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Meyer
[...]
Já havia se passado alguns dias e eu estava cada vez mais
familiarizada com a empresa.
— Será que seus pais vão permitir que você venha à festa?
— perguntou Anny enquanto caminhávamos para nossas mesas.
— Penso que sim. A princípio eles falaram que nem pensar,
agora já estão considerando. Aposto que até sexta eu consigo os
convencer — respondi com um sorriso no rosto.
Uma coisa que tinha reparado desde o dia em que entrei na
empresa é que todas as mulheres usavam maquiagem. Eu sempre
gostei de produtos de beleza, mas nunca tive permissão para usar.
Estava pensando seriamente em pegar o dinheiro que tinha
guardado e comprar alguns produtos para usar na festa de
comemoração. Sabia que se minha mãe descobrisse eu poderia dar
adeus ao meu trabalho, mas eu faria tudo escondido, ela nunca
descobriria.
— Você vai ir comigo comprar maquiagem na hora do
almoço? — perguntei para Anny, entrando no elevador e subindo
até o décimo terceiro andar.
— Vou, mas temos que ser rápidas, não podemos nos
atrasar, fiquei sabendo que o senhor Johnson não tolera atrasos.
— Esse senhor Johnson deve ser um velho muito chato
— Concordo, nem faço questão de o conhecer — disse Anny
enquanto saiamos do elevador.
[...]
Eu estava totalmente encantada, nunca tinha visto tanta
maquiagem. Eu acompanhava vídeos de maquiadoras e blogueiras
na internet, mas ver tudo pessoalmente era diferente.
Não tinha muito dinheiro, então optei por escolher coisas
mais básicas.
— Esse batom vermelho vai ficar incrível em você — disse
Anny claramente animada.
— A cor realmente é linda. Vou levar!
Compramos base, corretivo, máscara de cíliose batom. Anny
me emprestaria o que estava faltando como blush, contorno, pó,
sombra e os pinceis.
— Antes de voltarmos ao trabalho queria que você fosse
comigo em um outro lugar. — Olhei para baixo um pouco sem jeito.
Anny parecia curiosa. — Gostaria de ir até à farmácia comprar
camisinha.
— Camisinha?
— Sim, desde o dia que descobri que teria essa festa eu
tenho uma ideia passando pela minha cabeça. Seria uma ótima
oportunidade para eu perder minha virgindade. — Fiz uma pausa
enquanto observava o movimento das pessoas à nossa volta —
Você sabe, meus pais são muito rígidos, eu queria tanto
experimentar coisas novas, me libertar, beijar. Minha única
experiência com isso foi quando eu tinha 15 anos, e mal foi um
beijo, na saída da escola, minutos antes do meu pai aparecer para
irmos para casa. — Meu olhar estava distante.
— Eu te entendo, e está tudo bem. Vou ajudar você no que
for necessário.
Apenas sorri para a garota como forma de agradecimento. Eu
estava feliz por ter Anny como amiga.
Capitulo 2
[...]
No momento em que abri os olhos a primeira coisa que veio
em minha mente foi Robert. Eu ainda estava anestesiada com a
noite anterior. Nunca criei fantasias e expectativas. Tirando o fato de
ter sido no banheiro feminino, minha primeira vez foi do jeito que
imaginei.
Eu estava ansiosa para contar tudo o que havia acontecido
para Anny, a última vez que a vi foi quando eu estava sentada
conversando com Robert.
Enquanto eu entrava na empresa e caminhava em direção ao
elevador uma ideia fixa se passava pela minha cabeça desde a
noite anterior: eu queria vê-lo de novo. Quem sabe podíamos ter
alguns encontros sexuais, nem que fosse no horário de almoço.
— Bom dia, vai subir?
Meu pensamento foi interrompido. Era uma mulher alta,
morena, muito bem vestida e bonita. Eu já havia a visto de longe,
era uma das minhas colegas de trabalho, porém, ainda não tivera
oportunidade de conhece-la
Eu estava tão distraída pensando em Robert e imaginando
futuros encontros que não percebi o elevador abrir.
— Bom dia, decimo terceiro andar por favor.
— Johnson´s Real Estate, também estou indo para lá. Acho
que já nos vimos, mas não fomos apresentadas. Sou Elizabeth.
— Alice. — Abri um sorriso amigável.
Assim que a porta do elevador abriu, percebi que um homem
estava passando. Era Robert. Fiquei um pouco surpresa, mesmo
sabendo que era seu lugar de trabalho e que provavelmente nos
encontraríamos mais cedo ou mais tarde. Ele parou seu olhar em
mim, mas não disse nada. Parecia tão surpreso quanto eu. Sabia
que deveria ser educada e cumprimenta-lo, mas antes que eu
pudesse dizer qualquer coisa ouvi a voz de Elizabeth:
— Bom dia senhor Johnson.
— Bom dia Elizabeth. Não a vi na festa ontem.
— Desculpe, fui para casa para cuidar do meu filho. Minha
mãe não pôde ficar ele, mas no mês que vem estarei aqui —
respondeu Elizabeth com um sorriso nos lábios.
Então ele tornou sua atenção para mim.
— Bom dia.
— Bom dia. — Eu não consegui dizer mais nada. Senti
minhas bochechas corarem. O Robert era mesmo o senhor
Johnson? O dono da empresa? Eu não conseguia acreditar.
Ele pareceu perceber o meu incômodo, e logo depois que o
respondi continuou seu caminho para o que parecia ser a sala de
reuniões. Elizabeth não percebeu nada.
— Esse é o senhor Johnson? O CEO? — questionei.
— Sim, Robert e seu pai Feliphe são os donos da empresa.
Pelo que eu saiba, Feliphe fundou a imobiliária há muitos anos e
agora que Robert está comandando, o pai quase não aparece por
aqui.
Aquilo era sério? Eu transei com o meu chefe sem ter a
mínima ideia de que ele era? Com que acara eu olharia para ele
depois disso?
Sentei em minha cadeira ainda chocada. Por qual motivo
Robert não me contou que era o senhor Johnson? Eu precisava
esquecer essa história, pelo menos por enquanto, precisava me
concentrar no serviço.
[...]
— Como assim você transou com o senhor Johnson? —
Anny perguntou incrédula.
— Como eu poderia imaginar que estava fazendo sexo com o
meu chefe?
— Pelo menos ele não fica muito por aqui, você não vai
encontrar com ele.
— Minha única vontade na hora foi de cavar um buraco e
entrar para dentro dele — lamentei ainda tímida.
— Mas me conte, como foi tudo? Como foi perder a
virgindade no banheiro da empresa?
— Foi exatamente como imaginei. Robert é maravilhoso. No
começo doeu um pouco, mas depois fui acostumando. Tínhamos
até comentado de repetir a dose, mas agora que sei quem é ele,
prefiro ficar distante.
— Entendo você, também estaria morrendo de vergonha.
Agora eu deveria tirar da minha cabeça a ideia de ter novos
encontros sexuais com Robert, iria apenas cumprimenta-lo
formalmente caso o encontrasse. Eu queria o mínimo possível de
contato.
Pelo menos eu havia conseguido o que queria: tinha perdido
a minha virgindade, e estava feliz com isso.
Capitulo 3
[...]
— Que lugar lindo! — exclamou Anny assim que entramos
no restaurante.
— Incrível. Amei essa decoração medieval — falei enquanto
escolhíamos uma mesa.
As paredes pareciam de pedra, a iluminação era um pouco
escura, com luzes individuais em cada mesa.
— Estou na dúvida do que pedir — disse a garota passando
os olhos pelo cardápio.
— Eu quero hambúrguer de frago com suco natural de uva.
— Eu estava faminta.
Nossos pedidos chegaram sem demora. O meu hamburguer
estava maravilhoso, era exatamente isso que eu estava com
vontade de comer. O suco de uva natural deu o toque especial.
— E o senhor Johnson? Não saíram mais para almoçar? —
Anny bebericou um gole do seu refrigerante.
— Não. Ele passa por mim algumas vezes nos corredores,
mas ainda não tivemos uma nova oportunidade.
O almoço foi ótimo, realizei meu desejo de comer
hamburguer de frango e ainda sobrou um tempinho para
conversamos.
[...]
Eu estava concentrada no meu trabalho quando comecei a
sentir um enjoo. Pensei que o lanche do almoço não havia me caído
bem. Por uns instantes tive que parar e respirar, fui até o banheiro e
lavei o rosto. A sensação era muito desagradável, parecia que eu
iria vomitar a qualquer momento. Tudo me estava muito estranho,
pois eu não era acostumada a ter enjoos. Respirar fundo e fechar os
olhos fazia com que eu me sentisse um pouco melhor. Depois de
alguns minutos no banheiro, me senti confortável para voltar para
minha mesa.
— Alice, Você está bem? Parece pálida! — Questionou Harry,
meu colega de trabalho.
— Está tudo bem, só tive um enjoo. Eu comi lanche hoje e
deve ter sido isso, não estou acostumada a comer essas coisas —
falei enquanto sentava de volta em minha cadeira.
— Você não parece bem. Deveria falar com o senhor
Johnson e ir para casa — Harry pareceu preocupado.
— Não vou incomodar o senhor Johnson, e eu já estou me
sentindo melhor. Se o enjoo voltar, eu vou para casa. — Menti para
Harry, pois apesar do pior ter passado, eu ainda sentia uma leve
tontura.
Terminar o dia de trabalho foi torturante. Apesar do enjoo não
voltar tão forte quanto da primeira vez, eu ainda não me sentia bem.
Tentei disfarçar ao máximo para ninguém reparar.
Pela primeira vez fiquei triste por precisar pegar o ônibus,
uma carona do meu pai era tudo o que eu queria naquele momento.
