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Barbara Elsborg
No momento em que Kell tinha tudo em uma pilha, Marek estava nu.
Kell era alto, mas Marek era um par de centímetros mais alto do que seus
1,95 m e vários anos mais velho. Ele era muito mais forte que Kell, maior,
mais amplo, embora não tão rápido. Geralmente. Dessa vez, Kell mal viu o
cara se mover antes de se ver puxado de volta contra o peito de Marek pela
camisa do cara enrolada em volta de seu pescoço, seu pênis ereto cutucando
a bunda de Kell.
— Você não está duro, disse Marek.
— Yeah, bem, talvez eu não queira ser uma múmia... senhor, ele
engasgou.
Marek riu. Kell sabia que era melhor deixar para lutar em um dia
quando as chances estivessem a seu favor. Ele esperava que isso acontecesse
em breve. Marek o soltou da camisa e o empurrou com força, então ele caiu
de joelhos. Cristo, eu vou ter hematomas também.
Kell levou-o para baixo sem engasgar, sua mente vagando com a ideia
de engolir o cara inteiro, como uma anaconda gigantesca consumindo sua
presa. Marek era a presa de Kell, o cara simplesmente não sabia disso.
Por enquanto, Kell era obrigado a cooperar e fazer tudo o que Marek
queria seja no trabalho ou no lazer. Mas o cara era tóxico, o veneno corria
em suas veias, escorria de seus poros e intoxicava Kell toda vez que eles
estavam juntos. Ele abocanhou as bolas de Marek, tocou seu buraco,
provocou sua fenda com a ponta da língua e empurrava seu próprio pau
para alcançar uma ereção completa ao mesmo tempo, porque se Marek
pensasse que Kell não estava, pelo menos em parte, gostando disso, ele teria
sorte de sair o quarto sem mancar. Marek não costumava bater em seu
rosto. Ele deixava hematomas em outro lugar, mas a bochecha de Kell ainda
doía.
Quando Marek terminou, ele puxou Kell para seus pés e lambeu sua
bochecha com um longo arrasto de sua língua molhada. Kell estremeceu.
Marek lambeu o rosto de Kell - sua versão de limpeza - e Kell teve que
lutar contra o impulso de correr para o banheiro e enfiar a cabeça sob a
torneira de água quente.
Oh, alegria.
Marek empurrou Kell para baixo sobre a cama. — Você tem uma
bunda linda. Parece ainda melhor com meu pau dentro dela. Quer ver? Eu
posso tirar uma foto.
1
Fist fuck ou fisting ou fist fucking é uma prática sexual que envolve a inserção da mão ou
antebraço na vagina ou no ânus.
com você, seu fodido idiota?
Não é algo que Kell já tinha feito, olhar para o próprio buraco e se
Marek forçasse seu punho nele, não iria permanecer apertado.
— Você gosta da ideia disso? Apenas eu. Sem borracha? Marek cuspiu
em sua bunda.
Marek riu, e em seguida ele estava dentro dele e Kell gritou. O filho
da puta era grande. Por um momento, Kell ficou ali como um homem
empalado em um mastro de aço, mal conseguindo se mexer, lutando para
respirar, seu corpo lutando para ejetar, antes de começar a aceitar com
relutância o que fora forçado a ele. Ele viu Marek estender a mão para os
telefones e se encolheu.
Era assim que Kell o mataria, com um grande pênis preto. Mas ele o
enfiaria em sua garganta. Listar as diferentes maneiras que gostaria de
matá-lo. Asfixia. Decapitação. Esvaindo-se em sangue. Marek começou a
dirigir para dentro dele e sabendo o que aconteceria se ele não mostrasse
alguma disposição, Kell começou a empurrar contra ele, levantando seus
quadris em direção ao impulso de Marek. Como diabos o cara poderia
continuar tão duro depois de ter gozado apenas alguns minutos atrás?
Talvez ele tenha tomado alguma coisa. Havia muita coisa à disposição ao
redor do clube para aqueles que queriam obter e manter ereções. Você
poderia morrer de uma overdose de Viagra? Por favor, deixe isso acontecer.
Eu preciso me fazer gozar. Ele não queria. Bem, fazer-se gozar não
era tão difícil, mas sua mente estava constantemente lutando contra isso,
quando ele estava com Marek, e estava ficando mais difícil se obrigar a isso,
não mais fácil. Ele tinha se condicionado a ignorar a dor física, mas tinha
problemas cada vez mais desconfortáveis com a forma como ele se sentia,
sua culpa e auto-repugnância. Seus motivos poderiam ser apoiados por uma
crença em um bem maior, mas estava ficando mais difícil de enxergar isso.
Ele foi muito fundo e estava progressivamente se afogando.
Mas -- Kell tinha um ponto a provar com seu chefe. Um ponto para
provar a si mesmo após o último desastre. Ele poderia obter resultados.
Afinal, isso era algo que ele era bom, fingindo ser alguém que ele não era.
Tinha funcionado na escola quando ele escondeu que era gay até os quinze
anos, e tinha funcionado em casa quando ele escondeu a maior parte de sua
infelicidade de seus pais.
Marek bufou. — Quando faço isso, eu não pago. Você implora por
isso.
Kell balançou a cabeça. Seu outro chefe iria matá-lo por recusar isso.
Kell tentou racionalizar sua recusa. Essa poderia ser a brecha que ele estava
esperando, mas talvez dizer não fizesse com que Marek confiasse mais nele.
Cristo. Como seu chefe iria aceitar isso.
Kell tinha sido escolhido para esta operação porque era gay e o clube
em que ele estava trabalhando era um clube gay. As chances de Kell não ter
relações sexuais eram pequenas, mas nunca haveria nada reconhecido no
papel sobre isso. Kell se sentiu culpado por não estar aproveitando a
oportunidade de obter mais informações, fazendo algo extra para Marek,
mas ele havia prometido a seu amigo de infância Quin que ele iria para sua
festa, e também ele precisava dessa pausa, precisava colocar sua cabeça no
mundo real apenas por pouco tempo. Seria como chegar à superfície para
uma tomada de ar depois de um longo mergulho. Kell quase pôde sentir o
alívio. Trabalhar disfarçado era um campo minado que fodia sua mente, e
ele estava sempre a um sopro de distância do desastre.
Kell não estava sendo gentil. Ele esperava cobrir o rosto de Marek,
encorajá-lo a dormir, então ele teria a chance de bisbilhotar, mas o cara
estava muito alerta. Kell não queria tomar banho e arriscar outra sessão de
foda, então ele vestiu suas roupas. Quando ele saiu do quarto, ele hesitou.
Ele não se sentia confiante o suficiente para vasculhar a sala de estar, mas
podia pelo menos olhar nas gavetas e armários da cozinha enquanto tomava
uma bebida.
Ele encheu a chaleira assim ela demoraria mais tempo para ferver, e
esperou que não encontrasse as xícaras de café cedo demais. O primeiro
armário era o que mantinha as canecas. Ele suspirou e colocou duas delas
sobre o balcão. O café não foi tão facilmente encontrado, mas não havia
nada interessante dentro dos armários. Ele abriu uma gaveta e viu dois
passaportes bordô, um albanês e outro britânico.
Ele deixou cair a colher de volta na gaveta, mas antes que ele pudesse
fechá-la, Marek pegou a arma e segurou-a contra a cabeça de Kell. Kell
parou de respirar. Ele olhou para Marek e esperou. Ele não queria morrer.
Ele particularmente não queria morrer nas mãos desse bastardo, mas a
única coisa que ele não mostraria era o medo.
Kell fez o seu caminho para o elevador tentando manter seu tremor
sob ao controle. Ele tinha certeza que Marek não pretendia usar a arma. Era
muito barulhento, muito confuso. Marek tinha dito que ele o veria no
domingo com uma confiança que sugeria que ele sabia que era quando Kell
estaria de volta ao trabalho. Essa oferta de trabalho tinha sido um teste? Se
Kell tivesse concordado em mudar seus planos, isso o teria feito suspeito?
Kell chamou seu chefe. — Oi, tio Bob. Posso pedir um favor? —
Código para ‘Eu estou bem’.
— Brilhante.
— Eu disse não.
— Isso talvez não seja um problema. Algo que Marek disse me fez
pensar que ele estava me testando, para ver se eu mudaria meus planos.
Desta vez, dizer não foi a coisa certa a fazer.
Lane suspirou. — OK. Você tem que ir com seus instintos. Qualquer
outra coisa?
— Nada significativo.
— Ele não fez nada. Do outro lado da sala, Izabela lutava para entrar
em um cardigã, depois ficou soluçando.
Izabela disse a ele que seu marido tendia a ter ataques de fúria, mas
Gethin não achava que ele seria o objeto de uma delas. Ele nunca imaginou
que ele ficaria cara a cara com o cara. Charlton tinha pelo menos o dobro da
idade de Izabela; um contador calvo e rechonchudo, com o estômago
inchado e caindo sobre o cinto. Ele deveria estar no trabalho, mas havia
chegado em casa e encontrado Gethin com sua jovem e atraente e, agora que
Gethin caiu em si, esposa seminua. Izabela usava um vestido vermelho,
curto, apertado e com um decote muito baixo. O tipo de vestido adequado
para se usar em um clube, não um vestido que a maioria das mulheres
usaria para ficar na casa. Ela foi rápida em vestir o cardigã.
Ele poderia plantar seu punho na boca desse cara, mas havia aquela
arma, um excesso de energia nervosa e um dedo coçando no gatilho. Melhor
pensar em uma saída. Manter seu disfarce manteria ele e Izabela em
segurança enquanto ela permanecesse calma. Ela sentou-se balançando no
sofá, os braços em volta de si, os olhos arregalados.
— Nós não somos casados, disse Charlton. —Mas isso não significa
que ela não é minha.
Tinha que ser a imaginação de Gethin, mas parecia que o cano estava
entrando em seu crânio. Nesse ritmo, não haveria necessidade de atirar
nele. Seria uma novidade para o legista - vítima empalada no cano da arma.
Charlton bufou.
Gethin tinha dito a Izabela para dizer que era o que ele fazia se ela
fosse desafiada, mas se ela não o ajudasse com isso, ele estaria em apuros
porque se não fosse o aniversário de Charlton ou a celebração de algum
grande negócio ou uma celebração para o dia em que ele descobriu o Viagra,
esse cara não iria acreditar nele.
Isso que estava escorrendo em seu rosto era sangue ou suor? Ele não
achava seriamente que Charlton pudesse empurrar o cano através do osso,
mas ele era um cara grande. Maior que Gethin.
Ajude-me aqui e não diga a ele a verdade - seja lá o que for - se você
quiser manter sua sala cuidadosamente livre de sangue. Gethin estava quase
certo de que a última coisa que Izabela iria querer era informar a Charlton
que ela suspeitava que ele a estava traindo, que ela havia contratado Gethin
para descobrir a verdade e também para averiguar o quanto ele valia, caso
ela quisesse se divorciar dele. Só que ela não era casada com ele, então isso
não tinha nada a ver com um acordo de divórcio. Quase como se ela sentisse
o aborrecimento de Gethin, ela chorou mais forte, fungando em um lenço de
papel.
Por que a arma ainda estava pressionada contra sua cabeça? Gethin
se perguntou no que diabos ele tinha tropeçado.
—Eu assumi. Proteger alguém que mentiu para ele era irritante, mas
até que Gethin entendesse o que estava acontecendo ali era isso, ele tinha
que ter cuidado.
— Abaixe a arma, Brian, disse Izabela. — Por favor.
— Não, eu pago. A dor em sua voz soou genuína, mas Gethin não ia
acreditar em outra palavra que saísse de sua boca novamente.
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fornecemos aquecedores, mas pode ter uma fogueira para sentar ao redor
também.
Graças a Deus ele ouviu Angel falar sobre eles. Gethin não era um
bom orador, mas ele pensou que poderia ter convencido Charlton.
Charlton zombou. —Eu pensei que você não gostasse dos vizinhos.
Você disse que eles empinam o nariz para você.
— Party Solutions.
— Sim nós temos. Receio que Rhys não esteja no escritório agora.
Existe alguma coisa no qual eu possa ajudá-lo?
— Como ele é?
Houve uma pausa antes que Tilda falasse. — O que está acontecendo?
Você tem um problema? Rhys está bem? Ele sofreu um acidente?
— Posso pegar o seu número e pedir-lhe para ligar para você? Seu
tom tinha se tornado plano e, sua voz perdeu um pouco do sotaque elegante
que ela geralmente assumia e se aproximou mais do seu sotaque real de
Essex.
— Você não sabe onde ele está? Charlton franziu o cenho enquanto
olhava para Gethin.
—Sim, eu sei onde ele está. Bem, eu sei onde ele me disse que estava
indo esta manhã para ver um cliente, mas eu tenho que manter a
confidencialidade. Somos especializados em festas surpresa. Eu não tenho
ideia de quem você é. Eu não estou...-
— Entre em contato com ele agora, Charlton ladrou. — Diga a ele para
ligar para Izabela.
— Sim, obrigada.
Agora Gethin estava dividido. Izabela mentiu para ele. Charlton tinha
reagido exageradamente. Com uma maldita arma. Gethin ficou chocado e
tinha congelado quando o cara puxou a arma. Aqui era o Reino Unido não os
EUA. Era ilegal manter armas em casa. E por que ter uma arma e não
carregá-la? Assumindo que estava descarregada mesmo. Por que ele
precisava de uma arma? Por que ele estava tão desconfiado? Por que Izabela
mentiu sobre ser sua esposa? Gethin pensou que ele já havia descoberto
parte disso. Porque ela queria saber o que estava no computador de
Charlton e inventou uma história para convencer Gethin a fazer algo ilegal.
— Desculpe, disse Charlton. — Mas você pode ver como isso parecia.
Ela me perguntou várias vezes se eu ia sair, então quando volto para casa eu
a encontro com um cara bonito.
Gethin não tinha terminado com este idiota, mas era hora de sair.
No caminho de volta para seu carro, ele fez verificações sutis ao seu
redor para o caso de Charlton ter mandado alguém segui-lo, mas não havia
ninguém por perto. No entanto, alguém deveria estar vigiando a casa para
Charlton saber que ele estava lá. Ou havia alguma câmera que Izabela não
sabia e que Gethin não tinha percebido? Um vizinho intrometido? Eu nunca
deveria ter vindo até a casa. Se Gethin não tivesse convencido que Charlton
realmente tinha acreditado nele sobre o planejamento da festa, ele não teria
deixado Izabela sozinha com ele. Mas ele ainda estava preocupado.
Ele não tinha certeza da próxima jogada neste jogo. Izabela não ia
contar a verdade a Charlton, mas um cara paranoico poderia descobrir que
Gethin esteve em seu computador. Gethin não tinha certeza se deveria ficar
de boca fechada sobre isso. Cristo, o cara era louco. Você não pode
simplesmente sacar uma arma e ameaçar atirar em alguém.
Mas isso era diferente, dissera seu chefe, embora ainda dissesse a Kell
que não fosse longe demais. Kell se perguntou como isso era diferente. Além
do fato de que Kell não engravidaria ninguém e nem seria engravidado, as
pessoas que trabalhavam para Warner eram muito mais perigosas que os
amantes de árvores. De qualquer forma, era Warner que Kell estava
investigando, não Marek. Warner estava em caras muito mais jovens.
Cadela. Ela não era tão ruim quanto seu irmão, mas os dois eram
bem adequados um ao outro. Idiotas pomposos.
Kell pegou sua bolsa e saiu. Ele não via muito seus sobrinhos de
cinco anos de idade porque ele era nunca era convidado para a casa de seu
irmão. Ele sempre tinha que ligar para programar uma merda de visita,
embora Kell não se importasse muito, porque qualquer tempo gasto com seu
irmão era uma tortura. Kell sempre levara presentes de aniversário e de
Natal para seus sobrinhos e nunca recusara a chance de vê-los quando
estavam na casa de seu pai. Oliver raramente tentava alguma besteira lá.
Kell não deveria realmente chegar muito perto de sua família enquanto
estivesse trabalhando disfarçado, mas comprar presentes para os meninos
era sua tentativa patética de mostrar a Oliver que ele não estava magoado
pelo modo como seu irmão o tratava.
****
Uma vez que Kell entrou na loja de brinquedos, ele foi dominado pela
escolha, indeciso quanto a comprar ou não aos meninos a mesma coisa. Ele
não os conhecia bem o suficiente para ter certeza do que eles gostariam.
Lego parecia uma boa opção e ele escolheu dois conjuntos diferentes de Star
Wars, caixas grandes, e depois acrescentou outro para dar a Quin como uma
piada. O que ele poderia comprar para um cara que tinha tudo? Os gêmeos
não tinham idade suficiente para o Lego, o que ele esperava que significasse
que eles ainda não o tinham ainda, e mais o bônus adicional de Oliver ter
que ajudá-los a construí-lo, o que o incomodaria, apesar de ele amar seus
filhos. Kell pagou extra para ter tudo embrulhado e escreveu três cartões de
aniversário.
Seu telefone tocou quando ele saiu da loja e quando viu quem estava
ligando, suspirou. — Oi, Lyndsay.
Se ele pedisse a Oliver para fazer isso, Kell teria sido cercado por
mensagens e textos, mas ele não ligaria para Oliver. Se ele tivesse a chance,
ele se certificaria de que Lyndsay tivesse feito o que ele pediu. A última coisa
que ele precisava era que Marek checasse seu histórico de chamadas. Kell
dirigiu-se para um café do outro lado da rua. Ele poderia muito bem obter
algo para comer enquanto ele esperava.
Quando Kell viu o carro de seu irmão estacionado do lado de fora da
elegante casa georgiana, sua casa em Londres, ele xingou baixinho. Não
queria que Oliver estivesse lá. Ele realmente esperava não encontrá-lo, mas
quando Kell tocou a campainha foi Oliver quem atendeu.
— Bem.
Mas ela não podia. Kell baixou a bolsa e tirou dois conjuntos de Lego
e cartões do grande suporte de plástico. —Desculpe, estou atrasado com os
presentes.
— Eles pensaram que você tinha esquecido, Oliver disse sobre seu
ombro. — Que porcaria você comprou para eles?
— Algo que vai mantê-los ocupados. Kell gastara mais do que podia
com seu salário atual. Ele não tinha acesso ao seu salário da polícia até que
esse trabalho estivesse terminado.
— Meu pai tentou ligar para você, Oliver disse, — mas seu número foi
desconectado.
Kell perguntou. Não que ele quisesse um, mas ele definitivamente
precisava se apossar do telefone de Lyndsay. Ele se arrependeu de ter ligado
para ela. Ele deveria ter encontrado outro jeito de levar os presentes para os
meninos.
Oliver chupou as bochechas, mas saiu com as caixas. Kell foi direto
para a cafeteira, distraiu Lyndsay com um comentário sobre uma marca no
chão e enfiou o telefone no bolso.
****
— Eu sinto muito. Meu Deus. Eu não tinha ideia de que ele tinha uma
arma.
Ele foi trabalhar. Ele prometeu me levar para sair hoje à noite para
compensar por ter estragado a surpresa. Você pode voltar aqui com a
informação que você tirou do computador?
—Eu pensei que você não iria querer me ajudar se você soubesse que
eu era apenas sua namorada.
Ela terminou a ligação e sorriu para ele. — Yum. Então eu fiz bem
com o bat fone?
— Você fez bem, obrigado. Esse homem pode ligar novamente. Se ele
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Metro é um tabloide grátis disponível em partes do Reino Unido, publicado pela
Associated Newspapers, parte da Daily Mail and General Trust
fizer isso, use a voz que você usou antes, peça o número dele e diga que você
vai me dar o recado para entrar em contato com ele. Em nenhuma
circunstância diga onde é o escritório. Qualquer dúvida, você corta a
chamada, desligue o telefone e entre em contato comigo de outro telefone.
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As You Like It (publicado em português como Como Gostas ou Como lhe Aproveitar) é
uma peça teatral do dramaturgo inglês William Shakespeare. Acredita-se que tenha sido escrita
entre 1599 e o início de 1606. É classificada diversas vezes como uma das comédias shakespearianas mais
maduras.
5
— Cheio de pensamentos tristes e problemas? Angel se sentou em
sua cadeira.
— Macbeth?
Gethin olhou. Jonnie estava fora dos limites e Angel sabia disso.
— Vamos tentar uma pergunta mais fácil, disse Angel, com o rosto
cheio de emoção. — Por que você exigiu as habilidades de atuação duvidosa
de Tilda?
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Henrique VIII é uma peça histórica colaborativa escrita por William Shakespeare e John
Fletcher baseada na vida do Rei Henrique VIII da Inglaterra.
Tilda entrou com café e dois biscoitos digestivos de chocolate7. Angel
olhou para os biscoitos e choramingou.
7
Um biscoito digestivo, às vezes descrito como um biscoito de farinha doce, é um
biscoito semi-doce que se originou na Escócia e é popular em todo o mundo. O digestivo foi desenvolvido
pela primeira vez em 1839 por dois médicos escoceses para auxiliar a digestão em um local chamado Logie
Steading in Forres. O termo "digestivo" é derivado da crença de que eles tinham propriedades antiácidas
devido ao uso de bicarbonato de sódio quando foram desenvolvidos pela primeira vez. Historicamente,
alguns produtores usavam extrato de malte diastásico para "digerir" parte do amido que existia na farinha
antes do cozimento.
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Macaroon é um pequeno biscoito, normalmente feito de amêndoas moídas, coco e/ou outras
nozes ou até mesmo de batata, com açúcar e, às vezes, flavorizantes, corante alimentar, cerejas
cristalizadas, geleia e/ou cobertura de chocolate. Algumas receitas usam leite condensado.
— Estou bem.
— Lado errado.
9
The Tempest é uma peça teatral do dramaturgo inglês William Shakespeare, que acredita-se ter
sido escrita entre 1610 e 1611, e tida como muitos críticos como a última peça escrita pelo autor.
semanas de aluguel.
O dinheiro era tentador. Gethin não seria pago pelo fiasco desta
manhã, mas ele estaria ocupado no sábado à noite. Ele estava ocupado todo
sábado à noite e Angel sabia disso.
— Eu não posso.
Gethin pensou sobre o que ele teria que fazer no sábado, o quanto ele
temia, e sabia que Angel tinha acabado de lhe oferecer uma desculpa
legítima. Trabalho. Jonnie entenderia.
— Desculpe. Não.
— Eu não posso. Gethin lamentou ter falado sobre Jonnie para Angel.
Não que ele tivesse realmente dito a ele. Angel tinha escutado uma de suas
ligações, então assumiu que ele sabia de tudo quando, na verdade, não sabia
praticamente nada.
Angel olhou para ele. — Tilda ajudou você hoje. Agora eu preciso que
você me ajude ou talvez esse telefone não seja respondido da próxima vez.
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forma da pilha de lápis, mas no caso do livro, os lápis são todos de escrever, não para
colorir.
que precisavam ser separados, e do outro lado da sala havia outra mesa com
mais dois computadores, uma impressora e coisas aleatórias que ele deveria
colocar em algum tipo de ordem e que ele provavelmente não faria. Sua
inclinação para arrumar qualquer coisa que não fosse importante
desaparecia quase no mesmo instante em que aparecia.
Seu telefone tocou e ele o puxou do bolso, supondo que seria ela
pedindo o cartão de memória novamente. Mas era um número
desconhecido.
Gethin não reconheceu a voz da mulher, mas isso não significava que
ela não fosse amiga de Izabela, ou inimiga dela.
Gethin se sentiu culpado por seu suspiro de alívio que ele não estava
ouvindo alguém o ameaçando sobre o cartão de memória. Ele empurrou em
seu laptop e iniciou uma verificação de vírus.
— Diz no seu anúncio o quanto você cobra. Não são muitos que fazem
isso. Quarenta libras por hora, certo?
— Tudo bem. Eu posso pagar por quatro horas. Talvez mais, se você
precisar.
Gethin engoliu seu gemido. Seria este outro caso que ele acabaria não
cobrando? — Quantos anos tem seu filho?
— Dezessete anos.
— A polícia...
— São inúteis. Eles não fazem nada. Por favor. Eu preciso de ajuda.
Eu preciso de alguém para procurá-lo. Ela começou a chorar e Gethin
estremeceu.
—Obrigado.
Gethin abaixou o celular e olhou para a tela de seu laptop. Sem vírus.
Ele tinha programas de alto nível para manter seu computador seguro, mas
ele ainda estava aliviado por não ver problemas. Ele copiou o conteúdo do
cartão para a máquina e para outro dispositivo de armazenamento por via
das dúvidas, sua mente já se concentrando em pensamentos sobre o menino
desaparecido.
Enquanto ele estava olhando fotos, ele procurou por uma de Izabela,
inserindo os detalhes de Brian Charlton. Ele encontrou uma foto dos dois
em um evento de caridade. Gethin tirou uma foto com o celular. Ele não
conseguiu encontrar nada sobre Izabela. Sem o sobrenome, havia muito
pouco que ele poderia fazer.
Gethin clicou para abrir o arquivo que ele criara a partir dos dados de
computador de Charlton. Ele copiou tudo: documentos, fotos, vídeos,
planilhas do Excel, e-mails e o conteúdo da lixeira. Ele tinha coberto seus
rastros bem o suficiente para que o cara nunca descobrisse, mas Gethin
sabia que ele poderia. Não importa quão bom hacker você fosse, sempre
havia alguém melhor. Ele abriu as planilhas e trabalhou na decodificação da
última que Charlton havia fechado. Quando ele viu listas de contas bancárias
e quantias de dinheiro sendo movimentadas, ele gemeu. Isso não parecia
legal, embora o cara fosse um contador.
