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DRAW IN

Barbara Elsborg

O policial disfarçado Kell cruzou a linha. Ele está preso em um


relacionamento abusivo com seu chefe, um bandido violento e não vê como
sair dessa sem destruir meses de trabalho. Sua esperança de se envolver
com alguém que o respeita parece um sonho distante.

O investigador particular Gethin não gosta de seu trabalho de


perseguir cônjuges infiéis. Era difícil não questionar a ética do que ele está
fazendo, mas ele sabe exatamente como é ser enganado. Seu
relacionamento com um ex-namorado chamado Jonnie é complicado e
Gethin não consegue se libertar de um cara que ainda precisa dele.

Um encontro casual traz Kell e Gethin juntos em uma explosiva


necessidade sexual, entrelaçando suas vidas com segredos e perigos.
Ambos têm suas razões para ficar longe de um relacionamento real, mas o
sexo casual é bom. Mais do que bom.

Mas há consequências para zipless fucks. Agora, eles não apenas


têm que sobreviver a pessoas que tentam matá-los, eles precisam confiar
um no outro, manter seu juízo sobre eles e garantir que seus corações
permaneçam intactos..
A cabeça de Kell virou para lado com uma força que o fez ofegar. O
golpe de Marek o pegou de surpresa. Sabendo que o bastardo raramente
parava em um único golpe, Kell ficou tenso e se certificou de que seus dentes
não estivessem nem perto de sua língua. O segundo soco o atingiu no
estômago e Kell soltou um longo gemido.

— Eu disse para despir-se. Marek olhou para ele.

Não foi como se Kell tivesse hesitado. O filho da puta só gostava de


bater nele. Kell tirou os sapatos e dobrou as roupas conforme ia removendo-
as. Não porque ele era um esquisito, como Marek pensava, mas porque lhe
comprava tempo para tentar manter a cabeça fria para o que se seguiria.
Embora o atraso tivesse a desvantagem de permitir que Kell também se
perguntasse se seria desta vez que o idiota iria longe demais.

No momento em que Kell tinha tudo em uma pilha, Marek estava nu.
Kell era alto, mas Marek era um par de centímetros mais alto do que seus
1,95 m e vários anos mais velho. Ele era muito mais forte que Kell, maior,
mais amplo, embora não tão rápido. Geralmente. Dessa vez, Kell mal viu o
cara se mover antes de se ver puxado de volta contra o peito de Marek pela
camisa do cara enrolada em volta de seu pescoço, seu pênis ereto cutucando
a bunda de Kell.
— Você não está duro, disse Marek.

Adivinhe, idiota? Socos e estrangulamento tendem a ter esse efeito


em mim. Kell não estava em asfixia auto-erótica, bem não quando realizada
por um psicopata que não sabia quando parar. Na verdade, ele
provavelmente sabia quando parar. Se Marek o quisesse morto, Kell
morreria. Ele não respondeu por que não podia. Ele não lutou porque
pensou que mesmo se Marek realmente pretendesse acabar com sua vida,
ele iria fodê-lo primeiro, o que daria a Kell uma chance de sobrevivência. O
bastardo estava jogando seus jogos habituais ou ele havia descoberto a
verdade sobre seu último brinquedo?

Marek afrouxou o aperto e pressionou a boca contra o pescoço de


Kell. — Você não tem senso de autopreservação.

— Yeah, bem, talvez eu não queira ser uma múmia... senhor, ele
engasgou.

Marek riu. Kell sabia que era melhor deixar para lutar em um dia
quando as chances estivessem a seu favor. Ele esperava que isso acontecesse
em breve. Marek o soltou da camisa e o empurrou com força, então ele caiu
de joelhos. Cristo, eu vou ter hematomas também.

— Enquanto você está aí embaixo, me chupe.

Kell levantou a cabeça e se virou para poder lamber a ponta do pênis


de Marek. Um golpe com a língua, uma varredura ao redor da ponta, uma
longa e lenta chupada no topo e mais alguns centímetros deve fazer o
truque, e quando ele olhou para cima, com certeza a beligerância tinha
desaparecido do rosto de Marek junto com qualquer vestígio de inteligência.
Embora isso fosse apenas temporário. O tempo que demorava a dar um
boquete em Marek era uma das poucas ocasiões em que Kell se sentia seguro
com o cara. Relativamente falando.

— Meerrrda. Que porra de boca! Marek engasgou. — Mais fundo.

Kell levou-o para baixo sem engasgar, sua mente vagando com a ideia
de engolir o cara inteiro, como uma anaconda gigantesca consumindo sua
presa. Marek era a presa de Kell, o cara simplesmente não sabia disso.

— Sim, assim. Marek gemeu.

O idiota às vezes ficava no clube com a mão no pescoço de Kell,


acariciando-o como um cachorrinho que tinha sido ensinado a se sentar e
implorar, gabando-se para estranhos sobre a falta de reflexo de vômito de
Kell. Marek se divertia quando ele recebia ofertas de dinheiro pelos serviços
de Kell. Kell não tinha certeza do que faria se Marek realmente aceitasse a
oferta de alguém. Já era ruim o suficiente ter que fazer isso com um cara que
ele detestava. Ele chupou mais forte, forte o suficiente para machucar.

— Foda-se, isso é muito bom. Marek enfiou os dedos no cabelo de


Kell e agarrou com força seus cabelos enquanto puxava Kell contra ele,
arqueando seus quadris para empurrar mais fundo.

Kell roubava ar quando e por onde ele podia. Enquanto ele


trabalhava sua magia negra com a boca, lábios e língua, Marek parou de
falar inglês e mudou para o albanês, do qual Kell sabia apenas algumas
palavras. Então seus comentários pararam de fazer sentido e se
transformaram em gemidos guturais e suspiros ofegantes. Com outro
homem, Kell teria sentido um nível de prazer em trazer um sujeito à
incoerência. Nessa situação, sua satisfação vinha do pensamento sobre o que
ele gostaria de fazer para esse bastardo, o que ele com certeza faria com ele.
Isso ajudou, e quase o fez chupar o pau dele com gosto.

Por enquanto, Kell era obrigado a cooperar e fazer tudo o que Marek
queria seja no trabalho ou no lazer. Mas o cara era tóxico, o veneno corria
em suas veias, escorria de seus poros e intoxicava Kell toda vez que eles
estavam juntos. Ele abocanhou as bolas de Marek, tocou seu buraco,
provocou sua fenda com a ponta da língua e empurrava seu próprio pau
para alcançar uma ereção completa ao mesmo tempo, porque se Marek
pensasse que Kell não estava, pelo menos em parte, gostando disso, ele teria
sorte de sair o quarto sem mancar. Marek não costumava bater em seu
rosto. Ele deixava hematomas em outro lugar, mas a bochecha de Kell ainda
doía.

Quando Kell sentiu as bolas de Marek endurecerem e encostar contra


seu queixo, o sujeito se afastou, agarrou seu próprio pênis e com um par de
golpes jorrou por todo o rosto de Kell, atingindo seus lábios, bochechas e
queixo.

— Engula o resto. Marek colocou seu pau contra a língua de Kell.

Kell não se importou em engolir, o que era bom também. Qualquer


sinal de desgosto iria colocá-lo em problemas.

Quando Marek terminou, ele puxou Kell para seus pés e lambeu sua
bochecha com um longo arrasto de sua língua molhada. Kell estremeceu.

— Você gosta disso? Marek perguntou.

Estou estremecendo de desgosto não de desejo, seu idiota. — Sim,


senhor.

Marek lambeu o rosto de Kell - sua versão de limpeza - e Kell teve que
lutar contra o impulso de correr para o banheiro e enfiar a cabeça sob a
torneira de água quente.

—Agora eu posso fodê-lo por muito tempo antes de gozar de novo,


Marek disse.

Oh, alegria.

Marek empurrou Kell para baixo sobre a cama. — Você tem uma
bunda linda. Parece ainda melhor com meu pau dentro dela. Quer ver? Eu
posso tirar uma foto.

— Por favor não, senhor. Kell queria voltar esse comentário no


mesmo momento em que ele disse isso. Marek faria o que ele queria de
qualquer forma.

— Onde está o seu telefone?

Marek remexeu em ambas pilhas de roupas antes de brandir seus


telefones. Ele voltou para a cama, deixou cair os celulares ao lado de Kell e
pegou o lubrificante. Kell fez tudo o que pôde para relaxar. Quanto mais
relaxado e complacente ele estivesse, menos doloroso seria e mais fácil ele
poderia imaginar estar em outro lugar. Marek esguichou lubrificante em
seus dedos e, em seguida, pressionou dois deles no buraco de Kell. Kell ficou
tenso e mordeu o braço para se impedir de gritar.

Então, logo eram três dedos e Kell ficou preocupado. O estiramento


estava sendo muito áspero e rápido.
— Você realmente quer isso, Marek cantou em seu ouvido enquanto
Kell se contorcia embaixo dele.

Kell não conseguiu se obrigar a dizer sim.

— Alguma vez você já teve um punho inteiro dentro de você? Marek


perguntou.

Kell ficou tenso. — Não e nem quero. Ele grunhiu. — Senhor.

Marek riu enquanto empurrava os dedos dentro e fora da bunda de


Kell. Quando ele os girou, Kell se contorceu contra a mão do cara, mas não
por diversão. Se o braço de Marek não estivesse pressionando-o no meio de
suas costas, ele teria fugido pela porta. E ele não ia deixar Marek fazer
fisting1 nele. Isso era demais, isso era ir longe demais. Ele não era pago o
suficiente para isso. Ele não era pago o suficiente para isso de modo algum.
Apesar de que oficialmente, ele não deveria estar fazendo isso. Oficialmente,
ele nunca tinha feito isso.

— Um rosto bonito e um belo rabo apertado.

A brutalidade desses fodidos dedos estava fazendo Kell lutar para


conseguir respirar. Cristo, isso dói.

— Diga-me o quanto você me quer, disse Marek.

— Eu preciso de você dentro de mim, senhor. Seu pau grosso, não


seus dedos. Eu quero sentir seu pau empurrando fundo em mim. Eu queria
que seu pênis se encolhesse e caísse. Você acha que eu gosto de fazer isso

1
Fist fuck ou fisting ou fist fucking é uma prática sexual que envolve a inserção da mão ou
antebraço na vagina ou no ânus.
com você, seu fodido idiota?

Marek puxou os dedos para fora e Kell ouviu o som da embalagem de


preservativo sendo aberta. Obrigado foda por pequenas misericórdias. De
jeito nenhum ele iria...-

— Um dia eu levo você sem isso, disse Marek.

E no dia em que você tentar isso, você vai morrer.

Marek agarrou os quadris de Kell e abriu as bochechas de seu


traseiro. — Olhe para esse buraco apertado.

Não é algo que Kell já tinha feito, olhar para o próprio buraco e se
Marek forçasse seu punho nele, não iria permanecer apertado.

— Você gosta da ideia disso? Apenas eu. Sem borracha? Marek cuspiu
em sua bunda.

— Minha mãe me mataria.

Marek riu, e em seguida ele estava dentro dele e Kell gritou. O filho
da puta era grande. Por um momento, Kell ficou ali como um homem
empalado em um mastro de aço, mal conseguindo se mexer, lutando para
respirar, seu corpo lutando para ejetar, antes de começar a aceitar com
relutância o que fora forçado a ele. Ele viu Marek estender a mão para os
telefones e se encolheu.

— Devo mandar para todos os seus contatos? Marek perguntou.

— Eu preferiria a pizzaria local e meu dentista... não tire fotos do meu


traseiro... ou do seu pau, senhor.
— Mantenha isso em sua tela. Se eu olhar e ver que você deletou,
colocarei no site. Talvez as pessoas paguem para que você se apresente ao
vivo para eles. Fodendo-se com um grande pênis preto no quarto dos
fundos. Talvez eu pague. Ele riu.

Era assim que Kell o mataria, com um grande pênis preto. Mas ele o
enfiaria em sua garganta. Listar as diferentes maneiras que gostaria de
matá-lo. Asfixia. Decapitação. Esvaindo-se em sangue. Marek começou a
dirigir para dentro dele e sabendo o que aconteceria se ele não mostrasse
alguma disposição, Kell começou a empurrar contra ele, levantando seus
quadris em direção ao impulso de Marek. Como diabos o cara poderia
continuar tão duro depois de ter gozado apenas alguns minutos atrás?
Talvez ele tenha tomado alguma coisa. Havia muita coisa à disposição ao
redor do clube para aqueles que queriam obter e manter ereções. Você
poderia morrer de uma overdose de Viagra? Por favor, deixe isso acontecer.

Kell colocou mais esforço em levantar seus quadris, porque quanto


mais rápido Marek gozasse, mais cedo Kell poderia sair. Suas ações tiveram
o benefício adicional de ele poder esfregar seu próprio pênis contra a cama
de Marek, duro e rápido o suficiente - dado o tempo - para gozar, desde que
pudesse pensar que estava em outro lugar ou deixar sua mente em branco.
Exceto que, de repente ele se viu sendo rolado de costas, com as pernas
empurradas para trás contra o peito, então agora ele tinha que lidar com o
fato de estar encarando o rosto de Marek. O cara não era feio, cabelo curto,
olhos escuros, lábios grossos, mas o albanês era loucamente instável, suave e
delicado num dia, e despótico e cruel no dia seguinte e Kell ainda não tinha
descoberto como prever em qual humor Marek estaria a cada momento.

Eu preciso me fazer gozar. Ele não queria. Bem, fazer-se gozar não
era tão difícil, mas sua mente estava constantemente lutando contra isso,
quando ele estava com Marek, e estava ficando mais difícil se obrigar a isso,
não mais fácil. Ele tinha se condicionado a ignorar a dor física, mas tinha
problemas cada vez mais desconfortáveis com a forma como ele se sentia,
sua culpa e auto-repugnância. Seus motivos poderiam ser apoiados por uma
crença em um bem maior, mas estava ficando mais difícil de enxergar isso.
Ele foi muito fundo e estava progressivamente se afogando.

Mas -- Kell tinha um ponto a provar com seu chefe. Um ponto para
provar a si mesmo após o último desastre. Ele poderia obter resultados.
Afinal, isso era algo que ele era bom, fingindo ser alguém que ele não era.
Tinha funcionado na escola quando ele escondeu que era gay até os quinze
anos, e tinha funcionado em casa quando ele escondeu a maior parte de sua
infelicidade de seus pais.

Ele envolveu a mão em torno de seu pênis e se masturbou enquanto


Marek continuava fodendo-o. Kell não ousou desviar o olhar do rosto de
Marek, mas a cabeça dele estava em outro lugar, pensando em foder com
alguém de quem ele realmente gostava, alguém que ele esperaria chegar em
casa no final do dia, alguém em quem ele pudesse confiar. Kell ainda não o
encontrara, mas sabia que ele estava lá fora. Não que ele estivesse
procurando. Seria um desastre fodido encontrá-lo agora. Mas quando este
trabalho estivesse terminado...

Ele sentiu o estremecimento de prazer de Marek e quando o cara


gozou, Kell puxou mais forte em seu pênis, arrastando-se sobre a borda. Seu
sêmen jorrou sobre sua barriga e peito em longas e pegajosas cordas
brancas. Havia algum alívio nisso, mas ele nunca conseguia relaxar, nunca
baixou a guarda o tempo suficiente para desfrutar do sexo com um cara que
ele sabia que poderia matá-lo em um piscar de olhos. Marek correu os dedos
pelas estrias e alimentou Kell com a bagunça pegajosa, observando-o
atentamente. Kell lambeu seu esperma em cada um dos dedos de Marek
como se não houvesse nada mais que ele preferisse estar fazendo.

— O banheiro está lá, disse Marek. — Pegue um pano e limpe-me.

—Sim, senhor. Kell ficou de pé e pegou o preservativo usado que


Marek segurava. Adorável. Esta foi a primeira vez que ele esteve no
apartamento de Marek, mas ele duvidou que ele encontrasse algo de
interesse no banheiro. Ele não tinha desculpa para abrir o armário debaixo
do lavatório, então ele não fez. Marek poderia estar assistindo da cama. Ele
se livrou do preservativo, molhou uma toalha de rosto e voltou para o
quarto. Marek parecia estar dormindo, mas quando Kell tocou sua virilha, o
cara abriu os olhos.

— Quer ganhar algum dinheiro extra? Marek perguntou.

—Eu não vou deixar você fazer fisting em mim.

Marek bufou. — Quando faço isso, eu não pago. Você implora por
isso.

Em seus sonhos, seu idiota.

— Eu tenho um pequeno serviço a fazer antes do trabalho amanhã.


Você pode ajudar.

Merda. A decepção de Kell foi genuína. —Eu não posso. Eu troquei


meu dia de folga. Eu combinei isso com meu chefe. Eu prometi a um amigo
que iria à sua festa.
— Uma festa? Dê uma desculpa. Isso é um bom dinheiro.

Kell balançou a cabeça. Seu outro chefe iria matá-lo por recusar isso.
Kell tentou racionalizar sua recusa. Essa poderia ser a brecha que ele estava
esperando, mas talvez dizer não fizesse com que Marek confiasse mais nele.
Cristo. Como seu chefe iria aceitar isso.

— Você tem certeza? Marek perguntou.

— Eu prometi. Eu não quebro minha palavra.

Oh sim ele já fez isso, mas de fato Marek parecia levemente


impressionado. Kell não trabalhava para Marek e sim para Warner, seu
chefe, por algum tempo agora. Cinco meses, embora parecesse muito mais.
O passado de Kell era sólido, sua vida dependia disso, mas até agora ele não
havia descoberto muito, não o suficiente para encerrar a operação. Tornar-
se o brinquedo de Marek tinha sido um risco calculado. Um que ele não
contou a seu verdadeiro chefe, não tudo pelo menos, embora ele devesse ter
uma ideia.

Kell tinha sido escolhido para esta operação porque era gay e o clube
em que ele estava trabalhando era um clube gay. As chances de Kell não ter
relações sexuais eram pequenas, mas nunca haveria nada reconhecido no
papel sobre isso. Kell se sentiu culpado por não estar aproveitando a
oportunidade de obter mais informações, fazendo algo extra para Marek,
mas ele havia prometido a seu amigo de infância Quin que ele iria para sua
festa, e também ele precisava dessa pausa, precisava colocar sua cabeça no
mundo real apenas por pouco tempo. Seria como chegar à superfície para
uma tomada de ar depois de um longo mergulho. Kell quase pôde sentir o
alívio. Trabalhar disfarçado era um campo minado que fodia sua mente, e
ele estava sempre a um sopro de distância do desastre.

— Talvez da próxima vez, disse Marek, e isso era exatamente o que


Kell precisava ouvir. — Certifique-se de fechar a porta quando você sair.

Os olhos de Marek se fecharam e Kell puxou as cobertas sobre ele. A


mão do cara disparou e ele agarrou Kell pela garganta. Kell gorgolejou.

— Não há necessidade de ser gentil. Você não vai durar. Marek


fechou os olhos novamente.

Kell não estava sendo gentil. Ele esperava cobrir o rosto de Marek,
encorajá-lo a dormir, então ele teria a chance de bisbilhotar, mas o cara
estava muito alerta. Kell não queria tomar banho e arriscar outra sessão de
foda, então ele vestiu suas roupas. Quando ele saiu do quarto, ele hesitou.
Ele não se sentia confiante o suficiente para vasculhar a sala de estar, mas
podia pelo menos olhar nas gavetas e armários da cozinha enquanto tomava
uma bebida.

Ele encheu a chaleira assim ela demoraria mais tempo para ferver, e
esperou que não encontrasse as xícaras de café cedo demais. O primeiro
armário era o que mantinha as canecas. Ele suspirou e colocou duas delas
sobre o balcão. O café não foi tão facilmente encontrado, mas não havia
nada interessante dentro dos armários. Ele abriu uma gaveta e viu dois
passaportes bordô, um albanês e outro britânico.

— O que você está procurando? Marek perguntou atrás dele.

— Colher. Kell fechou a gaveta e abriu outro. Uma arma se


encontrava entre os talheres. Merda. Ele pegou uma colher.

A chaleira começou a ferver. Kell colocou um meio sorriso no rosto e


se virou para ele. —Eu estava desesperado por um café. Você não se importa,
não é? Eu ia fazer para você também.

— Vá comprar no Starbucks, Marek disse.

Kell deixou seus ombros caírem. — Desculpe.

Ele deixou cair a colher de volta na gaveta, mas antes que ele pudesse
fechá-la, Marek pegou a arma e segurou-a contra a cabeça de Kell. Kell
parou de respirar. Ele olhou para Marek e esperou. Ele não queria morrer.
Ele particularmente não queria morrer nas mãos desse bastardo, mas a
única coisa que ele não mostraria era o medo.

— Nada a dizer? Marek perguntou.

—Eu deixei um milhão de libras no… arggh.

Marek balançou a sua cabeça. — Engraçadinho. Ele colocou a arma


de volta na gaveta.

Kell agarrou sua jaqueta e se dirigiu para a porta do apartamento.

—Vejo você no domingo à noite, Marek gritou.

Kell fez o seu caminho para o elevador tentando manter seu tremor
sob ao controle. Ele tinha certeza que Marek não pretendia usar a arma. Era
muito barulhento, muito confuso. Marek tinha dito que ele o veria no
domingo com uma confiança que sugeria que ele sabia que era quando Kell
estaria de volta ao trabalho. Essa oferta de trabalho tinha sido um teste? Se
Kell tivesse concordado em mudar seus planos, isso o teria feito suspeito?

O trabalho secreto tinha que ser realizado em um ritmo lento e


constante. Kell precisava desconfiar de tudo e de todos. Essa era a coisa mais
perigosa que ele já tinha feito. Foder isso poderia matá-lo. Ele não podia
negar o perigo que isso o colocava, mas ele desejava que Marek não
existisse. Quando o cara o encurralou pela primeira vez, Kell lutou contra
ele. Na segunda vez Marek o estuprou.

Sem qualquer revestimento de açúcar. Isso foi o que aconteceu e Kell


teve que viver com isso, viver com as desculpas que ele dava a si mesmo para
se convencer de que isso não era importante, que ele poderia muito bem
deixar o cara foder com ele de qualquer maneira, porque então não havia
chance dele ter seu disfarce como policial descoberto. Mas seu coração ainda
doía quando ele pensava sobre isso.

Quando ele já estava bem longe do lugar de Marek, e tendo certeza de


que não estava sendo seguido, ele pegou seu telefone. Ele estremeceu
quando viu a foto. Marek teve certeza de capturar o rosto de Kell, os olhos
fechados, as feições torcidas em uma careta, mas inconfundivelmente ele.

Kell chamou seu chefe. — Oi, tio Bob. Posso pedir um favor? —
Código para ‘Eu estou bem’.

Seu chefe, o detetive superintendente Nigel Lane, suspirou. — Onde


diabos você esteve? Você deveria ter feito um check-in esta manhã para nos
deixar saber que você ainda estava vivo.

—Eu estou fazendo o check-in agora. Eu estive no apartamento de


Marek.

— Ótimo. Alguma coisa útil?

— Passaportes albaneses e britânicos em uma gaveta da cozinha. Eu


não tive chance de olhar dentro deles. E uma arma.
— Certo. Algum computador?

— Não que eu tenha visto. Kell podia ouvir o desapontamento de seu


chefe e se preparou. — Ele me pediu para fazer um trabalho antes do
trabalho amanhã. Dinheiro extra.

— Brilhante.

— Eu disse não.

— Você está fodendo? O que o... -?

— Eu já havia pedido uma folga para Warner. Eu te disse. Eu vou


embora até a tarde de domingo. Teria parecido suspeito se eu mudasse meus
planos.

Seu chefe não disse nada.

— Eu preciso dessa pausa, disse Kell em voz baixa.

— Nós gastamos muito tempo e dinheiro em sua cobertura.

— Isso talvez não seja um problema. Algo que Marek disse me fez
pensar que ele estava me testando, para ver se eu mudaria meus planos.
Desta vez, dizer não foi a coisa certa a fazer.

Lane suspirou. — OK. Você tem que ir com seus instintos. Qualquer
outra coisa?

— Nada significativo.

Seu chefe desconectou.

— Foda-se. Kell enfiou o telefone de volta no bolso.


Gethin respirou fundo quando o cano da arma pressionou contra sua
testa forçando-o contra a parede.

— O que...-? Ele ofegou.

— Se você tocou nela, eu vou te matar. Se você apenas respirou perto


dela, eu vou te matar. O cara torceu a arma e Gethin rangeu os dentes. Este
tinha que ser Brian Charlton, marido de Izabela.

— Ele não fez nada. Do outro lado da sala, Izabela lutava para entrar
em um cardigã, depois ficou soluçando.

— Você está cometendo um erro. O coração de Gethin estava


martelando. A última coisa que ele esperava quando ele se sentou para
conversar com Izabela era ver um cara invadir o salão brandindo uma arma.

— Você é o único que cometeu um erro. O rosto de Charlton estava


ficando vermelho do pescoço para cima.

Gethin arregalou os olhos. — O que eu fiz? Ele esperava como o


inferno que o cara não soubesse.

Izabela disse a ele que seu marido tendia a ter ataques de fúria, mas
Gethin não achava que ele seria o objeto de uma delas. Ele nunca imaginou
que ele ficaria cara a cara com o cara. Charlton tinha pelo menos o dobro da
idade de Izabela; um contador calvo e rechonchudo, com o estômago
inchado e caindo sobre o cinto. Ele deveria estar no trabalho, mas havia
chegado em casa e encontrado Gethin com sua jovem e atraente e, agora que
Gethin caiu em si, esposa seminua. Izabela usava um vestido vermelho,
curto, apertado e com um decote muito baixo. O tipo de vestido adequado
para se usar em um clube, não um vestido que a maioria das mulheres
usaria para ficar na casa. Ela foi rápida em vestir o cardigã.

Merda. Oque esta acontecendo aqui? Pensamentos giravam na


cabeça de Gethin.

— Qual é o nome dele? Charlton não tirou os olhos de Gethin.

— Rhys Jones, Gethin falou antes que Izabela pudesse contradizê-lo.

— Eu estava falando com você, seu pedaço de merda? Charlton


cuspiu as palavras, o spray atingindo a bochecha de Gethin.

— Olha, acho que há um mal-entendido aqui. Gethin estava


desesperado para limpar o rosto.

— Cala a boca, Charlton gritou.

Ele poderia plantar seu punho na boca desse cara, mas havia aquela
arma, um excesso de energia nervosa e um dedo coçando no gatilho. Melhor
pensar em uma saída. Manter seu disfarce manteria ele e Izabela em
segurança enquanto ela permanecesse calma. Ela sentou-se balançando no
sofá, os braços em volta de si, os olhos arregalados.

— Há quanto tempo você está transando com ela? Charlton


perguntou com os dentes cerrados.
— Eu não estou.

— Ele não está, disse Izabela ao mesmo tempo.

—Cala a boca, Izabela, Charlton gritou. —Todas aquelas perguntas


sobre quando eu estaria saindo para o trabalho, se eu estaria fora o dia todo,
a que horas eu voltaria. Você acha que sou idiota?

— Não há nada acontecendo entre nós, disse Gethin. — Não é assim.


Quando você chegou, não estávamos sentados juntos. Além de apertar a
mão dela quando cheguei, não toquei nela.

Não era bem verdade, ela começou a chorar no momento em que


Gethin entrou na casa e colocou os braços ao redor dele. Ele não ia dizer isso
a Charlton. Ele poderia ter dito ao cara que ele era gay, mas decidiu
continuar com um plano que ele já havia pensado, mas nunca teve que usar.

— Você provavelmente se afastou quando ouviu meu carro parar lá


fora.

Pelo amor de Deus. Embora se Charlton tivesse chegado cinco


minutos antes... Uma gota de suor escorria pelas suas costas. — Eu sei que
prometi confidencialidade, Izabela, mas isso foi antes de seu marido decidir
segurar uma arma na minha cabeça.

— Marido? A testa de Charlton franziu.

Oh inferno. Uma palavra que empurrou Gethin na areia movediça.


Ela havia mentido.

— Nós não somos casados, disse Charlton. —Mas isso não significa
que ela não é minha.
Tinha que ser a imaginação de Gethin, mas parecia que o cano estava
entrando em seu crânio. Nesse ritmo, não haveria necessidade de atirar
nele. Seria uma novidade para o legista - vítima empalada no cano da arma.

— Você só vai para mulheres casadas? Charlton perguntou. — Você se


excita em foder a esposa de outro homem?

Gethin decidiu ir com tudo. — Você entendeu tudo errado. Eu sou um


planejador de festas. E, eu sou gay.

Charlton bufou.

— É verdade, disse Izabela.

Gethin tinha dito a Izabela para dizer que era o que ele fazia se ela
fosse desafiada, mas se ela não o ajudasse com isso, ele estaria em apuros
porque se não fosse o aniversário de Charlton ou a celebração de algum
grande negócio ou uma celebração para o dia em que ele descobriu o Viagra,
esse cara não iria acreditar nele.

— Um organizador de festas? Charlton estreitou os olhos.

Isso que estava escorrendo em seu rosto era sangue ou suor? Ele não
achava seriamente que Charlton pudesse empurrar o cano através do osso,
mas ele era um cara grande. Maior que Gethin.

E eu sou gay, seu idiota. — Eu trabalho para uma empresa que


planeja festas. Nós organizamos o local, comida, entretenimento. Desculpe,
Izabela, por estragar as coisas, mas eu não vou ser morto porque você me
pediu para organizar uma festa surpresa.

Ajude-me aqui e não diga a ele a verdade - seja lá o que for - se você
quiser manter sua sala cuidadosamente livre de sangue. Gethin estava quase
certo de que a última coisa que Izabela iria querer era informar a Charlton
que ela suspeitava que ele a estava traindo, que ela havia contratado Gethin
para descobrir a verdade e também para averiguar o quanto ele valia, caso
ela quisesse se divorciar dele. Só que ela não era casada com ele, então isso
não tinha nada a ver com um acordo de divórcio. Quase como se ela sentisse
o aborrecimento de Gethin, ela chorou mais forte, fungando em um lenço de
papel.

Por que a arma ainda estava pressionada contra sua cabeça? Gethin
se perguntou no que diabos ele tinha tropeçado.

—Nenhum carro na entrada? Perguntou Charlton.

Ele nunca estacionou seu carro na entrada da garagem de um cliente.


O ponto principal era a discrição e o desejo de evitar perguntas difíceis de
vizinhos, amigos e namorados ciumentos e empunhando armas.

— Eu peguei uma vaga ao virar a esquina. Eu não perguntei se haviaia


um lugar para estacionar meu veículo. Gethin respirou fundo. — A festa
deveria ser uma surpresa. Izabela disse que você não tinha muitas surpresas
e ela queria que isso fosse... especial.

Quanto mais de enrolação ele deveria fazer? Mas detalhes poderiam


matá-lo.

—Por que você achou que ela era minha esposa?

—Eu assumi. Proteger alguém que mentiu para ele era irritante, mas
até que Gethin entendesse o que estava acontecendo ali era isso, ele tinha
que ter cuidado.
— Abaixe a arma, Brian, disse Izabela. — Por favor.

Gethin respirou instável, apertando e abrindo os punhos. A arma foi


uma tentativa de assustá-lo e isso funcionou, mas Charlton não queria matá-
lo ou ele já estaria morto. Embora pela primeira vez em sua vida, Gethin
desejava que ele realmente aparentasse sua homossexualidade.

Charlton olhou furioso. — Que tipo de festa?

Izabela! Pare de vazar no tecido e diga alguma coisa. Se Gethin


dissesse aniversário e Charlton tivesse acabado de ter um, o cara não
acreditaria nele, mas se demorasse muito para responder, Gethin poderia
acabar com um buraco na frente de sua cabeça. Difícil se convencer Charlton
não atiraria quando o dedo do cara ainda descansava sobre o gatilho.

— Para celebrar o dia em que nos conhecemos, Izabela sufocou. —


Seis meses no dia sete de novembro. Eu quero fazer algo especial para o
homem que eu amo.

Seis meses? Oh Cristo. — Usando meu dinheiro?

— Não, eu pago. A dor em sua voz soou genuína, mas Gethin não ia
acreditar em outra palavra que saísse de sua boca novamente.

Pela primeira vez desde que ele pressionou a arma na cabeça de


Gethin, Charlton parou de olhar para ele e voltou sua atenção para sua
namorada. Era uma oportunidade para Gethin ter uma vantagem sobre ele,
mas ele não a tomou. Enquanto ainda houvesse uma chance de sair disso
com Charlton ignorando a verdade - o que quer que ela fosse, Gethin
poderia muito bem levá-lo.

— Onde será essa festa? Perguntou Charlton.


Izabela deu a Gethin um olhar frenético.

Não chegamos a nenhuma decisão ainda, Gethin disse. — Estávamos


prestes a discutir os locais.

Além de invadir o computador do cara, ele também esperava


conseguir uma programação dos lugares onde Charlton estaria nas próximas
semanas para que Gethin pudesse segui-lo. Mas momentos depois que ele
chegou, Izabela enxugou as lágrimas e empurrou-o para o escritório de
Charlton. Gethin podia cheirar todos os tipos de sujeira ali e a suspeita
obsessiva de Charlton aumentou mais ainda o aroma.

— Você trouxe panfletos? Perguntou Charlton.

Nota mental. Manter alguma coisa assim no carro. — Não nesta


fase. Esta é uma discussão preliminar. Preciso de um orçamento antes de
sugerir para meu cliente um determinado local. Mas a escolha seria entre
um hotel em Londres, uma casa de campo ou castelo - há alguns lugares
encantadores em Surrey, ou talvez usar katas. Eles estão se tornando cada
vez mais populares.

Charlton franziu a testa. — Que diabos são katas?

— Barracas de estilo Tipi2 baseadas naquelas usadas por pastores de


renas na Lapônia. Muito mais interessante que as marquises comuns. Já
fizemos festas com tema Viking nelas com peles de rena sobre os bancos.
Festas de Natal com Papai Noel. Casamentos. Nesta época do ano nós

2
fornecemos aquecedores, mas pode ter uma fogueira para sentar ao redor
também.

Graças a Deus ele ouviu Angel falar sobre eles. Gethin não era um
bom orador, mas ele pensou que poderia ter convencido Charlton.

— Tendas? Charlton olhou horrorizado.

Gethin retornou sua indignação em plena explosão. — Muito mais


que uma tenda. Mas ainda não sei quantos convidados Izabela deseja
convidar. Alguns amigos selecionados ou todos os seus conhecidos.

— Eu não sabia se você gostaria de convidar os vizinhos, disse


Izabela.

Charlton zombou. —Eu pensei que você não gostasse dos vizinhos.
Você disse que eles empinam o nariz para você.

— Seria uma chance de conhecê-los.

Gethin ficou aliviado que Izabela estivesse cooperando com seu


disfarce, mas ainda se perguntava o que ela estava fazendo.

— Eu não sei ainda com quem você se relaciona e se quer que os


funcionários ou clientes venham, ela disse.

A arma não parecia estar pressionando tão fortemente sua cabeça


mais, mas Gethin ainda permaneceu em alerta.

— Se eu convidar apenas uma pessoa que você não gosta, eu estrago


tudo. Ela sufocou um soluço. —Eu quero que a festa seja perfeita. Eu quero
que você entre, suspire e então sorria. Eu quero compensar todas as vezes
que você não pode ter uma festa.
Toda essa confusão para celebrar um relacionamento de seis meses?
Embora olhando para os dois, Gethin ficasse surpreso por ter durado tanto
tempo. Esse cara se apaixonaria por isso? Ele já não havia se perguntado por
que uma mulher jovem e atraente como ela estaria com um cara mal-
humorado e acima do peso como ele? Ele não via que isso tinha que ser
sobre o dinheiro?

— Qual o nome da sua empresa? O foco de Charlton voltou para


Gethin.

— Party Solutions.

— Dê-me o número de telefone. Charlton pegou seu telefone e Gethin


lhe ditou um número.

Um momento depois, a voz alegre de Tilda ecoou. — Soluções para


festas grandes e pequenas para todas as suas necessidades de
entretenimento. Matilda falando. Como posso ajudá-lo?

A ansiedade de Gethin recuou quando ele ouviu, pois Tilda se


lembrava do que ele havia pedido, não apenas o que dizer, mas o modo
como ela iria dizer isso.

— Você tem alguém trabalhando para você chamado Rhys Jones?


Charlton perguntou.

— Sim nós temos. Receio que Rhys não esteja no escritório agora.
Existe alguma coisa no qual eu possa ajudá-lo?

— Como ele é?

— Sua aparência? Sua voz vacilou.


— Não é uma questão difícil.

— Alto, magro, cabelos escuros e desgrenhados. Olhos verdes. Trinta


e poucos anos. Não sorri muito.

— Onde ele está? Perguntou Charlton.

Houve uma pausa antes que Tilda falasse. — O que está acontecendo?
Você tem um problema? Rhys está bem? Ele sofreu um acidente?

— Eu quero saber onde ele está.

— Posso pegar o seu número e pedir-lhe para ligar para você? Seu
tom tinha se tornado plano e, sua voz perdeu um pouco do sotaque elegante
que ela geralmente assumia e se aproximou mais do seu sotaque real de
Essex.

— Você não sabe onde ele está? Charlton franziu o cenho enquanto
olhava para Gethin.

—Sim, eu sei onde ele está. Bem, eu sei onde ele me disse que estava
indo esta manhã para ver um cliente, mas eu tenho que manter a
confidencialidade. Somos especializados em festas surpresa. Eu não tenho
ideia de quem você é. Eu não estou...-

— Entre em contato com ele agora, Charlton ladrou. — Diga a ele para
ligar para Izabela.

— Ele saberá o...?

Charlton interrompeu a ligação e esperou. Um momento depois, o


telefone tocou no bolso de Gethin.
— Atenda, disse Charlton. — Eu quero ouvir o que ela diz.

Gethin puxou, passou o polegar pela tela e colocou no alto-falante. —


Oi, Matilda.

— Um homem extremamente rude acabou de telefonar e me disse


para dizer-lhe para ligar para Izabela. Nenhum segundo nome.

— Você está bem?

— Sim, obrigada.

Gethin terminou a ligação e enfiou o telefone no bolso antes de


transformar um trabalho brilhante em um desastre.

Quando ele discutiu com ela e Angel a remota chance de precisar


fazer isso, eles disseram que parecia excitante, e Gethin tinha pensado que a
ocasião nunca iria surgir. Eles estavam todos errados.

A arma balançou contra a cabeça de Gethin e ele se preocupou que


Charlton atirasse nele acidentalmente.

— Veja, disse Gethin. —Isso não é o que você pensou.

Arriscou-se e ergueu a mão, enrolou-a no cano e afastou-a. Seu


coração deu um pulo, depois se acomodou.

— Deixe-me abaixar a arma, disse Gethin. —Você não quer atirar em


mim. Izabela já me avisou duas vezes para não deixar o tapete sujo.

Gethin ficou surpreso quando ele se viu segurando a arma enquanto


Charlton atravessava a sala para sua namorada.

— Não está carregado, disse Charlton enquanto ele puxava-a em seus


braços.

Gethin colocou a arma no chão atrás do sofá e chutou-a para baixo


dele. Agora era a hora de pular em Charlton e bater no filho da puta de um
lado do quarto para o outro antes de chamar a polícia. Exceto que Gethin era
o mais provável de ser espancado. Mesmo se ele telefonasse para a polícia,
ele poderia imaginar o que viria a seguir. O advogado de Charlton falando
com ele sob custódia - meu cliente enfrentou um invasor de casas, sua
namorada foi ameaçada. Uma arma? Não, era uma réplica, um isqueiro,
um brinquedo de criança - então o cara estaria de volta a esta casa, exigindo
saber quem realmente era Gethin e dando mais contusões a Izabela. Gethin
não tinha perdido as marcas de impressões digitais em seu braço.

Ele encostou-se à parede e imaginou Charlton sangrando


profusamente sobre seu tapete creme enquanto pedia misericórdia. Uma
passada de mão rápida por sua testa lhe disse que ele não estava sangrando,
mas estava machucado. O idiota

Quando o casal se beijou, Gethin permitiu-se um suspiro silencioso


de alívio. Ele estava relutante em vir aqui para uma primeira reunião, mas
Izabela insistiu. Ela disse que, embora o marido estivesse no trabalho o dia
todo, Charlton frequentemente ligava para o telefone fixo para checar se ela
não tinha saído.

Comportamento controlador clássico, mas deu a Gethin a chance de


olhar para o computador de Charlton.

Era mais protegido do que ele esperava. Seu método habitual de


quebra de senhas não funcionou, mas eventualmente acabou ganhando
acesso e incorporou um software que abriu o disco rígido. Felizmente, ele
tinha conseguido fazer download de tudo em um cartão de memória antes
que Charlton chegasse, embora aquele pedaço de metal e plástico estivesse
queimando um buraco em seu bolso. Gethin fez o que pôde para reduzir o
risco de Charlton descobrir que seus arquivos haviam sido acessados, mas
dependia muito de quão bom o cara era em informática. Esperava que não
fosse tão experiente quanto Gethin.

Agora Gethin estava dividido. Izabela mentiu para ele. Charlton tinha
reagido exageradamente. Com uma maldita arma. Gethin ficou chocado e
tinha congelado quando o cara puxou a arma. Aqui era o Reino Unido não os
EUA. Era ilegal manter armas em casa. E por que ter uma arma e não
carregá-la? Assumindo que estava descarregada mesmo. Por que ele
precisava de uma arma? Por que ele estava tão desconfiado? Por que Izabela
mentiu sobre ser sua esposa? Gethin pensou que ele já havia descoberto
parte disso. Porque ela queria saber o que estava no computador de
Charlton e inventou uma história para convencer Gethin a fazer algo ilegal.

Quando Charlton atravessou a sala com Izabela pendurada em seu


braço, Gethin ficou tenso, mas o cara apenas estendeu a mão.

— Desculpe, disse Charlton. — Mas você pode ver como isso parecia.
Ela me perguntou várias vezes se eu ia sair, então quando volto para casa eu
a encontro com um cara bonito.

— O qual é gay. Você não estava ouvindo?

— Como se eu quisesse alguém além de você, meu grande papai-urso.


Ela acariciou seu braço. — Mas você estragou minha surpresa.

Gethin relutantemente apertou a mão de Charlton. — Você não vai


querer a festa, então?
Charlton deu uma risada curta. — Não seria uma grande surpresa
agora.

Gethin não tinha terminado com este idiota, mas era hora de sair.

No caminho de volta para seu carro, ele fez verificações sutis ao seu
redor para o caso de Charlton ter mandado alguém segui-lo, mas não havia
ninguém por perto. No entanto, alguém deveria estar vigiando a casa para
Charlton saber que ele estava lá. Ou havia alguma câmera que Izabela não
sabia e que Gethin não tinha percebido? Um vizinho intrometido? Eu nunca
deveria ter vindo até a casa. Se Gethin não tivesse convencido que Charlton
realmente tinha acreditado nele sobre o planejamento da festa, ele não teria
deixado Izabela sozinha com ele. Mas ele ainda estava preocupado.

Ele não tinha certeza da próxima jogada neste jogo. Izabela não ia
contar a verdade a Charlton, mas um cara paranoico poderia descobrir que
Gethin esteve em seu computador. Gethin não tinha certeza se deveria ficar
de boca fechada sobre isso. Cristo, o cara era louco. Você não pode
simplesmente sacar uma arma e ameaçar atirar em alguém.

Ele se permitiu um suspiro audível de alívio quando finalmente se viu


dentro do seu carro com as portas trancadas. Ele olhou no retrovisor
enquanto se afastava, mas ninguém o seguia. O que ele viu, bem no meio da
testa, era um hematoma vermelho circular que parecia uma daquelas
marcas que os Hindus colocavam em suas cabeças.

Gethin pensou novamente em chamar a polícia, mas seria a palavra


dele contra a de Charlton e ele estava preocupado com Izabela, embora a
cadela o tivesse enganado. Havia muitas maneiras de explicar o hematoma e
muitas oportunidades para Charlton se livrar da arma antes da chegada da
polícia. Era mais do que provável que Izabela corroborasse a versão de
eventos de Charlton. Gethin estava bem ciente de como as mulheres
abusadas reagiam quando pressionadas. Talvez ela quisesse se vingar de
Charlton por ter batido nela, planejado roubar o dinheiro dele e fugir.
Gethin a ajudaria a correr, mas não roubaria o dinheiro do namorado.

Depois que ele checasse o cartão de memória, ele decidiria o que


fazer. Cristo, eu odeio o meu trabalho.
Quando Kell alcançou seu estúdio de merda, ele tomou um longo
banho quente e esfregou Marek de sua pele, embora sua bunda ainda doesse
e seu rosto também. Sua bochecha esquerda tinha um arranhão.

A Polícia Metropolitana não deveria encorajar seus policiais


disfarçados a dormir com suspeitos. A força ainda estava se recuperando do
dano causado por policiais que tiveram filhos com ativistas que deveriam
estar espionando. A imprensa descobriu e publicou a história e todo o
inferno se soltou. As mulheres haviam processado.

Mas isso era diferente, dissera seu chefe, embora ainda dissesse a Kell
que não fosse longe demais. Kell se perguntou como isso era diferente. Além
do fato de que Kell não engravidaria ninguém e nem seria engravidado, as
pessoas que trabalhavam para Warner eram muito mais perigosas que os
amantes de árvores. De qualquer forma, era Warner que Kell estava
investigando, não Marek. Warner estava em caras muito mais jovens.

Silas Warner dirigia um clube gay de luxo em Londres chamado No


Escape. Ele tinha clubes em outras cidades, além de ter sites de sexo, lojas
de adultos online, lojas físicas e filmes pornográficos. Coisas obscuras,
embora legítimas. Mas Warner era suspeito de estar envolvido com o crime
organizado: tráfico de pessoas, contrabando de drogas e lavagem de
dinheiro. Kell não tinha muito a relatar a despeito de seus esforços, embora
drogas estivessem sendo vendidas nos fundos do clube não era difícil para
Warner alegar ignorância. Kell nem estava sendo pago em dinheiro. Ele
tinha recibos de salário apropriados com impostos e seguro nacional
deduzidos. Havia um computador no escritório da Warner, mas a porta
estava sempre trancada.

A falta de informação útil após cinco meses de ansiedade era


responsável por grande parte da depressão de Kell. Alguns rostos estalaram
no celular, alguns nomes para dar ao chefe, mas nada de concreto, nada de
útil. Kell arrumou a mala para o fim de semana e tentou melhorar seu
humor.

A trigésima festa de aniversário de Quin não era apenas uma bebida


no pub. Seus pais eram mega-ricos e organizaram um fim de semana inteiro
de eventos. Quin era amigo de Kell desde que eram garotos. Foi Quin quem
ficou ao lado de Kell quando ele tinha quinze anos. Quin que o impediu de
ser intimidado na escola. Quin que estava lá quando a família de Kell
implodiu. Ele era como o irmão que Kell queria em vez daquele que ele
tinha.

Kell congelou com esse pensamento e soltou um bocado de


maldições. Ele tinha esquecido o aniversário de seus sobrinhos gêmeos.
Apesar da profunda aversão de seu irmão por ele, Kell estava determinado a
ser um bom tio para os meninos. Só porque seu irmão era um idiota, não
significava que seus filhos seriam iguais. Ele digitou o número da casa de
Oliver em seu telefone. Oliver estaria no trabalho, mas ele esperava que
Lyndsay atendesse, embora ela não reconhecesse esse número.

— Olá, ela disse.


— Oi Lyndsay, sou eu. Eu gostaria de saber se poderia levar os
presentes de aniversário dos garotos.

— Foi há duas semanas, Kell.

—Eu estive atolado no trabalho até o pescoço. Desculpa. Quando eles


saem da escola?

— Estaremos ocupados então. Venha à uma. Ela desconectou a


ligação.

Cadela. Ela não era tão ruim quanto seu irmão, mas os dois eram
bem adequados um ao outro. Idiotas pomposos.

Kell pegou sua bolsa e saiu. Ele não via muito seus sobrinhos de
cinco anos de idade porque ele era nunca era convidado para a casa de seu
irmão. Ele sempre tinha que ligar para programar uma merda de visita,
embora Kell não se importasse muito, porque qualquer tempo gasto com seu
irmão era uma tortura. Kell sempre levara presentes de aniversário e de
Natal para seus sobrinhos e nunca recusara a chance de vê-los quando
estavam na casa de seu pai. Oliver raramente tentava alguma besteira lá.
Kell não deveria realmente chegar muito perto de sua família enquanto
estivesse trabalhando disfarçado, mas comprar presentes para os meninos
era sua tentativa patética de mostrar a Oliver que ele não estava magoado
pelo modo como seu irmão o tratava.

Exceto que ele estava.

****
Uma vez que Kell entrou na loja de brinquedos, ele foi dominado pela
escolha, indeciso quanto a comprar ou não aos meninos a mesma coisa. Ele
não os conhecia bem o suficiente para ter certeza do que eles gostariam.
Lego parecia uma boa opção e ele escolheu dois conjuntos diferentes de Star
Wars, caixas grandes, e depois acrescentou outro para dar a Quin como uma
piada. O que ele poderia comprar para um cara que tinha tudo? Os gêmeos
não tinham idade suficiente para o Lego, o que ele esperava que significasse
que eles ainda não o tinham ainda, e mais o bônus adicional de Oliver ter
que ajudá-los a construí-lo, o que o incomodaria, apesar de ele amar seus
filhos. Kell pagou extra para ter tudo embrulhado e escreveu três cartões de
aniversário.

Seu telefone tocou quando ele saiu da loja e quando viu quem estava
ligando, suspirou. — Oi, Lyndsay.

— Venha às duas em vez de à uma, você poderia?

— Sim. Lyndsay, você me faria um favor? Limpe este número do seu


telefone. Eu não deveria receber ligações pessoais nele.

— Tudo bem. Ela o cortou novamente.

Se ele pedisse a Oliver para fazer isso, Kell teria sido cercado por
mensagens e textos, mas ele não ligaria para Oliver. Se ele tivesse a chance,
ele se certificaria de que Lyndsay tivesse feito o que ele pediu. A última coisa
que ele precisava era que Marek checasse seu histórico de chamadas. Kell
dirigiu-se para um café do outro lado da rua. Ele poderia muito bem obter
algo para comer enquanto ele esperava.
Quando Kell viu o carro de seu irmão estacionado do lado de fora da
elegante casa georgiana, sua casa em Londres, ele xingou baixinho. Não
queria que Oliver estivesse lá. Ele realmente esperava não encontrá-lo, mas
quando Kell tocou a campainha foi Oliver quem atendeu.

— Olha o que o gato arrastou, disse seu irmão.

— Você seria o gato, não é? Tinha sido tentado a empurrar os


presentes para Oliver e sair, mas ele se recusou a dar ao irmão a satisfação
de reconhecer que não era bem-vindo.

Oliver o seguiu até a cozinha.

Lyndsay lhe endereçou um sorriso tenso.

— Oi, Lyndsay. Como você está? Kell poderia ser educado.

— Bem.

Mas ela não podia. Kell baixou a bolsa e tirou dois conjuntos de Lego
e cartões do grande suporte de plástico. —Desculpe, estou atrasado com os
presentes.

— Eles pensaram que você tinha esquecido, Oliver disse sobre seu
ombro. — Que porcaria você comprou para eles?

— Algo que vai mantê-los ocupados. Kell gastara mais do que podia
com seu salário atual. Ele não tinha acesso ao seu salário da polícia até que
esse trabalho estivesse terminado.

— Para quem é o outro presente? Oliver perguntou.

—Um amigo. Quanto menos Oliver soubesse melhor. Se Kell dissesse


que ia à festa de Quin, o bastardo de seu irmão encontraria uma maneira de
estragá-la.

— Talvez eu pudesse ir com você para pegar os meninos na escola,


disse Kell a Lyndsay. — Apenas dizer olá para eles.

— Vamos sair para comer. O telefone dela estava perto da cafeteira e


Kell tentou descobrir uma maneira de chegar a ele.

— Meu pai tentou ligar para você, Oliver disse, — mas seu número foi
desconectado.

— Alguém na sede deveria monitorar as ligações para o telefone de


Kell, o que ele não podia usar enquanto estava disfarçado. Eles deveriam ter
dito que seu pai tinha ligado. Então, novamente, talvez ele não tivesse
ligado.

— Não pagou sua conta? Oliver sorriu.

— Eu poderia tomar um café?

Kell perguntou. Não que ele quisesse um, mas ele definitivamente
precisava se apossar do telefone de Lyndsay. Ele se arrependeu de ter ligado
para ela. Ele deveria ter encontrado outro jeito de levar os presentes para os
meninos.

Ela bufou, mas ligou a complicada máquina de café preta e prateada


que estava na bancada de mármore cintilante.

Kell empurrou os presentes para seu irmão. — Quer colocá-los na sala


de jogos?

Oliver chupou as bochechas, mas saiu com as caixas. Kell foi direto
para a cafeteira, distraiu Lyndsay com um comentário sobre uma marca no
chão e enfiou o telefone no bolso.

— Vou usar o banheiro.

Kell entrou rapidamente quando viu o irmão voltando no final do


corredor. Ele trancou a porta e suspirou aliviado quando percebeu que não
havia senha, caso contrário ele teria que jogá-lo no vaso sanitário. No
momento em que ele saiu, seu número não estava mais lá.

De volta à cozinha, ele esperava que Lyndsay o confrontasse, mas ela


não disse nada. Espero que ela não tenha notado. Uma xícara de café preto
estava ao lado da máquina de café.

— Obrigado. Kell colocou um largo sorriso no rosto e devolveu o


telefone para onde o encontrou antes de girar e manter as costas para a
máquina. Oliver tinha uma visão de águia e ele provavelmente notaria a
súbita aparição do celular de sua esposa.

— Como está Westminster? Perguntou Kell. Seu irmão era membro


do Parlamento e Kell ainda não conseguia entender como convencera as
pessoas a votarem nele. Mas, novamente, era apenas Kell que Oliver tratava
como merda.

— Beba seu café e vá embora.

— Coloque isso em suas despesas. Entreter um constituinte em


potencial.

— Você está se mudando para o local onde moramos? Lyndsay


pareceu horrorizada.
— Estou pensando nisso, disse Kell, apenas para ser um espírito de
porco.

— O que você realmente quer? Oliver estreitou os olhos.

Uma pontada de desapontamento tomou o coração de Kell. Ele nunca


teve qualquer expectativa de algo diferente de seu irmão, mas ainda doía.

—Dar às crianças seus presentes. Isso é tudo. — Ele tomou um gole


do café e colocou-o sobre a bancada. Oliver deu-lhe um sorriso triunfante e
Kell se perguntou o que ele colocara na bebida, se ele tinha cuspido nela.
Merda. Obrigado, porra, que eu só tomei um gole. —Diga aos garotos que
eu sinto muito por não ter trazido seus presentes aqui mais cedo, ele disse e
pegou suas sacolas.

Oliver seguiu-o até a porta. — Você acha que nós realmente


entregaríamos isso a eles? Ele soou desolado. — O que você comprou?
Barbies? Era com isso que você gostava de brincar.

— Você sabe que isso não é verdade.

— Eles vão direto para o lixo.

— Eu já disse ao papai o que comprei para eles, então eu não faria


isso se fosse você.

Oliver bateu a porta quando Kell se afastou. Ele parou na primeira


cabine telefônica pública que encontrou. Seu pai não estava lá, então ele
deixou uma mensagem.

— Oi pai. Acabei de levar aos gêmeos seus presentes de aniversário.


Star Wars Lego. Talvez você possa ajudá-los. Eu não acho que Oliver tenha
paciência. Entrarei em contato.

****

O telefone de Gethin tocou enquanto ele se dirigia para o carro com


uma caixa de bolos. Ele imaginou quanto tempo levaria para Izabela chamá-
lo.

— Party Solutions, ele disse, ciente de que Charlton poderia estar


ouvindo.

— Eu sinto muito. Meu Deus. Eu não tinha ideia de que ele tinha uma
arma.

Isso era verdade? —Você está bem?

Ele foi trabalhar. Ele prometeu me levar para sair hoje à noite para
compensar por ter estragado a surpresa. Você pode voltar aqui com a
informação que você tirou do computador?

— Você me disse que eram casados.

— Desculpe. Ela suspirou.

—Eu pensei que você não iria querer me ajudar se você soubesse que
eu era apenas sua namorada.

— Você não tem direito ao seu dinheiro.

— Eu só queria saber se ele mente sobre o quanto ele tem.


Que puta. Se Charlton não tivesse sido tão bastardo, Gethin poderia
ter sentido pena dele.

— Você pode me trazer o cartão de memória? Ela perguntou.

— Não agora. Eu tenho que estar em outro lugar. Eu entrarei em


contato. Gethin terminou a ligação. Uma dor tinha começado em sua cabeça
para combinar com o peso de chumbo em seu estômago. Ele estava muito
ansioso para aceitar este caso. Muito desesperado por trabalho para se
recusar a invadir o computador. Ele colocou um anúncio no jornal Metro3 e
ficou tão contente por ter conseguido um trabalho através dele que não
pensou muito sobre o porquê de ela tê-lo escolhido. Será que ela conhecia o
passado dele? Ele não podia ver como, mas agora isso era uma preocupação
mesquinha. O que parecia relativamente simples acabara sendo tudo menos
isso.

Gethin dirigiu de volta ao escritório, estacionou o carro embaixo do


prédio e subiu as escadas até o segundo andar. Ele abriu a porta para o
Celebrations - o verdadeiro negócio de planejamento de festas - e colocou a
caixa de bolos na mesa de Tilda.

Ela terminou a ligação e sorriu para ele. — Yum. Então eu fiz bem
com o bat fone?

— Você fez bem, obrigado. Esse homem pode ligar novamente. Se ele

3
Metro é um tabloide grátis disponível em partes do Reino Unido, publicado pela
Associated Newspapers, parte da Daily Mail and General Trust
fizer isso, use a voz que você usou antes, peça o número dele e diga que você
vai me dar o recado para entrar em contato com ele. Em nenhuma
circunstância diga onde é o escritório. Qualquer dúvida, você corta a
chamada, desligue o telefone e entre em contato comigo de outro telefone.

— Você está me assustando agora.

— Estou sendo cauteloso. Gethin forçou um sorriso em seu rosto.

— Então, o que aconteceu?

— Meu sentido aranha me decepcionou. O parceiro do cliente chegou


em casa, decidiu que eu estava brincando com a namorada dele e exagerou.

Havia um nó na garganta de Gethin. Ele engoliu em seco, mas não


conseguiu desalojá-lo. Talvez só agora estivesse batendo nele o quão perto
ele tinha estado de uma tragédia, que por muito pouco ele havia escapado.

Angel, o dono do negócio de planejamento de festas, enfiou sua


cabeça de cabelos brancos para fora do escritório. Seus olhos se iluminaram
quando ele viu os bolos.

—Tudo meu. Tilda agarrou a caixa.

— O que, você quer que eu vá e implore por minha comida? Faça-nos


um café, querida. Angel olhou fixamente para a caixa, em seguida, chamou
Gethin.

— Macbeth? Gethin perguntou.


Angel tsked. — As You Like It4.

De jeito nenhum Gethin conseguiria encaixar as diversas citações


shakespearianas de Angel, então ele sempre dizia que era Macbeth. Gethin
sentou-se na cadeira de couro em frente à enorme mesa de Angel.

Angel tinha quarenta anos, parecia trinta e tinha a energia de vinte


anos de idade. Hoje ele vestia uma jaqueta cinza da Nehru com fios
prateados cintilantes e calça rosa. Gethin não tinha certeza se ele já o tinha
visto vestir a mesma coisa duas vezes. Seu escritório era tão extravagante,
uma caverna de estilos e cores ecléticas de Aladim. Uma fotografia preta e
branca esfumaçada de um baile de debutantes, supostamente da avó de
Angel, estava posicionada logo acima de uma poltrona de cor creme estilo
Luís XV5. Em sua mesa de acrílico transparente havia um telefone retrô
turquesa, uma gárgula de pedra, um falso bolo de casamento de chocolate e
um abajur que poderia ter sido uma autêntica peça vitoriana. Mais havia
recipientes de flores frescas por todo o lugar, assim o escritório cheirava e se
pareceu com um jardim de verão confuso. No entanto, Angel orquestrava
festas temáticas de bom gosto e grande sucesso que as pessoas reservavam
com um ano de antecedência. Era um mistério que Gethin não conseguia
resolver.

4
As You Like It (publicado em português como Como Gostas ou Como lhe Aproveitar) é
uma peça teatral do dramaturgo inglês William Shakespeare. Acredita-se que tenha sido escrita
entre 1599 e o início de 1606. É classificada diversas vezes como uma das comédias shakespearianas mais
maduras.

5
— Cheio de pensamentos tristes e problemas? Angel se sentou em
sua cadeira.

— Macbeth?

Angel gemeu. —Henrique VIII6, seu ignorante. O que aconteceu com


a sua testa?

— Nada. Gethin puxou sua franja sobre o hematoma.

— Entrou em uma briga com Jonnie?

Gethin olhou. Jonnie estava fora dos limites e Angel sabia disso.

— Vamos tentar uma pergunta mais fácil, disse Angel, com o rosto
cheio de emoção. — Por que você exigiu as habilidades de atuação duvidosa
de Tilda?

— O namorado de uma mulher chegou em casa e teve a ideia errada


quando me encontrou com ela. Ele ligou para verificar se eu realmente
trabalhava onde eu disse. Tilda fez um bom trabalho.

— Ele não acreditou que você fosse gay? O idiota.

Gethin riu. Muito poucas pessoas olhavam para ele e chegavam a


conclusão que ele era gay. — Eu disse a ele que era, mas ele não pareceu
acreditar em mim.

6
Henrique VIII é uma peça histórica colaborativa escrita por William Shakespeare e John
Fletcher baseada na vida do Rei Henrique VIII da Inglaterra.
Tilda entrou com café e dois biscoitos digestivos de chocolate7. Angel
olhou para os biscoitos e choramingou.

— Estou te salvando de si mesmo, Tilda disse.

Angel choramingou mais um pouco e Tilda bufou, saiu do quarto e


voltou com dois macaroons8.

— Docinho, você não deveria ter.. Angel beliscou um enquanto ela


tentava tirar o prato.

Quando Gethin havia se mudado para o prédio há pouco mais de um


ano, como um investigador particular novato, a empresa de planejamento de
festas de Angel estava em operação há quase uma década. Sem a ajuda de
Angel, Gethin não poderia ter definido o seu negócio, não teria recursos para
o escritório que ele usava atualmente - na verdade ele ainda não podia pagar
por ele. Angel o subsidiou. O trabalho de PI vinha em grande parte do boca a
boca, mas Gethin não tinha feito trabalhos suficientes para se basear neste
fato. Ele pagou uma fortuna pelo anúncio no Metro e isso quase o matou.

— Você está bem? Angel perguntou. — Está um pouco pálido.

7
Um biscoito digestivo, às vezes descrito como um biscoito de farinha doce, é um
biscoito semi-doce que se originou na Escócia e é popular em todo o mundo. O digestivo foi desenvolvido
pela primeira vez em 1839 por dois médicos escoceses para auxiliar a digestão em um local chamado Logie
Steading in Forres. O termo "digestivo" é derivado da crença de que eles tinham propriedades antiácidas
devido ao uso de bicarbonato de sódio quando foram desenvolvidos pela primeira vez. Historicamente,
alguns produtores usavam extrato de malte diastásico para "digerir" parte do amido que existia na farinha
antes do cozimento.

8
Macaroon é um pequeno biscoito, normalmente feito de amêndoas moídas, coco e/ou outras
nozes ou até mesmo de batata, com açúcar e, às vezes, flavorizantes, corante alimentar, cerejas
cristalizadas, geleia e/ou cobertura de chocolate. Algumas receitas usam leite condensado.
— Estou bem.

— Coma isso para me impedir de devorar tudo.

Gethin pegou o macaroon. Para fazê-lo se sentir melhor sobre o seu


acordo com Angel, eles chegaram a um acordo. Gethin cobrava dívidas de
clientes que estavam relutantes em pagar e, se qualquer telefonema para
Rhys Jones aparecesse no telefone que Gethin havia fornecido, Tilda ou
Angel confirmariam que ele trabalhava para uma empresa de planejamento
de festas chamada Party Solutions. Angel queria dizer que Gethin trabalhava
para as Celebrações, mas Gethin sabia que era mais seguro não estar ligado
à companhia de Angel. Ele disse a Angel e sua equipe para negar que eles o
conheciam, se alguém viesse perguntar por ele, eles deveriam admitir que o
conhecesse com uma pessoa que trabalhava no mesmo prédio, mas isso era
tudo. Angel achava que ele era um pouco paranóico. Gethin esperava que ele
assim fosse.

— Eu preciso de um favor, disse Angel. — Da ajuda de suas boas


mãos. Essa é uma citação de The Tempest9 porque sei que você não vai
adivinhar. Eu estou fazendo uma festa de 30 anos em um castelo em Sussex
neste fim de semana e estou com pouco pessoal e já estou tendo palpitações
no coração. Ele deu um tapinha no peito.

— Lado errado.

Angel olhou. — Não, não é. Você pode me ajudar? Na arrumação,


servindo mesas, e depois, desmontar tudo de novo no dia seguinte? Eu
organizei acomodação em um hotel local e transporte. Eu darei a você duas

9
The Tempest é uma peça teatral do dramaturgo inglês William Shakespeare, que acredita-se ter
sido escrita entre 1610 e 1611, e tida como muitos críticos como a última peça escrita pelo autor.
semanas de aluguel.

O dinheiro era tentador. Gethin não seria pago pelo fiasco desta
manhã, mas ele estaria ocupado no sábado à noite. Ele estava ocupado todo
sábado à noite e Angel sabia disso.

— Eu não posso.

— Por favor, implorou Angel.

— Eu tive três caras cancelando de última hora.

Gethin pensou sobre o que ele teria que fazer no sábado, o quanto ele
temia, e sabia que Angel tinha acabado de lhe oferecer uma desculpa
legítima. Trabalho. Jonnie entenderia.

Merda, não, ele não iria.

— Desculpe. Não.

— Traga seu namorado, disse Angel. — Ele pode ajudar.

— Eu não posso. Gethin lamentou ter falado sobre Jonnie para Angel.
Não que ele tivesse realmente dito a ele. Angel tinha escutado uma de suas
ligações, então assumiu que ele sabia de tudo quando, na verdade, não sabia
praticamente nada.

Angel olhou para ele. — Tilda ajudou você hoje. Agora eu preciso que
você me ajude ou talvez esse telefone não seja respondido da próxima vez.

— Merda, Angel. Chantagem agora?

— Estou desesperado. Não é um favor tão grande assim? Eu estou


pedindo gentilmente e, é claro, a Srta. Moneypenny e eu manteremos o
subterfúgio, mesmo que você diga não. Mas por favor. Eu não quero ter que
recorrer a uma agência e conseguir alguns jovens novatos. Você parece
certo. Três semanas de aluguel.

Gethin suspirou. — Ok.

Angel bateu palmas e sorriu, seu olhar de angústia desapareceu em


um instante. — Ótimo. Vou pedir a Tilda para lhe mandar os detalhes por e-
mail.

Gethin ficou de pé.

— Eu quis dizer isso sobre Jonnie, Angel disse. — Já é hora de eu


conhecê-lo e decidir se ele é adequado para meu PI favorito. Traga-o. Eu vou
pagá-lo.

— Não. Angel podia interpretar isso do jeito que ele quisesse.


Gethin dirigiu-se para seu esconderijo no fim do corredor, digitou o
código no teclado e abriu a porta. A única coisa organizada em seu pequeno
escritório era o arquivo. Por dentro, sua papelada estava em perfeita ordem,
recibos em pastas datadas e anotações manuscritas em outros - mantenha
tudo, ele tinha sido informado pelo cara no curso de treinamento de PI. Mas
a superfície de sua escrivaninha dificilmente poderia ser vista. Seu laptop
estava cercado pelo que parecia ser um monte de lixo, mas na verdade não
era. Folhas com frases rabiscadas, mapas, recortes de jornais e revistas,
todos relacionados a casos de pessoas desaparecidas que ele não estava mais
sendo pago para trabalhar, mas que não abandonaria. Ele tinha dificuldade
em deixar de lado qualquer coisa que ainda estivesse inacabada.

No lado esquerdo da escrivaninha, pilhas de manuais sobre alarmes


contra ladrões, além de folhetos explicativos sobre fechaduras, cofres e
equipamentos de vigilância, uma pilha estilo Jenga10 de lápis mastigados,
criada quando ele estava pensando, e dois pares idênticos de óculos que ele
precisava para um próximo trabalho. No chão, vária caixas continham peças
de computador, fios, placas de circuito e vários componentes que ele sabia

10
forma da pilha de lápis, mas no caso do livro, os lápis são todos de escrever, não para
colorir.
que precisavam ser separados, e do outro lado da sala havia outra mesa com
mais dois computadores, uma impressora e coisas aleatórias que ele deveria
colocar em algum tipo de ordem e que ele provavelmente não faria. Sua
inclinação para arrumar qualquer coisa que não fosse importante
desaparecia quase no mesmo instante em que aparecia.

Gethin sentou em sua mesa, ligou seu laptop e colocou um par de


óculos de aro preto. Ele havia fodido com este caso, havia cometido erros
que poderiam tê-lo matado ou a Izabela, e ainda poderia levar os problemas
até Angel. Izabela disse a ele que ela conseguiu o nome dele no anúncio e o
procurou na Internet, mas ele não perguntou por que ela o escolheu em
particular. Não era como se ele estivesse em qualquer lugar perto da
primeira página do Google. Ele deveria ter verificado se Charlton estava
ocupado em outro lugar, deveria ter tomado a decisão de ir à casa deles
baseado em sua própria informação e não na de Izabela. Ele deveria ter
procurado o cara, feito algum trabalho de preparação.

Muito raramente um cliente chegava ao escritório de Gethin, mais


para segurança deles do que pela dele mesmo, embora sua toca de coelho
desorganizada e desleixada, ao contrário do fofo animal comedor de
cenoura, não era capaz de impressionar. Gethin calculou que quanto menos
pessoas soubessem onde ele trabalhava melhor, porque ele não precisava de
visitas de parceiros chateados, particularmente aqueles violentos em relação
à outra metade, ou agora - como parecia - aqueles com acesso a armas. Ele
ainda estava tendo dificuldade em entender o que havia acontecido naquela
manhã.

Era mais sensato encontrar clientes em um lugar público, em algum


lugar longe de seu ambiente normal; Kew Gardens, o Tate Modern, um café
no final de uma linha de metrô, na estação Kings Cross. Uma vez ele teve
uma reunião no London Eye. A única razão de ele ter cedido ao pedido de
Izabela foi porque ela tinha oferecido quinhentas libras em dinheiro
adiantado, mas que ele nunca viu. Ela queria que ele obtivesse informações
do computador e entregasse a ela no que ela disse ser a oportunidade
perfeita. Gethin tinha assumido que ela sofria de abuso quando ele viu as
contusões e ainda... Izabela não sabia a senha do computador. O que ele fez
tinha sido ilegal.

Ele tirou o cartão de memória do bolso e colocou-o na mesa à sua


frente. O que havia nisso que era importante o suficiente para ela criar esse
truque? Ela soou sincera quando disse a ele que suspeitava que o homem
que ela disse que seu marido a estava traindo. As contusões pareciam reais.
Mas agora Gethin questionava isso. Izabela estava perfeitamente maquiada.
Ela usava um vestido que a maioria dos homens acharia sexy, embora
expusesse essas marcas. Ela havia falsificado ela para ter certeza que ele as
visse? Então vestiu o cardigã para impedir Charlton de vê-las?

Ele não tinha certeza se acreditava em qualquer coisa que Izabela


tivesse dito a ele. Gethin não tinha ido com a cara de seu namorado e agora
ele também não gostava dela. Ela contratou seus serviços apenas para obter
informações desse computador. Talvez ele não tenha sido o primeiro
investigador que ela contatou, apenas o primeiro a não usar o cérebro dele.

Seu telefone tocou e ele o puxou do bolso, supondo que seria ela
pedindo o cartão de memória novamente. Mas era um número
desconhecido.

— Olá, ele disse.


— É da Investigações GRJ?

Gethin não reconheceu a voz da mulher, mas isso não significava que
ela não fosse amiga de Izabela, ou inimiga dela.

— Como posso ajudá-la?

— Meu nome é Zena Hoehn. Meu filho Dieter está desaparecido. A


mulher soltou um soluço estrangulado.

Gethin se sentiu culpado por seu suspiro de alívio que ele não estava
ouvindo alguém o ameaçando sobre o cartão de memória. Ele empurrou em
seu laptop e iniciou uma verificação de vírus.

— Como você conseguiu meu número?—

— Vi seu anúncio no Metro.

— E por que você me escolheu? Gethin tinha acabado de aprender


uma lição sobre cautela.

— Diz no seu anúncio o quanto você cobra. Não são muitos que fazem
isso. Quarenta libras por hora, certo?

— Mínimo de quatro horas, mais custos de viagem e gastos extras.

— Tudo bem. Eu posso pagar por quatro horas. Talvez mais, se você
precisar.

Gethin engoliu seu gemido. Seria este outro caso que ele acabaria não
cobrando? — Quantos anos tem seu filho?

— Dezessete anos.
— A polícia...

— São inúteis. Eles não fazem nada. Por favor. Eu preciso de ajuda.
Eu preciso de alguém para procurá-lo. Ela começou a chorar e Gethin
estremeceu.

— Há quanto tempo ele está desaparecido?

— Vinte e oito dias.

— Qual é o seu endereço?

Ele anotou. Ah Merda. Edgware. Ele deveria já dizer a ela que


precisaria de duas das quatro horas de pagamento só para ir e voltar de lá.
Muito provavelmente. Mas esta era uma mãe preocupada por um filho
desaparecido e Gethin ficou quieto.

— Você pode vir agora? Ela perguntou.

— Dê-me um par de horas.

—Obrigado.

Gethin abaixou o celular e olhou para a tela de seu laptop. Sem vírus.
Ele tinha programas de alto nível para manter seu computador seguro, mas
ele ainda estava aliviado por não ver problemas. Ele copiou o conteúdo do
cartão para a máquina e para outro dispositivo de armazenamento por via
das dúvidas, sua mente já se concentrando em pensamentos sobre o menino
desaparecido.

As chances de encontrar um garoto de dezessete anos que fugiu de


casa não eram boas. Parceiros desesperados, pais, irmãos ou amigos dos
desaparecidos só se aproximavam de investigadores particulares depois que
a polícia falhava e a trilha já estava fria. A menos que fosse um caso de rapto,
e isso não acontecia com frequência com crianças dessa idade, as pessoas
geralmente desapareciam porque queriam. Os que ficaram para trás muitas
vezes achavam impossível aceitar que seus entes queridos tivessem decidido
isso por vontade própria. Ele encontrou breves detalhes do desaparecimento
on-line de Dieter, uma foto do adolescente no jornal local. Pelo menos ele
sabia que sua mãe estava dizendo a verdade, a menos que ela o tiesse
matado.

Enquanto ele estava olhando fotos, ele procurou por uma de Izabela,
inserindo os detalhes de Brian Charlton. Ele encontrou uma foto dos dois
em um evento de caridade. Gethin tirou uma foto com o celular. Ele não
conseguiu encontrar nada sobre Izabela. Sem o sobrenome, havia muito
pouco que ele poderia fazer.

Gethin clicou para abrir o arquivo que ele criara a partir dos dados de
computador de Charlton. Ele copiou tudo: documentos, fotos, vídeos,
planilhas do Excel, e-mails e o conteúdo da lixeira. Ele tinha coberto seus
rastros bem o suficiente para que o cara nunca descobrisse, mas Gethin
sabia que ele poderia. Não importa quão bom hacker você fosse, sempre
havia alguém melhor. Ele abriu as planilhas e trabalhou na decodificação da
última que Charlton havia fechado. Quando ele viu listas de contas bancárias
e quantias de dinheiro sendo movimentadas, ele gemeu. Isso não parecia
legal, embora o cara fosse um contador.

Ele examinou as outras coisas. Mais decodificação era necessária. As


fotos e vídeos eram uma mistura de decente e indecente, embora nada
pervertido. Izabela parecia feliz por estar posando como uma estrela pornô.
Talvez ela fosse uma estrela pornô.
As técnicas normais de decodificação não funcionavam com todos os
documentos, mas ele descobriu uma pasta incorporada dentro de uma pasta
dentro de outra pasta que mantinha fotos de mulheres jovens organizadas
em uma sequência progressiva. A primeira do rosto de uma mulher, a
próxima dela em pé nua. Não posando. Apenas de pé e não parecia feliz.
Valores em Euros abaixo fizeram com que Gethin se perguntasse se as
mulheres estavam à venda ou se haviam sido vendidas. Ou ele estava tirando
conclusões precipitadas, porque queria achar Charlton culpado de alguma
coisa?

Independentemente do que mais estava no cartão, isso parecia


informação que a polícia deveria ter, juntamente com o detalhe de que
Charlton tinha uma arma ilegal. Gethin poderia fazer isso anonimamente,
embora não houvesse como saber se a polícia levaria a sério. Além disso, se a
polícia apreendesse o computador, talvez Izabela lhes desse o nome de
Gethin e Charlton descobriria o que ela e Gethin haviam feito. Se não fosse
por aquela arma, ele não ficaria tão preocupado, mas se o cara não fosse
mantido sob custódia, e era improvável que ele ficasse, então Gethin e
Izabela estariam em perigo.

Além disso, a forma como Gethin acessara o computador, sem


mencionar o fato de que ele tinha copiado ilegalmente os dados, era um
delito passível de punição por infringir a lei Computer Misuse Act11. Não era
o computador de Izabela, então Gethin não podia reivindicar seu
envolvimento para justificar o que ele fez. No longo prazo, eventualmente

11
O Computer Misuse Act 1990 é uma lei do Parlamento do Reino Unido, introduzida em
parte em resposta à decisão de R v Gold & Schifreen 1 AC 1063. Essa Lei torna ilegal acessar ou alterar os
dados em um computador ou outro dispositivo (conforme especificado por uma atualização da lei em 2005
para uma ampla gama de dispositivos) sem a autorização do proprietário do dispositivo ou de dados. É
frequentemente usado como um meio de onerar hackers e criminosos cibernéticos quando eles entram em
um sistema de computador ou rede e roubam, criptografam ou alteram dados no terminal.
caberia a um juiz decidir se o que ele havia descoberto dessa forma poderia
ser excluído porque fora obtido de forma injusta. O caso todo, supondo que
houvesse um, poderia desmoronar.

Gethin rangeu os dentes. Ele tinha sido avisado sobre isso no curso
de treinamento, que mais e mais PIs estavam recebendo informações de
computadores, principalmente ilegalmente. Era uma coisa que Gethin fazia
bem. Ele pensou que hackear para ajudar as pessoas seria uma coisa boa.
Agora ele desejava que não tivesse feito isso. No momento, ele estava
razoavelmente certo de que Charlton não suspeitava de nada o que lhe dava
tempo para pensar em como lidaria com isso.

Ele ligou para Izabela.

— Oi, ela disse.

—Você pode conversar?

—Ele está no trabalho. Eu já ia ligar para você.

— Por que você me escolheu?

— Eu vi seu nome no jornal. Você poderia trabalhar rápido, vir direto


para casa.

— Por que não uma grande empresa?

— Por que todas essas perguntas? Ela retrucou.

— Se Brian descobre o que fizemos, estou com medo de que ele faça
algo estúpido. Basta trazer o cartão de memória e eu pagarei você.

Que valor tem isso para você?


— Você pode vir hoje? Brian não chegará até mais tarde. Ou eu
poderia me encontrar com você.

— Eu pensei que você não podia sair de casa?

— Eu fui o primeiro PI com quem você falou?

— Por que você está fazendo um estardalhaço sobre isso? Ela gritou.
— Duzentas libras a mais se você trouxer isso de volta agora.

— Apenas me diga... Izabela engasgou, em seguida, cortou-o e


quando Gethin ligou de volta, ele não pôde nem conseguir um tom de
discagem. Porra. O que ela fez com o telefone? Ele tirou os óculos e esfregou
a testa, lembrando-se tardiamente da contusão e da dor. Eu fui usado. Ele
realmente foi escolhido aleatoriamente? Ou porque ele trabalhava sozinho e
sem muita experiência? Ou porque ela sabia que ele poderia invadir
computadores? Mas como ela poderia saber disso? As perguntas o
incomodavam.

Gethin pegou o cartão de memória sobressalente. Agora ele tinha três


cópias, incluindo a do seu laptop. Ele fechou o computador e se pôs de pé.
Um dos cartões ele guardou em seu bolso e a outra ele escondeu atrás do
rodapé solto atrás de sua cadeira. Ele olhou ao redor. Até onde ele sabia,
nem Izabela nem Charlton sabiam a localização de seu escritório. Todas as
informações em seu computador eram copiadas remotamente. Se alguém
viesse aqui, não encontrariam todas as cópias do que procuravam.

A vida parecera tão simples hoje de manhã e agora Gethin se


preocupava por ele ter se deparado com algo maior do que ele poderia
encarar.
Antes de sair do escritório, ele entrou com o endereço de Zena Hoehn
em seu telefone. Depois de falar com ela sobre o adolescente desaparecido,
ele iria ao supermercado para comprar as coisas de que Jonnie precisava, e
então ele iria lá e explicaria por que ele não poderia estara lá no sábado
como de costume. Seria inútil telefonar. Gethin tinha uma chance melhor de
fazê-lo entender se ele conversasse cara a cara com ele.

Ele vestiu sua jacqueta de couro, deixou o carro embaixo do prédio e


pegou sua moto, com o fone de ouvido ligado ao telefone. Ele nunca parecia
ter tempo para si mesmo, algumas horas para relaxar. Mesmo quando ele
não estava trabalhando, sua mente permanecia correndo. Havia sempre algo
que ele estava tentando descobrir, algum caso atual o incomodando ou casos
anteriores em que ele não tinha sido capaz de ajudar, ou casos em que sua
ajuda causou tanta angústia que ele gostaria de ter feito qualquer outro
trabalho. Agora ele tinha um garoto de dezessete anos desaparecido para
encontrar, que mesmo se Gethin o localizasse, ele provavelmente se
recusaria ir para casa e também havia o caso curioso de um cara com fotos
estranhas em seu computador, junto com detalhes de transferências de
dinheiro complicadas das quais Gethin só conseguira olhar uma pequena
parte.

Então havia Jonnie. As emoções de Gethin ficaram sobrecarregadas


assim que ele pensou sobre ele. Arrependimento, culpa, afeto, simpatia,
ressentimento, ódio. Era impossível definir como ele se sentia porque sentia
tudo isso e muito mais. Ao tentar ser gentil, ser um bom homem, Gethin se
aprisionou, fodeu com seu mundo e não pôde contar a ninguém, não sem
parecer fraco, estúpido e egoísta. No entanto, por mais que a vida de Gethin
fosse ruim - a de Jonnie era pior.
Quando ele parou do lado de fora da casa geminada de Zena Hoehn,
ele já havia tomado uma decisão sobre o cartão de memória. Depois que ele
decodificasse tudo o que estava nele, mesmo que as fotos dessas mulheres e
as transferências bancárias fossem as únicas coisas estranhas, ele ainda iria
à polícia.

Zena Hoehn abriu a porta antes que ele pudesse alcançá-la. Ela era
uma loira pequena em seus trinta e tantos anos. Os anéis escuros sob seus
olhos e seus dedos agitados traíram sua ansiedade.

— Obrigada por vir tão rápido.

— Você me pegou entre alguns trabalhos que estava fazendo.

Ela conduziu Gethin a uma sala arrumada e lhe deu uma foto de
Dieter. Era melhor do que a que Gethin tinha baixado, então ele tirou uma
foto com o telefone e devolveu-a.

— Garoto bonito.

Ela tomou uma respiração trêmula. — Ele é. Muito parecido com seu
pai, mas não no temperamento.

— Comece pelo início de tudo.

— Seis semanas atrás, Dieter saiu para ir a escola, mas nunca chegou
lá. Foi só quando ele não chegou em casa que eu descobri que ele havia pego
uma bolsa de roupas e seus artigos de higiene, mas deixou o telefone e as
chaves. Eu chamei a polícia. Verificaram hospitais locais e contataram forças
policiais vizinhas, mas não conseguiram encontrá-lo.

Sem provas de crime, Gethin sabia que eles só fariam algumas


investigações superficiais, não importando o quanto sua mãe insistisse que
Dieter não teria apenas ido embora.

Falei com todos os seus amigos e entrei em contato com meu ex-
marido que mora em Manchester, mas Mike não o tinha visto. Fui a todos os
lugares que achei que Dieter pudesse estar. Eu presumi que a polícia
continuaria procurando, mas eles não. Ela rangeu os dentes. — Eles me
fizeram sentir como se fosse minha culpa que ele tivesse ido embora, que ele
estivesse fugindo de mim. Mas ele não tinha razão para isso. Nós sempre
nos demos bem. Uma vez que entendi que a polícia não estava fazendo mais
nada para encontrá-lo, procurei um investigador particular.

