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Seis
Voltei a minha mesa meio atordoada,
ainda não conseguia assimilar o que
havia acontecido, Enrico havia me
beijado, e não foi um sonho, eu tenho
certeza que estava muito mais que
acordada. Passei os dedos nos lábios,
ainda sentia o gosto da sua boca macia.
Ele retornou para sua sala como se nada
tivesse acontecido, eu queria ter toda
essa segurança.
De todas as mulheres que ele poderia
beijar no mundo, porque ele escolheu a
mim? Isso também me martelava. Não
que eu não tivesse gostado, pelo
contrário, aquele homem me despertou
um sentimento que eu nunca tinha vivido
antes.
Eu sei que parece pouco tempo, tem
menos de um mês que eu trabalho aqui,
porém ele me atraiu desde o primeiro
momento, e não era somente atração
física, tinha muito mais que isso, era
como se eu estivesse esperando
encontrar um sentimento desses há muito
tempo. Não esperava que fosse cair de
quatro pelo homem mais inacessível do
mundo corporativo. Sei que parece
loucura, é uma loucura.
Sara chamou meu nome três vezes e eu
não ouvi, de tão alheia que estava aos
meus pensamentos.
- Algum problema? – ela falou
- Ah não, está tudo ótimo, só estou
concentrada em meu trabalho.
- Você está com a cara tão esquisita –
ela levou à caneta a boca me analisando.
- Besteira! Você não tem nada pra fazer?
- cuspi
- Nossa! Desculpa, não pergunto mais
nada.
- Gata, nosso encontro vai ter que ficar
para outro dia – agora foi à vez de Enzo.
- Que encontro?
- Eu não ia te levar pra casa hoje? –
desde quando isso é um encontro?
- Sem problemas – falei aliviada
Voltei a minha atenção ao meu
trabalho, comecei a prestar bem mais
atenção nos e-mails que estava
respondendo, estava fazendo no
automático. Sabrine não vai acreditar o
que aconteceu, ela vai ficar pasmem
assim como eu estou agora. Com a
cabeça quase no lugar eu tentei reviver
tudo aquilo, e comecei a recapitular
cada cena, inclusive o que ele havia
falado. E uma das frases me chamou a
atenção. O que ele quis dizer com: Eu te
esperei por tanto tempo. Aquela frase
sem dúvida me intrigou, e assim que eu
tiver a oportunidade vou confronta-lo.
Não percebi quando Enrico se
aproximou de minha mesa.
- Senhorita Emily?
- Sim?
- Preciso que a senhorita me acompanhe
a um almoço de negócios
- Claro – eu respondi
- Ótimo, saímos 12h em ponto, não se
atrase – ele não esperou minha resposta
e retornou a sua sala.
A boca de Mari estava aberta, Sara
parecia comer a caneta, Enzo coçava a
cabeça, Rodrigo franzia a testa. E todos
olhavam para mim como se eu tivesse
cometido um crime hediondo.
- Algum problema pessoal?
- Na... Nada – Sara gaguejou
- O Sr. Enrico, nunca levou ninguém a
nenhum almoço de negócios – Mariana
falou aproximando-se de mim.
- Ah! – eu também não tinha palavras.
Um pouco antes do meio dia fui ao
toalete, precisava retocar a maquiagem,
ainda bem que naquele dia eu estava
como uma das minhas melhores roupas.
Se fosse a algum lugar fino não passaria
vergonha. Pois meu acompanhante como
sempre estava um escândalo de lindo.
Retoquei meu batom dei uma escovada
nos cabelos, ainda bem que meus
cabelos são fáceis de domar, passei uma
gotinha de perfume, não queria que
parecesse que eu estava me arrumando
para ele, mesmo sabendo que eu estava.
Voltei ao meu departamento e Enrico
estava conversando com Mari, dando
alguma instrução ou sei lá o que.
- Estou pronta – eu falei enrolando o
dedo na alça da bolsa disfarçando o
nervosismo
- Vamos – ele falou sem olhar para mim,
sua atenção ainda estava no que Mari
falava.
Seguimos até o elevador, as portas se
abriram e entramos, encostei-me ao lado
oposto ao dele, o silêncio era
constrangedor. O silêncio foi quebrado
com o toque do seu Iphone. Ele atendeu
falando seu sobrenome, o que o fez
parecer ainda mais importante.
- Maximus – faça o que for preciso – ele
falava com alguém do outro lado da
linha – continuou falando – Eu não te
pago uma fortuna para você ficar me
incomodando com besteiras.
A ligação demorou o mesmo tempo
que chegamos à portaria do prédio,
Bruno o porteiro fez menção de abrir as
portas para mim, mas Enrico o fez parar
com um gesto de mão. E fez o seu
trabalho segurando a porta para que eu
passasse. Um SUV prateado nos
aguardava encostado ao meio fio. Um
homem forte na casa dos 45 anos, nos
aguardava, fez um aceno com a cabeça e
abriu a porta para que entrássemos. Eu
entrei primeiro e me acomodei ao canto,
dando bastante espaço a Enrico.
Ele sentou ao meu lado, por mais que
eu mantivesse certa distância, era tão
imponente que foi quase impossível sua
perna não encostar à minha. Ele pediu
para o motorista seguir, e logo descobri
que seu nome era Tyler, um nome bem
incomum.
A viagem de carro foi silenciosa, por
mais que eu quisesse confronta-lo e
perguntar o que estava acontecendo, não
tive coragem, ele agia como se nada
tivesse acontecido, talvez não tivesse
significado nada para ele. E aquilo me
doía, ele quase me levou ao céu, com um
simples beijo e pra ele parece que eu fui
apenas mais uma na sua lista, como se
ele fizesse aquilo todos os dias.
Menos de 30 minutos e estávamos
parando em frente ao um hotel cinco
estrelas no coração da cidade. Tyler
abriu a porta, Enrico saiu e me ofereceu
a mão. Não conseguia me acostumar
com suas mãos frias.
Desci do carro alisando minha saia,
fazia um calor de 30 graus, o vento que
soprava era quente, aquilo fazia a
sensação térmica subir. O restaurante
ficava no segundo andar, nunca havia
entrado em um lugar tão fino, tudo
parecia caro demais, logo na entrada
tinha um lustre que deveria custar 20
vezes o meu salário. A hostess abriu um
enorme sorriso quando nos viu chegar,
mas tarde percebi que aquele sorriso
enorme não era para “nós” e sim para
“ele”.
- Sr. Enrico é um prazer revê-lo – ela
piscava sem parar
- Como vai Anne? – ele foi educado e
galanteador, aquilo me fez sentir uma
pontinha de ciúme.
- Eu estou bem, obrigada por perguntar –
ela jogava charme pra ele.
- Essa é minha assistente Emily – ele me
apresentou
- Olá – Ela falou sem olhar pra mim
- Sua mesa está pronta – ela seguiu na
nossa frente, rebolando.
Eu revirei os olhos com aquela cena,
Enrico nem pareceu notar, o que eu
achei ótimo, ele puxou a cadeira para
que eu me sentasse e Anne ainda estava
em pé ao seu lado e dizia toda melosa:
Já pedi para trazer o vinho de sempre,
ele agradeceu. Eu queria que ela
sumisse logo dali antes que eu voasse
em seu pescoço.
Ela entregou-lhe o cardápio, pela
primeira vez eu o vi sorrindo para ela, e
aquilo não me agradou em nada, ele fez
os pedidos, engraçado que não me
perguntou o que eu iria comer,
simplesmente pediu. Claro que eu nem
saberia o que escolher.
- Se quiser alguma coisa é só me chamar
– Anne piscou pra ele e saiu rebolando
- Ela gosta de você – falei mexendo no
guardanapo que me pareceu muito
interessante
- Anne? É uma boa moça
- Você vem sempre aqui? Ela parece
saber bem seu gosto – minha
curiosidade era genuína.
- Venho sempre que posso afinal eu sou
o dono – ele falou como se aquilo não
fosse nada demais
- Você é dono desse restaurante
maravilhoso? – falei deslumbrada
- Não só do restaurante, do hotel todo –
fiquei sem palavras, ainda bem que
nossas taças de vinho estavam cheias,
tomei um grande gole. O convidado de
Enrico acaba de chegar, parece muito
jovem para ser um empresário, mas o
estereótipo estava sendo desmistificado,
Enrico também é um jovem empresário
de sucesso. Ele se levantou
cumprimentando o homem que acabara
de chegar que era quase tão belo quanto
ele.
- Essa é minha assistente, senhorita
Emily – ele beijou a minha mão
suavemente.
- É um prazer conhecer uma moça tão
bela – eu sorri agradecendo
- O prazer é meu – falei
A conversa entre os dois começou a
se desenrolar, não sabia ao certo o que
eu estava fazendo ali, não estava
entendo uma vírgula daquela conversa
toda, falavam sobre finanças, bolsa de
valores, alta do dólar, compra e venda
de empresas. Aquela conversa estava
me deixando entediada.
- Mas já chega de falar de negócios -
Amom o convidado de Enrico falou
- Senhorita Emily já conhece Dubai? –
ele segurou as minhas mãos
- Infelizmente não – falei
- Então precisa conhecer, é um lugar
belíssimo, vivo lá há muitos anos,
quando quiser será bem vinda a minha
humilde morada – ele estava sendo
simpático.
Já estou até me imaginando em Dubai,
fazendo turismo visitando aqueles
enormes arranha-céus, e passeando por
aquelas ruas largas, tudo naquela cidade
deveria ser encantador. Amom começou
a me falar tudo sobre a cidade, os
melhores lugares para serem visitados,
os melhores restaurantes, tudo que havia
de bom e de ruim em Dubai.
Enrico olhava atentamente, a testa
vincada não parecia interessado naquela
conversa, por diversas vezes ele tentou
desviar o foco, interromper, mas Amom
era astuto e não se deixava intimidar. No
final do almoço eu estava relaxada e
estava encantada com tudo que acabara
de ouvir, nunca pensei que um almoço
de negócios fosse tão prazeroso.
Tomamos café e Amom se despediu
de Enrico e de mim, foi um prazer
negociar novamente com você Enrico
ele falou, e foi uma surpresa
maravilhosa conhecer uma moça tão
encantadora, ele beijou novamente
minha mão, espero nos encontrar
novamente. Ele se afastou e a hostess o
acompanhou até a saída, no caminho ele
foi interceptado por um homem que o
cumprimentava com vigor.
- Qual é a graça?
- Nenhuma – não percebi que ainda
estava sorrindo
- Vamos voltar para empresa – ele falou
com certa irritação na voz.
Assim que Enrico se levantou Anne já
estava ao seu lado, jogando charme,
dizendo que foi ótimo revê-lo, que
esperava que ele tivesse uma boa tarde e
blábláblá.
Tyler nos aguardava encostado no
carro e correu para abrir porta, não
rápido o suficiente. Entramos e
seguimos de volta para Maximus.
Achei que a viagem de volta fosse tão
silenciosa quanto à ida ao restaurante,
mas me enganei e me surpreendi com o
diálogo que Enrico acabava de começar.
- Eu queria pedir-lhe desculpas por o
que aconteceu mais cedo – ele disse e eu
o encarei
- Eu é que devo desculpas, não sei o que
deu em mim – desviei o olhar para a
janela.
- Eu sinto que eu devo protegê-la, - ele
falou colocando uma mecha do meu
cabelo atrás da orelha.
- Por quê? – eu quis saber
- Não sei explicar, eu preciso estar perto
de você, é como se... É como se... Eu te
conhecesse de vidas passadas.
- Então não fique longe de mim – passei
o polegar em seus lábios, ele fechou os
olhos encostando a cabeça no encosto
do banco.
Ainda de olhos fechados, ele
percorreu as mãos pela fenda da minha
saia, parando na altura da minha coxa,
aquele toque me fez estremecer, eu gemi
baixinho ele sorriu de prazer, ele abriu
os olhos, e sem tirar os olhos dos meus,
ele apertou um botão ao lado da sua
janela e um compartimento subiu
fechando o espaço entre o banco traseiro
e o motorista.
Em menos de dois segundo ele me
puxou para o seu colo, me beijou como
se fosse à última coisa que ele fosse
fazer na vida, eu comecei a puxar sua
gravata eu queria me livrar de toda
aquela roupa, ele colocou a mão por
baixo da minha saia e foi aí que eu
derreti. Arqueei meu corpo para trás
enquanto ele mordiscava meu pescoço,
aquilo era bom, eu não tinha certeza se
duraria, mas de uma coisa eu tinha
certeza absoluta, eu queria aquele
homem dentro de mim.
Sete
Aquilo parecia ser bom demais para
ser verdade, eu queria aquele homem e
ele me queria. Eu tinha certeza, da
mesma forma como sei corre sangue nas
minhas veias.
Era o certo a fazer, apagar o fogo que
queimava dentro de nós, mas aquela
sensação foi se dissipando.
Enrico abriu os olhos se afastando
lentamente de mim, passou o polegar em
meus lábios, tirando-me do seu colo,
colocando-me sentada ao seu lado
esquerdo, abriu o compartimento que
nos separava de Tyler.
Fui do céu ao inferno em menos de
cinco minutos. O que havia de errado?
Em menos de um minuto estávamos
pegando fogo, sei que ele me queria,
tanto quanto eu. Pude sentir seu nível de
excitação, devo confessar que não era
pouco, eu parecia explodir de excitação.
Um fogo que subia pelas minhas pernas
foi se apagando no momento em que ele
foi falando, parecia que alguém acabava
de jogar um balde de água com gelo em
mim.
- Eu não posso fazer isso com você –
estava com o olhar perdido
- Eu quero que você faça isso comigo –
falei frustrada
- Você merece alguém melhor – não
acredito que estou ouvindo essa frase
clichê
- Você não acha que eu sou bem
crescidinha para decidir?
- Há muitas coisas que você não entende
– ele colocava sua gravata no lugar
- Acho que sou capaz de entender – falei
Chegamos a Maximus e retomamos
nossos afazeres, eu voltei um tanto
contrariada para minha mesa, e Enrico
foi para sua sala como se nada tivesse
acontecido, aquela calma toda me
deixava irritada, como ele pôde fazer
isso comigo, era como se tivesse tirado
doce de criança.
Não consegui fugir dos olhares
curiosos de Mari e Sara me esforcei ao
máximo para não transparecer aquilo
que estava sentido, Sara queria saber
como foi o almoço, o que eu havia
comido quem era o empresário
convidado. Eu estava a ponto de gritar e
espantar aquela gente toda, mas me
contive. Quando pronunciei o nome
Amom Haz, Mari levou à mão a boca.