11
O Computer Misuse Act 1990 é uma lei do Parlamento do Reino Unido, introduzida em
parte em resposta à decisão de R v Gold & Schifreen 1 AC 1063. Essa Lei torna ilegal acessar ou alterar os
dados em um computador ou outro dispositivo (conforme especificado por uma atualização da lei em 2005
para uma ampla gama de dispositivos) sem a autorização do proprietário do dispositivo ou de dados. É
frequentemente usado como um meio de onerar hackers e criminosos cibernéticos quando eles entram em
um sistema de computador ou rede e roubam, criptografam ou alteram dados no terminal.
caberia a um juiz decidir se o que ele havia descoberto dessa forma poderia
ser excluído porque fora obtido de forma injusta. O caso todo, supondo que
houvesse um, poderia desmoronar.
Gethin rangeu os dentes. Ele tinha sido avisado sobre isso no curso
de treinamento, que mais e mais PIs estavam recebendo informações de
computadores, principalmente ilegalmente. Era uma coisa que Gethin fazia
bem. Ele pensou que hackear para ajudar as pessoas seria uma coisa boa.
Agora ele desejava que não tivesse feito isso. No momento, ele estava
razoavelmente certo de que Charlton não suspeitava de nada o que lhe dava
tempo para pensar em como lidaria com isso.
— Se Brian descobre o que fizemos, estou com medo de que ele faça
algo estúpido. Basta trazer o cartão de memória e eu pagarei você.
— Por que você está fazendo um estardalhaço sobre isso? Ela gritou.
— Duzentas libras a mais se você trouxer isso de volta agora.
Zena Hoehn abriu a porta antes que ele pudesse alcançá-la. Ela era
uma loira pequena em seus trinta e tantos anos. Os anéis escuros sob seus
olhos e seus dedos agitados traíram sua ansiedade.
Ela conduziu Gethin a uma sala arrumada e lhe deu uma foto de
Dieter. Era melhor do que a que Gethin tinha baixado, então ele tirou uma
foto com o telefone e devolveu-a.
— Garoto bonito.
Ela tomou uma respiração trêmula. — Ele é. Muito parecido com seu
pai, mas não no temperamento.
— Seis semanas atrás, Dieter saiu para ir a escola, mas nunca chegou
lá. Foi só quando ele não chegou em casa que eu descobri que ele havia pego
uma bolsa de roupas e seus artigos de higiene, mas deixou o telefone e as
chaves. Eu chamei a polícia. Verificaram hospitais locais e contataram forças
policiais vizinhas, mas não conseguiram encontrá-lo.
Falei com todos os seus amigos e entrei em contato com meu ex-
marido que mora em Manchester, mas Mike não o tinha visto. Fui a todos os
lugares que achei que Dieter pudesse estar. Eu presumi que a polícia
continuaria procurando, mas eles não. Ela rangeu os dentes. — Eles me
fizeram sentir como se fosse minha culpa que ele tivesse ido embora, que ele
estivesse fugindo de mim. Mas ele não tinha razão para isso. Nós sempre
nos demos bem. Uma vez que entendi que a polícia não estava fazendo mais
nada para encontrá-lo, procurei um investigador particular.
Ela colocou tudo para fora: tudo que se lembrava, fato e teoria.
Gethin selecionou entre a torrente de informações e fez anotações. Detalhes
sobre cicatrizes, apelidos, hobbies, medalhas de ginástica que Dieter
ganhou, histórico médico, lugares que ele gostava de visitar, estrelas pop que
seguia, filmes que assistiu, livros que ele leu, números de contato para a
família, sua escola e os amigos da escola.
Gethin estava no limiar e correu seu olhar sobre tudo, tendo uma
impressão do garoto antes dele entrar. Sua mãe ficou observando. Ele fez
perguntas enquanto passava pelas gavetas, verificou embaixo delas e olhou
para o guarda-roupa, observando o que Dieter não havia tirado. Ele
examinou lugares onde ele teria escondido coisas se este fosse o seu quarto,
mas não encontrou nada.
Ela parecia mortificada por não ter pensado em perguntar, mas ele só
queria que ela saísse do caminho enquanto ele verificava o computador, e
desse uma rápida olhada nos outros quartos. No momento em que ela voltou
com a bebida, Gethin tinha visto o que ele precisava.
Sua mãe insistia que não sabia por que ele fugira e Gethin estava
inclinado a acreditar nela. Ele não podia deixar de desejar que tivesse tido
alguém que o amasse tanto quando tinha dezessete anos. Ele pediu para ela
telefonar para o melhor amigo de Dieter, Sam, e empurrar Sam para
encontrá-lo no McDonalds depois da escola. Gethin preencheu o tempo até
então, conversando com vizinhos e lojistas locais, mostrando-lhes a foto de
Dieter e fazendo perguntas que suspeitava já terem sido respondidas antes.
Gethin já sabia como era Sam a partir de uma foto que Zena lhe
mostrara. Uma versão mais baixa e gorda de Dieter. Ele acenou para o
menino quando ele entrou. Gethin tinha escolhido McDonalds porque não
era ameaçador, mas Sam parecia petrificado. Comprar-lhe um hambúrguer
e batatas fritas não tirou o medo do rosto dele.
— Sim.
— Você tem alguma idéia de para onde ele pode ter ido?
— Não.
Gethin se recostou em seu assento e deu uma mordida em seu
hambúrguer. — Diga-me o que vocês costumavam fazer juntos, que tipo de
amigo ele é, como é na escola. Ele é mais inteligente que você?
— Não.
— Eu sei que ele deve ter tido suas razões para ir embora e eu nunca
tentaria persuadi-lo a voltar para casa, se ele não quisesse, mas eu preciso
ser capaz de dizer a ela que ele está seguro.
Gethin achou que ele estava dizendo a verdade sobre isso. — Conte-
me sobre ele, o que ele gosta, o que vocês dois fizeram juntos.
Por uma fração de segundo, quando ela abriu, ele viu a luz brilhar em
seus olhos antes que desaparecesse novamente. Ele achava que toda vez que
alguém batia na porta, ela esperava que fosse seu filho.
— Essa não foi a razão pela qual ele foi embora. Nós conversamos
sobre isso há alguns anos atrás. Ele sabe que estou bem com isso. Eu sei que
Sam é gay também, mas ele não contou a seus pais. Eu não acho que ele e
Dieter estavam um com o outro. Eles eram apenas bons amigos.
Ele conseguiu um sorriso. Candy era tão grande que não haveria
espaço para ele na moto, ou ele já poderia tê-la surpreendido e oferecido
uma carona. Parecia incongruente ter alguém que sempre estava feliz e
sorridente trabalhando em um lugar onde as pessoas estavam lutando para
sobreviver, mas talvez ela fosse um lembrete para os visitantes de que a vida
continua.
— Eu não estou atrasado. Ele nem sequer deveria vir, mas não havia
sentido em contar isso a Jonnie.
— Mas sim eu trouxe, seu tirano. Você tem que beber agora para que
eu possa levar a lata embora.
— Isso é ótimo.
— Melhorando.
Isso não era verdade. Havia uma equipe de terapeutas que o ajudava
em todas as áreas: física, fala, recreativa, ocupacional. Um programa foi
elaborado para atender às necessidades e habilidades de Jonnie. Metas
realistas foram estabelecidas, mas Jonnie se recusou a aceitar que esse era o
seu futuro. Gethin sabia que ele sentiria o mesmo. Como alguém poderia
aceitar isso depois de voar tão alto? O estrelato havia apenas lhe acenado e
então foi levado de volta por um momento de estupidez. Não apenas de
Jonnie.
— Eu venho.
— Só você.
— Venha depois.
— Será muito tarde.
— Não.
— Por favor.
****
Toda vez que ele pensava que tinha visto tudo, ele descobria que não
tinha tirado fotos para provar, embora nem sempre revelasse tudo o que
sabia para seu cliente. Algumas pessoas podem aceitar toda a verdade,
outras não. Ele sabia que a vida dos envolvidos já havia sido destruída pela
suspeita, se não por outras traições antes de se aproximarem de um detetive
particular, mas isso não o fazia se sentir mais indulgente consigo mesmo.
Dizer a alguém que eles estavam certos, que a esposa deles realmente estava
sendo infiel, sempre o fazia se sentir mal.
Às vezes ele se perguntava se havia qualquer parte de seu trabalho
que ele gostasse. Encontrar pessoas desaparecidas? Sim, mas isso não
acontecia com frequência porque os desaparecidos geralmente tinham um
motivo para desaparecer e não tinham intenção de voltar para casa. O
melhor que Gethin poderia fazer era provar que eles ainda estavam vivos.
Ele fez isso uma vez e não conseguiu encontrar nenhum vestígio em três
outros casos. Ele não tinha muita esperança de encontrar Dieter.
Jonnie oscilava entre pensar que ele ia melhorar, que ele e Gethin
viveriam felizes para sempre e aceitar que isso era toda a vida que ele
poderia ter e desejando estar morto. Ele estava sempre reclamando que
Gethin não tinha ido vê-lo, simplesmente porque ele havia esquecido que
Gethin tinha vindo. Gethin desejou que Jonnie pudesse esquecê-lo, desejou
estar livre dele, mas eles estavam amarrados pela consciência de Gethin e
pela memória defeituosa de Jonnie.
Gethin sabia que ele era um idiota. Ele nem era um bom homem
porque ele não agia por altruísmo. Não era um desejo altruísta de ajudar
alguém pior do que ele, mas um dever assumido por obrigação e culpa.
Quando Jonnie estava no hospital, ligado em um ventilador, Gethin
esperava que seu amigo morresse antes de entender a extensão do
ferimento. Mas ele não tinha. Jonnie poderia viver tanto quanto Gethin.
Sempre que Gethin desejava que Jonnie morresse em seu sono, ele ficava
aleijado pelo remorso. Só porque ele não achava que a vida em uma cadeira
de rodas, paralisado do pescoço para baixo, era uma vida que valesse a pena,
não significava que ele tinha o direito de escolher por Jonnie.
Mas Jonnie começou a pedir a ele para matá-lo. Pelo menos ele não
tinha feito isso hoje à noite. Apenas desejado que ele estivesse morto. Gethin
não podia matá-lo, e ainda assim ele era hipócrita o suficiente para esperar
que alguém fizesse isso por ele se estivesse na situação de Jonnie. Cristo,
que bagunça da porra.
****
13
Bando de estorninhos no píer em Brighton.
aglutinou na imensa massa em espiral chamada murmuração14. Milhares de
estorninhos voaram, planaram e revoaram pelo ar, nuvens negras girando
de pássaros se transformando em formas estranhas, transformando-se em
criaturas alienígenas no crepúsculo. Kell achava um milagre que nenhum
deles colidisse um com o outro. Quando ele era menino, ele costumava
esperar ver alguns pássaros caindo no mar, mas eles nunca o fizeram. Como
cardumes de peixes, eles pareciam instintivamente se ajustar ao movimento
daqueles ao redor deles, então parecia que eles eram um enorme monstro
constantemente em mutação.
14
dança aérea dos estorninhos.
Gethin acordou com um sobressalto, registrou que estava em uma
cama quente e confortável, sem pintura descascada nas paredes, nenhum
barulho de tráfego lá fora e suspirou de prazer. O momento de satisfação foi
fugaz. Ele era um idiota por ter vindo ontem à noite. Ele gastou dinheiro
para uma cama e café da manhã quando poderia ter ficado em Deptford e
descido esta manhã. Embora ele tivesse assistido a uma exibição
deslumbrante de milhares de pássaros e dormido bem, então talvez valesse a
pena. Ele checou o relógio, depois rolou para fora da cama e vestiu o
equipamento de exercício. Ele tinha tempo para uma corrida antes que a
senhoria deixasse de servir o café da manhã.
Mal estava claro quando ele passou pela porta. Ele fez alguns
alongamentos, aquecendo seus músculos, depois se dirigiu para a beira-mar,
ansioso para correr em algum lugar diferente. Corria a maioria das manhãs,
geralmente usava a mesma rota, atravessando Deptford Creek, descendo até
o rio e ao longo do Tâmisa na direção do Domo. Quando a rota se afastava
da água, ele invertia a viagem, às vezes parando para um café em Greenwich.
Estaria Dieter perdido para sempre? Gethin teria que dizer a outro
pai que tinha falhado?
****
Quando o telefone de Gethin vibrou mais uma vez, ele sentiu vontade
de jogar o filho da puta no chão e bater nele. Podia não ser Jonnie, mas
desde que as últimas cinco chamadas tinham sido todas dele, Gethin
suspeitou que essa também fosse.
15
Rare beef é o nome que é dado a uma das formas em que a carne é servida. Nós conhecemos o rare
beef como o nosso querido bife mal passado, vermelho e suculento por dentro.
—Eu disse a você que eu terminaria muito tarde aqui.
—Quão tarde?
— Pela lei das estatíticas, um dia você teria que acertar. Sim, foi. Ele
cutucou Gethin para o lado e refez sua gravata borboleta. —Por favor, sorria.
— Isso é uma festa. Você vai estragar tudo, disse Gethin em voz baixa.
— Você precisa se acalmar. Ele continuou tentanto colocar algum bom senso
nele e quando o sentiu relaxar um pouco, ele relaxou também. Mesmo
enquanto falava, Gethin estava ciente do que estava acontecendo ao seu
redor, o homem menor estava sendo cuidado, não era mais uma ameaça, se
é que ele tivesse sido uma em algum momento. Gethin levou o sujeito maior
para longe da entrada do castelo e quando ele olhou para trás, viu que todos,
menos um cara, tinham voltado para dentro.
Gethin o soltou.
O homem riu e jogou o braço sobre o ombro de Kell. Uma vez que ele
tinha certeza de que a luta não ia recomeçar, Gethin passou pelo par e voltou
para a cozinha. Ele pegou outra bandeja, desta vez de peixe e batatas fritas
em miniatura em cones de papel. Ele inclinou o conteúdo de um em sua
boca e jogou o papel de lado.
— Sirva-os, não coma-os. Angel apareceu do nada. — Você vai foder
com meus cálculos.
Quando ele encheu a bandeja com copos vazios, ele voltou para
buscar mais champanhe. Não apenas qualquer champanhe. Este material foi
quase cem libras uma garrafa. Nenhuma despesa foi poupada para esta festa
de aniversário de trinta anos. Mas então para um menino que cresceu em
um castelo e provavelmente era herdeiro do trono se noventa ou mais
morressem à sua frente... bem, Gethin supôs que era isso que se esperava.
Enquanto o seu trigésimo tinha passado despercebido.
Quando Gethin se virou para encará-lo, Angel fez pose e agitou seus
cílios. Gethin riu, deixando de lado sua depressão.
Gethin sabia que Angel não estava falando sério. O parceiro de Angel,
Henry, era o amor de sua vida e não poderia ter sido mais diferente de
Angel. Angel falava como uma velha rainha, mas se comportava como um
adolescente hiperativo com TOC. Ele era uma força da natureza que havia
transformado favores para amigos em uma empresa próspera que se tornara
uma grande participante no negócio de planejar e organizar festas de luxo.
— Uma foda então. Você certamente não recusaria uma coisa assim.
Se Henry não fosse tão insanamente ciumento eu ofereceria meus serviços.
— É bondade sua.
— Sim.
Gethin sabia que Angel estava brincando, sabia que ele não deveria
reagir, mas esse comentário tinha batido muito perto de casa. Não que ele
não pudesse ter uma ereção, ele simplesmente não teve ninguém para usar
uma, isso se ele não contasse sua mão.
— Mãe pensa que você a está evitando, Quin surgiu em seu ombro.
Kell estremeceu. — Eu não quero ver o rosto dela cair quando ela
perguntar o que estou fazendo.
Mas quanto mais ele observava o garçom, mais rápido seu coração
batia. Meu tipo. Bem, o tipo dele assumindo que o garçom fosse gay. Kell
deu uma risada silenciosa. O cara não parecia ou não era gay, mas Kell não
gostava em caras afeminados, não para foder. Eles frequentemente eram os
melhores amigos, eram divertidos, o faziam rir, mas ele gostava de sexo com
caras duros que podiam ser confundidos com caras retos, o tipo de cara que
ele tinha que controlar. Como Marek me controla. Kell tentou tirar o filho
da puta da cabeça e se concentrar no garçom. Mesmo que esse cara fosse
gay, isso não significa que ele gostasse de ser fodido duro ou mesmo fodido
de alguma forma. E Kell não perderia tempo tentando persuadir um cara
hetero a ir para a cama, por mais fisicamente atraente que ele pudesse ser.
— Terra para Kell. Jenny, que se sentou ao lado dele, tocou na mão
de Kell e ele se virou. — Em quais atividades você se inscreveu?
— Sim, senhor.
Essa ênfase insolente fez o pênis de Kell ficar duro e o sorriso que o
acompanhava, fez Kell pensar que o cara era gay. Kell não perdeu a ironia de
que estava interessado em alguém pela mesma razão que Marek estava
interessado nele. Ele chamava Marek de senhor, mas não porque queria,
mas ele queria ouvir essa palavra nos lábios desse cara.
Depois que o garçom foi embora, Kell ficou tempo suficiente para não
parecer óbvio, então pegou sua jaqueta e o seguiu. Seu pênis já estava duro,
seu estômago revirando em antecipação. Ele viu o cara correndo ao redor do
lado do castelo, na direção oposta da cozinha, e Kell foi atrás dele. Quando
ele virou a esquina, não havia ninguém lá. Mal teve tempo de registrar que
cometera um erro e a decepção se instalar em seu estômago, quando se viu
sendo empurrado para trás de uma seção da parede de sustentação, de
costas para a parede de pedra, o paletó caindo dos dedos quando um braço
apertou sua garganta. Cristo, de onde você veio?
— Por quê?
— Estamos conversando?
— Eu quero foder você. Kell via pouco sentido em não ser aberto
sobre isso. Ou conseguiria o que queria ou não.
Quando ele chegou para puxar o cara para mais perto, ele se viu
segurando o ar e piscou em estado de choque. O garçom de repente parecia
um predador pronto para comer seu jantar e isso excitou Kell ainda mais.
Depois de uma breve luta, Kell inverteu as posições e imobilizou o garçom.
O cara soltou uma risada silenciosa. —Eu não tenho tempo para
brincar. Eu deveria estar trabalhando.
— Completamente natural.
Cristo, ele é realmente lindo. E não uma presa fácil. O que era bom e
ruim. Kell poderia se comportar como uma puta com Marek, mas isso era
tudo fingimento. Isso tornava ainda mais importante para Kell que, quando
ele escolhesse foder alguém, ele fosse fiel a si mesmo. Ele era dominante
demais para aceitar facilmente outro alfa, ainda que uma parte dele não
parecesse estar muito preocupada, que este não era um cara que o chamaria
de senhor.
O cara deu um breve sorriso. — Você acha que é tão quente que pode
ter quem você quer?
— Você não pode me deixar ainda. Nós não tivemos a chance de fazer
nada. O cara flexionou sua pélvis, seus pênis esfregaram juntos e ambos
grunhiram.
— Por que mudar? Estamos fora de vista aqui e você não parece o
tipo de lençol de seda. Mas suponho que possa haver um cavalo brincalhão
ou um poeta beligerante com quem você possa colidir para machucar sua
outra bochecha.
— Sim, há muitos cavalos brincalhões por aí. Então você foi atingido
ou vai inventar outra coisa especial para mim?
— Um punho.
— Ele vai. Kell vivia para o dia em que Marek finalmente fosse para a
cadeia. — E você? Como conseguiu essa marca na testa?
Kell riu. Havia muitas razões pelas quais eles não deveriam estar
fazendo isso do lado de fora, mas quando o cara balançou contra ele,
empurrando seus pênis juntos, a capacidade de Kell de pensar vacilou, então
falhou. Eles trocaram de posição de novo, Kell girando o cara, estendendo a
mão para abrir a gravata borboleta, o colete, a camisa e aquelas calças
apertadas e pretas. Ele engoliu em seco - duas vezes - quando registrou a
falta de roupas íntimas. Outro gole quando sentiu o calor do pau do cara
contra seus dedos, a dureza dele. Longo e sem cortes. Deus, como ele é
grande. E ele se barbeia ali também. Kell puxou a calça dele para baixo e
deixou que o polegar roçasse a cabeça sensível, espalhando o pré-sêmen
vazando de sua fenda. Ele foi recompensado com uma respiração ofegante e
com quadris arqueando-se em direção aos seus.
Desta vez quando ele virou o garçom, o cara permitiu. Kell gemeu ao
ver um traseiro tão perfeito. Era liso, firme e elegante, com covinhas nas
laterais, e a tentação de afundar os dentes nela quase fez seus joelhos
cederem.
— Er... obrigado.
Kell riu. — Era para eu apenas ter pensado isso, não falando em voz
alta. Ele dobrou os joelhos e deslizou seu pênis para cima e para baixo na
dobra da bunda do cara, o pré-sêmen facilitando seu caminho enquanto Kell
empurrava com força contra ele. Kell enfiou as mãos por baixo da camisa e
por baixo dos braços do rapaz e finalmente conseguiu espalhar as palmas
das mãos sobre a forma arredondada de seus peitorais então, pequenos e
delicados mamilos enrugados cutucaram o centro de suas mãos.
Kell não tinha certeza do que isso significava. Ele estava muito
confuso com a luxúria para raciocinar sobre isso. Ele flexionou os quadris
para pressionar mais forte contra o traseiro perfeito e mordeu através do
material no ombro do homem, o que trouxe uma maldição abafada e um
enrijecimento do corpo no qual ele estava encostado. Necessidade correu
pelas veias de Kell. Quando ele seguiu o garçom, planejando transar com ele
- supondo que o cara concordasse, Kell achou que a esta hora ele já teria
gozado e voltado para a festa, no entanto, ao invés disso ele queria fazer isso
durar o que era loucura. Alguém poderia aparecer ali naquele canto a
qualquer momento. Ele sabia que era melhor não correr esse risco, mas ele
não podia negar que isso aumentasse a emoção.
Ele estava tão fodidamente duro que doía, mas o tempo todo, sua
cabeça ainda continuava pensando. Apresse-se antes que alguém passe por
aquele canto.
Kell estremeceu quando ele deslizou seu pau para cima e para baixo
na abertura da bunda do cara, parando em seu buraco, cutucando não
empurrando, ignorando suas bolas em gritando em protesto. A dor era doce.
Não vai caber. Faça isso. Muito grande. Faça isso. Cai fora. Faça
isso. Me deixe sozinho. Mudei de ideia. Porra, faça isso!
Mas ele não disse nada, não emitiu nenhum som e não se moveu
quando a cabeça arredondada parou de deslizar e se alojou contra o que
definitivamente eram músculos altamente relutantes. Em seguida, seguiu
cutucando, pressionando, pedindo-lhes para parar de resistir. Boa sorte
com isso.
O toque em sua próstata quando Kell empurrou tudo para dentro fez
o mundo de Gethin mergulhar na escuridão antes de ver as estrelas
explodirem. Oh Deus, Deus, Deus, Deus.
— Você está bem? O cara perguntou em um tom que dizia que ele
sabia que Gethin não estava.
Gethin mereceu o soco que ele recebeu em troca. Ele deveria ter ido
embora, mas não o fez. Ele agarrou a camisa aberta do sujeito e então eles
estavam brigando, com os punhos cerrados, os músculos tensos enquanto
trocavam golpes sem entusiasmo antes de abraçarem um ao outro, cabeças
pressionadas juntas.
Porque Gethin tinha desistido quando ele não deveria. Porque ele
tinha um ponto a provar, embora ele não tivesse certeza de qual era esse
ponto ou a quem ele estava tentando provar. Então eles estavam caídos na
grama, nos braços um do outro, cada um tentando prender o outro, parte
rindo, parte não. Gethin conseguiu agarrar a perna do sujeito e virou-o de
costas, mas no momento seguinte, ele era o único em suas costas, virando a
cabeça para o lado para evitar o punho vindo em direção a seu nariz.
— Pare com isso, Kell assobiou. — Ok, eu entendo que você está
chateado, mas apenas me diga por quê. O que eu fiz? Não fiz? Disse? Não
Não disse? Toquei? Não toquei? Me desculpe, ok? Apenas pare de lutar.
Gethin estava deitado de costas, seu peito arfando. Agora o que ele
deveria fazer? Kell o tinha imobilizado, suas mãos nos antebraços de
Gethin, seus joelhos e a maior parte de seu peso corporal nas coxas de
Gethin. E eu ainda estou malditamente duro. Merda.
Gethin exalou. — Não vamos nos ver de novo, então por que isso
importa?
— Gethin. Certo. Nome legal. Nunca o ouvi antes. Então, que porra
foi essa, Gethin? Tudo foi ótimo, mais do que ótimo na verdade. Mas
quando é a sua vez, você sai. Por quê? O que eu fiz de errado?
— Nada. Desculpe.
— Você não me empurrou para isso. E sim, já fiz isso antes. Kell
rolou de lado e se deitou ao lado dele.
****
Não foi difícil para Gethin se manter ocupado. O kata teve que ser
desmontado e deixado pronto para ser transportado no dia seguinte.