Ela colocou tudo para fora: tudo que se lembrava, fato e teoria.
Gethin selecionou entre a torrente de informações e fez anotações. Detalhes
sobre cicatrizes, apelidos, hobbies, medalhas de ginástica que Dieter
ganhou, histórico médico, lugares que ele gostava de visitar, estrelas pop que
seguia, filmes que assistiu, livros que ele leu, números de contato para a
família, sua escola e os amigos da escola.

Quando ela começou a se repetir, ele pediu para ver o quarto de


Dieter.

Ela o levou para o andar de cima. — Os policiais são os únicos que


estiveram aqui além de mim. Eu não mexi em nada. Quando ele voltar, eu
quero que tudo esteja como ele deixou, como se ele nunca tivesse saído.

Gethin estava no limiar e correu seu olhar sobre tudo, tendo uma
impressão do garoto antes dele entrar. Sua mãe ficou observando. Ele fez
perguntas enquanto passava pelas gavetas, verificou embaixo delas e olhou
para o guarda-roupa, observando o que Dieter não havia tirado. Ele
examinou lugares onde ele teria escondido coisas se este fosse o seu quarto,
mas não encontrou nada.

Ele ligou o computador. — Você poderia me pegar uma xícara de café


preto, por favor?

Ela parecia mortificada por não ter pensado em perguntar, mas ele só
queria que ela saísse do caminho enquanto ele verificava o computador, e
desse uma rápida olhada nos outros quartos. No momento em que ela voltou
com a bebida, Gethin tinha visto o que ele precisava.

O que ele reuniu nesta visita parecia uma massa de informações


aleatórias, mas lhe permitiu criar um perfil em sua cabeça para ir junto com
a foto do garoto esbelto e bonito, que parecia muito mais jovem que sua
idade. Dieter tinha cabelos castanhos encaracolados e um sorriso atrevido,
um pequeno espaço entre os grandes dentes da frente como se eles ainda
não tivessem crescido totalmente. Ele estava regularmente no Facebook,
Twitter e Instagram, mas não estava conectado desde o dia em que ele
desapareceu. Isso, além de ter deixado o telefone e as chaves, confirmou a
Gethin, como teria sido para a polícia, que Dieter planejara tudo isso e não
queria ser rastreado.

Sua mãe insistia que não sabia por que ele fugira e Gethin estava
inclinado a acreditar nela. Ele não podia deixar de desejar que tivesse tido
alguém que o amasse tanto quando tinha dezessete anos. Ele pediu para ela
telefonar para o melhor amigo de Dieter, Sam, e empurrar Sam para
encontrá-lo no McDonalds depois da escola. Gethin preencheu o tempo até
então, conversando com vizinhos e lojistas locais, mostrando-lhes a foto de
Dieter e fazendo perguntas que suspeitava já terem sido respondidas antes.
Gethin já sabia como era Sam a partir de uma foto que Zena lhe
mostrara. Uma versão mais baixa e gorda de Dieter. Ele acenou para o
menino quando ele entrou. Gethin tinha escolhido McDonalds porque não
era ameaçador, mas Sam parecia petrificado. Comprar-lhe um hambúrguer
e batatas fritas não tirou o medo do rosto dele.

— A mãe de Dieter está nervosa, disse Gethin,

— Eu não sei onde ele está. Eu já disse isso a ela.

— Você sabe por que ele foi embora?

Sam sacudiu a cabeça negando, mas não encontrou o olhar de Gethin.


Gethin não acreditou nele.

— Ele te chamou para ir com ele?

— Eu não teria ido. Ele sabia disso.

— Então você está feliz em casa? Gethin perguntou.

— Sim.

— Por que Dieter não estava?

O menino lançou-lhe um olhar frenético. — Dieter ama sua mãe.

— Então por que ele foi embora?

— Eu não sei. A expressão no rosto de Sam mudou para uma de


desafio.

— Você tem alguma idéia de para onde ele pode ter ido?

— Não.
Gethin se recostou em seu assento e deu uma mordida em seu
hambúrguer. — Diga-me o que vocês costumavam fazer juntos, que tipo de
amigo ele é, como é na escola. Ele é mais inteligente que você?

— Não. Bem, sim, em alguns assuntos. Ele é bom em matemática. Eu


sou melhor em inglês. Ele é brilhante em ginástica e dança. Eu não sou.

— Você é gay também?

Sam ficou tão vermelho que Gethin se preocupou por alguns


segundos que ele não ia conseguir respirar novamente.

Era apenas um palpite sobre os dois garotos, mas intuitivo.

— Não, Sam sussurrou.

— Sam. Gethin se inclinou para frente. — Diga-me a verdade. Eu


prometo que não vou contar a ninguém.

— Nós não fizemos nada.

— Não é da minha conta se vocês fizeram ou não. Gethin olhou para


ele. — Então vocês dois são gays.

Sam acenou com a cabeça uma vez, o menor movimento possível de


sua cabeça como se ele não pudesse sequer admitir sua sexualidade para si
mesmo.

— Dieter tinha um namorado? Um cara mais velho?

— Não.

— Ele conheceu alguém online? Batia papo com eles?


— Não. Ele não estava preparado. Nós sabíamos o que poderia
acontecer lá fora. Nós conversamos sobre isso. Mas eu não posso te dizer por
que ele foi embora. Eu prometi e não vou contar. Eu não sei onde ele está.
Ele disse que se ele me dissesse alguém poderia me fazer dizer a eles. Ele
também disse que me ligaria, mas não o fez.

Gethin precisava de mais informações de Sam antes que a criança se


fechasse.

— A mãe de Dieter está preocupada. Ela está pensando o pior, que


Dieter está morto em uma vala ou está sendo mantido contra sua vontade e
que coisas ruins estão sendo feitas com ele.

Sam engoliu em seco.

— Eu sei que ele deve ter tido suas razões para ir embora e eu nunca
tentaria persuadi-lo a voltar para casa, se ele não quisesse, mas eu preciso
ser capaz de dizer a ela que ele está seguro.

— Eu realmente não sei onde ele está.

Gethin achou que ele estava dizendo a verdade sobre isso. — Conte-
me sobre ele, o que ele gosta, o que vocês dois fizeram juntos.

Aos poucos, Sam descontraiu-se e começou a falar. No momento em


que Gethin se despediu dele, ele havia somado à sua massa de informações,
mas Sam se recusou a dizer por que Dieter tinha fugido. O garoto prometeu
ligar para ele se pensasse em alguma coisa ou se Dieter entrasse em contato.
Gethin enviou a foto de Dieter para alguns de seus contatos, mas ele não
estava otimista. Londres era uma cidade grande e muito fácil para
desaparecer e, não havia nenhuma garantia de que o garoto ainda estivesse
na capital.

Depois que ele foi ao supermercado ao lado do McDonalds e comprou


as coisas que Jonnie precisava, ele voltou para a casa da mãe de Dieter.

Por uma fração de segundo, quando ela abriu, ele viu a luz brilhar em
seus olhos antes que desaparecesse novamente. Ele achava que toda vez que
alguém batia na porta, ela esperava que fosse seu filho.

— Uma pergunta, disse Gethin. Uma que ele precisava perguntar


olhando-a cara a cara. — Seu filho é gay?

— Sim. Isso é um problema?

— Não. De modo nenhum. Eu só queria saber se era para você.

— Essa não foi a razão pela qual ele foi embora. Nós conversamos
sobre isso há alguns anos atrás. Ele sabe que estou bem com isso. Eu sei que
Sam é gay também, mas ele não contou a seus pais. Eu não acho que ele e
Dieter estavam um com o outro. Eles eram apenas bons amigos.

— Você está vendo alguém? Gethin perguntou.

Ela deu uma risada curta. — Eu estava. Eu não estou agora.

— Vou trabalhar em algumas ideias e voltarei a entrar em contato.

Gethin voltou para sua bicicleta e redefiniu o destino em seu GPS.


No momento em que Gethin estacionou, pegou as compras da caixa
na parte de trás de sua moto e colocou seu capacete ali no lugar, seu humor
tinha caído para o seu ponto baixo habitual sempre que ele estava nas
proximidades deste lugar. Subiu os degraus da Mansão Wellbrook12 -
haveria um nome ainda pior para uma casa de repouso? - e as portas de
vidro se abriram com sua aproximação.

Candy, a recepcionista jamaicana, sorriu quando o viu. — Homem de


couro! Quando você vai me levar em sua motocicleta? Ela soltou uma risada
estridente.

Ele conseguiu um sorriso. Candy era tão grande que não haveria
espaço para ele na moto, ou ele já poderia tê-la surpreendido e oferecido
uma carona. Parecia incongruente ter alguém que sempre estava feliz e
sorridente trabalhando em um lugar onde as pessoas estavam lutando para
sobreviver, mas talvez ela fosse um lembrete para os visitantes de que a vida
continua.

Jonnie não queria estar aqui. No começo, ele continuava


perguntando se ele poderia viver com Gethin, mas isso era impossível. Tudo
o que Gethin podia pagar era um pequeno estúdio no quarto andar de um
12
Nota da tradução: well brook, poderia ser traduzido como Bem Tolerado, que seria de mau
gosto para uma casa de repouso se levar em consideração que as pessoas ali dentro são apenas ‘toleradas’.
edifício dilapidado em Deptford sem elevador. Jonnie precisava de seu
próprio quarto, espaço para seus cuidadores, cadeira de rodas elétrica, um
mecanismo de elevação, chuveiro especial e um monte de outras coisas.
Gethin sentiu-se culpado por estar aliviado por não ter sido possível.

O sorriso no rosto dele estava firmemente no lugar antes de ele bater


na porta do quarto de Jonnie. Ele verificou se ninguém mais estava lá antes
de entrar. Jonnie estava sentado em sua cadeira de rodas, de frente para a
TV, com a cabeça amortecida pelos suportes do pescoço. Ele girou a cabeça
longe da tela para encarar Gethin e fez uma careta. O cabelo de Jonnie era
tão loiro quanto o dia em que Gethin o conhecera, embora muito menos
espesso, não que Gethin pudesse dizer a ele sobre a careca na parte de trás.
Jonnie ainda era vaidosa sobre sua aparência e quebrou o coração de Gethin
vê-lo assim.

— Atrasado, Jonnie disse.

— Eu não estou atrasado. Ele nem sequer deveria vir, mas não havia
sentido em contar isso a Jonnie.

— Desculpa. Senti saudades.

Nem todo mundo conseguia entendê-lo. Na maioria das vezes Gethin


conseguia, embora às vezes a fala de Jonnie fosse tão arrastada que era uma
luta para decifrar. Seus pulmões e caixa de voz estavam sob pressão devido à
sua postura curvada.

Jonnie usou a pequena quantidade de movimento que ele tinha em


seus dedos para trabalhar os controles e movimentar a cadeira através da
sala. Gethin se inclinou para beijá-lo. Ele se afastou no instante em que
sentiu a ponta da língua de Jonnie tocar a sua. Oh Cristo Não.
— Você conseguiu-me tudo? Jonnie perguntou.

— Sim, sua alteza. Gethin colocou a bolsa na cama. — Eles não


tinham o caviar de Beluga e eu tive que me contentar com Sevruga. Espero
que esteja tudo bem.

Isso conseguiu-lhe uma risada silenciosa. Gethin guardou tudo o que


ele comprou, ou no armário ou na pequena geladeira que Gethin havia lhe
comprado. Ele estava brincando sobre o caviar, mas o gosto de Jonnie
sempre foi caro e o lar de idosos estava feliz em deixar amigos e parentes
trazer coisas que os pacientes gostavam de comer. Os cuidadores de Jonnie
pegariam a comida quando ele quisesse. Gethin colocou as revistas na mesa
da bandeja do outro lado da cama e colocou uma caixa de chocolates de
menta por cima.

— Comprou álcool? Jonnie perguntou.

— Você sabe que não deveria tê-lo.

Jonnie o olhou com raiva.

— Mas sim eu trouxe, seu tirano. Você tem que beber agora para que
eu possa levar a lata embora.

Gethin puxou a lingueta da cerveja e enfiou um canudo nela. Ele


colocou o canudo entre os lábios de Jonnie e ele chupou forte.

— Bom. Jonnie sorriu para ele.

Oh Deus, eu odeio isso. Mas não tanto quanto Jonnie.

— O que você está assistindo? Gethin olhou para a TV.


— Apenas porcaria. Esperando por você.

— Eu não deveria vir hoje. Por que eu disse isso?

O rosto de Jonnie caiu. — Não há muito tempo.

Sim, eu fodidamente tenho.

— Meus dedos se mexeram hoje.

Gethin tentou parecer animado. — Seus dedos se mexeram?

— Sim. Ele sorriu.

— Isso é ótimo.

O sorriso de Jonnie desapareceu. — Você não acredita em mim.

— Claro que sim. Não, eu não.

— Melhorando.

De acordo com a linha interminável de médicos para quem havia


solicitado uma segunda opinião por Jonnie, as chances de ele melhorar
eram nulas. Bem, não melhor no sentido de voltar a ser como ele era antes.
Alguma melhoria pode estar nas cartas, mas nunca seria tanto quanto
Jonnie queria.

Como um tetraplégico com uma lesão C4, Jonnie tinha perdido a


capacidade de controlar seus membros. Ele podia mover um pouco a cabeça
e respirar sem ajuda, embora tivesse passado muito tempo com um
ventilador. Ele tinha uma quantidade limitada de movimento nos dedos de
uma mão, o suficiente para manobrar sua cadeira de rodas elétrica e usar
uma variedade de dispositivos, exercer algum controle sobre um
computador, a posição de sua cama e se a luz ou a TV estava ligada ou não.
Ele podia ler um livro ou uma revista usando uma máquina que virava
páginas operadas por seu dedo. Gethin havia comprado para ele um leitor
eletrônico, mas sabia que Jonnie não tinha terminado nenhum livro que ele
havia começado. Ele havia perdido o interesse e a paciência. Revistas eram
melhores, particularmente porque Gethin podia se sentar ao lado dele e lê-
las para ele, mostrar-lhe as fotos.

— O médico tem te visto sobre o movimento nos dedos? Gethin


perguntou.

— Não. Ninguém veio.

Isso não era verdade. Havia uma equipe de terapeutas que o ajudava
em todas as áreas: física, fala, recreativa, ocupacional. Um programa foi
elaborado para atender às necessidades e habilidades de Jonnie. Metas
realistas foram estabelecidas, mas Jonnie se recusou a aceitar que esse era o
seu futuro. Gethin sabia que ele sentiria o mesmo. Como alguém poderia
aceitar isso depois de voar tão alto? O estrelato havia apenas lhe acenado e
então foi levado de volta por um momento de estupidez. Não apenas de
Jonnie.

— Ninguém nunca visita, disse Jonnie.

— Eu venho.

— Só você.

— O que era uma dificuldade para Gethin. No começo, os amigos de


Jonnie tinham ido vê-lo. Os membros da banda eram visitantes regulares,
mas agora eles raramente apareciam. Gethin sabia que eles estavam bravos
porque Jonnie tinha destruído as coisas para eles também.

Ele adiou seu pronunciamento a Jonnie sobre a impossibilidade de


visitá-lo no dia seguinte até que passasse um tempo lendo revistas,
discutindo as notícias e conversando. Jonnie riu quando Gethin lhe contou
sobre a arma e a marca em sua testa, embora Gethin tivesse narrado a
história de uma maneira divertida.

— Você não acharia engraçado se eu tivesse morrido. Quem o


visitaria então?

— Não haveria necessidade de as pessoas visitarem se eu estivesse


morto, disse Jonnie.

O estômago de Gethin se contorceu. Ele sabia exatamente o que


Jonnie queria dizer e teve que se impedir de dizer-lhe - e como diabos você
vai se matar? Ele podia sentir a conversa tomando um rumo que ele não
queria.

— Eu tenho que ir agora. Gethin ficou de pé.

— Fique um pouco mais.

— Eu não posso. Eu tenho que trabalhar amanhã, companheiro. Mas


eu venho no domingo em vez disso.

— Não. Jonnie deu a ele um olhar ferido. — Você sempre passa o


sábado comigo. Algum encontro?

— Não, eu não tenho um encontro. É trabalho.

— Venha depois.
— Será muito tarde.

— Não me importo. Venha depois.

— Eu estarei em algum castelo em Sussex. Este lugar está a


quilômetros de distância.

— Não vejo ninguém. A voz de Jonnie começou a se alterar. — Bem


que eu poderia estar morto. Queria que eu estivesse morto. Daí não seria um
problema para você.

—— Não diga isso. Há avanços médicos acontecendo o tempo todo.


Você só precisa ser paciente. Você mexeu os dedos dos pés, não foi? Veja,
isso é progresso. Oh Cristo, o que diabos eu digo a ele?

— Quero morrer, ele sussurrou.

O coração de Gethin afundou.

— Te amo. O desespero na voz de Jonnie e o olhar em seu rosto lhe


doeram tanto quanto um golpe direto em seu peito. Gethin sentia como se
Jonnie tivesse aberto seu peito e apertado seu coração. — Te amo para
sempre.

— Eu também te amo, Gethin disse e uma parte dele sentia isso


mesmo. Apenas não era a parte que Jonnie queria. Se não tivesse sido ruim
o suficiente, Jonnie ficar paralisado no acidente, ele também havia batido a
cabeça e sofria de amnésia retrógrada. Gethin e Jonnie já não estavam
juntos há seis meses antes daquele dia terrível, mas Jonnie não se lembrava
disso. Ele achava que Gethin ainda era seu namorado.

— Fique. Tranque a porta, disse Jonnie e Gethin engoliu.


— Não.

— Quero que você se masturbe para mim.

— Não.

— Por favor.

Gethin balançou a cabeça.

— Coloque seu pau na minha boca. Deixe-me te chupar. Pode fazer


isso.

— Eu não posso. Gethin foi até a porta.

—Venha amanhã. Gethin suspirou, já capitulando.

—Vai ser muito tarde.

—Ainda assim venha.

—Eu vou tentar. Foda-se.

****

No momento em que Gethin chegou ao seu estúdio, ele estava tenso o


suficiente para quebrar. Ele olhou para o lixo que chamava de lar e não
suportou a ideia de passar a noite deitado em sua cama desconfortável,
tentando dormir quando sabia que não ia acontecer. Ele pegou sua mochila
e algumas coisas de seu armário, colocou seus produtos de higiene em um
saco plástico e voltou para sua moto. O lugar onde ele trabalharia amanhã
para Angel estava perto de Brighton. Se ele saísse agora, ele teria a chance
de ir a um clube, encontrar alguém para foder e passar a noite com eles.
Gethin abandonou a maior parte desse plano no caminho para baixo.
Ele não estava com vontade de ir a um clube, não estava com vontade de
foder ninguém ou passar a noite com um cara que nunca mais veria. Ele não
tinha estado com ninguém há mais de um ano. Ele não conseguia reunir
entusiasmo suficiente para o sexo. Se não tivesse sido por toda a porcaria
que estava acontecendo em sua vida, ele poderia estar preocupado.

Ele abriu caminho pelas ruas, lentamente por causa do


congestionamento até que chegou à periferia da cidade. Talvez ele tenha
cometido um erro o se tornar um detetive particular, mas ele não queria
ficar dentro de um escritório e parecia ser uma boa ideia na época. Exceto
que a maior parte do trabalho de Gethin era sobre cônjuges trapaceiros e o
colocou nas ruas rastejando pela oportunidade de tirar fotos que acabariam
destruindo vidas: fotos de homens de meia-idade com suas línguas ou paus
nas gargantas de suas secretárias, mulheres de joelhos chupando o cara do
conserto, jardineiro, vizinho do lado. Homens – heterossexuais - transando
com outros homens, homens pegando prostitutas de todos os gêneros,
homens flertando com adolescentes que nem pareciam ter idades legais, e
em um caso foi isso que havia acontecido. Ele foi direto para a polícia com
isso.

Toda vez que ele pensava que tinha visto tudo, ele descobria que não
tinha tirado fotos para provar, embora nem sempre revelasse tudo o que
sabia para seu cliente. Algumas pessoas podem aceitar toda a verdade,
outras não. Ele sabia que a vida dos envolvidos já havia sido destruída pela
suspeita, se não por outras traições antes de se aproximarem de um detetive
particular, mas isso não o fazia se sentir mais indulgente consigo mesmo.
Dizer a alguém que eles estavam certos, que a esposa deles realmente estava
sendo infiel, sempre o fazia se sentir mal.
Às vezes ele se perguntava se havia qualquer parte de seu trabalho
que ele gostasse. Encontrar pessoas desaparecidas? Sim, mas isso não
acontecia com frequência porque os desaparecidos geralmente tinham um
motivo para desaparecer e não tinham intenção de voltar para casa. O
melhor que Gethin poderia fazer era provar que eles ainda estavam vivos.
Ele fez isso uma vez e não conseguiu encontrar nenhum vestígio em três
outros casos. Ele não tinha muita esperança de encontrar Dieter.

Ele puxou para a autoestrada e finalmente conseguiu acelerar. Como


se sua vida profissional não fosse ruim o suficiente, sua vida pessoal era
inexistente fora suas visitas para ver Jonnie. Gethin ia para o lar de idosos
três vezes por semana. Três vezes era demais. Ele tentou ir menos
frequentemente, mas ele sabia o quanto Jonnie ficava ansioso para vê-lo. Ele
tinha sido arrastado para a armadilha emocional de se sentir obrigado a
continuar, permitindo que Jonnie sugasse a vida dele como um maldito
vampiro. Quando ninguém mais o visitava, nem mesmo seus pais, que
tinham fugido para Portugal - os bastardos completos - como poderia
Gethin abandoná-lo também?

Jonnie oscilava entre pensar que ele ia melhorar, que ele e Gethin
viveriam felizes para sempre e aceitar que isso era toda a vida que ele
poderia ter e desejando estar morto. Ele estava sempre reclamando que
Gethin não tinha ido vê-lo, simplesmente porque ele havia esquecido que
Gethin tinha vindo. Gethin desejou que Jonnie pudesse esquecê-lo, desejou
estar livre dele, mas eles estavam amarrados pela consciência de Gethin e
pela memória defeituosa de Jonnie.

O cara não era apenas um dreno emocional, mas também financeiro.


A autoridade local financiava os cuidados de Jonnie até certo ponto, mas
exigia uma contribuição adicional para sua casa de repouso de alto nível.
Jonnie achava que ele ainda estava pagando, mas seu dinheiro havia
acabado há muito tempo. Quando o gerente da casa de repouso conversou
com ele sobre ir a outro lugar, Jonnie pediu a Gethin que olhasse para onde
queriam mandá-lo e tirar fotos. Gethin tinha visitado os outros lugares e
saído de lá sabendo que Jonnie os odiaria ainda mais do que Wellbrook,
então Gethin compensou o déficit. Ainda estava compensando o déficit. E
ainda comprava a comida que Jonnie queria, mais uma geladeira, uma TV,
roupas de grife e muitas outras porcarias. Suas economias haviam acabado.

Gethin sabia que ele era um idiota. Ele nem era um bom homem
porque ele não agia por altruísmo. Não era um desejo altruísta de ajudar
alguém pior do que ele, mas um dever assumido por obrigação e culpa.
Quando Jonnie estava no hospital, ligado em um ventilador, Gethin
esperava que seu amigo morresse antes de entender a extensão do
ferimento. Mas ele não tinha. Jonnie poderia viver tanto quanto Gethin.
Sempre que Gethin desejava que Jonnie morresse em seu sono, ele ficava
aleijado pelo remorso. Só porque ele não achava que a vida em uma cadeira
de rodas, paralisado do pescoço para baixo, era uma vida que valesse a pena,
não significava que ele tinha o direito de escolher por Jonnie.

Mas Jonnie começou a pedir a ele para matá-lo. Pelo menos ele não
tinha feito isso hoje à noite. Apenas desejado que ele estivesse morto. Gethin
não podia matá-lo, e ainda assim ele era hipócrita o suficiente para esperar
que alguém fizesse isso por ele se estivesse na situação de Jonnie. Cristo,
que bagunça da porra.

Ele viu luzes azuis piscando no espelho, checou sua velocidade e


gemeu. Ele não estava indo muito além do limite. No entanto, o carro da
polícia passou por ele e Gethin suspirou de alívio. Sua sorte estava
mudando?

Quando chegou a Brighton, ele parou do lado de fora da primeira


pousada que oferecia cama e café da manhã com um sinal de vaga. Depois
que ele largou a mochila no quarto, caminhou até a orla, comprou um
pacote de batatas fritas e ficou olhando para os pássaros voando no céu.
Quando ele já havia se sentido tão livre, tão alegre? Assumindo que os
pássaros fossem capazes disso.

****

Kell sentou-se à beira-mar sentindo-se feliz, comendo um saco de


batatas fritas com sal e vinagre. Foi preciso viajar quilômetros de distância
de Londres para fazê-lo perceber o quanto seu trabalho o sobrecarregava.
Ele estava vivendo uma vida onde dificilmente se atrevia a usar o banheiro
sem verificar primeiro se estava seguro, mas estar apenas sentado ali na luz
fraca, olhando para o mar, comendo batatas fritas recém-preparadas, sentia-
se muito mais leve, embora não mais quente. Ele estava com o paletó, um
cachecol enrolado duas vezes no pescoço, um gorro abotoado sobre as
orelhas e ele ainda estava com frio. Mas ele tomaria o frio com a segurança
sobre o quente e sem segurança em qualquer dia.

Ele pegou o trem de Londres, fez o check-in em uma pousada tipo


‘cama e café da manhã’ que ele escolheu aleatoriamente, caiu na cama e
dormiu, um sono profundo e sem sonhos até que ele acordou com um
solavanco uma hora atrás. Depois de um banho, ele se sentiu quase humano,
embora sua bunda ainda estivesse doendo de Marek e sua bochecha ainda
estivesse machucada.

Tecnicamente, Kell não precisava ter vindo hoje, amanhã de manhã


estaria bem, o que significava que ele poderia ter trabalhado esta noite, mas
ele estava tão cansado, mentalmente exausto de fingir ser um cara que ele
não era. Era uma curta corrida de táxi até a casa dos pais de Quin, em
Brighton, e agora Kell tinha esta noite para relaxar e ter tempo de encontrar
outro rosto – que não fosse exatamente esse que ele usava ultimamente -
para colocar no dia seguinte.

Ele terminou as batatas fritas, amassou o papel e jogou a bola no lixo


ao lado do banco. Ele viu outro cara sentado em um banco mais adiante no
passeio, fazendo o mesmo que ele, comendo batatas fritas e observando os
pássaros. Kell olhou para o céu. Já estava cheio de estorninhos13, ainda não
num show completo, mas chegando lá. As aves haviam passado o dia
revirando os campos de Sussex em busca de comida antes de se
aglomerarem em um local comum sob o píer de Brighton. Antes de se
estabelecerem para a noite, eles realizariam uma dança aérea exótica, uma
que Kell não via há vários anos.

Gradualmente, o número de pássaros no céu aumentou e se

13
Bando de estorninhos no píer em Brighton.
aglutinou na imensa massa em espiral chamada murmuração14. Milhares de
estorninhos voaram, planaram e revoaram pelo ar, nuvens negras girando
de pássaros se transformando em formas estranhas, transformando-se em
criaturas alienígenas no crepúsculo. Kell achava um milagre que nenhum
deles colidisse um com o outro. Quando ele era menino, ele costumava
esperar ver alguns pássaros caindo no mar, mas eles nunca o fizeram. Como
cardumes de peixes, eles pareciam instintivamente se ajustar ao movimento
daqueles ao redor deles, então parecia que eles eram um enorme monstro
constantemente em mutação.

Ele tinha pesquisado o significado de murmuração - emissão de sons


baixos e contínuos - e se encaixava perfeitamente ali, porque você podia
ouvir o barulho estranho de todas aquelas asas ondulando e batendo
enquanto os pássaros dançavam juntos. No entanto, a palavra chique não
dizia o suficiente, não sugeria a magia do que ele estava assistindo. Kell
pegou o celular para tirar uma foto e estremeceu quando a tela se iluminou.
Ele apertou algumas teclas para mudá-la, lembrando-se mentalmente de
não se esquecer de colocá-la de volta. Ele tirou algumas fotos e capturou
uma onde a massa se assemelhava a um gigantesco pássaro pré-histórico.

Kell se sentou e ficou olhando até o céu estar vazio, com os


estorninhos descansando em segurança para a noite. Então ele voltou para a
pousada e caiu em um sono profundo.

14
dança aérea dos estorninhos.
Gethin acordou com um sobressalto, registrou que estava em uma
cama quente e confortável, sem pintura descascada nas paredes, nenhum
barulho de tráfego lá fora e suspirou de prazer. O momento de satisfação foi
fugaz. Ele era um idiota por ter vindo ontem à noite. Ele gastou dinheiro
para uma cama e café da manhã quando poderia ter ficado em Deptford e
descido esta manhã. Embora ele tivesse assistido a uma exibição
deslumbrante de milhares de pássaros e dormido bem, então talvez valesse a
pena. Ele checou o relógio, depois rolou para fora da cama e vestiu o
equipamento de exercício. Ele tinha tempo para uma corrida antes que a
senhoria deixasse de servir o café da manhã.

Mal estava claro quando ele passou pela porta. Ele fez alguns
alongamentos, aquecendo seus músculos, depois se dirigiu para a beira-mar,
ansioso para correr em algum lugar diferente. Corria a maioria das manhãs,
geralmente usava a mesma rota, atravessando Deptford Creek, descendo até
o rio e ao longo do Tâmisa na direção do Domo. Quando a rota se afastava
da água, ele invertia a viagem, às vezes parando para um café em Greenwich.

Correr era um dos poucos prazeres de Gethin. Ele tirava conforto do


ritmo de seus pés batendo na calçada, o fluxo do rio ao seu lado. Correr
clareava sua cabeça e disparava uma corrida de endorfina, embora a alta
nunca durasse porque logo seus pensamentos se voltavam para a realidade e
ele finalmente achava impossível ignorar o que ele estava passando. Os
detritos da vida das pessoas, itens deixados para trás, perdidos e
abandonados, às vezes, tesouros, mas principalmente lixo. Embalagens de
fast food descartadas pelos preguiçosos ou porcos, um brinquedo ridículo de
criança - quanto tempo tinha sido lamentado antes de ser esquecido,
substituído? Um sapato - quem perde um sapato e não volta atrás?

Estaria Dieter perdido para sempre? Gethin teria que dizer a outro
pai que tinha falhado?

Ele acelerou o passo no passeio. O vento soprou na água espirrando


sobre ele, fazendo cócegas em suas orelhas e lágrimas vazaram de seus
olhos. O amanhecer rompeu enquanto corria, o céu impregnado de rosa.
Concentre-se na beleza disso e não na sua vida de merda. Ele correu mais
rápido. Muito rápido. Bombeou suas pernas e correu como se ele estivesse
tentando decolar e lançar-se em uma dimensão paralela, onde ele tomou as
decisões corretas e Jonnie não estava paralisado.

Gethin sentiu como se tivesse passado a vida cometendo um erro


após o outro e, mais cedo ou mais tarde, eles o alcançariam, não importando
o quão rápido ele corresse. Seus erros o derrubariam como um bando de
aves de rapina e, ele não teria forças para se levantar.

Eventualmente, ele teve que diminuir porque mal conseguia


recuperar o fôlego. Sua corrida virou para uma parada completa. Quando ele
se inclinou com o peito arfando, com as mãos nos quadris, viu um cara
vindo em sua direção em um equipamento de corrida e um gorro vermelho,
o cabelo escuro escapando pelos lados. Ele deu a Gethin um sorriso
deslumbrante quando ele passou. Ele era bonito, quase da mesma idade que
Gethin e Gethin nem conseguiu sorrir de volta. Merda.

****

Sorrir estava fora da agenda pelas próximas cinco horas. Gethin


surpreendeu Angel chegando cedo, mas a lista de trabalho era longa e
Gethin trabalhou sem parar para terminar tudo antes que os convidados
começassem a chegar. Seu humor não foi ajudado por Jonnie
importunando-o. Eventualmente Gethin parou de atender seu telefone.

— Cristo, você não trocou de roupa. Angel chorou quando encontrou


Gethin saindo da kata, onde ele passou os últimos quinze minutos enrolando
cobertores vermelhos e azuis, empilhando-os em pilhas idênticas para que
os convidados pudessem usar se estivessem com frio. Eles estariam.

— Sua roupa está no quarto ao lado da despensa, disse Angel. —


Vista-se e comece a servir. Deus, já está quase na hora.

— Está tudo pronto. Pare de entrar em pânico.

— Não derrube champanhe em ninguém. Seja educado e cole um


sorriso sangrento em seu rosto.

Gethin encontrou calças pretas sob medida, colete vermelho, gravata-


borboleta vermelha e uma camisa branca engomada esperando por ele em
uma bolsa de terno com o nome dele, e tardiamente percebeu que aquele
não era um dia para ter saído a comando. Felizmente, ele conseguiu trocar
de roupa antes que alguém entrasse e se assustasse com a visão de sua
bunda nua. Ele colocou sua gravata de uma certa forma, mas sem espelho
para checar, ele não sabia se iria passar por Angel.

Quando o telefone de Gethin vibrou mais uma vez, ele sentiu vontade
de jogar o filho da puta no chão e bater nele. Podia não ser Jonnie, mas
desde que as últimas cinco chamadas tinham sido todas dele, Gethin
suspeitou que essa também fosse.

Ele estava certo.

Enfiou o telefone no bolso de trás das calças e pegou uma bandeja de


canapés, pequenos pudins de Yorkshire recheados com cubos de rare beef15
e cobertos com molho de raiz-forte. Ele escolheu servir comida em vez de
champanhe para poder comer um par de canapés. Eles estavam deliciosos.
O zumbido no bolso parou e ele soltou um suspiro de alívio. Assim que ele
quase esvaziou a bandeja, começou de novo. Porra. Ele foi para o outro lado
da sala, onde ele viu um pequeno recanto que ele poderia ficar por um
momento.

— Sim, Jonnie. Gethin certificou-se de que sua voz fosse equilibrada.


Não havia nada a ganhar mostrando sua irritação.

— O que você está fazendo agora?

A voz fina hesitante adicionou culpa ao aborrecimento de Gethin. —


Eu estou servindo aperitivos no Castelo de Denborough.

—Quando você vai chegar aqui?

15
Rare beef é o nome que é dado a uma das formas em que a carne é servida. Nós conhecemos o rare
beef como o nosso querido bife mal passado, vermelho e suculento por dentro.
—Eu disse a você que eu terminaria muito tarde aqui.

—Quão tarde?

—Eu não sei.

— Eles não vão deixar você entrar.

— Eu prometi que iria, então eu vou. Por favor, não continue me


chamando. Eu vou me meter em apuros por estar no telefone.

— Desculpe por ser um incômodo.

Jonnie o cortou. O cara tinha a capacidade de apertar seus parafusos


sem sequer tentar. Gethin enfiou o celular no bolso. Ele queria poder
desligá-lo, mas não podia se dar ao luxo de perder uma ligação sobre um
trabalho em potencial. Izabela não estaria pagando-o e ele tinha a sensação
de que ele acabaria recusando dinheiro da mãe de Dieter quando ele não
encontrasse o filho dela. Ele se perguntou se ele iria ouvir de Izabela
novamente. Ele esperava que não. O telefone tocou com uma mensagem e
Gethin fez uma careta quando ele puxou para fora.

Desculpe. Saudades. xxx

Gethin hesitou, então mandou uma mensagem, C U soon16. Ele


adicionou um x, em seguida, retirou-o e, em seguida, acrescentou
novamente. Ele guardou o telefone e, quando se dirigiu para a bandeja
abandonada, avistou Angel se aproximando.

Havia punhais saindo do sorriso do homem. Tire esse olhar do seu


16
Te vejo em breve. A mensagem esta abreviada, então achei melhor deixar como o original e colocar o
significado aqui.
rosto, Angel disse com os dentes cerrados quando chegou até ele. — Você
está tão atraente quanto um morcego vampiro. Oh Deus, e um morcego
vampiro que não consegue nem dar um nó decente em uma gravata.

— Esse era Macbeth? Angel gemeu.

— Pela lei das estatíticas, um dia você teria que acertar. Sim, foi. Ele
cutucou Gethin para o lado e refez sua gravata borboleta. —Por favor, sorria.

— Você me chantageou para ajudá-lo. Não me lembro de nenhum


requisito onde eu deveria parecer feliz com isso.

— Chantagem? Angel olhou para ele. — Não foi assim. Eu te fiz um


favor, ainda estou fazendo isso e agora enquanto você está fazendo um para
mim.

Gethin pressionou os lábios.

— Querido, eu me orgulho de minha equipe ser tão deliciosa quanto a


minha comida e quando você sorri, você é o mais delicioso de todos, apesar
de estar no lado magricela. Por favor, tente com mais afinco parecer que
você vive para servir canapés extraordinariamente gostosos para pessoas
fabulosamente ricas que podem ou não se dignar a dizer obrigado.

Gethin suspirou, agarrou a bandeja agora vazia e fez seu caminho em


direção à cozinha com Angel em seus calcanhares. Eles estavam quase lá,
Angel ainda resmungando em suas costas, quando Maisie veio correndo. Ela
era uma das garçonetes de Angel. — Há problemas no pátio da frente.

Angel bateu as mãos. — Que tipo de problema?

—Uma briga, disse a loira delicada.


— Oh meu Deus. Angel se virou para Gethin e fez sua cara de
cachorrinho.

— Eu vou lidar com isso. Gethin entregou a Maisie sua bandeja e


apressou-se para a entrada principal.

Um pequeno grupo de homens reunira-se no pátio de cascalho. Eles


estavam assistindo dois caras, casacos e mangas de camisa enrolados, que
estavam circulando um ao outro com os punhos cerrados. O rosto do menor
já estava ensanguentado. Gethin não hesitou. Ele abriu caminho através dos
espectadores que estavam incitando a briga e se posicionou entre os dois
homens, enfrentando o maior.

— Chega, disse Gethin. — Não é a hora nem o lugar.

—O maldito bastardo estava beijando minha namorada. O cara maior


tentou alcançar o outro e Gethin se moveu rapidamente, prendendo o braço
do sujeito maior nas costas, enlaçando seu tornozelo para desequilibrá-lo
enquando ele o puxava para longe sem derrubá-lo.

— Isso é uma festa. Você vai estragar tudo, disse Gethin em voz baixa.
— Você precisa se acalmar. Ele continuou tentanto colocar algum bom senso
nele e quando o sentiu relaxar um pouco, ele relaxou também. Mesmo
enquanto falava, Gethin estava ciente do que estava acontecendo ao seu
redor, o homem menor estava sendo cuidado, não era mais uma ameaça, se
é que ele tivesse sido uma em algum momento. Gethin levou o sujeito maior
para longe da entrada do castelo e quando ele olhou para trás, viu que todos,
menos um cara, tinham voltado para dentro.

— Você pode me deixar ir agora, o homem disse.


— Só se você me prometer não sair atirando mais socos por aí. Ele era
menor que você. Não importa quem tenha sido o culpado, você é que ficaria
mal com isso.

— E você me tratando como uma criança não fez isso? O sujeito


estalou. — Deixe-me fodidamente ir.

O homem que estava assistindo caminhou para frente. — Precisa de


uma mão?

— Estamos bem, disse Gethin, em seguida, arregalou os olhos quando


reconheceu o cara que ele tinha visto correndo naquela manhã. Porra. Ele
parecia quente em um smoking. Cabelo escuro, olhos lindos. Alto e magro,
como ele.

— Vai se comportar? Gethin perguntou ao homem que ele estava


segurando.

— Sim, ele retrucou.

Gethin o soltou.

— O que você está olhando, Kell? O homem perguntou, então olhou


para Gethin. — Fodendo os empregados?

Kell riu. — Só porque a sua bunda é muito feia.

O homem riu e jogou o braço sobre o ombro de Kell. Uma vez que ele
tinha certeza de que a luta não ia recomeçar, Gethin passou pelo par e voltou
para a cozinha. Ele pegou outra bandeja, desta vez de peixe e batatas fritas
em miniatura em cones de papel. Ele inclinou o conteúdo de um em sua
boca e jogou o papel de lado.
— Sirva-os, não coma-os. Angel apareceu do nada. — Você vai foder
com meus cálculos.

Gethin comeu outro só para irritá-lo e engoliu rápido. — Obrigado


por me deixar trabalhar o dia todo sem me dar algo para comer. Obrigado
por resolver essa briga antes que ela se transformasse em um banho de
sangue.

— Obrigado. Angel tomou a bandeja de sua mão. — Eu gostaria de


dizer que você não é apenas um rosto bonito, mas você ainda se parece com
o Anjo da Morte. Sirva o champanhe em vez disso e lembre-se que esta é
uma festa de aniversário, não um velório.

Gethin arreganhou os dentes e Angel deu um estremecimento falso.


— Um segundo pensamento, não sorria. Deve haver alguém aqui que esteja
no visual de morcego mal-humorado. Na verdade, eu vi um cara... Angel se
distraiu com um chef que estava preocupado com um vegetariano que se
tornara vegano, e Gethin fugiu com uma bandeja de bebidas. Ele desceu o
corredor frio de ladrilhos e atravessou uma porta aberta. Quando emergiu
no terraço elevado, nos fundos do castelo, estremeceu.

Antes de descer os degraus até onde os hóspedes estavam reunidos,


Gethin observou a vista distante do canal da Mancha, onde as ondas
espumantes brilhavam ao sol. Era uma tarde de outubro sem nuvens e com
um calor fora de época ao abrigo da brisa, mas em áreas desprotegidas como
o terraço o vento estava forte e fazia o possível para bagunçar os cabelos e
expor as roupas íntimas.

Enquanto Gethin passeava, distribuindo bebidas e escutando


sotaques elegantes, ele pegou trechos de conversa que o lembraram de quão
longe ele estava desse tipo de vida. Crianças de 30 anos conversando sobre
mamãe e papai, jogos de pólo, viagens a Mustique, Ilha Necker, casas de
campos no interior cujos interiores foram projetados e decorados por
pessoas famosas, apartamentos em Sloane Square custando milhões, fundos
de investimento, fundos fiduciários, contratos de filmes, contratos de
modelagem, carros velozes. Homens e mulheres da mesma idade que ele,
mas a maioria com pais ricos, que haviam lhes proporcionado uma educação
privilegiada e, de maneira intencional ou não, gerou uma expectativa de
direitos em seus filhos. A maioria dessas pessoas, lindas e cheias de
champanhe, não precisou trabalhar pelo que tinham, tudo lhes foi entregue
em uma bandeja. E um deles era o cara que ele tinha visto correndo, aquele
com olhos azuis atrevidos.

Quando ele encheu a bandeja com copos vazios, ele voltou para
buscar mais champanhe. Não apenas qualquer champanhe. Este material foi
quase cem libras uma garrafa. Nenhuma despesa foi poupada para esta festa
de aniversário de trinta anos. Mas então para um menino que cresceu em
um castelo e provavelmente era herdeiro do trono se noventa ou mais
morressem à sua frente... bem, Gethin supôs que era isso que se esperava.
Enquanto o seu trigésimo tinha passado despercebido.

— Maldito sorriso, Angel assobiou em seu ouvido e Gethin fez um


esforço para não fazer cara feia.

Era contrário a ele deixar seus sentimentos transparecerem em seu


rosto. Ele aprendeu quando criança a trabalhar suas expressões e levou isso
para a idade adulta. Ele estava bem ciente de que seu ressentimento não era
razoável, assim como sua avaliação dos convidados. Nem todas essas
pessoas eram idiotas. Só porque eles tinham dinheiro não significavam que
não tivesse trabalhado duro para isso, ou que não podiam se sentir
decepcionados, ou traídos, roubados ou feridos. Talvez seus pais não os
amassem. O dinheiro não era substituto para o afeto. Gethin sabia melhor
do que julgar pelas aparências. Ele terminou de encher o último copo e
colocou a garrafa para baixo.

— Há uma abundância de caras bonitos aqui, disse Angel em seu


ombro. — Se Jonnie não é o único, e eu tenho a sensação de que ele não é,
você poderia fazer uma escolha.

Quando Gethin se virou para encará-lo, Angel fez pose e agitou seus
cílios. Gethin riu, deixando de lado sua depressão.

— Finalmente, eu recebo um sorriso e sou insultado. Angel fez


beicinho. — Certamente eu sou o homem dos seus sonhos, querido.

Gethin sabia que Angel não estava falando sério. O parceiro de Angel,
Henry, era o amor de sua vida e não poderia ter sido mais diferente de
Angel. Angel falava como uma velha rainha, mas se comportava como um
adolescente hiperativo com TOC. Ele era uma força da natureza que havia
transformado favores para amigos em uma empresa próspera que se tornara
uma grande participante no negócio de planejar e organizar festas de luxo.

Enquanto Henry trabalhava em casa como web designer, contente em


passar seus dias com jeans desbotados e suéteres, dois dachshunds a seus
pés, Angel era um implacável feitor de escravos em roupas de grife que
exigia perfeição. Naquela noite, ele usava uma jaqueta cinza
intrincadamente bordada, camisa branca brilhante sem colarinho e calças
pretas apertadas. Seu cabelo curto estava atualmente tingido de branco
prateado e seu nome, como Gethin havia descoberto, não era Angel ou
Angelo Murani como afirmava, mas Barry Ramsbottom. Gethin sorriu com o
pensamento. Ele estava salvando aquela pepita.

—Você é lindo quando sorri, disse Angel. — Se alguém te convidar


para sair, porra, diga sim. No entanto, despeje Jonnie primeiro e não entre
no pôr do sol até terminar aqui. Eu ainda preciso de você.

Gethin parou de sorrir. — Estou aqui para trabalhar e não para


arrumar um encontro.

— Uma foda então. Você certamente não recusaria uma coisa assim.
Se Henry não fosse tão insanamente ciumento eu ofereceria meus serviços.

— É bondade sua.

— Diga-me que você não pode resistir.

— Estou muito ocupado, desculpe. Meu chefe é um monstro.

Angel se aproximou. — Se você pode flertar comigo, você pode


encontrar um cara aqui, sem problema.

—Não estou interessado.

—Por causa de Jonnie?

— Eu te disse que é complicado. Eu não estou saindo com ele.

— Mas quando eu te peço para ir a qualquer lugar, é sempre ele que


você está vendo.

— Sim.

— Procure por outra pessoa.


— Não.

Angel colocou a mão na testa de Gethin. — Hmm, eu pensei que você


poderia estar doente, mas você parece bem.

—Eu estou bem.

Angel olhou para ele. — Eu não acho que você está.

Gethin mentalmente ergueu uma série de barreiras: portas, barras,


cadeados, fogo e um monte de material radioativo.

— Você não pode mais levantá-lo? Angel sussurrou.

— Vá a merda. A vida é mais do que sexo.

— Então você não pode mais levantar. Pobrezinho.

Gethin sabia que Angel estava brincando, sabia que ele não deveria
reagir, mas esse comentário tinha batido muito perto de casa. Não que ele
não pudesse ter uma ereção, ele simplesmente não teve ninguém para usar
uma, isso se ele não contasse sua mão.

— Isso é uma pena porque há um convidado que não consegue tirar


os olhos de você. Alto, moreno e bonito. Maçãs do rosto que poderiam cortar
de tão afiadas. Quase tão bonito quanto eu. Se ele ficar a noite no castelo,
você poderia gastá-la com ele. Você terá ainda mais tempo para conhecê-lo
amanhã. Eu posso dar um jeito de colocar você para ajudar em qualquer
atividade que ele tenha se inscrito. O que você diz?

— Eu pensei que você já tinha algo determinado para eu fazer


amanhã? Angel corou e as suspeitas de Gethin aumentaram e saíram da
página.
— Se você marcar um encontro com alguém, eu vou deixar você sair
do que eu tinha planejado.

Agora, Gethin estava ainda mais desconfiado. — Pare de se


intrometer. Gethin voltou para o terraço com champanhe. Era um pouco
alarmante não ter notado que ele estava sendo observado, assumindo que
Angel estava dizendo a verdade ou não. Mas então Angel estava
continuamente tentando encontrar um Henry para ele, então mentir para
conseguir que Gethin olhasse em volta parecia muito provável. Ou era o cara
desta manhã com o nome interessante? Kell.

O que importava? Não poderia haver um Henry no futuro de Gethin,


nada de morar com um cara e viver seu felizes para sempre, porque, como
ele poderia explicar Jonnie a alguém? Ou esperar que Jonnie aceitasse que
ele tinha um cara em sua vida quando Jonnie pensava que ele era aquele
cara?

Gethin estava plenamente consciente de que sempre poderia haver


uma solução para o problema, embora não fosse palatável, mas resolver isso
não era algo dentro de seu controle no momento. Ele não podia matar
Jonnie e ele não queria que ele estivesse morto, então Gethin estava
aprendendo a viver com a vida que ele tinha enquanto tentava e fracassava
em controlar seu crescente ressentimento. Ele tinha poucas razões para
sentir um nível tão intenso de culpa, mas ele sentia. Culpado porque estava
ressentido e ressentido porque se sentia culpado. E não havia como escapar
de suas emoções. Mesmo seu tempo livre era marcado por sua consciência
excessivamente desenvolvida.

Servir bebidas em uma festa elegante e ajudar nas atividades pós-


festa no dia seguinte não era a forma que ele escolheria para passar as
poucas horas do fim de semana que pertenciam exclusivamente a ele. E ele
não contava com compras, limpeza ou trabalho como seu tempo. Ele voltou
para dentro com outra bandeja de copos vazios. Ele estava irritado por não
conseguir se embebedar. Não com uma longa viagem para ver Jonnie no
final da noite.
Sempre que Kell via a mãe de Quin vindo em sua direção, ele
escapulia antes que ela o visse. Ele achava fácil mentir sobre algumas partes
de sua vida e perturbadoramente difícil ser questionado sobre outras, razão
pela qual ele geralmente tentava evitar ir a qualquer lugar onde pudesse
encontrar alguém que o conhecesse. O que o levava a se perguntar por que
ele tinha ido à festa de trinta anos de Quin, sabendo que a mãe de Quin iria
encurralá-lo mais cedo ou mais tarde.

— Mãe pensa que você a está evitando, Quin surgiu em seu ombro.

— Eu nunca faria isso.

— Então vá e fale com ela.

Kell estremeceu. — Eu não quero ver o rosto dela cair quando ela
perguntar o que estou fazendo.

— Não vai. Ei obrigado pelo meu Lego. Boa escolha, companheiro.


Quin apertou seu braço e saiu em direção a sua namorada.

Kell também não queria responder a perguntas estranhas sobre sua


família. A mãe de Quin foi boa para ele quando ele era um menino e ele não
gostava do pensar que ele iria decepcioná-la de alguma forma por não
alcançar seu potencial. Mesmo que ele pudesse dizer a verdade, ele
suspeitava que ela ainda ficaria desapontada.

Os canapés continuavam chegando, o álcool continuava fluindo. Kell


quase relaxou. Ele disse às pessoas que ele estava trabalhando em um clube
noturno e acrescentou a palavra gay antes que lhe pedissem entrada
gratuita. Ele estava ciente de que quanto mais pessoas o vissem como um
desperdício de tempo, um cara que saíra fora dos trilhos e não tinha
interesse nem traria nenhum benefício a eles, melhor. Diminuia o risco de
uma coisa errada ser dita na hora errada. Quando você trabalhava
disfarçado, ter alguém reconhecendo você era seu pior pesadelo.

Ele explicou sua bochecha machucada como uma hematoma


conseguido a partir de uma colisão com um bolo duro voador, um altar de
igreja, um poeta beligerante e um cavalo brincalhão. Ele inventou algo
diferente a cada vez. Ele não estava sendo ele mesmo, mas ele estava perto
disso. Ele gostava de Quin e sua família, gostava de alguns de seus amigos,
vários dos quais tinham sido amigos de Kell também, um dia.

Ele gostou do olhar do garçom de cabelos escuros, sua fala suave e


gentil, que havia desarmado aquela briga, embora Kell não pudesse dizer se
ele era gay ou não. Ele tinha uma bela bunda e em um rápido olhar em seu
rosto, quando ele lhe havia oferecido champanhe, o qual Kell tinha
recusado, ele tinha visto surpreendentemente olhos verdes sombreados com
cílios escuros, longos e grossos, e suas bochechas com uma leve sombra de
barba. Nenhum sorriso naqueles lábios apertados. Kell media cerca de 1,90
m e esse cara era, poucos centímetros mais baixo, e mais magro, meio que...
áspero, assim como seus modos como garçom.

Exatamente o tipo de Kell. Kell ficou observando-o. Ele não pôde


evitar. Também não podia deixar de notar que, para um garçom, o cara não
era um natural. Ele parecia que preferia estar em qualquer outro lugar,
menos aqui. Em vez de ser simpático e educado, ele era desajeitado, um
pouco cauteloso e grosseiro. Kell gostava de cauteloso e mal-humorado. Ele
gostava de caras desajeitados que não se dobravam para ele, só por um
tempo, caras que ele poderia obrigar a se dobrar. Ele se perguntou se Marek
tinha adivinhado o quanto Kell gostaria de estar no topo. O bastardo não se
importava de qualquer maneira. Embora talvez ele gostasse disso. Talvez
parte de sua atração por Kell fosse o mesmo que a atração de Kell pelo
garçom.

Kell não queria um relacionamento. Ele não poderia ter um


relacionamento. Ele não tinha tempo para encontros, nenhum interesse em
saber quais filmes alguém gostava, onde eles gostavam de passar suas férias
ou se eles gostavam de feijão em torradas ou sanduíches de queijo para o
almoço. Kell só podia estar interessado em sexo sem nenhum tipo de
amarra, apenas uma foda, encontros duros e rápidos que ele pudesse
abandonar sem sentir nenhuma conexão, nenhuma necessidade futura
daquele cara em particular, ou qualquer desejo de compromisso, porque
isso não poderia acontecer.

Mas quanto mais ele observava o garçom, mais rápido seu coração
batia. Meu tipo. Bem, o tipo dele assumindo que o garçom fosse gay. Kell
deu uma risada silenciosa. O cara não parecia ou não era gay, mas Kell não
gostava em caras afeminados, não para foder. Eles frequentemente eram os
melhores amigos, eram divertidos, o faziam rir, mas ele gostava de sexo com
caras duros que podiam ser confundidos com caras retos, o tipo de cara que
ele tinha que controlar. Como Marek me controla. Kell tentou tirar o filho
da puta da cabeça e se concentrar no garçom. Mesmo que esse cara fosse
gay, isso não significa que ele gostasse de ser fodido duro ou mesmo fodido
de alguma forma. E Kell não perderia tempo tentando persuadir um cara
hetero a ir para a cama, por mais fisicamente atraente que ele pudesse ser.

Ainda assim... Seu olhar seguiu o garçom ao redor da sala. O cara


estava em linha reta? Bi? Ele se dobraria? Convidados foram chamados para
jantar por um mestre de cerimônias, e os olhos de Kell se arregalaram de
surpresa quando ele seguiu a multidão para dentro de uma tenda
espetacular. Três katas, tinha corrigido-o Quin, embora isso significasse que
Kell continuaria dizendo barraca só para irritá-lo. As katas foram decoradas
com milhares de luzes cintilantes, e os convidados de Quin sentaram-se em
bancos acolchoados em ambos os lados de mesas de madeira rústica
incongruentemente enfeitadas com talheres de prata, copos de vidro e
guardanapos de linho com dobras suficientes para cortar um dedo. Kell
ficou aliviado ao ver a mãe de Quin sentada com seu pai e seus parentes
perto da fogueira, em outro lugar próximo a ele. Kell estava na mesa de
Quin, em frente ao amigo.

O aniversário de Kell estava chegando muto rápido e ele teria sorte se


ele conseguisse uma folga e uma lata de cerveja enquanto assistia TV
sozinho. O mais provável é que ele estivesse trabalhando. Ele teria muita
sorte se seu irmão não aparecesse. Oliver não tinha ideia de onde Kell estava
morando ou trabalhando, mas isso não significava que ele não pudesse
descobrir.

Sacolas de festa para adultos estavam dispostas em cada uma das


mesae continham uma seleção de produtos para o corpo feitos pela empresa
do pai de Quin, onde Quin também trabalhava. Kell embolsou um dos
pequenos tubos e esperou que ele tivesse a chance de usá-lo. Seu olhar
desviou-se para o garçom que imaginava que estivesse trabalhando em uma
das extremidades do kata.

— Terra para Kell. Jenny, que se sentou ao lado dele, tocou na mão
de Kell e ele se virou. — Em quais atividades você se inscreveu?

— Mergulho no pântano e luta de cobras.

Ela deu-lhe um olhar de horror, então registrou que ele estava


brincando. Toda uma série de atividades tinha sido planejada para o dia
seguinte: tiro, corrida de quadriciclo, construição de jangadas - neste clima?
– paintball e o qualquer outra coisa que Quin persuadiu seus pais a pagar, e
Kell estava realmente ansioso por isso. Bem, não pela construção de
jangadas. Mas algo tão diferente de sua rotina diária habitual o ajudaria a
lembrar que havia vida após Marek.

Quando trouxeram o bolo para Quin cortar, na forma de um Aston


Martin vermelho, aparentemente a coisa real o esperava na garagem, um
presente insanamente caro de Pais indulgentes, Kell pegou o paletó e foi
para o outro lado da tenda. Ele persuadiu Freddie, outro amigo da escola, a
trocar de lugar, depois esperou que o garçom voltasse para a mesa.

Kell deliberadamente o encarou quando ele se aproximou com uma


garrafa de champanhe. Eu realmente quero foder esse cara. Apena uma
única vez e Kell nunca mais o veria. Quando seus olhares colidiram e Kell
sorriu, a ponta da língua do garçom deslizou por seus lábios. O menor dos
gestos, mas o suficiente para fazer o pênis de Kell se contrair. Havia uma
pequena contusão bem no meio da testa do cara e Kell se perguntou como
ele fizera aquilo, imaginando se o garçom estava pensando a mesma coisa
sobre a bochecha de Kell. O cara circulou a mesa longe de Kell e quando
finalmente chegou a ele com o champanhe, Kell moveu o copo de Freddie
para o lado.

— Eu preciso de um limpo, disse Kell.

— Eu pensei que você não estivesse bebendo.

Kell sorriu. Você se lembra que estive recusando antes. — Eu acho


que posso lidar com uma bebida.

— Você tem certeza? Eu odiaria ser responsável pelo seu


desaparecimento. Você precisa ligar para alguém?

Kell se arrepiou. — Eu não sou um alcoólatra porra. Pegue-me um


copo.

— Sim, senhor.

Essa ênfase insolente fez o pênis de Kell ficar duro e o sorriso que o
acompanhava, fez Kell pensar que o cara era gay. Kell não perdeu a ironia de
que estava interessado em alguém pela mesma razão que Marek estava
interessado nele. Ele chamava Marek de senhor, mas não porque queria,
mas ele queria ouvir essa palavra nos lábios desse cara.

Depois que o garçom foi embora, Kell ficou tempo suficiente para não
parecer óbvio, então pegou sua jaqueta e o seguiu. Seu pênis já estava duro,
seu estômago revirando em antecipação. Ele viu o cara correndo ao redor do
lado do castelo, na direção oposta da cozinha, e Kell foi atrás dele. Quando
ele virou a esquina, não havia ninguém lá. Mal teve tempo de registrar que
cometera um erro e a decepção se instalar em seu estômago, quando se viu
sendo empurrado para trás de uma seção da parede de sustentação, de
costas para a parede de pedra, o paletó caindo dos dedos quando um braço
apertou sua garganta. Cristo, de onde você veio?

— Você está perdido? A voz do garçom era calma e suave, a sugestão


de um sotaque que Kell não conseguia identificar. — O banheiro é do lado
contrário.

Apesar do braço em sua garganta, a falta de ameaça verbal e o tom


calmo de sua voz eram reconfortantes. Em vez de empurrá-lo para longe,
Kell segurou a parte de trás do pescoço do homem, enfiou os dedos em seus
cabelos sedosos e puxou-o para mais perto enquanto ele esfregava a nuca
com o polegar. Hora de decidir. Você está interessado ou não? Segundos se
passaram e nada aconteceu, então a pressão na garganta de Kell diminuiu.
Quando o braço caiu, Kell largou o cabelo do cara. Eles ficaram cara a cara, a
centímetros de distância. Kell deixou a mão roçar a frente da calça do
garçom e tocou um pau muito duro. Ele captou o brilho repentino e sorriu.

— Qual é o seu nome? Perguntou Kell.

— Por quê?

Não é assim que começam as conversas?

— Estamos conversando?

Kell chupou as bochechas. — Você está falando. Eu estou falando. Eu


acho que isso conta como uma conversa. Vamos tentar de novo. Qual é o seu
nome?

— Por que isso importa?

Kell ficou aborrecido por ter sido pego desprevenido. — Eu gostaria


de saber.
— Dificilmente.

Kell podia sentir a situação saindo do controle. Mas o cara estava


certo. Se tudo o que eles iam fazer era foder, eles não precisavam do nome,
data de nascimento e grupo sanguíneo do outro.

— Eu quero foder você. Kell via pouco sentido em não ser aberto
sobre isso. Ou conseguiria o que queria ou não.

— Antes que eu lhe dê um copo limpo ou depois?

Kell soltou uma gargalhada.

Quando ele chegou para puxar o cara para mais perto, ele se viu
segurando o ar e piscou em estado de choque. O garçom de repente parecia
um predador pronto para comer seu jantar e isso excitou Kell ainda mais.
Depois de uma breve luta, Kell inverteu as posições e imobilizou o garçom.

O cara soltou uma risada silenciosa. —Eu não tenho tempo para
brincar. Eu deveria estar trabalhando.

— Eu posso ser rápido.

Uma sobrancelha escura foi levantada.

— Você diz isso como se fosse uma coisa boa.

— Nós continuamos nos encontrando, disse Kell. —Esta manhã você


estava com falta de ar.

— Eu estraguei meu tempo. Distraído por um cara de gorro


vermelho. Mas eu já tinha visto você antes disso.

O estômago de Kell se revirou. Oh foda-se. No clube?


— Comendo batatas fritas à beira-mar, disse o garçom.

Kell expirou. — Você era o cara que estava no outro banco?

— Estou ofendido por você não ter me notado.

— Eu estava observando os pássaros.

— Eu não gosto de pássaros.

— Bom. Kell engoliu em seco. Por que a perspectiva de uma foda


rápida já não era suficiente? O sujeito se abaixou e Kell se viu batendo
contra a parede com o garçom bem na sua cara, roubando seu ar. Estamos
duelando! Kell respirou fundo. O cheiro desse cara fez sua cabeça girar. Ele
precisava retomar a iniciativa, mas podia sentir as mãos dede ocupadas em
soltar sua gravata borboleta e depois os botões da camisa. Quando as pontas
dos dedos roçaram sua carne nua e passaram sobre seus mamilos, Kell
estremeceu de desejo. Ele não tinha certeza de onde esses arrepios vinham.

— Bom abdômen, garoto rico, o cara disse.

— Completamente natural.

Isso rendeu a Kell outra risada.

Os dedos do cara caíram na cintura de Kell fazendo um trabalho


rápido em desabotoar, descompactar e abrir as calças enquanto Kell
permanecia congelado no lugar. Ele não olhou para baixo. Eles ainda
olhavam um para o outro, a respiração quente do rapaz acariciavam os
lábios de Kell. Eu quero beijá-lo e eu não beijo.

Cristo, ele é realmente lindo. E não uma presa fácil. O que era bom e
ruim. Kell poderia se comportar como uma puta com Marek, mas isso era
tudo fingimento. Isso tornava ainda mais importante para Kell que, quando
ele escolhesse foder alguém, ele fosse fiel a si mesmo. Ele era dominante
demais para aceitar facilmente outro alfa, ainda que uma parte dele não
parecesse estar muito preocupada, que este não era um cara que o chamaria
de senhor.

— Você parece... decadente, o garçom sussurrou. — Gravata


borboleta pendurada no pescoço, camisa aberta, calças desfeitas, pau se
esforçando para ficar livre. Selvagem. Quente. Sexy.

O sujeito gemeu quando ele enfiou as mãos na cueca de Kell, os


dedos se desviando tentadoramente de seu pênis para deslizar sobre seus
quadris e puxar Kell para longe da parede, a fim de cobrir suas nádegas. Um
aperto forte, e o suspiro de Kell quase saltou de seus pulmões.

— Você está gostando, garoto rico? Perguntou o cara.

— Eu não sou rico. Se você não vai me chamar de senhor, mestre ou


de meu príncipe, me chame de Kell.

O cara deu um breve sorriso. — Você acha que é tão quente que pode
ter quem você quer?

— Só se eles estiverem interessados também. Você está interessado?


O cara se inclinou para ele, puxando Kell contra ele e quando Kell sentiu o
tamanho do pau pressionando ao lado dele, ele soltou um gemido baixo.

— Não, desculpe. Você não está interessado Eu cometi um erro.

Na verdade, ele estava começando a se perguntar se tinha cometido


um erro, mordido mais do que podia mastigar. Talvez literalmente. Isso
parecia um maldito pau grande.
— Não tenho certeza se isso vai funcionar, disse Kell.

— Você não pode me deixar ainda. Nós não tivemos a chance de fazer
nada. O cara flexionou sua pélvis, seus pênis esfregaram juntos e ambos
grunhiram.

— Oh foda-se, foda-se, foda-se. Kell exalou as palavras. — Talvez


devêssemos levar isso para dentro de casa, em algum lugar privado. Eu
tenho um quarto.

— Por que mudar? Estamos fora de vista aqui e você não parece o
tipo de lençol de seda. Mas suponho que possa haver um cavalo brincalhão
ou um poeta beligerante com quem você possa colidir para machucar sua
outra bochecha.

Kell sorriu. — Foi isso que aconteceu com a sua testa?

— Sim, há muitos cavalos brincalhões por aí. Então você foi atingido
ou vai inventar outra coisa especial para mim?

— Um punho.

— Espero que ele tenha saído pior.

— Ele vai. Kell vivia para o dia em que Marek finalmente fosse para a
cadeia. — E você? Como conseguiu essa marca na testa?

— Como eu disse. Cavalos frenéticos e sangrentos chegam a todos os


lugares.

Kell riu. Havia muitas razões pelas quais eles não deveriam estar
fazendo isso do lado de fora, mas quando o cara balançou contra ele,
empurrando seus pênis juntos, a capacidade de Kell de pensar vacilou, então
falhou. Eles trocaram de posição de novo, Kell girando o cara, estendendo a
mão para abrir a gravata borboleta, o colete, a camisa e aquelas calças
apertadas e pretas. Ele engoliu em seco - duas vezes - quando registrou a
falta de roupas íntimas. Outro gole quando sentiu o calor do pau do cara
contra seus dedos, a dureza dele. Longo e sem cortes. Deus, como ele é
grande. E ele se barbeia ali também. Kell puxou a calça dele para baixo e
deixou que o polegar roçasse a cabeça sensível, espalhando o pré-sêmen
vazando de sua fenda. Ele foi recompensado com uma respiração ofegante e
com quadris arqueando-se em direção aos seus.

Eles envolveram as mãos ao redor do pau um do outro e os


mantiveram juntos, ainda sem romper o contato visual. Esse cara estava
nisso tanto quanto ele, mas deixaria Kell fodê-lo? Ou ele está esperando
foder-me? O estômago de Kell se agitou. Cristo, eu quero transar com ele.
Então, por que parte dele estava pensando - por que não ser fodido por ele?
Além do fato de sua bunda estar doendo da manipulação áspera de Marek.

Desta vez quando ele virou o garçom, o cara permitiu. Kell gemeu ao
ver um traseiro tão perfeito. Era liso, firme e elegante, com covinhas nas
laterais, e a tentação de afundar os dentes nela quase fez seus joelhos
cederem.

— Sua bunda, Kell sussurrou com voz rouca. — Deus, é linda.

— Er... obrigado.

Kell riu. — Era para eu apenas ter pensado isso, não falando em voz
alta. Ele dobrou os joelhos e deslizou seu pênis para cima e para baixo na
dobra da bunda do cara, o pré-sêmen facilitando seu caminho enquanto Kell
empurrava com força contra ele. Kell enfiou as mãos por baixo da camisa e
por baixo dos braços do rapaz e finalmente conseguiu espalhar as palmas
das mãos sobre a forma arredondada de seus peitorais então, pequenos e
delicados mamilos enrugados cutucaram o centro de suas mãos.

— Oh Cristo, sussurrou Kell. — Você vai me deixar fodê-lo?

O cara soltou uma risada abafada. — Vamos ver.

Kell não tinha certeza do que isso significava. Ele estava muito
confuso com a luxúria para raciocinar sobre isso. Ele flexionou os quadris
para pressionar mais forte contra o traseiro perfeito e mordeu através do
material no ombro do homem, o que trouxe uma maldição abafada e um
enrijecimento do corpo no qual ele estava encostado. Necessidade correu
pelas veias de Kell. Quando ele seguiu o garçom, planejando transar com ele
- supondo que o cara concordasse, Kell achou que a esta hora ele já teria
gozado e voltado para a festa, no entanto, ao invés disso ele queria fazer isso
durar o que era loucura. Alguém poderia aparecer ali naquele canto a
qualquer momento. Ele sabia que era melhor não correr esse risco, mas ele
não podia negar que isso aumentasse a emoção.

Preservativo, preservativo, preservativo. Kell arrastou sua mente de


volta ao negócio, e suas mãos do peito do cara para remexer em seu bolso.
Ele tirou uma camisinha e o tubo de loção hidratante de coco que havia pego
mais cedo da bolsa de festa. Parte dele ainda se preocupava que o cara
mudasse de ideia, fugisse. Então, enquanto Kell colocava o preservativo e
cobria seu pau com o creme, ele se inclinou contra suas costas, mantendo-o
quieto, inalando o cheiro dele.

Ele estava tão fodidamente duro que doía, mas o tempo todo, sua
cabeça ainda continuava pensando. Apresse-se antes que alguém passe por
aquele canto.

Kell estremeceu quando ele deslizou seu pau para cima e para baixo
na abertura da bunda do cara, parando em seu buraco, cutucando não
empurrando, ignorando suas bolas em gritando em protesto. A dor era doce.

Faça isso. Faça isso. Faça isso.


O coração de Gethin estava batendo tão forte que ele se sentiu tonto,
quase doente. Ele não tinha certeza do que estava fazendo. Cristo, você
sabe o que está fazendo, seu estúpido idiota. Tomando um pau em sua
bunda agora quando ele não conseguia se lembrar da última vez que isso
tinha acontecido. Sim você pode. Gethin anulou a memória antes que ele
enlouquecesse. Toda vez que ele sentia o pênis do cara deslizar por seu
buraco, Gethin tremia com mais força e tentava forçar seus punhos através
da parede de pedra.

Não vai caber. Faça isso. Muito grande. Faça isso. Cai fora. Faça
isso. Me deixe sozinho. Mudei de ideia. Porra, faça isso!

Mas ele não disse nada, não emitiu nenhum som e não se moveu
quando a cabeça arredondada parou de deslizar e se alojou contra o que
definitivamente eram músculos altamente relutantes. Em seguida, seguiu
cutucando, pressionando, pedindo-lhes para parar de resistir. Boa sorte
com isso.

Isso iria doer. Tinha se passado um tempo fodidamente longo. Bem


mais de um ano. Mas naquele momento, ele estava sentido mais dor a
partir dos dedos cavando em seus quadris, e das palmas de suas mãos
mantendo suas nádegas abertas do que da pressão na entrada de seu corpo.
Ele disse a si mesmo para parar de apertar, mas seu buraco tinha uma
mente própria.

O cara - Kell - ofegou contra o pescoço dele. — Vai me deixar entrar


ou não?

Gethin não conseguia falar. Seus músculos estavam dizendo-lhe que


não, ele tentou tirar um não de sua boca, mas seu cérebro não parecia
concordar. Por que diabos eu estou fazendo isso? Deixando-o fazer isso
comigo?

Porque você se sente solitário. Porque você só quer sentir alguma


coisa. Porque você ama o sexo. Você precisa de sexo. E isso é tudo que você
pode ter sem se sentir culpado. E vamos ser honestos, você ainda vai se
sentir culpado. Mas desta forma, a culpa será menor. Foda e vá embora.
Fácil.

O sussurro do homem invadiu seu monólogo silencioso. — Você


quer que eu sopre e assopre sua casa abaixo? Ou quer que eu saia com o
rabo entre as pernas? Ele esfregou o queixo na parte de trás do pescoço de
Gethin. — Porra, você é tão sexy. Seu corpo, sua pele, sua voz, sua bunda.
Mas se você não quer que eu faça isso, diga-me agora antes de eu me
desgraçar e gozar antes de sequer entrar em você.

Gethin fez um esforço para relaxar e empurrar de volta ao mesmo


tempo, então o pênis do cara deslizou para dentro dele. Provavelmente
apenas uma polegada, mas parecia vinte. Merda, merda, merda. O
alongamento, aquele estiramento forçado em seu tecido interno e delicado
fez com que Gethin prendesse o fôlego porque doeu muito.

— Oh foda-se. Você é apertado. Apertado e tão… perfeito. Você


também cheira incrível. Kell enterrou o rosto entre as omoplatas de Gethin,
o calor de sua respiração atravessando as camadas de roupas e ateando
fogo no traseiro de Gethin enquanto ele empurrava mais fundo.

As coxas de Gethin se abriram mais. Ele tinha feito isso


conscientemente? Ele achava que não. Ele imaginou o longo e duro pau do
demônio de olhos azuis desaparecendo dentro dele e reprimiu um gemido.
Gethin tinha pensado em si mesmo como sendo capaz de resistir, de ficar
sem sexo, sem ser tocado, e todo esse tempo ele estava vivendo uma
mentira. Ele simplesmente não havia conhecido o cara que poderia abaixar
suas defesas até agora.

O toque em sua próstata quando Kell empurrou tudo para dentro fez
o mundo de Gethin mergulhar na escuridão antes de ver as estrelas
explodirem. Oh Deus, Deus, Deus, Deus.

— Eu acertei então? Kell sussurrou sem fôlego. — Sim eu fiz. Porra.


Adorável.

Não pare estava se repetindo na cabeça de Gethin, mas ele não se


permitiria falar. Era ruim o suficiente que ele tivesse permitido a um
estranho fodê-lo e muito menos agora começar a implorar por isso. Mas
então ele não precisou implorar. Ele estava sendo pregado, o cara dirigia
seu pênis com tanta força e tão profundo que ele estava empurrando Gethin
contra a parede. Gethin deslizou a mão para baixo para proteger seu pau,
por alguma razão não querendo acariciar a si mesmo, não querendo
reconhecer quão profundamente receptivo ele estava sendo para isso. Ele
apoiou o outro braço contra a parede de pedra, o punho cerrado. Uma
pequena parte dele desejava que a mão do cara estivesse cobrindo a dele,
entrelaçando seus dedos, demonstrando algum tipo afeição.
Ele era um tolo. Ele sabia o que era aquilo. Dois caras aliviando seu
tesão e saindo. Ele foi o único que não quis dar o seu nome. Isso foi o que
ele pediu. Uma foda dura e fria, sem nenhum outro significado além do
desfrute de alguns momentos de puro prazer mútuo. O cara segurou a
camisa de Gethin, apertando-a com os punhos enquanto aumentava sua
velocidade.

Os pensamentos de Gethin se flutuavam sob o ataque de prazer


fornecido pelo pênis batendo nele. Sentia-se bem, aquela deliciosa prensa
interna, a sensação de ser preenchido, a carícia em sua próstata.

Eu não sou um maldito fundo.

Então, o que você está fazendo?

Eu nunca vou ver esse cara novamente. O que isso importa?

Ele sentiu uma mudança na respiração do cara, um suspiro ofegante,


então seu pênis empurrou uma última vez na bunda de Gethin enquanto
sua boca pressionava com mais força contra o ombro de Gethin. As mãos de
Kell ainda estavam agarrando os quadris de Gethin, nem mesmo chegando
perto de seu pênis.

Gethin mudou de estar bem para não estar bem em um instante. O


que havia dado nele? Que porra ele estava pensando? Quando Kell
finalmente tentou alcançar o pênis de Gethin, ele afastou a mão. Não Kell.
Um homem sem nome. Isso tornava mais fácil.

— Saia de mim, murmurou Gethin.


No momento em que o pênis deslizou de sua bunda, Gethin puxou
suas calças e forçou seu pau ainda duro para trás do zíper. Ele olhou para a
parede enquanto colocava a camisa no lugar, abotoou-a, deu uma alisada,
arrumou o colete e se atrapalhou com a gravata borboleta, tentando se
recompor. Recuperar o controle de suas emoções não foi tão fácil.

— Você está bem? O cara perguntou em um tom que dizia que ele
sabia que Gethin não estava.

— Ótimo. Gethin se afastou, enojado consigo mesmo. Quando ele


sentiu a mão em seu ombro, girou e plantou o punho em um estômago
firme. Oh merda.

Kell se dobrou, ofegando. — Que porra foi isso?

Gethin mereceu o soco que ele recebeu em troca. Ele deveria ter ido
embora, mas não o fez. Ele agarrou a camisa aberta do sujeito e então eles
estavam brigando, com os punhos cerrados, os músculos tensos enquanto
trocavam golpes sem entusiasmo antes de abraçarem um ao outro, cabeças
pressionadas juntas.

— Por que diabos estamos brigando?

Porque Gethin tinha desistido quando ele não deveria. Porque ele
tinha um ponto a provar, embora ele não tivesse certeza de qual era esse
ponto ou a quem ele estava tentando provar. Então eles estavam caídos na
grama, nos braços um do outro, cada um tentando prender o outro, parte
rindo, parte não. Gethin conseguiu agarrar a perna do sujeito e virou-o de
costas, mas no momento seguinte, ele era o único em suas costas, virando a
cabeça para o lado para evitar o punho vindo em direção a seu nariz.

— Pare com isso, Kell assobiou. — Ok, eu entendo que você está
chateado, mas apenas me diga por quê. O que eu fiz? Não fiz? Disse? Não
Não disse? Toquei? Não toquei? Me desculpe, ok? Apenas pare de lutar.

Gethin estava deitado de costas, seu peito arfando. Agora o que ele
deveria fazer? Kell o tinha imobilizado, suas mãos nos antebraços de
Gethin, seus joelhos e a maior parte de seu peso corporal nas coxas de
Gethin. E eu ainda estou malditamente duro. Merda.

— Se eu vou ter que te matar, eu gostaria de saber o seu nome, disse


Kell.

Gethin exalou. — Não vamos nos ver de novo, então por que isso
importa?

— É importante para mim. Eu não quero lembrar de você como o


louco do caralho que me fez gozar tão forte que eu vi estrelas.

— Gethin. Por que eu disse a ele?

— Gethin. Certo. Nome legal. Nunca o ouvi antes. Então, que porra
foi essa, Gethin? Tudo foi ótimo, mais do que ótimo na verdade. Mas
quando é a sua vez, você sai. Por quê? O que eu fiz de errado?

— Nada. Desculpe.

Kell não se moveu de cima dele. — Eu te empurrei para isso. Foi


isso? Você não disse não, mas... você estava apertado. Oh, Cristo, você já fez
isso antes? Ele parecia ferido.

— Você não me empurrou para isso. E sim, já fiz isso antes. Kell
rolou de lado e se deitou ao lado dele.

— Você vai estragar sua camisa, disse Gethin.

— Foda-se a camisa. Ele colocou a mão sobre rosto de Gethin, mas


não lhe tocou. — Se faz alguma diferença, eu teria surtado se eu estivesse
onde você estava.

Então ele o tocou e por um momento Gethin desfrutou da carícia


antes que ele se levantasse. Kell se levantou também e se postou ao seu
lado.

— Eu tenho que voltar ao trabalho, Gethin murmurou se afastando


e escovando a si mesmo de cima a baixo, seu pau já desistindo em desgosto.

****

Não foi difícil para Gethin se manter ocupado. O kata teve que ser
desmontado e deixado pronto para ser transportado no dia seguinte.
Gethin podia ouvir a batida pesada da música vinda do antigo salão de
festas dentro do castelo e se perguntou se Kell estaria dançando, se o cara
tinha encontrado alguém para foder. Por que eu deveria me importar? Eu
não me importo. Isso queria dizer que ele tinha pirado? O cara não levava
pau na bunda dele? Dois topos não iam funcionar, mas então Gethin não
havia se comportado como um topo e também não era como se isso fosse
acontecer de novo. Ele estava chateado não só porque deixara Kell levá-lo,
mas por ter fechado a calça antes que ele gozasse. Isso o tornava menos
culpado, não ter jorrado por toda a parede? Ele se sentiu menos culpado?
Jonnie não ia descobrir. Não era como se Gethin fosse lhe dizer. Jonnie não
era nem mesmo seu namorado, ele apenas achava que era. Eu não preciso
me sentir culpado. Merda.

Quando ele completou os trabalhos que Angel havia lhe encarregado


anteriormente, ele pegou suas roupas de couro do quarto usado pela equipe
e foi para sua moto. Pelo menos a esta hora da noite não haveria muito
tráfego na estrada.

Enquanto ele se afastava do castelo, ele começoua a se sentir


melhor. Ele não estava fugindo. Ele teria que voltar porque Angel precisaria
dele aqui novamente amanhã, mas um pouco de distância do que tinha
acontecido mais cedo parecia uma boa ideia. A vibração em suas bolas
aumentou com sua velocidade e Gethin se curvou sobre sua máquina,
aproveitando o passeio. Ele entrou em uma curva acentuada rápido demais,
deixou o joelho chegar perigosamente perto do chão e se levantou bem na
hora em que saiu da curva. Seu coração batia forte. Ele não queria se matar,
embora ele gostasse de voar perto da borda. Uma vez que ele estava na
estrada principal, ele acelerou. Ele também não queria ser pego e multado
pela polícia.

****

Kell não se incomodou em voltar à festa. Ele perdeu a gravata e sua


camisa estava rasgada e suja. Era mais fácil se ir para a cama e evitar
perguntas. Ele pegou seu casaco e fez o seu caminho para o quarto que ele
às vezes dormia quando garoto. Ele ficou tocado que a mãe de Quin fizera
aquilo por ele, embora a cama ainda tivesse o mesmo colchão duro. Ele
tirou a roupa e tomou banho, depois sentou-se no assento da janela,
olhando para a frente do castelo, lembrando-se de como costumava desejar
que aquela fosse sua casa e que os pais de Quin eram seus pais, que Quin
era seu irmão em vez de Oliver. Até mesmo pensar no nome de Oliver fez os
cabelos em seus braços ficarem de pé.

Quando ele olhou pela janela, viu uma figura acelerar em uma
Kawasaki preta e prateada. O cara parecia que ele fazia parte da máquina,
deitado em uma posição quase horizontal, enrolado em torno da moto
como um amante e Kell se viu desejando que Gethin estivesse enrolado em
volta dele. Eles tinham negócios inacabados. Ele estava certo de que o cara
não tinha gozado. Kell se sentiu mal com isso.

Por outro lado, Gethin estava claramente confuso e Kell não tinha
certeza de por que ele fez questão de estar no fundo se ele não estava
acostumado com isso. Foda-se. Ele tinha que parar de pensar no garçom
porque não havia razão para isso. Eles não iriam se encontrar novamente.
Kell não deveria querer vê-lo novamente. Ele não podia se dar ao luxo de se
enredar com ninguém, muito menos com alguém que claramante estava
fodido.

No entanto...

Kell se viu ainda pensando sobre ele, imaginando se ele poderia


encontrar uma maneira de entrar em contato com ele. Ele poderia
perguntar a Quin o nome do organizador da festa, pedir-lhe o número de
Gethin ou dar ao cara o número dele para entregar a Gethin.

Por quê?
Para quê?

Qual era o ponto?

Uma foda rápida e única. Isso era tudo que ele poderia ter. Fodas
anônimas. Então ele tinha que esquecer aquele rosto, aquele corpo, aquela
bunda, aquela aspereza desajeitada.

Logo depois ele se masturbou pensando nisso. Ele envolveu a mão


em torno de seu pênis e fechou os olhos.

****

Levou a maior parte da viagem para Gethin se acalmar. Se isso iria


acontecer toda vez que ele fizesse sexo, então era melhor que ele ficasse
sem. Ele não gozou. Cristo, ele esteve perto, mas morreu na praia. Seu
corpo foi anulado por seu cérebro. Por pouco.

Ele teve que persuadir o pessoal da recepção para conseguir ver


Jonnie. Era muito tarde, ele sabia que era, mas a equipe sentiu pena de
Gethin por ele ser o único que vinha visitar seu hóspede mais severamente
inválido. Hóspedes, era assim que chamavam-os, não de pacientes.
Hóspede sugeria que você só estaria ali por um tempo e por uma escolha
sua. Jonnie não era um hóspede.

Jonnie estava na cama, mas sua luz estava acesa. Ele sorriu para
Gethin quando entrou.

— Dart. Estava esperando por você. Jonnie usou seu apelido.


— Você planejou ir a algum lugar?

— Boate.

Gethin sorriu. Este era Jonnie de bom humor.

