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Capítulo 1

Meu nome é Mya, eu moro na Inglaterra, na cidade de Durham com


minha mãe desde que nasci. Nunca conheci meu pai, mas minha
curiosidade sobre sua identidade permanece, pois, minha mãe me
fala que ele é um homem bom, cavalheiro, e que ela o amou muito.
uando terminaram, ela não sabia que estava grávida. A partir
daquele dia, eles nunca mais se falaram. Ele nem se quer sabe que
eu existo. Às vezes fico pensando em perguntar a minha mãe, mas
ela não gosta de falar sobre isso, imagino que ela ache que vou me
arrepender ou me magoar se souber, mas a ignorância para mim, é
pior que a dor.
Minha mãe nunca se casou e só namorou um cara estranho, mas
felizmente a relação não vingou. Para falar a verdade minha mãe é
muito gata! Ela só tem trinta e quatro anos, engravidou jovem, o que
foi muito difícil, mas só me faz admirá-la ainda mais.
— Mya?! — Escuto ela gritar do primeiro andar.
— Ah não mãe, tá cedo ainda! — grito[BB1] de volta do meu quarto.
— Filha você vai se atrasar, já são seis da manhã!
Tenho que acordar cedo só para ir à escola, que preguiça! Queria
mesmo é ficar em casa, vendo TV e devorando um pote de sorvete,
quem sabe quando voltar?
— Filha vem! — grita minha mãe novamente.
— Estou indo, estou indo, dona Crystal!
Me levanto da cama cheia de sono e vou direto para o banheiro.
Faço a minha higiene matinal, tomo meu banho quente, com a água
quase arrancando a minha pele. Saio do box enrolada na minha
toalha e penteio o cabelo.
Meu cabelo é ruivo claro, meus olhos são azuis como o céu em dias
de verão, a minha pele branca destaca as maçãs dos rostos bem
levantadas e rosadas.
Passo um batom bege nos lábios para disfarçar a boca rosa natural.
E um par de brincos prateados. Me sinto para enfrentar a escola.
— Mãe, cadê você?
— Filha, eu estou aqui, querida!
— Estou com muita fome, mãe.
— Quando você não está? — Ela começa a rir.
— Para tá bom?! — Nós duas rimos muito nos encarando.
Tomamos nosso café da manhã rápido como de costume.
— Está pronta, filha — ela pergunta, já pegando as chaves do carro
e da casa saindo em seguida.
— Sim eu estou, vamos logo — falo, saindo e levando a minha
mochila com uma maçã que estava em cima da mesa.
Minha mãe dá partida no carro, liga o rádio e vamos cantarolando
até chegar no meu destino: minha escola nova.
— Filha eu vou demorar hoje no trabalho, se precisar de algo me
liga. Ok? — ela fala me dando um beijo na testa. Como sempre.
Trabalhar como garçonete o dia inteiro é cansativo para ela, mas ela
gosta da parte que pode conversar e se tornar amigas dos clientes.
— Ok! Beijo mãe — falo sorrindo.
— Beijão, amora. Até mais tarde!

***
Sinto vários olhares sob mim. Estou em uma nova escola, no último
ano ganhei uma bolsa e acabei aceitando. Não posso desperdiçar
essa chance, ainda mais nessa escola. Colégio Durham, uma das
escolas mais requisitadas do mundo, uma das mais antigas escolas
da Inglaterra. E tem um campo inovador de educação. Eles gostam
de pensar no futuro, uma escola que eu não poderia perder a
oportunidade.
A escola é bem bonita, era um castelo medieval, bem antigo, que
agora é uma escola e universidade. A vista é deslumbrante, as
paredes são de tijolos antigos e grandes janelas de vidro ressaltam
a beleza e grandiosidade. O gramado verde muito bem cuidado.
Sou sortuda, minha mãe disse que nunca foi sorte, foi sempre o
meu esforço, pois minha mãe não conseguiria pagar.
Assim que passo pelo portão da escola, o que mais me impressiona
é sua entrada. Ela é muito bonita, tem um grande chafariz e flores o
cercando.
Estou nervosa, meu primeiro dia na escola nova e todos estão me
olhando, fico um pouco incomodada. Nunca viram uma novata não?
Entro na escola e é muito grande, vou tentando me localizar pelas
setas que indicam a direção para pegar meus horários na secretária.
Adentro pelos corredores impressionada com tamanha beleza, fico
parada olhando as imagens que têm no teto alto. O brasão da
escola e o mapa mundial feitos em ouro. Grandes lustres
iluminavam o local, nem percebo que tem alguém se aproximando
de mim.
— Olá, precisa de ajuda? — um menino alto e de cabelo escuro
vêm falar comigo.
— Ah, que susto! Desculpa! Sim, por favor! — falo sem graça. Eu
realmente preciso de ajuda, e é nítido.
— Ok, vem comigo — fala sorrindo para mim, e andando a frente.
Eu só o sigo. Ele é alto e tem cabelos loiros com cachos bem
cuidados. Ele anda devagar, o que me faz admirar os locais que
estamos passando.
Aonde será que ele vai me levar? Ele nem perguntou para onde eu
iria. Ele segue andando pelos corredores da escola e acho que ele
está me levando para a diretoria.
— Eu sou o Ted. Sou quem comando a apresentação da escola
para os novatos. — Está explicado como ele reconheceu o meu
olhar de perdida. — Chegamos. — Assim que ele diz, abre a porta
me deixando passar em seguida. Bem educado. Gostei.
— Obrigado por me ajudar — agradeço.
— Disponha! Nos vemos por aí — ele diz saindo.
Capítulo 2

Bato na porta e entro. Uma senhora, já com seus cabelos brancos


pelo decorrer da idade, abre um sorriso ao me ver. Bem simpática.
— Olá, bom dia. Meu nome é Amélia. Eu vim pegar meus horários
— falo sorrindo.
— Ah sim, só um minuto senhorita. — A moça levanta da cadeira e
pega dois papéis, um com a senha do meu armário e outro com os
horários das aulas.
— Aqui está, é na sala 2 — ela diz gentil.
— Obrigado senhora.
Saio da sala e fecho a porta, vou andando pelos corredores do
colégio, tentando identificar os números das salas. Acho que estou
perdida. Uma menina esbarra em mim com tudo fazendo minha
bolsa cair espalhando todo o seu conteúdo pelo chão. Meu Deus,
minhas coisas, meus desenhos de flores. Eles sempre foi minha
paixão, onde eu visse uma flor, já parava para desenhar e admirar a
beleza e como podem ser diferentes.
— Perdão, eu estava distraída — ela fala assustada, abaixando
junto comigo.
— Tá tudo bem, calma — digo, olhando o desespero dela juntando
as minhas coisas rápido. O cabelo dela é preto escuro, todo
ondulado, muito bonito, mas o chapéu cinza que ela usa destaca
ainda mais o tom do cabelo. Me pego sorrindo ao ver que ela parece
ser da mesma altura que a minha. Ela é magra, mas tem ombros
largos.
— Eu te ajudo. Inclusive, belos desenhos! — ela fala, ajudando a
guardar as coisas de volta na bolsa.
— Você sabe aonde fica a sala 2? — Coro com o elogio e mudo o
assunto rapidamente.
— Claro eu vou para lá — ela diz rápido, tentando esconder o
sorriso.
— Tem algum problema se eu for com você? — pergunto sem jeito.
— Claro que não, vamos! — ela diz me puxando pela a mão.
Quando estávamos entrando na sala, percebo que todos olhavam
para mim. Olho para baixo, a menina que esbarrou em mim
comenta para eu fazer dupla com ela.
— Senta aí. Prazer, meu nome é Sofia — ela fala sentando na
cadeira e estendendo à mão.
— Ah desculpa, meu nome é Mya, e o prazer é meu. — Aperto a
mão dela e sorrindo.
O professor entra na sala e pede silêncio à turma. Eu nunca
conheci um homem tão alto igual a ele, ele não sorri pelo jeito. A
cara é fechada.
A sala é redonda e duas meses junta. Muito moderna, cheia de
tecnologia, diferente da parte externo.
— Bom dia! — ele fala meio emburrado.
— Bom dia! — todos respondem.
— Abram os seus cadernos e vamos à aula.
Abro meu caderno, e parece que alguém estava olhando para mim.
Olho para o lado e um garoto está focado em mim.
— Mya? — a Sofia fala baixo.
— Oi? — falo sussurrando.
— Você tá entendo a questão? — ela pergunta olhando para o
quadro.
— Sim, é claro, está bem fácil. — O professor se vira para gente.
— Algum problema senhoritas? — ele pergunta sério.
— Não, senhor professor — falo abaixando a cabeça.
— Ah, então você é a aluna nova, a Amélia. Correto? — questiona.
— Sim senhor. — Poxa, não fala o meu nome, eu prefiro Mya, ou
como a mamãe diz amora.
— Acaba de chegar e já está conversando. — Ele me encara.
— Desculpa professor, não irá se repetir — falo cabisbaixa.
— Não irá mesmo. Venha fazer a questão "C" — ele manda.
— Sim senhor. — Levanto e vou direto para o quadro, faço toda a
questão, e o professor vem verificar.
— Correto, senhorita Amélia — ele fala sorrindo. — Bom. Muito
bom! Pode se sentar.
Capítulo 3

Depois do fim da nossa aula de matemática toca o sinal para o


intervalo. Eu e Sofia decidimos passar o intervalo juntas porque na
sala nem conversamos, o professor era bem exigente. Mas eu amo
matemática então foi até bom, pois acabei prestando atenção na
aula. O professor é bastante sério, mas olhando para o outro lado,
ele é ótimo ensinando.
Sofia é muito engraçada, passamos o intervalo rindo e comendo
hambúrguer que ela pagou. Já gostei dela.
Quando o sinal bate indicando o final do intervalo ela revira os olhos
e começo a rir da cena. Quando estamos indo para a nossa sala um
garoto esbara em mim e quase cai, mas ele acaba me segurando
forte pela cintura.
— Me perdoe, por favor. Essa não era a minha intenção — fala
assustado, preocupado comigo, me ajudando a ficar em pé. Reparo
nele, jovem, musculoso, alto, com olhos verdes escuro e cabelo
moreno. Ele me impediu de cair.
— Calma, calma, eu estou bem — o tranquilizo.
— Está bem — fala relaxando e sorrindo para mim.
Nossa que sorriso!

***
Eu meio que travei depois desse sorriso, o mais lindo que já vi. Não
paro de olhar para sua boca, minha respiração próxima ao seu
rosto, ele também está me encarando.
— Hã... Mya precisamos ir, o sinal já bateu — fala Sofia, sem graça.
— Ah. Sim, sim. Vamos Sofia — falo colocando minhas mãos nos
braços dele para que ele solte minha cintura.
— Espera, então seu nome é Mya? — ele pergunta olhando para
mim.
— Sim, e o seu? — pergunto curiosa. — Na verdade, meu nome é
Amélia, mas já estou acostumada de ser chamada de Mya desde
pequena pelos meus colegas e a minha mãe.
— Josh. Foi bom trombar com você Mya... De que sala você é? —
ele indaga.
— Da sala 2, e você? — questiono curiosa.
— Eu também — ele fala, e abre aquele lindo sorriso.
— Então vamos gente, estamos atrasados já! — fala a Sofia.
Vamos em direção a nossa sala, Sofia vai andando na frente, eu e
Josh mais atrás.
— Então... Você é nova aqui? — ele pergunta me olhando nos olhos
e sorrindo.
— É o que parece né — comento desviando o olhar.
— Ah sim, claro — ele responde olhando para os seus pés.
Que jeito de falar com ele em Mya, meu Deus, que cabeça à minha.
Meus pensamentos voam. Sofia entra na sala e logo se senta. Josh
abre a porta para eu entrar e fala...
— Primeiro as damas. — Sorri.
— Obrigada Josh! — falo retribuindo o sorriso.
Entro na sala e Josh vem em seguida, todos estão nós olhando,
então apenas abaixo a cabeça.
— Que lindo hein, primeiro dia de aula senhorita... — Ela olha a lista
de chamada em suas mãos e logo fala. — Amélia Beaumont.
— Sim, meu nome é Amélia, mas não gosto quando me chamam
assim — respondo um pouco tensa.
— A senhorita está atrasada, e o senhor também Josh!
— Perdoe-me professora! — falo olhando para ela.
— Senhora Montês ela não teve culpa, eu estava com ela...
mostrando... a escola... sim. A escola! — ele fala sério para a
professora.
— Ah sim, se foi isso, tudo bem. Vão se sentar. — Ela inicia a aula.
Josh na hora pega na minha mão e sai me puxando para dois
lugares vagos.
— Senta aí — ele fala.
Me sento sem falar nada. Me sito nervosa por ser posta a essa
vergonha de todos os olhares na nossa direção.
— Josh, ela é professora de qual matéria? — pergunto.
— História — responde.
— Obrigado — sussurro.
Capítulo 4

Josh é um cara lindo, não vou mentir, porém ele não é para mim.
Quer dizer... eu não sou para ele. Não sou boa e nem bonita o
suficiente. Não posso me interessar por ele porque sei que vou me
magoar depois.
Mamãe sempre fala que sou linda, enche minha cabeça de coisas,
mas nunca concordo com a minha mãe. É coisa de mãe. Eu tenho
um cabelo laranja, eu nunca entendi isso.
E nunca vi um garoto igual ao Josh.
A aula foi passando, faltava vinte minutos para tocar o sinal do
intervalo. Josh não parava de ficar me olhando, eu já estava
incomodada com isso.
— O que foi Josh? — questiono olhando para ele.
— Não é nada — ele fala sorrindo.
— Alguma coisa tem! Me conta! — falo cochichando.
— Estava te olhando, ué — ele diz como se eu não soubesse.
— Eu sei né Josh, mas por quê? — pergunto.
— Estava te admirando, só isso — ele responde e abre um sorriso.
— Ah... sério? — indago envergonhada.
— Não mesmo!
— Amélia... Josh... — chama a professora. — Algum problema?
— Não, não professora, eu só estava perguntando ao Josh sobre a
matéria — falo e Sofia começa a rir.
— Algum problema senhorita Santos? — a professora fala com a
Sofia.
— Não meritíssima! — Sofia responde, e todos da sala começam a
rir.
— Sofia Santos! — repreende a professora.
— Desculpinha! — fala ela sorrindo e olhando para mim.
— Alunos irei falar agora sobre Dinamarca, ou melhor, Reino da
Dinamarca. Bom, a Dinamarca é um dos impérios mais ricos de todo
o mundo. Reis e Rainhas governam como ninguém. Poderosos e
ricos, além disso, gentis e nobres, porque foram eles que criaram
esta escola. Por isso é uma das melhores escolas de todo o mundo,
e quem é bolsista tem que se esforçar em dobro, porque não é nada
fácil.
Realmente, para entrar aqui foi bem difícil. Estudei muito desde
pequena, sempre amei estudar e me esforçava com ninguém. Minha
mãe não tinha condições para pagar a escola, então me esforcei ao
máximo, passei noites sem dormir, fiz vários cursos grátis, estudei
línguas estrangeiras e me formei em oito diferentes. Nunca quis
fazer intercâmbio. Não consigo ficar muito tempo longe da minha
mãe. Mas me dediquei ao máximo, e aqui estou eu! — Penso
sorrindo.
— Está rindo de que Mya? — pergunta Josh.
— Estava lembrando de uma coisa, depois te conto — respondo,
voltando a prestar atenção na professora.
Juntei minhas coisas e coloco dentro da minha bolsa, não tem mais
ninguém na sala. Josh faz a mesma coisa, mas sempre olhando
para mim.
— Mya? — ele me chama.
— Oi Josh — respondo sem olhar para ele.
— Olha pra mim Mya — ela fala reto.
— Diga Josh — falo colocando a bolsa de baixo do braço e indo em
direção a porta sem olhar para ele.
— Mya? — ele fala sério, e seu lindo sorriso se fecha.
— Quê? — digo olhando séria para ele.
— O que eu te fiz? — ele diz parecendo triste.
— Nada Josh — falo saindo.
Josh me puxa pelo braço e nossos corpos se chocam e ele me
segura pela cintura.
— Me fala o que eu te fiz! — fala Josh sério.
— Josh me solta! Já falei que você não fez nada!
— Mas não é isso que está aparecendo! — comenta olhando para a
minha boca, cada vez mais próximo.
— Josh! — levanto a voz para ele.
— Está ok Mya, ok! — fala pegando a mochila e saindo batendo a
porta.
Ah! Josh, eu não quero me apegar, me iludir, e acabar me
machucando. Mas de uma coisa eu sei... Quero ficar perto de você!
Depois de passar quase todo o dia na escola, chego exausta em
casa. Só consigo pensar no Josh durante o trajeto. Não foi correto
tratar ele daquela maneira, por mais que eu não queira envolver
sentimentos além de amizade.
É muito cedo para pensar nisto. Assim que entro em casa tranco a
porta atrás de mim e subo para o segundo andar à procura da
minha mãe.
— Mãe, a senhora já está em casa? — grito pela casa à procura
dela.
São 18:13 demorei hoje no colégio, tive que pegar os exercícios
anteriores e dei uma passada na biblioteca e trouxe comigo dois
livros, um do John Green, A Culpa é das Estrelas e outro de Carlos
Drummond Andrade, cheio de suas belas poesias. Sempre eclética.
Minha mãe hoje está demorando mais do que o normal, ela sempre
está em casa às 17 horas. Ela trabalha demais e não tem mais esse
pique, mesmo que me diga que tem, que é forte e que precisa nos
sustentar, sei que é difícil pra ela. Trabalhar como faxineira e
garçonete em uma lanchonete não é fácil.
Queria dar o melhor para minha mãe, ainda irei ser digna de poder
dizer que posso dar o que ela precisar. Por isso eu estudo tanto,
minha mãe merece o melhor dessa vida, sempre batalhou muito
para que não me faltasse nada. Ser mãe solteira e órfã de pais é
muito triste, minha mãe já sofreu muito.
Amo ter minha independência, mas amo também ser dependente da
minha mãe.
Resolvo tomar um banho, então entro no meu quarto, coloco minha
mochila em um canto e pego meu pijama rosa. Saio do quarto e
atravesso o corredor para ir em direção ao banheiro. Fecho a porta
dele, solto meu cabelo do rabo de cavalo que fiz na última aula, e
tiro toda a minha roupa já ligando o chuveiro e deixando a água
morna cair sobre minha pele e meus longos cabelos.
Depois de tomar o meu banho desço para fazer uma macarronada
para a janta, eu e minha mãe amamos. Cheia de queijo e com
presunto, fica delicioso.
Meu cabelo ainda está molhado, é bem volumoso. Acaba
demorando a secar e às vezes preciso da ajuda do secador.
Já são 19:02, então decido ligar para minha mãe. Ela está
demorando muito e estou preocupada, isso nunca aconteceu antes.
— Alô, mãe? Tá tudo bem? Estou preocupada com a senhora com
essa demora toda!
— Oi filha, já estou fechando a lanchonete e indo pra casa. Não se
preocupe meu bem, estou bem e já, já chego. Beijo!
— Tá bem, mãe. Cuidado! Beijo.

Como assim minha mãe ficou para fechar a lanchonete? Estão


abusando demais dela, só porque ela precisa do trabalho. É um
absurdo!
Capítulo 5
Depois de preparar o jantar, me sento na nossa pequena mesa
rústica toda posta à espera da minha mãe.
Não demora muito e ela entra pôr adentro com seu maravilhoso
sorriso, parecendo estar exausta, mas tenta disfarçar. Sendo assim,
retribuo com um sorriso reconfortante.
— Boa noite, amora. Que cheiro delicioso! — ela fala, e vai em
direção a escrivaninha onde coloca sua bolsa, e, em seguida vai
para a cozinha. Ao voltar seca a mão [BB2]no pano de prato em me
dá um beijo na testa.
— Oi mamãe! — falo com um enorme sorriso.
— Como foi na escola, meu bem? — ela pergunta se sentando na
cadeira, a frente dela tem um o prato cheio de macarronada, já que
ela é louca por massas.
— Foi tudo ótimo, mãe. O ensino é de primeira, bem puxado, do
jeitinho que eu gosto. É bem desafiador! — falo, colocando também
a minha comida e passando o suco de maracujá para ela.
— Fico tão feliz por você, filha! Um dos seus sonhos, e meu
também. É claro — fala me olhando.
Então ficamos o jantar todo conversando e saboreando a comida.
Conversar com a minha mãe é pura diversão, adoro os nossos
tempos juntas. Sempre foi eu e ela.
Depois da janta retiro a mesa e lavo tudo, seco e coloco em seu
devido lugar, apago a luz da cozinha e saio. Minha mãe está
assistindo o noticiário na TV. Ela nunca foi de ver, mal sabia quem
governava o nosso país de tão ocupada que ela é. Rio ao pensar.
Ela está com os olhos tão pequenos de sono.
Me sento ao lado dela, e ela nos cobre com o cobertor, e vem me
abraçar. Na minha casa, mesmo sem uma presença masculina,
nunca me faltou amor. Nunca me faltou nada. Mas claro, um dos
meus maiores desejos é conhecer meu pai. Creio que esse dia irá
chegar...
Minha mãe está quase dormindo no sofá quando a chamo e aponto
para a TV.
— Olha mãe, o novo Rei coroado. Muito bonito, não acha? —
pergunto olhando pra ela, e ela abre os olhos ficando estática, sua
respiração fica pesada.
— O-ootto — ela diz gaguejando.
— Mãe, tá tudo bem com a senhora? — pergunto assustada com a
reação dela. — Sim mãe, é o Rei Otto. A senhora precisa de água?
— falo já correndo em direção a cozinha, atropelando em uma cesta
no chão. Pego a água da minha mãe e volto depressa.
— Mãe! Beba essa água! — falo muito assustada.
Ela bebe com rapidez e o noticiário sobre o Rei acaba. Ela me olha,
como se procurasse algo em mim.
— Mãe... a senhora tá melhor? — pergunto receosa.
— Sim, meu amor! Venha cá, me abrace!
Ela abraça forte, como se precisasse me proteger de algo. E eu a
deixo assim, me abraçando por longos segundos, que, na verdade
parecem minutos.
— Irei dormir, vá dormir também. Amanhã você tem aula e está
tarde. Vamos... vamos subir — ela fala já subindo as escadas. Ela
parece pensativa e assustada.
Entro no meu quarto, acendo a luminária do lado da cama que
ganhei de uma adorável vizinha e me deito para dormir.
Minha mãe vem e me dá um beijo e deseja uma boa noite,
retribuo[BB3]. E assim ela sai do quarto fechando a porta, me
deixando sozinha com meus pensamentos, que não são poucos,
não mesmo!
Por que minha mãe teve aquela atitude e reação ao ver o Príncipe,
agora Rei na TV?
De tanto viajar em meus pensamentos acabo adormecendo.

Capítulo 6

Acordo com a ajuda do despertador, não escuto barulho da minha


mãe no andar de baixo. Não sei se já foi trabalhar ou ainda está
dormindo. Ela essa hora sempre está na agilidade, na maioria das
vezes correndo pela casa procurando por algo. Ontem foi bem
estranho, não entendi nada. Ela é tão calma, e do nada, isso.
Decido levantar da cama e ir no guarda-roupa pegar meu uniforme
da escola, ele é lindo, simples e comportado. Enquanto saio do
quarto para ir em direção ao banheiro não escuto barulho algum,
então creio eu que minha mãe já foi trabalhar.
Vai pegar cedo de novo e largar tarde. Não é possível isso.
Fecho a porta do meu pequeno e confortável banheiro, escovo
meus dentes, uso fio dental e enxaguante bucal. Depois vou para o
chuveiro, que pelo visto está bem gelada a água — minha mãe já
tomou o banho dela, pelo visto —, mudo para o morno e deixo a
água cair pelo meu corpo, relaxando e me fazendo pensar mais
ainda na noite de ontem. Término meu banho rápido porque hoje
tenho que ir de ônibus ou a pé[BB4]. Me enrolo na toalha e pego
meu celular de frente para o espelho, desbloqueio e entro em
notícias.
E lá está. Mais uma vez falando do novo Rei recém coroado, ele
está ao lado de sua noiva Isadora e a filha dela, Luanda. No artigo
da revista está destacado: "Primeira foto em família depois do
Príncipe Otto ser coroado Rei. Viva o Rei."
Desligo o celular e coloco rápido meu uniforme, passo um gloss só
para não ressecar a minha boca e vou ao quarto calçar o salto e
pegar a mochila.
Na minha escola os uniformes, materiais e mochilas são todas
iguais. Muda uma coisinha ou outra dos meninos. O que é bom,
assim não precisa ter disputa de quem se veste melhor.
Penteio o meu cabelo e o prendo de lado. Estou pronta para mais
um longo dia.
Desço as escadas e minha mãe está sentada no sofá e de moletom.
Ok, está realmente estranho. Do lado seu lado tem uma caixa
mediana, minha mãe está quieta e não me olha, então me aproximo.
— Mãe? — a chamo.
— Oi filha, dormiu bem? Senta aqui — ela fala sem o sorriso que
sempre me dá toda manhã, e bate no espaço vago do sofá ao seu
lado.
Me sento quieta e sem pestanejar. Fico olhando para ela, mas ela
não diz nada então penso em chamá-la.
— Mãe? — Ela me olha.
Ela abaixa o olhar para o outro lado do sofá, onde está a caixa,
pega com força e me entrega.
— Tome! É sua.
Não é meu aniversário. Ou é? Não, não. É só daqui a um mês e
meio.
Então olho para a caixa agora no meu colo e abro. Fotos. Muitas
fotos!
— O que é isso tudo mãe? — A encaro questionando.
— São fotos Amélia. Olhe! — Ela nunca me chama de Amélia.
Exceto quando está brava ou quando é algo sério.
Eu não reconheço aquelas fotos, não tinha as visto em lugar algum.
E não sei quem são essas pessoas nas fotos. As fotos não são
poucas, são antigas, algumas rasgadas, amarelas e umas que
parecem que terem sido queimadas, mas não totalmente queimada.
Na maioria das fotos são de dois casais. Podemos ver também
algumas outras pessoas que devem ser amigos do casal. Não sei.
Eu não sei de nada, e não sei o real motivo de eu estar vendo essas
fotos.
— Mãe, o que é para eu olhar exatamente? — pergunto, fazendo
uma cara de que não estou entendendo absolutamente nada.
— Não reconhece alguém nestas fotos, Amélia? — ela pergunta me
olhando fundo.
— Não mãe, nunca vi essas pessoas. Era para eu reconhecer? Eu
conheço alguém dessas fotos? E por que você nunca me mostrou
essas fotos antes? Por que as guardou? — Encho minha mãe de
questionamentos, e interrogatórios.
— Amélia. Olha para essa foto. — Ela me dá uma foto com um
casal se abraçando e sorrindo para a foto. — Olha com atenção! —
ela diz.
Tento prestar bastante atenção na foto, olho os detalhes dos rostos,
afina parece importante para ela.
— Espera... são seus olhos. Olha, seu sorriso também. É a senhora,
mãe? Que linda! Sempre foi muito bonita desde jovem. Seu cabelo
era mais claro, igual o meu — digo sorrindo, contente por ter
identificado a minha mãe na foto.
— Sim, sou eu mais nova. Nessa época eu iria completar meus 18
anos. O tão sonhando 18. — Ela suspira.
— E então, quem é esse rapaz bonito te abraçando? Ele tem um
brilho nos olhos, olha dá para ver — falo, chegando a foto mais
perto dos meus olhos. Engraçado né?
— Ele tem os mesmos olhos redondos como o meu e o sorriso é
como o meu. Ele é bonitão, mas e daí? — falo, e minha mãe me
olha com um olhar triste. Pega nas minhas mãos virando-as de
frente para mim.
— Amélia, esse é seu pai.
Uma lágrima escorre sem que eu note. Minha mãe parece mais
triste ainda e me abraça. Um abraço forte, confortante e eu choro
como um bebê.
— Mas a senhora me disse que não sabia nada dele, que não tinha
fotos. Não tinha notícias e você nunca fala dele, por que tá me
contando tudo isso? Por que escondeu a foto do meu pai? A
senhora já pensou que ter essa foto iria me ajudar muito? — digo
chorando.
— Filha, você só iria querer ir em busca dele — ela diz, se
levantando do sofá.
— E o que tem? Ele é meu pai. Eu o amo e sempre quis conhecê-lo!
— digo irritada.
— O problema é esse! Você conhecer ele. Você não pode, ele não
sabe de você — comenta a mão na boca rápido.
Eu choro mais ainda com as suas palavras.

