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Amaldiçoado com o pecado mortal do orgulho, o fracasso não é uma opção para
Alastair. Vença a todo custo. Com a intensificação da guerra, as apostas são maiores
do que nunca. Sacrifícios devem ser feitos. Adicione o despertar de um vínculo de alma
gêmea além disso, e as coisas nunca foram tão complicadas. Especialmente quando
essa alma gêmea é um anjo com olhos gelados, mas cujo toque é surpreendentemente
caloroso.
O que acontece quando seu companheiro predestinado é a única pessoa que você
está proibido de amar?
Lazarus viveu uma vida obediente de um guerreiro celestial. Não levando nada para si.
Deixando de lado todos os desejos. O destino tem outros planos. Um beijo. Isso é tudo
o que é preciso para que as emoções que ele selou surjam. Mas vale a pena amar
Alastair?
Castor: Ambição
- Cabelo vermelho-maçã, olhos verdes, 1,85 com asas negras com ouro.
- Tem uma tonelada de carros e coisas caras. Esconda seus objetos de valor.
Companheiro: Kyo, um dragão de água.
Daman: Inveja
- Cabelos castanhos, olhos verdes, 1,80 com asas negras com verde.
- A inveja o torna distante, frio e amargo. Mas caramba, ele é bonito.
Companheiro: Warrin, um dragão de gelo. Russo.
Gray: Preguiça
- Cabelo loiro selvagem, olhos castanhos, 1,75 de fofura sonolenta, asas negras
com céu azul
- Honestamente, muito precioso para este mundo. Dê-lhe muitos mimos.
Companheiro: Mason Hawk, um humano que caça monstros.
Bellamy: Luxúria
- Cabelo loiro ondulado, olhos castanhos que mudam de cor dependendo de
quem olha para ele, 1,80 com asas negras com azul royal.
- Ele vai arrancar suas calças com charme. Melhor sexo garantido da sua vida.
Companheiro: Phoenix, um demônio sexy que pode ou não ser um vilão.
Raiden: Gula
- Cabelo preto curto, olhos azul-acinzentados, 1,90 com asas pretas com laranja.
- Sempre faminto. Traga muitos lanches. Um gigante gentil.
Companheiro: Titã, um Nephilim guerreiro com um braço de titânio. Adora
cuidar do jardim e mimar Raiden.
Kallias: Melancolia
- Cabelos pretos, olhos castanhos escuros, asas negras com tons mais escuros
de preto nas pontas.
- Doce, mas triste. Adora café e luta de espadas. Inquieto com a tecnologia
moderna.
Companheiro: Elasus. Um espartano que morreu há muitos anos.
Alastair: Orgulho
- Cabelo loiro prateado, olhos azuis gelados, 1,88 com asas negras com roxo.
- Adora chá, leitura e tempo sozinho longe de seus irmãos.
Clara
- Uma bruxa humana que fez amizade com os irmãos Nephilim.
Baxter
- Líder da ilha de Nephilim na Grécia. Cabelo rosa-preto. Tem heterocromia.
Aliado.
Konnar
- Vampiro dono da boate sobrenatural Krave. O melhor amigo e aliado de
Alastair na guerra.
Taeden
- Um ceifador de bad boy de Krave. Costumava dormir com Daman.
Sirena
- Guerreira Nephilim e aliada do Caribe. Comanda seu próprio exército. Em um
relacionamento com Clara.
Rei Tatsuya
- Rei dos dragões de água. irmão de Kyo.
Daichi
- Dragão da terra que se casou com Ryoko, irmã de Kyo. Ele sempre pode ser
encontrado ao lado do rei Tatsuya.
Para cada leitor que deu uma chance a esses meninos Nephilim, este livro é
para você.
Obrigado por se juntar a eles, e a mim, em uma aventura final.
— Pare de se curvar — meu pai retrucou, empurrando a palma da mão na minha
espinha.
Sentei-me ereto na minha cadeira.
Lúcifer sentou-se à cabeceira da mesa e me olhou nos olhos. Ele se encolheu
na cadeira e piscou para mim. Eu fiz o meu melhor para esconder meu sorriso.
— Você não deve encorajá-lo, meu rei. — O pai suspirou e sentou-se ao lado
de Lúcifer.
— Venha agora, Azazel. — Lúcifer agarrou sua mão e deslizou seus dedos
juntos. — Ele é apenas um menino. Você precisa incentivá-lo a crescer tão rapidamente?
— Ele é filho de um general, e espero que ele se comporte como tal. Não
permitirei que ele manche minha reputação.
— Afundando enquanto ele come sua refeição noturna? — Lúcifer perguntou
com um brilho divertido em seus olhos azul-celeste.
A determinação de meu pai enfraqueceu enquanto ele sustentava o olhar do rei.
Lúcifer era o único ser existente capaz de derreter o exterior gelado de meu pai. Ele
apertou a mão de Lúcifer. — Muito bem. Se o rei não vê falta, quem sou eu para discutir?
— Eu sou mais do que seu rei. — Lúcifer inclinou-se para mais perto. — Eu não
sou?
A respiração do pai prendeu. — Eu... bem, sim. Na verdade, você é.
Um sorriso tocou os lábios de Lúcifer quando ele soltou a mão e pegou o cálice
na frente dele. Seu olhar voltou para mim. — Coma sua refeição. — Seu tom era gentil,
apesar da brevidade de suas palavras. Era um tom que ele sempre usava comigo, nunca
levantando a voz, ou a mão, para mim com raiva.
Ao contrário do meu pai.
— Sim, meu rei. — Cortei o suculento pedaço de carne e fiquei com água na
boca com a explosão de especiarias na minha língua.
— Perdoe minha intrusão, Majestade, — um dos tenentes do exército disse
enquanto entrava na sala de jantar, inclinando a cabeça. — Outro filho foi levado.
A mão de Lúcifer parou, a borda da taça quase em seus lábios. — Qual deles?
— Daman. O filho de Asmodeus.
— E a chave de Gusion?
O macho hesitou, como se não tivesse certeza se deveria responder. — Também
perdida, Vossa Majestade.
Os olhos de Lúcifer brilharam em um tom vibrante de azul, e a taça voou pela
sala, o vinho espirrando contra a parede de pedra. Ele se sentou estranhamente imóvel,
o que apenas mostrava a gravidade de sua raiva. — E as outras crianças?
— O filho do general Belzebu permanece em Corinto com a mãe, um menino
está em Esparta e o possuído pela Luxúria reside em um bordel na Gália.
— Diga a Belzebu para vir até mim imediatamente — disse Lúcifer. — Você
deve ser capaz de encontrá-lo na taverna mais próxima, onde ele está bebendo até o
estupor.
— Sim senhor. E os filhos dos outros generais?
— Vou tomar providências para recuperá-los. Não podemos permitir que Uriel
os tenha.
— É claro. — Outra ponta da cabeça do soldado. — Além disso, o General
Belphegor mandou uma mensagem. Ele está procurando por seu filho, Gradyn, sem
sucesso.
— Então, não há notícias de onde os meninos estão detidos?
— Não, Majestade — respondeu o soldado. — Sua força vital não pode ser
rastreada. O General Belphegor tem todos os rastreadores em sua busca de força, mas
não descobriu nada. O general Caim está fazendo de tudo para encontrar os meninos
também.
A mandíbula de Lúcifer se apertou. — Então Lazarus os colocou atrás de uma
barreira protetora. Uma poderosa.
— O reino celestial, talvez? — Perguntou meu pai.
— Não. — Lúcifer balançou a cabeça. — Uriel nunca os permitiria lá. Lazarus
está mantendo os meninos neste reino, escondidos.
O tenente curvou a cabeça antes de sair da sala, suas botas ecoando pelo
corredor. Não era a primeira vez que ouvia falar das outras crianças. Eles eram os filhos
dos generais de elite de Lúcifer. Eles eram como eu: nosso sangue era especial. No
entanto, eu não conhecia nosso propósito para um sangue tão poderoso.
A resposta viria com o tempo, disso eu tinha certeza.
— Chega de conversa de guerra por enquanto — disse Lúcifer, sacudindo a
mão para um dos servos. A mulher correu e serviu-lhe outra taça de vinho.
— Serei levado também? — Eu perguntei, olhando para o meu prato de comida
pela metade.
— É possível, sim.
— Não quero desrespeitar — disse o pai. — Mas isso é um absurdo. Alastair
reside no castelo mais defendido do reino. Nem mesmo Lazarus seria tolo o suficiente
para romper nossas paredes para roubá-lo.
— Seu orgulho o cega Azazel — Lúcifer respondeu. — Sempre foi.
— Falou como o rei rebelde que você é, — meu pai respondeu. — Ou você
esqueceu que seu orgulho o levou a cair em desgraça?
— Cuidado — Lúcifer falou, baixando a voz. — Eu gosto de você mais do que
qualquer outro, mas não tenho escrúpulos em lembrá-lo de seu lugar, meu querido.
O pai baixou o olhar para o prato. — Desculpe, meu rei. Eu sei o meu lugar. Não
vou esquecer de novo.
— Cuidado para não fazer isso.
O relacionamento deles me lembrou a neve. Em um momento, a neve caiu
suavemente, pacificamente e tudo estava lindo, uma serenidade perfeita que parou o
próprio tempo e carregava uma magnificência silenciosa. No entanto, sem qualquer
aviso, aquela neve se tornou uma forte tempestade com vento gelado que mordeu sua
carne e sacudiu seus ossos em um aperto gelado. Eles existiam dentro daquela
tempestade, alimentados tanto pela adoração quanto pela animosidade.
Qual era mais forte? Eu não sabia.
Após o jantar, os dois se retiraram para o escritório de Lúcifer para bebidas e
conversas das quais eu não tinha permissão para participar. Um dia, quando eu
crescesse, poderia sentar com eles na mesa de estratégia, beber e discutir assuntos
importantes. Até então, eu só podia ficar do lado de fora, esperando minha chance de
provar meu valor.
Caminhei pelo corredor em direção ao meu quarto, mas parei em uma janela. O
mundo exterior havia sido pintado em uma paisagem invernal, a neve caindo e
consumindo tudo. A manta branca brilhava sob a luz da lua. Os galhos nus das árvores
estalaram quando uma brisa passou por eles.
— Boa noite, pequeno senhor, — uma voz profunda veio da minha direita.
— General Belzebu. — Eu inclinei minha cabeça para ele. O cheiro inebriante
de álcool se agarrou a ele. Sempre foi. O macho se afogou em bebida durante o tempo
em que comandou seu exército. Embora ele nunca tivesse dito tanto, eu acreditava que
era um mecanismo de enfrentamento. Nublar sua mente o impedia de pensar em coisas
que preferia esquecer.
— Problemas para dormir? — Ele perguntou, parando ao meu lado na janela.
Ele era bonito, cabelo preto curto e olhos como água-marinha. Sua mente desviou-se
para o simples. Muitos zombaram dele por isso, dizendo que seu intelecto era o de uma
castanha oca.
— Não. — Voltei meu olhar para a noite de inverno. — Meu pai e o rei estão
esperando por você. Você não deve deixá-los esperando.
— Eu sei disso, — Belzebu disse, respirando fundo. — Eu também sei o que
eles vão me pedir. Eles desejam que eu tire meu filho de sua mãe.
Eu olhei para ele. — Qual é o nome de seu filho?
— Raiden. — Ele sorriu suavemente. — Eu o encontrei uma vez. Ele é um
menino gentil que gosta de doces. O pão de mel é o seu preferido. Dei a ele um brinquedo
no dia do seu nome e, quando ele sorriu para mim, meu peito doeu.
— Por que doeu?
— Eu não tenho resposta. — Belzebu tocou o lugar sobre seu coração. — Mas
dói. Eu me pergunto se é tristeza. Ou talvez ansiando por mais tempo com ele.
— O General Caim cuidou de seu filho, — eu apontei. — Ele agora sofre porque
o menino foi levado. A saudade que você sente de uma família é culpa sua. Você poderia
ter ficado ao lado de seu filho quando ele nasceu, em vez de abandoná-lo por uma vida
de bêbado.
— Você fala de uma vida que nunca significou nada para alguém como eu, —
ele sussurrou, e seu sorriso anterior caiu. — Eu enganei a mãe dele. Eu nunca poderei
me perdoar por isso.
— A prejudicou como?
— Não é uma história para um menino — respondeu ele. — No entanto, é por
isso que temo tirar Raiden dela. Ela já passou por muita dor por minha causa. Não ouso
tirar seu único raio de felicidade.
Eu me virei da janela para encará-lo. — Se você não agir, seu filho será levado
pelo anjo. De qualquer forma, ela vai sofrer. Ao tentar poupá-la, você estará dando
vantagem ao nosso inimigo.
Ele se encolheu com minhas palavras. — Você é tão parecido com seu pai. Você
não tem um pingo de compaixão, pequeno senhor?
— Compaixão é para homens fracos. E homens fracos não vencem guerras.
Agora. Sugiro que não deixe o rei esperando nem mais um momento.
E com isso, continuei em direção ao meu quarto.
Uma vez na cama, ouvi o vento bater contra a janela. As persianas estavam
fechadas, mas mesmo assim um calafrio me atingiu. Puxei o cobertor até o queixo e
fechei os olhos.
Antes que o sono me reclamasse, imaginei um anjo de asas brancas com
cabelos como a neve. Eu nunca o tinha visto, só tinha ouvido histórias. Mas aqueles que
falaram dele disseram que seus olhos não tinham nada além de um ódio fervente. Ódio
pelo meu rei e por qualquer um que o seguisse.
Não. O homem chamado Lazarus não me tiraria de casa.
Eu o mataria primeiro.
***
***
Eu estava na floresta fora de uma pequena aldeia vizinha, tendo deixado minha
cama antes do nascer do sol naquela manhã. A barreira ao redor do castelo que protegia
nossa localização não me alcançou na floresta, a razão exata para escolhê-la.
Eu queria que ele me encontrasse.
E me encontrado, ele tinha.
O anjo apareceu em um turbilhão de gelo e neve.
— Quem é você? — Eu perguntei, fingindo surpresa. Embora uma pequena
parte de mim estivesse surpreso. Ele era mais alto do que o previsto, e o rosto de
pesadelo e raiva que eu havia imaginado em sonhos não estava em lugar nenhum. Em
vez disso, ele parecia jovem, com pele pálida, asas brancas e cabelos como a neve em
que pisava.
— Você sabe quem eu sou, — o anjo falou. — O filho de Azazel não é tolo. Ele
lhe contou sobre mim e o que fiz.
Muito bem. Pode muito bem desistir do ato. — Lazarus. Foi você quem levou os
outros meninos.
— Sim.
— Por que? — Uma pergunta honesta. Meu pai e o rei especularam o motivo,
mas ninguém sabia ao certo.
— Isso eu não posso dizer. — Lazarus estendeu a mão. — Venha comigo. Só
vou pedir uma vez.
— O que você fará se eu recusar?
— Me desafie e você descobrirá.
Estudei seu rosto. Seus olhos eram ilegíveis. — Você os matou? — Eu perguntei.
— Os outros meninos?
— Não. Vocês oito são importantes demais.
Uma sensação estranha rodou em meu peito. Importante. Amado. Palavras que
descreviam como os outros se sentiam em relação a mim. Eu havia desobedecido às
ordens de Lúcifer fugindo do castelo, sabendo no momento em que deixasse a barreira
que minha localização seria exposta. A necessidade de me provar era muito grande.
Assim que eu voltasse com os outros meninos, Lúcifer veria meu valor. Ele veria
meu valor.
Então, estendi a mão e peguei a mão do anjo. Quando nossa pele se tocou,
fiquei surpreso com o calor de sua palma. Nem um pouco gelado. Ele abriu as asas,
sacudiu-as uma vez para livrá-las da neve acumulada em suas penas, depois ergueu-se
no ar, levando-me com ele.
— Não vai funcionar, — Lazarus me disse enquanto voávamos acima da
paisagem invernal, viajando mais rápido do que minhas próprias asas poderiam me
carregar. — Seu plano.
— Plano?
Seus olhos azuis pálidos moveram-se para o meu rosto. — Desde o seu
nascimento, Azazel e Lúcifer o mantiveram escondido naquele castelo como um bem
valioso, nunca permitindo que você deixasse a barreira. Você espera que eu acredite
que você saiu sozinho para brincar na neve?
Minhas bochechas esquentaram. O anjo era esperto. — E ainda assim, mesmo
suspeitando que fosse um truque, você veio atrás de mim de qualquer maneira.
— A vantagem de ter você do nosso lado supera qualquer risco.
— Seu lado? — Eu zombei. Amargura pousou em minha língua. — Vocês anjos
não passam de covardes. Roubar crianças é a prova disso.
— Você e os outros meninos são mais do que meras crianças — respondeu
Lazarus. — Você é a chave para vencer esta guerra.
— Todos vocês vão morrer, — eu rosnei. — Eu cuidarei disso.
O anjo apenas olhou para mim, olhos sombreados, antes de olhar para frente.
Estudei nosso entorno, anotando nossa localização, memorizando o caminho e criando
um mapa mental. Seria imperativo para quando eu precisasse encontrar o caminho de
volta para casa.
— Durma — disse ele, pressionando os dedos na minha têmpora.
— Não! — Eu me debati em seus braços. Meu pai me colocou para dormir contra
a minha vontade muitas vezes. No entanto, eu não pude lutar contra a magia. A
sonolência tomou conta de mim e minhas pálpebras se fecharam. — Eu vou... te matar...
algum dia.
— Estou ansioso para ver você tentar.
A voz na minha cabeça rugiu seu descontentamento. Todo o meu planejamento,
toda a minha confiança, e eu não havia considerado a possibilidade de que talvez eu não
soubesse tanto quanto pensava.
O sono me levou então.
Acordei com o canto dos pássaros. Grogue, sentei-me, encontrando-me em uma
pequena sala com nada além de um colchonete, uma pequena mesa e uma janela. A
paisagem invernal de antes havia desaparecido. Grama verde, flores vibrantes e árvores
altas me cumprimentaram do lado de fora da janela, como se em um instante o inverno
tivesse passado e a primavera tivesse dado vida ao mundo mais uma vez.
Vozes vinham de fora.
Risadas.
— Você está acordado.
Eu me virei para ver Lazarus parado contra o batente da porta. Como antes, ele
mostrou pouca emoção. Talvez ele usasse uma máscara, assim como eu. Enterrar
emoções em torno daqueles em quem você não podia confiar era sábio. Nunca deixe um
inimigo ver nem mesmo um sinal de fraqueza, pois eles atingiriam esse ponto fraco e o
destruiriam.
— Onde estamos? — Eu perguntei.
— Em um lugar seguro.
— Seguro? — Soltei uma risada curta. — Diz o captor ao cativo.
— Você não ouve o riso deles? — Lazarus deu um pequeno passo à frente. —
Isso soa como meninos que são prisioneiros? Embora eu admita que nem tudo será fácil
durante sua estada aqui, você não enfrentará nada com o qual não possa lidar.
Repassei as possibilidades em minha cabeça, estreitando o propósito do anjo
para reunir todos nós em um só lugar, até que apenas um motivo parecesse lógico. —
Você disse que nós somos a chave para você vencer a guerra. Este é um campo de
treinamento.
Os olhos de Lazarus se arregalaram um pouco. — Você tem uma mente afiada.
Bom. Você vai precisar.
— Eu não vou lutar por você.
— Nem eu espero que você o faça, — ele disse, então apontou o queixo em
direção à janela. — Espero que você lute por eles.
Os outros meninos não significavam nada para mim. Eles faziam parte da minha
missão e nada mais. Uma missão que eu ainda poderia completar. Eu poderia não saber
onde estávamos, mas assim que encontrasse os meninos, eu os levaria embora e
voltaria para o castelo. Lúcifer pode ficar zangado a princípio, mas assim que visse meu
sucesso, seria dominado pelo orgulho de um pai.
— Nem tudo está perdido — disse-me aquela conhecida voz interior. — Quando
um caminho terminar, encontre outro. Todos levam ao mesmo destino.
Lazarus me levou para fora e me guiou em direção a um campo onde os meninos
estavam se empurrando e rindo. Quanto mais me aproximava deles, mais alguma coisa
ganhava vida em meu peito. Algo que eu nunca havia sentido antes.
De repente, todos pararam e se viraram para mim, como se sentissem a mesma
estranha conexão. Eu encontrei um par de olhos cinza claro, como nuvens de chuva. O
menino era o maior de nós e deu um passo na frente do ruivo ao seu lado, quase de
forma protetora. Protegendo todos eles, na verdade. Sete no total. Mas ele os estava
guardando contra mim ou contra o anjo?
— Este é Alastair, — Lazarus falou. — Ele é o último garoto que se juntará a
vocês. Eu lhes darei o dia para se familiarizarem. O treinamento começa amanhã.
— Treinamento? — Outro garoto perguntou. Cabelo preto, olhos azuis e uma
constituição forte. Ele se parecia com Belzebu. Sem dúvida, eu sabia que ele era Raiden.
— Haverá comida primeiro? Estou faminto.
— Você acabou de comer — disse Lazarus. — Eu sugiro que você coma mais
devagar da próxima vez. Nunca se deve exagerar. É uma lição que você deve aprender.
— Ele então se virou e saiu por onde viemos.
Raiden fez beicinho com suas palavras.
Os meninos me encaravam, alguns com curiosidade, outros com desconfiança.
Um menino com olhos verdes e pele bronzeada olhou com raiva. Um garoto de cabelos
dourados estava sentado ao lado dele na grama, seus ombros se tocando. Esperei até
que o anjo estivesse fora do alcance da audição antes de me concentrar no maior dos
meninos, que eu tinha identificado como o líder de seu pequeno grupo.
— Quais são os vossos nomes?
— Eu me chamo Galen, — ele respondeu.
O resto me disse seus nomes. Castor. Daman. Bellamy. Meu olhar permaneceu
em Raiden. Ele não apenas se parecia com o pai, mas também parecia compartilhar sua
natureza gentil. Gradyn era o menor de nós, com cabelos loiros encaracolados e olhos
castanhos quase grandes demais para seu rosto. Então havia Kallias, cabelo preto e
olhos castanhos tão escuros que quase combinavam.
— Eu vim para levá-los todos vocês para casa, — eu disse.
— Casa? — Galen o encarou. — Minha mãe me desprezava. Ela está melhor
sem mim por perto. Não tenho casa para onde voltar.
— Nosso rei irá recebê-lo. Lúcifer permitirá que todos vocês fiquem no castelo.
— Você conhece Lúcifer? — Castor perguntou.
— Sim. Eu vivi com ele toda a minha vida.
— Meu pai luta em seu exército. — Castor assentiu para si mesmo. — Por mais
que eu queira voltar para casa, você está perdendo o fôlego. Não há como escapar deste
lugar. Acredite em mim. Eu tentei. Lazarus é o único que controla quem entra e quem sai
da barreira.
— Então vamos matá-lo, — eu disse. — Qualquer barreira que ele construiu
será destruída após sua morte, e estaremos livres para partir.
O menino de cabelos dourados, Bellamy, levantou-se da grama. — Por que eu
desejaria matar a pessoa que me salvou?
Embora sutil, Daman assentiu. — Minha casa estava sendo atacada por
legionários romanos quando Lazarus veio atrás de mim. Eu confio nele? Não. Estou com
raiva dele? Sim. Ele permitiu que meu companheiro mais próximo, Lycus, morresse. No
entanto, sem a interferência dele, eu provavelmente também estaria morto. Só por esse
motivo, permitirei que ele continue respirando.
Castor deu de ombros. — Eu ficaria mais do que feliz em ajudá-lo a matá-lo. Mas
você não tem chance de realmente ter sucesso.
Um rosnado subiu pela minha garganta. — Você se atreve a me dizer o que
posso e o que não posso fazer? Você não sabe nada sobre mim.
— Eu sei que você está com medo.
— Não temo nada — respondi.
— Mentiroso. Todos nós tememos alguma coisa.
Eu temia o fracasso. Era uma coisa pior do que a morte aos meus olhos. Eu abri
minha boca, mas depois a fechei. Eu tinha acabado de conhecer esses meninos.
Confessar qualquer coisa a eles era tolice.
— Aqui — disse uma voz suave.
Eu olhei para baixo. Gradyn estava ao meu lado, o topo de sua cabeça mal
alcançando meu ombro. Ele estendeu uma flor branca.
— Bonita né? — Ele colocou na palma da minha mão. — Coisas bonitas me
deixam mais feliz quando estou triste.
— Não estou triste — neguei. — Estou confiante em minha capacidade de nos
libertar deste lugar.
— Você deseja ser livre?
Minha espinha enrijeceu com a voz do anjo. Tinha vindo de trás de mim. Poucas
pessoas tinham a habilidade de se aproximar de mim sem que eu soubesse. Olhei para
Lazarus por cima do ombro. — Não seremos pássaros em sua gaiola. Não somos
coisinhas bonitas para você admirar e depois quebrar.
— Às vezes uma coisa deve ser quebrada para que ela realmente brilhe, para
que ela entenda sua verdadeira força. — Lazarus colocou uma bandeja no toco de uma
árvore. Apesar da observação anterior do anjo, ele trouxe comida de qualquer maneira.
Raiden foi atraído por ela e começou a comer as frutas e nozes. — Eu só desejo o tornar
mais forte.
— Forte o suficiente para lutar em seu exército?
— Forte o suficiente para matar Lúcifer — disse ele.
Eu hesitei em sua declaração. E então fiquei com raiva. — Você espera que
matemos nosso rei? Você está louco? Prefiro cortar minha própria garganta a levantar a
mão para ele.
— Talvez com o tempo você veja as coisas de maneira diferente.
Esse dia não chegou por quase dois anos. Não até perceber que tudo em que
eu acreditava sobre Lúcifer, tudo em que eu acreditava sobre mim mesmo, era mentira.
Lúcifer não estava tentando salvar o mundo, como sempre me disse. Ele queria
destruí-lo. Queria ver queimar. E se não fosse pela interferência de Lazarus, eu teria
crescido para ser um guerreiro que o ajudou a fazer isso. Todos nós oito teríamos, os
meninos que se tornaram meus irmãos. Minha família.
Até o dia em que dei meu último suspiro, faria tudo ao meu alcance para mantê-
los seguros.
Era o único voto que eu nunca quebraria.
Nos Dias de Hoje
Uma xícara fumegante de chá era um excelente começo para qualquer manhã.
Quando o primeiro sinal de luz do sol apareceu no céu índigo, sentei-me na
varanda e respirei o ar fresco da manhã. Os invernos no Mediterrâneo às vezes traziam
frio, mas os dias na ilha eram em sua maioria quentes, quase nunca caindo para as
temperaturas geladas com as quais me acostumei em Echo Bay.
Pensei em nossa mansão naquela época e em todas as manhãs que passei em
meu escritório tomando chá à luz do fogo, perdido em um livro, enquanto meus irmãos
dormiam profundamente em suas camas. Uma mansão que havíamos perdido. Apenas
uma das vítimas da guerra. A derrota me atingiu com força.
Muito mais difícil do que deixei transparecer.
Pelo menos eles estão seguros, lembrei a mim mesmo. Nossa casa pode ter
desaparecido, mas nós tínhamos um ao outro. Isso é o que mais importava. Também
tínhamos Kallias. Nosso irmão perdido voltou para nós. Isso, por si só, era motivo de
comemoração. Uma vitória entre todas as derrotas.
A porta do pátio atrás de mim se abriu.
— Bom dia. — O cabelo castanho de comprimento médio de Penemuel caía
sobre a testa, a ponta de algumas mechas curvando-se onde roçava nos óculos de
armação preta. Enfiado debaixo de um braço estava um fino laptop branco. Ele segurava
uma grande caneca de café em uma das mãos e um prato na outra. O anjo caído comeu
um bagel de mirtilo com creme de queijo. Ele o comia no café da manhã todas as
manhãs, como um relógio.
— Bom dia, — eu devolvi sua saudação.
Ele e Clara tinham vindo conosco para a Grécia quando havíamos decidido
semanas atrás que, por enquanto, a ilha seria nossa base. Melhor estar com nossos
aliados agora que o poder de Lúcifer estava aumentando.
— Se importa se eu me juntar a você? — Ele perguntou.
— Seja meu convidado. — Fiz um gesto para a cadeira ao meu lado.
Penemuel sentou-se à mesa e colocou seu laptop à sua frente, deixando-o
fechado. Ele tomou um gole de café antes de morder um pedaço do bagel com creme
de queijo.
— Eu li seu último romance, — eu disse.
— Oh? — Ele limpou a boca e se ajeitou na cadeira. Tanto a expectativa quanto
o nervosismo saíram dele, os sentimentos que presumi que todo escritor experimentava
toda vez que alguém mencionava a leitura de seu trabalho. Ele havia publicado seu livro
há quase duas semanas, a história na qual vinha colocando seu coração nos últimos
meses. — E? O que você acha?
— Boa prosa. Trama sólida. O personagem principal me intrigou. — Bebi mais
chá enquanto refletia sobre o livro. — Isaac tinha um ar de farisaísmo1 e, quando seu
mundo se estilhaçou ao seu redor, sua luta interna manteve tanto realismo. Eu me
perguntei se ele perseveraria depois de um golpe tão devastador. Houve muito pouco
em termos de conflito externo, mas acho que as narrativas baseadas em personagens
são as mais instigantes. Os demônios que ele enfrentou foram os de sua própria autoria.
Eu me identifiquei com ele.
Um pequeno sorriso apareceu nos lábios do anjo caído. — Isaac, de muitas
maneiras, era um reflexo de mim mesmo. Escrevê-lo, escrever sobre suas lutas, foi uma
maneira de superar as minhas próprias.
— Por causa da sua rebelião?
***
O sol aquecia o topo dos meus ombros enquanto eu descia em direção à ilha,
minhas asas deslizando no ar. Durante os treinos com a minha unidade, Alastair
estendeu a mão usando o link telepático que nossas mentes compartilhavam. Ele era o
único filho amaldiçoado com a capacidade de fazer isso comigo.
Havia uma razão para isso, é claro. Uma razão que me recusei a dar a ele, não
importa quantas vezes ele tivesse pedido. Eventualmente, ele parou de perguntar. O link
não nos permitia ler os pensamentos um do outro, e agradecia aos deuses por essa
pequena misericórdia. Agia apenas como um meio de comunicação.
— Echo Bay está sendo atacada — dissera Alastair. — O que você gostaria que
fizéssemos?
— Fique onde está por enquanto. Estou a caminho.
Depois de transmitir a mensagem a Oliver e instruí-lo a assumir o comando na
minha ausência, deixei o reino celestial e viajei para a ilha na Grécia.
Às vezes eu ignorava intencionalmente as ligações de Alastair, dependendo da
gravidade de seu problema. Eu não poderia, e não iria, estar à sua disposição e ligar
vinte e quatro horas, sete dias por semana. Eu tinha minhas próprias responsabilidades,
em cima de Uriel constantemente respirando no meu pescoço. Mas, na maioria das
vezes, Alastair me visitava e eu largava tudo para ir até ele.
Ele tinha sua maldição para suportar... e eu certamente tinha a minha.
— Isso foi estranhamente rápido — disse Castor enquanto eu pousava na grama
em frente à vila. Seu cabelo ruivo vibrante e olhos esmeralda eram uma réplica exata de
seu pai, Caim. Suas personalidades diferiam embora. Caim não tinha sido tão irritante.
— Você geralmente nos deixa esperando por muito mais tempo.
— Felizmente para você, você me pegou em um bom dia. — Dobrei minhas
asas enquanto caminhava em direção a eles.
Todos os filhos amaldiçoados e seus companheiros estavam presentes. A bruxa
também estava lá, junto com Penemuel, mas me recusei a olhar para o desertor. A visão
dele não fez meu sangue ferver tanto quanto antes, mas ele ainda me irritava por
princípio.
— Um bom dia, ele disse — Castor murmurou. — Ele ainda parece um idiota
com um pedaço de pau enfiado no...
— Pare com isso, Cas — disse Alastair, saindo da varanda da frente. No sol,
seu cabelo loiro claro parecia prateado, e seus olhos me lembravam de uma fonte
brilhante, como aquela que corria pela montanha ao lado da minha casa, um azul
cintilante com fragmentos mais claros de azul saindo das pupilas.
Meu coração batia forte no meu peito. E deuses, como eu amaldiçoei aquelas
batidas pesadas.
— Echo Bay está sendo atacada? — Minha voz permaneceu firme. Eu tinha
afastado o pouco da emoção que momentaneamente tentou vir à tona.
Alastair assentiu. — Recebemos relatos de cadáveres ambulantes,
principalmente nos arredores da cidade. Sem dúvida, é obra de Purah. Até agora, houve
duas baixas humanas. Caminhantes. Konnar e seu coven agiram imediatamente e estão
mantendo a ameaça contida por enquanto.
— Esse bastardo Purah não tem, tipo, uma quantidade insana de poder? —
perguntou Baxter. — Quando os ataques aconteceram no início deste ano, grandes
cidades em todo o mundo viram uma maldita revolta zumbi. Em nenhum momento, o
pânico entre os mortais se espalhou como fogo. Por que ele está apenas atacando Echo
Bay?
— Para chamar nossa atenção — disse Alastair.
Ao mesmo tempo, eu disse: — Porque a intenção dele é atrair vocês até lá.
Alastair e eu trocamos um olhar. Ele desviou o olhar primeiro, embora eu tenha
percebido uma leve curva em seus lábios. Quase imperceptível, mas estava lá.
Conhecendo-o, ele estava orgulhoso de ter chegado à mesma conclusão que eu.
— Ok. — Galen estalou os nós dos dedos. — Ele quer uma luta? Então vamos
realizar o desejo dele.
— Você estaria se jogando direto nas mãos do inimigo, — eu disse a ele. —
Purah, ou devo dizer Lúcifer, está acertando vocês perto do peito. Iscando vocês. É uma
armadilha. No momento em que pisar lá, será cercado por suas forças.
— Então? — Galen rosnou. — Echo Bay é a nossa casa. Eu me recuso a ficar
parado e não fazer nada enquanto ela está sendo atacada.
— Estou com Galen nesta — disse Castor. — Armadilha ou não, temos que
ajudar.
Meus músculos doíam por causa do treinamento de combate, mas não tanto
quanto minha cabeça por lidar com o absurdo deles.
— Estou inclinado a concordar — disse Alastair, franzindo a testa. — Não
podemos ignorar isso, mas não é sensato todos nós irmos. E é por isso que irei sozinho.
— Fora de questão — respondi.
— Não é sua decisão. — Alastair apertou o maxilar, moveu-o para frente e para
trás, como se rangesse os dentes. Um hábito desagradável que ele adquiriu ao longo
dos anos, quando estava imerso em pensamentos. Ou quando irritado comigo. — Se eu
decidir ir, você não pode me impedir.
Maldita seja sua arrogância.
Talvez Miguel e os outros arcanjos tivessem razão. Os meninos precisavam de
uma mão orientadora mais ativa, agora mais do que nunca. Alastair aprendeu muito ao
longo dos anos e se destacou em suas habilidades como estrategista. Ele podia prever
os movimentos de um inimigo antes mesmo que eles os fizessem. No entanto, o orgulho
lutou contra esse lado lógico de seu cérebro às vezes e, portanto, o levou a tomar
decisões tolas.
Como agora.
Dei um passo em direção a ele. — Esqueça seu ego por um momento e use sua
cabeça.
— Meu ego não tem nada a ver com isso.
Aquele latejar na minha têmpora piorou. — Tem tudo a ver com isso, Alastair. O
inimigo está usando o Orgulho contra você. Ao atacar Echo Bay, eles sabiam que você
levaria para o lado pessoal. Claramente, eles estavam corretos. E quer todos vocês vão
ou apenas você, Lúcifer consegue o que quer. Vocês.
Deuses, eu detestei a maneira como seus olhos se iluminaram com minhas
palavras. Essa luz foi vencida com a mesma rapidez, mas sua existência irritou meus
nervos. O orgulho alimentava a atenção.
— Em tempos de guerra, sacrifícios precisam ser feitos — disse Alastair. — Não
é melhor para os dois generais de nações em guerra se enfrentarem um a um, em vez
de seus exércitos se enfrentarem, resultando em muitas mortes desnecessárias? Se eu
puder falar com Lúcifer, talvez eu...
— Escute a si mesmo! — As palavras irromperam de mim em um rosnado
áspero, e eu lutei contra o desejo de agarrá-lo pelos ombros e colocar algum juízo nele,
o maldito teimoso e arrogante Nephilim. — Falando com Lúcifer? O que você acredita
que vai acontecer, que de repente ele verá o erro de seus caminhos e cancelará seu
exército?
— Claro que não, mas...
— Já passamos do ponto de resolver esse conflito com palavras — eu disse. —
Se você for para Echo Bay, estará arriscando não apenas sua vida, mas a vida de todos
que você ama. A vida de cada ser humano que irá ver Lúcifer ser vitorioso nesta guerra.
Ele irá capturá-lo na tentativa de convencê-lo a mudar de aliança ou matá-lo. Ambos
seriam catastróficos.
Percebi o momento em que o Orgulho libertou Alastair de suas garras. Viu a
centelha da verdade em seus olhos, que esteve tão perto de permitir que seu pecado o
consumisse. — O que você sugere que façamos, então?
— Você disse que o vampiro e seu coven têm a ameaça sob controle por
enquanto?
Alastair assentiu. — Mas imagino que assim que Purah perder a paciência
conosco, ele aumentará a ameaça. Segmentar outras cidades. O mundo mais uma vez
será jogado no caos enquanto as manchetes falam sobre um apocalipse zumbi e o fim
dos dias.
Isso é exatamente o que aconteceu durante a primavera, quando Belphegor
estava reunindo almas humanas para romper a barreira do reino celestial. Purah acordou
os mortos, resultando em pânico em massa. Vepar enviou tempestades que mataram
inúmeras pessoas. Monstros foram soltos, matando ainda mais.
O mundo não se lembrava desses ataques. Após a batalha no reino celestial, os
anjos Portadores da Alegria desceram ao reino humano e apagaram todas as memórias
sobre cadáveres mortos-vivos, monstros e qualquer coisa sobrenatural que tivesse sido
testemunhada.
Um apagamento de memória daquela magnitude consumiu muita energia
celestial, mas foi essencial para a sobrevivência da raça humana. A maioria da
humanidade não conseguia lidar com a existência do mundo sobrenatural. Suas mentes
não podiam processar isso.
— Não quero ser uma Nancy negativa, — Castor disse, — mas Lúcifer não vai
ficar nas sombras por muito mais tempo. Quero dizer, veja o que já está acontecendo
com os recentes ataques de monstros. Ele está se preparando para um massacre
mundial. É apenas uma questão de tempo até que os mortais percebam as coisas que
esbarram durante a noite, e quando o fizerem, será a anarquia absoluta como antes.
— E quem será o salvador da escuridão? — A mandíbula de Alastair apertou.
— Um anjo caído com uma espada de luz. Aqueles que se recusarem a se curvar a
Lúcifer serão mortos. Ajoelhe-se ou morra.
Uma lembrança de um passado distante surgiu em minha mente, deixando o
lugar que eu havia guardado por tanto tempo...
***
— Por que você está dando para mim? — Daman perguntou, desconfiado.
— Porque você é o único que não hesitará em fazer o que precisa ser feito.
Mesmo que isso signifique me deixar para trás.
Os outros Nephilim podem alegar que me odeiam, mas cada um deles lutaria
para não deixar um guerreiro para trás, mesmo que esse guerreiro fosse eu. Mesmo
Galen hesitaria, mesmo que apenas um pouco. Mas Daman não mostrou tal reserva.
Quando se tratava de seus irmãos, e especialmente do dragão de gelo ao seu lado, ele
faria qualquer coisa para salvá-los. A segurança deles era prioridade.
— Deixar você para trás não é uma opção — disse Raiden. — Todos nós viemos
para cá juntos e é assim que vamos sair.
— Sim, — Gray entrou na conversa, mais animado do que quando ele atendeu
a porta mais cedo. Mason deve ter compartilhado um pouco de sua energia com ele,
uma das habilidades de Gray. — Você é meio mau, e assustador às vezes, mas não
vamos abandoná-lo. Então prepare-se. Temos que dar uma surra no traseiro de Lúcifer
agora.
Troquei um olhar com Daman, e ele me deu um aceno sutil. Se fosse necessário,
eu sabia que poderia contar com ele para fazer o que fosse necessário. No grande
esquema das coisas, minha vida importava muito pouco. Eu era um anjo de alto escalão,
mas se eu morresse, o mundo continuaria. Oliver assumiria o comando da minha
unidade. Eu era dispensável e facilmente substituído.
O mesmo não poderia ser dito dos irmãos Nephilim. Eles foram a chave para
vencer a guerra. Sem eles, tudo estaria perdido.
— Por que você os trouxe? — Alastair me perguntou telepaticamente. Seus
movimentos enquanto ele cortava mais demônios não revelavam nada. Ele não estava
reagindo à nossa presença.
Lúcifer iria entender logo, se já não tivesse. Talvez ele estivesse fingindo
também. Esperando que façamos o primeiro movimento.
— Porque você é uma criança tola e arrogante que se recusa a se comportar —
, respondi. Minha mandíbula se apertou quando convoquei meu chicote. A arma da alma
era mais forte que minha espada, mas ainda não era forte o suficiente para ferir Lúcifer.
Isso poderia mantê-lo ocupado, enquanto os meninos escapavam. — Eles estão aqui
para garantir que você chegue em casa.
E então, usei minhas asas para me impulsionar rapidamente pelo ar, meu chicote
pulsando em minha mão enquanto eu mirava em Lúcifer e atacava.
Como esperado, ele estava esperando por mim. Lúcifer desviou da ponta do
chicote logo antes de fazer contato com seu pescoço. Seus movimentos espelhavam os
de um dançarino no palco, fluidos e graciosos. Sem esforço.
— Temos que parar de nos encontrar assim, Lazarus, — Lúcifer disse friamente.
— Você deixa seu chicote falar por você. Seja um menino grande e use suas palavras.
— Eu não tenho nada para dizer para você.
Vepar desembainhou sua espada enquanto Purah girou sua adaga, com um
sorriso largo e antinatural. Ele nem sempre foi tão perturbador.
Era uma vez, antes de desertar com Lúcifer, Purah era muito bonito. Cativando
e divertindo aqueles ao seu redor com sua inteligência. Mas então ele permitiu que os
males do mundo o corromperam como um forte veneno, transformando seu sangue em
lodo de arsênico e fazendo com que ele perdesse o controle de sua sanidade. Ele levou
uma lâmina celestial aos dentes para afiá-los em pontas afiadas, e então deslizou aquela
lâmina em suas bochechas, rindo loucamente enquanto fazia isso.
— Lazzy não tem nada a dizer? — Purah murmurou as palavras, passando suas
unhas afiadas ao longo da lâmina de sua adaga retorcida. — Vamos fazê-lo falar. Sim.
Vamos fazê-lo gritar.
— Ainda cobrindo suas unhas com veneno? — Eu perguntei.
Ele me deu um sorriso malicioso. — Posso te mostrar se Lucy me deixar jogar.
— Em breve — Lúcifer disse a ele.
Vepar se aproximou, usando as correntes de ar enquanto pairava alguns
centímetros acima da neve. — Ah. Você ainda cheira tão puro. Como eu adoraria
manchar essa pureza. Pode ajudar a tirar esse pau da sua bunda.
Minha espinha endureceu. — Sem chance.
Vepar sorriu. — Tua perda.
— Dói-me ver-te desta forma, — Lúcifer disse-me. — Acorrentado e seguindo
cegamente as ordens do conselho. Minha esperança é que um dia você se liberte dessas
correntes.
— Então eu posso ser como você? — Eu apertei meu chicote. — Eu prefiro
morrer.
— Isso certamente pode ser arranjado.
Os demônios uivaram e rosnaram enquanto os Nephilim e seus companheiros
os matavam. Seus corpos sombrios explodiam em chamas a cada morte, e então suas
cinzas polvilhavam a neve. Não demoraria muito para os garotos reduzirem a horda.
O barulho chamou a atenção de Lúcifer e, embora fosse sutil, algo mudou em
sua expressão. — Então Alastair falou a verdade. Kallias vive.
Eu segui seu olhar. Kallias empunhava uma lança de dóri, a ponta de lança em
forma de folha forjada com aço celestial. Seus movimentos rápidos enquanto cortava os
demônios eram uma visão notável. Um xiphos permaneceu ao seu lado. A espada curta
era sua arma secundária, muito parecida com os guerreiros hoplitas de sua terra natal.
— Ele tem — eu respondi. — E uma vez que ele termine com aqueles demônios,
ele e os outros virão atrás de você.
Minha raiva em relação a Alastair se dissipou um pouco ao ver a inquietação no
olhar de Lúcifer. Os oito filhos amaldiçoados sendo unidos mais uma vez o preocupavam.
Essa foi a verdadeira razão pela qual Alastair veio para Echo Bay? Para que ele pudesse
contar a Lúcifer sobre Kallias na esperança de plantar sementes de dúvida em sua
mente?
— As chances de você vencer esta guerra não estão mais a seu favor — eu
disse a ele.
Lúcifer me olhou. — Você me acha com medo? Será preciso muito mais do que
um espartano retornado dos mortos para me abalar.
— E, no entanto, você não fez um movimento contra eles. — A esperança
encheu meu peito. — Quando você visitou aquele vidente tantos anos atrás, você viu
apenas um futuro onde você perdeu. Um onde os oito foram os últimos rostos que você
viu antes de dar seu último suspiro. Eu me pergunto se esse futuro acontece esta noite.
Lúcifer era perspicaz e altamente observador. Ele planejava antes de agir, quase
nunca tomando decisões impulsivas. Sua hesitação naquele momento era exatamente
o que eu esperava. Ele não estava atacando os filhos amaldiçoados porque não podia
prever o resultado. Ele ainda não sabia o quão fortes eles eram juntos assim.
Tínhamos que agir agora, antes que fosse tarde demais. Ele não hesitaria por
muito tempo.
— Daman! — Eu liguei para ele. — Faça isso agora!
O avatar de Inveja agiu instantaneamente. Ele agarrou o braço de Warrin e gritou
para os outros se reunirem ao seu redor. Alastair olhou para mim, confuso. Então, sua
confusão se transformou em compreensão.
— Pare-os! — Lúcifer rugiu quando finalmente sacou a Portadora da Luz. O aço
da lâmina cintilou muito como as chamas azuis de seus olhos.
Lancei meu chicote na direção dele e o agarrei pelo pulso. O ataque não
desalojou a arma de sua mão, mas fez com que seu aperto se afrouxasse. Eu estava
muito longe para alcançar os meninos. Eles teriam que partir sem mim.
Um dia, eles derrotariam Lúcifer. Mas agora não. Eles não estavam prontos. Se
eu tivesse que me sacrificar para que eles vivessem para ver aquele dia, eu daria minha
vida em um piscar de olhos.
— Há uma linha tênue entre bravura e estupidez, — Lúcifer rosnou para mim
antes que seus olhos brilhassem em um azul vibrante. — Infelizmente para você, você
se enquadra no último. Agora, queime.
Dor. Minha cabeça parecia estar se dividindo em duas, como se meus vasos
sanguíneos tivessem sido incendiados, abrindo caminho em cada fenda do meu cérebro.
Eu tentei não verbalizar minha dor, mas logo, eu não conseguia segurar. Minha voz
falhou com um grito gutural.
— Laz! — Raiden gritou atrás de mim. — Temos que ajudá-lo!
