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O ÔMEGA SEQUESTRADO DO ALIEN

O ÔMEGA DO ALIEN 01
Sienna Sway

Alex

Meu trabalho deveria ser fácil — conheça a raça alienígena


dominante de Mukhana, negocie uma aliança e vá embora. Ser
literalmente levado durante a noite muda tudo. Sequestrar um
humano é pedir por problemas. Todos os alienígenas da galáxia já
deveriam saber disso, mas os nassa são mais bárbaros do que o
esperado.
Apesar de algumas pequenas semelhanças com os humanos,
sua cultura é difícil de compreender. Eles são gentis, mas
controladores, calorosos, mas severos. Mesmo ele tendo literalmente
me sequestrado e estando pronto para lutar para me manter, Saar
parece me respeitar e, talvez, até se importar comigo. O mais
confuso de tudo, todo mundo continua me chamando de ômega...

Saar

Os humanos são criaturas confusas. Eles enviam seus mais


delicados e vulneráveis pelo universo sem vigilância.
No momento em que vi Alex, soube que ele era um ômega.
Mesmo estando furioso por ele estar sendo exibido por aí, sem
companheiro e desprotegido, eu também fiquei emocionado porque
soube imediatamente, ele era meu.
Eu vou salvar o meu ômega de sua vida difícil. Vou mantê-
lo seguro e protegido, mesmo que isso signifique guerra...
1 ALEX
Meu corpo praticamente vibrava de nervoso enquanto
minha cápsula descia para a atmosfera do planeta.

Através do vidro, pude ver as formas arredondadas dos


prédios crescendo à medida que descíamos. Descemos no que
parecia ser um deserto. Montanhas ao longe e uma floresta tropical
estranhamente roxa serviam de pano de fundo para a cidade
rudimentar da qual estávamos mais próximos.

O céu era um dramático dourado pôr-do-sol, e foi um alívio


ver que o planeta, como esperado, tinha muito em comum com a
Terra.

Eu aterrissei na areia, o vento sacudindo a cápsula quando


ela pousou em terra firme.

As outras cápsulas pousaram ao meu redor. Era uma


espécie de cobertor de segurança, vê-los e saber que eu não tinha
que fazer isso sozinho.

Tecnicamente, era minha missão. Eu era o principal


especialista em primeiro contato nela. Cabia a mim decidir como
proceder e se poderíamos forjar alguma relação com o povo de
Mukhana.
Mas ter colegas comigo fez uma enorme diferença nos meus
níveis de confiança. Para não mencionar as armas que eu podia ver
atadas aos seus cintos, só por precaução.

Finalmente, eu parei de enrolar e saí da cápsula. Mesmo


podendo ver os outros já do lado de fora, na atmosfera do planeta,
eu subconscientemente prendi a respiração por um momento quando
a porta se abriu, então tive que revirar os olhos para mim mesmo.

Quando não morri imediatamente, dei um pequeno suspiro


hesitante. E, uau! Era como eu imaginava que a Terra devia ter sido
milênios atrás. Arejada. Limpa. Imaculada. Não poluída. Muitas
vezes era assim em planetas desconhecidos, mas a atmosfera de
Mukhana parecia se adequar melhor aos meus pulmões humanos do
que a maioria.

Apenas respirar ar fresco, não filtrado por um tanque, foi o


suficiente para quase me fazer sentir extático e revigorado.

Que pena que a Terra não podia mais ser reparada ao seu
estado original. E que oportunidade era recomeçar num novo planeta
e ajudar a garantir que eles não seguissem o mesmo caminho que
nós.

De repente, cheio de entusiasmo, voltei minha atenção para


a cidade ao longe. Eu podia ver seu povo se aproximando, já.

Daqui, tudo que eu podia ver eram grandes figuras vestidas


de branco.
Uma mão descansou no meu ombro, dando-lhe um leve
aperto.

Eu olhei para Blaine. Normalmente, ele era o responsável.


Ele era meu superior e estava quase no topo no PCH — Primeiro
Contato Humano. Para meu primeiro projeto solo — que ele me
recomendou com louvor —, o homem mais velho pediu para ser meu
supervisor.

Blaine sorriu para mim encorajadoramente.

— Pronto para falar com os nassa? — ele perguntou.

Eu assenti, aliviado que ele estaria lá, ao meu lado.

— Vamos em frente!

****

Nós já sabíamos um pouco sobre os nassa, a espécie nativa


dominante de Mukhana, mas nosso conhecimento era mínimo.

Sabíamos que eles compartilhavam certos aspectos com os


humanos, como respirar ar pelos pulmões e ficar em dois pés.
Sabíamos que eram primitivos, mas ferozes. Tão ferozes, de fato,
que quando foram invadidos no ano passado por uma raça
tecnologicamente avançada de alienígenas, eles os derrotaram tão
completamente que todos os seus invasores fugiram.
Foi a razão pela qual inicialmente entramos em contato.
Poderíamos ajudá-los de certas maneiras, criar uma união entre
nosso povo e protegê-los de novas invasões enquanto conseguíamos
um aliado com o qual as pessoas pensariam duas vezes em mexer.
Foi a mesma tática que ajudou os humanos a deixar sua marca por
toda a galáxia.

O contato foi feito meses atrás por meio de transmissões e,


assim que chegamos perto o suficiente, pudemos falar diretamente
para marcar uma reunião com os membros mais altos do seu
conselho.

Como rosto da missão, fui eu quem mais falou.

Os nassa eram estranhos de se olhar. Em algum lugar entre


réptil e humano, mas eu já tinha interagido com raças alienígenas
estranhas o suficiente ao longo dos anos para não ficar perturbado
por elas pelo comunicador.

Pessoalmente era uma história diferente.

Os nassa se elevavam sobre nós. Com quase um metro e


oitenta de altura, eu ainda só chegava ao queixo do mais baixo. Seus
olhares frios pareciam penetrar diretamente em mim. Até a pele
deles parecia hostil, manchas escamosas fazendo-os parecer frios ao
toque, como uma cobra. Pontas afiadas se destacavam em suas
escápulas e nas proeminências de suas costas. Seus dedos das mãos
e dos pés terminavam em garras longas e afiadas, e uma cauda
grossa chicoteava atrás deles.
Eu tinha insistido que apenas um punhado de seguranças
se juntassem a mim e Blaine porque não queria que os nativos se
sentissem ameaçados por nós, mas quando os três nassa pararam
na nossa frente, eu percebi o quão ridículo essa decisão foi.

Nós seis provavelmente parecíamos camundongos para


eles, facilmente passíveis de serem enxotados ou esmagados sob
seus pés com garras.

Com o coração acelerado, eu dei um passo à frente.

Os outros me deixaram assumir a liderança, como eu


deveria fazer.

Eu me curvei. Apertar as mãos era quase estritamente uma


coisa humana e, mesmo assim, limitada a certas culturas ao redor
do mundo. A reverência era quase universalmente aceita.

Quando me levantei, os três nassa inclinaram a cabeça em


resposta. Um deles, com linhas ao redor de seus olhos dourados
brilhantes e mechas prateadas em seu cabelo, parecia familiar. Ele
era aquele com quem estive em contato, Kion, seu líder.

Aliviado, eu dirigi minhas palavras a ele:

— Meu nome é Alexander Webber, um humano do planeta


Terra — eu disse. — Acho que conversamos pelo comunicador.

Ele assentiu, e fiquei feliz em ver que compartilhávamos


alguns gestos básicos, pelo menos. Isso significava que
provavelmente havia muito que nossas espécies tinham em comum.
O que poderia fazer toda a diferença na fluência da nossa
comunicação.

— Eu sou Kion Nassia — disse. — Primeiro Alfa.

Ele gesticulou para cada um dos seus companheiros.

— Alya Nassia — disse ele, indicando o nassa à sua


esquerda que, com um corpo menor e feições mais delicadas, parecia
ser do sexo feminino, se eu fosse basear meu julgamento nos
padrões de beleza humanos.

— Saar Nassia — ele disse, então, indicando o maior de


todos os três.

Saar se elevou sobre mim. Ele era uma figura totalmente


imponente, com músculos em exibição sob o tecido folgado
pendurado em seus ombros.

Como Kion, seus olhos e cabelos eram de um ouro


deslumbrante que brilhava na luz. Às vezes, aos meus olhos
destreinados, eu não poderia distinguir indivíduos da mesma raça
alienígena, mas até então, os nassa parecia únicos para mim, o que
sugeria que Saar e Kion eram parentes.

Seus olhos estreitos eram implacáveis, encarando


diretamente os meus com o que parecia ser suspeita.

Apesar de querer, eu não consegui sustentar seus olhares.

Eu tentei me recompor.
— Este é o meu colega, Blaine Sullivan — eu disse, me
lembrando de repente que ele estava lá.

Blaine se curvou para os nassa.

— Você não vai apresentar o resto do seu conselho? — Saar


perguntou, depois de uma pequena pausa.

Sua voz era profunda e baixa, não o que eu esperava de um


exterior tão intimidante. Eu não ficaria surpreso se ele falasse em
sibilos e rosnados.

— Ah, é.

Eu olhei para trás de mim, subitamente nervoso. Os outros


quatro estavam aqui como reforço. Eles não foram treinados em
interações alienígenas. Eles não deveriam falar.

O mais rápido que pude, eu citei seus nomes.

— Mas eles não fazem parte do meu conselho, eles estão


aqui por segurança.

Eu pude sentir a atmosfera mudar por conta da minha


explicação. Uma interação que estava indo surpreendentemente bem
pendeu em outra direção.

— Segurança — Alya repetiu. — Por nossa causa?

Eu busquei uma explicação diplomática:

— É costume os humanos viajarem com guardas quando


estamos em lugares novos e desconhecidos.
— Então, talvez devêssemos fazer você se sentir mais
confortável, chamando nossos guerreiros para conhecê-lo — sugeriu
Saar.

Eu balancei a cabeça freneticamente. Nós já havíamos


perdido o passo. Ofender uma raça alienígena era ruim quando você
não sabia como eles lidavam com suas punições.

— Por favor, isso não será necessário — eu disse quando


Saar se moveu, como se a caminho de buscar os guerreiros ele
mesmo.

Eu me curvei novamente, em parte para ter um momento


para pensar.

Quando me levantei, os três nassa estavam parados,


pacientemente esperando para ouvir mais.

— Eles vão ficar aqui — eu disse. — Somente Blaine e eu


vamos nos juntar a vocês.

Eu senti Blaine tenso ao meu lado, mas meu olhar estava


fixo nos nassa. Por favor, não nos mandem embora já.

Eu não queria ter que explicar por que o acordo foi quebrado
antes mesmo de chegarmos à reunião. Para minha primeira missão
de liderança desse tipo, algo assim poderia arruinar minha carreira.

Depois de um bom tempo, Kion simplesmente assentiu e se


virou, liderando o caminho. Alya o seguiu rapidamente, mas Saar
permaneceu, nos observando.

Engolindo em seco, eu comecei a andar.


Saar não se moveu até que Blaine e eu estivéssemos na
frente dele na fila.

Quando olhei para trás, os outros quatro me observavam


ansiosamente das cápsulas, e Saar ainda me encarava com aquele
olhar estreito.

Eu contive um estremecimento e me virei para frente,


seguindo os outros dois nassa resolutamente.

— Isso não está certo — Blaine murmurou baixinho.

— O que mais eu deveria fazer?

Blaine olhou para trás, parecendo preocupado.

— Nós não deveríamos entrar nisso sozinhos. Quem sabe


se eles são realmente amigáveis, ou se estão planejando nos
cozinhar numa fogueira e nos convidar para o jantar? Nós não
sabemos nada sobre esta espécie.

Uma súbita lufada de ar contra a minha nuca me fez pular


com um grito. Eu me virei para encontrar Saar curvado, bem atrás
de mim.

Eu cambaleei para longe, quase tropeçando no terreno


irregular.

Blaine me pegou, e nós dois olhamos para Saar, que franzia


a testa, agora, seu olhar implacável ainda fixo em mim.

— O-o que você está fazendo? — eu perguntei, inquieto.


Podia ser algo inofensivo, algo que todos os nassa faziam
quando se conheciam. Sim, certo. Como se eles fossem achar legal
se aproximar das pessoas e fungar assustadoramente em seus
pescoços.

Nós esperamos que ele respondesse, mas Saar permaneceu


em silêncio, inclinando a cabeça como se perplexo.

O aperto de Blaine no meu braço aumentou, e ele me puxou


junto.

— Devemos voltar — ele sibilou.

Eu balancei a cabeça em negativa.

Nós já estávamos praticamente na cidade. Era pequena,


pelos padrões da terra. Os prédios pareciam feitos de barro e pedra,
mas eram numerosos e suavizados pelos elementos, e a vista era
linda sob os raios roxos e alaranjados da luz do sol poente.

Os nassa na rua observavam com curiosidade aberta


enquanto avançávamos, mas ninguém se aproximou. A maioria deles
se curvou quando passamos, e um pouco de alívio me percorreu.

Eu me lembrei de como o Primeiro Alfa de Kion — fosse o


que diabos fosse que isso significava — havia sido cordial em todas
as nossas interações.

— Eles devem ter um sistema de honra que nós cutucamos


do jeito errado — eu sussurrei. — Vamos entrar lá, conversar com
seus líderes e sair, como planejamos. Nós já lidamos com coisas
piores antes.
Blaine franziu os lábios, mas não discutiu mais. Eu sabia que
ele estava pensando na nossa última missão de contato, que resultou
num impasse entre o nossos pessoal e os alienígenas de Oulani, que
aparentemente eram seres sencientes. Nós nunca conseguimos
encontrar qualquer terreno comum com eles. No final, eles queriam
nos comer, e nós não queríamos ser comidos, e não houve como
contornar isso.

Felizmente, a caminhada foi curta. Nós chegamos a um


grande edifício abobadado sem janelas enquanto o crepúsculo se
instalava ao nosso redor. Eu podia sentir a temperatura caindo
drasticamente, mesmo através do meu traje, e mal podia esperar
para entrar, já temendo a caminhada de volta para as cápsulas mais
tarde.

A porta era apenas uma cortina, mas surpreendentemente


o interior estava quentinho. Era mal iluminado, com um velho
console de comunicações empoeirado encostado na parede oposta e
uma fogueira aberta no centro.

O comentário de Blaine sobre eles fazerem churrasco de nós


para o jantar saltou para a vanguarda da minha mente, e eu tive que
rejeitá-lo à força enquanto as apresentações eram feitas.

Outros nassa estavam lá, esperando por nós ao redor do


fogo, sentados bem e perto apesar do calor. Cada um se levantou e
acenou com a cabeça enquanto seus nomes eram ditos. Cada um
deles foi apresentado com o mesmo rótulo, “Nassia”. Eu entendi isso
como um honorífico para aqueles de alto nível do seu povo. Com os
três originais, havia dez no total.

E nós dois.

Minhas palmas começaram a suar antes mesmo de eu me


sentar.

Apesar de suas feições humanoides e cabelos em suas


cabeças, o cintilar do fogo os fazia parecer uma espécie de monstros
das profundezas enquanto sentávamos. Para meu desgosto, Saar, o
assustador, se sentou ao meu lado. Podia ter sido minha imaginação,
mas eu tinha certeza que ele estava sentado muito mais perto do
que o necessário.

— Bem-vindo ao conselho Alfa — Kion disse, uma vez


acomodado. — Estamos curiosos quanto ao seu verdadeiro propósito
em vir para nossa terra.

— Nosso verdadeiro propósito? — eu repeti.

Eles observaram Blaine e a mim de perto e, finalmente,


percebi que suspeitavam de nós. Sua confiança em sua capacidade
de se defender era provavelmente a única razão pela qual
concordaram com esta reunião.

Por um momento, eu fiquei pasmo, mas felizmente Blaine


estava lá para se intrometer rápida e suavemente, do jeito que ele
tinha prática em fazer.
— Nosso povo viaja pela galáxia e faz isso há muitos anos.
Temos uma grande fome de conhecimento. Por esse motivo, nosso
objetivo é fazer o maior número possível de aliados.

— Por que se dar tanto trabalho? — um dos outros alfas


perguntou.

Eu me obriguei a falar. Afinal, este deveria ser o meu


projeto, e agora que estávamos falando de negócios, meus nervos
começaram a relaxar.

— Existem muitos planetas com seres sencientes, como nós


— eu disse. — Muitos deles não são amigáveis. Quando soubemos
de sua vitória sobre o Scarbor, um inimigo comum, ficamos
inspirados a entrar em contato com vocês para nos tornarmos
aliados.

Alya inclinou a cabeça, seu olhar frio se movendo entre nós.

— O que vocês teriam a oferecer que possamos querer? —


ela perguntou friamente.

— Nossa proteção — eu disse, e uma risada baixa percorreu


a sala.

— Do alto — eu pressionei. — Antes que os invasores


possam alcançá-los.

— Mesmo nos alcançando, eles não são páreo para nós.

Palavras bastante arrogantes para uma espécie primitiva,


com tecnologias tão limitadas. Aquele que fez essa declaração era
ainda maior que Saar, mas eu não consegui me lembrar do nome
dele. Aposto que se alguns milhares de humanos aparecessem
armados e zangados em sua pequena cidade, ele rapidamente
mudaria de ideia. Mas mordi o lábio para não dizer isso. Eu não
queria parecer agressivo.

Eu estava suando por causa da fogueira e da conversa. Eu


queria pedir um copo de água, mas não sabia se a água deles era
própria para consumo humano... ou mesmo se eles bebiam água
aqui. Pelo que eu sabia, era como veneno para eles, então eles
pensariam que eu era ainda mais ridículo por pedir um pouco.

Eu quase pensei em abrir o zíper do meu traje e ficar só de


camiseta e calça, mas não queria que nenhum deles levasse a mal,
então alisei as pontas úmidas do meu cabelo e tentei ignorar meu
desconforto.

— Os Scarbor estavam em desvantagem biológica em


relação à sua raça — eu disse. — A pele deles era macia, e eles
contavam com venenos para lutar, aos quais seu povo é imune.
Existem outras espécies alienígenas que vocês podem achar mais
difíceis de derrottttt! — eu gritei, quase saltando para fora da minha
pele quando um rosto se empurrou no meu pescoço e cheirou.

Antes que eu soubesse o que aconteceu, eu já estava de pé,


a mão presa ao meu pescoço, olhando para Saar, que tinha acabado
de violar minha bolha pela segunda vez e que permaneceu sentado,
olhando para mim com uma expressão frustrada.

Ele olhou em volta para os outros alfas.


— Vocês querem me dizer que nenhum de vocês se ofende
com isso? — ele exigiu deles.

Eu encarei. Eu não sabia o que tinha feito de errado.

Eu olhei para Blaine, impotente, e ele lentamente se


levantou.

— Não quisemos ofendê-los ou ao seu povo — disse ele


calmamente, mas a conversa continuou como se nem estivéssemos
lá.

— Parece incomum — disse um dos outros.

Suas narinas se dilataram em nossa direção, e eu me


encolhi quando todas os outros nassa fizeram o mesmo, inalando
profundamente o ar à minha volta.

De repente, dez pares de olhos brilharam laranja com a luz


do fogo, como espelhos.

Saar se levantou. Desta vez, sua atenção estava fixada


unicamente em Blaine.

— Você acha isso engraçado? — ele exigiu.

Nós recuamos como um.

— Não — disse Blaine, de uma vez. Eu pude ouvir o medo


em sua voz, e meu coração martelava em minhas costelas com
pavor.

— Você traz um ômega sem companheiro para o nosso meio


para brincar conosco ou nos testar?
Blaine balançou a cabeça furiosamente.

— Acredito que houve algum tipo de mal-entendido — disse


ele. — Os humanos não... nós não temos isso. Alex é um especialista
treinado em primeiro contato com espécies alienígenas. Ele é muito
qualificado...

— Você brinca com a vida dele! — Saar rosnou.

Eu me encolhi com tanta força que minhas costas bateram


no peito de Blaine. Ele me agarrou, pronto para me puxar para longe,
eu tinha certeza, mesmo que jamais fôssemos conseguir fugir. Não
era possível. Não quando havia tantos deles. Nós íamos precisar
acalmar a situação. Eu ia.

Blaine estava sendo repreendido por algo que eu fiz. Eles


achavam que ele estava “brincando com a minha vida”. Nada disso
fazia sentido, então comecei a divagar:

— Ele não teve a intenção de fazer nada de errado — eu


insisti. — Nós dois só estávamos fazendo o nosso trabalho. É isso
que fazemos, vamos a lugares diferentes, conversamos com os locais
e tentamos estabelecer uma relação positiva.

Saar olhou para mim, seus olhos arregalados, mas parte da


raiva foi substituída por confusão.

— Oh, ômega — ele finalmente suspirou em voz baixa. —


Você quer me dizer que seu povo força todos os ômegas a essas
situações?
Eu abri e fechei a boca, perdido por um momento, mas me
agarrando ao fato de que ele não parecia mais tão pronto para nos
rasgar em pedaços.

— Sim — eu disse, depois me corrigi. — Quero dizer, não.


Ninguém me forçou a fazer este trabalho em particular. Eu escolhi.

— Você escolheu? — ele perguntou lentamente, como se eu


estivesse falando em enigmas.

— Todo mundo tem que trabalhar para sobreviver — eu


disse. A maioria das culturas entendia motivações como essa. Se
você não trabalha, você não come. Era um conceito bastante
universal, exceto que os ombros de Saar caíram ligeiramente e sua
carranca se intensificou.

— Seus ômegas escolhem vir voluntariamente e sem


acasalamento em nosso meio para viver — ele disse lentamente.

Ele olhou em volta para os demais no conselho. O conselho


dos alfas. Algo sobre esse título ressoou no meu cérebro como o
alerta de uma mensagem a ser lida.

Eu olhei ao redor, também, e fiquei confuso com as


expressões chocadas. Eles pareciam estarrecidos. Todos eles.

O aperto de Blaine em meus braços aumentou.

— Pedimos desculpas por ofendê-lo — disse ele. — Vocês


não precisam se preocupar conosco. Estamos de saída.

Um rosnado percorreu toda a sala, um estrondo profundo


que provocou um calafrio na minha espinha.
Blaine me puxou para um lado, em direção à porta, mas
antes que eu desse dois passos, Saar pulou para mim.

Eu gritei e tentei me esquivar, mas ele me puxou em seus


braços, quase me chicoteando.

— Al-pai, devo fazer o que é certo — disse ele na direção do


alto alfa, Kion.

Com isso, ele saltou.

Nós voamos bem acima do fogo, direto pelo buraco no


telhado, e um grito se rasgou dos meus pulmões assim que o ar frio
da noite nos recebeu.

Eu fui cumprimentado por um milhão de estrelas.

Meus dedos se enterraram no manto de Saar, subitamente


temeroso de ser atirado para a morte quando caímos, aterrissando
com um baque pesado no telhado.

Blaine estava gritando lá embaixo, e os sons de uma luta


ecoaram na noite.

— Não! — eu gritei, lutando contra o aperto implacável de


Saar. — Não o machuque! Ele não fez nada de errado!

Isso foi minha culpa. Foi algo que eu fiz. Eles achavam que
eu era um ômega e que havia sido colocado em algum tipo de perigo.
Eu não tinha certeza do que isso significava, mas esse fato não
impediu Saar de me erguer em seus braços ao estilo noiva, como se
eu não pesasse nada. Ele pressionou o rosto no meu cabelo, inalando
profundamente.
Um gemido baixo saiu de seus lábios, misturado com um
suspiro que fez todo o meu ser estremecer de medo.

— Não se preocupe, ômega — ele disse em voz baixa. —


Você está seguro agora.

Com isso, ele saltou para a noite.

2 SAAR
De telhado em telhado, meus pés com garras só pousaram
o suficiente para me impulsionar no ar antes de pousar em outro
prédio. Todo o tempo, o ômega se agarrou a mim.

Ele gritava toda vez que pousávamos, suas pequenas mãos


se enterrando no meu cabelo e nas minhas vestes. A proteção que
me preenchia era tão feroz que um rosnado baixo deixou minha
garganta, e minhas mãos se apertaram em torno do seu pequeno
corpo.

Quando pousamos no meu telhado com um baque forte, eu


não perdi tempo em cair no interior. Meus pés tocaram o chão, e eu
gentilmente desci o ômega humano, mas não o soltei, não
imediatamente.

Ele parecia tão adorável em meus braços. Tão pequeno e


delicado, e eu acreditava que já o amava.

Eu estava ligado a ele, no mínimo. Pronto para protegê-lo a


todo custo. E foi por isso que quando senti o quão intensamente ele
estava tremendo, eu finalmente o soltei.

Imediatamente, ele recuou, como um animal assustado. Na


penumbra da noite, eu não conseguia ver sua expressão, apenas a
maneira como se curvava contra a parede.

— Não se preocupe — eu disse. — Eu vou acender uma


fogueira para você e mantê-lo aquecido.

O pensamento fez um zumbido de excitação percorrer meu


corpo. Eu nunca tinha estado sozinho com um ômega, antes. Fora
dos leilões, eu nunca vi um sem companheiro. Se eu o reivindicasse
agora, ninguém seria capaz de tirá-lo de mim.

Ele já é meu, pensei. Eu podia sentir isso profundamente


em mim.

Foi preciso o frio da noite e um autocontrole sem limites


para acender o fogo antes de ir até ele. Quando o fogo pegou e rugiu
para a vida, iluminando a sala, eu finalmente pude ver o ômega
novamente. Ele me observava com olhos redondos e escuros, medo
em cada linha do seu corpo.

— Está tudo bem, agora — eu assegurei. — Você nunca mais


verá aqueles humanos.

Ele estremeceu quando eu dei um passo em sua direção.

— P-por favor — ele disse. — Liberte-me. Eu prometo que


não vou voltar.

Raiva me percorreu.

Será que os humanos o haviam tratado tão mal que ele nem
mesmo entendia que havia sido resgatado? Será que ele achava que
merecia ser punido e colocado novamente em perigo?

— Ômegas não devem ser tratados com tanto descuido —


eu tentei explicar. — E se algo ruim acontecesse com você?

Ele balançou a cabeça freneticamente.

— Foi por isso que eu tinha guardas — ele disse


rapidamente. — Mas você não os deixou vir. Você não... você estava
planejando isso! Não estava?

Ele estava quase histérico. Eu fiz uma careta, chegando


mais perto.

— Afaste-se! — ele gritou, sua voz ainda tremendo.

— Por favor, venha para perto do fogo — eu persuadi.

— Não!
Finalmente, eu percebi que ele avançou em direção à porta.
Eu reprimi um rosnado, me levantando.

— Eu vou te pegar, se você correr — eu disse. — Eu nunca


vou te deixar ir.

Embora fosse para o seu próprio bem, ele congelou quando


as palavras saíram da minha boca. Por um bom tempo, ele olhou
para mim e, de repente, lágrimas começaram a escorrer dos seus
olhos.

— Por favor — ele sussurrou.

Alarmado, eu corri para ele.

Ele estava rígido em meus braços, ainda tremendo.


Cansado de sua discussão, eu o peguei e carreguei para mais perto
do fogo, onde estava quente.

Eu me sentei com ele no colo e passei os dedos gentilmente


por seu cabelo úmido, tomando cuidado para não arranhá-lo com as
minhas garras. Estranho. Quando ele se molhou?

Apesar de fazer sons baixos, ele continuou fungando, e as


lágrimas caindo.

— O que posso fazer — perguntei — para você se sentir


melhor?

— Você poderia me deixar voltar para o meu povo — ele


engasgou. — Eles vão vir atrás de mim, de qualquer maneira. Eles
não aceitam muito bem o sequestro de funcionários do governo.
— Seu povo é bárbaro! — eu rosnei, então quando ele se
assustou por causa do meu tom severo, eu tentei me acalmar. E
respirei fundo antes de continuar: — Eles nunca vão te pegar de
novo, não se preocupe. Eu vou ficar com você.

Seu choro se intensificou.

Meu instinto era oferecer conforto, mas quanto mais eu


abraçava o humano, mais desconfortável ele ficava. Eu não sabia o
que fazer.

Infelizmente, eu não cheguei a descobrir, porque a cortina


se abriu com um estalo e um rosnado. Meu pai alfa, Kion, entrou,
seguido de perto por Alya e, para meu desgosto, Eisa.

Um grunhido baixo e retumbante encheu meu peito ao ver


o outro alfa grande e sem companheiro.

— Tire ele daqui — eu rosnei, segurando o ômega mais


perto do meu peito.

Os três me ignoraram, cada um com uma expressão mais


furiosa que a anterior.

Antes que eles falassem, eu já sabia o que diriam — que eu


não poderia ficar com ele. Eu sabia que deveria ter reivindicado o
ômega enquanto tive a chance! Mesmo que ele estivesse com medo
e inseguro, eu deveria ter feito isso quando éramos apenas nós e
ninguém poderia me impedir.

Eu deveria fazer isso agora.


Eu pulei de pé, pronto para agir e reivindicar
precipitadamente o ômega como meu. Mesmo se eu fosse punido por
isso, o ato seria permanente.

— Saar! Pare! — meu pai disparou.

— Ele é meu! — eu rosnei, e Eisa deu um passo à frente,


ameaçadoramente.

Como eu, ele era um guerreiro, alto, forte, ágil e feroz.


Pouco tempo atrás, nós lutamos lado a lado contra os invasores, mas
eu ainda o rasgaria membro por membro para manter o ômega.

— O ômega não é seu — Eisa disse em uma voz baixa e


perigosa. — Ele não quer você.

Ele olhou incisivamente para o humano em meus braços e,


finalmente, eu percebi que ele estava lutando contra o meu domínio,
lutando para se libertar.

Meu coração afundou, mas eu ignorei.

— Ele não sabe o que quer — insisti.

— Nem você — disse Alya, dando um passo à frente. — A


presença dele é esmagadora para você, Saar. Se você agir tão
precipitadamente agora e forçá-lo, ele pode nunca te perdoar. Ele
pode nunca te amar.

Eu o olhei novamente, e nossos olhos se encontraram.


Ele não estava lutando, agora, ele estava prestando
atenção, extasiado e esperançoso. Foi uma sensação angustiante,
saber que eles estavam certos. Mesmo o ômega concordava.

— Nós temos os poços por uma razão — disse meu pai. —


Você pode conquistá-lo do jeito certo. Mostre a ele o quanto você se
importa. Isso o agradaria.

O ômega estava agora mortalmente parado, olhando para


os outros três como se apenas à espera de que eu o soltasse para
que pudesse correr até eles.

Culpa me encheu, mesmo sabendo que o que tinha feito era


certo.

— Eu não vou soltar o ômega com ele aqui — eu cuspi para


Eisa.

Ele arreganhou os dentes, mas para minha satisfação, Alya


assentiu:

— Vá — ela ordenou. — Saar está certo. Nenhum alfa sem


companheiro terá acesso ao ômega humano.

Aliviado, eu esperei até Eisa me lançar um longo e severo


olhar, então se virar para ir embora. Eu não me movi até não poder
mais ouvir seus passos, então, apesar de todos os meus instintos
gritando para eu segurá-lo, eu libertei o ômega.

Ele correu imediata e diretamente para Alya. Ela segurou


seus ombros confortavelmente enquanto ele se agarrava ao roupão
dela, respirando pesadamente.
— Você o aterrorizou — ela advertiu.

— Só porque ele não entende — insisti. — É errado o que


os humanos fazem com seus ômegas. Ele deve ser protegido.

— Você está certo, é claro — meu pai concordou. — Não


consigo entender suas razões, mas tenha certeza de que ele não
voltará para eles.

O ômega humano olhou para o meu pai, seus olhos


arregalados.

— Espere, o quê? — ele perguntou, a voz trêmula.

Meu pai deu um tapinha na sua cabeça e ofereceu um


sorriso gentil.

— Não tenha medo, pequeno — ele disse. — Você terá o


melhor companheiro alfa.

Seus olhos brilharam em minha direção, e eu soube que


teria seu apoio. Meu pai sabia que eu era o melhor para proteger o
pequeno ômega. Afinal, fui eu a primeira a sentir seu cheiro, mesmo
com todas as suas roupas estranhas.

— Amanhã teremos o leilão — disse meu pai. — Descanse


bem e esteja preparado para vencer.

Doeu vê-los partir. Eu pude ouvir o ômega discutindo por


muitos minutos enquanto eles o escoltavam pela rua até o porão
ômega.
Sua confusão e medo me fizeram querer ajudá-lo ainda
mais.

Eventualmente, eu me deitei perto do fogo e tentei dormir.


Mas foi difícil. Eu não conseguia pensar em nada além do seu cheiro
doce, em como a pele do seu pescoço pareceu macia contra o meu
rosto quando eu a pressionei lá, como seus olhos arregalados eram
fofos quando ele estava assustado.

Eu sorri no escuro como se estivesse louco, mas não


conseguia parar.

— Alex — eu sussurrei seu nome estranho,


experimentando-o em minha língua.

Amanhã, eu faria todo o possível para conquistá-lo, e


quando conseguisse, ele entenderia tudo. Ele ficaria grato em
acasalar comigo.
3 ALEX
O que eu pensava ser uma missão de resgate acabou não
sendo nada disso.

Eu fui levado contra a minha vontade para o que só poderia


ser descrito como uma cela de prisão, depois deixado lá com um
sorriso gentil de Alya e Kion, como se estivessem me fazendo um
favor.

— Descanse bem — Kion disse na despedida. — Amanhã


será um dia emocionante para você. O dia em que você encontrará
seu companheiro.

Suas palavras claramente deveriam aliviar meus medos,


mas tiveram o efeito oposto.

Eu estava atordoado.

Como tudo deu tão errado, tão rápido?

Havia algo sobre mim pessoalmente que estava sendo mal


interpretado. Eles continuavam me chamando de ômega e agindo
como se estivessem me salvando.

Com culturas tão diferentes, era difícil até mesmo


compreender do que eles pensavam que estavam me salvando.
Trabalho era a única coisa em que eu conseguia pensar.
Pessoas como eu não deveriam trabalhar, aparentemente. No
entanto, pessoas como Blaine deveriam? Eu não entendi.

Eu me virei para olhar para o quarto em que fui colocado.


Ele havia sido cavado na lateral de um penhasco e parecia em algum
lugar entre uma caverna e uma cela de prisão. Estava vazio de tudo,
exceto por uma laje de pedra lisa que eu imaginei ser uma cama, a
julgar pelas peles e tecidos colocados sobre ela.

Em vez de um buraco no teto para a fumaça, uma lareira


havia sido esculpida na parede com um túnel estreito para permitir
que a fumaça saísse. Estava acesa, agora, aquecendo o lugar
completamente e oferecendo um pouco de luz.

Havia também uma janela, embora parecesse um pouco


alta e pequena demais para eu passar.

Só no caso, eu fui até ela, a agarrei e me icei. Eu enganchei


meu braço do lado para não cair e empurrei minha cabeça.

Terra batida e plana estava abaixo de mim, e as construções


mais próximas ficavam a uma boa distância.

Agora, se eu conseguisse passar pelo buraco...

Antes que eu pudesse ao menos tentar, alguém passou por


baixo e se encostou na parede no lugar onde eu precisaria pousar.

Um guarda.

Eu caí de volta no quarto, aterrissando com força em meus


pés.
Ao contrário dos nassa, eu não fui feito para ficar pulando
por aí. Se eu agarrasse a oportunidade de pular pela janela, minhas
chances eram de cair de cabeça para baixo e de quebrar o pescoço,
de qualquer maneira.

E mesmo se isso não acontecesse, será que eu conseguiria


voltar para os outros antes de ser pego?

Eu não sabia o que fazer.

Eu realmente tinha sido sequestrado.

— Porra!

Eu soquei a parede de pedra.

Uma dor lancinante atravessou meu punho, e eu soltei um


grito, fui até a cama e desmoronei na beirada enquanto a dor me
deixava sóbrio.

Certas coisas me ocorreram enquanto eu estava lá sentado,


embalando meu punho.

Eu não sabia se era um problema com o meu tradutor, mas


até então, o trabalho do implante para traduzir o idioma local parecia
impecável. As palavras alfa e ômega pareciam ter conotações
diferentes aqui, em relação à Terra.

Para mim, eles eram parte do alfabeto grego, mas os nassa


usavam alfa como título para o conselho principal, e ômega para
mim. Então, talvez o significado fosse o mesmo que na terra.
O conselho alfa eram os líderes, possivelmente eleitos,
embora eu não tivesse tido a oportunidade de perguntar. O Primeiro
Alfa, ele parecia ser como um chefe.

Seu filho, Saar, claramente tinha margem de manobra e


fazia parte do conselho, então, talvez as posições fossem herdadas.

Eu me lembrei da maneira como Saar acariciou meu cabelo


muito gentilmente enquanto me dizia que eu nunca seria livre
novamente, e um arrepio percorreu meu corpo.

Ele não havia feito nada muito invasivo, mas o jeito que ele
me puxou e me sentou em seu colo, a maneira como me cheirou e
acariciou...

Ficou claro para mim que ele me queria.

E foi como se uma luz se acendesse na minha cabeça. Se


Saar era um alfa, e eu um ômega, talvez isso significasse que eu
deveria ser submisso e cuidado.

Talvez esse fosse o motivo deles pensarem que eu não


deveria trabalhar. Que eu deveria acasalar e viver uma vida simples,
ao estilo dona de casa.

Fazia sentido.

Tanto que uma risada histérica borbulhou de mim com tanta


força que eu caí nas peles e não consegui parar até não ter mais
certeza se estava rindo ou chorando.

Eu me esparramei de costas, tentando desesperadamente


respirar enquanto as lágrimas escorriam pelo meu rosto.
Isso era ridículo.

Os nassa iam ser invadidos por causa disso. Não havia como
eu ficar aqui. Por princípio, os humanos não gostavam de sequestros
em missões de paz, e os humanos eram notoriamente difíceis de
derrotar.

Pelo que eu já tinha visto, os nassa eram primitivos, tinham


uma rica história cultural e um intrincado sistema de crenças.

Seria uma pena eliminá-los por causa de um mal-entendido


tão estúpido.

Eu fechei meus olhos bem apertados.

Não parecia que eles queriam me machucar, por si só. Eles


achavam que estavam me ajudando.

