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Copyright © 2022 Olívia Molinari

Capa e Diagramação: Thatyane Tenório / Olívia Molinari


Revisão da 1ª Versão: Barbara Pinheiro

Shutterstock, PNGTree

Molinari, Olívia – 2ª Edição – Publicação Independente, 2022.

Romance Contemporâneo

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens e acontecimentos


descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer
semelhança é mera coincidência

Todos os direitos reservados.

Proibida a cópia e reprodução, por quaisquer meios, sem a prévia


autorização por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido pela lei nº
9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Índice

Índice
Playlist
Dedicatória
Aviso
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Epílogo
Recadinho da Autora
Agradecimentos
Sobre a Autora
Playlist

Ouça as músicas que inspiraram essa história:

Spotify
Deezer
Dedicatória

Para a Olívia de 4 anos atrás que escreveu essa história

e agora viu o quanto amadureceu.


Aviso

Este livro é uma ficção.

Lugares, nomes, leis, facções, são frutos da minha imaginação.


Claro que tentei aproximar o máximo possível da realidade através
de pesquisas, mas para algumas coisas precisamos dar voz à
licença poética para fazer a história funcionar
.
Deixando claro que não compactuo com as atitudes dos
personagens em várias situações.

Por fim, o romance entre Lauren e Bruce não é fácil. É como estar
em uma montanha-russa, mas se você ler até o fim, vai se deliciar
com uma linda história de amor.
Prólogo

E eu sabia

Que o amor te deixaria aos pedaços


Oh, e eu sabia
O mais obscuro segredo do seu coração

Malibu - Hole

Bruce

“Herdeiro Bilionário faz doação para vítimas do furacão Irma”

― Senhor Hastings? ― Ergui os olhos do jornal que estava


em minhas mãos assim que ouvi a voz de Meredith na porta
entreaberta. ― Posso entrar?
Fechei o jornal e o coloquei de lado.

― Sim, claro.
Minha secretária abriu um sorriso caloroso e entrou em minha
sala, fechando a porta logo atrás de si.

Meredith Williams trabalhava comigo havia bastante tempo.


Éramos amigos, para ser bem sincero. Ela me conhecia muito bem
e acompanhou boa parte da minha vida, inclusive quando tudo
começou a dar errado.

― Já disse que pode me chamar de Bruce ― falei, quando


ela se aproximou da mesa. ― Você é a única nesta empresa que
tem a liberdade para isso.
Meredith sorriu ainda mais.
― Agradeço por isso, Bruce. Mas é a forçado hábito... ― Ela
retirou uma pasta do colo e a fitou por alguns segundos. ― Bem,
aqui está o que me pediu.

Ela estendeu a pasta e eu a observei por alguns segundos


antes de esticar o braço e pegá-la.

Sabia exatamente o que era aquilo, mas estava um pouco


receoso de abrir e encontrar algo que me chateasse pelo restante
do dia. Como se isso não acontecesse quase todos os dias.
― Conseguiu contato? ― perguntei, antes mesmo de abrir.
― Consegui um meio de contatá-la, mas queria que você
soubesse primeiro onde ela está e com quem está morando. Assim,
talvez, poderá me guiar na melhor forma de... lidar com a situação.

Respirei fundo e abri a pasta.


Havia várias fotos de Jessica, minha irmã mais nova. Em
algumas ela estava saindo do que parecia ser um bar. Em outras,
estava abraçada com uma outra garota de cabelos loiros, um pouco
mais baixa que ela.
O que me irritava era ver a forma como Jessica estava
vestida. Céus, seus cabelos estavam coloridos! E, porra, o que era
aquilo em sua mão? Um cigarro?

Eu ia ter um infarto.
― Nova Iorque? ― perguntei, mas já sabendo a resposta
conforme eu passava as imagens. Conhecia muito bem aquelas
ruas.

― Sim...

― E quem é esta fedelha? ― Atirei uma das fotos em cima


da mesa. Meu sangue estava fervendo aos poucos. ― Em quase
todas as imagens, Jessica está acompanhada por essa garota!

A garota das imagens me parecia ser a típica má companhia


que eu sempre alertei minha irmã a respeito. Porém, ela nunca me
ouviu e agora, estando a milhares de milhas de distância, eu tinha
perdido totalmente o controle sobre ela.
― Pelo que descobri, seu nome é Lauren e ela é a colega de
quarto da sua irmã. Já fazum pouco mais de um ano que elas estão
morando juntas.

― Como um casal? ― Ergui as sobrancelhas, surpreso.

― Não! Quer dizer, não sei. Acho que não, porque há relatos
de homens saindo do apartamento algumas noites por semana. ―
Meredith suspirou. ― Sem falar que me parece que esta tal de
Lauren tem um namorado. Como você pode ver nessa fotografia.
Na imagem havia um homem alto, branco e musculoso
saindo do prédio onde provavelmente elas estavam morando.

Atirei a pasta em cima da mesa e virei a cadeira,


esparramando-me para conter a vontade de levantar e preparar um
voo até Nova Iorque para buscar minha irmã pelos cabelos.

― Jessica me abandonou.
― Ela foi atrás de um sonho, Bruce.

― Sonho? ― Dei uma risada sem humor. ― Tolos são os


que sonham, Meredith. Temos que viver a vida real. O que é
palpável.
Ficamos em silêncio por vários instantes.

― O que devo fazer, então? ― ela perguntou.


Eu tinha as armas certas para trazer Jessica de volta. Sabia
que não seria fácil convencê-la, mas eu estava disposto a tudo para
voltar a ter o controle da vida da minha irmã mais nova. Inclusive,
deixá-la acreditar que eu apoiava a loucura que ela tinha em mente.
― Ligue para Jessica e diga que a quero de volta agora, sem
desculpas.

― Você sabe que falar assim não vai funcionar


.
Virei-me na direção de Meredith.

― Então pergunte o que ela quer para voltar. E diga que


estou disposto a fazer o que seja, desde que ela esteja de volta no
voo que vou providenciar ainda esta semana.
― Ok...
Meredith recolheu as fotos, a pasta e se virou para sair da
sala. Então parou e me fitou.

― E se ela quiser trazer a amiga?


Lidar com problemas além dos que a minha irmã
proporcionava, não estavam nos meus planos, mas eu não duvidava
que exigências como aquela estivessem dentro de sua cabeça.

― Que traga, mas avise bem que não quero problemas. Já


tenho o suficiente para lidar, não preciso de uma fedelha para
aumentar ainda mais as minhas preocupações.
Meredith assentiu e saiu da sala.
Respirei fundo acalmando-me, porque sabia que as coisas
voltariam ao seu devido lugar.
Capítulo 1

E todas estradas

Que temos que percorrer são tortuosas


E todas as luzes
Que nos levam até lá são ofuscantes

Wonderwall - Oasis

Lauren

“Herdeiro Bilionário faz doação para vítimas do furacão Irma”

Lancei o jornal em um canto qualquer do sofá e bufei.

Desde quando esses empresários se importavam com os


mais pobres? Com certeza, essas doações eram somente para
manter o nome, as aparências.

Joguei-me no sofá e suspirei quando ouvi Jessica cantando


debaixo do chuveiro, mesmo que eu já tivesse dito mais de um
milhão de vezes que chuveiro mais Jessica não era uma
combinação para canções inesperadas.
O problema era que ela não me ouvia.
Nunca.

Jessica e eu dividíamos um pequeno apartamento mal


cheiroso, nos subúrbios de Nova Iorque e compartilhávamos de uma
amizade sincera. Amizade que nos dava essa liberdade para falar a
verdade uma com a outra.
Apesar disso, eu sabia apenas algumas poucas coisas sobre
sua vida. Apenas o que ela quis compartilhar quando bateu em
minha porta após encontrar o anúncio a procura de uma colega de
quarto.
Jessica era uma menina rica, que fugiu de casa depois de
uma briga muito séria com seu irmão mais velho. Sei também que
ela veio da Califórnia apenas com uma mochila nas costas. Ela
também compartilhava do meu sonho de ser uma estrela da música
e acho que foi isso o ponto essencial para o início da nossa
amizade.

Peguei um maço de cigarros que estava em cima da mesinha


de centro e acendi um.

Não era viciada, mas gostava de fumar quando estava


estressada ou preocupada.
E aquele dia, eu estava bem preocupada.

Ouvi o barulho agudo do registro da água sendo fechado e,


logo depois, a porta do banheiro se abriu.

― Fumando de novo? — Jessica me repreendeu.


― Esse é o último. Eu juro. — Eu sempre dizia isso e ela
sempre acreditava.
Jessica deu de ombros e começou a andar de um lado para o
outro. Estava enrolada com uma toalha no corpo e a outra na
cabeça.
― Eu já disse que isso vai te fazer muito mal. — Ela
continuou andando de um lado para o outro, talvez procurando por
sua calcinha.
― Terceira gaveta — arrisquei.

Jessica me olhou com interrogação e logo depois sorriu.

― Eu tinha me esquecido que guardava aqui — explicou,


como se eu já não soubesse daquilo.

O apartamento em que vivíamos era bem pequeno,


bagunçado e, talvez, um pouco sujo. A pia de louças estava lá, mas
eu estava com preguiça de lavar e a nossa lava-louças antiga tinha
parado de funcionar.
A cômoda de roupas, que deveria estar no quarto, estava na
sala. O quarto era muito pequeno e mal cabia uma cama decente.

Infelizmente,aquilo era o que conseguíamos pagar com o


dinheiro que recebíamos com alguns shows que fazíamosnum dos
bares mais badalados da cidade. Após concluir nossos trabalhos de
servir as mesas, eu cantava e Jessica tocava o violão e, às vezes,
se arriscava na guitarra.

Eu sonhava com um dia que aquela situação mudaria. Meu


sonho era ser uma grande estrela do rock. Teríamos uma banda tão
famosa quantoNirvana, Guns and Roses, Kiss, AC/DC.
Um sonho distante e praticamente impossível,foi o que
minha mente disse pela milésima vez.
Fumei o restante do cigarro e Jessica terminou de se vestir.
Dali duas horas teríamos que ir para o bar novamente.
Geralmente conversávamos bastante, mas naquele dia
Jessica estava muito quieta.
Logo pela manhã ela recebeu uma ligação que fez questão
de descer o prédio para poder falar. Fiquei observando-a pela janela
e ela andou de um lado para o outro por quase meia hora com o
celular no ouvido. Quando ela subiu, o brilho de antes tinha sumido,
mas não quis dizer o que estava acontecendo. Eu, como boa amiga,
não a pressionei, mas estava me corroendo de curiosidade.

― Jess, está tudo bem? ― perguntei, enquanto ela escovava


os cabelos em frente ao espelho.
Ela parou, me fitou através dele e pela sua expressão, eu
soube que não estava nada bem.
Jessica deixou a escova de lado e veio em minha direção.
Sentou-se na mesinha de centro, de frente para mim.

― Lauren. — Seus olhos carregavam uma mistura de tristeza


e anseio. ― Eu sei que as coisas não estão muito boas aqui para
nós.
É claro que não estavam.
O trabalho no bar não era tão bom assim, afinal, Ianficava
com boa parte das gorjetas e nos dava o que ele achava que nos
manteria naquele lugar.
Ian era o chefe mais cretino que eu tive o desprazer de
conhecer.

― Meu irmão ligou e quer que eu volte a morar com ele.


― E você quer ir embora? — disparei.
Eu sabia que eles tinham problemas e, no fundo, não queria
que Jessica me deixasse.
Ela era parte de mim.

― Para falar a verdade, eu sinto falta dele e da minha


pequena. — Jéssica tinha uma sobrinha, que dizia ser a menina
mais linda e doce do mundo. ― E, segundo ele, as coisas mudaram,
sabe?
Meu coração já estava se contorcendo no peito ao pensar em
perder aquela que se tornou minha melhor amiga nos últimos
meses.
― Eu disse que voltaria, mediante uma condição.

― Ah é? — perguntei, tentando disfarçar a minha


inquietação.
Olhei para o maço de cigarros e quase peguei outro, se não
fosse o olhar meticuloso de Jess.
― Eu disse que volto, se você puder ir comigo.

O quê?
Arregalei os olhos no mesmo instante.

― Você está falando sério? — perguntei com a voz abafada.


Jessica sorriu tranquilamente.
― Estou sim. Por quê? — Cruzou os braços. ― Não temos
nada que nos prenda aqui em Nova Iorque, Lau.

Pulei do assento. Ficar perto dela estava me deixando


nervosa e quando eu estava assim, não conseguia pensar com
clareza.
Olhei para a mesinha de centro.
Meus cigarros.

Estavam bem perto dela. Se eu tentasse pegar, ela


provavelmente os jogaria pela janela.
― Você não tem nada que te prenda aqui... Eu tenho... Os
shows no bar — falei, como se aquela fosse a única resposta
plausível de que eu não poderia acompanhá-la.
Oras, eu nunca tinha pisado fora da cidade.
O que diabos eu ia fazer em outro estado?

― Não teremos futuro algum naquele lugar. — Ela também


se levantou e veio até mim. Puxou minhas mãos e me encarou. ― A
Califórnia é o berço das oportunidades, sei que teremos uma
chance maior lá. Além de tudo, vamos ter o apoio do meu irmão,
que já disse que poderemos viver em sua casa, assim
economizamos com aluguel e essas coisas e podemos focar em
nossa música.
Jessica tinha razão por um lado, mas por outro, como eu
poderia aceitar viver de favores na casa dos outros?
― Por favor, vamos ― pediu novamente. ― O babaca do Ian
nem vai ligar se você está aqui ou não.
Além de ser o meu chefe, Ian era um peguete que sabia
como fazer uma mulher gozar. Então, sempre que eu lhe dava
espaço, ele pulava para a minha cama.
― Meu irmão mora com a filha numa casa gigantesca. Você
vai ter sua privacidade, do jeito que gosta.
A proposta era tentadora, porém, existia um pequeno
problema.
― Você sabe que não gosto de ricaços, não é? ― Bufeie me
afastei dela. ― Para mim, eles todos são uns safados que só
pensam em dinheiro.
Apesar de não conhecer pessoalmente o irmão de Jessica,
não achava que ele fosse diferente. Pela forma que ela se referia a
ele quando conversávamos, o tal homem devia ser muito difícil.

― Meu irmão não é assim. Ele é um pouco difícilsim, ok...


mas você também é, então acho que vocês podem se acostumar
com a presença um do outro.
Olhei para ela e cruzei os braços.

― Não foi você que chegou aqui odiando o próprio irmão?

Jessica balançou as mãos e se sentou no sofá novamente.


― Essas são outras questões, Lau. Tivemos um passado
complicado, mas, por favor, vamos pelo menos tentar... Uma
experiência de um mês. O que acha?
O que eu tinha a perder mesmo?

Jessica sempre conseguia me convencer das coisas que


ninguém mais conseguiria.
― Tudo bem, eu vou com você. Mas, se eu não me adaptar,
pode ter certeza de que eu volto no primeiro ônibus.

Minha amiga abriu um radiante sorriso e veio para cima de


mim, me abraçando forte.
― Eu sabia! Mal posso esperar para chegarmos lá. Vai ser
tão bom!

Eu não sabia se aquilo seria realmente bom. Tudo dependia


de como era o irmão da Jéssica. Se ele fosse um velho, chato e
mal-humorado... Teríamos sérios problemas.
― Ah! — Jessica arregalou os olhos ao me soltar. ― Não vai
poder levar nossas coisinhas
.

Pronto. A diversão já começava a acabar.


― Eu vou esconder, eu juro.
Jessica balançou a cabeça negativamente.

― Nem pensar! Meu irmão é muito rígido e se souber que


usamos isso de vez em quando, ele não nos deixa chegarmos nem
perto da filha dele.
Assenti, derrotada.

Também não queria arrumar problemas com um sujeito que


eu sequer conhecia. Se existia uma criança na casa, eu faria de
tudo para não lhe mostrar esse tipo de comportamento.
Mesmo que aquilo significasse dias de mau humor.
Capítulo 2

Vejo esta vida como uma videira que balança

Balança meu coração além do limite


E no meu rosto está aparecendo sinais
Procure e você deve encontrar

Counting Stars - OneRepublic

Bruce

― Caroline já desceu? ― perguntei a Harry, meu mordomo,


enquanto ajeitava a manga da minha camisa.
― Sim, senhor. Ela está tomando café da manhã no salão
principal.

― Ok, obrigado.
Virei-me para seguir até o salão principal, mas fui
interrompido por Harry.
― Os quartos já estão preparados para nossas convidadas.
Tem algo mais que o senhor queira deixar pronto?
Meus olhos se fixaram no piso quadriculado enquanto eu
pensava se precisava blindar a casa pelo que estava por vir.
Não por Jessica, porque eu conhecia minha irmã e se ela não
tivesse se corrompido no tempo em que ficou longe, ela ainda
continuava a mesma lady de sempre. O problema era por sua
acompanhante, Lauren Stewart, uma jovem que eu sequer
conhecia.

Quais seriam suas manias? Seus defeitos? Sua forma de


falar?
Eu já estava me arrependendo de ter concordado com
Jessica mesmo antes de conhecê-la.
― Por enquanto é só isso, Harry. Já mandei deixarem o carro
pronto para buscá-las no aeroporto essa tarde. Quero que sejam
recebidas como se fossem estrelas do rock, quem sabe assim
minha irmã sossega dentro de casa.

Harry deu uma risadinha e assentiu.


― É claro, senhor.
Respirei fundo e me encaminhei até o salão principal,
encontrando minha filha sentada na ponta oposta da mesa, lendo
um jornal.

― Por que não vê as notícias pelo Ipad? ― perguntei,


aproximando-me para depositar um beijo em sua cabeça.

― Eu gosto do tradicional, papai ― Caroline respondeu,


colocando-o de lado. ― Aprendi com o melhor. Mesmo que hoje em
dia a tecnologia tenha tomado conta de todas as esferas da vida.
― Você é uma garotinha muito inteligente. ― Sentei-me no
lado oposto da mesa e me servi com suco de laranja. ― E eu tenho
a sorte de ser seu pai.

Caroline sorriu.
Minha filha tinha apenas dez anos e era a minha vida. Eu a
amava imensamente e estava fazendo de tudo para dar o melhor a
ela.

O problema era que muitas vezes eu percebia em seus olhos


azuis cinzentos uma tristeza que eu não sabia de onde vinha.
Caroline não se abria comigo e a única pessoa que podia conseguir
isso, estava se aventurando em Nova Iorqueem busca de uma vida
que não lhe cabia.

― A tia Jess chega hoje? ― Carol perguntou.

― Sim... está ansiosa para vê-la?


― Muito! ― Ela sorriu, animada. ― Quero que ela me conte
tudo sobre Nova Iorque e o que fez por lá. Sem falar que quero
muito conhecer sua amiga, que vai vir morar conosco. Ela vai vir,
não vai?

― Vai.

De repente a sensação de que a influência daquela mulher


não seria boa para a minha filha me assolou.
Que porra.

― Carol ― falei, erguendo a cabeça e fitando seus olhos. ―


Não quero que se apegue a essa pessoa que sequer conhecemos.
Eu só concordei que ela viesse para cá, para ter sua tia de volta.
Mas... se ela não for como nós, é óbvio que vou dar um jeito de
despachá-la.
― Como nós? ― Ela franziu o cenho. ― Mas...

― Educada, defensora dos bons costumes e todas essas


coisas ― a cortei. ― Bem, agora vamos terminar o café, porque
preciso deixá-la na escola antes de ir à empresa.
Carol respirou fundo e a alegria de antes se esvaiu com
rapidez.
Pensei em perguntar o que estava acontecendo, mas eu
sabia que ela não responderia.
Não via a hora de Jessica estar de volta.

Caroline estava crescendo e eu precisava de ajuda.

Lauren

A semana passou voando.


Jessica e eu acertamos alguns detalhes sobre a viagem,
arrumamos nossas coisas e partimos em um avião super luxuoso,
segundo Jessica, cedido pelo seu próprio irmão, para que
pudéssemos viajar com conforto até o nosso destino final.
Califórnia.

Nunca pensei que eu iria ter essa oportunidade tão cedo. É


claro que eu sempre sonhei em viajar para vários lugares do mundo.
Las Vegas estava na lista porque eu queria me casar lá. Sabe
aqueles casamentos que eram feitos pelo cover do Elvis Presley?
Pois é, eu queria isso, mesmo que a palavra casamento fosse bem
assustadora e estivesse em último dos últimos planos na minha
vida.
Não foi difícilme desapegar das minhas coisas, afinal, não
eram muitas. Algumas roupas velhas joguei fora e tentei resgatar o
máximo que pude, incluindo a minha coleção de CDs antigos.
Ok, eu sabia que estávamos na era digital do Spotify
, Itunes,
porém, não conseguia deixar para trás os discos das minhas bandas
favoritas.
A música era parte de mim.

A parte mais difícildos preparativos foilidar com Ian.Quando


o procurei no escritório, ele surtou e fez algumas ameaças, que eu
tentei apaziguar dizendo que ficaria apenas alguns dias. E, talvez,
eu ficasse mesmo só alguns dias, afinal, eu não acreditava que
conseguiria ficar muito tempo na casa dos outros. Ainda mais, na
casa de pessoas ricas que deveriam ter inúmeras manias chatas.

Respirei fundo, tentando aplacar aquelas sensações. Talvez


aquilo fosse pelo medo de deixar tudo ― que na verdade, não era
nada ― para trás. Ou talvez, meu rumo estivesse mesmo prestes a
mudar.
Eu não sabia.
Mas também era algo que não queria pensar naquele
momento.
Peguei os fones de ouvido dentro de uma bolsinha que
ganhamos ao entrar no avião, pluguei no buraquinho da tela
disponibilizada para o nosso lazer e procurei algo que me
agradasse.

Mesmo sendo um voo rápido, adormeci e acordei somente


quando chegamos ao destino. Ao descer do avião, percebi que
realmente deixei uma vida para trás.
― Animada, Lau? ― Jessica perguntou, com um sorriso de
orelha a orelha.
― E por que eu estaria? ― retruquei, tentando disfarçar a
animação perceptível em meu rosto.
Jessica revirou os olhos e descemos a escadinha da
aeronave. O dia estava ensolarado, mas o vento era fortee batia no
meu rosto, bagunçando meu cabelo.
― Bem, talvez aquilo te anime um pouco. ― Jessica apontou
para frente. Apesar do sol, mesmo assim, consegui avistar a coisa
mais linda que eu já vi em toda a minha vida.
Uma limusine preta brilhante.
Não que fosse a primeira vez que eu via uma. Nova York
estava cheia delas, mas...

O que mais o destino me reservava?


― Isso é coisa do Bruce. Tão generoso. ― Jessica
resmungou com certa resignação na voz.

Eu não sabia quais eram os problemas entre eles, mas, céus,


aquilo era uma limusine. Generoso ele era sim.
Suspirei e entreguei a mochila para um dos funcionários que
apareceu na minha frente.
― Vai lá, eu sei que você quer correr. ― Jessica sorriu,
presunçosamente.
E foi exatamente isso o que eu fiz. Corri como uma criança
quando vê um doce, mal cumprimentei o motorista, que estava em
pé ao lado da porta aberta e me joguei dentro da limusine.

Eu poderia morar ali pelo resto da minha vida.


Jessica entrou logo em seguida. Eu sabia que ela estava
satisfeita por estar novamente em sua cidade natal, vivendo a sua
vida de sempre. Por vezes, ela me dizia que sentia falta de casa,
principalmente, de sua família.
Conforme o carro seguiu o caminho, Jessica me contou mais
alguns detalhes de como era a sua vida ali, na Califórnia. Jurou que
me levaria para conhecer a Disney e outros pontos turísticos
imperdíveis, sem falar que me apresentaria os amigos que deixou
para trás.

― Tenho certeza de que você irá se dar bem com Josh. Ele é
um gato. Alto, forte e olhos verdes. Estudamos juntos e sim, ele era
o capitão do time da escola.
― E agora? Faz o que da vida? ― perguntei, enquanto
levava um punhado de amendoim à boca.

Limusines tinham amendoins e águas disponíveis em um


compartimento secreto.
Era perfeito.

― Bem, da última vez que nos falamos, ele foi expulso da


universidade por transar com a professora.
Ri ao imaginar o tipo de cara que Jessica estava
descrevendo. Aquele típico sujeito que deveria se achar mais do
que realmente era.

Para mim, uma coisa estava bem definida:não estava a fim


de me envolver com outros sujeitos como Ian.Eu já estava farta de
lidar com homens que só queriam me usar e sequer ligavam para os
meus sentimentos.
Respirei fundo e tentei deixar de lado aquelas memórias
ruins. Estava na Califórnia e queria que aquilo fosse algo incrível na
minha vida, tanto é que já havia feito um roteiro dos lugares que eu
queria conhecer.

Depois de um tempo, com o carro ainda em movimento,


Jéssica pegou o celular e ligou para alguém. Algumas trocas de
palavras, ela bufou e desligou, com uma careta chateada.

― O que houve? ― perguntei, curiosa.


― Ah... Não é nada ― respondeu, com a voz fraca. ― Meu
irmão disse que talvez vai chegar muito tarde. Disse para não
esperarmos por ele.
Bufei e mudei de assento, ficando ao lado dela. Passei um
dos braços ao redor dos seus ombros e depositei um beijo em seu
rosto.

― Não ligue para ele ― sussurrei. ― Me desculpe, nem


conheço seu irmão, mas já o acho um babaca. Se quiser, eu posso
dar um soco na cara dele.
Quem, em sã consciência, desprezaria a chegada da irmã
depois de tantos meses sem vê-la?
Jessica riu.

― Você não conhece o Bruce ― refletiuela, aninhando-se no


meu colo. ― Ele não é... Bem, ele é complicado demais.

― Não interessa. ― Bufei. ― Tantos anos praticando Muay


Thai devem servir para alguma coisa.
Jessica riu e depois de um bom tempo disse:
― Sabe, você é impossível, mas é uma boa amiga.

― Eu sou boa em tudo, minha querida.


O restante do caminho foi em absoluto silêncio, cada uma de
nós mergulhada em nossos próprios pensamentos. Eu ainda não
sabia o que esperar da vida e odiava pisar em terreno
desconhecido, mesmo sabendo que aquilo era necessário para o
meu tão sonhado futuro promissor.

Olhei pela janela e vi o motorista entrar em uma rua cheia de


casas e árvores. Ele parou em frentea um imenso portão preto, que
se abriu após alguns segundos de espera.

― Chegamos! ― Jessica ajeitou a postura e sorriu, animada.


O carro seguiu bem devagar e entrou ao redor de um jardim
verde. Muito verde. Bem no centro havia uma fonte com um anjinho
no topo e vários outros ao seu redor, derramando a água.

Quando o carro finalmente parou, olhei para o lado direito e


avistei o palácio que estava à nossa espera. Se não estivéssemos
na Califórnia, eu diria que aquela era a Casa Branca e de lá de
dentro sairia o presidente dos Estados Unidos.
Tomei cuidado para que a saliva não escorresse da minha
boca, enquanto analisava cada detalhe do suntuoso palácio. Saímos
do carro e, como se algo estalasse na minha cabeça, olhei com
raiva para Jessica.
― O que foi?

― Ainda pergunta? ― retruquei. ― Largou tudo isso para


viver em um muquifode menos de trinta metros quadrados?
Ela deu de ombros.
― Gostei da experiência.

Ricos e suas manias estranhas.

Um dos empregados se aproximou e, após nos


cumprimentar, levou nossas malas. Bem, eu só tinha uma, mas
Jessica devia ter trazido todo o nosso apartamento.
Nós subimos os degraus e passamos por uma grandiosa
porta de cor mogno. O hall de entrada era absurdamente lindo. O
piso era em detalhes quadriculados preto e branco e uma
gigantesca escadaria ligava ao andar de cima.
Era tudo tão branco, tão branco, que chegava a doer os
olhos.

― Uau! ― Assobiei ao girar ao redor de mim mesma,


enquanto admirava os quadros pendurados nas paredes. Era tudo
muito luxuoso e eu comecei a me sentir uma adolescente rebelde,
vestindo apenas uma camiseta preta, calça jeans e tênis All Star.
Jessica sumiu por uma das portas e eu me aproximei de um
dos vasos, suspenso em uma espécie de coluna de gesso. Parecia
ser algo muitíssimo valioso e, bem, eu não conseguia controlar a
curiosidade mediante algo que brilhava tanto.

Toque-me, Lauren”, o vaso parecia dizer
.

Com uma espécie de entusiasmo sem medidas, que eu não


sabia de onde vinha, coloquei a mão naquela preciosidade e, ao
ouvir a voz de Jessica, todo o encanto se desfez e o vaso só não
atingiu o chão porque consegui segurá-lo a tempo.
― Que susto! ― ralhei, colocando o bendito objeto de volta
no lugar e com o coração a mil por hora. ― Não faça mais isso!
― Acho melhor não tocar nessas coisas. Meu irmão é um
apreciador das artes e essas coisas antigas devem custar anos de
salário mínimo.

Respirei fundo, agradecendo aos céus por não ter quebrado


aquele objeto esquisito. Começar uma estadia sendo alvo do ódio
do irmão da Jessica não era uma boa estratégia.
Um homem de estatura média, branco, cabelos grisalhos e
um terno preto, se aproximou de nós. Imediatamente, o fitei da
cabeça aos pés.
― Lau, esse aqui é o Harry, nosso mordomo ― Jessica o
apresentou.

Harry olhou para ela com um brilho nos olhos. Pelo jeito,
gostava muito dela. Cheguei mais perto do homem e resolvi quebrar
o gelo com uma piadinha.
― Harry Potter? Onde fica o próximo trem para Hogwarts?

Jessica e eu rimos da piada ridícula, porém, o pobre


mordomo não entendeu. Ficamos em silêncio e logo depois ele
começou a rir.

Ele era lento ou riu para não me deixar sem graça.


― Harry Potter? Talvez ― disse ele. ― Embora, a minha
varinha já não funcione tão bem.
Desta vez, nós não rimos.
Que tipo de piada era aquela?

O homem, sem graça, pigarreou e deu uma leve tossida.


― Eu vou acompanhar a senhorita até seu quarto ― disse
ele, de forma polida. ― O patrão não está em casa, mas pediu que
eu as acomodasse muito bem. Ah, e claro, o senhor Williams disse
que virá para o jantar.
― Quem é esse? ― indaguei para Jessica.

― Josh ― ela respondeu e olhou para o mordomo. ― Ele


disse se virá sozinho?
― Disse que talvez trará alguns amigos.

Jessica assentiu e sorriu como nunca.


Imagineio quanto ela realmente deveria ter sentido falta de
tudo aquilo. Das pessoas, dos amigos, daquela gigantesca casa,
porque, se fosse eu em seu lugar, teria sentido falta, sem dúvidas.

Harry ― que não era Potter ― me guiou até o meu novo


quarto. Ele ficava no final do corredor e fiquei satisfeita por isso,
afinal, eram tantas portas iguais que eu certamente me perderia.
― Espero que goste do seu novo quarto, senhorita Stewart.

Harry abriu a porta e eu fiquei paralisada analisando o


cômodo por mais tempo que o normal. A cama era grandiosa, mas a
decoração me desagradou. Eram todas em tons pastéis e aquilo,
definitivamente, não combinava comigo.

― Uma parede na cor preta ou pink, vai ficar bem legal ―


falei para o mordomo. ― O que você acha?
Harry abriu uma expressão desconfortável.
― Não acho que o senhor Hastings irá gostar que mexam na
decoração sem sua autorização.
Revirei os olhos, imaginando o sujeito sem graça que deveria
ser o tal Bruce Hastings.
― Se o quarto é meu, não vejo problemas em alterar a
decoração para me sentir melhor ― falei. ― Mas vamos ver isso
outra hora, pois no momento, eu quero um bom banho e comer.
Consegue me preparar um sanduíche?
― É claro, senhorita.
Harry virou as costas para sair, mas antes, eu toquei seu
ombro.
― Sem formalidades. Me chame apenas deLauren.
Capítulo 3

Eu fico chapada e eu adoro ir até o chão

Então corações continuam quebrando e cabeças rolando


Você sabe, é assim que a história se passa
Ex’
s & Oh’
s – Elle King

Lauren

Depois que o mordomo saiu para preparar o meu lanche,


fechei a porta e olhei ao redor, mais uma vez, analisando cada
detalhe daquele cômodo que mais se parecia com um quarto de
princesa.
Eu nunca tive um lugar como aquele.
Quando morava com minha mãe, dormia na sala porque o
meu quarto er para um de seus namorados drogados. Na maior
parte do dia, eu ficavana rua e ia para casa apenas para dormir, por
isso, não me importava em usar o sofá.

Aproximei-me da cama e me joguei nela. O colchão era


macio, coisa que eu nunca tinha provado antes. Sentei-me e
observei o único defeito do local: aquelas paredes de cores
horríveis. Uma parede preta e minha guitarra ao lado da janela
ficariam perfeitas naquele lugar
.
Levantei e fuiaté a janela grandiosa, que me dava uma ótima
vista para o jardim da frente e da fonte dos anjinhos. Num canto
mais afastado, um jardineiro cuidava das flores.
Eram tantas cores que eu fiquei impressionada. Quem diria
que uma pessoa como eu acabaria dentro de uma casa tão
majestosa?
Afastei-me da janela e abri uma porta dupla, que se revelou
ser um enorme closet. Entrei no cômodo e observei todas aquelas
prateleiras vazias. Infelizme
nte, vazias continuariam, pois eu não
tinha muitas roupas. Sem falar que, um closet como aquele, era
destinado para acomodar marcas luxuosas e não trapos velhos
como os meus.

Eu não podia ficar pensando muito nisso, por isso saí do


cômodo e fecheias portas. Um dia eu teria roupas bem legais, feitas
por estilistas famosos, mas, por enquanto, continuaria comprando
minhas blusinhas no brechó mais próximo.

Sentei-me, mais uma vez, na beirada da cama e olhei ao


redor.

Bruce Hastings... gostaria de saber quantos anos ele tinha.


Jessica não havia comentado isso comigo. Eu sequer vi uma fotodo
homem.
Ouvi poucas coisas sobre ele, afinal, Jessica sempre parecia
estar magoada ou chateada por algo relacionado a ele. Issofezcom
que eu idealizasse um velho mal-humorado e chato, daqueles que
só sabiam pegar no pé dos outros.

Eu esperava, de coração, que ele não implicasse comigo.


Estava curiosa também para conhecer a sua filha. Será que
ela era uma daquelas crianças mimadas que fazia todos ao seu
redor quererem manter distância?
Bufei só de pensar em ter que aguentar uma criança assim.
Na verdade, eu sequer gostava de crianças e, sem dúvidas, aquela
não faria diferença nenhuma para mim. As únicas coisas que me
importavam eram a minha vida e a minha futura carreira.
Bateram na porta e quando abri, fiquei feliz por ver que era a
minha comida.

Estava morta de fome.

Acordei assustada, me perguntando onde eu estava e por


que me sentia tão suja. Foi então, que me lembrei de que eu deveria
ter ido tomar banho, porém, eu estava tão cansada que adormeci
logo após comer aquele lanche maravilhoso.

Peguei meu celular para ver as horas. Ainda tinha quarenta


minutos até o horário que era servido o jantar.
Já estava escuro e um vento frio entrava pela janela. Levantei
e fui até ela, a fechei, não sem antes observar um pouco mais
daquela linda casa.
Afastei-me da janela e abri outra porta, que me levou ao
banheiro.
Ele era enorme, com uma banheira redonda bem branquinha.
O piso era em mármore claro. Havia dois espelhos gigantes, onde
eu podia me ver de corpo inteiro. Sem falar no cheirinho bom,
característico de limpeza.

Eu realmente estava em uma casa de princesa.


Tirei minhas roupas rapidamente e deixei jogadas ali no chão
mesmo. Aproximei-me de um dos espelhos, usando somente a
minha calcinha e sutiã surrados. Observei cada parte do meu corpo.
Estava magra demais e isso, talvez, se desse ao fato das vezes em
que eu ia dormir sem comer nada.
Senti as lágrimas virem aos meus olhos ao pensar que minha
vida poderia ter sido diferente. Por que Deus permitiu que eu tivesse
nascido em um lar desprovido, principalmente, de amor?

Nunca soube como era me sentir amada. Nunca encontrei


pessoas que me fizeram querer ser alguém na vida. Se eu tinha o
sonho de me tornar uma estrela da música, isso vinha de dentro do
meu coração e não porque alguém disse que eu tinha talento. Pelo
contrário, minha mãe fazia questão de dizer que aquilo tudo era uma
grande perda de tempo.

Respirei fundo, abri e fechei os olhos algumas vezes para


mandar ao infernoaquela vontade de chorar. Eu estava ali com uma
pessoa que gostava de mim e me tratava como se eu fosse sua
própria irmã.
Jessica foi a única que não me rejeitou e, muito menos, me
julgou pelas minhas escolhas. Jessica era a irmã que eu queria que
fosse de sangue.
Olhei para a banheira e resolvi deixar aqueles pensamentos
tristes para lá. Uma belezinha redonda e branca me esperava e eu
não podia perder a oportunidade de estreá-la.

E se aquilo tudo fosse realmente um sonho?

Nunca imaginei que um dia eu fosse concordar com Jessica


em relação a homens bonitos.
Geralmente, Jessica gostava de loiros com porte atlético e
cara de babaca, enquanto eu preferia homens com cabelos
compridos, usando jaqueta de couro, no melhor estilo Rock and
Roll. Porém, ao colocar os olhos em Josh, foi como se eu tivesse
visto o paraíso.
Ele entrou pelas portas com o seu ar atlético e juvenil,
usando uma camisa polo azul, calça jeans escura, tênis branco e foi
impossível não olhar aquele sujeito dos pés à cabeça.
― Não te falei que ele era um gato? ― Jessica sussurrou e
eu apenas assenti, com um sorrisinho nos lábios.
Josh levantou o olhar e abriu os braços.
― Ora, ora, Jessica voltou e ainda trouxe novidades...

― Eu sempre trago boas novidades ― ela respondeu e eu


sabia que eles estavam se referindo a mim. Jessica desceu os
degraus restantes e se jogou nos braços de Josh quando ele foi ao
seu encontro.
Ele a rodopiou no ar e ela riu, animada com tudo aquilo e, no
fundo, eu também me senti feliz por ver que ela estava finalmente
de volta ao seu lar.

