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Proibida a comercialização e reprodução parcial ou integral, em qualquer meio, sem prévia autorização
por escrito.
Criado, Patrícia
Amor e Sombras - As crônicas de Júpiter
livro 1,5
ISBN: 978-65-00-76328-7
Alerta de gatilhos:
O livro contém cenas gráficas de cunho sexual, violência, guerra e morte.
Para o meu irmão, que me ensinou
que os personagens mais incompreendidos
têm as melhores histórias
e que o amor não é menos poderoso
por ser monossilábico.
Nota da autora
EI, VOCÊ! Não você que comprou o livro bonitinho na Amazon (quem comprou,
merece todo o meu amor), mas sim você, varão abençoado de Deus, que está lendo
este livro por qualquer meio que não seja a Amazon. Saiba que está pirateando o
meu trabalho e passando-me a informação de que ele não merece ser reconhecido.
Ao piratear, você está dizendo que o meu ilustrador não merece ganhar dinheiro pelo
trabalho dele e que a minha revisora também não. Ao piratear, você destrói meu sonho
como escritora, porque a escrita é uma profissão — muito mal paga no Brasil — e se
você que é o meu fã não a valoriza, quem vai valorizar? Por isso, mesmo que tenha
baixado este livro em algum lugar indevido, eu peço humildemente para que feche
ele e compre na Amazon. É baratinho, o preço de uma coxinha, e está disponível
gratuitamente no Kindle Unlimited! Eu agradeço, a literatura nacional agradece e o
equilíbrio financeiro deste investimento — muito alto, inclusive — também
agradecem profundamente!
Agora, vai lá comprar, meu alecrim dourado, porque a escrita é por amor, mas
as contas que eu preciso pagar não! <3
Continuando meu recado, desta vez para todos vocês, amados leitores:
Este livro é um extra comemorativo pelo aniversário de 1 ano de Interion – As
crônicas de Júpiter, e deve ser lido na sequência do primeiro, porque contém muitos
spoilers (depois não diga que eu não avisei!).
Ele estava engavetado há um bom tempo, pois eu sentia que precisava contar
mais sobre a origem da Kiara, mas não conseguiria colocar tudo dentro do livro I ou
II, então este extra caiu como uma luva!
Além disso, também incluí cenas deletadas do livro I que foram cortadas por não
haver espaço, então vocês finalmente vão saber o que aconteceu entre Zion e Sirena
no elevador do Palácio Real e também verão o resgate da Kiara quando ainda era um
filhote.
Dito isso, chega de falatório. Desejo a vocês uma ótima leitura e espero que
gostem deste projeto tanto quanto eu. Beijinhos de luz estelar. Com carinho,
Patrícia Criado.
PS: Esta é a minha redenção por aquele final desesperador do livro I.
Ou não.
CAPÍTULO 1
Amor e sombras
A criatura jamais saberia mensurar o tempo, ainda que contasse cada um dos
segundos passados na escuridão, até o momento em que foi finalmente convocada ao
patamar superior do Divino.
A luz que a tocou quando saiu pela porta do cativeiro já não tinha a beleza de
outrora e fez seus olhos doerem a ponto de querer esconder-se da claridade. Pelo
caminho, percebeu que os seus irmãos já não estavam mais trancafiados ali embaixo
e até mesmo o cheiro deles havia se dissipado no tempo, o que a fez questionar o que
mudara no universo para tal milagre acontecer.
Subiu vagarosamente. As pernas fracas quase não conseguiam levá-la por um
degrau adiante e as asas esburacadas já estavam tão atrofiadas que pendiam aos seus
pés, arrastando-se como um manto sujo. Quando não conseguiu mais subir, Angel
colocou-a sobre as costas.
— Será a única bondade que terás de mim, criatura, porque, ainda que tenha nos
traído, era a minha preferida no passado.
A wyvern franziu o cenho. Ruminara por longos anos o seu ato de “traição” e
chegara à conclusão de que não fez nada de errado. Traição, pelo que ela entendeu,
era comprometer-se sentimentalmente com alguém e então trocá-lo por outro. Como
Lauriel fez com Muriel, ao acasalar com Anabel. Mas a wyvern nunca entregou seu
coração à Deusa da Guerra, então como alguém que nunca teve escolha poderia trair?
Sobre os ombros de Angel, foi carregada até a superfície. Agora estava sob as
suas amadas estrelas, que permaneciam tão belas quanto recordava. Mais à frente
avistou Ariel, cujos cabelos vermelhos pareciam uma chama viva sob o brilho dos
astros. Usava uma saia esvoaçante feita do seu poder escarlate, mas essa permanecia
sendo a sua única peça de roupa no corpo, pois os pés descalços e os seios nus eram
sua marca registrada. Ao seu lado, o wyvern negro rondava-a como uma sombra,
crispando as escamas quando Angel a colocou diante da Deusa. O outro estava
novamente com a aparência perfeita. Asas inteiras com couro negro brilhante,
provavelmente curadas pelo poder regenerativo da Deusa ou dos Arcanjos.
Também avistou Tyrael ali em cima. O Deus da Sabedoria vestia-se com um
longo manto azul e estava sentado à beira do Olhário, um poço no centro do Salão
Celestial, cujas águas calmas não refletiam o céu, mas mostravam-lhe diversas
imagens que poderiam ser tanto do presente quanto do futuro.
