opções – ele
suspirou
- Infelizmente Amom está certo, mesmo
que eu me sentencie a morte, Sartori virá
atrás de você, isso não se pode ignorar.
- O que pensa em fazer?
- Qualquer coisa pra proteger você.
- Me transforme? – houve um momento
de silêncio
- Sim – ele respondeu
- Sim? – quis ter certeza do que estava
ouvindo
- Mas... - ele fez uma pausa
- Sabia que teria um, porém.
- Vamos casar antes da sua
transformação
- Casar? – fui pega de surpresa
- Você não quer? – ele uniu as
sobrancelhas
- Claro que quero – beijei seus lábios
suavemente
- Está preparada pra deixar tudo para
trás e começar uma vida do zero? É
muito coisa em jogo, tem que ter isso em
mente.
- Há muito tempo venho me preparando
- O que você acha de nos casarmos
amanhã – um meio sorriso surgiu
- Hã? – fiquei atordoada, ele não estava
falando sério.
- Podemos ir pra Vegas – sim, ele falava
sério.
- Negativo! Se vamos casar quero fazer
isso direito.
Trinta
Despedida de Solteira

Convidei meus pais para passarem a


semana comigo, precisava da minha
família por perto, precisava dividir
minha felicidade com as pessoas que
mais amo no mundo. Não quis contar
sobre o casamento por telefone, queria
ver a reação dos dois. Minha mãe é
transparente, sei que ficaria feliz. Porém
não estava preparava para os dramas do
meu pai, ele é uma incógnita.
- Pai... Mãe... Vou casar! – meu pai
perdeu a cor
- Casar com quem? – meu pai pareceu
mortificado
- Como assim com quem? Quem é meu
namorado? – às vezes meu pai se faz de
desentendido
- Senhor Malves, Emily e eu vamos nos
casar, espero que tenhamos sua benção –
Enrico tomou a frente seguro de si.
- Se é isso que Emi quer – Enrico
ofereceu a mão e meu pai apertou com
firmeza
- Ah minha querida estou tão feliz –
minha mãe me abraçou
- Emily filha você não está grávida,
está? Se tiver não há necessidade de
casar só porque não se preveniu –
revirei os olhos
- Meu Deus pai! Eu não estou grávida! –
falei sem paciência
- E porque casar assim tão as pressas? –
meu pai falava enquanto me guiava para
cozinha
- Queremos construir uma vida juntos,
nos amamos. Não é suficiente?
- Casar Emi! – meu pai cruzou os braços
- Sim pai, casar... Pode ficar feliz e me
apoiar? – ele descruzou os braços e
colocou as mãos na cintura.
- Que espécie de pai eu seria se não
apoiasse, mesmo achando uma loucura –
ele me puxou para um abraço.
- Estou tão feliz, precisamos começar os
preparativos – minha mãe se juntou a
nós.
Meu pai encasquetou que queria fazer
compras, disse que o centro de São
Paulo é o paraíso, ele é do tipo que se
mete em todos os lugares possíveis que
vendam engenhocas. Minha mãe não
estava nada satisfeita em sair com o sol
queimando lá fora, mas quem consegue
dizer não ao meu pai.
Enquanto meus pais foram fazer
compras, Enrico e eu ficamos fazendo
planos para o futuro. Eu precisava saber
de algumas coisas que martelavam
minha cabeça, ele disse que seria
paciente e que me contaria o que eu
quisesse saber.
- Enrico... E filhos? Poderemos ter? –
era a pergunta que mais me assombrava
- Emi meu amor, esse é um assunto
delicado, mas para sua pergunta a
resposta é sim, porém nossa raça prefere
evitar – eu não consegui entender.
- Explique melhor – me apoiei no braço
do sofá
- Algumas mulheres podem não
sobreviver a um parto, elas precisam de
um acompanhamento adequado, e
poucos médicos de nossa raça tem esse
dom. Pelo que sei só existem dois em
todo o mundo.
Nós ficamos apreensivos durante os
nove meses de gestação, com medo do
que possa acontecer as nossas
companheiras, muitas vezes o bebê não
é compatível com a mãe. E se um
vampiro perde sua companheira não há
mais razões para ele continuar existindo,
é uma dor insuportável, que preferimos
a morte. É por isso que há vampiros que
passam séculos a procura de um grande
amor, e quando esse amor aparece é pra
esse amor que ele vive. Você consegue
me entender? – balancei a cabeça
positivamente
Em contrapartida, pode acontecer
exatamente o contrário. Algumas
mulheres podem ter uma gestação
tranquila e sem nenhum risco, mas isso
não se pode prever. É por isso que
preferimos não arriscar
Não vamos pensar nisso agora certo?