Josh a colocou no chão e depositou um beijo demorado em


seu rosto. Desci o restante dos degraus, não querendo me
intrometer naquele momento tão fofo,mas para não parecer uma
esquisitona e ambos me olharam.
― Uma belanovidade ― disse Josh, dessa vez, me olhando
da cabeça aos pés.
É, realmente era o tipo de cara que eu já estava acostumada.
Babaca e infantil.

― Obrigada, Josh.
Ele arqueou a sobrancelha e fitou Jessica.
― Se falou meu nome, certamente, falou meus podres para
ela.

― Pode ter certeza que sim. ― Jessica deu de ombros e


Josh voltou a olhar para mim.
― E você, linda, como é o seu nome? ― Ele puxou minha
mão.
Apesar do galanteio forçado,seus olhos eram tão verdes que
quase me hipnotizaram.
― Lauren Stewart.

Ele abriu um sorriso torto e depositou um beijo nas costas da


minha mão.
― Um belo nome, para uma bela mulher, afinal.

Puxei a minha mão de volta. Eu já conhecia aquele tipo de


sujeito. Galanteador até conseguir algo mais, depois, metia o pé
sem piedade alguma. Infelizm ente, eu já tinha passado na mão de
alguns como ele.
― Ué, você não disse que iria trazer mais gente? ― Jessica
perguntou.
Josh se virou para ela.
― Danna pediu desculpas, mas teve um compromisso de
última hora. O Brandon virá daqui a pouco. Disse que está louco de
saudade de você.

Olhei para Jessica com a sobrancelha arqueada. Ela nunca


mencionou nada sobre nenhum de seus amigos. Quem era esse
Brandon? Será que era algum ex-namorado?
Ela apenas deu de ombros, como se não fossepertinente me
falar sobre seus amigos antigos.
Harry ― que não era Potter ― veio ao nosso encontro, com
sua forma polida de sempre.

― Senhorita Jessica, o jantar já vai ser servido.


― Obrigada, Harry.

O mordomo assentiu e se retirou pela porta lateral. Josh


enfiou a mão nos bolsos da calça e levantou um pouco os ombros
largos.

― Bem, acho que seremos somente nós.


― Provavelmente ― Jessica concordou. ― A Lau ainda não
conheceu toda a casa, mas... ― Ela olhou pra mim. ― Vamos
comer primeiro e depois eu te mostro tudo.

― Tudo bem.
Josh, Jessica e eu seguimos para a sala de jantar. Uma
grandiosa mesa de cor mogno estava no centro, com várias
cadeiras. Perguntei-me quantas pessoas moravam naquela casa.
Segundo Jessica, apenas seu irmão e a filha. Qual era a
necessidade de ter uma mesa tão grande?
O jantar seguiu tranquilamente.

Jessica contou para Josh um pouco das coisas que


aprontávamos em Nova York, inclusive, uma vez em que dormimos
na cadeia. Por sorte, um advogado apareceu e nos libertou. Acredito
agora, que esse advogado tenha aparecido por ordem do senhor
Hastings.

Contamos também sobre os shows que fazíamos para


sobreviver e nessa, descobri que Josh tocava guitarra.
― Acredite, eu já toquei em alguns festivais ― disse ele. ―
Mas, dei uma parada por causa da Universidade.
― Da qual você foi expulso ― Jessica completou e nós
rimos.

― Eu não tenho culpa de ter esse rostinho de galã de


cinema.
Ri com o comentário convencido e continuei me deliciando
naquele jantar maravilhoso. Costelas assadas ao molho barbecue
faziam a minha cabeça.

― Eu só fui expulso porque me delataram ― Josh falou. ―


Nossos encontros eram sempre numa cabana abandonada perto do
Campus.
Jessica revirou os olhos.

― Por que não se encontravam na casa dela? Sei lá.


Qualquer outro lugar que não fosse a Universidade?

Josh deu de ombros e nos fitou com aquela cara de quem


adorava viver perigosamente.

― Se eu fosse à casa dela, chamaria mais a atenção. Fui


expulso, embora, meu pai esteja cuidando para que eu volte em
breve.
Claro que o dinheiro resolvia tudo. Josh poderia ter sido
expulso, mas aquilo era temporário. Era assim que as coisas
funcionavam.Os endinheirados sempre se saíammelhor em tudo e,
era por isso, que eu não me dava bem com eles.
― Apesar de tudo, no final das contas, eu saí como o herói
da Universidade.

― Por quê? ― perguntei, mas já sabendo a sua resposta.


Ele sorriu torto novamente.
― Transei com a professoramais gostosa de todo o Campus.
Quer mais o quê?
Jessica riu, mas eu não achei graça daquilo. Josh só estava
confirmando ser o babaca que eu já imaginei assim que coloquei os
olhos nele.
― Você conhece São Francisco? ― ele perguntou, mudando
de assunto e olhando pra mim.

― Não... ― Suspirei. ― Não tive chance de viajar para outro


lugar. Essa é a primeira vez.
Seus olhos brilharam como se uma ideia absurda tomasse
posse de sua mente.

― Que tal irmos ao Bar do Black?


Jessica arregalou os olhos e balançou a cabeça como se
dissesse para ele ficar quieto.

― A Jessica adorava ir lá ― contou ele, com um sorrisinho.


― A única regra de lá é a seguinte...
― Josh, não faça isso ― Jessica o repreendeu. ― A
Lauren... Você não a conhece.
Ele me fitou, pensando se continuava falando ou não. Eu
odiava quando as pessoas começavam a falar algo e simplesmente
paravam. Agora, teria que ir até o fim.

― Hey! Pode terminar essa conversa.


Josh riu e mesmo sob os protestos da Jess, ele continuou:

― A única regra é sair de lá bêbado.


― Porra, Josh. ― Jessica bufou. ― Você não a conhece
bêbada. Não deveria ter feito isso.
― Eu não fico bêbada. ― Semicerrei os olhos.

― Ah é? ― Josh ergueu uma sobrancelha. ― Eu duvido.


Vocês mulheres são todas fracas para bebidas.
Jessica balançou a cabeça negativamente.

― Você não conhece a Lauren ― repetiu.


Eu não menti quando disse que não ficava bêbada. Claro,
com facilidade. Quando eu bebia muito mais do que eu deveria, aí,
nem mesmo o inferno me aguentava.

― Essa eu quero ver ― determinou ele, ao se levantar e me


estender a mão. ― Aceita o desafio, senhorita Stewart?

Olhei para Jessica e ela balançava a cabeça negativamente.


Josh era um tipinho que não valia nada, mas eu não tinha nada
programado para o restante da noite e nem para o dia seguinte.

O que custava sair e me divertir um pouco?


Estendi a mão e encaixei na dele.
― Desafio aceito.
Capítulo 4

Eu esqueci que eu era uma vadia ruim, trágica

Quebrando todas as regras porque eram apenas hábitos


Cinderela está morta agora, caixão
Você pensou que o sapato se encaixava, mas eu

Eu esqueci que eu era uma vadia ruim


Cinderella’
s Dead - Emeline

Bruce

Tracei um risco meticuloso no papel, atento a todas as formas


que já estavam ali desenhadas, enquanto uma das sinfonias de
Mozart tocava ao fundo.

O principal negócio da minha famíliavinha da construção civil


e eu adorava aquilo, apesar de também adorar me aventurar nos
outros negócios que colecionava.

Comecei a desenhar prédios quando tinha seis anos e nunca


parei. Fiz inúmeros projetos, fui condecorado, prestigiado, e muito
bem avaliado em todos esses anos de carreira.

― Bruce? ― A voz de Meredith me fez erguer a cabeça. ―


Não vai embora? Já é tarde.
Olhei para o relógio do computador. Já passava das 20h e
meu trabalho ainda estava no começo.

― Daqui a pouco. Preciso deixar isso adiantado, porque


talvez amanhã ficarei no meu novo empreendimento.
Ela vestiu o casaco preto e assentiu.
― Bem, sua irmã chegou hoje. Achei que estaria louco para
vê-la.

― Estou, mas já avisei que vou chegar tarde. Ainda estou me


preparando mentalmente para o que vou encontrar.

Meredith sorriu.
― Garanto que ela continua a mesma.

Recostei-me na cadeira e respirei fundo.

― Espero que sim.


Os olhos da minha secretária voaram na direção do sofá,
perto da lareira, onde Caroline dormia tranquilamente.

Eu tinha ido buscá-la no colégio mais cedo após a diretora


ligar dizendo que ela estava se sentindo mal. Achei melhor que ela
ficasse comigo no escritório antes de encontrar a tia e a amiga que
eu ainda precisava averiguar se era uma boa pessoa.

― Então eu já vou. Até amanhã, Bruce.


Meredith me olhou tempo demais. Sorriu tempo demais.

― Até amanhã.

Ela virou as costas e se foi,talvez, esperando uma atitude da


minha parte.
Olhei para Caroline.

Talvez Jessica conseguisse me ajudar representando uma


figura feminina para a garota, mas, ainda assim, ela precisava de
uma mãe.
Meredith era uma mulher elegante, tinha bonitas curvas,
cabelos sedosos na cor de mel e lábios que não seriam difíceisde
beijar. Era claro que eu não a amava, mas não podia dizer que seu
corpo não me chamava a atenção.

E eu sabia que ela se atraía por mim.

Não foram poucas as vezes que o clima ficou estranho entre


nós.

Mas nunca tomei nenhuma atitude.


Talvez por medo... por não querer me envolver com ninguém.
Talvez porque nunca ninguém me fez sentir da forma que aquela
mulher fez.

Já fazia muitos anos, mas as feridas ainda doíam, como se


nunca fossem cicatrizar.

Atirei o lápis longe e passei as mãos pelos cabelos.


Quando eu ia esquecer essa porra?

Quando a minha vida ia finalmente ter um novo começo?

Precisava olhar com mais atenção para Meredith, talvez ela


fosse a minha salvação.

~
Lauren

Josh teve a brilhante ideia de pegar o carro de Jessica


emprestado.
Claro que alertei para o fato de o veículo estar guardado há
muito tempo e talvez não funcionasse da maneira que deveria.
Porém, carro novo funcionava de qualquer jeito. E eu percebi isso
quando ele virou a chave e pegou de primeira.

De última hora, o tal Brandon chegou e Jessica decidiu ficar


para colocar o assunto em dia. Logo quando o vi, percebi que não
era descolado como Josh, nem babaca. Ele parecia ser reservado e
tinha uma carinha de “nerd”.
Ele usava uma camiseta branca, calça jeans larga, um blusão
com capuz e óculos com armação preta. Nem de longe parecia ser
o tipo de cara que Jessica gostava, mas não discuti quando ela
preferiu ficar com ele.
Josh e eu fomos, então, até o tal Bar
“ do Black”.

Arregalei os olhos quando Josh estacionou em frente a um


galpão mal iluminado e de cara pensei que ele havia me
sequestrado.
― Hey! Pode parar com isso! Eu quero descer! ― Tentei
soltar o cinto.
― Opa! O que foi, garota? Calma!
O cinto não soltava, então, olhei para Josh, que me fitava
como se eu fosse louca.

― Pensa que eu não sei o que quer? ― Apontei o dedo no


nariz dele. ― Nem pensar!
Josh levou algum tempo para entender o que eu disse e
quando isso aconteceu, caiu na gargalhada.
Qual era a graça mesmo?

― Desculpa, Lauren ― ele disse, em meio às risadas. ―


Mas aqui é o Bar do Black.
Olhei para fora, querendo acreditar no que ele dizia, mas eu
só via um galpão velho, sem luz por fora.
― É um lugar “secreto”
― explicou. ― Somente pessoas
Vips sabem da existência.
― Hummmm...

Josh balançou a cabeça.


― Ok, você é gata e desperta coisas em mim, mas não sou
louco a esse ponto. ― Ele sorriu e eu corei, envergonhada, por
pensar que ele faria uma coisa assim. Mesmo no escuro, tenho
certeza que ele percebeu. ― Eu gosto de conquistar aos poucos.
Josh passou a mão singelamente pelo meu rosto. Um toque
que não me agradou muito, mas o que eu podia fazer?

― E com a professora, foi aos poucos que você a


conquistou? ― perguntei em tom de deboche.
― O caso com a professora foi coisa do momento, que eu
pretendo não repetir.

Bufei e olhei para a janela novamente. Eu não tinha o direito


de me meter na vida dele e, se ele achava que era certo “pegar”
professoras e acabar com a carreira delas, tudo bem. Mas, comigo
as coisas funcionavam de forma diferente.
― Bem, vamos? ― falei, desviando o foco da conversa.
Josh assentiu e me ajudou a soltar o cinto de segurança. Ele
saiu primeiro e, logo em seguida, abriu a porta para mim. Pegou a
minha mão e me guiou até uma porta de ferro, onde digitou um
código num aparelho ao lado.

A porta se abriu e fiquei surpresa ao ver que o Bar não era


nada do que eu imaginava. Pelo menos, não era nem comparado ao
que eu trabalhei em Nova York. Era limpo, arrumado e várias
pessoas da alta sociedade o frequentavam.
― Não te falei que só os Vips vinham aqui? ― Josh
comentou em meu ouvido, enquanto nos dirigíamos a um dos
estofados com uma mesinha na frente.
O ambiente estava escuro, iluminado por luzes coloridas e,
num palco afastado, uma banda de Punk Rock tocava algumas
músicas que eu conhecia.

Josh se sentou ao meu lado, perto demais e sussurrou em


meu ouvido:
― Lembra-se da regra que eu te falei?
― Beber até cair?
― Exato.

― E quem vai levar o carro?


― Quem não cair primeiro.

Algumas horas depois, eu já estava com dúvidas em relação


a quem eu era. Nunca fui fraca para bebidas, mas as que serviam
naquele lugar, derrubariam qualquer cavalo.

Josh era fracodemais. Um bebê, para ser mais exata, porque


depois de quatro doses, saiu gritando pelo bar, dizendo que via um
unicórnio rosa na sua frente.
É claro que ninguém mais aguentou um bêbado como ele e
me pediram que nos retirássemos, antes que ele fosse,literalmente,
jogado na rua.
Relutei um pouco, porque não gostava que me mandassem
fazeralgo. Mas, quando vi que continuar ali não mudaria em nada a
minha vida, peguei as chaves no bolso do Josh e pedi para alguns
marmanjos o levarem até lá fora.

E, foi ainda mais engraçado, quando ele quis dar uma de


valentão e bater nos caras que tinham feito o favor de levá-lo.

Incrível, não?
Ajeitei Josh no banco do carona e ele logo adormeceu. Achei
melhor que continuasse dormindo, pelo menos, eu não teria que
aguentar os escândalos de um bêbado fragilizado.
Abri a porta e sentei no banco do motorista. Já nem sabia
mais que horas eram e também não me importava. Tudo o que eu
queria era chegar à mansão e dormir.
Passei as mãos pelo rosto, tentando aliviar aquela sensação
de álcool nas veias.

Porra! Aquele era um carro automático! Como infernos eu ia


dirigir aquilo?

Josh continuava roncando ao meu lado e nesse momento eu


quis voltar no tempo e jamais sair com ele.

Por que eu me metia nessas confusões, mesmo?


Olhei para o painel do carro, ele era totalmente diferente do
que eu estava acostumada. Em Nova Iorque, andei com alguns
caras que tinham um carro velho, daqueles que a cada quarteirão, a
gente precisava descer para empurrar.
Acalme-se, Lauren. V
ocê consegue.

Tentei lembrar-me de como Josh fezquando saímosde casa.


Ele girou a chave e apertou algum botão.
Olhei no painel e procurei pelo bendito botão.

― Na sua frente, gatinhaaa... ― Josh murmurou, meio


acordado, como se soubesse que eu estava perdida naquele carro
desgraçado.

E, mesmo bêbado, Josh ainda tinha razão.


O botão estava bem na minha frente.
Respirei fundo, tentei me acalmar, girei a chave, mais uma
vez, e apertei o botão. Foi, então, que ouvi o ronco maravilhoso
daquela belezinha de última geração. Josh voltou a dormir e pensei
em acordá-lo para me dizer qual era o próximo passo, visto que
aquele negócio não tinha o pedal de embreagem.

Porra, um carro sem pedal de embreagem!


Empurrei a marcha no número 1 e enfiei o pé no acelerador.
Mesmo em meio ao caos, consegui sair do lugar e chegar até uma
avenida.

O problema não estava em assimilar direção, álcool e o


caminho de casa. Nem o carro, que quando eu achava que estava
em uma velocidade, já estava em outra dez vezes maior. O
problema estava em como eu chegaria em casa.

EU NÃO CONHECIA NADA naquele lugar.

Segui na avenida, apanhando um pouco com a direção. Se


ele não tinha embreagem, aquele outro pedal era do freio, concluí,
quando precisei frear quase em cima de outro carro.
― Tem que contar para a mamãe... ― Josh resmungou,
oscilando entre acordado e dormindo.

Eu ainda queria conhecer a tal professora que foi corajosa o


suficiente para trepar com um babaca como Josh.
― Cala essa boca, filho da puta bêbado ― murmurei,
tentando me concentrar no volante.
Parei o carro no acostamento e peguei meu celular. Não
havia como voltar para casa sem usar o GPS. Por sorte, eu sabia o
endereço da Jess e não foi difícil encontrar
.

Santo GPS.
Santo quem criou um celular com GPS.

Coloquei o celular no colo e liguei o carro novamente. Dessa


vez, foi mais fácil sair e não apanhei tanto para colocá-lo na
avenida.

Estávamos seguindo bem, nos aproximando de um semáforo,


quando Josh se sentou ereto e arregalou os olhos, parecendo que
estava vendo o próprio Satanás.

― SOLTA ISSO!
Ele gritou e puxou o volante, fazendocom que eu perdesse a
direção e ultrapassasse o sinal vermelho. Tudo aconteceu de forma
rápida, quando senti o impacto, nos arremessando longe.
Minha cabeça bateu no volante e eu fechei os olhos.

Foram segundos de silêncio enquanto minha consciência


oscilava e eu tentava entender o que tinha acontecido.
Céus, alguém tinha batido em nós.

Ou foi ao contrário.

Ouvi uma gritaria do lado de fora e levantei a cabeça,


assustada. Um homem estava do lado de fora olhando para o capô
do seu carro, enfiado na lateral traseira do nosso. Ele parecia ser
um empresário, pois usava um terno e tinha cara de gente rica.
Eu ainda estava um pouco lenta por causa do álcool, mas
sabia muito bem a merda que tinha acontecido. Olhei nos olhos do
homem, que já estava pegando o celular para ligar para alguém.

Ele iria chamar a polícia.


O vidro do carro estava fechado e Josh continuava ao meu
lado, resmungando de dor. Não conseguia ouvir nada do que o cara
dizia ao celular, exceto, ver a fúria com que ele me encarava.

Meu vidro era escuro, mas... ele podia me reconhecer,


descrever o meu rosto para a polícia.

Eu não podia me foder por causa das loucuras de Josh.

Girei a chave, mais uma vez, e apertei o botão. Pelo menos,


uma coisa boa aconteceu: o carro ainda funcionava!
― O QUE PENSA QUE ESTÁ FAZENDO? — O homem
gritou ao avançar no vidro do meu lado, porém, enfiei o pé no
acelerador.

Eu tinha acabado de chegar à cidade, não podia me dar ao


luxo de passar alguns anos atrás das grades.

Por isso, fugi... Sem peso na consciência.


Capítulo 5

Eu não ligo se sou desajeitada

Prefiro ser assim do que ser um de hipster de merda


Eu sou a princesinha filha da puta
Você ainda me ama

Rock n Roll – Avril Lavigne

Lauren

Quando nasci, minha mãe deveria ter me dado o sobrenome:


“confusão”.Na minha primeira noite em uma nova cidade, consegui
a façanha de bater no carro de alguém.
Nervosa e sem GPS ― porque meu celular voou longe ―
ainda consegui encontrar a mansão.

Talvez fosse o instinto e o medo que me ajudaram.

Os portões se abriram e eu entrei, rezando para que Jessica


estivesse dormindo. Com toda aquela confusão eu não tive tempo
de descer do carro para analisar os estragos no carro da minha
amiga.

Jessica ia me matar, sem dúvidas.


Parei o veículo em frente a entrada principal. Josh abriu a
porta do passageiro e colocou as pernas para o lado de fora. Ele
ainda oscilava entre acordado, dormindo e bêbado.
Combinação adorável.
Respirei fundo, checando o que aconteceu. A lateral do
motorista estava toda afundadae aquilo certamente ficariabem caro
para arrumar. O que eu ia fazer, sendo que nem um emprego eu
tinha?

Se o carro daquele sujeito tivesse acertado um pouquinho


mais a frente, teria pegado em mim e, provavelmente, eu não teria
sobrevivido para contar essa história.
Pelo menos, a vida Deus me conservou e eu deveria ser
grata por isso. Esperava que Jessica também pensasse da mesma
maneira.
Eu precisava de ajuda. E se aquele sujeito viesse atrás de
mim? Talvez ele tivesse anotado a placa ou... Não sabia. Respirei
fundo mais umas dez vezes e entrei correndo na casa.
Jessica teria que me ajudar. Eu não queria ser presa.

Subi as escadas correndo. Olhei para o corredor do lado


direito e, então, percebi que eu não sabia qual era o maldito quarto
da minha amiga.

Como eu podia ter deixado passar uma coisa dessas?


― JESSICA! SOCORRO! — gritei, como se alguém estivesse
prestes a me matar.
Aquela foi a única maneira que encontrei de que ela saísse
correndo de onde quer que estivesse. Gritei mais algumas vezes e
não é que deu certo?
― Mas que porra...? ― Ela saiu da biblioteca com uma
careta assustada. ― Lau? Você está pálida! O que houve?
Desci as escadas e fui de encontro a ela.

― Você precisa me ajudar, é sério.

Jessica me puxou.

― Meu Deus, venha comigo. Vamos para a sala e você me


conta tudo.
Atravessamos o hall de entrada e entramos na sala,
passando por uma porta dupla gigantesca.

O local era enorme, decorado em tons pastéis com objetos


dourados e quadros de pintura pendurados na parede. Mas, naquele
momento, eu estava tão assustada e tremendo, que mal conseguia
reparar nos detalhes.
― Jess... Eu... ― Respirei fundo, pensando em como se
dava uma notícia daquelas. ― Bem, eu bati o seu carro.
― Vo... você o quê? ― Jessica arregalou os olhos e nesse
momento eu quis me matar com minhas próprias mãos.

Ela não esperou que eu respondesse e se aproximou das


janelas, onde tinha a visão de seu carro recém batido e de Josh
caído entre a porta e o gramado.

― Puta que pariu, Lauren! ― ela xingou, após algum tempo.


― Eu sabia que vocês não deveriam ter saído.
Se tivesse um buraco naquele lugar, eu certamente entraria
lá e nunca mais sairia.
― Eu... Nossa, Jess, estou muito envergonhada ― falei, me
sentindo a pior das pessoas. ― Nós estávamos vindo embora e, de
repente, esse maníaco do Josh deu um berro dentro do carro e
agarrou o volante. Na hora, eu perdi o controle, passei no vermelho
e... Bom, foi isso o que aconteceu.
Jessica se afastou da janela e se aproximou de mim com um
rosto indecifrável.
― Mas, vocês bateram onde? Estão machucados?

Abri os braços.
― Por sorte, estamos bem e acho que o sujeito que bateu em
nós também está.
Jessica arregalou os olhos, mais uma vez, e eu soube que
nesse momento ela me mataria.
― LAUREN STEWART! ― ela gritou, desesperada. ― Vocês
bateram em outra pessoa???

Assenti e me joguei no sofá, enfiando meu rosto entre as


mãos. Eu estava verdadeiramente fodida. Jessica não ia me perdoar
e o cara ia me encontrar, de um jeito ou de outro.
― Sim... E, bem, acho que ele ia chamar a polícia, mas eu
fugi.
― Ok, eu não acredito que você fez isso. ― Jessica olhou
para o alto. Pelo jeito como falava, parecia muito brava. ― Sério,
não brinque comigo dessa maneira.
Levantei-me e a segurei pelos ombros.

― Eu não quero ser presa, porra! Você precisa me ajudar!


Sim, claro que parecia que eu era cara de pau ao pedir ajuda
para a dona do carro que eu havia acabado de bater, mas Jessica
era minha amiga, afinal de contas.
Jessica não parecia me ouvir, pois olhava fixamente para
além de mim, enquanto eu chacoalhava seus ombros. Ouvi alguns
burburinhos, mas eu tinha quase certeza de que era Josh que
resolveu se levantar e entrar na casa.

― Jess, você está me ouvindo? ― perguntei, encarando


seus olhos. ― Eu preciso da sua ajuda! Se aquele sujeito me
encontrar, eu vou ser presa!
― Tiaaaaaaaa!
Ouvi a voz de uma criança, mas não me virei para ver quem
era. É claro, a sobrinha da Jess tinha roubado toda a atenção que
deveria ser minha naquele momento.

Afastei-me de Jessica, sem me virar para ver a menina. Eu


queria vê-la, é claro, mas eu tinha coisas bem mais importantes
para pensar do que dar atenção para uma pirralhinha.
E foi aí que eu ouvi a voz masculina.
― Que bom que você chegou, Jessica ― o homem disse,
parecendo nervoso. ― Você não tem ideia do inferno que acabou de
acontecer comigo.
Enfieiuma mecha de cabelo atrás da orelha, como se eu não
estivesse ouvindo direito. Pisquei os olhos inúmeras vezes e, se
houvesse a possibilidade, teria piscado os ouvidos também.

Aquela voz...
Meu coração gelou, minhas pernas tremeram e eu quis sair
dali correndo, para o lugar mais longe possível.
― Meu Deus, Bruce! ― Jessica murmurou. ― O que houve?
Você está com um corte na sobrancelha!

― Uma louca cruzou o sinal vermelho, pode acreditar?


Respirei fundo, tentando imaginar quantos acidentes de
trânsito poderiam acontecer na mesma noite e na mesma cidade.
Era possível, claro. Contanto, que o sujeito envolvido tivesse a
mesma voz do que gritara comigo na avenida.
Ok, eu estava paranoica... Havia bebido demais. Não era ele,
não podia ser. Ele nem sabia quem eu era...
Ainda, de costas para eles, tentei me tranquilizar.

― O pior de tudo é que a filha da puta fugiu! ― esbravejou


ele.
― EU NÃO FUGI!― Gritei, virando-me para eles. ― Quer
dizer, eu fugi, mas...
Os olhos escuros do homem me fitaram como se ele
quisesse voar no meu pescoço e me estrangular até a morte.

Será que não era uma boa hora para pegar um avião e voltar
para Nova Iorque?
― Então, foi você ― ele disparou, apoiando as mãos na
cintura. ― Muito bem.
Jessica estava com os olhos arregalados.

― Meu Deus, Bruce. Por onde você entrou que não viu o
meu carro batido?
Ele balançou a cabeça.
― Entrei pelo portão dos fundos, porque o meu maldito carro
teve que ir direto para a garagem ― respondeu ele, me encarando
de forma assustadora. ― Mas eu vou dar um jeito nisso, agora
mesmo.
― Hey, o que pensa que vai fazer? ― Levantei a voz, assim
que o vi pegar o celular.

― Vou fazer com que pague pelo conserto do meu carro,


nem que para isso, vá para a cadeia.
Desgraçado.

Sem pensar nas consequências, corri para cima dele e pulei


de encontro ao seu corpo, tentando pegar o celular das suas mãos.

Bruce me olhou assustado e travamos uma pequena batalha


para ver quem conseguia ficar com o aparelho. No entanto, apesar
dos meus esforços, ele era bem mais alto.
Dei-me por vencida quando, mesmo com o aparelho no alto,
ele conseguiu discar o número da polícia. Jessica abraçou a
menininha que nos interrompeu e me olhou com apreensão.

― Sim, sim. Eu encontrei a infratora. Uma bela coincidência


da vida... ― disse ele, afastando-se de mim. ― Ok, eu não vou
deixá-la escapar.
Eu estava totalmente fodida.
Abri a boca para xingá-lo de alguma coisa, porém, Jessica
ergueu a mão e num gesto claro, pediu que eu me acalmasse.

Bruce deu as costas para nós e continuou falando mais


algumas coisas, que eu nem prestei à atenção devido ao meu
estado de estresse, mau-humor, nervosismo e vontade de chorar.
― O policial estará aqui dentro de alguns minutos ― disse
ele, ao se virar e me encarar novamente. ― Espero que a senhorita
aprenda que quando há um acidente de trânsito, deve sair do carro
para, pelo menos, saber se a outra parte envolvida está bem. ― Ele
deu um passo e se aproximou. ― Está cheirando a álcool ― disse
como se fosse para si mesmo. ― Sabia, sua delinquente, que havia
uma criança no carro?

As lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.

― Me... me... perdoa.


― Perdão? ― Ele ergueu as sobrancelhas. ― Agradeça aos
céus por nada ter acontecido à minha filha ou eu teria o prazer de
vê-la apodrecer atrás das grades.
Dizendo essas palavras, ele se afastou e puxou a mão da
garotinha.
― Vamos, Caroline, você precisa descansar.

A menina me olhou com pena e se foi junto com o pai.


Mais lágrimas rolaram pelo meu rosto enquanto eu me jogava
no sofá, completamente envergonhada.
Era óbvio que nunca teria sorte na vida. Pela primeira vez,
quando uma oportunidade de mudança surgia, eu conseguia a
façanha de aprontar alguma.

Jessica se aproximou e tocou meu braço.


― Eu vou conversar com ele ― falou baixo. ― Acalme-se.

― Já comecei bem, pelo visto.


Jessica se sentou ao meu lado.

― Bruce está nervoso... ― disse ela. ― Mas amanhã estará


mais calmo. Não o provoque, pelo amor de Deus. A primeira
impressão já foi péssima.
Olhei para Jessica, querendo perguntar o que mais eu
poderia fazer para provocar seu querido irmão. Ela sabia que eu não
tinha um histórico bom com ricaços, ainda mais quando eram
grosseiros e...
― Será que se eu pedir desculpas novamente, ele vai
aceitar?

― Não sei. Fique aqui, vou tentar falar com ele.


Jessica levantou e saiu da sala de visitas. Encostei a cabeça
no sofá macio e respirei fundo. Se Bruce havia pedido que ela
voltasse, era porque gostava dela e... Se aquilo fosse verdade, ele
certamente a ouviria.

Tinha também o fato de que eles brigavam muito.


Só eu mesmo para me meter em uma confusão com um
riquinho engravatado. Mesmo com o nervoso, não pude deixar de
notar que Bruce não era velho como eu imaginei.
Eu poderia até dizer que ele era bonito, se não fosse o mau-
humor estampado em seu rosto. Para ajudar, seus olhos eram tão
negros que eu poderia jurar que sairiam dois corvos lá de dentro,
para comer os meus restos mortais.

Não sabia quanto tempo se passou, mas, de repente, senti


uma mão encostar-se à minha. Abri os olhos imediatamente e dei de
cara com a sobrinha da Jessica. Olhei mais de perto e constatei que
seus cabelos eram um pouco mais claros que os da sua tia e ela
tinha um pouco de sardas perto do nariz. Dessa vez, usava óculos,
o que lhe garantia uma aparência de gente inteligente.
Usava também um pijama dos Minions
.
Que mistura estranha.

― Como é o seu nome? ― ela perguntou, me encarando


muito de perto. Provavelmente, estava pensando que eu era uma
criminosa.

― Lauren. E o seu?
― Caroline.
― Humm.

Ela me analisou mais alguns instantes e depois se sentou ao


meu lado.
― Quantos anos você tem? ― perguntou.
― Vinte e três. E você?

― Dez.
― Humm.
Que me chamassem de chata, mas eu era assim. Não tinha
muito papo com crianças porque as achava chatinhas e irritantes.
Por sorte, Caroline parecia ter passado a fase de chatice de uma
criança comum.

― Meu pai realmente está furioso com você.


Não me diga!
Engoli a vontade de ser mal-educada, afinal, a garota não
precisava de uma resposta dessas. Ela só me parecia um pouco
intrometidinha
.

― Não foi por querer. ― Cruzei os braços. ― A culpa foi do


Josh.
― É, eu sei ― disse ela. ― Vocês saíram para beber no bar
do Black e, de repente, ele ficou louco e quis tomar a direção de
você.
Arregalei os olhos e fitei a menina. Como diabos ela sabia
daquilo?
― Ele já fez isso com uma amiga da minha tia ― respondeu
ela, como se tivesse lido meus pensamentos. ― Claro, antes de ela
ir embora daqui.
― Filho da puta... ― praguejei, baixinho, mas daílembrei que
ela era só uma criança que provavelmente nunca tinha ouvido um
palavrão antes. ― Desculpa, Caroline. É que estou chateada, sabe?
O pior de tudo é que acertei o carro do seu pai. Ele vai me odiar
para o resto da vida.
Enfiei novamente o rosto entre as mãos e, de repente, senti
as mãos pequenas de encontro às minhas costas.

― Provavelmente. Mas não acho que vá te mandar para a


cadeia.
― Que Deus te ouça, garotinha.
Olhei para a miniatura de Jessica e ela sorriu para mim. Não
sabia explicar o que aconteceu, mas, pela primeira vez, me afeiçoei
a uma criança.

Quando eu estava prestes a perguntar algo sobre ela, um


furacão engravatado entrou na sala, com Jessica em seu encalço.
Fiquei em pé e ele se aproximou de mim. Perto demais para que eu
pudesse sentir o seu perfume amadeirado.
Seus olhos escuros me encararam e eu tentei adivinhar de
qual palavrão ele iria me xingar. Mas não, a raiva que eu vi antes,
parecia ter diluído. Pelo menos um pouco.
― Eu não vou prestar queixa ― ele disse, me olhando muito
seriamente. ― Mas fique ciente de que aqui, nesta casa, temos
regras e é bom você se adequar a elas.

― Bruce... Calma. ― Jessica se aproximou e o tocou no


ombro, mas ele não a ouviu.
― Eu conheço garotas como você ― continuou. ― Que são
mimadas e só fazem merda.
Meu sangue ferveuimediatamente ao ouvir aquelas palavras.
Quem aquele sujeito pensava que era para falar comigo daquela
maneira?
― Olha aqui ― comecei, porém, ele me interrompeu.

― Olha aqui, você. ― Ele deu mais um passo, ficando ainda


mais próximo. ― Quero que fique longe da minha filha. Você não é
uma boa influência e se antes eu já tinha me arrependido de ter
concordado com Jessica de trazer você, agora eu tenho razões
suficientes para isso.
Abri a boca, sem saber o que responder para aquele
grandalhão. Ele me olhou como se eu fosse uma doença
contagiosa, se afastou e puxou sua filha pelo braço.

Jessica me fitou, sem graça, e eu apenas me sentei, sem


saber o que falar e nem como agir.

― Lau, desculpa por isso. ― Ela se aproximou. ― Bruce teve


uma briga séria com a mãe da Carol e... Depois o acidente. Dê um
tempo a ele, por favor.

― O que seu irmão pensa que eu sou? ― perguntei, ainda


encarando o nada.
― Ele falou da boca para fora... Imagina, ele nem te conhece.

― Ele acha que me conhece ― murmurei. ― Mas se ele


pensa que vai mandar em mim, está muito enganado. Bruce
Hastings pode achar que manda em tudo e em todos, mas ele vai
ver que com Lauren Stewart as coisas são diferentes.

Levantei-me furiosa e saí da sala pisando duro até meu


quarto. Abri a porta e a bati com força.Se existia uma coisa que me
deixava estressada, eram pessoas preconceituosas que falavam,
sem ao menos, conhecer a outra pessoa.
Meu coração estava pesado e as lágrimas caíram assim que
me sentei na cama. Eu já deveria estar acostumada com as
pessoas que me tratavam mal. Na escola e nas ruas, fuium saco de
pancadas... Até o dia em que cansei.

O irmão da Jessica, como eu tinha previsto, era um arrogante


e insensível. Tudo bem, eu fugi do local do acidente, mas custava
ele me ouvir? Saber o que realmente tinha acontecido? Eu estava
com medo, assustada...
Errei feio, mas estava arrependida.

Mas ele não sabia com quem estava lidando. Se ele queria
um desafio, eu estava bem disposta a aceitar.
Passei a mão em meu rosto e sequei aquelas lágrimas.

Como eu poderia mostrar ao senhor Hastings que ele mexeu


com a pessoa errada?
Um sorriso tomou conta do meu rosto ao constatar que eu
sabia exatamente o que fazer.

“Fiquecientede que aqui,nesta casa, temos regras e é bom


você se adequar a elas.”
Uma coisa que eu odiava na vida era seguir regras.
Peguei meu celular e acessei o Google. “Lojade tintas para
paredes”. Salvei o endereço que encontrei na memória do celular
.

Ahhh, meu novo quarto ficaria com a minha cara e eu estava


louca para que Bruce visse isso bem de perto.
Capítulo 6

Princesa, de que você precisa?

As estrias em suas artérias


Cicatrizes em sua malignidade
Qual é! Qual é!

Obcecada por si mesma, mas fraca


Não venha rastejando para mim
Nós vamos jogar o seu lixo tóxico na rua
Miss Narcisist – Courtney Love

Lauren

No outro dia, acordei bem cedo, pelo menos, mais cedo do


que eu estava acostumada. Vesti uma calça jeans escura, camiseta
branca e tênis All Star. Penteei meus cabelos e os deixei soltos.
Eles eram bem lisos e isso facilitava as coisas.
Peguei meu celular, minha carteira e saí do quarto. A casa
estava em total silêncio e presumi que Jessica ainda estava
dormindo. Ela sempre foi a última a levantar quando estávamos em
Nova Iorque.
Desci as escadas e olhei para os lados.
Poderia ir até a cozinha ver se havia algo para beliscar antes
de sair.

Virei-me e meu coração quase parou quando dei de frente


com uma pessoa.
― Bom dia, senhorita Stewart.
― Meu Deus, Harry que não é Potter! ― praguejei, levando a
mão ao peito. ― Não faça uma coisa dessas. Meu coração é fraco
demais para sustos.
O mordomo abriu um meio sorriso.

― Peço perdão, senhorita.


― Tudo bem. Jessica ainda está dormindo?

― Está sim. A senhorita gostaria de tomar seu café da


manhã?

Eu sempre acordava com muita fome, mas depois daquele


susto, até perdi a fome.
― Não, obrigada. ― Afastei-me em direção à porta. ― Se a
Jess me procurar, diga que saí para dar uma volta.

Saí pelas portas e observei o céu limpo. São Francisco


costumava ter muita neblina, pelo que eu tinha ouvido falar, mas eu
estava com sorte pois aquele era um belo dia para fazer uma
corrida.