Capítulo 7

Meu? Ele é o MEU pai? Minha mãe só deve estar querendo que eu
pare com isso de querer conhecer o meu pai e colocou o rei como
vítima[BB5]. Eu estou cansada de tudo isso, as mentiras da minha
mãe. Ela não pode fazer isso comigo. Por que essa reação dela de
ontem ao vê-lo na televisão? Minha mãe está realmente cansada.
Ela precisa de um tempo em casa só para ela.
Eu não vou sair da cama hoje, não quero ver a minha mãe e muito
menos ninguém. Eu já chorei muito, e minha cabeça está pesada,
doendo muito. Eu nunca senti tanta dor, eu rolo na cama e gemo de
dor, bem baixo, porque acho que minha mãe não foi trabalhar. Logo
hoje que eu queria ficar sozinha. É frustrante!
Eu preciso ir ao banheiro pelo menos escovar meus dentes, mas a
dor de só abrir os olhos nessa claridade me incomoda.
Tento colocar meu pé no chão para sair da cama e bate uma dor,
uma dor aguda. Volto com meu pé e os juntos. A dor não para. Está
pior, muito pior.
Eu tento chamar minha mãe, mas me lembro que não quero vê-la
tão cedo. Então, eu abuso e vou para o banheiro mesmo com dor,
mal aguentando meu corpo. Saio me apoiando em tudo que vejo até
chegar no banheiro, abro a porta toda sem jeito e acabo batendo na
parede, fazendo um barulho alto é me encolhendo de dor.
Mesmo assim quero continuar. Entro no banheiro e tranco a porta,
pego minha escova e a pasta, me sento no vaso para escovar meus
dentes. Não estou me aguentando em pé, estou pálida e gelada.
Estou sentindo frio, mas está com sol lá fora. Está muito quente
hoje. [BB6]Assim que tento me sentar e fico tonta e caio batendo a
cabeça na porta com força e desmaio.
36 dias depois
Acordo em um hospital, parece que estou no CTI, porque em todo
canto tem escrito CTI. O que estou fazendo aqui? Meus olhos estão
pesados, minha cabeça dói, mas não tanto como antes. Eu quero
minha casa, minha cama. Cadê a minha mãe? Tem um tubo na
minha boca, começo a chorar, eu não estou entendendo. Um
aparelho do meu lado começa a apitar, os médicos e enfermeiras
vêm correndo até meu leito.
— Ela acordou, ela acordou — grita uma enfermeira, não sei com
quem ela fala, só quero que ela não grite. O médico a repreende ao
ver meu semblante de dor, e ela se desculpa.
— Amélia, eu sou o doutor Jon, fique calma. Amélia, tente respirar
devagar. Estamos aqui para te ajudar, você não pode fazer esforço.
Está vendo aquela máquina? Ela está medindo os batimentos do
seu coração, você precisa se acalmar ou terei que injetar um
calmante na sua veia.
Não! Não! Não!
Chamem a minha mãe, pelo amor de Deus! A minha mãe vai me
tirar daqui, eu tenho certeza.
Eu tento me acalmar, mas sem a minha mãe não tenho como,
mesmo que ela me irrite inventando coisas nada haver. Eu preciso
dela, e onde ela está agora.
O médico continua comigo, e eu fico encarando o teto. A luz, isso
faz doer.
— Tânia, diminua a luz... — ele diz para a enfermeira. — Amélia por
isso eu não queria te examinar com a lanterna agora, iria aumentar
sua dor, mas foi bom que agora eu tive a prova. Você se sente
desconfortável? Você já está respondendo aos estímulos do seu
corpo, isso é bom. Colocarei no seu prontuário. O que acha de
retirar o tubo agora? — ele questiona sorrindo para mim.
Isso sim, era o que eu queria. Eu não preciso disso.
— Tânia, chama o doutor Kevin para vir retirar o tubo, e faz o favor
de trazer um copo com água filtrada, nada de água gelada. Quero
também três gases e um canudo, por favor. O mais rápido possível
porque a senhorita Amélia está desconfortável. Não é Amélia? —
Ele me olha sorrindo com um olhar de calma.
A enfermeira sai rápido atendendo ao pedido do médico. Eu ainda
não estou entendendo nada, não me pediram para fazer exames.
Que hospital é esse?
Um homem negro alto, bem chique, chega com a enfermeira Tânia,
ele deve ser o doutor Kevin.
— Doutor, vamos retirar o tubo? — doutor Jon pergunta olhando
para o outro médico.
— Agora mesmo! Está pronta Amélia? — ele pergunta, já abaixando
o protetor do leito. — Senhorita Amélia, pode ser bastante
desconfortante, para uns são menos, mas como você está um
pouco sedada, não irá sentir tanto a retirada, porém, depois você irá
sentir se o tubo machucou ou não a garganta. Faça o favor de não
se esforçar falando, e nada de ingerir algo dentro de 24 horas, tudo
bem? — ele explica calmo. Acho que para ele é bastante comum,
será que ele gravou esse texto para falar aos pacientes? É
engraçado pensar.
O doutor começa a retirada, ele vai com calma, bem devagar com a
ajuda da enfermeira Tânia.
Isso dói. Que vontade de vomitar, começo a tossir.
— Tá tudo bem, Amélia, é normal. Respira fundo, já saiu. Eu vou
deixar esse inalador pequeno no seu nariz, para melhorar a
respiração. Amanhã já retiramos, é só para precaução.
Fico em silêncio, eu nem sei o quê falar, e nem posso...
— Amélia, eu vou te entregar um quadro pequeno com uma caneta
para você se comunicar conosco. Tudo bem? — O doutor que
removeu o tubo me entrega o quadro e olho para o doutor Jon. —
Doutor Jon, por favor, verifique a senhorita Amélia e me avise. É
importante a evolução. — Doutor Jon concorda com a cabeça, e o
doutor Kevin sai do quarto.
— Ok, Amélia. Esse negócio de ingerir nada... Será nosso segredo
junto com a enfermeira Tânia, escutou Tânia? — Ele olha para ela
sério.
— Claro doutor. — Ela abaixa a cabeça.
— Tudo bem então. Me passa o copo de água e as gases, Tânia —
manda o doutor e Tânia arregala os olhos assustada. — Tânia?
Vamos!
— É... bom... Certo! — Ela pega as coisas e entrega.
O doutor senta na minha cama e começa:
— Amélia, sei que é desconfortável e sei que estão nos olhando
pela câmera...
— QUÊ? — grita Tânia.
— Tânia, já pode se retirar! Desculpa eu sei que doeu o grito dela...
Vamos continuar, eu estava dizendo... Ah, me lembrei, o tubo
machuca bastante. Ainda mais que ficou por muitos dias em você.
Meus olhos saltam. Como assim? Eu?
— Amélia, eu vou retirar minha luva porque você vai sentir gosto de
talco e isso não é gostoso, vai por mim. Eu vou molhar a gases na
água que Tânia trouxe, você infelizmente não pode beber, mas eu
sei que sua garganta está seca e isso dói e parece que você está no
deserto. — Ele ri baixo. — Então, eu vou molhar sua boca. Você não
pode beber agora senão você acaba se engasgando, e aí eu me
ferro. Vamos logo com isso.
Ele molha a gases na água, e vem direto na minha boca. Eu abro
imediatamente, estou seca, não tem nem saliva. Ele molha minha
boca por dentro devagar e depois espreme a água que caí com
gotas. Eu preciso de mais! Ele sorri da minha cara de quem quer
loucamente água. Ele pega outra gases e molha e fala para que eu
morda dessa vez. Nossa. Água. Uau. Eu nunca imaginaria que água
era tão prazerosa!
Eu pego o quadro depois que acaba, e escrevo "obrigada".
— Não precisa agradecer. Agora você está com remédio na veia, vai
lhe dar sono em breve. Vou te deixar descansar e mais tarde volto.
Eu não falo nada só o vejo recolhendo as coisas e saindo. Droga.
Estou sozinha de novo.
Tento não me mexer muito, meu corpo dói. Acabo pegando no sono.
Assim que acordo vejo minha mãe com a cabeça deitada no leito e
sentada na poltrona do meu lado.
MINHA MÃE!
Eu passo a mão sobre ela. Ela levanta a cabeça assustada. Me
olha, bem no fundo dos meus olhos e começa a chorar. Ela está
mais magra e com olheiras. Está triste.
— Filha, meu amor, amora! Desculpa, por favor, me perdoa. — Ela
chora.
Eu não estou entendendo. Eu quero saber. Doutor Kevin me deu o
quadro. Só há uma unica maneira de eu saber...
"O que estou fazendo aqui?"
Minha mãe suspira de cabeça baixa.
— Amora, encontrei você no banheiro, convulsionando, gelada e
com pulso fraco. Eu liguei para a ambulância na hora, mas antes eu
precisei chamar um vizinho que eu nem conhecia para ajudar a abrir
a porta. Você tinha trancado e estava atrás da porta. Foi ele quem
abriu, filha. O nome dele é José, ele foi rápido e te salvou. A
ambulância demorou, ele te colocou de lado e você vomitava muito.
Eu estava desesperada. Por que não me contou que sentia dores de
cabeça, Amélia? — Ela chora falando embolado, mas eu entendo
tudo.
Eu tive convulsão? Por quê? Sou saudável. A escola! Meu Deus! Eu
faltei só um dia, mas tenho que comunicar.
"Você precisa avisar a escola que eu fiquei no hospital por um dia.
Se não, eu perco tudo."
— Filha, não foi um dia!
Quê?
Capítulo 8

Não faltei um dia? Então quantos? O que está acontecendo


comigo?
"Me conta tudo agora!"
— Não acho que será bom para você. Não agora.
"Me fala então quantos dias estou aqui."
— 36! Foram 36 dias, Amélia — minha mãe diz levantando e
andando no quarto.
Ela está brincando, só pode. Foi ontem que eu me senti mal, eu me
lembro!
"Fala tudo, é a minha vida."
— Já que quer assim... Tudo bem. Você está doente. Tem um tumor
no cérebro, e nós não sabíamos. É raro. Glioblastoma multiforme.
Nome feio. Você fez exames, quase todos os dias, radiografia,
quimioterapia, radiologia[BB7], está fazendo tratamento ainda...
[BB8]Você precisou de bolsa de sangue. Filha, você fez cirurgia na
cabeça.
"Eu? Mas eu sou saudável. E o meu cabelo? A escola? E agora? Eu
vou morrer?"
— Boa tarde, Amélia — diz o doutor Jon e o doutor Kevin. A
enfermeira parece ser a sombra deles.
— Vejo que está usando o quadro, que bom. A fisioterapeuta vai
gostar de saber também — fala o doutor Kevin.
— Senhora Crystal. Contou a senhorita Amélia? — Jon fala.
— Eu acabei de contar doutor — fala a minha mãe abatida.
— Posso ver o que está escrito no quadro, Amélia? — pergunta o
doutor Kevin, ele é bem mais velho que o doutor Jon.
Eu viro o quadro, olhando para o canto do quarto para não ver a
reação deles. Eu só quero chorar, e ficar no meu quarto, deitada
com a minha manta.
— UAU, são bastantes perguntas, não é mesmo doutor da água? —
fala o doutor Kevin para o Jon.
— Não acho, doutor. Ela precisa saber, é o corpo dela — ele fala, e
eu o olho como se agradecesse. Que alívio.
— Tudo bem, bom Amélia, vejo que está bem recuperada. Tânia
retira o respirador, por favor. — Tânia vem devagar e pede licença
para remover. — Ótimo agora. Você já está mais corada. Vamos
começar com uma sopa, avisa por favor Tânia — diz o médico. —
Amélia. Vamos ao seu bom interrogatório que meu amigo de
trabalho gostou... Jon, por favor, responda.
— Amélia — ele me chama, mas não o olho. — Por favor, Amélia.
Olha para mim. — Eu o olho com meus olhos marejados... —
Obrigado! Vou te responder tudo. Vamos começar com sua escola,
você poderá continuar. Você tem laudo médico. Seu cabelo está do
jeitinho que chegou aqui... Saúde, você está muito bem agora! Você
teve sim um tumor, mas nada que eu e Kevin não demos um jeito. E
você não vai morrer. Olha que maravilha!
12 dias depois...
— Olha quem está mais disposta hoje e falando. Maravilhoso! Bom
dia senhora Crystal e bom dia senhorita Amélia — diz o doutor Jon,
sorrindo para mim.
Doutor Jon me ajudou muito na minha recuperação, ele é um ótimo
amigo e bem bonito por sinal. Eu não tinha nem reparado, eu só
chorava e ele vinha me acalmar. Gosto de quebra-cabeça e ele
trouxe um bem difícil, foi bom para movimentar o meu cérebro.
Realmente não está sendo fácil, o tratamento me dá enjoos e
tontura, mas me disseram que era normal. Jon me acompanha em
tudo, ele faz questão!
Ele gosta de zoar quando eu digo que estou tonta, fala que é culpa
das bebidas que eu tomo. Eu não me aguento e começo a rir. Se
todos tivessem um médico como ele não iriam sofrer tanto...
Hoje estou alegre é meu último dia aqui. E, é claro, Jon está aqui já
pela manhã.
— Oi Jon, nosso último dia — digo, olhando para ele sem sorrir.
— Não mesmo mocinha, não vai fugir por muito tempo. Eu ainda irei
te acompanhar. Lembra?
Todos os pacientes que têm câncer precisa ter um
acompanhamento no médico, assim receitado.
— Assim irei te ver e você poderá me zoar mais vezes, não é? —
digo, já sabendo a resposta.
— Que calúnia senhorita, eu jamais faria isso com uma paciente
minha — ele diz olhando para o teto.
Sonso.
Todos começamos a rir, não tem como se segurar com ele.
— Doutor, Então amanhã pela manhã Amélia já terá alta? —
pergunta minha mãe, cansada e ansiosa, afinal quer para casa com
a sua filha tão amada. No caso, eu.
— Sim, sim. Eu vou deixar vocês irem, não vou importunar mais —
Jon responde.
Eu só sei rir e minha mãe agradece a resposta.
No dia seguinte...
— Bom dia! — eu grito assim que vejo Jon chegando no quarto, e
ele faz o gesto de silêncio com a mão. — Desculpa, eu não sabia —
eu respondo toda sem graça e corada.
O médico chefe chega atrás de Jon, Kevin e Tânia. Já escutei
muitas coisas sobre ele. Amélia sua boba você só passa vergonha!
— Bom dia senhora Crystal e bom dia também para a minha
paciente feliz! — diz o médico chefe do hospital.
— Bom dia — minha mãe responde, chegando mais próximo a mim.
— Nós viemos te dar alta, Amélia! Tânia, por favor retira essas
coisas chatas e desconfortáveis dela. Ela não precisa mais disso —
diz o médico chefe. — Meu nome é Carlos, eu sou o médico chefe
do hospital e seu tratamento foi excelente. Correspondeu muito bem
ao seu corpo e ao câncer que você tinha. Eu só vim mesmo
preencher os documentos e te liberar. E claro, te conhecer. Mais
uma que venceu o câncer. Parabéns Amélia.
Capítulo 9
Era hora de ir para casa...
Eu não aguentava mais aquela cama. Mesmo que eu tenha
decorado o meu quarto do hospital do meu jeitinho. Eu pintava
quadros aqui e sempre colocava na vista de todos. Eu amava, e não
vou parar, eu sou boa. Não tenho mais vergonha como antes.
Eu estava sozinha no quarto quando o doutor Jon entrou.
— Oi Amélia! — ele diz cabisbaixo, mas sorrindo.
— Oi Jon — digo rindo. Me sinto livre.
— Você já vai, né? — Ele senta na poltrona.
— Só estou esperando a minha mãe — falo recolhendo os quadros.
— Vou sentir sua falta — ele diz baixo.
Olho para ele, realmente ele pensa que eu não vou perturbá-lo?
— Jon! Eu escutei isso! — falo rindo da cara dele de assustado. —
Eu também vou seu bobo! Você além do meu médico chato é meu
amigo chato. Não vai se safar de mim — digo indo na direção dele,
e ele se levanta rápido todo sem graça.
Jon é novo. Tem 21 anos. Ele é muito inteligente e muito
reconhecido no hospital, por ser um ótimo médico e por ser novo. As
meninas ficam de olho. Ele é lindo, com cabelos escuros e um
sorriso contagiante. Da última vez fiquei sabendo que ele tem o QI
avançado.
— Ok! Ok! Vou te dar meu número, assim poderei manter contato —
ele diz pegando um bloco de papel e anotando o número dele. No
final ele coloca o nome "Jon, seu médico e amigo chato", assim que
ele me entrega, minha mãe entra.
Começo a rir depois de ler e minha mãe não entende nada...
— Oi Jon — fala minha mãe sorrindo. — Estamos prontas! Acho
melhor você se despedir da Amélia... ou... bom. — Minha mãe me
olha e pisca.
— Dona Crystal! — falo toda sem graça, e aposto que estou
vermelha, porque meu rosto esquenta. Minha mãe sempre faz isso,
gosta de me ver assim...
Jon está sem graça e bastante vermelho também.
Todos nós começamos a rir.
— Ai, ai... Então meninas. Preparadas para uma nova vida ao sair
daqui? — Jon fala pegando nossos braços.
— Preparadas! — eu e minha mãe gritamos como se fôssemos
acampar.
— Então vamos! — Jon diz animado, nos levando até a saída do
hospital.
— Crianças eu vou pegar o carro. Amélia se despeça de Jon. — Eu
sinto uma tristeza ao escutar isso.
— Ok mãe! — Minha mãe abraça Jon e o agradece. Quando ela
está mais longe eu me viro para o Jon e o olho nos olhos. — Jon.
Eu quero deixar bem claro que eu sou a única que você pode tratar
assim em, sou sua melhor paciente e não se esqueça de mim. —
Começamos a rir. Como vou sentir falta de rir por bobeira... — Mas,
falando sério agora. Obrigada Jon, por tudo, por estar comigo
quando eu queria desistir, quando eu vomitava horrores e você
segurava meu cabelo, mesmo não precisando. Obrigada por ser
meu amigo. Você é especial para mim, Jon — digo, já querendo
chorar, eu odeio despedidas...
— Não vai chorar, não é guerreira? — Ele me abraça forte. — Eu
estarei sempre com você, te prometo. Vou cuidar de você, e da sua
mãe é claro... Olha vindo aí. — Jon pega as caixas com as minhas
coisas e coloca no carro, me abraça e me dá um beijo na testa. —
Cuide-se. — Ele me ajuda entrar no carro, fecha a porta e dá um até
logo para a minha mãe. E assim partimos.
Jon está lá, no mesmo lugar que deixamos. Parado, dando
tchauzinho com uma das mãos.
Uma nova vida...
Eu pego meu celular no bolso e o papel de Jon. Eu o abro e viro
aonde ele tinha escrito o número dele... Dígito já salvando e guardo
o celular de novo. Fico olhando o papel e a letra visivelmente de
médico. Há algo atrás escrito que eu não tinha percebido...
" Para sempre seu Jon."
Em casa...
É estranho estar de volta, parece que esqueci de algo. Minha mãe
pede para que eu não carregue as coisas, não posso fazer esforço
por alguns dias. Eu entro na minha casa, ela mudou. Não tem
felicidade, falatório, risadas, me sinto triste e desconfortável, por
mais que eu esteja em casa. Eu queria tanto chegar em casa, mas
agora vejo que estou enganada.
Me sento no sofá de dois lugares, conforto. Eu nem lembrava mais o
que era essa palavra... Olho em volta e todos os quadros estão no
mesmo lugar, um pouco mais empoeirados. TV desligada na
tomada, alguns panos cobrindo os objetos da casa.
Tenho que abrir essa janela, essa casa precisa de luz, de ar, queria
dar uma bela faxina, mas meu corpo está tão cansado. Ligo a TV na
tomada e me deito no sofá, enquanto minha mãe já está na cozinha
preparando algo. Nada de regime, preciso comer calorias.
A sala agora tem luz do Sol e um vento gostoso passando pelas
janelas, na TV passa algo falando sobre o Rei, mas estou exausta.
Meus olhos se fecham e não escuto mais nada...
Já é noite quando minha mãe me acorda com uma lasanha, meu
prato preferido desde pequena. Eu havia implorado no hospital há
bastante tempo por lasanha, mas os remédios fortes causavam
vômito. Em casa não, os remédios que ainda tomo não são tão
fortes igual colocavam na minha veia.
Depois de comer eu só pensava em dormir mais um pouco...
— Filha, vai para o quarto, tá tudo bem limpinho e do seu jeito. Vai
para a cama, meu amor — diz minha mãe, me dando um beijo no
alto da cabeça.
Eu me levanto devagar, fico olhando a TV e no jornal da noite fala
sobre o Rei. Tenho vontade de assistir, mas o meu sono é bem
maior.
Abro a porta do meu quarto, limpo e em ordem. Minha mãe teve
tanto trabalho, não sei como agradecer a ela por tudo. Suspiro fundo
e entro. Cheirinho de lavanda, meu quarto sempre teve esse cheiro
delicioso, desde que eu era bem pequena. No criado mudo tem a
minha bailarina feita de gesso. Eu tenho um cuidado enorme com
ela.
Abro a janela, o vento frio lá de fora entra no meu quarto e deixo o
sono vir, minha cama está com o meu cobertor macio. Me cubro e
deito, é só fechar meus olhos que logo durmo.
Capítulo 10
Três semanas depois...
Minha vida já está voltando ao normal, tomo meus medicamentos e
em dois dias tenho uma consulta de rotina. É bem normal para
quem já passou por isso tudo.
Eu passei essas três semanas quietas, bem pensativa. Eu ia toda
manhã para o quintal, que fica atrás da minha casa protegida por
cercas antigas, e lá tinha o meu velho balanço de quando era
pequena. Eu amava vir aqui, mamãe tinha uma boa visão da
cozinha, então eu podia brincar à vontade e ela sempre estava com
um olho na panela e o outro em mim. Eu amo ler desde pequena,
gosto de criar meu mundinho imaginário. Mamãe dizia "o mundinho
da Mya", eu sempre fui uma criança ativa e esperta, era muito
evoluída para a minha idade. Lembro que um dia, um senhor
velhinho que trabalhava no correio chegou com um quadro de
pintura e várias tintas e pincéis. Eu era a criança mais feliz do
mundo, tudo era simples, como brincar na chuva com a minha mãe
e ficar pulando em poças d'água, dançar na chuva e ficar cantando
até ficar toda molhada de água.
Mamãe cantava para mim todas as noites, era o nosso momento.
Ela tinha livros de biologia onde me mostrava cada inseto, ela era
colecionadora, mas acabou vendendo para poder pagar minha
escola. Foi o dia mais triste para ela. Eu sabia mais que todos que
minha mãe amava o que fazia.
Era bem legal acampar no jardim na primavera, havia tantos
vagalumes, fazíamos piquenique e ela me mostrava cada estrela no
céu e o seu nome, ela aprendeu isso com o vovô quando tinha a
minha idade.
E cá estou eu, sentada no balanço, bem mais velha. Onde o quintal
não tem mais flores e nem gramado direito. Está um tempo nublado,
e eu só penso em como minha mãe conseguiu dinheiro para pagar o
meu tratamento, se ela teve largado o emprego para ficar comigo
todos os dias.
Não temos economias, gastamos tudo para comprar o carro, e ele
não é muito bom, sempre apresenta um defeito. O que deixa minha
mãe irada.
Dinheiro. Mãe. Hospital. Doença.
Palavras que martelam todos os dias na minha cabeça. Eu só
descobri que era particular por ver nos exames a descrição do
paciente.
Minha mãe está na sala assistindo TV quando entro pelas portas do
fundo.
— Mya, vem assistir esse filme comigo — minha mãe fala, toda
calma.
Sento ao lado dela no sofá sem a olhar.
— Filha, está se sentindo bem? Tomou seus remédios hoje pela
manhã quando acordou? — ela pergunta, já se virando para mim e
esquecendo a TV e seu filme.
— Mãe, onde a senhora arrumou tanto dinheiro para que eu ficasse
internada em um hospital particular, sem eu ter plano de saúde?
Como conseguiu, me conta! — eu falo olhando bem nos olhos dela,
que logo desvia o olhar.
— Amélia. Isso não é do seu interesse! — ela diz pegando o copo
na mesinha a sua frente, e levando indo até a cozinha.
— Mãe! Como não é? Quem está doente sou eu. Tenho o total
direito de saber! — Eu levanto um pouco a voz e minha mãe me
olhando já assustada. Eu nunca levantei a voz para ninguém, muito
menos ela. — Desculpa mãe. Me desculpa, não era a intenção.
— Você quer sopa ou quer pedir uma pizza? — Ela muda o assunto.
— Mãe. Por favor... — Começo a chorar já pensando no pior.
Minha mãe vem até a mim e me abraça forte. Como nunca abraçou.
Tem algo errado, ela não é assim. Então minha mãe começa a
chorar e soluçar.
— Amélia. Eu estava só te protegendo, filha. Entende isso. Eu
queria o seu melhor, eu jamais pensaria em te magoar. Você é a
minha Mya, de mais ninguém. Eu não aceito isso. — Ela chora
saindo de perto de mim. — VOCÊ É SÓ MINHA, EU SOU SUA
MÃE. NINGUÉM TEM ESSE DIREITO!

Eu não tenho reação. Eu só sei que preciso sentar, mas eu não


consigo chegar até o sofá ou uma cadeira, me sento no chão
mesmo. Enquanto isso, minha mãe desaparece do meu campo de
visão, ela foi para o quarto, com certeza, ela odeia chorar na frente
dos outros. Eu só preciso saber, não pensei que atingiria minha mãe
assim. Eu não entendo o porquê.