A fera azul voltou-se para Ariel e o semblante da Divindade mais sério e
controlado que o habitual fez suas escamas retorcerem-se.
— Aproxime-se, criatura traiçoeira — disse a Deusa, segurando um chicote
vermelho feito do seu poder divino.
Quando a wyvern caminhou lenta demais, Ariel estalou o chicote em suas costas,
abrindo um corte que a fez urrar de dor, então a arrastou pela asa direita, forçando sua
cabeça sobre o Olhário para que ela pudesse contemplar as águas. Depois, a Deusa
comandou o wyvern negro para se sentar ao lado da azul e este respondeu caminhando
silencioso até ficarem lado a lado.
— Eu tenho uma missão para vocês dois. — Os olhos azuis da wyvern correram
pelo ambiente, astutos e famintos. A calma tensão presente na voz da Deusa dava à
criatura mais arrepios do que seus ímpetos furiosos. Mesmo assim, a expectativa de
receber ordens a fez ansiar pela glória dos tempos antigos e, se tivesse um propósito,
sabia que não voltaria para as trevas. — Uma missão importante, na qual todos os
seus irmãos têm falhado.
Atenta às palavras, empertigou-se. Seria capaz de executar qualquer ordem que
lhe fosse dada, ainda que seus irmãos não conseguissem. Não por ser a melhor, visto
que agora era um amontoado de músculos atrofiados, mas porque sua vontade era tão
grande que moveria mundos inteiros.
Ariel curvou-se levemente sobre o Olhário e aos poucos a água ali movimentou-
se, mostrando a imagem do único planeta com vida que sobrara após a Guerra do
Apocalipse.
— Como sabem, há muitos anos, eu e os meus quatro irmãos prendemos os
voracious neste planeta, segregando-os dos mortais que habitavam ali com uma
barreira feita com o poder dos nossos olhos. — A mulher apontou toda a extensão
da muralha que partia o mundo em dois. — Mas essa barreira foi afetada pela junção
de dois olhos e uma criatura sombria esgueirou-se para o outro lado. Mandei Angel
e Oriel para lidar com o problema, mas a barreira também impede que eles adentrem
o mundo em seus corpos, assim como também não deixaria wyverns como vocês
entrarem.
Ariel parou, então sinalizou para Tyrael mudar a visão do Olhário. Nas águas
turvas, surgiu a imagem de bestas disformes em um campo de batalha em chamas.
Não eram como os wyverns, grandes e escamosos, estes pareciam mais com uma
junção desordenada de vários tipos de animais do plano terrestre.
— Por isso, Tyrael e eu sussurramos no ouvido de um feérico deste planeta todas
as coordenadas para que ele criasse criaturas animalescas compatíveis com as almas
dos wyverns e também com força e tamanho o suficiente para poderem batalhar contra
os carniçais, os súditos dos voraciuous. Nós as batizamos de “quimeras” e, como
vocês podem ver nas imagens, o feérico teve muito sucesso em seus experimentos —
a Deusa acariciou a face do Deus da Sabedoria, que sorriu para ela, ainda concentrado
no Olhário. — E quanto a Angel e Oriel, que também não podem descer portando os
seus corpos originais, conseguimos progredir criando um receptáculo perfeito. Ela é
uma das inúmeras filhas da linhagem de Oriel, porém, a única descendente a herdar o
meu poder divino. — A cena que se sucedeu no Olhário era a de uma jovem debilitada,
vestida em trapos, que vagava acorrentada a outras igualmente enfraquecidas. —
Ainda que hoje seja fraca como um sussurro, portará no futuro uma fração do meu
poder e por isso eu a batizei de “neta do apocalipse”. Uma filha dos meus filhos e a
única mortal detentora do meu poder divino.
A Deusa enrugou o nariz em desgosto ao ver a garota furtando comida do lixo.
— Esse receptáculo é a chave para o fim da Guerra do Apocalipse, mas há a
probabilidade de não sobreviver até a vida adulta e então teremos um problema ainda
maior. Por isso, eu preciso que pelo menos um de vocês dois a proteja até que ela esteja
pronta para ser usada. Seus irmãos, aqueles cabeças de merda, assim que acordam no
plano material, esquecem-se da missão à qual foram enviados e tornam-se capachos
dos feéricos lá. — Novamente a imagem das águas voltou-se para as pertinentes
quimeras bestializando. — Se um de vocês for capaz de cumprir essa missão, eu darei
todas as glórias ao campeão e então terá seu lugar de volta aos meus pés.
O wyvern preto não esboçou nenhuma reação perante as palavras, mas os olhos
da wyvern azul brilharam, assim como a fome em seu âmago remexeu-se, pronta para
ser sanada. Olhou para o céu, vasto e infinito e para as estrelas que um dia foram suas
amigas. Sabia que, em algum lugar lá em cima, Anabel ainda estaria à sua espera e,
para poder vê-la novamente, teria que ser livre mais uma vez. Então, voltou-se para
Ariel com a resposta estampada em cada escama eriçada do seu corpo. Aceitava a
missão, não só porque não tinha nada a perder, mas pela ganância de obter a liberdade
que a colocaria nos céus mais uma vez.
Curvou-se, tocando a cabeça no solo, sentindo os músculos tremerem apenas por
aquele pequeno esforço.
Ariel soprou sobre os dois wyverns e ela se sentiu desvanecendo de seu físico,
afastando-se do espectro dos Deuses, até cair pelo Olhário em direção à sua missão.