Quando Lúcifer colocou os olhos neles, cerrei os dentes contra a dor e convoquei
todas as reservas de força que tinha para impedir seu avanço. Meu chicote o pegou pelo
pescoço, puxei-o um passo para trás e o segurei no lugar. Eu não seria capaz de segurá-
lo por muito tempo, mas, felizmente, uma arma espiritual não poderia ser destruída a
menos que aquela de onde foi forjada morresse. Então ele não poderia quebrar o chicote
para se libertar a menos que me matasse primeiro.
Ele balançou a Portadora da Luz na minha cabeça. Ainda segurando o chicote
em uma mão, levantei minha espada com a outra para enfrentá-lo aço por aço.
Purah e Vepar pularam no ar e avançaram em direção aos meninos. Warrin, em
sua forma híbrida, lançou uma parede de gelo na direção deles, derrubando-os na neve.
Raiden e Kallias estavam tentando se aproximar de mim, mas Titã segurou
Raiden enquanto Galen agarrava Kallias. O coração de Raiden era muito puro, e Kallias
manteve a mentalidade de nenhum soldado deixado para trás.
Alastair me observou com indecisão em seu rosto. Ele estava a momentos de
fazer algo imprudente.
— Não — eu disse a ele. Às vezes eu conseguia lê-lo tão bem. — Volte para a
ilha e prepare seu exército. Este é apenas o começo.
— Sinto muito — disse Alastair. — Eu nunca quis que isso acontecesse.
Havia tanta coisa não dita entre nós. Tanta coisa que eu mantive trancada dentro
de mim.
Era melhor que ele nunca soubesse de nada disso.
— Sei que não —, respondi. — Tome isso como outra lição aprendida.
Seu link quebrou quando eles foram atacados novamente, impedindo Daman de
ativar a pedra. Warrin atingiu Purah com uma rajada de gelo, jogando-o para trás vários
metros. Enquanto Vepar avançava do lado oposto, Titã usou seu braço de titânio para
socá-lo no rosto, a força do golpe perfurando o ar com um estalo alto.
Mais sombras foram convocadas da escuridão e guincharam enquanto
avançavam. Kyo os cortou com sua katana. Mason disparou sua arma, derrubando mais
com tiros precisos na cabeça. Vepar e Purah continuaram seus ataques também.
Alastair deu um passo em minha direção.
— Eu disse não! Eu mal estou segurando Lúcifer. Você e os outros precisam ir
embora.
— Por que você está fazendo isso? — ele perguntou.
— Porque você é muito importante para perder. — E então, acrescentei: —
Todos vocês são.
Felizmente, Galen agarrou Alastair pelo braço e puxou-o para trás. O maior dos
irmãos Nephilim era uma das poucas pessoas que conseguia colocar algum juízo em
Alastair.
— Vão! — Eu os ordenei, usando todas as minhas forças para deter Lúcifer. Eu
gritei de novo quando ele encheu minha cabeça com fogo. Uma dor lancinante irradiou
no topo do meu ombro quando a Portador da Luz quebrou o bloqueio da espada e me
cortou.
— Laz! — Raiden tentou novamente me alcançar. Titã envolveu ambos os
braços ao redor dele para mantê-lo no lugar.
— Tragam seus traseiros para cá! — Daman chamou quando houve uma
pequena pausa na onda de ataques demoníacos. — Depressa!
Os irmãos e seus companheiros voltaram juntos, tocando-se nos ombros e
braços para formar outro elo. Uma luz brilhante brilhou quando Daman acionou a runa
da pedra de teletransporte. Alastair olhou para mim, e meu nome se formou em seus
lábios.
E então, eles desapareceram de vista.
Alívio percorreu meu corpo apesar da dor em meu crânio, e no meu peito. Eles
conseguiram sair com segurança. Se eu morri naquela noite ou não, só isso me trouxe
paz. Mais ainda, quando eu morri. Porque enquanto eu era um guerreiro altamente
qualificado, nem mesmo eu poderia enfrentar Lúcifer sozinho.
— Seus salvadores partiram sem você — disse Vepar com uma risada soando
em sua voz. Ele limpou o sangue do lábio e a ferida selou segundos depois. — Como
eles são heroicos.
— Eles fizeram o que era necessário. — Meu chicote se desmaterializou e voltou
ao meu núcleo. Eu tinha pouco uso para ele agora. Serviu ao seu propósito, distrair
Lúcifer para que os meninos pudessem escapar. Mesmo que eu quisesse continuar
lutando contra isso, minha alma estava cansada. Escorrendo. Um resultado do ataque
mágico de Lúcifer em minha mente.
— Sabe… — Vepar ajoelhou-se à minha frente e agarrou-me pelo queixo. —
Não tenho certeza do que desejo mais. Te matar... ou te foder.
Afastei meu rosto dele quando um nó nauseante se formou na boca do meu
estômago. — Belphegor não está mais mantendo você satisfeito?
Sua arrogância diminuiu. Ele se levantou e olhou furioso para mim. — Meu
querido Belphie é um tolo. Ele vai voltar para a minha cama. Ele sempre faz isso.
— Onde ele está agora?
— Isso não é da sua conta. — Lúcifer angulou meu queixo para cima com a
ponta da Portadora da Luz, forçando meu olhar para ele. — Eu deveria tomar sua cabeça
aqui e agora.
— Pegue, então. — Eu segurei seu olhar. — Mas eu sugiro assistir a sua própria.
Esses meninos não vão descansar até que seja removido de seus ombros.
— Você se considera um mártir por dar sua vida para poupá-los?
— Um mártir? Não. Sou um guerreiro e, como tal, alegremente dou minha vida
pelo bem maior.
— O bem maior. — A risada de Lúcifer foi seca. — Você soa como Uriel. — Ele
abaixou a espada do meu pescoço e caiu ao meu nível, uma curva em seus lábios. —
Ele fala do bem e do mal quando caminha na mesma linha que eu. A diferença é que
não escondo minha natureza.
— Uriel não é quem está tentando travar uma guerra contra a humanidade.
— Verdadeiro. — Lúcifer assentiu. — Uriel faz com que outros façam suas
ordens por ele enquanto ele se senta alto como o deus que ele anseia se tornar. Você
se lembra de quando desertei do reino celestial. Ele se recusou a permitir que eu fosse
pacificamente. Ele é a causa desta guerra em que nos encontramos agora.
— Você não fala nada além de mentiras, cobra, — eu disse com os dentes
cerrados. — Eu vi seu coração perverso com meus próprios olhos. Eu vi você massacrar
incontáveis almas humanas. Uriel não forçou sua mão. Você fez isso sozinho, movido
por seu desejo egoísta de governar os mortais que você invejava. E agora, diante de
mim, você tem todas as oportunidades de deslizar de volta para o poço escuro do
submundo e parar este derramamento de sangue, mas você se recusa a fazê-lo.
— É muito tarde para isso. — O olhar de Lúcifer pousou em meu ombro ferido
e ele passou o polegar pelo fio de sangue. Desde que ele usou a Portadora da Luz, meus
poderes de cura não tiveram efeito sobre o ferimento. Ele lambeu o sangue do polegar
com um brilho satisfeito nos olhos.
— Talvez seja tarde demais — admiti. — O dano é grande demais para você
ser perdoado.
— Diga-me uma coisa, Lazarus. Quando eu estava enjaulado, você foi quem
construiu minha prisão. Você poderia ter me jogado em um abismo escuro, negando-me
até mesmo um pingo de luz. Mesmo aqueles com a vontade mais forte como eu teriam
enlouquecido com nada além da escuridão como companhia. No entanto, em vez disso,
você me colocou em uma prisão de primavera eterna. Campos de flores, árvores
perfeitamente floridas, céu azul e luz do sol para aquecer minha carne. Por que?
— Fascinante, não é? — Lúcifer disse, sorrindo para mim enquanto se reclinava
na grama.
— O que é? — Eu perguntei. Passamos a tarde brincando com Michael e
Raphael e descansamos no campo antes do jantar. Era assim que passávamos todos os
dias no reino celestial. Despreocupados e felizes.
— Quando estou aqui cercado por tanta beleza, quase esqueço meus
problemas. — Ele fechou os olhos, aproveitando o calor do sol. — A primavera os faz
derreter. Como a neve no fim do inverno.
A memória criou um aperto no meu peito.
— Porque na época, apesar de tudo que você fez, uma parte de mim ainda te
amava. — A confissão deveria ter me feito sentir mais leve. Em vez disso, pressionou
meu peito como uma tonelada de tijolos. — Eu esperava que isso lhe trouxesse paz de
espírito. Talvez até mesmo fazer você ver o erro de seus caminhos.
Embora pequena, uma suavidade surgiu nos olhos de Lúcifer. — Mostrar
misericórdia a um inimigo é tolice.
— Você nem sempre foi meu inimigo. Uma vez, chamei você de irmão.
— Lazarus? — A voz preocupada de Alastair encheu minha cabeça. Nosso link
telepático não permitia que ele me sentisse como a conexão que ele compartilhava com
seus irmãos. Ele não sabia se eu estava gravemente ferido. Se eu estava vivo ou morto.
Eu o ignorei. Eu posso estar vivo por enquanto, mas com Vepar e Purah andando
ao meu lado com sua impaciência cada vez maior, era apenas uma questão de tempo
até que isso mudasse. Lúcifer não permitiria que eu vivesse. Tirar-me do tabuleiro seria
uma vantagem para ele. Uma que ele era esperto demais para deixar passar.
— Responda-me, droga!
Eu não.
— Deixe-me cortar, Lucy. — Purah passou suas unhas afiadas pela lâmina de
sua adaga. — Queremos ver como ele é por dentro.
Lúcifer me observou por um momento, em silêncio. Então, ele se ergueu em toda
a sua altura e se virou. — Faça isso rápido.
Meu destino foi selado com essas três palavras. Eu poderia ter lutado. Derrotar
Purah e Vepar não foi uma tarefa impossível, mas o ferimento causado pela Portadora
da Luz deixou meu braço direito enfraquecido. Eu não estava com toda a minha força. E
eu estava cansado, uma exaustão que se afundou profundamente em meus ossos. Se
eu conseguisse vencê-los, estaria apenas adiando o inevitável. Eu não poderia lutar
contra Lúcifer.
Baixei a cabeça e fechei os olhos.
— Eu esperava mais de você, Lazarus — disse Vepar. — Embora seja bom ver
que você finalmente percebeu seu lugar.
Eu não queria que meus momentos finais fossem desperdiçados trocando
palavras sem sentido com eles.
Em vez disso, escolhi passar esses momentos pensando nele, no homem que
fui proibido de amar. Imaginei a vida que poderia ter sido se as coisas tivessem sido
diferentes. Alastair se aconchegou na cadeira de seu escritório, o fogo crepitando na
lareira enquanto lia. E eu ao lado dele, lendo por cima de seu ombro. Ele sorria e me
afastava levemente, e eu o puxava de volta contra mim.
Naquela vida, eu nunca teria selado nosso predestinado vínculo de companheiro.
Eu não precisaria. Talvez pudéssemos ter sido felizes. Era uma vida que eu só podia ver
em sonhos.
Purah cantarolava para si mesmo, e eu o senti se aproximando de mim. A
raspagem de suas unhas no aço duro continuou.
— Eu sei que você está me ignorando — disse Alastair. — Eu não aprecio isso,
seu bastardo de asas brancas.
Senti um sorriso tocar meus lábios. — Essa linguagem é imprópria para você.
— Eu sabia! Você realmente estava me ignorando. Diga-me o que está
acontecendo.
Abri os olhos para ver Purah se aproximando, seus passos rangendo na neve.
— Todos estão seguros? — Eu perguntei.
— Sim.
— Bom. — Purah estava sobre mim agora, mostrando seus dentes afiados
enquanto sorria. Ele acenou com a adaga para mim em uma provocação infantil. — Meu
papel nesta guerra chegou ao fim. Deixo o resto com você.
— Você está desistindo? — A voz de Alastair endureceu. — Como você se
atreve. Você me ensinou a nunca desistir. Toda vez que eu era derrubado no treino, você
gritava para eu me levantar. Você tirou essa fraqueza de mim. Você nunca me deixou
desistir. Pratique o que você prega.
— Isso é diferente.
— Como diabos é! — Alastair só praguejava quando estava com raiva. Foi
quando sua imagem de cavalheiro mudou para mostrar outro lado dele. Um lado que não
teve problemas para me fazer exigências. — Se você pode falar comigo agora, você
ainda não está morto. Levante-se e lute até não poder mais.
Algo me ocorreu então. Talvez fosse a voz de Alastair na minha cabeça, ou talvez
tenha vindo do súbito desejo de apagar aquele sorriso do rosto de Purah, mas encontrei
uma força inesperada dentro de mim. Um que me permitiu invocar meu chicote mais uma
vez e atacar assim que Purah fez seu movimento.
Os olhos de Purah se arregalaram quando o chicote se curvou ao redor de seu
pescoço e queimou sua carne pálida. Seu choque então se transformou em uma alegria
enlouquecida quando ele gargalhou e perdeu o controle de sua adaga. Ele agarrou o
chicote.
Vepar puxou minha cabeça para trás e colocou sua espada em minha garganta.
— Solte-o, ou eu vou cortar seu lindo pescoço.
— Você vai cortar de qualquer maneira. — Mas ainda assim soltei Purah e meu
chicote voltou para mim. Minha força estava diminuindo demais.
Rindo baixinho, Vepar acariciou minha têmpora. — Seu cheiro é inebriante.
Virgens são meus favoritos. É realmente uma pena matá-lo sem antes provar aquele
doce néctar que você nunca deu a outro. Talvez Lúcifer me deixe brincar com você antes
de entregá-lo a Purah. — Ele colocou a boca no meu ouvido. — Vou até ser legal e
garantir que você goste.
O ar acima de nós assobiou, o som muito parecido com um míssil zumbindo em
direção ao seu alvo, antes que a neve a vários metros de mim explodisse para cima.
— Eu tenho uma ideia melhor, — veio uma voz familiar entre as rajadas de neve.
Quando eles clarearam, Michael apareceu, erguendo-se em toda a sua altura. Asas
brancas mergulhadas em ouro se espalharam para os lados dele, e ele segurou sua
espada de fogo. Aquelas chamas queimaram em seus olhos quando seu olhar duro
pousou em Vepar. — Afaste-se dele e posso ser legal e matar você rapidamente, em vez
de desmembrá-lo, membro por membro, e deixar sua cabeça por último.
Vepar me soltou e deu um tsk ao dar um passo para trás. — Isso não é uma
coisa muito angelical de se dizer.
Mais anjos pousaram na neve atrás de Michael. Três deles eram os guerreiros
que enviei para Echo Bay para ajudar na revolta dos cadáveres ambulantes. Seis eram
da unidade de Michael. O último foi Oliver. Ele acenou para mim antes de mover seu
olhar para trás.
Lúcifer ficou inexpressivo. Portadora da Luz ainda estava em suas mãos, mas
abaixado para o lado. — Michael. É um prazer vê-lo novamente, irmão.
— Seria ainda mais adorável se você ainda estivesse em sua jaula, irmão, —
Michael respondeu, aproximando-se dele. O arcanjo da guerra não se encolheu diante
de ninguém, nem mesmo do próprio Morningstar.
— Se apenas fosse isso. — Finalmente, a emoção cintilou no rosto de Lúcifer
na forma de um sorriso astuto. — Eu acredito que você sentiu minha falta. No entanto,
devo admitir que estou bastante desapontado com este novo mundo para o qual voltei.
A humanidade progrediu exponencialmente, assim como sua ganância e impulsos
assassinos. Tiroteios em massa, estupros, nações em guerra. É um ciclo sem fim que
deve ser interrompido.
— Mortais têm livre arbítrio, — Michael disse. — O que eles fazem ou não fazem
não cabe a nós decidir. Eu já lhe disse isso antes. No entanto, minhas palavras nunca
realmente chegaram até você. Você se manteve firme em seus modos rebeldes e
egoístas. O mundo ao nosso redor mudou desde aquela época, mas você é o mesmo.
— Oh, como eu senti falta de suas palestras prolixas. — O olhar de Lúcifer
percorreu as cicatrizes no peito de Michael. — E aquelas marcas que coloquei em sua
pele. Você pensa em mim cada vez que as vê? Eu aposto que você faz.
Obriguei-me a ficar de pé, sentindo-me um pouco tonto. Meu ferimento no ombro
não foi fatal, mas perdi muito sangue. — Essa é uma qualidade que você e seu filho
compartilham. Você ama o som da sua própria voz.
— Falando em Asa, ouvi dizer que ele está na sua prisão. — O humor deixou
os olhos de Lúcifer quando eles caíram sobre mim, então voltou para Michael. —
Estranho que você ainda não o matou. Você espera usá-lo contra mim?
— É medo que eu sinto? — Michael perguntou. — É por isso que você tem
Belphegor procurando uma maneira de entrar na prisão celestial? Não porque você se
importa com seu filho, mas porque teme o que pode acontecer com você se ganharmos
sua lealdade.
Então era por isso que Belphegor não estava em Echo Bay? Fez sentido. Vepar
e Purah eram como asseclas de Lúcifer, peões descartáveis, enquanto Belphegor era
aquele em quem ele confiava.
O sorriso de Lúcifer permaneceu no lugar, mas a raiva brilhou em seus olhos. —
Digo que chamemos esta noite de impasse e sigamos caminhos separados. Mas quando
nos encontrarmos novamente, prepare-se para uma batalha diferente de qualquer outra.
— Sempre fugindo de uma luta, — Michael disse com o sorriso arrogante que
eu tinha visto inúmeras vezes. Não era tão divertido quando destinado a Lúcifer. — Assim
como quando éramos jovens. Vá em frente e fuja para o seu poço de escuridão, Star.
Vejo você de novo em breve.
— Estou ansioso por isso. — Lúcifer olhou para mim. — Você me mostrou
misericórdia em minha jaula. Estou poupando sua vida esta noite. Considere-nos quites.
Vepar e Purah colocaram uma mão no ombro de Lúcifer. Os três então
desapareceram. Ao contrário do resto dos anjos, incluindo os arcanjos, Lúcifer era capaz
de se teletransportar. O resto de nós poderia viajar rapidamente, mas não ir de um lugar
para outro em um instante. Provou que seus poderes foram totalmente devolvidos.
— Você está ferido, — Michael disse enquanto se aproximava de mim. — O aço
da Portadora da Luz morde como nenhum outro.
— Porquê você está aqui? — Eu perguntei. — O Conselho...
— Realizou uma reunião urgente, — ele interrompeu. — Quando um de seus
guerreiros, Evangelos, veio até nós com a notícia da presença de Lúcifer aqui, outra
decisão foi tomada. Não unânime, devo acrescentar. Mas a maioria decidiu a favor da
ideia.
— Estou quase com medo de perguntar. Esse sorriso nunca é um bom sinal.
O dito sorriso cresceu. — Não precisa perguntar. Vou te contar a novidade
gratuitamente como o amigo incrível que sou. — Atrás dele, Oliver apertou os lábios. —
Você recebeu a tarefa de cuidar dos filhos amaldiçoados durante esta guerra. E agora,
recebi uma tarefa semelhante.
— Você quer dizer…
— Está certo. — Michael me deu um tapinha nas costas, felizmente evitando
meu ombro machucado. — Você e eu nos veremos muito mais enquanto supervisiono
as operações militares. Já é hora da força celestial e a dos Nephilim se encontrarem
adequadamente. Agora. Leve-me para a ilha. Quero me encontrar com o exército e
começar. A guerra não espera por ninguém.
— Como ele está? — Eu perguntei quando Bellamy saiu do quarto e fechou a
porta suavemente atrás dele. Daman nos teletransportou para a vila onde eles estavam
hospedados na ilha.
— Ele está vivo, não graças a você. — Bellamy fervia enquanto avançava para
mim e agarrava a frente da minha camisa. Sua mão tremia assim como sua voz quando
ele perguntou: — O que você estava pensando, Al? Como você pode colocar Nix em
perigo assim?
Os olhos de Bellamy permaneceram cor de avelã quando nossos olhares se
encontraram. Nos últimos quarenta anos, eles haviam mudado para a mesma tonalidade
dos olhos de Joseph. Mas agora, Luxúria lutou para me ler. Um sinal de que meu coração
partido havia se curado, que eu tinha superado o homem que um dia amei. Deveria ter
sido um alívio ou me afetado de alguma forma.
Em vez disso, não senti nada. Eu tinha perdido tantos amantes na minha vida. A
mágoa sempre desaparecia depois de um tempo.
— Vi uma oportunidade e a aproveitei — respondi.
— Sim? E como isso acabou? — Bellamy me empurrou e passou a mão pelos
cabelos loiros. — Você quase matou meu companheiro! Você se coloca em risco. Foda-
se sabe o que aconteceu com Laz. Ele provavelmente está caído em pedaços
sangrentos na neve agora.
— Pare de falar, — eu rosnei, surpreso com a raiva repentina surgindo em meu
peito. Por baixo da raiva havia algo mais também. Algo muito mais amargo. Doloroso.
— Por que? A verdade é uma pílula muito grande para engolir, seu idiota
orgulhoso?
— Cuidado com o tom.
— Isso é uma ordem? — As narinas de Bellamy dilataram.
— Você saberia se fosse.
Clara saiu do quarto segurando um frasco vazio, um elixir que ela deu a Phoenix
para ajudá-lo a descansar após o dano que Lúcifer infligiu em sua mente. — Vocês dois
precisam respirar. O menino demônio está dormindo e vai ficar bem. — Seu rosto caiu,
e ela mordeu o lábio inferior. — Alguma notícia sobre Lazarus?
Apesar do comportamento irritadiço e da frieza de Lazarus, Clara desenvolveu
uma queda por ele. Quer ele quisesse ou não, ele se tornou um de seus, meninos, junto
com o resto de nós.
— Não — respondi. — Ele não vai me responder.
— Meu papel nesta guerra chegou ao fim. Deixo o resto com você.
Suas palavras se recusaram a sair da minha cabeça. Se ele morresse, seu
sangue estaria em minhas mãos. Carregar o peso dessa culpa me esmagaria. Já estava.
— Nós o deixamos sozinho com Lúcifer — disse Bellamy. — Ele não está se
afastando disso.
Castor estava encostado na parede, os braços cruzados. — Quem sabia que
aquele idiota era do tipo que se sacrifica? Acho que suas verdadeiras cores apareceram
no final. À sua maneira, ele realmente se importava conosco.
Pretérito. Lazarus já estava morto em suas mentes.
— Nós o matamos, — Orgulho choramingou dentro de mim.
Eu já havia perdido camaradas antes. Então, por que diabos a ideia de perder
Lazarus doía tanto?
O ar ficou denso e as paredes começaram a se fechar ao meu redor. A pressão
aumentou em meu crânio. Minhas mãos tremiam. Eu tive que sair de lá. Com meu peito
apertado e sangue zumbindo em meus ouvidos, eu invadi o corredor e corri para fora,
sugando uma lufada de ar fresco uma vez na varanda da frente.
— Al? — Raiden chamou pela porta aberta. Ele estava na cozinha, preparando
um almoço tardio para todos. — Você está bem?
Minhas asas estouraram em meus ombros, rasgando minha camisa em pedaços.
Eu não queria falar com ninguém. Eu não queria que eles me vissem tão fora de controle.
O pânico se arrastou dentro de mim e a dor profunda em meus ossos tirou minha
capacidade de mascarar minhas emoções.
Eu estava quebrando.
Ergui-me no ar e voei em direção ao céu azul sem nuvens. Naquele exato
momento, a neve caía em Echo Bay. O lugar onde ficava nossa mansão se tornou um
cemitério de memórias, de escombros queimados e cinzas cobertas de neve. Seria a
tumba de Lazarus também?
Enquanto ele dava seu último suspiro sob um céu escuro de inverno, eu seria
capaz de ouvir o estrondo de sua alma saindo de seu corpo de meu lugar sob o sol a
milhares de quilômetros de distância?
O bater de asas soou como algo grande vindo do chão em minha direção. Penas
pretas tingidas de vermelho brilhavam em meus periféricos.
Galen não disse uma palavra enquanto me alcançava, e ele manteve seus olhos
para frente. O vínculo entre nós era mais próximo, muito parecido com o que Daman
tinha com Bellamy, e Raiden tinha com Castor.
— Estou bem. — Usei telepatia, não confiando em minha voz o suficiente para
falar.
— Não, você não está. Então cale a boca e deixe-me voar ao seu lado.
Galen não adoçou nada. Ele era direto e longe do tipo reconfortante. Mas eu
sempre pude contar com ele, mesmo que fosse teimoso demais para admitir isso em voz
alta.
Voamos pela ilha em um silêncio confortável, permanecendo dentro dos limites
da barreira protetora que nos protegia do mundo exterior. Tê-lo ao meu lado me fez sentir
melhor, mesmo que apenas um pouco. Quando voltamos para a vila, Raiden estava
arrumando a mesa.
— Sente-se. — Apesar do sorriso acolhedor de Raiden, seus olhos estavam
vidrados. Titã esfregou a parte inferior de suas costas. — Fizemos tacos de peixe e
guacamole de manga.
— Isso parece ótimo — eu disse, com a voz tensa. — Me guarde um prato para
mais tarde? Não estou com muito apetite no momento.
— Sim, deixe-me saber quando você estiver pronto para isso. — O sorriso de
Raiden vacilou um pouco. — É até meio difícil para mim pensar em comida agora.
O destino desconhecido de Lazarus pairava sobre todos nós. Raiden tinha medo
dele quando éramos mais jovens, e os métodos de treinamento de Lazarus o
traumatizaram mais do que ele jamais havia revelado. Todas as surras e duras lições
aprendidas. Mas ao longo dos anos, ele passou a respeitar Lazarus. E o grande coração
de Raiden tinha espaço para todos. Ele odiava ver alguém sofrer.
A cabeça de Titã estalou em direção à porta, e ele deu um passo em direção a
ela. — Fique aqui.
— Ti? — Raiden perguntou. — O que está errado?
— Alguém acabou de cruzar a barreira. — Titã agarrou sua espada contra a
parede. Ele tinha a habilidade de sentir quando alguém entrava na ilha. Provavelmente
devido ao fato de que ele e Baxter foram os que criaram a barreira.
Raiden colocou o prato de tacos na mesa antes de correr atrás dele. Galen e eu
os seguimos para fora.
— Há uns vinte deles! — Nico disse, caindo na grama. Seu cabelo preto estava
úmido de suor e ele tinha hematomas no torso devido ao treinamento. Sendo tão jovem,
seu poder de cura como um Nephilim ainda era fraco.
— Vinte de quem? — Galen perguntou, olhando para o céu.
— Anjos. — Os olhos castanhos de Nico estavam arregalados. — Asas brancas.
Alguns tinham ouro neles.
— Ouro? — Eu procurei no céu. — Isso significa que eles são de alto escalão.
Lazarus tinha apenas um pouco de ouro em suas penas, não visível o suficiente
para ser visto à distância. Eu não tinha percebido que carregava esperança em meu
peito até que a esperança murchou como um balão estourado.
— Uriel? — Bellamy perguntou quando se juntou a nós do lado de fora. — Se
Lazarus morresse, ele saberia sobre isso. Talvez isso o tenha irritado o suficiente para
vir atrás de nossas cabeças.
Daman saiu da vila com Warrin ao seu lado. — Aquele idiota está ansioso por
um motivo para nos matar. Com a morte de Lazarus, ele tem sua abertura.
Warrin pousou a mão no punho da espada. — Deixe-o tentar.
— Não sabemos se Laz está morto — disse Raiden, o único deles que ainda
não o havia descartado.
O olhar intenso de Bellamy perdeu parte de sua ferocidade. — Se ele ainda
estiver vivo, imagino que esteja implorando pela morte. Purah gosta de brincar com sua
presa.
Eu os vi então. Não eram vinte anjos, como exagerava o hiperativo Nephilim.
Contei apenas doze. O macho na frente tinha penas douradas que brilhavam quando o
sol as batia. Eu não o reconheci.
Prendi a respiração quando apareceu um que eu reconheci. — Lazarus?
Seu ombro ferido havia sido enfaixado, desleixado e com sangue escorrendo
pelo tecido. Eu já podia imaginar Clara tendo um ataque e insistindo para que ele se
sentasse para que ela pudesse limpá-lo adequadamente e fazer um curativo.
— Ele vive — disse Orgulho. — Nós não falhamos.
Eu não tinha certeza se meu súbito ataque de alívio vinha do fato de Lazarus
estar vivo ou se, como Orgulho mencionou, derivou da prova de que minha missão foi
um sucesso sem causalidades.
— Fiquem em guarda, — eu disse aos meus irmãos usando nosso link
telepático.
— Você acha que esses anjinhos querem nos machucar? — Raiden perguntou.
— Mas Laz está com eles.
— Eu não descartaria isso. — Mudei meu olhar de volta para o macho no meio.
Suas asas brancas banhadas em ouro me disseram que ele tinha que ser o posto mais
alto: um arcanjo. Sua presença me deixou apreensivo.
Os anjos pousaram na nossa frente. Entre os rostos desconhecidos, notei Oliver.
Durante as poucas vezes que nos encontramos, ele sempre foi educado conosco. Um
bom sinal. Minha atenção se voltou para Lazarus. Ele ficou à direita do arcanjo e, além
de seu ombro, estava intacto. O cabelo branco esvoaçava com a brisa da ilha, e o sol
realçava as manchas douradas em seus olhos azuis.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei a ele através do nosso link mental.
Ele não respondeu. Sua expressão neutra não me disse nada. Mais irritante, ele
nem olhou para mim.
— Achamos que você já era, Laz — disse Bellamy.
— Eu também. — Lazarus manteve seu olhar longe do meu.
Minha mandíbula estalou quando eu a apertei. — Olhe para mim.
Lazarus não reagiu às minhas palavras.
— Saudações, — o arcanjo me disse. — Você deve ser Alastair.
— Eu não acredito que nós nos conhecemos.
— Um tom tão educado, apesar do olhar cauteloso em seus olhos — disse ele,
a boca ligeiramente curvada. Com seu cabelo escuro curto, nariz perfeitamente inclinado
e olhos castanhos caídos, ele era bonito de um jeito que me irritava. Seu corpo
musculoso tinha cicatrizes, as marcas em seu peito e braços eram sinais claros de que
ele era um guerreiro. Dadas as pistas, coloquei o nome dele antes que ele me contasse.
— Eu sou o arcanjo, Michael. Embora, a julgar pela sua falta de surpresa, aposto que
você já juntou as peças.
— Eu fiz.
Michael olhou para Lazarus. — Ele é exatamente como você me disse. Tão
inteligente.
Lazarus, que ainda não me reconheceu, não teve reservas em olhar para ele. —
Sim. Ele é inteligente e muitas vezes causa problemas por causa disso.
Michael riu.
A maneira como eles falavam um com o outro dava a entender que eram
próximos. Por que isso causou um puxão desconfortável no meu estômago? Tanto
Penemuel quanto Mefistófeles mencionaram algo sobre Michael e Lazarus serem
amigos. Eu não tinha pensado muito nisso na época. Ver por mim mesmo foi diferente e
me fez sentir... honestamente, eu não sabia o que isso me fazia sentir.
Minha mão formou um punho ao meu lado antes de forçá-la a relaxar novamente.
— O que o traz à ilha? — Eu perguntei, sentindo meus irmãos se aproximarem
de mim. Uma linha invisível foi traçada entre nós e os anjos. Quem o cruzaria primeiro?
— A mesma coisa que uniu ou separou nações desde o início dos tempos. — O
sorriso de Michael desapareceu. — Guerra.
Ele tinha sido enviado para nos executar, então?
— Onde você se enquadra nesse aspecto? Com a gente ou contra? — Minha
suspeita só aumentou. Eu definitivamente não confiava neste cabeça de carne muito
musculoso e poderoso com asas. — Arcanjos quase nunca vêm à Terra. Então, ter o
próprio grande guerreiro capitão dos anjos pousando na minha porta e falando em guerra
me faz pensar se eu deveria ter saudado você com minha espada.
— Pelos deuses, você parece tanto com Azazel, — Michael disse, e eu estava
irritado ao ver que seu sorriso havia retornado. — Cheio de fogo e orgulho. Ambos,
quando usados com cuidado, podem ser vantajosos. No entanto, com a mesma
facilidade, eles podem ser sua ruína. — Seus olhos endureceram. — Quanto a se eu
estou com ou contra você? Saiba disso: se eu estivesse aqui para te matar, você já
estaria morto, garoto.
— Eu não sou nenhum menino. Eu apreciaria se você não menosprezasse a
mim ou minhas habilidades, referindo-se a mim como tal.
O ar ficou pesado com a tensão enquanto Michael e eu nos encaramos. Talvez
fosse um truque de luz, mas as chamas pareciam piscar em sua íris. Ele comandou o
exército celestial, o guerreiro principal. Orgulho era uma coisa que tínhamos em comum.
— Suas habilidades? — Michael perguntou. — Sim, eu já ouvi falar disso
também. Seu intelecto é forte, mas, infelizmente, seu pecado o cega. É por isso que não
se pode confiar em você liderando este exército contra Lúcifer sozinho. Não depois da
façanha ridícula que você acabou de fazer.
Meu sangue começou a ferver. — Oh, é por isso que você está aqui? Para liderar
meu exército para mim? Bem, não preciso da sua ajuda. Então pegue sua bunda
pomposa...
Um dos anjos atrás de Michael colocou a mão no punho de sua espada. — Eu
escolheria suas próximas palavras com muito cuidado se fosse você, Nephilim. Você
está falando com meu capitão.
— Calma, Dargan — Michael disse a ele, mas manteve os olhos em mim. —
Isto é apenas um acesso de raiva infantil e vai passar.
Uma birra? Orgulho rosnou, e o som ressoou em meu peito. Meu pecado e eu
concordamos que esse arcanjo era um idiota real.
— Ei, Michael. — Raiden deu um passo à frente, colocando-se entre mim e o
arcanjo. — Posso te chamar assim? Ou talvez o capitão Mike?
O fogo em seus olhos diminuiu quando ele se concentrou em meu irmão. — Por
favor, não.
Raiden mostrou sua covinha. — Ok, simplesmente Michael é. Mas mesmo
assim. Acabamos de fazer tacos de peixe. Você e seus meninos estão com fome?
E foi assim que meu irmão guloso impediu que eu e o arcanjo entrasse em uma
disputa de mijo.
— Faz anos desde que eu comi comida humana. Admito, já abri bastante o
apetite. — Michael fez um gesto em direção à vila. — Devemos nós?
— Há guacamole de manga também — disse Raiden, caminhando ao lado do
arcanjo. Titã manteve o ritmo do outro lado, com Nico correndo para se juntar a eles. —
Oh cara, você não viveu até comer um pouco. Também farei meus famosos
hambúrgueres com molho de tahini, enquanto estiver aqui. Quanto tempo você vai ficar?
Enquanto eles entravam, voltei minha atenção para Lazarus. Os outros anjos
seguiram Michael, deixando-o sozinho. Castor me deu um tapinha nas costas antes de
ele e Kyo irem embora. Galen e os outros seguiram o exemplo. Apesar da minha
capacidade de evitar que eles bisbilhotassem meu crânio, às vezes eles me conheciam
tão bem. E naquele momento eu precisava de respostas que só Lazarus poderia
fornecer.
— Você finalmente vai falar comigo? — Eu perguntei, minha agitação
crescendo. — Eu pensei que você estava morto.
— Isso teria agradado você? Minha morte? — Sua voz carecia de emoção, uma
coisa com a qual eu estava bastante familiarizado. Lazarus podia ser tão frio comigo e
com meus irmãos. Uma parte de mim sentiu que, talvez, fosse um disfarce. Que ele
estava intencionalmente nos mantendo à distância. Outras vezes, pensei que era mais
provável que ele nos visse como um fardo que havia sido imposto a ele.
— Claro que não.
— E eu aqui pensando que você me desprezava.
— Depende do dia — eu disse. — Você não é exatamente o tipo amoroso. Com
certeza.
A emoção brilhou em seus olhos antes de desaparecer mais uma vez. — Se
você gosta de mim ou não é irrelevante. Fui designado para cuidar de você e de seus
irmãos durante esta guerra. Acostume-se com a minha presença aqui.
— Cuidar de nós? — Fiquei surpreso. — Eu não preciso de uma babá.
— O que você precisa é de uma surra boa e forte. — Lazarus se aproximou. —
Michael está correto. A façanha que você fez foi tola. Tudo para que você pudesse exibir-
se diante de Lúcifer, afofando suas penas como a bela e orgulhosa criatura que você é.
Foi para obter sua aprovação? Para intimidá-lo?
Eu pisquei, confuso. Apenas uma coisa em sua declaração saltou para mim. —
Você acabou de me chamar de lindo?
Por uma fração de segundo, Lazarus apenas olhou para mim. — Isso não vem
ao caso. Você se debruçar sobre um detalhe tão superficial só prova ainda mais que
você é um prisioneiro de seu pecado.
— Não sou prisioneiro. Eu tenho controle total sobre o Orgulho.
Seus olhos gelados se estreitaram. — Não quando se trata de Lúcifer. Ele é o
seu ponto fraco. Um ponto que ele irá mirar e usar para destruir você.
— Por causa de minhas ações, Lúcifer sabe que Kallias está reunido conosco.
— Eu levantei meu queixo. — O risco era grande, sim, mas abalou a confiança dele.
Temos a vantagem agora por causa da minha façanha tola.
Lazarus me observou atentamente. Tranquilo. Composto.
O que ele viu? Quando ele não disse uma palavra, minha impaciência aumentou.
Tantas emoções estavam bombeando através de mim. Eu estava tendo problemas para
processar todos elas.
— Por que você não confia em mim? — Eu perguntei, a voz falhando um pouco.
Eu odiei isso.
Finalmente, algo surgiu em seus olhos. Surpresa. — Eu nunca disse que não.
— Então por que Michael está realmente aqui?
— Para supervisionar os militares — respondeu Lazarus, as lascas de emoção
que ele havia mostrado brevemente voltando para uma máscara composta.
— Eu não preciso da ajuda dele. Eu tenho liderado nossas forças muito bem por
conta própria.
— Não seja tolo. — Seus olhos me atingiram como uma parede de gelo. —
Michael é o capitão da força celestial. Ele é meu capitão. Muito se pode aprender com
ele.
A amargura me encheu, embora eu não tivesse certeza do porquê. — Se ele é
muito melhor do que eu, vou deixar vocês dois lidarem com essa guerra por conta
própria. Recuso-me a receber ordens de um bastardo pomposo como ele.
— Você parece uma criança.
— E você soa como um idiota.
— Cuidado com o seu tom. — Lazarus chegou mais perto, tão perto que senti
uma onda de calor sair de seu corpo.
— Ou você vai fazer o quê? — Eu o desafiei. — Dobrar-me sobre o seu joelho
e me bater?
Por que o calor de repente inundou meu núcleo com o pensamento?
Um tique começou em sua mandíbula. — Eu mal reconheço o homem parado
diante de mim agora. A libertação de Lúcifer de sua prisão mudou você.
— Talvez a liberdade dele tenha me dado a minha, — eu disse, endurecendo o
tom. — Isso te irrita porque você deseja que eu permaneça um pássaro em sua gaiola,
asas cortadas e obediente.
— Eu nunca desejei tal coisa. Fui duro com você e com os outros durante o
treinamento? Sim. Mas nunca foi para ser cruel. Tudo o que fiz foi para torná-lo mais
forte. Para protegê-lo da escuridão desesperada para cravar seus dentes em você. Para
garantir sua sobrevivência.
— Não. Tudo o que você fez foi para agradar, Uriel. Você não se importa comigo
ou com meus irmãos. Você só se preocupa com o poder em nosso sangue. Sempre
fomos ferramentas de guerra para você. Isso é tudo que sempre seremos.
— Se isso é verdade, então por que eu estava disposto a dar minha vida para
proteger a sua em Echo Bay?
— Fora do dever. — Eu lutei contra a pontada no meu peito. — Sem nós, os
anjos perdem a guerra. Você fez isso para protegê-los. Eles são quem você se importa.
Não nós.
— Basta disso. — Lazarus agarrou meu queixo e baixou a voz. — Se você pensa
tão mal de mim, por que sou eu quem você chama quando está com problemas?
Engoli o súbito aperto na garganta. — Porque eu sei que você vai me ouvir.
A testa de Lazarus bateu suavemente na minha. O contato durou apenas um
segundo antes de ele se afastar novamente. Um brilho de dor brilhou em seus olhos. —
Pare de me testar, Alastair. Há tanta coisa que eu posso lidar antes de... — Suas
palavras sumiram, assim como sua mão quando ele soltou meu queixo. — Não importa.
Tão perto, seu cheiro fez cócegas em meu nariz e me envolveu. Aninhado em
meu peito. Ele cheirava a uma manhã de final de outono, quando o sopro do inverno
exalou sobre a terra pela primeira vez, trazendo ar fresco e uma promessa de neve.
— Você... — Dei um passo para trás, piscando várias vezes. Eu senti como se
estivesse em uma espécie de névoa. — Você deveria ter Clara olhando para o seu
ombro. Preciso verificar Phoenix. Com licença.
Eu rapidamente acenei para ele antes de entrar na vila. Meu coração batia
descontroladamente, e uma dor estranha me atingiu bem no meio. Foi estranho. Algo
havia mudado dentro de mim. Sentimentos que eu não entendia muito bem se agitaram.
Uma dor que não se dissipava.
Continuei vendo seu rosto em minha mente, aqueles últimos momentos
enquanto ele segurava Lúcifer com seu chicote e nos observava partir sem ele. Havia
determinação em sua expressão, mas também algo quase triste.
Arquivei a imagem, colocando-a em uma caixa e fechando a tampa com força.
Compartimentar foi como eu sempre sobrevivi. E era assim que eu continuaria a fazê-lo.
***
***
***
— Por favor, me diga que não é o que eu penso, — eu disse, tirando meus olhos
da tela e beliscando a ponta do meu nariz. Eu nem tinha tomado um gole do meu chá
matinal ainda.
— Sim. — Gray abaixou o telefone e lentamente chutou os pés enquanto se
sentava na beirada do balcão, as pernas balançando para baixo. — É um zumbi.
— Esse vídeo não é o único — disse Mason enquanto caminhava para a
cozinha, rolando em seu telefone. As mangas curtas de sua camiseta do Corpo de
Fuzileiros Navais cortavam seus bíceps grossos, o material exibia alguns pequenos
orifícios na parte inferior e afinava em alguns lugares devido ao uso e desgaste. Uma
marca rosa descansava em sua bochecha direita de onde ele estava dormindo apenas
alguns minutos antes de ser acordado pelo ataque de notificações. — Storm acabou de
me enviar links para cerca de uma dúzia ou mais. As placas dos caçadores também
estão explodindo com avistamentos confirmados.
Olhei ansiosamente para minha xícara fumegante de chá, ainda intocada. Por
que o apocalipse não pôde esperar por mais uma hora? Pelo menos o tempo suficiente
para eu comer um bolinho de abóbora e beber meu primeiro copo tão necessário.
— Quão ruim é isso? — Eu perguntei. A resposta óbvia só poderia ser:
catastroficamente ruim. Ruim de fim de mundo.
Tomei um gole do meu chá. Poderia muito bem ser.
— Muitas pessoas acham que os vídeos são falsos — respondeu Mason
enquanto mandava uma mensagem para alguém, provavelmente Thor.
Gray assentiu. — Eu li alguns comentários onde as pessoas pensam que é uma
coisa publicitária para um novo filme de zumbi. Como antes do lançamento de IT, havia
muitos avistamentos de palhaços.
— Alguma morte até agora? — Outro gole. Seria uma pena desperdiçar um chá
tão bom. Olhei para o bolinho no pequeno prato ao lado da minha xícara. Eu tinha
acabado de aquecê-lo antes de ser interrompido, então ainda deveria estar bom e
quente.
Gray arrancou-o do prato e, deu uma mordida falando com a boca cheia. — Sim.
Você pode acreditar que um dos ataques foi capturado em vídeo, se tornou viral e as
pessoas ainda dizem, 'haha, isso é tão falso. Dá para ver que não é sangue de verdade’.
Tipo, quem esses humanos pensam que são? Quão burro você pode ser?
Olhei para as migalhas caindo de seus lábios e em sua camiseta azul: Cochilos
Divertidos. Tanto para desfrutar do meu bolinho.
— Isso é muito gostoso, mas meio seco. — Gray franziu a testa, ainda
mastigando. — Vou engolir com leite achocolatado. Então, será perfeito. — Ele pulou do
balcão e foi até a geladeira.
Mason me deu um sorriso de desculpas antes de se aproximar e encontrar a
assadeira que, infelizmente, tinha apenas migalhas restantes do lote de scones que Titã
e Raiden tinham assado ontem de manhã e trazido para nossa casa.
O último estava sendo devorado pelo meu irmão mais novo hiperativo e ladrão
de bolinhos.
Certo. Os ataques. Eu precisava me concentrar.
— Envie equipes de caçadores para as vilas e cidades mais próximas de onde
eles estão estacionados, — eu disse a Mason. Uma dor de cabeça estava se formando
atrás dos meus olhos. Do estresse, mais do que provável. Eu disse a ele para agendar
patrulhas noturnas para que todas as áreas principais com tráfego intenso de pedestres
fossem cobertas. — A descoberta parece inevitável neste momento, mas avise-os para
mostrar discrição ao caçar. No momento em que os humanos começarem a entrar em
pânico, toda essa porra de situação vai se tornar mais um show de merda do que já é.
Mason transmitiu minhas ordens.
— Uau. — Gray piscou para mim, a evidência de seu roubo no canto de seus
lábios. — Você disse 'porra' e 'show de merda'. Isso é quase tão chocante quanto os
zumbis.
— Essa linguagem é imprópria para você.
A lembrança das palavras de Lazarus daquela noite em Echo Bay,
especificamente, a estranha sensação de que ele estava sorrindo ao dizê-las, causou
um tremor no centro do meu peito. Eu forcei a possível razão da minha mente. Tranquei-
o com todas as outras perguntas que o anjo despertou em minha cabeça.
Uma vibração alta chamou minha atenção. Meu telefone acendeu no balcão ao
lado do pote de açúcar, onde eu o esqueci depois de fazer meu chá. Um número
desconhecido apareceu na tela.
— Sim? — Eu respondi. Eu tinha pouca paciência para saudações educadas
naquela manhã.
— Olá — disse uma voz profunda. — Este é o arcanjo, Michael chamando você
em um dispositivo chamado smartphone. A era da tecnologia é realmente fascinante,
não é?
Meus olhos se fecharam e respirei fundo. Como se minha manhã já não tivesse
começado de forma incômoda. — Como você conseguiu esse número?
— Seu amigo Baxter! Conversamos depois da reunião, dois dias atrás. Ele disse
que você gosta de falar neste dispositivo e de ligar para você a qualquer hora. Esta é a
primeira vez que uso um, mas é bastante benéfico quando preciso entrar em contato
com você sobre assuntos relacionados.
Fiz uma anotação mental para matar Baxter mais tarde.
— O que você quer, oh grande capitão?
O sarcasmo passou por cima da cabeça de Michael. — O reino mortal está em
uma situação difícil, como tenho certeza que você já deve saber. Purah acordou os
mortos e Vepar está provocando tempestades mortais. — O assobio do vento fez com
que sua voz entrasse e saísse.
— Você está voando agora?
— Sim. Estou a caminho da ilha, mas queria atualizá-lo antes da minha chegada.