Teremos uma vida longa pra decidir –
ele me abraçou beijando meus cabelos.

Sabrine apareceu na sala dizendo que


estava preparando minha despedida de
solteira. Gelei só de pensar o que viria
pela frente. Pelo que entendi já estava
tudo acertado, eu disse a ela que não
queria nada espalhafatoso, só queria
passar um tempo com minhas amigas. Eu
tinha muito que comemorar e teria que
me despedir. Era a chance de me
despedir de minha vida de solteira e da
minha vida vivida até aquela data.
Como Enrico havia falado minha vida
começaria do zero, eu queria ter muitas
recordações de todos aqueles que amo.
Nossa rotina de trabalho não foi
alterada, o que foi alterado foi minha ida
para casa de Enrico, me abstive de
dormir com ele a semana inteira, meu
pai é turrão, ficaria de cara amarrada, se
soubesse que eu estava dormindo com
meu noivo antes do casamento. Esse é o
maior problema de ser filha única, o
holofote está sempre nessa criatura.
A semana foi passando lentamente,
aparecia uma coisa ou outra que
precisava do meu aval, mas na grande
maioria Sabrine acertava todos os
detalhes.
Na sexta-feira após o expediente
fomos para o bar de Enrico, era minha
despedida de solteira então eu escolhi o
local. Na verdade não foi bem uma
escolha voluntária, Sabrine me coagiu.
Sá queria que fôssemos ver homens
tirando a roupa, mas disse a ela que
Sara não poderia passar por emoções
tão fortes, já que seu bebê estava dando
trabalhando antes mesmo de nascer. Sá
resmungou, mas aceitou.
Mariana reservou a mesa de sempre,
achei que aquele lugar estava vazio
demais por ser uma noite de sexta-feira.
Era engraçado, por onde eu olhava via
mulher, nem um homem perambulando
por ali, o único homem presente era o
barman, que estava vestido de Cowboy.
Não me importei, só queria beber com
minhas amigas. As luzes se apagaram e
o palco foi iluminado e uma música alta
saiu dos alto-falantes, um homem
vestido de bombeiro se materializou em
cima do palco.
- Sá! O que é isso? – falei mais alto que
a música
- Um cara gostoso dançando – as
mulheres gritavam alucinadas
- Você me enganou!
Os olhos de Mariana saltaram quando
o bombeiro se aproximou da nossa
mesa, ele dançava perto dela, suas mãos
estavam loucas para tocar a barriga de
tanquinho dele, mas se conteve. Não
resistiu quando o bombeiro pegou suas
mãos e levou a seu tórax, ela gritou.
- Sá... Enrico e o Fê sabem o que está
acontecendo aqui? – assim que fechei
minha boca, um piloto de avião seguia
em nossa direção, Sabrine bateu palmas
quando o piloto jogou seu Cap em seu
colo.
Ele dançava em sua frente, ela sem
pudor tocou seu tórax definido, ainda
dançou junto com ele. Sá sorria de
orelha a orelha e dançava ao ritmo da
música.
- Respondendo a sua pergunta, o que
acontece em Vegas fica em Vegas – ela
levou a cabeça pra trás e gargalhou
escandalosamente.
- Você já bebeu quantas?
- Eu até tentei manter esses dançarinos
em segredo, mas seu noivo parece que
tem uma bola de cristal, não sei como
descobriu – ela virou um copo de
tequila.
Enrico deixou o bar em minhas mãos,
então eu tive essa excelente ideia, claro
que tive uma ajudinha da Mariana, essa
mulher deve ter contato até na NASA, já
estou ficando com pena do meu irmão.
- De onde saiu todas essas mulheres? –
aquela altura o bar estava lotado
- Colocamos no site que hoje era noite
das mulheres, primeira rodada de
bebidas grátis.
- Ideia da Mariana? – Mari sorriu
orgulhosa
- Ai gente... Não posso nem tocar nessas
delícias – Sara falou enquanto
acariciava sua barriga
- Enrico não ficou nada contente com
minha ideia de trazer os dançarinos, foi
osso duro de roer, tive que prometer
diversas coisas, só faltou me fazer
assinar um contrato com uma cláusula
especifica, que nenhum deles chegasse
perto da sua noiva. Então minha amiga
nem se anime, não tem nada aqui pra
você.
