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The Legion: Savage Lands Sector Book 02

EVA PRIEST

ELE É UM ALIENÍGENA COM LISTRAS DE TIGRE DE MAIS DE DOIS


METROS DE ALTURA EM UMA MISSÃO SECRETA. ELA É UMA FÊMEA
HUMANA SEQUESTRADA E IRRITADA. SERÁ QUE ESSES
COMPANHEIROS DESTINADOS PODEM ENCONTRAR O AMOR?

TALUS
O comando da Legião me enviou para um posto avançado
em uma área remota das Terras Selvagens. Operação camuflada.
Puramente reconhecimento. Qualquer informação que eles precisem
encontrar não cabe a mim julgar. Sou totalmente a favor de terminar
meu trabalho rapidamente para que eu possa encontrar uma fêmea
disposta a aquecer minha toca.
Deveria ter sido simples, até eu ver minha companheira
predestinada sendo negociada pela mesma coisa que fui enviado para
encontrar.

CALLIE
Tropecei na cama depois de uma noite de festa, apenas para
acordar em um zoológico humano a anos-luz de distância. Estou
prestes a ser vendida por uma pasta e um taco, quando um alienígena
com listras de tigre de mais de dois metros de altura afirma que sou
sua companheira, me joga por cima do ombro e foge.
Agora eu tenho que descobrir uma maneira de escapar de
duas gangues de alienígenas que de alguma forma insultei, enquanto
convenço uma fera - e meu corpo traidor - de que não sou companheira
de ninguém, predestinada ou não.

"Scorched" é um romance de ficção científica


independente e o segundo livro ambientado no universo The
Legion: Savage Lands Sector. Esta série está cheia de
companheiros predestinados, instalove, felizes para sempre,
homens superprotetores e mulheres teimosas que os amam.
ESTÁ TRADUÇÃO FOI FEITA

PÔR FÃS E PARA FÃS.

Nós realizamos está atividade sem fins lucrativos


e temos como objetivo incentivar a leitura de autores cujas
obras não são traduzidas para o PORTUGUÊS.
O material a seguir não pertence a nenhuma
editora NO BRASIL, e por ser feito por diversão e
amor à
literatura, pode conter erros.

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INTRODUÇÃO
“SOMOS LEGIÃO, POIS SOMOS MUITOS.”

O SETOR DAS TERRAS SELVAGENS

Os Rodinianos há muito tempo foram designados para as


unidades Reaper da Legião, patrulhando os setores mais hostis da
galáxia.
Quando estamos na caça, não há lugar na galáxia onde você
possa se esconder de nós. Experimente. Desafiamos você. Verá que já
estamos nas sombras, esperando por você.
Capítulo 01

TALUS

GIREI minha nave classe Reaper em um arco voando baixo


antes de pousar entre os destroços de um ferro-velho. Seria mais
seguro aqui com os restos de sucata do que estacionado nas ruas
reluzentes com os outros turistas.
Pelo menos desta forma, ninguém ficaria tentado a roubar
uma nave de asa leve que parecesse abandonada. Liguei a tecnologia
de camuflagem para garantia extra. Não há necessidade de tentar o
destino, dado o buraco de merda que eu precisava verificar nos
próximos dias.
Erebus.
Conhecido por todo tipo de devassidão pela qual alguém
estaria disposto a pagar, também servia como base para a gangue
Tanes.
Naves estelares sobrevoavam os edifícios; seus chiados
podiam ser ouvidos sobre o estrondo repetitivo da música eletrônica
que pairava nos bares ao redor. Os cheiros de poluição e sujeira
assaltavam meu nariz. Telas robóticas pairavam sobre a avenida
principal, exibindo anúncios de mulheres seminuas prometendo
felicidades para sempre pelo preço certo.
Androides enferrujados mancavam quebrados, limpando os
canos, fios e parafusos amontoados nas ruas.
Levantei meu olhar para o campo de força holográfico
cercando Erebus e protegendo o posto avançado do espaço. Foi a única
coisa que eu realmente gostei neste lugar degradado. As placas
holográficas retratavam nuvens e uma lua cheia, ocasionalmente
tremeluzindo, mas ainda me lembrando de um céu noturno que eu
havia contemplado quando era jovem.
Duas pequenas naves desviaram uma da outra, uma delas
colidindo na rua a vários metros de distância. Jovens alienígenas se
revezavam chutando um androide destruído, antes de correrem em
direção à pequena nave. Não demorou muito para que mais
oportunistas saíssem das sombras e verificarem se poderiam levar algo
de valor.
Meu lábio se enrolou em repulsa e engoli meus instintos
básicos com um rosnado. Este não era nem o momento nem o lugar
para intervir. O posto avançado inteiro estava cheio de escória
parasitária, e deixar um rastro de corpos não me ajudaria enquanto eu
estivesse nesta operação camuflada.
Me encostei na parede de um prédio que eu só poderia
presumir ser um bar. Era a única área não iluminada em neon, e
permiti que a escuridão mascarasse minhas características.
Uma fêmea Ceresiana, com suas escamas azuis cintilantes
iluminadas pelas luzes neon, encostou-se na entrada de um prédio que
brilhava em amarelo neon. Suas escamas cobriam seus seios fartos,
mal ocultos pelo simples sutiã rosa que ela usava. Ela levantou as mãos
sobre a cabeça como se estivesse dançando ao som da música. Suas
mãos percorreram o comprimento de seu corpo, puxando sua calcinha
rosa combinando.
A Ceresiana estendeu a mão para um cliente em potencial,
acariciando seus ombros enquanto esfregava os seios contra o braço
dele. Ela fez beicinho quando ele balançou a cabeça para ela,
empurrando-a como se fosse uma criatura doente. Por um momento,
ela o observou sair antes de seu olhar serpentino se voltasse para mim.
Ela me examinou, cruzando os braços e abrindo as pernas. Ela passou
a língua comprida pelos lábios. Seus olhos serpentinos piscaram de
lado e ela se virou, batendo em sua bunda bem formada.
Eu ri do convite sutil dela.
Engraçado como alguns meses atrás, eu teria aceitado,
caçando-a depois de uma missão de caça. Um corpo quente e disposto
a aquecer minha toca por uma noite. Mas desde que meu comandante
Reaper, Cade Lonza, encontrou sua companheira predestinada em
Solana, eu me senti inquieto por mais. Isso me deu esperança de que
talvez um dia eu encontrasse minha própria companheira
predestinada.
A esperança era uma coisa perigosa nas Terras Selvagens.
Dois Redbacks saíram de um pub azul neon, brigando um
com o outro com seus oito braços. O mais alto dos dois saltou, suas
presas rasgando o pescoço do mais baixo, cujos gritos selvagens se
perderam no barulho da cidade.
Vários clientes saíram em seu rastro, incitando a briga. Eles
eram um grupo heterogêneo de diversas raças, torcendo e fazendo
apostas.
— Pega ele!
— Morda ele!
— Bata nele com mais força!
Observei cada um deles, procurando a marca, qualquer
coisa que indicasse que eles estavam marcados com uma tatuagem dos
Tane. Estava se revelando surpreendentemente difícil. Embora todos
em Erebus parecessem trabalhar para o sindicato, poucos eram
realmente parte da gangue. Eu precisava de um membro verdadeiro,
alguém de posição alta o suficiente para ostentar uma tatuagem.
Somente alguém assim conheceria locais de entrega e outros locais de
comércio.
A briga atingiu um ápice fervoroso. O Redback mais alto
prendeu sua mandíbula no antebraço do mais baixo e, com um rápido
movimento de cabeça, arrancou-o completamente do corpo do
oponente. Ele caiu na frente de um homem grande e musculoso que
escolhera sair do pub naquele momento inoportuno. O homem fez uma
careta, os espinhos vermelhos por todo o seu rosto enfatizando sua
irritação enquanto ele segurava uma bolsa preta mais perto do corpo.
Curioso, examinei seu rosto e busquei qualquer informação
que pudesse na minha tela retinal. Ele era um Kuzra, sem afiliações
conhecidas ou qualquer outra informação biológica. Para todos os
efeitos, Sr. Cara Espinhoso era puro como uma virgem.
Sim, e eu era um filhote nascido ontem.
A briga terminou quando o Redback mais alto montou seu
oponente e afundou os dentes no pescoço da vítima. Com um estalo
doentio, o Redback mais baixo ficou mole e os espectadores aplaudiram
em alegria horripilante, voltando em direção ao pub.
O Kuzra abriu caminho para a festa. Ele chutou o braço
decepado em direção ao Redback morto enquanto caminhava. Seu
olhar amarelo espiou ao redor antes de ele virar nos calcanhares,
revelando uma tatuagem de espada preta queimada na parte de trás
do pescoço.
Sorri nas sombras. Alvo encontrado. Afastei-me da parede,
puxando meu capuz sobre a cabeça antes de ser banhado pelas luzes
de neon chamativas.
Eu segui atrás do Kuzra, observando como ele mantinha a
bolsa perto do corpo. Poderia ser qualquer coisa, na verdade. Suas
roupas. Uma coleção de cabeças cortadas. Livros de biblioteca para um
orfanato necessitado.
Mas minha intuição me dizia que era o que eu tinha sido
designado para encontrar - evidências de tecnologia do mercado negro
dos Kridrins. Também conhecidos como os filhos da puta que
traficavam escravos.
O comando da Legião queria mais informações sobre eles.
Eles não existiam em nenhum banco de dados, o que significava que
eram bons em esconder seus rastros.
Não importava quão bons eles eram, no entanto. Nós os
encontraríamos. Os Rodinianos encontravam tudo, não importa o quão
bem escondido estivesse. Seria apenas questão de tempo.
Um grupo de bêbados saiu cambaleando de um bar, rindo
e se acotovelando antes de se chocar contra mim. Rapidamente, me
escondi em um beco. Não precisava me envolver no que parecia ser
mais uma briga de bar.
Olhei ao redor, meu rabo se contorcendo quando não
consegui encontrar a cabeça vermelha e espinhosa do Kuzra.
— Droga — resmunguei. Não podia perder esse desgraçado
agora.
Eu desviei dos membros briguentos da gangue, que
estavam ocupados rolando no chão. Enquanto isso, o Kuzra olhou em
volta, farejando o ar. Tive o cuidado de me manter na direção do vento,
mas não tinha certeza de suas habilidades olfativas. Seus olhos
amarelos olharam na minha direção e eu me lancei, escondendo meu
corpo grande atrás de uma barraca fumegante com carne salteada em
uma frigideira.
— Lula? — perguntou o dono da barraca, um Morsei cinza
com seis tentáculos em vez de mãos. Ele pegou um espeto, a carne
ainda se movendo nele, e ofereceu para mim.
Balancei a cabeça e tentei evitar fazer uma careta. Maldito
Erebus, atraindo criaturas voláteis que gostavam de culinária nojenta.
— Não, obrigado — murmurei.
Olhei para o meu alvo, que estava flertando com mais uma
fêmea Ceresiana, esta vestida com um conjunto brilhante de biquíni e
tanga prateados. Ela inclinou a cabeça para o lado, sorrindo enquanto
acariciava o braço dele com um tentáculo.
O Kuzra se aproximou, sussurrando algo no ouvido dela, e
eu vi a expressão dela mudar de sedutora para horrorizada.
Ela bateu nele e virou-se, batendo a porta em seu rosto.
— Não é um conquistador, parece — murmurei para mim
mesmo, deslizando para um beco pouco iluminado e observando-o virar
em outra rua.
Pulei em uma lixeira, impulsionando de parede em parede
até pousar em um telhado. Ele era um sujeito escorregadio, indo e
vindo, suas mãos entrando em bolsos de pessoas que passavam e
tirando créditos. Eu o segui, observando de cima, pulando de um
telhado para o outro. Às vezes, ele parava para mexer na bolsa.
Seja lá o que estivesse carregando, era importante.
A voz de Cade ecoou nos meus comunicadores enquanto eu
saltava para outro telhado.
— Reaper Um para esquadrão Reaper. Chamem.
— Dorn.
— Lyova.
— Talus — respondi, mantendo a voz baixa. Agachei-me e
inclinei-me na beirada do telhado enquanto observava meu alvo entrar
em uma grande praça com uma fonte quebrada.
Não havia tantas luzes de néon nesta área, mas havia um
clube com um grande display holográfico feminino iluminado em néon
rosa. Ela estava agachada na entrada com as mãos tocando os seios.
— Tal, você encontrou alguma coisa em Erebus?
Rosnei baixo na garganta.
— Maldição. Muito. Para encurtar a história, os Tanes são
terríveis com as fêmeas.
Ouvi a risada de Lyova pela linha.
— Tão ruim quanto você?
— Sou adorável com as damas — eu disse, pulando do
telhado e caindo de pé com fluidez nas ruas. Contornei o clube,
mantendo minha forma na escuridão apesar das luzes néon rosa
piscando. Deve haver outra saída, pensei, encontrando um beco.
Suspirei, meu rabo se agitando enquanto me aproximava
da porta dos fundos do clube.
— Você simplesmente não poderia tornar isso mais fácil
para mim agora, não é? — Murmurei, esfregando o queixo enquanto
me perguntava se poderia observar as duas saídas do telhado.
Provavelmente não. A saída dos fundos ficava logo atrás da
frente.
— Aquele filho da puta.
— Acho que você não está se referindo a um de nós? — Dorn
disse de maneira sarcástica.
— Obviamente — disse, rosnando enquanto me aproximava
da entrada da frente, mantendo meu corpo pressionado à parede. —
Estou esperando que esse aqui, quando sair desse lugar horrível, me
leve aos outros Tanes. — Já passei mais tempo do que queria em
Erebus e agora tenho que esperar por esse pedaço de merda nojento
terminar de molhar o pau. — E vocês? Encontraram algo útil?
— Nada. Está tudo calmo — disse Dorn.
— Assim como sua vida amorosa? — provocou Lyova.
— Lyova. — Cade interrompeu o potencial rosnado com
maestria. — Como está o posto de Luna?
O outro Reaper suspirou pelo comunicador. Eu entendia a
frustração.
— Entediante. Parece que Tal é o único se divertindo.
— Como de costume. Essa configuração é meio
surpreendente — comentei, agachando-me e observando os homens
entrando e saindo do clube.
— O que quer dizer? — perguntou Cade.
— Todo mundo aqui parece fazer parte do sindicato Tanes
- Os bordéis, bares, clubes, qualquer coisa que dê lucro pelo menos.
Lyova resmungou.
— Bem, o que você esperava de um posto nas Terras
Selvagens? Não são exatamente conhecidos por suas obras de caridade.
— Sim, mas nem todo mundo tem a marca Tane, embora
seus negócios se alinhem com eles — Dei de ombros, embora eles não
pudessem ver o gesto. — Suponho que esperava mais bandidos
estúpidos e menos uma estrutura formal de marketing multinível. A
maioria deles parece que está tentando vender um pedaço de imóvel.
— Bom saber. Mais alguma coisa?
Suspirei.
— Houve várias brigas e furtos, mas não peguei nenhuma
conversa que pudesse ser código para tráfico humano, escravidão ou
um grande negócio. — Encostei a cabeça na parede e agarrei meu rabo
para evitar que ele se contorcesse. — Este posto é um inferno cheio de
parasitas, mas nada fora do comum para essa gente. Você tem certeza
de que algo está acontecendo aqui?
— O setor de inteligência me informou que os Tanes estão
negociando com os Kridrins e que Erebus tem sido o ponto mais
quente.
— Estou me perguntando se eles finalmente perceberam
que a Legião estava se aproximando deles — eu disse, observando um
grupo de homens sair do clube. — Você sabe, desde que alguém invadiu
aquele posto avançado do Nexus há alguns meses, deixando um rastro
de corpos para trás.
Cade soltou uma risada.
— Ei, agora. Você sabe que não gosto de sujeira. Além disso,
os alfas de Eridani me garantiram que reduziram aquele posto a cinzas.
— Sua voz letal me fez sentir grato por tê-lo ao meu lado.
— Sim, prova meu ponto. O comando da Legião lança um
canhão quando um martelo serviria. Exagero. Não surpreende que os
bandidos estejam motivados a mudar táticas e ficar discretos.
— Nós também temos nossos truques — disse Dorn. — Você
instalou as atualizações no seu traje?
Toquei na minha manopla, ativando as atualizações
enquanto ele falava.
— Claro. Talvez tenha feito algumas modificações por conta
própria.
A risada sombria de Dorn ressoou por trás de suas
palavras.
— Eu teria ficado desapontado se você não tivesse feito isso.
— Nós os encontraremos em breve — disse Cade. — Nos
reuniremos em Erebus. É o mais provável. Apostaria meu rabo nisso.
Dorn? Lyova?
— Obrigado, porra! — exclamou Lyova. — Vou queimar a
atmosfera para chegar lá. Vai levar algumas horas.
— O mesmo — concordou Dorn.
— Cuidado, Talus.
— Encerrando — disse, desligando os comunicadores.
Sabendo que minha equipe logo estaria ao meu lado, não havia
necessidade de eu esperar.
A Legião não havia afirmado sua presença nesta parte da
galáxia, pelo menos ainda não. Mas eu ainda não queria correr o risco
de ser reconhecido como um Reaper. Além disso, eu trabalhava melhor
nas sombras.
Disfarçado, saltei do meu poleiro.
Capítulo 02

TALUS

OS TRAJES REAPER PADRÃO tinham uma configuração de


camuflagem que era útil em ambientes externos. No entanto, quando
dentro de ambientes fechados, havia uma costura defeituosa que
mostrava um pouco de contorno.
As atualizações que Dorn havia mexido tornaram possível
nos escondermos à vista de todos para que pudéssemos parecer
qualquer pessoa. E o pequeno ajuste que adicionei possibilitou que eu
parecesse uma composição das características mais comuns na minha
proximidade imediata.
Nada era mais invisível do que o espectador comum.
Meu traje ficou pixelado por um momento quando pousei
nas sombras e então se transformou novamente em calças de couro e
um colete combinando, exibindo meu peito e bíceps tonificados. Um
rosto suave e genérico sob uma bagunça de cabelos castanhos escondia
as penugens e listras ao longo da minha pele exposta que
instantaneamente me denunciariam como um Rodiniano. Eu precisava
manter minha cobertura até encontrar meu alvo.
Deixei um cliente bêbado tropeçar pelas portas antes de
mim.
O grave som da batida martelou meus ouvidos assim que
as portas do clube se abriram, as vibrações perturbando meus órgãos
internos. O ar viciado misturado com perfume enjoativo mal disfarçava
os odores pungentes dos corpos. A fumaça tornava minha visão turva.
Meu traje poderia ter sido um exagero; ninguém enxergaria
direito aqui.
A anfitriã estava atrás de um pódio, batendo garras negras
contra uma tela. Ela usava shorts dourados que mal cobriam suas
nádegas e um top cintilante que se esforçava para conter seus seios
generosos. Seu cabelo roxo estava penteado para trás em um rabo de
cavalo alto que caía até suas costas.
Um macho mudou seu peso de um pé para o outro.
— Cartão de membro? — ela perguntou, sem se incomodar
em erguer o olhar da tela. Ela estendeu uma mão longa e ágil em
direção ao recém-chegado enquanto continuava a bater na tela com a
outra.
— Eu não sou membro — ele disse. — Mas estou aqui para
encontrar um amigo. Você pode chamá-lo e ele irá garantir por mim.
Sério.
Os três olhos dela finalmente se levantaram, estreitando-se
no homem inquieto.
— Fora — ela apontou para a porta com uma garra.
— Mas… — qualquer objeção que ele tivesse foi
interrompida quando dois grandes guardas Ceresianos apareceram de
um painel oculto. Eles pareciam gêmeos, com escamas decorando os
lados do rosto e seus longos cabelos azuis amarrados em uma trança
baixa. Ambos seguravam bastões faiscantes com eletricidade.
Então, meu traje exagerado não parecia mais exagerado.
Esses caras estavam falando sério.
Meu olhar permaneceu em suas hastes luminosas. Um
pouco sofisticadas para esses moradores das profundezas que
confiavam principalmente em sua força bruta. Claro, eles poderiam ter
roubado a tecnologia de qualquer número de raças, mas meu instinto
me disse que eles conseguiram esses brinquedos novinhos em folha ao
lidar com os Kridrins.
⁠Atravessei o drama deles, cabeça baixa, pensando em
pensamentos chatos e genéricos. Um dos guardas lançou um olhar na
minha direção por um momento, antes de desviar o olhar de mim e
voltar sua atenção para o homenzinho, que agora estava implorando
para usar o banheiro.
Olhei ao redor da sala, observando o bartender preparar
bebidas, fêmeas levando machos para salas privadas, o DJ dançando
em sua plataforma no fundo. Não achei que a música pudesse ficar
mais alta.
Fêmeas desfilavam pelo clube, usando vestidos
translúcidos que não escondiam nada. Elas carregavam bandejas de
bebidas, seus olhares afiados permanecendo nos clientes enquanto
passavam.
Outras fêmeas dançavam em pódios em tubos cercados por
homens assobiando e gritando. Os homens inseriam créditos nos
tubos, exigindo mais entretenimento.
Meu Kuzra não estava entre a multidão bêbada.
Eu procurei pela sala até que finalmente meu olhar pousou
em um Kuzra familiar de rosto espinhoso e cabelo vermelho-fogo
carregando uma grande bolsa preta. Ele estava no canto do clube,
conversando com um macho de terno brilhante que parecia ser o
gerente do lugar.
Os guardas bateram em mim e mal recebi um grunhido de
desculpas. A desvantagem de ser imperceptível para o público em geral.
Quando me virei para o lugar onde o Kuzra estava
conversando, ele havia desaparecido, o gerente focado em sua tela de
trabalho.
Bem, que porra é essa?
Eu atravessei o clube e saí pela saída dos fundos. Nunca
pensei que seria grato pela poluída e úmida atmosfera do lado de fora.
Respirei fundo e fechei os olhos. Deixe meus instintos me guiarem
sobre o próximo passo.
Quase voltei para o clube, até ouvir um pequeno guincho
que parou quase no mesmo instante em que começou. Esforcei a óptica
das minhas lentes retinais para espiar nas sombras do beco. Lá, vi o
Kuzra, e ele não parecia estar sozinho.
Meu sangue ferveu. Eu não suportava ver uma fêmea em
perigo.
— Ei, você tem fogo?
Essa foi toda a abertura que a fêmea precisava para se livrar
do aperto do Kuzra e voltar correndo para o clube.
O Kuzra se virou para mim, carrancudo enquanto fechava
o zíper das calças. Desculpa nojenta para um homem.
— O que diabos você está olhando?
— Desculpa por interromper. — Eu sorri, aproximando-me
dele. — Ei, eu não te conheço?
O Kuzra bufou.
— Caia fora, seu filho da puta estúpido...
Eu o agarrei pela garganta e o joguei contra a parede,
deslizando-o para cima até que seus pés ficassem pendurados. Minha
tecnologia de camuflagem falhou no momento em que me movi contra
ele. Ele ofegou, suas pernas chutando, mas eu as esquivei. Suas mãos
me arranharam, mas eu as ignorei e apertei minha mão ao redor de
sua garganta até que sua pele ficasse em um interessante tom de roxo.
— Olha, estou cansado desse jogo de perseguição — eu
disse, observando seus olhos se arregalarem. — Eu sei que você sabe
o que sou. Também sei que faz parte do sindicato Tane. Você vai me
levar para sua pequena base de operações agora mesmo para que eu
possa confirmar algumas coisas, e não vai criar problemas sobre isso.
Entendeu?
O Kuzra engasgou.
— Balance a cabeça se entendeu.
O Kuzra acenou veementemente com a cabeça.
— E você não vai fazer nada estúpido, tipo ligar para o seu
chefe ou me deixar na mão, certo?
O Kuzra assentiu.
Me inclinei, sorrindo com meus dentes à mostra.
— Se fizer isso, quando eu te pegar — eu bati sua cabeça
contra a parede. — E eu vou te pegar — sussurrei — farei com que
nunca mais possa brincar com aquela coisinha entre suas pernas.
Balance a cabeça se entendeu.
O Kuzra assentiu, lágrimas surgindo em seus olhos.
Eu o soltei e ele caiu no chão, segurando a garganta e
ofegando por ar. Ficando sobre ele, coloquei as mãos nos quadris, um
sorriso cruel se formando em meus lábios. Garanti que ele pudesse ver
meus dentes pontiagudos brilhando apesar da fraca luz da rua.
Finalmente, estava progredindo. Quando ele terminasse de
se aliviar, ele me levaria onde eu precisava ir, e eu poderia acabar com
essa favela de posto avançado.
Capítulo 03

TALUS

CHUTEI O KUZRA PARA FRENTE, vendo-o tropeçar e cair


de joelhos. Ele praguejou, resmungando consigo mesmo enquanto
limpava a sujeira do beco de suas calças. Olhando por cima do ombro,
ele me fulminou com o olhar antes de seguir adiante.
Ou ele estava enrolando ou me levando em círculos.
Provavelmente os dois. Não deveria levar a noite toda para chegar a um
esconderijo secreto dos Tane em um posto pertencente aos Tane.
Erebus era tão grande. O holograma acima de nós começava a ficar
amarelo e vermelho, indicando que o amanhecer estava se
aproximando rapidamente.
Parecia que o Kuzra precisava ser lembrado de quem estava
no comando aqui.
Eu ataquei, agarrando-o pelo pescoço e jogando-o de bruços
em uma pilha de fios e parafusos. Ele gritou, tentando me empurrar,
mas eu pressionei com a bota, mantendo-o imóvel até que finalmente
desistisse.
— Estamos quase lá?
— Sim — lamentou o Kuzma. — Sim, estamos quase lá.
— É mesmo? — Fiz um show ao transformar minhas garras
já afiadas em pontas brilhantes. — Porque parece estar levando muito
tempo. — Eu o chutei antes de soltá-lo, observando-o rolar de costas,
segurando o estômago. — Acho que você realmente não quer manter
seu pau entre as pernas, afinal — disse, tirando minha pistola a laser
e mirando em seu órgão genital. — Fique parado. Sou um bom atirador,
mas este é um alvo particularmente pequeno.
O Kuzra agarrou sua virilha e ficou em posição fetal,
embalando-se lamentavelmente.
— Por favor — implorou. — Estamos quase lá. Eu prometo.
Suspirei, colocando meu blaster de volta no coldre e
cruzando os braços.
— Bem, se apresse. Não tenho o dia todo.
O Kuzra choramingou ao se levantar do chão e mancou
para frente, virando em outro beco. Passamos por várias pilhas de fios
e androides quebrados decorados com tinta preta soletrando palavras
grosseiras. Tudo parecia silencioso, seja porque os bares estavam
finalmente fechando ou porque ninguém parecia viver ali. Todos os
edifícios estavam em ruínas. Nenhuma luz estava acesa. A única
luminosidade vinha das estrelas vistas através do campo de força.
O Kuzra parou.
— Qual é o problema? — perguntei, sacudindo seu ombro.
— É melhor você não estar planejando nenhuma palhaçada.
O Kuzra fungou e apontou para um prédio grande e
deteriorado, cercado por placas de metal e pilhas de parafusos e fios.
— É ali — murmurou, recusando-se a me encarar.
Eu o agarrei pela gola da camisa, ignorando seu soluço
enquanto o puxava para perto de mim.
— É mesmo?
Ele assentiu.
— É mesmo.
Eu estreitei os olhos.
— É mesmo, mesmo?
— Sim — lamentou. Agora você pode me soltar. Eu te levei
até o esconderijo. O que mais você quer de mim?
Eu o larguei, virando nos calcanhares e examinando o
prédio enferrujado.
— Tem guardas por aí?
O Kuzra gemeu atrás de mim.
— Vamos lá, cara. Já estou ferrado por te trazer até aqui.
Você não pode simplesmente aceitar o que o novelo de lã de gatinho te
dá?
Eu sacudi a cabeça incrédulo.
— O quê?
— Você sabe, aceitar o que o novelo de lã de gatinho te dá.
Olhei para o céu. Malditos tradutores.
— Tudo bem. Seja lá o que for. E não — agarrei sua camisa
e o puxei para trás de mim. — Você vai me dizer como entrar naquele
lugar.
O Kuzra resmungou.
— Isso não fazia parte do acordo.
Franzi o cenho.
— Bem, eu faço as regras — o puxei para perto e rosnei,
expondo minhas presas. — Entendeu?
O Kuzra assentiu, seu corpo tremendo.
— Entendi — ele piou.
— Ótimo.
O Kuzra se arrastou em direção ao prédio, me levando por
pequenos becos e pulando por escadas quebradas e androides. Olhei
para cima, notando guardas vestidos de preto, segurando blasters com
uma tatuagem dos Tanes na parte de trás do pescoço. Eles
patrulhavam de um lado para o outro.
Claramente, algo estava acontecendo. Por que eles
precisariam de tantos guardas nesta área?
O Kuzra me conduziu até um prédio e levantou uma grade
que levava aos esgotos. Ele fez um gesto para que eu entrasse.
Não me movi.
Ele suspirou.
— Este é o jeito mais seguro de entrar no depósito —
sussurrou, olhando ao redor para ver se alguém nos observava pela
janela quebrada.
— E você tem certeza de que não tem guardas?
— Positivo. Ninguém sabe disso.
— Então como você sabe? — rosnei.
O Kuzra deu de ombros.
— Às vezes eu entro com as fêmeas. Elas querem ver... os
itens.
Eu zombei. Questionaria suas habilidades com as fêmeas,
mas não tinha mais tempo para me incomodar com esse idiota.
— Tudo bem, disse — agarrando-o enquanto pegava o
controlador da minha cintura.
— Espera, não — ele sibilou, se contorcendo.
— Se eu descobrir que você mentiu para mim, vai acordar
sem algo muito importante — murmurei, inserindo o injetor em seu
pescoço.
Os olhos do Kuzra se fecharam e ele caiu, o rosto batendo
em um monte de parafusos que provavelmente lhe dariam uma dor de
cabeça quando acordasse.
— Isso deve te impedir de causar problemas nas próximas
vinte e quatro horas.
Olhei ao redor, imaginando se deveria confiar na palavra do
Kuzra ou encontrar outra maneira de entrar. No entanto, quem sabe
quanto tempo isso levaria? Além disso, essa parecia a melhor opção.
— Lá vai.
Saltei para os esgotos, engasgando enquanto o cheiro de
podridão e sujeira assaltava meus sentidos.
— Maravilhoso — rosnei, cobrindo a boca. Liguei a luz
conectada ao meu traje e corri pelo túnel escuro. Quanto mais rápido
chegasse ao esconderijo, mais rápido eu poderia sair dessa bagunça.

VOCÊ PODE FAZER ISSO, repeti para mim mesmo diversas


vezes, ignorando o lodo minhas botas e o cheiro impregnando tudo ao
meu redor. Apenas corra mais rápido. Pense em atirar em coisas. E
socar coisas.
Quando visse aquele Kuzra de novo, ia torcer o pescoço dele
por me fazer atravessar essa porcaria.
Havia luz vindo de outra grade mais à frente.
Eu não sabia se deveria agradecer aos deuses antigos ou
me preocupar com o fato de haver guardas circulando em torno de
minha única salvação.
— O que você acha deste, Chefe? — ouvi um homem dizer.
— O que quer dizer com este? Todos eles vão esta noite.
O homem gemeu.
— Não podemos manter apenas um?
— Não.
Passos se afastaram da grade. Fiquei observando qualquer
movimento, mas parecia que algo estava sobre a grade. Algo metálico e
com rodas.
Minhas mãos alcançaram os buracos e empurraram para
cima, suavemente para não fazer barulho. Coloquei-o de lado e rastejei
através do buraco. O espaço entre a grade e o que parecia ser um tipo
de veículo quadrado era pequeno e mal cabia meu corpo grande.
Rastejei, avançando até que conseguisse espremer meu corpo pelo
pequeno espaço.
Sim. Finalmente estava dentro do esconderijo dos Tane. Eu
beijaria o chão se pudesse.
E cheirava tão bem aqui dentro. Inspirei profundamente. O
aroma era absolutamente maravilhoso. Era familiar.
Sacudi a cabeça. Este não era o momento de se distrair.
Eu me agachei, tirando minha pistola a laser e segurando-
a perto do meu corpo. Espreitando ao redor do veículo quadrado, eu
parei. Essas coisas não eram veículos espaciais estranhos. Eram
gaiolas. Olhei dentro da próxima, encontrando-a vazia.
O horror me inundou.
O que eles mantinham dentro dessas gaiolas?
Eu me agachei, correndo pela sala e me escondendo atrás
de diferentes gaiolas vazias até finalmente ouvir algo estranho. Parecia
choro. Eu espiava ao redor de uma gaiola, vendo uma fêmea humana
soluçando entre suas mãos. Outra pressionava a testa contra as grades
de sua gaiola.
— Às vezes eu entro com as fêmeas. Elas querem ver... os
itens.
Agarrei meu blaster. Aquele pedaço de merda nojento. Eu
deveria tê-lo matado.
Um membro bateu com um bastão elétrico em uma gaiola,
rindo enquanto a prisioneira gritava de medo. O som lastimável ecoou
pelo depósito.
O alienígena destrancou a porta dela e eu avancei,
segurando meu blaster, pronto para atirar. Ele a acertou com o bastão,
o corpo dela se contorcendo com a carga elétrica percorrendo-a.
Eu ajoelhei, apontando o blaster para o filho da puta.
— Ei, Chefe — chamou o alienígena, agarrando a fêmea
agora inerte pelo braço como se ela não passasse de uma boneca
descartável. — Posso ficar com ela?
O Chefe Tane, um Kuzra azul vestido com um terno,
balançou a cabeça e caminhou em direção à gaiola, negando com a
cabeça.
— Pare de brincar com a mercadoria, idiota. Os Kridrin não
vão querer se você continuar batendo nelas. Esses pequenos filhos da
puta são exigentes.
O alienígena soltou a fêmea em seus braços, e ela caiu com
um baque alto. Eu fiz uma careta com simpatia. A pobre garota
provavelmente bateu a cabeça.
— Desculpa, Chefe. Você sabe como essas fêmeas me
deixam tão excitado.
— Bem, controle-se. Os Kridrin estão chegando hoje à noite
e eu preciso que tudo corra perfeitamente. — Ele esfregou as palmas
das mãos, como se já estivesse imaginando suas recompensas.
O subordinado olhou ao redor da gaiola, seu olhar
passando por cada fêmea, que tentavam se esconder de seu olhar
repugnante.
— Posso ficar com o que sobrar?
O chefe suspirou, virando-se e afastando-se das gaiolas.
— Tudo bem — ele chamou.
Eu observei o capanga sair da gaiola, trancando a porta
atrás dele. Ele virou na minha direção e rapidamente me ajoelhei,
rastejando por baixo da gaiola, ignorando a dor quando meus ombros
bateram no metal acima de mim.
O cheiro estava ficando mais forte, seja lá o que fosse. Era
melhor do que os cheiros dos esgotos, isso era certo.
— Talus chamando Reaper Um — murmurei em meu
comunicador. Eu me movi, me sentindo estranhamente quente.
— Aqui é Reaper Um, o que é, Talus? — Ouvi a voz de Cade.
Eu gemi, o aroma me envolvendo. De onde vinha? Eu
poderia me afogar nele. Passei a mão pelo meu corpo, meu pau
endurecendo.
— Talus?
Limpei minha garganta.
— Parece que a informação estava correta. — Eu espiava de
onde estava escondido, observando o chefe dos Tanes andar ao redor
das gaiolas. — Eles vão negociar com os Kridrin esta noite.
— Onde você está agora?
— Estou no depósito deles, escondido debaixo de uma
gaiola. — Eu abafei um gemido quando outra onda do maravilhoso
aroma me atingiu. Eu cravei minhas garras na palma da mão para
clarear minha mente.
— O que devo fazer? Há muitas fêmeas aqui.
— Os Kridrins estão tramando algo — disse Cade pelo
comunicador.
Revirei os olhos.
— Obviamente. — Meu rabo se agitou. — Suponho que eu
deva interromper a negociação?
Um arrepio percorreu minha espinha e me afastei do meu
esconderijo. Precisava ir para longe dali. Agachando-me, corri para o
outro lado do depósito, pulando para cima de uma gaiola e depois
saltando, agarrando uma viga e puxando-me para cima.
O cheiro havia sumido.
Suspirei aliviado, embora uma parte de mim me instigasse
a voltar, a procurar pela fonte. Mantive meu corpo perfeitamente
imóvel. Eu não podia sacrificar a missão por causa de uma erva-de-
gato, ou qualquer que fosse o segredo dos Tanes.
Era delicioso.
— Tal! — Cade gritou pelo comunicador. — Você está aí?
Saltei, sem perceber que Cade estava falando no
comunicador.
— Sim, estou aqui. — suspirei, balançando a cabeça.
— Você está bem? Aconteceu alguma coisa?
— Não, por quê?
— Você não estava respondendo.
Fiz uma careta.
— Estou bem.
— Você perdeu seu... bem, você sabe. — Lyova riu.
Rangei os dentes.
— Não exatamente.
— Fique de olho na negociação, mas evite se infiltrar —
continuou Cade — Pelo menos não agora. Precisamos saber
exatamente o que os Kridrin estão dando aos Tanes. Nós vamos ajudar
as fêmeas. Dorn e Lyova já estão correndo para Erebus.

— Já estamos a caminho, chefe.

— Queimando atmosfera enquanto falamos.

— Bom. Me mantenham informado. Todos vocês.

Era bom ter uma equipe que me apoiava. Esse tipo de coisa
era raro.
— Vou fazer isso, Reaper Um. Fim da transmissão. —
Desliguei o comunicador. Apesar da necessidade de concluir essa
missão com sucesso, ainda vasculhei a sala em busca da fonte daquele
aroma.

Ele me chamava, como se fosse parte do meu sangue.