- Aquele homem é um deus grego, ele já
esteve aqui certa vez – realmente ele é
bonito.
- Aqueles dois só podem ter saído de
uma revista de celebridades – Sara falou
suspirando
- Não sei o que vocês veem nesses dois
panacas – Rodrigo falou e Enzo
concordou
E foi assim que começou a discussão,
eu me desliguei totalmente e deixei os
quatro debatendo sobre a beleza ou não
de Enrico e Amom, saí de fininho e fui
até a máquina de café, enquanto eu
preparava um cappuccino resolvi checar
meu celular, meu pai havia mandado
uma mensagem mais cedo eu ainda não
tivera tempo para responder. Comecei
digitar uma mensagem, confirmando que
no final de semana iria para casa, estava
morrendo de saudade.
- Emily? – levei um susto e acabei
derrubando o celular no chão
- Sr. Enrico, precisa de alguma coisa? –
abaixei para pegar o celular, que por
sinal estava com a tela trincada.
- Acho melhor não sermos amigos –
amigos? Era só o que me faltava
- Que droga! – falei olhando para o
celular, ele pegou o aparelho da minha
mão.
- Não serve mais pra nada – ele falou
esmagando meu telefone com uma das
mãos
- Co.. Como você fez isso? – meu
celular virou pó
- Essas porcarias de tecnologia, são tão
frágeis como uma flor – ele não
respondeu minha pergunta.
- Eu iria mandar arrumar, agora vou ter
que gastar dinheiro com um novo.
- Sim
- Sim? Vou gastar dois meses do meu
salário
- Você ganha tão pouco assim?
- Você não sabe quanto uma estagiária
ganha?
- Não
- Deixa pra lá – levei as mãos à cabeça,
saí batendo os pés.
Voltei a minha mesa e o burburinho
estava de enlouquecer, todos falando ao
mesmo tempo, eu não consegui entender
do que se tratava. Todos ficaram em
silêncio quando Enrico chegou e Mari
começou a gaguejar dirigindo-se a ele.
- Sr. Enrico – ela pigarreou
- Sim? – ele arqueou a sobrancelha ao
olhar para ela
- A dona Jasmine está subindo aí – ela
levou a mão à boca abafando uma tosse
- Mais que inferno, o que ela quer aqui?
– ele passou as mãos pelo cabelo
visivelmente irritado.
Será que eu havia perdido alguma
coisa? Porque todos estavam alarmados,
Sara estava com os olhos esbugalhados
concentrada na conversa dos dois, Enzo
o fotografo gato fingia examinar a lente
da sua câmera, e Rodrigo fingia atender
uma ligação que claramente não existia.
E quem é essa Jasmine? Fiquei tão
curiosa que comecei a roer a unha do
dedão.
- Ok, assim que ela chegar mande-a
direto para minha sala, em hipótese
alguma ela deverá ficar solta pelos
corredores, e muito menos ficar
bisbilhotando os arquivos – ele colocou
as mãos na cintura respirando
pesadamente.
- Eu farei isso – Mari correu para sua
mesa, enquanto Enrico batia a porta da
sua sala violentamente.
Só foi as portas se fecharem e as
conversas retomaram, não sei quem
falava mais alto, só sei que eu ainda
estava sem entender.
- Alguém pode me explicar o que está
acontecendo?
- A tragédia está anunciada – Enzo falou
- Ainda bem que vamos fazer trabalho
externo – Sara tocou o ombro de Enzo
- Afinal, quem é Jasmine?
- É a bruxa malvada o oeste – a gracinha
veio de Rodrigo
- Jasmine é a mãe de Enrico – mãe!
Falei alarmada!
- Mãe! Porque ele ficou tão irritado com
a chegada dela?
- Você vai ver – Sara comentou
Não teve mais tempo para
explicações, a mulher que todos
aparentemente temiam apareceu na porta
do nosso departamento. Ela era
inumanamente linda. Não parecia ter
mais que 45 anos, a pele era de pêssego,
cabelo preto e sedoso no estilo Chanel
de pontas, usava óculos escuro enorme,
uma boca perfeita com um batom cor de
vinho.
Um corpo esguio e elegante usava um
tailleur da cor do batom, a bolsa era
Louis Vuitton, usava um colar delicado
com uma pedra que sem dúvidas era um
diamante. Enrico era bem parecido com
ela, à pele branca, a mesma cor de
cabelo, e a mesma altivez.
Ela jogou o casaco e a bolsa na mesa
da Mari, o que lembrou muito a cena de
um filme, parou no meio do nosso
departamento tirando os óculos, aquilo
me fez parar, os olhos eram idênticos os
de Enrico.
- Cadê meu filho? – não tinha a mesma
educação, claro.
- Está em sua sala, eu acompanho a
senhora – a voz de Mari saiu graciosa e
comedida.
- Não será necessário, sei o caminho –
ela seguiu em direção à sala do filho,
parecia desfilar em uma passarela.
- Claro – foi à única palavra que
Mariana usou
- Garota? – ela se virou antes de abrir a
porta
- Sim
- E não vá mexer na minha bolsa! – Mari
ficou aparentemente mortificada
Ela entrou na sala de Enrico e bateu a
porta, assim como ele faz todos os dias,
depois dessa cena esdruxula, comecei a
dar créditos ao que Rodrigo falou,
realmente não passava de uma bruxa.
Mari resmungava arrumando a bolsa e o
casaco na cadeira a sua frente.
- Eu não sou paga pra ser tratada assim
- Que megera – fui solidaria com
Mariana
Mesmo com as portas fechadas, não
podíamos deixar de ouvir a conversa
dos dois, nossa sala estava silenciosa,
realmente a intenção era ouvir o que
aqueles dois diziam.
- Enrico, está na hora de voltarmos para
Itália, não podemos ficar mais tempo
aqui – a mãe falou ligeiramente alterada.
- Jasmine, eu não vou voltar para Itália,
meus negócios estão aqui – Enrico falou
um pouco mais baixo que a mãe.
- Não me chame de Jasmine, eu sou sua
mãe!
- Ok mãe, como eu disse minha vida está
aqui.
- Não me interessa! Venda tudo! Você
vai acabar se complicando –
complicando? O que ela quer dizer com
isso?
- Jasmine, eu não vou vender ok? – ele
falou pausadamente
- Vou ficar uma semana na sua casa, até
você mudar de ideia, minha passagem já
está comprada para semana que vem, já
mandei arrumar nossa casa em Milão.
- Vai ficar na minha casa? Uma semana?
– ela não parecia bem vinda
- Sim, onde mais ficaria.
- Você vai me enlouquecer
- Já liguei para sua empregada preparar
o quarto de hóspedes e colocar os
lençóis de fios egípcios.
- Minha empregada? Meus lençóis?
Realmente você quer me enlouquecer –
os dois já estavam do lado de fora da
sala
- Tyler vai me levar, eu já estou indo
meu amor – a voz era maternal.
- Meu motorista? O que mais quer? – o
tom de voz era quase sussurrado
- Que volte para Itália com sua mãe –
Enrico ficou parado na porta enquanto
sua mãe desfila pelo nosso departamento
- Garota? – ela estalou os dedos
- Pois não dona Jasmine – Mari olhava
assustada, parecia querer correr.
- Minha bolsa e meu casaco? Rápido
garota! Não tenho o dia todo, tenho
muito que fazer – Mari pegou
desajeitada a bolsa em uma mão e o
casaco na outra e entregou a bruxa
malvada do oeste ou era do leste? Tanto
faz é tudo bruxa mesmo.
Enrico olhava balançando a cabeça
negativamente. Visivelmente
incomodado com a vinda de Jasmine,
ela por sua vez colocou a bolsa nos
ombros e acomodou os óculos escuros
no topo da cabeça, acenou com a mão
como se fosse uma miss, e entrou no
elevador sumindo de nossas vistas.
O final do expediente se aproximava
depois da passagem do furacão Jasmine,
o clima em nosso departamento ficou tão
pesado quanto uma bigorna, Enrico
estava de péssimo humor, até me
dispensou de atuar como secretária.
Sara e Enzo foram fazer a matéria na
qual Enrico os designou, e eu por fim
fiquei sem minha carona, e para
completar caia uma chuva torrencial.
Desliguei meu computador e arrumei
minhas coisas pra enfrentar o metrô,
queria chegar em casa logo, precisava
arrumar minhas malas, afinal já era
quinta-feira e no dia seguinte depois do
trabalho iria pegar o último ônibus para
casa, estava ansiosa para rever meus
pais. Tinha impressão de que não os via
há séculos.
Coloquei minha bolsa no ombro e
peguei o guarda-chuva na gaveta da
minha mesa, sempre tinha um de reserva.
Desci o elevador e passei pelas portas
duplas cumprimentando Bruno. A chuva
estava mais forte que eu imaginava.
Abriguei-me debaixo da marquise para
abrir o guarda-chuva, olhei para os dois
lados da rua e atravessei, ou pelo menos
tentei.
A chuva estava tão forte que fez o meu
guarda-chuva voar, além de ensopada
estava tremendo de frio, e para
completar quando fui atravessar a rua
para chegar à estação, um carro
apareceu não sei de onde, estava
chegando a todo vapor em minha
direção. Eu tinha certeza que eu iria
morrer atropelada naquele momento, foi
como se minha vida passasse em câmera
lenta, foi como um filme de terror.
Enquanto eu estava oferecendo minha
alma aos céus, o carro passou há cinco
centímetros de mim. E como isso
aconteceu? Se eu não estivesse com os
olhos bem abertos, acharia que estava
alucinando, Enrico apareceu do nada me
puxando com uma velocidade
inexplicável. Como ele chegou tão
rápido? Talvez eu tenha mesmo
alucinado, talvez meus sentidos
estivessem voltando, quando senti o
peso do seu corpo em cima de mim,
estávamos do outro lado da calçada.
Oito
Eu tentei me desvencilhar dele, estava
atordoada, mas ele era tão forte que não
consegui me mover um milímetro. Meus
olhos deveriam estar saltando das
orbitas, eu não conseguia colocar minha
cabeça no lugar, foi tudo tão rápido que
é difícil explicar, mas de uma coisa eu
tinha certeza, Enrico possuía uma
velocidade quase sobrenatural.
Mas que ser humano normal faria uma
coisa dessas? A não ser que... Levei a
mão á boca. Ele se levantou e ofereceu a
mão para eu me levantar, seu olhar era
de desespero, ele começou a examinar
todo meu corpo, e percebeu o quanto eu
sangrava.
Meus joelhos e meus cotovelos
estavam esfolados, sangravam sem
parar, tentei andar, mas minhas pernas
fraquejaram, Enrico me apoio pegando-
me no colo, Tyler já estava estacionando
ao meio fio, vendo aquela cena, correu e
abriu a porta traseira. Tentei me afastar,
mas estava fraca demais e confusa
demais, parecia que eu havia perdido o
dom da fala.
Enrico ordenou que Tyler nos levasse
o mais rápido possível a um hospital,
mesmo não achando necessário, era só
um raladinho à toa. Mas se eu tivesse
realmente batido com a cabeça e estava
alucinando de verdade, não era
possível, pois eu vi tudo acontecer antes
de cair no chão, isso quer dizer que eu
ainda não tinha batido com a cabeça.
- Você está bem? Está sentido dor? – a
voz dele estava mais aveludada que
nunca, mesmo assim conseguia sentir o
tom de nervosismo.
- Eu. Eu acho que sim – levei à mão a
cabeça
- Você vai a um hospital, aí sim teremos
certeza se está tudo certo com você,
você não me parece bem.
- Eu estou meio confusa – ele virou a
cabeça para o lado
- Você vai ficar bem – ele beijou a
minha testa, aquele gesto me pegou de
surpresa.
- Como você fez aquilo? – eu quis saber
- Aquilo, o que? – ele sabia disfarçar
muito bem
- Chegou tão rápido onde eu estava? –
ele fez uma cara de confusão
- Eu acho que você bateu com muita
força essa sua cabecinha linda
- Eu sei o que eu vi – olhei fixamente em
seus olhos
- Não, você não sabe.
- Eu quero ir pra casa – cruzei o braço
feito uma criança birrenta
- Só depois que um médico examinar
você
Aquela discussão parecia
desnecessária, eu não iria ganhar, então
resolvi ir em silêncio até o hospital,
Tyler parecia que levava alguém que
estava prestes a morrer de tão rápido
que passava entre os carros.
Chegamos ao hospital e Enrico insistia
em me levar no colo, eu disse que estava
bem que poderia andar. Apesar dar dor
nos joelhos andava sem dificuldades até
a entrada. Ele me colocou sentada em
uma cadeira como se eu fosse uma
criança e correu até a moça atrás do
balcão. Não pude ouvir o que eles
falavam, mas vi que a recepcionista
sorria pra ele, em menos de dois minutas
um médico já me atendia ali mesmo
onde eu estava sentada, depois de um
exame rápido ele me levou para tirar
umas radiografias, mesmo eu achando
não ser necessário.
Depois fui para um quarto onde uma
enfermeira me aguardava para fazer os
curativos. Enrico estava o tempo todo ao
meu lado, observando tudo, com os
braços cruzados, não tirava o olho das
gazes sujas de sangue, achei que ele
fosse do tipo de pessoa que desmaia
quando vê sangue, ele parecia bem
incomodado.
- Emily não é? – a enfermeira de meia
idade dirigiu-se a mim
- Acho que você pode ir para casa
- Tem certeza? – o questionamento veio
de Enrico
- Claro que eu tenho certeza, eu trabalho
nessa profissão mais de vinte anos – ela
pareceu ofendida.
- Desculpe não quis parecer grosseiro –
ela não se deu o trabalho de responder
- Agora leve sua namorada pra casa –
ela saiu do quarto nos deixando a sós
- Preciso ir, minha amiga deve estar
preocupada, agora nem celular tenho pra
ligar pra ela.
- Use o meu – ele esticou seu aparelho
em minha direção
Liguei para Sabrine que pareceu
surtar, gritava tão alto que quase me
deixou surda, eu insistia em dizer que
estava bem que havia sido somente um
susto, mas ela pareceu não acreditar, me
intimou a estar em casa dentro de meia
hora ou ligaria para meus pais. Era tudo
que eu não queria, se minha mãe
soubesse do meu quase atropelamento,
ela enlouqueceria e enlouqueceria meu
pai também, até que ele a trouxesse para
me ver.
- Vem, eu te levo pra casa – eu entreguei
o celular a ele.
