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***
Sinto vários olhares sob mim. Estou em uma nova escola, no último
ano ganhei uma bolsa e acabei aceitando. Não posso desperdiçar
essa chance, ainda mais nessa escola. Colégio Durham, uma das
escolas mais requisitadas do mundo, uma das mais antigas escolas
da Inglaterra. E tem um campo inovador de educação. Eles gostam
de pensar no futuro, uma escola que eu não poderia perder a
oportunidade.
A escola é bem bonita, era um castelo medieval, bem antigo, que
agora é uma escola e universidade. A vista é deslumbrante, as
paredes são de tijolos antigos e grandes janelas de vidro ressaltam
a beleza e grandiosidade. O gramado verde muito bem cuidado.
Sou sortuda, minha mãe disse que nunca foi sorte, foi sempre o
meu esforço, pois minha mãe não conseguiria pagar.
Assim que passo pelo portão da escola, o que mais me impressiona
é sua entrada. Ela é muito bonita, tem um grande chafariz e flores o
cercando.
Estou nervosa, meu primeiro dia na escola nova e todos estão me
olhando, fico um pouco incomodada. Nunca viram uma novata não?
Entro na escola e é muito grande, vou tentando me localizar pelas
setas que indicam a direção para pegar meus horários na secretária.
Adentro pelos corredores impressionada com tamanha beleza, fico
parada olhando as imagens que têm no teto alto. O brasão da
escola e o mapa mundial feitos em ouro. Grandes lustres
iluminavam o local, nem percebo que tem alguém se aproximando
de mim.
— Olá, precisa de ajuda? — um menino alto e de cabelo escuro
vêm falar comigo.
— Ah, que susto! Desculpa! Sim, por favor! — falo sem graça. Eu
realmente preciso de ajuda, e é nítido.
— Ok, vem comigo — fala sorrindo para mim, e andando a frente.
Eu só o sigo. Ele é alto e tem cabelos loiros com cachos bem
cuidados. Ele anda devagar, o que me faz admirar os locais que
estamos passando.
Aonde será que ele vai me levar? Ele nem perguntou para onde eu
iria. Ele segue andando pelos corredores da escola e acho que ele
está me levando para a diretoria.
— Eu sou o Ted. Sou quem comando a apresentação da escola
para os novatos. — Está explicado como ele reconheceu o meu
olhar de perdida. — Chegamos. — Assim que ele diz, abre a porta
me deixando passar em seguida. Bem educado. Gostei.
— Obrigado por me ajudar — agradeço.
— Disponha! Nos vemos por aí — ele diz saindo.
Capítulo 2
***
Eu meio que travei depois desse sorriso, o mais lindo que já vi. Não
paro de olhar para sua boca, minha respiração próxima ao seu
rosto, ele também está me encarando.
— Hã... Mya precisamos ir, o sinal já bateu — fala Sofia, sem graça.
— Ah. Sim, sim. Vamos Sofia — falo colocando minhas mãos nos
braços dele para que ele solte minha cintura.
— Espera, então seu nome é Mya? — ele pergunta olhando para
mim.
— Sim, e o seu? — pergunto curiosa. — Na verdade, meu nome é
Amélia, mas já estou acostumada de ser chamada de Mya desde
pequena pelos meus colegas e a minha mãe.
— Josh. Foi bom trombar com você Mya... De que sala você é? —
ele indaga.
— Da sala 2, e você? — questiono curiosa.
— Eu também — ele fala, e abre aquele lindo sorriso.
— Então vamos gente, estamos atrasados já! — fala a Sofia.
Vamos em direção a nossa sala, Sofia vai andando na frente, eu e
Josh mais atrás.
— Então... Você é nova aqui? — ele pergunta me olhando nos olhos
e sorrindo.
— É o que parece né — comento desviando o olhar.
— Ah sim, claro — ele responde olhando para os seus pés.
Que jeito de falar com ele em Mya, meu Deus, que cabeça à minha.
Meus pensamentos voam. Sofia entra na sala e logo se senta. Josh
abre a porta para eu entrar e fala...
— Primeiro as damas. — Sorri.
— Obrigada Josh! — falo retribuindo o sorriso.
Entro na sala e Josh vem em seguida, todos estão nós olhando,
então apenas abaixo a cabeça.
— Que lindo hein, primeiro dia de aula senhorita... — Ela olha a lista
de chamada em suas mãos e logo fala. — Amélia Beaumont.
— Sim, meu nome é Amélia, mas não gosto quando me chamam
assim — respondo um pouco tensa.
— A senhorita está atrasada, e o senhor também Josh!
— Perdoe-me professora! — falo olhando para ela.
— Senhora Montês ela não teve culpa, eu estava com ela...
mostrando... a escola... sim. A escola! — ele fala sério para a
professora.
— Ah sim, se foi isso, tudo bem. Vão se sentar. — Ela inicia a aula.
Josh na hora pega na minha mão e sai me puxando para dois
lugares vagos.
— Senta aí — ele fala.
Me sento sem falar nada. Me sito nervosa por ser posta a essa
vergonha de todos os olhares na nossa direção.
— Josh, ela é professora de qual matéria? — pergunto.
— História — responde.
— Obrigado — sussurro.
Capítulo 4
Josh é um cara lindo, não vou mentir, porém ele não é para mim.
Quer dizer... eu não sou para ele. Não sou boa e nem bonita o
suficiente. Não posso me interessar por ele porque sei que vou me
magoar depois.
Mamãe sempre fala que sou linda, enche minha cabeça de coisas,
mas nunca concordo com a minha mãe. É coisa de mãe. Eu tenho
um cabelo laranja, eu nunca entendi isso.
E nunca vi um garoto igual ao Josh.
A aula foi passando, faltava vinte minutos para tocar o sinal do
intervalo. Josh não parava de ficar me olhando, eu já estava
incomodada com isso.
— O que foi Josh? — questiono olhando para ele.
— Não é nada — ele fala sorrindo.
— Alguma coisa tem! Me conta! — falo cochichando.
— Estava te olhando, ué — ele diz como se eu não soubesse.
— Eu sei né Josh, mas por quê? — pergunto.
— Estava te admirando, só isso — ele responde e abre um sorriso.
— Ah... sério? — indago envergonhada.
— Não mesmo!
— Amélia... Josh... — chama a professora. — Algum problema?
— Não, não professora, eu só estava perguntando ao Josh sobre a
matéria — falo e Sofia começa a rir.
— Algum problema senhorita Santos? — a professora fala com a
Sofia.
— Não meritíssima! — Sofia responde, e todos da sala começam a
rir.
— Sofia Santos! — repreende a professora.
— Desculpinha! — fala ela sorrindo e olhando para mim.
— Alunos irei falar agora sobre Dinamarca, ou melhor, Reino da
Dinamarca. Bom, a Dinamarca é um dos impérios mais ricos de todo
o mundo. Reis e Rainhas governam como ninguém. Poderosos e
ricos, além disso, gentis e nobres, porque foram eles que criaram
esta escola. Por isso é uma das melhores escolas de todo o mundo,
e quem é bolsista tem que se esforçar em dobro, porque não é nada
fácil.
Realmente, para entrar aqui foi bem difícil. Estudei muito desde
pequena, sempre amei estudar e me esforçava com ninguém. Minha
mãe não tinha condições para pagar a escola, então me esforcei ao
máximo, passei noites sem dormir, fiz vários cursos grátis, estudei
línguas estrangeiras e me formei em oito diferentes. Nunca quis
fazer intercâmbio. Não consigo ficar muito tempo longe da minha
mãe. Mas me dediquei ao máximo, e aqui estou eu! — Penso
sorrindo.
— Está rindo de que Mya? — pergunta Josh.
— Estava lembrando de uma coisa, depois te conto — respondo,
voltando a prestar atenção na professora.
Juntei minhas coisas e coloco dentro da minha bolsa, não tem mais
ninguém na sala. Josh faz a mesma coisa, mas sempre olhando
para mim.
— Mya? — ele me chama.
— Oi Josh — respondo sem olhar para ele.
— Olha pra mim Mya — ela fala reto.
— Diga Josh — falo colocando a bolsa de baixo do braço e indo em
direção a porta sem olhar para ele.
— Mya? — ele fala sério, e seu lindo sorriso se fecha.
— Quê? — digo olhando séria para ele.
— O que eu te fiz? — ele diz parecendo triste.
— Nada Josh — falo saindo.
Josh me puxa pelo braço e nossos corpos se chocam e ele me
segura pela cintura.
— Me fala o que eu te fiz! — fala Josh sério.
— Josh me solta! Já falei que você não fez nada!
— Mas não é isso que está aparecendo! — comenta olhando para a
minha boca, cada vez mais próximo.
— Josh! — levanto a voz para ele.
— Está ok Mya, ok! — fala pegando a mochila e saindo batendo a
porta.
Ah! Josh, eu não quero me apegar, me iludir, e acabar me
machucando. Mas de uma coisa eu sei... Quero ficar perto de você!
Depois de passar quase todo o dia na escola, chego exausta em
casa. Só consigo pensar no Josh durante o trajeto. Não foi correto
tratar ele daquela maneira, por mais que eu não queira envolver
sentimentos além de amizade.
É muito cedo para pensar nisto. Assim que entro em casa tranco a
porta atrás de mim e subo para o segundo andar à procura da
minha mãe.
— Mãe, a senhora já está em casa? — grito pela casa à procura
dela.
São 18:13 demorei hoje no colégio, tive que pegar os exercícios
anteriores e dei uma passada na biblioteca e trouxe comigo dois
livros, um do John Green, A Culpa é das Estrelas e outro de Carlos
Drummond Andrade, cheio de suas belas poesias. Sempre eclética.