Parecia familiar, embora eu estivesse bastante certo de nunca ter
cheirado algo assim antes.
Faltavam várias horas até a suposta entrega. Eu estaria
descansado e pronto. Depois de enviar uma mensagem cifrada para o
Reaper Um, peguei uma corda longa e me amarrei na viga, deitando e
tentando ficar o mais confortável possível.
O aroma me envolveu e permiti que ele me levasse a um
sono profundo, meus olhos despertando internamente e encontrando
um rosto lindo e familiar.
Capítulo 04

CALLIE

— UM GIN TÔNICA, POR FAVOR — disse ao barman,


olhando brevemente ao redor e imaginando onde estavam minhas
amigas.
Meu olhar caiu no meu relógio e exalei um suspiro
frustrado, jogando a cabeça para trás e perguntando aos céus por que
eu sempre era a mais adiantada.
Eu havia corrido para casa depois do estágio no hospital e
cheguei ao meu apartamento com menos de uma hora para me
arrumar e encontrar as garotas no nosso clube habitual. Minhas
roupas de trabalho estavam jogadas em cima do meu sofá, que mal era
visível sob a montanha de uniformes hospitalares descartados,
moletom e pijamas. Eu mal tinha tomado um banho rápido, optando
até por xampu seco em vez do tradicional, e escolhi a roupa mais limpa
que tinha no armário.
E, aqui estava eu.
Adiantada.
Por que eu sempre fazia isso? Por que eu sempre me matei
só para evitar incomodar outras pessoas? Inferno, não era como se a
Rebecca e a Lauren se importassem em chegar no horário, isso era
certo.
Olhei para as minhas leggings pretas de cintura alta e para
a minha simples blusa combinando. Eu estava usando sapatilhas cor-
de-rosa, já que eu era um gigante com saltos; eu já era mais alta do
que a maioria das garotas e não estava com vontade de chamar mais
atenção do que já chamava.
Claro, tão mal vestida como estava agora, ainda sentia que
chamava atenção, mas na direção oposta. Todo mundo parecia tão
glamouroso e chamativo, e depois estava eu.
Queria correr de volta para o meu apartamento e trocar de
roupa. Não era como se minhas amigas se importassem em chegar no
horário. Quem eu estava enganando? Se eu fosse para casa agora,
ficaria em casa.
Encarei meu reflexo no vidro refletivo em frente a mim e
baguncei meu cabelo castanho, tentando dar mais volume, antes de
finalmente desistir e prendê-lo em um coque bagunçado.
Pelo menos minha maquiagem parecia boa, a sombra
realçando meus olhos azuis e minhas maçãs do rosto proeminentes.
Virei meu rosto de um lado para o outro, verificando se espalhei bem a
base, mas parei quando vi um homem careca atrás de mim com os
olhos amarelos mais estranhos me encarando.
Sua pele estava estranhamente pálida e havia uma borda
vermelha ao redor de seus olhos, como se ele não tivesse dormido por
várias décadas. O homem sorriu para mim através do espelho e ergueu
seu copo, dando um gole. Seu olhar nunca me deixou.
Assisti enquanto ele me olhava de cima a baixo como se
estivesse me despindo com os olhos. Um arrepio percorreu minha
espinha e forcei-me a desviar o olhar.
Por que os homens têm que ser tão nojentos? Brinquei com
uma mecha solta de cabelo, forçando-me a ignorá-lo. A rejeição fria
geralmente funcionava nesse tipo de situação.
O barman colocou minha bebida na minha frente.
— São dez dólares — ele disse.
Revirei minha bolsa, agradecida por ter algo para fazer.
Minhas mãos tremiam enquanto procurava o dinheiro. Ainda
conseguia sentir os olhos assustadores do cara em mim.
Onde diabos estava meu dinheiro?
Enquanto abria outro bolso na minha bolsa, alguém
colocou sua bebida bem ao lado da minha, o quadril encostando em
mim. Havia o bar inteiro. Por que tinham que ficar bem ao meu lado?
A pessoa esbarrou em mim novamente.
— Com licença — eu disse, pronta para mostrar minha
melhor cara de desprezo, quando vi que era o cara careca assustador.
O Homem Assustador sorriu, revelando dentes que quase
combinavam com seus olhos amarelos. Ele se inclinou em minha
direção e senti um cheiro pungente de enxofre.
— Você é muito bonita — ele disse com olhos arregalados,
sem piscar.
— Obrigada — respondi em um tom monótono. Finalmente,
encontrei onde havia escondido o dinheiro na minha bolsa e paguei ao
barman. — Adeus — disse ao Homem Assustador, pegando minha
bebida antes de virar em direção à pista de dança.
Antes que eu pudesse ir muito longe, o Homem Assustador
agarrou meu pulso, puxando-me de volta para ele.
— Fique — disse ele, sem sorrir mais, mas seus olhos ainda
estavam arregalados e sem piscar. — Ordeno que venha comigo.
Eu me soltei de seu aperto e dei um passo para trás.
— Me deixe em paz! — gritei, enquanto o barman falava algo
incisivo para o Homem Assustador. Virei-me rapidamente, grata por ter
a atenção desviada de mim.
— Aí está você!
Virei em direção à voz familiar da minha amiga, que vinha
rapidamente na minha direção.
O Homem Assustador se encolheu na multidão, longe do
olhar atento do barman. Algo brilhou em seu rosto estranho e, por um
instante, pensei ter visto seu rosto coberto de espinhos vermelhos,
como um demônio maligno de um filme de terror.
Balancei a cabeça e o assustador homem-demônio
desapareceu, como se eu tivesse imaginado todo o encontro.
Rebecca parou na minha frente, usando saltos finos e um
vestido roxo que acentuava suas curvas. Muito estilosa. Muito Rebecca.
Olhei atrás dela, observando uma garota de cabelos cor-de-
rosa que só poderia ser Lauren, entregando seu casaco e usando um
vestido brilhante que mal cobria seu traseiro, o que também era muito
Lauren. Mas era aniversário dela, então podia vestir o que quisesse.
Rebecca me analisou de cima a baixo enquanto jogava seu
cabelo vermelho sobre o ombro.
— Callista Marie Knox, o que exatamente você está
vestindo?
Revirei os olhos quando ela usou meu nome completo. Só
minha avó me chamava pelo meu nome completo.
— Nem comece. Eu estive ocupada e essa foi a roupa mais
limpa que eu tinha.
— Então precisamos arrumar mais roupas para você,
porque eu sei com certeza que você tem um corpo por baixo de tudo
isso. — Rebecca acenou a mão sobre minha forma geral. Eu não queria
entrar na questão do meu estilo - ou falta dele, na perspectiva dela -
durante a celebração do aniversário da Lauren.
— Callie! — gritou Lauren, se dirigindo até mim e me
puxando para seus braços. Meus sentidos foram imediatamente
dominados pela aura de perfume e cigarros que a seguia para onde
quer que fosse. — Você está linda, ignore a Rebecca, ela só está sendo
rabugenta porque acabou de ser dispensada — ela disse no meu
ouvido. Lauren se afastou de mim, suas unhas compridas
pressionando meus ombros. — Onde você esteve? Não te vemos há
tanto tempo.
— Eu estive ocupada — repeti, mexendo o canudo na minha
bebida. — A faculdade tem sido bem estressante ultimamente, sem
mencionar o estágio.
Lauren colocou um braço em volta dos meus ombros, me
conduzindo de volta ao bar.
— Essa é a nossa querida Callie. Futura médica. Salvador
dos pobres e oprimidos.
— Ah, chega de falar sobre trabalho — disse Rebecca
enquanto chamava um garçom. — Três doses de tequila — ela gritou
sobre a música.
— Já? — perguntei, observando o garçom se afastar para
pegar nosso pedido.
Lauren dançava ao som da música.
— É meu aniversário. Vamos nos animar!
Forcei um sorriso quando o garçom trouxe as doses.
— Então, pelo que entendi, hoje vai ser uma daquelas
noites.
Rebecca revirou os olhos enquanto colocava algumas notas
na mão do garçom.
— Você deveria aprender a relaxar um pouco, Callie. Nem
tudo precisa ser sobre trabalho. — Ela ergueu a dose. — Pelo que
vamos brindar?
— Ao aniversário da Lauren, é claro — disse, erguendo meu
copo para não parecer estraga-prazeres.
Lauren sorriu com malícia.
— Que tal brindar à Callie conhecendo um amigo sexy esta
noite?
Revirei os olhos e gemi.
— Nem comece. Um cara assustador tentou me paquerar
há poucos minutos.
Rebecca franziu a testa.
— Ele fez alguma coisa?
Balancei a cabeça.
— Ele tentou me agarrar, mas o barman xingou ele, e aí ele
fugiu totalmente quando vocês apareceram. Alguns homens podem ser
tão nojentos.
— Ok, então, brindemos aos homens sexy que sabem tratar
uma dama direito — gritou Lauren.
Rebecca ergueu uma sobrancelha.
— Esses homens existem?
Lauren fez uma careta.
— Ah, tudo bem então! Apenas brindemos! — Ela lambeu o
sal da mão e virou a dose, colocando a rodela de limão na boca como
uma profissional.
Rebecca e eu ecoamos o grito de guerra.
— Apenas brindemos! — Rindo, tomei a dose, fazendo
careta quando o líquido queimou meu esôfago. Espremendo o suco do
limão para cortar o gosto, quase engasguei enquanto Rebecca e Lauren
riam. — Não faço isso há um tempão.
Lauren me abraçou novamente.
— Você precisa sair mais com a gente!
Rebecca pegou nossas mãos.
— Chega de abraços. Vamos dançar!
Lauren e Rebecca deram os braços a mim como se eu não
fosse durar na pista de dança. Mas eu provei que elas estavam errados.
Eu mexi com meu gim e tônica. Deixei cair como se estivesse quente.
Eu balancei, me balancei e dancei ao som de qualquer música que
tocasse no alto.
E, caramba, era bom não se preocupar com... nada.
Depois de dois gim-tônica e quatro doses de tequila, voltei
para meu apartamento. Joguei minhas chaves em direção à minha
tigela, observando impotente enquanto elas caíam no chão. Eu gemi e
fechei a porta com um chute, tirando minha jaqueta de couro e
deixando-a cair no chão ao lado das minhas chaves.
Caminhando até a cozinha, me servi de um copo de água.
A hora piscou no micro-ondas.
3:00 DA MANHÃ
Maravilhoso.
E eu precisava acordar às sete.
O trabalho definitivamente iria doer hoje.
Tirei minhas roupas e entrei no chuveiro, permitindo que a
água lavasse o suor e a bebida da minha pele. Encostei-me na parede,
fechando os olhos para que minha cabeça parasse de girar.
Uma figura familiar invadiu meus pensamentos. Eu só
pensava nele quando estava sozinha, mas o receberia bem agora. Eu
sonhei com esse homem por tanto tempo - corpo grande, alto e
imponente. Ele sempre me fez sentir feminina e segura.
Ninguém mais poderia viver de acordo com ele. Não importa
com quem eu estivesse - mesmo nas raras vezes em que tive um
namorado - o cara dos meus sonhos estava sempre lá para adicionar
um pouco de energia ao jogo. Eu nunca fui capaz de visualizá-lo
claramente, mas apenas a ideia dele me excitou.
Como agora mesmo. Apertei minhas coxas, mas não
adiantou. Eu não seria capaz de descansar com meu clitóris latejando
por atenção. Deslizei minha mão por todo o meu corpo. Meus dedos
mergulhando em meu centro, circulando minha carne sensível.
Imaginei o rosto do cara dos meus sonhos, envolto em sombras; embora
eu nunca conseguisse vê-lo claramente, sempre imaginei seu rosto
listrado de marrom e preto, sua pele dourada.
E, sempre que ele olhava para mim, era com tanto amor e
adoração que quase conseguia sentir seu olhar como um toque.
Imaginei-o me lambendo lentamente, ronronando enquanto
suas mãos massageavam minha bunda, me segurando perto enquanto
chupava meu clitóris. Seu rabo longo e listrado enrolando-se em volta
do meu corpo. Uma mão deslizando para segurar meu seio, seus dedos
provocando meu mamilo. Sua outra mão deslizando entre minhas
pernas, um dedo entrando em mim enquanto ele continuava a
trabalhar sua boca inteligente em mim. Minhas mãos puxavam seu
cabelo e meu coração disparava enquanto ele rosnava em aprovação.
Meus dedos deslizaram para dentro e para fora de mim,
imitando a maneira como eu o imaginava brincando com meu corpo.
Meu prazer estava chegando ao auge, crescendo em um enorme bola
até que meus músculos ficaram tensos e meu corpo se curvou sob o
tormento. Eu gritei, o som ecoando no chuveiro.
Por um momento, fiquei surpresa por estar sozinha. A
experiência pareceu tão real que senti como se estivesse muito, muito
longe daqui. Isso me fez sentir ainda mais solitária. Eu queria que ele
fosse realmente real, me abraçando e me protegendo. Com ele por
perto, aquele Homem Assustador não teria me incomodado, isso era
certo.
— Homens tigres não existem, Callie — murmurei para
mim mesma. Espremendo meu gel de banho na minha bucha, eu
rapidamente me limpei.
Sentindo-me revigorada e muito mais sóbria, enrolei-me em
meu roupão fofo e coloquei chinelos. Caminhando em direção ao cesto
de roupa, onde uma carga limpa de roupa ainda não tinha sido
guardada, pesquei um uniforme azul claro. Sacudi-os para tirar as
rugas e joguei-os na minha cadeira ao lado da penteadeira. Um
conjunto de roupas íntimas e meias estava empilhado em cima, e eu
estava o mais preparada possível para o dia seguinte.
Coloquei uma camisa velha de voluntário que era dois
números maior que o meu, coloquei um short de ginástica e subi na
cama.
Parei quando ouvi uma porta se fechar.
Aquela era a minha porta?
Saí da cama, imagens de serial killers e outros vilões de
filmes de terror entrando em minha mente. Todas aquelas noites sem
dormir maratonando programas de crimes verdadeiros inundaram
minhas memórias. Inferno, até o Homem Assustador do bar surgiu na
minha cabeça. Ele me seguiria para casa?
Obrigada, ansiedade.
Peguei um dos meus livros pesados sobre primeiros
socorros, segurando-o pronto para acertar qualquer intruso, assassino
em série ou outro, no rosto. Entrei na ponta dos pés até minha sala de
estar. Olhei embaixo da mesa da cozinha, atrás das cortinas e no
armário do corredor, mas não havia ninguém.
— Estúpida! A porta está destrancada — murmurei,
abrindo-a para ver se alguém, por algum motivo, estava no corredor
principal.
Ninguém estava lá.
Dando de ombros, tranquei a porta, colocando meu livro no
balcão da cozinha. Mantive todas as luzes acesas enquanto voltava
para o meu quarto.
Eu era um adulta. Eu poderia fazer o que quisesse.
Finalmente, me enfiei debaixo dos cobertores. Essa
paranoia maluca foi o que aconteceu quando deixei meus amigos me
convencerem a sair antes do turno duplo. Minha ansiedade aumentou
sem motivo.
Eu estava tão cansada, então pelo menos não teria
problemas para adormecer, já que ajustei meu despertador para daqui
a três horas.
Com um suspiro final, apaguei a luz. Não seria a primeira
vez que eu me enganaria no sono, e não seria a última.
Fechei os olhos e senti a escuridão me consumir. Por um
momento, pensei ter sentido outro peso afundar na cama. Mas então
os limites da minha consciência ficaram confusos enquanto eu flutuava
na ausência de peso.
Capítulo 05

CALLIE

ABRI OS OLHOS, virando-me na cama.


Havia um homem deitado de lado, seu corpo imensamente
grande de alguma forma se encaixava na minha cama de casal. Meu
olhar absorveu a cena, sabendo que certamente voltei para casa
sozinha. Soltei um suspiro quando vi que ele estava acordado e me
encarando em silêncio, seus olhos brilhavam dourados como um pôr
do sol capturado. Sua pele era tão dourada que quase parecia laranja,
listrada de preto e marrom ao longo de suas têmporas, pescoço e parte
do peito que eu conseguia ver.
As belas marcas desapareciam por baixo de seu traje, e eu
estava curiosa para ver o que havia por baixo.
Ele me observava com aqueles olhos felinos, inclinando a
cabeça em um gesto adoravelmente animal. Eu interpretei como uma
pergunta, porque quando acenei em encorajamento, ele estendeu a
mão para me tocar. Ele diminuiu a distância entre nós, ronronando
enquanto seus dedos longos acariciavam meu rosto, descendo pelo
comprimento do meu braço.
Estremeci sob sua atenção gentil. Minhas mãos ansiavam
por tocá-lo, então acariciei sua mandíbula, traçando as listras que eu
achava tão fascinantes e surreais. Ele se inclinou para o meu toque,
roçando meu rosto com o nariz. Meus dedos alcançaram suas orelhas
compridas de gato, acariciando o pelo ali encontrado. Ele segurou
minha mão suavemente, beijando meu pulso antes de sorrir e afastar
meu cabelo do meu rosto.
— Bem, olá, linda — ele disse, inclinando-se para roçar meu
pescoço. Ele depositou beijos suaves em minha espinha, seus dentes
roçando levemente minha pele. Seu ronronar suave se intensificou,
vibrando contra meu corpo enquanto ele se movia em cima de mim.
Eu amava a sensação do peso dele. Ele me fazia sentir
segura. Protegida.
Rolei para ficar de costas para poder observá-lo. Eu não
precisava me perguntar quem ele era. Este era o cara dos meus sonhos.
Nunca ele havia sido tão claro para mim antes. Novamente, eu não
costumava exagerar e festejar também.
Afundei as mãos em seu cabelo incrivelmente macio.
— Você é real? — perguntei.
Ele achou isso engraçado por algum motivo, porque riu, o
grave som vibrando contra minha barriga.
— Claro que sou real, gatinha. Sou seu.
Levantei uma sobrancelha. Meu sonho era muito acolhedor.
— Meu, hein? — Mordisquei seu nariz antes de pressionar
meus lábios nos dele. Ele aprofundou o beijo, suas mãos agarrando
minha bunda e me puxando contra seu pau duro. Eu gemi e me
esfreguei nele. — Onde você esteve a minha vida toda?
— Em algum lugar absurdamente longe, aparentemente —
ele disse entre beijos desesperados. Mordi seu lábio inferior e ele
rosnou, esfregando-se entre minhas pernas até que eu gemi por ele. —
Eu sou um estúpido, estúpido — murmurou contra meus lábios.
Eu precisava sentir mais dele contra mim. De alguma
forma, consegui tirar minha blusa. Seu olhar sobre o meu estava
ardente, suas mãos alcançando para segurar meus seios, beliscar
meus mamilos. Um prazer inimaginável, muito mais intenso do que
minhas fantasias no chuveiro, percorria meu corpo. Balancei meus
quadris contra ele, sorrindo quando ele fechou os olhos e gemeu.
— Nunca sonhei que poderia ser assim — sussurrou ele.
Os sonhos poderiam ter sonhos? Decidi, por que não, e me
joguei contra ele. Este era o único lugar onde eu não precisava ter todas
as respostas para as minhas perguntas.
Ele se virou para que eu estivesse sentada sobre seu corpo.
Puxei sua fivela, mas não consegui descobrir como abrir aquela coisa
maldita, e seu pau se enrijecendo era muito distração. Ele se inclinou,
selando seus lábios com os meus. Ele foi mais rápido que eu e arrancou
o tecido ofensivo até ficar completamente nu sob mim.
Abertamente, encarei seu pênis. Seu pau incrivelmente
grande. Deslizei meus dedos sobre ele. Sua pele parecia o camurça
mais macio esticado sobre aço forjado.
— Isso não vai caber.
Ele sorriu, beijando meu ombro.
— Vamos nos encaixar — sussurrou contra minha pele. —
Mas não farei nada que você não queira. Estou feliz o suficiente por
você estar me tocando. — Ele pressionou os lábios contra minha testa,
aspirando meu cheiro. — Nunca faria algo para te machucar, Callie.
Meu coração explodiu com meu nome em seus lábios. Da
forma como ele disse, era como se a luz suave da aurora tivesse me
aquecido por dentro, me preenchendo com seu calor reconfortante.
Envolvi meus braços em torno de seu pescoço e pressionei meus seios
contra seu peito nu. — Diga meu nome de novo — disse, beijando sua
têmpora.
— Callie.
— Não é justo que você saiba o meu nome, e eu não saiba
o seu.
— Você sabe o meu nome — disse ele, seu olhar dourado
perfurando minha alma. — Eu sou seu. Sua alma me conhece, mesmo
que sua mente não.
Ele moveu os quadris para que se esfregasse contra meu
clitóris. Uma palavra escapou dos meus lábios num gemido.
— Talus!
O sorriso que ele me deu valeu cada minuto que esperei por
esse momento. Eu o devorei, apreciando o jeito como seu nome soava
em minha boca enquanto provava seus lábios, sua língua. Minhas
mãos passeavam por seu corpo, se perdendo em seus cabelos
desalinhados e listrados.
— Quero você.
Ele beijou um caminho no meu pescoço. Eu suspirei,
jogando a cabeça para trás enquanto ele me erguia para que sua boca
encontrasse um mamilo para sugar delicadamente. Minhas mãos
puxaram seus cabelos enquanto eu gemia e esfregava-me contra seu
enorme pau.
Toquei nele hesitantemente no início, brincando com a
ponta. Seu gemido de prazer me encorajou e minhas mãos ficaram mais
audaciosas, massageando-o, acariciando seu comprimento para cima
e para baixo. Seus lábios soltaram meu mamilo e ele recuou na cama,
me observando tocar seu pau com olhos semicerrados.
Passei a língua nos lábios e recuei para que pudesse me
curvar sobre seu comprimento e engoli-lo. Um ronronar vibrante veio
de seu peito. Levei isso como algo bom. Sorrindo, lambi seu
comprimento.
— Você gosta disso, Talus? — perguntei, sabendo muito
bem que ele gostava.
— Sim — ele ofegou. — Muito, minha doce companheira. —
Sua respiração veio em ofegos, me incentivando enquanto ele
continuava a falar. Eu levei a ponta dele em minha boca, chupando
levemente. Suas mãos se fecharam nos lençóis, suas palavras se
tornando mais quentes, me elogiando por cada pequena coisa que eu
fazia.
Eu não conseguia o bastante.
Ele me afastou, meus lábios o soltaram com um som. Ele
rolou sobre mim e me pressionou na cama.
— Diga que me quer. — Sua voz estava rouca e áspera. Seus
traços estavam de alguma forma mais pronunciados, mais selvagens.
Suas presas brilharam, e seu rabo me envolveu possessivamente. Eu
deveria ter medo desse ser selvagem entre minhas pernas, mas tudo o
que eu queria era mais.
— Talus, eu te quero — sussurrei.
Ele esticou meus braços acima da minha cabeça.
— Seja uma boa gatinha e mantenha os braços lá em cima.
— Ele disse.
Seus dedos separaram meus lábios, um dedo entrando
enquanto seu polegar circulava meu clitóris. Eu me curvei contra ele,
sentindo um dedo ser substituído por dois, mergulhando dentro e fora
de mim. Seu polegar foi rapidamente substituído por sua língua,
lambendo-me uma vez. Duas vezes.
Sua língua contornou meu clitóris antes de seus lábios
pressionarem contra mim e ele começar a me chupar. Eu me curvei
contra ele, puxando seus cabelos, mas ele afastou minhas mãos,
batendo-as na cama ao meu lado e me prendendo.
— Diga como você quer — ele respirou contra mim. — Quer
gozar agora, ou quando estiver dentro de você?
Eu gemi em resposta.
— Callie?
— Os dois — sussurrei.
Talus riu quando abaixou a cabeça. Sua língua roçou
contra mim, seus dedos entrando e saindo de mim. Dois dedos se
tornaram três.
Eu gemi ao sentir um alongamento impossível. Minhas
pernas tremiam enquanto ele me lambia como se nunca fosse parar.
Mas não era o suficiente.
Eu queria mais.
Eu precisava de mais.
Puxei suavemente seu cabelo.
— Talus, pare. Espere.
Ele parou imediatamente, levantando a cabeça. Seu olhar
quente encontrou o meu, fazendo uma pergunta sem palavras.
— Eu estava errada. Eu quero você dentro de mim — disse.
— Agora. — Eu puxei contra ele, mas não o movi. Ele era ridiculamente
forte.
O canto da boca dele se ergueu em um sorriso sabido,
presas brilhando mesmo na luz fraca. Meu Deus, ele era lindo.
— Tem certeza, gatinha? — perguntou. — Estou mais do
que disposto e capaz de te dar ambos?
Eu não duvidava disso. Mas haveria tempo para brincar
depois. Por ora, eu precisava do deslizar do seu corpo contra o meu.
Esfreguei-me nele novamente, gemendo ao imaginar ele me penetrando
uma e outra vez.
— Sim, tenho certeza. Eu só quero sentir você sobre mim.
Ele segurou meu queixo com firmeza e olhou nos meus
olhos.
— O que minha companheira quer, ela consegue. — Ele
envolveu minhas pernas ao redor de seus quadris. Lentamente,
arrastou a ponta de seu pau através do líquido escorrendo na minha
entrada. Ele aspirou o ar pelos dentes. — Você já está tão molhada. —
Ele se alinhou e pressionou para dentro de mim, enfiando sua ponta
lentamente.
Eu gemi, sentindo seu calor, seu aroma me envolvendo. Eu
precisava que ele se movesse. Eu queria que ele se movesse, mas ele
estava esperando, permitindo-me me acostumar com sua enorme
largura.
Mas eu não queria gentileza. Não agora. Movi meus quadris
contra ele, acomodando-o mais profundamente comigo. Ele ofegou,
suas mãos encontraram meus quadris para me manter imóvel.
— Eu não quero te machucar, gatinha.
Mordi meu lábio.
— Você não vai me machucar.
Ele engoliu um rosnado e investiu em mim, penetrando até
o fim em um único movimento suave. As saliências de seu osso púbico
roçavam meu clitóris. Ele investiu contra mim novamente. E de novo.
Uma e outra vez. Cada longa investida me aproximando do limite. Me
dando exatamente o que eu precisava.
Rolei até estar novamente sobre ele, cavalgando. Suas mãos
agarraram meus quadris, seus olhos dourados me observando com
algo próximo da reverência. Eu me sentia como uma maldita deusa.
Eu o cavalguei. Minhas mãos encontraram as dele,
entrelaçando os dedos. Eu segurei suas mãos enquanto ele se movia
contra mim. Estremeci, ofegante a cada investida que me levava ao
limite.
— Callie — Talus ofegou, suas mãos segurando as minhas.
— Callie, você é linda.
Meu prazer estava aumentando. Eu podia sentir-me
subindo mais alto. Nunca senti um prazer tão incrível na minha vida.
Ele ronronou, seu corpo inteiro vibrando sob mim. Eu balancei mais
rápido contra ele até gritar, repetindo seu nome como se fosse a única
palavra que eu conhecesse.
Ainda tinha o nome dele na minha boca quando acordei de
repente. Ainda podia sentir suas mãos nas minhas, seus lábios contra
meu ombro, o calor de seu corpo me envolvendo. Pisquei, balançando
a cabeça.
Tudo girava. Minha cabeça oscilava. Tudo estava tão
borrado. Havia manchas na minha visão. Meu estômago se retorcia e
eu engasguei, tentando vomitar enquanto eu abraçava meu corpo.
Seria por causa da tequila?
Felizmente, não saiu nada, e descansei minha cabeça em
algo duro. Como metal.
Eu pisquei mais uma vez. Minha visão se estabilizou a cada
momento que eu acordava. Havia grades por todos os lados, como se
eu estivesse em uma gaiola. Uma gaiola pequena. Nem conseguia ficar
de pé. Segurei as barras, sacudindo-as, mas elas não se mexiam.
Que diabos?
Havia gaiolas semelhantes ao meu redor, cheias de
mulheres. Algumas estavam chorando. Outras olhavam fixamente para
o espaço. Outras ainda estavam dormindo.
Um homem bateu com um bastão na minha gaiola e dei um
pulo. As barras faiscaram com eletricidade. O homem sorriu.
Mas espere.
Ele não era um homem. Era aquela criatura espinhosa,
demoníaca e de rosto vermelho que eu vi na boate. Inclinando a cabeça
para o lado, ele abriu a boca e começou a cacarejar para mim.
Finalmente, meu cérebro deu um estalo e eu gritei, me
afastando dele para o outro lado da gaiola. Não importava o quanto eu
tentasse fugir, não havia como escapar daquele sorriso assustador e
constante.
Eu escondi o rosto nas mãos.
— Onde diabos estou? — gritei.
Capítulo 06

CALLIE

OBSERVEI os alienígenas rondando as gaiolas. Eles


cacarejavam entre si, soando como galinhas irritadas em um
galinheiro. Ou talvez fossem mais parecidos com galos, já que pareciam
ser homens.
Galos cacarejavam?
Eu pensava que só dessem aquele canto pela manhã.
Balancei a cabeça. Meu Deus, havia coisas mais
importantes para me preocupar aqui do que que tipo de sons galos
faziam.
Uma mulher estava sentada em sua gaiola em frente a mim,
com a cabeça apoiada nas barras, seu olhar atravessando o meu. Ela
usava um terno preto. Seria fofo se não fosse pelo rasgo na parte de
baixo de sua saia, ou seu cabelo loiro desgrenhado. Seus joelhos
estavam arranhados e machucados, possivelmente por ter sido
atacada. Suas mãos ainda estavam sujas do que quer que tenha
causado sua queda.
— Ei — eu disse, batendo nas barras da minha gaiola. —
Ei, você.
Ela piscou e encontrou meu olhar, seu rosto se desfazendo
em soluços.
— Eu pensei que isso fosse um sonho — sussurrou,
enxugando os olhos.
— Como você chegou aqui? — perguntei, olhando ao redor
para ver se os alienígenas estavam me observando. Eles pareciam
bastante ocupados cacarejando. O que eles estavam fazendo?
Fofocando?
— Eu não sei — ela ofegou, esfregando as têmporas. — Eu
continuo tentando lembrar. Eu estava andando pelo estacionamento.
Fiquei até tarde para terminar o briefing do meu caso. Sempre fico até
tarde — sussurrou enquanto enxugava as lágrimas. — Lembro de algo
me atingindo. — Ela tocou a parte de trás da cabeça com mãos
trêmulas. — A próxima coisa que sei é que desperto aqui, de todos os
lugares.
Algo me ocorreu naquele momento. Na noite do aniversário
de Lauren, havia aquele cara assustador no bar me observando.
— Eu ordeno que você venha comigo.
Fiz uma careta, lembrando do sorriso sinistro e dos olhos
arregalados dele, e como ele me agarrou, se recusando a soltar. Depois,
houve um som estranho em meu apartamento. Era como se uma porta
estivesse batendo. Meus dedos pressionaram a têmpora enquanto eu
me esforçava para lembrar. Aquele homem deve ter me seguido e se
escondido em algum lugar.
Estremeci, imaginando-o escondido embaixo da minha
cama enquanto eu me preparava para dormir, me observando no
espelho da minha penteadeira. Imaginei ele esperando eu fechar os
olhos antes de sair de seu esconderijo.
Devem ter me drogado enquanto eu dormia.
Maravilhoso.
Balancei a cabeça, forçando-me a parar de pensar nisso.
— Vai ficar tudo bem — eu disse, sem saber quem eu estava
consolando.
A mulher balançou a cabeça, encostando a testa na barra.
— Eu vou nos tirar daqui.
— Como? — ela soluçou. — Você nem sabe onde estamos.
Mordi meu lábio. Ela tinha um ponto. Mas ainda assim, não
ia permitir que uns alienígenas malucos me trancassem e fizessem o
que bem entendessem comigo. Eu era uma mulher forte e
independente. Não um brinquedo para ser usado e manipulado.
Um alienígena ao longe batia seu bastão contra as grades.
O bastão faiscava com eletricidade, fazendo as gaiolas tremerem. As
mulheres gritavam enquanto os alienígenas se aproximavam das
gaiolas, tentando se afastar.
Se ao menos eu pudesse colocar minhas mãos em um
daqueles. Eu tinha certeza de que era a chave para sair dessa confusão
toda. O alienígena sibilou, lambendo os lábios e estendendo a mão em
direção a uma das garotas na gaiola. Ela gritou, chutando a mão
estendida, acertando os dedos dele. O alienígena gritou, segurando a
mão, seu bastão batendo furiosamente nas grades.
— Ei, você — gritei, quando ele se lançou para a pobre
garota. Ele parou, virando-se para o som da minha voz.
Passei as mãos pelo cabelo, esperando parecer agradável
em meu pijama de rostinho sorridente. Abri as pernas e lambi os lábios,
chamando-o com o dedo, meu sorriso se transformando em um sorriso
debochado. Eu não cacarejava, mas esperava que ele entendesse.
Seus olhos amarelos estreitaram-se em minha direção, se
aproximando. Ele olhou para mim através das grades. Pressionei meu
corpo contra a minha gaiola, estendendo a mão para ele, acariciando o
lado de seu rosto com as pontas dos dedos. Ele deu um salto inicial,
como se chocado com essa demonstração de afeto. Tentei não fazer
careta ao tocar sua pele de couro. Parecia que ele tinha passado tempo
demais ao sol.
O alienígena segurou meu pulso e lambeu a palma da
minha mão. Me segurei para não vomitar, em vez disso, forcei um
sorriso. Minha boca parecia que ia quebrar enquanto ele continuava
olhando para minha mão como se fosse um maldito sorvete.
Suspirei aliviada quando ele finalmente soltou minha mão
e pegou as chaves em seu cinto, forçando-me a continuar com a
encenação enquanto ele destrancava minha porta e entrava. Ele
colocou o bastão de lado, mantendo seu olhar em mim. Balancei a
cabeça para ele, enrolando meu cabelo no dedo. Ele mexeu com o fecho
de seu cinto, rapidamente abaixando as calças.
Eu o chutei, sua cabeça batendo nas grades. Avancei para
o bastão, agarrando-o e acertando-o no rosto. Cavalguei nele,
procurando nas suas roupas pelo chaveiro. Puxei, mas estavam presos.
O alienígena gemeu e eu o acertei novamente no rosto.
— Vamos, vamos, vamos — murmurei, desprendendo as
chaves e correndo pela rampa conectada à minha gaiola.
Corri para a gaiola da mulher de negócios, enfiando uma
chave dentro. Peguei outra quando não consegui destrancar.
— Depressa — ela gritou, batendo nas barras. Enfiei outra
chave na fechadura, mas ela não se mexia. Havia muitas chaves. Como
diabos alguém poderia encontrar alguma coisa nessa bagunça toda? —
Cuidado — a mulher gritou.
Fui agarrada por trás. As chaves e o bastão caíram das
minhas mãos. Chutei a gaiola da mulher, empurrando quem quer que
fosse que estivesse com as mãos em mim de volta para as grades da
minha gaiola. Sua cabeça bateu e seu aperto se afrouxou.
Caí de pé e me lancei para pegar o bastão, rolando sob a
gaiola. Estiquei a mão para pegá-lo, quase o tendo em minhas mãos
quando meu cabelo foi agarrado e fui puxada para cima.
Um alienígena com chifres negros sorriu para mim, me
lançando para frente. Aterrissei de joelhos, sentindo-os bater
dolorosamente no chão. Eu me virei e ele cacarejou para mim, sorrindo
cruelmente antes de se lançar em minha direção.
Eu me esquivei, correndo pelas gaiolas. As mulheres ao
meu redor batiam nas grades.
— Por favor, me deixe sair — imploravam. — Deixe-me sair.
Eu não quero morrer aqui!
Um alienígena saltou de seu esconderijo atrás de uma
gaiola. Este era um alienígena de chifres azuis vestido com um terno.
Ele sorriu para mim, nem se dando ao trabalho de me agarrar enquanto
outro me segurava por trás. Ele me girou, cuspiu no meu rosto e me
lançou na direção do alienígena azul.
Tentei ficar de pé, mas fui atingida, desta vez por uma força
elétrica que percorreu meu corpo. Eu tremi incontrolavelmente,
debatendo-me no chão e desejando que tudo parasse logo.
O alienígena azul se aproximou de mim, erguendo meu
queixo com a ponta do seu sapato. Ele falou algumas instruções e os
outros ao meu redor me pegaram, me escoltando de volta para minha
gaiola. Tentei lutar. Tentei me livrar de seu aperto, mas meu corpo
estava muito cansado.
Eles me jogaram na minha gaiola, meu corpo caindo com
um baque quando bateram à porta. O som do trinco ecoou nos meus
ouvidos.
Eu podia ouvir a mulher do outro lado soluçando.
— Não adianta — ela chorava. — Não há saída.
Descansei minha cabeça no chão de metal. Era um bom
plano, me assegurei. Tenho certeza de que terei outra chance. Só
preciso permanecer positiva. Só preciso continuar lutando. Era a única
maneira de sobreviver a isso.
Meus olhos se fecharam e eu acolhi a escuridão mais uma
vez.

OUVI a fechadura da minha gaiola clicar e a porta se abrir.


Mãos me agarraram, me levantando. Tentei lutar contra elas, tentei
bater minha cabeça no rosto de alguém, mas minhas mãos foram
agarradas e amarradas atrás das minhas costas com algum tipo de fio
azul fino.
Minha visão ainda estava embaçada. Eu estava exausta,
mas precisava sair. Eu precisava sair agora.
Avancei, mas antes que pudesse fazer alguma coisa, uma
carga percorreu minhas mãos, percorrendo o meu corpo e caí de
joelhos.
Os alienígenas acima de mim riram, me pegaram pelo
cabelo e me chutaram para frente. Tropecei, batendo nas grades,
minha cabeça batendo no metal. Ofeguei, meu corpo formigando de
dor. Senti minhas pernas cederem. Algo me chutou, mas não conseguia
me mexer. Tudo dentro de mim doía.
Um alienígena de rosto vermelho pairou sobre mim,
erguendo minha cabeça com a ponta de sua garra. Ele sorriu para mim,
cacarejando algum tipo de absurdo antes de deixar minha cabeça cair
no chão. Mãos me agarraram, me levantando, e fui forçada a descer
pela rampa da gaiola. A porta do depósito se abriu e luzes explodiram
da abertura, manchando minha visão.
Olhei rapidamente para o lado, vendo um flash de olhos
verde-dourados me observando de longe. Balancei a cabeça e eles
sumiram tão rapidamente quanto apareceram.
Eu conhecia aqueles olhos.
Dos sonhos que tive há muito tempo.
Fui empurrada para frente, aterrissando de joelhos na
frente de seres magros vestidos com uniformes pretos. Eles eram
extremamente magros. Seus rostos cobertos por capacetes, as viseiras
eram espelhos que refletiam meu rosto exausto. Seus membros eram
incomumente longos.
— O que são vocês? — sussurrei, um deles se aproximando
com uma grande maleta preta e o que parecia ser um saco gorduroso
de comida que ele segurava no braço.
Os homens de preto fizeram gestos em minha direção,
dizendo alguma baboseira que foi respondida pelos estranhos cacarejos
dos alienígenas atrás de mim.
O Alien Azul pegou o saco gorduroso, abriu-o e tirou algo
embrulhado em papel. Parecia um taco. Ele deu uma mordida e
assentiu, fazendo um sinal de positivo para seus homens. Os outros
capangas também pegaram a maleta preta. Estavam se movendo agora,
mãos rudes me agarrando pelos braços e me erguendo em direção aos
homenzinhos de preto.
O que diabos estava acontecendo? Estavam me trocando
por uma maleta preta? E um taco?!
Melhor ter uma caralhada de dinheiro nessa maleta.
E como os ruídos de um alienígena e os cacarejos de outro
podiam se entender? Os sons já eram o suficiente para me dar uma dor
de cabeça do cão.
Um rugido ecoou por todo o depósito. Sacudiu tudo, até os
parafusos e porcas, interrompendo qualquer conversa que estivesse
acontecendo nessa miscelânea.
Olhei para cima, vendo um novo cara gigante se juntar ao
zoológico. Era um cara listrado com olhos de gato, pulando de gaiola
em gaiola, parando finalmente quando pousou entre nós. Seu rabo se
agitava de um lado para o outro enquanto suas orelhas peludas se
deitavam sobre sua cabeça. Ele rugiu para os alienígenas, que enfiaram
a mão nos cintos para sacar armas brilhantes. Em vez de balas, lasers
disparavam pelas pontas.
Homem Tigre desviou, correndo e pulando.
Corpos caíram à medida que ele passava. Ele era tão rápido
que mal conseguia acompanhá-lo, muito menos vê-lo lutar. Ele rugiu
algo para mim que senti vibrar até os meus ossos, me agarrando e me
jogando sobre seu ombro antes de correr para a noite.
Que porra é essa?
Corremos por um mar de pessoas.
Não pessoas.
Nenhum deles parecia humano de verdade.
Eles eram todos de cores diferentes do arco-íris, com
tentáculos, múltiplos olhos, múltiplos rostos. Eu bati em seu ombro.
— Me solta — gritei, batendo com mais força. — Me solta
agora.
Ele olhou para cima, emitindo algo em sua língua gutural.
Se você pode chamar aquilo de língua. Ele tinha os mais olhos lindos
olhos verdes dourados. Havia listras marrons e pretas em seu cabelo
desgrenhado. Cabelo desgrenhado que parecia muito familiar. Como se
eu já tivesse visto antes.
Eu conhecia esse desgraçado!
O cara dos meus devaneios sexuais.
O que está acontecendo? Ele fez isso comigo? Ele é o motivo
de eu ter acordado numa gaiola?
— Me solta. Agora! — gritei, puxando seu cabelo. — Quem
diabos é você? Para onde diabos você está me levando? Que porra está
acontecendo?
Capítulo 07

TALUS

EU PRECISAVA levá-la para um lugar seguro.


