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Tormento.
Essa é a única palavra para descrever estar sentado em frente a
Elaine enquanto ela me interroga sobre a crosta superior da matilha
Grayridge e seus aliados e inimigos ao redor. Seu olhar penetrante
me perfura como uma adaga, ansioso para expor a menor falha em
meu conhecimento.
E há muito para ser encontrado.
Eu esperava que o retorno de Melody e Tom a distraísse pelo
menos um pouco, mas não. Eles mal estão aqui há um dia e ela já
voltou para o meu interrogatório... quero dizer, aulas.
— Quem é o alfa da matilha Riverbend? — A voz de Elaine corta o
ar.
Eu vasculho meu cérebro, lutando pela resposta.
— Uh... Lucas Edwards?
Os lábios rubi de Elaine se curvam em desdém.
— Errado. Esforce-se mais, sim?
Reprimo um gemido, me preparando para a próxima pergunta. Mas
antes que Elaine possa atacar novamente, uma voz melódica
intervém.
— Aí está você!
Nós dois nos viramos e vemos Melody entrando na sala, a luz do sol
entrelaçando seus cabelos dourados.
— Melody —, diz Elaine no tom mais agradável que já ouvi dela. —
Bom dia, posso te ajudar?
Melody se aproxima e coloca a mã o em meu ombro, dando a Elaine um
sorriso deslumbrante.
— Sinto muito, mas simplesmente devo roubar Devon. Temos negó cios
importantes para discutir.
— Negócios? — Elaine bufa. — Ele está no meio de uma aula. Uma
aula pela qual ele está com dificuldade, aliás, — ela acrescenta
incisivamente.
Resisto à vontade de revirar os olhos.
— Tenho certeza de que isso é muito importante —, responde
Melody, já me puxando da cadeira. — Mas não vai demorar muito,
eu prometo.
Elaine faz uma careta, mas nem ela parece ser capaz de resistir
totalmente aos encantos de Melody.
— Muito bem. Continuaremos com isso mais tarde, Devon.
— Estou ansioso por isso —, minto descaradamente.
Quando saímos da sala, um alívio toma conta de mim. No momento
em que Melody e eu estamos sozinhos no corredor e,
esperançosamente, fora do alcance de Elaine, me viro para ela.
— Você disse que temos negócios para discutir?
Espero que eu não tenha acabado de sair da frigideira e vá para o
fogo. Acho que não interagi o suficiente com ela no breve período
em que ela voltou para irritá-la, mas quem sabe quando se trata de
um lobo Grayridge?
— Ah, isso —, diz Melody com um aceno de mão desdenhoso. —
Eu só estava dizendo isso para tirar você daqui. Eu sei como são
essas lições horríveis. Me tornei campeã de contagem de peças só
para manter minha sanidade.
Eu não posso deixar de rir.
— Sim, eu praticamente memorizei quantos estão no teto da sala de
jantar.
Nós nos encaramos por um momento antes de deixar escapar:
— Duzentos e oitenta e sete!
Melody se dissolve em gargalhadas e eu sigo o exemplo. É uma das
únicas vezes que me lembro de rir genuinamente neste lugar.
— Vamos —, diz ela, entrelaçando meu braço no dela e me levando
em direção à entrada do jardim dos fundos. — Vamos tirar você
desta casa velha e abafada. É lindo lá fora.
— Eu não me importaria de tomar um pouco de ar fresco —,
concordo, a seguindo para fora. Estou lá dentro há tanto tempo que
semicerro os olhos para a luz do sol como um Nosferatu emergindo
de seu caixão, mas é bom ter um pouco de luz ultravioleta na minha
pele.
Melody me guia por um caminho de pedra que serpenteia por
canteiros de flores vibrantes e carvalhos imponentes, cujas folhas
começam a adquirir tons brilhantes de vermelho e dourado. É
tranquilo aqui fora, com o chilrear dos pássaros e uma leve brisa
soprando nos galhos acima. É difícil acreditar que ainda estamos
em território Grayridge.