Antes que sua consciência se desfizesse de vez, pôde ouvir o sussurro imperioso
da Deusa da Guerra:
— Lembrem-se, wyverns... — Um último eco ficou gravado em sua mente e
ainda permaneceu ali por um tempo quando acordou em um corpo branco, macio e
muito diferente do seu. — Protejam o receptáculo.
CAPÍTULO 3
Cemitério de quimeras
O som da ração feérica sendo mastigada preenchia a cozinha, enquanto pai e filho
compartilhavam um jantar silencioso. O assado de rã, que deveria ser o prato principal,
acabou arruinado, resultando em uma refeição improvisada com as poucas latas de
comida disponíveis na cabana. Sentados em extremidades opostas da grande mesa
de mogno envernizada, ambos contemplavam uma pintura envelhecida pendurada na
parede lateral.
A moldura negra do quadro estava empoeirada, e pequenas luzes amarelas
iluminavam a imagem em tinta óleo, que datava 266 anos atrás. O quadro mostrava
Zion e Serguei lado a lado trajando o uniforme militar da época. O garotinho de
cabelos longos na imagem não passava de uma criança quando fora eternizado ali
e Serguei estava no auge de sua juventude, ainda que os olhos mostrassem aquela
perspicácia que nada tinha a ver com os anos, mas sim com a sua história. A obra fora
encomendada por Serguei para celebrar a data em que Zion conseguiu dominar suas
sombras, um dos raros dias bons que passaram juntos.
Com uma pontada de nostalgia, Zion recordava-se vividamente do orgulho nos
olhos do psíquico ao pendurar uma pequena medalha de mérito elementar em seu
uniforme. Também lembrava-se da sensação de euforia por finalmente ser merecedor
daquele orgulho após passar dois anos se esforçando ao máximo para conquistá-lo.
Mas, infelizmente, aquele dia marcante também trouxe consigo uma tempestade de
mudanças. Após a comemoração, o poder de Zion aumentou exponencialmente, o que
gerou certo incômodo em Serguei, que já não sabia como lidar com a paternidade.
Ele nunca entendeu o que fez Serguei mudar tão drasticamente depois da cerimônia,
mas logo começaram as patrulhas mentais, os treinamentos exaustivos e, de um dia
para o outro, o álcool tornou-se uma presença constante nas refeições. Os conflitos
aumentaram, assim como as restrições impostas ao garoto, que ansiava por uma vida
normal.
Assim, o relacionamento entre pai e filho tornou-se cada vez mais tenso, e o
ponto de ruptura foi a tentativa de lavagem cerebral que Serguei tentou fazer em Zion,
no intuito de subjugar a sua vontade e substituí-la pelas próprias.
Sentado ali, o general apertou o maxilar, desviando o olhar da pintura e
esforçando-se para suprimir as emoções que a imagem lhe evocava. No entanto, ao
desviar sua atenção, encontrou o olhar de Serguei fixo nele, carregando uma sombra
amarga e cansada que refletia seus próprios pensamentos.
Por vários minutos, o som dos talheres se sobressaiu em meio ao desconfortável
silêncio que os envolvia, até que Serguei fez uma tentativa para romper a tensão que
permeava o ambiente.
— E o exército? Como foram os últimos cinco anos?
Zion olhou novamente o relógio, depois colocou a lata vazia sobre a mesa,
limpando a mão no guardanapo. Sob os globos de luzes amarelas, instaladas nas
paredes do cômodo no intuito de tornar o ambiente mais intimista, analisou o homem
sentado ereto como uma agulha em sua cadeira. Ele já vestia o pijama de seda preta
para dormir e parecia muito à vontade na casa usando suas pantufas de caxemira.
Com pesar, Zion deu-se conta de que Serguei não iria embora, não importava
o quanto o ignorasse.
Olhando o pai ali, com os olhos cheios de expectativas, sentiu-se mal por ser tão
duro, mas também não conseguia ser melhor. A sensação era muito parecida com o
dia em que ele e Kaori inventaram de patinar no lago congelado de Yonser, quando
fizeram uma missão naquela cidade. Zion não tinha coordenação com os patins, então,
quando tentava sair do lugar, ridiculamente se esborrachava no chão, mas, ao desistir
e ficar parado, sentia-se patético por nem tentar. No caso do pai, entre o ridículo
ou o patético, ficava com a segunda opção e criara um bloqueio gigantesco em seu
emocional.
Ainda assim, com o silêncio estendendo-se tão incômodo quanto uma pedra em
seu sapato, fez um esforço, porque sabia que o homem também estava se empenhando.
Prova disso é que o prato favorito da infância de Zion era rã assada e, mesmo que a
comida estivesse intragável, ele reconhecia que Serguei pelo menos tentara.
Reuniu toda a sua paciência e habilidade social para responder:
— Antes de voltar, encontrei um campo de reprodução abandonado. Havia duas
mulheres ali e estavam sem comer ou beber por seis dias. Disseram que os soldados
foram convocados para se realocarem novamente em Valmar e as abandonaram à
própria sorte.
— Estão seguras agora? — questionou Serguei.
— Sim. Eu as alimentei durante a viagem para o norte e, quando as coloquei no
barco, já estavam fortes e hidratadas. — Zion tomou um pouco de vinho do seu copo
e completou: — Essas foram as duas únicas em oito meses. Acredito que estamos
bem próximos de acabar com os campos. Parte do avanço rápido é que os soldados
estão cada vez mais eficientes em lidar com a tecnologia vinturiana para encontrar
as instalações.