O impulso primordial para proteger minha companheira
desencadeou meus instintos selvagens. Me senti expandir, o traje
acomodando meu corpo em crescimento conforme minha forma de
batalha feroz lutava para se libertar.
Eu não poderia fazer isso. Ainda não. Assim que eu deixasse
o frenesi da batalha assumir o controle, toda minha razão seria
obscurecida. Eu precisava garantir primeiro que minha companheira
estivesse segura.
Então, eu poderia liberar minha fera neste antro até que
ninguém mais estivesse de pé.
Desviei no meio da multidão, esquivando-me de Kuzras com
chifres, tentáculos dos Morsei e de um grupo de Ceresianos furiosos
assobiando para mim. As telas que pairavam na praça do mercado não
transmitiam mais seus anúncios sórdidos, em vez disso, ficaram
vermelhas para sinalizar que um boletim de emergência seria
anunciado em breve. Uma sirene assobiou por todo o posto avançado.
Maravilhoso.
Seria apenas uma sorte minha se meu rosto estivesse
estampado naqueles painéis. Nenhum deles tinha qualquer amor por
qualquer força civilizadora, fosse a Concórdia dos Mundos Soberanos
ou a Legião. Estar no braço externo da galáxia, em vez da espiral
interna, tornou esses postos avançados sem lei. A única lei que
conheciam era a força. Apenas os fortes sobreviviam ali. E quando
aqueles no poder estavam sem honra, isso resultava em muita miséria
para a pessoa comum que apenas queria sobreviver.
Isso incluía mundos ignorantes, como Terra Prime.
Também conhecida como Terra. Cade tinha encontrado sua
companheira de destino lá. E agora parecia que minha própria
companheira era humana. Uma humana que não tinha tradutores e,
portanto, não fazia ideia de que eu estava tentando mantê-la segura.
Era difícil correr quando minha companheira tentava me
paralisar a cada passo.
Eu sabia que quando acordei do meu sonho ela estaria por
perto. Só não esperava que ela estivesse tão perto assim. Quer dizer,
prestes a ser entregue aos malvados Kridrins. Eu deveria apenas
observar e coletar informações, uma ordem que não queria seguir, dado
que muitas mulheres humanas inocentes estavam prestes a ter suas
vidas arruinadas, mas quando a vi, jogada na frente dos Kridrins, sabia
que não conseguiria mais seguir as ordens.
E agora, ela estava me dando uma surra. Ou pelo menos
tentando.
— Pare — rosnei, segurando sua mão que continuava
puxando meu cabelo. — Pare, estou tentando te resgatar.
Ela gritava para eu soltá-la, mas não podia fazer isso, não
quando havia desgraçados querendo fazer sabe-se lá o que com ela em
nossos calcanhares. E, eu nem podia dizer isso a ela porque ela não
entendia o Rodiniano ou a linguagem universal.
Através do vínculo, eu podia sentir seu medo e sua raiva.
Tentei fazer o mesmo com ela e superar minha preocupação e minha
ansiedade por ela, mas ela parecia não entender. Sem mencionar que
era muito difícil manter o foco no vínculo quando havia uma gangue
nos perseguindo.
A comunicação teria que esperar. Concentrei minha
atenção em correr em direção às docas. Assim que a tivesse em minha
aeronave, eu colocaria um tradutor nela. Não achava que conseguiria
aguentar muito mais disso.
Rugi quando ela conseguiu puxar minhas orelhas.
Ela parou, e soube imediatamente que cometi um erro, pois
quando olhei para cima, seus olhos azuis arregalados estavam se
enchendo de medo e lágrimas.
Encontrei um beco escuro longe das multidões e a coloquei
gentilmente de pé. Ela se afastou de mim, tremendo em suas roupas
mínimas, que pareciam ser nada mais do que uma camiseta fina. A
pobre garota deve ter sido drogada e tirada de sua cama.
Peguei suas mãos nas minhas e tentei transmitir minha
preocupação e ansiedade através do vínculo novamente.
— Desculpe — eu disse suavemente. — Não quis gritar.
Fiquei surpreso, só isso. Só precisamos…
Seu joelho conectou com minhas partes baixas. Gemi e
segurei minha virilha enquanto caía de joelhos. Eu a vi correr e se
esquivar da multidão.
Apesar da dor aguda em meu estômago, aquele movimento
foi meio atraente. Pena que não tínhamos tempo para essa distração.
Alguém gritou à minha esquerda.
— Ali está ela!
Olhei para cima e vi um Kuzra no telhado, segurando e
mirando um blaster.
Pelo amor de Deus.
Me levantei do chão e corri pelo beco. Virei na praça,
procurando por ela entre as multidões, mas havia muitos alienígenas.
Olhei para cima, vendo vários Kuzras pulando de telhado em telhado.
Eu precisava alcançá-la primeiro. Cabelos castanhos
balançavam à minha frente e saltei, pulando sobre alienígenas e
impulsionando edifícios até finalmente aterrissar na frente dela.
Ela ofegou e ergueu os braços como se estivesse pronta para
lutar até a morte.
Tentei adotar um tom mais suave, talvez isso a convencesse
melhor.
— O fato de você estar pronta para lutar comigo é meio
atraente, mas não temos tempo para lutar agora. Temos que ir para
um lugar seguro. Você pode lutar comigo o quanto quiser quando
voltarmos para a nave.
Ela olhou para mim, abaixando um pouco os braços como
se finalmente algo tivesse passado pelo vínculo. Olhei para cima e vi
um Kuzra mirando nela.
— Cuidado — gritei, cobrindo seu corpo com o meu e nos
jogando no chão.
O Kuzra errou, o feixe passou perto do clube próximo a nós.
Mulheres gritaram de dentro do prédio e saíram da abertura, nos
camuflando por um breve momento. Era o momento perfeito para
escaparmos.
Peguei sua mão, a puxei para cima e corremos. Um alívio
inundou minhas veias quando ela não lutou contra mim. Ela ofegava
tentando acompanhar, suas pernas tropeçando ao lado das minhas.
Suas pernas não eram tão longas quanto as minhas. Ela parecia
completamente exausta.
Levantei-a em meus braços.
— Segure-se — disse, aumentando meu passo. Suas mãos
se envolveram em meu pescoço enquanto sua cabeça se enterrava em
meu peito.
Corri em direção à minha aeronave oculta. Estávamos
quase lá. Nós íamos conseguir.
Kuzras saltou de trás de um carrinho de barris e atirou em
nós, fazendo-me desviar para trás de uma nave marcada com Tanes.
Simplesmente maravilhoso.
Fechei os olhos, respirando fundo para acalmar meu
coração acelerado. Seu doce aroma impregnou o ar ao meu redor, me
incentivando a ceder aos meus impulsos básicos. Mas havia uma nota
amarga de medo que me atingiu em cheio no estômago.
Abri os olhos, vendo olhos azuis injetados me observando.
Seu cabelo era uma confusão emaranhada de castanho. A contusão do
lado de seu rosto escurecia. E ainda assim, ela era a criatura mais
cativante de todo o universo.
Seus lábios se moveram, suas palavras sussurradas me
instigando a ter um plano e a nos tirar dessa confusão. Sua fé e
confiança em mim eram humildes, e eu não a decepcionaria. Queria
poder tranquilizá-la.
Eu entendia sua língua por causa dos tradutores, mas até
que ela fosse injetada com eles, nada do que eu dissesse faria sentido.
Tudo o que podia fazer era transmitir o máximo de esperança possível
no vínculo que mal tinha começado entre nós.
O fato de ela não ter fugido de mim gritando foi um bom
sinal.
— Saiam, saiam de onde vocês estiverem — chamou alguém
com uma voz cantada, que só podia assumir ser o líder deles.
Meus arquivos retinais associaram um nome à voz.
Strydus, um Kuzra que tinha predileção por ternos e armas brilhantes.
Ele não era líder há muito tempo. Aliás, a maioria dos líderes de
sindicatos mal durava um ano.
Strydus matou o último líder alguns meses antes, na época
em que o comando da Legião notou mais tecnologia Kridrin em seu
arsenal. Provavelmente foi Strydus quem começou a negociar com os
Kridrins. Como ele entrou em contato com os Kridrins? Eu
provavelmente teria a resposta se tivesse permanecido escondido.
Eu deveria reunir informações e interceptar qualquer
negociação, e não encontrar minha companheira. E agora os Tanes e
os Kridrins sabiam que a Legião estava observando suas atividades.
Mas não podia simplesmente deixá-los levá-la e fazer
experiências com ela. Cade entenderia. Sua própria companheira tinha
sido levada pelos Kridrins. Não havia chance de ele deixar que qualquer
um deles a tocasse, ou a qualquer companheira , novamente.
O destino não poderia ter escolhido um momento pior para
me revelar minha companheira.
Eu a ouvi sussurrando mais uma vez e olhei para baixo.
Senti através do vínculo toda a sua preocupação e dor, mas também
que ela me reconhecia e confiava em mim de alguma maneira.
Instintivamente, acariciei seu rosto, meu coração se apertando com sua
expressão dolorida quando meus dedos roçaram sua contusão.
A fera dentro de mim queria derramar o sangue de todos os
machos que a haviam marcado. Engoli o rosnado na minha garganta
para não assustá-la. Seu cheiro - seu medo - era a única coisa que
mantinha minha concentração.
Precisava mantê-la segura. Nós precisávamos sair desse
lugar rapidamente. Olhei em volta da nave estelar, vendo os Kuzras
vasculhando a área. Pior ainda, havia um grupo de três Kridrins em
um canto, um dispositivo na mão do líder. Embora parecessem mais
fracos que os Kuzras, aqueles homens de preto representavam uma
ameaça maior. A tecnologia em suas mãos poderia congelar um
oponente muito maior.
Não demoraria até nos encontrarem. Procurei pela minha
aeronave. Não demoraria muito para chegar lá. Eu só precisava de
algum tipo de distração.
— Entregue-nos a garota e deixaremos você partir — gritou
Strydus.
— Diabos que eu a entregaria para vocês — murmurei,
armando meu blaster antes de me virar para minha companheira.
Ela tentava passar os dedos pelo emaranhado de seu cabelo
castanho. Estendi a mão para ela, tocando seus dedos. Ela pulou,
virando-se para mim e afastando minha mão com um tapa.
— Callie — suspirei, seu nome humano vindo até mim como
se de um sonho esquecido. Adorava a forma como seu nome soava na
minha língua. As lembranças fragmentadas do nosso sonho de união
voltaram para mim. Eu podia quase sentir a pressão de seus lábios nos
meus, sentir suas carícias suaves.
Ela parou, como se eu tivesse ativado aquela tecnologia
nela. O delicado tremor que percorreu seu corpo me disse que ela
também havia lembrado do nosso sonho de vínculo.
— Este é o seu último aviso — gritou Strydus. — Entregue-
nos a garota agora, ou a arrancaremos de suas mãos frias e mortas.
Eu ri e afaguei o cabelo de Callie antes de me forçar a soltá-
la. Rolei para longe do nosso esconderijo e para o centro do lugar onde
Strydus estava. Ajoelhei e apontei meu blaster para o queixo do chefe
Tane.
— Duvido — rosnei antes de explodir um buraco em sua
cabeça. Sem esperar que ele caísse morto como o parasita repugnante
que era, avancei para Callie e agarrei sua mão. Seus pés tropeçaram
para acompanhar enquanto a arrastava em direção à aeronave.
Raios a laser disparavam ao nosso redor, atingindo
diferentes naves estelares. Digitei os códigos em minhas luvas,
observando enquanto a rampa da minha aeronave se abaixava. Os
Tanes atiraram nela, mas eu já havia ativado o campo de força.
Corri pela rampa, deslizando para o meu assento e
prendendo o cinto antes de me virar para Callie. Minha companheira.
Ela se recostou na cadeira, fechando os olhos com força enquanto eu
a prendia no cinto.
Ela parecia tão aterrorizada. Não podia culpá-la. Estava
confusa e completamente fora de seu elemento. Apenas desejava haver
alguma maneira de assegurar-lhe que tudo ficaria bem. Sem um
tradutor, não havia como explicar a ela o que exatamente estava
acontecendo.
Não que eu pudesse explicar muita coisa; eu estava meio
confuso com os detalhes. Mas eu podia ao menos dizer quem eu era a
ela e explicar o que éramos um para o outro.
Liguei minha aeronave e puxei a alavanca para a frente.
Minha nave respondeu com um zumbido, erguendo-se do chão e
pairando para o céu. Ouvi sons de batidas, como se lasers estivessem
sendo disparados no metal. Liguei o interruptor e acelerei as
engrenagens para frente, avançando pelos docas e atropelando
qualquer um estúpido o suficiente para ficar no caminho.
Manobrei a aeronave em direção às torres que marcavam a
saída de Erebus. Estávamos quase saindo desta horrenda base. E
então, bem além dos campos de força, estavam os corredores de
navegação que nos conectariam aos portões de salto mais próximos.
As torres estavam se movendo. Estavam prestes a nos
trancar.
— Porra — gritei.
Agarrei a alavanca ao meu lado e a empurrei para frente,
lutando contra a força por trás dela. A aeronave se acelerava mais e
mais. As torres ainda estavam se preparando. Eu podia ouvir o
zumbido dos condutores de energia e os primeiros arcos elétricos
pulsando pela extensão que eu precisava atravessar.
— Seus malditos bastardos! — gritei, ignorando a dor no
meu braço enquanto segurava a alavanca no lugar.
Callie gemeu, agarrando minha mão. Olhei para ela, vendo
seus olhos cerrados, me segurando como se eu fosse a única esperança
nessa bagunça toda.
— Não se preocupe — gritei para ela. — Vamos conseguir.
Lágrimas corriam por suas bochechas enquanto ela
balançava a cabeça.
Ainda poderíamos conseguir. Mas o ângulo estava errado.
Não íamos conseguir assim.
Agarrei a outra mão de Callie e a coloquei sobre a alavanca,
afastando a minha.
— Segure isso — eu disse, encarando profundamente seus
olhos e desejando que ela me entendesse através do vínculo. — Eu
preciso que segure isso.
Ela assentiu.
Peguei o volante, olhando de lado para vê-la lutando com a
alavanca. Não importava. Seria apenas por alguns momentos. Era tudo
o que eu precisava.
Virei a aeronave até voarmos de lado. Passamos pela saída,
e um segundo depois, a rede elétrica se formou atrás de nós.
Minha companheira gemeu enquanto soltava a alavanca,
que voltou imediatamente para o outro lado. Suas mãos foram para os
braços da cadeira, segurando enquanto eu voava mais fundo no espaço
em direção ao portão de salto e longe de Erebus. Digitei as últimas
coordenadas que Cade me enviara e permiti que o computador
assumisse o controle antes de voltar minha atenção para Callie.
Eu queria dizer a ela que tudo ficaria bem agora, mas seu
rosto estava incomumente pálido, seus olhos sem brilho. Senti um
cheiro forte e metálico e olhei para a perna dela, que estava pingando
sangue. Sua cabeça caiu para o lado e seu corpo ficou mole.
Desprendi o cinto e ajoelhei diante dela.
— Callie — sussurrei, dando um leve tapa em sua bochecha
para não machucar ainda mais o hematoma. — Callie? — Era apenas
um ferimento de blaster. Sem problema. Só precisava parar o
sangramento. Ela ficaria bem assim que chegássemos ao Aurum, a
nave de guerra de Cade, e a levasse para o atendimento médico.
— Pare de pensar e pare o sangramento, idiota —
resmunguei comigo mesmo.
— Reaper Um para esquadrão Reaper. Chamando.
Corri para o meu armário e peguei uma camisa, rasgando-
a em tiras.
— Dorn.
— Lyova.
Envolvi a perna dela no tecido, apertando-o. Em segundos,
o tecido estava vermelho, mas parecia ter estancado o sangramento.
— Tal? — Ouvi Cade no comunicador.
— Aqui — eu disse, afastando o cabelo da minha
companheira do rosto. Ela era mais linda do que eu poderia ter
imaginado. Seu cabelo castanho era macio e caía em ondas espessas
ao redor dos ombros. Toquei minha testa na dela, aspirando seu
perfume.
A voz de Cade interrompeu minha contemplação.
— Tal, o que aconteceu? O que está acontecendo?
— Eu posso ter — engoli em seco, fazendo uma careta ao
relembrar os eventos em minha mente. — Eu posso ter estragado a
missão.
— O quê? O que aconteceu? Você conseguiu reunir alguma
informação?
Ignorei a preocupação na voz de Cade.
— Sim, mas não como esperávamos. Olha, vou precisar
cair. Tenho uma fêmea ferida a bordo.
Houve uma pausa antes de Cade responder.
— Claro. Mas o que você não está me contando, Reaper?
Afaguei o cabelo de Callie mais uma vez antes de me virar
para a tela do computador.
— Eles estão definitivamente negociando fêmeas humanas
com os Kridrins.
— Talus — murmurou minha companheira, e minha
respiração travou. Me aproximei, esperando que ela dissesse mais uma
vez, esperando que ela abrisse os olhos e me abraçasse.
— Diga-me que interceptou a entrega e agora tem a
tecnologia para trazer de volta ao comando da Legião.
Balancei a cabeça, limpando a garganta.
— Isso seria um não, Reaper Um. — Antes que Cade
pudesse resmungar comigo, continuei. — Vi a negociação acontecer.
Uma bolsa cheia de algo desconhecido mudou de mãos.
— Apenas uma bolsa?
— Bem, tecnicamente uma bolsa e um... taco.
— Um taco? — Lyova riu. — Por favor, me diga que isso é
um código para algo.
— Não, no sentido crocante e carnudo. Não o úmido…
A risada de Lyova me impediu de dizer mais alguma coisa.
— Como está a humana? — ouvi Dorn.
— Ainda respirando. — Toquei sua testa. Sua pele estava
quente e úmida, e não consegui conter a preocupação que me invadia.
Seu aroma estava diminuindo. — Mas ela precisa de assistência
médica. Imediatamente.
— Enviando agora nossas coordenadas exatas — disse
Cade. — Solana já está preparando a enfermaria.
Virei-me para a tela. As coordenadas da nave de guerra de
Cade passaram pelo computador e eu as digitei. Já podia ver o Corredor
Lexodius ao longe. Não demoraria agora.
Assumi o controle da nave e segui em frente, enviando as
coordenadas para o portão de salto.
— Entrando no turbilhão agora — disse, prendendo-me.
Estendi a mão, segurando a mão da minha companheira. — Segure
firme — sussurrei para ela.
Puxei a alavanca e as estrelas se tornaram borrões
conforme a aeronave avançava. Pressionei meu corpo no assento,
mantendo minha cabeça para trás para não ser arremessado. Vi as
estrelas desaparecerem e serem substituídas por um sistema solar
diferente.
O Aurum, uma bela e elegante nave de guerra nomeada em
homenagem à companheira de Reaper um, apareceu diante de nós. Era
mais um lar para mim do que Rodinia Prime. Relaxei ao vê-lo.
A nave de guerra se conectou com seu feixe de reboque e
nos puxou em direção à baía de ancoragem principal.
— Trava selada — disse o computador acima de mim. —
Níveis de oxigênio normais.
Soltei o cinto da minha companheira e a levantei em meus
braços. Suas pernas e cabeça pendiam sem vida. Aconcheguei sua
cabeça, apoiando-a no meu peito e quase chutei a porta. Não me
importei em esperar pela rampa e simplesmente pulei para fora.
Cade correu em minha direção e parou abruptamente ao
me ver. Estreitou o olhar e, em seguida, seus traços faciais se alteraram
e se transformaram em algo mais selvagem. Bestial. Ele estava se
transformando em sua forma de batalha em resposta à minha.
Cresceu em tamanho, lutando contra o traje. Cauda
posicionada baixa, pés plantados como se estivesse pronto para atacar.
Suas orelhas se moveram para frente, cada músculo pronto para a
batalha.
— Problemas? — perguntou, mas eu segui adiante.
Não queria perder tempo explicando por que mal conseguia
manter minha forma básica.
— Não mais — disse, passando por ele.
Cade correu para me alcançar. Eu não tinha tempo para
parar e esperar. O sangue dela pingava no chão, deixando um rastro
pelos corredores brancos.
— O que aconteceu?
Respirei fundo e firmei minha voz.
— Tiro de blaster na perna.
A porta da ala médica se abriu. Suspirei ao ver Solana já
esperando perto de um tanque, segurando um Analisador Médico.
— Ela não parece muito bem — disse Solana, pegando o
analisador e pressionando-o contra o braço de Callie. Ela fez sinal para
que eu a colocasse no tanque e pegou uma lanterna, iluminando cada
um dos olhos de Callie.
— Ela vai ficar bem? — perguntei, enfiando as mãos nos
bolsos para evitar arranhar as paredes. Meu rabo se agitava ao redor
de mim. Era doloroso olhar para minha companheira, ver como estava
pálida e ferida apesar de todo o poder e força que ela mostrara em
Erebus.
Solana pegou um simulador e o inseriu no pescoço de
Callie. Nanobots percorreram seu pescoço e eu esperava que, depois de
tudo isso, em breve ela abrisse os olhos e pudéssemos ter uma conversa
de verdade.
Solana se virou e sorriu.
— Acho que ela vai ficar bem. Algumas horas no tanque e
ela ficará como nova.
Solana caminhou até o computador, digitando instruções.
Percebi como Solana se adaptara bem às novas circunstâncias.
Quando a conheci, ela estava assustada e solitária, sem saber onde se
encaixava aqui. De alguma forma, Cade a convenceu a se unir a ele, e
agora não poderíamos imaginar a vida sem ela. Não apenas a
valorizamos e a honramos como companheira de destino de Cade, mas
ela, sem saber, nos deu algo mais precioso.
Esperança.
Esperança de que encontraríamos nossas próprias
companheiras. Esperança de que havia algo mais para lutar além de
comandos e ordens contra uma ameaça estranha e invisível. Esperança
de que teríamos um gostinho da vida após tanta morte e destruição.
Eu esperava poder convencer Callie a me aceitar como seu
companheiro e optar por se unir a mim.
O tanque se fechou ao redor de Callie e luzes azuis piscaram
ao redor de seu corpo enquanto o gel curativo era aplicado em seus
hematomas e ferida na perna. Eu observei minha companheira dormir,
imaginando como ela se sentiria ao perceber que a Terra estava muito
distante.
Capítulo 08

CALLIE

ABRI OS OLHOS, piscando quando vi almofadas ao meu


redor.
Ah, graças a Deus.
Tudo aquilo foi apenas um pesadelo realmente estranho e
horrível. Lição aprendida. Nada de mais álcool.
Estiquei-me na cama e por um momento me perguntei por
que estava tão claro, mas então decidi que não me importava e rolei
para o outro lado. Suspirei, aninhando minha bochecha nas
almofadas. Tudo estava bem. Eu iria trabalhar hoje com um pouco de
ressaca e absolutamente exausta, mas não haveria aliens loucos e
demoníacos me perseguindo.
Estranho, mas por algum motivo, estava desejando tacos.
Pensei no que Rebecca e Lauren diriam quando contasse a
elas sobre meu estranho encontro no sonho e o que tudo isso
significava. Deixaria de fora o sonho erótico. Elas não precisavam saber
todos os detalhes. Imaginei que Rebecca diria que talvez fosse a
combinação de tequila e falta de sono. Ou uma combinação de tequila
e falta de sexo, diria a Lauren.
Ri.
Não pude evitar.
Estava tão feliz por estar fora daquela jaula e longe daqueles
demônios estranhos atirando lasers em mim.
O trabalho seria uma visão maravilhosa.
Esfreguei os olhos e tirei o corpo da cama. Sentia-me
incrivelmente letárgica, o que era de se esperar, já que só dormira três
horas. O trabalho seria um pouco doloroso, mas pelo menos…
Pisquei.
Este não era o meu quarto.
Este não era o meu quarto de jeito nenhum.
Havia quatro tanques estranhos parecidos com camas ao
redor da sala branca estéril. Todos estavam vazios, exceto o que eu
estava atualmente. O meu emitia um leve beep. Olhei para a esquerda,
encontrando um monitor exibindo minha frequência cardíaca,
temperatura, saturação de oxigênio e pressão arterial.
Gemi, esfregando a cabeça. O que aconteceu? Por que
estava em um hospital muito estranho?
A porta deslizou e um homem de pele cinza-arroxeada
entrou na sala. Basicamente sem camisa, ele usava um colete preto
que pendia aberto em seu corpo. Mal servia como cobertura. Na
verdade, enfatizava os músculos em seus braços e torso. Conforme ele
se movia, rosetas iridescentes brilhavam na luz.
Foi quando dei uma segunda olhada e vi que ele tinha as
mesmas características felinas do meu cara do sonho, exceto que este
era careca, tornando suas orelhas pontudas mais proeminentes. Maçãs
do rosto esculpidas que um maquiador invejaria abençoavam seu rosto
e sim, ele tinha um rabo de verdade.
Ele era como uma pantera elegante e letal fundida ao corpo
de um fisiculturista. Um fisiculturista realmente atraente.
O homem digitava freneticamente em algo que parecia ser
um tablet antes de erguer o olhar, surpreendido ao me ver apenas
olhando para ele. Ele olhou brevemente ao redor antes de coçar a parte
de trás de sua cabeça careca e sorrir de maneira constrangida.
— Desculpe — ele disse. — Não percebi que você estava
acordada. — Ele se aproximou de mim, olhando para o monitor ao lado
da cama. — Parece que você vai ficar bem. Vou buscar Talus. Ele vai
ficar feli…
Agarrei o tablet do Homem Pantera Atraente e acertei a
cabeça dele com ele antes de pular da cama e correr em direção à porta.
Ela se abriu e eu pulei para o corredor com um chute, pronta para ferir
qualquer pessoa que cruzasse o meu caminho.
Mas não havia guardas na porta. Na verdade, não havia
ninguém no corredor. Ainda bem. Acho que machuquei meu joelho só
chutando o ar.
O Homem Pantera Atraente gemeu e eu disparei pelos
corredores, procurando qualquer coisa que pudesse me acordar desse
terrível pesadelo. Eu precisava acordar agora. Eu precisava acordar
agora mesmo.
Nada de festas para mim. Apenas faculdade e trabalho.
Se ao menos eu conseguisse encontrar a saída. Parei,
encontrando dois corredores para correr. Ambos eram brancos. Ambos
pareciam exatamente iguais. Nenhum deles me deu pistas sobre qual
caminho me levaria à saída.
Escolhi o corredor da direita e corri por ele, esperando que
me levasse para fora deste lugar e para uma estrada que eu
reconhecesse.
Parei quando cheguei a uma janela. Com mãos trêmulas,
toquei o que parecia ser um vidro gelado. Meu corpo estremeceu
quando olhei através dele.
Estrelas olhavam para mim.
Apenas estrelas e escuridão.
Ouvi vozes vindo de trás de mim. Estava tão entorpecida
que não me importei. Não percebi que estava caindo até que meus
joelhos bateram no chão frio de metal.
— Onde estou? — sussurrei para o silêncio ao meu redor.
Não conseguia parar meu corpo de tremer. Não conseguia conter as
lágrimas que picavam meus olhos. Eu era uma mulher forte,
independente e com objetivos.
No entanto, não conseguia parar, encarando as estrelas e
tudo o que significavam. Não conseguia conter as lágrimas que
escorriam pelo meu rosto agora. Não conseguia conter os soluços
dentro de mim.
— Está tudo bem — veio uma voz suave e familiar. Era meu
cara dos sonhos, todo grande e listrado. Eu pulei quando seus braços
me envolveram, mas não me afastei. Não teria sentido. Para onde eu
poderia ter fugido?
Mãos grandes e gentis me seguravam contra um corpo
quente e acolhedor. Eu me derreti contra ele, cercada por seu cheiro
reconfortante.
— Você está bem. Eu estou aqui. — Ele cheirava a couro e
tempestades de verão. Seu peito ronronava suavemente, acalmando as
bordas desgastadas da minha mente. Seu coração batia contra minha
bochecha.
— Como ela está? — Uma voz feminina me assustou, e olhei
na direção de sua fonte.
Uma humana de verdade. Com cabelos longos e lustrosos,
pele brilhante e olhos expressivos. E ela parecia como se tudo ao seu
redor fosse completamente normal.
Comparada a ela, eu era um completo desastre.
— Ela vai ficar bem — disse o homem que me segurava.
Talus. Aquele que me jogou sobre seu ombro e me tirou correndo dos
caras maus. Aquele que me chamava de sua companheira em meus
sonhos.
— Você — eu disse, me afastando de seu abraço.
Talus virou seu olhar para mim.
— Eu?
Meu Deus, ele estava me distraindo. Eu poderia me perder
nesses olhos dourados. Pareciam ver além da superfície. Era como se
ele pudesse enxergar minha alma.
Balancei a cabeça, confusa porque conseguia entendê-lo.
Não faz muito tempo ele só rosnava e grunhia. Agora ele realmente
falava inglês?
Pensando bem, acabei de perceber que entendi aquele cara
careca em quem bati na cabeça. Como isso foi possível?
— Eu ainda estou sonhando? — Talvez se eu batesse os
calcanhares ou resolvesse um cubo mágico especial, eu pudesse
encontrar um buraco de minhoca em casa.
— Não, você não está sonhando, gatinha — disse Talus.
— Como consigo entender você?
— Injetamos tradutores em você, e o gel de cura na cápsula
ajudou a integrar os nanobots em seu cérebro — disse a mulher. Ela
era deslumbrante, com um corpo curvilíneo que fazia o meu parecer
desajeitado e infantil. Mas ela tinha um calor que irradiava dela, e
quando me ofereceu a mão, seu sorriso era genuíno. — Eu sou Solana.
— Callista — eu disse, pegando sua mão timidamente. —
Mas só minha mãe me chama assim. Todos os meus amigos me
chamam de Callie.
— Prazer em conhecê-la, Callie. Vamos te levar de volta à
ala médica. Quero ter certeza de que está tudo bem.
Solana envolveu seu braço ao redor de mim, me afastando
do calor de Talus. Por um momento, senti ele puxando meu pulso, mas
ele rapidamente soltou e enfiou as mãos nos bolsos.
Seu rabo se contorceu ao redor dele, me lembrando da
minha gata quando ela estava irritada por eu não estar coçando suas
orelhas. Ele sorriu para mim e meu rosto esquentou quando um
lampejo de memórias de um sonho erótico que tive com ele invadiu
meus pensamentos.
Estranho.
Como diabos eu sonhei com ele antes de nos conhecermos?

— TALUS nos disse que encontrou você em Erebus — disse


Solana enquanto me guiava pelo corredor.
— O que é Erebus?
Solana abaixou a cabeça.
— Me perdoe. Erebus é o nome daquele posto avançado de
merda administrado por um obscuro sindicato alienígena.
— Ah — me distrai brevemente pelas janelas com estrelas,
sentindo outro arrepio de medo e horror percorrer minha espinha,
sussurrando pensamentos como: você nunca vai para casa. Você ficará
presa aqui. PARA SEMPRE.
Solana acariciou minha mão.
— Sei que você não pode acreditar agora, mas entendo como
você se sente. Confie em mim, você está segura aqui. — A porta da ala
médica deslizou e meu olhar caiu imediatamente sobre o Homem
Pantera Atraente apoiado em uma cápsula, massageando a cabeça. —
Agora, deixe-me apenas verificar seus sinais vitais e garantir que tudo
esteja como deveria ser. — Solana parou na entrada. — Dorn, o que
aconteceu?
Permaneci na entrada, tentando sufocar um sentimento de
culpa enquanto Solana olhava para o inchaço em sua cabeça. Arrisquei
um olhar para Talus, seus olhos dourados de gato encontrando meu
olhar. Ele olhou para mim e depois para o tal Dorn e sorriu. Suas
presas brilharam quando ele fez isso.
Deveria ter sentido medo, mas combinava com seu rosto.
As listras pretas e marrons que fluíam para os tufos de cabelo em sua
cabeça e orelhas pareciam um pouco com tatuagens tribais.
E as listras sob seu traje…
— Você não foi longe — disse Dorn ao assentir na minha
direção antes de sibilar de dor quando Solana tocou na lesão em sua
cabeça.
— Desculpe por isso — disse eu.
— Você o acertou? Com o quê? — Solana virou a cabeça de
Dorn de um lado para o outro.
— Com o tablet dele.
Voltei-me para o riso atrás de mim, observando Talus
balançar a cabeça incrédulo. Ele se transformava completamente
quando ria. Isso me deu vontade de me aconchegar contra ele.
— Acho que tive humilhação suficiente por hoje — disse
Dorn, afastando-se de Solana.
— É o que você ganha por trabalhar o tempo todo, Dorn —
disse Talus, indo na direção de Dorn e dando um tapa nas costas do
amigo. — Isso eventualmente atinge você na cabeça. Literalmente
Dorn fez uma careta para Talus, o que me fez engolir meu
riso. Talus virou-se para mim e sorriu.
Solana fez um som com a língua, como uma mãe galinha.
— Crianças, todos vocês. — Deixei que ela me sentasse em
uma cadeira e agitasse algo que parecia um telefone celular na minha
frente. — O que você está fazendo? — perguntei a Solana. — O que é
essa coisa?
— É um Analisador Médico e está verificando seus sinais
vitais — disse Solana, sorrindo enquanto continuava a varredura pelo
meu corpo.
— Não haverá agulhas durante este check-up, espero? —
Mesmo que eu esteja estudando para ser médica, ainda odeio agulhas.
A risada de Solana foi brilhante e descontraída.
— Sem agulhas, eu prometo. — Ela parou para olhar para
o que estava sendo exibido em seu aparelho. — Exceto por uma pressão
sanguínea um pouco alta, provavelmente devido ao estresse, tudo está
dentro dos parâmetros esperados.
Cruzei os braços sobre o corpo.