Desci as escadas da mansão e caminhei alguns metros até o


portão principal. Um senhor estava varrendo as folhas do jardim e
perguntou se eu precisava de ajuda. Dispensei e abri o portãozinho
que dava para a avenida.
Ainda era bem cedo, mas havia pessoas caminhando com
seus cachorros e algumas outras correndo, bem no estilo fitness.
Coisa que eu deveria ser, mas era difícil deixar de comer porcarias.
Fechei o portão, coloquei meus fones de ouvido e continuei
caminhando pela calçada. Alguns dias antes, Jessica colocou
algumas músicas dos meus discos na memória do celular.
Enquanto caminhava, tentei encontrar a música ideal.

Até que senti um impacto forte contra meu corpo.

― Hey! ― Levantei o rosto, arrancando o fonede ouvido com


força. ― Não olha por onde... ― Não consegui terminar a frase ao
ver quem era a pessoa que havia esbarrado em mim.

Seus olhos negros violentos me olharam com fúria enquanto


arrancava também seus fones.
― Garota, você que não olha por onde anda!
Bruce Hastings tinha que aparecer logo de manhã para
infernizar a minha vida?
Respirei fundo, tentando não arrumar confusão.
― Ok, senhor encrenqueiro. Agora, se me dá licença...

Quando eu ia passar, ele encostou a mão na parede ao


nosso lado, bloqueando a minha passagem.

― Onde a Jessica está?


Olhei para ele, incrédula, com a pergunta. Foi, então, que
notei como era o seu rosto de verdade. Com a confusão da noite
anterior, eu só tinha conseguido vê-lo através de um véu de fúria. E
qualquer pessoa fica feia quando estamos com ódio dela.
Só que agora, talvez por estar mais calma e cheia de planos
para infernizar o senhor engravatado, consegui ver como ele
realmente era.
Bruce Hastings tinha o rosto quadrado, bem desenhado.
Maçãs do rosto protuberantes, uma barba rala, olhos escuros e
sobrancelhas grossas. Seu nariz era fino e reto e seu corpo, bem,
ele não era nenhum Jason Momoa da vida, mas tinha alguns
músculos definidos.
― Eu que sei?

Ah, Bruce também tinha inúmeras tatuagens ao longo dos


braços, o que o tornava bem sexy.
Lembrei-me de que achei que ele era um velho mal-
humorado.
Velho ele não era, absolutamente. Mas mal-humorado?
Era meio irmão de satanás.

Seus olhos negros fitavamo meu rosto e comecei a me sentir


incomodada com a intensidade deles.
O que caralhos ele queria?
― Olha... ― começou ele, com cautela. Então respirou fundo
e disse: ― Bem, deixa para lá.

Ele recolheu o braço e voltou a caminhar, afastando-se de


mim. Fiquei por alguns instantes sem saber o que falar. Além de
mal-humorado, era doido.
Olhei para trás e o vi entrar pelo portão de ferro. Continuei
caminhando, tentando fingir que as últimas horas não tinham
acontecido em minha vida.

Coloquei os fones de ouvido e achei a música que eu queria.

Cheguei até o endereço com a ajuda do GPS do celular. A


loja era grandiosa, com coisas para todos os gostos. Escolhi
algumas latas de tinta e um papel de parede de caveiras. Gastei até
o último centavo que eu tinha, mas iria valer a pena.
Só de ver aquele sujeito surtando, já seria como meu salário
caindo dentro da carteira.
O funcionário da loja garantiu que entregaria em algumas
horas. Eu estava ansiosa para colocar a mão na massa e
transformar aquele cômodo.

Depois de sair da loja, voltei rapidamente para a mansão.


Jessica já tinha acordado e estava tomando café, junto com seu
irmão e Caroline.
― Lau, você está bem? ― Ela virou a cabeça para trás, me
encarando. ― Fiquei preocupada quando Harry disse que você
tinha saído logo cedo. Pensei que já tinha me abandonado.
Ela fez um beicinho e eu balancei a cabeça. Depois, encarei
Bruce, que estava lendo algo em seu Ipad e a menina.
― Bom dia a todos. ― Tentei ser educada. ― Desculpa não
te acordar, Jess, mas eu precisava resolver algumas coisas.

Ela sorriu.
― É claro. Senta aqui, aposto que você está com fome.
Olhei de relance para Bruce, esperando que ele dissesse que
eu era uma aberração e que deveria tomar café na cozinha, junto
com os empregados. Mas ele não fez isso. Continuou concentrado
em sua leitura.

Sentei ao lado de Caroline e de frente à Jessica. Harry me


serviu um belo suco de frutas e eu peguei algumas torradas.
O silêncio reinou.
Certamente Bruce não comentou sobre termos nos esbarrado
na rua, algum tempo antes.
― Pode me dizer aonde foi? ― perguntou Jessica.

― Ah... Eu queria ver algumas coisas.


Menti, porque se eu dissesse a verdade, Jessica surtaria.
Queria que as coisas acontecessem naturalmente.
― Caroline, tome logo o seu café. Daqui a pouco tenho que
deixar você na escola e ir para o escritório.

― Sim, papai.
― Se quiser, posso levá-la ― Jessica falou. ― Não tenho
nada para fazer o dia todo.

― Não é necessário ― ele respondeu, com a mesma


seriedade de sempre.
Sério? Ele ia ser assim até com a própria irmã?

Inacreditável.
Caroline estava usando um uniforme azul marinho, com o
cabelo penteado para trás e preso em um rabo de cavalo. Bruce
estava elegante em um terno escuro. Ele estava barbeado e,
mesmo não querendo, fiquei em dúvida se ele era mais gostoso
naquelas roupas sociais ou com as de corrida.
Respirei fundo, pensando em como alguém tão bonito
conseguia ser tão insuportável.

Provavelmente, não tinha namorada. Quem em sã


consciência aguentaria um homem como ele?

Durante todo o café, sequer olhou para mim. Eu entendi que


ele estava com raiva pelo acidente de carro e eu estava disposta a
pagar pelo meu erro. Mas odiava aquele clima pesado.
― Josh foi levado pelo nosso motorista ontem, mas você
acredita que ele ainda está dormindo? ― Jessica comentou, após
olhar no celular.

― Acredito.

― Um inconsequente como ele, queria o quê? ― Bruce falou,


pela primeira vez. ― Aquele moleque nunca vai amadurecer.
― Inconsequente? ― perguntei. ― Vai me dizer que nunca
fez nenhuma besteira na vida?
Bruce me olhou de forma perturbadora.

― Senhorita Stewart, eu já fiz várias “besteiras”,


pode
acreditar. Mas me arrependo de todas, exceto uma ― respondeu
bruscamente. ― No entanto, eu tive que amadurecer ou então
sofreria as consequências.

Jessica ficou em silêncio e eu achei melhor não retrucar. Eu


realmente não o conhecia e nem pretendia fazê-lo. Entretanto,
aquelas palavras ficaram gravadas na minha mente. “
Exceto uma”
Caroline terminou o café e se levantou. Harry lhe entregou
uma mochila e ela sorriu para mim.

Nunca na vida uma criança tinha sorrido para mim.

― Tchau, Lauren.

Sorri de volta, porque, bem, ela era legal.


― Tchau, Caroline. Boa aula.

Bruce também terminou o café, se levantou e, após Jessica


arrumar sua gravata, eles se foram.
Jessica suspirou assim que eles saíram.
― Quer falar alguma coisa? ― brinquei, passando um pouco
de geleia na torrada.

― Sobre Bruce? Melhor não. Você já sabe que ele está muito
puto com o que aconteceu ontem.

― Eu sei. ― Suspirei.
Jess sorriu.
― Quer assistir a algum filme?

― Só se for agora!
~

Assistimos ao filme “A Culpa é das Estrelas”e eu chorei,


como de costume. Eu sabia que era uma história, mas eu odiava o
autor John Green não ter sentimentos.

Depois de algumas horas, Harry avisou que a minha


encomenda tinha chegado.

Jessica quase teve um infarto quando viu as tintas que


comprei.

― Temos algo para passar a tarde.


― Bruce vai te matar.

― Ele não precisa saber. ― Abri um meio-sorriso e pedi que


algum empregado levasse as tintas lá para cima.

A intenção era de que ele visse o que eu ia fazer. Aquela


casa tinha um clima muito pesado e necessitava de uma mudança.
Caroline parecia um robô cumprindo as ordens de seu pai.
Eu nunca fui um sinônimo de felicidade, mas Caroline
também não parecia. Seus olhos carregavam uma tristeza que, pela
primeira vez, mexeram comigo.

Vi-me na garota, de certa forma.


Claro que a minha infância não tinha sido em um Palácio
como esse, com roupas bonitas e sapatos caros. Além de uma
escola de elite para frequentar, mas eu sabia que dinheiro não era
tudo.
Quando as tintas chegaram ao meu quarto, colocamos jornal
no chão. Troquei de roupa, coloquei um short velho e uma camisa
regata. Enrolei meu cabelo em um coque e coloquei um chinelo
velho.

Jessica me encontrou logo depois, vestida com roupas velhas


também. Arrastei alguns móveis, espalhei o jornal e mãos à obra.
Em pouco tempo, conseguimos pintar uma parede de preto
fosco. Era daquelas tintas que depois dava para escrever ou
desenhar com um giz.
Faltava ainda colocar o papel na outra parede. Nós
estávamos sujas de tinta quando Harry ― que não era Potter ―
entrou no cômodo, agitado e mais branco que uma folha de papel.

― Ligaram do colégio da senhorita Hastings.

― Hum? E aí? ― Jessica se virou para ele. ― O que


queriam?
― Disseram que a menina sofreu um pequeno acidente.
Querem que alguém da famí lia vá até lá. Tentei me comunicar com
o senhor Bruce, mas ele não atende ao celular.

Jessica arregalou os olhos e largou o rolo de tinta no mesmo


instante.
― Ligou no escritório?
― Sim. A secretária disse que ele saiu com alguns
executivos para uma reunião.
― Porra! ― Jessica xingou. ― Lau, você me espera aqui?

― Nem pensar. Eu vou com você.


E é claro que eu iria, até o inferno, se fosse preciso. Larguei o
rolo de tinta, troquei apenas a minha blusa, já que o short não
estava sujo. Jessica correu para trocar de roupa e nos encontramos
no andar de baixo.

Como seu carro estava batido, ela usou outro.


Ok, ricos eram assim. Se não podiam usar um carro, sem
problemas, eles tinham mais dez para escolher.

Entramos no veículo e Jessica dirigiu a toda velocidade até o


colégio. Ao chegar lá, atravessamos como loucas o corredor e
fomos até a sala do diretor.

Ele nos informou o ocorrido. Alguma pestinha tirou sarro da


pequena Caroline e ela, no momento de fúria, partiu para cima da
garota, que a empurrou e ela caiu no chão, batendo a testa no
armário.

― Mas ela já foi examinada e está tudo bem.


― Tudo bem o caralho! ― Levantei-me. ― Onde está a
menina?

O diretor olhou para mim, assustado com o meu palavreado e


mediu-me da cabeça aos pés.
― Perdão, mas quem é a senhorita?
― Sou parente dela. Irmãda Jessica ― Jessica me fitoucom
confusão. ― Onde está a menina? Quero vê-la agora!
Não sei se o diretor caiu na conversa, mas ele disse:

― Está na sala ao lado. Podem entrar para conversar com


ela.
Jessica foi à frente, afinal, era sua sobrinha. Eu entrei logo
em seguida e o que vi partiu meu coração.

Caroline estava sentada na cadeira, com um curativo na


testa. Seus olhos estavam inchados e eu já imaginava como ela se
sentia.
Jessica se abaixou perto dela, que estava cabisbaixa.

― O que houve, Carol? ― perguntou. ― O que a garota fez


pra você?

A menina balançou a cabeça e ficou em silêncio.

Coisas assim me destruíam, porque um dia também passei


por coisas semelhantes. No entanto, Caroline tinha uma famíliapara
apoiá-la. Eu, nunca tive ninguém.
― Sabe que pode falar pra mim... ― continuou Jessica. ―
Estou aqui para te ajudar.

E a menina continuou em silêncio.

Jessica olhou para mim, como se pedisse socorro e eu


balancei o ombro. Nunca fui especialista com crianças.
― Me deixa tentar ― sussurrei e ela entendeu o recado.

Jessica se levantou e saiu da sala, me deixando sozinha com


a menina.

Respirei fundo e sentei ao seu lado. Cruzei as pernas e


percebi que havia tinta entre os dedos do meu pé.
Eu devia ter calçado um tênis.
Olhei para frente e pensei que deveríamos sair daquela sala.
Era fria e estranha.

― Olha, sei que a gente se conhece há apenas algumas


horas ― falei, dando de ombros. ― E que eu quase te matei no
acidente ontem à noite, pelo menos, foi o que seu pai disse. É claro
que talvez ele tenha exagerado, porque... bem, você sabe, é o seu
pai.
Percebi que ela abriu um meio-sorriso.
― Na época da escola, as meninas eram muito más comigo.
Colavam chiclete no meu cabelo... Colocavam apelidos idiotas...

― Elas me chamam de “
sem mãe” ― Caroline soltou
baixinho.

Engoli em seco e me virei para ela.


― Não sei o que aconteceu com a sua mãe ― falei.― Mas...
Acho que você não deveria ligar para o que essas porcas dizem.

― Porcas? ― Ela levantou a cabeça e me fitou. ― Isso é


algum tipo de xingamento novo?

― Creio que sim. ― Sorri. ― “


Elassão tão porcas que fedem
a quilômetros de distância
” Isso é um bom xingamento.
Caroline riu e me senti aliviada. Pela primeira vez, eu parecia
me entender com alguém “ alguns bons centímetros”menor.
― Olha, Carol. Se é que posso te chamar assim... ― Ela
assentiu. ― Já passei por muita coisa nesta vida e sei como se
sente. Você quer que eu ache essa garota e raspe a cabeça dela?
Ela arregalou os olhos.
― Eu faria isso com prazer, acredite.

E eu faria mesmo, bastava ela pedir.


Caroline riu, mas, o encanto se quebrou quando a porta se
abriu de repente e o abominável homem das neves entrou, com seu
olhar furioso.

― O que está fazendo aqui? ― ele disparou. ― Onde está


Jessica? Ela é quem deveria estar aqui com a Caroline, não você.
― Ei! ― Levantei-me. ― Calma aí! Eu apenas estava
conversando com a sua filha.
Ele deu um passo em minha direção.
― Não sei o que uma pessoa como você teria para falar de
bom para minha filha.
Meu sangue ferveu e eu estava disposta a raspar a cabeça
daquele filho da puta. Respirei fundo e não respondi a ofensa,
porque Caroline estava com os olhos grudados em nós.
― Eu só... quis ajudá-la.
Bruce bufou, como se o que eu tivesse dito fosse uma piada,
então se abaixou e abraçou a filha.
― Vamos para casa, querida ― disse ele. ― Amanhã mesmo
providenciarei que essas meninas sejam expulsas.

― Não, papai! ― Caroline tentou intervir. ― Não precisa...


Ele a encarou.

― Carol. Sou eu quem dá as ordens, entendeu?


Cruzei os braços e quase revirei os olhos. Alguém precisava
avisar aquele homem que ele não estava com aquela bola toda não.
― Tudo bem ― disse ela, chateada.
Eu não sabia se sentia pena da menina por ter um pai como
aquele ou raiva de como o idiota agia.
Ele passou por mim, não, sem antes, me encarar, mais uma
vez. Naquele momento, eu tive a certeza de que alguém precisava
colocar Bruce Hastings na linha... E eu tinha quase certeza de que
esse alguém deveria ser eu.
Capítulo 7

Eu estava a fim de você, mas já superei

E eu estava tentando ser legal


Mas nada está dando certo
Então deixa eu soletrar

Abcdefu - Gayle

Lauren

Saímos do colégio em absoluto silêncio. Caroline segurava a


mão de seu pai, que de minuto a minuto me lançava alguns olhares
reprovadores. Eu sabia que o short que eu estava usando era curto
demais, mas ninguém podia me recriminar.
Estava calor, porra.

No estacionamento, os veículos estavam um ao lado do


outro. Bruce estava com outro, na cor preta. Provavelmente, o outro
já tinha ido para o conserto.

― Papai, posso ir com a tia Jess? ― Ouvi a menina


perguntar.

O senhor-mal-humoradonos encarou por alguns instantes.


― Não quer ir comigo ao escritório? ― perguntou. ― Você
poderia ajudar a Meredith com o trabalho dela.

― É que você demora muito no trabalho. Quero ir para casa,


estou com dor de cabeça.
Bruce se abaixou, segurou o rosto da menina entre as mãos
e depositou um beijo na testa dela.
― Tudo bem. Jess, direto para casa, entendeu?

― É claro que vou para casa ― ela retrucou. ― Aonde mais


eu iria com uma criança machucada?

Ele não respondeu e eu ri.


Bruce me encarou e eu senti as minhas bochechas
esquentarem devido à intensidade de seu olhar.

Que sujeito louco, credo.

Abri a porta do carro e entrei devagarinho, como se estivesse


entrando em uma cova.
Bruce Hastings era um cara bonito, sem dúvidas, mas aquele
mau humor todo me irritava. Poxa, eu entendia que olhar para a sua
quase suposta assassina de trânsito todos os dias não era fácil, mas
ele parecia manter uma relutância exagerada com a minha pessoa.

Ele trocou algumas palavras com a irmã e depois entrou no


carro. Caroline entrou no banco de trás e Jess assumiu o volante.

― E aí, garotinha, está melhor? ― perguntei, olhando para


ela pelo retrovisor.
― Um pouco. ― Sorriu. ― Que bom que vocês vieram... Eu
não gostaria de ter que ir ao escritório do meu pai.

― Ah é? Por quê? ― perguntei, curiosa.


Ela suspirou e olhou para a janela.

― Odeio a Meredith.
Olhei para Jessica, que simplesmente deu de ombros. Como
uma menininha daquele tamanho conseguia nutrir sentimentos tão
fortes?

― Bom... Meredith deve ser daquelas secretárias velhas e


chatas? ― brinquei.
― Não, não é isso. ― Caroline bufou. ― Ela está tentando
conquistar meu pai... E sei que ele está quase caindo. Mas eu a
odeio. Ela é uma bruxa. Se faz de boa, mas na verdade não gosta
de mim.
Hummmm, então o tal Bruce tinha uma namorada?

― Mas eles estão namorando?


Ela negou com a cabeça.

― Eu sei que eles saem para jantar algumas vezes. Espero


que meu pai não namore com ela.

Situações como aquela eram extremamente complicadas.


Senti pena de Caroline, afinal, não ter a mãe por perto já era algo
difícil, ter uma madrasta megera era pior ainda.
No restante do percurso caímos no silêncio. Eu fiquei
martelando aquelas palavras da menina na minha cabeça.
Infelizmente, se o pai dela quisesse mesmo se casar,
ninguém poderia fazer nada a não ser aceitar.
Talvez os problemas daquela famíliafossem muito maiores
do que eu imaginava.

Por sorte, ainda tínhamos algumas horas até escurecer


completamente. Caroline adorou o jeito que meu quarto estava
ficando. Ela disse que nunca imaginou que uma parede preta fosse
ficar tão “legal”.
Jessica e eu nos trocamos novamente e voltamos ao nosso
serviço. Eu queria terminar aquilo o mais rápido possível. Caroline
esqueceu até da dor de cabeça e se juntou a nós.
Passamos algumas horas entre tintas e risadas.

Ali, pude conhecer um pouco mais da menina. Ela era


encantadora com seu jeitinho meigo, porém, todas as vezes que eu
citava o nome de Bruce, ela suspirava tristemente.
Será que aquele idiota não percebia que tinha uma filha
maravilhosa?
Terminamos a pintura e colocamos os móveis no lugar, uma
hora antes do jantar. Jessica disse para Caroline tomar um banho e
se trocar antes que seu pai chegasse e a visse naquele estado.

Eu, porém, queria que ele visse.


Queria despertar o Hulkadormecido dentro daquele homem...
Talvez, assim, finalmente, conseguisse entendê-lo.

Olhei em volta do cômodo e fiquei satisfeita ao ver como as


coisas estavam. Bem melhores do que aqueles tons pastéis que só
me davam sono. A parede em frente à minha cama estava toda
preta e a parede detrás, nós havíamos colocado o papel de
caveiras.
Jessica saiu do quarto e resolvi tomar um banho para tirar
aquela tinta do meu cabelo e do corpo. Fui até minha mala e peguei
um vestido cinza simples. Ao pegá-lo, um maço de cigarros caiu no
chão.
Respirei fundo e a vontade de fumar, despertou dentro de
mim. Peguei o maço e olhei para ele por alguns segundos. Se eu
fumasse, o cheiro ficaria ali por um bom tempo e eu não queria que
a menina visse esse meu “outro lado”.
Inferno.
Enfiei o maço de cigarros dentro da bolsa com raiva e fechei
o zíper. Depois eu comeria algum doce e aquela vontade dos
infernos passaria. Pelo menos, era o que eu esperava que
acontecesse.
Eu precisava controlar meus impulsos, principalmente,
quando estavam relacionados a cigarros, bebidas e outras coisas.
Ao pensar em bebidas, me lembrei de Josh. Como será que ele
estava? Será que se lembrava de alguma coisa do dia anterior?
Ele simplesmente sumira.
Tomei meu banho relaxante, coloquei o vestido e penteei
meus longos cabelos. Aproximei-me do espelho e me senti um
pouco chateada por não ter nenhuma maquiagem que prestasse,
exceto, um lápis de olho.
Não que eu quisesse me produzir toda para encontrar Bruce
Hastings, mas não faria mal acentuar o meu belo rosto.
Eu precisava conversar com ele sobre o acidente. Explicar o
que de fato tinha acontecido e assim, quem sabe, resolver aquela
situação tão chata.
Fechei os olhos e lembrei-me do que aconteceu logo cedo. A
maneira que ele bloqueou meu caminho colocando o braço na
minha frente, nossos olhares que se cruzaram...

Dei um tapa na minha cara.


Que porra de pensamentos são esses?
Eu hein.

Bufei, irritada comigo mesma e deixei o quarto. Não podia


pensar naquele homem desse jeito, tão indecente. Eu era boa
demais para ele.
Segui pelo corredor e desci o lance de escadas. Harry ― que
não era Potter ― estava subindo e me parou.
― Eu já estava indo atrás da senhorita. ― Ele sorriu. ― Tem
alguém te esperando na sala de visitas.
― Uma visita? Pra mim? ― Franzi o cenho.

― Sim, senhorita.
― Ok...

Desci o restante dos degraus e Harry continuou subindo para,


provavelmente, chamar Jessica para o jantar. Parei em frente à
porta da sala de visitas e ajeitei minha roupa. Péssima hora para
escolher vestido e chinelos velhos.
Abri a porta e me surpreendi quando vi Josh em pé, com um
sorriso bobo e um buquê de rosas nas mãos.
― Uau... ― Sorri e me aproximei. ― Acho que Harry errou ao
me chamar. Veio aqui para ver a Jessica, não?

Josh se abaixou e me deu um beijo no rosto.

― Não. Na verdade, vim para ver você mesmo.


Fiquei sem reação no mesmo instante. Ele percebeu meu
desconforto e me entregou as flores.

― São para você.


Sorri, sem graça, e peguei o buquê nas mãos. Elas eram
rosas lindas, mas lá no fundo, eu queria saber o que aquele gesto
significava.
Um pedido de perdão por ter me colocado numa roubada?

― Então... Obrigada — agradeci e o abracei para demonstrar


que eu realmente havia gostado das flores. Josh era muito cheiroso
e seu perfume adentrou minhas narinas e, mesmo sem querer, fui
às nuvens.
― Não sei se são as suas prediletas, mas...
― Eu... Não sei. ― Olhei para o buquê. ― Nunca ganhei um
desses. Obrigada mesmo, de coração.

Josh arregalou os olhos e depois riu.


Ele, provavelmente, não tinha acreditado naquilo, mas aquela
era mais uma verdade da minha insossa vida.

Vi uma sombra se mover atrás da porta e tentei ver quem


era, mas Josh entrou na minha frente.
― Sabe, me desculpa pelo ocorrido. ― Ele levantou as
mãos. ― Eu não queria provocar aquele acidente.

― Uau, você lembra? ― perguntei, ao me virar e colocar as


flores dentro de um aquário. Havia alguns peixes lá, mas logo
depois eu providenciaria outro lugar. Os peixes não iam morrer por
causa de um pouco de clorofila. Pelo menos era o que eu esperava.
― Na verdade, não, mas Bruce e eu conversamos mais
cedo. Vou arcar com as despesas.
Então, eles tinham conversado. Interessante.

― Não se preocupe com isso ― falei. ― Eu estava dirigindo,


sou eu quem deve arcar com os gastos.
Mesmo que eu não tivesse um tostão furado no bolso.

― Lauren. ― Ele pegou minha mão e encarou meus olhos


―, deixa comigo... Já está tudo certo.
Estranhei um pouco o modo como Josh estava me tratando.
Será que ele estava afim de mim?
Uma coisa era certa: eu não queria relacionamento com
ninguém.

Puxei minha mão de volta e lancei um sorrisinho sem graça.


― O senhor vai ficar conosco para o jantar? ― Harry
perguntou da porta.

Josh continuou me encarando.


― Vou sim, Harry ― respondeu, ainda sem desviar o olhar.
― Me prepare um lugar ao lado da senhorita Lauren.

Harry assentiu e eu bufei.


É, ele estava mesmo flertando.

― Bom, então, vamos... ― falei, depois de algum tempo,


incomodada com seu olhar, que parecia tirar a minha roupa. ―
Estou morta de fome.

Josh e eu saímosda sala de visitas. Fechei a porta e quando


me virei, vi Jessica e Caroline descendo as escadas de mãos dadas
e, logo atrás, o senhor-mal-humoradoas acompanhava.
― Josh? ― Jess falou mais alto do que deveria. ― Que
surpresa é essa?

Ele sorriu.

― Vim me desculpar pessoalmente com a Lauren e com o


Bruce.
Bruce terminou de descer as escadas e, com o rosto ainda
fechado, apertou a mão que Josh lhe estendia.
― Não precisava vir somente para se desculpar. Acho que
fomos bem claros um com o outro.

― Oh, sim. ― Josh se atrapalhou um pouco. ― Mas eu


queria ver como a Lauren estava.
Bruce fixouo olhar em mim por vários segundos e de repente
me senti mal.

Que porra, por que ele me olhava daquele jeito?


― Ela me parece ótima.

Não entendi o que ele quis dizer. Fingi uma tosse e falei:
― Acho que preciso de água.

Tentei me comportar bem durante o jantar, falando apenas o


necessário, afinal, não queria arrumar mais confusão com o irmão
chato da Jessica. Josh, a todo o momento, me despejava um elogio
e eu já estava de saco cheio.
Era claro que eu gostava de elogios, mas ele já estava
forçando demais.
Bruce, por outro lado, não desviava o olhar do meu rosto e
parecia querer falar alguma coisa. Ou talvez, estava pensando em
quantas formas distintas ele podia me matar.

Jessica e Caroline relembraram alguns dos passeios que


fizeram antes dela embarcar para Nova Iorque.
Bruce ficou calado a maior parte do tempo e era engraçado
ver como uma aura negra estava em volta daquele homem. No
restante da mesa, nós ríamos com algumas piadas que Josh
contava, mas quando eu olhava para ver se ele estava rindo, uma
careta sempre estava em seu rosto.

Após o término do jantar, nos levantamos e voltamos para a


sala de visitas. Bruce nos pediu licença, alegando que precisava
trabalhar na biblioteca. Josh, Caroline, Jess e eu nos divertimos um
pouco falando sobre música.
Logo depois, saímos para dar uma volta no jardim. Já estava
um pouco tarde e Jessica disse que levaria Caroline para dentro.
Ela precisava descansar depois de um dia tão tumultuado.
No final das contas, Josh e eu continuamos andando pelo
jardim.

― Então, seu sonho é ser uma estrela do rock? ― ele


perguntou, mantendo as mãos para trás, como se fosse um moço
comportado.
― É, quem sabe.
― Você sabe que o cenário do rock para mulheres é muito
difícil, não sabe?

― Sim, eu sei ― admiti, olhando para os meus pés. ― Mas


isso não é algo que eu possa desistir. Está dentro de mim e eu vou
lutar até o final.
― Admiro a sua coragem ― ele falou. ― Sabe que se
precisar, pode contar comigo.
Eu assenti e continuamos andando até voltar ao jardim da
frente. Resolvi especular um pouco mais.

― Você sabe por que o Bruce é daquele jeito?


― Que jeito?

― Mal-humorado igual a um cachorro pitbull ― falei e logo


me arrependi. ― Ok, eu não deveria falar assim. Cheguei não faz
nem dois dias e já arrumei muita confusão.
Josh riu e parou na minha frente.

― Eu não sei muita coisa. Ele é um cara fechado, sempre foi


― falou. ― Gosta das coisas perfeitas, pelo jeito.
― Entendo...
― Eu sei que ele forçaa barra com a filha.Quer que ela seja
a melhor em tudo e quando isso não acontece, fica furioso.

Bem, furioso ele ficava por tudo, aparentemente.


― Sabe o que houve com a mãe da menina?

Josh coçou a cabeça.

― Na verdade, não ― respondeu. ― Ela sumiu logo depois


que a menina nasceu. Jessica nunca mencionou os motivos. Só sei
que foi um período bastante turbulento nessa casa. Dizem que ela
morreu, mas... tenho minhas dúvidas.
Assenti calmamente ponderando aquelas palavras. A
curiosidade estava corroendo a minha cabeça porque na noite
anterior Jessica tinha dito algo sobre “
brigou com a mãe da Carol
”.
― Mas não se preocupe com ele. ― Ele pegou a minha mão.
― Se quer um conselho, mantenha-se longe. Bruce sabe ferir uma
pessoa quando quer.

― Como sabe? ― Arregalei os olhos.


― Por que acha que a Jessica foi embora? ― ele perguntou,
como se fosseóbvio. ― Ela só voltou porque sentia faltada menina.
― É, deve ser isso.

Josh sorriu e se aproximou mais.

― Não vamos mais falar desse cara. Já está tarde e eu


preciso ir embora.
Josh me puxou pela cintura e eu arregalei os olhos. Ele
estava sendo bem direto ao me mostrar o que queria.
Mas eu não sabia se queria.

― Josh...
― Só um beijo, Lauren ― sussurrou, perto dos meus lábios.
― Se não gostar, eu prometo que a deixo em paz.
Pisquei repetidas vezes, sem conseguir formular uma boa
resposta. Eu não era nenhuma puritana, mas... Não queria beijá-lo
assim, do nada.
Josh encostou seus lábios nos meus e eu... cedi. Fechei os
olhos e saboreei seus lábios como se há tempos não beijasse
ninguém. Ele me segurou pela cintura e empurrou sua línguadentro
da minha boca. Aceitei e devolvi o gesto, mesmo sem tanto ardor.
Nossos lábios se separaram e ele sorriu.
Foi um beijo quente e gostoso, mas nada mais e eu me senti
uma idiota por ter feito aquilo.
Eu não queria ter beijado Josh.
― Boa noite, gata.
Ele virou as costas, se foi e eu fiquei parada mais um bom
tempo, pensando naquele beijo.
Que porra.
Sem querer abri uma porta na qual eu não queria passar, que
era a de me envolver com alguém. Eu estava ali para seguir meu
sonho e não viver de aventuras com homens.
Bufei,irritada, por não ter dado um tapa no rosto dele e voltei
para dentro da mansão. Estava tudo quieto e a maioria das luzes já
estava apagada.

Olhei em direção ao escritório de Bruce e a porta estava


entreaberta e a luz acesa. Pensei em ir até lá para conversar sobre
o acidente, mas Josh garantiu que tudo estava certo entre eles.

Era melhor não cutucar a onça.


Subi as escadas e virei no corredor que dava acesso ao meu
quarto, quando senti uma mão forte me puxando para dentro de um
dos cômodos.
― Socorro! ― gritei, porém, ele colocou a mão na minha
boca.
Lutei contra o sujeito, naquela escuridão e, de repente, meus
olhos se acostumaram e eu enxerguei quem era o maníaco.
― Vai ficar quieta? ― ele perguntou, bem próximo ao meu
ouvido.
Meu coração batia como louco, pelo susto e também por ver
quem era.
― Uhum.
― Se você gritar, juro que vou tapar a sua boca com
esparadrapo, entendeu?

Assenti lentamente.
Meu Deus do céu.
Bruce soltou a minha boca e me prensou contra a parede, me
encarando furiosamente.
― Hey. Mas que porra pensa que está fazendo? ―
perguntei, irritada e assustada, ao mesmo tempo. Será que foi isso
que ele passou o jantar todo idealizando? Agora era a hora que ele
ia enfiar uma faca na minha barriga e depois jogar o corpo em
alguma passagem secreta na mansão?
― Eu que pergunto, o que porra você pensa que está
fazendo?
Ele me olhava fixamente e eu não sabia o que dizer. Seus
braços estavam um em cada lado da minha cabeça e minha
respiração estava acelerada, meu corpo em frenesi e eu só queria
correr dali.
Cada terminação nervosa gritava que eu deveria sair dali.

― Olha, não sei do que está falando. ― Apertei-me contra a


parede, numa vã tentativa de sumir através dela.
― Só vou te dar um aviso, Lauren ― disse ele, falando meu
nome pela primeira vez. ― Não gosto que minha filha presencie
cenas daquele tipo.
Abri a boca para retrucar e ele me prensou mais ainda.
Seu corpo era forte e, porra, era quente.
E o maldito era cheiroso. Detectei isso mesmo sem querer.

― Se quer ter seus casinhos, terá que ser do portão para


fora. Na minha casa, terá que seguir as minhas regras. Entendeu?
Ele esperava uma resposta e eu continuava com a boca
aberta, sem saber o que dizer. Mas, até com isso ele implicaria?
Qual era o problema de dar uns beijinhos por aí?
― Nem foi dentro da casa!
― Não interessa. Minha casa, minhas regras. Entendeu?
Respirei fundo, assenti lentamente e, pela primeira vez, vi um
resquício de um sorriso, que por alguns segundos, me deixou
enfeitiçada.
― Ótimo. Boa noite.
Dizendo isso ele se afastou e saiu do quarto, me deixando
sozinha com a respiração irregular e o coração pulando no peito.

Levantei minha mão e constatei o quanto eu estava trêmula.


Bruce era outro que merecia levar uns tapas na cara.
Céus.
Eu precisava dormir. Dormir profundamente.
Capítulo 8

Preciso de outra história

Algo que saia do meu peito


Minha vida está entediante
Preciso de algo que eu possa confessar

Secrets - OneRepublic

Bruce

Passei a noite acordado, pensando em tudo o que tinha


acontecido em apenas 48 horas.
Jessica voltou, não do jeito que eu gostaria, porque seu
linguajar estava diferente, assim como suas roupas e o jeito rebelde
que só podia ter conquistado de uma pessoa:

Lauren Stewart.

Essa garota infernaljá estava me deixando à beira da loucura


em pouquíssimo tempo.
Primeiro por causa do acidente.
Foi um susto da porra quando meu carro atingiu o dela após
a maldita ultrapassar o sinal de vermelho.
Tudo o que eu conseguia pensar era em Caroline e, por
sorte, ela estava bem presa com o cinto de segurança e nada
aconteceu.
Então me irritou o fato de que a infratora sequer desceu do
carro para averiguar como estava a situação.
Bem típico de uma adolescente.
O problema era que Lauren não era um adolescente. Ela já
tinha vinte e três anos e devia ser responsável pelos seus atos.
Chacoalhei o copo com uma dose de Whisky que estava em
minhas mãos enquanto eu olhava para as luzes dos postes do meu
jardim.

Depois, o seu jeito rebelde me irritou.


Sem falar em suas roupas, seu jeito de garota criada nas
ruas... Não era esse ideal que eu queria dentro da minha casa, para
a minha filha ficar perto.
Mas havia também outra coisa que estava me tirando do
sério e isso eu não compartilharia com ninguém.
Nem mesmo se uma faca estivesse em meu pescoço.
Lauren Stewart era muito gostosa.

Meu pau endurecia só de me lembrar das pernas de fora que


tive o prazer de ver quando ela se meteu a ir conversar com
Caroline na escola. Depois, é claro, sua bunda, marcada pelo short
curto.

Desgraçada.
Fazia muito tempo que eu não me sentia dessa forma com
nenhuma mulher. Ainda mais uma que era tão mais nova que eu. E
tão... longe de ser o tipo de pessoa com quem eu me envolveria.
Quando a flagrei beijando Josh pela janela do meu escritório,
senti uma espécie de raiva que eu não sabia de onde vinha. A
minha vontade era jogar ambos na rua, mas tudo o que fiz foi
encurralá-la em um quarto, como se eu fosse uma espécie de
maníaco.
O problema foi controlar meus pensamentos em relação à
tudo o que poderíamos fazer em um quarto escuro.
― Porra! ― Joguei meu copo pela sacada em direção ao
jardim. ― Não vou ter esses tipos de pensamentos, não posso. ―
Coloquei as mãos em minha cabeça e fechei os olhos em busca do
homem sensato que me tornei depois de tudo o que aconteceu. ―
Essa garota é só a porra de uma criança mimada. É só isso.

Mentalizando isso por bastante tempo, logo me acalmei.

Era isso.
Lauren Stewart não podia afetar o Bruce Hastings que eu
havia me tornado com tanto esforço.
Capítulo 9

Você pode pegar tudo o que tenho

Você pode quebrar tudo o que sou


Como se eu fosse feita de vidro
Como se eu fosse feita de papel

Vá em frente e tente me derrubar


Eu vou me levantar do chão
Skyscrapper – Demi Lovato

Lauren

Quinze dias se passaram e, ainda assim, eu me sentia uma


estranha vagando pelos corredores daquela casa gigantesca.
Caroline tinha ficadoafastadado colégio por todo esse tempo
para que se recuperasse, fisicamente e mentalmente. Isso foi legal,
porque ficamos mais próximas, apesar dos olhares reprovadores de
seu pai, que desde aquela noite que me encurralou como um
maníaco, não me dirigiu mais a palavra.

Aliás, ele mal ficava em casa.


Issome irritava de certa forma, porque eu via nos olhos de
Caroline o quanto ela queria mais da presença do pai. Com isso, eu
precisava ficar me lembrando que aquele não era um problema
meu.