Gethin podia ouvir a batida pesada da música vinda do antigo salão de
festas dentro do castelo e se perguntou se Kell estaria dançando, se o cara
tinha encontrado alguém para foder. Por que eu deveria me importar? Eu
não me importo. Isso queria dizer que ele tinha pirado? O cara não levava
pau na bunda dele? Dois topos não iam funcionar, mas então Gethin não
havia se comportado como um topo e também não era como se isso fosse
acontecer de novo. Ele estava chateado não só porque deixara Kell levá-lo,
mas por ter fechado a calça antes que ele gozasse. Isso o tornava menos
culpado, não ter jorrado por toda a parede? Ele se sentiu menos culpado?
Jonnie não ia descobrir. Não era como se Gethin fosse lhe dizer. Jonnie não
era nem mesmo seu namorado, ele apenas achava que era. Eu não preciso
me sentir culpado. Merda.
****
Quando ele olhou pela janela, viu uma figura acelerar em uma
Kawasaki preta e prateada. O cara parecia que ele fazia parte da máquina,
deitado em uma posição quase horizontal, enrolado em torno da moto
como um amante e Kell se viu desejando que Gethin estivesse enrolado em
volta dele. Eles tinham negócios inacabados. Ele estava certo de que o cara
não tinha gozado. Kell se sentiu mal com isso.
Por outro lado, Gethin estava claramente confuso e Kell não tinha
certeza de por que ele fez questão de estar no fundo se ele não estava
acostumado com isso. Foda-se. Ele tinha que parar de pensar no garçom
porque não havia razão para isso. Eles não iriam se encontrar novamente.
Kell não deveria querer vê-lo novamente. Ele não podia se dar ao luxo de se
enredar com ninguém, muito menos com alguém que claramante estava
fodido.
No entanto...
Por quê?
Para quê?
Uma foda rápida e única. Isso era tudo que ele poderia ter. Fodas
anônimas. Então ele tinha que esquecer aquele rosto, aquele corpo, aquela
bunda, aquela aspereza desajeitada.
****
Jonnie estava na cama, mas sua luz estava acesa. Ele sorriu para
Gethin quando entrou.
— Boate.
— Cansado.
— Deve ser por causa da briga. Dois caras discutiram sobre uma
namorada e Angel me pediu para intervir. Eu tive uma briga com o maior
deles.
Merda. Mas Gethin estava cansado. Ele não queria ter que
incomodar o dono do hotel que Angel tinha reservado para ele. — OK. No
entanto, eu tenho que sair cedo. Tudo o que passei colocando e arrumando
nesta manhã, preciso desmanchar amanhã.
Gethin chupou suas bochechas. Ele sabia que Jonnie estava falando
sobre a banda.
Ele carregou seu prato de comida até o final da longa mesa. Quin
sentou-se no outro lado, parecendo que ele não tinha dormido, os olhos
arregalados, o cabelo bagunçado, mas um sorriso bobo no rosto que dizia
que ele teve sorte. Espero que com a namorada, porque o nome do meio de
Quin não era fiel.
Ela riu. — Então, o que você anda fazendo ultimamente? Ali estava, a
pergunta que ele não queria responder.
Ela franziu a testa para o filho e virou-se para Kell. — E você gosta
disso?
— Algumas vezes.
— Você decidiu que a física nuclear não era para você, então, disse
ela.
Kell estremeceu.
Ele esperava que ela não o pressionasse por detalhes. Quin sabia que
ele era um policial, mas jurou segredo sobre isso e Kell desconfiava que ele
provavelmente soubesse que ele estava trabalhando disfarçado.
Kell riu.
— Se você puder usar Kellan, você deveria. Fale com seu pai. Ela se
virou para Kell. — E como está sua família? Seu irmão?
— Bem. Por favor, deixe por isso mesmo. Oliver parecia bem o
suficiente, embora Kell desejasse a Oliver nada além do pior. A hesitação da
mãe de Quin ao mencioná-lo indicava que ela sabia como Kell se sentia. Não
que Kell tivesse dito alguma coisa, ou precisasse quando Quin nunca havia
escondido como se sentia sobre o irmão de Kell.
Kell de alguma forma conseguiu comer o que tinha diante de si. Quin
mudou o assunto para as atividades que estavam planejadas para o dia e o
restante da mesa se juntou à conversa. Apenas um número limitado de
convidados havia permanecido no castelo. Os demais convidados durante
todo o fim de semana foram acomodados em uma hospedaria do tipo ‘cama
e café da manhã’ nas proximidades e se juntariam a eles mais tarde.
Todos riram, mas Kell sabia que ela provavelmente estava falando
sério. Se ele acabasse jogando paintball, ele esperava que ele estivesse no
time dela. Ela ganhou uma medalha olímpica por atirar.
****
— Eu também.
— Mentiroso.
— Eu não sou.
Gethin cedeu.
17
É um tipo popular de entretenimento usado em festas e para
entretenimento corporativo. Foi introduzido no Reino Unido no início dos anos 2000 e agora é popular nos
EUA, Nova Zelândia, Austrália e Canadá. O butler in the puff, é um cara vestido de mordomo com apenas
um avental e uma gravata, que mistura coquetéis e é a peça principal dos jogos elaborados para
entrenimento.
— As receitas para os coquetéis estão atrás do bar. Tudo que você
precisa está lá. Você poderia se divertir se tentasse.
— Por que você simplesmente não me disse o que você queria que eu
fizesse?
Gethin olhou para ele. — Uma agência? Ou todos estão com suas
bundas cheias de erupções como um contágio por Ebola?
—Sim, mas então você estava sangrando por todo o chão. Eu não
estava olhando para essa parte de você. Oooh.... você está pendurado como
um...
— Por que sim, eu estou. E isso serve bem a você. Vamos acabar com
isso.
Gethin apertou sua mandíbula. Ele estava chateado com Angel, mas
se ele deixasse o cara na mão, Angel poderia decidir que compartilhar o
espaço do escritório não era mais uma opção. Gethin tinha visto Angel no
modo T-rex e ele era assustador. Gethin não tinha muitos amigos, mas
Angel era um deles, e fazer isso não iria matá-lo, apenas envergonhá-lo.
Angel entrou na sala à sua frente e tudo o que Gethin podia ver eram
mulheres olhando, mandíbulas caindo antes de sorrirem.
O que? Angel saiu antes que Gethin pudesse descobrir que tipo de
jogos era suposto ele jogar.
— Eu. Meu nome é Belinda. Ela se inclinou sobre o bar e olhou para
sua virilha. — Eu gostaria de um Orgasmo Estrondoso.
Ele logo percebeu que não precisava fazer nada para deixá-las
bêbadas, elas estavam fazendo tudo sozinhas. Assim que terminou de fazer o
coquetel da última mulher, Belinda a primeira quis outro. Ele começou a
fazer quantidades duplas. Gethin manteve-se afastando as mãos delas - na
maioria das vezes, afastou suas perguntas mentindo, mas, apesar de seu
pedido para que não tirassem fotos dele, ele sabia que várias tinham. Gethin
lidou com todas e sorriu até os jogos começarem.
Ele já sabia quanto tempo ele teria que fazer isso e ele nunca viu o
tempo passar tão devagar. A namorada do aniversariante, que se apresentou
como Dakota, era claramente a responsável e a primeira que tentara apalpá-
lo. Gethin ficou tentado a se oferecer para se despir e deixar cada uma delas
tocá-lo por vinte segundos, se elas o deixassem sair sozinho depois. Todas
elas estavam tentando obter uma ascensão dele - literalmente - e pelo menos
ele achou isso divertido porque não havia como ele conseguir uma ereção.
Belinda bufou. Gethin estava temendo sua vez. Ele teve que agarrar a
cabeça de uma mulher quando sua boca se moveu muito perto de suas bolas.
Ele não gostava de ter todos esses lábios em cima dele, mas fingia que sim.
Seu rosto doía de sorrir, embora ele se perguntasse o quão bem sucedido ele
tinha sido em enganá-las quando ele não acabou com um pau duro. Esse
parecia ser o objetivo da coisa toda e se transformou em uma competição.
Dakota teve o penúltimo turno. Belinda estava determinada a ser a última.
Belinda colocou o esparadrapo para Dakota encontrar em sua boca e ela
demorou a encontrá-lo.
Depois que Belinda foi vendada, Dakota levou o dedo aos lábios e
olhou para todos. O esparadrapo ainda estava em sua mão.
Matar Angel era bom demais para ele. Gethin queria cortá-lo aos
poucos, pedaço por pedaço, o mais lento e dolorosamente possível,
enquanto lia Shakespeare para ele, muito mal.
— Três giros cada um, disse Dakota. Dentro de duas rodadas, Gethin
estava em suas mãos e joelhos em uma das extremidades do plástico com
Belinda olhando para ele do outro lado. Ele desistiu de se preocupar em
estar quase nu. No momento em que duas outras mulheres estavam no
tatame e elas estavam todas emaranhadas, ele estava realmente rindo. Em
parte porque o tempo estava quase acabando, mas ainda mais porque
Belinda ainda não colocara as mãos sobre ele.
Mais trinta minutos. Isso era tudo que Gethin lhe daria. A má notícia
era que ele nem podia ir direto para casa. Mais cedo naquela manhã, Jonnie
implorara a ele que voltasse mais tarde. Ele empilhou os copos na pia atrás
do bar. Limpou e arrumou as garrafas que ele usara, depois colocou as
almofadas sobre os sofás e cadeiras. Os esparadrapos usados foram para o
lixo e ele dobrou o tapete de plástico do Twister e colocou-o de volta na
caixa. Quando a porta se abriu, ele desejou ter ido trocar de roupa antes de
fazer qualquer coisa.
Kell riu. — Você relaxou comigo na noite passada ou sua faixa preta é
besteira?
Ele olhou para o avental e lentamente deixou seu olhar subir no peito
de Gethin. Gethin sentiu seu pênis começar a encher. —Você esqueceu de se
vestir esta manhã?
****
É claro que a coisa sensata para Kell fazer era ir embora. Ele estava
quebrando sua própria regra, mas ele não se importava. O pau de Gethin
armava uma tenda no avental. Um pequeno pedaço de tecido o impedia de
ver o cara nu em plena luz do dia e ele queria vê-lo nu. Ele já tinha visto
cicatrizes que não tinha notado na noite passada e havia uma elaborada
tatuagem de dragão bem desenhada em sua perna. Ele tentou ignorar a não
menos importante consideração de que o castelo estava transbordando de
gente, e qualquer um deles poderia entrar ali a qualquer momento. Oh Deus,
agora estou ainda mais quente.
Eu não beijo. Mas Gethin tinha sabor de abacaxi e coco e algum tipo
de bebida alcoólica, então a cabeça de Kell se perdeu. Ele arrastou as unhas
pelo cabelo de Gethin e espetou a boca de Gethin com a língua,
aprofundando o beijo, explorando seus dentes, seu paladar.
Eu não beijo.
Kell estava tão excitado que era difícil respirar, tão intoxicado que
todos na sala poderiam estar debruçados sobre o sofá observando-os e ainda
assim ele não poderia parar. Ele queria Gethin completamente nu. Ele se
atrapalhou um pouco com o nó do avental, eventualmente conseguiu desatá-
lo, puxou o avental e arrastou-o para longe. Na noite passada, ele não tinha
conseguido ver muito, agora ele poderia se satisfazer.
Quando ele tentou mover a cabeça para onde sua mão estava
ocupada, Gethin o impediu. Então Kell deslizou a mão para as bolas
inchadas de Gethin, envolvendo-as gentilmente antes de apertar a base do
pênis. Talvez Gethin achasse que ele iria gritar ou fazer algum ruído que
pudesse denunciá-los se Kell usasse a boca. Ou talvez ele simplesmente não
gostasse de ser chupado. Kell não acreditava nisso. Mas se ele não pudesse
usar a boca dele, ele usaria a mão dele para ordenhá-lo. Isso já havia sido
feito para Kell por um cara muito mais velho. Desde então Kell sempre
estivera com muita pressa para se preocupar em fazer isso novamente, mas
agora ele queria atormentar Gethin, queria vê-lo lutando para ficar quieto e
imóvel.
Quando ele já havia feito isso três ou quatro vezes, a mão dele e o
estômago de Gethin brilhavam com a umidade. O peito de Gethin arfava e
seus olhos continuaram abrindo e fechando como se ele estivesse tentando
assistir, mas lutando contra isso. Seus músculos estavam rígidos. Kell deu
um pequeno golpe sobre a cabeça de seu pau e quando os quadris de Gethin
começaram a se erguer, ele apertou ainda mais a base de seu pênis e
pressionou os dedos de sua outra mão no pedaço de carne ao redor. Gethin
xingou silenciosamente e Kell sorriu e tirou suas duas mãos de cima dele.
****
Gethin assentiu.
— Com alguém?
— Continue falando.
Gethin exalou quando Kell saiu. Sexo sem amarras. Isso não soava
como a solução perfeita? Eles estavam disponíveis ou não estavam. Não
estava sendo infiel a Jonnie. Jonnie poderia não se lembrar que ele havia
traído Gethin, mas foi isso o que tinha acontecido. Se Jonnie não tivesse
sofrido o acidente, Gethin nunca teria mais nada a ver com ele. Kell nunca
precisaria saber sobre Jonnie. Nunca haveria necessidade de explicações
complicadas sobre o porquê de Gethin não estar por perto quando Kell
queria vê-lo. Parecia bom demais para ser verdade.
Kell deixou cair as roupas atrás do sofá e Gethin as vestiu. Uma vez
que ele estava decente, ele se levantou.
— Por acaso você tem uma moto? Uma Kawasaki? Kell perguntou.
— Sim.
— Provavelmente.
Cristo. Isso era apenas sobre desejo? Kell suspirou. Ele não sabia
nada com certeza. A coisa sensata a fazer seria nunca chamar Gethin.
Excluir seu número para que ele não caísse na tentação e ligasse. Mas Kell
nunca fora sensato, não em relação ao sexo com um sujeito que gostava.
Talvez nem no sexo com um cara que ele definitivamente não gostava. Ele
cruzou a linha com Marek. Ele estava se enganando ao dizer a si mesmo que
tinha uma escolha. Ele havia caído num poço de areia movediça. Kell
apertou a mandíbula.
Sua vida seria muito melhor se ele parasse de pensar sobre aquele
idiota e pensasse em Gethin. Quanto tempo antes que Gethin ligasse para
ele? Quem quebraria primeiro? Mas depois de mais uma ou dois encontros
quentes com o cara, Kell teria que parar a coisa em seu caminho.
Provavelmente.
Provavelmente.
Era estranho como ele se sentia melhor - mais brilhante, alegre, mais
esperançoso, e ele não achava que fosse só por ter tido um fim de semana
fora. Encontrar um cara que ele gostaria de ver novamente não fazia parte
de seu plano de jogo, mas havia uma faísca dentro dele agora, outra razão
para aturar todas as porcarias de Marek, um antídoto para o veneno dele.
Mesmo que houvesse apenas mais uma ou duas fodas com Gethin no
horizonte.
Provavelmente.
Que porra eu estou pensando? Uma faísca? Sentir algo por Gethin
era uma má ideia. Pior do que uma má ideia, porque poderia colocar os dois
em problemas. Kell ainda não mentira para o cara, mas ele precisaria. O que
quer que seja isso que estaria acontecendo entre eles, teria que ser casual e
quaisquer sentimentos que Kell pudesse desenvolver deveriam ser deixados
para trás quando ele se afastasse definitivamente após o último encontro
dele.
Ou quatro.
Merda. Ele estava tão fodido.
****
— Certo.
Jonnie bufou.
Gethin respirou fundo. — Desculpe ter que sair cedo hoje de manhã.
Mas eu lhe disse que voltaria e aqui estou.
— Porque o quê?
Porque sem mim você não teria ninguém visitando você. Gethin
lutou para encontrar algo para dizer, algo que não iria incomodar ainda
mais Jonnie.
18
National Health Service – Serviço Nacional de Saude do Reino Unido.
— Quem mais vai me ouvir resmungar? Gethin encostou-se à parede
na frente dele. — Eu tive que ser um ‘butler em the puff’ hoje. Tudo o que eu
usei foi um pequeno avental. Angel me enganou para isso. Ele me disse que
precisava de mim para arrumar as coisas e servir bebidas, então ele meio
que me chantageou para fazer coquetéis para uma sala cheia de mulheres
bêbadas que estavam desesperadas para colocar as mãos no meu pau.
Ele esperava que Jonnie risse ou mostrasse algum interesse, mas ele
permaneceu em silêncio. Gethin disse a ele sobre o jogo com o esparadrapo
e o Twister, fazendo parecer mais engraçado do que era. — Eu fiquei feliz
que elas não conseguiram fixar a cauda no burro.
— Yeah, bem, não precisaria estar fazendo isso se você tivesse ficado
com a banda.
Gethin contou até dez.
Bile subiu na garganta de Gethin. Não era a primeira vez que Jonnie
lhe pedia isso.
— Não.
— Eu não posso lidar com isso. Não quero viver assim... Ninguém
deveria ter que viver assim se não quisesse. Era como se Jonnie estivesse
fazendo um esforço especial para falar claramente, porque cada palavra
queimava no cérebro de Gethin.
— Não.
— Sabe o que é pior nesta minha vida, Dart? Não é apenas a solidão...
mas também a humilhação. Não poder fazer nada. Não poder limpar meu
traseiro. Não limpar meu ranho. Ele ofegou tentando respirar. — Eu não
tenho controle, nenhuma escolha, exceto sobre o que eu quero comer... Eles
me levam até o quarto ao lado para sentar e olhar para um cara sem pernas
para que possamos conversar. Pelo menos ele pode andar quando eles lhe
fizerem pernas artificiais. Eu nunca poderei andar de novo.
Gethin assentiu. Ele não conseguia respirar. Ele tinha que sair. Ele
correu pelo corredor, subiu as escadas sem registrar os passos sob seus pés
e correu para fora para sua moto. Nenhum fodido carro para sentar e
chorar. Ele puxou o capacete, ligou o motor e soltou um grito abrigado sob
ruído do motor.
Seu telefone tocou e ele desligou sem verificar quem era. Não havia
ninguém com quem ele queria conversar. Ele desligou o telefone e colocou
no bolso. Sem a tentação de ligar para Kell. Sem necessidade de dar uma
resposta a Jonnie. Ninguém o pressionando para fazer nada. Ele não se
importava se era um trabalho perdido. Jonnie não era a único que queria
que tudo acabasse, nem o único cujas lembranças eram dolorosas.
Quando ele abriu os olhos, viu o Dr. Khan correndo em sua direção.
Gethin desligou o motor, tirou o capacete e piscou as lágrimas dos olhos
antes que o sujeito o alcançasse.
— Jonnie já falou sobre morrer antes. Ele insistiu que não queria ser
ressuscitado no caso de um incidente catastrófico e, como você sabe, ele
nomeou seus parentes próximos, agora está em suas anotações. Ele disse a
vários profissionais de saúde que ele gostaria de estar morto, mas isso não é
incomum para alguém em sua situação. E há uma diferença entre desejar
estar morto e ativamente pedir ajuda para morrer. O médico suspirou. — Eu
deveria ter tido essa conversa antes de você falar com ele esta manhã, mas
eu esperava que ele não pedisse isso a você.
— A quem mais ele vai pedir? Ninguém vem para vê-lo. Os pais dele
ligam para ver como ele está?
— Eles são seus pais. Eles poderiam ter Jonnie morando com eles em
Portugal. Dar a ele uma casa. Algum grau de normalidade. Eles
fodidamente viraram as costas para ele e para jogar golfe ao sol enquanto o
filho deles está paralisado do pescoço para baixo.
O médico não disse nada, mas Gethin não esperava que ele dissesse
alguma coisa.
Gethin tinha instalado e, até onde ele sabia, Jonnie nunca tinha
usado, mas não tinha sido Jonnie a parte mais criativa da banda.
— Tenho certeza que ele tem feito isso. Eu só queria que você
soubesse o que está se passando em sua cabeça. É importante que ele sinta
que os caminhos de comunicação estão abertos, que ele pode nos dizer
como se sente, o que quer e com o que está preocupado. Muitos daqueles
que buscam o suicídio assistido mudam de idéia ou nunca fazem planos
específicos. Estamos tentando mostrar a ele que há esperança, que há um
futuro para ele. Eu gostaria de pensar que você nos apoiaria nisso.
Gethin não disse nada. Ele estava se perguntando o que ele diria se
Jonnie lhe pedisse para levá-lo à Suíça.
— Não se sinta culpado por isso. Você ainda vem para vê-lo. Você
passa tempo com ele, fala com ele, até o faz rir. Ele pensa o mundo de você.
E também todos os funcionários aqui. Não há muitos relacionamentos que
possam suportar esse tipo de pressão. Você pode cuidar de alguém sem
amá-lo. Isso teve um enorme impacto em sua vida também. Jonnie ainda
não consegue ver isso.
Era mais provável que ele não quisesse ver. — É provável que a
memória dele volte?
— Difícil dizer.
— Porque uma coisa que ele não lembra é que seis meses antes de ele
sofrer o acidente, eu o encontrei em nossa cama sendo fodido por dois caras
que ele pegou em um bar. Eu arrumei minhas coisas, disse que nunca mais
queria vê-lo e saí. A próxima vez que o vi foi no dia em que ele acabousendo
levado para o tratamento intensivo. Ele não se lembra que nosso
relacionamento já havia terminado, e eu não posso dizer a ele, posso?
Destruir outro pedaço do seu mundo? O que isso faria com ele?
— Ah. Desculpe.
Gethin puxou seus cabelos, um hábito nervoso que ele tentava evitar,
mas continuamente falhava. Ele desejou que ele não tivesse revelado essa
história ao médico. Ele não queria sua simpatia.
Ao invés de voltar para seu lugar, ele foi para o escritório. Enquanto
estivesse nesse humor, ele poderia muito bem trabalhar na decodificação do
resto dos dados do computador de Charlton e pensar melhor sobre o por
que, de todos os PIs em Londres, Izabela o havia escolhido. Apenas por
causa do anúncio ou não?
Mil? Já passava das sete, mas Gethin não teria ido ao Dorchester. Ele
estava desconfiado sobre toda a configuração. Tinha que haver algo nesse
cartão que era a chave para tudo. Um detetive menos escrupuloso teria
aceitado o dinheiro e fugido. Gethin realmente precisava do dinheiro, mas...
****
Era fácil ver atividades ilegais onde não havia nenhuma. Por tudo
que Gethin sabia, Charlton poderia ter ganho na loteria, ou herdado o
dinheiro quando seus pais morreram. Gethin olhou novamente para as
fotos das mulheres. Poderia haver uma explicação razoável? Se os valores
abaixo das fotos fossem o que a mulher havia recebido, em vez de
pagamento pelas mulheres, ele iria parecer um idiota se ele fosse à polícia.
Se não fosse por Izabela estar tão desesperada para colocar as mãos na
informação, e aquela fodida arma, ele poderia ter dado a ela o cartão de
memória e pego o dinheiro.
****
Gethin esperava que a inspiração o atacasse enquanto estivesse
inconsciente, mas não. Ele rolou para fora da cama com seus pensamentos
ainda dominados pela preocupação sobre Izabela o ter escolhido por algum
motivo em particular. Se tivesse alguma maneira de ela ter tido acesso ao
seu passado. Ainda era possível ele ser mandado para a prisão pelo que
fizera na adolescência e aos vinte e poucos anos. Ele cobriu seus rastros,
mas mesmo assim.
O cara olhou para ele. — Não tanto quanto eu. Ele puxou um talão de
cheques da gaveta e fez um cheque.
Gethin foi direto para um banco e trocou-o. Não houve mais ligações
de Izabela, nenhuma outra pessoa perguntando sobre seus serviços, nada de
Jonnie e nada de Kell. Gethin quase lhe enviou um texto. Uma hora
esquecendo-se de sua vida de merda era muito convidativo, mas quando ele
começou a escrever uma mensagem, Jonnie ligou para ele e Gethin deixou
Kell ir.
Dois dias seguidos, Kell se arrastou para a cama às quatro da manhã.
Desde o momento em que chegou ao trabalho, ele mal teve tempo de
respirar. Carregou suprimentos para o bar, a partir do depósito no porão,
ficou de guarda do lado de fora no frio congelante enquanto Alec, o cara na
porta - que tinha um maldito casaco - tomava uma longa pausa, buscou
comida para Warner e seus convidados, cuidou do jovem carinha por quem
Warner estava interessado no momento e manteve um olho nele caso
ninguém mais se incomodasse em fazer isso, coletou copos e garrafas - o
adolescente tinha ajudado com isso, e teve sua boca fodida por Marek dentro
do escritório da Warner. Marek o tinha agarrado pelo colar de contas tão
fortemente que havia deixado uma linha vermelha na pele de Kell.
Tudo isso e não tinha nada para dar ao seu chefe. Os caras que
estavam com Warner eram do Leste Europeu, mas isso era tanto quanto Kell
podia averiguar. O mais jovem deles ficou com ele por um tempo e Kell
esperava tirar alguma informação dele, mas não teve chance de conversar
com ele sozinho.
Era melhor não pensar na vida que ele já teve, não exatamente no
castelo em que Quin viveu, mas em uma casa grande e luxuosa, ou mesmo
no apartamento que ele deixou para morar aqui. Era difícil acreditar que ele
um dia voltaria ao seu antigo lugar. Ele o colocara com um agente de locação
e um casal o havia alugado no mesmo dia. Os pertences de Kell estavam
guardados esperando o final do trabalho, mas, se algo desse errado, ele teria
que sair de Londres. Se ele pudesse levar Warner, Marek e o resto deles para
baixo, eles iriam para a prisão e Kell estaria seguro - teoricamente - porque
aparentemente ele cairia com eles. Mas se eles descobrissem que ele era um
policial, eles o matariam.