Se eu pudesse falar com Kion, explicar o mal-entendido


para ele e as repercussões do que haviam feito, se eu pudesse
apenas assustá-los um pouco, ou fazer Blaine prometer que eu seria
cuidado e acasalado, ou algo assim, talvez eles simplesmente me
deixassem ir para casa, para o meu próprio povo. Eles nem
precisavam saber o quão errado tinham entendido tudo.

Uma das luas de Mukhana surgiu pela janela e, por um


momento, a paz tomou conta de mim.

Eu falaria com o conselho, amanhã. Eu encontraria uma


saída para esta situação.

Pelo que eu sabia, Blaine já estava negociando meu retorno.


****

— Pobre ômega... — disse Kion.

Ele estendeu a mão e acariciou minha cabeça como se eu


fosse uma criança. Eu fiquei ali, atordoado com a reação dele ao meu
discurso cuidadosamente ensaiado. Para ser justo, pela estatura
dele, talvez eu parecesse jovem e frágil.

— Não se preocupe mais com essas coisas. Dentro de


algumas horas, faremos o leilão. A notícia já foi anunciada.

Seus olhos brilharam como se estivesse animado por mim.


Como se eu devesse estar emocionado.

Minha explicação simples e claramente ensaiada da situação


passou voando longe pela cabeça do primeiro alfa, o que não era a
resposta que eu esperava.

Eu pigarreei e tentei novamente:

— O que eu realmente preciso é me reconectar com os meus


colegas. Eu tentei te explicar ontem. Blaine vai cuidar de mim. Ele
sempre cuidou. Se você pudesse falar com ele...

— Não há necessidade de envolver seus amigos humanos


— ele disse, sorrindo gentilmente. — Nós cuidaremos do seu vínculo
à maneira nassa.
Ao seu gesto, os dois que estavam do lado de fora da porta
entraram.

— Samil e Jayada irão ajudá-lo a se preparar para a


cerimônia.

Mal poupando-lhes um olhar, eu balancei a cabeça


furiosamente.

— Você não entende — eu insisti. — Humanos... Nós temos


armas como vocês nunca viram antes. Pode ser ruim. Pode ser...

— Pare de se preocupar — Kion interrompeu. — Nós


ficaremos bem. Nós podemos protegê-lo, mesmo contra sua própria
espécie.

Ele saiu sem olhar para trás, e eu fiquei ali, entorpecido,


sem saber o que fazer.

Samil e Jayada se aproximaram, e eu finalmente olhei para


os dois.

Ambos eram estranhamente bonitos, assim como todos os


nassa parecia ser, mas esses eram diferentes. Pareciam ter traços
mais delicados do que os que eu havia conhecido até agora.

Os longos cabelos escuros de Samil estavam


intrincadamente trançados e pendurados nas costas, e os cabelos
ruivos de Jayada, torcidos em volta da sua cabeça como uma coroa.

Como se isso não bastasse, ambos estavam vestidos de


forma mais rebuscada do que eu pensei que qualquer um poderia se
vestir neste planeta.
Suas roupas consistiam em camadas ricamente coloridas de
tecido torcidos, amarrados e costurados de tal maneira que ambas
estavam completamente cobertas, mas cada parte delas balançava
enquanto se moviam.

Joias diferentes de todas as que eu já tinha visto estavam


penduradas em seus pescoços, pulsos, cinturas e tornozelos.

— Olhe como ele é pequeno — disse Samil, aproximando-


se de mim com cautela.

— Precisaremos alterar todas as roupas dele.

Eu dei um passo para trás enquanto eles avançavam para


mim e, surpreendentemente, ambos pararam ao mesmo tempo.

— Não tenha medo, pequeno — Jayada acalmou.

Ela sorriu e ofereceu uma mão virada para cima,


presumivelmente para eu pegar.

Eu não me movi.

— O que Kion quis dizer como vocês vão me ajudar a me


preparar para a cerimônia? — eu exigi. — E qual é exatamente a
cerimônia?

Eles trocaram um olhar, então Samil balançou a cabeça e


franziu a testa com simpatia.

— Estamos aqui apenas para limpar e vestir você — disse


ele gentilmente. — E para lhe fazer companhia no caminho.

— No caminho...?
— Para o poço — disse Jayada. — Onde o leilão será
realizado por você.

— E é lá que os alfas vão...

— Competir para ganhar sua companhia pelo resto da vida


— Jayada forneceu, então, vendo minha expressão, continuou: —
Não se preocupe, apenas os mais dignos vencem. Você será feliz com
seu companheiro.

Samil suspirou.

— Estou surpreso que ninguém tenha explicado tudo isso. É


claro que o seu povo deve fazer diferente. Peço desculpas pelo meu
companheiro, pequeno ômega — disse ele. — Kion pode ser muito
precipitado, às vezes. Ele esquece que nem todos podem ler sua
mente.

Eu pisquei.

— Mas você pode? — eu perguntei.

— Parece que sim, às vezes — disse Samil, sorrindo


gentilmente. — Eu sei que ele tem boas intenções. Ele não pretendia
te assustar.

— Você não tem leilões de ômegas em seu mundo? —


perguntou Jayada. — De que outra forma vocês encontram seus
companheiros?

— Nós namoramos e temos encontros — eu expliquei,


esperando me comunicar de uma forma que ambos entendessem —
até encontrarmos alguém compatível.
Jayada inclinou a cabeça como se estivesse considerando
como seria, mas Samil franziu a testa.

— Isso parece muito trabalho — disse ele.

Eu balancei a cabeça.

Surpreendentemente, esses dois pareciam ser os mais


abertos e dispostos a ouvir, desde que cheguei a este planeta
empoeirado.

— Vocês dois são ômegas? — eu perguntei.

Ambos assentiram.

— Eu sou a companheira de Alya, e Samil é companheiro de


Kion e pai de Saar.

Minha confusão aumentou porque Samil e Kion eram ambos


claramente do sexo masculino, então meu sangue gelou.

— Os ômegas dão à luz.

Meus joelhos quase cederam, mas felizmente a parede


estava atrás de mim, pronta para me sustentar quando tropecei.

Os dois ômegas trocaram um olhar preocupado.

— Talvez você devesse se sentar — disse Samil, parecendo


preocupado.

Eu balancei a cabeça, mas Jayada se aproximou de mim.


Ela me pegou pelo braço e me levou até a cama.

Se eu participasse desse leilão, se alguém me ganhasse e


percebesse que eu não era realmente um ômega, o que aconteceria?
Então, provavelmente, não haveria mais necessidade de serem
legais comigo. Provavelmente, não haveria necessidade de me
manter vivo.

Eu engoli em seco várias vezes antes de conseguir falar:

— E-eu preciso falar com os meus colegas — eu consegui


dizer. — Eu fui levado tão de repente. Eles provavelmente estão
preocupados. Eu preciso falar com eles e explicar que está tudo bem.

De todos os nassa que conheci, os únicos razoáveis


pareciam ser os ômegas. Por que eles não eram os responsáveis,
estava além da minha compreensão.

Ainda assim, se alguém poderia convencer seus


companheiros a me deixar falar com a minha equipe, seriam eles.

— Não há tempo suficiente — disse Samil.

Eu balancei a cabeça fervorosamente.

— Eu não posso acasalar, ou seja lá como vocês chamam,


até falar com eles. Se vocês não me ajudarem, eu juro que terão que
literalmente me arrastar até lá!

Eu respirei fundo, tentando me acalmar e já me sentindo


culpado. Esses dois não estavam sendo nada além de gentis comigo.
Eu olhei para cada um deles, encontrando seus olhos brilhantes e
lutando contra as minhas próprias lágrimas.

— Por favor — eu sussurrei. — Eu tenho que dizer aos meus


amigos que estou bem, ou as coisas podem ficar sérias. Eles
provavelmente pensam que algo terrível está acontecendo comigo,
aqui. Prometo que vou concordar com tudo o que vocês disserem, se
me deixarem falar com eles.

Quando eles deram um ao outro um longo e silencioso olhar,


eu soube que tinha vencido.

4 ALEX
— Eu vou matar aqueles bastardos com cara de cobra! Eu
sabia que deveríamos ter dado meia volta no segundo em que eles
não aceitaram nossos guardas lá.

— Blaine...

— Fique quieto, ok? Jogue junto por enquanto. Já temos


reforços a caminho...

— Não!
Blaine finalmente ficou em silêncio.

Sua figura confusa no comunicador me olhou como se eu


tivesse enlouquecido.

— Ouça com atenção, Blaine — eu disse, me inclinando e


abaixando o tom de voz, esperando não estar sendo ouvido da porta.
— Isso é um grande mal-entendido.

Blaine bufou, incrédulo.

— Eles sequestraram você, me levaram de volta para as


cápsulas e me chutaram para fora do maldito planeta deles — ele
retrucou. — O que exatamente você acha que estou não entendi,
aqui?

Ele estava compreensivelmente chateado, considerando


que até alguns minutos atrás, ele nem sabia se eu estava vivo ou
morto.

— É algo a ver com a cultura deles — eu disse rapidamente.


— Eles têm algum tipo de sistema superprotetor com seus ômegas...
os que dão à luz, aqui e...

Minha voz diminuiu, as bochechas corando. Eu pigarreei e


continuei num sussurro, olhando para a porta novamente.

— Eles pensam que eu sou um ômega. Eles acham que


estou sendo abusado pelos outros humanos e sendo forçado a
trabalhar contra a minha vontade. Acho que eles acham que a nossa
cultura me escravizou ou algo assim...
Eu fiquei em silêncio e dei de ombros enquanto Blaine me
encarava boquiaberto.

— Merda... — ele finalmente murmurou.

— Estávamos certos da primeira vez — eu continuei. — Eles


são bastante razoáveis, tenho certeza, mas são ferozes e têm
grandes egos. Os alfas têm, de qualquer maneira. Deve haver muito
orgulho em sua sociedade, porque aparentemente eles preferem me
salvar e enfrentar as consequências.

Blaine esfregou a mão sobre os olhos cansados e balançou


a cabeça.

— Portanto...

— Portanto, interrompa qualquer ataque, ok? Eu estou bem,


agora. No entanto, jogue junto, prometa que serei cuidado, enfatize
que foi um erro. Convença-os de que não estou em perigo e que vou
viver uma vida mimada, ou alguma outra besteira do tipo. Só... —
Eu inspirei, minhas mãos trêmulas traindo meus nervos.

Eu cerrei os punhos no colo.

—...negocie — eu disse. — Você é bom nisso.

Blaine balançou a cabeça.

— Alex, eles não estão mais atendendo minhas ligações.


Não há nada que eu possa fazer a não ser descer aí com apoio
suficiente para trazê-lo de volta na marra.
Jayada e Samil vieram à minha mente. Quem sabia quantos
outros nassa inocentes havia neste planeta?

— Eu tenho contatos, agora — eu disse. — Vou conseguir


que suas ligações sejam atendidas.

A cortina da sala de reuniões se abriu, deixando uma


corrente de luz do sol entrar e expondo Alya com uma expressão
estranhamente tímida no rosto.

— Hora de ir — disse ela. — Você terminou de falar com seu


camarada?

— Não — disse Blaine, ouvindo-a. — Alex, para onde eles


vão te levar?

Eu dei uma olhada em Blaine.

— Eu vou arranjar um companheiro, hoje — falei.

A expressão no rosto de Blaine disse tudo.

— Trabalhe rápido — eu implorei na despedida e desliguei.


A tela empoeirada ficou preta.

Quando me levantei, percebi que, agora, tanto Alya quanto


Kion estavam à minha espera. Logo atrás deles estavam seus
companheiros, Jayada e Samil, observando-os com expressões
severas franzindo seus rostos.

— Nós não quisemos chatear você — Kion falou no que soou


suspeitosamente como um pedido de desculpas. — Você pode
conversar com seus amigos quando quiser.
Surpreso, eu olhei para Samil.

Ele observava seu companheiro com orgulho, e uma ideia


me ocorreu. Talvez os alfas não fossem os únicos com todo o poder,
afinal.

— Eu estou muito chateado com você e o seu povo — eu


disse.

Eu tentei ser teimoso e mimado, mas não era um ator muito


bom, e minha voz tremeu. Estes eram alienígenas gigantes, pelo
amor de Deus. Desafiá-los exigia bolas.

Kion olhou, inquieto, para o seu companheiro, e assumindo


a liderança como segunda em comando, Alya deu um passo à frente.

— Só fizemos o que pensamos ser melhor — explicou ela.

— Vocês me levaram contra a minha vontade — eu disse.


— Vocês me separaram dos meus amigos e familiares, e agora eu
sei que os forçaram a partir, os ameaçaram e não lhes disseram o
que planejavam fazer comigo.

Todos os quatro pareceram atordoados.

Eu engoli em seco e continuei:

— Eu sei que vocês têm boas intenções, mas meus amigos


estavam realmente preocupados. Vocês não atenderam as ligações
deles. Eles pensaram que vocês queriam outra batalha.

Isso finalmente fez os quatro se mexerem.


Kion deu um passo à frente, e Alya se virou para subjugar
os dois companheiros, que pareciam estar prontos para uma luta.
Jayada começou a gritar com ela, e Samil cruzou os braços,
encarando Kion.

— Nós responderemos a todas as suas ligações, deste


momento em diante — assegurou Kion.

Meu coração saltou, e eu tive que me esforçar muito para


não pular de alegria. Deu certo! E tão facilmente... Maldição,
aparentemente, ômegas poderiam tocar os alfas aqui como
tambores.

— Eu vou concordar com tudo isso — falei, mantendo minha


voz firme —, contanto que vocês liguem e expliquem a situação para
Blaine. E contanto que vocês possam me prometer que eu não vou
me machucar com o seu povo.

Kion se encolheu um pouco, genuinamente surpreso com as


minhas palavras.

— Ômega — ele disse, sério —, você nunca será


prejudicado, aqui.

Surpreso com sua preocupação com minhas palavras, eu


percebi novamente como estava certo. Esse mal-entendido poderia
significar o fim de uma raça que realmente não merecia isso.

Eu fiquei mais aliviado do que nunca por ter falado com


Blaine. Tudo dependia dele, agora.
— Eu posso ver agora que eu estava errado em pensar que
você conheceria nossa cultura sem explicar — Kion continuou,
arrependido.

Ele se endireitou em toda a sua altura, ombros para trás


resolutamente.

— Leve-o para se preparar — ele ordenou. — Vou chamar o


povo dele imediatamente para discutir o assunto.

Ele seguiu em direção à máquina, e eu quase comecei a


chorar de alívio. Isso tudo acabaria em breve.

Eu fui levado da sala para o ar quente do deserto. Eles me


protegeram da vista enquanto caminhávamos com grandes
engenhocas parecidas com guarda-chuvas de tecido pendurados, de
certa forma anunciando minha presença enquanto me impediam de
ser visto.

A dificuldade de acesso aos ômegas, aqui, obviamente


aumentava o fascínio que eles exerciam. Pelas ruas sinuosas, eu fui
levado a um belo penhasco, com uma das construções nassa
esculpida nele. Ao contrário dos seus aposentos, os locais públicos
estavam longe de ser simples. Eles eram grandes, impressionantes,
com esculturas intrincadas e murais coloridos.

O prédio para o qual me levaram se erguia bem acima de


nós, pilares e arcos se avultando sobre todos. Uma ruidosa cachoeira
parecia cair direto do penhasco além.

Era de tirar o fôlego.


Por dentro, tudo era tão maravilhoso quanto.

Através do teto aberto, a luz do sol enchia a grande sala. A


cascata fluía através das grades e descia até o que eu imaginei serem
os outros níveis. Os nassa estavam sob a água, aproveitando a união
com a natureza.

Era uma casa de banho, eu percebi.

Outros ômegas preenchiam o espaço. Todos me olharam


com curiosidade, e eu me distraí diante da visão de tantos corpos
estranhos por tempo suficiente para não notar de imediato que Samil
e Jayada estavam tentando me despir.

Eu afastei suas mãos, mas depois de tanto tempo em meu


traje, suando perto das suas fogueiras e sob o seu sol, eu queria um
banho o suficiente para ir na onda, por assim dizer.

Eu me despi, deixando minhas roupas num suporte,


tentando não fazer contato visual enquanto caminhava para debaixo
da água surpreendentemente quente.

Um gemido me deixou. Eu fechei os olhos, tentando


aproveitar um instante para relaxar e me acalmar. Isso não era o fim
do mundo. Se eu tivesse que apostar, diria que estaria de volta à
minha nave esta noite.

Algo tocou meu braço, e quando abri os olhos, Samil estava


ao meu lado, nu sob o jato, oferecendo o que parecia ser uma barra
de sabão.
Eu a aceitei, incapaz de evitar olhar para baixo enquanto o
fazia.

Eu desviei o olhar rapidamente, sem saber o que pensar.

Aquilo era definitivamente um pênis.

Um pênis grande e verde, com escamas ao redor da base e


uma ponta estranhamente roxa que parecia ser venenosa.

Eu engoli em seco e me distraí esfregando o sabonete sobre


o meu corpo, mantendo meus olhos grudados no chão de pedra à
minha frente.

Jayada se juntou ao meu outro lado, e eu intencionalmente


não olhei para os seus seios ou genitais — exceto, talvez,
rapidamente.

O que apenas levantou mais questões do que eu queria


abordar, agora.

Se eu estava certo, então como exatamente Samil teve


filhos, se ele era totalmente do sexo masculino? Como Alya pretendia
engravidar Jayada, se ambas eram fisicamente do sexo feminino?

Havia muitas espécies hermafroditas por aí, mesmo entre


os animais da Terra. Não era inédito, mas os nassa eram tão
parecidos com os humanos na forma como seus corpos eram
dispostos, menos as caudas, claro, que era difícil entender a
mecânica.

Mas se eu ia dançar conforme a música, agora, então não


poderia exatamente perguntar. Isso me delataria como um não
ômega, e agora, o fato deles pensarem que eu era um poderia ser a
única razão pela qual eu estava sendo tratado tão bem.

Eu apertei os lábios e não dei mais um pio.

5 SAAR
Eu andava de um lado para o outro no campo de
treinamento, simplesmente aquecendo meus músculos. O sono não
veio facilmente na noite passada, e quando veio, foi intermitente.

Apesar disso, a emoção de encontrar o pequeno Alex, meu


companheiro, meu ômega, me encheu de tanta adrenalina que não
importava.
Minha mente vagou até ele e, por enquanto, o humano era
tudo que eu via. Sua pele cremosa e imaculada... Eu me perguntei
se haveria cores diferentes em outras partes do seu corpo.

Havia uma pequena marca sob seu olho direito, como um


ponto preto que parecia estar ali apenas para fins decorativos. Talvez
houvesse mais desses lá embaixo...

Meu corpo ficou mais quente, e fui para a pequena área


sombreada ao lado das paredes altas e me sentei.

Eu não deveria ficar muito animado, agora. Eu tinha que


vencer, primeiro.

Ainda assim, era uma pena que eu não tivesse tido tempo
suficiente a sós com o ômega para livrá-lo de sua volumosa roupa
da Terra. Não estar acasalado significava que eu nunca me deitei
com ninguém. Minha biologia não permitiria. Agora que eu sabia qual
era a sensação do pequeno humano em meus braços, minha falta de
experiência não era nada além de um combustível para o meu
desejo. Eu queria senti-lo novamente. Todo ele — seu corpo, seu
coração, seu espírito entrelaçado com o meu.

Logo eu o veria acima de mim no pódio, em seu traje de


acasalamento, e teria uma ideia melhor do que ia ganhar. E eu o
ganharia, disso eu tinha certeza, mesmo que me matasse.

O sol se aproximava do meio-dia, e outros começaram a


entrar.
Eu olhei para cada um de cada vez, meu olhar percorrendo
a todos cuidadosamente, avaliando meus oponentes.

Eles eram todos nassa que eu conhecia. Cada um deles


havia lutado ao meu lado durante a invasão, mas eu não permitiria
que amigos ou inimigos ficassem no meu caminho.

Hoje, eles eram estranhos.

No momento, eu não estava preocupado. Havia uma razão


pela qual eu estava no conselho alfa. Havia uma razão para meu pai
ser o primeiro alfa.

Éramos fortes, ferozes e astutos.

Em batalha, nenhum outro nassa destruiu mais invasores


do que eu. Ninguém, exceto, é claro, Eisa.

Um rosnado me deixou quando o objeto dos meus


pensamentos entrou pelos portões do campo de treinamento.

— Eisa! — eu gritei, pulando de pé e marchando em direção


a ele. — Eu deveria saber!

Ele cerrou os dentes e ergueu o queixo desafiadoramente,


vindo sem parar em minha direção, sua cauda chicoteando de raiva.

— O humano não pertence a você só porque você o sentiu


primeiro — ele disse, a voz severa e calma o suficiente para fazer
minhas presas descerem de raiva.
— Eu deveria saber que você tinha outras razões para me
tirar o ômega — eu rosnei. — Você sabia que eu o queria. Você
deveria ter ficado longe do leilão.

Finalmente, Eisa parou, alguns metros nos separando. Para


me manter enraizado no local, eu tive que fazer um esforço enorme.
Eu queria atacá-lo. Eu queria machucá-lo muito mais cruelmente do
que esses leilões ditavam que eu deveria.

Eu cerrei os punhos ao lado do corpo, sentindo minhas


garras cortarem minhas palmas. O olhar penetrante e amarelo de
Eisa se estreitou perigosamente.

— Eu quero um ômega, também — ele rosnou. — Todos


queremos.

Meu olhar vacilou.

Ao nosso redor, mais alfas chegaram.

Havia dez de nós, agora, prontos para reivindicar o ômega


humano. Se mais do meu povo tivesse visto o pequeno humano, eu
tinha certeza que metade da cidade se arriscaria a lutar por ele.

Ele era lindo. Seu corpo era tão pequeno e delicado, o tom
de sua pele, cabelo e olhos tão únicos... A visão dele fisgaria o
coração de qualquer alfa. O instinto de protegê-lo era forte, mesmo
à distância, quando seu cheiro estava longe demais para ser
registrado.

Parte de mim não podia culpá-los por terem vindo. Nem


mesmo Eisa.
Sem outra palavra, eu me virei e caminhei de volta para o
meu canto sombreado, me sentindo no limite e pronto para defender
o que era meu.

É verdade que eu ainda não tinha vencido o ômega, mas


isso era apenas um detalhe técnico. Ele me pertencia.

Do outro lado do campo, alguns dos alfas mais jovens


lutavam. Eu os assisti se revezar praticando com armas. Eu não
trouxe nada. Minhas garras eram mais afiadas do que qualquer faca,
minhas presas, mais eficazes do que qualquer coisa que pudessem
usar contra mim.

Uma arma era uma demonstração de fraqueza.

Nenhum deles era concorrência. Apenas Eisa alimentava


minha preocupação.

Como eu, ele encontrou um canto tranquilo e se sentou,


acalmando sua mente, assim como eu estive tentando inutilmente
fazer.

Além do campo de treinamento, o som de uma multidão se


reunindo cresceu.

Os alfas ao meu redor ficaram inquietos. Eu pude sentir a


tensão em seus ombros, em seus movimentos e no próprio ar.

De repente, o som da multidão explodiu, e meu coração deu


um salto.

Eles trouxeram o ômega. Ele estava aqui, logo além dos


muros, fazendo sua primeira aparição pública no dia do seu leilão, e
depois, na cerimônia de união. A multidão aplaudiu sua beleza e
status.

Eu pulei de pé novamente, tentando acalmar minha


respiração. Minhas mãos estavam tremendo, de repente.

Não. Eu não poderia lutar assim. Eu tinha que me acalmar.


Mas o ômega estava tão perto...

A qualquer momento, eles abririam as portas para nós


entrarmos, e eu o veria novamente!

Eu fechei os olhos, afastando todos os pensamentos com


todas as minhas forças. Algumas respirações profundas ajudaram,
mas não dissiparam a imagem súbita que saltou para a vanguarda
da minha mente — o ômega em meus braços, olhando para mim com
olhos arregalados e assustados.

Uma calma tomou conta de mim, diferente de tudo que eu


já havia sentido.

Por Alex... e para protegê-lo... eu faria tudo o que fosse


preciso.

As portas do poço se abriram.


6 ALEX
Minhas mãos tremiam enquanto eu estava no banco.

Foi preciso estar envolto em tecido branco sedoso, colares


brilhantes e joias para perceber que este provavelmente era o
equivalente ao dia do meu casamento.

O mero pensamento foi o suficiente para me abalar um


pouco. Acrescente a isso os milhares de nassa sentados abaixo de
mim, me olhando, torcendo pela minha chegada, e eu tinha certeza
de que desmaiaria.

— O que Blaine disse? — eu perguntei.

Kion, parado ao meu lado em vestes cerimoniais, sorriu


gentilmente para mim.

— Nós tivemos uma discussão muito interessante — ele


disse, dando um tapinha no meu ombro. — Você não tem nada com
o que se preocupar.

Com isso, ele se virou para a multidão.

Como se isso fosse uma resposta!

O que ia acontecer comigo? Será que eu realmente ia me


casar hoje? Será que eles não viriam me buscar? Será que viriam
com a infantaria? E por que, em nome de todas as coisas sagradas,
estávamos olhando para o que parecia ser um campo esportivo
gigante de areia e terra batida, com assentos erguidos ao redor,
como um anfiteatro grego?

Eu achei que era para ser um leilão.

Kion ergueu as mãos, e a multidão acomodada nos assentos


elevados ao redor do estádio instantaneamente ficou em silêncio. Um
microfone rudimentar havia sido colocado diante do Alfa, e ele se
inclinou para falar:

— Nós fomos abençoados! — ele gritou, a voz ecoando pelos


alto-falantes ao redor do estádio. — Nós recebemos um ômega
humano! Alex de Webber é um ômega tão precioso que o alfa que o
reivindicar terá a honra de enriquecer nossa sociedade e o nosso
povo com a sua presença. Ele merece proteção, amor e todo o
coração do seu companheiro, deste dia em diante e para o resto da
sua vida!

Comemorações irromperam.

Isso ia realmente acontecer.

O que quer que tenha sido discutido com Blaine,


claramente, a mensagem não havia sido compreendida.

Eu não sabia o que fazer.

Será que deveria lutar novamente?

Correr?

Insistir que eu não passaria por isso?


Certamente, se eu me casasse, isso só tornaria minha fuga
mais complicada.

Eu olhei em volta.

Atrás de mim, a maior parte do conselho alfa estava com


seus companheiros. À minha frente estava uma multidão de milhares
de nassa. Não havia nada para eu fazer além de ficar aqui, me
sentindo entorpecido enquanto era exibido como uma joia fina.

Um dossel branco nos protegia do sol forte do planeta, mas


eu ainda estava suando de nervosismo e calor.

— Dez alfas vieram para ganhar o ômega — Kion continuou.


— Que vença o melhor companheiro!

Com um movimento grandioso dos seus braços, as grandes


portas do outro lado do estádio foram abertas, e a torcida
recomeçou.

Quando os alfas entraram, meu corpo gelou.

Eram todos figuras altas e imponentes, com várias escamas


coloridas que brilhavam ao sol. Cada um deles tinha uma expressão
severa no rosto, e quase todos carregavam armas.

Leilão. Essa era a palavra que eles continuavam usando,


mas de repente, me ocorreu que eles não me ganhariam dando o
lance mais alto. Não. O melhor lutador ficaria comigo.

Meu peito apertou diante dessa percepção.


Eu não sabia muito sobre o seu povo. Esse era o ponto de
vir aqui. Eu não sabia se essa luta seria até a morte, mas quando um
gongo alto foi tocado, e os alfas abaixo se lançaram uns contra os
outros sem hesitação, eu não tive esperanças de que houvesse
alguma regra.

Eu me encolhi para trás, meus olhos se fechando


automaticamente enquanto um dos nassa brandia uma espada num
arco em direção à outra.

Girando ao redor, longe do caos, eu colidi com a forma


sólida de Kion. Ele agarrou meus ombros.

— Você está tremendo — disse ele. — Qual é o problema?

Por cima do ombro, ele acenou para alguém, e fui conduzido


a uma cadeira livre, de frente para a briga abaixo.

Entretanto, eu não queria me sentar, eu queria correr.

A multidão explodiu em aplausos selvagens, e meus olhos


foram atraídos para a arena novamente, para a luta, onde alguém
estava literalmente em cima de outro alfa, montando em seus
ombros como um touro enquanto o sufocava.
7 SAAR
Como esperado, os outros foram fáceis.

Eu lutei com um no chão, empurrei o rosto de um na terra,


minhas garras cavando fundo em seu pescoço até que ele parou de
se mover. No momento em que ele o fez, eu pulei nas costas de
outra, estrangulando-a. Ela lutou o melhor que pôde sem respirar,
chutando e resistindo até também cair, flácida.

Eu caí de pé, pronto para mais.

Ao meu redor, outros lutavam. Dois se atacaram com


armas. Covardes. Se eles não podiam confiar em sua própria força,
então não estavam prontos para um ômega, no que me dizia
respeito.

Independentemente disso, eu não hesitei em correr em


direção a eles. Com um chute rápido, eu varri as pernas de um dos
dois. Ele caiu de costas com uma pancada forte, a espada atingindo
a terra vários metros de distância adiante.

Eu vi seu jovem olhar piscar para ela, mas antes que


pudesse alcançá-la, eu pisei em seu pescoço, garras estendendo-se
dos dedos dos pés para perfurar sua pele.

Por um momento, eu me deleitei com o som de sua asfixia,


então algo me perfurou.
Eu olhei para o corte profundo contra as minhas costelas,
um surpreendente jorro de sangue já fluindo do ferimento, então
para o nassa igualmente chocado que claramente não pensou que
seria capaz de me pegar.

Vergonha me inundou, seguida por uma explosão de raiva.


Eu não deveria ter me esquecido do outro com a espada tão
facilmente, mas só o fiz porque ele parecia muito fraco. Ele mal havia
saído de sua juventude, cheio de desrespeito impetuoso por sua
própria segurança.

Ele me atacou, mas quando olhei em seus olhos, apenas


medo e arrependimento encontraram meu olhar.

— Você não deveria ter feito isso — eu rosnei.

Ele se arrastou, como se estivesse no meio do caminho


entre correr ou me atacar novamente, então se decidiu pelo último.
Com um grito, ele correu em minha direção, a espada em riste.

Eu pulei no ar, me esquecendo do que estava sob o meu pé,


e caí em cima dele. Ele caiu no chão, gritando e balançando sua
espada descontroladamente. Mais uma vez, a lâmina me cortou —
meu braço, desta vez —, deslizando pelas escamas macias como se
elas não fossem nada.

Entretanto, eu não senti a dor, apenas a fúria.

Num movimento rápido, eu puxei a espada de sua mão e a


virei para ele, enfiando-a sem hesitação no fundo de sua barriga. No
último instante, inclinei a lâmina para que o golpe não o matasse
imediatamente.

Enquanto ele engasgava e gemia, eu me inclinei sobre ele.

— Você gosta da sensação da sua própria arma? — eu


rosnei. — Talvez isso o ensine a ser um verdadeiro alfa e a
desenvolver sua própria força.

Ele me olhou com os olhos arregalados. De repente, a


multidão explodiu em barulho, e eu o esqueci.

Quando me endireitei, havia apenas dois de nós em pé.

Eisa estava de cabeça erguida, outros nassa espalhados ao


seu redor em vários estados de consciência. Ele estava intacto,
salpicado de terra, seu cabelo ligeiramente bagunçado, mas de outra
forma, completamente ileso.

Eu me levantei, perdendo sangue como um riacho. Eu pude


senti-lo encharcar minhas coxas e pingar da ponta dos meus dedos
para formar uma lama espessa na terra.

Talvez isso significasse que Eisa era o melhor lutador. Ou


talvez significasse que eu faria qualquer coisa para vencer.

Com esse pensamento, eu saltei para ele.

Ele se esquivou do meu ataque, mas eu me virei com a


mesma rapidez, e ele encontrou minhas garras quando eu o golpeei
na bochecha.

Eu sorri.
Aí. Agora, estávamos ambos ensanguentados.

Com um grunhido, ele se lançou para frente.

Desta vez, foi a minha vez de me abaixar. Eu rolei de costas,


saltando de volta com a ajuda da minha cauda grossa, de pé e à
espera do seu próximo movimento.

Para minha imensa irritação, Eisa sorriu.

Ele balançou a cabeça e andou de um lado para o outro, me


observando enquanto ria.

— Venha para mim Saar — disse ele, a voz um estrondo


baixo que eu ainda podia ouvir acima da comoção da multidão. —
Isso não vai acabar bem, então vamos terminar logo.

— Então, por que você não se curva agora e não leva tudo
isso mais longe? — eu rosnei.

Seu olhar se estreitou.

Por um momento, ficamos parados — ele esperando por


mim, eu esperando por ele. Nenhum de nós se moveu.

Finalmente, minha impaciência venceu. Eu era o único


machucado. Se esperássemos demais, talvez não tivesse energia
para lutar como desejava, mas quando pulei em sua direção, ele
estava pronto.

Ele bateu minha mão e garras estendidas e girou tão rápido


que, por um momento, eu não soube que ele estava atrás de mim —
até ele estar me sufocando.
Eu lutei, batendo meus cotovelos em suas costelas, jogando
minha cabeça para trás para golpear seu rosto, mas isso só deu a
ele um melhor aperto no meu pescoço.

Eu pude ouvir o estalar da minha garganta, sentir a pressão


na minha cabeça, como se prestes a explodir.

De repente, eu estava de joelhos, o mundo oscilando diante


de mim. Naquele momento, eu não sabia o que fazer.

Então percebi no que meu olhar havia se fixado.

Eu tinha estado tão concentrado na batalha que não olhei


para o banco nem uma vez, sequer, desde que entrei no estádio,
mas agora, era tudo que eu podia ver.

Lá, num pedestal acima de nós, estava a minha família —


meus pais, os outros líderes alfas e seus ômegas, e Alex...

Ele estava lindo nos trajes tradicionais de união, pronto para


a cerimônia que se seguiria. Ele olhou para mim com uma expressão
apavorada de olhos arregalados, e tudo o que eu soube é que meu
lugar era ali, ao seu lado, aliviando todos os seus fardos.

Era o que eu deveria fazer.

Eu não pensei em nada. Eu não planejei.

Meu corpo pareceu assumir.

Eu agarrei os braços de Eisa e, com toda a força que tinha,


atirei-o por cima do meu ombro. Ele quase arrancou minha cabeça
junto, mas no último momento, seus braços afrouxaram, e eu girei,
minha cauda grossa serpenteando como um chicote e colidindo com
seu peito com um tapa alto e satisfatório, assim que ele tropeçou em
seus pés.

Ele ficou atordoado por um bom tempo. Até eu fiquei


surpreso. Eu não levantei intencionalmente as escamas, usando-as
como as cristas afiadas como facas que poderiam se tornar, e ainda
assim, elas se ergueram, se enterrando profundamente na carne de
Eisa.

Quando eu as tirasse, um veneno mortal seria liberado. Ele


só teria alguns minutos, se sobrevivesse.

Por um breve instante, eu considerei retraí-las, só por causa


do problema que ele havia me causado, mas a expressão em seus
olhos me deteve.

De repente, houve uma onda de comoção, outros invadiram


o campo do estádio. Curandeiros. A multidão explodiu. Eles eram tão
barulhentos que se tornaram tudo que eu podia ouvir.

Tinha acabado.

Eu tinha vencido.

Alex era meu, agora. Ninguém poderia contestá-lo.

Emoção tomou conta de mim. Alegria, responsabilidade,


ânsia, amor... Não havia palavras suficientes para descrever como
eu me sentia. Eu queria gritar e comemorar e pular. Mas acima de
tudo, eu queria correr para o meu ômega
Em vez disso, eu permaneci muito quieto enquanto os
curandeiros seguravam Eisa e a minha cauda e, com cuidado, mas
rapidamente, extraíam as escamas.

Imediatamente, Eisa foi deitado no chão, o antídoto


derramado diretamente em suas feridas.

Minhas escamas voltaram para sua posição mais relaxada,


macias ao toque, completamente despretensiosas.

Os curandeiros vieram até mim, ansiosos para me tratar


como estavam tratando os outros, mas eu os afastei, mal consciente
de sua presença enquanto caminhava para o banco.

Eu sorri enquanto me aproximava.

Eu tinha realmente provado meu valor.

O ômega ficaria feliz.

Incapaz de conter a excitação que tomou conta de mim, eu


pulei no pilar e escalei facilmente o banco em meio aos aplausos
estridentes dos espectadores.

Quando saltei para a plataforma, pronto para reivindicar


meu prêmio, meu pai e alguns dos outros estavam balançando a
cabeça para mim com bom humor.

— Eu disse que ganharia seu amor — eu falei, ajoelhando-


me diante do ômega atordoado. E exigiu todo o meu controle,
permanecer cordial quando tudo que eu desejava era jogar Alex por
cima do meu ombro novamente e içá-lo para a minha casa, onde
poderíamos ficar à sós.
— Você realmente mostrou seu valor, meu filho — Kion
disse, e então, virando-se para a multidão, ele começou a gritar no
microfone: — Meu filho, Alfa Saar, ganhou o ômega humano!

Uma aclamação ensurdecedora irrompeu. Os que estavam


no banco aplaudiram, mas tudo o que vi foi o rosto de Alex. Ainda
assim, ele olhou para mim como se eu fosse um monstro. Mesmo
num momento tão alegre, ele foi atingido pelo medo.

Meu coração doeu por ele.

Mais uma vez, eu me perguntei o que ele havia


experimentado nas mãos dos humanos cruéis, mas rapidamente
afastei o pensamento. Não importava mais.

Ainda ajoelhado diante dele, eu estendi minha mão e peguei


as suas trêmulas. Mais uma vez, fiquei impressionado com o calor e
a maciez da sua pele.

Eu esperei até que os nossos olhares se encontrassem,


antes de falar:

— Agora e para sempre, eu irei cuidar de você — prometi.


— Não há mais nada para você temer ou desejar na vida.

Finalmente, minhas palavras pareceram alcançar algo


dentro dele. Seu olhar se tornou mais gentil, sua mão apertou a
minha levemente, e um sorriso estranho e doloroso ornou seu rosto.