Não consegui pregar os olhos durante toda a noite. Rolei de


um lado ao outro pensando que no outro dia, Caroline teria que
voltar ao colégio e lidar com aquelas pirralhas odiosas.
Peguei meu celular na mesinha de cabeceira e olhei as
horas. Já tinha amanhecido havia um bom tempo, mesmo assim, eu
ainda tinha um tempo para me arrumar. Pensei no que eu poderia
fazer naquele dia para esquecer esses assuntos que não eram da
minha conta.

Listei algumas coisas que eu precisava imediatamente:


1 ― Arrumar um emprego.

2 ― Procurar um lugar para cantar e tocar.


3 ― Tornar-me uma estrela do Rock.
Ok, a última era muita pretensão da minha parte, mas era um
sonho, então, eu precisava me planejar para isso acontecer o mais
rápido possível.
Deixei a preguiça de lado e me arrumei para o café da
manhã. Vesti minha calça jeans surrada e uma camiseta preta. Abri
uma caixinha de jóias que eu peguei da minha mãe um pouco antes
da sua morte e coloquei um colar.
Pensar na minha mãe me deixava um pouco frustrada.
Primeiro, por ela não ter sido uma boa mãe e, segundo, por ela ter
sido idiota o suficiente para morrer e me deixar sozinha no mundo.
Apesar de termos um relacionamento difícil,nunca cogitei
encontrar minha mãe morta em sua banheira, asfixiada com o
próprio vômito depois de uma overdose de drogas que consumia
como se fosse água com seus namorados.
Algumas vezes, eu a odiava por ter me feito presenciar isso.
Pensei em Caroline e, assim como eu, ela também deveria
sentir a faltade uma mãe. Porém, ao contrário de mim, ela tinha um
pai e todo um império que seria seu. Ela estudava em um ótimo
colégio e não passaria por necessidades.

Só que, apesar de tudo isso, eu sabia que muitas coisas o


dinheiro não comprava. Como, por exemplo, a atenção e carinho de
seu pai.
Usar aquele colar da minha mãe era a única maneira que eu
via de me aproximar dela e perdoá-la, pelo menos, um pouco, por
tudo o que passei na infância e adolescência e que eu ainda estava
enfrentando na vida.

Deixei as memórias de lado, saí do quarto e passei pelo


corredor, temerosa de que alguém me puxasse novamente. Estava
assim desde aquele fatídico dia.
Maldito fosse Bruce Hastings.

Como ninguém puxou o meu braço, desci as escadas, indo


em direção à sala de jantar. Estava morrendo de fome.

― Bom dia, família ― cumprimentei, assim que entrei.


Caroline, Jessica e Bruce já estavam em seus lugares.
― A senhorita adora se atrasar para o café da manhã, não é?
― Bruce perguntou, com uma sobrancelha arqueada.
Levei vários segundos para assimilar que ele estava falando
comigo.
Ué, nos últimos quinze dias não ouvi sequer o som de sua
voz. O que aconteceu agora?
― Eu não sabia que existia um horário fixo para o café da
manhã nesta casa ― retruquei, ao me sentar.
Bruce se virou para Harry, que estava parado em pé ao seu
lado. Nessas horas, eu sentia pena do mordomo, que precisava lidar
com alguém como seu patrão.
― Você não explicou para a senhorita Stewart as regras que
seguimos nesta casa, Harry?
Harry ficou vermelho e deu uma leve tossida.
― Sobre os horários das refeições, não, senhor.

Bruce não respondeu, apenas enfiou o garfo nos ovos


mexidos e o levou de volta à boca.
Já faz quinze dias que estávamos naquela rotina. Só agora
que ele resolveu implicar?
Caroline estava concentrada em seu copo. Olhei para Jessica
e ela deu de ombros.

― Odeio essa coisa de seguir regras ― murmurei.


Bruce levantou o olhar, mas dessa vez, não me arrependi de
ter falado aquilo.
― São as regras que nos colocam na linha.

― E quem disse que eu gosto de andar na linha?


Encaramo-nos por longos instantes, travando uma batalha de
olhares. Eu nunca abaixaria a cabeça, se era isso que ele queria. Eu
era a dona do meu próprio nariz e seguia minha própria convicção.
Se eu quisesse tomar cerveja no café da manhã, era isso o
que eu faria.

― Caroline ― ele se virou para ela ―, já arrumou suas


coisas para a aula?
― Vai mandá-la ao matadouro mais uma vez ― resmunguei,
bufando. ― Só pode ser brincadeira.
― Lau... ― Jess me chamou baixo, em uma tentativa de
fazer eu me calar.
― Senhorita Stewart, não me lembro de ter pedido a sua
opinião.

― Claro que não. ― Abri um sorriso debochado enquanto


despejava açúcar no meu copo de suco. ― Um homem poderoso
como você, acha que sabe o que está fazendo.
Bruce estava ficando vermelho.
― É claro que eu sei. A filhaé minha e eu sei o que é melhor
para ela.

― Não, você não sabe.


Levantei-me, furiosa.
Naquele mesmo instante, perdi a fome. Se tinha uma coisa
que eu odiava era pessoas que se achavam, que somente o que
elas diziam era o certo.

Bruce era o pai, mas, pelo jeito, nunca ouviu a voz da própria
filha. Somente um imbecil não via nas feições da menina o quanto
ela era infeliz.
― Se me dão licença, vou me retirar.
Joguei o guardanapo na mesa e fui em direção à porta,
porém, antes que eu saísse, ouvi a voz de Bruce:

― Senhorita Stewart, esta noite teremos uma visita muito


importante. Espero que use suas melhores roupas, se é que você as
tem.
Meu sangue ferveu no mesmo instante e, sem medir as
consequências, me virei para ele. Bruce me encarava de forma
debochada.
― Roupas adequadas, não sei se tenho, mas tenho algo
muito adequado para o senhor.

― Ah, é?
Balancei a cabeça afirmativamente e levantei o dedo médio.
Se ele me odiava sem motivos, naquele momento, eu os
estava lhe dando de presente.

~
― Lauren! ― Ouvi a voz da Jessica enquanto eu descia as
escadas. ― Posso saber que porra foi aquela no café da manhã?

Algumas horas se passaram desde a pequena discussão


com Bruce. Parei no último degrau, respirei fundo e me virei para
Jessica, com um sorriso debochado no rosto.
― Nada. Você sabe que eu não vou ficar quieta diante das
humilhações do seu irmão.
Jessica desceu as escadas com a mão na cintura.
― Eu sei que não. Mas... Não acho que travando uma
batalha com ele, você vá chegar a algum lugar.

― O que quer dizer?


Jessica respirou fundo e olhou para os lados.

― Eu não queria te falar nada agora, mas eu descobri uma


coisa.
― Desembucha logo.
Ela puxou minha mão e me levou até a sala de visitas.
Fechou as portas e eu me joguei no sofá,esperando o seu discurso.

― Eu descobri por que Bruce quis que eu voltasse.


― Ah, é?
É claro que ele queria que sua irmãzinha voltasse para casa.
Bruce parecia um monstro, mas eu sabia que ele a adorava,
somente pela maneira como olhava para Jessica.

― Ele adquiriu uma gravadora. ― Ela se sentou ao meu lado.


― Uma gravadora que está indo muito bem e, acho que ele
provavelmente vai nos ajudar.
Levei alguns segundos para assimilar aquela conversa. Eu
não queria ajuda daquele sujeito.
― Jessica! ― Levantei, irritada. ― Se você acha que vou
tentar ser “legal”
com o imbecil do seu irmão, simplesmente, porque
ele tem a porra de uma gravadora, que pode nos lançar no mundo
da música e nos fazer muito famosas, você está enganada!

― Não estou falandopra você se vender. ― Ela bufou.― Só


não quero que essas brigas continuem. Se ele adquiriu esse
negócio é porque pensou em mim e no meu sonho. Ele sabia que
eu queria isso. Eu sei que Bruce é uma pessoa difícil,mas esse não
é só o seu sonho, Lauren. É o meu também.

Parei em frente à Jessica, com uma mão na cintura. Ok,


aquele não era só o meu sonho, mas eu jamais me venderia
daquela forma. Se Bruce quisesse nos lançar, teria que ser pelo
nosso talento e não porque eu seria “legal” com ele.
― Esquece, Jess. ― Levantei as mãos. ― Seu irmão é
esquisito demais e eu não vou aturar as coisas que ele fala pra mim.
Virei as costas e caminhei em direção à saída. Aquilo era
informação demais para processar e não estava a fim de pensar
naquelas coisas.

― Aonde você vai? ― ela gritou, quando eu já estava saindo.


― Vou procurar um emprego!
― Lauren! Você precisa focar na nossa banda! Viemos para
cá para isso.
Parei no meio do caminho e me virei para ela.

― Eu posso ser tudo, Jess, mas não vou ficar com a bunda
mofando dentro desta casa, para depois seu irmão jogar na minha
cara que está me sustentando! Esta casa é sua, você também é
rica. EU NÃO. Eu vou procurar um trabalho — cuspi essas palavras
e saí.
Eu odiava depender dos outros, ainda mais quando a outra
pessoa era um esquisitão igual Bruce Hastings. Desci os degraus da
frente da casa e caminhei até o portão.

Peguei meu celular e procurei o endereço que eu salvei de


uma vaga em um bar. Eu já estava acostumada com ambientes
como aquele, então, tiraria de letra.

Que a sorte estivesse ao meu lado.

Depois de transitar pela cidade e me perder de uma ponta a


outra, cheguei até o tal bar. Não sabia se era o destino ou não, mas
era bem parecido com o lugar que eu trabalhava antes em Nova
Iorque.

Ian gostava de manter a mesma aparência de todos os


lugares que ele comandava.

Balancei a cabeça, afastando as lembranças daquele sujeito.


Realmente, esperava que aquilo não fosse uma pegadinha da vida.
Empurrei a porta de vidro e entrei no local. As cadeiras
estavam em cima das mesas e havia duas pessoas lavando o
extenso salão.

― Hey, garota. Está fechado ― um deles falou.


― Eu sei. Eu vim pela vaga de emprego.

O homem parou o que estava fazendoe veio até mim. Olhou-


me da cabeça aos pés e sorriu para o outro. Ele era todo tatuado e
tinha a cabeça raspada. Sem falar que era bem mais alto que eu.

― É, acho que o chefe vai gostar de você.

Revirei os olhos.
― E onde está o seu chefe? ― perguntei, azeda.
― Vou chamar ele. Espera aí.

O idiota deu as costas e subiu uma escadaria que ficava na


lateral do salão. Observei com mais calma o local, que tinha o piso
revestido de madeira. Tinha também várias mesas nas laterais, com
um pequeno espaço no meio para transitar. No lado oposto à
escadaria tinha um extenso balcão. Uma decoração rústica, porém,
confortável.
Havia também um pequeno palco e aquilo me animou. Se eu
conseguisse o emprego, quem sabe também conseguiria a
oportunidade de me apresentar?
― Hey! Pode subir lá. O chefevai te atender ― o homem me
chamou, logo após descer as escadas.

Subi o lance de escadas e dei de cara um pequeno hall.


Tinha uma mesa e, provavelmente, alguém que trabalhava ali como
secretária. Havia duas portas e eu não sabia por qual delas entrar.

Droga.
Respirei fundo e fui pela minha intuição. Abri a primeira porta
e vi que era a sala certa, pois um homem estava sentado de costas
para a porta e de frente para uma janela enorme.

Tossi levemente para que ele soubesse que eu já estava ali.


O homem girou a cadeira e quando vi seu rosto, abri a boca e
arregalei os olhos.
Mas que piada de merda era aquela?

― Ah, não acredito nisso. ― Levei uma mão ao rosto,


indignada. ― Aqui que é o seu escritório, senhor Bruce Hastings
mega bilionário?
O que ele, um homem tão “elegante”
estava fazendo ali,
enfiado dentro de um bar?
Bruce encostou-se à cadeira e beliscou a ponta do nariz.

― Que porra você está fazendo aqui?


Nossa, ele falava palavrão também.

Cruzei os braços.
― Sou eu quem pergunto, o que o senhor mega bilionário
está fazendo em um bar de quinta categoria?
― O que eu faço ou não, não é da sua conta, garota. ― Ele
socou a mesa e eu dei um pulo.

Desgraçado.
Realmente, não era da minha conta, mas eu não queria
perder a chance de provocá-lo. Eu precisava saber por que ele agia
como um animal perto de mim.

― Da minha, não. ― Olhei para minhas unhas. ― Da


Jessica, quem sabe...
Bruce levantou no mesmo instante, empurrando a cadeira
para longe. Ele avançou sobre mim e eu recuei vários passos, até
minhas costas atingirem a porta novamente.

Arrependi-me no mesmo instante de ter provocado aquele


maluco. Bruce prensou seu corpo contra o meu e nossos rostos
ficaram a centímetros de distância.

― Saia daqui! ― Tentei empurrá-lo, porém, ele não se


moveu.

― É bom você manter essa sua boca bem fechada ―


ameaçou, olhando para os meus lábios. ― Ou, então...
Levantei a cabeça e o fitei, desafiadoramente.

― Ou então o quê? Vai me bater? Vai me assassinar?

Bruce continuou me encarando de uma maneira estranha.


Ele abriu a boca para falar algo, porém, som algum saiu dela.
Retribuí, encarando-o da mesma maneira e alguma coisa se mexeu
dentro do meu peito.
Eu queria esmurrá-lo até que saísse de perto de mim e me
deixasse em paz, no entanto, seu corpo contra o meu proporcionava
um calor que nem eu mesma acreditava que fosse possível.
Bruce desceu os olhos para os meus lábios e se aproximou
um pouco. Ele parecia travar uma batalha dentro de si e nesse
momento, comecei a me perguntar se aquilo realmente era possível.

Será que ele queria me beijar?


Seus braços estavam ao redor da minha cabeça. As mãos
apoiadas na porta. Seu peito subia e descia com a respiração
irregular e seus olhos, bem, eles estavam atormentados.

― Você... quer me beijar? ― Atrevi-me a perguntar.

Seus olhos encontraram os meus.


Ele não disse nada.
Mas continuava ali, parado, prensando-me contra a porta,
com aquela sensação muito estranha pairando entre nós.
De repente, pensei em como seria beijá-lo.

Sua boca era bonita, bem desenhada. Ele tinha apenas


resquícios de uma barba e aquilo não importava. Eu ficaria
vermelha, talvez. Mas um beijo provido do ódio, talvez fosse
bastante excitante.
― Fale o que você vai fazer comigo se eu contar para a
Jessica.
Bruce respirou pesadamente e se afastou, me dando as
costas.

Mas que inferno, o que aquele homem pensava que estava


fazendo comigo?
― Este lugar faz parte de um investimento ― disse ele, ainda
de costas. ― Não quero que Jessica saiba, porque não... ― Ele
respirou fundo. ― Porque não acho apropriado.
― Não vejo nada de mais ela frequentar um bar. Se ela
quiser...
― Para você é fácil dizer isso ― ele retrucou e se virou para
mim. ― Acha que eu fico feliz de ver a minha única irmã jogando
fora a sua vida, enquanto busca o sonho de ser uma “ estrela”da
música, com uma menina inconsequente como você?

― Olha aqui, você não me conhece! ― falei, irritada. ― Não


pode me julgar sendo que me conhece há apenas duas semanas!
― Duas semanas que foram suficientes para me mostrar
como você é. Eu sempre soube cada passo que Jessica dava em
Nova Iorque ou qualquer outro lugar que ela passou. Não se
esqueça disso.

Fiquei em silêncio pensando naquelas palavras. As lágrimas


ameaçaram invadir meus olhos, mas eu as segurei.
Aquela não era a primeira vez que eu ouvia alguém falar isso
sobre mim, mas nunca pensei que ouvir da boca daquele sujeito,
doeria ainda mais.

― Sabe o que você é? Um velho mal-humorado! E eu


realmente não preciso de você!
Virei as costas para sair dali, girei a maçaneta, arrependida
até o fundo da alma por ter ido até aquele lugar, quando senti sua
mão segurar meu pulso.
Olhei para ele e sua feição estava mais calma, diferente
daquela raiva toda que parecia consumi-lo a cada segundo.
― Você não veio aqui atrás da vaga de emprego? ― Sua voz
estava mais calma, diferente de todo esse tempo que nos falamos.
Desci o olhar até a sua mão enroscada no meu pulso.
― Sim, mas de você a única coisa que eu quero chama-se:
distância
.

Puxei meu braço e saí correndo na direção das escadas, não,


sem antes, ouvi-lo gritar:
― A vaga é sua, Lauren!
Capítulo 10

Não somos velhos demais para joguinhos?

Será que não somos velhos demais para nos divertirmos por aí?
Somos jovens o suficiente para a conquista
Mas velhos suficientes para entender melhor

What Lovers Do – Maroon 5

Bruce

Após Lauren sair correndo da minha sala, me sentei


novamente na poltrona e enfiei a cabeça entre as mãos. Eu sabia o
quanto estava sendo um cretino com ela, mas não conseguia agir
de outra maneira.
Era óbvio que Lauren me atraía, muito mais do que deveria,
mas eu não podia me deixar levar. Precisava manter a cabeça no
lugar e enxergar o quanto nós éramos diferentes.
Levantei da cadeira, me aproximei da bandeja e coloquei um
pouco de uísque num copo. Fui até a janela e consegui ver Lauren,
já um pouco distante, caminhando pela calçada, com seu jeito livre e
furioso.

Sim, ela deveria estar muito furiosa comigo.


Eu estava confuso demais.

Nesses últimos quinze dias, fiz de tudo para manter-me


distante.
Mas, porra, ela era linda.

Seus cabelos loiros eram perfeitos, apesar de estarem


precisando de um corte nas pontas. Seus olhos eram azul claros,
pareciam duas cachoeiras vivas. Seu corpo, bem, eu odiava pensar
nele, porque meu pau dava sinais de vida e eu realmente não
precisava ficar excitado bem agora.

Apertei o copo contra os dedos e abaixei a cabeça.


Lauren era a juventude que roubaram de mim e, talvez,
fosse esse o motivo por eu estar hipnotizado. Então eu reagia
maltratando-a, porque não suportava como Lauren conseguia ser
tão desprendida, quando eu mal conseguia oferecer um sorriso aos
que estavam ao meu redor.
Um grande filho da puta eu era.

Precisava colocar as coisas nos eixos, antes que eu


perdesse o controle completamente.

Enfiei minha mão no bolso da calça e peguei meu celular.


Disquei o primeiro número dos contatos recentes e esperei.
― Bruce? ― Sua voz doce e singela ecoou em meus
ouvidos.

― Olá, Meredith. Preciso que me faça um favor. ― Afastei-


me da janela. ― Cancele o jantar com os Ruston essa noite.

― Ok...
Pensei se eu deveria mesmo fazer aquilo.

― E quero que se arrume, pois você irá jantar conosco. Te


pego às 19 horas, pode ser?
Ela ficou em silêncio por vários instantes.

― Quer que eu jante com você e sua família?


― Sim...

― Ok, claro. Vai ser um prazer.


― Ótimo. Nos vemos mais tarde, então.

― Até mais, Bruce.

Pude ouvir a animação em sua voz antes de desligar.


Meredith era uma boa mulher e talvez a hora de dar um
passo a mais tinha chegado. Afinal, ela seria uma boa mãe para
Caroline e um bom exemplo a ser seguido.
Capítulo 11

Você me faz querer morrer

Eu nunca vou ser boa o suficiente


Você me faz querer morrer
E tudo que você ama

Vai queimar na luz


Make me Wanna Die – The Pretty Reckless

Lauren

Acordei, horas depois, com batidas excêntricas na porta.


Esfreguei os olhos sem saber, ao certo, que horas eram.

Abri a porta e dei de cara com Jessica.


― Até que enfim, porra! ― ela xingou, impaciente, e me
empurrou para dentro. ― Você chegou e nem falou nada. Foi Harry
que me avisou que você estava aqui.
― Ponto para Grifinória, então ― brinquei, ainda sonolenta.
Jessica foi até o closet e fuçou minhas roupas.

― O que você quer? ― perguntei ao voltar para a cama.


― Escolher uma roupa para você, dã ― ela respondeu de
dentro do closet. ― Bruce é muito exigente quando recebe visitas
em casa.
Revirei os olhos.
Bruce, Bruce, Bruce.
Eu só queria esquecer que ele existia.

― E quem serão as visitas? ― Rolei pela cama. ― O senhor


e senhora Trump?

Jessica saiu do closet com uma careta estranha.


― A Meredith.

― Hummm.
Então, a suposta nova mãe da Caroline, iria jantar conosco.
Eu estava ansiosa para conhecê-la.
― Caroline já sabe?
― Já. ― Jess bufou. ― E não está nada feliz.

― Imagino.
Jessica deu de ombros e saiu do quarto. Fiquei pensando em
como seria aquela mulher. Provavelmente, alta, cabelos louros,
olhos claros, elegante como aquelas modelos das passarelas.

Era desse tipo de mulher que Bruce gostava?

Jessica voltou logo em seguida com um vestido preto e o


jogou em cima de mim.

― Veste isso aí. Vai servir para a ocasião.


― Já passou pela sua cabeça, Jessica... ― falei, olhando
para o teto. ― O fato de que eu não esteja nem um pouco a fim de
participar desta porra de jantar?
― Isso não é discutível, Lauren. ― Ela cruzou os braços. ―
Não sei que diabos você fez com Bruce, que está mais mal-
humorado que o normal. Chegou aqui maldizendo seu nome até a
sua última geração.
Sentei na cama, interessada com aquelas palavras.

― O que ele falou?

― Não entendi direito. Só ordenou que eu tratasse de te


colocar na linha ou botariaa nós duas para a rua.

― Ele não faria isso. ― Sorri de lado. ― Mas, tudo bem, eu


vou estar elegante neste jantar, se é isso o que a Vossa Alteza Real
deseja.
― Josh, Danna e Brandon também virão.

― Ah, tá.
Dei de ombros e Jessica saiu do quarto, sorrindo como uma
idiota. É claro que ela viu o beijo e agora jogava essas conversinhas
no ar.
Respirei fundo e olhei para o vestido.

Eu deveria investir em Josh?

Talvez.
É claro que ele era bonito, divertido e me tratava super bem.
Mas... Aquele beijo, não mexeu comigo tanto quanto o olhar de
Bruce naquela mesma noite.

Caralho!
Não podia pensar em Bruce. Ele era tudo o que eu não
precisava nesta vida. Mal-humorado, seguidor de regras, babaca.
Não! Eu precisava de uma pessoa que sabia como viver a vida, que
gostasse de se divertir.
Josh era isso.
E ainda tinha os olhos claros, combinando com os meus.

Peguei o vestido e o analisei. Era simples, mas deveria custar


os olhos da cara. Jessica gostava de se vestir bem e usar vestidos
de grife.
Será que ficaria bem em uma pobretona como eu?
Deixei de lado, fui até o banheiro e tomei um banho
demorado. Sequei-me com aquelas toalhas brancas fofinhas,que
eu só via em filmes e coloquei o vestido. Olhei-me no espelho e
achei que ficou bom. Ele ia até os joelhos e como eu não gostava de
salto alto, coloquei meu All Star velho e surrado.

Enquanto eu tomava banho, Jessica me advertiu que deixaria


algumas maquiagens em cima da mesa. Olhei para elas, sem saber
exatamente o que fazer.
Resolvi fazer o de sempre: pintei meus olhos com o lápis
preto e passei um batom rosa claro. Peguei o blush e passei bem
pouco, afinal, não queria ficar parecendo aqueles palhaços de circo.
Eu não levava jeito com essas coisas, isso era um fato.
Peguei uma amostra de um perfumeque eu tinha ganhado e passei
no pescoço.

A verdade era que eu não queria ir naquele jantar porque


ainda estava furiosa com Bruce. Ele conseguia me tirar do sério com
aquele jeito todo certinho e esquisitão, cheio de mistérios.
Nosso embate no bar ainda estava muito fresco em minha
memória, assim como a fragrância de seu perfume, seus olhos
pretos assustadores, a força de seu corpo contra o meu.
Ahhhh.

Saí do quarto a tempo de encontrar Caroline no corredor. Ela


estava encostada na parede com a carinha mais triste do mundo e
aquilo cortou meu coração.
― Hey, mocinha.
Ela levantou os olhos, assustada.
― Oi, Lauren.

― O que houve? Não me diga que aprontaram na escola


com você novamente.
Ela balançou a cabeça.
― Não... Elas foram expulsas, conforme meu pai falou que
faria.
― Que bom então, não é?
― Seria bom se as outras pessoas agora não ficassem com
medo de se aproximar de mim.

Aquele era o preço que se pagava por ter um pai chamado


Bruce Hastings. É claro que ele só queria o bem da menina, mas, às
vezes, o exagero trazia outras consequências desagradáveis.

― Não fica assim. ― Coloquei a mão em seu ombro e tentei


animá-la. ― Vamos descer e arrasar neste jantar, o que acha?
― Papai disse que eu deveria me comportar perto da
Meredith.
Segurei-me para não revirar os olhos.

― Isso não quer dizer que você não possa se divertir. ―


Sorri. ― Já conhece os outros amigos da Jessica? Eles também vão
vir.
― Meu pai também não gosta deles. ― Ela suspirou. ― Só
do Brandon... E mais ou menos ainda.
― Seu pai é um... ― Eu ia xingá-lo de filho da puta, quando
ela ergueu o olhar. ― ...Um cara... ahn, interessante. Um cara legal,
eu acho, mas complicado, sabe?
Carol sorriu e eu lhe estendi a mão.

― Depois eu prometo que toco uma música pra você no


violão. O que acha?
Seus olhinhos brilharam e meu coração deu um salto.
― Tudo bem!

Fiquei feliz ao ver que Caroline se sentia à vontade comigo.


Nós percorremos a casa e depois saímos pelo jardim dos fundos.
Ela me contou um pouco sobre como foi seu dia na escola e jurou
que estava feliz que o outro dia seria sábado. Porque aos sábados,
havia um programa entre pai e filha.
O jardim estava bem iluminado e como eu previ, uma loura
escultural estava cumprimentando Bruce com um beijo demorado no
rosto. Ela usava um vestido bege e um decote que, praticamente,
descia até sua barriga.
Bruce, no entanto, usava um terno escuro, bem alinhado ao
seu corpo. Claro que estava sem gravata, mas os botões de cima de
sua camisa branca estavam abertos, revelando um pouco do seu
corpo.

Por que ele precisava ser gostoso assim?


Aproximamo-nos mais e eu não conseguia desviar os olhos
do homem elegante à minha frente.

Josh, Brandon e Jessica também estavam lá conversando e


abriram um sorriso enorme quando nos viram. Os meninos estavam
mais despojados, usando camisa polo e calças jeans.
Jessica estava com um vestido azul que cobria somente até
as coxas.

― Você está linda. ― Josh se aproximou com um sorriso. ―


Mas a atenção em primeiro lugar é para essa princesinha aqui. ―
Ele se abaixou e abraçou Caroline.

― E, aí ― Brandon me cumprimentou com um gesto


estranho, juntando os dois dedos da mão e formando um V entre o
médio e o anelar.
― Ele é fã deStar Trek ― Jessica sussurrou.
― Ah, tá. ― Sorri e fiz o mesmo gesto.
Bruce se aproximou com a loura de passarela e eu fiz
questão de virar de costas, como se não os tivesse visto se
aproximar.

Ele tossiu.

Eu não me virei e passei a alisar o peitoral de Josh.

― Nossa, você está um gato hoje ― falei, tentando fazer a


voz mais sensual do mundo.
― Lauren ― Bruce chamou, em voz baixa.

Eu continuei de costas, sorrindo para Josh.


― Aonde você comprou essa camisa?
― Lauren! ― ele bradou e eu me virei, com a sobrancelha
arqueada.

― O que é?
Ele ergueu as sobrancelhas como se perguntasse: Continua
querendo me desafiar?
― Bem, você é a única que não conhece a Meredith ― disse
ele, abrindo espaço para a mulher. ― Meredith, esta é Lauren
Stewart, amiga da minha irmã.
A mulher me analisou da cabeça aos pés.

― Então é ela... a jovem que levava a sua irmã para o mau


caminho?
Bruce tossiu e eu o fitei com a sobrancelha erguida, depois
olhei para a mulher novamente.

― A própria. ― Sorri e estendi a mão para ela. ― Não sei se


Bruce te contou, mas eu adoro fumar uma maconha de vez em
quando. Faz bem para a saúde, sabia?
Bruce arregalou os olhos.

Xeque-mate.

Se ele queria falar mal de mim, que falassecom propriedade.

Os outros riram e Jessica tentou abafar o assunto.


― Ai, essa Lauren... ― Ela riu. ― Tão piadista!

Meredith apertou minha mão, mas a batalha entre nós já


havia sido estabelecida.
Aquela mulher não gostava de mim e sequer me conhecia!
Bruce estava sem graça, então tratou de levá-la para longe.
Quando eles se afastaram, revirei os olhos.

― É sério essa coisa da maconha? ― Josh perguntou em


meu ouvido. ― Porque eu tenho uns contatos aí...

Balancei a cabeça.
― Eu fumava às vezes, mas não quero mais.
― Que pena.

Jessica estava entretida com Brandon, enquanto Josh,


Caroline e eu conversávamos.
Caroline gostava dele.
Será que aquilo era um sinal de que eu também deveria
gostar?

― Lau. ― Jess se aproximou. ― Brandon sabe tocar bateria.


― Sério?

Brandon fechou as mãos e começou a balançar a cabeça,


tocando na sua bateria imaginária.

Gente, que cara doido!

― E eu sei tocar guitarra ― Josh falou. ― Por que não nos


unimos e formamos uma banda?
Se ele estivesse falando sério, aquilo poderia ser ótimo.

Já fazia quinze dias que eu estava ali, mas foram dias para
se estabelecer, conhecer um pouco dos arredores e da famíliaque
eu estava dividindo o teto.

― Talvez, seja uma boa ideia ― Jessica ponderou. ― Já nos


conhecemos, temos afinidades...
Eu gostei da ideia, mas Josh teria que ter ciência das coisas.
Eu não gostaria de misturar relacionamento com trabalho.
Continuamos conversando sobre essa possibilidade, quando vi uma
jovem se aproximar pelo jardim. Ela tinha os cabelos pretos e
estatura média.

― Danna! ― Jessica gritou. ― Achei que não viria!


Ela se aproximou com um sorriso tímido e abraçou Jessica.
― Me desculpa, eu estava resolvendo alguns problemas no
apartamento novo. Fico feliz que você está de volta! Me perdoe não
ter vindo antes, mas estava muito corrido.

― Danna, não se preocupe. Fico feliz que está aqui e veja


só, essa é a Lauren, minha melhor amiga de Nova Iorque.
Sorri e apertei a mão dela.

― Muito prazer. ― Ela, sorriu timidamente. ― Ouvi muitos


comentários sobre você.
Arqueei a sobrancelha.

― Bons, é claro ― ela esclareceu. ― Josh não para de falar


sobre você.
Danna o fitou com uma emoção diferente no olhar. Essa eu
captei na hora. Aquela menina gostava do bonitão.

Que porra.

― Já que chegaram todos ― Bruce se aproximou com seu ar


imponente ―, vou mandar servir o jantar.
Josh me ofereceu o braço e eu entrelacei o meu.

Tudo estava tão lindo.


A mesa grande com uma toalha branquíssima. Alguns
castiçais ao longo dela. Havia também um grande arranjo de flores e
eu fiquei me perguntando se aquilo tudo era para impressionar
Meredith.
Será que Bruce gostava dela?

Tentei não pensar muito nisso. Se ele gostava dela ou não,


não era problema meu.
Bruce sentou na ponta, Meredith na primeira cadeira do lado
direito. Caroline teve a má sorte de se sentar ao seu lado, seguido
por Jessica. Josh sentou na primeira cadeira do lado esquerdo,
depois Danna, eu e, por fim, o maluco batedor de baquetas
imaginárias, Brandon.

― Fico satisfeito por vocês estarem aqui ― Bruce falou. ―


Minha amiga, Meredith; Caroline, minha filha; Jessica e seus
amigos.
Todos sorriram, menos eu.
― Gostaria que fechassem os olhos. Vamos agradecer a
Deus pelo alimento em nossa mesa.

Descobri, então, que Bruce se achava o amigão de Deus.


Não fechei os olhos porque eu achava muita hipocrisia do
cara, depois de me maltratar horrores, falarcom Deus como se tudo
estivesse bem.
Nada estava bem.

Bruce juntou as mãos e fez uma oração rápida. Eles


disseram amém e Harry começou a nos servir.
― Como este jantar é especialmente para minha amiga,
Meredith ― Bruce falou. ― Mandei que preparassem o melhor da
cozinha italiana.
A vaca sorriu de orelha a orelha.

― Que isso, Bruce ― ela disse, fingindo timidez. ― Quem


merece um jantar como esse, é você.

Ele sorriu.
Ele sorriu para aquela cadela e eu tive vontade de avançar
naquele rostinho de Barbie!

O que diabos aquela mulher tinha que eu não? Por que ele
era tão gentil e amável com ela, sendo que comigo faltava me dar
um chute no traseiro e um tiro na testa?
Cortei com raiva um pedaço da Porchetta ― sim, eu conhecia
um pouco da comidaItaliana por causa do Ian―, que nada mais
era do que um porco desossado bem temperado, geralmente
servido com pão.

― E como a Caroline está na escola? ― Meredith perguntou.


Não é da sua conta”, tive vontade de responder
.
― Tivemos alguns problemas, mas já está tudo resolvido.
Respirei fundo, controlando a minha vontade de levantar do
assento. Meredith olhou para mim.
― E você? Pela sua idade, imagino que está estudando.

Eu sorri com fingimento.


― Não, não. Escolas não foram feitaspra mim.
― Sério? Que absurdo ― Meredith resmungou. ― Soube
que você tem o sonho de cantar, mas acredite, isso não leva
ninguém a nada.
Bruce se remexeu no lugar, desconfortável.
― Ah, é? ― perguntei. ― Que engraçado... Conheço
inúmeros cantores que estão muito bem de vida.
― Um pouco de sorte, talvez? ― Meredith riu. ― Enfim,
espero que o seu comportamento não influencie a Carol.
Carol???Ela achava que já tinha esse tipo de intimidade?
Olhei para Bruce, mas ele estava inerte em algum tipo de
pensamento demoníaco.

Não respondi ao comentário e continuamos jantando em


silêncio. Jessica achou que deveria falarum pouco e puxou assunto
com todo mundo.

Logo depois, nos levantamos. Fui com Josh e Brandon para


um banquinho perto da piscina. Bruce ficou conversando com a
loura aguada e Jessica se entretendo com Danna.
Foi, então, que vi Caroline passando pelo jardim e indo em
direção à casa.

Já volto
” ela gesticulou em minha direção e eu assenti.
― E aí, Lauren, o que acha da minha ideia de formarmos
uma banda? ― Josh perguntou. ― Eu não estou fazendo nada
ultimamente... Seria legal.
― É, talvez sim. ― Sorri.
Bruce se aproximou de nós com uma mão enfiada no bolso
da calça.
― Lauren... Posso falar com você?

Josh e Brandon se calaram no mesmo instante e eu cruzei os


braços.
― O que a Vossa Alteza Real deseja?
Bruce travou o maxilar.
― É sério, Lauren.
Ele não se cansava daquela guerrinha?
Respirei fundoe assenti. Levantei e caminhei até onde Bruce
tinha ido, um pouco mais afastado de todos, mas ainda assim, perto
da piscina. Josh arqueou a sobrancelha e eu dei de ombros.
Mesmo que Bruce quisesse, na frente de toda aquela gente,
ele não poderia me matar.
― O que você quer? ― Cruzei os braços e perguntei logo de
cara.
Bruce desviou o olhar para o chão, enquanto parecia
encontrar as palavras certas. Será que agora resolveu bancar o
gentil?
― Eu acho que começamos do jeito errado ― falou, depois
de um tempo. ― Quero que entenda que não sou seu inimigo.

Firmei minhas pernas no chão, para não cair naquele


instante. Bruce estava mesmo falando aquilo?
Olhei para o céu, somente para checar se não estávamos
prestes a sofrer um novo dilúvio.
― Sei que a tratei mal desde que chegou aqui. ― Suspirou.
― É só que...
Eu deveria estar prestando atenção nas coisas que ele
estava dizendo, mas eu não conseguia parar de olhar em volta à
procura da lambisgoia loira.
Estendi a mão, pedindo que ele parasse.
― Onde está a sua amiguinha?
Ele franziu o cenho, desconcertado.

― Foi ao banheiro, por quê?


― Por nada.
Uma sensação ruim se apossou do meu peito e eu saí de
perto dele no mesmo instante. Atravessei o jardim e entrei na
mansão pelos fundos. Caroline estava lá dentro sozinha e eu nunca
me perdoaria se aquela bruxa fizesse algo com a menina.
Andei depressa e cheguei ao hall. Não havia ninguém lá.
Olhei para os lados.

― Caroline? ― chamei uma vez.


Silêncio.
Meu coração estava apertado, com uma sensação péssima e
eu subi os dois lances de escada. Virei no corredor do meu quarto e
encontrei a menina sentadinha no chão, com o rosto entre os
joelhos.
Ela levantou o rosto e seus olhos estavam vermelhos.
― Ai, meu Deus! ― Me ajoelhei ao seu lado. ― O que houve,
menina?

Ela continuou chorando sem parar e eu, instintivamente, a


abracei.
― Hey, me conta! O que houve?
― Aquela bruxa... ― ela falou, ainda chorando. ― Ela puxou
meu cabelo e disse que vai se casar com meu pai, nem que para
isso tenha que me mandar para um colégio interno.
Acariciei os cabelos da menina e respirei fundo.Eu sabia que
aquela mulher não era confiável desde que nossos olhos se
cruzaram.
― Olha aqui. ― A soltei e puxei seu rosto para que me
fitasse. ― Ninguém vai te mandar para um colégio interno, tá legal?
Nem que pra isso eu tenha que bater no seu pai!

Caroline assentiu timidamente e eu a abracei novamente.


Passei os dedos em seu rosto e sequei as lágrimas.
Porra!

O que estava acontecendo comigo?


Aquilo era loucura, porque até alguns dias antes, eu sequer
suportava uma criança!
― Vem comigo. ― Puxei sua mão. ― Vamos para o seu
quarto. Não tem motivos para você ficar lá embaixo.