Kell rolou para o lado, sabendo que teria problemas para dormir
mesmo estando exausto. Ele não gostava de começar o trabalho tão tarde e
não ir dormir até de manhã cedo. Isso tinha fodido com seu relógio biológico
e levando muito tempo para ele se acostumar com as horas estranhas. Ele
não tinha certeza de que ele iria se ajustar um dia.
Seu outro trabalho encoberto tinha sido fazer parte de uma gangue
que estava planejando uma série de roubos. Mas eles realizaram apenas uma
incursão e enganaram Kell no momento certo. Muito dinheiro foi gasto em
uma operação policial que não conseguiu nada e o chefe de Kell ainda estava
chateado com ele.
Seus nervos estavam começando a se romper. Ele não foi feito para
isso. Ele se juntou à polícia porque queria tornar o mundo justo - pelo
menos uma pequena parte do mundo, mas talvez o preço que ele estava
pagando fosse alto demais. Seu pai tinha sido bem claro sobre sua
desaprovação. Kell sabia que ele vivia preocupado com ele.
****
Ele olhou para cima quando Beckwith puxou a cadeira ao seu lado, os
pés de metal rangendo no chão de azulejos.
19
Deep web e surface web conformam uma divisão do conteúdo da rede mundial de computadores (world
wide web) quanto à indexação feita por mecanismos de busca padrão. Deep
web (deepnet, web invisível, undernet, web obscura ou web oculta) corresponde à parte não indexada
e surface web (ou internet superficial) é a parte indexada.
Mike Bergman, fundador da BrightPlanet e autor da expressão "deep web", afirmou que a busca
na Internet atualmente pode ser comparada com o arrastar de uma rede na superfície do oceano: pode-se
pescar um peixe grande, mas há uma grande quantidade de informação que está no fundo, e, portanto,
faltando. A maior parte da informação da web está enterrada profundamente em sites gerados
dinamicamente, não sendo encontrada pelos mecanismos de busca padrão. Estes não conseguem
"enxergar" ou obter o conteúdo na deep web — aquelas páginas não existem até serem criadas
dinamicamente como resultado de uma busca específica. A deep web possui um tamanho muito superior
ao da surface web. O risco da deep web é, basicamente, a intenção com que o usuário a acessa. Por conter
páginas com conteúdo ilegal, as mesmas podem conter vírus, prejudicando a segurança do computador.
Vale lembrar que ela também, por ser criptografada e anônima, é muito usada por criminosos.
pedido. Quando ele voltou, Beckwith tinha aberto o computador de Gethin e
estava olhando para a tela.
— Sim.
— Vá em frente.
— Antes de dizer isso, sei que infringi a lei. Mas tenha em mente que
eu poderia ter ficado quieto, entregado os dados e saído significativamente
mais rico. Gethin colocou o cartão azul no laptop e abriu o documento com
as fotos das mulheres. Ele virou a tela para que apenas Beckwith pudesse ver
e ninguém mais.
Beckwith voltou seu olhar afiado para ele. — Você está preocupado
que esta Izabela ou quem está por trás dela já sabia o que você poderia
fazer?
Gethin assentiu.
Gethin o olhou. — Então ele poderia puxar uma arma em mim? Como
isso conta como sorte?
— Sorte para nós. Porque se ele não tivesse voltado para casa, ela
teria dito a você que tinha mudado de ideia, pedido o cartão de memória,
você teria dado a ela e teria sido isso. Ela usou você.
****
— Sim.
20
Kell disse e Gethin se voltou e olhou intensamente para ele. Ele fez. Musgo
verde. Lagoa verde. Olhos de tigre. Ele desejou ter as palavras perfeitas
para descrever a cor. Exótico. Excitante. Sexy.
— Você teve sorte aí. Kell olhou para ele, feliz que seu próprio cabelo
era.
— Não muito.
— Merda. Eu estou fora de você agora. Ele pegou outro gole de sua
cerveja. Kell olhou para os longos dedos circundando a garrafa e observou a
condensação deslizar pelo vidro e pingar no balcão.
Gethin olhou para a virilha de Kell, onde seu pênis tinha inchado
atrás de seu zíper. — Então, eu posso ver.
— Tem certeza?
— Cerca de oitocentos metros. Kell pensou que isso faria Gethin rir, e
fez.
— Com pressa?
— Você estava olhando para o seu relógio. Kell odiou a corrente de
petulância em sua voz. Por que revelou que ele havia notado isso?
Agora Kell estava irritado de novo e ele não entendeu muito bem o
motivo.
Kell riu, seu humor melhorando. Ou era porque sua cama estava
chegando rápido.
Eles se separaram apenas para respirar fundo antes que suas bocas se
juntassem novamente. Seus pulsos foram liberados e ele envolveu uma mão
em torno de seus pênis, a mão de Gethin se juntando a ele. Enquanto se
esfregavam juntos, Kell poderia ter morrido com o prazer disso.
— Oh, Cristo. Gethin apertou o rosto contra o pescoço de Kell,
lambeu, depois beijou, depois o lambeu novamente, sorrindo contra ele, e
aquele momento de ternura quase fez Kell perder o controle.
—Sim. Gethin riu. — Você muda as regras, me leva para o seu lugar e
nós nem sequer chegamos na cama?
— Chuveiro?
— Logo ali. É meio pequeno.
Vê-lo mais algumas vezes não ia funcionar. Kell queria fazer esse não-
relacionamento durar, prolongar o máximo que pudesse, mas foi ele quem
ditou as regras. Parte dele queria que ele nunca tivesse usado a palavra
casual. Mas um pensamento sobre Marek virou isso em sua cabeça. Ele e
Gethin poderiam tomar uma cerveja juntos, mas esse seria o limite de sua
interação fora do sexo. Mostrar qualquer expectativa de mais poderia ser o
beijo da morte - talvez literalmente. Mas foder em algum lugar seguro como
a cama de Kell era melhor do que arriscar ser pego em um lugar público. A
conversa deles seria simples. Eles foderiam mais e falariam menos. Kell
planejou tudo.
— Sua vez.
— Não. Kell suspeitou que devesse ter dito sim, mas ele caiu ao lado
de Gethin.
— Sua razão para não me querer aqui não tem nada a ver com a
condição do lugar. Mas este lugar não é você.
Gethin deu um breve sorriso. — Isso não é o que nós acordamos. Nós
não seremos estranhos se eu souber você vive. O jogo não durou muito
tempo.
— Sério?
Kell soltou uma gargalhada. — Posso perguntar o que você faz além
de trabalhar para uma empresa de eventos?
— Não.
Kell observou enquanto ele se vestia, desejando que seu pênis ficasse
para baixo, mas assistir Gethin vestir-se era tão erótico que ele pegou um
travesseiro e o arrastou para cima de sua virilha. Gethin virou-se e olhou
para ele, baixou o olhar para o travesseiro e então subiu novamente para o
rosto de Kell.
Gethin saiu e Kell suspirou. Isso era tudo o que eles tinham. Um
divertido não-relacionamento. Nenhum compromisso, mas sexo quente.
Kell não gostou dessa coisinha na barriga que dizia que já não era, nem de
longe o suficiente.
Eu quero conhecê-lo. Eu quero saber o que ele gosta, o que ele não
gosta. Eu quero saber que tipo de homem ele é. Eu quero saber se ele
poderia gostar de mim para mais do que sexo.
Gethin ficou surpreso com o lugar de Kell. Ele esperava algo melhor
de um cara que tinha sido um convidado para uma festa frequentada pelos
ricos e privilegiados. O aniversariante falou sobre Kell como seu melhor
amigo. Ou isso foi apenas para provar que Gethin estava certo em
reconsiderar seu julgamento sobre os convidados que ele estava servindo.
Kell estava feliz por ser um guarda de segurança? O que ele mantinha
em seurança? Quem ele mantinha em segurança? Que péssimas decisões
Kell tinha feito para que ele não estivesse circulando no mesmo ambiente
daquelas pessoas que frequentavam lugares como o Castelo de Denborough
e morando em um estúdio mofado em Londres? Mesmo se Kell tivesse
perdido o dinheiro, e a família dele? Ele tinha pais ou irmãos?
Eu não conto.
21
A teoria dos seis graus de separação originou-se a partir de um estudo científico
desenvolvido pelo psicólogo Stanley Milgram, que criou a teoria de que, no mundo, são necessários no
máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas
ao ver Dieter em seu uniforme escolar pudesse puxar algumas cordas do
coração deles. Gethin foi respeitoso e educado, ofereceu seu cartão e disse
que, se algum dia vissem Dieter, que, por favor, lhe pedissem para telefonar
para casa. Não havia muito mais que ele pudesse fazer.
O que ele não tinha no final do dia era uma ligação de Izabela e ele
não sabia o que fazer sobre isso. Uma pequena parte dele preocupava-se
com sua segurança. Enquanto ele não sabia se podia acreditar em qualquer
coisa que ela disse a ele, seu intestino lhe dizia que ela estava sendo coagida.
Mas estava fora de suas mãos agora. Ele esperava que Beckwith
aproveitasse o computador de Charlton enquanto ele ainda estivesse intacto
e encontrasse a arma antes que ela acabasse no Tâmisa.
Gethin se abaixou até a calha e tomou impulso para saltar. Com uma
série de saltos e um pouco de deselegância, ele finalmente alcançou o
telhado vizinho, de onde poderia pular para seu prédio. Não exatamente um
parkour, essa não era sua especialidade, mas escapar de uma saia justa era.
Uma vez que ele chegou ao telhado certo, ele deixou sua mochila
atrás de uma unidade de ar-condicionado, então silenciosamente desceu as
escadas. Ele sentia como se um escorpião estivesse rastejando sobre sua
pele, aquela pontada de pavor lhe dizendo que ele poderia estar com
problemas ou dor a qualquer momento.
Não tinha ninguém lá. Eles destruíram o lugar e foram embora. Ele
não precisava nem pensar em quem poderia ser o responsável. Quem quer
que tenha pago, persuadido ou ameaçado Izabela para obter os dados do
computador. Ou Charlton se ele descobriu o que Gethin tinha feito. Gethin
estava na porta e olhou em volta, procurando por algo que pudesse ter sido
adicionado, bem como por itens removidos.
Telefonar para a polícia não era algo que ele particularmente queria
fazer. Muito esforço por pouca coisa, visto que quem havia feito isso já tinha
ido embora, mas seu seguro não pagaria se ele não fizesse a ligação. Além
disso, ele deveria contar a Beckwith. Quando ele entrou na sala, viu uma
nota em sua mesa.
Dez minutos depois, após reverter o caminho que usara para alcançar
o prédio, Gethin estava andando pela rua com sua bolsa por cima do ombro.
Ele nem queria pegar sua moto, no caso de estar sendo vigiado. Ele ligou
para Beckwith, mas o cara não respondeu, então ele deixou uma mensagem.
Gethin retornou ao seu estúdio de metrô, subindo e descendo os trens no
último minuto para ter certeza de que não havia ninguém o seguindo.
Ele passou por onde estacionara seu carro a duas ruas de distância de
seu apartamento. Mesmo com a autorização de residente, era difícil
encontrar um lugar de estacionamento. Ele não podia ver ninguém
vigiando, então ele retornou ao seu veículo. Ele não estava preocupado que
alguém pudesse estar esperando por ele em seu apartamento, mas ele estava
preocupado com o risco para Angel e Tilda, e isso era algo que era melhor
explicar cara a cara.
Gethin parou apenas para comprar uma garrafa de vinho tinto, antes
de dirigir para Islington por uma rota indireta. O estacionamento era
apenas um pesadelo ali. Quando bateu à porta da casa de Angel, uma antiga
casa georgiana cuidadosamente restaurada, foi Henry que abriu a porta,
com um dachshund latindo embaixo de cada braço.
Henry olhou de boca aberta para ele. — Ele não me disse que havia te
convidado para o jantar. Eu vou matá-lo. Ele ainda não voltou da casa de
sua mãe. Quando ele chegar, então eu vou matá-lo.
— Ele não me convidou para jantar. Eu preciso de uma palavra com
ele.
— Ah certo. Entre.
Uma vez que Henry fechou a porta, ele colocou os cachorros para
baixo e Gethin se inclinou para fazer um carinho neles. Eles rolaram de
costas, suas caudas balançando tão furiosamente que seus corpos giravam
no chão liso.
— Eles teriam você acariciando seus estômagos o dia todo, esses sem
vergonhas. Henry falou. — Winston, Kennedy, deixe o pobre rapaz em paz.
Não estava. Henry pegou uma pilha de papéis da mesa e enfiou uma
caneca na lava-louças.
— Sente-se.
— Eu estive melhor.
Henry riu.
— Eu tive uma arma puxada para cima de mim. Gethin precisava que
Angel entendesse o quão sério isso era.
— Sente-se, Henry disse. —Você não vai a lugar nenhum até que você
tenha pelo menos comido.
— Não, você não vai. Angel endireitou e serviu mais vinho. —Você
não é a pessoa ruim aqui. Pode ser sábio ficar para baixo por um tempo,
mas no momento em que isso acabar, será tudo como de costume
novamente.
Gethin ia começar a falar quando seu celular vibrou e ele puxou para
fora. Ele queria que fosse Beckwith, mas era Zena Hoehn, a mãe de Dieter.
Gethin ficou tenso. Esse era um dos clubes para os quais Charlton
fazia a contabilidade.
— Sam admitiu que ele e Dieter estiveram lá duas vezes, uma vez
quando a mãe de Sam pensou que Sam estava hospedado conosco e o outro
quando eu pensei que Dieter estava com eles. Eu sei que é um tiro longo,
mas talvez você pudesse dar uma olhada lá?
— Ok. Deixe comigo. Tinha que ser uma coincidência que Charlton
estivesse ligado ao No Escape. Gethin não gostava de coincidências.
Angel sorriu.
Angel pressionou alguns botões em seu telefone. Parece que eles têm
noites temáticas. Domingo é... couro. Ele colocou a língua de fora e ofegou.
— Você… em calças de couro… peito nu… bunda… Henry e eu iremos com
você. Coma rápido, querido.
Nada disso significava que ele era um bandido, mas pelo que Angel
havia dito sobre ele, parecia ser uma boa combinação entre um proprietário
desagradável de boate e um contador igualmente desagradável. Gethin
estava preocupado em ter dois trabalhos com conexões para a mesma boate,
mas ele não conseguia ver como isso poderia ser uma armadilha.
— Isso não é uma roupa. Gethin olhou para as tiras de couro na mão
de Angel. — E você pode esquecer isso. Ele apontou para um jockstrap de
couro.
— Realmente, Gethin, não se vista como você está agora, disse Angel.
— Você não vai conseguir entrar no clube e muito menos ter a chance de
conversar com alguém.
****
Quando ele viu que havia uma fila para entrar no clube, ele gemeu.
Felizmente ele não teve que esperar muito e no momento em que entrou,
seus arrepios diminuíram sob a explosão de calor. Ele pagou a taxa de
entrada, carimbou a mão, pagou mais para cobrir todos os extras, incluindo
a Passagem Traseira, e teve sua mão carimbada novamente. Se ele iria
procurar por Dieter, então ele deveria ter acesso a todos os lugares. Ele
esperava que uma visita fosse suficiente, mas mesmo se Dieter tivesse
chamado a atenção da Warner, não havia garantia de que ele estaria no
clube naquela noite. De repente, Gethin sentiu como se estivesse em uma
missão inútil.
A noite do couro não parecia muito ruim, mesmo vestindo algo tão
desconfortável como este equipamento era, mas Gethin se perguntou se
Angel tinha cometido um erro ou havia enganado-o, porque havia muito
mais do que calças de couro, cintos cravejados e colares espetados em
exposição esta noite. Ele viu alguns caras nus - bem, nus com exceção das
gaiolas em seus pênis - sendo conduzidos ao redor do clube por correntes
presas à única outra coisa que usavam - barras de prata nos mamilos. Suas
costas estavam cobertas de vergões vermelhos. Perto de Gethin, um sujeito
ajoelhado aos pés de outro cara tinha o peito e os braços presos por uma
corda que estava intricadamente atada. Parecia apertado o suficiente para
ser doloroso, mas mesmo que não fosse, Gethin entraria em pânico se
estivesse amarrado assim, incapaz de mover os braços. Ele não lidava bem
com restrições, particularmente qualquer coisa sobre sua cabeça.
Gethin recusou três convites para dançar. Nenhum dos três caras
reconheceu Dieter. Esta não era a cena de Gethin e era difícil fingir que era.
Ele pegou o telefone, procurou no Google novamente e, desta vez, clicou no
cronograma de eventos. Ele cerrou os dentes quando viu que Angel tinha
mentido. Angel, seu maldito bastardo. Ele enviou-lhe um texto. Mal posso
esperar para lhe mostrar o quanto eu aprendi sobre BDSM. Vou trazer
meu novo chicote e demonstrar.
— Não.
— Foder?
— Não.
— Não.
— É uma pena.
Ele voltou sua atenção para os lados da sala onde grupos de homens
estavam reunidos, cabeças juntas, bocas abrindo e fechando enquanto eles
tentavam falar acima da música pesada pulsando dos alto-falantes. Em
alguns minutos, ele daria uma volta ao redor e veria se ele poderia
identificar Dieter.
— Quer dançar? Um jovem com o peito nu, mal legal com piercings
nos mamilos e um sorriso vacilante balançou na frente dele.
— Já viu ele?
— Você o viu?
— Não.
Gethin deu outro gole em sua cerveja e percebeu que tinha bebido
tudo. Ele voltou para o bar e comprou outra que ele definitivamente não iria
beber. O mesmo barman serviu-lhe – deixou o que estava fazendo para
servi-lo.
— Eu estou dirigindo.
O cara riu.
Quando terminou, ele voltou para Gethin. — Se você estiver por perto
quando fechamos, quer tomar café da manhã?
Gethin vagou até um ponto onde ele poderia observar a mesa sem
parecer óbvio e avistou Dieter. Essa era a boa notícia. O ruim era que o dono
do clube tinha uma mão possessiva no ombro do garoto e Dieter olhava para
Warner como se todos os seus aniversários e natais tivessem acontecido ao
mesmo tempo. A julgar pela roupa de grife e o robusto relógio no braço de
Dieter, talvez eles tivessem.
Observando Warner com Dieter, Gethin achou cada vez mais difícil
imaginar um cenário onde ele conseguiria afastar o garoto e levá-lo para a
casa da família, onde Dieter começaria a chorar e admitiria o idiota que ele
fora. A menos que Dieter quisesse sair, havia muito pouco que Gethin
pudesse fazer, exceto confirmar que ele ainda estava respirando.
— Não, Gethin disse antes do cara que tinha deslizado na frente dele
ter aberto a boca.
Bem, havia algo que Gethin poderia fazer. Dieter tinha apenas
dezessete anos. Com idade suficiente para sair de casa, mas jovem demais
para estar em um clube noturno e jovem demais para beber, embora Gethin
não o tivesse visto beber nada. A polícia removeria Dieter das instalações,
mas seria ineficaz em impedi-lo de voltar, especialmente se Warner o
quisesse. Infelizmente, Dieter não era jovem demais para ir para a cama
com o dono do clube.
Gethin teve que lembrar-se que Dieter tinha apenas dezessete anos e
isso não era apropriado. Tê-lo dançando assim era como jogar um cachorro
em um mar de tubarões. Gethin quase podia sentir a testosterona enchendo
o ar. A mãe de Dieter tinha lhe mostrado orgulhosamente as medalhas que
ele havia ganhado com a ginástica. Ela não ficaria impressionada ao vê-lo se
contorcendo, rolando e empurrando seus quadris, simulando sexo,
arrastando as mãos por seu corpo, provocando com cada respiração, cada
movimento. Esse garoto não tem falta de confiança. Gethin raramente se
afastava da parede com a idade dele. Não muito diferente de sua posição
atual.
— Quer foder?
— Não.
— Hey, essa linha às vezes funciona. Eu sou bom. O que você me diz?
— Não.
Quando Gethin procurou por Dieter, ele tinha vestido suas roupas e
se mudou para um estande com Warner, dois caras sentados em frente. O
bíceps de um era maior que a cintura de Dieter. Gethin se perguntou se ele
era o guarda costas do outro cara que usava um terno alinhado e tinha um
olhar da Europa Oriental sobre ele. Não era difícil imaginar o tipo de
negócio que eles discutiam. Nada legal.
Ser a cura deveria ser menos doloroso do que ser a causa, mas Kell
ainda tremia. Marek o agarrou em volta da nuca, pressionando os dedos na
carne macia e ao mesmo tempo enfiou suas pernas entre as de Kell,
forçando-o para trás para que ele ficasse imobilizado. A pressão contra as
bolas de Kell chegou ao ponto da dor quando Marek apertou sua coxa contra
elas.
— Posso ajudar?
Kell sabia para onde isso estava vindo. Porque quanto mais cedo ele
cooperasse, mais rápido terminaria, ele não fez nenhum protesto quando foi
empurrado de joelhos. O som de Marek abrindo as calças provocou arrepios
em sua espinha, mas ele fez o que Marek queria, puxou o pênis do cara e
começou a chupar. Kell desligou o melhor que pôde. Este não era ele. Este
era o seu trabalho - mais ou menos. Assim como qualquer trabalho horrível
que as pessoas tivessem que fazer. Desentupindo banheiros, andando por
esgotos, testando comida de gato. Mais algumas semanas e pronto. Se não.
Eu mesmo vou acabar com isso.
Marek olhou para baixo enquanto Kell olhava para cima. Pelo menos
enquanto Kell tinha o pênis do cara na boca, ele não precisava dizer nada,
chamar Marek de senhor ou expressar gratidão por ter sido usado.
Não demorou muito para Marek gozar, mas Kell não tinha ideia se
era o que o cara queria ou não.
Kell teria gostado de ver Marek lutando também, com aquele grande
pênis preto batendo em sua boca. Depois que Kell o lambeu limpo, enfiou o
pênis em sua cueca, fechou o zíper e se levantou.
— Melhor agora? Kell se arriscou a dizer. — Ou você precisa de uma
aspirina?
****
Quando Kell voltou para dentro, ele estava meio congelado. Ele se
inclinou contra o longo e curvado bar e olhou para a pista de dança,
mantendo os olhos abertos para problemas e rostos que pudessem
reconhecê-lo. Ele deixou seu olhar passar pelos dançarinos e se acomodou
no estande onde Warner, o babaca conivente e doente, estava sentado com o
braço em volta do último brinquedo, brincando com o cabelo esvoaçante do
rapaz, ocasionalmente puxando com força suficiente para fazer o
adolescente estremecer. Kell suspirou.
Ele checou para ver onde Marek estava antes de deixar seu olhar
retornar ao estande. Dois homens se encontravam sentados em frente à
Warner e Kell conseguiu tirar uma foto deles. Ele mandou direto para seu
chefe e apagou-o do telefone. Quando Kell olhou para o estande, Dieter
olhou para cima como se sentisse sua atenção, e Kell se virou para o outro
lado. Ignore-me, garoto, ou você nos colocará a ambos na merda.
— Dá o fora.
— Você não está sendo legal. A voz e o hálito quente em seu ouvido
fizeram cada nervo no corpo de Kell formigar, o ar ficou subitamente
elétrico com o medo de ter sido descoberto, a ameaça de violência. Porra!
Marek tinha visto ele tirar a foto?
Marek olhou para ele sem expressão em seu rosto. — Warner está te
pagando para ser legal.
— Eu não sou pago para dançar com eles. Eu não gosto de dançar.
Mas para você eu faria uma exceção. Dança? Kell estendeu a mão.
Ele se afastou.
— Não.
Uma criança tão jovem quanto Dieter não deveria estar aqui, muito
menos ser o brinquedo de um bastardo como Warner. Kell sabia que ele já
mostrara seu interesse pelo adolescente e que ele estava fora dos limites
para todos, mas ele não ficaria sempre assim se Warner fosse fiel ao seus
costumes, de acordo com o que um dos barmen lhe dissera. Uma vez
cansado dos brinquedos, Warner os passava para outros. Kell teria gostado
de tirar o garoto de lá, mas ele não podia - ainda não.
Kell deu uma cuidadosa passada de olho pelo salão. Quando ele se
virou para olhar para a cabine, ele congelou em choque. O que diabos Gethin
estava fazendo no clube? Ele me seguiu? O que diabos ele estava vestindo?
Cristo. Calças justas pretas apertadas e um arreio de peito de couro preto, as
tiras de couro emoldurando seus peitorais e ombros.
Kell não sabia que Gethin ia causar um problema, mas ele sentiu.
Enquanto Dieter se levantava, Gethin avançou e Kell atravessou o meio da
pista de dança, derrubando os homens para interceptar Gethin antes de ele
chegar ao estande. Kell registrou que Warner tinha puxado um Dieter de
mau humor para o banco e tardiamente ocorreu a ele que Gethin poderia
simplesmente estar indo para a Passagem de Trás, mas Kell não podia correr
o risco.
— Precisa de ajuda? Kell perguntou.
— Não.
Ver Kell o balançara, e Gethin tinha sido rude, mas o que foi feito foi
feito. Ele não queria falar com Kell. Ele não queria arriscar perder a chance
de conversar com Dieter. Suspeitando que Kell o seguiria para os quartos
dos fundos, Gethin deslizou para trás da porta. Quando Kell se moveu para
dentro, Gethin saiu novamente escondido atrás de um grupo que entrava
antes que a porta se fechasse novamente.