— Agora que sabemos que estou toda segura, saudável, e


tudo certo, você pode me dizer o que está acontecendo, por favor?
Solana trocou um olhar com Dorn e Talus que não me
deixou mais tranquila.
— Como eu cheguei aqui? Onde estou? Que ano é este?
Fiquei em coma e acordei no futuro, ou algo maluco assim?
Todos os tipos de cenários passaram pela minha mente.
Nenhum deles era bom.
Solana riu.
— Não sei sobre o coma, mas agora você está no Aurum,
uma nave de guerra Rodiniana, liderada pelo meu companheiro, Cade
Lonza — ela disse, enquanto acariciava minha mão. — Você já
conheceu Talus Balica e Dorn Pardus — apontou para os dois homens
na sala. — Você vai conhecer meu Cade eventualmente e Ly… — ela
interrompeu quando as portas da sala médica se abriram. — Ah, timing
perfeito.
Um homem de pele cor de canela e uma juba como a de um
leão entrou na sala. Ele parou ao ver o ferimento na cabeça de Dorn,
do qual eu ainda meio que me sentia culpada.
— O que diabos aconteceu com você?
— A donzela em perigo de Talus acabou por ser uma femme
fatale — disse Dorn.
Lyova riu.
— Para você, Dorn, toda mulher é uma femme fatale. — Ele
se aproximou de mim, seu olhar me examinando. — Estou surpreso
que ela tenha conseguido enganar você.
Dorn fez uma careta.
— Eu estava ocupado com minhas pesquisas e pensei que
ela estava inconsciente. — Ele me avaliou. — Subestimei ela. Não farei
isso de novo. — Eu teria pensado que alguém do tamanho e postura
dele teria ficado ofendido ou pelo menos ressentido. Mas havia um
brilho em seus olhos como se ele estivesse… orgulhoso de eu ter
conseguido surpreendê-lo.
Esses alienígenas eram tão estranhos.
Lyova sorriu de canto para mim. Ele se aproximou, seu
olhar se fixando nos meus lábios.
— E quem é você, gatinha?
Quando Talus me chamou de “gatinha”, eu me derreti. Com
ele? Ativou meu modo irônico.
— Estou indo embora e encontrando meu caminho de volta
para casa, obrigada. — Deslizei do meu lugar. Eu era considerada
saudável. Esses caras não pareciam querer me matar. Parecia razoável
que eu encontrasse o próximo transporte de volta à Terra.
Solana bloqueou minha saída.
— Por que você não fica um pouco mais? Apenas no caso
de algo dar errado. Seu corpo ainda está se adaptando.
— Eu não quero que meu corpo se adapte. Quero ir para
casa.
— Agora não é o momento certo — disse Talus enquanto se
aproximava de mim, tentando se colocar entre eu e Lyova. — Os Tanes
já marcaram você uma vez, não há garantia de que eles não possam
fazer de novo. A Terra será o primeiro ponto de parada deles.
— Quem são os Tanes?
— Eles são um sindicato que realiza a maioria de suas
operações em Erebus — disse Dorn. — Onde Talus te encontrou. É
muito provável que eles tenham te sequestrado da Terra.
— Por quê?
— Para comércio — respondeu Lyova. — Até onde sabemos,
estão trocando mulheres humanas com os Kridrins, outro grupo
desagradável. Ainda estamos tentando entender o porquê.
Gemendo, esfreguei as têmporas, tentando entender tudo.
— Então, eu deveria ficar aqui? — disse, levantando as
mãos em frustração.
— Por enquanto — disse Talus.
— É o melhor — disse Solana. — Mas eu posso te ajudar —
acrescentou rapidamente. — Posso fazer um tour pelo Aurum e te
ensinar a usar todos os equipamentos legais. E adoraria ouvir mais
sobre você e a Terra. Já faz um tempo desde a última vez que visitei.
Arqueei uma sobrancelha. Ela visitou? Isso significava que
ela tinha um meio de voltar para a Terra.
— Com certeza — disse Lyova, jogando um braço sobre
meus ombros. — E eu adoraria te conhecer, gatinha. Talvez com um
drink. Ou quatro? Você tem olhos tão adoráveis.
Talus rosnou e me empurrou para trás dele. Tropecei, mas
seu rabo se enrolou ao meu redor, me abraçando junto ao seu corpo.
Segurei nele para não tropeçar e cair.
— Que porra é essa, Tal? — Lyova deu um passo à frente.
— Só estou tentando ser amigável aqui. Talvez ela esteja com sede?
Talus mostrou suas presas.
— Ela não quer o que você está oferecendo, então recue.
— Ah, vamos, Tal — rosnou Lyova. — Relaxa. Vamos deixar
ela decidir então. — Lyova ignorou os rosnados de Talus e olhou por
cima do ombro dele, encontrando meu olhar. — Ei, Princesa, com qual
de nós você quer beber…
Talus rugiu e antes que eu pudesse sequer piscar, ele se
lançou, derrubando Lyova no chão, segurando as mãos do amigo e
prendendo-as acima da cabeça. Suas garras se cravaram na parede
onde prendeu os pulsos de Lyova.
— Talus, que porra é essa! — gritou Lyova enquanto lutava
contra Talus. — Ela é apenas uma fêmea.
Talus cresceu diante dos meus olhos, se expandindo para
que sua cabeça quase tocasse o teto. Rugiu na cara de Lyova, seu rosto
se contorcendo e se tornando mais selvagem em sua raiva. Suas presas
se tornaram mais proeminentes, suas maçãs do rosto se afiaram, a
mandíbula mais pronunciada.
— Ela é minha companheira, idiota. Se você usasse a
cabeça que tem sobre os ombros e não a que está entre suas pernas de
vez em quando, você teria percebido.
Os olhos de Lyova se arregalaram.
Solana ofegou, cobrindo sua boca com uma mão.
Companheira. Ele já havia me chamado assim antes... nos
sonhos. Mas aquilo não era real. Talvez os tradutores que me deram
estivessem falhando.
Lyova lentamente se levantou, seu olhar alternando entre
mim e Talus.
— Eu não fazia ideia. Você nunca mencionou nas
comunicações... — Ele se virou abruptamente para Dorn. — E muito
obrigado por me apoiar.
Dorn deu de ombros, impassível diante da reação do outro
homem.
— Parecia que você tinha as coisas sob controle.
Lyova voltou-se para Talus, que conseguiu recompor seu
corpo de volta ao normal.
— Por que você não disse nada antes? — Ele deu um
empurrão no ombro de Talus antes de abraçá-lo com um tapinha nas
costas.
— Não era o momento enquanto eu estava desviando de
lasers — disse Talus com um tom sério.
Lyova revirou os olhos.
— Isso não impediu Cade de rugir assim que os Kridrins
tocaram na Solana. De qualquer forma, com tudo isso para dizer, estou
feliz por você.
— Meu tradutor está quebrado ou você disse
“companheira”? — perguntei enquanto ainda brincava com minhas
orelhas. Como exatamente esse negócio funcionava?
Talus deu um passo em minha direção, suas mãos tocando
meus ombros suavemente.
— Eu queria introduzir você ao conceito de uma forma um
pouco diferente, mas aqui estamos. Você é minha companheira, aquela
que o Destino uniu — disse, olhando para mim com uma expressão
estranhamente amorosa.
Eu me afastei de Talus e virei para Solana, esperando por
uma explicação.
— Meu tradutor está quebrado. Por favor, conserte.
Ela suspirou, cruzando os braços antes de olhar para Talus
com uma expressão de compaixão no olhar.
— Está funcionando perfeitamente — disse Talus, com os
ombros caídos. Seu rabo se agitou de um lado para o outro. — Você é
minha companheira — ele pausou, suas orelhas se deitaram em sua
cabeça — nós compartilhamos a união e começamos o vínculo em
nosso sonho.
— Sim, com ênfase em sonho — disse eu, enfatizando cada
palavra.
Ele parecia não entender, porque seu rosto se iluminou.
— Exatamente! Onde nossas almas residem. A sua se
conectou à minha e despertou nosso vínculo.
Eu mordi o lábio. Eu não queria admitir que sim, de fato,
tive um sonho com ele. Eu sabia o nome dele. Eu sabia como era a
textura de sua pele e, se eu me permitisse pensar nisso, sabia o quão
grande era aquele pau dentro de seu uniforme e como era bom tê-lo
dentro de mim.
Mas companheiros, almas gêmeas, destinados um ao outro,
tudo isso era apenas um estúpido devaneio. Nada disso era real.
Assim como isso. Isso não poderia ser real. Eu ri, porque se
eu não começasse a rir, começaria a chorar com a insanidade de tudo
isso.
— Acho que você bateu a cabeça. Eu sou humana. E você
é... — Eu o olhei de cima a baixo, tentando encontrar uma resposta. O
cara do meu sonho quente? Meu homem-tigre?
— Rodiniano — ele respondeu.
— Sim, isso — eu disse, acenando para ele. — E eu não
pertenço a ninguém além de mim mesma. Então, não pense que só
porque você me salvou, eu pertenço a você ou te devo alguma coisa.
Quero dizer, não que eu não seja grata, mas você sabe o que estou
tentando dizer.
Coloquei as mãos nos quadris para dar ênfase, porque até
eu tinha dificuldade em acompanhar o que saía da minha boca.
O rosto de Talus se contorceu adoravelmente, inclinando a
cabeça.
— Eu não penso assim…
Solana ergueu a mão e Talus parou, mordendo o lábio. Ela
pousou a mão no meu ombro.
— Por que não lhe mostro seu quarto? Você ficará muito
mais confortável lá.
Ela trocou um olhar com Talus antes de me levar para fora
da ala médica e pelo corredor.
Capítulo 09

CALLIE

EU ESTAVA SENTADA À MESA, inclinada e olhando para a


minha perna. Estava tudo bem, completamente curada como se não
houvesse nada de errado para começar.. Bem, pelo menos uma coisa
correu como eu queria. Meu olhar foi para a janela à minha frente,
exibindo estrelas ao longe.
Houve um bip na porta.
— Lady Callie — disse uma voz computadorizada — Lady
Solana solicita permissão para entrar em seus aposentos. Devo
conceder acesso a ela?
Olhei para o teto. Não consegui atualizar as opções para
que o computador deixasse de usar “Lady” antes do meu nome. Talvez
o computador estivesse realmente dizendo outra palavra em rodiniano
ou na linguagem universal, mas sua tradução me fazia sentir como
uma menina indefesa aprisionada em uma torre.
Por outro lado, talvez o título fosse perfeito.
— Devo conceder acesso a ela? — O computador foi muito
insistente.
— Claro.
— Eu preciso de um sim ou um não.
Revirei os olhos.
— Sim.
A porta se abriu, revelando Solana parada na entrada. Ela
acenou de forma desajeitada.
— Vim verificar como você está.
Dei de ombros.
— Já dei uma olhada na minha perna. Está tudo bem. —
Estendi minha perna para ela, e ela interpretou isso como um convite
para me inspecionar. — Você não precisa se preocupar. Sou estagiária
em um hospital. Arranhões e cortes são rotineiros. Ser abduzida e
levada para um posto espacial, isso estaria fora da minha rotina.
— Bem, pelo menos a experiência hospitalar é um alívio —
disse Solana, encontrando um assento. — Sou pesquisador de campo
de profissão. Estava um pouco enferrujada com todos os cuidados
médicos, mas rapidamente comecei a sair com um bando de Reapers.
Ao ver minha expressão, ela preencheu as lacunas.
— Ah, os Reapers são uma unidade especial da Legião.
Reconhecimento e Apreensão. Eles realizam operações camufladas
para o comando da Legião.
Limpei a garganta.
— E a Legião é...?
— Oh, eles são um coletivo de raças alienígenas. Os
rodinianos são um deles, mas há centenas de outros que servem na
Legião. Eles viajam por galáxias em busca de mundos natais.
Pisquei para ela.
— Então, eles são como uma força invasora, colonizando
outros planetas? Como o Império Romano.
Solana abriu e fechou a boca.
— Bem, se você diz assim, eles parecem horríveis. Mas eles
não são. Eles também ajudam as pessoas. Como eu. E você.
Decidi deixar isso de lado por enquanto.
— Então, é assim que você chegou aqui? Talus mencionou
algo sobre o Cade estar no meio de uma operação?
Solana sorriu radiante.
— Essa é a versão resumida, mas sim. Eu sou a
companheira do Cade. Você ainda não o conheceu, mas vai. Ele é
incrível.
Revirei os olhos.
— Sério mesmo? Você acredita nessa baboseira?
Solana riu.
— Eu também não acreditava, no começo. É realmente
difícil de compreender. É algo que você terá que vivenciar para entender
de verdade.
Olhei para Solana, no sorriso feliz em seu rosto ao falar de
Cade, no jeito como ela mexia os dedos desajeitadamente.
Ah, eu entendia perfeitamente. Queria dizer a ela que era
síndrome de Estocolmo, mas não queria ser rude. Ela parecia
realmente acreditar nessa coisa de companheiro.
— Tudo bem — foi a única resposta simpática que consegui
dar.
— Se você conhecer Tal, ele vai tratá-la como a deusa que
você é — disse Solana, piscando para mim. Fiquei corada, pensando
nas implicações e no suposto sonho que compartilhávamos.
Solana pegou minha mão e me puxou para perto dela.
— De qualquer forma, eu não vim aqui apenas por causa
do seu ferimento, embora esteja feliz por você estar se recuperando.
Imaginei que você tivesse um milhão de perguntas, assim como eu tive,
então quis te mostrar onde você poderia encontrar algumas respostas.
Vamos lá — disse ela, me arrastando para fora da porta. — Vamos fazer
um tour pela nave. Além disso, você não pode ficar aqui para sempre.
Não pretendia ficar para sempre, já que planejava encontrar
um jeito de voltar para casa, mas não queria ser rude com a única
humana ali. Então, permiti que Solana me arrastasse para fora do
quarto e pelos inúmeros corredores brancos.
Ela me mostrou a cantina, a versão deles de um refeitório
que parecia que poderia alimentar um exército, e me ensinou como
acessar o freezer.
Havia mais comida lá dentro do que em um supermercado.
Solana sorriu sabiamente.
— Eu sei, não é? Vamos, voltaremos à comida daqui a
pouco, já que o jantar será servido em breve. — Ela me puxou para
outra direção. — Você vai adorar este lugar, você verá.
— Para onde estamos indo agora?
— Você vai ver. — Ela me levou para uma sala grande com
teto alto, onde Talus e outro homem com manchas de leopardo estavam
lutando. Por um momento, parei e observei os movimentos de Talus.
Ele era rápido, considerando o quão alto era, mas o que mais
impressionava era sua graça fluida. Desviava-se de cada soco lançado
em sua direção. Defendia-se de cada chute. Ele investia e seu oponente
o arremessava ao ar. Em vez de cair de cara, usou o impulso para dar
um giro e cair agachado.
O parceiro de luta de Talus estava prestes a avançar
quando avistou Solana e sorriu para ela. Foi imediatamente derrubado.
— Golpe baixo — gritou Solana do outro lado da sala.
Talus deu de ombros e ofereceu a mão ao homem caído, que
eu só podia concluir ser Cade, considerando o jeito como Solana
parecia radiante ao meu lado.
Cade gemeu enquanto Talus o ajudava a se levantar.
— Eu estava distraído.
Talus riu.
— Claro. Mesmo assim, ainda conta como vitória para mim.
O olhar de Cade se voltou para mim.
— Eu sou Cade — disse ele, estendendo a mão.
Olhei para o sorriso apaixonado de Solana.
— Sim, ouvi muito sobre você — disse ao apertar sua mão.
— Você comanda este lugar?
Cade envolveu um braço ao redor de Solana e a puxou para
perto, beijando o topo de sua cabeça.
— Nós comandamos este lugar juntos.
— Mas você é o comandante dos Reapers — acrescentou
Solana enquanto ficava na ponta dos pés para passar os dedos pelo
cabelo de seu parceiro.
Recusei-me a chamá-los de companheiros. Mesmo que eles
parecessem fofos juntos.
Senti o olhar de alguém em mim e virei para ver Talus me
observando com aqueles olhos dourados dele. Um arrepio percorreu
minha espinha ao lembrar daqueles olhos me observando enquanto eu
montava em seu corpo e cavalgava.
Um sorriso de compreensão curvou os lábios de Talus. De
alguma forma, ele sabia no que eu estava pensando. Olhei
ostensivamente para longe dele, ignorando o calor que me invadia o
rosto. Este cômodo estava claramente muito quente.
Solana estava conversando com Cade.
— Eu ia levar a Callie para a sala de tecnologia.
— É uma ótima ideia.
— Eu poderia ir junto — disse Talus. — Eu poderia ajudar
com… coisas.
— O comando da Legião ia ligar. Preciso de você aqui para
informações — respondeu Cade, balançando a cabeça. — Além disso,
acho que Callie e Solana não vão precisar de tanta ajuda com… coisas.
— Ele ergueu uma sobrancelha e Talus franziu o cenho.
Solana me empurrou pela sala enquanto acenava para
Talus e Cade.
— Divirtam-se, pessoal!

FUI LEVADA por outro corredor e parei em frente a uma


grande janela que ficava do meu lado esquerdo, mostrando Dorn e
Lyova trabalhando em algum tipo de nave espacial.
— Aquelas são as aeronaves — disse Solana. — Os caras se
locomovem nelas. Foi com uma delas que Talus te trouxe.
— E elas podem ir a qualquer lugar? — Minha mente já
estava agitada com ideias. Se eu conseguisse colocar minhas mãos em
uma delas, poderia sair deste lugar. Eu poderia voltar para a Terra e
fingir que nada aconteceu. Toda essa experiência era apenas um
pequeno erro na matriz que eu estaria corrigindo.
Eu vi Solana assentir e a esperança cresceu dentro de mim,
ameaçando me dominar. Eu agarrei sua mão e a puxei em direção à
entrada da sala de carregamento.
— Nós deveríamos dar uma olhada — eu disse, mas ela
permaneceu enraizada no chão.
— Algumas coisas primeiro. Você precisa aprender a operá-
las, e eu não estou equipada para ensinar isso. — Solana virou-se e se
afastou da minha única chance de voltar para a Terra. — Por isso estou
te mostrando o centro de aprendizado! Vai responder a todas as suas
perguntas, eu tenho certeza! Além disso, tenho certeza de que Talus
ficaria feliz em te mostrar sua aeronave mais tarde.
Ela fez isso soar tão sujo e excitante ao mesmo tempo. Eu
sacudi esses pensamentos da minha cabeça. Solana estava se
afastando do cais, e eu tinha que segui-la.
— Callie, você vem?
— Sim, estou indo. — Suspirei, dando uma última olhada
no cais de carregamento. Dorn e Lyova estavam lá conversando e me
avistaram. Ambos acenaram uma saudação.
Droga, todos eles estavam tão atentos. Acenei de volta antes
de me afastar da minha liberdade em potencial.
Corri na direção onde Solana esperava por mim, seguindo-
a para dentro de uma sala cheia de monitores brilhantes, painéis de
controle, esferas e outros dispositivos reluzentes que eu não seria capaz
de nomear.
Passei as mãos pelo cabelo, esperando não parecer muito
desapontada. Eu nem saberia como ligar a coisa. Como diabos eu
saberia até mesmo como deixar a galáxia, quanto mais voar até a
atmosfera da Terra?
Eu seria uma mancha de fogo na superfície.
— Então, o que estou vendo aqui? — perguntei.
Solana pegou uma esfera prateada.
— Esta é uma Esfera. — Ela pressionou um botão de metal
fundido em um dos lados. A bola levitou de suas mãos e um brilho
amarelo atravessou as placas de metal. — Estas são úteis se houver
uma queda de energia
— Há quedas de energia? — Minhas mãos pairavam ao
redor da bola brilhante.
— Sempre há a possibilidade. Caso sejamos atacados e a
energia central seja desligada. — Ela tocou minha mão. — Callie, só
quero que você saiba disso — ela parou como se estivesse procurando
palavras — eu só quero que você saiba que está segura aqui. Não vamos
deixar nada de ruim acontecer com você. Especialmente Talus.
Eu assenti.
— Obrigada.
A mão de Solana escapou e ela virou-se, pegando um
dispositivo portátil.
— Este é um simulador — disse, segurando-o ao nível dos
olhos. Ela abriu uma gaveta cheia de chips transparentes e pegou um.
— Estes são diferentes programas de download.
Ela inseriu o chip no simulador e então o aproximou do
pescoço.
— Eles são parecidos com os tradutores. Qualquer coisa
que você queira aprender, só precisa encontrar o programa nesta
gaveta e inseri-lo no seu pescoço. Nanobots são liberados e uma vez
ajustados na sua rede neural, você pode operar qualquer informação
que o programa lhe deu.
— Ugh, então é como tomar uma injeção? Droga, eu odeio
agulhas. — Fazer beicinho não era legal, eu sabia disso. Mas eu
realmente odiava agulhas.
A expressão de Solana era simpática.
— Eu sei, agulhas não são legais. Mas, tecnicamente, você
não vê a agulha, e é mais como um beliscão.
— Sim, isso não está ajudando.
— Bem, há essa outra opção em que você usa um visor e
recebe informações baixadas diretamente pelos nervos ópticos. Foi
assim que aprendi pela primeira vez sobre dinâmicas alfa e ômega. Eu
te conto mais sobre isso depois — disse Solana com um gesto casual
de pulso. — Suficiente dizer que a experiência me deixou meio enjoada
e com vontade de tirar uma soneca.
Ótimo. Então minhas opções eram agulhas ou ficar
enjoada. Acho que precisava superar meu receio de agulhas.
— Quanto tempo leva para o nanotecnologia assimilar? —
perguntei.
— Às vezes minutos. Em outras, horas. Depende da
complexidade da tarefa.
Solana me entregou o simulador e eu o movi, olhando o chip
dentro dele:
ELIMINAÇÃO DE RESÍDUOS.
Revirei os olhos.
— Acho que não preciso aprender nada disso.
Solana deu de ombros.
— Nunca se sabe. Há instruções sobre blasters, escudos, as
aeronaves. Para sua informação, o download de Eliminação de
Resíduos levou apenas alguns segundos para assimilar.
Estava prestes a colocar o simulador na mesa, mas pausei.
— As aeronaves?
— Sim, mas esses não são os únicos programas. — Solana
olhou a hora em seu relógio. — Tenho que ir. Prometi ao comando da
Legião que atualizaria o banco de dados deles, e quero fazer isso
enquanto eles estiverem em conferência com Cade e sua equipe. Tome
o seu tempo e dê uma olhada nos programas. Você vai querer passar
horas aqui. — Ela piscou para mim antes de sair da sala técnica. Acenei
enquanto ela saía, esperando a porta se fechar.
Mergulhei na gaveta, pegando chip após chip.
MANUSEIO DE BLASTER.
Quem sabe na próxima vez, disse para mim mesma
enquanto o jogava de lado.
ESCUDOS ATIVADOS.
Não, eu não precisava disso.
RECICLAGEM.
Ah, eles reciclaram. Que perfeito. Fiquei olhando para o
chip, imaginando como a reciclagem poderia mudar com toda essa
tecnologia. Apesar da minha curiosidade, ainda o joguei de lado.
NEUROCIÊNCIA.
Eu parei antes de inserir imediatamente aquele chip na
minha cabeça. Claro, Solana disse que levaria apenas alguns
momentos, mas eu não tinha todo o tempo do mundo. Me forcei a
colocá-lo de lado, dizendo a mim mesma que minha liberdade era mais
importante do que o fascinante mundo do sistema nervoso.
Eu pausei quando finalmente o encontrei. O único chip de
que eu precisava.
INSTRUÇÕES PARA PILOTAR UMA AERONAVE.
Eu inseri o chip no simulador e pressionei o dispositivo
contra o meu pescoço. Com respirações profundas, tentei me convencer
de que não estava me aplicando uma injeção. Que eu estava apenas
fazendo um tratamento facial e logo tudo acabaria.
Apertei o gatilho e juntei os lábios contra a picada da dor
conforme os nanobots entravam no meu pescoço.
Meu cérebro parecia que ia explodir. Segurei a mesa para
me manter firme. Eu não choraria. Eu era forte. Eu poderia fazer isso.
Senti arquivos se abrindo dentro de mim, vi visões de
interruptores permitindo acesso ao voo e à rampa, onde digitar
coordenadas e obter acesso a códigos. Era tudo tão brilhante.
Então, os arquivos na minha cabeça se fecharam e a dor
diminuiu. Esfreguei minhas têmporas brevemente, meio esperando ver
sangue escorrendo pelo meu nariz e descobrir que tudo era uma
mentira, e que eu realmente havia fritado metade das células do meu
cérebro.
Mas eu estava bem.
Melhor do que bem. Eu sabia como escapar e retornar à
Terra.
A porta se abriu e eu espiei para fora antes de sair na ponta
dos pés para o corredor. Eu me sentia eufórica. Sentia pela primeira
vez desde que abri os olhos neste novo mundo, que eu era uma mulher
forte e independente, e que ia me tirar dessa confusão.
Com ou sem ajuda.
A porta para os cais estava surpreendentemente
destrancada e aberta, porém me abaixei quando ouvi vozes.
Caramba!
Rastejei em direção a uma das aeronaves no fundo, as vozes
ficando mais altas a cada passo que dava na direção dela. Encostei-me
nela, inspirando profundamente enquanto pensava no meu próximo
plano.
— Os Tane definitivamente estiveram traficando humanos
para os Kridrins — ouvi Cade dizer. — Não foi apenas uma vez, mas
como um contrato selado e carregado. Era apenas uma questão de
tempo até encontrarem uma escória disposta a fazer o trabalho sujo.
A voz profunda de Dorn respondeu.
— Acho seguro dizer que foi sorte eles terem contratado
Silar Praxis na primeira vez. Quem sabia que haveria uma equipe de
contrabandistas com honra?
Espiei ao redor da aeronave e observei Cade andando de um
lado para o outro no centro do grupo de Rodinianos. Talus estava
encostado em uma parede, Dorn tinha as mãos para trás, enquanto
Lyova estava ocupado limpando graxa debaixo das unhas.
— Precisamos saber o que os Kridrins estão dando em troca
ao Sindicato Tane. Sabemos que os Kridrins têm feito experiências com
as fêmeas. Eles têm procurado uma cepa Pandora e parecem ter
encontrado um recurso inesgotável em Terra Prime. Só não sabemos o
porquê, e até descobrirmos, estamos em desvantagem séria — disse
Cade olhando nos olhos do seu grupo. — Lyova, por favor, faça isso em
outro lugar.
— Bem, é óbvio que os Tane estão recebendo tecnologia
Kridrin — disse Talus. — Mas alguns bastões luminosos parecem bem
pequenos comparados à quantidade de fêmeas que tinham em seu
porão. A propósito, você disse que a Legião cuidou deles?
O sorriso de Cade era letal e assustador.
— Sim, o Capitão Rhys Desai e sua tripulação no Dauntless
conseguiram resgatar as outras fêmeas e fazer um buraco na perna do
sindicato Tane. Claro, ao fazer isso, eles também destruíram a
tecnologia que estavam acumulando.
Talus suspirou.
— Como eu disse antes, o comando da Legião usa um
canhão quando um martelo resolveria.
Cade pareceu concordar com essa avaliação.
— Tenho certeza de que o comando não ficou nada satisfeito
com esse resultado, embora qualquer arrependimento nesse sentido
seja provavelmente compensado pelas fêmeas que eles agora têm a
bordo de sua nave.
Lyova riu.
— Você quer dizer as possíveis ômegas que eles têm a bordo.
Cade assentiu.
— E é por isso que estamos aqui com a tarefa de mais uma
operação oculta. Mesmo objetivo. Interceptar qualquer comércio.
Capturar Kridrin quando possível. Não ser visto. Definitivamente, não
ser pego. — Ele se dirigiu a cada Reaper sob seu comando. — Talus,
há informações de que há outro posto de acesso nexus que apareceu
em uma lua abandonada. Onde há um nexus, há mercadoria do
mercado negro sendo negociada. Dorn, você será enviado para Ceres e
Lyova, Minerva. Houve rumores de que postos de acesso nexus
apareceriam lá em breve.
Lyova gemeu.
— Por que Dorn vai para Ceres?
Cade sorriu.
— Porque eu sei que Dorn não será distraído por todas as
fêmeas de Ceres.
Eu me inclinei contra a aeronave, olhando ao redor em
busca de uma rota de fuga. Precisava me mover rápido se quisesse sair
daqui. Eu só tinha hoje. Talvez menos.
Não sabia exatamente quando eles partiriam. Eles
precisariam de comida e talvez armas ou outros suprimentos. Quanto
tempo isso levaria, uma hora?
Esperava que fosse tempo suficiente. Esperei que eles se
separassem antes de vasculhar os cais. Sorri quando encontrei a
aeronave em frente a mim com a rampa abaixada e corri em direção a
ela.
Manobrando para a frente, lembrei vagamente de Talus me
prendendo no meu assento. Toquei na tela, meu coração se elevando
quando percebi que não precisava pensar duas vezes. Parecia que eu
sabia onde estaria cada comando.
Se eu pudesse fazer isso para meus exames de estágio, seria
incrível. Tudo bem, eu só precisava ligar isso e seguir meu caminho.
Parei quando ouvi alguém subindo pela rampa. Não era
qualquer um. Era Talus.
— Talus — ouvi Dorn. — Você não vai se despedir da sua
companheira?
Eu toquei a tela, desligando as luzes e me levantei. Procurei
um lugar para me esconder, mas era pequeno. Havia um beliche, um
banheiro e todo esse espaço. Para onde eu deveria ir para me esconder?
Me joguei dentro de um armário. Era pequeno e apertado e
mal me cabia com todas as roupas penduradas em um varão e alguns
produtos de limpeza dificultando ficar de pé.
Ah, um homem que realmente limpava.
Não é hora, me dei um tapa mentalmente. Deixei uma fresta
aberta na porta. De onde me escondi, conseguia ver Talus parado na
rampa, ainda conversando com Lyova e Dorn.
Ouvi um suspiro que pareceu muito perto.
— Solana disse que deixou Callie na estação de
aprendizado. Tanto faz. Não quero sobrecarregá-la com mais
informações.
— Tem certeza? — perguntou Lyova.
— Sim, acho melhor dar a ela um pouco de espaço. Não
quero que ela se sinta sufocada. Além disso, será um bom incentivo
para terminar essa corrida rapidamente. Provavelmente estarei de volta
antes mesmo dela perceber que eu parti.
Houve uma longa pausa antes de Dorn responder.
— Ela vai se acostumar. Eu acredito nos seus laços de
destino. Você também deveria.
— Divirta-se em Ceres — disse Talus.
— Não acredito que você vai para Ceres enquanto eu corro
para a entediante Minerva — Lyova choramingou.. — Você, o Deus do
Tédio.
— Oh, sente-se em um novelo de lã — chamou Dorn.
Balancei a cabeça e puxei minha orelha. Aquilo tinha que
ser um problema no tradutor.
Talus riu e caminhou até os controles, digitando algo. A
rampa recuou para dentro e a porta se fechou, me selando efetivamente
dentro desta nave.
Bem, as coisas poderiam ser piores.
Talus se jogou na sua cadeira e se prendeu, nos levando
lentamente para fora da Aurum em direção à liberdade potencial.
Perfeito.
Agora, tudo que eu precisava fazer era esperar Talus chegar
onde ele precisava ir, pegar a nave e voar com essa coisa de volta para
a Terra. Não tão ruim para minha primeira tentativa de comandar uma
nave, no entanto, o pensamento não me agradava. Eu não entendia por
quê, mas me sentia triste. Preocupada.
Eu não queria deixá-lo em um posto avançado perigoso,
sem possibilidade de fuga. Veja o que aconteceu em Erebus.
Eu disse que não lhe devia nada, mas droga, eu lhe devia
tudo. Pelo menos, eu lhe devia não ser uma pessoa cruel.
Eu observei Talus em sua cadeira.
— Deuses, esta nave ainda cheira como ela. — Ele suspirou
enquanto passava as mãos pelo cabelo. Eu não conseguia ver o rosto
dele desta posição, mas ele parecia triste. Havia um desejo indescritível
dentro de mim, me puxando em direção a ele. Eu queria ir até ele,
confortá-lo e fazer qualquer coisa para amenizar sua dor.
Lutei contra isso. Seja lá qual fosse aquele sentimento, não
era eu. Eu não queria esse tipo de vida. Este não era meu lar.
Recostei-me no armário e tentei me acomodar. Era difícil. O
cheiro dele estava por toda parte, me deixando tonta.
— Reaper Um para esquadrão Reaper, estão prontos? —
disse Cade pelo comunicador.
— Dorn aqui. Estou pronto. Encerrando comunicação.
— Lyova aqui. Eu não acho isso justo. Encerrando
comunicação.
Talus riu. O som fez meu fôlego falhar. Fez com que eu
quisesse sair correndo deste armário e me encolher junto a ele. O que
diabos estava errado comigo?
— Talus aqui. Estou pronto. Encerrando comunicação.
— Ok, Reapers, vocês têm sua missão. Reconheçam e
retornem em segurança.
— Ainda não acho que isso seja... — A voz de Lyova foi
interrompida no comunicador e Talus soltou uma gargalhada enquanto
mexia na tela.
Provavelmente eram as coordenadas para o posto
avançado. Franzi os olhos para ver qual setor estávamos indo, mas o
monitor estava muito longe.
Talus mudou as engrenagens e eu respirei ofegante.
Estávamos indo em direção a um portal de salto. Segurei em qualquer
coisa que pudesse, o que não era muito. Agarrei-me à haste acima de
mim e deslizei meus pés até o chão, derrubando algum tipo de balde.
Me preparei quando senti a nave se mover ao meu redor.
Capítulo 10

TALUS

GEMI quando as estrelas retornaram, mostrando-me um


setor diferente e um sistema solar diferente através da janela. Não
importava quantas vezes eu atravessasse os portões de salto, isso ainda
faria coisas profanas no meu estômago.
Meus pensamentos foram para minha companheira. Callie.
Perguntei-me como ela estava se adaptando. Ela parecia tão frágil e
desamparada quando a encontrei na sala de observação, olhando para
as estrelas como se fossem um buraco negro prestes a consumir sua
vida. Estremeci, lembrando-me do medo dela me assombrando através
do vínculo.
Esperava que Solana estivesse cuidando bem dela. Ela era
humana. Ela sabia como poderia ser diferente e difícil aprender a
sobreviver em um mundo completamente diferente. Seria bom se elas
se tornassem amigas.
Franzi a testa, pensando na resposta de Callie ao nosso
vínculo. Poderia ter sido um pouco melhor, porém, ela era humana,
como ela havia dito. A maioria dos humanos não tinha um vínculo ou
uma companheira, então não entendiam o que significava ter um. Mas
ela era minha assim como eu era dela.
Uma dor aguda no peito me lembrou disso. Latejava com a
necessidade de virar esta nave e tê-la nos meus braços. Por enquanto,
eu poderia lidar com a separação.
Pelo menos para o bem dela, essa separação forçada seria
boa para ela. Talvez ela se acostumasse com a ideia, talvez aprendesse
alguns tutoriais. A única coisa que me mantinha relativamente são era
saber que ela estava segura em Aurum. Eu podia confiar no meu
comandante para proteger minha companheira. Por enquanto.
Logo, a biologia prevaleceria sobre o bom senso, e eu não
toleraria ficar longe dela de jeito nenhum.
Suspirei e olhei para o posto avançado Nexus no mapa. Eu
precisava focar nesta missão. Assim que terminasse, poderia resolver
as coisas com Callie.
Não estava muito longe.
Não deve demorar muito agora.
Algo no meu armário caiu, fazendo um barulho abafado e
em seguida um grito abafado.
Girei na cadeira, observando algo batendo na porta.
— O que diabos? — Minha mão alcançou o blaster ao meu
lado, imaginando se tinha sido um alienígena burro o suficiente para
se transportar para uma aeronave classe Reaper. A porta bateu várias
vezes até que foi aberta com um chute e Callie caiu de cara no chão.
Ela gemeu e rolou, tirando o cabelo dos olhos antes de ficar
em pé.
— O que está acontecendo? — Eu me apressei para ajudá-
la, sem saber exatamente do que ela precisava mais: uma massagem
relaxante nas costas ou um lugar para esvaziar o conteúdo do
estômago.
Callie tentou sorrir, mas foi arruinado por um ânsia seca
seguido por uma tosse violenta enquanto ela segurava o estômago.
— Olá — ela disse roucamente, olhando ao redor. — Que
lugar agradável você tem aqui. — Ela fez um gesto ao redor do quarto.
— Eu estava procurando por você — acrescentou com outro engasgo.
Se eu tivesse que adivinhar, os portões de salto também não
concordavam com o estômago dela.
— O que você está fazendo aqui? — Inspecionei suas
características, tocando seus ombros suavemente e olhando-a para ver
se ela se machucou na queda.
— Eu te disse, bobo — ela disse, sorrindo. — Estava
procurando por você.
Estreitei os olhos para ela. Algo não cheirava bem, mas
deixei pra lá.
Callie pressionou o corpo contra o meu, pegando minha
mão na dela e acariciando-a contra sua bochecha. O toque dela foi
suficiente para me causar arrepios na espinha.
E não, eu não odiei. Eu deveria afastá-la, disse a mim
mesmo. Ela claramente estava escondendo algo e estava com vergonha
demais para me contar o que estava fazendo. No entanto, não consegui
me forçar a me mover enquanto ela envolvia os braços em volta de mim
e esfregava o nariz contra o meu.
— Costumava ter sonhos com você, sabia disso? — Ela
sussurrou no meu ouvido. — Eles eram vagos e nebulosos. Eu não
conseguia realmente ver nada. Isso, até a outra noite.
Limpei a garganta quando imagens das minhas mãos
segurando seus seios perfeitos voltaram.
— O vínculo geralmente é desencadeado pela proximidade.
Quanto mais perto estamos, mais intensos são os sonhos.
Ela mordeu o lábio e depois sorriu.
— Devemos ter estado muito próximos, né?
Olhando para sua boca deliciosa, obriguei-me a afastá-la
enquanto me lembrava de sua boca chupando a ponta do meu pau e
de suas lindas e delicadas mãos acariciando meu eixo. Seus suspiros
e gemidos daquele delicioso sonho eram como sussurros fracos nos
meus ouvidos. Tudo ao meu redor queimava e tudo o que eu queria era
arrancar minhas roupas e me enfiar profundamente dentro dela.
Cerrei os dentes, sentindo algo selvagem tentando me
arranhar por dentro. Querendo que eu a reivindicasse, que eu me
achasse com ela, que eu me ligasse a ela.
Droga. Agora não. Foco.
Mas era muito difícil focar quando o cheiro dela permeava
ao meu redor. E a maneira como ela segurava minha mão na dela,
entrelaçando seus dedos nos meus e colocando-os em sua cintura,
deslizando-os para acariciar sua bunda era como a mais doce tortura
que eu já experimentara.
— Bem? — Ela perguntou, se inclinando para mim, seus
seios tocando meu braço.
Quando olhei para baixo, pude ver a curva adorável de seus
seios. Seus mamilos se destacavam através do tecido fino de suas
roupas.
Minhas calças de repente ficaram muito, muito apertadas.
— Você teve sonhos comigo? — Ela me encarou com aqueles
lindos olhos azuis, todos arregalados e inocentes. — Antes?
— Sim, embora eu não me lembrasse de nenhum deles —
eu respirei enquanto sua perna cutucava meu pau endurecido. — Só
percebi depois que compartilhamos o vínculo.
A missão, lembrei a mim mesmo, e a peguei pelos ombros e
a empurrei gentilmente. No entanto, sua mão deslizou ao meu redor e
mergulhou sob meu cinto para brincar com minhas bolas. Minha
respiração engatou e eu a observei me observando. Sua mão deslizando
ainda mais para tocar minha ponta. Um dedo circulando ao redor da
fenda já vazando fluido.
Agarrei-a, a fera dentro de mim rugindo para ser libertada,
enquanto eu a segurava contra a parede. Quase parei, temendo
assustá-la, mas em vez disso ela engasgou, sorrindo enquanto passava
os braços em volta do meu pescoço e separava as pernas.
Abrindo bem suas pernas, esfreguei meu pau dolorido
contra seu centro. Meus lábios pressionaram contra os dela, e ela se
abriu para mim. A língua dela dançou com a minha; seus dentes
puxaram meu lábio inferior.
Minhas mãos deslizaram por todo o seu corpo, cobrindo
seus seios, apertando sua bunda. Uma necessidade violenta empurrou
através de mim para reivindicá-la e fazer com que ela se ligasse a mim.
Eu queria me enterrar em seu cheiro. Sufocar-me com isso até me
afogar nela.
Callie puxou meu cabelo e eu rosnei, inalando
profundamente seu perfume, enchendo meus pulmões com ele. E foi
então que senti algo através do nosso vínculo. Uma abertura que
revelou seu segredo. Ela queria voltar para a Terra.
Ela queria usar minha aeronave para fugir. De mim.
Eu a segurei pelos ombros, mesmo quando ela puxou
minha camisa, tentando me puxar para mais perto. Seus lábios
estavam inchados por causa dos meus beijos. Seu cabelo desgrenhado.
Eu queria ignorar a frustração que crescia dentro de mim e fodê-la com
força e profundidade, mas ainda assim a mantive sob controle. Agora
não era hora de foder.
— Você ia embora — eu disse, sentindo raiva, frustração e
tristeza tomarem conta de mim.
E ela se atreveu a agir de forma tão inocente, com os olhos
arregalados, olhando para mim como um gatinho fofo que não ousaria
fazer algo tão cruel.
— Eu queria o quê? — Ela perguntou, confusão nublando
suas feições antes de corar. Pelo menos a atração dela por mim era
real. Foi o suficiente para distraí-la de seu propósito. — Não sei do que
você está falando — disse ela, evitando meu olhar.
— Então deixe-me dizer — eu disse — você baixou
instruções sobre a aeronave.
Os olhos de Callie se arregalaram.
— O quê?! Nunca.
— Você é uma mentirosa horrível — eu rosnei. — Você não
deveria se preocupar, já que posso sentir através do nosso vínculo que
você continua negando. Além disso, sei que Solana lhe mostrou a
estação de aprendizagem.
Ela caiu em meus braços e revirou os olhos.
— Tudo bem, eu fiz. Mas ninguém parecia disposto a me
devolver à Terra. Então, por que não fazer isso sozinha?
— E eu expliquei a você o porquê — eu disse enquanto a
soltava e voltava para a tela. — O sindicato Tane está procurando por
você e a Terra é o primeiro lugar que eles verificariam. Mas você me
escuta? Não. — A missão, lembrei a mim mesmo. Eu estava atrasado e
a missão não podia esperar pelos meus problemas de relacionamento
com minha companheira. — Sente-se — eu disse, observando enquanto
ela se sentava e colocava o cinto de segurança.
Ela limpou a garganta.
— Então, para onde estamos indo? — Ela perguntou com
uma expressão que tocou meu coração.
Não para a Terra, se era aí que ela estava obviamente
insinuando. Eu não tive tempo de virar a nave e não confiava que ela
ficaria longe de problemas. Eu estava prestes a ir para Aurum quando
Cade chegou antes de mim.
— Reaper Um para Talus — disse Cade através das
comunicações.
— Talus aqui — eu disse enquanto fazia uma careta para
Callie. Ela não se assustou facilmente, já que olhou para mim com os
braços cruzados. — Boa hora, eu estava prestes a entrar em contato
com você. —
— Não se assuste. Mas não conseguimos encontrar Callie
no Aurum. Ela poderia embarcar em um das aeronaves, no entanto.
Solana lembra que Callie perguntou sobre elas e espera que ela esteja
com você.
Sorri de volta para Callie, incapaz de esconder meu
aborrecimento.
— Ela perguntou sobre elas, não é?
— Sim. Solana está preocupada.
E quando Solana se preocupava, Cade se preocupava.
Como deveriam ser os companheiros de destino.
— Oh, Callie — eu disse com doçura zombeteira — você
acha que poderia explicar a Cade por que você está no minha aeronave?
— Ela está com você? — Ele perguntou.
— Sim — eu disse, girando na minha cadeira. — Ela está
aqui. Você acertou.
— Ah, graças a Deus — ouvi Solana dizer ao fundo.
Eu odiava que ela estivesse preocupada. Não foi culpa dela.
Era eu quem deveria cuidar de Callie. Ela era minha companheira.
— Aparentemente…
— Sinto muito, Solana — Callie interrompeu. — Eu não
queria preocupar você. Estou bem.
— Está tudo bem — disse Solana. — Que bom que você está
segura.
— Talus, você está voltando? — Cade perguntou.
Esfreguei minhas têmporas. Por que não poderia haver
apenas um problema de cada vez? Eu senti como se estivesse me
esquivando de uma série de raios laser.
— Não — eu disse a Cade antes de me inclinar para Callie.
Sua respiração engatou, seus olhos se dilataram quando me inclinei
em sua direção, meus lábios a um suspiro de distância dos dela. — Não
posso confiar em você para ficar longe de problemas enquanto eu
estiver fora — sussurrei. — Então, estou levando você comigo para este
posto avançado.
— Mas…
— Você acabou de tentar roubar minha aeronave. Fique
feliz por não sugerir transportá-la em uma cápsula de hipersono
durante esse período. — Eu me endireitei e me direcionei para o
comunicador. — Continuaremos até aquele posto avançado — eu disse
a Cade. — Callie queria ajudar, então eu a convidei para vir junto.
— Tenha cuidado — ouvi Solana dizer.
— Avise-me se precisar de algum reforço — acrescentou
Cade.
— Eu vou. Fim de transmissão.
Meu olhar percorreu o corpo de Callie por um momento
antes de retornar às minhas tarefas. Ela recostou-se na cadeira, com
os braços cruzados. O melhor dia para fazer essa merda, pensei
enquanto digitava as coordenadas daquela lua abandonada.
Isso seria interessante.
Capítulo 11