Capítulo 11

Eu choro tanto, não entendo o porquê dela me tratar assim, ela


sempre foi tão carinhosa, e falava tão baixo que eu preciso estar
bem perto para entender.
Eu resolvo acordar mais cedo, mesmo com tantos remédios pela
manhã, eu quero fazer minha mãe sorrir, ela merece tudo de melhor,
e ela também está cansada, passou por muitas coisas esses dias.

Vou bem devagar até a cozinha, diferente da minha mãe que tem
um pé pesado e nem liga se alguém está dormindo, ela faz seus
barulhos mesmo assim.

Eu resolvo fazer panquecas, aprendi com a mamãe quando era


pequena, tinha o toque especial da mãe dela, a minha avó Tereza.
Ela faleceu antes de eu chegar ao mundo, mas o que a minha mãe
conta dela, ela parecia ser uma pessoa muito feliz e que amava
tudo.

Escuto minha mãe chegando até a mim, pé pesado.


— Bom dia, mamãe! — grito em tom de animação, e ela toma um
susto levando a mão até a cabeça. Acho que ela chorou, está com
os olhos vermelhos e parece estar com enxaqueca.

— Bom dia, amora! — Ela me dá um beijo na testa e prova o


chocolate da panqueca. — O que faz acordada a essa hora?
Deveria estar na cama, isso não é hora e você sabe, os remédios
são fortes.

Eu deixo isso de lado. Sirvo a minha mãe no balcão da cozinha


mesmo com o que ela sempre come pela manhã. Cereal com leite e
café, minha mãe e seu gosto infantil, mas dessa vez tem a
panqueca.
Isso fez o nosso dia melhor.

— Amélia, senta aqui — ela me chama da sala, já está quase de


noite.
— Pronto, mãe. Pode dizer — falo me jogando no sofá.
— Não faz isso! — Me dá uma bronca.
— Foi mal. — É uma mania antiga, eu adoro fazer isso, porque
meus pés não vai no chão.
Dona Crystal fica me olhando e meu celular apitava. Eu olho para
ele, e ela me olha cada vez com a cara mais feia e levando a
sobrancelha.

— Eu não vou pegar o celular. Não por enquanto... Pode dizer,


estou aqui — falo, me virando toda para ela e cruzando minhas
pernas no jeito indiozinho.
— Achei seu pai!
Minha mãe foi direta. Não houve aquele mimimi, aquele falatório
para chegar em um lugar que saberia que teria que chegar uma
hora ou outra.
Mas eu preferia a enrolação, que baque. Eu não estou preparada. O
sorriso que tinha no meu rosto se desfaz, estou tensa com essa
conversa. Eu queria tanto saber do meu pai, a minha infância foi
interrogando minha mãe...
"Onde está meu papai?", "Hoje vou vê-lo?”, "Ele vai me levar para
escola?"[BB9]
Eu não parava de falar, deixava minha mãe triste, mas eu queria
meu pai, sabia que ele estava vivo. Queria ver o quão parecida sou
com dele. Saber que posso ter avós, ou tios e tias, primas... Eu
passava a noite antes de dormir pensando nisso. Foram anos.
E agora... Eu só queria que tudo fosse um sonho infantil.
Eu não aguento, foi um choque! Eu corro o mais rápido possível
para fora de casa, mas eu não tenho um rumo, eu não tenho
ninguém. Eu quero chorar.
Jon!
Pego rápido meu celular sem parar de correr e ligo para o Jon, eu
salvei o número dele, mas não conversei com ele desde que saí do
hospital... Jon sempre foi o meu refúgio nas horas em que mais
precisei. É dele em que preciso agora.

— Alô? Alô? É com o Jon que estou falando? — digo, parando de


correr, já me sentindo fraca. Sentar! Eu sempre preciso me sentar
para não cair e bater a cabeça.

— Hã. Oi, quem é? Tá bem tarde. — Escuto uma voz de quem


acabou de acordar.
É de tarde, mas vida de médico.
— Jon, sou eu, a Amélia. Se lembra de mim, não é? — falo,
começando meu choro compulsivo.
Eu estou tremendo e com frio. Eu não faço a mínima ideia de onde
estou. Está nevando e não tem ninguém na rua...
— Ai meu Deus! Amélia. Oi, bom, desculpe. Eu só estava sonolento,
normalmente desligo o celular e só deixo o bipe. Mas esse não é o
assunto. O que houve? Está doente?
— Jon, eu preciso que você venha me buscar — falo sentindo a
neve entrar por dentro das minhas roupas finas.
— Como assim? Onde você está? Por que está chorando? — ele
questiona eufórico.
— É bom... eu não sei exatamente. Tem uma placa grande escrito
"doces da vovó Nana" não tem mais nada aqui. E tá frio.
— Você está sozinha? Eu estou indo, sei onde fica essa placa.
Passo por ela todos os dias para ir trabalhar. Você me deve uma
explicação.
— Jon, estou congelando. Cadê você? — Eu tento me aquecer
soprando minhas mãos juntas e me encolho.
— 4 minutos, Amélia. Faltam 4 minutos! — Escuto as buzinas por
telefone. — Amélia não desliga, escuta a minha voz. Aguenta, não
desmaia.[BB10]
Eu não escutei mais nada depois do desmaia.
Acordo já é noite, Jon está sentado na poltrona do lado da cama, a
lareira está acesa e o quarto está bem quentinho, mas eu ainda
sinto frio.
— Oi, Amélia. Devagar, estou aqui.

Capítulo 12

Era ele, o meu anjo, Jon, só ele que faria isso por mim.
Ele merecia uma boa explicação. Eu tive medo de morrer sozinha
naquele lugar gelado, não quero voltar para casa, não mesmo. Eu
mereço esse tempo sozinha para pensar se quero meu pai na minha
vida. Ele não acompanhou nada dela quando eu era pequena e
minha mãe precisava trabalhar para nos sustentar, e quando eu
estava entrando na adolescência, e eu queria ir na sorveteria. Mas
não era tão fácil assim, minha mãe não podia gastar dinheiro com
bobeira. Ela tinha muitas contas, e eu entendia...
Por que ele nunca procurou minha mãe? Ele só a deixou e não se
importou com nada. As dificuldades de uma pessoa pobre. Já chorei
muitas noites sozinha pensando em qual tipo de ser humano ele
seria.
— Amélia, sua mãe deve estar preocupada. — Jon me tira dos
meus pensamentos.
— Sim, verdade. Aqui tem um telefone para que eu ligue para
ela[BB11]?
— Claro Mya. Está do seu lado, na cabeceira. — Ele aponta. Pego o
telefone e ligo para a minha mãe.
— Mamãe, sou eu, Amélia. Desculpa mãe. Eu estou bem, juro.
Estou com o Jon, ele me tirou do frio. Eu vou ficar um pouquinho
aqui e depois vou para casa, pode ficar tranquila. Tchau mamãe, até
mais tarde.
Entrego o celular ao Jon, ele sorri para mim.
— Mya já volto, fica na cama.
Esse fica na cama não dá para mim. Olho ao redor, reparando o
quarto do Jon, tem fotos dele em um quadro, de bem novinho até os
dias de hoje, os pais dele devem sentir muito orgulho. Ele é um
ótimo doutor, me ajudou tanto, sem ele acho que não teria
conseguido.
Ando pelo quarto, é que quarto em, tem de tudo. Tem um espaço
enorme, uma cama grande e confortável, uma suíte, o banheiro é
branquinho, para um homem chega a ser milagre, dá até para
dançar nele e um closet maravilhoso, sem contar com essa sacada.
Levanto pego o cobertor e me sento na cadeira da sacada. Ele tem
uma mansão, dá para ver daqui de fora. Lindíssima, tem um canto
de flores e um lindo jardim com uma cascata linda. Me perco
admirando, eu nunca vi um lugar assim e muito menos estive em um
lugar como este.
Jon deve trabalhar muito, ele cresceu na vida, muito mais que
merecido.
— Amélia, eu disse para não sair da cama. Você sempre foi teimosa
— diz ele com uma bandeja cheia de frutas. — Vem entrar, está frio.
Meu aniversário de 18 é daqui a oito dias. Eu não estou nenhum
pouco animada..., mas Jon está!
Eu ainda estou aqui com ele, já tem dois dias[BB12]. Ele é gentil,
educado, carinhoso comigo como sempre foi. Ele não sente pena de
mim.
São 21:47 da noite, Jon está atrasado. Ele normalmente chega às
21 horas. Devem ter precisado dele no hospital.
Ligo a lareira, me sento no chão próxima dela e pego meu cobertor,
fico sentada olhando o fogo queimar, a lareira é bem diferente da
minha casa, aqui é a gás. Lá precisamos de um bom esforço para
acender.
22:16
Escuto o barulho da porta se abrindo, mas meu sono está tão
pesado que nem me mexo ou ouso abrir meus olhos. Eu sei que é o
Jon, o perfume dele chega primeiro que ele nos ambientes, eu
sempre deixei claro isso para ele. Ele sempre me dizia que era para
me fazer feliz, para que eu pudesse de alguma maneira sentir o seu
cheiro e não de álcool em gel do hospital.
Sorrio ao lembrar.
Escuto os passos dele compassados vindo na minha direção. Estou
deitada no chão com a coberta e perto da lareira, porque hoje está
muito frio.
Jon se deita do meu lado, estou de costas para ele. Sinto a sua
respiração na minha nuca o que me causa um arrepio.
Não sei, mas eu penso nele todos os dias e todas as horas, acho
que estou gostando do meu médico. Isso não é certo.
Ele me abraça por trás. Meu coração quer pular do peito.
Fico por alguns minutos só sentindo o nosso momento. Eu e Jon.
Viro de frente para ele.
— Oi Jon.
— Oi, minha princesa. — Ele me dá um beijo no topo da minha
cabeça, coloca um fio de cabelo meu que estava no meu rosto para
atrás da orelha e sorri. — Você é linda, Amélia.
Passo a mão nos cabelos dele fazendo carinho.
— Jon...
1 semana depois...
Minha cabeça passa um filme. Eu ainda não acredito, não contei
para ninguém. Até por quê só tenho a minha mãe..., mas eu não
consigo ter uma conversa com ela desde quando fugi de casa e
fiquei quatro dias na casa do Jon.
Ela vive triste, de cabeça baixas, quieta. Às vezes prefere colocar
uma música porque a casa fica um silêncio total.
É música dela no quarto dela.
E música minha no meu quarto.
Eu estou amando escutar músicas antigas e da Carol Biazin
com[BB13] a Day, elas me inspiram, me sinto relaxada. Os dias
estão difíceis.
Escola, casa. Casa escola.
Meu último ano e não quero conhecer ninguém. Ninguém mais me
importa, a não ser o Jon.
Ele me manda mensagem do trabalho perguntando como está meu
dia e sempre acordo com suas lindas e clichês mensagem de bom
dia. Isso me motiva, ele me motiva.
Amanhã é meu aniversário de 18 anos. O que irei fazer, bom...
Minha lista está escrita várias atividades para fazer no decorrer da
vida, mas esse ano só quero passar dormindo, não existindo para
as pessoas.
Capítulo 13

Amanhã já é o meu aniversário, e eu estou tão desanimada.


Minha mãe sem conversar comigo, sem melhores amigos, sem
família. Ok, eu tenho o Jon, meu refúgio.
17:45
Horário de saída da escola, vou lentamente pegando tudo em cima
da mesa quando aparece Sofia e Josh. Nossa, meus amigos, essas
coisas de hospital, de Jon, minha mãe... mexeu muito com a minha
cabeça.
— Querida, acho que tem um play boyzinho te esperando lá fora...
— fala a Sofia rindo, e logo pondo a mão na boca para abafar a
risada. Ela olha para Josh que parece não gostar nada.
— Ah, oi pessoal. Desculpa, mas eu ando distraída e cheia de
trabalhos para fazer, ficar internada acabou com a tranquilidade. E
aí, Josh, está quieto. Vocês estão bem? — pergunto sorrindo para
os dois e colocando a mochila nas costas.
— Sim! — os dois respondem juntos.
— Ok, isso foi bem bizarro. O que está acontecendo aqui? Venham
o Jon não pode ficar lá parado, vamos andando e vocês me
contando. Eu quero saber dos detalhes.
— Mya, então... Você sumiu, daí eu e Sofia nos aproximamos, e, eu
meio que estou apaixonado por ela — ele diz olhando para o chão,
mas mal sabe que Sofia está o fuzilando com os olhos...
— MEIO? — Ela se irrita.
— Xiu, vocês dois. Eu já entendi o caso aqui, e super desejo
felicidades a vocês, mas eu realmente preciso ir. Me mandem
mensagens, faz melhor, criem um grupo de nós três. Ok? Preciso ir,
gente. Beijo. — Saio correndo, sei que irão discutir e eu não quero
escutar.
— MYA, NÃO CORRE VOCÊ AINDA NÃO PODE!!! — grita Sofia, já
longe.
É, eu realmente não posso e nem consigo correr, me sinto fraca, o
estacionamento do colégio é bastante grande e eu queria chegar até
a portaria onde Jon estava o mais rápido possível. Mas...
Minhas vistas.
Minha mochila cai no chão, me sinto mole, e, em seguidas sinto o
cheiro. JON.
— Benzinho[BB14], sem esforço, se lembra? Nada de esforço por
enquanto. Me promete que não fará mais isso de tentar me matar de
susto? — fala Jon com a voz embragada, talvez segurando o choro?
Ele me pega no colo e coloca a mochila nas costas, homem forte, é
disso que preciso, para que andar se tenho um homem desse? Não
que ele seja meu, mas...
Não quero pensar nisso agora.
Ele me coloca no carro, passa o cinto em volta de mim, fecha a
porta e dá a volta no carro.
— Então, meu bem[BB15]. Pronta para uma aventura? — ele diz
com um sorriso lindo e enorme.
Ele é tão lindo! Como pode?
— Só se for agora! — Entro na aventura.
Estou chegando em casa e minha mãe está na porta, ela parece me
esperar. Está arrumada... Será que Jon a chamou? Eu queria
passar este aniversário sozinha, não queria comemorar.
— Oi dona Crystal, está tudo pronto? — Jon pergunta, saindo do
carro todo animado.
— Oi Jon. Está tudo pronto, agora só falta a felicidade da minha filha
para esse aniversário de 18 anos, não é Mya? — Minha mãe se
abaixa para olhar dentro do carro.
Ela está de calça jeans e uma blusa azul. Ela sempre amou azul, e
tem um cachecol vinho por volta do pescoço e usa uma bota.
Arrumada, diferente.
Onde Jon pretende ir?
— Jon, vamos logo. Já está escurecendo e eu estou com fome! —
berro, para que os dois escutem fora do carro, enquanto isso Jon
coloca uma pequena mala no porta-malas do carro e pede para
minha mãe entrar.
— Dona Crystal, esse carro é bem apertadinho aí no fundo, mas
espero que lhe acomode bem. A viagem não é curta.
Viagem?

Uma hora e meia de viagem e Jon para em um hotel muito bonito,


eu nunca estive aqui antes, não mesmo. Meu dinheiro não dá para
isso tudo, nem mesmo se eu guardasse dinheiro por toda a minha
vida.
Eu estou cansada na verdade, eu queria um banho quente e uma
caminha quentinha. Nada mais.
— Moças — chama Jon, perto da recepcionista. — Ela irá levá-las
até ao quarto das duas, o que não é muito longe do meu. E eu
espero vocês para jantarem, está bem? Às 21:00 horas no salão
principal.
Ele me dá um beijo e sai, me deixando a sós com a minha mãe.
É um pouco constrangedor, admito. Essa sensação é estranha para
mim. E a história do meu pai, não sei, não entra na minha cabeça.
Eu não entendi o que minha mãe quis dizer com aquelas fotos, só
sei que meu pai não sabe da minha existência, e isso para mim, já
basta. É melhor que seja assim.
Foi assim por 18 longos anos. Para que recordar o passado?
— Vem Mya, ela passa o braço na lateral do meu corpo me
abraçando e andando junto comigo até o quarto.
Eu não sei o quê esses dois estão aprontando, mas eu não queria
comemorar meu aniversário, mas minha missão foi por água abaixo.
Minha mãe agora está no banheiro, olhando tudo, até os quadros.
Que são muitos! Está parecendo um museu.
O quarto é lindo, fica no último andar, chamado de suíte
presidencial. Agora eu entendo o significado do nome, esse lugar é
maior que a minha casa, sem contar que tem cozinha, sala de
jantar, sala de estar, escritório bem grande, três banheiros, cinco
quartos e todos tem seus banheiros, além de ter uma sala de jogos
e varanda com uma vista magnífica![BB16]
Eu escolhi o quarto perto da cozinha, por causa da vista. E minha
mãe ficou com o quarto maior. Mas todos são enormes, esbanja
luxo. Eu não me sinto confortável em tanto luxo assim. A minha vida
nunca foi assim, e não está sendo meu dinheiro gasto, mas o do
Jon!
Meu Deus! O Jon! Eu esqueci completamente do horário, preciso
avisar a minha mãe para se apressar!
— Mamãe? — chamo, andando de cômodo em cômodo a procura
dela. E nada.
— Oi amora! — fala minha mãe, fechando a porta de entrada.
— HA! — grito. — Ai, mãe, que susto! Onde estava? — falo
colocando a mão no peito de susto, ela estava atrás da porta e não
vi. Claro, porta gigante assim tampa qualquer um.
— Olha, meu bem, uma caixa. Acho que tem um cartão aí, lê. — Ela
coloca em cima de uma mesinha. — Vai logo.
"Espero que gostem, e usem para o jantar.
Com amor, Jon."
— Então? — Minha mãe tenta ler a carta, a cara de curiosidade dela
está hilária.
Começo a rir e ela não entende nada, fica toda séria e puxa o
cartãozinho da minha mão.
— Vem, vamos abrir. É para a senhora também! — Me controlo para
não ri.
— MEU SANTINHO! — Mamãe sabe bem o que dizer nas horas de
surpresa.
— Mãe, são os vestidos mais lindos que já vi! — Meu coração dá
uma acelerada. Opa, vai com calma Amélia, isso não é hora e nem
dia de passar mal, se controla mulher!
— Ah, filha. O Jon é tão bonzinho! Meu genro é maravilhoso
demais! — Ela cruza as mãos sorrindo para mim.
— Seu o quê? — falo alto assustada. — Não, não, não. Você está
entendendo errado, mamãe! — Me defendo.
— Claro! Vamos logo para o banho que quero ficar na banheira,
porque isso nunca mais vai acontecer na nossa vida. Aproveita! —
Ela pega o vestido que tem um bilhete escrito com o nome dela e
vai em direção ao quarto fechando a porta.
Ok, minha mãe ficou louca! Eu não deveria ter ficado longe dela
esse tempo. Minha mãezinha que amo mais que tudo, até mais que
comida japonesa!
Pego a caixa com o meu vestido e vejo que debaixo dele tem dois
pares de sapatos. Ah, claro, Jon sabe também meu número. Seria
bem óbvio né, eu fiquei na casa dele e tinha o hospital. Ele me
chamava de Cinderela por causa do tamanho do meu pé, mas claro,
era um apelido só nosso.
Vou para o quarto, tomo meu banho com pétalas, me permito sentir
o aroma e como isso me acalma. Depois de quase dormir na
banheira e minha mãe ter vindo bater na porta do banheiro é porque
eu estava lá há um tempo. Me enrolo na toalha, e pego o secador
de cabelo.
Eu e o secador somos bons amigos, ele me entende bem! Com o
tanto de cabelo que tenho é necessário o secador, senão iria passar
a noite com ele todo molhado. Jogo todo o cabelo para frente e vou
com o secador secando bastante, pronto! Liso e seco, jogo o cabelo
todo para trás. Fico me encarando no espelho... Liso não, vou virar
as pontas para fora, o corte do meu cabelo é específico para isso.
PERFEITO!
Capítulo 14

Depois de meia hora estávamos prontas, e uau! Mamãe estava em


um vestido mais justo no corpo, lindíssimo! Rejuvenesceu muito ela,
não que ela seja velha, ela se parece com uma menina tendo essa
pele maravilhosa!
Já o meu vestido é em um tom de vermelho, mas solto e com uma
fenda do lado, destacando a minha perna, além do decote profundo,
estou apaixonada!
Minha mãe está ansiosa, enquanto eu estou nervosa. Meu celular
apita.
OI, MEU BEM. ESTAREI À ESPERA DAS DUAS DAMAS MAIS
BONITAS DESSE HOTEL NO SALÃO PRINCIPAL. TE ESPERO LÁ
EM 3 MINUTOS!
BEIJOS, JON.

— Mãe, Jon mandou mensagem e disse que está nos esperando no


salão principal. Você tem ideia aonde seja? — Olho para ela e para
a tela do celular ainda acesa.
— Não amora, mas vamos procurar. — Ela pega na minha mão e
abre a porta de entrada.
Um senhor de terno está parado ao lado da nossa porta, me lembra
até os soldados ingleses.
— Boa noite, senhoras. Queira me acompanhar para o salão
principal, por favor. — Ele faz um gesto com o braço para indicar o
caminho.
— Claro. Obrigada. — Dou um sorriso sem jeito. E ele retribui com
um aceno de cabeça.
Esse negócio de ser chique, de não falar, e blá, blá, blá... Realmente
não é comigo. Eu gosto de ser comunicativa, e gosto do mesmo
comigo. As pessoas ricas parecem múmias, eu nunca quero ser
assim!
— Senhoras, lhes apresento o salão principal. Deixem-me levar até
sua mesa — fala andando na frente, indicando o caminho.
Jon! Nossa, ele está mais lindo do que de costume. Usa um terno e
uma gravata borboleta, será que conto a ele que odeio essas
gravatas, ou só fico rindo sozinha mesmo?
— Olá, damas! — diz com um sorriso. E se levanta da cadeira e
puxa as outras para que eu e minha mãe nos sentamos.
— Ah, obrigada Jon! — mamãe fala toda delicada tentado ser
chique, e não é que ela leva jeito pra coisa.
— Por nada, dona Crystal.
— Jon, sabe que não precisa disso, não é? — falo, quando ele
chega perto de mim para puxar a cadeira.
— Deixa o menino, Amélia! — minha mãe diz baixinho.
— Meu bem, só estou sendo cavaleiro, mas se você não quiser... —
Minha mãe o corta.
— Ela quer, senta logo essa bunda aí. Todos estão olhando.
Dou indícios de risadas, minha mãe abre os olhos como se fosse
um "calada", sento quieta e espero Jon voltar para a cadeira dele.
— Nossa, vocês estão lindas! — ele diz com uma cara de bobo.
Eu não sei me comportar na frente desses riquinhos. Queria uma
coisa mais distraída e divertida.
Minha mãe e Jon estão em altos papos e nosso jantar é servido, o
senhor vem com uma tartelete de salmão. QUÊ? Isso é minúsculo,
não fora nem meu estômago.
Quando o senhor se retira eu já olho para o Jon com uma cara de
raiva. Comida, cadê? Não me deixem sem comer, eu viro uma fera.
— Jon! — Encosto na cadeira e cruzo os braços.
Ele sabe o que é, ele dá um sorrisinho, eu vou arrancar aquele
sorrisinho dele.
— É só a entrada — diz, e coloca a mão na boca para conter a
risada.
Entrada. Tá, depois disso vem a comida de verdade! Um pratão! Só
me resta comer isso e esperar.
Eu não estou no clima, não quero conversar. Eu não queria estar
aqui por mais que eu tenha amado essa experiência, mas isso não é
para mim.
— Mãe. — Ela me olha e sabe que estou triste. Ela me conhece
melhor que todos.
— Pensa que está acabando, amora — ela chega perto do meu
ouvido e sussurra me dando um sorriso reconfortante.
Ok, já está acabando...
— Mya, olha. Sua comida. — Ele sorri.
NÃO ACREDITO!
Que isso, esses ricos passam fome, não preencheu nem o prato. Eu
estou com fome, desde a escola eu não como...
Uma jovem entrou no salão e todos começaram a cochichar, ela me
parece familiar...
— Mãe olha para trás, mas disfarça, tem uma garota que chegou
agora tá na mesa longe da janela, lá no canto. Parece que a
conheço.
Mamãe olha, e fica encarando imóvel. Eu disse para ela disfarçar,
sabe o que é isso não?
— Amélia. Precisamos ir, venha. — Ela pega meu braço com força e
tenta me puxar, isso dói.
— Tá tudo bem, dona Crystal? — Jon olha assustado para a minha
mãe.
— Não Jon, temos que ir embora! Agora! — ela fala mais alto, e
todos em volta param o cochicho para prestar atenção na minha
mãe.
Agora eu vou, todos estão olhando, eu não quero mais vergonha.
Levanto rápido e minha mãe continua segurando meu braço.
— Mãe, mãe, está machucando. — Ela me olha e olha para o meu
braço. — Ai, filha. Me perdoa. Só venha, por favor. É importante. —
Ela anda rápido para fora do Hotel, atravessa a rua...
— MÃE! — grito e a puxo para trás.
O carro estava rápido, ela não o tinha visto, só queria sair de lá o
mais rápido possível, até se dar conta que o carro a jogou para o
alto com tudo.
— MAMÃE! — berro, choro, corro em direção ao corpo da minha
mãe estirado no chão. Uma coisa que aprendi com a minha mãe é
nunca mexer em uma pessoa ferida sem chamar a ambulância.
AMBULÂNCIA!
— JON, JON! — grito desesperada, até que ele aparece já quando
uma pequena multidão formando já um círculo paga ver o que
estava acontecendo.
— Eu vou chamar a ambulância. Dona Crystal, está me escutando?
Não se mova, ok? — ele fala discando para a emergência, e
abaixando para perto da minha mãe.
Fico ali mesmo com ela, sentada no chão sujo de sangue e cacos
de vidros.
— Mamãe, não mamãe. Não faz isso, não feche os olhos. Me
escuta. — Meu choro é mais forte. — Mãe. Acorda! Mãe! —
Começo fazendo carinho nela
— Meu anjo, desculpa. Perdoa sua mãe. — Sua voz está fraca, ela
cuspe sangue, tenta me olhar, mas não consegue.
— Mamãe, não tenta falar, tá bom? A ambulância já está chegando,
escuta, olha o barulho das sirenes. Fica viva mãe, resiste! Você é
forte — digo com a minha voz já embragava com o choro. — MÃE!
NÃO FECHA OS OLHOS!
A ambulância para do nosso lado, vem com a maca, várias coisas
que não conheço. Eles já preparam a veia e... não, isso não.
— Espera, falo para a socorrista. Ela não precisa de tubo! — digo,
secando as lágrimas. — Ela falou comigo. Por favor, isso dói.
— Querida se acalme — a socorrista conversa comigo enquanto os
socorristas colocam os aparelhos na minha mãe, imobilizadores,
meu Deus! — Olha para mim, ok? Sua mãe não está nada bem,
presta atenção nisso aqui do lado dela. Tá vendo? É a respiração.
Está fraca e caindo, eu sinto muito, mas sua mãe necessita de ajuda
para respirar
Jon chega e me abraça por trás me levantando, eu choro agarrando
o Jon.
— Ok, tudo pronto! Levantar! — diz o socorrista.
— Oi, eu sou médico. Para onde estão levando a dona Crystal? —
Jon pergunta para um dos socorristas.
— Hospital de Charing Cross.