— Ah — ele sussurrou. — Eu realmente não sei o que fazer


agora.
Eu não sabia o que ele queria dizer, mas agora que tinha
recebido o menor incentivo, tudo o que eu queria era tranquilizá-lo
mais, conseguir mais suavidade dele. Não era a hora, porém, eu
disse a mim mesmo, quando fomos conduzidos das arquibancadas.

Agora era hora da nossa cerimônia de união.

8 ALEX
Saar não saiu do meu lado. Eu não o culpei, afinal, ele tinha
acabado de ganhar seu prêmio...

E mesmo isso não me incomodou do jeito que deveria.

Neste ponto, eu estava apenas tentando me segurar por


autopreservação.
Ele tinha sido fatiado mais de uma vez e quase estrangulado
até a morte... tudo pela oportunidade de me mimar?

Eu não entendia o apelo disso, mas aqui estávamos nós, e


Saar literalmente não parava de sorrir para mim como se eu fosse a
melhor coisa que já lhe aconteceu. E as festividades atuais pareciam
apoiar essa suposição.

Nós estávamos sendo exibidos pela cidade — literalmente


carregados nas costas de outros nassa — no que só poderia ser
descrito como um trono. E ele estava ignorando tudo isso.

O sol, a multidão gritando e aplaudindo, os tambores


ecoando pelas ruas cavernosas, o balanço dos nossos assentos
enquanto nos movíamos para frente e para trás. Ele não notava nada
disso. Literalmente, a única coisa em que ele prestava atenção era
em mim.

Minhas bochechas estavam coradas por causa de toda a


atenção. Havia muitos olhos em mim, me olhando e sorrindo e
observando cada movimento meu.

Todo mundo estava tão feliz...

Eu tentei manter meu olhar fixo no meu colo, mas sempre


que erguia as vistas — inevitavelmente encontrando o olhar de Saar
—, eu sentia minhas bochechas corarem ainda mais.

O sol também não estava ajudando.

Vestido com o macio e arejado manto nassa, eu pude sentir


minha pele cozinhar. O sol estava forte, mas isso não parecia ser um
problema para eles. Eu suspeitava que fossem uma espécie de
sangue frio. Do tipo de se aquecer ao sol naqueles dias em que os
humanos o evitavam.

Eu olhei para o meu ombro, notando que estava realmente


ficando rosa, então olhei para Saar, pegando-o me observando
novamente.

Eu engoli em seco.

— Para onde estamos indo? — eu perguntei, levantando


minha voz para ser ouvido acima da celebração.

Ele se inclinou para mim — ou talvez o balanço dos nassa


nos carregando o tenha empurrado um pouco mais para perto.

Ele abaixou o rosto perto da minha bochecha, sob o pretexto


de ser ouvido, e inspirou profundamente, me fazendo estremecer,
antes de responder com um sorriso gentil:

— Para a nossa cerimônia de união.

— Certo. — Eu já sabia disso, mas ouvi-lo dizer abertamente


fez meu estômago revirar. — E o que exatamente isso implica?

Ele inclinou a cabeça, estreitando o olhar enquanto


procurava meu rosto.

— Você nem mesmo sabe o que é uma cerimônia de união?


— ele perguntou lentamente.

Eu balancei a cabeça.

— Eu não sei nada sobre o seu povo, na verdade.


Isso estava se tornando cada vez mais aparente.

Compaixão tingiu sua expressão, mas em vez de explicar,


ele colocou uma mão tranquilizadora no meu ombro.

— Não há nada a temer — disse ele.

Eu implorava para discordar. Ainda havia sangue seco sob


suas garras longas e afiadas.

De alguma forma, no final, nenhum dos adversários morreu


durante o “leilão”. Nem mesmo os nassa que Saar esfaqueou com
uma espada. Aparentemente, essa era uma das regras. Se alguém
morresse, o assassino era desqualificado, mas ninguém parecia
preocupado com isso porque seus curandeiros pareciam ser capazes
de fazer milagres.

Levou apenas alguns minutos e uma pomada para fechar os


ferimentos do próprio Saar. Mesmo antes disso, ele não parecia
muito incomodado com eles.

Os nassa eram realmente ferozes. Eu tinha certeza de que


qualquer alienígena desavisado que pousasse em seu planeta
enfrentaria uma luta muito boa, não importa o quê.

E se esses “alienígenas” fossem humanos tentando me


salvar...? Eu não sabia qual era a melhor solução. Talvez, me
sacrificar pelo bem maior fosse a melhor opção. Se eu ficasse aqui,
os humanos e nassa seriam poupados de baixas.
Mas pensando bem, não seria certo deixá-los se safar com
o roubo de pessoas onde quer que eles bem entendessem. Mesmo
que tenha sido por causa de um colossal mal-entendido.

Eu olhei para Saar novamente.

Pela primeira vez, seu olhar não estava fixo em mim, e eu


finalmente pude observá-lo.

Como todos os nassa, ele era lindo. Suas feições eram


exóticas, mesmo de longe, claramente masculinas e marcantes. Ele
era quase como uma estátua, músculos definidos e cabelos dourados
que faziam o meu parecer sem graça em comparação.

Seus olhos, quando o sol os atingia, fazendo-os brilhar como


ouro maciço, eram de tirar o fôlego. Verdade seja dita, se as coisas
fossem diferentes, só o olhar de Saar teria me parado.

O desconhecido que ele era provocou um arrepio em mim,


e eu fiquei surpreso ao notar que não era totalmente de um jeito
ruim.

Até agora, aquele sabor de desconforto por causa do seu


olhar me fez querer correr. Mesmo sentado ao seu lado, eu senti um
calafrio quando ele chegou muito perto, mas algo definitivamente
mudou, porque o interesse estava logo abaixo da superfície desse
sentimento.

Não, isso não significava que eu queria pular nele e deixá-


lo fazer todas as coisas sujas comigo que ele definitivamente queria
fazer, mas eu estava... curioso.
Por que tanta devoção a mim? Por que tanta vontade de
lutar quase até a morte pela oportunidade de me ter?

Era risível.

Eu era completamente comum. Na Terra, e entre outros


humanos em qualquer lugar da galáxia, eu nunca me destaquei. Eu
tinha estatura mediana, forma mediana, tudo mediano, exceto a
ética de trabalho, na verdade, motivo pelo qual eu havia subido na
hierarquia tão rapidamente ao longo dos anos.

E por que eu não trabalharia duro? Não era como se eu


tivesse uma vida social para me distrair. Sem parceiros, sem
amantes, sem família...

Eu olhei para a multidão, impressionado com a experiência.


Todo mundo estava aqui por mim. Como se eu fosse realmente
especial.

— Você está satisfeito com a sua comemoração?

Eu me assustei com o hálito de Saar contra o meu ouvido.

— Eu... sim — eu consegui dizer, rejeitando minha linha de


pensamento. — É bem interessante. Os ômegas são sempre
celebrados assim?

Ele inclinou a cabeça, pensativo.

— É difícil entender tudo de que você foi privado.

Ele estendeu a mão e pegou a minha. Sua pele era fria e


macia no calor sufocante do sol de Mukhana.
— Sim — ele finalmente respondeu. — Todos os ômegas são
celebrados como deveriam ser. Especialmente em seus dias de
união.

— Dias de união — eu repeti, ainda perplexo. — Você vai


me explicar o que essa união implica, exatamente?

Ele abaixou a cabeça, uma ação que me surpreendeu e


confirmou minhas suspeitas de que os ômegas aqui eram
profundamente respeitados. Que surpresa agradável.

— Sinto muito, Omi — ele disse. — Eu deveria ter explicado


antes. A união é uma cerimônia na qual nos colocamos diante dos
líderes alfas e nos tornamos um.

Sua resposta imediatamente me assustou, mas antes que


eu pudesse fazer mais do que ficar boquiaberto, nosso trono parou
bruscamente.

Eu perdi o equilíbrio, agarrei seu braço para me apoiar e


olhei ao redor, percebendo que estávamos sendo descidos.

Diante de nós, um enorme penhasco se erguia.

Com pavor, eu olhei para a extensa escadaria. Como toda a


infraestrutura de Mukhana, era suave e esculpida com precisão. Os
degraus se estendiam para cima e além da vista.

— Saar — eu disse lentamente —, nós não vamos subir isso,


não é?

— Sim. Todas as cerimônias de união são realizadas no


topo, no ponto mais alto de Mukhana.
— Claro que sim.

Eu compreendi imediatamente o simbolismo. Se eles


acreditavam em um Deus ou Deuses, então, talvez isso fosse para
ser visto e ouvido por essas deidades, assim como as antigas
civilizações da Terra fizeram em várias regiões ao longo de nossa
história.

Outra questão interessante que me deixaria fascinado, se


as coisas tivessem saído conforme o planejado.

Que sonho teria sido, chegar ao planeta, organizar passeios


e discussões e estudos com sua forma de vida dominante. Aprender
tudo sobre eles sem chegar muito perto.

E por falar em chegar muito perto; Saar me alertou que


minha mão ainda agarrava seu braço ao colocar a dele por cima e a
manter firmemente no lugar.

— Venha — ele disse, se levantando.

Eu não tive escolha a não ser me levantar também.

À nossa frente, uma procissão de nassa começou a liderar


o caminho, bandeiras erguidas, tambores batendo sem parar.

Eu segui a sugestão de Saar.

Eu estava sobrecarregado demais, neste momento. Eu não


sabia mais o que fazer.

Pela primeira vez na vida, eu não tinha nenhum plano. Eu


sempre planejei com antecedência. Eu era do tipo que tinha que ter
listas prontas para cada dia, e metas estabelecidas ao início de cada
ano. Eu tinha aspirações e listas de coisas para estudar, aprender e
realizar...

Então aqui estava eu, e não sabia o que havia acontecido


entre Blake e Kion. Eu não sabia como fugir dos nassa ou mesmo se
deveria. Eu não sabia se as pessoas estavam planejando me
resgatar. Eu não sabia como a união seria.

Quando começamos a subir os degraus, eu senti como se


ainda estivesse chacoalhando no alto do trono, completamente fora
da minha zona de controle, e sem escolha a não ser segurar firme.

9 SAAR
Toda a minha vida, eu sonhei com este dia — o de subir a
Escadaria Sagrada até o Cume da União, meu futuro companheiro ao
meu lado, tambores batendo e o sol brilhando sobre nós, nos
mantendo aquecidos.

Alex estava ao meu lado. À nossa frente, os alfas do


conselho lideravam o caminho, exceto Eisa, pois apenas alfas
acasalados eram permitidos na montanha sagrada.

Atrás de nós, seus companheiros seguiam, assim como


outros dos grupos de voluntários, batendo seus tambores em
uníssono.

Nós devíamos andar no tempo da percussão, um pé batendo


a cada passo enquanto o bastão atingia a pele esticada, mas as
coisas não estavam indo de acordo com o planejado.

— Você está bem? — eu perguntei pela quarta vez.

Alex assentiu, mas sua pele estava de uma cor rosa


peculiar, como se seu sangue tivesse se acumulado logo abaixo da
superfície, e ele estava ofegante. Água escorria do seu cabelo e
rosto, outra visão peculiar num lindo dia quente, já que não tínhamos
chegado perto de nenhuma água.

— Tem certeza?

Ele tropeçou, e a procissão atrás de nós vacilou.

À frente, o conselho alfa parou para nos olhar. Eu podia ver


a expressão preocupada de Kion, e dei de ombros para meu al-pai
impotente.

Ele se virou, descendo os degraus estreitos em nossa


direção enquanto Alex permanecia curvado, ofegante.
— Qual é o problema? — ele perguntou quando chegou até
nós, os outros se aproximando também.

— Há apenas um monte de degraus — Alex ofegou.

Ele apertou os olhos para a montanha. Seus olhos pareciam


incomodados com alguma coisa, o sol, talvez, ou a umidade
gotejando neles. Pensando bem, Alex não parecia ter uma
membrana protetora. Eu nunca vi a película translúcida cruzar seus
olhos...

— Há quanto tempo estamos subindo? — ele perguntou.

— Quase duas horas — Kion disse, pensativo.

Ele encontrou meu olhar.

— Talvez isso seja muito esforço para um humano?

Alex balançou a cabeça.

— Tenho certeza de que existem alguns tipos de


aventureiros que adorariam isso — disse ele. — Mas duas horas
subindo uma escada de montanha, sob o calor do deserto, sim, isso
não é para mim.

Do jeito que ele falou, eu quase pensaria que ele estava


sendo torturado.

Dor me atingiu, pior do que qualquer uma das minhas


feridas recentes. Sem pensar, eu me inclinei e tomei meu
companheiro em meus braços.

Ele protestou imediatamente.


— Eu estou bem, por favor, me coloque no chão.

— Nós não estamos perto do topo — eu expliquei. — Não


quero que você sofra. Por favor, deixe-me carregá-lo.

Alex olhou para mim por um momento, seus olhos, de um


azul rico, à luz do sol pareciam profundos o suficiente para me
engolfar. Finalmente, ele assentiu.

— Não posso discutir isso.

Sorrindo, eu acenei para o meu pai e os demais alfas, que


recomeçaram a procissão mais uma vez. Atrás de nós, o tambor
também recomeçou, e nos movemos num ritmo muito mais rápido e
razoável.

Alex era leve o suficiente em meus braços, para não me


atrasar, só fazer meu coração cantar. Estar tão perto dele era
diferente de tudo que eu já senti antes.

Alex virou o rosto para longe dos bateristas abaixo de nós,


fixando o olhar na montanha, com um estremecimento que percorreu
seu corpo.

— Estamos bem alto, não é? — ele perguntou.

Eu olhei para trás e assenti, sorrindo para a vista. A terra


abaixo estava tão distante que parecia uma pintura.

— Sim. E que privilégio, fazer nossa ascensão ao nosso


vínculo.
Alex fez um barulho, um que apenas reconhecia que eu
tinha falado, mas ele não opinou.

— Você está animado? — eu perguntei. — Talvez seja por


isso que seu corpo ficou úmido?

— Úmido? — Alex perguntou, parecendo perplexo, então


para minha surpresa, ele caiu na gargalhada.

Eu sorri, divertido com o som doce, embora não soubesse o


que era engraçado.

— Eu não estou úmido de excitação — ele finalmente disse.


— Eu estou suando meu traseiro em bicas.

Eu não estava familiarizado com a palavra suando, e fiquei


ainda mais perplexo que seu traseiro tivesse fazendo isso em...
bicas? Eu esperava que fosse apenas uma expressão.

Antes que pudesse pedir uma explicação, Alex pareceu


perceber que eu não havia entendido, porque rapidamente
continuou:

— Quando os humanos ficam muito quentes, nosso corpo


começa a liberar água para nos resfriar.

Essa foi a coisa mais estranha e fascinante que eu já tinha


ouvido, mas só levou a mais perguntas.

— Então, você é muito quente? — eu perguntei, surpreso.


Para mim, a temperatura estava perfeita.

Alex cantarolou um som como um acordo.


— Devo presumir que os nassa são de sangue frio. Isso
significa que você gostaria mais do calor do que eu, mas eu posso
lidar com temperaturas mais frias. Algo sobre você precisar usar
meios externos para regular sua temperatura.

Eu pisquei, tentando entender o que ele queria dizer.

— Então, você tem sangue quente? — eu perguntei.

Ele assentiu.

— Você não consegue sentir? — ele perguntou.

Eu podia. Seu corpo, agora com apenas camadas de tecido


fino e transparente ao redor, parecia quente e convidativo.

Incapaz de me conter, eu deixei meu rosto repousar contra


o seu ombro, sentindo seu calor contra a minha bochecha.

— Adorável — eu sussurrei, e suas bochechas ficaram ainda


mais vermelhas.

Oh, como eu queria pressionar meus lábios em sua pele


corada, seus lábios que pareciam tão cheios e macios.

— É por isso que sua pele continua ficando rosada? — eu


perguntei, ansioso para manter a conversa. Agora que ele não estava
tremendo de medo da minha presença, eu queria ouvir o timbre
suave de sua voz para sempre. Era tão lindo e suave. Um pouco
profundo e suave ao mesmo tempo. E eu sempre o teria perto de
mim.

Esse pensamento me deixou tonto de prazer.


— É parte do motivo — ele concordou. — O resto, eu
suspeito que vai ser uma queimadura de sol bem feia.

Eu tropecei.

Com horror, meu olhar voou para o sol sobre nossas


cabeças, depois para Alex.

— O sol pode queimar você? — eu perguntei, medo me


dominando. — Por que você não disse nada?

Eu me virei, procurando algo para cobrir Alex.

Atrás de nós, vi meu pai ômega, Samil, envolto em um lindo


xale. Eu fiz um gesto para ele, diminuindo meu passo até ele me
alcançar.

— O que foi, amor? — ele perguntou, colocando a mão no


meu ombro e sorrindo para Alex.

— Om-pai, você sabia que o sol queima a pele humana? —


eu perguntei, ainda chocado.

Seus olhos se arregalaram. Ele balançou a cabeça e, sem


que eu precisasse dizer nada, tirou o cachecol dos ombros e o enrolou
no meu ômega.

O fato do humano teimoso não discutir só confirmou o quão


ruim era. Culpa me empurrou para acelerar o ritmo, seguindo até o
topo.

— Sinto muito, Omi — eu disse gentilmente. — Eu queria


tirar você das dificuldades da sua vida, não acrescentá-las. Se houver
mais alguma coisa de que você precise, ou algo que o deixe infeliz
ou desconfortável, por favor, me diga.

10 ALEX
Eu estava embrulhado como uma mulher de burca, nos
braços do meu futuro marido-alfa-companheiro-tanto faz, enquanto
ele me carregava por mil degraus até o que eu só podia supor ser a
nossa consumação. No entanto, meu estômago estava dando
cambalhotas.

Eu devia estar enlouquecendo, porque a preocupação de


Saar comigo, o jeito como ele me olhava e sorria para mim, a
maneira como ele realmente ouvia e entendia tudo o que eu tinha a
dizer... Seus braços musculosos, me segurando com tanta facilidade,
peito tenso subindo e descendo, e a sensação convidativa e fria de
sua pele lisa era mais agradável do que tinha o direito de ser.

Eu engoli uma pequena nuvem de borboletas.

Estávamos quase no topo, agora, então eu me mexi,


ansioso para colocar alguma distância entre nós antes que a reação
do meu corpo a ele começasse a ficar ainda mais entusiasmada.

— Eu posso andar o resto do caminho sozinho — eu disse.

Ele me colocou no chão com uma expressão relutante em


seus olhos dourados, suas mãos se demorando na minha cintura,
roçando a pele que espreitava entre a camada do meu roupão. Meu
estômago se revirou novamente, e eu me virei, começando a andar
sem esperar.

Eu consegui acompanhar o tempo dos tambores, desta vez.


Eu nem tinha notado que deveríamos fazer isso naquelas duas
primeiras horas infernais. A sugestão de Saar, embora humilhante,
me aliviou um pouco. Ele nem pareceu se incomodar com o meu
peso, então por que não ir até o fim?

Agora, porém, eu cheguei ao último dos degraus, parando


no patamar onde os líderes alfas haviam desaparecido.

Nós tínhamos percorrido todo o caminho até o topo. O pico


da montanha era uma superfície plana, sem vegetação à vista, mas
com outro belo edifício erguido no centro.

Saar se aproximou de mim, e eu me virei, mas em vez de


vê-lo, meu olhar foi para a vista, fazendo meu coração perder o
compasso e um suspiro deixar meus lábios. Estávamos acima das
nuvens esparsas. Mukhana se estendia abaixo de nós, areia dourada
e florestas roxas, um grande rio cortando a paisagem —
provavelmente, aquele que levava às cachoeiras em que eu havia
me banhado antes.

Era absolutamente deslumbrante.

— Uau — eu suspirei.

— É incrível.

Saar parecia tão impressionado quanto, e eu desviei meu


olhar da visão de tirar o fôlego para encará-lo.

— Você não viu isso antes? — eu perguntei.

Ele balançou a cabeça.

— Somente os acasalados podem ascender a este lugar, o


ponto mais alto de Mukhana.

Então, estávamos experimentando isso pela primeira vez


juntos. Eu engoli em seco, olhando para o planeta com admiração.

— Aquilo ali é um segundo sol? — eu perguntei, apontando


para uma luz subindo do horizonte.

Saar assentiu.

— Ambos são visíveis do sul — explicou ele —, mas daqui,


vemos apenas um, na maior parte do ano. No verão, o segundo
atinge o nosso horizonte.

Eu empalideci.
— Você quer me dizer que fica ainda mais quente, aqui? —
eu perguntei, alarmado.

Saar franziu a testa.

— Eu vou mantê-lo protegido do sol — ele prometeu, mas


eu não via como isso seria possível.

Perto de nós, o resto da procissão havia chegado ao topo.

Todos se sentaram nos bancos e no chão, sorrindo e


conversando, dando continuidade ao clima festivo.

Alya se aproximou de nós com um sorriso gentil.

— Você está pronto? — ela perguntou.

Saar assentiu ansiosamente, pegando minha mão e me


levando em direção ao grande edifício.

Mais uma vez, eu me surpreendi com a arquitetura dos


nassa.

Por dentro, o edifício era como algo dos tempos antigos,


com pilares esculpidos e desenhos intrincados. A parte superior foi
deixada completamente aberta, e murais coloridos foram pintados
em todas as paredes. Eles estavam empoeirados pelo clima e pálidos
por causa do sol constante, mas isso só aumentava seu charme. As
imagens, em si, eram únicas.

A princípio, pensei que fossem flores coloridas, mas de


repente, percebi que eram pessoas, afinal, os nassa tinham uma
variedade de cores de escamas, e todas pareciam estar
representadas ao longo das paredes, corpos tão intrincadamente
torcidos uns nos outros que eu mal podia dizer onde um começava e
o outro terminava.

— Lindo — Saar suspirou ao meu lado. — Muitos anos atrás,


os maiores artistas do nosso planeta foram convidados a pintar o
Templo da União. Eu sempre quis vê-lo pessoalmente.

Eu olhei o lugar com admiração renovada. Seria ele algo


como a Capela Sistina dos nassa?

— Você está pronto?

Os líderes alfas que se juntaram a nós se acomodaram na


extremidade da sala aberta, em grandes tronos que foram colocados
numa plataforma. Apenas dois assentos permaneceram vazios — eu
percebi que um pertencia a Saar, e o outro, ao outro líder alfa que
não estava presente. Provavelmente, isso tinha a ver com o fato de
que apenas os nassa acasalados tinham permissão para entrar.

Saar me pegou pela mão e me levou para a frente, parando


diante dos outros. Atrás de nós, o resto entrou e ficou em fila,
observando silenciosamente. Uma vez que tudo se acalmou, eu olhei
de volta para os líderes alfas.

Eles se ergueram acima de nós, uma visão alienígena


intimidante, e eu apertei a mão de Saar, inconscientemente em
busca de apoio, meus nervos se acalmando um pouco quando ele
apertou a minha de volta.
Era isso, não era? Estaríamos casados de verdade, e eu não
tinha ideia do que fazer, exceto seguir em frente com tudo isso. Meu
coração batia forte contra as minhas costelas.

Kion, o primeiro alfa, acenou para o seu filho, depois para


mim.

— Saar Nassia e Alex Webber Humano, nós nos reunimos


neste espaço sagrado para abençoar sua união e testemunhar sua
consumação diante dos espíritos e poderes do universo.

Lá estava aquela palavra novamente. Consumação.

Eu não pude deixar de olhar para o chão de mármore duro.


Certamente, a falta de superfícies macias significava que eles não
queriam que Saar me fodesse bem aqui, na frente de todos, certo?

Uma imagem da minha dura cama de pedra da noite


anterior me ocorreu, e eu engoli em seco ao perceber que o mármore
provavelmente não era lá muito desencorajador para eles.

— Saar, você promete amar e proteger seu ômega humano


pelo resto da sua vida?

— Sempre — disse Saar imediatamente.

A paixão em sua voz era inconfundível. Eu me lembrei de


como ele lutou por mim, como ele ficou feliz por vencer. Ele
realmente queria isso, eu percebi. Ele realmente me queria.

— Alex, você promete amar e apoiar seu alfa pelo resto da


sua vida?
Eu olhei para Saar, seu intenso olhar dourado encontrou o
meu imediatamente, e eu soube naquele instante o quanto isso
significava para ele. Nós estávamos no altar. Eu não podia voltar
atrás, agora.

— Sim — eu respondi, gaguejando e quase não saindo um


som da minha boca.

Um sorriso brilhante iluminou o rosto de Saar. Ele era ainda


mais impressionante quando sorria, exibindo dentes brancos e retos,
e pequenas presas, semelhantes às das cobras, que mal se
projetavam. Meu peito apertou.

— Agora, com o líder do conselho alfa como testemunha,


vocês podem consumar esse vínculo.

Eu olhei para o grupo nos observando. Oito pares de olhos


intensos concentrados em mim. Atrás de nós havia ainda mais rostos
nos observando. Então, a mão de Saar tocou meu braço, e eu me
encolhi.

Ele fez uma pausa e esperou que eu o olhasse, parecendo


um pouco confuso.

— Não tenha medo — ele disse gentilmente. — Eu também


nunca fiz isso. Vamos experimentar juntos.

Então ele veio na minha direção com mais propósito, mãos


estendidas para me tocar, mas me dando muitos avisos para fugir,
se eu quisesse.
Eu não me movi. Meu coração parecia estar preso na
garganta, meus pés cimentados no chão.

Ninguém tinha me dito, sequer, do que a consumação se


tratava, mas eu não podia culpá-los. Eles não sabiam quais coisas
eu não sabia.

Não saber o que esperar estava se tornando uma constante


para mim, uma que era nauseantemente difícil de aceitar.

Eu queria assumir o controle de alguma forma, mas quando


Saar colocou suas mãos quentes em meus ombros, tudo em que eu
consegui pensar foi, pelo menos, será ele quem assumirá a liderança.

Ele se aproximou de mim, e uma vez que nossos olhos se


encontraram, ele abaixou a cabeça para a minha. Tudo o que eu
pude fazer foi suspirar quando seus lábios tocaram os meus.

Por um momento, eu fiquei ali, atordoado, e em seguida,


com um suspiro baixo, ele inclinou a cabeça, aprofundando o beijo.

E todo o resto desapareceu.


Os lábios de Saar eram macios, mas exigentes. Ansiosos
por mais.

Pela primeira vez desde que tudo isso começou, meus


pensamentos e suspeitas se tornaram mais do que especulações de
pânico. Saar me queria. Ele realmente me queria, e pela primeira
vez, me atingiu com brutal honestidade que eu realmente não me
importava.

Minha cabeça se inclinou, lábios entreabertos, e isso foi todo


o convite de que ele precisou. Sua longa língua deslizou em minha
boca, me provando, deslizando contra a minha.

Involuntariamente, eu gemi.

Graças a deus, os braços de Saar estavam ao meu redor,


agora, me segurando firme, porque eu não achava que conseguiria
me manter de pé sozinho.

Será que realmente fazia tanto tempo? Será que eu tinha


me esquecido completamente do quão bom um beijo poderia ser, de
quanta paixão poderia ser expressa no toque dos lábios e no
emaranhado de línguas?

Saar se afastou, seu olhar aquecido, pupilas escuras tão


dilatadas que o ouro de suas íris era apenas um brilho fino.

Como um ímã me puxando, eu me inclinei para ele


enquanto ele se afastava.

Ele respondeu ao meu pedido silencioso, encontrando meus


lábios mais uma vez.
— É o bastante.

A voz divertida finalmente me tirou do transe que os lábios


de Saar pareciam ter me colocado.

Eu me afastei, a coluna ereta diante do lembrete de que não


estávamos sozinhos enquanto o riso enchia a sala. Eu olhei para o
conselho alfa, minha ereção endurecida, murchando rapidamente.

Os oito estavam sorrindo de forma indulgente.

Kion riu como se fôssemos as coisinhas mais doces que ele


já viu, mas suponho que desde que ele estava no casamento do seu
filho, então essa era provavelmente a reação esperada.

— Parabéns pelo seu vínculo — disse ele, sorrindo.

Todos começaram a bater palmas e, um por um, desceram


do banco. Eles vieram até nós, dando tapinhas em nossos ombros e
nos parabenizando.

— Estou orgulhoso de você, filho — Kion falou,


aproximando-se de Saar, que sorria de orelha a orelha.

— Obrigado por acreditar em mim, pai — disse ele.

— Eu sabia que você não iria me decepcionar.

Ele piscou para mim.

— Bem-vindo à família — disse ele. — Eu vou te amar como


se você fosse meu.

Eu poderia dizer pelo calor em seu tom que ele realmente


quis dizer isso. Eles me aceitaram, agora.
Isso não poderia ser mais verdadeiro.

Quando a festa começou, os nassa brincaram comigo e


saíram do seu caminho para me cumprimentar. De repente, eu não
me sentia como o humano preso em Mukhana. Não, eu era o marido
de Saar, seu companheiro de vida, e isso significava mais do que a
minha espécie.

Saar foi puxado para uma discussão quando Samil me


encontrou e me puxou para um abraço.

— Estou tão feliz que tudo deu certo — disse ele, sorrindo.
— Eu gostei de você imediatamente, e esperava que Saar o
conquistasse.

— E se ele não conquistasse? — Eu não pude deixar de


perguntar. — E se um dos outros tivesse me conquistado e eles não
fossem uma boa opção? Todo mundo ainda comemoraria?

Seu sorriso se aqueceu.

— Não teria acontecido. Somente aquele destinado a você


venceria. E este é Saar.

Só então, quando meu estômago deu uma cambalhota,


Jayada deslizou para o meu lado e apertou meu ombro.

— O que você achou da cerimônia? — ela perguntou.

— Hum, foi boa — eu disse. — Curta.

— A cerimônia sempre é. Todo mundo está ansioso para a


festa.
— Mas a consumação — Jayada pressionou. — Como foi?

Eu pisquei, a pergunta dela sinceramente me intrigou, mas


eu não comentei isso.

— Essa é a coisa — eu disse. — Nós não consumamos. Só


nos beijamos.

Silêncio confuso encontrou minha fala.

— De que outra forma você consumaria o vínculo?

Agora, eu também estava confuso.

— Bem... com sexo?

Ambos franziram a testa para mim, e eu me senti encolher


sob seu escrutínio.

— Você queria fazer sexo na frente do conselho? — Samil


perguntou lentamente.

Eu balancei a cabeça em negativa fervorosamente.

— Não! — E mordi o lábio para manter minha voz baixa,


antes de continuar. — Eu não queria, só pensei que era o que vocês,
nassa, faziam para oficializar a união. — Eu dei de ombros,
impotente. — Isso é o que as pessoas fazem na Terra.

— Eu não acho que fazer amor em público seria tão aceito


aqui. Alfas e ômegas geralmente são bastante protetores, uma vez
que se unem...

— Não em público! À sós.


Eu não achei que minhas bochechas pudessem ficar mais
coradas, mas então Samil começou a sorrir.

— Ownn... — ele disse, bagunçando o meu cabelo. — Você


quer Saar tão ansiosamente? Eu irei buscá-lo. Isso o deixará muito
feliz.

Antes que eu pudesse detê-lo, Samil disparou no meio da


multidão. Eu tinha certeza que ia desmaiar de vergonha.

— O veneno dele deve ser bem potente — Jayada disse,


parecendo impressionada.

Isso chamou minha atenção.

— Veneno?

— Na saliva dele — ela explicou. — Você não sabia que é


assim que o vínculo é formado?

Eu balancei a cabeça em negação.

— Mais uma vez, falhamos em explicar o que estava


acontecendo com você — ela suspirou. — Vou falar com os outros.
Vou me certificar de que você não fique confuso novamente.

— Está tudo bem — eu disse, ignorando sua preocupação


com a questão mais urgente. — E o veneno?

— É carregado na saliva alfa. Para criar um vínculo, um alfa


beija seu ômega, liberando o veneno na troca. Isso faz o ômega se
sentir bem, e se junta à sua corrente sanguínea para marcá-los e
torná-los um.
Minha mente estava cambaleando.

Aquele beijo. Parecia incrível. Melhor do que qualquer beijo


que eu pudesse lembrar... não que eu tivesse uma longa lista para
comparar, mas ainda assim, o que quer que fosse, funcionou em
mim.

Será que isso significava que estávamos ligados de alguma


outra forma, também? será que eu seria capaz de me conter se Saar
me beijasse de novo?

Mesmo sem o veneno, será que eu iria querer detê-lo?

Meus olhos vasculharam a multidão, encontrando os lindos


cabelos dourados de Saar imediatamente. Samil tinha acabado de
alcançá-lo. Ele se inclinou, sussurrando algo no ouvido do filho, e o
olhar de Saar percorreu a sala, travando diretamente no meu.
Mesmo à distância, eu pude ver o calor em sua expressão, e o meu
estômago se revirou de nervoso.

Eu estava tão ferrado...


11 SAAR
As palavras do meu om-pai ressoaram em meus ouvidos:

— Seu companheiro ficou muito animado com a união de


vocês. Ele nos disse que os humanos consumam o vínculo fazendo
sexo — ele me informou. — Talvez você devesse levá-lo para as
câmaras de acasalamento em breve. Ele já está tão longe de tudo
que lhe é familiar... Talvez isso o faça se sentir mais em casa.

Eu não consegui afastar meus olhos de Alex, mesmo


quando, de repente, ele foi para trás de um pilar. Eu o encarei e
esperei ele sair de trás dele.

— Devo levá-lo agora? — eu perguntei. Meu coração saltou


com a perspectiva.

Segundo a tradição, os novos companheiros ficavam para a


festa e só saíam depois do baile. Mas eles tinham seguido todas as
tradições nassa. Talvez fosse justo seguir algumas das humanas,
também.

— Por que vocês dois parecem tão sérios? — meu al-pai


perguntou, de repente, ao nosso lado.

Finalmente, eu desviei meu olhar do pilar atrás do qual Alex


parecia estar se escondendo.
— Meu companheiro quer sair da festa mais cedo —
expliquei.

Ele riu.

— É assim que todos os recém-casados são — disse ele.

Ele estendeu a mão, agarrando meu pai ômega pela cintura


e puxando-o para perto.

— Oh, Samil, você se lembra do dia da nossa união? — ele


perguntou com ternura.

— Claro.

— Você quis sair mais cedo, também.

Meu pai ômega riu, seu olhar aquecido.

— Como não? — ele perguntou. — Eu mal podia esperar


para colocar minhas mãos em você.

Eu suspirei e me afastei.

— Por favor, sem recordações na minha frente, agora. Eu


não quero pensar em vocês dois no dia da minha união.

Ambos riram enquanto eu me afastava.

Eu fui até o pilar, me perguntando se Alex ainda estaria se


escondendo e, em caso afirmativo, o que exatamente estaria fazendo
lá atrás.

Eu espiei ao redor e descobri que Alex estava realmente


agachado, a cabeça baixa, imerso em pensamentos.
— O que você está fazendo?

Ele pulou violentamente com um grito assustado.

— Não assuste uma pessoa assim!

— Eu não fiz isso — falei, surpreso. — Você não me notou.

Ele esfregou a mão ansiosamente sobre o rosto e assentiu.

— Desculpe. Acho que estou no limite porque... bem, eu


não sabia que você ia me envenenar na hora da união.

Ele soou amargo.

Confuso, eu me ajoelhei ao seu lado. Esta não era bem a


atitude que eu esperava, depois do nosso adorável primeiro beijo, ou
depois do que meu pai tinha dito.

Eu coloquei a mão em seu joelho.

Ele olhou para ela, mas não se afastou nem colocou a dele
sobre a minha, do jeito que eu esperava que fizesse.

— O que você quer dizer com eu envenenei você?

— O veneno — ele retrucou. — Jayada disse que faz os


ômegas se sentirem... bem... e faz de você um com o seu alfa.

Eu fiz uma careta, confuso.

— Você não quer se sentir bem? — eu perguntei.

Suas bochechas ficaram rosadas novamente, e ele desviou


o olhar, e de repente, eu percebi que havia uma correlação com o
rosa em suas bochechas e o constrangimento.
Essa era a coisa mais fofa que eu já tinha ouvido falar!

Meu coração se aqueceu, e permanecer exatamente onde


eu estava, e não carregá-lo para as câmaras de acasalamento
naquele preciso instante para ficarmos sozinhos, exigiu cada grama
do meu autocontrole.

— Você não quer ser um com o seu alfa? — eu perguntei, o


duplo sentido, claro, e os olhos de Alex se ergueram para encontrar
os meus. Havia calor lá, como quando eu me afastei do nosso beijo
e ele me seguiu atrás de mais, mas ele mordeu o lábio e olhou para
o chão novamente.

— Eu nem sei como responder a isso — ele falou.

Sem saber o que ele quis dizer, eu levantei minha mão,


acariciando os lindos fios curtos do seu cabelo. Antes que eu pudesse
me impedir, eu me inclinei e rocei meus lábios nos seus.

Se eu tentasse fazer mais, não poderia confiar na minha


capacidade de parar, desta vez, e meu pai deixou claro o suficiente
que esperava que ficássemos para o jantar, pelo menos. Eu não
podia levar Alex para tê-lo em minha cama, ainda.

Quando me afastei, Alex exibia aquela expressão faminta,


novamente. Eu tive que me obrigar a olhar em outra direção, para
manter minha linha de raciocínio.

— Venha. Misture-se, coma e dance. Esta celebração é para


nós. — Eu me levantei, oferecendo minha mão.
Depois de um momento, Alex a aceitou, permitindo que eu
o ajudasse a se levantar.

Ele parecia tão inseguro, tão inquieto, que me senti culpado.


Eu segurei sua mão e o acompanhei pela festa, apresentando-o a
todos. O clima estava tão bom, as piadas fluindo tão facilmente, que
logo Alex estava rindo e conversando com uma facilidade que eu não
o tinha visto mostrar ainda em nosso planeta.

Isso me aqueceu, e apenas estar lá ao seu lado me fez sentir


muito especial.

Quando a comida foi servida, nós pegamos os primeiros


pratos e nos sentamos juntos sob o céu que escurecia rapidamente.