Ele comprou outra cerveja e encontrou um lugar para ficar com uma
visão razoável da pista de dança. O que ele deveria dizer se Kell se
aproximasse dele novamente? Foda-se, estou trabalhando? Ele deveria ser
um planejador de festas. Foda-se, estou procurando um gancho? Talvez ele
devesse apenas dizer que não queria mais vê-lo. Talvez Kell já tivesse
recebido essa mensagem pelo fora que Gethin tinha lhe dado um pouco
antes e não houvesse necessidade de dizer nada.
— Obrigado.
— Eu não deveria?
— Oh.
Ah, não o que eu estava pensando. — Warner pediu para você flertar
comigo? Gethin perguntou.
— Oh. Bem, você quer ir para outro lugar? O terraço? A sala de vídeo?
Compre outra bebida e eu mostrarei a você.
— Não, obrigado.
Gethin assumiu que ele estava querendo dizer drogas. — Não, e você?
— Você?
Gethin olhou para o bar e viu Warner acariciando o cara negro sob a
cobertura do material em torno de seus quadris enquanto ao mesmo tempo
conduzia uma conversa com um cara careca ao lado dele. Dieter virou-se de
costas para o quadro.
— Você está realmente se oferecendo para mim? Foi isso que Warner
lhe disse para fazer?
Dieter olhou nos olhos dele. — Você pode foder-me. Eu gostaria que
você me fodesse.
— Levá-lo para sua mãe, para seu amigo Sam. Eles sentem sua falta.
Gethin não tinha a intenção de chocar Dieter ao ponto de derrubá-lo,
mas o adolescente teria feito se Gethin não o tivesse segurado pelo braço. No
momento em que ele viu que Dieter não iria desmaiar ou fugir, ele o soltou.
— Sua mãe me contratou para procurar você, mas você tem idade
suficiente para decidir por si mesmo se prefere ser pago para fingir que
transa com um poste, foder com quem não gosta ou deixar um cara enfiar a
mão em sua bunda só porque Warner te diz para fazer isso. Espero que você
prefira dar uma nova chance a sua vida anterior. Mas se você não quer ir
para casa, eu posso encontrar um lugar para você ficar em algum lugar
seguro. Você pode voltar para a escola, conseguir seus níveis A, talvez vá
para a faculdade, uma escola de dança, se quiser, arranjar um bom emprego.
— Eu não vou deixar. Pare de chorar ou alguém virá para ver o que eu
fiz para perturbar você.
— Teve outro menino que tentou sair. Tula disse que eles não
deixaram. Eles... –
— Cale a boca. Agora não. Sorria para mim. Fora da vista de qualquer
pessoa, Gethin pressionou a chave sobressalente do carro na mão de Dieter.
— Coloque isso no seu bolso. Meu carro não está longe. Vá para a esquerda
quando sair daqui, então pegue a primeira rua à direita, depois vire à
esquerda na primeira esquina. Vinte metros. Um Peugeot preto. Pressione a
tecla e as luzes piscarão. Deite-se no banco de trás sob o cobertor. Tranque a
porta. Eu não posso sair daqui imediatamente, caso eles nos conectem. Você
precisa ficar no carro. Não importa quanto tempo. Ok?
— Esqueça isso. Você tem que ter cuidado em como você vai sair.
Warner vai estar te vigiando. Vou causar uma distração.
— Sim.
— Ela... –
Gethin foi puxado para seus pés e empurrado para fora do caminho
por um cara musculoso de cabelos escuros. Um rápido olhar ao redor não
mostrou nenhum sinal de Dieter.
— Desligue. Ele sabe onde você mora? Gethin puxou para fora.
— Então ele sabe onde você mora. Gethin pegou o telefone e jogou no
banco de trás.
— Ligue para sua mãe. Diga a ela que você está comigo e que ela
precisa sair de casa dentro de vinte minutos, arrumar um lugar par ficar e
permanecer longe por uma semana. Vamos nos encontrar com ela na
Toddington Services M123. Ela não deve contar a ninguém o que ela está
fazendo ou para onde está indo. Isso era quase um teste do quanto ela
23
A Toddington Services é uma estação de serviço de auto-estradas na rodovia
M1 entre as junções 11 e 12 perto de Dunstable em Bedfordshire, Inglaterra. Leva o nome da aldeia vizinha
de Toddington.
amava seu filho, porque Gethin sabia o quão louco isso soava.
— Se Warner quiser você de volta, ele pode ameaçar sua mãe para
persuadi-lo a ir com ele. É melhor não dar a ele essa oportunidade.
Dieter era valioso demais para poder ir embora. Talvez dizer a Zena
Hoehn que deixasse sua casa fosse uma reação exagerada, mas a experiência
lhe ensinara a jogar com uma margem de segurança. Assuma o pior. Mesmo
com uma janela de vinte minutos. Ele não conseguiria chegar a nenhum
lugar perto da casa de Dieter em menos de uma hora de carro, mas Warner
poderia conhecer alguém que morasse perto dali. Até vinte minutos poderia
ser um tempo muito longo. Inútil chamar a polícia quando nenhum delito
fora cometido.
— Você não acha que ele vai me deixar ir. A voz de Dieter foi baixa.
— É melhor ser cauteloso. Você e sua mãe podem ficar em outro lugar
enquanto eu descubro se Warner ainda está procurando por você.
— Ótimo, disse Gethin. — Eu vou parar agora e você pode sentar aqui
na frente. Quando Dieter estava sentado ao lado dele, Gethin estendeu a
mão. — Telefones.
— Você sabe por que você não pode tê-lo? Gethin perguntou.
Uma vez que Dieter colocou seu cinto de segurança e Gethin colocou
uma camiseta por cima do arnês, ele voltou para o tráfego.
— Eu não posso acreditar que ela pagou para você procurar por mim.
Yeah, bem, ela não me pagou ainda. —Ela estava muito preocupada.
Ela quer que você termine a escola, passe nos exames, consiga um bom
emprego. O mesmo que todas as mães querem. — A maioria delas.
— E elas são?
— Eu estou em caras.
— Não em mim?
— Ela disse que ele saiu não muito tempo depois de mim.
— Por que eu teria me sentido tentado a usá-lo e sei que poderia ser
rastreado. Eu pensei que quando eu ganhasse o suficiente dançando no
clube eu compraria outro, mas Warner me deu um. Ele foi decente. Ele me
deu um lugar para morar, um apartamento com Tula, e ele me comprou
roupas e este relógio. Eu sei que ele não me ama, mas eu não me importo em
ter ele me fodendo.
— Eu suponho.
— Certo, pai.
****
— Hey, Gethin rebateu. — Sua mãe fez exatamente a coisa certa. Você
a acordou no meio da noite e ela fez o que você pediu e saiu de casa
rapidamente. Quantas mães você acha que seguiriam essas instruções?
— Ele disse a você por que ele fugiu? Ela assentiu com a cabeça. —Vic
foi embora. Ele durou menos de uma semana depois que Dieter
desapareceu. O bastardo. Eu deveria ter acreditado em Dieter. Mas ele já
havia reclamado sobre caras que eu namorei.
Ela balançou a cabeça. —Não, ele nunca disse isso até Vic. Eu me
sinto tão culpada. Ele disse que você o encontrou em um clube, mas o que
aconteceu? Por que nós tivemos que sair de casa?
Ela respirou fundo. — Ele poderia destruir sua casa. Matar seu gato.
Eu não tenho ideia se ele faria algo disso ou nada, mas eu aprendi que é
sempre melhor assumir o pior cenário.
— O ponto que eu estava tentando provar era que Warner não vai se
importar com o que ele tem que fazer ou falar para conseguir o que quer.
Dieter sabe que outro adolescente que tentou sair o fez com uma cicatriz no
rosto. Ele está com medo. Eu não tive que dizer muito para convencê-lo a vir
comigo.
— Por quanto tempo temos que ficar longe da casa? Não posso viver
indefinidamente em um motel e tenho um emprego na cidade.
— Dieter e o pai não e dão bem. Vou ligar para o meu chefe, arrumar
alguma coisa. Isso nos deixará livres para fugir.
— Você não pode contar a ninguém onde você está. Nem Dieter
também.
— Tudo bem.
— Ninguém. Eu quero dizer isso. Nem mesmo a escola para dizer que
ele está voltando, ou algum de seus amigos. Se você trouxe o telefone dele,
não dê a ele. Desligue o seu quando não estiver usando.
— Oh Deus.
Ele estava certo? — Isso pode ter sido um acidente, disse Kell, depois
se perguntou o que diabos ele estava fazendo. Gethin se afastou dele, Kell
não lhe devia nada. O cara nem tinha atendido o celular. Kell tentara três
vezes e, a cada vez enviava mensagens de voz e, em todas as ocasiões,
apagara o histórico de chamadas dele por via das dúvidas.
Marek veio até ele e colocou a boca contra o ouvido de Kell. — Esse
cara está te esperando na sua casa?
— Eu não sei. Vou ter que ligar para alguém verificar. A câmera no
exterior pegou Dieter depois que o alarme disparou. Ele estava no meio de
um grupo de caras, parte de um grupo que virou à esquerda, então a câmera
o perdeu.
Kell ficou aliviado por Gethin não ter sido pego fazendo algo que ele
não deveria ter. Talvez ele tivesse combinado com Dieter e tivesse tido o
bom senso de não fazer isso do lado de fora do clube. Mas isso não se sentou
confortavelmente no estômago de Kell.
— O garoto achou que havia fogo e correu. Tula também correu, disse
Marek.
— É possível. Ele não tem uma chave, mas ele pode estar por perto.
Pegue Kell e verifique. Se ele não estiver lá, tente a casa da mãe.
****
— Warner deixa assim. Eu vou entrar e sair por trás. Você olha aqui e
ao redor.
Marek passou pela casa, uma pequena casa geminada em uma rua
tranquila. Não havia carro na entrada, embora isso não significasse que não
houvesse ninguém em casa.
— Que diabos você está fazendo aqui? Kell sussurrou. — Dieter está
aqui? Ou a mãe dele?
— Não.
Merda. Kell não via nenhuma maneira de Gethin escapar, exceto pela
forma como Kell tinha vindo. Não havia tempo para uma discussão.
Kell deu uma enrolada para abrir a porta tentando dar a Gethin tanto
tempo quanto poderia.
— Não. Não parece que Dieter voltou para cá. O quarto dele está
muito arrumado.
— Ou Dieter pediu que sua mãe viesse buscá-lo. Eles podem estar de
volta a qualquer momento.
Kell esperava que a escova de dentes ausente indicasse que isso não ia
acontecer. — Parece que ela fez as malas. As gavetas estavam abertas no
quarto dela. Edredom fora da cama. Dieter pode ter pedido que ela o
encontrasse em algum lugar. Ou ela pode ser do tipo desleixada está com
uma amiga.
Marek olhou para ele enquanto falava ao telefone. — Sim. Eu vou ver
isso. Tchau. Ele guardou seu telefone e caminhou até a porta. — Onde você
encontrou a chave?
Ela ainda estava na porta. Gethin tinha deixado isso. Graças a Deus.
— Warner está chateado. Ele está pensando com o pau dele. Vamos.
Kell trancou a porta e, para seu horror, não viu nenhum sinal de vaso
de plantas. Talvez Marek não notasse.
— Onde estava a chave então? Eu pensei que você disse que estava
sob o vaso de plantas? Kell colocou-o na parte de trás da lixeira. — Eu quis
dizer geralmente. Na maioria das vezes, quando eu tenho que entrar em
algum lugar que está trancado, a chave está em algo do lado de fora da porta
dos fundos. Na maioria das vezes, um vaso de flores, mas caixotes de lixo
também, por trás de lajes, sob as pedras. Uma vez encontrei uma dentro de
uma ratoeira.
Quando Marek não disse mais nada, Kell soltou um suspiro de alívio.
De volta ao carro, eles desceram a estrada, e Kell tentou parecer relaxado
quando estava sentindo qualquer coisa, menos isso. Isso poderia ter ido para
o inferno se Marek tivesse visto Gethin.
Marek perguntou. Kell tinha certeza que o cara sabia até o dia. —
Cerca de cinco meses.
— Fleury-Mérogis.
— Nunca ouvi falar, disse Marek e Kell suspeitou que ele estava
mentindo.
— É legal?
****
Gethin geralmente era rápido em avaliar situações, mas ele estava
tendo problemas em descobrir o que Kell estava fazendo. Era óbvio que
Warner tinha enviado Kell e Marek para a casa de Dieter para encontrar
Dieter e, presumivelmente, levá-lo de volta, mas Kell ajudou Gethin a fugir
quando ficou claro que Gethin sabia onde Dieter estava.
Por quê? Por causa de seu... arranjo? Kell ainda não sabia que Gethin
havia desistido disso. Não existia nenhum sinal que aparecesse em seu
telefone dizendo ‘seu número foi bloqueado por essa pessoa’. Gethin o havia
esnobado no clube, então talvez Kell tivesse entendido a mensagem. Não era
difícil concluir que Kell ajudando-o tinha algo a ver com Kell, não querendo
que Dieter fosse encontrado. O que fez de Kell um cara bom e não ruim.
Ao ver isso pelo ponto de vista dele, o que Kell achava que Gethin
estava aprontando? No lugar de Kell, ele pensaria que Gethin tinha ido ao
clube procurar Dieter, encontrá-lo e criado uma distração para permitir que
Dieter fugisse. Então, ele trouxe Dieter para casa e persuadiu a mãe a sair,
ou ele deixou Dieter em algum lugar e disse para a mãe dirigir até lá. Mas ela
não havia pegado o gato, então Gethin teve que voltar. Gethin era um bom
samaritano que agiu rápida e decisivamente quando Dieter recorreu a ele no
clube, ou era um amigo da família, ou ainda ele poderia ser um investigador
particular.
Ele não percebeu que o gato estava fora da transportadora até que a
maldita coisa pulou em seu colo com um grunhido indignado e afundou suas
garras em sua coxa. Ele quase saiu da estrada.
— Jesus Cristo. Saia. Ele tentou agarrar a coisa pela nuca e ela
arranhou sua a mão. — Ai.
— Bom gatinho. Vil, cria do diabo, maldito bastardo. Sua mão estava
sangrando.
— Aqui. Isso não foi tão ruim. Apenas se acalme. Ele o acariciou
algumas vezes, e o gato rosnou. Antes que pudesse se soltar, ele empurrou-o
para dentro da caixa e soltou um suspiro de alívio quando ele fechou o
portão de metal. Ele colocou o fecho no lugar. Oh foda-se Dois fechos. Isso é
o que ele fez de errado. Os uivos e assobios do gato aumentaram de volume.
****
—Não.
—Tente de novo.
— Claro.
— Além da TV grande.
— Por quê?
— Não, senhor.
— Então me dê.
Kell alcançou-o no bolso e entregou-o. O que eu fiz? Por que ele está
desconfiado? O coração de Kell bateu com tanta força que ele podia sentir a
batida pulsando em todo o corpo.
— Irmão da minha mãe. Ele não está bem. Eu fico de olho nele.
Kell gostou muito da idéia de seu chefe ser acordado a esta hora da
manhã.
— Quem é G?
— Nenhuma resposta?
Mas Marek riu. — Sr. Boca inteligente. Diga-me o que bate Scissors,
Paper and Stone?
Kell não conseguiu dizer a palavra você antes de Marek estar nele,
segurando-o com força, sua boca cuspindo sujeira no ouvido de Kell. — Eu
vou enfiar meu pau profundamente dentro de sua bunda e te montar com
tanta força que sentirá dor para se sentar. Você me sentirá dentro de você
por horas depois de eu ter ido embora. Eu farei você gozar até que você não
consiga respirar. Eu farei você implorar por mais. Diga-me o que você quer e
me chame de senhor.
Marek ficou boquiaberto com o espanto, depois sorriu. Kell lutou. Ele
não podia evitar, mas Marek era forte demais para brigar por muito tempo,
e ele gostava quando Kell resistia, então Kell desistiu. Ele queria ser capaz de
andar em linha reta quando o cara tivesse terminado. Ele não queria pensar
em Gethin, mas ele não conseguiu evitar. Isso acrescentou culpa à pilha de
lixo que já circulava em sua cabeça. Como alguém poderia querer um cara
que estava preparado para deixar Marek fazer o que diabos ele queria?
Quase.
Ele lutou de novo, lutou e pagou por sua resistência com uma dor que
o empurrou para o precipício. Quando Marek finalmente se levantou e se
vestiu, Kell estava deitado na cama, ensanguentado, machucado e mordido,
sua respiração trêmula. Mas não completamente quebrado.
— Você não deveria ter lutado, disse Marek. Kell não disse nada. Doía
falar ou se mexer. Eu não posso mais fazer isso. Embora isso fosse o que ele
pensava toda vez que acontecia. Embora nunca tivesse sido tão ruim assim.
Pelo menos a esta hora da manhã havia muita água quente. Ele ficou
parado por um longo tempo imaginando como explicaria as mordidas e
contusões para Gethin. Se é que ele teria a chance. Ou se ele queria a chance.
Quando Kell saiu do chuveiro, ele estava exausto, mas ainda ligado.
Ele engoliu alguns analgésicos e antes que pudesse se impedir, ligou para
Gethin.
— Não.
— Esse é o gato?
— Não é engraçado.
— Você acha? Tudo o que precisamos dizer pode ser coberto em uma
frase. Obrigado por não me entregar, mas esqueça que você já me conheceu.
Gethin cortou a ligação.
Não, Kell não ia fazer isso. Ele fez outra ligação enquanto lutava para
entrar em suas roupas.
****
Ele teve que abandonar a chave que Zena tinha dado a ele, se não
tivesse sido deixado na porta, ele precisaria invadir, a menos que ele tivesse
a sorte de encontrar o gato lá fora. Ele deslizou pelas sombras ao lado da
casa, dobrou o canto da parede e congelou. Kell estava sentado na porta dos
fundos, um grande gato ruivo ronronando contente em seus braços, uma
chave em sua mão.
— Para dentro, disse Kell e o gato saltou de seu colo e foi direto para
dentro da transportadora e se enrolou. Kell prendeu os dois fechos - é claro
que ele fez isso - e se pôs de pé. Ele está estremecendo?
Não era difícil concluir que Kell fora deixado por Marek com ordens
de esperar pelo retorno de Dieter.
— Sim eu vou.
— Vai usar o gato como moeda de troca para levar Dieter de volta às
garras da Warner?
— Não.
— Eu estava trabalhando para eles. Você acha que eu não usava nada
além daquele avental e deixei as mulheres colocarem as mãos em cima de
mim por diversão? Eu estava ajudando um amigo que estava com pouco
pessoal.
— Eu não sei por que você está agindo como se eu tivesse te chateado.
Nós fizemos um arranjo, nos divertimos, e então você aparece no lugar em
que trabalho como segurança e me trata como se eu fosse algo em quem
você tropeçou.
— Um ladrão de gatos.
— Sua mãe relatou sua falta, mas a polícia não está interessada em
um fugitivo de dezessete anos então ela me contatou. Fiquei tão chocado
quanto você quando o vi lá.
— Eu também.
— Você não acredita em mim? Kell retrucou. —Por que diabos você
acha que eu te disse para sair de lá com o gato?
Kell deu uma risada curta e áspera. — Eu não queria ver Marek
convencê-lo a dizer a ele onde estava Dieter. Ele não é um cara que escuta
um não.
— Marek? —Gethin decidiu fingir que não sabia de quem Kell estava
falando.
— Cara grande. Quase careca. Alguns centímetros mais altos que eu.
Muito mais amplo. O segundo em comando de Warner.
Gethin esperou que ele lhe contasse o resto, mas Kell não disse nada.
— Por que diabos você está trabalhando para uma merda como
Warner?
— O dinheiro é bom.
Gethin franziu a testa. No que ele estava gastando seu dinheiro? Ele
morava em um lugar minúsculo e não tinha nada além daquela TV.
— Poucos meses.
— Eu estava na prisão.
— Roubo.
Gethin estava percebendo que ele não sabia quase nada sobre esse
cara. Ele tentou dizer a si mesmo que não se importava, porque essa nunca
tinha sido a intenção, mas importava.
— Você está bem com o que Warner faz? Gethin saiu da rua e entrou
n a auto-estrada e acelerou o carro.
Kell não era idiota. Ele sabia que isso não o salvaria se Warner caísse.
— Eu estou do seu lado. A voz de Kell foi contida, como se ele sentisse
que Gethin não acreditava nele. — Warner disse a Marek que destruíssemos
o lugar, mas eu o convenci de que era uma má ideia. Isso foi depois que
Marek derrubou óleo no chão da cozinha. Eu tranquei, coloquei a chave
atrás do latão e contei a Marek onde eu encontrara.
— Eu não tenho nenhuma ideia de que lado você está. Gethin desejou
que ele soubesse.
— Warner não tem motivos para suspeitar que eu sei onde está
Dieter. Eu não estou devolvendo a criança para ele.
— Não, não é. Você escolheu trabalhar para um cara que ganha a vida
com clubes gays e pornografia. Um cara que pressionou um adolescente
para sugá-lo em público. Um cara que disse ao adolescente para escolher
quem ele gostasse no clube e persuadi-los a pagar por sexo com ele. Ele teve
sorte de ter me escolhido.
— Você acha que vou levá-lo até onde Dieter está para que você possa
telefonar para seu chefe e impressioná-lo com sua astúcia?
De qualquer forma, nem Gethin nem Kell sabiam para onde Dieter e
sua mãe iria quando saíssem do motel.
— Não tenho certeza. Aquele garoto pode dançar. É como se ele fosse
feito de elástico. O clube está ficando cada vez mais ocupado à medida que a
notícia sobre ele é divulgada. Warner fica facilmente entediado, mas Dieter é
diferente e Warner é maníaco por controle. Ele não vai gostar de alguém
levar um de seus brinquedos. Ele quer que Dieter volte para provar um
ponto antes de jogá-lo aos cachorros.
— Sim.
— Certo.
— Você não disse a ele que gostava de mim? Gethin se forçou a sorrir.
Conte-me sobre você e ele. O que ele é para você?
Porque isso teria caído tão bem. Kell sacudiu a cabeça. — Teria sido
melhor se você não tivesse atraído atenção de Marek. Agora que ele te
conhece, ele não vai esquecer. Mas eles não sabem quem disparou o alarme.
Para sua sorte, a câmera não estava funcionando na passagem de trás. Bater
em Warner o deixou desconfiado, mas eu apontei que todos estavam
entrando em pânico e a câmera que pegou isso estava funcionando. Você
conseguiu fazer com que parecesse um acidente. Eu fui derrubado também.
Você não saiu com Dieter e as câmeras mostram isso também. Vocês dois
foram em direções opostas. Eu não acho que Warner tenha acesso a
qualquer uma das câmeras de rua. Contanto que ele não descubra que você é
um PI, eu acho que você está bem.
— Eu acho que você deve ficar o mais longe possível desse lugar.
— Por quê? Porque Marek não vai gostar? Gethin queria as palavras
de volta, mas já era tarde demais.
Gethin podia sentir sua esperança por algo mais com Kell deslizando
para fora do alcance. — Você está com ele, mas queria estar comigo do outro
lado.
— Nada como isso. Eu não posso dizer não para Marek. Eu não quero
dizer não para você.
Depois que ele terminou a ligação, ele se virou para olhar para Kell.
— Eu...-
— Sim, eu... –
— Não me diga. Não conte a ninguém.
Kell agarrou-se ao casaco de Gethin. Cheirava a ele e aquilo fez Kell se
sentir estupidamente melhor - mais seguro. Exceto que ele não deveria se
sentir assim. Ele não confia em mim. Não tenho certeza se ele acredita em
mim. Isso doeu e ainda assim como poderia culpá-lo? Ele queria dizer a
Gethin que ele era um policial disfarçado, mas isso ia contra tudo o que
havia sido perfurado nele. Isso colocaria os dois em perigo. Gethin voltou
pelo corredor e Kell o seguiu escada acima.
— Sim.
Gethin abriu a porta e fez um gesto para que Kell entrasse. Kell
colocou o casaco e a bolsa em uma cadeira, tirou o paletó e sentou na cama.
De casal - isso foi intencional? Ele gemeu e colocou a cabeça entre as mãos.
Ele estava desesperado para dizer a verdade a Gethin. Ele não gostava de
Gethin pensando que ele era uma puta, se deixando ser fodido apenas para
manter seu emprego.
Kell rangeu os dentes, então caiu e se virou para olhar para ele. — Eu
não deveria ter começado isso. Eu sinto muito. É só que... eu gosto de você.
Foi bom estar com alguém que eu gostava.
— Ou ‘eia cavalinho’.
Kell riu. Esse cara não tinha ideia de como era bom rir com intenção.
Kell mal podia acreditar que Gethin não o tinha deixado ao lado da rodovia.
Como ele ainda pode me querer?
Eu não me importo.
— É uma coisa boa que ele não esteja aqui, sussurrou Gethin. —
Porque eu o mataria.
— Às vezes.
— Porra, eu estava esperando que você nunca tirasse isso. Kell fez
uma pausa. — Como você conseguiu isso?
— Lembra-se do organizador da festa? Ele e seu parceiro afivelaram
tudo para mim. Eu bati o meu pé sobre a calça de couro.
Gethin sorriu.
— Oh Deus, Kell gemeu. — Veja, isso foi apenas uma vez. Arrgh, porra
não. Deus, Deus, Deus.