Logo após o bombeiro e o piloto,
passaram pelo palco e dançavam entre
as mulheres, um cowboy um médico e
um pirata. E como combinado nenhum se
aproximou de mim.
Sá pediu que trouxessem champanhe e
suco de laranja pra Sara. Cinco minutos
após, uma garçonete colocou as taças em
nossa frente. - A noiva do ano! – Sá
ergueu sua taça e fizemos o mesmo. Foi
a melhor despedida de solteira de todos
os tempos.
Trinta e um
O casamento
Nosso casamento foi marcado para 21
de maio de 2016, um mês antes do prazo
de Sartori terminar. Foi tempo suficiente
para que tudo saisse perfeito. Seria o
casamento mais bonito de todos os
tempos, se dependesse da Mari meu
sono de beleza estava garantido.
Mariana e Jasmine estavam à frente
dos preparativos, discordavam mais que
concordavam, mas sempre acabam em
um denominador comum. Meu vestido
foi encomendado na Espanha, Jasmine
fez questão. Eu disse a ela que temos
muitos estilistas nacionais que fariam
um ótimo trabalho. Mas ela insistiu,
disse que era seu presente de casamento.
Quando coloquei o vestido me senti
deslumbrada com tanta beleza. Um
tomara que caia com uma saia rodada e
esvoaçante, a parte dos seios trabalhada
em pedraria. Sim, eu estava linda o
espelho naquele momento era meu
melhor amigo.
Eu disse a ela que ficaria feliz em
aceitar um presente de tanto bom gosto,
Jasmine estava feliz com o nosso
casamento, ela me disse que salvei seu
filho de todas as formas possíveis, não
somente da morte, mas da escuridão,
com tanto amor que eu lhe oferecia,
disse que se sentia grata por eu ter
aparecido em sua vida, e se ela foi
hostil comigo algum dia, era pra eu
perdoar. Suas palavras me
emocionaram, não achei que ouviria
algo assim de Jasmine. Eu estava com os
nervos à flor da pele, e qualquer palavra
mais melosa me fazia chorar. Tudo culpa
da tensão pré-casamento.
Minha mãe ficou um pouco chateada,
de não ter participado da escolha do
vestido, queria tê-lo escolhido junto
comigo. Prometi a ela que não ficaria de
fora de mais nada. Não precisou muito
para convencê-la.
Minha madrinha obviamente sempre
foi a Sá, mas tive um pequeno
contratempo. Se minha madrinha fosse
de fato Sabrine, meu padrinho seria o
Felipe. Como o padrinho de Enrico era
Amom, a madrinha seria a Mariana. Eu
estava enlouquecendo com essa
disposição.
No final acabamos invertendo os
papéis, Sá faria par com Amom e Felipe
com Mariana. Sabrine disse que faria
esse sacrifício por mim, no final deu
tudo certo.
O grande dia enfim chegou, estou
explodindo de felicidade, ansiedade, era
um sentimento constante no meu dia-a-
dia, e hoje em especial, estava no topo
das emoções, ao menos era o que eu
pensava.
Meus pais estão na cidade desde a
semana passada, minha mãe jamais
abriria mão de participar de todos os
detalhes como “mãe da noiva”, já que
ela ficou de fora da escolha do vestido,
não queria perder mais nada.
Meu pai estava cheio de orgulho, não
cabia em si, jamais pensou em casar a
filha assim tão cedo, por ele me casaria
depois dos trinta, mas estou feliz em me
casar perto de completar vinte e dois.
Confesso que nunca pensei que casaria
tão cedo, mas estou feliz e sei que fiz a
escolha certa, Enrico é o homem da
minha vida e tenho certeza que seremos
muito felizes. Serão quinze dias em lua-
de-mel por toda Europa, e depois vida
nova.
O local escolhido para a cerimonia
foi o hotel de Enrico, aquele lugar tinha
um significado especial pra nós.
O hotel estava majestoso, me sentia
como uma princesa na espera de seu
príncipe. Eu queria ter memória
fotográfica para capturar todos os
detalhes, mas minha emoção não
deixava. Um filme passava por minha
cabeça, desde a primeira vez que o vi e
tudo que vivemos juntos.