Minha mãe hoje está demorando mais do que o normal, ela sempre
está em casa às 17 horas. Ela trabalha demais e não tem mais esse
pique, mesmo que me diga que tem, que é forte e que precisa nos
sustentar, sei que é difícil pra ela. Trabalhar como faxineira e
garçonete em uma lanchonete não é fácil.
Queria dar o melhor para minha mãe, ainda irei ser digna de poder
dizer que posso dar o que ela precisar. Por isso eu estudo tanto,
minha mãe merece o melhor dessa vida, sempre batalhou muito
para que não me faltasse nada. Ser mãe solteira e órfã de pais é
muito triste, minha mãe já sofreu muito.
Amo ter minha independência, mas amo também ser dependente da
minha mãe.
Resolvo tomar um banho, então entro no meu quarto, coloco minha
mochila em um canto e pego meu pijama rosa. Saio do quarto e
atravesso o corredor para ir em direção ao banheiro. Fecho a porta
dele, solto meu cabelo do rabo de cavalo que fiz na última aula, e
tiro toda a minha roupa já ligando o chuveiro e deixando a água
morna cair sobre minha pele e meus longos cabelos.
Depois de tomar o meu banho desço para fazer uma macarronada
para a janta, eu e minha mãe amamos. Cheia de queijo e com
presunto, fica delicioso.
Meu cabelo ainda está molhado, é bem volumoso. Acaba
demorando a secar e às vezes preciso da ajuda do secador.
Já são 19:02, então decido ligar para minha mãe. Ela está
demorando muito e estou preocupada, isso nunca aconteceu antes.
— Alô, mãe? Tá tudo bem? Estou preocupada com a senhora com
essa demora toda!
— Oi filha, já estou fechando a lanchonete e indo pra casa. Não se
preocupe meu bem, estou bem e já, já chego. Beijo!
— Tá bem, mãe. Cuidado! Beijo.
Capítulo 6
Capítulo 7
Meu? Ele é o MEU pai? Minha mãe só deve estar querendo que eu
pare com isso de querer conhecer o meu pai e colocou o rei como
vítima[BB5]. Eu estou cansada de tudo isso, as mentiras da minha
mãe. Ela não pode fazer isso comigo. Por que essa reação dela de
ontem ao vê-lo na televisão? Minha mãe está realmente cansada.
Ela precisa de um tempo em casa só para ela.
Eu não vou sair da cama hoje, não quero ver a minha mãe e muito
menos ninguém. Eu já chorei muito, e minha cabeça está pesada,
doendo muito. Eu nunca senti tanta dor, eu rolo na cama e gemo de
dor, bem baixo, porque acho que minha mãe não foi trabalhar. Logo
hoje que eu queria ficar sozinha. É frustrante!
Eu preciso ir ao banheiro pelo menos escovar meus dentes, mas a
dor de só abrir os olhos nessa claridade me incomoda.
Tento colocar meu pé no chão para sair da cama e bate uma dor,
uma dor aguda. Volto com meu pé e os juntos. A dor não para. Está
pior, muito pior.
Eu tento chamar minha mãe, mas me lembro que não quero vê-la
tão cedo. Então, eu abuso e vou para o banheiro mesmo com dor,
mal aguentando meu corpo. Saio me apoiando em tudo que vejo até
chegar no banheiro, abro a porta toda sem jeito e acabo batendo na
parede, fazendo um barulho alto é me encolhendo de dor.
Mesmo assim quero continuar. Entro no banheiro e tranco a porta,
pego minha escova e a pasta, me sento no vaso para escovar meus
dentes. Não estou me aguentando em pé, estou pálida e gelada.
Estou sentindo frio, mas está com sol lá fora. Está muito quente
hoje. [BB6]Assim que tento me sentar e fico tonta e caio batendo a
cabeça na porta com força e desmaio.
36 dias depois
Acordo em um hospital, parece que estou no CTI, porque em todo
canto tem escrito CTI. O que estou fazendo aqui? Meus olhos estão
pesados, minha cabeça dói, mas não tanto como antes. Eu quero
minha casa, minha cama. Cadê a minha mãe? Tem um tubo na
minha boca, começo a chorar, eu não estou entendendo. Um
aparelho do meu lado começa a apitar, os médicos e enfermeiras
vêm correndo até meu leito.
— Ela acordou, ela acordou — grita uma enfermeira, não sei com
quem ela fala, só quero que ela não grite. O médico a repreende ao
ver meu semblante de dor, e ela se desculpa.
— Amélia, eu sou o doutor Jon, fique calma. Amélia, tente respirar
devagar. Estamos aqui para te ajudar, você não pode fazer esforço.
Está vendo aquela máquina? Ela está medindo os batimentos do
seu coração, você precisa se acalmar ou terei que injetar um
calmante na sua veia.
Não! Não! Não!
Chamem a minha mãe, pelo amor de Deus! A minha mãe vai me
tirar daqui, eu tenho certeza.
Eu tento me acalmar, mas sem a minha mãe não tenho como,
mesmo que ela me irrite inventando coisas nada haver. Eu preciso
dela, e onde ela está agora.
O médico continua comigo, e eu fico encarando o teto. A luz, isso
faz doer.
— Tânia, diminua a luz... — ele diz para a enfermeira. — Amélia por
isso eu não queria te examinar com a lanterna agora, iria aumentar
sua dor, mas foi bom que agora eu tive a prova. Você se sente
desconfortável? Você já está respondendo aos estímulos do seu
corpo, isso é bom. Colocarei no seu prontuário. O que acha de
retirar o tubo agora? — ele questiona sorrindo para mim.
Isso sim, era o que eu queria. Eu não preciso disso.
— Tânia, chama o doutor Kevin para vir retirar o tubo, e faz o favor
de trazer um copo com água filtrada, nada de água gelada. Quero
também três gases e um canudo, por favor. O mais rápido possível
porque a senhorita Amélia está desconfortável. Não é Amélia? —
Ele me olha sorrindo com um olhar de calma.
A enfermeira sai rápido atendendo ao pedido do médico. Eu ainda
não estou entendendo nada, não me pediram para fazer exames.
Que hospital é esse?
Um homem negro alto, bem chique, chega com a enfermeira Tânia,
ele deve ser o doutor Kevin.
— Doutor, vamos retirar o tubo? — doutor Jon pergunta olhando
para o outro médico.
— Agora mesmo! Está pronta Amélia? — ele pergunta, já abaixando
o protetor do leito. — Senhorita Amélia, pode ser bastante
desconfortante, para uns são menos, mas como você está um
pouco sedada, não irá sentir tanto a retirada, porém, depois você irá
sentir se o tubo machucou ou não a garganta. Faça o favor de não
se esforçar falando, e nada de ingerir algo dentro de 24 horas, tudo
bem? — ele explica calmo. Acho que para ele é bastante comum,
será que ele gravou esse texto para falar aos pacientes? É
engraçado pensar.
O doutor começa a retirada, ele vai com calma, bem devagar com a
ajuda da enfermeira Tânia.
Isso dói. Que vontade de vomitar, começo a tossir.
— Tá tudo bem, Amélia, é normal. Respira fundo, já saiu. Eu vou
deixar esse inalador pequeno no seu nariz, para melhorar a
respiração. Amanhã já retiramos, é só para precaução.
Fico em silêncio, eu nem sei o quê falar, e nem posso...
— Amélia, eu vou te entregar um quadro pequeno com uma caneta
para você se comunicar conosco. Tudo bem? — O doutor que
removeu o tubo me entrega o quadro e olho para o doutor Jon. —
Doutor Jon, por favor, verifique a senhorita Amélia e me avise. É
importante a evolução. — Doutor Jon concorda com a cabeça, e o
doutor Kevin sai do quarto.
— Ok, Amélia. Esse negócio de ingerir nada... Será nosso segredo
junto com a enfermeira Tânia, escutou Tânia? — Ele olha para ela
sério.
— Claro doutor. — Ela abaixa a cabeça.
— Tudo bem então. Me passa o copo de água e as gases, Tânia —
manda o doutor e Tânia arregala os olhos assustada. — Tânia?
Vamos!
— É... bom... Certo! — Ela pega as coisas e entrega.
O doutor senta na minha cama e começa:
— Amélia, sei que é desconfortável e sei que estão nos olhando
pela câmera...
— QUÊ? — grita Tânia.
— Tânia, já pode se retirar! Desculpa eu sei que doeu o grito dela...
Vamos continuar, eu estava dizendo... Ah, me lembrei, o tubo
machuca bastante. Ainda mais que ficou por muitos dias em você.
Meus olhos saltam. Como assim? Eu?
— Amélia, eu vou retirar minha luva porque você vai sentir gosto de
talco e isso não é gostoso, vai por mim. Eu vou molhar a gases na
água que Tânia trouxe, você infelizmente não pode beber, mas eu
sei que sua garganta está seca e isso dói e parece que você está no
deserto. — Ele ri baixo. — Então, eu vou molhar sua boca. Você não
pode beber agora senão você acaba se engasgando, e aí eu me
ferro. Vamos logo com isso.
Ele molha a gases na água, e vem direto na minha boca. Eu abro
imediatamente, estou seca, não tem nem saliva. Ele molha minha
boca por dentro devagar e depois espreme a água que caí com
gotas. Eu preciso de mais! Ele sorri da minha cara de quem quer
loucamente água. Ele pega outra gases e molha e fala para que eu
morda dessa vez. Nossa. Água. Uau. Eu nunca imaginaria que água
era tão prazerosa!
Eu pego o quadro depois que acaba, e escrevo "obrigada".
— Não precisa agradecer. Agora você está com remédio na veia, vai
lhe dar sono em breve. Vou te deixar descansar e mais tarde volto.
Eu não falo nada só o vejo recolhendo as coisas e saindo. Droga.
Estou sozinha de novo.
Tento não me mexer muito, meu corpo dói. Acabo pegando no sono.
Assim que acordo vejo minha mãe com a cabeça deitada no leito e
sentada na poltrona do meu lado.