— Vai ficar seis meses longe, está preocupado com eles? — questionou Serguei,
batucando os dedos sobre a mesa de forma ritmada.
— Não. Kaori foi muito bem treinada e sei que os comandará da melhor forma.
Serguei remexeu-se em seu assento, parando com o bater de dedos e entornando
a taça de vinho. Depois pousou, encarando Zion.
— Na verdade, não. Eu indiquei outra pessoa para o seu cargo.
Por um segundo, o general ficou sem reação tentando entender se ouviu
corretamente. Até mesmo Kiara levantou a cabeça ao seu lado, sentindo a mudança
de ares.
— Você fez o quê? — Zion cruzou os braços sobre o peito.
— Eu promovi um general provisório — Serguei imitou sua postura.
— Kaori é minha imediata, por direito e mérito. Ela é a escolha óbvia para ser
minha substituta.
— Não mais. Eu promovi uma votação entre os pilares e Elitium. Indiquei Cauê
e a aprovação foi unânime.
— Eu não acredito que você fez isso — Zion sibilou, pousando os punhos
cerrados sobre a mesa.
— Eu não poderia deixar a górgona cuidando do maior exército do continente.
— Por acaso o posto dela é de enfeite? — Zion questionou, revoltado. — Além
de ser diretamente treinada por nós e conhecer o desenvolvimento do exército, ela é,
claramente, a mais preparada entre todos os soldados que eu conheço.
— Mas não é a mais confiável.
— De novo essa história.
— Aquela garota é instável como um tornado, Zion! Instável, rancorosa e
impulsiva. A combinação perfeita para o desastre! Ela é boa, isso ninguém pode negar
— Serguei levantou a voz, impedindo Zion de retrucar. — Sei que ela esconde bem
mais do que a superfície mostra e vejo um potencial gigantesco em relação à
inteligência e hierarquia górgona, afinal, ela entrou em conflito com o clã todo e saiu
vitoriosa. Também sei que ela sozinha consegue manter as lâmias afastadas, algo que
um esquadrão inteiro de górgonas tem dificuldade em fazer, além de ser habilidosa
no campo de batalha. Não tiro todos os méritos da sua imediata, Zion, mas Kaori é
tão volúvel quanto as fases da lua e precisa de alguém acima do seu cargo para lhe
impor limites.
O general levantou-se da mesa, levando sua lata até o lixo. Precisava se mover
para não surtar.
— Aquela garota treinou a vida toda para assumir o cargo de imediata e está mais
do que preparada para isso, além de saber sobre o todo o esquema dos descendentes e
me ajudar, por anos, a mantê-los seguros das lâmias enquanto eu os levo para o norte.
Você apenas fica incomodado porque ela consegue criar bloqueios na mente, como
o irmão dela fazia. Ambos treinaram para isso e eu fui um incentivador. Vai julgá-
la por fazer o mesmo que você?
— Sim?! — debochou Serguei.
Zion revirou os olhos, exasperado.
— Então vai me dizer que Cauê é confiável? E quanto aos descendentes que
forem resgatados enquanto eu estiver fora? Ele vai desconfiar quando Kaori os levar
para longe e me chamar para lidar com a situação.
O homem fez um gesto afirmativo de cabeça antes de continuar.
— Cauê é um bom soldado e merecia a chance de reconhecimento. Aliás, ele
não vai desconfiar de nada ou relatar algo ao rei, porque eu limparei sua mente
constantemente.
O general riu, irônico.
— Você não quer um bom soldado, Serguei, você quer uma marionete.
— Eu quero alguém que não esconda nenhuma informação importante.
Zion respirou fundo.
— Se a decisão está tomada, eu não vou mais discutir sobre Kaori, mas saiba
que você está cometendo um erro. Ela já demonstrou por séculos a sua lealdade e
merecimento
— Não, garoto — disse o psíquico, enchendo novamente a taça. — Como
especialista em erros, eu lhe digo que esse não cheira como um. Prefiro morrer com
a desconfiança do que ser morto pela falta dela.
— Mórbido como sempre. — Zion balançou a cabeça e retirou as demais coisas
da mesa, levando-as até a pia.
— Teimoso como sempre — retrucou Serguei, observando-o com olhos
cansados. — Um dia, garoto, você ainda vai cair por confiar em alguém que ama.
— Zion revirou os olhos e caminhou para a lateral da cozinha, começando a subir as
escadas. — E não! Isso não é o que eu desejo para você, estou apenas lhe dizendo
como a vida funciona, porque ninguém passa por ela com o coração ileso. — Serguei
levantou a voz quando o general chegou ao patamar da escadaria. Então apontou um
dedo para ele, revoltado por ser deixado falando sozinho. — E quando esse dia chegar,
você vai se lembrar de mim e eu espero estar bem perto para dizer: eu avisei.
Zion lançou um novo olhar para o relógio antes de bater à porta do quarto, o
que fez com que Serguei estalasse a língua, mas não se atreveu a dizer mais nada,
algo que ele agradeceu mentalmente, pois não queria lidar com mais das merdas que
o psíquico tivesse a oferecer.