Despachei unidades para os lugares mais atingidos pelos cadáveres ambulantes e liguei
para o rei Nikolai sobre a cidade mais próxima de seu reino sendo atingida por uma
nevasca de proporções épicas. Ele concordou em enviar seus guerreiros para lá para
ajudar os mortais.
— Os dragões de gelo têm poder sobre a neve, — eu disse, entendendo esse
raciocínio. — Inteligente. Eles podem combater o poder de Vepar. Em teoria, pelo menos.
— Estou feliz que você concorda, — Michael disse, e o vento causou mais
estática. — Eu preferiria que trabalhássemos juntos em vez de constantemente bater de
frente. Não sou seu inimigo, Orgulho.
Michael já havia tomado medidas contra a ameaça. Ele tomou decisões
diplomáticas sem mim. Eu me preparei para a raiva, ou pelo menos para o
aborrecimento, que certamente seguiria essa percepção. No entanto, a única coisa que
senti naquele momento foi uma estranha sensação de alívio.
Confiar em outras pessoas era difícil, assim como confiar nelas para tomar as
decisões certas, mas respirar ficou um pouco mais fácil agora que eu não precisava
tomar todas essas decisões, sozinho. Isso me permitiu focar no que importava: derrotar
Lúcifer.
— Como termino a linha de comunicação? — Michael então perguntou, e mais
vento atingiu o receptor, fazendo-me segurar o telefone longe do meu ouvido. — Ah.
Acho que esse botão...
A chamada foi desconectada.
Olhei para a tela antes de guardar meu telefone.
Um baque soou no terraço dos fundos antes de Raiden e Titã aparecerem do
outro lado da porta de vidro deslizante. E, Deus os abençoe, trouxe o que só poderia ser
o bolo de café da manhã de Raiden, que consistia em mirtilo, canela e café com cobertura
de limão.
A manhã estava melhorando.
Ao meio-dia, minha dor de cabeça causada pelo estresse havia diminuído.
Michael talvez não fosse tão ruim quanto eu acreditava. Ele ajudou muito, assim como
nossos aliados. Depois de me encontrar com Sirena sobre a força de guerreiros que ela
enviou ao Cairo para lidar com uma infestação de ghouls, voei para a vila de Daman e
Bellamy para fazer o check-in.
Lycus, o alfa dos lobisomens na Transilvânia, procurou Daman sobre ataques de
demônios.
Aterrissei ao lado da piscina e dobrei minhas asas. — Qual é a situação?
Warrin estava reclinado em uma cadeira de jardim à sombra de uma árvore, com
um e-reader na mão. Ele e eu compartilhamos o amor pela leitura, embora ele preferisse
fantasia e ficção científica, então não trocávamos recomendações com frequência.
— Lycus diz que os demônios estavam usando o nexo na floresta para
atravessar — respondeu Daman, sentando-se entre as pernas de Warrin e inclinando-
se contra ele. — O bando acabou com isso. Lycus tem a clareira assegurada. Nenhum
demônio vai passar por eles.
— Bom — eu disse. — Bloquear o portão dimensional impedirá que algo pior
passe.
— Os espíritos também estão ajudando. — Daman descansou a cabeça no peito
de Warrin e olhou para a tela do e-reader. Ele disse isso tão casualmente. Então,
novamente, ele cresceu com esses espíritos, fez amizade com eles.
Daman já havia vivido no que muitos chamavam de a floresta mais assustadora
da Transilvânia: Hoia Baciu. Com suas árvores deformadas que cresciam em ziguezague
e espiralavam no sentido horário, fazendo com que aqueles que vagavam por dentro
ficassem desorientados, assim como a folhagem retorcida e avistamentos de fantasmas,
a floresta mais do que fazia jus à sua reputação.
— Merda, como está dezembro? — Daman inclinou a cabeça para trás. — Está
muito quente. Sinto falta do nosso chalé.
— Vamos voltar para casa um dia, kotya. — Warrin acariciou seu cabelo escuro.
— Armen está cuidando bem disso em nossa ausência.
— Você está se sentindo bem, comandante? — Daman acariciou a mandíbula
de Warrin, com a testa franzida. — Podemos entrar.
Os dragões de gelo não lidavam bem com o calor, mas Warrin havia mostrado
pouco desconforto externo. Como um guerreiro, isso estava enraizado nele.
— Estou exatamente onde quero estar, — Warrin respondeu, inclinando-se para
seu toque. — Embora, se você quiser se refrescar na piscina, nunca vou recusar a
oportunidade de vê-lo molhado.
Daman sorriu antes de fazer um show ao se levantar da cadeira e se aproximar
da borda da piscina. Warrin observava cada movimento seu, seu livro esquecido.
Meus olhos, no entanto, foram atraídos para a cicatriz irregular marcando o
centro do peito de Daman, onde Belphegor enfiou uma espada nele durante a batalha
em Hoia Baciu. Warrin havia dado metade de seu coração naquela noite para salvá-lo.
E Lazarus tinha ajudado. Ele ficou com os dois e realizou o ritual que uniu seus
corações, queimando muito do seu própria mana. Depois, ele saiu da cabana e quase
desmaiou de exaustão. Eles não tinham visto isso.
Mas eu tinha. E isso me deixou muito confuso.
Por que se esforçar se ele não se importava com Daman? Se ele não se
importasse conosco? Lúcifer não havia sido libertado de sua jaula naquele momento.
Portanto, ele não poderia dizer que o motivo era porque éramos a única maneira de
vencer a guerra. E Asa era poderoso, mas não tanto que os anjos não pudessem derrotá-
lo sem a nossa ajuda.
Lazarus era a única pessoa que eu nunca fui capaz de separar e ver todas as
camadas escondidas por baixo. A única pessoa cujos movimentos eu não poderia prever.
Ele era um enigma. Normalmente, eu gostava de quebra-cabeças. Mais ainda, eu
gostava de resolvê-los. Mas Lazarus me deixou perdido. Havia muitas peças faltando.
— Al? — Bellamy perguntou. Ele havia saído em algum momento durante minha
contemplação com uma bebida de frutas na mão. O líquido azul tinha uma nuvem de
vermelho escuro do frasco de sangue que ele devia ter acabado de adicionar. — Você
está legal?
— Sim. — Eu silenciosamente limpei minha garganta e encontrei seus olhos.
Sua íris cor de avelã giravam enquanto Luxúria tentava ler meus desejos. — Cuidado
com a bebida. Podemos ser enviados para a batalha a qualquer momento, agora que
Lúcifer está movendo seus peões no tabuleiro.
— É exatamente por isso que eu quero beber. — Bellamy tomou um gole e
estalou os lábios uma vez. — Mm. Tão bom. Além disso, se uma batalha começar, isso
vai me ajudar a lutar melhor. Eu diria que também me ajuda a foder melhor, mas essa é
uma área em que não preciso de ajuda.
Phoenix se materializou ao lado dele e pegou a bebida de sua mão. — Obrigado,
boneca. — Ele então se teletransportou para uma cadeira na sombra ao lado da de
Warrin, seu rabo balançando lentamente enquanto tomava um gole.
Bellamy olhou para sua mão agora vazia antes de sorrir. — Maldito seja esse
demônio. Ele precisa de uma surra em sua maldita bunda.
— Tenho certeza que ele vai gostar, B — disse Daman da piscina.
Meus pensamentos vagaram de volta para Lazarus, o que era bastante irritante.
O anjo manteve distância. Não é de surpreender, já que ele sempre foi assim, no entanto,
a diferença agora era que isso me incomodava.
— Aproveitem o resto da sua noite, — eu disse a eles antes de ir para o céu.
O sol ainda não havia se posto, mas iria dentro de uma hora. Mesmo assim, a
noite estava mais quente. O calor era bom, mas eu sentia falta do inverno, respirando o
ar frio e fresco de dezembro e vendo as luzes coloridas refletidas na neve, como Gray
teria decorado a mansão para o Natal agora.
Por muito tempo, antes do despertar de Asa, nossa única preocupação era lutar
contra as sombras e caçar monstros, às vezes bruxas poderosas, que visavam prejudicar
os mortais. Baixo na escala de perigo em comparação com a guerra atual. A saudade
perfurou meu peito e eu rapidamente a afastei.
Teríamos aqueles dias novamente. Dias em que não precisávamos nos
preocupar com o fato de um de nós não voltar para casa.
Minhas asas me levaram para uma pequena casa cercada por uma floresta
verdejante em três lados com vista para o mar. O bangalô sobre a água tinha um exterior
branco e telhado de palha para dar uma sensação aconchegante de ilha, mesmo que o
homem temporariamente chamando-o de lar fosse mais do lado frio e espinhoso. O mar
verde azulado do Mediterrâneo brilhava além do convés traseiro.
Caí na areia branca e fina e me aproximei da porta da frente. Bati duas vezes,
depois fiquei no lugar. Esperando. O que eu odiava. Bati pela terceira vez. Nada ainda.
— Onde você está? — perguntei a Lazarus, recorrendo ao nosso elo telepático.
Ele costumava dizer para não invadir seus pensamentos, a menos que eu precisasse de
algo. Bem, agora eu precisava de respostas, para que ele pudesse lidar.
Nenhuma resposta.
Uma cachoeira veio de perto, soando como se estivesse vindo do outro lado da
linha das árvores. Curioso, me afastei da porta e me dirigi para lá. Conforme me
aproximei das árvores, a luz sangrou por entre os galhos. Viajei cerca de seis metros
pela vegetação rasteira antes de sair para uma lagoa particular.
Era como um pedaço do paraíso. Água azul clara que escurecia em direção ao
fundo, grandes rochas perfeitas para banhos de sol e a mesma areia branca que cercava
o bangalô. A cachoeira caía de uma saliência baixa de calcário cinza abobadado,
provavelmente com apenas três metros de diâmetro.
Um movimento com o canto do olho chamou minha atenção.
Eu parei no meio do caminho. Tenho quase certeza de que meu coração também
parou.
Lazarus estava na altura da cintura sob a cachoeira, olhos fechados enquanto
inclinava a cabeça para trás. Nu. Minha mandíbula quase desabou. Ele inclinou o rosto
em direção ao riacho antes de balançar a cabeça e passar a mão sobre o cabelo branco.
Dezenas de cicatrizes cortavam suas costas, algumas mais profundas e irregulares,
enquanto outras eram fatias finas.
Quando meu olhar baixou para suas costas, foi difícil respirar. Cada inspiração
era como sugar através de um canudo entupido. A água distorcia qualquer coisa mais
baixa do que isso, mas isso de alguma forma só a tornava mais sensual.
Ele lentamente se virou, seus olhos ainda fechados enquanto se lavava.
Eu deveria ter desviado o olhar. Ou feito barulho para anunciar minha presença.
Fazer qualquer coisa além de olhar inapropriadamente para o corpo nu e molhado dele.
Mas era como se eu estivesse sob um feitiço. Meu sangue disparou em minhas veias
como fogo líquido, meu coração bateu contra minha caixa torácica com força suficiente
para quebrar uma delas, e meu pau se mexeu. O último me chocou, mas não o suficiente
para me tirar do meu torpor.
A trilha de seu abdômen molhado e músculos em forma de V tentou meu olhar
mais baixo... e mais baixo, mergulhando abaixo da superfície da água.
Eu exalei bruscamente, percebendo um momento tarde demais que eu estava
prendendo a respiração.
Seus olhos se abriram.
Eu congelei. Pelo visto, ele também. Por vários dolorosos batimentos cardíacos,
nós apenas olhamos um para o outro. Difícil dizer o que era mais forte: minha vergonha
mortificada por ter sido pego olhando boquiaberto para sua nudez ou seu choque por ter
sido surpreendido.
Eu quebrei o contato visual primeiro, desviando meu olhar para a areia sob
minhas botas. Era claro, com pedrinhas. — Você não estava me respondendo.
— Então você está me espionando?
— Eu não estava espionando, — eu disse, minhas bochechas pegando fogo. —
Eu não sabia que você estava aqui até… — As chamas em minhas bochechas se
espalharam até a ponta das minhas orelhas. Então, com mais confiança, olhei para ele.
— Coloque algumas roupas. Nós precisamos conversar.
Quando abri meus olhos para ver Alastair olhando para mim, as sinapses em
meu cérebro pararam de disparar, cortando o fluxo de informações para o resto do meu
corpo. Meu coração parou em meu peito e minha respiração congelou em meus pulmões.
— Coloque algumas roupas — disse ele, o rosto corado, mas a voz firme. —
Nós precisamos conversar.
Alastair virou as costas para mim sem que eu tivesse que pedir.
Eu entrei na água até chegar à rocha onde havia deixado minhas calças e botas.
Sem toalha. A natação tinha sido mais uma decisão impulsiva depois de lidar com Uriel
no início do dia para discutir os ataques recentes, então a leve insistência de Michael
quando voltei para a ilha. Eu queria um momento para mim, para deixar a natureza
acalmar minha mente perturbada. A cachoeira me lembrou de casa.
Como em casa? Ser interrompido enquanto desfruto da dita cachoeira.
Só que nunca imaginei que seria Alastair.
— Sobre o que você quer falar? — Eu perguntei uma vez vestido. Em vez de
calçar as botas, carreguei-as enquanto me aproximava dele. A areia macia sob as solas
dos meus pés era agradável. — Faça isso rápido.
— Por que? Tem algum lugar para estar?
— Meu negócio não é da sua conta. — Tentei manter o tom estrito que
normalmente usava com ele. Isso ajudou a esconder a sensação de vulnerabilidade que
eu sentia quando estava em sua presença. — Se você veio para desperdiçar meu tempo,
pode ir embora.
— Corte o ato de durão.
— Perdão? — Eu encontrei seus olhos, fingindo que não notei a maneira como
a luz do sol brilhava em sua íris azuis, destacando as manchas de prata.
— Você me ouviu. — A mandíbula de Alastair apertou. Assim como seus punhos
enquanto descansavam em seus lados. — Levei mais tempo do que gostaria de admitir
para entender, e ainda não entendo completamente... mas... — Ele se aproximou. —
Você não é realmente tão frio. É um ato.
Nervos atados em meu estômago. Eu passei por ele e soltei minhas asas. —
Você está falando besteira.
— Eu estou?
Parei, mas não me virei.
— Então me explique, Lazarus.
— Explicar o quê? — Eu perguntei com um grunhido, virando-me para encará-
lo.
— Por que você arriscou sua vida para salvar a minha.
— Devo me repetir? Você e seus irmãos são a chave para...
— Ganhar a guerra. Eu sei. — Alastair avançou até ficar a menos de trinta
centímetros de distância. — No entanto, isso não explica por que você salvou Daman
em Hoia Baciu. Isso foi antes de Lúcifer ser libertado de sua jaula. Éramos uma vantagem
ao seu lado enquanto lutava contra Asa? Sim. Mas você não precisava de nós.
— Alastair...
— Houve outras indicações antes disso também, — ele interrompeu. — Como
você se recusou a condenar a alma de Kallias ao poço e desobedeceu a uma ordem por
causa disso. Como você interveio para matar Caim porque Castor estava muito fora de
si para fazer isso.
— Indicações de quê?
— Que você se preocupa conosco, — ele respondeu, chegando ainda mais
perto. Seu doce aroma de cedro me aqueceu de dentro para fora. Também me
aterrorizou. — Eu tinha minhas dúvidas no passado. Tantas vezes, pensei que você só
nos mantinha vivos por causa do nosso poder. Outras vezes, eu me perguntava se
estava errado.
— E agora?
— A verdade é um pouco mais clara — respondeu ele. — Como eu disse, não
entendo completamente. Mas estou começando.
— Você não entende nada. Você nunca vai. Portanto, pare com esse
questionamento ridículo e concentre-se no que realmente importa.
— Eu nunca vou? — O olhar de Alastair escureceu. — Vou encarar isso como
um desafio.
A veia perto da minha têmpora latejava. — Por que você é tão teimoso?
— Por que você é?
— Você é tão malditamente enlouquecedor. — Eu lutei contra o desejo de
agarrar sua mandíbula, apenas para parar seu aperto incessante. — O reino mortal está
sendo ameaçado enquanto falamos, mas suas tendências, sabe-tudo fazem você ficar
aqui desperdiçando nosso tempo.
— A única coisa enlouquecedora agora é sua recusa em admitir que estou certo.
Você se importa conosco. — Algo então brilhou em seus olhos, como se ele tivesse
descoberto outra pista para o vasto mistério que havia inventado em sua cabeça. — É
por isso?
— Porque o que? — Falei baixo, minha voz rouca.
— Uriel, — ele disse. As sinapses em seu cérebro disparavam tão rapidamente
que às vezes sua boca demorava um pouco para alcançá-las. — Por que você é tão leal
a ele. É por nossa causa, não é?
— Sou leal a ele porque ele é meu superior.
Alastair estava balançando a cabeça antes mesmo de eu terminar minha frase.
— Se isso fosse verdade, estaríamos mortos agora. Ele deixou claro o que sente por
nós. Depois de enjaularmos Lúcifer, nosso propósito era nulo e sem efeito. Então, por
que ainda estamos respirando? Por que não fomos eliminados no momento em que sua
jaula foi selada?
Maldito seja ele e sua mente analítica. Claro, parte disso foi minha culpa. Eu
ajudei a desenvolver sua percepção aguçada dos outros, estudando a linguagem
corporal para a verdade quando os lábios falavam mentiras.
— Meu palpite? — O olhar de Alastair disparou pelo meu rosto, examinando
cada centímetro da minha expressão para aqueles sinais de engano que ele foi treinado
para detectar. — Você tem nos, protegido. Quanto? Ainda não tenho certeza. Mas você
é a razão de ainda estarmos vivos.
— Você está vivo porque o conselho concordou que vocês serviriam bem ao
reino humano. E vocês tem. Você e seus irmãos se tornaram protetores da Terra.
— Aposto que você propôs essa ideia ao conselho — disse Alastair. — Estou
errado?
— Isso é cansativo. — De repente, eu estava pesado de fadiga. Eu me senti
derrotado, minha determinação enfraquecendo. — Qual é o objetivo aqui, Alastair? Além
de provar que você está certo.
Sua convicção vacilou quando o centro de sua testa mergulhou. Ele molhou os
lábios e abriu os punhos. E quando ele falou, sua voz era suave. Um pouco instável. —
Eu só quero a verdade, Lazarus. Eu preciso da verdade. Porque posso ficar aqui o dia
todo e jogar teorias em você até ficar com o rosto azul, até minha garganta doer tanto
que não consigo falar, mas até ouvir de você, essas perguntas continuarão me deixando
louco.
— Você quer a verdade? — Não sendo mais capaz de lutar, eu o agarrei pelo
queixo e trouxe seu rosto para mais perto do meu. Ele respirou fundo, separando os
lábios. — Eu me importo. Muito mais do que deveria. Mas não muda nada.
— Você está errado — Alastair sussurrou. — Muda tudo. — Seu olhar de
pálpebras pesadas caiu para minha boca.
Arrepios dançaram em minha carne nua, mas também senti calor. Febril. Qual
seria o gosto dele? O chá que ele tanto amava, rico e levemente adocicado? Se eu
roçasse meus dentes em sua pele de porcelana, seria picante e terroso, como cedro e
velhos livros preciosos cujas páginas foram carinhosamente acariciadas?
— Nós... — Eu exalei contra seus lábios. Tão perto do meu. — Devemos voltar.
O sol está se pondo.
— Medo do escuro? — Ele perguntou, um sorriso curvando os lábios que eu
ansiava por provar.
Mais como medo do que eu faria com ele no escuro. Tal como desobedecer,
outro comando, este diretamente do conselho. Soltando sua mandíbula, dei um passo
para trás.
— Lazarus. — Ele agarrou meu pulso. — Não.
— Não o quê? — Minha pele formigou onde ele me tocou.
Seu aperto aumentou. — Não vá embora.
— Por que? — Forcei um tom mais duro, apesar da dor em meu peito. — Você
disse o que veio aqui para dizer. Eu te dei minha resposta. Deixe o assunto descansar.
A mão de Alastair caiu do meu pulso. — Há mais coisas que você não está me
contando. Eu posso sentir isso.
— Seria tão terrível para ele saber a verdade? — Michael tinha me perguntado
uma vez.
— Sim — eu respondi sem dúvida em minha mente.
Mas naquele momento, com Alastair tão perto e olhando para mim com olhos
suplicantes, eu não tinha tanta certeza. Segui ordens e deixei de lado todos os desejos,
todas as emoções, e vivi minha vida para o bem de meu reino. Então, por que de repente
me vi em uma encruzilhada, lutando entre escolher o caminho certo ou aquele que tinha
o potencial de me levar à ruína?
Também poderia me levar à felicidade.
Mas o que me custaria essa possível felicidade?
— Diga algo. — A voz de Alastair era tão fina. Frágil. — O que mais você está
escondendo?
— E se eu disser que não estou escondendo nada?
— Eu vou chamá-lo de mentiroso que você é — ele rebateu.
— Você esqueceu com quem está falando, garoto.
— Oh? — Aquele desafio que ele mencionou anteriormente brilhou em seus
olhos. Outra coisa também, como um deleite perverso. Ele estava gostando desse
vaivém entre nós. — Aquele rosnado e tom autoritário podem ter me feito recuar no
passado, mas não vai funcionar comigo agora. Eu vejo suavidade em seus olhos agora.
Eu não vi isso antes.
— O que você vê é aborrecimento. Tenho vontade de dobrar você sobre meus
joelhos e bater em você como o pirralho que você é.
Alastair riu.
— Isso é engraçado para você?
Ele se aproximou. — O que é engraçado é o quanto você está tentando mudar
de assunto.
Eu o estudei. — Você não vai deixar isso passar, vai?
— Sem chance. Eu vou descobrir isso. De uma forma ou de outra.
Eu acreditei nele. Meu silêncio significaria muito pouco agora que ele havia
metido na cabeça que eu estava escondendo alguma coisa. Alastair era do tipo que
ficava curioso até descobrir. O que não apenas tornaria meu trabalho mais difícil
enquanto cuidava deles durante a guerra, mas também me testaria além dos meus
limites.
Porque eu já estava tão perto de quebrar. Tão perto de abrir meu peito e deixá-
lo ver as coisas cruas e potencialmente devastadoras que mantive trancadas por
milhares de anos.
Eu me virei e levantei no ar. O bater das minhas asas agitava as folhas da árvore
mais próxima. Eu então olhei para ele. — Você está vindo?
Suas asas surgiram de suas omoplatas. Ele voou ao meu lado em silêncio
enquanto sobrevoávamos as árvores em direção ao bangalô.
Eu não olhei para ele, não o reconheci. Meu coração estava prestes a explodir
no meu peito. Um olhar em seus olhos seria o que desencadearia aquela explosão. O
sol tocava o horizonte agora, minutos antes de desaparecer de vista. Aterrissamos na
areia e nos aproximamos da porta da frente.
— Venha para dentro, — eu disse, e minha mão parou na maçaneta. — Mas
esteja avisado. Você não vai gostar do que vai ouvir.
***
A chaleira assobiava no fogão. Alastair tirou do fogo e mediu as folhas de chá.
Sugeri que fizesse algum para nós, principalmente para ganhar tempo. Depois de
esconder a verdade dele por tanto tempo, ele finalmente começou a suspeitar. Minha
confissão de que me importava com ele e seus irmãos só piorou essa suspeita.
Agora, era como a caixa de Pandora. A tampa foi levantada apenas o suficiente
para liberar o caos dentro. E não havia como colocá-lo de volta dentro.
— Creme? — Ele perguntou.
— Por favor.
Alastair parou de se mexer e sua coluna se endireitou. — Essa é uma palavra
que não estou acostumado a ouvir.
— Esqueça o que eu disse, então.
— Tarde demais. O que está feito está feito. — Ele voltou a mexer, então bateu
levemente a colher contra a borda antes de colocá-la de lado. Afastando-se do balcão,
com um copo em cada mão, ele trouxe o meu e sentou-se na cadeira à minha frente. —
O chá é feito agora. Você está sem tempo. Comece falando. — Ele arqueou uma
sobrancelha pálida. — O que? Você pensou que eu não percebi o que você estava
fazendo? Você nunca pede chá. Foi uma tática de atraso.
Eu me senti sorrir um pouco. Era difícil não. — Exatamente a observação.
— Eu vou aceitar isso como um elogio. — Alastair tomou um gole e espiou pela
porta de vidro ao lado da mesa. O bangalô tinha um quarto, uma cozinha e uma pequena
sala de jantar. O deck atrás dele tinha duas cadeiras sob um toldo com vista para o mar.
— Quer sentar do lado de fora?
O ar fresco seria bom. Estar lá dentro parecia que as paredes estavam se
fechando. Meu pulso acelerado e meus pensamentos em espiral não ajudaram.
— Muito bem. — Isso me deu um minuto extra para pensar enquanto pegamos
nossos copos e saímos. Uma brisa suave veio da água enquanto eu estava na amurada.
Tomei um gole, estranhamente aliviado enquanto o chá escorria pela minha garganta.
— Você adicionou mel.
— Eu fiz. — Alastair estava ao meu lado. Seu cabelo loiro parecia mais prateado
no crepúsculo. — É estranho.
— O que é estranho?
— Mesmo agora com a brisa da água salgada e o ar da ilha... — Olhos azuis se
voltaram para mim. — Tudo o que sinto é o primeiro sopro do inverno e um leve toque
de maçã.
Calor explodiu do meu peito, meu coração disparou até parar. Era assim que eu
cheirava para ele? Se fosse o meu cheiro, isso só poderia significar que o selo
bloqueando nossa conexão de alguma forma quebrou. Pegar o cheiro de um
companheiro fazia parte do vínculo predestinado. Michael estava certo. Alastair sentiu
nossa conexão.
Também significava que eu não tinha mais escolha. Eu tinha que lhe dizer a
verdade. Tudo isso. Porque se o selo tivesse enfraquecido de alguma forma, os
sentimentos de Alastair só iriam se intensificar. Não era mais unilateral.
O mar se aproximou de repente.
— Lazarus? — Alastair deixou cair o copo enquanto me agarrava pelos ombros,
impedindo-me de cair sobre o corrimão. O vidro se estilhaçou ao atingir o convés.
Olhei para os pedaços quebrados, as bordas da minha visão nebulosa. Minha
visão ficou ainda mais turva antes que algo molhado cobrisse meus cílios. Lágrimas.
— Pelos deuses, fale comigo — disse ele, segurando todo o meu peso. Eu ser
mais alto e mais musculoso não importava. Ele me segurou com facilidade.
— Você perguntou o que eu estava escondendo? — Quando encontrei seu
olhar, meu peito parecia cacos de vidro aos meus pés. Depois de me manter inteiro por
milhares de anos, finalmente me desfez. — É isso.
Preocupação e confusão tomaram conta de seu rosto. — Não entendo. — E o
pequeno grunhido em sua voz indicava sua frustração com isso.
— Quando isso começou? — Eu perguntei. — Você notando meu cheiro.
Alastair piscou antes de molhar rapidamente os lábios. Outro hábito nervoso. —
O dia em que você e Michael vieram para a ilha. Depois de Echo Bay.
— Depois que quase morri. — Eu balancei a cabeça para mim mesmo,
finalmente entendendo. Por que não o vi antes? — Minha quase morte desencadeou
isso para você assim como fez para mim.
— Desencadeou o quê?
Eu levantei uma mão trêmula e acariciei a curva de sua bochecha com meu
polegar. — Use esse belo cérebro, Alastair. O que faz com que duas pessoas percebam
o cheiro uma da outra? O que faz com que eles se aproximem mesmo quando suas
mentes lhes dizem que é uma ideia horrível?
— Eu não... — Eu vi o momento em que isso o atingiu. Seus olhos se
arregalaram e ele se afastou de mim. — Não. Não é possível. Não podemos ser.
— Nós somos. Você sabe que é verdade. É por isso que você se sente diferente
em relação a mim desde Echo Bay.
— Nós nos conhecemos há muitos anos! — A voz de Alastair aumentou de
volume. — Eu sei que o vínculo predestinado se apresenta de maneira diferente para
cada casal, mas eu teria percebido isso naquele momento.
Olhei para a madeira sob minhas mãos, incapaz de olhar para ele. — Não se o
vínculo foi selado.
— O que você quer dizer? — Ele perguntou asperamente.
Ele estava tendo problemas para respirar também? O ar fresco não tornava mais
fácil respirar. Cada um teve que viajar pelos meus pulmões de concreto.
— Coloquei uma proteção mágica em minha alma para bloquear nossa
conexão, — admiti antes de finalmente olhar para ele. — É por isso que você nunca
sentiu isso até agora.
— Eu não sabia que isso era possível. Selando um vínculo.
— Não foi fácil. Magia dessa magnitude requer muito poder. Mas foi necessário.
— Por que eu sinto isso agora, então?
— Você pensar que eu morri foi o suficiente para acabar com aquela proteção,
— eu expliquei. — O selo ainda está no lugar, mas é muito mais fraco agora.
Sua expressão era uma mistura de choque e descrença. — Há quanto tempo
você sabe que éramos companheiros predestinados?
Abri a boca para responder, mas as palavras morreram em meus lábios.
— Me responda! — Alastair bateu com o punho no corrimão. A raiva distorceu
suas feições. — Droga. Há quanto tempo você está escondendo isso de mim?
Ele estava com raiva porque eu escondi... ou porque ele sentiu repulsa pela ideia
de estar comigo? Eu não tinha certeza se queria saber.
— Desde a noite em que você e seus irmãos enjaularam Lúcifer.
— Isso... — Ele caiu, as pupilas dilatadas e sua respiração irregular. — Isso foi
há mais de dois mil anos. — Tremores passaram por seu corpo antes que um som
estrangulado saísse de sua garganta. — Por que? — Lágrimas de raiva brilharam em
seus olhos quando ele olhou para mim. — Por que você escondeu?
— Eu não tive escolha. O conselho dos arcanjos me ordenou. Mas estaria
mentindo se dissesse que não concordo com essa decisão.
— Então, todo esse tempo... todos esses anos... você sabia que pertencíamos
um ao outro.
— Sim.
— Eu tinha o direito de saber! — Alastair raramente gritava, mesmo quando
estava com raiva. Mas isso foi além da raiva. A verdade foi devastadora.
— Que bem esse conhecimento teria feito para você? Fui proibido de agir em
nosso vínculo. O selo o impediu de sentir qualquer coisa por mim. Não havia razão para
sobrecarregá-lo com isso.
— Eu deveria ter tido essa escolha para mim, — ele retrucou. — Eu controlo
minha vida. Você não. Escondendo isso de mim, você...
— Eu te fiz um favor. Sua ignorância sobre o assunto foi uma bênção.
— Uma benção? — Ele soltou uma risada seca. — Porque ser enganado por
todos esses anos é um sentimento tão bom. Muito obrigado por essa bênção, Lazarus.
— Melhor do que a alternativa — eu lati. — Sabendo que o destino nos escolheu
para ficar juntos, mas sendo proibido de cruzar essa linha. Enquanto você não sentia
nada, eu ainda sentia traços de nosso vínculo. Você não pode nem começar a imaginar
o preço que isso me custou. Então sim. Seja grato por não ter percebido esse tempo
todo.
Uma expressão de dor substituiu parte de sua raiva. — Então, quando eu estava
com Joseph? Você estava sofrendo?
Eu não respondi. Eu não podia. O tremor na base da minha garganta me disse
que eu quebraria ainda mais se falasse da dor no coração que suportei ao vê-lo amar
outra pessoa.
As asas de Alastair se abriram em suas costas. Penas pretas com traços de roxo.
Lindo e doloroso ao mesmo tempo, muito parecido com meu vínculo com ele.
— Onde você está indo?
— Qualquer lugar menos aqui, — ele respondeu antes de levantar no ar. — Não
se aproxime de mim. —Sua voz na minha cabeça é a última coisa de que preciso agora.
Enquanto ele voava, não tentei detê-lo. A verdade nem sempre liberta alguém.
Às vezes, ele se enroscava em você como arame farpado, tirando sangue ao raspar suas
entranhas.
Baixei a cabeça e agarrei o corrimão com tanta força que a madeira rachou.
— Al? — Castor perguntou.
— O que está errado? — Acrescentou Bellamy.
— Fale Conosco. — Kallias.
Eu poderia ter sido capaz de bloquear alguns dos meus pensamentos de meus
irmãos, mas nossa conexão de sangue nos permitia sentir quando um de nós estava
chateado, com intensa raiva ou tristeza. Embora devastado, fosse uma palavra mais
adequada para explicar os farrapos sangrentos das cordas do meu coração.
Eu me senti cru. Partido. E tão malditamente zangado.
— Vamos, irmão, — Raiden projetou em minha cabeça. — Não nos exclua.
— Sim — disse Gray. — Deixe-nos bater em quem te chateou.
— É o Michael? — Galen perguntou. — Quer que eu o mate?
— Você não pode matar um arcanjo, seu bufão cabeça-quente, — Daman disse
a ele. — Não sem colocar todas as nossas cabeças no cepo.
À medida que suas brincadeiras enchiam minha cabeça, isso me confortava um
pouco. Eles estavam lá. Eles se importavam. Enquanto sobrevoava a ilha, ouvindo-os,
as palavras me faltaram. Eu não sabia o que dizer. Ainda não.
Então voei, concentrando-me no bater pesado de minhas asas cortando o ar. Eu
não queria voltar para a vila de Baxter. Eu não sabia para onde queria ir. Eu só precisava
colocar distância entre mim e Lazarus.
Ele era meu companheiro predestinado. O anjo que eu odiava, temia e passei a
respeitar. Eu estava mais em conflito do que nunca. Chocado. Como eu nunca tinha
percebido isso? Mesmo com o selo no lugar, eu deveria ter percebido.
As peças do quebra-cabeça finalmente estavam se encaixando. Isso explicava
tanto. Explicou os raros momentos em que Lazarus deixou sua guarda escorregar, como
quando nossa mansão pegou fogo meses atrás e ele segurou meu rosto e me disse para
ficar de pé quando tudo que eu queria fazer era sentar lá em meu escritório enquanto
subia em chamas.
Isso explicava a noite da lua cheia quando Lúcifer foi libertado de sua jaula e
Lazarus decidiu ficar para trás para lutar com os outros. Eu implorei para ele mudar de
ideia, dizendo que precisávamos dele, e ele me agarrou pela nuca e me puxou para mais
perto, seu hálito quente na minha boca.
— Não se deixe cegar pela emoção, — disse Lazarus. — Eu te ensinei melhor
do que isso. — Com uma voz mais suave, ele acrescentou: — Se eu morrer esta noite...
não deixe que seja em vão.
— Eu não vou, — eu respondi, minha respiração trêmula e meu coração doendo
– embora eu não tivesse entendido o porquê.
— Bom menino.
Essas duas palavras mexeram com algo em meu peito. E quando ele deslizou a
mão pelo meu queixo, seus olhos gelados eram tão terrivelmente suaves. Isso me levou
a ficar para trás também. A decisão foi impulsiva, mas parecia certa. Ou ele estava
voltando para casa comigo, ou nós dois cairíamos.
Sabendo a verdade agora, que éramos companheiros, eu me perguntei se o selo
havia entortado um pouco naquela noite, como uma lâmina recém-forjada que estava
muito quente antes de ser temperada com óleo. O aço mal temperado pode então
desenvolver fraturas por estresse. Um golpe forte e a lâmina se partiria em duas.
A fratura por estresse no selo ocorreu na noite em Echo Bay, quando Lazarus
segurou Lúcifer com seu chicote, nossos olhos se encontrando antes que a pedra de
teletransporte fosse ativada e me obrigasse a deixá-lo para trás. O que seria necessário
para quebrar completamente a proteção, para quebrá-la em duas como uma peça frágil
de aço forjado?
Mais importante, eu queria que ela quebrasse?
Chegando a um penhasco na beira da ilha, aterrissei na saliência gramada e
olhei para o Mediterrâneo. Estrelas brilhavam no céu que escurecia, e um reflexo da lua
nascente brilhava na superfície da água abaixo. O bater de asas veio atrás de mim.
Galen e Raiden, seguidos de perto por Kallias e Castor. Bellamy e Daman
chegaram juntos antes que um cinza bocejante aterrissasse ao lado deles segundos
depois.
— Vocês não precisavam vir atrás de mim, — eu disse, trabalhando duro para
manter a emoção crua em minha voz. — Estou bem.
— Isso é uma carga total de merda — disse Castor. — Você não está bem.
Todos nós sentimos isso.
— É por isso que estamos aqui — disse Raiden. — O que nós dissemos sobre
manter essa merda engarrafada? Você tem que falar com a gente, Al.
— Eu... — Eu me virei para encarar os sete, e meu coração subiu na minha
garganta uma vez que encontrei seus olhares preocupados. — Ainda estou tentando
entender isso.
— Por volta de quê? — Bellamy perguntou. — Fale Conosco. Deixe-nos ajudá-
lo a resolver isso.
De todos eles, ele entenderia mais. Quando ele percebeu que Phoenix era seu
companheiro, ele lutou muito para ignorar seu vínculo. Phoenix era nosso inimigo na
época, definitivamente não era alguém que aceitávamos facilmente. Bellamy havia se
estressado por nos perder assim que descobrimos.
Assim como eu temia o mesmo naquele exato momento. Lazarus não era um
demônio como Phoenix, mas meus irmãos tinham pouco amor por ele, no entanto.
— Quando cada um de vocês encontraram seu companheiro, vi como você lutou
para chegar a um acordo com isso. Mas agora que vocês estão com eles, vocês não
podem imaginar que seja de outra maneira, não é?
Galen franziu o cenho. — Nada poderia me tirar de Simon. Eu desafio qualquer
um a tentar.
— Feliz não é uma palavra grande o suficiente para explicar como me sinto
estando com Kyo, — disse Castor.
Daman assentiu. — Warrin é tudo para mim.
Olhei para Kallias quando uma onda de tristeza saiu dele. — Seu Elasus espera
por você, irmão. Você o verá novamente.
— Sim. Eu vou. — Kallias deu um sorriso triste. — Mas não hoje.
— Por que você está falando sobre nossos companheiros? — Castor perguntou.
— Meio aleatório.
— Você está triste por causa de Joseph? — Gray inclinou a cabeça enquanto
se agarrava ao braço de Kallias. — Se sentindo solitário?
— Não — respondi. — Uma parte de mim sempre amará Joseph, mas minha
dor passou.
Assim como aumentou com todos os outros amantes que perdi no passado. A
perda deles sempre doeria um pouco, mas nenhum deles tinha sido meu companheiro
predestinado. Não, meu companheiro estava na minha frente o tempo todo. Certamente,
Lazarus também teve amantes ao longo dos anos. No entanto, o pensamento causou
uma bolha irracional de aborrecimento dentro de mim. Mais uma prova de que suas
palavras eram verdadeiras. Nossos destinos estavam entrelaçados. Bloquear o vínculo
não mudou esse fato.
— E agora seu coração está pronto para seguir em frente? — Raiden perguntou.
— Você está apaixonado por Baxter? Ele não é com quem eu imaginei você, mas eu te
apoio, não importa o que aconteça.
— Embora eu questionaria seu gosto por homens se for verdade, — Daman
disse com um olhar de repulsa.
— Não seja absurdo, — eu disse. — Aquele demônio de cabelo rosa não é meu
tipo.
— Ele foi meu tipo por... dois dias — disse Bellamy.
— Oh deuses — Castor gemeu. — Não me diga que você se apaixonou pelo
irmão de Kyo. O cara tem um maldito harém de esposas. Nem mesmo você com seu
rosto bonito poderia convencer Tatsuya a rebater pelo nosso time.
O orgulho despertou em meu peito.
— Não, — eu disse ao meu pecado. — Não vamos tentar seduzir o rei dragão
da água.
— Somos mais bonitos do que todas as esposas dele — disse Orgulho. — Ele
cairia aos nossos pés.
— Absolutamente não. Tire esse pensamento da cabeça agora.
Meu pecado resmungou em resposta.
— Não — respondi Castor. — Vocês poderiam parar de tentar me juntar com
pessoas e me permitir falar?
— Ahoy, capitão. — Gray me cumprimentou. — Sua tripulação está esperando
por suas ordens. — Enquanto todos olhavam para ele, ele sorriu. — O que? Ele disse
navio, e eu me lembrei dos meus dias de pirata.
Bellamy sorriu. — Você quer dizer os dias que você passou transando com o
capitão pirata. Em vez de esfregar o convés, seu trabalho era molhar a di...
— Por favor pare de falar. — Esfreguei a mão no rosto. — Isso é sério.
Suas brincadeiras bobas ajudaram a tirar um pouco da dor no meu peito. Limpou
a névoa da minha mente. Eu ainda estava com raiva e confuso, mas consegui me
recompor. Ou melhor, eles tinham.
— Acabei de visitar Lazarus. — Dizer seu nome em voz alta causou uma
aceleração em meu pulso. — Ele... ele revelou algo para mim.
— Oh merda, — Bellamy disse. — É sobre Uriel?
— Não. Não é nada disso.
— O que mais teria te chateado tanto se não o nosso anjo idiota da vizinhança
hostil? — Castor perguntou.
Eu precisava sair e dizer isso. Rasgar o Band-Aid rapidamente. — Ele é meu
companheiro.
A princípio, havia apenas silêncio. Esperei ansiosamente que eles dissessem
alguma coisa, qualquer coisa. Meu estômago revirou quando minha ansiedade
aumentou.
— Uriel é seu companheiro predestinado? — Gray perguntou, a cabeça
inclinada para o lado. — Bem, eu não esperava por isso.
— Foda-se, cara. — Castor soltou um suspiro. — Fale sobre merda para dar
sorte.
— Não, Uriel não. — Inspirei profundamente e interiormente pedi aos deuses
que me dessem forças. E paciência, já que meus irmãos estavam irritando meu último
nervo. — Lazarus.
Mais silêncio.
— Ok... — Galen mudou seu peso, o corpo tenso. — Vou precisar que você
explique.
Então eu fiz. Contei a eles como Lazarus colocou uma proteção em sua alma
para bloquear nosso vínculo e manteve isso em segredo por todos esses anos. Expliquei
como aquela proteção vacilou quando minha preocupação com a vida dele fez meus
próprios sentimentos virem à tona. A intensidade dela foi mais forte que o selo, causando
uma fratura.
— Você sabe... — Castor brincou com seu piercing no lábio. — Na verdade, faz
sentido. Tipo de... Lazzy Boy é um idiota classe A, mas ultimamente parece ter uma
queda por você.
Bellamy assentiu. — Quando estávamos na Escócia lutando contra Belphegor e
Asa, lembra quando Asa apontou a Portadora da Luz em seu pescoço? Nunca vi Laz
parecer tão assustado. Eu escrevi isso como se ele apenas quisesse nos manter vivos
por causa do nosso poder, mas agora? Acho que ele estava morrendo de medo de perder
você.
Formigamento quente apunhalou meu peito.
— Esta é a minha cara de choque — disse Daman sem nenhuma expressão. —
Eu sabia que vocês dois eram companheiros? Não. Mas como Cas disse, faz sentido.
— E não se esqueça, — Bellamy acrescentou, — Laz é quem colocou a
proteção em torno de nossa mansão em Echo Bay para esconder nossa localização.
Garanto que foi para nos proteger dos anjos que nos queriam mortos.
Eu tinha esquecido disso. Mas depois de ouvir Lazarus confessar que se
importava conosco, foi apenas mais um passo que ele deu para nos proteger ao longo
dos anos.
— Honestamente? — Daman se encostou em Bellamy. — Lazarus é um
bastardo espinhoso, mas ele ajudou a salvar minha vida. Eu nunca vou esquecer isso.
Ele é a razão pela qual War e eu ainda estamos juntos.
Gray mordeu o lábio inferior e abraçou o braço de Kallias com mais força. — Não
gosto da ideia de você estar com ele.
Meu coração caiu no meu estômago.
— Mas. — Gray soltou Kallias e saltou para mim, agarrando minha mão. — Se
eu posso perdoar Phoenix por quase matar Mason... posso perdoar Laz por ser um
grande malvado.
— Sim — disse Raiden. — Todos nós entendemos como é quando você
encontra seu companheiro. Eu não vou julgá-lo se você fizer isso. Eu só quero que você
seja feliz, Al. Foda-se todos sabem que você merece isso.
— O que você vai fazer? — Galen me perguntou. — Recusar um companheiro
predestinado é difícil, mas não impossível, dependendo da força de sua conexão. Parece
que este selo ainda está no lugar. Você pode ignorá-lo.
— Essa é sua maneira de dizer que não aprova?
— Minha aprovação ou a falta dela já o impediu de fazer alguma coisa antes?
— Galen tocou sua aliança de casamento, girando-a lentamente em seu dedo. — Mas.
— Seus olhos cinzentos encontraram os meus. — Quando eu estava lutando entre meu
dever como guerreiro e meu amor por Simon, foi você quem me disse que o mundo já
havia tirado o suficiente de nós. Que era hora de ser egoísta e pegar algo para mim.
Então esse é o meu conselho para você. Droga o que eu penso. Droga o que qualquer
um de nós pensa. Deixe esta decisão ser sua.
— A decisão não é minha, — eu disse, sentindo um vazio no peito. — Lazarus
selou nosso vínculo porque ele foi ordenado. Eu saber a verdade não muda isso.
Não poderíamos ficar juntos mesmo que eu quisesse. O que eu não fiz.
Eu queria?
Essa pergunta me perseguiu por muito tempo depois que eu disse boa noite a
meus irmãos e voltei para a vila de Baxter. Sentei-me na cama, lendo um romance de
mistério à luz da lâmpada, mas meus pensamentos errantes me impediram de absorver
qualquer parte do texto. Depois de reler o mesmo parágrafo cinco vezes e ainda sem
saber o que diabos ele estava tentando dizer, fechei o livro, coloquei-o no criado-mudo
e apaguei a luz.
E quando fechei os olhos, jurei que ainda podia sentir o cheiro de inverno e
maçãs. O cheiro ficou arraigado em minha memória, como uma história amada muito
depois de virar a última página.
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3 Tweedledee e Tweedledum são personagens fictícios do livro de Lewis Carroll Alice Através do
Espelho. Seus nomes originais podem ter vindo originalmente de um epigrama escrito pelo poeta João
Byrom. Esses personagens são talvez os mais conhecidos de Lewis Carroll do livro "Through the Looking
Glass".
Lúcifer estava diante de uma grande janela, de costas para nós. A neve
continuava a cair lá fora e o gelo serpenteava pelas bordas externas do vidro. A luz suave
e pálida contrastava com as cintilações douradas que vinham da lareira.
Carpintaria ornamentada decorava a sala, e as tapeçarias nas paredes estavam
um pouco esfarrapadas, mas quase intactas. Livros enfileirados em prateleiras
empoeiradas ao longo de uma parede, e havia uma escrivaninha e cadeiras com
almofadas gastas. Adequado, ele se esconderia em um lugar que uma vez tinha sido
uma sala de estar privada para o senhor do castelo.
— Muito ousado da sua parte vir aqui. — Lúcifer se afastou da janela, o cabelo
preto caindo sobre um ombro. Portadora da Luz estava embainhado ao seu lado. —
Ainda assim, eu esperava tanto. Comigo na superfície, eu sabia que você rastrearia
minha localização.
— Você está se associando com bruxas agora? — perguntou Alastair. — Por
que?
— Até insetos podem servir a um propósito. — Lúcifer se adiantou. Casual.
Confiante. — A floresta possui grande poder. Uma fonte infinita de intensa energia
arcana. As bruxas se especializam na magia que procuro e exigem que o rio de magia
flua dentro do nexo.