Eu peguei uma pequena massa do meu prato e estendi para


a sua boca, e ele não hesitou em separar os lábios e aceitá-la,
embora suas bochechas ficassem rosadas novamente, o que me fez
sorrir.

Eu me inclinei e pressionei meus lábios na pele lá, que


estava surpreendentemente quente e era um pouco áspera, por
causa da barba.

O rosa em suas bochechas começou a se estender


lindamente por seu pescoço, e meu próprio sangue ficou quente
porque eu queria segui-lo, ver os outros lugares onde sua pele
mudava de cor.

Eu engoli em seco e tentei me concentrar na comida, mas


as iguarias doces não importavam tanto quanto a pessoa sentada ao
meu lado, me lançando olhares sempre que achava que eu não
estava vendo, e se assustando como um animal preso em uma
armadilha sempre que nossos olhos se encontravam.

— Se divertindo? — eu perguntei quando surpreendi seu


próximo olhar.

Ele engoliu a fruta que tinha acabado de dar uma mordida


e assentiu:

— Sim, surpreendentemente — Alex falou. — Todo mundo


é tão amigável.

Eu não disse nada sobre fato dele ter se surpreendido com


a nossa hospitalidade. Eu sabia que a primeira parte de sua estadia
em Mukhana tinha sido difícil para ele.

À medida que a noite caía ao nosso redor, fogueiras foram


acesas nas lareiras em torno do salão, e a música começou a tocar.
Eu olhei para cima, surpreso por não ter notado os percussionistas
montando seus instrumentos na plataforma alfa.

As pessoas estavam limpando o chão, abrindo espaço para


a dança. O que restou da comida estava sendo embalado. Acima de
nós, o céu aberto era de um roxo escuro, raiado de ouro.

Logo o sol iria embora.

Excitação despertou em mim. Nós estávamos tão perto de


ficar sozinhos que eu mal podia me conter. Uma dança foi o suficiente
para o meu pai aceitar nossa partida.

— Vamos.
Eu peguei Alex pela mão e me levantei, conduzindo meu
companheiro. Alex olhou ao redor com curiosidade.

— É hora da nossa dança — eu disse.

— Ah, a primeira dança. Vocês também fazem isso?

Eu assenti, feliz por haver pelo menos algumas


semelhanças entre nossas culturas.

Eu o conduzi para o centro da sala. Os percussionistas


começaram uma batida lenta. Um dos tocadores de flauta floreou
uma melodia ao redor do ritmo.

Nós paramos no centro da sala.

Eu coloquei minhas mãos na sua cintura fina de Alex,


sentindo o calor da sua pele através do seu manto e do tecido do
xale de meu pai, que ainda o envolvia. Assim como quando eu o
carreguei escada acima, eu me surpreendi com o quão quente sua
pele era. Isso me fez querer me enroscar contra a sua pele nua.

— Eu não sou um dançarino muito bom — Alex avisou.


Ele parecia preocupado, olhando em todas as direções, e
então, quando viu que outros casais já haviam começado a dançar à
nossa volta, ele pareceu relaxar, tensão deixando visivelmente seus
ombros.

Meu ômega era uma criatura tão inocente... Ele não


conseguia esconder nenhuma das reações do seu corpo. Minha
respiração ficou difícil diante do pensamento de como ele seria nas
câmaras de acasalamento. Minhas mãos apertaram sua cintura, e eu
o puxei para perto.

— Eu achei que todos iam nos assistir.

— Todo mundo quer dançar com seus companheiros — eu


expliquei.

Seus grandes olhos azuis olharam para mim quando


começamos a nos mover.

— Assim? — ele perguntou. — Eu posso lidar com isso.

Eu sorri.

— Assim é perfeito.
Outros estavam girando, mergulhando, beijando, mas o
corpo de Alex ainda estava rígido de nervoso. Eu não queria
pressioná-lo. Em vez disso, eu o puxei para ainda mais perto,
pressionando seu corpo pequeno e compacto contra o meu e
conduzindo-o no ritmo.

Suas mãos subiram, quentes e fortes, pousando nas minhas


costas, bem acima do pouco de pele nua entre as tiras finas de tecido
do meu robe. Elas me aqueceram, especialmente quando começaram
a se mover com os nossos movimentos. Lado a lado, acariciando a
minha pele.

Era muito bom senti-lo em meus braços...

Isso era muito melhor do que quando eu o segurei na frente


do fogo, naquela primeira noite, ele todo embrulhado naquelas
grossas roupas humanas. Então nas escadas — embora estivesse
extremamente feliz por segurá-lo e ajudá-lo, eu também estava
preocupado com sua pele sensível. Aqui e agora, não havia quase
nada entre nós. Apenas alguns passos, com nossos corpos
balançando de um lado para o outro, eu comecei a reagir a ele.

Agora que eu estava acasalado, agora que eu era capaz de


sentir a excitação do meu membro, diferentemente de antes, a
sensação era quase surpreendente.

Alex imediatamente sentiu meu comprimento endurecer e


se empurrar contra ele. Seus olhos se arregalaram, se movendo
rapidamente para encontrar os meus.
Seus passos vacilaram, e eu me inclinei e o beijei. Eu queria
que ele se sentisse bem quando sentisse o que estava fazendo
comigo, não preocupado ou chocado.

Desta vez, ele não respondeu, mas sua respiração se tornou


errática de prazer.

— Eu não posso evitar esse tipo de reação a você — eu


sussurrei, os lábios ainda tocando os dele. — Ter você em meus
braços é insuportável.

Eu me afastei o suficiente para ver seus olhos, para vê-los


nublados com excitação e preocupação.

— Eu vou cuidar bem de você — prometi. — Você vai se


sentir muito bem.

Sua respiração ficou errática novamente, e seu corpo


mudou, também, seu próprio comprimento se empurrando contra a
minha coxa.

Eu suspirei, estremecendo.

Minhas mãos pousaram em seus quadris, e eu o puxei para


mais perto — o mais perto que pude. Um gemido trêmulo o deixou.
Meus olhos quase rolaram com a sensação. Seu corpo contra o meu,
ofereceu um breve alívio.

Por que essa música não acabava?!

Nós já havíamos esperado o suficiente.


Alex me queria. Ele precisava de mim para lhe dar prazer
tão completamente ao ponto de esquecer todo o desprazer em sua
vida. Eu queria tanto lhe dar isso que era quase difícil respirar.

12 ALEX
Meu corpo era traiçoeiro, pateticamente fraco e estava com
mais tesão do que nunca na vida.

Transar. Eu queria tanto que senti que morreria se não


conseguisse foder. Aposto que Saar poderia me montar com força,
me foder até ver estrelas.

Jesus, qual é o problema comigo?


Eu podia sentir seu comprimento ficando maior a cada
segundo. Eu não sabia se eu poderia aguentar tudo, mas queria.
Querido Deus, eu queria ser fodido. Agora. Mesmo.

Talvez fossem seus beijos envenenados fazendo algo em


minha mente. Mais provavelmente, era o fato de que eu não transava
há alguns anos, e que ninguém nunca olhou para mim do jeito que
ele olhava.

Parte do meu cérebro queria me sacudir, me lembrar que


isso era um sequestro, que provavelmente haveria uma guerra, ou
pelo menos, uma equipe de resgate enviada para me salvar.

Bem, eu ia fazer sexo enquanto esperava, e ninguém


poderia me impedir.

Seu comprimento se contraiu contra a minha barriga, seus


dedos grandes e com garras apertando meus quadris. Minha única
reação foi estremecer e vazar pré-sêmen contra o tecido fino e
sedoso que nos separava.

Eu engoli em seco.

— Já podemos sair daqui? — eu perguntei, minha voz, uma


bagunça trêmula.

Os olhos dourados de Saar estavam quase brilhando, ainda


fixos em mim como se eu fosse a melhor coisa desde o pão fatiado
— que eles provavelmente nem tinham aqui.

— Quando essa música amaldiçoada finalmente acabar.


Como se em sintonia, a música parou apenas por um
momento, mas tempo suficiente para a melodia mudar para algo
mais rápido.

— Graças ao universo! — Saar rosnou.

Ele se afastou de mim, seu aperto se movendo para o meu


pulso quando ele começou a me arrastar para fora da pista de dança.

Algumas pessoas acenaram, e quando fizemos nossa


partida apressada, eu realmente não sabia o que pensar disso. Uma
pessoa gritou “aproveitem!” mas ninguém tentou nos deter, então
eu não me ative a isso.

Nós passamos pela banda, pelas portas que eu mal havia


notado e entramos num longo corredor.

— Para onde estamos indo? — eu perguntei.

— Há quartos, aqui — disse Saar, sua voz soando ofegante.


— Para as pessoas ficarem. Mas o alfa e o ômega que estão se unindo
deveriam ter... ah! Aqui!

Ele indicou as grandes portas no final do corredor quando


chegamos a elas. Eu fiquei aliviado ao ver que eram portas de
verdade. Grandes, com maçanetas e feitas de madeira. Eu queria
privacidade porque, bem, eu queria me soltar.

Saar estava tendo esse efeito em mim.

O que era isso? Eu me perguntei enquanto ele abria a porta


e me empurrava gentilmente por ela. Será que foi porque ele deixou
tão óbvio o quanto desejava me agradar?
Na verdade, não havia necessidade de eu duvidar de mim
mesmo, ou de me conter, havia? Ele gostava de mim. Ele me queria.
Com base no leilão, eu tinha certeza de que ele mataria por mim. Eu
nunca soube o quão excitante isso seria, mas sua atenção implacável
era como uma droga.

O teto era coberto, neste ambiente, então, assim que a


porta se fechou atrás de nós, fomos selados na escuridão.

— Eu vou acender o fogo — disse Saar, e ele devia ser capaz


de ver mais do que eu porque depois de um minuto arrastando os
pés, uma faísca brilhou numa lareira no canto.

Meu olhar voou ao redor do lugar enquanto o fogo crescia.

O quarto era simples. Havia peles luxuosas no chão e uma


cama. Meu olhar pousou nela. Era grande e parecia mais macia do
que a que eu tinha ficado na noite passada, embora sua base fosse
provavelmente de pedra, também.

Havia tecidos e almofadas por toda parte.

Meu coração estava acelerado, meu pau ainda duro como


pedra.

Quando finalmente me virei para olhar para Saar, ele estava


parado, me observando, seus olhos brilhando na penumbra. Apenas
vinte e quatro horas atrás, esse grande alienígena me aterrorizou.
Agora, ele me excitava, e apesar do zumbido subjacente do perigo
em que eu estava, eu o queria.
Ele parecia estar esperando meu aval, então eu andei até
ele, parei bem na sua frente e estendi a mão.

Ele gingou em direção às minhas mãos, mas em vez de


tocá-lo, eu agarrei as bordas do seu robe e cuidadosamente o puxei
para baixo pelos seus braços, deixando-o cair do seu tórax.

Seu peito subia e descia pesadamente enquanto ele estava


exposto. Saar era musculoso, definido em todos os lugares,
pequenas cicatrizes cruzando seu corpo. Um guerreiro.

Seu cinto sustentou o resto no lugar, mantendo o que eu


mais queria ver escondido. Alguém poderia me culpar? Eu queria
saber exatamente o que tinha ganhado.

Mordendo o lábio com um incisivo com presas, Saar se


abaixou e abriu o cinto, permitindo que tudo caísse, o tecido sedoso
se acumulando em seus tornozelos.

Ele era a perfeição de cima a baixo.

Saar parecia a escultura de um deus grego feita por um


artista. Seu corpo era a perfeição, toques de escamas captavam a
luz como um monstro das profundezas... então havia seu pênis.

Era enorme, mas eu já o tinha sentido, e visto o de Samil,


então sabia que era perto o suficiente da forma do que os humanos
tinham.

O que eu não esperava era a maneira como suas escamas


douradas se agrupavam na base. Eu também não esperava que a
circunferência fosse mais grossa no meio, quando ereto, mas isso
não me incomodou nem um pouco. Era lindo, assim como o resto
dele.

— Eu quero ver você, também — disse Saar.

Eu ergui as vistas, encontrei seu olhar aquecido e estendi a


mão, puxando as camadas de tecido da minha pele.

Uma por uma, elas caíram, e as joias que adicionadas às


minhas “vestes de acasalamento” caíram junto.

Quando fiquei completamente nu, nervoso o suficiente para


vomitar, eu não consegui mais encarar Saar.

Meu coração batia a mil por hora enquanto eu esperava,


tenso, por uma reação. Ao contrário de Saar, eu não era um deus
grego. Eu me mantive em forma até certo ponto, afinal, ser enviado
em missões exigia passar por testes físicos, mas eu era mais nerd
do que qualquer coisa e sabia disso. Um pouco esquelético e
indefinido.

Quando Saar não disse nada, nem mesmo se moveu, eu


arrastei meu olhar da sua forma para descobrir que ele estava me
observando de perto, me encarando. E eu fiquei tão feliz por ter feito
isso, porque a expressão em seus olhos aliviou qualquer medo
momentâneo que me atingiu. Sem precisar falar, eu soube que ele
me achou tão sexy quanto eu o achei.

— Você é incrível — ele finalmente suspirou e balançou a


cabeça, maravilhado. — Como eu tive tanta sorte?
O pouco sangue que eu tinha disponível foi para as minhas
bochechas.

Saar sorriu, e com isso, estávamos um no outro novamente.

Foi fácil voltar ao beijo, e eu quis seus lábios nos meus,


novamente, para sentir a paixão devastando nossos corpos.

Meus lábios se separaram, morderam os dele em minha


ânsia, e todo o seu corpo estremeceu. De repente, ele me puxou
para perto, sua pele fria pressionando a minha, tão macia e sedosa,
seu pau, duro e úmido, me fez gemer.

Afastando-me de sua boca incrível, eu caí de joelhos,


beijando os trechos de pele pelos quais passei no meu caminho para
baixo, seus mamilos pequenos e planos, abdome tonificado, o
delineado de dar água na boca dos seus ossos do quadril.

Mas quando meus joelhos bateram no chão, eu percebi o


problema fatal em nossa diferença de tamanho. Eu estava muito
baixo.
— Pelo amor de Deus — eu murmurei. Eu queria prová-lo,
chupar tanto desse comprimento generoso em minha boca quanto
pudesse. Eu queria sentir seu peso na minha língua, contra o céu da
minha boca e no fundo da minha garganta.

— O que você está fazendo? — Saar suspirou. Ele se


abaixou, acariciando meu cabelo com ternura, e meu pau latejou.

Se ele não sabia, então eu estava prestes a explodir sua


mente.

— Venha aqui — eu disse, me levantando novamente e


empurrando-o para a cama.

Ele seguiu, então ficou plantado onde eu o coloquei


enquanto subia nele. O ângulo ainda não era perfeito, e eu tive que
me inclinar para roçar meus lábios no seu pau.

De uma vez, seu corpo inteiro enrijeceu, e seu pênis


estremeceu.

Eu beijei a ponta novamente, e suas mãos voaram para os


meus ombros, me detendo.

— O que você está fazendo? — ele exigiu, mas sua voz


tremeu, e quando o olhei de forma divertida, seus olhos estavam
escuros de excitação.

— Confie em mim — eu disse, e tomei seu comprimento na


boca.

Como esperado, era grande demais.


Eu peguei a ponta, chupei e lambi sem soltá-la até estar
molhada, e minha garganta relaxou e eu tentei mais.

Um gemido irrompeu por sua garganta. Os dedos de Saar


se enterraram na minha pele, então, no momento em que senti as
pontas afiadas de suas garras prestes a me cortar, eu fui
subitamente empurrado para trás.

Eu caí no colchão e nas almofadas.

Antes mesmo de eu quicar, ele estava sobre mim de quatro,


seu cabelo dourado pendurado como uma cortina ao redor do seu
rosto, seus olhos escuros de luxúria e confusão.

— O que foi aquilo? — ele perguntou.

— Um boquete — eu suspirei. — Você gostou?

Eu sabia a resposta para isso, e provavelmente era por isso


que eu tive a confiança contínua para alcançar seu pênis novamente
e apertar o comprimento, gemendo baixinho ao sentir a carne sedosa
em minha palma.

Saar fechou os olhos com força, suspirou estremecendo,


então se lançou para baixo, me beijando tão profundamente que me
deixou ofegante, meu pau vazando, desesperado para ser tocado no
momento em que ele se afastou.

— Eu achei que você precisaria de persuasão — ele admitiu.


— Você estava com medo de mim, antes.

— Sim — eu concordei —, mas então, percebi que você não


me machucaria, certo?
— Nunca — ele prometeu.

Eu mordi o lábio e olhei para nós.

O pau duro de Saar, pendurado sobre o meu, que estava


escuro com sangue, ambas as pontas molhadas de pré-sêmen. Era
uma visão ridiculamente erótica, uma que eu era louco por querer
participar, mas que não podia evitar de desejar.

13 SAAR
Eu fiquei ao mesmo tempo chocado e satisfeito com a
ansiedade de Alex. Era a última coisa que eu esperava, mas
enquanto estava debaixo de mim, com seus olhos pálidos
escurecidos de desejo, eu fiquei feliz por ele ser do jeito que era.
Sua natureza humana e personalidade eram diferentes do
que eu esperaria de um ômega, e eu não gostaria que fosse de
nenhuma outra forma.

Eu olhei para o seu corpo nu. Era magro, mas firme e


masculino, com leves mechas de cabelo castanho espalhadas sobre
ele de uma forma que quase parecia decorativa — um toque sob os
braços, um leve revestimento nos antebraços e nas canelas, uma
linha que levava aos seus genitais.

Seu eixo, embora pequeno comparado ao meu, era de bom


tamanho em proporção à sua pequena estrutura. A forma era
diferente, longa e elegante, com uma curva arrebatadora e uma
cabeça pequena. Estava vermelho sangue, uma cor profunda que
mostrava suas emoções mesmo ali, em sua parte mais íntima. Como
o resto dele, era como uma obra de arte.

Ele estendeu a mão para o meu novamente, já que eu


estava demorando muito para admirá-lo. Eu o deixei me tocar, meus
olhos se fechando, embora quisesse observá-lo. Eu só o deixei traçar
seus dedos sobre o meu comprimento por um momento, então me
afastei antes que perdesse o controle.

Eu não sabia a extensão dos maus tratos que os ômegas


enfrentavam na terra, mas aqui, eles eram reverenciados. Eu nunca
tinha feito isso antes, mas tinha fantasiado a respeito por muto
tempo.
Eu li sobre o que fazer para fazer seu ômega se sentir bem.
Eu queria valorizar a experiência e dar a Alex ainda mais motivos
para estar feliz por agora sermos um.

Eu me abaixei, dei um beijo em sua bochecha, então deixei


meus lábios vagarem mais para baixo.

Ele suspirou, feliz, quando beijei seu pescoço, então


permaneci lá por um minuto, provando o leve sal de sua pele. Seus
mamilos pequenos e macios eram tão doces contra os meus lábios,
a forma como seu corpo se contorcia enquanto eu o tocava com
minha língua era ainda mais doce.

Sua barriga subia e descia com dificuldade enquanto eu


fazia meu caminho para baixo. Quando cheguei à ponta da sua
ereção tensa, ela estremeceu em antecipação.

Exatamente como deduzi antes, seu comprimento estava


escurecido de excitação, a pele de um rosa profundo, quase irritado.
A ponta estava úmida e, sem pensar, eu lambi suavemente o fluido
que brilhava ali.

Ele gemeu, e suas mãos deslizaram para o meu cabelo.

— Por favor — ele engasgou. — Você está me matando.

Alarmado, eu o olhei.

— Isso vai te matar?

— Figurativamente — ele corrigiu depressa, e meus ombros


relaxaram. — Isso é tão bom. Eu quero muito, e você está
demorando tanto...
Eu apreciei sua explicação. Ela me aqueceu, mas eu
respondi seriamente:

— Eu não vou apressar as coisas. Temo que você terá que


suportar o prazer.

Alex estremeceu, e assim como ele havia feito comigo, eu


abaixei minha cabeça, tomando sua ereção nos meus lábios.

Suas mãos apertaram meu cabelo, e nós dois gememos.

Eu comecei a chupar, assim como ele tinha feito.

Isso era tudo novo para mim — isso em particular, colocar


seu comprimento na minha boca, foi completamente surpreendente
e incrivelmente sexy. Uma maneira de dar prazer ao seu parceiro
completamente, sem tomar. Apenas dar e mostrar o quanto você
queria que ele se sentisse bem.

E Alex havia feito isso comigo primeiro. O que fez meu corpo
inteiro sentir como se estivesse em chamas, só de lembrar. Os
ômegas da sua espécie deviam ter sido bem ensinados nesse
departamento, porque eu nunca soube de tal coisa.

Eu corri minha língua sobre a carne macia de Alex,


deliciando-me com a forma como ele gemeu e arqueou o corpo,
empurrando mais fundo em minha boca.

Eu o engoli quase até a base, então chupei enquanto me


movia suavemente para cima e para baixo.

— Saar — ele engasgou, as mãos me agarrando com força,


me acalmando. — Pare, eu vou...
Ele engasgou e gemeu, de repente, empurrando seus
quadris mais fundo em minha boca, seu comprimento se enterrando
na parte de trás da minha garganta e se derramando.

Eu engasguei com o líquido generoso jorrando dele, e


escorreu pelos meus lábios enquanto seu membro se contraía de
forma irregular, depois parava.

Eu levantei a cabeça com cuidado, deixando seu


comprimento cair livre. Eu teria perguntado se tinha me saído bem,
eu queria saber se ele gostou dos meus esforços, mas a evidência já
estava lá, espalhada por suas lindas coxas e escrita na forma como
seu corpo estava tão flácido nas cobertas.

Ele era a imagem da satisfação, e a maneira como me


observava quase me fez ronronar de contentamento.

— Desculpe. Eu não queria gozar tão rápido.

— Não se desculpe. Eu queria que você gozasse.

— Eu posso continuar — disse ele, tentando se sentar. Antes


que ele pudesse totalmente, eu o empurrei gentilmente de volta para
baixo.

— Se você quiser continuar, eu cuidarei de tudo. Apenas


deite e se abra para mim.

Ele engoliu em seco, mas não pareceu com medo. Qualquer


medo que ele tinha de mim se evaporou em algum momento desta
tarde, e a confiança que eu ganhei agora era tão recompensadora
quanto a forma como ele me entregou seu corpo.
Alex acenou com a cabeça, me observando enquanto eu
gentilmente separava seus joelhos. Seu membro amolecido se
contraiu novamente, quase como se curioso a respeito do que eu
faria em seguida.

Minha mão deslizou entre as suas coxas, cuidadosa com as


minhas garras. Sua pele era tão macia e flexível quando eu
pressionei e apertei a carne.

Quando finalmente senti a suavidade da sua entrada, ele


suspirou baixinho, relaxando contra as cobertas, mas eu fiz uma
careta.

— Você não está lubrificado — eu disse, surpreso. Decepção


furiosa quase me fez sair da cama. Eu retirei minha mão, me
obrigando a permanecer equilibrado. — Qual é o problema? — eu
perguntei. — Eu pensei que você estava gostando... Eu não te
excitei? Devo fazer algo diferente? Você precisa de mais alguma
coisa?

Alex se sentou, me observando, confusão escrita em seu


rosto.

— Lubrificado? — ele repetiu lentamente. Então estendeu a


mão, colocando-a no meu antebraço. — Saar, estou amando tudo. É
literalmente a coisa mais gostosa que eu já experimentei.

Ele mordeu o lábio, claramente pensando em como me


explicar a falta de resposta do seu corpo. Eu esperei, ansioso para
ouvir uma razão plausível. Ele teve um orgasmo da minha boca.
Certamente, os humanos não poderiam fingir esse tipo de coisa.

— Estou certo em supor que os nassa ficam molhados,


mesmo os do sexo masculino, ao fazer amor?

Minha carranca se aprofundando, eu assenti.

— Claro.

Ele parecia preocupado, agora, como se se preparando para


dar más notícias. Eu me preparei.

— Há muitas diferenças entre os seus corpos e os corpos


humanos — ele disse. — Por um lado... os machos não ficam
lubrificados lá embaixo.

Eu pisquei, surpreso, mesmo quando o alívio me percorreu.

— Isso não é inconveniente?

Ele assentiu, um sorriso divertido puxando seus lábios de


uma maneira adorável.

— Definitivamente, seria útil para alguém como eu — ele


riu. — Mas a maioria dos homens não precisa ou quer isso porque...
bem, como eu poderia explicar...?

Ele engoliu em seco novamente e me olhou com olhos


incertos.

— Os machos humanos não podem ter filhos — ele


confessou. — Muitos deles não gostam de fazer sexo anal.
Eu fiquei surpreso, mas menos por suas palavras do que
pelo fato de que ele realmente acreditava nelas.

Eu estendi a mão, tomando seu rosto nas minhas.

— Você é um ômega — eu disse, tentando confortá-lo. —


Claro que você pode ter filhos. Não dê ouvidos a quem lhe contou
uma mentira tão ridícula.

Por um momento, Alex me olhou sem expressão, então, de


repente, ele sorriu e abaixou a cabeça, tomando minhas mãos nas
dele.

— Eu deveria saber que essa seria sua reação. Desde que


nos conhecemos, você mal acredita em qualquer coisa que eu tenha
a dizer.

Suas palavras doeram. Eu não sabia o que eu não tinha


ouvido, mas não era certo fazê-lo se sentir assim.

— Desculpe — eu disse baixinho. — O que eu entendi


errado?

Eu estava curioso, porque só havia uma coisa em que eu


conseguia pensar e simplesmente não podia ser verdade.

— Bem, humanos não têm ômegas ou alfas, eu te disse isso.


— Sua voz ficou severa. Ele parecia frustrado e não encontrou meu
olhar, mesmo que ainda se agarrasse às minhas mãos. — Eu não sou
um ômega. Os humanos trabalham para viver. Eu não estava sendo
abusado ou maltratado. Eu estava seguro.
Eu mordi meu lábio, refreando qualquer coisa que pudesse
dizer a respeito, porque tudo seria falso. Ele era um ômega. Eu podia
sentir seu cheiro. Foi inconfundível para mim desde o momento em
que nos conhecemos. O que significava que os humanos realmente
os tinham. Eu não fiquei muito interessado no amigo de Alex, mas
notei o distinto cheiro alfa dele, também.

Como se poderia discutir com isso?

Como eu poderia fingir que estava tudo bem, ele ser tratado
do jeito que tinha sido? Eu não faria isso.

— Se você não fosse um ômega — eu disse, tentando outra


direção, eu não seria capaz de reagir a você assim. — Pegando suas
mãos, eu as trouxe para o meu eixo ainda ereto.

Seus olhos se arregalaram e encontraram os meus.

— Você não poderia ter uma ereção, exceto com um


ômega?

— Exceto com o meu ômega — eu o corrigi. — E nós somos


um, agora. Então, é inegável.

Ele piscou os olhos arregalados, e eu esperei, tentando ser


paciente, mesmo que seus dedos ainda roçassem meu comprimento
e me fizessem sentir incrivelmente bem.

— Você nunca fez isso antes, não é?

Eu fiz uma careta.


— Claro que não. — Então o mundo quase desabou ao meu
redor. — Você já?

— Não — ele disse, rapidamente, mas não olhou para mim.

Preocupação momentânea me tocou. Eu me inclinei e o


beijei novamente, um toque suave de lábios que me tranquilizou.
Algo sobre tudo isso o estava incomodando. Talvez fosse algo a ver
com seu passado com os humanos.

— Não se preocupe. Eu vou me certificar de que você


esqueça tudo de antes — prometi.

— Ah... tudo bem, então. — De repente, ele se deitou,


olhando para mim, seu corpo inteiro em exibição. — Devemos
começar, agora?

A maneira como ele se colocou tão aberto, tão


descaradamente ansioso por mim, me fez algo. Eu desci nele, o beijei
e me esfreguei contra ele. Meu comprimento caiu entre suas coxas,
e ele as apertou, me espremendo e me fazendo gemer.

O prazer era quase insuportável.

A ponta do meu membro esfregou contra a sua pequena


entrada. Para a frente e para trás, eu continuei a arrastá-la,
provocando a mim mesmo e fazendo vazar líquido da ponta,
molhando-o.

Alex começou a gemer, seu próprio comprimento


endurecendo novamente.
Na adolescência, meu corpo passou por mudanças
hormonais. Por um tempo, eu poderia endurecer mesmo sem um
ômega, até meu corpo se ajustar melhor à idade adulta. Fazia um
tempo desde que eu senti o estiramento familiar, o repuxar da pele
e a necessidade de liberação.

Desta vez, com um ômega para ajudar a aliviar o desejo


compartimentado dentro de mim, foi muito melhor.

Parecia ser verdade que as entradas dos ômegas humanos


não ficavam molhadas do jeito que deveriam, mas já tínhamos feito
uma bagunça, e meu próprio eixo estava vazando líquido,
desesperado para ser esvaziado, então eu me afastei um pouco do
meu ômega e deslizei minha mão de volta entre suas coxas,
gentilmente sentindo sua pequena entrada mais uma vez.

Eu estimulei meu próprio membro, ordenhando um pouco


do líquido escorregadio da ponta, depois espalhei sobre sua entrada.

Ele estava totalmente ereto, novamente, me observando


enquanto eu trabalhava.

— Eu faço essa parte — ele ofereceu, então fez a coisa mais


sexy que eu poderia imaginar e se abaixou, deslizando facilmente o
dedo mindinho dentro de si.

Alex gemeu, a cabeça caindo para trás enquanto ele


empurrava o dedo para dentro e para fora.

— Não é o suficiente — eu disse, a voz pesada com


excitação. — Você precisa colocar mais.
Ele fez o que eu disse, deslizando outro dedo, junto com o
primeiro. Depois de um minuto entrando e saindo, sua respiração
falhando, ele adicionou outro sem que eu mandasse.

Seu eixo estava vermelho escuro novamente, tão tentador


de tocar, mas eu não queria interrompê-lo. Era tão bonito o jeito que
ele se movia e se tocava só para mim. Pela primeira vez, eu pensei
em cortar minhas garras, chateado por estarem se intrometendo em
minha nova vida amorosa. Eu queria dar prazer a Alex e queria que
ele me ensinasse a tocá-lo do jeito que ele gostava.

— Tente agora — ele engasgou, relaxando os dedos e


retirando-os.

Meu comprimento, mesmo a ponta sendo um pouco mais


estreita, era muito mais grosso do que seus três dedos, mas eu não
discuti.

Eu me alinhei com ele, arrastei a ponta sobre sua entrada


relaxada, molhando-o novamente, e em seguida, com uma
inspiração, empurrei.

No começo, foi como pressionar uma superfície sólida, e


então, de repente, houve uma cessão. Sua carne se separou e
engoliu minha ponta.

Eu gemi e quase caí, mas agarrei o colchão para me


sustentar, segurando firme e imóvel, ciente de que Alex havia gritado
e que eu não sabia se era de prazer ou de dor.

Minhas garras cortaram o tecido.


Eu respirei com dificuldade, lutando contra as ondas de
prazer enquanto ele se apertava e relaxava continuamente ao meu
redor.

Alex estava ofegante, os olhos bem fechados, o rosto todo


vermelho. Ele realmente parecia estar com dor, então eu comecei a
me afastar, mas suas mãos de repente agarraram meus quadris com
força, me detendo.

— Não se mova — ele engasgou.

Eu permaneci mortalmente parado.

Enfim, a rápida subida e descida de seu peito começou a


diminuir, e assim que seu corpo relaxou, meu eixo traidor se contraiu
dentro dele. Eu gemi de prazer mesmo quando o forcei a parar, mas
o gemido que deixou a garganta de Alex pareceu mais de prazer do
que de dor, agora.

Seu olhar encontrou o meu. A expressão em seus olhos


quase me fez gozar dentro dele naquele exato instante.

— Você pode se mover, agora — ele disse.

Eu não precisei de mais instrução que isso. Eu vinha


esperando por isso há tanto tempo, e com Alex, eu me senti ainda
melhor do que imaginava.

Eu empurrei lentamente, maravilhado com a forma como


seu corpo se abriu para mim, a forma como seus músculos me
seguraram por dentro.
Entretanto, quando meu nó alcançou sua entrada e não
conseguiu ir mais longe, eu não o empurrei. Os centímetros que
haviam entrado já o tinham aberto o suficiente, e eu mal conseguia
assimilar o prazer. Cada deslizamento do meu eixo dentro de Alex
era como uma explosão de sensações, êxtase se arrastando por cada
centímetro, fazendo meu corpo inteiro tremer.

Eu deslizei para fora novamente, então de volta para


dentro, e ele alcançou seus joelhos, segurando-os até suas axilas,
me dando melhor acesso e visão enquanto eu deslizava dentro e fora
do seu corpo.

O que começou como suspiros, agora eram gemidos cheios


de prazer, e sua ereção vazava, agora, gotas daquele fluido delicioso
e pegajoso.

Eu me inclinei e corri meus dedos sobre seu comprimento,


pegando um pouco em meus dedos e trazendo-os aos meus lábios.

Ele estava me observando quando eu o provei novamente.


14 ALEX
— Porra — eu sussurrei, segurando meus joelhos com força
enquanto o prazer me dominava.

Quem teria pensado que depois de alguns dias, eu me


espalharia de boa vontade para ser fodido por esse gigante
alienígena. Ele me aterrorizou no início, e agora eu duvidava que
houvesse alguém mais sexy em todo o universo conhecido.

Ele estava sendo tão cuidadoso, e compreensivelmente,


desde que provavelmente achava que poderia me quebrar. Talvez
ele pudesse, mas eu ainda queria que ele me desse tudo de si.

— Foda-me — eu engasguei. — Mais forte.

Ele deu um suspiro trêmulo, e a mão que não o estava


sustentando-o agarrou minha coxa, e ele empurrou em mim com
mais força, puxando meu corpo para encontrar o seu.

Eu gritei quando a velocidade e a intensidade aumentaram.


Senti-lo era tão bom que lágrimas de verdade inundaram meus
olhos. Eu não era fodido assim há anos, e ninguém com quem eu já
estive conseguiu me preencher tão completamente.

Provavelmente, não era justo comparar um enorme pau


alienígena com o de um humano, mas a sensação, a plenitude e a
textura, a forma como ele pressionava minha próstata a cada
impulso, era quase demais.

Meu corpo parecia estar desmoronando da melhor maneira


possível, e com mais uma estocada forte em mim, eu gozei.

Saar me seguiu enquanto meu corpo se apertava ao redor


dele, perdendo o controle e empurrando quase muito fundo, me
esticando enquanto soltava um gemido pesado em mim, seu corpo
estremecendo de prazer.

Quando ele se afastou, deslizando para fora, eu gemi e caí


para trás, os músculos relaxando quando meu corpo saciado
começou a se desligar. Eu pude sentir a umidade escorregadia do
seu orgasmo escorrer da minha entrada, meu corpo úmido com uma
camada de suor. Eu estava uma bela bagunça, mas cansado demais
para fazer qualquer coisa a respeito.

Saar se enrolou ao meu lado, murmurando algo que eu mal


consegui acompanhar em meu estado de sonolência.

— Tão doce — ele disse baixinho. — Tão quente...

Ele se aconchegou mais perto, seus braços me envolvendo,


e suspirou feliz.

— Sangue quente — disse ele, lembrando nossa conversa


de mais cedo. — É por isso que você é tão adorável e quente?

Eu ri e assenti.
E neste planeta quente, a pele fria de Saar era um alívio
bem-vindo. Talvez fôssemos mais adequados um para o outro do que
eu pensei inicialmente, e em mais de uma maneira.

— Você gostou? — ele me perguntou, o nariz acariciando


meu pescoço.

Eu me virei para ele, e nossos lábios se encontraram


novamente.

— Você foi tão bom — eu disse quando nos separamos.

Ele sorriu, sonolento.

— Obrigado por me aceitar tão abertamente em sua vida —


disse ele. — Eu prometo te amar e fazer você se sentir bem e feliz
pelo resto das nossas vidas.

Ele deu um beijo rápido na minha bochecha e suspirou, feliz,


caindo num sono profundo quase imediatamente.

Enquanto isso, de repente, eu estava bem acordado.

Eu encarei o teto liso, meus olhos olhando sem ver


enquanto os eventos da noite se repetiam em minha mente.

O que é que eu tinha feito?

Eu deveria estar trabalhando na minha fuga. Como fiquei


tão envolvido com o... bem, com o dia do meu casamento?

Talvez já houvesse uma nave de batalha pousando em


algum lugar do planeta, atrás de mim. Será que eles me
encontrariam curvado, levando o pau enorme de Saar, quando
chegassem?

Meu coração começou a bater forte, preocupação me


dominando. Qual era o problema comigo?

Será que eu estava realmente com tanto tesão? Ou o beijo


venenoso de Saar era, de fato, um afrodisíaco tão potente?

Eu me virei, percebendo a forma como a luz do fogo


cintilava em sua pele, fazendo brilhar as escamas em seu ombro, na
alta elevação de sua bochecha e no seu cabelo dourado.

Enquanto eu o observava, a exaustão me alcançou, meu


corpo saciado e o abraço confortável de Saar me puxando para o
sono. Tinha sido um dia tão longo, e não havia realmente nada que
eu pudesse fazer agora. Eles me prometeram que eu poderia fazer
ligações quando quisesse. Assim que saíssemos desta montanha, eu
ligaria para a nave, falaria com Blaine e descobriria tudo isso.

Meu último pensamento quando o sono finalmente me


alcançou foi sobre a voz doce de Saar me agradecendo por nossa
eternidade.

Culpa se agitou em mim.

Ele pensou que significava muito. Ele pensou que fazer


amor era uma promessa.

Quando acordei, eu senti o pau duro de Saar se empurrando


contra o meu traseiro e um desejo desesperado por mais, apesar da
forma como meu corpo doía da noite anterior.
Ele pressionou o rosto contra o meu pescoço, me cheirando
do jeito que ele fazia, como se eu fosse uma flor recém-cortada.

A culpa que havia me atormentado na noite anterior ainda


estava lá, forte como sempre, mas quando Saar passou a mão em
volta do meu comprimento já duro e me beijou, eu parei de pensar
nisso.

Como se lendo meu corpo, ele se afastou do meu traseiro


com um gemido e rastejou para baixo, tomando-me em sua boca
novamente.