CALLIE

— EU NÃO VOU USAR ISSO — eu disse, segurando a roupa


que Talus disse que ajudaria na minha camuflagem entre os locais.
Isso não era moda.
Aquilo era um traje de Halloween que deu errado. Chamar
aquilo de sexy também estava muito, muito longe da verdade.
— Você tem que usar. Você não pode ir — ele me olhou de
cima a baixo — vestida assim.
— E o que há de errado com isso? — Eu me virei lentamente
e exibi minha camiseta e shorts. Honestamente, nem mesmo iria à loja
de conveniência com isso, mas era melhor do que qualquer tecido
demoníaco que Talus encontrou para mim no inferno da moda.
Talus balançou a cabeça. Claramente, ele não estava
divertido.
— Isso parece muito humano. — Ele suspirou e beliscou a
ponte do nariz enquanto seu rabo se movia ao redor dele. Eu estava
começando a suspeitar que o movimento de seu rabo era algo ruim.
— Eu sou humana.
— E é aí que está o problema. — Ele juntou os lábios como
se estivesse pensando em como explicar física quântica para uma
criança. — Você está entrando em uma estação alienígena onde
humanos são raros e, portanto, tendem a ser pouco mais que...
— Gado?
— Claro. Vamos com isso.
Eu segurei o traje novamente. Eu posso fazer isso, disse a
mim mesma, virando a peça em minhas mãos. Provavelmente já usei
coisas piores, pensei ao tentar lembrar de todas as diferentes festas de
Halloween que frequentei na juventude, ou as vezes que me vesti para
entreter crianças no hospital.
Era apenas um macacão amarelo brilhante com listras
horizontais rosa neon. Não importava as luvas azuis neon e as botas
de salto alto azul neon que eu deveria usar com ele. Ou que parecia tão
apertado que eu não seria capaz de usar um sutiã. Mas, quem se
importava com essas coisas pequenas? Eu poderia usar isso. Não seria
tão ruim.
Virei o traje mais uma vez e quase engasguei quando vi as
orelhas de coelho amarelo brilhante presas nele.
Não, balancei a cabeça. Todos aqueles trajes de Halloween
e roupas para o hospital eram fofos. Isso era como usar um vestido
manchado de vômito que havia sido rolado várias vezes em cocô de
cachorro e chamar isso de moda.
— Acho que vou ficar a bordo — eu disse, jogando aquela
coisa nele e me jogando na minha cadeira.
Ouvi ele se aproximar de mim, sabia que ele iria me
incomodar novamente, mas cruzei os braços. Eu não iria deixar essa
nave usando aquilo.
Eu recusei.
— Então devo deixar você aqui?
Eu assenti.
— Sozinha?
— Sim.
— Então você vai tentar roubar minha nave?
Por que ele tinha que trazer esse assunto à tona? Pensei,
girando na cadeira. Meu sangue estava fervendo agora.
— O que você quer dizer com roubar sua nave?
— Foi o que você estava fazendo antes, não foi?
O maldito homem-tigre tinha um ponto. Mordi o lábio,
tentando pensar em alguma maneira de sair dessa. Eu não podia usar
aquela coisa ridícula. Simplesmente não podia. Eu tinha meu orgulho.
E minha dignidade.
— Eu posso ter feito — admiti. A verdade era sempre um
bom ponto de partida. — Mas não farei agora.
Ele levantou uma sobrancelha e eu desejei ser alta o
suficiente para alcançá-la e empurrá-la para baixo.
— Sério?
Eu assenti.
— Sério. Honra de escoteira — disse, levantando três dedos
como fazia quando estava nos Escoteiros.
Seus olhos estreitaram.
— Nem sei o que isso significa.
Apontei um mindinho para ele.
— Juro de mindinho. Não vou roubar sua nave.
— Sem acordo. — Ele devolveu o traje para mim.
Eu gemi, jogando-o na cadeira dele como uma criança tendo
um ataque de birra. Não era meu melhor momento, mas eu não me
importava. — Sério, você não pode esperar que eu use isso. É terrível.
Eu ficaria completamente ridícula.
— Bem, você deveria ter pensado nisso quando se infiltrou
a bordo.
Revirei os olhos.
— Bem, me desculpe, eu não pensei nisso porque eu assumi
que estaria a anos-luz daqui.
Talus sorriu.
Eu realmente queria dar um soco na cara dele. Seu lindo
rosto estúpido.
— Vista as roupas. Você tem dez minutos. — Ele virou-se,
caminhando alguns passos em direção à sua cama.
Olhei para elas.
— Não vou — gritei depois dele.
— Dez minutos — ele respondeu antes de sentar na cama.
Ele tocou suas luvas e uma tela apareceu ao redor dele, me oferecendo
alguma forma de privacidade.
Encarei o traje à minha frente. Ele encarou de volta. Eu não
ia vestir isso. Dez minutos passariam e então Talus teria que ir embora
sem mim. O que ele poderia fazer? Nada. Ele poderia e faria
absolutamente nada.
Por outro lado, se todas as garotas estivessem usando
aquele terrível traje, eu não me destacaria muito. Olhei novamente para
o traje na cadeira de Talus. As orelhas pontudas de coelho pendiam do
apoio de braço. Eu fiz uma careta.
Não, aquele traje era simplesmente terrível.
Mas e se a gangue Tanes estiver na estação espacial e me
reconhecer? Especialmente se os humanos forem tão raros como ele
disse. Solana e Talus disseram que estavam me caçando e essas roupas
eram tão chamativas quanto o macacão amarelo brilhante.
Bem, não tão chamativas, mas definitivamente chamavam
atenção.
— Você tem cinco minutos — chamou Talus.
Suspirei, deixando meus ombros caírem enquanto me forcei
a pegar o traje estúpido.
— Se eu não ver nenhum outro alienígena usando essa
coisa, você está em maus lençóis.
Ele fez uma careta de uma maneira adorável.
— Por que eu me enfiaria em lençóis ruins?
— Deixa pra lá — murmurei enquanto tirava meu pijama e
enfiava uma perna no tecido apertado. — As coisas que faço para me
encaixar.
Cinco minutos depois, eu estava me encarando no espelho.
Franzindo a testa enquanto puxava as duas orelhas de coelho amarelo
brilhante que se erguiam no topo da minha cabeça. Todo o meu cabelo
estava coberto pelo tecido atroz, que se agarrava a cada curva do meu
corpo, deixando pouco para a imaginação. Toda a minha parte de trás
estava exposta, com a roupa mal cobrindo minha bunda. Meus
mamilos estavam totalmente à mostra, pensei enquanto ajustava meus
seios para tentar disfarçá-los. Era difícil mover os braços devido às
luvas de látex azul, que eram igualmente apertadas. Sem mencionar
que eu ainda precisava praticar para andar nas botas até a coxa com
as quais eu estava cambaleando.
— Você está ótima — disse Talus enquanto me olhava pelo
espelho. Ele deu uma boa cutucada em uma das minhas orelhas de
coelho, o que só me deixou mais irritada.
— Por que você não está usando nada ridículo? — perguntei
enquanto girava e apontava para seu uniforme preto.
— Eu tenho tecnologia de camuflagem — respondeu ele,
digitando algo em sua luva. Sua vestimenta imediatamente mudou
para um macacão amarelo brilhante com um capuz amarelo que ele
puxou sobre as orelhas.
Eu ainda não estava feliz.
— Você está quase normal.
Talus deu de ombros.
— Você vai sobreviver.
Eu bati o pé.
— Você está fazendo isso de propósito, não está?
Talus sorriu de lado antes de se virar. Eu fiz uma careta
para as costas dele e para o silêncio enquanto o seguia pela rampa.
— Isso não é justo! — gritei atrás dele, mal desviando de
alguma espécie de criatura alienígena.
— Cuidado, boceta! — o estranho alienígena gritou para
mim enquanto socava o ar.
Eu parei, a boca se abrindo com a audácia.
— O que…— Olhei para trás, vendo Talus beliscar a ponte
do nariz antes de voltar meu olhar para as costas daquele monstro azul
com tentáculos. — O que ele acabou de dizer?
Meus punhos se fecharam ao lado do corpo, mas antes que
eu pudesse alcançar o idiota, Talus agarrou meu braço antes que eu
pudesse ir mais longe.
— Não temos tempo para isso — disse ele enquanto me
puxava para perto dele.
Tropecei para trás, incapaz de controlar meus tornozelos
cambaleantes nesses saltos, e quase caí de bunda se Talus não tivesse
me segurado. Fiquei instável por um momento, agarrando o braço dele
enquanto tentava me estabilizar antes de voltar meu olhar fulminante
para ele.
Apesar da minha altura e desses saltos, Talus ainda me
ultrapassava. Um gigante muito quente e irritado com pequenas
mechas de pelos em suas orelhas pontiagudas, pelas quais eu sentia
uma necessidade irracional de mexer assim que acabasse de ficar
brava.
— Você ouviu o que ele me chamou?
— Ouvi claramente.
Eu o encarei. Apontei na direção do monstro de lula.
— E você vai deixar ele falar assim comigo?
Ele suspirou, cruzando os braços enquanto seu rabo se
movia de um lado para o outro. Sim, aquela coisa de mover o rabo
definitivamente era um mau presságio.
— Estou em uma missão, Callie. Eu não tenho tempo para
espancar cada vagabundo que é um idiota. E “boceta” não é tanto um
insulto, mas sim chamar você de mulher.
Abri e fechei a boca. Eu não sabia o que dizer a isso.
— Isso é apenas…
— Bárbaro? Cru? Vulgar? Não estamos tentando nos
misturar à alta sociedade aqui.
Cruzei os braços. Eu sabia que o que ele disse fazia sentido,
mas ainda queria gritar com ele. Não, isso não era verdade. Eu queria
gritar com aquele alienígena grosseiro e rude.
— Ele ainda foi um idiota — resmunguei baixinho.
Talus sorriu e se inclinou até que seu nariz tocasse
levemente o meu.
— Quando tudo isso acabar, eu farei questão de caçar
aquele idiota rude e arrancar a cabeça dele para você chutar por aí.
Mas agora, precisamos ir por ali — ele apontou em direção a uma porta
que levava para fora das docas e mais adiante no posto avançado. —
Isso é justo o suficiente?
— Não, mas aceito — disse enquanto avançava, mantendo-
me firme nos meus saltos altos. Como alguém conseguia andar com
essas coisas, quanto mais dançar? Eu deveria ter prestado mais
atenção às minhas amigas na pista de dança.
Talus caminhou ao meu lado, segurando minha mão e
apoiando-a em seu braço para me dar suporte, o que eu nunca
admitiria, mas definitivamente ajudou a me manter de pé. Deixei que
ele me guiasse para fora dos docas e para dentro do posto avançado.
Parei, incapaz de me mover enquanto olhava ao redor do
que supostamente era uma lua abandonada. Eu não sabia o que
esperar. Quando pensei em um posto avançado, como disse Talus,
pensei em nós flutuando por túneis, em condições de vida apertadas,
todos vestindo trajes especiais. Não pensei nisso como uma cidade.
Os edifícios pareciam ser construídos em cima de mais
edifícios. Robôs andavam pelas ruas metálicas, limpando o lixo da
estação espacial, que consistia em tubos, parafusos, telas quebradas e
outros robôs danificados. Eram marrons, quase completamente
enferrujados, com olhos amarelos.
— Quando você disse “posto avançado”, eu estava
esperando algo menos estruturado — comentei.
— Um posto avançado Nexus é mais como um local
temporário de comércio. Não é permanente. Ele se move de uma
estação abandonada para outra; talvez até mesmo para uma lua
abandonada como esta. Qualquer um desses lugares é perfeito para
quem quer movimentar mercadorias no mercado negro.
— Ah, então é tipo um mercado de pulgas — murmurei. As
vistas e os sons me lembraram de caminhar pelo bairro chinês, Las
Vegas e um bazar, tudo ao mesmo tempo.
— Há mercado para insetos na Terra Prime?
Virei-me para explicar quando vi um par de alienígenas com
aparência familiar passar. Pressionando-me o máximo possível contra
Talus, mal conseguia respirar quando vislumbrei a pele vermelha e o
rosto espinhoso. Será que eles me reconheceriam?
Talus colocou gentilmente uma mão em meu ombro.
— Nem todo Kuzra faz parte do sindicato Tane — sussurrou
ele no meu ouvido. Tão perto, eu podia sentir um ronronar
reconfortante vibrando do peito dele. Isso me acalmou mais do que eu
pensava que seria possível.
Respirei fundo e balancei a cabeça. Ele entendeu como uma
garantia de que podia seguir adiante, e continuei a segui-lo pela
estação, meu olhar persistindo no que eu presumi serem mulheres
passando.
Eu tinha que admitir que Talus estava correto. Uma mulher
usava um macacão justo verde neon com braços para cada uma de
suas oito pernas felpudas. Seus múltiplos olhos me examinaram.
Contive um arrepio enquanto ela me encarava, esperando que ela não
viesse mais perto.
Fiquei perto de Talus, quase esbarrando nele quando ele
parou na frente de um grupo de monstros de tentáculos lambendo os
lábios enquanto me encaravam.
— Mantenha a cabeça baixa — disse Talus enquanto
passava o braço ao meu redor e me puxava para mais perto dele. Ele
rosnou baixo para os alienígenas, e eles rapidamente se afastaram de
nós, de repente muito interessados em contar seus discos azuis
transparentes.
Quanto mais andávamos, mais escuro o posto avançado se
tornava, com apenas barris de luz azul e vermelha iluminando o
caminho. Duas fêmeas vestidas de azul e com uniforme todo preto
passaram, rindo enquanto jogavam discos de um lado para o outro
entre elas. Seus olhos de serpente encontraram os meus por um
momento. Fiquei tensa ao ver flashes de eletricidade vindo dos bastões
em seus cintos. Uma visão de uma cela escura me cercou. O som de
bastões batendo em grades de metal ecoava na minha cabeça. Eu
segurei o braço de Talus e me inclinei para ele.
— O que há de errado? — ele perguntou.
— Eu não sei se consigo fazer isso — sussurrei.
Ele me puxou mais para perto e respirei fundo, sentindo-
me acalmada pelo cheiro dele.
— Vai dar tudo certo — disse ele. — Só se mantenha
discreta e tudo ficará bem.
O beco se abriu em uma praça com alienígenas gritando
uns com os outros enquanto seguravam seus discos azuis. Alienígenas
encapuzados ficavam em uma plataforma acima da multidão. Suas
vestes eram marrons e seus olhos vermelhos brilhavam, chamando
minha atenção. Eles seguravam diferentes dispositivos. Um parecia ser
um tablet. Outro parecia ser uma enorme bazuca. Um deles apontou a
arma para uma parede com um alvo enquanto os que rodeavam a
plataforma aplaudiam e erguiam mais discos. O alienígena encapuzado
disparou a arma contra o alvo e uma força eletromagnética fez com que
todos, inclusive eu e Talus, caíssemos no chão.
Havia um silêncio impenetrável no ar.
Talus e eu nos levantamos lentamente, ele me ajudando a
ficar de pé. Olhei ao redor para os alienígenas, imaginando por um
breve momento se todos estavam mortos, até que um após o outro
começaram a se apressar em direção às criaturas encapuzadas. As
criaturas erguiam as mãos enluvadas com números diferentes.
— 100 — gritou um alienígena ao meu lado.
— 500 — gritou outro.
— 550!
— Por aqui — disse Talus, puxando-me mais para o meio
da multidão, mas afastando-se dos alienígenas encapuzados.
Eu o segui, entrelaçando minha mão na dele e recusando
soltar. A multidão balançava e puxava, nos jogando para fora perto de
um grupo de espectadores assistindo duas criaturas alienígenas
lutarem em um pequeno ringue improvisado.
As criaturas eram brancas e fofas. Uma tinha três olhos
amarelos, enquanto a outra tinha olhos azuis brilhantes. Seus rabos
eram longos e finos, soltando faíscas de eletricidade enquanto se
atacavam. A criatura de olhos amarelos saltou em cima da de olhos
azuis e afundou as presas no pescoço do oponente. Sangue jorrou
enquanto a criatura gritava, tentando desesperadamente se afastar.
Cobri minha boca enquanto os outros alienígenas
zombavam.
Lutei para atravessar a multidão, tentando chegar à pobre
criatura gritante.
— Deixem-me passar — implorei, mas ninguém se mexia.
Dei um tapa no ombro do alienígena à minha frente.
— Por favor, me deixem passar.
O alienígena me golpeou de volta com seu braço de
tentáculo e fui lançada nos braços de Talus. Me afastei dele e voltei
para a multidão.
— Callie — gritou Talus, agarrando meu ombro e me
puxando de volta. — Callie, não podemos.
— Mas está morrendo — chorei, virando-me e vendo a pobre
criatura no chão. Com um som doentio, a criatura caiu sem vida no
chão de metal. Arqueei as costas, cobrindo a boca e desviando
rapidamente o olhar. Permiti que os braços de Talus me envolvessem
em seu calor.
— Callie — sussurrou Talus no meu ouvido, entrelaçando
seus dedos nos meus.
Olhei por cima do ombro e vi a pobre bola de pelos sendo
levada por um robô.
— Callie, este é um lugar muito... difícil que você veio —
Talus suspirou. — Eu queria que você não precisasse ver tudo isso.
Mas se quisermos impedir isso, preciso interceptar aquele acordo.
— O que eles são? — perguntei, incapaz de afastar meus
olhos.
— São lorels. São do planeta Nax. Às vezes eles são
capturados e vendidos para esses fins.
Eu me virei, enxugando as lágrimas antes de olhar para
Talus.
— Nós deveríamos salvá-los.
Talus suspirou, acariciando levemente meu rosto.
— Eu quero, mas não temos tempo agora. Já
desperdiçamos muito só para chegar aqui. Tenho um objetivo, Callie.
Você entende?
Queria discutir com ele, mas mantive a boca fechada. Qual
era o sentido de ter uma missão se não podia salvar todos? Incluindo
pobres criaturas cuja morte era apenas entretenimento.
Obriguei-me a seguir Talus, a ignorar a dor no meu coração.
Forcei-me a não olhar para trás, mas eu voltaria.
Não importa o que acontecesse.
Capítulo 12

TALUS

FIQUEI feliz quando Callie deixou os lorels irem sem mais


discussões. Foi ótimo que ela tenha seguido voluntariamente comigo
através do círculo dos jogadores. Mas não me senti bem em dar as
costas aos lorels.
Não gostei de ver a escravidão. Não gostei de assistir a
criatura pobre morrer sem motivo além do entretenimento. Não gostei
que Callie continuasse vendo todas as coisas terríveis no meu mundo.
Pior ainda, odiei sentir o coração dela se quebrar
repetidamente através do nosso vínculo.
Como eu ia convencê-la a ficar? A me escolher?
Certamente, depois de tudo que ela viu, ela iria querer
voltar para Terra Prime. Olhei para trás, observando sua careta para
outro Kuzra que passava. Porra, ela ainda estava preocupada com
aqueles filhos da puta.
Eu queria puxá-la para os meus braços e dizer que tudo ia
ficar bem. Eu queria beijar sua dor. Precisava tranquilizá-la e deixá-la
saber que nunca precisaria ver essa sujeira, nunca. Que se escolhesse
se ligar a mim, ela estaria sempre segura e confortável em nossa toca.
Mas, como eu poderia fazer isso se ela não confiava em
mim?
Assim que esta etapa da missão terminasse, teríamos um
tempo livre onde poderíamos ficar sozinhos juntos. Ela saberia sobre o
vínculo, seria capaz de senti-lo e entendê-lo. Me entender.
A barreira linguística era uma coisa. Ser de planetas
completamente diferentes era outra coisa completamente.
Malditos Kridrins.
Forcei-me a desviar o olhar e concentrei minhas atenções
na paisagem ao meu redor. Havia um grupo de fêmeas Ceresianas
jogando jogos de azar no canto. Um grupo de Kuzras negociando
tecnologia de camuflagem por alguns óculos de néon. Havia muitos
alienígenas ao nosso redor, mas nenhum deles era o que eu estava
procurando.
Olhei ao redor das barreiras. Eles estariam observando nas
negociações e no jogo, não participando.
Sorri quando meus olhos pousaram em um familiar terno
preto brilhante.
Havia dois deles observando a multidão. Usavam óculos
escuros sobre seus rostos vermelhos queimados e ficavam de braços
cruzados. Os ternos mal cabiam em seus bíceps salientes. Fones de
ouvido pretos enfiados em seus ouvidos, que eram basicamente
buracos em suas cabeças. Seus cabelos pretos pendiam sem vida sobre
seus couros cabeludos queimados.
O grupo Mayongi eram uns filhos da puta feios. Todos
tinham pele vermelha com aspecto de carne derretida. Talvez fosse por
envenenamento nuclear em seu planeta natal, ou talvez fossem
naturalmente tão feios assim. Mas ninguém nunca falava sobre sua
aparência.
Eles eram meio sensíveis com a pele.
Só queria não ter que olhar para eles.
Eu vi um deles mexer no fone de ouvido. Obviamente estava
falando com alguém. Possivelmente alguém importante. O outro estava
escaneando a área.
O que estava acontecendo aqui?
Virei rapidamente quando os olhos dele se voltaram na
minha direção e agarrei Callie, escondendo-a com meu corpo grande
para que ele não visse o rosto dela.
— O que foi isso? — ela perguntou.
Fiz sinal de silêncio antes de olhar por cima do ombro. Ele
estava olhando para o outro lado.
— Espere aqui — disse a Callie.
Ela revirou os olhos.
— Estou falando sério, não se mexa. — Apontei para o lugar
onde ela estava. — Nem um pouquinho. Eu volto logo.
— Como se eu pudesse andar com esses sapatos — disse
apontando para as botas.
— Estou falando sério — afirmei antes de me perder na
multidão.
Puxei o capuz sobre o rosto e digitei no meu equipamento
de camuflagem, transformando o amarelo neon em um preto escuro.
Mantive o olhar fixo nos homens. Eles não estavam se mexendo. Era
como se estivessem procurando por algo.
O grupo Mayongi era parecido com os Tanes no sentido de
que, sempre que estavam por perto, nada de bom acontecia.
Mas essa era a única semelhança.
Eles eram uma gangue refinada, com séculos de existência,
sabendo quando lutar suas batalhas e quando se manterem discretos.
Eram ricos e operavam vários postos de interligação. E, ao contrário
dos Tanes, em vez de batalharem pelo novo líder do grupo, a liderança
dos Mayongi era passada de geração em geração, o que mantinha o
grupo estável. Eles tinham um sistema de honra que faltava ao
sindicato Tane e treinavam o próximo líder desde o nascimento para
assumir a maravilhosa tradição familiar de matar e roubar.
Eram também o tipo de gangue que tinha informações sobre
seus rivais como nenhuma outra.
Me esgueirei até próximo de um prédio, me aproximando
por trás dos homens Mayongi.
— Está tudo calmo — disse o Feio Um no comunicador. —
Está tudo preparado para esta noite?
Houve uma resposta, mas eu não estava perto o suficiente
para ouvir.
— Confirmado. Os convites foram distribuídos.
Convites? Gangues estavam enviando convites para
massacres, negociações e assaltos nos dias de hoje?
— Entendido. Nos vemos lá.
Olhei ao redor do prédio, vendo Feio Um e Feio Dois
acenarem um para o outro antes de se moverem pela multidão.
Porra.
Eu os segui, andando sem pressa entre a multidão e
mantendo a cabeça baixa. Meus olhos captaram algo cintilando no
bolso de Feio Dois.. Estendi a mão, mas ele virou repentinamente para
a esquerda, tornando impossível pegar o que quer que fosse.
Segui. Precisava saber o que estava acontecendo esta noite.
Eles viraram novamente e entraram em um beco vazio antes de
rapidamente fazerem meia-volta. Parei no lugar, sem saber exatamente
o que fazer agora. Tentei pensar no que dizer enquanto eles cruzavam
os braços.
— O que você está fazendo? — perguntou Feio Um, pegando
um cano do chão e girando-o ao redor.
— Parece que temos um perseguidor — disse Feio Dois.
Sorri meu sorriso mais encantador e juntei os dedos,
estalando-os casualmente na frente de mim antes de colocá-los atrás
da minha cabeça.
— Eu estava apenas curioso — eu disse, observando-os me
cercarem.
— Curioso, ele diz — riu Feio Um. — Deveríamos mostrar a
ele o que acontece quando alguém fica — ele me avaliou de cima a baixo
— "curioso".
Feio Dois riu enquanto pegava outro cano.
— Acho que é uma ideia brilhante — disse ele.
Feio Um avançou em mim, golpeando com seu cano, mas
eu saltei, dando um mortal sobre ele e aterrissando ajoelhado. Feio
Dois golpeou com seu cano, quase atingindo minha perna, mas eu fui
mais rápido.
Brincadeira de criança, pensei enquanto chutei Feio Um na
virilha e desferi um soco no queixo do Feio Dois, jogando-o para trás.
Feio Dois gemeu enquanto sacudia a cabeça e cambaleava
para se levantar. Sua mão alcançou o cano, mas eu o chutei para longe.
Feio Um fugiu enquanto eu agarrei Feio Dois pelo paletó e o ergui.
Minha mão pegou o convite do bolso dele e o segurei entre nós, sorrindo
docemente como se estivesse falando com uma criança.
— Agora — eu disse enquanto dançava a carta brilhante
entre nós. — O que é tudo isso?
Feio Dois abriu a boca, mas antes que pudesse dizer
qualquer coisa ouviu-se um:
— Talus?
Olhei para cima, largando o gangster quando vi Callie em
pé ali, lutando para segurar dois seres fofinhos brancos.
— O que diabos…
Callie fez careta ao olhar para trás.
— Eu posso ter arrumado um pequeno problema —
sussurrou enquanto evitava que um dos seres fofinhos caísse.
Deixei Feio Dois cair, ignorando-o enquanto ele se afastava
e se misturava na multidão enquanto eu me aproximava dela.
— Por favor, não me diga que você tem lorels.
O olhar de Callie alternou entre mim e as criaturas em seus
braços.
— Eu tenho…
— Não!
Callie suspirou e bateu o pé.
— Você quer que eu minta?
Gemendo, bati a mão no rosto.
— Por favor, não me diga que você roubou esses lorels.
Callie fez uma careta enquanto lutava para conter as
criaturas em seus braços.
— Eu não os roubei. Eu os resgatei!
Esfreguei minhas têmporas.
— É a mesma coisa, Callie.
— Não, não é. Roubar é…
— Chega. — Peguei um lorel dos braços dela antes que
caísse. — Alguém te viu?
Ela franzia os lábios.
— Bem, essa é a parte com a qual estou tendo alguns
problemas.
Gemendo e espiei pela esquina do beco. O mercado estava
em tumulto enquanto um grande grupo de guardas procurava pelos
lorels.
Franzi a testa para Callie.
— Você simplesmente não podia ficar parada.
— Eu não podia deixá-los, Talus.
Eu queria estar com raiva dela. Queria repreendê-la. Ela
estava comprometendo a missão com toda essa brincadeira. No
entanto, eu sentia através do vínculo que ela realmente queria ajudar
essas criaturas. Realmente lhe doeu vê-los sofrendo em seu cativeiro.
Isso me lembrou do que senti quando a vi ser jogada na
frente dos Kridrins.
Suspirei e balancei a cabeça. Por mais que ela estivesse
comprometendo a missão, eu não parecia conseguir culpá-la. Eu teria
feito o mesmo, embora talvez com um pouco mais de sutileza.
Provavelmente.
— Tudo bem. — Tentei ignorar o sorriso radiante dela e
como isso me fez querer derreter. — Vamos só voltar para a nave
intactos.
Olhei pela esquina e praguejei quando vi os desgraçados,
Feio Um e Feio Dois, apontando na nossa direção. Teríamos que
contornar o mercado.
— Teremos que passar pelo beco — disse enquanto
avançava pela rua estreita, tentando manter meu ritmo sutil, mas
rápido. Eu não precisava que os desgraçados nos alcançassem.
— Você acha que vão nos encontrar?
O lorel em meus braços rosnou e lutei para impedi-lo de
fugir. Realmente queria estar em qualquer lugar, menos ali. Eu não o
culpava.
— Apenas continue andando. Espero que ninguém perceba.
— Ali estão eles!
Porra.
Virei nos calcanhares e vi vários alienígenas tirando suas
blasters.
— Corra! — gritei e me lancei para a frente. Feixes de luz
passaram por mim, pousando e eletrizando áreas à frente. Olhei para
trás e vi Callie lutando para acompanhar.
Por que nada podia ser fácil?
Joguei o lorel em seus braços, que ela mal conseguiu
segurar, antes de envolver meus braços ao redor dela e erguê-la.
— Por que você sempre tem que me carregar? — ela gritou.
— Porque você corre muito devagar! — gritei de volta, me
esforçando para correr mais rápido.
Eu não tinha tempo para isso. Precisava me concentrar.
Precisávamos ficar o mais longe possível e eu não podia deixá-los
descobrir qual nave era a nossa. Mergulhei em um beco e pulei de uma
parede para a próxima até estarmos no telhado. Um dos lorels se
aconchegou e dormiu contra o meu peito. Eu não pude deixar de
balançar a cabeça.
Que bom saber que não tinha medo de mim.
— E agora? — sussurrou Callie enquanto se afastava dos
meus braços e observava a multidão lotando os becos.
Suspirei ao olhar para o outro lado, que também estava
repleto de um grupo furioso procurando pelos lorels.
— Não tenho tanta certeza.
— Você não tem tanta certeza?
— Estou inventando tudo conforme avançamos. Meu plano
original meio que foi desviado. — Eu me virei. — Você tem alguma ideia
brilhante?
Ela me examinou.
— Você pode usar sua tecnologia de camuflagem?
— Como isso resolveria algo?
— Você poderia mudar sua aparência e depois esconder os
lorels em suas roupas. Como você pode ver, eu não tenho bolsos.
Assisti suas mãos percorrerem o comprimento do corpo,
exibindo o aperto do tecido em sua pele.. Eu queria ser aquelas mãos.
Observá-la se tocar estava me excitando, apesar do fato de que um
grupo crescente de alienígenas nos queria mortos.
— Isso poderia funcionar — murmurei. — Mas e você?
Ela fez um som de desdém.
— Eu pareço com todas as outras mulheres, certo? — Ela
movimentou os quadris provocativamente de um lado para o outro. —
Eu vou me misturar facilmente.
Eu já estava digitando no meu bracelete. Minhas roupas já
estavam se transformando enquanto eu pegava os lorels dela. Sem
rodeios, ela se lançou sobre o corrimão e desceu para a plataforma e
depois para o beco abaixo.
— Espere! — gritei tardiamente enquanto ela saltava para
o beco agora vazio.
Callie pousou em seus pés trêmulos, quase perdendo o
equilíbrio. Ela forçou um sorriso e ergueu o polegar para mim. Eu
esperava que fosse um sinal de segurança entre os humanos.
— Estou bem — ela gritou. — Vejo você nas docas. — Ela
piscou antes de correr na direção oposta ao cais.
Soltei um suspiro exasperado.
— Vejo você nas docas, diz ela — murmurei enquanto
escondia os lorels dentro da minha grande capa azul. — Vou me
misturar, diz ela. — Me abaixei sobre a borda, pousando suavemente
nas ruas em meus pés. Respirei profundamente para me acalmar.
Por que eu estava tão desesperadamente excitado?
Capítulo 13