— Magia para quê? — Eu perguntei.
A cabeça de Lúcifer se inclinou um pouco quando seu olhar caiu sobre mim. —
Algo está diferente em você, Lazarus. — Ele então olhou para Alastair, e um lento sorriso
se espalhou em seu rosto. — Companheiros predestinados. Agora, isso é interessante.
E altamente inesperado. Embora, se alguém conseguisse tentar Lazarus, suponho que
apenas o próprio Orgulho poderia fazê-lo.
— Chega de falar. — Alastair apertou o aperto em sua espada. — Sua razão
para estar aqui não importa. Você estará morto antes do amanhecer.
— É assim mesmo? — Os olhos azuis calculistas de Lúcifer piscaram entre os
irmãos e seus companheiros. — Vocês realmente acham que pode me matar, Alastair?
— Não. — Alastair balançou a cabeça. — Eu sozinho não posso te matar. Aceito
essa limitação. Mas com meus irmãos ao meu lado, você dará seu último suspiro esta
noite.
Ele estava mantendo o Orgulho sob controle. Mas antes que eu pudesse
agradecer por sua contenção, minha pele formigou. Minha cabeça virou para a porta
quando cinco anjos caídos entraram na sala.
Belphegor estava na frente, seguido pelos demais. Enepsigos, um anjo caído do
sexo feminino. Flauros, que tinha características felinas. Halpas e Amun foram os últimos
a entrar.
— Pai, — Gray disse com um tremor em sua voz.
Belphegor não olhou para ele, mas vi a leve tensão em seus ombros. Ele
caminhou até Lúcifer.
— Você ficaria contra seu próprio filho por mim? — Lúcifer perguntou, passando
os lábios pelo lóbulo da orelha de Belphegor.
— Eu vou ficar contra qualquer um que te chamar de inimigo.
Gray fez um pequeno som estrangulado.
Apesar de tudo de errado que Belphegor havia feito, uma parte de Gray ainda
esperava que ele mudasse. Assim como Belphegor esperava que seu filho
eventualmente se juntasse a ele. Ambos estavam errados. Um fato ficou muito claro
quando ficamos com uma linha clara traçada entre nós.
Flauros apareceu ao lado de Alastair, e uma onda de pânico borbulhou em meu
peito quando avistei a adaga celestial colocada em sua garganta. — Este é o filho de
Azazel? Patético. Eu poderia acabar com ele com uma fatia. Invoquei meu chicote e ele
cravou um pouco a lâmina na pele de Alastair. — Abaixe sua arma, Lazarus, ou cortarei
seu lindo pescoço.
Eu obedeci. Meu coração estava na ponta de sua adaga.
O olhar de Lúcifer endureceu enquanto os observava. Ele também estava
nervoso? Ou... ele estava apenas curioso sobre o que aconteceria a seguir? Alastair
significava algo para ele. Mesmo que esse algo viesse apenas do que Alastair poderia
fazer por ele, seu poder e influência.
Os filhos amaldiçoados ficaram tensos. Um grunhido gutural veio de Galen, cujos
olhos estavam completamente negros agora, como um macho possuído.
— Confie em mim, Laz — disse Alastair telepaticamente. — Não estou morrendo
aqui.
Então notei sua linguagem corporal. Seus músculos relaxaram e um brilho
pacífico, mas perturbador, brilhou em seus olhos. Olhos que agora tinham faíscas roxas
rodopiando nas profundezas azuis. Ele ia usar o poder do Orgulho, um poder que ele
desprezava e uma vez jurou nunca mais usar.
Alastair fez contato visual com o anjo caído. — Você é tão forte que nada pode
prejudicá-lo. — A riqueza de sua voz era reconfortante. Hipnótico. — Nem mesmo essa
adaga em sua mão. Se você enfiar no peito, não vai nem romper a pele.
Flauros piscou quando o roxo brilhou em seus olhos, e então ele balançou
levemente a cabeça. Seu olhar caiu para sua adaga. — Nada pode me prejudicar, — ele
disse baixinho antes de retirar a lâmina do pescoço de Alastair. Ele então colocou aquela
lâmina em seu peito.
— Que porra você está fazendo, Flauros? — perguntou Amon.
— Mostre-nos como você é invencível — disse Alastair.
Flauros enfiou a adaga em seu próprio coração e a torceu. Ele caiu de joelhos
enquanto puxava a lâmina, ofegando enquanto o sangue empoçava da ferida aberta. Um
estalo alto perfurou o ar quando sua alma saiu de seu corpo.
Amon cambaleou para trás, olhos arregalados. Os outros anjos caídos ficaram
boquiabertos. Nenhum deles se aproximou. Ver o poder do Orgulho em primeira mão
impediu qualquer tentativa de ataque.
Lúcifer sorriu. — Você ficou mais forte.
— Não que isso vá te fazer algum bem. — Alastair limpou o fio de sangue de
seu pescoço. — Eu nunca vou me juntar a você.
— Que desperdício. — Lúcifer bateu com o dedo no punho da Portadora da Luz.
— Eu poderia ajudar a nutrir esse dom e dar a você mais poder do que você sabia o que
fazer. Mas, infelizmente, vejo que é aí que você difere de seu pai. Ele estava obcecado
em provar a si mesmo e superar aqueles ao seu redor, enquanto você se contenta em
viver uma vida monótona onde nunca atinge todo o seu potencial.
— Melhor do que ser um bastardo de coração frio determinado a destruir o
mundo. — Alastair ergueu o queixo daquele jeito desafiador que muitas vezes me
deixava louco.
— Destruindo o mundo? — Lúcifer balançou a cabeça. — Não. Desejo purificá-
lo.
— Pare com a besteira — Alastair retrucou. — Purificação é o que você diz a
esses idiotas para que eles o ajudem. — Ele acenou com a cabeça para os anjos caídos,
que por impulso deram um passo para trás assim que seu olhar pousou neles. — Você
tem ciúmes da humanidade. Você não passa de uma criança atacando porque seu pai
deu atenção a outra pessoa.
— Como você se atreve a falar comigo assim? — Todos os traços de humor
desapareceram do rosto de Lúcifer. — Eu criei você como meu próprio filho. Eu também
te amei como um.
Alastair recuou, perdendo um pouco de seu fogo. Essas eram palavras que ele
há muito desejava ouvir, que Lúcifer o amava. Ele recuperou a compostura, mas a dor
ainda persistia em seus olhos. — Você não ama ninguém além de si mesmo. Você
sempre gostou apenas do seu poder.
— Segure sua língua, garoto, — Belphegor disse, convocando sua espada
flamejante. As chamas dançaram ao longo do aço brilhante.
Lúcifer estendeu a mão para ele. — Não, Belph. Deixe-o falar.
— Meu pai era seu peão — disse Alastair. — Assim como Belphegor e os outros
generais. Peças para você mover no tabuleiro quando quiser, fazendo o que quiser.
— Você sabe tanto, mas também tão pouco. Eu apreciei Azazel e lamentei sua
morte. Uma morte que você deu a ele. Eu sofri por Belph, Asmodeus e Caim. Todos os
meus lindos príncipes. Eu queria uma vida com todos eles ao meu lado. — Os olhos de
Lúcifer se estreitaram em fendas finas enquanto se moviam para mim. — Você, Michael,
Uriel e todos os bastardos do conselho tiraram essa vida de mim. Você colocou esses
garotos contra mim e os obrigou a cumprir suas ordens. E não pense que esqueci como
você matou minha própria carne e sangue.
Uma pontada de culpa me atingiu.
Antes de enjaularmos Lúcifer, o conselho ordenou que eu e minha unidade
localizássemos todos os filhos de Lúcifer e os matasse. Sangue contaminado, Uriel havia
dito, e a maioria decidiu a favor. Eles temiam que os filhos crescessem e se tornassem
tão perversos quanto o pai. Eu havia cumprido a ordem, ignorando a voz em minha
cabeça que gritava para eu parar, que gritava que eles eram inocentes. O sangue deles
estava em minhas mãos. Nada que eu fizesse consertaria esse erro.
Talvez essa fosse uma das razões pelas quais eu queria que Michael poupasse
Asa. Isso não me absolveria da minha vergonha, mas era um começo.
Lúcifer se concentrou em Alastair. — Você quer grandeza, não quer? Você
deseja provar a si mesmo para o mundo? Para mim?
— Talvez uma vez. Mas agora? — Alastair se aproximou de mim, e sua
proximidade tirou um pouco da frieza que se infiltrou em meus ossos com as lembranças
amargas. — Eu só quero uma vida simples com meu companheiro. Quero passar meus
dias com minha família, lidando com minha enorme pilha de livros a serem lidos e
relaxando com um chá. Nunca tendo que lutar em outra guerra. Sendo feliz. Isso é o que
eu quero.
Com meu companheiro. Meu coração bateu no meu peito. Ele queria um futuro
comigo. Enquanto nos preparávamos para uma luta da qual não poderíamos desistir, eu
sabia que queria uma com ele também. Se eu merecia, era outra história.
— Uma vida simples nunca vai te fazer feliz. No fundo, você sabe disso. O
orgulho sempre vai querer mais. — Lúcifer soltou um suspiro. — Vamos chegar a isso,
então? O reino humano está quase ao meu alcance e há muito a ser feito. Vou até ser
legal e deixar você dar o primeiro passo.
— Uma escolha da qual você logo se arrependerá — disse Alastair.
E então, todos os oito filhos amaldiçoados avançaram, espadas prontas e o fogo
da batalha brilhando em seus olhos.
Minha espada patinou no peito nu de Lúcifer como se a lâmina fosse feita de
borracha, sem deixar nenhuma marca. Isso não me impediu. Eu o atingi novamente, e
então novamente, e me esquivei quando ele balançou a Portador da Luz na minha
cabeça.
A lâmina zumbiu acima de mim, cortando tão perto do meu cabelo que vários
fios foram raspados. Orgulho rosnou com isso. Aparência significava muito para ele.
— O cabelo cresce de novo, — eu disse a ele antes de correr para o lado para
evitar outro golpe. — Não perder a cabeça é com que você deve se preocupar.
Outro resmungo que se transformou em um suspiro forte. Apenas Orgulho se
preocuparia com assuntos tão superficiais durante uma luta.
Galen investiu contra Lúcifer, seus braços musculosos envolvendo a cintura de
Lúcifer antes que ele o golpeasse com força. Bem, quase deu um tapa nele. Lúcifer se
teletransportou logo antes de atingirem o solo.
— Seu animal selvagem — ele cuspiu em meu irmão. Portadora da Luz brilhou
quando ele o ergueu no ar, o pano de fundo da vidraça congelada e a neve caindo
trazendo à tona os redemoinhos mais leves de prata no aço celestial.
Kallias se chocou contra Lúcifer e o desequilibrou, dando a Galen tempo para se
mover. Ele então enfiou seu xiphos no estômago de Lúcifer. A lâmina, como a minha,
não rompeu a pele.
— Você deveria ter ficado morto. — Lúcifer deu um soco em Kallias, colocando
magia por trás do golpe, de modo que o mandou voando pela sala.
Isso chamou minha atenção para Lazarus. Ele lutou contra Belphegor e outro
anjo caído. Minha alma doía. Torcida. Lazarus estava lutando bem, mas estava em
menor número.
— Não se preocupe comigo, — Lazarus disse usando nossa conexão. —
Concentre-se em Lúcifer.
— Quem disse que eu estava preocupado com você?
Mesmo com a distância entre nós, vi um traço de sorriso em sua boca.
O fogo correu ao longo da lâmina da espada de Belphegor enquanto ele a
lançava na direção de Lazarus. O medo se agitou dentro de mim. Um borrão escuro
zumbiu ao redor da sala antes de Phoenix se materializar bem na frente de Lazarus e
impedi-lo de ser atingido. Sua espada colidiu com a de Belphegor.
— Saia do meu caminho, demônio, — Belphegor rosnou.
— Me faça. — Phoenix sorriu antes de se teletransportar para trás dele e esticar
uma perna para derrubá-lo.
Bellamy olhou para seu companheiro, verificando-o. Lúcifer então recuperou
nossa atenção enquanto enviava uma explosão de energia, fazendo eu e meus irmãos
voarmos em direção à janela.
Galen irrompeu pela janela primeiro, e cacos de vidro se projetaram de sua pele
quando ele caiu na neve. Com um rugido, ele se levantou de um salto, o vidro caindo ao
seu redor enquanto as feridas se fechavam. Ele mergulhou em direção a Lúcifer,
errando-o por uma fração de segundo.
Sons de batalha ecoavam da floresta à nossa direita, onde Michael e nossos
aliados lutavam contra zumbis, Nephilim e demônios. O ar frio lambeu minha pele agora
que estávamos do lado de fora. A neve caía mais leve agora, os flocos flutuando
lentamente em direção ao chão.
— Foco, — eu disse aos meus irmãos depois de abrir um link em suas mentes.
— Juntos podemos fazer isso. Nós podemos ganhar.
— Nossas lâminas não estão fazendo nada com ele. — O sangue escorria do
cabelo de Castor, embora a ferida já tivesse fechado. Kyo correu para o lado dele e
cortou uma sombra que tinha ouvido o barulho do vidro quebrando e atacou. Gritos
encheram a noite enquanto mais demônios de baixo nível mudavam de curso para nos
perseguir.
— Temos que acionar a sincronização, — eu disse.
— E como você acha que faremos isso, Sherlock? — Castor golpeou com sua
adaga dourada, fazendo com que a sombra à sua frente explodisse.
— Agora não é hora de ser um espertinho.
— Vamos, Alastair — disse Lúcifer enquanto o cercávamos. — Isso não é nada
interessante. Você deseja que eu tema o poder dos oito Nephilim amaldiçoados, mas
estou prestes a adormecer.
Seu olhar seguiu Galen, ou melhor, Fúria, enquanto o circulávamos. Meu irmão
ainda estava lá dentro, em algum lugar, mas seu pecado havia assumido. Ao contrário
do passado, quando o próprio pensamento de Fúria o consumindo nos assustava, Fúria,
embora enlouquecido por sangue, era manso o suficiente para não machucar sua família.
Daman investiu contra Lúcifer e foi derrubado pela borda da Portadora da Luz.
Meu coração disparou quando ele caiu com força no chão frio.
— Kotya! — Warrin saltou pela janela quebrada e pegou Daman em seus
braços. Em sua forma híbrida, chifres azul-claros curvavam-se de seu cabelo prateado.
Rugindo, ele enviou uma rajada de gelo em direção a Lúcifer enquanto embalava meu
irmão.
— Estou bem, — disse Daman, a voz se desviando em um suspiro. — Só... me
tirou o fôlego.
O gelo havia atordoado Lúcifer, mesmo que por apenas um momento. Ele
congelou as pontas de seu longo cabelo preto e criou um desenho fosco em sua carne
pálida antes de derreter. — Um dragão de gelo — disse ele, boca engatando para cima.
— O solstício de inverno aumenta seu poder.
Era verdade. Warrin era um guerreiro forte para começar, mas esta época do
ano fortaleceu a mana que corria em suas veias, amplificando seus poderes de gelo.
— Bata nele de novo, Warrin! — Gray avançou e cortou o abdômen de Lúcifer
antes de rolar para fora do caminho. Portadora da Luz atingiu a neve onde Gray estava
parado, lançando uma nuvem de pólvora no ar.
Quando o gelo voou das pontas dos dedos de Warrin, atingindo Lúcifer, Daman
forçou-se a ficar de pé. Ele segurou seu lado antes de preparar sua espada e ficar ao
lado de seu companheiro.
Alívio escorria através de mim. Não havia sangue em sua mão quando ele a
puxou de seu lado. O golpe teria sido muito pior se não fosse pelo casaco que ele usava.
A esposa do rei Nikolai, a rainha Kira, tinha talento para a moda e desenhou para Daman
um casaco com fio mágico que lhe permitia abrir as asas enquanto o vestia, para voar
sem rasgar a camisa. Aparentemente, também agia como armadura. Onde Daman havia
sido cortado, os fios estavam um pouco desgastados, mas a lâmina não havia realmente
perfurado sua pele.
Agradeça aos deuses por isso.
Sombras rosnaram enquanto corriam em nossa direção de quatro, espalhando
a camada superior de neve. Mason disparou sua arma, causando explosões laranja ao
acertar cada um deles bem no peito. Titã cortou uma de suas cabeças com um único
golpe de seu braço de metal.
Phoenix se teletransportou pelo campo nevado e cortou gargantas com a adaga
de joias azuis que Bellamy lhe dera. As pedras no punho combinavam com as do
colarinho.
— Você está bem? — Perguntei a Lazarus. A comoção veio da sala de estar,
os estrondos e as espadas se chocando, escorrendo pela janela quebrada e noite
adentro.
— O que eu disse a você? — veio sua resposta. — Concentre-se em Lúcifer.
— Só para ter certeza de que você ainda está vivo.
— Você não pode se livrar de mim tão facilmente, Orgulho
Ouvir sua voz acendeu um fogo dentro de mim. Deu-me força. Eu me lancei
contra Lúcifer, cortei seu bíceps e pulei fora de seu alcance antes que Gray o atacasse,
depois Raiden.
Uma vida simples com Lazarus.
Durante uma época em que tanto era desconhecido, quando o mundo estava em
caos absoluto, isso era algo que eu sabia sem dúvida em minha mente. Não precisei de
mais tempo para descobrir. Eu queria Lazarus. Eu queria ver quão profundo nosso
vínculo poderia ir. Queria entrar em sua própria alma e ver todas as coisas que ele nunca
havia mostrado a ninguém.
Eu queria amá-lo... e ser amado em troca.
Esse desejo me impulsionou para frente. Kallias atacou atrás de mim, depois
Castor. Galen e Raiden colidiram com Lúcifer, um de cada lado, antes de Daman pular
no ar, seus movimentos em partes iguais graciosas e letais quando ele baixou sua lâmina
no pescoço de Lúcifer.
Demônios se materializaram ao nosso redor, uma mistura de sombras e de nível
superior que vieram em auxílio de seu rei. Kyo, Mason, Titan e Phoenix os derrubaram
enquanto Warrin os explodiu com paredes de gelo, congelando-os onde estavam.
— Limpem sua mente, — Orgulho sussurrou. — E permitam que o puro instinto,
os guiem. Confiem em mim.
Uma leveza então tomou conta do meu corpo, espalhando-se das pontas dos
meus dedos para dentro, viajando pela minha corrente sanguínea. Eu estava ciente de
minhas ações, ciente de cada estocada para frente, golpe de minha espada e pivô. Mas
era como se outra pessoa tivesse controle sobre meu corpo, como se eu estivesse do
lado de fora olhando para dentro. No piloto automático.
Cada um dos meus irmãos seguiu o exemplo. Um olhar atordoado apareceu em
seus olhos. Seus movimentos eram nítidos. Harmonioso. Um de nós atacou antes que o
outro mergulhasse. Por causa de nosso laço de sangue, eu sempre fui capaz de senti-
los, mas isso foi além disso. Eu estava sintonizado com cada respiração, cada contração
de seus músculos. Eles se mudaram e eu me mudei. Repetidamente. Nós não nos
falamos, telepaticamente ou de outra forma.
Não precisávamos. Tínhamos aproveitado essa sincronização antes, só que
agora tínhamos Kallias conosco para completar a cadeia.
O mundo ao meu redor desapareceu. Eu tinha visão de túnel, vendo apenas meu
alvo.
— Basta disso! — Asas negras tingidas de vermelho surgiram das costas de
Lúcifer. Quando ele se levantou do chão, Galen agarrou sua asa esquerda e o jogou de
volta na neve.
Não parei para pensar por que Lúcifer não conseguiu se teletransportar. Movi-
me por reflexo, assim como meus irmãos, enquanto continuávamos o ataque
sincronizado.
Anjos caídos caíram do céu. Os companheiros cuidaram deles, causando estalos
de trovão quando cada um morreu. Mason usou suas balas celestiais, acertando-as no
coração. Como um atirador certeiro, ele raramente errava.
E então, aconteceu.
A lâmina de Daman roçou o peito de Lúcifer e uma fina linha vermelha apareceu
ao longo de sua clavícula. Kallias enfiou sua espada no lado de Lúcifer... e ela o perfurou.
Lúcifer engasgou, dor e choque transformando sua expressão. Gray saltou e lançou sua
espada para baixo, a ponta afiada cortando o tecido carnudo do ombro de Lúcifer.
Enquanto nossas armas antes não surtiam efeito, agora elas o cortam como
manteiga.
— Não percam o foco! — uma voz familiar gritou de perto. Uma voz profunda e
agradável que substituiu meu sangue por mel rico. Meu companheiro.
Kallias perfurou o lado de Lúcifer ao mesmo tempo em que Castor o atingiu no
estômago. Gray enfiou sua espada curta em sua espinha. A lâmina de Raiden cravou na
caixa torácica de Lúcifer. Daman e Bellamy o esfaquearam na parte inferior do abdômen.
Galen girou sua espada e a alojou na parte superior das costas de Lúcifer.
— Você se arrepende agora? — Eu perguntei, parando na frente dele. Minha
voz estava mais profunda do que o normal, como se tivesse vindo de outra pessoa.
O sangue escorria do canto dos lábios de Lúcifer enquanto ele olhava para mim.
Surpreso. Talvez até um pouco assustado.
Eu então enfiei minha espada na base de sua garganta, o aço indo até o outro
lado. A lâmina brilhou em vermelho quando a retraí.
Lúcifer gorgolejou, engasgando com sangue e saliva. Ele ergueu uma mão
trêmula para o buraco em seu pescoço, uma poça vermelha entre seus dedos.
O controle sobre mim se dissipou e tudo voltou ao foco. Pisquei, processando o
que estava vendo através dos meus olhos em vez dos olhos de Orgulho.
Sete lâminas se projetavam do corpo de Lúcifer, a minha descansava em minha
mão. Nós o prendemos no lugar por todos os lados. Nossos poderes combinados
conseguiram enfraquecer sua pele, permitindo que nossas armas penetrassem. Algo
dentro do nosso sangue amaldiçoado compensava a magia dele que o tornava
invencível. Nós tínhamos feito isso!
— Ganhamos — disse Orgulho.
— Não! — Belphegor rugiu, derrubando Galen com suas asas antes de agarrar
Lúcifer.
O resto de nós recuou, todos em vários estágios de descrença. Gray caiu no
chão quando um feitiço sonolento o atingiu. Mason ajoelhou-se ao lado dele, mantendo
os olhos em Lúcifer. Todos nós fizemos.
O homem que uma vez admirei, um que amei, parecia muito menor agora do que
antes, não mais um ser divino inalcançável de poder cósmico. Ele poderia sangrar como
qualquer outro. Sangue escorria por seu corpo, tornando a neve sob seus pés carmesim.
Seus olhos azuis se fecharam antes de abrir novamente.
Ele era tão fraco. Cada respiração o aproximava do abraço da morte.
Uma mão pousou na parte inferior das minhas costas, o toque quente. O cheiro
de maçãs crocantes se misturava com o ar do inverno, me acalmando. Por que eu
precisava ser acalmado? A umidade escorria pelo meu rosto, tornando-se fria no ar
gelado.
— Acabou agora, — Lazarus murmurou em meu ouvido. Ele passou o polegar
pela minha bochecha, enxugando uma lágrima, substituindo o frio pelo calor de seu
toque. — Você fez tão bem.
Eu choraminguei e virei meu rosto em seu pescoço. O plano tinha funcionado.
Com a derrota de Lúcifer, suas forças se retirariam. Assim que o líder caísse, a maioria
dos soldados deporia as espadas em rendição.
A guerra acabou.
Só... não acabou.
Uma risada rouca chegou aos meus ouvidos. — Isso doeu mais do que eu
esperava.
Arrepios percorreram minha espinha e me afastei de Lazarus. Ele ficou imóvel
contra mim. Sua respiração quase parou. Muito parecido com o meu quando olhei para
Lúcifer.
— Há uma primeira vez para tudo, — Lúcifer murmurou, caído contra Belphegor.
Uma a uma, as espadas dispararam de seu corpo, caindo na neve ao seu redor. Mais
sangue jorrou das feridas abertas. — Nunca senti a picada fria de uma lâmina até esta
noite. A experiência é muito esclarecedora.
Michael pousou ao meu lado, visivelmente abalado enquanto olhava para
Lúcifer. Cortes e facadas rasas cobriam seu torso, mas desapareceram quando ele se
curou. — Você deveria estar morto.
— Ah, Michael. — Lúcifer exalou lentamente e, ao fazê-lo, as oito perfurações
pararam de sangrar. Embora lentamente, ele estava se curando. — Você vai ferir meus
sentimentos.
Meus joelhos quase cederam. — Mas nós enfraquecemos você! Nós rompemos
sua pele e apunhalamos você com aço celestial. Você não deveria ser capaz de
sobreviver a isso.
— Vai ser preciso mais do que aço celestial e vocês oito pulando ao meu redor
como pragas para me matar, Alastair. Talvez agora você repense de que lado deseja
lutar. Algo para você refletir até nos encontrarmos novamente. Lúcifer endireitou-se em
toda a sua altura e abriu as asas, a visão notável e aterrorizante ao mesmo tempo. —
Vamos considerar um empate esta noite. Estou cansado demais para continuar.
Ele então envolveu suas asas em torno de Belphegor e se teletransportou do
campo nevado.
A princípio, havia apenas silêncio, exceto pela luta que ainda ecoava na floresta.
Mas logo isso também parou, pois os cadáveres voltaram para seus túmulos e os
Nephilim inimigos se retiraram. Eu tinha certeza de que Purah e Vepar partiram, se ainda
estivessem vivos.
— O que diabos aconteceu? — Castor se agachou e cruzou os dedos atrás do
pescoço, o queixo caído no peito. Ele respirou fundo, mas ainda não conseguia encher
os pulmões com ar suficiente. Senti seu pânico crescente.
Senti o mesmo pânico crescendo dentro de mim também.
— Falhamos. — Galen cerrou o punho. — Foi o que aconteceu.
— Não entendo — disse Bellamy, olhando para a neve manchada de sangue.
— A sincronização funcionou. Quebramos o escudo que o tornava impenetrável e o
esfaqueamos como uma maldita almofada de alfinetes. Como diabos ele sobreviveu a
isso?
Ninguém tinha uma resposta.
Nós oito nos juntamos. Tínhamos tido sucesso. Um breve gostinho da vitória
antes que o tapete fosse puxado debaixo de nós. De baixo de mim. Eu estava tão
confiante de que funcionaria. Agora? Eu me senti perdido. Devastado.
Como venceríamos a guerra? Como poderíamos parar Lúcifer?
Como eu o impediria de matar todos que eu amava?
O mundo se inclinou. Lazarus me pegou contra seu peito quando um barulho
horrível e estrangulado subiu pela minha garganta. Meus irmãos confiaram em mim e eu
falhei com eles. Eu falhei com todos. O peso daquele fracasso desabou sobre mim, me
sufocando. Mais sons ásperos deixaram minha garganta. Era demais. Muito esmagador.
— Shh. — Lazarus deu um beijo na minha têmpora e segurou minha nuca,
segurando-me perto. — Nós encontraremos outra maneira. Este não é o fim.
Então, por que parecia que era?
***
***
— Esta é a pior véspera de Natal de todos os tempos — disse Gray, chutando
a grama. — Devíamos estar assistindo filmes e assando biscoitos. Sentado em frente à
árvore de Natal e olhando para as lindas luzes. Desfrutando de um fogo chiando e
bebendo chocolate quente. Mas não. Estamos a caminho de um lugar assustador com
poços de desgraça sem fim e pântanos de água fedorenta e desagradável.
— Vamos comemorar quando você voltar, anjo. — Mason envolveu seus braços
musculosos ao redor dele. — Podemos comer doces e assistir Krampus com Dino-Steve.
Gray sorriu com isso. — Ok. Mas Simon tem que assistir conosco. Eu quero
assustá-lo. Tem sido muito tempo.
Simon revirou os olhos antes de agarrar a cintura de Galen. — Cuidado com
esses poços de destruição, garotão. Não gostaria que você fosse engolido.
— Eu tenho asas. Eu posso simplesmente voar de volta. — Galen segurou
carinhosamente o rosto de Simon e se inclinou para beijá-lo. — Comporte-se enquanto
eu estiver fora.
— Pfft. — Simon endireitou os óculos que ficaram tortos com o beijo. — Eu
sempre me comporto.
Os humanos não eram permitidos no reino dos perdidos. Suas almas eram muito
suscetíveis ao vazio do nada. Se eles entrassem no purgatório, eles não voltariam. Então
Mason e Simon não estavam nos acompanhando. Os outros companheiros se
recusaram a ficar para trás. Não vi razão para lutar contra a decisão. Eu não iria ganhar
esse argumento de qualquer maneira.
— Desculpe estou atrasado! — Raiden pousou na grama em frente à casa de
Baxter, dez minutos depois do nosso horário de encontro. Ele segurava um recipiente de
plástico vermelho com uma fita xadrez verde no topo. — Tive que deixar esfriar antes de
congelá-los.
— O que é isso? — Eu perguntei.
— Biscoitos macios de gengibre — ele respondeu. — Mefistófeles adorou os
que eu trouxe para ele no Halloween. Estes são iguais, mas em vez de em forma de
abóbora, são bonecos de gengibre.
Titã pousou ao lado dele, segurando um prato de vidro com um bolo de chocolate
coberto com filme plástico e um laço vermelho no topo. — E este é um registro de Yule.
— É fodidamente delicioso também — disse Raiden. — Bolo de ló com cobertura
de manteiga de amendoim entre as camadas enroladas e coberto com ganache de
chocolate. Ele colocou framboesas por cima.
Michael olhou para o bolo, sua curiosidade e amor por doces aparecendo
brevemente. Ele então balançou a cabeça. — Agora que todos estão aqui, devemos ir.
Embora... quase acho que devo ficar para trás.
— Por que? — Perguntou Alastair.
— Fui eu quem tirou suas asas. — Michael tinha feito o que achava certo na
época. Traidores tinham que ser punidos. No entanto, ele carregava culpa por isso
também. Ele nunca se divertiu em ferir os outros, mesmo quando sua posição exigia isso.
— Ele pode não estar disposto a conversar comigo por aí.
— Você precisa estar conosco, — eu disse a ele. — Como membro do conselho,
você tem autoridade para concordar com quaisquer termos que ele possa ter em troca
das informações. — Porque era razoável que Mefistófeles desejasse algo em troca.
Tudo tinha um preço, especialmente durante a guerra.
— Muito bem. — Michael tirou um anel de prata do bolso e o colocou no dedo
médio da mão direita. A pedra no centro do anel transitava suavemente entre o azul e o
roxo enquanto a magia dentro dela pulsava. — Todos, reúnam-se.
Lúcifer era o único anjo que podia se teletransportar. Mas o anel de Michael deu
a ele essa habilidade de teletransporte. E, ao contrário das pedras que usei, que só
serviam para um único uso de ida e volta, a magia do anel era infinita. Ele poderia usá-
lo quantas vezes quisesse. Ele o emprestou a Selaphiel e recentemente o recuperou.
Alastair agarrou meu bíceps. Minha pele formigou. Ele me ofereceu um pequeno
sorriso, e eu o trouxe para mais perto para acariciar seu cabelo macio. Seria sempre
assim entre nós? Eu respondendo a sua proximidade dessa forma?
Eu esperava que sim.
Assim que todos formaram um link, Michael ativou o anel e nos teletransportou
da ilha. O silêncio nos cumprimentou um segundo depois. Assim como as sombras da
noite.
O reino dos perdidos era um deserto de escuridão eterna. O sol nunca nasceu.
Não havia vento, como se o próprio ar pairasse entre o equilíbrio da vida e da morte. À
distância, o véu que separava o terreno baldio externo daquele das almas perdidas dos
mortos brilhava fracamente, a barreira translúcida do tom mais pálido de azul com pulsos
brancos.
— Merda, Michael — disse Castor. — Você poderia ter nos teletransportado
para mais perto de sua cabana.
Meu amigo estava de volta ao seu eu de boa índole e sorriu com o choramingo
de Castor. — Caminhar vai te fazer bem.
A verdade era que era impossível se teletransportar para mais perto de sua casa.
Foi por isso que eu nos teletransportei para tão longe quando viemos meses atrás.
Mefistófeles, embora despojado de suas asas e exilado lá, ainda tinha seus poderes. Ele
colocou guarda em torno de sua propriedade para impedir que alguém aparecesse. Ele
sabia tudo o que acontecia no reino também. No momento em que chegamos, ele nos
sentiu.
— Me dá um biscoito, Ray. — Gray pegou o recipiente.
— Não. — Raiden o ergueu fora de seu alcance. — Estes não são seus.
— Mas é véspera de Natal. Dar é a razão para a temporada. Como queiras. —
Gray saltou para pegar o recipiente, então fez beicinho quando voltou de mãos vazias.
— Preciso de açúcar, ou vou me enrolar e tirar uma soneca.
— Ah, Pequeno. — Raiden agarrou a tampa.
— Não ceda a ele — disse Alastair. — Ele é muito mimado.
Gray mostrou a língua para o irmão mais velho.
— Você está bem, Kal? — Bellamy colocou a mão em seu ombro.
— Sim, estou bem, — Kallias respondeu em um tom trêmulo. Seus olhos
escuros focados no véu à nossa frente. — Voltar a este lugar é simplesmente...
assustador.
— Não se preocupe, irmão. — A mão de Castor pousou em seu outro ombro e
apertou. — Você nunca vai voltar para o vazio. Não vamos deixar isso acontecer.
A terra árida mudou ligeiramente quando chegamos a uma pequena colina e
descemos do outro lado. Árvores se projetavam do chão, seus galhos finos e nus, e
poças escuras de água borbulhavam, cheirando a terra podre e mofo.
— Bruto. — Gray estremeceu. — Cheira a bunda mofada.
Uma cabana de toras estava à frente. Fumaça subia da chaminé e uma luz
quente saía das janelas e penetrava na noite escura e sem estrelas. Pequenos trechos
de grama morta a cercavam, como se ela tivesse tentado crescer, mas foi rejeitada pelo
solo. Uma poça maior de água espessa ficava de um lado.
— Que pitoresco — disse Michael.
— Pitoresco? Parece mais um lugar onde um serial killer viveria para mim, —
Castor murmurou.
A porta da frente se abriu e Mefistófeles saiu, cruzando os braços enquanto se
encostava no batente da porta. O fogo de dentro da cabana destacava as mechas
externas de seus longos cabelos ruivos, e seus olhos amarelo-alaranjados brilhavam
levemente, como uma criatura noturna.
— Você tem bolas mostrando seu rosto aqui, arcanjo — disse Mefistófeles. —
Ou você veio para terminar o trabalho?
— Eu sei que sou o último rosto que você deseja ver — respondeu Michael. —
Mas viemos pedir sua ajuda. Não tenho nenhuma intenção de prejudicá-lo.
— Me prejudicar de novo, você quer dizer. Você pegou minhas asas.
— E você nos traiu. Um crime no qual você foi punido de acordo.
Mefistófeles olhou para ele com uma expressão indiferente, então empurrou a
porta mais aberta com o salto de sua bota. — É melhor entrar. Vou preparar um bule de
chá. Ele voltou para a cabana, deixando a porta aberta para nós.
Gray inclinou-se para Bellamy. — Você não acha que o chá vem da água de cu,
acha?
Alastair fechou brevemente os olhos. — Gray, pelo amor dos deuses, comporte-
se da melhor maneira possível. — Ele olhou para Castor. — Você também.
— Ei, o que diabos eu fiz?
— Você abriu a boca.
Kyo engasgou com uma risada. Castor ficou boquiaberto antes de jogar os
braços em volta dele e fazer cócegas em seus lados, fazendo seu companheiro rir ainda
mais.
Raiden deu um passo à frente primeiro, seguido por Titã. Warrin colocou a mão
na parte inferior das costas de Daman e o guiou pelos três degraus até a cabana. O resto
deles entrou, deixando apenas eu, Alastair e Michael.
— Deuses nos ajudem, — eu disse baixinho.
Alastair sorriu suavemente. — Talvez Mefistófeles fique, encantado com a
idiotice deles.
— O bolo vai ajudar. — Michael deu um passo à frente. — Mas se ele não quiser,
ficarei feliz em tirá-lo de suas mãos.
O interior da cabine era aconchegante. Um fogo ardia na lareira, e uma coleção
de livros e jornais encadernados em couro enfileirava-se nas prateleiras embutidas em
ambos os lados. A poltrona em frente ao fogo estava gasta por anos de uso, e uma manta
de tricô estava dobrada e pendurada nas costas. Uma pequena cozinha ficava à
esquerda, consistindo em um forno antiquado, uma bancada de madeira com uma tigela
de laranjas e um pedaço de pão recém-assado pela metade em cima, e uma torneira
antiga de latão com uma única bacia.
— Faça você mesmo em casa. — Mefistófeles pegou uma panela e a encheu
de água.
Castor o observou. — Sem querer ser rude nem nada, mas como você conseguiu
tudo isso? E mais importante... de onde vem essa água?
Alastair esfregou a mão no rosto. Sem dúvida ele estava amaldiçoando seu
irmão através de sua ligação mental.
— A cabana estava aqui quando cheguei — respondeu Mefistófeles. — Uma
das poucas amenidades que me foram dadas com meu banimento. A minha água potável
vem de um poço infinito lá atrás, sempre fresquinho, outra gentileza do conselho.
Uma gentileza de Raphael, para ser mais exato. Como arcanjo da saúde e da
felicidade, ele não suportava pensar que Mefistófeles não tinha uma fonte de água
potável. Ele não poderia morrer vivendo da água rançosa do reino, mas forçá-lo a isso
teria sido cruel. E ele foi punido o suficiente.
— Também tenho um pequeno lago com um suprimento infinito de peixes —
continuou Mefistófeles. Outro dos presentes de Raphael. — Apesar de não ser grande,
tenho uma área com solo fértil onde posso cultivar hortaliças e plantar árvores frutíferas.
Não há sol neste reino, então infuso o solo com magia para ajudar as plantações a
crescer. Convoco quaisquer outros itens pequenos de que preciso, como fios e livros. Eu
me dou bastante bem.
Ele foi impedido de usar magia mais forte do que a proteção que ele colocou e
os feitiços de convocação menores.
Raiden colocou o recipiente vermelho no balcão da cozinha. — Trouxemos
algumas guloseimas. Mais daqueles biscoitos macios de gengibre e Titã fez um bolo de
Natal para você.
— Como eu disse antes, seu coração gentil é uma verdadeira raridade, —
Mefistófeles disse a ele, então olhou para Titã. — Obrigado a vocês dois. — Ele pegou
um biscoito, sorriu levemente para o boneco de gengibre decorado e deu uma mordida,
gemendo baixinho. — Ainda melhor do que da última vez.
— Que bom que você gostou — disse Raiden.
Gray se esparramou na frente do fogo e fechou os olhos. A preguiça estava
tomando conta dele. Os outros permaneceram de pé.
Minha impaciência aumentou com o passar dos minutos e mudei meu peso para
a outra perna. Assim que o chá terminou, Mefistófeles serviu uma xícara para Alastair,
que agradeceu e ofereceu uma para mim, que recusei. Como ele perguntou a todos os
outros, eu respirei profundamente e mudei meu peso novamente.
— Devo dizer-lhe para se comportar também? — Alastair me perguntou
telepaticamente.
— Eu não recebo ordens de você, Orgulho.
Um sorriso iluminou seus olhos enquanto ele tomava um gole. Eu lutei contra um
sorriso meu. Ele tinha me enrolado em seu dedo, e ele sabia disso.
Mefistófeles cortou uma fatia do bolo de Natal e levou o prato e seu chá para a
poltrona. Uma vez sentado, ele deu uma mordida e olhou para o fogo enquanto
mastigava. — Diga-me por que vocês vieram.
— Você ainda não sabe? — Perguntou Daman. Ele se enraizou contra a parede
para poder ver todos na sala. Warrin estava ao lado dele. — Quando viemos atrás de
Kallias, você já estava nos esperando.
— Vejo muitas coisas aqui, sim — respondeu Mefistófeles. — No entanto, muito
está escondido também. Às vezes, a névoa é muito espessa para ver as coisas com
clareza. É bastante frustrante. A minha visão permite-me sentir que ainda faço parte do
mundo, ainda que pequeno, e quando a minha visão está encoberta, é quando a solidão
se infiltra nos meus ossos. — Ele levou o garfo aos lábios, mas sua mão parou. — Mas
isso não vem ao caso. Considerando a razão pela qual você resgatou Kallias do véu,
imagino que você esteja aqui por causa da guerra.
— Nós estamos. — Alastair colocou sua xícara sobre a lareira. — Meus irmãos
e eu ferimos Lúcifer.
O choque tocou os olhos do anjo caído. — Você perfurou a pele dele?
— Sim. Nós o enfraquecemos e o apunhalamos com nossas espadas celestiais.
— Como uma almofada de alfinetes — acrescentou Bellamy. — Prendemos o
filho da puta por todos os lados, e ele estava engasgando com o próprio sangue.
Pensávamos que tínhamos vencido.
— Mas então ele se curou — afirmou Mefistófeles quando um olhar distante
apareceu em seus olhos. — Então é verdade.
— O que é verdade? — Michael perguntou.
— Como matar Lúcifer. Os oito filhos amaldiçoados são os únicos capazes de
enfraquecer suas defesas, mas algo mais é necessário para desferir o golpe final.
A respiração parou em meus pulmões e meu sangue correu quente em minhas
veias. — Você estava certo, — eu disse a Alastair. — Ele sabe como matá-lo.
— Claro que eu estava certo.
Eu cortei meus olhos para ele. — Agora não é hora para arrogância.
— Você ama minha arrogância.
— Isso é discutível.
— Por que você escondeu isso do conselho? — Michael perguntou em um tom
duro. Demorou muito para irritá-lo. — Teria nos ajudado durante a primeira guerra.
Poderia ter evitado tudo isso!
— Por que? — Mefistófeles colocou seu prato na mesinha ao lado de sua
cadeira e se levantou, encarando Michael. — Eu vim perante você e o conselho, caí de
mãos e joelhos e implorei por seu perdão. Uriel disse que se eu desse informações
valiosas, meu pedido de misericórdia seria considerado. Então contei a você sobre o
plano de Lúcifer para os filhos amaldiçoados. Eu lhe disse as localizações de seus
generais. E que misericórdia me foi dada em troca? Você queria arrancar minha cabeça
dos meus ombros, mas preferiu minhas asas. Então, fui banido aqui por toda a
eternidade.
— Uma sentença justa considerando seus crimes, — Michael retorquiu com um
leve rosnado. — Foi misericordioso.
— Estou aqui há milhares de anos, Michael! Neste ponto, eu quase teria
preferido que você removesse minha cabeça. Pelo menos eu não teria que suportar essa
solidão esmagadora em um lugar tão desolado e sem vida. — Seu corpo tremeu de raiva
antes de ele soltar um suspiro e se forçar a se acalmar. — É por isso que não vou ajudá-
lo. Prefiro que você se curve ao governo de Lúcifer ou queime. Ambos seriam uma
sentença justa para você.
— Mephis, — eu comecei. — Ele...
— Não me chame assim. — Mefistófeles virou a cabeça em minha direção, os
olhos brilhando. — Você e todos os anjos nos céus podem lutar e lutar, mas nunca
vencerão Lúcifer.
— Mas não é isso que você quer? — Perguntou Alastair. — A derrota de Lúcifer?
Ele o convenceu a desertar do reino celestial e depois o traiu. Ele te fez promessas e as
quebrou antes de te deixar de lado como se você não fosse nada. Então pergunte a si
mesmo o que é maior: sua raiva contra o conselho... ou seu ódio por ele?
— Deuses, você é igual ao seu pai, — ele disse com um bufo frustrado. — Você
sabe exatamente o que dizer para persuadir os outros a fazerem o que você quer. Mas
não vai funcionar comigo, filho de Azazel. — Seus olhos âmbar se voltaram para mim.
— Os encantos dele funcionaram em você. O cheiro dele está em você. Oh, como os
poderosos caíram.
— Lazarus não será expulso por se apaixonar — disse Michael. — Eu não vou
permitir isso.
— No entanto, você travou guerra contra aqueles de nós que apenas desejavam
a liberdade de fazer o mesmo.
— Desejar o amor não foi a razão pela qual você desertou. Você ansiava por
poder, assim como Lúcifer. Vocês dois planejaram conquistar o reino humano e o
submundo. E quando ele decidiu governar ambos sozinho, você voltou rastejando para
nós.
Mefistófeles fez uma careta. — Se esta é sua tentativa de me convencer a ajudá-
lo, você está fazendo um péssimo trabalho.
— Então deixe-me tentar. — Kallias deu um passo à frente. Para não parecer
uma ameaça, ele havia deixado sua xiphos para trás, mas mesmo assim, cada
centímetro dele gritava guerreiro, de seu cabelo preto curto a seus penetrantes olhos
escuros e constituição forte.
— Prossiga.
— Eu nasci um espartano. Somos ensinados a nunca nos render. Nunca
implorar. No entanto… — Kallias caiu de joelhos e baixou a cabeça, baixando o olhar. —
Aqui estou, ajoelhado diante de você e implorando. Por favor nos ajude. — Seu tom
melancólico encheu o ar, um eco de sua própria dor. — Meu companheiro espera por
mim nos Campos Elísios. Minha única esperança de vê-lo novamente depende de
derrotarmos Lúcifer nesta guerra. Uriel não permitirá que nossas almas entrem no reino
celestial de outra forma.
— Suas palavras me comovem — disse Mefistófeles, perdendo a mordida de
antes. — O rancor de Uriel contra seus pais foi passado injustamente para todos vocês.
Fiquei triste na noite em que Lazarus trouxe sua alma aqui após sua morte, em vez da
vida após a morte que você merecia.
A memória estava fresca em minha mente.
Quando Kallias morreu, sua alma deveria ter ido para a vida após a morte com
a de seu companheiro. Mas Uriel não permitiria que ele passasse pelos portões do reino
celestial.
— Jogue sua alma miserável no poço de fogo, — Uriel me disse. Sem emoção,
como se ele estivesse apenas me dizendo para levar o lixo para fora. — Isso é uma
ordem.
Em vez disso, viajei para este reino, desesperado. — Por favor — implorei a
Mefistófeles. — Permita que sua alma atravesse o véu.
— Por que eu deveria?
— Porque ele não merece queimar pelos pecados de seu pai.
A mão de Alastair roçou na minha, trazendo-me de volta daquele lugar escuro
em minha mente. Nossos olhos se encontraram e o gelo em meu peito derreteu um
pouco.
— Você vai nos ajudar? — Kallias perguntou, ainda ajoelhado.
— Você exige muito de mim, Nephilim — disse Mefistófeles. — Ajudar você seria
ajudar o conselho. E sou mesquinho o suficiente para permitir que o mundo caia na
escuridão antes de levantar um dedo para ajudá-los.
Raiden então se ajoelhou ao lado de Kallias. — Eu estou te implorando também.
Você tem todo o direito de estar chateado com o que foi feito com você. Portanto, não
estou pedindo que ajude os arcanjos que o baniram aqui. Estou te implorando para nos
ajudar. Eu e meus irmãos. Não podemos fazer isso sem você. — Sua voz tremeu. — Se
não o fizer, não sei se sobreviveremos a esta guerra. E não posso perdê-los. Qualquer
um deles, seus companheiros também. Eles são minha família.
— Ray... — Castor se aproximou e colocou a mão no topo da cabeça de Raiden.