Logo na escadaria um tapete vermelho
me aguardava. Meu pai segurava meu
braço firmemente, estava tentando
segurar as lágrimas. Suspirei, respirei e
fechei os olhos brevemente, alisei a saia
do vestido e passei as mãos pelos
cachos.
Paramos em frente às portas fechadas,
respirei fundo mais uma vez tentando me
concentrar, estava dispersa demais. Meu
pai arrumou meu véu que havia prendido
na minha grinalda de cristais, meus
cabelos estavam soltos com cachos
definidos, meu pai passou as mãos por
eles na esperança de me tranquilizar.
Tudo em vão.
- Está tudo bem querida – meu pai deu
tapinhas na minha mão
A marcha nupcial soou do outro lado
da porta, aquele som me fez mais uma
vez ficar tremula e minhas pernas
fraquejaram, as portas duplas se
abriram. O corredor era extenso,
cadeiras em ambos os lados, todas
ocupadas. Não consegui prestar atenção
nos detalhes da decoração, mas pelo
pouco que vi, estava incrível. Ao longe
vi Enrico, lindo como nunca em seu
fraque grafite. Seu sorriso iluminava
todo o ambiente, aquele mesmo sorriso
que me fez derreter inúmeras vezes. Ele
estava seguro e confiante, era
inabalável. Seus olhos encontraram os
meus.
Do lado esquerdo estavam Mariana e
Felipe, Mari estava agarrada ao braço
do Fê, sentimento de posses aflorava
por seus poros. Do lado direito Sá e
Amom, Sabrine exibia um sorriso largo,
os olhos marejados. Se piscasse se
acabaria em lágrimas, mesmo assim se
fazia de forte. Amom Segurava
carinhosamente seu braço e vez ou outra
seus olhares se encontravam.
Na primeira fila de cadeiras
douradas, estavam minha mãe e Jasmine,
minha mãe se derramava em lágrimas,
secava cada lágrima que caia com um
lencinho rosa. Ao lado de Jasmine Sara
e Rodrigo, Enzo mandou um cartão de
felicitação endereçado da África.
Meu pai segurava meu braço
fortemente, estava com receio de eu
desabar no chão. Andávamos
lentamente, ao ritmo da marcha nupcial,
ao passo que a distância diminuía, fica
mais difícil controlar a emoção. Eram
clicks por todos os lados, nunca gostei
de ser o centro das atenções, mas
naquele dia não me importei, eu me
rendi.
E quando meu pai me entregou a
Enrico, foi impossível não chorar, um
misto de sentimentos, um turbilhão de
emoções impossíveis de explicar. Ele
beijou minha testa, enquanto meu pai se
juntava a minha mãe. Seu polegar secou
uma lágrima que teimava em cair, ele
sorriu pra mim e eu fiz o mesmo.
Enquanto o juiz falava, só conseguia
pensar na sorte que tinha por estar tão
feliz. O amor que sinto pelo homem ao
meu lado, é tão puro e sincero, um amor
que ultrapassou fronteiras, preconceitos
e que quebrou paradigmas. Eu era uma
mulher de muita sorte. Olhei nos olhos
de Enrico e percebi que ele pensava o
mesmo. Vampiro? Humana? Tanto faz, na
verdade o que nos uniu foi o poder do
amor, e isso é tudo que importa. Eu
decorei um poema para dizer a Enrico
nesse dia tão especial, mas não
consegui. Minha voz estava tão
embargada que não se entendia nada.
- Tá tudo bem meu amor, não precisa
falar nada – eu meneei a cabeça.
Enrico limpou a garganta, olhou nos
meus olhos e segurou minhas mãos.
Começou a falar alto e em bom som. Sua
voz grossa arrepiou todos os pelos do
meu braço, o silêncio imperava e o
único som que eu ouvia era o pulsar do
meu coração.
- Emi te amo não somente pelo que você
é, mas pelo que sou quando estou com
você. O amor que carrego no peito é tão
puro e sincero e é todo seu. Emily
Malves Maximus você é o que tenho de
mais precioso, dedico minha vida a
você. – Ele colocou minha mão sob seu
peito e continuou.
Não há nada nesse mundo que eu não
faria para fazê-la feliz. Prometo ama-la
por toda eternidade – e ele me beijou.
- Eu os declaro casados – o juiz falou
veemente
O salão irrompeu em aplausos
Epilogo
Um mês depois
Após nossa pequena temporada na
Europa, voltamos para casa de Enrico.