- Não é necessário eu pego um táxi – me
levantei com dificuldade
- De jeito nenhum, Tyler está nos
esperando lá fora – e mais uma vez ele
pegou-me no colo e saímos do hospital.
Tyler como um fiel escudeiro nos
aguardava pacientemente, Enrico me
colocou no carro e entrou, e para minha
surpresa ele passou meu endereço para
Tyler. Como ele sabia onde eu morava?
Olhei para ele incrédula, não precisou
eu perguntar.
- Você trabalha para mim, eu tenho
acesso a esse tipo de informação.
Aquela resposta não me convenceu eu
achei muito estranho, quer dizer que ele
tem guardado na memória o endereço de
todos os seus funcionários? Eu não acho
provável.
- Você não vai mesmo me dizer como fez
aquilo?
- Vou falar tudo que você precisa saber,
mas não creio que esse seja o momento
certo.
- E quando será o momento certo?
- Quando você estiver recuperada
- Eu só tive uns arranhões, olhe pra
mim?
- Você acredita que eu seja tão rápido
assim? – ele se virou olhando para mim
- Eu tenho certeza! – falei olhando para
Tyler
- Você está confusa é só isso? – Ele
fechou o compartimento nos isolando do
motorista
- Acho que não é essa questão – ele não
confiava em mim
- Há muitas coisas que você não sabe –
de novo com esse papo
- Isso você já me disse, eu quero que me
conte tudo.
- Está preparada para se decepcionar?
- Eu preciso saber
- Eu nunca contei minha história para
ninguém, talvez depois de ouvi-la você
nunca mais olhará pra mim, talvez até se
demita da empresa – eu engoli em seco.
- Eu estou preparada – menti
Como você já deve saber eu sou
italiano, minha família é toda da Itália.
Morei muitos anos na Europa, até que
decidi mudar de ares. Minha vida ficou
sem sentido quando perdi a mulher que
eu amava Isabela. Estávamos
preparando nosso casamento quando
uma tragédia se abateu e minha Isabela
foi assassinada em um assalto, sem
sentido.
Minha mãe que você conheceu me
ajudou muito, e achava que eu mudando
para o Brasil poderia diminuir a minha
dor. Pois tudo naquela cidade lembrava
Isabela.
Então minha mãe e eu, entramos em
contato com Amom que nos ajudou a
estabelecer residência fixa aqui, e foi
ele que me vendeu a primeira empresa
que eu possuo. Aquele hotel em que
fomos almoçar e que você o conheceu. A
partir daí não parei mais, fui crescendo
como empresário, e fui tomando gosto
por essa terra.
- Você nunca amou mais ninguém?
- Muitas mulheres passaram pela minha
vida, mas mesmo assim eu sentia um
vazio.
Um amigo muito próximo me dizia
que eu ainda encontraria o amor
verdadeiro, era só ter paciência e
esperar, e é isso que faço há muitos
anos, mas agora acredito que minha
espera acabou. Antes eu enxergava
minha vida em preto e branco, se é que
eu tinha uma vida, eu me sentia mais
como um zumbi perambulando por aí.
Então você apareceu na minha empresa
e foi como se eu já te conhecesse, como
se você fosse preencher o vazio que
existia dentro de mim. Foi como se meu
coração voltasse a bater.
Eu tentei me afastar de você, tentei
manter meus pensamentos longe de você,
mas não consegui. Você é a mulher que
eu espero há pelo menos um século.
Eu estava tentando assimilar tudo que
ele acabará de falar, eu não poderia
acreditar que ele estava falando de mim,
uma garota sem graça do interior cheia
de defeitos. Ele disse um século? Tenho
certeza que não foi no sentido literal.
Como poderia ser? Eu não queria
interromper, queria ouvir cada palavra,
queria entender aquele homem que
mexeu tanto comigo.
- O que você quer dizer com pelo menos
um século de espera? – eu falei
cautelosamente, fiquei com medo da
resposta, mas precisava saber.
- Você percebeu que eu sou um tanto
diferente. Percebeu bem antes do que eu
esperava. Se depois dessa conversa
você quiser ir embora e não olhar para
trás eu vou entender
- Continua... Por favor – eu não estava
certa daquilo que estava pedindo
Eu nasci no inicio do século 19, mais
precisamente em 15 de dezembro de
1801, e vivi a minha vida humana
durante 30 anos. Eu tinha uma vida feliz
até o falecimento da minha amada
Isabela, cinco anos antes de eu ser
transformado.
Eu deveria estar com medo, mas não
estava, pelo contrário eu estava
fascinada com aquela história de amor e
tragédia, parecia mais um roteiro de
Shakespeare. Ele continuou.
Depois que Isabela se foi, meu único
objetivo era vingar sua morte e achar o
seu agressor, passei anos da minha vida
em prol disso, não era mais um homem,
era um espantalho, que não comia não
dormia, fiquei fora de casa por muito
tempo, minha mãe quase enlouqueceu.
Quando encontrei o agressor eu estava
determinado a matar ou morrer, e foi o
que aconteceu. Marcamos um duelo para
antes do nascer do sol e aquele dia foi o
último dia da minha vida humana.
Escolhemos nossas armas e apontamos
um para o outro, os disparos foram
simultâneos, ele caiu para um lado e eu
para o outro.
Amom que me acompanhava me levou
para morrer em casa, não tinha mais
nada a ser feito. Foi à promessa que ele
fez pra minha mãe, ele me acompanharia
e se alguma coisa desse errado ele me
levaria pra casa, mesmo que fosse um
corpo sem vida.
E foi assim que aconteceu, Amom era
um ser obscuro, mas não era do mal,
pelo contrario ele ajudou muita gente,
ele não escolheu que aquilo acontecesse
com ele. Minha mãe que já conhecia sua
história suplicou para que ele me
transformasse, e ele me transformou.
- Quer dizer que você é um vam-pi-ro? –
falei pausadamente
- Sim, sou um mostro das trevas – eu
toquei sua mão gelada.
- Você não é um monstro – eu estava
espantada com minha tranquilidade
- Se quiser pode ir, e se quiser me
entregar para os cientistas estudarem
meu corpo, pode entregar.
- Nem em um milhão de anos eu faria
isso – falei com sinceridade, jamais
seria capaz de prejudica-lo.
Não percebi que já estávamos
parados em frente a o prédio de Sabrine,
não sei há quanto tempo. Eu queria saber
o final daquela história, queria fazer mil
perguntas, mas fui devagar.
- Como você sai no sol? Aquilo de os
vampiros queimarem a luz do sol é
mito? – ele pareceu analisar minha
pergunta
- Não é mito, é verdade, mas com o
passar dos anos nossa raça foi se
aprimorando, é como se fosse uma
vacina, nós injetamos uma vez por mês e
isso nos protege da luz do dia –
fascinante.
- E a aquela coisa toda de vampiro e
sangue? – me arrisquei em mais uma
pergunta, que talvez seja a mais óbvia.
- Nós sobrevivemos com os dois, sangue
ou comida humana, claro que o sangue
nos deixa mais forte. Mas evitamos a
todo custo, não queremos causar mal a
ninguém. Claro que tem alguns de nossa
espécie que não pensam da mesma
forma e que não tem nenhuma
consideração à vida humana.
- Existem muitos de vocês por aí? –
minha curiosidade era evidente
- Sim, espalhados nos quatro cantos do
mundo, talvez pessoas sob qualquer
suspeita.
Eu estava preparando a minha
próxima pergunta, mas o celular de
Enrico tocou me tirando do meu
devaneio.
- Maximus? Sim claro, um momento –
ele falava com a outra pessoa do outro
lado da linha, ele me entregou o
telefone.
- Pra mim? – falei incrédula
- Sim, sua amiga Sabrine – ai meu Deus
eu havia me esquecido da Sá.
Falei com a Sabrine que estava em
pânico, falei que já estava do lado de
fora do prédio, ela só acreditou quando
apareceu na janela e eu acenei de dentro
do carro.
- Então porque não sobe logo? – ela
intimou
- Estou indo! – falei com a mão na
maçaneta da porta
- O que Enrico Maximus está fazendo aí
com você? – eu olhei pra ele pensando
no que responder
- Depois eu te explico – e encerrei a
ligação
Quando fiz menção de sair do carro,
Enrico segurou meu braço me
entregando uma sacola que estava ao seu
lado, que eu não havia notado antes.
- O que é isso? - falei
- Um pedido de desculpas por ter
quebrado seu celular – eu abri a sacola
delicada
- Ah Enrico não precisava – falei
tirando o Iphone dourado de dentro da
sacola
- Vêm vou te levar até seu apartamento –
ele abriu a porta oferecendo-me a mão.
Como um típico cavalheiro do século 19
ele fez uma reverência para mim,
abrindo o portão do prédio.
- Você não quer entrar? – ele pareceu
surpreso com meu convite
- Claro
- Isso é, se você não tiver coisas mais
importantes para fazer, podemos tomar
um chá, conversar mais um pouco – ele
abriu um sorriso enorme mostrando
lindas covinhas.
- Seria um prazer, fazer-lhe companhia.
- Ótimo – falei apoiando-me em seu
braço.
- Primeiro preciso dispensar Tyler – ele
desceu os degraus de dois em dois e
abaixou na janela de seu carro, falou
com Tyler que logo deu partida.
- Pronto?
- Sim – ele me ofereceu o braço
novamente e seguimos para meu
apartamento.
Sabrine nos esperava na porta, não sei
se ela ficou mais surpresa em ver o
homem que estava do meu lado, ou as
ataduras que estavam em meus joelhos e
cotovelos.
- Você está bem? Como isso foi
acontecer?
- Eu estou bem, Sá quero te apresentar
meu chefe Sr. Enrico Maximus – Sabrine
estendeu a mão.
- É um prazer conhecer a senhorita – ele
beijou o dorso de sua mão
- O prazer é meu – ela falou
ruborizando, nem minha melhor amiga
era imune aquele encanto.
- A senhorita Emily precisa descansar,
posso acompanha-la até seu quarto?
- Claro! Emi... Mostre o caminho a ele,
eu posso oferecer alguma coisa para
beber senhor Enrico.
- Me chame de Enrico, não precisa de
formalidades, não é necessário se
incomodar, não vou demorar.
Fomos para meu quarto, enquanto
Sabrine ficava sem fala na sala de estar,
tenho certeza que após a saída de Enrico
ela vai me bombardear de perguntas, já
estou me preparando psicologicamente.
Entramos no meu quarto, enquanto eu
sentava na cama, Enrico trancou a porta.
Aquele arrepiou os pelos da minha nuca,
não que eu estivesse com medo daquele
vampiro lindo.
- Então decidiu se vai sair correndo? –
ele curvou os lábios em um sorriso, ele
tinha um sorriso lindo.
- De forma alguma, eu não estou com
medo – era verdade, eu não tinha
nenhum medo daquele homem que estava
a minha frente encostado na porta do
meu quarto.
- E o que pretende fazer? – ele se
aproximava de mim lentamente
- Eu pretendo beijar você – me assustei
com minha franqueza
Ele se ajoelhou a minha frente, tirou
meus sapatos e começou a massagear
meus pés. Aquilo era tão bom.
- Não tem medo de mim? – as mãos dele
caminhavam por minhas pernas
- Eu não tenho – meu coração começava
acelerar com seu toque
- E seu eu morder seu pescoço? E se eu
chupar o seu sangue? – ele levantava
minha saia até a altura das minhas coxas
- Ainda não sim eu não tenho medo – eu
estava arfando
- Emi, eu te quero tanto – ele beijava a
parte interna da minha coxa.
- Eu também quero Enrico – ele segurou
a lateral da minha calcinha e arrancou
sem dificuldades
Ele beijou cada centímetro da minha
pele exposta, até chegar à parte mais
úmida do meu corpo, eu estava molhada
de excitação e ele fez aquilo com
maestria, ele sabia o que estava fazendo,
a língua dele em mim, me levava à
loucura, eu gemia baixinho. Ele colocou
minhas pernas em seus ombros, e aquilo
me fez gritar, arqueei meu corpo para
trás e ele se aprofundar mais e mais, eu
segurei com toda força em seus cabelos,
enquanto eu me contorcia de prazer. Ele
me levou ao céu, foi o melhor orgasmo
de toda minha vida. Ele ser vampiro era
só um detalhe, aquele homem sabia fazer
uma mulher delirar foi o que aconteceu
comigo, cai de costas no colchão,
esgotada e feliz.
Nove
Enrico deitou ao meu lado, eu ainda
ofegava e sorria como uma idiota. Eu
queria mais, então o puxei para mais
perto de mim, beijei sua boca
incansavelmente. Não sentia mais dor
em meus joelhos e cotovelos, sentia-me
anestesiada. Depois do maravilhoso
orgasmo que ele me proporcionou eu só
queria retribuir. Ele tirou sua camisa
com uma velocidade impressionante,
deixando sua tatuagem tribal à mostra.
- “Emi” – ele sussurra, e me beija
novamente.
Sua boca tem gosto de menta, não
consigo comandar minha mente, meu
corpo e muito menos minhas mãos.
Passei as mãos por todo seu corpo
malhado e me deliciei em seu abdômen
definido. Seu sorriso era lindo e
malicioso, me enlouquecia.
Levei minhas mãos ao seu zíper, abri
sem dificuldades, puxei sua calça até a
altura do quadril, ele usava uma cueca
boxer branca, não poderia ser mais
perfeito, era uma visão e tanta, estava
chegando ao paraíso, pude sentir sua
excitação, eu estava em chamas. Passei
a língua pelo seu pescoço e ele mais
uma vez sussurrou meu nome “Emi”
“Emi” Ah! Doce Emi.
Quando uma batida na porta me fez
pular pra trás. Mas que inferno! O que
Sabrine pode querer? Enrico passou a
mão pelos cabelos, naturalmente
frustrado.
- Depois eu te recompenso – prometi,
ele se recompôs rapidamente, ficando
em pé.
- Emi? – Ah Sabrine
- Oi Sá – Enrico destrancou a porta, ela
abriu vagarosamente.
- Tá tudo bem aí? – espero que o rubor
no meu rosto não tenha me entregado
- Estamos bem – falei já sentada na
cama
- Não queria incomodar, mas o celular
do senh... Do Enrico não para de tocar,
ele deixou na mesa da sala – ela fez um
gesto com a mão.
- Que cabeça a minha, me desculpe
senhorita Sabrine.
- Por favor, me chame somente de
Sabrine.
- Desculpa, vou me lembrar da próxima
vez... Sabrine, eu estava de saída – ele
apontou para porta.