Qual foi a surpresa do general quando, ao se deitar na cama, recebeu a companhia
do homem que se deitou do outro lado. O desconforto e a estranheza dominaram
o ambiente deixando-o tenso como um cabo elétrico desencapado, mas, no fundo,
um toque de serenidade parecia tentar tomar posse de algo em sua mente. Talvez
nostalgia. Coisa que Zion empurrou para qualquer porta em que isso estivesse
trancado antes.
Kiara, antes deitada ao lado da parede de vidro observando as estrelas, bufou
incomodada por ter seu espaço tomado pelo homem, então enfiou-se no meio do
colchão, dominando a área dos pés e deixando o rabo e uma asa penderem para fora
da cama, já que não cabia o corpo todo. E foi assim que ficaram os três naquela noite:
desconfortáveis, sem conseguirem dormir de fato, mas sem nada a dizer.
CAPÍTULO 6
Guerra de corações
∆
Zion não conseguia deixar de se orgulhar ao ver a parceira analisando-o
minuciosamente quando o primeiro impacto do susto pelo desconhecido foi embora.
Ela parecia tentar desvendar cada centímetro dele, o que fazia seu peito inflar de
euforia, enquanto os seus olhos também vagueavam pelo corpo dela, aprovando cada
parte do que via. Desde os cabelos acobreados até as sardas castanhas espalhadas
como estrelas por sua pele. A garota era deslumbrante a ponto de tirar-lhe o fôlego.
Tiraria também a sanidade se ele já não estivesse sem ela há dias.
Ela pareceu piscar por alguns momentos, meio incerta, e então seus lábios
rosados entreabriam-se algumas vezes antes que finalmente conseguisse dizer alguma
coisa um pouco incoerente.
— Você...
A forma como ela pareceu desconcertada arranhou suas estranhas como um
animal enjaulado doido para ser liberto. Zion só conseguia pensar que, se Kyller ao
menos soubesse que ele estava infinitamente mais embasbacado do que ela,
provavelmente se sentiria melhor.
— Eu...
Sua voz saiu divertida e ele agradeceu. Antes isso do que rouca ou com adoração,
o que delataria seu atual estado. Não conseguia deixar de olhá-la, era como uma
imagem mais nítida e perfeita de um sonho há muito desejado. Deixou seus olhos
correrem pelos braços fortes parando a atenção sobre a clavícula proeminente cortada
por inúmeras veias azuis que subiam e desciam dos seios em direção ao pescoço.
A pele branca e translúcida ali parecia delicada ao ponto de Zion se perguntar qual
seria a textura se corresse os lábios por ela. Depois voltou sua atenção para o rosto da
feérica, pensando que queria contar cada uma daquelas sardas em sua face e descobrir
até onde elas iriam.
Kyller piscou novamente, libertando-se do transe em que ambos haviam se
instaurado ao analisarem um ao outro, quebrando o elo ao olhar para o chão e
mexendo-se sem graça.
— O que você está fazendo aqui? Por que não bateu à porta?
O general viu quando ela inclinou a cabeça, tentando verificar a entrada.
Aproveitou o momento e retirou a faca da mão dela, o que fez seus olhos voltarem
para os dele. Zion manteve seus olhares fixos ao colocar o objeto metálico sobre a pia.
Diante das palavras, sentiu-se tenso. Lógico que ele não era burro de esperar uma
recepção calorosa, mas aquela pergunta foi como um soco em seu estômago, porque
o fazia sentir como se ela não o quisesse na casa. Quase riu, desgostoso, porque não
podia julgá-la. Ele a deixou lá sozinha, não é? Kyller não lhe devia absolutamente
nada, ainda que ele não tivesse opção.
Afastou-se antes que seu rosto começasse a demonstrar a frustração que sentia,
indo se recostar no batente da porta. Kiara aproveitou esse momento para se jogar
sobre a ruiva e ele sentiu inveja da criatura. Ao menos alguém podia fazer isso.
“Não está funcionando.”
Zion ergueu a sobrancelha sem entender o que a quimera queria dizer ao lamber
a bochecha da garota, distraindo-a.
“O que não está funcionando?”
“Seu acasalamento é vergonhoso!”
Somente Anabel saberia o esforço heroico que o general fez para não gargalhar.
Ao notar que Kyller o analisava novamente, percebeu que ela realmente esperava uma
resposta e acabou dizendo a verdade, mesmo que soasse estranha e antipática.
— Não me ocorreu bater à porta da minha própria casa.
Os olhos dela prenderam-se a ele, subindo desde os pés, vagando por todo o seu
corpo e parando sobre a alça em seu peito. Isso o fez se dar conta de que ainda estava
com a bolsa, então a retirou, depositando-a sobre a cadeira da cozinha. Sem conseguir
se controlar, acabou encarando novamente o corpo exposto de sua parceira. Não se
conteria dessa vez, afinal, tinha sido ela quem começara com aquela verificação
descarada.
Deleitou-se com a imagem das pernas grossas e torneadas que o pequeno short
rosa expunha como um desfile aos seus olhos. Brancas como um palmito, mas
salpicadas de sardas castanhas que as deixavam ainda mais bonitas. O quadril era
largo e afinava na cintura, ainda que a barriga não fosse reta como as das interianas,
o que o deixava feliz, porque era sinal de que estava se alimentando bem. Os seios
fartos e redondos eram exatamente como Kiara havia lhe dito e marcavam na pequena
camiseta sem sutiã. Apenas naquele momento lhe ocorreu que realmente deveria ter
batido à porta, ou avisado que viria, porque a roupa dela era imprópria em níveis
catastróficos.