Capítulo 15

Jon dirige, está quieto. Eu já estou afundada em lágrimas. O que dá


para escutar são os pingos de chuva que começou lá fora. Estou
com frio, mas nada está me importando a não ser chegar logo no
hospital. Jon me respeitou, me deixou no meu canto.
Eu não queria estar no carro com Jon, queria estar junto a minha
mãe, na ambulância em direção ao hospital, estar ao lado dela em
todos os momentos. Me sinto culpada. Culpada em não perguntar,
em querer sair de lá mais do que ela. E agora tudo que quero é
minha mãe comigo, bem e saudável.
Jon chega ao hospital fazendo que as gotículas de chuva parassem
de cair no capô do carro por estar de baixo do teto de entrada.
MÃE!
Saio correndo sem esperar Jon, pego o vestido para não arrastar
nas poças de água. Quando chego no saguão do hospital, Jon me
segura por trás me parando.
— Amélia, olha para você. Sua maquiagem borrada, sem salto, e
olha o seu cabelo... Você está assustando os pacientes que estão
esperando atendimento — ele fala baixo, ao pé do meu ouvido.
SÉRIO? Ele realmente acha que estou ligando para a minha
apresentação. Me poupe e se poupe!
Médicos e enfermeiros andavam para lá e para cá apressados.
Preciso encontrar minha mãe! Chego perto do balcão de
atendimento, uma senhora dos cabelos brancos, aparentemente
cansada, levanta um dedo na minha direção pedindo um minuto.
— Boa noite! — diz a senhora sorrindo.
— Estou procurando a minha mãe. Ela veio de ambulância e... e...
— Crystal Gates Martinez! — Jon termina por mim. — Estamos à
procura da paciente Crystal Gates!
— Ok! Vocês são o que dela? — A senhora encara Jon e eu.
— Sou a filha dela. Meu nome é Amélia... senhora por favor. Quero
ver a minha mãe.
— Tá bom. E o senhor? — Ela olha para o Jon.
— Sou médico da família, acompanho a senhorita Gates Martinez.
— Ele olha para a recepcionista.
QUE DEMORA!
— O senhor sabe que não pode exercer seu trabalho com
familiares, correto doutor? Seu nome, por favor?
— É claro! Me chamo Jon James Sil.
— Bom, a senhora Crystal Gates Martinez agora se encontra no CTI
e por enquanto não pode receber visitas. Por favor, esperem bem
ali. — Ela aponta para as cadeiras.
— Vem Amélia. Vamos sentar um pouco. — Jon me ajuda e pega os
saltos.
Jon tenta conversar comigo, mas meus pensamentos estão longes...
Eu me culpo, daqui a pouco eu iria completar 18 anos[BB17]. Faltam
menos de duas horas.
Minha mãe queria tanto comemorar esse aniversário, ela estava
animada. Radiante!
— Família da senhora Crystal Gares Martinez! — chama um senhor
baixinho de jaleco branco e uma touca azul de avião na cabeça, na
sua mão tem uma prancheta.
Eu estou tão em choque que eu não me movimento.
— Aqui doutor! — Jon responde se levantando.
O médico caminha até a gente, mas eu continuo no mesmo local.
— Bom. A senhora Crystal encontra-se entubada, pois sua
respiração está fraca. Eu não sei como, mas ela só teve uma fratura
na mão esquerda e cortes, que consideramos leves pelo trauma que
ela sofreu. Ela é um milagre!
— Escutou Amélia? Sua mãe está bem! — Jon sorri tentando me
confortar.
— Senhorita? — doutor me chama, e Jon olha para mim.
Escuro... Me vejo no escuro, estou sozinha. Parece os dias que
estive sozinha no escuro, chorando e pedindo por ajuda.
— Ela está acordando, doutor! — diz uma senhora.
— Ótimo! Muito bem. Amélia, Amélia, consegue me escutar?
Consegue me ver? — são muitas perguntas, mas sim, eu consigo.
Aos poucos está voltando.
— Sim... — falo baixo olhando para o médico.
— Desculpe, Amélia. Eu não sabia da sua saúde frágil. — O doutor
se sente culpado, dá para ver no seu olhar.
— O senhor não teria como saber. Está tudo bem, mas e minha
mãe? Eu dormi quantos dias? — O médico dá um sorriso inocente.
— Foram só horas. Você está no soro, está desidratada. Você
precisa tomar mais água, ok?
— Sim, sim. E minha mãe? — me sento devagar na cama.
— Ela está acordada! Vamos retirar o tubo, quer me acompanhar?
— Sim! — Já estou levantando da cama...
— Opa, calma. Você desmaiou, vou pedir uma cadeira de rodas e
iremos até o leito da sua mãe. — Ele pede uma cadeira de rodas
para o enfermeiro.
Ele mesmo me empurra na cadeira, eu estou ansiosa, e ainda com
o soro na veia. Espero que minha mãe não se assuste!
— Chegamos. É aqui, pronta? — Ele me olha e aceno que sim com
a cabeça.
— Oi mãe!

Capítulo 16

— Amélia, minha princesinha. — Sua voz está fraca. — Como se


sente minha menina? Eu sei que desmaiou, fiquei preocupada!
— Mãe, eu estou bem. E olha, só estou na cadeira de rodas para
tomar soro, mas relaxa que daqui a pouco eu tiro isso e deito com
você.
Escuto um limpar de garganta do doutor.
— Ops, ou não... — Começamos a rir.
A risada dela é baixa mais dá para escutar. Ela estava bem melhor,
também, é de se esperar, o trauma não foi feio e o tanto de
remédios na veia ajudou bastante! Agora é esperar a alta e ir
embora.
Quem diria... Meu aniversário em um hospital.
Falta 10 minutos, estou no CTI para acompanhando a minha mãe.
Mesmo que eu não quisesse comemorar e não tinha planos. De
longe eu desejaria passar meu aniversário no hospital. Me traz
lembranças ruins.
— Senhoritas, eu vou deixar vocês conversarem, mas Amélia, nada
de subir no leito, fechado? — Ele pisca para mim.
— Eu não prometo nada hein.
Ele fecha a porta, eu levanto rápido da cadeira de rodas segurando
o soro no alto para não parar e o sangue voltar, fecho as persianas,
dou uma checada, uma enfermeira passa me olhando e dou um
tchauzinho.
— O que vai aprontar? — Minha mãe me olha de braços cruzados.
Olha a dona Crystal já tá ótima em.
— Então dona Crystal... — Pego o meu suporte de soro que estava
próximo a cadeira de rodas, coloco o soro no lugar, porque meu
braço tá cansado. — Mamãezinha, o que a senhora estava
pensando em sair do hotel correndo igual uma doida, me puxando e
atravessando a rua sem olhar para os lados? — Me debruço no pé
da cama dela.
— Olha o respeito, ainda sou tua mãe, menina. — Ela fecha a cara.
— Ai mãe, estou brincando... Se fosse antigamente você com
certeza levaria na brincadeira. O que está acontecendo? Mãe, isso
foi bem sério! Poderia ter acontecido coisas piores! E o moço que
dirigia? Ele quase foi preso! Mas o Jon foi interrogado e disse que
você estava confusa e não viu o carro. Quero respostas! — Ela olha
para o canto — Mãe, por favor. Eu mereço. — Começo a chorar.
— Amora, senta aqui vem. — Ela bate na cama dando espaço para
que eu me sente.
— Ok. — Sento, mas não a olho, ela vai me enrolar como sempre
fez e não me dizer a verdade.
— Amélia! Olha nos meus olhos. — Assim eu faço. — Eu estava te
protegendo.
— Mas é sempre isso que você diz.
— Daqui a pouco é seu aniversário. Podemos deixar isso para
depois? — Ela sorri e abre os braços.
— Claro mãe. Claro... — Deito com ela.

2 minutos...
Os minutos passam rápido ao lado da minha mãe.
00:00
Os sonhados 18 anos de uma menina/mulher!
Independência.
Não me sinto preocupada, minha vida sempre foi estudar e passar o
resto do meu dia com a minha mãe. Não sou boa em fazer
amizades... Os dois amigos que tenho é muito.
Jon entra e tem duas caixinhas de presente na sua mão. Minha mãe
desliga a televisão. Meus amigos... Josh e Sofia entram no quarto
da minha mãe carregando presente e um bolo de morango, minha
fruta preferida, eles sabiam disso. Na escola e no hospital eu
sempre pedia vitamina de morango ou só o morango.
Me sinto feliz.
Estou com as pessoas que mais gosto em um lugar que eu não
pensava em passar meu aniversário, mas querendo ou não, se
tornou especial.
Não só por hoje ser meu aniversário, mas porque duas vidas foram
salvas neste mesmo hospital. A minha mãe e eu; eu aprendi muito
aqui. Eu conheci pessoas, aprendi o sentido da vida, e como é
preciosa. Vi que existia amor, mesmo na dor. E que aprendi a ser
forte quando estava fraca; mas aprendi muito mais. Aprendi que
pessoas tem seus momentos de fraqueza, e quando esses dias
chegavam, e eu me sentia vazia, olhava ao redor e tinha pessoas
para me ajudar. Me ajudar a levantar, quando eu não conseguia sair
do leito sozinha, me tirar do chão depois de uma queda de pressão,
de sentir os carinhos na minha bochecha de preocupação. Foram
tantas barreiras, mas eu não venci sozinha. Eu tinha pessoas. Eu
tinha a minha mãe sempre comigo. Que não me deixa parar de
sorrir, que não largava a minha mão. Que se preocupava com cada
resultado de exame. Ela é guerreira, ela merece o melhor. Um dia
quero ser como ela. A minha mãe.
Todos estão radiantes nesse quarto, arrumaram e decoraram,
enquanto eu rio deles. Bobos como sempre, mas eu só consigo
pensar em ficar sozinha.
— Ok, meninos e meninas. Acho que está na hora do parabéns! —
Sofia sorri, e me olha com os olhinhos em lágrimas.
Cantamos baixo o parabéns, por estar em um hospital, mas foi único
e especial. Foi lindo!
— Faz um pedido, Mya — Josh diz, apontando para a vela. Que só
agora reparei o que tem escrito: "você venceu", uau, fui pega
desprevenida. Uma lágrima rola enquanto eu faço o pedido.
"Espero ser uma pessoa melhor, Jesus."
— Eba! viva a Mya! — todos falam.
— Vocês ensaiaram isso, não foi? — Começo a rir da cara deles.
— Não filha! — Minha mãe ri junto.
— Que foi, Mya? Está chorando? — Jon me pergunta, e então eu
noto, sim, eu estou.
— É felicidade!
Todos dão um sorriso.
— Ah, parem — digo, limpando as lágrimas.
— Vamos aos presentes! Eu primeiro! — Sofia toda entusiasmada
pega o pacote de presente. — Toma amiga, é de coração. Espero
que goste, porque eu gostei e você também gosta!
— É morango? — Todos riem.
— Amélia! Abre logo o meu presente. Já tem o bolo de morango,
menina! Abre com cuidado!
— Tá bom, tá bom. Vou apoiar aqui na mesinha. Que lindo! Como
você conseguiu? Obrigada! Obrigada! — Vou em direção a Sofia e
abraço tão forte o seu corpinho que tenho medo de quebrar.
— Sufocando aqui! — ela fala alto.
— Foi mal, amiga, mas muito obrigada, eu amei! E sempre amei o
filme da Bela e a Fera. Uma simples camponesa, depois uma
princesa. A história por completo é linda!
— Minha vez! — Josh me entrega uma caixinha.
— Isso quebra? Tipo, igual ao da Sofia? Preciso ter muito cuidado
na hora de abrir? — Dou um sorriso.
— Mãozinha abençoada para quebrar as coisas — minha mãe fala,
tentando ser sonsa. Ela é demais!
— Me devolve essa caixinha. Eu abro e você pega o que está
dentro. É bem melhor! — Ele pega a caixa e abre devagar. —
BUH!!!
— Ah! Josh, seu sem graça. Estamos no hospital!
— Opa, foi mal. Esqueci. — Ele sorri. — Então, pega aí. É uma
pulseira que aparece uma foto digital. Nada demais, somos eu, você
e Sofia. Espero que goste. — Ele coloca no meu braço e liga
aparecendo nossa última foto juntos.
— Eu amo essa foto, é o papel de parede do meu celular.
— Eu sei, por isso escolhi ela. Agora você tem nós dois perto de
você. — Eu o abraço.
— Obrigada amigo! Você é incrível.
— Ok, ok! Amélia, o meu presente é um pouco diferente, mas
remete a nós dois. E espero que goste. E pelo amor, não quebra!
— Poxa gente! Todos são de quebrar, assim não dá.
— Mão pesada. — Sofia finge tossir para falar.
— Eu escutei, tá.
Abro o presente do Jon. É grande, então parece mais difícil para
abrir. Apoio em cima da minha mãe, e ela me ajuda.
— QUE MARAVILHOSO! — É um quadro e nele tem escrito: “Se
quiser saber o meu amor por você multiplique as estrelas no céu,
pelas gotas do oceano."
Eu tiro o quadro do hospital da parede e penduro com a ajuda no
Jon.
— Obrigada, meu bem. — O abraço e ele beija o topo da minha
cabeça.
— Sobrou eu! — Minha mãe me olha.
— Você nunca sobra, dona Crystal! — A abraço.
Minha mãe me entrega uma caixa.
— O que há dentro, mamãe? — Olha para ela sorrindo.
— Crianças, podem nos deixar sozinhas, por favor?
Eles saem e fecha a porta.
— Não vai abrir, Amélia?
Capítulo 17

Minha mãe está fazendo suspense com o presente de aniversário.


Só pode ser um pônei, mas sério agora, minha mãe nunca esteve
assim séria. Ela não está feliz, não tem sorriso e ela não para de me
encarar. É difícil ver minha mãe assim.
Abro a caixa bem devagar, um porta-retrato, uma flor ressecada
dentro de um potinho de acrílico, uma carta e um pedaço de um
jornal antigo com um noticiário.
— Mãe?
— Amélia, eu ainda vou precisar ficar um pouco no soro e retirar o
respirador. Vai para o seu quarto e filha, tenta entender... E presta
atenção, tudo bem?
— Tá bom, mãe... — Pego todas as coisas, coloco de volta na
caixa, pego o soro e vou andando em direção ao meu quarto que
não é longe. Um andar abaixo.
Clico no botão do elevador e espero, parece uma eternidade, assim
que o elevador chega e as portas se abrem as pessoas me olham,
devem pensar que sou uma doida andando pelo hospital carregando
um soro. Entro e clico no botão 6, meu andar. Assim que saio do
elevador sem me importar com os olhares que sinto nas minhas
costas, respiro fundo e vou para o meu quarto.
Vazio, sem nada meu, triste e frio. Eu, um leito, aparelhos, um
poltrona, e a caixa.
Sento na cama, pego a caixa e coloco na minha frente. Começo a
tirar tudo de dentro, observando devagar.
Flor murcha... Ok.
Porta retrato, bem aqui.
Carta, aqui.
Um pedaço de noticiário. Esse!
Eu começo a ler o noticiário, aqui deve ter toda a explicação para
esse suspense todo que minha mãe tem feito.
"Príncipe Otto, herdeiro do trono namorava as escondidas com uma
suburbana. Já temos a identidade da senhorita, com o nome de
Crystal Gates Martinez. Seria agora noiva de Otto? O príncipe
deixaria o trono por uma plebeia?"
Minha mãe? Ela namorou o Rei? No caso, o príncipe na época... Dá
no mesmo! Como ela escondeu isso de mim? Espera, como ela
escondeu isso de todos? Como sumiu do radar dos repórteres? A
flor! É a vez de olhar o que há embaixo do potinho que contém a flor
ressecada.
~OC~
O que é OC? Não explica nada. Giro a caixinha para ver se tem algo
a mais... Ela abre e cai todas aquelas rosas, que um dia foram
realmente rosas. Recolho todas as pétalas e coloco dentro do
potinho e fecho com cuidado.
Sobrou a carta.
Pego a caixa que minha mãe me deu e coloco tudo dentro e deixo
só a carta. Abro com cuidado, parece ser antiga, por causa do papel
e do envelope. Respiro fundo e começo a ler.

"Minha joia,
Querida Crystal, meu grande e único amor. Sinto muito saudades de
ti, espero por sua volta ansioso, não tenho notícias suas. Meus pais
já me proibiram de lhe escrever, pois pode cair em mãos erradas, eu
até os entendo. Mas eu preciso saber de você, como a minha doce
joia está. Sinto seu cheiro ao lembrar de ti, espero que assim como
eu, você também sinta a minha falta!
Com todo o amor do mundo,
O seu Otto.”
Jogo a carta longe, eu não acredito. Eu não acredito. Não dá! Minha
mãe escondeu isso de mim. Como? Otto e minha mãe? Por isso
todo esse cuidado excessivo, todo desespero de me afastar do que
dele, de Otto.
Meu choro não é silencioso, não quero que seja. Me lembro do porta
retrato...
Um casal: minha mãe e Otto.
Pego o meu celular, pesquiso uma foto do Rei. Me levanto do leito e
vou para o banheiro chorando e paro diante a um espelho.
Vermelha, é como estou, pego uma toalha de papel e seco meu
rosto com força.
Me encaro. Encaro a foto.
Ele sou eu. Eu sou ele.
OC é Otto e Crystal
Então... Otto é meu pai.
Corro em direção ao elevador, clico o botão várias vezes
desesperada para chegar logo até a minha mãe. A porta se abre,
como sempre lotado de pessoas e todas me encarando e dessa fez
me perguntam se estou bem, clico no andar da minha mãe com
pressa, o senhor me diz que é só uma vez. O meu choro é alto,
todos no elevador estavam assustados comigo por não parar de
chorar. A porta se abre no andar da minha mãe.
O doutor tenta me parar e fazer com que eu me acalme, mas dessa
vez. Só dessa vez eu não quero ser calma. Entro no quarto da
minha mãe, não tem mais decoração, só o bolo no canto do quarto.
Não tem mais ninguém, só eu e ela.
Faço questão de trancar a porta.
— Como pôde? — Eu choro, estou vermelha, minha adrenalina está
no alto. A respiração ofegante, o suor escorrendo e o meu peito
sobe e desce sem fôlego.
Por mais que eu sempre quisesse conhecer o meu pai, não era
daquela forma. E não esse pai.
— O Rei, o Otto. É ele, meu pai.
— Amélia, senta e se acalme! Não dá para conversar com você
nesse estado. Pensa! — ela diz chorando.
Ela não está mais com soro, nem respirador, nem agulhas. Ela está
bem. Senta no leito e aponta para a poltrona do lado.
— Senta aqui! — Ela fica apontando.
Não quero sentar, eu quero chorar, não quero acreditar que isso
seja a verdade. Como posso ser filha de um rei? Ele sabe de mim?
Me ajoelho e choro mais ainda.
— Ele sabe de mim? — falo alto, nunca levantei [BB18]a voz para a
minha mãe.
— NÃO! Você quis saber sobre seu pai, não é? Pois bem! 18 anos,
você é a cara dele, não tem como eu esconder mais. Você tem as
rédeas da sua vida, não dá mais para te esconder.
— Ninguém sabe de mim? E meus avós? — Limpo o rosto com as
mãos.
— Sabem! E não fale mais deles? — Ela levanta e vai em direção
ao banheiro me deixando ainda ali no chão.
— Quê? Eles são meus avós! Claro que vou falar deles, eles com
certeza me amam! — Olho para ela.
Ela para de andar, ainda de costas diz baixo...
— Eles a odeiam, Amélia!
Foi como uma facada. Como podem? São meus avós, eles
deveriam me amar, como nunca me visitaram e não estiveram
presente nos meus aniversários? Eu não fiz nada para eles...
Choro e começo a soluçar, apenas isso é o que se escuta...
Minha mãe vai para o banheiro e fecha a porta. Ela está fazendo de
novo, me evitando com esse assunto. Me levanto e corro até a
porta...
— Mãe! Mãe! Não adianta se esconder. Não dessa vez. Abre a
porta e conversar comigo, mãe. Por favor eu imploro... Mãe? — Me
sento perto da porta chorando, esperando a minha mãe.
Escuto o choro dela do outro lado da porta, coloco o ouvido para
escutar e a chamo.
— Mamãe!
10 minutos se passam... Minha mãe ainda está lá dentro, e me sinto
casada de chorar. Fico observando o teto, olhando ao meu redor.
Até que escuto a voz baixinha da minha mãe que parece ser ao
telefone.
— Tomás. Ela já sabe de tudo! Cuide da segurança dela. Liga para
o Jon e avisa. Não, não. Ela não me escuta, ela deve ter ido para o
quarto, ela chorava muito. — Escuto mais uma vez o choro abafado
dela. — Não deixem machucar minha menina, Tomás! Preciso ir, até
logo!
Saio correndo, chego até o elevador e espero. Assim que ele abre
eu vou para o fundo e espero o meu andar.
— Querida? Está tudo bem? — um senhor de idade me pergunta.
Dou um sorriso.
Será que meus avós são assim? Idosos são fofos e carinhosos com
seus netos.
— Estou bem. Obrigada! Preciso ir, esse é meu andar.
Saio do elevador e fico o olhando até a porta se fechar e eu voltar
para a minha vida real.
Vou para o meu quarto, pego uma mochila que estava no canto, a
abro, tem roupas minhas ali dentro. Pego a mochila e vou para o
banheiro, me troco rápido deixando a roupa de hospital em um
cesto, coloco a mochila nas costas pego o tênis de baixo da
mesinha, o calço rápido antes que alguém chegue, até mesmo o
Jon. O que ele tem a ver com isso tudo? Por que minha mãe falou
dele na ligação?
A caixa que minha mãe me deu, pego e coloco na minha mochila. O
doutor chega no quarto e me encara cruzando as mãos.
— Amélia? — Ele levanta a sobrancelha esquerda.
— Oi doutor. Eu estou pronta pra ir para casa, obrigada por tudo,
viu? — digo passando por ele.
— Amélia? — ele me chama.
— Sim? — Paro e o olho sem entender.
— Aqui, a sua alta. — Ele me entrega um papel e uma caneta.
Não entendi a caneta, deve ser um presente. Ele deve saber do
meu aniversário horroroso.
— Ah, tá. Obrigada. Tchau! — Saio do quarto, mas ele vem atrás de
mim. — Doutor, o senhor precisa de alguma coisa?
— Sim. Da minha caneta de volta e sua assinatura constatando que
está de alta.
Que vergonha! Eu nunca fiz isso, mas agora tenho 18 anos, sou
maior de idade. Coisas chatas.
Assino tudo.
— Desculpa. E está aqui sua caneta. Obrigada, viu? Adeus! — Dou
um tchauzinho com as mãos e peço o elevador até o térreo.
Já dentro do elevador, lembro dos presentes... Ficaram o da Sofia e
do Jon no quarto da minha mãe, espero que eles me perdoem.
Cá estou, no saguão do hospital. O que faço agora? Ligo para
quem? O Jon não pode ser já que minha mãe falou dele na
ligação... Sofia também não, ela não consegue mentir muito bem e
mora perto da minha casa. Sobrou o Josh.
Pego meu telefone e ligo para ele.
— Alô, Josh. Eu posso ir para sua casa, sim, sim, eu recebi alta.
Minha mãe? Bom, minha mãe precisa ficar aqui. Então posso ir? Ah,
valeu, mas você poderia pagar o táxi quando eu chegar aí? Sério?
Valeu amigo! Estou indo!
Coloco o telefone no bolso e saio do hospital para pedir um táxi. Me
sinto vigiada, pode ser coisa da minha cabeça, mas essa sensação
é ruim.
Lá vem o táxi, fico acenado igual uma louca para que ele pare e
uma menina vem atrás de mim e tenta entrar no meu táxi. Bom, não
é meu, mas eu pedi e vou pagar pela corrida. Também não será eu
que irei pagar, mas foi eu que pedi. Isso basta!
— Com licença, queridinha. Estou querendo entrar. — Ela me olha
com cara de deboche de cima a baixo.
Patricinha.
— Ei, não vão entrar? Eu não tenho o dia todo, moças! — o taxista
grita de dentro do carro.
— Claro! Estou indo. Eu pedi, então é meu.
— Olha, as senhoritas podem muito bem dividir o táxi. Só vamos
logo! — o taxista diz.
— Tá, eu estou indo para o litoral. E você vai para aonde? —
pergunto a menina.
— Também vou para lá — ela revira os olhos.
— Beleza! Todos a bordo! — diz o moço.
— Entra! — Abro a porta para ela e entro em seguida.
Josh, estou chegando! Eu e minhas frustrações!
A menina não para de falar um minuto no telefone desde que
entramos no táxi. Eu nem sei ao menos o nome, não deu nem
chance de perguntar porque ela logo sacou o celular e ficou na
ligação com uma tal de Tereza. Eu não sou fofoqueira, só estou ao
lado dela e não tem como tampar os meus ouvidos... A se tivesse
como já estaria tampado desde o momento que ela tentou roubar o
meu táxi.
— Não me chama de Giovana, sabe que não gosto! É Gio! — ela
grita com o telefone e desliga bufando. — Menina, você acredita que
ela acha que tem intimidade comigo para me chamar de Giovana?
— Ela olha para mim.
Eu não digo nada, é comigo mesmo que ela está falando?
— Tá surda, garota? Estou falando contigo! Acorda! — ela fala alto.
— Ah, é comigo. Ah, bom. Você parece ter intimidade com essa
Tereza, você está há dez minutos com ela no telefone falando da
sua vida e como queria um par de brincos novos.
— Você estava escutando minha conversa? Tá doida? Quem é
você? Como sabe meu nome e o nome da minha amiga? Diz logo!
— Ela parece irrita e chega para o lado se afastando de mim.
Vai entender.
— Você está do meu lado, não tem como não escutar! A culpa é sua
que quis roubar o meu táxi! — Dou as costas para ela.
— Ok, foi mal, mas qual o seu nome? Você não deu uma palavra
desde que entrou e parece estar triste.
É tão nítido?
— Meu nome é Amélia. E eu prefiro ficar quieta. — Fico olhando
pelo vidro do carro até que vejo a casa do meu amigo Josh, agora
sim sossego!
A menina não fala mais nada, até que indico ao motorista para
encostar em frente à casa do Josh, onde ele está parado me
esperando.
— Obrigada, moço! Meu amigo vai te pagar! — falo saindo e
ajeitando meu celular no bolso, pego minha mochila no chão do
carro.
— Tchau Gio!
Fecho a porta do carro, não espero o Josh pagar o taxista e já vou
entrando na casa dele.
Som alto. Ele sempre gostou de músicas assim...
Abro a porta e dou de cara com várias pessoas desconhecidas. Não
acredito! Eu queria sossego, um refúgio, não uma festa com
pessoas que não conheço. Que frustração!
Vou para o segundo andar em busca do quarto do Josh, até porque
eu nunca estive aqui.
— Amélia, desculpa, cara. Mas a festa já estava rolando quando
você me ligou e eu não poderia dizer não paga você e não poderia
cancelar a festa, cairia mal — ele fala andando atrás de mim. —
Amélia, está procurando o quê?
— Seu quarto, seu idiota! — Paro e o olho, eu estou irritada. É
bastante visível.
— Ok, vem. Duas portas a frente. — Ele me leva até lá, fecha a
porta para diminuir o barulho. — Bom, pode ficar à vontade. Se
quiser descer e ficar na festa, está mais que bem-vinda, é seu
aniversário hoje, não esquece. Se não quiser, o que eu acho que é
essa opção pode ficar no meu quarto. — Ele senta em uma
almofada grande no canto do quarto.
Meu aniversário, esqueci.
— Aqui tem muito barulho. Foi uma péssima escolha vir para cá...
Eu quero sossego, silêncio. Você conhece? — Vou para a janela
que dá para ver a praia cruzo os braços olhando, e vejo uma árvore
bem grande no quintal. — Josh, aquilo é uma casinha na árvore? —
Dou um sorri.
— Af! Vai me sacanear também? Eu tive infância, tá? E olha tem
uma ótima vista. E quando meus pais brigavam antes de se
separarem eu ia para lá porque não dava para escutar os gritos.
— Boa Josh! — Dou um tapinha de bom gesto no braço dele
sorrindo.
— Como assim? O que você está pensando? — Ele levanta e olha a
casa na árvore.
— Vou ficar lá até essa festa acabar, ou eu posso ficar lá para
sempre. Que tal? Ninguém iria suspeitar de uma menina na sua
árvore! — Ele começou a gargalhar. — Eu tô falando bastante sério!
Ele fica sério.
— É tipo, sério, sério? Você quer ir para a minha casinha na árvore?
Mya, faz anos que eu não entro lá, só vou para limpar, mas eu não
acho muito seguro.
— Só porque é alta e você acha que vou me quebrar. Olha! —
Estico o meu braço mostrando a pulseira que ele me deu. — Viu?
Não quebrei e está de tarde, um cochilo cairia bem, escutando as
ondas do mar e não esse lixo que vocês chamam de música! —
reclamo.
Vou abrindo o guarda-roupa dele e ele me para.
— Mocinha, tem coisas de homem aí. Pode parar. — Ele fecha às
gavetas.
— Josh! Seu nojento! — Sento na cama dele.
— Eu estou falando de cuecas. O que você pensou. Ah, tá. Amélia!
Eu não tenho essas coisas! — Ele ri da minha cara.
— Josh sai da minha frente e para de me irritar! — Empurro ele, que
acaba caindo na almofada.
Mexo no guarda-roupa, pensando no que vou pegar.
Cobertor, almofada e lençol.
— Josh quero cobertor, almofada bem macia e um lençol. Para
agora!
— Ok, madame!
Ele vai pegando tudo e coloca em uma bolsa de viagem, me sinto
uma aventureira!
— Mya, vem. Vamos descer. — Descer, ver pessoas, uma música
absurdamente alta, olhares.
E quando souberem da verdadeira Amélia?
Eu nunca gostei de ser o centro das atenções. Chamar atenção na
escola já é difícil, agora imagina colocar uma coroa na cabeça e se
comportar igual essas meninas metidas...
— Vamos! — Desço sem olhar para ninguém, Josh sente que não
estou legal pega na minha mão e me leva para o quintal. Ufa!
Que delícia, sol, brisa, o som do mar e quase não se escuta o
barulho da festa. A árvore é longe, o quintal é gigante! Tem flores,
tem girassol, sempre foi o meu preferido!
— Josh, você fica! Eu vou sozinha! — Ele confirma com a cabeça
dando um meio sorriso e vai em direção a festa barulhenta dele.
Olha para a árvore e nossa, parece mais alto que quando vi pela
janela do quarto do Josh.
Dou a volta na árvore pensando em como subir, tem uma corda...
Eu não acredito! Quem em sã consciência coloca uma corda para
subir? Quando estou pensando em subir pela corda, olho meio de
lado para a árvore e tem um galho caído, tiro o galho preso... Uma
escada! Isso aí!
Subido com a minha malinha de aventureira.
A casinha da árvore é tão fofa, está tudo direitinho aqui dentro, em
madeira, tem saco de dormir já aqui, boa Josh! No canto tem umas
fotos penduradas... Chego perto ajoelhando para ver melhor porque
essa parte o teto é mais baixo.