A conexão que os oito compartilhavam permitia que eles sentissem as fortes
emoções um do outro. Embora, naquele momento, eu tivesse certeza de que todas as
pessoas naquela sala sentiram o peso do desespero e do medo agarrados ao avatar da
Gula.
Mefistófeles voltou a se sentar e passou os dedos pelos longos cabelos. Seu
olhar caiu sobre o bolo meio comido. — Você tem sido gentil comigo sem esperar nada
em troca. Muito bem. Eu vou te dizer.
Alastair agarrou meu bíceps, seus olhos claros grudados no anjo caído. Estar
tão perto da resposta para vencer a guerra o deixou sem fôlego.
— No entanto — Mefistófeles levantou um dedo. — Minha ajuda tem um preço.
— Diga — disse Michael.
— Minha liberdade.
— Isso, eu não posso te dar. — Michael balançou a cabeça.
— Certamente, seu exílio pode ser reavaliado depois de tantos anos, — eu
disse. A decisão de eu selar o vínculo predestinado ainda não havia sido anulada, mas
o assunto seria levado ao conselho para reconsideração. A mesma regra deve se aplicar
a ele.
— Sim. — Gray sentou-se, piscando lentamente. — Pen se rebelou com Lúcifer
e fez algumas coisas não tão legais, e ele não foi morto ou trancado em um lugar
assustador.
— Penemuel ajudou Lúcifer, sim, mas seus crimes são menores em
comparação — disse Michael. — Ele também nos ajudou desde então. No entanto, como
diz o ditado, tempos drásticos exigem medidas drásticas. Derrotar Lúcifer é tudo o que
importa agora. Vou levar seu pedido ao conselho e votar a seu favor. Você tem minha
palavra.
— Sua palavra significa pouco para mim. — Mefistófeles bateu com o dedo no
braço da cadeira.
— Minha palavra é tudo. Se eu disser que vou fazer alguma coisa, eu farei. —
Michael levou o punho fechado ao peito. — Só eu não posso conceder sua liberdade,
mas farei tudo ao meu alcance para libertá-lo deste lugar, caso suas informações nos
ajudem a vencer esta guerra. Eu juro isso para você.
— Eu suponho que isso terá que servir. Por agora. Mas se você voltar atrás em
sua palavra, deixe-me jurar algo para você, arcanjo. Vou usar todos os recursos que
tenho para destruí-lo.
Michael sorriu. — Eu não esperaria nada menos.
— Bem, contanto que tenhamos resolvido... — Mefistófeles pegou o bolo da
mesa lateral e deu outra mordida. — Mm. Este recheio de manteiga de amendoim é
orgástico. A comida dos deuses.
Titã ajudou Raiden a se levantar e o segurou perto, mandíbula apertada
enquanto olhava para o anjo caído. — Para mostrar melhor sua gratidão, você pode parar
de chatear meu marido e nos contar o que precisamos saber.
— É claro. — Um lampejo de culpa brilhou nos olhos de Mefistófeles antes de
desaparecer rapidamente. Como muitos que conheceram Raiden, ele parecia ter
desenvolvido um ponto fraco por ele também. — Quando Lúcifer teve a visão de sua
morte, toquei em seu braço e vi também.
— O que você viu? — Michael perguntou.
— Oito Nephilim, cada um com uma cor diferente em suas asas negras,
cercando Lúcifer. Sob um céu escuro no auge do inverno, eles o esfaquearam com
lâminas celestiais. Alguém cantou à distância. E então, uma espada negra foi cravada
em seu coração.
— Uma espada negra? — Bellamy esfregou a mandíbula ligeiramente
barbeada. O avatar de Luxúria normalmente estava barbeado, mas seu companheiro
demônio gostava de um pouco de barba.
— Feito de pura obsidiana e envolto em escuridão — respondeu Mefistófeles.
— Mas não é uma espada comum que pode ser forjada por qualquer um de nós. É uma
arma da alma.
— Quem? — Eu perguntei.
— Paciência, Lazarus. Estou chegando lá.
— Chegue mais rápido.
Alastair gentilmente esbarrou em mim. Eu o empurrei de volta.
— Quando a luz do sol cruzou o cosmos pela primeira vez, Lúcifer respirou pela
primeira vez e a Portador da Luz surgiu junto com ele. — Mefistófeles olhou para Michael.
— Muito parecido com você com sua espada de fogo. As armas da alma só vêm para
aqueles de grande poder. Ou aqueles que foram escolhidos pelo destino, como o dragão
de água. — Ele acenou para Kyo.
Kyo parecia desconfortável com a atenção repentina sobre ele. Sua katana era
uma arma da alma que o escolheu quando ele era um bebê. Um dos fatores que me
mostrou que ele era um companheiro digno para Castor muito antes de eles amarrarem
suas forças vitais.
— Se isso é verdade, por que não nascemos com uma? — perguntou Alastair.
— Nós oito somos mais poderosos do que a maioria dos anjos que possuem armas
espirituais.
— Eu ponderei sobre isso — respondeu Mefistófeles. — E cheguei à conclusão
de que, de certo modo, cada um de vocês nasceu com uma. Seus pecados. Eles
concedem a você habilidades especiais sem o uso de uma arma física. Controle mental.
A força de cem homens. O poder de alimentar e manipular as emoções das pessoas.
Raiva, tristeza, fome, sexo.
A testa de Alastair franziu. — Então é por isso que somos capazes de
enfraquecer Lúcifer quando nossos pecados se juntam. Porque são armas.
— Sim. Pelo menos, essa é a minha teoria. — Mefistófeles engoliu o bolo com
um gole de chá e depois enxugou a boca. — O que me leva à espada. Ouvi rumores
sobre isso durante meu exílio. Sonhos proféticos, se você quiser. Anoitecer.
— Anoitecer? — Perguntou Daman.
Mefistófeles assentiu. — O que pode apagar a luz senão a própria escuridão?
Assim como a Portadora da Luz foi criada com a primeira luz da manhã, Anoitecer
começou a tomar forma no momento em que o coração de Lúcifer escureceu e ele foi
consumido por sua ira.
— Huh? — Gray sentou-se cruzado no tapete, apoiando o queixo na mão. —
Anoitecer não pode ser a arma da alma de Lúcifer. Ele já tem a Portadora da Luz.
— Eu não disse que era dele — respondeu Mefistófeles. — Eu disse que
começou a tomar forma dentro dele. O Anoitecer surgiu quando a escuridão da raiva,
orgulho, inveja e todos os pecados perversos de Lúcifer que levaram à sua rebelião
tomou seu primeiro fôlego.
Meu peito se contraiu quando seu significado foi compreendido.
— De jeito nenhum — Castor disse segundos depois. Embora um grande
espertinho, ele era esperto. Ele descobriu isso também.
Alastair ficou congelado ao meu lado. Ele agarrou meu braço com mais força.
— Você está insinuando o que eu acho que você está? — Galen perguntou.
— Estou perdido. — Raiden olhou entre seus irmãos. — Onde devemos
encontrar esta espada?
— Já foi encontrada — disse Alastair, sua voz pouco mais do que um sussurro.
Ele olhou para Michael. — E seu dono está sentado em sua prisão.
— Notável, não é? — Mefistófeles voltou seu olhar para o fogo, as chamas
dançando em seus olhos. — Anoitecer é a arma da alma de Asa Morningstar.
— Eu não sabia que ele possuía uma arma espiritual, — eu disse, e a admissão
corroeu meu peito. Mas se nossos pecados eram tecnicamente nossas armas, como
Mefistófeles especulou, então era razoável que Asa também tivesse uma, visto que ele
foi o nono Nephilim nascido e guardou um pedaço de todos os nossos pecados.
Estávamos todos conectados neste jogo fodido de poder e traição.
— Eu já vi. — Bellamy olhou para mim. — Quando Asa atacou nossa mansão
para recuperar A Portadora da Luz de seu cofre, eu o vi empunhar uma espada toda
preta.
— Sim. Eu também vi isso quando brigamos. Fumaça envolvia a lâmina.
— Sombras, — corrigiu Mefistófeles. — Ele extrai seu poder da escuridão. Mas,
se estou correto em meu pensamento, o verdadeiro propósito de Anoitecer ainda não foi
cumprido.
— Explique — disse Lazarus. Essa única palavra tinha tanta autoridade que fez
meu interior estremecer um pouco. Deuses o amaldiçoem.
Mefistófeles olhou para Bellamy. — Quando você viu a espada, notou alguma
pedra ao longo do cabo?
— Oh... não... — Ele passou a mão pelos cabelos dourados. — Estávamos meio
que levando uma surra na época. Não parei para admirar sua linda espada da morte.
Phoenix apertou os lábios. — Bem, eu vivi com o bastardo por um ano. Eu vi a
espada. Só não sabia que era uma arma espiritual. Eu nunca o vi convocá-la de seu
corpo como Belphegor faz com a dele. Sempre foi só com ele.
— E as pedras? — Perguntou Mefistófeles.
— Pensei que fossem diamantes — respondeu o demônio. — Ou quartzo
transparente. Apenas uma decoração chique.
— Qual é o significado dessas pedras? — Michael questionou.
— Agora mesmo? Não passam de decoração, assim como presumiu o demônio.
— Mefistófeles desviou seus olhos amarelo-alaranjados para mim. Um segundo se
passou enquanto ele sustentava meu olhar. Então, ele se levantou e foi pegar outro
biscoito. — Seu sangue contém um poder extraordinário, rapazes. Como tenho certeza
que vocês sabem. Vocês não poderiam matar Lúcifer sem Kallias, mas esse poder em
seu sangue foi capaz de selá-lo em sua jaula.
Processei suas palavras. — As pedras são para nós?
— Seu intelecto é impressionante. Você chegou a essa conclusão muito mais
rápido do que eu esperava. Oito pedras. Uma para cada uma de vocês. — Mefistófeles
apoiou o quadril no balcão da cozinha, de frente para nós. Ele mordeu a cabeça do
boneco de gengibre e mastigou lentamente, saboreando a mordida ou testando
intencionalmente minha paciência.
Testando a paciência de Lazarus também. Meu companheiro mudou de lugar e
exalou fortemente.
Daman se afastou da parede. — Então nós devemos... o quê? Encher as pedras
com nosso sangue para fortalecê-las? Em seguida, mergulhe-o no coração de Lúcifer?
— Parece bastante simples — disse Castor.
Mefistófeles olhou para mim novamente. Ele manteve seu silêncio, mas algo em
seus olhos me perturbou.
— Meus batedores acreditam que Belphegor está procurando uma maneira de
entrar na prisão celestial, — Michael disse. — Poderia ser este o motivo? Lúcifer sabe
sobre Anoitecer e quer encontrá-la antes de nós.
— Ele parecia muito interessado em encontrar Asa — disse Lazarus. — O que
parecia deslocado, considerando como ele permitiu que Asa fosse sacrificado para
ganhar sua liberdade.
— Então ele passou por cima do cadáver de Asa sem remorso — acrescentou
Bellamy.
Os olhos de Gray lacrimejaram enquanto ele bocejava tão grande que sua
mandíbula estalou. Ele levantou a mão. — Pergunta. Se Lúcifer sabia que o traseiro de
Asa tinha a chave para sua morte, por que ele deixou seu corpo no campo após a luta
na Escócia?
— Porque ele estava morto — respondi. — Uma arma espiritual não tem mais
poder quando a alma do corpo que ela habita passa. Mas a alma de Asa não morreu.
Nunca deixou seu corpo por causa do feitiço de ressurreição que ele usou. Assim que
Lúcifer soube que Asa estava vivo, Belphegor começou a procurá-lo.
— Correto. — Mefistófeles terminou o biscoito e lambeu a cobertura dos dedos.
— Além disso, Asa Morningstar nunca foi feito para ser seu inimigo. É por isso que vocês
estão unidos pelo destino, seus pecados e a espada dele. Quando unidos, eles se tornam
a única coisa em todos os mundos que pode derrotar Lúcifer.
— Isso explica muita coisa. — Phoenix deitou a cabeça no ombro de Bellamy, e
seu rabo preto fez o que sempre fazia quando se fechava e se curvava ao redor da perna
de Bell. — Belphegor pressionou Asa a incitar a guerra. O que não foi muito difícil. Asa
era impressionável. Bastou um empurrão encorajador e uma carícia em seu ego para
que ele agisse.
— Asa tem um pedaço do Orgulho, — eu apontei. — Belphegor usou isso a seu
favor.
— Por que Belphegor simplesmente não o matou? — Raiden perguntou.
— Ele precisava dele — respondi. — Asa era o único que podia usar a Portadora
da Luz para localizar a jaula de Lúcifer. Então ele o manipulou, garantindo que tudo se
encaixasse de acordo com o plano, depois se desfez dele para garantir a vitória de
Lúcifer. Ou assim ele pensou.
— Cara. — Castor soltou um suspiro. — Asa é um babaca malvado, mas o cara
nunca teve chance. Sua vida, e morte, foi planejada desde o momento em que ele
nasceu.
— As bruxas — disse Phoenix. — Acho que posso saber o que Lúcifer queria
com elas. Como um portador de magia, o nexo em Hoia Baciu está além de qualquer
coisa que eu já senti. A fonte de poder é ilimitada. Quando lutamos contra todos vocês
lá... sim, eu sei, sou um idiota malvado e vilão, como ouso? — Ele inclinou a cabeça e
cutucou Bellamy levemente com seu único chifre intacto, ganhando um sorriso suave de
meu irmão. — Minha magia foi aprimorada. O de Asa também. Isso permitiu que ele
convocasse mais demônios do submundo.
— Então Lúcifer queria invocar alguma coisa? — Bellamy perguntou.
— Não é algo, — eu disse, entendendo. — Alguém. Ele esperava que as bruxas
fossem capazes de invocar Asa do reino celestial, já que ele mesmo não podia pisar lá.
— Isso é muito provável — disse Mefistófeles com um pequeno aceno de
cabeça. — E se você não o tivesse confrontado naquela noite, ele poderia ter
conseguido.
Michael caminhou até a janela, olhando para a noite escura como breu. — Acho
que foi uma sorte não ter executado Asa por seus crimes. Temos utilidade para ele agora.
— Se ele nos ajudar, — Lazarus disse.
— Bem. Estamos ferrados. — Gray caiu de costas no tapete, esticando as
pernas e abrindo os braços. — Ele não vai nos ajudar a menos que consiga algo com
isso.
— A vingança é sempre um bom motivador — disse Daman. — Ao nos ajudar,
ele derrubará seu pai. A inveja ouviu seus pensamentos invejosos. Eu senti sua profunda
insegurança e amargura quando se trata de Lúcifer.
— A oportunidade de provar que é maior do que seu pai deve trabalhar a nosso
favor. — Eu sabia por experiência. Orgulho agarrou a chance de fazer o mesmo, o que
me levou a Echo Bay. Se não fosse por esse erro, Lazarus e eu nunca teríamos abraçado
nosso vínculo. Foi o que finalmente nos uniu.
Eu agarrei a mão dele. Sua atenção se voltou para mim e, embora seus olhos
parecessem um tanto frios, um hábito que ele desenvolveu quando estava perto de nós
eu vi traços de calor dentro das profundezas azuis.
— Vou falar com o conselho sobre isso. — Michael se virou para nós. — Asa é
um prisioneiro em nosso reino e, como tal, eles precisam ser informados de nossas
intenções com ele.
— Não se esqueça de falar com eles sobre meu exílio também — Mefistófeles
disse a ele. — Se minhas informações forem verdadeiras.
Michael acenou para ele antes de abrir a porta e sair. Galen o seguiu, depois
Castor e Kyo. Kallias ajudou Gray a se levantar e sorriu quando nosso irmão preguiçoso
se agarrou às suas costas. Ele o carregou para fora da cabana.
— Vou tentar trazer mais guloseimas para você em breve. — Raiden ajustou
seu chapéu antes de pegar a mão de Titã. — O que você acha do bolo chaminé?
— Acho que qualquer coisa que você fizer será delicioso — respondeu
Mefistófeles.
O resto dos meus irmãos saiu da cabana. Depois de acenar para o anjo caído,
Lazarus então me guiou em direção à porta.
— Alastair.
Olhei de volta para Mefistófeles. — Sim?
— Há algo mais que você deveria saber — disse ele, dando um passo em minha
direção. — Sua vitória depende disso.
Esta deve ter sido a razão por trás dos olhares prolongados que me deixaram
desconfortável. Esse sentimento voltou com força total enquanto eu esperava que ele
dissesse mais. Mas ele não me contou.
Ele me mostrou.
Mefistófeles colocou dois dedos em minha têmpora e, em um instante, eu estava
sob um céu sem lua, neve sob minhas botas. No entanto, eu não estava realmente lá.
Não senti o frio cortante nem senti o fedor de sangue e morte. Corpos jaziam imóveis ao
meu redor: demônios, Nephilim, anjos. O resultado de uma batalha.
À frente, vi eu e meus irmãos lutando contra Lúcifer. Eu empunhava uma espada
negra que parecia a própria escuridão. Nós lutamos, cortando, cortando e atacando.
Foi a visão da morte de Lúcifer. Mefistófeles estava me deixando ver por mim
mesmo. E o que vi me deixou tremendo. Eu observei até que a visão desapareceu.
Piscando, eu me encontrei de volta na cabana com um Lazarus preocupado ao meu
lado.
— O que você viu? — Lazarus perguntou, segurando meu rosto. — Deuses,
Alastair, você está tão pálido. Diga algo. — Ele se virou para Mefistófeles. — Diga-me o
que você fez com ele!
— Eu não fiz nada. Eu apenas mostrei a ele a verdade.
— Mostre-me também.
— Eu não posso. — Mefistófeles então olhou para mim com uma expressão
solene. — É assim que você vencerá esta guerra, filho de Azazel. Muitos caminhos levam
à vitória de Lúcifer, mas apenas um leva à sua ruína. E você acabou de testemunhar por
si mesmo. Você sabe o que precisa ser feito.
— Sim — eu disse, odiando o tremor em minha voz. — Eu faço.
Durante toda a minha vida, gostei de desvendar mistérios e descobrir a verdade.
Conhecimento era poder. No entanto, naquele momento, parecia mais uma maldição.
Um fardo que tive que carregar até aquela noite fatídica chegar.
Lazarus e eu nos juntamos aos outros do lado de fora e nos afastamos o
suficiente da propriedade protegida para onde Michael pudesse ativar o anel de
teletransporte. O tempo todo, Lazarus manteve os olhos em mim.
Quando voltamos para a ilha, Michael partiu para o reino celestial, e meus irmãos
e seus companheiros entraram na vila para falar com os comandantes aliados.
Provavelmente para comer também. Nós não tínhamos jantado antes de viajar para o
reino dos perdidos, e eu senti a necessidade de Raiden de passar um tempo com a
família. Cozinhar e comer ajudou a aliviar suas ansiedades.
— Venha comigo. — Lazarus me levou ao pomar ao lado da vila de Baxter.
Alcançando-o, ele se virou para me encarar. — O que você viu na visão?
— Eu vou te dizer mais tarde. — Eu tentei passar por ele.
— Você vai me contar agora. — Ele agarrou meu braço e me trouxe para mais
perto de seu corpo. — O que você viu?
O luar sangrou pelos galhos acima de nós, brilhando em seu rosto. Eu levantei
a mão e acariciei a curva de sua mandíbula lisa. Enquanto seu perfume de maçã de
inverno me rodeava, o orgulho ronronava em meu peito. Sob seu cheiro, eu senti outro.
Meu.
— Você é tão lindo, — eu disse a ele. — A primeira vez que te vi, você me
lembrou a neve. Frio, mas marcante. Quando você agarrou minha mão, porém, você se
sentiu tão quente. Fui até aquela floresta esperando que você viesse me buscar. — Eu
coloquei minha cabeça sob seu queixo. — E você fez.
Lazarus passou os braços em volta de mim. — Você está me preocupando,
Alastair.
— Não se preocupe. — A parte de trás dos meus olhos queimava. — Eu vi nossa
vitória.
— Então por que você está tremendo? — Ele me segurou com mais força e
enterrou o rosto no meu cabelo. — Diga-me a verdade.
A verdade iria esmagá-lo. Isso estava me esmagando.
— Lembra quando enjaulamos Lúcifer? — Descansei meu ouvido sobre seu
coração, ouvindo as batidas. Eles ajudaram a acalmar o meu. — Nosso sangue era
necessário para selar a porta, mas nossa força vital também era necessária para reforçá-
la. O mesmo será necessário para matá-lo. Anoitecer precisará de nossa energia. Um
feitiço deve ser realizado para transferir nossa energia para a lâmina quando o golpe
final for feito.
— Ok. — Ele tomou respirações lentas e constantes. — Então será como na
primeira guerra? Você ficará enfraquecido e perto da morte?
Ele não foi totalmente compreensivo, e eu não tive coragem de esclarecer. Eu
apertei meus olhos fechados, forçando as lágrimas. — Sim.
— Este é o único caminho?
Eu balancei a cabeça.
Lazarus beijou meu cabelo. — Tudo ficará bem. Havia apenas sete de vocês da
última vez. Com Kallias, você será mais forte.
Meu queixo tremeu. — Sim. Nós seremos.
***
Raramente aconteciam momentos de silêncio quando todos os meus irmãos se
reuniam. Se eles não estavam brigando, eles estavam sendo desagradáveis de outras
maneiras, como inventar ideias estúpidas, pregar peças uns nos outros ou contar piadas.
Não houve piadas enquanto estávamos na praia enluarada. Sem brigas lúdicas
ou golpes despreocupados. Pedi a eles que me encontrassem assim que seus
companheiros tivessem ido dormir durante a noite. Então, contei a eles o que tinha visto
na visão.
— Você tem certeza que isso é o que precisa ser feito? — Galen perguntou,
quebrando o silêncio. Eu me perguntei se isso duraria para sempre, um momento
doloroso e silencioso se estendendo para outro.
— Eu estou.
Bellamy caiu de joelhos na areia e olhou para a água escura. Daman se ajoelhou
ao lado dele. Um segundo se passou antes que ele passasse os braços em volta de
Bellamy. Os dois não disseram nada. Eles apenas se abraçaram. Sendo a força um do
outro quando ambos pareciam se separar. Eu sabia porque também sentia.
— Isso é besteira — disse Castor, de braços cruzados. As pontas dos dedos de
uma mão cavaram em seu bíceps enquanto ele o apertava com força. — Tem que haver
outra maneira. Talvez você tenha interpretado mal a visão.
— É a única maneira, — eu disse. — Acredite em mim. Eu gostaria de estar
errado. Uma das poucas vezes em minha vida em que desejei tal coisa.
Minhas palavras ficaram no ar. Mais silêncio. As ondas batiam na costa, rolando
e roçando as pontas das minhas botas antes de recuar.
Raiden se agachou, colocando as duas mãos na parte de trás do chapéu
enquanto abaixava a cabeça. — Não é justo. Já demos tanto. Por que não podemos
simplesmente ser felizes?
— Porque nunca fomos feitos para ser felizes. — Galen cerrou os dentes. — É
nossa maldição suportar. — As veias saltaram de seus braços quando ele ficou tenso.
Um de seus olhos ficou nublado, a pupila se expandindo até que toda a íris ficou preta.
— Fui um tolo por pensar o contrário.
— E quanto aos nossos companheiros? — Bellamy sussurrou, levantando a
mão para a chave pendurada em seu colar. — Nossas almas estão ligadas. O que vai
acontecer com eles?
— Eles devem ficar bem — respondi. — Embora, suponho que bem não seja a
palavra certa.
— Não há palavras certas para isso — disse Daman, sua voz áspera. Senti um
eco de seu coração dolorido. Ainda não despedaçado, mas se preparando para isso. —
O que devemos dizer a eles?
— Nenhuma coisa. — Fechei os olhos, lembrando do cheiro de Lazarus
enquanto pressionava meu rosto em seu peito, enquanto ele me segurava. — Não
dizemos nada a eles até a noite em que isso acontecer.
— Nix e eu não guardamos segredos. Como vou enfrentá-lo? Como posso
segurá-lo e fingir que está tudo bem, sabendo que eu... que temos que... — Bellamy se
levantou da areia e passou as mãos pelos cabelos. — Droga!
Gray se encolheu com sua explosão e se enrolou em uma bola. Mas ele não
tinha medo de Bellamy. Ele estava sentindo sua angústia. Todos nós sentimos isso.
Galen, incapaz de conter Fúria, socou a árvore mais próxima a ele, quebrando a
casca. — Qual foi a maldita razão para encontrarmos nossos companheiros se é assim
que tudo termina?
— Para fazer isso significar mais? Para testar nossa determinação? O destino
funciona de maneiras misteriosas, — eu disse, tentando manter minhas emoções sob
controle. Tentando ser um pilar para eles se apoiarem. — Mas não vou forçar nenhum
de vocês a fazer isso.
Castor zombou. Parecia dolorido. — Você diz isso como se realmente
tivéssemos uma escolha.
— Você faz. Como disse Raiden, demos muito ao longo de nossas vidas.
Sabemos pouco fora da guerra e dos combates constantes. Se algum de vocês decidir
ficar de fora dessa, eu entenderei. Isso precisa ser uma decisão que você toma por si
mesmo.
Kallias olhou para o mar, as mechas curtas de seu cabelo preto balançando com
a brisa. — Não temos escolha. Se não fizermos isso, Lúcifer nunca será parado. Ele terá
sucesso em sua conquista e colocará toda a humanidade de joelhos. Este mundo em
que estamos neste momento se transformará em cinzas enquanto ele queima tudo.
— Então deixe queimar — disse Bellamy, fechando os punhos. — Deixe tudo
queimar. Eu não me importo mais.
— Não podemos deixar isso acontecer — disse Raiden.
— Por que não? — Bellamy tremeu. De tristeza. De raiva. — Passamos a vida
inteira lutando! Por que outra pessoa não pode lidar com essa merda de uma vez? Estou
cansado disso. — Lágrimas brotaram de seus olhos e ele se afastou de nós, os ombros
caídos. — Eu só quero fazer um lar com Phoenix. Começar uma família com ele algum
dia. E agora não posso. Nenhum de nós pode.
Daman olhou para sua aliança de casamento. Ele tocou a banda, feita de metal
de dois tons, ouro e platina, com uma única safira no topo. — Casar com Warrin... amá-
lo... me deixou muito feliz. — Sua voz falhou. — Mas nunca mais verei nosso chalé. Eu
nunca vou conseguir vê-lo se tornar um pai ou ser um comigo. O pensamento de um
pequeno Warrin com seu cabelo prateado e grandes olhos azuis, suas mãozinhas
segurando as minhas. Deuses. Eu quero tanto isso. Quero mais tempo com meu marido.
Mas não teremos nosso final feliz.
E então Daman fez o que eu nunca o vi fazer. Ele envolveu o estômago com os
dois braços, inclinou-se para a frente e chorou, soluços de sacudir o corpo que cortaram
meu coração como cacos de vidro pontiagudos.
— D? — Bellamy caiu na frente de Daman e puxou-o para o peito.
— Isso vai matá-lo, B — disse Daman em meio às lágrimas. — Isso partirá o
coração de War. Porra. Está quebrando o meu.
Gray choramingou e encolheu-se na areia, encolhendo-se ainda mais. — Eu
quero Mason.
— Vou lhes dar tempo para pensar sobre isso, — eu disse, lutando contra a dor
aguda e ardente em meu esterno. — Michael está fazendo arranjos para nós visitarmos
Asa. Dê-me suas respostas antes disso. Para esta noite, volte para seus companheiros.
Segure-os. Ame-os.
— Enquanto ainda podemos. — Castor baixou o olhar.
As asas pretas e vermelhas de Galen explodiram em suas costas antes que ele
disparasse para cima, deixando a praia sem dizer uma palavra. Castor juntou Gray em
seus braços e fez o mesmo. Daman e Bellamy se levantaram e, com um braço em volta
da cintura um do outro, encontraram o caminho entre as árvores que levava à vila.
Kallias continuou olhando para o mar escuro, a expressão calma mesmo
enquanto sua alma chorava. — Nunca mais verei Elasus. Não é?
Eu não pude responder. Não importa o quanto eu tentasse me manter forte por
eles, eu me sentia escorregando. Senti o pilar começando a desmoronar.
— Se escolhermos não lutar, Uriel não permitirá que nossas almas entrem no
reino celestial. — Sua voz carregava o peso de sua dor. — E se lutarmos... se
derrotarmos Lúcifer... nossas almas ficarão presas para sempre. Incapaz de passar para
a vida após a morte. De qualquer forma, minha alma nunca se juntará à dele.
Isso é o que eu tinha visto na visão.
Oito pedras ao longo do punho de Anoitecer... destinadas a oito almas. Seria
mais do que um simples feitiço de sangue ou transferência de parte de nossa energia. A
espada era um recipiente para canalizarmos nossos poderes. Nossas almas tiveram que
ser colocadas dentro de Anoitecer, alojadas nas pedras. Só então seria poderosa o
suficiente para matar Lúcifer.
Foi como quando a alma de Asa foi transferida para o ringue. Ele não havia
morrido, mas de todas as maneiras que importavam, ele havia partido do mundo. O
mesmo aconteceria conosco. Ainda vivo, mas confinado, incapaz de falar ou sentir.
Congelado em um momento.
Não há como ser liberto.
— Vamos para casa — disse Raiden para Kallias. — Vou fazer nachos tarde da
noite. Carne extra e creme azedo, do jeito que você gosta.
Com um aceno triste, Kallias virou-se do mar e soltou suas asas. Ele e Raiden
então deixaram a praia.
Fiquei sozinho sob o céu estrelado, ouvindo o som de suas asas enfraquecer.
Só quando eles estavam completamente fora de vista eu finalmente desmoronei. Caí de
joelhos e soltei um grito estrangulado, meus dedos afundando na areia.
Chorei por meus irmãos e seus companheiros.
Chorei por mim e pelos meus.
Chorei pelo futuro que nunca teríamos e por nossos sonhos desfeitos, como o
desejo de Daman de que ele e Warrin tivessem um filho. Bellamy queria o mesmo com
Phoenix. Eu não sabia que eles desejavam ter suas próprias famílias, e perceber o
quanto eles estariam desistindo só aumentou minha dor de cabeça esmagadora.
Assim que me recompus, voltei para o bangalô. Antes de encontrar meus irmãos
na praia, Lazarus e eu tínhamos feito amor. Foi gentil no começo, mas como meu
coração pesou cada vez mais com a verdade que eu escondi dele, eu o empurrei de
costas e o montei com força.
Mesmo assim, ele se sentou e me pegou em seus braços, beijando-me
suavemente. Como se uma parte dele soubesse que eu não havia, lhe contado tudo.
Depois, ele me segurou perto e beijou meu cabelo até que ele adormeceu. Como um
anjo, ele não precisava de muito descanso, mas quando os dias chegavam, ele dormia
profundamente. Profundo o suficiente para eu escapar despercebido. Então ele não iria
seguir.
— Onde você foi? — Lazarus perguntou com uma voz adoravelmente sonolenta
enquanto eu rastejava de volta para a cama. Ele me trouxe para mais perto e acariciou
meu pescoço. — Você cheira a mar.
— Eu me encontrei com meus irmãos e contei a eles sobre a visão.
Ele se acalmou. — Exigia que você falasse com eles em segredo?
— Sim. Tínhamos muito que discutir.
— Então discuta isso comigo também — disse ele. — Quando enfrentarmos
Lúcifer novamente, faremos isso juntos. Eu vou lutar ao seu lado. Cuidar de você. Assim
como sempre fiz.
Eu me afastei para olhar para ele, armazenando cada detalhe na memória. A
maneira como o luar beijava sua pele impecável, os flocos de ouro em seus olhos azuis
e seus lábios em forma de arco de cupido. Tracei as bordas deles antes de me inclinar
e passar minha boca pela dele.
Ele exalou trêmulo antes de fundi-los, uma pressão suave de sua boca na minha
antes de aprofundá-la.
— Eu sei que você está escondendo algo de mim, — ele disse telepaticamente
quando nossos lábios se encontraram novamente.
Meu coração pesava mil libras. O arame farpado raspou meu esterno e
mergulhou em minhas entranhas, torcendo-se, retorcido. Eu quebrei seus lábios com um
gemido de dor.
— Alastair. — Ele pegou meu rosto com as duas mãos, e o calor de suas palmas
só piorou a dor no meu peito. Porque eu sabia que nosso tempo, nossos toques, tudo
que tínhamos nesse momento era limitado. — Conte-me.
— Você é um guerreiro, — eu disse, odiando a fragilidade em minha voz. — É
tudo o que você sabe. É como você treinou eu e meus irmãos para sermos. Siga as
ordens e deixe os sentimentos pessoais de lado. Não deixe a emoção atrapalhar a
missão. Mas... — Minha garganta apertou. — E se, para salvar o mundo, tivéssemos que
fazer o sacrifício final?
Sua respiração vacilou.
— O que você me diria então, Laz? — Uma lágrima escapou pelo canto do meu
olho. — Porque estou tão perdido agora. Dividido entre o dever e os desejos egoístas do
meu coração. Dividido entre salvar o mundo e querer vê-lo queimar, nem que seja para
ter mais um momento aqui com você.
— O que você está dizendo? — Lazarus me rolou de costas e me prendeu na
cama. Sua mão deslizou para o lado do meu pescoço e, embora seu olhar firme fosse
penetrante, aquela mão tremia. Um segundo se passou, depois outro. Ele procurou em
meu rosto a resposta que eu não poderia dar a ele. — O que vai acontecer quando você
matar Lúcifer? Me responda!
— Apenas me beije, — eu implorei. — Eu vou te contar tudo. Eu prometo. Mas
agora, eu só preciso que você me beije. Por favor.
Eu precisava dele para me fazer esquecer. Pelo menos por esta noite.
— Um menino tão teimoso. — Ele agarrou minha mandíbula e esmagou nossos
lábios juntos, estabelecendo-se entre as minhas pernas.
— Mas eu sou seu garoto teimoso, — eu disse a ele enquanto nos beijávamos.
— Apenas seu.
Enquanto eu vivesse e muito depois, eu pertenceria a ele. Ninguém mais. Se ao
menos tivéssemos mais tempo para... Não. Não pense nisso.
Lazarus beijou meu peito enquanto tirava minha calça. Eu ainda estava esticado
desde quando fizemos sexo antes, então depois de lubrificar seu pau, ele o posicionou
na minha abertura e entrou. Olhei para ele, amando como uma mecha de seu cabelo
branco caía para frente enquanto ele pairava sobre mim.
— Você vai me dizer. — Ele agarrou meus dois pulsos com uma mão e puxou
meus braços acima da minha cabeça enquanto ele penetrava mais fundo, roçando seus
dentes no meu pescoço enquanto seu pau duro me enchia.
— Sim. Eu vou. — Inclinei minha cabeça para trás contra o travesseiro,
levantando meus quadris para encontrar seus impulsos lentos. — Mas não está noite.
— Não está noite, — ele concordou. — Esta noite, nós voamos.
Ele era dominante, mas terno. Possessivo, mas generoso. Ele me beijou
profundamente enquanto seus quadris balançavam para frente e para trás. Minhas
costas arquearam e eu testei o aperto em meus pulsos, tentando me libertar. Eu o senti
sorrir contra meus lábios.
— Deixe-me tocar em você, — eu disse.
Outro sorriso suave. — Eu não ouvi você dizer por favor.
— Faça isso agora — eu disse a ele em vez disso. O Orgulho se agitou em meu
peito, e eu o imaginei cortando os olhos para o nosso companheiro.
— Como eu já te disse muitas vezes antes... — Lazarus puxou quase todo o
caminho antes de bater de volta em mim, grunhindo baixinho. — Eu não recebo ordens
de você, Orgulho.
Virou coisa nossa. Eu tentando mandar nele, e ele me colocando de volta no
meu lugar. Secretamente, eu adorei. Eu gostava de dar a ele o controle. Eu gostava de
apertar seus botões também. Mas eu estava muito carente naquele momento.
— Por favor. — Respirei fundo enquanto ele beliscava o lugar sensível abaixo
da minha orelha. — Eu quero te tocar.
Lazarus soltou meus pulsos e acariciou minha testa, minha bochecha, então
meus lábios enquanto sua mão se arrastava de volta para baixo. Os toques suaves
contrastavam com seu exterior duro. Seus beijos suaves também. Disseram que ele me
estimava.
Eu também o estimava.
Minhas mãos pousaram em seus lados, e eu movi minhas pontas dos dedos ao
longo das ranhuras de músculos duros enquanto ele balançava em mim. Nossos corpos
se moviam como um, unidos fisicamente e também no nível da alma. Senti todas as
sensações deliciosas que ele provocava enquanto bombeava dentro de mim, mas
também o sentia. Seu prazer. Seu amor.
A marca que coloquei em seu pescoço disse ao mundo que ele era meu, mas
deuses, eu também era dele.
— Voe comigo, Alastair, — ele murmurou, descansando sua bochecha na
minha. — E se você cair, deixe-me cair com você.
Não foi até depois, quando estávamos nos aquecendo em nosso brilho pós-
orgasmo, que suas palavras realmente penetraram. Se eu morresse, ele queria me
seguir na morte. Mas meu destino foi mais sombrio do que isso.
Eu me aproximei de Lazarus, acomodando-me em meu lugar favorito entre seu
braço e seu lado e pressionando meu rosto em seu pescoço. Seu cheiro me confortou e
causou um nó na minha garganta. A primeira respiração gelada do inverno. Maçãs
crocantes.
— Eu não esqueci — ele sussurrou contra a minha têmpora. — Espero uma
explicação pela manhã.
— Eu sei. — Eu apertei meus olhos fechados.
— E você não vai mentir para mim. Você entende?
— Sim.
Lazarus levantou meu rosto e me beijou. Seus lábios permaneceram nos meus
enquanto seu polegar roçava minha bochecha. A suavidade era contundente. A
intimidade disso me lembrou do que eu estaria sacrificando.
A vida pacífica e simples pela qual eu ansiava nunca aconteceria. Lazarus e eu
não construiríamos uma casa juntos. Nunca seríamos capazes de completar nosso
vínculo acasalado ou explorar mais profundamente nosso relacionamento.
Éramos como a neve, lindos e brilhantes, mas destinados a derreter com o
passar do inverno.
O lado da cama de Alastair estava frio quando acordei. Toquei seu travesseiro,
confuso.
— Onde você está? — Eu perguntei a ele. Sua ausência causou um aperto
doentio em minhas entranhas. Sua relutância em me contar sobre a visão não era um
bom presságio. Algo ruim estava por vir, e até chegar até nós, eu precisava dele ao meu
lado.
Um baque leve soou do lado de fora.
Eu pulei da cama, sem me preocupar em me vestir quando saí do quarto. Uma
grande mudança de como eu estava nem um mês antes. As mudanças dentro de mim
vieram aos poucos. Tudo por causa de Alastair. Ele me mostrou partes de mim que eu
não sabia que existiam.
Ele me mostrou como era amar outra pessoa, mesmo que eu não tivesse sido
capaz de dizer essas palavras para ele ainda, com exceção de quando escapou uma vez
enquanto ele estava dormindo.
— Sou só eu — disse Alastair, fechando a porta dos fundos quando entrei na
cozinha. Ele arrastou um olhar apreciativo sobre o meu corpo. — Exatamente a
saudação. Estou pensando em jogar você de volta na cama e nunca mais sair.
— Você não me respondeu. Onde você estava?
— É dia de Natal. — Ele colocou uma panela tampada no balcão. — Eu venho
trazendo presentes. Ray usou algumas das maçãs que Michael trouxe do reino celestial
e fez muffins de maçã e canela. Achei que poderíamos comê-los no café da manhã.
— Para suavizar o golpe antes de compartilhar os detalhes da visão?
Alastair mostrou pouca emoção enquanto sustentava meu olhar. O que me disse
que ele estava sentindo fortemente. Ele escondeu tudo atrás de uma máscara de
indiferença. Ele levantou a tampa da panela. — Tem bolinhos de maçã também.
Em três passadas, eu estava bem na frente dele e segurei sua nuca, forçando
seus olhos a me encararem. — Chega de táticas de atraso. — Eu o pressionei contra o
balcão. — Você não vai sair deste lugar até que você me diga o que eu quero saber.
— Deuses, você é mandão. — Ele engoliu em seco, os olhos correndo pelo meu
rosto antes de desviar o olhar. Eu os forcei de volta para mim. — Eu me encontrei com
meus irmãos novamente esta manhã. Estamos prontos para visitar Asa. E estamos
preparados para fazer o que for necessário para vencer esta guerra.
— O que significa exatamente? — Eu perguntei, as palavras soando mais como
um rosnado.
Várias possibilidades passaram pela minha cabeça, mas a que eu mais temia?
Aquele que me fez segurar mais firme, meu peito apertando? Um mundo onde ele não
existia mais, onde ele se sacrificou para salvá-lo.
Alastair colocou uma mão trêmula em meu quadril. — Acho que você já sabe.
— Se seus irmãos morrerem, seus companheiros morrerão com eles. Eles
nunca concordariam com nada que pudesse prejudicá-los. — Eu sabia disso com
certeza. Os filhos amaldiçoados eram altruístas quando se tratava de arriscar suas
próprias vidas para salvar o mundo, mas não arriscariam a vida de seus companheiros.
Outro pensamento me fez pressionar mais perto dele. — Ou é só você que deve pagar
esse preço?
A força vital de Alastair não estava unida à minha. Nós não tínhamos realizado
o ritual de ligação para nos tornarmos totalmente companheiros. O que significa que ele
era o único, além de Kallias, cuja morte não resultaria na morte de outra pessoa.
— Eu gostaria que fosse esse o caso, — ele finalmente respondeu. — Eu daria
minha vida de bom grado em troca do que devemos fazer em vez disso.
— Algo pior que a morte?
Ele traçou a cicatriz no meu ombro. Silencioso.
— Alastair…
— Anoitecer é mais do que a arma da alma de Asa — disse ele, sem olhar para
mim. Ele apenas continuou traçando minha cicatriz. — É uma embarcação. Como disse
Mefistófeles, Asa nunca foi feito para ser nosso inimigo. Nós nove estamos todos
conectados. Estávamos destinados a nos unir caso Lúcifer permitisse que seu coração
escurecesse para o mundo. Como algo à prova de falhas, eu acho. Seus pecados são o
que o destruirão.
— Não tenho certeza se estou acompanhando. Como é que...
— Nossas almas fortalecerão a espada. — Sua mão parou no meu ombro. — É
por isso que, como guardião da espada, Asa tem um pedaço de cada um de nossos
pecados dentro dele também. É por isso que não temos uma arma física da alma. Porque
Anoitecer pertence a todos nós.
O nó de preocupação que senti ao acordar e descobrir que ele se foi cresceu
naquele momento.
— Você não vê, Laz? — Quando ele finalmente olhou para mim de novo,
lágrimas transbordavam de seus olhos azuis. — Não vamos morrer. Em vez disso, nos
tornaremos parte da espada. Oito pedras significam oito almas.
Eu fiquei com os joelhos fracos e me apoiei no balcão para me apoiar, uma mão
descansando em cada lado dele. Ele lentamente deslizou seus braços em volta da minha
cintura. Doía respirar. Tentar puxar o ar para dentro dos meus pulmões era como ser
enterrado vivo, cada inspiração sufocante.
— Não, — eu disse. A palavra foi estrangulada. Dolorido. Eu o esmaguei contra
o meu peito, minha visão embaçada enquanto seu doce aroma de cedro me envolvia. —
Eu não vou permitir isso.
— Nós fizemos nossa escolha, — ele sussurrou, e seu queixo tremeu quando
ele pressionou seu rosto no meu pescoço. — Vários caminhos levam à vitória de Lúcifer,
mas apenas um à sua destruição, lembra? Este é o único caminho. Eu vi como isso
funciona. Nós ganharemos.
— Mas a que custo? — Eu não reconheci minha voz. Estava muito quebrado.
— Um que meus irmãos e eu estamos dispostos a pagar.
— Eu não tenho uma palavra a dizer sobre isso? — Afastei-me de seu abraço e
segurei seu rosto em minhas mãos. Seu rosto lindamente devastador que parecia
resignado demais naquele momento.
— Você sempre nos disse que tínhamos um propósito. É isso. — Ele achatou a
palma da mão sobre o meu coração. — Colocar os sentimentos pessoais de lado.
Derrotar Lúcifer é tudo o que importa. Você voltaria atrás em sua palavra agora?
— Se isso significa perder você? Eu... — A parte de trás do meu pescoço
formigou quando senti outra presença, e girei em direção à porta do convés assim que
Michael passou por ela.
Só quando seus olhos se arregalaram é que percebi que ainda estava nu.
— Perdoe a intromissão. — Michael se virou, virando as costas para mim. O
topo, de suas orelhas ardiam em vermelho. — O conselho aprovou o plano de visitar
Asa. Eu vim buscar vocês. Acho que deveria ter batido na porta da frente em vez de
entrar.
— Você pensa? — Alastair passou por mim, colocando-se entre mim e Michael.
— Precisamos discutir limites. Tipo, seu total desrespeito a eles.
— Eu... bem, sim. Eu concordo — disse Michael. Se eu não tivesse ficado tão
mortificado, teria encontrado humor em sua gagueira. — Vou corrigir esse
comportamento. — Ele fez uma pausa. — Sinto cheiro de bolos?
Quando meu companheiro Nephilim soltou um suspiro irritado e pegou a panela
com os muffins e bolinhos fritos, deixei a cozinha para tomar um banho rápido. A
discussão ainda não havia terminado. Mas primeiro, precisávamos visitar Asa para ver
se ele estava disposto a entregar Anoitecer. Sua cooperação foi vital.
Embora eu nunca admitisse isso em voz alta porque ia contra tudo o que eu
defendia, tudo pelo que lutei, uma pequena parte de mim esperava que ele recusasse.
Nenhuma espada significava que Alastair e os meninos não seriam forçados a fundir
suas almas com ela.
O mundo cairia em ruínas sob o calcanhar de Lúcifer, mas pelo menos eu ainda
seria capaz de segurar Alastair, sentir seu coração batendo e as cócegas de sua
respiração em minha pele. Foi o tipo de pensamento que levou à queda de tantos anjos.
Escolher algo, alguém, sobre o bem-estar dos reinos.
Quando uma onda repentina de ansiedade me atingiu, desabei contra a parede
do chuveiro. Minhas asas seriam arrancadas se eu me permitisse ser conduzido por tal
egoísmo. Mas se isso significasse salvar o homem que eu amava, eu me importaria?
— Se você não se apressar, não sobrará café da manhã para você, — Alastair
me disse. — Esta criança crescida está comendo todos os seus muffins
Sua voz quebrou meu turbilhão de pensamentos, puxando-me do lugar escuro
para onde eles estavam indo.
— Guarde-me um bolinho, — respondi. — Eu posso muito bem estrangulá-lo se
ele comer todos eles.
— Eu adoraria ver isso.
Apesar da dor pesada em meu coração, eu sorri. — Comporte-se.
— Entre aqui e me obrigue.
Depois de terminar meu banho, peguei uma toalha e me sequei antes de me
vestir, abrindo mão de uma camisa como de costume. Então, juntei-me ao meu
companheiro e meu melhor amigo para o café da manhã de Natal, fingindo apenas
naquele momento que nada mais importava.
***
***
***
A boate para os condenados ficava nos arredores de Echo Bay, situada entre
armazéns abandonados e uma densa floresta. Era um lugar seguro para todos os seres
sobrenaturais se reunirem, independentemente da espécie; um refúgio para aqueles que
precisam de uma fuga, uma festa para aqueles com energia reprimida, e libido acelerada,
ou apenas um lugar para irmos sem precisar nos esconder.