****
Gethin esperou pela culpa, mas não veio. Mesmo que ele e Jonnie
pudessem fazer isso, Gethin não faria. Só porque Jonnie estava vivendo no
passado, não significava que ele tinha que manter Gethin lá com ele. Jonnie
vai adivinhar o que eu fiz? Eu quero que ele faça isso? Não enquanto ele
estivesse contemplando o suicídio assistido. Se Jonnie continuasse com isso,
a vida seria muito menos complicada. Gethin mereceu a dolorosa pontada
de culpa que seguiu esse pensamento.
Suas esperanças de que Kell pudesse ser alguém que ele pudesse
contar sobre Jonnie também estavam morrendo.
Kell riu e Gethin gemeu quando o som vibrou através dele. Quando
ele começou a se mover, Kell parou de rir e começou a dar pequenos gritos
de prazer. Marek faz você se sentir assim? Por que você tem que deixá-lo te
foder? Kell enrolou os braços e as pernas em volta de Gethin, enterrou os
dedos em seus cabelos e arrastou-o para um beijo demorado. Quando
Gethin se afastou, os olhos de Kell estavam vidrados. Isso é tudo que é? Uma
foda? Gethin balançou a pélvis e começou a dirigir mais duro, empurrando
Kell através da cama. Estocadas firmes e fortes fizeram suas bolas se enrolar
em direção à explosão iminente, e Gethin se forçou a desacelerar, mudar
para golpes curtos e rápidos, depois empurrões suaves. Qualquer coisa para
fazer isso durar, prolongar o prazer o máximo que pudesse.
— Você deve ter dormido. Eu tenho estado aqui por cinquenta e oito
minutos.
O sorriso de Kell dividiu seu rosto. Gethin circulou seus quadris, não
apenas empurrou, mas fez seu pênis dançar, torcer e serpentear. Ele dirigiu
dentro dele com força, deslizou lentamente, mergulhou rápido até suas bolas
incharem com necessidade. Tanto tempo desde que ele havis se sentido
assim. Ele já havia se sentido assim?
— Oh, porra, Kell gemeu. — Isso é tão bom. Ele fez uma pausa. —
Bom, bom, bom.
Ninguém jamais reclamou, mas Gethin sabia que ele queria que Kell
pensasse que, tinha feito o que podia para garantir que Kell gostasse de ser
fodido por ele. Para limpar Marek de sua mente. Da mente de ambos. Isso
não durou muito.
Kell sobressaltou-se. Talvez isso não devesse ter sido a primeira coisa
que veio da boca de Gethin, mas funcionou como uma distração.
— Isso não era o que você estava pensando. A boca de Kell se apertou
em uma linha fina.
Gethin enrijeceu. Ele não queria discutir o que Kell estava fazendo.
Ele não entendia a razão disso, nunca entenderia por que ele deixaria um
sujeito machucá-lo, e sabia que estaria enganando a si mesmo se achasse
que ele e Kell poderiam ir a qualquer lugar enquanto ele ainda estivesse
fodendo ao redor noutro lugar. Então diga isso a ele.
Gethin sentou-se. — Veja. Isso foi divertido. Eu queria que você não
estivesse brincando com outro cara, mas você está. Você não quer
compartilhar suas razões, tudo bem.
Gethin ergueu as sobrancelhas. — E isso faz com que tudo fique bem?
— Sim.
— Exceto o quê?
— Depois disso, não parecia haver muita razão para resistir. Mas eu
fiz isso, eu lutei com ele. Ele gosta que eu lute. Merda. Eu não quero falar
sobre isso. No entanto ele está parado entre nós como um maldito psicopata,
imaginando qual deles matar primeiro. Mas eu fui tão longe, se eu parar
agora, tudo foi para nada.
— Ei. Você não precisa explicar. Às vezes temos que fazer coisas que
preferimos não fazer. Para o bem maior, sim?
— Agora você está pensando que o que você faz com Marek não
significa nada para mim, disse Gethin, — que eu não me importo. No
entanto isso é importante, e eu me importo. Eu não gosto disso e gostaria
que ele nunca tivesse tocado em você. Eu ainda quero matar o bastardo, mas
eu entendo. Nada é preto ou branco.
Kell deu uma risada abafada. — Nossas vidas estão mais entrelaçadas
do que pensávamos. Você também pode me dizer onde você gosta de ir de
férias, se você tem um irmão detestável e se você é alérgico a qualquer coisa.
Ele fez soar como uma piada, mas Gethin sentiu que não era. Seu
não-relacionamento estava mudando, quer gostassem ou não. Quando
Gethin não estava desesperado para gozar ou perdido em uma névoa pós
orgástica, era mais fácil raciocinar. Isso já era mais do que sexo sem
amarras. Não importa o quão importante fosse para o trabalho de Kell,
Gethin não queria que Marek transasse com ele. Ele queria que Kell saísse
do clube e talvez as informações que ele havia tirado do computador de
Charlton ajudassem nisso.
— Acordei você?
— Trabalhando.
— Onde?
— Toddington.
— Preciso de você.
— Não. Gethin não estava pronto para revelar essa parte de sua vida.
Eles tiveram revelações suficientes por uma noite. Ele caiu de volta na cama.
Kell riu.
— Estou falando sério. Ele é uma foda torcida que fez da minha vida
uma miséria de qualquer forma que ele pudesse quando era jovem. Ainda
faz quando ele tem a chance.
— Em qual das vezes? Kell deu uma risada silenciosa. — Certa vez,
estávamos à beira do lago cavando buracos e Oliver me convenceu a fazer
um túnel entre eles. Ele geralmente nunca brincava comigo sem que
houvesse algum tipo de problema e eu deveria ter dito não, mas eu não fiz
isso. Eu estava me divertindo. Oliver disse que eu poderia ser o único a
romper do meu lado para o dele. Eu consegui colocar minha cabeça e meus
ombros no outro buraco quando o túnel desmoronou. O peso da areia... Ele
suspirou. — Eu fui esmagado. Oliver não fez nada. Eu podia ver seus pés. Ele
sentou-se na beira do buraco, balançando-os para trás e para frente. Se meu
pai não tivesse vindo, eu teria morrido.
— Merda.
— Oliver me odeia.
Kell poderia ter dito sim, e teria sido isso, mas ele fez muito para ir
embora agora. — Não. O investigador sabe que eu sou um policial, mas ele
não disse nada. Não havia necessidade de Lane saber que Kell tinha dito a
Gethin que ele estava disfarçado.
— Eu confio nele.
— Marek me pediu para ir hoje à noite. Cedo. Deveria ser minha noite
de folga. Algo está acontecendo.
— Excelente. Envie detalhes quando puder. Eu vou reunir uma
equipe apenas no caso. Kell terminou a ligação quando Gethin saiu do
banheiro.
Enquanto ele estava sob o chuveiro, ocorreu-lhe que não tinha como
voltar a Londres a menos que pegasse um táxi. Quão idiota eu fui ao pensar
que isso significava alguma coisa? Uma sessão quente na cama e algumas
confissões não faziam um relacionamento. Quando ele pensou sobre isso,
viu que fora ele quem havia aberto seu coração, falado sobre sua família,
mas não sobre Gethin. Como seus pais morreram? Quando? Quem o criou?
E essa banda? Por que o Gethin não poderia lhe dizer?
Será que Gethin esperaria por ele? Talvez esta noite tudo acabe. Nada
mais Marek. Mas quem era Jonnie? Porra.
Quando Kell saiu do banheiro, ele ficou chocado ao ver Gethin ainda
lá. — Você não foi?
Gethin correu antes que Kell pudesse detê-lo. Kell tirou o celular do
bolso e ligou para o chefe. — Preciso de ajuda na Estação de Serviços da M1
em Toddington, no lado norte. Warner e Marek estão tentando pegar Dieter
de sua mãe e do PI.
— Certo... Ok...- Houve uma longa pausa antes que Lane falasse
novamente. — A ajuda está a caminho. Você já foi visto?
— Não.
— Fique fora de vista e na linha. Kell pegou uma das chaves da mesa e
subiu correndo as escadas. O quarto em que eles estiveram tinha vista para o
estacionamento. Escondido pela cortina, ele se levantou e observou. Com
certeza, Marek e Warner não fariam nada estúpido em plena luz do dia no
meio de um estacionamento coberto por câmeras de segurança.
Fariam?
****
Gethin correu para onde Dieter estava lutando com Marek. A mãe de
Dieter estava gritando para ele deixar Dieter ir embora. Warner permanecia
sentado em seu carro com a janela abaixada.
— Dieter quer vir conosco, disse Marek. — Eles não vão pará-lo.
— O que diabos isso tem a ver com você? Warner saiu do carro. —
Você conhece esse homem? Ele perguntou a Dieter.
— Por quê? Warner olhou para ele de cima a baixo. —Você não vai
conseguir pagar.
— Quanto?
— Dez mil.
— Você vai ser um bom menino e dançar para mim. Warner acariciou
o braço de Dieter.
— Silas Warner.
Gethin sentiu sua boca molhada. Ele esfregou os lábios e viu sangue
em seus dedos. Ele sentiu como se tivesse sido derrubado por um tanque.
Ele gemeu quando se levantou.
— Como este cavalheiro. Ele gesticulou para Marek que olhava para
Gethin como se quisesse achatá-lo no chão como um inseto chato.
— Dieter tem dezessete anos, disse sua mãe. — Ele fugiu de casa e eu
relatei a falta dele. Eu recebi uma ligação dele para dizer que ele estava aqui
com esse homem e eu vim aqui para buscá-lo.
Um dos policiais foi até Dieter. — Você quer ficar com sua mãe ou ir
com seu empregador?
— Ficar com minha mãe, sussurrou Dieter. — Mas não quero que eles
a machuquem.
O policial se virou para a Warner. — Machucar ela?
Warner ergueu as mãos com as palmas para fora. — O que Dieter faz
depende inteiramente dele. Ninguém quer que alguém seja ferido. Isso foi
apenas um mal entendido. Eu estava apenas preocupado com ele.
Gethin quase riu. Ele chutou a perna de Marek se isso contasse como
começar. Ele desejou que tivesse chutado-o em suas bolas. —Eu estava
tentando ajudar Dieter.
— Talvez isso não seja uma coisa totalmente ruim. Warner deu à
polícia seu nome. Eles pegaram o registro de seu carro. É muito menos
provável que ele tente levar Dieter de volta agora. Se vingar de mim, no
entanto...
— Por que você não disse a ele que você era um detetive particular?
Dieter perguntou.
— Empurrá-lo para fora do caminho para que você não estrague seu
disfarce?
— Você está insinuando que eu não poderia ter levado Marek? Gethin
fingiu estar ofendido.
— Ok. Escute - tire o meu número de seus contatos, por via das
dúvidas.
A bochecha de Kell se contraiu.
— Eu não disse a eles que eu era uma PI. Enquanto Warner não
registrar que a polícia nem perguntou meu nome, eu devo ficar bem.
Embora ele ainda estivesse preocupado com Marek.
—Eu vou sobreviver. Gethin pegou sua bolsa e casaco e saiu. Seu
telefone tocou quando ele se aproximou de seu carro. Ele puxou e checou o
chamador. — Sentindo minha falta já?
— Sim?
— Você não pode me manter seguro, mas você pode me manter forte.
Ele tinha ido apenas algumas milhas antes de ter outra ligação. Angel.
— Seu escritório. Meu Deus. Está uma bagunça. Parece que alguém
foi à loucura com um martelo.
— Provavelmente.
— Ouvi dizer que você esteve envolvido em uma pequena briga nesta
manhã. Eu preciso que você se afaste imediatamente, imediatamente de
Warner e do No Escape. Você tem o garoto de volta. Você fez o seu trabalho.
Agora deixe as coisas em paz.
Quando ele viu Marek em cima de Gethin, Kell havia corrido de volta
para o lobby. Até onde esses caras chegariam numa área pública e na frente
de duas testemunhas? Se a polícia não tivesse aparecido, Kell teria ido
ajudar Gethin. Gethin havia arriscado sua própria segurança para manter
Kell a salvo e Kell ficou mais tocado com isso do que ele poderia dizer.
Isso foi uma desculpa muito fraca. Kell esperou que Lane risse.
— E você descobre que não só esse cara irritou Warner ao roubar sua
atração principal, mas também roubou informações sobre os negócios de
Warner no computador de seu contador. Uma teia emaranhada. Ainda não
sabemos quem está por trás disso. É até possível que Warner esteja
querendo saber se ele não está sendo enganado por Charlton.
Lane bufou. — Isso não é o que você me disse. Ele sabe que você está
trabalhando disfarçado. É onde você o conheceu? Debaixo das cobertas?
— Sim, tem. Se você quiser ficar seguro, preciso saber tudo. Eu não
gosto de coincidências. Eu não gosto desse Jones estar ligado à Warner de
duas formas diferentes - através de seu contador e através de Dieter - e você
está bem no meio. Largue ele. Agora.
Dieter e sua mãe não eram os únicos que precisavam voar por baixo
do radar. Kell queria que Gethin fizesse o mesmo.
— Você não chora. Bem, isso era estúpido considerando o que ele
estava vendo. Ele puxou um lenço de papel da caixa na cama e gentilmente
limpou o rosto de Jonnie.
— O que aconteceu?
— Ela ligou para a polícia. Eu não acho que ela e Dieter terão mais
problemas.
— Pagaram você?
— Arranhado.
Gethin olhou para a mão dele. — Sim. Dieter queria o gato deles. Eu
peguei o errado. Gethin embelezou a história, mas ele podia ver que Jonnie
não estava realmente ouvindo.
Gethin não precisou perguntar sobre o que ele estava falando. Sangue
trovejou em sua cabeça.
— Jonnie...
— E quanto a mim?
— Você não pode se matar para tornar a vida melhor para outra
pessoa.
— Eu quero isso para mim. Ele piscou. — Você sempre disse que eu
era um egoísta... eu preciso disso em breve. Rápido. Por favor... se você não
vai me ajudar, eu vou ter que pedir a um estranho.
Como você vai fazer isso? Você nem tem a porra do dinheiro para
pagar por isso.
— Sei que este é um pedido difícil, mas preciso que você me ajude. Eu
pedi ao pessoal aqui. Não vou nem falar sobre isso... Fodido psiquiatra... Dr.
Tolly. Preciso que ele diga que minha mente está sã... Disse que ele poderia
falar com você sobre mim. Ligue para ele.
Oh porra.
A garganta de Gethin ficou presa. Ele olhou para o cara ao seu lado e
se lembrou do velho Jonnie. A dor na bunda que era Jonnie, o Jonnie sexy e
até mesmo o Jonnie traidor, e Gethin entendeu que o cara não queria
machucá-lo. Era apenas o jeito que ele era. Descuidado, despreocupado,
imprudente. E Gethin estava ciente do que Jonnie não estava dizendo. Não
que o acidente dele tenha sido culpa de Gethin. Jonnie nunca o culpou, não
exatamente, mas...
— Por favor.
— Okay. Eu vou ajudar. Gethin mal podia acreditar que ele tinha
pronunciado as palavras. Ele teve que forçá-las além do nó duro em sua
garganta. Mas Jonnie sorriu de um jeito que Gethin não tinha visto desde
antes do acidente. Seus olhos brilhavam e havia uma espécie de paz em sua
expressão que Gethin nunca tinha visto antes. Que direito ele tinha de
impedir Jonnie de fazer o que ele queria?
Embora isso não significasse que ele não iria continuar tentando fazê-
lo mudar de idéia.
— Ok.
Gethin saiu antes que ele quebrasse. Ele não era um cara que
chorava, mas ele estava sendo empurrado além de seus limites. Ele ligou
para o psiquiatra antes de entrar no carro.
— Dr. Tolly?
— Sim.
— Sim.
— Sim.
— Sim.
— Não é algo que pode ser facilmente julgado como, por exemplo,
uma lâmpada que está apenas acesa ou apagada.
****
Kell chegou ao clube como ordenado antes das sete. Quando ele
entrou, Marek estava conversando com Warner em um lado da sala. Huginn
e Josef, um dos seguranças, estavam recostados no balcão lado a lado. Josef
acenou para ele e Kell se dirigiu para o lado deles. Leo, um dos barmen, saiu
do banheiro e se juntou a eles.
— Sabe o que estamos indo fazer hoje à noite? Porque quanto mais
cedo ele descobrisse, melhor a chance de dar um aviso ao seu chefe, embora
a localização de Kell fosse constantemente monitorada pelo telefone.
Kell os seguiu para fora do clube e virou a esquina onde duas velhas
vans brancas estavam estacionadas. Ele memorizou o registro do primeiro,
mas não conseguiu ver o da segunda.
— À beira-mar.
Kell apertou o cinto de segurança. Agora ele tinha que ter cuidado.
Parecer muito interessado poderia foder isso.
Marek riu, mas Kell não estava brincando. Ele precisava de espaço
para pensar. Olhar para os galhos não ajudou muito.
— Estamos indo atrás de Dieter? Por favor, diga que não.
— Merda.
— Que cara?
— Ele era o PI? Kell pensou que era seguro fazer a conexão.
— Sim.
— Coleta e entrega.
— Não.
Pett Level Road. Praia de Winchelsea. Kell tinha certeza de que isso
ficava no meio do nada.
— Nasci. Ele queria ser filho único. Minha mãe me disse que ele
quase me sufocou quando eu era bebê. Ela disse que foi um acidente, mas eu
não acho que foi. Ele esperava que Marek iria se abrir sobre si mesmo
porque Lane não tinha sido capaz de descobrir nada sobre ele.
— Não.
— Irmãos e irmãs?
— Tenho uma irmã. Quatorze anos mais nova que eu. Eu sempre a
protegi. Eu mataria qualquer um que tentasse machucá-la.
Kell ficou tão chocado que não disse nada por um momento. Não
apenas chocado. Horrorizado. Ele sabia que seu chefe ficaria encantado. —
Eu acho que não, ele murmurou. — Eu já tenho um irmão tentando me
matar. Você vai longe demais às vezes.
Marek riu. Kell lutou para colocar sua cabeça em torno de Marek
perguntando isso a ele. De jeito nenhum ele diria isso ao chefe dele. Eu não
vou morar com esse cara. Kell queria que isso acabasse logo, então ele teria
uma chance com Gethin.
— Okay, se você quiser. Eu vou poder fazer café, não vou? De jeito
nenhum. Ele fechou os olhos e encostou-se à janela.
****
Kell correu para a entrada e foi direto para o banheiro, checou para
ver se estava vazio e se fechou em uma cabine. Ele pegou o telefone e ligou
para o chefe.
— Vá em frente.
Josef bufou.
Mulheres?
— Tio Bob. Posso pedir um favor? Kell assentiu para a mulher que
servia. — Um Big Mac, nuggets de frango e um McLanche Feliz.
— Pett Level Road corre ao longo da costa. O que quer que você esteja
indo buscar lá virá do mar. Não podemos colocar uma equipe na sua frente
porque os veículos seriam vistos. Estamos pensando em pegar uma van e
deixar a sua.
— Okay.
Kell apagou sua mente, exceto pelo pensamento de que talvez ele
nunca tivesse que fazer isso novamente. Ele chupou mais forte, torceu a base
com o punho enquanto bombeava e sentiu o pau de Marek aquecer e inchar.
Então Marek estava gozando, jorrando em sua boca. Kell engoliu o fluido
salgado-doce e se perguntou quem ele mais odiava, Marek ou ele mesmo.
— Lá adiante, disse Leo.
Kell viu uma luz piscar no mar. Marek se levantou e jogou o cigarro
de lado. Ele pegou o telefone e mostrou um sinal de resposta.
— Eles vêm em dois grupos, disse Marek. — Josef, você e Leo fazem
o primeiro grupo. Volte via Hastings. Não pare.
Kell ficou quieto. Demorou um tempo antes que ele pudesse ver
qualquer coisa. Ele se concentrou em um barco que parecia não estar se
movendo, em seguida, avistou um bote inflável vindo em direção a eles, o
som de seu motor funcionando sobre a água. Marek olhou de volta para a
estrada como se tivesse ouvido alguém e Kell se perguntou se Lane
decidira tirar todos eles agora, mas nada aconteceu. Embora se Lane
tivesse uma equipe de prontidão, eles esperariam até que o barco estivesse
em terra.
— Sim.
Ela pareceu aliviada. Havia sete garotas. Nenhuma parecia ter mais
de vinte e provavelmente nem isso, mas pelo menos não eram crianças.
Kell tentou ligar seus rostos às fotos do arquivo no carro de seu chefe, mas
estava tão escuro que era difícil ter certeza. Quando ele voltou para a praia,
ele viu um dos rapazes do barco entregar dois pacotes embrulhados em
papel para Marek, e então a embarcação foi ligada novamente, de volta ao
mar.
Kell empurrou a jaqueta até a área dos pés e viu um dos pacotes que
Marek havia recebido. Onde estava o outro? — O que tem aí?
— Coca.
— Oh.
— Sim. Oh merda, eu não quero ser pego com isso. Ainda assim,
tem suas impressões, não minhas.
— Você não toca em drogas. Você não bebe demais. Você fala
demais, mas eu sei como calar sua boca.
— Sim. Kell apertou os lábios juntos.
****
Kell abriu a boca e mudou de idéia. Marek chateado nunca foi uma
boa notícia.
Idiota.
— Sim.
O que? Parecia que Marek estava tão surpreso ao ver Gethin quanto
ele. Kell não entendeu o que estava acontecendo.
Mas quando Kell se moveu, Gethin ofegou, — Três contra um. Isso é
desportivismo.
— Onde está?
Pav fez algo por trás das costas de Gethin e Gethin sugou em uma
respiração sem folêgo.
— Bem escondido.
— Onde?
— Você leu?
— Não.
Gethin assentiu.
— Warner.
— Não.
— Mantenha isso entre nós. Eu vou lhe contar o que aconteceu hoje
à noite e quero que você diga sim ou não se eu entendi errado. Tudo bem?
— Não.
— Sim.
— Sim.
— Um?
— Sim.
— Não dois?
— Não.
— Ele perguntou. Tem certeza de que foi tudo o que ele perguntou?
— Sim.
****
Gethin ficou rígido quando ouviu Marek dizer que Warner estava
checando Kell. A presença de Kell foi reconfortante, mas talvez Kell
também estivesse em apuros. Ele ficou chocado quando Marek chutou a
porta, mas quando Kell apareceu, ele se sentiu aliviado. Exceto que ele não
queria que Kell se machucasse tentando ajudá-lo.
Gethin pensou que tinha entendido tudo agora.
Pav se virou e sorriu para ele. — Minha irmã é uma boa atriz. Suas
lágrimas te enganaram. E as contusões. Ela é maquiadora.
****
O prédio do escritório estava deserto. Eles subiram no elevador e
Kell acariciou sua bunda. Não seja pego. Gethin saiu primeiro e seguiu
pelo corredor. Marek pegou as chaves do bolso de Gethin, mas foi só
quando a porta não abriu que Gethin lembrou que a fechadura havia sido
trocada.
— Eu pareço idiota?
— Eu não estou pulando atrás dele. Da próxima vez que eu o vir, vou
matá-lo.
Marek agarrou o cabelo de Kell e riu quando ele o puxou para perto.
—Você fez tudo certo.
— Preocupado comigo?
— Talvez isso tenha sido uma coisa boa. O sangue convenceu Marek
que você realmente iria fazer isso.
24
bonecos de porcelana colecionáveis Royal Doulton.
— Sim. Gethin jogou o casaco para Kell. — Coloque isso. Você vai ter
todo mundo pensando que é um apocalipse zumbi. — Ele se aproximou e
tocou o pescoço de Kell novamente. — Eu quase deixei cair a faca quando
percebi que eu tinha cortado você.
—É apenas um arranhão.
****
Kell não conseguia abrir os dedos para levantar a viseira. Gethin tirou
o capacete e ajudou Kell com o seu. Ele segurou os dois capacetes em uma
mão e pegou o laptop da caixa. Kell estava tentando convencer seus
músculos a cooperar.
— Você está aqui com alguém. Angel agarrou seu coração. — Oh que
dia feliz. Não é Macbeth. Não há dias felizes nesse jogo. Henry IV parte dois.
Então ele franziu a testa. — Você me parece familiar.
— Este é Kell. Ele estava naquela festa.
— Não. Gethin se virou para Kell. — Por que você não se aquece?
— É uma linda árvore. Kell tentando lembrar a última vez em que ele
tinha pendurado decorações em uma árvore de Natal.
— Eu sei.
Henry entrou com uma bandeja e colocou em uma mesa lateral. Ele
entregou a Kell sua bebida primeiro e Kell embalou a caneca em suas mãos
ainda frias. Ele estava exausto. A adrenalina finalmente havia se dissipado.
Coisa boa que hoje era sua noite de folga, porque depois de tudo o que
aconteceu, ele não tinha mais energia restando em seu corpo. Henry sentou-
se em frente a Gethin e Angel empoleirou-se quase em cima de Henry. Kell
conseguiu dar um sorriso.
— Comece pelo início. Não deixe nada de fora. Angel se inclinou para
frente.
— Que Kell e você são o quê? Perguntou Angel. — Você não pode
parar. Eu não entendi todo o resto, mas agora está ficando interessante.
Henry olhou para ele antes de se virar para Gethin. — Então você não
pode voltar para o seu lugar.
Gethin puxou para trás, então o fodeu com tanta força que os joelhos
de Kell quase se dobraram. Cada investida atingia aquele ponto perfeito e
estrelas explodiram na cabeça de Kell. Oh Deus... porra... Cristo. Ele
alcançou seu pênis para se masturbar, mas Gethin afastou sua mão e
agarrou-o, acariciando... apenas do jeito certo.