MINHA MÃE!
Eu passo a mão sobre ela. Ela levanta a cabeça assustada. Me
olha, bem no fundo dos meus olhos e começa a chorar. Ela está
mais magra e com olheiras. Está triste.
— Filha, meu amor, amora! Desculpa, por favor, me perdoa. — Ela
chora.
Eu não estou entendendo. Eu quero saber. Doutor Kevin me deu o
quadro. Só há uma unica maneira de eu saber...
"O que estou fazendo aqui?"
Minha mãe suspira de cabeça baixa.
— Amora, encontrei você no banheiro, convulsionando, gelada e
com pulso fraco. Eu liguei para a ambulância na hora, mas antes eu
precisei chamar um vizinho que eu nem conhecia para ajudar a abrir
a porta. Você tinha trancado e estava atrás da porta. Foi ele quem
abriu, filha. O nome dele é José, ele foi rápido e te salvou. A
ambulância demorou, ele te colocou de lado e você vomitava muito.
Eu estava desesperada. Por que não me contou que sentia dores de
cabeça, Amélia? — Ela chora falando embolado, mas eu entendo
tudo.
Eu tive convulsão? Por quê? Sou saudável. A escola! Meu Deus! Eu
faltei só um dia, mas tenho que comunicar.
"Você precisa avisar a escola que eu fiquei no hospital por um dia.
Se não, eu perco tudo."
— Filha, não foi um dia!
Quê?
Capítulo 8
Capítulo 11
Vou bem devagar até a cozinha, diferente da minha mãe que tem
um pé pesado e nem liga se alguém está dormindo, ela faz seus
barulhos mesmo assim.
Capítulo 12
Era ele, o meu anjo, Jon, só ele que faria isso por mim.
Ele merecia uma boa explicação. Eu tive medo de morrer sozinha
naquele lugar gelado, não quero voltar para casa, não mesmo. Eu
mereço esse tempo sozinha para pensar se quero meu pai na minha
vida. Ele não acompanhou nada dela quando eu era pequena e
minha mãe precisava trabalhar para nos sustentar, e quando eu
estava entrando na adolescência, e eu queria ir na sorveteria. Mas
não era tão fácil assim, minha mãe não podia gastar dinheiro com
bobeira. Ela tinha muitas contas, e eu entendia...
Por que ele nunca procurou minha mãe? Ele só a deixou e não se
importou com nada. As dificuldades de uma pessoa pobre. Já chorei
muitas noites sozinha pensando em qual tipo de ser humano ele
seria.
— Amélia, sua mãe deve estar preocupada. — Jon me tira dos
meus pensamentos.
— Sim, verdade. Aqui tem um telefone para que eu ligue para
ela[BB11]?
— Claro Mya. Está do seu lado, na cabeceira. — Ele aponta. Pego o
telefone e ligo para a minha mãe.
— Mamãe, sou eu, Amélia. Desculpa mãe. Eu estou bem, juro.
Estou com o Jon, ele me tirou do frio. Eu vou ficar um pouquinho
aqui e depois vou para casa, pode ficar tranquila. Tchau mamãe, até
mais tarde.
Entrego o celular ao Jon, ele sorri para mim.
— Mya já volto, fica na cama.
Esse fica na cama não dá para mim. Olho ao redor, reparando o
quarto do Jon, tem fotos dele em um quadro, de bem novinho até os
dias de hoje, os pais dele devem sentir muito orgulho. Ele é um
ótimo doutor, me ajudou tanto, sem ele acho que não teria
conseguido.
Ando pelo quarto, é que quarto em, tem de tudo. Tem um espaço
enorme, uma cama grande e confortável, uma suíte, o banheiro é
branquinho, para um homem chega a ser milagre, dá até para
dançar nele e um closet maravilhoso, sem contar com essa sacada.
Levanto pego o cobertor e me sento na cadeira da sacada. Ele tem
uma mansão, dá para ver daqui de fora. Lindíssima, tem um canto
de flores e um lindo jardim com uma cascata linda. Me perco
admirando, eu nunca vi um lugar assim e muito menos estive em um
lugar como este.
Jon deve trabalhar muito, ele cresceu na vida, muito mais que
merecido.
— Amélia, eu disse para não sair da cama. Você sempre foi teimosa
— diz ele com uma bandeja cheia de frutas. — Vem entrar, está frio.
Meu aniversário de 18 é daqui a oito dias. Eu não estou nenhum
pouco animada..., mas Jon está!
Eu ainda estou aqui com ele, já tem dois dias[BB12]. Ele é gentil,
educado, carinhoso comigo como sempre foi. Ele não sente pena de
mim.
São 21:47 da noite, Jon está atrasado. Ele normalmente chega às
21 horas. Devem ter precisado dele no hospital.
Ligo a lareira, me sento no chão próxima dela e pego meu cobertor,
fico sentada olhando o fogo queimar, a lareira é bem diferente da
minha casa, aqui é a gás. Lá precisamos de um bom esforço para
acender.
22:16
Escuto o barulho da porta se abrindo, mas meu sono está tão
pesado que nem me mexo ou ouso abrir meus olhos. Eu sei que é o
Jon, o perfume dele chega primeiro que ele nos ambientes, eu
sempre deixei claro isso para ele. Ele sempre me dizia que era para
me fazer feliz, para que eu pudesse de alguma maneira sentir o seu
cheiro e não de álcool em gel do hospital.
Sorrio ao lembrar.
Escuto os passos dele compassados vindo na minha direção. Estou
deitada no chão com a coberta e perto da lareira, porque hoje está
muito frio.
Jon se deita do meu lado, estou de costas para ele. Sinto a sua
respiração na minha nuca o que me causa um arrepio.
Não sei, mas eu penso nele todos os dias e todas as horas, acho
que estou gostando do meu médico. Isso não é certo.
Ele me abraça por trás. Meu coração quer pular do peito.
Fico por alguns minutos só sentindo o nosso momento. Eu e Jon.
Viro de frente para ele.
— Oi Jon.
— Oi, minha princesa. — Ele me dá um beijo no topo da minha
cabeça, coloca um fio de cabelo meu que estava no meu rosto para
atrás da orelha e sorri. — Você é linda, Amélia.
Passo a mão nos cabelos dele fazendo carinho.
— Jon...
1 semana depois...
Minha cabeça passa um filme. Eu ainda não acredito, não contei
para ninguém. Até por quê só tenho a minha mãe..., mas eu não
consigo ter uma conversa com ela desde quando fugi de casa e
fiquei quatro dias na casa do Jon.
Ela vive triste, de cabeça baixas, quieta. Às vezes prefere colocar
uma música porque a casa fica um silêncio total.
É música dela no quarto dela.
E música minha no meu quarto.
Eu estou amando escutar músicas antigas e da Carol Biazin
com[BB13] a Day, elas me inspiram, me sinto relaxada. Os dias
estão difíceis.
Escola, casa. Casa escola.
Meu último ano e não quero conhecer ninguém. Ninguém mais me
importa, a não ser o Jon.
Ele me manda mensagem do trabalho perguntando como está meu
dia e sempre acordo com suas lindas e clichês mensagem de bom
dia. Isso me motiva, ele me motiva.
Amanhã é meu aniversário de 18 anos. O que irei fazer, bom...
Minha lista está escrita várias atividades para fazer no decorrer da
vida, mas esse ano só quero passar dormindo, não existindo para
as pessoas.
Capítulo 13
Capítulo 15
Capítulo 16
2 minutos...
Os minutos passam rápido ao lado da minha mãe.
00:00
Os sonhados 18 anos de uma menina/mulher!
Independência.
Não me sinto preocupada, minha vida sempre foi estudar e passar o
resto do meu dia com a minha mãe. Não sou boa em fazer
amizades... Os dois amigos que tenho é muito.
Jon entra e tem duas caixinhas de presente na sua mão. Minha mãe
desliga a televisão. Meus amigos... Josh e Sofia entram no quarto
da minha mãe carregando presente e um bolo de morango, minha
fruta preferida, eles sabiam disso. Na escola e no hospital eu
sempre pedia vitamina de morango ou só o morango.
Me sinto feliz.
Estou com as pessoas que mais gosto em um lugar que eu não
pensava em passar meu aniversário, mas querendo ou não, se
tornou especial.
Não só por hoje ser meu aniversário, mas porque duas vidas foram
salvas neste mesmo hospital. A minha mãe e eu; eu aprendi muito
aqui. Eu conheci pessoas, aprendi o sentido da vida, e como é
preciosa. Vi que existia amor, mesmo na dor. E que aprendi a ser
forte quando estava fraca; mas aprendi muito mais. Aprendi que
pessoas tem seus momentos de fraqueza, e quando esses dias
chegavam, e eu me sentia vazia, olhava ao redor e tinha pessoas
para me ajudar. Me ajudar a levantar, quando eu não conseguia sair
do leito sozinha, me tirar do chão depois de uma queda de pressão,
de sentir os carinhos na minha bochecha de preocupação. Foram
tantas barreiras, mas eu não venci sozinha. Eu tinha pessoas. Eu
tinha a minha mãe sempre comigo. Que não me deixa parar de
sorrir, que não largava a minha mão. Que se preocupava com cada
resultado de exame. Ela é guerreira, ela merece o melhor. Um dia
quero ser como ela. A minha mãe.
Todos estão radiantes nesse quarto, arrumaram e decoraram,
enquanto eu rio deles. Bobos como sempre, mas eu só consigo
pensar em ficar sozinha.
— Ok, meninos e meninas. Acho que está na hora do parabéns! —
Sofia sorri, e me olha com os olhinhos em lágrimas.
Cantamos baixo o parabéns, por estar em um hospital, mas foi único
e especial. Foi lindo!
— Faz um pedido, Mya — Josh diz, apontando para a vela. Que só
agora reparei o que tem escrito: "você venceu", uau, fui pega
desprevenida. Uma lágrima rola enquanto eu faço o pedido.