— Você está bem? Jonnie perguntou.

— Cansado.

—Deite-se ao meu lado?

Gethin se acomodou ao seu lado na beira da cama. Ele falou sobre o


que ele esteve fazendo o dia todo e uma versão editada do que ele havia
feito naquela noite. Não era característico de Jonnie perguntar como ele
estava. Gethin sempre teve o cuidado de não reclamar muito de nada, mas
não conseguiu guardar todos os comentários.

— Você cheira diferente, disse Jonnie.

Oh merda. — Pudim de Yorkshire? Peixe com batata frita?


Champanhe?

— Diferente. Sua voz saiu subjugada.

— Deve ser por causa da briga. Dois caras discutiram sobre uma
namorada e Angel me pediu para intervir. Eu tive uma briga com o maior
deles.

— Eles tinham uma banda?

Nem pergunta se eu me machuquei. — Sim, havia um grupo


tocando.
— Bom como nós?

— Não. Não tão bom quanto nós.

— Você vai ficar esta noite?

— Eu não consigo dormir na cama com você. Não há espaço


suficiente.

— A cadeira? Só quero acordar e ver você.

Merda. Mas Gethin estava cansado. Ele não queria ter que
incomodar o dono do hotel que Angel tinha reservado para ele. — OK. No
entanto, eu tenho que sair cedo. Tudo o que passei colocando e arrumando
nesta manhã, preciso desmanchar amanhã.

— Conte-me sobre como costumávamos ser.

Gethin chupou suas bochechas. Ele sabia que Jonnie estava falando
sobre a banda.

— Você tocava guitarra melhor do que qualquer pessoa que eu já


conheci. Muito bom para o grupo, mas então você era a estrela. As garotas
costumavam gritar por você. Era você que elas queriam. Foda-se o resto de
nós. Mesmo depois que descobriram que você era gay, elas ainda o
amavam.

Ele continuou falando até que Jonnie estava dormindo, então


recuou para a cadeira, tentou se sentir confortável e se resignou a não ver
isso acontecendo.
Kell poderia ter conseguido evitar a mãe de Quin na festa, mas ele
teve que sentar ao lado dela na mesa de café da manhã na manhã seguinte.

Ela deu um tapinha na cadeira à sua esquerda. — Kellan. Venha


sentar comigo.

Ele carregou seu prato de comida até o final da longa mesa. Quin
sentou-se no outro lado, parecendo que ele não tinha dormido, os olhos
arregalados, o cabelo bagunçado, mas um sorriso bobo no rosto que dizia
que ele teve sorte. Espero que com a namorada, porque o nome do meio de
Quin não era fiel.

Kell sempre desfrutou de refeições no castelo, particularmente no


café da manhã. Em casa, ele teria sorte se houvesse cereais. Sua mãe nunca
tinha comido antes do meio dia. Ela não tinha permissão para esse luxo
agora.

— Você se divertiu na noite passada? A mãe de Quin sorriu para ele.

— Sim, obrigada. Esqueci de perguntar, o meu Aston Martin está


estacionado ao lado do de Quin?

Ela riu. — Então, o que você anda fazendo ultimamente? Ali estava, a
pergunta que ele não queria responder.

— Kell está em segurança, disse Quin.

— Comércio? Ela perguntou.

Seu filho riu. — Não valores mobiliários. Segurança. Tornando as


coisas seguras. Força. Seguro de zumbis.

Cale a boca, Quin.

Ela franziu a testa para o filho e virou-se para Kell. — E você gosta
disso?

— Algumas vezes.

— Você decidiu que a física nuclear não era para você, então, disse
ela.

Kell estremeceu.

— Nem astrofísica, biologia marinha, ciência veterinária, engenharia


química ou administração de campos de golfe? Ela arqueou as sobrancelhas.

— Você memorizou tudo o que eu pensei em fazer? Perguntou Kell.

— Eu só queria que você fizesse um trabalho que amava.

Ele esperava que ela não o pressionasse por detalhes. Quin sabia que
ele era um policial, mas jurou segredo sobre isso e Kell desconfiava que ele
provavelmente soubesse que ele estava trabalhando disfarçado.

— Eu estava pensando que Kell poderia nos aconselhar sobre a nossa


segurança, disse Quin. Bem, não Kell. Alguém que trabalha para ele. Um de
seus muitos lacaios.

Oh Deus. Se o idiota começasse a elaborar, Kell estava condenado a


cair duro depois de mentir.

— Bom Deus, estamos sob ataque de zumbis? Ela perguntou. —Eu


tenho que remover a cabeça deles para acabar com eles. Certo?

Kell riu.

— Se você puder usar Kellan, você deveria. Fale com seu pai. Ela se
virou para Kell. — E como está sua família? Seu irmão?

— Bem. Por favor, deixe por isso mesmo. Oliver parecia bem o
suficiente, embora Kell desejasse a Oliver nada além do pior. A hesitação da
mãe de Quin ao mencioná-lo indicava que ela sabia como Kell se sentia. Não
que Kell tivesse dito alguma coisa, ou precisasse quando Quin nunca havia
escondido como se sentia sobre o irmão de Kell.

— Muitas vezes penso em sua mãe. A mãe de Quin suspirou. — Tão


triste.

— Não, avisou Quin.

Ela deu um tapinha na mão de Kell. — Desculpa. Dê meus


cumprimentos a seu pai quando encontrá-lo.

Kell de alguma forma conseguiu comer o que tinha diante de si. Quin
mudou o assunto para as atividades que estavam planejadas para o dia e o
restante da mesa se juntou à conversa. Apenas um número limitado de
convidados havia permanecido no castelo. Os demais convidados durante
todo o fim de semana foram acomodados em uma hospedaria do tipo ‘cama
e café da manhã’ nas proximidades e se juntariam a eles mais tarde.

— No que você se inscreveu? Quin perguntou a ele.

— Arranjos de flores e decoração de bolos, disse Kell.

Mãe de Quin fez um som de tsked. — Eu queria você no meu time de


paintball.

Todos riram, mas Kell sabia que ela provavelmente estava falando
sério. Se ele acabasse jogando paintball, ele esperava que ele estivesse no
time dela. Ela ganhou uma medalha olímpica por atirar.

****

— Não, disse Gethin. — Eu não estou fodidamente fazendo isso.

Angel ficou na frente dele com os braços cruzados. — Noventa


minutos, isso é tudo.

— Não é como se você estivesse nu.

Gethin ficou boquiaberto para ele, então balançou o pequeno avental


preto que Angel tinha colocado em sua mão no rosto do cara. — O que isso
deve cobrir?

Angel sorriu. — Bem, no seu caso, querido, provavelmente esconderá


apenas seus pedaços importantes.

— Você é um completo e absoluto bastardo.


— Sim, eu sou. Angel suspirou. — Olha, tudo que você tem a fazer é
servir-lhes cocktails, paquerar e jogar alguns jogos.

— Eu não tenho ideia de como fazer coquetéis ou como flertar com


mulheres e não gosto da idéia de participar de jogos enquanto estou
praticamente nu.

Gethin estremeceu. Ele tinha a suspeita de que tê-lo como ‘butler in


the buff’17 tinha sido o plano de Angel desde o momento em que ele o
convenceu a ajudar neste fim de semana. O filho da puta provavelmente
nem precisava dele ontem.

— Eu estou confiando em você, disse Angel. — Essas mulheres estão


esperando um cara bonito e seminu para servir bebidas e meu chapinha
habitual tem uma erupção horrível em seu traseiro.

— Eu também.

— Mentiroso.

— Eu não sou.

— Mostre-me. Prove isso.

Gethin cedeu.

17
É um tipo popular de entretenimento usado em festas e para
entretenimento corporativo. Foi introduzido no Reino Unido no início dos anos 2000 e agora é popular nos
EUA, Nova Zelândia, Austrália e Canadá. O butler in the puff, é um cara vestido de mordomo com apenas
um avental e uma gravata, que mistura coquetéis e é a peça principal dos jogos elaborados para
entrenimento.
— As receitas para os coquetéis estão atrás do bar. Tudo que você
precisa está lá. Você poderia se divertir se tentasse.

Gethin lançou-lhe um olhar incrédulo. — Diversão? Você se lembrou


que sou gay? Você não precisava de mim ontem, não é? Não minta ou estou
fora daqui.

Angel estremeceu. — Na verdade não. Mas eu preciso de você agora.


Estas são as mulheres que não querem bagunçar o cabelo construindo uma
jangada ou esquivando-se de bolas de paintball. Eu tinha que encontrar algo
para entretê-las. Qualquer uma delas pode ser um caminho para novos
negócios. Impressione-as e serei reservado com anos de antecedência.

— Você já tem reservas adiantadas com anos de antecedência.

Angel fez uma careta. — Essas pessoas conhecem pessoas. Pessoas


importantes. Tudo que eu preciso é construir um nome famoso e eu posso
escolher para quem eu trabalho.

— Por que você simplesmente não me disse o que você queria que eu
fizesse?

— Porque você diria não. Eu realmente preciso de você para fazer


isso, Gethin. Eu não tinha mais ninguém a quem eu pudesse pedir.

Gethin olhou para ele. — Uma agência? Ou todos estão com suas
bundas cheias de erupções como um contágio por Ebola?

— Eu tentei. Eles estavam todos reservados. Eu precisava de alguém


em quem eu pudesse confiar para não se comportar de maneira inadequada.

— Eu ainda poderia me comportar de forma inadequada.


— Mas você não faria isso. Angel colocou seu rosto de cachorro
chutado. — Por favor, querido.

— Apenas mulheres, certo? Gethin perguntou.

Angel assentiu. Gethin suspirou. — Ok, então estamos feitos. Nós


estamos quites e eu permaneço no meu escritório com um mês de aluguel
grátis.

— Concordo. Angel se virou para ir.

— Não, não, não. Espere aí mesmo. Você está me escoltando até a


sala e dizendo a elas que não podem tocar.

Gethin se despiu na frente dele e Angel choramingou. — Isso não é


justo.

— Não é como se você nunca tivesse me visto nu.

—Sim, mas então você estava sangrando por todo o chão. Eu não
estava olhando para essa parte de você. Oooh.... você está pendurado como
um...

— Como um o quê? Cobra, jumento, baleia, pato? Gethin dobrou suas


roupas em uma pilha antes de amarrar o avental em torno de seus quadris.

— Pato? Angel olhou para ele.

— Olhe para cima. Gethin caminhou para a porta.

Angel gemeu. — Sua bunda linda. Essa tatuagem. Você está me


provocando. Arrghh.

— Por que sim, eu estou. E isso serve bem a você. Vamos acabar com
isso.

— Experimente e sorria. Por favor.

Gethin apertou sua mandíbula. Ele estava chateado com Angel, mas
se ele deixasse o cara na mão, Angel poderia decidir que compartilhar o
espaço do escritório não era mais uma opção. Gethin tinha visto Angel no
modo T-rex e ele era assustador. Gethin não tinha muitos amigos, mas
Angel era um deles, e fazer isso não iria matá-lo, apenas envergonhá-lo.

Angel entrou na sala à sua frente e tudo o que Gethin podia ver eram
mulheres olhando, mandíbulas caindo antes de sorrirem.

— Bom dia, senhoras, disse Angel. — Eu gostaria de apresentá-lo a...


Drake. Angel se virou e piscou para ele. — Ele estará servindo coquetéis à
sua escolha e participando de alguns jogos. Divirtam-se, mas não bagunçem
suas penas. Ele tem um bico afiado.

O que? Angel saiu antes que Gethin pudesse descobrir que tipo de
jogos era suposto ele jogar.

— Quem é a primeira a beber? Ele perguntou.

— Eu. Meu nome é Belinda. Ela se inclinou sobre o bar e olhou para
sua virilha. — Eu gostaria de um Orgasmo Estrondoso.

— Obrigado foda pela colinha das receitas. Gethin estava tentado a


aumentar a quantidade de álcool, mas talvez uma sala cheia de mulheres
bêbadas lhe causasse ainda mais problemas.

Ele logo percebeu que não precisava fazer nada para deixá-las
bêbadas, elas estavam fazendo tudo sozinhas. Assim que terminou de fazer o
coquetel da última mulher, Belinda a primeira quis outro. Ele começou a
fazer quantidades duplas. Gethin manteve-se afastando as mãos delas - na
maioria das vezes, afastou suas perguntas mentindo, mas, apesar de seu
pedido para que não tirassem fotos dele, ele sabia que várias tinham. Gethin
lidou com todas e sorriu até os jogos começarem.

Ele já sabia quanto tempo ele teria que fazer isso e ele nunca viu o
tempo passar tão devagar. A namorada do aniversariante, que se apresentou
como Dakota, era claramente a responsável e a primeira que tentara apalpá-
lo. Gethin ficou tentado a se oferecer para se despir e deixar cada uma delas
tocá-lo por vinte segundos, se elas o deixassem sair sozinho depois. Todas
elas estavam tentando obter uma ascensão dele - literalmente - e pelo menos
ele achou isso divertido porque não havia como ele conseguir uma ereção.

Dakota apareceu com uma caixa de esparadrapos. — Primeiro jogo.


Drake fica no meio da sala. Eu vou colocar um esparadrapo em algum lugar
do seu corpo, então uma pessoa vendada tem que encontrar. Eu tenho um
cronômetro. O vencedor será aquela que encontrar mais rápido.

— Este é um jogo que eu quero perder. Belinda lambeu os lábios e


todas riram. Exceto Gethin.

Oh Jesus Cristo. Eu vou matar Angel.

— Não pode usar as mãos. Dakota sorriu. — Só a boca.

Inferno maldito. — Não sob o avental, disse ele. — Ou acabou. Ou em


qualquer lugar perto da minha bunda.

A partir dos gritos de excitação, ele duvidou que alguém estivesse


ouvindo.
A primeira mulher a ser vendada estava nervosa e começou nos pés
de Gethin. Dakota havia colocado o esparadrapo no joelho. Todas as
mulheres estavam gritando palavras de encorajamento e ele colocou um
sorriso irônico em seu rosto imaginando todas as coisas que ele ia fazer com
Angel.

— Ellis vai me matar, a mulher lamentou enquanto ela


cautelosamente avançava até a canela de Gethin.

— Ele não vai saber, disse Belinda.

— Eu digo tudo a ele.

Belinda bufou. Gethin estava temendo sua vez. Ele teve que agarrar a
cabeça de uma mulher quando sua boca se moveu muito perto de suas bolas.
Ele não gostava de ter todos esses lábios em cima dele, mas fingia que sim.
Seu rosto doía de sorrir, embora ele se perguntasse o quão bem sucedido ele
tinha sido em enganá-las quando ele não acabou com um pau duro. Esse
parecia ser o objetivo da coisa toda e se transformou em uma competição.
Dakota teve o penúltimo turno. Belinda estava determinada a ser a última.
Belinda colocou o esparadrapo para Dakota encontrar em sua boca e ela
demorou a encontrá-lo.

Depois que Belinda foi vendada, Dakota levou o dedo aos lábios e
olhou para todos. O esparadrapo ainda estava em sua mão.

— Pronto. No lugar, vá, Dakota disse. Quando Belinda se inclinou em


direção ao seu estômago, Dakota rapidamente pressionou o esparadrapo no
lugar para o qual ela se dirigia e todas, incluindo Gethin, soltaram um
suspiro pesado quando sua boca pousou diretamente sobre ele.
— Oh má sorte, Dakota disse. Belinda tirou a venda e olhou. As outras
estavam rindo, mas Gethin podia ver que ela não tinha ideia de que tinha
sido enganada.

Onze minutos para ir.

— Hora de jogar Twister, disse Belinda. — Eu primeiro.

Matar Angel era bom demais para ele. Gethin queria cortá-lo aos
poucos, pedaço por pedaço, o mais lento e dolorosamente possível,
enquanto lia Shakespeare para ele, muito mal.

— Três giros cada um, disse Dakota. Dentro de duas rodadas, Gethin
estava em suas mãos e joelhos em uma das extremidades do plástico com
Belinda olhando para ele do outro lado. Ele desistiu de se preocupar em
estar quase nu. No momento em que duas outras mulheres estavam no
tatame e elas estavam todas emaranhadas, ele estava realmente rindo. Em
parte porque o tempo estava quase acabando, mas ainda mais porque
Belinda ainda não colocara as mãos sobre ele.

Quando a porta se abriu e Angel entrou, Gethin queria beijá-lo por


chegar na hora certa, depois matá-lo por persuadi-lo a fazer isso. As
mulheres saíram atabalhoadamente para alguma outra atividade,
provavelmente para atirar alguma coisa em algum outro pobre coitado
pelado, embora Belinda não tivesse saído sem deslizar a palma da mão sobre
o traseiro de Gethin. Angel deve ter visto o olhar no rosto de Gethin porque
ele murmurou algo sobre Gethin ter que arrumar as coisas, depois correu
atrás delas.

Mais trinta minutos. Isso era tudo que Gethin lhe daria. A má notícia
era que ele nem podia ir direto para casa. Mais cedo naquela manhã, Jonnie
implorara a ele que voltasse mais tarde. Ele empilhou os copos na pia atrás
do bar. Limpou e arrumou as garrafas que ele usara, depois colocou as
almofadas sobre os sofás e cadeiras. Os esparadrapos usados foram para o
lixo e ele dobrou o tapete de plástico do Twister e colocou-o de volta na
caixa. Quando a porta se abriu, ele desejou ter ido trocar de roupa antes de
fazer qualquer coisa.

Kell entrou. — Eu estou atrasado para jogar?

Oh merda. — Devo lhe avisar que tenho faixas-pretas de judô, karatê


e taekwondo.

Kell riu. — Você relaxou comigo na noite passada ou sua faixa preta é
besteira?

Ele olhou para o avental e lentamente deixou seu olhar subir no peito
de Gethin. Gethin sentiu seu pênis começar a encher. —Você esqueceu de se
vestir esta manhã?

— Algo parecido com isso. Se alguma vez Gethin tivesse precisado de


confirmação sobre sua homossexualidade, a última hora tinha certamente
confirmado isso. Com as mãos das mulheres em cima dele, seu pênis não
deu um pio. Um cara só olhando e seu pau estava tentando levantar o
avental para dar uma olhada.

— Eu preciso pegar minhas roupas, disse Gethin, mas não fez


nenhum movimento para passar por Kell, sabendo que sua bunda estaria em
exibição.

— Você precisa? Kell se aproximou dele. — Acabei por despertar um


apetite jogando paintball. Toda aquela agressão, surtos de adrenalina e
nenhum lugar para extravazá-los.

— Você perdeu, não é?

Kell franziu a testa. — Não, eu fodidamente não perdi. Ele deu um


passo para perto de Gethin. — Eu devo a você.

— Deve-me o que? Mas ele sabia o que Kell queria dizer.

****

É claro que a coisa sensata para Kell fazer era ir embora. Ele estava
quebrando sua própria regra, mas ele não se importava. O pau de Gethin
armava uma tenda no avental. Um pequeno pedaço de tecido o impedia de
ver o cara nu em plena luz do dia e ele queria vê-lo nu. Ele já tinha visto
cicatrizes que não tinha notado na noite passada e havia uma elaborada
tatuagem de dragão bem desenhada em sua perna. Ele tentou ignorar a não
menos importante consideração de que o castelo estava transbordando de
gente, e qualquer um deles poderia entrar ali a qualquer momento. Oh Deus,
agora estou ainda mais quente.

— Minhas roupas estão em uma sala do outro lado do corredor, disse


Gethin em voz baixa. Na periferia de sua audição, que era muito aguda, Kell
ouviu o som de pessoas do lado de fora da sala. Era uma oportunidade e ele
aceitou. Ele agarrou o braço de Gethin, o empurrou para trás do grande sofá
e puxou-o para baixo.

— O que...? Uma mão sobre a boca de Gethin o calou. Então a porta


se abriu e os dois congelaram.

— Quer uma bebida? Alguém perguntou. Kell não reconheceu a voz.


O sofá era grande o suficiente para mantê-los invisíveis, a menos que
alguém se inclinasse sobre o encosto e eles apenas fariam isso se fizessem
barulho. Kell sorriu. Gethin estava esparramado de costas, Kell ao lado dele,
a mão de Kell ainda sobre a boca. Ele a manteve lá. Gethin olhou para ele
sem piscar. Havia pelo menos quatro pessoas do outro lado do sofá, três
homens e uma mulher, a conversa deles pontuada pelo som de copos e
garrafas tilintando.

Quando Kell empurrou o avental sobre o estômago de Gethin, Gethin


agarrou seu pulso. Kell moveu a outra mão da boca de Gethin e colocou seus
lábios lá, engolindo o assovio assustado de Gethin. Kell pretendia apenas
distraí-lo antes que ele arrastasse a língua pelo corpo do cara, mas quando
Gethin abriu a boca Kell estava perdido, varrido direto para o mar, sem bote
salva-vidas à vista.

Eu não beijo. Mas Gethin tinha sabor de abacaxi e coco e algum tipo
de bebida alcoólica, então a cabeça de Kell se perdeu. Ele arrastou as unhas
pelo cabelo de Gethin e espetou a boca de Gethin com a língua,
aprofundando o beijo, explorando seus dentes, seu paladar.

Eu não beijo.

Mas o mundo não tinha acabado em uma explosão de chamas. O


pênis de Kell estava ficando duro e não macio. Um beijo não o mataria. Um
beijo não significava que ele iria começar a pensar em anéis - não em anéis
de casamento de qualquer forma. Porra, pare de pensar.

Pare de beijar. Isso não sobre beijar um cara.


Uma gargalhada o tirou do momento e Kell levantou a cabeça, mas
eles não tinham sido descobertos. Gethin olhou para ele, suas bochechas
coradas, os olhos semicerrados. Kell abaixou a cabeça e lambeu a boca de
Gethin. Ele vai me parar? Ele lambeu o queixo de Gethin e o pescoço,
sorrindo enquanto o pomo de adão se mexia sob seus lábios. Ele arrastou a
língua pelo centro do peito arfante de Gethin enquanto o sujeito jazia tenso
sob ele, as mãos cruzadas ao lado do corpo.

Kell estava tão excitado que era difícil respirar, tão intoxicado que
todos na sala poderiam estar debruçados sobre o sofá observando-os e ainda
assim ele não poderia parar. Ele queria Gethin completamente nu. Ele se
atrapalhou um pouco com o nó do avental, eventualmente conseguiu desatá-
lo, puxou o avental e arrastou-o para longe. Na noite passada, ele não tinha
conseguido ver muito, agora ele poderia se satisfazer.

Ele mordeu de volta seu gemido de apreciação. Longo, sedoso, duro,


com veias grossas - quantas maneiras existiam para descrever um pau? Kell
envolveu-o em sua mão, sentiu seu calor e ouviu Gethin exalar baixinho. O
eixo inchou em seu aperto e quando ele bombeou, apenas uma vez, a
sensação da pele sedosa deslocando-se sobre seu interior de aço fez seu
próprio pau pulsar insistentemente por trás de seu zíper.

Um olhar de relance no rosto de Gethin disse a Kell que o cara sabia o


que ele planejava. A conversa era alta o suficiente para cobrir qualquer ruído
que pudessem fazer, mas ainda assim era arriscado. Embora o risco
estivesse todo no lado de Gethin. Ele poderia ser demitido. Kell seria apenas
exposto para algumas pessoas que ele nunca mais veria e Quin
provavelmente iria lhe aporrinhar com essa história por meses. Mas Kell não
queria que Gethin fosse demitido, então eles tinham que ficar em silêncio. A
mão de Gethin roçou seu rosto e Kell pegou o polegar na boca e chupou.
Enquanto ele chupava, ele arrastou a mão para cima e para baixo no pau de
Gethin, e gentilmente o bombeou.

Quando ele tentou mover a cabeça para onde sua mão estava
ocupada, Gethin o impediu. Então Kell deslizou a mão para as bolas
inchadas de Gethin, envolvendo-as gentilmente antes de apertar a base do
pênis. Talvez Gethin achasse que ele iria gritar ou fazer algum ruído que
pudesse denunciá-los se Kell usasse a boca. Ou talvez ele simplesmente não
gostasse de ser chupado. Kell não acreditava nisso. Mas se ele não pudesse
usar a boca dele, ele usaria a mão dele para ordenhá-lo. Isso já havia sido
feito para Kell por um cara muito mais velho. Desde então Kell sempre
estivera com muita pressa para se preocupar em fazer isso novamente, mas
agora ele queria atormentar Gethin, queria vê-lo lutando para ficar quieto e
imóvel.

Kell envolveu sua mão ao redor da base do pênis de Gethin e apertou


quase ao ponto de dor, o que foi sinalizado pela súbita tensão no estômago
de Gethin, antes de mover a mão um pouco em direção à cabeça e apertar
novamente. Ele continuou avançando centímetro por centímetro até
alcançar a cabeça e depois pressionar com o polegar e o indicador até
formarem pérolas de pré-sêmen na fenda. Kell lambeu os lábios e deslizou a
mão para a base novamente e repetiu o que acabara de fazer - apertar,
deslizar para cima, apertar, deslizar para cima.

Quando ele já havia feito isso três ou quatro vezes, a mão dele e o
estômago de Gethin brilhavam com a umidade. O peito de Gethin arfava e
seus olhos continuaram abrindo e fechando como se ele estivesse tentando
assistir, mas lutando contra isso. Seus músculos estavam rígidos. Kell deu
um pequeno golpe sobre a cabeça de seu pau e quando os quadris de Gethin
começaram a se erguer, ele apertou ainda mais a base de seu pênis e
pressionou os dedos de sua outra mão no pedaço de carne ao redor. Gethin
xingou silenciosamente e Kell sorriu e tirou suas duas mãos de cima dele.

Gethin franziu a testa, deu a Kell um olhar interrogativo e Kell


balançou a cabeça. Gethin fez uma careta, mas ele entendeu. Gethin
envolveu a mão em torno de seu próprio pênis e começou a se empurrar.
Não demorou muito e Kell olhou para ele sem piscar. Ele observou o pênis
de Gethin inchar, depois pulsar. Suas bolas mudaram de forma, chegando
até a base de seu pênis, em seguida, ele estava gozando por todo o seu
estômago - foda-se, até seu peito - longas correntes de esperma salpicando
sua pele e nem um som em sua boca. Uau.

****

Gethin doía com a tensão de tentar manter-se quieto, dolorido pelo


prazer intenso que sentiu ao gozar. Seu coração ainda estava acelerado.
Quando Kell baixou a cabeça para lamber o sêmen de seu peito, Gethin
deslizou os dedos em seu cabelo e saboreou cada maldito segundo disso. Ele
ficou imóvel enquanto Kell o lambia, chupava seus mamilos, explorava suas
cicatrizes com a língua. Ninguém nunca havia feito isso para ele antes.
Gethin não tinha deixado. Saber que Kell não podia perguntar sobre elas
tornava isso mais fácil.

A sala se esvaziou e Gethin se preparou para a pergunta sobre as


marcas em seu corpo.
— Quer fazer isso de novo? Perguntou Kell.

Isso não era o que ele esperava. — Foder atrás de um sofá?

— Talvez. Ou algo diferente da próxima vez. Talvez atrás de um ponto


de ônibus.

Ele sorriu. — Voce mora em Londres?

Gethin assentiu.

— Com alguém?

— Não. Oh Deus. Não mas…

— Nem eu. Interessado em ocasionais encontros casuais se eu puder


encontrar um sofá isolado ou um abrigo de ônibus isolado bem longe de
cavalos brincalhões e poetas beligerantes?

O coração de Gethin bateu forte.

— Eu realmente gosto de você, Kell sussurrou. — Mas eu só estou


interessado em sexo sem compromisso. Se você quiser mais do que isso, eu
vou embora agora.

— Continue falando.

O rosto de Kell se iluminou. — Eu pensei que… poderíamos ter nossa


própria versão pessoal do Grindr. Se eu enviar uma mensagem de texto para
você e você está livre e disposto a isso, então ótimo. Se não, tudo bem. E
vice-versa. Eu tenho um trabalho que me mantém ocupado na maioria das
noites, mas eu não começo até mais tarde na noite. Nós podemos encontrar
lugares para nos encontrar. Não tem que ter um sofá envolvido. Ou uma
cama. Ou uma parede. Ou um abrigo de ônibus. Embora... Ele balançou a
cabeça. — Qualquer um de nós pode parar a qualquer momento que
quisermos. Toda vez que nos encontramos pode ser como se fosse o
primeiro. Nós poderíamos fingir que somos estranhos. O que você acha?

Gethin respirou fundo. — Você pode ir buscar minhas roupas para


mim? Eles estão na sala do outro lado do corredor.

Kell suspirou. —Okay.

Gethin exalou quando Kell saiu. Sexo sem amarras. Isso não soava
como a solução perfeita? Eles estavam disponíveis ou não estavam. Não
estava sendo infiel a Jonnie. Jonnie poderia não se lembrar que ele havia
traído Gethin, mas foi isso o que tinha acontecido. Se Jonnie não tivesse
sofrido o acidente, Gethin nunca teria mais nada a ver com ele. Kell nunca
precisaria saber sobre Jonnie. Nunca haveria necessidade de explicações
complicadas sobre o porquê de Gethin não estar por perto quando Kell
queria vê-lo. Parecia bom demais para ser verdade.

Kell deixou cair as roupas atrás do sofá e Gethin as vestiu. Uma vez
que ele estava decente, ele se levantou.

— Por acaso você tem uma moto? Uma Kawasaki? Kell perguntou.

— Sim.

— Então foi você que eu vi saindo daqui a noite passada.

— Provavelmente.

— Você parecia sexy, abraçando essa máquina com suas coxas. Eu me


masturbei pensando sobre isso e no nosso encontro anterior.
Gethin empurrou as mãos nos bolsos.

— Qual é a sua resposta? Kell perguntou. — Quer jogar ou não?

Gethin pegou seu telefone. — Qual é o seu número?


No trem para Londres, Kell pegou o telefone e mudou a tela de
abertura de volta para a foto que Marek havia tirado. Ele rolou para o
número de Gethin, guardado sob a letra G e seu dedo pairou por vários
segundos antes de ele desligar o telefone. Chamadas para conversar não era
uma boa ideia. Nem textos de flerte. Ter o número de Gethin em um
telefone que Marek poderia pegar e checar, também não era uma boa ideia.
Mas não era como se Marek usasse Kell para algo mais do que uma foda
rápida. Eles não estavam em um relacionamento. Não era da conta de
Marek quem Kell via.

Cristo. Isso era apenas sobre desejo? Kell suspirou. Ele não sabia
nada com certeza. A coisa sensata a fazer seria nunca chamar Gethin.
Excluir seu número para que ele não caísse na tentação e ligasse. Mas Kell
nunca fora sensato, não em relação ao sexo com um sujeito que gostava.
Talvez nem no sexo com um cara que ele definitivamente não gostava. Ele
cruzou a linha com Marek. Ele estava se enganando ao dizer a si mesmo que
tinha uma escolha. Ele havia caído num poço de areia movediça. Kell
apertou a mandíbula.

Sua vida seria muito melhor se ele parasse de pensar sobre aquele
idiota e pensasse em Gethin. Quanto tempo antes que Gethin ligasse para
ele? Quem quebraria primeiro? Mas depois de mais uma ou dois encontros
quentes com o cara, Kell teria que parar a coisa em seu caminho.

Provavelmente.

Era muito arriscado.

Provavelmente.

Era estranho como ele se sentia melhor - mais brilhante, alegre, mais
esperançoso, e ele não achava que fosse só por ter tido um fim de semana
fora. Encontrar um cara que ele gostaria de ver novamente não fazia parte
de seu plano de jogo, mas havia uma faísca dentro dele agora, outra razão
para aturar todas as porcarias de Marek, um antídoto para o veneno dele.
Mesmo que houvesse apenas mais uma ou duas fodas com Gethin no
horizonte.

Provavelmente.

Que porra eu estou pensando? Uma faísca? Sentir algo por Gethin
era uma má ideia. Pior do que uma má ideia, porque poderia colocar os dois
em problemas. Kell ainda não mentira para o cara, mas ele precisaria. O que
quer que seja isso que estaria acontecendo entre eles, teria que ser casual e
quaisquer sentimentos que Kell pudesse desenvolver deveriam ser deixados
para trás quando ele se afastasse definitivamente após o último encontro
dele.

Talvez mais tres vezes.

Ou quatro.
Merda. Ele estava tão fodido.

****

O doutor Umar Khan, um dos médicos de quem Jonnie gostava,


parou Gethin antes de entrar no quarto de Jonnie. Gethin ficou tenso
porque os médicos raramente eram vistos em Wellbrook. Eles só vinham do
hospital nas proximidades quando havia um problema.

— Jonnie está bem? Gethin perguntou.

— Ele não está tendo um bom dia.

— Aconteceu alguma coisa?

— Ele estava convencido de que seus dedos estavam se movendo. Ele


se recusou a acreditar nas enfermeiras quando elas disseram que não eram.
Ele ficou angustiado e eu fui chamado. Não houve nenhum movimento.

— Certo.

— Ele está bastante deprimido.

Gethin mordeu o lábio. — Isso não é novidade.

— Mais deprimido do que o habitual.

— OK. Obrigado pelo aviso.


Como poderia Jonnie estar de alguma forma além de deprimido? Ele
não ia melhorar a menos que houvesse um avanço médico repentino e,
mesmo assim, levaria anos até que qualquer tratamento fosse aprovado e
implementado pelo NHS18.

Quando Gethin entrou em seu quarto, Jonnie estava sentado em sua


cadeira de rodas de frente para uma parede em branco.

— Oi, disse Gethin.

A cadeira não girou e Gethin se moveu para um local onde Jonnie


pudesse vê-lo. Seus olhos estavam abertos, mas ele não reconheceu a
presença de Gethin.

— Não teve um bom dia? Gethin perguntou.

Jonnie bufou.

Gethin respirou fundo. — Desculpe ter que sair cedo hoje de manhã.
Mas eu lhe disse que voltaria e aqui estou.

— Por quê? Jonnie murmurou.

— Porque o quê?

— Por que vem? Qual é o ponto? Porque se importar?

Porque sem mim você não teria ninguém visitando você. Gethin
lutou para encontrar algo para dizer, algo que não iria incomodar ainda
mais Jonnie.
18
National Health Service – Serviço Nacional de Saude do Reino Unido.
— Quem mais vai me ouvir resmungar? Gethin encostou-se à parede
na frente dele. — Eu tive que ser um ‘butler em the puff’ hoje. Tudo o que eu
usei foi um pequeno avental. Angel me enganou para isso. Ele me disse que
precisava de mim para arrumar as coisas e servir bebidas, então ele meio
que me chantageou para fazer coquetéis para uma sala cheia de mulheres
bêbadas que estavam desesperadas para colocar as mãos no meu pau.

Ele esperava que Jonnie risse ou mostrasse algum interesse, mas ele
permaneceu em silêncio. Gethin disse a ele sobre o jogo com o esparadrapo
e o Twister, fazendo parecer mais engraçado do que era. — Eu fiquei feliz
que elas não conseguiram fixar a cauda no burro.

— Cale a boca, disse Jonnie. — Não é como se eu pudesse jogar


assim.

Gethin engoliu em seco. Era impossível acertar. O que alguém


poderia dizer a um sujeito tetraplégico sem perturbá-lo? Tudo o que saía da
boca de Gethin era um lembrete para Jonnie do que ele havia perdido. O
conselho oficial era ser normal, falar normalmente e é isso que Gethin
tentava fazer, mas...

— Você me disse que estava trabalhando, disse Jonnie.

— Eu estava trabalhando. Angel me pagou. Mais ou menos. — Eu


preciso do dinheiro. O trabalho investigativo está apenas começando a
engrenar.

— Yeah, bem, não precisaria estar fazendo isso se você tivesse ficado
com a banda.
Gethin contou até dez.

— Use o meu dinheiro, disse Jonnie. — Não é como se eu precisasse


disso.

Gethin cerrou os punhos. A única razão pela qual Jonnie tinha


dinheiro em sua conta era porque Gethin estava colocando lá.

— Não há sentido para nada, disse Jonnie. — Já tive o sufuciente.


Tentei e tentei e nada muda. Os dedos não se movem. Nem meu pau. Ele
girou a cadeira para que ele pudesse olhar Gethin no rosto. — Não quero
mais fazer isso. Preciso que você me ajude a acabar com isso.

Bile subiu na garganta de Gethin. Não era a primeira vez que Jonnie
lhe pedia isso.

— Você melhorou. Você pode respirar por conta própria. Mexer os


dedos. Você tem que ser paciente.

— Não. Quero morrer. Quero que você me ajude.

— Eu não posso. Você não pode me pedir para fazer isso.

— Eu estou pedindo a você.

— Eu iria para a prisão. É isso que você quer?

— Não.

Gethin passou os braços ao redor dele e pressionou o rosto no cabelo


fino de Jonnie.
— Você é inteligente. Poderia encontrar uma forma, disse Jonnie.

Gethin respirou fundo, depois recuou. — Eu não posso. Seu coração


pesou dentro de seu peito.

— Por favor, Jonnie implorou. —Eu não aguento mais.

Gethin deslizou pela parede e sentou no chão. Ele esperava que


parecesse que ele só queria se sentar, não que suas pernas se recusassem a
apoiá-lo.

— Eu não posso lidar com isso. Não quero viver assim... Ninguém
deveria ter que viver assim se não quisesse. Era como se Jonnie estivesse
fazendo um esforço especial para falar claramente, porque cada palavra
queimava no cérebro de Gethin.

— Já me senti assim antes e superei isso, murmurou Gethin.

Jonnie soltou uma risada estrangulada. — Superar isso? Nunca


superarei isso. Sempre fico pensando nisso. Vou dormir esperando que não
acorde. Rezo para eu não acordar. Eu quero morrer. Por que não posso ter o
que quero? Esta é a minha vida. De mais ninguém. Isso não é o que eu
quero.

— Eu sei. Gethin se sentia sufocado por emoções tentando rasgar seu


caminho para a superfície como mãos esqueléticas agarrando-o e puxando-
o para baixo. — Mas eu não posso te matar.

— Não quero mais conversas estimulantes, ou mais medicação. Não


quero mais nada além de que isso acabe. Já tive o suficiente... Não posso
mais fazer isso... Você não iria querer essa vida para você, não é?

— Não.

— Eu faria por você... Eu faria isso porque eu amo você. Se você me


ama, você vai me ajudar.

Merda, merda, merda.

— Sabe o que é pior nesta minha vida, Dart? Não é apenas a solidão...
mas também a humilhação. Não poder fazer nada. Não poder limpar meu
traseiro. Não limpar meu ranho. Ele ofegou tentando respirar. — Eu não
tenho controle, nenhuma escolha, exceto sobre o que eu quero comer... Eles
me levam até o quarto ao lado para sentar e olhar para um cara sem pernas
para que possamos conversar. Pelo menos ele pode andar quando eles lhe
fizerem pernas artificiais. Eu nunca poderei andar de novo.

As bochechas de Jonnie coraram. — Eles me perguntam sobre o que


eu fiz antes. Ele deu uma risada estrangulada. — Por que eu iria querer
pensar sobre o que perdi? Minhas lembranças não são coisas boas... Elas me
torturam... eu quero. Que. Isto. Pare.

Gethin arrastou os dedos pelos cabelos, em seguida, colocou-se de


pé. — Eu não posso... eu tenho que ir.

— Pense nisso, disse Jonnie. — Prometa.

Gethin assentiu. Ele não conseguia respirar. Ele tinha que sair. Ele
correu pelo corredor, subiu as escadas sem registrar os passos sob seus pés
e correu para fora para sua moto. Nenhum fodido carro para sentar e
chorar. Ele puxou o capacete, ligou o motor e soltou um grito abrigado sob
ruído do motor.
Seu telefone tocou e ele desligou sem verificar quem era. Não havia
ninguém com quem ele queria conversar. Ele desligou o telefone e colocou
no bolso. Sem a tentação de ligar para Kell. Sem necessidade de dar uma
resposta a Jonnie. Ninguém o pressionando para fazer nada. Ele não se
importava se era um trabalho perdido. Jonnie não era a único que queria
que tudo acabasse, nem o único cujas lembranças eram dolorosas.

Quando ele abriu os olhos, viu o Dr. Khan correndo em sua direção.
Gethin desligou o motor, tirou o capacete e piscou as lágrimas dos olhos
antes que o sujeito o alcançasse.

— Vai tirar o pai da forca? Perguntou o médico.

Gethin soltou um gemido estrangulado. — Algo assim.

— Ele pediu a você.

Gethin não viu nenhum ponto em negar e assentiu. — Ele pediu a


você também?

— Jonnie já falou sobre morrer antes. Ele insistiu que não queria ser
ressuscitado no caso de um incidente catastrófico e, como você sabe, ele
nomeou seus parentes próximos, agora está em suas anotações. Ele disse a
vários profissionais de saúde que ele gostaria de estar morto, mas isso não é
incomum para alguém em sua situação. E há uma diferença entre desejar
estar morto e ativamente pedir ajuda para morrer. O médico suspirou. — Eu
deveria ter tido essa conversa antes de você falar com ele esta manhã, mas
eu esperava que ele não pedisse isso a você.

— A quem mais ele vai pedir? Ninguém vem para vê-lo. Os pais dele
ligam para ver como ele está?

— Eles mandam e-mail.

— Maldito inferno. — Gethin revirou os olhos.

Todo mundo lida com a tragédia de uma maneira diferente.

— Eles são seus pais. Eles poderiam ter Jonnie morando com eles em
Portugal. Dar a ele uma casa. Algum grau de normalidade. Eles
fodidamente viraram as costas para ele e para jogar golfe ao sol enquanto o
filho deles está paralisado do pescoço para baixo.

O médico não disse nada, mas Gethin não esperava que ele dissesse
alguma coisa.

— Eu lhe disse não quando ele perguntou. Gethin sussurrou. —Eu


disse que pensaria sobre isso, mas era uma desculpa para sair.

O jovem médico concordou. — Não é uma conversa fácil de se ter. O


suicídio assistido é ilegal no Reino Unido. A equipe médica enfrentaria
sanções profissionais e legais se, de alguma forma apressássemos sua morte.
Mas é importante para Jonnie que ele seja capaz de falar sobre querer
morrer. Somos treinados em como responder, mas você não é. Eu entendo o
quão difícil deve ser ouvir seu amigo lhe pedir para ajudá-lo a acabar com a
vida dele, mas você não pode fazer isso.

Eu poderia, mas não vou. Há uma diferença.

— Você gostaria de morrer se fosse ele? Perguntou Gethin. — Jonnie


lhe perguntou isso?

— Sim, ele me perguntou.


— O que você respondeu a ele?

— Eu disse a ele que gostaria de viver. Que eu tentaria fazer o melhor


que pudesse da minha vida. Eu continuaria a trabalhar em alguma
capacidade. Eu ainda poderia ver pacientes. Talvez estudar psiquiatria
porque não requer exames físicos. Jonnie ainda poderia estar envolvido
com música, não tocando, mas escrevendo músicas. Ele pode colocar um
significado em sua vida. Haverá melhorias, mas nunca será a vida que ele
esperava ter. Talvez você pudesse falar com ele sobre o trabalho quando
você voltar. Deve haver um programa que ele poderia usar em seu
computador que lhe permitisse escrever música.

Gethin tinha instalado e, até onde ele sabia, Jonnie nunca tinha
usado, mas não tinha sido Jonnie a parte mais criativa da banda.

O médico respirou fundo. — Jonnie me pediu informações sobre


organizações que simpatizam com o suicídio assistido.

O coração de Gethin bateu forte. — Eu sou profissionalmente


obrigado a não fornecer essa informação ou contatar tal organização em seu
nome.

— Ele pode pesquisar on-line.

— Tenho certeza que ele tem feito isso. Eu só queria que você
soubesse o que está se passando em sua cabeça. É importante que ele sinta
que os caminhos de comunicação estão abertos, que ele pode nos dizer
como se sente, o que quer e com o que está preocupado. Muitos daqueles
que buscam o suicídio assistido mudam de idéia ou nunca fazem planos
específicos. Estamos tentando mostrar a ele que há esperança, que há um
futuro para ele. Eu gostaria de pensar que você nos apoiaria nisso.

Gethin não disse nada. Ele estava se perguntando o que ele diria se
Jonnie lhe pedisse para levá-lo à Suíça.

— Jonnie tem sorte de ter você.

Mas Gethin não teve sorte em ter Jonnie. — Eu já estou vendo


alguém para vir e conversar com ele. Precisamos reavaliar seu plano de
cuidados. Pacientes com o grau de dano medular de Jonnie quase sempre
têm momentos em que se sentem assim. Eu sei o quão difícil deve ser ver
alguém que você ama sofrendo.

— Eu não o amo, Gethin deixou escapar. — Ele acha que eu me sinto


assim, mas não é verdade.

— Não se sinta culpado por isso. Você ainda vem para vê-lo. Você
passa tempo com ele, fala com ele, até o faz rir. Ele pensa o mundo de você.
E também todos os funcionários aqui. Não há muitos relacionamentos que
possam suportar esse tipo de pressão. Você pode cuidar de alguém sem
amá-lo. Isso teve um enorme impacto em sua vida também. Jonnie ainda
não consegue ver isso.

Era mais provável que ele não quisesse ver. — É provável que a
memória dele volte?

— Difícil dizer.

— Porque uma coisa que ele não lembra é que seis meses antes de ele
sofrer o acidente, eu o encontrei em nossa cama sendo fodido por dois caras
que ele pegou em um bar. Eu arrumei minhas coisas, disse que nunca mais
queria vê-lo e saí. A próxima vez que o vi foi no dia em que ele acabousendo
levado para o tratamento intensivo. Ele não se lembra que nosso
relacionamento já havia terminado, e eu não posso dizer a ele, posso?
Destruir outro pedaço do seu mundo? O que isso faria com ele?

— Ah. Desculpe.

Gethin puxou seus cabelos, um hábito nervoso que ele tentava evitar,
mas continuamente falhava. Ele desejou que ele não tivesse revelado essa
história ao médico. Ele não queria sua simpatia.

— Você se sente preso também, disse o médico.

— Mas eu tenho uma escolha. Eu poderia parar de vir para vê-lo.


Jonnie não tem escolha. O mundo dele é o que é e se eu fosse ele, eu
também iria querer morrer, mas não se preocupe, eu não vou matá-lo.
Gethin colocou o capacete e foi embora. O que ele ia dizer se Jonnie
levantasse o assunto de ir para a Suíça? Pelo menos, Gethin teria tempo
para pensar nisso, graças ao médico. Mas, graças ao médico, isso era mais
uma coisa para se preocupar.

Ao invés de voltar para seu lugar, ele foi para o escritório. Enquanto
estivesse nesse humor, ele poderia muito bem trabalhar na decodificação do
resto dos dados do computador de Charlton e pensar melhor sobre o por
que, de todos os PIs em Londres, Izabela o havia escolhido. Apenas por
causa do anúncio ou não?

Foi só quando ele tirou o celular do bolso e se sentou em sua mesa


que se lembrou de tê-lo desligado. Ele tinha uma longa fila de chamadas
perdidas e várias mensagens. Nenhuma era de Kell. O pênis de Gethin se
mexeu. Eu não estarei chamando-o tão cedo. Nenhuma mensagem de
flerte. Nenhuma chamada para conversar. Ele ligou o computador e,
enquanto se aquecia, começou a ler.

A foto de Dieter não tocou nenhum acorde em seus contatos, mas


pelo menos eles agora estavam atentos ao adolescente, embora Gethin
soubesse que ele era como uma agulha no palheiro. Izabela tinha ligado
para ele quatro vezes e deixado duas mensagens.

— Olá. Desculpa. Eu estou em pânico. Ele me bateu de novo e eu


apenas... eu mudei de ideia. Eu quero que você o siga. Domingo a noite, às
sete horas, ele estará encontrando um cliente no Dorchester. Amanhã de
manhã ele sai às sete e meia para o seu escritório em Blackheath. Ele me
disse que chegaria tarde. Ele estará jantando com clientes na OXO Tower.
Por favor, não faça nada com essas coisas que tirou do computador. Haverá
fotos minhas. Eu esqueci. Vou manter isso no caso de precisar de um
advogado. Traga isso amanhã e eu pago o valor que combinamos e mil como
bônus. Obrigado.

Mil? Já passava das sete, mas Gethin não teria ido ao Dorchester. Ele
estava desconfiado sobre toda a configuração. Tinha que haver algo nesse
cartão que era a chave para tudo. Um detetive menos escrupuloso teria
aceitado o dinheiro e fugido. Gethin realmente precisava do dinheiro, mas...

A segunda mensagem de Izabela começou com ela chorando. — Por


favor, por favor. Eu preciso dessa informação que você pegou no
computador. Eu vou estar em apuros se eu não tiver. Se ele descobrir o que
eu fiz, o que fizemos, ele me mata. Ele te mata.

Oh Deus. Em apuros com quem? Gethin colocou os cotovelos sobre a


mesa e esfregou as têmporas. Verdade ou mais mentiras? Ele poderia
simplesmente entregar o cartão de memória e esquecer que ele já havia feito
o trabalho, mas...

Gethin clicou na última mensagem que era de Jonnie.

— Gethin. Merda. Eu te pressionei muito? Desculpe... Não estava


pedindo para você cortar minha garganta... mas não vai mudar minha
opinião... Se você não vai ajudar, eu vou encontrar outra maneira... Mas eu
preciso de você comigo sobre isso. Amo você.

Ele jogou o telefone de lado com um gemido, virou-se para o


computador e começou a trabalhar.

****

Eram quatro da manhã quando Gethin empurrou a cadeira para trás.


Brian Charlton parecia ser o contador que ele alegava ser. Totalmente
qualificado, sem golpes contra o seu nome. O cara não era um especialista
em computadores. A decodificação não foi difícil, embora Gethin tenha
aprendido com especialistas e se tornado mais proficiente que muitos deles.
A maioria dos arquivos e planilhas parecia ser uma conta legítima para uma
variedade de empresas - lojas, boates em Londres e em outros lugares, um
fotógrafo, uma empresa especializada em bolos, cabeleireiros. Gethin
pesquisou cada negócio no Google e descobriu que eles existiam, mas não
tinha ideia se suas receitas declaradas eram verdadeiras ou falsas.

Havia outras planilhas onde não havia nome da empresa, apenas


uma série de códigos que Gethin não conseguiu quebrar, presumindo que
eles realmente escondiam algo e não eram apenas números e letras
aleatórios. Grandes quantias de dinheiro foram transferidas de uma conta
bancária para outra, para fora do Reino Unido e de volta. Gethin não era
especialista em finanças. Ele não conseguia entender, mas parecia suspeito
e reforçou sua teoria de que Charlton poderia estar lavando dinheiro.

A conta bancária pessoal do cara no Reino Unido mostrava a


atividade habitual, débitos diretos para empresas de serviços públicos e seu
provedor de hipotecas. Pagamentos a empresas de cartão de crédito e
quantias generosas transferidas de sua conta para a de Izabela Dushku.
Charlton recebia um salário que parecia razoável para Gethin. O cara
pagava os impostos e seguro nacional. Mas ele também tinha mais de uma
conta no exterior segurando muito dinheiro. Milhões.

Era fácil ver atividades ilegais onde não havia nenhuma. Por tudo
que Gethin sabia, Charlton poderia ter ganho na loteria, ou herdado o
dinheiro quando seus pais morreram. Gethin olhou novamente para as
fotos das mulheres. Poderia haver uma explicação razoável? Se os valores
abaixo das fotos fossem o que a mulher havia recebido, em vez de
pagamento pelas mulheres, ele iria parecer um idiota se ele fosse à polícia.
Se não fosse por Izabela estar tão desesperada para colocar as mãos na
informação, e aquela fodida arma, ele poderia ter dado a ela o cartão de
memória e pego o dinheiro.

Entrar nos e-mails de Charlton seria fácil. Mas embora Gethin já


tivesse infringido a lei, fazer mais poderia colocá-lo em sérios apuros. Ele
decidiu voltar para seu apartamento, dormir um pouco e depois decidir o
que fazer.

****
Gethin esperava que a inspiração o atacasse enquanto estivesse
inconsciente, mas não. Ele rolou para fora da cama com seus pensamentos
ainda dominados pela preocupação sobre Izabela o ter escolhido por algum
motivo em particular. Se tivesse alguma maneira de ela ter tido acesso ao
seu passado. Ainda era possível ele ser mandado para a prisão pelo que
fizera na adolescência e aos vinte e poucos anos. Ele cobriu seus rastros,
mas mesmo assim.

Ele passou o resto do dia espionando uma mulher que morava em


Islington. Uma vez que ele obteve as fotos que o marido provavelmente não
queria, Gethin foi até o escritório do rapaz e mostrou a ele as fotos que ele
havia tirado no celular.

O cara tombou sobre sua escrivaninha. — Porra. Eu sabia, mas eu


ainda tinha esperança.

— Você quer cópias impressas das fotos? Gethin perguntou.

— Mande-as para mim.

— Eu sinto muito, Gethin disse.

O cara olhou para ele. — Não tanto quanto eu. Ele puxou um talão de
cheques da gaveta e fez um cheque.

Gethin foi direto para um banco e trocou-o. Não houve mais ligações
de Izabela, nenhuma outra pessoa perguntando sobre seus serviços, nada de
Jonnie e nada de Kell. Gethin quase lhe enviou um texto. Uma hora
esquecendo-se de sua vida de merda era muito convidativo, mas quando ele
começou a escrever uma mensagem, Jonnie ligou para ele e Gethin deixou
Kell ir.
Dois dias seguidos, Kell se arrastou para a cama às quatro da manhã.
Desde o momento em que chegou ao trabalho, ele mal teve tempo de
respirar. Carregou suprimentos para o bar, a partir do depósito no porão,
ficou de guarda do lado de fora no frio congelante enquanto Alec, o cara na
porta - que tinha um maldito casaco - tomava uma longa pausa, buscou
comida para Warner e seus convidados, cuidou do jovem carinha por quem
Warner estava interessado no momento e manteve um olho nele caso
ninguém mais se incomodasse em fazer isso, coletou copos e garrafas - o
adolescente tinha ajudado com isso, e teve sua boca fodida por Marek dentro
do escritório da Warner. Marek o tinha agarrado pelo colar de contas tão
fortemente que havia deixado uma linha vermelha na pele de Kell.

Tudo isso e não tinha nada para dar ao seu chefe. Os caras que
estavam com Warner eram do Leste Europeu, mas isso era tanto quanto Kell
podia averiguar. O mais jovem deles ficou com ele por um tempo e Kell
esperava tirar alguma informação dele, mas não teve chance de conversar
com ele sozinho.

Deitou-se de costas em sua cama e olhou para o teto. A luz da rua


ficava bem em frente a sua janela e as cortinas finas não forneciam nenhuma
barreira para a iluminação âmbar. O quarto todo manchado era deprimente.
As manchas no teto haviam se espalhado para se juntarem às marcas que
subiam pelas paredes. O chão era áspero, apenas tábua nua, e embora ele
tivesse coberto o máximo que podia com tapetes baratos, ele ainda ficava
imaginando o que haveria causado as manchas que ele escondia. Vômito?
Xixi? Sangue? Algum cara se masturbando? Muitos caras se masturbando?

O banheiro era básico - três frascos de alvejante e uma hora de


esfregão no dia em que ele se mudou ajudaram, mas nenhuma quantidade
de trabalho, além de uma completa reforma, poderia levar a algum lugar que
ele gostaria de permanecer. O box mal era grande o suficiente para caber
dentro e o suprimento de água quente não era confiável.

Era melhor não pensar na vida que ele já teve, não exatamente no
castelo em que Quin viveu, mas em uma casa grande e luxuosa, ou mesmo
no apartamento que ele deixou para morar aqui. Era difícil acreditar que ele
um dia voltaria ao seu antigo lugar. Ele o colocara com um agente de locação
e um casal o havia alugado no mesmo dia. Os pertences de Kell estavam
guardados esperando o final do trabalho, mas, se algo desse errado, ele teria
que sair de Londres. Se ele pudesse levar Warner, Marek e o resto deles para
baixo, eles iriam para a prisão e Kell estaria seguro - teoricamente - porque
aparentemente ele cairia com eles. Mas se eles descobrissem que ele era um
policial, eles o matariam.

Kell rolou para o lado, sabendo que teria problemas para dormir
mesmo estando exausto. Ele não gostava de começar o trabalho tão tarde e
não ir dormir até de manhã cedo. Isso tinha fodido com seu relógio biológico
e levando muito tempo para ele se acostumar com as horas estranhas. Ele
não tinha certeza de que ele iria se ajustar um dia.

Em seu primeiro trabalho encoberto, ele se fez passar por um sem


teto nas ruas por algumas semanas, com uma barba impressionante, que lhe
dava cócegas e um conjunto de roupas imundas, antes de se mudar para um
abrigo ilegal dirigido por ativistas ecológicos violentos. Ele se juntou a eles
em algumas de suas expedições, mas quando eles planejaram libertar cães
de um centro de testes, ele os denunciou ao chefe, mesmo que ele não
discordasse integralmente do que eles queriam fazer. Na noite da ação, Kell
foi preso com os outros. O oficial que o derrubou fora mais áspero do que
Kell esperava e acabara com uma costela quebrada.

Seu outro trabalho encoberto tinha sido fazer parte de uma gangue
que estava planejando uma série de roubos. Mas eles realizaram apenas uma
incursão e enganaram Kell no momento certo. Muito dinheiro foi gasto em
uma operação policial que não conseguiu nada e o chefe de Kell ainda estava
chateado com ele.

Esta era a chance de Kell se redimir e deixar a força em alta. Espionar


Silas Warner era um grande negócio, exceto que Kell estava atingindo o
ponto de ruptura com Marek. O cara estava muito interessado nele. A
capacidade de Kell de se convencer de que estava fazendo isso pelas razões
certas estava se desfazendo cada vez mais rápido. Ele pensou que fazer uma
pausa no fim de semana ajudaria, mas isso apenas tinha lembrado-o do que
estava perdendo, e no que ele havia se deixado levar.

Seus nervos estavam começando a se romper. Ele não foi feito para
isso. Ele se juntou à polícia porque queria tornar o mundo justo - pelo
menos uma pequena parte do mundo, mas talvez o preço que ele estava
pagando fosse alto demais. Seu pai tinha sido bem claro sobre sua
desaprovação. Kell sabia que ele vivia preocupado com ele.

Foda-se. Se ele começasse a pensar em sua família, ele não dormiria


de jeito nenhum. Uma mãe frágil e fora do ar, que não o reconhecia, um pai
que pensava mais nele do que deveria e um irmão que adorava atormentá-
lo. Oliver o deixou em paz por um tempo, então só podia ser uma questão de
tempo antes que ele reiniciasse sua campanha de terror.

Talvez no meu aniversário. Kell estremeceu. Ele sabia que ninguém


iria acreditar nele sobre Oliver. Oliver e sua esposa tinham amigos em
lugares altos, e Kell sabia que seu irmão era um idiota odioso, vingativo,
sádico e homofóbico. Kell esperava que Oliver não fodesse com a vida de
seus filhos como ele tinha feito com Kell. Ele tinha matado o hamster de
Kell, dando o de alimento para o cão de seu pai, regularmente roubava o
dinheiro do lanche de Kell e fez com que Kell fosse culpado por quase todas
as coisas ruins que aconteciam quando eles eram jovens. Sua mãe, que ainda
tinha todo o seu juízo em perfeitas condições quando eram jovens, achava
que Oliver era perfeito. Kell bufou. Não, ele estava errado. Ela já estava
louca naquela época também.

Se Oliver viesse ao clube, ele estragaria a cobertura de Kell sem


pensar duas vezes, provavelmente com um sorriso estampado em seu rosto,
então quando Oliver e seu pai estivessem no túmulo de Kell, Oliver
provavelmente conseguiria convencê-lo de que tinha sido um acidente ou
até melhor, culpa de Kell. Felizmente a chance de Oliver entrar em um clube
gay era zero. Kell desejou poder culpar a forma como Oliver o tratava na
homofobia de seu irmão, mas era muito mais profundo do que isso. Isso
remontava à época quando Kell nasceu.

Kell golpeou o travesseiro em submissão, depois rolou para o outro


lado. Eram quase seis. Demasiado cedo para mandar um texto a Gethin. Ah
Merda. Kell não queria ser o primeiro a fazer contato. Cristo. Eu não posso
durar quarenta e oito horas? Ele gemeu enquanto enterrava a cabeça
debaixo do travesseiro e tentou limpar sua mente acelerada, sabendo que
quando ele dormisse, ele iria cair em um pesadelo sobre Marek fazendo
fisting nele. Se não fosse isso, então seria sobre Oliver traindo-o. Kell fez um
esforço concentrado para repetir o que ele e Gethin tinham feito atrás do
sofá, imaginou Gethin em sua cabeça, aqueles grandes olhos verdes, e
deslizou a mão para seu membro.

****

O contato de Gethin no Met, o Inspetor-Chefe Tom Beckwith, era o


policial com quem Gethin tinha falado sobre o pedófilo. Apesar de Gethin
pensar que ele estava fazendo um favor a todos, exceto para a parte culpada,
Beckwith havia ameaçado prender Gethin. Ele não aprovava investigações
particulares que levantavam cenas de crimes - não que Gethin tivesse.
Gethin havia combinado encontrá-lo naquela manhã em um café em Tower
Hill. Ele sabia que Beckwith estaria propositadamente atrasado, mas Gethin
chegou a tempo e ficou trabalhando em seu laptop enquanto o esperava.

Depois de conversar com Beckwith, ele pretendia procurar por


Dieter, começando por um abrigo no nordeste de Londres que conhecia e
que aceitava adolescentes, assumindo que o lugar ainda estivesse em
operação. Ele tinha sido instalado em uma propriedade comercial onde a
ocupação não era ilegal, embora a ocupação em residências era uma ofensa
criminal. Ele clicou em vários sites verificando grupos que davam
informações sobre como habitar propriedades vazias, e então abriu o TOR
para acessar a Deep Web19 para ver se ele conseguia encontrar novos
endereços.

Quando compilava uma lista, ele retornava ao seu motor de busca


habitual para ver o que mais ele poderia encontrar. Tentar persuadir alguém
em um abrigo a admitir que eles tivessem visto Dieter seria difícil. Aos
dezessete anos, ele tinha idade suficiente para sair de casa. Os invasores
protegiam os desabrigados o quanto pudessem desde que estes não
causassem problemas e fizessem sua parte na configuração. Gethin teria seu
trabalho cortado se conseguisse convencer as pessoas que ele não ia causar
problemas.

Ele olhou para cima quando Beckwith puxou a cadeira ao seu lado, os
pés de metal rangendo no chão de azulejos.

O detetive encorpado e grisalho sentou-se e olhou para Gethin. —


Vou querer um cappuccino e sanduíche de bacon. Então, pelo menos, isso
não será um completo desperdício do meu tempo.

Gethin fechou a tampa do laptop e foi até o balcão para fazer o

19
Deep web e surface web conformam uma divisão do conteúdo da rede mundial de computadores (world
wide web) quanto à indexação feita por mecanismos de busca padrão. Deep
web (deepnet, web invisível, undernet, web obscura ou web oculta) corresponde à parte não indexada
e surface web (ou internet superficial) é a parte indexada.

Mike Bergman, fundador da BrightPlanet e autor da expressão "deep web", afirmou que a busca
na Internet atualmente pode ser comparada com o arrastar de uma rede na superfície do oceano: pode-se
pescar um peixe grande, mas há uma grande quantidade de informação que está no fundo, e, portanto,
faltando. A maior parte da informação da web está enterrada profundamente em sites gerados
dinamicamente, não sendo encontrada pelos mecanismos de busca padrão. Estes não conseguem
"enxergar" ou obter o conteúdo na deep web — aquelas páginas não existem até serem criadas
dinamicamente como resultado de uma busca específica. A deep web possui um tamanho muito superior
ao da surface web. O risco da deep web é, basicamente, a intenção com que o usuário a acessa. Por conter
páginas com conteúdo ilegal, as mesmas podem conter vírus, prejudicando a segurança do computador.
Vale lembrar que ela também, por ser criptografada e anônima, é muito usada por criminosos.
pedido. Quando ele voltou, Beckwith tinha aberto o computador de Gethin e
estava olhando para a tela.

— Foi expulso do seu ninho? Beckwith riu.

—Procurando por um lugar para morar? Tente a Islândia.

Gethin fechou seu laptop.

— Comece a falar, Beckwith estalou. Gethin disse tudo a ele, desde


quando ele havia recebido a primeira ligação de Izabela.

A menção da arma fez Beckwith sentar-se. — Uma Beretta? Tem


certeza?

— Sim.

— Vá em frente.

— Num momento ela está me dizendo para esquecer, no próximo me


pedindo para lhe entregar o cartão de memória e ela vai me pagar mais.
Suspeito que ela esteja sendo subornada ou ameaçada, ou talvez até em
conluio com quem quer a informação. Charlton não sabe como se manter
seguro.

Ele colocou uma folha de papel dobrada e dois cartões de memória na


mesa. — O de prata contém o que copiei diretamente de seu computador. O
azul tem as mesmas informações, mas quando necessário e quando pude, eu
descriptografei os arquivos. Escrevi o endereço de Charlton e o número de
telefone de Izabela no papel embaixo, junto com um desenho aproximado
do layout da casa no andar de baixo mostrando a localização do
computador.
Dois cafés e o sanduíche de bacon de Beckwith chegaram. Ficaram
em silêncio até que o garçom saiu novamente.

— Por que ela escolheu você? Beckwith mordeu o pão.

Gethin enrolou os dedos dos pés dentro de seus sapatos. — A partir


de um anúncio no Metro.

— Você consegue muitos trabalhos assim?

— Foi a primeira vez que tentei. Eu tenho um adolescente


desaparecido que estou procurando e a mãe dele me encontrou do mesmo
jeito.

— Hmm. Mostre-me o que você tem.

— Antes de dizer isso, sei que infringi a lei. Mas tenha em mente que
eu poderia ter ficado quieto, entregado os dados e saído significativamente
mais rico. Gethin colocou o cartão azul no laptop e abriu o documento com
as fotos das mulheres. Ele virou a tela para que apenas Beckwith pudesse ver
e ninguém mais.

Eu achei que os valores poderiam ser o preço para comprá-las, mas


também poderia ser o dinheiro que elas receberam para fazer... o que quer
que seja. No entanto, as fotos são estranhas, as mulheres parecem
desconfortáveis.

Beckwith não disse nada enquanto olhava para as imagens.

— Agora as planilhas, disse Beckwith. Gethin abriu uma delas. —


Quantias consideráveis de dinheiro sendo movidas entre muitos lugares. O
cara é um contador, mas, novamente, parece que há mais do que isso.
Detalhes de navios também e conhecimentos de embarque.

— Você descobriu o que esses códigos significam?

— Não. Talvez eu possa conseguir eventualmente, mas não é meu


trabalho e já gastei o suficiente do meu tempo nisso. Eu cruzei a linha,
tropecei em algo que parece sombrio e estou saindo do assunto. Eu tenho
certeza que seus caras podem decifrar o que eu não fiz. Na verdade, eles
provavelmente não poderiam, mas Gethin já tinha feito mais do que
suficiente. — Você conhece esse cara, Charlton?

Beckwith sorriu sem mostrar os dentes. O mesmo sorriso que Gethin


tinha visto antes de Beckwith ter ameaçado prendê-lo.

— Você sabe que eu não vou lhe dizer isso.

— O que você quer que eu faça? Gethin perguntou.

Beckwith puxou o cartão para fora do computador sem passar pelo


procedimento de remoção adequado e Gethin estremeceu. Ambos os cartões
de memória e a folha de papel foram colocados no bolso de Beckwith. Ele
mordeu o sanduíche e mastigou enquanto olhava para Gethin.

Gethin tomou um gole de seu café que agora estava morno.

— Quando você aprendeu a hackear? Beckwith perguntou.

— Quando eu era adolescente.

— Você é conhecido no mundo dos hackers?

Porra. — Fui, muito tempo atrá. Agora não.

Beckwith voltou seu olhar afiado para ele. — Você está preocupado
que esta Izabela ou quem está por trás dela já sabia o que você poderia
fazer?

— Isso passou pela minha cabeça.

— Te preocupou você quer dizer.

Gethin assentiu.

— O mais provável é que você tenha sido escolhido porque é um PI


inexperiente e que trabalha sozinho. Não é difícil descobrir há quanto tempo
você está trabalhando neste ramo de operação. Talvez eles estivessem
cientes de que você dirige um carro velho, mora em um pequeno
apartamento, parece...uhh... desalinhado. Essas foram as razões pelas quais
você foi escolhido, não porque você poderia descriptografar os dados em seu
computador.

Gethin não estava convencido.

— Deixe tudo para nós. Beckwith limpou a boca com um guardanapo


de papel, amassou-o e deixou cair no prato.

— O que eu devo dizer a Izabela quando ela me ligar novamete?

— Diga a ela que você esteve ocupado, invente alguma emergência


familiar, diga que você voltará para ela assim que puder. Espere até eu te
contatar de novo, então entregue a ela. Ela não vai saber que você decifrou
isso. Beckwith tomou um gole de sua bebida. — Foi sorte Charlton ter
aparecido na hora.

Gethin o olhou. — Então ele poderia puxar uma arma em mim? Como
isso conta como sorte?
— Sorte para nós. Porque se ele não tivesse voltado para casa, ela
teria dito a você que tinha mudado de ideia, pedido o cartão de memória,
você teria dado a ela e teria sido isso. Ela usou você.

Você acha que eu não sei disso?

— Você deveria ter mais cuidado. Hackear ilegalmente as contas das


pessoas, descobrir suas senhas e, enquanto está supostamente verificando se
há parceiros traidores? Você está trilhando uma linha muito fina. Estou de
olho em você. Beckwith se pôs de pé.

Gethin não esperava um agradecimento, o que foi muito bom porque


o detetive saiu sem dizer qualquer outra palavra. O telefone de Gethin
vibrou no bolso e ele puxou para fora esperando que não fosse Izabela ou
Jonnie. Ele sorriu quando leu a mensagem e digitou sua resposta.

****

Kell olhou ao redor quando um cara de cabelos escuros na casa dos


trinta, esguio como um potro, com barba por fazer e olheiras sob lindos
olhos verdes se instalou no assento ao lado dele. Gethin usava calça jeans
preta e um casaco cinza que estava entreaberto revelando uma camisa
branca por baixo, e ele tinha também uma bolsa de computador pendurada
em seu ombro. Kell ajustou sua posição no banco do bar e tomou outro gole
de sua cerveja. Ele tentou controlar sua respiração, embora fosse impossível
acalmar o sangue correndo em suas veias. Demonstrar sua fome por ele era
um erro.
Gethin gemeu quando se recostou no bar e passou os dedos pelo
cabelo.

— Você parece estar precisando de uma bebida, disse Kell.

— Eu preciso... de algo. Gethin sorriu.

O sorriso atingiu Kell como um soco. Sua próxima expiração saiu um


pouco instável.

— O que posso fazer com você? Perguntou o barman.

— O que quer que ele esteja bebendo.

O barman abriu uma garrafa de Dos Equis20. Gethin deu um longo


gole e, com o canto do olho, Kell observou seu pomo de Adão subir e descer.

— Dia difícil? Perguntou Kell.

— Sim.

— Você parece cansado.

— Estou bem. Ele sorriu novamente evidenciando as covinhas em


suas bochechas, e a onda de luxúria que tomou conta de Kell o pegou de
surpresa.

— Apenas dois por cento da população mundial tem olhos verdes.

20
Kell disse e Gethin se voltou e olhou intensamente para ele. Ele fez. Musgo
verde. Lagoa verde. Olhos de tigre. Ele desejou ter as palavras perfeitas
para descrever a cor. Exótico. Excitante. Sexy.

— E dois por cento têm cabelo vermelho também, disse Gethin.

— Você teve sorte aí. Kell olhou para ele, feliz que seu próprio cabelo
era.

— Você não gosta de cabelo vermelho?

— Não muito.

— O que mais você não gosta? Gethin perguntou.

Kell se inclinou um pouco mais perto. — Talvez eu deva lhe dizer do


que gosto.

— Talvez eu possa imaginar.

Kell inclinou a cabeça para um lado. — Você pode tentar.

— Cabelo preto curto desalinhado, olhos verdes, estranhas cicatrizes,


tatuagens, unhas roídas. Calça jeans preta assentada nos quadris, uma
camisa branca não completamente para dentro das calças, casaco cinza,
sapatos pretos casuais, sem meias... sem cueca.

Kell riu. — Excepcional.

Lábios macios se curvaram em um sorriso. — Eu tenho o dom.

— E o que você gosta? O coração de Kell martelou.

Gethin imobilizou Kell com seu olhar. — Cabelo escuro desgrenhado,


olhos azuis, uma estranha cicatriz ou duas, unhas perfeitas, sem tatuagens.
Calça jeans assentada nos quadris, uma camiseta solta na parte de trás para
mostrar uma faixa de pele tentadora, tênis Converse, sem meias... sem
cueca. Um cara que talvez não seja bem o que aparenta ser.

Oh foda-se. O que ele viu? — Droga. Eles não são Converse.

— Merda. Eu estou fora de você agora. Ele pegou outro gole de sua
cerveja. Kell olhou para os longos dedos circundando a garrafa e observou a
condensação deslizar pelo vidro e pingar no balcão.

— Isso é uma vergonha. Você é apenas o meu tipo. — Ele imaginou


aqueles dedos segurando seu pênis e estremeceu em antecipação.

Gethin olhou para a virilha de Kell, onde seu pênis tinha inchado
atrás de seu zíper. — Então, eu posso ver.

— Quer ir ao meu lugar? Kell se surpreendeu. Ele tinha a intenção de


atrair Gethin para o banheiro. Houve uma pausa desconfortavelmente longa
antes que ele tivesse uma resposta.

— Tem certeza?

Agora não, não, depois dessa hesitação. — Sim.

Quando Gethin olhou para o relógio, Kell sentiu uma onda de


irritação.

— Poderíamos foder no banheiro, mas meu lugar é virando a esquina.


Kell aparentava calma, mas ficou irritado.

— Okay, seu lugar.


Excitação substituiu a irritação. Eu sou tão superficial. Kell pagou
pelas bebidas, vestiu o paletó e saíram juntos do bar.

A tarde estava fria, o sol tépido em um céu desbotado de outubro.


Kell estremeceu. Ele deveria ter usado uma roupa mais quente. Eles
caminharam lado a lado, suas compleições corporais quase equivalentes em
altura e tamanho, embora Kell gostasse de ser um pouco mais alto que
Gethin. Seus dedos mindinhos acidentalmente roçaram - foi acidental? - e
sua respiração ficou presa na garganta. Merda. Tudo o que ele podia pensar
agora era em sexo, ter as mãos de outro homem sobre ele, colocar suas mãos
em outro homem. Não qualquer homem. Este homem.

— Quão longe é esse ao virar da esquina?

— Cerca de oitocentos metros. Kell pensou que isso faria Gethin rir, e
fez.

— Eu não disse qual esquina.

— A caminhada deu a Kell muito tempo para fantasiar sobre o que


queria fazer com Gethin, - correr seus dedos através daquele cabelo curto e
sedoso, usar seus dedos e boca no aço revestido de veludo, acariciar o pênis
de Gethin, chupá-lo, lambê-lo, deixá-lo deslizar por seus lábios e pressionar
contra o interior de sua bochecha. Ele o empurraria para baixo em direção a
garganta, engolindo contra ele antes dele... Merda. Pare com isso.

Kell acelerou o passo.

— Com pressa?
— Você estava olhando para o seu relógio. Kell odiou a corrente de
petulância em sua voz. Por que revelou que ele havia notado isso?

— Eu tenho um lugar que eu preciso ir mais tarde. Eu não queria


perder tempo. Eu assumi que teríamos uma foda rápida no banheiro - como
estranhos. Não era o que você queria?

Agora Kell estava irritado de novo e ele não entendeu muito bem o
motivo.

— Você comentou sobre eu estar cansado, disse Gethin. — Mas você


parece cansado também.

Kell encolheu os ombros. — Faz parte do trabalho.

— De ser um cara bonito? Sim. Deve ser um esforço terrível tentar


não olhar em todos os espelhos por onde passa.

Kell riu, seu humor melhorando. Ou era porque sua cama estava
chegando rápido.

Ele tirou as chaves do bolso e as girou em torno de seus dedos. Mas


ao pensar em abrir a porta, seu prazer deslizou para o sul. Ele se importava
com o que Gethin pensava e a única coisa boa que o seu lugar tinha era uma
cama grande onde Kell podia se deitar e ouvir o barulho do tráfego de
Londres e se congratular por ainda estar vivo.

Ele abriu a porta, atravessou as linhas de bicicletas acorrentadas em


ambos os lados do corredor e se dirigiu para as escadas. Eles não passaram
por ninguém no caminho. Seus dedos tremiam quando ele empurrou a
chave na fechadura. Eles não estavam aqui pela decoração. Pelo menos ele
havia deixado o lugar arrumado.

A porta mal havia se fechado quando Kell se viu girado e empurrado


contra ela. A bolsa do computador caiu no chão e bateu no pé de Kell
enquanto uma boca quente pressionava a dele. Eles se agarraram um ao
outro, pressionando seus corpos juntos, mas Kell ainda sentia que não
estavam perto o suficiente. Ele queria tocar a carne nua, provar a pele macia
na dobra do cotovelo, deslizar seu pênis entre os lábios entreabertos.

Uma língua forçou seu caminho na boca de Kell em um ato de posse


grosseira que subjugou Kell como um raio. Se ele não estivesse de costas
para a porta, ele teria caído. Cristo, esse cara pode beijar. Kell sentiu como
se tivesse esperado sua vida inteira por um beijo como esse, por alguém que
pudesse beijar assim. Um beijo que poderia iluminar seu corpo, disparar
todos os neurônios, fazer suas terminações nervosas cantarem.

Mas o beijo não era suficiente. Kell precisava de mais. Agora.

— Puta que pariu, Gethin ofegou. — Muito desesperado?

— Eu? Kell tentou parecer tão indignado quanto podia. — E você?

— Você é como a melhor doença altamente infecciosa possível. Um


toque e, minha resistência se foi.

— Uma doença chamada luxúria.

Esse comentário ganhou uma risada.

— Sim, então o que aconteceu com foder ao redor com um


desconhecido?
— Você se encaixa nisso. É desconhecido o suficiente.

Gethin riu e beijou-o novamente. Eles gemeram na boca um do outro,


grunhidos e suspiros escapando entre os beijos. Kell o beijou de volta tão
duro quanto ele, sugando sua língua enquanto tentava alcançar a parte de
trás do pescoço de Gethin. Mas os dedos dele nunca conseguiram se agarrar
ali. Ambos os pulsos foram apertados e Kell foi forçado com tanta força
contra a porta que quase podia sentir-se afundando.

— Foda-se. A palavra saiu dos lábios de Gethin e lavou a boca de Kell


com uma corrida de açucar antes de seus lábios se juntarem novamente.

Eles se beijaram com o desespero de adolescentes excitados, e


enquanto o faziam, eles despiram a si mesmos e também um ao outro, suas
bocas mal se separando enquanto tiravam os sapatos e se atrapalhavam com
zíperes, jogando as roupas de lado. Kell não queria parecer tão carente - ele
já tinha sido tão carente? Mas algo sobre esse cara fazia sua cabeça girar e
seu coração cambalear atrás de suas costelas. Suas línguas se enrolaram e o
sabor da cerveja acionou mais alguns interruptores, a sensação de um pau
duro pressionado contra o dele provocando fagulhas elétricas de excitação.
Então eles estavam lutando, uma luta de línguas, depois mãos, e Kell não
sabia mais o que queria. Se foder ou ser fodido. Se chupar ou ser sugado. Ele
não se importava mais, porque queria tudo.

Eles se separaram apenas para respirar fundo antes que suas bocas se
juntassem novamente. Seus pulsos foram liberados e ele envolveu uma mão
em torno de seus pênis, a mão de Gethin se juntando a ele. Enquanto se
esfregavam juntos, Kell poderia ter morrido com o prazer disso.
— Oh, Cristo. Gethin apertou o rosto contra o pescoço de Kell,
lambeu, depois beijou, depois o lambeu novamente, sorrindo contra ele, e
aquele momento de ternura quase fez Kell perder o controle.

Seus corações trovejavam no mesmo ritmo, suas mãos se movendo


freneticamente em um ritmo idêntico. Kell queria mais do que isso, queria
estar deitado, fodendo, mas ele era incapaz de fazer qualquer outra coisa
além de continuar essa corrida até a conclusão. Ele só teve que pensar na
palavra mais duro e a mão que o agarrava o apertou. Pré-sêmen se
derramava copiosamente sobre seus dedos à medida que aumentavam a
velocidade e a força dos golpes, lançando-o em uma corrida alucinante que
paralisou seus pulmões, fazendo seu batimento cardíaco se misturar em
uma única pulsação longa e dura. Gozar era tudo o que ele podia pensar,
além do desejo que eles cruzassem a linha ao mesmo tempo.

Eles gozaram juntos, talvez um segundo a parte; uma bagunça quente


e úmida explodindo entre eles enquanto engasgavam, engoliam em seco e
roubavam o ar um do outro. Kell continuou a mover a mão, deixando seus
pênis deslizarem juntos no calor escorregadio e adorou o modo como
estavam duros e, em seguida amolecendo juntos.

Kell afastou a boca. — Cristo.

—Sim. Gethin riu. — Você muda as regras, me leva para o seu lugar e
nós nem sequer chegamos na cama?

— De quem foi a culpa?

— Chuveiro?
— Logo ali. É meio pequeno.

Kell ficou onde estava, apoiado na parede, enquanto Gethin se dirigia


ao banheiro. A visão daquela bunda dura com uma tatuagem de dragão bem
pintada enrolando-se sobre uma face e descendo pela perna foi quase o
suficiente para deixá-lo duro novamente. Kell desejou que o chuveiro fosse
grande o suficiente para os dois compartilharem. Ele pousou a mão sobre
sua barriga, esfregou a pele e porque sabia que Gethin não estava olhando,
ele levou um dedo à boca e lambeu. Ele não tinha certeza se isso assustaria
Gethin e a última coisa que ele queria fazer era leva-lo a fugir.

Vê-lo mais algumas vezes não ia funcionar. Kell queria fazer esse não-
relacionamento durar, prolongar o máximo que pudesse, mas foi ele quem
ditou as regras. Parte dele queria que ele nunca tivesse usado a palavra
casual. Mas um pensamento sobre Marek virou isso em sua cabeça. Ele e
Gethin poderiam tomar uma cerveja juntos, mas esse seria o limite de sua
interação fora do sexo. Mostrar qualquer expectativa de mais poderia ser o
beijo da morte - talvez literalmente. Mas foder em algum lugar seguro como
a cama de Kell era melhor do que arriscar ser pego em um lugar público. A
conversa deles seria simples. Eles foderiam mais e falariam menos. Kell
planejou tudo.

Ele riu. Uma só foda e ele já havia mudado seus pensamentos, de


uma última vez para quantas vezes mais eles poderiam fazer isso? Talvez
eles pudessem foder um caminho para fora da cabeça um do outro...-
assumindo que Gethin estivesse sentindo o mesmo que ele.

Gethin voltou para o quarto, o cabelo escuro molhado, os cílios


espetados.

— Sua vez.

Quando Kell saiu do chuveiro, ele pensou que encontraria um quarto


vazio, mas Gethin estava deitado na cama. Seu choque deve ter aparecido
em seu rosto porque Gethin se levantou nos cotovelos.

— Quer que eu vá?

— Não. Kell suspeitou que devesse ter dito sim, mas ele caiu ao lado
de Gethin.

— Fiquei surpreso que você me trouxe aqui, disse Gethin.

— Você pode ver porque eu não queria. Eu moro em um lixão.

— Sua razão para não me querer aqui não tem nada a ver com a
condição do lugar. Mas este lugar não é você.

O coração de Kell bateu forte. —Você pensou que eu era um menino


rico?

— Você é amigo de garotos ricos.

— Às vezes eu tomo decisões ruins. Ele deu de ombros e olhou ao


redor.

Gethin deu um breve sorriso. — Isso não é o que nós acordamos. Nós
não seremos estranhos se eu souber você vive. O jogo não durou muito
tempo.

— Estou distorcendo as regras.


— Podemos conversar então?

— Só em pequenas doses. Kell olhou fixamente nos olhos


surpreendentes de Gethin, deixou que seu olhar se dirigisse aos lábios e
queria beijá-lo novamente.

— Seu lugar não é diferente do meu, Gethin disse.

— Sério?

— Talvez o padrão de fungos na parede seja um pouco mais


interessante aqui. Manchas de aspergillus, cladosporium e stachybotrys
atra.

Kell soltou uma gargalhada. — Posso perguntar o que você faz além
de trabalhar para uma empresa de eventos?

— Inspetor de fungos. E você?

— Eu sou um padre católico.

Gethin sorriu. — Eu estou condenado então, e você comigo.

— Eu sou um guarda de segurança. Kell fez uma pausa. Dizer a ele


que não iria doer.