CALLIE

LEVEI eternidade para conseguir voltar para a nave de


Talus, mas consegui. De alguma forma, finalmente encontrei as docas.
Depois de correr por aí com esses saltos estúpidos por uma eternidade,
subi pela rampa, me sentindo repugnantemente quente e exausta.
Meus pés pareciam que estavam sangrando, ou prestes a quebrar.
Qualquer um dos dois era muito provável.
Quando entrei, Talus estava deitado em sua cama, jogando
uma carta brilhante para cima e pegando-a. Os lorels estavam deitados
ao lado dele, me lembrando de dois filhotes de cachorro brancos do
tamanho de xícaras de chá aconchegados ao seu novo mestre.
Era incrivelmente fofo.
Caí na cadeira em frente a ele e puxei as orelhas de coelho
para baixo, finalmente permitindo que minha cabeça suada tivesse um
pouco de espaço para respirar. Meu cabelo parecia estar grudado na
minha cabeça. Provavelmente estava. Senti o suor escorrendo pelo lado
da minha bochecha e rapidamente limpei com minha mão enluvada.
Ugh, eu me senti um desastre. Provavelmente parecia
também. Teria sido mais fácil se eu tivesse apenas o seguido, mas eu
não estava tão certa se teríamos voltado inteiros.
— Sabe, teria sido mais rápido se você apenas me seguisse
— disse Talus, nem se incomodando em olhar para cima.
Ah, por que ele tinha que estar certo o tempo todo?
— Eu sei — respondi enquanto tirava uma luva grudenta e
depois a outra, jogando-as no chão. Eu queria tirar todo o traje, mas
ele estava ali e ficar nua na frente de um cara que acabei de conhecer
não era minha praia. — Você conseguiu completar sua missão?
— Não — ele continuou lançando a carta para cima.
— Então vamos embora e contar a Cade o que aconteceu?
Talus suspirou.
— Eu já contei a Cade o que aconteceu.
— Estou em apuros, não é?
Talus se sentou. Seus olhos dourados me encararam,
observando meu cabelo suado e pingando. Meu rosto estava corado.
Provavelmente por toda a corrida.
— Não — ele disse suavemente — você não está em apuros.
— Ele lançou a carta para mim e olhei para as letras cintilantes nela.
— Você está convidado — li em voz alta. — Para a festa da
Família Mayongi, comemorando trezentos e cinquenta anos de serviço
nos mercados das galáxias. — Eu assenti e virei o cartão, apreciando a
bela caligrafia. — Parece bem chique, não é?
— Nós vamos.
Eu gemi.
— Por favor, me diga que não preciso continuar usando
isso? — Apontei para meu traje horrível. — Sinto que a qualquer
momento minha calça vai rasgar e minhas... partes vão aparecer.
Talus sorriu e desviou o olhar de mim. Ele acariciou um dos
lorels adormecidos. Seu sorriso o tornava tão bonito. Se estivéssemos
em qualquer outro lugar, eu estaria tendo longas conversas com
Lauren e Rebecca tomando coquetéis sobre a aparência dele, e elas
estariam me aconselhando sobre como levá-lo para a cama. Ou o que
eu deveria fazer com ele quando o tivesse na cama.
Mas estávamos aqui e as coisas eram diferentes. Eu não
podia simplesmente me deixar levar quando sentia que a qualquer
momento poderia ser capturada. Ou pior ainda, morta.
— Não se preocupe com suas partes — disse Talus,
piscando para mim, fazendo meu coração palpitar e algo se aquecer
dentro de mim. — Você vai estar usando algo diferente.
Passei a mão pelo rosto. Parecia corado.
— Ah, graças a Deus — suspirei enquanto afundava na
cadeira. Meus olhos se estreitaram nele enquanto horror e temor me
preenchiam. — O que vou vestir? Por favor, me diga que não é amarelo.
Talus riu e ligou a tela ao redor de sua cama, bloqueando
sua visão de mim.
— Você encontrará algo adequado no armário.
Fui até o armário e abri a porta, feliz em ver o macacão
vermelho esperando por mim. Infelizmente, havia botas pretas até as
coxas, mas o salto era razoável desta vez. Pelo menos eu não estaria de
salto agulha. O que chamou minha atenção foi o chapéu envolto em
um tecido vermelho transparente que arrastava no chão.
Mudei rapidamente, olhando para mim mesma no espelho
e apreciando o que vi. Claro, teria sido bom ter alguma maquiagem ou
pelo menos um banho, mas era bom estar fora do macacão amarelo
brilhante e justo. Isso parecia muito mais elegante. O chapéu tinha
uma aba larga com o tecido vermelho transparente caindo ao meu
redor. Era como se eu tivesse meu próprio campo de força.
Olhei para Talus no espelho, vestido com um simples terno
preto, parecendo incrivelmente bonito. Ele também cheirava muito
bem. Por alguma razão estranha, o cheiro dele estava mais forte e senti
uma atração por ele. Uma atração que parecia ficar mais forte quanto
mais eu estava com ele. Imaginei passar minhas mãos pelo corpo dele.
Visualizei sua boca em meu pescoço, seus dentes roçando minha pele.
Rapidamente afastei os pensamentos quando me senti ficar
incrivelmente molhada.
Ele era apenas um homem. Ou, bem, um macho. Como ele
poderia me fazer sentir tão... excitada?
— Pronta? — Ele perguntou, olhando para mim de cima a
baixo. Aqueles olhos dourados demorando-se em minha bunda.
Sorri e dei um giro.
— O que acha?
Ele sorriu.
— Lindo.
Ignorei meu coração, que pareceu parar com suas palavras.
Respirar parecia difícil enquanto o encarava. Talvez pudéssemos ficar
um pouco. Por algum motivo, eu realmente não queria ir embora.
Queria suas mãos em meu corpo.
Me obriguei a me afastar dele. Obriguei-me a ir até meus
novos lorels na cama. Eles se aninhavam enquanto me observavam
com seus olhos azuis. Beijei os dois no topo da cabeça.
— Não se preocupem — sussurrei. — Voltaremos.
Acenei um adeus e permiti que Talus me guiasse pela
rampa e para fora das docas em direção à festa.
— Deixe-me fazer toda a conversa — disse ele, com o braço
envolvido no meu enquanto seu olhar estava focado nas ruas estreitas.
— E por que você deveria fazer toda a conversa? — Acariciei
seu braço levemente, adorando a sensação da sua pele contra a minha.
Sua mão cobriu a minha.
— Você poderia se revelar humana e não precisamos de
outra gangue atrás de você, certo?
Suspirei.
— Não. Por que exatamente estou indo para isso, de novo?
Talus olhou para mim, mas havia um leve sorriso em seus
lábios, como se estivesse me provocando.
— Porque não posso confiar que você fique sozinha na nave.
— Por quê?
— Porque você tentará roubar minha nave.
Revirei os olhos.
— Então estamos de volta a isso.
— Sim.
Eu queria mais. Queria que ele me dissesse que me queria.
Era um sentimento louco, já que mal nos conhecíamos, mas eu queria
que ele me quisesse.
— Essa é a única razão pela qual estou indo com você esta
noite? — Eu me forcei a perguntar.
Talus riu baixinho e eu adorava o som. Por que eu estava
sendo tão estranha?
— Também pensei que você ficaria incrivelmente entediada.
Eu ri.
— Sério?
Talus deu de ombros.
— As fêmeas não gostam de festas?
Brinquei com a aba larga do meu chapéu.
— Acho que depende da festa. Festas de gangster sempre
são interessantes.
— Você promete ficar longe de problemas.
Eu ri.
— Em outra vida, isso seria fácil. Não acho que posso te
prometer isso aqui.
Talus parou e segurou minhas mãos. Ele me puxou para
mais perto e se inclinou até que seu nariz estivesse tocando o meu
através do tecido.
— Então, pelo menos prometa ficar ao meu lado —
sussurrou. — Pode me prometer isso?
— Isso eu definitivamente posso fazer — disse, meus lábios
sorrindo enquanto sentia aquele calor dentro de mim crescer.
— Ótimo. — Caminhamos em direção a um grande edifício
com uma escadaria alta. Homens vestidos com ternos estavam dos dois
lados. Eles usavam óculos de sol sobre seus rostos derretidos e tive que
me conter para não encarar enquanto subíamos os degraus.
Talus entregou o convite a um dos homens de terno e logo
estávamos dentro de uma bela mansão que me fez sentir como se
tivéssemos caído em uma festa de dançarinos dos anos 20. Havia vários
homens vestidos com ternos e muitas mulheres usando o mesmo
chapéu de aba larga que o meu, em várias cores. Muitos festeiros
estavam dançando ao som de música eletrônica em plataformas
flutuantes acima do térreo.
Um alienígena alto e cinza nos ofereceu copos longos cheios
de um líquido cintilante. Lembrava champanhe.
— Coquetéis? — ele perguntou.
Eu sorri e peguei um.
— Obrigada…
Talus arrancou o copo dos meus dedos e colocou-o de volta
na bandeja.
— Talvez mais tarde — disse ele antes de me conduzir
rapidamente escada abaixo em direção aos alienígenas dançantes. —
Você não deveria comer ou beber nada enquanto estivermos aqui — ele
murmurou em meu ouvido.
Revirei os olhos.
— E por quê? Você não quer que eu me divirta?
— Não confio em ninguém aqui. Estes são gangsters. Você
nunca sabe o que pode estar drogado.
Examinei a sala, olhando além das lindas dançarinas e da
decoração brilhante, para os alienígenas derretidos que guardavam as
portas de cada lado da arena de dança. A maioria tinha uma mão na
orelha. Seus lábios se moviam, mas pareciam não estar falando com
ninguém.
Por que havia tanta segurança para uma das partes?
— Por aqui — disse Talus enquanto nos puxava através da
multidão de alienígenas em direção a um corredor desprotegido nos
fundos. Havia filas de alienígenas usando o banheiro e passamos por
outros alienígenas vomitando.
Provavelmente o bom Talus me impediu de beber.
Aproximamo-nos de portas de vidro deslizantes. Talus
olhou em volta brevemente antes de nos puxar rapidamente. Ele correu
pelo corredor e virou outro. Olhei para trás para ver se alguém estava
nos seguindo, mas não havia ninguém.
— O que estamos fazendo? — Eu sussurrei olhando em
volta. Definitivamente não deveríamos estar aqui.
— Meu trabalho — disse Talus enquanto puxava uma arma
enfiada sob a perna da calça e a enfiava sob o cinto.
Ouvi passos e olhei em volta. Um alienígena apareceu no
nosso corredor. Ele ainda não tinha nos visto, pois estava olhando para
um tablet.
— Porra — ouvi Talus.
Levantei a roupa em volta do meu chapéu e antes que
pudesse mudar de ideia agarrei Talus e bati meus lábios contra os dele
enquanto o empurrava contra a parede. A princípio ele não se mexeu.
Seu corpo permaneceu tenso. Seus braços me agarraram como se
quisessem me afastar, mas em vez disso deslizaram contra minha pele
nua, viajando mais para baixo para agarrar minha bunda e me puxar
para mais perto. Minha língua brincou com seus lábios até que ele
finalmente abriu a boca, pegando minha língua entre seus dentes e
sugando levemente. Eu engasguei e passei minhas mãos ao longo de
seu abdômen, seu peito, sua virilha, que ele pressionou na palma da
minha mão.
— Bêbados de merda — ouvi o alienígena atrás de nós dizer
enquanto passava, sem se preocupar em nos arrastar com ele.
Minha língua acariciou Talus enquanto minhas mãos
provocavam sua virilha, empurrando-o. Eu queria mais. Eu precisava
dele bem dentro de mim. Seu cheiro estava me deixando louca e meu
corpo parecia que iria explodir em chamas.
Eu rapidamente me afastei.
O que estava errado comigo?
— Boa ideia — suspirou Talus enquanto ajeitava seu terno
e rapidamente passou por mim no corredor.
Eu segui atrás dele, tentando conter a fome interior. Estava
ficando mais difícil de conter. Eu senti que qualquer coisa iria me
irritar. Tudo que eu conseguia pensar era em sua língua, em suas
mãos, em tudo sobre mim.
Caminhamos pelo corredor e viramos até encontrar uma
porta aberta guardada por dois alienígenas. Assim que nos viram, um
deles se moveu para bloquear a porta enquanto o outro pegou sua
arma.
Talus deu um passo à frente, mas foi rapidamente parado
por um empurrão em seu ombro.
— O chefe não vê ninguém — disse o alienígena em voz
profunda.
— Ele vai querer me ver, eu lhe garanto. — Talus tentou
contorná-lo, mas o outro guarda apoiou a arma na cabeça de Talus.
— Eu disse que ele não vê ninguém.
— Oh, deixe-os entrar, Boba — disse o alienígena atrás da
mesa. — Você está aqui, então nada deve acontecer.
— Sim, senhor, Sr. Sarkis. — O guarda chamado Boba fez
uma careta antes de nos deixar passar.
— Feche a porta — disse o chefe conhecido como Sr. Sarkis.
Ele não se incomodou em olhar para cima. Suas mãos queimadas
rabiscavam com caneta e papel, algo que faltava neste mundo. Ele
também estava vestido com um terno bonito, mas não usava óculos
escuros sobre os olhos, que pareciam pretos e parecidos com insetos.
Sua careca brilhava sob as luzes douradas que pairavam ao redor de
seu quarto.
A porta se fechou e Sarkis mergulhou a caneta na tinta.
— Agora, então — disse ele, enquanto continuava a
escrever. — O que é que você quer?
Talus encostou-se na porta com os braços cruzados,
parecendo casual apesar do fato de estarmos dentro da mansão de um
chefe gangster.
— Preciso colocar as mãos em alguma tecnologia especial.
Alto nível. Para um projeto especial. Dizem por aí que você sabe como
conseguir produtos especiais.
O chefe recostou-se na cadeira avaliando Talus.
— Quão especial?
Talus inclinou a cabeça para o lado.
— Blindagem pessoal. Gerador de campo de força. Esse tipo
de especial.
Sarkis voltou à página em sua mesa.
— Não é minha especialidade — ele disse suavemente. —
Sugiro que você vá falar com o sindicato Tane, que opera em Erebus
pela última vez que ouvi falar. Eles parecem ter um novo fornecedor
atualmente. — Ele olhou para cima, seus olhos examinando meu corpo
antes de largar a caneta e recostar-se na cadeira. — Que fêmea muito
bonita você tem aí. Gosto de coisas bonitas.
Aproximei-me de Talus, segurando seu braço.
— Achei que o Mayongi tinha o melhor comércio do setor?
— perguntou Talus.
O chefe zombou. Embora ele tenha se dirigido a Talus, ele
manteve os olhos em mim.
— Não é o que os novos jogadores têm. E eles parecem
querer apenas um certo tipo de moeda. Lindas fêmeas. — Ele acenou
com a cabeça em minha direção. — Aqueles que se parecem com ela.
Não são muitos os que se parecem com ela por aqui.
Sarkis desviou o olhar para Talus.
— Se você a usar para comércio, poderá conseguir o que
procura.
Talus apertou os lábios em uma linha sombria.
— Ela não está à venda. Uma espécie de guardião.
— Bem, se você pudesse conseguir mais como essa aqui...
— Sarkis parou e encolheu os ombros como se isso fosse preencher as
lacunas. Ele nivelou seu olhar penetrante para mim. — De onde você
é, lady?
Eu não precisava do aperto de Talus para me dizer para
manter silêncio sobre minhas origens. De jeito nenhum eu apontaria
uma grande flecha em direção a um planeta de mulheres inocentes.
Além disso, eu sabia como me livrar do filho da puta muito bem.
— Por aí — eu disse com um sorriso tenso.
— Entendo. Como você se chama?
— Callista.
— Callista — disse o chefe. — Callista. Um nome bonito
para uma fêmea bonita.
— E você é um homem interessante — respondi.
O chefe gangster riu.
— Como assim?
O calor torceu meu estômago, e tudo o que pude fazer foi
controlar meu temperamento. O que começou como uma faísca se
transformou em um inferno ondulante.
— Quero dizer, acho interessante que você goste de coisas
bonitas. Eu acho que faz sentido. Parecendo como você. — Fiz um gesto
em direção ao seu rosto de aparência derretida.
Talus respirou fundo entre os dentes. Posso ter ido longe
demais com a maldade, mas foi como se algo tivesse mudado dentro de
mim e eu mal conseguisse controlar nenhum dos meus impulsos.
Escolher as aparências foi um golpe baixo. Mas, caramba,
eu estava cansada de todos esses idiotas rudes ameaçando me
escravizar.
O chefe gangster inclinou a cabeça, olhando fixamente para
mim por um momento, antes de uma calma assustadora tomar conta
de suas feições. Ele bateu palmas. A porta se abriu e uma equipe de
guardas entrou, aguardando ordens.
Sarkis apontou para mim e Talus.
— Agarre-os.
Capítulo 14

TALUS

CHUTEI Boba, o guarda, na virilha antes que ele tivesse


tempo de pensar. Agarrei a Callie e a puxei comigo.
Os outros guardas dispararam blasters contra nós
enquanto corríamos pelo corredor. Virei bruscamente à esquerda.
Callie estava tendo dificuldade para acompanhar. Ela sempre era mais
lenta do que eu, mas nunca dessa forma. Seus pés tropeçavam para
me acompanhar.
— Corra! — gritei, esperando de alguma forma que ela se
movesse mais rápido.
— Estou tentando — gritou ela atrás de mim.
Olhei para trás por um momento, observando os guardas
Mayongi nos seguindo pelo corredor. Virei bruscamente por outro
corredor, irrompendo pelas portas de vidro e passando pelas filas de
pessoas esperando para usar o banheiro.
Arrastei Callie por outro corredor e me esquivei dos criados
que carregavam travessas de comida e bebida.
Abri um canal seguro para Aurum. Espero que tenham
aumentado o sinal ao máximo e consigam me ouvir de alguma forma.
— Talus, chamando Reaper Um, por favor responda — gritei
enquanto descia alguns degraus.
Callie bufava e gemia atrás de mim. Ela estava se movendo
tão lentamente. Quando olhei para trás, suas bochechas estavam
vermelhas. Ela tinha perdido o chapéu. E estava suando profusamente.
— Só um pouco mais — implorei a ela.
— Reaper Um. O que você precisa?
— Uma saída. Estamos saindo em alta velocidade.
Consegue rastrear nossa localização atual?
— Estou nisso. Presumo que você precise de olhos para
guiá-lo.
— Afirmativo. Por favor, se apresse.
Me joguei em uma sala aberta e bati a porta. Peguei uma
mesa coberta por uma toalha branca brilhante e a encostei na porta.
Então olhei pela pequena janela. Havia uma sacada. Conseguiríamos
descer até lá e depois até o chão. Eu teria que carregar Callie. Ela
provavelmente quebraria a perna se caísse errado.
Me virei e a encontrei encostada na mesa, de costas para
mim. Marchando até onde ela estava, andei na frente dela para aliviar
minha irritação.
— O que diabos você estava pensando?
Callie gemeu e desviou o olhar de mim.
— Eu disse que faria toda a conversa.
Callie passou a mão pelo cabelo.
— Esta é uma missão real. Vida ou morte. Isso não é apenas
um jogo, Callie. Você poderia ter…
Interrompi quando Callie caiu. Me lancei em sua direção.
Toda a raiva tinha sumido ao vê-la se contorcendo e gemendo. Ela foi
atingida? Estava ferida em algum lugar? Mas eu não sentia cheiro de
sangue.
Havia algo no ar. Algo absolutamente delicioso. Isso fez
minha boca salivar, meus dentes doerem para morder sua carne e
marcá-la como minha. Inspirei profundamente e a puxei para perto de
mim. O aroma vinha dela.
Ela gemeu quando eu a toquei, sua respiração ficando
ofegante. O suor brilhava em sua testa, seu vestido já grudando nela
como uma segunda pele. Eu a segurei contra meu corpo, equilibrando-
a na beira da mesa. Minhas mãos ávidas percorreram seu corpo até
sentir entre as pernas dela.
O doce aroma do líquido lubrificante saturava o ar.
— Porra, você está no cio.
Minhas calças ficaram subitamente muito apertadas e o
espaço ao meu redor se inclinou. Senti tontura e fui dominado pelo
cheiro dela. O ambiente ficou incrivelmente quente, como se estivesse
imerso em fogo. Passei a mão pelo cabelo, respirando fundo para me
acalmar, cerrando os dentes para conter a fera dentro de mim.
Eu não podia possuí-la ali. Não havia como saber quanto
tempo ela ficaria no cio, e não haveria maneira de defender aquele
pequeno espaço por mais de uma hora. Tentei me impedir de pensar
em qualquer coisa além de me afogar na sua umidade.
— Talus — lamentou Callie. — Por favor, me ajude.
A fera dentro de mim rugiu impacientemente, e foi tudo o
que pude fazer para evitar a transformação. Quanto mais rápido
saíssemos dessa confusão, mais cedo poderíamos reivindicar nossa
companheira. Peguei a toalha de mesa e a envolvi nela, esperando que
isso abafasse um pouco do aroma para eu poder pensar um pouco mais
racionalmente.
Houve batidas na porta e agarrei Callie, jogando-a sobre
meu ombro antes de levantar uma perna sobre a grade. Só precisava
de mais alguns momentos. Os guardas bateram na porta, rachando-a.
A qualquer momento eles poderiam arrombar. Peguei meu blaster a
tempo e atirei neles duas vezes antes de pular da sacada e aterrissar
em terra firme.
Comecei a correr desesperadamente e não olhei para trás.
Precisava continuar correndo. Se parasse, a jogaria contra a parede
mais próxima e a possuiria sem controle. Tinha que continuar.
Flashes de luz passaram por nós e me amaldiçoei, virando-
me e vendo-os saltar da sacada e nos perseguir.
Virei em um beco e me escondi atrás de uma lixeira,
espiando e vendo os guardas passarem por nós. Suspirei e encostei a
cabeça no metal enquanto tentava recuperar o fôlego. Graças a todos
os deuses antigos, eles não nos encontraram. Cade deverá nos dar
nossa saída em breve.
— Talus — sussurrou Callie, sentando-se sobre mim e
pressionando seu corpo contra o meu. Ela afastou a toalha de mesa,
seu aroma batendo em mim como se eu tivesse batido em uma parede.
Cerrei os dentes. Pense em Lyova e em sua grande e
estúpida juba. Ou em Dorn. Pense em Dorn tentando explicar a
importância da reciclagem.
Callie pegou meu dedo e chupou, antes de dar pequenas
mordidas em minha mão. Eu gemi e balancei a cabeça. Pense em Dorn
explicando a mecânica dos portões de salto.
Callie pressionou minha mão entre suas pernas,
esfregando-a em sua boceta molhada. Ela moveu o tecido para trás,
expondo seus lindos lábios de boceta. Lambi meus lábios, sentindo
minhas calças apertarem enquanto pensava em enterrar meu rosto na
própria essência dela. Circulei meu dedo ao redor de seu clitóris antes
de mergulhá-lo dentro de sua boceta molhada. Ela engasgou,
apertando os músculos em volta do meu dedo.
Rosnei e bati minha boca contra a dela, mordendo e
puxando seus lábios exuberantes enquanto empurrava outro dedo
profundamente dentro dela. Ela gemeu e esfregou os seios no meu
peito, sua língua deslizando contra a minha.
Suas mãos desabotoaram minha calça e mergulharam
dentro, puxando meu comprimento duro. Ela seria a minha morte.
— Talus, você está aí?
— Sim —murmurei contra os lábios de Callie. Ela engasgou
quando meu polegar bateu contra sua protuberância.
— Talus, estamos no local de encontro. Você conseguiu as
coordenadas?
Afastei meus lábios da minha companheira e respirei
estremecendo. Rapidamente, me aconcheguei e envolvi o corpo
delicioso de Callie de volta na toalha da mesa.
— Coordenadas recebidas. Estamos indo agora.
Agarrei Callie e a carreguei, ignorando seus beijos no meu
peito ou como ela chupou meu pescoço. Ela lambeu e roçou os dentes
sobre ele. Ignorei a onda de prazer que isso me deu, pensando em como
seria quando ela se ligasse a mim. Arrepios percorreram todo o meu
corpo, até mesmo pelo meu rabo.
Gemi quando entrei nas docas e rapidamente me escondi
atrás de uma aeronaves de asa leve abandonada. Havia vários guardas
cercando a aeronave, todos com o ícone de Tane tatuado no pescoço.
As docas foram completamente controladas pelo sindicato Tane.
Como diabos eles me encontraram aqui?
Eu gemi e voltei pelo beco.
— Cade, onde você está?
— Ancorado no lado leste. Você?
— Sindicato Tane aqui. Eles encontraram minha aeronave.
Não há como passar.
— Você pode chegar aqui ou precisa de apoio.
— Eu posso chegar ai.
Zona Leste ficava do outro lado do Nexus, mas pelo menos
eu não teria que passar pela mansão Mayongi, que tenho certeza que
era apenas um show de merda agora. Estremeci quando Callie roçou
os dentes em mim novamente. Mordi o lábio, não querendo dizer nada
do que me arrependeria mais tarde. Eu me forcei a correr.
Estávamos quase fora dessa bagunça. Aproximadamente. E
assim que voltássemos ao Aurum, eu iria jogá-la na cama e devastá-la
até que ela só conseguisse gritar meu nome.
CAPÍTULO 15

CALLIE

EU SENTI como se estivesse nadando em fogo. Em um fogo


delicioso, prazeroso que estava prestes a me engolir por completo. Eu
não conseguia parar de tocar Talus. Eu tentei. Eu realmente tentei.
Mas ele cheirava incrivelmente bem. Eu queria me enterrar
no cheiro dele. Ele me segurava nos braços enquanto embarcávamos
em uma nave. Eu não me importava que nave era essa. Não importava.
Tudo o que importava era Talus. Rocei meus dentes contra o pescoço
dele novamente, gostando dele estremecendo com cada um dos meus
toques.
Eu queria torná-lo meu, mas não entendia exatamente
como.
Eu não conseguia lembrar como chegamos aqui, ou por que
estávamos aqui. Olhei ao redor com os olhos entreabertos. Vi imagens
e movimentos familiares ao meu redor, mas não conseguia distingui-
los. Sabia que esse lugar não era a nave de Talus.
— Talus — sussurrei, mudando meu peso em seus braços
para poder puxar as alças do meu macacão. Eu as abaixei, mas Talus
continuou puxando-as de volta para meus ombros.
Ele era um estraga-prazeres.
— Cade, ligue o raio trator — praticamente rosnou Talus.
— Talus, está tudo…
— Dorn, afaste-se de mim agora! — rugiu o Talus.
— Qual é o problema dele? — ouvi o Dorn.
— Oh, Dorn. Você realmente não tem esperança — ouvi
Lyova dizer.
Mudei meu peso novamente e enrolei minhas pernas ao
redor da cintura do Talus. Meus lábios cobriram os dele. Minhas mãos
acariciavam seu cabelo, suas orelhas parecidas com as de um tigre. Ele
gemeu em minha boca e senti suas mãos agarrarem minha bunda. Ele
se esfregou contra minhas roupas e eu gemi, jogando a cabeça para
trás, ao sentir ele tocar meu ponto sensível.
Ouvi as portas se abrirem e fecharem e senti a cama bater
nas minhas costas. Talus puxou minhas botas, jogando-as para trás
antes de tirar sua camisa. Ele se arrastou para cima de mim. Seus
grandes bíceps de cada lado. Beijei seus braços, minha língua
percorrendo o comprimento de uma das suas listras. Ele rosnou baixo.
Seus olhos dourados estavam vermelhos e injetados.
— Você realmente será a minha morte — ele sibilou antes
de sufocar meus lábios com os dele. Ele rasgou a malha do meu corpo,
jogando-a por cima do ombro. Seus beijos mergulharam e devoraram,
rastreando um caminho da minha boca até o meu pescoço.
Seus dentes roçaram contra minha pele. Ele rosnou e
afastou a cabeça do meu pescoço, voltando sua atenção para os meus
seios. Sua língua provocou um mamilo enquanto ele beliscava e puxava
o outro. Eu gemi enquanto sua boca sugava um antes de passar para
o outro. Suas mãos pressionaram meus quadris na cama, mas eu me
contorci para ficar mais perto dele.
Eu não conseguia parar de acariciar suas costas, seus
braços. Sua pele nua era incrível. Puxei suas calças, mas ele agarrou
minha mão e me prendeu na cama. Ele se afastou de mim, com os
olhos fechados. Ele mordeu o lábio inferior, fazendo-o sangrar.
Eu o virei até que eu ficasse montada nele, minhas mãos se
afastaram das dele para eu poder acariciar seu cabelo lindamente
listrado. Eu me sentia tão elevada. Seus cabelos eram tão macios ao
toque. Eu sentia como se pudesse flutuar neles. Beijei seus lábios, mas
ele ainda mantinha os olhos cerrados.
— Talus — sussurrei enquanto dava um beijo em sua
mandíbula.
— Callie, você me quer?
— Sim — respirei. Beijei seu pescoço.
Ele gemeu, mas seus olhos permaneceram fechados.
— Não, você realmente me quer, Callie? Ou é só o cio
falando?
Eu o empurrei na cama. Seus olhos finalmente se abriram
e eu olhei para aqueles lindos poços de luz dourada, sorrindo para ele
enquanto meu cabelo caía sobre meu ombro.
— Eu quero que você me foda, Talus.
Talus gemeu e senti seu pau duro pressionando contra
minha boceta molhada.
— Eu quero que você me foda com força, e quando eu gozar,
quero que você me foda mais rápido, batendo contra mim.
Ele agarrou minha bunda, apertando firme enquanto eu
desabotoava suas calças.
— Você entende, Talus? — sussurrei contra seus lábios.
Eu puxei suas calças até que seu pau saltasse livre. Era
mais grosso na base, com saliências espiralando ao longo do eixo.
Inclinei-me para frente e lambi a ponta alargada de seu pau. Eu o levei
à minha boca até onde pude, apertando o resto de seu eixo. Esvaziando
minhas bochechas, eu o chupei com força.
Ouvir ele rosnar acima de mim foi o melhor afrodisíaco.
Talus agarrou meus ombros e me puxou para cima para
devorar minha boca. Ele pressionou seu pau estriado contra meu
clitóris.
— Pensei que eu devesse te foder profundamente e com
força — disse entre beijos.
Talus me empurrou para baixo na cama abrindo bem
minhas pernas, sua língua estriada lambendo minha fenda,
provocando meu clitóris até que eu estivesse me contorcendo
selvagemente debaixo dele. Minhas mãos agarraram os lençóis
enquanto sua língua rodopiava ao meu redor. Eu ofeguei quando ele
enfiou os dedos dentro de mim, explorando até encontrar o ponto que
ele precisava.
Arqueei, sentindo o prazer crescer dentro de mim até que
finalmente quebrei. Gritei por ele, confiando que ele seria capaz de me
recompor novamente.
Eu fiquei sem ossos após aquele orgasmo, mas o calor no
fundo do meu estômago só parecia aumentar. Eu estendi a mão para
ele, querendo mais.
Talus se arrastou na minha direção, seu corpo deslizando
contra minha pele. Ele beijou minhas mãos e as envolveu em volta de
seu pescoço.
— Eu sei do que você precisa — ele disse.
— Sim. Mais — respirei.
Eu queria mais. Eu queria ele bem dentro de mim. Eu
queria ser preenchida por ele e somente por ele. Eu envolvi uma perna
em torno de seu quadril, sentindo a ponta de seu pau na minha
entrada.
— Tão bom. — Eu ofeguei ao sentir seus lábios em meus
seios. Sua maravilhosa língua rodopiando ao redor do meu mamilo.
Seus dentes puxando antes de chupá-lo para dentro de sua boca.
— Mais — gemi, empurrando contra ele, sentindo sua ponta
me penetrar.
Talus se afastou de mim e eu arranhei suas costas.
— Eu disse bem dentro de mim — rosnei contra sua pele,
passando meus dentes contra sua nuca. Senti-o estremecer sob meus
dedos e fiz de novo.
— Eu não quero te machucar— Talus respirou, beijando e
lambendo meu pescoço. — Eu nunca me perdoaria se te machucasse.
Eu empurrei contra ele, sentindo-o entrar mais. Seu pau
havia se tornado mais grosso e gemi ao sentir que estava sendo
esticada.
— Então deixe-me fazer isso — disse, encarando seus olhos.
Ele olhou para mim como se eu fosse para ser venerada.
Seus braços estavam de cada lado. Seus quadris parados enquanto eu
me movia contra ele. Meu corpo parecia estar mudando para caber
nele. Eu me movi contra ele até sentir sua base estriada contra meu
clitóris, enviando ondas deliciosas de prazer por todo o meu corpo.
— Talus, se você não começar a me foder agora… — Eu
ofeguei quando ele me penetrou profundamente, investindo com força.
Eu arranhei suas costas, segurando firme enquanto ele investia em
mim repetidamente até se aprofundar completamente em mim.
Meus gemidos foram abafados por seus beijos, sua língua
enrolando-se na minha. Suas mãos se entrelaçaram com as minhas e
as empurraram para baixo no colchão. Eu correspondi cada investida
com a minha própria e enlacei minhas pernas firmemente ao redor dele.
Eu beijei seu pescoço, sentindo uma vontade profunda de
mordê-lo. De mordê-lo com força até ele sangrar. Eu ignorei essa
compulsão, com medo do que aquilo significava.
Ele roçou seus dentes contra meu pescoço, me fazendo
estremecer de prazer. Levantando-me até eu estar por cima dele, ele
investiu em mim, meu clitóris moendo contra suas saliências. Eu
estava prestes a atingir o clímax novamente. Eu sentia que estava
vindo.
Eu gritei, cravando meus dedos em seus ombros. Ele
investiu mais fundo e com mais força em mim, até sentir seu pau se
expandir de forma impossivelmente grande e se enfiar em mim. Eu o
apertei ao meu redor, ordenhando-o por tudo o que ele valia enquanto
ele gozava dentro de mim.
Eu continuei montando nele, esfregando meu clitóris
sensibilizado contra suas saliências.
— Mais — ofeguei, sentindo aquela vontade dentro de mim
crescer ainda mais fervorosa do que antes. — Eu preciso de mais,
Talus. Mais!
Ele agarrou meus quadris e me moveu para cima e para
baixo sobre o comprimento dele. Ele me virou de modo que minha
bunda ficasse para cima e empurrou minha cabeça para baixo no
travesseiro. Eu gritei quando ele investiu em mim. Seu pau era tão
grande.
Eu queria isso mais fundo dentro de mim. Eu queria que
ele gozasse em mim uma e outra vez. Cada investida enviava onda após
onda de prazer. Eu não conseguia parar de gritar. Outro orgasmo me
atingiu com força e então ele investiu em mim novamente.
— Callie — ele gemeu quando senti sua semente me
preencher novamente.
Eu me virei e estendi a mão para ele. Ele já estava lá, me
levando para mais uma rodada. Minhas pernas estavam sobre seus
ombros.
— Callie — ele respirou enquanto se movia profundamente
e devagar dentro de mim.
Eu gemi, me sentindo inexplicavelmente indefesa. Não
importa quantas vezes eu gozasse, eu não conseguia parar de querer
mais dele. E havia aquele sentimento crescendo dentro de mim. O
sentimento que eu tinha medo de reconhecer, mas que eu sabia no
fundo da minha alma.
Eu o queria pôr mais do que apenas seu corpo. Eu queria
aquela conexão, aquele vínculo. Eu queria que ele fosse meu.
Capítulo 16

TALUS

OBSERVEI ENQUANTO ELA DORMIA, acariciando


levemente sua bochecha enquanto sua cabeça se aninhava em meu
ombro e seus braços envolviam minha cintura.
Havia se passado uma semana desde que deixamos aquele
posto avançado e entrei em sua toca. Uma semana preenchendo-a
repetidas vezes. Uma semana ouvindo-a chamar meu nome, me
implorando por mais.
Eu ainda podia sentir suas unhas arranhando minhas
costas, seus beijos leves contra meu pescoço. E agora, sentindo as
últimas ondas de calor deixando seu corpo, eu sabia que não queria
voltar para o que tínhamos antes.
Eu a queria como minha companheira. Eu queria essa
proximidade. Não queria que ela me olhasse como se eu fosse um
estranho. Eu não queria que ela tentasse ir embora novamente.
Não depois de tudo o que compartilhamos.
Eu acariciei seu pescoço e toquei as marcas de amor que
encontrei ali. Suspeitava que meu pescoço parecesse semelhante. Cada
vez que ela roçava os dentes naquela carne sensível, eu tinha que me
conter para não afundar meus dentes nela. Mesmo agora, eu lutava
para me conter. A fera dentro de mim instigava desesperadamente para
marcá-la, para reivindicá-la.
Agora não é o momento, disse a mim mesmo. Eu a beijei
levemente nos lábios, apreciando o gosto dela, o cheiro dela. Doía-me
não ser reivindicado por ela. Doía-me que ela ainda não estivesse certa
sobre o vínculo entre nós.
Eu acariciei a sobrancelha de Callie, observando-a se
mexer. Seus olhos se entreabriram. Seus braços já me puxando em sua
direção. Eu me permiti ser atraído por ela, mergulhando mais fundo
em seu calor. Meus lábios encontraram seu pescoço e ela se arqueou
contra mim. Rosnei enquanto nossos corpos se uniam mais uma vez,
fácil e suavemente, como se nunca tivéssemos sido feitos para nos
separar.
Apenas mais uma vez, disse a mim mesmo. Apenas uma vez
mais.
Enquanto eu investia nela, ouvindo seus gemidos por mais,
eu sabia que precisava encontrar uma maneira de fazê-la ficar. Me
deixar não seria uma opção.
— Talus — ela respirou, e eu investi nela novamente,
gemendo enquanto suas pernas se enrolavam em mim.
Capturei seus lábios em um beijo ardente, roçando meus
dentes em seu pescoço. Suas pernas se apertaram em volta de mim.
— Callie, você é tão linda. — Eu lhe daria as estrelas e os
planetas, galáxias inteiras, se ela me aceitasse.
Depois, deitamos lado a lado, afastando preocupações
sobre o futuro e saboreando aquele momento. O ar ao nosso redor
estava tão silencioso que era ensurdecedor. Cheirava a sexo, nossos
aromas permeando e se entrelaçando ao nosso redor.
Tentei me manter quieto enquanto ela deitava ao meu lado,
mas ainda me encontrava acariciando seu braço, dando beijos em sua
têmpora. Seu calor havia passado, mas eu sentia como se minha
necessidade de reivindicá-la nunca fosse acabar.
— Callie — sussurrei, aninhando-me nela e beijando a
orelha dela.
Seus dedos brincaram com meu cabelo, acariciando-o
levemente. Eu ronronei e ela me acariciou mais, demorando-se ao redor
das minhas orelhas.
— Sabemos se os lorels estão seguros? — ela perguntou,
me surpreendendo que ela pudesse pensar neles em um momento
como este.
Eu ri, pegando suas mãos e beijando-as.
— Cade pegou a aeronave. — Meu corpo todo estava
arrepiado de calor e amor. Ela era incrível, se preocupando com
criaturas ao redor dela. Eu a beijei novamente. — Tenho certeza de que
estão bem.
— Mas como você sabe?
Eu fechei os olhos e a respirei.
— Eu só sei. — Eu não queria dizer as próximas palavras,
sabendo que significaria sair da nossa toca, mas sabia que a faria feliz.
— Podemos pegar algo para comer e dar uma olhada neles. Isso te faria
feliz?
O sorriso radiante de Callie foi resposta suficiente. Derreteu
tudo dentro de mim. Uma onda de felicidade percorreu nosso vínculo e
me deixou tonto de alegria. Ela depositou um beijo na minha bochecha
e pulou da cama para se vestir.
Engoli um gemido e saí atrás dela, procurando minhas
roupas. Eu não precisava de roupas há vários dias, e era uma tarefa
difícil de conseguir. Especialmente minhas botas. Encontrei uma, e
ainda estava procurando pela outra.
A risada de Callie me fez olhar para cima, parando de olhar
embaixo da cama.
— O que foi? Você encontrou?
Ela me encarou, seu olhar me avaliando por um momento
antes de se curvar e pegar o sapato escondido debaixo da escrivaninha.
— Não poderíamos deixar você andando com apenas um
sapato, poderíamos? — ela provocou, lançando-o para mim.
Eu o peguei no ar.
— Não, não poderíamos.
— O que Cade diria?
Eu bufei, colocando o pé na bota.
— Cade não é o problema. Lyova nunca me deixaria
esquecer disso.
Callie riu.
— Oh céus
Eu me aproximei dela e a puxei para mim, interrompendo
qualquer risada. Ela olhou para mim, atônita por um momento,
enquanto eu me inclinava para frente e beijava o topo de sua cabeça.
Ela se inclinou para o meu toque. Seus dedos tocaram meu rosto
levemente. Seu nariz se aninhou em meu peito e um arrepio percorreu
minha espinha quando senti seu prazer através do vínculo.
Desapareceu tão rápido quanto veio.
— Estou faminta — disse Callie, afastando-se rapidamente
de mim. Ela parou em frente a um espelho para passar os dedos pelo
cabelo antes de trotar em direção à porta. Eu a segui silenciosamente
em seu rastro, apenas observando sua rotina inconsciente.
Enquanto deixávamos o santuário da nossa toca, seu
prazer diminuiu um pouco. Pontas de preocupação beliscavam ao longo
das bordas de seus pensamentos.
Ela estava preocupada conosco? Ou ela de repente estava
contemplando a semana passada e as implicações que vinham com ela?
Suspirei, observando-a seguir pelo corredor. Ela
provavelmente estava confusa. Não fazia muito tempo que ela estava
tentando roubar minha nave e fugir, apenas para compartilhar sua
toca comigo por uma semana. Uma semana gloriosamente nua.
Como eu poderia explicar para ela o vínculo? Qual seria a
melhor abordagem? Ela nem mesmo acreditava nele.
Ela parou de andar.
— Onde fica a cozinha?
Olhei ao redor e percebi que estávamos indo na direção
errada. Eu estava tão focado em apenas seguir, que não pensei para
onde ela queria ir. Claro. Eu riria se ela não parecesse tão preocupada.
— É por aqui — disse, apontando para outro corredor à
esquerda de nós.
A porta do refeitório se abriu, expondo Lyova, Dorn, Cade e
Solana, conversando em voz baixa. Solana ergueu os olhos, sorrindo
quando nos viu, e imediatamente senti o constrangimento.
Não o meu constrangimento. O de Callie.
Virei para ela e seu rosto pareceu ficar vermelho como fogo.
Seu corpo parecia tão rígido. Pensei se deveria colocar um braço ao
redor dela, segurar sua mão ou beijá-la. Em vez disso, fiquei ali parado
como um idiota, esperando que a conversa cessasse e todos os olhares
se voltassem para nós.
Lyova sorriu debochadamente enquanto me analisava dos
pés à cabeça.
— Você teve uma semana adorável?
Envergonhada. Callie se sentia absolutamente
envergonhada. Eu precisava fazer algo para acalmar seus sentimentos.
O cio não era motivo para constrangimento e lidamos com isso da
melhor maneira possível. Especialmente porque não sucumbimos a ele
em uma situação tão perigosa.
Cade deu um tapa na cabeça de Lyova.
— Não seja rude.
— Você está com fome, Callie? — perguntou Solana, saindo
de seu lugar ao lado de Cade para digitar algo na tela embutida na
mesa. A mesa se abriu e uma refeição completa de carne com um molho
vermelho apareceu.
Callie se afastou de mim e cerrei os punhos para não
agarrá-la e mantê-la ao meu lado. Cerrei os dentes e me sentei em
frente a ela, observando-a mergulhar o dedo no molho e chupar a
ponta.
Isso seria uma prática para suportar a tortura.
— Como estão os lorels? — Callie perguntou entre as
mordidas de sua comida, seus dentes roçando o garfo. Eu podia sentir
meu corpo reagir só de lembrar daqueles dentes no meu pescoço.
— Eles estão bem. Tão fofos! — Solana deu uma risadinha.
— Deveria ter visto o que fizeram ontem. Eu posso até ficar com eles —
sussurrou, colocando uma mão entre ela e Cade.
Os olhos de Cade estreitaram para Solana e ele balançou a
cabeça.
— Você não vai.
Callie riu, olhando para mim por um momento antes de
voltar a sua atenção para Solana.
— Como tem sido? Ainda estamos sendo perseguidos por
gangsters malucos?
Dorn suspirou.
— Na verdade, o sindicato Tane ainda está nos seguindo.
— Assim como o grupo Mayongi — acrescentou Lyova. —
Aparentemente, eles estão irritados com algo.
— Ou eles só querem o que os Tanes querem — disse Dorn.
— Talvez eles pensem que podem conseguir um acordo melhor.
Callie apontou para si mesma.
— Todos eles me querem?
Todos assentiram em uníssono.
Eu rosnei baixo, incapaz de conter meu sentimento de
posse.
— Bem, eles não podem tê-la.
— Claramente — disse Dorn de maneira objetiva. —
Estamos a uma distância segura, mas eles estão se aproximando de
nós.
Lyova massageou as têmporas.
— Especialmente porque estamos quase sem combustível.
Teremos que atracar em algum lugar por pelo menos um ou dois dias.
Solana concordou.
— Estávamos apenas tentando resolver tudo quando vocês
entraram.
— Sinto muito — disse Callie, segurando a mão de Solana.
Se ao menos eu pudesse ser essa mão. — Deveria ter ajudado. Eu
realmente…

Solana afagou a mão de Callie.