Somos nós. Eu, Sofia e Josh. A mesma foto da pulseira... Meus


amigos. Uma lágrima rola, sentimentos misturados. Cansaço,
saudades, fúria, tristeza, culpada!
Me sinto livre em chorar dessa vez. Agora sou eu e meus
pensamentos.
O que vou fazer da minha vida agora? Quem sou eu? Quem é
Amélia Gates Martinez?
No começo da minha saga de querer encontrar o meu pai, eu me
sentia feliz, tinha tudo, minha mãe sempre batalhou muito para não
faltar nada. Eu me sinto um lixo. Me sinto indefesa.
Fico olhando as coisas dentro da caixa que minha mãe me deu,
passei a tarde todo olhando, lendo e relendo a carta. Que caligrafia
bonita. Será que meu pai iria gostar de mim? Porque a minha mãe
me esconde as coisas e fez um telefonema muito suspeito, fora que
disse coisas horríveis dos meus avós.
Tudo que eu queria agora é um colo.
A festa parece está terminando, o pai do Josh deve estar chegando,
porque todos estão catando latinhas de bebidas pelo chão feitos
loucos. E aqui onde estou é uma boa casa na árvore, dá para se ver
de tudo!
Minha mãe deve estar preocupada comigo, ela talvez não mereça
isso, mas eu tenho os meus motivos, e não são poucos.
Quem diria que uma menina que vivia dando aulas para os meus
colegas de classe para ajudar a mãe com as contas da casa, hoje
seria uma princesa... Eu já pensei que meu pai fosse um bombeiro,
um empresário, mas nunca um Rei. Porque tinha tanta proteção da
minha mãe, era uma bolha. Só eu e ela.
Vejo Josh vindo em direção a casinha, ele é chato! Não sabe o que
é querer ficar sozinha?
— Mya, vamos sentar na areia da praia e ver o pôr do sol, é muito
bonito, você vai adorar! — ele grita do chão, e junta as duas mãos
em formato de cone para gritar mais uma vez.
— Já estou indo. Não precisa gritar, que estou escutando bem! —
Desço as escadas com o maior cuidado, mas é bem alto e dá medo,
fico prestando atenção nos degraus de madeira pregados na árvore
e tento não olhar para o chão. — Josh, já estou perto do chão? —
grito assustada.
— Não medrosa! Você só está na metade. Anda logo. Assim o sol
vai embora! — Ele fica tentando me apressar. — Por que você não
desceu pela corda? É mais fácil.
— Você tem coordenação motora? — pergunto sem olhar para ele,
e mesmo assim sei que ele está com aquele sorri besta no rosto.
— Sim, por quê? Inveja? Anda AMÉLIA! Desce isso, cara é uma
árvore média, pra que tanto medo? Cruzes! — Ele merece um soco.
— Eu não tenho medo! Eu só estou sendo cuidadosa com a árvore,
além de minha amiga, agora ela é minha casa. ENFIM, PÉS EM
TERRA FIRME! — grito, assim que encosto meus pés no chão.
— É, dá para ver o quanto você gosta de coisas no alto...
— Cara, só vamos logo assistir ao pôr do Sol. Você já reclamou
demais por um dia! — Vou andando na frente dele, assim que chego
na areia sinto ele quentinha, queria deitar, tem um morrinho de areia
no fundo da casa do Josh que dá em direção à praia. — Tive uma
ideia!
— O quê? — Ele fica me encarando enquanto eu aponto para o
chão.
— Deitado!
— Eu não vou brincar de ser seu cachorro, né cara, já passou dá
época! — Ele ri e senta.
— Eu mandei deitar, cachorro mal criado! — Começo a gargalhar
com a careta dele — É brincadeira, mano. Só deita, tá bom? Confia
em mim! — Ele deita na posição errada, ele me cansa. Depois eu
sou a lerda. — Josh para o outro lado, sabe, assim. — deito na areia
quentinha, que relaxante. — Estamos deitados certos agora.
— Tá ok, mas e daí? Assim não dá para ver o pôr do sol. — Ele
continua deitado.
— Vamos rolar até lá embaixo! — falo alto, animada.
— Caraca, eu nunca pensei nisso! Bora! Vai, 1, 2, 3!
Rolamos até estarmos igual frango empanado, cheios de areia, mas
foi divertido, se não fosse tão alto o morrinho, eu iria de novo, mas a
preguiça é grande!
— Cara isso foi demais! — ele fala, batendo na areia do corpo para
sair.
— Eu disse que tive infância!
— É mesmo, "amorinha". — Ele enfatiza o apelido que minha mãe
me deu. Ela disse que não foi ela que escolheu o meu nome Amélia,
que o ex namorado da época de adolescente adorava esse nome e
queria colocar na filha deles.
Olho para o Sol, já está indo. Agora me sinto triste, essa lembrança
agora tem sentindo. Meu pai. Foi ele quem escolheu meu nome,
mesmo não sabendo de mim.
Começo a chorar perto do Josh, ele não entende nada, parece até
assustado. Cubro o rosto para que ele não veja, mas não dá certo.
O meu amigo realmente se importa comigo.
— Mya, o que houve hoje? Por que sua mãe queria falar a sós com
você? Ela está doente? Porque me ligou desesperada para vim na
minha casa se nunca teve interesse em sair de casa. Era sempre
casa e escola, depois veio o hospital e o Jon. O que está
acontecendo, minha boneca de porcelana, que parece uma
princesinha? — Ele tenta me abraçar, mas tento me desvencilhar do
abraço dele.
— Não me chama nunca mais assim, escutou? Nunca! — Começo a
andar pela praia deserta, Josh anda atrás de mim.
— Amélia! Como assim? Escuta, para! Me fala o que está
acontecendo com você! Você é a minha melhor amiga, mano!
Lembra disso? Eu, você e Sofia. Sempre juntos! Somos um trio,
mano! — Vejo que ele está triste, ele é a única pessoa que posso
confiar agora e a única que pode me apoiar e cuidar de mim, eE
ainda me esconder.
— Sabe da história do meu pai? Que tento por anos desvendar o
mistério? — O encaro, e ele faz o mesmo.
— Sim. Então?
— Eu sei onde ele está!
— Que legal! Vai conhecer ele quando? Você queria tanto isso!
Onde ele mora?
— Quer mesmo saber? Vai ter que guardar segredos até para
pessoas que você mais ama e confia, Josh. — Cruzo os braços já
chorando, ele me abraça e assim eu deixo.
— Me diz. Eu vou te apoiar, minha mini princesa!
De novo.
— Você está certo!
— Em que Mya?
— Princesa...
— Não entendi. É seu apelido, e piada interna nossa!
— Meu pai mora em Koch!
— Um pouco longe daqui, mas em qual parte?
— Bem no centro!
— Olha, que chique, ele mora perto do Rei Otto. Você vai poder ver
o castelo!
— Otto.
— Sim, Amélia, o Rei Otto. Todos conhecem e já ouviram falar dele.
— Escutei falarem dele hoje o dia todo. Já até li uma carta escrita
por ele.
— Importante! — Ele começa a rir.
Pego o meu celular no bolso da calça e mostro a foto que tirei do
porta-retrato que a minha mãe me deu. Ele fica assustado, olhando
para mim e para a foto, levantando a sobrancelha e tentando dizer
algo.
— É, eu sei. Eu sou a cara dele! Genética, né. Ele é meu pai.
— Repete, por favor? — Ele está paralisado na minha frente, sem
reação e não para de analisar a foto.
— Otto. É. O. Meu. Pai!
Josh fica rindo da minha cara enquanto eu fico parada encarando-o,
não é uma brincadeira. Ele parece nervoso, eu deveria ligar para a
Sofia, ela pode até ser boca aberta, mas uma coisa tão séria assim
ela deveria tentar guardar segredo.
Pego o telefone de Josh no bolso dele, ele vai diminuindo a risada e
senta na areia olhando o mar sem dizer nada. Então procuro o
nome da Sofia no contato, está escrito "Sofia amor". Ok, terão que
se explicar[BB19], mas uma coisa para a minha gigante lista de
receber explicações.
— Alô, Sofia. Sou eu a Mya. Você pode vir aqui na casa do Josh?
Sim, eu estou aqui. Você vai demorar? É importante! Não Sofia, o
Josh está bem e podemos dizer que eu também. Só tenta vim o
mais rápido. Ok? Está bem amiga, te espero, beijo!
Entrego o telefone ao Josh e ele pega sem dizer nada, decido
acompanhar ele olhando o mar sentados na areia morna. O som do
mar acalma qualquer um.
Josh vira o rosto para mim, mas não me olha.
— Tem certeza[BB20] disso, Amélia? — Só então depois de me
chamar pelo nome e não meu apedido ele me encara esperando a
resposta.
Olho para ele sem responder, e triste por imaginar que tudo para ele
talvez seja uma brincadeira minha...
— Sim, Josh!
O silêncio é presente entre nós dois. Ficamos só olhando o pôr do
sol e esperando a Sofia que nunca chega.
Já está escuro e o pai do Josh já acendeu as luzes, inclusive da
varanda, ajudava não ficar tão escuro na praia. Josh continuava
quieto, é frustrante, ainda mais por ser meu aniversário, eu queria
meus amigos comigo e jogar conversa fora e não o peso de saber
que sou um princesa escondida do pai pela mãe. Eu só queria ser
normal, e eu não consigo me sentir mais assim. Me sinto
perseguida, parece que tem olhares onde quer que eu esteja.
Sofia chega e já dá para se notar de longe, ela abre um sorriso lindo
e corre até os meus braços e me aperta.
— Já estava com saudades, amiga! — Ela me olha, e olha o Josh
sentado, sem graça alguma naquela areia já fria. — O que
aconteceu? Você me disse pelo telefone que ele estava bem.
— Ele está! Eu preciso te contar uma coisa... só tenta ficar calma e
não pirar. E olha, você precisa guardar esse segredo, como se
nunca tivesse existido! Tudo bem? Promete? — A encaro sério.
— Sim, prometo! Não deve ser nada demais assim, você que não
gosta de falar sobre a sua vida.
— Sofia! Você prometeu, agora vai cumprir. É sério! — Começo a
chorar e Josh se levanta.
— É verdade. Ela está dizendo a verdade, Sofia. Basta olhar a foto.
— Ele pega o celular da minha mão, o celular está quente de tanto
que eu o rodo na mão para tentar distrair a minha mente.
— Ok, vamos lá. Me mostrem a tal foto! — Ela esfrega as duas
mãos e mostra um sorriso animador. Mal sabe o que está prestes a
esconder para o mundo!
Ela fica encarando o celular na mão do Josh de boca aberta.
Eu vou andando até o mar, eles ficam me encarando sem dizer
nada, vou até onde não consigo mais encostar os pés em terra, e
afundo. Eu sempre fui boa nadadora, sempre amei água, sempre
me sentia livre nadando, como se ei tivesse nascido para isso.
Na hora que volto a encostar o meu pé no chão olhar para os meus
amigos, eles já estão dentro d'água de roupa, eles não se
preocuparam com o frio que a noite trazia consigo, o vento mais
forte e o silêncio. Eles me abraçaram, e me sinto segura. Me sinto
eu mesma, bem ali nos braços deles, sentindo um sentimento bom e
reconfortante, fazia muito tempo que não me sentia assim. Eu não
quero desmanchar o nosso laço, eu estou chorando, estamos nós
três, melhores amigos e unidos como deveria ser.
Eu me lembrei da minha mãe e de como nós ficávamos rindo a
qualquer bobeira e que nada escondia nosso laço. Mãe e filha, mas
também duas amigas! Sempre juntas e felizes, mas só agora eu
vejo o que eu estava vivendo todos esses anos. Minha vida foi
baseada em mentiras.
— Estou com você — Sofia dizia no meu ouvido. — Eu te amo, não
se esqueça!
— Você é forte, Mya! — Josh fala baixo.
— Ok, acabou o choro aqui, hoje ainda é meu aniversário e quero
bolo, porque o do hospital eu não comi. Quero uma coberta
quentinha, roupas largas e um filme de terror. Isso sim é passar o
aniversário bem!
Eles começaram a rir da minha cara e os gestos que eu faço com a
mão.
— Tá bom. Aqui tá bem frio mesmo, acho que vai chover, vou fazer
chocolate quente e Sofia fica com a pipoca. E você, mocinha, trata
de pegar o pote de sorvete no refrigerador. — Ele aponta para mim,
já saindo da água e pegando nossas coisas na areia.
— Eu vou chegar primeiro! — Sofia sai correndo até a casa do Josh.
Então todos nós começamos a competir e gritar quem vai usar o
banheiro primeiro. No final, acabou com o Josh ganhando porque
derrubou a Sofia no quintal.
— Meninas, tem um quarto de hóspedes do lado direito! — ele grita
do quarto dele, porque eu e Sofia estamos discutindo de quem
precisava mais do banheiro, de quem estava com mais frio e que é
meu aniversário e eu merecia.
Sofia é engraçado e descontraída, desde o primeiro dia que a vi, ela
sempre gostou de falar e gesticular bastante, já eu, não. Quando eu
era pequena sonhava em ser repórter, conhecer o mundo e ainda
aparecer na televisão, depois de um tempo eu desiste porque eu
não gostava de falar em público, apresentar trabalhos de escola já é
uma luta, só de pensar o tanto de pessoas que me notam.
Engraçado pensar assim porque agora sou uma princesa
escondida, e para ser uma princesa você está sempre no centro dos
holofotes. Ficar sem sair de casa seria horrível para mim. Toda
criança tem um amigo imaginário, já eu, nunca tive. Conversar não é
minha praia, nunca foi, sempre tive o meu espaço, o cantinho da
Mya, o meu quarto era o meu refúgio. Eu amava ficar sozinha, hoje
em dia dá para notar que consegui me libertar mais e ter amigos,
Josh é meu primeiro amigo e o primeiro que vou na casa visitar.
Depois de discutir com a Sofia de quem usaria o banheiro primeiro,
ela desistiu e acabou indo para o quarto do Josh porque ele já tinha
terminado o banho de gato dele. A casa do Josh é linda, tem uma
vista de privilégio e esse quarto de hóspede é mais do que
aconchegante. Em vez de um piso frio e sem graça, aqui tem um
carpete macio, dá até para dormir.
Sofia me deixou uma bolsa que ela trouxe da casa dela cheia de
roupas, me mandou escolher uma para eu vestir para essa ocasião
especial, que é ficar deitada no sofá fazendo nada. Meu celular toca
enquanto eu entro no banheiro, no visor já diz bem claro quem é:
JON.
Eu preciso de explicações dele, mas hoje não é o dia, ele e a minha
mãe já estragaram meu aniversário. Eu mereço comer um pote de
sorvete sozinha e ficar em silêncio por alguns minutos se os chatos
dos meus amigos deixarem... Coloco a roupa por cima do celular
para abafar o toque porque eu não quero desligar, ele iria perceber
e eu não quero isso, então deixo tocar. Enquanto toca eu já estou
abrindo o box e ligando o chuveiro na água bem quente, isso que é
relaxar, nada melhor que uma água bem quentinha correndo pelo o
meu corpo. Deixo levar as coisas ruins pelo ralo. O celular para de
tocar, acho que ele desistiu porque deve ter mais de cinco minutos
de tentativas frustrantes de ligações não atendidas!
Saio do chuveiro já enrolando o cabelo para secar e me secando o
mais rápido, porque daqui do banheiro eu sinto o cheiro de pipoca.
Estou faminta e não nego, pu passei o dia sem comer. Pego a roupa
que Sofia trouxe para mim e visto, abro as gavetas do banheiro
procurando uma escova de cabelo, eu nunca gostei de pentear
[BB21]o cabelo, então eu vou com o meu pijama super confortável e
largo em mim até a Sofia, que está na cozinha beijando o Josh.
— Achavam que iriam conseguir esconder isso por quanto tempo,
me diz? — Levanto a escova de cabelo, e começo a rir da cara
vermelha dos dois ao serem pegos no flagra. — Bom, eu acho que
vocês não esperavam por isso. Minha chegada foi linda! E eu já
sabia dos pombinhos assim que peguei o celular do Josh para te
ligar, dona "Sofia amor"! O contato do Josh no seu celular é Josh
amor? Deveria porque ele foi bem fofinho com o seu contato.
— Então, amiga... É, o Josh e eu... — Sofia começa a falar e Josh
olha para ela.
— Ela já sabe, tá mais que na cara. Só você que quer ficar
escondendo de todos. — Josh senta na bancada da cozinha, e eu
vejo o senhor Keller descendo as escadas e não falo nada.
— Desce daí, garoto! Tem vários lugares para você sentar. Olha
para o lado. Tem uma cadeira bem aí! Boa noite, meninas, tudo
bem, Sofia? Meu filho tá se comportando? — Senhor Keller pega
um suco na geladeira e fica olhando a Sofia esperando a resposta.
— Viu Sofia, todos já sabem. Até o meu pai. — Josh pula da
bancada rindo e me encarando. — Ah, pai. Essa é a Mya, minha
melhor amiga. E Mya esse é o meu pai que sempre falo, o senhor
Keller. — O senhor Keller aperta a minha mão e me dá um sorriso.
— A senhorita Amélia de quem escuto muito também nesta casa.
Seja bem-vinda, minha filha. — O senhor Keller deve ter uns 50
anos, mas é um senhor bem conservado. Ele é negro e alto.
Josh foi adotado assim que nasceu, o senhor Keller não podia ter
filhos, então ele e a ex-esposa adotaram o Josh. A mãe de Josh só
a vejo por fotos em redes sociais, ela é um pouco mais nova que o
senhor Keller. Na rede social diz que ela tem 43 anos, também é
negra e maravilhosa! Josh sempre ressaltou que eles eram seus
pais, pessoas viam ao Josh fazer bullying por Josh ser adotado por
pessoas negras, mas Josh nunca abaixou a cabeça para o racismo,
ele diz que quando se casar quer ter um filhos por adoção, um
negro e um branco e sempre ensinar que não há diferença entre
eles.
A família de Josh é rica, seu bisavô começou uma fábrica de
sapatos que na época não era tão famosa igual hoje em dia, mas os
tornou ricos. A história da família de Josh é linda!
— Também escuto muito sobre o senhor — digo, enquanto Sofia
nos olha e colocava a pipoca em um balde, meu estômago
respondeu na hora.
— Eu espero que ele tenha dito coisas boas, não é meu garoto? —
Ele abraça o Josh de lado pegando pelo pescoço e sacudindo o
cabelo liso dele.
— Pai, pai. Já deu. — Josh tenta arrumar o cabelo, mas é uma
missão fácil para um cabelo liso como o dele. — Então, hoje é
aniversário da Mya, pai. Nós iremos assistir filme de terror e elas
irão dormir no quarto de hóspedes. Tudo bem para você? Se você
quiser pode vir assistir ao filme, sabe, terá fantasmas! — Tampo a
boca com a mão para não rir da cara do senhor Keller.
— Eu tenho uma reunião pelo computador, mas obrigado pelo
convite, filhão. Fica para a próxima. Feliz aniversário, Mya! — Ele
me abraça. — Tchau norinha. Boa noite e você dorme com a Mya!
Cuidado com os fantasmas de noite crianças! — Senhor Keller
acena com a mão enquanto ele leva o suco para o quarto dele.
— O que foi isso, Josh? — Sofia coloca a mão não rosto de
vergonha.
— Meu pai tem medo de filme de terror, e meu pai é meu melhor
amigo, então ele sabe de tudo, amor.
Começo a rir da cara da Sofia, é amiga não tem buraco para
esconder a cara agora.
— Bora comer, que quero sorvete! — Tento mudar o assunto para
que a Sofia não fique com vergonha.
— Ótima ideia, a minha pipoca deve estar uma maravilha! — Sofia
fala ligando a enorme televisão, coloca o pote de pipoca do lado do
sofá e se joga já se espreguiçando.
— Olha, o meu suco de maracujá ganha de tudo! — Josh chega na
sala já pegando um cobertor.
— Que foi Josh, está com frio? — Sofia pergunta já sorrindo para
mim.
— Ficamos no frio, né. É normal sentir frio agora. — Ele tenta
mentir, porém, não sabe mentir!
— Josh, você é um bom amigo..., mas não sabe mentir! — Eu e
Sofia começamos a rir da cara dele e ele puxa o cobertor e tira a
almofada das costas dele jogando uma em mim, quase que meu
pote de sorvete voa.
— Ah, Josh... Se pegasse no pote de sorvete e caísse... não iria
mais sobrar você! — falo, pegando a almofada e colocando no colo
para apoiar o pote de sorvete.
— Foi mal. Foi mal — Ele coça a cabeça forçando um sorriso.
— Gente, vou colocar o filme. Dá para calarem a boca só por uma
hora? — Sofia está séria com o controle na mão olhando para mim
e Josh para fazermos silêncio. — Beleza, agora começa seu
aniversário, Mya. Agora começa o terror.
— Amiga, o terror começou desde que eu descobri quem era o meu
pai.
— Desculpa. — Ela suspira.
— Vai, coloca o filme. — Dou um sorriso para o clima não ficar
chato.
A noite foi boa na companhia dos dois. Segurar vela foi de menos,
porque o meu pensamento estava em conhecer o Otto. Eu queria
conhecer o ser humano Otto, e não o Rei Otto, mas acho que isso é
impossível. Será que um dia ele vai querer me ver? Se vai me amar
como um pai ama a filha? São várias perguntas que me vem à
cabeça, está me atormentando.
Já está no final do filme e não consegui prestar atenção, mas eu
tenho os meus amigos comigo. Por mais que eu ame a minha mãe,
ela mentiu para mim, até o Jon mentiu para mim, não sei em quem
confiar.
— Filme ótimo! Só me assustou bastante, mas até que foi legal...
Nossa Mya, você disse que ia comer o pote de sorvete todo e eu
não tinha acreditado, mas não é que você comeu. — Sofia está de
frente para mim, ajoelhada para me olhar, e eu nessa poltrona
confortável.
— O que foi amiga? — Eu não prestei atenção em nada. —
Desculpa, eu estava viajando.
— Eu percebi. Jon, nós vamos dormir, está bem? — Sofia se
levanta dando um beijo na bochecha de Josh e me puxando para o
quarto.
— Ei, menina. Espera aí, o pote! — Coloco na mão do Josh, que
fica rindo e grita um boa noite.
Sofia já entra no quarto fechando a porta e cruzando os braços.
— Eu não fiz nada. Por que está me olhando assim? — Sento na
cama.
— É isso, Mya. Desde que você descobriu quem é seu pai você não
vive, você não faz mais nada. Você já ligou para sua mãe hoje? E o
Jon, aquele que você não larga? Cadê ele? Precisamos conversar.
Você, Amélia precisa desabafar com alguém! Eu sou a sua melhor
amiga. Estou na sua frente! Fala algo, abre a boca e diz o que
sente![BB22]
Escuto um barulho alto vindo da sala, a Sofia tranca a porta e me
puxa para o canto do quarto.
— O que foi isso? — Ela coloca a mão na minha boca.
Olho para ela, e ela está assustada, faz um sinal de silêncio com a
outra mão, concordo com a cabeça. Dá para escutar o senhor Keller
perguntando que tanto barulho é esse, Josh gritando para que ele
volte para o quarto, a voz de Josh é de desespero, talvez estivesse
chorando, Sofia deixa as lágrimas descerem sem fazer barulho, eu
estou paralisada. São tantos barulhos e gritos...
— Cadê ela? — alguém grita, uma voz de homem, e ele parece
muito irritado.
— Diz, moleque! Cadê ela? Não escutou o meu amigo? — Já é uma
outra voz.
— Ok. Você não vai dizer, não é? Garotos, peguem o pai dele e
trazem até aqui. — Esse parece ser o chefe.
— Por favor, não! Meu pai não fez nada! — Dá para escutar a voz
de Josh, ele gemia de dor.
Escuto a voz grossa do senhor Keller gritando para que o soltem,
que ele não fez nada e que vai chamar a polícia.
— Vou perguntar a você velhote, cadê a garota? — É a voz do
chefe.
— Que garota? Não tem nenhuma garota aqui! — senhor Keller
esbraveja.
— É mesmo? Vamos ver quem fala primeiro... — O homem
continua.
— Sem faca, por favor. O que vocês querem com a gente? — Josh
chora, eu não me aguento mais ouvir o meu melhor amigo chorar, e
fazer ele e o pai dele passarem por isso.
— Quero a senhorita Amélia, ou melhor dizendo, a princesinha! —
Escuto o meu nome acompanhado de risadas, logo em seguida
tiros.
Eu me solto da Sofia, já destrancado a porta com ela gritando não,
mas Jon entra no quarto fechando a porta imediatamente.
— O quê? O que você está fazendo aqui? O que está acontecendo?
Cadê o Josh e o senhor Keller? — Foi quando me deixei chorar.
— Amélia, você precisa se acalmar, eles estão bem! A segurança do
condomínio já cuidou disso, mas eu preciso te levar para um lugar, e
agora! — Ele pega o meu pulso e me manda fechar os olhos,
quando estou passando pelo local esbarro em algo, Josh me pega
no colo e corre até o carro.
— Mya! — grita Sofia da porta da casa.
Eu não percebi, mas já estava com Josh no carro e ele dando
partida o mais rápido. Eu não tenho como saber de Sofia e Josh,
porque o meu celular ficou no quarto quando começou tudo.
— Jon — o chamo.
— Diz Amélia — ele me chama pelo meu nome[BB23].
— O que você tem a ver com as coisas da minha mãe? — Fico
encarando-o. Vejo ele liga o rádio, já estava cansada de mentiras,
do que acabou de acontecer e eu não posso saber de nada, e como
o Jon sabia que eu estava na casa do Josh... — Ou você me
responde, ou eu juro que pulo desse carro! — Ele tranca as portas e
eu desligo o rádio. — ME DIZ! — eu grito, estou exausta...
— Sou seu segurança, fui contratado pela sua mãe na época do
hospital. Eu servia em guerras como médico militar, sua mãe soube
disso, ela precisava de você segura até completar seus 18 anos,
então eu acabei me apaixonando por você nesse período... Me
desculpa, eu sei que são muitas informações, talvez você não me
queira mais por perto, eu posso falar isso para a sua mãe...
— Cadê a minha mãe? — Atropelo as palavras dele.
— Estamos indo até ela, me desculpa! — Ele se concentra na
estrada, e eu fico em silêncio, parece horas junto com o Jon dentro
do carro.
Ele para o carro perto de uma floresta e diz para que eu desça. Aqui
é escuro, está de madrugada, não vejo nada e nem ninguém.
— O que estamos fazendo aqui? — pergunto olhando para os lados
em busca de algo.
— Lá para dentro da mata. — Ele aponta.
— Quê? Está de brincadeira, não é? — Começo a rir. — Você está
louco em pensar que vou entrar dentro da floresta, ainda mais essa
hora!
Jon sem pensar me pega no colo e contra a minha vontade me
carrega por entre as matas. É escuro, frio e cinzento. Essa hora não
dá nem para ver a cor da mata...
— Jon, me larga! — Começo a bater nas costas dele até me soltar.
— Ok, mas você precisa vim comigo. O carro está visível, eu preciso
esconder ele. Vem rápido. — Ele pega na minha mão e me leva até
uma casinha pequena, está com as luzes acessas e um lareira, dá
para sentir o cheiro da madeira queimando e para ver a chaminé.
— De quem é essa casa? — pergunto parada na porta, e Jon bate
para alguém abrir.
Minha mãe então aparece abrindo a porta.
— Da sua mãe!
— Nós vamos a missa ao amanhecer, então tenta descansar. O Jon
vai te levar até seu quarto.
Missa? Minha mãe nunca foi em missa, acho que nunca colocou o
pé em igreja católica. O que ela quer agora? Rezar para que sua
filha tenha proteção?
Jon pega na minha mão lentamente me levando ao quarto, e eu não
tiro da minha cabeça essa ideia da minha mãe.
Quando o Jon acende as luzes do quarto dou de cara com um
ambiente diferente do que eu costumava viver. Para onde eu olho
tem madeira, madeira e mais madeira, mas enfim. Paro diante da
uma lareira e meus presentes de aniversário que deixei no hospital
estão todos aqui.
— Mya, são três da madrugada, então você tem só quatro horas de
sono, tenta descansar, aqui você está segura. — Ele dá um sorriso
reconfortante e sai do quarto. Pela primeira vez me sinto sozinha.
Descido dormir e tentar esquecer tudo, foram dias exaustivos, e
estou sendo vencida pelo sono e cansaço. Me jogo na cama de
casal, pego todo o espaço e assim fico, até ouvir a voz da minha
mãe...
— Ela terá um longo dia amanhã.
Então eu durmo. No decorrer do meu sono sinto alguém me
cobrindo, não me mexo o sono é maior e não vejo a pessoa, só me
sinto confortável e fico ali, dormindo sem sonhos e nem pesadelos.
Acho que o meu cansaço é tanto que meu cérebro precisa se
desligar um pouco.
Horas se passam...
— Amora, filha, está na hora de acordar. — Minha mãe me
descobre e me encolho na cama.
— É só mais um pouquinho. — Coloco as mãos no rosto. — Minha
mãe tira as minhas mãos do meu rosto devagar.
— Amora, olha. — Abro meus olhos e tem um vestido pendurando
na parede.
— Pra que isso? — Minha voz sai com um bocejo junto.
— Você vai precisar usar para a missa, filha vai tomar um banho
rápido e me chama para que eu arrume seu cabelo. Já estamos
atrasadas.
Me sento na cama e vejo que minha mãe já está arrumada e com o
cabelo preso, e o Jon de terno. Ele fica engraçado de terno, me
lembra um pinguim.
Começo a rir e vou em direção ao Jon.
— Olha — dou uma risada —, você está parecendo um pinguim
dentro dessa roupa aí. — Aponto para a roupa.
Todos rimos.
— Bom dia para você também, Mya. — Ele me dá um beijo no topo
da cabeça.
— Banho! — Minha mãe aponta para o banheiro me apressando.
Entro no banheiro e tranco a porta, fico parada me olhando no
espelho. Olheiras, é o que ressaltam. Ligo o chuveiro, no mais
quente, estou tão atordoada com tudo que está acontecendo, que
minha vida parou. Entro no box de roupa e fico parada debaixo do
chuveiro, sinto cada gota cair no meu rosto, me permito chorar e pôr
para fora o que me dói. O que não entendo e o que não sei.
— Mya, tá demorando! — Minha mãe bate na porta. — Se apressa,
filha.
Só então eu acordo para o mundo. Lavo meu cabelo tiro as roupas
molhadas e jogo no cesto de roupas, um banho rápido, porém já me
sinto mais aliviada. Agora eu preciso achar uma escova de dente e
a pasta dental. Abro todas as gavetinhas, eu já estava quase
chamando a minha mãe quando olho para a prateira em cima do
espelho e lá estão. Me apresso e saio do banheiro enrolada na
toalha.
— Perfeita — diz minha mãe, que me espera sentada na cama. —
Agora vamos te arrumar. Senta no banquinho. — É o banquinho da
sala, eu lembro quando cheguei na casa e me sentei nele de frente
para a lareira.
Minha mãe penteia meu cabelo e pega o secador, o barulho sempre
me incomodou desde pequena porque eu precisava sempre usar
porque meu cabelo é grande e demora a secar. Quando minha mãe
termina ela faz uma trança, ela sempre amou mexer no meu cabelo
e fazer vários penteados.
— Ok, vamos usar um pouco de corretivo nessas olheiras e um
rímel. — Ela passa o corretivo e me entrega um rímel e um batom.
— Passa, vai ficar melhor. — Nunca gostei de maquiagem e nem a
minha mãe, mas como é uma missa, e eu nunca nem cheguei perto
de uma igreja, porque não passar? Quando termino me olho no
espelho e depois me viro para a minha mãe.
— Minha menina é tão linda! — Ela sorri me olhando. E assim fica...
Escuto batidas na porta.
— Vocês estão atrasadas! — É o Jon.
— Já vamos sair — minha mãe responde.
Minha mãe pega o vestido e me entrega.
— Seja rápida. — Ela sai do quarto para que eu vista.
Ok, Amélia e vestidos bonitos não se dão bem. Dá última vez...
Preciso me concentrar, pego o vestido e visto, me sinto nervosa em
só me olhar no espelho. Estou linda. Me sinto linda!
— Mãe! — a chamo.
Ela abre a porta, ela e Jon estão me olhando. Ele sorri, minha mãe
olha para ele e revira os olhos e vem na minha direção.
— Aqui. — Ela pega os saltos. — Usa estes. — Ela me dá um par
de brincos e uma pulseira.
— Eu te ajudo! — Jon vem até a mim e coloca o cordão coloco o
brinco olhando no espelho e olhando para ele.
— Tá na hora crianças! — Coloco o salto e afirmo com a cabeça.
— O carro está aqui fora. O Lorenzo já chegou. — Fico
entusiasmada em conhecer o meu padrinho, [BB24]então corro até
a porta e abro. Um homem negro, muito bonito e muito bem vestido
encostado no carro que dá para ver que foi bem caro.
— Minha afilhada! — Lorenzo abre os braços até a mim e eu corro
abraçando.
— Então é você o meu padrinho? Eu, bom, eu, estou feliz por ser
sua afilhada — digo baixo para ele.
— Deixa eu te contar um segredo... eu também! — Ele é diferente e
me faz rir, me sinto bem perto dele é como se ele estivesse sempre
comigo e eu já tivesse conhecido ele há tempos.
— Vamos! — minha mãe fala, e Jon tranca a porta.
— Vamos todos no meu carro! — diz Lorenzo. Não tem como me
conter de felicidade.
Então assim partimos para a missa.
Chegando a missa, todos estão bem vestidos. Trajes formais, é uma
missa diferente...
— Mãe, o que estamos fazendo aqui? — Olho para a minha mãe
assustada.
— Amélia. — Lorenzo me chama. — Você agora precisa ser forte,
não chorar, e muito menos sair correndo. Você consegue fazer isso?
— Acho que sim. — Fico olhando para eles. — Mas eu sei que tem
algo mais... minha mãe nunca veio a missa.
— Seu pai estará presente, e seus avós — Lorenzo fala.
Um baque. Meu pai?
— Ele vai saber de mim? Ele sabe que estou aqui? Sabe que sou
filha dele? — várias perguntas, uma atropelando a outra.
— Respira — diz Jon, pegando na minha mão e o solto. Ele abaixa
a cabeça.
— Desculpa Jon, só não estou preparada. Aconteceram muitas
coisas, estão acontecendo. — Olho com raiva para a minha mãe,
por ter escondido o real motivo.
— Desculpa — ela diz baixo.
— Precisamos entrar! — Lorenzo diz e coloca as mãos nas minhas
costas como sinal de pode ficar calma estou com você. Respiro
fundo e entro na igreja.
— Qual o nosso lugar? — Jon pergunta.
— Como assim? Tem algo de especial hoje? — Olho para o Jon.
— Tem o Rei — Jon me responde grosso.
— Ah, claro, o Rei — falo debochada.
— Eu consegui lugares na frente, assim dá para você ver seu pai,
Amélia. — Lorenzo sorri.
Quando estamos chegando aos lugares, começa uma onda de
cochichos, eu não entendo nada, então continuo seguindo o meu
padrinho. Sinto uma mão pegando na minha, e olho para trás,
mamãe. Dá para ver que ela está nervosa, todos olhavam para nós.
— Amélia, não abaixa a cabeça — minha mãe sussurra no meu
ouvido, e confirmo levantando a cabeça.
Meu padrinho indica os lugares, ficamos protegidas por sentar entre
o meu padrinho e Jon.
A missa começa, eu não entendo nada. Meu padrinho chega mais
perto de mim e aponta com a cabeça suavemente em direção ao
Rei, o meu pai, e do lado dele os meus avós, uma mulher e uma
jovem. A missa passa lentamente, eu não estou prestando atenção
até que o Rei levanta e vai até o púlpito agradecer a presença de
todos.
Só então ele olha na nossa direção e congela. Olho para a minha
mãe e ela deixa uma lágrima escorrer encarando o amor da vida
dela, depois me olha e abre um pequeno sorriso secando a lágrima.
Então o Rei me olha, por um bom tempo, e desvio o olhar olhando
para o meu padrinho, mas escuto um grito.
— O QUÊ? — Todos olham em direção ao grito, é a rainha mãe,
mais conhecida como a minha avó.
Minha mãe segura forte a minha mão e me puxa até a saída, Jon e
Lorenzo vem atrás e o Rei sai correndo do púlpito até a saída em
nossa direção.
— Crystal! Por favor! — grita Otto para a minha mãe.
Minha mãe para de costas para ele sem largar a minha mão, e
aperta forte como se quisesse me proteger. Olho para os lados a
procura do meu padrinho, ele está indo até o Otto.
— Aqui não! — Lorenzo diz com raiva.