— Eu acho que vou fingir que você é um padre. Eu gosto da ideia


disso. Da próxima vez, okay? Eu vou interpretar um cara hetero, usar meus
óculos e você pode me seduzir.

Kell sufocou seu gemido. Gethin ergueu as sobrancelhas.


— Droga. Eu não consegui disfarçar esse gemido, não é?

— Não.

— Você ia me ligar? Kell desejou não ter perguntado no momento e,


para cobrir seu embaraço, continuou falando. — Eu queria que você me
ligasse primeiro, mas pensei que eu estaria recebendo minha aposentadoria
quando ele resolver fazer isso. — Então eu acabei por cortar toda a coisa
desnecessária, ele vai - ele não vai, porcaria.

— Sim, eu teria telefonado. Eu tive um par de dias ocupados.

Kell estava prestes a alcançá-lo quando Gethin se sentou.

— Eu deveria ir, disse Gethin. — Ainda tenho trabalho a fazer.

Kell observou enquanto ele se vestia, desejando que seu pênis ficasse
para baixo, mas assistir Gethin vestir-se era tão erótico que ele pegou um
travesseiro e o arrastou para cima de sua virilha. Gethin virou-se e olhou
para ele, baixou o olhar para o travesseiro e então subiu novamente para o
rosto de Kell.

— Perdoe-me padre, porque eu pequei, disse Kell.

— Você só será perdoado se pecar de novo, meu filho.

Kell riu. — Boa. Vejo você.

Gethin saiu e Kell suspirou. Isso era tudo o que eles tinham. Um
divertido não-relacionamento. Nenhum compromisso, mas sexo quente.
Kell não gostou dessa coisinha na barriga que dizia que já não era, nem de
longe o suficiente.

Eu quero conhecê-lo. Eu quero saber o que ele gosta, o que ele não
gosta. Eu quero saber que tipo de homem ele é. Eu quero saber se ele
poderia gostar de mim para mais do que sexo.
Gethin ficou surpreso com o lugar de Kell. Ele esperava algo melhor
de um cara que tinha sido um convidado para uma festa frequentada pelos
ricos e privilegiados. O aniversariante falou sobre Kell como seu melhor
amigo. Ou isso foi apenas para provar que Gethin estava certo em
reconsiderar seu julgamento sobre os convidados que ele estava servindo.

Ele retornou ao metrô, desapontado que o encontro não tinha durado


mais, mas sabendo que ele tinha feito a coisa certa, porque as perguntas que
borbulhavam em sua cabeça o estavam deixando louco. Perguntas que
provavelmente nunca seriam respondidas.

Kell estava feliz por ser um guarda de segurança? O que ele mantinha
em seurança? Quem ele mantinha em segurança? Que péssimas decisões
Kell tinha feito para que ele não estivesse circulando no mesmo ambiente
daquelas pessoas que frequentavam lugares como o Castelo de Denborough
e morando em um estúdio mofado em Londres? Mesmo se Kell tivesse
perdido o dinheiro, e a família dele? Ele tinha pais ou irmãos?

Gethin gemeu. Pense em outra coisa.

Que tipo de música ele escutava? Ah Merda. O que eu estou fazendo?


Onde Kell saía de férias? Ele teve aventuras? Ele queria tê-las? Com quem
ele tinha saído antes? Antes do que? Eu? Ele não está saindo comigo. Por
que Kell não queria mais do que foder se, amarras? Porque o cara estava
sofrendo? Por quê?

Cale a boca. Como Gethin não queria responder a nenhuma pergunta


desse tipo, não havia sentido em sequer pensar nelas. Ele andou mais
rápido. Ele deveria saber que não havia maneira de ter um relacionamento
casual. Talvez ele pudesse ter isso se conseguisse desligar o investigador
dentro dele. Seu próprio Grindr pessoal era ótimo na teoria, mas não
parecia certo. Gethin já estava muito interessado, muito investido.

Uma pequena seleção de roupas estava pendurada no guarda-roupa


de Kell, nada dispendioso, havia uma pilha de livros embaixo da cama e um
armário cheio de refeições prontas ao lado de um pequeno fogão e
microondas. Mas a mobília era velha e gasta, não havia fotos, nenhuma das
parafernálias que ele esperava ver além da televisão de aparência nova. O
lugar estava limpo, ignorando o fungo, mas... sem alma. Um lugar onde Kell
poderia sair em um instante. Era isso que parecia errado, embora Gethin
pressentisse que isso era deliberado e suspeitava que tivesse algo a ver com
o desejo de Kell por sexo sem amarras. Do que ele estava correndo além do
compromisso? Quem tinha machucado ele?

O pagamento de um guarda de segurança não seria alto, então isso


explicava o estúdio, mas algo ainda não se encaixava. Gethin não teria
sobrevivido tanto tempo se ele não desse ouvidos a sua intuição. Gethin não
achava que Kell tivesse um problema com drogas ou álcool. Ele tinha uma
definição muscular muito melhor que a de Gethin. Tonificado como se ele
passasse algum tempo na academia.

Gethin desceu os degraus da estação de metrô com perguntas ainda


borbulhando e estava tão distraído que quase entrou no trem errado. Ele se
mudou para a outra plataforma e encostou-se à parede.
Por que Kell não queria nada mais do que uma foda rápida?

Merda, eu sou tão hipócrita em questionar isso, quando é tudo que


eu posso ter. Depois que Jonnie o traiu, Gethin ficou muito machucado para
arriscar seu coração novamente, depois do acidente... uma carga inteira de
emoções ficou no caminho de tudo e ele se manteve sem sexo. Ele achava
que quase não havia chance de Jonnie ouvir falar de Kell, mas e se ele
descobrisse? Essa porra de seis graus de separação21. Tudo era possível.
Exceto Jonnie andando novamente. Gethin não suportaria causar mais dor
a ele.

E quanto a sua dor?

Eu não conto.

Ele caiu em um assento no trem. O sentimento de culpa de Gethin


tinha espalhado suas asas sobre o emparelhamento deles e um turbilhão de
ressentimentos, e tudo isso parecia um par de albatrozes gêmeos
pendurados em volta do seu pescoço. Seria fácil diminuir a carga. Faça com
esse tenha sido o último encontro dele com Kell. Ele pegou o telefone,
bloqueou as ligações de Kell e apagou o número dele, esperando que isso o
fizesse se sentir melhor.

Em vez disso, Gethin passou o resto do dia de mau humor,


perambulando por Londres entre vários abrigos, sendo cuspido, xingado e
ridicularizado. Ele distribuiu mais de cem libras para persuadir as pessoas a
conversar e ficar de olho em Dieter. Talvez um deles pudesse ajudá-lo. Era
difícil conseguir que alguém olhasse devidamente a foto. Ele esperava que

21
A teoria dos seis graus de separação originou-se a partir de um estudo científico
desenvolvido pelo psicólogo Stanley Milgram, que criou a teoria de que, no mundo, são necessários no
máximo seis laços de amizade para que duas pessoas quaisquer estejam ligadas
ao ver Dieter em seu uniforme escolar pudesse puxar algumas cordas do
coração deles. Gethin foi respeitoso e educado, ofereceu seu cartão e disse
que, se algum dia vissem Dieter, que, por favor, lhe pedissem para telefonar
para casa. Não havia muito mais que ele pudesse fazer.

O que ele não tinha no final do dia era uma ligação de Izabela e ele
não sabia o que fazer sobre isso. Uma pequena parte dele preocupava-se
com sua segurança. Enquanto ele não sabia se podia acreditar em qualquer
coisa que ela disse a ele, seu intestino lhe dizia que ela estava sendo coagida.
Mas estava fora de suas mãos agora. Ele esperava que Beckwith
aproveitasse o computador de Charlton enquanto ele ainda estivesse intacto
e encontrasse a arma antes que ela acabasse no Tâmisa.

Já que ele estava perto de seu escritório, Gethin decidiu entrar e


pegar sua correspondência. Ele estava esperando por um cheque de um
trabalho que ele havia concluído na semana passada. Ao se aproximar de
seu prédio, ele viu a luz acesa em sua sala. O ritmo de Gethin não vacilou e
ele baixou o olhar para a calçada. Ele permaneceu no lado oposto da rua e
seguiu em frente, se afastando muito além antes de dobrar de volta. Ele
tinha um cartão de entrada para Clayton e Saunders, um escritório de
arquitetura a três prédios de distância, clonado de um que ele roubou e
depois retornou, e ele entrou. O pulso de Gethin disparou enquanto subia as
escadas correndo para o telhado.

Enrolou a alça de sua bolsa de computador em volta do pescoço e


descansou por um momento antes de se aproximar da borda. Ele só havia
usado essa rota uma vez, antes de aceitar a oferta de um escritório por parte
de Angel. Embora Gethin soubesse que a sugestão de Angel era uma
oportunidade que não deveria recusar, ele teve que se certificar em manter
uma rota de fuga segura. Uma infância passada em lares de acolhimento e
orfanatos, sendo abusado e espancado, o deixara precavido. Ele fugiu mais
do que qualquer outro garoto que conhecia.

Gethin se abaixou até a calha e tomou impulso para saltar. Com uma
série de saltos e um pouco de deselegância, ele finalmente alcançou o
telhado vizinho, de onde poderia pular para seu prédio. Não exatamente um
parkour, essa não era sua especialidade, mas escapar de uma saia justa era.

Uma vez que ele chegou ao telhado certo, ele deixou sua mochila
atrás de uma unidade de ar-condicionado, então silenciosamente desceu as
escadas. Ele sentia como se um escorpião estivesse rastejando sobre sua
pele, aquela pontada de pavor lhe dizendo que ele poderia estar com
problemas ou dor a qualquer momento.

A porta para as Celebrations estava fechada, mas a de seu escritório


estava entreaberta. Gethin permaneceu imóvel por vários minutos, apenas
ouvindo, mas não ouviu nada que pudesse alarmá-lo. Ele tentou a maçaneta
da porta do Celebrations, encontrou-a trancada e caminhou pelo corredor
até seu escritório, onde abriu a porta com força suficiente para assustar os
que estavam dentro e acertasse qualquer um que estivesse de pé atrás.

Não tinha ninguém lá. Eles destruíram o lugar e foram embora. Ele
não precisava nem pensar em quem poderia ser o responsável. Quem quer
que tenha pago, persuadido ou ameaçado Izabela para obter os dados do
computador. Ou Charlton se ele descobriu o que Gethin tinha feito. Gethin
estava na porta e olhou em volta, procurando por algo que pudesse ter sido
adicionado, bem como por itens removidos.

Ele não viu nenhum fio sensor de movimento, câmeras, explosivos,


mas isso não significava que eles não estivessem lá. Muito paranoico?
Gethin balançou a cabeça em sua idiotice, mas ele ainda foi cuidadoso. Ele
tirou algumas fotos com o celular. Seus computadores estavam em pedaços,
o conteúdo de seu arquivo estava espalhado pelo chão, mas o rodapé não
parecia ter sido adulterado. Gethin ficou surpreso por ele não estar muito
chateado. Ele se perguntou se parte dele esperava por isso, e a outra parte
sabia que, na grande escala das coisas, o pior poderia ter acontecido.

Telefonar para a polícia não era algo que ele particularmente queria
fazer. Muito esforço por pouca coisa, visto que quem havia feito isso já tinha
ido embora, mas seu seguro não pagaria se ele não fizesse a ligação. Além
disso, ele deveria contar a Beckwith. Quando ele entrou na sala, viu uma
nota em sua mesa.

SE VOCÊ CHAMAR A POLÍCIA, NÃO SERÁ APENAS SEU


ESCRITÓRIO QUE FICARÁ DESTRUÍDO. VOCÊ SABE O QUE
QUEREMOS. NÓS ENTRAREMOS EM CONTATO.

Gethin deslizou ao redor da parede da sala, mantendo-se longe da


janela, com medo de jogar uma sombra. Ele se agachou atrás de sua mesa. O
cartão de memória ainda estava lá. Ele o deixou ali, empurrou o rodapé de
volta para o lugar e saiu da sala, definindo a porta exatamente como ele a
encontrou. Por que a luz foi acesa? Descuido? Havia alguma maneira que
eles pudessem vê-lo lá? Apenas no caso, ele correu de volta para o telhado.
Não foi um choque que seu escritório tivesse sido descoberto. Ele não
transmitiu sua localização, mas com um pouco de pesquisa criteriosa dos
registros da empresa, ela poderia ser encontrada. Izabela sabia o nome de
seu negócio, e seu nome, embora ele só tivesse dado a Charlton seu nome do
meio - Rhys, e também ela tinha seu número de telefone. Descobrir onde ele
morava era uma questão diferente.

Não era uma suposição irracional que qualquer um que tivesse


destruído seu escritório pudesse estar esperando por ele ali por perto, seja
para persuadi-lo a desistir do cartão de memória ou para segui-lo até onde
ele poderia tê-lo escondido. Gethin se perguntou se eles checaram seus
computadores antes de destruí-los. Mas não havia como eles abrirem
qualquer coisa sem suas senhas.

Dez minutos depois, após reverter o caminho que usara para alcançar
o prédio, Gethin estava andando pela rua com sua bolsa por cima do ombro.
Ele nem queria pegar sua moto, no caso de estar sendo vigiado. Ele ligou
para Beckwith, mas o cara não respondeu, então ele deixou uma mensagem.
Gethin retornou ao seu estúdio de metrô, subindo e descendo os trens no
último minuto para ter certeza de que não havia ninguém o seguindo.

Ele passou por onde estacionara seu carro a duas ruas de distância de
seu apartamento. Mesmo com a autorização de residente, era difícil
encontrar um lugar de estacionamento. Ele não podia ver ninguém
vigiando, então ele retornou ao seu veículo. Ele não estava preocupado que
alguém pudesse estar esperando por ele em seu apartamento, mas ele estava
preocupado com o risco para Angel e Tilda, e isso era algo que era melhor
explicar cara a cara.

Gethin parou apenas para comprar uma garrafa de vinho tinto, antes
de dirigir para Islington por uma rota indireta. O estacionamento era
apenas um pesadelo ali. Quando bateu à porta da casa de Angel, uma antiga
casa georgiana cuidadosamente restaurada, foi Henry que abriu a porta,
com um dachshund latindo embaixo de cada braço.

Gethin brandiu a garrafa.

Henry olhou de boca aberta para ele. — Ele não me disse que havia te
convidado para o jantar. Eu vou matá-lo. Ele ainda não voltou da casa de
sua mãe. Quando ele chegar, então eu vou matá-lo.
— Ele não me convidou para jantar. Eu preciso de uma palavra com
ele.

— Ah certo. Entre.

Uma vez que Henry fechou a porta, ele colocou os cachorros para
baixo e Gethin se inclinou para fazer um carinho neles. Eles rolaram de
costas, suas caudas balançando tão furiosamente que seus corpos giravam
no chão liso.

— Eles teriam você acariciando seus estômagos o dia todo, esses sem
vergonhas. Henry falou. — Winston, Kennedy, deixe o pobre rapaz em paz.

Gethin seguiu Henry até a cozinha. A casa era magnífica. Nenhuma


confusão de estilos, ou feições berrantes, as paredes eram tons de Farrow e
Ball, com toques de cor vindos de pinturas e vários tapetes caros espalhados
no belo piso de carvalho. Gethin suspeitava que Henry havia batido o pé na
exuberância do arco-íris de Angel quando se tratava de sua casa.

— A casa está uma bagunça, disse Henry.

Não estava. Henry pegou uma pilha de papéis da mesa e enfiou uma
caneca na lava-louças.

— Agora não está. Gethin riu.

— Você pode ficar para o jantar. A lasanha está no forno e há muito,


mas o preço é que você tem que servir como um butler in the puff. Todas as
conversas que tive com Angel desde o acontecido, ele conseguiu trazer sua
bunda para ele. E sua tatuagem. Eu me sinto totalmente privado que eu não
tive o prazer.

Gethin gemeu. — Ele me enganou nisso.


Henry levantou uma sobrancelha. — Ele pode ser muito persuasivo
quando se trata de traseiros. Quer uma xícara de chá ou um copo de vinho?

Gethin queria vinho, mas precisava manter a cabeça limpa. — Chá


seria ótimo, obrigado.

— Sente-se.

Gethin pendurou sua bolsa e casaco nas costas de uma cadeira e se


estabeleceu na grande mesa de carvalho.

— Como você está? Henry perguntou.

— Eu estive melhor.

— Ah, isso soa sinistro. Como está o negócio?

— Isso poderia estar melhor. Gethin suspirou.

— Estatísticas do site são saudáveis.

— Provavelmente impulsionado por pessoas que admiram o seu


trabalho criativo, ao invés de contemplar me contratando para pegar seus
maridos transando com outra mulher... ou homem.

Henry estremeceu. — Esse é o único tipo de trabalho que você está


recebendo?

— Principalmente. É o que eu esperava, apesar de ter sido contratado


para procurar um adolescente desaparecido. Infelizmente, não estou tendo
muito sucesso.

Henry colocou as bebidas na mesa e sentou-se. — Me fale sobre isso.


Gethin estava feliz por se distrair e repassar o que sabia sobre Dieter
e onde ele estava no caso até agora.

— Nenhum amigo inapropriado da internet? Henry perguntou.

— Eu dei uma olhada no computador dele. Não havia nada que me


preocupasse. Ele tem quatrocentos amigos no Facebook. De jeito nenhum
eu posso checar todos eles.

— O que você teria feito se estivesse no lugar dele?

Gethin enrolou os dedos dentro de seus sapatos e se certificou de que


seu rosto não mostrasse nada. — Ficaria em um lugar tão barato quanto
pudesse encontrar até ficar sem dinheiro. Ido para um albergue. Procurar
um emprego. Sendo persuadido muito facilmente por algum velho dizendo
que quer me ajudar e não me foder. Cale a boca.

Henry deu-lhe um olhar penetrante. — Ele pode procurar outros


como ele.

— Eu verifiquei o abrigo que eu conheço.

— Não, eu não quis dizer fugitivos ou os sem-teto. Eu estava


pensando em adolescentes gays. Talvez alguém gay. Ele se sentiria mais
seguro nesse ambiente, mesmo que ele não estivesse.

— Ele é jovem demais para um bar ou um clube. Ele parece mais


jovem do que ele é. Gethin mostrou a Henry sua foto. — Chave de cadeia.

Henry assentiu. — Hmm. Eles ainda o deixariam entrar em um clube.


Você disse que ele gosta de dançar?

Gethin gemeu. — Sim. Você acha que eu deveria verificar todos os


clubes gays em Londres? Eu nem sei se ele está na cidade.
Os cães começaram a latir e Gethin ficou tenso.

Henry colocou a mão no ombro dele. — Deve ser Angel.

A porta bateu. — Estou em casa, Angel chamou. — Para baixo,


Winston. Sim, eu também te amo, Kennedy. Henry? Por que você não está
aqui me cheirando também? Os cachorros têm mais prazer em me ver do
que você é?

— Sim, eles sempre fazem isso e nós temos um visitante, Henry


gritou de volta. — Olha lá o que você fala.

— Eu sei que não é minha mãe. Os olhos de Angel se arregalaram


quando ele chegou ao escritório. — Rápido, Henry. Tire a roupa e vamos
amarrá-lo. Porra, eu peguei o caminho errado.

Henry riu.

— Estou falando sério, disse Angel. — Alternativamente, eu preciso


de você no andar de cima. Agora. Ele ronronou.

— Tome um pouco de vinho. Henry serviu-lhe um copo.

— A que devemos este prazer? Angel sentou-se à mesa.

— Meu escritório foi saqueado.

— O que? Henry engasgou e abaixou seu copo de vinho sem saboreá-


lo. — Valha-me Deus.

— Eu não fui seguido até aqui, disse Gethin. — Eu me assegurei


disso.
— Seguido? Que porra é essa? Angel se endireitou. — Henry, sente-
se. Gethin vai nos contar o que aconteceu, mas conhecendo-o será como
extrair sangue de uma pedra.

Não desta vez. Eles precisavam saber disso. — Alguém invadiu,


quebrou todo o meu equipamento, derrubou o arquivo e espalhou todo o
conteúdo. Eles também deixaram uma mensagem sugerindo que não será
apenas meu escritório que será destruído se eu for à polícia.

— Oh meu Deus. Angel bebeu metade de seu copo de uma só vez.


Tristeza, destruição, ruína e decadência.

Henry olhou para Angel. — Richard II. Não é apropriado.

— Por que não? Gethin perguntou.

— A próxima linha é Nada é pior que a Morte, e essa é o nosso


destino. Henry chupou suas bochechas. — O que você fez?

— É melhor você não saber.

Angel franziu a testa. — Algo ilegal?

— Eu encontrei algo... obscuro quando eu estava baixando dados do


computador de um cara.

— Foi quando Tilda recebeu o telefonema? Angel perguntou.

Gethin assentiu. — Eu entreguei alguns cartões de memória à polícia,


mas quem quer que seja os caras maus, eles querem a informação e não a
encontraram no meu escritório. Eu espero que a polícia resolva isso, mas
enquanto isso você precisa ter cuidado. Ele fixou seu olhar em Angel. — Eu
não sei o quanto o cara ou os caras que destruíram o escritório sabem sobre
mim. Eu usei uma companhia de festa imaginária como cobertura, mas meu
escritório está ao lado da coisa real, ao seu lado. Eles podem descobrir que
você me conhece e isso pode colocá-lo em perigo. Tilda precisa desligar o
telefone, tirar o cartão SIM e jogá-lo fora. Você e ela são os únicos que
sabem sobre o nosso acordo, certo?

— Sim, disse Angel.

— Não há nenhum ponto de ninguém negar que eu sou o PI no


corredor, se as pessoas chegarem perguntando, mas você deve se portar
apenas como meu senhorio. Se eles mencionarem a Party Solutions,
neguem todo o conhecimento e pareçam indignados.

— Eu sou bom em parecer indignado, disse Angel.

Henry assentiu. — Ele é. Os dois trocaram um sorriso.

— Eu tive uma arma puxada para cima de mim. Gethin precisava que
Angel entendesse o quão sério isso era.

— Oh meu Deus. Angel ficou boquiaberto.

— O cara pensou que eu estava fazendo sexo com a namorada dele,


mas mesmo assim... Agora tudo isso aconteceu, está claro que há algo...

— Podre no Reino da Dinamarca, Angel murmurou.

Até mesmo Gethin sabia disso. Hamlet. — Macbeth.

Angel olhou e Henry riu. — Ele está te enrolando.

— É Romeu e Julieta, não é? Disse Gethin.

— Por favor. Angel colocou a cabeça entre as mãos.


— Liguei para a polícia sobre os danos ao meu escritório. Estou
esperando que eles liguem de volta. Pode ser útil se você fingir que
descobriu o que aconteceu amanhã e os chamasse também. A porta está
entreaberta. A sua ainda estava trancada, a propósito.

— Cristo. Os ombros de Angel caíram ainda mais.

Gethin ficou de pé.

— Sente-se, Henry disse. —Você não vai a lugar nenhum até que você
tenha pelo menos comido.

Gethin sentou-se novamente. — Eu trouxe problemas para a sua


porta, Angel, e me desculpe. Eu vou encontrar um escritório em outro lugar.

— Não, você não vai. Angel endireitou e serviu mais vinho. —Você
não é a pessoa ruim aqui. Pode ser sábio ficar para baixo por um tempo,
mas no momento em que isso acabar, será tudo como de costume
novamente.

Gethin ia começar a falar quando seu celular vibrou e ele puxou para
fora. Ele queria que fosse Beckwith, mas era Zena Hoehn, a mãe de Dieter.

— Espero não estar incomodando você, disse ela. — Acabei de


receber uma ligação da mãe de Sam. Ela estava prestes a lavar uma das
jaquetas de Sam e encontrou um cartão no bolso para uma boate em
Vauxhall chamada No Escape.

Gethin ficou tenso. Esse era um dos clubes para os quais Charlton
fazia a contabilidade.

— Sam admitiu que ele e Dieter estiveram lá duas vezes, uma vez
quando a mãe de Sam pensou que Sam estava hospedado conosco e o outro
quando eu pensei que Dieter estava com eles. Eu sei que é um tiro longo,
mas talvez você pudesse dar uma olhada lá?

— Ok. Deixe comigo. Tinha que ser uma coincidência que Charlton
estivesse ligado ao No Escape. Gethin não gostava de coincidências.

Henry colocou a lasanha na mesa e distribuiu os pratos. — Não era


da polícia, não é?

— Não, era a mãe do adolescente que estou procurando.


Aparentemente, os meninos foram duas vezes para um clube chamado No
Escape. Ela quer que eu dê uma olhada. Você pode estar certo, Henry.
Talvez Dieter tenha encontrado um lugar para dançar.

— No Escape? Angel soltou um suspiro. — Você já esteve lá?

— Não, e você? Gethin perguntou.

— Há muito tempo, querido. Eu não preciso sair para pescar agora.


Ele piscou para Henry. — Eu já peguei meu peixe grande. O clube está em
Vauxhall. Mudou de mãos algumas vezes desde a última vez que fui e, pelo
que ouvi, a tendência é para o luxo, embora isso não seja difícil. Eu me
pergunto se ele manteve a Passagem Traseira.

— Que diabos é isso? Henry perguntou.

Angel ergueu as sobrancelhas. — Não é difícil adivinhar. Um


corredor na parte de trás do clube com salas onde vale quase tudo. Pelo
menos foi. Foi muito decadente vinte anos atrás. Um homem chamado Silas
Warner é dono agora. Eu fui para a mesma escola que ele. Até quinze anos
atrás eu o conhecia… muito bem. Ele tinha preferência por garotos jovens,
embora não muito jovens. Quando eu não parecia mais jovem o suficiente,
ele virou as costas para mim. Eu costumava ser um pouco uma rainha do
drama e ele tinha um lado maldoso.

— Costumava ser? Henry disse. —Você ainda não é?

Confie, ele saiu para a escola de domesticação. Angel deu-lhe um


olhar tímido.

— Taming of the Shrew22? Henry disse.

Angel sorriu.

— Eu não me lembro de você já ter mencionado Warner, Henry disse.

— Porque ele é alguém para esquecer. Ele é arrogante, implacável e


eu... Angel respirou fundo. — A última vez que falei com ele foi um par de
anos atrás. Ele me pediu para organizar uma festa. Eu menti e disse que
estava ocupado demais.

Henry ergueu as sobrancelhas. —Então, você realmente não gosta


dele.

— Ele é do tipo que pisa em mulheres e crianças, e chuta-os nos


dentes, se isso significa que ele poderia ser o primeiro em um barco salva-
vidas. Espero que o seu adolescente não esteja lá, não se ele chamou a
atenção da Warner. Ele é bastante... possessivo com seus brinquedos. Bem,
ele era.

Gethin pensou sobre a aparência inocente de Dieter e engoliu em


seco. — É melhor eu ir e procurar.

— Esta noite? Henry perguntou.


22
The Taming of the Shrew é uma peça teatral do dramaturgo inglês William Shakespeare, uma
das primeiras comédias escritas pelo autor. Tem como tema central o casamento, a guerra dos sexos e as
conquistas amorosas.
— Se eles estiverem abertos.

Angel pressionou alguns botões em seu telefone. Parece que eles têm
noites temáticas. Domingo é... couro. Ele colocou a língua de fora e ofegou.
— Você… em calças de couro… peito nu… bunda… Henry e eu iremos com
você. Coma rápido, querido.

— Nós não vamos, disse Henry.

— Não, você não está indo. Gethin espetou um pouco de lasanha.

— Estraga-prazeres. — Angel o encarou, em seguida, seu rosto se


iluminou. — Podemos pelo menos te vestir com a roupa certa.

—Eu não vou tirar minhas calças.

Angel suspirou. — Você suga a diversão de tudo.


Enquanto Angel procurava pelo que ele alegava ser a roupa perfeita,
esperançosamente alguns coletes de couro não muito espalhafatosos -
pretos simples sem correntes, tachas ou lantejoulas - Gethin pesquisou no
Google sobre o No Escape e seu dono. Ele encontrou muitas imagens de
Warner que era um cara de boa aparência, alto e magro com feições lupinas,
um sorriso de dentes afiados e olhos encapuzados. Seu cabelo grosso estava
penteado para trás na maioria das fotos, liso e escuro como pele de foca.
Warner comprou o clube há cinco anos e, aparentemente, gastou grandes
quantias nele.

Ele possuía outro local em Manchester com o mesmo nome, um em


Leeds chamado Hell’s Mouth e outro em Newcastle chamado Heaven's
Gate. Nenhum dos clubes de Warner usava DJs ou música ao vivo, em vez
disso, as listas de reprodução eram transmitidas da sede comercial em
Isleworth. Gethin achava que bandas e DJs sempre fosse parte integrante da
cena do clube, mas obviamente não nos locais da Warner. Que vergonha.

Todos os clubes estavam nas planilhas de Charlton. Assim como os


outros negócios de Warner. Sites pornôs gays e heterossexuais, uma loja –
para adultos - on-line, vendendo tudo relacionado a sexo: roupas,
brinquedos, DVDs e toda uma gama de equipamentos, desde as cruzes de St
Andrew até grampos de mamilo. Warner também foi atribuído como diretor
de um punhado de filmes pornô gays censurados.

Nada disso significava que ele era um bandido, mas pelo que Angel
havia dito sobre ele, parecia ser uma boa combinação entre um proprietário
desagradável de boate e um contador igualmente desagradável. Gethin
estava preocupado em ter dois trabalhos com conexões para a mesma boate,
mas ele não conseguia ver como isso poderia ser uma armadilha.

A última coisa que ele gostaria de fazer era ir a um clube barulhento


para fazer perguntas sobre Dieter, mas voltar para sua cama tinha ainda
menos atração. Embora quando ele viu o que Angel queria que ele
colocasse, ele mudou de ideia.

— Isso não é uma roupa. Gethin olhou para as tiras de couro na mão
de Angel. — E você pode esquecer isso. Ele apontou para um jockstrap de
couro.

— Ótimo. Angel jogou o último para o lado, mas avançou em Gethin


com o resto. — Você precisa se misturar lá dentro.

— Eu posso ir com minhas roupas normais.

Angel bufou. — E falar com Warner, mostrar a foto do garoto e


perguntar se ele o viu?

— Este era o plano.

— Que tipo de PI faz isso? Angel parecia espantado. — Subterfúgio,


querido. Sabe o que a palavra significa? Você precisa perambular pelo clube
procurando por ele, e se o jovem estiver lá, tenha uma conversa discreta em
seu ouvido e leve-o para fora sem Warner ver, porque se Warner estiver de
olho nele, ele não o deixará apenas sair, mesmo que ele queira.
Gethin tinha a sensação de que havia algo que ele não estava
pegando aqui.

Henry passou o braço pelos ombros de Angel, abraçando-o. Sobre o


que eles estiveram conversando lá em cima?

— Realmente, Gethin, não se vista como você está agora, disse Angel.
— Você não vai conseguir entrar no clube e muito menos ter a chance de
conversar com alguém.

Esse era um bom ponto.

****

Gethin estacionou a algumas ruas de distância do No Escape. Ele


teve sorte de encontrar um local tão próximo o que tornava mais fácil deixar
o casaco no carro, para o caso dele ter que sair às pressas e não ter a chance
de recuperá-lo do vestiário. Mas ele estremeceu de frio enquanto caminhava
para o clube. Se tivesse sido mais longe, não havia como ele andar por aí
nessa maldita roupa, mas talvez ele devesse ser grato por essa não ser uma
noite de dança nu.

Bem, eu não teria vindo então, teria?

Ele já estava se arrependendo de deixar Angel convencê-lo a vestir


essa engenhoca de couro preto. Ele esperava que fosse mais fácil tirá-la do
coloca-la ou ele estaria batendo na porta de Angel e acordando o bastardo
em um par de horas.
Ele protestou quando Angel o envolveu nisso, mas aceitou que usar
algo para ajudá-lo a se misturar era uma boa ideia. Embora a maneira como
o couro cruzava o peito e as costas o lembrassem de um arnês de cachorro.
Quando ele pegou seu reflexo no espelho enquanto ele estava sendo vestido
nele, ele teve uma visão repentina de Kell transando com ele por trás,
agrarrado nas correias, e seu estômago deu um nó. Os olhares de boca
aberta de Angel e Henry quando ele finalmente estava pronto fizeram o
estômago de Gethin voltar a se enovelar. O casal não conseguiu tirá-lo da
casa com rapidez suficiente. E não era difícil adivinhar o por quê.

Quando ele viu que havia uma fila para entrar no clube, ele gemeu.
Felizmente ele não teve que esperar muito e no momento em que entrou,
seus arrepios diminuíram sob a explosão de calor. Ele pagou a taxa de
entrada, carimbou a mão, pagou mais para cobrir todos os extras, incluindo
a Passagem Traseira, e teve sua mão carimbada novamente. Se ele iria
procurar por Dieter, então ele deveria ter acesso a todos os lugares. Ele
esperava que uma visita fosse suficiente, mas mesmo se Dieter tivesse
chamado a atenção da Warner, não havia garantia de que ele estaria no
clube naquela noite. De repente, Gethin sentiu como se estivesse em uma
missão inútil.

Ele comprou uma cerveja cara de um dos bonitos barmen de peito


nu, que como todos usava um colar com pontas afiadas de metal, depois se
dirigiu para um canto escuro do clube onde ele podia ficar de costas para a
parede. Ele deixou seu olhar vagar sobre a pista de dança principal
enquanto bebia da garrafa, dizendo a si mesmo para fazer a bebida durar.
Os outros funcionários do clube usavam jeans pretos e camisetas pretas com
as palavras No Escape em letras brancas nas costas e na frente, como
uniforme. Eram principalmente caras musculosos e carrancudos, e ao
contrário dos que trabalhavam no bar que sorriam o tempo todo, estes
aparentavam gastar todo o seu tempo livre academia, criando abdominais e
peitorais perfeitos.

A noite do couro não parecia muito ruim, mesmo vestindo algo tão
desconfortável como este equipamento era, mas Gethin se perguntou se
Angel tinha cometido um erro ou havia enganado-o, porque havia muito
mais do que calças de couro, cintos cravejados e colares espetados em
exposição esta noite. Ele viu alguns caras nus - bem, nus com exceção das
gaiolas em seus pênis - sendo conduzidos ao redor do clube por correntes
presas à única outra coisa que usavam - barras de prata nos mamilos. Suas
costas estavam cobertas de vergões vermelhos. Perto de Gethin, um sujeito
ajoelhado aos pés de outro cara tinha o peito e os braços presos por uma
corda que estava intricadamente atada. Parecia apertado o suficiente para
ser doloroso, mas mesmo que não fosse, Gethin entraria em pânico se
estivesse amarrado assim, incapaz de mover os braços. Ele não lidava bem
com restrições, particularmente qualquer coisa sobre sua cabeça.

Gethin recusou três convites para dançar. Nenhum dos três caras
reconheceu Dieter. Esta não era a cena de Gethin e era difícil fingir que era.
Ele pegou o telefone, procurou no Google novamente e, desta vez, clicou no
cronograma de eventos. Ele cerrou os dentes quando viu que Angel tinha
mentido. Angel, seu maldito bastardo. Ele enviou-lhe um texto. Mal posso
esperar para lhe mostrar o quanto eu aprendi sobre BDSM. Vou trazer
meu novo chicote e demonstrar.

Havia uma verdadeira miscelânea de idades no clube e os caras mais


velhos nem sempre eram os dominantes. Ele viu um par de jovens
arrogantes liderando submissos de cinquenta anos de idade ao redor. Essa,
de alguma forma não parecia ser a noite em que ele encontraria o
adolescente. Não havia nenhuma pista em seu computador que indicasse
algum interesse em BDSM. Havia algum pornô gay no histórico, mas nada
além do eventual baunilha e nenhum download salvo. Ele mentalmente
gemeu com a ideia de ter que voltar mais vezes para se certificar de que o
garoto não estava aqui. Se Warner tivesse tomado um interesse nele, seria
mais fácil vigiar a casa do homem.

Gethin pensou sobre como ele era na adolescência. Desprovido de


amor e de cuidados fora facilmente seduzido pela atenção dos homens mais
velhos. Dieter era amado e cuidado, mas se ele queria apenas abrir suas
asas, lugares como este que atraíam uma mistura de culturas e um amplo
alcance social, caras jovens e velhos e aqueles no meio, era uma atração
quase irresistível. Gethin sempre esperou por um príncipe, mas todos eles
eram sapos. Quase todos aqui queriam a mesma coisa de uma forma ou de
outra. Um boquete, uma foda ou algo desajeitado no banheiro, pênis
esfregados juntos, beijos, alguns momentos de deleite mútuo. Gethin
duvidou que muita coisa houvesse mudado, a não ser que agora os locais
aparentavam ser menos sórdidos e ele era mais velho e mais sábio.

Um cara da idade dele com uma barba cheia entrou na frente de


Gethin. — Dança?

— Não.

— Foder?

— Não.

— Reconhece ele? Gethin levantou o telefone.


— Não. O cara seguiu em frente. A calma indiferença fazia parte do
tango, embora não para Gethin. Ele não podia ver o ponto em jogar duro
para obter alguém quando ele não tinha interesse em ser obtido, mas em
qualquer caso, ele estava aqui a trabalho, não para pegar alguém, apesar de
Angel tê-lo pressionado para aproveitar ao máximo a oportunidade. Gethin
se perguntou se ele poderia dizer a Jonnie sobre isso, de como ele se sentia
como uma galinha amarrada, se isso faria o cara rir ou iria aborrecê-lo.
Estava ficando cada vez mais difícil encontrar o equilíbrio certo quando o
visitava e agora o assunto de ajudá-lo a morrer havia levantado sua cabeça
feia e Gethin temia mais ainda voltar lá.

A combinação da música e do show de luzes estroboscópicas estava a


indo dar a Gethin uma dor de cabeça. A batida fazia as paredes e o chão
vibrarem, e círculos multicoloridos giravam e colidiam em todas as
superfícies e corpos. A pista de dança se erguia, dezenas de homens suados
se contorcendo, alguns com os lábios trancados, muitos com as mãos
segurando nádegas ou acariciando virilhas. Gethin vagamente pensou que
deveria tê-lo ativado, mas não o fez. Muitos dos brilhantes torsos
masculinos eram impressionantes, mas esses caras sabiam o quanto eram
bonitos e esse tipo de arrogância o deixava frio. Ele preferiu caras
construídos como... Kell.

— Nunca vi você aqui antes, alguém disse.

Gethin tomou um pequeno gole de sua cerveja e não respondeu ao


mais baixo - mais velho - cara na frente dele.

— Você parece quente. O homem disse.

Eu sou, mas não do jeito que você quer dizer.

— Posso comprar uma bebida para você?


— Não.

— Ele pegou o telefone e mostrou a foto de Dieter.

— Já o viu por aqui?

— Não. Você está procurando por um sub? Eu posso...-

— Não.

— É uma pena.

Gethin o observou se afastar. Baixo, encorpado, quase gordo, não o


tipo dele. Não que ele estivesse procurando. Mesmo que ele não fosse mais
ver Kell - e não iria, ele nem poderia mais agora que tinha excluído o
número dele - ele não tinha espaço em sua vida para outro cara. Ficaria
muito complicado, muito perturbador. Mas sexo casual não era tão fácil
quanto parecia, não para ele.

Você ainda tem o número dele em suas mensagens.

Eu não vou olhar para isso.

Apenas lembrando você.

Gethin rangeu os dentes. Eu não consigo nem me enganar.

Ele voltou sua atenção para os lados da sala onde grupos de homens
estavam reunidos, cabeças juntas, bocas abrindo e fechando enquanto eles
tentavam falar acima da música pesada pulsando dos alto-falantes. Em
alguns minutos, ele daria uma volta ao redor e veria se ele poderia
identificar Dieter.
— Quer dançar? Um jovem com o peito nu, mal legal com piercings
nos mamilos e um sorriso vacilante balançou na frente dele.

— Não. Gethin mostrou-lhe a foto de Dieter.

— Já viu ele?

— Por que se incomodar com ele? Você pode me foder.

— Você o viu?

— Posso ter. Quer que eu te chupe?

— Não.

— Idiota. Ele cambaleou.

Gethin deu outro gole em sua cerveja e percebeu que tinha bebido
tudo. Ele voltou para o bar e comprou outra que ele definitivamente não iria
beber. O mesmo barman serviu-lhe – deixou o que estava fazendo para
servi-lo.

Ele sorriu para Gethin. — Você fez isso durar.

— Eu estou dirigindo.

— Você parece bem nessas correias.

— Você parece bem nessa coleira.

O cara riu.

— Viu essa criança por aqui? Gethin levantou o telefone.

O olhar do barman girou rapidamente para a esquerda. — Sim.


Afaste isso. Não deixe Warner saber que você está procurando por ele.

O pulso de Gethin deu um salto. O cara virou-se para servir outra


pessoa.

Quando terminou, ele voltou para Gethin. — Se você estiver por perto
quando fechamos, quer tomar café da manhã?

— Talvez. Warner está aqui esta noite?

O cara suspirou. — De pé ao lado de uma mesa à esquerda. Terno


alinhado, cabelo escuro, gravata vermelha. E não diga a ele que eu te disse.

Gethin vagou até um ponto onde ele poderia observar a mesa sem
parecer óbvio e avistou Dieter. Essa era a boa notícia. O ruim era que o dono
do clube tinha uma mão possessiva no ombro do garoto e Dieter olhava para
Warner como se todos os seus aniversários e natais tivessem acontecido ao
mesmo tempo. A julgar pela roupa de grife e o robusto relógio no braço de
Dieter, talvez eles tivessem.

Warner estava segurando o ombro de Dieter com dedos afiados e


ossudos, rindo de algo que um dos caras com eles estava dizendo. Gethin
não achava que teria alguma chance de encontrar Dieter sozinho para poder
conversar com ele e muito menos persuadi-lo a deixar seu papai de açucar e
voltar para sua mãe ansiosa, mas ele tinha que tentar.

Ele examinou a pista de dança agitada, mantendo Dieter na periferia


de sua visão, esperando que o clube não fizesse jus ao seu nome. Por que
Warner o havia chamado de No Escape? Sem chance de fuga, uma vez que
você tivesse caído nas garras do cara? Ninguém escapa sem pagar uma
fortuna por bebidas? Sem saída se você fosse estúpido o suficiente para
tentar convencer uma criança a abandonar o dono do clube? Talvez o
máximo que Gethin conseguiria seria sussurrar para Dieter ligar para sua
mãe e deixá-la saber que ele ainda estava vivo. Melhor do que nada.

Observando Warner com Dieter, Gethin achou cada vez mais difícil
imaginar um cenário onde ele conseguiria afastar o garoto e levá-lo para a
casa da família, onde Dieter começaria a chorar e admitiria o idiota que ele
fora. A menos que Dieter quisesse sair, havia muito pouco que Gethin
pudesse fazer, exceto confirmar que ele ainda estava respirando.

— Não, Gethin disse antes do cara que tinha deslizado na frente dele
ter aberto a boca.

O cara o olhou e caiu fora.

Bem, havia algo que Gethin poderia fazer. Dieter tinha apenas
dezessete anos. Com idade suficiente para sair de casa, mas jovem demais
para estar em um clube noturno e jovem demais para beber, embora Gethin
não o tivesse visto beber nada. A polícia removeria Dieter das instalações,
mas seria ineficaz em impedi-lo de voltar, especialmente se Warner o
quisesse. Infelizmente, Dieter não era jovem demais para ir para a cama
com o dono do clube.

Quando Warner deu um tapinha nas costas de Dieter e Dieter se


afastou, Gethin se endireitou, imaginando se essa era sua chance dele pegá-
lo sozinho. Mas Dieter dirigiu-se ao centro da pista de dança e subiu em um
pequeno palco com um poste. Um rugido subiu pela multidão quando ele
tirou os sapatos, depois o jeans e a camiseta para ficar apenas com o relógio
e um apertado shorts prateado, o pênis semi duro claramente delineado por
baixo do tecido. Ele segurou o poste e lentamente se virou enquanto
esperava a música mudar. Warner seguiu Dieter até o palco, seu olhar fixo
nele. Todos pararam para assistir, e Gethin rapidamente entendeu o porquê.
Dieter era talentoso. Com a pele pálida, lisa e brilhante e um sorriso
tímido no rosto, ele se enrolou no bastão como uma cobra, curvando,
arqueando e torcendo seu corpo. Ele se pendurou de cabeça para baixo,
seguro no lugar por apenas uma perna, depois apoiou seu peso usando uma
mão. Ele se inclinou tanto que parecia que ia quebrar em dois. Gethin se
perguntou se ele já teria sido tão flexível. Esse garoto era feito de borracha.
A mudança de uma posição para outra, de um movimento para outro, foi
perfeita, em perfeita sintonia com a música. Sexy, gracioso e lindo.

Gethin teve que lembrar-se que Dieter tinha apenas dezessete anos e
isso não era apropriado. Tê-lo dançando assim era como jogar um cachorro
em um mar de tubarões. Gethin quase podia sentir a testosterona enchendo
o ar. A mãe de Dieter tinha lhe mostrado orgulhosamente as medalhas que
ele havia ganhado com a ginástica. Ela não ficaria impressionada ao vê-lo se
contorcendo, rolando e empurrando seus quadris, simulando sexo,
arrastando as mãos por seu corpo, provocando com cada respiração, cada
movimento. Esse garoto não tem falta de confiança. Gethin raramente se
afastava da parede com a idade dele. Não muito diferente de sua posição
atual.

Dieter terminou seu número se esgueirando para os braços de


Warner e o cara riu, mas quando Dieter tentou alcançar a bebida de Warner,
provavelmente scotch, o cara afastou-a e o empurrou. Gethin os perdeu de
vista quando a pista de dança se encheu de homens que se agitavam e
batiam ao ritmo da música. Ele tomou um gole da cerveja que estava
amamentando e quase cuspiu o líquido quente de volta na garrafa. Planejar
uma chance de falar com Dieter sem ter seu rosto chutado por um dos
homens da Warner seria complicado, mas primeiro ele precisava encontrá-
lo novamente. Deixando a segurança do canto, ele se esgueirou pela sala.
Quando ele avistou Dieter novamente, ele desejou que não tivesse.

O dono do clube tinha seus rapazes posicionados em torno dele, mas


não era suficiente para disfarçar o que estava acontecendo. Dieter de
joelhos, o pênis de Warner na boca, a mão de Warner atrás da cabeça,
empurrando na boca de Dieter com força. Eles poderiam estar parcialmente
obscurecidos por um pilar, mas era arriscado. Embora quem iria denunciá-
los? Gethin sugou suas bochechas quando a cabeça de Warner tombou para
trás, seus dentes arreganhados em uma careta.

— Oi, lindo, alguém disse no ouvido de Gethin.

Oh foda-se, de novo não.

Um cara alto e negro vestindo praticamente nada cutucou o quadril


de Gethin com o dele e agitou os cílios postiços. — Dança Comigo?

— Não, disse Gethin.

— Quer foder?

— Não.

— Por que não?

— Você não faz meu tipo.

— É porque sou negro?

Gethin olhou para ele, mas o cara estava sorrindo.

— Hey, essa linha às vezes funciona. Eu sou bom. O que você me diz?
— Não.

O cara fez uma careta e carimbou. — Por que não?

— Eu não estou de bom humor, disse Gethin.

Ele olhou e se afastou.

Quando Gethin procurou por Dieter, ele tinha vestido suas roupas e
se mudou para um estande com Warner, dois caras sentados em frente. O
bíceps de um era maior que a cintura de Dieter. Gethin se perguntou se ele
era o guarda costas do outro cara que usava um terno alinhado e tinha um
olhar da Europa Oriental sobre ele. Não era difícil imaginar o tipo de
negócio que eles discutiam. Nada legal.

Se esta fosse a noite de sorte de Gethin, Dieter iria em algum


momento precisar do banheiro e ele poderia seguir. Se não houvesse chance
de falar com ele, então ele contaria à mãe onde ele estava e talvez se
oferecesse para vir com ela.
Quando Marek empurrou Kell contra a parede do escritório de
Warner, sua cabeça colidiu com o batente da porta e Kell arquejou com a
mordida da dor.

— O que eu fiz agora? Perguntou Kell.

A raiva de Marek o preocupou. Embora Marek de bom humor


também o preocupasse.

— Nada. Você não é causa. Você é a cura.

Ser a cura deveria ser menos doloroso do que ser a causa, mas Kell
ainda tremia. Marek o agarrou em volta da nuca, pressionando os dedos na
carne macia e ao mesmo tempo enfiou suas pernas entre as de Kell,
forçando-o para trás para que ele ficasse imobilizado. A pressão contra as
bolas de Kell chegou ao ponto da dor quando Marek apertou sua coxa contra
elas.

Lutando para se libertar foi um erro. Marek pressionou mais


fortemente sobre ele com seu peso até que Kell pensou que suas costelas
quebrariam sob a tensão.

— O que há de errado? Kell atirou as palavras na esperança de que


Marek pudesse deixar alguma coisa escapar. —Algo fácil se transformou em
algo difícil.

— Posso ajudar?

— Sim. Chupe meu pau. Marek rosnou.

Kell sabia para onde isso estava vindo. Porque quanto mais cedo ele
cooperasse, mais rápido terminaria, ele não fez nenhum protesto quando foi
empurrado de joelhos. O som de Marek abrindo as calças provocou arrepios
em sua espinha, mas ele fez o que Marek queria, puxou o pênis do cara e
começou a chupar. Kell desligou o melhor que pôde. Este não era ele. Este
era o seu trabalho - mais ou menos. Assim como qualquer trabalho horrível
que as pessoas tivessem que fazer. Desentupindo banheiros, andando por
esgotos, testando comida de gato. Mais algumas semanas e pronto. Se não.
Eu mesmo vou acabar com isso.

— Olhe para mim, disse Marek.

Marek olhou para baixo enquanto Kell olhava para cima. Pelo menos
enquanto Kell tinha o pênis do cara na boca, ele não precisava dizer nada,
chamar Marek de senhor ou expressar gratidão por ter sido usado.

Não demorou muito para Marek gozar, mas Kell não tinha ideia se
era o que o cara queria ou não.

— Eu gosto de ver você lutando para engolir, disse Marek.

Kell teria gostado de ver Marek lutando também, com aquele grande
pênis preto batendo em sua boca. Depois que Kell o lambeu limpo, enfiou o
pênis em sua cueca, fechou o zíper e se levantou.
— Melhor agora? Kell se arriscou a dizer. — Ou você precisa de uma
aspirina?

Sua resposta foi um bufo.

— Você ainda parece zangado, disse Kell. — Posso ajudar? Me dê


algo. Diga-me algo para fazer o que eu fiz valer a pena.

— Pessoas estúpidas me deixam com raiva.

— Eu te disse que eu tenho um diploma?

Os lábios de Marek se contraíram.

— Astrologia. Fui direto para o material duro. Eu aposto que você é


de virgem. Marek riu e Kell deu um suspiro de alívio por ele ter entendido a
piada.

— Mais alguma coisa que eu possa fazer? Perguntou Kell. Talvez um


dia algo útil pudesse escorregar da boca desse cara. — Massagem nos
ombros? Esfregar suas costas? Fazer o seu horóscopo? Ameaçar cortar as
nozes de alguém? Espero que não seja isso.

— O que eu te disse sobre ser gentil?

Kell encolheu os ombros. — Você não teve uma das minhas


massagens.

Marek enfiou os dedos no cabelo de Kell. — Sua boca inteligente te


condena e depois te salva. É melhor você se certificar de que continue
salvando você. Ele puxou o cabelo de Kell e Kell gritou.
— Substitua Josef, depois Alec enquanto eles descansam.

****

Quando Kell voltou para dentro, ele estava meio congelado. Ele se
inclinou contra o longo e curvado bar e olhou para a pista de dança,
mantendo os olhos abertos para problemas e rostos que pudessem
reconhecê-lo. Ele deixou seu olhar passar pelos dançarinos e se acomodou
no estande onde Warner, o babaca conivente e doente, estava sentado com o
braço em volta do último brinquedo, brincando com o cabelo esvoaçante do
rapaz, ocasionalmente puxando com força suficiente para fazer o
adolescente estremecer. Kell suspirou.

Ele checou para ver onde Marek estava antes de deixar seu olhar
retornar ao estande. Dois homens se encontravam sentados em frente à
Warner e Kell conseguiu tirar uma foto deles. Ele mandou direto para seu
chefe e apagou-o do telefone. Quando Kell olhou para o estande, Dieter
olhou para cima como se sentisse sua atenção, e Kell se virou para o outro
lado. Ignore-me, garoto, ou você nos colocará a ambos na merda.

— Oi, disse um cara ao lado de Kell. —Posso comprar uma bebida


para você?

— Dá o fora.

— Bem, foda-se, o homem estalou e saiu em disparada.


Não, obrigado.

— Você não está sendo legal. A voz e o hálito quente em seu ouvido
fizeram cada nervo no corpo de Kell formigar, o ar ficou subitamente
elétrico com o medo de ter sido descoberto, a ameaça de violência. Porra!
Marek tinha visto ele tirar a foto?

— Eu não sou legal. Kell se virou para ele.

Marek olhou para ele sem expressão em seu rosto. — Warner está te
pagando para ser legal.

— Warner está me pagando para garantir que todos sigam as regras,


não para ser legal.

— Você deveria ter mais respeito pelos clientes.

— Eu não sou pago para dançar com eles. Eu não gosto de dançar.
Mas para você eu faria uma exceção. Dança? Kell estendeu a mão.

A bochecha de Marek se contraiu. — Cuidado, boca inteligente.

Ele se afastou.

Eu sou um idiota. Irritar Marek nunca terminaria bem. O cara não


estava com ciúmes, estava? Kell estremeceu. Ele esperava que não fosse o
caso. Ele se virou de volta para o salão e começou a escanear, deixando sua
atenção fugazmente se estabelecer em cada cara, fazendo um julgamento
rápido antes de verificar o próximo. Mas ao contrário dos outros aqui que
pareciam estar fazendo a mesma coisa, Kell não tinha o mesmo objetivo. Ele
não estava procurando por um possível parceiro, ou seu único e verdadeiro
amor – até parece – mas sim por rostos que ele conhecesse, tanto os vilões
conhecidos quanto caras que poderiam dizer a coisa errada e causar
problemas para ele ou para a Warner por razões totalmente diferentes.

— Gostaria de dançar? Alguém deslizou a mão por sua coxa e


apertou. Kell agarrou o pulso esguio.

— Não.

Kell se virou para encarar Tula, o queniano, que, como de costume,


estava vestido com um pedaço de material colorido brilhante, preso em
torno de seus quadris e mostrando o contorno claro de seu enorme pênis.
Legalmente no país e agora trabalhando para Warner. Mas ele tinha
acabado de tomar algo ilegal considerando suas pupilas dilatadas. Fisgado
em mais de uma maneira.

— Estou trabalhando, disse Kell.

— Eu nunca vi você dançar. Tula fez beicinho.

— Então você sabe que não adianta me perguntar. Foi sugestão de


Marek?

O cara bufou e se soltou. Era parte do trabalho de Tula fazer os


clientes dançarem e comprar bebidas, usar os quartos dos fundos, o terraço,
a sala de vídeo e o calabouço, tudo para persuadi-los a gastar mais dinheiro.
Não era tecnicamente parte do trabalho de Kell, mas ainda era esperado isso
dele. Kell passou o olhar pela pista de dança, garantindo que Warner, Dieter
e os dois homens permanecessem em sua visão periférica.

Uma criança tão jovem quanto Dieter não deveria estar aqui, muito
menos ser o brinquedo de um bastardo como Warner. Kell sabia que ele já
mostrara seu interesse pelo adolescente e que ele estava fora dos limites
para todos, mas ele não ficaria sempre assim se Warner fosse fiel ao seus
costumes, de acordo com o que um dos barmen lhe dissera. Uma vez
cansado dos brinquedos, Warner os passava para outros. Kell teria gostado
de tirar o garoto de lá, mas ele não podia - ainda não.

Kell deu uma cuidadosa passada de olho pelo salão. Quando ele se
virou para olhar para a cabine, ele congelou em choque. O que diabos Gethin
estava fazendo no clube? Ele me seguiu? O que diabos ele estava vestindo?
Cristo. Calças justas pretas apertadas e um arreio de peito de couro preto, as
tiras de couro emoldurando seus peitorais e ombros.

Por um longo momento, Kell esqueceu a batida pesada ecoando em


seus tímpanos, esqueceu por que ele estava aqui, esqueceu tudo porque sua
cabeça estava cheia de um desejo de arrastar o cara para o beco na parte de
trás do clube, segurar as correias de couro e transar com ele através da
parede. Jesus. Controle-se. Ele esmagou o brilho da luxúria, imaginando o
que ele deveria fazer. Talvez fingir não conhecê-lo, não se preocupar com a
presença dele? Então ele registrou que Gethin estava olhando para o estande
que ele estava assistindo. Olhando para Dieter e Warner. Ah Merda. Que
diabos estava acontecendo?

Kell não sabia que Gethin ia causar um problema, mas ele sentiu.
Enquanto Dieter se levantava, Gethin avançou e Kell atravessou o meio da
pista de dança, derrubando os homens para interceptar Gethin antes de ele
chegar ao estande. Kell registrou que Warner tinha puxado um Dieter de
mau humor para o banco e tardiamente ocorreu a ele que Gethin poderia
simplesmente estar indo para a Passagem de Trás, mas Kell não podia correr
o risco.
— Precisa de ajuda? Kell perguntou.

Gethin virou-se para encará-lo, olhou-o de alto a baixo e disse.

— Não.

— Totalmente chocado por ter sido avaliado e considerado deficiente,


Kell hesitou por tempo suficiente para que Gethin passasse pelo estande e
continuasse em direção aos quartos nos fundos. Kell observou-o ir embora.
Gethin estava chateado. Ele não podia culpá-lo. Não que Kell tivesse dito
onde ele era um guarda de segurança, mas ainda assim. As tiras de couro
que cruzavam as costas de Gethin pareciam uma teia de aranha e o pênis de
Kell ficou totalmente duro atrás do zíper. Foda-se.

— Tudo bem? Marek se materializou ao lado de Kell.

Merda. Ao atravessar a pista de dança daquele jeito, empurrando os


caras para fora do caminho havia ligado algumas antenas. Marek era como
um tubarão sentindo o cheiro de sangue na água - e provavelmente do
sangue no pau de Kell - a quilômetros de distância.

— Sim, disse Kell.

— Ele é um problema? Perguntou Marek.

— Nah. Kell virou o rosto, escondendo sua ereção e colou um sorriso


no rosto. — Só quero perguntar a ele onde ele comprou esse traje.

— Você achou que ele era um problema, disse Marek. — Eu também.


Investigue ele. Apenas no caso.
Amaldiçoando os olhos de Marek, Kell fez o que lhe foi dito. Ele viu
Gethin mostrando seu pulso para Huginn. Kell o seguiu e acenou com a
cabeça para o segurança que abriu a porta.

A Passagem Inferior estava alinhada em ambos os lados com quartos


que qualquer um poderia usar se pagassem mais e tivessem o carimbo para
provar isso. A maioria dos quartos tinha grandes janelas de visualização
para aqueles que preferiam assistir em vez de jogar. Um rápido olhar para os
homens amontoados ao redor das janelas e portas abertas não revelou
nenhum sinal de Gethin, e Kell ficou surpreso. A menos que ele já estivesse
em algum quarto jogando, tinha sido um pouco rápido para obter entrada
em uma sala. Mesmo nesse mundo sombrio havia cortesias a serem
observadas.

Grunhidos, gemidos e sons de chicotes estalavam sobre a música


abafada enquanto Kell começava a andar pelo chão de concreto polido do
corredor de azulejos escuros e mal iluminado. Ele ficou tenso com um grito
estridente de dor. Era impossível dizer se alguém estava realmente em
apuros. Ele só tinha que aceitar que os caras viessem a esses quartos por
escolha. E na noite de BDSM, se eles gritassem, era porque eles queriam
obter o nececessário para isso.

Escadas na extremidade oposta eram protegidas por Muninn que era


tão largo e soturno quanto o ambiente, e tinha porcas e parafusos tatuados
em ambos os lados de seu pescoço extremamente grosso. Os caras não eram
realmente chamados de Huginn e Muninn. Aqueles eram os nomes dos
corvos de Odin, mas isso se encaixava muito bem na cabeça de Kell. Eles
eram os olhos e ouvidos da Warner. As escadas levavam a quartos que eram
alugados para festas particulares e em outro nível havia um terraço que dava
aos passageiros dos trens que passavam uma emoção ocasional. Kell havia
descoberto saídas alternativas, caso ele precisasse delas. Se este lugar
pegasse fogo, ele queria saber qual o melhor caminho a tomar.

Mas nenhum quarto tinha sido reservado no andar de cima hoje à


noite, então Gethin não poderia ter ido até lá, e o caminho para a masmorra
ficava do outro lado do clube. O que significava que ele tinha que estar
dentro de uma dessas salas, onde homens de todas as idades, formas e
tamanhos se entregavam a tudo que você poderia imaginar e muito
provavelmente você não poderia imaginar. O ar fedia a suor, sêmen e urina
juntamente com um odor doentio subjacente de algum purificador de ar que
os caras da limpeza haviam borrifado. Às vezes Kell podia sentir o cheiro
acobreado de sangue.

Seus olhos se ajustaram à luz fraca enquanto ele continuava descendo


o corredor, indo de um lado para o outro, abrindo caminho para frente
verificando cada sala, esperando até que pudesse ver o rosto de cada
participante antes de seguir em frente. Quando ele voltou para a porta e não
viu Gethin, ele ficou intrigado. Ele voltou para a pista de dança principal.

— Um cara trajando um arreio de couro saiu? Kell perguntou a


Huginn. Huginn sacudiu a cabeça, embora isso não significasse que ele
estivesse dizendo a verdade. Kell voltou para dentro e deu uma olhada em
cada lugar na segunda passagem, mas não viu Gethin. Do outro lado da
porta, Warner tinha saído do estande onde estivera e agora estava no bar
com Tula pendurado no braço. Dieter e os outros dois caras tinham ido
embora. Teria Warner dado Dieter aos dois homens para jogar? E onde
diabos estava Gethin?
Que diabos Kell estava fazendo aqui? Mesmo enquanto Gethin estava
caminhando para longe, ele sabia que ele estava sendo irracional. Por que
Kell não deveria estar aqui? Não era exatamente o trabalho de segurança
que Gethin tinha imaginado, mas e daí? Além disso, não eram nada um para
o outro além de uma conveniência, e nem isso mais porque eles haviam se
visto pela última vez essa tarde. Não que Kell soubesse.

Ver Kell o balançara, e Gethin tinha sido rude, mas o que foi feito foi
feito. Ele não queria falar com Kell. Ele não queria arriscar perder a chance
de conversar com Dieter. Suspeitando que Kell o seguiria para os quartos
dos fundos, Gethin deslizou para trás da porta. Quando Kell se moveu para
dentro, Gethin saiu novamente escondido atrás de um grupo que entrava
antes que a porta se fechasse novamente.

Ele comprou outra cerveja e encontrou um lugar para ficar com uma
visão razoável da pista de dança. O que ele deveria dizer se Kell se
aproximasse dele novamente? Foda-se, estou trabalhando? Ele deveria ser
um planejador de festas. Foda-se, estou procurando um gancho? Talvez ele
devesse apenas dizer que não queria mais vê-lo. Talvez Kell já tivesse
recebido essa mensagem pelo fora que Gethin tinha lhe dado um pouco
antes e não houvesse necessidade de dizer nada.

Quando Dieter encostou-se à parede ao lado de Gethin, com o rosto


brilhando sob um fino brilho de transpiração, Gethin apenas conseguiu
abafar o suspiro de espanto. De perto, o adolescente era ainda mais bonito,
seus olhos castanhos suaves salpicados de ouro e emoldurados por cílios
cobertos de rímel, seu sorriso genuíno porque ele ainda não tinha sido
contaminado pela companhia que mantinha. Mas isso seria apenas uma
questão de tempo.

— Não o vi aqui antes. Dieter olhou para o peito de Gethin. —Arreio


legal.

— Obrigado.

— Você já esteve aqui antes?

— Não, disse Gethin.

— Por que esta noite?

Ele parecia genuinamente curioso e Gethin encolheu os ombros. — O


clube do livro cancelou a reunião.

No riso de Dieter, Gethin teve um vislumbre do adolescente que ele


realmente era.

— Você gosta de ler então? Dieter perguntou.

— Eu tento. Não as palavras longas, obviamente.

O garoto riu de novo e se aproximou um pouco mais. Gethin saiu do


outro lado. A atenção de Dieter continuava se desviando para o bar onde
Warner estava com a mão na parte de trás do cara negro alto no mini
sarongue que se aproximara antes de Gethin.

— Um amigo seu? Gethin perguntou.

— Quem? Dieter se virou para encará-lo.


—Warner ou o garoto negro?

— Tula? Dieter zombou. — Não é meu amigo. Eu estou com Warner.


Só para você saber.

Gethin ouviu o tom defensivo em sua voz e se perguntou se ele estava


aborrecido por ver Warner tocando Tula. Dieter está flertando comigo para
tentar deixar Warner com ciúmes? Cristo, isso não era uma boa ideia para
nenhum de nós.

— Eu vi você dançando, disse Gethin. — Você é muito bom.

— Eu fiz quase duzentas libras.

— Você consegue manter tudo?

— Sim. Ele franziu a testa.

— Eu não deveria?

— Às vezes os donos de clubes tomam uma porcentagem.

— Oh.

— Você parece um ginasta. Gethin resistiu ao impulso de apressar


isso. Se ele dissesse a coisa errada, Dieter poderia se esconder novamente no
que ele ainda não reconhecia como sendo uma prisão.

— Eu sou. Dieter se aproximou e Gethin se afastou novamente.

— Perto o suficiente, disse Gethin. — Eu não quero que ninguém


tenha a idéia errada. Ele viu Dieter olhar de novo para a Warner e um olhar
passou entre eles.

Ah, não o que eu estava pensando. — Warner pediu para você flertar
comigo? Gethin perguntou.

— Eu devo encorajar os caras a pagar pelos outros quartos.

— Eu já fiz isso. Gethin mostrou-lhe os selos.

— Oh. Bem, você quer ir para outro lugar? O terraço? A sala de vídeo?
Compre outra bebida e eu mostrarei a você.

— Não, obrigado.

— Você precisa... de mais alguma coisa?

Gethin assumiu que ele estava querendo dizer drogas. — Não, e você?

Dieter lançou-lhe um olhar surpreso e naquele momento parecia tão


jovem que Gethin queria jogá-lo por cima do ombro e correr. Ele não iria
longe.

— Não, eu não uso drogas.

Dieter fez um movimento para sair e Gethin puxou sua mão.

— Você quer manter minha companhia? Dieter hesitou. — Você


precisa comprar algo.

— Você?

Mesmo na penumbra, ele viu a cor sumir totalmente do rosto de


Dieter.

— Eu pensei que você estava com Warner, disse Gethin.


—Eu estou, mas eu faço o que ele me manda fazer.

Gethin olhou para o bar e viu Warner acariciando o cara negro sob a
cobertura do material em torno de seus quadris enquanto ao mesmo tempo
conduzia uma conversa com um cara careca ao lado dele. Dieter virou-se de
costas para o quadro.

— O que você está fazendo em um lugar como este? Gethin


perguntou. —Você dificilmente parece ter idade suficiente para ter deixado a
escola.

— Sou velho o suficiente.

— Você está realmente se oferecendo para mim? Foi isso que Warner
lhe disse para fazer?

— Eu preciso ganhar meu sustento, Dieter disse calmamente. — Eu


escolhi você. Essa primeira vez, ele me deixou escolher. Qualquer um aqui,
ele disse, e eu escolhi você.

Oh Jesus Cristo — É isso que voce quer?

Dieter olhou nos olhos dele. — Você pode foder-me. Eu gostaria que
você me fodesse.

— Você sabe o que eu prefiro fazer?

— O quê? Houve um olhar desconfiado no rosto de Dieter.

— Levá-lo para sua mãe, para seu amigo Sam. Eles sentem sua falta.
Gethin não tinha a intenção de chocar Dieter ao ponto de derrubá-lo,
mas o adolescente teria feito se Gethin não o tivesse segurado pelo braço. No
momento em que ele viu que Dieter não iria desmaiar ou fugir, ele o soltou.

— Eu não estou aqui para fazer você voltar, disse Gethin


rapidamente.

— Sua mãe me contratou para procurar você, mas você tem idade
suficiente para decidir por si mesmo se prefere ser pago para fingir que
transa com um poste, foder com quem não gosta ou deixar um cara enfiar a
mão em sua bunda só porque Warner te diz para fazer isso. Espero que você
prefira dar uma nova chance a sua vida anterior. Mas se você não quer ir
para casa, eu posso encontrar um lugar para você ficar em algum lugar
seguro. Você pode voltar para a escola, conseguir seus níveis A, talvez vá
para a faculdade, uma escola de dança, se quiser, arranjar um bom emprego.

Gethin esperava mais resistência. Raiva talvez. Ou negar que ele


precisava de ajuda. No entanto ele começou a chorar. Porra.

— Ele vai me machucar, Dieter sussurrou.

— Eu não vou deixar. Pare de chorar ou alguém virá para ver o que eu
fiz para perturbar você.
— Teve outro menino que tentou sair. Tula disse que eles não
deixaram. Eles... –

— Cale a boca. Agora não. Sorria para mim. Fora da vista de qualquer
pessoa, Gethin pressionou a chave sobressalente do carro na mão de Dieter.
— Coloque isso no seu bolso. Meu carro não está longe. Vá para a esquerda
quando sair daqui, então pegue a primeira rua à direita, depois vire à
esquerda na primeira esquina. Vinte metros. Um Peugeot preto. Pressione a
tecla e as luzes piscarão. Deite-se no banco de trás sob o cobertor. Tranque a
porta. Eu não posso sair daqui imediatamente, caso eles nos conectem. Você
precisa ficar no carro. Não importa quanto tempo. Ok?

Dieter respirou fundo. — Minhas coisas.

— Esqueça isso. Você tem que ter cuidado em como você vai sair.
Warner vai estar te vigiando. Vou causar uma distração.

— Você… viu minha mãe?

— Sim.

— Ela... –

— Podemos conversar mais tarde. Você precisa se afastar de mim


agora e agir como se estivesse chateado. Tente ficar perto da entrada, espere
até que as coisas explodam e, quando tiver certeza de que não está sendo
vigiado, saia daqui. Dieter afastou-se de Gethin, depois se virou e deu-lhe o
dedo. Mas quando ele voltou direto para a Warner, a adrenalina subiu até
que Gethin registrou que Dieter estava respondendo ao gesto de sinalização
do cara. Gethin ficou preocupado que Dieter poderia dizer a coisa errada. A
distração tinha que acontecer mais cedo ou mais tarde. Ele caminhou até a
parte de trás do clube até a Passagem Traseira e mostrou o carimbo da mão.
Ele tinha visto uma caixa de alarme de incêndio vermelho na parede do
outro lado da porta perto da primeira janela de visualização.

Ele se juntou ao grupo olhando para um cara jovem amarrado em um


balanço de corda que estava sendo fodido na boca e no traseiro por dois
caras, peludos e grandes. Gethin deu uma olhada na caixa. Pressione no
centro, o vidro quebraria e o alarme soaria. Ele simplesmente não queria ser
visto fazendo isso. Então ele começou a empurrar como se estivesse
tentando chegar à frente, deliberadamente acotovelando um par de homens.
Como ele esperava, ele foi empurrado para trás. As pessoas começaram a se
mexer desordenadamente, com vozes alteradas e punhos começaram a
balançar. Gethin foi capaz de dar um soco no alarme com sua garrafa e não
estar em nenhum lugar próximo a ele momentos depois.

O barulho era tão alto e insuportável que por um momento todos


pareceram congelar, então houve uma corrida louca em direção ao salão
principal. Aqueles mais abaixo no corredor impulsionaram Gethin e os
homens ao redor dele para a pista de dança. Houve um monte de balbúrdia e
gritos enquanto todos se empurravam para chegar à saída. Quando ele viu
Dieter tentando se afastar da Warner mas não tendo sucesso, Gethin deixou
cair os ombros e abriu caminho através da multidão.

Ele não tinha muito de um plano e dependia de ainda haver pessoas


se aproximando de Warner. Quando ele estava perto do bar, Gethin
cambaleou como se tivesse sido empurrado, atirou-se nas pernas de Warner
e o derrubou.

— Merda, eu sinto muito, Gethin engasgou. Ele se debateu como se


estivesse tentando se levantar e ajudar Warner enquanto ele estava
realmente mantendo-o para baixo, enquanto ele podia.

— Saia de cima de mim, caralho, Warner retrucou.

Gethin foi puxado para seus pés e empurrado para fora do caminho
por um cara musculoso de cabelos escuros. Um rápido olhar ao redor não
mostrou nenhum sinal de Dieter.

— Me desculpe, disse Gethin. — Alguém me empurrou.

— Saia daqui, Warner gritou. Gethin se juntou ao êxodo do clube,


esperando que Dieter estivesse bem a caminho do carro. Ele ouviu sirenes
quando pisou na calçada. Warner já deveria saber que não havia fogo e
quando ele não conseguisse encontrar Dieter ele poderia colocar dois e dois
juntos. Gethin pensou em ficar por perto, caso Dieter não tivesse conseguido
sair, mas ele havia pressionado sua sorte o suficiente.

Ele desceu a rua, passando por filas de carros cujas janelas


refratavam as cores da noite em uma faixa cintilante de vermelho, azul e
amarelo. Os cabelos em sua nuca se arrepiaram e ele olhou para trás para
ver Kell olhando para ele. Merda. Tão desesperado quanto ele estava para
sair do frio, Gethin não chegou perto do seu veículo até que ele teve certeza
de que não havia ninguém em sua cola. Ele deu um suspiro silencioso de
alívio quando viu o calombo no banco de trás. Uma vez que ele teve certeza
de que ninguém estava olhando, ele destrancou a porta.

A cabeça de Dieter apareceu quando Gethin entrou.

— Mantenha-se abaixado, retrucou Gethin.

— Okay. Para onde estamos indo?


Oh garoto, você poderia ter entrado no carro de um assassino. Você
confia muito facilmente. Quantos caras saem com uma chave de reserva?

—Warner lhe deu um telefone?

— Sim. Eu o tenho aqui. Ele acabou de me ligar. Eu não atendi.

— Desligue. Ele sabe onde você mora? Gethin puxou para fora.

— Eu nunca disse a ele.

— Você deu a ele seu nome completo? Mencionou em algum


momento qual escola você frequentava? Disse-lhe alguma coisa sobre sua
ginástica?

Dieter suspirou. —Sim.

— Então ele sabe onde você mora. Gethin pegou o telefone e jogou no
banco de trás.

— Ligue para sua mãe. Diga a ela que você está comigo e que ela
precisa sair de casa dentro de vinte minutos, arrumar um lugar par ficar e
permanecer longe por uma semana. Vamos nos encontrar com ela na
Toddington Services M123. Ela não deve contar a ninguém o que ela está
fazendo ou para onde está indo. Isso era quase um teste do quanto ela

23
A Toddington Services é uma estação de serviço de auto-estradas na rodovia
M1 entre as junções 11 e 12 perto de Dunstable em Bedfordshire, Inglaterra. Leva o nome da aldeia vizinha
de Toddington.
amava seu filho, porque Gethin sabia o quão louco isso soava.

Houve um gemido alto no banco de trás. — Você acha que ele


machucaria minha mãe?

— Se Warner quiser você de volta, ele pode ameaçar sua mãe para
persuadi-lo a ir com ele. É melhor não dar a ele essa oportunidade.

— Ele pode simplesmente me deixar ir.

— Da mesma forma como ele deixou o garoto de quem Tula falou? O


que aconteceu com ele? Dieter soltou um suspiro entrecortado.

— Ele teve seu rosto cortado.

— Então nós jogamos pelo lado seguro, ok?

— Ok. Gethin tinha levado em consideração o que Angel tinha dito a


ele, e o que ele não tinha. Ele viu a forma como Warner olhava para Dieter,
como um doce que ele gostava de comer. O que o preocupava era que Dieter
havia escolhido Gethin para ser seu primeiro cliente pagante. Warner tinha
visto Gethin rejeitá-lo, o que significava que ele seria lembrado por isso e
por ter derrubado Warner. Gethin suspeitava que o pedido a Dieter que
encontrasse um cara era um teste, que Warner não teria permitido que
ninguém tocasse no garoto ainda. Se Gethin tivesse tentado aceitar Dieter
sobre sua oferta, o cara grande que tinha olhado quando derrubara Warner
teria entrado em cena para convencer Gethin de que isso era um engano.

Dieter era valioso demais para poder ir embora. Talvez dizer a Zena
Hoehn que deixasse sua casa fosse uma reação exagerada, mas a experiência
lhe ensinara a jogar com uma margem de segurança. Assuma o pior. Mesmo
com uma janela de vinte minutos. Ele não conseguiria chegar a nenhum
lugar perto da casa de Dieter em menos de uma hora de carro, mas Warner
poderia conhecer alguém que morasse perto dali. Até vinte minutos poderia
ser um tempo muito longo. Inútil chamar a polícia quando nenhum delito
fora cometido.

— Você não acha que ele vai me deixar ir. A voz de Dieter foi baixa.

— É melhor ser cauteloso. Você e sua mãe podem ficar em outro lugar
enquanto eu descubro se Warner ainda está procurando por você.

Gethin saiu de Londres indo em direção à rodovia, ouvindo Dieter


falar com sua mãe. Houve muito choro e desculpas antes que Dieter se
despedisse.

— Ela vai fazer isso.

— Ótimo, disse Gethin. — Eu vou parar agora e você pode sentar aqui
na frente. Quando Dieter estava sentado ao lado dele, Gethin estendeu a
mão. — Telefones.

Gethin colocou o seu de volta no bolso. O de Dieter era o modelo mais


recente de iPhone. Gethin verificou que estava desligado, e colocou no
porta-luvas.

— Você sabe por que você não pode tê-lo? Gethin perguntou.

— Yeah. Eu poderia ser rastreado.

Uma vez que Dieter colocou seu cinto de segurança e Gethin colocou
uma camiseta por cima do arnês, ele voltou para o tráfego.

— Você está bem em ir para casa? Gethin perguntou.


Dieter torceu as mãos no colo e não disse nada.

Interessante que ele não queria responder. Gethin iria se certificar de


que ele o fizesse antes de chegarem à estação de serviço. Se Dieter lhe desse
alguma razão para se preocupar, ele estaria tendo um conversa com sua mãe
e poderia até mesmo levar o adolescente para o seu lugar pelo que restava da
noite.

— Como você sabia onde eu estava? Dieter perguntou.

— A mãe de Sam disse à sua mãe que encontrou um cartão do No


Escape no bolso de Sam. Sam disse que você tinha dançado lá. Sua mãe
achou que valia a pena tentar.

— Eu não posso acreditar que ela pagou para você procurar por mim.

Yeah, bem, ela não me pagou ainda. —Ela estava muito preocupada.
Ela quer que você termine a escola, passe nos exames, consiga um bom
emprego. O mesmo que todas as mães querem. — A maioria delas.

— Então é isso que você faz? Procura por pessoas desaparecidas?

— Entre outras coisas. Eu passo a maior parte do meu tempo


seguindo pessoas suspeitas de traição.

— E elas são?

— Geralmente, e se seus parceiros estão abusando delas, eu faço o


que posso para ajudar.

— Soa como trabalho social.


Gethin solrou uma risada curta. — Alguns deles são.

— Eu pensei que ser um detetive particular seria emocionante.

— Eu posso passar horas sentado no meu carro esperando que algo


aconteça, e mesmo que aconteça, raramente é emocionante.

— Você acionou o alarme e derrubou Warner. Isso foi brilhante.

— Meu coração ainda está acelerado.

— Nah. Você é legal. Então você gosta de rapazes ou estava fingindo?

— Eu estou em caras.

Houve uma pequena pausa antes de Dieter falar de novo.

— Não em mim?

— Você é jovem demais para mim. Além disso, Warner estava te


observando. Eu não acho que ele teria me deixado te levar a lugar nenhum.
Ou se ele tivesse, aquele cara grande com ele estava teria ficado bem atrás de
nós.

— Marek. Gethin ouviu o medo na voz de Dieter.

— O que Marek faz?

— Ele é o segundo em comando para Warner. Ele é da Albânia. Se


coisas ruins precisam ser feitas, Marek as faz. Eu o vi no banheiro coberto de
sangue.

— Ele tocou em você?


— Não. Kell é a coisa dele. Mesmo quando Gethin pensou - o que isso
importava? - ele sabia que sim. — Kell?

— Um dos guardas de segurança. Ele é legal. Eu me sinto mal por ele.

— Por quê? Gethin não pôde deixar de fazer a pergunta.

— Por causa de Marek. Marek me assusta. Eu acho que ele assusta


Kell também. Marek só tem que olhar para mim e eu sinto como se fosse me
mijar todo. Kell é gentil comigo. Ele é engraçado. Eu não entendo porque ele
e Marek têm uma coisa. Você acha que a Warner é velho demais para mim?

Gethin não tinha certeza se queria que o assunto mudasse ou não. —


Eu não acho que a idade importe se o amor estiver envolvido. Mas isso não é
amor. É só sexo. Warner gosta de rapazes. Você poderia conseguir algo
muito melhor que ele. Por que você fugiu de casa?

Gethin não tinha certeza se Dieter responderia. Ele estava começando


a ter certeza de que ele não o faria quando Dieter finalmente falou. — Um
dia eu estava sozinho em casa quando o namorado da minha mãe entrou.
Ele estava bêbado e tentou me fazer dar-lhe um boquete. Mamãe chegou em
casa bem a tempo, e ele disse que se eu contasse, ele diria que eu é que tinha
dado em cima dele. Eu ri. Mas quando eu disse a ela, ela não acreditou em
mim. Ela disse que se eu dissesse isso de novo, ela me mandaria para o meu
pai.

Merda. — Você acha que ela acredita agora?

— Ela disse que sim.


— Você não inventou isso porque não queria que ele tomasse o lugar
de seu pai, não é?

— Eu quero alguém para tomar o lugar do meu pai. Mamãe acabou de


me dizer que me ama, que eu nunca deveria ter duvidado que ela me ama
mais do que ninguém. Ela sente muito por não ter acreditado em mim.

— Esse cara ainda está por perto?

— Ela disse que ele saiu não muito tempo depois de mim.

— Por que você não levou seu telefone? Gethin perguntou.

— Por que eu teria me sentido tentado a usá-lo e sei que poderia ser
rastreado. Eu pensei que quando eu ganhasse o suficiente dançando no
clube eu compraria outro, mas Warner me deu um. Ele foi decente. Ele me
deu um lugar para morar, um apartamento com Tula, e ele me comprou
roupas e este relógio. Eu sei que ele não me ama, mas eu não me importo em
ter ele me fodendo.

Gethin estremeceu. — O sexo deveria ser mais do que não se


importar. Deve ser algo especial entre você e o outro cara. A menos que seu
nome fosse Gethin Jones.

— Eu suponho.

— Você me disse que não usava drogas. É a verdade?

— Marek me deu algumas pílulas uma vez quando eu estava nervoso


sobre dançar. Não é grande coisa.
— Sim, é. Não tome nada.

— Certo, pai.

Gethin olhou. —Não seja um espertinho. É fácil ficar viciado em


drogas. Tula já é.

— Passei a maior parte das noites com Warner.

Gethin apertou ainda mais o volante. — Só teria sido uma questão de


tempo antes de você estar viciado também.

— Eu não quero ser um viciado.

— Então, não comece a tomar nada.— E quanto ao álcool?

— Warner não me deixava tomar nem uma cerveja. Dieter parecia


desgostoso. Gethin quase riu. As drogas e o sexo estavam bem, mas não a
bebida.

****

Para alívio de Gethin, a mãe de Dieter estava sentada em seu carro no


estacionamento da estação de serviço. Ele parou ao lado dela e Dieter saltou
do carro. Ela saltou do dela e, enquanto se abraçavam, Gethin sentiu uma
breve satisfação por ter feito alguém feliz - por um tempo, pelo menos. Ele
saiu do carro e encostou-se à porta do motorista, tremendo de frio.
— Obrigada, ela disse para ele, ainda segurando firme o filho. — Eu
estava com medo de nunca mais vê-lo. Eu não posso acreditar que ele está
aqui.

— Onde está Tigga? Dieter olhou no carro de sua mãe.

— Eu não consegui encontrá-lo. Você sabe como ele é à noite.


Fazendo o circuito das fêmeas no bairro. Ele pode entrar através de sua
porta de gato. Eu deixei comida. Eu vou voltar e pegá-lo.

Gethin gemeu mentalmente.

— Você deveria tê-lo encontrado, disse Dieter, sua voz petulante.

— Hey, Gethin rebateu. — Sua mãe fez exatamente a coisa certa. Você
a acordou no meio da noite e ela fez o que você pediu e saiu de casa
rapidamente. Quantas mães você acha que seguiriam essas instruções?

— Eu quero meu gato, sussurrou Dieter.