— Não se preocupe com isso. Você estava no cio. Não havia


realmente nada que pudesse fazer. — Ela piscou e voltou-se para Cade.
— Além disso, está tudo resolvido.

Cade assentiu, olhando com orgulho para sua


companheira.

— Isso mesmo. Estaremos atracando em Limani. Seria bom


reabastecer enquanto estamos lá de qualquer maneira. É uma situação
vantajosa para todos.

— Ah, Limani — eu disse, pensando nas belas árvores


holográficas e cachoeiras, me lembrando de casa.

— O que é Limani? — perguntou Callie.

Sorri para ela, imaginando-nos andando de mãos dadas sob


as cachoeiras, apresentando-a a velhos amigos no bar, levando-a para
passeios românticos pelos jardins holográficos.

— É uma estação Rodiniana — eu disse. — Um pequeno lar


longe de casa. Estaremos seguros lá.
Lyova riu.
— Isso mesmo. Ninguém ousaria atacar uma fortaleza
Rodiniana. Teriam que ser suicidas para fazer isso.
O olhar de Callie encontrou o meu e senti um fluxo de calor
ao meu redor. Sorri para ela, estendendo a mão pela mesa para
entrelaçar meus dedos nos dela, esperando que depois de tudo isso, ela
permanecesse.
Capítulo 17

CALLIE

DEPOIS DE DOIS OU TRÊS DIAS, finalmente atracamos em


Limani.
Eu ainda estava me acostumando a compreender a duração
dos dias no espaço, já que não havia sol para realmente me informar
sobre o tempo e os relógios pareciam ser muito escassos na nave.
Solana me deu um tablet, que mostrava as horas.
Os lorels estavam bem, bem cuidados e mimados por
Solana. Era divertido brincar com eles a cada poucas horas e me davam
algo pelo qual ansiar, junto com outras pequenas arrumações e
organização. Os Reapers mantinham seus espaços imaculados, e com
outros drones e androides por perto, não havia realmente muito a fazer
nesse aspecto.
Cada hora do meu dia costumava ser planejada. Cheia de
atividades e ocupações.
Tudo parecia tão importante. Costumava ser tão fácil
ignorar muitas funções sociais porque eu estava ou estudando ou
trabalhando, ou ambos. Eu deveria sentir mais falta, não deveria?
Não pude evitar, mas sinto que era uma completa perda de
espaço. Eu não sabia de nada. Tudo era novo ou estranho para mim e
toda vez que eu tentava ajudar Solana ou Talus com algo, acabava
tendo que passar mais tempo me explicando como as coisas
funcionavam ou apenas me enviando para a sala de tecnologia para
obter todas as informações do simulador.
O fato de eu ter que me preparar para uma injeção, ou lidar
com dores de cabeça nauseantes, retardava meu progresso, mas eu
ainda estava aprendendo o mais rápido que podia.
Nunca na minha vida me senti tão inútil. Eu ia ser médica.
Eu deveria estar ajudando as pessoas e salvando o mundo através da
medicina. Não ficar sentada por aí, assistindo Talus nas docas, falando
sobre coisas secretas de espião com seu esquadrão.
Suspirei e brinquei com uma mecha de cabelo enquanto
observava Talus. Ele estava de braços cruzados e parecia sério. Eu me
sentia como uma colegial olhando para ele, o que era apenas ridículo
porque eu nunca fui assim na escola.
Ninguém mais chamou minha atenção como ele. Se eu
admitisse isso para ele, ele diria que era porque estávamos destinados
a ficar juntos. Que era nosso vínculo que fazia com que ninguém mais
pudesse se comparar.
Pelo que valeu a pena, ele era difícil de ignorar. Ele era alto
e musculoso. Seus olhos dourados eram alarmantes, era como se ele
pudesse ver minha alma. Só de lembrar deles me encarando enquanto
ele empurrava seu enorme pau em meu corpo me fez corar.
Eu odiava dizer isso, porque nenhum homem jamais
deveria ser descrito dessa maneira, mas não conseguia evitar. Talus
parecia um deus.
Solana embalou os lorels em seus braços.
— Pronta para ver os pontos turísticos?
Desviei meu olhar de Talus e sorri para ela, pegando um
lorel e aceitando seus carinhos.
— Sim, senhora, estou. — Seu à segui pela rampa e pelas
docas até o esquadrão.
Meu olhar encontrou imediatamente Talus, que caminhava
em minha direção. Seus dedos roçaram levemente minha bochecha
enquanto ele empurrava meu cabelo para trás da orelha.
— Vou ter que ir com Cade para reportar ao comando da
Legião. Você ficará bem? — Ele perguntou.
Eu assenti.
— Ela vai ficar bem — disse Solana, pegando meu braço no
dela. — Vou mostrar o seu recinto para ela. — Ela piscou. Como Solana
conseguia ser tão despreocupada? Eu estava tensa só de olhar para
ele. Todos os meus sentidos pareciam mais aguçados quando eu estava
perto dele e não podia deixar de me sentir perdida e sem valor. Todos
os outros pareciam ter um propósito, e aqui estava eu, tão valiosa
quanto um lorel.
Pelo menos eles eram fofos. Mas até eu sabia que estava
sendo um pouco deprimida para estar perto neste momento.
Como ele poderia me querer?
Talus beijou minha testa. Eu me inclinei para o toque dele,
me xingando por ceder a esse impulso.
— Vou ser rápido.
Sorri e assenti, observando-o sair por um momento antes
de permitir que Solana me puxasse pelas docas e para dentro da
estação espacial.
— Uau — eu disse, olhando para as cachoeiras que desciam
das plataformas. Os Rodinianos caminhavam pela água como se não
fosse nada. Árvores altas e flores bonitas cresciam do metal, piscando
brevemente quando alguém passava por elas. Tudo era tão majestoso,
como se eu tivesse entrado em um cartão postal de um Parque
Nacional.
— É tudo holográfico — disse Solana enquanto me levava
para um elevador.
— É lindo.
Quanto mais subíamos, mais eu via. Passávamos por cada
plataforma, iluminada por luzes flutuantes e multicoloridas que me
lembravam de pequenas fadas. Estrelas cercavam o fundo, o campo de
força ao redor de Limani cintilava.
Paramos na décima plataforma e Solana me conduziu por
aquilo que pareciam ser cavernas estilizadas cobertas por lindas heras
e brilhantes flores azuis e roxas.
— Há um restaurante confortável para jantar onde
costumamos se reunir nas poucas vezes que estivemos aqui. Chama-
se The Tap — disse Solana. — Fica na quarta plataforma. Tenho certeza
de que Talus vai te levar lá e apresentar você a todos.
Eu apenas assenti, boquiaberta demais com a beleza ao
meu redor para responder. Era como se estivesse caminhando por um
jardim romântico à luz do luar. Rodinianos estavam espalhados,
caminhando, fazendo compras, brincando. As crianças eram tão fofas
com suas orelhas peludas e rabos enquanto corriam atrás de seus
brinquedos ou brincavam em pranchas flutuantes pelos túneis.
E as mulheres... eram majestosas. As listras e manchas
exóticas, cabelos cheios e exuberantes. Sem mencionar os rabos. Eu
não pensava que um rabo seria um acessório necessário, mas ver todos
ao meu redor com um me fazia sentir ainda mais insuficiente.
Eu nunca poderia me comparar com as mulheres aqui. Elas
andavam com uma graça inconsciente. Como se fossem todas rainhas
ou mulheres guerreiras. Rainhas guerreiras?
Inclinei-me para a frente para ter uma melhor visão, curiosa
sobre as marcas que vi em muitos de seus corpos. Pareciam quase
tatuagens. Alguns tinham nos ombros, e havia alguns com várias. Não
queria ser indelicada e olhar abertamente para elas, então tentei não
ser óbvia.
De canto de olho, notei que Solana também tinha a mesma
marca no ombro, e parecia uma marca de mordida.
O que era isso?
— Chegamos — cantarolou Solana, acenando para a porta
do recinto de Talus.
Eu assenti.
Solana franziu a testa e colocou a mão no meu ombro.
— Você está bem? Você não disse muito desde que
pousamos.
Balancei a cabeça e forcei um sorriso.
— Estou bem, só absorvendo tudo. É muito.
— É isso mesmo — concordou ela. — Eu sei o quão
avassalador pode ser, então se precisar de algo, você sabe que pode vir
até mim. Mesmo só para conversar ou desabafar.
Fiquei emocionada com sua oferta. Mas ela não precisava
ficar de olho em mim quando poderia passar tempo com Cade.
— Obrigada. Não se preocupe comigo. Vou apenas me lavar.
— Ok, estou bem na sua frente — ela apontou para outra
porta parecida com uma caverna a poucos metros de distância. — E
nos vemos no The Tap mais tarde?
— Claro.
Fiquei olhando para a porta, sem saber exatamente como
entrar já que não havia uma maçaneta. Coloquei minha mão na tela ao
lado, permitindo que registrasse minhas impressões digitais.
— Saudações, Lady Callie — disse a porta com uma voz
feminina robótica — Companheira de Reaper Talus Balica. Seja bem-
vinda.
A porta se abriu. As luzes se acenderam enquanto eu
entrava timidamente, exibindo uma ambientação como de uma
caverna, com luzes suaves emanando dos cantos da sala. Plantas
holográficas cresciam do teto. Vinhas decoravam a extensão de uma
parede.
Uma voz desencarnada chamou.
— Gostaria de uma bebida?
— Não — sentei-me na cama, observando as flores
desabrochando.
— Música? Comida? Eventos atuais?
— Não, obrigada — disse, tirando os sapatos. Estava
prestes a desativar o modo de concierge do computador quando pensei
em algo que adoraria. — Que tal um banho?
O computador respondeu.
— Serviços de lavabo ativados.
Ouvi algo ligar e segui o som da água corrente em direção a
um cômodo quase tão grande quanto a sala de estar. Metade dos
fundos do recinto era um verdadeiro banheiro, com azulejos de
mosaico, uma verdadeira piscina no meio, e um recanto aberto que era
banhado por um chuveiro invisível. Pequenas nuvens de vapor saíam
de onde a água quente encontrava o mármore frio.
Descartei minhas roupas, quase correndo em direção a esse
presente, gemendo quando a água atingiu meu corpo.
— Mais frio? Mais quente?
— Perfeito — disse, ficando embaixo da água e deixando-a
deslizar pelo meu corpo. Eu fiz espuma com uma tigela de lindas
pétalas de flores que cheiravam mais frutadas do que florais. Enxaguei
o sabão, enquanto imagens do corpo de Talus se formavam em minha
mente. Lembrei-me de seus dedos entrando em mim. Sua língua
contornando meu clitóris antes de chupar suavemente. Seus rosnados
de prazer vibrando contra mim.
Minha mão desceu pelo comprimento do meu corpo,
tocando-me suavemente, desejando que ele estivesse aqui. Eu o queria
dentro de mim. Eu o queria aqui, me tocando e sussurrando no meu
ouvido.
— Saudações, Reaper Talus Balica.
Saltei com a voz robótica, quase escorregando na água, mas
me segurando na parede.
Ouvi sua voz chamar.
— Callie?
— Estou no banheiro — gritei, tentando me cobrir com as
mãos enquanto procurava algo para cobrir meu corpo. Onde estavam
as toalhas?
— Devo parar a água?
Revirei os olhos.
— Sim!
A água parou e a parede se abriu, exibindo uma toalha
preta, roupão e chinelos. Coloquei rapidamente o roupão e os chinelos,
pegando a toalha para enrolar no meu cabelo. Nesse intervalo de
tempo, o chão e as paredes estavam completamente secos.
Este lugar era incrível. Verdadeiramente incrível.
Talus bateu na porta ao mesmo tempo em que eu a abri.
— Você não precisava se apressar. Eu poderia ter me
juntado a você.
Corei com a sugestão dele, especialmente porque estava
pensando nisso.
— Oh, eu já estava terminando de qualquer maneira.
Talus recuou, com um olhar cauteloso no rosto.
— Você parece confortável — disse ele, os lábios se
curvando em um pequeno sorriso. — Eu esperava poder fazer um
grande tour com você, a menos que Solana já tenha feito isso com você?
Virei-me, tirando a toalha da cabeça, encontrando uma
escova em uma mesa próxima.
— Não, ela não fez.
Ele sentou-se na cama.
— Ótimo.
Escovei meu cabelo, sem saber o que dizer e desejando ter
algo a dizer.
— O que você acha de Limani até agora?
— É lindo — continuei a escovar meu cabelo. Não podia
olhar para ele agora, senão começaria a pensar em como estava nua
sob este roupão e como eu queria que ele me tocasse. — Como foi a
reunião com o comando da Legião?
— Tudo bem. O comandante está falando com Cade em
particular agora. Então, logo estaremos todos atualizados. — Ele me
avaliou com um olhar perspicaz. — Mas isso não é o que está
preocupando você agora, não é?
Como ele sabia disso? Suspirei, pensando nas belas
mulheres Rodinianas e nas marcas de mordida em seus corpos, que
pareciam tatuagens incríveis.
— Eu estava me perguntando... — comecei, olhando para
ele por cima do ombro. Calor tomou meu rosto quando o peguei
encarando minha bunda. — Vi um grupo de mulheres com o que
pareciam ser tatuagens nos pescoços e braços. O que é isso?
Talus se levantou da cama e envolveu os braços em volta
da minha cintura, roçando os dentes no meu pescoço.
— Companheiros se mordem para selar seu vínculo.
Estremeci e me senti excitada quando ele roçou os dentes
na carne sensível novamente.
— Ah. — Me afastei dele. Não podia tocá-lo agora. Seu toque
me enlouquecia e eu queria me concentrar nessa informação. — Você
disse companheiros. Então, você quer isso?
— Sim — ele respirou, sem hesitar por um segundo.
Balancei a cabeça. Ele não poderia querer realmente ficar
comigo.
— Talus, eu sou humana. — Essa coisa toda de vínculo,
companheiro... por que diabos ele me escolheria em vez daquelas
outras fêmeas? Não fazia sentido.
— Cade e Solana ainda são companheiros. Tenho certeza
de que há outros, mas não importaria.
— Mas são eles e nós somos nós. — Senti meus olhos
arderem e limpei rapidamente.
— O que isso significa?
Balancei a cabeça. Senti seus braços se aproximando
novamente. Empurrei-o para longe e me virei.
— Eu não quero ficar aqui. — Tentei ignorar a dor em seu
olhar, mas senti meu coração se quebrando.
— Tudo bem. — Talus falou devagar, como se estivesse
medindo e escolhendo suas palavras. — Podemos sair assim que
tivermos combustível.
Respirei fundo.
— Eu preciso voltar para a Terra. Você entende?
— Sim, tudo bem, e iria com você.
— Você não pode fazer isso. — disse incrédula. Ele deixaria
tudo isso para trás, sua posição, seu trabalho, para ficar comigo? Isso
seria absurdo.
Talus me perfurou com o olhar, o rosto endurecendo.
— Eu posso e vou. — Ele amoleceu um pouco, respirando
fundo como se isso o acalmasse. — Pense sobre isso. Se você voltar
para a Terra, ainda pode ser um alvo. Você pode estar em perigo. Eu
não deixarei minha companheira desprotegida.
Cerrei os dentes, desejando que ele me entendesse.
— Não. Você não entende. Eu não quero ficar aqui com
você.
Senti como se o mundo todo tivesse desabado enquanto
falava as palavras. Talus me encarou, com a boca aberta, como se
estivesse tentando descobrir o que dizer em seguida. Ele parecia
arrasado e eu me sentia destruída olhando para ele.
— Eu não acredito em companheiros. — forcei as palavras
entre os dentes. — Talvez seja melhor você escolher outra pessoa.
Talus assentiu lentamente, virando-se de costas para mim
e caminhando de volta para a porta.
— Ok — ele disse. — Você gostaria de ficar sozinha?
Eu assenti.
— Sim, eu quero ficar sozinha.
Eu o observei sair e caí na cama, soluçando e segurando
meu rosto entre as mãos. Era o melhor, eu me disse.
No entanto, eu realmente não queria que ele fosse.
Capítulo 18

TALUS

EU PRECISAVA DE UMA BEBIDA. Uma boa dose. Talvez


várias para tirar aquelas palavras da minha cabeça.
— Eu não quero ficar aqui com você.
O barman deixou a garrafa comigo. Mal senti o fogo líquido
que desceu pela minha garganta enquanto virava a garrafa e tomava
vários goles.
Não entendia. Eu pensei que as coisas estavam indo bem.
Pensei que ela estivesse se abrindo, talvez até se divertindo. Ela estava
sempre na sala de tecnologia, aprendendo coisas novas ou nos
ajudando, a mim e a Solana, com alguma coisa.
Tanto para conquistar minha companheira, pensei
enquanto girava meu copo.
— O que temos aqui?
Gemi e me virei, vendo Lyova se aproximar com confiança.
Ele me deu um tapinha nas costas. Justamente o idiota que eu
precisava agora.
— Pensei que você estaria ocupado com sua companheira
agora — disse Lyova, mexendo as sobrancelhas para cima e para baixo.
Balancei a cabeça.
— O que está errado? — Ele perguntou, franzindo o cenho.
— Me dê o que deu a ele — ele gritou para o barman, apontando para
a garrafa agora vazia.
Observei o barman despejar o líquido verde nos copos,
deslizando-os na nossa direção. Desta vez, ele não deixou a garrafa
comigo. Melhor assim.
Peguei o que foi oferecido e dei um gole devagar. Não sabia
ao certo como explicar minha briga com Callie para Lyova. Decidi que
falar diretamente seria a melhor opção.
— Callie não quer ficar comigo — disse simplesmente. —
Ela não acredita nessa coisa de companheiro.
— Ah. — Lyova tomou um gole da bebida. — Bem, você sabe
que ela vai mudar de ideia. Solana mudou. Só houve muito para
processar. — Ele cutucou meu ombro. — Depois da semana passada,
porém, ela deve estar sentindo algo, certo?
Balancei a cabeça e mexi o líquido.
— Eu não sei. — Suspirei, pensando em todas as coisas que
poderiam acontecer se Callie insistisse que ficássemos separados.
Para começar, eu não me afastaria. Não. Se ela não queria
ficar comigo? Tudo bem. Eu apenas cuidaria dela. Ela não saberia.
E eu estaria perto o suficiente para invadir seus sonhos.
Isso me tornava um perseguidor estranho? Talvez. Mas, ao
menos, eu saberia que ela estaria segura.
Além disso, manteria o deliria à distância, pelo menos por
um bom tempo. Estar perto dela e não estar vinculado seria quase uma
loucura, mas pelo menos me impediria de ser uma fera enraivecida.
Disse isso para Lyova, que estava menos irritante do que o normal,
então isso também era uma vantagem.
— Então deixe eu entender isso — disse Lyova, levantando
uma mão. — Noites intermináveis de tormento sexual e frustração. —
Em seguida, ergueu a outra mão. — Ou, ser eventualmente designado
para a linha de frente da batalha em algum mundo de fronteira distante
quando o deliria amoranta tomar conta. — Ele olhou para ambas as
palmas das mãos voltadas para cima. — Nenhuma opção parece
particularmente tentadora.
Eu bufei.
— Às vezes, adultos têm que escolher entre duas opções
horríveis.
— Ah, foda-se. Se essas são as únicas duas opções, então
você não está procurando direito.
— E o que você propõe que eu faça?
— Qualquer coisa que você precisar fazer. Neste ponto,
implorar e se humilhar é uma opção muito melhor.
— Ela não me quer por perto.
— Não acredito nisso nem por um segundo. Você fez alguma
coisa para ofendê-la? Porque minha aposta é em qualquer coisa que
você fez. — Lyova deu um longo gole como se para solidificar isso como
um fato.
Eu a afastei? Não me lembrava de ter feito algo assim.
Mas talvez eu tenha feito e não percebi? Callie era humana,
afinal. Talvez eu não tenha lutado o suficiente por ela?
Passei a mão pelo cabelo e dei outro gole.
— Lyova, não quero ceder ao deliria. — Pressionei minha
testa no balcão frio, desejando saber de um jeito de consertar tudo isso.
— Eu quero Callie. — E não apenas queria, mas precisava. Eu a amava
além da razão. — Ela me faz sentir completo.
Lyova deu um tapinha nas minhas costas.
— Eu entendo. Eu sei que você está preocupado, mas ainda
tem tempo, Tal.
— Você só está dizendo isso porque não é a sua alma sendo
torturada.
— Verdade. Mas o fato continua. Há muito tempo. Muitos
companheiros não escolhem se unir na primeira vez. Alguns esperam
muitos meses, até anos.
Eu não achava que poderia suportar mais uma semana
desse tormento.
— Esses são companheiros do coração. Companheiros do
destino têm um prazo mais...urgente… — Meu sangue ferveu mesmo
enquanto falávamos. A bebida era a única coisa que aliviava um pouco,
e mesmo assim, não duraria.
— Ela vai mudar de ideia. — Lyova repetiu. — Ela se
importa com você. Qualquer um com olhos pode ver.
Ele não precisava ver ou ouvir a rejeição de sua
companheira do destino.
— Eu não quero ficar aqui com você.
— Tal, eu vejo como ela te olha quando você não está
olhando. Ela quer ser sua companheira do destino. Você só precisa
ajudá-la a ver isso.
Eu me virei para ele, minha cabeça ainda no balcão.
— Ela olha para mim?
Lyova sorriu de canto.
— Ela quer seu pau.
Eu franzi a testa. Eu não queria que ela me desejasse
apenas sexualmente. Eu queria tudo dela: mente, corpo e alma, e
queria que ela sentisse o mesmo por mim.
Lyova revirou os olhos.
— Ela quer tudo de você. Apenas converse com ela.
— Pelos céus, eu disse tudo isso em voz alta? — Eu gemi.
— Agora veja o que o turbilhonamento arrastou. Eles
deixaram alguma escória flutuar aqui agora?
Levantei a cabeça do balcão, olhando por cima do ombro e
sorri ao ver uma Rodiniana familiar se dirigindo para o bar.
— Ora, Aisha Cloud, te deixaram sair de Rodinia Prime?
Aisha pôs a mão no quadril numa pose esperta que exibia
seu emblema Reaper.. Ela servia a Rodinia Prime, analisando
informações de campo. Era raro vê-la fora do planeta; o comando da
Legião a mantinha ocupada.
Eu não a via desde o treinamento básico.
Aisha jogou seu cabelo preto trançado sobre o ombro e
pegou um banco, empurrando-o entre Ly e eu. Seus olhos dourados se
fixaram em mim com um sorriso malicioso.
— Um pequeno gatinho me disse que você encontrou sua
companheira do destino — ela mexeu as sobrancelhas. — Então por
que diabos você está aqui e não entre as pernas dela?
Eu apertei o nariz.
— É uma longa história, uma que não quero repetir. —
Preciso explicar para todo Rodiniano o quão incompetente sou no
amor?
— Ela disse que não o quer — disse Lyova, e eu gemi. Deixe
que Lyova fofoque sobre minha vida amorosa.
Aisha me olhou de cima a baixo.
— Ela não o quer? Não, eu não acredito nisso.
Eu balancei a cabeça.
— Tivemos um pequeno desentendimento.
Aisha resmungou.
— Isso eu acredito. Você deve ter dito algo idiota. Então fale.
Dei outro longo gole na minha bebida, mas Aisha me
observava, recusando-se a me deixar escapar.
— Ela não acredita no vínculo.
Aisha revirou os olhos.
— Ninguém acredita até acontecer com eles. Obviamente
você fez algo errado.
Lyova riu.
— Obviamente.
Eu olhei de cara feia para Lyova, que estava jogando seu
charme para a fêmea. Ignorando-o, virei minha atenção para Aisha.
— E qual é o seu conselho?
Aisha sorriu travessa, mas não disse nada.
Revirei os olhos.
— Obrigado pela ajuda.
Aisha bateu no meu ombro.
— Pare de ser idiota. Ela é humana. Apenas alguns poucos
sabem que há mais na galáxia do que o próprio planeta. É claro que ela
vai precisar de um pouco de tato.
— E como você espera que eu faça isso?
Aisha ergueu três dedos para o barman.
— Outra rodada — ela gritou.
— E então?
— E então o quê?
— Você parece ter todas as ideias, e eu estou todo ouvidos.
— Machos — ela resmungou. — Vocês não gostam de suas
fêmeas fáceis, mas quando encontram um desafio, ficam emburrados.
— O quê?
Aisha jogou o cabelo por cima do ombro antes de olhar para
mim.
— Você gosta de pensar que as fêmeas são tão complicadas,
mas se você começasse a pensar com esta cabeça — ela me cutucou
entre os olhos — e não com a que está entre suas pernas, você saberia
que ela estava testando você. Ela é humana. Olhe em volta. Ela está
cercada por alienígenas - alienígenas que morreriam por ela, mas
alienígenas para ela, mesmo assim. Provavelmente, está pensando que
você preferiu esta vida a ela e lhe deu uma saída. E eu odeio dizer, mas
você escolheu a saída fácil. — Aisha virou seu drink de uma vez.
Talvez tenha sido o drink, ou talvez eu estivesse ansioso
para ouvir o quanto eu era idiota, porque deixei minha velha amiga
continuar falando.
— O destino à deu a você, isso significa que ela é páreo para
você. Você não se uniria a alguém que o entediasse ou fosse cruel. Você
se uniria a um desafio. Um desafio agradável e atencioso, mas mesmo
assim um desafio.
— E daí? Eu deveria ignorar o fato de que ela disse que não
queria ficar comigo?
Aisha ergueu a sobrancelha para mim com um olhar astuto.
— Não ignorar. Ler nas entrelinhas. Às vezes, as fêmeas não
dizem o que querem dizer, dizem o que acham que você quer ouvir. Elas
testam você. E o fato de você estar aqui e não se afogando em uma
boceta, significa que você falhou.
Eu os observei concordando, atuando como árbitros da
minha vida amorosa. Ou, quase inexistente vida amorosa.
— Você quer dizer que eu poderia estar transando com ela
agora e não sendo insultado por vocês, idiotas?
— Mais ou menos. Existe ser um cara legal e ser um cara
deliberadamente burro. Não seja esse segundo cara. Lute pelo que você
quer.
A fera dentro de mim gostou do som disso. Lutar. Foder. E
depois, encontrar comida.
— É, esse foi o meu problema. Eu deixei ela dizer e fazer o
que quisesse porque pensei que isso a deixaria feliz. Eu deveria tê-la
calado e fodido com ela.
Aisha engasgou.
— Ei, não coloque palavras cheias de testosterona na minha
boca. Precisamos de mais do que apenas uma boa e intensa foda. —
Ela piscou. — Estou apenas dizendo: Converse com ela. Conquiste-a.
Lute por ela. Então, bata nela bem e com força.
— Saúde para isso! — disse Lyova, virando seu drink.
Eu ri e tomei meu drink, pegando outro de Aisha. Lutar,
então foder. Com certeza, saúde para isso.
Capítulo 19

CALLIE

O QUE DIABOS estava errado comigo?


Um momento eu estava afastando Talus, no próximo eu
estava atravessando a bela paisagem de Limani, esperando encontrá-
lo e implorar por seu perdão.
Eu era um idiota, pura e simplesmente. Como pude dizer
aquelas palavras terríveis que nem mesmo queria dizer? Só porque eu
era a pessoa se sentindo insegura e deslocada não significava que eu
precisava afastá-lo.
E definitivamente não da forma como eu disse.
— Eu não quero ficar aqui com você.
Eu queria poder voltar a última hora da minha vida. Como
pude dizer isso para ele, especialmente porque era o mais distante da
verdade.
Eu queria estar perto dele o tempo todo. Eu queria que ele
me tocasse o tempo todo. Eu queria que ele olhasse para mim e só para
mim.
Sim, mal nos conhecíamos, mas eu sabia de detalhes muito
importantes. Em primeiro lugar, ele nunca pediu que eu mudasse
quem eu era ou me adaptasse às suas preferências. Em segundo lugar,
ele era gentil, atencioso, sabia das minhas necessidades antes mesmo
que eu soubesse e sempre me apoiava.
Isso foi mais do que dois pontos, mas provou que ele tinha
sido mais um suporte para mim do que qualquer outra pessoa na Terra.
Literalmente.
No entanto, eu nem sabia qual era a cor favorita dele. Ou
como ele tomava seu café. Ele ao menos tomou café?
Droga, eu odiava não saber esse fato, mas estava
determinada a descobrir.
Solana disse que todos gostavam de ir para "The Tap".
Verifiquei as telas de informação e segui os guias por uma série de
elevadores até a plataforma correta. Isso foi mais fácil do que eu pensei.
Ajudou que tudo fosse tão bem planejado, com uma infraestrutura que
priorizava o conforto acima de tudo.
Cada morador que eu passava tinha uma palavra amável
de cumprimento, e eu espelhava suas palavras e gestos. As pequenas
preocupações e medos que eu carregava na parte de trás da mente
desapareceram até se tornarem praticamente nada. Eu estava com
tanto medo de deixar minha antiga vida e coisas que conhecia que
ignorei totalmente a possibilidade de me divertir aqui.
Além disso, as coisas não precisavam ser de um jeito ou de
outro, como Solana tinha insinuado para mim. Ela tinha visitado a
Terra algumas vezes. Não era como se eu fosse uma prisioneira, mesmo
que fosse assim que eu agisse.
Ugh, isso é tão embaraçoso. Seria um milagre se Talus não
me odiasse.
Eu precisava consertar isso, e ter uma conversa real que
não envolvesse criminosos alienígenas psicóticos ou se degradasse em
sexo. Bem, pelo menos até eu descobrir qual era a cor favorita dele.
Eu deveria dizer a ele que estava arrependida e não quis
dizer o que disse, estava apenas ansiosa, e imaginei que ele estaria
melhor sem mim.
As portas do elevador se abriram e eu saí do último elevador
a acertar as coisas com Talus. Eu talvez não gostasse do rótulo de
companheira, mas a ideia de pertencer a alguém era meio agradável.
"The Tap" estava bem à minha frente, e eu acelerei o passo
em direção ao restaurante com o letreiro luminoso. Parecia quase algo
da Terra.
Logo, tudo ficaria bem. Eu me desculparia e
conversaríamos. Descobriria sua cor favorita, e então ele me levaria de
volta para nossa toca.
Através das janelas do bar, vi os cabelos listrados de Talus,
suas orelhas pontudas e o topo da juba de Lyova. Sorri, feliz por ver
suas figuras familiares. Parei quando percebi que eles não estavam
sozinhos.
No meio, conversando com Talus, estava uma bela mulher
que parecia uma pantera, com a pele negra mais deslumbrante que eu
já tinha visto. Ela era alta, quase tão alta quanto eles, com um corpo
modelado que seu terno formal tentava minimizar, mas sem sucesso.
Seus cabelos caíam em uma trança grossa até a metade das costas.
Todo o seu corpo parecia brilhar na linda luz dos holofotes flutuantes.
A Mulher Pantera deu um tapa no ombro de Talus e riu de
algo que ele tinha dito. Vi seus lábios se contorcerem em um sorriso.
Meu coração parecia estar se despedaçando. Ele gostava dela. Era
óbvio que ele gostava dela. Talvez ele tenha levado meu conselho a sério
e finalmente encontrado alguém mais adequado para ele.
Marchei para dentro do bar, pronta para interromper a
conversa deles. Diria a ele para sair dali e ficar comigo. Parei do lado
de fora da porta.
Estava sendo egoísta de novo?
Essa mulher seria melhor para ele. Ela o entenderia mais.
Ela não o colocaria em problema atrás de problema. Ela seria capaz de
ajudá-lo em suas missões e não seria um estorvo para ele.
Me forcei a virar, enxugando as lágrimas que escorriam
pelas minhas bochechas. Retrocedendo, permaneci nas sombras para
que ninguém visse meu sofrimento e ficasse alarmado. Os Rodinianos
pareciam ser cidadãos preocupados dessa maneira. Pensei se alguém
estava em Aurum. Talvez eu finalmente conseguisse roubar aquela
aeronave.
Ri, pensando em como Talus ficaria furioso se eu finalmente
roubasse sua nave.
Ofeguei quando uma explosão pareceu se espalhar pelo
posto avançado. Toda a estrutura tremeu, e perdi o equilíbrio, meus
joelhos batendo no chão. Escadas e plataformas caíram por toda parte
e os gritos ecoaram por toda a estação. Arrastei-me contra uma das
principais estruturas de suporte para ficar fora do caminho.
Uma nave negra decidiu se atracar no meio da estação
espacial, a despeito do campo de força. Uma horda de alienígenas
vermelhos e espinhosos serpenteou das portas da nave. Eram aqueles
gângsteres. O sindicato Tane.
Lyova disse que eles teriam que ser suicidas para atacar
uma fortaleza dos Rodinianos. Isso significava que eles realmente
queriam morrer. Como estava, vários dos Rodinianos próximos
abateram a força invasora como se fossem moscas irritantes.
Ajudou o fato de muitos conseguirem se transformar em
formas maiores. Alguns pareciam mais animais do que homens, com
seus rostos rosnantes e garras afiadas. Eles abriram caminho entre os
invasores. Armas ou não, os Tanes mal eram um desafio para os poucos
Rodinianos que estavam lá.
Suspirei, acreditando que tudo ficaria bem, quando um trio
de homens magros de preto, com grandes capacetes refletivos,
simplesmente apareceu nos parapeitos na frente da nave Tane. Em um
momento não havia nada, e no próximo, lá estavam eles.
— Callie? Callie!
De onde eu estava agachada, vi Talus do lado de fora do bar
com Lyova. Ele estava em seu modo de batalha, mais de dois metros
de músculos com presas e garras. Ele correu na minha direção, me
puxando contra ele, seu toque gentil apesar de seu tamanho e força.
— O que diabos você está fazendo aqui? Sozinha? — Ele
desceu pelo meu corpo, verificando se havia ferimentos.
Eu não sentia nada através do nosso vínculo
compartilhado, exceto uma sensação estática formigante, como
alfinetes e agulhas picando minha pele. Mas o fato de eu poder senti-
lo me reconfortou. Ele não me excluiu completamente.
— Não se preocupe. Estou bem. Apenas chocada. Mas há
outros... eles precisam de ajuda. —Apontei para aqueles que estavam
mais perto do conflito. — Vá, eu estou bem.
— Marque o Cade — ele ordenou a Lyova, e com um último
olhar sobre mim, juntou-se aos companheiros para enfrentar os Tanes,
com Lyova protegendo suas costas.
Me encolhi atrás da estrutura de suporte. As sombras
ajudavam a me esconder, mas ainda podia ver a luta. Seria um banho
de sangue. Havia menos Tanes de pé a cada momento, e mais
Rodinianos ensanguentados na confusão.
Foi quando um daqueles homens de preto, que eu havia
esquecido até agora, segurou um dispositivo em sua mão. O que quer
que ele fizesse, fez tudo ao redor deles parar.
Nada se movia. Ninguém fazia um som. Apenas o leve
zumbido e clique de um ventilador elétrico cansado podia ser ouvido.
— A sorte está do nosso lado. Uma das fêmeas marcadas
está bem próxima.
Uma das fêmeas marcadas? Ele queria dizer eu? Olhei para
baixo para mim mesma. Eu estive marcada o tempo todo? Eles
conseguiram me localizar? Era por isso que estavam aqui?
Será que eu causei tudo isso?
Me encolhi ainda mais atrás da estrutura, mesmo quando
eles começaram a vasculhar a área com seus dispositivos.
Droga, logo me encontrariam.
Uma mão forte e áspera tampou minha boca, e gritei contra
ela.
— Shh, sou só eu. — A juba macia de Lyova roçou meu
rosto, e engoli meu soluço.
— Você me assustou muito.
— É, pois é, a mesma coisa aconteceu quando te vimos a
dois passos do perigo.
Ao mencionar isso, olhei ao redor.
— Onde está Talus?
Lyova olhou significativamente para o grupo congelado.
Meus olhos se arregalaram ao perceber.
— Precisamos voltar para ele.
— Esta não é a minha primeira vez com Kridin. Não tem
volta. Ponto final. Só nos resta esperar passar, e não temos tempo para
isso. Vamos.
Eu me firmei no chão.
— Espere. Não podemos simplesmente deixá-lo.
Lyova manteve o olhar fixo no meu. Nunca o havia visto fora
de sua persona de risos e brincadeiras. Mas o homem diante de mim
agora era todo Reaper, firme e inflexível.
— Podemos e devemos. Não vou deixar que sua
companheira se machuque, mesmo que seja a última coisa que eu faça.
Sem mais uma palavra, ele me envolveu em seus braços.
Era inútil lutar contra o seu domínio. Ele era enorme, com um corpo
forjado em aço. Seria como tentar mover um rastreador com as minhas
mãos nuas.
Ele correu por túneis escuros. Os hologramas estavam
desligados. As luzes flutuantes ainda estavam acesas, mas com metade
do brilho. Mesmo com a luz fraca, eu conseguia ver a direção para onde
íamos. Estávamos indo para os cais.
— Por favor — implorei a Lyova. — Não podemos deixar o
Talus.
— Não estamos o deixando. Estou te levando para um lugar
seguro e te protegendo. Então voltarei para buscar Talus.
— Não, por favor…
O que quer que eu pensasse em dizer a seguir, foi
interrompido por tiros de blaster. Lyova nos empurrou para uma alcova
rasa, protegendo-me com seu corpo.
— Ambas as saídas foram bloqueadas — disse ele em voz
baixa. Um rosnado começou baixo em seu peito.
Na entrada mais distante, aquela que levava à baía de
atracação, aliens vermelhos e espinhosos pareciam gritar para os
homens magros de preto.
— Nós trouxemos vocês aqui — disse um alienígena
vermelho grande. — A maioria de nós foi massacrada quando nos
disseram que não haveria ameaça física para nós. Não faremos mais
nada sem comprovante de pagamento.
Os homens de preto olhavam de um lado para o outro antes
de assentir. Um deles ergueu seu dispositivo para o Tane de espinhos
vermelhos, cujo rosto ficou relaxado.
— Obrigado pelo pagamento — disse o Tane com voz
sonhadora. Então ele se virou para seus companheiros. — Certo,
encontrem a fêmea. Ela não pode estar longe.
Lyova se lançou sobre eles, derrubando um Tane ao chão e
socando-o no rosto antes de atacar outro e quebrar-lhe o braço. Lyova
se movia rapidamente, fluidamente, como se tudo ao seu redor
estivesse lento e ele estivesse manipulando o tempo. Isso até um dos
homens de preto levantar seu dispositivo e, tão rápido quanto Lyova se
movia, ele parou completamente imóvel.
Ao mesmo tempo, Rosto Vermelho sacou sua arma de
blaster e atirou diretamente no torso de Lyova. Ele desabou no chão.
Engoli um soluço, correndo para o Reaper caído.
Meu coração se encheu de esperança ao vê-lo se mexendo.
— Vá — sussurrou ele, segurando seu ferimento enquanto
engolia um gemido. — Corra.
— Chefe, olha só o que conseguimos — disse um Tane mais
jovem, segurando três jovens fêmeas Rodinianas acima dele em uma
espécie de campo de força.
Eles não podiam fazer isso. Não podiam simplesmente vir
aqui e levar pessoas de suas casas. Eu me levantei lentamente.
— Callie — ouvi Lyova ofegar. — Corra! Se esconda! Droga.
Lyova estava freneticamente tocando seu comunicador. Eu
o ignorei enquanto dava passos na direção desses homens, tomada por
uma raiva incompreensível.
— Como se atrevem — cuspi.
Um alienígena me agarrou e eu soquei seu rosto com tanta
força que senti seu nariz se quebrar. Chutei-o na virilha para garantir,
apreciando seu gemido e seu corpo caindo no chão.
Corri em direção às fêmeas, desviando dos braços lentos e
desajeitados deles. Eles não me levariam. Eu não permitiria. Meus
punhos se cerraram. Eu estava tão perto. Tão perto.
Mas senti meu corpo parar de se mover completamente.
Tentei dar um soco, tentei chutar, mas não conseguia mover nada. Não
tinha controle algum. Olhei para baixo e vi o dispositivo sendo segurado
à minha frente. Tentei gritar enquanto eles me levavam, mas nem
mesmo isso eu conseguia fazer.
TALUS