Zion respirou fundo, tentando não deixar seus pensamentos vagarem por esse
ângulo.
Além de tudo o que observava, notou que Kyller cheirava à macadâmia e ameixa.
A cada vez que ela se constrangia com alguma coisa, o sangue em sua corrente
sanguínea vascularizava mais forte e o seu aroma projetava-se com uma força
sobrepujante. Era como uma poção feita para enfeitiçar os sentidos dele.
— É um bom ponto, mas... — ela começou, remexendo as mãos de nervosismo.
Zion soube que a garota estava tentando fingir que não se importava com a atenção
que ele dava a ela, mas não conseguia mascarar as reações do próprio corpo. — Não
poderia avisar que voltaria para casa? Eu... eu esperei você quando fiquei sabendo
que estava de volta às muralhas.
Seu peito apertou-se e ele teve que engolir o ressentimento que sentiu na voz
dela, pois, mesmo que tivesse um motivo para a sua ausência, não poderia explicar a
ela. Novamente optou por uma resposta evasiva.
— Eu não pedi que me esperasse — respondeu e só então se deu conta de que a
frase também havia saído de forma muito ruim. Sentiu-se um selvagem que não sabia
mais conviver civilizadamente, nem mesmo com sua parceira.
Atento a todas as reações do corpo dela, viu-a cruzar os braços sobre o peito,
irritada. Aquilo pesou em si e então ele teve a ciência de que aquele encontro estava
caminhando para algo como um trem em meio a um acidente inevitável.
— Mas também não disse para não esperar. Na verdade, você não disse nada. —
A mágoa era latente na voz dela. — Eu esperei por educação, mas acho que você não
entende muito disso, já que eu soube por outras pessoas de seu retorno.
Sentia que a ironia daquele momento iria matá-lo. Ser obrigado a ficar longe a
ponto de enlouquecer, voltar contando os minutos para vê-la e ser recebido como se
fosse apenas falta de educação. Segurou o riso da própria desgraça. Ele sequer podia
dar uma satisfação e explicar seus motivos para ela. Depois de todo o afastamento
e o que a fez passar sozinha, ainda precisava deixá-la no escuro, pensando que
simplesmente não se importava.
Serguei era um maldito que buscava desgraçar sua vida das mais inúmeras
formas possíveis.
Concentrou-se nos assuntos em que podia falar com ela, coisas que gostaria de
saber, além das que precisava entender para que a relação dos dois não fosse mais
um impedimento. Para que Kyller soubesse o que precisava fazer para ajudá-lo com
aquela situação do acordo de sangue. Começou a tirar as luvas, logo depois pegou
uma maçã na fruteira sobre a mesa e voltou para o batente, ainda avaliando como
abordar a academia militar sem ter que explicar os motivos, já que não poderia.
A garota voltou-se para a frigideira, começando a fazer uma omelete, em
silêncio, mas claramente irritada, e Zion precisou de um esforço gigantesco para
apenas não ficar ali como um maníaco, observando-a do novo ângulo.
— Soube que você cursou a faculdade de medicina e agora está no último ano
como residente no hospital. — O general teve sua atenção de volta, quando Kyller se
virou para ele. — Está gostando?
— Gostando? — Ela pareceu um pouco confusa, até surpresa, com a pergunta,
como se não esperasse algo assim. Respondeu como se desse de ombros para qualquer
sentimento que a estivesse incomodando. — Sim. Estou gostando da faculdade, sou
boa em ajudar outras pessoas e meu dom vem se mostrando promissor.
Kiara apoiou a cabeça no balcão da cozinha, encarando a bandeja de ovos.
Quando não recebeu a atenção que queria, ergueu-se nas duas patas, ficando ainda
mais alta que Kyller e acabou ganhando um ovo na boca, após se sentar comportada.
Zion estava tenso porque sabia que a parte importante vinha agora. Ela realmente
precisava melhorar na academia militar ou nunca poderiam estar livres daquele
maldito acordo de sangue. Viveriam para sempre em meios-termos se o que Serguei
disse realmente era verdade.
— E como vai a academia militar?
Viu as costas da garota retesando-se no mesmo minuto.
— Você deve saber como vai a academia militar, é o general dos exércitos.
Ele estreitou os olhos em direção a ela, surpreso com o quanto a mente da parceira
estava afiada para repeli-lo. E aí estava o problema. Não conseguiriam uma conversa
calma, porque ela já estava armada e ele, frustrado.
A única forma de o relacionamento dar certo, e ele poder se explicar, era Kyller
não ser um ponto fraco na vida dele e, pelo que ouviu tanto de Cauê quanto de Serguei,
ela estava muito longe de ser minimamente boa.
Tentou manter a voz no tom mais leve possível, até bem-humorada para tentar
aliviar a pressão que ela empurrava contra ele.
— E como general dos exércitos, eu quero ouvir de você. Sei de sua situação
apenas por terceiros.
Ela ficou em silêncio por um momento e Zion soube que estava tensa pela forma
como a garota mexia a frigideira, como se quisesse lançá-la na parede – ou nele.
— Ainda continuo tentando alcançar os alunos. Amanhã é meu primeiro dia do
último semestre.
Tentando era uma ótima palavra. Permitia a Zion muitas coisas, inclusive
propostas.
— Tentando... E o que está fazendo para melhorar?
— Estou indo às aulas — ela respondeu de forma seca.