Pelo amor de Deus. — Você deixou seu gato, Gethin disse.

Os ombros de Dietie caíram.

Gethin suspirou, reconciliado com a ideia de ter que ir buscar a


maldita coisa. — Como vou saber que é seu gato?

— Ele é gengibre, disse Dieter. — Com uma mancha branca no final


de sua cauda. Ele usa uma coleira com o nome e o código postal. Ele vem se
você chamar por ele. Há uma transportadora sob as escadas.

— Eu vou procurá-lo. Sente-se no carro da sua mãe enquanto eu


tenho uma palavra com ela.

Ela e Gethin sentaram-se no carro de Gethin.

— Muito obrigada. Eu não posso acreditar que você o encontrou.

— Ele disse a você por que ele fugiu? Ela assentiu com a cabeça. —Vic
foi embora. Ele durou menos de uma semana depois que Dieter
desapareceu. O bastardo. Eu deveria ter acreditado em Dieter. Mas ele já
havia reclamado sobre caras que eu namorei.

— Disse-lhe que eles o tocaram?

Ela balançou a cabeça. —Não, ele nunca disse isso até Vic. Eu me
sinto tão culpada. Ele disse que você o encontrou em um clube, mas o que
aconteceu? Por que nós tivemos que sair de casa?

— Warner, o cara que é dono do clube onde Dieter estava dançando, é


um homem duro. Eu posso estar fazendo mais disso do que preciso, mas
pelo que ouvi e vi, não acho que a Warner vá deixar Dieter sair. Isso faz com
que ele pareça fraco. Há um risco de que ele ou seus homens possam ir à sua
casa. Dieter não contou a Warner onde ele morava, mas contou o suficiente
para Warner descobrir.

— Mas ele não pode obrigar Dieter a ir com ele.

— E se ele ameaçasse te machucar se Dieter não voltasse atrás? Ou


ameaçasse contar mentiras sobre você ou Dieter? Que você bateu nele, que
fez ele foder você?

Ela respirou fundo. — Ele poderia destruir sua casa. Matar seu gato.
Eu não tenho ideia se ele faria algo disso ou nada, mas eu aprendi que é
sempre melhor assumir o pior cenário.

— Isso não é o prenúncio de uma vida feliz, imaginar mães fazendo


sexo com seus filhos. Ela olhou para ele e as bochechas de Gethin ficaram
vermelhas.

— O ponto que eu estava tentando provar era que Warner não vai se
importar com o que ele tem que fazer ou falar para conseguir o que quer.
Dieter sabe que outro adolescente que tentou sair o fez com uma cicatriz no
rosto. Ele está com medo. Eu não tive que dizer muito para convencê-lo a vir
comigo.

— Por quanto tempo temos que ficar longe da casa? Não posso viver
indefinidamente em um motel e tenho um emprego na cidade.

— Me dê uma semana para descobrir se Warner está procurando por


ele. Você pode tirar férias ou pedir uma licença? Talvez mandar Dieter para
o pai e você morar com um amigo por um tempo?

— Dieter e o pai não e dão bem. Vou ligar para o meu chefe, arrumar
alguma coisa. Isso nos deixará livres para fugir.

— Você não pode contar a ninguém onde você está. Nem Dieter
também.

— Tudo bem.

— Ninguém. Eu quero dizer isso. Nem mesmo a escola para dizer que
ele está voltando, ou algum de seus amigos. Se você trouxe o telefone dele,
não dê a ele. Desligue o seu quando não estiver usando.

Ela olhou para ele. — Devo ligar para a polícia?


— Warner não violou a lei de uma forma que lhe garantisse proteção
policial. Ainda não. Warner não… Dieter era um participante voluntário.

— Oh Deus.

— Dieter era jovem demais para estar no clube, mas Warner


provavelmente ganharia apenas um tapinha nas mãos, e irritá-lo não é o
jeito de fazê-lo deixar Dieter ir embora. Você tem meu número. Qualquer
problema, me ligue. Não vá para casa até que eu diga que é seguro. Faça o
check-in no motel desta estação de serviço e eu vou encontrar o gato e trazê-
lo aqui.

Gethin dirigiu de volta para Edgware, suspeitando que ele estava


sendo um pouco exagerado e sabendo que ele só havia se afundado mais
ainda um trabalho pelo qual ele não seria pago. Pensou em Kell, tentou
parar de pensar em Kell e falhou. Não havia nada que ele pudesse fazer. Kell
não mentiu. Ele estava trabalhando em segurança e pelo que Dieter havia
dito, não parecia que Marek fosse muito diferente da Warner. Mas por que
ele ficava ali? Por que trabalhar em um lugar assim? Havia algo sobre Kell
que ele não tinha visto? O que isso importava? Essa tinha sido a última vez
que ele o havia visto. Ele tinha coisas muito mais importantes para se
preocupar. Como resgatando um gato. Merda.
— Onde diabos ele está? Warner berrou as palavras, saliva voando de
sua boca.

Kell ficou com os outros empregados na frente de Warner e Marek. O


clube estava vazio de clientes. O fechamento antecipado significava perda de
receita, que sem dúvida aumentava a raiva de Warner. Ele mandou todos
eles para as ruas para procurar por Dieter, mas o garoto já tinha ido embora.

— Alguém deve ter visto alguma coisa. O pequeno merda fugiu ou


alguém o levou. O telefone dele está desligado. Warner andou de um lado
para o outro. — Aquele cara com quem ele estava conversando, aquele no
arnês, aquele que porra me derrubou... Ele disparou o alarme, então me
derrubou como uma distração.

Ele estava certo? — Isso pode ter sido um acidente, disse Kell, depois
se perguntou o que diabos ele estava fazendo. Gethin se afastou dele, Kell
não lhe devia nada. O cara nem tinha atendido o celular. Kell tentara três
vezes e, a cada vez enviava mensagens de voz e, em todas as ocasiões,
apagara o histórico de chamadas dele por via das dúvidas.

Marek ficou olhando para ele. — Você não dispara um alarme de


incêndio por acidente.
— Eu quis dizer que o empurrão no chefe foi um acidente. Estava o
caos aqui, todo mundo lutando para sair. Muitas pessoas foram derrubadas.
Eu incluído. Todos nós pensamos que havia um incêndio. Dieter correu
como todo mundo.

Marek veio até ele e colocou a boca contra o ouvido de Kell. — Esse
cara está te esperando na sua casa?

Oh foda. Kell derramou o máximo de indignação em sua voz que


conseguiu reunir. — Não. O único contato que tivemos foi quando lhe
perguntei onde ele havia comprado seu arnês.

Reuben estava checando as câmeras. Kell ficou aliviado por terem


confirmado o que ele disse.

— Você o seguiu, disse Marek.

— Você me mandou fazer isso. Eu entrei na Passagem Traseira e não


pude vê-lo. Da próxima vez que o vi, ele estava sozinho aqui, encostado na
parede, conversando com Dieter. Então Dieter voltou para o chefe.

Alec entrou no quarto e se aproximou de Warner.

— Alguma coisa? Perguntou Warner.

— A câmera na Passagem Traseira não está funcionando, disse Alec.

Warner cerrou os punhos. — Por que diabos não?

— Eu não sei. Vou ter que ligar para alguém verificar. A câmera no
exterior pegou Dieter depois que o alarme disparou. Ele estava no meio de
um grupo de caras, parte de um grupo que virou à esquerda, então a câmera
o perdeu.

— E o cara que me derrubou?

— Ele foi empurrado em sua direção pela multidão. Ele tropeçou e te


derrubou. Parecia um acidente. Ele foi um dos últimos a sair e virou à
direita.

Kell ficou aliviado por Gethin não ter sido pego fazendo algo que ele
não deveria ter. Talvez ele tivesse combinado com Dieter e tivesse tido o
bom senso de não fazer isso do lado de fora do clube. Mas isso não se sentou
confortavelmente no estômago de Kell.

— O garoto achou que havia fogo e correu. Tula também correu, disse
Marek.

— Mas eu voltei. Tula se aproximou da Warner e foi empurrado para


longe.

— Ele poderia estar tentando ir para sua casa? Marek perguntou a


Warner.

— É possível. Ele não tem uma chave, mas ele pode estar por perto.
Pegue Kell e verifique. Se ele não estiver lá, tente a casa da mãe.

Pelo amor de Deus. Deixe o garoto ir.

— Você tem um problema com isso? Warner entrou no espaço de


Kell.

Os pensamentos de Kell devem ter aparecido em seu rosto.


Descuidado. — Não. A única resposta que ele poderia dar. Teria sido essa a
única resposta que Gethin poderia dar quando Kell o confrontara no clube?
Como Gethin estava envolvido nisso?

****

Warner era dono de um lugar atraente em Holland Park, que deveria


custar milhões.

— Há luzes acesas, disse Kell.

— Warner deixa assim. Eu vou entrar e sair por trás. Você olha aqui e
ao redor.

Kell não ia perder a oportunidade de ver o interior. Ele esperou,


então seguiu Marek. O The Post ainda estava no chão. Kell pegou e verificou.
Nada de interesse óbvio. Marek estava fazendo barulho no andar de cima.
Kell entrou no cômodo à esquerda... Sala de jantar. Incomodava-o que
Warner tivesse bom gosto. Grande mesa de carvalho com uma peça central
de vidro. O cômodo à direita era uma sala de estar, sofás creme, tapete
creme e cortinas azuis. Uma pilha de livros sobre a mesinha de centro, o de
cima versando sobre a guerra medieval. Quando Kell saiu, Marek estava no
final da escada.

— O que você está fazendo? Marek perguntou.

— Pensei em ajudar você a olhar aqui.

Marek passou a mão ao redor da garganta de Kell e apertou enquanto


o empurrava para trásscontra a parede. — Quando eu digo a você para fazer
alguma coisa, você faz, entendeu?

— Desculpe, Kell sufocou.

Quando chegaram à casa dos Hoehns, eram quatro da manhã. Kell


realmente esperava que não houvesse ninguém em casa. Se Dieter chegara
até aqui, a ideia de ‘persuadi-lo’ a voltar com eles dava a Kell um grande
problema. Meses de trabalho pelo ralo, mas realmente, ele teria uma
escolha? Ele teria que ajudar Dieter. Ele sabia que o adolescente tinha
fugido de casa, sabia que sua mãe denunciara seu desaparecimento. Fora
uma decisão bastante difícil manter o conhecimento de onde ele estava para
ele mesmo. O chefe de Kell poderia ter problemas com isso.

Marek passou pela casa, uma pequena casa geminada em uma rua
tranquila. Não havia carro na entrada, embora isso não significasse que não
houvesse ninguém em casa.

— Toque a campainha. Marek parou. — Dê uma enrolada e descubra


se o garoto está lá ou esteve lá.

— E se não houver resposta?

— Dê a volta pelos fundos. Entre e deixe-me entrar pela frente.

— E quando ela ou um vizinho ligar para a polícia, porque tem


alguém tocando a campainha a esta hora da manhã, você vai embora e vai
me deixar aqui?

Marek sorriu. Não foi agradável. — Vá em frente e podemos ir para


casa e dormir um pouco.

Kell saiu do carro e subiu apressadamente o caminho até a porta da


frente, imaginando se ele poderia usar o seu telefone sem Marek ver.
Quando ele alcançou a campainha, ele deixou o dedo deslizar para o lado. Se
tivesse alguém em casa, ele realmente queria que viessem até a porta? Se ele
desse a volta pelos fundos, ele daria a chance de alertá-los e levá-los a
chamar a polícia. Ele fingiu apertar a campainha novamente, em seguida,
partiu em torno da parte de trás da casa apenas para tropeçar em uma
parada quando encontrou Gethin lutando com um gato ruivo chateado em
uma mala de transporte.

— Que porra é essa? Sussurrou Kell.

Gethin enfiou o gato dentro e prendeu a aba. O animal assobiou e se


contorceu, e o estojo sacudiu violentamente.

— Que diabos você está fazendo aqui? Kell sussurrou. — Dieter está
aqui? Ou a mãe dele?

— Não.

Merda. Kell não via nenhuma maneira de Gethin escapar, exceto pela
forma como Kell tinha vindo. Não havia tempo para uma discussão.

— Não chegue lá na frente até eu deixar Marek entrar na casa e


depois fuja - rápido. Kell entrou pela porta aberta da cozinha.

Seu coração estava trovejando em seu peito enquanto sua mente


corria tentando entender o que estava acontecendo. A única conclusão que
ele poderia tirar era que Gethin tinha ido ao clube especificamente para
procurar por Dieter, encontrá-lo, pegá-lo e vir aqui para pegar sua mãe e seu
gato, e se Gethin tivesse sido um pouco mais rápido, ou ele e Marek tivessem
sido um pouco mais devagar, Kell não saberia.
Enquanto ele caminhava através do corredor, a portinhola da caixa
de correio subiu.

— Depressa. Marek estalou.

Kell deu uma enrolada para abrir a porta tentando dar a Gethin tanto
tempo quanto poderia.

— Não verifiquei se há alguém no andar de cima, Kell sussurrou


enquanto fechava a porta.

— Faça isso agora, disse Marek. — Sem luzes.

Kell subiu as escadas de dois em dois degraus, entrou no quarto da


frente e foi direto para a janela. Gethin corria pela rua, jogou a
transportadora no banco de trás de um carro e foi embora. Kell suspirou e
olhou ao redor do quarto. O quarto de Dieter. Cama bem feita. Todos os
troféus da criança se enfileiraram em uma prateleira juntamente com seus
livros. O quarto parecia limpo, sem nenhuma perturbação aparente.
Nenhum sinal de que ele estivesse de volta. O segundo quarto era pouco
mais do que um espaço de armazenamento cheio de malas, caixas e enfeites
de Natal. O terceiro era o da mãe de Dieter. O edredom estava torto na
cama, as gavetas abertas e a porta do armário entreaberta. Kell considerou
os méritos de arrumar a cama e empurrar as gavetas de volta e estava
levantando a ponta do edredom quando Marek entrou. Kell notou que
estava usando luvas.

— O que diabos você está fazendo? Ela não está se escondendo aí


embaixo.

— Ver se ainda estava quente, disse Kell.


— Ah. Inteligente. Está?

— Não. Não parece que Dieter voltou para cá. O quarto dele está
muito arrumado.

— Warner vai ficar puto.

Kell olhou para o banheiro no corredor. Nenhuma escova de dentes


ou pasta. Ele seguiu Marek para o andar de baixo.

Marek abriu a geladeira e verificou o conteúdo. — Coisas frescas. Ela


esteve aqui até recentemente. Talvez até hoje à noite. Dieter deve ter
telefonado para ela.

— Ela pode ter ido passar a noite com um amigo.

— Ou Dieter pediu que sua mãe viesse buscá-lo. Eles podem estar de
volta a qualquer momento.

Kell esperava que a escova de dentes ausente indicasse que isso não ia
acontecer. — Parece que ela fez as malas. As gavetas estavam abertas no
quarto dela. Edredom fora da cama. Dieter pode ter pedido que ela o
encontrasse em algum lugar. Ou ela pode ser do tipo desleixada está com
uma amiga.

— Eles têm um gato. Merda fresca na caixa de areia. Ela estará de


volta.

— A menos que eles pedissem a um vizinho para alimentá-lo.

— Você é um maldito engraçadinho. — Marek olhou para ele, então


suspirou. — É melhor dar ao chefe as más notícias. — Ele pegou o telefone.
— Ninguém aqui, disse ele em seu telefone. — Ela pode ter corrido. Gavetas
estão abertas no quarto dela. O quarto do garoto está arrumado, o dela não...
Sim... Ok... Mas não a essa hora da manhã. Nós batemos nas portas dos
vizinhos e eles vão chamar os policiais... Ok. Nós podemos fazer isso. Você
poderia tentar rastrear seu telefone, informar que está faltando... Ah, certo.
Sim. Ele deve ter desligado.

— Ou alguém desligou para ele, disse Kell. — E se ele foi sequestrado?

Marek olhou para ele enquanto falava ao telefone. — Sim. Eu vou ver
isso. Tchau. Ele guardou seu telefone e caminhou até a porta. — Onde você
encontrou a chave?

Ela ainda estava na porta. Gethin tinha deixado isso. Graças a Deus.

— Eu verifiquei todos os lugares habituais que as pessoas escondem


as chaves, disse Kell. — Nenhum ponto em fazer barulho se o proprietário da
casa é estúpido o suficiente para deixar uma chave debaixo de um vaso de
plantas.

— Warner quer que nós destruamos o lugar, disse Marek e o coração


de Kell afundou.

— E isso vai fazer Dieter querer voltar para o clube?

— O que o garoto quer, não importa. Marek pegou uma garrafa de


azeite e a jogou no chão. Quebrou e óleo espirrou em todos os lugares.

— Eu odeio estragar a festa, disse Kell. — Mas se começarmos a fazer


barulho, vamos acordar os vizinhos e depois teremos que explicar o que
estamos fazendo à polícia. Além disso, não sabemos se ela não está na cama
com um namorado. Nós nem sabemos se Dieter quer voltar para casa. Ele
fugiu daqui não foi?

Marek o encarou. — Você está certo.

Kell engoliu seu choque.

— Warner está chateado. Ele está pensando com o pau dele. Vamos.

Kell trancou a porta e, para seu horror, não viu nenhum sinal de vaso
de plantas. Talvez Marek não notasse.

— Onde estava a chave então? Eu pensei que você disse que estava
sob o vaso de plantas? Kell colocou-o na parte de trás da lixeira. — Eu quis
dizer geralmente. Na maioria das vezes, quando eu tenho que entrar em
algum lugar que está trancado, a chave está em algo do lado de fora da porta
dos fundos. Na maioria das vezes, um vaso de flores, mas caixotes de lixo
também, por trás de lajes, sob as pedras. Uma vez encontrei uma dentro de
uma ratoeira.

Quando Marek não disse mais nada, Kell soltou um suspiro de alívio.
De volta ao carro, eles desceram a estrada, e Kell tentou parecer relaxado
quando estava sentindo qualquer coisa, menos isso. Isso poderia ter ido para
o inferno se Marek tivesse visto Gethin.

— Há quanto tempo você trabalha para a Warner?

Marek perguntou. Kell tinha certeza que o cara sabia até o dia. —
Cerca de cinco meses.

— Onde você estava antes?

— Na prisão. Marek também sabia disso.


— Ah sim, em Paris.

— Fleury-Mérogis.

— Nunca ouvi falar, disse Marek e Kell suspeitou que ele estava
mentindo.

— Nem eu, até que eu aterrei lá em cima. É a maior prisão da Europa.


Trinta e cinco por cento dos prisioneiros são estrangeiros. Obrigado,
Google.

— Como é comparado à cadeia britânica?

— Eu nunca estive dentro no Reino Unido, mas Fleury-Mérogis era


uma merda. Superlotado Comida ruim. Camas duras.

— O que você fez para ser mandado para lá?

— Eu esfolei um cara que fez muitas perguntas, então o comi.

Marek riu tanto que ele acabou tossindo.

— Eu tenho trabalho para você amanhã. Quinta é sua noite de folga,


certo? Você está interessado?

— É legal?

Marek riu novamente. — Eu estou começando a gostar de você.

Depois de todo esse tempo, Kell finalmente estava chegando a algum


lugar.

****
Gethin geralmente era rápido em avaliar situações, mas ele estava
tendo problemas em descobrir o que Kell estava fazendo. Era óbvio que
Warner tinha enviado Kell e Marek para a casa de Dieter para encontrar
Dieter e, presumivelmente, levá-lo de volta, mas Kell ajudou Gethin a fugir
quando ficou claro que Gethin sabia onde Dieter estava.

Por quê? Por causa de seu... arranjo? Kell ainda não sabia que Gethin
havia desistido disso. Não existia nenhum sinal que aparecesse em seu
telefone dizendo ‘seu número foi bloqueado por essa pessoa’. Gethin o havia
esnobado no clube, então talvez Kell tivesse entendido a mensagem. Não era
difícil concluir que Kell ajudando-o tinha algo a ver com Kell, não querendo
que Dieter fosse encontrado. O que fez de Kell um cara bom e não ruim.

Ao ver isso pelo ponto de vista dele, o que Kell achava que Gethin
estava aprontando? No lugar de Kell, ele pensaria que Gethin tinha ido ao
clube procurar Dieter, encontrá-lo e criado uma distração para permitir que
Dieter fugisse. Então, ele trouxe Dieter para casa e persuadiu a mãe a sair,
ou ele deixou Dieter em algum lugar e disse para a mãe dirigir até lá. Mas ela
não havia pegado o gato, então Gethin teve que voltar. Gethin era um bom
samaritano que agiu rápida e decisivamente quando Dieter recorreu a ele no
clube, ou era um amigo da família, ou ainda ele poderia ser um investigador
particular.

Mas o que importava? Eles não voltariam a se ver. Provavelmente.

Antes de chegar à autoestrada, parou ao lado da estrada, pegou o


número de Kell de uma mensagem de texto e o colocou de volta em seus
contatos. O gato miou enraivecido quando Gethin recuou para o tráfego. Ele
podia ouvi-lo arranhando o interior da transportadora. Ele nunca teve um
bichinho quando era criança, embora tivesse ficado em lares adotivos que
tinham cachorros. Sem gatos. Gethin nunca se importou em se apegar a
nada ou a ninguém. Depois que seus pais morreram, nada havia sido
permanente em sua vida.

Ele não percebeu que o gato estava fora da transportadora até que a
maldita coisa pulou em seu colo com um grunhido indignado e afundou suas
garras em sua coxa. Ele quase saiu da estrada.

— Jesus Cristo. Saia. Ele tentou agarrar a coisa pela nuca e ela
arranhou sua a mão. — Ai.

Gethin estava na estrada, não deveria puxar para o acostamento a


menos que fosse uma emergência. Inesperadamente, compartilhar um carro
com um animal selvagem contava como uma emergência. O gato assobiou
como uma cobra enraivecida e pulou em cima do painel. Gethin ligou as
luzes sinalizadoras, desligou e acendeu as luzes de perigo.

De jeito nenhum ele abriria a porta e arriscaria ter o animal fugindo


por ela. Ele soltou o cinto de segurança e estendeu a mão para agarrar a
caixa transportadora do banco de trás. Ele não tinha ideia de como a coisa
tinha escapado.

— Seu nome deveria ser Houdini, ele murmurou.

Colocar o animal de volta à segurança mostrou-se complicado. O gato


apoiou as pernas para tentar impedir que Gethin o deslizasse para dentro,
agarrando a parte externa do suporte com as garras afiadas. Um momento
depois, Gethin tinha ganhado mais alguns arranhões e o gato estava
esparramado na área dos pés, seu olhar malévolo deixando seus sentimentos
bem claros.

— Bom gatinho. Vil, cria do diabo, maldito bastardo. Sua mão estava
sangrando.

A sutileza e a velocidade eram necessárias. Fazendo uma distração


com uma mão enquanto ele agarrava com a outra, conseguiu agarrar com
firmeza a nuca do gato.

— Aqui. Isso não foi tão ruim. Apenas se acalme. Ele o acariciou
algumas vezes, e o gato rosnou. Antes que pudesse se soltar, ele empurrou-o
para dentro da caixa e soltou um suspiro de alívio quando ele fechou o
portão de metal. Ele colocou o fecho no lugar. Oh foda-se Dois fechos. Isso é
o que ele fez de errado. Os uivos e assobios do gato aumentaram de volume.

— Eu também te amo. Ele resistiu ao impulso de jogar o carregador


no banco de trás e, em vez disso, colocou-o lá cuidadosamente antes de
desligar as luzes de aviso e puxar para a auto estrada novamente.

****

Quando ele estacionou do lado de fora do motel, ligou para a mãe de


Dieter. — Eu estou do lado de fora. Traga algo para cobrir o gato. Eles
podem não permitir que eles entrem no quarto.

— Eu vou sair em um minuto.

Gethin estava desesperado por um café. Ele estava quebrado. Ele


bocejou e esfregou as marcas de arranhões em suas mãos.
Zena abriu a porta do carro e sentou-se no banco do passageiro. Ela
olhou no banco de trá e suspirou.

— Esse não é Tigga.

— Ele estava do lado de fora da sua casa. Diz Tigger no colarinho.

— Esse é o gato de Miranda. Ele é chamado de Tigger com um er não


um a, e não há ponta branca no final de sua cauda.

— Oh foda-se, Gethin murmurou.


— Ei, acorde bela adormecida.

Kell se sentou no carro para ver que estavam estacionados na entrada


de seu lugar. Ele nunca disse a Marek ou a Warner onde morava, mas não
ficou surpreso que eles soubessem.

— Obrigado pela carona.

Kell soltou o cinto de segurança e saiu do carro.

— Vai me convidar para entrar?

—Não.

—Tente de novo.

— Quer entrar? Por favor, não.

— Claro.

Porra. Enquanto Marek seguia-o pelas escadas, Kell sentiu-se


abrandando seus passos, sua bunda enrijecendo. Ele abriu a porta e acendeu
a luz. Marek entrou atrás dele e empurrou a porta fechada. Kell observou
enquanto Marek verificava uma pilha de livros, olhava em seus armários,
seu guarda-roupa e o banheiro. Ele não tinha ideia do que o cara estava
procurando. Sinais de que ele era um policial disfarçado? Ele não iria
encontrá-los.

— Você não tem muito, disse Marek. — E este lugar é um lixo.

— Acabei de sair da prisão. Tudo o que eu tinha, eu perdi. E eu sei


que é um lixo. Eu não ganho o suficiente para pagar em qualquer lugar
melhor.

— Além da TV grande.

Kell bufou. — Primeira coisa que eu comprei com o meu salário.

Marek estendeu a mão. — Seu telefone.

— Por quê?

— Você quer que eu te foda com isso? Marek retrucou.

— Não, senhor.

— Então me dê.

Kell alcançou-o no bolso e entregou-o. O que eu fiz? Por que ele está
desconfiado? O coração de Kell bateu com tanta força que ele podia sentir a
batida pulsando em todo o corpo.

— Tio Bob? Perguntou Marek.

— Irmão da minha mãe. Ele não está bem. Eu fico de olho nele.

— Ligue para ele.

Kell gostou muito da idéia de seu chefe ser acordado a esta hora da
manhã.
— Quem é G?

— G é o cara que eu conheci na festa da minha amiga.

— Gostaria de foder? Scissors, Paper and Stone. Às 2:00 esta tarde.


Marek leu o texto que Kell tinha enviado para Gethin.

Tarde demais para desejar que ele tivesse excluído.

— Nenhuma resposta?

Não porque isso havia sido apagado.

— Acho que ele não estava tão interessado quanto eu.

— Eu não sou suficiente para você? Marek jogou o telefone na cama e


entrou em seu espaço.

Kell se manteve firme. —Você está com ciúmes? Você é um fodido


idiota, Kell.

Mas Marek riu. — Sr. Boca inteligente. Diga-me o que bate Scissors,
Paper and Stone?

Kell não conseguiu dizer a palavra você antes de Marek estar nele,
segurando-o com força, sua boca cuspindo sujeira no ouvido de Kell. — Eu
vou enfiar meu pau profundamente dentro de sua bunda e te montar com
tanta força que sentirá dor para se sentar. Você me sentirá dentro de você
por horas depois de eu ter ido embora. Eu farei você gozar até que você não
consiga respirar. Eu farei você implorar por mais. Diga-me o que você quer e
me chame de senhor.

— Foda-se e deixe-me dormir, senhor. Oh porra, eu disse isso em voz


alta, não em pensamento?

Marek ficou boquiaberto com o espanto, depois sorriu. Kell lutou. Ele
não podia evitar, mas Marek era forte demais para brigar por muito tempo,
e ele gostava quando Kell resistia, então Kell desistiu. Ele queria ser capaz de
andar em linha reta quando o cara tivesse terminado. Ele não queria pensar
em Gethin, mas ele não conseguiu evitar. Isso acrescentou culpa à pilha de
lixo que já circulava em sua cabeça. Como alguém poderia querer um cara
que estava preparado para deixar Marek fazer o que diabos ele queria?

Quase.

Marek o mordeu e Kell gritou. Encontre um lugar na sua cabeça e se


esconda lá. Isso vai acabar. Mas Kell estava assombrado por pensamentos
de estar deixando isso acontecer por nada, de nunca conseguir a informação
que seu chefe queria, e que de alguma forma no processo de tentar fazer a
coisa certa, ele tinha sido atraído muito fundo e estava perdendo uma parte
de si mesmo que nunca voltaria.

Ninguém jamais iria querer ele.

Gethin nunca iria querer ele.

Talvez ele não se sentisse confortável em sua pele novamente.

Ele lutou de novo, lutou e pagou por sua resistência com uma dor que
o empurrou para o precipício. Quando Marek finalmente se levantou e se
vestiu, Kell estava deitado na cama, ensanguentado, machucado e mordido,
sua respiração trêmula. Mas não completamente quebrado.

— Você não deveria ter lutado, disse Marek. Kell não disse nada. Doía
falar ou se mexer. Eu não posso mais fazer isso. Embora isso fosse o que ele
pensava toda vez que acontecia. Embora nunca tivesse sido tão ruim assim.

Marek estava deitado ao lado dele e esfregou o polegar nos lábios de


Kell. — Eu fui longe demais. Desculpe.

Se Kell não estivesse deitado, ele teria desmaiado em estado de


choque.

— Amanhã, disse Marek. — Venha para o clube às sete. Roupas


quentes. Fará um bom dinheiro. Ele se levantou e fechou a porta
silenciosamente ao sair.

E aquelas poucas palavras impulsionaram Kell a continuar. Ele ficou


de pé com um gemido, trancou a porta e foi até a janela. Depois que ele
assistiu Marek ir embora, ele exalou.

Pelo menos a esta hora da manhã havia muita água quente. Ele ficou
parado por um longo tempo imaginando como explicaria as mordidas e
contusões para Gethin. Se é que ele teria a chance. Ou se ele queria a chance.

Ele repassou o que tinha acontecido desde o momento de choque,


quando eles se viram no clube, até onde ele e Marek tinham fugido da casa
de Dieter. Kell não precisava quebrar muito a cabeça. Gethin de alguma
forma tirou Dieter do No Escape, pegou sua mãe e voltou para pegar o gato.
Kell o ajudou e se Marek descobrisse, Kell estava morto.

Quando Kell saiu do chuveiro, ele estava exausto, mas ainda ligado.
Ele engoliu alguns analgésicos e antes que pudesse se impedir, ligou para
Gethin.

— O quê? Gethin atendeu.


Ele ouviu um silvo alto.

Kell ficou rígido. — Você está bem?

— Não.

— Esse é o gato?

— A porra do gato errado.

Kell riu e estremeceu.

— Não é engraçado.

— Precisamos conversar, disse Kell.

— Você acha? Tudo o que precisamos dizer pode ser coberto em uma
frase. Obrigado por não me entregar, mas esqueça que você já me conheceu.
Gethin cortou a ligação.

Não, Kell não ia fazer isso. Ele fez outra ligação enquanto lutava para
entrar em suas roupas.

****

Gethin estacionou no mesmo local perto da casa dos Hoehns. Ele


puxou o carregador em seu colo, abriu a porta do carro e então soltou os
clipes para que o gato pudesse sair. Ele não se mexeu.
— Pelo amor de Deus. Gethin inclinou o carregador de cabeça para
baixo e o gato permaneceu dentro, presumivelmente agarrando-se à caixa
até a morte com aquelas garras afiadas.

O amanhecer estava prestes a quebrar. Se ele não tivesse cuidado, ele


acabaria sendo preso por roubo de gato. Ele estava relutante em colocar a
mão dentro da transportadora e, em vez disso, deu uma pancada forte na
coisa. Para o seu alívio intenso, o gato caiu, girou e caiu de quatro na
calçada. Ele silvou para Gethin antes de subir a rua com a cauda no ar.
Gethin trancou o carro e correu para a casa.

Ele teve que abandonar a chave que Zena tinha dado a ele, se não
tivesse sido deixado na porta, ele precisaria invadir, a menos que ele tivesse
a sorte de encontrar o gato lá fora. Ele deslizou pelas sombras ao lado da
casa, dobrou o canto da parede e congelou. Kell estava sentado na porta dos
fundos, um grande gato ruivo ronronando contente em seus braços, uma
chave em sua mão.

— O nome é Tigga , disse Kell.

— Você me disse que seu nome era Kell.

Kell deu uma risada baixa. Gethin abaixou a transportadora e


guardou a chave no bolso.

— Para dentro, disse Kell e o gato saltou de seu colo e foi direto para
dentro da transportadora e se enrolou. Kell prendeu os dois fechos - é claro
que ele fez isso - e se pôs de pé. Ele está estremecendo?

— Como diabos você conseguiu isso? Gethin perguntou.

— Magnetismo animal. Onde estamos indo?


— O que você quer dizer com nós?

Kell pegou o carregador e partiu em direção à rua. Gethin abriu a


boca para argumentar, então cerrou os dentes e o seguiu. A última coisa que
ele precisava era chamar mais atenção.

— Onde está o seu carro? Gethin perguntou quando chegaram à


calçada.

— Eu peguei uma carona.

Não era difícil concluir que Kell fora deixado por Marek com ordens
de esperar pelo retorno de Dieter.

— Você não vem comigo. Gethin agarrou a transportadora, e Kell a


moveu para fora do alcance.

— Sim eu vou.

— Vai usar o gato como moeda de troca para levar Dieter de volta às
garras da Warner?

— Não.

— Percebeu que cometeu um erro ao me ajudar e agora está tentando


acertar as coisas com o seu patrão?

— Vai fazer mais suposições idiotas? Retrucou Kell.

Gethin suspirou e dirigiu-se ao seu veículo. Ele destrancou o carro e


estendeu a mão para a transportadora.
— Estou do seu lado, disse Kell.

— O que isso significa?

— Exatamente o que diz na embalagem.

Gethin hesitou, depois entrou. — Eu vou te dar uma carona.

Kell colocou a transportadora no banco de trás e sentou no banco do


passageiro.

Gethin partiu em direção a auto-estrada, ainda não tendo certeza do


que ele iria fazer. Pelo menos eles não estavam sendo seguidos. Havia tão
pouco tráfego que qualquer perseguidor seria fácil de detectar. Mas então, se
Kell pretendia dizer ao seu chefe onde Dieter estava, não havia necessidade
de qualquer um estar seguindo-o.

— Então, o que você é? Perguntou Kell. Ladrão de gatos, amigo da


família ou detetive particular?

— O que você é? Retrucou Gethin.

— Eu te disse que trabalhava em segurança. Eu não sou o único que


fodidamente mentiu.

— Eu fodidamente não menti.

Kell bufou. — Você me deixa assumir que você trabalhava para a


empresa da festa.

— Eu estava trabalhando para eles. Você acha que eu não usava nada
além daquele avental e deixei as mulheres colocarem as mãos em cima de
mim por diversão? Eu estava ajudando um amigo que estava com pouco
pessoal.

— É por isso que você era um garçom de merda.

Gethin sugou suas bochechas. — Sim, está certo.

— Eu não sei por que você está agindo como se eu tivesse te chateado.
Nós fizemos um arranjo, nos divertimos, e então você aparece no lugar em
que trabalho como segurança e me trata como se eu fosse algo em quem
você tropeçou.

— Desculpa. Mas eu tinha que ter cuidado.

— Você não é um garçom. O que você é?

— Um ladrão de gatos.

— Um investigador particular. Kell olhou para ele. — Você veio ao


clube procurando por Dieter.

— Sua mãe relatou sua falta, mas a polícia não está interessada em
um fugitivo de dezessete anos então ela me contatou. Fiquei tão chocado
quanto você quando o vi lá.

— Por que ele fugiu? Perguntou Kell.

— Um problema em casa, mas esse problema não existe mais. Dieter


viu No Escape como um refúgio em vez da prisão que realmente é. Ele ficou
lisonjeado com a atenção de Warner, encantado com suas mentiras,
animado pelos presentes como aquele relógio, emocionado por ganhar
dinheiro dançando, mas ele não pertence a um lugar como esse, nem na
cama de Warner. Ele é pouco mais que uma criança. Dieter me disse que não
se importava com Warner transando com ele.
Merda, isso não é o que eu quero ouvir saindo da boca de ninguém,
muito menos de um adolescente.

Kell respirou fundo. — Não. Você está certo.

Gethin pegou uma entonação naquela resposta murmurada que o


preocupou. Ele queria e não queria perguntar a Kell sobre Marek.

— Se Dieter passar muito tempo com um homem como Warner, ele


acabará quebrado, disse Gethin. — Você trabalha para o cara. Você sabe
como ele é. Dieter estava destinado a acabar viciado em drogas, prostituído,
e Cristo sabe o que mais. Ele se ofereceu para mim porque Warner disse a
ele para escolher alguém.

— Warner não teria deixado você tocá-lo.

— Eu imaginei, mas me disseram que ele eventualmente fica


entediado com seus brinquedos. Eu quero que Warner deixe Dieter em paz,
porra.

— Eu também.

Gethin apertou os lábios.

— Você não acredita em mim? Kell retrucou. —Por que diabos você
acha que eu te disse para sair de lá com o gato?

— Porque você sabia que era o gato errado?

Kell deu uma risada curta e áspera. — Eu não queria ver Marek
convencê-lo a dizer a ele onde estava Dieter. Ele não é um cara que escuta
um não.
— Marek? —Gethin decidiu fingir que não sabia de quem Kell estava
falando.

— Cara grande. Quase careca. Alguns centímetros mais altos que eu.
Muito mais amplo. O segundo em comando de Warner.

Gethin esperou que ele lhe contasse o resto, mas Kell não disse nada.

— Por que diabos você está trabalhando para uma merda como
Warner?

— O dinheiro é bom.

Gethin franziu a testa. No que ele estava gastando seu dinheiro? Ele
morava em um lugar minúsculo e não tinha nada além daquela TV.

— Estou economizando para obter o depósito para um apartamento


maior.

— Há quanto tempo você trabalha para ele?

— Poucos meses.

— O que você fazia antes?

— Eu estava na prisão.

— O quê? —Pelo que?

— Roubo.

Gethin ficou chocado e desapontado. — Que prisão?


— Fleury-Mérogis. Em Paris. Que tipo de trabalho eu poderia
conseguir depois disso? Eu fui feito sob medida para trabalhar no No Escape
e Warner.

Gethin estava percebendo que ele não sabia quase nada sobre esse
cara. Ele tentou dizer a si mesmo que não se importava, porque essa nunca
tinha sido a intenção, mas importava.

— Você está bem com o que Warner faz? Gethin saiu da rua e entrou
n a auto-estrada e acelerou o carro.

— Não, mas eu não faço nada ilegal.

Kell não era idiota. Ele sabia que isso não o salvaria se Warner caísse.

— O que você e Marek estavam planejando fazer na casa de Dieter?


Pedir-lhe para voltar com você e ir embora quando ele dissesse que não? O
que você fez quando descobriu que ele não estava lá? Veio com este plano?

— Eu estou do seu lado. A voz de Kell foi contida, como se ele sentisse
que Gethin não acreditava nele. — Warner disse a Marek que destruíssemos
o lugar, mas eu o convenci de que era uma má ideia. Isso foi depois que
Marek derrubou óleo no chão da cozinha. Eu tranquei, coloquei a chave
atrás do latão e contei a Marek onde eu encontrara.

— Então o que você fez?

— Você não confia em mim?

— Eu não tenho nenhuma ideia de que lado você está. Gethin desejou
que ele soubesse.
— Warner não tem motivos para suspeitar que eu sei onde está
Dieter. Eu não estou devolvendo a criança para ele.

— Cristo, Kell. Que diabos você está fazendo trabalhando lá?

— Porque é tudo o que eu posso fazer.

— Não, não é. Você escolheu trabalhar para um cara que ganha a vida
com clubes gays e pornografia. Um cara que pressionou um adolescente
para sugá-lo em público. Um cara que disse ao adolescente para escolher
quem ele gostasse no clube e persuadi-los a pagar por sexo com ele. Ele teve
sorte de ter me escolhido.

— Você está certo de que isto provavelmente foi um teste.

— Não importa. Da próxima vez, poderia não ter sido.

— Estou do seu lado, disse Kell. — É a verdade. Farei o que puder


para manter Dieter longe da Warner. Ele é um bom garoto.

— Você acha que vou levá-lo até onde Dieter está para que você possa
telefonar para seu chefe e impressioná-lo com sua astúcia?

— Não, retrucou Kell. — Tome o meu maldito telefone, se você está


preocupado. Quantas vezes eu tenho que te dizer que não vou entregá-lo à
Warner?

De qualquer forma, nem Gethin nem Kell sabiam para onde Dieter e
sua mãe iria quando saíssem do motel.

— Ok, disse Gethin. — Eu acredito em você. Embora ele não estivesse


plenamente convencido disso. Ele ainda tinha a sensação de que havia algo
que ele não estava captando e não apenas sobre o relacionamento de Kell
com Marek.

— Dieter e sua mãe estão em um motel, disse Gethin. — Eu disse a ela


que ela teria que ficar longe de casa até ter certeza de que Warner não estava
mais interessado em seu filho. Estou pensando em uma semana. Qualquer
chance?

— Não tenho certeza. Aquele garoto pode dançar. É como se ele fosse
feito de elástico. O clube está ficando cada vez mais ocupado à medida que a
notícia sobre ele é divulgada. Warner fica facilmente entediado, mas Dieter é
diferente e Warner é maníaco por controle. Ele não vai gostar de alguém
levar um de seus brinquedos. Ele quer que Dieter volte para provar um
ponto antes de jogá-lo aos cachorros.

Gethin exalou. — Então, uma semana não será suficiente e viver em


qualquer lugar na vizinhança seria uma má ideia.

— Sim.

— Certo.

— Eu poderia mantê-lo atualizado com o que está acontecendo, disse


Kell. — Chamo você quando Warner se voltar para alguém novo.

Gethin duvidou que Warner fosse o tipo de perdoar e esquecer. Mas


Dieter e sua mãe estariam seguros, desde que fizessem o que Gethin lhes
disse.

— Warner acha que eu tive alguma coisa a ver com o


desaparecimento de Dieter? Gethin perguntou.
— Marek me viu atravessando a pista de dança para pegar você. Ele
achou que você era um problema, e eu também reconheci problemas em
você. Eu disse a ele que lhe perguntei onde você comprou aquele arreio.

— Você não disse a ele que gostava de mim? Gethin se forçou a sorrir.
Conte-me sobre você e ele. O que ele é para você?

Porque isso teria caído tão bem. Kell sacudiu a cabeça. — Teria sido
melhor se você não tivesse atraído atenção de Marek. Agora que ele te
conhece, ele não vai esquecer. Mas eles não sabem quem disparou o alarme.
Para sua sorte, a câmera não estava funcionando na passagem de trás. Bater
em Warner o deixou desconfiado, mas eu apontei que todos estavam
entrando em pânico e a câmera que pegou isso estava funcionando. Você
conseguiu fazer com que parecesse um acidente. Eu fui derrubado também.
Você não saiu com Dieter e as câmeras mostram isso também. Vocês dois
foram em direções opostas. Eu não acho que Warner tenha acesso a
qualquer uma das câmeras de rua. Contanto que ele não descubra que você é
um PI, eu acho que você está bem.

Kell não aproveitou a oportunidade para se abrir sobre Marek e


Gethin ficou desapontado. — Talvez eu deva voltar para o clube outra noite.
Se eu tivesse alguma coisa para esconder, eu não faria isso.

— Eu acho que você deve ficar o mais longe possível desse lugar.

— Por quê? Porque Marek não vai gostar? Gethin queria as palavras
de volta, mas já era tarde demais.

Kell deu um suspiro pesado. — O que Dieter disse?

— O que você acha que ele disse?


Kell se mexeu na cadeira. — Nós concordamos que isso seria casual.
Tudo o que somos é amigos de foda.

Gethin se arrepiou. — Eu perguntei se você estava em um


relacionamento.

— Você perguntou se eu morava com alguém. Eu não moro.

Gethin sentiu como se tivesse pisado em água gelada com sapatos


furados e o frio estivesse subindo por suas pernas. Sua vida havia sido
destruída pela infidelidade. Primeiro Jonnie, e agora ele passava os dias
reunindo evidências de parceiros infiéis. Ele estava bravo que Kell o deixou
pensar que ele não estava envolvido com ninguém. —Você não mora com
ele, mas você está em um relacionamento, disse Gethin.

— Não é um relacionamento. É complicado. Porra, eu odeio essa


palavra.

Gethin podia sentir sua esperança por algo mais com Kell deslizando
para fora do alcance. — Você está com ele, mas queria estar comigo do outro
lado.

— Não, disse Kell. — Não é assim.

— Marek é seu namorado.

— Pare de adivinhar, Kell gritou. — Eu o odeio. Eu odeio toda vez que


ele me toca. Ele não dá a mínima para mim e eu não dou a mínima para ele.
Ele me usa quando tem vontade. Kell parecia tão zangado que Gethin ficou
surpreso, mas ele não parou de cutucar.
— Não é isso que você queria que fizéssemos? Usar um ao outro
quando sentíssemos vontade? Mandar uma mensagem quando estávamos
com vontade de foder?

— Nada como isso. Eu não posso dizer não para Marek. Eu não quero
dizer não para você.

Gethin engoliu em seco. Não pode?

— Merda, resmungou Kell. — Eu sei como isso me faz parecer. Mas eu


preciso desse trabalho. Eu tenho que ter este trabalho.

— E você está deixando-o fodê-lo para mantê-lo. Gethin cravou suas


unhas no volante. — Eu espero que você jogue seguro.

— Sim, eu jogo seguro. Eu sempre jogo seguro. Eu não sou muito


idiota.

A estação de serviços estava chegando rápido. Gethin não tinha


certeza se deveria passar reto por ela e deixar Kell no próximo cruzamento.
O que eu não estou vendo aqui? Kell está sendo coagido? Ameaçado?

Ele saiu da rodovia para a estação de serviços e parou o carro em


frente ao motel. Ele pegou o telefone e ligou para a mãe de Dieter. — Estou
do lado de fora com o gato. Eu estarei à sua porta em alguns minutos.

Depois que ele terminou a ligação, ele se virou para olhar para Kell.
— Eu...-

— Por que não conseguimos um quarto? Perguntou Kell em voz


baixa.
Gethin sentiu um aperto no estômago. Como eu ainda posso querer
ele? Mas a vida de Gethin também era complicada. Jonnie era o seu segredo.
Por que Kell não deveria ter segredos também? O que quer que ele esteja
fazendo com Marek, Gethin acreditava que não era algo com o qual Kell
estivesse feliz.

— Nós dois ficamos acordados a noite toda, Kell sussurrou. —


Apenas... fique comigo por algumas horas.

Depois de um longo momento, Gethin assentiu. Pelo menos enquanto


Kell estivesse com ele, ele não estaria dizendo a seu chefe sobre Dieter.
Embora talvez Kell só quisesse atrasá-lo até que Warner chegasse lá.

— Há uma toalha na parte de trás que a mãe de Dieter trouxe para


cobrir a transportadora da última vez. Traga o gato para dentro.

Gethin retirou uma bolsa e seu casaco do porta-malas. Ele sempre


levava artigos de higiene e um conjunto de roupas de reposição. Quando ele
pagou por um quarto, levou Kell ao primeiro andar e trocou sua bolsa e
casaco pela transportadora. — Fique aqui. Onde eu posso ver você, mas eles
não podem.

Quando a mãe de Dieter abriu a porta, ele entregou o recipiente e a


chave para a casa dela.

— Obrigada, ela sussurrou.

— Você já pensou em para onde vai?

— Sim, eu... –
— Não me diga. Não conte a ninguém.
Kell agarrou-se ao casaco de Gethin. Cheirava a ele e aquilo fez Kell se
sentir estupidamente melhor - mais seguro. Exceto que ele não deveria se
sentir assim. Ele não confia em mim. Não tenho certeza se ele acredita em
mim. Isso doeu e ainda assim como poderia culpá-lo? Ele queria dizer a
Gethin que ele era um policial disfarçado, mas isso ia contra tudo o que
havia sido perfurado nele. Isso colocaria os dois em perigo. Gethin voltou
pelo corredor e Kell o seguiu escada acima.

— O tigre foi entregue com segurança? Perguntou Kell.

— Sim.

Gethin abriu a porta e fez um gesto para que Kell entrasse. Kell
colocou o casaco e a bolsa em uma cadeira, tirou o paletó e sentou na cama.
De casal - isso foi intencional? Ele gemeu e colocou a cabeça entre as mãos.
Ele estava desesperado para dizer a verdade a Gethin. Ele não gostava de
Gethin pensando que ele era uma puta, se deixando ser fodido apenas para
manter seu emprego.

Foda-se, eu sou uma puta. Eu acabei de sair da cama com Marek e


agora quero ir para a cama com Gethin. Seu peito doía tanto quanto seu
corpo machucado.
Ele se assustou e se endireitou quando Gethin se sentou ao lado dele.
Cristo. Meus nervos estão à flor da pele.

— Esta coisa casual não está funcionando, não é? Gethin disse.

— Estamos conhecendo um ao outro, quer queiramos ou não. Eu


devo admitir, eu não esperava ouvir que você esteve na prisão.

Kell rangeu os dentes, então caiu e se virou para olhar para ele. — Eu
não deveria ter começado isso. Eu sinto muito. É só que... eu gosto de você.
Foi bom estar com alguém que eu gostava.

Gethin olhou diretamente em seus olhos. — Eu gosto de você


também.

— Como você pode? A voz de Kell tremeu. — Eu disse a você o que


estou fazendo. O que eu estou... deixando Marek fazer.

— Eu estou supondo que você tenha suas razões. Indo compartilhá-


los?

— Eu não posso, sussurrou Kell vermelho. — Deus, eu quero te


contar, mas eu realmente não posso. O nó em sua garganta cresceu o
suficiente para sufocá-lo. — Eu sei o que nós concordamos, mantendo-o
casual, e não pode ser mais do que isso, mas você me fez... Você me fez sorrir
quando eu pensei que tinha me esquecido de como era. Você me fez ver que
a vida poderia ser diferente. Eu não quero que isso acabe, mas eu não vejo
como isso pode continuar, não vejo por que você iria querer. Juro que nunca
direi a Warner sobre Dieter, mas sei que você não tem motivos para confiar
em mim.
— Eu poderia ter deixado você na casa de Dieter. Mas eu não fiz isso.
Eu trouxe você para o lugar onde Dieter e sua mãe estão se escondendo. Eu
estou confiando em você. Eu não gosto do que está acontecendo entre você e
Marek. Isso deve ser razão suficiente para parar isso agora, mas eu me vejo
incapaz de tomar esse caminho.

Um clarão de esperança queimou no peito de Kell. — Estou à procura


de outro emprego. Era uma espécie de verdade. O que eu poderia dizer ou
fazer para que isso não acabasse agora?

— Não é fácil quando você é um ex-presidiário. Você tem alguma


qualificação? Há algo que você quer fazer?

Kell não poderia continuar a conversa sem espalhar mais mentiras. A


mão de Gethin estava na cama ao lado da dele e Kell se moveu até que ele
pudesse entrelaçar seus dedos com os de Gethin

— Eu preciso que você me ajude a esquecer, não lembrar. Kell


sussurrou. — Podemos apenas fazer isso? Por algumas horas? Uma última
vez. Esqueçer tudo. Por favor?

Gethin pareceu olhar para ele por um tempo incrivelmente longo


antes de concordar. Kell ficou de pé e puxou Gethin para seus pés. Quando
sentiu o arreio sob a camiseta, estremeceu. — Ainda está usando isso? Kell
enrolou as mãos na parte de baixo da camiseta de Gethin. No momento em
que Kell conseguiu, seu pênis estava duro como pedra. Ele arrastou um dedo
pelo couro onde cruzava o peito de Gethin, traçando o caminho que tomava
sobre o torso delgado.
Kell sorriu. — Quando eu vi você no clube, eu queria agarrar as
correias e fodê-lo onde você estava.

Gethin levantou as sobrancelhas. — Curiosamente, enquanto eu o


colocava, eu tive essa imagem na minha cabeça de você me fodendo por trás,
segurando o arreio.

— Cristo. Então você não vai surtar se eu fizer isso.

— Não contanto que você não diga ‘eia, cachorrinho’.

Kell tentou e não conseguiu parar o sorriso estúpido em seu rosto. —


Eu vou tentar não fazer isso.

— Ou ‘eia cavalinho’.

Kell riu. Esse cara não tinha ideia de como era bom rir com intenção.
Kell mal podia acreditar que Gethin não o tinha deixado ao lado da rodovia.
Como ele ainda pode me querer?

Uma última foda, estúpido.

Isso foi com o que você concordou.

Eu não me importo.

Kell o puxou para perto e deslizou as mãos por suas costas,


envolvendo os dedos em torno do couro e puxando-o com força. O beijo
deles foi profundo, selvagem e intoxicante. Gethin dançou os dedos de Kell
de volta para as calças e deslizou os polegares por baixo do cós antes de
passar as mãos por cima do zíper de Kell. Desfaça-o. Meu zíper está
estrangulando meu pau. Gethin deslizou os dedos entre as pernas de Kell,
segurou seu pau e bolas, e Kell se arqueou em seu aperto, balançando-se
para que Gethin o segurasse com mais força.

Estou em chamas. O sangue latejava em sua cabeça quando Gethin o


tirou de sua camiseta. Agora seus peitos só estavam separados por tiras de
couro. Kell recuou para dar uma olhada melhor, sua boca lacrimejando pela
forma como o arnês moldava e emoldurava os peitorais de Gethin. Ele era
como um guerreiro exótico. Alguém que está do meu lado, embora ele não
saiba.

— Ele mordeu você? Gethin rosnou. Três palavras arruinaram o


momento. Kell ficou tenso, imaginando se Gethin iria acertá-lo, mas tudo o
que ele fez foi esfregar o polegar sobre a marca de mordida no ombro de
Kell, depois sobre a que estava do lado esquerdo do mamilo. Ainda assim... o
coração de Kell afundou até os dedos dos pés. Ele estava se afastando
quando Gethin o puxou de volta.

— Ele mordeu você, repetiu Gethin. A beligerância havia


desaparecido, embora a decepção que a substituiu doesse mais.

— Não me importo de ser mordido, resmungou Kell. — Mas eu me


importo com ele fazendo isso.

— É uma coisa boa que ele não esteja aqui, sussurrou Gethin. —
Porque eu o mataria.

O coração de Kell perdeu um pouco do peso. Gethin deslizou as mãos


sobre o traseiro de Kell e ambos gemeram. Gethin conseguiu abrir as calças
de Kell com uma mão e passou os dedos ao redor do pênis de Kell. Eu queria
não estar gostado tanto dele. Isso é tão fodidamente difícil.
— Você está bem? Gethin perguntou.

— Esqueci meu nome.

— Contanto que você não tenha esquecido o que fazer.

— Comprar pão e leite. Oh Deus, e ovos.

Gethin deslizou suas mãos ao redor da bunda de Kell, mergulhou


dentro de seu short e apertou. Kell se atrapalhou com as calças de Gethin, o
pênis longo e rígido tornando-as difíceis de abrir, no entanto, logo o pau de
Gethin estava em sua mão, quente, duro e pesado. Kell continuou dizendo a
si mesmo que tudo ficaria bem, que pelo menos ele poderia ter isso.

— Isso é bom, sussurrou Gethin.

— Você nunca usa cuecas?

— Às vezes.

Algumas palavras trocadas, então eles estavam se beijando


novamente, revezando-se para saquear a boca um do outro, beliscando os
lábios, sugando. Sempre que se afastavam para tomar ar, Kell olhava para o
rosto de Gethin, bebendo em seus olhos, ainda lutando para acreditar que
Gethin ainda estava aqui com ele. Antes que o pensamento pudesse detê-lo,
ele correu a ponta do sua língua ao longo dos grossos cílios escuros de
Gethin.

— Estranho, disse Gethin.

— Sim, desculpe. É apenas seu rosto. Eu quero comê-lo.


— Há outras partes de mim que são mais saborosas.

Kell empurrou as calças de Gethin, e Gethin empurrou as dele até que


seus pênis estivessem se beijando, as cabeças molhadas unidas por suas
mãos. Eles chutaram para fora o resto de suas roupas até que eles estavam
nus nos braços um do outro – exceto por aquele arnês. Os dedos de Gethin
estavam cavando no traseiro de Kell e Kell estava com os dedos sob a correia
mais baixa nas costas de Gethin. Gemidos sufocados e suspiros explodiram
de seus lábios enquanto eles se contorciam juntos.

Kell pressionou o rosto contra o pescoço de Gethin. Eu gostaria de


poder te dizer quem eu realmente sou.

Gethin se afastou. — Eu preciso de um minuto. Tire o lubrificante e


os preservativos da bolsa. Kell observou-o desaparecer no banheiro e gemeu.
Não gozar rápido era uma tortura do tipo mais doce. Seu pênis estava
gritando para ele empurrar Gethin na cama e fodê-lo com força. Sua cabeça
estava dizendo a ele para ir devagar. Ele pegou o que precisava e puxou as
cobertas da cama. Quando ele se virou, Gethin estava na porta do banheiro
olhando para ele. Oh porra, seu pau, esse arreio. Kell estremeceu.

— Promete-me uma coisa? Gethin perguntou.

— O que? Seu coração deu um solavanco.

Antes de adormecer, me ajude a sair deste arreio.

— Porra, eu estava esperando que você nunca tirasse isso. Kell fez
uma pausa. — Como você conseguiu isso?
— Lembra-se do organizador da festa? Ele e seu parceiro afivelaram
tudo para mim. Eu bati o meu pé sobre a calça de couro.

— Whoa. Você teria estaria com uma bunda nua?

— Sim. Gethin sorriu da entrada.

Kell envolveu a mão em torno de seu pênis e pressionou suas bolas. —


Peça-lhes emprestado. E um chapéu de cowboy. Talvez não o chicote, mas
depois... Cale-me agora. Cale-me, porque eu nunca vou te ver de novo, vou?

Gethin entrou em seus braços, alinhou seu corpo quente contra o de


Kell, e escovou seus lábios tão gentilmente sobre a bochecha machucada de
Kell, o coração de Kell se retorceu de dor. Gethin beijou seu caminho pelo
pescoço e ao longo de seu ombro, demorando-se na marca da mordida
enquanto ao mesmo tempo deixava sua mão descer pelo peito de Kell e cair
em seu pênis. Kell não esperava que Gethin pressionasse os dentes na
mordida e ele engasgou com a dor aguda.

— Agora é minha mordida, Gethin sussurrou o sopro quente de sua


respiração enviando arrepios sobre a pele de Kell.

Gethin envolveu suas mãos ao redor da base do pênis de Kell, e


acariciou a cabeça inchada e sensível.

— Porra, porra, porra. Kell estremeceu.

Empurrado sobre suas costas na cama, Kell ficou deitado com as


pernas penduradas para o lado, Gethin pairando sobre ele. Sua boca se
curvou em um sorriso. Ele pegou as bolas de Kell na mão, enrolou-as na
palma da mão, esfregou-as com o polegar e Kell esqueceu como respirar.

— Merda, merda, merda. Kell reprimiu seu gemido.

— Por que você está dizendo tudo três vezes?

— Você está fodidamente contando, contando, contando?

Gethin sorriu.

— Você deveria estar louco de luxúria, disse Kell.

— Eu estou. Gethin beijou, lambeu e chupou seu caminho pelo corpo


de Kell, traçando a linha de seus quadris com a língua, até que sua boca se
juntou a sua mão.

— Oh Deus, Kell gemeu. — Veja, isso foi apenas uma vez. Arrgh, porra
não. Deus, Deus, Deus.

Gethin correu a ponta de sua língua pelo eixo de Kell, seguindo o


comprimento da longa e saliente veia. Ele respirou sobre ela, soprou o ar
sobre a trilha molhada que ele havia deixado, lambeu as pequenas pérolas
de pré-sêmen que deslizavam da fenda antes de acariciar suas bolas,
puxando uma, depois a outra em sua boca. Ele brincou, puxou e chupou até
que Kell pensou que ia morrer. Ele podia ouvir a si mesmo falando
bobagens, suplicando, gemendo, implorando e ele não conseguia calar a
boca.

— Yeahyeahyeah... porra... Deus... mais... Gethin... por favor... Jesus!


Não mais… mais… oh porra.

Kell levantou a cabeça para poder observar, depois enfiou os dedos


no cabelo de Gethin e parou de assistir. Era Demais. Ele puxou os fios,
tentando não puxar com muita força, não para empurrar em seu rosto, não
para fodidamente gozar. Ainda não. Gethin envolveu uma mão apertada ao
redor do pênis de Kell e pressionou sua língua atrás de suas bolas. A
sensação do cabelo de Gethin contra suas coxas fez Kell estremecer. Então
Gethin lambeu a faixa de pele sensível que levava ao seu ânus, e suspiros
mudaram para gemidos. Gethin varreu a língua para trás e para frente,
atormentando-o até que Kell o puxou pelos cabelos.

— Não mais, implorou Kell.

Gethin sorriu. — Eu acabei de começar.

Mas Gethin não protestou quando Kell agarrou seus ombros e


inverteu suas posições de modo que ele era o único ajoelhado no chão e
Gethin estava deitado de costas com os joelhos dobrados, pernas abertas -
esperando. Kell envolveu seus lábios ao redor da cabeça do pênis de Gethin e
chupou o pré-sêmen com um gosto acentuado em sua boca. Ele esfregou o
nariz e lambeu a virilha de Gethin, o sabor de sal e suor, almíscar e sabão
adicionando combustível a um fogo já ardente.

Quando ele alcançou sua fenda e sugou, ele arrancou um grunhido


profundo de Gethin. Quando tentou lamber seu buraco, Gethin apertou as
coxas ao redor dos ombros de Kell. Kell estendeu a mão para empurrar os
dedos na boca de Gethin e uma vez que eles estavam molhados, trouxe-os
para baixo e acariciou a entrada do corpo de Gethin. Quando sua língua se
juntou a eles, esvoaçando sobre o buraco de Gethin, foi a vez de Gethin
murmurar de forma incompreensível.

Língua molhada e escorregadia, dedos molhados, queixo áspero,


cabelos sedosos, Kell sabia exatamente como isso era. Fodidamente
brilhante. Ele queria conduzir Gethin à loucura, queria que ele se
contorcesse, empurrasse e gritasse - mas não muito alto, pois estavam em
um quarto de motel com paredes finas. Ele não iria estar dizendo ‘eia
alguma coisa’, mas ele amava a idéia de se agarrar a esse arreio enquanto
transava com ele, a ilusão de controle que lhe daria.

Kell lambeu e beijou, sua língua empurrando dentro do corpo de


Gethin enquanto uma mão bombeava o pênis de Gethin e a outra se
atrapalhava com o lubrificante.

— Desculpe, mal posso esperar, resmungou Kell. — Bem, eu poderia,


obviamente. Mas meu pau não pode e eu sempre escuto meu pau.

****

Gethin deu uma risada estrangulada quando Kell habilmente o virou


e o puxou de quatro. Dedos lisos espetaram a fenda de seu traseiro, e Gethin
descansou a testa na cama, dando um gemido suave. Kell o deixaria fodê-lo?
Se Gethin não conseguisse gozar, ele teria uma chance de descobrir. Dedos
circularam seu buraco, um empurrão insistente e alguma pressão, antes que
os músculos de Gethin os permitissem entrar. A queimadura era aguda,
forte, tão boa que ele se ouviu gemer e saltar.

Enquanto Kell empurrava seus dedos dentro e fora da bunda de


Gethin, ele beijou seu caminho até as costas, o calor úmido de sua boca
fazendo Gethin se contorcer. Quando Kell alcançou o pescoço, ele beliscou a
pele, respirando com dificuldade enquanto balançava contra ele. O pênis de
Kell substituiu seus dedos, a coroa arredondada empurrando e pressionando
contra a entrada de seu corpo. Gethin ficou tenso e parou de respirar,
dizendo a si mesmo para empurrar de volta. Ao ser perfurado pelo pau
grosso, a dor substituiu o prazer. Ele cerrou os dentes, gemendo quando
avançou ao encontro de Kell, levando-o para dentro, doeria mais antes que a
dor desaparecesse e tudo o que iria sentir seria prazer.

Kell envolveu as mãos ao redor das correias cruzando as costas de


Gethin e puxou.

— Nada de... ‘cavalgue, vaqueiro’, Gethin forçou as palavras para fora.

Mas quando Kell entrou nele, a mente de Gethin se desligou do que


Kell pudesse dizer. Tudo em que ele podia se concentrar era nisso, o deleite
profundo de ser preenchido por um pau. Gethin queria isso duro, queria que
Kell o fodesse através do colchão. E Kell fez isso. Ele empurrou seu pau mais
e mais rápido, agarrando-se ao arnês, arrastando Gethin para cima
enquanto dirigia para dentro dele.

Uma mudança de ângulo e, o eixo de Kell resvalou em sua próstata.


Gethin gritou, jogando seus quadris para trás contra o impulso para frente
de Kell. Ele podia sentir as bolas de Kell batendo contra ele, sentir a
ascensão de Kell em direção ao orgasmo. Kell bateu nele várias vezes até
Gethin se sentir como se o cara estivesse cavalgando-o, os dois se juntaram
em um estranho movimento ritmado que estava empurrando Gethin para o
que ele estava tentando atrasar. Ainda não.

Então Kell estava gozando, a força e a velocidade de seus impulsos


escapando do ritmo para um ritmo frenético.

— Gethin, Kell ofegou.


O som de seu nome quase derrubou Gethin, mas quando o pênis de
Kell inchou e pulsou dentro dele, ele conseguiu se afastar da beira do
abismo. Kell soltou o arnês e Gethin afundou na cama com o corpo suado de
Kell em cima dele.

Gethin esperou pela culpa, mas não veio. Mesmo que ele e Jonnie
pudessem fazer isso, Gethin não faria. Só porque Jonnie estava vivendo no
passado, não significava que ele tinha que manter Gethin lá com ele. Jonnie
vai adivinhar o que eu fiz? Eu quero que ele faça isso? Não enquanto ele
estivesse contemplando o suicídio assistido. Se Jonnie continuasse com isso,
a vida seria muito menos complicada. Gethin mereceu a dolorosa pontada
de culpa que seguiu esse pensamento.

Ele esperou que o ressentimento o golpeasse, e isso bateu forte, mas


não o bastante para lhe dar arrependimentos. Gethin não estava feliz com o
que Kell estava fazendo com Marek. Ele não queria compartilhar Kell com
ninguém, particularmente alguém que abusava dele. Kell não diria a ele por
que ele continuava a se permitir ser usado, mas que desculpa poderia ser
para que Gethin pudesse aceitar? As esperanças de Gethin de que tudo o que
ele e Kell tivessem poderia criar raízes, brotos e folhas, e transformar-se em
algo mais do que a luxúria que murcharia e logo estaria morrendo.

Suas esperanças de que Kell pudesse ser alguém que ele pudesse
contar sobre Jonnie também estavam morrendo.

— Pare de pensar, resmungou Kell contra o pescoço — e me foda.

O pênis de Gethin voltou à vida com o pensamento de foder Kell.


Uma última foda. Uma última foda que Kell se lembraria para sempre. Ele
deu a Kell tempo suficiente para se livrar da camisinha e pegou uma antes
de empurrar Kell de costas. Gethin se atrapalhou com o lubrificante e
acidentalmente esguichou por todo o peito de Kell.

Kell riu. — Isso foi rápido.

— Hey, não ria. Eu só queria ter certeza de que meu pênis


monstruoso não o dividiria ao meio.

Kell revirou os olhos e Gethin limpou o excesso de lubrificante no


lençol. Ele posicionou seu pênis na entrada do corpo de Kell e, apesar de sua
intenção de ir devagar, empurrou com força. Os músculos de Kell se
apertaram ao redor de seu pênis até o ponto da dor e Gethin respirou fundo.
Kell sorriu.

Gethin grunhiu. — Arrogância não é um visual atraente.

Kell riu e Gethin gemeu quando o som vibrou através dele. Quando
ele começou a se mover, Kell parou de rir e começou a dar pequenos gritos
de prazer. Marek faz você se sentir assim? Por que você tem que deixá-lo te
foder? Kell enrolou os braços e as pernas em volta de Gethin, enterrou os
dedos em seus cabelos e arrastou-o para um beijo demorado. Quando
Gethin se afastou, os olhos de Kell estavam vidrados. Isso é tudo que é? Uma
foda? Gethin balançou a pélvis e começou a dirigir mais duro, empurrando
Kell através da cama. Estocadas firmes e fortes fizeram suas bolas se enrolar
em direção à explosão iminente, e Gethin se forçou a desacelerar, mudar
para golpes curtos e rápidos, depois empurrões suaves. Qualquer coisa para
fazer isso durar, prolongar o prazer o máximo que pudesse.

— Merda, merda, merda, resmungou Kell.


— De volta com os três?

As mãos de Kell caíram da cabeça de Gethin. Uma segurava o lençol,


a outra, seu pênis meio flácido. Suas bochechas estavam coradas, sua boca
aberta e ele parecia tão sexy, Gethin se viu pegando velocidade novamente.

— Eu preciso de uma hora disso, disse Kell.

— Você deve ter dormido. Eu tenho estado aqui por cinquenta e oito
minutos.

O sorriso de Kell dividiu seu rosto. Gethin circulou seus quadris, não
apenas empurrou, mas fez seu pênis dançar, torcer e serpentear. Ele dirigiu
dentro dele com força, deslizou lentamente, mergulhou rápido até suas bolas
incharem com necessidade. Tanto tempo desde que ele havis se sentido
assim. Ele já havia se sentido assim?

— Oh, porra, Kell gemeu. — Isso é tão bom. Ele fez uma pausa. —
Bom, bom, bom.

Ele agarrou o arnês com as duas mãos, envolveu as pernas ao redor


dos quadris de Gethin e puxou-o para outro beijo escaldante.

A tensão enrolou na parte de trás da cabeça de Gethin, deslizou por


sua espinha e eletrificou suas bolas. As sinapses estalaram, estalaram e
estalaram... Suas bolas ataram firmemente contra o seu pau, duras e em
seguida, vieram numa erupção de explosões piroclásticas. O orgasmo de
Gethin foi de corpo inteiro, não apenas de seu pênis. Todo o corpo ficou
tenso e arqueado, os dedos dos pés curvados, as mãos fortemente cerradas
nos ombros de Kell quando ele encheu o preservativo.
Quando o último espasmo se desvaneceu, ele caiu sobre Kell, o
coração ainda galopando fora de controle. Se ele usasse um marcapasso, ele
suspeitava que teria explodido.

— Jesus, sussurrou Kell. — Você é bom.

Ninguém jamais reclamou, mas Gethin sabia que ele queria que Kell
pensasse que, tinha feito o que podia para garantir que Kell gostasse de ser
fodido por ele. Para limpar Marek de sua mente. Da mente de ambos. Isso
não durou muito.

— Muito bom, disse Kell.

— Realmente bom. Disse Kell. Realmente, realmente bom.


Realmente...-

— Sim, eu entendi. Maldito Marek. Gethin segurou o preservativo e


aliviou para fora dele.

— Espere. Kell começou a desafivelar o arreio. Ele livrou Gethin das


correias de couro e jogou-as no chão.

Gethin foi até o banheiro, se livrou do preservativo e olhou para si


mesmo no espelho. Bochechas coradas, olhos brilhantes, cabelos
bagunçados. Ele ficou chocado ao ver o sorriso estampado em seu rosto. Ele
desapareceu rápido. Não era que ele não quisesse mais Kell, mas Marek era
um problema muito grande para Gethin ignorar.

Quando ele saiu, Kell estava dormindo, deitado do lado direito da


cama, com a cabeça no travesseiro. Gethin deitou-se ao lado dele e puxou as
cobertas. Ele hesitou, então se virou para o outro lado. Ele sentiu no
momento em que ele fez isso que Kell não estava dormindo, que ele apenas
queria tirá-lo do sério, então se virou para ver Kell olhando para ele, seu
rosto inexpressivo.

— Você concorda com o suicídio assistido? Gethin perguntou.

Kell sobressaltou-se. Talvez isso não devesse ter sido a primeira coisa
que veio da boca de Gethin, mas funcionou como uma distração.

— Isso não era o que você estava pensando. A boca de Kell se apertou
em uma linha fina.

Merda. Não foi uma boa distração em tudo.

— Marek, disse Kell.

Gethin enrijeceu. Ele não queria discutir o que Kell estava fazendo.
Ele não entendia a razão disso, nunca entenderia por que ele deixaria um
sujeito machucá-lo, e sabia que estaria enganando a si mesmo se achasse
que ele e Kell poderiam ir a qualquer lugar enquanto ele ainda estivesse
fodendo ao redor noutro lugar. Então diga isso a ele.

Gethin sentou-se. — Veja. Isso foi divertido. Eu queria que você não
estivesse brincando com outro cara, mas você está. Você não quer
compartilhar suas razões, tudo bem.

— Isso não é porque eu quero, disse Kell.

Gethin ergueu as sobrancelhas. — E isso faz com que tudo fique bem?

Kell se levantou. — Não. Ele gemeu. — Eu não posso fazer isso. Eu


não posso te dizer. Eu não estou deixando Marek me foder só para não ser
demitido. Eu estou trabalhando disfarçado.
Demorou um momento para as palavras de Kell penetrarem. Gethin
gemeu. — Cristo. Você é um policial? Isso explicava muito.

— Sim.

Gethin suspirou. — Eu deveria ter adivinhado. Eu realmente deveria


ter adivinhado.

— Eu não seria um bom policial disfarçado se você tivesse.

— Seu nome é mesmo Kell?

— Kellan DeMornay. Se você contar a alguém que eu sou um policial,


eu estou morto.

— Eu não vou contar a ninguém. Gethin se esforçou para descobrir


como ele se sentia. Ainda bem que Kell não era um ladrão, não esteve na
prisão, mas... Existiam um fodido mas. — Eu não planejei essa... coisa com
Marek. Eu não deveria... Ah, Cristo, eu não sei o que eu deveria fazer ou não
fazer. Seguindo meus instintos. Exceto que... Kell se jogou de volta na cama
e jogou a mão sobre os olhos.

— Exceto o quê?

— A primeira vez que isso aconteceu, ele me estuprou.

Gethin apertou os lábios enquanto se acomodava ao lado de Kell.

— Depois disso, não parecia haver muita razão para resistir. Mas eu
fiz isso, eu lutei com ele. Ele gosta que eu lute. Merda. Eu não quero falar
sobre isso. No entanto ele está parado entre nós como um maldito psicopata,
imaginando qual deles matar primeiro. Mas eu fui tão longe, se eu parar
agora, tudo foi para nada.

— Ei. Você não precisa explicar. Às vezes temos que fazer coisas que
preferimos não fazer. Para o bem maior, sim?

Kell moveu o braço e olhou boquiaberto para ele.

— Agora você está pensando que o que você faz com Marek não
significa nada para mim, disse Gethin, — que eu não me importo. No
entanto isso é importante, e eu me importo. Eu não gosto disso e gostaria
que ele nunca tivesse tocado em você. Eu ainda quero matar o bastardo, mas
eu entendo. Nada é preto ou branco.

— Isto é. Eu quero sair. Eu já tive o bastante Estou no limite. Toda


vez que ele me toca, eu quero vomitar. Eu quero...-

— Calma. Gethin acariciou sua bochecha. — Talvez o fim esteja mais


próximo do que você pensa.

— Eu não tenho porra nenhuma para contar ao meu chefe.

— Talvez eu possa ajudá-lo com isso. Você conhece o detetive-chefe


superintendente Tom Beckwith?

Kell franziu a testa. — Sim. Ele é o chefe do meu chefe. Você o


conhece?

Gethin assentiu. — Eu coloquei minhas mãos em algumas


informações de um computador pertencente a um contador que faz a
contabilidade para as empresas de Warner, incluindo No Escape. Além das
planilhas que podem indicar lavagem de dinheiro, havia um documento com
fotos de mulheres nuas e montantes em euros por baixo. Eu dei um cartão
de memória com todos os dados para Beckwith.

Kell se apoiou em um cotovelo. — Cristo. O que quer dizer com


acabou em suas mãos? Como?

— Eu fui enganado. Eu pensei que estava baixando informações para


um possível divórcio, mas a mulher que me contratou não é casada com o
contador. Eu não tenho ideia de quem está puxando as cordas dela, mas ela
está desesperada para colocar as mãos nos dados que eu baixei. Tão
desesperado que meu escritório foi invadido. Estou esperando que Beckwith
me diga o que ele quer que eu faça.

Kell deu uma risada abafada. — Nossas vidas estão mais entrelaçadas
do que pensávamos. Você também pode me dizer onde você gosta de ir de
férias, se você tem um irmão detestável e se você é alérgico a qualquer coisa.

Ele fez soar como uma piada, mas Gethin sentiu que não era. Seu
não-relacionamento estava mudando, quer gostassem ou não. Quando
Gethin não estava desesperado para gozar ou perdido em uma névoa pós
orgástica, era mais fácil raciocinar. Isso já era mais do que sexo sem
amarras. Não importa o quão importante fosse para o trabalho de Kell,
Gethin não queria que Marek transasse com ele. Ele queria que Kell saísse
do clube e talvez as informações que ele havia tirado do computador de
Charlton ajudassem nisso.

Seu coração bateu mais rápido com o pensamento de que ele


estivesse a ponto de sair disso. Kell não deveria ter dito a ele que era um
policial, mas ele estava feliz que tivesse.

Um telefone começou a zumbir e Gethin percebeu que era o dele. Ele


se levantou e se atrapalhou com suas roupas até encontrá-lo. Ah Merda. Ele
sabia que Kell estava ouvindo, mas ele não queria desaparecer no banheiro.
Ele assumiu um risco e respondeu.

— Eu precisava ouvir sua voz, disse Jonnie.

— É um pouco cedo. Gethin olhou para o relógio de cabeceira. Apenas


depois das seis.

— Acordei você?

— Eu não estava dormindo.

— Não me sinto bem. Quente.

Gethin encostou-se na parede de costas para Kell. — Você falou com


alguém?

— Sim. No entanto preciso de você.

— Eu não posso ir agora.

— Quero ver você. Por favor. Eu o amo.

— Jonnie.— Exasperada, a palavra escapou espontaneamente e


Gethin estremeceu, sabendo que Kell teria ouvido.

— Onde você está? Jonnie perguntou.

— Trabalhando.

— Onde?

— Toddington.
— Preciso de você.

— Eu vou vê-lo em breve. Gethin terminou a chamada.

Ele desligou o telefone e jogou-o sobre suas calças.

— Você precisa ir a algum lugar? Kell perguntou.

— Não. Gethin não estava pronto para revelar essa parte de sua vida.
Eles tiveram revelações suficientes por uma noite. Ele caiu de volta na cama.

Kell se envolveu em volta dele. — Eu quero que isso funcione, mas


não sei como poderia ser possível.

Nem Gethin. — Eu raramente saio de férias. Eu não tenho irmão nem


irmã. Eu não sou alérgico a nada.

— Cornualha. Irmão irritante quatro anos mais velho que eu.


Anchovas. Embora isso possa ser porque não gosto da ideia de comer ossos.
Kell pousou a cabeça no ombro de Gethin. — Minha mãe é louca. Meu pai
acha que o sol brilha na minha bunda.

— O que seu pai está fazendo checando sua bunda?

Kell riu.

— Sua mãe é realmente insana?

— Sim, realmente. Não apenas uma figura de linguagem. Ela está em


um lugar seguro. Meu irmão Oliver também é insano, mas é melhor
esconder isso. Ele tenta me matar de vez em quando.
Gethin se afastou para olhá-lo para ver se ele estava brincando.

— Estou falando sério. Ele é uma foda torcida que fez da minha vida
uma miséria de qualquer forma que ele pudesse quando era jovem. Ainda
faz quando ele tem a chance.

— Como ele tentou te matar?

— Em qual das vezes? Kell deu uma risada silenciosa. — Certa vez,
estávamos à beira do lago cavando buracos e Oliver me convenceu a fazer
um túnel entre eles. Ele geralmente nunca brincava comigo sem que
houvesse algum tipo de problema e eu deveria ter dito não, mas eu não fiz
isso. Eu estava me divertindo. Oliver disse que eu poderia ser o único a
romper do meu lado para o dele. Eu consegui colocar minha cabeça e meus
ombros no outro buraco quando o túnel desmoronou. O peso da areia... Ele
suspirou. — Eu fui esmagado. Oliver não fez nada. Eu podia ver seus pés. Ele
sentou-se na beira do buraco, balançando-os para trás e para frente. Se meu
pai não tivesse vindo, eu teria morrido.

— Merda.

— Oliver me odeia.

— Porque você é gay?

— Eu não era gay quando tinha sete anos. Bem, eu provavelmente


era, mas eu não sabia disso então. Ele apenas odeia que eu nasci, que ele
teve que compartilhar nossa mãe. Todo aniversário, ele fez tudo que podia
para arruinar o dia para mim. Ele é um bastardo completo. Seus pais ainda
estão vivos?
— Não. Falecido há muito tempo.

— Diga-me algo interessante sobre você.

Gethin exalou. — Eu costumava fazer parte de uma banda.

— Uau. Alguma de que eu já ouvi falar?

— Não. Gethin se arrependeu de dizer isso. Eles permaneceram em


silêncio um longo tempo antes de falar de novo e se perguntou se Kell estava
esperando que ele acrescentasse um pouco mais. — O que estamos fazendo?
Ele sussurrou.

Kell não respondeu. Ele estava dormindo? Gethin não se mexeu,


apenas ficou lá e pensou no que ele poderia ter dito se Kell tivesse feito essa
pergunta sobre ele.

Eu não sei o que estamos fazendo além de foder um ao outro.

Você é um péssimo mentiroso. Você está fazendo mais do que foder.

Você está dando uma chance.


Quando Kell acordou, Gethin não estava ao lado dele, mas ele podia
ouvir o chuveiro correndo. Ele gemeu quando se espreguiçou, depois saiu da
cama para pegar o telefone e fazer uma ligação.

— Oi, tio Bob. Posso pedir um favor?

— Você não morreu no incêndio, então? Lane estalou.

Kell se encolheu. — Isso parece que aconteceu anos atrás.

— Bem, não foi.

— OK. Breve resumo. Ele olhou para a porta do banheiro. —Lembra-


se do adolescente, Dieter, que captou o interesse de Warner?

— É claro que eu me lembro. Você fez bastante barulho sobre ele. Um


fugitivo. Mas ele tem dezessete anos. Ele pode fazer o que ele quiser.

— Sua mãe contratou um investigador particular. O cara tinha uma


dica sobre Dieter estar no clube, e disparou o alarme para tirá-lo de lá.
Dieter está agora com a mãe e eles estão longe da casa deles em um local
seguro.

— Merda. Então você não vai conseguir nada a partir dele.


— Não. Seu bastardo egoísta. Kell esperou que seu chefe fizesse a
conexão.

— Como você ficou sabendo de tudo isso?

Lá vamos nós...— É... complicado, mas por acaso conheço o PI.

— A exasperada sucção de dentes de Lane fez com que Kell apertasse


sua mandíbula.

— Então seu disfarce está queimado?

Kell poderia ter dito sim, e teria sido isso, mas ele fez muito para ir
embora agora. — Não. O investigador sabe que eu sou um policial, mas ele
não disse nada. Não havia necessidade de Lane saber que Kell tinha dito a
Gethin que ele estava disfarçado.

— Sua vida pode depender dele ficar quieto.

— Eu confio nele.

— E há quanto tempo você o conhece?

—Tempo suficiente. Há mais alguma coisa que você precisa saber.


Kell contou o que Gethin descobrira no computador do contador. — O PI
deu a informação para o DCI Beckwith.

Lane soltou um bufo exasperado. — Beckwith sabe que você está


disfarçado no clube e ele não disse nada para mim. Eu vou falar com ele.

— Marek me pediu para ir hoje à noite. Cedo. Deveria ser minha noite
de folga. Algo está acontecendo.
— Excelente. Envie detalhes quando puder. Eu vou reunir uma
equipe apenas no caso. Kell terminou a ligação quando Gethin saiu do
banheiro.

— Você está vestido. Ele não tentou esconder sua decepção. — Eu


preciso ir a um lugar. Voz de Gethin era inexpressiva e ele não olhou para
Kell.

— Tudo bem. Kell pegou suas roupas do chão e vestiu-as de qualquer


jeito. Ele só conseguiu se impedir de bater a porta do banheiro.

Era isso então. Mesmo o conhecimento de que ele estava trabalhando


disfarçado não iria fazer Gethin superar Marek. Kell não o culpou. Ele sabia
como reagiria se alguém de quem gostasse estivesse fazendo o mesmo.
Gethin poderia ter dito que entendia e talvez o fizesse, mas havia uma
diferença entre entender e aceitar.

Enquanto ele estava sob o chuveiro, ocorreu-lhe que não tinha como
voltar a Londres a menos que pegasse um táxi. Quão idiota eu fui ao pensar
que isso significava alguma coisa? Uma sessão quente na cama e algumas
confissões não faziam um relacionamento. Quando ele pensou sobre isso,
viu que fora ele quem havia aberto seu coração, falado sobre sua família,
mas não sobre Gethin. Como seus pais morreram? Quando? Quem o criou?
E essa banda? Por que o Gethin não poderia lhe dizer?