— Você não me manda! Crystal. Vá ao palácio amanhã, às três da


tarde. Eu preciso entender! — Todos escutam, e eu só queria não
estar lá, chamar a atenção de todos para nós. — Quem é ela? —
Otto pergunta ainda paga a minha mãe.
Só então minha mãe se vira encarando o Otto e vai em direção a
ele, Jon se coloca na minha frente.
— Minha filha — minha mãe diz.
— Não se atreva! — diz a minha avó, indo em direção a minha mãe.
— A verdade nunca fica escondida, minha rainha. — Minha mãe se
curva para ela.
Dá para ver como todos cochicham e nos encaram.
— Você precisa sair daqui. Agora! — a rainha grita.
Minha mãe fecha os olhos, é um sinal que ela se sente irritada. O
Otto vem até a minha direção, mas Jon fica na frente tentando
impedir.
— Pode deixar, Jon — falo bem baixo.
Então ele se afasta paga o lado e vejo guardas reais perto do
portão.
— Você... — Otto fala me olhando, fixando os olhos nos meus. Só
então ele percebe e se vira para a minha mãe com rapidez. Ele está
mais calmo, ele volta a olhar para mim e um lágrima sai dos seus
olhos. — Me fala, quem é você?
Me sinto nervosa, aflita, com vergonha e com medo, vários
sentimentos que eu não tinha experimentado. É o meu pai na minha
frente, é o que eu sempre quis desde pequena, mas agora parece
que só quero esquecer tudo isso. Olho para o Lorenzo e ele faz que
sim com a cabeça, então eu olho para o rei.
— Amélia. — Respiro fundo. — Sou sua filha!
— Você, como disse? — Otto fica gaguejando.
Meu padrinho e minha mãe me levam para o carro, enquanto Otto e
seus pais ficam na saída da igreja nos olhando.

Tem paparazzis em todo canto para conseguir uma foto do Rei,


porém, eles conseguiram mais do que isso, agora todos sabem que
o Rei Otto de Kuch tem uma filha com sua primeira namorada.
Quando chegamos em casa, Lorenzo bate à porta com raiva e
tranca toda a casa.
— Não era para sair assim, não era para ser desse jeito! — Ele
anda de um lado para o outro. — E agora? A minha proteção com
ela todos esses anos não adiantou de nada! Agora TODOS estão
atrás da Amélia, vocês têm noção? — ele grita, está nervoso.
Eu não queria estar na minha própria pele, não nesse momento.
Fico sentada no sofá da sala pensando em como Otto me encarou,
e como eu sou muito parecida com ele.
— Não! — Lorenzo continua. — Não vão acender nenhuma lareira
hoje. Ninguém! — Minha mãe então se senta do meu lado e me
puxa para um abraço, só então entendo o tamanho do risco que
estamos correndo. Encosto a cabeça nas pernas dela, estou
cansada, com medo do futuro.
— Durma, minha querida. Estamos aqui. — Ela fica fazendo carinho
na minha cabeça e o sono vem.
Acordo já em outra posição, não estou mais no colo da minha mãe,
estou no sofá coberta, sozinha na sala, olho para a lareira pensando
em acender, mas lembro no que meu padrinho me falou. Desisto
dessa ideia, mas o frio é presente, e ainda estou com o vestido da
missa. Já deve estar de tarde, olho em volta da sala procurando um
relógio
14:42
Eu não tive um cochilo, foi uma dormida de três horas. Me relaxou.
— Precisamos! — Escuto o grito da minha mãe.
A casa está toda fechada, até às janelas, dá a sensação de um
ambiente frio e escuro, chega ser assustador.

Ando pelos corredores com a manta me cobrindo e vejo pela fresta


da porta que minha mãe e meu padrinho discutindo, e Jon está de
cabeça baixa sentado na poltrona no canto.
— Você ligou a televisão, você mesma viu que você e Amélia estão
em todos os noticiários. Não tem como mais esconder vocês duas,
virão atrás de vocês se... — meu padrinho fala com a minha mãe,
mas eu tenho os meus próprios pensamentos e vontades. Eu vou
querer viver do meu jeito, sendo uma princesa ou não. É a minha
vida, o meu direito!
— Amanhã vou encontrar o meu pai! — Abro a porta e todos me
olhando, meu padrinho não gostou nada da ideia, mas ele não tem
mais o que fazer.
Minha mãe e Jon não dizem nada, Jon passa por mim e vai para o
seu quarto. Meu padrinho vai para a sala e abre as cortinas.
— A decisão é sua, Amélia — ele diz baixo. — Estarei com você
amanhã.
No dia seguinte...
Eu estou disposta a encarar tudo e todos, além do mais eu não
posso viver escondida, eu tenho meus estudos, meus amigos. Então
eu vou me encontrar com o meu pai no palácio real, olhar bem nos
olhos da minha vó e ver se ela tem piedade do que fez todos esses
anos. E meu avô, que nunca deu importância ao assunto da minha
família, sempre foi ele e o trono, tudo precisava estar certo no seu
reinado. Agora parece que meu pai tem uma nova família, já vi nos
noticiários a noiva dele e a sua filha.
Parece que ele agora já tem uma filha, não precisa de outra, não
precisa de mim. Mas eu quero explicação e quero poder viver minha
vida como uma pessoa comum, longe de holofotes. Quero estudar,
me formar, trabalhar e ter uma família.
— Mya, sua mãe está te esperando lá fora no carro, seu padrinho
irá com vocês, vou ficar aqui e me certificar que nada saiu do lugar.
— Jon fica de cabeça baixa, por mais que eu esteja chateada com
ele e com tudo que aconteceu, o Jon não é meu empregado, e eu
não sou uma realeza para ele tomar atitudes de servo.
— Jon. — Chego perto dele e levanto sua cabeça. — Você não
trabalha para mim, lembre-se disso. Você é meu amigo e a pessoa
que me apaixonei, você foi meu porto seguro por muito tempo. Só
estou chateada, isso vai passar, eu juro para você. — Ele sorri e me
abraça.
— Obrigado! — Ele dá um beijo no topo da minha cabeça como
sempre fez. — Agora vai. Você está linda nesse vestido! Não deixei
que a realeza coloque títulos em você, Mya.
Respiro fundo em pensar.
— Pode deixar, não vou me abalar por eles. Só quero minha vida de
volta. — Vou de encontro ao meu padrinho, que me espera fora do
carro. Ele está quieto, até a minha mãe que não para de falar está.
Ela está nervosa. Não a culpo...
O caminho até o palácio foi de silêncio, não demorou tanto, eu
revisava o que iria falar e fazer. O portão era alto e tinha guardas
reais em todo o lugar, parados igual estátuas. Um guarda chega até
o carro olhando dentro.
— Somos convidados do rei Otto — meu padrinho fala ao guarda,
que pega um rádio e em seguida libera nossa entrada. — Obrigado!
— Filha, está preparada? Não tem mais volta, já sabem que
estamos aqui. — Minha mãe nem sequer me olha.
— Estou — falo dura.
Meu padrinho para o carro perto da entrada e um senhor idoso vem
abrir a porta para nós. Não falo nada, ele fica me encarando como
se estivesse preocupado.
Ele nos guia até dentro do palácio.
— Podem ficar à vontade. O rei Otto já vem. — O senhor sai e nos
deixa sozinhos, um em cada canto, quietos.
Eu fico olhando as coisas ao meu redor, aquele luxo todo, cada
imagem, estátuas, quadros e uma escada belíssima no canto.
Minha mãe fica encarando algo atrás de mim, meu padrinho se
levanta rápido e eu viro meu corpo em direção ao que estavam
olhando, Otto.
Olho para minha mãe que agora está com os olhos marejados e me
pergunto se foi uma boa ideia voltar aqui onde ela sofreu.
— Mamãe. — Ela me olha e eu sinto uma dor no peito. — Mãe, me
ajuda! — Me corpo fica mole e eu tento pegar um ar. Dói para
respirar, meu corpo vai ao chão e meu pai corre para me pegar.
— Filha! — ele grita. Ele me chamou de filha... Nos braços do meu
pai tudo se escurece, sinto frio e meu corpo amolece.
Acordo já em um quarto gigantesco deitada em uma cama macia e
um soro na veia, a dor parou, meu pai está na sacada olhando o
que deve ser o quintal. Eu me sinto fraca. O encaro até que ele se
vira para mim e dá para ver que ele está chorando. Ele tenta
esconder o rosto olhando para o lado, mas falha a missão dele.
Ele vem até a mim, sentada no outro lado da cama.
— Oi filha. — Ele sorri. — Como eu nunca soube que eu tinha uma
princesinha? Você se sente melhor? Lorenzo me contou o que
houve com você e que teve um tumor. Eu sinto muito... deve ter sido
muito difícil para você. Me perdoa por eu não estar próximo a você,
querida. — Ele tenta segurar o choro mais fica vermelho.
Não me seguro e dou uma risada. Quem diria, um rei que fica igual
uma pimenta de tão vermelho ao chorar, e ele chora. Ele está
tentando pedir desculpas por algo que ele não fez.
— Não foi culpa sua. — Minha voz ainda é fraca, mas dá para
escutar bem. — Cadê a minha mãe?
— No quarto ao lado, ela não quer que ninguém saiba que ela
voltou, mas infelizmente já estão nos noticiários. A vida de um Rei é
pública,sinto muito por isso, querida.
— Pode chamar minha mãe aqui, por favor? — peço a Otto, que no
momento olha para o chão.

— Sobre a sua mãe... Eu não tenho nada a ver com quando ela
sumiu da minha vida. Eu chorava todos os dias, ela era o amor da
minha vida, estávamos felizes e do nada ela sumiu sem avisar.
— Você precisa saber de uma coisa... A minha mãe nunca vai
conseguir te dizer, até por medo dos seus pais.
— Meus pais? O que eles têm haver? — Ele chora, mas acho que
ele já sabe a resposta.
— Seus pais nos expulsaram, minha mãe não sabia que estava
grávida quando foi expulsa, e depois quando eles souberam da
gravidez dela, fizeram de tudo para que nós duas
desaparecêssemos do mapa. Eles alugaram uma casa distante
daqui, e quando meus avós morreram minha mãe ficou sozinha,
nova, grávida e falida. — Eu choro porque nunca gostei de
relembrar, é doloroso mexer na ferida e pensar que minha mãe
estava sozinha...
— Não é possível. — Ele levanta chorando e soca um quadro que
quebra. — Não, não! Eu perguntei tantas vezes! Eles viram o tanto
que chorei e sofri... — Otto gagueja enquanto chora.
Não aguento vê-lo assim, eu tiro a agulha do meu braço, não ligo
mais para agulhas e injeções. Levanto devagar, por estar fraca e
vou até ele, que está sentado no chão, no meio do quadro todo
quebrado. Me sento ao lado dele e o abraço. Ficamos em silêncio,
ele chora e eu sei mais que qualquer um que é preciso chorar, ter
um momento de pôr para fora, tirar a dor no peito que sufoca.
Tenho vontade de chamá-lo de pai e ao mesmo tempo temo por isto.
— Pai.
Ele me olha e sorri. Como pode sermos tão parecidos? Até na hora
de chorar... Tal pai, tal filha.
— Não quero te perder mais, foram 18 anos sem você e sua mãe.
Promete que fica aqui? — Ele continua sentado na bagunça, me
encarando com seu rosto vermelho e olhos profundos azul. Meus
olhos, sorrio ao pensar.