- O que? Não! – falei mais alto do que
pretendia e Sabrine olhou para mim
desconfiada
- Posso ficar mais um pouco – ele
pigarreou
- Seria ótimo – Sabrine olhava de
Enrico para mim.
- Vou pegar meu celular – ele saiu do
quarto nos deixam a sós
- O que está acontecendo aqui? –
Sabrine inquiriu
- Depois eu te explico – dei um risinho
sem graça
- Pelo tom da sua pele nem precisa
explicar
- Tô apaixonada! – cobri a cabeça com
o travesseiro
- Sua cachorra, tá me escondendo o
ouro? – Ela falava quase sussurrando
- Depois te conto todos os detalhes
- Não vejo a hora! Não posso acreditar!
Você e Maximus – ela se abanou
teatralmente
Enrico apareceu na porta, estava
lindo com aquele cabelo desgrenhado,
sugeriu que já que ele ficaria até mais
tarde, pagaria nosso jantar. Sá disse que
não era necessário que ela preparava
uma comida rápida, mas ele insistiu.
Disse que conhecia um restaurante ali
perto que fazia uma comida italiana que
só perdia para um restaurante em Roma.
Não aceitou não como resposta e já
digitava nas teclas do seu telefone.
Depois daquele momento de
intimidade, ele resolveu deixar a porta
aberta, não queria constranger Sabrine,
não que eu ou ela fossemos nos
importar. Tenho certeza que não era
constrangimento nenhum, mas acabei
cedendo. Enquanto nossa comida não
chegava ficamos conversando, ele
queria saber tudo sobre minha vida. Não
que minha vida fosse interessante, ele
dizia que queria me conhecer melhor, e
que depois eu poderia fazer as perguntas
que desejasse, já estava estocando tudo
em minha memória.
Nosso jantar chegou e fomos para
sala, enquanto Sabrine arrumava a mesa,
Enrico abriu o vinho. Não me deixou
mover uma palha dizendo que eu estava
debilitada. Debilitada eu? Dois
raladinhos de nada!
Durante o jantar ele contava histórias
de sua terra natal, fascinando Sabrine e
eu. Às vezes me pegava olhando para
sua boca perfeita. Aqueles olhos lindos
e intensos me seduziam sem intenção.
Depois do jantar, Sabrine levou os
pratos até a cozinha e ele insistiu em
ajudar com a louça, mas Sá recusou,
dizendo que ele já havia feito muito em
nos pagar o jantar. Ficamos no sofá
assistindo um seriado, ele me colocou
deitada em seu colo e eu adormeci.
Despertei já era madrugada, eu estava
na cama e Enrico deitado ao meu lado.
Fiquei um pouco atordoada ao vê-lo ali,
não imaginava que ele fosse passar a
noite comigo, fiquei feliz.
- Achei que tivesse ido embora
- Fui, mas voltei.
- Não está com sono?
- Emi – ele passou as mãos em meus
cabelos – vampiros são criaturas
noturnas
- Porque a Jasmine quer que você volte
para Itália? – encostei-me na cabeceira
da cama
- É uma longa história
- Eu tenho tempo para ouvir
- Negativo! Amanhã é sexta-feira e você
ainda tem que trabalhar – eu havia me
esquecido disso
- E isso não é tudo, amanhã após o
expediente vou viajar – foi aí que ele
notou minha mala semiaberta ao canto.
- Pra onde? Posso saber? – ele enrugou
a testa
- Pra casa, visitar meus pais.
- Tyler pode te levar, ou até mesmo eu –
não queria ter que explicar nada para
minha mãe, ao menos por enquanto.
- Não é necessário, já comprei as
passagens – ele beijou meus lábios,
passando a língua por todo seu contorno.
- Então descansa que amanhã será um
longo dia – ele me puxou mais para
perto, eu envolvi meus braços em sua
cintura.
Senti-me tão protegida como há muito
não sentia, Enrico era tudo que eu
queria. Aquele homem misterioso me
encantou. Aquele que fez minhas pernas
tremerem no primeiro dia em que
coloquei olhos nele. Aquele que fez meu
coração derreter a cada palavra dita
com aquela voz aveluda. Eu precisava
dele como do ar que respiro, aquele era
o homem da minha vida, era fato. Mas
como ter um relacionamento normal com
um homem imortal?
Dormi agarrada ao seu corpo e ao seu
corpo agarrada acordei, me espreguicei
dando um pulo da cama. Ele continuava
sentado, como se o dia não estivesse
prestes a começar.
- Bom dia Emi – como ele conseguia ser
tão lindo?
- Bom dia, porque não me acordou?
Estou atrasada – ele olhou em seu
relógio de pulso
- Não está não – ele se levantou se
aproximando de mim
- Tyler vai te levar – ele tocou a palma
da mão em meu rosto
- Vamos juntos? – quis saber
- Não, preciso passar em casa – aquilo
me confundiu.
- Não vai precisar do carro? – ele
balançou a cabeça negativamente
Ele beijou a minha testa e se foi, nos
encontraríamos no trabalho, tive que
tomar banho em tempo recorde, coloquei
a primeira roupa que estava na minha
frente, fiz um coque no cabelo, uma
maquiagem rápida. Peguei minha bolsa e
passei na cozinha para tomar um café,
estava faminta. Sabrine já tinha saído, eu
olhava no relógio enquanto meu café não
ficava pronto.
Desci correndo até a portaria e Tyler
estava a minha espera, parei
repentinamente sem saber o que falar ou
fazer, até que ele me desejou bom dia e
abriu a porta do carro para que eu
entrasse, não sei por que, estava
constrangida, parecia que estava escrito
na minha testa “ontem tive o melhor
orgasmo da vida”.
Tyler me levou até o trabalho e antes
que ele saisse para abrir a porta do
carro me adiantei e pulei para fora. Eu
não era acostumada a ser tratada como
um dondoca. Agradeci a gentileza e
passei pelas portas duplas da Maximus.
- Bom dia Bruno, como está hoje?
- Bom dia, eu estou bem, obrigado por
perguntar – ele pareceu surpreso.
Fui à última a chegar ao meu
departamento, 15 minutos atrasada.
Odeio chegar atrasada em qualquer
lugar, da impressão que todo mundo está
olhando para mim, mesmo que estejam
cuidando de suas vidas.
- Um ótimo dia a todos – falei animada
- Que bicho te mordeu – Mari disse e eu
ri (Ah se ele soubesse!).
- Estou feliz, só isso – falei ligando meu
computador.
Eu comecei meu dia de trabalho,
minha vontade era ficar cantarolando o
dia inteiro, mas não queria dar bandeira,
não queria que as pessoas falassem que
eu estava saindo com o chefe, se bem
que de certa forma era isso mesmo que
estava acontecendo. Me encolhi quando
senti um hálito quente em meu pescoço,
era Enzo.
- Gata, e aquele nosso encontro, está de
pé? – ele me pegou de surpresa, achei
que ele já estivesse esquecido.
- Não vai dar, vou viajar hoje à noite,
vou pra casa dos meus pais passar o
final de semana.
- Mas almoçar a gente pode né? – ele
estava debruçado na minha mesa
- É bem...
- Aceita logo esse convite, não aguento
mais ouvir a voz dele – Sara falou
irritada.
- Tudo bem, eu aceito – ele saiu quase
saltitando.
Tenho certeza que aquela intimidade
toda não agradou Enrico, que estava na
mesa da Mari, apesar de parecer
entrosado com a conversa ele não tirava
os olhos de mim e de Enzo, eu engoli em
seco. Respirei fundo e voltei meus olhos
para tela do computador, comecei meu
“difícil” trabalho de filtrar e-mails,
aquilo já estava me cansando. Enquanto
Sara fazia o trabalho de verdade, eu
ficava ali esperando a hora passar. A
hora demorou horrores, eu não tinha
mais nada para fazer, resolvi navegar na
internet, procurar por um livro, fazia
tempo que não lia um romance.
- Oi gata? Bora almoçar? – Enzo cheirou
o meu pescoço... “de novo”
- Vamos... Sara quer vir com a gente? –
convidei na esperança que ela aceitasse
- Nem morta! – ela colocou a bolsa no
ombro, e saiu.
- Não acredito que você convidou a
Sara – Enzo falou no meu ouvido e eu
dei de ombros
Enzo me levou a um restaurante mais
afastado, e mais sofisticado também,
acho que ele estava querendo me
impressionar, se essa era a intenção,
conseguiu. Foi todo cavalheiro abrindo
e fechando a porta do carro, puxou a
cadeira para que eu sentasse e disse que
eu poderia escolher o que quisesse do
cardápio. Eu disse que comeria o que
ele fosse escolher para ele, eu nunca em
minha vida conseguiria ler aquele
cardápio, estava tudo em francês.
- Já esteve em Paris? – ele piscou para
mim
- Paris eu? – eu ri escandalosamente
- Se você quiser posso te levar um dia –
ele colocou a mão sobre a minha
Ele pediu um Ratatouille e de
sobremesa Profiteroles, foi à primeira
vez que comi comida francesa, uma
grata experiência. Enzo falava de suas
viagens pelo mundo, dizia que muitos
dos lugares que conheceu, foi graças ao
seu trabalho de fotógrafo. Conheceu
lugares incríveis, que nem em sonho eu
imaginei estar. O mundo fora da minha
pequena cidade de interior é tão vasto
que é difícil acreditar, eu estava
fascinada com tudo que ele falava.
Sobre a cultura e costumes de cada país,
foi como se eu estivesse estado junto
com ele, de tanta riqueza de detalhes que
ele me dava.
Ele disse que o melhor lugar que
conheceu foi Filipinas, dizia como as
ilhas são preciosas de águas límpidas,
que poderia ver peixes nadando, dizia
que o povo de lá adorava um Karaoquê,
a felicidade daquele povo é cantar, dizia
ele. Em cada esquina tem um aparelho
de Karaoquê.
- O lugar mais incrível que conheci – ele
disse, servindo vinho em nossas taças.
- Enzo! É incrível, tantos lugares – eu
beberiquei meu vinho.
- Ficarei feliz em ser seu guia – ele
ergueu a taça em um brinde
Enzo é um cara cheio de qualidades,
lindo, inteligente, culto e gostoso pra
caramba. Eu poderia me apaixonar com
facilidade por ele.
- Não deveríamos estar bebendo, afinal
vamos voltar ao trabalho – eu olhei no
relógio – em 10 minutos!
- Relaxa gata!
- Como eu posso relaxar? Vou passar o
restante da tarde na sala do Enr.. Do
senhor Enrico – tomei o restante do
vinho em um gole
- Ele não é tão ruim assim
- Na verdade, ele é ótimo! - ele não
percebeu o duplo sentido no meu
comentário
- Vamos, não quero te deixar mal com o
chefe – ele acenou para que o garçom
trouxesse a conta.
O almoço com Enzo foi mais
agradável do que eu previa, ainda não
entendi porque um homem tão completo
está solto na praça, ou talvez ele não
seja tão completo assim.
As gentilezas não pararam, ao
caminho da Maximus, ele parou em uma
floricultura e comprou um buquê de
flores pra mim, rosas vermelhas, ele
sabia mesmo agradar uma garota.
Chegamos à empresa com 15 minutos de
atraso, hoje realmente não foi meu dia.
Mais uma vez pareciam que dezenas de
olhos nos observavam, mas era paranoia
minha. Ninguém nem deu à mínima
quando chegamos, a não ser Mari que
elogiou minhas rosas.
Ela correu na copa e pegou um vaso
de flores, colocou minhas rosas e
acomodou num canto da minha mesa. Ah
eu amo flores ela disse suspirando.
- Foi o Enzo que te deu? – ela perguntou
incrédula
- Foi
- Ele deve estar mesmo afim de você,
porque não dá uma chance a ele?
- Somos amigos, só isso – falei pegando
minha agenda.
- Veremos até quando? – ela seguiu pra
sua mesa e eu não entendi o comentário
- Por quê? Um homem não pode ser
amigo de uma mulher? – ela me olhou
por cima dos óculos de grau
- Não é isso, ele é um homem difícil de
resistir – eu me calei.
Ainda bem que ele não estava na sala,
ou eu morreria de vergonha, ele havia
saído com Sara, para finalizarem seus
trabalhos, então estávamos somente
Mari e eu. Não por muito tempo, foi só
eu fechar a minha boca grande e Enrico
saiu do elevador.
Ele passou por Mariana e perguntou
se tinha alguma coisa importante para o
restante do dia. Mari disse que teria uma
reunião no final da tarde e ele pediu que
ela cancelasse.
- Mas senhor Enrico...
- Cancele – ele ordenou
Ele andou até minha mesa e não se deu
o trabalho de olhar para mim, seus olhos
pousaram em meu buquê.
- Você, pra minha sala – ele jogou o
paletó sobre o ombro e bateu a porta da
sala.
- Que bicho mordeu esse homem? – falei
sussurrando
- Eu não sei! Boa sorte amiga!
Peguei minha agenda e apertei no
peito, andava como uma tartaruga, na
esperança de retardar a minha chegada,
Mari fez um gesto com a mão pra que eu
entrasse logo. Quando eu estava na
metade do caminho, que parecia curto
demais, a porta se abriu nos pegando de
surpresa, Mari fingiu que anotava
alguma coisa e eu olhei para o homem a
minha frente.
- O que está esperando? Ande logo
temos muito que fazer – eu corri
literalmente e entrei naquela sala gelada.
Aquela sala estava mais gelada que
meu coração, Enrico fechou a porta
assim que entrei. Encostei-me à porta e
Enrico colou seu corpo no meu, ele
ergueu meu queixo com o dedo
indicador me fazendo olhar em seus
olhos dourados, ele passou a língua nos
lábios umedecendo-os, eu estava
ficando ofegante, ele beijou a lateral do
meu corpo e eu estremeci.
- Ah minha doce Emi, te quero tanto –
ele tocava meu rosto delicadamente.
- Eu também te quero tanto – eu gemi em
sua boca
- Você tem certeza disso? – ele dizia
entre um beijo e outro
- Si...sim – eu tentava tirar sua camisa
- Quando um vampiro ama, e pra toda
eternidade, então você ainda tem tempo
para desistir.
- Eu não quero desistir, eu quero você eu
quero estar com você pra sempre.
Ele me levantou e eu entrelacei as
pernas em sua cintura, o toque os beijos
dele, eram intensos. As mãos dele no
meu corpo me deixavam em chamas. Eu
só pensava naquele homem nu em cima
de mim, o peso do seu corpo mexendo
sobre o meu. Só de pensar eu ficava
mais excitada. Ele me colocou no chão
enquanto os beijos foram cessando, não
estava acreditando que mais uma vez eu
ficaria na vontade.