Assim que os Kridrin deixaram esta seção, o domínio sobre


nós terminou.
Nós nos livramos rapidamente dos Tanes que ficaram para
trás, mas não foi suficiente para diminuir minha fúria assassina. Eles
tinham levado Callie. Eu podia sentir.
Senti isso através do nosso vínculo, momentos depois de eu
ter dado a ela toda a força que pude.
Rastreei o cheiro dela e encontrei o corpo de Lyova lutando
para permanecer consciente. Eles estavam tão perto do Aurum. Eles
teriam tido uma chance de escapar.
Eu andava de um lado para o outro na ala médica,
esperando Lyova recobrar os sentidos. A médica me assegurou que ele
se recuperaria. Então, quando ouvi ele rosnar ao despertar, avancei
para o seu lado.
A médica presente ergueu as mãos, se colocando entre mim
e Lyova.
— Reaper Talus, você precisa esperar — ela disse
calmamente. Muito calmamente. Isso me deu vontade de socar uma
parede.
— Eu preciso saber. — Eu agarrei meu cabelo, puxando-o,
quase arrancando. Eu nunca deveria ter deixado ela. Deveria ter
permanecido ao seu lado e protegido. Essa era minha obrigação como
companheiro. Lyova não deveria ter se colocado no meu lugar.
— Talus — ouvi Lyova sussurrar.
Eu encarei meu amigo. Ele parecia terrível apesar do gel de
cura com que estava coberto. O blaster deve ter atingido algo crítico,
caso contrário, não levaria tanto tempo para se curar. Mas Lyova estava
vivo, e isso contava para algo.
Isso não fez nada para acalmar minhas preocupações.
Lyova gemeu de dor, lutando para despertar.
— Talus, eles a levaram — ele disse.
Pela segunda vez hoje, senti como se o mundo tivesse
implodido. Eu sabia que eles a tinham levado, mas ouvir isso
confirmado foi como um golpe físico.
— Coordenadas? — Perguntei calmamente.
Lyova balançou a cabeça.
— Eles a pegaram, Talus. Sinto muito. Eu fiz o meu melhor,
mas eles ainda a pegaram. Aquela tecnologia.
Aquela maldita tecnologia. Se ao menos eu a tivesse
interceptado quando tive a chance. Talvez o comando da Legião
pudesse ter experimentado isso e encontrado uma maneira de se
defender, em vez de cair repetidamente nas mãos dela.
Não, isso não teria importado. Era uma escolha entre Callie
e a pasta, e eu escolhi Callie. Eu sempre a escolheria.
Eu não podia mais ficar aqui. Precisava me mover.
— Tal, sinto muito! — Ouvi Lyova gritar. — Tal!
Ouvi a voz suave da médica sobrepujar a de Lyova até que
ele finalmente se aquietou. Ela deve tê-lo tranquilizado muito bem.
Eu andava de um lado para o outro, tentando descobrir
meu próximo curso de ação até parar e socar a parede. E se eles a
machucassem? E se ela já estivesse morta?
Eu rugi de frustração, socando um buraco considerável na
parede.
— Talus, pare — disse Cade, colocando a mão no meu
ombro.
Eu me livrei dele, girando para longe antes que ele tentasse
falar algum sentido para mim.
— Eu preciso encontrá-la. Posso sentir a direção geral dela.
— Espere, Tal — chamou Cade, alcançando-me. — Você
não pode ir assim.
— Eu tenho que ir. Callie precisa de mim.
Cade balançou a cabeça.
— Pense! Ela precisa que você a resgate, não que seja
capturado.
Passei as mãos pelo cabelo. Pensar era completamente
impossível agora. Eu precisava agir. Eu precisava da minha
companheira. Eu precisava saber que ela estava segura.
— Você sabe que eu devastaria planetas se Solana fosse
tirada de mim. Mas precisamos de um plano que não envolva ser pego
pela tecnologia deles, entende?
Respirei fundo algumas vezes e fechei os olhos antes de
concordar. Ele estava certo. Claro que Cade estava certo. Eu não podia
simplesmente ir lá, armas em punho, especialmente com uma
tecnologia que poderia neutralizar nossos movimentos com apenas um
botão.
Ele usou recursos quando precisou resgatar sua
companheira de ser leiloada. Eu poderia deixá-lo fazer o mesmo por
mim. Ele não era apenas meu comandante. Ele era meu amigo.
— Ah não — disse Cade. — Essa expressão. Você tem um
plano, não tem?
Eu sorri.
— Não se preocupe. Será tranquilo. Nada chamativo, fácil
de entrar e sair. Ninguém nos verá chegando.
Cade suspirou, balançando a cabeça.
— Eu estava com medo de que fosse ser algo assim.
Capítulo 20

CALLIE

O FRIO PENETROU NA MINHA PELE, me acordando. Meus


olhos se abriram e fiquei cega por uma luz pairando acima de mim. Não
foi minha decisão mais sábia.
Meu corpo estava ou latejando de dor ou dormente pelo frio.
Ainda não havia descoberto qual era a sensação melhor.
Tentei me mover, mas como suspeitava, estava presa por
algo. Tiras brancas me mantinham presa a uma mesa de metal. O
rápido olhar também revelou que eu estava de alguma forma usando
uma bata médica branca.
Considerando o fato de que antes eu não estava usando
uma bata médica, significava que esses malucos tinham me vestido
com ela.
A ideia me fez arrepiar.
Não conseguia me mexer, então o único controle que tinha
eram os meus olhos. Meu olhar pousou facilmente nos homens magros
de preto. Não podia ver seus rostos, já que insistiam em usar aqueles
capacetes ridículos com viseiras reflexivas.
Eles inclinaram a cabeça para o lado enquanto se
consultavam, clicando nos tablets e assentindo. Embora parecessem
estar se comunicando, o ambiente era dolorosamente silencioso.
— Onde estou? — sussurrei, minha garganta rouca e
doendo. — Quanto tempo estou aqui?
Um deles se moveu para uma mesa próxima cheia de
agulhas, facas e uma variedade de líquidos. O médico pegou a seringa
mais próxima.
— Não — eu ofeguei, tentando escapar. Meus pés chutaram
e eu lutei contra as tiras, empurrando meus ombros na esperança de
soltar meus braços. — Não. — Eu sacudi meus ombros.
O alienígena se aproximou de mim, segurando a agulha e
pegando meu braço. Toda a experiência foi ainda pior porque eu podia
ver meu rosto marcado por lágrimas refletido de volta para mim.
— Pare — implorei.
O canalha inseriu a agulha no meu corpo e eu gritei,
tentando fugir. Ninguém podia me ouvir. Ninguém podia me ajudar.
Talus. Supliquei por ele, desejando que estivesse ali.
Desejando que pudesse me abraçar e levar tudo embora. Por favor.
Minha visão ficou turva, e senti como se estivesse à deriva
entre as nuvens. Um soro intravenoso estava enfiado em meu braço,
com um líquido vermelho ardente gotejando dentro de mim.
Ele girava como uma dança de chamas antes de se
acomodar dentro de mim. Pisquei, balançando a cabeça. Talvez
estivesse alucinando. Não havia fogo aqui.
Ainda assim, meu corpo parecia tão quente. Eu gemi.
Minha garganta seca precisava de água. Melhor ainda, gelo. Qualquer
coisa para fazer esse calor desaparecer. Meu sangue parecia ter fervido
em um lago de fogo.
Então tudo que conseguia ouvir era gritos. De onde diabos
vinham todos os gritos? Parecia uma pobre garota. Precisavam ajudá-
la. Como podiam apenas ficar por aí e ignorar a pobre garota gritando?
Tardiamente, percebi que a garota que gritava era eu.
Tudo doía. Minha garganta. Minha mandíbula. Meus
punhos cerrados.
Eu simplesmente não conseguia parar de gritar.

ABRI os olhos com um salto.


Devo ter desmaiado, porque agora estava sendo levada para
longe. Minha garganta estava em carne viva. Tudo dentro de mim doía.
Eu me sentia tonta e enjoada. O que fizeram comigo? Virei para o lado,
observando sala após sala passar. Cada uma era habitada por uma
mulher diferente. A maioria era humana. Mulheres humanas.
Nenhuma delas homem. Por que estavam levando as mulheres? O que
queriam conosco?
Inspirei abruptamente quando o carrinho parou diante de
uma sala, encontrando o olhar de uma mulher que não parecia
completamente humana. Ela era incomumente pálida, com longos
cabelos brancos, os olhos vermelhos, me lembrando de um coelho
albino. A criatura bateu as mãos contra a porta de vidro e se inclinou
para frente, a testa pressionada contra a porta. Ela sorriu com dentes
afiados, abrindo-os amplamente como se fosse quebrar o vidro e me
devorar ali e agora.
Eu me virei, tremendo. Eu a ouvi batendo contra a porta de
vidro atrás de mim repetidas vezes até que finalmente quem quer que
fosse que me segurava me levou pelos corredores iluminados até um
quarto só meu.
Estava muito fraca para lutar enquanto me desamarravam,
me jogando no chão e me deixando ali. Levante-se, disse a mim mesma.
Eu precisava lutar. Eu não poderia deixá-los me quebrar. Eu tinha que
lutar se quisesse sobreviver a isso. Ainda precisava pedir desculpas a
Talus. Não podia deixá-lo assim. Não podia deixar que ele pensasse que
eu não me importava com ele.
Eu me importava. Eu me importava demais. Era isso que
estava errado.
Ergui meu corpo. Era difícil controlar. O que quer que
tivessem feito comigo me deixou tão letárgica. Como se não tivesse
controle sobre meu corpo. Pressionei-me contra a porta de vidro e bati
nela. A criatura diagonalmente oposta continuava a sorrir. Uma mulher
em frente a mim soluçava em sua jaula. Mais e mais cientistas
passavam, mas continuavam a me ignorar.
— Me deixem sair! — gritei, batendo minha mão na porta
com mais força. — Me deixem sair!
Ninguém olhou na minha direção. Era como se a sala fosse
à prova de som. Continuei batendo minhas mãos na porta até que
sangue escorresse dos meus dedos e eu fosse forçada a parar. Suspirei
e encostei minha cabeça no vidro. Fechei os olhos.
Não, não durma. Abri os olhos. E se eles voltassem e
continuassem sua tortura? No entanto, meus olhos traidores se
fecharam.
Talus, tentei falar através do nosso vínculo. A escuridão
estava ao meu redor.
Talus, por favor, me ajude. Eu preciso de você.

OLHEI para a mulher na sala à minha frente. Eles a


trouxeram de volta há várias horas, simplesmente jogando o corpo dela
no chão e a deixando lá. A mulher tinha mais ou menos minha idade.
Loira. Bonita. Ela também vestia o mesmo vestido branco. Ninguém se
importava que ela não se movesse durante todo esse tempo.
Tentei chamá-la, mas foi inútil. Limpei as lágrimas dos
meus olhos, desejando poder ajudá-la. Mas eu mal conseguia ajudar a
mim mesma. Mais aliens de branco passavam e eu batia na porta.
— Pare! — gritei. — Aquela mulher precisa de ajuda. — Eles
continuaram andando, sem olhar na minha direção. — Por favor!
Outro alien de branco virou-se e encarou-me, puxando uma
mesa atrás. Ele desbloqueou minha porta digitando um código, a porta
se abrindo. Eu recuei, minhas costas batendo na parede atrás de mim.
— Não me toque — sussurrei. Queria poder ver seus olhos.
Queria ser capaz de conhecer o rosto dessa criatura. O rosto do meu
torturador.
Ele se aproximou, puxando a mesa atrás e deslizando-a
entre nós. Ele levantou uma agulha, inserindo algum tipo de líquido
transparente. Um líquido que me faria dormir, tenho certeza.
Eu precisava lutar. Essa era minha única chance.
Empurrei a mesa, fazendo-a bater no alien. Ele empurrou
de volta, tentando me atingir, mas eu era muito rápida. Desviei da mesa
e corri. A criatura agarrou-me, afastando-me da porta aberta. A agulha
estava tão perto. Estava tentando enfiá-la no meu pescoço.
Mordi seu braço, meus ouvidos zumbindo com o grito
estridente que ouvi, mas eu não soltaria. Precisava escapar. Precisava
encontrar Talus.
Afastei a agulha. Ela caiu em algum lugar no chão e chutei
a criatura, pegando um tablet e batendo na cabeça dela. Fiquei olhando
enquanto ela caía, chocada.
Callie, vá, disse a mim mesma, mas meu corpo não se
moveu. [Estas seriam ou poderiam ser as palavras de Talus] E agora?
Callie, você precisa ir.
Dei um passo para trás. Um. Dois passos. Dei vários passos
até estar fora daquela gaiola. Um alarme soou ao meu redor e as luzes
brancas escureceram, iluminadas por luzes vermelhas.
Callie. Vá.
Corri pelo corredor o mais rápido que pude. Havia tantas
mulheres batendo nas portas, clamando para que eu as libertasse.
Corri para outra sala mais adiante no corredor. Tentei digitar algo na
fechadura, mas ela apitou em vermelho. Não abria. Tentei novamente.
Mas havia passos atrás de mim. Estavam vindo atrás de mim. Iriam
me pegar.
— Eu vou voltar para buscar vocês — gritei.
Corri mais rápido pelo corredor longo e interminável,
olhando para trás e vendo homens de preto e branco me perseguindo.
Virei à direita para um corredor escuro. Algo me puxava. Havia um
cheiro familiar no ar.
Talus.
Talus estava aqui.
— Talus! — gritei, correndo ainda mais rápido, lágrimas
escorrendo pelo meu rosto. — Talus!
Capítulo 21

TALUS

ABRI a câmara de descompressão e pousei de pé na nave


de carga Tane. Uma vez que minhas botas estavam firmes, segurei a
porta aberta, esperando que Cade e Dorn escalassem as paredes da
nave. Estendi a mão e puxei Dorn para dentro antes de ajudar Cade.
Quando Cade mencionou um passeio espacial, achei que
ele estava louco. Um passeio no espaço era perigoso em vários aspectos.
Sempre havia o risco de ficar sem ar devido a um cálculo errado, se
soltar e se perder no espaço, a possibilidade de mau funcionamento do
equipamento.
No entanto, era a única maneira de infiltrar na nave Tane
sem ser detectado. Felizmente, apesar da tecnologia dos Kridrins, eles
pareciam preferir usar naves espaciais de outros. E isso seria a ruína
deles.
Podíamos não saber lidar com sua tecnologia (por
enquanto), mas certamente sabíamos como desativar naves.
Especialmente um cargueiro. Ele não teria chance contra uma nave de
guerra.
Aurum era indetectável durante o turbilhão estelar. Era
fácil o suficiente alcançar um cargueiro de movimento lento. Um pouco
mais difícil sair do deslizamento estelar oculto, mas Dorn fez acontecer.
Ele calculou a quantidade de ar necessária e a energia para os
propulsores de propulsão a jato para chegar das nossas naves até os
Kridrins.
Selei a câmara de descompressão, esperando que a tela da
porta ficasse verde antes de remover meu capacete.
— Lembre-me de nunca fazer isso de novo — disse Cade,
respirando fundo.
— Você poderia ter ficado a bordo do Aurum — eu disse,
tentando manter minha voz baixa.
— Como se eu fosse deixar você fazer isso sozinho. Você me
deu apoio, eu apoio você.
— Agora, lembre-se, Talus — disse Dorn, sua tecnologia de
camuflagem já transformando seu traje em um uniforme Kridrin preto.
— Nem sabemos se Callie está nesta nave.
Fechei os olhos, respirando fundo. Eu podia senti-la através
do vínculo. Eu podia sentir sua dor e seu medo. Eu podia ouvi-la gritar.
— Ela está aqui. — Ela está aqui. Eu sabia em minha alma.
Eu podia senti-la me chamando. Callie. Aguente firme.
— Ela está aqui — repeti. — Vamos nos mover.
— Vá em frente — disse Cade.
Era bom ter minha equipe lutando comigo. Eles tinham
meu apoio. Se Lyova não estivesse ferido, ele teria sido o primeiro a
passar pela câmara de descompressão.
Callie estava ali e ela estava bem. Eu precisava chegar até
ela antes que mais algo acontecesse. Seu cheiro estava ficando mais
forte. Eu podia senti-la por toda parte. Desliguei minha mente, parei
de duvidar e confiei em meu instinto. Senti o puxão do nosso vínculo
como se fosse um fio amarrado em meu coração, me puxando em
direção à minha companheira.
Acelerei o passo. Os passos de Dorn e Cade ficaram para
trás. Eu confiava neles para acompanhar e ficar de olho.
Uma curva depois, vi Callie à frente. Parei abruptamente.
Seria algum tipo de truque? Uma armadilha, talvez?
— Talus! — Ela chamou, correndo em minha direção com
os braços abertos.
Corri em direção à minha companheira, colidindo contra
uma espécie de escudo entre nós. Era tão resistente que não cedeu
quando meu corpo se chocou contra ele.
Continuei batendo, Cade acrescentando sua própria força.
Callie digitava freneticamente na fechadura do outro lado, mas ela
acendia vermelha.
— Talus — soluçou. — Talus, sinto muito. — Ela encostou
a testa na porta. — Eu não quis dizer aquilo. Eu quero estar com você.
Pressionei minha testa contra o vidro, sentindo através de
nosso vínculo a turbulência de dor, confusão e raiva que ela sentia por
dentro. Mais do que isso, eu sabia o quanto ela se importava e me
queria.
— Eu sei — disse. Ela chorou, seu corpo desabando no
chão. Ajoelhei-me com ela, colocando minha mão contra o vidro,
desejando ser capaz de tocá-la. — Eu sei.
— Emocionante, mas isso funcionará melhor. Saia do
caminho — disse Dorn, empurrando-me com sua bota. Ele tirou um
pequeno maçarico de seu cinto de ferramentas e queimou o painel de
bloqueio ao meu lado.
— Vamos tirar você daqui — disse a Callie.
— Não me deixe.
— Nunca.
Vi uma luz atrás de Callie. Ela virou-se e bateu na porta.
— Depressa, Dorn — gritou. — Eles estão vindo.
— Estou indo o mais rápido que posso — resmungou Dorn.
— Não rápido o suficiente — rosnei.
Peguei meu blaster me preparando para o momento em que
o escudo caísse; Cade fez o mesmo.
— Como está essa porta, Dorn? — perguntou Cade.
— Perguntar não vai fazer ir mais rápido. Estou quase lá.
Os Kridrins atiraram na porta e Callie gritou enquanto se
encolhia, se protegendo como podia.
— Depressa, por favor!
A porta se abriu e disparei meu blaster duas vezes,
acertando os dois bastardos e vendo-os cair. Cade e Dorn correram
para seus corpos, enquanto Callie se jogava em meus braços. Segurei-
a firme, escondendo seu rosto em meu pescoço. Não queria que ela
visse os outros despedaçando os corpos dos Kridrins.
Haveria tempo suficiente para explicar-lhe por que
precisávamos chegar a tais extremos, mas esse não era o momento.
Além disso, Callie já tinha dificuldade o bastante para compreender um
vínculo que ela podia sentir e experimentar. Contar a ela sobre uma
raça alienígena desconhecida que possivelmente poderia regenerar
seus corpos mesmo estando tecnicamente mortos não ajudaria na
aceitação hesitante dela em relação a mim.
— Nunca me deixe — ela disse, agarrando meu rosto e
tomando meus lábios com os seus. Mesmo em minha forma de batalha,
ela me queria. Ela não tinha medo de mim, e eu sempre valorizaria esse
sentimento.
— Nunca — rosnei, explorando tudo o que ela oferecia.
Beijei-a profundamente, passando minha língua sobre seus lábios,
sugando sua língua. Eu queria estar o mais perto possível dela. Queria
consumi-la e permitir que ela me consumisse.
— Pessoal.
— Talus — ela ofegou contra meus lábios.
Minhas mãos não paravam de tocá-la. Eu não conseguia o
suficiente dela.
— Pessoal, temos que ir! — Cade agarrou meu rabo e puxou
com força. Muita força.
Quebrei o beijo, aconchegando-a confortavelmente contra
mim. Tentei ignorar seus lábios maravilhosamente inchados ou o jeito
como ela olhava para mim. Teríamos nosso tempo depois. Assim que
retornássemos para Aurum.
— A Dauntless está em posição? — perguntei, seguindo
Cade e Dorn pelo longo corredor de volta ao local por onde entramos.
Cade digitou freneticamente em seu braço.
— Coloquei nossas coordenadas. O Capitão Rhys Desai e
seu batalhão de alfas sedentos por sangue devem estar chegando em
breve.
— Eles vão se juntar à luta? — perguntou Callie.
Sorri.
— De certa forma. Eu os convidei para interromper essa
festa.
— Literalmente — enfatizou Dorn.
Os olhos de Callie se arregalaram.
— Espero que isso não signifique o que eu estou pensando?
— Eu planejei para que a Dauntless colidisse diretamente
com esse cargueiro. O dreadnought vai cortar este navio como faca
quente na manteiga.
Callie engoliu em seco.
— Mas as outras. As pobres mulheres…
— Serão prontamente transportadas e cuidadas pela Legião
— beijei sua testa. — Confie em mim. Elas ficarão bem. Somos nós que
precisamos nos preocupar. Temos que sair deste destroço antes que
seja destruído.
— Para alguém que fala sobre as tendências excessivas do
comando da Legião, aqui está você manipulando isso a seu favor —
disse Cade, balançando a cabeça em desaprovação fingida.
Dei de ombros.
— Qual é o sentido de ter um aliado feliz se você não os usa
para aniquilar seus inimigos de vez em quando.?
Corremos por mais alguns corredores. Estávamos quase de
volta à nossa câmara de descompressão.
— Quanto falta? — perguntou Dorn.
— Deve ser a qualquer momento.
Um disparo passou por nós. E então outro. Olhei para trás
e vi um Tane com seu blaster. Manobrei meu corpo para proteger Callie
de um disparo perdido, enquanto Dorn avançava contra nosso
agressor. Um tiro errou o alvo e outro me atingiu de raspão. A dor
percorreu minhas costas e se espalhou por todo o meu corpo. Aquilo
não era um tiro de blaster normal. Rosnei enquanto caía, segurando
Callie contra mim.
— Talus — chorou Callie.
— Ameaça neutralizada — disse Dorn, me erguendo. Cade
pegou Callie.
— Talus? — perguntou Cade. Sua voz parecia estar se
distanciando, ficando mais distante. — Coloque o traje nele!
Havia alguém sacudindo meu ombro. Callie me encarava.
Ela parecia tão preocupada.
— Talus — sussurrou, segurando minha mão.
— Isso não parece bom — disse Cade. Senti-me sendo
levantado. Cade estava ao meu lado, me colocando na nave. — Aguente
firme — disse para mim.
Estávamos entrando na nave, mas minha visão estava
embaçada. A escuridão estava me envolvendo até que tudo o que vi foi
o negro.
Capítulo 22

CALLIE

— NÃO SE PREOCUPE — disse Solana, acariciando minha


mão enquanto eu contemplava a forma adormecida de Talus. ― Ele vai
ficar bem. Só precisa descansar.
Já haviam se passado dias desde que chegamos de volta a
Limani. Quando não estava ao lado do leito de Talus, eu estava
ajudando os Rodinianos a consertar o posto avançado. Os Kridrins, ou
seja lá o que fossem, tinham realmente feito um estrago na estação.
— Você deveria descansar um pouco — disse Solana,
virando-se para olhar o monitor ao lado de Talus.
Como se eu pudesse descansar sabendo que meu
companheiro estava ali. Ou que todas aquelas fêmeas ainda estavam
presas na nave Kridrin. Algo precisava ser feito.
A porta se abriu e Cade e Lyova entraram. Cade beijou
Solana antes de perguntar:
— Como está Tal?
Solana suspirou.
— Pela centésima vez, ele está bem. Só precisa descansar.
Eu falo isso — ela acenou com a mão na minha direção — mas ela se
recusa a acreditar em mim.
Lyova envolveu um braço ao meu redor.
— Ele está bem, gatinha — ele disse, me sacudindo
levemente. — Ele vai acordar hoje à noite ou amanhã. Foi uma jornada
muito longa para ele.
Eu suspirei. Eles estavam certos, mas eu ainda não
conseguia me mover. Eu queria que ele acordasse agora para que eu
pudesse parar de me preocupar com isso e seguir para a próxima coisa
preocupante na minha lista de tarefas.
A porta se abriu e ouvi Dorn perguntar:
— Como está Tal?
Solana revirou os olhos.
— Todos nós estarmos aqui não está ajudando — ela disse,
nos empurrando, inclusive a mim, em direção à porta. — Vamos comer
alguma coisa.
Eu não me movi.
— Callie, hora de comer — Solana chamou da porta.
— Está bem — eu disse, inclinando-me para dar um beijo
casto nos lábios de Talus.
Senti braços me envolverem e me puxarem para frente,
fazendo-me ofegar de surpresa. Uma língua entrou, me lambendo por
dentro, me fazendo gemer. Uma mão puxou meu cabelo.
— Tal, você safado — ouvi Lyova atrás de mim.
Soltei os lábios de Talus e olhei para seus lindos olhos
dourados derretidos, meu coração palpitando com o alívio através do
vínculo, sabendo que estava vivo e bem. Eu esperava que ele soubesse
do meu alívio. Eu realmente não entendia todo esse sentimento através
da coisa do vínculo.
Senti lágrimas picando atrás dos meus olhos e franzi a testa
para ele.
— Você estava acordado o tempo todo? — gritei, dando um
tapa no ombro dele.
Ele riu e me puxou completamente para a cama, em cima
dele.
— Não foi tanto tempo assim.
— É bom tê-lo de volta — disse Cade.
— Estávamos preocupados — disse Dorn.
— Eu não estava — disse Lyova. — Você sempre é tão
dramático.
Revirei os olhos. Lyova estava tão preocupado quanto eu,
assumindo meu lugar quando eu precisava de uma pausa de ficar em
alerta ao lado de Talus.
Depois que os médicos examinaram Talus e o liberaram
para sair, eu o ajudei a voltar para o meu quarto. Ele ainda estava
dolorido mesmo após dormir vários dias e receber gel médico nos
tanques. Eu suspeitava que ele ficaria dolorido por mais um dia ou dois
antes de voltar ao seu eu habitual, autoritário.
— Cuidado — eu disse enquanto o ajudava a deitar na
cama.
Talus riu.
— Estou bem, gatinha.
— Você não parece bem — eu disse quando o vi fazer careta
ao se sentar rapidamente nos travesseiros que eu havia arrumado para
ele.
Ele deu de ombros.
— Na maior parte, estou bem.
Subi em cima dele, aninhando-me em seu ombro e
envolvendo seu braço ao meu redor.
— Você está bem? — Ele perguntou, dando um beijo leve
na minha testa.
— Eu estava tão apavorada — sussurrei, beijando sua
mandíbula.
Talus riu, deslizando os dedos pelo comprimento do meu
braço.
— A tecnologia Kridrin pode ser aterrorizante.
Especialmente porque sabemos muito pouco sobre eles.
— Não. — Virei-me em seus braços e olhei para ele,
apoiando meu queixo em seu esterno. ― Eu estava apavorada de que
você nunca mais fosse acordar. Que eu iria… — Meus olhos estavam
lacrimejando. Era frustrante. Só de imaginar ele caindo em meus
braços ainda me fazia querer soluçar. Eu já deveria ter superado isso.
— Que eu iria te perder — suspirei, tentando parecer calma, fazendo
careta ao perceber o quão agitadas saíram minhas palavras.
Talus acariciou minhas costas e beijou minha testa. Ele
encostou o nariz no meu pescoço e inspirou meu cheiro.
— Você nunca poderia me perder.
Cerrei os dentes para não chorar, lembrando daquela bela
fêmea Rodiniana pantera tocando Talus tão casualmente.
― Me desculpe por termos brigado.
Talus beijou minha têmpora.
— Está esquecido. — Ele beijou minhas lágrimas.
— Eu só não achava que fosse boa o suficiente para você.
— Por que você pensaria isso? — Ele sussurrou. — Você é
tudo para mim.
Dei de ombros.
— As mulheres aqui são tão lindas e eu... eu sou — funguei
— eu sou apenas eu. Sou baixa, te meto em encrenca o tempo todo —
parei com o riso de Talus e dei um tapinha na sua cabeça. — Não tem
graça.
— É um pouco engraçado.
Tentei não sorrir, mas sua alegria era contagiante.
— Pensei que seria melhor voltar para a Terra do que ser
um peso para você.
Talus encostou a testa na minha e suspirou.
— Callie, você é perfeita do jeito que é. Linda, sexy, e apesar
de toda a loucura que aconteceu nas últimas semanas, eu escolheria
fazer tudo de novo para estar com você.
Minhas lágrimas embaçaram minha visão.
— Não consigo imaginar passar por tudo isso com mais
ninguém, também — sussurrei antes de agarra-lo e pressionar meus
lábios contra os dele, inspirando seu cheiro e montando em seu corpo.
— Embora, se tivéssemos escolha, eu votaria por menos ferimentos de
blaster e absolutamente nenhuma agulha.
Ele riu de mim.
— De acordo.
Tirando a camisa dele, joguei-a em algum lugar atrás de
mim. Eu me atrapalhei com seu cinto enquanto ele desabotoava minha
camisa enquanto dava beijos molhados e desleixados em meu pescoço.
Eu gemi, pressionando minha mão contra seu pau duro,
quando seus dentes roçaram a carne macia ali,
Ele abaixou as calças, me dando acesso à sua pele nua
enquanto eu tirava minha camisa. Sua boca deleitou-se em meus seios,
sugando cada mamilo com fome enquanto seus dedos puxavam minha
calcinha para deslizar pela minha fenda encharcada, pressionando um
dedo contra minha carne sensibilizada.
Arqueei minhas costas, minhas unhas cravando em seu
peito. Uma mão encontrou meu cabelo e puxou, me segurando
enquanto ele chupava e deslizava contra mim. Calor líquido
encharcado entre minhas pernas.
— Eu amo o quão quente e molhada você está — disse ele,
com a voz impressionada. Ele deslizou um dedo dentro de mim,
pressionando e procurando, empurrando dentro de mim. Eu me movi
contra ele, querendo mais. Eu engasguei, sentindo-o deslizar outro
dedo dentro de mim.
— Eu quero você dentro de mim — eu sussurrei entre
beijos.
Talus mordeu meu lábio inferior. Ele gemeu quando eu
agarrei seu pau, tocando a pele sensível na ponta. Por um momento ele
se afastou, recostando-se nos travesseiros e olhando para mim. Ele
afastou o cabelo do meu rosto, acariciando meu pescoço suavemente
com os nós dos dedos.
Subi em cima dele, me atrapalhando com seu pau na minha
entrada. Abaixei-me lentamente, ofegando quando senti sua ponta
entrar em mim.
— Você é tão boa — ele sussurrou, inclinando-se e me
beijando. Eu gemi quando o senti entrar em mim mais profundamente.
As cristas de seu pênis atingiram os pontos certos, alimentando um
fogo profundo dentro de mim. Eu me senti apertar em torno dele. Meu
corpo me incentivou a pressionar contra ele. Eu o queria ainda mais
fundo dentro de mim.
Talus sacudiu meu clitóris com o dedo, esfregando círculos
lentos e tentadores ao redor dele. Abaixei-me mais, sentindo meu corpo
mudar ao redor dele. Ele era tão grosso e duro. Minhas mãos
envolveram seus ombros e me movi para cima e para baixo. Ele estava
totalmente dentro. Eu me senti muito ansiosa. Algo estava diferente.
Eu não tinha o cio derretendo meu cérebro. Eu estava pensando
demais.
— Você está bem, gatinha? — Perguntou Talus, beijando
meu pescoço. Gemi quando senti seus dentes contra mim.
— Eu estou ansiosa. — Eu engasguei quando seu dedo
deslizou contra minha protuberância. O prazer percorreu meu corpo.
Minhas coxas tremeram e me senti deslizar um pouco mais dele para
dentro. — É diferente desta vez. — Descansei minha cabeça em seu
ombro, beijando seu pescoço. Pastando meus dentes contra ele. Eu o
senti estremecer sob meu toque.
Talus continuou chupando meu pescoço.
— Você estava no cio da última vez — ele sussurrou contra
minha pele. — É normal se sentir diferente agora.
Eu gemi, chupando seu pescoço. Eu queria mordê-lo. Eu
queria torná-lo meu. Ele era meu. Eu mordisquei seu pescoço com mais
força e ele rosnou, me mordendo de volta. Eu engasguei e me apertei
contra ele, lentamente o deixei entrar em mim completamente até que
ele estivesse profundo e sua base estriada acariciasse meu clitóris. Eu
me apoiei nele, tremendo, sentindo onda após onda de prazer me
atingir. Eu me levantei um pouco e bati contra ele, ofegante.
— Melhor? — Ele gemeu no meu pescoço, ainda chupando
a pele ali. Ele estava lambendo círculos no meu ombro, seus dedos
cravando na minha bunda e me segurando firme contra ele.
— Sim. — Estremeci quando ele empurrou em mim. —
Mais. — Ele empurrou para dentro de mim novamente. Eu não queria
que isso acabasse. Todos os lugares que ele tocava pareciam estar em
chamas. Seus beijos me sugaram e me puxaram. Eu não conseguia
parar de empurrar contra seu pau, mesmo que quisesse. Eu me senti
subindo como uma fênix, ofegando e gemendo de prazer para o céu.
Gritei seu nome, minhas unhas cravando-se nele enquanto
ele empurrava mais fundo em mim. Eu precisava dele. Eu precisava
torná-lo meu. Eu queria que ele fosse meu. Houve um aperto em meu
estômago que eu não estava disposta a ignorar desta vez.
— Isso sinaliza a atração para o vínculo — explicou ele. —
Você não precisa fazer isso. Não precisamos nos unir. Apenas saiba
que é isso que esse sentimento significa.
Eu não poderia imaginar viver minha vida sem Talus, e não
poderia viver comigo mesmo se demorasse mais. Meus dentes
marcaram a lateral de seu pescoço, como se procurasse o lugar certo.
Cada vez ficava mais difícil, até que finalmente, quando me senti
subindo no céu, mordi-o com força, sentindo seu sangue na boca,
saboreando-o na minha língua.
Eu ouvi Talus rugir, seu pênis me perfurando enquanto
ficava incrivelmente duro.
— Callie — ele gritou antes de cravar os dentes em meu
pescoço.
Eu gritei quando onda após onda de prazer me atingiu.
Senti um nó se formar em sua base e ele o bateu dentro de mim,
prendendo-me a ele. Ele rugiu enquanto empurrava para dentro de
mim, seu gozo me enchendo enquanto eu cravava minhas unhas nele,
desesperada para segurar. Ele empurrou mais em mim quando gozou,
incapaz de se conter. Fiquei naquele primeiro nó por horas, e quando
finalmente me arrastei para fora dele, suada e exausta, eu sabia que
não havia outro lugar onde eu preferiria estar do que aqui.
EPÍLOGO

CALLIE

— ENTÃO, QUANTO TEMPO VOCÊ VAI ficar fora? —


perguntou Solana.
Seu holograma me seguia ao redor da ala médica em
Limani. Ela e Cade estavam em Aurum com os outros Reapers, se
preparando para outra operação furtiva do comando da Legião,
enquanto Tal e eu estávamos planejando nossa próxima grande
aventura: nossa lua de mel.
Dei de ombros enquanto verificava os sinais vitais do meu
último paciente. Seu nome era Markus, um jovem Reaper se
recuperando bem de ser arremessado para fora de sua nave. Ele era
um rapaz doce, com a aparência esguia e ágil de uma chita. Era jovem
demais para ser abatido, mas felizmente logo estaria de volta à ação.
— Espero que não seja mais do que uma semana ou duas.
Se tudo correr conforme o planejado. — Virei-me e pisquei
conspiratoriamente para Solana. Ela cruzou os braços e balançou a
cabeça com um sorriso no rosto.
Apenas ela e Cade sabiam o que Talus e eu planejávamos
para nossa escapada, e eu não queria correr o risco de ser espionada
pelo comando da Legião. Eles já eram muito intrometidos e
superprotetores quando se tratava de qualquer mulher. Especialmente
das poucas humanas que eles se referiam como ômegas escondidas.
Solana e eu deixamos que eles pensassem o que quisessem.
— Bem, desejo a vocês toda a sorte do mundo.
— Vou contar tudo para você quando voltarmos. — Sorri
enquanto observava Solana se dirigir ao interruptor em seu painel.
— Encerrando — ela disse, levantando a mão em saudação.
Eu copiei o gesto.
— Encerrando.
— Você vai embora hoje? — Markus perguntou, sentando-
se em sua cápsula.
— Sim — respondi, digitando na tela que documentava o
ritmo de recuperação após experimentar uma nova pomada. Ele
parecia estar se recuperando rapidamente apesar das queimaduras. —
Logo depois disso, na verdade.
— Espero que se divirta — disse ele, recostando-se em seus
travesseiros. — Parabéns novamente pelo vínculo com seu
companheiro.
Eu ri.
— Markus, você já me parabenizou.
Markus deu de ombros e fechou os olhos.
— É uma notícia fantástica. Todos querem conhecer seu
companheiro predestinado. É como uma lenda. E ter dois Reapers
encontrando os seus em tão pouco tempo... é uma sorte, isso é certo.
Apreciei a inocência ingênua dele. Era refrescante ver isso
em um macho tão imponente.

— Bem, obrigada, Markus. Espero te ver de pé e se


movimentando quando eu voltar.
Markus abriu um olho e me saudou.
— Senhora, sim senhora.

Acenei, saindo pelas portas de correr e voltando para


minha casa, que era onde quer que Talus estivesse. No momento, isso
significava sua nave.

Subi a rampa e encontrei Talus girando em sua cadeira. Ele


parou abruptamente, sacudindo a cabeça para afastar a tontura antes
de se aproximar de mim e me beijar suavemente.

— Tudo pronto? — perguntou, olhando atrás de mim.

— Tudo pronto. — Tomei meu lugar ao lado dele e apertei o


cinto.
— Você contou para a Solana?

Pisquei para ele.

— Falei no código das garotas.

Talus riu.
— Não duvido disso. Pronta para iniciar sua própria missão
de busca e resgate?

Concordei vigorosamente, aconchegando um lorel no meu


colo.

— A missão de lua de mel de realojar alienígenas


sequestrados está pronta, Comandante Talus. Digitando coordenadas
para à Dauntless agora.

Talus sorriu para mim, prendendo o cinto e dando um


tapinha na minha perna.

— Adoro quando você fala sacanagem comigo.

Fim pôr enquanto...

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