Kell se arrependia de ter falado sobre Oliver agora, embora soubesse


por que ele havia feito isso. Para mostrar a Gethin que ele era um
sobrevivente, mais do que um policial disfarçado que cruzou a linha. Kell
tinha uma vida. Ele tinha uma família. Mesmo disfuncional como era. E
tudo o que ele conseguiu de Gethin foi que ele esteve em uma banda. Ótimo,
mas o cara tinha encerrado a conversa bem ali.

Quando eles se deitaram na cama e Gethin havia sussurrado a


pergunta - o que estamos fazendo? - Kell tinha ficado muito sufocado para
responder, será que sua falta de resposta já não dizia tudo? Tudo o que eles
estavam fazendo era foda. Isso é o que eles concordaram. Exceto que agora
Kell tinha a sensação de que Gethin não queria mais isso.

Será que Gethin esperaria por ele? Talvez esta noite tudo acabe. Nada
mais Marek. Mas quem era Jonnie? Porra.

Quando Kell saiu do banheiro, ele ficou chocado ao ver Gethin ainda
lá. — Você não foi?

— Você precisa de uma carona, não é?

Kell se arrepiou. — Você não precisa se preocupar. Eu posso voltar


sozinho. Isso é tão maduro.

— Indo pedir uma carona? Você deveria saber melhor. De qualquer


forma, ninguém dá carona nos dias de hoje. Mesmo para os mais quentes.

O humor de Kell se iluminou com a provocação. — Eu acho que


colocar meu pau para fora funciona toda vez.

— Bem, mantenha-o em suas calças ou você vai ser preso.

Eles desceram as escadas.

— Podemos tomar o café da manhã primeiro? Kell perguntou, a


esperança batendo de volta em seu coração.
— Eu não tenho tempo. Gethin deixou cair as duas chaves no balcão
vazio da recepção, deu um passo em direção à porta de saída de vidro, em
seguida, empurrou Kell para um lado com um empurrão forte. — Merda.
Não se mova.

— Que porra é essa?

Gethin deixou cair a bolsa e o casaco. — Marek e Warner estão no


estacionamento com Dieter e sua mãe.

Kell deu um passo em direção a ele.

— Não se atreva. Você não está destruindo meses de trabalho secreto.


Esconda-se caso eles entrem aqui.

Gethin correu antes que Kell pudesse detê-lo. Kell tirou o celular do
bolso e ligou para o chefe. — Preciso de ajuda na Estação de Serviços da M1
em Toddington, no lado norte. Warner e Marek estão tentando pegar Dieter
de sua mãe e do PI.

— Certo... Ok...- Houve uma longa pausa antes que Lane falasse
novamente. — A ajuda está a caminho. Você já foi visto?

— Não.

— Fique fora de vista e na linha. Kell pegou uma das chaves da mesa e
subiu correndo as escadas. O quarto em que eles estiveram tinha vista para o
estacionamento. Escondido pela cortina, ele se levantou e observou. Com
certeza, Marek e Warner não fariam nada estúpido em plena luz do dia no
meio de um estacionamento coberto por câmeras de segurança.
Fariam?

****

Gethin correu para onde Dieter estava lutando com Marek. A mãe de
Dieter estava gritando para ele deixar Dieter ir embora. Warner permanecia
sentado em seu carro com a janela abaixada.

— O que diabos você está fazendo? Gethin estalou.

Marek virou-se para ele e deu um suspiro surpreso.

— Deixe Dieter ir.

Marek passou o braço em volta dos ombros do adolescente. — Ele


quer voltar com a gente, não é mesmo, Dieter?

Os olhos do garoto estavam arregalados de choque. Ele olhou para a


mãe e assentiu. — Sim. Eu quero voltar.

A mãe dele tirou o celular da bolsa. — Estou ligando para a polícia.

— Dieter quer vir conosco, disse Marek. — Eles não vão pará-lo.

— O que eles ameaçaram fazer? Gethin perguntou a Dieter. —


Machucar sua mãe?

— Não vá com eles, disse ela.

Gethin deu um passo em direção a Marek. Deixava-o doente pensar


em Kell permitindo esse cara fodê-lo, mordê-lo. — Deixe-o ir. Me dê uma
desculpa para bater em você. Por favor.

— O que diabos isso tem a ver com você? Warner saiu do carro. —
Você conhece esse homem? Ele perguntou a Dieter.

Gethin tinha duas maneiras de levar isso. Que risco haveria em


negar? — Você disse a ele que ele poderia escolher qualquer um que ele
gostasse. Ele me escolheu. Eu disse que não tinha muito dinheiro. Ele me
disparou o dedo e voltou para você. Ele enviou um apelo silencioso para que
Dieter concordasse com isso e que sua mãe ficasse quieta. Mas se Marek já
soubesse quem ele era, ele estava perdendo seu tempo.

— Você disparou o alarme. Warner olhou para ele. — Me custou


muito dinheiro.

— Eu não. Eu entrei em pânico quando explodiu, fui empurrado e


derrubei você também. Eu estava tão confuso que eu não conseguia lembrar
onde eu tinha estacionado. Ele deu uma risada trêmula. —Eu encontrei
Dieter tremendo em uma porta. Prometi que tiraria dinheiro e o trouxe até
aqui. Ele tinha ido quando eu saí do banheiro. Ele não quer voltar para o
clube. Então, qual é o seu problema?

Warner agarrou o braço de Dieter e puxou-o para longe de Marek. —


Dieter escolheu trabalhar para mim. Eu não o forcei. Ele ainda me deve por
sua acomodação. Quando ele pagar sua dívida, ele pode ir para casa.

— Ele tem apenas dezessete anos. Sua mãe estava chorando.

— Quanto dinheiro ele deve a você? Gethin perguntou.

— Por quê? Warner olhou para ele de cima a baixo. —Você não vai
conseguir pagar.
— Quanto?

— Dez mil.

Dieter e sua mãe engasgaram.

— Você vai ser um bom menino e dançar para mim. Warner acariciou
o braço de Dieter.

— Deixe em paz. Dieter tentou se soltar e Warner deu uma bofetada


no rosto do adolescente.

— Leve o para o carro, disse Marek.

Quando Marek agrarrou Dieter, Gethin moveu-se, chutando a perna


de Marek e puxando Dieter livre. Ele empurrou o menino para trás e para a
mãe. Marek pousou o punho no estômago de Gethin e ele se dobrou de dor.
Mas quando o segundo punho voou em sua direção, Gethin agarrou o pulso
de Marek, usou-o como alavanca e jogou-o, então ele se esparramou no
asfalto.

— Seu fodido filho da puta. Marek se levantou.

Os dois começaram a lutar, trocando socos e chutes. Gethin sabia que


isso não terminaria bem para ele. Ele não era um lutador de rua e Marek era
muito maior e mais duro. Marek passou um braço ao redor de sua garganta
e Gethin bateu os cotovelos de volta em seu peito. Ele se preocupava que, se
não conseguisse ficar de pé, Kell sairia.

— Deixe-o em paz, gritou a mãe de Dieter. — Eu chamei a polícia.


Um golpe afiado na parte inferior das costas fez Gethin gritar de dor.
Marek o derrubou, um pé bateu em suas costelas e quando Gethin se
enrolou e protegeu sua cabeça, ele ouviu uma sirene.

— Pegue o garoto e entre no carro, Warner chamou.

Tenho que me levantar. Segurá-los até a polícia chegar. Ele estava


de joelhos, ofegante, quando dois carros da polícia se aproximaram. Gethin
olhou para Dieter, que estava se agarrando a sua mãe.

— O que está acontecendo aqui? Um dos policiais perguntou.

— Um mal-entendido. Warner sorriu.

— Qual é o seu nome? Perguntou o policial.

— Silas Warner.

Gethin sentiu sua boca molhada. Ele esfregou os lábios e viu sangue
em seus dedos. Ele sentiu como se tivesse sido derrubado por um tanque.
Ele gemeu quando se levantou.

— Este jovem trabalha para mim, disse Warner.

— Como este cavalheiro. Ele gesticulou para Marek que olhava para
Gethin como se quisesse achatá-lo no chão como um inseto chato.

O peito de Gethin estava ofegante e suas costelas doíam. Ele não


tinha certeza se ele poderia conseguir falar alguma coisa ainda. Ele estava
interessado em ouvir o que Warner diria. Como ele soube que Dieter estava
aqui? Ele evitou dizer a Warner que ele era um investigador particular
porque ele não tinha esquecido a conexão do cara com Charlton. Mas se a
polícia pedisse seu nome, o jogo estaria terminado. Ele olhou para Marek.
Talvez teria que ser assim mesmo.

— Dieter tem dezessete anos, disse sua mãe. — Ele fugiu de casa e eu
relatei a falta dele. Eu recebi uma ligação dele para dizer que ele estava aqui
com esse homem e eu vim aqui para buscá-lo.

Warner engasgou com falso assombro. — Oh meu Deus. Eu pensei


que ele tinha seqüestrado Dieter. Ele apontou para Gethin. — Ele foi visto
pela minha equipe assistindo Dieter no clube ontem à noite. Alguém
disparou o alarme de incêndio. Dieter desapareceu na confusão. Eu estava
doente de preocupação. Eu tentei ligar para sua mãe, mas ela não
respondeu. Então entrei em contato com o pai dele. Ele me disse que Dieter
estava aqui. Você pode perguntar a ele.

Gethin gemeu mentalmente. O que foi que eu disse? Não conte a


ninguém onde vocês estão.

— Estávamos apenas discutindo o retorno de Dieter quando esse


homem apareceu e atacou meu funcionário.

Por que os policiais não perguntaram o nome de Gethin? Ou a Marek


o dele? Começou a se perguntar se era Kell quem estava por trás da chegada
rápida da polícia, em vez da mãe de Dieter.

Um dos policiais foi até Dieter. — Você quer ficar com sua mãe ou ir
com seu empregador?

— Ficar com minha mãe, sussurrou Dieter. — Mas não quero que eles
a machuquem.
O policial se virou para a Warner. — Machucar ela?

Warner ergueu as mãos com as palmas para fora. — O que Dieter faz
depende inteiramente dele. Ninguém quer que alguém seja ferido. Isso foi
apenas um mal entendido. Eu estava apenas preocupado com ele.

Dieter tirou o relógio do braço, foi até Warner e entregou a ele. —


Obrigado por isso. Eu não sabia que você queria pagamento pela minha
comida e alojamento. Isso foi idiota da minha parte. Talvez você possa
vender o relógio pela quantia que eu devo a você. Ou isso não foi um
presente? Ele recuou para o lado da mãe.

Gethin ficou impressionado. Ele não achava que Dieter enfrentaria


Warner.

— E você? Perguntou um dos policiais a Gethin. — Você começou


isso?

Gethin quase riu. Ele chutou a perna de Marek se isso contasse como
começar. Ele desejou que tivesse chutado-o em suas bolas. —Eu estava
tentando ajudar Dieter.

— Olha, nós não queremos dar queixa, disse Warner. — É um mal


entendido. Todos nós podemos seguir nosso próprio caminho.

— Eu não... A mãe de Dieter começou a falar.

Gethin lançou-lhe um olhar de advertência e ela fechou a boca.

— Então todo mundo está bem sobre isso? Um dos policiais


perguntou.
Quando nenhum deles discordou Warner e Marek foram embora,
seguido alguns minutos depois pelos carros da polícia. Bem, isso tinha sido
fodidamente estranho.

— Oh Deus, a mãe de Dieter cedeu. Eu disse ao meu ex-marido. Ele


estava preocupado. Nunca pensei...

— Ligue para ele, disse Gethin. — Descubra o que ele disse.

Poucos minutos depois, eles tiveram a resposta. Alguém que alegou


ser um policial foi até a casa de seu ex, acordou-o e persuadiu-o de que
Dieter estava em perigo.

Ela colocou o telefone de volta no bolso. — Eu sinto muito.

— Talvez isso não seja uma coisa totalmente ruim. Warner deu à
polícia seu nome. Eles pegaram o registro de seu carro. É muito menos
provável que ele tente levar Dieter de volta agora. Se vingar de mim, no
entanto...

— Por que você não disse a ele que você era um detetive particular?
Dieter perguntou.

— Não teria feito qualquer diferença e quanto menos pessoas


souberem o que eu faço, melhor. Obrigado por ficar quieto sobre isso. Você
fez bem.

— Então, podemos ir para casa? Perguntou a mãe de Dieter.

— Talvez seja melhor esperar alguns dias. Só para ter certeza.


Gethin esperou até que eles fossem embora, então mancou de volta
para o motel.

Kell estava esperando no saguão. Ele puxou Gethin em seus braços e


Gethin se encolheu de dor.

— Desculpe, Kell sussurrou. — Nunca mais faça isso.

— Empurrá-lo para fora do caminho para que você não estrague seu
disfarce?

— Não. Preocupar-me assim.

Um arrepio de... alguma coisa... correu pelas veias de Gethin. — Eu


suponho que você chamou a polícia?

— Sim. Graças a Deus eles vieram rápido.

— Você está insinuando que eu não poderia ter levado Marek? Gethin
fingiu estar ofendido.

— Eu estava preocupado que ele arruinasse sua boa aparência. Quem


iria gostar de você então?

Gethin riu e respirou mesmo com a dor em suas costelas. — Você


quer uma carona?

— Eu não acho que deveria. Eu tenho uma carona chegando.

— Ok. Escute - tire o meu número de seus contatos, por via das
dúvidas.
A bochecha de Kell se contraiu.

— Você pode memorizá-lo primeiro. Gethin deu-lhe um sorrisinho.

— Eu não disse a eles que eu era uma PI. Enquanto Warner não
registrar que a polícia nem perguntou meu nome, eu devo ficar bem.
Embora ele ainda estivesse preocupado com Marek.

— Eu disse ao meu chefe para ter certeza de que a polícia não


perguntasse seu nome nem o de Marek.

— Bem pensado. Eu gostaria de poder te dizer que eu teria chutado a


merda fora dele, mas seria uma mentira.

— Você não está muito mal, está?

—Eu vou sobreviver. Gethin pegou sua bolsa e casaco e saiu. Seu
telefone tocou quando ele se aproximou de seu carro. Ele puxou e checou o
chamador. — Sentindo minha falta já?

— Eu apaguei o número, mas achei melhor testar para ver se tinha


memorizado caso eu me achasse chamando um padre católico.

Gethin riu. — Cuide-se.

— Você também. Gethin?

— Sim?

— Você não pode me manter seguro, mas você pode me manter forte.

O estômago de Gethin se apertou. — Bom.

Kell terminou a ligação.


Gethin ligou o telefone no bluetooh do carro e voltou para a auto-
estrada.

Ele tinha ido apenas algumas milhas antes de ter outra ligação. Angel.

— Olá, eu vou puni-lo muito duro, disse Gethin.

— Querido, você faz isso parecer um grande prazer.

— Bem, não vai ser.

— Seu escritório. Meu Deus. Está uma bagunça. Parece que alguém
foi à loucura com um martelo.

— Provavelmente.

— Eu não precisei fingir estar chocado. Todo mundo está chateado.


Liguei para a polícia, mas eles não parecem estar com pressa para chegar
aqui. Você está chegando?

— Ainda não. Faça-me um favor e providencie para que a porta seja


consertada. Eu vou te pagar.

— O seguro vai pagar. Diga-me como você entrou no clube.

— A ameaça de demonstrar o chicote que eu comprei não lhe diz


tudo?

Angel ronronou. Maldito seja ele.

— Eu precisava me misturar. Naquela noite, eu atraí a atenção de


todos que estavam lá.
— Porque você é lindo pra caralho, seu idiota. Alguém interessante?

— Eu não estava lá para pegar alguém.

— Oportunidade desperdiçada. Você - er - precisou de ajuda para sair


do arnês?

Os conspiradores... Gethin o interrompeu e atendeu outra ligação.

— DCI Beckwith, disse o policial.

— Obrigado por retornar minh ligação agora. Gethin não se


preocupou em manter a pressão fora de sua voz.

— Ouvi dizer que você esteve envolvido em uma pequena briga nesta
manhã. Eu preciso que você se afaste imediatamente, imediatamente de
Warner e do No Escape. Você tem o garoto de volta. Você fez o seu trabalho.
Agora deixe as coisas em paz.

— E aquele cartão de memória? Alguma coisa útil? E se Izabela me


ligar de novo?

— Dê de volta para ela. Finja que não conseguiu ler. Eu escolheria um


lugar público se fosse você. Adeus, senhor Jones.

O policial terminou a ligação e Gethin suspirou. Ele estava feliz em


deixar as coisas em paz, mas as coisas o deixariam em paz?

Quando chegou a Wellbrook Manor, ele verificou seu rosto no


espelho antes de sair do carro. Uma lambida de seus dedos para uma rápida
limpeza da boca de qualquer resquício de sangue. Ele saiu do carro com um
suspiro pesado e se dirigiu para a entrada.
****

Kell estava sentado na parte de trás do carro de seu chefe, olhando


através das janelas escuras. Ele estava desequilibrado e isso era preocupante
porque o tornava vulnerável.

— Eu preciso tirar você desse caso? Perguntou seu chefe do banco do


motorista.

Kell se mexeu. Ele não esperava que o detetive superintendente


viesse sozinho. Ele deveria dizer sim, mas havia algo acontecendo hoje à
noite com Marek e ele queria pelo menos ter algo para mostrar. — Eu não
estou em risco. Gethin não disse a eles que era um PI. Deixou Marek e
Warner pensando que ele havia trazido Dieter para o motel e tirando sua
atenção de mim.

Quando ele viu Marek em cima de Gethin, Kell havia corrido de volta
para o lobby. Até onde esses caras chegariam numa área pública e na frente
de duas testemunhas? Se a polícia não tivesse aparecido, Kell teria ido
ajudar Gethin. Gethin havia arriscado sua própria segurança para manter
Kell a salvo e Kell ficou mais tocado com isso do que ele poderia dizer.

— O que vocês dois estavam fazendo no motel - além do óbvio?

Kell cerrou os punhos. O único sinal de aborrecimento que ele se


permitiria porque Lane não podia ver suas mãos. — Eu disse a você que
Warner me mandou e a Marek para a casa de Dieter para ver se ele estava lá.
Eu dei a volta e encontrei Gethin. Eu me certifiquei de que Marek não o
localizasse. Depois que Marek me deixou na minha casa, liguei e peguei uma
carona até o motel. Eu queria ter certeza de que Dieter estava seguro e que
Gethin não me colocaria em apuros.

Isso foi uma desculpa muito fraca. Kell esperou que Lane risse.

— E você descobre que não só esse cara irritou Warner ao roubar sua
atração principal, mas também roubou informações sobre os negócios de
Warner no computador de seu contador. Uma teia emaranhada. Ainda não
sabemos quem está por trás disso. É até possível que Warner esteja
querendo saber se ele não está sendo enganado por Charlton.

Kell duvidou disso. — Warner é trabalha mais com a força bruta do


que por subterfúgios.

— O escritório do PI foi invadido e seus computadores foram


destruídos por pessoas que procuravam o que ele havia tirado. Eles não
encontraram. Eles presumivelmente não sabem que já temos isso.

Kell se endireitou. — Eles destruíram seus computadores?

— Alguém se deu ao trabalho de conseguir essa informação. Por que


eles escolheram Gethin Jones?

— Eu não o conheço muito bem.

Lane bufou. — Isso não é o que você me disse. Ele sabe que você está
trabalhando disfarçado. É onde você o conheceu? Debaixo das cobertas?

Bastardo do caralho. — Eu o conheci em uma festa. OK? Não que


tenha algo a ver com você.

— Sim, tem. Se você quiser ficar seguro, preciso saber tudo. Eu não
gosto de coincidências. Eu não gosto desse Jones estar ligado à Warner de
duas formas diferentes - através de seu contador e através de Dieter - e você
está bem no meio. Largue ele. Agora.

Kell enrolou os dedos dos pés.

— Se Warner descobre que alguém copiou arquivos e planilhas do


computador de seu contador, e então descobre que você sabe quem pegou,
você está com sérios problemas.

— É melhor se apressar e descobrir quem está por trás disso, então.

Dieter e sua mãe não eram os únicos que precisavam voar por baixo
do radar. Kell queria que Gethin fizesse o mesmo.

— Que informação havia no computador? Perguntou Kell.

— Olhe dentro daquela pasta no banco de trás.

Kell puxou e começou a ler.


Gethin entrou no quarto de Jonnie para encontrá-lo chorando. Seu
estômago apertou e ele sugou suas bochechas enquanto se agachava ao lado
da cadeira de rodas.

— Você não chora. Bem, isso era estúpido considerando o que ele
estava vendo. Ele puxou um lenço de papel da caixa na cama e gentilmente
limpou o rosto de Jonnie.

— Pensei que tinha usado toda a minha cota de lágrimas da vida


inteira, disse Jonnie. — Errado.

Gethin puxou a poltrona do outro lado da sala e sentou-se ao lado


dele. Ele colocou o dedo indicador no dedo que Jonnie usava para controlar
sua vida e acariciou-o gentilmente

— Rosto, disse Jonnie.

— Suas lágrimas se foram, companheiro.

— Não o meu. Seu.

— Ah. Eu fui atingido. Cara grande. Albanês... Nós brigamos em um


estacionamento, disse Gethin antes de Jonnie ter a ideia errada. — Você se
lembra daquela adolescente que eu te falei? Dieter? Eu o encontrei em uma
boate. O dono tomou um gosto por ele, mas Dieter queria ir embora. Eu o
levei para um motel para encontrar sua mãe, e o dono do clube descobriu
que ele estava lá. Foi uma sorte eu ter decidido ficar a noite no motel ou
apenas sua mãe estaria lá para tentar impedi-lo de ser apanhado esta
manhã.

— O que aconteceu?

— Ela ligou para a polícia. Eu não acho que ela e Dieter terão mais
problemas.

— Pagaram você?

Gethin bufou. — Ainda não. Talvez eu consiga quatrocentos. Mas se


eu estivesse realmente faturando pelo valor total, seria mais como mil. Ela
não pode pagar isso.

— Arranhado.

Gethin olhou para a mão dele. — Sim. Dieter queria o gato deles. Eu
peguei o errado. Gethin embelezou a história, mas ele podia ver que Jonnie
não estava realmente ouvindo.

— Enviou um e-mail para eles, disse Jonnie.

Gethin não precisou perguntar sobre o que ele estava falando. Sangue
trovejou em sua cabeça.

— Leia. Jonnie clicou um par de vezes e Gethin leu o que estava na


tela. — Tive que participar, disse Jonnie. — Então eu entrei.

Gethin suspirou. — Preciso de ajuda, disse Jonnie. — Preciso de você.


Gethin olhou para os sites que Jonnie tinha acessado. O preço de uma
morte assistida na Suíça, mais cremação, custos médicos, taxas e transporte.
Entre dez e quinze mil libras.

— Tenho tanto assim? Perguntou Jonnie. — Ainda não, talvez, mas


royalties? Emprestar isto?

Emprestar isto? Isso servia bem a Gethin. Ele tinha colocado


quantias regulares na conta de Jonnie e disse a ele que eram royalties.
Enquanto Gethin e o resto da banda deveriam receber royalties, houve uma
disputa entre os advogados desde que Gethin havia saído e outra depois que
a banda se dissolveu após o acidente de Jonnie. Adicione o agente corrupto e
nada havia sido pago ainda. O que era devido provavelmente seria engolido
em honorários legais.

— Ajude-me. Por favor. Preciso enviar cópias de registros médicos e


cartas explicando por que essa vida não é... o que eu quero. Jonnie respirou
instável. — Posso escrever a carta, mas preciso de médicos aqui para me dar
os registros... Preciso de uma avaliação escrita do médico dizendo... que eu
sou são.

— Jonnie...

— Não pode me convencer disso. Uma coisa na vida que eu quero...


mais do que você. O discurso de Jonnie estava menos arrastado, como se
isso fosse importante demais para ele não ser totalmente compreendido. —
Por favor, por favor. A morte não é o pior... isso é. A morte é fácil... mas
tenho que ter ajuda. Preciso de alguém para me levar... organizar tudo...
estar comigo.
— Oh Deus, Jonnie. Gethin sugou o ar e não pegou nada em seus
pulmões. — Veja. Dê à vida outra chance. Eu sei que isso não é o que você
quer, mas você ainda pode compor músicas, escrever letras.

— Miseráveis e fodidas músicas sobre não ser capaz de nadar no mar,


brincar na neve, me envolver com o cara que eu amo… Canções sobre querer
morrer. Ninguém está interessado... Ninguém me quer.

— E quanto a mim?

Jonnie lançou-lhe um sorriso triste. — Melhor para você se eu estiver


morto.

— Não diga isso. E os seus pais?

— Melhor para eles.

— Você não pode se matar para tornar a vida melhor para outra
pessoa.

— Eu quero isso para mim. Ele piscou. — Você sempre disse que eu
era um egoísta... eu preciso disso em breve. Rápido. Por favor... se você não
vai me ajudar, eu vou ter que pedir a um estranho.

Como você vai fazer isso? Você nem tem a porra do dinheiro para
pagar por isso.

Gethin colocou a cabeça entre as mãos e fechou os olhos.

— Sei que este é um pedido difícil, mas preciso que você me ajude. Eu
pedi ao pessoal aqui. Não vou nem falar sobre isso... Fodido psiquiatra... Dr.
Tolly. Preciso que ele diga que minha mente está sã... Disse que ele poderia
falar com você sobre mim. Ligue para ele.

— Que tal se eu te levasse de férias? Talvez pudéssemos ir para um


lugar à beira mar ou da neve.

Uma sombra cruzou o rosto de Jonnie. — Não este Jonnie.

Oh porra.

— É a última coisa que eu peço a você.

Gethin respirou fundo. — E os seus pais?

— Não quero vê-los novamente.

— Você tem que dizer a eles o que você quer fazer.

Jonnie ficou em silêncio por um momento. — Pense sobre isso. Você


vai ajudar? Você vai obter os registros médicos? Pedir ao médico para dizer
que eu não sou louco?

A garganta de Gethin ficou presa. Ele olhou para o cara ao seu lado e
se lembrou do velho Jonnie. A dor na bunda que era Jonnie, o Jonnie sexy e
até mesmo o Jonnie traidor, e Gethin entendeu que o cara não queria
machucá-lo. Era apenas o jeito que ele era. Descuidado, despreocupado,
imprudente. E Gethin estava ciente do que Jonnie não estava dizendo. Não
que o acidente dele tenha sido culpa de Gethin. Jonnie nunca o culpou, não
exatamente, mas...

— Por favor.

— Okay. Eu vou ajudar. Gethin mal podia acreditar que ele tinha
pronunciado as palavras. Ele teve que forçá-las além do nó duro em sua
garganta. Mas Jonnie sorriu de um jeito que Gethin não tinha visto desde
antes do acidente. Seus olhos brilhavam e havia uma espécie de paz em sua
expressão que Gethin nunca tinha visto antes. Que direito ele tinha de
impedir Jonnie de fazer o que ele queria?

Embora isso não significasse que ele não iria continuar tentando fazê-
lo mudar de idéia.

Quando Gethin finalmente foi embora, ele foi buscar o número do


psiquiatra de Jonnie, Dr. Tolly, com Candy na recepção. Gethin estava ao
lado de uma janela no saguão e telefonou primeiro para o Dr. Khan, o
médico pessoal de Jonnie. Ele esperava que o médico não aceitasse discutir
o que Jonnie havia dito, mas ele não estava - apenas desapontado. Jonnie
tinha o direito de ter acesso aos seus registros médicos e o médico
concordou em enviar um e-mail para eles.

— Sinto muito, disse Gethin. — Eu tentei convencê-lo a esquecer


disso. Vou continuar tentando, mas... Ele engasgou. — Eu não posso discutir
isso mais com você.

— Ok.

Gethin terminou a chamada. Quando Gethin olhou para cima, viu


Candy olhando para ele, sem seu costumeiro sorriso no rosto.

— Você está bem? Ela perguntou.

— Eu queria dizer não para ele.

— Não se torture, ela disse calmamente. — Não há coisa certa ou


errada a fazer aqui. Jonnie é um jovem triste. Eu o vejo quando o levam para
a sala de cinema. Ele nunca fala com ninguém. As enfermeiras falam que ele
não reclama mais. Ele costumava gemer sobre tudo. Ele perdeu a vontade de
se importar. Você tem que cuidar dele.

Gethin saiu antes que ele quebrasse. Ele não era um cara que
chorava, mas ele estava sendo empurrado além de seus limites. Ele ligou
para o psiquiatra antes de entrar no carro.

— Dr. Tolly?

— Sim.

— É Gethin Jones. Um amigo de Jonnie Miller, um paciente de


Wellbrook. O Sr. pode falar agora?

— Sim.

— Suponho que você saiba por que estou ligando.

— Sim.

Isso, não me dê nenhuma ajuda aqui. Gethin respirou fundo. —


Jonnie disse que ele lhe deu permissão para falar comigo sobre sua saúde.

— Sim.

Você já usou mais de uma palavra? O cara estava preocupado que


Gethin iria psicoanalisar ele? — Ele quer que eu o ajude a ir para a Suíça,
onde ele pretende tirar a própria vida. Mesmo dizendo essas palavras
fizeram Gethin se sentir doente. — Para fazer isso, ele precisa ser declarado
totalmente são. Você acha que sua mente está plenamente sã?

— Avaliar a capacidade mental é um processo complexo.


A única vez que Gethin queria uma resposta de uma palavra - embora
ele não tivesse certeza de qual palavra ele queria ouvir. Agora ele ia fazer
uma palestra.

— Não é algo que pode ser facilmente julgado como, por exemplo,
uma lâmpada que está apenas acesa ou apagada.

Eu não sou um idiota do caralho. — Mas você foi seu psiquiatra


desde o começo. Você o conhece tão bem quanto qualquer um. Eu aprecio
que haja ramificações no seu julgamento, mas eu quero o melhor para
Jonnie. Eu quero que ele tenha o direito de escolher seu próprio futuro. Isso
não significa que eu concorde com ele. Mas ele merece a chance de tomar a
decisão sabendo que ele pode fazer isso. Espero que você não tire isso dele.

— A situação exige análise. Eu... –

— Não há nada para analisar. Gethin tentou manter seu


temperamento. — Ele está paralisado do pescoço para baixo sem esperança
de melhora significativa. Ele não quer viver assim.

— Mesmo assim, eu tenho o dever de protegê-lo. Jonnie está


deprimido. Ele... –

— Você não ficaria deprimido? Gethin passou os dedos pelos cabelos


em frustração.

— Ele se recusou a tomar remédio.

— Por que os antidepressivos não podem melhorá-lo, não consegue


fazê-lo andar. Por favor, apenas considere isso. Se você não declará-lo são,
terei que encontrar alguém que o faça. Eu absolutamente entendo que você
respeita a santidade da vida, mas Jonnie não quer a vida que ele tem agora.
Ele quer a vida que tinha e sabe que isso não pode acontecer. Pense nisso e,
se você não puder ajudar, por favor, considere me dar o nome de alguém que
vai. Gethin terminou a ligação antes que o cara pudesse dizer não. Ele
entrou no carro e apoiou a cabeça no volante. Era difícil pensar diretamente
com preocupações sobre Jonnie rodando em sua cabeça. As coisas não
estavam resolvidas entre ele e Kell, mas agora Jonnie tinha prioridade.

****

Kell chegou ao clube como ordenado antes das sete. Quando ele
entrou, Marek estava conversando com Warner em um lado da sala. Huginn
e Josef, um dos seguranças, estavam recostados no balcão lado a lado. Josef
acenou para ele e Kell se dirigiu para o lado deles. Leo, um dos barmen, saiu
do banheiro e se juntou a eles.

— Como estão as coisas? Perguntou Kell.

Huginn não respondeu, apenas o encarou com seus olhos negros e


afiados.

Josef encolheu os ombros. — O chefe e Marek estão chateados.

— Por quê? O que aconteceu?

Josef deu de ombros novamente. — Não sei.

— Sabe o que estamos indo fazer hoje à noite? Porque quanto mais
cedo ele descobrisse, melhor a chance de dar um aviso ao seu chefe, embora
a localização de Kell fosse constantemente monitorada pelo telefone.

— Não, Josef disse.

Warner desapareceu na direção de seu escritório e Marek se


aproximou.

— Josef, você e Leo em um veículo. Kell e eu vamos levar outro.


Vamos.

Kell os seguiu para fora do clube e virou a esquina onde duas velhas
vans brancas estavam estacionadas. Ele memorizou o registro do primeiro,
mas não conseguiu ver o da segunda.

— Quer dirigir? Marek perguntou.

— Não realmente. Ele preferia que Marek tivesse suas mãos no


volante e não nele. Marek subiu no lado do motorista.

— Onde estamos indo? Perguntou Kell, sentando-se ao lado dele.

— À beira-mar.

Kell apertou o cinto de segurança. Agora ele tinha que ter cuidado.
Parecer muito interessado poderia foder isso.

— O que você esteve fazendo hoje? Marek perguntou.

— Fui à uma exposição de galhos na Galeria Tate.

Marek riu, mas Kell não estava brincando. Ele precisava de espaço
para pensar. Olhar para os galhos não ajudou muito.
— Estamos indo atrás de Dieter? Por favor, diga que não.

— Aquele pequeno idiota? Ele está feito.

— O que isso significa? O coração de Kell bateu em sua garganta. —


Warner descobriu que ele estava em um motel na auto-estrada e nós fomos
lá esta manhã. Mas a mãe dele contratou um pau privado e ele também
estava lá. As coisas ficaram aquecidas. Os policiais chegaram.

— Merda.

— Warner decidiu que Dieter era muito problema.

Kell ficou aliviado ao ouvir isso.

— Aquele cara no clube era problema, disse Marek.

— Que cara?

— O que você gostou.

Kell ficou tenso. — Aquele no arnês? Eu gostei do seu arreio, não


dele. O que ele tem a ver com isso?

— Você estava errado, não foi acidente. Ele disparou o alarme.


Empurrou Warner.

— Ele era o PI? Kell pensou que era seguro fazer a conexão.

— Sim.

— Cristo. Então ele pegou Dieter?


— Levou-o de volta para a mãe. Ele vai fugir de novo. Crianças como
ele sempre fazem isso.

Kell mudou de assunto. A falta de interesse era mais segura. — O que


estamos fazendo no litoral? Construindo castelos de areia?

— Coleta e entrega.

— É um trabalho para a Warner ou para você? Kell perguntou.

— Por quê? Marek olhou para ele.

— Apenas queria saber.

— Não.

Essa pergunta não o levou a lugar nenhum. A próxima poderia. —


Temos tempo para comprar um hambúrguer? Estou com fome.

— Você pode chupar meu pau.

— Posso comer batatas fritas e ketchup com isso?

Marek riu. — Pegue o papel do meu casaco e coloque as instruções no


GPS.

Pett Level Road. Praia de Winchelsea. Kell tinha certeza de que isso
ficava no meio do nada.

— Conhece esse lugar? Marek perguntou.

— Não. Kell esticou as pernas e gemeu, então se deu conta do


interesse de Marek em sua virilha e parou de se mover.

— Você tem família? Marek perguntou.


— Além do tio Bob. O plano de fundo de Kell havia sido preparado
para ele. — Meus pais moram na Escócia. Eles não estão felizes por eu ser
gay. Eu tenho um irmão que me odeia, mas não porque sou gay. Kell insistiu
que isso fosse colocado. Ele podia falar sinceramente por horas sobre Oliver.

— O que você fez para fazê-lo odiar você?

— Nasci. Ele queria ser filho único. Minha mãe me disse que ele
quase me sufocou quando eu era bebê. Ela disse que foi um acidente, mas eu
não acho que foi. Ele esperava que Marek iria se abrir sobre si mesmo
porque Lane não tinha sido capaz de descobrir nada sobre ele.

— Como você tem um nome eslovaco quando você é da Albânia?


perguntou Kell.

— Minha mãe era polonesa.

— Ela ainda está viva?

— Não.

— Irmãos e irmãs?

— Tenho uma irmã. Quatorze anos mais nova que eu. Eu sempre a
protegi. Eu mataria qualquer um que tentasse machucá-la.

— Ela mora no Reino Unido? Marek assentiu. Kell não pressionou.


Ele havia perguntado o suficiente

— Como você se sente sobre morar comigo? Marek perguntou.

Kell ficou tão chocado que não disse nada por um momento. Não
apenas chocado. Horrorizado. Ele sabia que seu chefe ficaria encantado. —
Eu acho que não, ele murmurou. — Eu já tenho um irmão tentando me
matar. Você vai longe demais às vezes.

Marek riu. Kell lutou para colocar sua cabeça em torno de Marek
perguntando isso a ele. De jeito nenhum ele diria isso ao chefe dele. Eu não
vou morar com esse cara. Kell queria que isso acabasse logo, então ele teria
uma chance com Gethin.

— Você se muda neste fim de semana. Você mora em um buraco de


merda. Por que você quer ficar lá?

— Okay, se você quiser. Eu vou poder fazer café, não vou? De jeito
nenhum. Ele fechou os olhos e encostou-se à janela.

****

Ele não tinha intenção de cair adormecido, mas se levantou com um


sobressalto quando o furgão parou.

— Ainda quer hambúrguer? Perguntou Marek.

Eles estavam na fila de um drive-thru do McDonalds.

— Por favor. Eu só preciso entrar um pouquinho para urinar. Kell


tirou a carteira e Marek afastou a mão. Obrigado.

Kell correu para a entrada e foi direto para o banheiro, checou para
ver se estava vazio e se fechou em uma cabine. Ele pegou o telefone e ligou
para o chefe.

— Tio Bob. Posso pedir um favor? Kell sussurrou.

— Vá em frente.

— Coleta em Pett Level Road, Winchelsea Beach. TN36 3NQ. Entrega


depois. Duas vans. Não faço ideia do que está envolvido.

— Ele revelou a placa da van e ficou paralisado. Alguém tinha entrado


no banheiro. Kell deu descarga e enfiou o celular no bolso. Quando ele saiu,
Josef estava em um mictório.

Kell lavou as mãos e colocou-as sob o secador. — Espero que Marek


tenha me comprado um McLanche Feliz.

Josef bufou.

— Alguma idéia do que estamos coletando? Perguntou Kell.

— Nada de interesse para nós. Josef fechou o zíper, esfregou a virilha


e piscou.

Mulheres?

No momento em que Kell voltou para o furgão este já estava no ponto


de coleta. Marek entregou-lhe a comida e dirigiu até o final do
estacionamento. A outra van parou ao lado deles. Kell não percebeu o
quanto estava faminto até começar a comer. Ele terminou seu hambúrguer
em um par de mordidas e uma idéia lhe ocorreu.

— Eu preciso de outro. Você quer outra coisa? Ele perguntou a


Marek.
— Nuggets de frango. Ketchup. Kell bateu na janela da outra van para
perguntar se eles queriam mais alguma coisa, mas mais para impedir que
qualquer um dos dois o seguisse. Eles balançaram a cabeça e Kell dirigiu-se
ao restaurante. Ele tinha quase certeza de que não podia ser visto no balcão,
mas ainda foi cuidadoso. Quando ele tirou a carteira, pegou o telefone ao
mesmo tempo.

— Tio Bob. Posso pedir um favor? Kell assentiu para a mulher que
servia. — Um Big Mac, nuggets de frango e um McLanche Feliz.

Lane riu. — Não tenho certeza se posso gerenciar isso.

— Poderia ser mulheres que estamos coletando.

— Pett Level Road corre ao longo da costa. O que quer que você esteja
indo buscar lá virá do mar. Não podemos colocar uma equipe na sua frente
porque os veículos seriam vistos. Estamos pensando em pegar uma van e
deixar a sua.

— Okay.

Kell terminou a ligação, empurrou o celular no bolso e saiu com a


comida. Todo mundo estava onde ele esperava que estivessem quando ele
voltou para a van. Marek revirou os olhos quando lhe entregou o McLanche
Feliz.

— Você conseguiu um cachorro de brinquedo. Kell entregou a ele.

Marek o jogou de volta. Kell colocou a mão em seu coração. — Estou


arrasado. O primeiro presente que dou a você e você joga de volta. Kell
acariciou o cachorro com o dedo. — Não leve para o lado pessoal. Ele é assim
com todos.

Marek bufou. No momento em que ele terminou de comer, ele partiu


novamente. Kell ficou quieto até chegarem à estrada costeira. De acordo
com o satélite, estavam a dez minutos do destino deles.

— Vamos coletar conchas? Perguntou Kell. — Está um pouco escuro.

— Mantenha a boca fechada.

Quando Marek puxou para um pequeno acostamento, Kell teve


certeza que o cara já tinha estado lá antes. Não era fácil identificar a partir
da estrada. A outra van estacionou atrás. Marek desligou o motor e saiu. Kell
o seguiu.

Marek abriu a parte de trás da van e entregou a todos jaquetas e


chapéus escuros. — Coloque-os e fique quieto.

Ele os conduziu através da estrada, por cima de um cume arenoso e


desceu para uma praia de cascalho, as pedras escorregando sob seus pés. A
maré estava subindo. Kell ouvia ondas se quebrando, o mar sugando as
pedras. Marek estava falando ao telefone, mas muito baixo para Kell ouvir o
que ele estava dizendo.

— Agora esperamos. Marek desligou o telefone, sentou-se e acendeu


um cigarro.

Joseph e Leo se estabeleceram a alguns metros de distância.

— Sente-se aqui perto de mim. Marek deu um tapinha no cascalho ao


seu lado.
Kell enfiou as mãos nos bolsos e caiu ao seu lado. O horizonte era
pouco mais que uma linha fraca no céu noturno. Muita nuvem para ver
estrelas. Kell gostava de olhar para as estrelas. Ele aprendeu sozinho a
reconhecer constelações quando era criança. Quando ele não estava na
escola, ele passava o tempo que podia longe da casa e, nas noites quentes de
verão, ele costumava deitar na grama do outro lado do jardim e olhar para o
céu. Ele se perguntou se Gethin gostava de olhar para as estrelas, se ele teria
a chance de descobrir.

— Chupe-me, disse Marek.

O que? Kell olhou em volta. — Aqui fora?

— Quem está assistindo?

— Josef e Leo para começar. Mas esperançosamente não meu chefe.


Ele tinha a imagem mental de algum satélite se aproximando deles,
transmitindo sua imagem para uma sala cheia de policiais dando risadinhas
um para o outro.

— Vocês dois mantenham os olhos abertos para a chegada do barco,


Marek falou, então puxou o cabelo de Kell. — Viu? Sem problemas. Eles
fazem o que eu digo.

Kell manteve as costas para Leo e Josef, ajoelhou-se e abriu o zíper


do casaco de Marek para que ele pudesse chegar às suas calças. Felizmente,
Marek já estava duro. Kell tirou o pênis do sujeito da cueca e envolveu a mão
na base. Ele nunca gostou de fazer isso, mas ele particularmente não queria
fazer isso agora que ele e Gethin estavam chegando a algum lugar. Então
faça rápido. Não pense.

Ele deixou cair a cabeça na virilha de Marek e envolveu a ponta do


seu pênis com a boca, passando a língua por cima. Ele sabia como fazer
Marek gozar rápido então ele se concentrou na cabeça, fazendo todos os
truques que ele conhecia. A respiração de Marek vacilou.

Kell apagou sua mente, exceto pelo pensamento de que talvez ele
nunca tivesse que fazer isso novamente. Ele chupou mais forte, torceu a base
com o punho enquanto bombeava e sentiu o pau de Marek aquecer e inchar.
Então Marek estava gozando, jorrando em sua boca. Kell engoliu o fluido
salgado-doce e se perguntou quem ele mais odiava, Marek ou ele mesmo.
— Lá adiante, disse Leo.

Kell viu uma luz piscar no mar. Marek se levantou e jogou o cigarro
de lado. Ele pegou o telefone e mostrou um sinal de resposta.

— Eles vêm em dois grupos, disse Marek. — Josef, você e Leo fazem
o primeiro grupo. Volte via Hastings. Não pare.

Kell ficou quieto. Demorou um tempo antes que ele pudesse ver
qualquer coisa. Ele se concentrou em um barco que parecia não estar se
movendo, em seguida, avistou um bote inflável vindo em direção a eles, o
som de seu motor funcionando sobre a água. Marek olhou de volta para a
estrada como se tivesse ouvido alguém e Kell se perguntou se Lane
decidira tirar todos eles agora, mas nada aconteceu. Embora se Lane
tivesse uma equipe de prontidão, eles esperariam até que o barco estivesse
em terra.

— Pedi-lhes para não fazer barulho, disse Marek.

O barco estava cheio de jovens mulheres, todas elas parecendo


geladas e assustadas. Dois caras saltaram do barco para a arrebentação e
puxaram o bote para o chão de cascalho. Com exceção de Marek, todos
ajudaram a levar as mulheres com suas bagagens para a praia. Quando
uma das mulheres falou, Marek falou algo em albanês - bem, Kell achou
que provavelmente era albanês - e ela calou a boca. Kell ajudou uma loira
esbelta sobre as pedras e subiu a encosta até a estrada. Ele carregou a
bolsa e segurou a mão dela. Seus dedos estavam congelados. Ele se
perguntou o que eles tinham estado falando e o que elas estavam
esperando.

— De onde você é? Ele sussurrou em inglês.

— Albânia. Aqui é realmente a Inglaterra?

— Sim.

Ela pareceu aliviada. Havia sete garotas. Nenhuma parecia ter mais
de vinte e provavelmente nem isso, mas pelo menos não eram crianças.
Kell tentou ligar seus rostos às fotos do arquivo no carro de seu chefe, mas
estava tão escuro que era difícil ter certeza. Quando ele voltou para a praia,
ele viu um dos rapazes do barco entregar dois pacotes embrulhados em
papel para Marek, e então a embarcação foi ligada novamente, de volta ao
mar.

Kell caminhou sobre o cascalho para o lado de Marek. — O que as


mulheres acham que estão fazendo aqui?

— Elas sabem o que estão fazendo. Trabalhando.

Não havia sinal dos pacotes e Kell se perguntou se Marek os havia


colocado em sua jaqueta. O barco voltou com mais mulheres e Kell ajudou-
as a sair do barco. Marek era áspero quando ele lidava com elas e rude
quando falava. Kell carregou as malas de mais duas até a praia e depois
pelo pequeno barranco enquanto Marek não levava nada. Kell tinha a
sensação de que, se o cara tivesse um chicote, ele o teria usado.

As mulheres pareciam felizes quando chegaram à van e Kell se


sentiu mal com isso. Desta vez ele achou que tinha reconhecido alguns
rostos. Lane iria deixar esse veículo chegar ao seu destino? Se assim fosse,
isso prolongaria a agonia de Kell porque significava que eles não estariam
tirando-o ainda. Mas, tecnicamente, que evidência havia para ligar Warner
a tudo isso?

Quando as mulheres foram trancadas na parte traseira, Kell tirou a


jaqueta e o gorro e subiu na frente ao lado de Marek.

— Sem intercorrências essa noite, disse Marek. — Da última vez,


todos caíram fora do barco. Gritando e lamentando. Ele falou.

Kell empurrou a jaqueta até a área dos pés e viu um dos pacotes que
Marek havia recebido. Onde estava o outro? — O que tem aí?

— Coca.

— Oh.

Marek olhou para ele. — Oh?

— Sim. Oh merda, eu não quero ser pego com isso. Ainda assim,
tem suas impressões, não minhas.

Marek deu uma risadinha. — Eu gosto disso em você.

— O fato de eu estar sempre certo? Kell não pôde evitar.

— Você não toca em drogas. Você não bebe demais. Você fala
demais, mas eu sei como calar sua boca.
— Sim. Kell apertou os lábios juntos.

****

Marek parou do lado de fora de uma casa em Deptford e pegou seu


telefone. Quem ele estava chamando não respondeu e a testa de Marek se
enrugou.

— O que há de errado? Perguntou Kell.

Marek tentou outro número, esperou e desligou a ligação. — Porra.

Kell abriu a boca e mudou de idéia. Marek chateado nunca foi uma
boa notícia.

— Nenhuma resposta de Josef ou Leo. Eles tinham menos distância


para viajar. Eles deveriam ter chegado trinta minutos antes de nós. Ele
suspirou. — Vamos levar as meninas para casa. Passe-me a coca.

Kell entregou o pacote para ele.

— Suas impressões digitais agora. Marek riu.

Idiota.

Quando deixaram as mulheres saírem da van, Kell queria gritar


para elas não serem tão dóceis e passivas. Mas elas pegaram as bagagens e
atravessaram o jardim e entraram na casa geminada da 72 Vincent Drive
como se estivessem chegando de férias. Kell esperava que tudo isso
estivesse sendo gravado. Eles entregaram as meninas para um par de caras
que Kell nunca tinha visto antes e Marek também lhes entregou a cocaína.
Trocaram algumas palavras em outro idioma e Kell desejou saber o que
estavam dizendo. Não falar albanês colocava-o em uma enorme
desvantagem.

— Posso usar o banheiro? Perguntou Kell.

Um dos rapazes apontou para as escadas. Kell estremeceu ao ver o


estado - banheira manchada e restante imundo e mofado. Ele trancou a
porta e mandou uma mensagem para Lane. 7 meninas albanesas
entregues na 72 Vincent Drive Deptford mais um pacote de coca. Marek
ainda tem um pacote. Depois apagou o texto, deu descarga na privada e
voltou ao andar de baixo. Marek olhou para ele, seu rosto vermelho de
fúria.

Kell apertou o corrimão. — O que há de errado?

Marek agarrou-o pela manga de sua jaqueta e puxou-o para fora da


casa. Quando Kell se moveu em direção à van, Marek o empurrou para
longe. As luzes piscaram em um velho BMW estacionado mais abaixo na
rua. Kell estava tremendo quando ele entrou. Ele não sabia por que estava
tão ansioso. Ele estava constantemente no limite enquanto estava
disfarçado, mas isso era algo diferente. Talvez fosse porque ele sabia que
as coisas poderiam acontecer rapidamente esta noite e ele precisava estar
pronto. Ou talvez fosse porque Marek era tão imprevisível, especialmente
quando ele estava com raiva.

Depois de apertar o cinto de segurança, ele cruzou os braços para


que Marek não visse suas mãos tremendo. Ele observou a van que eles
vieram fazer uma inversão de marcha e descer a rua. Marek se afastou na
direção oposta.

— O que aconteceu? Perguntou Kell.

— Nenhuma palavra de Josef ou Leo. Ambos os telefones estão indo


para o correio de voz. Eu não gosto disso.

— Talvez eles tenham sofrido um acidente.

— Talvez. Warner vai ficar chateado. Isso respondia a uma das


primeiras perguntas de Kell. Warner estava por trás disso.

— Onde estamos indo?

— Outro trabalho. Um pequeno. Esse você fica quieto. Meu


trabalho, não o de Warner, entendeu?

— Sim.

Menos de dez minutos depois, Marek parou do lado de fora de um


prédio de apartamentos com andaimes de um lado. Um cara grande com
uma jaqueta de couro preta aproximou-se do carro quando saíram e,
quando se aproximou e Kell viu seu rosto, ele engasgou. Irmão de Marek?
Gêmeos? Marek acenou para o homem, trocou uma saudação e o abraçou.

— Pav conheça Kell, Marek disse.

Kell lhe deu um aceno com a cabeça. O cara cheirava rançoso, de


suor e cigarro e algo mais que Kell nem queria tentar identificar. Irritou
Kell que ele se parecesse tanto com Marek. Um pesadelo em dobro.
Os três caminharam por quatro lances de escada e ao longo de um
pequeno patamar aberto. Marek fez um sinal para Kell e Pav ficarem um
de cado lado, então bateu na porta do apartamento 58.

Quem quer que estivesse lá o abriu com a corrente presa, mas


Marek chutou a porta aberta e todos eles se amontoaram. O coração de
Kell acelerou como um louco quando ele viu de quem era o apartamento
que tinham acabado de invadir. Gethin estava recuando através de um
espaço aberto e acabou encostado na parede ao lado de um sofá cinza.

Porra, porra, porra, porra, porra. Não havia quantidade suficiente


dessas fodidas palavras para descrever o que Kell estava sentindo.

— Eu não acredito nisso, disse Marek com uma risada. — Mundo


pequeno esse.

O que? Parecia que Marek estava tão surpreso ao ver Gethin quanto
ele. Kell não entendeu o que estava acontecendo.

— Não me lembro de tê-lo convidado para entrar, disse Gethin.

Marek deu um passo à frente e enfiou o punho no estômago de


Gethin. Quando Gethin dobrou-se ao meio com um grunhido, Pav agarrou
seus pulsos e puxou-os para trás. Eu não posso fazer isso Eu não posso
ficar de pé e assistir.

Mas quando Kell se moveu, Gethin ofegou, — Três contra um. Isso é
desportivismo.

Kell entendeu a mensagem.


— Desportivismo? Marek sorriu. — Esse é o meu tipo de esporte.
Aquele primeiro soco foi por esta manhã. Ele bateu nele novamente, e
Gethin gritou. — Isso foi por pegar o que não pertence a você.

O que? Cristo. — O que está acontecendo? Kell olhou em volta. —


Dieter está aqui?

— Eu não estou falando sobre esse pequeno provocador. Onde está


o cartão de memória?

Oh merda. — Que cartão de memória? Perguntou Kell.

— Cala a boca, rosnou Marek.

— Preciso ir ao banheiro, resmungou Kell. Eu preciso enviar uma


mensagem para meu chefe.

— Fique onde você está. Marek não tirou os olhos de Gethin.

— Onde está?

— Foda-se, Gethin engasgou.

Pav fez algo por trás das costas de Gethin e Gethin sugou em uma
respiração sem folêgo.

Marek acertou-o novamente no estômago. — Onde?

— No meu escritório, disse Gethin. — Nós olhamos em seu


escritório.

— Bem escondido.
— Onde?

— Se eu te disser... você me deixa ir?

— Prometo. Marek sorriu.

Deus, não acredite nele.

— Leve-me e eu mostrarei a você. Gethin olhou para Marek.

— Talvez devêssemos apenas começar a cortá-lo até você falar.


Marek sorriu, Pav riu e Kell lutou para não vomitar.

— Os dados estão criptografados. Você não poderá lê-lo.

— Você leu?

— Não.

— Mentiroso. Marek o atingiu novamente e Kell apertou sua


mandíbula.

— Eu li um pouco disso... Gethin respirou fundo. — Eu posso


desencriptá-lo. Você precisa de mim. Marek ficou em silêncio por um
momento. — OK. Nós vamos para o seu escritório.

O coração de Kell que havia recomeçado a bater estava em uma


disputa com seu cérebro. Marek estava por trás de Gethin roubando os
dados do contador da Warner? Em nome de Warner ou para si mesmo?
Kell não teve que pensar muito sobre isso. Marek não queria que Warner
soubesse disso.

Pelo menos, Gethin havia conseguido convencê-los a sair do


apartamento, o que era uma coisa boa, porque dava a ele uma chance
melhor de fugir, e Kell faria tudo o que pudesse para ajudar.

— Amarre suas mãos. Marek entregou a Kell uma gravata. — Na


frente.

Gethin cerrou os punhos com os polegares juntos, as palmas


voltadas para baixo. Kell sabia que isso lhe daria a melhor chance de se
libertar. Ele não olhou para o rosto de Gethin enquanto ele enrolava a
gravata e amarrava. Sem apertar muito.

Marek deu um tapa na cabeça de Kell. — Fodido inútil. Mais


apertado. Vire os pulsos.

Gethin juntou os pulsos e Kell puxou a gravata, certificando-se de


que o fecho estava na frente. Será que Gethin sabia o truque para se soltar?
Não que isso sempre funcionasse, mas Kell tinha praticado isso, apenas no
caso. Com os braços para cima, bata-os para baixo e para os lados, sobre os
quadris.

Marek tirou o telefone de Gethin do bolso, jogou-o no sofá e depois


jogou o casaco para ele. — Carregue o casaco. Esconda os pulsos. Peça
ajuda e eu mato pessoa com quem você fala.

Gethin assentiu.

— Chaves do escritório? Marek perguntou.

— Bolso do meu casaco.

— Pav, pegue seu laptop.

Kell arrastou a porta fechada enquanto saíam, aliviado de que o


chute de Marek não impedia de trancá-la. Pedaço inútil de merda. Eles
não passaram por ninguém em seu caminho para o andar de baixo. Marek
abriu o carro e Pav empurrou Gethin para trás.

— Sente-se com ele. Marek disse a Kell. Kell deslizou e prendeu o


cinto de segurança de Gethin.

— O que você está fazendo? Marek perguntou.

— Afivelando o cinto de segurança.

Marek e Pav se sufocaram de tanto rir. Eu queria que você se


fudesse. Kell pressionou o joelho contra o de Gethin, sentiu a resposta de
Gethin e sorriu mentalmente. Mas quando o telefone de Kell vibrou, ele
congelou. Ele puxou-o para fora. Warner.

Marek olhou no espelho. — Quem é?

— Warner.

— Cuidado com o que você diz. Kell respirou fundo. — Oi.

— Onde você está? Perguntou Warner.

— Com Marek. Você quer falar com ele?

— Não. Ele pode ouvir?

— Não.

— Mantenha isso entre nós. Eu vou lhe contar o que aconteceu hoje
à noite e quero que você diga sim ou não se eu entendi errado. Tudo bem?

— Sim. Oh, Cristo, o que está acontecendo?

— Você chegou em Deptford antes da outra van.


— Sim.

— Leo ou Josef estão atendendo ao telefone?

— Não.

— Marek estava preocupado com isso?

— Sim.

— Ele entregou um pacote na casa?

— Sim.

— Um?

— Sim.

— Não dois?

— Não.

Warner suspirou. — Vocês estão voltando para o clube? Pergunte a


ele.

— Warner quer saber se estamos voltando para o clube?

— Ainda não, Marek disse. — Verificando Leo e Josef.

— Você ouviu isso? Perguntou Kell.

— Sim. Warner terminou a ligação.

— O que ele queria? Marek perguntou.


— Ele está preocupado com Leo e Josef. Eu disse que não houve
problemas. Que eles partiram na direção que você disse. Que não havia
nenhum sinal de que alguém estivesse observando ou seguindo, mas que
eles não tinham chegado antes de nós na casa, embora fosse isso que você
estivesse esperando. Por que ele não perguntou a você tudo isso?

— Ele perguntou. Tem certeza de que foi tudo o que ele perguntou?

Escolha os lados. Rápido. — Ele perguntou se você entregou um


pacote. Eu disse sim. Está tudo bem?

— Sim.

— Warner está checando você? Kell colocou tanta incredulidade em


sua voz quanto conseguiu.

— Não. Ele está checando você.

Kell não pensava assim.

****

Gethin ficou rígido quando ouviu Marek dizer que Warner estava
checando Kell. A presença de Kell foi reconfortante, mas talvez Kell
também estivesse em apuros. Ele ficou chocado quando Marek chutou a
porta, mas quando Kell apareceu, ele se sentiu aliviado. Exceto que ele não
queria que Kell se machucasse tentando ajudá-lo.
Gethin pensou que tinha entendido tudo agora.

— Izabela Dushku é sua irmã.

— Pav também. Marek riu.

Bem, duh. Os dois obviamente eram irmãos. Características muito


semelhantes.

Pav se virou e sorriu para ele. — Minha irmã é uma boa atriz. Suas
lágrimas te enganaram. E as contusões. Ela é maquiadora.

— Do que você está falando? Perguntou Kell.

— Mantenha a boca e as orelhas fechadas, disse Marek. — Você não


precisa tomar conhecimento disso.

Então por que trazê-lo?

— Pelo menos me diga por que você me escolheu. Gethin ainda


estava preocupado que houvesse algum elo com seu passado que ele não
tivesse cortado.

Mas o resto da viagem se passou em silêncio. Kell esfregou o joelho


contra o dele e Gethin desejou que ele achasse isso um pouco mais
reconfortante.

****
O prédio do escritório estava deserto. Eles subiram no elevador e
Kell acariciou sua bunda. Não seja pego. Gethin saiu primeiro e seguiu
pelo corredor. Marek pegou as chaves do bolso de Gethin, mas foi só
quando a porta não abriu que Gethin lembrou que a fechadura havia sido
trocada.

Marek acenou para o irmão e um chute forte de Pav funcionou.


Marek acendeu a luz. Angel deve ter pedido a alguém para arrumar. Os
restos de seus computadores tinham sido empilhados, sua papelada estava
empilhada em sua mesa e as caixas de cabos e peças estavam empilhadas
no canto.

— Pegue-o, disse Marek.

— Pode desapertar meus pulsos?

— Eu pareço idiota?

Gethin se moveu para trás da mesa e se abaixou. Por um momento


de parar o coração, ele pensou que o cartão de memória tinha sumido
antes que pudesse tocá-lo com os dedos e puxá-lo para fora. Depois que ele
se levantou, Marek empurrou-o sentado na cadeira.

— Agora você me diz o que está nele.

— Eu preciso de minhas mãos livres. Eu não posso trabalhar assim.

Marek pegou uma faca e o soltou. Finalmente, Gethin tinha um


plano e uma chance. A faca voltou para o bolso esquerdo da jaqueta de
Marek. Gethin ligou o laptop e esperou que ele ligasse.
— Se você mover um pouco a mesa, você pode ver melhor, disse
Gethin.

— Pav. Marek acenou para seu irmão.

Pav e Kell arrastaram a mesa para longe da parede, o que agora


dava a Gethin duas chances de escapar por trás. Ele digitou no teclado e
abriu os dados que já estavam em seu laptop, esperando que Marek não
notasse de onde ele estava puxand-os.

— O dinheiro vai para bancos, empresas, companhias de


investimento, mercado de bolsas e depois é trazido de volta ao Reino
Unido. O coração de Gethin acelerou. — Uma trilha complicada. Olhe.

Gethin girou para o lado para dar espaço a Marek. Quando o


homem se inclinou para verificar a tela, Gethin puxou a faca do bolso do
cara, pulou em volta da mesa e agarrou Kell. Ele abriu a lâmina e segurou-
a na garganta de Kell. Por um longo momento ninguém falou.

— Largue a porra da faca, rosnou Marek. — Você tem o que quer,


disse Gethin. — Estou indo embora. Peça a seu irmão que se afaste da
porta. Ele podia sentir Kell tremendo contra ele.

— Deixe-o ir, disse Marek. Gethin apertou a faca contra a pele de


Kell e ouviu Kell ofegar. Cristo, isso é mais afiado do que eu pensava.
Sangue escorreu por seus dedos e o colar que usava partiu. Contas
saltaram no chão. Desculpe, Kell. Gethin estava contando com Marek
tendo algum interesse em manter Kell vivo.

— Pav - saia, Marek estalou. O cara se afastou da porta e Gethin


contornou a sala segurando Kell. Ele sentiu em suas costas a pressão da
maçaneta da porta, viu o olhar que os dois irmãos trocaram e sabiam que
iriam se mover. Gethin enviou um pedido de desculpas silencioso para
Kell, empurrou-o com força contra Pav e fugiu.

Eles esperavam que ele descesse as escadas, no entanto Gethin


subiu. Isso daria a ele alguns segundos preciosos, talvez minutos, se eles
verificassem cada escritório. Ele já tinha chegado ao telhado antes de ouvi-
los chegando.

— Porra, volte aqui, Marek gritou.

Gethin caiu para o próximo nível, correu ao longo da calha e pulou


no céu noturno.
Marek enviou Kell para baixo nas escadas para procurar por Gethin
enquanto ele e Pav subiam. O pescoço de Kell havia parado de sangrar, mas
havia sangue em sua jaqueta e camiseta. Ele não tinha certeza se Gethin
tinha querido cortá-lo ou cortar seu colar, mas ele não o teria matado. Kell
ficou surpreso por Marek não ter dito - —Faça isso. Veja se eu me importo.
Kell não queria que ele se importasse.

Ele ficou dentro do prédio e encostou-se à parede junto à saída. Se


Gethin viesse por aqui, Kell pediria para Gethin bater nele. Quando ele teve
a chance, Kell pegou seu telefone.

— Oi tio Bob. Posso pedir um favor? Ele sussurrou.

— Onde você está?

— No prédio de escritórios do PI com Marek que tem um fodido


irmão. Pavel. Por que não sabemos sobre ele? Marek queria o pen drive. Eu
acho que ele está atrás do dinheiro de Warner. O PI fez uma corrida para
ele. O que aconteceu esta noite? Fale rápido.

— Nós interceptamos a primeira van. Todos estão sob custódia. A


casa está sob observação. Mais alguns dias, talvez nem isso, e isso estará
terminado.
Kell desligou o telefone e enfiou no bolso. Talvez ele não devesse
estar esperando. Talvez ele devesse checar se Gethin estava bem porque se
Marek pusesse as mãos nele, ele o mataria. Mas se Kell se afastasse da porta,
ele seria o único em apuros. Ele estava mais tranquilo em saber que Gethin
conhecia este edifício e Marek não. Tomara que Gethin tenha uma rota de
fuga planejada.

Quando ouviu passos, Kell se endireitou. Marek apareceu no


corredor.

— Ele não veio por aqui, disse Kell.

— Ele pulou da porra do telhado. Marek deu um grunhido frustrado.

O estômago de Kell se agitou. — O que?

— Eu não estou pulando atrás dele. Da próxima vez que eu o vir, vou
matá-lo.

Ainda vivo então. Graças a Deus.

Pav entrou no vestíbulo e balançou a cabeça.

Marek acenou para Kell. — Vamos para casa.

— No nosso próximo encontro, você acha que poderíamos fazer algo


menos emocionante? Perguntou Kell.

Marek agarrou o cabelo de Kell e riu quando ele o puxou para perto.
—Você fez tudo certo.

— Bem, pelo menos eu não perdi a cabeça.


Marek esfregou o polegar na garganta de Kell. — Isso vai deixar uma
cicatriz.

Eles se separaram do lado de fora e Kell os observou partir. Ele


esperou até o carro virar a esquina.

— Preocupado comigo?

Kell girou ao som da voz de Gethin. Ele estava junto à porta do


prédio, abrindo-a por trás dele com o pé.

Kell subiu os degraus. — Você pulou do telhado?

— Eu acabei cortando sua garganta. Eu me senti péssimo.

Kell deu uma risada abafada.

— Entre. Gethin segurou a porta aberta.

Kell entrou no espaço iluminado e Gethin passou o dedo pelo pescoço


de Kell. — Você está bem? Não traumatizado pela vida? A faca era mais
afiada do que eu pensava.

— Talvez isso tenha sido uma coisa boa. O sangue convenceu Marek
que você realmente iria fazer isso.

— Mas não você?

— Eu nunca pensei que você me machucaria.

Gethin puxou-o para seus braços. — Mas eu fiz e me desculpe.

Kell deixou-se derreter de encontro a ele por um momento, depois


recuou. — Agora ele realmente quer te matar. Você precisa se esconder em
algum lugar até que isso esteja terminado. A Mongólia Exterior pode estar
segura. Definitivamente não o seu apartamento, apesar de eu ter conseguido
fechar a porta para que ninguém possa roubar sua coleção de bonecos da
Royal Doulton24.

— Volte para cima comigo. Espero que tenham deixado minhas


chaves.

Kell foi atrás dele. — Então... você pulou?

— Eu tenho um jeito de me mover entre este prédio e um mais


adiante na rua através dos telhados.

— O que você é? Homem Aranha?

Quando chegaram ao escritório, a porta estava entreaberta. Gethin


foi até a mesa dele, inclinou-se e pegou as chaves do chão. — Eu esperava
que ele não notasse quando eu as derrubei. O cartão de memória se foi.

— Mas ele deixou o laptop.

Gethin pegou. — Ele não percebeu que as informações no cartão não


foram descriptografadas. O que eu mostrei a ele foi tirado daqui mesmo no
laptop.

— Ele saberá assim que ele abrir o cartão.

24
bonecos de porcelana colecionáveis Royal Doulton.
— Sim. Gethin jogou o casaco para Kell. — Coloque isso. Você vai ter
todo mundo pensando que é um apocalipse zumbi. — Ele se aproximou e
tocou o pescoço de Kell novamente. — Eu quase deixei cair a faca quando
percebi que eu tinha cortado você.

—É apenas um arranhão.

Gethin tirou uma velha jaqueta de couro do armário e entregou a Kell


um capacete.

— Você queria uma carona na minha moto. Agora é sua chance.

****

Kell se escondeu atrás de Gethin se perguntando se ele poderia ficar


mais gelado. Ele se segurou na moto com uma mão e agarrou Gethin com a
outra. Seus dedos das mãos estavam congelados. Seus dedos dos pés
também. Todo o corpo dele estava congelado. Exceto por seu pênis. Isso
estava muito quente. Pressionado contra o traseiro de Gethin, como poderia
ser de outra forma? Mas parecia que o vento estava cortando direto através
de Gethin, embora Kell soubesse que isso era impossível.

Enquanto Gethin manobrava no tráfego, Kell aprendeu a se apoiar


nele. Ele estava seriamente excitado. Uma poderosa máquina entre suas
coxas, o ronco do motor vibrando através de seu corpo, um cara sexy para se
agarrar, que pelos menos estava mantendo uma parte dele - a parte mais
importante - quente, as ruas de Londres passando - Kell estava viajando na
adrenalina.

Gethin atravessou brechas que fizeram Kell respirar fundo ao


ziguezaguear entre carros, ônibus e pedestres. Ele se perguntou para onde
eles estavam indo. Não para o seu lugar, nem para o de Gethin. Parte dele
desejava que Gethin continuasse, os tirasse de Londres, fora do país. Não
para a Mongólia Exterior, mas para alguma praia quente onde a coisa mais
perigosa que poderia acontecer seria deixar entrar areia em algum lugar
desconfortável. O trabalho secreto de Kell se tornara duplamente perigoso
agora que ele sabia que Marek estava trabalhando contra Warner. Era como
andar numa corda bamba escorregadia com crocodilos de um lado e jacarés
do outro.

Quando Gethin finalmente parou entre dois carros e desligou o


motor, eles estavam em Islington, do lado de fora de uma elegante casa
georgiana. Gethin tirou as luvas, virou-se e levantou sua viseira. — Você
pode descer agora.

— Você está supondo que eu possa me mover.

— O que você disse?

Kell não conseguia abrir os dedos para levantar a viseira. Gethin tirou
o capacete e ajudou Kell com o seu. Ele segurou os dois capacetes em uma
mão e pegou o laptop da caixa. Kell estava tentando convencer seus
músculos a cooperar.

Gethin passou os dedos contra os de Kell. — Merda, você está gelado.


Vamos entrar.

Kell se afastou da moto e seguiu Gethin até a porta.

— Onde estamos? Perguntou Kell.


—Em algum lugar seguro.

A porta foi aberta por um cara de boa aparência em seus quarenta


anos. Ele tinha cabelos escuros curtos, usava jeans com buracos nos joelhos
e um suéter cinza folgado e macio. Um grande sorriso floresceu em seu rosto
quando ele viu Gethin.

— Aqui de novo? O cara disse.

— Yeah. Henry este é Kell. Kell conheça Henry.

Henry apertou a mão de Kell e estremeceu. — Você é está uma pedra


de gelo. Você não deu luvas ao pobre rapaz? Entrem.

Dois dachshunds vieram correndo, abanando a cauda. Kell se


inclinou para acariciá-los. — Desculpe pelas mãos frias, carinhas.

— Winston e Kennedy, disse Henry. — Nossos cães de guarda ferozes.


Angel! Convidados! Vá em frente, vocês dois.

— Angel administra o negócio de festas, disse Gethin, mas Kell se


lembrava do nome.

Henry levou-os para um quarto com um fogão a lenha e o queixo de


Kell caiu quando viu a imensa árvore de Natal no canto. Em outubro? Angel
tinha as fitas de várias pequenas renas de madeira penduradas em sua boca.
Elas caíram no tapete quando ele olhou boquiaberto para Kell e Gethin.

— Você está aqui com alguém. Angel agarrou seu coração. — Oh que
dia feliz. Não é Macbeth. Não há dias felizes nesse jogo. Henry IV parte dois.
Então ele franziu a testa. — Você me parece familiar.
— Este é Kell. Ele estava naquela festa.

— Ele era o único observando você. Angel sorriu. — Meu ‘butler em


the puff’ funcionou. Posso tirar conclusões precipitadas?

— Não. Gethin se virou para Kell. — Por que você não se aquece?

Kell se aproximou do fogo e tirou o casaco.

— O que...? Henry engasgou.

Ah, o sangue. — Gethin tentou cortar a minha cabeça, disse Kell. — E


falhou, obviamente. Ele caiu no tapete e ergueu as mãos na frente do fogo.
Os cães se enrolaram ao lado dele

— Você precisa se limpar ou tomar uma bebida primeiro? Perguntou


Henry. — Eu preciso de uma. Eu desisti de discutir sobre a árvore e eu tive
que ouvir músicas natalinas pela última hora.

— Eu gostaria de chocolate quente e marshmallows, disse Angel. —


Os cor de rosa.

Henry revirou os olhos. — Eu não comprei rosa. Temos quase tudo


em termos de bebidas. Incluindo vinho quente. Você pode ter o que gosta.

— Chocolate quente parece ótimo, disse Kell. — Obrigado.

Gethin colocou os capacetes em um canto e jogou sua jaqueta e


laptop em cima deles. Ele pegou o casaco de Kell e o colocou lá também, e
Henry olhou para a pilha incisivamente.

— Ok, eu vou movê-los. Gethin pegou-os novamente.


— O que você gostaria de beber? Henry perguntou a Gethin.

— Café, por favor.

— Dê-me alguns minutos e não conte nada a Angel até eu voltar,


disse Henry.

Gethin tirou os capacetes e os casacos da sala.

— É uma linda árvore. Kell tentando lembrar a última vez em que ele
tinha pendurado decorações em uma árvore de Natal.

— O tema é rústico. Angel recuperou as renas que ele tinha deixado


cair e as pendurou nas árvores. — Na sala de jantar vai ser prata, na cozinha
vermelho e dourado e branco no quarto.

— Quatro árvores? Kell levantou as sobrancelhas. Vermelho e


dourado na cozinha. Não, seis. Eu esqueci a do corredor. Lá será multi-
colorido. Praticando para minhas festas de Natal.

Gethin voltou e se jogou no sofá, com o rosto pálido.

— Eu tive um momento de déjà vu agora, disse Angel. — Me lembrou


da primeira vez que nos encontramos quando você caiu aos meus pés
coberto de sangue. No primeiro trabalho de Gethin como PI ele foi
espancado. Eu o embrulhei em um táxi e somos amigos desde então. Eu
disse a ele que ele deveria repensar sua profissão, mas ele é teimoso.

Gethin ergueu as sobrancelhas. — Eu estou sentado aqui.

— Você acha que poderia ajudar novamente este ano? Angel


perguntou a ele.
— Com o quê?

Kell olhou entre os dois.

— Colocar árvores de Natal em minhas festas.

— Se eu conseguir ficar vivo por tanto tempo. A fechadura precisa ser


trocada novamente no escritório.

Angel franziu o cenho. — Eu ainda nem te dei a nova chave.

— Eu sei.

Henry entrou com uma bandeja e colocou em uma mesa lateral. Ele
entregou a Kell sua bebida primeiro e Kell embalou a caneca em suas mãos
ainda frias. Ele estava exausto. A adrenalina finalmente havia se dissipado.
Coisa boa que hoje era sua noite de folga, porque depois de tudo o que
aconteceu, ele não tinha mais energia restando em seu corpo. Henry sentou-
se em frente a Gethin e Angel empoleirou-se quase em cima de Henry. Kell
conseguiu dar um sorriso.

— Podemos passar a noite?, Perguntou Gethin.

— Claro, disse Henry.

— Comece pelo início. Não deixe nada de fora. Angel se inclinou para
frente.

— Você pode ter uma versão resumida. Gethin arrastou os dedos


pelos cabelos. — Dieter está de volta com sua mãe e eu acho – a salvo de
Warner. Kell trabalha no No Escape. Os caras que destruíram o meu
escritório não encontraram o que estavam procurando, então voltaram a
procurar hoje à noite. Desta vez eles trouxeram Kell. Tive de fingir que
ameaçava Kell para que eu pudesse fugir. Os bandidos saíram com o que
eles acham que era o que eles tinham vindo procurar, mas precisarão de
alguém para decifrá-lo. Kell saiu comigo. Eles não sabem que Kell e eu
somos... –

— Que Kell e você são o quê? Perguntou Angel. — Você não pode
parar. Eu não entendi todo o resto, mas agora está ficando interessante.

Henry olhou para ele antes de se virar para Gethin. — Então você não
pode voltar para o seu lugar.

Gethin balançou a cabeça. — Espero que tudo isso seja resolvido em


alguns dias. A polícia está envolvida. É uma questão de esperar.

— Você acha que eu poderia tomar um banho? Kell perguntou.

— Claro que você pode.

Henry começou a se levantar e Angel puxou-o para baixo. — Gethin


sabe onde é. Angel sorriu.

Assim que saíram da sala, Gethin pegou a mão de Kell e um caroço


surgiu na garganta de Kell.

— Tudo bem? Perguntou Gethin.

— Yeah. Eu gosto de seus amigos. As árvores de Natal, porém?

— Angel ama o Natal.

Ele conduziu Kell através de um quarto com um pé-direito alto e para


dentro de um banheiro espetacular. Havia uma banheira independente, bem
como um enorme box com chuveiro, e toalhas brancas e macias penduradas
em aquecedores em forma de asa.

— Ok? Gethin soltou sua mão.


— Você não está indo embora, não é? — E se eu escorregar e bater
minha cabeça? E se eu começar a sangrar de novo? E se eu perder o sabão?

—Isso seria um desastre.

Kell se despiu rapidamente, jogou as roupas em uma pilha no canto e


se virou para ver Gethin olhando para ele. Tudo o que Gethin tinha feito foi
tirar o suéter e desabotoar a camisa.

— Você é lindo. Gethin falou em voz baixa, mas as palavras ecoaram


pelo corpo de Kell e se instalaram em seu coração. Ah e em meu pau. Paus
poderiam ser vaidosos? O dele estava tentando.

Gethin se despiu rapidamente. — Verifique no armário se há xampu e


sabonete líquido.

— Eles são eufemismos para lubrificantes e preservativos?

Kell ouviu Gethin rindo enquanto procurava no armário sob os


lavatórios duplos. Obrigado, Angel e Henry. Ele jogou tudo no chuveiro e
quando ele o ligou, Gethin veio atrás dele. Kell gemeu em êxtase. Ele sentiu
como se mais de duas mãos estivessem tocando-o e forçou seus olhos a se
abrirem apenas para verificar se eles não tinham se unido a Angel e Henry.
Apenas Gethin, o polvo.

Gethin beijou seu caminho pela espinha de Kell e Kell arqueou as


costas, a cabeça inclinada para evitar toda a força da água. Ele apoiou os
braços no vidro e abriu as pernas enquanto Gethin se ajoelhava atrás dele, o
rosto contra a bunda de Kell, beijando e lambendo. E enquanto Kell poderia
ficar ali desse jeito por horas, ele queria Gethin dentro dele agora ou então
seu pênis na boca de Gethin. Ele não se importava. Ele só precisava gozar.
Um longo piscar de olhos e Gethin estava empurrando dentro dele
em um impulso de tirar o fôlego e lacrimejar os olhos. Se Kell não tivesse
visto o pacote rasgado no chão do chuveiro, ele poderia ter ficado
preocupado. Então, ele se preocupou de qualquer maneira, desejando que
Gethin não estivesse usando camisinha, desejando que pudesse senti-lo, que
ele entrasse nele, enchendo-o, revestindo-o. Porra, pare de pensar.

Gethin afundou os dentes no ombro de Kell. — Ok?

— Você está dentro ainda?

Gethin girou seus quadris e Kell assobiou.

— Yeah, yeah, eu estou bem, Kell deixou escapar.

Gethin puxou para trás, então o fodeu com tanta força que os joelhos
de Kell quase se dobraram. Cada investida atingia aquele ponto perfeito e
estrelas explodiram na cabeça de Kell. Oh Deus... porra... Cristo. Ele
alcançou seu pênis para se masturbar, mas Gethin afastou sua mão e
agarrou-o, acariciando... apenas do jeito certo.

A tensão enrolou na base do pau de Kell e enviou um raio disparando


por todo seu eixo. Ele jorrou por todo o vidro, o ar estremecendo de seus
pulmões, seus músculos apertando o pênis dentro dele. Gethin parou de se
mover e ficou pressionado contra ele, seu pênis alojado profundamente
dentro do corpo de Kell.

— Jesus, Gethin sussurrou. Quando o último tremor retorceu o


intestino de Kell, Gethin acabou de novo, puxando quase todo o caminho
antes que ele empurrasse fundo, a força do movimento empurrando Kell
para frente até ele bater na parede do chuveiro. Gethin colocou a mão no
ombro de Kell para segurá-lo no lugar enquanto ele dirigia dentro dele com
força. Kell jogou os quadris para trás para enfrentar a investida de Gethin e
ouviu a respiração de Gethin acelerar. Kell sorriu, sabendo que estava
levando Gethin à loucura.

— É melhor você não parecer convencido, Gethin se esforçou para


falar. — Você gozou primeiro.

— Eu ganhei, certo?

— Por agora.

—Ganho um prêmio?

— Eu.

Kell sentiu o pênis dentro dele inchar e Gethin se moveu mais


rápido, seus quadris se movendo em uma dança selvagem, seus dedos
cavando os quadris e o pescoço de Kell. Kell não conseguiu acompanhar a
velocidade das estocadas de Gethin, então ele se inclinou contra o vidro e
pegou o que Gethin lhe deu, desfrutando-o, possuindo-o. Gethin gritou
quando ele gozou, empurrou duro contra Kell e Kell sentiu-o estremecer
enquanto enchia o preservativo. Kell não teve tempo de respirar novamente
antes que Gethin o puxasse e o girasse para beijá-lo.

Eles derramaram tudo naquele beijo, comeram um ao outro,


disseram um ao outro como se sentiam sem dizer uma palavra. Kell
esperara a vida toda por esse sujeito, e toda coisa de merda que lhe
acontecera valera a pena se Gethin fosse sua recompensa. Esse trabalho
terminaria em breve. Kell não tomaria mais trabalho disfarçado, não tinha
certeza se ele queria ficar na polícia. Isso pode ter começado como algo
casual, mas eles tinham se movido para longe disso a cada vez que eles se
encontraram.

Muito cedo para aquela palavra de quatro letras, mas havia uma
grande chance dela se desenvolver. Kell queria sair com Gethin
apropriadamente, ir a encontros, falar sobre algo diferente de Warner,
Marek ou Charlton. Ele queria que esse trabalho terminasse, para que ele e
Gethin pudessem aproveitar o presente e planejar um futuro.

Gethin saiu do chuveiro e jogou uma toalha para ele. Kell pegou-a e
esfregou o cabelo. Ele ouviu um telefone tocando e Gethin se inclinou para a
pilha de roupas. Quando ele olhou para ele, foi como se uma cortina tivesse
caído sobre seu rosto.

— Quem é? Perguntou Kell.

— Eu tenho que atender isso. Gethin entrou no quarto.

Kell não pretendia ouvir, mas ele ouviu mesmo assim.

— Jonnie...? OK. Sim, eu irei agora... Não, tudo bem. Talvez não
houvesse futuro enquanto esse Jonnie pudesse fazer Gethin sair correndo
para ele. Por que Gethin não lhe disse quem ele era? Kell vestiu a cueca e o
jeans, enfiou os pés nos sapatos. Talvez Angel ou Henry lhe emprestassem
uma camiseta. Ele se olhou no espelho, tocou a marca vermelha em seu
pescoço e tentou não pensar em com quem Gethin estava conversando.

Gethin voltou para o banheiro e se vestiu rapidamente. — Eu tenho


que sair. Alguém que eu preciso ver.

— Tudo bem.

— Eu poderia ter que passar a noite, disse Gethin.

— Certo.
— Ele é... um velho amigo. Precisa da minha ajuda.

— Posso ir com você?

— Não.

— Ele saiu e levou o coração lascado de Kell com ele.


Kell sentou-se na cama segurando a camiseta ensanguentada. Eram
onze e meia. Ele estava ansioso para passar a noite na cama com Gethin,
ansioso para se sentir seguro, ansioso para conversar, e agora Gethin tinha
ido embora. Obrigado porra por eu não ter dito nada estúpido. Kell ficou
aborrecido ao descobrir que ele tinha um nó dolorido na garganta. Por que
ele tentou se enganar achando que isso iria a algum lugar?

Talvez se ele tivesse dito a Gethin que ele não iria trabalhar
disfarçado de novo? Seus dedos apertaram a camiseta. Por que ele se
importaria? Era o trigésimo aniversário de Kell amanhã, mas por que
Gethin também se importaria com isso? Ele estava feliz por não ter contado
a ele. Kell precisava ter sua mente voltada para onde estava originalmente.
Em foder sem sentir nada. Em fazer o trabalho dele. Ele pulou com a batida
na porta.

Angel colocou a cabeça dentro da porta. — Está tu está bem?