Liberdade. Isso é o que Krave ofereceu. Foi a visão que Konnar teve quando
criou o clube.
— Hora da festa! — Castor saltou pelo estacionamento, golpeando o ar com os
punhos.
— Idiota. — Kyo balançou a cabeça com um sorriso. — Mas ele é meu idiota.
Eu planejei me encontrar com Konnar, então Michael nos teletransportou para o
clube usando seu anel. Meus irmãos estariam lá se eu precisasse deles, mas eu disse a
eles para se divertirem. Eles trouxeram seus companheiros.
Quatro dias eram tudo o que nos restava, se eu estivesse certo sobre a lua negra.
O que, considerando a raridade e o efeito que tinha na magia, eu sabia que Lúcifer o
usaria para um feitiço, como ele tentou fazer em Hoia Baciu antes de detê-lo.
Enquanto a humanidade chegava ao ano novo, estaríamos lutando por nossas
vidas sob um céu de inverno. E então, quando um ano deu as boas-vindas ao próximo,
nossas almas deixariam nossos corpos e Lúcifer daria seu último suspiro.
— Oh, as memórias, — Bellamy disse enquanto nos aproximávamos da entrada
do clube.
— Você sente falta? — Phoenix franziu a testa para a calçada. — Toda a...
diversão... que você teve aqui.
Bellamy agarrou sua mão. — Nem um pouco. Nunca pensei que encontraria
alguém que me aceitasse. Quem me amou. Este lugar ajudou a aliviar minha solidão e
deu a Luxúria sua dose, mas esse vazio nunca foi embora completamente. — Ele parou
e encarou seu companheiro, tocando o colar do demônio. — Até eu conhecer você.
— Seu idiota. — Phoenix golpeou Bellamy com o rabo antes de continuar em
direção à porta da frente. Ele estava sorrindo embora. — Agora, venha comprar uma
bebida para o seu lindo marido antes que eu comece a jogar bolas de fogo no lugar.
Bellamy ficou olhando para ele, seu coração doendo tanto que eu senti através
de nossa conexão. Eu não precisava ler sua mente para saber seus pensamentos; ele
temia o momento em que teria que contar a Phoenix sobre a transferência da alma. Com
tão pouco tempo sobrando, precisava ser logo.
Daman e Warrin entraram no clube atrás dele, seguidos por Gray, que se agarrou
às costas de Mason.
Nick, o segurança, inclinou a cabeça para eles. Avistando Michael e Lazarus, o
lobisomem empacou e murmurou quando passamos, — Um maldito arcanjo. Isso é algo
que não vejo todos os dias.
Assim que entramos, Lazarus olhou para o clube. Corpos seminus balançavam
na pista de dança, música explodia nos alto-falantes e aromas doces perfuravam o ar,
uma mistura de bebidas, perfumes e feromônios de quem faz sexo alguns contra as
paredes, no sofá do canto, e um casal fodeu na gaiola acima da pista de dança.
— Repulsivo. — Ele olhou para Miguel. — Peço desculpas por você ter que vir
a um lugar como este.
— Nenhum pedido de desculpas é necessário — Michael respondeu, também
absorvendo a atmosfera. No entanto, ele o fez com interesse e não com desgosto. —
Demônios são bem-vindos aqui também?
Konnar apareceu ao nosso lado. — Todos são bem-vindos aqui. Demônios,
ceifeiros, metamorfos. — Seu olhar roxo percorria o corpo de Michael. — Anjos.
— Você deve ser Konnar. Eu sou o Michael. Obrigado por concordar em se
encontrar conosco.
— O prazer é todo meu, eu garanto. — Konnar deu outra olhada nele antes de
se virar para mim. — Já era hora de você vir me visitar. Esse nível de negligência de
nossa amizade me feriu profundamente.
— Perdoe-me por focar na guerra em vez de você, velho amigo, — eu disse a
ele. — Que indescritível da minha parte. O que você acha de nos retirarmos para o
lounge privado e conversarmos com uma bebida?
Konnar sorriu antes de me puxar para um breve abraço. Quando nos separamos,
notei Lazarus lançando adagas para ele. Por algum tempo, ele parecia não gostar do
meu amigo. Sempre que eu mencionei Konnar no passado, Lazarus estava mais mal-
humorado do que o normal.
— Laz está com ciúmes agora, — Daman me disse usando nosso link mental.
Ele e Warrin estavam parados ao lado do bar, esperando suas bebidas, club soda para
o dragão de gelo, e meu irmão pediu uma vodca de cranberry. — Eu posso sentir sua
amargura em relação a Konnar.
— Você deveria dar um beijo na bochecha de Kon só para foder com ele —
acrescentou Bellamy.
— Vinte dólares dizem que Laz vai socar Konnar na garganta — disse Castor.
— Apenas vinte dólares? — Raiden entrou na conversa. — Você está barato
esta noite.
— Todos vocês, saiam da minha cabeça.
Konnar ofereceu uma mão para Lazarus. — É bom te ver de novo. — Ele tinha
a habilidade de ler os pensamentos das pessoas. Mesmo o meu. No entanto, ele
respeitou minha privacidade e não o fez intencionalmente. Mas ele poderia ler as mentes
dos anjos também?
— Agradável é uma escolha de palavra interessante, — Lazarus respondeu,
olhando para sua mão estendida, mas não a pegando.
Konnar retirou a mão.
— Perdoe meu amigo aqui. — Michael agarrou o ombro de Lazarus e o sacudiu.
— Ele esqueceu suas boas maneiras.
— Maneiras? — A carranca de Lazarus se aprofundou. — Diz aquele que não
tem noção de espaço pessoal e invade quando e onde quer.
A diversão brilhou nos olhos roxos de Konnar quando eles se voltaram para mim.
Ele apontou para a porta da área VIP. — Devemos?
Eu balancei a cabeça e caminhei com ele naquela direção. Os anjos caminharam
comigo, ziguezagueando entre os corpos dançantes.
— Você poderia ter aceitado a mão dele — disse a Lazarus.
Ele não respondeu, mas sua mandíbula se apertou.
Eu virei meu rosto para longe dele para que ele não visse meu sorriso. Senti uma
estranha satisfação com o ciúme dele. Isso me fez pensar em como eu tinha sido com
Michael no começo, com ciúmes de sua proximidade e irritado com a ideia de algo mais
do que amizade entre eles. Ele deve ter sentido o mesmo sobre Konnar.
Entramos na sala VIP nos fundos. A fumaça flutuava no ar enquanto um grupo
de Fae descansava em um longo sofá, uma tigela dourada de incenso queimando na
mesa na frente deles. O incenso aumentava o apetite sexual e tinha um cheiro doce com
uma nota floral subjacente.
Um lobisomem se ajoelhou entre as pernas de um dos machos e beliscou a parte
interna da coxa da fada.
— Bom filhote — disse a fada, deslizando os dedos pelo cabelo loiro
desgrenhado do lobo. — Você merece um mimo. — Ele então se inclinou e o beijou,
passando um afrodisíaco para o lobo na forma de um pequeno comprimido quando suas
bocas se juntaram.
Os olhos do lobisomem reviraram enquanto ele choramingava baixinho.
Intoxicação. Luxúria. Um lugar para todos os seus desejos. O nome do clube era
apropriado.
Konnar nos conduziu por outra porta e para sua própria sala privada. Um bar
ficava ao longo da parede dos fundos, e as luzes se alinhavam nas prateleiras de
bebidas, garrafas decorativas de sangue especial e ambrosia.
O barman acenou para nós enquanto limpava o balcão. Uma tela plana de 70
polegadas foi montada em outra parede com uma área de estar na frente dela, sofás,
poltronas e uma grande almofada redonda no chão.
— Fiquem à vontade — disse Konnar. — Se vocês quiserem uma bebida,
avisem Michael. — Ele então sorriu para o arcanjo. — Meu barman Michael. Você não.
— Me chame de Mike para facilitar as coisas — disse o barman com um sorriso
caloroso. — O que posso fazer por vocês?
— Que gentileza sua oferecer — respondeu Michael. — Embora, devo recusar.
O prazer não me traz aqui esta noite.
Konnar o observou. — Isso não significa que o prazer não vai te encontrar de
qualquer maneira.
Espere... ele estava flertando? Dada a forma como Michael sorriu, ele não era o
único. Eu seria amaldiçoado. Konnar raramente flertava com alguém. Por que o idiota
Michael de todas as pessoas? Ele nem era seu tipo. Independentemente disso, eu
definitivamente percebi as vibrações enquanto observava sua linguagem corporal.
— Eu acredito que meu melhor amigo está apaixonado pelo seu melhor amigo,
— eu disse para Lazarus.
Lazarus sentou no sofá e me puxou para a almofada ao lado dele. — Bom.
Qualquer coisa para tirar a atenção daquele vampiro de você.
— Nunca aconteceu nada entre nós. — Descansei minha mão em sua perna.
— Então seja legal. E antes que você diga, sim, eu sei que você não recebe ordens
minhas, mas aceite mesmo assim.
O canto de sua boca se contraiu.
Michael se esparramou no outro sofá, e eu não perdi o jeito que o olhar de
Konnar bebeu em seu abdômen, já que o arcanjo, como meu companheiro, não sabia o
significado de uma camisa. — Eu suponho que uma bebida não faria mal. Eu tinha uma
coisa chamada gemada cravada que era doce, mas muito boa. Você tem algum aqui?
Mike abriu um sorriso. — Eu não tenho gemada, mas se você gostou da doçura
cremosa dela, eu posso preparar outra coisa que você vai gostar. Me dê um minuto.
Como no passado, o barman estava a par de nossas reuniões secretas. Konnar
confiava nele. Eles não eram amantes embora. Konnar salvou o humano de um vampiro
que se rebelou e lhe deu um emprego. Mike então se apaixonou por uma vampira do
coven de Konnar, e os dois se casaram.
— Experimente isso, — Mike disse enquanto trazia uma bebida em um copo
redondo curto. Com meus sentidos aguçados, pude sentir o cheiro de noz-moscada, café
e canela. — Eu chamo de smoothie de café. É a minha própria receita de férias com uma
dose generosa de conhaque.
— Obrigado. — Michael tomou um gole e descansou a cabeça no encosto do
sofá, fechando os olhos enquanto saboreava. — Isso é delicioso.
Konnar o encarou.
— Como está a situação na cidade? — Eu perguntei, chamando sua atenção.
— O exército de Lúcifer está atacando em todo o mundo.
— Está contido. — Konnar estava sentado na enorme poltrona à minha frente,
cruzando o tornozelo sobre o joelho. — Embora a razão para isso não seja ideal, meu
sonho de unir os seres sobrenaturais de Echo Bay se concretizou nas últimas semanas.
Meu coven, as matilhas de lobos, até mesmo algumas das fadas se uniram para lutar
contra os monstros. O povo de Echo Bay está seguro sob nossa vigilância.
— Você tem minha gratidão por tudo que você fez.
— O meu também, — Lazarus disse a ele.
Konnar estudou meu companheiro por um momento, um brilho de humor ainda
em seus olhos, antes de olhar para mim. — Você mencionou no telefone que precisava
da minha essência para um feitiço?
— Sim.
— Como tenho certeza que você pode entender, eu não dou meu sangue
livremente. Ou qualquer outra parte de mim, aliás. Afinal, sou um cavalheiro. — O sorriso
em seus olhos tocou seus lábios. — No entanto, para você, eu vou considerar isso.
Conte-me mais sobre o feitiço.
Um peso caiu sobre meu peito. Eu ainda não tinha dito a ele o que iria acontecer.
Contar aos meus irmãos, Lazarus, então Clara tinha sido difícil. Eu odiava perturbar
aqueles com quem me importava. Konnar seria outro nome nessa lista.
Lazarus colocou sua mão sobre a minha. Seu jeito tranquilo de dizer que estava
comigo, que eu podia me apoiar nele. Seu apoio me deu a força que eu precisava.
Então, contei a Konnar sobre a visita a Mefistófeles, onde aprendemos sobre o
anoitecer e como o recuperamos de Asa. Com o coração na garganta, revelei a etapa
final do plano. Lazarus segurou minha mão um pouco mais forte.
— Então suas almas ficarão presas dentro do Anoitecer, — Konnar disse uma
vez que eu caí em silêncio.
— Sim.
— Quem empunhará a espada?
— Eu vou, — eu respondi. — Foi assim que eu vi na visão. Um por um, cada
uma das almas dos meus irmãos entrou na lâmina, e assim que eu esfaqueei Lúcifer no
peito, minha alma se juntou a deles nas pedras.
Lazarus ficou tenso ao meu lado.
— A magia da alma pode ser meticulosa. — Konnar descansou a mão ao lado
da boca, o dedo indicador pressionando os lábios. — A vontade de uma pessoa tem
muito peso em termos de eficiência do feitiço. Isso pode ser um pró ou um contra. Pode
aumentar a eficácia. Ou enfraquecê-lo.
— Meus irmãos e eu estamos firmes em nossa decisão — eu disse. — Não
vamos deixar a magia vacilar.
— Não tenho dúvidas de sua dedicação, meu amigo. No entanto, estou falando
depois do fato.
Lazarus se concentrou mais intensamente nele. — Você está sugerindo que
suas almas podem ser devolvidas a seus corpos?
— Estou dizendo que pode ser possível.
— Como o selo que você colocou em sua alma, — Michael disse a Lazarus,
ficando mais alerta quando ele se sentou e colocou as duas pernas de volta no chão. A
mistura de café e conhaque, com adição de ambrosia. estava meio escorrida. Graças à
sua construção maciça, muito mais era necessário para ele sentir os efeitos. — A
proteção vacilou porque sua vontade foi testada. Ele dominou a magia usada para
bloquear seu vínculo.
Quando Lazarus e eu nos beijamos pela primeira vez, foi quando a proteção se
desfez completamente. Nosso vínculo predestinado de companheiro obliterou a magia
destinada a nos manter separados.
— Amor — eu sussurrei. — Ele tem o poder de quebrar qualquer feitiço.
— No fundo, você sempre foi tão romântico — Konnar me disse. — E nisso, eu
acredito que você está certo. O amor é irracional, imprevisível e uma das forças mais
fortes em todos os reinos. Capaz de transformar inimigos em amantes, quebrar feitiços
e... — Seu olhar se voltou para Lazarus. — Até mesmo colocando um anjo de joelhos.
Lazarus o encarou. — Eu prefiro trazê-lo para o dele.
— Quem é você? — Michael jogou a cabeça para trás contra o sofá enquanto
seu grande corpo tremia com uma risada. — E o que você fez com meu amigo puro?
Ignorando-o, Lazarus entrelaçou nossos dedos. — Todos os meninos
encontraram seus companheiros predestinados. É uma conexão muito mais profunda do
que o amor. Isso aumenta a probabilidade de quebrar o feitiço?
Talvez fosse por causa da marca que eu tinha colocado nele, mas eu estava em
sintonia com a forma como sua respiração engatou. Como seus batimentos cardíacos
aceleraram.
Esperança.
— Não sou especialista no assunto, mas não descartaria a possibilidade. —
Konnar enfiou a mão no bolso interno de seu paletó e retirou um frasco de vidro cheio de
uma espessa substância vermelho-escura. Seu sangue. — Para você.
Tanto para ele precisar considerar isso primeiro. Ele tinha o frasco pronto antes
mesmo de eu chegar ao clube.
Eu aceitei isso dele, meu coração aquecendo. — Obrigado.
— É claro. Você é minha família. Há pouca coisa que eu não faria por você. —
Ele se levantou da cadeira e abotoou o paletó antes de alisar as mãos no tecido cor de
vinho. — Embora, vamos esquecer todo esse absurdo antigo. Essa palavra, junto com
velho, deveria ser banida.
Sorrindo, levantei-me e guardei o frasco no bolso. — Estou em dívida com você,
meu amigo.
Lazarus também se levantou.
— Retribua o favor juntando-se a mim para um chá daqui a uma semana. Temos
bolinhos e fofocas para nos deliciar.
Eu sabia o que ele estava realmente dizendo: não deixe esta batalha ser sua
última.
A magia da alma era imprevisível. Com meus irmãos ligados a seus
companheiros, suas vontades de retornar a esses companheiros seriam mais fortes do
que qualquer coisa neste universo inteiro. Enquanto segurava a mão de Lazarus, eu
sabia que minha vontade de voltar para seus braços era tão forte quanto.
A esperança floresceu em meu peito, como uma gota de tinta caindo da ponta
de uma pena e caindo no papel, começando pequena, mas rapidamente se espalhando.
— Venceremos a batalha, — Orgulho sussurrou. — E voltamos para o nosso
anjo.
Nosso anjo. Foi a primeira vez que meu pecado se referiu a ele assim. Prova de
que não fui a único que se apaixonou pelo anjo de cabelos brancos com o exterior gelado,
mas toques calorosos e coração gentil, mesmo que ele afirmasse o contrário.
Quando saímos do salão privado e voltamos para a parte principal do clube, meu
olhar vagou pela sala.
Bellamy e Phoenix estavam conversando com Evelyn, uma vampira que Bellamy
costumava ficar antes de ser acasalado. Ela tinha seu próprio harém de machos, porém,
e só queria sua amizade nestes dias. O que foi uma sorte porque Phoenix sem dúvida a
teria incendiado.
Gray arrastou Mason para a pista de dança. Ver o ex-fuzileiro naval tão
desajeitado e rígido enquanto Gray rebolava na frente dele foi o suficiente para me fazer
rir alto. Castor e Kyo dançaram ao lado deles. O dragão de água juntou as mãos atrás
do pescoço de Castor. Seus peitos pressionados juntos enquanto eles se moviam ao
ritmo.
Daman dançou em uma plataforma elevada antes de girar em torno de um poste
enquanto Warrin o observava. Seus olhos se encontraram antes de um sorriso aparecer
no rosto de Daman. Uma visão rara, ele sendo tão expressivo. Porque ele sabia que os
dias estavam passando rápido. O tempo estava se esgotando.
Konnar acreditava que o feitiço poderia ser quebrado.
— Devo dizer a eles, Laz? Ou será cruel dar a eles e a seus companheiros
esperança apenas para que não funcione?
— Essa é uma decisão difícil — ele respondeu. — No entanto, eu sei que você
fará a escolha certa. Você sempre faz.
Eu sorri para ele, satisfeito com o elogio.
Seus olhos se estreitaram. — Bem, quase sempre. Às vezes, seu ego atrapalha.
— Ele descansou a mão na parte inferior das minhas costas quando um lobisomem
passou e estava me verificando, algo que eu notei também. Sua possessividade me
emocionou.
— Preocupado que alguém vai me roubar? — Eu perguntei.
— Gostaria de vê-los tentar.
Deuses. O leve rosnado em seu tom, combinado com aquele brilho possessivo
em seus olhos, me fez querer encontrar um quarto privado no clube, trancar a porta e
cavalgar em seu pau como se não houvesse amanhã.
Essa fantasia logo foi interrompida. O ar ao meu lado brilhou antes que um
homem com cabelo castanho claro e olhos amarelos aparecesse.
— Taeden, — eu disse.
— Orgulho. — Ele inclinou a cabeça. O ceifador tinha uma reputação de bad
boy, tanto no clube quanto fora dele. Dizia-se que ele sentia uma satisfação doentia
quando ceifava almas e as levava para o poço de fogo. Seus gritos aterrorizados o
afastaram. Ou assim afirmavam os rumores. — A última vez que te vi, você estava no
submundo em seu caminho para resgatar o companheiro demônio de seu irmão.
— Sim. Foi você quem nos levou até lá.
— Pela bondade do meu coração também. — Taeden levou a mão ao peito. —
No entanto, acredito que um certo acordo foi fechado entre nós para essa assistência.
Se eu te ajudasse, você me ajudaria no futuro. Um favor por um favor.
Meu bom humor de antes estava se dissipando rapidamente. — Acho que você
veio reivindicar esse favor?
— Pode ser. Talvez não. — O ceifador olhou para Daman e a tristeza encheu
seus olhos, mesmo que apenas por um momento. — Ouvi dizer que vocês estão
brincando de heróis novamente. Você tem uma arma em sua posse que pode matar o
próprio Lúcifer. É verdade?
— Onde você ouviu isso? — Lazarus perguntou com um grunhido.
Taeden o examinou. — Eu tenho minhas fontes. Nada disso eu vou revelar a
você.
— Ninguém fora de nós e nossos aliados sabem disso, — eu disse com uma
sensação inquietante em meu estômago. Alguém nos traiu? Lúcifer tinha um espião em
nossas fileiras relatando a ele? — Responda a maldita pergunta, Taeden.
— O que você vai me oferecer em troca da informação, Orgulho?
— Isso não é um jogo, ceifador, — eu disse. — Se alguém está fornecendo
informações para o inimigo, precisamos saber sobre isso. Estamos em guerra.
— Uma guerra da qual não participo. Não estou do seu lado nem do deles.
— Certo. Você só se importa com o que pode ganhar com isso. — Obriguei-me
a manter a calma. A agitação borbulhava em meu núcleo, ameaçando transbordar. —
Você não é leal a ninguém além de si mesmo.
— Sou o único em quem posso confiar — rebateu ele.
— Está tudo bem aqui? — Kallias perguntou quando chegou ao meu lado. Seus
olhos escuros estavam fixos no ceifeiro. — Declare seu propósito com meu irmão e seu
companheiro.
— Ah. — O sorriso de Taeden voltou. — Você é o irmão há muito perdido. Ainda
não tivemos a oportunidade de nos encontrar. Como a vida entre os vivos está tratando
você? É uma pena que não fui eu quem teve a honra de ceifar sua alma. Eu não estava
vivo naquela época. — Seus olhos amarelos seguiram o corpo do meu irmão. — Mas se
os rumores forem verdadeiros e você estiver prestes a enfrentar Lúcifer em batalha,
talvez eu tenha minha chance em breve.
A expressão de Kallias permaneceu dura. — Você sorri, mas eu sinto uma
grande tristeza em você. Esconder sua dor só vai piorar o sentimento quando finalmente
se tornar grande demais para conter.
O olhar de Taeden cintilou para Daman, tão rápido que era quase imperceptível,
antes de voltar para Kallias. — Dor? Eu sei isso bem. Ressoa claramente nos gritos das
almas que arrasto para o inferno. Nada deixa meu pau mais duro.
— Diga-me isso... — Eu me aproximei. — Seu pau ficaria duro se fosse a alma
de Daman gritando de dor?
As bochechas do ceifador perderam um pouco de cor.
— Você não tem uma resposta espertinha para isso, tem? Depois de todo esse
tempo, você ainda o ama. Então pare com os jogos e me diga onde você aprendeu sobre
a arma. A vida dele pode depender disso.
Taeden desviou os olhos para o chão. — Holden.
— Seu amigo ceifador?
— Amigo é um exagero — ele respondeu, recuperando um pouco de sua antiga
atitude arrogante. — Colega de trabalho é mais assim. Depois de ajudar Belphegor com
as almas no início deste ano, Holden se escondeu, como você sabe. Ele sabia que você
e seu poderoso bando de heróis estariam atrás dele. Então, ele foi deixado de lado
enquanto cumpre seus deveres para com a Morte. Quem... sim, estava chateado com
tudo isso, mas deu a Holden uma segunda chance.
— Como Holden aprendeu sobre a arma, então? — Eu perguntei. — Ele tem
nos espionado?
— Não. — Taeden olhou para Lazarus. — Um de seus anjos está transando
com ele. Eles se conheceram quando aquele filho da puta do Purah estava soltando
todos aqueles zumbis aqui em Echo Bay.
— Quando enviei anjos para ajudar — disse Lazarus.
— Sim. Um dos zumbis matou um humano em uma trilha de caminhada. Holden
foi colher sua alma e encontrou o anjo que estava se livrando do zumbi. Luxúria no
primeiro corte de cabeça, eu acho. Taeden pegou uma bebida de uma bandeja carregada
por uma shifter gata. Ela piscou para ele e o empurrou com o rabo. Ele não poderia ter
parecido menos interessado nela se tivesse tentado. — Qualquer maneira. Foi assim
que eles se conheceram. Quando eles transaram outro dia, o anjo contou a Holden sobre
uma espada negra. Pertence a Asa Morningstar, certo?
Eletricidade formigou no ar quando Michael se aproximou, seu olhar letal
queimando tão intensamente que seus olhos normalmente castanhos brilharam com
ouro. — Você sabe o nome do anjo?
— Evan alguma coisa? — Taeden balançou a cabeça. — Não me lembro.
— Evangelos? — Lazarus perguntou.
— Sim, é isso.
Eu me virei para o meu companheiro. — Um espião de Lúcifer ou apenas um
tolo que não consegue manter a boca fechada durante uma conversa de travesseiro?
— Não tenho certeza — respondeu Lazarus, parecendo tão letal quanto Michael.
— Mas eu vou descobrir.
Uriel estava na varanda do palácio, o vento despenteando as mechas mais
longas de seu cabelo castanho enquanto ele olhava para o reino colorido. Campos
gramados repletos de manchas de flores vibrantes repousavam sob um céu rosa e
dourado enquanto o sol se preparava para nascer em nosso reino.
— É verdade? — Ele perguntou, e seus olhos verdes se voltaram para mim. —
Alastair e os outros precisarão se sacrificar para matar o Morningstar?
— Sim. — Um pedaço de ferro envolveu meu coração e se fechou, penetrante
e pesada ao mesmo tempo. — Se você pretende se vangloriar, não tenho desejo de
ouvir.
— Não é nenhum segredo que tenho pouco amor por essas abominações. Sua
própria existência é uma mancha na terra. Eles são lembretes constantes da traição que
sofremos nas mãos de Lúcifer e seus súditos mais leais. — Uriel se afastou do corrimão
e descansou as costas contra ele. — No entanto, eu tinha toda a intenção de receber
suas almas no Paraíso após a morte, caso fizessem o que eu pedi.
— Você realmente faria?
— Você duvida de mim. — Um tique começou em sua mandíbula. — Quando
faço uma promessa, honro. Eu estava disposto a perdoar suas ofensas.
— Que ofensas podem ser essas? — Eu perguntei, minha irritação aumentando.
— Eles não fizeram nada de errado. O único crime deles foi nascerem filhos de anjos
caídos. Eles não escolheram seu destino mais do que você ou eu.
— Eles têm sangue de traidores correndo em suas veias.
— Eles não são seus pais, — eu disse, observando uma nuvem roxa vagar
lentamente acima de nós. Ele colidiu com um branco inchado. Roxo e branco, um certo
Nephilim e eu. Até o céu transmitia que pertencíamos um ao outro. — Como tal, você
nunca deveria ter usado essa traição contra eles. Sua raiva o cegou, assim como seu
medo.
— Cuidado, Lazarus. Você se esquece do seu lugar. — Os olhos de Uriel se
estreitaram. — Eu só permiti que você se juntasse a nós hoje porque você está
diretamente envolvido com o anjo em questão, mas posso expulsá-lo com a mesma
facilidade.
Ele poderia fazer muito pior do que simplesmente me jogar fora. As cicatrizes
nas minhas costas doíam com a lembrança.
As portas das câmaras do conselho se abriram quando Raphael, Selaphiel e três
outros arcanjos chegaram. Não havia porta que dava para a sacada; era acessível depois
de subir três degraus e caminhar entre dois grandes pilares de pedra. O clima ao redor
do palácio era sempre perfeito, então não havia necessidade de bloquear chuva, neve
ou calor excessivo.
Uriel voltou para o quarto e eu o segui.
— Onde está Michael? — Gabriel perguntou, sentando-se à mesa redonda.
— Recolhendo o suspeito para que possamos interrogá-lo. — Uriel também se
sentou.
— Interrogá-lo? — Zadkiel disse antes de puxar a cadeira em frente a Uriel. —
Se a informação for verdadeira, faremos muito mais do que isso. A única punição
adequada para um traidor é a morte.
— Onde estão as guloseimas? — Raphael fez beicinho na mesa. — Sem
macarons ou bolos? Nem chá? Como vou suportar esta reunião sem eles?
— Não havia tempo para preparar refrescos, — Uriel disse a ele. — Estamos
aqui para interrogar um possível espião de Lúcifer. Sobremesas são triviais.
— Acho você trivial. — Raphael brincou com o grampo de cabelo azul brilhante
que prendia uma mecha de sua franja loira de morango para o lado. — E grosseiro. Você
também é...
— Pare com sua divagação incessante, — Uriel interrompeu, suas mãos se
fechando em punhos em cima da mesa. — Você me irrita com seus impulsos gulosos.
— Doces deliciosos fazem bem à alma — respondeu Raphael. — Mas você não
saberia. Você nega a si mesmo todos os prazeres na tentativa de parecer mais
importante e poderoso do que o resto de nós.
— Eu te asseguro. Eu não faço nenhuma tentativa em fazê-lo. É um mero fato.
Todas as reuniões do conselho eram assim? Fiquei ao lado da mesa e os
observei em silêncio. Restava apenas uma cadeira vaga: a de Michael. Todas as
cadeiras tinham assentos almofadados e gravuras ornamentadas na madeira. Apenas
um tinha incrustações de ouro e pedras preciosas, e o mais grosseiro do grupo
atualmente o ocupava.
Uriel realmente se via como o chefe do conselho, apesar das regras em vigor
que proibiam qualquer anjo de ter todo o poder. Ele repreendeu a gula de Raphael, mas
não teve escrúpulos sobre seu próprio senso de orgulho e complexo de ser mais santo
que você.
Michael se materializou na porta segundos depois, segurando Evangelos antes
de empurrá-lo para frente. A expressão tempestuosa de meu amigo naquele momento
poderia causar medo no coração de qualquer um. Eu sabia o quão grande ele era um
marshmallow, e ele até me deixou desconfortável.
— Por que estou aqui? — perguntou Evangelos. — Oliver e eu deveríamos estar
explorando agora.
— Oliver está com Dargan — Michael disse a ele. — Você está aqui para
responder a algumas perguntas.
— Perguntas sobre o quê?
Michael o empurrou para uma cadeira enquanto Uriel se levantava e se
aproximava deles. Algemas douradas apareceram nos pulsos de Evangelos. Como um
arcanjo da verdade, as algemas foram um dos presentes de Uriel. O usuário não
conseguia mentir quando amarrado.
— Tenho o direito de saber por que estou sendo detido! — Evangelos disse,
lutando contra as algemas. Seu olhar disparou ao redor da sala antes de parar em mim.
— Comandante Lazarus. Eu servi sob seu comando por muitos anos. Você me vê como
um de seus guerreiros de confiança. É por isso que fui escolhido para ficar com você e
os outros na ilha.
— Correto. Você era um dos meus guerreiros de confiança, — eu disse, triste
por não ser mais o caso. — Essa confiança foi quebrada desde então.
— O que? Por que? — Ele tentou soltar as algemas, sem sucesso. — Solte-me
imediatamente!
— Qual é a sua relação com o ceifador chamado Holden? — Uriel perguntou a
ele.
— Holden? Não sei quem... — Evangelos estremeceu, depois cerrou os dentes.
A mentira não podia sair de seus lábios. — Ok. Ele é meu amante. Isso não é crime.
— Não, não é, — Michael concordou. — No entanto, contar a ele informações
classificadas é.
Evangelos apertou a boca em uma linha fina, optando por manter o silêncio.
Os olhos de Uriel brilharam dourados. — Revele a verdade que você está
escondendo. Você contou a Holden sobre a espada de Asa Morningstar?
O suor escorria em sua têmpora e as restrições apertaram seus pulsos,
impulsionando-o a responder. — Sim, eu disse a ele!
— Por que? — Michael perguntou.
— Porque Holden ajudou Belphegor no passado com as almas, — Evangelos
respondeu, a verdade derramando dele. Ele não podia controlar isso agora. — Achei que
podia confiar nele. Achei que ele estava do nosso lado.
— Nosso lado? — Eu perguntei.
— Um aliado de Lúcifer.
Meu sangue gelou. — Você é um espião.
Silêncio.
— Responda a ele! — Uriel ordenou.
— S-Sim — respondeu Evangelos. — Mas nem sempre fui um espião. Quando
Belphegor libertou Lúcifer de sua jaula, foi quando minha lealdade mudou.
— Por que? — Eu perguntei. — Por que nos trair?
Por que me trair.
— Simples. — Evangelos deu de ombros. — Lúcifer é mais poderoso. Ele foi o
primeiro anjo e é onipotente, maior até do que Michael. Na época, não havia nenhuma
arma conhecida que pudesse matá-lo. Com ele livre, pesei minhas opções. Concluí que
o exército celestial não é páreo para Lúcifer. Não éramos durante a primeira guerra e
não somos agora.
— Então você foi um covarde, — Michael disse em um tom cortante.
— Me chame do que quiser. Eu não me importo. Eu fiz minha escolha e vou
aceitar as consequências.
O olhar assassino de Michael queimava nele. — Você contou a Lúcifer sobre nós
recuperarmos o Anoitecer?
— Sim. — Evangelos sorriu. — Você acha que o derrotou, mas está errado. Ele
vai matar todos vocês. Você, os filhos amaldiçoados, e Asa. Todos vocês cairão na
chama da Portadora da Luz.
— Lúcifer não é poderoso o suficiente para romper este reino, — disse Uriel. —
Ele nunca vai chegar até nós ou Asa.
Evangelos não estava mais nervoso. Ele era ousado agora. desafiador. Talvez
porque soubesse que era uma causa perdida. Ele não podia mentir para nós. — Seu
objetivo não é violar este reino. Pelo menos ainda não. Ele pretende convocar Asa para
ele.
— Como ele tentou fazer em Hoia Baciu? — Eu perguntei. — A floresta não
permite. Os espíritos que residem lá, junto com todos os seres vivos, irão lutar contra
ele.
— Ah, você entendeu tudo errado, comandante. Lúcifer não precisará explorar
a energia mágica da floresta desta vez. Tem outro jeito.
— Impossível — disse Gabriel.
— Não totalmente impossível, — Selaphiel rebateu. Seu cabelo dourado roçou
seus ombros enquanto ele se levantava de sua cadeira. — Sinto as energias astrológicas
mudando. Um evento raro está prestes a ocorrer no reino humano que aumentará essa
energia. Se Lúcifer realizar a convocação quando eu suspeito que ele fará, ele terá
sucesso.
— A lua negra, — eu disse.
O sorriso de Evangelos se alargou. Ele parecia enlouquecido. — Agora que
Lúcifer sabe que você tem o Anoitecer, ele pretende usar o poder da lua negra para
invocar Asa e matá-lo, impedindo que você execute seu plano.
Nervos torceram em meu intestino. — Uma arma espiritual só pode ser destruída
se a alma à qual está ligada morrer.
Michael trabalhou sua mandíbula. — Lúcifer planeja matar Asa, então Anoitecer
morrerá com ele.
— Portanto, existem cérebros junto com essa força muscular. Bravo, capitão.
Uriel se aproximou do anjo acorrentado. — Onde essa convocação acontecerá?
— No lugar onde tudo começou — respondeu Evangelos. — Onde a alma de
Asa Morningstar acordou pela primeira vez.
A princípio, fiquei confuso. Mas então a resposta me atingiu... e uma dor agridoce
veio com ela.
Foi onde a alma de Asa foi liberada do ringue. Onde a guerra e tudo o que dela
decorreu foram acionados. Um lugar onde os irmãos se sentiram tão seguros uma vez,
antes que essa segurança fosse arrancada deles e incendiada.
A mansão em Echo Bay.
***
Oliver estava na praia ao lado de Daichi. O dragão da terra falou com ele,
baixinho demais para eu ouvir. Em nosso tempo na ilha, os dois se tornaram bons
amigos. Porém, Oliver sentiu um vínculo mais profundo do que amizade, que ele
escondeu por respeito ao casamento do outro homem com a irmã de Kyo.
Daichi o estava confortando.
Eu havia deixado o reino celestial antes que a sentença de Evangelos fosse
executada por Michael. A decisão do conselho foi unânime.
Veredicto: execução.
— Como você está indo? — Dargan me perguntou. — Ter um guerreiro sob seu
comando traindo você comeria qualquer um.
— Estou bem — respondi antes de acenar para Oliver. — É com ele que estou
preocupado. Seu coração é muito grande às vezes.
— Ah. Ele vai ficar bem também. — Os olhos caramelo de Dargan focaram no
par perto da frente da água. — Especialmente com o dragão ao seu lado.
Meu coração partiu para Oliver. Por milhares de anos, suportei a dor de desejar
alguém que nunca poderia ter. Eu não desejaria isso a ninguém.
— Cuida dele para mim? — Perguntei a Dargan antes de liberar minhas asas.
— Preciso visitar os meninos.
— Sim senhor.
Em seguida, voei para a vila de Baxter, onde Alastair e seus irmãos se reuniram
com os comandantes aliados para discutir a noite da lua negra. Nico me encontrou lá
fora. Ele estava sentado nos degraus da frente comendo um picolé.
— Fui expulso da reunião por falar demais — disse ele antes de morder a
guloseima. — Mas Ray me deu isso. É com sabor de banana. Meu favorito. — Outra
mordida antes que ele batesse a mão na testa. — Aí. Congelamento do cérebro.
Expulsá-lo por falar demais provavelmente foi uma desculpa apenas para tirá-lo
da sala. Raiden e Titan cuidaram de Nico como se ele fosse seu próprio filho. Eles não
o queriam nem perto desta batalha, apesar de seu treinamento no ano passado para
prepará-lo para a guerra.
— Se você ficar entediado, pode se juntar a Oliver e Dargan na praia, — eu
disse a ele. Sua personalidade hiperativa pode ajudar a melhorar o humor dos anjos.
Porque embora ele tivesse mantido uma compostura fria, eu sabia que Dargan estava
sofrendo também. Evangelos tinha sido um de nós. Ele lutou ao nosso lado. Treinado
conosco. Riu e jantou conosco.
E então nos traiu. Cortou fundo.
Uma vez dentro da vila, segui o som de vozes em direção ao escritório. O cheiro
de fajitas pairava no ar. Uma melodia de frango, camarão e bife. O suficiente para
alimentar um exército inteiro. Ou perto disso.
Antes de chegar à porta, Alastair saiu da sala, sua expressão se iluminando ao
me ver. A cautela brilhou em seus olhos, porém, depois de observar minha aparência.
Ele estava tão sintonizado comigo.
— Ele era um espião, — eu disse. — O conselho votou para executá-lo.
— Eu sinto muito. — Alastair caiu em meus braços. Eu não sabia o quanto eu
precisava dele até que ele estava contra mim, seu corpo quente e seu doce aroma de
cedro um conforto para o meu coração machucado. — Você aprendeu alguma coisa com
ele, pelo menos?
— Sim. — Eu acariciei seu cabelo, então escondi meu rosto nele. — Você estava
certo sobre a lua negra. Lúcifer planeja usar o poder para invocar Asa da prisão celestial.
— Convocar Asa? — Ele perguntou, tentando se afastar. Mas eu o segurei no
lugar. Eu me sentia cru e não queria que ele visse aquela crueza em meus olhos. Ele se
recostou no meu peito e deslizou as mãos na minha nuca. — Por que?
— Para matá-lo. Ele sabe que temos o Anoitecer.
— E ele planeja matar Asa para nos impedir de usar a espada contra ele.
— Garoto inteligente.
Alastair beijou a área abaixo da minha mandíbula. Um rosnado retumbaram em
seu peito. Seu pecado desfrutou do louvor tanto quanto ele.
— Também descobri o local da batalha. — Eu relutantemente me afastei. — Os
outros deveriam ouvir também.
— Muito bem. — Alastair virou-se para a porta. — Vamos...
Eu o agarrei pelo pulso e o virei de volta para mim, capturando seus lábios. O
beijo espontâneo o chocou, mas ele logo se aproximou, provocando a junção de meus
lábios com sua língua antes de enfiá-la em minha boca.
— Estou aqui para você — ele me disse telepaticamente. — Apoie-se em mim
se precisar.
Sim. Ele me conhecia bem. Ele sabia que eu estava sofrendo por dentro e
precisava de sua proximidade. Precisava de tudo dele. Depois que nos separamos, ele
me levou para o escritório para me juntar aos outros.
Bellamy sorriu para nós. Sem dúvida, Luxúria sentiu o desejo fermentando do
lado de fora da porta. Desejo de sexo, pela fuga que dava. Mas principalmente pelo
conforto que só encontrei com Alastair em meus braços.
— Lazarus tem notícias, — Alastair disse.
— Diga. — Baxter ergueu as pernas sobre a mesa e recostou-se mais na
cadeira, colocando as mãos atrás da cabeça.
— Espero que você caia para trás, — Daman disse a ele.
— Kotya, — Warrin disse com uma leve risada, trazendo seu companheiro para
mais perto e beijando sua têmpora.
— Bem, ele flertou com você. — Daman olhou para o Nephilim de cabelo rosa.
— Vou cortar fora o pau dele.
— Pela última vez, eu não flertei com ele, — Baxter disse em um tom
exasperado. — Só perguntei se o carpete combinava com as cortinas. Foi uma pergunta
honesta. Aquele cabelo prateado e aquele leve reflexo azulado sempre despertaram meu
interesse.
A mão de Daman pousou no punho de sua espada.
Warrin prontamente moveu aquela mão para o lado e juntou seus dedos. Um
dragão poderoso domesticando um gatinho mal-humorado.
O rei Tatsuya parou na janela e olhou para mim. — Eu sugiro que você
compartilhe suas notícias antes que eles comecem de novo.
Sem perder tempo, contei a eles o que aprendi com Evangelos: o motivo de
Lúcifer esperar até a lua negra e o local ser a mansão deles, ou o que restou dela, em
Echo Bay.
Alastair congelou. — Por que Lúcifer precisaria convocar Asa das ruínas da
mansão?
— Porque é onde está a energia residual dele — disse Clara. Ela se sentou no
tapete com um Gray sonolento aconchegado a ela, Mason sentou-se do outro lado de
Gray. — Quando a alma de Asa acordou, sua força vital criou uma bola de energia. Os
efeitos prolongados dessa energia são o que Lúcifer usará para invocá-lo.
— Como está indo o feitiço? — Perguntou Alastair. Os companheiros dos irmãos
estavam na sala, então qualquer menção à transferência de alma estava fora dos limites.
Tudo o que eles sabiam era que um feitiço era necessário para fortalecer Anoitecer, não
as especificidades desse feitiço.
— Está tudo pronto — respondeu Clara. Ela acariciou o cabelo de Gray, e notei
a leve oscilação de seu queixo. Ela virou o rosto para a lareira para escondê-la.
Alastair havia compartilhado com ela o que Konnar disse sobre a magia da alma,
mas não havia garantia de que funcionaria. Era apenas uma pequena possibilidade de
que pudesse. Ele contou a seus irmãos sobre isso também, decidindo que era melhor
não esconder isso deles. Uma decisão sábia. Eles eram mais fortes quando existia uma
abertura absoluta entre eles. Sem segredos.
Quando os meninos contariam a verdade a seus companheiros? Eu não tinha
certeza.
— Vou precisar voltar para o meu palácio — disse o rei Tatsuya, virando-se da
janela. Seu longo cabelo preto caía sobre seu quimono jinbei azul, uma peça de roupa
de duas peças onde a parte de cima lembrava um quimono e a parte de baixo eram
calças largas que batiam no meio da panturrilha. — Minhas esposas... bem. — Seu olhar
caiu para sua aliança de casamento. Havia uma joia na banda plana para cada uma
delas. — Eu gostaria de vê-las novamente antes da batalha.
— Claro, — Alastair disse a ele. Ele então olhou para Daman. — Se você e
Warrin desejam retornar ao reino do gelo por uma noite ou duas, vocês deveriam. Use
uma pedra de teletransporte para chegar lá e voltar. Nos encontraremos aqui novamente
em 30 de dezembro para fazer outros arranjos.
Daman olhou para seu companheiro. — Quer ver nossa casa de novo?
Warrin sorriu para ele. — Nada me faria mais feliz.
— Devemos ir com seu irmão, — Castor disse a Kyo. — Eu gostaria de ver
Ryoko e os bebês.
Ryoko tinha meninos gêmeos que Castor adorava e gostava de estragar com
brinquedos. Eles também o adoravam, pelo que ouvi. A razão pela qual ele queria ir
puxou meu peito, no entanto. Foi a mesma razão pela qual Alastair sugeriu que Daman
e Warrin passassem um tempo em sua casa. Porque pode muito bem ser a última vez
que o farão.
Galen segurou a bochecha de Simon. — O que você diz, sexy? Quer se esconder
no seu loft durante a noite? — O loft acima da loja de antiguidades de Simon, onde ele
morava antes de conhecer os irmãos Nephilim. — Podemos pedir comida chinesa do
seu restaurante favorito e assistir a filmes bobos na cama.
— Ei, eu não assisto a filmes sentimentais, — Simon disse. — Eu assisto coisas
como American Pickers no History Channel como um nerd respeitável. Não todas essas
coisas românticas.
— Uh-huh. — Galen angulou seu rosto e roçou seus lábios juntos. — É por isso
que eu peguei você fungando naquele filme de Natal da Hallmark outro dia?
— Eu pleiteio a quinta.
— Deuses, eu te amo. — Galen o puxou para mais perto. — Nunca se esqueça
disso.
— Arrume um quarto — brincou Bellamy. — Pensando bem, tirem a roupa um
do outro bem aqui e deem a todos nós um pequeno show.
— Seu maldito pervertido — Castor disse a ele.
— Eu não sei disso, — Phoenix murmurou antes de esboçar um sorriso e se
aninhar mais perto de Bellamy. — Mas ele é meu Nephilim travesso e pervertido.
— Você e Nix devem vir para o reino do gelo conosco, B — disse Daman. —
Temos um quarto de hóspedes.
Daman e Bellamy então trocaram um olhar que dizia muito sem que eles
precisassem dizer uma única palavra. Com seus últimos dias potencialmente chegando,
eles também não queriam se separar. Eles nunca tiveram. Depois que eu trouxe Bellamy
para o campo de treinamento quando eles eram crianças, os dois rapidamente se
tornaram amigos. Eles estiveram próximos desde então.
Uma vibração soou antes de Mason tirar o telefone do bolso e colocá-lo no
ouvido. — Hawk. — Uma pausa. — Ei, Storm. Tudo bom? — Gray rolou para encará-lo.
— Foda-se, cara. Quão ruim? Scar está bem? — O caçador fechou os olhos e acenou
com a cabeça para si mesmo, como se estivesse aliviado. — Bom. Apenas aguente
firme. Essa merda vai acabar logo. Você ouviu falar de Grim ultimamente?
Ele se levantou do chão e, quando Gray estendeu a mão para ele, Mason o
pegou e deixou Gray agarrar suas costas. Ainda falando ao telefone, ele saiu do
escritório.
— A guerra está aumentando — disse Alastair. — Enquanto estamos aqui
agora, a humanidade está à mercê do exército de Lúcifer.
— E seu exército está à mercê do nosso — disse Baxter. — Temos unidades
estacionadas nas áreas mais atingidas, atendendo-as aço por aço.
O Príncipe Viktor assentiu. Ele havia retornado à ilha naquela manhã para
discutir os esforços de guerra. — Graças a Penemuel, os humanos também estão mais
vigilantes em sua própria defesa, mantendo o número de mortos baixo.
— Um vencedor será decidido no dia de Ano Novo — disse Sirena. — Ou Lúcifer
sairá vitorioso, ou nós seremos.
— Nós vamos. — A confiança tocou no tom de Alastair. — Não aceitarei nada
menos.