"Espero ser uma pessoa melhor, Jesus."
— Eba! viva a Mya! — todos falam.
— Vocês ensaiaram isso, não foi? — Começo a rir da cara deles.
— Não filha! — Minha mãe ri junto.
— Que foi, Mya? Está chorando? — Jon me pergunta, e então eu
noto, sim, eu estou.
— É felicidade!
Todos dão um sorriso.
— Ah, parem — digo, limpando as lágrimas.
— Vamos aos presentes! Eu primeiro! — Sofia toda entusiasmada
pega o pacote de presente. — Toma amiga, é de coração. Espero
que goste, porque eu gostei e você também gosta!
— É morango? — Todos riem.
— Amélia! Abre logo o meu presente. Já tem o bolo de morango,
menina! Abre com cuidado!
— Tá bom, tá bom. Vou apoiar aqui na mesinha. Que lindo! Como
você conseguiu? Obrigada! Obrigada! — Vou em direção a Sofia e
abraço tão forte o seu corpinho que tenho medo de quebrar.
— Sufocando aqui! — ela fala alto.
— Foi mal, amiga, mas muito obrigada, eu amei! E sempre amei o
filme da Bela e a Fera. Uma simples camponesa, depois uma
princesa. A história por completo é linda!
— Minha vez! — Josh me entrega uma caixinha.
— Isso quebra? Tipo, igual ao da Sofia? Preciso ter muito cuidado
na hora de abrir? — Dou um sorriso.
— Mãozinha abençoada para quebrar as coisas — minha mãe fala,
tentando ser sonsa. Ela é demais!
— Me devolve essa caixinha. Eu abro e você pega o que está
dentro. É bem melhor! — Ele pega a caixa e abre devagar. —
BUH!!!
— Ah! Josh, seu sem graça. Estamos no hospital!
— Opa, foi mal. Esqueci. — Ele sorri. — Então, pega aí. É uma
pulseira que aparece uma foto digital. Nada demais, somos eu, você
e Sofia. Espero que goste. — Ele coloca no meu braço e liga
aparecendo nossa última foto juntos.
— Eu amo essa foto, é o papel de parede do meu celular.
— Eu sei, por isso escolhi ela. Agora você tem nós dois perto de
você. — Eu o abraço.
— Obrigada amigo! Você é incrível.
— Ok, ok! Amélia, o meu presente é um pouco diferente, mas
remete a nós dois. E espero que goste. E pelo amor, não quebra!
— Poxa gente! Todos são de quebrar, assim não dá.
— Mão pesada. — Sofia finge tossir para falar.
— Eu escutei, tá.
Abro o presente do Jon. É grande, então parece mais difícil para
abrir. Apoio em cima da minha mãe, e ela me ajuda.
— QUE MARAVILHOSO! — É um quadro e nele tem escrito: “Se
quiser saber o meu amor por você multiplique as estrelas no céu,
pelas gotas do oceano."
Eu tiro o quadro do hospital da parede e penduro com a ajuda no
Jon.
— Obrigada, meu bem. — O abraço e ele beija o topo da minha
cabeça.
— Sobrou eu! — Minha mãe me olha.
— Você nunca sobra, dona Crystal! — A abraço.
Minha mãe me entrega uma caixa.
— O que há dentro, mamãe? — Olha para ela sorrindo.
— Crianças, podem nos deixar sozinhas, por favor?
Eles saem e fecha a porta.
— Não vai abrir, Amélia?
Capítulo 17
"Minha joia,
Querida Crystal, meu grande e único amor. Sinto muito saudades de
ti, espero por sua volta ansioso, não tenho notícias suas. Meus pais
já me proibiram de lhe escrever, pois pode cair em mãos erradas, eu
até os entendo. Mas eu preciso saber de você, como a minha doce
joia está. Sinto seu cheiro ao lembrar de ti, espero que assim como
eu, você também sinta a minha falta!
Com todo o amor do mundo,
O seu Otto.”
Jogo a carta longe, eu não acredito. Eu não acredito. Não dá! Minha
mãe escondeu isso de mim. Como? Otto e minha mãe? Por isso
todo esse cuidado excessivo, todo desespero de me afastar do que
dele, de Otto.
Meu choro não é silencioso, não quero que seja. Me lembro do porta
retrato...
Um casal: minha mãe e Otto.
Pego o meu celular, pesquiso uma foto do Rei. Me levanto do leito e
vou para o banheiro chorando e paro diante a um espelho.
Vermelha, é como estou, pego uma toalha de papel e seco meu
rosto com força.
Me encaro. Encaro a foto.
Ele sou eu. Eu sou ele.
OC é Otto e Crystal
Então... Otto é meu pai.
Corro em direção ao elevador, clico o botão várias vezes
desesperada para chegar logo até a minha mãe. A porta se abre,
como sempre lotado de pessoas e todas me encarando e dessa fez
me perguntam se estou bem, clico no andar da minha mãe com
pressa, o senhor me diz que é só uma vez. O meu choro é alto,
todos no elevador estavam assustados comigo por não parar de
chorar. A porta se abre no andar da minha mãe.
O doutor tenta me parar e fazer com que eu me acalme, mas dessa
vez. Só dessa vez eu não quero ser calma. Entro no quarto da
minha mãe, não tem mais decoração, só o bolo no canto do quarto.
Não tem mais ninguém, só eu e ela.
Faço questão de trancar a porta.
— Como pôde? — Eu choro, estou vermelha, minha adrenalina está
no alto. A respiração ofegante, o suor escorrendo e o meu peito
sobe e desce sem fôlego.
Por mais que eu sempre quisesse conhecer o meu pai, não era
daquela forma. E não esse pai.
— O Rei, o Otto. É ele, meu pai.
— Amélia, senta e se acalme! Não dá para conversar com você
nesse estado. Pensa! — ela diz chorando.
Ela não está mais com soro, nem respirador, nem agulhas. Ela está
bem. Senta no leito e aponta para a poltrona do lado.
— Senta aqui! — Ela fica apontando.
Não quero sentar, eu quero chorar, não quero acreditar que isso
seja a verdade. Como posso ser filha de um rei? Ele sabe de mim?
Me ajoelho e choro mais ainda.
— Ele sabe de mim? — falo alto, nunca levantei [BB18]a voz para a
minha mãe.
— NÃO! Você quis saber sobre seu pai, não é? Pois bem! 18 anos,
você é a cara dele, não tem como eu esconder mais. Você tem as
rédeas da sua vida, não dá mais para te esconder.
— Ninguém sabe de mim? E meus avós? — Limpo o rosto com as
mãos.
— Sabem! E não fale mais deles? — Ela levanta e vai em direção
ao banheiro me deixando ainda ali no chão.
— Quê? Eles são meus avós! Claro que vou falar deles, eles com
certeza me amam! — Olho para ela.
Ela para de andar, ainda de costas diz baixo...
— Eles a odeiam, Amélia!
Foi como uma facada. Como podem? São meus avós, eles
deveriam me amar, como nunca me visitaram e não estiveram
presente nos meus aniversários? Eu não fiz nada para eles...
Choro e começo a soluçar, apenas isso é o que se escuta...
Minha mãe vai para o banheiro e fecha a porta. Ela está fazendo de
novo, me evitando com esse assunto. Me levanto e corro até a
porta...
— Mãe! Mãe! Não adianta se esconder. Não dessa vez. Abre a
porta e conversar comigo, mãe. Por favor eu imploro... Mãe? — Me
sento perto da porta chorando, esperando a minha mãe.
Escuto o choro dela do outro lado da porta, coloco o ouvido para
escutar e a chamo.
— Mamãe!
10 minutos se passam... Minha mãe ainda está lá dentro, e me sinto
casada de chorar. Fico observando o teto, olhando ao meu redor.
Até que escuto a voz baixinha da minha mãe que parece ser ao
telefone.
— Tomás. Ela já sabe de tudo! Cuide da segurança dela. Liga para
o Jon e avisa. Não, não. Ela não me escuta, ela deve ter ido para o
quarto, ela chorava muito. — Escuto mais uma vez o choro abafado
dela. — Não deixem machucar minha menina, Tomás! Preciso ir, até
logo!
Saio correndo, chego até o elevador e espero. Assim que ele abre
eu vou para o fundo e espero o meu andar.
— Querida? Está tudo bem? — um senhor de idade me pergunta.
Dou um sorriso.
Será que meus avós são assim? Idosos são fofos e carinhosos com
seus netos.
— Estou bem. Obrigada! Preciso ir, esse é meu andar.
Saio do elevador e fico o olhando até a porta se fechar e eu voltar
para a minha vida real.
Vou para o meu quarto, pego uma mochila que estava no canto, a
abro, tem roupas minhas ali dentro. Pego a mochila e vou para o
banheiro, me troco rápido deixando a roupa de hospital em um
cesto, coloco a mochila nas costas pego o tênis de baixo da
mesinha, o calço rápido antes que alguém chegue, até mesmo o
Jon. O que ele tem a ver com isso tudo? Por que minha mãe falou
dele na ligação?
A caixa que minha mãe me deu, pego e coloco na minha mochila. O
doutor chega no quarto e me encara cruzando as mãos.
— Amélia? — Ele levanta a sobrancelha esquerda.
— Oi doutor. Eu estou pronta pra ir para casa, obrigada por tudo,
viu? — digo passando por ele.
— Amélia? — ele me chama.
— Sim? — Paro e o olho sem entender.
— Aqui, a sua alta. — Ele me entrega um papel e uma caneta.
Não entendi a caneta, deve ser um presente. Ele deve saber do
meu aniversário horroroso.
— Ah, tá. Obrigada. Tchau! — Saio do quarto, mas ele vem atrás de
mim. — Doutor, o senhor precisa de alguma coisa?
— Sim. Da minha caneta de volta e sua assinatura constatando que
está de alta.