Kell assentiu. — Você tem uma camiseta que eu poderia possa pegar
emprestado? Eu preciso jogar fora esta aqui.

— Eu vou encontrar alguma coisa para você. Angel desapareceu.

Kell pulou de novo quando o telefone tocou. Ele arrastou-o para fora
do bolso, mas não era Gethin.

— Oi. Kell se perguntou o que diabos Warner queria.

— Eu sei que é sua noite de folga, mas Pete está doente e Charlie
machucou a mão cortando limões e teve que ir ao hospital. Eu preciso que
você trabalhe atrás do bar. Eu vou pagar o dobro.

Kell cedeu. — OK. Eu estarei aí assim que puder.

Quando Angel entrou carregando três camisetas diferentes, Kell


pegou uma cinza.

— Você pode me chamar um táxi, por favor? Eu tenho que ir


trabalhar. Eles estão com falta de pessoal.

Angel tirou o celular do bolso. — Ivan, querido… Sim, por favor. Para
um amigo. O mais rápido que puder. Obrigado. Ele colocou o telefone de
volta. — Cinco minutos. Ele está ao virar da esquina. Tem certeza de que
está bem?

Kell colou um sorriso em seu rosto. — Sim, tudo bem. Obrigado pelo
chocolate quente e o chuveiro e tudo mais. Eu amo sua árvore. Foi um
presente de aniversário antecipado estar neste lugar quente e confortável.

— Seu aniversário?

O peito de Kell se apertou. — Amanhã. Não diga a Gethin.

— Você não vai voltar? Gethin soou como se você estivesse em


perigo.

— Gethin está, eu não. Kell fez o seu caminho para fora do quarto e
desceu as escadas, Angel em seus calcanhares.

Kell tirou o paletó de cima do laptop de Gethin, tentado apenas por


um momento, para ver o que havia nele. Até onde ele sabia, Gethin não
tinha desligado, então talvez Kell não precisasse de uma senha para entrar
em seus arquivos. Mas com que objetivo? Ele puxou a jaqueta, fazendo uma
careta para as manchas de sangue.

— Gethin deve realmente gostar de você, disse Angel.

Ele tinha uma maneira engraçada de mostrar isso.

— Em todo o tempo que o conhecemos, ele nunca trouxe ninguém


aqui, nunca nos apresentou a ninguém. Ele é uma pessoa muito privada.

— Ele já tem um namorado? Eu não sou o fodido namorado. Kell


fechou os punhos e apertou as unhas nas palmas das mãos. —Diga-me,
porque eu não vou perder meu tempo com alguém que... Sua voz secou. Não
apenas meu tempo, meu coração.

Angel hesitou por muito tempo. — Tem um cara chamado Jonnie,


mas o relacionamento deles parece complicado. Suspeito que Jonnie é
casado e Gethin é o seu amante ao lado.

Oh Deus.

— Ele se abre para você? Angel perguntou.

— Na verdade não.

— Gethin pula quando Jonnie liga, mas ele nunca falou sobre ele e ele
me cala se eu tentar. Eu ofereci ingressos para Gethin para todos os tipos de
eventos que ele poderia levar o cara, mas ele nunca aceitou qualquer um, o
que me levou a pensar que ele não pode arriscar ser visto com ele. Eu tentei
definir Gethin em alguns encontros e ele nunca está interessado. Então você
vê porque eu estou surpreso que ele te trouxe aqui. Eu não acho que ele
tenha algum amigo e ele precisa de alguém. Todos nós precisamos de
alguém. Gethin é... frágil.

E eu não sou?

— Dê-lhe outra chance, querido. Angel agarrou a mão dele. — Eu


posso dizer que você está chateado com ele.

Kell afastou a mão dele. — É Jonnie que ele correu para ver. Ele disse
que poderia ter que passar a noite. Talvez a esposa do cara esteja fora da
cidade. Tente não parecer amargo.

Angel agitou as mãos. — Eu estou apenas supondo que ele é um cara


casado. Ele pode não ser. Isso deixa Henry louco quando eu fico
conjecturando.

— Tanto faz. Você está errado sobre Gethin precisar de mim. Ele não
precisa de ninguém.

Kell ouviu o som de um carro estacionando lá fora. — Foi bom


conhecê-lo, disse ele e se dirigiu para a porta.

****

Gethin subiu correndo os degraus da Mansão Wellbrook e, quando


encontrou a porta trancada, tocou a campainha. Uma mulher que ele não
reconheceu deixou-o entrar e Gethin subiu as escadas de dois em dois para
o quarto de Jonnie. Se isso fosse um alarme falso... Mas havia algumas
enfermeiras lá com ele. Gethin caminhou até o lado dele. Jonnie estava de
volta no respirador artificial. Seus olhos estavam fechados, o rosto mais
branco do que o habitual.

— Como ele está? Que pergunta estúpida.

— Estável agora. Mas foi... A enfermeira balançou a cabeça.

Oh Deus, por que você não o deixou morrer? Suas anotações diziam,
Não reanime.

Gethin pegou a mão de Jonnie. — Ei, companheiro.

Jonnie abriu os olhos e olhou diretamente para Gethin. Que diabos


eu digo a ele? Jonnie piscou quatro vezes, o que era um sinal de que ele
queria usar seu computador. Gethin configurou-o e prendeu o mouse
especialmente adaptado ao dedo de Jonnie.

— Vá embora, Jonnie digitou.

— Eu acabei de chegar aqui.

— Cai fora daqui!

Uma das enfermeiras colocou a mão no ombro de Gethin. —Volte


amanhã. Nós deveremos tê-lo fora do respirador novamente até então.

Gethin reprimiu sua irritação por ter vindo até aqui apenas para
voltar, mas não era a primeira vez. Ele se inclinou sobre Jonnie e colocou a
boca bem ao lado de sua orelha. — Eu estou trabalhando nisso. Eu juro.
Foi só quando Gethin estacionou do lado de fora da casa de Angel
que ele registrou que deveria ter pego uma chave. Ele ligou para o telefone
de Kell e, quando não respondeu, tentou Angel.

— É melhor que seja importante, disse Angel.

— Eu estou do lado de fora.

Angel cortou-o e, pouco depois, abriu a porta. Gethin entrou.

— Kell se foi, disse Angel.

Gethin girou. — O que?

— Ele recebeu um telefonema do trabalho dizendo que eles estavam


com falta de pessoal no clube, então ele pegou um táxi para lá não muito
tempo depois que você saiu.

— Porra.

Angel olhou para ele. — Onde você esteve? O que diabos era tão
importante que você teve que sair daqui no meio da noite? Kell foi... Você o
machucou. Não estás envergonhado de enganá-lo com seus problemas
inoportunos? Dois cavalheiros de Verona e não Macbeth. Tenho vergonha
de você. Você o usou.

Gethin mudou de confuso para irritado. — Você está imaginando algo


que não existe. Nós fodemos, fim da história.

— Você não está apenas transando com ele. Você é cego se pensa
isso. Para um PI, você não é muito observador.

— Sobre o que vocês estão discutindo? Perguntou Henry do andar de


cima.

Os cães pularam e saltaram para cima de Angel.

— Veja, até mesmo Winston e Kennedy estão chateados com você.

— O que eu fiz?

— Você deixou-o ter esperança - disse Angel com os dentes cerrados.


—Você. Deixou-o. Ter. Esperança.

Gethin cedeu. — É complicado.

— Jonnie. Angel rosnou a palavra.

— Fora dos limites.

— Kell pensa que é para onde você foi. Para ver Jonnie. É verdade?
Kell é seu amante do lado enquanto você tem um cara em algum outro lugar
com quem você não pode estar, talvez porque ele seja casado?

— Eu... Gethin não conseguiu fazer a palavra não sair de sua boca.
Ele não podia ter se negado a ver Jonnie esta noite, não queria contar a
verdade a Angel até que ele dissesse a Kell, mas ele poderia esclarecer uma
coisa. — Jonnie não é casado. Eu preciso ir ao clube.

— Você não pode. Kell disse que era muito perigoso para você.

— Pode ser mais perigoso ainda para Kell. Eu vou usar um disfarce. É
algum evento especial esta noite? Noite de lobisomem talvez? Ele pegou o
telefone e checou. — Fetiche. Porra. Ele bufou. — OK. Eu preciso de um saco
de papel.

— Pelo amor de Deus. Você não pode colocar um saco de papel na


cabeça. Espere aí. Angel subiu as escadas perseguido pelos cães.

Gethin estava bem ciente de que ir ao clube era mais do que


arriscado. Se Marek o reconhecesse, ele era um homem morto. Mas Gethin
não queria Kell em qualquer lugar perto daquele maníaco. Ele assumiu que
Kell não estaria voltando. Eu sou um idiota.

— Dispa-se até a cintura, disse Angel quando ele desceu as escadas.

Gethin colocou o capacete para baixo e abriu o zíper da jaqueta. — O


que você tem? Ele olhou para o material brilhante nas mãos de Angel não
sem uma pequena quantidade de apreensão.

— Uma máscara de assassino. Experimente-as.

Gethin puxou o capuz sobre a cabeça. Deixava apenas a boca exposta,


os olhos cobertos por uma tira de material perfurado. Gethin odiou isso. Ele
sentiu como se não pudesse respirar e puxou-a.

— Ninguém iria reconhecê-lo nisso, disse Angel. — Você parece


assustador. Tire sua camiseta e coloque isso.

Ele ajudou Gethin a entrar em mangas de vinil que expunham apenas


as pontas de seus dedos. O material cruzava acima de seus peitorais e eram
atados juntos com um zíper em sua garganta.

— Essas calças estão bem. Eles são pretas. As botas também estão
razoáveis. Angel olhou para ele. — Coloque a máscara no seu bolso. Você
tem que usá-la ou será reconhecido.
— Por que você tem todas essas coisas?

— Henry e eu gostamos de nos fantasiar, não que isso seja da sua


conta. Bom para você que nós fazemos. Agora vá e busque Kell. Rasteje e
traga-o de volta.

Gethin deixou sua camiseta e suéter no chão e colocou o casaco de


volta. Ele colocou a máscara no bolso.

— Ah, a propósito, disse Angel. — Kell me disse para não contar, mas
não vou deixar isso me impedir. É o seu trigésimo aniversário hoje, hoje.
Não foda isso.

****

Gethin cobriu as quatro milhas em pouco mais de dez minutos, mas


levou mais cinco para encontrar algum lugar para estacionar. Ele tirou o
capacete e puxou o capuz antes de tirar o paletó. Eu odeio isso. Ele podia
sentir o pânico crescendo dentro dele e sugando o ar. Cristo, eu não posso
nem respirar fundo. Ele quase tirou o capuz novamente, mas Angel estava
certo. Ele tinha que usá-lo. Ele enfiou o capacete e a jaqueta no alforge da
moto e correu para o clube. A faca de Marek estava enfiada na lateral da
bota sob as calças. Ele esperava que não precisasse dela.

Mesmo pagando a taxa de inscrição e tendo suas costelas


estampadas, já que suas mãos e braços estavam cobertos, ele se perguntou o
que estava fazendo. Kell estava trabalhando. Ele não iria simplesmente sair
porque Gethin queria isso. Gethin precisava explicar sobre Jonnie, mas não
agora. Embora ele pudesse dizer a ele o suficiente para fazer Kell não ficar
bravo com ele mais.

Alguma outra coisa também o estava incomodando. O que Kell


dissera sobre seu aniversário e como seu irmão sempre fazia alguma coisa
para estragá-lo. Gethin queria tornar este aniversário especial, levar Kell a
algum lugar e estragá-lo.

****

A boca de Kell doía de tanto fingir um sorriso, as costas doíam por


estar tanto tempo de pé, o corpo doía por causa da foda dura com Gethin, e
o colar de cravos espetava e roçava no pescoço dolorido, mas ele tinha
conseguido deixar Warner agradecido por vir trabalhar e até agora, ele não
tinha visto nenhum sinal de Marek. Isso foi o suficiente para mantê-lo
sorrindo. Ele debateu se deveria dizer a Warner o que tinha acontecido.
Tudo se resumia a quem Kell preferiria que estivesse do seu lado. Ambos os
caras eram perigosos, mas Marek o preocupava mais.

O clube estava cheio. Kell geralmente sentia falta da noite do fetiche.


A gama de roupas era incrível. Homens vestindo tiras de PVC, anéis de
pênis, gaiolas de pênis, divisores de pênis e bola, arreios de couro parecidos
com o que Gethin usara - e nada mais em seus corpos, além de sapatos,
alguns deles de salto alto. No outro extremo, também havia pessoas
trajando roupas esportivas que cobriam tudo, menos a boca, e havia
algumas que tinham um zíper para puxar isso - Kell estremeceu -
equipamento militar, venda e um cara usava um vestido de PVC cor-de-rosa
apertado com o equipamento esticado para fora num buraco na frente. Não
a cena de Kell, mas todo mundo parecia estar se divertindo, eles eram bem-
comportados, e isso era tudo o que importava.

Quando Kell estava limpando o bar, um cara colocou a mão na frente


dele segurando uma nota de vinte libras. Kell reconheceu o elaborado anel
de sinete. Merda.

— Eu gostaria de uma vodka com Martini bem suja.

Kell olhou para cima. A voz de Oliver soou como vidro quebrando e
fez Kell se sentir como se tivesse mergulhado em uma confusão de cacos
irregulares.

— Você não sabe como fazer uma? Perguntou seu irmão. — Não é
muito de um barman, é? Patético nisso como você é em tudo mais. Três
partes de vodka para uma parte de martini seco. Respingo de salmoura de
azeitona. Despeje em uma coqueteleira cheia pela metade com gelo picado.
Agite bem, coe, enfeite com uma azeitona preta e sirva. Com um maldito
sorriso.

— Você esqueceu a pitada de cianureto. Kell pegou uma cerveja sem


olhar qual delas ele havia selecionado, tirou a tampa e bateu no O líquido
espumou e espirrou ao redor.

— Esses funcionários de hoje em dia. Oliver tsked, mas pegou a


cerveja. — Gostou da minha roupa?

Ele estava usando uma máscara de olhos, um simples arnês de couro


preto e calças pretas apertadas. —Não acho que eles me deixariam entrar se
eu não entrasse no personagem. Ele riu.

— O que você quer? Como Oliver descobriu que ele trabalhava aqui?
O coração de Kell estava batendo desconfortavelmente rápido. Ele quase
desejou poder ter um ataque cardíaco. Valia a pena fingir?

— O que eu quero? Bem, desejar-lhe feliz aniversário, é claro,


querido irmão. Oliver bebeu a cerveja e fez uma careta. — Não sabe o
quanto estou ansioso por isso. Eu não perdi um ano desde o dia em que você
nasceu. Ele se inclinou sobre o bar. — Quer saber como eu sabia onde você
estava? Seu chefe me disse.

— Qual chefe? Lane? Oh Deus. Por quê? Eu vou matá-lo. Não, Lane
não iria. Então quem? Warner? Marek? O chefe de Lane, Beckwith?
Alguém mais alto? A mente de Kell girava como um tornado, mas ele se
certificou de não mostrar nada em seu rosto. Ele se mudou para servir outro
cliente, ciente da atenção inabalável e inquietante de seu irmão. Haveria
problemas. A única maneira de evitá-lo era sair com Oliver, o que não cairia
bem com Warner, mas Kell não tinha escolha. Oliver só precisava dizer
algumas palavras e Kell estaria acabado. Não apenas acabado. Morto.

Tente pedir a ele. Kell voltou para frente dele. — Oliver. Por favor,
não diga nada. Este trabalho é importante.

Seu irmão riu. Kell quase esperou ouvir um daqueles cacarejos


maníacos subindo acima do nível da música para que todos parassem de
dançar e se virassem para olhá-lo.

Tente uma ameaça. — OK. Se você não vai ser legal... você diz ou faz
qualquer coisa para foder isso para mim e eu vou ligar para sua esposa e
dizer a ela que você está aqui.

Oliver deu uma risadinha. — Ela sabe.

— Então eu vou anunciar para a sala que você está procurando por
um mestre que enfie comida na sua bunda.

— Não seja tão patético. Você é realmente um desperdício de


oxigênio. Acho difícil acreditar que estamos relacionados. Acho que mamãe
deve ter dado uma de lady Chatterley e fodido com o jardineiro.

— Esse cara está incomodando você? Perguntou uma voz rouca. Kell
olhou para o homem de capuz que aparecera ao lado de seu irmão. Ele
queria dizer sim, mas temia as consequências.

— Eu sou irmão dele, disse Oliver. — Então se perca, porra.

Oliver engasgou quando um flash espocou em seu rosto. O cara do


capuz tirou a foto de Oliver com o celular.

— Oliver DeMornay, disse o cara. — Membro do parlamento para


North Grinstead. No comitê seleto de justiça. Qual jornal você não quer
publicar sua foto vestido assim? Você ainda é reconhecível mesmo com essa
máscara.

— Dê-me seu telefone, Oliver rosnou. O cara passou para Kell.

— Kell, dê para mim, seu irmão estalou.

— Saia sem dizer uma palavra e a foto será deletada, disse o estranho
que não era um estranho. Gethin. — Abra sua boca e você estará em todo o
Twitter antes de passar pela porta.
Oliver olhou. — Isso ainda não acabou.

— Sim, acabou, disse o cara.

Gethin agarrou o braço de Oliver e puxou-o para longe do bar. Kell


achou que era uma das melhores coisas que alguém já havia feito por ele e
uma das mais estúpidas.

Quando Gethin voltou, Kell se moveu para a extremidade mais vazia


do bar, o telefone de Gethin na mão. — Você precisa sair daqui, disse Kell.

— Não sem você. Eu deveria ter dito a você onde eu estava indo, mas
foi uma emergência e Jonnie é uma longa história.

Eu não quero ouvir sobre Jonnie.

Eu quero que você me conte tudo sobre Jonnie.

— Gethin saia. Agora. Kell podia ver Marek andando em direção a


eles e ele sabia pela raiva crua no rosto de Marek que desta vez era
direcionado a ele e isso colocava Gethin em perigo também. — Corra, ele
latiu.

Não havia tempo para Kell sair de trás do bar. Não havia tempo para
Gethin sair do clube. Apenas tempo para Kell apertar 9-9-9 no celular de
Gethin e escondê-lo atrás de um contêiner de fatias de limão. O segurança
que Kell conhecia como Muninn estava de um lado de Marek e Big Sev
estava do outro lado. Gethin se encolheu quando eles pressionaram contra
ele.

Os olhos de Marek brilharam com malícia enquanto ele olhava para


Kell. — Seu maldito filho da puta. Virou para Gethin e arrancou o capuz e
cuspiu na cara dele.

Kell estava tão ocupado em ficar ansioso com a cena que se


desenrolava na frente dele, que não percebeu o perigo se aproximando do
seu lado do bar. Ele engasgou quando Alec cutucou uma faca em sua parte
inferior das costas.

— Qualquer um de vocês grita, ou tenta correr e eu vou castrar o


outro. Marek acenou para um dos barmen e dois copos meio cheios
apareceram no bar. Marek pegou um e segurou-o nos lábios de Gethin. —
Beba ou Alec vai remover as bolas de Kell.

— O que tem nele? Gethin perguntou.

— Não importa, Marek estalou. — Beba. Agora. Ou eu direi a Alec


para cortar o pau também.

Gethin hesitou, depois bebeu e quando as mesmas ameaças foram


repetidas, Kell bebeu também. Ele tentou segurar o líquido em sua boca,
mas Alec beliscou seu nariz e segurou seus lábios juntos. Kell engasgou e a
vodca desceu pela sua garganta. Não apenas vodka. Kell sabia que eles
tinham sido drogados.

— Agora nós esperamos, disse Marek.

— Eu sinto muito. Kell olhou para Gethin.

— Oh, que tocante. Marek se inclinou sobre o bar. — Eu mal posso


esperar para colocar minhas mãos em você. Eu prometo a você meu punho,
sim? Ele riu. — Eu vou fazer isso com ambos, e um vai assistir o outro.
Mesmo quando Kell estava formulando um plano, sua cabeça nadou
e ele vacilou. Seu estômago estava vazio. A última coisa que ele tinha
comido tinha sido aquele hambúrguer. Sentia como se tivesse sido dias
atrás. Qualquer droga que estivesse na vodka estava correndo rápido por
seu sistema. Os joelhos de Kell tremeram e Alec o agarrou quando ele caiu.

— Socorro, Kell sussurrou. Ele deveria ter gritado mais cedo, não
apenas aceitado. Consciente de estar sendo movido pela pista de dança em
direção à saída, ele se agitou tentando se libertar, mas seus membros
pareciam desossados. Enquanto ele era meio arrastado pela porta, ele viu
Oliver assistindo.

— Oliver. Socorro. Kell tentou uma última vez e, quando desmaiou,


tudo o que pôde ver foi o sorriso de seu irmão.
Kell engasgou quando foi despertado por um dilúvio de água fria.

— Finalmente, disse Marek. O cabelo de Kell pingava água em seu


rosto e ele piscou. Ele estava amarrado a uma cadeira, os braços presos
atrás dela com uma corda. Gethin estava amarrado também em outra
cadeira a poucos metros de distância, seu olhar fixo em Kell, respirando
pesadamente, seu rosto ensanguentado. Oh Deus. Kell estremeceu. Ele
estava encharcado. Havia água por todo o chão ao redor dele, mas Gethin
não parecia estar molhado. Marek andava entre eles. Kell podia ver Muninn
atrás de Gethin e podia sentir alguém atrás dele.

— Eu pensei que você não ia acordar, disse Marek. — Você perdeu a


diversão.

Kell deu uma olhada rápida ao redor. Eles não estavam no clube.
Talvez num armazém. Uma van de transporte escura estava na frente de
grandes portas duplas, um compartimento de carga ao lado.

Marek se colocou na frente de Kell, inclinando-se até que seu rosto


estivesse quase tocando o rosto de Kell. — Você tem alguma coisa a dizer?

— Eu sabia que não deveria ter lhe comprado aquele McLanche Feliz.
Marek riu e ficou de pé. — Difícil persuadir seu amigo a falar. É difícil
calar sua boca.

Kell estava pensando freneticamente, tentando pensar em algo que,


pelo menos, os tirasse dessas cordas. Marek deu um tapa no rosto de Kell e
sua cabeça estalou para o lado.

—Ai, Kell murmurou. Fodido bastardo.

Marek acenou com a cabeça para Muninn que pegou uma arma e
segurou-a contra o joelho de Gethin.

— Certo, disse Marek. — Comece a falar. Como vocês dois se


conhecem?

— Eu conheci Gethin naquela festa. Você viu o número dele no meu


celular. G para cara, lembra? Nós conversamos e ele me disse que era um PI
procurando por um garoto chamado Dieter Hoehn. Dieter é um nome tão
incomum, achei que tinha que ser o Dieter de Warner. Gethin pagou-me
duzentas libras para dizer-lhe onde estava Dieter. Talvez eu não devesse ter
pegado, mas eu precisava do dinheiro.

— Continue, disse Marek.

— Gethin veio ao clube, acionou o alarme, tropeçou em Warner e


fugiu com Dieter. Essa foi a última vez que o vi até que você me levou para o
seu apartamento.

Marek o atingiu novamente, um golpe que sacudiu seus dentes e o fez


morder a língua. O cheiro acobreado de sangue penetrou em sua boca e
pingou sobre o lábio.
— Tudo bem, resmungou Kell. — Nós fodemos. OK? Uma vez. Eu
disse a ele para nunca mais voltar ao clube, mas o idiota voltou. Kell olhou
para Gethin.

— Você me deixou pensar que ele iria cortar sua garganta.

Marek colocou a mão no pênis de Kell e apertou-o através de suas


calças – forte. Kell se contorceu e respirou fundo.

— Você permitiu que ele saísse do escritório. Você sabia que eu não
tinha o que precisava.

— Ele não me disse nada sobre um cartão de memória. Eu só sabia


que ele queria encontrar Dieter, nada mais. Fiquei chocado quando
invadimos seu apartamento. Eu não sabia que ele morava lá. Cristo, se eu
soubesse, se eu estivesse tramando algo com ele, você acha que eu teria ido
com você? Eu teria ligado para ele, avisado. Eu pensei que ia vomitar. Eu
perguntei se eu poderia ir ao banheiro. Lembra? E eu não fingi que ele ia
cortar minha garganta. Eu pensei que ele o faria. Aquela faca era
fodidamente afiada.

Marek andou ao redor dele e de Gethin. Kell estava começando a ter


esperança. Tudo o que ele precisava era que Marek acreditasse nele. Marek
ainda não sabia que ele estava trabalhando disfarçado, não sabia que era
culpa de Kell que a outra van não tivesse chegado ao seu destino.

Marek foi até Gethin. — Eu quero todas as informações do cartão de


memória ou ficarei muito louco. Entendeu? Ele acenou para Muninn. —
Leve-o para o escritório.
Quando eles te libertarem - corra. Mas Muninn ainda tinha sua
arma fora e Alec também estava lá, desamarrando Gethin. Talvez Gethin
não fizesse nada que pudesse arriscar a segurança de Kell.

— Não há necessidade de machucar ninguém, disse Gethin.

Mark sorriu maliciosamente. — Você tem trinta minutos para obter


detalhes que eu possa ler antes de começar. Eu vou começar com o punho
na sua bunda.

Eles levaram Gethin para longe e Kell se perguntou se ele o veria


novamente.

— O que tem no cartão de memória? Kell achou que seria estranho se


ele não perguntasse.

— Contas de negócios de Warner. Preparado por Brian Charlton,


namorado da minha irmã.

— Namorado de verdade ou de mentira?

Enquanto Marek permanecia na frente dele e não conseguia ver suas


mãos, Kell contorceu os dedos, tentando soltar a corda.

— Ela gosta dele. Ele tem dinheiro e ele gasta com ela. Deixa-a
decorar sua casa. Compra-lhe jóias. Mas talvez ela não deveria ter começado
a gostar dele.

— Você acha que Charlton está traindo Warner?

Marek não respondeu.


— Eu não sei por que você está tão chateado comigo. Kell colocou um
gemido em sua voz. — Eu não fiz nada.

Marek voou para ele, bateu nele e a cadeira acabou virando e então
caiu em cima dele. Kell gritou com a dor em seus braços.

— Você não sabe, porra? Marek gritou para ele. — Eu peço para você
morar comigo. Você acha que eu pergunto isso a todo cara que eu fodo? E
então você deixa-o te foder.

Kell pensou que seus braços iriam se partir. — Ele não me fodeu. Eu
o fodi. Ele aproveitou sua chance. — Você deixou claro que eu nunca iria
conseguir transar com você, mas eu gosto de trocar. Isso não vai acontecer
com você. E você nunca disse que éramos exclusivos. Você não me trata
como um namorado, apenas como uma prostituta.

Marek olhou para ele por um momento. Kell tinha lágrimas nos
olhos. Meus malditos braços.

— Ele me disse que você era um policial, Marek sussurrou.

— Porra. O que? Isso é uma porcaria. Gethin nunca faria isso. Oh


Cristo, mas meu irmão faria.

— Eu vejo em seus olhos. Seu irmão.

— Eu disse a você que o idiota me odeia. Durante toda a minha vida


ele fez tudo o que pôde para tornar minha existência o mais miserável
possível. Ele tentou me matar mais vezes do que eu posso contar. Ele gemeu
quando Marek desceu dele e levantou a cadeira na posição vertical.
— Como? Marek perguntou.

— Nós cavamos um túnel na praia e quando desmoronou em mim,


ele sentou-se e ficou assistindo. Meu pai me desenterrou. Outra vez, Oliver
tentou me afogar no mar e minha mãe me resgatou. Quando eu tinha doze
anos, ele colocou uma cobra venenosa no meu quarto. Ele me alimentou
com cogumelos venenosos. Ele me empurrou de um penhasco. Quanto mais
você quer?

Marek provavelmente pensava que isso era normal. Os braços de Kell


o estavam matando. Ele contorceu os dedos e as dores começaram a cair em
seus ombros.

— Por quê? Marek perguntou.

— Ele me odiou desde o momento em que eu nasci. Ele gostava de


ser o único filho, recebendo toda a atenção. Ele pensou que quando eu saí
como gay que meus pais me odiariam, mas eles não me odiavam. Minha
mãe está em um hospital psiquiátrico na Escócia. Eu acho que Oliver a
mandou para lá.

— Por que ele veio ao clube?

— Porque hoje é meu trigésimo aniversário. Oliver gosta de fazer algo


especial em meus aniversários. Algo particularmente cruel. É por isso que
ele te disse que eu era policial. Eu não sou. Kell podia ver que Marek não
acreditava nele. Merda, eu não teria acreditado em mim.

— Aposto que ele te levou na conversa, fingiu que ele não deveria ter
dito nada, pediu para você não dizer nada.

Isso marcou um hit. Marek já não parecia tão seguro das coisas. Kell
tentou não engolir, para tentar não demonstrar nenhum sinal de
nervosismo, mas estava lutando por sua vida. E pela de Gethin.

Um telefone tocou e Marek tirou do bolso. Kell ficou imaginando


onde seu telefone estava, imaginando se a ajuda viria, se alguém sabia onde
eles estavam. Marek se afastou de Kell para conversar e Kell continuou
tentando se libertar, mesmo sabendo que era impossível. Mesmo se Marek
acreditasse no que ele disse, ele não deixaria Gethin ir embora e Kell não
iria embora sem Gethin.

Quando Marek terminou sua ligação, ele voltou para Kell e colocou
uma braçadeira como algema em torno de seus pulsos antes de cortar as
cordas.

— Para o escritório, retrucou Marek.

Ainda em apuros. Ele tropeçou quando Marek empurrou-o para


frente e incapaz de parar sua queda, Kell torceu para que ele não caísse em
seu rosto. Marek o colocou de pé.

A impressora estava zumbindo. Gethin nem sequer se virou para


olhar para ele. Seus dedos voavam através das teclas, a tela preenchendo
com linha após linha de código. Muninn estava apontando uma arma para
sua cabeça. Gethin pegou a folha de baixo das que estavam sendo impressas
pela impressora e ofereceu a Marek.

—Essa é a lista de todos os arquivos no cartão. Se você quiser que


tudo seja impresso, precisará de outro cartucho de tinta. Estou copiando
todas as coisas financeiras, mas há arquivos importantes sobre valores nos
e-mails e arquivos da lixeira.
— Salve no computador, disse Marek. — Mostre-me onde você
colocou.

Gethin clicou. — Aqui. Está copiando para o arquivo chamado


Consequencias. Ele virou a cadeira giratória.

— Vai me deixar ir agora?

— Kell te fodeu? Marek perguntou.

Gethin olhou para Kell. — Sim.

Marek olhou para Kell. — Voce fodeu Kell?

Oh Deus, oh Deus.

— Não, disse Gethin.

Como ele sabia que essa era a resposta certa? Kell tentou não
parecer aliviado. Ele tentou não expressar nada.

— Deixe-me ir, disse Gethin. — Eu fiz o que você queria. Eu nem fui
pago. O que você faz com a informação não tem nada a ver comigo. Eu
ficaria feliz em fingir que nunca nos conhecemos.

— Até que você decida que precisa de dinheiro.

— Eu prefiro morrer na minha cama de velhice.

Marek zombou. — Sábio, mas não sábio o suficiente quando isso


importava.

Marek acenou para Muninn e ele trouxe a arma para baixo na cabeça
de Gethin. Kell não conseguiu impedir que o suspiro escorregasse de sua
boca. Um momento depois, houve uma dor aguda na parte de trás de sua
própria cabeça e ele estava caindo.

****

Gethin voltou a si com um sobressalto, uma dor aguda cortando seu


crânio. Onde estou? Onde está Kell? Havia uma mordaça em torno de sua
boca, nada sobre seus olhos. Ele os manteve fechados. Não havia nenhuma
luz no outro lado de suas pálpebras, então ele sabia que devia estar escuro.
Embora talvez não fosse necessariamente noite, porque ele estava dentro de
alguma coisa, amordaçado com um pano que cheirava a óleo e tinha gosto
nojento, algemas em torno de seus pulsos e tornozelos, deitado de lado em
uma superfície de metal dura e ondulada. Ele ainda usava suas calças e
botas, mas isso era tudo e ele estava com frio. Muito frio. Ele não podia
ouvir nada, não sentia nada, exceto as dores de seu corpo. Todo lugar doía,
até os dedos dos pés.

Kell. Seu estômago revirou e ele abriu os olhos na escuridão quase


completa. Ele olhou para pequenas brechas de luz à sua esquerda e pensou
que ele estava em algum tipo de caixa ou talvez na parte de trás de uma van.
Esfregou o rosto contra o chão até tirar a mordaça da boca.

— Kell? Ele sussurrou.

Não houve resposta e seu coração se apertou. Mas quando ele se


arrastou pelo chão, ouviu um gemido. Gethin continuou se arrastando até
seu ombro colidir com carne nua. Um peito. Ele se contorceu até que seu
rosto estava ao lado de Kell, então se virou e usou os dedos para puxar a
mordaça de Kell até que conseguiu puxá-la para baixo. Gethin rolou e deitou
de lado, encarando Kell, embora mal pudesse vê-lo.

— Acorda, Bela Adormecida, sussurrou Gethin.

— Precisa beijar, resmungou Kell e a emoção no peito de Gethin


bateu como uma facada. Oh porra. A faca! Ainda está na minha bota?
Parecia que sim, mas ele estava todo machucado, então era difícil dizer se a
pressão contra seu tornozelo era de ser chutado ou por causa da faca que ele
escondia lá.

Ghetin beijou os lábios secos de Kell. — Acorde agora.

— Onde estamos? Kell sufocou.

Eles se levantaram de repente quando um motor funcionou e o chão


se moveu abaixo deles.

— Em algum tipo de veículo, disse Gethin. — Um caminhão ou uma


van.

— Cristo, gemeu Kell.

— Eles te machucaram? Gethin perguntou.

— Minha cabeça. Oh porra. Eles te golpearam com uma arma, então


eles me acertaram.

— Eles pegaram seu telefone?

— Sim. Ele gemeu.

— Eu pedi ajuda com o seu. A voz de Kell era um sussurro. —Deixei-o


ligado e escondi-o no clube.

Será que os serviços de emergência tratariam isso como uma


chamada de trote se ninguém falou? Eles teriam o trabalho de localizar o
celular? Se o fizessem, Warner ou Marek teriam uma desculpa. O veículo em
que estavam estava se movendo rapidamente. Gethin não queria chegar
onde a qualquer lugar que estavam levando-os.

— Precisamos nos libertar.

— Não tenho certeza se sou flexível o suficiente para trazer minhas


mãos para frente.

— Você não precisa. Eu acho que ainda tenho a faca de Marek na


minha bota. Se você conseguir, nós podemos cortar as braçadeiras.

Gethin se contorceu até que suas pernas estivessem posicionadas


perto das mãos de Kell. Ele podia sentir Kell mexendo na parte inferior de
sua perna, depois nas botas e quando Kell sussurrou, — Bingo, Gethin
suspirou. Manobrar para entrar na posição certa para Kell usar a faca não
foi fácil com eles pulando por todo o lugar e Gethin estremeceu quando a
lâmina deslizou em seu pulso.

— Merda, Kell sussurrou. — Eu cortei você.

— Continue.

Quando a braçadeira caiu e as mãos de Gethin estavam livres, ele


estremeceu de alívio. Ele limpou os pulsos ensangüentados nas calças e
pegou a faca de Kell. Depois que ele libertou Kell, ele cortou a braçadeira em
torno de seus tornozelos.
— Nós temos uma vantagem agora, sussurrou Gethin. — Quando eles
abrirem as portas, temos que estar prontos. Mas vamos ver se podemos
encontrar uma saída daqui antes disso. Rasteje para o lado e contorne.
Procure por qualquer coisa que possamos usar como arma ou ferramenta.

Gethin encontrou apenas as paredes de metal sólido, teto e piso, e as


portas traseiras trancadas.

— Nada, sussurrou Kell.

— Acha que deveríamos tentar tirar a fechadura com a faca?


Podemos partir, mas...

— Sim, disse Kell. —Nós sabemos o que vai acontecer quando a van
parar e eles abrirem as portas. Mesmo estando livres, eles têm armas.

Gethin sentiu os parafusos e começou a desfazê-los com a faca.

— Devemos ter um plano para o que fazer quando eles pararem? Kell
perguntou.

— Voltar para a parte de trás da van, puxar as mordaças de volta


sobre nossos rostos e fingir que ainda estamos amarrados. Eles terão que
entrar para nos pegar. Vou atacar quem chegar primeiro, seja para mim ou
para você.

— Você é bom com uma faca? Você precisa cortar mais fundo do que
você fez no meu pescoço.

Gethin deu uma risadinha. Ele continuou trabalhando no painel que


cobria o mecanismo da porta e conseguiu arrancar uma parte. — Talvez
devêssemos chutá-la, disse Kell. — Quebrar isso aberto. Se cairmos, tem que
ser melhor do que o que está vindo.

Eles caíram quando a van pareceu sair da estrada. Gethin apertou


ainda mais a faca quando ele e Kell se afastaram das portas e bateram de
volta na divisória que os separava do motorista.

— Que diabo? Kell engasgou.

A frente do veículo colidiu com algo e eles foram lançados para trás.
Gethin agarrou-se desesperadamente à faca. O veículo se acomodou, mas
não parecia firme. Por que está balançando?

— Você está bem? Kell perguntou.

— Sim.

— Nós devemos ter batido - oh merda. Você está sangrando? Estou


sangrando? Minha mão está em... não... Cristo, é água. É uma merda de
água.

O coração de Gethin desmoronou em seu peito. — Nós temos que


voltar para perto das portas. O furgão vai afunda do lado do motor primeiro.
Precisamos estar no outro extremo.

Eles se arrastaram até os fundos e se agarraram a um dos painéis que


Gethin tinha aberto. Havia um raio de luz entre as portas, mas a fechadura
ainda estava firme. Kell ficou de pé e chutou. Gethin se juntou a ele, mas o
balanço da van tornou difícil ficar de pé.

— Nós não vamos nos afogar, disse Kell.

Gethin desejou ter certeza de que isso era verdade. A van não tinha
entrado na água por acidente. Ela tinha sido impulsionada e parecia mais do
que provável que a água seria profunda, porque quem quer que tenha feito
isso queria que eles fossem engolidos.

— Continue chutando, disse Gethin. Ele sabia que não tinham muito
tempo. Uma vez que o veículo tombasse, eles não teriam como ficar de pé,
nenhuma maneira de exercer força na única saída.

****

Kell podia sentir o pânico crescendo dentro dele, subindo por sua
garganta, ameaçando sufocá-lo. — Vamos chutar juntos.

Vez após vez, eles chutaram a trava até o ângulo do veículo tornar
isso impossível. Havia mais luz chegando onde deformaram os painéis das
portas, mas a fechadura ainda estava no lugar. Kell se sentiu deslizando
para a divisória. Ele tentou voltar para onde Gethin se agarrava, ainda
levando a faca para a fechadura, mas não havia nada para segurar. Já havia
um pé de água onde Kell se agachava e estava ficando mais profundo.

Kell continuava tentando alcançar Gethin e fracassava. Mas quando o


veículo pareceu ligeiramente nivelar para fora, ele foi capaz de voltar para as
portas e ele agarrou um painel dobrado.

— Onde você esteve? Gethin perguntou.

— Pensei em nadar rápido enquanto você estava ocupado.

— Merda. Kell ouviu a faca deslizando para longe e percebeu o que


tinha acontecido.
— Deixe-a, disse Gethin. — A fechadura está quebrada. Eu acho que
se nós empurrarmos, nós podemos abri-la.

O veículo mudou de novo e a água entrou pela abertura na parte


inferior da porta que Gethin tinha feito.

— Merda. A mesma palavra saiu de ambas as bocas. Eles


empurraram o máximo que podiam, mas as portas continuaram fechadas.

— É a pressão, disse Kell.

— Não conseguiremos abri-las até a van estar cheia de água.

— Talvez nem assim.

— Talvez não. Kell alcançou o rosto de Gethin. — Eu sinto muito.

— Por quê?

— Colocar você nisso.

Gethin beijou sua testa. — Eu me envolvi nisso.

— Este foi por causa do meu irmão Oliver.

— Como assim?

— Ele disse a Marek que eu era um policial.

Gethin deu um suspiro pesado. — Isso pode ter te colocado aqui, mas
estou aqui por causa do cartão de memória. Embora aquele filho da puta do
Marek tenha uma surpresa. Além de um detalhe não muito pequeno de que,
quando abrir o arquivo, ele perderá todos os fragmentos de dados, também
enviei uma mensagem em código para um hacker amigo meu e pedi que
contatasse a polícia.

Kell o beijou enquanto a água se levantava em torno deles.

—Eu não gosto disso, disse Gethin.

— Meu beijo? Sob as circunstâncias, eu achei que tinha feito um bom


trabalho.

— Até que ponto temos que ir antes que a van se encha? E se


chegarmos ao fundo e ainda não estivermos cheios?

— Não se preocupe com coisas que ainda não aconteceram.

— A água estava ficando mais funda. Eles estavam em pé dentro dela


submersos até a cintura, tremendo, seus dentes batendo.

— Seu aniversário, disse Gethin. — Angel me disse. Foi por isso que
vim. Eu pensei que se seu irmão aparecesse, eu poderia te proteger.

— Oh Deus.

— Uma vez na minha vida eu realmente gostaria de poder dizer Feliz


Aniversário.

Ele deu um gemido sufocado. — O dia ainda não acabou.

— Fico feliz de ter conhecido você, disse Gethin.

Mesmo que estejamos em pé no escuro, em água gelada, numa van


que está afundando, sem qualquer certeza se vamos sair ou não e meu pau
não está duro?
— Sim.

— Eu também, disse Kell.

Eles se agarraram um ao outro, com Gethin empurrando Kell em


direção a porta, e depois Kell puxando-o para cima, eles conseguiram chegar
ao fundo da van. A água estava no peito agora.

— Tenho certeza que Marek estava tentando roubar o dinheiro de


Warner, disse Kell.

— Provavelmente.

Quando a água estava lambendo seu pescoço, Kell percebeu que


talvez nunca soubesse. Ele esperava que os bastardos tivessem o que estava
vindo para eles.

— Podemos tentar agora? Kell estremeceu.

— Certifique-se de respirar profundamente. Não sabemos quanto


tempo levará para chegar à superfície. Espero que a van não tenha sido
empurrada de um barco e nós estamos em algum lugar no Mar do Norte.

— Um surto de adrenalina inundou o corpo de Kell. — É melhor


olhar para os tubarões.

— Precisamos chutar. Gethin pressionou o rosto no bolso do ar. —


Continue chutando porque a água vai tirar muito da força por trás disso.

— Não morra, Kell desabafou. — Você não me levou em um encontro


ainda.
Gethin soltou uma gargalhada. E eles chutaram e chutaram e
chutaram.
Quando as portas da van se abriram, por um momento Kell não
acreditou. No último momento, ele tomou um gole de ar, mas já estava
desesperado por mais. Ele se agarrou ao braço de Gethin e chutou para fora
do veículo na água escura. Uma vez que ele estava certo de que Gethin
estava nadando ao seu lado, ele soltou e usou os dois braços para se
fortalecer. Ele estava com frio, cansado e seus pulmões estavam em chamas.
Onde estava a porra da superfície? Ele não conseguia ver nada e seus
braços doíam, os músculos danificados por Marek ter pousado sobre ele.

Não pare. Não pare. Ele repetia isso em sua cabeça, mas era difícil
continuar. Seu corpo estava tão pesado e a água parecia estar ficando mais
escura, mais fria. Se ele pudesse apenas respirar... Apenas um. Mas ele não
podia.

Isso não é fodidamente justo. Kell sentiu-se sobrecarregado pela


tristeza de ver que agora que a sua vida parecia realmente estar indo para
algum lugar, ao invés de continuar com isso, ela estava prestes a terminar
porque ele tinha... que ... respirar. A dor no topo de seu peito se espalhou,
foi fundo. Ele ainda estava chutando - apenas, embora mal movesse os
braços. Ele sabia que no momento em que abrisse a boca terminaria, mas o
desespero estava sobrecarregando seu senso comum.
Não pare. Ele ouviu a voz de Gethin em sua cabeça. Um último
empurrão. Ele chutou e seu rosto rompeu a superfície. Ele tomou um grande
gole de ar. Não morto. Onde está o Gethin? Kell girou em círculo e soltou
um suspiro de alívio quando viu Gethin a poucos metros de distância e
ouviu-o tossir. Tossir era bom. Você tossia quando estava vivo.

A madrugada estava quebrando, um tom vermelho se espalhando no


céu do leste. Um novo dia. Oh Deus, nós fizemos isso. Kell se jogou para ele,
seus pulmões ainda em chamas, seus braços o matando.

— Feliz aniversário, disse Gethin.

— Onde está o meu bolo?

— Precisamos sair... desta água. Gethin girou.

— Fique quieto... apenas no caso.

Eles nadaram para o lado e atingiram uma parede de concreto.

— Encontre uma escada. Os dentes de Gethin batiam enquanto eles


deixavam a corrente carregá-los rio abaixo. Quando eles roçaram os degraus
de metal, Kell segurou, pegou o braço de Gethin e puxou-o para perto.
Gethin empurrou-o para cima primeiro. Foi tudo o que Kell pôde fazer para
colocar uma mão sobre o outro. Seus dentes estavam batendo como uma
metralhadora e, ele estava tremendo violentamente. Pura força de vontade o
manteve subindo os degraus até que ele finalmente deslizou para o cais.
Quando Gethin se esparramou ao seu lado, ele puxou Kell em seus braços.

— Você acha que eles ainda estão por aí? Gethin sussurrou.
— Não sei. Eles poderiam ter esperado para ter certeza de que não
sairíamos. Onde nós estamos?

Gethin checou os arredores. — Em algum lugar sobre o Tâmisa.


Melhor que dentro do Tâmisa. Ele abafou sua tosse. — Oh foda-se. Essa foi
por pouco.

— Precisamos sair daqui e nos aquecer. Fique nas sombras até


termos certeza de que estamos bem. — Eles não tinham ido longe antes de
serem parados por um par de seguranças uniformizados. Kell quase
desmoronou de alívio.

— Que diabos vocês dois estão fazendo? Perguntou o homem mais


alto.

— Fugindo de um veículo submerso. Eu sou um policial. Kell passou


os braços em volta de si mesmo em uma tentativa fútil de manter-se
aquecido.

— Entre no escritório, o outro homem disse.

Os dois guardas trocaram olhares um para o outro, depois tiraram


suas jaquetas de alta visibilidade e as entregaram a Kell e Gethin.

— Obrigado. Posso pegar seu telefone emprestado? Perguntou Kell.

— Aqui. Um dos homens estendeu-o para ele.

Kell chamou seu chefe enquanto caminhava. — Sou eu, ele disse.

— Onde diabos você esteve? Nós tínhamos...-


— Cale a boca e escute. Kell estremeceu depois que ele disse isso. —
Quase nos afogamos. Estamos com frio, encharcados e precisamos de ajuda
agora.

— Nós?

— Eu e o PI.

— Onde você está?

— Vou passar o telefone de volta para o cara que é dono dele. Ele
pode te dizer.

Kell deu a ele e entrou em um escritório pré-fabricado quente.


Quando ele olhou de volta para Gethin, ficou chocado com o quão branco ele
estava, as marcas no rosto se destacando.

— Vou arrumar alguns cobertores, disse o baixinho.

Kell se sentou no chão e lutou para tirar os sapatos, depois as calças e


o short. Gethin fez o mesmo e, com os casacos dos homens sobre os ombros,
eles subiram para o aquecedor de ventilação, bombeando ar quente.

— Feliz aniversário ainda? Gethin olhou para ele.

— Ainda estou esperando pelo meu bolo.

Os cobertores chegaram e, quando foram envolvidos por eles, Kell


começou a se aquecer. Canecas de chá quente e doce foram pressionadas em
suas mãos trêmulas.

— Há um veículo no rio então? Perguntou um dos seguranças.


— Sim. Polícia forense terá que lidar com isso. Não muito longe de
onde você nos encontrou se precisar avisar as pessoas.

— Fez uma curva errada? O outro perguntou.

— Algo assim. Kell deixou os homens pensarem que foi um acidente.


— A polícia está a caminho.

****

Kell não se surpreendeu quando seu chefe insistiu que fossem ao


hospital. Ele ficou surpreso que eles foram levados para um privado. Ele não
queria que Gethin saísse de vista, mas ele dificilmente poderia dizer isso, e
Gethin estava incomumente quieto, o que preocupava Kell.

Ele foi autorizado a tomar banho, teve seus ferimentos tratados,


apenas pequenos cortes, contusões e estiramentos. Seus braços não estavam
quebrados. Eles apenas se sentiam assim. A ele foi dado uma calça de
moletom cinza e um casaco para colocar antes das perguntas sobre suas
ações começarem. Ele contou a Lane tudo o que ele achava que precisava
saber, incluindo o papel que Oliver desempenhara.

— Você tem certeza?

— Sim, mas eu não posso provar isso, e eu percebo que ninguém iria
acreditar em mim.
— Você entende que você está acusando ele de...-

— Sim. É o jogo dele. Um que ele jogou desde que eu nasci.

— Mas você quase morreu.

— Esse era o seu objetivo. Agora conte-me o seu lado.

— Tivemos um alerta sobre uma chamada de 9-9-9 do clube. Tanto


quanto sabíamos, você estava lá. Pelo menos o seu telefone estava. Então
nós perdemos o sinal. Era muito arriscado deixar as coisas correrem por
mais tempo. Mandados de busca foram emitidos para uma série de
instalações e mandados de prisão para quase trinta pessoas, incluindo o
contador. Eles estão todos em custódia.

— Incluindo Warner e Marek?

— Sim. Incluindo eles.

Kell sentiu uma onda de alívio varrer sobre ele e o último calafrio
evaporou de seu corpo.

— Estamos tirando a van para fora do rio. Equipes forenses estão


trabalhando no clube, nas casas onde as mulheres foram detidas e no
armazém onde você estava detido - um cara chamado Alec não consegue
parar de falar. Aparentemente, o plano era levá-lo para outro local, mas
Marek recebeu um telefonema, assustou-se e disse que a van tinha que ir
para o rio. Warner xingou e disse muito pouco. Marek não disse nada. Nós
levamos o outro grupo de mulheres sob custódia. A cocaína foi encontrada
em vários locais. Nós os pegamos.
— Eu me demito.

Lane riu.

— Eu quero dizer isso. Eu já tive o suficiente.

— Você precisa descansar. Eu sei como é estressante trabalhar


disfarçado, mas tome um tempo para pensar no seu futuro.

Kell não precisava de tempo, mas estava exausto demais para


discutir. — Você sabe se Marek estava definitivamente trabalhando contra a
Warner quando ele contratou Gethin para invadir o computador do
contador?

— Estou inclinado a pensar que Marek queria uma parte maior de


dinheiro, mas agora que o negócio entrou em colapso, ele pode fingir que
estava apenas seguindo ordens de Warner, ou agindo sobre as suspeitas de
sua irmã antes de dizer à Warner. De qualquer forma, todos eles vão para
baixo.

Era o que Kell queria ouvir.

— Seu relacionamento com Marek vai nos causar algum problema?


Seu chefe perguntou.

Não era algo que Kell queria falar. — Eu não estou grávido.

Lane olhou com raiva.

— O que você quer que eu diga? Kell rangeu os dentes. — Você queria
informação. Você me escolheu porque eu era gay. Eu deixei ele me foder.
OK? Ele não me forçou. Porque admitir o estupro não ia acontecer.

Lane colocou a cabeça entre as mãos. —Merda.

— Ele veio atrás de mim. Eu nunca o persegui. Eu não o prendi em


nada. Eu desempenhei um papel e ele se apaixonou por isso.

— Você precisa colocar tudo em seu relatório. Nós não podemos ser
pegos nisso. Eu quero ver o esboço preliminar pronto antes de você sair do
hospital. Eu vou ter alguém esperando por isso. Não vai a lugar nenhum até
que eu tenha lido e discutido com você. Amanhã, quero você no escritório
para ser minuciosamente interrogado.

Lane saiu.

— Eu nem sequer recebo um fodido ‘bom trabalho’ ou minha carteira


de volta? Kell estalou para a porta fechada. Ele puxou o papel e a caneta
para mais perto. Ele quase começou com ‘era uma vez’, mas conseguiu se
controlar.

****

Quando terminou, ele entregou o envelope lacrado para o policial


sentado do lado de fora de seu quarto, depois foi procurar por Gethin. Ele
estava dormindo, seu rosto todo arrebentado pela surra que Marek lhe dera.
Ele era lindo mesmo com os cortes e contusões. Meu maldito irmão quase o
matou também. Não foi apenas culpa de Oliver. Minha também.

Ele era um idiota ao pensar que ele poderia ter mantido isto casual.
Ele soube no momento em que olhou para Gethin, seu interesse era mais
profundo do que isso. Kell tinha perdido a batalha antes mesmo de segui-lo
para fora da tenda - fodida kata.

— Pare de olhar para mim, disse Gethin. Havia luz de volta em seus
olhos verdes. Um meio sorriso no rosto.

— Onde você conseguiu sua roupa elegante? Gethin perguntou.

— Há uma para você também.

Gethin se empurrou para uma posição sentada. — Podemos sair?

— Você deu uma declaração?

— Yeah. Eu não devo sair do país.

Kell ficou boquiaberto. — Eles não disseram isso.

— Não. Ele riu. — Eu... eu tenho que fazer isso, no entanto.

Os planos de Kell estavam desmoronando em pó. —Vai para o


exterior?

— Eu vou te dizer por que, mas não aqui. Ele jogou o lençol para trás,
tirou o vestido e ficou nu na frente de Kell. Kell deu um gemido silencioso.

— Você tem energia para isso? Gethin levantou as sobrancelhas.

— Deus, se você tivesse sugerido quando estávamos afundando


naquela van, eu estaria pronto para isso. Provavelmente.

Gethin riu enquanto se vestia. — O que devemos fazer para os


sapatos?
— Vai saber. Eu não tenho dinheiro. Sem carteira nem telefone.

— Nem eu. Vou pegar emprestado um telefone, ligar para Angel e


pedir a ele que peça para alguém dirigir meu carro até aqui do escritório.
Podemos ir ao seu estúdio e você pode pegar algumas roupas. Suspeito que
minha moto já foi apreendida, mas gostaria de verificar. Se não tiver, eu
posso ir de volta para o meu lugar enquanto você dirige o carro.

— Tem certeza que você me quer lá? Kell odiou que ele perguntou,
odiou que ele soasse um pouco patético, um pouquinho desesperado.

— Sim.

Kell exalou. Não houve hesitação, não - se você quiser vir - e não -
sim, mas apenas por esta noite. Apenas um claro e firme sim.

—Meu lugar não é muito, mas é melhor que o seu, disse Gethin. —Eu
gostaria de poder desembolsar para um hotel inteligente com serviço de
quarto, mas eu não posso me permitir isso.

Kell podia, mas a cama de Gethin soava perfeita para ele. Gethin
pediu um telefone emprestado para fazer a ligação, então eles desceram
para a entrada para esperar. Quando se sentaram um ao lado do outro em
um sofá no foyer, Gethin colocou a mão sobre Kell.

— Você está bem? Gethin perguntou.

Contanto que eu não esteja em coma e sonhando com isso, sim, estou
bem. Bem, cada músculo do meu corpo dói incluindo minhas pálpebras,
mas fora isso eu estou perfeito. Eu estou apenas tendo dificuldade em
acreditar que tudo acabou.

Gethin apertou seus dedos e Kell desejou que de alguma maneira ele
tivesse entendido errado porque ele não queria que essa parte acabasse.
Gethin lhe contaria sobre Jonnie? Sobre por que ele precisava ir para o
exterior? Eu conheço esse cara em tudo?

Quando Angel atravessou as portas do hospital, Gethin puxou Kell


para seus pés.

— Você está bem? Angel bateu a mão no coração. — Oh Deus, você


não está. O que em nome do céu você está vestindo? A alma desse homem é
sua roupa.

— Macbeth? Perguntou Gethin.

Angel rosnou. — Tudo fica bem quando termina bem. Eu mostro a


você onde estacionei, mas fique dez passos atrás. Estou mortificado que
alguém possa me ver com você vestido assim. Sem sapatos? Eles achariam
que eu peguei alguns garotos de aluguel sem teto. Ah… dois garotos de
aluguel de boa aparência. Ande um de cada lado e me lancem olhares de
adoração.

Kell deu uma risadinha.

— Você está preocupado com minhas roupas e não com meus


ferimentos? Gethin perguntou quando partiram.

— Suas partes importantes estão funcionando? Angel perguntou.

— Ainda não testei todas elas. Gethin olhou para Kell que estava com
suas bochechas aquecidas.
Angel pressionou por detalhes do que acontecera, mas Gethin o
dispensou, prometendo lhe contar tudo mais tarde. Os pés de Kell estavam
congelados. Ele andou pelo caminho cuidadosamente ao longo da calçada
aliviado quando chegaram ao carro.

— Você quer uma carona? Gethin perguntou a Angel.

— Eu tenho uma reunião para ir a um par de paradas de metrô daqui.


Estou bem. Aqui estão as chaves e cem libras. Isso vai ser suficiente?

— Obrigado. Isso está ótimo.

Angel passou os braços ao redor de Kell. — Feliz Aniversário, ele


sussurrou. — No ano que vem, vou dar uma festa para você.

— Você acha...?

Angel colocou o dedo sobre os lábios de Kell. — Sim querido. Eu


acho. Ele piscou enquanto se afastava.

Kell se sentou no banco do passageiro e esfregou os pés no tapete e


na calça de moletom para se livrar dos pedaços de terra e cascalho que havia
apanhado.

Gethin estava com o porta-malas aberto e, quando ele sentou no


banco do motorista, estava usando sapatos e um suéter diferente.

— Você carrega peças sobressalentes para o caso de alguém lhe


trancar numa van jogá-la num rio? Perguntou Kell.

— E eu provei que estava certo.


Kell sorriu e uma vez que o aquecedor estava soprando ar quente
sobre os dedos dos pés, ele relaxou.

****

Gethin conseguiu colocar o carro em um pequeno estacionamento do


lado de fora do prédio de Kell.

— Isso foi sorte, disse Kell.

Gethin estava começando a pensar que talvez ele fosse um cara de


sorte.

Mas depois que eles subiram e chegaram à porta, Kell gemeu. —


Merda. Eu não tenho chave.

— Você vai voltar aqui de novo?

— É verdade. Kell levantou um pé descalço, chutou com força a porta


e ela se abriu. — Bem, olhe para isso. Tudo o que se pratica em uma van de
mergulho dá certo.

Gethin fechou a porta enquanto Kell se dirigia para seu armário,


desnudando-se no caminho.

— Não que eu esteja reclamando, disse Gethin —mas você poderia


ter ficado como estava.
— Quero minhas roupas. Kell vestiu jeans e Gethin queria despi-los
novamente. Kell se contorceu para dentro de uma camiseta, enfiou os pés
em sapatos e começou a empacotar. Gethin não tinha pensado nisso. Ele
queria que Kell ficasse com ele, mas temia que ele estivesse assumindo
demais. Eles concordaram em manter isso casual e isso já tinha ido muito
além disso. Ele ainda tinha que explicar sobre Jonnie.

Talvez Kell pudesse entender.

Talvez não.

Ele se viu engolindo enquanto observava Kell se mover pela sala com
seu jeans esticado sobre sua bunda. Quando Kell balançou o traseiro, Gethin
lançou um olhar para o rosto dele.

— Agora, quem está olhando? Kell vestiu um suéter e fechou o zíper


da bolsa. — Isso é tudo que preciso. O resto pode ficar. Entrarei em contato
com meu chefe e direi a ele que saí do estúdio. Posso encontrar outro lugar
para alugar até que meu lugar esteja vazio.

— Cobertura no Shard?

Kell riu. Ele foi até a porta e olhou para trás.

— Adeus, banheiro muito pequeno. Adeus, luz de poste aborrecida.


Adeus, mofo de aspargos... não me lembro dos nomes dos outros. Gladiador
e estegossauro?

— Aspergillus, cladosporium e stachybotrysatra.

— Você é tão esquisito. Kell sorriu para ele.


— Mas realmente útil em um questionário de bar.

****

Gethin ficou surpreso e aliviado ao ver sua moto onde ele a deixou.
Ele parou atrás dela, pegou suas chaves extras de um compartimento
escondido, destrancou o alforge e tirou seu capacete e jaqueta.

— Vai ficar bem me seguindo? Gethin perguntou.

— Eu sei que você já esteve na minha casa antes, mas se você me


perder, o endereço está no GPS gravado logo abaixo da pizza. Tem uma
garagem onde eu coloco a moto. Estacione o carro em qualquer lugar. Não
deve ser um problema encontrar um lugar a esta hora do dia.

— Certo.

Enquanto Gethin passava por No Escape, ele viu a fita da polícia do


outro lado da entrada e um policial de guarda do lado de fora. Parecia uma
vida atrás desde que ele esteve lá procurando por Dieter. Quando ele
voltasse, usaria o outro telefone para ligar para a mãe de Dieter. Não via
motivo para ela e Dieter não irem para casa. Com um pouco de sorte, ela
diria a ele que haveria um cheque no correio.

Gethin manteve Kell à vista por todo o caminho de volta e quando viu
um local para Kell estacionar, ele apontou para ele, depois virou e puxou ao
lado dele. Kell abaixou a janela e Gethin lhe entregou a chave do seu
apartamento. Eu vou dar uma entrada rápida no supermercado e comprar
alguns mantimentos.

— Ok.

Depois que Gethin entrou na garagem e empurrou a moto dentro, ele


deixou cair a porta de rolar enquanto ainda estava dentro e pegou um
telefone de reposição e uma carteira de uma caixa escondida ali. Ele deixou
o capacete com a moto, trancou-a e partiu a pé até a loja mais abaixo na rua.

Quando chegou lá, ligou para Zena Hoehn e lhe deu as boas notícias.
Ele cancelou seus cartões bancários e ligou para o provedor de telefone e
providenciou o envio de um novo telefone. Ele sempre gostou de ter pelo
menos dois de tudo. Gethin comprou o que ele precisava da loja, depois
olhou em volta para ver se havia algo que ele pudesse obter de presente para
Kell. Ele registrou o quão pouco ele sabia sobre ele e como ele queria saber
tudo.

Gethin pegou uma seleção de itens, incluindo papel de embrulho, e


então falou com o assistente para fazer o que ele comprou parecer legal. Ele
escolheu um bolo de aniversário, uma caixa de velas e fósforos. Os cartões
de aniversário eram muito confusos, então ele comprou um para uma
criança de três anos com um carro esportivo na frente. Enquanto o
assistente fazia maravilhas com papel, fita e tesoura, Gethin pegou
emprestado um marcador e adicionou um grande e gordo zero ao três e
escreveu dentro do cartão. Tinha passado pela sua cabeça que ele poderia
levar Kell para jantar, mas se o cara estivesse tão exausto quanto Gethin se
sentia, seria melhor ficar em casa.

Além disso, ainda havia a questão de Jonnie. Não era a hora certa
falar sobre Jonnie no aniversário de Kell, mas quando seria a hora certa?
Gethin teve que tocar a campainha três vezes antes de Kell abrir a
porta, e ele começou a se preocupar. Mas quando um Kell sorridente
apareceu na frente dele, com sua camiseta justa agarrada aos músculos
tonificados de seu torso, o calor inundou as veias de Gethin.

— É melhor que isso seja importante. Kell se apoiou na porta. — Eu


estou esperando um cara muito quente de volta a qualquer minuto. Então,
se você está vendendo produtos caros de limpeza doméstica ou se
oferecendo para me apresentar ao Senhor, eu não estou interessado, a
menos que o fim seja esta noite, e se esse for o caso entre e sente-se bem
perto.

Gethin riu e passou por ele.

— Eu acho que você precisa chamar alguém para dar uma olhada
nessa porta, disse Kell. — Ele pode estar encaixando e trancando, mas não
está muito segura, não é?

— Vou consertá-la.

— Você demorou tanto tempo que me ensinei a tocar guitarra.


Escute. Quando Kell pegou o instrumento que Gethin não tinha tocado por
mais de um ano, exceto para tirar o pó, seu peito se apertou. Mas o som
terrível e discordante quebrou o feitiço e o fez sorrir.

— Uau, isso é... bastante inovador.

— Obrigado. É chamado de ‘Canção Triste Cantada Suavemente’,


note o trocadilho. Kell colocou a guitarra de volta no suporte.

— Eu ainda não ouvi você cantar. Gethin desempacotou as compras


na geladeira e deixou o bolo em uma das sacolas para escondê-lo de Kell.

— Eu ainda não cheguei a esse ponto. Devo tocar de novo?

Gethin lhe lançou um olhar. — Talvez mais tarde. Está com fome?

— Eu estava. Kell deslizou por trás dele. — Eu sou tão facilmente


distraído.

O cume duro do pênis de Kell pressionou na costura da bunda de


Gethin, balançando contra ele, e a caixa de ovo escorregou em sua mão, mas
felizmente não caiu.

— Sexo, comida, sexo... Conversa, disse Kell.

— Ou talvez sexo, comida, sexo, comida, sexo e depois conversar.

Gethin colocou os ovos para baixo e estendeu o presente. — Feliz


aniversário.

Os olhos de Kell se iluminaram. — Mesmo? Obrigado. Ok, plano


revisado. Abrir o presente, sexo, comida, sexo e depois conversar. Ele
arrancou o papel rapidamente e tirou o primeiro item, um thriller de Jo
Nesbo. — Como você sabia que eu gostava dele?

— Eu olhei debaixo da sua cama.

— Espionando?

— Checando por monstros. O CD é de uma banda que eu gosto, então


eu espero que você goste deles também.

— Se eles são parecidos com o Abba, eu vou amá-los.

Gethin sentiu como se todo o seu corpo estivesse sorrindo. Kell o fez
feliz. Ele não conseguia se lembrar de quando se sentira tão feliz pela última
vez.

— Não vi esse aqui. Kell brandiu um DVD de ficção científica.

Tampouco Gethin.

— Ah. Kell riu da caneca com uma rena de nariz vermelho ao lado,
dois pacotes de chocolate quente e mini marshmallows dentro. — Eu amo
isso. Ele empilhou as dez caixas de preservativos em uma torre no balcão. —
Eu nunca vou entrar nessa loja com você. Você percebe que todos na
vizinhança logo saberão quantas caixas você comprou de uma só vez e vão
pensar que você é um maníaco sexual.

— Eu disse à mulher que estava fazendo um experimento científico.

Os olhos de Kell se arregalaram. — Você não fez?

Gethin riu. — Não.

Kell chupou os dentes. — Tem certeza de que dez pacotes serão


suficientes.
— Podemos comprar mais amanhã. Fui a uma loja diferente para
isso. Ele colocou uma garrafa grande de lubrificante ao lado dos
preservativos.

Kell sorriu e puxou Gethin em seus braços. — Obrigado por tudo.


Mas você é o melhor presente de todos. Ele abriu os botões na jaqueta de
couro de Gethin e então o zíper. — Estou pensando em sexo, sexo, sexo,
sexo, sexo agora.

— Isso é incrível, disse Gethin. — Eu também.

— Eu lavei meus pés. Pensamento aleatório, mas...

Gethin assentiu. — É melhor eu lavar os meus também.

Quando ele tentou se afastar, Kell o puxou de volta. — Ei, os


presentes não podem ser movidos até que estejam totalmente abertos.

O sorriso de Kell era tão sujo que Gethin desatou a rir. Kell tirou o
paletó dos ombros de Gethin e jogou-o no sofá, tirou o suéter por cima da
cabeça e o jogou em cima da jaqueta. Quando ele estendeu as mãos sobre o
peito nu de Gethin e esfregou os mamilos com os dedos e polegares, Gethin
gemeu por dentro, mas parecia que Kell estava acariciando seu pênis.

— Arrgghh, Kell baixou as mãos. — Eu estou tocando em você, mas se


sente como se você estivesse tocando meu pau.

Oh, porra, como eu gosto de você. Gethin nunca tinha sorrido tanto.
Era como se ele tivesse estado fechado dentro de uma caixa e Kell o tivesse
puxado para a luz do sol.
Kell agarrou a parte de trás da cabeça de Gethin, puxou-o para perto
até que seus rostos estivessem a centímetros de distância e então lhe deu um
olhar envergonhado. — Eu estou culpando essa minha luxúria irreprimível
com o fato de que quase termos morrido hoje. Instinto básico do homem. Eu
sobrevivi agora eu preciso de sexo. Bem, é isso ou a culpa é sua por ser tão
quente.

Quando Gethin finalmente sentiu a pressão dos lábios de Kell, foi


como se ele tivesse sido arrastado por uma enorme onda e levado para o
mar. Cada toque, cada toque da língua de Kell fez o coração de Gethin bater
mais rápido. Kell começou com uma lenta exploração, passando a língua
pelos dentes de Gethin, provocando, mergulhando, depois seus beijos
ficaram mais famintos, mais ásperos, tingidos com um toque de desespero.
Mãos que dançaram um tempo sobre as costas de Gethin agora o apertavam
enquanto se esfregavam desesperados um no outro e Gethin se perdeu no
cheiro e na sensação do homem em seus braços.

Quando se afastaram, ofegantes, Gethin estava tonto de luxúria, cego


pela necessidade. Ele deslizou a mão até a frente do jeans de Kell, sentiu o
calor do pênis rígido sob o material e apertou suavemente.

Kell agarrou seu pulso e afastou-o. — Deus não. Você vai me fazer
gozar. E você ainda não está nem desembrulhado.

Gethin tirou seus sapatos e Kell empurrou o cós da calça de moletom


até que eles caíssem no chão e Gethin pudesse sair deles.

— Nunca os use de novo. Prometa. Kell estremeceu.


— Eles não são tão ruins.

— Eu gosto de você em... coisas apertadas. Você é meu para brincar,


certo? Kell tirou a camiseta e a jogou de lado. Ele se atrapalhou com o seu
jeans apertado e empurrou-os para baixo em seus quadris, chutando-os fora
de seus pés.

— Sem cuecas? Gethin perguntou.

Kell engasgou. — O que? Eu esqueci?

A boca de Kell pousou no mamilo de Gethin. A mordida afiada fez


Gethin ofegar e recuar, mas a dor também enviou tremores de luxúria em
seu corpo.

— Hmm, você gostou disso. Kell olhou para ele enquanto ele agitava
sua língua sobre o mamilo protuberante de Gethin. — Prazer e dor.

— Não muita dor.

— Sem chicote hoje à noite então. Kell envolveu a mão em torno do


pênis de Gethin e chupou mais forte seu mamilo.

Gethin gemeu e seus quadris se contraíram, empurrando seu pênis


no controle apertado de Kell. Ele tinha uma mão no ombro de Kell, a outra
na parte de trás do pescoço, coçando para empurrar Kell para baixo.

— Não se atreva a gozar, disse Kell. — Não até eu terminar de brincar


com você.

— Estamos falando de quantos minutos?


— Horas.

Gethin rosnou. — Oh não, de jeito nenhum.

Kell o beijou novamente, e Gethin se derreteu contra ele. Este beijo


foi lento, profundo e gentil e algo sobre ele garantiu a Gethin que eles
tinham um futuro.

— Você tem um gosto tão doce, sussurrou Kell.

— Hospital antisséptico?

Kell olhou. — Não. É só você. Eu tenho um caso sério de desespero


aqui. Acoplado com um monte de indecisão. Eu não sei o que fazer primeiro.
Eu não sei o que escolher.

— Só não me quebre, disse Gethin.

— Eu duvido que pudesse te quebrar. Mas se por acaso isso acontecer


eu sempre posso te consertar de novo. Super bonder faz maravilhas.

E não era isso que Gethin estava procurando, ainda que


subconscientemente? Alguém que poderia colocá-lo de volta, ajudá-lo a
olhar para o futuro, ajudá-lo a viver em vez de apenas existir? Alguém que o
ouvisse explicar sobre Jonnie e entender? Alguém que o ensinasse a sorrir
novamente?

Kell pegou uma caixa de preservativos e o lubrificante, depois se


virou e pegou outra caixa antes de agarrar a mão de Gethin e puxá-lo para o
quarto. Gethin viu que Kell já havia puxado as cortinas, virado a coberta da
cama, colocado o que achava ser uma flor feita de papel higiênico no
travesseiro, e acendido a lâmpada de cabeceira.

— Muito extravagante? Perguntou Kell.

— Não. Gethin pegou a arte de papel higiênico e ela se desfez. — Uma


flor, certo?

— Era um dinossauro. Kell jogou os preservativos e o lubrificante na


cama. — Ainda bem que você comprou isso porque eu dei uma olhada e
estava pensando que teríamos que nos contentar com filme plástico e azeite
de oliva. Ele hesitou. — Eu acho que você não recebe muitas visitas de caras
aqui.

— Eu nunca tive um cara nesta cama até agora. Eu nunca trouxe um


cara para cá.

— Você estava preocupado com eles tocando sua guitarra melhor do


que você, não estava?

— Eu sou tão óbvio?

— Deite-se, meu adorável presente de aniversário que pode ser


apenas o melhor presente que eu já tive se eu não contar o castelo de Lego
que eu recebi quando tinha sete anos. Eu realmente queria aquilo. O maldito
Oliver roubou um dos tijolos cruciais e eu tive que escrever para Lego e
conseguir outro.

Gethin deitou de costas e Kell se inclinou sobre ele, colocando um


rastro de beijos dos lábios de Gethin passando pelo centro de seu peito, a
dobra de sua virilha, ao longo do topo de suas coxas e, finalmente, ao longo
do comprimento de seu pênis. Gethin agarrou os lençóis com seus punhos e
desejou que suas bolas se comportassem. Kell deslizou sua língua sobre e ao
redor da ponta de seu pênis, de novo e de novo, até que Gethin não pôde
impedir que o tremor explodisse em seus membros. Ele achava que já estava
totalmente ereto, mas parecia que estava crescendo ainda mais duro.

Kell passou a língua pela saliência do eixo de Gethin, engolfou a


cabeça com a boca quente e apertada e Gethin ofegou. Minhas bolas. Eu
preciso gozar. Oh Cristo — P-porra. A palavra saiu como um sussurro
rouco.

— Eu amo o seu pau, Kell recuou para falar. — Cristo. Por que eu me
torno uma bagunça carente no momento em que estamos juntos? Não
responda.

Kell lambeu a palma da mão, depois a esfregou sobre a cabeça do


pênis de Gethin e os quadris de Gethin se afastaram da cama. Ele só
percebeu que tinha os dedos enroscados nos cabelos de Kell quando Kell lhe
gritou.

— Segure a cabeceira da cama e não solte, ordenou Kell. Gethin não


era um cara que recebia ordens na cama - geralmente - mas envolveu seus
dedos ao redor da cabeceira e segurou firme. Kell sorriu para ele antes de
continuar provocando-o com chupadas e lambidas de sua quente e molhada,
língua, levando os quadris de Gethin se mover cada vez mais
freneticamente, tentando fazer com que Kell trabalhasse mais duro, mais
rápido.

— Quero você em minha boca, Gethin gemeu as palavras. Tirar um ao


outro ao mesmo tempo parecia a única maneira de acabar com a tortura
lenta de Kell. Kell olhou para ele com a boca ainda ocupada, ainda cheia,
com o pênis de Gethin abrigado no interior de suas bochechas.
— Agora, disse Gethin.

Kell se moveu rápido como um raio, mudando de posição até que seu
pau apareceu sobre o rosto de Gethin. Gethin envolveu sua mão ao redor da
base e puxou-o em sua boca, chupou-o firme e duro, e Kell deu um gemido
abafado, seus lábios de volta ao redor de Gethin. O gosto inebriante de pré-
sêmen embaçou a cabeça de Gethin e ele parou por um momento apenas
para apreciá-la, então eles estavam chupando no mesmo ritmo, apertando
um ao outro no mesmo ritmo, fazendo a mesma coisa com suas línguas,
provocando suas fendas, mergulhando dentro, lambendo as bolas,
lambendo seus comprimentos, engolindo pênis inteiros e tentando respirar
ao mesmo tempo.

Gethin levou o pênis de Kell para baixo, e por um momento Kell não
se moveu. Gethin contraiu os músculos de sua garganta ao redor do eixo e
Kell choramingou. O gemido de Gethin foi bloqueado pelo que ele tinha em
sua boca. Indo gozar. O orgasmo estava em ascensão por todo seu corpo,
correndo por suas veias, pulando de neurônio para neurônio, cada pequena
célula orgástica explodindo de excitação enquanto as mensagens neurais
corriam para sua virilha. Kell soltou um gemido ao redor do pênis de Gethin
e então ambos estavam gozando, voando em direção ao sol. Kell jorrava na
garganta de Gethin enquanto Gethin entrava no dele, o mundo explodindo
em um céu carregado de fogos de artifício, cheio de promessas e esperanças
por causa desse homem.

Sentia como se Kell estivesse jorrando para sempre em sua boca e


Gethin continuou engolindo até que o último espasmo se desvaneceu e Kell
caiu contra ele, agarrando os quadris de Gethin, seus dedos cavando até o
ponto de dor. Quando o pênis de Kell escapou de seus lábios, Gethin sugou o
ar, e seu coração começou a desacelerar.

Kell se moveu até que sua cabeça assentasse ao lado de Gethin no


travesseiro. Gethin estendeu a mão para limpar uma mancha do canto da
boca de Kell e quando Kell agarrou a mão dele e lambeu o dedo, Gethin
rosnou.

— Ei, de quem é o aniversário? Perguntou Kell.

— Poooorra. Isso foi bom.

— Eu planejei mais, mas você me distraiu. Eu nem sequer usei um


desses preservativos.

Ele se aconchegou em Gethin e Gethin deslizou seu braço ao redor


dele. Afago era algo novo para ele, mas ele gostou.

— Dê-me alguns minutos e eu vou estar bom para ir de novo, disse


Kell. —Eu me sinto obrigado a usar todas aquelas caixas desde que são para
o meu aniversário.

Gethin sorriu enquanto acariciava o ombro de Kell, arrastando os


dedos para cima e para baixo em sua pele lisa.

— Quase morremos por causa do meu maldito irmão, sussurrou Kell.


— Ele é um bastardo. Ele é alguém sobre quem temos que conversar. Então
podemos foder para que eu possa esquecê-lo.

Gethin não conseguia esquecer Jonnie. Ele tinha coisas para resolver
e era melhor que fosse mais cedo do que mais tarde.

— Eu disse a você sobre o que aconteceu na praia, Kell balbuciou, —


mas essa não foi a primeira vez que ele tentou me matar. Ele colocou um
travesseiro no meu rosto quando eu tinha três anos e tentou me sufocar. Eu
não consigo ver como eu poderia me lembrar disso, mas é tão claro na
minha cabeça, eu acredito que é verdade. Minha mãe veio e ele disse que me
ouviu chorar e estava tentando deixar-me mais confortável. Maldito
mentiroso. Kell suspirou. — Eu estava desesperada para Oliver gostar de
mim e ele agia como se eu não estivesse lá. Eu deveria estar contente com
isso, feliz com isso, mas eu estava sempre tentando impressioná-lo,
tentando fazê-lo me notar.

— Nenhum de seus pais interveio?

— Eles não viram o quanto Oliver me odiava. Bem, não até que ele
deliberadamente me empurrou em um declive íngreme quando estávamos
esquiando. Minha mãe o viu fazer isso. Por sorte, caí em uma saliência e
uma equipe de resgate conseguiu me levar à segurança novamente. Oliver
disse que foi um acidente, mas ela não acreditou nele. Eu acho que ela
pensou em todas as vezes que eu disse a ela o que Oliver tinha feito e ela
ficou tão sobrecarregada que ela teve algum tipo de surto psicótico. Embora
ele tenha tido outros no passado e se recuperado, desta vez ela não
conseguiu. Ela foi internada em um hospital psiquiátrico na Escócia e vive
em seu próprio mundinho, não reconhece nenhum de nós.

— E seu irmão ainda continua atormentando você.

Kell estendeu a mão sobre o peito de Gethin e esfregou o polegar


sobre um de seus mamilos. — Eu deveria me trancar no meu aniversário, em
algum lugar que Oliver não pudesse me encontrar. Como diabos ele me
achou? Ele disse que meu chefe disse a ele, mas Lane negou e como Oliver
saberia que eu trabalhava no clube, e para Warner?
— Talvez ele tenha falado com alguém mais alto que Lane -
Beckwith? Talvez tenha dito a ele que queria desejar feliz aniversário ao
irmão - discretamente, é óbvio. Ele não queria interferir em uma operação
em andamento. Mas seria um reforço moral para você. Ele sabe as coisas
certas a dizer para conseguir o que ele quer. Ele é um MP. Supostamente do
lado da lei e da ordem, alguém que trabalha para o povo não apenas no seu
círculo eleitoral, mas para todo o país. Por que alguém se preocuparia que
ele deliberadamente foderia as coisas para um irmão que estava arriscando
sua vida para colocar os bandidos na cadeia?

— Isso faz mais sentido. Oliver pode ser persuasivo. Uma das coisas
mais cruéis que ele já fez para mim foi foder um garoto por quem eu tinha
uma grande paixão. Oliver não é gay, mas ele estava disposto a fazer isso só
para destruir minha vida.

— A foto que tirei ainda está no meu celular. Claro, eu não tenho mais
o telefone, mas ele não sabe disso. Talvez a ameaça de entregá-lo à imprensa
seja suficiente para que ele deixe você em paz. Além disso, temos mais um
ano para pensar em uma maneira de estragar sua diversão.

Oh merda. O que eu acabei de dizer?

Kell olhou para ele, talvez sentindo sua tensão. — Não pareça tão
apavorado. Talvez nós possamos durar tanto tempo. Eu sei o que nós
dissemos - eu disse – que nós faríamos isso casual, mas... Kell engoliu em
seco. — Eu quero mais que isso. Eu quero mudar minha vida inteira. Eu não
quero mais trabalhar disfarçado. Não tenho nem certeza se ainda quero ser
policial. Mas a única coisa que eu não preciso repensar é você. Eu quero
você. Não apenas para o sexo, embora você seja muito bom nisso.

Gethin riu. — Apenas muito bom?

— Dez caixas de preservativos para provar que você é melhor que


isso.

— Eu só preciso de um.

— Uma caixa?

— Um preservativo.

Kell levantou as sobrancelhas. — Okay. Ele mordeu o lábio. — Então


você vai falar comigo sobre Jonnie?

Gethin exalou. — Sim. Não é uma história fácil.

— Apenas fale.

O que mais ele poderia fazer? — Depois que meus pais morreram, fui
criado em um orfanato. Lares adotivos, casas de acolhimento autorizadas,
mas nada durou. Eu era um solitário. Se fizesse amigos, quando me mudava
e os perdia. Ou eles me decepcionaram. Era mais fácil não me incomodar.
Eu dividi meu tempo entre o computador e a guitarra. Saí da escola assim
que pude e trabalhei em TI para várias empresas diferentes, incluindo uma
agência de detetives. Eu estava entediado quando conheci Jonnie. Ele estava
em uma banda. Ele era carismático, charmoso e cheio de vida. Eles
precisavam de um novo guitarrista e eu me encaixei.

— Qual era o nome da banda?

— Strip Jack.
Kell se levantou apoiado no cotovelo. — Eu já ouvi falar deles. Não
me lembro de ninguém chamado Gethin.

— Eles me chamavam de Dart. Jonnie começou isso e pegou. Três


mosqueteiros e D'Artagnan, eu, embora Jonnie sempre fora o líder. O
destemido, o cara que todo mundo amava. Ele era um bastardo completo,
para ser honesto, mas você não podia deixar de gostar dele. Nós éramos um
casal, embora ninguém soubesse. Não por um longo tempo. Ele jogava
hetero para os fãs. Embora ele tenha saído eventualmente. Eu me mudei
para o lugar dele. Um dia cheguei em casa e encontrei-o na cama com... sim,
bem. Eu apenas fiquei ali parado olhando. Eu não podia acreditar. Ele disse
que sentia muito. Inventou alguma merda como desculpa, mas eu saí de sua
vida e saí da banda. Isso não caiu bem, a parte de deixar a banda. Ele deu
uma risada rouca. — Jonnie estava mais preocupado com isso do que eu
deixando-o. Eu não acho que ele conseguiu aceitar minha partida. Ele
pensou que eu era uma coisa certa, que eu o perdoaria por qualquer coisa.

— Ele machucou você.

— Mais do que ele percebeu, o que diz tudo. Enquanto estava com a
Strip Jack eu acalmava Jonnie. Ele sempre foi um exibicionista, mas eu o
impedi de fazer muitas coisas que achava perigosas. Ele empurrava as coisas
longe demais. Era como se ele pensasse que era invencível. Ele não era.

Kell engoliu em seco. — O que aconteceu?