Eu apenas rezei para que ele estivesse por perto para ver essa vitória.
***
***
***
Um bem ou mal absoluto não existia. Todos nós éramos capazes de nos tornar
monstros se provocados o suficiente. Lúcifer havia me ensinado isso.
Era por isso que eu não conseguia odiá-lo totalmente, apesar de tudo o que havia
acontecido. Era por isso que Michael às vezes falava de Lúcifer com uma dor triste em
seus olhos. Por que Lazarus criou uma fonte eterna como sua prisão quando o
enjaulamos.
Lúcifer significou algo para todos nós uma vez. Matá-lo seria, de muitas
maneiras, matar também aquelas memórias dele.
Enquanto meus irmãos e eu o circulávamos, atacando um após o outro, não o
atingi com ódio em meu coração. Eu estava com raiva? Sim. Mas não permiti que aquela
ira me consumisse. Não mais.
Talvez, mesmo depois de milhares de anos, eu ainda tivesse espaço para
crescer. Como um guerreiro. Como um homem.
— Você está bem? — Perguntei a Lazarus.
— Não se preocupe comigo. Concentre-se na luta com Lúcifer.
— Tão mandão.
— Sempre.
Ouvir sua voz, mesmo telepaticamente, me deu um impulso de força.
Se fôssemos qualquer outra pessoa, Lúcifer teria nos derrotado facilmente. Mas
a maldição em nosso sangue contra-atacou com suas próprias habilidades. Seus
poderes não eram tão potentes. O mesmo para nós e nossos pecados contra ele. Foi
por isso que não consegui liberar todo o potencial do Orgulho nele e persuadi-lo a fazer
o que eu quisesse.
— Continue — eu disse aos meus irmãos. — Permita que seus pecados o
guiem. Precisamos acionar a sincronização.
Talvez fosse em parte devido ao poder da lua negra, mas me senti mais forte.
Fisicamente, mas mentalmente também. Essa força então fluiu para o Orgulho. Eu o
senti alcançando os outros pecados. Como se fossem seus irmãos também, sua família.
Nossos movimentos se aceleraram. Galen atacou, então Raiden. Kallias e
Castor mergulharam juntos antes de Daman pular alto no ar e derrubar sua espada falx,
a ponta curva roçando a garganta de Lúcifer, mas não quebrando sua pele. Gray
manteve seu pequeno corpo baixo enquanto saltava para frente e rapidamente cortou
antes de se afastar.
Bellamy empunhava lâminas duplas, cortando com uma e bloqueando o ataque
da Portadora da Luz com a outra. Sua espada rangeu ao travar com a de Lúcifer, como
se a lâmina estivesse prestes a quebrar. — Filho da puta! — Ele empurrou contra Lúcifer
antes de saltar para trás para colocar distância entre eles.
Portadora da Luz então cavou no bíceps de Galen. Meu irmão rugiu e ficou ainda
mais balístico, seus punhos borrados enquanto socava Lúcifer em uma velocidade
desumana. Castor e Daman atacaram de cima, e Lúcifer usou seus poderes para jogá-
los de lado.
Daman se chocou contra uma árvore e deslizou para a neve com um grunhido
de dor.
— Daman! — Warrin gritou atrás de nós, mas foi contido por Lev.
Daman ficou de pé, mantendo os olhos longe de seu companheiro. Eu senti o
quanto isso o machucou, muito mais do que ser jogado contra a árvore. Mas se olhasse
para Warrin, ficaria distraído.
— E aqui eu acreditava que felinos irritantes sempre pousavam em pé — disse
Lúcifer, com a cabeça inclinada em interesse. — Embora, suponho que você seja mais
lobo do que gatinho, Dacian.
— Do jeito que você quiser me chamar, eu ainda sou mais bonito que você. —
Daman preparou sua espada enquanto seus olhos verdes escureciam um pouco. Sua
voz também se aprofundou, um sinal de que a Inveja o havia dominado.
Quando meus irmãos e eu começamos a sincronizar, unindo nossas mentes e
lutando como uma só força, algo aconteceu. Nossa força aumentou enquanto a de
Lúcifer diminuiu. Sua telecinese também se tornou menos eficaz. Quando ele tentou
enviar Gray voando para longe dele, ele só conseguiu fazê-lo tropeçar alguns passos
para trás.
Nós o estávamos enfraquecendo.
Assim como eu sabia que faríamos.
— Ataque-o agora! — Eu gritei acima do barulho. Guerreiros lutavam atrás de
nós, anjos contra anjos caídos. Nephilim, vampiros, lobos e demônios se enfrentando.
Mais corpos empilhados, o ar frio fazendo pouco para mascarar o fedor da morte.
Bellamy cortou com suas lâminas gêmeas, cortando ambos os lados de Lúcifer
ao mesmo tempo.
Duas linhas de sangue marcaram a pele de Lúcifer. Essa primeira coleta de
sangue me disse que era hora.
— Clara! — Eu gritei. Ela se afastou do aglomerado de batalha onde montou um
altar para o feitiço. — Faça isso agora!
— Fazer o que? — Lúcifer cuspiu. Ele tinha visto a noite cair em sua visão, mas
não sabia os detalhes de como precisávamos usá-la.
— E estragar a surpresa? — Eu balancei para ele, e mesmo que ele tentasse
se esquivar, eu o peguei no antebraço, tirando um pouco mais de sangue. — Apenas
saiba que será um final incrível.
Castor o esfaqueou na parte inferior das costas, a adaga dourada enterrando-se
no punho. Lúcifer engasgou antes de atacá-lo. Portadora da Luz cortou o peito de Castor.
Kyo gritou de perto. — Castor!
— Está... tudo bem, pequeno... dragão. — Castor colocou a mão sobre o peito
e o sangue escorria pelas rachaduras de seus dedos. O ferimento não era iminentemente
fatal, mas a espada havia cortado fundo. Se ele não conseguisse ajuda médica logo, ele
sangraria até morrer. — Apenas... um arranhão.
Raiden o pegou quando ele caiu. — Eu peguei você.
— Obrigado, Ray. — Castor cerrou os dentes, aproveitando cada grama de
força que lhe restava para ficar de pé. — Temos que continuar lutando.
Gray esfaqueou Lúcifer no estômago. Kallias perfurou sua caixa torácica. Daman
atacou pela frente, cortando o abdômen de Lúcifer. As armas romperam sua pele
exatamente como haviam feito na Transilvânia. Mas desta vez, ele não iria se curar e se
afastar da luta.
Nenhum de nós se afastaria disso.
O canto de Clara chegou aos meus ouvidos. Ela falou as palavras que nos
ligariam a Anoitecer. Tínhamos minutos sobrando no máximo. Apertei meu aperto na
espada e colidi com Lúcifer enquanto meus irmãos se revezavam para esfaqueá-lo,
prendendo-o no lugar.
— Alastair? — Kallias disse com uma voz rouca, balançando um pouco. Seus
olhos ficaram vidrados e ele perdeu o controle de sua espada. — Me sinto estranho.
Algo quebrou em meu peito, então. — Está tudo bem, irmão.
Seus olhos escuros focaram em mim novamente, e ele sorriu levemente. — Tem
sido uma honra lutar ao seu lado.
E então, ele caiu de joelhos, arqueando as costas. Uma nuvem escura e brilhante
saiu de seu peito e fluiu para o anoitecer. Uma das pedras claras no cabo ficou preta. O
corpo de Kallias caiu na neve. Sem vida.
— Kal! — Gray ajoelhou-se ao lado dele.
— O que é isto? — O medo brilhou nos olhos de Lúcifer enquanto ele olhava
para a pedra agora negra.
— Isso? — Com o coração apertando dolorosamente no peito, bloqueei outro
golpe. A energia zumbia ao longo da lâmina, fortalecida pela alma do meu irmão. — Esta
é a cortina final. Para todos nós.
Eu sabia a ordem em que cada um dos meus irmãos cairia. Mas esse
conhecimento não tirou a dor disso. O tempo pareceu diminuir enquanto eu olhava para
eles. Lembrando os anos que passamos juntos. Como meninos, depois como homens.
Raiden cozinhando e sorrindo enquanto todos nos sentávamos juntos para
comer. Gray abraçando cada um de nós quando ficava com sono. A boca desinibida de
Castor que o colocou em apuros muitas vezes para contar, mas ele nunca deixou de
tornar qualquer situação divertida. As brincadeiras de Bellamy e Daman. A proteção feroz
de Galen sobre nós. E os sorrisos suaves de Kallias nas raras ocasiões em que a
Melancolia deu a ele um alívio da tristeza esmagadora. Tínhamos acabado de recuperá-
lo, apenas para perdê-lo novamente.
Mas estaríamos todos perdidos naquela noite.
Galen rosnou e se chocou contra o lado de Lúcifer antes que sua força
começasse a diminuir. Ele lutou contra isso, confuso a princípio. — É isso? — Ele então
me perguntou telepaticamente.
— Sim.
Dor. Mágoa. Foi impressionante quando vi meu irmão tropeçar.
Nos últimos momentos de Galen, um de seus olhos negros mudou de volta para
cinza claro. Ele encontrou Simon, que estava ao lado de Clara no altar. Um gemido baixo
deixou Galen antes que ele lentamente afundasse na neve. A névoa vermelha então fluiu
de seu peito para Anoitecer, colorindo uma das pedras transparentes de vermelho.
— Não! — Simon chorou. — Galen!
Baxter pousou ao lado de Simon e o segurou. O humano lutou contra seu aperto,
lágrimas escorrendo por suas bochechas enquanto ele gritava o nome de Galen
repetidamente.
— Pare com isso! — Lúcifer tentou se teletransportar, mas seu corpo apenas
piscou antes de se solidificar novamente. Ele estava muito fraco.
— Eu gostaria de poder, — eu disse, não reconhecendo minha voz. Nenhuma
quantidade de tempo poderia ter me preparado para aquele momento. — Eu daria
qualquer coisa para poupar meus irmãos e seus companheiros dessa dor.
Orgulho choramingou dentro de mim. Ele estava de luto por seus irmãos
também?
— Merda. — Castor balançou para a frente, perdendo um pouco de cor nas
bochechas. Ele havia perdido mais sangue também. Descia pelo seu torso. Seus olhos
verdes dispararam ao redor do campo de batalha. Procurando Kyo. Eu sabia que ele o
tinha visto quando seu lábio inferior tremeu.
— Vermelho! — Kyo lutou contra o Rei Tatsuya, tentando se aproximar. — Por
favor, não me deixe!
— Não chore... pequeno... — Quando Castor caiu de joelhos, uma névoa
dourada brilhante viajou de seu corpo para uma das pedras. O seguinte grito de seu
companheiro foi angustiante.
Eu gritei e golpeei Lúcifer, as lágrimas obscurecendo minha visão. Três das
almas dos meus irmãos já haviam sido absorvidas, fortalecendo ainda mais o Anoitecer.
Ele colidiu com a Portadora da Luz e manteve-se forte, forçando Lúcifer para trás.
Quando Daman caiu, o grito agonizante de Warrin foi de partir o coração. —
Kotya! Deuses, não. Solte-me, Lev! Eu ordeno que me liberte. Agora.
— Eu não posso — Lev respondeu, com voz trêmula. — Essa é uma ordem que
não posso obedecer, comandante. Ele tem que fazer isso.
— Não! — Warrin então se transformou em um dragão de tamanho normal,
repelindo um grande grupo de guerreiros inimigos. E enquanto ele rugia, ele congelou
todos eles antes de quebrá-los em pedaços. Lágrimas brotaram em seus grandes olhos
reptilianos.
— Todos vocês sacrificarão suas vidas, e para quê? — Lúcifer bloqueou um
ataque antes de empurrar contra mim. — Para humanos imundos?
— Por um mundo melhor. Para que outros possam viver vidas pacíficas e
simples. — Uma vida que eu nunca poderia ter, mas nossas ações naquela noite
garantiriam que outros tivessem essa chance. — A humanidade tem seus defeitos, mas
vale a pena salvá-la.
— Você é um tolo, — Lúcifer respondeu. — Você tem todo esse poder e não faz
nada com ele!
— Você está errado. — Eu me abaixei sob sua espada antes de rolar para o
lado para desviar de outro golpe. — É isso que estou fazendo com meu poder! O que
estamos fazendo, meus irmãos e eu. Estamos entre você e o fim do mundo. — Nossas
espadas tiniram. — Se eu pensasse por um momento que você poderia mudar, esta noite
teria sido diferente. Mas você nunca o fará.
Se esta fosse uma história para dormir com um, felizes para sempre, Lúcifer teria
visto o erro de seus caminhos e se arrependido. Ele e eu teríamos nos abraçado como
família em vez de nos enfrentarmos como inimigos. Mas a realidade nunca funcionou
como nos contos de fadas. Algumas pessoas estavam além da redenção.
A voz de Clara ficou mais alta enquanto ela continuava o feitiço. Lúcifer ordenou
que os demônios a atacassem, mas Sirena, Baxter, Naida e o rei Tatsuya criaram uma
barreira ao redor do altar e a protegeram.
— Al? — A voz de Gray encheu minha cabeça. Seu pequeno corpo caiu na
neve. — Eu acho que isso me pegou. Eu estou assustado.
— Não tenha medo, pequenino, — eu disse a ele, lutando contra a dor aguda e
penetrante em meu esterno. Eu não conseguia respirar. — Eu estarei com você em
breve.
Seus grandes olhos castanhos seguraram meu olhar antes de fechar. Eles não
abriram novamente. Uma aura azul clara saiu dele antes de se juntar às outras almas na
espada.
Bellamy foi o próximo. Enquanto ele perdia suas forças e caía de joelhos, o nome
de Phoenix formou-se em seus lábios. Ele agarrou a chave em volta do pescoço antes
de sua cabeça pender para a frente. Uma névoa azul real fluiu dele.
Raiden olhou para mim com lágrimas brilhando em seus olhos. — Parece que
somos só eu e você agora.
Minhas palavras ficaram presas na minha garganta. Tínhamos segundos
restantes e não pude dizer uma palavra a ele. Eu nunca fui bom em despedidas.
Uma lágrima rolou por sua bochecha. — Vejo você de novo em breve, irmão. —
Raiden enfiou sua espada na espinha de Lúcifer antes que ele também caísse no chão.
Quando sua alma foi chamada de seu corpo, a penúltima pedra do punho ficou laranja.
Pela primeira vez desde que os conheci quando meninos, eu estava sozinho. Eu
não conseguia mais senti-los. Não foi possível sentir nossa ligação mental. Era como se
tivessem morrido e me deixado para trás.
— Que peculiar. — O sangue escorria dos lábios de Lúcifer enquanto ele era
preso por sete espadas, todas saindo de diferentes partes de seu corpo. Ele ofegou e
encontrou meu olhar, suas pálpebras pesando mais. — Nunca senti tanto frio antes.
Minha pele coçava, como se algo estivesse me cutucando por dentro.
Procurando uma saída.
— Lazarus. — Eu balancei meus pés instáveis, as pontas das minhas botas
afundando mais na neve. Eu não poderia dizer a ele como me sentia. Eu não podia dizer
a ele que estava com medo.
— Estou com você — ele respondeu.
Eu o senti se aproximando. Meu coração disparou com isso, embora as batidas
tivessem diminuído consideravelmente. Reunindo minhas últimas forças, mergulhei
Anoitecer no peito de Lúcifer. Ele se sacudiu e cuspiu sangue.
— Você... fez isso — disse Lúcifer, respirações irregulares enquanto olhava para
a lâmina.
— Eu fiz. — No entanto, o Orgulho não gostou da vitória. Não quando tanto
havia sido perdido para alcançá-lo.
— Eu me pergunto... — A voz de Lúcifer era quase inaudível. — Vou ver... meu
Azazel... do outro... — Seus olhos se fecharam e sua cabeça caiu para frente. A espada
ainda estava alojada em seu peito. As almas dos meus irmãos o impediam de se curar.
Ele estava tão perto da morte.
Mas uma última alma era necessária para desferir o golpe final.
Incapaz de me segurar mais, caí de joelhos. Braços quentes vieram ao meu redor
por trás. E ao sentir o cheiro das maçãs de inverno, emiti um pequeno grito. Eu me sentia
tão fraco e estava ficando cada vez mais fraco. Virei minha cabeça para o lado,
encontrando o olhar lacrimejante de Lazarus. — Você está aqui.
— Eu estou. Eu não estou deixando você.
Tentei sorrir, mas não consegui. — Fiz bem?
— Sim, — Lazarus disse enquanto uma lágrima escorregou. — Você fez tão
bem.
Eu caí contra ele enquanto meus olhos se fechavam. Eu me senti tão leve.
E então, eu não senti nada.
A última pedra no punho de Anoitecer mudou para roxo. A alma de Alastair. As
oito pedras brilharam com mais intensidade antes de ouvir o estrondo de um trovão.
Lúcifer estava morto.
O silêncio caiu sobre o campo de batalha. Demônios de nível superior
desapareceram. Muitos dos Nephilim inimigos fugiram. Os únicos do exército de Lúcifer
que ficaram foram os anjos caídos restantes. Eles olharam para o rei caído em estado
de choque. Mas então, eles começaram a sair também.
Purah se escondeu nas sombras, usando-as para escapar. Uma de suas
habilidades.
Que assim seja. Deixe-o fugir como um covarde. Eu não me importava mais.
Eu estava muito entorpecido para me importar.
Clara cambaleou em direção aos corpos dos meninos antes de perder o
equilíbrio. Seu peito arfava enquanto ela tentava respirar. Em vez disso, ela gritou. Ela
pegou Gray em seus braços e chorou em seu cabelo, balançando para frente e para trás
na neve.
Mason caiu ao lado dela. O ex-fuzileiro naval normalmente mantinha suas
emoções sob controle, mas não conseguiu conter a dor naquele momento.
Nenhum deles poderia.
Phoenix puxou Bellamy contra ele e soltou um grito quebrado, seus olhos
brilhando vermelhos. A árvore à sua frente pegou fogo.
Warrin embalou o corpo de Daman. Ele voltou à sua forma humana, mas
enquanto chorava silenciosamente, as lágrimas se cristalizaram em seu rosto. Seus
cílios prateados brilhavam como gelo.
O Rei Tatsuya estava atrás de Kyo, a mão descansando em sua cabeça. Kyo
segurou Castor, gritos abafados deixando-o enquanto ele escondia o rosto nos cabelos
ruivos de Castor. — Eu te disse para não me deixar, Vermelho. Por que você não pode
apenas ouvir uma vez?
Alastair ainda estava em meus braços. Com a mão trêmula, afastei uma mecha
de sua franja loira pálida. Meu peito estava tão apertado. Algo se construiu dentro de
mim. Um choro. Um grito. Um colapso completo, eu não sabia. Mas à medida que
crescia, pressionei meu rosto na bochecha de meu companheiro. Sua bochecha fria.
— Você me prometeu. — Eu o embalei gentilmente, como se isso fosse de
alguma forma fazer seus olhos se abrirem. De alguma forma, trazer o calor de volta para
sua pele. — Pelos deuses, é melhor você não quebrar a promessa. É melhor você voltar
para mim.
— O que você quer dizer? — Perguntou Mason. Clara entregou Gray a ele. —
Retornar como?
Os meninos não compartilharam esse detalhe com seus companheiros,
pensando que era cruel dar-lhes falsas esperanças.
— Eles podem quebrar o feitiço — disse Phoenix. — Eles podem?
— É melhor vocês não estarem brincando comigo. — Simon tirou os óculos e
enxugou os olhos com a manga do casaco antes de se aconchegar ao lado de Galen. —
Porque meu coração não aguenta.
— Não há garantia de que vai funcionar — disse Clara com um triste aceno de
cabeça. — É por isso que eles não te contaram.
— Mas poderia — disse Titã, segurando Raiden. Nico se ajoelhou ao lado deles,
com o rosto manchado de lágrimas. — Eles podem voltar para nós.
— Diga-nos o que precisamos fazer — disse Kyo. — Eu farei qualquer coisa.
— Eu também, — disse Manson.
— Eu farei qualquer coisa. Matar qualquer um. Qualquer que seja. — Phoenix
acariciou o topo do cabelo dourado de Bellamy. — Eu só quero que ele volte para mim.
— Essa e a coisa. — Clara olhou para os meninos. — Não podemos fazer nada.
Eles são os únicos que podem reverter o feitiço.
— Como eles farão isso de dentro da espada? — Titã perguntou.
— Pura força de vontade, — a bruxa respondeu. — Suas almas estão
conectadas a cada um de vocês. Isso ajudará a chamá-los para fora.
— Quanto tempo isso vai levar? — A voz distante de Mason combinava com
sua expressão. Ele acariciou o cabelo de Gray enquanto olhava para ele.
— Minutos? Horas? — Clara olhou para o céu. — Mas isso precisa acontecer
antes da primeira luz do amanhecer. O feitiço foi lançado sob uma lua negra, então
também deve ser desfeito sob uma.
Michael se materializou ao meu lado. Asa estava com ele. Meu amigo olhou para
os meninos, sua expressão dura quebrando nas bordas.
— Bem, eu vou ser amaldiçoado — disse Asa, seus olhos, carmesim varrendo
a cena diante dele. Ele então olhou para Lúcifer. Portadora da Luz se quebrou após sua
morte. — Eles o mataram.
Warrin olhou para ele. — Se você pretende se vangloriar, vou arrancar seu
coração.
Asa levantou as mãos. — Ei, eu não os amo, mas esta é uma reviravolta muito
ruim. Senti uma conexão começando a se formar com o Orgulho logo antes de… bem,
disso.
— Vá embora, — Simon murmurou para ele.
— Isso é jeito de falar com a família? — Asa respondeu.
— Você não é minha família. — Simon pousou a mão no pescoço de Galen. —
Minha família se foi.
Gentilmente deitei Alastair antes de ficar de pé e ir até Lúcifer. Puxei Anoitecer
de seu peito e olhei para as pedras coloridas. Minha visão ficou turva quando passei meu
polegar sobre o roxo. Era lá que Alastair estava. Seu corpo era apenas um recipiente
vazio.
Um estrondo soou atrás de mim.
Uriel, Raphael e Selaphiel chegaram. Nuvens haviam se aproximado e rajadas
começaram a cair do céu escuro, pousando em suas penas brancas e douradas.
— Eles realmente fizeram isso, — Uriel disse, chocado. — Eles derrotaram o
Morningstar.
— Sim. — Anoitecer era pesada, como todas as armas da alma eram para
aqueles que não tinham permissão para empunhá-las. Mas minha alma sentiu seu
interior preso. — E eles deram tudo por isso.
Foi difícil comemorar o fim da guerra quando meu coração se desvaneceu. Com
Lúcifer derrotado, o mundo conheceria novamente a paz. Mas a que custo? Uma parte
egoísta de mim sentiu que o custo tinha sido alto demais.
Uma forma escura voou acima de nós antes de Belphegor pousar, ao lado de
Lúcifer. Ele olhou incrédulo antes de cair no chão e puxar Lúcifer contra ele. — Você
levou, meu rei. Minha luz. — E então seu olhar de olhos castanhos caiu para Gray. Aquilo
o atingiu com mais força. — Gradyn? O que é que você fez!
Um grito então saiu de sua garganta. Nunca pensei que veria Belphegor tão
destruído. Enquanto ele agarrava Lúcifer e olhava para o corpo sem vida de seu filho,
ele estava perdido na dor.
Eu me relacionei muito bem. Eu estava apaixonada por Alastair, mas ele não foi
o único que perdi naquela noite. Eu tinha perdido todos os meus meninos.
— Seu filho ajudou a corrigir seus erros, — Uriel disse a ele. A neve se prendeu
nas mechas de seu cabelo castanho. — Por isso, ele e os outros são heróis que serão
honrados nos céus.
— Incluindo Bellamy? — Phoenix perguntou. — Ele acasalou com um demônio
imundo, afinal.
O olhar de Uriel caiu para ele. — Você lutou bravamente ao lado de nosso
exército esta noite, demônio. Independentemente de meus sentimentos em relação à
sua espécie, você tem minha gratidão por isso.
— Enfie essa gratidão na sua bunda, — Phoenix disse com um rosnado. — Não
faz nada para mim. Eu prefiro que você encontre uma maneira de trazê-lo de volta para
mim. Você prometeu que se eles derrotassem Lúcifer, tudo seria perdoado.
— E assim é. — Os olhos de Uriel piscaram para o ouro, então de volta ao seu
tom original de verde. — Mas fale comigo assim de novo e eu vou mandar você gritando
para o poço de fogo.
Warrin agarrou o braço de Phoenix, balançando a cabeça quando seus olhos se
encontraram. Daman e Bellamy tinham uma conexão próxima. Adequando-se que seus
companheiros também compartilhariam um vínculo.
— Por favor, volte para mim, — tentei dizer a Alastair. Mas nosso elo mental
havia desaparecido. Meus pensamentos não conseguiam alcançá-lo. E deuses, doeu.
Belphegor levantou a cabeça quando Michael se aproximou dele. — Apenas me
mate já. Cansei de lutar. Perdi tudo.
— A morte é boa demais para você, — Michael disse, levantando Belphegor. —
Você viverá com sua dor por mais algum tempo. — Ele acenou para Uriel e os outros
antes de usar seu anel de teletransporte para levar ele e Belphegor embora.
Provavelmente para a prisão celestial, onde o anjo caído esperaria nova sentença.
— Onde você pensa que está indo? — Dargan disse, agarrando o pulso de Asa.
— Tentando fugir? Não vai acontecer.
Asa deu um sorriso tímido. — Não pode culpar um cara por tentar.
— Uh-huh. — Dargan puxou os braços de Asa para trás e o algemou.
— Lembre-se do nosso acordo — disse Asa para mim. — Eu ajudei você a
derrotar meu pai.
— Não me esqueço de nada, filho de Lúcifer. O conselho revisará sua sentença,
levando isso em consideração. — Olhei para Uriel. — Certo?
O arcanjo assentiu. — Será feito. — Ele então se virou para Dargan. — Leve-o
de volta ao palácio por enquanto.
— Sim senhor. — Dargan ergueu-se no ar. As reclamações de Asa sobre ser
maltratado diminuíram quanto mais longe eles voaram.
O olhar de Uriel então mudou para Penemuel, que estava entre Baxter e Clara.
— Você sobreviveu à batalha.
— Eu fiz. — Penemuel foi esfaqueado no braço e cortado na coxa, mas lutou
bem. Foi a primeira vez que ele e Uriel falaram desde que ele desertou. — Tantos anos
eu passei fugindo de você. Acho que é hora de finalmente enfrentar o julgamento do
conselho.
O olhar de Uriel se estreitou, e havia um tique em sua mandíbula. — Por mais
tentador que seja amarrar você e aplicar uma punição adequada por seus crimes contra
o reino, Michael me disse que você mudou. Ele é um tolo desajeitado na maioria dos
dias, mas eu respeito seu julgamento. E considerando sua ajuda na guerra contra o
Morningstar, estou inclinado a concordar com ele. Então, por enquanto, considere seus
erros perdoados. Mas saiba que se você sair um dedo do pé fora da linha, eu vou
arrancar sua cabeça.
Penemuel respondeu a ele, mas perdi o interesse.
A tristeza comeu minhas entranhas. Meu peito parecia oco. Os responsáveis
pela nossa vitória não estavam mais conosco. Não era justo.
O vento mexeu nas minhas costas antes que Konnar aparecesse. Ele franziu a
testa para Anoitecer. — Suas almas estão gritando por libertação.
— Você pode ouvir seus pensamentos? — Eu perguntei.
— De certa forma, sim — respondeu Konnar. — Eu posso ler as mentes das
pessoas ao meu redor. Existem algumas exceções, mas isso não vem ao caso. — Ele
acenou com a mão. — Embora eles não estejam em seus corpos, seus pensamentos
ainda me alcançam. Fracamente, mas eles estão lá. Mais ainda, estou sentindo os
sentimentos associados aos seus pensamentos. Principalmente, um profundo desejo por
seus companheiros.
Minha conexão com a mente de Alastair foi quebrada, mas se o vampiro ainda
fosse capaz de pegar algo dele, de todos eles, então talvez tivéssemos uma chance de
alcançá-los. Para ajudá-los a lutar e voltar para nós.
O olhar de Konnar permaneceu na última pedra do cabo. Ele ouviu Alastair? Ou
talvez, ele simplesmente sentiu falta dele.
— O vampiro está tramando algo. — Raphael deu um passo em minha direção,
suas asas brancas balançando suavemente enquanto se espalhavam atrás dele. Seus
olhos, magenta, se moveram para Anoitecer. — Posso?
Eu relutantemente entreguei. — O que você vai fazer?
— Eu? Há pouco que eu possa fazer. — Raphael examinou a lâmina antes de
tocar cada uma das pedras coloridas. — Mas se o vampiro pode ouvir seus
pensamentos, isso me diz que eles são conscientes o suficiente para provavelmente nos
ouvir também. Tenho uma ideia que pode ajudar a despertar suas almas. Ele olhou para
os companheiros dos meninos. — Por favor, traga seus corpos e coloque-os na minha
frente.
Warrin carregou Daman, seguido por Phoenix com Bellamy. Mason colocou Gray
ao lado de Bellamy antes que ele e Titã ajudassem Simon a trazer Galen. Raiden, Kallias
e Castor foram colocados ao lado deles. Uma vez que todos os irmãos estavam deitados
lado a lado, coloquei Alastair no final da fileira.
Meu peito apertou quando eu movi sua franja para o lado novamente. Ele estava
muito quieto. Mesmo dormindo, ele sempre registrava meu toque com um sorriso sutil ou
um resmungo sonolento. Eu daria qualquer coisa por um daqueles resmungos agora.
Raphael colocou Anoitecer no chão acima de suas cabeças. Ele então se
aproximou de cada um de seus corpos, colocou a mão no peito e projetou energia de
cura neles. A ferida no peito de Castor não fechou totalmente, nem mesmo um arcanjo
como Raphael, com sua especialidade em cura, poderia consertar totalmente um
ferimento causado pela Portadora da Luz, mas ele reabasteceu o sangue perdido e
fortaleceu seu corpo.
— Se isso vai funcionar? Não sei. Mas vale a pena tentar. — Raphael levantou-
se do chão e saiu do caminho. — Cada um de vocês precisa se aproximar da espada e
falar com seus companheiros.
— Falar com eles? — Perguntou Mason.
— Sim, — Raphael respondeu. — Suas almas estão unidas, correto? Há um
grande poder no vínculo entre companheiros predestinados. Se você os chamar, pode
ser o empurrão de que precisam para anular o feitiço.
— Isso pode funcionar — disse Konnar. — Às vezes, a vontade de uma pessoa
pode ser mais forte do que qualquer feitiço.
Warrin deu um passo em direção à espada. — Como quando Asa bebeu meu
sangue e me colocou sob hipnose. Ele ordenou que eu matasse Daman, mas acabei
rompendo a névoa e voltei aos meus sentidos. Porque nada neste mundo poderia me
fazer machucá-lo. Ele se ajoelhou na neve e tocou a pedra verde. — Kotya?
A cor rodou, como se respondesse a sua voz.
Um sorriso triste cruzou o rosto do dragão de gelo. — A guerra finalmente
acabou. Podemos voltar para o nosso chalé. Para nossa casa. O verde se agitava mais
rápido antes de ficar mais brilhante. — Eu sei que você deseja começar uma família. Eu
nunca tive a chance de te dizer que eu quero isso também. Quero ver você se tornar pai
e ensinar nosso filho sobre a floresta e as ervas. Posso ensiná-los a esgrima, mas
apenas por diversão, pois eles nunca conhecerão uma guerra como esta. Seremos pais
melhores do que os nossos jamais foram. Mas agora, o que eu mais quero é ter você em
meus braços novamente.
Houve um flash verde brilhante antes que uma névoa brilhante fluísse para o
corpo de Daman. E a pedra onde estivera sua alma, Limpa mais uma vez.
— Warrin? — Daman resmungou quando suas pálpebras se abriram.
Soltando um grito suave, Warrin o esmagou contra o peito. — Estou bem aqui,
kotya.
— Assim como você disse que seria. — Daman esfregou o nariz em seu
pescoço. — Meu comandante.
O alívio me atingiu com tanta força que me tirou o fôlego. Meu corpo inteiro
tremeu com isso, e uma bola de emoção se alojou em minha garganta. Eu entendi então,
por que cada um dos meninos encontrou seu companheiro predestinado durante a
guerra.
Foi para este momento. Então esses companheiros seriam capazes de salvá-los
de uma eternidade de nada.
— Yay. — Raphael sorriu e bateu palmas de leve. — Funcionou.
— O resto de vocês deveria tentar agora. — Selaphiel olhou para o céu. — Eu
sinto a energia astrológica começando a mudar. O poder da lua não vai durar para
sempre.
Simon foi o próximo. Ele tocou a gema vermelha. — Ei, garotão. — Brilhou um
pouco. — Você e Fúria precisam sair dessa espada. Está frio aqui fora. — O vermelho
rodou. Simon sorriu quando seus óculos embaçaram. — Volte para mim para que você
possa me aquecer. Você não gostaria que eu pegasse um resfriado, gostaria?
A névoa vermelha fluiu da pedra e voltou para o corpo de Galen. Quando seus
olhos se abriram, um era cinza claro e o outro era preto. Simon se arrastou até ele e foi
instantaneamente puxado para baixo e colocado nos grandes braços de Galen.
Lutei contra o impulso de correr para o Anoitecer e falar com Alastair. Meu
companheiro ficaria chateado se eu liberasse sua alma antes de seus irmãos. Então,
enterrei os saltos das minhas botas na neve e esperei... composto por fora e
incrivelmente impaciente por dentro. No entanto, ver os meninos acordarem, um a um,
me trouxe alegria.
Depois de todas as batalhas, estresse e sacrifícios feitos, eles mereciam isso.
Eles mereciam ser felizes.
— Mason? — Gray perguntou, lutando para abrir os olhos.
— Ei, anjo. — Mason segurou sua bochecha. — Deixe-me ver aqueles grandes
olhos castanhos. Aí está você.
— Ganhamos?
— Inferno, sim, nós fizemos. — Mason o trouxe para mais perto, seu corpo
tremendo com um grito de alívio. — Acabou.
A alma de Raiden voltou ao seu corpo em seguida, e quando ele acordou, ele foi
atacado por Nico, então puxado para um abraço por Titã. E as primeiras palavras que
saíram de sua boca? — Cara, eu mataria por uma pizza.
— Foda-se, eu te amo, — Titã disse com uma leve risada. Lágrimas brilharam
em seus olhos ciano enquanto ele beijava a lateral do chapéu preto de Raiden. — Nunca
mais me deixe.
— Vou tentar não fazer isso.
Kyo tocou a pedra de ouro, dizendo a Castor que ele era um idiota e que era
melhor ele tirar seu, rabo ruivo, da espada, ou então ele venderia seu Lykan Hypersport,
um carro esporte ultrarraro que era a posse mais valiosa de Ambição.
Uma nuvem dourada brilhante fluiu para o peito de Castor antes que ele gemesse
e se sentasse lentamente. — Por que você tem que ferir meus sentimentos, pequeno
dragão?
Kyo se lançou sobre ele, sua compostura anterior desmoronando agora que seu
companheiro havia retornado. Ele chorou contra o pescoço de Castor.
Phoenix se materializou ao lado de Anoitecer passou as pontas dos dedos sobre
a pedra azul royal. Sua cauda preta jazia imóvel na neve atrás dele. — Todo mundo está
olhando para mim. Eu odeio isso. Mas o que eu odeio mais é que você é uma maldita
pedra preciosa agora. Eu vejo seu corpo, mas não sinto você, Bell. Seu cheiro se foi. —
Uma lágrima pousou na pedra. — Por favor, volte para mim para que eu possa chutar
sua bunda por me deixar em primeiro lugar.
A alma de Bellamy saiu da pedra e voltou para seu corpo. Antes mesmo de seus
olhos se abrirem, Phoenix saltou em cima dele, colocando seu rosto entre o pescoço e
o ombro de Bellamy. Seu rabo se enrolou na perna de Bellamy.
— Eu te odeio tanto, — Phoenix murmurou contra seu pescoço.
— Sim, — Bellamy murmurou, passando a mão para cima e para baixo em sua
espinha. — Eu sei.
Apenas duas almas permaneceram. Um preto e um roxo. Fiquei sem paciência.
Eu não conseguia mais me segurar. Aproximei-me e ajoelhei-me ao lado da espada,
minha visão embaçada enquanto a pedra roxa pulsava sob meus dedos.
— Você me fez uma promessa, Orgulho, — eu disse. — Você prometeu que
quebraria este feitiço para que pudéssemos amarrar nossas almas. Para que
pudéssemos nos tornar completos. — Mais brilhante, a pedra brilhava. — Você não
voltaria atrás em sua palavra... não é?
Um suspiro pesado soou atrás de mim. Uriel. Eu tinha esquecido
momentaneamente que os arcanjos ainda precisavam discutir a questão de eu aceitar
Alastair como companheiro depois de receber a ordem de recusá-lo. Eles podem decidir
manter sua decisão anterior e me proibir mais uma vez.
Isso não importava. Amar Alastair valia uma condenação possível. Se eles
decidirem me expulsar mais tarde, que assim seja. Eu não estava desistindo dele, agora
ou nunca.
Mas embora a pedra tenha reagido à minha voz, nada aconteceu. Continuei
conversando com ele, mas obtive o mesmo resultado.
— Por que não está funcionando? — Raiden perguntou, sua voz áspera.
O peso pressionou meu peito. Eu acariciei a pedra. — Eu sei que você gosta de
testar minha paciência, Alastair, mas agora não é a hora. — A pedra púrpura continuou
a pulsar, ficando mais brilhante, depois escurecendo novamente. O medo borbulhou e
se agitou em meu peito. — Sua alma não está respondendo a mim como os outros
fizeram com seus companheiros. É porque não completamos o ritual de acasalamento?
Konnar apareceu na minha frente, inclinando a cabeça, como se estivesse
ouvindo. — Ele ouve você.
Uma lágrima escorregou. — Então por que ele não volta para mim?
— Kallias, — Galen disse, os braços ainda ao redor de Simon. — Quando
estávamos dentro da espada, podíamos falar um com o outro. Al deve saber que ele
ainda está preso.
Rafael franziu a testa. — Seu companheiro já está morto, sim? Então você pode
não conseguir recuperar a alma dele.
Alastair deve ter percebido isso. E ele se recusou a deixar Kallias para trás.
O fundo caiu do meu estômago. — Deve haver algo que possamos fazer. — A
vida que Alastair queria era tão próxima, livre de guerra. Uma onde poderíamos ser
felizes.
Ninguém falou por vários momentos.
— Há uma coisa que podemos tentar, — Uriel disse. — Bem, eu posso tentar.
Nenhum de vocês é capaz.
Concentrei-me nele com os olhos lacrimejantes. — Você de todas as pessoas
ajudaria?
— Fiz um acordo com os filhos amaldiçoados, — ele respondeu com um leve
rosnado. — Mate Lúcifer e eles receberão a felicidade eterna. Deixando de lado minhas
próprias opiniões pessoais, uma dívida é devida. E eu desprezo estar em dívida com
qualquer um.
Selaphiel sorriu para ele. — Você vai fazer o que eu acho que você vai? Se assim
for, esta noite é certamente a hora de fazê-lo.
— Fazer o que? — Eu perguntei.
— Explicar isso para você consumiria muito tempo, — Uriel respondeu antes de
abrir suas asas brancas e douradas. — Volto em breve. Enquanto isso, continue tentando
persuadir a alma de Alastair. Temos uma janela muito curta para que isso funcione.
Era uma sensação estranha estar ciente do meu entorno, mas incapaz de ver,
tocar ou cheirar. Eu senti cada um dos meus irmãos escapando das pedras e voltando
para seus companheiros. Saber que eles finalmente teriam seus felizes para sempre foi
um alívio.
Mas nem todos o fariam.
— Por que você ainda está aqui? — Kallias perguntou.
Não pude vê-lo, mas senti sua presença. Uma vez que minha alma se fundiu
com Anoitecer, o vínculo telepático com meus irmãos foi reformado. No entanto, agora
seus fios foram cortados, caindo à medida que cada um deles partia. Apenas um link
permaneceu.
— Porque você está — eu respondi.
Eu ouvi Lazarus acenando para mim de algum lugar que eu não podia ver.
— Seu companheiro chama você. Vá até ele.
Deuses, como eu queria. Mesmo sem uma forma corporal, o desejo de estar com
Lazarus criava uma dor profunda e torturante. Eu senti tudo isso. — Venha comigo.
— Eu não posso. Eu tentei.
Assim como eu esperava. Nosso amor por Kallias era poderoso, mas apenas a
conexão de alma com seu companheiro poderia lhe dar força para quebrar o feitiço.
— Então eu vou ficar ao seu lado, — eu disse. Mesmo que isso significasse que
eu nunca voltaria para aquele que era dono do meu coração.
— Alastair…
— Você esteve sozinho no reino dos perdidos por tanto tempo, Kallias. Eu me
recuso a permitir que isso aconteça novamente.
Daquele lugar distante, ouvi novamente a voz de Lazarus. Eu não tinha certeza
de como, mas sabia que ele estava chorando. Meu coração ainda poderia quebrar se
não batesse mais? Inferno, eu nem tinha mais peito para bater. Mas eu sentia a dor de
Lazarus.
Eu senti falta dele. O que era um conceito peculiar visto que eu pairava em um
reino não-físico de existência. Ninguém. Apenas pensamentos.
— Alastair?
— Estou aqui, — eu disse a ele.
Seguiu-se uma longa pausa. — Sinto que estou fugindo.
Deve ser isso que aconteceu. Uma alma manteve a consciência uma vez
separada do corpo, mas depois de um tempo, essa consciência começou a desaparecer.
Quanto mais ficássemos presos, mais nos esqueceríamos. Quanto tempo até
esquecermos tudo?
Kallias sentiu que estava escapando. Com o passar dos segundos, eu também.
Ou, pelo menos, pensei que eram segundos. Pode ter sido horas ou dias. Tudo começou
a desaparecer. A escuridão se fechou.
— Você me prometeu! — Lazarus gritou daquele lugar distante.
Voltei à consciência.
— Por favor, Al — disse Kallias. — Esteja eu aqui ou lá fora, meu companheiro
se foi. No entanto, o seu clama por você agora. Vá até ele. Faça isso por mim.
Por mais que eu tentasse lutar contra isso, porque eu odiava a ideia de meu
irmão ficar sozinho novamente, a saudade de Lazarus era muito intensa. Eu pertencia a
ele. — Eu te amo, Kal.
— E eu amo-te. Até nos encontrarmos novamente, irmão.
A próxima coisa que eu sabia era que estava olhando para o céu noturno de
inverno. Algo frio pousou em minhas bochechas. Neve. Caiu em grandes flocos, à deriva,
espiralando em direção ao solo abaixo. O ar fresco encheu meus pulmões enquanto eu
inalava.
— Graças aos deuses! — Lazarus me acolheu em seus braços. Gritos ofegantes
o deixaram. — Você me deixou tão preocupado, seu garoto teimoso e tolo.
— Eu mantive minha promessa. — Eu respirei seu cheiro doce e azedo de
maçãs. As rachaduras em minha alma foram consertadas.
— Sim, você fez. — Ele passou os dedos pela parte de trás do meu cabelo,
pressionando beijos na minha têmpora, na ponta da minha testa, no nariz e, finalmente,
nos meus lábios.
Konnar apareceu do meu outro lado, descansando a mão no meu ombro. — É
bom ver você de novo, velho amigo.
— Você também, ancião.
Ele zombou, mas a suavidade permaneceu em seus olhos roxos. — Essa
palavra é proibida. — Ele apertou meu braço antes de retirar a mão. — Da próxima vez
que você decidir ser um herói, deixe-me bater na sua cabeça. Tenho muitos conhecidos
nesta vida, mas pouquíssimos considero amigos. Você é alguém querido para mim que
não posso perder.
— Vou manter isso em mente, — eu disse, comovido por suas palavras. Eu
sentia exatamente o mesmo por ele.
O reencontro foi agridoce. Anoitecer caía na neve a alguns metros de distância,
todas as pedras no cabo limpas, exceto uma. — Kallias. — Minha garganta apertou. —
Ele não consegue encontrar a saída.
Um som estridente veio de cima de nós, como algo assobiando no ar e se
lançando em direção à terra. Em menos de um segundo, aquele assobio se transformou
em um estrondo quando Uriel pousou na neve. Alguém estava com ele.
— De jeito nenhum — disse Castor quando os dois se aproximaram. — Aquele
é…?
— Sim. — Raiden sorriu. — Não sei como, mas é totalmente ele.
— Quem? — Nico se levantou da neve e olhou para eles. — Oh maldito. Ele é
sensual.
O homem de cabelos castanhos tinha a mesma aparência de anos atrás: alto,
pele bronzeada e com um corpo musculoso moldado por longos dias de treinamento
duro sob o sol grego.
— Elasus, — eu sussurrei em descrença. — Companheiro de Kal.
O espartano não se intimidou com os cadáveres espalhados pela clareira. Ele
tinha visto muito pior em sua vida. Seu foco repousava exclusivamente em Anoitecer.
Ele se ajoelhou ao lado dela e passou a mão pelas sombras que circundavam a lâmina
escura.
— Kallias, — ele disse com um tremor em sua voz. Ele tocou a pedra negra no
punho. — A batalha terminou, meu guerreiro. Venha para casa para mim.
Eu pisquei para conter as lágrimas. Depois de milhares de anos, eles finalmente
se reuniriam.
A névoa negra se ergueu da pedra antes de fluir para o corpo de Kallias. Ele não
abriu os olhos, mas seu queixo tremeu um pouco. Nosso elo mental havia retornado e,
com essa conexão, seu estado emocional foi aberto para mim. Ele estava com medo.
Com medo de abrir os olhos e perceber que tudo tinha sido um sonho, que não tinha
ouvido a voz de seu companheiro.
Elasus ajoelhou-se ao lado dele. — Abra os olhos, meu guerreiro.
Kallias obedeceu e, assim que olhou para Elasus, um soluço sufocado saiu de
seus lábios. Ele se lançou para cima e jogou os braços ao redor dele. — Você está
realmente aqui?
— Eu estou. — Elasus baixou o rosto para o ombro de Kallias, franzindo a testa.
Ele estava lutando muito para conter as lágrimas. — Nunca deixei de te esperar.
Kallias pegou o rosto de seu companheiro em suas mãos e o beijou, um gemido
retumbando em sua garganta. Enquanto eles se abraçavam, aquela nuvem negra que
sempre pairava sobre a cabeça de meu irmão se dissipou. Elasus foi a luz que afugentou
a tempestade.
— Eu poderia viver um milhão de anos e nunca conhecer um momento mais
feliz do que este — disse Kallias antes de beijá-lo novamente. — Meu coração. Minha
alma. Meu tudo. Tudo pertence a você, Elasus.
— E eu vou valorizar tudo isso — respondeu Elasus. — Até o fim dos nossos
dias.
— Como? — Perguntei a Uriel. Eu queria perguntar a ele, por que, também, mas
me contive. Ele mostrou uma bondade inesperada para nós. Melhor não abusar da nossa
sorte.
— Cada arcanjo supervisiona certas áreas do reino celestial — explicou ele. —
Eu presido as almas na vida após a morte. É por isso que minha opinião tem mais peso
sobre quem pode passar pelos portões. Em circunstâncias normais, eu teria a
capacidade de recuperar uma alma, mas não restaurar um corpo físico. No entanto, esta
noite é especial.