Que vergonha! Eu nunca fiz isso, mas agora tenho 18 anos, sou
maior de idade. Coisas chatas.
Assino tudo.
— Desculpa. E está aqui sua caneta. Obrigada, viu? Adeus! — Dou
um tchauzinho com as mãos e peço o elevador até o térreo.
Já dentro do elevador, lembro dos presentes... Ficaram o da Sofia e
do Jon no quarto da minha mãe, espero que eles me perdoem.
Cá estou, no saguão do hospital. O que faço agora? Ligo para
quem? O Jon não pode ser já que minha mãe falou dele na
ligação... Sofia também não, ela não consegue mentir muito bem e
mora perto da minha casa. Sobrou o Josh.
Pego meu telefone e ligo para ele.
— Alô, Josh. Eu posso ir para sua casa, sim, sim, eu recebi alta.
Minha mãe? Bom, minha mãe precisa ficar aqui. Então posso ir? Ah,
valeu, mas você poderia pagar o táxi quando eu chegar aí? Sério?
Valeu amigo! Estou indo!
Coloco o telefone no bolso e saio do hospital para pedir um táxi. Me
sinto vigiada, pode ser coisa da minha cabeça, mas essa sensação
é ruim.
Lá vem o táxi, fico acenado igual uma louca para que ele pare e
uma menina vem atrás de mim e tenta entrar no meu táxi. Bom, não
é meu, mas eu pedi e vou pagar pela corrida. Também não será eu
que irei pagar, mas foi eu que pedi. Isso basta!
— Com licença, queridinha. Estou querendo entrar. — Ela me olha
com cara de deboche de cima a baixo.
Patricinha.
— Ei, não vão entrar? Eu não tenho o dia todo, moças! — o taxista
grita de dentro do carro.
— Claro! Estou indo. Eu pedi, então é meu.
— Olha, as senhoritas podem muito bem dividir o táxi. Só vamos
logo! — o taxista diz.
— Tá, eu estou indo para o litoral. E você vai para aonde? —
pergunto a menina.
— Também vou para lá — ela revira os olhos.
— Beleza! Todos a bordo! — diz o moço.
— Entra! — Abro a porta para ela e entro em seguida.
Josh, estou chegando! Eu e minhas frustrações!
A menina não para de falar um minuto no telefone desde que
entramos no táxi. Eu nem sei ao menos o nome, não deu nem
chance de perguntar porque ela logo sacou o celular e ficou na
ligação com uma tal de Tereza. Eu não sou fofoqueira, só estou ao
lado dela e não tem como tampar os meus ouvidos... A se tivesse
como já estaria tampado desde o momento que ela tentou roubar o
meu táxi.
— Não me chama de Giovana, sabe que não gosto! É Gio! — ela
grita com o telefone e desliga bufando. — Menina, você acredita que
ela acha que tem intimidade comigo para me chamar de Giovana?
— Ela olha para mim.
Eu não digo nada, é comigo mesmo que ela está falando?
— Tá surda, garota? Estou falando contigo! Acorda! — ela fala alto.
— Ah, é comigo. Ah, bom. Você parece ter intimidade com essa
Tereza, você está há dez minutos com ela no telefone falando da
sua vida e como queria um par de brincos novos.
— Você estava escutando minha conversa? Tá doida? Quem é
você? Como sabe meu nome e o nome da minha amiga? Diz logo!
— Ela parece irrita e chega para o lado se afastando de mim.
Vai entender.
— Você está do meu lado, não tem como não escutar! A culpa é sua
que quis roubar o meu táxi! — Dou as costas para ela.
— Ok, foi mal, mas qual o seu nome? Você não deu uma palavra
desde que entrou e parece estar triste.
É tão nítido?
— Meu nome é Amélia. E eu prefiro ficar quieta. — Fico olhando
pelo vidro do carro até que vejo a casa do meu amigo Josh, agora
sim sossego!
A menina não fala mais nada, até que indico ao motorista para
encostar em frente à casa do Josh, onde ele está parado me
esperando.
— Obrigada, moço! Meu amigo vai te pagar! — falo saindo e
ajeitando meu celular no bolso, pego minha mochila no chão do
carro.
— Tchau Gio!
Fecho a porta do carro, não espero o Josh pagar o taxista e já vou
entrando na casa dele.
Som alto. Ele sempre gostou de músicas assim...
Abro a porta e dou de cara com várias pessoas desconhecidas. Não
acredito! Eu queria sossego, um refúgio, não uma festa com
pessoas que não conheço. Que frustração!
Vou para o segundo andar em busca do quarto do Josh, até porque
eu nunca estive aqui.
— Amélia, desculpa, cara. Mas a festa já estava rolando quando
você me ligou e eu não poderia dizer não paga você e não poderia
cancelar a festa, cairia mal — ele fala andando atrás de mim. —
Amélia, está procurando o quê?
— Seu quarto, seu idiota! — Paro e o olho, eu estou irritada. É
bastante visível.
— Ok, vem. Duas portas a frente. — Ele me leva até lá, fecha a
porta para diminuir o barulho. — Bom, pode ficar à vontade. Se
quiser descer e ficar na festa, está mais que bem-vinda, é seu
aniversário hoje, não esquece. Se não quiser, o que eu acho que é
essa opção pode ficar no meu quarto. — Ele senta em uma
almofada grande no canto do quarto.
Meu aniversário, esqueci.
— Aqui tem muito barulho. Foi uma péssima escolha vir para cá...
Eu quero sossego, silêncio. Você conhece? — Vou para a janela
que dá para ver a praia cruzo os braços olhando, e vejo uma árvore
bem grande no quintal. — Josh, aquilo é uma casinha na árvore? —
Dou um sorri.
— Af! Vai me sacanear também? Eu tive infância, tá? E olha tem
uma ótima vista. E quando meus pais brigavam antes de se
separarem eu ia para lá porque não dava para escutar os gritos.
— Boa Josh! — Dou um tapinha de bom gesto no braço dele
sorrindo.
— Como assim? O que você está pensando? — Ele levanta e olha a
casa na árvore.
— Vou ficar lá até essa festa acabar, ou eu posso ficar lá para
sempre. Que tal? Ninguém iria suspeitar de uma menina na sua
árvore! — Ele começou a gargalhar. — Eu tô falando bastante sério!
Ele fica sério.
— É tipo, sério, sério? Você quer ir para a minha casinha na árvore?
Mya, faz anos que eu não entro lá, só vou para limpar, mas eu não
acho muito seguro.
— Só porque é alta e você acha que vou me quebrar. Olha! —
Estico o meu braço mostrando a pulseira que ele me deu. — Viu?
Não quebrei e está de tarde, um cochilo cairia bem, escutando as
ondas do mar e não esse lixo que vocês chamam de música! —
reclamo.
Vou abrindo o guarda-roupa dele e ele me para.
— Mocinha, tem coisas de homem aí. Pode parar. — Ele fecha às
gavetas.
— Josh! Seu nojento! — Sento na cama dele.
— Eu estou falando de cuecas. O que você pensou. Ah, tá. Amélia!
Eu não tenho essas coisas! — Ele ri da minha cara.
— Josh sai da minha frente e para de me irritar! — Empurro ele, que
acaba caindo na almofada.
Mexo no guarda-roupa, pensando no que vou pegar.
Cobertor, almofada e lençol.
— Josh quero cobertor, almofada bem macia e um lençol. Para
agora!
— Ok, madame!
Ele vai pegando tudo e coloca em uma bolsa de viagem, me sinto
uma aventureira!
— Mya, vem. Vamos descer. — Descer, ver pessoas, uma música
absurdamente alta, olhares.
E quando souberem da verdadeira Amélia?
Eu nunca gostei de ser o centro das atenções. Chamar atenção na
escola já é difícil, agora imagina colocar uma coroa na cabeça e se
comportar igual essas meninas metidas...
— Vamos! — Desço sem olhar para ninguém, Josh sente que não
estou legal pega na minha mão e me leva para o quintal. Ufa!
Que delícia, sol, brisa, o som do mar e quase não se escuta o
barulho da festa. A árvore é longe, o quintal é gigante! Tem flores,
tem girassol, sempre foi o meu preferido!
— Josh, você fica! Eu vou sozinha! — Ele confirma com a cabeça
dando um meio sorriso e vai em direção a festa barulhenta dele.
Olha para a árvore e nossa, parece mais alto que quando vi pela
janela do quarto do Josh.
Dou a volta na árvore pensando em como subir, tem uma corda...
Eu não acredito! Quem em sã consciência coloca uma corda para
subir? Quando estou pensando em subir pela corda, olho meio de
lado para a árvore e tem um galho caído, tiro o galho preso... Uma
escada! Isso aí!
Subido com a minha malinha de aventureira.
A casinha da árvore é tão fofa, está tudo direitinho aqui dentro, em
madeira, tem saco de dormir já aqui, boa Josh! No canto tem umas
fotos penduradas... Chego perto ajoelhando para ver melhor porque
essa parte o teto é mais baixo.
— Sobre a sua mãe... Eu não tenho nada a ver com quando ela
sumiu da minha vida. Eu chorava todos os dias, ela era o amor da
minha vida, estávamos felizes e do nada ela sumiu sem avisar.
— Você precisa saber de uma coisa... A minha mãe nunca vai
conseguir te dizer, até por medo dos seus pais.
— Meus pais? O que eles têm haver? — Ele chora, mas acho que
ele já sabe a resposta.
— Seus pais nos expulsaram, minha mãe não sabia que estava
grávida quando foi expulsa, e depois quando eles souberam da
gravidez dela, fizeram de tudo para que nós duas
desaparecêssemos do mapa. Eles alugaram uma casa distante
daqui, e quando meus avós morreram minha mãe ficou sozinha,
nova, grávida e falida. — Eu choro porque nunca gostei de
relembrar, é doloroso mexer na ferida e pensar que minha mãe
estava sozinha...
— Não é possível. — Ele levanta chorando e soca um quadro que
quebra. — Não, não! Eu perguntei tantas vezes! Eles viram o tanto
que chorei e sofri... — Otto gagueja enquanto chora.
Não aguento vê-lo assim, eu tiro a agulha do meu braço, não ligo
mais para agulhas e injeções. Levanto devagar, por estar fraca e
vou até ele, que está sentado no chão, no meio do quadro todo
quebrado. Me sento ao lado dele e o abraço. Ficamos em silêncio,
ele chora e eu sei mais que qualquer um que é preciso chorar, ter
um momento de pôr para fora, tirar a dor no peito que sufoca.
Tenho vontade de chamá-lo de pai e ao mesmo tempo temo por isto.
— Pai.
Ele me olha e sorri. Como pode sermos tão parecidos? Até na hora
de chorar... Tal pai, tal filha.
— Não quero te perder mais, foram 18 anos sem você e sua mãe.
Promete que fica aqui? — Ele continua sentado na bagunça, me
encarando com seu rosto vermelho e olhos profundos azul. Meus
olhos, sorrio ao pensar.
Eu tenho uma família, um pai e uma mãe. Tudo que sempre quis.
Um beijo deles interrompe o abraço.
— Eu estou aqui! — Digo, sorrindo.
Eu me sinto a pessoa mais realizada, meus pais parecem dois
jovens apaixonados, parece que nada mudou entre eles durante
anos.
— Otto, você sabe que não é tão fácil assim! — minha mãe avisa,
saindo do abraço.
— Nada que eu não possa resolver! — Ele sorri.
— E sua noiva e sua filha Luanda? — respondo, saindo do abraço
dele também. Não é ciúmes, mas que eu não gosto delas com o
meu pai, não nego.
— Casamento arranjado! E Luanda não é minha filha. — Ele ri —
Ela nunca gostou de mim, gostava do dinheiro que eu tinha, a
reputação e todo aquele luxo. — Dá para ver a sinceridade no olhar.
— Quero que hoje mesmo vocês vão para o palácio junto comigo.
Jon e Lorenzo podem ir, Lorenzo foi meu único amigo verdadeiro
que tive, só escondeu vocês de mim esses anos.
— Eu pedi, era necessário! Sua mãe iria tentar fazer o pior, tenho
toda a certeza! — Minha mãe fecha a cara.
— Isso vai mudar. Então, precisa pegar alguma coisa para levar ao
Palácio? — Minha mãe sorri para mim como se tivéssemos nossas
coisas aqui, mas tudo é comprado pelo meu padrinho porque não
queríamos correr o risco de entrar na casa e nos pegarem.
No caminho ao Palácio Koch eu e minha mãe estamos no mesmo
carro que meu pai, meu padrinho vem no carro de trás com o Jon.
Acho que meu caso com o Jon está resolvido. Nós dois entendemos
que nossa amizade é mais forte e que não queremos perder, Jon
continua sendo o meu apoio quando preciso desabar sem as
pessoas verem o quão frágil sou. Ele cuidou de mim e ainda cuida,
além de guarda costa é meu melhor amigo. Fiquei sabendo que
Sofia e Josh ficaram noivos, eles sempre foram apressados, mas
tudo vai dar certo entre eles. É o segundo casal que mais amo,
porque primeiro vem os meus pais. Mesmo eu sabendo que minha
mãe não se sente confortável no palácio e que ainda teme a minha
avó. Ela está fazendo todo esforço paga ficar junto com o meu pai, o
homem realmente roubou o coração da minha mãe — não posso
conter o sorriso —, os dois ficam se olhando e de mão dadas, eu
não tenho nem para onde correr. Falta pouco para chegar ao palácio
e ver a pessoa que sempre quis destruir a minha família. Minha
vovó, ela é linda, não vou negar, mas o que tem de beleza tem de
maldade. Já o meu avô é quieto e sempre parece obedecer a minha
avó, ela sempre arruma um jeito de mandar em tudo.
Mas uma coisa que ela não vai conseguir nessa vida é mandar em
mim, não mesmo! Acho que puxei isso do meu pai, vou proteger
minha família de tudo que vier. Olhando através do vidro do carro
vejo o Palácio Koch. Eu soube que o meu pai tem vários palácios
em vários lugares do país.
Chegando de frente ao palácio vejo meus avós e servos parados no
portão a nossa espera. Meu pai sai com a cabeça erguida como
deve agir um rei, e estende a mão para que minha mãe a pegue, e
assim ela faz, minha mãe saí do carro como sempre deveria ter
saído, com o seu amado e de mãos dadas. Vejo a noiva de meu pai
e Luanda pela janela, engulo em seco, tomo a respiração devida e
saio do carro. Minha mãe pega a minha mão e assim ficamos.
Eu, minha mãe e meu pai contra o mundo. Às vezes me sinto frágil
e pequena nesse novo mundo, tudo é novidade, eu preciso passar
por grandes mudanças.
Meu pai fez o que o coração dele pedia, terminou o seu
relacionamento de noivado com Ysadora, e Luanda fez o favor de
fazer um discurso de que odiava o Rei e toda a sua família, que
deseja tudo de pior. Ysadora tem o olhar frio e calculista, como se já
esperasse por isso. A única palavra dela antes de deixar o palácio
foi:
— Vocês nunca irão conseguir serem felizes. — Antes de se retirar
cumprimentou os meus avós, se curvando diante deles e sai sem
olhar para trás.
Já Luanda diz que não vai sair barato o mico que ela pagou com a
família real. Os seguidores dela despencaram, o luxo, a fama e tudo
o que ela sempre quis. Ela com certeza não irá deixar barato, ela
tem o carinho da minha avó.
Em uma semana minha vida mudou bastante. Meus pais estão mais
juntos que o normal, minha mãe já o ajuda com as coisas do
reinado, ela ama fazer caridade e ir aos orfanatos. Meus avós
esqueceram dá nossa existência deixando o Palácio de Koch indo
para um outro palacete da família real Koch, um pouco distante de
nós. O que foi bom.
Já o meu pai, por incrível que pareça, em um desfile público pelas
ruas convidou eu e minha mãe para o acompanhar, mas o que não
esperávamos aconteceu... O Rei Otto pedindo a mão de uma
plebeia de frente para o seu povo, e a minha mãe reluzente com o
pedido do seu grande amor não teria como dizer não, ela o amava
com todas as forças, e ele a amava. Agora minha mãe é conhecida
como a noiva caridosa do Rei Otto.
Sem contar que meu pai ganhou mais reputação e grandes Reis
venderam terras para ele, onde ele construiu um hospital de câncer.
Com o meu nome, Amélia de Koch. Agora não só filha de um Rei e
filha de uma futura Rainha de Koch, a minha certidão que antes era
incompleta por falta do nome do pai, hoje meu pai assinou todos os
documentos atestando que eu sou sua filha e herdeira legítima do
trono. Agora faço parte de uma linhagem real.
A Igreja abençoou e não sou considerada uma filha bastarda, mas
sim legítima. Agora meu pai está prestes a fazer um baile real para
mostrar o povo a Princesa deles. Não estou nada preparada para
isso, venho conversado com o Jon e o meu padrinho Lorenzo, que
inclusive não saem do meu pé, mas nada me acalma. Não sei como
me comportar diante tantas pessoas que nunca vi na minha vida,
tanto luxo e nobreza.
Está marcado para amanhã o evento real. O palácio está cheio de
empregados andando de um lado para o outro, comida e mais
comida, sem contar nas bebidas. O salão é enorme, mas irei me
sentir minúscula em meio a tantas pessoas!
Eu preciso me dedicar exclusivamente para o Baile de amanhã. Meu
pai contratou estilista, sapateiro e até um pintor. Ele acha que eu
preciso de um retrato nas paredes do palácio. Enquanto ele
governa, eu estudo. Agora tenho professores particulares, meu pai
se surpreendeu de tantas línguas que já aprendi no passado. Eu
sou uma nerd, fazer o quê. Sempre amei estudar, até fazia trabalhos
de outras pessoas para ajudar em casa, hoje vivo em um palácio.
Eu nunca imaginei isso para mim.
Mais tarde eu tenho aula de etiqueta, o que eu pensava ser algo
referido a roupa. Meu padrinho me explicou rindo que não é sobre
isso, não tenho culpa de não saber, eu não cresci nobre.
E assim foi meu dia: sentar à mesa, presa a uma cadeira, postura
ereta, sem conversa. Saber sobre garfos, facas e colheres, nunca
pensei que seria tão difícil. E quem é que como uva com garfo e
faca? Meu pai, é claro. Está bem, e quando eu pensei que já sabia
de tudo, foi hora de aprender a valsar, espera, tudo menos isso!
Meu pai dizia que eu precisava aprender que ele iria dançar comigo
no baile e que todos olharão, óbvio que não me ajudou em nada. O
senhor Heitor, um dos meus professores de dança não me
aguentava mais, e eu não suportava usar salto alto. Andar é uma
coisa, agora dançar e ficar plena em cima deles, já é outra coisa
bem diferente! Acho que por hoje o senhor Heitor não irá andar
muito bem, confesso que dei várias pisadas no pé dele. Para um
lado, para o outro, para trás e para frente, solta e gira. Tudo ecoa na
minha cabeça. Valsar não é nada fácil, onde pôr a mão, não pode
ser rígida com o corpo e nem mole demais, como vou gravar isso
tudo até amanhã?
Em seguida tem o senhor Dominic, o estilista real está no meu
quarto me esperando para medir o meu corpo. Alguns vestidos
experimentados e alfinetadas nada agradável. Prende a respiração,
aperta e postura. O vestido pesa, parece que vou tombar com ele,
me sinto presa em um vestido assim.
Minha mãe sempre está de olho, não fala nada. Eu só reviro os
olhos frustrada com isso tudo. Não nego, os vestidos são lindos.
Meu pai chega no quarto e me dá um documentário, o senhor
Dominic se retira depois de se reverenciar.
Abro o documento com os meus pais sorrindo feito criança olhando
para mim. E lá está o documento com os nomes dos meus pais. E o
meu... Hã?
Princesa Real AMÉLIA Kate Gates Martinez Bettencourt Koch III
Ortega de Narcízio. Claro, será bem fácil de gravar, olho para o meu
pai e aponto para o meu nome no documento.
— Ah, agora você é minha filha. Tem meu sobrenome também —
ele diz, me abraçando.
— Pai, sobrenome? Isso é quase todos os sobrenomes do mundo!
É enorme! Não garanto gravar isso tudo. — Olho para ele perplexa.
Ele e minha mãe começando a rir da minha cara.
— Você só precisa gravar Amélia Koch III. Agora você será
chamada assim. — Olho para a minha mãe, e ela concorda com a
cabeça.
— Te amo, amora! Não se preocupe! — Ela me dá um beijo na
testa, e sai junto com o meu pai.
Princesa Real AMÉLIA Kate Gates Martinez Bettencourt Koch III
Ortega de Narcízio
Seja bem-vindo novo nome!
Passei o dia de ontem em treinamento, fui acordada bem cedo pela
manhã já com o meu banho preparado, tantas pessoas no meu
quarto, não tenho privacidade. Depois de tomar um longo banho em
uma banheira que me relaxou, quando estou prestes ao sair do
banheiro de roupão, tem seis pessoas me esperando no quarto,
volto imediato para o banheiro, mas Dominic coloca o pé na porta e
trava, olha nos meus olhos e é o mais sincero possível comigo.
— Você não precisa ter vergonha, é normal para os servos reais.
Antigamente pessoas davam banhos em suas altezas, venha. — Ele
pega na minha mão e me leva até a penteadeira. — Agora eu vou
pentear e arrumar seu cabelo para o dia. — Concordo com a cabeça
e escondendo as minhas mãos as apertando forte e tentando não
olhar para as outras pessoas. Vergonha é pouco resumindo o que
estou passando.
Um senhor chega com uma maleta olhando para Dominic com raiva.
— Você sempre faz isso, não é? Tenta pegar em todos os meus
cabelos! — o senhor esbraveja.
— Se não fosse por mim a princesa ainda estaria trancada no
banheiro! — Dominic tenta tomar a frente.
— Ah, tudo bem. Agora eu termino! — Ele vem ao meu alcance e
faz um chega para lá com as mãos para o senhor Dominic, que
assim sai.
O senhor que até agora não sei o nome vem até a mim e estica sua
mão para que eu possa dar a minha, e assim o faço. Ele a beija e se
curva na minha frente.
— Prazer em lhe conhecer, alteza! — Ele sorri. — Meu nome é
Alexandre.
Retiro minha mão e ele se recompõe me encarando.
— O prazer é meu, senhor Alexandre. — Dou um sorriso amigável.
— Que isso, princesa. Pode me chamar de Alexandre. Senhor é
muito velho para ser posto em primeiro lugar. — Ele dá uma
gargalhada.
— Alexandre, você não ia ajeitar o cabelo da senhorita Amélia? —
Dominic fica encarando-o. Acho que os dois não se bicam.
Alexandre começa a secar o meu cabelo e dizer como a cor dele é
linda, eu viajo nos meus pensamentos.
Às vezes eu penso na minha casa e como eu desejo a minha vida
de volta. Mesmo que eu ame o meu pai, mas ser princesa não é
para mim.
Enquanto eu viajo nos meus pensamentos, pensando nos meus
amigos, no Jon e no meu padrinho Lorenzo, escuto alguém falar da
minha avó.
— O que vocês disseram? — pergunto já encarando todos, a
curiosidade mata qualquer vergonha. O senhor, quer dizer, o
Alexandre limpa a garganta porque eu estou atrapalhando-o. —
Desculpa.
— Está tudo bem. Alexandre que é meio chato! — um senhor
barbudo diz, rindo para os amigos. — Estávamos nos referindo a
majestade Corine.
Mas conhecida como a minha avó.
— O que tem ela? — Os olhares se cruzam, como se você uma bola
de futebol sendo jogada um para o outro por não querem dar a
resposta. — Isso irá ficar entre a gente. Certo? — Eles concordam.
— Sua majestade que estava afastada todo esse período, hoje volta
para participar do seu baile.
— Como é? Vocês estão certos dessa informação? — Todos
confirmam com a cabeça, sem dar um pio. O silêncio se forma no
ambiente. — Não acredito! O motivo dela ter voltado é para ver a
minha derrota! — Fico nervosa e é muito perceptível.
— Chamem a mãe dela! — Dominic grita, e um dos homens sai
correndo.
Dominic se aproxima de mim e Alexandre para de mexer no meu
cabelo.
— Querida, você precisa respirar, está bem? — Eu tento concordar
com a cabeça, mas as lágrimas rolavam em primeiro lugar. —
Vamos, Mya! Respira! — Ele pega nas minhas mãos e respira junto
comigo.
Minha respiração que antes era compassada agora está mais
tranquila, Dominic sabe bem como lidar com uma pessoa.
Minha mãe e meu pai entram no quarto desesperados.
— Me ajudem a trazer para a cama! — minha mãe pede com
gentileza.
— O cabelo! — Alexandre fala e todos olham em direção a ele
perplexos. Eu começo a rir, ninguém entende nada.
— Eu já me sinto melhor, pessoal. Como o Dominic falou, é só
respirar, e eu me esqueço que ainda preciso respirar para me
manter viva. — Todos são carinhosos comigo. Ok, antes eu estava
morrendo de vergonha de todos, mas agora já me sinto parte da
família. Eles não são meus empregados, podem até ser do meu pai,
mas meus não. Eles são meus amigos. — Obrigada Dominic, e
obrigada Alexandre! — Começo a gargalhar, todos começamos a rir
juntos.
Descontraídos, é assim que precisamos ficar.
— Pai, eu sei que a vovó vem. — Tento forçar um sorriso, porém
não dá muito certo.
— Eles já disseram né? Eles não conseguem segurar a língua,
ainda mais quando estão juntos! — Meu pai levanta a sobrancelha
tentando julgá-los.
— Ei, pai, calma, está tudo bem. Olha para mim. — E assim ele faz.
— Eu vou fazer o meu melhor, mas não prometo abaixar a cabeça
para a sua majestade Corine! — Minha mãe dá um sorriso
gigantesco, foi assim que ela me ensinou.
— Você está certa, minha princesinha! — Ele me abraça forte.
— Pai, o ar. Eu ainda preciso dele! — digo, tentando me afrouxar do
abraço de urso dele.
— Então, meninos, vamos voltar para o que vocês estavam
fazendo, ok? A Mya já está melhor! — Minha mãe pega na mão do
meu pai e o puxa para fora do quarto, antes de fechar a porta ela
joga um beijo para mim quando ninguém estava olhando.
— Pedimos desculpas, a vossa Alteza! — um dos senhores falam
com o olhar triste.
— Eu estou bem, às vezes isso acontece, mas vamos nos divertir.
Você pode ligar o rádio? — Então ele liga em uma música clássica,
claro, deve ser o que a nobreza escuta. — Não, não, precisamos de
algo mais rápido. — Eles sorriem e ficam animados assim que
começa a tocar uma música com mais ritmo. — Alexandre, prometo
não atrapalhar mais! — Ele me dá o melhor sorriso.
E assim passamos a manhã, eles me arrumando e todos nós nos
divertindo cantando e dançando. Bom, eu até tentava dançar com
eles, mas era cabelo para cá, maquiagem para lá, sapatos a serem
escolhidos, roupa do dia e roupa do baile a ser escolhidas, tantas
coisas... Mas no final foi divertido passar a manhã com eles, ainda
mais porque nos trouxeram comida no quarto. Fizemos a nossa
festa!
O Palácio está todo iluminado, eu já sei que minha avó chegou. É o
assunto atual, pessoas nobres chegam em carros de luxo, com
vestidos lindos, nunca vi nada parecido! Parece conto de fadas.
Me sinto totalmente diferente vestida assim, parece que vou
tropeçar, estou uma verdadeiro princesa. Dominic e seus lindos
vestidos desenhados para mim e a minha mãe.
Meu pai entra no quarto junto com a minha mãe sorridentes,
parecem muito entusiasmados para essa noite. A minha mãe está
magnífica! Uma rainha, ou quase.
Meu pai traz uma caixa de veludo vinho nas mãos, o anel de
noivado da minha mãe brilha tanto, a joia é feita de diamante e é
chamada de Apolo, possui 14 quilates. Sozinha, a Apolo vale 250
milhões de reais, um verdadeiro tesouro nas mãos. Meu pai me
entrega a caixa, bem pesada. Eu a abro e tem uma coroa tão linda,
cheia de ouro e diamantes. Nunca vi nada parecido!
Fico abismada com o presente do meu pai.
— Não chora! Vai estragar a maquiagem que o Sandro fez! —
Minha mãe ri da minha cara brincando. Ela estava tão feliz e linda
naquele vestido.
Mamãe, como a nossa vida mudou...
Meu pai pega a coroa dentro da caixa e olha nos meus olhos, ele
está chorando.
— Minha filha, minha Amélia, Princesa de Koch... entrego a coroa
da herdeira do trono de Koch! Eu te amo, minha pequena! — Eu não
sei se choro por receber algo tão precioso, não só porque se trata
de uma coroa, mas porque tem sentimentos. Ou se foi porque meu
pai disse pela primeira vez que me ama, esperei tantos anos para
ouvir isso do meu pai.