— Eu ganhei, certo?
— Por agora.
—Ganho um prêmio?
— Eu.
Muito cedo para aquela palavra de quatro letras, mas havia uma
grande chance dela se desenvolver. Kell queria sair com Gethin
apropriadamente, ir a encontros, falar sobre algo diferente de Warner,
Marek ou Charlton. Ele queria que esse trabalho terminasse, para que ele e
Gethin pudessem aproveitar o presente e planejar um futuro.
Gethin saiu do chuveiro e jogou uma toalha para ele. Kell pegou-a e
esfregou o cabelo. Ele ouviu um telefone tocando e Gethin se inclinou para a
pilha de roupas. Quando ele olhou para ele, foi como se uma cortina tivesse
caído sobre seu rosto.
— Jonnie...? OK. Sim, eu irei agora... Não, tudo bem. Talvez não
houvesse futuro enquanto esse Jonnie pudesse fazer Gethin sair correndo
para ele. Por que Gethin não lhe disse quem ele era? Kell vestiu a cueca e o
jeans, enfiou os pés nos sapatos. Talvez Angel ou Henry lhe emprestassem
uma camiseta. Ele se olhou no espelho, tocou a marca vermelha em seu
pescoço e tentou não pensar em com quem Gethin estava conversando.
— Tudo bem.
— Certo.
— Ele é... um velho amigo. Precisa da minha ajuda.
— Não.
Talvez se ele tivesse dito a Gethin que ele não iria trabalhar
disfarçado de novo? Seus dedos apertaram a camiseta. Por que ele se
importaria? Era o trigésimo aniversário de Kell amanhã, mas por que
Gethin também se importaria com isso? Ele estava feliz por não ter contado
a ele. Kell precisava ter sua mente voltada para onde estava originalmente.
Em foder sem sentir nada. Em fazer o trabalho dele. Ele pulou com a batida
na porta.
Kell assentiu. — Você tem uma camiseta que eu poderia possa pegar
emprestado? Eu preciso jogar fora esta aqui.
Kell pulou de novo quando o telefone tocou. Ele arrastou-o para fora
do bolso, mas não era Gethin.
— Eu sei que é sua noite de folga, mas Pete está doente e Charlie
machucou a mão cortando limões e teve que ir ao hospital. Eu preciso que
você trabalhe atrás do bar. Eu vou pagar o dobro.
Angel tirou o celular do bolso. — Ivan, querido… Sim, por favor. Para
um amigo. O mais rápido que puder. Obrigado. Ele colocou o telefone de
volta. — Cinco minutos. Ele está ao virar da esquina. Tem certeza de que
está bem?
Kell colou um sorriso em seu rosto. — Sim, tudo bem. Obrigado pelo
chocolate quente e o chuveiro e tudo mais. Eu amo sua árvore. Foi um
presente de aniversário antecipado estar neste lugar quente e confortável.
— Seu aniversário?
— Gethin está, eu não. Kell fez o seu caminho para fora do quarto e
desceu as escadas, Angel em seus calcanhares.
Oh Deus.
— Na verdade não.
— Gethin pula quando Jonnie liga, mas ele nunca falou sobre ele e ele
me cala se eu tentar. Eu ofereci ingressos para Gethin para todos os tipos de
eventos que ele poderia levar o cara, mas ele nunca aceitou qualquer um, o
que me levou a pensar que ele não pode arriscar ser visto com ele. Eu tentei
definir Gethin em alguns encontros e ele nunca está interessado. Então você
vê porque eu estou surpreso que ele te trouxe aqui. Eu não acho que ele
tenha algum amigo e ele precisa de alguém. Todos nós precisamos de
alguém. Gethin é... frágil.
E eu não sou?
Kell afastou a mão dele. — É Jonnie que ele correu para ver. Ele disse
que poderia ter que passar a noite. Talvez a esposa do cara esteja fora da
cidade. Tente não parecer amargo.
— Tanto faz. Você está errado sobre Gethin precisar de mim. Ele não
precisa de ninguém.
****
Oh Deus, por que você não o deixou morrer? Suas anotações diziam,
Não reanime.
Gethin reprimiu sua irritação por ter vindo até aqui apenas para
voltar, mas não era a primeira vez. Ele se inclinou sobre Jonnie e colocou a
boca bem ao lado de sua orelha. — Eu estou trabalhando nisso. Eu juro.
Foi só quando Gethin estacionou do lado de fora da casa de Angel
que ele registrou que deveria ter pego uma chave. Ele ligou para o telefone
de Kell e, quando não respondeu, tentou Angel.
— Porra.
Angel olhou para ele. — Onde você esteve? O que diabos era tão
importante que você teve que sair daqui no meio da noite? Kell foi... Você o
machucou. Não estás envergonhado de enganá-lo com seus problemas
inoportunos? Dois cavalheiros de Verona e não Macbeth. Tenho vergonha
de você. Você o usou.
— Você não está apenas transando com ele. Você é cego se pensa
isso. Para um PI, você não é muito observador.
— O que eu fiz?
— Kell pensa que é para onde você foi. Para ver Jonnie. É verdade?
Kell é seu amante do lado enquanto você tem um cara em algum outro lugar
com quem você não pode estar, talvez porque ele seja casado?
— Eu... Gethin não conseguiu fazer a palavra não sair de sua boca.
Ele não podia ter se negado a ver Jonnie esta noite, não queria contar a
verdade a Angel até que ele dissesse a Kell, mas ele poderia esclarecer uma
coisa. — Jonnie não é casado. Eu preciso ir ao clube.
— Você não pode. Kell disse que era muito perigoso para você.
— Pode ser mais perigoso ainda para Kell. Eu vou usar um disfarce. É
algum evento especial esta noite? Noite de lobisomem talvez? Ele pegou o
telefone e checou. — Fetiche. Porra. Ele bufou. — OK. Eu preciso de um saco
de papel.
— Essas calças estão bem. Eles são pretas. As botas também estão
razoáveis. Angel olhou para ele. — Coloque a máscara no seu bolso. Você
tem que usá-la ou será reconhecido.
— Por que você tem todas essas coisas?
— Ah, a propósito, disse Angel. — Kell me disse para não contar, mas
não vou deixar isso me impedir. É o seu trigésimo aniversário hoje, hoje.
Não foda isso.
****
****
Kell olhou para cima. A voz de Oliver soou como vidro quebrando e
fez Kell se sentir como se tivesse mergulhado em uma confusão de cacos
irregulares.
— Você não sabe como fazer uma? Perguntou seu irmão. — Não é
muito de um barman, é? Patético nisso como você é em tudo mais. Três
partes de vodka para uma parte de martini seco. Respingo de salmoura de
azeitona. Despeje em uma coqueteleira cheia pela metade com gelo picado.
Agite bem, coe, enfeite com uma azeitona preta e sirva. Com um maldito
sorriso.
— O que você quer? Como Oliver descobriu que ele trabalhava aqui?
O coração de Kell estava batendo desconfortavelmente rápido. Ele quase
desejou poder ter um ataque cardíaco. Valia a pena fingir?
— Qual chefe? Lane? Oh Deus. Por quê? Eu vou matá-lo. Não, Lane
não iria. Então quem? Warner? Marek? O chefe de Lane, Beckwith?
Alguém mais alto? A mente de Kell girava como um tornado, mas ele se
certificou de não mostrar nada em seu rosto. Ele se mudou para servir outro
cliente, ciente da atenção inabalável e inquietante de seu irmão. Haveria
problemas. A única maneira de evitá-lo era sair com Oliver, o que não cairia
bem com Warner, mas Kell não tinha escolha. Oliver só precisava dizer
algumas palavras e Kell estaria acabado. Não apenas acabado. Morto.
Tente pedir a ele. Kell voltou para frente dele. — Oliver. Por favor,
não diga nada. Este trabalho é importante.
Tente uma ameaça. — OK. Se você não vai ser legal... você diz ou faz
qualquer coisa para foder isso para mim e eu vou ligar para sua esposa e
dizer a ela que você está aqui.
— Então eu vou anunciar para a sala que você está procurando por
um mestre que enfie comida na sua bunda.
— Esse cara está incomodando você? Perguntou uma voz rouca. Kell
olhou para o homem de capuz que aparecera ao lado de seu irmão. Ele
queria dizer sim, mas temia as consequências.
— Saia sem dizer uma palavra e a foto será deletada, disse o estranho
que não era um estranho. Gethin. — Abra sua boca e você estará em todo o
Twitter antes de passar pela porta.
Oliver olhou. — Isso ainda não acabou.
— Não sem você. Eu deveria ter dito a você onde eu estava indo, mas
foi uma emergência e Jonnie é uma longa história.
Não havia tempo para Kell sair de trás do bar. Não havia tempo para
Gethin sair do clube. Apenas tempo para Kell apertar 9-9-9 no celular de
Gethin e escondê-lo atrás de um contêiner de fatias de limão. O segurança
que Kell conhecia como Muninn estava de um lado de Marek e Big Sev
estava do outro lado. Gethin se encolheu quando eles pressionaram contra
ele.
— Socorro, Kell sussurrou. Ele deveria ter gritado mais cedo, não
apenas aceitado. Consciente de estar sendo movido pela pista de dança em
direção à saída, ele se agitou tentando se libertar, mas seus membros
pareciam desossados. Enquanto ele era meio arrastado pela porta, ele viu
Oliver assistindo.
Kell deu uma olhada rápida ao redor. Eles não estavam no clube.
Talvez num armazém. Uma van de transporte escura estava na frente de
grandes portas duplas, um compartimento de carga ao lado.
— Eu sabia que não deveria ter lhe comprado aquele McLanche Feliz.
Marek riu e ficou de pé. — Difícil persuadir seu amigo a falar. É difícil
calar sua boca.
Marek acenou com a cabeça para Muninn que pegou uma arma e
segurou-a contra o joelho de Gethin.
— Você permitiu que ele saísse do escritório. Você sabia que eu não
tinha o que precisava.
— Ela gosta dele. Ele tem dinheiro e ele gasta com ela. Deixa-a
decorar sua casa. Compra-lhe jóias. Mas talvez ela não deveria ter começado
a gostar dele.
Marek voou para ele, bateu nele e a cadeira acabou virando e então
caiu em cima dele. Kell gritou com a dor em seus braços.
— Você não sabe, porra? Marek gritou para ele. — Eu peço para você
morar comigo. Você acha que eu pergunto isso a todo cara que eu fodo? E
então você deixa-o te foder.
Kell pensou que seus braços iriam se partir. — Ele não me fodeu. Eu
o fodi. Ele aproveitou sua chance. — Você deixou claro que eu nunca iria
conseguir transar com você, mas eu gosto de trocar. Isso não vai acontecer
com você. E você nunca disse que éramos exclusivos. Você não me trata
como um namorado, apenas como uma prostituta.
Marek olhou para ele por um momento. Kell tinha lágrimas nos
olhos. Meus malditos braços.
— Aposto que ele te levou na conversa, fingiu que ele não deveria ter
dito nada, pediu para você não dizer nada.
Isso marcou um hit. Marek já não parecia tão seguro das coisas. Kell
tentou não engolir, para tentar não demonstrar nenhum sinal de
nervosismo, mas estava lutando por sua vida. E pela de Gethin.
Quando Marek terminou sua ligação, ele voltou para Kell e colocou
uma braçadeira como algema em torno de seus pulsos antes de cortar as
cordas.
Oh Deus, oh Deus.
Como ele sabia que essa era a resposta certa? Kell tentou não
parecer aliviado. Ele tentou não expressar nada.
— Deixe-me ir, disse Gethin. — Eu fiz o que você queria. Eu nem fui
pago. O que você faz com a informação não tem nada a ver comigo. Eu
ficaria feliz em fingir que nunca nos conhecemos.
Marek acenou para Muninn e ele trouxe a arma para baixo na cabeça
de Gethin. Kell não conseguiu impedir que o suspiro escorregasse de sua
boca. Um momento depois, houve uma dor aguda na parte de trás de sua
própria cabeça e ele estava caindo.
****
— Continue.
— Sim, disse Kell. —Nós sabemos o que vai acontecer quando a van
parar e eles abrirem as portas. Mesmo estando livres, eles têm armas.
— Devemos ter um plano para o que fazer quando eles pararem? Kell
perguntou.
— Você é bom com uma faca? Você precisa cortar mais fundo do que
você fez no meu pescoço.
A frente do veículo colidiu com algo e eles foram lançados para trás.
Gethin agarrou-se desesperadamente à faca. O veículo se acomodou, mas
não parecia firme. Por que está balançando?
— Sim.
Gethin desejou ter certeza de que isso era verdade. A van não tinha
entrado na água por acidente. Ela tinha sido impulsionada e parecia mais do
que provável que a água seria profunda, porque quem quer que tenha feito
isso queria que eles fossem engolidos.
— Continue chutando, disse Gethin. Ele sabia que não tinham muito
tempo. Uma vez que o veículo tombasse, eles não teriam como ficar de pé,
nenhuma maneira de exercer força na única saída.
****
Kell podia sentir o pânico crescendo dentro dele, subindo por sua
garganta, ameaçando sufocá-lo. — Vamos chutar juntos.
Vez após vez, eles chutaram a trava até o ângulo do veículo tornar
isso impossível. Havia mais luz chegando onde deformaram os painéis das
portas, mas a fechadura ainda estava no lugar. Kell se sentiu deslizando
para a divisória. Ele tentou voltar para onde Gethin se agarrava, ainda
levando a faca para a fechadura, mas não havia nada para segurar. Já havia
um pé de água onde Kell se agachava e estava ficando mais profundo.
— Por quê?
— Como assim?
Gethin deu um suspiro pesado. — Isso pode ter te colocado aqui, mas
estou aqui por causa do cartão de memória. Embora aquele filho da puta do
Marek tenha uma surpresa. Além de um detalhe não muito pequeno de que,
quando abrir o arquivo, ele perderá todos os fragmentos de dados, também
enviei uma mensagem em código para um hacker amigo meu e pedi que
contatasse a polícia.
— Seu aniversário, disse Gethin. — Angel me disse. Foi por isso que
vim. Eu pensei que se seu irmão aparecesse, eu poderia te proteger.
— Oh Deus.
— Provavelmente.
Não pare. Não pare. Ele repetia isso em sua cabeça, mas era difícil
continuar. Seu corpo estava tão pesado e a água parecia estar ficando mais
escura, mais fria. Se ele pudesse apenas respirar... Apenas um. Mas ele não
podia.
— Você acha que eles ainda estão por aí? Gethin sussurrou.
— Não sei. Eles poderiam ter esperado para ter certeza de que não
sairíamos. Onde nós estamos?
Kell chamou seu chefe enquanto caminhava. — Sou eu, ele disse.
— Nós?
— Eu e o PI.
— Vou passar o telefone de volta para o cara que é dono dele. Ele
pode te dizer.
****
— Sim, mas eu não posso provar isso, e eu percebo que ninguém iria
acreditar em mim.
— Você entende que você está acusando ele de...-
Kell sentiu uma onda de alívio varrer sobre ele e o último calafrio
evaporou de seu corpo.
Lane riu.
Não era algo que Kell queria falar. — Eu não estou grávido.
— O que você quer que eu diga? Kell rangeu os dentes. — Você queria
informação. Você me escolheu porque eu era gay. Eu deixei ele me foder.
OK? Ele não me forçou. Porque admitir o estupro não ia acontecer.
— Você precisa colocar tudo em seu relatório. Nós não podemos ser
pegos nisso. Eu quero ver o esboço preliminar pronto antes de você sair do
hospital. Eu vou ter alguém esperando por isso. Não vai a lugar nenhum até
que eu tenha lido e discutido com você. Amanhã, quero você no escritório
para ser minuciosamente interrogado.
Lane saiu.
****
Ele era um idiota ao pensar que ele poderia ter mantido isto casual.
Ele soube no momento em que olhou para Gethin, seu interesse era mais
profundo do que isso. Kell tinha perdido a batalha antes mesmo de segui-lo
para fora da tenda - fodida kata.
— Pare de olhar para mim, disse Gethin. Havia luz de volta em seus
olhos verdes. Um meio sorriso no rosto.
— Eu vou te dizer por que, mas não aqui. Ele jogou o lençol para trás,
tirou o vestido e ficou nu na frente de Kell. Kell deu um gemido silencioso.
— Tem certeza que você me quer lá? Kell odiou que ele perguntou,
odiou que ele soasse um pouco patético, um pouquinho desesperado.
— Sim.
Kell exalou. Não houve hesitação, não - se você quiser vir - e não -
sim, mas apenas por esta noite. Apenas um claro e firme sim.
—Meu lugar não é muito, mas é melhor que o seu, disse Gethin. —Eu
gostaria de poder desembolsar para um hotel inteligente com serviço de
quarto, mas eu não posso me permitir isso.
Kell podia, mas a cama de Gethin soava perfeita para ele. Gethin
pediu um telefone emprestado para fazer a ligação, então eles desceram
para a entrada para esperar. Quando se sentaram um ao lado do outro em
um sofá no foyer, Gethin colocou a mão sobre Kell.
Contanto que eu não esteja em coma e sonhando com isso, sim, estou
bem. Bem, cada músculo do meu corpo dói incluindo minhas pálpebras,
mas fora isso eu estou perfeito. Eu estou apenas tendo dificuldade em
acreditar que tudo acabou.
Gethin apertou seus dedos e Kell desejou que de alguma maneira ele
tivesse entendido errado porque ele não queria que essa parte acabasse.
Gethin lhe contaria sobre Jonnie? Sobre por que ele precisava ir para o
exterior? Eu conheço esse cara em tudo?
— Ainda não testei todas elas. Gethin olhou para Kell que estava com
suas bochechas aquecidas.
Angel pressionou por detalhes do que acontecera, mas Gethin o
dispensou, prometendo lhe contar tudo mais tarde. Os pés de Kell estavam
congelados. Ele andou pelo caminho cuidadosamente ao longo da calçada
aliviado quando chegaram ao carro.
— Você acha...?
****
Talvez não.
Ele se viu engolindo enquanto observava Kell se mover pela sala com
seu jeans esticado sobre sua bunda. Quando Kell balançou o traseiro, Gethin
lançou um olhar para o rosto dele.
— Cobertura no Shard?
****
Gethin ficou surpreso e aliviado ao ver sua moto onde ele a deixou.
Ele parou atrás dela, pegou suas chaves extras de um compartimento
escondido, destrancou o alforge e tirou seu capacete e jaqueta.
— Certo.
Gethin manteve Kell à vista por todo o caminho de volta e quando viu
um local para Kell estacionar, ele apontou para ele, depois virou e puxou ao
lado dele. Kell abaixou a janela e Gethin lhe entregou a chave do seu
apartamento. Eu vou dar uma entrada rápida no supermercado e comprar
alguns mantimentos.
— Ok.
Quando chegou lá, ligou para Zena Hoehn e lhe deu as boas notícias.
Ele cancelou seus cartões bancários e ligou para o provedor de telefone e
providenciou o envio de um novo telefone. Ele sempre gostou de ter pelo
menos dois de tudo. Gethin comprou o que ele precisava da loja, depois
olhou em volta para ver se havia algo que ele pudesse obter de presente para
Kell. Ele registrou o quão pouco ele sabia sobre ele e como ele queria saber
tudo.
Além disso, ainda havia a questão de Jonnie. Não era a hora certa
falar sobre Jonnie no aniversário de Kell, mas quando seria a hora certa?
Gethin teve que tocar a campainha três vezes antes de Kell abrir a
porta, e ele começou a se preocupar. Mas quando um Kell sorridente
apareceu na frente dele, com sua camiseta justa agarrada aos músculos
tonificados de seu torso, o calor inundou as veias de Gethin.
— Eu acho que você precisa chamar alguém para dar uma olhada
nessa porta, disse Kell. — Ele pode estar encaixando e trancando, mas não
está muito segura, não é?
— Vou consertá-la.
Gethin lhe lançou um olhar. — Talvez mais tarde. Está com fome?
— Espionando?
Gethin sentiu como se todo o seu corpo estivesse sorrindo. Kell o fez
feliz. Ele não conseguia se lembrar de quando se sentira tão feliz pela última
vez.
Tampouco Gethin.
— Ah. Kell riu da caneca com uma rena de nariz vermelho ao lado,
dois pacotes de chocolate quente e mini marshmallows dentro. — Eu amo
isso. Ele empilhou as dez caixas de preservativos em uma torre no balcão. —
Eu nunca vou entrar nessa loja com você. Você percebe que todos na
vizinhança logo saberão quantas caixas você comprou de uma só vez e vão
pensar que você é um maníaco sexual.
O sorriso de Kell era tão sujo que Gethin desatou a rir. Kell tirou o
paletó dos ombros de Gethin e jogou-o no sofá, tirou o suéter por cima da
cabeça e o jogou em cima da jaqueta. Quando ele estendeu as mãos sobre o
peito nu de Gethin e esfregou os mamilos com os dedos e polegares, Gethin
gemeu por dentro, mas parecia que Kell estava acariciando seu pênis.
Oh, porra, como eu gosto de você. Gethin nunca tinha sorrido tanto.
Era como se ele tivesse estado fechado dentro de uma caixa e Kell o tivesse
puxado para a luz do sol.
Kell agarrou a parte de trás da cabeça de Gethin, puxou-o para perto
até que seus rostos estivessem a centímetros de distância e então lhe deu um
olhar envergonhado. — Eu estou culpando essa minha luxúria irreprimível
com o fato de que quase termos morrido hoje. Instinto básico do homem. Eu
sobrevivi agora eu preciso de sexo. Bem, é isso ou a culpa é sua por ser tão
quente.
Kell agarrou seu pulso e afastou-o. — Deus não. Você vai me fazer
gozar. E você ainda não está nem desembrulhado.
— Hmm, você gostou disso. Kell olhou para ele enquanto ele agitava
sua língua sobre o mamilo protuberante de Gethin. — Prazer e dor.
— Hospital antisséptico?
— Eu amo o seu pau, Kell recuou para falar. — Cristo. Por que eu me
torno uma bagunça carente no momento em que estamos juntos? Não
responda.
Kell se moveu rápido como um raio, mudando de posição até que seu
pau apareceu sobre o rosto de Gethin. Gethin envolveu sua mão ao redor da
base e puxou-o em sua boca, chupou-o firme e duro, e Kell deu um gemido
abafado, seus lábios de volta ao redor de Gethin. O gosto inebriante de pré-
sêmen embaçou a cabeça de Gethin e ele parou por um momento apenas
para apreciá-la, então eles estavam chupando no mesmo ritmo, apertando
um ao outro no mesmo ritmo, fazendo a mesma coisa com suas línguas,
provocando suas fendas, mergulhando dentro, lambendo as bolas,
lambendo seus comprimentos, engolindo pênis inteiros e tentando respirar
ao mesmo tempo.
Gethin levou o pênis de Kell para baixo, e por um momento Kell não
se moveu. Gethin contraiu os músculos de sua garganta ao redor do eixo e
Kell choramingou. O gemido de Gethin foi bloqueado pelo que ele tinha em
sua boca. Indo gozar. O orgasmo estava em ascensão por todo seu corpo,
correndo por suas veias, pulando de neurônio para neurônio, cada pequena
célula orgástica explodindo de excitação enquanto as mensagens neurais
corriam para sua virilha. Kell soltou um gemido ao redor do pênis de Gethin
e então ambos estavam gozando, voando em direção ao sol. Kell jorrava na
garganta de Gethin enquanto Gethin entrava no dele, o mundo explodindo
em um céu carregado de fogos de artifício, cheio de promessas e esperanças
por causa desse homem.
Gethin não conseguia esquecer Jonnie. Ele tinha coisas para resolver
e era melhor que fosse mais cedo do que mais tarde.
— Eles não viram o quanto Oliver me odiava. Bem, não até que ele
deliberadamente me empurrou em um declive íngreme quando estávamos
esquiando. Minha mãe o viu fazer isso. Por sorte, caí em uma saliência e
uma equipe de resgate conseguiu me levar à segurança novamente. Oliver
disse que foi um acidente, mas ela não acreditou nele. Eu acho que ela
pensou em todas as vezes que eu disse a ela o que Oliver tinha feito e ela
ficou tão sobrecarregada que ela teve algum tipo de surto psicótico. Embora
ele tenha tido outros no passado e se recuperado, desta vez ela não
conseguiu. Ela foi internada em um hospital psiquiátrico na Escócia e vive
em seu próprio mundinho, não reconhece nenhum de nós.
— Isso faz mais sentido. Oliver pode ser persuasivo. Uma das coisas
mais cruéis que ele já fez para mim foi foder um garoto por quem eu tinha
uma grande paixão. Oliver não é gay, mas ele estava disposto a fazer isso só
para destruir minha vida.
— A foto que tirei ainda está no meu celular. Claro, eu não tenho mais
o telefone, mas ele não sabe disso. Talvez a ameaça de entregá-lo à imprensa
seja suficiente para que ele deixe você em paz. Além disso, temos mais um
ano para pensar em uma maneira de estragar sua diversão.
Kell olhou para ele, talvez sentindo sua tensão. — Não pareça tão
apavorado. Talvez nós possamos durar tanto tempo. Eu sei o que nós
dissemos - eu disse – que nós faríamos isso casual, mas... Kell engoliu em
seco. — Eu quero mais que isso. Eu quero mudar minha vida inteira. Eu não
quero mais trabalhar disfarçado. Não tenho nem certeza se ainda quero ser
policial. Mas a única coisa que eu não preciso repensar é você. Eu quero
você. Não apenas para o sexo, embora você seja muito bom nisso.