Eu afundei nas cobertas, ainda quente do nosso abraço


sonolento, e suspirei quando ele começou a me chupar.

Ele me disse que nunca tinha feito isso antes. O que não o
impediu de me dar o melhor oral da vida, me engolindo inteiro,
chupando e girando sua língua ao redor do meu pau.

Antes que eu percebesse, eu estava estremecendo, mãos


emaranhadas em seu cabelo sedoso e gozando.

Como na noite passada, ele deixou a maior parte escapar


de seus lábios, embora não parecesse enojado com isso. Pelo
contrário. Ele deslizou os dedos na bagunça no meu abdômen,
apenas sentindo.

— É tão... espesso — disse ele, admirando o fluido. — Como


creme...

Eu senti minhas bochechas esquentarem e balancei a


cabeça, olhando para ele.
— O seu não é igual? — eu perguntei. Eu não tinha prestado
muita atenção na noite passada, afinal, a maior parte acabou dentro
de mim.

— Não — disse ele. — O meu é mais como água.

Então ele se levantou, ficando de joelhos, ergueu a mão,


escorregadia com o meu gozo e envolveu seus dedos ao redor do seu
comprimento generoso.

— Eu vou te mostrar — ele sussurrou e começou a se


acariciar, usando meu gozo como lubrificante.

— Jesus — eu suspirei, observando enquanto ele se


provocava lentamente, acariciando seu pau em longos golpes, seu
aperto aumentando enquanto se aproximava da borda.

Sua mão livre agarrou minha coxa quando ele gozou, seus
olhos dourados encarando os meus, me dando o espetáculo mais
sexy da minha vida.

Eu estendi a mão, acariciei o V de seus quadris enquanto


seu corpo tremia, gozo claro jorrando da ponta do seu membro,
sobre o meu peito e barriga.

Eu passei os dedos sobre seu pênis sensibilizado, sentindo


o líquido escorregadio e observando o jeito como essa carícia o fez
estremecer.

Quando o olhei, mais uma vez, eu fiquei maravilhado. Saar


era tão bonito, tão aberto, se compartilhando comigo
completamente.
Provavelmente, não era hora de recordar todos os meus ex-
namorados — não que houvesse tantos assim. Eu comecei jovem,
procurando por amor na escola com os poucos caras gays de lá.

Como a maioria dos amores adolescentes, foi intenso e


apaixonado, como uma chama se acendendo e depois se extinguindo
com a mesma rapidez.

Na faculdade, foi a mesma coisa. No momento em que


comecei meu estágio com Blaine, eu já tinha vivido drama suficiente,
optando por me concentrar no trabalho. Na minha cabeça, os
relacionamentos nunca davam certo, e os homens estavam sempre
procurando a próxima melhor coisa.

Mas Saar era diferente.

Pela primeira vez, eu tinha um homem que queria tudo de


mim, e ele queria para sempre... E ficar com ele levaria à guerra.
15 SAAR
Alex era mais do que eu tinha sonhado.

Quando nos vestimos novamente, nossos olhos


continuaram se encontrando. Os dele, tímidos, cheios de alma e tão
bonitos...

Quando ele achava que eu não estava olhando, seu olhar


sempre se fixava em mim, observando meu corpo. Eu sabia que Alex
estava satisfeito com ele e com todo o prazer que eu lhe ofereci. E
eu continuaria a agradá-lo, ainda mais do que na nossa primeira
noite e na doce manhã que compartilhamos. Eu não acreditava que
eu já tivesse sido tão feliz.

Nós encontramos a piscina juntos, explorando os longos


corredores com as mãos entrelaçadas. Rindo juntos quando
acidentalmente tropeçamos num quarto onde um casal estava
dormindo, entrelaçado nos braços um do outro, do jeito que
tínhamos estado tão recentemente.

Isso aqueceu meu coração de uma forma muito gratificante.

Quando encontramos a sala aberta com a piscina no centro,


o sol da manhã já entrava pelas janelas, aquecendo o espaço. Ainda
assim, nada comparado ao calor convidativo da pele de Alex. Nem
mesmo o sol.
Nós nos despimos novamente e entramos juntos.

A água estava quente o suficiente, mas Alex estremeceu


quando entrou.

— Eu não vou ficar aqui muito tempo — disse ele de uma


vez.

Sabão havia sido deixado em pratos colocados ao longo das


bordas. Ele foi até um e o agarrou, esfregando-se rapidamente de
cima a baixo. Ele começou com o cabelo, depois o rosto, então foi
descendo.

Minha boca ficou seca enquanto eu o observava limpar seu


abdômen, seus genitais, e mesmo seu traseiro, então rapidamente
descendo por suas pernas. Ele se enxugou rapidamente, sem
perceber minha atenção.

Sem esperar, ele rapidamente saiu da água e pegou uma


toalha, se secando e ainda tremendo enquanto rapidamente vestia
suas roupas.

— Está realmente tão frio para você? — eu perguntei.

Ele assentiu.

— Os dias aqui são muito quentes, as noites são geladas,


acrescente a isso um banho frio...

Ele estremeceu.

— Terei sorte de não pegar pneumonia e morrer.

Eu me levantei abruptamente, medo me impulsionando.


— O que é pi-na-mo-nia?

Ele reprimiu um sorriso inapropriado.

— Pneumonia — ele repetiu lentamente. — É uma doença


que os humanos podem pegar por estarem com muito frio.

— Não é engraçado — repreendi, a cabeça dando voltas.

Mesmo na sua primeira noite, eu notei a reação estranha do


meu companheiro ao frio. Ele tremeu todo o caminho até o domínio
alfa, então começou a suar, não foi?

Eu me lembrei do seu cabelo úmido com uma nova


compreensão. Os humanos não podiam regular sua temperatura,
podiam? Para mim, quando estava um pouco quente demais, uma
piscina como essa era perfeita para me refrescar.

— Você nunca mais sentirá frio — prometi.

Desta vez, ele sorriu, uma ternura em seus olhos.

— Eu vou ficar bem — disse ele. — Eu estava apenas


exagerando.

Ainda assim, eu rapidamente me limpei e saí da água,


tomando cuidado para me secar completamente e me vestir antes
de ir até ele. Eu o puxei em seus braços, esfregando o tecido sobre
suas costas para aquecê-lo.

— A luz do sol nos aquecerá em breve.

Alex riu.
— Não fará muito melhor, na verdade. Mas não se preocupe.
Como falei, eu vou sobreviver.

— Sobrevivência é o mínimo — eu argumentei, chateado. —


Eu quero que você fique confortável.

Olhando para ele, me lembrando de como seus ombros


ficaram tão vermelhos ontem, uma carranca se instalou em meu
rosto. Lentamente, eu levantei a mão, passando meus dedos
suavemente sobre a pele estranha que agora estava lá. Parecia
lascada e descascando em camadas.

— O que é isso? — eu perguntei lentamente.

Alex olhou para o ombro que eu toquei.

— Hã... Minha pele está descascando. Acho que minha


queimadura de sol foi pior do que pensei.

Ele parecia completamente despreocupado enquanto horror


tomava conta de mim.

— Essa é a sua pele?! — eu exigi. — E está caindo?!

Ele caiu na gargalhada e não parou. Quanto mais eu o


olhava, totalmente confuso com sua reação, mais ele ria, até que seu
chiado o levou às lágrimas.

Ele tentou me confortar, vindo até mim e segurando meus


braços.

— Está tudo bem — ele engasgou, mas seu rosto estava


vermelho e lágrimas jorravam dos seus olhos.
— Estou confuso — eu finalmente disse. — Por que você
acha engraçado que a sua pele esteja caindo?

Ele chiou por mais um minuto, então finalmente conseguiu


falar, embora sua voz ainda tremesse pelo esforço de não rir.

— Não é bom nem nada, mas é normal para humanos, e


isso não é uma queimadura ruim, eu mal senti até você mencionar.
É só que a sua cara...

Ele riu de novo, e eu esperei, um sorriso finalmente


puxando meus lábios, agora que eu sabia que ele não estava
gravemente ferido. Sua risada era contagiante. Tão aberta e alta e
livre...

Eu estava sorrindo quando ele conseguiu falar novamente.

— Você parecia tão assustado e confuso...

Desta vez, eu ri, balançando a cabeça.

— Fico feliz em saber que meu medo e confusão o divertem


tanto.

Ele veio até mim, ainda sorrindo, mostrando seus dentes


brancos e retos, o que me fez sorrir ainda mais. Essas pequenas
presas não seriam capazes de fazer nada.

Seus braços serpentearam ao redor do meu pescoço, e ele


ficou na ponta dos pés, pressionando um pequeno beijo em meus
lábios antes de se afastar e fazer meu estômago explodir em um
bater de asas.
— Sinto muito — disse ele. — Vai demorar um pouco para
nos acostumarmos um com o outro, eu acho.

Assim que ele disse isso, sua expressão mudou. O sorriso


sumiu, e ele olhou nos meus olhos por um bom tempo, uma carranca
vincando suas sobrancelhas antes dele, de repente, se afastar, seu
olhar em qualquer lugar, menos em mim.

— Uau, qual é o problema comigo? — ele murmurou.

— O que aconteceu? — eu perguntei.

Eu repeti suas palavras na minha cabeça, imaginando o que


ele havia dito de tão errado, mas não consegui pensar em nada.
Procurando tranquilizá-lo, eu agarrei sua mão e apertei gentilmente.

— Não se preocupe — eu disse. — Você está certo. Levará


tempo para nos entendermos completamente no físico. Nossas
almas, porém, já se conhecem completamente.

Ele olhou para mim de repente, procurando meus olhos.

— Você acha mesmo? — ele falou, e meu coração se


apertou. Talvez ele estivesse preocupado com a longevidade do
nosso amor.

— Claro — eu disse. — Nós somos um, agora. Nossas almas


estarão para sempre entrelaçadas.

Ele sorriu, mas parecia estranho. Quase triste, e não


alcançou seus olhos, que pareciam completamente errados em seu
rosto doce.
— Estou morrendo de fome — disse ele. — Podemos tomar
o café da manhã?

Surpreso com a mudança de assunto e o fato de que ele


estava aparentemente faminto, eu assenti e o conduzi para fora do
banheiro, esperando que ele estivesse exagerando novamente.

Eu sabia que ele era de uma espécie diferente, e navegar


pelas diferenças culturais e físicas já era um pouco mais complicado
do que eu esperava. Mas suas diferenças só me faziam amá-lo mais.

Ele era único e meu. Ele se encaixava e, ao mesmo tempo,


expandia meus horizontes. Em nosso único dia juntos, eu senti que
já estava abrindo minha mente para coisas que nunca considerei,
minha compreensão pelos outros se desenvolvendo além do que
costumava ser. Sem dúvida, ele faria de mim uma pessoa melhor.

Ele já me realizava.

Esperançosamente, eu o realizaria, também.


16 ALEX
Saar me levou de volta ao grande salão em que nos unimos,
no dia anterior. Já havia pessoas lá, colocando comida na plataforma
enquanto o sol atravessava a parede e iluminava todo o espaço.

Parecia que seria outro dia brilhante, lindo e extremamente


quente. Mas eu estava meio nas nuvens, então não me preocupei
com isso, apesar da hilaridade de Saar vendo meus ombros
descascando alguns minutos atrás.

Era bom estar com ele. Eu não conseguia nem colocar em


palavras. Eu só gostava dele. Simples assim. Eu estava afim dele em
todos os sentidos. Eu gostava de como ele sorria, do jeito que ele
pensava tão profundamente sobre pequenas coisas, do jeito que ele
enfatizava o X em meu nome sempre que o falava, e até a maneira
como ele se movia, todo o seu corpo fluindo, os músculos se
contraindo como os de um gato selvagem.

Adicione a isso o jeito que ele me fodeu na noite passada,


e eu senti como se o mundo tivesse virado de cabeça para baixo. Eu
não estava com pressa para ir embora, de jeito nenhum. Eu estava
ansioso para falar com Blaine, embora não soubesse o que dizer a
ele.

— Bom da! — alguém falou.


Eu olhei para ver uma das mulheres que estava servindo a
comida, sentada ao lado de Jayada. Elas acenaram para nós, ambas
sorrindo. Só quando as alcançamos foi que eu percebi o que estava
por vir.

— Então, vocês dois saíram cedo ontem à noite — Jayada


disse. — Como foi?

Eu engasguei com o vento.

— Excelente — disse Saar, radiante. — Alex foi muito


receptivo como amante. Eu sou realmente sortudo por ter vencido o
leilão pela mão dele.

Uma série de awnnn atravessou a sala, e fomos conduzidos


a almofadas no chão, que foram colocadas diante de uma das
travessas.

— Coma — disse Saar, empurrando uma para mim.

Eu não discuti. Até agora, a comida que eu havia


experimentado aqui tinha sido deliciosa, embora um pouco escassa.
Eles não pareciam comer três refeições por dia, além de lanches,
como a maioria dos humanos fazia.

Eu peguei um pedaço do que parecia ser melão e dei uma


grande mordida. Uma explosão de doçura encheu minha boca, e eu
gemi.

— Oh, meu Deus, isso é bom.


— O melão Buma é difícil de cultivar e muito delicioso
quando atinge a maturidade — concordou Jayada —, mas eu não
sabia que era bom o suficiente para clamar ao seu deus.

Eu ri.

Esses mal-entendidos estavam começando a fazer essa


grande e assustadora raça alienígena parecer mais com ursinhos de
pelúcia gigantes.

Eu segurei minha risada, desta vez.

— É apenas uma expressão — expliquei. — Eu não estava


realmente clamando.

— Oh — ela sorriu e se inclinou para mais perto,


continuando com a voz baixa: — Então, me diga, seus corpos eram
compatíveis?

Eu senti minhas bochechas esquentarem e olhei para Saar.


Ele tinha estendido a mão para uma bebida de aparência âmbar e
não parecia estar prestando atenção. Ainda assim, eu me senti
estranha falando sobre a nossa nova vida sexual enquanto ele estava
ali. Principalmente porque, de repente, eu queria falar sobre como
era bom. Era como dar uns amassos pela primeira vez aos quatorze
anos de novo. Eu fiquei estupidamente satisfeito com isso.

— Nós fomos... compatíveis — eu disse, conseguindo me


controlar.

Ela sorriu.
— Estou tão feliz. Com sua diferença de tamanho, nós não
tínhamos certeza.

— Vocês estavam todos especulando?

— Ah, sim — disse ela, descaradamente. — Alguns de nós


discutimos como achamos que funcionaria. Você foi capaz de receber
a ereção completa dele dentro de você?

Mais uma vez, eu engasguei, desta vez com o resto do


melão que tinha acabado de enfiar na boca.

Ela esperou pacientemente enquanto eu tentava respirar.


Eventualmente, eu escolhi apenas negar com a cabeça.

— Não se preocupe — ela disse. — Você será capaz de


aceitá-lo depois de praticar por um tempo. Seria muito, esperar tal
feito na sua primeira vez.

— Primeira vez? — eu perguntei, então ri. — Ah, não foi.


Quer dizer, já faz um tempo, mas...

Eu engoli em seco, me lembrando da mentira inocente que


eu havia contado a Saar. Merda. E ele estava sentado ao meu lado.

O rosto de Jayada caiu, preocupação enrugando sua testa.

Seu olhar disparou por cima do meu ombro, e eu o segui,


pavor me enchendo quando me virei para encontrar Saar me
observando com olhos arregalados e traídos... Como se seu mundo
inteiro estivesse desmoronando.

Eu estendi a mão e agarrei seu braço.


Ele não se afastou, do jeito que eu esperava.

— Sinto muito — eu disse, então decidi continuar. Eu não


queria machucá-lo, mas não tinha mais jeito, agora. — Humanos...
nós fazemos as coisas um pouco diferente...

Foi a desculpa mais esfarrapada que eu já dei, em parte


porque achava que não deveria dizer isso. Eu não era um nassa. Os
humanos tinham que procurar pessoas para se relacionar. Nós não
simplesmente lutávamos por um parceiro numa batalha e os
ganhávamos para a vida. Eu queria estar com alguém. Eu persegui
esse sentimento por anos antes de deixá-lo de lado. Não que eu
esperasse que Saar entendesse isso.

Na verdade, com base na maneira como ele estava me


olhando, e no silêncio sombrio na sala, poderia ser o suficiente para
terminar essa aventura exatamente como ela começou.

Meu coração afundou quando ele olhou para baixo, seu


olhar dourado caindo para a minha mão em seu braço. Depois de um
momento, ele a estendeu, colocando sobre a minha.

— Tenho certeza de que você passou por mais coisas com


sua espécie do que eu posso imaginar — ele disse. — Vamos falar
sobre isso quando chegarmos em casa.

Ele apertou minha mão, depois voltou à sua comida. Alívio


e apreensão me atingiram ao mesmo tempo. Ele não queria terminar
comigo — pelo menos, ainda não —, mas ainda estava chateado. Ele
queria conversar. Inferno, ele provavelmente queria meu registro
completo de namoro.

Eu peguei um copo do que quer que Saar estivesse bebendo


e tomei um gole do líquido amargo. Ele fez meu estômago revirar,
mas eu não me importei, meu apetite já desaparecido.

Chame-me de tolo, mas a ideia do nosso vínculo já estar


abalado me machucou profundamente.

17 SAAR
Eu não pude evitar a turbulência dentro de mim. O
pensamento de outros tocando Alex, sentindo seu corpo, beijando-
o... O sangue corria em minhas veias cada vez mais furiosamente,
alimentado pela raiva.
Mas então, eu olhei para o seu rosto doce enquanto
caminhávamos, e meu coração derreteu um pouco.

Nós estávamos fazendo nossa descida da montanha.

Ao meu lado, Alex não pediu nenhuma ajuda. Nós


estávamos no início da nossa descida, e meu olhar, fixo na pele
descascando de seus ombros. Ele ainda usava o longo xale que levou
ao subir, mas não estava pendurado corretamente, e muito da sua
pele estava visível.

Incapaz de aguentar mais, eu estendi a mão, peguei o


tecido e o espalhei para protegê-lo melhor.

Não foi o suficiente. Meia hora depois, seu rosto estava


diferente, a ponta do nariz, em particular, estava muito vermelha, e
ele suava, sua pele parecendo escorregadia e úmida. Ele continuou
abaixando a cabeça, obviamente tentando esconder o rosto do sol.

Os humanos eram realmente estranhos.

Quando Alex começou a ofegar, o peito arfando, eu parei de


andar.

— Basta — falei.

Sem esperar, eu me inclinei e o tomei em meus braços.

— Você não precisa fingir ser forte — eu repreendi. — Eu


sei que esta montanha é difícil para você.

Ele suspirou e relaxou em meu abraço, me permitindo


carregá-lo enquanto descíamos.
— É mais o sol que é o problema — disse ele. — Está tão
quente...

— Está tudo bem?

A voz preocupada do meu pai me fez desacelerar meus


passos. Eu esperei que meus pais nos alcançassem.

— Meu ômega é muito delicado — expliquei. Preocupação


tingia minha voz. — Você sabia que o sol queima a pele dele?

Os olhos dos dois se arregalaram, e eles olharam para Alex,


que deu de ombros como se não fosse nada.

— É uma coisa humana — disse ele.

— Posso mostrar a eles? — eu perguntei.

Ele assentiu e me permitiu ajudar a tirar o tecido de seus


ombros para expor a pele danificada.

— Isso é terrível! — disse meu om-pai. — Cubra-se,


rapidamente!

— Existe alguma coisa que possamos fazer para facilitar sua


transição para o nosso mundo? — perguntou al-pai.

O ômega assentiu.

— Na verdade, mais água potável ajudaria — disse ele, e


em seguida, corando daquele jeito adorável, acrescentou: — E talvez
mais comida?

Eu quase tropecei, mas me segurei.

— Você ainda está com fome?


Ele fez uma careta.

— Os humanos comem muito — ele confessou.

— Mas você é tão pequeno — om-pai disse, pensativo. —


Nós nunca teríamos adivinhado.

Vergonha me encheu.

Eu estive tão concentrado em vencer a luta para tê-lo que


não pensei no que cuidar dele implicaria.

— Sinto muito — eu sussurrei. — Eu não sabia.

— Eu ia te contar — disse ele. — Não é sua culpa.

Ele sorriu para mim. Tão hesitante, tão doce, seus olhos
dizendo muito mais. Ele estava preocupado com meus pensamento,
desde que confessou ter feito amor com outras pessoas no café da
manhã. Eu poderia dizer, pelo jeito como ele continuou tentando
encontrar meu olhar desde então.

Eu não estava propositalmente tentando fazê-lo se sentir


mal, eu simplesmente não conseguia suprimir o sentimento estranho
dentro de mim.

Em Mukhana, ninguém acasalava com ninguém além do seu


companheiro de vínculo. Era inédito. Na verdade, depois de um breve
surto durante a adolescência, os genitais de uma pessoa nem mesmo
cooperavam com ninguém além do seu parceiro. Era tão surreal
pensar que Alex nunca precisou de um vínculo para fazer sexo e que
ele o tinha feito com outra pessoa.
Mas eu me lembrei, Alex não era nassa. Ele era humano, e
isso era parte do que o tornava tão especial. Ele era um ser adorável,
e ele era meu, agora, não importa o que tivesse acontecido antes.

— Saar.

Sua voz baixa chamou minha atenção da direção confusa


dos meus pensamentos.

Eu o olhei. Seu cabelo claro estava pendurado na frente de


seus olhos brilhantes. Ele lambeu os lábios, e eu suspirei suavemente
diante da sua beleza.

— Eu realmente sinto muito — ele disse, sua voz calma,


suas palavras apenas para mim. — Eu não queria te chatear. Antes...
eu nunca soube que encontraria alguém como você.

— Como eu?

Ele sorriu suavemente.

— Alguém legal, comprometido e sexy.

Meu estômago se revirou com a maneira como ele disse


isso, seus lábios se curvando para o lado de uma forma divertida que
foi direto para os meus genitais.

— Sabe, é muito mais fácil aqui — ele continuou. — Você


ganha o leilão e acasala para a vida, e todo mundo parece feliz.

— Principalmente — eu concordei. — Quando os


companheiros de vínculo não se dão bem, é um grande problema
para a comunidade. Nós, o conselho alfa, nos reunimos e ajudamos
a resolvê-los.

— Sério? — ele perguntou. — Como assim?

— Sendo um ouvido neutro, principalmente — eu expliquei.


— Muitos nassa só querem ser ouvidos quando há problemas. E uma
vez que um vínculo é estabelecido, os companheiros desejam estar
em harmonia, por isso é raro que eles briguem.

Alex me observou por um bom tempo.

— É isso que está acontecendo comigo? — ele perguntou


baixinho. — Eu desejo estar em harmonia com você por causa do
vínculo?

— Claro — eu disse, e então, porque ele estava sendo tão


aberto comigo, eu continuei: — Eu também me sinto desconfortável.
Nossos corações e mentes não estão alinhados, agora. Precisamos
conversar e nos abraçar — eu decidi. — Depois de passarmos tempo
suficiente resolvendo isso, seremos mais felizes juntos do que
nunca... Lamento que estejamos brigando em nosso primeiro dia
juntos.

Alex sorriu, aquele sorriso confuso e divertido.

— Ah, acredite em mim — disse ele. — Isso não é uma briga.


Isso é adorável.

— Adorável?

— Oh, sim. — Ele suspirou, feliz. — Um homem que quer se


esconder comigo e resolver nossos problemas para que possamos
ter um relacionamento saudável... — Ele estremeceu
exageradamente. — Esse é o sonho.

Um sorriso puxou meus lábios.

— Então eu serei o homem dos seus sonhos.

18 ALEX
Saar pegou minha mão enquanto me conduzia pelas ruas
movimentadas do que eu agora conhecia como Diwan, sua capital.
Era a cidade mais densamente povoada do planeta, mas enquanto
caminhávamos, Saar me contou sobre os outros lugares.

Além da vasta selva que eu tinha visto à distância dos


casulos, havia outras cidades. Ele disse que os nassa de lá eram
diferentes, que trabalhavam em fazendas e dormiam ao ar livre no
que me pareceram barracas.

Seu sistema de acasalamento era o mesmo, porém, eles até


se submetiam ao conselho alfa principal — do qual o próprio Saar
fazia parte.

Os papéis não eram, de fato, hereditários. O líder alfa —


atualmente o pai de Saar, Kion — um dia seria substituído por um
dos outros membros com base em uma votação do conselho.

Era estranho pensar que um planeta inteiro — com certeza,


um pequeno — estava em tal harmonia.

Nós caminhamos, Saar destacando pontos de referência,


como a estátua dos Verdadeiros Companheiros — uma bela obra de
arte que parecia esculpida em mármore e se erguia sobre o centro
da cidade — e o Grande Arco de Pedra — que era um enorme arco
de pedra pintado em murais, que levava ao mercado da cidade.

Durante todo o tempo, eu prestei tanta atenção a Saar


quanto aos pontos turísticos que ele estava tão ansioso para me
mostrar.

Nós tínhamos ido para casa primeiro, é claro, para nos


trocarmos e desembalarmos os presentes que recebemos. Ele
sugeriu o passeio antes do jantar, depois de passar a tarde deitado
nas peles que faziam sua cama, aconchegado perto de seu corpo
grande, no frescor de sua casa de pedra. Eu esperei pela conversa
que Saar queria, mas ele me disse que podia esperar, que queria me
mostrar os pontos turísticos primeiro.

Essa declaração simples e um beijo completo me acalmou


até os dedos dos pés. Eu estava tão malditamente apaixonado que
não sabia o que fazer.

Como exatamente eu iria explicar isso para Blaine? O que


eu ia dizer? Que estava começando a me perguntar sobre minhas
escolhas; que apenas alguns dias atrás, eu estava ansioso para ser
resgatado, mas agora... Bem, essa missão de resgate poderia levar
o tempo que quisesse. Que eu não me importaria de esperar.

Minha mão apertou a de Saar enquanto caminhávamos.

— Eu não posso acreditar que eu senti tanto medo de você


antes — eu disse, do nada. — Você não é nada perigoso.

Ele bufou e me deu um olhar irritado que só me fez rir.

— Eu lutei contra as serpentes alienígenas apenas com as


minhas garras — ele argumentou. — Incontáveis corpos caíram em
minhas mãos.

— Hum-hum.

— Você me viu no poço, lutando por você. Certamente, eu


estava impressionante naquela ocasião, não estava?

Eu estremeci, me lembrando da provação. Todos aqueles


alfas lutando por mim. E Saar tinha vencido. Meu coração realmente
acelerou com o pensamento.
Eu peguei seu manto, ansioso para verificar o lado do seu
corpo, de repente, como se esperando ainda vê-lo sangrando,
mesmo sabendo que havia curado rapidamente e estava bem.

Uma cicatriz fina foi tudo o que restou de seu ferimento, e


apesar de tudo, eu fiquei aliviado. E suspirei. Profundamente.

— Satisfeito? — Saar perguntou enquanto eu terminava de


avaliar sua pele escamosa.

Eu assenti, dando o braço a ele novamente quando


recomeçamos a andar, entrando na movimentada faixa do mercado.

— Saar, quanto tempo o veneno permanece no organismo


da pessoa?

— Que veneno? — ele perguntou.

Antes que eu pudesse explicar que me referia ao seu beijo


de união, um casal exuberante interrompeu ao passar por nós na
rua, estendendo a mão e dando tapinhas em nossos ombros.

— Parabéns ao par recém acasalado!

Eu não pude deixar de olhar para a criança pequena que


estava dobrada contra uma de suas costas numa espécie de tipoia.
A criança pequena era tão fofa, tingida de roxo com escamas na testa
e cabelo azul sedoso. Ele me observou com olhos arregalados e
interessados. Claro, eu era o estranho aqui.

— O que você quer dizer? — Saar perguntou depois que eles


passaram.
Eu levei um minuto para me lembrar da minha última
pergunta. E balancei a cabeça.

— Deixa pra lá.

Ele me deu um olhar curioso, mas eu o ignorei, mantendo


minha atenção nas bugigangas e obras de arte pelas quais passamos.

Como eu deveria explicar minha esperança de estar tão


apaixonado porque ele me envenenou?

— Você gosta de alguma coisa? — perguntou Saar. — Eu


gostaria de comprar um presente para você.

Surpreso, eu olhei em volta para os vários fornecedores.

Eu não conseguia me lembrar da última vez que ganhei um


presente. Talvez, no meu aniversário no ano anterior à minha viagem
espacial. O que foi há seis anos, e há muito eu já tinha usado os itens
do kit de autocuidado que minha mãe me deu. O sabão durou pouco,
e as coisas ao meu redor eram muito mais permanentes do que o
sabão.

Um artista exibia belas pinturas que pareciam feitas em


ouro e bronze e joias trituradas, captando a luz com as cores
vibrantes.

Outra pessoa vendia roupas, tecidos sedosos de todas as


cores, penduradas em sua barraca, em exibição. Outro vendia peles
em cores que eu nunca vi em nenhum animal antes. Mas foi o
estande mais próximo de nós que imediatamente chamou minha
atenção. Pulseiras douradas, joias de todas as cores, anéis, colares,
correntes de cintura e muito mais brilhavam ao sol.

Será que eu era realmente tão clichê assim, que as joias


eram o que eu queria?

Saar viu para onde eu estava olhando e me puxou para lá.

— Não seja tímido — disse ele, então eu o deixei me guiar.

— Bênçãos, Alfa Nassia — a nassa cumprimentou quando


nos aproximamos. Ela sorriu para nós calorosamente. — Parabéns
pela sua união.

Saar sorriu, e minhas bochechas esquentaram, mas eu não


disse nada, me sentindo sobrecarregado com tudo isso. Nossa união,
como ela chamou, tinha sido muito pública. O planeta inteiro
provavelmente sabia dela. Mas pensando bem, parecia que a união
de todos era uma celebração tão grandiosa quanto a nossa.

— Eu quero presentear meu companheiro com algo especial


— disse Saar.

Imediatamente, ela foi para uma corrente de cintura


extremamente adornada com longas pedras polidas penduradas.

— Isso ficaria lindo em torno de sua cintura fina — disse ela,


e eu me encolhi, as bochechas esquentando ainda mais.

— Você gostaria de experimentar? — Saar perguntou, se


virando para mim, mas vendo meu rosto, ele balançou a cabeça
imediatamente. — Acho que não combina com ele.
Ele se virou para mim, abaixou a cabeça, me obrigando a
encarar seus olhos.

— O que você gostaria? — ele perguntou.

Parte de mim queria insistir que ele não deveria me comprar


nada, afinal, mais cedo ou mais tarde, eu teria que ir embora daqui,
certo? Mas então, o resto de mim, egoisticamente, queria algo para
se lembrar dele, se isso realmente acontecesse.

Eu estendi a mão, indo direto para a bandeja de anéis. Eu


não tinha planejado isso, mas quando a levantei para a luz, percebi
o que estava fazendo. Eles realmente não tinham nada claro o
suficiente para se chamar de aliança de casamento, mas alguns
chegaram perto o suficiente.

— Você gosta de algum desses? — eu perguntei.

Saar olhou para eles com cuidado.

— São todos lindos. Escolha qualquer um que você quiser.

Eu engoli em seco.

— Eu preferiria que você escolhesse um...

Um estranho peso caiu sobre mim, e Saar percebeu, seu


olhar não deixando o meu por um bom tempo.

Finalmente, ele inclinou a cabeça sobre a bandeja,


examinando-os.

— Este — disse ele, apontando um.


Eu o olhei, surpreso. Era de um dourado delicado, com joias
azuis incrustadas nele. Elas pareciam brilhar em tons diferentes,
dependendo de como a luz as atravessava.

Eu engoli em seco e me forcei a examinar o resto deles. Um


chamou minha atenção, dourado mais profundo, para combinar com
seu cabelo e olhos, com pedras que brilhavam quase como olho de
tigre.

Eu puxei os dois para fora e os entreguei para a nassa que


esperava, observando nossa interação com um sorriso.

— Eu posso ajustar o tamanho para você, se me der uma


hora — disse ela.

— Você pode ajustar o laranja para Saar? — eu perguntei.

Ela assentiu e tomou nossas medidas.

O tempo todo, eu não consegui encontrar o olhar de Saar.


Meu corpo inteiro estava agitado.

O que eu estava fazendo? Por que estava fazendo tudo


parecer ainda mais oficial?

— Vamos caminhar enquanto esperamos — Saar sugeriu,


me puxando atrás dele.

Eu segurei sua mão com força, fascinado pelo mercado e


pelas coisas que vimos lá.
Na maior parte do tempo, nós ficamos parados e assistimos
os artistas performando cambalhotas e acrobacias em busca de
gorjetas, se equilibrando em suas caudas e mãos.

Eu bati palmas e aplaudi com a multidão que se formou,


feliz pela distração dos meus pensamentos, até que Saar se inclinou
e disse ao meu ouvido:

— Vamos pegar nossos anéis e algo para comer.

Eu assenti, ansiedade me enchendo novamente.

Eu permaneci em silêncio enquanto caminhávamos de volta,


quando ele pegou o pacote, e até quando entramos no que parecia
ser um restaurante.

Havia mesas rentes ao chão, os assentos eram feitos de


almofadas ao longo das paredes, e a parede da frente era
completamente aberta, de modo que, mesmo sentado, ainda parecia
que estávamos na rua do lado de fora.

Quando alguém veio à nossa mesa para anotar nosso


pedido — e parabenizar Saar por vencer o leilão, rindo sobre o quão
determinado ele foi —, Saar brincou, e eu não pude fazer muito mais
do que sorrir.

Quando o nassa saiu, Saar suspirou e apoiou os cotovelos


na mesa, de frente para mim.

— Por favor, você pode me dizer o que está te


incomodando? — ele perguntou.

Eu gemi.
— Desculpe, não é nada. Só estou pensando demais.

— No quê? — ele pressionou.

— Nos anéis — eu admiti.

De repente, o padrão da mesa se tornou muito fascinante.


Eu não conseguia olhar para Saar, as bochechas esquentando com a
percepção de que ele provavelmente precisaria de mais explicações,
agora.

— Na Terra... a maioria das culturas humanas usa anéis


como símbolo de casamento — ou vínculo, como você chamaria
aqui...

Saar estendeu a mão, pegando aquela com que eu estava


traçando a madeira. Ele sorria suavemente, quando eu, enfim, o
olhei.

— Isso é lindo — disse ele. — Conte-me mais a respeito.

Relutantemente, eu expliquei o significado das alianças de


casamento para os humanos.

— É por isso que você queria que eu tivesse uma — disse


ele calorosamente. — Mas por que isso o deixaria tão triste? Você
sente falta da Terra e de outros humanos, talvez?

Eu dei de ombros.

— Eu me sinto um pouco alienado — admiti —, mas não é


isso. Eu abri mão da maior parte da humanidade há muito tempo.
Eu não sabia como dizer a verdade sem soar como um
completo idiota.

Você é o único que foi sequestrado, eu me lembrei. Você


não é o errado aqui.

— Faz parecer muito real — eu finalmente disse. — E se


você vai me dar ouvidos ou não, eu não vejo como eu poderia ficar
neste planeta.

O corpo inteiro de Saar enrijeceu.

— Do que você está falando?

— Eu não deveria estar aqui, Saar. O que eu deveria fazer?


Deixar para trás toda a raça humana? Sem falar no meu trabalho
pelo qual tanto lutei ao longo de todos esses anos? E mesmo que eu
decidisse largar tudo, como os humanos aceitariam isso? Você me
levou sem nem perguntar.

Saar me olhou, a mão ainda segurando a minha apertada,


como se temendo que eu estivesse prestes a ser levado embora para
bem longe.

— Alex, eu só peguei você porque sabia que estávamos


destinados a ficar juntos.

Eu derreti um pouco, contra o meu próprio bom-senso.

— Eu sei — eu murmurei. — O que não muda nada.

— Então por que você pediu isso? — ele perguntou, tirando


o pequeno pacote do bolso e desembrulhando nossos anéis.
Eu olhei para as peças inocentemente expostas em sua mão
e balancei a cabeça, perdido.

— Acho que porque seria bom fingir que tudo isso é real —
eu disse.

Saar franziu a testa. Com cuidado, ele largou os anéis e


tocou meu rosto gentilmente.

— Nós nos unimos Alex. Nós acasalamos. É claro que é real.

Saar pressionou seus lábios nos meus castamente, mas com


firmeza, e de forma reconfortante. Quando se afastou, ele pegou
meu anel do pacote e gentilmente tentou colocá-lo no meu dedo
indicador.

— Este — eu corrigi, sorrindo.

Ele mudou para o dedo correto, então pegou o dele.

— Aqui. — Com o coração acelerado, eu aceitei o anel dele


e o coloquei em seu dedo anelar.

Foi impressionante o quanto o simples gesto significou para


mim. Eu tinha estado sozinho, antes, era verdade, mas eu não tinha
percebido o quanto desejava ter algo mais na minha vida.

Eu preenchia todos os momentos vazios com trabalho, mas


aqui em Mukhana, a vida parecia mais lenta, não havia nada com
que me distrair e não havia necessidade de me distrair porque eu
tinha Saar.

— Beije-me — eu sussurrei.
Seus olhos escureceram, e ele não hesitou, se inclinando e
pressionando seus lábios macios nos meus novamente.

Eu suspirei e me inclinei, aprofundando o beijo enquanto


seus braços vinham ao meu redor, me segurando perto. Quando seus
lábios se separaram, eu estava esperando por isso, ansioso pelo
sabor de sua doce língua, o pico de excitação instantânea que
disparou através de mim, praticamente impossível de suprimir.

O som de pratos tilintando ao meu lado me trouxe de volta


à realidade, e eu me afastei, surpreso e envergonhado ao ver nosso
servidor colocando dispondo a comida e a bebida na nossa frente.

— Não se importem comigo — disse ele, saindo rapidamente


para nos dar privacidade.

Saar se inclinou para mim para mais um beijo demorado


que me deixou absolutamente louco porque estávamos em público e
eu não poderia arrancar suas roupas.