— Cerca de doze meses atrás, ele ligou para dizer que tinha um
cheque para mim. Eu não queria que ele soubesse onde eu morava, então
me ofereci para ir buscar. Foi tudo um truque para me levar a um lugar onde
eu veria a banda ensaiando com seu novo guitarrista. Jonnie queria provar
que eles não precisavam de mim. Ele não entendeu que eu não dava mais a
mínima. Ele subiu em um dos cenários. O tipo de truque estúpido que eu
geralmente o impedia de fazer. Ele olhou para mim como se estivesse
esperando que eu lhe dissesse para descer, mas eu não fiz, então ele pulou. A
caixa que ele caiu em cima tinha uma ponta e ele bateu a cabeça e as costas
em uma borda afiada. Agora ele está paralisado. Ele pode mover um par de
dedos, o suficiente para dirigir sua cadeira de rodas, usar seu computador,
acender ou apagar a luz. Ele não pode limpar a própria bunda, se alimentar
ou masturbar. Ele quer morrer. Ele quer que eu o ajude a morrer.

— Oh merda.

Gethin tinha que falar tudo isso enquanto podia. — Isso não é tudo.
Nós nos separamos seis meses antes do acidente, mas quando ele veio no
hospital, ele não se lembrava do que tinha acontecido. Ele acha que ainda
somos um casal. Ele diz que me ama. Eu sou o único que vai vê-lo. Estou
pagando parte do custo de seus cuidados. Eu esvaziei minha conta bancária
comprando tudo o que ele precisa. Ele não tem idéia de que seu dinheiro
acabou. Ele acha que eu o amo e, eu o odeio.

Kell passou os braços em volta dele e segurou-o apertado.

— Ele diz que se eu o amo, eu o ajudaria a morrer. Como pode ser


certo fazer isso quando desejo que ele já estivesse morto?
Kell entrelaçou seus dedos com os de Gethin. Essa foi uma história
que ele não esperava. Que bagunça. — O que você vai fazer? Você pode
ajudá-lo a morrer?

— Depois de vim me negando a fazer isso há um longo tempo,


fazendo o possível para convencê-lo a desistir, finalmente cedi.

— Na verdade, você não pode matá-lo. Ele poderia?

— Ele quer ir a uma clínica na Suíça. Ele precisa que eu organize


tudo.

— E pague por tudo?

Kell queria voltar essas palavras no momento em que elas saíram,


mas Gethin deu um sorriso silencioso.

— Sim.

— Quanto vai custar?

— Pelo menos quinze mil. Eu não tenho isso. Há dinheiro que eu


não recebi quando eu estava com a banda. Eu escrevi algumas das
músicas, mas nosso agente era um bandido e nós estamos em uma disputa
judicial. Até que esteja resolvido, não vou conseguir um centavo. Eu posso
pegar emprestado. Angel me emprestaria isso. É apenas…-

— Vou te ajudar. Eu posso te emprestar o dinheiro, ajudar você a


arrumar tudo.

— Não. Gethin balançou a cabeça. — Eu não quero você envolvido.

Kell reprimiu sua decepção.

— É apenas porque isso vai ser difícil. Gethin se virou para olhar
para ele. — Quando você disse que queria que as coisas fossem casuais,
você pode ver porque eu achei isso perfeito.

Ele estava se afastando, Kell podia sentir isso acontecendo. —


Estamos apenas nos aquecendo e você quer esfriar as coisas?

— Ei, é só por um tempo. Até acabar. Eu me sentiria mal se


estivéssemos...

— Eu entendo. Kell se sentou e Gethin o puxou para baixo.

Kell não entendeu. Jonnie poderia pensar que Gethin e ele ainda
eram namorados, mas se o cara realmente amava Gethin, ele não o
incentivaria a seguir com sua vida?

— Você está se culpando? Sussurrou Kell. — Em que mundo fodido


você é culpado por ele ter saltado e acabado paralisado? Foi decisão dele.
Ele esperava que você o parasse? Mesmo assim a decisão de pular foi única
e exclusivamente dele.

— Porque ele teria perdido sua imagem se tivesse descido. Ele


queria que eu o parasse.
Kell rolou de modo que ele cobrisse todo o corpo de Gethin com o
dele. — Você tem certeza? Talvez ele tivesse pulado de qualquer maneira.
Talvez ele só quisesse ouvir você dizer a ele para parar, mas ele iria
desafiá-lo para mostrar que ele não precisava de você para controlá-lo.
Você não é responsável pelo que aconteceu. É o ego dele que o colocou
onde ele está. Você diz que ninguém mais vai vê-lo? Sim, bem, isso o deixa
ainda mais desesperado. Que melhor maneira de garantir que você
continue a visitá-lo do que convenientemente esquecer que ele te traiu e
que você foi embora?

Gethin agarrou os quadris de Kell. — Isso não altera o fato de que


Jonnie não pode fazer isso sem ajuda. Eu não acho que vou ser um pacote
divertido nos próximos meses.

— Eu não vou recuar e ficar esperando, disse Kell. — Eu me lembro


do nosso acordo inicial, nossa própria versão privada do Grindr, mas nós
já fomos muito além disso. Você significa mais para mim do que uma foda
casual. Eu te amo, seu maldito idiota. — Eu quero um relacionamento com
você. Eu quero sair em encontros com você e ver para onde isso nos leva.
Eu quero meu felizes para sempre.

Kell esperou que Gethin concordasse com ele e, quando ele não o
fez, imaginou se alguma coisa que ele dissesse faria diferença, mas ele
ainda tentaria. — Não há razão para você ter que fazer isso sozinho. Eu
não tenho que conhecer o cara. Ele não precisa saber que eu existo. Eu não
quero machucá-lo. Eu não quero que você o machuque, mas precisamos
um do outro nesse momento. Ok, eu preciso de você. Além disso, é meu
aniversário, seu bastardo egoísta. Você não vai me deixar no meu
aniversário. Você não vai me dispensar antes de usarmos todas as dez
caixas de preservativos e toda aquela garrafa de lubrificante. Kell prendeu
a respiração.

— Eu não ia despejar você. Gethin deslizou as mãos sobre o traseiro


de Kell e apertou.

— Você ia me colocar em modo de espera, como uma ligação


telefônica? Ainda esperando que eu estivesse lá quando você terminasse
sua outra ligação?

— Sim.

— Não. Isso não vai acontecer. Estamos juntos e vamos ficar juntos.
Se der errado, então vai dar errado, mas isso não será por causa de algum
idiota egoísta que traiu você e agora o colocou em uma posição impossível.

Kell esperou e quando Gethin não falou, ele se ergueu em suas


mãos. — Então eu vou ou fico?

Gethin o puxou para baixo. — Fique. Por favor.

Kell sufocou o suspiro de alívio. — Você não tem que me dizer nada
que você faz com ele se você não quiser, só não me afaste. OK?

— OK.

— Eu sei que já falei muito, mas você vai se abrir para mim
eventualmente, não vai? Contar-me como você conheceu Angel, por que
decidiu ser um detetive particular, se gosta de café da manhã na cama, se
tem hábitos realmente irritantes, além daqueles que eu já notei.

Gethin sorriu. — Sim.


Kell deslizou todo o caminho até que seu rosto estava sobre a virilha
de Gethin. O pênis de Gethin etava semi duro e Kell aninhou-o sob sua
bochecha.

— Eu quero foder você, disse Kell. — Então você pode me foder


também. OK? Talvez possamos nos foder ao mesmo tempo.

— Eu pensei que tínhamos acabado de fazer isso. Os olhos de


Gethin estavam pesados com a luxúria.

— Eu tenho um truque de festa. Não que eu já tenha feito isso em


uma festa. Kell passou a ponta do dedo indicador sobre a cabeça brilhante
do pênis de Gethin e espalhou o pré-sêmen ao redor até que toda a ponta
estivesse brilhando.

Ele colocou o dedo na boca e chupou. — Você tem um gosto muito


bom.

Gethin gemeu. — Se você está dizendo, então eu tenho.

Kell sorriu. — Você realmente tem um gosto muito bom. Doce.


Azedo. Como um coquetel. Hah! Uma piada de mau gosto.

— Estou fugindo de você agora.

— Quer que eu pare?

— Só com as piadas.

Kell chupou a ponta do pênis de Gethin, deslizando sua língua na


fenda, sua boca aguando com o gosto dele.
Gethin gemeu e Kell empurrou as pernas dele, aninhando-se entre
as coxas. Ele pressionou a boca contra a base do pau de Gethin e esfregou
as bolas com o queixo. Quando Kell procurou o lubrificante e encontrou o
frasco sendo pressionado em sua mão, ele riu.

Kell esguichou um pouco do gel em seus dedos e enquanto ele


envolvia o pênis de Gethin com a boca, ele fez cócegas na parte de baixo de
suas bolas, espalhando o lubrificante sobre o triângulo de carne além,
provocando aquela área sensível entre seu pau e suas bolas, girando o
polegar, mas não atingindo a entrada do corpo.

—Porraporraporraporraporra. Gethin já estava ofegando e Kell mal


tinha começado.

Ele deslizou um dedo lubrificado sobre o buraco de Gethin e os


quadris de Gethin se arquearam para fora da cama, empurrando seu pênis
mais longe dentro da boca de Kell. Kell chupou com mais força
desfrutando do prazer de deslizar sensualmente a dureza aveludada sobre
a língua, a sensação de energia crua pulsando abaixo daquela pele lisa. Ele
empurrou outro dedo, encaixando-os na segunda articulação.

— Cristo. Gethin torceu o cabelo de Kell em seus dedos. - Arggh...


arggh...

Kell olhou para a extensão do abdome liso de Gethin e para aqueles


olhos verdes. Oh merda. Ele alcançou a boca de Gethin e deslizou dois
dedos dentro dela, alternando os golpes com aqueles em sua bunda. Não
foi fácil fazer isso e chupar o pau ao mesmo tempo. Kell nunca foi bom em
multitarefa. Seu próprio pênis estava de volta à dureza total e ele se sentia
cada vez mais desesperado para levá-lo para dentro de Gethin. Ele queria
fazer desse o melhor sexo da vida de Gethin.

Cristo, como em falhar antes de começar.

Ele trabalhou os dedos mais longe no traseiro de Gethin, curvando-


os para encontrar sua próstata, registrando o gemido de Gethin quando o
fez, acariciando a pequena glândula até Gethin se sacudir e se contorcer
debaixo dele. Kell acariciou o rosto de Gethin para lhe dar a chance de
respirar.

— Kell. Gethin suspirou nome e cravou as unhas nos ombros de


Kell. — Mais.

Kell transformou os dois dedos na bunda de Gethin em três e


também empurrou três dedos na boca de Gethin e deixou seu pau deslizar
para o fundo de sua garganta. Seu próprio pênis latejava com mais
insistência, dizendo-lhe para se apressar, chegar à parte boa, mas Kell
queria fazer isso durar. E se Kell precisasse respirar, o que ele estava
desesperadamente precisando, tinha que recuar.

Gethin soltou um soluço em sua garganta e Kell tirou os dedos da


boca e se inclinou para beijá-lo sem tirar os dedos do corpo. Kell ondulou
contra ele quando seus lábios se encontraram, mantendo o ritmo de seus
dedos enquanto seus pênis se esfregavam juntos, escorregadios com
lubrificante e desejo. Quando um deslizamento suave se transformou em
um ritmo frenético, suas bocas permaneceram unidas, e o coração de Kell
bateu mais alto e mais forte em sua cabeça.

Gethin correu seus dedos pelas costas de Kell até sua bunda e
deslizou um dos dedos por sua fenda. Se Gethin tocasse nele, Kell se
perderia. Ele saiu de seu alcance, pegou um preservativo, mas lutou para
obtê-lo aberto, porque seus dedos estavam muito escorregadios.
Frustrado, ele jogou-o de lado e pegou outro.

— Ainda bem que eu comprei dez caixas, murmurou Gethin. —


Apresse essa droga logo.

— Ei, Sr. Fundo-mandão, quem está no comando aqui? Kell fez uma
pausa quando seu pênis pressionou contra o ânus de Gethin.

— Você.

— Então não goze.

— O que? Gethin piscou para ele, seus olhos verdes escurecendo.

— Eu não posso fazer o meu truque de festa se você gozar.

Kell deslizou seu pênis dolorido e inchado direto dentro de Gethin,


um longo, profundo e suave deslizamento que meio que o pegou surpresa.
Gethin apertou seus músculos ao redor dele e Kell tentou dizer a ele para
parar ou senão tudo terminaria antes de começar, mas ele não conseguia
formar palavras coerentes. Ele se afastou, empurrou para frente e Gethin
respirou fundo e envolveu a mão em torno de seu pênis, pressionando a
base. Fazendo o que eu pedi a ele. Kell moveu seus quadris mais e mais
rápido, inclinou-se sobre as pernas de Gethin e golpeou-o duramente,
arrastando seu pênis através de tecido rico em nervos, movendo-se mais
rápido do que pretendia, mas agora incapaz de parar, correndo veloz para
a linha de chegada.

Suas bolas subiram e se encostaram contra a base de seu pênis e ele


deslizou em uma super velocidade, batendo em Gethin até que o
formigamento revelador explodiu em seu crânio e começou a se espalhar
por seu corpo. Seus olhos se fecharam e ele os forçou a se encontrar os
olhos de Gethin.

— Se você não quer que eu goze...- Gethin disse entre suspiros, —


então apresse essa foda.

Kell caiu em êxtase. Seu estômago se arrepiou a cada onda e ele


jogou a cabeça para trás quando ele gozou e gozou e gozou, caindo na
escuridão por um segundo que instantaneamente se transformou em uma
deslumbrante luz branca antes de o mundo ao redor voltar ao foco.

— Oh, porra, isso foi tão bom, Kell deixou escapar. — Pegue um
preservativo - rápido.

Ele saiu de Gethin e deixou-o endireitar as pernas. Kell se virou e


tirou o preservativo que estava usando. Fora da vista de Gethin, ele se
limpou, colocou outro preservativo e tomou um jato de lubrificante. Ele
tinha feito isso antes, então ele esperava que ele ainda pudesse fazer isso
de novo. Ele empurrou as pernas de Gethin contra o peito, então se
posicionou na direção oposta. Quando ele se abaixou no pau de Gethin,
Gethin agarrou seus quadris e o guiou. Kell gemeu com o alongamento e a
queimadura da penetração lenta, mas observou cada centímetro de pênis
deslizar nele com um sorriso no rosto.

— Ok? Gethin arfou.

— Porra, sim.

As mãos de Gethin estavam enroladas em torno dos quadris de Kell,


ancorando-o e Kell se aproveitou desse aperto para empurrar seu pênis
para baixo em direção a bunda de Gethin.

— Que porra é essa? Gethin deixou escapar.

Kell deslocou os quadris, conseguiu colocar parte de seu pau semi-


duro em Gethin, em seguida, manteve a mão no lugar para ter certeza de
que ele ficaria lá dentro.

— Nós... você... merda... pode... oh Deus. A respiração de Gethin


ficou irregular. — Seu truque de festa? Você pode fazer malabarismos com
pratos ao mesmo tempo?

Kell riu. Não era a posição mais fácil e só era possível se o pênis de
Kell ficasse parcialmente ereto. Quando começaram a foder,
instintivamente mudaram para se manterem no lugar. Os dedos de Gethin
estavam mordendo os quadris de Kell e a dor manteve Kell ancorado. Não
demorou muito para Gethin endurecer debaixo dele, então ele estava
gozando e impossivelmente Kell sentiu seu próprio pau trabalhar em
algum tipo de orgasmo seco que o deixou tremendo de prazer.

Quando seu coração se acalmou, ele arrancou a si mesmo de cima


de Gethin e caiu ao seu lado.

— Isso foi... Gethin suspirou. — Quanto tempo você gasta assistindo


pornô?

— Você quer dizer que eu não sou o primeiro a fazer isso? Kell
ofegou em falso horror. — Eu achei que tinha inventado isso.

Gethin deu uma gargalhada alta.

— Só funciona se você não está totalmente duro, disse Kell.


— Além disso, você precisa de um pau muito longo.

Kell deu uma risadinha. — Eu preciso limpar.

— Fique deitado. Salve sua força para a segunda rodada. Eu vou


pegar um pano.

****

Quando Gethin voltou para o quarto, Kell estava dormindo. Ele


nem acordou quando Gethin o limpou. Gethin puxou o edredom sobre eles
e se enrolou nas costas de Kell. Ele não queria que Kell fosse embora,
apesar do que ele disse. Não que ele estivesse testando-o, mas Gethin tinha
que saber com certeza como Kell se sentia. Ele estava certo - isso tinha
mudado para um novo território.

Kell não fez exigências sobre ele, o que era suposto ser o que Gethin
queria e não era. Não mais. A ideia de Kell esperando que ele voltasse para
casa, encontrando-o em um restaurante, sentando ao seu lado no cinema -
isso era o que Gethin queria. Embora a culpa ainda o assolasse porque ele
estava pensando que quando Jonnie estivesse morto, o quanto mais fácil
seria a vida. Mas mesmo que Jonnie decidisse que ele queria viver, Gethin
não deixaria Kell.

****
Gethin acordou na manhã seguinte e Kell ainda estava dormindo,
seu cabelo escuro todo despenteado. Ele não teve coragem de acordá-lo. As
pálpebras de Kell se contraíram e Gethin se perguntou sobre o que ele
estaria sonhando. Eu? Ele deslizou para fora da cama, tomou banho,
vestiu-se e decidiu sair para comprar um jornal e ver se havia alguma coisa
sobre os acontecimentos. Ele poderia pegar alguns croissants quentes ao
mesmo tempo. Escreveu um bilhete, deixou-o no travesseiro e saiu do
apartamento.

Deveria ir ver Jonnie naquela tarde e brincou com a ideia de levar


Kell com ele. Ele não desistiria de falar com Jonnie sobre a morte assistida
e se ele trouxesse Kell com ele, pareceria que ele estava empurrando
Jonnie para o avião.

Ele ligou para Angel enquanto caminhava até a loja.

— Ainda está vivo? Angel perguntou.

— Longa história.

— Vocês dois estão bem?

— Sim. Kell está dormindo na minha cama. ‘Eu pensei ter ouvido
uma voz choramigar 'não durma mais'.

Angel soltou uma gargalhada. — Você esteve esperando para usar


isso? Mas eu não tenho certeza se qualquer uso da palavra ‘dormir’ em
Macbeth é uma coisa boa.

— Por quê?
— Isso tende a anunciar a morte. ‘Macbeth mata no sono.’ E
‘Glamis foi assassinado durante o sono’.

— Estamos bem. Os bandidos estão sob custódia.

— Fico feliz em ouvir isso.

— Angel, eu sei que eu já lhe devo cem libras, mas gostaria de pedir
mais. Pode demorar um pouco até que eu possa pagar de volta.

— Quanto mais? Gethin estremeceu.

— Quinze mil.

— Bom Senhor. Posso perguntar por quê?

— Eu tenho um amigo que quer ir para a Suíça para poder morrer.


Gethin não ia mentir. Se Angel fosse contra o suicídio assistido, Gethin
procuraria em outro lugar.

— É por acaso esse tem a chance de ser o tal Jonnie que continua a
ver? Aquele por quem você parou de ter encontros e namorar?

— Sim. Ele está paralisado do pescoço para baixo depois de um


acidente. Ele não vai melhorar e já teve o suficiente. Ele quer morrer. Eu
tentei convencê-lo a sair disso. Eu vou continuar tentando, mas... –

— Sim, eu vou te emprestar o dinheiro. Você e Kell venham para o


jantar amanhã e eu vou te dar um cheque.

— Obrigado.

— Você deveria ter me dito, disse Angel calmamente.


— Eu sei.

Gethin teve que andar mais meia milha para pegar os croissants
porque a loja mais próxima tinha sido vendida. Ele estava voltando
quando ouviu as sirenes da polícia. Por vários metros, ele conseguiu se
convencer de que não havia nada com que se preocupar antes de começar
a andar mais depressa. Era como se ele tivesse encontrado uma poça
escorregadia debaixo de sua moto e soubesse que havia problemas pela
frente.

Quando viu veículos da polícia e duas ambulâncias ao pé de seu


prédio, ele explodiu em uma corrida. Ele estava exagerando. Kell
provavelmente estava dormindo durante a coisa toda. Não poderia ter
nada a ver com eles, porque todos os bandidos estavam sob custódia,
certo? Oh merda... alguém poderia ter saído sob fiança? O pensamento
de que a polícia poderia ter perdido alguém e não lhes disse… Não, não…
Mas esses policiais estavam armados. Oh, merda.

O jornal e os croissants caíram de suas mãos quando ele correu em


direção à ambulância, mas o veículo se afastou antes que ele chegasse, com
a sirene ligada. Isso é bom, não é? Se Kell estivesse dentro, isso significava
que ele ainda estava vivo. Eu sou um idiota. Por que ele estaria dentro
disso? Ele provavelmente estava no apartamento conversando com a
polícia. Ou deitado na cama dormindo profundamente. Mas o estômago de
Gethin continuou a se agitar.

Ele se virou e chegou para um dos policiais. — O que aconteceu?

— Vou ter que pedir para você recuar, senhor, disse um policial
uniformizado.

— Eu moro no apartamento 58.

O rosto do policial quase fez Gethin cair de joelhos.

— Por favor, diga-me o que aconteceu. Kell está ferido? Era ele na
ambulância? As perguntas rodavam na cabeça de Gethin. Ele apertou os
lábios antes de perder-se completamente.

O policial chamou outro oficial, um oficial mais velho. Gethin


queria sair e correr atrás da ambulância, mas talvez não fosse Kell que
estivesse lá.

— Este homem diz que ele reside no apartamento 58, disse o


policial.

— Nome, perguntou o policial sênior.

— Gethin Jones. Eu saí para pegar o café da manhã. Deixei Kell


dormindo. Ele é um policial. Os olhos do policial se arregalaram. O que
diabos tinha acontecido?

— Venha comigo, disse o cara mais velho.

Gethin o seguiu.

— O Detetive Superintendente Nigel Lane é o chefe de Kell, disse


Gethin.

— Eu o conheço. Sou o Detetive Inspetor Williams.


Eles andaram em silêncio pelos quatro lances de escada e os passos
de Gethin ficaram cada vez mais pesados. Quando chegaram à porta,
protegidos por um policial, Williams pôs a mão no braço de Gethin.

— Há muito sangue. Um cara sobreviveu. O outro não. Nenhuma


identificação em nenhum deles. O homem morto pode ser seu namorado.

Ele entregou uma proteção para os sapatos de Gethin. — Não toque


em nada. Eu quero saber se você reconhece esse cara, isso é tudo.

Gethin soltou um gemido quando ele viu quem estava deitado no


chão do quarto.

— Marek Dushku. Ele deveria estar sob custódia policial. O caso em


que Kell estava trabalhando envolvia uma boate. Esse cara trabalhava lá.
Lane tem todos os detalhes. O que aconteceu com ele?

— Ele foi baleado. O mesmo com o seu namorado.

O chão se moveu sob os pés de Gethin. Baleado?

— Quão ruim ele está? Gethin ficou chocado que ele conseguiu
formular estas palavras para fora.

Williams fez uma careta e Gethin sentiu a vida drenar para fora
dele. Oh Deus, não.

— Que hospital? Grunhiu Gethin.

— Precisamos conversar...

— Agora não. Qual a merda do hospital?


****

Gethin recusou a oferta de uma carona e pegou sua moto. Ele


dirigiu rápido demais, quase caiu em uma esquina e, por pouco, não foi
atingido por um ônibus. Ele dizia a si mesmo que alguém cometera um
erro, que Kell não tinha sido baleado e que, mesmo que tivesse sido, não
deveria ser sério. Mas seu coração estava batendo forte o suficiente para
sair de seu peito.

Ele não era o parente mais próximo. Ninguém lhe disse nada. Ele
andava pelo corredor do lado de fora do departamento de emergência e
acidentes e a cada quinze minutos, ele implorava ao homem na recepção
para descobrir o estado de Kell. Ele chamou o Met25 para falar com Lane,
mas o cara não respondeu. Tentou alcançar Beckwith e acabou deixando
mensagens mais e mais irritadas para os dois.

****

Uma hora se transformou em duas. Então, um par de homens foi


até a recepção e Gethin conheceu um deles. O irmão de Kell, Oliver. Ele
25
A Polícia Metropolitana de Londres (em inglês, Metropolitan Police Service, MPS), também
conhecido como Met .
adivinhou que o outro era o pai de Kell. Gethin quase foi até eles e então
pensou novamente. Oliver não o viu, ou pelo menos ele não o reconheceu,
o que significava que Gethin poderia segui-los até Kell.

A dupla acabou no oitavo andar de um quarto de visitantes. Gethin


ficou fora de vista no corredor. Mas ele esgotou sua paciência. Se eles não
estivessem indo direto para ver Kell, ele não podia esperar mais. Oliver
deu uma olhada nele e em seguida olhou para baixo novamente quando
Gethin entrou. Gethin lembrou-se que quando ele confrontou Oliver no
clube, ele estava usando uma máscara.

— Como ele está? Perguntou Gethin.

O pai de Kell sacudiu a cabeça e o mundo de Gethin desmoronou.


Gethin soube no momento em que Oliver se lembrou de onde ele o
tinha visto antes. Seus olhares colidiram e o entendimento fluiu como uma
torrente de água furiosa. A fúria nos olhos de Oliver fez Gethin querer dar
um soco nele. Tudo isso era culpa dele.

Oliver olhou para o pai e franziu o cenho para Gethin. — Este


homem não está com a polícia.

— Eu não disse que estava. Gethin deu um passo à frente e estendeu


a mão para o pai de Kell. — Gethin Jones. Eu sou amigo de Kell.

— Tobias DeMornay. Ele deu a Gethin um olhar cauteloso enquanto


apertavam as mãos.

— Kell estava no meu apartamento quando ele foi baleado, disse


Gethin. — Eu saí para pegar café da manhã e um jornal. Cheguei quando a
ambulância se afastava.

— Você sabe quem atirou nele? Perguntou o pai de Kell.

— Um homem chamado Marek Dushku. Kell e eu pensamos que ele


estava sob custódia policial. No entanto, eu suspeito que quem está sob
custódia da polícia é seu irmão, Pavel.

Quando Kell e os irmãos chegaram a seu apartamento, Gethin tinha


visto como eram parecidos. Ele deveria ter pensado em verificar se a
polícia havia prendido os dois.

— A polícia é flagrantemente incompetente, Oliver retrucou. — Meu


irmão está morrendo porque eles não fizeram o trabalho deles.

Morrendo? Os pulmões de Gethin se fecharam e ele sentiu como se


milhões de agulhas espetassem sua pele.

— Ele não vai morrer, seu pai disse.

— Ele foi baleado no peito, Oliver retrucou. — Seja realista.

A raiva de Gethin eclodiu para a vida. Ele imaginou o calor


irradiando dele como se fosse um fogo ardente e queria que Oliver se
queimasse. — Se ele morrer, a culpa será sua.

— Isso é ridículo, Oliver retrucou. — Da polícia que não conseguiu


prender um homem perigoso.

— Não se atreva a culpar a polícia quando você sabe muito bem o


que você fez.

— O que você quer dizer? Tobias perguntou.

— Eu não sei o quanto a polícia lhe disse, mas Kell está trabalhando
disfarçado em uma boate em Vauxhall. O homem que atirou nele é um dos
homens com quem ele trabalhava. Oliver veio ao clube e disse a Marek que
Kell estava trabalhando disfarçado.
— O quê? Tobias se virou para olhar para Oliver.

— Besteira. Oliver cerrou os dentes.

— Kell me contou tudo sobre você, como você era, mesmo quando
eram crianças. Como você tentava, de alguma forma, estragar as coisas
para ele em todos os seus aniversários. Eu tirei uma foto sua no meu
celular vestido com a fantasia de fetiche que estava usando no clube. Eu
ameaçei ir à imprensa se você não deixasse Kell em paz. Minutos depois,
Marek veio para Kell e ele sabia de tudo. Você disse a ele.

— Você não tem provas.

— Marek é minha prova. Ele está sob custódia agora e dando uma
declaração completa. Gethin estava contando que eles não soubessem que
Marek estava morto.

— Você contou a este homem sobre Kell? Perguntou o pai.

— Era uma... piada, Oliver disse. — Eu não esperava que ele me


levasse a sério.

Seu filho da puta. — Bem, ele acreditou, retrucou Gethin. — Kell e


eu fomos trancados na traseira de uma van e ela foi empurrada para
dentro do Tâmisa. Tivemos sorte de não termos morrido. Agora Kell foi
baleado porque você levou uma operação clandestina de longa duração a
uma conclusão prematura.

Gethin cerrou o punho, deu um soco no rosto de Oliver que fez seu
nariz espirrar sangue para todo o lado. E ele nem tinha atingido-o tão forte
quanto ele queria.

— Como você se atreve! Oliver gritou. Ele puxou um lenço do bolso


e apertou-o contra o nariz.

— Eu me atrevo porque eu fodidamente...- Ele respirou fundo. — Eu


me atrevo porque me importo com Kell e você não. Ele não fez nada para
você além de nascer. Você o atormentou a vida toda e isso para agora. Ele
se virou para o pai. — Isso é sua culpa também. Você deveria ter visto o
que estava acontecendo, feito alguma coisa.

Neste momento um médico apareceu na porta da sala. — Sr.


DeMornay? O pai de Kell se adiantou.

— Sim.

Não deixe Kell estar morto. Não... não por favor...

— Seu filho passou pela cirurgia sem maiores complicações, embora


seu estado ainda seja muito grave. As primeiras vinte e quatro horas são as
mais importantes. Ele está entrando e saindo da consciência, mas você
pode vê-lo por alguns minutos. Não se preocupe com todas as máquinas às
quais ele está conectado. Tudo está lá para ajudá-lo.

Tobias soltou um suspiro trêmulo. — Obrigado. Ele se virou para


Oliver, que se moveu para o lado dele. — Você. Vá para casa. Então ele se
virou para Gethin. — Venha comigo.

— Pai... –

— Eu não quero você aqui, disse o pai.


Oliver saiu pisoteando como uma criança petulante. Gethin seguiu
Tobias e o médico, tentando forçar o ar a entrar em pulmões que não se
lembravam de como trabalhar. Quando ele viu Kell deitado tão quieto, tão
pálido, seu coração apertou. Oh Deus. Ele parecia tão vulnerável. Como
uma criança. Havia um tubo na boca e um soro no braço, monitores presos
ao peito. Um grande curativo sobre o peito. Gethin se lembrou de quando
ele pousara a cabeça lá, ouvindo o coração de Kell batendo, nunca achando
que poderia parar. Não pode parar.

Tobias pegou a mão de Kell. — Kell? Você pode me ouvir?

Kell não respondeu.

— Sinto muito, seu pai sussurrou. — Eu não sabia que Oliver ainda
estava machucando você. Eu pensei... Eu pensei que ele tivesse superado
isso. Eu deveria ter protegido você e eu não fiz. Ele olhou para Gethin. —
Mas você tem um campeão. Gethin acabou de dar um soco no seu irmão.
Eu não acho que Oliver já teve alguém que o enfrentasse além de você. Sua
mãe e eu nos entregamos a ele. Isso foi um erro. Você precisa melhorar,
você me ouve? Eu vou ver você de novo amanhã. Vou garantir que Oliver
não possa visitá-lo. Ele se afastou da cama e acenou para Gethin antes de
sair do quarto.

Gethin segurou a mão de Kell e acariciou a palma da mão com o


polegar. Cada vez que ele abria a boca para dizer alguma coisa, a emoção o
sufocava. Seja qual for o estado em que ele esteja, eu o quero de volta. Se
tivessem que tomar cuidados especiais todos os dias de suas vidas, Gethin
o queria de volta. Sua mente escorregou para Jonnie, que permanecia
assim imóvel como Kell. Se Gethin ainda estivesse saindo com Jonnie
quando ele tinha sofrido o acidente, ele teria se sentido assim? Como se ele
fosse morrer se o perdesse?

O que ele e Kell tinham não era amor. Não poderia ser. Poderia?
Ainda não. Mas talvez chegando lá. Cristo, quem estou tentando enganar?
Ele foi dilacerado por uma mistura de choque e medo. Ele poderia negar
tanto quanto ele quisesse, mas ele amava Kell. Ele havia se aproximado
dele e o seduzido. O engraçado era, no momento em que Gethin havia se
arriscado a abrir seu coração, parecia que o destino tinha outras idéias. Eu
não posso perdê-lo. A vida de Gethin tinha estado entrado em modo de
espera desde o dia em que ele encontrou Jonnie traindo-o, e Kell havia
aparecido e o tinha feito enxergar que ele tinha que deixar ir, seguir em
frente, que eles só tinham uma vida e o tempo era muito curto para
desperdiçar um minuto dela. Se Arriscar. Gethin tinha feito isso e agora
ele precisava que Kell sobrevivesse para que ele pudesse dizer como ele se
sentia.

Não morra, não morra, não morra.

****

A polícia estava esperando quando Gethin saiu da UTI. Eles


pediram que ele fosse à delegacia para fazer uma declaração. Gethin os
seguiu em sua moto.

Ele não ficou surpreso quando o DCI Beckwith entrou na sala de


interrogatório. O homem junto com ele se apresentou como Nigel Lane.

A raiva de Gethin aumentou. — Como diabos você não percebeu


que tinha Pavel e não Marek?

— Nós não percebemos que era o irmão até que fosse tarde demais,
disse Lane. — Eles trocaram seu ID.

— Nós pensamos que estávamos seguros.

— Como ele está? Beckwith perguntou.

— Se segurando.

— Eu vou vê-lo esta tarde. Lane engoliu em seco. — Eu sei que você
está com raiva. Nós fodemos.

— Como diabos Marek sabia onde ele estava? Gethin perguntou. —


O que aconteceu?

Beckwith franziu os lábios.

— Pelo amor de Deus. Você pode me dizer. Que diferença isso vai
fazer?

— Só estamos levantando suposições até que Kell possa nos dar a


versão dele, disse Lane. — Mas sua fuga da van foi registrada por algum
cara empreendedor em seu celular. Vendido para um repórter que o
transformou em um furo jornalístico para o Metro. Vocês estavam na
primeira página desta manhã.

— Merda.

Lane colocou a mão espalmada sobre a mesa. — Marek deve ter


adivinhado onde vocês poderiam estar. Ele chutou a porta. Ele
provavelmente esperava encontrar vocês dois. Achamos que ele e Kell
lutaram. De alguma forma, Kell conseguiu chegar à porta. Um vizinho
ouviu a briga e chamou a polícia. A telefonista pegou um som abafado
quando falou com o vizinho e pensou que poderia ter sido um tiro e nós
enviamos uma unidade armada.

— Doreen Martineau? A senhora de setenta anos que


continuamente pedia a Gethin para trocar as lâmpadas para ela.

— Essa é a única.

Gethin iria comprar-lhe lâmpadas suficientes para durar o resto de


sua vida. — Você tem certeza de que todos estão sob custódia? Incluindo a
irmã de Marek e Pavel? E Charlton?

— Sim.

— Você pode mantê-los?

— O advogado de Warner está lutando para libertá-lo sob fiança.


Ele pode conseguir isso. Marek não. Uma bagunça emaranhada para
resolver.

— Sim.

— Certo. Depois que terminarmos, levaremos suas impressões


digitais para fins de eliminação. Agora queremos ter sua versão dos
eventos. Lane clicou no gravador. — Aqui é o detetive Superintendente
Nigel Lane entrevistando Gethin Jones. A data é...

****
Depois de sair de lá, Gethin ligou para verificar se houve alguma
mudança na condição de Kell - a resposta foi negativa – então Gethin foi
ver Jonnie. O olhar no rosto de Jonnie quando ele entrou foi tão cheio de
esperança que Gethin se obrigou a sorrir quando isso era a última coisa
que ele queria fazer.

— Quanto tempo? Perguntou Jonnie.

— Pouco antes ou pouco depois do Natal.

Jonnie fechou os olhos e apertou os lábios.

— Antes.

— Vou tentar, disse Gethin.

Jonnie abriu os olhos novamente. — Você vai me ajudar?

— Sim, mas você precisa saber que a cada passo do caminho eu vou
tentar fazê-lo mudar de idéia.

— Não vai acontecer. Diga-me o que temos que fazer.

Nós? Gethin sabia que ele teria que fazer quase tudo. — Você
precisa de um cuidador viajando conosco, alguém que saiba como lidar
com as suas necessidades diárias. Eu suspeito que não adianta pedir a
ninguém daqui. Eles podem perder seus empregos. Eu tentarei algumas
agências. Eu preciso encontrar uma companhia aérea que possa levar você
e sua cadeira, uma que nos dará lugares na parte da frente do avião.
Precisamos de um lugar para ficar em Genebra acessível à cadeira de
rodas. Um veículo que possa levar sua cadeira.

— Eu vou procurar on-line.


— Você contou para seus pais?

— Enviada um email. Eles não responderam.

— Malditos bastardos. Por e-mail? Sério?

Jonnie sorriu. — Sim. Gethin? Você vai levar o seu violão? Tocar
para mim quando... quando for a hora?

Oh Deus. — Se você quiser.

— Eu quero. Nenhum funeral. Cremação. Espalhe minhas cinzas...-


ele engasgou.

Gethin se esforçou para se controlar. — Você não precisa... –

— Sim, eu preciso. Contar-lhe tudo agora e então não precisar falar


sobre isso novamente. Espalhe minhas cinzas no topo do Monte Everest.

— O quê?

— Piada.

Gethin cedeu e conseguiu rir. — Ainda bem.

— Não importa onde. Dia ensolarado. Sem vento ou eu vou soprar


de volta em seu rosto. Você pode me engolir. Embora você gostasse disso.

Era como se Jonnie tivesse voltado a ser o cara por quem Gethin
havia se apaixonado um dia.

— Vou usar uma máscara, por via das dúvidas, Gethin disse. Jonnie
deu a ele um sorriso adorável e torto.
****

Angel abriu a porta e viu Gethin sozinho, ele franziu a testa. —


Onde ele está? Eu esperava vocês dois para o jantar.

— Kell está no hospital.

— O que aconteceu? Angel puxou Gethin para dentro da casa.

— Ele foi baleado.

— Angel agarrou seu peito. — Meu Deus. Ele vai ficar bem?

— Eu não sei. Se não parecesse muito brega, Gethin teria agarrado


seu peito também. Seu coração doía desde o momento em que ouvira o
que tinha acontecido.

Angel fraquejou. — Oh não. Pobre Kell. Pobre de você.

— Posso ficar para a noite? Meu lugar é uma cena de crime.

— Claro que você pode. Henry! Angel pegou Winston e colocou-o


nos braços de Gethin. — Acaricie Winston. Isso faz com que todos se
sintam melhor. Kennedy se contorcerá.

Henry entrou pelo corredor. — Olá, Gethin. Onde está Kell?

— No hospital.
Angel agarrou o braço de Henry. — Abra um bom vinho. Gethin irá
nos contar tudo.

Talvez nem tudo, mas o suficiente no momento em que ele


terminou, para deixar os homens de boca aberta com o choque.

— Você pode ficar o tempo que quiser, disse Henry. — Nós vamos te
dar uma chave.

— E enquanto eu me lembro. Angel entregou-lhe um cheque. —


Aqui está o dinheiro.

— Obrigado. Eu não sei quando vou poder lhe pagar de volta. Eu


não quero assumir mais trabalho por enquanto. Talvez nunca mais como
investigador particular.

— Não se preocupe com isso, disse Henry. — Podemos nos dar ao


luxo de emprestar para você. Podemos dar-lhe dinheiro se...

— Tenho que pagar por isso. Mas obrigada. Gethin sentou-se com
Winston enrolado em seu joelho. Ele só bebeu meio copo de vinho. Se ele
recebesse uma ligação sobre Kell, precisaria andar de moto.

Quando não recebeu nenhuma ligação até às dez, telefonou para o


hospital.

— Estável, foi tudo o que ele pôde tirar deles.

Então, Gethin passou uma noite desconfortável, e em grande parte


sem dormir.
****

No dia seguinte, ele passou no hospital ao lado da cama de Kell.


Kell ainda não tinha recuperado a consciência e Gethin sentiu o pessoal se
preocupar com isso, embora ninguém tenha expressado suas
preocupações. Pelo menos o tubo de respiração estava fora. Isso tinha que
ser uma coisa boa. Ele desejou que Kell melhorasse. Desejou que ele
abrisse os olhos.

O amigo de Kell, Quin, veio vê-lo e lembrou-se de Gethin da festa.


Gethin foi buscar uma bebida enquanto Quin sentava-se ao lado de Kell.
Gethin queria estar lá quando Kell acordasse - porque ele acordaria - mas
sabia que outras pessoas também tinham o direito de estar ao lado de Kell.
Quin apareceu com os olhos avermelhados no corredor onde Gethin
esperava.

— Eles sabem quando ele pode acordar? Perguntou Quin.

Gethin sacudiu a cabeça.

— Eu esqueci o aniversário dele. Quin engoliu em seco. — Eu nunca


esqueço porque sei que idiota é seu irmão, mas esqueci. Cristo.

O pai de Kell desceu o corredor em direção a eles e Quin entrou em


seus braços, seus ombros sacudindo. Tobias deu um tapinha nas costas
dele.

— Desculpe. Quin esfregou os olhos. — Eu disse a ele para se


segurar. Ele estava sempre dizendo isso para mim. Segure-se ou eu cairia
na água. Segure-se ou eu cairia do penhasco. Kell é o mais gentil... Ele não
merece isso.

Quin saiu e o pai de Gethin e Kell foram para a UTI. Kell não
parecia diferente, ainda mortalmente pálido. Tobias sentou-se ao lado da
cama e Gethin do outro.

O pai de Kell falou com ele sobre sua infância. — Você se lembra de
como estava determinado a andar de bicicleta sem as rodinhas? Você
continuou tentando e tentando até que você pudesse fazer isso. Depois
houve o dia em que os seus dedos foram apanhados na corrente da
bicicleta. Agora eu estou querendo saber se Oliver deliberadamente
empurrou o pedal da maneira errada para piorar as coisas. Então eu te
comprei uma bicicleta nova, uma BMX. Você amava essa bicicleta. Eu
nunca vi você cuidar tão bem de qualquer coisa.

Gethin nunca teve uma bicicleta nova. Ele havia usado bicicletas
que tinham pertencido a outras crianças antes dele. Quanto mais Tobias
falava, mais Gethin percebia que Kell tinha tido uma criação privilegiada -
férias de esqui, férias no Caribe, escolas particulares... –

— Eu não queria que ele fosse um policial, disse seu pai. — Mas ele
insistiu. Ele queria fazer as coisas certas, ele disse. Corrigir o ques está
errado. Colocar os caras maus em algum lugar onde eles não poderiam
machucar pessoas de bem. Eu não sei o que eu estava pensando em deixá-
lo fazer isso. Era muito perigoso. Eu... Ele respirou estremecendo e olhou
para Gethin. — Agora vejo que foi por causa de Oliver que Kell foi para a
polícia. Ele não podia fazer nada sobre seu irmão, mas queria proteger os
outros de irmãos como ele. Eu sabia que Oliver era ruim, mas eu tentei me
convencer de que ele não era tão ruim.
— Eu estava sempre ausente de casa. Minha esposa veio até mim
com essas histórias do que os meninos estavam fazendo e ela ria e eu
pensei que não era nada. Apenas altas travessuras. Eu não queria ver mais
do que isso. Ele puxou seu cabelo e por um momento se pareceu com Kell.
— E você? Você tem irmãos? Pais?

— Sem irmãos. Meus pais... eles morreram quando eu tinha sete


anos. Um aquecedor defeituoso emitiu muita fumaça. Eu estava em uma
cama perto de uma janela aberta. Eles estavam em outro quarto. Eu
acordei e eles já estavam mortos.

— Isso é terrível. Eu sinto muito. Quem te criou?

— Muitas pessoas. Principalmente eu.

O pai de Kell suspirou. — Sinto muito por ouvir isso. Eu sempre


achei que Kell seria um bom pai.

Gethin não tinha certeza de como responder.

— Ser gay não exclui essa possibilidade, disse o pai de Kell. —O


coração de Kell sempre foi tão... Oh Deus.

— Onde estão meus croissants?

Eles se sobressaltaram ao som da voz rouca de Kell. Gethin ficou de


pé. Kell piscou para ele.

— Oi, sussurrou Kell. — Oi pai. Eu quase morri?

— Quase. Seu pai apertou sua mão.


— Fico feliz que não, disse Kell.

Gethin abriu a boca e nada saiu.

— Maldito Dushkus, Kell sussurrou.

Gethin assentiu.

— Eu sei do papel de Oliver nisso. Tobias olhou para Gethin. — Seu


jovem homem bateu nele. Não duro o suficiente. Eu vou lidar com ele. Se
ele não procurar ajuda, eu vou...

— O que? Perguntou Kell. — Tirar a sua mesada?

— Na verdade sim. Ele vive além de seus meios. Talvez seja a hora
de ele viver dentro deles. Eu vou deixar vocês dois por um tempo e tomar
um café enquanto vocês conversam. Estou feliz que você tenha acordado.
Quando você estiver apto a receber alta, volte para casa. Vou contratar
uma enfermeira para cuidar de você. Gethin também pode vir.

Ele inclinou-se e beijou Kell na testa, acenou para Gethin e saiu.

— Vai falar alguma coisa? Kell perguntou.

— O que eu teria feito se você tivesse morrido? Gethin sussurrou.

— Superar tudo isso e continuar com sua vida. Depois de um longo


período de luto... Sete anos usando roupas pretas me parece o mais
correto. Ele estremeceu. — Não, não preto. Você parece muito quente em
preto… Rosa. Sim, isso funcionaria... Ninguém iria querer você então.

Gethin descansou a cabeça no braço de Kell e deixou as lágrimas


caírem.

****

As semanas seguintes passaram em uma mistura de visitas ao


hospital para ver Kell e visitas a Jonnie e no meio, Gethin conseguiu fazer
algum trabalho. Além de precisar do dinheiro, isso o impedia de pensar.
Mas ver a saúde de Kell melhorar aliviou a carga nos ombros de Gethin.
Quando Kell foi para a casa de seu pai, Gethin não pode vê-lo com tanta
frequência, mas ele sabia que estava sendo bem tratado.

Os finais de semana eram para Kell. Jonnie parecia menos ansioso


sobre a visita de Gethin. Era como se ele tivesse ido para um lugar
diferente em sua cabeça. Gethin não sentiu nenhuma mudança por parte
dele, a não ser o contentamento de Jonnie por finalmente estar
conseguindo o que queria. Embora Jonnie pudesse estar contente, Gethin
não estava. Ele ainda agonizava sobre o que estava fazendo. Sem Kell, ele
achou que poderia ter desmoronado.

O pai de Kell abriu a porta quando Gethin bateu.

— Como ele está? Perguntou Gethin.

— Ainda é um paciente terrível. É muito difícil conseguir que ele vá


com calma.

Essa era parte da razão pela qual Gethin não tinha cedido a seus
pedidos para que ele se mudasse para a casa do pai de Kell. Gethin abriu a
porta da sala de visitas onde Kell estava sentado no sofá.

Ele olhou por cima do livro que estava lendo e franziu o cenho. —
Eu acabei de chegar à parte emocionante. Você terá que se sentar em
silêncio enquanto eu termino. Alguém está prestes a ser baleado.

Gethin colocou o capacete em uma cadeira e tirou a jaqueta de


couro.

— Eu não vejo por que você tem que ficar com Angel e Henry, disse
Kell. — Você poderia viver aqui.

Gethin tinha desistido de seu apartamento e se mudou


temporariamente com seus amigos. Kell deu um tapinha na almofada ao
lado dele e quando Gethin caiu ao lado dele, Kell se encolheu.

— Essa é uma das razões. Gethin o beijou e recuou quando Kell


tentou aprofundar o beijo. — Você precisa se recuperar totalmente.

— E a outra razão?

— Minha cabeça não está onde eu gostaria que estivesse. Ele tentou
não falar com Kell sobre Jonnie, sobre todos os problemas que ele estava
tendo para separar tudo isso. Como, a cada passo, parecia que havia uma
montanha para escalar e, por cima de tudo ainda havia a culpa que surgia
como lava borbulhante em suas veias.

Ele segurou a mão de Kell e acariciou seus dedos. Kell soltou um


gemido baixo e jogou o livro sobre o encosto do sofá.

— Eu pensei que você queria ler a parte emocionante.

— Sim eu queria, até que apareceu um pedaço ainda mais


emocionante. Veja o que você fez? Kell colocou a mão de Gethin em sua
virilha e ele pode sentir o contorno duro de seu pênis.

Houve uma batida na porta e suas mãos se separaram. Kell puxou


um cobertor sobre o colo enquanto seu pai entrava.

— Algo para comer? Beber? Ele perguntou.

Kell sacudiu a cabeça. — Estamos bem, obrigado.

— Eu adoraria um café, por favor, disse Gethin.

Isso lhe rendeu um olhar malévolo de Kell e uma risada de seu pai
enquanto ele saía da sala.

— Papai me disse que ele cortou Oliver de seu testamento.

Gethin levantou as sobrancelhas. — Oliver sabe?

— Sim. Ele não está feliz. Eu acho que papai queria fazer um ponto.

Gethin queria fazer mais do que um ponto. Ele estava olhando


discretamente para a vida de Oliver. Ele não queria causar problemas para
sua esposa e filhos, mas não havia como ele deixá-lo fugir com o que ele
tinha feito para Kell. Ele pegaria o que estava vindo para ele.

Gethin mudou de assunto. — Eu recebi um cheque da mãe de Dieter


hoje.

— Quanto?

— Quatrocentos K. Eu não tive coragem de pedir mais.

Kell revirou os olhos. — É uma maravilha você ainda estar no


negócio. Mais alguma notícia sobre a investigação? A polícia descobriu por
que você foi selecionado para obter as informações do computador de
Charlton?

— Pouco lisonjeiro, foi em parte por acaso, Marek queria um


operador único inexperiente. Ele não esperava que eu fosse capaz de
descriptografar os dados, apenas consegui-los. Marek e sua irmã
pretendiam desviar o dinheiro de Warner.

Kell puxou a mão de Gethin por baixo do cobertor. — Vai me dizer


por que você estava tão preocupado com a razão deles por ter escolhido
você?

Gethin hesitou como costumava fazer. Ele perdeu a conta do


número de vezes que Kell fez a mesma pergunta. Ele se soltou do aperto de
Kell e Kell segurou sua mão e segurou firme.

— Eu não vou deixar ir até que você me diga. Kell esfregou as juntas
de Gethin com o polegar. — Você tem que se abrir sobre as coisas ou vai
ser apenas falando e você vai se cansar de mim, colar uma fita adesiva em
minha boca, e vai ser isso.

Você fala sobre tudo, menos a única coisa que eu quero ouvir.
Gethin quase fez a pergunta que ele fez quando Kell foi baleado, mas
engoliu em vez disso. Ele não tinha certeza se Kell lhe contaria a verdade
sobre o que realmente tinha acontecido quando Marek apareceu em seu
apartamento. Ele sabia que a versão que Kell havia dito à polícia era
instável. Talvez dizer a Kell o que ele queria saber sobre seu passado
abriria os portões.

— Você é policial e eu nunca estive do lado certo da lei. Eu perderia


minha licença PI se alguém descobrisse o que eu fiz.

— Como se eu fosse contar a alguém. O que você fez? Mover o seu


nome para fora da lista das crianças más do Papai Noel? Enviou uma van
de pizzas para a Downing Street, 1026?

— Deixei-me ser persuadido a criar um programa e inseri-lo no


sistema de contabilidade de uma empresa. Era para ser o tipo de coisa-
‘veja o que pode acontecer com você’- mas o cara que me persuadiu
roubou o dinheiro que eu ia devolver, depois fugiu. Eu fechei o programa,
mas ele ganhou alguns milhões antes que eu pudesse fazê-lo. Ele foi preso
e então foi para a prisão. Ele não me entregou.

— Mas você se preocupa que ele ainda poderia?

— É uma coisinha que está sempre no fundo da minha mente o fato


de eu ainda poder ser ligado a esse crime.

—Mas isso não aconteceu.

Gethin balançou a cabeça.

— Você sabe que se preocupar com o que pode acontecer é uma


perda de tempo.

— Sim.

— Quantos anos você tinha quando fez isso?


26
10 Downing Street é a residência oficial e o escritório do primeiro-ministro do Reino Unido
enquanto sede do governo de Sua Majestade. Situa-se na Downing Street, na Cidade de Westminster, em
Londres, Inglaterra.
— Dezesseis.

— Porra. Um mestre hacker aos dezesseis anos?

— Era tudo que eu sabia fazer. Brincar no computador ou tocar meu


violão.

— Você não gastou todo o seu tempo se masturbando? Kell ficou


boquiaberto com ele e Gethin riu.

A porta se abriu e o pai de Kell entrou com uma bandeja de bebidas


e um prato de biscoitos, e Gethin tirou a mão de baixo do cobertor.
Quando eles estavam sozinhos novamente, Kell puxou-o para trás e gemeu
quando Gethin acariciou seu pênis.

— Você vai ficar esta noite? Perguntou Kell.

Gethin hesitou.

— Você está me privando do meu remédio. Sua bunda irresistível.


Porém resistindo a mim. Ele franziu o cenho.

—Você tem que ter calma. Você sabe o que os médicos disseram.

— Não é apenas os médicos, não é? Kell virou os olhos para ele.

Gethin encontrou seu olhar. — As coisas com com Jonnie acabará


em breve. Eu reservei os vôos hoje. Mais quatro semanas.

Ele sentiu Kell se arrepiar, mas Gethin segurou sua mão e acariciou
seus dedos.
— Eu não posso esperar tanto tempo, disse Kell. — Eu quero que
nos mudemos juntos agora. Meu pai está me deixando louco. Eu tenho
pesquisado apartamentos on-line. Eu quero que você olhe para eles. Eu
vou continuar a alugar o meu antigo e podemos escolher algo que nós
gostamos.

— Eu mal estou trabalhando. E você não está. Como vamos pagar


alguma coisa?

— A polícia ainda está me pagando. E eu tenho economias. Além


disso, tenho coisas no armazenamento, incluindo uma cama de casal. Por
favor.

— OK.

Os olhos de Kell se arregalaram em choque. — Você acabou de dizer


ok?

Gethin assentiu. Ele imaginou que levaria um mês para arrumar um


apartamento e, então, Jonnie... Kell levantou o tablet do chão e o ligou. —
Olhe para este em Greenwich. Eu realmente gostei dele. Podemos nos
mudar na próxima semana.

Kell parecia tão animado que Gethin não teve coragem de dizer não.

— OK.

— Merda. Foi tão fácil assim? Tem alguma pegadinha. O que é?

— Você ainda vai ter que ir com calma.

O sorriso de Kell disse a Gethin que ele havia perdido a discussão


antes mesmo de começar.
Houve uma batida na porta e o pai de Kell bateu a cabeça. — O
advogado do Serviço de Promotoria da Coroa ligou. Ele quer discutir sua
declaração.

— Gethin e eu estamos nos mudando juntos, disse Kell.

— Já era tempo, disse seu pai. — Você está me deixando louco.


19 de Dezembro

— Você está bem? Kell perguntou. — Pergunta estúpida. Você não


está. Desculpe.

Gethin colocou sua bolsa e guitarra na porta do apartamento deles e


puxou Kell em seus braços. Ele não queria deixá-lo ir e quando Kell se
agarrou a ele como se ele não pudesse suportar deixar Gethin ir embora,
Gethin quase quebrou.

— Eu vou tentar mais quando eu voltar, disse Gethin. — Ser um


homem diferente.

Kell pôs o dedo sobre os lábios de Gethin. — Não seja diferente


demais. Eu gosto do seu jeito esquisito. Eu vou estar pensando em você.
Você não vai estar sozinho.

Gethin acenou com a cabeça, pegou suas coisas e foi embora. Essas
últimas semanas tinham afetado seu relacionamento com Kell. Eles se
mudaram para o apartamento há duas semanas, mas o coração de Gethin
não tinha estado nas decisões sobre móveis, tapetes e louças. O que
deveria ter sido divertido, parecia uma tarefa, sem importância na grande
escala das coisas e ele sabia que tinha decepcionado Kell. Parte dele
desejava que eles pudessem esperar até que essa coisa com Jonnie
acabasse, mas Kell precisava dele e ele precisava de Kell, então Gethin
concordara em se mudar. Tinha sido a coisa certa a fazer. Visitas para ver
Jonnie eram ainda mais difíceis agora que Gethin estava contando os dias.
Mas quando Gethin voltava para Greenwich, Kell fazia seu mundo girar
novamente.

Agora não havia mais dias. Apenas mais um. Gethin pegou o DLR
em Londres e o Heathrow Express de lá. Não tinha sido fácil encontrar
uma enfermeira que estivesse preparada para viajar até a Suíça,
particularmente perto do Natal, mas Lawrence era um cara legal e Jonnie
gostou dele. Gethin estaria encontrando-os no aeroporto para a jornada
final de Jonnie.

Os três chegaram a Genebra com todo mundo ainda falando e a


com a cadeira de rodas de Jonnie funcionando, o que foi um grande alívio.

Jonnie estava tagarela como uma merda de papagaio, e Gethin


nunca se sentiu tão infeliz em sua vida, exceto pelo dia quando Jonnie
tinha sido ferido e quando Kell tinha sido baleado. Eles tiveram que
carregar Jonnie dentro e fora do avião e Gethin passou o dia inteiro
pensando que as pessoas olhavam para eles perguntando-se se estavam
levando Jonnie para morrer na clínica de Genebra - não uma clínica, uma
casa. Ele tinha sido avisados para dizer clínica.

Eles compareceram a uma consulta para ver o médico que


prescreveu os medicamentos necessários para acabar com a vida de Jonnie
e de lá eles foram para o hotel. Jonnie adormeceu no momento em que o
levaram para a cama. Ele implorou a Gethin para dormir ao lado dele e
Gethin dormiu. Bem, ele não estava dormindo, mas ele estava ao lado dele.
Lawrence roncava na outra cama e Gethin estava pensando. Ele estava
emocionalmente esgotado, exausto fisicamente.

Nos últimos dois meses, sua vida havia sido consumida pela
preocupação, não apenas pelo que ele estava fazendo por Jonnie, mas
também por Kell. A bala quase o matou. Se tivesse atingido um milímetro
para qualquer lado, ele teria sangrado até morrer. O pensamento de
perder Kell o sufocou, e ele ainda não conseguia se sentir bem em ajudar
Jonnie a morrer. A vida era tão preciosa que você tinha que agarrá-la com
tudo o que tinha. Mas a vida de Jonnie não era sua para controlar e ele
entendia por que Jonnie se sentia da forma como ele estava. Gethin
simplesmente não tinha que gostar.

Quando Kell lhe deu o beijo de despedida esta manhã, Gethin


prometeu ser um homem diferente quando ele voltasse, mas ele não tinha
certeza de que seria tão fácil. Ele ficou chocado com a idéia de ser
assombrado pelo resto de sua vida por causa do que eles iam fazer
amanhã. No entanto, se ele não fechasse a porta, não haveria final feliz
para ele e Kell.

****
Depois que Lawrence cuidou de Jonnie e vestiu-o na manhã
seguinte, Gethin mandou o cara para o aeroporto para ver se ele
conseguiria pegar um avião mais cedo para casa. O que tinha que ser feito
agora, Gethin poderia fazer ele mesmo.

Jonnie não quis o café da manhã e Gethin não queria contrariá-lo.


O táxi especialmente adaptado que eles haviam usado no dia anterior, que
permitia a Jonnie ficar em sua cadeira de rodas, estava esperando por eles
quando saíram do hotel. Uma vez que a cadeira foi encaixada no veículo,
Gethin se amarrou ao lado de Jonnie. Ele manteve seu violão.

— Quer que eu diga ao cara para dar uma volta? Perguntou Gethin.
—Olhar para as montanhas? A neve?

— Eu já vi o suficiente. Embora eu gostaria que estivesse nevando.


Gosto de sentir floco de neve na minha língua.

Gethin engoliu em seco. — Você ainda pode mudar de idéia.

— Eu sei.

Isso era surreal. No final do dia, Jonnie estaria morto. O nó na


garganta de Gethin parecia um pedregulho. Enquanto esse dia se
aproximava, Jonnie se tornara mais e mais fácil de lidar e estar. Foi depois
de deixar Wellbrook que Gethin sofreu. Mas enquanto estavam sentados
no quarto de Jonnie e assistindo TV ou DVDs, eles riram juntos. Ele nunca
mencionou Kell para Jonnie, mas ele se perguntou se Jonnie achava que
ele tinha alguém em sua vida.
Os outros membros da banda tinham ido vê-lo. Dizer adeus. O que
era mais do que os pais de Jonnie fizeram. Os filhos da puta. Gethin tinha
contatado eles. Sua mãe disse que isso era muito doloroso, que eles
perderam Jonnie na noite do acidente. Gethin achou impossível acreditar
que seu pais pudessem ser tão sem coração.

Quando chegaram à casa, o motorista abaixou a rampa para que


Jonnie pudesse sair do veículo. Gethin pagou-o e ele foi embora. Um táxi
comum poderia levar Gethin de volta ao aeroporto. Jonnie olhou para o
prédio pouco atraente na frente deles e um músculo se contraiu em sua
bochecha. — Não é o Ritz.

— Você não tem que fazer isso.

— Jogue bola de neve em mim.

— Sério? Gethin perguntou.

—Sim. Veja se é capaz de me acertar uma vez.

Gethin fez uma bola com um pouco de neve limpa, recuou e atirou
no braço da cadeira. Jonnie riu. Gethin jogou bola após bola e nenhum
deles acertou Jonnie de frente. Com o canto do olho, ele viu alguém na
porta da casa, mas continuou jogando e finalmente se certificou de que
uma bola de neve caísse sobre a cabeça de Jonnie.

— Bastardo, disse Jonnie, mas estava rindo.

Gethin limpou a maior parte da neve sobre ele. — Você não


precisa...
— Pare com isso. Você está autorizado a me perguntar mais uma
vez... e é isso. Ok?

Gethin assentiu então entraram na casa, seu coração se sentindo


como um pedaço de chumbo no peito.

****

Havia todo tipo de coisa para passar. Perguntas para responder.


Formulários para preencher. Declarações a fazer. Gethin desejou que Kell
estivesse lá. Desejou ter sido capaz de dizer a ele como isso era, mas
Gethin sentiu que era sua dor para suportar. Enquanto ele estava sentado
esperando por eles para fazer o que quer que estivessem fazendo com
Jonnie, ele dedilhou seu violão. Ele não tinha certeza se poderia manter a
emoção de sua voz para cantar, mas tentaria.

Quando alguém veio buscá-lo, Gethin mal conseguiu se levantar.


Eles conversaram com ele em inglês, mas poderia ter sido uma língua
alienígena por tudo que importava. Ele foi levado para o quarto de Jonnie,
onde ele estava sentado em sua cadeira de rodas ao lado de uma cama.

— Você está bem? Jonnie perguntou.

Gethin assentiu. Não, eu não estou bem caralho.

Um cara de quarenta anos explicou a Gethin o que ele já sabia, que


Jonnie tomaria um antiemético seguido por um barbitúrico letal de ação
rápida, prescrito pelo médico que eles tinham visto ontem. Ele seria
dissolvido em água potável e Jonnie poderia querer algo doce depois para
tirar o sabor. Ele adormeceria dentro de dois a cinco minutos e a morte se
seguiria. Ele teria que tomar a dose letal ele mesmo. Não poderia ser dado
a ele. O plano era que ele manobrasse o vidro, então sugasse o líquido por
um canudo. Uma enfermeira, assim como o outro cara, ficaria com eles até
o final.

— Podem entrar agora para dizer adeus, disse Jonnie. — Então eu


quero que eles saiam.

A porta se abriu e para o choque de Gethin, os pais de Jonnie


entraram. Ambos estavam soluçando. Gethin teve que sair da sala. A dor
deles puxaria a sua para a superfície. Ele se inclinou na parede ao lado da
porta e respirou fundo. Ele pediu para eles pelo menos contatarem Jonnie,
dizer algo para ele, mas ele não esperava que eles viessem para a Suíça.

Quando eles saíram, sua mãe olhou para ele, mas o pai de Jonnie a
afastou antes que ela pudesse dizer qualquer coisa. Gethin queria dizer-
lhes que ele tentou o seu melhor para falar com Jonnie, mas talvez eles não
acreditassem nele. Um momento depois, seu pai voltou e Gethin se
preparou.

O pai de Jonnie estendeu a mão e Gethin sacudiu. — Obrigado. Ele


nos disse que ele nunca nos veria a menos que concordássemos em fazer
isso por ele, trazê-lo aqui. Todo esse tempo, esperamos. A mãe dele não
podia... Obrigado por fazer o que não podíamos.

Gethin observou-o ir embora pelo corredor. Oh Deus, Jonnie.


Manipulador até a porra do fim.

Jonnie sorriu quando ele voltou. — Sussurro, disse ele.


Gethin se inclinou e colocou o ouvido na boca de Jonnie.

— Você é a melhor coisa que já aconteceu comigo... Gostaria de ter


visto mais cedo. Eu sou um idiota. Amei foder você... Sinto tanto a sua
falta... Não posso fazer isso sabendo que menti para você... Eu lembro o
que eu fiz para você. Lembro-me que eu te machuquei.

Gethin suspirou.

— Não no começo, mas quando a memória voltou, eu estava com


medo que você me deixasse... Desculpe. Eu gostaria de não fazer isso...
Gostaria de poder voltar no tempo e fazer tudo de forma diferente.

Gethin se endireitou. Depois que Kell havia sugerido isso, Gethin


se perguntou se Jonnie se lembrava. — Não importa agora.

— Não te mereço.

— Você teria pulado mesmo se eu dissesse para você não fazer isso?

Jonnie deu-lhe um sorriso torto. — Sim. Porque eu sou estúpido.


Pensei que não precisasse de você, mas sempre precisei de você... mas você
não precisava de mim e eu não suportava isso. Você foi o melhor amigo
que alguém poderia ter...e eu amo você por fazer isso por mim.

As lágrimas escorriam pelas bochechas de Jonnie e Gethin as


enxugou.

— Toque guitarra agora, por favor.

Gethin se sentou na cadeira e começou com um das músicas que


Jonnie havia escrito, uma que deu a eles um agente bem antes de Gethin
se juntar à banda. Ele passou por várias das melhores músicas do Strip
Jack, mal conseguindo mater sua voz junto, depois tocou uma nova que ele
havia escrito chamada — Walking into the sun —. Era sobre um vampiro
que decidiu se matar porque ele sentia muito a falta de ser humano.
Observou quando Jonnie bebeu o antiemético, depois usou o controle dos
dedos para mover o copo com os barbitúricos para a posição, de modo que
pudesse usar o canudo para sugá-lo. Mas ele não bebeu.

— Vou perguntar uma última vez, disse Gethin. Ele se levantou,


tirou um pedaço de papel do bolso e estendeu-o com os dedos trêmulos
para que Jonnie pudesse ver o que era. — Eu te comprei um bilhete de
retorno. Podemos sair daqui agora.

— Amo você por tentar, mas não vou desistir. Cante essa de novo.
Não é ruim. Precisa de alguns ajustes.

Gethin enfiou o bilhete de volta no bolso, pegou seu violão e


começou a cantar.

Quero sentir a chuva no meu rosto.


A neve no meu cabelo
Com você ao meu lado
Uma vida ao sol.

Ver as nuvens no céu


As ondas no mar quebrando
Sentir-me quente
Uma vida ao sol

Quero a luz no meu rosto


Cor na minha vida
Você ao meu lado
Uma vida no sol

Mas você tem que ficar


Então eu vou sorrir e ficar feliz
Um minuto é meu
Da vida ao sol

Nunca envelhecerei
Nunca serei triste
Um momento do tempo
Da vida ao sol.

Jonnie usou o dedo para mover o copo até que o canudo estivesse
em sua boca, depois chupou o coquetel letal até que tudo desaparecesse.

Gethin deixou a guitarra de lado e se inclinou. — Algo doce. Meu


beijo. Ele pressionou os lábios contra os de Jonnie, depois recuou. — Você
foi amado. Quero que você saiba disso.

— Obrigada, Jonnie sussurrou.

Gethin ficou parado, com o coração acelerado.

Jonnie piscou. — Está nevando?

Gethin olhou para a janela. — Sim.

— Leve-me para fora, Dart. Por favor. Por favor.

— Não é aconselhável, disse o homem.

A enfermeira balançou a cabeça. — Ele deve ficar no quarto.

— Para quê? Gethin levantou Jonnie em seus braços e ignorando os


protestos o levou pelas escadas e porta afora.

— Neve no seu cabelo. Luz no seu rosto. Gethin girou na neve com o
rosto de Jonnie inclinado para o céu. Jonnie estendeu a língua e riu
quando um floco aterrissou ali. Ele olhou diretamente para Gethin.

— Seja feliz por mim. Seu discurso foi mais arrastado. — Seja feliz
por... você mesmo. É... isso... que eu... quero. Obrigado...

Ele fechou os olhos.

Não morto, mas dormindo agora. Gethin afundou na neve com


Jonnie em seus braços, feliz por Jonnie não ter que passar outro dia
incapaz de se mover. Não cabia a Gethin decidir se esta foi a coisa certa ou
errada a fazer. Jonnie queria e Gethin tornara isso possível. Se isso fez dele
uma pessoa má, que assim seja. Ele deu a Jonnie um último beijo, sentiu a
exalação de Jonnie em sua boca e ele respirou o último suspiro de Jonnie.
Sua vida em mim. Você vive em mim.

Quando ele não podia mais sentir o coração de Jonnie batendo,


Gethin o carregou de volta para dentro.

****

Kell estava sentado no carro que ele alugou se perguntando se ele


tinha feito a coisa certa em vir para Genebra, sem dizer que ele não estava
liberado para voar ainda. Gethin havia inconscientemente fornecido a ele
informações suficientes para que ele pudesse ser capaz de descobrir hora e
pareceu uma boa ideia estar lá para ele depois... depois.

Agora ele não tinha tanta certeza. Pela janela lateral de seu carro,
ele assistiu Gethin levar Jonnie para a neve caindo e entendeu que Jonnie
tinha acabado de morrer nos braços de Gethin.

Ele esperou por vários minutos, em seguida, fez o seu caminho até a
casa e apertou a campainha. — Taxi pour Monsieur Gethin Jones.
J’attends dans la rue.27 Então ele deslizou de volta para o carro.

Apenas quando ele estava começando a pensar que teria que ir até a
porta novamente, Gethin emergiu carregando sua caixa contendo a
guitarra e a mochila.

Kell baixou o chapéu e desviou a cabeça enquanto Gethin subia no


banco traseiro.

— Tem certeza de que é para mim? Perguntou Gethin. — Eu não


liguei.

— Sim, tenho certeza. Oui.

— Aeroporto, por favor.

— D'accord.

Kell tinha certeza de que Gethin logo perceberia que era ele, mas
toda vez que ele olhava no espelho, Gethin estava olhando pela janela
lateral. Nenhuma lágrima, mas seu rosto estava pálido. Kell tinha parado
no lugar para devolver o carro alugado no aeroporto antes de Gethin falar.

27
Taxi para o Sr. Gethin Jones. Estou esperando na rua.
— Você não pode me deixar no setor de partidas? Droga. Departs,
s’il vous plait.

Kell saltou do carro e abriu a porta traseira.

Gethin saiu com sua mochila e guitarra. Ele pegou a carteira e


arregalou os olhos. — Kell?

— Sete mil trezentos e noventa e sete francos. Ele estendeu a mão.


—Mais a gorjeta. Seja generoso.

Quando Gethin riu, Kell soltou um suspiro de alívio. Ele entregou as


chaves para o cara da loja de aluguéis de carro e esperou pelo seu recibo.

— O que diabos você está fazendo aqui? Gethin perguntou.

— Eu vim para levá-lo de volta para casa.

Gethin deu um gemido sufocado, abaixou o que ele estava


segurando e entrou nos braços de Kell. Ele pressionou o rosto no ombro de
Kell e Kell pôde senti-lo estremecendo. Kell o abraçou por um longo tempo
até que Gethin finalmente se endireitou.

— Você está no mesmo avião? Gethin perguntou.

Kell assentiu.

— Estamos muito adiantados.

— Nós podemos nos sentar e esperar. Quer algo para comer?

Gethin assentiu. — Sim, isso seria bom.

Ele pegou a mão de Kell, apertou seus dedos e não soltou.


Kell levou-o para Altitude, um dos restaurantes do aeroporto que
estava em um lado que lhes permitia ver os aviões que chegavam e
partiam. Montanhas cobertas de neve elevaram-se à distância e Kell olhou
para elas tentando descobrir o que dizer. Assim que a comida chegou, ele
respirou fundo e falou. — Foi horrível?

— Sim e não, mas está feito. Eu só tenho que viver com isso agora.

— Você será capaz, certo? Só assinei um contrato de locação de 12


meses no apartamento.

Gethin olhou diretamente para ele e deu um pequeno sorriso. Kell


ficou grato por isso. Kell estava brincando, mas sabia que Gethin
entendera o que ele estava dizendo.

— Eu pensei... Kell engoliu em seco. — Que agora poderia ser um


bom momento para lhe dizer o que aconteceu quando Marek veio ao seu
lugar.

Do outro lado da mesa, Gethin congelou com o sanduíche a meio


caminho da boca.

— Não foi bem o que eu disse à polícia, mas acho que você já sabia
disso. Marek queria atirar em você primeiro, não matá-lo de primeira, mas
fazer você assistir enquanto ele... fazia coisas para mim antes que ele
acabasse comigo.

Gethin alcançou a mesa e pegou a mão de Kell. — O que ele queria


fazer?
— Ele falou sobre fisting. Eu sabia que ele queria isso. Mas eu nunca
concordei com isso. Eu não ia deixar isso acontecer, mas naquela manhã
ele disse que ia enfiar o braço inteiro dentro de mim, arrancar minhas
entranhas através da minha bunda, arrastar meu... sim, bem, ele foi bem
inventivo. É incrível o quão forte você pode ser quando está lutando pela
sua vida. Nós lutamos, a arma disparou e ele meio que se atirou para o
lado. Eu recuei e ele disparou direto em mim. Eu caí do lado da cama. Eu
acho que ele pensou que eu estava morto. Eu pensei que estava morto.
Bem, não exatamente, mas eu estava chateado.

— Ele se sentou no chão tentando estancar o fluxo de sangue do seu


lado e ele não me viu rastejando em direção a ele. Eu agarrei a arma,
apontei e puxei o gatilho. Gethin segurou sua mão com mais força. — Eu
não precisava. Eu poderia ter mantido a arma contra ele, chamado a
polícia, embora estivesse lutando para ficar consciente. Mas eu poderia
ter... eu não tinha que matá-lo, mas eu fiz.

— Estou feliz que ele esteja morto.

— Eu também estou, mas... eu sei que não deveria ter feito isso.

— Sim, você deveria. Ele teria atirado em você novamente se tivesse


percebido que você não estava morto.

— Eu não o matei em legítima defesa. Eu o matei porque o queria


morto. Eu não queria que ele te matasse, mas eu não queria que ele tivesse
o dia dele no tribunal também. O filho da puta teria se vangloriado do fato
que ele e eu tivemos...

— Você fez exatamente a coisa certa. E foi autodefesa.


— Acho que não quero mais ser policial.

— Eu sei que não quero mais ser um detetive.

Kell sorriu. — O que você quer fazer?

— Fazer algo que me dê tempo para escrever música. Talvez eu


possa fazer algum trabalho freelance de TI. O que você quer fazer?

— Estou pensando que gostaria de ser um escravo sexual.

Gethin riu.

****

Quando finalmente voltaram para a casa deles em Greenwich, Kell


sentiu que Gethin mal havia soltado sua mão desde eles entraram no
avião. Kell não estava acostumado a tal demonstração pública de afeto e
suspeitava que Gethin também não estivesse, mas quando um amigo
acabava de morrer em seus braços, como mãos dadas não podiam estar
certas? Kell destrancou a entrada no térreo e dirigiu-se ao elevador.

— Tenho uma confissão a fazer, disse Kell.

— O que você fez?

— Você sabe que não temos estado no humor para o Natal? Bem, eu
dei uma chave para Angel e pedi para ele vir aqui hoje de manhã com uma
árvore e decorações. Eu disse a ele que ele não poderia decorá-la, apesar
de ele ter implorado. Eu quero que façamos isso juntos, embora eu não
tenha ideia do que acabamos recebendo. Ele e Henry nos convidaram para
tomar uma bebida na véspera de Natal. Eu disse sim. Meu pai se convidou
para vir aqui almoçar no Boxing Day. Eu disse sim. Meu pai também nos
ofereceu umas férias, como presente de Natal. Eu disse sim para isso
também. Eu estou de bom humor.

Gethin sorriu. Kell abriu a porta e gesticulou para Gethin entrar. O


apartamento no último andar deles tinha apenas alguns anos de idade. Era
quente e limpo, com dois grandes quartos arejados e um grande espaço
com o pé direito alto e que incorporava uma cozinha contendo uma
geladeira estilo americano com freezer, para o deleite de Gethin. Kell tinha
reclamado que ele estava mais entusiasmado com isso do que com o
elegante banheiro com duas pias e chuveiro aberto.

Eles penduraram suas jaquetas e Gethin colocou sua guitarra e


mochila no chão do corredor. Quando eles entraram na sala, Kell ofegou.
Uma imensa árvore artificial estava em frente à janela com milhares de
luzes brancas cintilando, e como Angel havia prometido, nenhuma
decoração sobre ela.

— Parece de verdade. Gethin caminhou em direção a ela, e riu.


Venha cá.

Kell juntou-se a ele e viu o esquilo de pelúcia que Angel havia


escondido nos galhos. Quando Kell estendeu a mão, o esquilo guinchou, se
contorceu fazendo-o saltar com o susto.
— Merda, por um minuto eu pensei que estava vivo, disse Kell.

— Ativado por movimento.

Havia caixas de decorações empilhadas ao lado do sofá e as


almofadas que Kell escolhera de John Lewis haviam sido substituídas por
outras com renas, huskies, estrelas e pinguins.

Kell queria arrastar Gethin para a cama, mas ele não iria fazer isso.
Para começar, ele preferia que Gethin fizesse isso com ele, mas primeiro
ele queria decorar a árvore e criar uma memória feliz para terminar um
dia difícil.

Gethin foi para a cozinha, abriu a geladeira e ficou boquiaberto. —


Você comprou tudo isso?

Kell se juntou a ele. A geladeira estava cheia de comida: várias


variedades de queijo, duas caixas de empadas de carne, molho de
manteiga com conhaque, uma porção de salmão defumado, um pacote de
presunto de Parma, parmesão, macarrão e pizzas. — Não. Angel deve ter.

Uma panela estava no fogão e quando Kell levantou a tampa o


aroma perfumado de vinho quente perfumou o ar - laranjas, noz-moscada,
canela.

— Aqueça-a, disse Gethin.

— Você está com fome? Quer uma empada?

— Ainda não. Gethin pegou o iPad e, alguns momentos depois, eles


tocavam música natalina.

Quando Kell levou duas canecas de vinho quente para a mesa de


café, Gethin abriu uma das caixas de enfeites. Estava cheio de flocos de
neve prateados. Ele ficou olhando para ela e Kell se perguntou se ele estava
pensando no rosto de Jonnie inclinado para o céu, se a neve sempre
deixaria Gethin triste.

— Eles são todos diferentes, disse Gethin.

— O que?

— Flocos de neve reais e o dessas decorações também são. Eles são


fantásticos. Angel tem um gosto tão bom, mas só para todos os outros, não
para ele mesmo.

Kell sorriu e abriu as outras caixas para que pudessem escolher o


que colocar na árvore. Depois de duas canecas de vinho quente, eles
recuaram e olharam para o que eles tinham feito.

— Eu tenho a sensação de que deveríamos ter escolhido uma cor,


no entanto, colocamos tudo, disse Kell.

A árvore era uma mistura de ornamentos delicados, de madeira


feitos a mão de Papai Noéis e anjos, renas de metal, raminhos de bagas
vermelhas e bordôs e dezenas de estrelas. Eles moveram a mesa de café
para Kell subir e colocar uma estrela no topo. Kell desligou a luz da sala
principal e eles ficaram parados olhando para a árvore.

— Eu gostei, disse Gethin.

— Eu também.

— Você sabe por que eu gostei?

Kell olhou para ele.


— Não temos cortinas ou persianas na janela para impedir que as
pessoas do prédio ao lado possam nos ver - geralmente. Agora eles não
podem.

Gethin tentou desabotoar a camisa de Kell e Kell respirou fundo.

— Muito devagar. Kell o agarrou, então eles estavam se


atrapalhando, beijando, agarrando e se esfregando, e eles ainda não
estavam perto o suficiente.

Gethin deslizou as mãos por baixo da camisa de Kell, uma mão se


esgueirando para a parte traseira de sua calça, e Kell se balançou contra
ele, empurrando seu pênis contra o de Gethin. Roupas começaram a voar.
Eles trabalharam juntos para se livrar de tudo o que usavam até ficarem
nus e grudados, unidos da cabeça aos pés, lábios trancados. Kell estava
bêbado com o gosto dele, desesperado para fazê-lo feliz novamente.

Quando Kell se afastou para respirar, ele observou a beleza do


corpo de Gethin sob a luz brilhante da árvore. Ele tinha sido bonito antes,
mas ele estava mais tonificado agora com músculos estomacais rasgados,
seu pênis emoldurado por seus ossos do quadril, mais aquela tatuagem
sexy. Ele parecia um anjo de Natal vindo à vida. Os dedos de Kell se
moveram instintivamente para a cicatriz curada em seu peito e Gethin
pegou seu pulso.

— É uma pena que você nunca será capaz de dizer a um outro cara
como você conseguiu isso, disse Gethin.

O coração de Kell disparou em seu peito quando ele entendeu o


significado do que Gethin estava dizendo, embora ele não tivesse
realmente dito isso.
— Mas essa seria uma ótima linha, Kell choramingou. — Eu fui
baleado. Obrigado a me deixar fodê-lo.

— Oh, eu estou indo te dar uma foda.

Kell riu. Gethin o beijou novamente, seus braços ao redor de Kell,


agarrando suas nádegas, triturando seus pênis juntos.

— Falha no meu plano de não sair deste lugar, disse Gethin com
um gemido. —Veja se Angel nos deixou preservativos e lubrificante.

— Não. Nós temos que ir para o quarto.

— Tudo bem, então os pés da árvore de Natal, o sofá, a mesa de


café, o balcão, o tapete e as paredes aqui - todos terão que esperar. Gethin
levantou Kell e carregou-o em seus braços, então Kell aproveitou a chance
e enrolou suas pernas ao redor dos quadris de Gethin.

Ele deitou Kell na cama e rastejou por cima, beijando-o novamente


enquanto eles se contorciam juntos.

— Oh, porra, você me deixa louco, sussurrou Gethin.

— De uma forma boa?

— Tirando o fato de você apertar a pasta de dentes a partir do topo,


sim.

Kell parou de se mover.

— O quê? Gethin olhou para ele.

— É isso? Tudo que eu faço que o incomoda é apertar a pasta de


dentes a partir do topo?
Gethin curvou sua boca. — Eu acho que isso é tudo. Ele forçou a
mão entre seus corpos, pegou o pau de Kell e apertou a base. — Ve o quão
bom se sente isso?

Ele deu a Kell o trabalho de mão que Kell tinha dado a ele, pouco a
pouco trabalhando seu caminho até a ponta de seu pênis e todo o tempo
olhando nos olhos de Kell.

— Eu te amo, Gethin sussurrou.

Kell parou de respirar, se esqueceu de como respirar, pensou que


respirar era superestimado até que ele teve que engasgar.

— Você não vai dizer nada? Gethin perguntou.

Kell abriu e fechou a boca como um peixe encalhado.

— Eu já disse essa palavra antes, mas eu nunca quis dizer do jeito


que estou falando para você. Gethin deu-lhe um sorriso tímido. — Eu
gostaria de nunca ter dito isso antes. Eu queria que você fosse a primeira
pessoa ouvindo essas palavras vindas de mim, porque agora eu sei que
você é a primeira pessoa que eu amei de verdade. Eu sinto como se eu
estivesse esperando por você para que eu pudesse começar a viver.

Kell sorriu. — Isso está saindo muito melhor do que eu esperava. Eu


pensei que ia ter que dizer primeiro. Agora eu vou fazer você esperar.

Gethin rosnou e deixou o pênis de Kell deslizar mais rápido em sua


mão. — Vai dizer isso em breve?

— Lembre-se que eu ainda estou machucado, disse Kell.

— Por quanto tempo você vai usar essa desculpa?


— Pelo resto de nossas vidas.

O olhar que eles trocaram tirou a respiração de Kell e paralisou os


movimentos que a mão de Gethin estava fazendo sobre o pênis de Kell.

— Eu te amo, Kell sussurrou.

— Isso é só para eu continuar movendo minha mão? Enfim, quanto


tempo demorou antes de você dizer isso? Dez segundos? Gethin riu.

— Eu te amo. Agora eu disse mais vezes do que você. Eu ganho.

— O que você quiser. Gethin abaixou a cabeça e Kell deslizou para o


êxtase.

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