Caroline enxugou o rosto e me acompanhou. A cada passo


que dávamos era como se uma faca entrasse em meu peito.
Eu ia estapear aquela vagabunda até ela virar gente.
Abri a porta e vislumbrei o cômodo cor-de-rosa. Foi inevitável
não pensar nas vezes em que eu quis ter um quartinho como
aquele.
Caroline tirou os sapatos e pulou na cama.
― Não vai colocar o seu pijama? ― perguntei.
― Hoje não. Hoje quero ser como você.
Uma lágrima quase escorreu dos meus olhos, mas a segurei
e sorri. Eu sabia que não era um exemplo a ser seguido. O próprio
Bruce me disse isso.

Ajudei-a a se cobrir e depositei um beijo em sua testa.


― Carol, você tem o sorriso de uma princesa. Não deixe que
as pessoas roubem isso de você.

Desliguei o abajur e ela se acomodou nos lençóis, porém,


antes que eu saísse do quarto, ela me chamou:
― Lauren, você me prometeu uma coisa.
― Ah, prometi? ― Fingi esquecimento.

― Você prometeu que tocaria uma música pra mim.


― Hummm, tem razão. ― Sorri. ― Mas daqui a pouco. Agora
eu tenho uma coisinha para resolver.
Caroline ficou em silêncio e eu saí do quarto. Arregacei as
minhas mangas imaginárias e caminhei a passos firmes.

Estava na hora daquela tal de Meredith me conhecer de


verdade.
Capítulo 12

Você nunca verá luz

Eu vou ofuscá-la com o ódio


Você é só uma idiota desagradável
Vamos, vamos queridinha

Vamos queridinha, deixa queimar


Oh queridinha, isso dói?
Skinny Little Bitch - Hole

Lauren

Aprendi, desde muito nova, que nas batalhas, os mais fortes


são os vencedores.
Eu sempre fuio oposto disso, talvez pelo meu físico:
estatura
baixa, magra, braços finos. Porém, quando percebi que podia me
tornar forte pela simples vontade de ser, nunca mais abaixei a
cabeça para ninguém.
Se Meredith queria se meter com alguém, que tivesse
procurado alguém de seu tamanho e não vários centímetros a
menos, como Caroline.
Desci as escadas, pisando fundo, como se cada passo que
eu desse, uma pegada ficasse para trás, tamanha a fúria que ardia
em meu peito. Nunca fui afeiçoada a crianças, mas também nunca
as tinha maltratado daquele jeito.

Saí da mansão e atravessei o jardim, procurando pela


maldita. Meredith estava conversando com Bruce na beirada da
piscina, segurando uma taça de champanhe e carregando um
sorriso cínico nos lábios.
Bruce, provavelmente, me mataria, mas algo dentro de mim
pedia que eu defendesse a única que realmente importava naquela
história:uma criança inocente.

― Sua filha da puta! ― Aproximei-me, ferozmente. ― Você


deveria ter mexido com alguém do seu tamanho!

Meredith se virou, assustada, e eu fiz a única coisa que eu


poderia:segurei em seu cabelo e a empurrei para dentro da piscina.
Os respingos de água nos atingiram, mas não importava.
― Nunca mais mexa com a Caroline!

Somente empurrá-la na piscina não era o suficiente. Eu


queria tirá-la de lá e estapeá-la até que ela saísse dali correndo, no
entanto, senti os braços de Bruce envolta da minha cintura,
enquanto eu tentava pular para pegá-la pelos cabelos.

Bruce me arrastou em seus braços, enquanto eu me debatia.


Não era justo o que aquela mulher queria fazer com a menina! Eu
precisava interferir naquela situação...
― Lauren! ― Bruce me segurou pelos ombros. ― Você está
louca???

Jessica gritou alguma coisa que eu não entendi. Meredith se


debatia com força dentro de água, enquanto eu vislumbrava o que
eu tinha acabado de fazer.
― Louca? ― Encarei Bruce. ― Louca, é essa mulher, que
fez a sua filha chorar! ― O soquei no peito duas vezes.

Josh pulou na piscina para ajudar Meredith.

Bruce segurou meus pulsos com força e me encarou com a


mesma intensidade do dia em que nos conhecemos.

― Eu deveria tê-la colocado na prisão quando tive a


oportunidade.
Fiquei em silêncio.
Todos ficaram em silêncio.

Eu deveria ter retrucado, mas os olhares daquelas pessoas


me intimidaram.
― Jessica ― Bruce a chamou e ela se colocou ao lado dele.
― Cuide da sua amiguinha, que eu vou tentar consertar essa
situação.

A frieza em sua voz e em seu olhar foramsuficientespara me


fazer ter vontade de chorar.

Jessica me fitoude maneira reprovadora e colocou a mão em


meu ombro.
― Vá se foder, Jessica ― rosnei e saí andando.
Tudo o que eu quis foi defender uma criança e saí como a
louca do hospício. Entrei na mansão, com Jessica em meu encalço,
gritando o meu nome. Parei no meio das escadas e olhei para ela.
― Você quer saber o que aconteceu? ― gritei. ― Vá
perguntar à sua sobrinha! Só digo uma coisa:se seu irmão se casar
com aquela mulher, pode dar adeus à Caroline! — cuspi as palavras
e saí correndo para o meu quarto. Aquilo era humilhante demais.
Abri a porta e a fechei com um estrondo.
Joguei-me na cama e, no silêncio do meu quarto, finalmente
chorei tudo o que estava preso no meu peito desde aquela noite do
acidente.

Chorei porque um homem me repreendeu justo quando fiz a


coisa certa, defendendo a filha dele.
Que ironia, não?

Algum tempo passou e eu me levantei. Tirei aquele vestido


ridículo e me enfiei debaixo da água quente.
Pensei em como Bruce era idiota. Provavelmente, tinha
levado Meredith para casa e, quem sabe, até passaria a noite
consolando-a.

De alguma forma, pensar naquilo me deixou mal.


E eu nem sabia por quê.
Deixei a água cair em minha cabeça e tentei esquecer de
toda aquela merda. O dia ainda não tinha terminado, eu precisava
cumprir a minha promessa com Caroline.

Saí do banho, me sequei, vesti uma calça leve e uma


blusinha de alça fina. Peguei meu bom e velho violão e fui até o
quarto cor-de-rosa.
Não sabia se Caroline já estava dormindo, mas resolvi
arriscar e bati na porta. Ouvi um “
entra” entusiasmado.
Abri a porta e empurrei-a com o pé.

― Era para a senhorita estar dormindo.


― Eu estava esperando você vir cumprir a sua promessa.
Crianças eram assim. Por isso, eu não prometia doces.
Sentei na beirada da cama e vi que ela estava lendo um livro.

― Gosta de ler? ― ela perguntou.


― Ah, mais ou menos ― confessei. ― Não gosto de ler algo
que eu sei que nunca vai acontecer na minha vida.
― Mas os livros são para isso. ― Caroline sorriu. ― Para nos
tirar da realidade por um tempo.
A garotinha era mais inteligente do que eu imaginava.
― O que você vai cantar?

Não soube o que responder, afinal, fazia alguns dias que eu


não ensaiava, nem nada. As músicas que eu sabia, talvez, ela não
gostasse.
― Tem alguma música que você queira que eu cante?
Ela pensou um pouco.

― Não... Na verdade, quero que você cante uma música que


faz sentidopra você.
― Tá bom. ― Sorri. ― Tem uma cantora que eu gosto e
admiro muito. Acho que as músicas dela fazem muito sentido na
minha vida.
Caroline sorriu e seus olhos brilharam mediante a
perspectiva.

Coloquei o violão no meu colo e fechei os olhos.


Mergulhei na melodia que meus dedos dedilhavam entre as
cordas do violão.

Acordo e vejo que está tudo bem

Pela primeira vez na vida, e é ótimo


Lentamente olho em volta e fico impressionada
Penso nas pequenas coisas que tornam a vida boa.
Eu não mudaria nada
Essa é a melhor sensação

Essa inocência é brilhante


Espero que ela dure
Este momento é perfeito

Por favor, não vá embora


Preciso de você agora

E vou me prender a isso


Não deixe passar em branco

Achei um lugar seguro, sem lágrimas

Pela primeira vez na vida, e ficou claro


Me sinto calma, estou feliz aqui

É muito forte, agora posso ser sincera


Eu não mudaria nada
Essa é a melhor sensação
Avril Lavigne - Inocence

― Uau!

Abri os olhos e encontrei Caroline sorrindo e batendo palmas.


― Você canta muito bem! ― ela falou, entusiasmada. ― Sua
banda vai fazer muito sucesso!

― Obrigada ― agradeci, um pouco envergonhada, e depois


coloquei o violão no chão. ― Agora que cumpri minha promessa,
posso ir para o meu quarto, esquecer este dia infernal?
― Agora, pode!
Levantei-me e ajeitei novamente seu edredom. Depositei um
beijo em sua cabeça e quando coloquei a mão no violão, ela me
chamou.
― Lauren, se você e o papai não brigassem tanto, você seria
uma ótima mãe pra mim.

Quase fiz o sinal da cruz.


Eu tinha apenas vinte e três anos, jamais seria uma boa mãe.
O que eu sentia por Caroline era um carinho de amigas. Sem falar
que Bruce + Lauren era uma ideia que não me descia na garganta.

― Vá dormir, garotinha ― sussurrei e desliguei o abajur.


Observei-a por alguns instantes e suspirei. Bruce tinha uma
filha linda, precisava aprender a valorizar aquilo.

Peguei o violão e saí do quarto, satisfeita por ter alegrado o


dia de, pelo menos, uma pessoa. Saí pela porta e a fechei
lentamente, tentando não fazer barulho para que a menina
conseguisse dormir em paz.
E, então, eu senti uma mão em meu braço.

Virei-me para xingar o sujeito, porém, não tive tempo para


isso.

― Precisamos conversar. Agora.


― Não tenho nada o que falar com você ― retruquei,
puxando meu braço de volta.

― Você vai ouvir, sim. ― Bruce segurou meu braço


novamente e deu um passo em minha direção. Comecei a sentir
uma onda de pavor enquanto seus olhos pretos me devoravam. ―
Ou então, vou dar um jeito de colocá-la na cadeia.
Bruce me puxou pelo corredor e me fez descer as escadas
desajeitadamente.
Eu queria matá-lo.

Ele me arrastou até o seu escritório e bateu a porta logo


depois que entramos.
Então ele me soltou.

― Porra, está doendo. ― Massageei o meu pulso. ― Você é


um animal, sabia?
― Você não sabe o que eu sou ― ele retrucou, virando-se
para mim. ― Você não tem o direito de chegar em minha casa e
colocar tudo de pernas para o ar. Não tem o direito de fazer o que
fez com Meredith porque não a conhece!

Bruce avançava em minha direção.


― Eu fiz e faria de novo! Você tem ideia de que ela assustou
Caroline? Que disse que a mandaria para um colégio interno depois
que vocês se casassem?
Bruce começou a rir.

― Você realmente acredita na imaginação de uma menina de


dez anos?
― Eu acredito! E repito, Bruce Hastings... se aquela mulher
voltar a pisar aqui, eu vou raspar a cabeça dela!

Dei um grito porque de repente o corpo de Bruce estava


prensando o meu contra a porta.

― Por que não diz a porra da verdade, Lauren? ― Seus


olhos perscrutavam meu rosto de forma debochada. ― Por que não
diz que estava enciumada porque eu tratei Meredith como uma
verdadeira rainha enquanto você... eu queria ver bem longe desta
casa?

Suas palavras fizeram o meu sangue ferver ainda mais


rápido.
― Ciúme? De você? ― dei risada. ― Só se você estiver
louco.

Os olhos de Bruce ficaram presos aos meus por tempo


demais.

― Eu realmente acho que estou ficando louco.

Após murmurar essas palavras, Bruce desceu a cabeça e


sua boca capturou a minha.
Demorei vários segundos para entender que merda estava
acontecendo.
Até que entendi.

No começo, tive vontade de repeli-lo, mas depois, fechei os


olhos e agarrei-o pelas lapelas do paletó. Seu perfume invadiu as
minhas narinas e eu o beijei como há tempos não beijava ninguém.
Bruce devorou a minha boca como se também há tempos
não fizesse aquilo.
Sua língua não pediu permissão, apenas empurrou meus
lábios e adentrou a minha boca, tomando tudo de mim. Seus dentes
mordiscaram meu lábio inferior com um pouco de agressividade,
mas eu gostei.

Esfreguei-me contra o seu corpo. Suas mãos desceram da


minha cintura para as minhas pernas e ele me ergueu contra a
porta. Apertou a minha bunda, como se me odiasse e me desejasse
ao mesmo tempo.

Bruce era um canalha, mas porra, que beijo era aquele?


Minhas mãos largaram seu terno e eu as subi, enlaçando
seus cabelos.

Ele gemeu em resposta.


Nossas bocas se moviam em conjunto e eu estava
completamente fora de mim com aquele homem prensando meu
corpo, esfregando sua ereção em mim como se precisasse de alívio.

Como se fosse prazeroso fazer aquilo comigo.


Inferno.

Aquilo era surreal.

Nos odiávamos, essa era a verdade, mas ao mesmo tempo


queríamos experimentar aquilo.
Como se fôssemos malditos masoquistas.

Enrosquei minha língua na dele, soltei um gemido. Podia


sentir minha calcinha encharcada, minha boceta ansiando pelo
toque de seu dedo, de seu pau.
Mas, então, ele parou.
O desgraçado parou bem no momento em que eu estava
começando a imaginar como seria ser fodida por ele: o homem que
eu odiava.

Bruce me colocou no chão e se afastou, com o horror


estampado em seu rosto.
A realidade me atingiu daquela maneira violenta.

Eu não ia passar por aquela humilhação sozinha.


Virei um tapa no rosto de Bruce.

E aquele carrinho na montanha russa que só estava subindo,


desceu de uma só vez.
Bruce finalmente virou o rosto em minha direção e disse:

― Eu quero você fora desta casa amanhã mesmo.


Capítulo 13

As vezes esses cortes são muito mais profundos do que parecem

Você prefere cobri-los, eu prefiro deixá-los sangrar


Então me deixe estar e eu vou te libertar.
Misery – Maroon 5

Bruce

Lauren me encarava com seus olhos azuis, tão bonitos,


arregalados e assustados enquanto seu peito subia e descia com a
respiração irregular. E, apesar de o meu rosto estar ardendo pelo
tapa, arrependi-me do que havia dito no mesmo instante em que as
palavras saíram da minha boca.
Só que agora já era tarde.
― O quê? ― ela murmurou, levando uma mão até os lábios
vermelhos e inchados que eu havia acabado de beijar.
Afastei-me dela, virando as costas, porque minha cabeça
estava confusa demais.
― Olha aqui, seu filho da puta ― ela falou, depois de um
minuto em silêncio. ― Que você é bipolar, isso eu já sei... Mas não
pense que vai me expulsar desta casa! Você pode ser o dono dela e
tal, mas eu sou convidada da Jessica e somente ela poderá me
expulsar daqui.

Ela tinha razão. Em tudo.


Primeiro, porque eu era um filho da puta e, segundo, porque
ela era a convidada da minha irmã.
Embora eu realmente fosse o dono da casa.

― Então, pare de agir dessa maneira! ― Virei-me para ela,


levantando um muro invisível entre nós. Não queria que ela
soubesse o quanto mexia comigo. ― Aquilo que fez com Meredith
foi uma insulta à minha família.
― Insulta foi o que ela fez à sua filha ― ela cuspiu as
palavras e me olhou de cima a baixo, fazendo uma careta de nojo.
― Agora, se me der licença, eu preciso descansar, porque lidar com
pessoas imbecis como você, cansa demais.
Eu devia segurar sua mão, impedi-la de ir embora.
Mas eu não o fiz, porque bem, odiava o que ela estava
fazendo, principalmente comigo.
Não consegui desviar o olhar daquela desgraçada um só
segundo durante a noite. Lauren estava malditamente linda naquele
vestido que certamente era de Jessica.
Mas ela insultou uma amiga de anos, a pessoa que
provavelmente estaria dentro daquela casa em breve, como minha
esposa.
Era claro que meu sangue estava fervendo.

De ódio e de desejo.
Lauren abriu a porta e saiu como um furacão pelo corredor.
Mordi meu punho antes que eu o enfiasse em meu próprio rosto.

Esses malditos sentimentos rondavam a minha mente,


torcendo para que eu ficasse louco.
Até o dia do acidente, eu estava bem. Levantava cedo, ia
para o trabalho, deixava Caroline na escola, no entanto, depois que
coloquei os olhos naquela garota, parecia que minha vida havia
virado de pernas para o ar.

Já fazia anos que eu não desejava uma mulher, tanto quanto


desejava Lauren.

O problema era que nós éramos tão opostos...

Ela era uma selvagem.


O que aquela garota tinha para me oferecer?
Fui até a bandeja, entornei um pouco de uísque em um copo
e o virei de uma só vez. Voltei a enchê-lo e dessa vez fui até o sofá
e estendi as pernas.
Por que aquela porra de garota estava mexendo tanto
comigo?
A raiva pelo que ela fez à Meredith me moveu para caçá-la
pela casa e quando a encontrei, cantando para Caroline como se
fossem melhores amigas de anos, um coração que eu havia
esquecido que existia dentro do meu peito, se aqueceu.
Eu tinha fechado os olhos e sua maldita voz invadiu os meus
ouvidos.
Quando a prensei contra a porta e a beijei foi por não
conseguir controlar o animal enjaulado que havia dentro de mim. A
vontade foi de levá-la para o meu quarto, tirar suas roupas e beijar
cada centímetro de seu corpo. Fazê-la se contorcer sob o meu
corpo, ansiando por mais, pelo meu toque.

Você realmente está louco, Bruce.


Um rosto invadiu a minha mente.
E não era o de Lauren.
Era o dela.

Aquela filha da puta que me destruiu. Que me estragou para


o mundo.
E Lauren me lembrava tanto a ela, que eu podia acrescentar
isso aos motivos de eu tentar odiá-la com todas as minhas forças.
― Porra!!! ― Arremessei o copo com uísque na parede e
respirei fundo.

Eu não podia cair nessa mesma armadilha.


De novo, não.
Por outro lado, Lauren não era ela e eu não podia continuar
tratando-a daquela maneira rude e cruel. Era injusto. Inconcebível.
A verdade era que eu não sabia como agir. Lauren estava
entrando em minha vida como um furacãoe eu esperava que aquilo
não me devastasse, mais uma vez.
Lauren não é como ela.
Capítulo 14

E daí se você tem gosto de paraíso?

Não quer dizer que seja certo


Verão quente e melancia fria
Seu amor arde como sangue e limão

Por que você me deixa com olhos de aquarela?


Watercolor Eyes – Lana Del Rey

Anos antes

― Bruce, você é muito careta, sabia? ― John me cutucou. ―


Quero te levar em um lugar que você vai gostar.

John sempre tinha algum lugar para nós conhecermos. Na


maioria das vezes era um restaurante, mas, ultimamente, ele estava
focadoem me arrastar para lugares regados a bebidas e prostitutas.

No entanto, eu sempre fuium cara tranquilo, que não gostava


dessas coisas.
Eu tinha vinte e três anos e nunca havia ficado bêbado. Isso
não significava que eu era virgem, mas nunca havia transado com
uma prostituta. Porque, segundo meu pai, nós precisávamos seguir
alguns princípios básicos e ele dizia que nunca admitiria que um
filho seu acabasse se apaixonando ou sendo enganado por uma
puta.

― Se for algum bar, desses que você está frequentando


ultimamente, eu passo ― resmunguei, ao terminar de preencher a
agenda.
Eu trabalhava com meu pai e John estava nos ajudando,
enquanto tentava arrumar algum outro emprego. Meu pai dizia que
não podíamos trabalhar no mesmo lugar, pois John nunca levava
nada a sério.
Nós éramos amigos de infância e depois frequentamos Y
ale e
nos formamos na mesma turma.
John era praticamente um irmão, apesar de termos
temperamentos bem diferentes.

― É um bar com putas, sim, mas... Você precisa conhecer a


mais nova. Ela chegou de Boston e é a sensação do momento.
Respirei fundo, enquanto ele andava de um lado para o outro,
impaciente.

― Não sei, cara. Não gosto dessas coisas, você sabe.

John parou de andar, se aproximou e colocou uma mão em


meu ombro.
― Bruce Hastings, chegou a hora de você quebrar algumas
regras. Seu pai não precisa saber disso. Vamos lá, bebemos um
pouco e depois vamos embora. Você não vai deixar de ser o
brilhante filho de Joseph Hastings, por causa de uma noite de
bebedeira.
Ele tinha um pouco de razão.

Eu sempre me resguardava para não manchar o sobrenome


da minha família, mas era óbvio que somente uma noite de
bebedeira não me faria mal.
Seriaapenas uma noite.
Capítulo 15

Não quero ouvir sobre isso

Cada um tem uma história para contar


Todos sabem disso
Da Rainha da Inglaterra até os cães do inferno

Seven Nation Army – The White Stripes

Lauren

Quando eu estava em Nova York, adorava os sábados. Eu


levantava, ia para o parque, depois ia para o West Village para
encontrar a minha loja de doces favorita e comprava alguns
deliciosos cupcakes.
Aquele era a porra de um sábado, mas eu estava com um
humor dos infernos.
E tudo se resumia à uma pessoa: Bruce maldito Hastings

As coisas estavam tão fodidas que eu sequer consegui


dormir. E, quando eu não dormia, tudo se tornava ainda pior.

Primeiro foi a confusão com Meredith. Depois, o beijo maluco


e sem sentido que aquele homem me deu, que me fez sentir coisas
que fazia muito tempo que eu não sentia. E, depois, seu surto ao
querer me expulsar da casa.

Eu o odiava.
Depois que saído banho, mandei uma mensagem para Josh,
porque ele era o único com quem eu queria conversar naquele
momento.
Jessica era uma Hastings e eu definitivamente queria manter
distância por um tempo de qualquer pessoa ligada àquele
sobrenome.

Josh respondeu rapidamente e combinamos de nos encontrar


em um parque próximo em uma hora. E era óbvio que eu ia, mesmo
que meus lábios ainda estivessem formigando por causa daquele
maldito homem.

Olhei para as paredes do meu quarto e percebi que Bruce


ainda não tinha visto a minha obra de arte. Eu não reformei meu
quarto à toa. Eu precisava que ele visse aquilo com os próprios
olhos.
No entanto, naquele momento tudo o que eu precisava era
comer. Depois eu cuidaria de Bruce Hastings.

Desci as escadas e fui direto à sala de jantar. Jessica estava


sozinha, bebendo alguma coisa em sua xícarada Minnie e mexendo
no celular. Minhas tentativas de fugir dos Hastings nunca dariam
certo enquanto morasse ali.

― Cadê todo mundo? ― perguntei, ao me sentar na cadeira


em frente a ela.
― Saíram.

― E você? Por que não foi?


Eu ainda estava brava com Jessica porque ela não me
defendeu ontem.

― Acho que vou almoçar com o Brandon.


― Entendo. ― Harry apareceu ao meu lado e eu abri o meu
melhor sorriso. ― Bom dia, Harry! Eu te pediria para me levar a
Hogwarts, mas você não é o Harry Potter.

Ele riu da piada idiota, enquanto me servia.


― Sinto muito decepcioná-la, senhorita.

Depois que ele se foi, Jessica respirou fundo e disse:

― Lau, sinto muito por ontem.


Eu a faria se rastejar, se fosse necessário.

― Pelo que, exatamente?

― Por duvidar de você. ― Ela largou o celular e me fitou. ―


Depois que você se trancou no quarto, fui conversar com a Caroline
e ela me contou tudo o que aconteceu.
Mordi uma torrada.

― Humm.

― Acredite, eu nunca fui com a cara da Meredith ― Jessica


continuou. ― Ela foi um dos motivos pelo qual eu quis ir embora
daqui. Uma vez, eu estava passeando com Josh e ela nos viu e foi
correndo contar para o Bruce, alegando que eu estava aos amassos
em praça pública. Já tem noção de como meu irmão ficou, não é?
Claro que eu imaginava.

― Jess, desculpa me intrometer na vida de vocês, mas o que


acontece com seu irmão?
― Como assim?

― Seu irmão é esquisito, acredite. ― Passei geleia na


torrada, mantendo a expressão neutra, para que ela não visse em
meus olhos os amassos que trocamos na noite anterior. ― Ontem
mesmo me expulsou daqui ― após me beijaraté o ponto de me
deixarcom a calcinhamolhadae eu precisaresfregar minhaboceta
debaixo do chuveiro.

Mas é claro que isso ficou apenas nos meus pensamentos.


― Ele o quê? ― Ela arregalou os olhos.
― Foi isso que ouviu.
Jessica me encarou por longos instantes e, depois, suspirou.

― Bruce é complicado, Lauren. Acho que o melhor a fazer é


manter-se longe dele. Estamos aqui para focar na nossa carreira.
― Não foi você que ontem mesmo me falou que eu deveria
tentar me dar bem com ele em prol da nossa carreira?
― Lauren... Eu sei, mas é que...
― Mas é que o quê?
Ela desviou o olhar.

― Bruce tem um passado difícil,por isso, ele é assim. Eu só


não entendo por que ele se sente tão incomodado quando está
perto de você.
Pensei naquelas palavras por algum tempo. O que Jessica
queria dizer?

Eu estava incomodando Bruce?


― Jessica. Você me chamou para vir com você. Se não
quiser a minha presença aqui, é só falare eu volto para minha casa.
Ou o que parecia ser uma casa.
Jessica se levantou, caminhou até mim e beijou o topo da
minha cabeça.
― Eu quero que você fique comigo, Lauren. Só peço que
tome cuidado com Bruce, não quero nenhum dos dois feridosnessa
história.
Dizendo isso, ela saiu da sala e me deixou com a curiosidade
dez vezes pior. Será que ela viu o beijo? E se viu, por que não jogou
isso na minha cara?
Eu só tinha uma coisa a fazer: ficar longe daquele BIM.

(Bilionário, Imbecil, Maluco


)

Estava um calor dos infernos, mesmo assim, recusei o carro


que Jessica queria me emprestar. Deus não me perdoaria se eu
batesse em alguém novamente, ainda mais, se a pessoa fosse o
próprio Bruce Hastings.

Do jeito que a sorte andava ao meu lado...


Quando cheguei ao parque, que era bem perto da mansão,
sentei-me em um banquinho e passei a observar as pessoas.

Crianças andando com seus pais, mães animadas


conversando, cachorros correndo atrás de seus brinquedos...
Lembrei-me de Caroline e pensei no dia maravilhoso que ela
poderia estar desfrutando com seu pai. Ela merecia, afinal, era uma
garota boa, simpática, e, se fosse preciso, eu empurraria Meredith
dez vezes na piscina, só para mantê-la longe daquela menina.
Olhei no meu celular, Josh estava atrasado e eu morrendo de
fome. Aquele café da manhã não havia me sustentado em nada e
agora, já se passava do horário do almoço.

Foi, então, que senti uma mão em meu ombro.


Se fosse algum tempo antes, eu teria aplicado um golpe de
Muay Thai. Mas aquela não era uma mão de um adulto, e sim, de
uma criança.
― Pensou que ia me assustar? ― falei.

Caroline riu e veio até meu lado, sentando-se no banco.


― Pensei. Que merda!
― Hey! ― falei, olhando para os lados. ― Não xingue isso.
Seu pai vai achar que aprendeu comigo.
Ela sorriu.

― E falando no seu pai, cadê ele? ― perguntei, olhando


novamente para os lados.
― Nós brigamos e eu pedi que me trouxesse de volta para
casa. ― Ela cruzou os braços. ― Só que aí ele parou o carro para
comprar algo e eu te vi aqui sentada. Vim conversar com você.
Sorri para ela e coloquei uma mão em seu braço.
― Ele vai ficar preocupado se não te ver lá.
― Tem razão, senhorita Stewart! ― Ouvimos a voz bem atrás
de nós e eu mordi o lábio.

Não estava preparada para vê-lo tão cedo. As memórias


ainda eram muito recentes e eu só queria esquecer.

Bruce se colocou à nossa frente e eu quase perdi o fôlego


quando o analisei dos pés à cabeça. Ele era um homem muito
bonito usando roupas sociais, mas também era lindo usando polo e
calça jeans. Dava-lhe um ar tão leve que nem se parecia com
aquele ogro do dia anterior.
Ele também me encarou e depois desviou o olhar para a
menina. Bruce segurava uma sacola de papel.
― Caroline! Pelo que me lembro, pediu que eu a levasse
para casa ― ele ralhou. ― E é isso o que vamos fazer.

― Eu quero ficar aqui com a Lauren! ― ela retrucou.


― Caroline, já tivemos essa conversa...

Ela se levantou e o encarou.

― Você sempre despeja as suas regras, mas nunca quer


saber a minha opinião! Você é um péssimo pai! ― ela gritou. ― Eu
odeio estudar naquele colégio! Eu odeio fazer aulas de piano! Eu
odeio quando dizem que sou uma “ sem mãe”! Eu odeio você!
Meu queixo quase caiu ao ouvir tudo aquilo saindo da boca
de uma menina tão doce.

Todo mundo resolveu surtar naquela semana?


Bruce e eu ficamos atônitos quando Caroline virou as costas
e saiu correndo na direção da mansão.

― Caroline! ― gritei. ― Volta aqui! ― Olhei para Bruce, mas


ele estava paralisado, parecendo que havia levado um soco no
rosto. ― Hey, vamos atrás da sua filha!

Ele me encarou e assentiu, então saímos correndo atrás de


Caroline.

Por sorte a mansão estava perto, porque, bem, o meu


histórico de atleta não estava em dia.
Bruce foi na frente e quando entramos no hall, encostei-me
contra a porta aberta, tentando puxar o ar para os meus pulmões.

― Caroline! Espera! ― Bruce gritava, mas a garotinha subiu


as escadas sem peso na consciência.

― Porra! ― Bruce xingou e então se virou para mim. ―


Mas... você está bem? ― Aproximou-se, colocando a mão em
minhas costas. ― Calma, respira fundo.
Ergui o tronco e respirei fundo várias vezes.

― Isso, assim. Tranquila.


Ele estava ao meu lado, segurando minha mão direita
enquanto a outra estava em minhas costas. A preocupação em seu
olhar era nítida.
― Harry! Harry!

O mordomo apareceu rapidamente.


― Traga um copo de água para a senhorita Stewart. Rápido.

― Claro, senhor.
Harry saiu correndo e pouco tempo depois estava me
entregando um copo com água, que engoli de uma só vez.

Céus.
Eu realmente era sedentária.

― Obrigada, Harry. ― Devolvi-lhe o copo e ele saiu da nossa


presença, deixando-nos a sós novamente.
Demorei, mas consegui me recuperar.
Então, Bruce se afastou.

― Caroline não era assim... ― Bufou, colocando uma mão na


cintura.
― Agora vai dizer que a explosão dela é culpa minha
também ― retruquei.
Bruce virou-se e eu estava pronta para receber um
xingamento, mas o que ouvi de seus lábios, me surpreendeu:

― Não, não é culpa sua.

Fiquei em silêncio, observando-o.


― Ela sente falta de ter uma mãe ― disse ele, aproximando-
se com seus olhos intimidadores.
― Acredito que sim. Crescer sem uma mãe é algo difícil.
― Com você foi assim? ― ele perguntou.

Cruzei os braços ao me lembrar do passado. Era


desconfortável, mas foi algo que aconteceu em minha vida, então,
não havia motivos para ser mantido em segredo.
― Mais ou menos. Perdi minha mãe aos quinze anos. Ela
morreu de overdose e... ― Suspirei. ― Eu a encontrei na banheira
do local onde morávamos. Ela morreu asfixiada... Com o próprio
vômito.

Se Bruce ainda não sabia dessa parte da minha vida, era


agora que ele ia fazerde tudo para me manter afastadade Caroline.
Afinal, eu era filha de uma drogada... O que eu teria de bom para
oferecer?

Bruce deu mais um passo em minha direção e de repente,


uma de suas mãos veio ao meu rosto. Seus olhos eram
indecifráveis, mas vi o mesmo calor da noite anterior, onde nossos
lábios fizeram festa um no outro.
Queria beijá-lo mais uma vez.
― Sinto muito ― disse calmamente.

Aquele homem realmente era uma incógnita.

― É a vida. ― Levantei um ombro.


Continuamos nos encarando por alguns segundos, até que
ele olhou para sua mão em meu rosto e pareceu acordar daquele
transe. Então afastou-se e disse:
― Ahn... quer comer alguma coisa?

Minha barriga roncou no mesmo instante.


― Ah... pode ser. Josh não apareceu mesmo.

O semblante de Bruce mudou de repente.


― Estava esperando por Josh?

Queria voltar nas palavras e não dizer aquilo, mas já era.


― Sim, bem... eu estava brava e ele era o único que eu
queria ver hoje.

Merda, merda, merda.


Bruce assentiu, mas logo relaxou em sua postura.

― Conheço um restaurante muito bom. Acho que você vai


gostar.
― Ok, pode ser.
Bruce estendeu a mão na direção da porta para que eu fosse
na frente e acho que essa foi a primeira atitude educada que ele
teve comigo desde que cheguei nesta casa.

E eu gostei.

Quando Bruce estacionou em frente ao restaurante chique,


imediatamente olhei para minhas roupas e me arrependi de ter
aceitado o convite do senhor riquinho.

Eu estava apenas de shorts e camiseta de banda velha,


enquanto Bruce, sempre bonito e elegante.
Nós não combinávamos.
― Eu não vou entrar ali, Bruce.

Ele girou a cabeça na minha direção.


― E... por quê?

Arregalei os olhos como se dissesse “preciso mesmo


explicar?”
Seus olhos pretos desceram pelo meu corpo e havia muito
mais do que simples conferência de roupa.

Imediatamente meu corpo reagiu e senti um pequeno calor


onde não devia.
― Não quer ser vista ao meu lado?

― Você sabe que não é isso.

― Então vamos, estou morrendo de fome.


Bruce abriu a porta e saiu do carro, dando a volta. Falou com
um homem e lhe entregou as chaves, logo em seguida, abriu a porta
ao meu lado.

― Vamos, Lauren. O manobrista quer entrar no carro e você


está atrapalhando.
Ele estendeu a mão e eu respirei fundo.
Não havia meios de me livrar daquele homem, não é?

Pulei para fora do carro com a ajuda de Bruce e ele me


empurrou de leve para dentro do estabelecimento enquanto eu
estava deslumbrada, olhando para cada detalhe das coisas que eu
nunca pude ter antes.
As paredes eram todas de vidro e o teto era rústico, em
madeira envelhecida. Havia lustres que deviam custar muitos
dólares, mas que traziam o aconchego perfeito para os clientes.

Bem no meio, havia uma escada que os degraus eram de


vidro suspenso.
Quase abri a boca, extasiada com aquela visão, quando um
garçom se aproximou.

― Senhor Hastings ― ele cumprimentou. ― Senhorita...?

― Stewart ― Bruce respondeu na frente.


Apertei a mão dele, mas logo percebi que não devia ter feito
isso. Ele estava me cumprimentando apenas por educação.
― Jack, nos prepare aquela mesa no andar de cima, por
favor. ― Bruce pediu educadamente, mas como sempre, usando o
tom autoritário que irritava a qualquer um.
O rapaz se foi e eu fiquei mais uma vez perdida naquele
lugar.
― Venha comigo, quero te mostrar o andar de cima.
Bruce estendeu o braço, indicando que eu fosse à frente.
Subi degrau por degrau, consciente de que ele estava bem atrás de
mim e, naquele momento, eu me arrependi de estar usando um
short tão curto.
Chegamos ao andar de cima e novamente me impressionei
com tudo. Ali era um enorme salão, com apenas uma mesa no
fundo e que, naquele momento, estava sendo preparada para nós.
― Uau! ― Girei ao redor do meu próprio corpo. ― Gostei
daqui.
No andar de baixo, havia uma quantidade significativa de
pessoas, no entanto, ali estava vazio. Olhei para Bruce e ele estava
parado, me observando e, como se soubesse o que eu ia perguntar,
respondeu:
― Não deixo que ninguém suba aqui, além dos funcionários.
Cruzei os braços.

― Vai me dizer que este lugar também é seu?


Ele deu alguns passos em minha direção, sem nunca desviar
os olhos dos meus.
― É sim ― respondeu, tranquilamente. ― Um dos meus
restaurantes.

― Hummm... ― Desviei o olhar ao redor. ― Por que só tem


uma mesa aqui?
― Porque eu gosto de ficar sozinho e, não costumo dividir a
companhia de ninguém, exceto, minha família.
Ele era chato mesmo. Quem não gostava de sair para
almoçar ou jantar com um amigo, namorada...
Aproximei-me de um arranjo de flores e brinquei um pouco
com elas, dando-lhe as costas totalmente.

― Nunca trouxe Meredith?


Bruce ficou em silêncio alguns instantes, então logo o senti
atrás de mim. Seu corpo irradiando calor para o meu.
― Eu já disse que não gosto de dividir esse espaço com
ninguém.
Engoli em seco e deixei escapar uma pergunta:
― Então, você é desses que não gosta de dividir as coisas?

Bruce abaixou a cabeça e eu fechei os olhos instintivamente


ao senti-lo tão perto da minha orelha.
― Eu não gosto de dividir o que é meu, Lauren.
Capítulo 16

Eu era como champanhe

Você era como uísque


Cada coisa ruim
Que nós fizemos teve tanta diversão

Eu vi o seu melhor lado


E você teve que ver meu pior
Hello Heartache – Avril Lavigne

Bruce

Lauren estava folheando o cardápio de uma maneira


bastante engraçada para ser bem sincero.
Eu já tinha escolhido a minha refeição, mas ela continuava
ali, seu rosto se contorcendo e eu quase conseguia ver a fumaça
saindo de sua cabeça na tentativa de escolher um prato.
― Precisa de ajuda? ― perguntei.
Ela fechou o cardápio e o colocou em cima da mesa.

― Não, ahn, eu... perdi a fome. Acho que vou só beber uma
água.
― Não seja ridícula, Lauren. ― Peguei o cardápio e o abri,
folheandoaté a página de massas. Então indiquei para ela um prato
de Fettuccine com molho branco. ― O que acha desse?
Ela leu as letras miúdas que indicavam o que vinha no prato
e de repente seus olhos brilharam.
― Pode ser. Adoro massa.
Chamei o garçom e indiquei o que iríamos comer.

Lauren estava inquieta, olhando ao redor e para si mesma.


Era óbvio que ela não se sentia à vontade usando aquelas roupas
em um ambiente como aquele restaurante.
Talvez tivesse sido exagero da minha parte. Talvez eu
devesse ter a levado a um carrinho de cachorros-quentes que,
provavelmente, ela teria gostado mais.
E desde quando eu me preocupava com o que Lauren
Stewart gostava?
Eu estava cada dia mais louco, era a única explicação.