Assim que cheguei em casa fui direto para o meu quarto, só
queria me jogar na cama e dormir. Eu estava cansada, enjoada,
tonta e sonolenta, e não sabia o motivo disso. Será que um
hambúrguer poderia ter causado tudo isso? Ele estava super
saboroso, e se fosse o lanche Anny também teria passado mal, e
ela parecia bem. Resolvi mandar uma mensagem:
“Oi. O lanche de hoje me fez mal, estou enjoada até agora.
Aconteceu com você também?”
Esperei alguns minutos por sua resposta.
“Não, comigo não aconteceu nada. Eu amei o hamburguer,
inclusive já ia convidar você para irmos lá novamente semana que
vem.”
Uma batida na porta tirou a minha atenção da mensagem.
— Alice, você já tomou banho? O jantar está pronto.
— Já estou indo.
Eu não queria comer, estava completamente enjoada e tenho
certeza que se tentasse comer vomitaria na hora. Fui até a cozinha
para falar com meus pais.
— Mãe, não vou jantar hoje, estou sem fome.
— Como assim sem fome? Você está comendo porcarias na
rua? — questionou minha mãe aumentando seu tom de voz.
Eu sabia que ela não gostaria da resposta.
— Comi um hamburguer no almoço, mas não foi nada
demais.
— Como assim não foi nada demais? — Interrompeu meu
pai. — Você sabe que é proibida de comer na rua. Eu sabia que
essa história de deixar você trabalhar não iria dar certo. Seu lugar é
em casa, do lado de sua mãe, ajudando nas tarefas domesticas.
Eu não sabia o que dizer, não queria perder o meu emprego,
era a primeira vez que eu estava tendo um pouco de liberdade.
Então disse a única coisa que poderia falar, tentando deixar eles um
pouco mais calmos:
— Me desculpe pai, não farei mais.
— Vamos pensar no que fazer, pode tomar o seu banho e ir
para seu quarto.
Minha mãe parecia mais calma, acho que dessa vez meu
emprego estava salvo.
[...]
— Bom dia. Está melhor? — questionou Harry assim que viu.
— Estou bem, eu disse que não precisava se preocupar —
respondi com um leve sorriso.
Eu não estava mentindo, realmente me sentia bem melhor
hoje, mas ainda não estava normal. O enjoo ainda incomodava. Não
havia conseguido terminar meu café da manhã, pois assim que
começava a comer o enjoo voltava. Antes de começar a trabalhar,
resolvi ir até o refeitório para tomar um chá, quem sabe ajudaria.
Ainda tinha uns minutos até o meu horário começar.
Sentei em umas das mesas do lugar e bebi um gole de chá.
Nada de enjoo. Eu estava certa, o chá realmente foi uma boa ideia,
me sentia bem. Assim quer terminei segui para a sala de volta ao
trabalho, porém, quando estava quase chegando, uma tortura
repentina me invadiu. Tudo começou a girar, como se eu não
conseguisse me equilibrar em pé. Acho que perdi a consciência por
alguns segundos. Quando dei por mim, Harry e James estavam em
minha volta tentando ajudar. Anny viu a movimentação e correu em
minha direção.
— O que aconteceu? — perguntou a garota preocupada.
— Ela quase desmaiou. Não está bem desde ontem, devia
ter ficando em casa. — respondeu Harry
— Já estou melhor, foi só uma tontura. Deve ter sido o calor.
— Ela precisa descansar. Vou ajudá-la a ir para casa — falou
Any.
— Tudo bem. Vou avisar o ocorrido para o senhor Johnson —
disse James se afastando.
— Tem certeza? Não seria melhor leva-la para o hospital? —
pergunto Harry preocupado.
— Não é necessário. Já estou me sentindo melhor. Vou para
a casa e tenho certeza de que amanhã já estarei bem.
Anny e eu pegamos o elevador. O movimento não ajudava
em nada, só aumentava o enjoo.
— Eu posso te acompanhar até em casa se preferir.
— Não precisa, vou chamar um Uber, assim que chegar em
casa, envio uma mensagem avisando.
A garota concordou, ficou ao meu lado até o carro chegar.
[...]
Passei o dia todo na cama. Não conseguia comer nada, só o
cheiro da comida enjoava meu estômago. Eu já estava preocupada.
Harry tinha razão, eu deveria ir ao médico. Nunca tive o costume de
ficar doente, nem quando criança. Poderia ser algo sério, e eu
precisava averiguar.
[...]
No dia seguinte acordei muito disposta. Os enjoos haviam
sumido.
— Alice, o que faz em pé a essa hora? — perguntou meu pai
franzindo o cenho.
— Vou trabalhar, o enjoo passou e estou me sentindo bem.
Nem vou precisar ir ao médico. Foi só uma indisposição.
Sentei na mesa para tomar o meu café da manhã. Eu estava
faminta, não havia comido praticamente nada no dia anterior.
— Tem certeza que está bem para ir trabalhar? — questionou
minha mãe.
— Sim, aposto que foi só uma reação ao lanche, junto com
cansaço. Esse um dia em casa foi o suficiente para descansar.
Tomei uma xícara de café preto, e para acompanhar uma
torrada com geleia. O enjoo e as tonturas haviam passado. Eu
estava pronta para voltar a minha rotina.
Durante a manhã eu não senti nada de anormal. Havia até
esquecido das sensações horríveis que passei no dia anterior.
— Você parece bem melhor hoje — comentou Anny enquanto
seguíamos para o refeitório para o intervalo do almoço.
Eu realmente achei que estava curada. Seja do que fosse,
estava ótima, mas isso mudou no momento em que entramos no
refeitório e senti cheiro de comida. Uma ânsia de vômito quase
incontrolável seguida de uma tontura. Precisei me escorar na
parede que estava ao meu lado.
— Alice! O que aconteceu? Você está bem?
— Acho que vou vomitar.
— Calma, vamos até o banheiro.
Escorei-me em Anny e fomos até o banheiro, eu mal
conseguia caminhar.
— Obrigada. — Forcei um sorriso enquanto lavava meu rosto
na pia do banheiro. — Me sinto um pouco melhor.
— Alice, esses enjoos então muito estranhos, você precisa ir
ao médico. Se quiser eu vou com você.
— É só um enjoo, já vai passar.
— Você disse isso ontem e veja só como você está! — Anny
parecia preocupada. — Eu estive pensando, enjoos são sinais
clássicos de gravidez.
— Sem chances! Fiz sexo apenas uma vez, e ainda assim,
usamos camisinha.
— Você sabe que nenhum método é 100% seguro não sabe?
[...]
— Tudo bem. Vou estar aqui com você — Anny estava
tentando me acalmar.
— E agora?
— Vai dar tudo certo. Vou ficar do seu lado. — disse Anny
forçando um sorriso enquanto sentávamos em uma mesa.
[...]
Senti que fiquei muito mais leve depois de ter contato tudo
para meus pais. Voltei a ter concentração no trabalho e estava me
sentindo muito bem, apesar dos enjoos.
— Não acredito que seu pai mandou você tirar o bebê —
Anny estava chocada.
— Eu tinha quase certeza de que ele iria falar isso. Tenho
esperança de que ele mude de ideia. Quem sabe foi no calor do
momento.
— E sua mãe?
— Ela vai pelo meu pai. O que ele falar ela só concorda.
Disse que se casasse com o Robert meu pai aceitaria.
— Falando nisso, quando vai contra para ele?
— Ainda não sei se vou contar. Primeiro quero resolver a
situação com meu pai, depois decido o que fazer.
Conforme o dia foi passando, meu nervosismo foi
aumentando. Será que meu pai estava mais calmo? Nós ainda
tínhamos muito que conversar. Eu precisava fazer ele aceitar. No
intervalo da tarde resolvi enviar uma mensagem para minha mãe,
queria saber se situação estava melhor, porém, a resposta não foi
nada animadora:
“Seu pai ainda está nervoso. Falei com ele no almoço e ele
está irredutível sobre a ideia de tirar o bebê”
Não consegui disfarçar meu desânimo. Pensei que algumas
horas fossem o suficiente pra ele ficar mais calmo. Quem sabe ele
não estaria precisando de mais tempo. Pensei em pegar meu
dinheiro e passar a noite em um quarto de hotel. Eu não havia
gastado nada desde que recebi meu primeiro pagamento, a não ser
com alguns carros de aplicativo. Estava juntando tudo para tentar
realizar o sonho de ter o meu salão de beleza. Perguntei para Anny
o que ela achava da ideia, e ela concordou. A garota sugeriu que eu
passasse a noite em sua casa, mas eu recusei. Queria ficar sozinha.
[...]
O quarto de hotel era simples, porém, aconchegante. Não
poderia gastar muito dinheiro, principalmente se não tivesse ajuda
financeira dos meus pais para criar meu filho.
Tomei um banho quente e demorado, em seguida joguei-me
na cama. Tudo que eu queria fazer era relaxar e dormir, mas um
pensamento insistia em vir à minha mente: contar ou não para
Robert?
[...]
— Como foi a noite no hotel? — perguntou Anny enquanto
íamos em direção à nossas mesas.
— Foi boa. Amei passar a noite sozinha. Eu estava
precisando disso. Porém, não consegui dormir quase nada. Fiquei
rolando de um lado para o outro na cama.
Eu estava ansiosa para conversar com meus pais, tinha
quase certeza que eles haviam pensado melhor, e que iriam aceitar
minha gravidez.
O tempo não passava, o dia estava arrastado, e minha
ansiedade só aumentava. Assim que terminei meu trabalho corri
para o ponto de ônibus, queria chegar em casa o quanto antes.
No momento em que abri a porta de casa, uma surpresa:
meu pai estava em lá. Isso não era comum, pois meu pai chegava
do trabalho um pouco depois de mim. Os dois estavam sentados na
sala de estar, aparentemente calmos. Assim que os vi meu coração
disparou. Eu estava esperando o melhor, mas vê-los ali, aguardando
a minha chegada, foi assustador.