— Eu só preciso de um.
— Uma caixa?
— Um preservativo.
— Apenas fale.
O que mais ele poderia fazer? — Depois que meus pais morreram, fui
criado em um orfanato. Lares adotivos, casas de acolhimento autorizadas,
mas nada durou. Eu era um solitário. Se fizesse amigos, quando me mudava
e os perdia. Ou eles me decepcionaram. Era mais fácil não me incomodar.
Eu dividi meu tempo entre o computador e a guitarra. Saí da escola assim
que pude e trabalhei em TI para várias empresas diferentes, incluindo uma
agência de detetives. Eu estava entediado quando conheci Jonnie. Ele estava
em uma banda. Ele era carismático, charmoso e cheio de vida. Eles
precisavam de um novo guitarrista e eu me encaixei.
— Strip Jack.
Kell se levantou apoiado no cotovelo. — Eu já ouvi falar deles. Não
me lembro de ninguém chamado Gethin.
— Mais do que ele percebeu, o que diz tudo. Enquanto estava com a
Strip Jack eu acalmava Jonnie. Ele sempre foi um exibicionista, mas eu o
impedi de fazer muitas coisas que achava perigosas. Ele empurrava as coisas
longe demais. Era como se ele pensasse que era invencível. Ele não era.
— Cerca de doze meses atrás, ele ligou para dizer que tinha um
cheque para mim. Eu não queria que ele soubesse onde eu morava, então
me ofereci para ir buscar. Foi tudo um truque para me levar a um lugar onde
eu veria a banda ensaiando com seu novo guitarrista. Jonnie queria provar
que eles não precisavam de mim. Ele não entendeu que eu não dava mais a
mínima. Ele subiu em um dos cenários. O tipo de truque estúpido que eu
geralmente o impedia de fazer. Ele olhou para mim como se estivesse
esperando que eu lhe dissesse para descer, mas eu não fiz, então ele pulou. A
caixa que ele caiu em cima tinha uma ponta e ele bateu a cabeça e as costas
em uma borda afiada. Agora ele está paralisado. Ele pode mover um par de
dedos, o suficiente para dirigir sua cadeira de rodas, usar seu computador,
acender ou apagar a luz. Ele não pode limpar a própria bunda, se alimentar
ou masturbar. Ele quer morrer. Ele quer que eu o ajude a morrer.
— Oh merda.
Gethin tinha que falar tudo isso enquanto podia. — Isso não é tudo.
Nós nos separamos seis meses antes do acidente, mas quando ele veio no
hospital, ele não se lembrava do que tinha acontecido. Ele acha que ainda
somos um casal. Ele diz que me ama. Eu sou o único que vai vê-lo. Estou
pagando parte do custo de seus cuidados. Eu esvaziei minha conta bancária
comprando tudo o que ele precisa. Ele não tem idéia de que seu dinheiro
acabou. Ele acha que eu o amo e, eu o odeio.
— Sim.
— É apenas porque isso vai ser difícil. Gethin se virou para olhar
para ele. — Quando você disse que queria que as coisas fossem casuais,
você pode ver porque eu achei isso perfeito.
Kell não entendeu. Jonnie poderia pensar que Gethin e ele ainda
eram namorados, mas se o cara realmente amava Gethin, ele não o
incentivaria a seguir com sua vida?
Kell esperou que Gethin concordasse com ele e, quando ele não o
fez, imaginou se alguma coisa que ele dissesse faria diferença, mas ele
ainda tentaria. — Não há razão para você ter que fazer isso sozinho. Eu
não tenho que conhecer o cara. Ele não precisa saber que eu existo. Eu não
quero machucá-lo. Eu não quero que você o machuque, mas precisamos
um do outro nesse momento. Ok, eu preciso de você. Além disso, é meu
aniversário, seu bastardo egoísta. Você não vai me deixar no meu
aniversário. Você não vai me dispensar antes de usarmos todas as dez
caixas de preservativos e toda aquela garrafa de lubrificante. Kell prendeu
a respiração.
— Sim.
— Não. Isso não vai acontecer. Estamos juntos e vamos ficar juntos.
Se der errado, então vai dar errado, mas isso não será por causa de algum
idiota egoísta que traiu você e agora o colocou em uma posição impossível.
Kell sufocou o suspiro de alívio. — Você não tem que me dizer nada
que você faz com ele se você não quiser, só não me afaste. OK?
— OK.
— Eu sei que já falei muito, mas você vai se abrir para mim
eventualmente, não vai? Contar-me como você conheceu Angel, por que
decidiu ser um detetive particular, se gosta de café da manhã na cama, se
tem hábitos realmente irritantes, além daqueles que eu já notei.
— Só com as piadas.
Gethin correu seus dedos pelas costas de Kell até sua bunda e
deslizou um dos dedos por sua fenda. Se Gethin tocasse nele, Kell se
perderia. Ele saiu de seu alcance, pegou um preservativo, mas lutou para
obtê-lo aberto, porque seus dedos estavam muito escorregadios.
Frustrado, ele jogou-o de lado e pegou outro.
— Ei, Sr. Fundo-mandão, quem está no comando aqui? Kell fez uma
pausa quando seu pênis pressionou contra o ânus de Gethin.
— Você.
— Oh, porra, isso foi tão bom, Kell deixou escapar. — Pegue um
preservativo - rápido.
— Porra, sim.
Kell riu. Não era a posição mais fácil e só era possível se o pênis de
Kell ficasse parcialmente ereto. Quando começaram a foder,
instintivamente mudaram para se manterem no lugar. Os dedos de Gethin
estavam mordendo os quadris de Kell e a dor manteve Kell ancorado. Não
demorou muito para Gethin endurecer debaixo dele, então ele estava
gozando e impossivelmente Kell sentiu seu próprio pau trabalhar em
algum tipo de orgasmo seco que o deixou tremendo de prazer.
— Você quer dizer que eu não sou o primeiro a fazer isso? Kell
ofegou em falso horror. — Eu achei que tinha inventado isso.
****
Kell não fez exigências sobre ele, o que era suposto ser o que Gethin
queria e não era. Não mais. A ideia de Kell esperando que ele voltasse para
casa, encontrando-o em um restaurante, sentando ao seu lado no cinema -
isso era o que Gethin queria. Embora a culpa ainda o assolasse porque ele
estava pensando que quando Jonnie estivesse morto, o quanto mais fácil
seria a vida. Mas mesmo que Jonnie decidisse que ele queria viver, Gethin
não deixaria Kell.
****
Gethin acordou na manhã seguinte e Kell ainda estava dormindo,
seu cabelo escuro todo despenteado. Ele não teve coragem de acordá-lo. As
pálpebras de Kell se contraíram e Gethin se perguntou sobre o que ele
estaria sonhando. Eu? Ele deslizou para fora da cama, tomou banho,
vestiu-se e decidiu sair para comprar um jornal e ver se havia alguma coisa
sobre os acontecimentos. Ele poderia pegar alguns croissants quentes ao
mesmo tempo. Escreveu um bilhete, deixou-o no travesseiro e saiu do
apartamento.
— Longa história.
— Sim. Kell está dormindo na minha cama. ‘Eu pensei ter ouvido
uma voz choramigar 'não durma mais'.
— Por quê?
— Isso tende a anunciar a morte. ‘Macbeth mata no sono.’ E
‘Glamis foi assassinado durante o sono’.
— Angel, eu sei que eu já lhe devo cem libras, mas gostaria de pedir
mais. Pode demorar um pouco até que eu possa pagar de volta.
— Quinze mil.
— É por acaso esse tem a chance de ser o tal Jonnie que continua a
ver? Aquele por quem você parou de ter encontros e namorar?
— Obrigado.
Gethin teve que andar mais meia milha para pegar os croissants
porque a loja mais próxima tinha sido vendida. Ele estava voltando
quando ouviu as sirenes da polícia. Por vários metros, ele conseguiu se
convencer de que não havia nada com que se preocupar antes de começar
a andar mais depressa. Era como se ele tivesse encontrado uma poça
escorregadia debaixo de sua moto e soubesse que havia problemas pela
frente.
— Vou ter que pedir para você recuar, senhor, disse um policial
uniformizado.
— Por favor, diga-me o que aconteceu. Kell está ferido? Era ele na
ambulância? As perguntas rodavam na cabeça de Gethin. Ele apertou os
lábios antes de perder-se completamente.
Gethin o seguiu.
— Quão ruim ele está? Gethin ficou chocado que ele conseguiu
formular estas palavras para fora.
Williams fez uma careta e Gethin sentiu a vida drenar para fora
dele. Oh Deus, não.
— Precisamos conversar...
Ele não era o parente mais próximo. Ninguém lhe disse nada. Ele
andava pelo corredor do lado de fora do departamento de emergência e
acidentes e a cada quinze minutos, ele implorava ao homem na recepção
para descobrir o estado de Kell. Ele chamou o Met25 para falar com Lane,
mas o cara não respondeu. Tentou alcançar Beckwith e acabou deixando
mensagens mais e mais irritadas para os dois.
****
— Eu não sei o quanto a polícia lhe disse, mas Kell está trabalhando
disfarçado em uma boate em Vauxhall. O homem que atirou nele é um dos
homens com quem ele trabalhava. Oliver veio ao clube e disse a Marek que
Kell estava trabalhando disfarçado.
— O quê? Tobias se virou para olhar para Oliver.
— Kell me contou tudo sobre você, como você era, mesmo quando
eram crianças. Como você tentava, de alguma forma, estragar as coisas
para ele em todos os seus aniversários. Eu tirei uma foto sua no meu
celular vestido com a fantasia de fetiche que estava usando no clube. Eu
ameaçei ir à imprensa se você não deixasse Kell em paz. Minutos depois,
Marek veio para Kell e ele sabia de tudo. Você disse a ele.
— Marek é minha prova. Ele está sob custódia agora e dando uma
declaração completa. Gethin estava contando que eles não soubessem que
Marek estava morto.
Gethin cerrou o punho, deu um soco no rosto de Oliver que fez seu
nariz espirrar sangue para todo o lado. E ele nem tinha atingido-o tão forte
quanto ele queria.
— Sim.
— Pai... –
— Sinto muito, seu pai sussurrou. — Eu não sabia que Oliver ainda
estava machucando você. Eu pensei... Eu pensei que ele tivesse superado
isso. Eu deveria ter protegido você e eu não fiz. Ele olhou para Gethin. —
Mas você tem um campeão. Gethin acabou de dar um soco no seu irmão.
Eu não acho que Oliver já teve alguém que o enfrentasse além de você. Sua
mãe e eu nos entregamos a ele. Isso foi um erro. Você precisa melhorar,
você me ouve? Eu vou ver você de novo amanhã. Vou garantir que Oliver
não possa visitá-lo. Ele se afastou da cama e acenou para Gethin antes de
sair do quarto.
O que ele e Kell tinham não era amor. Não poderia ser. Poderia?
Ainda não. Mas talvez chegando lá. Cristo, quem estou tentando enganar?
Ele foi dilacerado por uma mistura de choque e medo. Ele poderia negar
tanto quanto ele quisesse, mas ele amava Kell. Ele havia se aproximado
dele e o seduzido. O engraçado era, no momento em que Gethin havia se
arriscado a abrir seu coração, parecia que o destino tinha outras idéias. Eu
não posso perdê-lo. A vida de Gethin tinha estado entrado em modo de
espera desde o dia em que ele encontrou Jonnie traindo-o, e Kell havia
aparecido e o tinha feito enxergar que ele tinha que deixar ir, seguir em
frente, que eles só tinham uma vida e o tempo era muito curto para
desperdiçar um minuto dela. Se Arriscar. Gethin tinha feito isso e agora
ele precisava que Kell sobrevivesse para que ele pudesse dizer como ele se
sentia.
****
— Nós não percebemos que era o irmão até que fosse tarde demais,
disse Lane. — Eles trocaram seu ID.
— Se segurando.
— Eu vou vê-lo esta tarde. Lane engoliu em seco. — Eu sei que você
está com raiva. Nós fodemos.
— Pelo amor de Deus. Você pode me dizer. Que diferença isso vai
fazer?
— Merda.
— Essa é a única.
— Sim.
— Sim.
****
Depois de sair de lá, Gethin ligou para verificar se houve alguma
mudança na condição de Kell - a resposta foi negativa – então Gethin foi
ver Jonnie. O olhar no rosto de Jonnie quando ele entrou foi tão cheio de
esperança que Gethin se obrigou a sorrir quando isso era a última coisa
que ele queria fazer.
— Antes.
— Sim, mas você precisa saber que a cada passo do caminho eu vou
tentar fazê-lo mudar de idéia.
Nós? Gethin sabia que ele teria que fazer quase tudo. — Você
precisa de um cuidador viajando conosco, alguém que saiba como lidar
com as suas necessidades diárias. Eu suspeito que não adianta pedir a
ninguém daqui. Eles podem perder seus empregos. Eu tentarei algumas
agências. Eu preciso encontrar uma companhia aérea que possa levar você
e sua cadeira, uma que nos dará lugares na parte da frente do avião.
Precisamos de um lugar para ficar em Genebra acessível à cadeira de
rodas. Um veículo que possa levar sua cadeira.
Jonnie sorriu. — Sim. Gethin? Você vai levar o seu violão? Tocar
para mim quando... quando for a hora?
— O quê?
— Piada.
Era como se Jonnie tivesse voltado a ser o cara por quem Gethin
havia se apaixonado um dia.
— Vou usar uma máscara, por via das dúvidas, Gethin disse. Jonnie
deu a ele um sorriso adorável e torto.
****
— Angel agarrou seu peito. — Meu Deus. Ele vai ficar bem?
— No hospital.
Angel agarrou o braço de Henry. — Abra um bom vinho. Gethin irá
nos contar tudo.
— Você pode ficar o tempo que quiser, disse Henry. — Nós vamos te
dar uma chave.
— Tenho que pagar por isso. Mas obrigada. Gethin sentou-se com
Winston enrolado em seu joelho. Ele só bebeu meio copo de vinho. Se ele
recebesse uma ligação sobre Kell, precisaria andar de moto.
Quin saiu e o pai de Gethin e Kell foram para a UTI. Kell não
parecia diferente, ainda mortalmente pálido. Tobias sentou-se ao lado da
cama e Gethin do outro.
O pai de Kell falou com ele sobre sua infância. — Você se lembra de
como estava determinado a andar de bicicleta sem as rodinhas? Você
continuou tentando e tentando até que você pudesse fazer isso. Depois
houve o dia em que os seus dedos foram apanhados na corrente da
bicicleta. Agora eu estou querendo saber se Oliver deliberadamente
empurrou o pedal da maneira errada para piorar as coisas. Então eu te
comprei uma bicicleta nova, uma BMX. Você amava essa bicicleta. Eu
nunca vi você cuidar tão bem de qualquer coisa.
Gethin nunca teve uma bicicleta nova. Ele havia usado bicicletas
que tinham pertencido a outras crianças antes dele. Quanto mais Tobias
falava, mais Gethin percebia que Kell tinha tido uma criação privilegiada -
férias de esqui, férias no Caribe, escolas particulares... –
— Eu não queria que ele fosse um policial, disse seu pai. — Mas ele
insistiu. Ele queria fazer as coisas certas, ele disse. Corrigir o ques está
errado. Colocar os caras maus em algum lugar onde eles não poderiam
machucar pessoas de bem. Eu não sei o que eu estava pensando em deixá-
lo fazer isso. Era muito perigoso. Eu... Ele respirou estremecendo e olhou
para Gethin. — Agora vejo que foi por causa de Oliver que Kell foi para a
polícia. Ele não podia fazer nada sobre seu irmão, mas queria proteger os
outros de irmãos como ele. Eu sabia que Oliver era ruim, mas eu tentei me
convencer de que ele não era tão ruim.
— Eu estava sempre ausente de casa. Minha esposa veio até mim
com essas histórias do que os meninos estavam fazendo e ela ria e eu
pensei que não era nada. Apenas altas travessuras. Eu não queria ver mais
do que isso. Ele puxou seu cabelo e por um momento se pareceu com Kell.
— E você? Você tem irmãos? Pais?
Gethin assentiu.
— Na verdade sim. Ele vive além de seus meios. Talvez seja a hora
de ele viver dentro deles. Eu vou deixar vocês dois por um tempo e tomar
um café enquanto vocês conversam. Estou feliz que você tenha acordado.
Quando você estiver apto a receber alta, volte para casa. Vou contratar
uma enfermeira para cuidar de você. Gethin também pode vir.
****
Essa era parte da razão pela qual Gethin não tinha cedido a seus
pedidos para que ele se mudasse para a casa do pai de Kell. Gethin abriu a
porta da sala de visitas onde Kell estava sentado no sofá.
Ele olhou por cima do livro que estava lendo e franziu o cenho. —
Eu acabei de chegar à parte emocionante. Você terá que se sentar em
silêncio enquanto eu termino. Alguém está prestes a ser baleado.
— Eu não vejo por que você tem que ficar com Angel e Henry, disse
Kell. — Você poderia viver aqui.
— E a outra razão?
— Minha cabeça não está onde eu gostaria que estivesse. Ele tentou
não falar com Kell sobre Jonnie, sobre todos os problemas que ele estava
tendo para separar tudo isso. Como, a cada passo, parecia que havia uma
montanha para escalar e, por cima de tudo ainda havia a culpa que surgia
como lava borbulhante em suas veias.
Isso lhe rendeu um olhar malévolo de Kell e uma risada de seu pai
enquanto ele saía da sala.
— Sim. Ele não está feliz. Eu acho que papai queria fazer um ponto.
— Quanto?
— Eu não vou deixar ir até que você me diga. Kell esfregou as juntas
de Gethin com o polegar. — Você tem que se abrir sobre as coisas ou vai
ser apenas falando e você vai se cansar de mim, colar uma fita adesiva em
minha boca, e vai ser isso.
Você fala sobre tudo, menos a única coisa que eu quero ouvir.
Gethin quase fez a pergunta que ele fez quando Kell foi baleado, mas
engoliu em vez disso. Ele não tinha certeza se Kell lhe contaria a verdade
sobre o que realmente tinha acontecido quando Marek apareceu em seu
apartamento. Ele sabia que a versão que Kell havia dito à polícia era
instável. Talvez dizer a Kell o que ele queria saber sobre seu passado
abriria os portões.
— Sim.
Gethin hesitou.
—Você tem que ter calma. Você sabe o que os médicos disseram.
Ele sentiu Kell se arrepiar, mas Gethin segurou sua mão e acariciou
seus dedos.
— Eu não posso esperar tanto tempo, disse Kell. — Eu quero que
nos mudemos juntos agora. Meu pai está me deixando louco. Eu tenho
pesquisado apartamentos on-line. Eu quero que você olhe para eles. Eu
vou continuar a alugar o meu antigo e podemos escolher algo que nós
gostamos.
— OK.
Kell parecia tão animado que Gethin não teve coragem de dizer não.
— OK.
Gethin acenou com a cabeça, pegou suas coisas e foi embora. Essas
últimas semanas tinham afetado seu relacionamento com Kell. Eles se
mudaram para o apartamento há duas semanas, mas o coração de Gethin
não tinha estado nas decisões sobre móveis, tapetes e louças. O que
deveria ter sido divertido, parecia uma tarefa, sem importância na grande
escala das coisas e ele sabia que tinha decepcionado Kell. Parte dele
desejava que eles pudessem esperar até que essa coisa com Jonnie
acabasse, mas Kell precisava dele e ele precisava de Kell, então Gethin
concordara em se mudar. Tinha sido a coisa certa a fazer. Visitas para ver
Jonnie eram ainda mais difíceis agora que Gethin estava contando os dias.
Mas quando Gethin voltava para Greenwich, Kell fazia seu mundo girar
novamente.
Agora não havia mais dias. Apenas mais um. Gethin pegou o DLR
em Londres e o Heathrow Express de lá. Não tinha sido fácil encontrar
uma enfermeira que estivesse preparada para viajar até a Suíça,
particularmente perto do Natal, mas Lawrence era um cara legal e Jonnie
gostou dele. Gethin estaria encontrando-os no aeroporto para a jornada
final de Jonnie.
Nos últimos dois meses, sua vida havia sido consumida pela
preocupação, não apenas pelo que ele estava fazendo por Jonnie, mas
também por Kell. A bala quase o matou. Se tivesse atingido um milímetro
para qualquer lado, ele teria sangrado até morrer. O pensamento de
perder Kell o sufocou, e ele ainda não conseguia se sentir bem em ajudar
Jonnie a morrer. A vida era tão preciosa que você tinha que agarrá-la com
tudo o que tinha. Mas a vida de Jonnie não era sua para controlar e ele
entendia por que Jonnie se sentia da forma como ele estava. Gethin
simplesmente não tinha que gostar.
****
Depois que Lawrence cuidou de Jonnie e vestiu-o na manhã
seguinte, Gethin mandou o cara para o aeroporto para ver se ele
conseguiria pegar um avião mais cedo para casa. O que tinha que ser feito
agora, Gethin poderia fazer ele mesmo.
— Quer que eu diga ao cara para dar uma volta? Perguntou Gethin.
—Olhar para as montanhas? A neve?
— Eu sei.
Gethin fez uma bola com um pouco de neve limpa, recuou e atirou
no braço da cadeira. Jonnie riu. Gethin jogou bola após bola e nenhum
deles acertou Jonnie de frente. Com o canto do olho, ele viu alguém na
porta da casa, mas continuou jogando e finalmente se certificou de que
uma bola de neve caísse sobre a cabeça de Jonnie.
****
Quando eles saíram, sua mãe olhou para ele, mas o pai de Jonnie a
afastou antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. Gethin queria dizer-
lhes que ele tentou o seu melhor para falar com Jonnie, mas talvez eles não
acreditassem nele. Um momento depois, seu pai voltou e Gethin se
preparou.
Gethin suspirou.
— Não te mereço.
— Você teria pulado mesmo se eu dissesse para você não fazer isso?
— Amo você por tentar, mas não vou desistir. Cante essa de novo.
Não é ruim. Precisa de alguns ajustes.
Nunca envelhecerei
Nunca serei triste
Um momento do tempo
Da vida ao sol.
Jonnie usou o dedo para mover o copo até que o canudo estivesse
em sua boca, depois chupou o coquetel letal até que tudo desaparecesse.
— Neve no seu cabelo. Luz no seu rosto. Gethin girou na neve com o
rosto de Jonnie inclinado para o céu. Jonnie estendeu a língua e riu
quando um floco aterrissou ali. Ele olhou diretamente para Gethin.
— Seja feliz por mim. Seu discurso foi mais arrastado. — Seja feliz
por... você mesmo. É... isso... que eu... quero. Obrigado...
****
Agora ele não tinha tanta certeza. Pela janela lateral de seu carro,
ele assistiu Gethin levar Jonnie para a neve caindo e entendeu que Jonnie
tinha acabado de morrer nos braços de Gethin.
Ele esperou por vários minutos, em seguida, fez o seu caminho até a
casa e apertou a campainha. — Taxi pour Monsieur Gethin Jones.
J’attends dans la rue.27 Então ele deslizou de volta para o carro.
Apenas quando ele estava começando a pensar que teria que ir até a
porta novamente, Gethin emergiu carregando sua caixa contendo a
guitarra e a mochila.
— D'accord.
Kell tinha certeza de que Gethin logo perceberia que era ele, mas
toda vez que ele olhava no espelho, Gethin estava olhando pela janela
lateral. Nenhuma lágrima, mas seu rosto estava pálido. Kell tinha parado
no lugar para devolver o carro alugado no aeroporto antes de Gethin falar.
27
Taxi para o Sr. Gethin Jones. Estou esperando na rua.
— Você não pode me deixar no setor de partidas? Droga. Departs,
s’il vous plait.
Kell assentiu.
— Sim e não, mas está feito. Eu só tenho que viver com isso agora.
— Não foi bem o que eu disse à polícia, mas acho que você já sabia
disso. Marek queria atirar em você primeiro, não matá-lo de primeira, mas
fazer você assistir enquanto ele... fazia coisas para mim antes que ele
acabasse comigo.
— Eu também estou, mas... eu sei que não deveria ter feito isso.
Gethin riu.
****
— Você sabe que não temos estado no humor para o Natal? Bem, eu
dei uma chave para Angel e pedi para ele vir aqui hoje de manhã com uma
árvore e decorações. Eu disse a ele que ele não poderia decorá-la, apesar
de ele ter implorado. Eu quero que façamos isso juntos, embora eu não
tenha ideia do que acabamos recebendo. Ele e Henry nos convidaram para
tomar uma bebida na véspera de Natal. Eu disse sim. Meu pai se convidou
para vir aqui almoçar no Boxing Day. Eu disse sim. Meu pai também nos
ofereceu umas férias, como presente de Natal. Eu disse sim para isso
também. Eu estou de bom humor.
Kell queria arrastar Gethin para a cama, mas ele não iria fazer isso.
Para começar, ele preferia que Gethin fizesse isso com ele, mas primeiro
ele queria decorar a árvore e criar uma memória feliz para terminar um
dia difícil.
— O que?
— Eu também.
— É uma pena que você nunca será capaz de dizer a um outro cara
como você conseguiu isso, disse Gethin.
— Falha no meu plano de não sair deste lugar, disse Gethin com
um gemido. —Veja se Angel nos deixou preservativos e lubrificante.
Ele deu a Kell o trabalho de mão que Kell tinha dado a ele, pouco a
pouco trabalhando seu caminho até a ponta de seu pênis e todo o tempo
olhando nos olhos de Kell.