— Este era um dos meus lugares favoritos para brincar quando
criança, — diz Melody, parando perto de um enorme carvalho. —
Constantine e eu costumávamos fazer competições para ver quem
conseguia subir mais alto. Eu sempre ganhava... até que uma vez
fui longe demais. — Ela aponta para os galhos superiores. — Eu
estava determinado a chegar ao topo, mas fiquei presa lá.
Constantine teve que subir e me fazer descer.
Tento imaginar um Constantine mais jovem resgatando seu primo,
mas é difícil sobrepor essa imagem ao alfa severo que conheço.
— Ele não parece ser o tipo de salvador hoje em dia —, murmuro.
Mais como sequestro.
Mas decido não tocar no assunto.
— Oh, ele sempre foi superprotetor com as pessoas de quem gosta,
— diz Melody. — Ele simplesmente não mostra esse lado dele com
muita frequência. Não desde...
Ela para, olhando para mim.
— Bem, não importa a história antiga. E você, Devon? Alguma
façanha de subir em árvores da sua infância?
Balanço a cabeça com um sorriso triste.
— Não exatamente. Eu era mais uma criança que morava dentro de
casa. Preferia livros a subir. Esse era mais o tipo de coisa do meu
irmão.
Melody acena com conhecimento de causa.
— Nada de errado com isso. Não podemos todos ser temerários.
— Sim —, murmuro, continuando a segui-la pelo caminho sinuoso.
Eu nem tinha notado isso antes, já que costumo ficar perto dos
jardins, e os bosques geralmente são proibidos, mas presumo que
está tudo bem, já que tenho um “acompanhante”.
Enquanto caminhamos sob a copa das árvores banhadas pelo sol,
me perco em pensamentos.
Subir em árvores foi apenas o começo. Se eu pudesse ter sido mais
como Brad, minha vida teria sido muito mais fácil.
Ainda posso ouvir nosso pai reclamando de mim por não sair para
brincar com Brad e as crianças da vizinhança, que só teriam me
tolerado porque, de outra forma, meu irmão teria chutado a bunda
deles. Você só pode acompanhar seu irmão “mais velho” até que
pareça patético, especialmente se você preferir a companhia de um
livro. Pelo menos eu poderia fingir que as pessoas nessas páginas
gostavam de mim.
Depois houve a faculdade. Achei que sair de casa seria uma chance
de conquistar meu próprio espaço. Uma chance de encontrar algo
em que eu fosse bom, em vez de apenas viver na sombra de Brad.
Mas isso não aconteceu do jeito que planejei.
Não sei por que pensei que Grayridge seria diferente, especialmente
considerando o fato de que Constantine queria Brad primeiro.
Sou apenas o prêmio de consolação, como sempre.
Talvez seja por isso que Constantine mal falou comigo desde que
cheguei.
— Um centavo pelos seus pensamentos? — Melody pergunta.
Dou de ombros, arrastando meu sapato contra a raiz de uma árvore.
— Isso seria uma sobrecarga.
Melody me cutuca gentilmente.
— Ah, vamos lá. Não fique tão triste consigo mesmo. É realmente
tão ruim aqui?
— Não, não é Grayridge —, murmuro. — Eu só... eu não me
encaixo aqui. Nunca tenho lugar nenhum, na verdade.
Melody faz um barulho simpático.
— Eu sei que é um ajuste, mas espere um pouco. Constantine vai
se recuperar eventualmente. — Ela sorri. — Ele é teimoso como o
inferno, mas no fundo é uma das melhores pessoas que conheço.
Apenas aceno com a cabeça, porque as pessoas sempre dizem
coisas assim sobre seus amigos e familiares. Mesmo aqueles que
têm um monte de partes do corpo no freezer.
Melody parece sentir minhas dúvidas.
— É verdade. Eu sei como ele se comporta, acredite em mim —, diz
ela com um suspiro cansado. — Ele tem um muro de um quilômetro
de espessura ao seu redor, mas é só porque ele tem medo de se
machucar.
— Com medo? — Eu ecoo, incapaz de esconder minha
incredulidade. — É difícil imaginar alguém como Constantine tendo
medo de alguma coisa.