— Por mais que eu queira o meu pai, eu também quero a minha


mãe. Você precisa entender que eu não sou como as ricas que
amam esnobar, mostrar que tem dinheiro e ser o centro das
atenções... Eu sou quieta, solitária na maioria das vezes, gosto de
estudar e ter liberdade de andar na rua sem paparazzi, ou sei lá,
seguranças, além do mais, os teus pais não me querem aqui. Olha o
quanto essa notícia de você ter uma filha repercutiu. — Ele se
levanta e estende a mão para mim, dou a mão para que ele me
ajude a levantar.
— Eu te protejo! — ele diz se arrumando.
— Você não pode fazer isso, você precisa de proteção. — Ele vai
para a varanda e encosta na sacada. Proteção, claro, o que nessa
casa nunca terei.
Vou para a varanda, minha nossa, não existe lugar mais bonito que
esse. E que vista é essa? Esse campo de flores coloridas, girassóis,
minha paixão. Dá para ver uma estufa de vidro.
— Pai, o que tem naquela estufa? — Aponto, sempre amei flores.
— Lá? — Ele ri. — Na verdade, era da sua mãe. Não mexo mais lá
desde dê... Você já sabe.
— Vamos chamar a minha mãe e ir lá? — Fico empolgada.
— Vamos sim! Mas a Isadora e Luanda estão prestes a chegar.
— Quem? — Me vem a mente as pessoas que estavam com ele na
missa. — Ah, claro. Elas. Eu volto amanhã e podemos ir ver, sei lá,
o jardim.
— Mas querida. — Ele tenta me parar.
— Não. Eu preciso ir. — Saio batendo a porta e encontro minha mãe
no corredor. — Vamos mãe. — Saio correndo até fora do Palácio e
vejo os meus avós. Não digo nada e entro no carro, Lorenzo
entende e entra também.
— Você está bem? Cadê a sua mãe? — Ele me encara.
— Está vindo.
Assim que chegamos na nossa casinha, no meio do nada, Jon me
abraça e eu desabo chorando nos seus braços.
— Ele já tem uma filha, ele não precisa de mim. — Jon me pega no
colo e me leva para o quarto me pondo na cama.
— Não diz isso. O que aconteceu lá? — Ele tira os seus sapatos e
deita do meu lado olhando para o teto junto comigo.
Eu não escondo nada de Jon, ele sempre esteve comigo, querendo
ou não, também é meu melhor amigo e foi a minha primeira paixão,
mas o sinto como amigo agora, ele cuida de mim com tanto carinho
e cuidado, não se fosse sua obrigação, mas o nosso sentimento é
diferente, confio nele. E pensar que meu pai já tem uma família, e
que já tem uma filha e uma noiva que já vive com ele. Não tem
espaço para mim e minha mãe naquele enorme castelo. Castelo de
Koch... Um sorriso brota nos meus lábios ao lembrar do carinho que
meu pai tem por mim, mesmo não me conhecendo, mas temos uma
ligação.
Minha mãe entra no quarto com um sorriso forçado e senta na
cadeira perto da cama e fica olhando pela janela.
— Jon, pode nos dar licença, por favor? — Jon pega seus sapatos e
sai do quarto fechando a porta. Eu, minha mãe, pensamentos,
sentimentos...
— Amélia. Agora você precisa tomar uma decisão, já é maior de
idade, não posso te obrigar a nada e nem posso mais te esconder. É
impossível, seu padrinho não apoia mais isso, até porque a
população quer conhecer essa princesa escondida, a princesa
misteriosa Amélia. — Ela se levanta e senta na cama me dando as
mãos, me encosto na cabeceira da cama olhando-a e segurando o
choro, que é fácil de sair. Ela aperta a minha mão como se quisesse
passar os sentimentos dela para mim. — Sua avó, a quer no
castelo, acho que ela se deu conta depois de dezoito anos de que
não adianta te esconder, não é? — Ela sorri. — Você é a herdeira,
querida, o povo merece uma princesa como você e nada e nem
ninguém pode te tirar da linhagem real, mesmo eu não tendo
casado com seu pai na época. Mas pensa, agora ele já tem uma
família e eu sempre estarei aqui, sempre serei sua mãe e sempre te
amarei e irei te admirar como sempre admirei. Seu pai te ama, dá
para ver, você sempre foi muito parecida com ele, às vezes me doía
ao separar vocês dois, por mais que fosse para o bem de vocês. —
Ela seca as lágrimas que caiam.
— Mãe, eu não posso fazer isso. Ele já tem uma família, não vai
querer duas plebeias dentro do Castelo dele.
— Duas? — Ela fica confusa.
— Sim, eu e você.
— Não, não querida. — Ela ri. — Acho que você não entendeu
bem... Será só você no castelo.
Não entendo, se eu for, minha mãe terá que ir. Ela é minha mãe,
quem iria fazer isso?
Vovó.
— É culpa da bruxa não é? Eu não aguento mais escutar ela
tentando arruinar nossa vida. — Levanto da cama com raiva, indo
em direção ao rádio da sala.
— Mya, o que vai fazer? — Lorenzo tenta me impedir, mas eu já sei
que o rádio é da família real. Eu já escutei dela com o Jon e o
Lorenzo.
— Pai, preciso de você! Você não tinha me dito mais cedo que iria
me proteger? Chegou a sua hora, sabe como rastrear essa
chamada. Você tem duas horas! — Desligo o rádio.
Todos me olhavam, minha mãe com raiva, Lorenzo triste e Jon com
pena.
Eu vou resolver isso, essa história não vai ficar assim!
Depois de meia hora minha mãe serve o almoço com a ajuda de
Lorenzo e todos tentavam puxar assunto comigo, mas eu não
respondo, fico quieta.
O almoço é em total silêncio, dá para escutar o assobio do vento do
lado de fora, todos ficaram na sala se entre olhando, acho que eles
devem estar pensando o que vou fazer depois da minha atitude.

Troco a roupa que eu tinha ido ao castelo, nobreza cansa, e olha


que eu ainda nem vivi isso por completo. Coloco uma roupa casual,
não vou sair e quero ficar ao máximo confortável.
Escuto batidas fortes na porta, Jon me coloca no quarto trancando a
porta, mas consigo escutar com a voz de Lorenzo alta e grossa. Ele
sente raiva, o que eu fiz? O rádio é público, poderia ser qualquer
um, mas não é. É o meu pai, escuto ele dizer com a voz baixa que
eu sou sua filha e herdeira.
Me sinto feliz por ele me considerar filha dele...
— Crystal, você sabe que eu ainda te amo! Por que está fazendo
isso tudo? — Ele a ama? Ainda se amam? Não acredito que ainda
estou presa nesse quarto maldito.
— Pai! Pai! —nesbravejando a porta, socando com força.
— Vocês a trancaram no quarto? Estão doidos? — Ele manda os
guardas reais abrirem a porta, e pede para eu me afastar da porta.
A arrebentam com tudo, é assim que ficou a porta do meu quarto.
Me pai entra pisando em toda a zona que ficou aquele quarto.
— Filha! — Ele me abraça forte. Proteção! Eu tenho o que ele me
promete.
— Antes de tudo, eu preciso te dizer que eu não vou para o Palácio
Koch sem a minha mãe, só porque a minha avó não a quer lá. —
Cruzo os braços olhando o firmemente.
— Como é? É claro que sua mãe vai! Eu não perco mais o amor da
minha vida novamente. — Ele senta na cama para ficar na minha
altura. — Querida. Eu amo a sua mãe! Eu só precisava me casar,
um Rei sem casamento abençoado pela igreja e sem herdeiros não
é um Rei. Foi a minha primeira obrigação a servir o meu povo, mas
com toda certeza eu deixaria tudo por você e sua mãe! — Ele tem
lágrimas nos olhos, minha mãe que antes estava na porta se junta a
nós. Meu pai rapidamente se levanta e abraça a minha mãe, fico os
olhando, é como na foto. O amor é transmitido, dá para ver como se
amam e como é puro. Minha mãe e meu pai abrem um espaço no
abraço para que eu entre e me apertam bem forte.

Eu tenho uma família, um pai e uma mãe. Tudo que sempre quis.
Um beijo deles interrompe o abraço.
— Eu estou aqui! — Digo, sorrindo.
Eu me sinto a pessoa mais realizada, meus pais parecem dois
jovens apaixonados, parece que nada mudou entre eles durante
anos.
— Otto, você sabe que não é tão fácil assim! — minha mãe avisa,
saindo do abraço.
— Nada que eu não possa resolver! — Ele sorri.
— E sua noiva e sua filha Luanda? — respondo, saindo do abraço
dele também. Não é ciúmes, mas que eu não gosto delas com o
meu pai, não nego.
— Casamento arranjado! E Luanda não é minha filha. — Ele ri —
Ela nunca gostou de mim, gostava do dinheiro que eu tinha, a
reputação e todo aquele luxo. — Dá para ver a sinceridade no olhar.
— Quero que hoje mesmo vocês vão para o palácio junto comigo.
Jon e Lorenzo podem ir, Lorenzo foi meu único amigo verdadeiro
que tive, só escondeu vocês de mim esses anos.
— Eu pedi, era necessário! Sua mãe iria tentar fazer o pior, tenho
toda a certeza! — Minha mãe fecha a cara.
— Isso vai mudar. Então, precisa pegar alguma coisa para levar ao
Palácio? — Minha mãe sorri para mim como se tivéssemos nossas
coisas aqui, mas tudo é comprado pelo meu padrinho porque não
queríamos correr o risco de entrar na casa e nos pegarem.
No caminho ao Palácio Koch eu e minha mãe estamos no mesmo
carro que meu pai, meu padrinho vem no carro de trás com o Jon.
Acho que meu caso com o Jon está resolvido. Nós dois entendemos
que nossa amizade é mais forte e que não queremos perder, Jon
continua sendo o meu apoio quando preciso desabar sem as
pessoas verem o quão frágil sou. Ele cuidou de mim e ainda cuida,
além de guarda costa é meu melhor amigo. Fiquei sabendo que
Sofia e Josh ficaram noivos, eles sempre foram apressados, mas
tudo vai dar certo entre eles. É o segundo casal que mais amo,
porque primeiro vem os meus pais. Mesmo eu sabendo que minha
mãe não se sente confortável no palácio e que ainda teme a minha
avó. Ela está fazendo todo esforço paga ficar junto com o meu pai, o
homem realmente roubou o coração da minha mãe — não posso
conter o sorriso —, os dois ficam se olhando e de mão dadas, eu
não tenho nem para onde correr. Falta pouco para chegar ao palácio
e ver a pessoa que sempre quis destruir a minha família. Minha
vovó, ela é linda, não vou negar, mas o que tem de beleza tem de
maldade. Já o meu avô é quieto e sempre parece obedecer a minha
avó, ela sempre arruma um jeito de mandar em tudo.
Mas uma coisa que ela não vai conseguir nessa vida é mandar em
mim, não mesmo! Acho que puxei isso do meu pai, vou proteger
minha família de tudo que vier. Olhando através do vidro do carro
vejo o Palácio Koch. Eu soube que o meu pai tem vários palácios
em vários lugares do país.
Chegando de frente ao palácio vejo meus avós e servos parados no
portão a nossa espera. Meu pai sai com a cabeça erguida como
deve agir um rei, e estende a mão para que minha mãe a pegue, e
assim ela faz, minha mãe saí do carro como sempre deveria ter
saído, com o seu amado e de mãos dadas. Vejo a noiva de meu pai
e Luanda pela janela, engulo em seco, tomo a respiração devida e
saio do carro. Minha mãe pega a minha mão e assim ficamos.
Eu, minha mãe e meu pai contra o mundo. Às vezes me sinto frágil
e pequena nesse novo mundo, tudo é novidade, eu preciso passar
por grandes mudanças.
Meu pai fez o que o coração dele pedia, terminou o seu
relacionamento de noivado com Ysadora, e Luanda fez o favor de
fazer um discurso de que odiava o Rei e toda a sua família, que
deseja tudo de pior. Ysadora tem o olhar frio e calculista, como se já
esperasse por isso. A única palavra dela antes de deixar o palácio
foi:
— Vocês nunca irão conseguir serem felizes. — Antes de se retirar
cumprimentou os meus avós, se curvando diante deles e sai sem
olhar para trás.
Já Luanda diz que não vai sair barato o mico que ela pagou com a
família real. Os seguidores dela despencaram, o luxo, a fama e tudo
o que ela sempre quis. Ela com certeza não irá deixar barato, ela
tem o carinho da minha avó.
Em uma semana minha vida mudou bastante. Meus pais estão mais
juntos que o normal, minha mãe já o ajuda com as coisas do
reinado, ela ama fazer caridade e ir aos orfanatos. Meus avós
esqueceram dá nossa existência deixando o Palácio de Koch indo
para um outro palacete da família real Koch, um pouco distante de
nós. O que foi bom.
Já o meu pai, por incrível que pareça, em um desfile público pelas
ruas convidou eu e minha mãe para o acompanhar, mas o que não
esperávamos aconteceu... O Rei Otto pedindo a mão de uma
plebeia de frente para o seu povo, e a minha mãe reluzente com o
pedido do seu grande amor não teria como dizer não, ela o amava
com todas as forças, e ele a amava. Agora minha mãe é conhecida
como a noiva caridosa do Rei Otto.
Sem contar que meu pai ganhou mais reputação e grandes Reis
venderam terras para ele, onde ele construiu um hospital de câncer.
Com o meu nome, Amélia de Koch. Agora não só filha de um Rei e
filha de uma futura Rainha de Koch, a minha certidão que antes era
incompleta por falta do nome do pai, hoje meu pai assinou todos os
documentos atestando que eu sou sua filha e herdeira legítima do
trono. Agora faço parte de uma linhagem real.
A Igreja abençoou e não sou considerada uma filha bastarda, mas
sim legítima. Agora meu pai está prestes a fazer um baile real para
mostrar o povo a Princesa deles. Não estou nada preparada para
isso, venho conversado com o Jon e o meu padrinho Lorenzo, que
inclusive não saem do meu pé, mas nada me acalma. Não sei como
me comportar diante tantas pessoas que nunca vi na minha vida,
tanto luxo e nobreza.
Está marcado para amanhã o evento real. O palácio está cheio de
empregados andando de um lado para o outro, comida e mais
comida, sem contar nas bebidas. O salão é enorme, mas irei me
sentir minúscula em meio a tantas pessoas!
Eu preciso me dedicar exclusivamente para o Baile de amanhã. Meu
pai contratou estilista, sapateiro e até um pintor. Ele acha que eu
preciso de um retrato nas paredes do palácio. Enquanto ele
governa, eu estudo. Agora tenho professores particulares, meu pai
se surpreendeu de tantas línguas que já aprendi no passado. Eu
sou uma nerd, fazer o quê. Sempre amei estudar, até fazia trabalhos
de outras pessoas para ajudar em casa, hoje vivo em um palácio.
Eu nunca imaginei isso para mim.
Mais tarde eu tenho aula de etiqueta, o que eu pensava ser algo
referido a roupa. Meu padrinho me explicou rindo que não é sobre
isso, não tenho culpa de não saber, eu não cresci nobre.
E assim foi meu dia: sentar à mesa, presa a uma cadeira, postura
ereta, sem conversa. Saber sobre garfos, facas e colheres, nunca
pensei que seria tão difícil. E quem é que como uva com garfo e
faca? Meu pai, é claro. Está bem, e quando eu pensei que já sabia
de tudo, foi hora de aprender a valsar, espera, tudo menos isso!
Meu pai dizia que eu precisava aprender que ele iria dançar comigo
no baile e que todos olharão, óbvio que não me ajudou em nada. O
senhor Heitor, um dos meus professores de dança não me
aguentava mais, e eu não suportava usar salto alto. Andar é uma
coisa, agora dançar e ficar plena em cima deles, já é outra coisa
bem diferente! Acho que por hoje o senhor Heitor não irá andar
muito bem, confesso que dei várias pisadas no pé dele. Para um
lado, para o outro, para trás e para frente, solta e gira. Tudo ecoa na
minha cabeça. Valsar não é nada fácil, onde pôr a mão, não pode
ser rígida com o corpo e nem mole demais, como vou gravar isso
tudo até amanhã?
Em seguida tem o senhor Dominic, o estilista real está no meu
quarto me esperando para medir o meu corpo. Alguns vestidos
experimentados e alfinetadas nada agradável. Prende a respiração,
aperta e postura. O vestido pesa, parece que vou tombar com ele,
me sinto presa em um vestido assim.
Minha mãe sempre está de olho, não fala nada. Eu só reviro os
olhos frustrada com isso tudo. Não nego, os vestidos são lindos.
Meu pai chega no quarto e me dá um documentário, o senhor
Dominic se retira depois de se reverenciar.
Abro o documento com os meus pais sorrindo feito criança olhando
para mim. E lá está o documento com os nomes dos meus pais. E o
meu... Hã?
Princesa Real AMÉLIA Kate Gates Martinez Bettencourt Koch III
Ortega de Narcízio. Claro, será bem fácil de gravar, olho para o meu
pai e aponto para o meu nome no documento.
— Ah, agora você é minha filha. Tem meu sobrenome também —
ele diz, me abraçando.
— Pai, sobrenome? Isso é quase todos os sobrenomes do mundo!
É enorme! Não garanto gravar isso tudo. — Olho para ele perplexa.
Ele e minha mãe começando a rir da minha cara.
— Você só precisa gravar Amélia Koch III. Agora você será
chamada assim. — Olho para a minha mãe, e ela concorda com a
cabeça.
— Te amo, amora! Não se preocupe! — Ela me dá um beijo na
testa, e sai junto com o meu pai.
Princesa Real AMÉLIA Kate Gates Martinez Bettencourt Koch III
Ortega de Narcízio
Seja bem-vindo novo nome!
Passei o dia de ontem em treinamento, fui acordada bem cedo pela
manhã já com o meu banho preparado, tantas pessoas no meu
quarto, não tenho privacidade. Depois de tomar um longo banho em
uma banheira que me relaxou, quando estou prestes ao sair do
banheiro de roupão, tem seis pessoas me esperando no quarto,
volto imediato para o banheiro, mas Dominic coloca o pé na porta e
trava, olha nos meus olhos e é o mais sincero possível comigo.
— Você não precisa ter vergonha, é normal para os servos reais.
Antigamente pessoas davam banhos em suas altezas, venha. — Ele
pega na minha mão e me leva até a penteadeira. — Agora eu vou
pentear e arrumar seu cabelo para o dia. — Concordo com a cabeça
e escondendo as minhas mãos as apertando forte e tentando não
olhar para as outras pessoas. Vergonha é pouco resumindo o que
estou passando.
Um senhor chega com uma maleta olhando para Dominic com raiva.
— Você sempre faz isso, não é? Tenta pegar em todos os meus
cabelos! — o senhor esbraveja.
— Se não fosse por mim a princesa ainda estaria trancada no
banheiro! — Dominic tenta tomar a frente.
— Ah, tudo bem. Agora eu termino! — Ele vem ao meu alcance e
faz um chega para lá com as mãos para o senhor Dominic, que
assim sai.
O senhor que até agora não sei o nome vem até a mim e estica sua
mão para que eu possa dar a minha, e assim o faço. Ele a beija e se
curva na minha frente.
— Prazer em lhe conhecer, alteza! — Ele sorri. — Meu nome é
Alexandre.
Retiro minha mão e ele se recompõe me encarando.
— O prazer é meu, senhor Alexandre. — Dou um sorriso amigável.
— Que isso, princesa. Pode me chamar de Alexandre. Senhor é
muito velho para ser posto em primeiro lugar. — Ele dá uma
gargalhada.
— Alexandre, você não ia ajeitar o cabelo da senhorita Amélia? —
Dominic fica encarando-o. Acho que os dois não se bicam.
Alexandre começa a secar o meu cabelo e dizer como a cor dele é
linda, eu viajo nos meus pensamentos.
Às vezes eu penso na minha casa e como eu desejo a minha vida
de volta. Mesmo que eu ame o meu pai, mas ser princesa não é
para mim.
Enquanto eu viajo nos meus pensamentos, pensando nos meus
amigos, no Jon e no meu padrinho Lorenzo, escuto alguém falar da
minha avó.
— O que vocês disseram? — pergunto já encarando todos, a
curiosidade mata qualquer vergonha. O senhor, quer dizer, o
Alexandre limpa a garganta porque eu estou atrapalhando-o. —
Desculpa.
— Está tudo bem. Alexandre que é meio chato! — um senhor
barbudo diz, rindo para os amigos. — Estávamos nos referindo a
majestade Corine.
Mas conhecida como a minha avó.
— O que tem ela? — Os olhares se cruzam, como se você uma bola
de futebol sendo jogada um para o outro por não querem dar a
resposta. — Isso irá ficar entre a gente. Certo? — Eles concordam.
— Sua majestade que estava afastada todo esse período, hoje volta
para participar do seu baile.
— Como é? Vocês estão certos dessa informação? — Todos
confirmam com a cabeça, sem dar um pio. O silêncio se forma no
ambiente. — Não acredito! O motivo dela ter voltado é para ver a
minha derrota! — Fico nervosa e é muito perceptível.
— Chamem a mãe dela! — Dominic grita, e um dos homens sai
correndo.
Dominic se aproxima de mim e Alexandre para de mexer no meu
cabelo.
— Querida, você precisa respirar, está bem? — Eu tento concordar
com a cabeça, mas as lágrimas rolavam em primeiro lugar. —
Vamos, Mya! Respira! — Ele pega nas minhas mãos e respira junto
comigo.
Minha respiração que antes era compassada agora está mais
tranquila, Dominic sabe bem como lidar com uma pessoa.
Minha mãe e meu pai entram no quarto desesperados.
— Me ajudem a trazer para a cama! — minha mãe pede com
gentileza.
— O cabelo! — Alexandre fala e todos olham em direção a ele
perplexos. Eu começo a rir, ninguém entende nada.
— Eu já me sinto melhor, pessoal. Como o Dominic falou, é só
respirar, e eu me esqueço que ainda preciso respirar para me
manter viva. — Todos são carinhosos comigo. Ok, antes eu estava
morrendo de vergonha de todos, mas agora já me sinto parte da
família. Eles não são meus empregados, podem até ser do meu pai,
mas meus não. Eles são meus amigos. — Obrigada Dominic, e
obrigada Alexandre! — Começo a gargalhar, todos começamos a rir
juntos.
Descontraídos, é assim que precisamos ficar.
— Pai, eu sei que a vovó vem. — Tento forçar um sorriso, porém
não dá muito certo.
— Eles já disseram né? Eles não conseguem segurar a língua,
ainda mais quando estão juntos! — Meu pai levanta a sobrancelha
tentando julgá-los.
— Ei, pai, calma, está tudo bem. Olha para mim. — E assim ele faz.
— Eu vou fazer o meu melhor, mas não prometo abaixar a cabeça
para a sua majestade Corine! — Minha mãe dá um sorriso
gigantesco, foi assim que ela me ensinou.
— Você está certa, minha princesinha! — Ele me abraça forte.
— Pai, o ar. Eu ainda preciso dele! — digo, tentando me afrouxar do
abraço de urso dele.
— Então, meninos, vamos voltar para o que vocês estavam
fazendo, ok? A Mya já está melhor! — Minha mãe pega na mão do
meu pai e o puxa para fora do quarto, antes de fechar a porta ela
joga um beijo para mim quando ninguém estava olhando.
— Pedimos desculpas, a vossa Alteza! — um dos senhores falam
com o olhar triste.
— Eu estou bem, às vezes isso acontece, mas vamos nos divertir.
Você pode ligar o rádio? — Então ele liga em uma música clássica,
claro, deve ser o que a nobreza escuta. — Não, não, precisamos de
algo mais rápido. — Eles sorriem e ficam animados assim que
começa a tocar uma música com mais ritmo. — Alexandre, prometo
não atrapalhar mais! — Ele me dá o melhor sorriso.
E assim passamos a manhã, eles me arrumando e todos nós nos
divertindo cantando e dançando. Bom, eu até tentava dançar com
eles, mas era cabelo para cá, maquiagem para lá, sapatos a serem
escolhidos, roupa do dia e roupa do baile a ser escolhidas, tantas
coisas... Mas no final foi divertido passar a manhã com eles, ainda
mais porque nos trouxeram comida no quarto. Fizemos a nossa
festa!
O Palácio está todo iluminado, eu já sei que minha avó chegou. É o
assunto atual, pessoas nobres chegam em carros de luxo, com
vestidos lindos, nunca vi nada parecido! Parece conto de fadas.
Me sinto totalmente diferente vestida assim, parece que vou
tropeçar, estou uma verdadeiro princesa. Dominic e seus lindos
vestidos desenhados para mim e a minha mãe.
Meu pai entra no quarto junto com a minha mãe sorridentes,
parecem muito entusiasmados para essa noite. A minha mãe está
magnífica! Uma rainha, ou quase.
Meu pai traz uma caixa de veludo vinho nas mãos, o anel de
noivado da minha mãe brilha tanto, a joia é feita de diamante e é
chamada de Apolo, possui 14 quilates. Sozinha, a Apolo vale 250
milhões de reais, um verdadeiro tesouro nas mãos. Meu pai me
entrega a caixa, bem pesada. Eu a abro e tem uma coroa tão linda,
cheia de ouro e diamantes. Nunca vi nada parecido!
Fico abismada com o presente do meu pai.
— Não chora! Vai estragar a maquiagem que o Sandro fez! —
Minha mãe ri da minha cara brincando. Ela estava tão feliz e linda
naquele vestido.
Mamãe, como a nossa vida mudou...
Meu pai pega a coroa dentro da caixa e olha nos meus olhos, ele
está chorando.
— Minha filha, minha Amélia, Princesa de Koch... entrego a coroa
da herdeira do trono de Koch! Eu te amo, minha pequena! — Eu não
sei se choro por receber algo tão precioso, não só porque se trata
de uma coroa, mas porque tem sentimentos. Ou se foi porque meu
pai disse pela primeira vez que me ama, esperei tantos anos para
ouvir isso do meu pai.
— Eu te amo papai! — Meu pai me dá aquele abraço de urso de
sempre. Dominic chega e fica incrédulo porque estamos amassando
a obra de arte dele, vulgo o vestido. — Pai, o vestido.
— Eu te amo amora! — Minha mãe me dá um beijo na bochecha e
segura na mão do meu pai.
— Então, princesa. Preparada para a sua grande noite? — Meu pai
pega na minha mão. — Sua tia está louca querendo te conhecer, o
nome dela é Alycia, você vai amar sua tia, eu aposto! Na verdade,
todos estão à sua espera, essa festa é sua não se esqueça, curta a
sua festa! E convidei três pessoas especiais para vocês, quer saber
agora ou vai esperar?
Odeio surpresas, ele já sabe disso, por isso está com aquele sorriso
besta nos lábios.
— Fala, pai. Sabe que não aguento esperar! Quem são? — Junto as
mãos em sinal de animação.
— O Senhor Keller, o Josh, e a Sofia estão no salão a sua espera!
Não acredito, meus melhores amigos! Quanto tempo, e que
saudades, preciso me controlar só essa noite para não passar
vergonha, mas depois preciso saber de tudo desse noivado deles!
A minha animação e meu sorriso não cabem mais no rosto.
— Te aguardamos lá embaixo, amora! — Então é assim... sozinha,
aguentando toda a barra de ser uma princesa.
Eu treinei muito em como descer aquelas escadas, mas será que
agora eu consigo? Tantas pessoas que não conheço, dá vontade de
sair correndo de tudo isso.
Vou em direção a porta principal do salão, olho para os guardas,
Dominic e Alexandre estão de longe dando um joinha.
Agora é comigo. Confirmo com a cabeça para que os guardas
abram as portas e o conselheiro real anuncia a minha chegada.
— Sua Alteza Real Amélia Kate Gates Martinez Bettencourt Koch III
Ortega de Narcízio. — Sons de trombetas avisam a minha chegada.
Deu certo, porque todas as atenções são para mim, pessoas saldam
a minha chegada se curvando.
Me concentro em descer primeiramente a escada, depois eu penso
nas pessoas. No final da escada está o meu pai, com um lindo
sorriso me esperando. É pai, sua filha agora é uma princesa.
Meu pai se curva esticando o braço para mim e coloco o meu braço
por cima, assim é o início da valsa de Palácio de Koch. Ele me guia
para o centro do gigantesco salão principal, nós curvamos um para
o outro e a tão sonhada valsa de pai e filha começa.
Não posso negar que enquanto valso com o meu pai, eu noto cada
pessoa. Minha mãe está próxima ao trono junto com os meus avós,
dá para ver o tanto que ela forçava o sorriso. Estou fazendo o certo?
Não sei.
Vejo o senhor Keller, Josh e Sofia no canto e me pergunto
mentalmente o porquê de Josh e Sofia não estarem tomando
champanhe, logo eles, nunca iriam dispersar essa oportunidade.
Assim que a valsa termina meu pai e eu nos curvamos, ele dá um
largo sorriso depois de uma piscadela. Deu tudo certo. Meu pai
pega a minha mãe para dançar e aproveito para ir até os meus
amigos. Eles se reverenciam, já tinha me esquecido que estamos na
frente de muitas pessoas importantes.
— Boa noite, vossa Alteza — diz o senhor Keller.
O meu sorriso me entrega o quão estou feliz por ter eles aqui.
— Fico feliz em tê-los aqui. — Chego próximo ao ouvido da Sofia e
deixo a minha curiosidade sair. — Por que você não está bebendo?
Já tem idade para tomar um champanhe. O que houve? Não me
esconde nada, Sofia! — digo séria, a minha curiosidade é grande.
— Estou grávida do Josh! — ela fala tão baixo que parece até
mentira.
Minha melhor amiga grávida do meu melhor amigo. Noivos e agora
pais... Não dá para comemorar, gritar e nem brindar.
— Estou tão feliz por vocês! Eu quero ser madrinha! — Isso
transformou a minha noite, a melhor notícia que recebi hoje. Tento
segurar a vontade de chorar, me abano. — Eu preciso voltar, e falar
com a minha querida vovó. — Reviro os olhos e saio de perto deles.
Pareço sem rumo, tantas pessoas e não conheço nenhuma. Olho
para trás e Isadora [BB25]e Luanda estão descendo as escadas.
Não acredito que terei que suportar mais chatices! Os narizes
empinados não param no caminho nem para me cumprimentar e
vão em direção a minha avó. É claro, como não? Minha avó as
convidou.
Meus pais terminam a dança e vem até a mim, ele olha com raiva
para a minha avó e minha mãe tenta acalmá-lo, o que não dá muito
certo...
Os passos compassados do meu pai já dizem tudo o que ele sente
agora, meu padrinho aparece no caminho impedindo dele chegar a
minha avó.
— Respira, amigo! — Meu padrinho arruma a roupa dele e dá um
tapinha nas costas. — Você consegue!
— Sim, é isso. Eu consigo, não vou deixá-las atrapalharem a noite
da Mya.
— Dança com seu padrinho, princesa? — meu padrinho Lorenzo se
curva me reverenciando.
— Será uma honra, padrinho!
E assim foi a minha noite: conhecer pessoas importantes e dançar.
Os olhares da minha avó, Isadora e Luanda são frustrantes.
Fico parada por um tempo olhando-as de longe até que um rapaz
chega até a mim e se reverencia. Nunca o vi na minha vida.
— Alteza, a senhorita me dá a honra da sua última valsa? — Estou
tão cansada, mas eu não posso parar, não na frente de todos. Eu
preciso fazer o meu papel.
— Claro, será um prazer.
— Acho que a Alteza não me conhece, mas eu sou o Príncipe Noah
de Nuandria. É um imenso prazer dançar com a vossa Alteza. —
Estou dançando com um príncipe. Não acredito, que vergonha.
Palavras me faltam nessa hora, os olhares de todos estão na nossa
dança. Maravilha!
Nunca me senti tão envergonhada na frente de alguém, ainda mais
por se tratar de um príncipe. Meu coração dispara, eu nunca me
senti assim. É um sentimento novo, sem explicação. Assim que
terminamos a valsa todos aplaudiram. É claro. Já devem pensar que
somos um casal.
— Obrigado pela valsa, princesa Amélia. Espero ainda poder lhe
ver. — Nos reverenciamos, e ele some no meio da multidão.
Ele é admirável, não posso esquecer de notar. O jeito que ele me
olha, o jeito que sorri, me causa frio na barriga.
Meu pai agradece a todos pela noite, ele não para de sorrir porque o
baile foi maravilhoso, deu tudo certo, mesmo havendo três pessoas
desnecessárias no baile real, mas deu tudo certo! Enquanto eu
caminho de volta para o meu quarto sinto um puxão de cabelo, só
pelo perfume forte já sei quem é Luanda.
— Você enlouqueceu? — Alexandre e Dominic vem até a onde
estou e tenta me acalmar.
— Só faltava ele, não é? Só faltava você querer roubar o meu
Príncipe Noah! Você é uma ladra! Uma impostora! Você me tirou do
palácio, tirou todas as minhas joias, até a minha fama! O que mais
você quer? — ela grita até que a minha avó e a Isadora aparecem
atrás dela.
— Isso mesmo, filhinha. Ela merece uns bons tapas! — Isadora vem
com a mão levantada na minha direção, mas por incrível que pareça
minha vó segura o braço dela.
Meus pais correm para saber o que estava acontecendo e chegam
bem no flagra de Luanda e Isadora.
— Vocês merecem serem expulsas do meu reino! — meu pai grita
de fúria.
— Meu querido, não é o que você pensa, deixa eu te explicar... —
Isadora chega até o meu pai, se soltando da minha avó.
Mas antes que ela conseguisse se agarrar ao meu pai ela leva uma
tapa forte no rosto da minha mãe.
— Não toque mais no meu noivo! — Acho que já deu, esse drama
familiar não é para mim.
Só não entendi a atitude da minha avó em me proteger se ela
sempre deixou claro que me odeia.
Meu avô aparece então e chama a minha avó para sair daquele
lugar, acho que ela ficou em estado de choque. Eu nunca tomei
raiva ou algo do tipo do meu avô, mesmo que ele não tenha se
metido para acabar com isso tudo, mas eu entendo, em primeiro
lugar o seu povo. Meu avô ficava reinando, e minha avó passava
seu tempo cuidando da família. Foi até ela mesma que trouxe
Isadora e Luanda para o palácio.
Respiro fundo.
— Guardas! — grito o mais alto, assustando Luanda à minha frente.
Os guardas reais seguravam a Isadora e Luanda para fora do
Palácio.
— Você irá pagar por tudo isso, princesa! — Luanda ainda faz
questão de se rebelar.
Eu nunca peguei nada dela, ainda mais esse príncipe que ela disse,
eu o conheci no baile, o máximo que sei dele é o nome e aonde ele
vive... E que ele mexeu comigo.
— Você está bem, amora? — Minha mãe tenta ajeitar o meu cabelo
e soltar todo. Meu pai percebe que a coroa está no chão e a pega,
eu nem tinha notado depois daquele puxão desnecessário.
— Eu estou bem, pessoal. Só que agora eu vou me retirar. Com
licença! — Pego a coroa da mão do meu pai e vou para o meu
quarto.
A atitude da minha avó ficou na minha cabeça, amanhã tentarei
conversar com ela, o que eu nunca fiz. Espero que amanhã seja um
dia melhor.
Ao acordar vejo que meu café da manhã de hoje foi servido no meu
quarto, depois do final do baile, nada agradável, eu merecia isso.
Alexandre e Dominic me arrumam para o dia de hoje sem dizer uma
palavra, mas aposto que as cabecinhas deles estão iguais a pipoca
estourando.
— Algum de vocês sabem onde está a minha avó? — O rosto
chocado e a boca aberta de Alexandre dizem tudo. — Então?