Eu forcei minha atenção de volta para a comida, um tipo de


prato de arroz que tinha mais gosto de macarrão e carne picante.
Meu humor estava ridiculamente aliviado, apesar do problema
pendente. Eu ainda tinha que falar com Blaine e os outros humanos
envolvidos.

Talvez algum tipo de arranjo pudesse ser feito. Talvez eu


pudesse ficar aqui mais tempo e me decidir com calma sobre se eu
ainda queria ser resgatado.
Eu estava começando a pensar que esta vida me convinha
mais do que o interior frio da nossa nave espacial e a escuridão
interminável do espaço.

19 SAAR
Meu sangue se aqueceu com a proximidade de Alex, dos
seus lábios requintados. Eu não pude deixar de lembrar deles ao
redor do meu eixo, tão quentes e habilidosos, me sugando
profundamente.

Eu forcei minha atenção de volta à comida, mas a cada


poucos minutos, nossos olhares se encontrariam, e riríamos, pegos
tentando nos observar sem que o outro soubesse.

No meu dedo, meu novo anel brilhava, e um tipo diferente


de calor foi se espalhando dentro de mim. Eu tinha saltado para este
vínculo sem qualquer compreensão dos humanos, e a culpa se agitou
em mim.

Alex esteve desconfortável desde o início. Primeiro, com


medo de minhas ações, depois, com fome e frio, em seguida, quente
a ponto de sua pele ter descascado, então, ele finalmente perdeu a
paciência.

Agora, apesar do nosso vínculo, Alex ainda pensava que


seria enviado de volta aos humanos. Ele não acreditava que nosso
vínculo fosse verdadeiro porque não tínhamos feito isso da maneira
humana. Na verdade, nem havíamos perguntado qual era o jeito
humano.

Eu me senti envergonhado, mas determinado.

Eu faria isso como se deve.

Ele precisava de mais segurança do que um ômega nassa.


Eu pensei que fazer amor seria o suficiente, mas Alex já tinha
dormido com outra pessoa antes, e talvez nossa conexão física
sagrada não significasse a mesma coisa para os humanos.

O pensamento era perturbador e irritante, mas eu contive


meu julgamento. Eu queria tempo para deixá-lo se estabelecer
dentro de mim. Para dar sentido a esse fato e aceitá-lo. Sim, eu não
era seu primeiro amante, mas ele era meu, agora, e nada mais
deveria importar. Eu sabia. Até Alex queria que nosso vínculo
significasse mais.
Eu respirei, acalmando a confusão dentro de mim, meu
olhar caindo para o anel no meu dedo.

O que mais eu poderia fazer para convencê-lo de que agora


éramos um, que nada poderia nos separar?

Nós terminamos nossa refeição e tomamos um gole de chá,


mãos dadas debaixo da mesa enquanto observávamos meu povo
indo e vindo na rua.

— Há tanta coisa que eu quero mostrar a você — eu lhe


disse. — Mas também quero saber mais a seu respeito, sobre os
humanos, e suas vidas, e mundo.

Ele sorriu, satisfeito, e beijou minha bochecha.

— Vamos para casa conversar — disse ele.

Assentindo, eu o ajudei a se levantar.

Lá fora, o sol estava igualmente brilhante. Eu adorava o


calor na minha pele, depois do tempo que passamos na sombra
esfriando enquanto comíamos, mas eu temia por Alex, que havia
adotado um tom rosa suave por toda parte.

Era diferente da cor que ele ficava quando estava se


sentindo tímido, e agora eu a associava à muita exposição ao sol.

Não estávamos longe da minha casa, mas a caminhada


pareceu mais longa que nunca. Eu queria ficar sozinho com ele, para
resolver tudo entre nós.
No momento em que a cortina se fechou às nossas costas,
eu o puxei em meus braços. Suas mãos subiram, agarrando meu
cabelo e puxando meus lábios nos dele.

Eu sorri contra sua boca, puxando-o para mais perto. Eu


amei o jeito como ele amava minha boca nele, e isso me lembrou de
outros lugares onde eu a coloquei, como eu beijei sua pele nua e
chupei seu eixo.

Meu corpo inteiro parecia tenso, ansioso pelo meu


companheiro. Nosso acasalamento ainda era tão novo, havia muito
mais para descobrir...

Alimentado pela paixão, eu levantei Alex, não


interrompendo nosso beijo enquanto o carregava para a cama, mas
então ele serpenteou seus braços ao redor do meu pescoço e
envolveu suas pernas em torno da minha cintura, e meu membro
endurecido deslizou no lugar perfeito, descansando entre suas
nádegas, apenas um tecido fino entre a nossa pele.

Eu fiz uma pausa, os olhos se fechando com a sensação.

Em meus braços, Alex gemeu e moveu seus quadris,


arrastando seu traseiro contra o meu eixo. Seus dentes sem corte
morderam meu lábio.

Eu engasguei, meu aperto aumentando.

Ele era tão leve e tão delicioso nessa posição... Eu não ousei
nos mover para a cama.
Em vez disso, peguei o tecido entre nós, uma linda roupa
que lhe havia sido presenteada, provavelmente pelo meu pai, mas
não consegui me lembrar ou me importar naquele momento,
enquanto a rasgava em pedaços, removendo a barreira entre nós.

Alex engasgou, seus dedos segurando meu cabelo com


força quando ele finalmente interrompeu nosso beijo.

— Lubrificante — ele murmurou, se esfregando contra o


meu comprimento novamente.

Por um momento, não consegui pensar.

Eu não sabia do que ele estava falando. Então nossa


conversa de mais cedo me ocorreu. Eu não tive tempo de resolver
essa parte. Eu nem sabia onde procurar algo que fosse servir. Os
nassa que eram ômegas produziam seu próprio lubrificante quando
excitados. Felizmente, a cabeça do meu próprio membro vazou,
também em preparação.

Não era perfeito, mas tinha dado certo antes, e não foi um
problema suficiente para nos deter. Alex não pareceu precisar de
mais da última vez. Eu esperava que agora, depois de aceitar a maior
parte do meu comprimento tão recentemente, fosse ser ainda mais
fácil.

Eu estendi a mão para o meu eixo, agarrando-o pela base,


os olhos quase rolando diante do prazer momentâneo. Então,
direcionei a cabeça para a sua pequena e doce entrada.
Alex respirou fundo e se arqueou, me ajudando a esfregar
minha ponta úmida contra a sua entrada. Eu gemi, perdido na
sensação enquanto ele espalhava a umidade, empurrando-a para
dentro de si.

Seus olhos estavam fechados, o rosto relaxado enquanto


trabalhava, a cabeça inclinada para trás para expor o pescoço.

Eu me inclinei e o lambi, saboreando seu cheiro suave e


doce de ômega, agora permeado com o meu.

— Mm — ele gemeu, e pressionou a ponta do meu membro


com um repentino propósito contra a sua entrada, se sentando nela.

Eu respirei fundo, estremecendo quando o anel apertado de


músculos me manteve fora, então, subitamente, se abriu para mim.

— Foda-se — Alex gemeu e se sentou um pouco mais,


engolindo meu eixo com seu corpo faminto.

Eu gemi, mordendo meu lábio para não empurrar nele.

Dessa forma, de pé, com Alex em meus braços, suas pernas


abertas ao meu redor, joelhos enganchados em meus braços, ele
pareceu mais aberto, esticado ao limite e ansioso para aguentar mais
do que da última vez.

— Foda-me — ele gemeu, e eu não o fiz pedir mais uma


vez.

Eu martelei meus quadris nele, ansioso para que ele o


aceitasse. Alex gritou, e eu quase vi estrelas por causa do seu aperto
esmagador, quase demais para suportar, mas quando meu nó atingiu
sua entrada, desta vez, eu senti uma pequena permissão do seu
corpo.

Ofegante, Alex se ergueu por um momento, depois deslizou


de volta. Eu o deixei montar em mim, nossos suspiros e gemidos
enchendo a sala até que ele estava aberto, sua entrada não se
agarrando a mim com tanta força, então, quando ele desceu
novamente, eu simultaneamente abri suas pernas e empurrei meus
quadris para encontrá-lo, então ele desceu completamente no meu
eixo, enterrando-o. Só assim seu pequeno corpo se esticou,
aceitando meu nó, e nós dois gritamos.

Seus punhos se enterraram na minha pele.

Meu próprio aperto aumentou, e nenhum de nós se moveu


por um minuto. Não havia nada além do som irregular de nossa
respiração, e sons de lamento quase constantes de Alex.

— Isso dói? — eu finalmente consegui perguntar.


Se assim fosse, não havia como retirá-lo sem mais dor. Não
até que eu tivesse jorrado profundamente dentro dele, o que não
aconteceria até que ele tivesse um orgasmo, primeiro.

— Não... sim — ele engoliu em seco. Em seguida, fechou os


olhos por um momento e rebolou.

Gemendo, sua cabeça caiu no meu ombro.

— Oh, Deus... eu retiro o que disse. Parece... Acho que é


bom.

— Você não tem certeza? — eu perguntei, confuso com suas


palavras e comportamento conflitantes. Eu fiquei muito quieto,
desejando que meu membro dolorido não balançasse dentro dele,
desesperado por mais.

— Eu não posso acreditar que aceitei tudo — ele gemeu e


balançou os quadris novamente, e eu quase perdi a cabeça. Com um
suspiro trêmulo, eu me movi, mal conseguindo me segurar enquanto
o prazer me atravessava.

Suas costas bateram na parede, apoiando seu peso.

Ele gritou e, desta vez, foi definitivamente de prazer.

— Oh, Deus — ele gemeu. — É bom. É muito, muito bom.


Toda vez que você se move...

Eu deslizei até onde meu nó permitiu, e seu corpo inteiro


tremeu.

— Oh, Deus, oh, meu Deus do caralho...


Ele estava balbuciando, agora, encorajamentos e gemidos
e, sim, assim, e palavrões que eu nunca ouvi antes, me
impulsionando quando comecei a martelar nele contra a parede.

Apoiando as duas mãos contra a superfície fria e lisa, eu


deixei que Alex e seu aperto em volta do meu pescoço fossem as
únicas coisas o mantendo de pé, e ele adorou, se debatendo e
gemendo enquanto eu investia na sua direção, meus quadris batendo
nele com força a cada impulso.

Entre nós, sua ereção vazava um fluxo constante de líquido,


se contorcendo de prazer. Quando suas coxas e entrada se
apertaram ao meu redor, seu corpo se arqueando, se empurrando
brutalmente meu eixo, eu o vi se perder. Os músculos contraídos,
ordenhando-me profundamente, me levaram com ele.

Meu orgasmo veio em fluxos pesados e espessos dentro de


Alex, e em seguida, em jatos lentos e lânguidos de prazer enquanto
continuava, meu nó se esvaziando dentro do meu companheiro.

De alguma forma, eu consegui nos levar para a cama sem


cair, descendo-o gentilmente sobre as cobertas e rolando para que
ele ficasse por cima. Sua cabeça descansou no meu peito enquanto
ele recuperava o fôlego com suspiros ofegantes.

Eu esperei para me libertar da sua entrada, permitindo que


minha ereção amolecesse para que não fosse tão intenso. Ainda
assim, ele gemeu, seu corpo se contraindo quando eu finalmente o
deixei. Então ele relaxou, exausto contra mim, suspirando.
— Isso foi épico — ele disse suavemente, roçando os lábios
contra o meu peito.

Eu acariciei suas costas, arrastei meus dedos por seu cabelo


macio, sorrindo quando o roçar de minhas garras o fez estremecer.

— Sim, Omi — eu concordei. — Épico.

Era uma palavra muito grandiosa para descrever nosso ato


de amor, e uma que eu raramente ouvia em uma conversa, mas não
poderia concordar mais.

20 ALEX
Não se podia realmente bater na porta neste lugar,
principalmente porque havia muito poucas delas por perto. A maioria
das casas e construções tinha arcos abertos ou cortinas decorativas.
A casa de Saar, a casa simples de pedra e barro, tinha uma cortina
na porta da frente e nenhuma outra nos poucos cômodos. Como tal,
uma voz inesperada de alguém do lado de fora me acordou com um
sobressalto.

Eu pulei. Minha bochecha — e o peito de Saar — estavam


molhados de baba, e enxuguei tudo apressadamente enquanto Saar
acordava.

— Entre! — ele falou, grogue.

— Espere...

Samil entrou no quarto, e eu gritei, rolando do corpo de


Saar e praticamente me jogando debaixo das cobertas.

O pai ômega de Saar, ou como ele o chamava, om-pai, fez


uma pausa, me olhando de forma estranha, e eu percebi que
tínhamos literalmente tomado banho juntos. Agir modestamente
agora era um pouco desnecessário.

— Lamento vir tão cedo e sem avisar — disse ele —, mas


há algo que deve ser discutido.

Seu olhar, normalmente gentil e compreensivo, estava fixo


em mim. Desconforto me encheu. Eu soube imediatamente que era
algo a ver com os humanos. Será que já tinham atacado? Será que
Blaine foi incapaz de segurá-los por mais tempo?

Lentamente, Saar se sentou.

— Om-pai, o que aconteceu?


— Vistam-se e venham para fora, vocês dois. Seu pai lhe
dará a notícia e, em seguida, caberá a Alex explicar.

Um calafrio me encheu enquanto eu observava Samil sair


do quarto, dando-nos a nossa privacidade novamente.

— O que foi? — Saar perguntou, virando seu olhar


preocupado para mim.

Eu balancei minha cabeça.

— Não tenho certeza — eu disse, honestamente.

Juntos, nós nos levantamos.

Saar pegou uma das minhas novas roupas para mim. Outro
arranjo decorativo de tecidos em camadas que era impossível de
entender. Esmeralda, desta vez.

Ele me ajudou a encontrar as mangas e a faixa da cintura,


e uma vez que eu estava pronto, ele cuidou de sua própria roupa
que, como todas as roupas alfa, era mais simples e menos
decorativas, mas ainda pendentes, como uma versão mais sexy de
uma toga em seu corpo tonificado.

Quando ele se virou ansiosamente para a porta, eu agarrei


seu braço, parando-o instintivamente.

Pânico foi crescendo em mim, a pressão aumentando, e eu


não sabia o que fazer, exceto aceitar que esta pequena lua de mel
provavelmente tinha acabado agora, e eu não queria que terminasse.

— Por favor me perdoe.


As palavras saíram da minha boca antes mesmo de eu saber
o que ia dizer.

Saar franziu a testa, mas não respondeu nada por um


momento.

— Eu achei que você não soubesse do que se trata.

— Eu sei que é algo sobre nós... Sobre mim,


especificamente. — Eu engoli em seco. — Eu disse que não posso
ficar aqui...

A mandíbula de Saar ficou tensa.

— Eu gostaria de ver qualquer coisa capaz de me convencer


a te deixar partir.

Com isso, ele se virou e saiu do quarto, foi para a sala


principal através da cortina que os separava.

Eu o segui, mais contido. Meus pés não queriam me levar.


Eu queria rastejar de volta para debaixo daquelas cobertas e fingir
que nada de ruim poderia acontecer aqui.

Mas se esconder da realidade nunca funcionou, então eu


segui em frente para a luz da noite.

Saar estava parado em silêncio do lado de fora, todo o seu


corpo rígido. Seu om-pai estava ao seu lado. Outros estavam
esperando, também, outros alfas que eu reconheci, principalmente
do nosso casamento, e até um que eu tinha certeza de ser o último
que Saar derrotou no leilão.
Eles eram do conselho alfa, eu percebi.

Isso era sério. Provavelmente uma invasão. Será que algum


dos nassa foi ferido? Talvez até morto?

Meu estômago afundou.

— Não vamos deixar o Chefe Alfa Kion esperando — o


grande alfa disse, liderando o caminho.

Nós começamos a andar, uma grande e sombria fila de


alienígenas escoltando o humano solitário. Eu não pude resistir a
estender a mão e agarrar a de Saar.

Ele olhou para mim e a apertou.

Um pouco da tensão diminuiu dos seus ombros, mas meu


coração ainda estava acelerado.

A caminhada até o prédio do conselho alfa provavelmente


foi curta, mas parecia que levou horas. Eu queria que demorasse
ainda mais.

Lá dentro, meu olhar foi atraído para o antigo console de


comunicações. Ele foi acionado e estava em pleno funcionamento,
embora não houvesse ninguém do outro lado.

Kion e sua segunda, Alya, estavam no centro da sala. Kion


andava de um lado para o outro, parecendo preocupado. Por um bom
tempo, ele não olhou para nós quando entramos.
Os demais se espalharam, alguns se sentando, outros de pé
junto à parede, como se assistindo ao espetáculo que estava prestes
a acontecer.

— Al-pai — Saar rosnou. — Por favor, explique isso.

Finalmente, Kion parou de andar e ergueu as vistas.


Entretanto, ele evitou o olhar de seu filho, fixando-o em mim com
uma nota sombria.

Fazia muito tempo desde que eu encarei o olhar


desaprovador de um adulto. Com apenas um olhar, eu me senti como
uma criança de escola novamente.

— Acho que seu companheiro é quem precisa explicar —


disse ele. — Sobre seu outro companheiro.

Saar congelou.

Eu congelei.

Literalmente, ninguém se moveu até que Saar soltou uma


risada completamente desprovida de humor.

— O que você está dizendo?

Ele olhou para mim, incrédulo.

— Alex, o que ele está tentando dizer?

Infelizmente, eu não podia explicar porque não fazia ideia


do que diabos ele estava falando. Eu balancei a cabeça,
completamente perdido.

— Eu não...
— Chega de mentiras — disse o alfa do leilão, a voz tingida
de satisfação, e Saar se virou para ele, um rosnado nos lábios.

— Não fique tão animado, Eisa.

— Ele está certo — Kion disse severamente. — Isso não é


brincadeira. Quer meu filho tenha te superado ou não, ele não deve
ser ridicularizado nesta situação, apenas para acalmar seu ego. —
Os lábios de Eisa se torceram em desagrado, mas Kion continuou: —
Talvez precisemos de privacidade neste assunto delicado — disse ele.
— Vocês estão todos dispensados.

Eu fiquei em silêncio, o estômago revirando quando todos


saíram da sala. Quando finalmente ergui as vistas, apenas os pais de
Saar permaneceram na sala.

— Qual o significado disso? — Saar exigiu.

Samil balançou a cabeça, os olhos cheios de compaixão,


agora.

— O companheiro humano de Alex nos contatou — disse


ele, gentilmente.

Saar apenas piscou. Nenhuma palavra lhe ocorreu. Eu pude


ver o choque e a confusão em seu rosto. Eu queria confortá-lo, mas
não consegui me mexer. Um humano entrou em contato com eles
alegando ser meu companheiro. Era um plano interessante. Usar a
cultura deles contra eles, convencendo-os a me devolver em vez de
ameaçá-los, exatamente como eu disse a Blaine para fazer. De certa
forma, era genial. Se tivesse sido feito no dia em que fui sequestrado,
eu teria ficado encantado. Do jeito que era, eu fiquei arrasado.

Saar ficaria muito magoado.

Eu estendi a mão e segurei seu braço.

Ele não se afastou, e eu me agarrei a ele.

— Ele exige Alex de volta — disse Kion. — E se for verdade...


nós realmente não temos mais direito a ele.

Saar ficou muito quieto.

— Nosso vínculo não teria se estabelecido — ele finalmente


argumentou.

— Aparentemente, o vínculo de acasalamento de um


humano não é o mesmo que o nosso — disse Kion. — Eles estão
ligados apenas pelo espírito. Seu corpo teria permanecido não
reivindicado. Como o espírito dele já está ligado a outro, o vínculo de
vocês não pode ser real.

Lentamente, Saar se virou para mim, sua expressão


ilegível.

— Alex, é verdade? — ele perguntou. Sua voz muito baixa,


como se ele estivesse com medo de verbalizar a pergunta.

— E-eu não sei o que dizer.

Aparentemente, a falta de negação foi toda a confirmação


de que Saar precisava, porque ele arrancou o braço de mim e
atravessou a sala. Suas mãos foram para os seus cabelos, puxando-
os, e ele começou a andar de um lado para o outro.

Meu coração apertou e torceu. Eu não sabia o que fazer.

Agora que eu tinha recebido a desculpa perfeita, o motivo


perfeito para fugir, eu não queria. Eu queria lutar com unhas e dentes
para permanecer aqui, confortá-lo e dizer a verdade. Mas isso
significaria pintar os humanos como mentirosos não confiáveis. Isso
significaria trair minha própria espécie e possivelmente pôr a deles
em perigo.

Eu fiquei congelado, minha voz presa na garganta, incapaz


de fazer ou de dizer qualquer coisa.

— Diga-me, Alex — Kion falou, gentileza em sua voz. — Foi


por isso que você lutou para retornar ao seu povo?

— Por que você não disse que já estava comprometido? —


acrescentou Samil.

De repente, eles pareciam quase solidários, o que só piorou


as coisas.

— Eu não entendi. Nós não temos companheiros... Eu não


sabia do que vocês estavam falando, no começo. Eu não sabia que
eu poderia estar ligado a alguém do jeito que vocês são, aqui.

Saar fez um ruído estrangulado do outro lado da sala.

Ele não olhou para mim, seus ombros subindo e descendo


rapidamente.
— Quando você disse que esteve com outra pessoa antes,
eu presumi que seu companheiro havia falecido — disse Samil. — Eu
não imaginava que ele ainda estivesse vivo. Que ele viu você ser
levado. Você ficar aqui sem poder falar com ele, deve ter sido muito
traumático.

— O que você quer dizer com ele viu? — Saar, de repente,


exigiu. — Ele esteve aqui?

— O outro humano com quem nos sentamos — disse Kion.


— Blaine.

— Aquele com quem Alex estava desesperado para


conversar no dia do leilão — acrescentou Samil.

Os dois estavam absolutamente tristes. Eles deviam estar


vendo a situação do ponto de vista de um casal, imaginando um
dilacerado, e o outro, forçado a se unir a outra pessoa. Pelo que eu
sabia dos nassa, isso seria um destino pior que a morte.

O que isso significava para Saar? Uma vida depois de perder


seu companheiro... Eu não podia imaginar o que ele passaria.

— Por favor, eu posso falar com Blaine? — perguntei.

Saar se virou para mim, finalmente me encarando com


olhos arregalados e descontrolados.

— Alex, não.

O tom súplice em sua voz quase me matou.


Eu balancei a cabeça apenas para tranquilizá-lo, mas não
falar com Blaine sobre o que ele tinha feito não mudaria em nada a
situação. Os nassa ainda me mandariam de volta para o meu
“companheiro de direito”, quer ele realmente existisse ou não.

— Saar — Kion disse gentilmente —, eu prometi a ele dias


atrás que ele poderia falar com Blaine quando quisesse. Eu não vou
voltar atrás na minha palavra. Especialmente não agora.

— Vamos esperar lá fora...

— Eu não vou embora.

Saar atravessou a sala, seu grande corpo intimidante


enquanto ele se aproximava de mim. Ele parou alguns metros na
minha frente, me observando, turbulência em seu olhar dourado.

— Faça sua ligação. Na minha frente — ele disse. — Não sei


por que, mas vocês dois estão mentindo.

— Saar!

— Com todo o respeito, al-pai, se ele está realmente


acasalado com outra pessoa, então eu mereço ouvir isso em primeira
mão.

Os outros dois esperaram até que eu finalmente assenti.

Ainda assim, eles nos observaram com expressões


preocupadas enquanto recuavam. No momento em que partiram,
Saar cedeu. Não havia necessidade de fingimentos estando só eu. Eu
pude vê-lo por inteiro, inclusive toda a dor crua escrita em seu rosto.
— Saar...

— Basta fazer a chamada — disse ele calmamente.

Ele caminhou até a máquina, mas passou por ela, parando


onde não seria visto pela câmera, então olhou para mim, esperando.

Engolindo em seco, eu fui até a tela iluminada e fiz a ligação.


A conexão levou todo um minuto, num console tão antigo, mas
quando a imagem mudou, o rosto de Blaine encontrou o meu, tenso
de preocupação.

— Oh, graças a Deus — disse ele. — Você parece bem. Você


está bem? Você está machucado?

— Eu estou bem.

— Você sumiu por dois dias. Nenhuma comunicação.


Ninguém atendeu minhas ligações até esta manhã.

— Eu sinto muito.

Meu olhar cintilou para Saar. Ele estava encostado no


console, o olhar fixo na parede, mandíbula firme e expressão
sombria.

Blaine me olhava atentamente. Ele provavelmente viu para


onde meus olhos viajaram porque parou de divagar, me observando
de perto enquanto esperava que eu falasse. Ele sabia que não
estávamos sozinhos.

— Você disse a todos que estamos juntos...


— Bem, nós não estamos? Já somos parceiros há cinco
anos. Você não pode negar isso.

Meu olhar caiu. Eu senti os olhos intensos de Saar se


voltarem para mim, praticamente abrindo um buraco.

— Olha, Alex, eu sei que você não quer machucar essas


pessoas, mas já chega. Eles roubaram você, me forçaram a sair do
planeta e forçaram você a um casamento que você não queria. Nós
combinamos de ir até aí amanhã de manhã para trazê-lo de volta.
Se alguém interferir, eu tenho apoio, incluindo algumas armas bem
desagradáveis.

Meu corpo gelou.

— Blaine, por favor, não faça isso. Desative o backup.


Ninguém está me tratando mal aqui.

— Não cabe a mim. isso é maior, Alex. Eu sei que você está
fora do circuito, mas alguns figurões estão envolvidos. Isso está
sendo coberto em todo o universo. Se alguém sair da linha amanhã,
eles lançarão bombas. Grandes — ele enfatizou. — Do tipo que vão
achatar aquelas montanhas e transformar suas cidades em pó.

Eu balancei a cabeça fervorosamente, medo e bile subindo


por minha garganta.

— Não. Blaine...

Ele suspirou, toda a agressão derretendo em seus ossos


enquanto ele se aproximava da câmera.
— Tem sido difícil, Alex — disse ele. — Eu não consegui
convencer esses alienígenas sobre nada além de ser seu
companheiro. O exército nem se importa que você esteja aí, neste
momento. É mais sobre ensinar uma lição aos nassa do que te trazer
de volta. Estou fazendo tudo que posso para tirar você de Mukhana
sem causar uma tragédia.

Eu não podia negar o quão cansado e desgastado ele


parecia. Eu nunca vi Blaine assim, à beira da derrota.

— Me desculpe — eu disse baixinho.

Ele riu.

— Nada disso é culpa sua. Eu só quero você de volta.

De repente, Saar se moveu, seu punho atingiu o console


com um estrondo alto, faíscas voaram, o vidro quebrou e o sinal já
fraco morreu.

Eu pulei, chocado. Quando ele se virou para mim, eu me


encolhi, mas ele apenas me pegou pelos ombros gentilmente, me
fazendo encará-lo, o peito arfando, traição em seus olhos.

— Alex, como você pôde fazer isso?

— Eu não... me desculpe.

Lágrimas picaram meus olhos, e minhas mãos subiram,


envolvendo seus antebraços, segurando-o com força.

— Eu não queria que nada disso acontecesse. Eu não queria


acasalar com ninguém aqui. Você me forçou...
O aperto de Saar aumentou e, de repente, ele me soltou,
marchando para longe e parando quando chegou à parede, de cabeça
baixa.

Ele suspirou, estremecendo.

— Eu achei que estava ajudando você.

O tom de sua voz, tão distante e confuso, poderia muito


bem ter sido uma facada em meu estômago.

— Eu sei. Foi por isso que eu disse a eles para não atacar.
Eu gostei do seu povo imediatamente. Eu não queria que nada de
ruim acontecesse com nenhum de vocês, mas eu não tive voz em
nada disso... Eu queria escapar, mas então, nos leilões, você se
machucou e foi tão legal comigo, e então, quando você me beijou...

Minha voz falhou.

Deus, eu era tão patético, admitindo que o beijo dele me


afetou tanto que eu pensei em desistir e ficar aqui.

Se eu não partisse de manhã, não sobraria nada deste


planeta, e todos nós morreríamos. Eu não tinha mais voz no assunto
e só podia imaginar o que seria dito, se eu usasse o apelo sexual de
Saar como meu argumento para ficar.

Saar se virou e estava me observando, agora, uma


expressão estranha em seus olhos enquanto ele buscava algo em
meu rosto.

Da porta, a voz de Kion quebrou o silêncio:


— Você está satisfeito, agora? — ele perguntou ao filho.

Ele nos observava de perto, decepção e tristeza em seus


olhos. Quando ele voltou para a sala, eu não tinha certeza. Era
possível que tivesse estado aqui a maior parte disso.

Envergonhado, apesar de mim mesmo, eu abaixei minha


cabeça, incapaz de olhar para qualquer um deles enquanto outros se
infiltravam na sala.

— Eu tenho que voltar, ou os humanos vão recorrer à


violência — eu disse, e fiquei chocada com o nível da minha voz. —
A raça humana se expandiu pela galáxia, muitas vezes à força. O que
nos falta fisicamente, compensamos com nossa tecnologia. Nossas
armas podem transformar uma cidade inteira em cinzas, incluindo
todos os nassa. Nenhum de vocês me ouviria antes, então, por favor,
aceitem minha palavra agora.

— Isso é uma ameaça? — Eisa exigiu.

Eu o olhei diretamente nos olhos e assenti.

— É uma ameaça. Meu parceiro acabou de me contar os


planos, mas tenho certeza de que vocês já haviam sido informados.

— Nós fomos — Kion concordou —, e não haverá


necessidade. Não ficaremos mais entre você e seu companheiro.

— E quanto a mim?

A voz baixa de Saar chamou a atenção de todos. Ele ficou


no meio deles, sua expressão sombria, simplesmente me encarando.
— Você deixou um companheiro e agora planeja deixar
outro.

— Saar...

— Você vai me deixar aqui, mesmo pertencendo mais a


mim?

Ele se moveu na minha direção e estendeu a mão,


gentilmente passando-a pelo meu cabelo, seu olhar se enternecendo.
Eu estremeci, meu corpo traidor se inclinando levemente ao toque.

— Isso vai ser difícil para você, Saar — disse Samil à


distância. Tudo que eu podia ver era Saar, eu não podia acreditar
que nosso tempo juntos tinha sido tão curto. — Você deve aceitar
que ele está indo embora.

Suas palavras me tocaram. Doeu ouvi-las. Mesmo se


estivéssemos condenados desde o início, mesmo que eu soubesse
isso, ainda doeu como o inferno. Observando-me de perto, a
expressão de Saar ficou mais severa diante dessa declaração.

Ele afastou as mãos do meu cabelo e bochecha, onde elas


tinham parado, e acariciou meus braços até minha cintura. De
repente, eles se apertaram ao meu redor.

— Sobre o meu cadáver — ele rosnou.

E com uma enorme sensação de déjà vu, ele pulou, me


levando pelo teto novamente, assim como ele tinha feito naquela
primeira noite.
Eu me agarrei a ele quando pousamos no telhado com um
baque. Gritos começaram abaixo de nós, e meu coração disparou, a
esperança se agarrando estupidamente em meu íntimo. Nós não
íamos conseguir. Nós não poderíamos fugir disso. Mas cada
momento com ele era precioso, então eu o segurei enquanto ele
pulava de prédio em prédio, seu rosto, uma carranca determinada.

21 SAAR
Eu queria barricar Alex e a mim em nossa casa e abraçá-lo
com força até que tudo isso passasse, mas eu sabia que não iria
funcionar. Nossa casa era muito fácil de invadir. Dentro de minutos,
os outros estariam lá, e embora eu estivesse disposto a lutar por ele,
o que eu faria, se chegasse a isso, eu não podia arriscar que eles o
levassem.
Eu o carreguei pelos prédios e para fora da cidade. Ao longe,
pude ouvir alguma comoção, outros nassa chamando.

Eu tinha certeza de que eles já estavam vindo atrás de nós.


Quando olhei para trás pela primeira vez, a apenas alguns prédios
de distância, Eisa e Alya já estavam atrás de mim. Felizmente, eu
era mais rápido e mais forte que eles, e com algumas manobras
rápidas em casas e becos, eu os despistei.

Eu olhei para Alex, seu rosto enterrado no meu peito, suas


mãos agarradas aos meus ombros.

Todo o meu ser sentiu dor ao pensar em perdê-lo.

A conversa que eu ouvi soou em meus ouvidos. Seu


companheiro original, o homem humano de quem eu o roubei,
parecia zangado, e com razão, disposto a fazer qualquer coisa para
recuperá-lo. Eu poderia entender isso. Alex era especial. Mas ele
também era meu.

Eu tinha ouvido em sua voz, suas doces palavras me


dizendo abertamente como eu o havia afetado com minha
personalidade e meu beijo. Qualquer que fosse a relação entre eles,
ele queria estar aqui comigo, disso eu tinha certeza.

Quando chegamos à fronteira de Diwan e ao último dos


prédios, eu pisei na terra macia e arenosa, colocando-o
cuidadosamente de pé.
Por um bom tempo, Alex olhou para mim, então um sorriso
suave tocou seus lábios rosados, e um pouco do estresse acumulado
dentro de mim evaporou.

— Isso é loucura — ele disse.

— Mas você está feliz por isso, não está?

Ele suspirou, estremecendo, e mergulhou para frente, na


ponta dos pés, suas mãos me puxando para baixo desesperadamente
num beijo apaixonado.

Eu gemi, meus braços envolvendo-o, puxando-o para perto


enquanto meu coração apertava.

— Eu sinto muito — Alex sussurrou contra os meus lábios,


e quando me afastei, eu percebi que lágrimas nublavam seus olhos.
— Eu sinto muito.

— Alex — eu falei —, nós temos que continuar.

Sua mão na minha, eu o guiei em direção às árvores finas


que cercavam a Selva de Baytana.

— Aonde estamos indo? — ele perguntou.

— Para as árvores, onde será mais difícil nos encontrar.

Alex não discutiu. Ele apenas caminhou comigo,


confirmando a cada passo o que eu já sabia — que ele queria estar
ao meu lado. Ele precisava estar com o seu companheiro da mesma
forma que eu.
— Você está com fome? — eu perguntei, enquanto
avançávamos no mato. As árvores eram esparsas, aqui, mas ainda
ofereciam sombra do sol poente, abaixando ainda mais a
temperatura, à medida que o mundo começava a esfriar com a noite
que se aproximava.

— Eu não conseguiria comer — disse ele.

Ele parecia tão triste. Eu queria ajudá-lo, mas minha mente


e coração estavam amarrados em nós de dor. Eu o parei e o puxei
para a base de uma grande árvore e para o meu colo.

Nossos braços se abraçaram ao mesmo tempo, apenas


segurando, sentindo a forma como nossas respirações se moviam
juntas.

— Como isso aconteceu? — eu finalmente perguntei. —


Conte-me tudo. Por favor.

Alex assentiu.

— Claro — ele sussurrou, me beijando novamente. — Tudo.

Eu esperei, mas ele ficou em silêncio.

— É muito doloroso falar? — Eu imaginei.

Ele encolheu os ombros.

Eu pude sentir a forma como sua respiração ficou presa e


seu coração disparou. Seus olhos estavam distantes. Doeu vê-lo
assim. Eu não sabia como ajudá-lo.
Finalmente, ele respirou fundo e soltou o fôlego lentamente,
os olhos fechados.

— Acho que isso está trazendo muita coisa à tona — disse


ele.

— Recordações? — eu perguntei.

Ele assentiu, encontrando meu olhar, seus olhos azuis


cristalinos tão incertos que dei um beijo em seus lábios para acalmá-
lo. Quando me afastei, ele estava um pouco mais calmo. Ele até
conseguiu dar um sorriso.

— Eu não deveria estar tão chateado — disse ele. — É


estúpido, na verdade.

— Como isso é estúpido? — eu perguntei, ofensa crescendo


em mim. — Claro, vale a pena ficar chateado.

Ele engoliu em seco.

— Eu sei que você não vai entender, mas como um homem


humano, eu fui ensinado a manter uma fachada de que está tudo
bem. Apresentar uma frente corajosa. Não demonstrar fraqueza.

Eu fiz uma careta, confuso, esperando por uma explicação


mais clara.

— Quando deixei a Terra, eu não chorei. Eu me despedi dos


meus pais e não os vi desde então. No começo, nós nos ligávamos,
pelo menos, mas agora, mal fazemos isso. Eu estava sozinho naquela
nave. Por anos, a única pessoa que eu tive foi Blaine, mas... — Ele
riu. — Honestamente, eu não sei muito sobre ele. Eu o conheço, não
me entenda mal. Ele é uma boa pessoa e sempre me apoia, mas
nunca fomos muito ligados, sabe? Eu ainda era sozinho.

Ele sorriu tristemente enquanto minha mente girava.

— Eu sei que ainda não nos conhecemos muito bem, mas é


diferente com você.

Eu sabia que ele não poderia ser feliz com aquele homem,
mas ainda me sentia confuso.

— Como os humanos acasalam? — eu perguntei. — Você


disse que era diferente.

Ele assentiu e pareceu procurar as palavras.

— Nós não sabemos quando alguém é feito para nós, do


jeito como é aqui. Mesmo depois de escolher alguém, isso não é
garantia de que vocês ficarão juntos.

Por um momento, eu fiquei atordoado.

— Então, você não tem que ficar com ele. Você pode ficar
comigo.

Ele mordeu o lábio.

— Se as coisas tivessem acontecido de forma diferente,


talvez eu pudesse.

Meu coração afundou antes que ele continuasse. Eu sabia o


que ele ia dizer.

— Eu não posso ficar aqui com você, por mais que eu queira.

— Não diga isso — eu sussurrei.


Quando ele começou a discutir, eu o beijei para impedir que
as palavras terríveis saíssem de sua boca. Sua cabeça se inclinou, os
lábios entreabertos. Ele queria mais, e eu aprofundei o beijo, me
agarrando a ele enquanto lágrimas salgadas tocavam nossos lábios.

Eu o deitei na terra macia, a paixão crescendo em nós como


uma. Suas mãos se agarraram a mim, quase machucando, me
puxando para mais perto, arqueando-se para mim. Ele empurrou seu
comprimento duro ao longo do meu, gemendo, implorando por mais,
e eu lhe dei, empurrando seu roupão para cima e lubrificando sua
entrada como havia feito das outras vezes.