A noite havia sido péssima, porque sequer consegui pregar


os olhos pensando no beijo que havíamos trocado em meu
escritório. E agora, eu não conseguia desviar o olhar de sua boca
carnuda e linda, pronta para receber outro beijo como aquele.
― Então, porque me trouxe com você? ― ela perguntou,
atraindo a minha atenção de volta. ― Sabemos que você não é o
meu fã número 1.
Lauren era muito esperta e isso era algo que eu gostava.

― Porque estamos morrendo de fome.


Ela apoiou o cotovelo na mesa e o queixo na palma da mão.

― Não minta para mim, Hastings. Você me trouxe aqui


porque gostou do beijo na noite passada.
Outra coisa que eu gostava em Lauren: ela era direta.

Eu poderia ter dito que odiei a porra do beijo que trocamos,


mas eu não era nenhuma criança. Já tinha mais de trinta anos e se
uma mulher me excitava, era óbvio que eu ia aproveitar isso até o
fim.

Mesmo que a pessoa em questão fosse aquela garota


desequilibrada.

― Você quer mesmo que eu seja franco? ― Ergui as


sobrancelhas.
Ela se surpreendeu com minha pergunta.
― Ahn, quero.

Inclinei-me em sua direção e sussurrei em seu ouvido:


― Gostei pra caralho.

Lauren arregalou os olhos e me fitoucomo se eu fosselouco.


― E você ainda diz assim? Você está ficando louco, Bruce
Hastings?
Bebi um gole da minha taça de água e assenti.

― Muito provavelmente.

As bochechas de Lauren adquiriram um tom rosado e eu


gostei de deixá-la envergonhada.
Meus olhos desceram pelo seu pescoço esguio e não
consegui deixar de imaginá-la nua em minha cama com os cabelos
loiros contrastando com o lençol de cetim preto.
Lauren era insuportável pra caralho e a última mulher com
quem eu deveria me sentir atraído, mas porra, eu não conseguia
deixá-la de fora dos meus pensamentos.
Então eu tinha chegado à conclusão de que tudo aquilo era
apenas tesão reprimido. Já fazia tempo que eu não transava com
ninguém e uma garota linda como Lauren obviamente me chamaria
a atenção.
Lutar contra o meu corpo e o meu instinto era a pior idiotice
que eu podia fazer. Então me restava apenas lutar contra a minha
mente e deixar o resto rolando para ver até onde poderíamos
chegar naquele joguinho.

― Você me odeia, Bruce.


Suspirei.
― Eu não te odeio. Apenas... ― Como eu poderia dizer que
não a via como uma mulher ideal sem ofendê-lamais? ― Eu a acho
um pouco irresponsável.

― Um pouco?
― Bastante irresponsável.
Lauren bufou.
― Não entendo isso. Até ontem à noite você estava me
tratando como bicho e agora está dizendo essas coisas e me trouxe
nesse restaurante chique. O que quer de mim, porra?
Passei horas e horas pensando em como fazer aquilo dar
certo.

Eu queria foder Lauren e isso estava me deixando maluco.


Sem falar que eu também sabia que ela me desejava. Seu
beijo fora tão intenso quanto o meu.
― Acho que podemos hastear a bandeira da paz por algum
tempo, o que acha?

O garçom voltou com a garrafa de vinho, atrapalhando nossa


conversa. Depois que nos serviu, Lauren ainda estava atônita.
― Vo... você quer hastear a bandeira da paz? Sério?
Respirei fundo.
― Sim, Lauren. Acho que não dá mais para vivermos sob o
mesmo teto com brigas atrás de brigas. Era isso que eu ia falarcom
você ontem, antes do episódio com Meredith.

Lauren bebeu uma boa dose do vinho e secou a boca com o


pano da toalha da mesa.
Céus...
― Não sei se posso confiar em você, Bruce. Você me beijou
e depois me expulsou de casa.
― Eu estava nervoso, ok?
― Sim, mas... não sei se quero ser sua amiga, Bruce. Acho
que não dá.

― Então o que podemos ser?


― Pessoas educadas que não maltratam um ao outro.
― Tudo bem. ― Suspirei. ― Só não sei como isso vai
funcionar entre nós.

Lauren suspirou também e foi nesse momento que nossa


comida chegou.
E ali eu vi uma outra parte daquela jovem.
A parte animada em ver um prato simples de comida. A parte
animada de mastigar como se aquele fosse o único prato que
tivesse comido há dias.

E eu sabia que a realidade de Lauren não era muito diferente


disso.
Jessica conversou comigo durante a madrugada e me contou
um pouco sobre como era a vida de ambas.
Aquela bandeira da paz hasteada não era eu aceitando todas
as loucuras de Lauren Stewart e anulando tudo o que aconteceu
desde que chegou. Mas aquela bandeira branca era um novo
começo. Um novo capítulo que eu poderia tentar escrever com
aquela jovem que fazia os olhos da minha filha brilharem, que fez
minha irmã Jessica estufar o peito para defendê-la mesmo sabendo
que eu poderia acabar com o sonho delas.

Quem era Lauren Stewart? Eu estava ansioso para descobrir.


Capítulo 17

Ergo a minha bandeira, tinjo minhas roupas

É uma revolução, eu suponho


Estamos pintados de vermelho para nos encaixarmos, ooh
Radioactive – Imagine Dragons

Lauren

O almoço com Bruce foi a coisa mais estranha que me


aconteceu em todos esses anos de vida.
Ok...
Eu realmente esperava que em algum momento ele
começasse a me tratar como gente. Mas é claro que depois do que
aconteceu na noite anterior, minhas esperanças tinham diminuído
drasticamente.
Até o momento em que ele disse aquelas coisas.

Achei que tinham colocado alguma coisa no vinho, mas aí


lembrei que ele já tinha começado a falar antes do garçom trazer a
garrafa. Então, bem, ele realmente queria que nosso relacionamento
mudasse.
No trajeto de volta para casa não trocamos muitas palavras,
eu estava muito confusacom toda aquela história. Por isso, preferio
silêncio e, aparentemente, Bruce também.
Quando chegamos na mansão, quis sair correndo para o meu
quarto e remoer toda aquela história debaixo do meu edredom, mas
assim que coloquei os pés no vestíbulo, dei de cara com a última
pessoa que eu queria ver naquele momento.
Ele usava sua camisa polo azul engomadinha, calça jeans
escura e um buquê de rosas na mão direita.
― Você demorou ― disse ele. ― Tive que vir te pedir perdão
pessoalmente.
― Não precisava, Josh.

Bruce entrou logo depois, pois tinha ido até o estacionamento


traseiro, mesmo sabendo que seus funcionários poderiam muito
bem levar o carro até lá. Eu achava que era somente uma desculpa
para ficar algum tempo longe.
― Elas são para você. ― Josh me estendeu o buquê e eu o
peguei, sorrindo fracamente.

Bruce passou por nós e, antes que subisse os degraus, Josh


o cumprimentou.

― Olá, Bruce.
Ele olhou para nós, para o buquê e assentiu devagar.

― Josh.

Fiquei calada, observando enquanto ele virava as costas e


subia degrau por degrau. Naquele momento, senti um aperto em
meu peito.

Eu o queria.
Mas também não queria.
Que porra.

― Vocês estavam juntos? ― Josh arqueou a sobrancelha.

― Ah... sim ― respondi, balançando a cabeça. ― Estava


com fome e Bruce me levou para almoçar, já que ele também estava
e... enfim, você entendeu.
― Entendi. ― Ele cruzou os braços. ― Se quer um conselho,
fique longe desse cara. Você já viu como ele é grosseiro. Sem falar,
que tem a fama de ser um escroto.

Não gostei de ouvir essas palavras de Josh, mas fiquei em


silêncio.

Bruce realmente era tudo aquilo, mas eu não podia anular o


fato de que ele foi legal durante todo o almoço e agora parecia
querer fazer nossa relação ser diferente.
E tinha a questão do maldito beijo que eu não conseguia
esquecer.

Suas mãos percorrendo meu corpo e...

― Lauren? Está me ouvindo? ― Josh estalou os dedos em


frente ao meu rosto.
― Desculpe. ― Balancei a cabeça. ― Dizia algo?

― Bom, na verdade, eu perguntei se você gostaria de sair


esta noite?
Que legal.

― Não sei, Josh. Estou cansada... Fiquei o dia todo na rua.


E não era mentira. Eu realmente queria entrar no meu quarto
e sair de lá somente no dia seguinte.

Ele cruzou os braços e balançou a cabeça.


― Não aceito negativas.

― Da última vez que saímos, se Bruce me cobrasse, eu teria


que vender um rim para consertar um carro que acertei por sua
culpa.
― Você tem razão. ― Ele suspirou. ― Mas hoje será
diferente. Não tenho a pretensão de levá-la para beber.
Eu acabava de ter a certeza que Josh era um pé no saco.
Suspirei pesadamente, e, por fim, balancei a cabeça. Se eu não
aceitasse, ele não desistiria daquilo. Pelo menos, naquele
“encontro” eu poderia deixar bem claro que não estava afim dele.

― Tá bom, Josh. Mas quero voltar no máximo às 23h.


Ele ergueu uma sobrancelha.
― Ué, tem horário para voltar pra casa agora?
― Isso... ― Enfiei o indicador em seu peito ― não é da sua
conta.

~
Arrumei-me com um vestido preto de tubinho que Jessica
havia me emprestado. Ela ficou louca quando descobriu que Josh
me convidou para sair “formalmente”e insistiu que eu deveria me
vestir à altura.

Mal sabia ela que eu fui até um restaurante chique com seu
irmão vestindo somente short e camiseta surrada, se ela
descobrisse isso, certamente surtaria.
Ela também me emprestou um de seus relógios dourados.
Jessica mantinha uma coleção deles em seu quarto. Esse que ela
pegou era bonito, mas ficava bem chamativo em um braço tão fino
quanto o meu.
E agora, ela terminava os detalhes da minha maquiagem,
como se eu fosse um quadro e ela, a pintora.

― Só mais um detalhe aqui... ― Ela pegou um frascoem sua


bolsinha. Era um rímel. ― Olhe para cima.
― Ah, nem pensar. ― Virei o rosto porque eu odiava passar
rímel. Eu sempre enfiava aquele negócio dentro do olho.
― Lau, confie em mim. ― Ela bateu o pé. ― Se você não
passar isso, todo meu trabalho vai para o lixo.

Bufei e fiz o que ela pediu. Discutir com Jessica era perda de
tempo e eu já estava frustrada o suficiente por ter que me produzir
toda para um encontro com um idiota chamado Josh.
― Ele falou que horas viria?
― Às 19h, já que eu disse que queria estar de volta no
máximo às 23h.
― Pronto ― disse ela e eu continuei com os olhos bem
abertos, esperando aquele negócio secar.

― Josh tem gostos refinados, vai te levar em um bom


restaurante ― Jessica falou,ao virar as costas para mim. ― Ele me
contou que hoje te deixou esperando durante à tarde.
― É, foi.
― Mas eu também soube que você saiu para almoçar com
meu irmão. ― Ela se virou pra mim. ― Devo acreditar que vocês
estão fazendo as pazes?

― Talvez. ― Bufei, não sabendo se a palavra “fazeras


pazes”era a mais correta para a nossa situação. ― E Caroline,
como está?
Jessica suspirou e se sentou na cadeira que estava à minha
frente.
― Ah... Ela se trancou no quarto durante todo o dia, mas está
bem.

― Entendo. ― Dei um meio sorriso. ― Apesar de tudo, sua


sobrinha tem sorte por ter vocês. Eu não tive ninguém.
― Talvez... ― Ela manteve o olhar fixo para além de mim. ―
Lau, mas e se o Josh quiser passar a noite com você?
Eu já havia pensado naquela possibilidade, mas não. Eu
havia sido bem clara para ele que gostaria de estar de volta em
casa. Será possível que ele iria contra os meus desejos?
― Não quero saber de rolo com o Josh. ― Bufei. ― Ainda
mais, quando estamos prestes a formar uma banda.
Ela deu de ombros.

― Não vejo problema nisso, desde que vocês saibam


separar a vida pessoal do trabalho.
Levantei-me, farta daquela conversa idiota.
Eu só esperava que ele soubesse respeitar os meus limites.

― Eu já disse o quanto você está linda esta noite? ― Josh


me olhou e, pela vigésima vez, fez a mesma pergunta.
― Já, obrigada.
Virei o rosto e revirei os olhos discretamente.

Nós estávamos em um restaurante chique, bem parecido ao


que Bruce me levou mais cedo. No entanto, esse era uma filial de
um restaurante francês e eu sequer sabia o que significavam
aquelas coisas no cardápio.
― Você vem sempre aqui? ― perguntei, folheando o
cardápio antes que eu o atirasse na cabeça de Josh. Será que ele
não havia percebido que eu não me dava bem com aquelas coisas?
― Sim. Esse é um dos meus restaurantes favoritos. A comida
é deliciosa.
― Ah...

O garçom se aproximou e anotou o pedido dele. Quando foia


minha vez, falei que poderia ser o mesmo, sem saber exatamente o
que ele havia pedido. Josh sorriu satisfeito depois que o garçom se
foi, e sequer perguntou se eu sabia o que eu estava pedindo.

Olhei ao redor e vi várias pessoas bem arrumadas,


educadas, conversando baixo e eu sabia que todos os que estavam
ali tinham muito dinheiro. Engoli em seco, afinal,aquilo não era para
mim.
Eu daria tudo para naquele momento estar dentro de um bar,
bebendo uma cerveja e tocando um violão. Afinal, mesmo que eu
estivesse dentro daquele vestido caríssimo, usando sapatos
elegantes, eu não era como eles.

― Você está bem? ― Josh perguntou ao perceber o meu


desconforto.

― Sim. Tudo bem.

Josh sorriu novamente e começou a falar sobre o que ele


imaginou para a nossa banda. Falou que procuraria alguns shows
para que pudéssemos começar o mais rápido possível e que,
certamente, chegaríamos aos lugares mais distantes, arrastando
multidões.
Eu queria acreditar que aquilo era possível, mas não podia
deixar de admitir que aquilo parecia tudo muito surreal.

O garçom voltou e trouxe nossos pratos.

Olhei para aquele negócio esquisito no meu prato e engoli em


seco. Que porra era aquela?
Ele era verde e, por Deus, que horror!
― Josh, que diabos é isso? ― perguntei, com o tom de voz
mais alto do que o normal.

Josh me fitou como se aquilo fosse normal e eu, desde


sempre, pertencesse ao seu mundo.
― Escargot. Nunca comeu?

― E o que é “
escargot”? ― perguntei, irritada.
Algumas pessoas se viraram para nós e Josh sorriu,
envergonhado. Ele aproximou seu rosto do meu e sussurrou:

― É um molusco. Eu pensei que você já havia comido, pois


pediu o mesmo prato que eu.
Minha boca quase se escancarou ao ouvir aquela conversa
idiota. Josh só havia feito aquilo para me humilhar, disso eu tinha
certeza.

Algumas pessoas ao nosso redor começaram a rir baixinho,


talvez se divertindo com a minha falta de sabedoria gastronômica.
Senti meu rosto esquentar ao ver o papel ridículo que eu estava
pagando na frente daquela gente.

Levantei-me, segurando o choro e coloquei o guardanapo de


pano em cima da mesa.
Com Bruce, mais cedo, as coisas foram completamente
diferentese, mesmo estando em um mundo que não era o meu, não
me senti deslocada porque ele me ajudou em tudo.
― Josh, espero que tenha uma boa refeição com os seus
moluscos, porque eu, estou caindo fora.
O garçom tentou me impedir, porém, eu saí quase
tropeçando com aqueles saltos ridículos. Josh se levantou e veio
atrás de mim, porém, ao sairmos do restaurante eu o encarei
friamente.

― Não precisava me trazer em um restaurante chique para


mostrar o quanto eu sou uma caipira! ― Ele abriu a boca para falar
algo, mas eu continuei: ― Achei que você era diferente dos outros
caras, mas eu vejo que me enganei. Até mesmo Bruce, que sempre
foi um idiota e grosseiro comigo, hoje me tratou como se eu fosse
uma igual.
― Lauren, não é isso! Pelo amor de Deus!
― Não quero saber das suas desculpas, Josh ― falei, me
afastando dele. ― Quem quiser ter algo comigo, vai ter que me
aceitar do jeito que eu sou e não me moldar como se eu fosse uma
princesa da Disney.

Virei as costas, tirei os sapatos de salto altos e saí correndo


pela rua. Josh pensaria duas vezes antes de me humilhar
novamente.
Meu coração estava doendo e eu nem sabia o porquê. Não
era a primeira vez que uma coisa como aquela acontecia. Já saí
outras vezes com babacas que fizeram coisas até piores.
O problema era que Bruce não saía dos meus pensamentos.

Ele foi tão doce e gentil durante o dia e...

Porra!
Eu precisava esquecer aquele maldito beijo. Precisa
esquecer aquele desgraçado.

A rua estava deserta e eu continuei caminhando descalça,


procurando por um táxi. Estava fora de questão ir vestida daquele
jeito até o metrô, até porque, eu nem sabia para que lado ficava.
Parei em uma esquina e olhei para os lados. Nem sinal de
táxi por ali.

Peguei meu celular e a única saída que eu via naquele


momento era ligar para Jessica e pedir sua ajuda.

Ela viria me buscar, certamente.

O número dela já estava nos favoritos, o que facilitava muito


o meu trabalho. O telefone tocou uma, duas, três vezes. No quarto
toque ela atendeu e eu nem a deixei falar.
― Jess, pelo amor de Deus, preciso que venha me buscar.
Eu estou algumas ruas depois daquele restaurante ridículo que o
Josh me trouxe. Nossa, você não imagina o quanto eu estou
chateada, fui humilhada na frente de um monte de ricaços.

Silêncio do outro lado da linha.

― Jess, você está aí? Por favor, não fique brava... ―


Suspirei. ― Se você não vier me buscar, não sei como vou fazer.
Este sapato que você me emprestou é horrível e mal consigo andar
com eles. Meu pé está com bolhas e doendo pra caralho.
Novamente silêncio do outro lado.

― Porra, Jessica! Está me ouvindo? ― gritei, já irritada.


― Lauren, é o Bruce. Jessica está no banho e deixou o
celular aqui na sala.

Paralisei no mesmo instante.


Naquele momento eu quis que um buraco se abrisse na
minha frente para eu poder cair e esquecer aquela ligação.
― Ahn... Bruce? ― perguntei, quase como um sussurro.

Ele suspirou pesadamente.

― Me diga onde você está, vou te buscar.


Capítulo 18

Eu não vou mudar

Eu vou viver tão intensamente, essas asas quebradas


Vai me elevar ao Sol para que eu possa queimar
Nas chamas

De novo e de novo
Bitter Taste – Billy Idol

Bruce

Encerrei a ligação e respirei fundo.


Assim que Lauren saiu com Josh, me juntei à Jessica e
Caroline na sala de vídeo, enquanto elas assistiam a uma comédia
romântica. Não era do meu feitio assistir àqueles filmes, mas eu
precisava me aproximar da minha filha de algum jeito.

Lauren não sabia, mas eu observei cada movimento seu


antes que encaixasse o braço no de Josh e saísse com ele. Ela
estava magníficaem um vestido colado ao seu corpo, seus cabelos
loiros caindo como cascata por suas costas e seus lábios pintados
de vermelho que, obviamente, inspiravam paixão.
Seria mentira se eu dissesse que aquilo não mexeu com
alguma parte que estava esquecida dentro do meu peito havia anos.
Não era para Lauren sair com aquele imbecil, era para ela estar
comigo, sabe-se lá Deus onde e por que.

Era errado dizer que eu torci para que aquele encontro desse
errado?
Claro que sim.

Apesar de tudo, Lauren merecia ser feliz e aquilo nunca


aconteceria ao meu lado. Eu era somente um homem quebrado,
com um passado de decepções. O que eu poderia oferecer para ela,
além do meu próprio império?
Talvez algumas noites de prazer, mas nada além disso.

Cocei a cabeça, frustrado comigo mesmo. Talvez, se eu não


tivesse desejado que aquele encontro desse errado, Lauren não
estaria tão chateada.
Peguei a chave do meu carro na mesa do escritório.

Eu prometi que iria buscá-la e era isso o que eu iria fazer.

Anos antes

Chegamos ao prostíbulo preferido de John. Na verdade, a


fachada daquele lugar era de um bar, mas por trás, somente os da
alta sociedade sabiam o que acontecia no subsolo. Ele estava
animado com aquela noitada, ao passo que eu, começava a me
arrepender de tê-lo acompanhado.

Após passarmos por uma porta preta e descermos uma


escada, um grandalhão me empurrou um panfleto onde dizia:
“Loren, a sensação da temporada”.
O local era surreal.

Provavelmente, quem estava na parte de cima, sequer


imaginava as mulheres nuas que passavam entre os clientes
servindo bebidas ou oferecendo seus próprios serviços luxuriosos.

― Eu ainda não acredito que concordei em te acompanhar


até aqui ― resmunguei para John.

Ele deu de ombros.


― Apenas relaxe, Bruce. Seu pai não precisa saber que você
veio aqui.
A música era alta demais e eu deduzi que as paredes eram
revestidas, pois no andar de cima ninguém ouvia nada.
Aproximamo-nos mais e observei um extenso palco, onde
havia mais mulheres nuas dançando em uma barra de aço.
John sorriu maliciosamente quando uma delas o reconheceu
e o chamou com o indicador.

― Senta a sua bunda branca em qualquer sofá aí que eu já


volto. ― John sorriu feitoum idiota e saiu, hipnotizado, até a mulher.

Sentei-me na primeira poltrona que vi e não demorou para


que as mulheres viessem ao meu encontro.
Eu sorri, fui simpático, mas ao notarem que não passaria
disso, elas me deixaram sozinho novamente.
Dessa vez, um garçom se aproximou e pedi uma bebida.
― O show já está prestes a começar, senhor ― ele me
informou e eu assenti.
Olhei ao redor e me perguntei o que diabos estava fazendo
ali.
Eu deveria ir para casa, assistir a algum filme. Conversar
sobre negócios com meu pai ou procurar alguma garota que
quisesse algo sério.
Nunca namorei sério com ninguém, afinal, sempre fui muito
compenetrado em minha faculdade e, depois, no meu trabalho.
Envolver-me a fundo com alguém nunca esteve na minha
lista de prioridades.
Virei a bebida de uma só vez e não avistei John em lugar
algum. Ele, provavelmente, estaria aproveitando seu precioso
dinheiro que investiu nos ingressos desta casa.

As luzes mudaram de tom e uma voz femininasensual avisou


que o show começaria.
Não sabia ao certo no que eles se inspiraram para criar
aquele espetáculo, mas era bem feito. Uma mulher entrou no palco,
completamente vestida e com uma túnica bordô sobre os ombros.
Ela usava também uma máscara dourada, que cobria metade de
seu rosto.
Ela imediatamente se lançou na barra de metal e fez
movimentos lentos e sensuais, que roubaram a minha atenção logo
naqueles primeiros minutos do espetáculo.

Eu já não conseguia desviar o olhar daquela mulher


misteriosa.
Suas curvas eram perfeitas. Seu cabelo era dourado e eu
estava louco e, curioso, para vê-la por completo.
Lentamente, ela tirou cada peça de roupa. Os homens ao
meu redor estavam enlouquecidos também e eu não podia dizer que
me sentia de maneira diferente.

À medida que o show foi tomando sua proporção, ela tirou


algumas peças de roupas, para depois revelar que apenas um
felizardo tiraria o restante da lingerie.
Eu estava tão próximo do palco, mas eu sabia que era
impossível que ela me escolhesse. Eu era um novato ali, magro e
com cara de nerd.
A mulher misteriosa desceu do palco e meu coração se
acelerou quando a vi caminhar em minha direção. Eram poucos
passos, mas pareciam intermináveis enquanto ela me olhava sob a
máscara.

Mesmo com a escuridão do local, eu consegui distinguir a cor


de seus olhos: azuis. Como a cor do mar.
― Loren já tem o seu escolhido da noite!
Meu coração pulava como louco no peito.
Ela parou à minha frente e sorriu para mim. Seus olhos eram
espertos e os mais lindos que eu já tinha visto em toda a minha
vida. Estendeu-me a mão e eu hesitei por alguns instantes, no
entanto, os homens ao meu redor gritavam o quanto eu era um
desgraçado por conseguir aquela façanha.
Loren se aproximou do meu ouvido e sussurrou com uma voz
doce e angelical:
― Eu te escolhi esta noite, querido.
Olhei para ela, atônito. O volume em minhas calças já
demonstrava o quanto eu gostei da ideia, mas eu nunca havia me
deitado com uma mulher como ela, embora eu não fosse virgem e
sabia muito bem o que precisava fazer.

Levantei e encaixei a minha mão na dela.


Loren sorriu docemente para mim.
― Será apenas uma noite, querido.

Apenas uma noite...


Capítulo 19

O amor machuca, o amor deixa cicatrizes, o amor fere

E prejudica qualquer coração


Que não seja resistente ou forte o suficiente
Love Hurts - Nazareth

Lauren

Bruce me disse ao telefone que perto de onde eu estava


existia uma ponte e que eu deveria esperá-lo lá. E foi exatamente o
que eu fiz,mas naquele momento eu começava a me arrepender de
não ter levado nenhum casaco.
Suspirei ao ver o quanto eu parecia mulambenta. Descalça,
com os pés sujos de tanto andar, os cabelos já bagunçados por
causa do vento e os pelos do corpo arrepiados, devido ao frio que
me assolava.
Encostei-me ao parapeito da ponte e observei o movimento
das águas.

Lá no fundo eu sabia que aquele encontro com Josh só me


traria arrependimentos, mas não imaginei que eles seriam tão fortes.

Peguei meu celular e olhei as horas.


Bruce estava demorando e eu estava com muito frio.

― A donzela foi deixada para trás pelo príncipe sapo?


Era óbvio que esse tom sarcástico não podia ser de outra
pessoa.

― Talvez o príncipe sapo que foi deixado pela donzela


valente.

Ele não respondeu e eu me virei para ele, somente para


perder o fôlego.

Como Bruce conseguia ser tão gostoso vestindo apenas uma


camiseta branca de gola V e calça preta?
― O carro está logo ali. Vamos?

Cruzei os braços, sem saber o que falar ou como agir perto


dele.

Lembrei-me do beijo e do nosso almoço mais cedo.


Eu queria mais da companhia de Bruce, mesmo que fosse
uma completa loucura.
― Vamos, Lauren? ― ele perguntou novamente.

Assenti bem devagar.


― Tudo bem...

Bruce se virou para ir à frente, porém, eu dei um grito:

― Espera, Bruce!
Ele parou e se virou, talvez perguntando-se o que diabos eu
tinha.
Envolvi meu corpo com meus próprios braços e ele suspirou.

― Está com frio?


Assenti, tímida, outra vez.
Ele olhou para os lados e coçou a cabeça.

― Eu tenho um casaco no carro ― disse.

E dessa vez, eu neguei com a cabeça. Porra, eu não queria


um casaco para me esquentar daquele maldito frio, eu queria um
abraço daquele homem.
Espantei a timidez e corri de encontro ao seu corpo, me
chocando contra ele e o abraçando bem forte. Bruce ficou sem
reação por algum tempo, porém, logo depois me abraçou de volta.

E o seu calor era maravilhoso.

― Me desculpa ― sussurrei, com a cara enterrada em seu


peito. ― Me desculpa por isso.
Bruce não respondeu, mas seus braços ao redor do meu
corpo já eram tudo que eu precisava.

Como as coisas podiam mudar assim, tão de repente?


Queria beijá-lo novamente, sentir o calor que só ele poderia
me proporcionar naquele momento.
― O que está fazendo, Lauren? ― perguntou baixinho.

Ergui a cabeça e fitei seus olhos escuros como a noite.

― Eu fui burra. Saí com Josh, mas... eu não o quero.

Ele me olhou por vários segundos, então disse:


― E quem você quer?

Era loucura, era absurdo e eu era uma idiota por admitir


aquilo, mas porra, aquele homem incendiava cada parte do meu
corpo.
Era lógico que eu o queria.
― Você.
Bruce não pareceu se surpreender com minhas palavras.
Seus olhos brilhavam de uma forma diferente, mesmo assim, ele
não esboçou nenhuma reação de deboche diante da minha
confissão.
― Não posso te dar nada além de prazer físico, Lauren.
― E quem disse que eu quero algo além disso?
Dessa vez, ele abriu um meio-sorriso.

― Isso não vai dar certo...


― Por que, não? ― Coloquei minhas mãos na base de seu
maxilar. ― Você quem começou me beijando daquela forma ontem.
Não acho que é justo provocar alguém e depois sair de mansinho.
― Porra, Lauren. ― Ele segurou minha cintura e me virou até
que minha bunda estivesse encostada no parapeito da ponte. ― Eu
não gostava de você. E acho que não gosto ainda.
― Mas quer trepar comigo, não é?
― Quero.

Dessa vez, eu sorri.


― Também não gosto muito de você, Bruce Hastings. Mas
quero trepar com você. Acho que estamos quites.

― Você me atrai de uma forma perigosa. Não gosto disso.


― Então por que não cala essa boca e me beija? Acho que
seria tudo mais fácil.
Bruce grunhiu antes de enfiar uma mão nos meus cabelos e
puxar a minha cabeça para trás.

― Uma boca linda que fala merda demais.


Então ele abaixou sua cabeça e colou sua boca na minha.
Não precisou de mais nada para que fogos de artifício
explodissem dentro de mim. Minha temperatura corporal se elevou e
eu o beijei como se não houvesse amanhã.
Sua língua penetrou minha boca e raspou meus dentes. Sua
boca se moveu contra a minha enquanto suas mãos desciam da
minha cintura para baixo, apertando-me, desejando-me.

― Me leva para algum lugar ― faleiquando consegui parar o


beijo para respirar. ― Qualquer lugar.
― Ok.
Foi tudo o que Bruce respondeu antes de se virar e me puxar
pela mão em direção à...

Só Deus sabia.

~
― Achei que você ia me levar à um... Motel?

Olhei pela janela do carro para o prédio onde estávamos


parados. Ele estava fechado e, bem, ainda não conseguia entender
o que Bruce pretendia.
― Não faça perguntas ― ele disse antes de tirar o cinto e
sair do carro.
Bruce deu a volta e abriu a porta, puxando-me pela mão.

Ele bateu a porta e saiu na frente, tirando do bolso um


pequeno maço de chaves. Rapidamente pegou a certa e abriu a
porta do bar.
― Achei que trabalhavam até tarde, por ser um bar... ― falei,
entrando logo atrás.
― Sim, mas estamos modificandoalgumas coisas. Então, em
alguns dias vai fechar mais cedo.
Olhei para os lados e, realmente, havia resquícios de
bagunça típicas de reformas.
Talvez era por isso que Bruce não havia me chamado para
trabalhar ainda, mesmo ele tendo dito que a vaga era minha.
― Venha comigo.
Bruce me puxou para um canto do bar e abriu uma porta que
nos levou ao andar de baixo, que nem em meus sonhos eu
imaginaria que existia. O lugar estava abandonado, mas dava para
ver claramente o que era.

― Uau, aqui era um puteiro antes?


― Uma casa para homens da alta sociedade ― corrigiu-me.
― E eu disse que não queria que você fizesse perguntas.

― Tá bom, mas...
― Quieta, Lauren. Antes que eu me arrependa disso.
Calei-me no mesmo instante.

Bruce segurou minha mão e me puxou para um corredor que


continha várias portas.
Algo dentro de mim dizia que eu deveria virar as costas e sair
dali, mas também havia aquela pequena voz entusiasmada que
dizia para ir até o fim. Porra, era só uma noitada. Nada mais que
isso.
Quantas vezes eu fiz isso em Nova Iorque?

Inúmeras.

Com Bruce não seria diferente.


Entramos na última porta e quando Bruce acendeu a luz,
meus olhos correram pelo cômodo.

Era surpreendente.

O quarto estava completamente limpo, bem diferente do que


havia do lado de fora.A decoração era em tons escuros, vermelho e
preto. Havia uma cama King Size com lençol preto. No teto, havia
um espelho gigante.
Havia também uma banheira em um canto do quarto.

― De certa maneira, isso é um quarto de motel.


Bruce resmungou e jogou as chaves em cima de uma
mesinha. Então sentou-se na cama de uma forma relaxada e seus
olhos percorreram meu corpo de baixo para cima.

― Conte-me como foi o encontro.


Coloquei as mãos na cintura.

― Achei que iríamos fazer outra coisa, Bruce.

― E vamos. ― Ele ergueu as sobrancelhas. ― Só quero


deixá-la à vontade. Não quero que sinta que... ahn, embora seja
algo parecido, só quero usá-la.

Eu entendia o que ele queria dizer.


― Tudo bem, vou te contar, mas não quero que dê risada de
mim, ok?

― Ok.
Respirei fundo.
― Você deve ter percebido que não me dou bem com
restaurantes chiques, não é?

― Claro que percebi.


Sua concordância imediata me irritou, mas deixei para lá.
― Pois então, Josh me levou à um restaurante francês... ―
fiz uma pausa esperando que ele dissesse algo, mas Bruce só me
olhava. ― E pediu escargot’s.

Ele jogou a cabeça para trás e riu.

― Puta merda, eu esperava qualquer coisa daquele imbecil,


menos isso.
― Eu quis jogar aquele troço na cara dele.

Bruce suspirou, se levantou e veio até mim.


― E daí você decidiu se levantar, mandar ele ao inferno e
pedir ajuda à Jéssica.

Apoiei minhas mãos em seu peito coberto pela camiseta


branca que eu não via a hora de tirar.
― Sim. Exatamente isso.

― Eu imaginei, mesmo.
Ergui a cabeça e fitei os olhos escuros de Bruce.

― Você me acha a pior das pessoas, não é?


Ele suspirou.
― Não a conheço, Lauren. Sei apenas o que você deixou
que eu visse. E, embora não seja exatamente o tipo de
comportamento que me agrada, não consigo deixar de pensar em
ter você na minha cama.

Suas palavras fizeram um arrepio percorrer a minha espinha


e imaginei o que aconteceria nos próximos minutos.

― Vai ser só uma noite? ― perguntei.


― Não sei.
― Você vai continuar saindo com a Meredith?

― Nunca saí com Meredith desse... jeito.

Não sei por que, mas algo dentro do meu peito inflouao ouvir
aquilo.
― Mas você vai se casar com ela, não é?

― Talvez.
― Por que?

Bruce bufou.

― Meredith vai ser uma ótima mãe para Caroline. E é apenas


isso que vou compartilhar com você, Lauren Stewart.

Assenti lentamente.
― Tá bom... mas antes de a gente começar isso aqui, você
não teria uma bebida para aquecer?

Bruce deu um passo em minha direção, colando seu corpo ao


meu.
― Não quero você bêbada quando eu fodê-la como se fosse
a última vez.
CA.

RA.
LHO.
Depois dessas palavras, não me restou nada a não ser me
derreter em seus braços.
Capítulo 20

Porque esta noite eu estou me sentindo como um astronauta

Mandando SOS desta minúscula caixa


E eu perdi todo sinal quando decolei
Agora estou preso aqui e o mundo me esqueceu

Astronaut – Simple Plan

Bruce

Abracei Lauren enquanto meus lábios devoravam os dela


sem piedade alguma.
Eu devia ter escolhido outro lugar, mas eu queria escrever
uma nova história por cima daquelas memórias e eu sabia que a
única que poderia fazer isso era Lauren, já que ela foi a única
mulher que despertou o animal insaciável que havia dentro de mim,
há muito congelado por um passado não tão distante.
Segurei-a pelas pernas e a ergui enquanto seus braços se
enrolavam em meu pescoço. O vestido subiu pelas suas coxas e eu
comecei a massageá-la enquanto a levava em direção à cama.

Deitei Lauren sobre o lençol e a cobri com meu corpo já em


chamas. Deixei de beijar sua boca para explorar a região de seu
maxilar e seu pescoço longínquo.

― Bruce... ― Lauren suspirou.


― Você está quente ― falei, hipnotizado pela forma como
seu corpo respondia ao meu.

― Você nem imagina o quanto.

Dei risada porque, bem, eu gostava desse jeito excêntrico de


falar sem pudores. Isso me dava uma ideia do que poderíamos fazer
entre quatro paredes, dos segredos que poderíamos carregar
juntos.

Lauren puxou a barra da minha camisa, erguendo-a.


Coloquei-me de joelhos e a tirei, jogando-a em um canto qualquer.
― Você é gostoso ― ela disse, olhando para o meu peitoral.
― Bem do jeito que eu gosto.
Inclinei-me para ela novamente.

― Que bom, então.


Seus lábios estavam vermelhos, inchados. Isso só me deu
mais vontade de beijá-la ainda mais.

E foi exatamente o que eu fiz.


Perdi-me em nossos lábios duelando ou trabalhando em
conjunto, como preferissem. A questão era que fazia muitos anos
que nenhum beijo mexia tanto comigo quanto aquele. Desde a noite
anterior.
Meu pau latejava na cueca e para mostrar isso a ela, abaixei
o quadril e esfreguei-me em seu corpo.
Suas mãos percorriam minhas costas e me deixavam à beira
do colapso. Mãos pequenas, dedos cheios de calos devido às
cordas dos instrumentos que ela tocava, mas um toque poderoso
que excitava qualquer homem.
E, bem, para a minha sorte ou não, aquele homem era eu.
― Espera ― Lauren parou o beijo e se afastou. ― Eu estou
nervosa.

Ela levantou da cama e começou a andar de um lado para o


outro.

Sentei-me na cama, apoiando minhas costas na cabeceira.


Não estava com pressa, apesar de ter dito à Jéssica que voltaria
logo. Bem, eu não tinha dito que ia buscar Lauren e, talvez, isso
fosse ótimo.

― Por que não faz um strip-tease para mim? ― sugeri.


Lauren parou de andar e me fitou como se eu tivesse
sugerido a ideia mais genial do mundo.

Mas de repente ela murchou.

― Não sei dançar.


Suspirei.

― Não precisa dançar. Apenas... bem, tire a roupa devagar.


Ou feche os olhos e imagine que está em um local onde você é a
rainha da noite.

Exatamente como ela fazia


, minha mente gritou.
Não, porra.
Lauren não era como ela.