— E o que mais? Porque, na minha época, isso nunca foi o suficiente.
— Para quê? Eu não quero seguir carreira militar, desejo ser elmédica titular e
me dedicar a salvar vidas aqui no hospital.
O absurdo da frase fez com ele o mesmo que o limão fazia com o leite: azedar
completamente.
— E na carreira militar você pensa que fazemos o quê? Dançamos balé e assamos
bolos? Devo lembrar você de como nos conhecemos? — O general sentiu-se
descontrolar, tanto pela situação, quanto pelas lembranças do dia em que a encontrou.
As gavinhas de suas sombras começaram a se movimentar sobre a pele, alimentando-
se da sua raiva.
Ela o olhou, arqueando uma sobrancelha em desafio.
— Não sei exatamente o que você faz, senhor das sombras, mas acredito que
fugir da parceira seja a parte principal do serviço.
Aquilo foi como um tapa em seu rosto e Zion a fuzilou com o olhar. Não com
ódio dela, mas com ódio do que toda essa obrigação de silêncio e distância estava
fazendo com a parceira e o laço. Serguei estava destruindo qualquer coisa que pudesse
existir ali e o aspecto selvagem de isolamento do general não ajudava em nada.
Tentou controlar a irritação que sequer era destinada a ela, pois ali só iria
atrapalhar ainda mais a comunicação que já estava extremamente prejudicada.
Manteve a voz firme e controlada.
— Ninguém exige que você siga a carreira militar, mas eu exijo que você saiba
se defender bem, para que não dependa de outras pessoas e possa seguir qualquer
caminho que desejar. Isso não vai acontecer caso não possa ser pelo menos melhor
do que seus colegas de turma.
— Você quer dizer “para que eu não tenha que proteger você”. É isso o que quer
dizer? — Zion pôde ouvir a raiva na voz da parceira. Ela estava tão longe da verdade
quanto uma criança longe da velhice. — Porque, na última vez que verifiquei, eu
continuava sozinha e estava me virando muito bem dessa forma.
Sua conclusão quebrou-o.
Trincou os dentes, tentando conter a raiva que estava sentindo. Raiva dele
mesmo, do pai, de Elitium, daquela maldita cidade, do mundo. Raiva inclusive da
prepotência dela em achar que estava segura, porque isso a fazia ser um alvo fácil.
— Estou vendo o quão bem você se cuida sozinha, não preciso lembrá-la de que
vive no lugar mais seguro do continente. Aliás, se eu fosse um assassino, você estaria
morta há dez minutos. Como consegue chamar aquilo de arremesso de faca se ela nem
se cravou em nada? Praticamente bateu com o cabo na parede e caiu.
Ela olhou para a faca que havia arremessado, agora abandonada no chão, mas
não respondeu. Ficou em silêncio, como se ele sequer tivesse dito algo.
— Vai me ignorar? — Ao não obter resposta, continuou: — Muito maduro de
sua parte, Kyller.
— Ignorar como você fez comigo por cinco anos? — ela praticamente gritou
de volta.
“Eu falei para você fazer a dança do acasalamento”, Kiara invadiu seus
pensamentos e ele a bloqueou, ainda focado na tempestade raivosa à sua frente.
— Você diz essas coisas como se ficasse realmente preocupado se estou viva ou
morta. Faz cinco anos que eu não tenho notícias suas, Zion. Agora você volta, não me
avisa, só aparece como um fantasma na cozinha e começa a enlouquecer porque eu
ainda não acompanhei os outros alunos. Juro que não o entendo.
“Ela tem um ponto”, murmurou Kiara, olhando de um para o outro, como se
fossem bolas de tênis.
Abismos! Lógico que ela não entenderia, porque ele também não podia explicar.
E agora ela estava tão enfurecida que sequer tentava ver a situação por todos os
ângulos. Os dois estavam descendo ladeira abaixo e daquela forma ela jamais
entenderia metade das implicações de tudo o que Zion abdicou e do que ele precisava
que ela fizesse para tornar a situação mais fácil. Era redundante e cansativo em níveis
absurdos.
— Não precisa entender. A única coisa de que precisa é parar de choramingar e
fazer algo a respeito da sua própria segurança.
Kyller bateu a mão sobre o balcão, irritada.
— Deve ser difícil ter uma parceira Drutes quando o único objetivo de sua vida
é matar cada um de nós. — E ali estava a mágoa sendo escancarada em sua cara. Ela
encarou-o no fundo dos olhos, como se soubesse tudo de Zion, tão inocente em sua
ignorância. Um nó enforcava a garganta dele enquanto ela desferia cada uma daquelas
palavras cortantes. — Se eu fosse você, também viveria preocupado com a minha
segurança, é compreensível.
— Você não sabe nada sobre mim, Kyller! — Zion disse numa explosão. Estava
no limite. Acusado de mil coisas das quais não poderia se defender, mas o pior era
ver a dor e a mágoa que todas as ocultações causaram nela.
— Eu não sei nada sobre você, porque você não me permite saber.
— Se ainda não percebeu, esse é o objetivo. E é assim que devemos continuar.
Simplesmente não conseguia mais encará-la e também não podia dizer nada sem
que a ferisse por não ser sincero, então optou pelo afastamento, já que nada do que
dissesse poderia deixar de causar uma catástrofe. Cansado, apenas deixou que as
sombras o engolissem e carregassem-no para o quarto.