— Alice, estávamos esperando você — disse meu pai.
Caminhei lentamente em direção à poltrona que ficava ao
lado do sofá. Minhas mãos estavam começando a suar.
— Nós decidimos que você não terá essa criança. Vim mais
cedo para casa para conversar com sua mãe. Já separei algumas
clínicas, vou marcar um horário e você vai tirar isso.
— Não vou, eu já disse. — Sentia o nó se formar em minha
garganta.
— Alice, escute seu pai. É o melhor para todos. Se ao menos
você casasse com o pai do seu filho, não passaríamos pela
humilhação de ter uma filha mãe solteira. — Minha mãe estava
visivelmente abatida. Ainda assim, ela concordava com tudo que
meu pai falava.
— Pai, eu já decidi. Não me importo em ser mãe solteira. Vou
continuar meu trabalho na imobiliária, vou sustentar a mim e ao meu
filho. Posso deixá-lo em uma escola em tempo integral enquanto
estou trabalhando. Vocês não terão preocupações. Eu só preciso
que fiquem ao meu lado. Desviei meu olhar para o chão, encarando
o tapete da sala.
— A questão não é o dinheiro, e sim ter um filho sem pai.
Você vai tirar esse bebê agora ou sair dessa casa, a escolha é sua.
— George! Não podemos coloca-la na rua, ela está grávida.
— É a minha decisão. Não vou aceitar isso.
As lágrimas caíram,meu corpo inteiro estrava trêmulo, minha
respiração estava ofegante, como se faltasse ar para respirar. Não
poderia acreditar no que estava ouvindo. Meus pais iriam mesmo
me expulsar da casa?
— Talvez tenha outra saída — disse minha mãe quase caindo
no choro.
— A escolha é dela.
Eu nunca tinha sentindo tanta raiva como estava sentindo
naquele momento. Meu rosto estava fervendo. Eu sempre respeitei
meus pais acima de tudo. E agora que eu precisava de apoio, eles
me abandonaram. Peguei minha bolsa e saíem disparada para rua.
Eu precisava respirar. Senti que minha garganta fechou, meu peito
estava apertado. Faltava o ar. Enquanto passava pela porta ouvi a
voz de minha mãe chamar meu nome. Apenas segui em frente, sem
olhar para trás.
Cheguei na calçada e desabei, não importava quem
estivesse passando na rua, tudo que eu queria fazer era chorar.
Capitulo 6
[...]
Acordei com o despertador do celular tocando. Essa com
certeza foi e melhor noite de sono que tive nas últimas semanas. Já
estava na hora de ir para o trabalho. Porém, quando peguei o
celular vi que tinha várias ligações não atendidas da minha mãe. Ela
ligou ontem à noite, eu já estava dormindo, deixei o celular no
silencioso para ninguém atrapalhar meu sono. Decidi ligar de volta.
— Alô, mãe. Está tudo bem?
— Alice! O que você está fazendo? Perdeu o juízo
completamente? — Sua voz estava alterada.
— Mãe, do que você está falando?
— Da postagem. Apague isso imediatamente. Quer nos
envergonhar ainda mais? Todos já estão perguntando. Vamos virar
motivo de fofoca na igreja.
— Então é só com isso que vocês se importam? Com o que
os outros pensam? Senti que minhas bochechas estavam ficando
vermelhas.
— Seu pai está quase em crises. Exclua agora!
— Eu não vou apagar. Vocês me expulsaram de casa,
lembra? Viraram as costas quando eu mais precisei. Agora eu tomo
as minhas próprias decisões. Eu preciso desligar, não posso atrasar
para o trabalho.
Não esperei sua resposta, apenas desliguei o celular. Eu não
acreditava que minha mãe tinha tamanha cara de pau.
Tomei um banho rápido e fiz uma maquiagem leve.
Assim que cheguei na empresa avistei Anny.
— Então? Me conta tudo! — A garota estava empolgada.
— Foi exatamente como te contei por mensagem. Vamos
fazer o teste de DNA.
— Quero todos os detalhes.
— No horário do almoço te conto os detalhes.
Tentei tirar qualquer pensando da cabeça e concentrar
totalmente no trabalho. Mesmo com a ajuda financeira que eu teria
de Robert, eu queria fazer o meu trabalho da melhor forma possível.
No almoço resumi todo o dia anterior para Anny.
A tarde passou rápida, exatamente como costumava passar
antes.
Não vi Robert pelos corredores e também não o procurei,
sabia que ele daria um jeito de avisar quando marcasse o teste de
DNA.
O dia havia sido muito cansativo. Tudo que eu queria fazer
era voltar para o quarto, descansar e comer. Não parava de pensar
no croissant salgado que comi no dia anterior. O hotel Leeds ficava
perto da imobiliária e a padaria no caminho. Resolvi voltar
caminhando.
Comprei 2 croissants e levei para comer no quarto, um de
chocolate e um salgado de presunto e queijo. Enquanto comia uma
ideia ficava martelando em minha mente: o parto. Desde criança eu
sempre tive o sonho de ser mãe, mas o parto era uma coisa que
sempre tive medo. Principalmente depois que Kelly, uma amiga de
meus pais, faleceu dando à luz. Na época eu era criança, e fiquei
muito impressionada. Pesquisei sobre mortalidade materna, fiquei
chocada com os números. Cerca de 830 mulheres morrem todos os
dias, relacionadas a problemas com a gravidez ou parto. O que me
acalmou é que 90% dessas mortes poderiam ter sido evitadas com
tratamento adequado.
[...]
Cheguei na empresa comendo um folheado de maçã que
havia comprado na padaria no caminho. Eu estava com uma fome
incontrolável nesses últimos dias, e agora que recebi meu
pagamento, estava passando na padaria todos os dias. Assim que
saí do elevador, segui caminhando em direção à minha mesa,
Bianca a secretária de Robert veio até mim.
— Alice, o senhor Johnson quer falar com você. Pediu para ir
até à sua sala imediatamente.
— Tudo bem, vou agora mesmo.
Fiquei animada. Provavelmente ele tinha marcado o exame
de DNA.
Caminhei com Bianca até o escritório, ela fez sinal para que
eu entrasse.
— Bom dia — falei assim que entrei.
— Bom dia. Tudo bem com você e com o bebê? — Robert
fez sinal para que eu sentasse.
— Tudo bem. Estou com muita fome e alguns enjoos, mas já
estou acostumando. — Fiz uma pequena pausa enquanto sentava.
— Quero agradecer por ter acertado a conta do hotel. Obrigada.
Ele apenas sorriu como reposta.
— Quero falar sobre o teste de DNA, marquei para amanhã
pela manhã.
— Tudo bem, vou estar pronta. Eu estava pesquisando sobre
gravidez, e quero começar o meu acompanhamento o quanto antes.
Precisamos saber se está realmente tudo bem com o bebê.
Robert ficou calado. Parecia estar refletindo.
— Tem razão. Vou tentar marcar uma consulta para amanhã
mesmo. Passe o número do seu telefone. Eu aviso você.
Anotei meu número em um dos blocos de anotações que
estava em sua mesa.
— Eu pego você amanhã às 8h em frente ao hotel.
— Tudo bem. Vou estar esperando.
Falei um até logo e saí de sua sala em direção à minha
mesa. Robert não demostrava muita reação, eu não sabia o que
passava em sua mente. Será que ele ainda achava que o filho não
era dele? Será que estava feliz em saber que seria pai? Ele era um
mistério para mim.
Capitulo 7
[...]
No sábado tudo que eu queria fazer era descansar. A
semana havia sido muito emocionante. Iria aproveitar minha folga
para dormir e relaxar. Enquanto tomava o café da manhã, pensei em
minha mãe. Eu estava arrependida de ter desligado o telefone em
sua cara. O Natal estava se aproximando, e não queria passar essa
data tão importante brigada com ela. Resolvi enviar uma
mensagem. Perguntei como ela estava e disse que gostaria de
conversar pessoalmente. Queria compartilhar as novidades sobre o
bebê, falar que ouvi o seu coração. Queria que ela fizesse parte da
minha vida novamente, porém, deixaria bem claro, que agora tomo
minhas próprias decisões.
Ela respondeu. Combinamos de nos encontramos em um
café, não muito longe daqui.
Eu estava ansiosa para vê-la. Desde que saí de casa,
conversamos pouquíssimas vezes. Quem sabe não poderíamos
passar o Natal juntas? Ela poderia vir até o hotel, já que eu não
tinha a intenção de pôr os pés em minha antiga casa.
Escolhi uma roupa leve, hoje não estava tão frio quanto nos
últimos dias. Resolvi ir caminhando até o café, demoraria alguns
minutos, porém, eu queria pegar um pouco de sol, estava sentindo
falta depois de tantos dias chuvosos e nublados. Assim que entrei
no café a vi sentada em uma mesa. Fiquei esperando ela vir me
cumprimentar com um beijo ou abraço, mas ela não fez.
— Mãe, como está? — perguntei enquanto sentava na
cadeira à sua frente.
— Estou bem. Fiquei surpresa com sua mensagem.
— Eu queria conversar. O Natal está chegando, não é hora
para brigas, e sim de recomeçar.
Ela não disse nada, apenas esticou o braço sobre a mesa e
acariciou minha mão. Eu podia sentir a tristeza em seu olhar.
— Vou pedir um capuccino e alguns cookies. Nesses últimos
dias estou com uma fome incontrolável. A senhora vai querer o que?
— Pode ser o mesmo que você.
Os cookies estavam com uma cara ótima. Começamos a
comer logo. Eu contei sobre meu emprego na imobiliária, falei que
estava indo bem, que estava cada vez mais amiga de Anny. Falei
sobre o bebê e de como escutamos seu coração, que Robert estava
presente, e que estava me dando todo o apoio possível. Minha mãe
continuava calada, mal falava e muitas vezes desviava o olhar para
o chão. Eu sabia que tinha algo errado.
— Mãe, o que está acontecendo? Qual o problema?
Ela pensou por alguns segundos antes de responder.
— Seu pai. Ele não aceita de jeito nenhum. Estou proibida de
conversar com você. Ele não pode saber que estou aqui.
— Como assim proibida? — questionei.
— Ele disse que não tem mais filha. Não quer ouvir mais falar
de você. — Ela fez uma pausa, pude sentir que sua voz estava
começando a falhar. — Há alguns dias atrás pensei em ligar para
você, para saber como estava. Ele segurou meu braço e disse que
se falasse seu nome novamente eu apanharia. Só agora o
hematoma do meu braço sumiu.
— Mãe, isso é um absurdo! A senhora precisa denunciar, isso
é agressão.
— Não se preocupe. Ele não me bateu, só segurou meu
braço. Estou bem.
— Vamos agora até uma delegacia. Eu vou com você.
— Não — disse ela alterando seu tom de voz. Eu sei como
lidar com seu pai, não se meta nisso. Aliás, preciso ir, logo ele
chegará do serviço.
Conversamos por tão pouco tempo. Ainda tinha coisas que
eu gostaria de contar e não consegui. Queria falar que estive na
casa dos Browns, queria falar sobre parto, enjoos e gravidez, quem
sabe pedir alguma dica. Mas nada disso foi possível. Ela apenas
levantou e se foi. Nem consegui perguntar se passaríamos o Natal
juntas.
Pedi mais alguns cookies para levar e comer mais tarde.
Sentei na parte externa do café. O céu estava em um tom rosado.
Lembro de quando era criança, adorava deitar no quintal e ficar
olhando para o “céu rosa”.
Enquanto observava ao entardecer, pensei em minha mãe.
Ela precisava ter forças para sair desse relacionamento abusivo.
Meu pai estava ficando cada vez pior.
Eu lembro que sempre achei minha mãe muito rígida, mas
pensando bem, ela não era assim. Ele sempre a manipulou, com o
passar do tempo ela foi perdendo sua personalidade, ficou igual ao
meu pai. Ela era tão vítima quanto eu.
Decidi que quando chegasse no hotel eu enviaria uma
mensagem a convidando para passarmos o Natal juntas. Poderia
comprar alguma coisa e comer no quarto de hotel, quem sabe ir a
um restaurante, ou até ir passar com os Browns, tenho certeza que
que eles aceitariam nossa companhia.
Fiquei ali, esperando o anoitecer. Achava a noite muito
fascinante.
Quando cheguei no hotel, decidi que enviaria a mensagem na
segunda-feira. Meu pai provavelmente já estava em casa, tinha uma
pequena chance de ele ver o celular dela. Passei o resto da noite no
quarto, descansando.
[...]
O domingo havia sido muito agradável. Fui na igreja com os
Browns. Depois fui para a casa deles. De certa forma eu sentia
como se fizesse parte da família. Miranda contou que estava
conhecendo um garoto, teve alguns encontros com ele. Ao contrário
dos meus pais, os seus a apoiavam. Luke falou sobre sua faculdade
e seus planos para o futuro. Resumiu rapidamente que teve uma
decepção amorosa há alguns meses. Não pretendia namorar tão
cedo, apenas focar em sua faculdade.
Lucy me deu algumas dicas para diminuir os enjoos, apesar
de eles estarem bem melhores, ainda incomodavam. Ela também
contou com detalhes como foram os seus dois partos. A mulher era
a favor do parto natural.
— Não gosto de cesariana, acho muito agressivo — disse a
mais velha.
— Estou um pouco confusa. Sempre tive muito medo do
parto normal, mas pesquisando agora, a recuperação é bem mais
rápida.
— Você ainda tem alguns meses para pensar nisso. O
importante é manter a calma. Tudo ficará bem.
Sorri e concordei. Fiquei feliz por ter Lucy por perto.
[...]
Pedi um carro de aplicativo para ir até à clínica, iria levar o
resultado dos exames para a doutora.
Toda vez que eu caminhava pela rua sozinha eu me sentia
livre. Gostava da sensação de poder controlar minha própria vida.
Ficava feliz com coisas simples, como parar e tomar um café sem
me preocupar com horários.
A clínica estava quase vazia. Fui atendida sem demora.
— Seus exames estão ótimos. Você e o bebê estão bem e
saudáveis.
Respirei aliviada.
A doutora receitou um suplemento alimentar. Explicou que
algumas vitaminas estavam quase abaixo do esperado, mas nada
com o que eu devesse me preocupar. O indicado era tomar apenas
uma cápsula por semana.
Saí do consultório radiante. A primeira coisa que veio a minha
mente era enviar uma mensagem para Robert.
Contei sobre a consulta. Disse que eu e o bebê estávamos
bem. Ele respondeu rápido, disse que estava feliz em saber disso e
que provavelmente amanhã estaria de volta.
Cheguei na empresa e fui direto para o refeitório. Já estava
no horário do almoço. Avistei Anny comendo sozinha em uma
mesa.
Cheguei animada contando as novidades para a garota.
— Agora só falta uma coisa para completar minha felicidade
— falei enquanto tomava um gole chá.
— O que? — questionou Anny
— Fazer as pazes com minha mãe. Vou enviar uma
mensagem para ela, convidar para vir passar o natal comigo.
— Se quiser pode passar o natal comigo e minha mãe.
Desde que meus pais se separaram, passamos só nós duas.
Fiquei emocionada com o seu convite. Nunca havíamos nos
visto fora da imobiliária. Apesar da garota ser muito simpática, ela
era tímida e solitária. Não a via conversar com muitas pessoas,
passava a maior parte do tempo sozinha ou comigo. Pensei que
seria uma boa ideia sairmos juntas.
Eu também não tinha amigas, a não ser Miranda. Eu pensaria
nisso mais tarde. Agora meu foco era tentar conversar com minha
mãe.
Capitulo 9
[...]
Acordei e fui direto tomar café da manhã, eu estava faminta.
O restaurante do hotel estava quase vazio. Enquanto comia recebi
uma mensagem de Robert:
“Feliz Natal.”
Respondi na mesma hora:
“Feliz natal para você também.”
“Sua mãe já está aí com você?”
“Ainda não. Ela virá mais tarde.”
“Tudo bem. Espero que se entendam.”
Eu não sabia ao certo o horário que ela viria, só sabia que
seria no período da tarde. Fiquei pensando onde iríamos jantar,
poderia ser aqui mesmo no hotel, ou até sair para algum
restaurante, ainda havia sobrando um pouco de dinheiro, eu
conseguiria pagar um jantar.
Aproveitei para enviar mensagens para Anny e Miranda.
Desejando um feliz natal.
O tempo passou lentamente, talvez por conta da minha
ansiedade. Usei esse tempo para pesquisar na internet sobre
nomes de bebês. Eu não via a hora de saber se era menino ou
menina. Será que Robert iria querer ajudar na escolha de nomes?
Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.
— Alice.
— Oi, mãe. Entre.
Dei espaço para que ela entrasse.
— Passei na confeitaria e trouxe esses cookies de natal.
— Obrigada — respondi enquanto abria a embalagem.
— Então, como você está? E o bebê?
— Estamos bem, só tomando algumas vitaminas receitadas
pela doutora. O bebê está ótimo — falei enquanto dava uma boa
mordida em um dos cookies.
— Que bom. E o pai da criança? Continua presente?
— Sim, estamos nos dando muito bem. Ele está
acompanhando cada fase da minha gravidez.
Contei que fui até a casa de Miranda e que fomos na igreja
juntas. Também falei um pouco dos acontecimentos com Robert,
menos a noite de sexo, é claro.
— Comprei uma coisa para você — falei empolgada lhe
entregando o presente.
Ela pareceu surpresa. Não esperava que eu fosse comprar
alguma coisa.
— Um relógio! É lindo. Obrigada
— É para a senhora pendurar na cozinha. — De repente ela
ficou seria. — Algum problema mãe?
— Alice, eu gostei muito do relógio, ele é realmente lindo —
ela fez uma pequena pausa enquanto desviava o olhar para a janela
—, mas não posso leva-lo para a casa. Seu pai nem sonha que
estou aqui. Eu disse que passaria na casa da Inês apenas para dar
feliz natal. Não posso demorar.
— Então não vamos jantar juntas?
— Não.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Eu estava
ansiosa por dias, achando que passaríamos o Natal juntas, e agora
nem o presente ela iria levar.
— Eu sinto muito, Alice. Mas não posso ir contra o seu pai.
A mulher levantou e saiu do quarto rapidamente, largando o
relógio em cima cama. Eu não respondi, fiquei apenas parada
olhando ela ir.
Senti que as lágrimas se aproximavam, mas eu não as
deixaria caírem. Eu não iria mais chorar por ela, não iria mais atrás,
não tentaria uma relação que sei que não existiria.
Empurrei a poltrona até perto da janela, queria observar a
rua. Estava quase deserta, muito diferente do que era nos dias de
semana. Fiquei imaginando como estaria Anny e sua mãe, ou
Miranda e sua família. Com certeza estavam juntos preparando o
jantar de natal. Senti que eu era a única pessoa a passar aquela
noite sozinha, sem família.
Levei a mão até minha barriga.
— No próximo Natal você estará em meus braços — falei em
um quase sussurro.
Eu sabia que ele conseguia me ouvir. Ainda estava na janela
observando a noite cair quando meu celular tocou. Era uma
mensagem de Robert:
“Tudo bem por aí? Conseguiu conversar com sua mãe?”
“Não. Mal conversamos. Ela ficou aqui muito pouco tempo e
logo foi embora. Veio escondido do meu pai.”
Robert demorou alguns minutos para responder.
“Você está sozinha na noite de Natal? Venha para cá. Estou
na casa dos meus pais.”
“Está tudo bem. Não quero incomodar.”
“Minha mãe insiste que você venha. Estou indo buscar você.”
Apenas concordei. Achei que passar um tempo com Robert e
sua família seria divertido. Melhor do que ficar no hotel sozinha eu
tinha certeza de que seria.
O homem chegou sem muita demora.
— Está tudo bem? Parece um pouco abatida.
— Estou bem. — Foi tudo que consegui dizer.
— Quer falar sobre o que aconteceu?
— Não. Quero apenas esquecer.
— Está bem.
Robert percebeu que eu não estava querendo conversar.
Seguimos em silêncio.
A viagem foi rápida. Assim que paramos o carro não pude
deixar de reparar no enorme jardim.
— Quantas flores.
— Minha mãe gosta de jardinagem. Ela mesma cuida do
jardim. É um hobby. Ela tem amor pelas flores.
As plantas estavam impecáveis.
— Ela faz um ótimo trabalho.
No momento em que entrei na casa, fiquei impressionada. O
lugar era enorme. Nunca tinha estado em uma casa tão grande e
tão luxuosa.
— Acho que meu pai está na sala e minha mãe na cozinha,
terminando de preparar a sobremesa.
Percebi um homem de cabelos grisalhos sentando no enorme
sofá da sala.
— Pai. Essa é a Alice.
— Muito prazer em conhece-lo senhor Johnson.
— O prazer é meu, mas pode me chamar de Feliphe.
O homem parecia um pouco frio. Talvez pela história que
Robert havia contado sobre o seu irmão eu já tenha feito uma ideia
errada dele.
— Venha. Vamos até a cozinha.
— O cheiro está ótimo — disse Robert entrando no cômodo.
— Mãe, Alice está aqui.
— Finalmente estamos nos conhecendo. Robert tem falado
muito de você e do bebê. — disse a mais velha me chamando para
um abraço.
— Fico feliz um conhece-la senhora Johnson.
— Me chame de Helena.
A mulher era extremamente gentil.
Seguimos para a sala de jantar. A mesa estava repleta de
variados tipos de comida e doces. Imaginei o trabalho que deve ter
dado para fazer isso tudo. Apesar do pai ser um pouco mais calado,
os dois eram muito simpáticos.
— Vocês têm alguma ideia de nomes para o bebê? —
perguntou Helena.
— Ainda não falamos sobre isso. Para menina eu gosto muito
de Sophie. Era o nome da minha bisavó.
— Eu acho um lindo nome — comentou Robert.
O jantar foi muito agradável. Senti como se estivessem em
casa, na verdade, melhor, pois nunca me senti totalmente
confortável na casa dos meus pais.
— A comida estava maravilhosa senhora Johnson. Acho que
já preciso voltar para o hotel — falei.
— Mas está tão tarde. Fique para passar a noite. Temos um
quarto de hóspedes.
Eles foram tão amorosos comigo, fiquei sem jeito de recusar
o seu convite. Olhei para Robert para ver o que ele achava da ideia.
Ele percebeu, e logo respondeu.
— Fique — disse ele com um leve sorriso.
— Tudo bem. Se não for incomodo, eu fico.
Terminamos o jantar e eu ajudei a levar a louça até a cozinha,
mesmo Helena dizendo que não precisava.
— Ajude Alice no quarto de hóspedes. As cobertas estão no
armário.
— Claro. Quero aproveitar e falar com você. Tenho uma
surpresa.
Dei boa noite para os pais de Robert, agradecendo a
hospitalidade e segui para o quarto de hóspedes.
O quarto não era diferente do resto da casa. Era enorme e
muito bem decorado.
— Tenho um presente de Natal para você — disse Robert
tirando um pequeno pacote do bolso.
Fiquei totalmente sem jeito. Eu não havia comprado nada
para ele. Não esperava que fosse comprar para mim.
— Obrigada, mas não tenho nada pra você.
— Tudo bem. Abra
A caixinha estava embrulhada em um papel dourado. Quando
abri tive uma surpresa.
— Um colar! — Era um colar, com pingente de pezinho de
bebê. — Eu nem sei o que dizer. Obrigada.
Robert abriu um largo sorriso. Minha única reação foi abraça-
lo.
Demos um longo e forte abraço. Quando finalmente nos
separamos, percebi que meu coração estava acelerando
gradativamente, minhas mãos estavam suadas e minhas pernas
estavam trêmulas. Eu já havia ficado próxima de Robert outras
vezes, mas dessa vez era diferente. Olhei fixamente para ele, me
aproximei devagar de seu rosto e dei início a um beijo. Era algo
calmo e suave, diferente dos outros já trocados. Uma de suas mãos
estava segurando minha cintura, enquanto a outra acariciava meus
cabelos.
Todo aquele nervosismo que eu estava sentindo havia
passado.
— Boa noite — sussurrou quando nos afastamos.
— Boa noite.
— Se precisar de mim, estarei no quarto do final do corredor
— avisou com um leve sorriso nos lábios.
— Obrigada.
Aquilo era um convite para ir até seu quarto no meio da
noite? Mesmo se fosse eu não iria. Não queria arrumar problemas
com seus pais. Queria ter uma noite de sono tranquila.
Capitulo 11
[...]
Enquanto me arrumava para ir ao trabalho reparei que
minhas roupas estavam muito apertadas. Observei meu corpo, com
roupa, minha barriga era imperceptível,mas sem roupa era visívelo
quanto estava crescendo. Eu precisava fazer compras. Estava
adiando isso há tanto tempo. Eu receberia meu pagamento em dois
dias, e decidi que era a hora perfeita para umas roupas novas,
também pensava em cortar o cabelo, começaria o ano com visual
novo.
[...]
Finalmente eu havia recebido meu pagamento. Pensei em
convidar Miranda para me acompanhar nas compras, mas decidi
que pela primeira vez na vida eu queria tomar as minhas próprias
decisões.
Saí do serviço e comecei por uma loja que ficava perto da
imobiliária. Dei sorte, pois a loja tinha uma enorme variedade de
roupas, calçados e acessórios. Comprei algumas peças sociais, e
alguns moletons, para quando não estivesse no trabalho. Acabei
ficando empolgada com as roupas e quase não sobrou dinheiro para
os calçados. Comprei apenas uma bota de cano médio e salto
baixo. Eu estava satisfeita com minhas compras.
Saí da loja às sete e meia da noite. Fiquei pensando se o
salão de beleza ainda estaria aberto, ou se precisaria deixar para
outro dia. Caminhei alguns metros até o Nica salão de beleza. Eu
sempre reparava nele, era enorme, com uma linda fachada lilás.
Fiquei pensando se algum dia eu teria um salão com aquele. Para a
minha surpresa eles ainda estavam abertos. Na entrada estava
escrito aberto até às nove da noite. Percebi que tinha apenas uma
mulher fazendo as unhas dos pés. As outras atendentes estavam
paradas.
Meu cabelo era longo, quase até a cintura, em um tom
castanho claro. Decidi cortar um pouco acima dos seios em um
corte com camadas. Eu também queria pinta-lo, mas sabia que não
era uma boa ideia estando grávida. Pensei em algum tipo de
tonalizante sem amônia. Expliquei sobre minha gravidez, e para a
minha felicidade, tinha alguns produtos que eu poderia usar mesmo
estando grávida. Decidi por um tonalizante vermelho. Como meu
cabelo natural era castanho, não ficaria vermelho vivo, ficaria
apenas avermelhado.
Quando olhei para o espelho para ver o resultado final fiquei
impressionada comigo mesma. Eu estava maravilhosa. O cabelo
mais curto e com reflexos vermelho combinou muito comigo. Minha
autoestima estava nas alturas.
Comecei a fazer o meu caminho de volta ao hotel. Eu estava
radiante. Passei na padaria para comprar um lanche e comer mais
tarde. A emoção das compras e o cabeleireiro haviam me deixado
sem fome. Não via a hora de chegar no hotel e postar uma foto no
Instagram.
Assim que entrei no quarto chequei o meu celular. Havia uma
mensagem de Robert:
“Não deixe de vir na festa da empresa amanhã. Conto com a
sua companhia.”
Seria o último dia do ano, obviamente eu gostaria de passa-lo
com Robert.
Respondi que iria. Não tinha planos para a virada de ano. Iria
passar sozinha no hotel, e estava tudo bem. Já estava conformada
com isso.
A festa seria no final da tarde. Era a festa de todo final de
mês, junto com uma comemoração de final de ano. A única festa da
empresa que eu havia ido foi a que eu e Robert transamos. Depois
disso não ousei ir em mais nenhuma.
Fiquei repensando sobre postar ou não no Instagram. Se eu
postasse Robert iria ver. Decidi que não postaria, faria uma surpresa
com meu novo visual pessoalmente.
Acordei empolgada. Estava ansiosa para usar minhas roupas
novas. O clima estava ameno, não estava tão frio. Escolhi um
vestido justo na cor vinho com uma meia calça preta. Por cima vesti
uma jaqueta de couro sintético preta e para completar, a bota de
cano médio. Por último, coloquei o colar de pezinho que Robert
havia me dado. Fiz uma maquiagem bem simples e básica, coloquei
o batom vermelho na bolsa, usaria na hora da festa. No cabelo usei
um finalizador para deixar com leves ondas.
— Você está incrível — disse Harry assim que me viu.
— Obrigada. Resolvi dar uma mudada no visual.
— Amei o cabelo, esse corte ficou perfeito em você.
Recebi diversos elogios sobre meu novo visual. Eu estava
muito confiante, como jamais estive.
O dia seguiu normalmente. Não vi Robert. Na verdade, não
nos víamos muito no trabalho, ele ficava a maior parte do tempo em
sua sala.
Assim que o expediente acabou, eu e Anny fomos até o
banheiro retocar a maquiagem, não pensei duas vezes antes de
usar o batom vermelho.
A decoração estava incrível, com muitas luzes de natal
espalhadas pelo lugar.
Eu estava ansiosa para ver Robert. Não demorou muito para
o homem aparecer. Ele estava com seu terno impecável como
sempre. Nossos olhares se encontraram e ela veio em minha
direção.
— Alice, cortou o cabelo! Ficou ótimo.
— Obrigada — falei enquanto bebericava meu suco. — Essa
é Anny, ela é estagiária.
— Muito prazer. Já vi você algumas vezes aqui — disse ele,
sempre muito simpático.
A garota estava tímida, mas tentou parecer simpática.
Conversamos rapidamente. Falamos sobre a decoração da
festa e sobre os aperitivos.
— Eu vou cumprimentar o pessoal.
— Tudo bem.
O homem lançou um olhar com um sorriso malicioso antes de
se afastar.
— Além de bonito, ele é super simpático — comentou Anny.
— Ele é maravilhoso — completei.
A festa estava muito divertida. Aproveitei para fazer amizades
e conversar com pessoas que ainda não tinha tido oportunidade de
conhecer.
Em um dos raros momentos em que eu estava sozinha,
Robert veio falar comigo.
— Eu amei o visual novo. Esse cabelo favoreceu você. Ficou
ainda mais bonita.
— Obrigada. Você também não está nada mal.
— Quais os planos para a virada?
— Nenhum. Vou voltar para o hotel.
— Você vai passar sozinha? — questionou ele arqueando
uma sobrancelha.
— Sim. Mas está tudo bem.
— Eu vou para uma festa na casa de um amigo. Venha
comigo. É ano novo.
Pensei por alguns instantes se aceitaria seu convite. Era
tentador passar algumas horas com Robert.
— Não tenho certeza — respondi.
— Não será bem uma festa. Serão só alguns amigos. Vamos.
Não vai dizer que prefere ficar sozinha, não é?
Suspirei, convencida.
— Tudo bem. Eu vou.
— Ótimo. Assim que terminar aqui, vamos direto para lá.
—Tenho certeza de que será divertido — completei.
— Que tal um doce? — ele sugeriu.
Concordei. Ainda não havia comido quase nada.
Ficamos conversando perto da mesa enquanto comíamos.
Falamos sobre coisas aleatória, não tocamos no assunto bebê.
Robert comentou que gostaria de fazer uma visita para seu
irmão, Logan.
— Acho uma ótima ideia. Tente fazer as pazes com ele. Eu
vejo em seu olhar que sente falta dele.
— Você tem razão. Já tentei me aproximar algumas vezes,
mas ele nunca deu abertura. Acho que está na hora de falar
diretamente.
— Eu apoio. Sou filha única, mas sempre quis ter um irmão.
— Desviei o olhar para o copo de suco que estava em minhas
mãos. — Eu adoraria conhece-lo um dia — completei.
Passamos o resto da festa juntos. Em alguns momentos ele
saía para conversar com alguém, mas sempre acabava voltando.
Algumas pessoas também vieram até nós. Robert me apresentou
como uma amiga, e como sempre, todos foram muito simpáticos.
— Hora de ir. Vamos?
Segui o homem para fora da empresa até seu carro.
O clima estava mais frio do que eu pensei que estaria.
O caminho foi curto e chegamos sem demora. Era para um
lado da cidade que eu não conhecia. As casas eram enormes e
luxuosas.
O lugar estava mais silêncio do que eu imaginei.
— Tem certeza de que é aqui? Parece não ter muita gente.
— Eu disse que seriam poucos amigos.
Entramos na casa e fomos para o jardim dos fundos. Paul, o
dono da casa, nos recebeu.
O homem era alto, bonito e muito gentil.
Realmente não havia muitas pessoas, era uma festa
pequena. Fui apresentada aos amigos do Robert.
Paul contou algumas histórias de quando eles fizeram
faculdade juntos.
Não sei se eles sabiam sobre minha gravidez, se sabiam não
falaram nada.
— Vou pegar um suco para você. — disse Robert.
Fiquei sozinha por alguns instantes. Estava perto de Luna,
uma mulher de cabelos vermelhos. Tínhamos sido apresentadas,
mas não conversamos. Não pensei duas vezes antes de puxar
assunto.
— Eu amei a cor do seu cabelo. — comentei.
— Obrigada. Eu amo também, mas dá muito trabalho.
Preciso descolorir a raiz todo mês. Estou pensando em mudar.
O cabelo era vermelho vivo. Muito parecida com a cor do
tonalizante que usei, porém como não descolori o meu, ele ficou
apenas com reflexos escuro.
Conversamos sobre cabelo, tinturas e maquiagem. Ela
parecia saber muito sobre o assunto.
Logo nos juntamos com os outros para brindar a chegada do
ano novo. Brindei com suco e ninguém questionou, o que me fez
pensar que sabiam sobre a minha gravidez.
Logo depois da meia noite comecei a sentir o cansaço. Eu
estava acordar desde às 7 da manhã. Meu corpo precisava
descansar.
— Robert, eu estou ficando cansada. Vou pegar um Uber de
volta para o hotel.
— De jeito nenhum. Eu te levo.
— Não precisa. Está cedo ainda. Fique com os seus amigos.
— Vou avisar ao Paul que estamos indo.
Me senti um pouco mal por acabar com sua diversão tão
cedo. Mas afinal a culpa não foi minha. Eu disse que poderia ir de
Uber.
— Antes de acabar a noite eu tenho uma surpresa para você
— disse Robert assim que entramos no carro.
— O que é? — perguntei curiosa.
— Não está aqui. Deixei em casa. Moro perto daqui.
Buscamos, depois te deixo no hotel. Vamos, tenho certeza de que
você irá adorar.
— Tudo bem. — A curiosidade venceu.
Robert morava no bairro vizinho. Um lugar com casas ainda
mais luxuosas.
A sua casa era enorme, tão grande quanto a de seus pais.
— Sente-se — disse ele assim que entramos na sala.
Enquanto esperava percebi que Robert era um amante de
arte. Havia vários quadros espalhados pela casa.
— Aqui está.
O homem parecia animado.
Desembrulhei o pacote rapidamente.
— Eu não acredito!
Era um aparelho Sonar Doppler. O mesmo que a doutora
disse que poderíamos usar para ouvir o coração do bebê.
Fiquei alguns instantes olhando para o aparelho. Olhei para
Robert e ele estava sorriso. Em um impulso o abracei.
— Não foi fácil lembrar o nome, mas consegui achar.
— Obrigada.
— Vamos ouvir — disse ele.
— Como funciona? Estou tão ansiosa.
— Eu li que é melhor a mulher estar deitada.
Rapidamente tirei as botas enquanto Robert lia as instruções.
Deitei confortável no sofá e ligamos.
Começamos a deslizar o aparelho em minha barriga, mas a
animação estava nos atrapalhando. Depois de alguns instantes
tentando sem sucesso, conseguimos.
— Estou ouvindo — falei em quase sussurro.
Por alguns segundos ficamos sem reação, em silêncio,
apenas ouvindo.
Quando dei por mim, uma lágrima deslizava pelo meu rosto.
Robert também estava visivelmente emocionado. vi seus
olhos encherem de lágrimas, mas ele não as deixou cair.
Estávamos sentados lado a lado no sofá.
— Obrigada Robert. Eu não tenho como explicar o quanto eu
amei. — Fiz uma pausa olhando para o aparelho. — Vou querer
usar o tempo todo.
O homem apenas me deu um longo abraço. Fomos
interrompidos por um bocejo meu. Eu estava com muito sono.
— Você está muito cansada. Durma aqui — sugeriu Robert.
— Não sei. Acho que prefiro voltar para o hotel.
— Você pode ficar em um dos quartos de hospedes.
Eu realmente estava muito cansada, decidi aceitar.
— Tudo bem.
— Ótimo. Venha, vou lhe mostrar seu quarto.
— Gostaria de tomar um banho antes de dormir.
— Claro, você pode usar uma camiseta minha.
— Seria ótimo.
Segui ele pelos corredores. Eu estava impressionada com
sua casa.
— Aqui está. Tem toalhas no armário do banheiro. Vou deixar
você à vontade. Se precisar de algo, é só chamar.
— Obrigada.
Eu nunca havia visto um quarto tão grande. O banheiro ficava
dentro do quarto. Tomei um banho quente e relaxante.
Assim que saí do banho decidi procurar por Robert. Queria
agradecer sua hospitalidade, e também lhe desejar boa noite.
— Robert? — chamei da porta do meu quarto.
— Estou indo — ele respondeu com uma voz abafada.
Parecia estar longe.
Sentei na cama e esperei. Não demorou muito para ele
aparecer.
— Chamou?
— Sim. Quero agradecer. Se não fosse você eu teria passado
a virada de ano sozinha no quarto de hotel. — Fiz uma pequena
pausa. — Meus pais nem uma mensagem me enviaram.
O homem sentou ao meu lado na cama.
— Foi um prazer passar com você. Agora durma, você
precisa descansar — disse ele com um leve sorriso.
— Deite-se aqui comigo — pedi, indo para o lado e dando
espaço.
Ele deitou. Não falamos nada. Apenas nos abraçamos e
passamos a noite ali, juntos, sem qualquer malícia.
Capitulo 12
[...]
Finalmente o relógio marcou seis da tarde. Passei o dia todo
curiosa. Saí e fui direto para a sala de Robert.
— Robert, está tudo bem? Queria falar comigo? — falei
assim que entrei em sua sala.
— Sim. Quero levar você à um lugar.
— Agora?
— Sim.
Fiquei me perguntando onde seria. O homem parecia muito
empolgado.
— Tudo bem. Vamos.
Seguimos para o estacionamento.
— E onde vamos exatamente?
— Você vai ver quando chegar.
— Outra surpresa? — perguntei curiosa.
— Digamos que sim.
O lugar misterioso ficava a cerca de 15 minutos da empresa.
Paramos em frente à um conjunto de apartamentos.
— Onde estamos? — Eu estava confusa.
— Venha comigo.
Entramos no prédio, em seguida em um dos apartamentos. O
lugar era pequeno, mas muito bem decorado.
— O que estamos fazendo aqui? De quem é esse
apartamento?
— É seu! — disse Robert com um largo sorriso no rosto.
— Como assim? O que está acontecendo?
— Eu aluguei esse apartamento para você. Não quero mais a
mãe do meu filho morando no hotel. Aqui você ficará mais
confortável.
Eu estava sem reação. Demorei alguns instantes para
conseguir raciocinar tudo que ele estava dizendo.
— Eu estou sem palavras.
— Espero que goste do lugar. Se preferir podemos trocar a
decoração e os móveis.
— Está perfeito assim.
A sala era pequena, porém, muito aconchegante. A cozinha
era uma extensão da sala, um conceito aberto. O sofá era enorme,
ocupando quase o cômodo inteiro, em um tecido que parecia ser
couro sintético.
— Venha, vamos ver os quartos. — disse Robert.
O quarto era pequeno, estava com uma linda decoração e
uma cama de casal bem no centro.
— Está lindo!
Fomos até à porta do lado.
— Esse é o quanto do bebê.
O lugar estava totalmente vazio. Era o único cômodo da casa
que não estava mobiliado.
— Aqui era um escritório. Pedi para levarem os móveis.
Vamos decora-lo juntos.
— Tenho certeza que faremos um ótimo trabalho aqui.
Fiquei observando cada detalhe.
— Então? Gostou?
— Robert, eu nem sei o que dizer.
Eu estava emocionada. Senti que meus olhos estavam
ficando molhados. Eu estava muito emotiva durante a gravidez.
— Eu não tinha certeza se você iria aceitar.
— Obrigada. Eu amei, de verdade.
Fui até ele e demos um longo abraço.
— O que acha de pedirmos alguma coisa para jantar e
comermos aqui? Vamos inaugurar a casa — sugeriu, abrindo um
sorriso.
— Ótima ideia. Será que aquele restaurante que fomos no dia
da consulta entrega aqui? Faz dias que estou pensando no
macarrão com queijo deles.
— Se não entregar, eu vou até lá e busco. Não posso deixar
uma grávida ficar com desejo.
Ligamos para o restaurante e disseram que não entregavam
nessa região. Robert foi buscar o nosso jantar pessoalmente.
Enquanto estava sozinha comecei a refletir. Isso estava
mesmo acontecendo? As coisas estavam acontecendo rápido
demais. A única certeza que eu tinha era que eu estava feliz como
nunca.
Depois de 45 minutos, Robert voltou com o nosso jantar.
Fizemos a nossa primeira refeição na mesa da cozinha. O macarrão
com queijo estava maravilhoso, exatamente como estava no outro
dia.
Depois do jantar, lavamos a louça e falamos sobre o quarto
de bebê. Ele sugeriu que pintássemos a parede com uma cor
neutra, como amarelo ou verde claro.
— Gosto de amarelo. É uma linda cor — comentei.
— Se quiser podemos pintar essa semana. Também
podemos sair para comprar os móveis e a decoração do quarto.
— Sim! Vamos o mais logo possível.
Sorri. Agradeci a Robert mais uma vez. Eu estava radiante.
— Já está ficando tarde. Melhor deixar você descansar —
disse ele enquanto olhava as horas no celular.
Era impressionante como o tempo passava rápido quando
estávamos juntos.
— Já? Fique mais um pouco.
Eu não queria que ele fosse. Eu gostava de sua presença, de
sua companhia, e depois da nossa última noite de sexo, eu não
conseguia mais tira-lo da minha mente.
— Quer que eu fique um pouco mais? — perguntou ele
arqueando uma sobrancelha.
— Quero.
Dei alguns passos em sua direção. Olhei fixamente para seus
olhos verdes, eram penetrantes e atraentes. Não demorei muito
para juntar nossos lábios e dar início a um beijo cheio de desejo.
Robert segurava a minha cintura enquanto eu passava a mão
por sua nuca. Uma de suas mãos deslizou suavemente até os meus
seios, ele acariciava lentamente por cima da minha blusa.
Por um breve momento afastei nossos lábios e me livrei da
peça, pude sentir o seu toque diretamente em minha pele. Nossos
beijos ficavam cada vez mais urgentes.
Ele me pegou no colo e sentei de frente para ele na bancada
da cozinha, na mesma posição em que ficamos da primeira vez, no
banheiro da empresa. Robert passou a língua delicadamente em
meus seios.
Um leve gemido escapou dos meus lábios. O homem subiu
lentamente com a boca até meu pescoço.
— Vamos para o quarto? — sugeriu ele.
Chegamos no quarto e rapidamente me livrei do resto das
minhas roupas. Robert fez o mesmo. Eu estava latejando de tanto
desejo. Deitei na cama e o senti por cima de mim. Ele começou a
dar leves chupões em meu pescoço, enquanto uma de suas mãos
acariciava meu corpo, parando em minhas coxas a apertando com
força.
Ele então afastou minhas pernas lentamente e começou a
massagear meu clitóris. Fechei os olhos, aproveitando a sensação.
Ele começou a aumentar a velocidade, e quando menos esperava
penetrou em mim dois de seus dedos. Soltei um pequeno gemido.
Robert os movimentava em uma velocidade alta, voltando a
atenção para meus lábios. Levantou rapidamente e se posicionou
entre minhas pernas.
Senti sua língua em contato com meu clitóris enquanto ele
continuava usando os dedos. Aquela cena estava me deixando
extremamente excitada. Sentia que iria gozar a qualquer momento.
Contorci meu corpo de tesão, e Robert percebeu.
— Goza na minha boca — pediu.
Foi exatamente o que fiz.
Fechei os olhos de novo, aproveitando a sensação boa que
ainda estava em meu corpo, mas eu não estava satisfeita.
Puxei Robert e colei nossas bocas. Desci minha mão entre
nós dois e peguei seu pênis.
— Já querendo mais? — perguntou ele.
— Estou insaciável hoje.
Robert soltou uma leve risada.
Ele esticou a mão e pegou sua carteira no chão, tirando uma
camisinha de lá.
Depois de devidamente protegido, penetrou seu pau em mim
lentamente. Cravei minhas unhas na pele do seu braço e gemi.
Robert me beijava enquanto aumentava a velocidade
gradativamente.
Era indescritível o quando eu desejava o seu corpo definido.
Ele conseguia me proporcionar um prazer que eu jamais pensei que
sentiria.
Sua mão apertava um de meus seios de forma sutil, às vezes
passando os dedos pelo mamilo enrijecido.
Robert colocou força nas estocadas, e logo soltou um gemido
discreto, caindo ofegante ao meu lado.
Ele olhou para mim com um sorriso nos lábios, puxando-me
para um abraço.
Ainda estávamos ofegantes e eu podia sentir seu coração
acelerado, assim como o meu.
Permanecemos ali, fazendo carinho um no outro por horas.
Capitulo 13
[...]
No momento em que entrei na empresa percebi que as
pessoas estavam curiosas. A última vez que apareci por aqui foi o
dia do sangramento. Sabia que iriam questionar.
Perto do horário no almoço Robert entrou na sala e chamou
atenção de todos. Disse que faria uma pequena comemoração
depois do horário e que gostaria que todos ficassem. Teria
champanhe e alguns aperitivos.
Contive a emoção e agi naturalmente, apesar de saber
exatamente do que ele estava falando.
Muitos não ficaram, pensaram que seria alguma coisa sobre
a empresa, não imaginaram que a notícia seria algo pessoal. Disse
para Harry ficar, o garoto estava há dias questionando o que estava
acontecendo, sabia que iria gostar de saber. Anny também ficou, é
claro que eu adiantei sobre o assunto, ela já sabia o que estava por
vir.
O anúncio seria feito na sala de trabalho mesmo, pois não
havia muitas pessoas. Assim que o relógio marcou seis da tarde,
percebi que alguns funcionários entraram trazendo algumas caixas
de apetitivos e bebidas.
Em alguns minutos Robert entrou na sala. Todos pareciam
curiosos.
O homem serviu uma taça de champanhe e foi para a frente
de todos. Disse que tinha uma notícia, que o assunto era pessoal e
agradeceu a todos que estavam presentes.
— Alice por favor. Venha até aqui. — Ele fez um sinal para
que eu o acompanhasse. Eu não esperava por essa parte. — É com
muita alegria que conto para todos vocês que serei pai. Eu e Alice
vamos ter um filho.
As pessoas aplaudiram e aparentemente ficaram felizes.
Robert também explicou que sabia que o assunto era
extremamente pessoal, mas que considerava a empresa e a todos
como sua segunda família. Fiquei ao lado dele o tempo todo. A
maioria das pessoas veio até nos para dar os parabéns. A única
pessoa que pareceu não ter gostado nada da notícia era Elizabeth.
Conversamos apenas uma vez, quando descobri que o senhor
Johnson e o Robert eram a mesma pessoa. Depois disso via ela
apenas de longe, e desde então tinha a sensação de que ela não ia
muito com a minha cara. Decidi perguntar para Robert.
— Tem algum problema com a Elizabeth?
— Como assim?
— Desde que você deu a notícia da gravidez ela está com
uma cara péssima. E eu já tinha a sensação de que ela não gosta
muito de mim.
— Ciúmes provavelmente. — Robert bebeu um gole do seu
champanhe. — Há alguns meses atrás tivemos um rápido
envolvimento. Para mim era apenas sexo casual, mas ela queria um
compromisso. Então decidi me afastar. No começo ela não gostou,
mas ao decorrer do tempo acabou aceitando. Hoje somos amigos.
— Mas com certeza ela não quer só a sua amizade.
— Uma pena. É só isso que eu tenho a oferecer.