― Tudo bem, vou tentar. Coloca uma música aí no celular,


então.
Respirei fundoe peguei meu celular no bolso da calça. Abri o
aplicativo de músicas e busquei alguma playlist com esse propósito.
A música começou a tocar e coloquei o aparelho na mesinha
de cabeceira. Então voltei a fitá-la, esperando que seu show, feito
especialmente para mim, começasse.
Lauren parou na frente da cama e respirou fundo.

― Ok, vamos lá.


Ela fechou os olhos e seu corpo começou a balançar no
ritmo.
Bem, Lauren realmente não sabia dançar, mas isso pouco
importava.

Meus olhos a percorriam da cabeça aos pés e, porra, ela era


maravilhosa.
Seus cabelos loiros estavam bagunçados, mas eu não via a
hora de puxá-los enquanto a fodia por trás.
Lauren abaixou o zíper do vestido bem lentamente. Seus
olhos ainda estavam fechados e eu realmente queria saber no que
ela estava pensando, por que um sorriso surgiu em seus lábios
enquanto ela se soltava mais.

O vestido foi para o chão em questão de segundos,


deixando-a somente de lingerie.
Eu esperava encontrar uma lingerie velha, mas o que surgiu,
me surpreendeu.

Provavelmente Jessica a tinha ajudado, acreditando que


Lauren acabaria na cama de Josh esta noite.
Bem, nesse caso, eu podia me sentir satisfeitopor ele ser um
completo imbecil.
Lauren era magra, mas tinha curvas perfeitas. Seus seios
eram um pouco maiores do que eu imaginava e eu gostei disso.
Suas pernas eram longas e eu só as queria em volta da minha
cintura.

― O que está achando do show? ― ela perguntou, parando


de dançar.
― Perfeito.
Ela sorriu.
― Vem cá, garota.

Lauren veio em minha direção, subiu na cama e eu a puxei


para se sentar em meu colo.
Passei os dedos pelo seu rosto macio.
― Você é linda pra caralho.
― Obrigada.
― Seus olhos... ― Eles eram azuis como a cor do mar. ―
Sua boca... porra, estou fodido.

Segurei sua cabeça e a puxei em direção à minha antes que


ela tivesse tempo de dizer qualquer coisa.
Lauren estava mais solta, mais calma.

Beijei seus lábios, mordisquei-os. Enfiei minha língua em sua


boca e deixei que nossos corpos se acendessem ainda mais.
Suas mãos alternavam carinhos em meu pescoço e meus
ombros. Algumas vezes ela o apertava, como se quisesse
comprovar que aquele momento era real.
― Ainda dá tempo de desistir ― falei, quando precisei
separar nossos lábios para respirar.

― Não, eu não quero parar. ― Sua voz saiu um pouco rouca.


― Tampouco eu.
Lauren me beijou novamente e então pegou minhas mãos e
as levou até o fecho de seu sutiã.
Os soltei e arrastei as alças pelos braços delicados, jogando
a peça em qualquer lugar.

Segurei os seios de Lauren e os acariciei. Os bicos rosados


demonstravam o quanto ela estava excitada e cada vez que eu
passava o dedão por eles, Lauren soltava um pequeno gemido de
satisfação.
― Gosta que eu os acaricie? ― perguntei.
― Gosto muito.

― Quer que eu os chupe?


― Quero.

Seus olhos brilharam com luxúria.


Abaixei minha cabeça e Lauren inclinou um pouco as costas,
dando-me permissão para brincar com seus peitos maravilhosos.

Abocanhei um e o chupei, depois o lambi. Lauren gemeu e


fechou os olhos. Com a mão livre, apertei o outro e massageei o
botão intumescido. Ela colocou a mão em minha cabeça e
pressionou para que eu a chupasse com mais força.
E claro que foi exatamente isso que eu fiz.
― Bruce... ― ela gemeu.
― O que foi? ― Olhei para ela com inocência enquanto seu
peito estava em minha boca.

― Isso é tão... erótico.


Dei risada.

― Isso é só o começo.

― Eu realmente espero que sim.


Deixei seus peitos um pouco e me concentrei em seu
pescoço, beijando-a e torturando-a levemente.

Uma das minhas mãos se infiltraram em sua calcinha e só


confirmei o que já imaginava. Lauren estava completamente
molhada, só esperando pelo que estava por vir.

― Quanto tempo faz que você não goza? ― perguntei.


― Ahn, algum tempo... por quê?
― Por nada, só curiosidade ― falei, começando a massagear
seu clitóris. ― É difícilachar um homem que dê prioridade ao prazer
feminino, não é?
Lauren ergueu um pouco o quadril, fechou os olhos e deu
uma reboladinha.

― Não sei, Bruce. Eu acho que sim.


― É o que dizem a maioria das mulheres ― falei,
concentrado no que estava fazendo. Meus dedos se moviam,
massageando-a lentamente. ― E eu preciso concordar que alguns
homens são babacas e só pensam em si.

― Sim, alguns são mesmo. ― Ela arfou. ― Ai, porra. Que


delícia.
Dei uma risadinha.

― Isso, goze, Lauren.


Ela abriu e fechou os olhos. Sua boca se abriu e gemidos de
satisfação saíram por ela. O quadril de Lauren subindo e descendo
enquanto eu a estocava com meus dedos.

Suas mãos apertaram os meus ombros quando ela suspirou


e seu corpo estremeceu de prazer. Ela abriu os olhos, inebriados de
prazer. Tirei os dedos de dentro dela e os lambi, provando de seu
gosto.

Lauren não me deu tempo de dizer nada, colou seus lábios


nos meus de uma maneira frenética e possessiva.
Ela puxou-me e quando vi, já estava com meu corpo sobre o
dela, prensando-a na cama.

― Eu quero você, Bruce ― ela disse, seus dedos tentando


abrir o cinto da minha calça. ― Agora, por favor.

― É claro.
Afastei-me apenas para tirar minha calça e em seguida a
cueca.

Lauren arregalou os olhos quando viu meu pau e eu não


aguentei segurar a risada.
― Te assustou?

― Dizem que se Deus fez é porque cabe.


Ri novamente e voltei para a cama, colocando-me sobre ela.

― Até que você é inteligente para algumas coisas, não é?


― Só para algumas? ― Suas sobrancelhas se ergueram de
forma engraçada. ― Eu sou inteligente para quase tudo, Bruce
Hastings.

― Quase tudo, certo... vou guardar isso.


Ela riu.
Suas mãos não se aguentaram de curiosidade e seguraram o
meu pau. Ela o acariciou, masturbando-o com a maciez de seus
dedos e eu precisei me controlar para não gozar rápido como um
adolescente.

― Chega. ― Segurei seu pulso. ― Eu ainda quero vê-la


gozar mais uma vez enquanto eu estiver dentro de você.

― Ok, me desculpe.

Lauren
Bruce tinha um pau espetacular, se essa era a palavra
apropriada.

Grande, grosso e, porra, eu sabia que ele ia cumprir sua


promessa de me fazer gozar novamente.
Sua boca se grudou a minha em mais um beijo frenético.
Queria que ele me penetrasse logo, estava ansiosa para tê-lo dentro
de mim. Para consumarmos aquilo que me atormentava desde que
me beijou pela primeira vez.

Ok, talvez um pouco antes.


Bruce puxou da mesa de cabeceira um pacotinho prateado.
Eu sequer havia prestado a atenção de que ele fora cuidadoso ao
trazer uma camisinha para esse encontro.
Em pensar que eu escolhi sair com Josh...
Ainda bem que algumas coisas na vida costumavam dar
errado. Porque depois sempre vinha a melhor parte.
Bruce desenrolou a camisinha em seu pau e eu o observei
extasiada. Acho que nunca saí com nenhum homem que era o
“combo” completo. E apesar de aquilo ser puramente carnal, eu
estava satisfeita.

Só esperava que depois não houvessem arrependimentos.


Tanto da parte dele, quanto da minha.
Ele se ajoelhou na minha frente e com cuidado desenrolou
minha calcinha.
― Queria te chupar bem aqui. ― Ele arrastou um dedo pela
minha boceta.
Suspirei.

― Talvez outra hora.


― É, talvez ― ele disse, lamentando.

Bruce encaixou seu pau em minha entrada e sem cerimônias


me penetrou.

Ficamos parados por alguns segundos.

Ele parecia pensar no que estava fazendo ou... não sei.


Também não queria saber, só queria que ele continuasse.
― Bruce, olhe para mim ― exigi.

Ele não queria olhar.


― Bruce Hastings!
Ele finalmente me encarou e eu vi os destroços de um
homem.

Não queria saber sobre o seu passado, mas sabia que havia
algo ali que o destruiu. Que o tornou quem ele era hoje e, pensar
que em tão pouco tempo consegui a façanha de arrastá-lo para a
minha cama, me deixava um pouco aliviada.

Só que eu não queria que ele pensasse naquelas merdas


agora.
― Não pense, só me foda.

Ele sabia o que eu queria dizer.

Bruce assentiu e então começou a estocar para dentro de


mim. Abri-me para ele, deixando que ele fosse fundo.
Gemidos escapavam da minha boca.

― Olhe para mim, Lauren ― ele disse, suas mãos segurando


levemente o meu pescoço.
Encarei seus olhos.

― Eu já disse, Bruce. Não pense, só me foda.


Ele soltou meu pescoço e apoiou os braços ao redor da
minha cabeça.

Seu quadril se movia agora com certa lentidão, em um ritmo


só nosso.
O prazer era como uma onda percorrendo meu corpo.

O som das nossas respirações se misturavam.

Suor começou a escorrer de sua testa. Os cabelos pretos se


colaram a sua testa.
Bruce era meu, pelo menos naquela noite.

― Eu disse que ia fazer você gozar novamente. ― Ele


mudou nossas posições e me colocou por cima. ― Vamos, cavalgue
em mim.
Não perdi tempo e comecei a cavalgá-lo, movendo meu
quadril para cima e para baixo.
Bruce soltou alguns gemidos, mas o que comprovava sua
satisfação era o brilho sedutor em seus olhos.

Ele acariciava os meus peitos que pulavam conforme eu


aumentava o ritmo da minha cavalgada.
― Gostosa pra caralho ― murmurou.
Bruce segurou o meu quadril e começou a mover o seu em
um ritmo acelerado.

Meu corpo estremeceu e gemi alto quando gozei novamente.


Bruce mais uma vez mudou nossas posições, me colocando
deitada de costas no colchão.

― Agora é a minha vez, pequena.


Ele beijou meus lábios levemente e se afastoupara cumprir o
que ele desejava.

Bruce segurou minha cintura com uma mão e me ergueu um


pouco, encaixando-se dentro de mim, mais uma vez. Seu quadril se
movia em um ritmo acelerado e eu só conseguia pensar que não
queria que aquilo acabasse.
Nunca.

― Bruce, que delícia ― gemi. ― Isso, desse jeito.

― É com força que você gosta? ― ele perguntou,


arremetendo com força, fazendo-me soltar um gritinho.
― Adoro!
Ele deu uma risada, beijou-me nos lábios mais uma vez e
acelerou seu ritmo, buscando seu próprio prazer.
Seus olhos se fecharam e depois se abriram.
Seu corpo estremeceu.
Ele gemeu alto. Praticamente um grito animalesco, como se
estivesse saindo de suas próprias prisões.
Fiquei hipnotizada por aquele homem à minha frente. Tão
gostoso, tão delicioso. Tão meu.
Bem, ele não era meu.
Ele seria de Meredith e eu odiei ter esse tipo de pensamento
nesse momento.

Odiava que logo ela poderia dormir na cama dele todos os


dias.
Que ela teria aquele tipo de tratamento. Porque, bem, eu não
era boa o suficiente para ser a esposa do senhor Hastings. Eu era
só uma caipira que estava vivendo de favor na casa dele.
Uma caipira que teve a sorte, ou não, de chamar sua atenção
e ser o objeto de seus desejos.
Apesar de já ter sido usada por vários homens, nunca me
senti tão mal quanto naquele momento.
Só que eu segurei o choro e quando Bruce saiu de dentro de
mim, virei as costas, para ele não ver em meus olhos o tipo de
pensamento que estava cruzando a minha mente.
― Está bem, Lauren? Eu a machuquei? ― ele perguntou
com a voz preocupada, apoiando uma mão em meu braço.
― Não, quer dizer, estou bem. ― Tentei abrir um meio-
sorriso. ― Eu só... ahn, acho que vou tomar um banho. Só tem essa
banheira aqui?
― Tem um chuveiro no banheiro anexo.
― Ok, acho que vou usá-lo, então.
Bruce abriu a boca para dizer algo, mas eu não lhe dei
tempo. Levantei e saí do quarto, procurando pela solidão que um
banho de chuveiro podia nos proporcionar.

O banheiro era simples. Abri o chuveiro e me enfiei debaixo


da água quente, esperando que aquela sensação ruim saísse do
meu corpo.
Fechei os olhos.
Bruce não era meu e nunca seria.

Por que isso mexia tanto comigo?


Ele tinha acabado de me fazergozar como há tempos eu não
gozava. Devia estar feliz por isso e não chateada com algo que não
fazia o menor sentido.
Não seja idiota, Lauren.
Só esperava que, pelo menos, Bruce esperasse algum tempo
para pedir Meredith em casamento.

Porque eu achava que, no dia que isso acontecesse, eu ia


ficar muito chateada.
Capítulo 21

Você poderia sussurrar no meu ouvido

As coisas que você quer sentir?


Eu te daria qualquer coisa
Para sentir isso acontecer

Slide – Goo Goo Dolls

Lauren

Demorei bastante no banho, e por sorte, isso não foi motivo


para Bruce invadir o banheiro exigindo que eu saísse. Então,
quando finalmente saí, ele disse que havia roupas novas e um
lanche em cima da cama para eu me vestir e comer.
Ele fechou a porta atrás de si e aproximei-me das coisas.
Com certeza, algum de seus empregados que as trouxe para nós.
Minha barriga roncou no instante que senti o cheiro da comida
envolta em um saco de papel marrom.

Porra, eu já estava com fome antes, agora então...


Com a toalha enrolada no corpo, sentei-me na cama e puxei
o saco de papel em minha direção. Abri-o e encontrei um sanduíche
de pastrame. Devorei em poucas mordidas.
Delicioso.

Olhei para as roupas dobradas em cima da cama e respirei


fundo.
Como as coisas seriam daqui para a frente?

Antes, Bruce e eu vivíamosem uma batalha diária, apesar de


ele ter sugerido levantarmos a bandeira da paz. Agora, no entanto,
essa bandeira ultrapassou os limites e acabamos aqui, num quarto
que acho que ninguém deve saber que existe, transando que nem
dois delinquentes.

― Está gostoso o sanduíche? ― A voz de Bruce me


assustou e eu dei um pequeno pulo antes de olhar para ele.

Ele estava com uma toalha branca enrolada na cintura e os


cabelos pretos molhados, praticamente pingando no chão.
Meus olhos desceram por sua cintura e sim, eu queria repetir
a transa espetacular que Bruce nos proporcionou.
― Está uma delícia.

Bruce começou a rir e foi aí que percebi que eu ainda estava


olhando para o seu pau.
― Não sei se me sinto lisonjeado com isso ou assustado ―
ele disse, vindo em minha direção. Ele abaixou o tronco
perfeitamente esculpido e eu aspirei o cheiro de sabonete. Pensei
que ele ia me fazerdeitar e me fodernovamente, mas o desgraçado
pegou o saco de papel e puxou de lá um sanduíche. ― Hum, Harry
sabe preparar os melhores sanduíches de pastrame.

Bufei.
Claro, só podia ter sido Harry.

― Ele sabe que estou aqui? ― perguntei, tentando desviar o


foco do calor instalado no meio das minhas pernas.
Bruce mastigou um pedaço, engoliu e assentiu.

― Sabe.
Arregalei os olhos.

― Mas... e se...
― Ele não vai dizer nada a ninguém. Harry é discreto.

― Então você quer manter isso em segredo? ― perguntei


baixinho.

Bruce largou o sanduíche e se abaixou, para seu rosto ficar


na mesma altura do meu.
― Lauren, olhe para mim.

Não queria olhar, porque eu sabia que no momento que


nossos olhos se encontrassem ele veria a menina idiota e imbecil
que havia dentro de mim. Ele veria a minha alma, porque era assim,
eu sempre acabava me entregando demais, mostrando demais e as
pessoas sempre usavam aquilo para me destruir.

Não queria que Bruce fizesse isso.


― Não quero que crie expectativas falsas, Lauren ― ele
disse, acariciando meu joelho. ― Acho que preciso ser bem sincero
com você. Até porque, temos uma diferençade idade considerável e
experiências de vida bem diferentes. ― Ele suspirou. ― Quando
você apareceu, me irritou pra caralho. Mas te achei bonita, sexy e
nesses tempos andei me martirizando tentando não pensar em você
desta forma. ― Ergui a cabeça um pouquinho. Ele estava olhando
para o meu joelho. ― Não quero que crie falsas ilusões, Lauren. O
que aconteceu entre nós foi... a força do desejo. Confesso que faz
tempo que não sinto isso por ninguém, mas... aconteceu. ― Ele
ergueu a cabeça e fitou meus olhos. ― Eu nunca mais vou me
apaixonar, Lauren. Por ninguém, entende? Essa é uma regra que
coloquei dentro de mim e eu sempre respeito as regras.
Bruce e as malditas regras.
― Não estou falando de se apaixonar, Bruce. ― Revirei os
olhos para esconder o meu desconforto. ― Estou falando sobre
como as coisas vão ser daqui pra frente.
― Ah, sim... claro. ― Ele tossiu levemente. ― Ahn,
sinceramente não sei.

Então ele se calou.


Bruce estava tão desconfortável como eu, por isso resolvi
deixar aquele assunto de lado.
Não ia bancar a garota sonhadora que fica esperando o cara
ligar no dia seguinte.

Bruce Hastings não era assim.


E era melhor lidar com a realidade de que ele era um homem
totalmente fora dos padrões.
― Você não vai comer esse sanduíche? ― perguntei,
mudando de assunto. ― Porque se não quiser, eu quero. Estou
morta de fome.
Bruce abriu um meio-sorriso e se levantou.

― Pode comer, eu aguento até chegar em casa.


Então enfiei a mão no saco de papel e peguei o sanduíche
mordido e o devorei.
Pés no chão... era o que eu precisava naquele momento.

Depois que chegamos em casa, recolhi-me ao meu quarto e


passei o restante da noite em claro, pensando em como agiria com
Bruce.

Cheguei à conclusão que continuaria sendo eu mesma.


E assim, alguns dias se passaram.

Bruce e eu nos encontramos pouco, porque ele estava


trabalhando muito e até tarde. E eu tinha decidido que não ia
esperar uma segunda vez acontecer, porque ele fora bem claro ao
dizer que transou comigo porque tinha vontade.
Bem, a vontade ele saciou.
E hoje era quinta-feira e eu só queria fazer algo da vida.

Passei boa parte do dia deitada na cama, pensando em


novas letras de músicas. Pensando também em Bruce e como
aquela merda de vida que eu tinha, não me ajudava em nada.
Depois, quando me levantei, fui até a cozinha e comi alguma
bobeira que Harry preparou para mim. A casa estava em total
silêncio e ele me disse que Jessica tinha saído com Brandon.

― O babaca do Josh apareceu por aí? ― perguntei por


perguntar. Já fazia dias que não o via e queria que continuasse
assim.
― Não, senhorita ― Harry respondeu de forma polida.
Depois que comi, fui para a sala de vídeo. Sabia mexer bem
pouco com aquela televisão gigantesca, mas, mesmo assim
consegui colocar um filme de terror para assistir.

O filme era chato e desnecessário para a indústria do cinema.


Irritada,desliguei a tv e voltei ao meu quarto. Peguei meu violão, um
caderno e desci para aproveitar o finalzinho da tarde no jardim dos
fundos, perto da piscina.
Eu precisava compor, afinal, somente aquilo me ajudaria a
espantar aquelas sensações estranhas dentro do meu peito.
Rabisquei algumas palavras e toquei alguns acordes no
violão. NADA parecia se encaixar e eu não sabia o que estava
acontecendo. Compor e tocar sempre foram coisas muito fáceis
para mim.

Tentei mais alguns acordes quando vi alguém passando


pelas portas de vidro.
― O que quer aqui? ― fui direta. ― Não bastou a
humilhação daquele dia?
Josh se abaixou perto de mim.
― Me perdoa, Lauren. Eu nunca imaginei que você se
sentiria humilhada, eu apenas quis...
Levantei o olhar e o encarei ferozmente.

― Quis o quê?
― Quis levá-la em um lugar bacana ― ele se justificou. ― A
última coisa que quero neste mundo é perder a sua amizade.
Seus olhos azuis me olhavam com o que parecia ser
sinceridade.

Respirei fundo, contei até dez e respirei fundo mais uma vez.
Se não tivesse acontecido aquilo, talvez eu não tivesse
terminado a noite de uma forma tão gostosa.
― Tá bom. Deixa pra lá.

Dei de ombros e logo ouvi uma garotinha gritando meu nome


ao passar pelas portas de vidro. Nós olhamos em sua direção e ela
veio correndo para ficar ao meu lado.

― Hey, Carol. ― Sorri quando ela se sentou ao meu lado. ―


O que está fazendo aqui? Não deveria estar na aula?
― Ah, você nem vai acreditar ― ela disse, animada. ― Papai
me buscou mais cedo para irmos assistir um jogo da Liga Nacional
de Basquete. E eles até autografaram o meu boné, veja só.

Caroline tirou o boné e me entregou.

Realmente, havia algumas assinaturas ali.


― Que demais, Carol! Fico feliz por você.
Ela sorriu e olhou o caderno onde eu estava escrevendo ou,
pelo menos, tentando.

― O que é isso?
― Ahn... Estou tentando escrever alguma música. ― Sorri
para ela. ― Agora que você chegou, quem sabe possa ser a minha
fonte de inspiração, enquanto Josh levanta a bunda e cai fora da
nossa frente?

Olhei para Josh com a sobrancelha arqueada. Será que ele


havia entendido que eu não tinha mais nada para falar com ele?
Ele se levantou e ergueu as mãos.

― Tudo bem, tudo bem. Tio Josh caindo fora antes que ele
seja arremessado dentro da piscina.
― Melhor mesmo.

― Bem, amanhã eu volto para conversarmos sobre a banda.


Estou tentando conseguir um show no Campus de uma
Universidade, mas só vou ter a resposta amanhã cedo.
― Tudo bem ― respondi, enquanto alisava os cabelos claros
de Caroline. ― Até amanhã, Josh.
Observei enquanto ele virava às costas, derrotado, e saía
pela porta. No momento em que ia passar, Bruce e ele deram de
frente.

― Então, você fez as pazes com seu pai? ― perguntei para a


mocinha que mexia em meu violão.
― Sim... Ele disse que vai nos levar ao cinema depois que
voltar da viagem.

― Nos levar?
Ela me fitou como se dissesse “
Faleidemais”e apenas
sorriu. Bruce se aproximou de nós e meu coração se acelerou.
Imagens da noite quente que tivemos dias antes vieram a
minha cabeça e eu queria repetir tudo.

Queria suas mãos em meu corpo.


Sua boca na minha.

Seu corpo dentro do meu.

Eu era, definitivamente, patética.

Tentei fingir que sua presença não mexia comigo, então,


peguei o violão da mão da Caroline e dedilhei umas notas.
― Carol, Jessica chegou e quer a sua companhia ― Bruce
falou. ― Que tal ir lá dentro?

Ai, meu Deus, ele queria ficar a sós comigo.

― Tá bom. ― Ela se levantou com seu jeito metade criança,


metade adulta e se despediu de mim.
― Depois nós vamos comer pizza, Lau! ― disse ela, toda
animada e eu percebi que o apelido ridículoque Jessica colocou em
mim, já estava na boca da garotinha.

― Pizza? ADORO!

Ela riu e se foi, deixando-nos a sós. Bruce se aproximou e se


sentou no gramado ao meu lado.
Olhei para ele e não pude deixar de suspirar.

Ele usava uma camisa azul social e calça cor creme. Uma
verdadeira perdição.

― Gostou do passeio? ― perguntei, para aliviar aquele clima


estranho.
Bruce balançou a cabeça afirmativamente.

― Sim e... Eu preciso de um favor seu.


Quem diria... Até uns dias antes ele me chamava de
inconsequente, agora até favor meu queria? As coisas estavam
mesmo mudando e eu estava cada vez mais boquiaberta.

Abaixei a cabeça e puxei o caderno de volta para o meu colo,


para rabiscar qualquer coisa.
― Humm...

― Está compondo? ― ele perguntou.


― Tentando ― murmurei. ― Depois que cheguei aqui, minha
inspiração sumiu.
― Continue buscando, uma hora ela volta.

Assenti e sorri.
― Sim, mas qual é o favor que precisa?

Ele ficou em silêncio alguns instantes, talvez pensando se me


pediria o tal favor ou não. Aquela tensão entre nós só piorava as
coisas e eu precisava me segurar para não pular em seu colo e
beijá-lo do jeito que eu queria.

― Vou ter uma reunião em Las Vegas e preciso ir para lá


esta noite ainda. Volto em dois dias. Consegue ajudar Jessica a
tomar conta da Carol?
Então, ele não participaria da noite da pizza conosco.

― É claro. ― Sorri, fingindo que não estava chateada. ― Ela


é uma criança sossegada, não vai dar trabalho.
Bruce assentiu lentamente.

― Eu costumava deixá-la com alguma babá, porém, não


acho que seja necessário.
― E não é ― afirmei.

Ele me encarou de uma maneira intensa.

― Confio em você, Lauren.

Ouvir aquilo encheu meu coração de felicidade, mas, ao


mesmo tempo, eu quis me matar. Nunca cuidei de uma criança
antes!
Porém, cuidar de Caroline seria fácil e eu somaria alguns
pontos com aquele homem bipolar e, quem sabe, eu ainda
conseguiria arrastá-lo para a minha cama mais uma vez.
― Pode confiar. ― Arrisquei uma nota no violão. ― Acredite,
não quero me meter mais em confusões.

― Ótimo.
Bruce ainda me encarou por longos instantes. Seus olhos
presos em meus lábios.

Queria beijá-lo, mas sabia que aqui não era o momento e


nem a hora certa.

E Bruce também sabia, porque se levantou e me deu as


costas, deixando-me sozinha no gramado.
Capítulo 22

É o terror de saber

O que realmente é esse mundo


Observando alguns bons amigos
Gritando: Deixe-me sair!

Rezo para que o amanhã me deixe mais animado


Under Pressure – Queen feat. David Bowe

Lauren

Caroline, Jessica e eu estávamos na sala de TV assistindo a


um filme enquanto comíamos pipoca e todas as outras besteiras
que amamos. Bruce viajou na noite anterior e, até aquele momento,
estava tudo bem.

Apesar das minhas investigações, não consegui descobrir


muita coisa do seu passado. Queria saber porque ele era tão
fechado para relacionamentos e essas coisas. Na madrugada,
levantei e fui até seu escritório. Fucei algumas gavetas e não
encontrei nada, além de papéis derivados de suas empresas.

Ainda não entrava na minha cabeça os motivos de um


homem como Bruce, que administrava grandes companhias, manter
um bar como aquele e, principalmente, um quarto desativado que
estava em perfeito estado.

Era como se ele visitasse aquele lugar...


E eu sabia que ali continha memórias do que ele não queria
me contar.
Depois que fucei boa parte dos seus papéis, me joguei na
cadeira que, por sinal, era muito macia e aspirei ao seu perfume
impregnado dentro daquela sala.
Não conseguia tirar da minha cabeça a noite extasiante que
tivemos. O sexo mais descompromissado e gostoso que já fiz em
toda a minha vida.

Era óbvio que eu queria repetir.


Bruce, apesar de não dizer nada e ter passado a semana
sem me procurar, demonstrava através de seu olhar que me queria
mais uma vez. Era só questão de tempo até ele me encurralar em
algum canto e nos fazer ir até o céu juntos.

Estava desconfiadaque Jessica sabia o que tinha acontecido


entre Bruce e eu. Na noite em que ele foi viajar, abraçou Caroline,
depois Jessica e quando chegou na minha vez, tocou meu queixo
de uma forma que o Bruce de antes nunca faria.

Os olhos de Jessica Hastings quase saíram rolando pelo


chão.
Então, nesta manhã, enquanto tomávamos café, ela
perguntou:
― Lau, você me contou que fez as pazes com Josh e tals,
mas pretende sair com ele de novo?

Revirei os olhos.
― É claro que não.

― E por que não?


― Porque não, oras ― respondi. ― Tenho mais coisas para
me preocupar, incluindo, a nossa banda que nunca sai do papel.
Já fazia quase 1 mês que estávamos na Califórnia e nada
tinha saído do papel ainda.
― Josh já disse que está arrumando um lugar pra gente
tocar. ― Ela passou manteiga no pão. ― Acho que essa sua
criancice com o Josh tem algo a ver com meu irmão.

― O quê? ― Arregalei os olhos. ― Ficou louca? O que eu


tenho a ver com o... grosseiro do seu irmão?

Na realidade eu queria ter dito “gostoso”,


mas isso seria me
entregar demais.
Jessica sorriu.

― Grosseiro? Eu vi o quanto ele foi grosseiro quando foi te


buscar naquela noite, que diga-se de passagem, chegou muitas
horas mais tarde e, depois, a forma singela que tocou em seu rosto
ontem.

Bufei, como se aquela observação fosse altamente ridícula.


Jessica olhou para os lados, verificando se ninguém nos
ouviria.
― E, aí... Vocês transaram?

Arregalei os olhos para ela porque no momento em que essa


pergunta saiu de sua boca, Caroline entrou nos dando um bom dia
bem animado.
― Bom dia, Carol. ― A cumprimentei com um beijo no rosto.
― Bom dia, Lau. Bom dia, tia. ― A menina foi até Jessica e
também a beijou.
Ela se acomodou em uma das cadeiras e Jessica deu uma
risadinha.

― É só uma questão de tempo ― ela murmurou, voltando à


atenção ao recipiente com manteiga. ― Só te dou um conselho:
aproveite, mas não se apegue.
Aproveite, mas não se apegue...
Essa maldita frase ficou rolando na minha cabeça durante
todo o dia.

E também agora, enquanto o filme está passando na TV e


estou mexendo no meu celular.
A realidade era que eu não precisava me preocupar. Meus
envolvimentos com os homens sempre foram desse jeito: aproveite,
mas não se apegue. Eu sabia que a maioria deles não valia sequer
uma moeda, então, nunca criei ilusões.
Mas Bruce...

Ele era diferente de tudo o que eu já conheci e provei em


minha vida. Ele era um homem sério, pai de famíliae alguns bons
anos mais velho do que eu. E, exatamente, essas diferenças tinham
que ser o motivo para aquela frase valer em minha vida.

Sem falar na minha carreira...


Bruce não era o tipo de cara de toparia largar tudo por uma
turnê mundo afora.
Porra.
Eu já estava até pensando em um futuro com ele. Eu
precisava urgentemente de uma bebida.
Caroline levantou do lugar e me estendeu um elástico preto.
― Faz trança no meu cabelo?
― Sou péssima com isso, garota. ― Sorri. ― Mas posso
tentar.

Acomodei-me no sofá e Caroline sentou no chão, entre as


minhas pernas. Seus cabelos eram lisos e sedosos. Penteiei com
cuidado e depois fiz a trança do jeito que eu sabia.
Harry ― que não era Potter ― entrou na sala.
― O senhor Josh está no hall.
― Aquele cretino de novo? ― resmunguei.
Jessica bufou.

― Não disse que o perdoou?


― Perdoar não significa esquecer.
Jessica fez uma careta e voltou-se para o mordomo:
― Mande-o entrar, Harry.
Harry se foi e eu terminei a trança no cabelo de Caroline.
Apesar de tudo, ficou bonitinha e fofa.Ela se levantou e sentou ao
meu lado. Já estava de pijama e já tinha se alimentado.

Se Bruce visse aquilo gritaria:100 pontos para Grifinória


!
Ah, não. Harry era outro. Bruce estava mais para professor
Snape.
― Gente! ― Josh entrou, afoito, na sala. ― Vocês precisam
vir comigo agora!

― Calma, homem! ― Jessica falou. ― O que aconteceu?


Josh parou e respirou um pouco. Eu ainda estava um pouco
furiosa com ele, por isso, nem me dei ao trabalho de cumprimentá-
lo.
― Daqui a pouco vai começar o show de uma banda
razoavelmente famosa ― disse ele. ― Vinte mil pessoas. Só que a
banda que ia fazer a abertura deu para trás. Esta é a nossa chance!

Arregalei os olhos.
― Tá maluco? ― gritei. ― Nós nunca nem ensaiamos juntos!
Olhei para Jessica e vi o quanto seus olhos já estavam
brilhando com aquela possibilidade.
― Issoé o de menos ― disse ele. ― As músicas são fáceis,
já conhecidas. Nós vamos conseguir!

Balancei a cabeça negativamente. Aquilo era loucura.


― Não preciso nem dizer que estamos cuidando da sua
sobrinha, né, Jessica ― resmunguei para ela. ― Impossívelsair
daqui assim.

Jessica sorriu diabolicamente.


― Bruce só volta amanhã. Ela pode ficar com alguém.
― Com a Danna, por exemplo ― Josh completou. ― Ela vai
também.

Ponderei aquelas palavras por algum tempo. Era uma boa


chance de começar o que já estávamos adiando havia um bom
tempo, mas também era arriscado. Eu não conhecia Josh e sequer
sabia se ele tocava bem. Sem falar que uma criança estava sob a
minha responsabilidade.

Bruce foibem direto quando disse que confiavaem mim para


cuidar de sua filha.
E por algum motivo dos infernos, eu não queria decepcioná-
lo.
― Podemos deixá-la com Harry, então ― sugeri, mas Jessica
balançou a cabeça.

― Lauren, calma. Bruce só chega amanhã à noite. Se


deixarmos a Carol com Harry e ele ligar, estaremos fodidas.
― Bem, sim, mas...

― Vou preparar nossas coisas.


Jessica pulou do sofá, mais animada do que eu. Olhei para
Caroline e ela também sorria mediante a oportunidade de viver a
vida loucamente, pelo menos uma vez.
Caralho...
Dentro de mim algo dizia que aquela merda ia ser das
grandes.

Mas o que eu podia fazer?


Tinha vindo para a Califórnia para engatar a minha carreira e
aquela era uma chance muito boa.

― Ah, que se foda, então ― resmunguei. ― Tudo bem, seus


animais! ― gritei, levantando os braços, me rendendo. ― Só espero
que Bruce nunca saiba disso porque hoje vamos levar esse público
de 20 mil pessoas ao delírio!
― Isso aí! ― Caroline pulou animada.

E ali eu percebi que estava no caminho certo.


Capítulo 23

Que eu não quero ser como você

Eu não quero fazer as coisas que você fez


Eu nunca vou ouvir as palavras que você diz
E eu não quero

The Anthem – Good Charlotte

Bruce

Deixar minha filha sob os cuidados de Jessica e Lauren não


foi uma decisão fácil. Eu sabia que podia confiar em Jessica apesar
de tudo, mas Lauren, eu ainda tinha as minhas ressalvas.
No entanto, eu não tinha com quem deixá-la. Meredith estava
me acompanhando na pequena viagem e a babá que, geralmente,
ficava com Caroline, já havia assumido outro compromisso.
Eu tinha duas escolhas:confiarnas garotas ou levar Caroline
comigo.

A segunda opção estava forade questão. Carol nunca gostou


de me acompanhar nessas viagens de negócios e eu não a julgava.
Eu também odiava aquilo, mas era extremamente necessário.
Porém, para a minha surpresa, a reunião foi adiantada e eu
consegui voltar para a casa antes do previsto e, naquele momento,
eu estava dentro do jato, descansando, quando Meredith se
aproximou com uma taça de champanhe.

― Você está com uma carinha de cansaço. ― Sorriu e me


entregou a taça.
Sentei-me corretamente e beberiquei um pouco do líquido.

― Essas reuniões são estressantes.


Ela também bebeu e sorriu.

― Está preocupado com Caroline?


Eu estava, mas não queria mencionar aquilo em voz alta.

― Jessica é uma boa garota ― Meredith falou. ― Só a outra


garota que é insuportável. Uma delinquente que você já devia ter
colocado para fora de casa.

Eu sabia que Meredith tinha ficado muito nervosa com a


situação da piscina e uma pequena mágoa de Lauren estava
instalada em seu peito. Mas... eu odiava que sugerissem o que eu
precisava fazer. Mesmo que fosse uma amiga de anos. A mulher
com quem eu provavelmente me casaria nos próximos meses.
― Lauren? ― perguntei por perguntar, já sabia a resposta.

― Quem mais? ― Ela revirou os olhos. ― Ainda não esqueci


que aquela garota irritante me jogou na piscina.

Remexi-me no lugar, incomodado.


Lauren não era uma delinquente. Era um pouco maluca, mas
porra, ela tinha vinte e três anos apenas. Era de se esperar que não
tivesse a mesma maturidade que nós.
Além de tudo, era a garota que não saía da minha cabeça.
Ainda mais depois da noite que tivemos. Eu queria repetir e,
se não fosse a loucura do trabalho na última semana, eu a teria
levado novamente até o bar.

Queria provar seu gosto, lambuzar-me com seu gozo, vê-la


revirando os olhos enquanto eu metia sem dó e acariciava seus
peitos.

Engoli uma boa dose da bebida.

Estava ficando louco a cada dia.


― Me desculpe, querido. ― Meredith apoiou a mão em meu
braço. ― Não quis assustá-lo. Acho que, pelo menos, estão
cuidando bem da menina.

Tomei o restante da minha bebida e perguntei ao comissário


de bordo quanto tempo ainda levaria para chegarmos até o destino
final.

Trinta minutos.
Puta que o pariu. Só queria ir para casa.

Eu tentei realmente acreditar que tudo estaria do mesmo jeito


que eu deixei quando saí de lá.

~
Quando pousamos no aeroporto, meu motorista já estava me
esperando. E eu só queria deixar de ser idiota ao ponto de parecer
um adolescente querendo ir ver a namorada.
Lauren não era minha namorada. Nunca seria.
Mas eu queria vê-la.
― Bruce, será que você pode me levar em casa? ― Meredith
interrompeu meus pensamentos.

Porra.
Respirei fundo.
― Claro, levo sim.
Indiquei ao meu motorista o lugar onde íamos primeiro.
Conforme o carro seguia pela estrada, me sentia mais
ansioso. Uma sensação que há tempos eu não sentia.

Pelo menos desde que tudo aconteceu...