Andou pelo cômodo ouvindo o som do coração dela disparar no andar de baixo.
Um sinal de que estava tão afetada quanto ele.
Passou as mãos sobre o cabelo sentindo a ansiedade anterior se tornar apenas
um amontoado de frustração. Bem, ele reconhecia que fora ingênuo por esperar um
encontro agradável quando havia tantas questões pendentes. O primeiro contato foi
tão ruim quanto ele poderia ter imaginado, e muito pior do que seus anseios. Ainda
assim, uma coisa ele havia percebido naquela noite ao ficar cara a cara com a parceira:
ela tinha uma língua deliciosamente cortante e não abaixou a cabeça mesmo quando
as sombras se descontrolaram na cozinha.
Deitou-se na cama escutando os passos dela ecoando pela escada e a porta do
quarto ao lado batendo com mais força que o necessário. Minutos depois ainda podia
ouvir o coração da garota batendo acelerado.
Sorriu para o teto ouvindo o seu próprio coração disparado no peito.
Só conseguia pensar que os próximos dias seriam muito interessantes.
CAPÍTULO 7
Batalha ante a centelha
Este livro é a luz no fim do túnel. Uma fuga desesperada do bloqueio criativo
que me pegou de jeito durante dois anos, mas que eu consegui afastar na força do
ódio. Mais do que isso, ele é a comemoração do aniversário de 1 ano de Interion e eu
me sinto uma grande filha da puta orgulhosa por conseguir entregar ele a tempo! Dito
isso, eu não poderia começar esse agradecimento sem declarar meu amor e minha
reverência a todos os leitores que permanecem ao meu lado, vibrando pelas conquistas
e surtando pela continuação da saga! Vocês são a força motriz de Interion e, a todos,
o meu mais sincero obrigada!
Preciso dizer que essa pequena obra jamais teria saído sem o apoio e a dedicação
de algumas (muitas) pessoas.
Em primeiro lugar, gostaria de expressar minha profunda gratidão à minha Beta,
Marina Antoniassi, que tem sido meu verdadeiro salva-vidas neste mar turbulento da
escrita. Quando me sinto à deriva, perdida nas águas profundas do bloqueio criativo,
a Mari prontamente mergulha e vem ao meu encontro, levando-me para lugares
melhores, onde posso navegar novamente por conta própria. Suas intervenções têm
sido como uma brilhante luz na escuridão, tornando a jornada da escrita muito menos
assustadora. Que possamos continuar navegando juntas por muitos mares literários,
superando os desafios e celebrando as vitórias. Mais uma vez obrigada, minha querida
Beta, por tudo o que você é e faz. Minha gratidão é eterna.
Ao meu marido, que é a minha rocha de sustentação e também o ouvido no
qual eu despejo todas as minhas ideias malucas. Obrigada por dizer que eu sou o seu
orgulho, mesmo quando tudo o que eu faço é andar de um lado para outro, reclamando
que não vou conseguir. Você é o melhor marido do mundo e sou grata ao universo
por nós dois existirmos no mesmo tempo e espaço. Amo você!
Ao meu ilustrador, Michel Gomes. Hoje, encho meu peito de orgulho e grito
aos quatro ventos: VOCÊ É O MAIOR QUE TEMOS! Sua habilidade de transformar
minhas palavras em magia visual é inigualável. Cada ideia abstrata que sai da minha
mente é traduzida por você com tanta realidade que nos faz acreditar que os
personagens saltaram diretamente para o mundo real. O que você realiza com um
simples lápis é uma forma de arte sublime, e tenho um imenso orgulho de poder
afirmar com todas as letras: VOCÊ É O MELHOR. Mais uma vez, obrigada por
acreditar no meu projeto.
À Carmen, minha revisora super-heroína. Não consigo nem começar a expressar
minha gratidão e felicidade por ter você neste time. Sinto-me verdadeiramente
abençoada por contar com alguém tão detalhista ao meu lado, moldando e
aprimorando cada aspecto da minha obra. Você é o meu anjo da guarda literário, e
eu não poderia pedir por uma “Edna” (de os Incríveis)" melhor para esta importante
missão de salvar minha obra de suas imperfeições. Sei que sou suspeita, mas acredito
sinceramente que você consegue extrair o melhor dela, tornando-a mais brilhante e
cativante a cada revisão. Obrigada, Carmen, por dedicar seu tempo e esforço ao meu
trabalho.
À Larissa, por ler essa obra quando ela ainda era só um projeto desordenado de
contos que mal passavam de frases perdidas e desordenadas. Obrigada por ajudar a
melhorar o texto e acreditar em mim quando eu dizia que iria ficar bom nem que fosse
na base do ódio.
Ao Eduardo Domingos, melhor amigo, inspiração para o Breno, e um chutador
de bunda de primeira quando eu preciso de um sacode. Obrigada por ser meu
termômetro de lirismo e, se um dia alguém me perguntar de onde saiu tanta palavra
poética, seu nome será o primeiro a ser citado. Amo você!
E, por fim, agradeço novamente às vozes da minha cabeça, que me acompanham
em todos os banhos e as viagens para o trabalho. Antes se chamavam Serguei e agora
assumiram a identidade de Kiara. Obrigada por não me abandonarem quando eu mais
precisava de vocês e, pelo amor de Deus, não me virem as costas novamente, não
enquanto esta saga estiver sendo escrita.
Sobre a autora: