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Meyer

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reproduzida ou transmitida por qualquer forma, meios eletrônicos ou
mecânico sem consentimento e autorização por escrito da autora.

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Sumário
SINOPSE
Capítulo 1
Capitulo 2
Capitulo 3
Capitulo 4
Capitulo 5
Capitulo 6
Capitulo 7
Capitulo 8
Capitulo 9
Capitulo 10
Capitulo 11
Capitulo 12
Capitulo 13
Capitulo 14
Capitulo 15
Capitulo 16
Capitulo 17
Capitulo 18
SINOPSE

Alice, uma jovem de 19 anos, teve uma criação rígida. Seu


pai usava a religião para priva-la do mundo. Depois de muita
insistência, conseguiu convencer seus pais a deixá-la trabalhar em
uma grande imobiliária. Em uma das festas mensais da empresa,
Alice estava decidida a perder a virgindade. Um par de olhos verdes
chamou sua atenção, e ela sabia que ele era o escolhido. Robert
era um homem extremamente sedutor.
Ela só não contava com uma coisa: que engravidaria do seu
chefe.
*Contém cenas inadequadas para menores de 18 anos.
Capítulo 1

Passei os olhos mais uma vez por minhas roupas. Queria


parecer profissional, pois estava muito empolgada para meu
primeiro dia de trabalho. Apesar de já ter quase 20 anos, esse seria
meu primeiro emprego. Desde que terminei a escola, com 17 anos,
eu sempre quis trabalhar, porém, meus pais rígidos, religiosos e
super protetores não deixavam. Falavam que eu deveria terminar o
ensino médio, casar e ter uma família tradicional, mas meus planos
nunca foram esses. Meu sonho sempre foi abrir meu próprio salão
de beleza. Com muita insistência meus pais permitiram que eu
fizesse um curso básico de administração há alguns anos.
Escolhi uma calça jeans e uma camisa social, apesar de
minhas roupas serem 2 números maiores de que meu tamanho,
gostei do que vi no espelho. Finalizei com um cinto para ajustar a
calça larga. Meus pais exigiam que minhas roupas fossem todas
assim, para não marcarem o meu corpo. No cabelo fiz apenas um
rabo de cavalo baixo. Enquanto arrumava meus longos fios
castanhos, pensei como seria poder me vestir e agir do meu jeito.
Eu adorava meus cabelos, mas sempre tive o desejo de mudar,
cortar, ou quem sabe uma cor diferente, como rosa, poder usar
roupas justas, do meu tamanho, salto alto, mas eu sabia que isso
não aconteceria.
— Já está pronta, Alice? — perguntou meu pai enquanto
terminava seu café da manhã.
— Sim, mas eu posso ir sozinha, vai acabar chegando
atrasado — respondi pegando minha bolsa.
— Nada disso. Seu pai vai levar você todos os dias, foi o
combinado. Já que você inventou essa história de trabalhar, então
siga as regras — disse minha mãe já um pouco exaltada.
Não a respondi, apenas concordei e me despedi.
Apesar de tudo eu estava feliz. Seria a primeira vez que
ficaria um tempo longe dos meus pais, sonhava com a minha
independência, com o meu salão de beleza, queria poder ter os
meus amigos, sair, me divertir, e claro, namorar. Os únicos amigos
que eu tinha eram Miranda e Luke. São filhos de amigos dos meus
pais, éramos muito íntimos quando crianças, porém, com o passar
do tempo acabamos nos afastando um pouco, normalmente
conversávamos apenas na igreja.
Meu pai nunca me deixou sequer ter um encontro, meus
passos eram todos controlados. Sempre tive meus desejos
repreendidos, principalmente os sexuais, em casa nunca falamos
sobre sexo. Se não fossem as palestras na escola e não saberia
nada, nem o básico.
O caminho não era muito longo, em cerca de 15 minutos
chegamos na imobiliária. Apesar de morar toda a minha vida em
San Diego ainda ficava impressionada com a beleza natural da
cidade, era um lugar lindo, cheio de pontos turísticos,mas claro que
eu não conhecia muitos deles.
Desci do carro e por alguns instantes fiquei observando o
enorme prédio. A partir de agora começaria uma nova etapa da
minha vida.
O tempo passou mais rápido do que pensei que passaria, e
quando me dei conta, já estava no horário do almoço. Entrei no
refeitório e avistei uma menina de cabelos loiros sentada sozinha.
Ela parecia ter a minha idade, já tinha a visto de longe naquela
manhã e pensei que seria uma ótima oportunidade para fazer
amizade.
— Oi, posso sentar aqui?
— Claro — disse ela, abrindo um amigável sorriso.
— Meu nome é Alice.
— Sou a Anny.
— Você também é nova aqui? — perguntei, ajeitando-me na
cadeira.
— Sim, sou estagiária, comecei há uma semana. Ainda não
conheço muitas pessoas, e você?
— Meu primeiro dia hoje, estou gostando muito do serviço e
aprendendo rápido, todos estão sendo muito simpáticos comigo —
respondi enquanto começava a comer a comida que estava em meu
prato.
Conversamos assuntos aleatórios enquanto comíamos. Anny
contou um pouco sobre sua vida, disse que morava apenas com sua
mãe, e que fazia faculdade de administração.
Eu estava feliz por fazer a minha primeira amizade na
empresa.
— Esse doce está maravilhoso — disse Anny, dando a última
colherada na sua sobremesa.
— Está mesmo, acho que vou repetir. Não temos o costume
de comer doces em casa, a comida é controlada — falei, descendo
meu olhar para o chão.
— Sério? Como assim? — Anny parecia curiosa.
— Meus pais são muito rígidos, não posso fazer nada sem o
consentimento deles, nem mesmo comer. Ainda não sei como
consegui os convencer de deixar eu vir trabalhar.
A garota ficou em silêncio, não sabia o que dizer.
— Mas não quero falar sobre isso. Conte sobre a empresa, o
que você está achando de trabalhar aqui? Fale sobre as pessoas —
disse, abrindo um sorriso forçado tentando esconder minha tristeza.
— Fiquei sabendo que todo final de mês o Senhor Johnson
faz uma festa depois do horário de trabalho para comemorar as
vendas e as metas batidas. A próxima será semana que vem. Todos
participam, até os estagiários. Ainda bem que você chegou, eu não
estava querendo ir sozinha. — Anny estava bem empolgada com
esse assunto.
— Não conte com isso, provavelmente meus pais não irão
permitir.
Seguimos de volta para nossas funções. A tarde passou tão
rápido quanto a manhã. Eu estava determinada a aprender e fazer o
meu trabalho da melhor forma possível, mesmo sendo apenas a
recepcionista. Anny comentou que o senhor Johnson é muito
exigente com os funcionários, e mesmo não o conhecendo eu
queria o impressionar.
Já estava quase anoitecendo quando fui para o ponto de
ônibus. Senti o vento fresco soprando, e por alguns instantes me
senti livre. Aquilo tudo era muito novo para mim, pegar ônibus
sozinha, trabalhar, ter a oportunidade de fazer amizades. Eram
coisas simples, mas para mim tinha um grande significado.
Meu pai disse que sairia do serviço mais cedo para me levar
para casa, eu disse que não tinha necessidade, poderia se
desentender com seu chefe por conta disso.
— Como foi o primeiro dia? — indagou minha mãe assim que
entrei na cozinha
— Ótimo! Estou aprendendo muito rápido, e o pessoal foi
super simpático comigo. Já fiz uma amiga, o nome dela é Anny —
respondi animada.
— Essa Anny pertence à qual religião?
— Não sei mãe, não falamos sobre isso.
— Você sabe que não deve se relacionar com pessoas que
não sejam cristãs, de pessoas que são distantes de Deus.
— Eu sei — sussurrei, descendo o olhar para o chão,
desanimada.
— Agora pode ir para o banho. O Jantar está quase pronto.
Apenas obedeci. Eu sabia que seria quase impossível tentar
convencer minha mãe a deixar eu ir à festa de comemoração da
imobiliária.

[...]
Já havia se passado alguns dias e eu estava cada vez mais
familiarizada com a empresa.
— Será que seus pais vão permitir que você venha à festa?
— perguntou Anny enquanto caminhávamos para nossas mesas.
— Penso que sim. A princípio eles falaram que nem pensar,
agora já estão considerando. Aposto que até sexta eu consigo os
convencer — respondi com um sorriso no rosto.
Uma coisa que tinha reparado desde o dia em que entrei na
empresa é que todas as mulheres usavam maquiagem. Eu sempre
gostei de produtos de beleza, mas nunca tive permissão para usar.
Estava pensando seriamente em pegar o dinheiro que tinha
guardado e comprar alguns produtos para usar na festa de
comemoração. Sabia que se minha mãe descobrisse eu poderia dar
adeus ao meu trabalho, mas eu faria tudo escondido, ela nunca
descobriria.
— Você vai ir comigo comprar maquiagem na hora do
almoço? — perguntei para Anny, entrando no elevador e subindo
até o décimo terceiro andar.
— Vou, mas temos que ser rápidas, não podemos nos
atrasar, fiquei sabendo que o senhor Johnson não tolera atrasos.
— Esse senhor Johnson deve ser um velho muito chato
— Concordo, nem faço questão de o conhecer — disse Anny
enquanto saiamos do elevador.
[...]
Eu estava totalmente encantada, nunca tinha visto tanta
maquiagem. Eu acompanhava vídeos de maquiadoras e blogueiras
na internet, mas ver tudo pessoalmente era diferente.
Não tinha muito dinheiro, então optei por escolher coisas
mais básicas.
— Esse batom vermelho vai ficar incrível em você — disse
Anny claramente animada.
— A cor realmente é linda. Vou levar!
Compramos base, corretivo, máscara de cíliose batom. Anny
me emprestaria o que estava faltando como blush, contorno, pó,
sombra e os pinceis.
— Antes de voltarmos ao trabalho queria que você fosse
comigo em um outro lugar. — Olhei para baixo um pouco sem jeito.
Anny parecia curiosa. — Gostaria de ir até à farmácia comprar
camisinha.
— Camisinha?
— Sim, desde o dia que descobri que teria essa festa eu
tenho uma ideia passando pela minha cabeça. Seria uma ótima
oportunidade para eu perder minha virgindade. — Fiz uma pausa
enquanto observava o movimento das pessoas à nossa volta —
Você sabe, meus pais são muito rígidos, eu queria tanto
experimentar coisas novas, me libertar, beijar. Minha única
experiência com isso foi quando eu tinha 15 anos, e mal foi um
beijo, na saída da escola, minutos antes do meu pai aparecer para
irmos para casa. — Meu olhar estava distante.
— Eu te entendo, e está tudo bem. Vou ajudar você no que
for necessário.
Apenas sorri para a garota como forma de agradecimento. Eu
estava feliz por ter Anny como amiga.
Capitulo 2

A sexta-feira finalmente chegou. Eu estava muito empolgada,


mais do que deveria, afinal era só uma simples comemoração da
empresa e eu não deveria criar grandes expectativas. Minhas únicas
experiências com festas foram reuniões de família e na igreja. Vesti
uma camisa azul, larga como sempre, e uma calça jeans cinza,
como de costume. Nos cabelos fiz apenas um coque alto. Fui até o
meu guarda roupas e peguei uma pequena sacola. Peguei as
maquiagens que eu havia comprado com Anny há alguns dias e
escondi no fundo da bolsa junto com o pacote de camisinhas. Segui
para o serviço normalmente.
Enquanto subia para o décimo terceiro andar, fiquei refletindo
sobre a minha ideia de perder a virgindade. Pensar nisso me
deixava um pouco apreensiva, mas eu estava decidida, não sabia
quando teria uma outra chance como essa.
O dia passou mais devagar do que achei que passaria, talvez
por minha ansiedade. Assim que terminamos nosso expediente,
Anny e eu corremos para o banheiro para nos arrumarmos.
— Faça uma coisa leve, não quero exagerar — falei para
minha amiga, que estava prestes a me ajudar com a maquiagem.
— Pode deixar, vai ficar super natural.
A garota fez uma pele básica, nos olhos usei uma sombra
marrom e máscara de cílios. Ficou bem discreto como eu queria.
Dei mais atenção para os lábios, o batom vermelho que Anny havia
dito que combinaria comigo. Olhei meu reflexo no espelho e estava
satisfeita com a maquiagem, ficou exatamente como imaginei que
ficaria.
Soltei meus cabelos castanhos. Estavam com lindas ondas já
que hoje eu havia deixado o dia todo em um coque, com a intenção
de deixar um pouco mais volumoso. Também dei uma ajustada nas
minhas roupas, coloquei minha camisa para dentro da calça, abri 2
dos botões e puxei as mangas até a altura do antebraço.
Olhei meu reflexo no espelho mais uma vez para ver o
resultado final. Eu estava incrível! Realmente maravilhosa e super
confiante.
— Você acha que consigo? — questionei Anny enquanto ela
finalizava sua maquiagem.
— Claro que sim, vou ajudar você, vamos achar o homem
perfeito. Qualquer um deles iria adorar ficar com você, está linda, vai
atrair todos os olhares.
— Meus pais não podem nem imaginar que estou planejando
ficar com alguém. Não sei o que eles seriam capazes de fazer se
soubessem — falei, abaixando o olhar e encarando o chão.
— Eles nunca saberão. E depois, você não está fazendo
nada de errado, só está tentando viver a sua vida, não tem nada
demais nisso.
Voltamos para o local onde seria a festa.
A decoração estava incrível. Simples, porém, bonita.
Havia duas grandes mesas, uma de bebidas e outra com
aperitivos e um bolo no centro. A decoração era rosa, o que me fez
pensar que o bolo seria de morango. Apesar de não ter o costume
de comer doces, o de morango com certeza era o meu preferido.
A festa estava ótima, todos conversando e se divertindo. Eu
ainda estava com meu plano em mente. Confesso que não imaginei
que seria tão difícil, todos estavam sendo muito amigáveis comigo,
mas nada além disso.
— Vou experimentar o suco de uva, você quer? — perguntei
para Anny.
— Não, não gosto muito de uva. Vou ficar só no refrigerante.
— Tudo bem, volto já
Caminhei em direção à mesa onde estavam as bebidas.
Enquanto servia meu suco, ouvi uma voz atrás de mim:
— Você deveria experimentar o champanhe, é maravilhoso.
— Ah não, não tenho idade para bebidas alcoólicas,
principalmente aqui no meu lugar de trabalho. Fiquei sabendo que o
senhor Johnson é muito exigente, se descobrisse com certeza eu
seria demitida — respondi enquanto virava em sua direção.
Quando o encarei fiquei sem reação. Era um homem lindo,
alto, elegante, com olhos verdes envolventes e penetrantes. Com
certeza deveria ter um bom cargo na empresa.
— Claro, o senhor Johnson não iria gostar. Sou o Robert. —
Ele sorriu.
— Alice.
— É nova por aqui? Nunca vi você, eu lembraria.
— Sim, comecei há uma semana.
— O que você faz? Está gostando?
— Sou a recepcionista e estou amando! É o meu primeiro
emprego, é tudo novo para mim — falei com um sorriso no rosto.
— Vamos sentar? — perguntou Robert indicando as cadeiras
que ficavam há alguns passos da mesa de bebidas.
Apenas o segui
— E você, o que faz aqui? Deve ser algo importante —
questionei bebericando meu suco de uva.
Seu terno estava impecável, parecia ser de marca. Com
certeza tinha um cargo importante.
— Digamos que minha função exija que eu tenha minha
própria sala. Por isso ainda não tinha visto você por aqui — disse
ele, bebendo um gole do seu champanhe. — Mas me fale de você,
está acompanhada?
— Não, eu vim sozinha. Não tenho namorado — Fiquei um
pouco surpresa com a pergunta, senti que minhas bochechas iriam
corar, mas não demonstrei minha timidez.
Se eu queria mesmo ter a minha primeira vez hoje, essa seria
a minha grande oportunidade. Eu precisava ser mais ousada do que
isso.
— E você? É casado?
— Não, sou solteiro — disse ele, abrindo um sorriso
malicioso.
— Um homem desses solteiro? — perguntei, tomando o
último gole do meu suco. — Não esperava por isso.
— Gosto de aproveitar a vida.
Robert era muito simpático e divertido, além de
absurdamente lindo. Conversamos por cerca de meia hora, não
percebi os minutos passarem. Nesse meio tempo ele tomou quatro
taças de champanhe e reparei que estava ficando levemente
alterado.
Era agora, eu precisava agir.
Robert levantou para ir até à mesa pegar a sua quinta taça de
champanhe, no momento em que ele virou as costas eu levantei,
abri mais um botão da minha camisa, deixando um decote
generoso.
Ele retornou para nossas cadeiras e antes que pudesse sentar eu
dei dois passou em sua direção.
— O que você acha de eu experimentar um gole do seu
champanhe? — Ele pareceu surpreso.
— Claro! Você vai gostar — afirmou Robert me entregando
sua taça.
Bebi um gole. Era a primeira vez que eu experimentava
champanhe. O sabor era melhor do que eu imaginei. No momento
em que fui devolver sua bebida, me aproximei. Nossos olhares se
cruzaram, mas ele logo desceu sua atenção para minha boca. Senti
o clima sensual no ar.
— Que tal irmos para um local mais reservado? — sugeri,
descendo os olhos por seu corpo e mordendo o lábio inferior.
Ele sorriu, talvez ainda um pouco surpreso com meus
recentes atos, mas visivelmente empolgado.
Segui Robert pelo corredor até entrarmos no banheiro
feminino. Não era exatamente onde eu esperava perder minha
virgindade, mas dava para o gasto.
Ele trancou a porta com a chave que sempre ficava no
trinque e se virou para mim com um sorriso malicioso.
— Acho que agora temos um pouco mais de privacidade —
falou.
Escorei minhas mãos na grande bancada branca, encarando
meu reflexo no espelho e deixando minha bolsa ali. Robert parou
atrás de mim, afastando meus cabelos e tocando seus lábios com
suavidade em meu pescoço.
Senti meus pelos eriçarem. Aquela sensação era uma
novidade para mim.
Ele subiu suas mãos por minha cintura, até chegar nos
botões da minha camiseta, desabotoando devagar.
Quando dei por mim, a peça já estava sendo tirada de meus
braços e meu sutiã preto estava à mostra.
Eu permanecia quase imóvel, sem saber como agir, apesar
de ter imaginado aquela situação milhares de vezes.
Todos os movimentos que Robert fazia eram lentos, e foi
assim no momento em que ele tirou meu sutiã.
Ele prensou meu corpo contra a bancada, colando minhas
costas em seu corpo e acariciando meus seios. Passou seus dedos
por meus mamilos e brincou com ambos. Naquele momento, fechei
minha boca para evitar que um gemido de prazer saísse,e eu sabia
que era apenas o começo.
Eu assistia tudo pelo espelho em nossa frente, deixando-me
cada vez mais excitada.
Decidi tomar alguma iniciativa e virei de frente para o homem,
beijando seus lábios de forma suave enquanto tirava seu paletó.
Abri cada botão de sua camisa branca e o livrei da peça.
Dei uma boa olhada em seu abdômen definido, mordendo o
lábio inferior.
— Parece estar gostando do que vê — disse ele, puxando-
me pela cintura.
— Gostei, mas quero ver muito mais.
Robert apertou minha bunda com força e empurrou-me até
que eu sentasse na bancada atrás de mim. Ele encaixou seu corpo
perfeitamente entre minhas pernas, fazendo eu sentir o quanto ele
estava excitado.
Eu mexia meu quadril, esfregando-me nele enquanto nos
beijávamos ardentemente. Sentia sua pele quente roçando em
meus seios, seu perfume amadeirado me deixando extasiada.
Robert abriu o botão da minha calça jeans e eu o ajudei a
tirá-la junto com minha calcinha.
Pela primeira vez eu estava nua na frente de um homem, e
não me senti nada envergonhada, pelo contrário. Eu estava
gostando de ser observada por ele.
Sua mão escorregou por meu corpo até meu clitóris,
massageando-o.
— Eu estou tão molhada — falei, em um quase gemido,
fechando os olhos e jogando minha cabeça para trás.
Robert penetrou um dedo em mim, pegando-me de surpresa.
Em seguida introduziu o segundo.
— Perfeita para me receber.
— Estou ansiosa para isso.
— Então somos dois — respondeu, abrindo a calça com
rapidez.
Puxei a bolsa que estava ao meu lado e peguei a camisinha
que eu havia levado.
— Aqui — falei, erguendo-a.
Ele sorriu, pegando de minha mão.
— É claro que eu não ia esquecer.
Ele a abriu com os dentes e a colocou, rápido demais para o
meu gosto.
Eu não iria falar que aquela era minha primeira vez, mas
estava torcendo para que não doesse tanto quanto ouvi dizer.
Senti Robert entrando em mim aos poucos.
— Tão apertada — comentou, movendo-se lentamente.
Não respondi, não sabia o que falar. Estava com receio de
que ele descobrisse minha virgindade, então apenas segui.
Estava doendo, mas não sangrando. Era impossível eu
ignorar a dor que estava sentindo, mas os beijos no pescoço e as
carícias em meus seios ajudavam a disfarçar.
Ele aumentou a sua velocidade gradativamente. Senti-me
mais confortável depois de alguns minutos, mas não sem dor.
Robert pegou uma de minhas mãos e a levou até meu clitóris,
então entendi que ele queria que eu me tocasse.
Suas mãos apertavam minhas coxas com força, e o homem
em minha frente estava ficando cada vez mais ofegante.
Em mais algumas estocadas, gemeu enquanto seu corpo
estremecia. Ele havia atingido seu orgasmo.
Juntei nossos lábios mais uma vez, agora em um beijo calmo.
— Eu preciso ir, está na minha hora — sussurrei, afastando
meu rosto em alguns centímetros.
— Então precisamos nos encontrar mais uma vez para eu
compensar você.
— Eu iria adorar.
Sorri, recebendo um selinho rápido em forma de despedida.
Naquela noite, voltei para casa realizada, e talvez um pouco
dolorida.
Sabia que a partir dali a minha vida sexual só tendia a
melhorar, e eu estava ansiosa para encontrar aquele homem
novamente.

[...]
No momento em que abri os olhos a primeira coisa que veio
em minha mente foi Robert. Eu ainda estava anestesiada com a
noite anterior. Nunca criei fantasias e expectativas. Tirando o fato de
ter sido no banheiro feminino, minha primeira vez foi do jeito que
imaginei.
Eu estava ansiosa para contar tudo o que havia acontecido
para Anny, a última vez que a vi foi quando eu estava sentada
conversando com Robert.
Enquanto eu entrava na empresa e caminhava em direção ao
elevador uma ideia fixa se passava pela minha cabeça desde a
noite anterior: eu queria vê-lo de novo. Quem sabe podíamos ter
alguns encontros sexuais, nem que fosse no horário de almoço.
— Bom dia, vai subir?
Meu pensamento foi interrompido. Era uma mulher alta,
morena, muito bem vestida e bonita. Eu já havia a visto de longe,
era uma das minhas colegas de trabalho, porém, ainda não tivera
oportunidade de conhece-la
Eu estava tão distraída pensando em Robert e imaginando
futuros encontros que não percebi o elevador abrir.
— Bom dia, decimo terceiro andar por favor.
— Johnson´s Real Estate, também estou indo para lá. Acho
que já nos vimos, mas não fomos apresentadas. Sou Elizabeth.
— Alice. — Abri um sorriso amigável.
Assim que a porta do elevador abriu, percebi que um homem
estava passando. Era Robert. Fiquei um pouco surpresa, mesmo
sabendo que era seu lugar de trabalho e que provavelmente nos
encontraríamos mais cedo ou mais tarde. Ele parou seu olhar em
mim, mas não disse nada. Parecia tão surpreso quanto eu. Sabia
que deveria ser educada e cumprimenta-lo, mas antes que eu
pudesse dizer qualquer coisa ouvi a voz de Elizabeth:
— Bom dia senhor Johnson.
— Bom dia Elizabeth. Não a vi na festa ontem.
— Desculpe, fui para casa para cuidar do meu filho. Minha
mãe não pôde ficar ele, mas no mês que vem estarei aqui —
respondeu Elizabeth com um sorriso nos lábios.
Então ele tornou sua atenção para mim.
— Bom dia.
— Bom dia. — Eu não consegui dizer mais nada. Senti
minhas bochechas corarem. O Robert era mesmo o senhor
Johnson? O dono da empresa? Eu não conseguia acreditar.
Ele pareceu perceber o meu incômodo, e logo depois que o
respondi continuou seu caminho para o que parecia ser a sala de
reuniões. Elizabeth não percebeu nada.
— Esse é o senhor Johnson? O CEO? — questionei.
— Sim, Robert e seu pai Feliphe são os donos da empresa.
Pelo que eu saiba, Feliphe fundou a imobiliária há muitos anos e
agora que Robert está comandando, o pai quase não aparece por
aqui.
Aquilo era sério? Eu transei com o meu chefe sem ter a
mínima ideia de que ele era? Com que acara eu olharia para ele
depois disso?
Sentei em minha cadeira ainda chocada. Por qual motivo
Robert não me contou que era o senhor Johnson? Eu precisava
esquecer essa história, pelo menos por enquanto, precisava me
concentrar no serviço.

[...]
— Como assim você transou com o senhor Johnson? —
Anny perguntou incrédula.
— Como eu poderia imaginar que estava fazendo sexo com o
meu chefe?
— Pelo menos ele não fica muito por aqui, você não vai
encontrar com ele.
— Minha única vontade na hora foi de cavar um buraco e
entrar para dentro dele — lamentei ainda tímida.
— Mas me conte, como foi tudo? Como foi perder a
virgindade no banheiro da empresa?
— Foi exatamente como imaginei. Robert é maravilhoso. No
começo doeu um pouco, mas depois fui acostumando. Tínhamos
até comentado de repetir a dose, mas agora que sei quem é ele,
prefiro ficar distante.
— Entendo você, também estaria morrendo de vergonha.
Agora eu deveria tirar da minha cabeça a ideia de ter novos
encontros sexuais com Robert, iria apenas cumprimenta-lo
formalmente caso o encontrasse. Eu queria o mínimo possível de
contato.
Pelo menos eu havia conseguido o que queria: tinha perdido
a minha virgindade, e estava feliz com isso.
Capitulo 3

Era hora do almoço e eu estava faminta. Segui em direção ao


refeitório quando percebi Robert no final do corredor. Ele me viu. No
mesmo instante senti que minhas bochechas ficaram vermelhas.
Pensei em desviar o caminho, mas era tarde demais, ele estava
vindo em minha direção.
— Boa tarde, ou melhor, bom dia. Ainda não almocei —
cumprimentou, sempre muito simpático.
— Bom dia. — Tentei ser o mais natural possível e não
demonstrar que estava com vergonha.
— Está indo para o almoço? — questionou.
— Sim. Normalmente eu almoço mais cedo, mas quis
terminar o trabalho que estava fazendo primeiro. Estou morrendo de
fome.
— Estou indo ao restaurante que fica no final da avenida.
Seria um prazer ter a sua companhia — falou ele com um sorriso
sedutor.
Fiquei em silêncio por alguns instantes. Eu sei que disse que
não queria mais encontros sexuais agora que sabia que Robert era
meu chefe, mas um almoço não tinha problemas, não é mesmo?
Sem falar que era quase impossível o recusar.
— Vamos. Eu pago — completou.
— Tudo bem, me convenceu — disse com um sorriso nos
lábios.
Eu não desperdiçaria comida de graça, e principalmente não
desperdiçaria a oportunidade de ter a companhia de Robert mais
uma vez.
Fomos caminhando em direção ao restaurante que ficava no
final da rua. Chegamos sem demora.
— Vou pedir bife à parmegiana — falou enquanto
sentávamos.
— Parece ótimo. Vou querer o mesmo.
Nossa comida chegou rapidamente. Enquanto esperávamos
conversamos sobre coisas aleatórias. Ele era muito simpático. Eu
estava me sentindo muito confortável com sua presença.
Eu queria questioná-lo. Queria saber o motivo de não ter me
contado quem era.
— Por que não me contou naquela noite que você era o
CEO? Sabe, seria bom saber que eu estava transando com o meu
chefe.
— Mas isso iria fazer alguma diferença?
— Ué, vá que fizesse.
— Então podemos tentar de novo agora que você sabe e
verificar se faz diferença ou não.
Minhas bochechas coraram mais uma vez, mas decidi que a
ousadia era a melhor escolha para aquele momento.
— Eu adoraria. Quando quiser é só avisar.
Robert olhou fixamente para mim, então fiz o mesmo. Depois
de alguns segundos desviei o olhar em direção ao garçom que
passava ao meu lado.
— Esse bife está maravilhoso — comentei tentando mudar de
assunto.
— Concordo. Eu adoro a comida daqui.
— Eu sempre passava na frente desse restaurante, não
imaginava que fosse tão luxuoso por dentro.
— Podemos vir mais vezes, se você quiser.
Aquilo era um convite para jantar?
— Aceito o seu convite. Amei a comida.
— Só a comida? — perguntou ele com sorriso sugestivo.
— E a sua companhia também. — Eu estava com vergonha,
mas não queria que ele percebesse. — Com certeza viremos mais
vezes — completei.
O almoço com Robert havia sido muito agradável. Passei o
resto do dia refletindo. Será que sairíamos novamente? Eu não tinha
como negar, eu queria isso.
Nos dias seguintes fiquei torcendo para ver Robert pelos
corredores de novo. Ainda tinha esperanças de um novo encontro.
Aquela tarde estava particularmente quente, parecia que o ar
condicionado não estava dando conta. Resolvi fazer uma pequena
pausa para beber água, e quem sabe esticar um pouco as pernas.
Estava na frente do filtro, com um copo de plástico na mão.
Olhei para a grande janela de vidro que ficava no corredor. O tempo
dava sinais de que iria mudar, pensei que um temporal estava por
vir. Me aproximei lentamente da janela para observar melhor. Foi
quando eu o vi saindo de uma sala, parecia ser a sala de reuniões,
mas eu ainda não tinha certeza. Ele estava com seu terno
impecável. Era impossível olhar para aquele homem e não o
desejar.
— Alice, como vai?
— Ótima. E você?
— Muito bem. Parece que o tempo vai mudar. — comentou.
— Sim, estava reparando nisso. Espero que o temporal não
seja muito forte.
Por um pequeno momento ficamos em silêncio. Então Robert
decidiu quebra-lo:
— Não esqueci nosso próximo almoço. Estou trabalhando
muito nesses últimos dias, mal tenho tempo para ir almoçar, mas
iremos em breve, se você ainda quiser.
— Claro que quero, estou contando com isso.
— Me acompanha até o final do corredor?
Olhei o lugar que ele indicou. Eu sabia que não havia nada lá,
era apenas um lugar vazio e reservado.
— Acompanho — respondi com um sorriso.
Depois de alguns poucos passos, Robert voltou a atenção
para mim.
Olhei em volta e não vi ninguém perto de nós. Sabia
exatamente o que ele estava querendo, e, apesar de ter dito
milhares de vezes que eu não ficaria com o meu chefe novamente,
eu também queria.
Apenas me aproximei e beijei seus lábios.
Robert me envolveu em seus braços. Senti suas mãos em
minhas costas, em seguida descendo até minha bunda.
Nossa respiração estava ofegante, os beijos ficavam cada
vez mais rápidos. Minha vontade era de arrancar a sua roupa ali
mesmo. Foi quando ouvimos alguém passar no corredor. Era uma
mulher, ela não nos viu.
Dei um passo para trás. Talvez não devêssemos estar
fazendo aquilo ali.
— Melhor eu ir. Já estou atrasado — disse ele antes mesmo
que eu me pronunciasse.
— Tudo bem. Também preciso voltar ao trabalho.
O homem beijou levemente meus lábios mais uma vez.
— Até mais. Nos vemos em breve — falou mordendo o lábio
inferior.
— Até mais.
Fiquei ali parada, olhando-o até ele pegar o elevador.
Eu precisava me recompor. Aquele homem literalmente
estava tirando meu ar. Eu mal podia esperar pelo nosso próximo
encontro. Queria senti-lo de novo, agora sem dor.
Capitulo 4

As semanas se seguiram normalmente. Torcia para ver


Robert pela empresa, porém, isso quase nunca acontecia. Ele
andava bastante ocupado ultimamente, e quando nos víamos ele
estava sempre correndo, e apenas nos cumprimentávamos.
— O que você acha de hoje ao invés de comermos aqui
irmos comer um lanche? Estou com tanta vontade de comer
hambúrguer de frango com muita muçarela. Abriu aquela lancheria
nova perto daqui.
— Claro, faz tempo que não como lanche. — Anny pareceu
gostar da ideia.
A manhã estava passando mais devagar do que de costume.
Eu parecia um pouco ansiosa, mas não tinha motivos. Não via a
hora do intervalo chegar, ir para a rua, respirar ar puro e comer meu
hambúrguer de frango.

[...]
— Que lugar lindo! — exclamou Anny assim que entramos
no restaurante.
— Incrível. Amei essa decoração medieval — falei enquanto
escolhíamos uma mesa.
As paredes pareciam de pedra, a iluminação era um pouco
escura, com luzes individuais em cada mesa.
— Estou na dúvida do que pedir — disse a garota passando
os olhos pelo cardápio.
— Eu quero hambúrguer de frago com suco natural de uva.
— Eu estava faminta.
Nossos pedidos chegaram sem demora. O meu hamburguer
estava maravilhoso, era exatamente isso que eu estava com
vontade de comer. O suco de uva natural deu o toque especial.
— E o senhor Johnson? Não saíram mais para almoçar? —
Anny bebericou um gole do seu refrigerante.
— Não. Ele passa por mim algumas vezes nos corredores,
mas ainda não tivemos uma nova oportunidade.
O almoço foi ótimo, realizei meu desejo de comer
hamburguer de frango e ainda sobrou um tempinho para
conversamos.

[...]
Eu estava concentrada no meu trabalho quando comecei a
sentir um enjoo. Pensei que o lanche do almoço não havia me caído
bem. Por uns instantes tive que parar e respirar, fui até o banheiro e
lavei o rosto. A sensação era muito desagradável, parecia que eu
iria vomitar a qualquer momento. Tudo me estava muito estranho,
pois eu não era acostumada a ter enjoos. Respirar fundo e fechar os
olhos fazia com que eu me sentisse um pouco melhor. Depois de
alguns minutos no banheiro, me senti confortável para voltar para
minha mesa.
— Alice, Você está bem? Parece pálida! — Questionou Harry,
meu colega de trabalho.
— Está tudo bem, só tive um enjoo. Eu comi lanche hoje e
deve ter sido isso, não estou acostumada a comer essas coisas —
falei enquanto sentava de volta em minha cadeira.
— Você não parece bem. Deveria falar com o senhor
Johnson e ir para casa — Harry pareceu preocupado.
— Não vou incomodar o senhor Johnson, e eu já estou me
sentindo melhor. Se o enjoo voltar, eu vou para casa. — Menti para
Harry, pois apesar do pior ter passado, eu ainda sentia uma leve
tontura.
Terminar o dia de trabalho foi torturante. Apesar do enjoo não
voltar tão forte quanto da primeira vez, eu ainda não me sentia bem.
Tentei disfarçar ao máximo para ninguém reparar.
Pela primeira vez fiquei triste por precisar pegar o ônibus,
uma carona do meu pai era tudo o que eu queria naquele momento.
Assim que cheguei em casa fui direto para o meu quarto, só
queria me jogar na cama e dormir. Eu estava cansada, enjoada,
tonta e sonolenta, e não sabia o motivo disso. Será que um
hambúrguer poderia ter causado tudo isso? Ele estava super
saboroso, e se fosse o lanche Anny também teria passado mal, e
ela parecia bem. Resolvi mandar uma mensagem:
“Oi. O lanche de hoje me fez mal, estou enjoada até agora.
Aconteceu com você também?”
Esperei alguns minutos por sua resposta.
“Não, comigo não aconteceu nada. Eu amei o hamburguer,
inclusive já ia convidar você para irmos lá novamente semana que
vem.”
Uma batida na porta tirou a minha atenção da mensagem.
— Alice, você já tomou banho? O jantar está pronto.
— Já estou indo.
Eu não queria comer, estava completamente enjoada e tenho
certeza que se tentasse comer vomitaria na hora. Fui até a cozinha
para falar com meus pais.
— Mãe, não vou jantar hoje, estou sem fome.
— Como assim sem fome? Você está comendo porcarias na
rua? — questionou minha mãe aumentando seu tom de voz.
Eu sabia que ela não gostaria da resposta.
— Comi um hamburguer no almoço, mas não foi nada
demais.
— Como assim não foi nada demais? — Interrompeu meu
pai. — Você sabe que é proibida de comer na rua. Eu sabia que
essa história de deixar você trabalhar não iria dar certo. Seu lugar é
em casa, do lado de sua mãe, ajudando nas tarefas domesticas.
Eu não sabia o que dizer, não queria perder o meu emprego,
era a primeira vez que eu estava tendo um pouco de liberdade.
Então disse a única coisa que poderia falar, tentando deixar eles um
pouco mais calmos:
— Me desculpe pai, não farei mais.
— Vamos pensar no que fazer, pode tomar o seu banho e ir
para seu quarto.
Minha mãe parecia mais calma, acho que dessa vez meu
emprego estava salvo.

[...]
— Bom dia. Está melhor? — questionou Harry assim que viu.
— Estou bem, eu disse que não precisava se preocupar —
respondi com um leve sorriso.
Eu não estava mentindo, realmente me sentia bem melhor
hoje, mas ainda não estava normal. O enjoo ainda incomodava. Não
havia conseguido terminar meu café da manhã, pois assim que
começava a comer o enjoo voltava. Antes de começar a trabalhar,
resolvi ir até o refeitório para tomar um chá, quem sabe ajudaria.
Ainda tinha uns minutos até o meu horário começar.
Sentei em umas das mesas do lugar e bebi um gole de chá.
Nada de enjoo. Eu estava certa, o chá realmente foi uma boa ideia,
me sentia bem. Assim quer terminei segui para a sala de volta ao
trabalho, porém, quando estava quase chegando, uma tortura
repentina me invadiu. Tudo começou a girar, como se eu não
conseguisse me equilibrar em pé. Acho que perdi a consciência por
alguns segundos. Quando dei por mim, Harry e James estavam em
minha volta tentando ajudar. Anny viu a movimentação e correu em
minha direção.
— O que aconteceu? — perguntou a garota preocupada.
— Ela quase desmaiou. Não está bem desde ontem, devia
ter ficando em casa. — respondeu Harry
— Já estou melhor, foi só uma tontura. Deve ter sido o calor.
— Ela precisa descansar. Vou ajudá-la a ir para casa — falou
Any.
— Tudo bem. Vou avisar o ocorrido para o senhor Johnson —
disse James se afastando.
— Tem certeza? Não seria melhor leva-la para o hospital? —
pergunto Harry preocupado.
— Não é necessário. Já estou me sentindo melhor. Vou para
a casa e tenho certeza de que amanhã já estarei bem.
Anny e eu pegamos o elevador. O movimento não ajudava
em nada, só aumentava o enjoo.
— Eu posso te acompanhar até em casa se preferir.
— Não precisa, vou chamar um Uber, assim que chegar em
casa, envio uma mensagem avisando.
A garota concordou, ficou ao meu lado até o carro chegar.

[...]
Passei o dia todo na cama. Não conseguia comer nada, só o
cheiro da comida enjoava meu estômago. Eu já estava preocupada.
Harry tinha razão, eu deveria ir ao médico. Nunca tive o costume de
ficar doente, nem quando criança. Poderia ser algo sério, e eu
precisava averiguar.

[...]
No dia seguinte acordei muito disposta. Os enjoos haviam
sumido.
— Alice, o que faz em pé a essa hora? — perguntou meu pai
franzindo o cenho.
— Vou trabalhar, o enjoo passou e estou me sentindo bem.
Nem vou precisar ir ao médico. Foi só uma indisposição.
Sentei na mesa para tomar o meu café da manhã. Eu estava
faminta, não havia comido praticamente nada no dia anterior.
— Tem certeza que está bem para ir trabalhar? — questionou
minha mãe.
— Sim, aposto que foi só uma reação ao lanche, junto com
cansaço. Esse um dia em casa foi o suficiente para descansar.
Tomei uma xícara de café preto, e para acompanhar uma
torrada com geleia. O enjoo e as tonturas haviam passado. Eu
estava pronta para voltar a minha rotina.
Durante a manhã eu não senti nada de anormal. Havia até
esquecido das sensações horríveis que passei no dia anterior.
— Você parece bem melhor hoje — comentou Anny enquanto
seguíamos para o refeitório para o intervalo do almoço.
Eu realmente achei que estava curada. Seja do que fosse,
estava ótima, mas isso mudou no momento em que entramos no
refeitório e senti cheiro de comida. Uma ânsia de vômito quase
incontrolável seguida de uma tontura. Precisei me escorar na
parede que estava ao meu lado.
— Alice! O que aconteceu? Você está bem?
— Acho que vou vomitar.
— Calma, vamos até o banheiro.
Escorei-me em Anny e fomos até o banheiro, eu mal
conseguia caminhar.
— Obrigada. — Forcei um sorriso enquanto lavava meu rosto
na pia do banheiro. — Me sinto um pouco melhor.
— Alice, esses enjoos então muito estranhos, você precisa ir
ao médico. Se quiser eu vou com você.
— É só um enjoo, já vai passar.
— Você disse isso ontem e veja só como você está! — Anny
parecia preocupada. — Eu estive pensando, enjoos são sinais
clássicos de gravidez.
— Sem chances! Fiz sexo apenas uma vez, e ainda assim,
usamos camisinha.
— Você sabe que nenhum método é 100% seguro não sabe?

Essa ideia jamais havia passado por minha cabeça. Anny


poderia estar certa? Será que eu realmente estava grávida? Como
eu contaria para meus pais? Mil coisas passaram por minha mente.
Eu não conseguia digerir. Fiquei sem reação, apenas em pé, em
frente ao espelho, olhando meu reflexo.

— Vamos comprar um teste de gravidez e tirar isso a limpo.


Eu ainda não estava pronta para isso. Ainda preferia acreditar
que foi só reação à alguma coisa que comi, ou cansaço. Não estava
preparada para o que esse teste poderia mostrar.

— Amanhã. Caso eu não melhore até amanhã, nós


compramos.
— Não seria melhor descobrir logo? — questionou a garota.
— Não. Tenho quase certeza de que não é nada. Amanhã
vou estar melhor.

Voltamos para o refeitório. Eu ainda sentia que não


conseguiria comer, parecia que iria vomitar a qualquer momento,
então decidi não arriscar. O resto do dia passou sem muitos enjoos
ou tonturas. O que realmente estava incomodando agora era o que
Anny havia dito. Essa ideia de gravidez não saía da minha cabeça.

Assim que cheguei em casa fui direto para meu quarto.


Queria pesquisar tudo sobre gravidez. Vi em um site onde dizia que
a eficácia da camisinha era de 97% se usada corretamente. No
mesmo instante que li isso me veio uma questão em mente: Será o
Robert havia colocado o preservativo direito? Lembro de pensar na
hora que ele colocou rápido demais. Se isso se confirmasse, o que
eu faria agora? Tinha certeza de que meus pais não iriam aceitar.

Não consegui dormir. Essa ideia de gravidez ficava


martelando em minha cabeça. Anny tinha razão, eu deveria ter feito
o teste o quanto antes. Agora já saberia a verdade e não estaria
nessa dúvida agoniante.

Depois de uma noite que parecia eterna, finalmente


amanheceu. A princípio eu tinha planejado fazer o teste no horário
de almoço. Mas essa dúvida estava me matando. Decidi que assim
que chegasse na empresa iria correndo até a farmácia para comprar
o teste.

Acenei para meu pai e esperei que ele saísse da minha


visão. Segui em direção à farmácia que ficava a apenas uma quadra
da imobiliária. Eu ainda tinha uns minutos antes do meu horário,
então era provável que não me atrasaria. Comprei o teste e
rapidamente voltei para a empresa.

Só de olhar para o teste de gravidez eu já começava a suar,


eu ainda não estava preparada para o resultado. Travei assim que
entrei não banheiro. Fiquei em pé, parada, olhando para a
embalagem da farmácia. Não consegui abrir.

— Bom dia. Está tudo bem? Você não costuma atrasar —


questionou Harry quando entrei na sala.

— Está tudo bem. Só precisei passar na farmácia.

Eu decidi fazer o teste no horário de almoço. Com Anny ao


meu lado eu me sentiria melhor. Era o que eu pensava.

Os minutos não passavam. Eu estava tensa. Mal consegui


me concentrar no trabalho.

[...]
— Tudo bem. Vou estar aqui com você — Anny estava
tentando me acalmar.
— E agora?

Entrei na cabine do banheiro com um início de crise de


ansiedade. Eu estava tremendo, não conseguia controlar os
movimentos do meu corpo. Saí da cabine com o teste na mão.

— Então o que diz? — questionou Anny.

— Dois traços — falei em um quase sussurro.

Eu havia pesquisado a noite inteira, sabia que dois traços


significavam grávida.
Fiquei sem reação. Eu estava em choque, senti um nó se formar em
minha garganta. Anny não disse nada, ela apenas me envolveu em
um abraço. Todos aqueles pensamentos que eu estava tentando
afastar desde o dia anterior voltaram a minha mente. O que faria?
Eu tinha apenas 19 anos. Meus pais sempre foram bem claros em
relação as suas regras, e eu sabia que eles nunca aceitariam. Meus
olhos encheram de lágrimas e senti o choro se aproximando. Por
alguns instantes nós apenas ficamos ali, paradas no meio do
banheiro, nos abraçando. Tudo que eu queria fazer era chorar.

Assim que o choque inicial passou, fomos em direção ao


refeitório. Eu sabia que não conseguiria comer nada, mas Anny
precisava se alimentar.

— Vai dar tudo certo. Vou ficar do seu lado. — disse Anny
forçando um sorriso enquanto sentávamos em uma mesa.

— Obrigada. — Foi tudo que consegui falar.

— Você precisa fazer o teste laboratorial e começar o


acompanhamento médico. Quer que eu vá com você ou prefere
contar para o senhor Johnson primeiro?

— Não sei se devo contar pra ele. Preciso pensar.

— Como assim? — Anny pareceu exaltada. — Ele é o pai,


ele precisa saber. Você não deve criar essa criança sozinha.

— Eu sei, mas no momento não estou conseguindo


raciocinar. Acho que não vou voltar ao trabalho. Pode avisar que
passei mal e tive que ir para casa?

— Claro. Você precisa descansar.


Tentei controlar o choro enquanto pegava o elevador, mas era
quase impossível. Quando finalmente saí do prédio e pude sentir o
ar fresco eu desabei. Chorei como há muito tempo não chorava.

Eu não queria ir para casa, não queria enfrentar minha mãe e


sabia que não iria conseguir mentir.
O céu estava nublado, o clima não era mais tão quente,
mostrando que o outono se aproximava. Por alguns minutos eu
apenas caminhei sem rumo pelas ruas de San Diego. Depois do
meu choro cessar, resolvi pedir um motorista de aplicativo e ir até à
praia La Jolla Cove. A viagem durou cerca de 30 minutos. O balanço
do carro me enjoou, mas eu já estava começando a acostumar com
isso.
Eu amava estar em contato com a natureza e a praia La Jolla
com certeza era o meu lugar preferido. O lugar estava quase vazio,
com exceções de alguns surfistas. Provavelmente o clima mais
fresco afastou os banhistas. Sentei-me na areia e fiquei apenas
observando os pássaros no céu.

Passei a mão por minha barriga e tentei imaginar como seria


a minha vida com um filho. Eu sabia que não seria nada fácil, nunca
imaginei ser mãe solteira aos 19 anos. Eu já conseguia imaginar a
reação dos meus pais: um aborto. Porém, só de pensar em tirar o
meu filho, ficava com vontade de vomitar. Eu jamais faria isso.
Enquanto acariciava minha barriga eu pude sentir a sua presença.
— Não vou deixar nada de mal acontecer com você — falei
em um sussurro.
Tinha certeza de que ele conseguia me ouvir, mesmo sendo
do tamanho de uma ervilha.

Eu realmente estava precisando disso, um tempo sozinha,


para pensar e decidir o que fazer. Esse momento me fez bem, eu
estava calma e relaxada. Já sabia o que iria fazer. Precisava
enfrentar os meus pais de alguma forma. Eu iria falar com eles.
Capitulo 5

Alguns dias haviam passado. Fiz o teste laboratorial e só


confirmou o que eu já tinha certeza:estava gravida. Os enjoos ainda
incomodavam, mas eu estava conseguindo lidar com eles.
Decidi que por enquanto não contaria nada para Robert. Eu
precisava falar com meus pais primeiro. Pensei em falar com eles
pela manhã, antes de ir trabalhar. Sabia que a reação deles seria a
pior possível, principalmente a de meu pai.
Respirei fundo e segui até à cozinha, enquanto me
aproximava puder sentir o cheiro delicioso de café. Eu estava
começando a sentir torturas e enjoos, não sabia se era o meu enjoo
matinal ou o nervosismo.
— Alice. Acordou mais cedo. Ainda estou preparando o café.
— Eu sei, mãe. Queria conversar com vocês antes de ir
trabalhar.
Eu havia ficando a noite inteira pensando e planejando o que
falar, mas assim que vi meus pais travei.
— O que aconteceu? — Minha mãe parecia curiosa.
— Vocês lembram do dia da festa da imobiliária, que fiquei
até depois do horário? — Me aproximei da bancada, onde minha
mãe estava preparando o café da manhã.
— O que está querendo dizer? Fale Alice, sem enrolação. —
Ordenou meu pai.
Percebi que ele estava ficando alterado. Seu rosto,
normalmente pálido, começara a dar espaço para um tom
avermelhado. Então decidi falar, sem mais delongas.
— Estou grávida — falei quase sussurrando.
Os dois foram pegos de surpresa, assim como eu, dias atrás.
Foram necessários alguns segundo para digerirem o que eu
acabara de falar.
— O que você falou? — Pude ver a raiva nos olhos do meu
pai.
— Pai fiquei calmo. Vou contar como tudo aconteceu.
— Eu não quero saber como aconteceu. Você vai tirar isso
imediatamente.
— Não! Eu não vou tirar o meu filho — respondi alterando
minha voz.
Meu coração estava disparado, tinha a sensação que iria sair
para fora do peito. Senti meus olhos ficando molhados, eu estava
tentando controlar o choro. Ele não esperava que eu o enfrentasse,
ficou surpreso com minha resposta, e antes que eu pudesse falar
mais alguma coisa, o homem levantou da mesa e veio até mim. No
momento em que levantou a mão em direção ao meu rosto, minha
mãe o segurou.
— George! Fique calmo, isso não vai resolver nada. Ela está
grávida.
Senti um certo alívio em saber que minha mãe não estava
totalmente contra mim.
— A culpa é sua Cecília. — Ele voltou sua atenção para ela.
— Você não educou essa menina corretamente.
O homem gritava, tentando jogar a culpa toda em cima dela.
Com certeza os vizinhos estavam ouvindo toda a confusão. Ele a
pressionou contra a parede. Apertando seus braços. Eu já havia
visto cenas como essa algumas vezes durante minha infância,
porém, depois que minha mãe passou a aceitar e obedecer a tudo
que meu pai falava, as brigas diminuíram.Mas dessa vez eu não iria
permitir.
— Pai! Solte — falei tentando segurar seu braço — A culpa é
minha.
Ele soltou, respirou fundo e passou as mãos pelo rosto.
— Tudo bem. Vamos resolver isso agora. Entre no carro.
Olhei em sua direção, franzino o cenho.
— Para onde vamos?
— Já disse, você vai tirar esse bebê. Não posso aceitar filha
minha grávida e solteira.
As lágrimas corriam por meu rosto sem controle. Eu sabia
que seria difícil, mas não estava disposta a ceder. Eu iria ter esse
filho.
Antes que eu o respondesse, meu pai levou a mão até seu
peito. Estava com dificuldades para respirar. Minha mãe correu até o
armário de remédios.
— Aqui seu remédio. Tente ficar calmo — disse ela servindo
um copo de água.
Fiquei ali em pé, imóvel, observando a situação. Meu pai
tinha alguns problemas de saúde. Sempre que ficava nervoso ou
ansioso sua pressão subia e ele sentia mal estar. Mas logo se
recompôs.
— Eu vou trabalhar mais cedo. Quando eu voltar no final da
tarde, esteja preparada. Você não pode ter esse filho.
Meu pai me lançou um olhar de raiva que eu nunca havia
visto antes. Assim que ele saiu pela porta eu abracei minha mãe e
chorei descontroladamente.
Quando nos acalmamos um pouco, sentamos na bancada e
tomei uma xícara de chá de hortelã. O chá estava me ajudando
bastante nesses dias de enjoos.
— Seu pai tem razão, Alice. Você não pode criar um filho
sozinha, sem pai. O que as pessoas iriam falar?
— Eu não me importo com o que as pessoas vão falar, só me
importo com meu filho. Ele já faz parte de mim, já sinto a presença
dele. Eu pensei bastante, e eu quero ser mãe.
— E o pai da criança? Quem sabe se vocês casarem seu pai
aceite.
— Nem pensar, mãe. O pai é meu chefe, e nem tenho
certeza se vou contar para ele.
Resumi rapidamente para minha mãe como tudo havia
acontecido. Ela estava com a ideia fixa de que teríamos que casar,
só assim meu pai aceitaria tudo o que aconteceu.
Olhei para o relógio e percebi que era para estar começando
a trabalhar agora. Por uns instantes pensei se iria ou não trabalhar.
Decidi ir, se meu pai realmente fosse contra eu ter o meu filho, esse
emprego era tudo que eu tinha, e não podia correr o risco de perde-
lo. Despedi de minha mãe e chamei um Uber para estar lá mais
rápido. Iria chegar um pouco atrasada, mas era melhor do que não
ir.

[...]
Senti que fiquei muito mais leve depois de ter contato tudo
para meus pais. Voltei a ter concentração no trabalho e estava me
sentindo muito bem, apesar dos enjoos.
— Não acredito que seu pai mandou você tirar o bebê —
Anny estava chocada.
— Eu tinha quase certeza de que ele iria falar isso. Tenho
esperança de que ele mude de ideia. Quem sabe foi no calor do
momento.
— E sua mãe?
— Ela vai pelo meu pai. O que ele falar ela só concorda.
Disse que se casasse com o Robert meu pai aceitaria.
— Falando nisso, quando vai contra para ele?
— Ainda não sei se vou contar. Primeiro quero resolver a
situação com meu pai, depois decido o que fazer.
Conforme o dia foi passando, meu nervosismo foi
aumentando. Será que meu pai estava mais calmo? Nós ainda
tínhamos muito que conversar. Eu precisava fazer ele aceitar. No
intervalo da tarde resolvi enviar uma mensagem para minha mãe,
queria saber se situação estava melhor, porém, a resposta não foi
nada animadora:
“Seu pai ainda está nervoso. Falei com ele no almoço e ele
está irredutível sobre a ideia de tirar o bebê”
Não consegui disfarçar meu desânimo. Pensei que algumas
horas fossem o suficiente pra ele ficar mais calmo. Quem sabe ele
não estaria precisando de mais tempo. Pensei em pegar meu
dinheiro e passar a noite em um quarto de hotel. Eu não havia
gastado nada desde que recebi meu primeiro pagamento, a não ser
com alguns carros de aplicativo. Estava juntando tudo para tentar
realizar o sonho de ter o meu salão de beleza. Perguntei para Anny
o que ela achava da ideia, e ela concordou. A garota sugeriu que eu
passasse a noite em sua casa, mas eu recusei. Queria ficar sozinha.

[...]
O quarto de hotel era simples, porém, aconchegante. Não
poderia gastar muito dinheiro, principalmente se não tivesse ajuda
financeira dos meus pais para criar meu filho.
Tomei um banho quente e demorado, em seguida joguei-me
na cama. Tudo que eu queria fazer era relaxar e dormir, mas um
pensamento insistia em vir à minha mente: contar ou não para
Robert?

[...]
— Como foi a noite no hotel? — perguntou Anny enquanto
íamos em direção à nossas mesas.
— Foi boa. Amei passar a noite sozinha. Eu estava
precisando disso. Porém, não consegui dormir quase nada. Fiquei
rolando de um lado para o outro na cama.
Eu estava ansiosa para conversar com meus pais, tinha
quase certeza que eles haviam pensado melhor, e que iriam aceitar
minha gravidez.
O tempo não passava, o dia estava arrastado, e minha
ansiedade só aumentava. Assim que terminei meu trabalho corri
para o ponto de ônibus, queria chegar em casa o quanto antes.
No momento em que abri a porta de casa, uma surpresa:
meu pai estava em lá. Isso não era comum, pois meu pai chegava
do trabalho um pouco depois de mim. Os dois estavam sentados na
sala de estar, aparentemente calmos. Assim que os vi meu coração
disparou. Eu estava esperando o melhor, mas vê-los ali, aguardando
a minha chegada, foi assustador.
— Alice, estávamos esperando você — disse meu pai.
Caminhei lentamente em direção à poltrona que ficava ao
lado do sofá. Minhas mãos estavam começando a suar.
— Nós decidimos que você não terá essa criança. Vim mais
cedo para casa para conversar com sua mãe. Já separei algumas
clínicas, vou marcar um horário e você vai tirar isso.
— Não vou, eu já disse. — Sentia o nó se formar em minha
garganta.
— Alice, escute seu pai. É o melhor para todos. Se ao menos
você casasse com o pai do seu filho, não passaríamos pela
humilhação de ter uma filha mãe solteira. — Minha mãe estava
visivelmente abatida. Ainda assim, ela concordava com tudo que
meu pai falava.
— Pai, eu já decidi. Não me importo em ser mãe solteira. Vou
continuar meu trabalho na imobiliária, vou sustentar a mim e ao meu
filho. Posso deixá-lo em uma escola em tempo integral enquanto
estou trabalhando. Vocês não terão preocupações. Eu só preciso
que fiquem ao meu lado. Desviei meu olhar para o chão, encarando
o tapete da sala.
— A questão não é o dinheiro, e sim ter um filho sem pai.
Você vai tirar esse bebê agora ou sair dessa casa, a escolha é sua.
— George! Não podemos coloca-la na rua, ela está grávida.
— É a minha decisão. Não vou aceitar isso.
As lágrimas caíram,meu corpo inteiro estrava trêmulo, minha
respiração estava ofegante, como se faltasse ar para respirar. Não
poderia acreditar no que estava ouvindo. Meus pais iriam mesmo
me expulsar da casa?
— Talvez tenha outra saída — disse minha mãe quase caindo
no choro.
— A escolha é dela.
Eu nunca tinha sentindo tanta raiva como estava sentindo
naquele momento. Meu rosto estava fervendo. Eu sempre respeitei
meus pais acima de tudo. E agora que eu precisava de apoio, eles
me abandonaram. Peguei minha bolsa e saíem disparada para rua.
Eu precisava respirar. Senti que minha garganta fechou, meu peito
estava apertado. Faltava o ar. Enquanto passava pela porta ouvi a
voz de minha mãe chamar meu nome. Apenas segui em frente, sem
olhar para trás.
Cheguei na calçada e desabei, não importava quem
estivesse passando na rua, tudo que eu queria fazer era chorar.
Capitulo 6

Fui para o mesmo hotel que havia ido na noite anterior,


porém, meu dinheiro estava acabando, daria para mais duas ou três
noites. Tudo que eu consegui juntar por mais de 2 meses se foi em
alguns dias.
Tomei um banho quente e tentei relaxar. Sabia que toda essa
situação poderia fazer mal para meu bebê. Eu estava com muitos
enjoos, não consegui comer quase nada o dia todo. Anny havia
oferecido sua casa, mas não conheço sua mãe, e não gostaria de
ficar morando de favor. Voltar para a casa dos meus pais não era
mais uma opção, eu não pretendia falar com meu pai tão cedo.
Minha única solução era Robert. Afinal a culpa era dele também, na
verdade mais dele do que minha, pois tenho certeza que ele não
colocou a camisinha corretamente.
Depois de uma noite em claro, pensando no que fazer, decidi
que falaria com Robert antes do serviço.
Tomei um banho rápido e vesti a mesma roupa que estava,
eu precisava ir casa para buscar algumas peças. Fiz um chá de
hortelã. Eu estava carregando alguns sachês na bolsa desde que
descobri a gravidez, pois era a única coisa que não irritava meu
estômago. Queria chegar cedo na empresa, antes mesmo do
horário do serviço. Segui para o décimo terceiro andar, fui até a sala
de Robert e ele ainda não estava no escritório. Resolvi aguardar.
Depois de alguns minutos Robert apareceu. Ele ficou surpreso ao
me ver ali, em frente à sua sala.
— Bom dia. Está tudo bem?
— Eu preciso conversar com você. É muito importante. —
Robert abriu a porta de sua sala e deu espaço para que eu pudesse
entrar.
— O que aconteceu? Problemas com algum outro
funcionário?
— Não é isso. — Olhei para a grande janela que havia a
minha frente. Tentando desviar o olhar curioso do homem.
— Você lembra bem do dia em que nos conhecemos? O dia
da festa da empresa. — Minhas mãos estavam começando a suar.
— Eu bebi demais. Algumas coisas ficaram um pouco
confusas, mas lembro sim. Qual o motivo da pergunta, o que está
acontecendo?
Robert estava começando a ficar impaciente.
Meu coração acelerava cada vez mais. Estava sentindo os
enjoos e a tontura se aproximando.
Avistei uma poltrona de couro sintético, na cor branca, perto
da janela. Não hesitei em sentar.
— Você está bem? Está passando mal?
— Está tudo bem. — Olhei para o homem em pé, bem a
minha frente.
— Eu estou grávida. — Ele ficou sem resposta. Parecia não
acreditar. — E o filho é seu — completei.
— Como assim o filho é meu? Quem garante isso? — Robert
alterou o seu tom de voz.
— Foi naquela noite, da festa. Você deve lembrar de que
fizemos sexo no banheiro.
— Não pode ser meu, usamos camisinha.
— Eu era virgem até aquela noite.
Senti que meus olhos encheram de lágrimas, um nó começou
a se formar em minha garganta.
— Um filho? Não pode ser — sussurrou Robert ainda não
acreditando em tudo que acabara de ouvir.
— Você estava bêbado. Provavelmente não colocou o
preservativo corretamente.
Ele ainda estava em choque. Foi até o filtro de água que
ficava em um canto do escritório e serviu um copo.
— Não posso acreditar! Está nítido para mim que isso é um
golpe.
— Um golpe?
— Sei que pode estar interessada no meu dinheiro.
Como ele era capaz de pensar aquilo de mim? Usar um filho
para conseguir dinheiro? Eu nunca faria algo parecido.
— Eu já tinha decidido não contar pra você. Iria criar meu
filho sozinha, mas... — Deixei as palavras no ar. Não consegui mais
controlar as lágrimas.
— Mas o que? — ele questionou.
— Meus pais me expulsaram de casa. Falaram que eu
deveria tirar o bebê, e eu recusei. Não tenho para onde ir. Estou no
hotel Leeds que fica perto daqui. É um quarto simples, porém não
tenho mais como pagar.
Eu tentava controlar o choro. Não queria ter uma crise na
frente de Robert.
— Tudo bem. Pode continuar no hotel, eu acerto a conta. Se
você estiver realmente grávida de um filho meu, eu vou assumir.
Você não ficará desamparada. Vamos fazer um teste de DNA o
quanto antes.
Senti um alívio enorme ao ouvir suas palavras. Robert não
abandonaria seu filho, e apesar de não o conhecer, era exatamente
isso que eu esperava dele.
— Você parece abatida. Volte para o hotel e descanse. Não
precisa se preocupar com o trabalho hoje — disse ele me
oferecendo um copo de água.
E eu realmente estava. Os acontecimentos desses últimos
dias estavam acabando com o meu psicológico. Eu estava mesmo
precisando descansar.
— Obrigada — falei enquanto tomava o líquidoem meu copo.
— Eu passo no hotel mais tarde para acertar. Agora preciso
trabalhar, ou pelo menos tentar.
— Tudo bem. Eu vou indo.
Deu um leve sorriso de despedida.
Aproveitei que meu pai não estaria em casa e decidi ir buscar
algumas roupas. A porta estava aberta como de costume. Pelo
horário imaginei que minha mãe estaria na cozinha, lavando a louça
do café da manhã e deixando os alimentos preparados para o
almoço.
— Mãe? — chamei assim que cheguei.
— O que está fazendo aqui?
A mulher não parecia muito feliz em me ver.
— Vim buscar algumas roupas.
— Ande logo. Seu pai não ficará contente em saber que você
esteve aqui.
Subi as escadas em direção ao meu quarto e peguei algumas
roupas e objetos pessoais. Coloquei tudo em uma grande mala da
Barbie, eu a tinha há anos, foi um presente dos meus avós. Usei ela
uma única vez em uma viagem que fizemos ao Canadá.
Assim que voltei percebi que minha mãe ainda estava na
cozinha. Fui até ela e sentei em uma cadeira perto da bancada.
— Eu estou no hotel Leeds. Fica perto da imobiliária.
— Tudo bem.
Ela não parecia mostrar muita reação.
— Eu contei para Robert. — Desviei o olhar para a janela que
ficava ao nosso lado. — Ele disse que ficará ao meu lado, que vai
assumir. Queria que a senhora também me apoiasse.
— Alice, eu não posso. Você não é casada. Isso é
inadmissível. Seu pai está certo.
Não a respondi. Sabia que não teria como conversamos, não
agora. Ela não mudaria de ideia tão cedo. Apenas fiquei em silencio,
peguei a mala e saí.
Voltei para o hotel. Tudo que eu queria fazer era descansar.
Eu não dormia direito há dias e agora que as coisas estavam se
resolvendo finalmente eu poderia relaxar.
Acordei desnorteada. Não tinha ideia de quanto tempo eu
havia dormido. O sol ainda brilhava, mas já sentia a brisa que
anunciava o final da tarde. Eu estava dormindo desde o meio da
manhã.
Assim que levantei senti uma forte dor de estômago, eu
estava com fome, não havia comido nada o dia todo. Troquei de
roupa e decidi ir até uma padaria que ficava perto dali, queria dar
uma caminhada, o dia estava lindo pra ficar só dentro do quarto.
Não demorei mais do que alguns minutos para chegar à
padaria. Sentei em uma mesa na calçada. Pedi um café e um
croissant salgado. Enquanto comia refleti o quanto eu estava feliz
por estar ali, eu me sentia livre. Não precisava dar explicações para
meus pais, ou ficar cuidando cada carro que passava preocupada
se seria pega.
Eu observava o movimento, pessoas tomando seus cafés,
outras apenas voltando para casa depois de um dia de trabalho. O
sol estava começando a se pôr atrás dos prédios, o calor dava lugar
ao vento fresco e as luzes da cidade passavam a iluminar a
escuridão que estava chegando. Fiquei esperando as poucas
estrelas aparecerem.
Caminhei de volta para o hotel. O clima estava exatamente
do jeito que eu gosto, fresco, porém, não frio. Eu adorava ver a
noite, desde criança, sempre gostei do silêncio que ela trazia. Talvez
porque a noite era o único momento que eu tinha um pouco de paz,
jantávamos cedo e logo depois eu podia ir para meu quarto, ficar
sozinha. Lembro que em noites de lua cheia eu abria a janela e a
observava até que sumisse da minha visão.
Voltei para o quarto de hotel e deitei na cama. Passei a mão
por minha barriga, e apesar de não poder sentir nenhum movimento,
eu o sentia. Fiquei imaginando se seria menino ou menina, e sem
querer, um sorriso se formou em meus lábios. Por alguns instantes
nos imaginei em um parque qualquer, brincando, nos divertindo,
com outras crianças em volta. Eu daria uma boa infância para meu
filho, iria deixar ele livre, ser o que quisesse ser, diferente da
infância que tive. Eu finalmente estava me sentindo feliz. Sempre
tive o desejo de ser mãe, e mesmo não sendo exatamente do jeito
que imaginei, iria fazer o meu melhor.
Resolvi compartilhar a notícia, eu queria que todos
soubessem da minha felicidade. Entrei na rede social e fiz um
pequeno texto, contando sobre minha gravidez. Depois de postar
fiquei navegando um pouco nas páginas de alguns amigos.
Eu mal podia entrar nas redes sociais, nem isso meus pais
permitiam. Voltei no tempo quando vi alguns amigos de infância que
não via a muito tempo. Agora que eu estava livre gostaria de
retomar algumas amizades, já que eu só podia ter contato com
pessoas da igreja.
Enquanto navegava pela internet percebi que estava com
fome novamente, não fazia tanto tempo que eu havia comido, era
estranho já estar com fome, principalmente porque nos últimos dias
eu estava passando mal com qualquer coisa que colocasse no
estômago. Acho que boa parte dos meus enjoos era a ansiedade,
agora que estava mais calma, quase não tinha enjoado. Decidi
descer até o restaurante do hotel. O lugar era bem simples, mas
muito bem decorado. Sentei em uma mesa e pedi o cardápio. Assim
que bati os olhos na massa à bolonhesa não tive dúvidas de que era
exatamente isso que eu queria. Pedi um suco de maracujá natural
para acompanhar, depois do suco de uva, era o meu favorito. A
refeição estava maravilhosa, até comeria outro prato, mas não sei
se faria bem comer tanto assim, sem falar no dinheiro, eu precisava
economizar. Mesmo Robert pagando a minha estadia eu ainda
precisava comer, e ainda faltavam alguns dias para eu receber meu
próximo pagamento.
— Vou querer a conta por favor.
— Alice, do quarto 24?
— Sim.
— Sua conta já está paga. A secretária do senhor Johnson
esteve aqui e deixou tudo acertado para a semana. Estadia, café da
manhã e jantar.
— Ah sim. Obrigada — respondi com um sorriso um pouco
sem garça.
Aquilo me pegou de surpresa. Ele prometeu a estadia, não as
refeições.
Voltei para o quarto refletindo. Será que ele estava com pena
da minha situação? Ou será que era algo mais? Quem sabe ele se
interessaria pela criança, não apenas registraria, mas faria parte da
sua vida, seria um pai presente. Era cedo demais pra eu tirar
conclusões, ele iria dar apoio e seu nome e por enquanto já era o
suficiente. Voltei para o Instagram, queria ver como estava a
postagem da minha gravidez. Várias pessoas comentando,
mandando parabéns e empolgados por mim. Abri as mensagens
privadas e tinha um recado da Miranda.
“Parabéns! Não acredito que está grávida. Todos aqui em
casa ficamos felizes com a notícia.”
Respondi na mesma hora
“Obrigada. O apoio de vocês é muito importante para mim.”
“Quando puder venha aqui em casa. Estamos com saudades
e queremos saber das novidades.”
Respondi dizendo que iria assim que possível. Eu sabia que
eles não iriam me julgar.

[...]
Acordei com o despertador do celular tocando. Essa com
certeza foi e melhor noite de sono que tive nas últimas semanas. Já
estava na hora de ir para o trabalho. Porém, quando peguei o
celular vi que tinha várias ligações não atendidas da minha mãe. Ela
ligou ontem à noite, eu já estava dormindo, deixei o celular no
silencioso para ninguém atrapalhar meu sono. Decidi ligar de volta.
— Alô, mãe. Está tudo bem?
— Alice! O que você está fazendo? Perdeu o juízo
completamente? — Sua voz estava alterada.
— Mãe, do que você está falando?
— Da postagem. Apague isso imediatamente. Quer nos
envergonhar ainda mais? Todos já estão perguntando. Vamos virar
motivo de fofoca na igreja.
— Então é só com isso que vocês se importam? Com o que
os outros pensam? Senti que minhas bochechas estavam ficando
vermelhas.
— Seu pai está quase em crises. Exclua agora!
— Eu não vou apagar. Vocês me expulsaram de casa,
lembra? Viraram as costas quando eu mais precisei. Agora eu tomo
as minhas próprias decisões. Eu preciso desligar, não posso atrasar
para o trabalho.
Não esperei sua resposta, apenas desliguei o celular. Eu não
acreditava que minha mãe tinha tamanha cara de pau.
Tomei um banho rápido e fiz uma maquiagem leve.
Assim que cheguei na empresa avistei Anny.
— Então? Me conta tudo! — A garota estava empolgada.
— Foi exatamente como te contei por mensagem. Vamos
fazer o teste de DNA.
— Quero todos os detalhes.
— No horário do almoço te conto os detalhes.
Tentei tirar qualquer pensando da cabeça e concentrar
totalmente no trabalho. Mesmo com a ajuda financeira que eu teria
de Robert, eu queria fazer o meu trabalho da melhor forma possível.
No almoço resumi todo o dia anterior para Anny.
A tarde passou rápida, exatamente como costumava passar
antes.
Não vi Robert pelos corredores e também não o procurei,
sabia que ele daria um jeito de avisar quando marcasse o teste de
DNA.
O dia havia sido muito cansativo. Tudo que eu queria fazer
era voltar para o quarto, descansar e comer. Não parava de pensar
no croissant salgado que comi no dia anterior. O hotel Leeds ficava
perto da imobiliária e a padaria no caminho. Resolvi voltar
caminhando.
Comprei 2 croissants e levei para comer no quarto, um de
chocolate e um salgado de presunto e queijo. Enquanto comia uma
ideia ficava martelando em minha mente: o parto. Desde criança eu
sempre tive o sonho de ser mãe, mas o parto era uma coisa que
sempre tive medo. Principalmente depois que Kelly, uma amiga de
meus pais, faleceu dando à luz. Na época eu era criança, e fiquei
muito impressionada. Pesquisei sobre mortalidade materna, fiquei
chocada com os números. Cerca de 830 mulheres morrem todos os
dias, relacionadas a problemas com a gravidez ou parto. O que me
acalmou é que 90% dessas mortes poderiam ter sido evitadas com
tratamento adequado.

[...]
Cheguei na empresa comendo um folheado de maçã que
havia comprado na padaria no caminho. Eu estava com uma fome
incontrolável nesses últimos dias, e agora que recebi meu
pagamento, estava passando na padaria todos os dias. Assim que
saí do elevador, segui caminhando em direção à minha mesa,
Bianca a secretária de Robert veio até mim.
— Alice, o senhor Johnson quer falar com você. Pediu para ir
até à sua sala imediatamente.
— Tudo bem, vou agora mesmo.
Fiquei animada. Provavelmente ele tinha marcado o exame
de DNA.
Caminhei com Bianca até o escritório, ela fez sinal para que
eu entrasse.
— Bom dia — falei assim que entrei.
— Bom dia. Tudo bem com você e com o bebê? — Robert
fez sinal para que eu sentasse.
— Tudo bem. Estou com muita fome e alguns enjoos, mas já
estou acostumando. — Fiz uma pequena pausa enquanto sentava.
— Quero agradecer por ter acertado a conta do hotel. Obrigada.
Ele apenas sorriu como reposta.
— Quero falar sobre o teste de DNA, marquei para amanhã
pela manhã.
— Tudo bem, vou estar pronta. Eu estava pesquisando sobre
gravidez, e quero começar o meu acompanhamento o quanto antes.
Precisamos saber se está realmente tudo bem com o bebê.
Robert ficou calado. Parecia estar refletindo.
— Tem razão. Vou tentar marcar uma consulta para amanhã
mesmo. Passe o número do seu telefone. Eu aviso você.
Anotei meu número em um dos blocos de anotações que
estava em sua mesa.
— Eu pego você amanhã às 8h em frente ao hotel.
— Tudo bem. Vou estar esperando.
Falei um até logo e saí de sua sala em direção à minha
mesa. Robert não demostrava muita reação, eu não sabia o que
passava em sua mente. Será que ele ainda achava que o filho não
era dele? Será que estava feliz em saber que seria pai? Ele era um
mistério para mim.
Capitulo 7

Acordei muitas vezes durante a noite. Estava ansiosa com o


teste de DNA, mesmo sabendo exatamente o que o resultado
mostraria.
Abri a janela do quarto para analisar o clima. Estava nublado
e fresco, mostrando que o inverno estava se aproximando.
Escolhi uma calça jeans, como sempre, e um casaco longo.
Olhei meu reflexo no espelho. Agora que eu estava livre, poderia
finalmente mudar o visual, comprar roupas novas, do meu tamanho,
não precisaria mais usar números maiores para esconder meu
corpo. Finalizei com um tênis. Refleti que essa roupa ficaria muito
melhor com uma bota de cano baixo, mas eu não tinha nenhuma,
por enquanto. Pensei em comer alguma coisa, mas a fome que eu
estava sentindo nos últimos dias deu lugar ao enjoo. Provavelmente
nervosismo por conta do teste.
Faltando alguns minutos para as 8 horas, desci para a
calçada do hotel, não queria deixar Robert esperando, queria estar
lá quando ele chegasse.
Enquanto esperava, observei uma mulher com uma criança
de colo caminhando pela rua. Em alguns meses seria eu. Não via a
hora de ter o meu filho nos braços, de ver o seu rostinho, de sentir o
seu cheiro. Meu pensamento foi interrompido por uma buzina. Era
um carro grande e preto. Robert estava no volante, fazendo sinal
para que eu entrasse.
— Desculpe, estava distraída. Não vi você chegar — falei
enquanto entrava no carro e colocava o cinto de segurança.
— Tudo bem. Como você está? — perguntou ele com sua
atenção totalmente voltada para o trânsito.
— Um pouco enjoada, mas estou bem.
— Eu consegui marcar uma consulta para você. Vamos fazer
o DNA e depois seguimos para a clínica.
— Obrigada! Estou ansiosa para saber se está tudo bem.
Um leve sorriso se formou em meus lábios. Finalmente eu iria
começar meu acompanhamento.
O restante do caminho foi silencioso. Demoramos cerca de
30 minutos para chegar na clínica. Estaríamos lá mais cedo, porém,
a chuva e o trânsito da manhã acabaram atrapalhando.
O lugar era amplo e claro. Haviam poucas pessoas na sala
de espera. Fomos até a recepção e nos identificamos. Agora era só
aguardar.
Eu estava um pouco nervosa, os enjoos estavam fortes.
Sentei em uma cadeira e tentei relaxar. Robert sentou ao meu lado.
— Está tudo bem? Você está pálida.
— Tudo bem. Só estou enjoada e um pouco nervosa.
Eu tentava disfarçar ao máximo minha ansiedade, pois
percebi que ele também estava inquieto.
— Quer um pouco de água? — ele perguntou levantando de
sua cadeira.
— Sim, por favor.
Robert foi até o filtro de água e retornou com dois copos.
Eu não sabia que estava com tanta sede até beber o primeiro
gole.
— Já estou um pouco melhor. Obrigada.
Ele olhou para mim e deu um leve sorriso. Essa era a
primeira vez, desde o dia em que contei sobre minha gravidez, que
ele mostrou um pouco de simpatia por mim.
Pensei em puxar um assunto aleatório. Enquanto decidia o
que falar, Robert quebrou o silêncio:
— Essa sensação não é novidade para mim. Eu quase fui
pai, uma vez. Na verdade, duas.
Demorei alguns instantes para digerir o que ele acabara de
falar.
— Como assim quase?
O homem olhou para o chão, tentando desviar o olhar, mas
eu percebi a tristeza em seu rosto.
— No final do ensino médio, quando eu tinha 16 anos, a
minha namorada da escola engravidou. No começo foi difícil,
enfrentamos nossos pais e decidimos que íamos casar e criar o
bebê juntos. Até cheguei a adiar os planos de fazer faculdade. Iria
trabalhar para sustentar minha família. Mas um pouco antes do
terceiro mês de gestação — Robert fez uma pausa, senti que sua
voz estava falhando —, ela teve um aborto, perdemos o bebê. Logo
depois disso nosso relacionamento acabou. Provavelmente não
daríamos certo como casal, éramos tão jovens, mas queríamos
muito aquele filho. Iríamos cria-lo juntos. Hoje teria quase 20 anos,
estaria na faculdade, quem sabe indo morar na sua própria casa.
Estaria começando sua vida.
Senti um aperto no peito, meus olhos encheram de lágrimas.
Não sabia o que dizer para tentar consola-lo. Percebi que ele
discretamente secou as lágrimas que escorriam pelo seu rosto,
enquanto ainda encarava o chão.
— Eu sinto muito. Não consigo imaginar a dor que você
passou.
— Já faz tanto tempo — disse ele, agora olhando para mim.
Em um impulso, peguei sua mão e acaricie. Ele
correspondeu, segurando meus dedos e acariciando de volta.
Seus olhos ainda estavam molhados e seu olhar baixo.
Eu estava pensando em mais algumas palavras de conforto
quando fomos interrompidos.
— Alice Baker.
Entrei na sala para a coleta de sangue. Foi simples e rápido.
Assim que terminei voltei para a sala de espera. Seria a vez de
Robert.
O lugar estava quase vazio, as pessoas já haviam sido
atendidas. Caminhei até à porta de vidro e fiquei observando a
chuva, estava fraca, quase cessando.
Tentei imaginar a dor que Robert carregava todos esses anos
por ter perdido um filho que ele tanto queria.
Passei a mão por minha barriga. Por alguns instantes senti
medo. Eu sabia que era relativamente comum aborto antes dos três
meses de gravidez. Estava mais ansiosa do que nunca para saber
se estava tudo bem com meu bebê.
Depois de alguns minutos de espera, Robert retornou. Ele
parecia um pouco mais calmo do que estava quando entrou.
— Foi tudo bem? — questionei
— Sim. Agora vamos para sua consulta. Não podemos
atrasar.
Quando voltamos ao trânsito fiquei pensando o que ele quis
dizer com quase fui pai duas vezes. Será que ele tinha perdido um
outro filho? Eu deveria perguntar? Pensei em questionar, mas ele
poderia ficar emocionado enquanto estava dirigindo. Quem sabe na
espera da clínica ele poderia se abrir comigo novamente.
Chegamos e mais uma vez sentamos na sala de espera.
Olhei para um canto e avistei um filtro de água e uma
máquina de café expresso. Eu adorava café, na mesma hora senti
uma vontade incontrolável de beber. Abri minha bolsa e comecei a
procurar por algumas moedas. Nos dias anteriores eu apenas
jogava algumas moedas soltas pela bolsa, o troco da padaria. Então
sabia que estavam por ali em algum lugar.
— Está tudo bem? O que está procurando? — Ele parecia
curioso.
— Algumas moedas para comprar um café.
— Deixa comigo
— Tudo bem.
O homem levantou no mesmo instante e foi até à máquina.
— Aqui está.
— Obrigada. E você não vai beber? — perguntei enquanto
bebericava, estava muito quente.
— Não gosto muito de café.
— Como assim não gosta? Café é a melhor bebida que
existe, talvez só perca para suco de uva.
— Eu prefiro Root Beer, e para algumas ocasiões,
champanhe.
Lembrei da primeira e única vez que eu bebi champanhe, foi
na noite em que nos conhecemos e fizemos sexo. Percebi que ele
também lembrou, o clima ficou um pouco tenso. Tentei desviar o
assunto, falando a primeira coisa que veio em minha mente.
— E comida, qual sua preferida?
— Macarrão com queijo, mas não qualquer macarrão, e sim o
da minha mãe. Ela sempre fazia quando éramos crianças, meu
irmão e eu adorávamos — Robert pareceu perdido em seus
pensamentos.
— Eu também gosto, na verdade adoro qualquer tipo de
macarrão. Mas o meu prato preferido é Flammkuchen
— O que é isso?
— É uma comida típica da Alemanha. Meus avós eram de lá.
É uma massa bem fina, com bacon e queijo branco. Lembra muito a
pizza. Mas com alguns toques especiais.
— Deve ser ótimo. Eu adoro bacon.
Robert fez uma pausa e novamente seu olhar ficou perdido.
— Pizza lembra o meu irmão, Logan.
— O que aconteceu com ele?
— Não temos mais contato. Quando crianças éramos muito
próximos, melhores amigos. Ele tinha o sonho de ser maquiador,
não queria ajudar na empresa. Meus pais fundaram a imobiliária e
queriam que nós dois trabalhássemos lá, mas ele se recusava, dizia
que não era isso que ele queria fazer. Meu pai não aceitava, dizia
que maquiador não era profissão de homem. Eu fiquei do lado do
meu pai.
Robert tentava disfarçar, mas percebi o quanto estava triste.
Ele realmente amava o irmão e sentia sua falta.
— Você não fala mais com ele?
— Eu tentei algumas vezes, mas ele sempre fala que eu
escolhi o meu lado. Somos amigos nas redes sociais e de vez em
quando falamos um oi, mas é só isso. Não temos mais a amizade
que tínhamos quando criança. Mas no fim deu tudo certo para ele.
Hoje é um grande maquiador, já trabalhou até com algumas
pessoas famosas.
Ele deu um leve sorriso, estava feliz e orgulhoso do irmão.
Logan, refleti.
— Espere um pouco. Seu irmão é Logan Johnson, o
maquiador com, tipo, mais de dois milhões de seguidores? —
perguntei empolgada.
— Sim. Você o conhece? — questionou ele arqueando uma
sobrancelha.
— Claro que sim. Sou muito fã do trabalho dele, assisto seus
tutoriais na internet.
— Que coincidência!
— Sim, muita. Ele é maravilhoso. Espero conhece-lo algum
dia.
Robert desfez o sorriso que estampava seu rosto no
momento eu que eu falei. Percebi que não deveria ter dito isso. Eles
não tinham muito contato e eu sabia que ele estava sofrendo por
isso.
A espera demorou. Já estávamos ali há cerca de 30 minutos,
mas na verdade eu nem percebi o tempo passar, estava gostando
de conversar com Robert, de conhecer sua história. Ele também
falou sobre sua mãe, são muito apegados. Comentou que sua casa
fica a poucas quadras da casa de seus pais, pois visita a mãe
sempre que pode.
Depois de quase 40 minutos de espera, ouvi uma voz chamar
o meu nome. Era agora, o momento que eu estava esperando.
A doutora parecia muito simpática. Uma mulher alta, negra e
muito bonita.
— Você é o pai? Sou a doutora Lewis — disse ela
estendendo a mão para cumprimentá-lo
— Sim, como vai doutora?
Ele disse sim.
Ah, Deus! Ele realmente disse sim!
No fundo ele sabia que aquele bebê era seu.
— Tudo bem. Conte-me, Alice, como você está?
— Estou ótima. Estava com muitos enjoos, mas está
diminuindo com o passar do tempo. Estou sentindo muita fome.
— Os enjoos e a fome são perfeitamente normais nos
primeiros meses. Vou pedir alguns exames só para ter certeza de
que está bem. Podem ser feitos aqui na clínica mesmo — disse ela
enquanto me entregava alguns papéis.
— Agora vamos ver como está o bebê. Pode deitar na maca.
Eu estava animada. Levantei da cadeira no mesmo instante e
deitei na maca. Baixei a calça e levantei a blusa até a altura dos
seios.
A mulher passou uma espécie de gel em toda a minha
barriga. Em poucos segundos imagens começaram a aparece no
monitor.
— O bebê parece estar ótimo. Tem cerca de 5cm — afirmou
a médica. A princípio eu não estava vendo nada, para mim pareciam
apenas borrões no monitor. — Veja, aqui é o corpo, e aqui, a
cabeça.
No momento em que a médica indicou eu consegui ver
perfeitamente. Ele estava nítido. Não contive a emoção, as lágrimas
começaram a cair.
Olhei para Robert e ele estava com um sorriso largo nos
lábios. A doutora explicou sobre a sua formação, mas sinceramente
não consegui prestar muita atenção. Estava muito emocionada. Em
seguida ouvimos o coração do bebê. Não consigo descrever em
palavras o que senti naquele momento. Saber que meu filho estava
bem e saudável foi a melhor notíciaque eu poderia receber. Quando
olhei para Robert vi que uma lágrima desceu por seu rosto e ele a
secou discretamente, mas eu sabia que estava quase tão
emocionado quanto eu.
— Você está com quase 12 semanas. A partir de agora vocês
podem ouvir o coração do bebê em casa com um aparelho chamado
Sonar Doppler.
A doutora deu algumas recomendações e pediu para eu fazer
os exames o quanto antes. Nos despedimos e saímos da sala.
Eu estava totalmente anestesiada. Sabia que ficaria
emocionada, mas confesso que não imaginei que seria assim.
Robert tomou a iniciativa de ir até à recepção para marcar meus
exames.
— Estão marcados, na sexta-feira pela manhã, eu trago você
— disse ele enquanto saímos da clínica.
Entramos rapidamente no carro para nos proteger da chuva
fina que caía.
— Robert, eu quero agradecer por tudo. Pelo hotel, pelos
exames e por ter me acompanhando — falei, colocando o cinto de
segurança.
O homem olhou para mim e sorriu.
— Tudo bem. Estou cumprindo com minhas obrigações —
disse, ligando o motor do carro. — Você quer ir para a empresa ou
prefere ir para o hotel descansar?
— Estou ótima, posso muito bem ir trabalhar. Deixe-me na
padaria que fica no caminho, estou com fome, quero fazer um
lanche antes do trabalho.
— Já é quase hora do almoço. Não percebi que era tão tarde.
Vamos almoçar, você precisa se alimentar.
Apenas concordei e sorri. Estava mesmo com muita fome,
precisava comer.
Paramos em frente à um restaurante. O lugar era muito
grande e ainda mais luxuoso do que o restaurante que almoçamos
da outra vez. Eu nunca tinha estado em um lugar assim. Haviam
algumas pessoas comendo, mas estava relativamente vazio. Ainda
estava um pouco cedo para o almoço. O cardápio era bem
diversificado, tinha pratos mais simples até os mais sofisticados.
— O que você vai pedir? — perguntou Robert enquanto
olhava o enorme cardápio que estava a sua frente.
— Estou com vontade de comer macarrão com queijo desde
cedo quando você falou. Será que tem aqui?
— Tem sim. O macarrão daqui é muito bom. Você vai adorar.
Só perde para o da minha mãe — gabou-se, fazendo um sinal para
o garçom.
— Eu adoraria experimentar algum dia.
— Quando você experimentar, nunca mais vai querer outro
macarrão com queijo.
Nossas comidas chegaram sem demora. Para acompanhar
pedi um suco de laranja. Robert preferiu um suco de maracujá.
— Era exatamente isso que eu estava com vontade de comer
— falei entre uma garfada e outra. — Esse macacão é muito bom.
Falamos um pouco sobre o restaurante, sobre o clima e a
chuva. Robert preferia os dias mais quentes e ensolarados, já eu
gostava do clima mais fresco. Enquanto conversamos uma coisa
insistia em voltar a minha mente. Na clínica mais cedo, ele havia
falado que quase foi pai duas vezes. Eu estava muito curiosa, será
que deveria perguntar?
— Como foi a outra vez que você quase foi pai? — perguntei
em um impulso.
Pude ver a sua expressão mudar em um segundo. Ele ficou
sério.
— Não faz muito tempo. Eu estava saindo com uma mulher,
mal nos conhecíamos. Ela trabalhava na empresa. Um dia ela disse
que estava grávida. Ela sabia o quanto eu queria ser pai, tinha
compartilhado com ela a perda do bebê que tive na adolescência. —
O homem fez uma pausa e bebeu um gole do seu suco de
maracujá. — Mas ela mentiu. Só queria o meu dinheiro. No
momento em que mencionei que faríamos um teste de DNA eu
soube que o filho não era meu. Depois disso ela se demitiu e eu
nunca mais a vi.
Então era por isso que ele não acreditou quando eu disse
que estava grávida, achou que fosse outro golpe. Entendo o seu
lado.
— Sinto muito. Não consigo acreditar que alguém possa usar
um filho para dar um golpe.
— Mas vamos esquecer isso. Conte-me, e seus pais? Ainda
não aceitaram o bebê?
— Não tive mais nenhum contato com meu pai desde que saí
de casa. Falei com minha mãe algumas vezes, ela aceitaria, mas
meu pai não quer notíciasminha e do bebê — falei enquanto dava a
última garfada no meu macarrão.
— É tão triste pais não apoiarem seus próprios filhos. Um
bebê é sempre bem-vindo, não importa a situação.
— Não concordo totalmente com isso. Acho que há
momentos ou situações que é impossível criar uma criança, mas
esse não é o meu caso — falei. — Minha avó falava algo parecido
com isso. Se ela estivesse viva com certeza teria me acolhido.
Por alguns segundos meu olhar se perdeu. Lembrei dos
meus avós, sempre tão amoroso. Diferente dos meus pais.
— Eu sinto muita falta do meu avô, ele morreu quando eu
tinha 22 anos. Mas tenho a minha avó, eu a visito sempre que posso
— comentou Robert, terminando seu suco.
— No meu aniversário de 7 anos minha avó me deu uma
boneca de porcelana de presente. Eu dei o nome de Sophie, era o
nome da minha bisavó. Eu não a conheci, mas minha vó sempre
contava histórias sobre ela. Foi uma grande mulher, criou 7 filhos. —
Fiz uma pausa e olhei para janela que estava ao lado de Robert. A
chuva começava a cair com força novamente. — Minha avó morreu
de infarto quando eu tinha 14 anos. Cerca de 1 ano depois morreu o
meu avô. Eu sempre falo que ele não conseguiu mais viver sem ela.
Eles estavam juntos desde os seus 15 anos. Eu conseguia sentir o
amor que tinham um pelo outro só de olhar para eles. Foram mais
de 50 anos felizes e juntos. — Meus olhos encheram de lágrimas,
senti que iria chorar, mas não de tristeza. — Depois disso a boneca
era como se fosse a última lembrança que tinha dos meus avós. Eu
sempre a deixava em cima da cama, porém, um dia, quando tinha
16 anos, sem querer a deixei cair e ela quebrou em mil pedaços.
Senti que a última lembrança da minha avó tinha ido embora. Insisti
muito para meus pais comprarem uma boneca nova, mas eles
nunca compraram.
— Está tudo bem. Você não precisa de uma boneca para
lembrar de seus avós. Aposto que tem muitas histórias sobre eles.
Eu iria adorar ouvir.
— Muitas — respondi com um sorriso no rosto enquanto
secava uma lágrima que insistia em cair.
— Agora que já almoçamos eu preciso ir para a empresa.
Tenho que resolver umas coisas ainda hoje. Eu te deixo no hotel,
acho que você deveria descansar. Já teve muitas emoções no dia
de hoje.
Robert tinha razão. Eu estava ficando com sono, poderia
aproveitar o resto do dia para dormir e relaxar, agora que eu sabia
que estava tudo bem com o bebê.
Passei o dia todo deitada. Pensei em ir até a casa de Miranda
e Luke, mas eu estava muito cansada. Cochilei em alguns
momentos, ainda muito agitada para conseguir dormir
profundamente.
O sol já estava no horizonte, dando espaço para a noite que
se aproximava. Eu estava com fome, porém ainda era muito cedo
para jantar. Havia um mercado perto do hotel. Resolvi ir até lá. Essa
era uma das vantagens de morar em uma área comercial, tudo
ficava perto. Se estivesse em casa, teria que caminhar duas
quadras para chegar ao mercado mais próximo.
Eu não sabia ao certo o que iria comprar, pensei em alguma
coisa leve, pois mais tarde iria jantar no restaurante do hotel. A
chuva passou ao decorrer do dia, mas o frio prevalecia. Vesti um
casaco grosso e coloquei os tênis. Quando peguei o celular reparei
na data de hoje, 10 de dezembro. Os últimos dias haviam sido tão
corridos, eu estava tão nervosa com a minha gravidez e com os
últimos acontecimentos que mal havia reparado que já era
dezembro. Se estivesse em casa eu e minha mãe estaríamos nos
preparando para o Natal, decorávamos a casa todos os anos. Eu
sentia sua falta. A última vez que nos falamos eu praticamente
desliguei o telefone em sua cara. Eu estava tão feliz com minha
gravidez, feliz por Robert ter ficado ao meu lado, porém, para minha
felicidade ficar completa faltava uma coisa: minha mãe.
Eu estava quase chegando ao mercado quando avistei uma
barraca de cachorro quente. Era exatamente isso que eu queria
comer. Mudei o meu caminho no mesmo instante e fui até lá.
Haviam alguns bancos de plásticos em frente à barraca. Sentei para
comer enquanto observava o movimento.
Voltei para o hotel totalmente satisfeita, não pretendia jantar
depois de ter comido um cachorro quente tão grande. Coloquei uma
roupa confortável. Queria navegar um pouco na internet e dormir
cedo. Teria uma boa noite de sono para estar de volta ao trabalho
amanhã. No momento que deitei na cama, Robert veio em minha
mente. Ele não era apenas um homem absurdamente bonito e sexy,
era simpático, atencioso e divertido. Lembrei da noite em que
fizemos sexo, eu lembrava de tudo, nos mínimos detalhes. Era
quase impossível pensar e não ficar excitada. Eu já havia me
conformado que depois que descobrisse a gravidez eu e Robert não
teríamos mais encontros sexuais, porém, não conseguia controlar
meus pensamentos. Pensei que um vibrador seria uma boa ideia
nesse momento, mas, eu não tinha nenhum. Sempre achei
brinquedos sexuais muito interessante, decidi que era a hora de
comprar alguns.
Na manhã seguinte estava ansiosa pelo horário do almoço,
queria contar tudo o que aconteceu para Anny.
— E como foi o primeiro ultrassom? — A garota estava
empolgada.
— Foi emocionante. Não contive as lágrimas — respondi com
um sorriso.
Resumi para Anny tudo com detalhes, sobre o teste de DNA,
a consulta médica e o almoço com Robert.
— Fico feliz em saber que o senhor Johnson está com
cumprindo com suas responsabilidades.
— Acho que é mais do que isso. Ele parece empolgado. Ele
tentou disfarçar, mas percebi que ficou emocionado quando ouvimos
o coração do bebê.
Por alguns instantes fiquei perdida em meus pensamentos.
Imaginei eu e Robert criando nosso filho juntos. Tenho certeza que
ele será um ótimo pai.
O dia passou normalmente. Eu estava me sentindo muito
disposta hoje, sem enjoos. Não queria ir para o quarto de hotel.
Pensei em caminhar até à padaria, ficar sentada na calçada,
olhando o movimento enquanto tomava com café com croissant. Eu
não tinha muitas opções, não tinha amigos ou lugares para ir.
Lembrei que poderia ir até à casa de Miranda, seria uma ótima
oportunidade para visita-los.
Saí do serviço às 6 da tarde como de costume. Fui para o
hotel e enviei uma mensagem para Miranda, perguntando se
estariam em casa. Enquanto esperava sua resposta fui tomar um
banho rápido. Assim que saí do chuveiro vi que tinha uma resposta:
“Sim, estamos em casa. Venha jantar conosco. Estamos
todos com saudades.”
Respondi que iria.
Enquanto escolhia o que vestir, observei meu corpo no
espelho. Passei a mão por minha barriga. Eu não via a hora dela
crescer. Eu ainda tinha medo do parto, mas a ansiedade para ver
seu rostinho era ainda maior.
Pedi um Uber. O caminho foi rápido, a essa hora o trânsito
estava tranquilo.
Bati na porta e Miranda atendeu rapidamente.
— Alice, quanto tempo! — disse ela me puxando para um
abraço.
Nos abraçamos e a garota fez sinal para que eu entrasse.
Avistei Luke no sofá em frente à televisão. Fui em sua
direção e o cumprimentei. Luke era um garoto muito bonito. Alto,
loiro e com olhos castanhos claro. Éramos muito próximos quando
crianças, porém, nos distanciamos um pouco com o passar do
tempo.
— Meus pais estão na cozinha preparando o jantar. Vamos
até lá — disse Miranda animada.
Segui ela em direção a cozinha. O cheiro de comida estava
delicioso.
Assim que entramos pude ver Lucy perto do fogão. O senhor
Brown estava na bancada cortando alguma coisa.
— Alice! Que bom que veio. — disse a mulher com sorriso
nos lábios.
— Conte-nos tudo. Como está o bebê? Ficamos sabendo
pela internet.
Resumi rapidamente como tudo havia acontecido, que
estávamos bem e tinha ouvido seu coração.
— E seus pais? Como estão lidando com isso? — perguntou
o senhor Brown.
— Não aceitaram. Fui expulsa de casa. — Encarei a janela
de vidro ao lado da geladeira, observando a escuridão da noite.
Lucy veio até mim e me envolveu em um abraço. Senti um nó
se formar em minha garganta, mas consegui manter o controle. Eu
estava cansada de chorar por isso.
— Mas está tudo bem. Robert, o pai da criança, vai assumir e
tenho certeza que será um bom pai. Está me dando todo o apoio
necessário. Não estou sozinha.
— Claro que não está sozinha. Estamos todos com você —
afirmei Lucy retornando para perto do fogão.
— E eu não vejo a hora de conhecer esse bebê! — disse
Miranda enquanto colocava a mão em minha barriga.
— O jantar está pronto. Vamos comer — falou a mais velha
Seguimos para a sala de jantar, onde a mesa já estava posta.
O prato era risoto, parecia delicioso. Eu estava faminta.
— Como está a faculdade Luke? — perguntei enquanto
servia meu prato.
— Ótima. Em dois anos já poderei dar aulas. Ainda não
consigo acreditar — disse o garoto empolgado.
Luke cursava matemática, sempre teve o sonho de dar aulas.
Seus pais falavam que era um aluno exemplar. Ganhou alguns
prêmios e concursos durante sua infância e adolescência.
O jantar foi agradável. Comemos, conversamos e nos
divertimos. Eu falei sobre o meu emprego na imobiliária, sobre
Robert e o bebê. Comentei que desde que sai de casa não
frequentei mais a igreja. Combinamos de ir juntos. Eu sentia falta de
ir, de me sentir mais próxima de Deus.
No final do jantar eu senti uma certa inveja de Miranda. Seus
pais, mesmo sendo religiosos, nunca abandonariam uma filha
grávida. Enquanto os meus usavam a religião para encobrir que
eram péssimas pessoas, principalmente meu pai. Os Browns eram
amorosos e gentis, seguiam os verdadeiros ensinamentos de Cristo.
Eu daria tudo para ter nascido em uma família como esta.
Capitulo 8

Eu estava ansiosa pela sexta-feira. Queria fazer todos os


exames que a doutora havia solicitado. Robert enviou uma
mensagem dizendo que viria me buscar, porém, não poderia
acompanhar os exames. Tinha uma reunião importante, apenas me
deixaria na porta da clínica.
Assim que entrei no carro, percebi que o homem parecia
preocupado.
— Está tudo bem com você?
— Sim. Tenho uma reunião importante daqui a pouco. Estou
um pouco tenso.
Era nítido que ele estava preferindo ficar calado, então decidi
não o incomodar. Chegamos rápido, diferente do outro dia. Hoje o
céu estava limpo.
— Alice, talvez eu precise viajar por alguns dias. Eu devo
estar de volta até o final da próxima semana. Se precisar de alguma
coisa fale com Bianca, minha secretária. — O homem tirou um
envelope do bolso.
Era dinheiro para pagar os exames e consulta que eu faria a
seguir.
Será que ele estava com algum problema? Percebi que
estava estranho durante a viagem. Decidi que não iria fazer
perguntas com assuntos relacionados à empresa. Se ele quisesse,
ele teria contado.
— Me envie uma mensagem assim que fizer os exames e a
consulta, quero ficar informado.
Concordei. Dei um leve sorriso como despedida. Fiquei
observando até seu carro sair completamente da minha visão. A
clínica estava quase vazia. Fui atendida sem demora. Depois de
fazer os exames, a doutora informou que eles ficariam prontos na
metade da semana seguinte.
Fui para a imobiliária. O dia seguiu normalmente, sem
grandes acontecimentos.

[...]
No sábado tudo que eu queria fazer era descansar. A
semana havia sido muito emocionante. Iria aproveitar minha folga
para dormir e relaxar. Enquanto tomava o café da manhã, pensei em
minha mãe. Eu estava arrependida de ter desligado o telefone em
sua cara. O Natal estava se aproximando, e não queria passar essa
data tão importante brigada com ela. Resolvi enviar uma
mensagem. Perguntei como ela estava e disse que gostaria de
conversar pessoalmente. Queria compartilhar as novidades sobre o
bebê, falar que ouvi o seu coração. Queria que ela fizesse parte da
minha vida novamente, porém, deixaria bem claro, que agora tomo
minhas próprias decisões.
Ela respondeu. Combinamos de nos encontramos em um
café, não muito longe daqui.
Eu estava ansiosa para vê-la. Desde que saí de casa,
conversamos pouquíssimas vezes. Quem sabe não poderíamos
passar o Natal juntas? Ela poderia vir até o hotel, já que eu não
tinha a intenção de pôr os pés em minha antiga casa.
Escolhi uma roupa leve, hoje não estava tão frio quanto nos
últimos dias. Resolvi ir caminhando até o café, demoraria alguns
minutos, porém, eu queria pegar um pouco de sol, estava sentindo
falta depois de tantos dias chuvosos e nublados. Assim que entrei
no café a vi sentada em uma mesa. Fiquei esperando ela vir me
cumprimentar com um beijo ou abraço, mas ela não fez.
— Mãe, como está? — perguntei enquanto sentava na
cadeira à sua frente.
— Estou bem. Fiquei surpresa com sua mensagem.
— Eu queria conversar. O Natal está chegando, não é hora
para brigas, e sim de recomeçar.
Ela não disse nada, apenas esticou o braço sobre a mesa e
acariciou minha mão. Eu podia sentir a tristeza em seu olhar.
— Vou pedir um capuccino e alguns cookies. Nesses últimos
dias estou com uma fome incontrolável. A senhora vai querer o que?
— Pode ser o mesmo que você.
Os cookies estavam com uma cara ótima. Começamos a
comer logo. Eu contei sobre meu emprego na imobiliária, falei que
estava indo bem, que estava cada vez mais amiga de Anny. Falei
sobre o bebê e de como escutamos seu coração, que Robert estava
presente, e que estava me dando todo o apoio possível. Minha mãe
continuava calada, mal falava e muitas vezes desviava o olhar para
o chão. Eu sabia que tinha algo errado.
— Mãe, o que está acontecendo? Qual o problema?
Ela pensou por alguns segundos antes de responder.
— Seu pai. Ele não aceita de jeito nenhum. Estou proibida de
conversar com você. Ele não pode saber que estou aqui.
— Como assim proibida? — questionei.
— Ele disse que não tem mais filha. Não quer ouvir mais falar
de você. — Ela fez uma pausa, pude sentir que sua voz estava
começando a falhar. — Há alguns dias atrás pensei em ligar para
você, para saber como estava. Ele segurou meu braço e disse que
se falasse seu nome novamente eu apanharia. Só agora o
hematoma do meu braço sumiu.
— Mãe, isso é um absurdo! A senhora precisa denunciar, isso
é agressão.
— Não se preocupe. Ele não me bateu, só segurou meu
braço. Estou bem.
— Vamos agora até uma delegacia. Eu vou com você.
— Não — disse ela alterando seu tom de voz. Eu sei como
lidar com seu pai, não se meta nisso. Aliás, preciso ir, logo ele
chegará do serviço.
Conversamos por tão pouco tempo. Ainda tinha coisas que
eu gostaria de contar e não consegui. Queria falar que estive na
casa dos Browns, queria falar sobre parto, enjoos e gravidez, quem
sabe pedir alguma dica. Mas nada disso foi possível. Ela apenas
levantou e se foi. Nem consegui perguntar se passaríamos o Natal
juntas.
Pedi mais alguns cookies para levar e comer mais tarde.
Sentei na parte externa do café. O céu estava em um tom rosado.
Lembro de quando era criança, adorava deitar no quintal e ficar
olhando para o “céu rosa”.
Enquanto observava ao entardecer, pensei em minha mãe.
Ela precisava ter forças para sair desse relacionamento abusivo.
Meu pai estava ficando cada vez pior.
Eu lembro que sempre achei minha mãe muito rígida, mas
pensando bem, ela não era assim. Ele sempre a manipulou, com o
passar do tempo ela foi perdendo sua personalidade, ficou igual ao
meu pai. Ela era tão vítima quanto eu.
Decidi que quando chegasse no hotel eu enviaria uma
mensagem a convidando para passarmos o Natal juntas. Poderia
comprar alguma coisa e comer no quarto de hotel, quem sabe ir a
um restaurante, ou até ir passar com os Browns, tenho certeza que
que eles aceitariam nossa companhia.
Fiquei ali, esperando o anoitecer. Achava a noite muito
fascinante.
Quando cheguei no hotel, decidi que enviaria a mensagem na
segunda-feira. Meu pai provavelmente já estava em casa, tinha uma
pequena chance de ele ver o celular dela. Passei o resto da noite no
quarto, descansando.

[...]
O domingo havia sido muito agradável. Fui na igreja com os
Browns. Depois fui para a casa deles. De certa forma eu sentia
como se fizesse parte da família. Miranda contou que estava
conhecendo um garoto, teve alguns encontros com ele. Ao contrário
dos meus pais, os seus a apoiavam. Luke falou sobre sua faculdade
e seus planos para o futuro. Resumiu rapidamente que teve uma
decepção amorosa há alguns meses. Não pretendia namorar tão
cedo, apenas focar em sua faculdade.
Lucy me deu algumas dicas para diminuir os enjoos, apesar
de eles estarem bem melhores, ainda incomodavam. Ela também
contou com detalhes como foram os seus dois partos. A mulher era
a favor do parto natural.
— Não gosto de cesariana, acho muito agressivo — disse a
mais velha.
— Estou um pouco confusa. Sempre tive muito medo do
parto normal, mas pesquisando agora, a recuperação é bem mais
rápida.
— Você ainda tem alguns meses para pensar nisso. O
importante é manter a calma. Tudo ficará bem.
Sorri e concordei. Fiquei feliz por ter Lucy por perto.

[...]
Pedi um carro de aplicativo para ir até à clínica, iria levar o
resultado dos exames para a doutora.
Toda vez que eu caminhava pela rua sozinha eu me sentia
livre. Gostava da sensação de poder controlar minha própria vida.
Ficava feliz com coisas simples, como parar e tomar um café sem
me preocupar com horários.
A clínica estava quase vazia. Fui atendida sem demora.
— Seus exames estão ótimos. Você e o bebê estão bem e
saudáveis.
Respirei aliviada.
A doutora receitou um suplemento alimentar. Explicou que
algumas vitaminas estavam quase abaixo do esperado, mas nada
com o que eu devesse me preocupar. O indicado era tomar apenas
uma cápsula por semana.
Saí do consultório radiante. A primeira coisa que veio a minha
mente era enviar uma mensagem para Robert.
Contei sobre a consulta. Disse que eu e o bebê estávamos
bem. Ele respondeu rápido, disse que estava feliz em saber disso e
que provavelmente amanhã estaria de volta.
Cheguei na empresa e fui direto para o refeitório. Já estava
no horário do almoço. Avistei Anny comendo sozinha em uma
mesa.
Cheguei animada contando as novidades para a garota.
— Agora só falta uma coisa para completar minha felicidade
— falei enquanto tomava um gole chá.
— O que? — questionou Anny
— Fazer as pazes com minha mãe. Vou enviar uma
mensagem para ela, convidar para vir passar o natal comigo.
— Se quiser pode passar o natal comigo e minha mãe.
Desde que meus pais se separaram, passamos só nós duas.
Fiquei emocionada com o seu convite. Nunca havíamos nos
visto fora da imobiliária. Apesar da garota ser muito simpática, ela
era tímida e solitária. Não a via conversar com muitas pessoas,
passava a maior parte do tempo sozinha ou comigo. Pensei que
seria uma boa ideia sairmos juntas.
Eu também não tinha amigas, a não ser Miranda. Eu pensaria
nisso mais tarde. Agora meu foco era tentar conversar com minha
mãe.
Capitulo 9

Minha mãe respondeu a mensagem. Disse que viria me


visitar no hotel no dia de natal. Eu estava feliz com sua resposta.
Fiquei pensando como foi a conversa dela com meu pai. Ela disse
que viria me ver ou viria escondida?
Decidi que hoje depois do serviço eu passaria em uma sexy
shop. Já fazia dias que eu estava pensando em ir. Queria conhecer
melhor meu corpo, meus gostos sexuais, e a melhor opção era fazer
isso com algum brinquedo.
Saída imobiliária e fui em direção a sexy shop. Ficava para o
lado contrário do hotel, eu precisaria pegar um Uber para voltar.
Assim que entrei na loja, fiquei impressionada, eu nunca
havia visto um lugar assim. Eu não tinha muito dinheiro, então
deveria me conter. Mas a vontade era de levar tudo. Vi um conjunto
de lingerie vermelha, consegui me imaginar vestindo-a. Depois fui
para a parte dos vibradores. Tinha para todos os gostos, era quase
impossível escolher um só. Optei por um vibrador rotativo na cor
rosa. Parecia muito interessante, estava curiosa para usá-lo. Pensei
que ficaria com um pouco de vergonha de estar ali, de passar no
caixa e da vendedora. Mas isso não aconteceu, eu estava muito
confortável.
Quando saí, a noite já havia chegado, o vento fresco soprava,
mas não estava tão frio. Pensei em voltar caminhando, mas eu
estava cansada, queria chegar logo. Pedi um carro de aplicativo.
Cheguei em poucos minutos e fui direto para o banho. Saí e
vesti uma roupa bem confortável. Olhei para cima da cama e vi a
sacola. Observei mais uma vez a lingerie que havia comprado, ela
ficaria perfeita em meu corpo. Abri a caixa do vibrador, pensando se
usaria agora.
Nunca cogitei a ideia de ter um daqueles. Era algo totalmente
novo para mim.
Uma batida na porta desviou meus pensamentos. Quem
seria? Só poderia ser algum funcionário do hotel. Apenas larguei o
vibrador em cima da cama, fora da caixa, ou sacola.
Quando abri a porta tive uma surpresa. Era Robert.
— Boa noite. Posso entrar? — perguntou ele com um sorriso.
— Claro.
Dei espaço para que ele pudesse entrar. Eu não esperava
sua visita. Conversamos algumas vezes por mensagem, mas em
nenhum momento ele avisou que viria até o hotel.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei curiosa.
— Não. Está tudo bem. Acabei de chegar de viagem e resolvi
ver pessoalmente como você estava. Estava me sentindo um pouco
culpado por não ter acompanhado você no exame e na consulta.
— Ah sim. Estou ótima. Sente- se. — falei indicando a
poltrona perto da janela.
Olhei para a cama a vi o vibrador. Senti que minhas
bochechas ficaram vermelhas. Torci para Robert não olhar para lá.
Pensei em colocar alguma coisa em cima para cobrir, como uma
roupa, mas ele perceberia.
— Comprei algo para você no caminho. Sei que você gosta
— disse ele me entregando uma sacola.
Eram dois croissants.
— Obrigada. Eu estava mesmo com fome. Ainda não comi
nada desde que cheguei do trabalho.
— Se está com fome podemos sair para jantar. Você precisa
comer. Podemos aproveitar para você contar com detalhes como foi
a consulta.
— Acho uma ótima ideia. Você pode me esperar lá fora? Vou
trocar de roupa.
No momento em que Robert levantou para sair do quarto
percebi que seu olhar parou na cama.
— Eu interrompi alguma coisa quando cheguei? — perguntou
o homem arqueando uma sobrancelha.
— Não. Na verdade, eu acabei de comprar. Ainda não tive a
oportunidade de usar. — Apesar de estar com muita vergonha,
achei que seria uma ótima oportunidade para ser ousada. — O que
você acha de usar comigo? Não tenho muita experiência nisso. — O
homem pareceu surpreso. Antes que ele pudesse responder eu o
interrompi. — Estou brincando — falei, soltando uma pequena
risada.
Robert abriu um sorriso e deu alguns passos em minha
direção.
— Toda brincadeira tem um fundo de verdade. — Fiquei sem
reação. Apenas o encarei. — Estou esperando lá fora.
Assim que Robert saiu pela porta fiquei refletindo. Eu tinha
mesma falado aquilo? E pela sua resposta, ele pareceu gostar da
ideia. Eu o desejava, não tinha como negar. Pensei em vestir uma
roupa sexy, mas eu não tinha nenhuma. Precisava urgente trocar o
meu guarda roupa. Olhei para a lingerie nova em cima da cama e
pensei em usa-la, porém, deixei para outra oportunidade. Tinha
quase certeza de que hoje iríamos apenas jantar.
Em poucos minutos eu estava pronta. Robert estava a minha
espera.
— Que tal pizza? — perguntou ele assim que saí do quarto.
— Ótima ideia. Faz tempo que não como.
Chegamos na pizzaria sem demora. Estava quase vazia.
Talvez pelo horário, ainda era cedo.
Quanto mais tempo eu passava com Robert, mais certeza eu
tinha de que ele seria um ótimo pai para nosso filho. Sempre que
falávamos no bebê, seus olhos brilhavam. Mesmo ainda sem o
resultado do teste de DNA, ela sabia que o filho era seu.
Resumi com detalhes a minha ida a clínica.
— Na próxima eu irei com você. Não quero perder mais
nenhuma consulta.
— Não vejo a hora. Quero ouvir seu coraçãozinho de novo.
Foi tão emocionante — falei enquanto comia um pedaço de pizza.
Perdemos a noção do tempo. Quando percebemos o lugar
estava lotado. Era muito fácil conversar com Robert. Falávamos
sobre qualquer coisa. Eu me sentia confortável em sua presença.
No caminho de volta continuávamos falando sobre coisas
aleatórias. Em poucos minutos estávamos de volta ao hotel. Eu
queria convida-lo para subir até o quarto. Mas não fiz. Faltou um
pouco de coragem.
— Obrigada pelo jantar. Foi muito divertido, e a pizza estava
maravilhosa.
— Podemos sair para jantar mais vezes. Gosto da sua
companhia — disse ele olhando fixamente para mim.
— Eu também gosto da sua.
Dei um sorriso como despedida.
Quando estava quase saindo do carro o homem chamou a
minha atenção.
— Se quiser companhia para usar o vibrador, é só chamar —
disse ele com um sorriso malicioso nos lábios. — Venho com o
maior prazer.
— Vou estreia-lo sozinha hoje, quem sabe eu mande uma
foto do acontecimento.
— Vou estar aguardando ansiosamente.
Sai do carro e entrei rapidamente no hotel. Estava com as
bochechas muito vermelhas para olhar para traz. Não queria que
Robert percebesse que tinha ficado com vergonha.
Assim que entrei no quarto vesti a lingerie. Olhei para o
espelho e gostei do que vi. Era exatamente do meu tamanho. Pela
primeira vez na vida eu estava me sentindo sexy e muito confiante.
Nunca tinha usado uma lingerie como essa. Sempre achei que a cor
vermelha combinasse comigo. Deitei na cama confortavelmente.
Fiquei imaginando como seria se Robert estivesse comigo. Passei a
mão por cima de minha calcinha de renda. Só de pensar em Robert
eu já estava ficando extremamente excitada. Coloquei levemente a
calcinha para o lado e comecei a massagear meu clitóris. Deixei
escapar um leve gemido. Eu estava ficando cada vez mais molhada,
decidi que seria um bom momento para usar o vibrador, porém,
antes que isso acontecesse fui interrompida por uma mensagem no
meu celular. Era ele.
“Não vou conseguir dormir enquanto você não enviar a foto.”
Não pensei duas vezes antes de enviar. Posicionei o vibrador
entre meus seios, ainda de sutiã.
Junto com a foto escrevi uma mensagem:
“Preferia que fosse você. O que acha de vir até aqui?”
“Chego aí em 15 minutos.”
Parecia que ele estava esperando esse convite.
Eu estava me sentindo ousada naquela noite, e era
exatamente assim que eu sempre quis ser. Esperava que a
presença de Robert não me deixasse acanhada.
Quando ouvi batidas frenéticas na porta, tive certeza de que
era ele. Abria-a apenas vestindo a lingerie, pronta para seduzi-lo da
melhor forma possível.
Ele olhou para mim dos pés à cabeça, lançando-me um
sorriso malicioso.
— Estava esperando por você — falei.
Robert entrou no quarto e fechou a porta, virando-se para
mim. Não tive tempo de falar mais nada. Ele avançou em meus
lábios e deu início a um beijo cheio de desejo. Suas mãos
passearam por meu corpo inteiro, deixando-me totalmente excitada
— Imagino que eu não tenha feito você ter um orgasmo
naquela noite — comentou ele.
— Com certeza não.
— Em minha defesa, eu estava bêbado. Garanto um bom
desempenho dessa vez.
— Estou confiando no seu potencial.
Robert puxou minha mão até a cama. Deitei nela enquanto o
via tirando a camisa, relevando um abdômen definido.
Ele voltou a me beijar, ficando em cima de mim. Seus lábios
desceram por minha pele quente, distribuindo beijos e lambidas por
todo o meu corpo. Robert passou a boca por cima da minha
calcinha vermelha, apenas fazendo-me o desejar ainda mais.
Em poucos segundos ele se livrou da peça pequena de
renda. Esticou a mão e pegou o vibrador, que ainda estava na
cama. Esfregou a pontinha dele em meu clitóris bem devagar. Eu já
estava latejando de tesão, podia sentir o quanto estava molhada.
Aos poucos e com delicadeza, Robert penetrou o brinquedo
em mim. Ligou um dos botões logo depois, e eu podia sentir
perfeitamente o vibrador mexendo dentro de mim.
Apesar de ter uma parte exclusiva para estimular o clitóris,
ele não a usou. Colocou para o lado e usou a sua boca para fazer
esse trabalho. Em um momento passava a língua,no outro chupava
com vontade, enfiando e tirando o objeto rosa, que continuava
pulsando. Estava me sentindo em um verdadeiro paraíso. Olhava
para baixo e via Robert se deliciando comigo, levando-me ao meu
limite com facilidade. Contorci meu corpo e gemi alto quando gozei
na sua boca, sentindo a melhor sensação que eu poderia sentir. Ele
desligou o brinquedo e o tirou de mim, lambendo minha barriga e
subindo até minha boca novamente.
— Que bom que eu não duvidei da sua capacidade — falei.
— Agora eu quero que você goze comigo dentre de você.
— Quem sabe se você se esforçar — provoquei.
Ele sorriu.
— Você não sabe com o que está brincando.
— Estou disposta a descobrir.
Robert livrou-se do resto da sua roupa com facilidade, mas
não sem antes pegar a camisinha que estava no bolso de trás.
Depois de colocá-la, colou o seu corpo no meu e me
penetrou sem enrolação. Fechei os olhos e soltei um gemido
quando senti todo o seu pênis dentro de mim. Ele segurou minhas
mãos em cima da minha cabeça e passou a se movimentar sem
piedade.
Eu já tinha esquecido como era senti-lo daquela forma, e
estava gostando de relembrar.
Robert continuou com as estocadas fortes. Tudo o que se
ouvia no quarto eram meus gemidos e o som das nossas peles se
chocando.
Ele beijava meu pescoço, fazendo-me chegar aos céus. Eu
estava perto do meu segundo orgasmo e ele percebeu isso. Quando
eu o atingi, foi como um gatilho para que Robert gozasse também.
Estávamos ofegantes, mas isso não impediu mais um beijo
entre nós. Ele deitou ao meu lado, olhando para mim com um
sorriso nos lábios.
— Lembre-me de nunca mais duvidar de você — falei, dando
dois tapinhas em seu peito.
— Tenho certeza que jamais fará isso de novo.
Olhei para ele e também sorri.
Era exatamente isso que eu estava precisando nos últimos
dias: uma noite de prazer com Robert. Era bom ter uma distração.
Capitulo 10

Achei que o clima entre mim e Robert ficaria um pouco tenso


depois da nossa noite de sexo. Mas pelo contrário, estávamos cada
vez mais próximos. Quase não nos falávamos na empresa, porém,
ele enviava mensagem todos os dias, sempre preocupado se eu
havia comido ou tomado as vitaminas.
Eu estava empolgada, era véspera de natal. Minha mãe disse
que viria passar essa data comigo. Tinha certeza que iríamos nos
entender dessa vez.
Decidi sair para comprar um presente. Eu adorava esse clima
de véspera de natal, pessoas nas ruas, comprando os presentes
atrasados, lojas cheias e pessoas esperançosas. Essa era
definitivamente a minha época preferida do ano. Pensei em comprar
alguma coisa para Robert, mas acho que não tínhamos tanta
intimidade assim, e depois o que eu poderia comprar para ele? O
homem era tão rico, com certeza já deveria ter tudo que o dinheiro
pudesse comprar.
Entrei em diversas lojas, olhei as vitrines, mesmo sabendo
que não teria dinheiro para comprar quase nada.
Os preços estavam mais altos do que eu esperava. Não
sabia ao certo o que comprar para minha mãe. Ela adorava
utensíliospara a casa e decoração, porém, o dinheiro estava pouco.
Depois de muito tempo, andando de loja em loja, vi um relógio de
parede com uma frase religiosa. Era isso, ela iria adorar. Há meses
ela reclamava que estava faltando um relógio de parede na cozinha.
Comprei e pedi para embrulhar para presente. Mal podia esperar
para ela abrisse. Era simples, mas tinha certeza de que iria gostar.

[...]
Acordei e fui direto tomar café da manhã, eu estava faminta.
O restaurante do hotel estava quase vazio. Enquanto comia recebi
uma mensagem de Robert:
“Feliz Natal.”
Respondi na mesma hora:
“Feliz natal para você também.”
“Sua mãe já está aí com você?”
“Ainda não. Ela virá mais tarde.”
“Tudo bem. Espero que se entendam.”
Eu não sabia ao certo o horário que ela viria, só sabia que
seria no período da tarde. Fiquei pensando onde iríamos jantar,
poderia ser aqui mesmo no hotel, ou até sair para algum
restaurante, ainda havia sobrando um pouco de dinheiro, eu
conseguiria pagar um jantar.
Aproveitei para enviar mensagens para Anny e Miranda.
Desejando um feliz natal.
O tempo passou lentamente, talvez por conta da minha
ansiedade. Usei esse tempo para pesquisar na internet sobre
nomes de bebês. Eu não via a hora de saber se era menino ou
menina. Será que Robert iria querer ajudar na escolha de nomes?
Uma batida na porta interrompeu meus pensamentos.
— Alice.
— Oi, mãe. Entre.
Dei espaço para que ela entrasse.
— Passei na confeitaria e trouxe esses cookies de natal.
— Obrigada — respondi enquanto abria a embalagem.
— Então, como você está? E o bebê?
— Estamos bem, só tomando algumas vitaminas receitadas
pela doutora. O bebê está ótimo — falei enquanto dava uma boa
mordida em um dos cookies.
— Que bom. E o pai da criança? Continua presente?
— Sim, estamos nos dando muito bem. Ele está
acompanhando cada fase da minha gravidez.
Contei que fui até a casa de Miranda e que fomos na igreja
juntas. Também falei um pouco dos acontecimentos com Robert,
menos a noite de sexo, é claro.
— Comprei uma coisa para você — falei empolgada lhe
entregando o presente.
Ela pareceu surpresa. Não esperava que eu fosse comprar
alguma coisa.
— Um relógio! É lindo. Obrigada
— É para a senhora pendurar na cozinha. — De repente ela
ficou seria. — Algum problema mãe?
— Alice, eu gostei muito do relógio, ele é realmente lindo —
ela fez uma pequena pausa enquanto desviava o olhar para a janela
—, mas não posso leva-lo para a casa. Seu pai nem sonha que
estou aqui. Eu disse que passaria na casa da Inês apenas para dar
feliz natal. Não posso demorar.
— Então não vamos jantar juntas?
— Não.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Eu estava
ansiosa por dias, achando que passaríamos o Natal juntas, e agora
nem o presente ela iria levar.
— Eu sinto muito, Alice. Mas não posso ir contra o seu pai.
A mulher levantou e saiu do quarto rapidamente, largando o
relógio em cima cama. Eu não respondi, fiquei apenas parada
olhando ela ir.
Senti que as lágrimas se aproximavam, mas eu não as
deixaria caírem. Eu não iria mais chorar por ela, não iria mais atrás,
não tentaria uma relação que sei que não existiria.
Empurrei a poltrona até perto da janela, queria observar a
rua. Estava quase deserta, muito diferente do que era nos dias de
semana. Fiquei imaginando como estaria Anny e sua mãe, ou
Miranda e sua família. Com certeza estavam juntos preparando o
jantar de natal. Senti que eu era a única pessoa a passar aquela
noite sozinha, sem família.
Levei a mão até minha barriga.
— No próximo Natal você estará em meus braços — falei em
um quase sussurro.
Eu sabia que ele conseguia me ouvir. Ainda estava na janela
observando a noite cair quando meu celular tocou. Era uma
mensagem de Robert:
“Tudo bem por aí? Conseguiu conversar com sua mãe?”
“Não. Mal conversamos. Ela ficou aqui muito pouco tempo e
logo foi embora. Veio escondido do meu pai.”
Robert demorou alguns minutos para responder.
“Você está sozinha na noite de Natal? Venha para cá. Estou
na casa dos meus pais.”
“Está tudo bem. Não quero incomodar.”
“Minha mãe insiste que você venha. Estou indo buscar você.”
Apenas concordei. Achei que passar um tempo com Robert e
sua família seria divertido. Melhor do que ficar no hotel sozinha eu
tinha certeza de que seria.
O homem chegou sem muita demora.
— Está tudo bem? Parece um pouco abatida.
— Estou bem. — Foi tudo que consegui dizer.
— Quer falar sobre o que aconteceu?
— Não. Quero apenas esquecer.
— Está bem.
Robert percebeu que eu não estava querendo conversar.
Seguimos em silêncio.
A viagem foi rápida. Assim que paramos o carro não pude
deixar de reparar no enorme jardim.
— Quantas flores.
— Minha mãe gosta de jardinagem. Ela mesma cuida do
jardim. É um hobby. Ela tem amor pelas flores.
As plantas estavam impecáveis.
— Ela faz um ótimo trabalho.
No momento em que entrei na casa, fiquei impressionada. O
lugar era enorme. Nunca tinha estado em uma casa tão grande e
tão luxuosa.
— Acho que meu pai está na sala e minha mãe na cozinha,
terminando de preparar a sobremesa.
Percebi um homem de cabelos grisalhos sentando no enorme
sofá da sala.
— Pai. Essa é a Alice.
— Muito prazer em conhece-lo senhor Johnson.
— O prazer é meu, mas pode me chamar de Feliphe.
O homem parecia um pouco frio. Talvez pela história que
Robert havia contado sobre o seu irmão eu já tenha feito uma ideia
errada dele.
— Venha. Vamos até a cozinha.
— O cheiro está ótimo — disse Robert entrando no cômodo.
— Mãe, Alice está aqui.
— Finalmente estamos nos conhecendo. Robert tem falado
muito de você e do bebê. — disse a mais velha me chamando para
um abraço.
— Fico feliz um conhece-la senhora Johnson.
— Me chame de Helena.
A mulher era extremamente gentil.
Seguimos para a sala de jantar. A mesa estava repleta de
variados tipos de comida e doces. Imaginei o trabalho que deve ter
dado para fazer isso tudo. Apesar do pai ser um pouco mais calado,
os dois eram muito simpáticos.
— Vocês têm alguma ideia de nomes para o bebê? —
perguntou Helena.
— Ainda não falamos sobre isso. Para menina eu gosto muito
de Sophie. Era o nome da minha bisavó.
— Eu acho um lindo nome — comentou Robert.
O jantar foi muito agradável. Senti como se estivessem em
casa, na verdade, melhor, pois nunca me senti totalmente
confortável na casa dos meus pais.
— A comida estava maravilhosa senhora Johnson. Acho que
já preciso voltar para o hotel — falei.
— Mas está tão tarde. Fique para passar a noite. Temos um
quarto de hóspedes.
Eles foram tão amorosos comigo, fiquei sem jeito de recusar
o seu convite. Olhei para Robert para ver o que ele achava da ideia.
Ele percebeu, e logo respondeu.
— Fique — disse ele com um leve sorriso.
— Tudo bem. Se não for incomodo, eu fico.
Terminamos o jantar e eu ajudei a levar a louça até a cozinha,
mesmo Helena dizendo que não precisava.
— Ajude Alice no quarto de hóspedes. As cobertas estão no
armário.
— Claro. Quero aproveitar e falar com você. Tenho uma
surpresa.
Dei boa noite para os pais de Robert, agradecendo a
hospitalidade e segui para o quarto de hóspedes.
O quarto não era diferente do resto da casa. Era enorme e
muito bem decorado.
— Tenho um presente de Natal para você — disse Robert
tirando um pequeno pacote do bolso.
Fiquei totalmente sem jeito. Eu não havia comprado nada
para ele. Não esperava que fosse comprar para mim.
— Obrigada, mas não tenho nada pra você.
— Tudo bem. Abra
A caixinha estava embrulhada em um papel dourado. Quando
abri tive uma surpresa.
— Um colar! — Era um colar, com pingente de pezinho de
bebê. — Eu nem sei o que dizer. Obrigada.
Robert abriu um largo sorriso. Minha única reação foi abraça-
lo.
Demos um longo e forte abraço. Quando finalmente nos
separamos, percebi que meu coração estava acelerando
gradativamente, minhas mãos estavam suadas e minhas pernas
estavam trêmulas. Eu já havia ficado próxima de Robert outras
vezes, mas dessa vez era diferente. Olhei fixamente para ele, me
aproximei devagar de seu rosto e dei início a um beijo. Era algo
calmo e suave, diferente dos outros já trocados. Uma de suas mãos
estava segurando minha cintura, enquanto a outra acariciava meus
cabelos.
Todo aquele nervosismo que eu estava sentindo havia
passado.
— Boa noite — sussurrou quando nos afastamos.
— Boa noite.
— Se precisar de mim, estarei no quarto do final do corredor
— avisou com um leve sorriso nos lábios.
— Obrigada.
Aquilo era um convite para ir até seu quarto no meio da
noite? Mesmo se fosse eu não iria. Não queria arrumar problemas
com seus pais. Queria ter uma noite de sono tranquila.
Capitulo 11

— E como foi o natal na casa dos pais do senhor Johnson?


— questionou Anny animada enquanto sentávamos no refeitório
para almoçar.
— Ótimo! Os pais de Robert são muito simpáticos.
Por alguns instantes me perdi em meus pensamentos
pensando em Robert.
— Veja só o que ele me deu — falei mostrando o colar.
— Que lindo! Ele está mesmo convencido de que o filho é
dele.
— Na verdade ele sempre soube.
— E quando sai o resultado do teste de DNA?
— Dia dez de janeiro.
Sabia que Robert não precisava desse teste. Ele já sabia que
teria um filho.

[...]
Enquanto me arrumava para ir ao trabalho reparei que
minhas roupas estavam muito apertadas. Observei meu corpo, com
roupa, minha barriga era imperceptível,mas sem roupa era visívelo
quanto estava crescendo. Eu precisava fazer compras. Estava
adiando isso há tanto tempo. Eu receberia meu pagamento em dois
dias, e decidi que era a hora perfeita para umas roupas novas,
também pensava em cortar o cabelo, começaria o ano com visual
novo.

[...]
Finalmente eu havia recebido meu pagamento. Pensei em
convidar Miranda para me acompanhar nas compras, mas decidi
que pela primeira vez na vida eu queria tomar as minhas próprias
decisões.
Saí do serviço e comecei por uma loja que ficava perto da
imobiliária. Dei sorte, pois a loja tinha uma enorme variedade de
roupas, calçados e acessórios. Comprei algumas peças sociais, e
alguns moletons, para quando não estivesse no trabalho. Acabei
ficando empolgada com as roupas e quase não sobrou dinheiro para
os calçados. Comprei apenas uma bota de cano médio e salto
baixo. Eu estava satisfeita com minhas compras.
Saí da loja às sete e meia da noite. Fiquei pensando se o
salão de beleza ainda estaria aberto, ou se precisaria deixar para
outro dia. Caminhei alguns metros até o Nica salão de beleza. Eu
sempre reparava nele, era enorme, com uma linda fachada lilás.
Fiquei pensando se algum dia eu teria um salão com aquele. Para a
minha surpresa eles ainda estavam abertos. Na entrada estava
escrito aberto até às nove da noite. Percebi que tinha apenas uma
mulher fazendo as unhas dos pés. As outras atendentes estavam
paradas.
Meu cabelo era longo, quase até a cintura, em um tom
castanho claro. Decidi cortar um pouco acima dos seios em um
corte com camadas. Eu também queria pinta-lo, mas sabia que não
era uma boa ideia estando grávida. Pensei em algum tipo de
tonalizante sem amônia. Expliquei sobre minha gravidez, e para a
minha felicidade, tinha alguns produtos que eu poderia usar mesmo
estando grávida. Decidi por um tonalizante vermelho. Como meu
cabelo natural era castanho, não ficaria vermelho vivo, ficaria
apenas avermelhado.
Quando olhei para o espelho para ver o resultado final fiquei
impressionada comigo mesma. Eu estava maravilhosa. O cabelo
mais curto e com reflexos vermelho combinou muito comigo. Minha
autoestima estava nas alturas.
Comecei a fazer o meu caminho de volta ao hotel. Eu estava
radiante. Passei na padaria para comprar um lanche e comer mais
tarde. A emoção das compras e o cabeleireiro haviam me deixado
sem fome. Não via a hora de chegar no hotel e postar uma foto no
Instagram.
Assim que entrei no quarto chequei o meu celular. Havia uma
mensagem de Robert:
“Não deixe de vir na festa da empresa amanhã. Conto com a
sua companhia.”
Seria o último dia do ano, obviamente eu gostaria de passa-lo
com Robert.
Respondi que iria. Não tinha planos para a virada de ano. Iria
passar sozinha no hotel, e estava tudo bem. Já estava conformada
com isso.
A festa seria no final da tarde. Era a festa de todo final de
mês, junto com uma comemoração de final de ano. A única festa da
empresa que eu havia ido foi a que eu e Robert transamos. Depois
disso não ousei ir em mais nenhuma.
Fiquei repensando sobre postar ou não no Instagram. Se eu
postasse Robert iria ver. Decidi que não postaria, faria uma surpresa
com meu novo visual pessoalmente.
Acordei empolgada. Estava ansiosa para usar minhas roupas
novas. O clima estava ameno, não estava tão frio. Escolhi um
vestido justo na cor vinho com uma meia calça preta. Por cima vesti
uma jaqueta de couro sintético preta e para completar, a bota de
cano médio. Por último, coloquei o colar de pezinho que Robert
havia me dado. Fiz uma maquiagem bem simples e básica, coloquei
o batom vermelho na bolsa, usaria na hora da festa. No cabelo usei
um finalizador para deixar com leves ondas.
— Você está incrível — disse Harry assim que me viu.
— Obrigada. Resolvi dar uma mudada no visual.
— Amei o cabelo, esse corte ficou perfeito em você.
Recebi diversos elogios sobre meu novo visual. Eu estava
muito confiante, como jamais estive.
O dia seguiu normalmente. Não vi Robert. Na verdade, não
nos víamos muito no trabalho, ele ficava a maior parte do tempo em
sua sala.
Assim que o expediente acabou, eu e Anny fomos até o
banheiro retocar a maquiagem, não pensei duas vezes antes de
usar o batom vermelho.
A decoração estava incrível, com muitas luzes de natal
espalhadas pelo lugar.
Eu estava ansiosa para ver Robert. Não demorou muito para
o homem aparecer. Ele estava com seu terno impecável como
sempre. Nossos olhares se encontraram e ela veio em minha
direção.
— Alice, cortou o cabelo! Ficou ótimo.
— Obrigada — falei enquanto bebericava meu suco. — Essa
é Anny, ela é estagiária.
— Muito prazer. Já vi você algumas vezes aqui — disse ele,
sempre muito simpático.
A garota estava tímida, mas tentou parecer simpática.
Conversamos rapidamente. Falamos sobre a decoração da
festa e sobre os aperitivos.
— Eu vou cumprimentar o pessoal.
— Tudo bem.
O homem lançou um olhar com um sorriso malicioso antes de
se afastar.
— Além de bonito, ele é super simpático — comentou Anny.
— Ele é maravilhoso — completei.
A festa estava muito divertida. Aproveitei para fazer amizades
e conversar com pessoas que ainda não tinha tido oportunidade de
conhecer.
Em um dos raros momentos em que eu estava sozinha,
Robert veio falar comigo.
— Eu amei o visual novo. Esse cabelo favoreceu você. Ficou
ainda mais bonita.
— Obrigada. Você também não está nada mal.
— Quais os planos para a virada?
— Nenhum. Vou voltar para o hotel.
— Você vai passar sozinha? — questionou ele arqueando
uma sobrancelha.
— Sim. Mas está tudo bem.
— Eu vou para uma festa na casa de um amigo. Venha
comigo. É ano novo.
Pensei por alguns instantes se aceitaria seu convite. Era
tentador passar algumas horas com Robert.
— Não tenho certeza — respondi.
— Não será bem uma festa. Serão só alguns amigos. Vamos.
Não vai dizer que prefere ficar sozinha, não é?
Suspirei, convencida.
— Tudo bem. Eu vou.
— Ótimo. Assim que terminar aqui, vamos direto para lá.
—Tenho certeza de que será divertido — completei.
— Que tal um doce? — ele sugeriu.
Concordei. Ainda não havia comido quase nada.
Ficamos conversando perto da mesa enquanto comíamos.
Falamos sobre coisas aleatória, não tocamos no assunto bebê.
Robert comentou que gostaria de fazer uma visita para seu
irmão, Logan.
— Acho uma ótima ideia. Tente fazer as pazes com ele. Eu
vejo em seu olhar que sente falta dele.
— Você tem razão. Já tentei me aproximar algumas vezes,
mas ele nunca deu abertura. Acho que está na hora de falar
diretamente.
— Eu apoio. Sou filha única, mas sempre quis ter um irmão.
— Desviei o olhar para o copo de suco que estava em minhas
mãos. — Eu adoraria conhece-lo um dia — completei.
Passamos o resto da festa juntos. Em alguns momentos ele
saía para conversar com alguém, mas sempre acabava voltando.
Algumas pessoas também vieram até nós. Robert me apresentou
como uma amiga, e como sempre, todos foram muito simpáticos.
— Hora de ir. Vamos?
Segui o homem para fora da empresa até seu carro.
O clima estava mais frio do que eu pensei que estaria.
O caminho foi curto e chegamos sem demora. Era para um
lado da cidade que eu não conhecia. As casas eram enormes e
luxuosas.
O lugar estava mais silêncio do que eu imaginei.
— Tem certeza de que é aqui? Parece não ter muita gente.
— Eu disse que seriam poucos amigos.
Entramos na casa e fomos para o jardim dos fundos. Paul, o
dono da casa, nos recebeu.
O homem era alto, bonito e muito gentil.
Realmente não havia muitas pessoas, era uma festa
pequena. Fui apresentada aos amigos do Robert.
Paul contou algumas histórias de quando eles fizeram
faculdade juntos.
Não sei se eles sabiam sobre minha gravidez, se sabiam não
falaram nada.
— Vou pegar um suco para você. — disse Robert.
Fiquei sozinha por alguns instantes. Estava perto de Luna,
uma mulher de cabelos vermelhos. Tínhamos sido apresentadas,
mas não conversamos. Não pensei duas vezes antes de puxar
assunto.
— Eu amei a cor do seu cabelo. — comentei.
— Obrigada. Eu amo também, mas dá muito trabalho.
Preciso descolorir a raiz todo mês. Estou pensando em mudar.
O cabelo era vermelho vivo. Muito parecida com a cor do
tonalizante que usei, porém como não descolori o meu, ele ficou
apenas com reflexos escuro.
Conversamos sobre cabelo, tinturas e maquiagem. Ela
parecia saber muito sobre o assunto.
Logo nos juntamos com os outros para brindar a chegada do
ano novo. Brindei com suco e ninguém questionou, o que me fez
pensar que sabiam sobre a minha gravidez.
Logo depois da meia noite comecei a sentir o cansaço. Eu
estava acordar desde às 7 da manhã. Meu corpo precisava
descansar.
— Robert, eu estou ficando cansada. Vou pegar um Uber de
volta para o hotel.
— De jeito nenhum. Eu te levo.
— Não precisa. Está cedo ainda. Fique com os seus amigos.
— Vou avisar ao Paul que estamos indo.
Me senti um pouco mal por acabar com sua diversão tão
cedo. Mas afinal a culpa não foi minha. Eu disse que poderia ir de
Uber.
— Antes de acabar a noite eu tenho uma surpresa para você
— disse Robert assim que entramos no carro.
— O que é? — perguntei curiosa.
— Não está aqui. Deixei em casa. Moro perto daqui.
Buscamos, depois te deixo no hotel. Vamos, tenho certeza de que
você irá adorar.
— Tudo bem. — A curiosidade venceu.
Robert morava no bairro vizinho. Um lugar com casas ainda
mais luxuosas.
A sua casa era enorme, tão grande quanto a de seus pais.
— Sente-se — disse ele assim que entramos na sala.
Enquanto esperava percebi que Robert era um amante de
arte. Havia vários quadros espalhados pela casa.
— Aqui está.
O homem parecia animado.
Desembrulhei o pacote rapidamente.
— Eu não acredito!
Era um aparelho Sonar Doppler. O mesmo que a doutora
disse que poderíamos usar para ouvir o coração do bebê.
Fiquei alguns instantes olhando para o aparelho. Olhei para
Robert e ele estava sorriso. Em um impulso o abracei.
— Não foi fácil lembrar o nome, mas consegui achar.
— Obrigada.
— Vamos ouvir — disse ele.
— Como funciona? Estou tão ansiosa.
— Eu li que é melhor a mulher estar deitada.
Rapidamente tirei as botas enquanto Robert lia as instruções.
Deitei confortável no sofá e ligamos.
Começamos a deslizar o aparelho em minha barriga, mas a
animação estava nos atrapalhando. Depois de alguns instantes
tentando sem sucesso, conseguimos.
— Estou ouvindo — falei em quase sussurro.
Por alguns segundos ficamos sem reação, em silêncio,
apenas ouvindo.
Quando dei por mim, uma lágrima deslizava pelo meu rosto.
Robert também estava visivelmente emocionado. vi seus
olhos encherem de lágrimas, mas ele não as deixou cair.
Estávamos sentados lado a lado no sofá.
— Obrigada Robert. Eu não tenho como explicar o quanto eu
amei. — Fiz uma pausa olhando para o aparelho. — Vou querer
usar o tempo todo.
O homem apenas me deu um longo abraço. Fomos
interrompidos por um bocejo meu. Eu estava com muito sono.
— Você está muito cansada. Durma aqui — sugeriu Robert.
— Não sei. Acho que prefiro voltar para o hotel.
— Você pode ficar em um dos quartos de hospedes.
Eu realmente estava muito cansada, decidi aceitar.
— Tudo bem.
— Ótimo. Venha, vou lhe mostrar seu quarto.
— Gostaria de tomar um banho antes de dormir.
— Claro, você pode usar uma camiseta minha.
— Seria ótimo.
Segui ele pelos corredores. Eu estava impressionada com
sua casa.
— Aqui está. Tem toalhas no armário do banheiro. Vou deixar
você à vontade. Se precisar de algo, é só chamar.
— Obrigada.
Eu nunca havia visto um quarto tão grande. O banheiro ficava
dentro do quarto. Tomei um banho quente e relaxante.
Assim que saí do banho decidi procurar por Robert. Queria
agradecer sua hospitalidade, e também lhe desejar boa noite.
— Robert? — chamei da porta do meu quarto.
— Estou indo — ele respondeu com uma voz abafada.
Parecia estar longe.
Sentei na cama e esperei. Não demorou muito para ele
aparecer.
— Chamou?
— Sim. Quero agradecer. Se não fosse você eu teria passado
a virada de ano sozinha no quarto de hotel. — Fiz uma pequena
pausa. — Meus pais nem uma mensagem me enviaram.
O homem sentou ao meu lado na cama.
— Foi um prazer passar com você. Agora durma, você
precisa descansar — disse ele com um leve sorriso.
— Deite-se aqui comigo — pedi, indo para o lado e dando
espaço.
Ele deitou. Não falamos nada. Apenas nos abraçamos e
passamos a noite ali, juntos, sem qualquer malícia.
Capitulo 12

Há alguns dias eu não conseguia tirar Robert da cabeça.


Começou com sexo casual, se transformou em amizade, e agora?
Será que eu estaria apaixonada por ele? Uma voz me trouxe de
volta a realidade.
— Alice. O senhor Johnson pediu para você ir até à sala dele
antes de ir embora.
Era Bianca, secretaria de Robert.
— Tudo bem. Obrigada.
O que será que ele queria? Teria que esperar até o final da
tarde para saber. Tentei me concentrar no trabalho.

[...]
Finalmente o relógio marcou seis da tarde. Passei o dia todo
curiosa. Saí e fui direto para a sala de Robert.
— Robert, está tudo bem? Queria falar comigo? — falei
assim que entrei em sua sala.
— Sim. Quero levar você à um lugar.
— Agora?
— Sim.
Fiquei me perguntando onde seria. O homem parecia muito
empolgado.
— Tudo bem. Vamos.
Seguimos para o estacionamento.
— E onde vamos exatamente?
— Você vai ver quando chegar.
— Outra surpresa? — perguntei curiosa.
— Digamos que sim.
O lugar misterioso ficava a cerca de 15 minutos da empresa.
Paramos em frente à um conjunto de apartamentos.
— Onde estamos? — Eu estava confusa.
— Venha comigo.
Entramos no prédio, em seguida em um dos apartamentos. O
lugar era pequeno, mas muito bem decorado.
— O que estamos fazendo aqui? De quem é esse
apartamento?
— É seu! — disse Robert com um largo sorriso no rosto.
— Como assim? O que está acontecendo?
— Eu aluguei esse apartamento para você. Não quero mais a
mãe do meu filho morando no hotel. Aqui você ficará mais
confortável.
Eu estava sem reação. Demorei alguns instantes para
conseguir raciocinar tudo que ele estava dizendo.
— Eu estou sem palavras.
— Espero que goste do lugar. Se preferir podemos trocar a
decoração e os móveis.
— Está perfeito assim.
A sala era pequena, porém, muito aconchegante. A cozinha
era uma extensão da sala, um conceito aberto. O sofá era enorme,
ocupando quase o cômodo inteiro, em um tecido que parecia ser
couro sintético.
— Venha, vamos ver os quartos. — disse Robert.
O quarto era pequeno, estava com uma linda decoração e
uma cama de casal bem no centro.
— Está lindo!
Fomos até à porta do lado.
— Esse é o quanto do bebê.
O lugar estava totalmente vazio. Era o único cômodo da casa
que não estava mobiliado.
— Aqui era um escritório. Pedi para levarem os móveis.
Vamos decora-lo juntos.
— Tenho certeza que faremos um ótimo trabalho aqui.
Fiquei observando cada detalhe.
— Então? Gostou?
— Robert, eu nem sei o que dizer.
Eu estava emocionada. Senti que meus olhos estavam
ficando molhados. Eu estava muito emotiva durante a gravidez.
— Eu não tinha certeza se você iria aceitar.
— Obrigada. Eu amei, de verdade.
Fui até ele e demos um longo abraço.
— O que acha de pedirmos alguma coisa para jantar e
comermos aqui? Vamos inaugurar a casa — sugeriu, abrindo um
sorriso.
— Ótima ideia. Será que aquele restaurante que fomos no dia
da consulta entrega aqui? Faz dias que estou pensando no
macarrão com queijo deles.
— Se não entregar, eu vou até lá e busco. Não posso deixar
uma grávida ficar com desejo.
Ligamos para o restaurante e disseram que não entregavam
nessa região. Robert foi buscar o nosso jantar pessoalmente.
Enquanto estava sozinha comecei a refletir. Isso estava
mesmo acontecendo? As coisas estavam acontecendo rápido
demais. A única certeza que eu tinha era que eu estava feliz como
nunca.
Depois de 45 minutos, Robert voltou com o nosso jantar.
Fizemos a nossa primeira refeição na mesa da cozinha. O macarrão
com queijo estava maravilhoso, exatamente como estava no outro
dia.
Depois do jantar, lavamos a louça e falamos sobre o quarto
de bebê. Ele sugeriu que pintássemos a parede com uma cor
neutra, como amarelo ou verde claro.
— Gosto de amarelo. É uma linda cor — comentei.
— Se quiser podemos pintar essa semana. Também
podemos sair para comprar os móveis e a decoração do quarto.
— Sim! Vamos o mais logo possível.
Sorri. Agradeci a Robert mais uma vez. Eu estava radiante.
— Já está ficando tarde. Melhor deixar você descansar —
disse ele enquanto olhava as horas no celular.
Era impressionante como o tempo passava rápido quando
estávamos juntos.
— Já? Fique mais um pouco.
Eu não queria que ele fosse. Eu gostava de sua presença, de
sua companhia, e depois da nossa última noite de sexo, eu não
conseguia mais tira-lo da minha mente.
— Quer que eu fique um pouco mais? — perguntou ele
arqueando uma sobrancelha.
— Quero.
Dei alguns passos em sua direção. Olhei fixamente para seus
olhos verdes, eram penetrantes e atraentes. Não demorei muito
para juntar nossos lábios e dar início a um beijo cheio de desejo.
Robert segurava a minha cintura enquanto eu passava a mão
por sua nuca. Uma de suas mãos deslizou suavemente até os meus
seios, ele acariciava lentamente por cima da minha blusa.
Por um breve momento afastei nossos lábios e me livrei da
peça, pude sentir o seu toque diretamente em minha pele. Nossos
beijos ficavam cada vez mais urgentes.
Ele me pegou no colo e sentei de frente para ele na bancada
da cozinha, na mesma posição em que ficamos da primeira vez, no
banheiro da empresa. Robert passou a língua delicadamente em
meus seios.
Um leve gemido escapou dos meus lábios. O homem subiu
lentamente com a boca até meu pescoço.
— Vamos para o quarto? — sugeriu ele.
Chegamos no quarto e rapidamente me livrei do resto das
minhas roupas. Robert fez o mesmo. Eu estava latejando de tanto
desejo. Deitei na cama e o senti por cima de mim. Ele começou a
dar leves chupões em meu pescoço, enquanto uma de suas mãos
acariciava meu corpo, parando em minhas coxas a apertando com
força.
Ele então afastou minhas pernas lentamente e começou a
massagear meu clitóris. Fechei os olhos, aproveitando a sensação.
Ele começou a aumentar a velocidade, e quando menos esperava
penetrou em mim dois de seus dedos. Soltei um pequeno gemido.
Robert os movimentava em uma velocidade alta, voltando a
atenção para meus lábios. Levantou rapidamente e se posicionou
entre minhas pernas.
Senti sua língua em contato com meu clitóris enquanto ele
continuava usando os dedos. Aquela cena estava me deixando
extremamente excitada. Sentia que iria gozar a qualquer momento.
Contorci meu corpo de tesão, e Robert percebeu.
— Goza na minha boca — pediu.
Foi exatamente o que fiz.
Fechei os olhos de novo, aproveitando a sensação boa que
ainda estava em meu corpo, mas eu não estava satisfeita.
Puxei Robert e colei nossas bocas. Desci minha mão entre
nós dois e peguei seu pênis.
— Já querendo mais? — perguntou ele.
— Estou insaciável hoje.
Robert soltou uma leve risada.
Ele esticou a mão e pegou sua carteira no chão, tirando uma
camisinha de lá.
Depois de devidamente protegido, penetrou seu pau em mim
lentamente. Cravei minhas unhas na pele do seu braço e gemi.
Robert me beijava enquanto aumentava a velocidade
gradativamente.
Era indescritível o quando eu desejava o seu corpo definido.
Ele conseguia me proporcionar um prazer que eu jamais pensei que
sentiria.
Sua mão apertava um de meus seios de forma sutil, às vezes
passando os dedos pelo mamilo enrijecido.
Robert colocou força nas estocadas, e logo soltou um gemido
discreto, caindo ofegante ao meu lado.
Ele olhou para mim com um sorriso nos lábios, puxando-me
para um abraço.
Ainda estávamos ofegantes e eu podia sentir seu coração
acelerado, assim como o meu.
Permanecemos ali, fazendo carinho um no outro por horas.
Capitulo 13

Contei a novidade para Miranda, o que me fez pensar que a


essa altura meus pais já sabiam sobre o apartamento, porém, não
deram nenhum sinal de vida. Combinei com Miranda e Luke que
faríamos um jantar em breve para comemorar a casa nova.
Eu já estava há alguns dias no apartamento. Robert era uma
visita constante, quase todos os dias vínhamos juntos e ele me
deixava em casa. Percebi que algumas pessoas na empresa
estavam desconfiando de nos ver juntos quase todo final de tarde.
Harry já havia me perguntado se tínhamosalguma coisa, eu não sei
se Robert já tinha contado sobre a minha gravidez para alguém,
então decidi não contar, tenho certeza de que ele contaria na hora
certa. O resultado do teste de DNA estaria pronto amanhã, eu e
Robert combinamos de buscar e depois abrir juntos. Apesar de
saber exatamente o que o teste mostraria eu estava um pouco
ansiosa. Será que ele contaria para todos que seria pai?
Eu estava sentindo enjoos. Já fazia alguns dias que não
sabia o que era passar mal, mas não estranhei. A manhã estava
demorando a passar, mais do que o normal. Devia ser o nervosismo
pelo resultado do teste.
Estava um pouco sonolenta, decidi ir até o refeitório para
tomar um café. Quando levantei senti uma sensação estranha,
parecia que eu estava molhada. Olhei para a cadeira e por uns
instantes meu coração parou. Era sangue. Entrei em desespero,
não sabia o que estava acontecendo.
Saí rapidamente em direção ao banheiro. Eu estava
tremendo, não contive as lágrimas, e elas caíram antes mesmo de
chegar ao banheiro.
A ideia de ter acontecido alguma coisa com meu filho era
desesperadora.
Entrei no banheiro e tentei conter o sangue com um pouco de
papel higiênico, minha calça estava toda suja. Fui até a torneira e
lavei o rosto, eu estava tentando respirar fundo e me acalmar. Eu
iria diretamente para o hospital, não queria esperar nem mais um
minuto. Pensei em pedir para Robert me levar, mas não sabia se ele
estava na empresa. Fui até a sua sala, e como imaginei, ela não
estava. Deixei um recado com Bianca, disse que eu estava indo
para o hospital e que ele deveria me ligar assim que possível.
Também pedi para a mulher voltar até a sala e pegar minha bolsa,
não queria que alguém me visse, não queria dar nenhuma
explicação agora. Tirei o meu casaco e coloquei na cintura para
ninguém ver o sangue, desci rápido para esperar o Uber que me
levaria ao hospital.
O caminho não demorou, mas para mim, pareceu uma
eternidade. Eu não sabia exatamente o que fazer, a única coisa que
consegui dizer quando cheguei era que estava grávida e sangrando.
Fizemos um ultrassom de emergência para ver como estava o bebê,
e para meu alívio ele estava bem. Respirei aliviada quando ouvi o
seu coração.
— Foi apenas um sangramento. É muito normal no início da
gravidez — o médico explicou.
Ele disse que eu deveria ficar em repouso por alguns dias e
evitar qualquer tipo de estresse ou ansiedade. Fiquei pensando se o
nervosismo pelo teste de DNA teria ajudado no sangramento. O
médico disse que eu estava liberada, e qualquer sangramento ou
qualquer outro sintoma estranho eu deveria voltar imediatamente.
Agradeci mentalmente a Deus por minha vida e pela vida do
meu filho. Sabia que estava um pouco distante Dele nos últimos
tempos, e me culpei por isso muitas vezes ao decorrer dos meses,
mas eu ainda o tinha dentro de mim.
Fui em direção a saída do hospital. Peguei o celular para
pedir um Uber para ir para casa, mas quando olhei para a tela do
aparelho tinha 7 chamadas não atendidas de Robert. Liguei de volta
rapidamente.
— Robert.
O homem mal me deixou falar, estava nervoso.
— Alice? Está tudo bem? Onde você está?
— Calma, está tudo bem. Estou saindo do hospital.
— Eu estou no trânsito. Estou quase chegando, me espere
na entrada principal.
— Ok. Não precisa correr, já está tudo bem agora.
Fui em direção a entrada e aguardei. Em poucos minutos o
homem apareceu.
— O que aconteceu? — perguntou assim que me viu,
eufórico.
— Um sangramento. Eu estava na empresa e entrei em
pânico. Vim correndo para cá. Fizemos um ultrassom e está tudo
bem — expliquei ainda eufórica.
— Fiquei morrendo de medo. Quando Bianca me contou eu
larguei tudo e vim. Me perdoe por chegar atrasado e não estar com
você nesse momento.
— Não precisa pedir desculpas. Você é um homem muito
ocupado e eu entendo isso.
Me aproximei e o abracei.
— Eu nem consigo imaginar o que eu sentiria se acontecesse
alguma coisa com você ou o bebê — falou ele com uma certa
tristeza.
— Foi só um susto.
— Espero não passarmos por isso de novo.
Percebi que seus olhos estavam inchados, sabia que tinha
chorado em algum momento.
— Me leva para casa? — indaguei.
Robert disse que ficaria algumas horas comigo para ter
certeza de que tudo estava bem. Assim que chegamos, ele fez um
chá e insistiu que eu deitasse um pouco para descansar. Em
seguida ouvimos o coração do bebê pelo aparelho, ele não ficaria
totalmente tranquilo enquanto não fizéssemos isso.
Robert era muito atencioso, ficou o tempo todo ao meu lado,
sempre perguntando se eu estava precisando de algo.
— Eu vou sair para comprar o seu jantar. Não quero que faça
nenhum esforço hoje.
— Não precisa. Eu estou ótima.
— Pelo que você mesma disse, são recomendações
médicas. Eu já volto.
Ele disse que iria em um restaurante aqui perto e não
demoraria. Assim que saiu, fiquei pensando o quanto eu queria que
passássemos a noite juntos, o quanto eu me sentia segura quando
ele estava por perto. Sabia que não deveria o convidar, pois ele já
tinha falado que precisaria ir logo para casa para resolver alguns
problemas da empresa.
Não demorou muito tempo para que ele voltasse com o
jantar.
— Vou deixar dentro do forno. Depois vou ligar para você
para saber se comeu tudo.
— Vou comer, pode deixar.
— Agora preciso ir, tenho que deixar algumas coisas prontas
para a reunião de amanhã cedo. Ao meio dia eu venho buscar você
para irmos pegar o exame.
— Tudo bem.
— Se não fosse essa reunião eu não iria. Estou preocupado
em deixar você sozinha.
— Não se preocupe, eu estou bem. Qualquer coisa te ligo.
Robert não estava totalmente convencido, ainda parecia um
pouco preocupado.
— Tudo bem. Vou ligar para você de hora em hora.
Robert deu alguns passos em minha direção e me envolveu
em um abraço. A minha vontade era de não o soltar mais. Estar
assim tão próxima dele, só me deixava ainda mais certa sobre os
meus sentimentos. Encostei a cabeça em seu peito e fechei os
olhos, por alguns instantes fiquei apenas ouvindo a batida do seu
coração e sentindo o cheiro do seu perfume amadeirado.
— Obrigada — falei levantando a cabeça e olhando para ele.
Robert se aproximou e me deu um beijo lento e carinhoso. A
cada beijo trocado eu sentia que nossa conexão aumentava. Eu
tinha certeza de que estava apaixonada por ele, e nesse momento a
minha única dúvida era saber o que ele sentia por mim. Ele estava
apenas sendo legal e assumindo seu filho ou teria algo mais?
Capitulo 14

Foi uma noite mal dormida, acordei muitas vezes. O


sangramento passou, porém, a ansiedade ainda incomodava.
Estava curiosa para ver a reação de Robert quando tivesse a
certeza absoluta que o filho era seu.
Vesti uma roupa confortável e fiquei à sua espera. Ouvi a
buzina do carro e sai em direção à rua.
— É agora — falei para mim mesma.
— Boa tarde — disse ele assim que me viu.
O homem estava calmo e tranquilo.
— Como foi a reunião hoje de manhã? — perguntei.
— Foi ótima. Está dando tudo certo. Penso que logo iremos
expandir.
— Fico feliz com a notícia.
O caminho foi tranquilo, falamos sobre coisas aleatórias.
Entramos na clínica e pegamos o exame sem muita demora.
— Vamos para a minha casa? — sugeriu ele.
— Vamos.
Sua casa estava impecável, exatamente como da outra vez.
— Sente-se. Vou buscar as bebidas.
Ele voltou com duas garrafas do que parecia ser champanhe.
— Comprei um champanhe sem álcool para você.
— Deve ser ótimo. Obrigada.
Ele rapidamente abriu as garrafas e serviu em duas taças.
— À saúde do nosso filho — disse ele erguendo a taça.
Franzi o cenho, mas o acompanhei e concordei.
— Não vamos abrir o teste? — questionei.
Robert olhou para a bebida que estava em seu copo.
— Na verdade, não — O homem olhou para mim. — Não
preciso de um pedaço de papel para comprovar o que eu já sei. —
Eu estava surpresa com suas palavras. — Eu sei que esse filho é
meu. E ontem passei por um dos piores momentos da minha vida
quando pensei que pudesse ter acontecido alguma coisa com ele.
Estiquei meu braço e peguei sua mão, acariciando seus
dedos.
— Você sempre teve certeza, não é?
— Eu sempre soube — afirmou.
Eu não sabia o que falar, estava sem palavras. Fiquei apenas
segurando sua mão.
— Amanhã depois do horário de trabalho vou fazer uma
pequena reunião para contar a todos sobre o nosso filho — disse
ele, claramente muito animado com essa ideia.
Passamos um tempo ali, juntos, bebemos o nosso
champanhe e falamos sobre o sexo do bebê. Robert tinha certeza
de que era uma menina, já eu, não fazia a mínima ideia. Estava
curiosa para descobrir.
— O que acha de fazermos surpresa sobre o sexo? —
perguntou Robert.
— Você fala de só descobrirmos o sexo na hora do parto?
— Sim, seria interessante. Teríamos uma grande surpresa.
— Será que vamos conseguir esperar? Eu estou tão ansiosa.
— Aposto que conseguimos.
Fiquei refletindo sobre essa ideia. Gostei da sugestão.
Depois de 1 hora de champanhe e de conversa eu estava
exausta, a ansiedade pelo resultado do teste havia me deixado
muito cansada.
— Você pode me levar para casa? Estou muito cansada.
Preciso dormir um pouco.
— Claro.
Assim que cheguei em casa, queria apenas deitar e dormir.

[...]
No momento em que entrei na empresa percebi que as
pessoas estavam curiosas. A última vez que apareci por aqui foi o
dia do sangramento. Sabia que iriam questionar.
Perto do horário no almoço Robert entrou na sala e chamou
atenção de todos. Disse que faria uma pequena comemoração
depois do horário e que gostaria que todos ficassem. Teria
champanhe e alguns aperitivos.
Contive a emoção e agi naturalmente, apesar de saber
exatamente do que ele estava falando.
Muitos não ficaram, pensaram que seria alguma coisa sobre
a empresa, não imaginaram que a notícia seria algo pessoal. Disse
para Harry ficar, o garoto estava há dias questionando o que estava
acontecendo, sabia que iria gostar de saber. Anny também ficou, é
claro que eu adiantei sobre o assunto, ela já sabia o que estava por
vir.
O anúncio seria feito na sala de trabalho mesmo, pois não
havia muitas pessoas. Assim que o relógio marcou seis da tarde,
percebi que alguns funcionários entraram trazendo algumas caixas
de apetitivos e bebidas.
Em alguns minutos Robert entrou na sala. Todos pareciam
curiosos.
O homem serviu uma taça de champanhe e foi para a frente
de todos. Disse que tinha uma notícia, que o assunto era pessoal e
agradeceu a todos que estavam presentes.
— Alice por favor. Venha até aqui. — Ele fez um sinal para
que eu o acompanhasse. Eu não esperava por essa parte. — É com
muita alegria que conto para todos vocês que serei pai. Eu e Alice
vamos ter um filho.
As pessoas aplaudiram e aparentemente ficaram felizes.
Robert também explicou que sabia que o assunto era
extremamente pessoal, mas que considerava a empresa e a todos
como sua segunda família. Fiquei ao lado dele o tempo todo. A
maioria das pessoas veio até nos para dar os parabéns. A única
pessoa que pareceu não ter gostado nada da notícia era Elizabeth.
Conversamos apenas uma vez, quando descobri que o senhor
Johnson e o Robert eram a mesma pessoa. Depois disso via ela
apenas de longe, e desde então tinha a sensação de que ela não ia
muito com a minha cara. Decidi perguntar para Robert.
— Tem algum problema com a Elizabeth?
— Como assim?
— Desde que você deu a notícia da gravidez ela está com
uma cara péssima. E eu já tinha a sensação de que ela não gosta
muito de mim.
— Ciúmes provavelmente. — Robert bebeu um gole do seu
champanhe. — Há alguns meses atrás tivemos um rápido
envolvimento. Para mim era apenas sexo casual, mas ela queria um
compromisso. Então decidi me afastar. No começo ela não gostou,
mas ao decorrer do tempo acabou aceitando. Hoje somos amigos.
— Mas com certeza ela não quer só a sua amizade.
— Uma pena. É só isso que eu tenho a oferecer.
Olhei para a mulher e ela parecia saber que estávamos
falando sobre ela.
— Não se preocupe com ela — completou ele.
As pessoas começaram a ir embora. O lugar estava ficando
vazio. Saí de perto de Robert por alguns instantes para servir mais
alguns aperitivos, provavelmente os últimos, quando Harry chegou
ao meu lado.
— Eu não acredito que vocês terão um filho! Eu já estava
desconfiado de vocês juntos, mas um filho? Nunca pensei nisso. —
disse o garoto empolgado.
— Surpresa, né? Nem eu imaginava. Quando transei com ele
pela primeira vez eu não tinha ideia de que ele era o meu chefe,
você acredita? Achei que fosse apenas um homem aleatório aqui da
empresa.
— Você está brincando com a minha cara! — disse ele,
incrédulo.
— Acredite, não estou.
— Eu estou chocado demais! — Ele colocou a mão em sua
testa. — Amanhã no almoço você vai me contar essa história
direitinho.
— Pode deixar. Você saberá de todos os detalhes.
Nos despedimos rapidamente.
Procurei Anny por alguns instantes, mas percebi que a garota
já havia ido embora. Nem nos despedimos, eu sentia que estava em
falta com ela nesses últimos dias. Pretendia compensar em breve,
ou então assim que o bebê nascesse.
Robert me levou para casa. Ele apenas parou o carro para
que eu descesse, não pediu para entrar, e eu também não o
convidei. Adorava a sua companhia, mas estava muito cansada, só
queria dormir.
Eu estava encucada com uma coisa: Elizabeth. Esperava
que a mulher já tivesse superado Robert completamente, não queria
arrumar confusão logo agora que estava tudo certo.
Capitulo 15

Algumas semanas haviam passado. A minha barriga já


estava começando a aparecer. Todos na empresa já haviam
digerido a notícia, até mesmo Elizabeth, apesar de ainda olhar para
mim com cara de poucos amigos algumas vezes, mas eu apenas
ignorava.
Eu estava um pouco confusa sobre minha relação com
Robert. Algumas vezes conversávamos apenas como amigos,
outras vezes fazíamos sexo. Não que eu estivesse reclamando,
porém, meus sentimentos por ele aumentavam a cada dia, e
gostaria de saber se era recíproco. O que ele pensava? Estava
apenas sendo legal e de vez em quando fazíamos sexo sem
compromisso? O homem nunca falava sobre os seus sentimentos.
Fiquei pensando se eu devia o questionar.
Nessas últimas semanas, vendo minha barriga crescer, uma
ideia fixa ficava em minha mente: o parto. Precisava decidir se faria
cesariana ou parto normal. Eu realmente estava com medo, não
podia negar. Tentava ao máximo colocar apenas pensamentos
positivos em minha cabeça, mas era quase impossível. Eu estava
viciada em ver vídeos e relatos de parto.
Robert disse que eu não precisaria mais trabalhar, pelo
menos durante a gravidez, porém, eu amava o meu trabalho,
gostava de ter os meus amigos e a minha liberdade. A ideia de ficar
em casa, sozinha o dia todo sem fazer nada não me agradava em
nada. Decidi que por enquanto eu iria continuar. Ele concordou,
desde que não afetasse a minha saúde.
O clima ainda estava frio. Eu estava na frente da empresa,
esperando Robert para me levar em casa depois do trabalho, como
de costume. O homem apareceu com um largo sorriso nos lábios,
parecia radiante.
— O que aconteceu? Parece Feliz — comentei curiosa.
— Adivinhe só? Conversei com meu irmão. Acho que dessa
vez iremos nos entender.
— Que ótima notícia. Fico muito feliz por vocês.
— Eu contei sobre nós, sobre a gravidez e pensamos em
fazer um almoço, nós três. O que acha?
Ele disse que falou sobre nós, seria isso um sinal de que
tínhamos um relacionamento?
— Eu adoraria conhece-lo.
Eu estava ansiosa. Além de ser muito fã do seu trabalho,
queria conhece-lo como pessoa. Queria ouvir histórias de infância
sobre ele e Robert, queria ouvir sobre a sua jornada de sucesso, e
como ele criou coragem para seguir seu sonho de ser maquiador.
Tinha certeza de que era uma ótima pessoa.