- Agora você vai pra casa – franzi o
cenho
- Pra casa?
- Vai terminar de arrumar suas coisas,
vou te levar para a casa dos seus pais –
eu tentei argumentar.
- Já está tudo acertado, Tyler está te
esperando, quando você voltar vai ter
uma surpresa – ele piscou me puxando
pela cintura.
- Hum estou louca pra saber o que está
preparando pra mim – levantei os pés e
beijei sua boca gostosa
- Estou preparando pra nós – ele
sussurrou em meu ouvido
- A propósito... Quem te deu aquelas
flores? Deixa-me adivinhar. Enzo, o
fotografo babaca?
- Sim foi ele
- Ele que não se atreva a chegar perto da
minha Emi, ou eu cravo meus dentes em
seu pescoço – eu fiquei paralisada.
- Não falei sério, fica calma – eu vi um
meio sorriso em seus lábios e relaxei.
- Enrico, você me encanta.
- Agora vai pra casa e fique linda – eu o
beijei e sai
Tyler me esperava encostado no capô
do carro com os braços cruzados. Assim
que viu, abriu a porta imediatamente, eu
fiz um movimento com a cabeça e ele fez
o mesmo. Mari ficou curiosa, queria
fazer todos os tipos de perguntas com
um só objetivo, porque Enrico havia me
dispensado mais cedo? Eu não menti,
omiti algumas partes obviamente, mas
disse que precisava ver meus pais e que
ele disse que eu poderia ir mais cedo.
Ela me olhou desconfiada e disse que
em todos esses anos trabalhando na
Maximus nunca vi o senhor Enrico se
importar com a vida pessoal de alguém,
que certamente era muito estranho. Eu
dei de ombros e disse que eu tive sorte.
Cheguei em casa em menos de meia
hora, Tyler disse que me aguardaria o
tempo que fosse necessário e me levaria
onde eu precisasse, disse também que
eram ordens expressas do senhor
Maximus.
Terminei minha mala tomei um banho,
coloquei um vestido comprido e leve,
pois estava um calor infernal. Ainda não
havia acostumado com aquelas
oscilações meteorológicas. Havia dias
em que experimentávamos as quatro
estações em um único só dia. Prendi o
meu cabelo em um rabo de cavalo e
passei apenas um gloss, antes de eu
terminar de me arrumar Sabrine passou
pela porta do quarto.
- Uau tá muito gata! Chegou cedo? – ela
olhou no relógio da cômoda
- Tyler me trouxe – falei puxando meu
rabo de cavalo
- Tyler? Quem é Tyler, já arrumou outro
namorado? – ela torceu aquela boca
escarlate
- Que eu saiba, eu não tenho nenhum
namorado.
- E aquele gostoso do senhor Maximus?
Aliás, você tem muito que me contar
mocinha – ela apontou aquele dedo
esguio e de unhas compridas pra mim.
- Aquele gostoso do senhor Maximus,
bom... Bem – eu não tinha uma resposta
- E aí? Quero respostas
- Bem... Acho que a gente está...
Ficando, e Tyler, é o motorista dele e
está lá fora me esperando pra me levar
para casa.
- Isso é incrível, você namorando o
Maximus – ela ergueu as mãos para o ar.
- Não é namoro! – eu ri
- Por enquanto, ele tá caidinho por você,
eu vi quando ele esteve aqui, no seu
quarto.
- Imagina! Ele pode escolher qualquer
mulher do mundo e vai escolher a mim?
- Aliás, ontem aqui no seu quarto, o que
foi que eu interrompi? – ela não ouviu
nada que eu falei
- Você não interrompeu nada – falei
puxando minha mala de rodinhas
- Emi!!! Você não vai sair daqui até me
contar tudo
- Quem sabe quando eu voltar?
- Você não vai me deixar aqui me
coçando de curiosidade por um final de
semana inteirinho, vai? – eu queria
tortura-la mais não havia tempo pra isso,
então resolvi contar.
Contei toda minha saga desde o
inicio, do momento da entrevista, do
sexo oral e pelo quase sexo no meu
quarto antes de ela nos interrompesse,
ela não tirava a mão da boca, e os olhos
pareciam que iria saltar das órbitas.
Claro que omiti a parte do “vampiro”,
como poderia contar se nem mesmo eu
acreditava naquilo. Era tão surreal tão
absurdo que eu nem sei como não estava
enlouquecendo com tudo isso. Eu
deveria estar de cara de tola apaixonada
revivendo toda aquela maravilha.
- Isso é ótimo!
- Agora preciso ir – disse abraçando
minha melhor amiga
Assim que cheguei à portaria, Tyler se
apressou pegando minha mala, eu não
esperei que ele abrisse a porta, eu
mesmo abri e entrei. Tyler pareceu
surpreso, mas não fez nenhum
comentário. O trajeto foi em silêncio,
Tyler não era do tipo falante. A noite
estava quente, linda, com céu estrelado.
Tyler fazia o trajeto da Maximus e eu
quis perguntar por que estávamos
voltando pra empresa.
- Tyler?
- Pois não, senhorita?
- Porque estamos voltando para
empresa?
- O senhor Maximus está nos
aguardando
Ele entrou pela garagem e estacionou,
novamente não esperei que ele abrisse a
porta e dessa vez ele pareceu
incomodado, foi até o porta-malas e
pegou minha bagagem, fomos para o
elevador e ele apertou cobertura. O que
Enrico está fazendo na cobertura? Achei
que Tyler me levaria direto para a
rodoviária. Se demorasse muito
perderia meu ônibus.
Foi aí que eu o vi, aquele homem
lindo de terno e com as mãos no bolso
da calça, o cabelo estava impecável, a
boca lindamente desenhada sorria pra
mim, os olhos dourados tinham um
brilho intenso. E atrás dele um
helicóptero preto com o nome Maximus
escrito em vermelho.
- Bem vinda senhorita Emily Malves,
aqui está seu transporte – ele fez uma
reverência.
- Obrigada senhor Enrico Maximus, é
um prazer, tão ilustre companhia – eu
ofereci minha mão.
- O prazer é todo meu... Senhorita – ele
beijou minha mão estendida
- Você pilota? – apontei para o
helicóptero
- Não! Eu ainda não tirei minha licença,
quem pilota é Tyler – não percebi que
Tyler estava na posição de piloto,
apertando vários botões. Enrico me
ajudou a subir no helicóptero e juntou-se
a mim. A máquina ganhou vida, o
barulho era ensurdecedor. Colocamos os
fones de ouvido e voamos rumo à noite
estrelada.
Dez
Antes de seguirmos ao destino final,
fizemos um voo panorâmico pela
cidade, uma cidade iluminada e cheia de
encantos, com a arquitetura que se
mesclava entre o tradicional e o
contemporâneo, Tyler sobrevoou os
principais pontos turísticos da grande
metrópole, nunca pensei que São Paulo
pudesse ser tão bonita vista de cima. No
dia-a-dia estamos sempre com tanta
pressa que não conseguimos admirar o
quão atraente é essa cidade.
Enrico estava me proporcionando
uma experiência incrível, estava me
apresentando um mundo que eu não
conhecia e que jamais pensei que um dia
faria parte, era tudo tão diferente
daquilo que eu estava habituada, mas
confesso que estava mais que encantada.
Uma hora mais tarde estávamos
pousando num campo aberto destinado
ao exército. Um carro preto estava um
pouco mais a frente, Tyler desceu e foi
cumprimentar o motorista. Enrico me
ajudou a descer, eu estava um pouco
tonta, não sei se pela viagem, ou pela
emoção de estar perto dele. Cambaleei e
Enrico me amparou.
- Está se sentindo bem? – ele tirou um
fio de cabelo que grudava nos meus
lábios
- Meio tonta – envolvi meus braços em
seu pescoço
- Gostou da surpresa?
- Se gostei? Você só pode estar
brincando, eu amei! – ele sorriu – quem
é aquele cara com Tyler?
- Um colega do exército, eu acho – ele
deu de ombros.
- Tyler era do exército?
- Sim
- Tá explicado a postura de armário, é
motorista, piloto e o que mais?
- Tyler tem muitos talentos, é por isso
que pago uma fortuna.
Tyler se despediu do seu amigo e
entrou no carro, Enrico puxou minha
mão e me levou até onde Tyler estava,
entramos no carro e fomos rodar por
minha cidade natal. Não que tivesse
muitos atrativos, na verdade não tinha
nenhum, a não ser um shopping de um
andar onde funcionava um cinema e um
boliche, aos finais de semana com chuva
ou de frio aquele lugar eram
movimentado, parecia que toda cidade
se concentrava ali. Nos dias de sol e
verão, os parques eram que ficavam
lotados. Com a mudança de transporte,
cheguei com duas horas de antecedência,
esqueci-me de avisar ao meu pai que
não era mais necessário me esperar na
rodoviária, então mandei uma mensagem
de texto, dizendo que já estava na
cidade, e que logo mais estaria entrando
pela porta.
A chuva começava a cair e o cheiro
de terra molhada se espalhava pelo ar,
eu até que sentia falta daquilo. Enrico
disse que viria me buscar no domingo à
noite, que eu não precisava me
preocupar em pegar ônibus, eu disse que
ele já havia feito muito por mim.
- Enrico... Você já cancelou uma
reunião, não quero que mude seus planos
pra poder encaixar os meus.
- Emi, você agora é a minha prioridade,
meu mundo agora é você, meu prazer é
servir você – ele passou o polegar no
meu lábio inferior.
- Ah Enrico – minha voz era um fiapo
- Posso te fazer uma pergunta? – ele
desviou o olhar
- Quantas desejar – falei.
- Você não se importa que eu seja um
mostro? – sua voz era sedosa
- Você não é um mostro – virei seu rosto
em minha direção
Ele estava enganado, ele não era um
monstro, que espécie de mostro ajuda
crianças e se preocupa com o meio
ambiente? Que espécie de mostro
emprega milhares de pessoas? O fato de
ele ser vampiro não tira o mérito de ele
ser um bom homem. Ele olhava pra mim
como se tivesse abalado, os olhos eram
tão hipnóticos quanto à voz.
- Emi... Isso é um erro – não entendi o
que ele quis dizer
- Do que está falando?
- Não quero machucar você
- Você nunca me machucaria! Não me
importa o que você é, eu não vou me
afastar de você – ele me lançou um meio
sorriso e eu continuei.
- E você, o que viu em mim? Não passo
de uma garota comum
- Você não tem nada de comum, é a
mulher mais forte e destemida que já
conheci, e a mais bonita também.
- Mentiroso!
- Emily minha doce Emily, você me
trouxe de volta do mundo dos mortos,
você me mostrou uma vida colorida,
como não admirar e amar-te? Você agora
é o ar que eu respiro. Você é tudo que eu
quero, estou quebrando todas as regras.
Eu não entendi o que ele quis dizer,
tentei me aprofundar no assunto, mas ele
se esquivou, dizendo que era pra eu
aproveitar o final de semana com meus
pais, que depois conversaríamos sobre o
assunto. Ele me deixou na entrada da
minha casa, parecia que fazia tanto
tempo que eu estava fora, tudo era tão
diferente. Disse que se precisasse dele,
poderia ligar a qualquer hora. Lembrei
que não tinha o número do celular
particular dele.
- Eu não tenho seu número
- Tem sim, eu gravei na sua agenda.
Ele beijou minha testa e ficou me
observando até eu passar pelo enorme
portão, depois se foi. Meu pai apareceu
na porta de entrada, correu para me
abraçar.
- Emi filha, papai estava morrendo de
saudades – ele me abraçou forte.
- Ah pai senti tanto sua falta – uma
lágrima caiu
- Vem meu amor, sua mãe está
esperando. Mas me conta porque chegou
tão cedo?
- Peguei uma carona Pai
- Emi, já falei que pegar carona é
perigoso, ainda mais em São Paulo – já
conhecia aquele discurso.
- Não peguei carona com desconhecido
Entrei na sala olhando ao redor, como
é bom estar em casa, sinto tanta falta de
tudo, da disposição dos móveis, do
cheiro peculiar de comida caseira, até
do cachorro da vizinha latindo. Minha
mãe gritou meu nome do segundo andar.
- Emi, é você?
- Sou eu mãe, estou em casa!
Minha mãe desceu as escadas
correndo, me abraçou quase caímos no
sofá, dizia que não aguentava de tanta
saudade, que quase arruma as malas pra
ir morar comigo, mas que papai não
havia deixado. Enquanto meu pai levava
minha mala para o quarto, minha mãe me
puxava para o sofá.
- Me conta tudo filha. Como está se
saindo morando com a Sá? Como está
indo no estágio? Como é a empresa? Já
arrumou um namorado? Quando vai
voltar para casa de vez? – minha mãe
me bombardeou de perguntas, nem sabia
por onde começar.
- Só isso a senhora quer saber? Não tem
mais nada para perguntar? – falei rindo
e ela deu um tapinha na minha perna
- Deixa a menina descansar mulher –
meu pai disse sentando em sua poltrona
- Mas essa menina está tão magra Pedro
– minha mãe e essa mania de dizer que
estou magra
Meu pai ficou na sala assistindo um
jogo de futebol enquanto minha mãe e eu
fomos para cozinha. Era naquele
ambiente que conversamos sobre tudo, e
foi ali que comecei a responder ao
interrogatório. Comecei falando como
era morar com Sabrine, que ela era
muito organizada, que no começo
apanhei um pouco pra pegar o ritmo, que
a empresa era uma das melhores no
ramo, que estava me dando bem no
estágio que todos me receberam de
braços abertos.
- E os garotos? Algum interessante? – eu
comecei a gaguejar, se tinha uma coisa
que eu não sabia, era mentir pra minha
mãe.
- Err.. Acho que não
- Eu acho que tem sim, me conta tudo.
- Mãe!
- Se não tivesse, você não estaria
vermelha como um tomate – ela cravou
os olhos em mim.
Minha situação era mais delicada do
que eu previa, teria que contar pelo
menos partes da história. Estava pisando
em ovos, escolhendo as palavras.
- Estou ficando com um cara – ela deu
gritinho
- Me conta tudo, como ele é? Estagiário
também? Ele é bonitinho?
- O nome dele é Enrico – falei sem
rodeios.
- Tá... Enrico e o que mais? Estagiário?
- Enrico Maximus, ele não é estagiário e
ele é bonitinho – falei pausadamente.
- Enrico Maximus, que engraçado tem o
mesmo nome do dono da empresa que
você trabalha – eu desviei o olhar.
- É com o meu chefe que eu estou
ficando – minha mãe ficou pálida
- Não! Você não está falando sério?
- Eu estou sim, estou ficando com o meu
chefe, Enrico Maximus.
- Quem está ficando com quem? – meu
pai apareceu na porta da cozinha.
Os dois olhavam pra mim como se eu
tivesse dito que tinha feito um assalto,
meu pai com os braços cruzados e minha
mãe com as sobrancelhas arqueadas.
Não era minha intenção tocar nesse
assunto assim tão cedo. Queria deixar as
coisas rolarem, está rolando tudo tão
bem, não queria estragar. Mas não
conseguia sair daquela sinuca de bico,
teria que me explicar de alguma forma,
ou meu final de semana seria
desgastante.
Limpei a garganta querendo ganhar
tempo, na esperança de formular uma
história convincente, não queria nem
poderia dar muitos detalhes.
- Pai, mãe... Estou ficando com Enrico
Maximus, meu chefe, não era minha
intenção me envolver com ele e nem
com ninguém, mas aconteceu – mexia na
pulseira do meu relógio sem parar.
- O que você quer dizer com...
Aconteceu? – o questionamento veio do
meu pai
- Essas coisas acontecem pai, não foi
nada premeditado.
- Esse homem só quer diversão minha
filha, acho bom colocar um ponto final
nessa história.
- Como pode cair na conversa desse
homem? Ele é muito velho para você –
minha mão colocou a mão sobre a minha
- Mãe! Ele só tem 30 anos, meu pai
também é 10 anos mais velho que a
senhora.
- Isso não vem ao caso – ela retrucou
- E por quê? Posso saber? – não
aceitaria aquela bobagem como
argumento.
- Eu e sua mãe temos uma história, você
e esse Maximus se conheceram quando?
Há uma semana? – ele elevou o tom de
voz
- Vocês estão fazendo tempestade num
copo de água, não estou dizendo que vou
casar, só estou ficando só isso.
- Ele não é homem pra você – meu pai
cuspiu as palavras
- Nenhum homem vai ser bom o bastante
para mim, com o Jonas foi à mesma
coisa lembra?
- Chega de falação vocês dois! – minha
mãe se levantou – não vamos estragar
nosso final de semana com briguinhas.
Depois conversamos sobre isso ok? –
suspirei aliviada
Meu pai voltou para seu jogo e eu
fiquei na cozinha com minha mãe. Meu
pai aprendeu a não questionar as
decisões da dona Helena.
- Obrigada mãe! – escorreguei na
cadeira
- Obrigada nada, pode me contar tudo.
Nunca tive segredos com minha mãe,
então poderia contar tudo, ou quase
tudo, contaria somente o que ela
precisasse saber. Contei cada detalhe do
dia da minha entrevista e como me
sentia atraída por Enrico desde o
primeiro dia, como ele era gentil e que
se preocupava comigo, que ele me
trouxe de helicóptero, e que eu não
parava de pensar nele nem se quer por
um minuto, o melhor de tudo que eu
estava feliz.
- Eu nunca vi seus olhos brilharem tanto,
mesmo quando você falava do Jonas na
época do namoro de vocês – ela pareceu
surpresa.
- Com Enrico é diferente, ele é como se
fosse parte de mim, é como se... Eu
precisasse dele pra respirar
- Emi, você está amando, e isso é tão
bonito, só espero que ele não te magoe.
- Porque ele me magoaria? Isso não vai
acontecer – meus olhos estavam ardendo
- E não vai meu amor, não vai
acontecer.
Minha mãe disse que apoiaria minhas
decisões, e que eu seguisse meu
coração. Meu pai não tocou mais no
assunto, sábado pela manhã fomos tomar
café numa confeitaria, que sempre me
encontrava com minhas amigas de
colégio. Na parte da parte fui ao cinema
com duas delas, que me encheram de
perguntas, me diverti, estava curtindo
demais meu final de semana, era bom
estar em casa era bom encontrar velhos
amigos. Porém minha vida atual me
chamava, queria ver Enrico, estava
louca de saudade, parecia uma garota
apaixonada e insegura.
Já era tarde da noite de sábado, estava
deitada na minha cama olhando para o
teto, às vezes pegava o telefone e olhava
pra ele, como se ali eu fosse achar
respostas, não consegui evitar. No
primeiro toque ele atendeu.
- Emi? Tá tudo bem? – a voz era ansiosa
- Estou morrendo de saudade – falei
melosa
- Eu posso estar com você em um piscar
de olhos – pensei por um momento,
aquela proposta me fez sorrir, queria ele
aqui e agora, mas me contive. Aquele
final de semana era destinado somente a
minha mãe e meu pai
- Tudo bem, eu aguento, amanhã a gente
se vê.
- Estou contando os minutos – ele
sussurrou com uma voz sexy me fazendo
derreter
- Nos vemos amanhã
- Boa noite minha doce Emi – a ligação
foi encerrada
Naquela noite demorei a dormir, meu
coração transbordava de alegria e
saudade, minha intenção era acordar no
domingo bem cedo, mas não consegui
por conta da noite agitada com sonhos
ruins. Acordei quebrada com dores por
todo meu corpo, fui me arrastando pra
cozinha ainda de pijama. Encontrei uma
mãe chorosa com os olhos marejados.
- Mãe! Para com isso, só estou há três
horas daqui – sequei uma lágrima
teimosa.
- Eu sei... Eu sei...
- Então vamos parar de bobagem e
vamos curtir nosso domingo
Liguei o rádio e tocava Viva La vida
do Coldplay, puxei minha mãe e
começamos a dançar pela cozinha. Meu
pai encostado no batente da porta só
olhava e testemunhava a nossa
felicidade.
Depois do almoço fui arrumar minhas
coisas, um final de semana foi pouco pra
matar a saudade, haveria outros. Com as
malas prontas eu me despedi dos meus
pais, enquanto aguardava a chegada de
Tyler. Enrico me ligou mais cedo,
dizendo que não poderia vir por um
imprevisto de última hora, alguma coisa
em uma das empresas.
Tentei persuadir Tyler, foi em vão ele
não abria aquela boca por nada. Depois
da chorosa despedida me concentrei na
expectativa de chegar em casa. Fizemos
o mesmo trajeto, o helicóptero nos
aguardava com motores ligados. Na
decolagem um frio percorreu a minha
espinha e um gelo no estômago. Uma
hora depois estávamos aterrissando no
heliporto da Maximus. Aproveitei cada
momento, cada monumento e cada
sensação daquela viagem.
Tyler me ajudou a descer pegou minha
mala e descemos ao subsolo, apertou o
alarme do carro importado destravando
as portas, abriu a porta pra mim, eu
olhei torto, ele nem se abalou. Me
levava por um caminho desconhecido,
não me lembrava daquela ruas de casas
amontoadas, de ver aquelas crianças de
pés descalços correndo pela rua.
- Tyler? Onde estamos indo?
- Para casa do senhor Maximus, ele
gostaria de ver a senhorita antes de eu
leva-la pra casa – dei de ombros, ainda
estava cedo.
A luz do dia ainda iluminava as ruas
arborizadas, o choque de realidade era
imenso, minutos atrás estávamos, em um
bairro de classe baixa, não demorou
muito e já se via mansões e prédios
residenciais luxuosos. Tyler virou a
esquerda entrando num condomínio
fechado, mansões de alto nível, como
aquelas que vemos nos filmes de
Hollywood. Paramos em frente a uma
casa de três andares e gramado
verdinho, com portas enormes. Uma
mulher aparentando 60 anos de uniforme
nos aguardava na escadaria. O interior
da casa era ainda mais impressionante,
um ambiente claro, com móveis
contemporâneos, com janelas que iam
do chão ao teto, o ambiente era
tipicamente masculino.
- Sr. Maximus está aguardando a
senhorita no escritório – Tyler me
acompanhou
Cruzamos um enorme corredor, com
estantes repletas de livros, no final do
corredor uma porta fechada me
aguardava, Tyler apontou o escritório e
dali, segui sozinha. Andei a passos
curtos, respirei fundo e bati na porta.
- Entre – os pelos do meu braço se
iriaram
- Oi – coloquei a cabeça no vão da porta
Ele se virou pra me olhar, ele usava
uma calça jeans desbotada e uma
camiseta azul marinho que se moldava
perfeitamente ao seu corpo, estava
descalço, ele se aproximou da porta me
puxando pra dentro, em instantes sua
boca colou na minha.
Levei minhas mãos ao seu pescoço
acariciando sua nuca, ele tirou a camisa
e eu me delicie com a visão daquele
abdômen definido, minhas mãos foram
direito para o botão da sua calça, eu
abri e lancei minha mão pra dentro,
acariciando cada centímetro do seu
membro rígido. Ele me ajudou, tirou a
calça ficando de boxer preta. Ele
beijava do meu maxilar até a orelha, eu
gemia e isso o agradava.
Ele abaixou a alça da minha blusa
beijando o meu ombro nu, a cada beijo
minha pele queimava, ele tirou minha
blusa jogando no chão, tirou meu sutiã
com delicadeza e admirou meus seios,
tocou cada um, antes de capturar um
deles com a boca. Minhas pernas já
estavam ficando tremulas. Ele tirou
minha calça e também jogou do outro
lado.
- Nada de calcinha?
- Nenhuma – eu estava nua na frente
daquele homem que eu desejava tanto
Ele me levantou me encaixando em
sua cintura, nossos beijos eram urgentes
e famintos, ele me levou para um enorme
sofá ao canto, colocando-me
delicadamente, tirou a boxer, eu fiquei
sem fala, minha nossa... Uau, aquilo
era... Uau... Bom demais, perfeito
demais, e era tudo pra mim. Ele afastou
minhas pernas com seu joelho e
encostou seu membro na entrada da
minha parte mais sensível, eu arfei, ele
capturou minha boca mordendo
suavemente meu lábio inferior, enquanto
entrava e saía de dentro de mim.
Minutos depois eu estava gritando
pedindo mais, ele conseguia me
preencher por completo, estendi a mão
apertando sua bunda dura, guiando
enquanto ele entrava em mim. Conforme
eu gemia ele sorria nos meus lábios,
conforme ele gemia eu apertava cada
vez mais, levando meu quadril de
encontro ao dele.
Depois de uns 20 minutos suando
naquele sofá, enfim relaxamos, parecia
estar pisando nas nuvens, ele desabou
sobre mim. Eu acariciei seu cabelo
suado.
- Ah minha doce Emi, agora você é
minha pra sempre!
Onze
Depois da performance naquele sofá,
fomos para o quarto, atravessamos o
corredor na pontinha dos pés, não queria
que ninguém me visse. Enrico
gargalhava, dizia que ele morava
sozinho, não teria ninguém pra nos
espiar, mesmo assim ficaria
envergonhada se aquela senhora que me
recebeu cruzasse comigo no trajeto. O
quarto era um espetáculo a parte, a cama
era enorme com lençóis finos de seda,
as janelas tão grandes quanto do andar
de baixo. Repetimos as manobras de
minutos atrás, balançamos aquela cama
mais vezes do que eu consigo lembrar.
Ele não se cansava, eu consegui
acompanhar seu ritmo até o inicio da
madrugada, ele me deixou exausta,
saciada e feliz.
Os lençóis de seda azul cheirava a
Enrico, aquele cheiro de homem que
acaba de sair do banho, inebriante. Os
lençóis cobriam a sua cintura, olhando
aquela delicia toda tive vontade de cair
novamente em seus braços, queria me
aconchegar naquele corpo gostoso. Ele
pareceu ler meus pensamentos, me
puxou pra junto de si.
- Emily... O que você está fazendo
comigo?
- Estou amando você! – falei sem
pensar, ele se levantou descobrindo a
única parte que estava coberta.
- O que você disse? – eu via um sorriso
torto em sua boca
- Bem...
- Não seja covarde Emily – ele me
provocava
- Não falei nada que você ainda não
saiba
- Eu quero ouvir
- Você é bem autoritário senhor Enrico –
falei sorrindo
- E persuasivo – ele falou mordendo
minha orelha
- Eu amo você, eu quero você, eu
preciso estar com você, ok?
- Ok – ele respondeu – me deixa mostrar
o quanto te quero
- será um prazer
- Ah me desculpe, é a Emily,
namorada do seu filho.
Vinte e dois
Foi um choque, não era verdade, eu
estava entendendo errado era isso.
Enrico jamais faria isso comigo, ele me
amava, e quem ama não trai, não tem
segredos. Tive dificuldades em colocar
minha cabeça em ordem, estava
atordoada e não conseguia pensar
direito, respirei fundo tentando assimilar
o que acabará de ouvir, e o veredito não
foi satisfatório.
Não! Eu não estava enganada, Enrico
queria apagar minha memória? Porque
ele cogitou essa hipótese? Senti como se
tivesse sido apunhalada pelas costas,
levei à mão a garganta, estava sufocada,
tinha dificuldades pra respirar. Tentei
sair em disparada, mas não rápido o
suficiente, Enrico me segurou pelo
braço.
- Eu posso explicar – ele disse
- Não toca em mim – olhei para sua mão
furiosa
- Emi? Por favor – ele sussurrou
- Tarde mais! – puxei meu braço e saí
Minha visão estava embaçada com as
lágrimas que se formaram tão rápido que
não pude conter, passei entre as pessoas
empurrando um ou outro, sem me
desculpar. Avistei Sabrine na pista de
dança, não era minha intenção estragar
sua noite, mas precisava dela, precisava
voltar pra casa. Ela balançava a cabeça
pra lá e pra cá, dançava com um sujeito
desengonçado. Segurei em seu braço
ganhando sua atenção, ela olhou pra mim
e o sorriso que tinha nos lábios
desapareceu assim que olhou nos meus
olhos, certamente estavam vermelhos,
ela me seguiu fugindo daquela
movimentação.
- O que aconteceu? – ela segurava meus
ombros
- Preciso ir embora – meu peito subia e
descia
- Vou buscar o Felipe, fica aqui – ela
saiu correndo, enquanto eu ficava
encostada em uma pilastra.
Ao longe vi Enrico se aproximando,
me encostei ainda mais, por sorte ele
não me viu, olhava em todos os lugares
possíveis, menos na minha direção. Uma
mão tocou meu ombro me fazendo pular
assuntada, queria ser invisível, não
queria encontrar meus colegas de
trabalho e ter que explicar porque sairia
no meio do evento, não tinha nada em
mente e não queria parecer grosseira,
nenhum deles tinham culpa de nada.
- O Felipe já está no carro, vamos pra
casa – Sá me segurou pela cintura.
Minha respiração estava irregular, o
mundo parecia ter desabado na minha
cabeça, Sabrine e Felipe me conheciam
o suficiente para não me perguntarem
nada, não naquele momento, eu só
precisa de um tempo para colocar minha
cabeça em ordem.
Fui no banco de trás enquanto Sabrine
estava no banco do carona, era melhor
assim, não suportaria seu olhar de pena,
mesmo sem saber o que estava
acontecendo, do jeito que eu estava
frágil ela arrancaria até meus segredos
mais íntimos, e eu não poderia abrir meu
coração. Coloquei a mão no peito, meu
coração parecia quebrado despedaçado.
Encostei a cabeça no encosto do banco e
chorei silenciosamente, chorei por não
acreditar que Enrico queria apagar
minha memória, chorei por me sentia
traída.
- Eu não sei o que aconteceu “ainda” –
Sabrine comentava com Felipe
- Sá... Agora não! – falei antes que ela
começasse com as perguntas.
Pareceu uma eternidade até Felipe
entrar por aquela garagem, assim que o
carro foi desligado destravei o cinto e
saí, tentei correr, mas, meu vestido me
atrapalhou, pisei na barra e quase fui
parar no chão se não fosse Felipe para
me amparar. Entramos no elevador em
silêncio, e assim permanecemos até
parar no nosso andar.
- Caralho! Como esse cara chegou aqui
tão rápido? – Felipe falou quando
saímos do elevador.
- Ele te machucou? – Sabrine olhou pra
mim enquanto falava
- Não fisicamente
Sabrine e Felipe aproximavam-se da
nossa porta e eu fiquei paralisada,
precisava ser forte e seguir meus
instintos. Felipe pegou a chave no bolso
do casaco e destrancou a porta, os dois
olhavam pra mim, ficaram sem saber se
entravam ou se ficavam me esperando.
Foi então que Felipe puxou o braço de
Sabrine arrastando-a para dentro do
apartamento.
Enrico continuou imóvel encostado na
parede ao lado da porta, estava com as
mãos nos bolso e olhava fixamente
enquanto eu me aproximava lentamente.
- Precisamos conversar - ele disse
enquanto eu tentava passar pela porta
- Hoje não! – entrei sem olhar pra trás
Vinte e quatro
Nunca pensei que fosse passar por
tantos desafios em um espaço tão curto
de tempo, minha vidinha pacata e
politicamente correta havia ficado pra
trás. Conheci pessoas fortes e capazes
de suportar fardos que jamais
imaginaria. Conheci pessoas que
inspiram. Tornei-me uma mulher
diferente, me sinto mais forte, capaz de
enfrentar e travar batalhas, esse meu
lado não conhecia, não era mais aquela
garota frágil.
Depois de sair da casa de Amom
resolvi caminhar para espairecer, ele
insistiu em me levar em casa, mas não
aceitei, precisava de um tempo sozinha.
Precisava colocar minha cabeça em
ordem, minha mente borbulhava. O
vento soprava me fazendo sentir frio,
abracei meus braços na tentativa de me
aquecer, vi casais andando de mãos
dadas, outros em suas conversas
entrosadas. E nada me fazia esquecer
meu vampiro CEO.
Cheguei em casa exausta, Sabrine me
disse que eu estava com a cara péssima,
estava com olheiras e realmente abatida,
constatei assim que vi meu reflexo no
espelho do corredor.
Eu só precisava de uma noite entre
garotas, e Sabrine era a melhor, quando
se tratava de “coisas” de garotas. Ela
espalhou vários DVDs no chão, parecia
uma criança, eu amava aquela essência.
Ela olhou pra trás e perguntou:
- Você está a fim de chorar? – balancei a
cabeça
- Eu não choro à toa – falei dando de
ombros
- Pois eu sim – ela falou colocando o
disco no aparelho
Enquanto passava os trailers fui fazer
pipoca de micro-ondas, peguei duas
latinhas de guaraná e coloquei sobre a
mesa de centro. Quando o micro-ondas
deu sinal, o filme começou. Corri pra
colocar a pipoca em uma tigela de
vidro, não queria perder o começo do
filme, sentamos lado a lado com as mãos
cheias de pipoca e já no começo do
filme Antes que termine o dia, eu já me
acabava em lágrimas.
- Não quer mesmo me contar o que está
acontecendo? – Sabrine pausou o filme.
- Não tem mais nada pra falar Sá! –
enchi minha boca com pipoca
- Eu não estou mais vendo aquele brilho
nos seus olhos, não quero te ver sofrer
por ninguém, ainda mais por esses putos
que acabam ferrando com o coração da
gente – ela colocou o cabelo atrás da
orelha, aquele sinal de nervosismo.
- Você está falando de mim? Ou de
você? Cadê seu amor? – era assim que
ela se referia ao namorado ausente
- Terminamos! Na verdade ele terminou
– seus olhos brilhavam e seu lábio
tremia.
- Ah Sá, eu sinto tanto! – acomodei sua
cabeça no meu colo
- Ele me traiu, ele se apaixonou por
outra – ela chorou copiosamente.
Me coração se partiu ao ver minha
amiga naquela tristeza, eu queria poder
dizer que ficaria tudo bem, mas não
ficaria. Essa é uma dor que só o tempo
cura. Eu queria ter o poder de tirar toda
aquela dor do seu coração, uma pessoa
tão boa não deveria sofrer tanto, e eu
odiava aquele homem com todas minhas
forças. Eu sei que não escolhemos por
quem nos apaixonamos, qualquer um
está sujeito a isso, mas ninguém quer
que aconteça.
Naquele momento era Sabrine que
precisava ser confortada e eu estava
disposta a levantar o astral da minha
melhor amiga, aquela que sempre esteve
ao meu lado e sempre me apoiou nas
maiores loucuras.
- O que você acha se fossemos tomar
todas hoje? – ela riu sem humor
- Essa hora? – ela olhou no relógio de
pulso
- Ainda não são nem dez – falei sorrindo
- Mas é segunda-feira!
- E dai?
- Vou me arrumar – não precisou muito
pra convencer Sá
Fomos ao bar de Enrico, irônico eu
sei, mas também sabia que ele não
estaria lá. Ele deixa tudo nas mãos do
seu competente gerente. Era um lugar
que eu gostava de frequentar, além do
ambiente familiar, era um lugar que me
trazia ótimas recordações.
Foi ali que me rendi aos encantos do
senhor Maximus, foi naquele ambiente
que nos reconciliamos da nossa primeira
briga e foi ali que morri de amores ao
vê-lo cantar.
Fomos de táxi, se a ideia era afogar
as mágoas, não seria boa ideia dirigir,
sentamos à mesa de sempre, antes
mesmo de pedirmos nossas bebidas, um
garçom se aproximou com duas taças
com coquetéis de frutas, dizendo que era
cortesia do cavalheiro da mesa à
esquerda, Sá e eu olhamos na mesma
direção. O referido cavalheiro nos
saudou com um sorriso, era Amom.
- Aimeudeus!Aimeudeus, pelo visto já
conhece todos os homens lindos de São
Paulo - ela ergueu seu copo saudando-o.
- Pelo menos isso – reproduzi o gesto da
Sabrine
- Quem é? Gato demais! – ela olhou
novamente
- Amom, amigo de Enrico – Amom
vinha em nossa direção.
- Puta que pariu ele é gostoso, tô
morrendo de calor – ela tomou um
grande gole de sua bebida.
Antes deu eu responder, Amom já
estava parado em frente a nossa mesa.
Ele realmente estava bonito, usava uma
calça preta que modelava bem o seu
corpo e uma camiseta também preta. Ele
não tinha o corpo tão definido quanto
Enrico, ele era mais magro, tinha porte e
elegância de um príncipe.
- Emily, que sorte a minha vê-la duas
vezes no mesmo dia – ele beijou minha
mão, não posso deixar de mencionar que
além de lindo é galanteador.
- Como vai Amom?
- Muito bem – ele deu seu melhor
sorriso
- Essa é minha amiga Sabrine –
apresentei.
- Não pude deixar de notar quão bela
está essa mesa – ele beijou sua mão e
ela corou
Em todos nossos anos de amizade,
nunca vi Sabrine corar, e ficar sem fala,
não achei que viveria pra ver essa cena.
Tá, tudo bem, eu posso ter visto uma ou
duas vezes, mas não nessa intensidade.
- Que coincidência você aqui, não quer
se sentar? – puxei uma cadeira
- Obrigado! – ele se aproximou mais de
mim – Enrico pediu pra eu cuidar de
você
- Que? – falei assustada, acho que fiquei
pálida.
- Brincadeira – ele se apressou em
dizer.
- Ele está bem? – me arrependi de ter
perguntado
- Já o perdoou? – ele respondeu com
outra pergunta
- É complicado
- Ele não está bem, dê uma chance a ele
– Amom deu tapinhas na minha mão.
- Sá, Amom mora em Dubai não é
incrível? – mudei de assunto.
- A senhorita conhece Dubai? – Ele
lançou um olhar a Sabrine que faria
qualquer iceberg derreter.
- Nã... não, mas adoraria – ela gaguejou
- Vocês duas são bem vindas à minha
casa – A imunidade dela já era.
Sabrine acabou contando a vida
inteira para Amom, sobre como passou
na faculdade de Direito, como foi
maravilhoso o tempo que passamos no
Canadá. E como achava a Itália uma
cidade linda e romântica, já que seus
pais possuem uma casa lá, e ela passou
algumas férias naquele lugar encantador.
Dizia como amava o filme Meia noite
em Paris, e como Paris ficava mais
bonita quando chovia.
Eu estava ficando entediada, pois
conhecia aquela vida, como se fosse
minha, e às vezes me sentia uma
impostora por estar escondendo tantas
coisas da minha melhor amiga.
Amom parecia encantado, a cada
frase ele concordava, ele estava ouvindo
com interesse genuíno.
Pedimos mais uma rodada de bebidas,
e uma tábua de frios, a noite estava
realmente agradável, e ver Amom foi
uma grata surpresa. Amom conseguiu
fazer com que Sabrine se divertisse
coisa que achei que fosse impossível.
Seus olhos não estavam perdidos, não
via sinal de tristeza e ressentimento, por
um momento, mesmo que pequeno, ela
esqueceu que tinha sido traída. Coloquei
minhas mãos debaixo do queixo e me
deliciei com todas as histórias que
Amom tinha pra contar. Ele contava de
suas andanças pelo mundo e concordou
que Paris ficava mais bonita quando
chovia, dizia que sempre se interessou
pelos costumes dos séculos passados, e
que seu século favorito era o XIX.
Não pude deixar de pensar na história
que ele havia contado mais cedo, foi
nesse século que ele conheceu Enrico,
tenho certeza que foi nesse século que
ele havia se aceitado. Dizia que do
mesmo jeito que conheceu gente
interessante e inteligente, conheceu gente
mesquinha e vazia. A conversa estava
incrivelmente interessante, que não
vimos que já era tarde, ou melhor, cedo,
sei lá, depende do ponto de vista. Eram
03h da manhã.
Amom insistiu em nos levar pra casa,
por um momento achei mesmo que ele
estava cuidando de mim, mas talvez
fosse paranoia minha, ele pagou a conta
e cumprimentou o gerente, ofereceu um
braço a mim e o outro a Sá, nos
conduzindo até a saída.
Quando Amom abriu a porta do carro,
num ato impensado sentei no banco de
trás, Sabrine me olhou desconfiada,
assim que a porta se fechou, percebi que
minha atitude não foi tão impensada
assim. Ele abriu a porta do passageiro
ajudando Sabrine a entrar afivelando seu
cinto de segurança, aquele gesto
surpreendeu minha amiga, que virou pra
trás me olhando enquanto ele contornava
o carro para ocupar seu lugar atrás do
volante. Eu achei lindo o cuidado que
ele teve com ela, só poderia vir de um
príncipe. A conversa no caminho de
volta continuou interessante, nem
percebemos quando paramos.
Ao estacionar em frente ao nosso
prédio, o ritual foi o mesmo,
agradecemos a gentileza e nos
despedimos.
- Boa noite Amom – beijei seu rosto
- Boa noite Emily
- Boa noite Amom – Sabrine também o
beijou
- Boa noite Sabrine, foi realmente um
prazer conhecê-la – ela mais uma vez
ruborizou.
Assim que cruzamos a portaria,
Amom deu partida, por coincidência, ou
não, meu celular vibrou com uma
mensagem de Enrico. Só de ver seu
nome na tela meu coração deu
cambalhota, eu amava aquele homem
com todo meu coração. A quem eu
estava enganando? Sabrine contava as
maravilhas de Amom, e eu pensando se
responderia aquela mensagem ou não, às
vezes me acho tão idiota, não fundo do
meu coração eu já havia perdoado, o
que eu sentia era medo.
- Emi?
- Oi Sá
- Obrigada pela noite! Eu te amo amiga
– ela me abraçou e foi para o seu quarto
Na verdade eu não fiz nada, quem
colocou um sorriso naquele rosto foi
Amom, eu sorri com a ideia dos dois
juntos, formariam um casal lindo, fui
para meu quarto, precisava fazer as
pazes com aquela cama, precisava de
uma boa noite de sono. Tudo bem que
seriam poucas horas. Quem teve a ideia
de sair em plena segunda-feira?
Tirei o celular do bolso e li à
mensagem, tudo me fazia lembrar ele, na
verdade eu nunca o esqueceria, a
mensagem era simples e direta.
Emi... Me perdoa?
Eu poderia perder aquele homem em
uma semana, e não era como no caso de
Sabrine, que perdeu para outra mulher.
Eu o perderia para morte, meu estômago
revirava só de pensar nessa hipótese. E
se isso acontecer eu vou me odiar pelo
resto da vida, me odiaria por não ter
perdoado, me odiaria por ter perdido
tanto tempo e não tê-lo amado mais, me
odiaria por não dormir e acordar em
seus braços. Eu sei que era odioso
pensar nisso, mais era uma
possibilidade. Meus dedos tremiam ao
digitar a mensagem.
Sim!