— Você ficaria surpreso —, diz ela de uma forma enigmática que me
deixa com vontade de perguntar mais, mas algo me impede. Por
mais amigável que ela seja, eu realmente não conheço Melody mais
do que conheço os outros.
Inferno, aquela com quem passei mais tempo do que qualquer outra
pessoa é Elaine. Mas pelo menos não há dúvidas de onde ela está.
— Acho que sei como é isso —, digo depois de um momento. —
Colocar muros, manter as pessoas distantes... É mais fácil.
— É —, ela concorda. — Mas também tem que ser solitário.
Eu dou de ombros.
— Às vezes isso é melhor que a alternativa.
Melody para de andar, entã o me viro para encará -la, sem esperar a
expressã o de preocupaçã o em seu rosto.
— Olha, Devon, eu... eu sei como é este lugar. Como é a matilha, —
acrescenta ela. — E eu sei o que é se sentir um estranho.
Isso é difícil de acreditar, vindo de alguém que parece e age daquela
maneira, mas decido acreditar na palavra dela.
— Como você superou isso? — Eu pergunto.
Ela faz uma pausa como se estivesse pensando sobre isso.
— Acho que parei de me importar tanto com as pessoas que não
me aceitavam, — diz ela. — E comecei a me concentrar naqueles
que o fizeram. Acima de tudo, simplesmente parei de tentar ser
outra coisa senão eu mesma, e isso tornou muito mais fácil perceber
a diferença entre os dois.
— Sim —, eu digo calmamente. — Acho que isso tornaria as coisas
mais fáceis.
Ela sorri e agarra meu braço novamente, continuando pelo caminho.
— Para que conste, estou feliz que você esteja aqui, Devon. Acho
que você é exatamente o que esta matilha precisa. Especialmente
Constantine.
Meu rosto fica quente em resposta a essas palavras, e como elas
parecem totalmente absurdas, especialmente considerando o fato
de que eu mal o vejo, se não estiver na mesa de jantar.
— Eu não sei sobre isso, mas... obrigado.
Ao retomarmos nossa caminhada, Melody aponta os vários pontos
de referência ao redor da propriedade, de sua infância
compartilhada com Constantine, Dan e os outros, e me sinto um
pouco mais leve do que antes. Pelo menos sei que há alguém que
não odeia o fato de eu estar aqui.
E isso me faz sentir um pouco menos sozinho.
CAPÍTULO OITO
CONSTANTINE
Continua…
Caro leitor
Obrigado por escolher este livro! Espero que você tenha gostado da
história desde a primeira página até o final.
Se você tiver um momento de sobra, ficaria extremamente grato se
você deixasse uma avaliação ou resenha deste livro. As resenhas
são essenciais para autores independentes, pois são um dos
melhores canais para alcançarmos os leitores e divulgarmos nossas
histórias. Cada avaliação ou crítica me ajuda a divulgar minhas
histórias e alcançar mais leitores.
Se você quiser ficar por dentro dos meus novos lançamentos e
conteú dos especiais. Para aqueles que gostariam de ler meus livros
antes que o pú blico em geral chegue, confira meu patreon , onde posto
livros capítulo por capítulo com antecedê ncia, bem como prévias e
histó rias escritas exclusivamente para clientes. O pró ximo livro da
histó ria de Devon e Constantine está sendo serializado lá !
Obrigado novamente por se juntar a mim nesta jornada e espero
que você aproveite sua próxima aventura!
Melhor,
Joel
Notes
[←1 ]
Too Much Information, ou seja, Muita informação.
[←2 ]
Atividade Paranormal é uma franquia americana de terror sobrenatural que consiste em
sete filmes e mídia adicional. Dirigido em formato de Pseudodocumentário ou falso
documentário é um gênero de filmes e programas de televisão onde um documentário é
apresentado contendo fatos supostamente reais, mas que são, entretanto, falsos.
[←3 ]
Bobbsey Twins são os personagens principais do que foi, por 75 anos, a mais longa série
de romances infantis americanos do Stratemeyer Syndicate, escrita sob o pseudônimo de
Laura Lee Hope.