— Eu te amo papai! — Meu pai me dá aquele abraço de urso de
sempre. Dominic chega e fica incrédulo porque estamos amassando
a obra de arte dele, vulgo o vestido. — Pai, o vestido.
— Eu te amo amora! — Minha mãe me dá um beijo na bochecha e
segura na mão do meu pai.
— Então, princesa. Preparada para a sua grande noite? — Meu pai
pega na minha mão. — Sua tia está louca querendo te conhecer, o
nome dela é Alycia, você vai amar sua tia, eu aposto! Na verdade,
todos estão à sua espera, essa festa é sua não se esqueça, curta a
sua festa! E convidei três pessoas especiais para vocês, quer saber
agora ou vai esperar?
Odeio surpresas, ele já sabe disso, por isso está com aquele sorriso
besta nos lábios.
— Fala, pai. Sabe que não aguento esperar! Quem são? — Junto as
mãos em sinal de animação.
— O Senhor Keller, o Josh, e a Sofia estão no salão a sua espera!
Não acredito, meus melhores amigos! Quanto tempo, e que
saudades, preciso me controlar só essa noite para não passar
vergonha, mas depois preciso saber de tudo desse noivado deles!
A minha animação e meu sorriso não cabem mais no rosto.
— Te aguardamos lá embaixo, amora! — Então é assim... sozinha,
aguentando toda a barra de ser uma princesa.
Eu treinei muito em como descer aquelas escadas, mas será que
agora eu consigo? Tantas pessoas que não conheço, dá vontade de
sair correndo de tudo isso.
Vou em direção a porta principal do salão, olho para os guardas,
Dominic e Alexandre estão de longe dando um joinha.
Agora é comigo. Confirmo com a cabeça para que os guardas
abram as portas e o conselheiro real anuncia a minha chegada.
— Sua Alteza Real Amélia Kate Gates Martinez Bettencourt Koch III
Ortega de Narcízio. — Sons de trombetas avisam a minha chegada.
Deu certo, porque todas as atenções são para mim, pessoas saldam
a minha chegada se curvando.
Me concentro em descer primeiramente a escada, depois eu penso
nas pessoas. No final da escada está o meu pai, com um lindo
sorriso me esperando. É pai, sua filha agora é uma princesa.
Meu pai se curva esticando o braço para mim e coloco o meu braço
por cima, assim é o início da valsa de Palácio de Koch. Ele me guia
para o centro do gigantesco salão principal, nós curvamos um para
o outro e a tão sonhada valsa de pai e filha começa.
Não posso negar que enquanto valso com o meu pai, eu noto cada
pessoa. Minha mãe está próxima ao trono junto com os meus avós,
dá para ver o tanto que ela forçava o sorriso. Estou fazendo o certo?
Não sei.
Vejo o senhor Keller, Josh e Sofia no canto e me pergunto
mentalmente o porquê de Josh e Sofia não estarem tomando
champanhe, logo eles, nunca iriam dispersar essa oportunidade.
Assim que a valsa termina meu pai e eu nos curvamos, ele dá um
largo sorriso depois de uma piscadela. Deu tudo certo. Meu pai
pega a minha mãe para dançar e aproveito para ir até os meus
amigos. Eles se reverenciam, já tinha me esquecido que estamos na
frente de muitas pessoas importantes.
— Boa noite, vossa Alteza — diz o senhor Keller.
O meu sorriso me entrega o quão estou feliz por ter eles aqui.
— Fico feliz em tê-los aqui. — Chego próximo ao ouvido da Sofia e
deixo a minha curiosidade sair. — Por que você não está bebendo?
Já tem idade para tomar um champanhe. O que houve? Não me
esconde nada, Sofia! — digo séria, a minha curiosidade é grande.
— Estou grávida do Josh! — ela fala tão baixo que parece até
mentira.
Minha melhor amiga grávida do meu melhor amigo. Noivos e agora
pais... Não dá para comemorar, gritar e nem brindar.
— Estou tão feliz por vocês! Eu quero ser madrinha! — Isso
transformou a minha noite, a melhor notícia que recebi hoje. Tento
segurar a vontade de chorar, me abano. — Eu preciso voltar, e falar
com a minha querida vovó. — Reviro os olhos e saio de perto deles.
Pareço sem rumo, tantas pessoas e não conheço nenhuma. Olho
para trás e Isadora [BB25]e Luanda estão descendo as escadas.
Não acredito que terei que suportar mais chatices! Os narizes
empinados não param no caminho nem para me cumprimentar e
vão em direção a minha avó. É claro, como não? Minha avó as
convidou.
Meus pais terminam a dança e vem até a mim, ele olha com raiva
para a minha avó e minha mãe tenta acalmá-lo, o que não dá muito
certo...
Os passos compassados do meu pai já dizem tudo o que ele sente
agora, meu padrinho aparece no caminho impedindo dele chegar a
minha avó.
— Respira, amigo! — Meu padrinho arruma a roupa dele e dá um
tapinha nas costas. — Você consegue!
— Sim, é isso. Eu consigo, não vou deixá-las atrapalharem a noite
da Mya.
— Dança com seu padrinho, princesa? — meu padrinho Lorenzo se
curva me reverenciando.
— Será uma honra, padrinho!
E assim foi a minha noite: conhecer pessoas importantes e dançar.
Os olhares da minha avó, Isadora e Luanda são frustrantes.
Fico parada por um tempo olhando-as de longe até que um rapaz
chega até a mim e se reverencia. Nunca o vi na minha vida.
— Alteza, a senhorita me dá a honra da sua última valsa? — Estou
tão cansada, mas eu não posso parar, não na frente de todos. Eu
preciso fazer o meu papel.
— Claro, será um prazer.
— Acho que a Alteza não me conhece, mas eu sou o Príncipe Noah
de Nuandria. É um imenso prazer dançar com a vossa Alteza. —
Estou dançando com um príncipe. Não acredito, que vergonha.
Palavras me faltam nessa hora, os olhares de todos estão na nossa
dança. Maravilha!
Nunca me senti tão envergonhada na frente de alguém, ainda mais
por se tratar de um príncipe. Meu coração dispara, eu nunca me
senti assim. É um sentimento novo, sem explicação. Assim que
terminamos a valsa todos aplaudiram. É claro. Já devem pensar que
somos um casal.
— Obrigado pela valsa, princesa Amélia. Espero ainda poder lhe
ver. — Nos reverenciamos, e ele some no meio da multidão.
Ele é admirável, não posso esquecer de notar. O jeito que ele me
olha, o jeito que sorri, me causa frio na barriga.
Meu pai agradece a todos pela noite, ele não para de sorrir porque o
baile foi maravilhoso, deu tudo certo, mesmo havendo três pessoas
desnecessárias no baile real, mas deu tudo certo! Enquanto eu
caminho de volta para o meu quarto sinto um puxão de cabelo, só
pelo perfume forte já sei quem é Luanda.
— Você enlouqueceu? — Alexandre e Dominic vem até a onde
estou e tenta me acalmar.
— Só faltava ele, não é? Só faltava você querer roubar o meu
Príncipe Noah! Você é uma ladra! Uma impostora! Você me tirou do
palácio, tirou todas as minhas joias, até a minha fama! O que mais
você quer? — ela grita até que a minha avó e a Isadora aparecem
atrás dela.
— Isso mesmo, filhinha. Ela merece uns bons tapas! — Isadora vem
com a mão levantada na minha direção, mas por incrível que pareça
minha vó segura o braço dela.
Meus pais correm para saber o que estava acontecendo e chegam
bem no flagra de Luanda e Isadora.
— Vocês merecem serem expulsas do meu reino! — meu pai grita
de fúria.
— Meu querido, não é o que você pensa, deixa eu te explicar... —
Isadora chega até o meu pai, se soltando da minha avó.
Mas antes que ela conseguisse se agarrar ao meu pai ela leva uma
tapa forte no rosto da minha mãe.
— Não toque mais no meu noivo! — Acho que já deu, esse drama
familiar não é para mim.
Só não entendi a atitude da minha avó em me proteger se ela
sempre deixou claro que me odeia.
Meu avô aparece então e chama a minha avó para sair daquele
lugar, acho que ela ficou em estado de choque. Eu nunca tomei
raiva ou algo do tipo do meu avô, mesmo que ele não tenha se
metido para acabar com isso tudo, mas eu entendo, em primeiro
lugar o seu povo. Meu avô ficava reinando, e minha avó passava
seu tempo cuidando da família. Foi até ela mesma que trouxe
Isadora e Luanda para o palácio.
Respiro fundo.
— Guardas! — grito o mais alto, assustando Luanda à minha frente.
Os guardas reais seguravam a Isadora e Luanda para fora do
Palácio.
— Você irá pagar por tudo isso, princesa! — Luanda ainda faz
questão de se rebelar.
Eu nunca peguei nada dela, ainda mais esse príncipe que ela disse,
eu o conheci no baile, o máximo que sei dele é o nome e aonde ele
vive... E que ele mexeu comigo.
— Você está bem, amora? — Minha mãe tenta ajeitar o meu cabelo
e soltar todo. Meu pai percebe que a coroa está no chão e a pega,
eu nem tinha notado depois daquele puxão desnecessário.
— Eu estou bem, pessoal. Só que agora eu vou me retirar. Com
licença! — Pego a coroa da mão do meu pai e vou para o meu
quarto.
A atitude da minha avó ficou na minha cabeça, amanhã tentarei
conversar com ela, o que eu nunca fiz. Espero que amanhã seja um
dia melhor.
Ao acordar vejo que meu café da manhã de hoje foi servido no meu
quarto, depois do final do baile, nada agradável, eu merecia isso.
Alexandre e Dominic me arrumam para o dia de hoje sem dizer uma
palavra, mas aposto que as cabecinhas deles estão iguais a pipoca
estourando.
— Algum de vocês sabem onde está a minha avó? — O rosto
chocado e a boca aberta de Alexandre dizem tudo. — Então?