— Hã, da última vez eu a vi tomando chá no campo de flores, alteza


— Dominic diz e olha pela janela. — Bom, lá está ela, ainda sentada
no mesmo lugar, deve ser um tédio ficar tomando chá sozinha. —
Ele vira para mim sorrindo — O que acha?
Concordo com a cabeça.
— Pronta para o dia de hoje, como uma digna princesa deve ser! —
Alexandre ressalta dando palminhas.
— Será que a Rainha-Mãe iria gostar de me ver? — pergunto e me
olho no espelho, que vestido fantástico! E que penteado mais fofo!
— Obrigada meninos, fizeram um ótimo trabalho!
Eles me reverenciam antes de sair e eu fico com meus
pensamentos. Olho pela janela e vejo a vovó ainda sentada no
mesmo lugar, ea parece triste. Nunca a vi assim!
Meus pais saíram para eventos reais, e eu fiquei aqui no Palácio
Koch com as minhas ideias. Desço as escadas correndo, prestando
atenção que ninguém me veja. Chego ao campo de flores mais lindo
de Koch, e ela está ela, minha avó. Respiro fundo, vou até ela.
— Com licença, vó. — sento-me junto com ela a mesa, ela me olha
de relance apontando para que eu fique à vontade. Contar até cinco
e lembrar de respirar.
— Vó, é verdade toda a história entre você e meus pais? — Vou
direto ao assunto olhando fixamente para ela, que só então retribui o
olhar.
— Sim. — Fria e grossa, o que eu iria esperar vindo dela?
Desisto de ter uma conversa civilizada com ela e me retiro.
— Com licença! — Assim que empurro a cadeira para trás ela faz
um sinal de pare com a mão, obedeço. Me meti nessa encrenca
agora vamos até o final.
— Eu precisava mesmo falar com você a sós. Obrigada por vim até
a minha pessoa. — É raro eu ouvir a voz dela, agora ela agradeceu,
acho que tem algo errado. — Eu sei que foi difícil a sua vida longe
do seu pai, sem os seus avós maternos ajudando a sua mãe. Eu
não esperava pela morte deles, sinto muito. Eu errei muito nessa
vida, e errei mais com você e sua mãe como qualquer outra pessoa!
Espero que um dia ainda possa me perdoar por todas as coisas que
eu fiz. Minha relação com Isadora e Luanda teve um fim ontem, só
então eu percebi que você é importante para mim, que é a minha
única neta, a única herdeira de Koch. Eu precisei passar por tudo
isso para entender que você é a minha princesinha que sempre
sonhei. — Ela começa a chorar falando. Eu levanto rápido da
cadeira e me ajoelho perto da sua cadeira pegando a sua mão. Ela
fica surpresa com o ato, mas eu nunca tive uma avó, e eu sei que as
palavras dela tem sinceridade, seus olhos refletem isso. O seu
comportamento ontem de me proteger e até se sentir mal já é um
sinal de arrependimento. Eu só tenho ela de avó agora, e eu não
posso mais perder tempo sem falar com ela, a tendo sempre no
Palácio. Minha mãe sempre disse que precisamos perdoar mesmo
que doa em nós mesmo. Essa é a minha escolha. Espero ainda
poder viver em paz no Palácio com toda a minha família.
— Vovó...
— Como eu esperei para escutar isso de você... — Ela chorava
ainda mais e está toda vermelhinha.
— Vovó, eu te perdoo! — Não seguro o choro.
— Minha netinha. — Ela me abraça forte, meu pai a puxou, o abraço
de urso.
Vejo de relance os meus pais chegando abraçados, estão sorrindo.
Acho que minha mãe já a perdoou, nossa família está unida, enfim
felizes!
Meu avô Sheldon chega e me abraça junto com a minha avó. Ele
está todo sorridente, realmente dá para notar a felicidade no rosto
de todos aqui. Vejo uma mulher muito bonita chegando no campo de
flores, ela é como o meu pai disse: uma das mulheres mais linda
que já vi.
— Minha sobrinha preferida! — ela diz brincando e me abraça forte
juntando com meus avós, então vejo que meus pais também são
incluídos no nosso gigantesco abraço da família Koch.
Meu sonho se tornou realidade. Eu tenho uma linda família, pais
maravilhosos, carinhosos avós e uma tia encantadora! Cada um
com seu jeitinho, mas todos com amor a partilhar.
Seis meses se passam...
Cá estou eu, uma princesa amada pelo povo, uma avó que não
desgruda mais de mim, um avô babão que toca piano todas as
noites antes de eu ir dormir, uma tia que descobri que ama
cantarolar, um padrinho que sabe como é proteger, temos o Josh e
Sofia que agora são pais de uma menininha linda, que se chama
Laura e que agora sou madrinha. E sei como esse amor é lindo! E
temos o Jon, que agora segue o que ele sempre amou, cuidar de
pessoas. Ele agora tem seu novo hospital junto com o senhor Keller.
Dominic e Alexandre estão sempre juntos e discutindo que é o que
eles sabem fazer.
Mas o importante e ter cada um por perto, e ter o amor deles. Agora
estou aqui, de pé em frente à minha mãe vestida de noiva. A noiva
mais linda. O sonho dela e do meu pai se tornando realidade.
— Mãe, está pronta para entrar na igreja? — falo emocionada.
— Sim, sim! Eu estou! — ela fala nervosa, mas com toda a certeza
do seu coração.
— Você está linda, mamãe! Eu e meu pai te esperamos no altar.
Chegou a sua hora de sonhar. — Agora é a minha deixa para entrar.
Seguro o meu buquê de dama de honra com força, lembro que eu e
minha vó fizemos esses buquês ontem do nosso próprio campo de
flores, é tradição da Família Real Koch. Como Dominic e Alexandre
dizem, deslize no tapete e vá devagar.
Ver o meu pai emocionado com a entrada da minha mãe vestida de
noiva em um dos dias mais importantes para eles não tem preço. O
padre faz eles repetirem as bençãos.
— Eu, Crystal Gates Martinez, o recebo, Francisco Otto Bettencourt
Koch II Ortega de Narcizio, o Rei de Koch como meu digníssimo
esposo. Que mesmo na saúde e doença, e nas nossas alegrias e
tristezas, na riqueza ou na pobreza... Que nosso amor possa durar
anos e que o reino de Koch seja abençoado!
— Eu, Francisco Otto Bettencourt Koch II Ortega de Narcizio, a
recebo, Crystal Gates Martinez, Rainha de Koch por casamento e
como minha digníssima esposa. Que mesmo na saúde e doença, e
nas nossas alegrias e tristezas, na riqueza ou na pobreza... Que
nosso amor possa durar anos e que o reino de Koch seja
abençoado!
— Eu os declaro casados! Recebam salva de palmas do povo de
Koch, Vossas Majestades Rei e Rainha de Koch, recém-casados!
Pode beijar a noiva! — o padre declara e há tanto amor no ar que
pessoas se emocionavam.
Todos já esperavam meus pais para a festa. Agora minha mãe é
uma Rainha. Precisa ser reconhecida por seu povo, meu pai está
tão orgulhoso. Assim que eles entram pétalas brancas colhidas do
nosso campo de flores são lançadas em comemoração.
Eles valsam lindamente, com sorrisos e abraços envolvendo os
dois. Vejo o Príncipe Noah vindo na nossa direção, finjo que não o
vejo eu vou para atrás da minha tia.
— Sabe que não adiantou não é? Ele ainda está vindo para cá. E
ainda está rindo, ele é um lindo príncipe e da sua idade. Eu soube
por boatos que ele acabou se apaixonando por uma donzela em um
Baile Real...
O quê? Eu? Ah, é claro que não. Jamais algo se interessaria por
mim, ainda mais porque ele é um príncipe, eu não tenho como me
envolver com ele. E além do mais, eu nem o conheço!
— Princesa Amélia — ele me chama rindo e minha ri e sai andando
como se nada estivesse acontecido. Esperta!
— Sim, Príncipe Noah. — Dou um sorriso forçado.
— Me concederia um valsa? — Ele estende a mão se reverenciando
junto.
Eu não posso dizer não. Seria muita falta de educação da minha
parte.
— É claro! — Me reverencio a ele.
Todos nos olhavam até os meus pais na valsa dele estavam
gostando do que viam.
— Eu preciso lhe dizer uma coisa. — Primeira vez que ele não fala
com formalidades.
— Pode dizer. — Então ele chega ao meu ouvido e como um
sussurro...
— Você não sai da minha cabeça desse a nossa última valsa. Me
sinto apaixonado por você! — O quê? Como?
Me afasto dele e vou para o campo de flores. Silêncio e vazio, é o
que preciso! Como ele pode me dizer isso com tantas pessoas ao
nosso redor e se sentir confortável? Escuto passos atrás de mim e
reconheço as mãos gélidas que tampam os meus olhos.
— Sei que é você, Noah! — Viro de frente para ele, que está bem
próximo a mim.
Frio na barriga toma conta do meu corpo, fico nervosa.
— Mya. — Ele sabe meu apelido. — Eu gosto de você. Espero que
um dia possa me dar uma chance de demonstrar o meu amor. —
Ele me dá um beijo na testa e sai.
Fico parada, até perceber que o que sinto por ele pode ser maior
que uma amizade. Que o futuro podemos recriar. Corro tentando
alcançá-lo, seguro o seu braço e ele para o caminhar.
— Quem sabe? — digo sorrindo.
Ele se vira para mim e me pega no colo me pondo no alto e gira.
— Sim! Sim! Sim! — Me coloca no chão, eu o abraço forte como a
minha família me ensinou.
Me sinto segura com ele, mesmo o conhecendo há pouco tempo.
— Venha, vamos voltar. — Pego na mão dele e o direciono para o
salão principal.
Minha avó sorri, minha tia levanta a taça de longe como se
aprovasse e meu pais, nossa meus pais nos abraçaram.
O abraço aqui em casa é primordial. O amor não só em palavras,
mas também em gestos, mesmo que para alguns seja pouco, mas
para os Koch é uma forma de demonstração de amor. Um coração
junto ao outro em um abraço.
Despeço dos meus pais para a viagem de núpcias, não era o que eu
não queria, não queria ficar longe deles.
— Filha, posso entrar? — Minha mãe bate na porta do meu quarto,
eu já sei que é para se despedir.
— Claro! — Meu pai e ela entram e ficam parados de frente para
mim. — Eu sei, eu sei... Já está na hora de vocês irem. Tudo bem,
eu tenho a vovó e o vovô aqui.
— Filha, temos uma notícia que estávamos há um tempinho
guardando para te contar hoje! — Meu pai se ajoelha no pé da cama
e sorri para mim.
— Amora, venha cá, me dê sua mão! — Ela coloca a minha mão na
barriga dela e sinto um empurrão de leve, tiro a mão rápido. — O
quê? — As lágrimas já saiam sem permissão, era o meu maior
sonho.
— Filha, você sentiu seu irmãozinho? — Não aguento de emoção,
eu choro tanto nos braços do meu pai porque sempre foi um sonho
meu ter mais um irmão ou irmã, ter alguém para dividir a vida, os
sonhos, as brincadeiras. Coloco a mão novamente na barriga da
mamãe que sorri e chora junto.
— Xiu! Silêncio pessoal. — Eles me olhavam sem entender. Coloco
meu ouvido na barriga da minha mãe — Oi neném, eu sou a sua
irmã, sou a Mya. Seja bem-vindo a família, príncipe! Eu já te amo
muito!
Agora eu entendo o motivo de tantas emoções que minha mãe
vinha sentido...
— Eu já estou com quase 6 meses. Eu e seu pai queremos que
você escolha um nome para o seu irmão. Tem algum em mente?
Como não notei a barriga da minha mãe crescendo? Culpa desses
vestidos volumosos, e os seios que já estão fartos. Uau, eu tenho
um irmão!
Eu sempre sonhei com um nome desde bem pequena, só que eu
guardava para mim.
— Sim, eu sei há muitos anos! — Eles riem de mim — O nome dele
será... Ethan!
— Que nome lindo, amora! — Ela me dá um beijo na bochecha e
acaricia a barriga. — Ele amou esse nome! Não para de mexer!
— Olá, Vossa Alteza, Príncipe Ethan Sheldon Francisco Bettencourt
Koch III Ortega de Narcizio. Seja bem-vindo a família, filhão! — Meu
pai e esses nomes.
Nossa família está feliz, meu avô está animado por ter mais um
menino na família, minha avó diz que ele vai ser calmo, diferente do
pai dele. Eu fui uma bebê calma, acho que dessa vez vem um mais
elétrico, mas deixa a minha avó pensar que o Ethan será calminho.
Minha tia já até comprou a saída maternidade. Branca, tradição,
significa pureza.
Os meses foram se passando e o meu envolvimento com o príncipe
Noah já era notado pelo povo, nós íamos juntos a centro de
reabilitação, a hospitais de câncer, a orfanatos, sempre ajudando
quem precisa. Eu sei como é viver na pobreza. Minha mãe construiu
uma escola e faculdade pública. Uma faculdade com o meu nome
Amélia Kate, e uma escola com o nome do Ethan Sheldon. Espero
sempre poder ajudar o nosso povo. Sempre estar presente para
eles.
Minha mãe já se encontrava no último mês de gestação, já está tudo
preparado para a chegada do novo membro da família Koch. Ela
passa as noites em claro tomando chá com a minha avó. Minha avó
que antes não participou da minha vida quando era pequena, agora
participa da vida do Ethan, isso me deixa muito feliz e vejo o quão
sincera ela é, e amorosa.
E em uma madrugada parecida como essas, minha mãe sentiu
contrações fortes e a bolsa dela rompeu. Ela andava de um lado
para o outro para induzir o parto. Todo bebê real nasce na
residência principal Real de Koch.
Médicos, remédios, tudo o que minha mãe possa precisar, até
mesmo uma sala de cirurgia, aqui no palácio tem. Temos um mini
hospital dentro de casa. Eu fui uma das primeiras pessoas ao ouvir
o chorinho de Ethan ao nascer, estava com a minha mãe e o meu
pai na hora do parto, foi lindo e mágico.
E assim nasceu o Príncipe Ethan com 3kg e 500 gramas e com
47cm, super saudável e muito lindo! Meu pai cortou o cordão
umbilical e a enfermeira o deu para a minha mãe, é a cena mais
linda! Ainda quero viver isso.
— Filha, olha o seu irmão. Não quer pegá-lo? — A enfermeira me
dá o meu irmãozinho. — Se apresenta para ele querida. — Minha
mãe está tão emocionada, acho que até vi meu pai chorando, mas
ele tenta esconder.
— Oi Ethan, esse é seu nome. Espero que goste! Significa o forte,
assim como você ainda será um dia. Temos que ser fortes para o
nosso povo. Deixa eu te contar uma coisa, você é um príncipe em
dois sentidos. — Eu rio em pensar, eu o balanço, e ele abre aqueles
lindos olhos azuis para mim. — Eu sou sua irmã Mya, bem-vindo ao
mundo, maninho! Eu te amo!
Todos nós estávamos felizes e completos! Ethan está crescendo
com saúde e cada vez mais lindo, meus pais mais apaixonados que
antes, não param de fazer o trabalho de Reis. Eu estou sempre com
Noah, que me apoia e me faz a pessoa mais feliz do mundo! Meu
padrinho Lorenzo está noivo e minha afilhada Laura já tem um ano,
é a cara de Sofia. Josh é um pai babão e formado em arquitetura
junto com Sofia. Eles construíram uma empresa com o nome
Hollifrey, o sobrenome deles, que agora são casados. Jon agora é
um cirurgião famoso e namora uma menina linda que se chama
Jane, senhor Keller cada dia mima mais a netinha amada.
Cada um com sua vida, todos felizes, sempre unidos, sempre
festejando em família e amigos. Hoje vamos comemorar os três
meses do Ethan, algo mais íntimo, mas não menos especial.
Dominic e Alexandre como sempre me deixando mais linda, se
superando sempre. Eles fizeram um acordo de não brigar mais e
está dando certo. Quem diria.
Todos estamos juntos no campo de flores reais, decidimos fazer
uma brincadeira enquanto Ethan descansava no colo do tio Keller.
Ele ama crianças! É uma brincadeira antiga, chamada batatinha
quente. Não perderia quem ficasse com o balão mais tempo na mão
e um dos servos iriam estourar
— Ok! Vamos lá, estou pronto! — Josh virava os braços se
aquecendo todo animado.
— Vocês vão perder fácil. — Jon sempre gostava de implicar com
ele.
— Nisso eu concordo com o Jon! Você vai perder Josh! — Todos
riem. Estamos distraídos, é um dia nosso, nada de trabalho!
Começamos a brincadeira até a Sofia gritar...
— Agora!
Eu não entendi de primeira, mas o balão estava na minha mão e eu
não sou boa nessas brincadeiras deles, acabou que eu perdi, mas
eu não entendi o que estava dentro daquele balão. É uma caixinha
preta, eu olho para todos com uma cara de interrogação, acho que é
sacanagem de um deles, mas quando eu abro tem um anel.
Noah.
Quando olhei para ele, já está de joelhos na minha frente.
— Mya, aceita namorar comigo?
— É claro que sim! — Noah pega o anel e coloca no meu dedo.
— Eu te amo, Princesa!
— Eu te amo, Príncipe!
FIM

[BB1]Verbo dicendi sempre vem minúsculo, mesmo depois de exclamação e


interrogação.
[BB2]Onde ela lavou ou molhou a mão para secar?
[BB3]redundância
[BB4]recomendo deixar só uma opção, ou ela vai a pé, ou de ônibus.
[BB5]Na parte que ela mostra a foto, poderia ter algo da Amélia falando que o
Rei é o pai dela, pois até lá não sabemos que é ele, mesmo que tenhamos
desconfiança.
[BB6]Recomendo deixar apenas uma das duas frases.
[BB7]Radiologia é o curso para se tornar apto a tirar raio x, entre outras coisas.
[BB8]Recomendo uma pesquisa, pois pelos sites que eu pesquisei não se pode
fazer quimio ou rádio em pessoas que estão em coma.
[BB9]Sei que ela ficou em coma, mas não foi falado que ela perdeu a memória,
então ela já sabe que o Rei é o pai dela.
[BB10]Dele perguntar e ela passar informação, para quem estava dormindo,
quatro minutos não têm lógica. Ele mal teria se vestido para sair na neve.
[BB11]E o celular que ela ligou para o Jon????
[BB12]Essa passagem de tempo de dois dias ficou confusa. Uma hora ele tá
chegando e chamando atenção de uma coisa que ele falou assim que ela
acordou, na linha de baixo já passou tempo.
[BB13]Repetição e da duas vezes.
[BB14]Mais um apelido? Ela já tem Mya, amora... O máximo que recomendo em
livros são dois, pois pode acabar confundindo o leitor ao ler, já que tanta troca de
nomes eles julgam ser outras pessoas.
[BB15]Outro apelido, forma de falar. Seria interessante padronizar uma única
maneira do Jon falar com a Amélia.
[BB16]Suíte presidencial, não tem capacidade para três quartos, máximo que
elas têm é quartos conjugados, ou seja, dois quartos que são separados por uma
porta, é cada quarto pode ter seu banheiro (suíte), todas tem sala de estar, mas
cozinha, escritório.
Fora que ali você escreveu que tem 5 quartos com banheiros, mas na linha acima
só tem três banheiros, ou são 5 ou são 8.
[BB17]Já não é o dia do aniversário dela? Então ela já tem 18 anos.
[BB18]Segunda vez no livro que ela levanta a voz para a mãe dela.
[BB19]Se explicar? Ele já falou com ela que eles estavam juntos...
[BB20]Redundância.
[BB21]Meio desnecessário a informação que ela não gosta de pentear os
cabelos.
[BB22]O lance rolou no mesmo dia, ela não vive? Ela está em choque ainda...
Acho que poderia reformular isso.
[BB23]Amélia é o nome dela
[BB24]Do nada ela sabe que trem um padrinho chamado Lorenzo? Ele não foi
falado até agora.
[BB25]Verifique o uso do nome que você quer manter, pois tem Isadora com I e
com Y Ysadora

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