[...]
O clima não estava muito frio naquele dia. Optei por um
vestido leve e um casaquinho. Eu estava adorando usar vestidos,
deixava a minha barriga mais à mostra. Para completar finalizei com
uma sapatilha preta.
Robert viria me buscar em 15 minutos para o almoço com
seu irmão.
Assim que entrei no carro percebi que o homem estava
inquieto.
— Parece nervoso.
— Um pouco. Quero que dessa vez dê certo. Espero que
possamos voltar a ser amigos.
— Fique calmo. Vai ficar tudo bem.
O caminho foi silencioso. Percebi que ele queria ficar calado.
Assim que chegamos, Robert foi em direção à cozinha. O
almoço estava em andamento. O homem largou o que estava
fazendo para me buscar, eu disse que não precisava, que viria de
Uber, mas ele insistiu.
— Quer ajuda?
— Claro. Pode ajudar com a salada.
O cheiro na cozinha estava delicioso, me deixando ainda com
mais fome. Robert havia deixado um pernil no forno, estava quase
pronto.
Terminamos de preparar o almoço. Enquanto estávamos
arrumando a mesa, ouvimos um carro. Era ele.
Robert abriu a porta e o cumprimentou.
— Essa é Alice.
— Muito prazer — disse Logan estendendo a mão.
— O prazer é meu — respondi.
Os dois eram muito parecidos, os mesmos olhos verdes.
Fomos para a sala de jantar. Logan era muito simpático. Ele e
Robert pareciam velhos amigos. Nem pareciam que estiveram
distantes por tanto tempo.
— Eu sou muito fã do seu trabalho. Adoro esse universo de
maquiagem — falei tomando um gole de suco de maracujá.
— Obrigada. Fico muito feliz em ser reconhecido.
— Como você descobriu que queria ser maquiador?
— Eu sempre soube. Desde criança gostava muito de
maquiagem. Os outros meninos da escola me tratavam mal por eu
ser “diferente”, mas eu não ligava. Ficava observando quando minha
mãe usava maquiagem. Algumas vezes pedi para ela deixar eu a
maquiar, mas ela achava estranho. — O homem faz uma pausa. Eu
conseguia sentir a tristeza ao falar de sua mãe. Sabia exatamente
como era não ser apoiado. — Eu até pensei em ir para a faculdade
de administração e ajudar meus pais na imobiliária, mas não era
isso que eu queria. Criei coragem e segui meu sonho. Hoje eu vejo
que foi a melhor decisão que eu já tomei. E mesmo que seja difícil
para começar, apenas comece. Não fiquei esperando o momento
certo. Nada melhor do que trabalhar com o que se ama.
Suas palavras me fizeram refletir. Ele tinha razão. Eu ainda
queria ter o meu próprio salão de beleza. Nesse momento a minha
prioridade era apenas o meu filho, mas depois que ele nascesse eu
iria começar. Iria atrás do meu sonho, e quem sabe, assim como
Logan, no futuro eu teria uma história de sucesso para contar.
Depois do almoço fomos para a sala de estar enquanto
comíamos a sobremesa. Por insistência minha, Robert havia feito
torta de maçã. Era um doce que eu gostava muito, pois lembrava os
meus avós.
— Então já decidiram o nome? — perguntou Logan curioso.
— Ainda não. Nem sabemos se é menino ou menina —
respondi enquanto terminava minha torta de maçã.
— Ainda não?
— Nós decidimos esperar. Queremos surpresa. Apesar de eu
achar que é uma menina — comentou Robert.
Passamos uma tarde muito agradável. Logan era muito
simpático e divertido. Contou que nos tempos de escola era Robert
quem o defendia dos garotos maldosos.
— Eu era o irmão mais velho. Era o meu dever — afirmou
Robert, gabando-se. Pareceu relembrar os tempos de escola.
Eu sabia que eles iriam retomar a sua amizade. Era nítido o
amor que eles sentiam um pelo outro.
Capitulo 16

O frio estava ameno, mostrando que a primavera já estava


presente. Eu estava com 7 meses de gestação. Minha barriga
estava grande. Eu sentia o bebê chutar e mexer com frequência. Eu
estava quase parando de trabalhar, ficava cansada mais facilmente.
Por outro lado, eu não gostava de ficar muito tempo sem fazer nada.
Estava frequentemente visitando Miranda, também estava fazendo
caminhadas leves no parque, eu gostava de estar ao ar livre.
— Já decidiu onde quer ir no seu aniversário? — questionou
Robert.
— Eu estive pensando. O que acha de irmos ao zoológico?
Faz tanto tempo que não vou.
— Acho uma ótima ideia. Será que você não ficará muito
cansada com o passeio?
— Claro que não, tem muitos lugares para sentar.
— Tudo bem. Mas caso fiquei muito cansada, vamos embora.
Concordei.
Eu estava muito animada para esse passeio. Fui
pouquíssimasvezes ao zoológico, e a última vez foi há muitos anos.
Durante todos esses meses de gravidez, meu relacionamento
com Robert não mudou muito. Ainda fazíamos sexo casual, apesar
de que nas últimas semanas eu tenho ficado um pouco
desconfortável em algumas posições. Eu gostava de ficar com ele,
porém, gostaria de saber dos seus reais sentimentos. Queria saber
se gostava de mim tanto quanto eu gostava dele.
Como de costume, nessas últimas semanas, escolhi um
vestido.
Robert combinou de vir às 2 da tarde para passarmos o resto
do dia no zoológico. Depois iríamos jantar na casa de sua mãe. O
cardápio seria macarrão com queijo, especialmente para mim, pelo
meu aniversário de 20 anos.
— Feliz aniversário — disse Robert assim que entrei no
carro.
— Obrigada. — Sorri.
— Eu tenho um presente para você.
— Sério? Não precisava.
— Mas só vou dar no final do dia.
— Ah não. — Bufei. — O que é? Estou curiosa.
— Mais tarde você ficará sabendo.
O homem ainda não havia ligado o carro, e por alguns
instantes, ficou olhando fixamente para mim.
Ele se aproximou alguns centímetros.
— Que tal um beijo de aniversário? — perguntou com um
sorriso sedutor.
— Ótima ideia.
Colei nossos lábios em um beijo ardente. Uma de suas mãos
deslizou até o decote do meu vestido para acariciar meus seios. Sua
boca desceu lentamente até o meu pescoço, enquanto eu passava
minha mão em seu pênis, por cima da calça. Meu simples toque já o
deixava excitado. Olhei a nossa volta, e apesar de não querer parar,
era o meio da tarde. Pessoas passavam no final da rua.
— Robert, a rua está movimentada.
— Tem razão — concordou, recompondo-se. — Melhor
irmos.
— Podemos terminar mais tarde — sugeri.
— Era exatamente isso que eu ia falar.
O caminho foi tranquilo. Era um lindo sábado de primavera.
— O clima está ótimo hoje — comentou Robert assim que
chegamos ao zoológico.
— Perfeito para ficarmos ao ar livre.
O sol brilhava forte, porém, ainda soprava um vento fresco.
Deixando a temperatura agradável.
O zoológico era enorme. Havia muitas coisas pra ver, sabia
que não iria conseguir, além de já ser duas e meia da tarde, eu não
aguentaria tantas atividades.
Eu estava encantada com o passeio. Não lembro da última
vez que tive uma tarde tão especial.
— O que acha de um sorvete? — sugeriu Robert.
— Adoraria. Estou com um pouco de calor.
— Fique aqui e descanse um pouco. Eu vou comprar.
— Tudo bem. Quero de creme
Ele se afastou alguns metros. Eu estava adorando o passeio,
mas confesso já estava ficando um pouco cansada.
— Está tudo bem? — questionou Robert me entregando o
sorvete de creme.
— Sim, só estou um pouco cansada. Acho que não imaginei
que estivesse tão quente no sol.
— Parece que o vento parou de soprar — disse ele
observando algumas árvores que estavam por perto. — Vamos para
casa. Podemos terminar o passeio outro dia.
— Não. Eu quero ver as girafas.
— Tudo bem, mas depois vamos embora. Não quero que se
canse muito.
Concordei. Eu queria muito ver as girafas, sem dúvidas era o
meu animal preferido.
— Elas são lindas, não são? — falei olhando para a grande
girafa que estava ao nosso lado.
— São impressionantes.
— Sabia que as girafas cruzam seus pescoços quando estão
apaixonadas?
— Sério? — Robert deixou escapar uma pequena risada. —
Não sei se acredito muito nisso.
— Mas é verdade.
— Bom, acho que não vi muitas girafas apaixonadas então.
— Ele voltou sua atenção para mim. — Agora me conte um fato
comprovado sobre elas.
Desviei o olhar, voltando a atenção para os animais, tentando
pensar em alguma coisa.
— As girafas dão à luz em pé. Quando nasce, o filhote
despenca no chão, uma queda com mais de dois metros.
— Estou impressionado com o seu conhecimento sobre
girafas.
— Eu adoro animais no geral. Gosto de saber um pouco mais
sobre eles.
O sol já estava se pondo quando saímos do zoológico.
Fomos diretamente para a casa dos pais de Robert.
— Foi uma tarde muito agradável Robert. Obrigada — falei
enquanto parávamos o carro em frente a enorme casa.
— Foi mesmo. Eu adorei. Podemos repetir mais vezes.
Assim que entramos na casa já pude sentir o cheiro delicioso
de comida.
Os pais de Robert eram muito simpáticos. Desde que os
conheci, no natal, viemos jantar algumas vezes com eles. Era
sempre uma ótima companhia.
Robert não estava mentindo quando disse que o macarrão
com queijo da sua mãe era o melhor.
— Está maravilhoso, Helena. Com certeza o melhor
macarrão que eu já comi.
— Viu, eu sabia que iria gostar — comentou Robert enquanto
comia.
Depois do jantar, Robert foi até o carro e voltou com um
pacote nas mãos.
— Venha comigo. Quero mostra uma coisa.
Pedi licença e o segui.
Subimos uma enorme escada e paramos em uma área
externa, no segundo andar da casa.
— Lembro que falou que gosta de observar a lua — lembrou
ele.
Eu realmente gostava. Ela estava cheia e brilhante. Por
alguns instantes fiquei apenas a admirando.
— Está linda. É a visão daqui é perfeita.
— Tenho um presente — disse ele me entregando o pacote.
O homem parecia nervoso. Percebi que estava mordendo a
lábio inferior.
Eu estava curiosa desde cedo com esse presente.
— O que será? — questionei enquanto pegava o embrulho
de suas mãos.
— Descubra.
Antes mesmo de terminar de abrir eu já sabia o que era.
— Uma boneca? — murmurei ainda sem acreditar.
— Sim, uma boneca de porcelana.
Assim que a vi senti meu coração palpitar. A boneca era
muito parecida com Sophie.
— Você lembrou — falei com a voz falhada.
— Não teria como esquecer. Estou há algum tempo
procurando por ela, queria que lembrasse a sua antiga boneca.
Senti que meus olhos estavam enchendo de lágrimas.
Minhas mãos começaram a suar, por um momento fiquei com medo
de a derrubar. Para mim não era apenas uma boneca, trazia todas
as lembranças que tinha dos meus avós. Eu sentia tanta falta deles.
— Obrigada Robert.
O abracei o mais forte que pude, enquanto deixava as
lágrimas rolarem.
Afastei meu rosto e olhei para seus olhos, que pareciam
ainda mais verdes a luz do luar.
O homem se aproximou lentamente.
Enquanto sentia seus lábios nos meus, a única coisa que eu
pensava era que queria que ele soubesse. Pensei em me declarar,
porém, tive medo de estragar o momento.
Talvez fosse melhor ficamos assim, até eu pegar alguma
pista de que ele sentia o mesmo.
Capitulo 17

Já era verão, as temperaturas subiam com rapidez.


Ainda não sabíamos se era menino ou menina. Iríamos
manter a surpresa.
Depois de muito pensar, decidimos os nomes. Para menina
seria Sophie, em homenagem à minha bisavó. Se fosse menino
seria Wiliam, em homenagem ao primo de Robert que faleceu ainda
adolescente. Eles eram muito apegados. Uma história muito triste.
Eu estava com 39 semanas de gestação. Optei pelo parto
normal. Pesquisei muito para tomar minha decisão. Robert ficou ao
meu lado, estava me dando todo o apoio necessário.
Nos últimos dias eu mal conseguia dormir, qualquer posição
era desconfortável.
Há duas semana estávamos na casa dos pais de Robert. Os
mais velhos me faziam companhia durante o dia enquanto Robert
trabalhava.
As contrações estavam presentes há alguns dias, apesar da
doutora ter falado que era normal, eu sentia que iria parir a qualquer
momento.
— Está tudo bem? Está confortável? — questionou Helena.
— Estou com dor — reclamei enquanto tentava achar uma
posição no sofá.
— Vou pegar mais algumas almofadas para você.
Olhei no relógio e era 1 da tarde, ainda era cedo. Estava
ansiosa pela chegada de Robert, parecia que quando estava com
ele, eu me sentia segura.
Passei a tarde com muita dor. As contrações foram
aumentando ao decorrer das horas. Cada vez menos espaçadas.
— Acho que devemos ir ao hospital — falei.
— De quantos em quantos minutos estão vindo as
contrações fortes?
— A cada quinze minutos, mais ou menos.
— Ainda precisamos esperar mais um pouco. Vamos dar uma
caminhada pela casa, ou quem sabe tomar um banho quente —
sugeriu.
— Não sei. Está doendo bastante.
— Vai ajudar, querida.
A mulher estendeu a mão. Usei o seu apoio e levantei.
Caminhamos até a janela para pegar um ar.
— Você acha que o parto será hoje? A bolsa ainda não
estourou — sussurrei.
— Robert nasceu sem a bolsa estourar. É mais comum do
que você pensa. — Helena fez uma pequena pausa enquanto
olhava para o enorme jardim através da janela. — Acho que nascerá
hoje sim. Suas contrações estão aumentando.
Aquelas palavras me alegraram e ao mesmo tempo me
deixaram desesperada. Eu estava com muito medo do parto, por
outro lado, eu estava aguardando esse momento ansiosamente.
Helena me ajudou no banho. Sentir a água quente
escorrendo pelo meu corpo fez eu me sentir melhor, pelo menos por
um tempo
Conforme os minutos foram passando, o medo ia embora. A
dor era tanta, que eu só queria que nascesse logo. As contrações
estavam com espaço de cinco minutos entre elas.
— Está tudo bem? — Robert chegou afobado.
Sua mãe havia ligado para ele para contar o que estava
acontecendo.
— Quero ir para o hospital — resmunguei.
— Acho que já podemos levá-la. Vou buscar a bolsa do bebê
— disse Helena subindo as escadas.
Robert me ajudou a levantar e entrar no carro. Ele estava
visivelmente inquieto e nervoso.
— Calma, meu filho. Tudo dará certo. Não precisa correr. —
Sua mãe voltou com a bolsa.
A mulher parecia calma. Acho que pela sua experiência de
dois filhos já sabia exatamente como era.
Helena estava no banco de trás comigo, segurando minha
mão e tentando fazer com que eu me acalmasse um pouco.
— Acho que estão mais fortes e com menos tempo. De dois
em dois minutos talvez.
— Já estamos chegando no hospital.
A dor era quase contínua.
O caminho até o hospital não durou mais de dez minutos,
mas foi o suficiente para minha dor ficar quase insuportável.
Assim que chegamos fui para uma cadeira de rodas.
Fui colocada em uma sala. Eu não sabia exatamente o que
estava acontecendo. A dor era tanta, que eu estava em uma
espécie de transe.
Robert iria assistir ao parto, porém, nesse momento falaram
que eu deveria estar sozinha.
Uma mulher apareceu e disse que iria verificar a dilatação.
— 8 centímetros. Está nascendo. Você vai para a sala de
parto agora!
— Robert! Chamem o Robert — sussurrei com o que havia
sobrado das minhas forças.
Enquanto estava sendo transferida pensei que deveria ter
optado por uma cesariana. Eu estava totalmente cansada e exausta.
Como iria conseguir?
Quando dei conta, já haviam enfermeiros à minha volta.
Robert estava ao meu lado, apesar de não lembrar de o ver
chegando.
— Agora faça força — disse o médico.
Fiz o que o médico mandou. Sentia como se estivesse sendo
rasgada ao meio, mas ainda assim era um alívio saber que o bebê
estava saindo.
Robert segurava minha mão.
— Está quase. Faça força — sussurrou o homem.
— Eu não aguento mais. — Minha voz estava fraca.
— Já está quase no final. Só mais um pouquinho, você
consegue. — Robert passou a mão por minha testa.
Eu assenti, sentindo as lágrimas de desespero molharem
meu pescoço.
Nesse momento comecei a refletir. Pensei novamente sobre
o quanto estava distante de Deus nesses últimos meses, eu mal
estava indo à igreja, mas a minha fé continuava a mesma. Comecei
a pedir a Deus para que desse tudo certo e acabasse logo. Fiquei
orando mentalmente e buscando meu último resquício de força.
Eu não sei quanto tempo durou. Para mim foi uma
eternidade.
De repente, a pressão que eu sentia parou, e um choro de
bebê invadiu meus ouvidos.
Minha visão estava turva, mas vi quando o pegaram para
limpar as vias aéreas.
— É menino ou menina? — sussurrei para Robert.
Ele repetiu a pergunta para o médico.
— É uma menina! — respondeu ele, ainda segurando minha
mão. — Você conseguiu, Alice.
Uma enfermeira veio com a pequena até mim, mostrando-
me.
— Ela é linda — falei.
Era inexplicável a emoção que eu estava sentindo. Sabia que
ser mãe não seria uma missão fácil, mas, naquele momento, tudo o
que eu sentia era alívio e felicidade.
— Vamos limpa-la — avisou a enfermeira.
Robert estava sem palavras ao meu lado. Ele não conseguia
falar, apenas chorar. Sabia o quanto ele queria um filho e o quanto
aquele momento estava sendo único para ele.
Capitulo 18

Voltamos para a casa dos pais de Robert após o parto.


Iríamos ficar pelo menos umas duas semanas. Eles estavam
ajudando em tudo. Eu estava dando o meu melhor, mas confesso
que estava cansada. Sophie era muito calma e boazinha. Eu estava
completamente apaixonada por ela, na verdade, todos nós
estávamos, não saíamos da sua volta, nem por um minuto.
Sempre que possívelRobert saíamais cedo do serviço. Dizia
que queria passar o máximo de tempo com Sophie.
— Pode ir dormir um pouco. Eu fico com ela — disse Robert
assim que terminamos o jantar.
— Tudo bem, mas qualquer coisa me chame.
Antes de ir para o quarto fiquei os observando. Pai e filha
juntos. Ele passava a mão levemente pela sua testa, encostando no
seu cabelo. Quando eu estava grávida, era exatamente uma cena
assim que imaginava ver.

[...]
Depois de quase 3 semanas, decidi que era hora de voltar
para casa. Eu estava muito grata pelos pais de Robert. Eles foram
ótimos, ajudaram em tudo. Confesso que sentiria falta deles,
principalmente de Helena, mas eu estaria sempre presente. Sophie
iria crescer com a companhia dos avós, pelo menos dos avós
paterno.
— Domingo venham almoçar conosco — disse Helena
despedindo-se de Sophie.
— Pode deixar — concordei com um sorriso.
Nos despedimos e seguimos o caminho para o apartamento.
Eu estava com saudades de casa. Já estava há mais de um
mês longe.
Chegamos no final da tarde. Robert foi diretamente para o
quarto de Sophie, arrumar as coisas que faltavam e as que estavam
na casa dos seus pais.
Assim que escureceu, o homem foi até um restaurante
próximo comprar o nosso jantar, já que não tínhamos nada na
dispensa.
Depois do jantar, enquanto eu ficava com a bebê, ele lavou a
louça e deixou tudo limpo na cozinha.
— Já vou arrumar a cama para nós, caso a gente pegue no
sono aqui no sofá.
Para nós? Robert iria dormir aqui? Não que isso fosse um
problema, eu queria a sua companhia, mas queria saber o que
estava acontecendo. Durante o mês que ficamos na casa de seus
pais, ele ficou em um quarto separado. Porém, na maioria das
vezes, agia como se fossemos um casal. Isso estava me deixando
confusa. Decidi que era hora de perguntar. Eu estava evitando isso
há meses. Corria o risco de acabar com tudo que tínhamos, mas eu
queria saber sobre os seus sentimentos.
Coloquei Sophie no carrinho, já que ela havia dormindo em
meus braços.
— Robert, quero perguntar uma coisa — falei com a voz um
pouco falhada.
Ainda dava tempo de desistir.
— Algum problema?
— Não. — Desviei o olhar para a televisão a nossa frente. —
O que nós temos?
— Como assim? — Ele pareceu confuso.
— Você sabe, a nossa situação.
Robert sentou no sofá ao meu lado.
— Você fala sobre o nosso relacionamento? — questionou.
— Sim. Há alguns meses eu venho pensando nisso. No
começo eu achava que você apenas estava sendo legal, mas tenho
a impressão que nesses últimos 2 meses estamos agindo como
casal. Não que eu não goste, mas queria que ficasse tudo
esclarecido.
— Sério? — disse ele arqueando uma sobrancelha. — Achei
que já estivesse tudo mais que esclarecido.
— Como assim?
— Achei que fosse certo que estávamos namorando.
— Como assim? Estamos namorando? Como eu iria saber?
Você não pediu para namorar comigo. Todo esse tempo eu ficava
pensando sobre o que se passava na sua cabeça.
O homem desviou o olhar. Parecia procurar as palavras
certas.
— Eu percebi o exato momento em que eu comecei a me
apaixonar por você. Foi no dia do teste de DNA. Quando eu olhei
para você saindo do consultório, eu senti que algo havia mudado
dentro de mim. Você sabe, eu sou muito tímido com esses assuntos,
é difícil falar sobre sentimentos, mas...
Ele deixou a frase no ar.
— Mas o que? — perguntei.
— Mas eu amo você.
— Ama? — questionei e ele assentiu, apreensivo.
Eu não esperava sua declaração. Senti meu coração batendo
mais forte em meu peito, mas eu não sabia o que dizer. Fiquei em
silêncio.
— Alice, quer namorar comigo?
— É o que eu mais quero — respondi com um sorriso.
Sentei delicadamente em seu colo e o beijei.
— Eu estava esperando esse pedido já há algum tempo. Eu
amo você, Robert — completei.
— Acho que deveríamos ter falado sobre isso antes.
— Fico feliz que tudo tenha sido esclarecido.
— Prometo tentar me abrir mais com você, e também quero
que me pergunte quando eu a deixar confusa sobre qualquer coisa.
Eu assenti, beijando seus lábios mais uma vez.
Há um ano atrás eu jamais pensei que eu estaria naquela
situação: com uma filha linda, um homem que me amava, um
emprego que eu gostava e vivendo a minha vida do jeitinho que eu
queria, e agora, com a minha determinação para conseguir meu
próprio salão de beleza, só tendia a melhorar.

FIM

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