Vinte e seis
Foi tudo perfeito, esses dias no Rio
de Janeiro vão ficar pra sempre
marcado na minha memória e no meu
coração. Cada lugar que visitamos, cada
conversa que tivemos me fez ficar ainda
mais apaixonada. Na última noite
estávamos sentados na areia, olhando
aquele mar revolto, o vento anunciava
chuva, mas queria continuar ali, eu
usava uma saia comprida branca que
ficou transparente quando a chuva caiu,
assim como minha regata rosa, Enrico
queria me proteger de todas as formas,
mas minha reação era outra, não queria
me esconder, queria ficar ali com ele.
Queria que água levasse tudo que tinha
de ruim, e purificasse nossa alma. Beije-
me eu disse, ele segurou com delicadeza
meu queixo me olhando nos olhos, nem a
água que caia da chuva era capaz de
apagar aquela chama. Foi um beijo
intenso cheio de paixão, todos deveriam
experimentar um amor assim, ao menos
uma vez na vida. Um amor que nos faz
andar nas nuvens, que nos embriaga.
Coloquei a mão no coração, como que
se tudo que eu sentisse quisesse escapar
dali.
Meu pensamento romântico foi por
água a baixo assim que coloquei a chave
na fechadura.
- Caralho Sabrine vai tomar um banho –
foi o que ouvi assim que passei pela
porta do nosso apartamento
- Vai se ferrar! – Sabrine rebateu
- Epa epa o que está acontecendo aqui?
– falei assim que coloquei os pés na
cozinha
- Emi, não aguento mais sua amiga, da
um jeito – Felipe lavava a louça.
- Vai se ferrar Felipe – Sabrine berrava
do sofá
- Essa fossa aí já era! Parte pra outra –
Felipe secava as mãos no pano de prato
- Vai se ferrar! – ela estava
insuportavelmente irritante
- Olha boca! – eu a repreendi
- Você está radiante, sua pele está linda
– Sabrine falou sem olhar pra mim.
- Acho que o Fê tem razão, vai ficar se
lamentando até quando? – caí no sofá ao
seu lado
- Até quando meu coração parar de doer.
E você Felipe, quem pensa que é pra me
dar lição de moral? Não era você que
estava chorando até outro dia por sua
noivinha?
- Superei, parti pra outra – ele deu de
ombros – acho que você deveria fazer o
mesmo – ele emendou e ela o ignorou.
- Me conta como foi lá no Rio? – ela se
animou
- Foi tão romântico – suspirei
- Pelo menos uma de nós está transando
– ela ligou a televisão
- Eu não estou interessado na vida
sexual de vocês ok? Poupe-me dos
detalhes sórdidos – Felipe juntou-se a
nós.
- Pois eu estou interessada e quero
todos, todos os detalhes – Sá sorriu.
- Agora que a Emi chegou vou cair fora,
estava ficando com o estômago revirado
de ver essa daí chorando o tempo todo,
aquele cara nem era tão bom assim –
Sabrine jogou a almofada nele.
- Felipe, pela última vez, vai se ferrar! –
ela riu, não estava mais chateada.
- Fui – ele pegou a mochila e seguiu até
a porta
- Fê – Sabrine gritou – obrigada meu
irmão – Felipe piscou pra ela e foi
embora.
Passava das onze quando fomos
dormir, Sabrine e eu colocamos nossa
conversa em dia, pelo que pude entender
ela está se conformando com o fim do
relacionamento, infelizmente a vida
continua. Ao menos era pra ser assim, eu
não sei se a minha vida vai continuar se
alguma coisa acontecer no sábado. Só
de pensar, parece que fui transportada
para o inferno. Eu queria que essa
semana não acabasse nunca, amanhã já é
quinta-feira, e sexta-feira Enrico vai
para Itália, aquele maldito julgamento
será no sábado.
Caí na cama, o sono veio rápido,
estava cansada que adormeci quase que
imediatamente, meu sono foi tranquilo e
relaxante, estava pronta pra enfrentar o
restante da semana. Seria forte, era
disso que eu precisava. Desmontar na
frente de Enrico não era opção, tudo que
eu não queria era que ele me visse sendo
fraca e levasse com ele essa imagem.
Enrico
Após um século vivendo nas sombras,
descobri que ainda existia luz, aquela
imagem estava viva em minha mente,
aquele rosto perfeito entrando no meu
escritório, parecia um anjo. Não tive
dúvidas que aquela mulher me levaria à
perdição, me faria perder a sanidade, se
fosse capaz de dormir, perderia todas as
noites de sono, imaginando mil maneiras
de tê-la ao meu lado.
Não foi fácil controlar meus instintos,
soube assim que coloquei os olhos nela,
que meu destino seria ama-la. Tentei me
afastar não consegui, era como um imã,
um magnetismo que me guiava somente
para ela. Era como se ela pertencesse a
mim, quando estava perto me sentia
vivo, como há muito não sentia. Eu
soube desde o inicio que ela merecia
alguém melhor, um homem que pudesse
dar-lhe tudo aquilo que ela merecia.
Alguém que pudesse dar-lhe uma vida
longa e feliz, e isso me matava aos
poucos. Como poderia amar uma
humana sendo o que sou?
Seus olhos são tão expressivos e
dizem tantas coisas, um coração puro, os
lábios tão doces e delicados, que por
muitas vezes tive vontade de beijar, ela
despertou em mim um instinto protetor,
faria tudo para proteger Emi, com minha
vida se fosse preciso. E foi aí que me
perdi, estava apaixonado.
Emi me fez ser diferente, eu era um
homem amargurado, por ter perdido
tanto e por ter me transformado no que
sou. Por ela me aceitei, por ela fiz
coisas que jamais imaginaria fazer,
como subir em um palco e cantar, foi o
auge da minha mudança.
Eu cantava quando era humano,
frequentava bares de música ao vivo na
Itália, depois da transformação, o que
pra mim era divertido perdeu a graça,
afinal eu era um ser rancoroso cheio de
ódio. Depois de Emi fui capaz de cantar
em um bar abarrotado de pessoas que se
silenciaram para me ouvir.
Pra mim era como se naquele lugar
existisse somente minha doce Emi. Cada
estrofe daquela música era pra ela que
eu cantava, queria que ela sentisse o que
eu estava sentindo, queria que ela
soubesse tudo aquilo que eu queria
transmitir. Ah minha doce Emily, o que
fez comigo?
Um lado adormecido acordou, o
ciumento e possessivo, Emily era minha
e me incomodava que ela fosse
cortejada por outros homens, me
controlei o máximo que pude para não
mandar Enzo para o inferno. Eu o queria
longe dela, e se fosse preciso faria
qualquer coisa para afasta-lo. E quando
finalmente a tive em meus braços, meu
único propósito, era fazê-la feliz, e eu
fracassei.
Eu a fiz sofrer, eu menti, manipulei e
por uma fração de segundos, não cometi
a loucura de apagar parte de sua
memória, sei que foi uma idiotice, uma
tolice, magoei e temi que ela não me
perdoasse. Eu estava cego, só queria
protege-la, se afasta-la de mim a
manteria segura, era o que eu faria. Mas
o destino conspirou contra nós.
Fui um estúpido em querer apagar o
amor que Emi sente por mim, poderia
até conseguir tirar de sua memória, mas
quem garantiria que tiraria do coração.
É uma lacuna que talvez não fosse
preenchida, além do mais, não tinha
habilidade suficiente para tal, um risco
que correria.
Implorei a Amom que me ajudasse,
não queria ver Emily sofrendo, ele abriu
meus olhos, sem dúvida é um sábio, essa
não era a solução, ele dizia, eu só
conseguiria se ele me treinasse. Com
seus séculos de vida, ele sabe muito
mais do que aparenta, ele adquiriu muito
conhecimento quando esteve vagando
pelo mundo. Eu pelo contrário me
fechei.
Amom foi categórico quando disse que
não me ajudaria a fazer aquela loucura,
eu agradeço por ele ter me mostrado o
quanto estava sendo um idiota. Eu
poderia arruinar a vida da mulher que
amo, e se acontecesse alguma coisa a
ela, eu me entregaria a Sartori sem
precisar de julgamentos, eu mesmo me
sentenciaria a morte. Eu amo Emi de
todas as formas possíveis. A dor dela é
minha dor, a felicidade dela é a minha
felicidade. Daria e faria qualquer coisa
para que ela fosse feliz, ela me trouxe
luz no momento em que eu não mais
acreditava.
Por ela vou aceitar meu destino, vou
pedir a Jasmine e a Amom que a
mantenha a salvo e feliz, caso eu acabe
virando cinzas. Jasmine insiste em que
eu tenho que transforma-la, mas como
posso fazer isso? Quero que ela tenha
todas as experiências humanas
possíveis, ela ainda é muito jovem e tem
muito que viver. Emily Malves, se eu
tivesse o dom realizar sonhos, realizar
meu próprio sonho, faria você à mulher
mais feliz desse mundo.
Detesto admitir, mas Jasmine tinha
razão, eu acabaria me machucando ou
machucando alguém. Não me lembro da
última vez que estive na Itália e não era
minha intenção voltar tão cedo. Mas
dessa vez não tenho escolha, ou
compareço naquele julgamento, ou serei
morto sem ter a chance de ao menos
tentar uma absolvição. Aquele bastardo
do Sartori não perdoa ninguém, quanto
mais vampiros forem condenados, mas
ele se torna temido e poderoso.
Minha vida se transformou num
inferno, mas o amor que sinto por Emily
e os momentos que passamos juntos, vão
fazer tudo valer a pena.
Vinte e sete (Quinta-feira)
Assim que Dr. Marcelo saiu da sala
de Enrico, me preparei para sair para
almoçar, dei uma conferida no espelho
para retocar o batom. Enrico verificou
sua agenda com Mariana, sei que tem
mais uma reunião com os acionistas.
Não estava gostando do entra e sai de
Dr. Marcelo no nosso departamento, era
raro cruzarmos com ele pelos
corredores, só nessa semana foram
quatro vezes.
- Está pronta? – Enrico estava parado ao
meu lado
- Estou – falei enquanto me levantava
Ele pegou minha bolsa e como sempre
colocou no ombro, segurou minha mão
me conduzindo até ao elevador, me
abraçou forte e permanecemos assim até
pararmos no térreo. Acaricie suas costas
e alisei a lapela do seu terno, seus olhos
denunciavam sua preocupação que
insistia em esconder.
Quis ir andando até o restaurante, o
céu estava tão lindo e tão azul, queria
aproveitar todo o tempo que agora é tão
precioso, Enrico segurava minha mão e
de tempos em tempos beijava os meus
dedos. Fomos cumprimentados pelo
maitre logo na entrada, Enrico pediu o
vinho de sempre e perguntou o que eu
gostaria de comer, na verdade nem sabia
se conseguiria comer, sentia um frio no
estômago uma dor perturbadora que
estava me fazendo suar.
- Acho que quero salada – falava
enquanto remexia o guardanapo
- Emi... Salada?
- Estou sem fome – a ansiedade e o
nervosismo faz isso comigo
- Traga duas saladas Caesar – ele pediu
ao garçom
Virei à taça de vinho de uma vez, meu
descontrole fez as sobrancelhas de
Enrico se curvarem e a testa franzir. Ok
minha vontade era correr para seu colo e
chorar, mas não demostraria essa
fraqueza, não deixaria Enrico ainda mais
preocupado. Sei que ele não estava
pensando no que aconteceria na Itália,
estava mais preocupado com o que
estaria acontecendo aqui no Brasil.
- Emi, não precisa ficar nervosa, vai
acabar tudo bem – ele passou o polegar
no dorso da minha mão.
- Não estou nervosa – falei tentando
parecer convincente
- Você mente muito mal – ele deu um
sorriso torto
- Como consegue sorrir, numa situação
dessas? – inquiri
- Só quero que você fique bem – ele
falou aproximando a cadeira da minha
- Você não está com medo? – ele parecia
mais forte que uma rocha
- Não, estou preparado para qualquer
resultado, mas tenho medo do que possa
acontecer com você, preciso que seja
forte. Preciso que faça isso por mim,
você consegue? – não pisquei para que
as lágrimas não me denunciassem
- Sim – balancei a cabeça positivamente
Claro que eu estava mentido, estava
sendo uma impostora, estava tentando
me enganar, mas não enganaria Enrico,
obvio que ele sabia que eu estava
tentando parecer forte, se pudesse ver
meus olhos, tenho certeza que estavam
denunciando meu pavor. Ele beijou o
meu rosto e passou o polegar nos meus
lábios, nos separamos assim que o
garçom aproximou-se da nossa mesa.
Comi a minha salada sem vontade,
enquanto Enrico me observa e tentava
me animar.
- Quando eu voltar da Itália, vamos
viajar, pode escolher qualquer lugar do
mundo – A sua fé me fazia acreditar no
impossível.
- Quando você voltar da Itália eu só
quero estar com você, na sua casa no seu
mundo – o sorriso que ele tinha no rosto
desapareceu.
- Emi... De novo não! – ele se retraiu
- Seria tão mais fácil se você me
transformasse – eu precisava tentar
- Acho que já conversamos sobre isso –
ele limpou a boca com o guardanapo
jogando violentamente sobre a mesa
- Nada que eu fale ou faça fará você
mudar de ideia não é? – elevei o tom de
voz.
- Não! Vamos aproveitar o tempo que
nos resta, não vamos brigar e nem ficar
discutindo assuntos sem fundamento.
Não vai acontecer entendeu?
Eu tinha duas opções, ou ficaria com
ele sem cobranças e curtindo cada
minuto juntos, ou ficaria martelando a
ideia de ele me transformar, beirando
uma briga ou desconforto por parte dele.
Que homem teimoso, seria tão mais fácil
se ele me transformasse, venho me
preparando psicologicamente.
- Se eu pedir a Jasmine ou Amom que
me transforme? – era minha última
cartada
- Emi... Não fala besteira, a não ser que
queira levar a morte de Amom e Jasmine
nas costas – seus olhos mudaram de cor.
- Você não seria capaz – não conseguia
decifrar sua expressão
- Vamos embora – ele fez sinal para o
garçom.
- Não vamos mais falar nesse assunto –
a minha batalha estava perdida.
- Quero que fique com isso – ele tirou
uma caixinha de veludo do bolso do
casaco e empurrou em minha direção
- Enrico...
- Abre
- É linda! Obrigada – Enrico não parava
de me surpreender, dentro da caixinha
de veludo azul, pousava uma pulseira de
ouro branco com um delicado coração
com as nossas iniciais E&E.
- Pra você nunca se esquecer de mim –
como se aquilo fosse possível
- Eu te amo tanto – não pude segurar as
lágrimas, fico impressionada o quanto
consegui segurar até aquele momento.
- Eu também te amo