As pernas de Alex envolveram meus quadris, e ele as


levantou, levando meu membro para si, embora eu não achasse que
ele estava pronto. Quando eu mal me coloquei em sua entrada, ele
se abaixou e a guiou para dentro, pressionando-me impiedosamente.

Eu sibilei, meio em desconforto, meio com prazer. Ele


estava quase apertado demais para penetrar, e não lubrificado o
suficiente, mas ele não desistiu, trabalhando seus quadris para cima
e para baixo até seu corpo começar a relaxar.

— Saar — ele engasgou. — Me dê, por favor.

Finalmente, eu não pude mais resistir a ele. Ele queria


assim, fosse desconfortável para ele ou não. Quem era eu para
discutir? Então, comecei a empurrar.
— Mais — ele implorou, e novamente, eu cedi, me
afundando mais, com mais força, batendo-o na terra macia enquanto
ele gritava de prazer, seus gritos sendo transmitidos ao ar livre.

— Seu nó — disse ele de repente, erguendo a cabeça para


encontrar o meu olhar, seus olhos ainda nublados com lágrimas não
derramadas.

Ele estava sofrendo.

Isso me matou, mas eu não podia fazer nada além de lhe


dar o que ele precisava — aqui e agora. Eu pressionei, continuando
a empurrar quando seu corpo resistiu a mim. De repente, eu
transpus o anel apertado dos seus músculos, e nós dois gememos.

Todo o corpo de Alex ficou imóvel e tenso. Eu me esforcei


para permanecer imóvel enquanto minha ereção pulsava por mais.
Eu queria gozar profundamente dentro dele, me enterrar nele com
força, assim como ele queria.

Na verdade, talvez eu precisasse tanto quanto ele. Para


deixar sair a raiva e a agressão dentro de mim, que não tinha para
onde ir além desse ato de amor.

Finalmente, os músculos tensos de Alex relaxaram um


pouco mais, transformando-se de um estrangulamento em algo mais
suportável.

Eu comecei a me mover, empurrando nele os centímetros


que eu podia, sem remover meu nó do seu calor apertado.
Seus olhos rolaram, o corpo flexionando com prazer,
ofegando e gemendo incoerentemente.

E foi demais.

Vê-lo assim, senti-lo assim, o puro prazer não adulterado


me percorrendo, sufocando as demais sensações. Eu enterrei meu
rosto em seu pescoço, respirei seu aroma delicioso e doce e
pressionei profundamente meus quadris, feliz pela firmeza do chão
para mantê-lo imóvel enquanto eu esfregava nossos corpos juntos.

O prazer se formou como um aglomerado em meu abdômen


e meu eixo, e eu não aguentei mais. Eu me empurrei profundamente
e gemi enquanto meu comprimento latejava, me derramando dentro
dele repetidamente, jorros de prazer me percorrendo
insuportavelmente enquanto eu gozava.

Alex engasgou, seu corpo inteiro estremeceu, então, ele


também alcançou o ápice, seu clímax se derramando entre nós.

Estremecendo, eu consegui nos rolar para que estivéssemos


de lado, de frente um para o outro, Alex cuidadosamente em meus
braços, a cabeça agora descansando no meu braço.

Seu cabelo cor de areia e curto estava caído sobre a minha


pele. Ele estava corado pelo prazer que tínhamos experimentado. Eu
amava que sua pele expressasse seus humores.

Ele olhou para mim com olhos azuis sonolentos e, por um


momento, todo o meu ser sentiu paz.
— Eu te amo — eu disse. — Seu olhar vacilou, emoções
infelizes já retornando. Imediatamente, eu soube por que eu não
deveria ter dito isso. — Você realmente quer voltar.

Um sorriso triste tocou seus lábios. Ele se inclinou e beijou


os meus ternamente.

— Eu tenho que ir — disse ele. — Eu nunca me perdoaria —


ou a você — se algo acontecesse ao seu povo por minha causa.

Sua mão se estendeu, afastando meu cabelo do meu rosto.


Ele acariciou minha bochecha em seguida, então meus lábios.

Eu o beijei novamente, a dor me transpassando quando


percebi o motivo do seu desespero quando fizemos amor. Era porque
seria a última vez.
22 ALEX
Ninguém nos encontrou onde nos aconchegamos a noite
toda, enroscados nos braços um do outro. Nenhum de nós conseguiu
dormir, mas olhamos as estrelas juntos.

Através das grandes e estranhas folhas roxas das árvores


acima de nós, pudemos distinguir muitas das constelações vistas
apenas de Mukhana.

Saar me contou histórias sobre cada uma delas.

Minha favorita era o Alfa Viril, uma constelação que


reconhecidamente parecia uma pessoa com tesão, hilária do meu
ponto de vista, mas Saar não entendeu por que eu achei tão
engraçado.

O ar da noite estava frio, mas as árvores ofereciam alguma


proteção contra ele, e o corpo de Saar, enrolado no meu, foi o
suficiente. Meu calor nos aqueceu, e quando começamos a nos beijar
novamente, no meio da noite, meu fluxo sanguíneo tomou conta do
resto.

Dessa vez, Saar começou com aqueles beijos incríveis.


Quando ele se inclinou sobre mim, eu não discuti sobre um último
boquete. Claro, dos lábios de Saar, parecia muito mais íntimo do que
qualquer outro que eu já recebi. Parecia que ele queria me dar algo
especial. Prazer, e felicidade, e amor, e essa era sua maneira de fazer
isso.

Eu retribuí, tomando o máximo dele em minha boca,


esperando que ele pudesse sentir o mesmo de mim. Eu o chupei
como se minha vida dependesse disso, despejando todas as emoções
confusas que sentia no ato, e acho que ele entendeu, porque quando
levantei a cabeça e vi o jeito que ele estava olhando para mim, não
havia nada além de amor, e compreensão, e derrota em seus olhos.

Eu tentei não pensar em mais nada. Fingi que esta era


apenas uma noite perfeita que não estava acontecendo na véspera
do nosso rompimento iminente. Eu ignorei a forma como meu
coração doeu quando ele me tocou. Eu não pensei em nada além do
fato de que ele já me amava e eu... bem, eu não tinha certeza. Nós
não nos conhecíamos há muito tempo, mas... tudo o que eu sabia
era que quando o sol da nova manhã nasceu, parecia que meu
coração estava aos pedaços.

Eu observei sua forma, os longos cílios contra suas


bochechas e a expressão perturbada em seu cenho até que o
desconforto começou a me comer. Era a hora de ir.

Quando coloquei a mão no ombro de Saar, ele se moveu


imediatamente, os olhos se abrindo para encontrar os meus, com
pesar. Não dormindo, então, apenas esperando.

— Você vem comigo? — eu perguntei.

Ele engoliu e assentiu.


— Claro.

Nós caminhamos em silêncio, nossas mãos entrelaçadas por


todo o caminho entre a cidade e a selva onde passamos nossa última
noite juntos.

Uma estranha dormência se abateu sobre mim, e eu sabia


que Saar estava se sentindo igual porque seu rosto estava neutro
enquanto caminhávamos. A tristeza havia desaparecido dos seus
olhos. Ele se movia como se simplesmente estivesse no piloto
automático.

Quando chegamos à cidade, fomos vistos imediatamente


pelos guardas. Não é de surpreender que eles estivessem procurando
por nós, afinal, se eu não estivesse lá quando os humanos
chegassem para me buscar, o planeta inteiro estaria em perigo.

A patrulha não falou muito, apenas nos escoltou pelas ruas


em direção ao prédio do conselho onde, ao que parece, os outros já
estavam reunidos.
Suspirando de alívio quando aparecemos, Kion correu em
nossa direção. Ele não veio até mim, mas até seu filho, colocando
uma mão em cada um dos seus ombros e olhando-o diretamente nos
olhos.

— Você fez a coisa certa ao retornar — disse ele.

— Ele nos fez sair a noite toda procurando por ele,


preocupados que o nosso povo fosse morto — rosnou Eisa.

— Você pode culpá-lo? — Alya perguntou do outro lado da


sala.

— Estamos aqui, agora — eu disse, interrompendo a


interação. — E não estamos muito atrasados, certo?

— Você chegou bem na hora.

Juntos, nosso grupo caminhou para a luz brilhante da


manhã, deixando a cidade e iniciando a jornada de retorno ao local
onde as cápsulas haviam pousado originalmente.

Parecia tanto tempo atrás...

Era estranho pensar no quão desesperadamente eu queria


correr de volta para as cápsulas, naquela noite. Eu tinha estado tão
assustado e desesperado para sair, e agora que finalmente iria, eu
não queria mais.

À nossa frente, no céu, as cápsulas desceram novamente,


bolas brancas com janelas sombreadas na frente, o que significava
que eu não podia ver nenhuma das figuras lá dentro. Havia mais
deles do que da última vez que descemos — cerca de vinte, no total.
Soldados, sem dúvida.

Meu estômago se revirou de nervoso, e eu tropecei até


parar, apertando a mão de Saar com força, forçando-o a parar
comigo.

— Fique aqui — eu sussurrei. — Por favor.

Ao nosso redor, os outros nassa pararam, se virando para


me olhar.

— Eles trouxeram reforços — eu disse. — Se alguém fizer


um movimento errado...

Eu engoli em seco, incapaz de terminar a frase.

— Você está com medo do seu próprio povo — disse Saar.


Sua voz soou torcida com emoções reprimidas, a angústia voltando
aos seus olhos. — Há uma razão pela qual eu tirei você deles, em
primeiro lugar.

— Eu sei — eu engoli. — Mas não estou com medo por mim.


Estou com medo por você.

Eu me levantei, puxei-o para um último e demorado beijo,


então, sem encontrar seu olhar, sem nem mesmo olhar para trás, eu
parti.

Eu meio que esperava que ele me parasse, me puxasse para


mais um abraço, mas quando meus pés tocaram a areia sob minhas
sandálias, eu percebi que, desta vez, ele estava realmente me
deixando ir.
Eu não queria as lágrimas fazendo meus olhos arderem. Eu
queria estar calmo, frio e controlado quando chegasse às cápsulas.
Mas não pude impedir que elas caíssem pelo meu rosto no momento
em que elas pousaram.

As portas se abriram, e as pessoas saíram. Blaine foi um


dos primeiros a pisar na paisagem desértica. Ele marchou em minha
direção, viu meu rosto e amaldiçoou. Ele me puxou para um abraço
brutal.

— Eu sinto muito — disse ele. Quase parecia que ele estava


chorando também. — Eu sinto tanto por ter te deixado. — Ele se
afastou para me encarar com olhos vidrados e sorriu sombriamente.
— Jesus, eles te vestiram como um concubino.

Mesmo a contragosto, eu ri através das lágrimas. Eu senti


falta dele. As emoções conflitantes eram demais, e as lágrimas
recomeçaram.

— Vamos — disse Blaine. — Vamos deixar tudo isso para


trás.
Eu não consegui encontrar as palavras para dizer a ele que
deixar tudo isso para trás era todo o maldito problema.

23 SAAR
Meu coração se apertou enquanto eu assistia os amantes se
reunirem. Mesmo à distância, a forma como o verdadeiro
companheiro de Alex o puxou para um abraço apertado quase me
matou, mas eu teria preferido assisti-los se abraçarem para sempre
do que ver Alex desaparecer numa das pequenas naves e se erguer
silenciosamente para o alto e para longe. Para todo sempre.

— Oh.

Então algo me atingiu como uma força física, e eu me curvei


quando o mundo começou a girar.
Alex se foi. Ele realmente se foi.

— Saar!

A voz preocupada do meu om-pai me alcançou pouco antes


de mãos agarrarem meus bíceps, me segurando.

— Eu o deixei partir.

Minha voz soou diferente, angustiada, mesmo aos meus


próprios ouvidos.

— Eu sinto muito, meu amor — meu pai sussurrou.

Meu al-pai se aproximou pelo outro lado. Ele colocou a mão


no meu ombro.

— Você terá a oportunidade de ter outro ômega — disse ele


com simpatia. — Alex não era a pessoa certa para você, e você não
era a pessoa certa para ele.

— Kion! — meu om-pai advertiu. — Não seja tão insensível.


Ele achava que o vínculo deles era real.

Suas palavras me feriram.

Eu recuei.

— Parem de dizer isso. Foi real.

— Não poderia ter sido real, por mais que parecesse que
era — meu al-pai disse gentilmente.

Eu balancei a cabeça, descrença me enchendo.


— Nós fomos capazes de acasalar — eu disse. — Isso não
teria sido possível se nosso vínculo não fosse real.

Ele trocou um olhar indefeso com meu om-pai, que interveio


para explicar:

— Deve ter sido real, de certa forma — ele disse —, mas


não poderia ter sido um vínculo tão completo quanto você teria com
outro nassa. Os humanos têm corpos muito diferentes dos nossos...
Ele foi capaz de acasalar mais de uma vez. Nós nem sabemos
quantas vezes eles podem fazer isso sem estabelecer um vínculo.

Eu balancei a cabeça em descrença.

— Não fale sobre ele assim.

— Nós gostamos de Alex — ele insistiu —, mas não foi ele


quem nos contou sobre já ter acasalado com outros. Seu
companheiro confirmou o jeito do seu povo para nós em sua primeira
ligação, a propósito. Nós não acreditamos, no começo, mas ao longo
de nossa discussão com ele, outros humanos vieram falar conosco e
confirmaram sua história.

— Ele não é seu companheiro — confirmou al-pai. — Caso


contrário, ele não teria conseguido partir. Sua separação significaria
a morte para vocês dois.

Eu não podia discutir isso.

Quando um par unido era separado por grandes distâncias,


isso só levava ao sofrimento físico ou, se deixado por tempo
suficiente, à morte. No momento em que soube que deixaria Alex
partir, eu me perguntei se sobreviveria sem ele. Agora, ouvindo isso,
sentindo-me tão sozinho quando apenas algumas horas atrás, meu
coração estava tão cheio, certamente parecia que eu não
sobreviveria.

Meu amor se foi, e com ele foram todos os desejos que eu


tinha de felicidade e vida. Eu não podia imaginar querer outro do
jeito que eu o queria. Quando outro ômega estivesse no banco do
leilão, eu sabia que não lutaria por ele. Eu já tinha lutado e, embora
tivesse vencido Alex, de alguma forma, ainda o perdi no final.

— Que pena que a coisinha deu tanto problema — Eisa disse


levemente de onde o resto do conselho estava parado, observando
a exibição. — Dificilmente valeu a pena a chicotada que você levou
no leilão, não é?

Eu olhei para Eisa, encontrei seu olhar altivo diretamente


com o meu antes de responder friamente:

— Você nunca foi acasalado. Eu não espero que entenda


como me sinto agora, ou quantas chicotadas eu levaria para ainda
tê-lo aqui.

Eu passei por meus pais, respirando de forma trêmula, e


não parei até estar bem na frente da pessoa que uma vez chamei de
amigo querido.

Ele inclinou a cabeça para trás, seu olhar severo fixo no


meu.
— A única razão pela qual não estamos juntos agora é
porque ele estava preocupado com os nassa. Ele não queria que você
se machucasse. Então, por favor, fale sobre ele com algum respeito.

Com isso, dei meia-volta e me afastei, de volta à cidade,


embora tudo o que eu quisesse fosse deitar na areia quente e ver as
pequenas naves desaparecerem no nada acima de nós.

Quando eu finalmente olhei para trás, os outros me seguiam


silenciosamente. No alto, o céu estava completamente claro. Como
se Alex nunca tivesse estado lá.

24 ALEX
O banho foi bom. Eu sempre gostei dos chuveiros a bordo.
A ducha era constante e se espalhava uniformemente do teto, caindo
numa onda massageadora sobre meus ombros.
Não importa que eu chorei o tempo todo.

Quando saí para o ar frio e estéril do banheiro, meu corpo


entrou no piloto automático por um tempo, me secando com as
familiares toalhas brancas, e depois jogando-a no chão para secar o
que eu havia espirrado, antes de usar o secador. A sucção dessas
coisas era forte o suficiente para tirar toda a umidade extra do cabelo
em cerca de um minuto. Então eu fiquei olhando para o meu rosto
ridiculamente desamparado.

Parecia que alguém havia chutado meu cachorrinho.

Olhos grandes e tristes, cabelos desgrenhados e precisando


de um corte. Eu tinha raspado a nuca que tinha crescido durante a
minha estadia em Mukhana, e isso me fez parecer ainda mais jovem
e inocente. Eu não parecia alguém que passou dias sendo fodido até
o céu pelo alienígena mais gostoso do espaço e provavelmente —
provavelmente — se apaixonando ao longo do caminho.

Eu não consegui parar de repetir tudo em minha mente.


Meu corpo ainda estava dolorido, saciado e rígido de horas fazendo
amor, sem mencionar subir aquela escada até quase o céu, onde
aceitamos nosso vínculo...

Deus, como eu ia conseguir passar por isso?

Eu não poderia voltar a pular de planeta em planeta com


Blaine como se nada tivesse mudado. Como foi que apenas alguns
dias com Saar agora me faziam sentir como se eu nem me
conhecesse mais — não o velho eu, de qualquer maneira.
A pessoa que se contentava em passar dias sozinho, lendo
livros e olhando pela janela, planejando o próximo encontro
alienígena sem fazer conexões profundas nesse meio termo... esse
cara parecia um estranho para mim.

Afastando esses pensamentos, eu vesti minhas roupas de


dormir. Quase tudo que eu usava há anos era algum tipo de
uniforme, e até as roupas casuais tinham o emblema da nossa
empresa costurado na frente. Este conjunto de pijama não era
diferente — limpo e alinhado da cabeça aos pés, com o logotipo PCH
costurado nas mangas. O velho tecido familiar era macio como
sempre, mas ainda restritivo, em comparação com as roupas de
Mukhana, com as quais eu estava quase começando a me acostumar.
Eu não me importei, porém, com o frio no ar, dada a maneira como
elas se fechavam ao redor da minha forma completa. Era mais
confortável. Ainda era o que meu corpo preferia, depois de uma vida
inteira envolto em roupas humanas ajustadas.

Quando voltei para o meu quarto, Blaine estava sentado lá,


na beira da cama, sem uniforme, em camiseta e calça, esperando
por mim, seu cabelo grisalho desgrenhado.

Seu olhar estava fixo na janela, observando as estrelas,


uma figura serena e solitária, assim como eu. Quando ele se virou e
me olhou, um sorriso tocou seus lábios.

— Isso se parece mais como você — disse ele baixinho.


Eu consegui sorrir de volta, mas não deve ter sido
convincente, porque o sorriso do próprio Blaine deixou seu rosto.

— Alex — ele suspirou. — Eu repassei tudo na minha cabeça


sem parar desde que aconteceu. Eu não deveria ter concordado
quando eles não quiseram a segurança. Foi uma grande bandeira
vermelha, e como seu superior, cabia a mim interromper a missão
ali mesmo. Eu assumo total responsabilidade e sinto muito.

Eu balancei minha cabeça, vindo me sentar ao lado dele na


cama.

— Eu estava tão desesperado para que a primeira missão


que supervisionei corresse bem. Eu teria feito qualquer coisa para
que desse certo. Eu pressionei. Nada disso é sobre você, ou eu, ou
qualquer um. Foi um grande mal-entendido.

Os lábios de Blaine se franziram e, de alguma forma, eu


sabia para onde a conversa iria antes mesmo dele começar:

— Você tem que parar de defendê-los — disse ele. —


Especialmente aquela...

— Pessoa com quem me casei? — eu interrompi. Era para


sair num tom de provocação, mas não havia alegria na minha voz, e
os lábios de Blaine não se contraíram.

— Da última vez que conversamos — ele começou —, você


mencionou algo sobre se casar. Você...

— Sim. Com Saar. — Meu coração se apertou com seu


nome. — Você o conhece... aquele que me carregou.
Ele assentiu.

— Certo. Eu tentei organizar tudo o mais rápido possível,


mas ninguém atendeu minhas ligações por um tempo.

— Porque estávamos tendo a cerimônia de união. É assim


que eles chamam.

— Ah.

Nós ficamos em silêncio, mas o corpo de Blaine estava tenso


com perguntas não feitas. Finalmente, com uma respiração trêmula,
ele perguntou rispidamente:

— E-ele...

Eu sabia o que ele estava tentando perguntar. Uma coisa


específica geralmente seguia um casamento — consumação.
Aparentemente, a expressão em meu rosto respondeu à pergunta
que ele não conseguiu nem fazer.

Ele empalideceu.

— Porra. Alex.

Sua mão se estendeu, pegou meu braço.

— Está tudo bem. Não é o que você está pensando.

— O que você quer dizer com está tudo bem? — Blaine


exigiu. — Você foi estup...

— Não! — eu rebati. — Não foi assim. Estou falando sério


Blaine. Não foi nada demais.
Ele se levantou, andando de um lado para o outro para
canalizar um pouco da agitação que percorria seu corpo. Blaine era
um cara duro e rude. Ele raramente perdia a calma. O fato dele estar
andando de um lado para o outro significava que ele estava
seriamente chateado.

— Como você pode dizer que não foi nada demais, Alex?
Você foi sequestrado e agredido sexualmente. Isso muda tudo.

Minhas bochechas coraram à lembrança da minha primeira


noite com Saar. Passou longe de ser uma agressão sexual, para ser
justo. Na verdade, Saar foi a virgem corada nesta história, e eu o
predador faminto, desesperado para que seu pênis me enchesse.

— Você vai ser entrevistado pela manhã — Blaine disse,


ainda andando. — Isso pode significar que não terminamos com
Mukhana, afinal. Eles vão ter que pagar por isso. O sindicato pode se
envolver. Merda. O médico não percebeu?

— Ele não examinou exatamente minha bunda — eu rosnei,


então percebi o que disse.

Blaine parou. Olhou para mim como se fosse falar alguma


coisa, depois desviou o olhar.

Deus, eu queria que o chão me engolisse. Mas eu já tinha


cavado tão fundo... Eu deixei Saar para protegê-lo e à sua família, e
não ia permitir que ninguém voltasse lá para puni-lo.
— Ele não me estuprou — eu disse depois de uma respiração
profunda. — Nós tivemos uma bela cerimônia e passamos o dia
juntos e... — Oh, Deus, eu não conseguia olhar para Blaine.

O carpete fino prendeu minha atenção. Eu segui o padrão


circular com os olhos enquanto me obrigava a continuar.

— Ele foi legal comigo, e eu estava lá, e... eu acho, eu


apenas aceitei.

Blaine não disse nada por muito tempo.

Finalmente, eu olhei para ele. Eu não sabia o que fazer com


sua expressão. Era ilegível, mas ele estava me observando
atentamente.

— Isso não parece você — ele finalmente disse.

Eu engoli em seco. E não consegui encontrar mais nada para


dizer.

— Em cinco anos, eu nunca vi você namorar ninguém, Alex.


Eu nunca vi você, sequer, olhar demoradamente para alguém. Você
honestamente quer que eu acredite que você fez sexo com o
alienígena que te sequestrou só... porque?

— Eu não sei o que dizer...

— Bem, é melhor você descobrir isso antes de amanhã. O


comissário estará aqui para receber sua declaração, logo depois que
você acordar.

Estremecendo, eu respirei fundo e assenti.


— Sim, tudo bem — eu disse. — Vou pensar nisso.

— Se você realmente quiser que alguém acredite que não


foi consensual, vai precisar pensar em algo melhor que isso.

Aborrecimento cresceu dentro de mim diante das palavras


do meu amigo.

— O que isso importa? — eu exigi. — Vocês me trouxeram


de volta. Não houve mal algum.

— Pode não ser assim que o resto de nós enxerga essa


situação — disse Blaine, uma nota de severidade escapando do seu
tom neutro forçado.

— Eu te disse...

— Que você ficou com tesão pelos seus captores, Alex. Isso
soa como Estocolmo.

Um arrepio percorreu minha coluna, e eu mordi meu lábio.


Se eles pensassem que eu fui capturado e agredido, isso mudaria as
coisas. No momento, Blaine estava me observando com uma
expressão que estava em algum lugar entre preocupado e solidário.
Além disso, eu percebi, havia um toque de raiva. Não de mim,
entretanto.

Eu balancei a cabeça.

— Realmente não foi assim — eu insisti.

Ele não disse nada.

Eu suspirei.
Eu deveria contar a ele como realmente me sentia, se isso
pudesse resolver as coisas. Imediatamente, minha garganta
ameaçou fechar. Eu engoli em seco. Por que era tão difícil falar com
outros humanos? Por que tinha sido tão fácil com Saar? A resposta
era óbvia. Os nassa eram mais transparentes. Eles não passavam a
vida tentando caber em caixas. Eles eram o que eram. Mesmo seu
líder, Kion, assumiu seus erros quando percebeu que os havia
cometido.

Saar era igual. Ele se desculpou pelo mal-entendido.

Culpa revirou minhas entranhas, agora, porque tínhamos


mentido para eles. Eu traí a confiança deles...

— No que você está pensando?

Eu olhei para Blaine do meu assento na cama e dei de


ombros, impotente.

— Eu era solitário. — Simplesmente escapou da minha boca.


Sem edição e sem tato, e nada parecido comigo. Eu sempre exibi
uma fachada de equilíbrio com ele, meu superior, embora também
fôssemos amigos.

Sua expressão se tornou sombria.

— Solitário? — ele repetiu.

Eu assenti.

— Sim. Por muito tempo. Eu me senti tão fodidamente


sozinho, Blaine, que não posso nem te dizer o quanto.
Ele desviou o olhar, agora encarando o mesmo tapete que
eu. Ele não disse nada, então eu continuei:

— Eu me sentia como... eu não sei. Como nada, eu acho...


Eu poderia muito bem não existir.

Seu olhar disparou para mim, olhos penetrantes, agora, do


jeito que eu os conhecia.

— Não diga isso!

— É a verdade.

Nós ficamos em silêncio novamente, e depois de um minuto,


ele voltou para minha cama de solteiro e se sentou ao meu lado,
mais uma vez.

— Então, você se sentia sozinho — ele disse gentilmente —


, em seguida, esse Saar sequestrou você e foi legal com você, e foi
isso?

Eu sorri e o empurrei levemente com meu ombro.

— Não exatamente. Eles tiveram essa grande competição


por mim, Blaine. — Eu balancei a cabeça, contando do leilão e da
cerimônia subsequente.

Eu tentei encobrir os detalhes de quando eu e Saar ficamos


juntos. Eu não queria que fosse analisado e manchado com as coisas
que Blaine insinuaria, mesmo que eu tivesse me perguntado, na
época, sobre o efeito do beijo em mim. Mas eu cheguei à conclusão
de que foi um sério estimulante da minha libido, na ocasião, mas
nada mais.
O beijo me deixou com tesão como o inferno, mas só de
pensar em Saar agora, eu já estava excitado. Eu me mexi, esperando
que Blaine não notasse.

— Acho que me envolvi com tudo — eu admiti. — Foi


agradável. Eu me senti...

— Especial? — Blaine adivinhou.

Minhas bochechas esquentaram, mas eu assenti.

— Sim, acho que sim... Por um tempo, lá, eu era tudo para
alguém.

— Parece que eles foram bons o suficiente para você —


Blaine admitiu baixinho, e então seu lado nerd se revelou. — A
cultura deles parece fascinante. Em circunstâncias diferentes, eu
adoraria estudá-la.

— Eu também — eu concordei. — Além do que vi no


processo de união, Saar me levou ao mercado deles. A arte é uma
grande parte da sua cultura, mas tudo parece ser de acesso público.
Suas casas são simples. Eu quero saber por que. Eles também são
muito cuidadosos com suas roupas, como você viu.

Ao me lembrar das roupas brilhantes e das inúmeras joias,


eu olhei para o meu anel. Parecia espalhafatoso e inexpressivo sob
as fracas luzes azuis do meu quarto.

— Isso é bom — disse Blaine.

Ele pegou minha mão, segurando-a contra a luz, e seu olhar


sério se fixou em mim.
— Eu fiquei preocupado como o inferno com você lá — disse
ele, a voz pesada.

Culpa se agitou em mim. Estava se transformando num


sentimento permanente.

— Eu sinto muito.

— Não, não sinta. Estou feliz que você não estava sendo
machucado. Acho que é estranho pensar em você com alguém... —
Ele se interrompeu, e eu tive a nítida e surpreendente impressão de
que ele ia dizer alguém diferente.

Abruptamente, ele soltou minha mão e se levantou.

Eu também me levantei.

— Blaine...

— Nós deveríamos dormir — ele disse com severidade. —


Ambos teremos uma longa manhã pela frente.

Ele não esperou pela minha resposta.

Eu o observei cruzar a porta, atordoado quando ela se


fechou às suas costas. Será que ele realmente quis dizer aquilo? Será
que Blaine realmente tinha esse tipo de sentimento por mim?

E se tinha, por que não disse nada antes?

Ele era um homem de boa aparência. Confiável e sempre


gentil comigo. Ele me apoiou desde o primeiro dia, sempre cuidou de
mim e me empurrou para alcançar meus objetivos.
A única razão pela qual eu nunca pensei nele dessa forma
foi porque trabalhávamos juntos e, bem, eu sempre pensei que ele
era hetero. Ele nunca demonstrou nenhum interesse em homens.
Então, pensando bem, quando eu estava por perto, ele não
demonstrava nenhum interesse por ninguém...

Meu coração acelerou, confusão me enchendo.

Talvez, chamar a si mesmo de meu companheiro tivesse


sido um plano fácil de inventar, se ele já pensava em mim dessa
maneira.

Eu esfreguei a mão no rosto, tentando acalmar os nervos


desgastados que pareciam correr por todo o meu corpo.

Se eu não tivesse passado os últimos dias nos braços de


Saar, sentido sua paixão por mim, testemunhando a ternura em seus
olhos, talvez Blaine tivesse me tentado, mesmo que apenas para
aliviar a solidão da vida cotidiana.

Se eu tivesse que permanecer nesta nave e tivesse de voltar


ao ritmo de trabalho, talvez ainda ficasse tentado por ele.

Mas não agora. Não tão cedo, depois de Saar. Não com seu
veneno ainda correndo em minhas veias.

Suspirando, eu me deitei na cama. Era mais macia do que


os pisos em que nos deitamos juntos, mas não importava. Pensar
nele estava me dando dor de estômago. Sem os braços de Saar em
volta de mim, como eu poderia dormir? Como eu deveria viver?
O pensamento me chocou por um momento, então eu me
enrolei de lado, enterrei meu rosto em meus braços e tentei não
chorar.

25 SAAR
Eu acordei sozinho, com uma dor tão forte no peito que
simplesmente fechei os olhos com força contra o dia, contra o fato
de Alex não estar comigo. Eu respirei fundo e até consegui afastar
todos os pensamentos da minha mente.

Por fim, abri os olhos.

Minha casa estava vazia, o mundo monótono. Mesmo a luz


do sol atravessando a passagem para a fumaça no teto parecia
menos brilhante que o normal.
Com um gemido pesado, eu me obriguei a me sentar,
embora, sinceramente, não pudesse ver nenhuma razão para isso.

Eu não conseguia pensar em nada pelo que valesse a pena


ficar de pé. Antes de Alex, eu costumava ser muito ocupado. Os
outros membros do conselho e eu costumávamos nos reunir com
indivíduos de toda a comunidade para ajudar com quaisquer
problemas que pudessem surgir. Nós tínhamos reuniões
regularmente. Eu treinava meu corpo com frequência, geralmente
com Eisa como meu parceiro.

Ele devia ter sentido meus pensamentos porque, para


minha surpresa, Eisa em pessoa, de repente, abriu a cortina da
frente, embainhada pela luz da tarde. Seu olhar caiu em mim, ainda
sentado nas minhas cobertas.

— O que você quer? — eu perguntei, mas não havia raiva


em minha voz, apenas vazio.

— Eu só queria ver você — disse ele. — E falar com você.

— Bem, agora você já fez as duas coisas e pode ir embora.

Ele não mordeu a isca.

— Por favor, Saar, venha caminhar comigo.

Ele não esperou pela minha resposta, permitindo que o


tecido pesado da cortina se fechasse entre nós. Eu sabia que ele
estava esperando por mim do lado de fora, e apesar de que vê-lo só
me doeu mais, eu me levantei, me vesti e saí para encontrá-lo.
Eisa estava parado, como eu esperava, ao lado da porta, e
começou a andar quando eu saí, me permitindo andar ao seu lado.
Eu o fiz e, de alguma forma, até apreciei o silêncio confortável que
se estabeleceu entre nós.

— Você gostaria de ir para o café da manhã? — ele


perguntou alguns minutos depois do nosso passeio. — Ou talvez à
casa de banho?

A ideia das águas quentes era realmente tentadora — meus


músculos doíam, meu corpo inteiro estava rígido e dolorido, mas eu
balancei a cabeça.

— Eu gostaria de saber o que você quer — eu disse.

Suspirando, ele parou e se virou para mim, as mãos


entrelaçadas pensativamente atrás das costas.

— Eu quero dizer que sinto muito e quero pedir que me


perdoe.

Surpreso, eu permaneci em silêncio, sem saber o que dizer.

— Eu queria um ômega — continuou ele. — Eu queria o


humano, e quando você o ganhou, eu me ofendi.

— Ele não era para ser seu.

— Eu sei. Eu sei que não era para ser, e eu não deveria ter
descontado minhas frustrações em você. Eu fiquei com raiva por
você ter vencido. Feriu meu orgulho, você colocar suas escamas em
mim, e levou dias para eu me recuperar totalmente do seu veneno.
Isso só aumentou a amargura de não ganhar meu próprio ômega.
Não foi até que eu estava atrás de você e assisti você perdê-lo que
eu me dei conta. Eu invejava até mesmo seus sentimentos de perda.

Atordoado, eu olhei para Eisa.

— Por que?

— Porque, suponho, eu sou solitário. Você estava certo em


me repreender. Eu não entendi seus sentimentos porque eles
estavam tão distantes da minha realidade...

Eu balancei a cabeça, maravilhado.

— Eu não desejo isso para ninguém — eu finalmente falei.

A carranca de Eisa se aprofundou.

— Ainda dói? — ele perguntou. — Nós não tínhamos certeza


de como isso te afetaria. Como não é um vínculo verdadeiro, nós nos
perguntamos o quanto você sofreria.

Eu vinha me perguntando a mesma coisa desde o momento


em que Alex disse que partiria. Quando um alfa ou ômega acasalado
falecia, seu companheiro de vínculo rapidamente o seguia. O que
aconteceria comigo, com Alex fora do planeta?

— Eu não me sinto bem — eu finalmente disse.

Ele colocou a mão no meu ombro, apertando-o.

— Desde que ele foi acasalado com outra pessoa primeiro,


tenho certeza de que a dor passará.

— Talvez — eu disse, duvidoso.


Eu não acreditava que poderia viver sem Alex. Eu sentia que
nosso futuro juntos havia sido roubado de nós, e mesmo esse
pensamento doía de forma visceral.

— Venha. Vamos comer e tomar banho — disse Eisa. — Eu


vou ajudá-lo a manter sua mente fora disso.

Eu lhe dei um olhar feio.

— Eu não me lembro de ter aceitado suas desculpas.

Ele sorriu.

— Do fundo do meu coração, Saar, eu peço desculpas. Por


favor.

Suspirando, eu assenti, qualquer raiva que eu tinha dele,


evaporando. Nós nos conhecíamos por toda a vida. A competitividade
amigável se tornou amarga, desta vez, mas não o suficiente para
apagar o fato de que eu sempre vi Eisa como um irmão e um amigo.

Nós fomos ao mercado, o que imediatamente provou ser


um erro. Apenas dois dias atrás, eu estava aqui com Alex, e agora,
tudo continuava como se ele nunca tivesse existido. Não havia
nenhuma prova dele, exceto o anel no meu dedo, que eu não
conseguia parar de olhar.

— Eu gosto do seu anel — disse Eisa, claramente


percebendo o jeito que eu continuava olhando para ele. — Tem
algum tipo de significado?

— É uma tradição humana — eu disse, sem saber como


explicar. Tinha soado tão doce e tão importante vindo de Alex.
— Eles gostam de anéis?

— Para os seus companheiros — eu concordei. — Ele


escolheu este para mim, e eu escolhi um para ele.

Eisa franziu a testa, pensativo.

— É estranho que ele te desse um, já tendo um


companheiro, não é? — Ele me encarava, agora, os olhos perfurando
os meus.

— Alex disse que estava acasalado? — ele perguntou


lentamente.

Uma sensação estranha tomou conta de mim. Mais uma


vez, o mundo pareceu mudar para uma posição diferente, uma que
fazia mais sentido.

Afinal, Alex nunca disse isso, não é?

— O amigo dele disse — eu falei, entorpecido.

Eisa praguejou e se inclinou para frente. Ele estendeu a


mão, tocando meu braço. Minha pele parecia um hematoma fresco.
Eu me encolhi.

— Devia ser verdade — disse ele. — Caso contrário, por que


ele partiria?

Uma risada estranha e borbulhante cresceu dentro de mim


e, de repente, se libertou. Eu ri até não conseguir respirar.

— Para nos proteger — eu ofeguei. — Os humanos nos


ameaçaram, então ele foi embora para me proteger.
Eisa balançava a cabeça, uma expressão selvagem em seus
olhos, como se não pudesse ser verdade.

— Saar, isso não faz nenhum sentido. Partir mataria vocês


dois.

— Sim — eu concordei. — Mas meu pobre ômega humano


tinha muito a aprender sobre vínculos. Ele não sabia.

****

Levou só mais um dia para o resto do conselho perceber a


verdade. Para mim, esse fato foi um pobre consolo. Afinal, eu sabia
desde o início que Alex era meu verdadeiro companheiro. Eu não
precisava de ninguém para me dizer isso. Eu senti dentro dele de
todas as maneiras — em seu coração, alma e corpo.

Ainda assim, foi um pouco gratificante quando meus pais


seguraram minhas mãos e pediram desculpas, um de cada lado do
médico enquanto eu era examinado.

— Nós teríamos feito tudo para mantê-lo aqui, se


soubéssemos — disse meu al-pai.

— As ameaças deles pareceram tão reais... — acrescentou


meu om-pai.

Ambos pareciam atormentados, mas eu não conseguia


encontrar palavras para confortá-los. Em vez disso, permaneci
imóvel, recostado em uma cadeira, na única posição em que podia
me sentar sem ser terrivelmente dolorosa.