— Por causa da lua negra.
Ele assentiu. — Não apenas qualquer lua negra, mas uma que paira entre dois
anos diferentes. A energia é muito parecida com a da Véspera de Todas as Relíquias,
que permitiu que o corpo de Kallias fosse restaurado junto com sua alma. Mais poderoso,
até.
Meu olhar voltou para meu irmão. Ele parecia tão feliz que fez meu coração pular
na minha garganta. — Elasus escolheu isso?
— Sim, — Uriel respondeu. — Eu dei a ele a escolha. Ele não precisou de tempo
para decidir. Sua resposta foi instantânea. Qualquer coisa para se reunir com seu
companheiro.
— Obrigado — eu disse a ele.
Desgosto nublou sua expressão. — Eu não fiz isso para ganhar seu
agradecimento, Nephilim. Uma dívida era devida. Eu paguei. Considere-nos quites.
— Admita, Uri, — Raphael disse, deslizando seus braços ao redor de Uriel. —
Você tem uma queda por esses meninos. Você é orgulhoso demais para dizer isso.
— Eu os desprezo um pouco menos agora do que antes da batalha, mas ainda
os acho repulsivos. — Uriel se afastou do outro arcanjo e olhou para Lazarus. — Muito
precisa ser discutido, mas vou lhe dar tempo para se recuperar da batalha. Espero você
na câmara do conselho dentro de três dias.
— Estarei lá — respondeu Lazarus.
— Cuide para que você esteja. — Uriel virou as costas para nós e disparou para
o céu sem outra palavra.
Raphael acenou para nós antes de voar atrás dele. Selaphiel educadamente
acenou com a cabeça antes de sair também.
Com a ajuda de Lazarus, levantei-me, balançando um pouco. Eu ainda estava
tentando processar estar de volta ao meu corpo. Ele permitiu que eu me apoiasse nele.
Assim como ele sempre fez. Meu pilar de força.
Oliver deu um passo à frente. — Quais são suas ordens, comandante?
Lazarus se endireitou um pouco, entrando no modo de comandante. — Aqueles
que caíram em batalha merecem ser honrados. — Ele olhou para Konnar, então para
Bane, que havia voltado à forma humana. — Todos eles. Anjos, dragões, vampiros e
lobos. Reúna os mortos e construa piras funerárias para eles.
— Sim senhor. — Oliver se virou e foi parado por Daichi.
O dragão de terra teve arranhões e alguns cortes, mas permaneceu forte. — Vou
te ajudar.
O sorriso suave que floresceu no rosto de Oliver tocou em sua afeição silenciosa.
E ele não quis falar sobre isso. Fazer isso poderia separar uma família amorosa. Então
ele enterrou esses sentimentos da melhor maneira que pôde. — Eu apreciaria isso. —
Os dois então saíram juntos. Outros anjos se juntaram a eles. Bane e seu bando
também ajudaram. Piras foram construídas e corpos foram colocados em cima.
Enquanto eles eram incendiados e as chamas subiam ao céu, rezei silenciosamente para
que todos encontrassem paz na vida após a morte, mesmo aqueles que lutaram contra
nós.
Aproximei-me de Lúcifer, minha garganta subitamente apertada enquanto me
agachava. Com cuidado, removi as espadas que ainda se projetavam de seu corpo e
alisei seus longos cabelos negros. Limpou o sangue da boca.
Com os olhos fechados, ele poderia estar dormindo. Mas eu não senti nenhuma
vida dele. Sua pele estava gelada, assim como a cama de neve sobre a qual ele estava
deitado.
— É errado estar triste? — Eu perguntei, minha voz como vidro quebrado.
— Não. — Lazarus se ajoelhou ao meu lado. — Apesar de sua maldade, nós
dois o amamos uma vez. É essa versão dele que lamentamos.
— Para onde vão as almas dos anjos após a morte? — Lembrei-me das últimas
palavras de Lúcifer. O nome do meu pai estava em seus lábios.
— Paraíso no reino celestial — ele respondeu. — Embora, anjos caídos sejam
enviados para Sheol no submundo. Um reino para os mortos.
— Foi para lá que Lúcifer foi?
— Imagino que sim.
Eu odiava a queimação no fundo dos meus olhos. — Não quero derramar
lágrimas por ele, Lazarus. Minhas memórias dele foram construídas sobre mentiras. Ele
nunca se importou comigo. Eu era uma arma para ele. Ele me usou e me manipulou.
Então, por que me sinto tão... — Um pequeno grito me deixou antes que eu o sufocasse.
Lazarus descansou a mão na parte de trás da minha cabeça, acariciando-a uma
vez. Ele então me puxou para ele quando outro grito me deixou. — Deixe sair, — ele
murmurou suavemente. — Você tem sido forte por tanto tempo. O luto não faz de você
menos guerreiro.
Isso me fez chorar ainda mais. Uma vez que não tinha mais nada para dar, fiquei
contra ele, deixando seu cheiro me acalmar. Como sempre.
— Eu acredito que você está errado sobre uma coisa — disse ele.
— Sim? — Limpei os olhos e limpei a garganta. — E o que poderia ser isso?
Seus olhos azuis claros permaneceram em Lúcifer. — Uma parte dele te amava.
Ele teve várias oportunidades de matá-lo durante esta guerra, mas poupou você. Alguns
podem apostar que foi devido à esperança de que você se juntasse a ele e se tornasse
o comandante de seu exército, como ele viu em uma visão. Mas acredito que seja porque
todos aqueles momentos que você sofre agora também eram reais para ele.
Deixei que suas palavras fossem absorvidas. De alguma forma, elas me fizeram
sentir melhor. — Podemos construir uma pira para ele?
Eu os senti então. Os meus irmãos.
Galen e Kallias se ajoelharam ao meu lado e ergueram Lúcifer sobre seus
ombros. Castor apertou meu braço e me ofereceu um sorriso fino. Daman, Bellamy e
Raiden também estavam lá. Gray agarrou minha mão. Eles então caminharam comigo
em direção a uma pira que já haviam construído.
Minha visão embaçou novamente. Estúpidas emoções. Eu não conseguia
controlar o meu.
Depois que colocaram Lúcifer em cima, posicionei suas mãos em seu estômago
e coloquei uma capa sobre ele. Respirei fundo várias vezes antes de acenar para
Phoenix. Ele deu um passo à frente e tocou a pira, incendiando-a.
Enquanto as chamas se espalhavam pela madeira e alcançavam a capa, eu o
observei queimar.
Nenhum dos meus irmãos saiu do meu lado. Não nos falamos, mas não
precisávamos. Eu senti o amor deles. Eles estavam me deixando sofrer. Deixando-me
ser vulnerável. Segurando-me.
Eu não tinha certeza de quanto tempo se passou antes que eu finalmente me
afastasse da pira.
À distância, o céu parecia mais claro. Tínhamos vivido para ver outro dia. Nossos
amigos também. Sirena segurou Clara enquanto prestavam homenagem aos Nephilim
caídos de nosso exército. Baxter e Naida estavam conversando com o rei Tatsuya e o
príncipe Viktor. Mesmo com a luta atrás de nós, eu suspeitava de mais do que alianças
formadas. As amizades também.
— É aqui que desejo bom dia — disse Konnar. — O amanhecer está se
aproximando. Meu caixão me espera.
Segurei seu antebraço. — Obrigado por lutar ao meu lado.
— Sempre. — Konnar sorriu, mostrando suas presas. — Lembre-se que temos
um encontro para o chá em breve. Não se atrase.
— Eu não vou. — Eu devolvi seu sorriso. — Mas eu espero scones de cranberry.
— É claro. Eu diria que você mais do que os mereceu. Mesmo que bolinhos
sejam melhores. — Konnar piscou para mim antes de acenar para Lazarus e sair voando.
Lá em um momento e desaparecido no seguinte.
— O que fazemos agora? — Eu perguntei.
— Você precisa dormir. — Lazarus pressionou os lábios na minha testa. — Você
mal consegue manter os olhos abertos.
As últimas vinte e quatro horas certamente estavam me alcançando. E pela
primeira vez em muito tempo, senti que finalmente seria capaz de descansar
adequadamente. A promessa de dias melhores esperava no horizonte. A guerra acabou.
O reinado de terror de Lúcifer chegou ao fim. Para sempre desta vez.
Olhei para meus irmãos. Embora cansados, todos seguraram seus
companheiros. Sorridentes. Livres do fardo da guerra. Onde a vida nos levaria a seguir?
Eu não tinha certeza. Mas eu mal podia esperar para descobrir.
Quando o amanhecer surgiu no céu, eu me pressionei contra o lado de Lazarus.
— Vamos para casa.
A luz do sol se derramava sobre o telhado rosa dourado do gazebo enquanto eu
passeava pelos jardins do palácio. Compassado, realmente. O conselho estava
atualmente discutindo meu relacionamento com Alastair. Disseram-me para esperar pela
decisão deles.
Eu odiava esperar.
Soltando um suspiro, parei ao lado de uma bacia de água que havia sido
esculpida em pedra. Água cristalina escorria por ela. Pretendia aumentar a tranquilidade,
mas de alguma forma errou o alvo. Meus nervos estavam muito tensos.
— Pare de se preocupar, — uma voz profunda veio da minha esquerda. Michael
caminhou em minha direção vestindo uma túnica azul. Ele compartilhava da minha
aversão a qualquer roupa usada acima da cintura, mas quando havia assuntos do
conselho a tratar, ele vestia o papel. — Suas asas não serão escurecidas neste dia. Aqui.
— O que é isso? — Eu perguntei enquanto aceitava o pacote embrulhado dele.
— Mini tortas de maçã — ele respondeu. — Feito com maçãs do pomar de
inverno. Raphael os preparou especialmente para você. Elas são adoráveis, não são?
Eu as desembrulhei, revelando três pequenas tortas com massa folhada
perfeitamente dourada e crocante, recheadas com maçãs em cubos e cobertas de
canela. Especiarias de dar água na boca fizeram cócegas no meu nariz. — Um poderoso
guerreiro como você usando a palavra 'adorável' para descrevê-las é adorável.
Michael sorriu. — Gosto de encontrar prazer mesmo nas menores coisas da vida.
Há sempre alguma nova descoberta a fazer. Algo novo para se apaixonar. Comida.
Música. Smartphones. Essas coisas ajudam a acalmar minha mente quando ela tenta
tirar o melhor de mim.
— Parece que você se divertiu com minhas tortas no caminho, — eu disse,
olhando para a leve camada de migalhas no canto de seus lábios.
— Considere isso como meu pagamento pelos meus serviços de entrega
impecáveis. — Sua expressão ficou um pouco mais séria. — Dois se opuseram ao seu
vínculo de companheiro predestinado com Alastair.
— Oh, só posso imaginar quem era um deles.
— Uriel realmente ficou do seu lado desta vez, — Michael rebateu. — Acredito
que ver os filhos amaldiçoados se sacrificando mudou sua mentalidade, mesmo que
apenas um pouco. Ele agora vê que eles não são seus pais. Levará mais tempo para ele
se recuperar, mas tenho fé que ele o fará. Eventualmente.
Eu mantive meu olhar na massa. — Então não estou mais proibido de amar
Alastair?
Ele bateu levemente no meu braço. — Livre-se desses nervos, meu amigo. Tudo
está bem. Você e o Orgulho estão livres para seguir em frente com a cerimônia de
acasalamento. A data foi marcada?
— Estávamos esperando a decisão do conselho antes de estabelecer uma.
— Então, sugiro que você volte para ele e discuta isso. — Seu sorriso voltou. —
Arranjos devem ser feitos. Decorações, o cardápio e, claro, você precisa de um traje
adequado, assim como eu se vou ser... como os humanos chamam isso, seu padrinho?
Eu o encarei. — Na verdade, se você estiver tão inclinado, eu gostaria que você
oficiasse. Tanto o casamento quanto o ritual para unir nossas almas. — Meu rosto
esquentou. Eu estava exagerando ao perguntar a ele? — Mas só se você...
Sua grande mão pousou no meu ombro. — Não diga mais nada. Eu ficaria
honrado em fazer isso.
— Obrigado, meu amigo.
— Eu gosto muito de ouvir você me chamar assim. — Michael deslizou os dedos
pela superfície da água da bacia. — Não muito tempo atrás, você ainda me via como seu
superior.
— Eu ainda faço. Sempre vou. — Eu sorri para o pacote na minha mão. — No
entanto, se amar Alastair me ensinou alguma coisa, é que devemos dizer a quem nos
importamos como nos sentimos. Mais cedo ou mais tarde. Mesmo aqueles de nós com
vidas imortais podem desperdiçar tantos anos não fazendo isso.
— Falando em anos perdidos… — Os olhos castanhos de Michael se voltaram
para mim. — Falei com o conselho sobre Mefistófeles.
— E?
— Uriel se opôs a suspender seu banimento. No entanto, considerando como
suas informações nos levaram à vitória, Uriel foi derrotado na votação. — Michael riu
com isso. — Deuses, o desdém em seu rosto vai me fazer rir nos próximos dias.
— Então Mephis terá permissão para deixar o reino dos perdidos? — Eu não
tinha certeza de como me sentia sobre isso. O anjo caído nos ajudou, mas foi por suas
próprias razões egoístas. No entanto, sua solidão era palpável. Ninguém merecia seu
destino. E todos aqueles anos atrás, ele me permitiu esconder a alma de Kallias em seu
reino, provando que ainda havia algo bom dentro dele.
— Em caráter experimental — respondeu Michael. — Um dia por mês, ele terá
permissão para deixar o reino e ir para onde quiser. Ele deve continuar seus deveres
como guardião do reino enquanto isso. Se tudo correr bem, ele terá mais liberdades.
Eventualmente, acredito que seu banimento será totalmente suspenso. A confiança deve
primeiro ser conquistada.
— Compreensível. — Mordi uma das tortas. Tinha um gosto ainda melhor do
que cheirava. Especiarias estouraram em minha língua e a massa perfeita se desfez em
meus lábios. — Como o paraíso na minha boca. Estas devem ser servidas no casamento.
Miguel riu. — Vou cuidar para que seu desejo seja atendido.
Coloquei o resto da torta na boca e mastiguei silenciosamente, pensando em
tudo. — Você chegou a uma decisão sobre Belphegor?
— Ele permanecerá na prisão celestial no futuro previsível — respondeu ele. —
Ele implora pela morte. E é exatamente por isso que o conselho decidiu deixá-lo
apodrecer em uma cela.
— E a sentença de Asa?
— Ah. Asa Morningstar. — Michael suspirou suavemente. — Anoitecer foi
colocado na abóbada celestial e fortemente protegida, então ele está sem sua arma
espiritual e incapaz de chamá-la de volta para ele. O conselho vê poucas razões para
mantê-lo preso, considerando que ele é impotente.
Meu couro cabeludo formigou. — Você o está libertando.
— Com monitoramento, é claro. — Michael assentiu. — Ele desempenhou um
papel importante na nossa vitória. Sem a ajuda dele, teríamos perdido a guerra. Pesei a
balança da justiça e decidi que ele merecia outra chance. Mas um movimento errado e
vou cortar a cabeça de seus ombros.
— Vepar e Purah ainda estão por aí — eu disse. — E se eles o encontrarem
assim que ele estiver livre?
Ele balançou sua cabeça. — Sem seus poderes, Asa não tem utilidade para eles.
Mas Dargan e seus batedores ficarão de olho na situação.
— Os meninos ainda têm seus pecados — eu disse então. — Eu pensei que
derrotar Lúcifer poderia livrá-los da maldição.
Michael ponderou minhas palavras. — Mephis teorizou que seus pecados são
armas da alma.
— E uma arma espiritual não pode ser destruída a menos que a alma que ela
habita morra, — eu disse com um aceno de cabeça. — Os meninos ainda são poderosos.
O que significa que, caso surja outra guerra, eles podem ser chamados para ajudar. —
O pensamento causou uma dor profunda no meu peito. Alastair queria uma vida simples
e pacífica longe da luta.
— Não — respondeu Michael. — Eles serviram bem aos reinos. Se houver outra
guerra, o exército celestial cuidará dela. Você tem minha palavra.
Sua palavra era tudo que eu precisava para saber que era verdade.
Eu me senti muito mais leve ao deixar o reino celestial. A decisão do conselho
não pairava mais sobre minha cabeça. Eu poderia respirar novamente.
Quando voltei para a ilha, não havia guerreiros treinando nos campos. Não havia
senso de urgência. A tensão e a antecipação da guerra foram dissipadas. A atmosfera
pacífica e alegre foi uma mudança bem-vinda.
Famílias passeavam pelas ruas próximas ao porto, visitando cafés e fazendo
compras. Uma criança Nephilim estava aprendendo a voar pela primeira vez. Ela gritou
de alegria enquanto pairava a um palmo da grama, suas minúsculas asas negras
batendo. Reconheci o pai dela como um dos guerreiros que lutou ao nosso lado em Echo
Bay.
O fim da guerra permitiu mais começos. Primeiras aulas de voo. Primeiro amor.
Mas também trouxe despedidas.
O príncipe Viktor e seu exército retornaram ao reino do dragão de gelo. O rei
Tatsuya e sua força partiram mais cedo naquele dia para sua ilha no Japão perto de
Ishigaki. Os guerreiros de Sirena viajaram de volta para o Caribe, mas ela ficou para trás
com Clara por enquanto.
As duas fêmeas estavam atualmente tentando decidir onde chamariam de lar. A
bruxa ansiava por sua mansão em Echo Bay, enquanto a comandante Nephilim tinha
problemas para deixar seus guerreiros. Uma resolução surgiria. O vínculo delas era forte
demais para não acontecer.
— Qual foi a decisão do conselho? — Alastair perguntou telepaticamente.
Nosso elo mental ressurgiu não muito depois de deixarmos Echo Bay após a
batalha. Essa conexão com ele foi importante para mim. Tendo perdido
temporariamente, foi esmagador.
— Eu vou te dizer quando eu te ver.
— Diga-me agora, — disse ele. E antes que eu pudesse responder, ele
acrescentou: — Sim, sim, você não recebe ordens minhas. Cale a boca.
Eu ri. — Você está na casa de Raiden?
— Sim. Ele insistiu em dar uma festa de boas-vindas para Elasus, que também
é uma festa de celebração do fim da guerra. Então, em outras palavras, espero que você
esteja com fome.
Outra risada. Era estranho, rir vinha tão facilmente. O peso que havia tirado de
meus ombros também pareceu aliviar meu coração. Eu não sabia que era possível me
sentir tão livre.
Risos saíram das janelas abertas da casa de pedra branca enquanto eu subia
os degraus da varanda. Outro acesso de riso estrondoso me atingiu quando entrei pela
porta. Os irmãos estavam contando histórias de Elasus ao longo dos anos.
O espartano estava lidando com o mundo moderno da mesma forma que Kallias.
Curioso sobre tudo, mas também inquieto com isso. Ele se sentou no sofá, o corpo tenso.
Quando Kallias deslizou um braço em seu estômago e sussurrou em seu ouvido, ele
sorriu suavemente, a tensão diminuindo ligeiramente.
— Uh-oh, — Gray disse uma vez me avistando. Ele estava deitado no colo de
Simon e Mason no outro sofá. — Olhe para o rosto dele. Acha que é uma notícia boa ou
ruim? Eu não posso dizer. Ele sempre parece mal-humorado.
Alastair se aproximou de mim com uma expressão hesitante. — Então? Qual é
o veredicto?
Eu o puxei em meus braços e dei um beijo em seus lábios bem na frente de
todos. Bellamy gritou. Castor nos disse para conseguir um quarto. O beijo espontâneo
pegou Alastair desprevenido. Mas vê-lo fez meu coração pular uma batida. Alívio, alegria
e amor inundaram meu núcleo, tanto que senti como se tivesse estourado.
— Você está sorrindo — disse Alastair, escovando o polegar sobre o canto dos
meus lábios. — Isso significa o que eu acho que significa?
— Eles decidiram a nosso favor. — Eu descansei minha mão em sua nuca,
amando as cócegas suaves de seu cabelo loiro enquanto meus dedos deslizavam por
ele.
Alastair não reagiu a princípio. Ele apenas olhou para mim, seus olhos azuis
ilegíveis. Mas então, ele bateu sua boca na minha e me beijou com tanta força que meus
dedos dos pés se enrolaram em minhas botas.
— Isso aí! — Raiden entrou pela porta dos fundos, segurando uma bandeja com
frango grelhado e espetinhos de legumes. — Então, este é um bem-vindo de volta
Elasus, sim, a guerra acabou, parabéns pela sua festa de noivado. Droga. Preciso fazer
mais comida.
— Querido, temos comida suficiente. — Titã pegou a bandeja dele. — Vá sentar
e conversar com seus irmãos. Vou terminar lá fora.
A carne chiava na grelha, o aroma saindo pela porta aberta do pátio, costeletas
de porco e bifes temperados com o tempero especial do Titã, que era uma combinação
de sal, pimenta e temperos mediterrâneos. Nada passou pelo olfato impecável de
Raiden. Ele adivinhou todos os ingredientes depois de uma baforada.
Clara e Sirena chegaram pouco depois de mim.
— Eu trouxe barras de limão — disse Clara, colocando um recipiente no balcão
da cozinha. Ela cheirava... diferente.
— Puta merda, garota. — Bellamy a pegou e a girou. — Alguém foi marcado.
— Já era hora — Phoenix murmurou antes de tomar um gole de uísque com
ambrosia. Seu olhar se demorou no traseiro de Bellamy.
— Eu sinto você me fodendo com os olhos, Nix. — Bellamy sorriu para ele
enquanto colocava Clara de volta no chão.
— E daí? Essa chave em volta do seu pescoço diz que posso te foder com os
olhos sempre que quiser.
Bellamy caminhou até onde Phoenix estava encostado na parede e descansou
os braços em cada lado da cabeça. Ele abaixou o rosto para o colarinho de Phoenix. —
E esta coleira diz que posso jogar você por cima do ombro e te foder como se não
houvesse amanhã.
— Ah, por favor. — Phoenix mordeu sua mandíbula. — Não seja gentil sobre
isso também. Quero que toda a ilha me ouça gritando.
Daman torceu o nariz. — Vocês dois podem apenas... não?
— Você não tem espaço para falar, D — disse Bellamy. — Você e Warrin
foderam tão forte antes que as paredes da vila tremeram.
Warrin sorriu. Mas não disse nada.
— Voltando à questão daquela marca. — Bellamy olhou para Clara. — Como
você se sente?
— Eu não beijo e conto. — A marca da mordida de Clara descansava acima de
sua clavícula. Ela havia trançado o cabelo para o lado para cobri-lo, mas mesmo que
fosse invisível, todo ser sobrenatural em sua proximidade saberia que estava lá. — Mas
se você quer saber, eu meio, meio que realmente amo muito isso.
Gray se lançou sobre Clara. — Isso significa que vocês também irão vincular
suas forças vitais? Não quero que você fique velha. Ou ficar doente. Eu quero que você
fique conosco para sempre.
— Ah, meu precioso menino. — Clara abraçou-o com força. — Vamos dar um
passo de cada vez.
Os meninos realmente amavam a bruxa. Ela os amava também.
Sirena observou como Raiden, então Castor invadiu Clara. Eles a importunaram
e ela os golpeou.
— Cuide dela — disse Alastair. Uma nota de advertência coloriu sua voz, como
um irmão mais velho protetor.
— Eu vou — respondeu Sirena. — Com a guerra para trás, pretendo reservar
um tempo para me concentrar apenas nela. Ela merece o mundo, e não vou parar até
dar a ela.
— Você vai ficar em Echo Bay? — Ele perguntou.
Sirena assentiu. — Na minha ausência, confiei meu exército a Lysandra. — Sua
segundo em comando. — Desde que me lembro, vivi e respirei a vida de um guerreiro.
Clara me fez querer mais.
Eu conhecia o sentimento.
A mão de Alastair deslizou na minha. Ele também conhecia a sensação. Ambos
havíamos dedicado nossas vidas à guerra. Era hora de focarmos um no outro.
— Mal posso esperar para me ligar a você, — ele disse suavemente, deslocando
aqueles lindos olhos azuis para mim. Nossas mentes deviam estar no mesmo lugar.
— Você não acha que vai ficar com medo? — Segurando sua mão, eu o girei
em direção ao meu corpo. — Ouvi dizer que posso ser frio e mandão. Mal-humorado
também.
Ele arqueou uma sobrancelha pálida. — Oh, você é definitivamente essas
coisas. Adicione teimoso à lista enquanto você está nisso. Mas... — Ele levou meus
dedos à sua bochecha. — Você também é caloroso, afetuoso e leal. Mesmo quando
você se fechou para mim, você cuidou de mim.
— Eu sempre cuidarei de você.
— Eu sei. — Alastair engoliu em seco. Ele tocou meu peito enquanto uma
carranca vincava sua testa. — Você não vai ficar sem camisa durante o nosso
casamento. Vou colocar um terno em você nem que seja a última coisa que eu faça.
Quando eu ri, seu sorriso de resposta desencadeou pequenas explosões em
meu peito. No meu coração.
— Vou usar um terno com uma condição.
— Vá em frente — disse ele, desconfiado. Divertido também. O calor irradiava
de seus olhos.
Minha mão deslizou para sua mandíbula e me inclinei, pressionando minha boca
em seu ouvido. — Se você tirar isso depois.
Ele gemeu baixinho. — Eu acho que isso pode ser arranjado. Mas devemos
praticar primeiro. Muita e muita prática.
— Teremos que esperar até depois das boas-vindas, fim da guerra, festa de
noivado.
Ele soltou uma risada. — Levamos a sobremesa para viagem.
Segurei sua cintura. — A única sobremesa que eu preciso é você.
— A menos que maçãs estejam envolvidas. — Alastair trancou seus dedos atrás
do meu pescoço. — Estou curioso.
— Sobre o que?
— Onde viveremos quando estivermos totalmente acasalados. — Ele olhou para
seus irmãos. — Daman e War retornarão para sua cabana. Galen e Simon planejam
comprar uma casa em Echo Bay perto do mar. Castor e Kyo foram convidados a morar
no palácio do dragão de água. Raiden e Titã têm um lar aqui. Kallias e Elasus
perguntaram a Baxter se eles poderiam ficar aqui também. Gray e Mason ficarão em
Ravenwood com Clara, temporariamente por enquanto. Bellamy e Phoenix planejam
viajar pelo mundo juntos até encontrarem um lugar para se estabelecerem. — Ele olhou
para mim. — E nós?
— Eu considerei isso. — Eu tracei a borda de sua boca. — E eu adoraria se
você morasse comigo.
Seus olhos se arregalaram. — No reino celestial? Isso é permitido?
Eu balancei a cabeça. — Uriel já suspendeu a proibição de suas almas entrarem
nos portões, então você morando comigo não estará quebrando nenhuma lei.
Especialmente agora que o conselho deu sua bênção sobre nossa união. Mas eu
entendo se você se opõe à ideia. Podemos encontrar algum lugar neste reino, se preferir.
Eu só quero que você...
— Eu não estou acostumado com você divagando nervosamente. É muito
precioso. — Alastair segurou meu rosto e a alegria brilhou em seus olhos. Essa alegria
me atingiu no coração. — Minha casa é com você. Onde quer que seja.
A minha também foi com ele.
***
Fios de luz envolviam os troncos das árvores no pátio do lado de fora da vila de
Baxter. O brilho suave era convidativo à medida que os convidados entravam e
procuravam seus lugares.
Alastair descartou a ideia de um casamento na praia. Castor e Raiden tiveram
casamentos na praia, e ele rosnou por possivelmente ser o terceiro de seus irmãos a
fazê-lo.
Eu sorri com a memória enquanto estava perto da fonte. Antecipação rodou em
meu estômago enquanto mais convidados chegavam. Baxter brincou de ser o anfitrião,
conversando com todos, especificamente, os homens atraentes presentes. Dargan e
Oliver acenaram para mim enquanto tomavam seus lugares.
— Nervoso? — Michael perguntou. Ele usava um terno azul marinho que
enfatizava seus ombros largos e complementava seu grande corpo. Sem gravata. Ele
tentou usar uma, mas a rasgou em menos de dois segundos.
— Nem um pouco. — Rolei meus ombros. — Mas este terno é muito apertado.
— Não é muito apertado — disse ele com um sorriso. — Cabe perfeitamente
em você. Você está apenas sendo um chorão.
— Como você com sua gravata.
— Aquela gravata queria me matar. — Michael alisou a frente de seu terno com
a mão. — Eu a matei primeiro.
O altar ao nosso lado continha uma taça de prata e uma garrafa de vinho especial
infundida com magia de amarração. Essa magia seria ativada assim que Michael desse
a bênção. Alastair e eu então faríamos nossos votos e cada um tomaria da bebida. A
segunda parte do ritual ocorreria em particular após a recepção, onde precisaríamos unir
nossos corpos para completar a ligação.
Inale. Expire.
— A cerimônia começará em breve, meu amigo — disse Michael. — Sua ânsia
é fofa.
— Por favor, não use essa palavra para me descrever.
— Fofo como um cordeirinho.
Eu dei a ele um olhar sem graça.
Konnar se aproximou de mim. Ele havia chegado assim que o sol se pôs, uma
das razões de Alastair querer uma cerimônia noturna. Seu melhor amigo tolerava o sol,
mas apenas em doses limitadas. — Ele está pronto. E espere até vê-lo. Fiz um excelente
trabalho ao vesti-lo.
O súbito influxo de palpitações no meu estômago me fez pensar se eu estava
nervoso.
— Prazer em ver você de novo — Michael disse a ele.
— Você também. — O olhar de Konnar seguiu seu corpo. — Você está bem
arrumado, mas devo dizer que prefiro você sem camisa.
Os olhos de Michael escureceram quando um sorriso lento tocou seus lábios. —
O engraçado sobre roupas é que elas podem sair.
— Que intrigante. — Os olhos roxos do vampiro brilharam um pouco antes de
ele se virar e se sentar ao lado de Baxter, que não perdeu tempo antes de flertar com
ele também.
— Algo que você deseja me dizer sobre você e Konnar? — Perguntei a Michael.
— Não há nada para contar. — Mas dada a sua expressão, eu me perguntei se
ele gostaria que houvesse. Um mistério a ser resolvido outro dia.
Porque a cerimônia estava começando.
Todos os irmãos estiveram com Alastair durante a maior parte da tarde,
ajudando-o a se arrumar e provavelmente o mimando um pouco também. Mas ele
merecia ser mimado. Ele ajudou a planejar e oficiou cada um de seus casamentos.
Adequado, eles mostrariam a ele tanto amor e apoio pelos seus. Ele queria que eles e
seus companheiros fizessem parte da cerimônia também. Cada um caminharia pelo
corredor.
Um pequeno conjunto de música havia sido montado ao lado dos canteiros de
flores. A prímula estava em plena floração atrás deles quando a primeira nota do
violoncelo soou.
Gray e Mason apareceram primeiro. Gray sorriu de orelha a orelha enquanto era
conduzido pelo corredor até a primeira fila. Em seguida vieram Castor e Kyo, depois
Raiden e Titã. Os meninos e seus companheiros combinaram suas roupas. Cada um dos
companheiros tinha um lenço no bolso do peito do terno que combinava com a cor dos
pecados dos meninos.
Kallias e Elasus entraram e se sentaram diante de Daman e Warrin. O dragão
de gelo girou lentamente Daman quando eles alcançaram seus assentos e deu um beijo
em seu cabelo. Como se quisesse superá-los, quando Bellamy e Phoenix chegaram ao
final do corredor, Bellamy mergulhou o demônio e o beijou.
Daman revirou os olhos e murmurou: — Exibido.
Assim que se sentaram, Daman deu uma cotovelada nas costelas de Bellamy.
— Eles são deliciosos, não são? — Michael perguntou. — Personalidades tão
vibrantes.
Depois que todos os irmãos se sentaram, a música mudou, a melodia ficou mais
lenta. Prendi a respiração quando coloquei os olhos em Alastair. Ele usava um smoking
de três peças totalmente champanhe que se ajustava perfeitamente ao seu corpo esguio.
A lapela do xale e o sutil desenho floral exalavam elegância, que só combinava com ele.
Seu cabelo loiro prateado tinha sido aparado nas laterais com a parte superior mais longa
puxada para trás.
Clara o conduziu pelo corredor e, embora fosse sutil, eu o vi apertar o braço dela
enquanto todo o foco se voltava para ele. Ele estava nervoso também.
E então nossos olhares se encontraram. Eu esperava que aquele dia fosse o
mais feliz da minha vida. O que eu não esperava era me emocionar tanto. Minha garganta
apertou e eu chorei. Enquanto ele caminhava em minha direção, nenhum de nós desviou
o olhar.
— Você é tão lindo, — eu projetei em sua cabeça.
— Não me faça chorar — ele respondeu.
— Ande mais rápido. Eu preciso de você em meus braços.
Um sorriso floresceu em seu rosto bonito. — Tão impaciente.
— Impaciente? — Meu coração bateu mais rápido. — Eu estive esperando por
você por milhares de anos.
Quando eles chegaram até nós, Clara colocou a mão de Alastair em cima da
minha. O contato pele a pele despertou mais tremores em meu estômago.
Michael cumprimentou a todos e deu as boas-vindas ao casamento, mas suas
palavras logo desapareceram. Eu estava muito cativado pelo homem deslumbrante na
minha frente. Com o Orgulho, Alastair raramente tinha falta de confiança, mas quando
estávamos na frente de nossos amigos e conhecidos, ele tremeu um pouco.
— Tem certeza que é isso que você quer? — Eu perguntei usando nossa
conexão especial.
— Mais do que tudo — foi a resposta de Alastair. — É por isso que estou
nervoso. Estou com medo de acordar e descobrir que foi apenas um sonho. Que Lúcifer
nunca foi derrotado e você e eu não significamos nada um para o outro.
— Você sempre significou algo para mim.
Seus olhos azuis embaçaram.
Tínhamos escolhido nossas alianças, juntos. Alianças simples de ouro branco,
mas cada uma tinha duas pedras redondas cortadas, um diamante e uma ametista, para
representar nós dois. Deslizamos as alianças nos dedos um do outro para concluir a
parte do casamento da cerimônia.
Agora, era a hora da ligação.
— Esta noite, duas almas se tornarão uma, — Michael continuou pegando a
taça de prata e enchendo-a com vinho. — Lazarus, um comandante de anjos cuja
lealdade e amizade tive a honra de ter, e Alastair, um guerreiro Nephilim que ajudou a
salvar não apenas este reino, mas todos os reinos. Ninguém merece mais felicidade do
que esses dois homens honrados. Eles deram muito a este mundo. E esta noite, eles
finalmente pegam algo para si. Um ao outro.
O feitiço para ativar a magia de ligação no vinho remonta à Grécia antiga. Foi
mais uma bênção do que um feitiço. As palavras saíram da língua de Michael, falando
do esplendor de companheiros predestinados e o poder que tal vínculo continha. —
Separados, eles vivem meias-vidas. Juntos, eles se tornam inteiros.
Minha alma ansiava por essa unidade com Alastair. Quanto mais perto
chegávamos de alcançá-lo, mais ansioso eu ficava. Agitado.
— Façam seus votos na frente dessas testemunhas, — Michael disse,
apresentando o cálice. — E então, beba para selar esse juramento. — Ele sorriu para
Alastair. — Suponho que o Orgulho insistirá em ir primeiro?
Castor bufou da primeira fila.
Alastair lançou a seu irmão um olhar furioso antes de pegar o vinho. O líquido
escuro rodou e, embora fosse fraco, a energia mágica zumbia do cálice. Ele se
concentrou em mim, e meu coração batia contra minhas costelas. Excitação emaranhada
com antecipação.
— Eu considerei profundamente o que eu diria a você esta noite, — Alastair
começou. — Uma declaração ousada do meu amor parece muito teatral, mas um simples
eu te amo nunca será suficiente. A verdade é que te odiei quando nos conhecemos. Esse
ódio acabou se transformando em respeito. Seu treinamento foi duro, mas me fortaleceu.
E sua mão orientadora desde então me permitiu liderar meus irmãos e manter minha
cabeça erguida. Sem você, Laz, eu não seria o homem que sou hoje. Você me mostrou
como é ser amado de verdade... e amar alguém em troca. Diante de todas essas
testemunhas, juro permanecer ao seu lado como marido, como companheiro, até o fim
de nossos dias.
Ele tomou a bebida.
— Seria impróprio beijá-lo agora? — Eu perguntei, roçando meu dedo contra o
dele enquanto pegava a taça.
Uma onda de risadas percorreu a multidão.
— Primeiro os votos, depois os beijos — disse Michael. — Seu anjo impaciente.
Alastair sorriu. — Eu sei que sou uma tentação como nenhuma outra, mas tente
se conter até depois de confessar seu amor eterno.
— Normalmente, é aqui que eu diria que não recebo ordens de você, Orgulho.
— Agarrei sua mão, segurando o vinho na outra. Com nossos olhares fixos, eu caí de
joelhos na frente dele. Ele respirou fundo. — Mas esta noite, eu me ajoelho diante de
você e ofereço tudo o que sou. Nosso caminho não tem sido fácil. Obstáculos nos
separaram por tantos anos. Mas acredito que isso só tornou o amor que sentimos agora
mais forte. Eu te dou minha vida. Eu te dou meu coração, pois ele nunca pertenceu a
ninguém além de você. Juro amá-lo e honrá-lo pelo resto de nossos dias e sustentá-lo
nos momentos em que precisar de força. Apoie-se em mim, e eu nunca vou deixar você
cair.
Inclinei minha cabeça para ele antes de levantá-la novamente e tomar um gole.
— Venha aqui — disse Alastair, arrastando-me para os meus pés. Ele fechou o
espaço entre nossos corpos e me agarrou pela nuca.
— Com esses votos feitos, agora você pode...
Alastair não esperou que Michael terminasse antes de capturar meus lábios. Os
gemidos ressoaram em sua garganta. Os convidados aplaudiram e vaias e gritos vieram
de seus irmãos na primeira fila. O beijo quebrou quando ele sorriu. E a ternura daquele
sorriso me fez puxá-lo de volta para outro.
— Eu sei o que vocês dois vão fazer mais tarde — disse Bellamy, balançando
as sobrancelhas.
— Jogando damas? — Raiden sorriu quando Titã bufou. — Sim você está certo.
Eles vão jogar xadrez. Isso é mais sofisticado e tal.
— Droga, Raiden, — Alastair murmurou, fechando brevemente os olhos.
— Ei, você vai me amar assim que provar seu bolo, — ele disse, levantando-se
de sua cadeira e puxando Titã com ele. — Adivinhe o sabor.
— É Earl Grey e limão! — Gray exclamou.
— Com notas de mel — acrescentou Raiden. — Então? Eu sou seu irmão
favorito agora? Tudo bem se você não quiser admitir em voz alta. Você pode apenas
confirmar telepaticamente.
Alastair riu. O som caloroso era tão leve e livre da restrição que ele normalmente
carregava. Isso fez com que seus irmãos o encarassem em um silêncio atordoado antes
de abrirem grandes sorrisos.
Eu o puxei em meus braços. — Adoro o teu riso.
Ele descansou a cabeça na minha. — Bem, estou feliz. Mais do que jamais
pensei que poderia ser.
— Você merece, — Galen disse, dando tapinhas em seu ombro antes de colocar
uma mão nas costas de Simon e guiá-lo para longe.
— Vejo vocês lá dentro, — Raiden nos disse antes de sair com Titã. Nico correu
até eles e começou a falar noventa por nada. Titã colocou um braço em volta do pescoço
do menino e puxou-o para bagunçar seu cabelo.
— Ei! Pare! — Nico se mexeu ao redor. — Alguém ajude. Estou sendo abusado.
Meu sangue esquentou e uma dor lancinante irradiava pelo meu peito. A magia
de ligação estava fazendo efeito. Eu me senti tão perto de Alastair. Mas mesmo com
meus braços apertados ao redor dele, eu não conseguia aproximá-lo o suficiente. Só
uma coisa aliviaria aquela dor: completar o ritual.
Eu descansei minha boca em seu ouvido. — Acha que alguém vai notar se
pularmos nossa própria recepção de casamento?
Alastair riu. Estava trêmulo. — Vamos ao menos agraciá-los com nossa
presença. Parecemos muito bons.
— Muito bem. Faremos uma aparição e depois fugiremos para a cabana.
— Bangalô. — Ele deslizou seus lábios ao longo da minha mandíbula. — E
então eu vou tirar você deste terno e montá-lo até você gritar meu nome.
— Ou até você gritar o meu.
— Desafio aceito — disse ele com um sorriso.
De mãos dadas, caminhamos pelo corredor em direção à área de recepção.
Lanternas decorativas iluminavam o caminho, o brilho cálido delas reconfortante. Não
tão reconfortante quanto seu perfume: doce cedro e um almíscar que era único apenas
para ele. O luar realçava o tom prateado de seu cabelo louro-claro e, quando ele sorriu
para mim, os cantos de seus olhos se enrugaram.
Uma pontada atravessou meu coração e segurei sua mão um pouco mais forte.
Um dia, nós dois olharíamos para trás neste momento e saberíamos que era o
começo de uma vida incrível juntos.
Quatro Meses Depois
Uma xícara fumegante de chá era um excelente começo para qualquer manhã.
Mas também ser acordado do sono por um anjo ridiculamente sexy beijando seu
pescoço.
— Bom dia. — Eu passei meus braços ao redor dele enquanto ele se
acomodava entre minhas pernas. Nossos paus pressionados juntos, o dele duro como
pedra e o meu certamente subindo para a ocasião. Sua pele quente tinha um cheiro
incrível enquanto eu pressionava meu rosto em seu ombro.
— Bom dia. — Lazarus deu mais beijos no meu pescoço e rolou seus quadris
para frente. — Alguma sugestão sobre como devemos começar o dia?
— Posso pensar em algumas coisas. — Corri meus dedos sobre as fendas em
suas omoplatas. Ele gemeu baixinho enquanto eu os colocava dentro.
A vida no reino celestial tinha sido estranha no início. Desde que meus irmãos e
eu derrotamos Lúcifer, éramos vistos como heróis entre os anjos. Nem todos sabiam
como se comportar perto de mim. No entanto, não houve animosidade como eu
esperava. E depois de algumas semanas, esse constrangimento diminuiu. Uriel me
evitou como uma praga, mas nos raros casos em que nos encontramos, ele apenas
rosnou e foi embora.
Quanto a viver com Lazarus?
Bem, aquela manhã foi um bom exemplo. Nossos dias foram preenchidos
fazendo amor e aprofundando nossa conexão, aprendendo mais um sobre o outro. Ele
construiu uma biblioteca para mim e me ajudou a estocá-la com exemplares de todos os
livros que perdi no incêndio. Algumas noites, ele se sentava comigo enquanto eu lia. E,
às vezes, ele me pedia para ler em voz alta para ele enquanto me segurava. Eram esses
momentos que pareciam mais íntimos. Especial.
Ele ainda comandava uma força de anjos; porém, agora que não estávamos
mais em guerra, ele tinha mais tempo para ficar em casa.
— A que horas vamos nos encontrar com seus irmãos? — Ele perguntou.
— Três horas.
— Mmm. — Lazarus deu um puxão lento no meu pau. — Muito tempo para eu
adorar cada centímetro de você então.
Eu abri um sorriso e arqueei em sua palma. — Eu gosto do som disso.
Todos os domingos, meus irmãos e nossos companheiros se reuniam para nos
visitar e jantar. Às vezes acontecia na casa de Raiden e Titã; outras vezes íamos à casa
da Clara. A localização não importava, desde que estivéssemos todos juntos. Podemos
ter nossas próprias vidas agora, mas sempre arranjamos tempo um para o outro.
Lazarus beijou meu peito, rodou sua língua em meu umbigo e tomou meu pau
em sua boca. Ele levou seu tempo me preparando e sorriu ao redor do meu pau enquanto
eu mexia meus quadris, procurando mais do que os dois dedos que ele estava me dando.
Logo, porém, ele acabou com minha tortura e rastejou de volta para cima do meu corpo.
Ele me pegou gentilmente no começo. Nossos lábios se encontraram
suavemente quando ele começou um ritmo lento com os quadris. Ele uniu nossos dedos,
e a sensação de sua aliança de casamento disparou fogos de artifício em meu peito.
Quatro meses casado com ele e eu ainda tinha dificuldade em acreditar. Que ele era
meu. Que depois de tudo que passamos, chegamos lá.
Juntos e felizes.
— Eu te amo — disse ele, abrindo os lábios enquanto olhava para mim.
— Eu também te amo. — Movi minha mão ao longo de sua clavícula e toquei a
parte inferior da cicatriz em seu ombro. Ele abaixou o rosto e beijou minha cicatriz que
combinava com a dele. — Mais do que tudo em todos os reinos.
Lazarus deslizou os braços por baixo de mim e rolou de costas, me colocando
por cima. — Monte-me.
— Me dando ordens? — Apoiei a mão em seu peito e o levei mais fundo dentro
de mim.
— Não — disse ele, com as pálpebras semicerradas. Seus dedos cavaram em
meus quadris. — Eu estou dando a você o controle. O que você vai fazer com isso?
E então, eu mostrei a ele.
***
O fim
Precisa de mais irmãos Nephilim e seus companheiros?
Não perca Beyond the Storm , um companheiro de fim de série de Sons of the
Fallen!
Está repleto de novidades, incluindo um novo conto para cada casal, uma olhada
nos arquivos pessoais dos irmãos de Uriel, entrevistas com os personagens e muito
mais!
Eu pensei muito sobre o que dizer aqui. E o que percebi é que é difícil colocar
em palavras como estou me sentindo.
Esta série surgiu pela primeira vez na minha cabeça cerca de 6 anos atrás, mas
eu a coloquei em segundo plano, sem saber se alguém iria querer lê-la (risos). Esses
meninos esperaram pacientemente que suas histórias fossem contadas. Quando atingi
um ponto super baixo em minha carreira no ano passado e estava lutando muito pelo
meu lugar como autor e prestes a jogar a toalha, Galen deu um passo à frente e disse:
— Eu entendi. Confie em mim.
Foi quando decidi que meus meninos Nephilim já tinham esperado o suficiente.
Mesmo que ninguém leia, tive que escrever esta série para mim. Ao fazer isso,
reencontrei minha paixão por escrever. Eu me apaixonei por esses personagens e seu
universo. Eles me mantiveram indo. Incrível. Estou chorando agora lol.
Nunca esperei que meu projeto de paixão tocasse o coração de tantos de vocês,
mas estou incrivelmente feliz por isso. Esses meninos significam o mundo para mim.
Eles têm sido meus companheiros por tantos anos e, finalmente, compartilhá-los com
todos vocês, foi aterrorizante, mas incrível também.
Não estou pronto para dizer adeus a eles. Eu não quero. Mas eles merecem
viver felizes com seus companheiros sem uma guerra pairando sobre suas cabeças. O
arco da série pode ter acabado, mas suas vidas estão apenas começando. Uma vida de
felicidade, paz e amor.
Obrigado a cada pessoa que deu uma chance a esta série. Obrigado pelo apoio
e incentivo ao longo do caminho. Você é a razão pela qual pude continuar escrevendo,
e publicando, esta série.
O que o futuro trará? Não posso dizer muito neste momento, mas pretendo
escrever muito mais histórias no universo de Sons of the Fallen. Ainda existem tantos
personagens que merecem encontrar o amor. Michael, Konnar, Baxter e muito mais.
Espero que você continue comigo em muitas outras aventuras por vir.
Com amor,
Jaclyn