Olhei para a mulher e ela parecia saber que estávamos
falando sobre ela.
— Não se preocupe com ela — completou ele.
As pessoas começaram a ir embora. O lugar estava ficando
vazio. Saí de perto de Robert por alguns instantes para servir mais
alguns aperitivos, provavelmente os últimos, quando Harry chegou
ao meu lado.
— Eu não acredito que vocês terão um filho! Eu já estava
desconfiado de vocês juntos, mas um filho? Nunca pensei nisso. —
disse o garoto empolgado.
— Surpresa, né? Nem eu imaginava. Quando transei com ele
pela primeira vez eu não tinha ideia de que ele era o meu chefe,
você acredita? Achei que fosse apenas um homem aleatório aqui da
empresa.
— Você está brincando com a minha cara! — disse ele,
incrédulo.
— Acredite, não estou.
— Eu estou chocado demais! — Ele colocou a mão em sua
testa. — Amanhã no almoço você vai me contar essa história
direitinho.
— Pode deixar. Você saberá de todos os detalhes.
Nos despedimos rapidamente.
Procurei Anny por alguns instantes, mas percebi que a garota
já havia ido embora. Nem nos despedimos, eu sentia que estava em
falta com ela nesses últimos dias. Pretendia compensar em breve,
ou então assim que o bebê nascesse.
Robert me levou para casa. Ele apenas parou o carro para
que eu descesse, não pediu para entrar, e eu também não o
convidei. Adorava a sua companhia, mas estava muito cansada, só
queria dormir.
Eu estava encucada com uma coisa: Elizabeth. Esperava
que a mulher já tivesse superado Robert completamente, não queria
arrumar confusão logo agora que estava tudo certo.
Capitulo 15
[...]
O clima não estava muito frio naquele dia. Optei por um
vestido leve e um casaquinho. Eu estava adorando usar vestidos,
deixava a minha barriga mais à mostra. Para completar finalizei com
uma sapatilha preta.
Robert viria me buscar em 15 minutos para o almoço com
seu irmão.
Assim que entrei no carro percebi que o homem estava
inquieto.
— Parece nervoso.
— Um pouco. Quero que dessa vez dê certo. Espero que
possamos voltar a ser amigos.
— Fique calmo. Vai ficar tudo bem.
O caminho foi silencioso. Percebi que ele queria ficar calado.
Assim que chegamos, Robert foi em direção à cozinha. O
almoço estava em andamento. O homem largou o que estava
fazendo para me buscar, eu disse que não precisava, que viria de
Uber, mas ele insistiu.
— Quer ajuda?
— Claro. Pode ajudar com a salada.
O cheiro na cozinha estava delicioso, me deixando ainda com
mais fome. Robert havia deixado um pernil no forno, estava quase
pronto.
Terminamos de preparar o almoço. Enquanto estávamos
arrumando a mesa, ouvimos um carro. Era ele.
Robert abriu a porta e o cumprimentou.
— Essa é Alice.
— Muito prazer — disse Logan estendendo a mão.
— O prazer é meu — respondi.
Os dois eram muito parecidos, os mesmos olhos verdes.
Fomos para a sala de jantar. Logan era muito simpático. Ele e
Robert pareciam velhos amigos. Nem pareciam que estiveram
distantes por tanto tempo.
— Eu sou muito fã do seu trabalho. Adoro esse universo de
maquiagem — falei tomando um gole de suco de maracujá.
— Obrigada. Fico muito feliz em ser reconhecido.
— Como você descobriu que queria ser maquiador?
— Eu sempre soube. Desde criança gostava muito de
maquiagem. Os outros meninos da escola me tratavam mal por eu
ser “diferente”, mas eu não ligava. Ficava observando quando minha
mãe usava maquiagem. Algumas vezes pedi para ela deixar eu a
maquiar, mas ela achava estranho. — O homem faz uma pausa. Eu
conseguia sentir a tristeza ao falar de sua mãe. Sabia exatamente
como era não ser apoiado. — Eu até pensei em ir para a faculdade
de administração e ajudar meus pais na imobiliária, mas não era
isso que eu queria. Criei coragem e segui meu sonho. Hoje eu vejo
que foi a melhor decisão que eu já tomei. E mesmo que seja difícil
para começar, apenas comece. Não fiquei esperando o momento
certo. Nada melhor do que trabalhar com o que se ama.
Suas palavras me fizeram refletir. Ele tinha razão. Eu ainda
queria ter o meu próprio salão de beleza. Nesse momento a minha
prioridade era apenas o meu filho, mas depois que ele nascesse eu
iria começar. Iria atrás do meu sonho, e quem sabe, assim como
Logan, no futuro eu teria uma história de sucesso para contar.
Depois do almoço fomos para a sala de estar enquanto
comíamos a sobremesa. Por insistência minha, Robert havia feito
torta de maçã. Era um doce que eu gostava muito, pois lembrava os
meus avós.
— Então já decidiram o nome? — perguntou Logan curioso.
— Ainda não. Nem sabemos se é menino ou menina —
respondi enquanto terminava minha torta de maçã.
— Ainda não?
— Nós decidimos esperar. Queremos surpresa. Apesar de eu
achar que é uma menina — comentou Robert.
Passamos uma tarde muito agradável. Logan era muito
simpático e divertido. Contou que nos tempos de escola era Robert
quem o defendia dos garotos maldosos.
— Eu era o irmão mais velho. Era o meu dever — afirmou
Robert, gabando-se. Pareceu relembrar os tempos de escola.
Eu sabia que eles iriam retomar a sua amizade. Era nítido o
amor que eles sentiam um pelo outro.
Capitulo 16
[...]
Depois de quase 3 semanas, decidi que era hora de voltar
para casa. Eu estava muito grata pelos pais de Robert. Eles foram
ótimos, ajudaram em tudo. Confesso que sentiria falta deles,
principalmente de Helena, mas eu estaria sempre presente. Sophie
iria crescer com a companhia dos avós, pelo menos dos avós
paterno.
— Domingo venham almoçar conosco — disse Helena
despedindo-se de Sophie.
— Pode deixar — concordei com um sorriso.
Nos despedimos e seguimos o caminho para o apartamento.
Eu estava com saudades de casa. Já estava há mais de um
mês longe.
Chegamos no final da tarde. Robert foi diretamente para o
quarto de Sophie, arrumar as coisas que faltavam e as que estavam
na casa dos seus pais.
Assim que escureceu, o homem foi até um restaurante
próximo comprar o nosso jantar, já que não tínhamos nada na
dispensa.
Depois do jantar, enquanto eu ficava com a bebê, ele lavou a
louça e deixou tudo limpo na cozinha.
— Já vou arrumar a cama para nós, caso a gente pegue no
sono aqui no sofá.
Para nós? Robert iria dormir aqui? Não que isso fosse um
problema, eu queria a sua companhia, mas queria saber o que
estava acontecendo. Durante o mês que ficamos na casa de seus
pais, ele ficou em um quarto separado. Porém, na maioria das
vezes, agia como se fossemos um casal. Isso estava me deixando
confusa. Decidi que era hora de perguntar. Eu estava evitando isso
há meses. Corria o risco de acabar com tudo que tínhamos, mas eu
queria saber sobre os seus sentimentos.
Coloquei Sophie no carrinho, já que ela havia dormindo em
meus braços.
— Robert, quero perguntar uma coisa — falei com a voz um
pouco falhada.
Ainda dava tempo de desistir.
— Algum problema?
— Não. — Desviei o olhar para a televisão a nossa frente. —
O que nós temos?
— Como assim? — Ele pareceu confuso.
— Você sabe, a nossa situação.
Robert sentou no sofá ao meu lado.
— Você fala sobre o nosso relacionamento? — questionou.
— Sim. Há alguns meses eu venho pensando nisso. No
começo eu achava que você apenas estava sendo legal, mas tenho
a impressão que nesses últimos 2 meses estamos agindo como
casal. Não que eu não goste, mas queria que ficasse tudo
esclarecido.
— Sério? — disse ele arqueando uma sobrancelha. — Achei
que já estivesse tudo mais que esclarecido.
— Como assim?
— Achei que fosse certo que estávamos namorando.
— Como assim? Estamos namorando? Como eu iria saber?
Você não pediu para namorar comigo. Todo esse tempo eu ficava
pensando sobre o que se passava na sua cabeça.
O homem desviou o olhar. Parecia procurar as palavras
certas.
— Eu percebi o exato momento em que eu comecei a me
apaixonar por você. Foi no dia do teste de DNA. Quando eu olhei
para você saindo do consultório, eu senti que algo havia mudado
dentro de mim. Você sabe, eu sou muito tímido com esses assuntos,
é difícil falar sobre sentimentos, mas...
Ele deixou a frase no ar.
— Mas o que? — perguntei.
— Mas eu amo você.
— Ama? — questionei e ele assentiu, apreensivo.
Eu não esperava sua declaração. Senti meu coração batendo
mais forte em meu peito, mas eu não sabia o que dizer. Fiquei em
silêncio.
— Alice, quer namorar comigo?
— É o que eu mais quero — respondi com um sorriso.
Sentei delicadamente em seu colo e o beijei.
— Eu estava esperando esse pedido já há algum tempo. Eu
amo você, Robert — completei.
— Acho que deveríamos ter falado sobre isso antes.
— Fico feliz que tudo tenha sido esclarecido.
— Prometo tentar me abrir mais com você, e também quero
que me pergunte quando eu a deixar confusa sobre qualquer coisa.
Eu assenti, beijando seus lábios mais uma vez.
Há um ano atrás eu jamais pensei que eu estaria naquela
situação: com uma filha linda, um homem que me amava, um
emprego que eu gostava e vivendo a minha vida do jeitinho que eu
queria, e agora, com a minha determinação para conseguir meu
próprio salão de beleza, só tendia a melhorar.
FIM