Acabado o exame das escamas opacas e descascando em


meus ombros, o médico pressionou seu dispositivo no meu peito para
ouvir meu coração.

— Quanto tempo faz desde que seu companheiro te deixou?


— ele perguntou pela terceira vez.

Suas palavras doeram. Meu coração se apertou, e ele olhou


para mim com olhos arregalados, claramente ouvindo o jeito como
ele perdeu o ritmo.

— Foi há dois dias — disse meu om-pai, com pesar. — Mas


ele está muito longe, agora. No espaço.

O médico se afastou do meu coração enfraquecido e olhou


para todos nós, uma expressão preocupada em seu rosto
desgastado.

— Posso falar com vocês em particular? — ele disse aos


meus pais, mas ambos balançaram a cabeça.
— Meu filho é forte o suficiente para ouvir qualquer coisa
que você tenha a dizer a ele.

As palavras orgulhosas do meu al-pai foram inúteis. O


médico balançou a cabeça.

— Eu não acredito mais que isso seja verdade. Sua força


está desaparecendo rapidamente. Ele não tem muito tempo de vida.

Um silêncio sombrio se abateu sobre a sala.

Tudo o que eu conseguia pensar era em Alex. Será que ele


estava em um estado semelhante? Oh, como tinha sido doce o nosso
breve amor. Eu ansiava por mais. Eu precisava de mais. Sem ele,
logo eu morreria, e isso não era uma dramatização.

Mas não importava. A dor física de viver sem ele já estava


se provando demais para suportar. Eu só podia esperar que seu
corpo humano fosse mais forte que o meu, no que se tratava do
nosso vínculo. Onde quer que estivesse, talvez ele sobrevivesse.

— Quanto tempo nosso filho tem? — meu om-pai


perguntou, e eu fiquei orgulhoso de quão forte sua voz soou, embora
pudesse ver o medo em seus olhos e sentir sua mão trêmula
apertando a minha.

— Alguns dias, na melhor das hipóteses — disse ele. — Meu


único conselho é entrar em contato com seu companheiro e ver se
ele pode ser convencido a retornar.

Meu coração saltou com suas palavras, e com os olhos


arregalados, eu olhei para o meu al-pai.
— Se houver uma maneira de Alex voltar para mim — eu
disse —, eu acredito que ele vai.

Arrependimento encheu seus olhos, talvez porque ele não


acreditasse em Alex tanto quanto eu.

— Os humanos fizeram um grande esforço para recuperá-lo


— disse ele.

— Nós vamos pelo menos tentar — meu om-pai insistiu. —


Vamos implorar, se for preciso.

O arrependimento não deixou o rosto do meu al-pai.

— Nosso console — disse ele, e só então eu me lembrei. Eu


descontei minha raiva na máquina. Eu a golpeei com tanta força que
faíscas e metal escaparam da engenhoca.

Meu coração afundou.

— Deve haver outro — meu om-pai disse fraquinho.

— Existe — eu falei, respondendo. — Mas levaria dias para


chegar até lá.

O conselho do sul também tinha um console, mas chegar ao


hemisfério inferior de Mukhana a tempo, simplesmente levaria tempo
demais.

A única coisa que poderia me salvar agora era Alex.

Eu não sabia o que seria necessário para ele voltar para cá,
que tipo de negociações ou motivos ele teria que dar. O que eu sabia
era que, se ele sentisse por mim o que eu sentia por ele, ele
encontraria um caminho de volta antes que fosse tarde demais.

26 ALEX
— Naquele momento, eu não sabia quanto tempo ficaria
preso em Mukhana, e eles estavam sendo bons para mim, então
decidi não lutar contra isso.

Suor pinicava minhas costas. Estar sentado sob o escrutínio


do comissário e seus dois colegas fez toda a experiência parecer
tão... vazia. Faltavam todos os pequenos detalhes, todas as coisas
que me fizeram me apaixonar por Saar em tão pouco tempo. E eu
nem contei a eles essa parte. Eu guardei no meu coração o quanto
sentia falta do grande bruto que tinha me assustado tanto no
começo, antes que eu percebesse o quão gentil e amoroso ele
realmente era.

— E foi quando você foi forçado a se casar com um dos


nassa.

Eu engoli em seco. Meu olhar voou para Blaine, que estava


sentado ao meu lado, meu único apoio. Ele assentiu, e eu me
obriguei a seguir em frente.

— Bem, mais ou menos. Nós subimos para o local de união.


É um lugar cerimonial que apenas outros acasalados podem entrar.
Aconteceu uma festa, e houve a cerimônia, mas como eu disse, eu
não fui forçado. Na ocasião, eu aceitei de bom grado...

— Mas você foi sequestrado e forçado a chegar a esse


ponto.

Eu não podia nem discutir. Eu permaneci em silêncio.

— Em que consistia a união? — o comissário insistiu.

— Hã... — Eu escondi minhas mãos trêmulas debaixo da


mesa e consegui não olhar para Blaine novamente, mesmo que eu
pudesse ver a expressão preocupada em seu rosto, através da minha
visão periférica.

— Foi apenas um... um beijo.

No momento em que as palavras saíram da minha boca, eu


sabia o que viria a seguir.

— Você foi forçado a consumar a união?


— Oh, não. Eu não fui forçado. Como eu lhe disse, Saar
nunca fez nada de errado comigo...

— Mas você consumaram a união?

— Bem, sim, mas isso foi mais tarde.

Eu estendi a mão, puxando a gola da minha camisa, de


repente me sentindo como se estivesse me sufocando.

— Você está bem?

Eu balancei a cabeça, mas minha pele estava pinicando,


meu estômago doía. Tudo parecia tão errado...

— Eu estou bem. — Eu me obriguei a continuar: — Quando


estávamos de volta à cidade no dia seguinte...

— Antes que continue — o comissário interrompeu —, em


que momento você decidiu que gostava dos nassa fisicamente? Você
consegue se lembrar?

Eu engoli em seco, encarando sua expressão compassiva,


embora clínica. Era como se ela se sentisse mal por mim enquanto,
ao mesmo tempo, estava me analisando.

Eu olhei para os outros, até para Blaine, que abaixou o olhar


para a mesa quando encontrei seus olhos. Todos pensavam que eu
era uma vítima. Se eu mencionasse sua saliva afrodisíaca, eles
provavelmente jogariam aquelas bombas de que falaram bem em
cima de todos aqueles nassa desavisados.
Eu não sabia o que dizer. Não parecia haver oxigênio
suficiente na sala.

— Alex!

A mão de Blaine pousou no meu braço. Eu o me empurrei


para longe, quase caindo do meu assento. Todos se levantaram
comigo, alarme em cada um dos seus rostos.

— Alex, por favor, nós sabemos que você passou por muita
coisa. Apenas sente-se e...

— Não — eu rebati, interrompendo a comissária. — Eu não


gosto do que você está fazendo.

— E o que eu estou fazendo? — ela perguntou


cuidadosamente.

— Você está pegando tudo o que eu digo e distorcendo.


Você está agindo como se eles fossem maus, procurando algo para
usar contra eles. Olha, eu sei que muito dinheiro e recursos foram
desperdiçados no meu socorro, mas isso não é motivo...

— Alex, acalme-se...

Mais uma vez, Blaine tentou me tocar, me confortar, mas


estava apenas me sufocando. Eu recuei, ofegante, suando de
nervoso, meu estômago em nós.

— Parem. Por favor. Ouçam-me, todos vocês. Eles foram


legais comigo. Eu gosto deles e sabia o que lhes aconteceria se eu
não viesse com vocês. Esse foi o único motivo pelo qual eu vim. E,
sim, eu gosto de Saar, embora vocês achem tão difícil de acreditar.
Eu gostava do jeito que ele sorria para mim e me ouvia, e eu
realmente gostava de fazer amor com ele. Deixar Saar foi horrível...

O pouco de ar pelo que eu estava ofegando pareceu


evaporar. Meu corpo gritou de dor, e isso foi antes mesmo de eu
bater no chão.

O mundo começou a escurecer ao meu redor, e eu fiquei


grato por isso. Eu queria o fim abrupto dessa conversa, que eles
tirassem dela o que quisessem.

Mais do que isso, eu queria a dormência de estar


inconsciente, porque ficar sem Saar era absolutamente insuportável.

****

Eu acordei com o bip baixo do meu próprio batimento


cardíaco. Havia um frio no ar e, posteriormente, arrepios na minha
pele, que estava quase inteiramente exposta.

Quando abri os olhos contra a luz fraca do quarto do hospital


da nave, eu vi que estava conectado ao monitor cardíaco e usando
uma fina bata hospitalar, um cobertor igualmente fino sobre mim.

No assento ao lado da minha cama, Blaine estava sentado,


a cabeça inclinada sobre seus dedos cruzados.

— O que aconteceu? — eu perguntei, minha voz rouca.


Blaine olhou para cima bruscamente e soltou um suspiro
baixo de alívio.

— Como você está se sentindo?

Eu me avaliei cuidadosamente. Eu não me sentia bem, mas


não conseguia identificar o que estava errado. Pelo menos, eu não
estava com dor.

— Eu me sinto estranho — eu finalmente falei.

— Você teve um ataque de pânico, eu acho — Blaine disse


gentilmente. — No meio da entrevista.

Eu fiz uma careta e minha frequência cardíaca disparou —


o ritmo acelerado do monitor cardíaco deixando isso muito claro.

Blaine colocou uma mão reconfortante no meu braço.

— Está tudo bem. Eles já foram. Acho que seu discurso final
respondeu ao resto das perguntas que eles fariam.

— E quanto à Mukhana? — eu perguntei, desconfortável.

— O planeta está sendo marcado como omitido, por


enquanto.

Omitido era uma das palavras que usávamos para


categorizar os planetas e suas formas de vida. Amistoso, Combatente
e omitido, o que significava apenas “fique longe”. O último planeta
que eu havia arquivado como omitido tinha uma hiper gravidade
inadequada para se permanecer por mais de alguns minutos.
Era estranho pensar em Mukhana dessa forma — impróprio
para a vida humana. Eu poderia ter morado lá, eu percebi, e de
repente, lágrimas arderam em meus olhos.

— Você está bem? — Blaine perguntou imediatamente.

Eu respirei, estremecendo, e tentei me sentar, mas meu


corpo inteiro gritava de dor. Tremendo, eu caí para trás, e Blaine
estendeu a mão, me firmando novamente.

— O que há de errado comigo? — Eu suspirei.

Ele balançou a cabeça, ansioso.

— O médico fez um exame completo do seu corpo, desta


vez — disse ele. — Escaneamentos e tudo. Ele disse que voltaria
dentro de uma hora com os resultados.

Eu respirei fundo e alcancei meu abdome, onde a dor


parecia ser a pior.

Depois de algumas respirações profundas e de me manter


completamente imóvel, a dor diminuiu. Eu estava exausto, pronto
para desmaiar novamente, e esperançoso de não acordar até não
doer mais. Só que a dor me enchendo pela perda de Saar era uma
que eu, de repente, não sabia se poderia superar. Tudo o que eu
queria era estar embrulhado em seus grandes braços, agora.

— Sabe, todas aquelas coisas que você disse ao


comissário... — Blaine falou calmamente.

Eu assenti, embora os detalhes do que eu disse fossem um


borrão.

— Eu gostei de Mukhana — eu disse. — Se não fosse pela


ameaça imediata de bombas caindo, não sei se você teria me trazido
de volta aqui.

— Por que parece que você vai dizer...

— Eu quero voltar.

Blaine fechou os olhos.

— Você tem alguma ideia do que eu passei, tentando te


trazer de volta?

Eu engoli o nó em minha garganta.

— Me desculpe — eu disse, mas me mantive firme. — Se


todos, de ambos os lados, tivessem me ouvido desde o início, nada
disso teria acontecido. Os nassa não teria me casado, pensando que
eu estava sendo abusado aqui, e vocês não teriam se apressado com
ameaças tão grandes, pensando que eu estava sendo abusado lá.

Um sorriso torceu meus lábios diante da ironia, e uma ideia


surgiu.
— Blaine, eu poderia ser o representante humano em
Mukhana.

Ele me encarou.

— Isso exigiria um tratado.

— Talvez eles fizessem um. Por mim.

Eu tentei me sentar novamente, excitação me enchendo.

Blaine me ajudou e, lentamente, eu consegui me levantar,


encarando-o de frente.

— A Terra adora ter conexões, você sabe disso. Não é mais


do que eu fui treinado. Eu poderia viver lá e ainda trabalhar. Eu
poderia construir uma compreensão completa de sua cultura e
biologia. Eu ainda poderia estar com Saar.

Por mais insensível que fosse, as palavras saíram da minha


boca antes mesmo de eu considerar os sentimentos de Blaine — se
é que ele tinha algum por mim.

Ele mordeu o lábio e desviou o olhar por um minuto,


pensando antes de suspirar e me dar um sorriso indulgente.

— Deixe-me ver o que posso fazer.

Felicidade explodiu em mim. A possibilidade de ser levado


de volta foi um súbito farol me iluminando, mas antes que eu
pudesse ficar empolgado demais e exigisse uma ação instantânea, a
porta se abriu e o médico entrou, uma expressão preocupada em seu
rosto.
Blaine se levantou para encarar o médico, seus ombros
rígidos, e meu corpo instantaneamente vibrando de ansiedade.

— O que foi? — eu perguntei.

O médico olhou para mim, depois para Blaine.

— Você vai querer se sentar para isso.

27 SAAR
Eu permiti que meus olhos se fechassem. Era melhor do que
a alternativa de ver meus pais enfrentando a perda do filho.

Meu corpo ficou tão fraco que eu mal conseguia me mover.


O esforço necessário para ficar de pé, ou mesmo me sentar, era
demais.
Meu pai enviou dois de nossos amigos e colegas do conselho
ao sul para fazer a ligação para os humanos, mas agora, já haviam
se passado mais dois dias, e eu sabia que era inútil. Mesmo que eles
já tivessem conseguido chegar lá, levaria tempo para Alex voltar.

Tempo que eu não tinha.

Pensar nele enviou uma pontada de dor no meu peito, e eu


estremeci, sibilando numa respiração superficial, os músculos tensos
enquanto eu esperava passar.

Parte de mim ainda desejava tê-lo mantido escondido na


selva. Nós poderíamos ter avançado profundamente nela e ficado lá.
Eu teria lutado contra qualquer animal que chegasse perto demais e
caçado e provido nossas refeições. Nós poderíamos ter vivido no topo
das árvores e feito amor a noite toda sob as estrelas.

A fantasia foi uma bela distração que me acalmou por


alguns minutos, até trazendo um sorriso ao meu rosto.

Uma comoção ofegante me tirou do meu devaneio e de volta


ao desagrado da realidade.

Eu abri os olhos e vi quando meus pais se levantaram de


cada lado da minha cama quando a cortina foi atirada de lado,
encharcando o quarto de luz brilhante que ardeu meus olhos.

Eisa entrou, respirando com dificuldade, como se tivesse


corrido, emoção estampada em seu rosto. Ele caminhou direto até
meus pais e colocou a mão em cada um de seus ombros.
— Vocês vão querer vir ver isso — ele disse, então fixou seu
olhar no meu. — Todos vocês.

Por um momento, nós todos permanecemos em silêncio.

— Eu não posso ir a lugar nenhum, amigo — eu disse. Eu


estendi minha mão, e ele veio, tomando-a na sua e ajoelhando-se
ao meu lado.

Ele veio me ver extensivamente nos últimos dias, sua


expressão sempre sombria de arrependimento enquanto se sentava
ao meu lado, conversando comigo, às vezes tentando me fazer rir,
outras vezes me dizendo que Alex voltaria.

— É exatamente por isso que estou aqui — disse ele. — Há


um grupo dessas pequenas naves terrestres descendo para Mukhana
enquanto falamos.

Um sorriso surgiu em seu rosto, e ele apertou a outra mão


sobre a minha com um tapinha.

— Eu disse que ele voltaria!

Meu coração disparou, temeroso de que Eisa estivesse


errado, e esperançoso de que não estivesse, ambos os sentimentos
guerreando dentro de mim enquanto eu lutava para me sentar.

Ele me ajudou a me ergueu, e eu encontrei o olhar


atordoado do meu pai.

— É possível? — eu perguntei. — Eles não poderiam ter


chegado ao conselho do sul ainda, poderiam?
Ele balançou a cabeça lentamente, e meu om-pai falou, sua
voz trêmula de esperança:

— Você pode não ter sido o único a sofrer — disse ele. —


Humano ou não, talvez seu companheiro precise de você tanto
quanto você precisa dele.

Engolindo em seco, eu tentei ficar de pé, mas no momento


em que o fiz, minhas pernas cederam, fracas demais para me
sustentar.

Eisa agarrou minhas axilas, me mantendo erguido, e eu me


agarrei a ele.

— Por favor, eu preciso estar lá.

Os três me ajudaram.

Quando chegamos aos limites da cidade, suor pinicava


minha pele, mas ali, assim como Eisa havia dito, as naves humanas
iam descendo.

Elas estavam quase no chão quando eu as avistei, e para


meu alívio, muito mais perto do que haviam pousado antes. Talvez
Alex não pudesse caminhar uma distância tão longa até a cidade.

Angústia me encheu diante do pensamento do meu Alex


sofrendo do jeito que eu estava. Tudo bem se fosse eu, mas ele, meu
pobre e doce companheiro, eu não aguentaria.

As naves não pousariam rápido o suficiente.


Nós seguimos em frente, caminhando para encontrá-los,
meus pés às vezes se arrastando, às vezes tropeçando.

Havia menos delas desta vez, e apenas três naves


desceram. Quando as portas finalmente se abriram, estávamos a
poucos passos de distância.

Outros surgiram primeiro, um deles era o falso


companheiro, Blaine. Foi ele que mentiu para nós, nos ameaçou e
levou Alex embora.

Em circunstâncias normais, eu teria ficado furioso ao vê-lo,


mas estava tão desesperado para ver quem surgiria em seguida que
mal olhei para ele. Em vez disso, me concentrei na pessoa que ele
virou para ajudar a descer da cápsula.

À primeira vista de sua mão pálida, agarrando a do outro


homem, eu sabia que era Alex.

Ele saiu do casulo, o outro humano o equilibrando e, de uma


vez, ele se virou, grandes olhos azuis procurando. Seu olhar
encontrou o meu, e seu rosto se contorceu de emoção enquanto meu
coração disparava.

De repente, eu tinha forças.

Eu não sabia como, mas me movi sem pensar, tremendo,


livre das mãos que me ajudavam. Eu fui até Alex ao mesmo tempo
em que ele corria em minha direção, desesperadamente.

Nós encurtamos a distância rapidamente, batendo um no


outro com força desnecessária, desesperados para estarmos juntos.
Ele jogou os braços em volta do meu pescoço, agarrando-se a mim.
O meu envolveu sua cintura, segurando-o com força, enterrando
meu rosto em seu pescoço e respirando seu precioso cheiro enquanto
ambos soluçávamos de alívio.

A força momentânea evaporou de mim, e nós caímos,


desabando na areia. Alex não se importou, ele não fez nenhum
movimento para se afastar, apenas me segurando com mais força.

— Eu pensei que nunca mais veria você — eu sussurrei.

— Sinto muito — ele engasgou. — Eu sinto muito.

Eu obriguei Alex a levantar a cabeça de onde estava


pressionada no meu peito. Seu lindo rosto estava diferente de antes.
Olheiras sob seus olhos o faziam parecer cansado, sua pele estava
pálida e sem vida.

— O que aconteceu? — eu perguntei.

— Você vai ter que explicar essa parte — disse uma voz
acima de nós.

Eu ergui as vistas. Os outros humanos que vieram com Alex


pararam. Foi Blaine quem falou. Ele olhava para nós, sua expressão
calculista, e eu não pude deixar de envolver meus braços
possessivamente mais apertados em torno de Alex.

Nesse estado, eu não seria capaz de muito, mas se este


homem tentasse levar o meu companheiro novamente, eu morreria
tentando impedi-lo. Eu sabia que não fazia sentido, ele tinha sido o
único a trazê-lo de volta para mim, depois de tudo. Claramente, eles
tinham parado de mentir.

Eu olhei para Alex, acariciando seu cabelo macio.

— A distância enfraqueceu você como fez comigo? — eu


perguntei.

Ele franziu a testa, o olhar buscando meu rosto.

— O quê? Não. Você quer dizer...

— Você nos disse que já estava acasalado — a voz severa


do meu al-pai veio. — Você nos levou a acreditar que seu vínculo não
era verdadeiro. Sua partida quase matou Saar. Mais algumas horas...

Sua voz falhou, e Alex transferiu os olhos arregalados do


meu pai de volta para mim, em busca de confirmação. Lágrimas
frescas caíram de seus olhos.

— Eu sinto muito — ele engoliu em seco. — Eu não sabia.

— Mas se você também não estava com dor, por que você
voltou?

Alex olhou para baixo, seu olhar fixo em sua barriga, e


cuidadosamente, ele descansou a mão sobre ela.

— Eu estava com dor — Alex disse baixinho —, mas por um


motivo diferente.

— Homens humanos não engravidam — Blaine disse de


onde estava. — Talvez seu povo possa explicar como isso aconteceu?
Eu não entendi o que era tão confuso. Alex era um ômega.
ômegas carregavam crianças. E agora, parecia, ele estava
carregando a minha.

Emoção tomou conta de mim. Eu puxei Alex para um abraço


apertado enquanto lágrimas ardiam em meus olhos novamente.

Esta manhã, eu pensei que morreria sozinho, agora, em vez


disso, parecia que eu teria uma família.

28 ALEX
— Explique tudo, e desta vez, diga a verdade.

Eu suspirei, olhando em volta para o conselho.

— Sabe, eu tentei, no começo, mas nenhum de vocês


acreditou em mim.
Eu sabia que teríamos que passar por isso, mas depois de
apenas um dia me recuperando, enroscado nos braços de Saar, ainda
parecia cedo demais. Eu não queria falar de negócios. Eu só queria
estar com o meu companheiro de vínculo e levar meu doce tempo
me ajustando ao que estava acontecendo com meu corpo.

Saar se mexeu desconfortavelmente ao meu lado.

Eu estendi a mão e peguei a sua mão, silenciosamente


deixando-o saber que não havia ressentimentos. Ele agiu com
intenções nobres, e agora que estávamos aqui, eu não queria
desfazer nada disso.

— Eu vou explicar tudo, mas por favor, confiem em mim


desta vez. Tudo o que estamos prestes a dizer é completamente
verdade.

Eu troquei um olhar com Blaine, que assentiu


encorajadoramente. Mais uma vez, estávamos aqui, em frente ao
conselho, mas não estávamos sozinhos agora. Saar estava sentado
ao meu lado, e os demais funcionários de alto nível da parte humana,
do outro lado de Blaine, para discutir o que havia acontecido e o que
isso significava para todos nós.

Respirando fundo, eu comecei:

— Humanos não têm alfas e ômegas...

— Isso não é verdade — Saar interrompeu, franzindo a


testa.

Eu fingi que ele não tinha falado e continuei:


— E os machos de nossa espécie não podem ter filhos...

— Isso também não é verdade.

Saar deu um olhar aguçado para minha barriga, ainda plana


o suficiente, mas inegavelmente carregando uma criança. Nós
ouvimos seu pequeno batimento cardíaco juntos precisamente nesta
manhã.

— Esta é a primeira vez que ouvimos falar disso — disse


Blaine, escolhendo me ajudar.

Eu assenti.

— Quando cheguei aqui, eu não sabia que seria identificado


como um ômega. Ou como qualquer coisa, porque simplesmente não
temos isso. — Todo o conselho pareceu confuso, então continuei: —
Os humanos nem sempre acasalam para a vida toda, a menos que
escolham. Nós não nos unimos de forma alguma, exceto dando nossa
palavra. Foi difícil descobrir o que estava acontecendo no meu
primeiro dia aqui. Quando eu estava com Samil e Jayada, eu
finalmente percebi.

Alya e Kion trocaram um olhar significativo à menção de


seus companheiros, mas permaneceram em silêncio, esperando por
mais.

— No que se refere à união... bem, eu presumi que teria a


ver com sexo, o que eu acho que era parte disso, mas também tinha
algo a ver com o primeiro beijo, não era?
— O primeiro beijo nos fez um — Saar concordou, calor em
sua voz.

Eu apertei sua mão.

— Mais uma vez, tudo isso é novo para nós — disse Blaine.
— Nenhum simples beijo une as pessoas na Terra. Você poderia
beijar mil pessoas, se quisesse.

Como um, todos os olhares alfa se intensificaram,


encarando a nós, humanos, pela primeira vez como se realmente
fôssemos alienígenas. Na verdade, eu tinha certeza de que era o
olhar que eu dei aos Oulani quando pousamos em seu planeta, e eles
pareciam mais fungos do que animais.

Depois de um bom tempo, Alya foi a primeira a falar:

— Humanos beijam milhares?

— Alguns provavelmente sim — Blaine riu —, mas não era


a isso que eu queria chegar. O que estamos tentando dizer é que
toda a biologia de Alex parece ter mudado desde o acasalamento
com Saar. Seus órgãos mudaram, ele tem um útero, que ele
absolutamente não tinha antes. É um mistério biológico, e
precisamos aprender mais.

— O que você está propondo? — perguntou Alya.

Finalmente, uma das outras interveio. Uma representante


do Departamento de Estudos Humanos. Seu trabalho habitual era
examinar a maneira como nossa biologia reagia a diferentes
atmosferas, mas neste caso, ela estava aqui para estudar a criança
se desenvolvendo dentro de mim. O que provavelmente sairia em
revistas científicas, o rosto do meu bebê impresso nas páginas entre
o colapso clínico da minha mutação.

Eu respirei fundo, afastando o pensamento quando ela


começou a falar:

— Nós gostaríamos de colocar aqui médicos e biólogos


humanos para estudar as conexões entre nossa espécie. Nem todos
os alienígenas são compatíveis dessa maneira, e é um momento
emocionante para todos nós, termos encontrado uma espécie tão
compatível com a nossa quanto a sua.

— E agora que vocês ficarão com um de nossos valiosos


membros — Blaine disse, lançando um olhar para mim —, nós
gostaríamos de fazer as pazes e até nos tornarmos amigos.

Um silêncio se abateu sobre a sala. Meu coração começou a


martelar em meu peito, os nervos à flor da pele. Se eles dissessem
não, se todos os contatos fossem cortados, eu não tinha certeza de
como lidar com isso. Talvez fosse imaturo, mas eu queria que os
nassa me aceitassem, e eu era humano. Doeria se eles tivessem algo
contra nós.

— Eu assumiria a posição de representante humano, aqui


— eu acrescentei, esperançoso.

— Acho que gostaríamos muito disso — disse Kion.

Eu afundei de alívio, uma risada feliz me escapando.

— Obrigado — eu disse a ele.


— Há algumas estipulações — ele continuou, e eu prendi a
respiração, esperando.

— Precisamos de um novo console de comunicações.

— Nós vamos fornecer mais de um — Blaine concordou. —


Nós forneceremos quantos equipamentos vocês quiserem. Em troca,
é claro, precisaremos de moradia e acesso a registros, seus médicos,
coisas assim.

— Isso não será um problema — Kion concordou.

— Mas há uma outra questão — disse Eisa.

Ele permaneceu em silêncio o tempo todo, os dedos


tamborilando na mesa. Ele esperou que todos o olhassem.

— Seus ômegas não são acasalados e, aparentemente,


vocês nem sabem quem é um ômega ou um alfa. — Ele bufou, como
se o mero pensamento fosse ridículo. — Só haverá mais problemas
para nós, se vocês trouxerem mais ômegas não acasalados para
Mukhana para trabalhar.

A representante humana falou novamente:

— Essa é uma das muitas questões que gostaríamos de


resolver — disse ela. — Talvez com algum tempo, possamos criar
algum tipo de teste para determinar quem é um ômega ou um alfa.

— E isso seria uma via de mão única? — Blaine meditou. —


Será que um alfa humano não poderia acasalar com um nassa
ômega?
— Esse é a sua verdadeira jogada? — Eisa exigiu, de repente
se inclinando para frente, os olhos estreitados.

Blaine se encolheu.

— O quê? Não — insistiu Blaine. — Eu nem estarei aqui.


Será uma equipe diferente.

— Talvez nós, alfas e ômegas acasalados, possamos


verificar seus humanos quando eles chegarem — sugeriu Saar.

Eu sorri com orgulho.

— É uma boa ideia, por enquanto.

Ele se aproximou de mim e deu um tapinha no ombro de


Blaine.

— Não leve a personalidade de Eisa muito a sério — disse


ele. — Ele só está sendo territorial, já que você também é um alfa
não acasalado.

Blaine piscou, surpreso.

— Eu sou? — ele perguntou.

— Claro! — Eisa estalou. — E não temos ômegas suficientes


para que mais alfas como você venham reivindicá-los. Todo esse
arranjo é um erro.

— Eu tomei minha decisão — Kion disse friamente. —


Faremos o que for preciso para que Alex seja feliz aqui, afinal, ele é
um dos nossos agora. — Ele piscou para mim, e um carinho pelo meu
sogro encheu meu peito.
— Obrigado — eu disse novamente, e ele assentiu, então
deu a mim e a Saar um longo olhar.

— Vocês dois ainda estão se recuperando. Vão para casa e


durmam. Continuaremos o resto dos negócios entre nós.

Eu olhei para Blaine, certificando-me de que estava tudo


bem, e ele assentiu. Eu não me incomodei em resistir. Eu estava
exausto, e Saar parecia ainda pior, embora ele pudesse andar
corretamente, de novo.

Ficando de pé, nós nos despedimos e saímos para a noite.

Eu senti falta do ar aqui, seco e fresco, quase frio, mesmo


no calor minguante do dia. Em breve, a noite fria chegaria, e Saar e
eu nos envolveríamos perto do fogo para nos mantermos aquecidos.
Assim como ontem à noite. Assim como seria a partir de agora.

Felicidade floresceu em mim.

****

Nós estávamos quietos quando entramos em casa.

Saar foi direto para a fogueira, acendendo-a facilmente.

Quando ele se virou para mim, eu já o estava esperando.


Eu fui direto para os seus braços, suspirando quando ele me puxou
para perto, me segurando em seu peito e beijando o topo da minha
cabeça.
— Seu cabelo é tão lindo — ele suspirou, e eu ri.

— Não é nada especial — eu disse. — Apenas loiro escuro


comum. O seu é legal. É como ouro. Como seus olhos.

Eu ergui as vistas, percebendo a maneira hipnotizante como


eles captavam a luz do fogo.

— Seu cabelo não é comum — disse ele, franzindo a testa.


Só para reforçar, ele me cheirou, então suspirou, feliz. — O cheiro
dele é tão bom...

Eu não me incomodei em explicar. Havia tanta coisa perdida


na tradução entre nós, mas isso fazia parte da diversão. Aprender
tudo um sobre o outro levaria tempo, mas mesmo isso, as conversas
que tínhamos pela frente, as coisas que compartilharíamos,
provocaram um sentimento caloroso que me percorreu.

Nós nunca ficaríamos sem coisas para conversar, e eu


duvidava que perderíamos o interesse nas outras áreas, também.

Nós nos beijamos no dia anterior e passamos toda a manhã


nos braços um do outro, lábios apertados, línguas emaranhadas, mas
não tivemos energia para muito mais do que nos agarrarmos
desesperadamente.

Agora, porém, eu estava começando a me sentir melhor,


meu corpo menos rígido e dolorido. Saar também estava melhorando
rapidamente.

Eu pensei que fosse o bebê me machucando, mas agora,


tive que me perguntar se talvez eu tivesse realmente morrido, se
permanecêssemos separados. Claramente, nossa separação me
machucou fisicamente, embora eu ainda não entendesse o porquê.

Talvez Saar estivesse pensando em algo semelhante,


porque ele abaixou a cabeça, tomando meus lábios num daqueles
beijos ardentes.

De repente, eu não poderia aguentar se parássemos ali.


Meus braços o envolveram, agarrando-se a ele.

— Saar — eu sussurrei contra os seus lábios. — Eu preciso


de mais.

— Você ainda está se recuperando — ele respondeu,


acariciando meu cabelo.

— Certo. Isso mesmo, você também. — Eu tentei conter


minha decepção, mas não consegui encontrar seu olhar. — Eu não
quis te pressionar. Nós podemos esperar até você estar pronto.

— Até que eu estar pronto?

De repente, eu estava deitado de costas.

Saar apoiou sua grande forma sobre mim, um braço em


cada lado da minha cabeça, os joelhos de cada lado dos meus
quadris.

— Alex, eu estive me contendo esse tempo todo. Eu


adoraria fazer amor com você agora, se você puder.

Eu sorri.

— Ah, eu consigo.
Com isso, eu estendi a mão, puxando-o para baixo em outro
beijo. Desta vez, ele não demorou muito, recuando para me despir
e resmungar sobre as roupas humanas que eu usava, especialmente
os botões das minhas calças.

Finalmente, ele desistiu e as abaixou, levando minha cueca


junto enquanto eu ria.

— Finalmente! — ele gritou, jogando tudo de lado.

O riso secou em meus lábios quando ele se inclinou sobre


mim, tomando meu comprimento meio duro em sua boca, chupando-
me ansiosamente. Eu soltei um lamento embaraçosamente alto e me
segurei enquanto ele descia mais e começava a lamber minha
entrada muito ternamente, com golpes longos e famintos.

No momento em que ele se ergueu sobre mim, seu olhar


pesado de excitação, eu já estava perto do clímax, respirando
lentamente para me acalmar. Não foi até ele pressionar a cabeça do
seu pênis contra a minha entrada que eu me lembrei:

— Espere — eu engasguei.

Ele o fez, observando com curiosidade enquanto eu me


levantava e pegava a bagagem que tinha trazido comigo. Não havia
conforto humano neste lugar, então meus pertences ainda estavam
nas minhas malas. Eu abri a grande, xingando quando não encontrei
imediatamente.

— Ah!
Finalmente, eu levantei a garrafa extra grande de
lubrificante.

Saar ainda estava onde eu o deixei, de joelhos na cama,


seu pau duro projetado no ar, esperando por mim. Eu engoli em seco
e rastejei de volta, percebendo que ele não tinha ideia do que eu
estava segurando.

Bem, eu mal podia esperar para lhe mostrar.

— Eu acho que você vai gostar disso — eu disse,


esguichando um pouco na minha mão.

Eu estendi a mão, esfregando-o sobre sua ponta, fazendo-


o estremecer e, em seguida, agarrei seu comprimento grosso o
melhor que pude e o acariciei.

Suas mãos de repente agarraram meus ombros em busca


de apoio enquanto ele respirava de forma trêmula. Mais uma
passagem sedosa da minha mão apertada e seus olhos reviraram.

— Deite-se — ele gemeu. — Agora.

Em vez disso, eu me virei e me apoiei de quatro na frente


dele. Quando não o senti imediatamente, eu olhei para trás por cima
do ombro e o encontrei me observando com admiração.

— Você é tão bonito — ele suspirou.

Sua mão pousou nas minhas costas, acariciando minha


pele, me fazendo estremecer. Então, sem esperar mais, ele se
empurrou contra mim. Enquanto seu comprimento longo e grosso
me esticava, tudo em que eu conseguia pensar era, finalmente.
Parecia uma eternidade desde que eu tomei Saar em meu
corpo, uma eternidade desde que fomos um.

O lubrificante ajudou, tornou mais fácil e rápido, e eu fiquei


muito feliz por ter pensado em trazê-lo quando Saar foi capaz de
deslizar em mim sem hesitação.

Com ele dentro de mim, me preenchendo completamente,


foi como se eu nunca tivesse feito amor antes dele. Era como se
todas as outras vezes que eu fiz sexo, estivéssemos apenas imitando
a coisa real. Isso, a conexão entre nós, era tudo.

Quando ele gozou, suas mãos agarrando meus quadris,


derramando seu calor dentro de mim, meu corpo seguiu seu
exemplo.

Eu estremeci e estremeci com os espasmos pós-orgasmo, e


ele passou os braços à minha volta, me puxando contra o seu peito
e salpicando beijos na minha pele.

Sua mão escorregou, pousando sobre a minha barriga.

Tudo havia mudado.

Ainda era difícil assimilar, mas eu já havia decidido


acompanhar os desenvolvimentos à medida que surgissem. Afinal,
foi seguindo o fluxo que eu acabei ficando com Saar, e esse foi o
maior golpe de sorte da minha vida.

Eu coloquei a mão sobre a dele e o olhei por cima do ombro.

— O que você acha? — eu perguntei.


Ele cantarolou pensativo:

— Acho que seremos bons pais — ele falou gentilmente, e


deu um beijo terno no meu nariz, e de repente, lágrimas estavam
em meus olhos. Eu suspirei, estremecendo, e seus braços se
apertaram ao meu redor.

— Qual é o problema? — ele perguntou.

Eu não tinha planejado ter filhos. Eu absolutamente não


tinha planejado gestá-los, tampouco, mas o fato é que, não muito
tempo atrás, eu não tinha planejado nada além de seguir em frente
pelo resto da vida, completamente sozinho.

Agora, em vez disso, eu teria uma família, amigos, uma


comunidade e ainda trabalharia no campo que eu amava,
aprendendo mais sobre a cultura nassa, tornando-me parte dela.

Entretanto, eu não saberia como explicar tudo isso. As


palavras ficaram presas na minha garganta. Eu estava dominado
pelas emoções. Mas não importava. Nós teríamos tempo para
conversar sobre tudo isso e qualquer outra coisa em que pudéssemos
pensar, mais tarde.

Em vez disso, eu me mexi em seus braços até estarmos de


frente um para o outro.

— Eu estava pensando — eu disse —, sobre como estou


muito feliz por estar aqui com você.

— Oh, Omi... — ele sussurrou. — Eu amo você.


Ele não precisava dizer isso. Eu podia sentir em meus ossos.
Mais profundo que isso, até. Eu podia sentir em minha alma. Eu sabia
que ele podia me sentir lá, também — até no âmago de nossos seres,
nós éramos um.

Mas isso não me impediu de lhe dizer de volta.

FIM

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