Quero dizer “nossa” casa, ele me
repreende cada vez que eu digo isso, diz
que não há mais nada “dele” é tudo
“nosso” vai ser difícil acostumar. Ele
dispensou Dora pelo restante do mês,
disse a ela que precisava de privacidade
com sua esposa, na verdade havia outro
motivo por trás daquela desculpa.
Nesse meio tempo aconteceria minha
transformação, confesso que agora que
está tudo acertado, me bateu um medo
absurdo, não que eu tenha me
arrependido. Enrico disse que é natural,
é medo do desconhecido.
A casa estava silenciosa, Dora deixou
tudo organizado, a sala estava florida,
foi assim que nossos amigos desejavam
boas vindas, passei por cada vaso lendo
os cartões. Não ficaria surpresa se essa
ideia das flores tivesse saído da
cabecinha de Mariana.
O primeiro vaso foi de orquídeas,
lindas, o cartão era de Amom. Dizia que
já estava em Dubai, e mesmo de longe
torcia para que tudo desse certo. Se
precisasse dele, não hesitasse em
chama-lo.
Sabrine estava viajando, mas não
deixou de expressar seus sentimentos.
Estava passando férias em Salvador,
queria estar Zen para quando voltasse,
logo começaria sua pós-graduação. “não
se preocupe comigo, estou ótima”.
Mari deixou um bilhetinho fofo junto
ao um vaso de azaleias, dizendo que era
pra eu voltar logo para o trabalho, e que
estava completamente apaixonada por
Felipe, havia coraçõezinhos por todo o
cartão.
Meus pais também deixaram sua
marca, minha rosas favoritas, rosa-chá,
o cartão era simples apenas com os
dizeres. “Estamos com muitas saudades,
mas estamos muito felizes por você
minha filha”.
As flores de Jasmine estavam bem no
centro da sala, rosas vermelhas, mais ou
menos duas dúzias delas, estavam em
um vaso lindo de cristal. “Seja bem
vinda à família Emi” Ela nunca me
chamou de Emi!
O último vaso era de Sara,
crisântemos, dizia “seja bem vinda ao
mundo real” chega de sexo selvagem!
(brincadeira). Dizia também que estava
tão apaixonada pelo seu bebê, é um
menino, vai se chamar Rodrigo assim
como o pai e que Rodrigo está um pai
babão.
Enrico me abraçou pelas costas
enquanto eu colocava o cartão de Sara
entre os crisântemos.
- Preparada? – ele beijava meu pescoço
- Sim – ele pegou minha mão levando-
me para o quarto
Subimos as escadas lentamente,
estava me preparando para o que viria a
seguir. O quarto estava à meia luz,
Enrico tirou minha roupa lentamente,
beijando cada parte do meu corpo que
estava ficando exposto. Era lento e
tranquilo, os beijos acendiam meu
desejo. Ele tirou sua camisa jogando
sobre a cama, passei minhas mãos por
seu peito e parei no botão da calça
jeans.
O meu vestido já estava no chão, o
meu marido me pegou no colo me
levando pra cama, me deitou sob os
travesseiros, olhou pra mim com desejo
no olhar, enquanto ele tirava sua calça
eu mordia meu lábio, fazendo-o suspirar.
Eu sabia como enlouquecê-lo era o que
eu faria naquele momento.
Ele foi se rastejando pela cama até
alcançar minha boca sedenta por sua
boca, as mãos caminhavam pela lateral
das minhas pernas, enquanto as minhas
mãos seguravam firmemente seus
cabelos.
As roupas que causavam atritos entre
nossos corpos foram arrancadas, nada
nos separavam e nossos corpos eram um
só. Sem esforço ele me colou em cima
dele, suas mãos acariciavam meu
pescoço, ele depositava beijos doces e
molhados por onde sua boca passava.
- Não tenha medo – ele falou no meu
ouvido
Senti suas presas afiadas arranharem
meu pescoço, oferecia mais de mim a
ele, quando arqueei minhas costas
fazendo com que meu pescoço ficasse
totalmente vulnerável. E foi então que
ele me mordeu, era uma dor que se
misturava com o prazer que ele me
oferecia, eu seria dele pra sempre. A
vida é feita de escolhas e essa foi a
minha. E naquele momento meus olhos
se fecharam, eu sentia a transformação
acontecendo, eu estava renascendo,
minha vida começando do zero.

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