Meredith estava falando e falando e eu não tinha a mínima
vontade de conversar. Fechei os olhos e vislumbrei o rosto de
Lauren, seus olhos extremamente azuis, sua pele macia... seu corpo
debaixo do meu, os gemidos em meus ouvidos.
Sua boca macia beijando a minha. Seu perfume boêmio e
seu riso fácil, de menina doce e meiga.

― Bruce, está me ouvindo? ― Meredith praticamente gritou.


― Desculpe, Meredith. Estou cansado e pensativo.
Ela me encarou do outro lado do assento e eu pude ver em
seus olhos que ela sabia o que estava dominando meus
pensamentos.

― Quer conversar sobre? ― ela perguntou baixinho.


Eu queria, mas não com ela.
― Não. ― Desviei o olhar para a janela do carro. ― Vai ficar
tudo bem.

Meredith suspirou.
― Espero que sim.

Suspirei aliviado quando ultrapassamos os portões da minha


casa.

Não queria admitir que queria ver Lauren, então procurei


focar em minha filha. Será que ela ficaria feliz ao ver que o pai
estava de volta antes do previsto?
Nossa relação sempre foi complicada. À medida que os anos
passavam e ela ia crescendo, a cada dia me cobrava explicações
sobre a sua mãe, coisa que eu não sabia o que e nem como revelar
toda a verdade.
Caroline também me cobrava por sempre ser tão rígido, mas
eu acreditava que as regras nos levavam na direção certa. Se eu
tivesse seguido os conselhos do meu pai, certamente, não teria
pagado um preço tão alto.

No entanto, mesmo quebrando as regras uma vez, uma


dádiva caiu dos céus em meu colo e ela se chamou: Caroline.
― O senhor deseja que leve sua mala até o quarto? ― o
motorista perguntou, tirando-me dos meus devaneios.
― Por favor― assenti. ― Mas pode ser depois. Agora quero
matar a saudade da minha filha.

E de uma malditachamada Lauren, completei em minha


mente.
O homem afirmou com a cabeça e eu saí do carro, pela
primeira vez, em muito tempo, animado por saber que duas pessoas
poderiam estar me esperando.
Será que Lauren sentiu a minha falta?
Muito provavelmente eu esperaria todos dormirem, invadiria o
quarto dela e a levaria até o bar, para passarmos uma noite tão
espetacular quanto aquela de dias atrás.
Subi as escadas correndo, com a gravata enrolada em minha
mão e entrei pela porta.
― Caroline? Lauren? Jessica? ― gritei, um pouco animado.
― Trouxe presentes para vocês.
Eu estava assustado comigo mesmo, afinal, sequer me
lembrava da última viagem em que comprei presentes para alguém.

Silêncio.
Olhei para os lados e nem sinal de vida. Será que já estavam
dormindo?

― Harry? ― gritei.
Silêncio.
Subi as escadas apressado. Não era tão tarde, mas elas já
poderiam ter se recolhido.

Atravessei o corredor, fui a cada um dos quartos e nem sinal


das garotas, muito menos de Harry.

Parei um pouco, respirei fundo, sentindo meu sangue subindo


a escala Richter.
Alguma coisa estava muito fora do normal e aquela maldita
sensação começava a me assolar.

― Harry? ― gritei novamente, enquanto descia as escadas.

O jardim dos fundos. Só poderiam estar lá.


Tinham que estar lá.

― Mas que gritaria dos infernos é essa? ― Elena, a


cozinheira, apareceu, vestida com roupas de dormir e uma touca na
cabeça. Ao me ver, ela arregalou os olhos. ― Oh, meu Deus, é o
senhor!

― E quem mais poderia ser? ― retruquei, furioso. ― Onde


elas estão?
A mulher ficou pálida por um instante e, naquele momento,
eu percebi que ela sabia onde as garotas estavam.
Aproximei-me, com as sobrancelhas erguidas e um ar
assustador, que faria o próprio diabo sair correndo.

― Se quer o seu emprego, é melhor abrir a boca.


A mulher estava tremendo, porém, se aproximou de uma
mesa, pegou um papel e me estendeu.

― Eu só sei que era um show, senhor.

Peguei o papel de sua mão, olhei o endereço, mesmo assim


perguntei espantado:

― Era o quê????
Capítulo 24

Eu sou o pior no que faço de melhor

E por essa dádiva eu me sinto abençoado


Nosso pequeno grupo sempre foi assim
E sempre será até o fim

Smells Like Teen Spirit - Nirvana

Lauren

Josh já havia preparado tudo, inclusive, o carro para levar os


equipamentos que ele, milagrosamente, conseguiu com alguém.
― Já tinha tudo arquitetado, hein, Josh ― resmunguei,
retirando meu violão do carro.

Ele sorriu.
― Tem coisas que já estão no sangue.

― Exceto, pelas drogas que quis me arrumar aquele dia ―


brinquei, lembrando-me da noite em que joguei Meredith na piscina.
― Ele te deu drogas? ― Caroline arregalou os olhos.

Imediatamente, percebi amerda que falei.


― Não são essas drogas, Carol. ― Tossi. ― Foram as
drogas das...

― Das flores que eu te dei aquele dia ― ele completou, me


tirando daquela situação constrangedora.
Caroline pensou por alguns instantes e depois assentiu.
Aquela garota era inteligente demais, mas naquela conversa ela
caiu. Pelo menos era o que eu esperava.

― Eu nunca fui a um show ― ela disse, animada. ― Ainda


bem que papai não sabe ou, então, não me deixaria vir.

Respirei fundo, pedindo aos céus que Bruce nunca


descobrisse aquilo, porque, se acontecesse, eu sabia que teria que
arrumar outro lugar para morar.

Jessica se aproximou com Brandon e Danna em seu encalço.


― O Harry vai estacionar a van e volta para ir conosco.
Harry passou por nós e deu uma buzinadinha ao sair com o
veículo.

A ideia de levar o mordomo foi minha, afinal, se algo desse


errado e Bruce descobrisse, poderia aliviar a bronca ao ver que o
seu homem de confiança estava conosco, protegendo a garota.
― Tudo bem. ― Assenti e olhei ao redor.

Aquele prédio se parecia muito com um Campus


Universitário.

Olhei para Josh.


― Isso aqui é uma universidade?
Ele sorriu, envergonhado.

― Desculpa, Lauren, mas se eu tivesse falado a verdade,


vocês não teriam vindo.
Arregalei os olhos e só não quebrei o violão na cabeça
daquele idiota, porque eu não teria dinheiro para comprar outro.

No entanto, avancei em sua direção.

― Seu idiota! É bom falar toda a verdade ou, então, eu vou


arrebentar a sua cara!

Eu fiz a maior loucura da minha vida ao sair com Caroline —


sendo que era para estarmos em casa — achando que realmente
faríamosa abertura do show de uma banda razoavelmente famosa,
para descobrir que era tudo mentira.
― Josh, você está mais cretino do que eu me lembrava ―
Jessica murmurou.
Danna e Brandon cruzaram os braços.

― Você não falou a verdade para elas? ― Danna falou. ―


Porra, que sacanagem, Josh.
― Ok, me desculpem. ― Ergueu as mãos. ― Não tem vinte
mil pessoas aí. Se tiver umas cinco mil, é muito.

Que legal.

― Mas vejam pelo lado bom, aqui é uma universidade. Se


gostarem do nosso som, vão pedir mais. Eles querem coisa nova
e... Eu não tive outra ideia melhor.
Fiquei desanimada, porque eu odiava quando mentiam para
mim e ainda colocavam tudo em risco.
O risco, nesse caso, se chamava: Carolineversus Bruce.
― Vamos lá, pessoal. ― Josh tentou nos animar. ― É uma
festa de universidade. Vai dar tudo certo e nós vamos arrasar!
― Você, por acaso, sabe o que rola em uma festa de
universidade? ― rosnei.
Josh pensou por alguns instantes.

― Acho que sei.


― Pois é, e estamos com uma criança ― resmunguei,
irritada.
Nesse momento, Harry se aproximou, descontraído, rolando
a chave da Van entre os dedos.

― Tudo certo, galerinha. Podemos ir ― ele falou, animado,


porém, ao ver nossos rostos sérios, abriu os braços. ― Ué, o que
houve?
Bufei e me dispus a caminhar.
― Vamos, Harry. Temos alguns adolescentes metidos a
adultos para animar.

Entramos no Campus da Universidade e o palco já estava


montado. Alguns alunos pegaram nossos instrumentos no veículo e
levaram até onde iríamos tocar.

Harry segurava a mão de Caroline, enquanto procuravam um


lugar para sentar. Josh e Danna foram até outro sujeito bem maior
que ele para cumprimentá-lo.
Eu estava inquieta com algo e nem era a presença de Josh
ali, apesar de querer matá-lo a todo instante. Algo dentro de mim
dizia que aquela não foi uma boa ideia, embora eu soubesse que
precisávamos começar ou nunca atingiríamos o sucesso.
― Ainda está brava com Josh, não é? ― Jessica se
aproximou por trás.

― Não é para menos, né? ― resmunguei. ― Primeiro, ele


me levou em um restaurante de gente que come coisa estranha.
Segundo, mentiu para nós dizendo que faríamosa abertura de um
show para vinte mil pessoas. Quer mais motivos ou está bom?
Jessica riu.
― Josh é inconsequente, mas relaxa... Vai dar tudo certo.
Você sobreviveu ao restaurante de coisa esquisita e, de sobra,
ainda teve toda a atenção do meu irmão. E sobre o show, imagina
se eles gostarem do nosso som?

Lembrei-me de Bruce e estremeci. Será que existia a


pequena possibilidade de ele sentir a minha falta?
Balancei a cabeça. Aquilo estava passando dos limites.
Olhei para Josh e Danna e eles combinavam. Ela olhava para
ele como se não existisse outro cara no mundo.
― Ela gosta do Josh, né.
Jessica assentiu e seguiu meu olhar.

― Ela sim, ele não. Josh só a vê como uma amiga, embora


no passado eles já tiveram um relacionamento.
Dessa vez, eu sorri.
― Jess, espero de coração, que Bruce não saiba disso. Ele
vai ficar muito puto.

― Se ele ficar puto, vai ficar conosco e não só com você ―


disse ela, como se tudo aquilo fosse normal. ― Enfim, já passou
para os meninos as músicas que vamos tocar no início?
― Ah sim. ― Enfiei a mão no bolso traseiro da calça e peguei
um papel. Desdobrei e mostrei para Jessica. ― Acha uma boa ideia
começar com SmellsLikeTeen Spirit , do Nirvana, para animar logo
de cara?
― É claro! ― Jessica assentiu, animada.
― Depois, podemos tocar Rock You Likea Hurricane, do
Scorpions. O que acha?
― Perfeito! ― Ela sorriu. ― Vamos arrasar e deixar a minha
sobrinha orgulhosa de assistir ao seu primeiro show.
Jessica foi até a guitarra e verificou se estava tudo certo. O
cara que conversava com Josh se aproximou e trocamos algumas
palavras. Ele disse que se gostassem do show, nos chamariam mais
vezes. Ele acertou o pagamento com Josh e eu fiqueifelizque, pelo
menos, teria algum dinheiro até começar o meu trabalho no bar, que
deveria ser em breve, visto que Bruce disse que depois que ele
voltasse, nós acertaríamos os detalhes da minha contratação.
Brandon conferiu se a bateria estava ok e Josh o contrabaixo.
Uma pequena multidão se reuniu na frente do palco e, pela primeira
vez, fiquei nervosa. Tecnicamente, ali havia mais pessoas do que no
bar que eu era acostumada a cantar em Nova York.
Testei o microfone falando algumas palavras estranhas.
Estava tudo ok.
Reunimo-nos em uma pequena roda e mostrei as músicas
que eu coloquei na lista. Todos sabiam tocar cada uma delas, afinal,
eram músicas muito conhecidas e aclamadas.

Aproximei-me do microfone, Jessica sorriu e me deu sinal


positivo. Olhei para o lado esquerdo e vi que Harry conseguiu uma
cadeira para se sentar com Caroline bem ao lado do palco. Suspirei
aliviada ao ver que a menina estava bem, apesar de hora ou outra,
algum sujeito se aproximar dela e oferecerrefrigerantee batata frita.

Ao menos, lhe ofereciam refrigerante e não cerveja.


Respirei fundo e todos me olhavam expectantes. Testei o
microfone, mais uma vez, falando coisas aleatórias que vinham em
minha cabeça. Quase soltei o nome de Bruce, mas me controlei a
tempo. Depois eu ri e olhei para Jessica, fazendo um sinal afirmativo
com a cabeça.
E então começamos.

No primeiro momento, o pessoal ficou meio cismado. Logo


depois, gostaram do som e começaram a balançar a cabeça. Alguns
minutos depois, já tinha gente pulando igual pipoca.
Fiquei feliz ao ver que eles estavam gostando das músicas e
do nosso jeito de tocar. Fiquei ainda mais feliz ao ver que gostavam
da minha voz.

Olhei para o lado novamente e vi Harry e Caroline sorrindo.


Harry ― que não era Potter ― ainda balançava a cabeça e a perna.
Provavelmente, na juventude ele foi um grande fã do rock.
Estávamos tão empolgados e, quando vi, estavam pedindo
que tocasse SmellsLikeTeen Spiritmais uma vez. Eu adorava
aquela música e, então, olhei para meus companheiros. Eles
assentiram e nós começamos.

E, por mais incrívelque parecia, tocávamos como se a nossa


banda existisse há muitos anos.

Foi tudo perfeito. Cada nota dentro do seu tempo certo.

E eu estava feliz.
Feliz até demais.
Até que meus olhos recaíram sobre uma figura imponente
atrás daquelas pessoas animadas.

E, então, a minha boca vacilou. Minha mão ficoufriae eu não


consegui mais cantar. Meu coração batia como louco e eu ia
desmaiar.
Bruce Hastings estava em pé, com os braços cruzados, me
olhando como se eu fosse uma criminosa.

Ao notar que eu não conseguia mais cantar e estava atônita,


Jessica se aproximou e me tocou. E a única coisa que fiz, foi
apontar o dedo na direção em que seu querido irmão estava.
― Puta que pariu! ― xingou ela, também atônita.

Eu já estava desesperada naquela altura, quando Bruce deu


a volta pelo lado que não havia pessoas. Desci correndo do palco,
Jessica largou a guitarra e me acompanhou.
A essa altura, as pessoas já estavam nos xingando por parar
daquela forma, tão abrupta.

O homem exalava fúria em cada passo que dava.

Ele avistou Caroline sentada no colo de Harry e foi em sua


direção.

― Bruce, eu... ― falei assim que ele se aproximou de nós,


porém, ele estendeu a mão pra mim e me olhou ferozmente.
― Eu vou pegar a minha filha e vou levá-la. Agora. Vamos
para casa ― disse ele ao puxar a menina pelo braço. Caroline
tentou resistir.
― Papai, está tão legal o show. Deixa euficar!

Ele respirou fundo, passou as mãos pelos cabelos e se


abaixou na altura dela.
― Carol. Nós vamos para casa! ― determinou. ― Você sabe
que isso é hora de uma mocinha estar na cama.

― Mas, papai...
― Bruce! ― Jessica gritou, mas ele não respondeu.
― Bruce, não aconteceu nada com ela! ― tentei falar, porém,
ele me olhou de uma maneira que eu só via a palavra “assassinato”
nas orbes escuras.
Ele se levantou e se aproximou de mim.

MUITO próximo.
Próximo até demais.

― Eu te confiei uma coisa! E você não fez!― falou,nervoso,


tentando não gritar. ― Não vou discutir isso aqui, na frente de toda
essa gente. Depois conversaremos.

Nossos olhos se prenderam por alguns instantes e eu vi a


decepção estampada ali. Respirei fundo,segurando as lágrimas que
ameaçavam rolar pelo meu rosto. Eu sabia que o decepcionei e me
sentia uma idiota por tal.

Os alunos estavam reclamando pela falta da música, mas eu


não queria nem saber.
Queria que Bruce me perdoasse.
Ele pegou Caroline pelo braço novamente e Jessica se
colocou na frente dele.

― A culpa foiminha! ― falou,desesperada. ― Por favor, não


briga com a Lauren.
― Saia da minha frente, Jessica.

Aquela foi a primeira vez que o vi se dirigir a ela de maneira


tão dura desde que chegamos.

Toquei em seu braço e ele me olhou ferozmente.


― Você deveria saber que Caroline é a única pessoa
importante na minha vida! ― gritou, furioso. ― E se tivesse
acontecido algo com ela... Deus, eu não posso nem imaginar uma
coisa dessas!

― Mas não aconteceu! ― gritei de volta. ― Harry estava aqui


ajudando a cuidar dela!
Porém, aquelas palavras não acalmaram Bruce.

― Não aconteceu, mas poderia ter acontecido! ― devolveu,


na mesma altura. ― Depois eu resolvo isso com vocês.

Caroline tentou puxar o braço e eu neguei com a cabeça.

― Obedeça ao seu pai, querida. Por favor ― falei, por fim,


esperando que, pelo menos, aquilo acalmasse o coração do
homem.
Bruce se foi, levando Caroline consigo. Quando já estavam a
uma distância boa, eu chorei.

Chorei porque vi a decepção em seu olhar e aquilo doeu em


meu peito. Ele nunca mais confiaria em mim!

Jessica me abraçou e alisou as minhas costas.


― Calma, eu vou conversar com ele ― falouem meu ouvido.
― A culpa não foi sua. Porra, como eu poderia imaginar que ele
voltaria tão cedo dessa viagem?

― Eu o decepcionei, Jess ― resmunguei.


Ela suspirou.
― Calma, ele vai te perdoar.

~
Depois daquele fiasco eu não tive ânimo para mais nada.
Harry pegou a Van e nos buscou no mesmo lugar onde descemos.
O clima estava horrível. Josh conversou com o cara e pediu
desculpas. Ele disse que tudo estava bem e que em outra
oportunidade nos chamariam de novo.
Entramos no carro e eu fui no banco carona, junto com
Jessica. Encostei a cabeça no vidro e pensei o quanto eu era idiota.

Bruce era o tipo de cara certinho, que gostava de regras e


etiquetas. Quem, em sã consciência, deixaria sua filha de dez anos
participar de um show, mesmo que pequeno, onde tivessem
pessoas bebendo e gritando feito loucas?

Fechei os olhos e suspirei.

Eu senti a falta dele. Mas, aqui estávamos novamente, no


ponto zero da nossa relação.
Talvez seríamos assim para sempre.

Eu era a louca, inconsequente e ele, o bonitão certinho.

Definitivamente, não combinávamos.


― Você não vai perder o emprego ― falei para Harry, que
dirigia a Van.

Ele sorriu, tentando me acalmar.

― Espero que não, mas se isso acontecer, quero dizer que


fiquei muito feliz com o show
. Me senti jovem de novo.
Eu sorri de volta e aquelas palavras aqueceram meu coração,
pelo menos, um pouco. Sentia-me tão bem quando conseguia fazer
outras pessoas felizes.

Ele passou os portões da mansão e meu coração se apertou.


Será que Bruce me expulsaria?
Agora sim ele tinha motivos.
Danna e Brandon pegaram uma carona com outro sujeito.
Josh nos acompanhou e, quando descemos, assumiu o volante,
despedindo-se de nós com uma pequena buzinada.

― Eu vou para o meu quarto ― Jessica falou. ― Bruce é


muito cabeça dura e hoje não adianta falar nada com ele.
Assenti e Jessica foi à frente, junto com Harry
.
Esperei alguns minutos, olhando para o céu estrelado.

Estava fodida.

Eu ainda não entendia por que as coisas conspiraram para


que eu fosse parar naquele lugar, mas eu sabia que se tinham
acontecido é porque havia algum propósito na minha vida.
E eu não queria estragar tudo.

Respirei fundo e entrei na mansão.


Olhei para o topo da escadaria e o furacão chamado Bruce
Hastings estava lá, me encarando, pronto para me enviar ao
matadouro.
― Vamos ao meu escritório.
Capítulo 25

Ele sente algo, chame de desespero

Outro dólar, outro dia


E se ela tivesse as palavras apropriadas para dizer, ela o diria
Mas ela não teria mais nada para lhe vender

The Ballad of Monalisa – Panic! At The Disco

Lauren

Bruce desceu as escadas e passou por mim sem, ao menos,


me olhar. Respirei fundo e o segui até o escritório, ciente do quanto
ele estava furioso.
Ao entrarmos na sala, ele foi até a bandeja, se serviu com
alguma bebida que eu não estava reconhecendo, talvez, pelo
nervosismo que assolava a minha alma.
Fiquei parada, olhando para ele e esperando o momento em
que me diria: “suafilha da puta, onde estava com a cabeça ao levar
a minha filha a um show de rock?”.No entanto, Bruce estava frio,
distante e calado demais. Bem diferente do momento em que
discutimos no Campus.
Ele se sentou em sua cadeira de chefe, bebericou da bebida
que tinha em mãos e me encarou.

E, naquele momento, eu já estava farta daquela porra de


silêncio.
― Vamos lá, já sei que quer me matar. Pode começar, já
estou preparada!
― Eu confiei em você! ― ele rugiu, apontando o copo de
bebida em minha direção. ― E você me garantiu que eu poderia
confiar e que Caroline estaria bem e segura, quando eu voltasse.

― Bruce. ― Aproximei-me da mesa, porém, ele ergueu a


mão.

― Não há desculpas para isso, Lauren.


― Me deixa explicar, por favor.
― Explicar o quê? ― Ele se levantou, furioso, deu a volta na
mesa e veio até mim com seu olhar assustador. ― Que a sua
vontade de viver a vida loucamente é maior do que uma simples
responsabilidade?
Balancei a cabeça, tentando desviar do seu olhar feroz.
― Eu não queria, Bruce! ― choraminguei. ― Pergunte à
Jessica... Josh veio aqui e...

― Josh! Sempre a porra do Josh! ― Ele se afastoue virou as


costas para mim. ― Ele é como você. Um moleque inconsequente
que não se importa com ninguém.

Arregalei os olhos, assustada e chateada com aquela


acusação absurda. Era óbvio que eu me importava com Caroline ou,
então, a teria deixado sozinha trancada no quarto.

― Você está sendo injusto, me julgando sem saber o que


realmente aconteceu.
Bruce se virou para mim.

― Injusto? ― perguntou e se aproximou novamente. ― Você


não acha que injusto foi eu confiar em você para cuidar da minha
filha e, quando chego de viagem, a encontro numa festa repleta de
adolescentes bêbados?

― Mas ela estava com Harry! ― gritei, já irritada com aquela


situação. Bruce precisava acreditar em mim. ― Nós sequer
ingerimos uma gota de álcool!

Bruce segurou meu rosto e eu senti o aroma de bebida bem


de perto. Como se fosse possível, seus olhos estavam ainda mais
negros e tudo o que eu queria era sair dali correndo.
― Eu a perdoei pelo acidente quando nos conhecemos ―
disse, lentamente, e eu senti as lágrimas pinicando meus olhos. ―
Mas, desta vez, você passou dos limites. Uma inconsequente como
você, é tudo o que eu quero bem distante da minha filha e de mim.

Aquelas palavras foram como um tapa em meu rosto.

Bruce me soltou, se afastou e eu derramei as lágrimas que


nem fazia questão de segurar mais.
Ele disse claramente que me considerava uma
inconsequente, mas eu sabia que não era. Eu sequer acendi um
cigarro desde que cheguei naquela porra de casa por respeito a ele
e a sua filha.
Naquele momento, eu percebi que a única coisa que
importava na minha vida era o meu sonho de ser uma rockstar.
Nada e nem ninguém me tirariam daquele foco, nem mesmo aquele
sentimento idiota que eu começava a nutrir por Bruce.

Eu sabia que a nossa relação um dia voltaria à estaca zero,


pois éramos pessoas totalmente opostas.
Bruce e eu éramos como o azeite e água. Nunca se
misturariam.
Pessoas como Bruce não acreditavam em pessoas como eu.
Eles achavam que aqueles que não carregassem um bom
sobrenome nas costas não eram dignos de confiança.

― Caroline é tudo o que eu tenho, Lauren ― ele falou, depois


de um bom tempo em silêncio. ― Se tivesse acontecido algo...
― Mas não aconteceu ― falei, de repente, com a voz mais
fria que eu já usei em minha vida. ― Eu sei que erramos em levar
Caroline para o show. Acredite se quiser, a culpa não foi minha.
Ele ficou em silêncio.

― Não vou pedir perdão de joelhos, porque nem isso


amoleceria o seu coração de gelo. ― Bufei. ― Pode ficar tranquilo
que a sua filhanão terá um exemplo de “inconsequente”
― acentuei
a palavra com os dedos ― dentro da sua casa.
Virei as costas e fui em direção à porta.
― Nós ainda não terminamos essa conversa ― disse ele. ―
Tenho regras em relação à Caroline e...
― Eu quero que você e as suas regras vão para a puta que o
pariu! ― gritei ao abrir a porta. ― Eu não vivo sob as suas regras,
seu engravatadinho de merda! A vida é uma só e eu estou caindo
fora desta casa.

Saí pela porta, fechei-a com raiva e encostei-me nela.


Chorei como nunca antes.
Por que ele precisava ser tão bruto? Por que disse palavras
que somente me feriram? E, o pior de tudo... Por que eu tinha que
me interessar por um cara como Bruce?

Ele era chato.


Ele era, sei lá, uns dez anos mais velho do que eu.
Ele deveria estar em um asilo.
Eu não queria gostar dele, mas a verdade era uma só: eu
gostava daquele cretino e esperava que ele sentisse o mesmo por
mim.

Mas agora, eu via que aquilo era impossível. Ele disse com
todas as palavras o que achava de mim e, sequer, me deu tempo
para explicar o quanto estava arrependida. A raiva que culminava
seu peito não justificava o modo grosseiro com que me tratou.
Bruce me usou e me feriu e, aquilo, eu não poderia perdoar.

~
Antes de ir para o meu quarto, passei no de Jessica. Ela
estava deitada trocando mensagens com Brandon.

― Estou caindo fora desta casa ― avisei e saí, sem esperar


sua resposta.
Caminhei a passos rápidos até o meu quarto. Abri a porta e
fui direto ao closet. Peguei a bolsa que eu tinha levado minhas
poucas roupas e a joguei em cima da cama.
Jessica entrou no quarto como um furacão.

― O quê??? O que você está fazendo? Ficou louca? ―


gritou, enquanto eu socava as coisas na bolsa.
― Não está vendo que estou arrumando as minhas coisas?
― falei, ríspida. ― Não quero viver às custas do seu querido irmão.
― Mas para onde você vai, Lauren? ― Jessica tentou
colocar a mão em meus ombros, porém, me afastei.
― Sei lá. ― Voltei ao closet e peguei umas blusas que
estavam no cabide. ― Tanto faz, eu dou um jeito.
E eu sempre dava.
Como se aquela não fosse a primeira vez que eu ficava sem
um teto para dormir.
Depois que minha mãe faleceu, dormi por três meses na rua,
até conseguir um lugar. Na época, ninguém queria me dar um
emprego, então, mendiguei até conseguir algo que pudesse, ao
menos, pagar o aluguel de um quarto.

Jessica suspirou.
― Lauren, o Bruce está com raiva, mas isso vai passar. Você
não precisa se preocupar com ele, afinal,você é a minha convidada.

Parei e encarei Jessica.


Que porra de mundo ela vivia?
Bruce estava com raiva, mas não tinha o direito de me tratar
como se eu fosse um lixo.

― Não me interessa se ele está com raiva ou não ― disparei.


― Ele me falou coisas que eu não sou obrigada a engolir. Como,
por exemplo, que sou uma inconsequente.

― E o que nós somos? ― Jessica riu e se jogou na minha


cama, como se estivesse deitada numa praia.
Enfiei as blusas na bolsa e bufei. Tudo bem, eu sabia que
muitas atitudes que eu tomava eram de pessoas inconsequentes.
Mas, analisando bem a situação, havia um bom tempo que eu não
fazia coisas assim.

Eu tive a ideia de levar Harry para cuidar da menina, porque


eu sabia que a Danna só teria olhos para o Josh.

E eu não podia acertar mais.


― Bruce e eu...

― Precisam fazer sexo ― Jessica disparou. ― Essa briga


toda aí... É só para abafar o tesão que há entre vocês.

Meu coração gelou.


― Jessica, vo... você... — gaguejei.
― Não precisa ficar vermelha, querida. ― Ela sorriu. ― Fico
feliz que meu irmão se interessou por alguém, depois de tantos
anos, mas... Se continuarem vivendo como cão e gato, nunca vão
se acertar.

― E quem disse que eu quero me acertar com a porra do seu


irmão?
Era claro que eu queria, mas, ao mesmo tempo, também não
queria. Bruce era a pior pessoa que eu já conheci na vida. Era
esquisito, mal-humorado, seguidor de regras, mas também, era
bonito... sexy.

E sabia como fazer uma mulher gozar.


Argh.

― Tudo bem. ― Jessica se levantou da cama. ― Eu não vou


me meter nesse assunto..., mas, amanhã vou conversar com ele.
Acho que você deveria esperar um pouco.
Sim, eu deveria, mas eu não queria.

Já estava cansada de viver ali, de favor, com uma pessoa tão


insuportável quanto Bruce.

― Jess, já tomei minha decisão. ― Olhei para ela. ― Vou


procurar um quarto para alugar por alguns dias. Não vou voltar para
Nova Iorque, se essa é a sua preocupação.
Jessica se jogou em cima de mim e me abraçou forte.

― Me perdoe por colocar você nessa enrascada.


― Tudo bem. ― Abri um sorriso triste. ― Eu já estava
pensando mesmo em cair fora daqui. Essa coisa de morar em casa
de gente rica não é comigo.

― Ok, vou te dar dinheiro pra passar alguns dias. Quando


essa poeira abaixar, você volta.
Sorri para Jessica, mas não respondi. Eu jamais voltaria a
morar ali.

Jessica tirou do bolso da calça algumas notas de cem


dólares, o que era muito, mas eu não tinha como recusar.

― Eu vou te pagar tudo isso. ― Ergui o dinheiro. ― Emprego


eu já tenho... Só falta eu ir trabalhar.

Isso se Bruce não me expulsasse de lá também.


Nós duas rimos ao pensar nas coisas que aconteceram
naqueles últimos dias. Suspirei e a abracei de novo. Sentiria faltade
morar com minha amiga, mas aquilo era necessário antes que
Bruce e eu saíssemos nos tapas.
Bem, eu duvidava que ele bateria em uma mulher, mas eu
não podia falarpor mim. Ele conseguia despertar a fúriaadormecida
em meu peito.

― Lau, é sério... ― Jessica pegou em minhas mãos. ― Já é


madrugada. Espera amanhecer e aí você vai.
Balancei a cabeça negativamente.
― Não vai se despedir da Carol?

― Jessica, pelo amor de Deus. ― Bufei.― Só vou morar em


outro lugar. Sempre vou vir para nossos ensaios.
― Me desculpa, é que... ― Ela suspirou. ― Não consigo me
perdoar por isso.

Troquei mais algumas palavras com Jessica e peguei minha


bolsa. Não queria passar mais nenhum minuto naquele lugar. Desci
as escadas e, apesar do escuro, o escritório de Bruce ainda estava
com a luz acesa.
Pensei em ir até lá, para lhe mostrar o dedo do meio, mas eu
não faria isso. Aquilo fazia parte da Lauren “inconsequente”,como
ele mesmo denominou. Naquele momento, a única coisa que eu
precisava era esquecer que ele foi gentil comigo um dia e a noite
quente que tivemos.
Seria melhor assim.

Saí da casa, sem saber para onde ir. Com o dinheiro que
Jessica me emprestou, daria para pagar algumas noites em um
hotel. Essa noite, pelo menos, teria que ser assim.

Antes de sair pelo portão principal, olhei para trás e suspirei.


Eu nunca deveria ter aceitado morar naquela casa. Ela foi projetada
para abrigar pessoas da alta classe social. Pessoas educadas.
Pessoas formadas e eu estava bem longe disso.
Eu era apenas uma jovem na busca de realizar um sonho:
me tornar uma estrela da música.

E aquilo, não incluía Bruce, definitivamente.


Saí pelo portão de ferro, segurando as lágrimas. Eu ia
mostrar para Bruce que eu podia ser diferente. Eu ia mostrar que
era uma mulher forte e que, apesar de tudo, merecia ter o direito da
palavra.
Dei alguns passos, enxugando as lágrimas que teimavam em
descer pelo meu rosto e foi quando senti alguém esbarrar em mim.

Arregalei os olhos, pensando que só podia ser um ladrão.


Mas não, eu vi o rosto da mulher. O que era, uma verdadeira visão
do inferno.
A mulher estava com a maquiagem borrada, usando um
vestido vermelho amarrotado. Seu cabelo loiro já estava mais
amarelo que gema de ovo e ela fedia tanto que eu supus que não
via um chuveiro, no mínimo, há dez anos.

Em outras situações, eu sairia correndo, no entanto, algo no


olhar daquela mulher me chamou a atenção.

Ela olhou para mim e depois para o portão da mansão.

― Você mora aqui? ― perguntou, por fim, quebrando o


silêncio da madrugada.
― Morava, mas estou indo embora. Por quê?

Ela ficou em silêncio.

O cheiro de álcool tomou conta das minhas narinas.


― Bruce Hastings está em casa?
― Está... ― respondi, um pouco receosa. ― Quem é você?
Quer que eu o chame?
Eu nem sabia se Bruce toparia atender a mulher, mas se ela
quisesse, eu arriscaria. Nossa relação já estava abalada o
suficiente, um fora a mais não era problema.
― Não... ― Ela arregalou os olhos. ― Não o chame, por
favor!

― Tá bom... ― falei devagar. ― Mas, quem é você? Quer


deixar algum recado?
A mulher balançou a cabeça rapidamente.
― Não! Por favor! Não diga que eu estive aqui!

Ela virou as costas e saiu correndo, igual a uma louca. Fiquei


parada por um bom tempo, tentando entender que porra louca foi
aquela.

Quem era aquela mulher? E como ela conhecia Bruce?


Olhei de volta para a mansão. Bruce não parecia ser o tipo de
homem que se envolvia com mulheres daquele jeito.

Balancei a cabeça, assustada e temerosa. Por Deus, eu não


deveria pensar naquelas coisas... Minha vida já era um problema
suficiente, não precisava me preocupar com os outros.

Principalmente, quando a outra pessoa era alguém como


Bruce Hastings.
Olhei no relógio do meu celular, eram três da madrugada. Eu
odiava porque sempre me disseram que naquele horário os
demônios ficavam à solta procurando suas vítimas.

Será que aquela mulher era o diabo em forma de gente?

Acelerei o passo e fiz o sinal da cruz três vezes, só para


garantir.
Capítulo 26

Bem, se você queria honestidade

Isso era tudo que tinha que me dizer


Eu nunca quis te decepcionar ou te fazer partir
É melhor desse jeito

I’m not okay (I promise) – My Chemical Romance

Bruce

Passar as noites em claro era algo que acontecia comigo


desde que Lauren cruzou a minha vida. Antes disso, a causadora
das minhas insônias chamava-se Loren, mas isso era algo que eu
tinha deixado para trás havia muitos anos.
O dia amanheceu, com raios de sol adentrando as janelas do
meu escritório enquanto eu olhava para a garrafade uísque já vazia
em cima da mesa e a outra que eu estava consumindo até que ela
também chegasse ao fim.

Tudo o que eu queria era desaparecer e esquecer a porra


que era a minha vida. E eu só não alimentava esse tipo de
pensamento ainda mais, porque havia algo, melhor dizendo, alguém
que precisava de mim e que, naquele momento, por mais que
estivesse me odiando, sabia que tudo o que eu fazia era para o seu
próprio bem.

Eu me sentia um completo imbecil.


Primeiro, por ter tratado Lauren de uma maneira
completamente absurda. Tudo bem que aquela situação me irritou
profundamente, mas eu deveria ter medido as minhas palavras.
Segundo, porque deixei Lauren entrar em minha vida e eu
sabia que aquilo seria o meu fim.
Pela segunda vez.

Eu não queria me sentir daquela maneira novamente, mas


quando aquela garota arrogante estava perto de mim, era como se a
sua luz invadisse toda a minha escuridão, me fazendo acreditar que
as coisas seriam diferentes.
Lauren e sua juventude me lembravam de tudo o que eu
poderia ter vivido durante os dez anos que eu só me enclausurei
dentro das minhas próprias prisões e mágoas.

Porra!
Engoli mais um pouco da bebida, ao pensar no quanto eu
estava atraído por Lauren. Era fácil acreditar no dom que eu possuía
de me atrair pelas pessoas erradas.
Ela traiu a sua confiança, Bruce.

Havia essa questão, afinal, ela jurou que eu poderia viajar


tranquilo. Nada aconteceu, mas e se...

Por Deus, eu sequer podia pensar na possibilidade de algo


acontecer com Caroline.
Eu nunca me perdoaria se algo acontecesse à minha filha.

Ela era a única coisa que importava. Carol era a minha vida.
Será que era tão difícil para Lauren entender isso?
Fechei os olhos e suspirei.

Mesmo com toda aquela confusão, o meu desejo por aquela


garota se tornava cada vez mais intenso, que tudo o que eu queria
era subir as escadas, entrar em seu quarto e me enterrar em seu
corpo, sendo capaz de esquecer tudo o que aconteceu.

Abri a gaveta com chave e peguei uma caixinha de veludo


vermelho. Na viagem, comprei um colar para ela, com um pingente
no formato de uma guitarra. Era disso que ela gostava, não era?
Provavelmente, nesse momento, Lauren me odiava com
todas as forças e eu não a culpava por isso.
Eu também me odiava, na maioria das vezes.

Levantei da cadeira, irritado.


Já percorri aquela maldita estrada uma vez e sabia muito
bem onde ela daria. Não, aquilo não podia acontecer novamente,
porque desta vez, eu não teria forças para suportar.

A porta do escritório se abriu com violência e guardei


rapidamente a caixinha.

― Seu filho da puta! ― Jessica gritou ao vir para cima de


mim. ― A culpa de ontem não foi da Lauren. Foi minha e do Josh.
― Bom dia para você também, Jessica ― falei, ao me sentar
novamente e despejar mais bebida em meu copo.
― Péssimo dia ― ela retrucou. ― Caroline está aos prantos
quando soube que Lauren foi embora.
O quê?
― Lauren foi embora???

― Logo depois da discussão que vocês tiveram.


Aquela informação me atingiu como se fosse um soco no
estômago. Em nenhum momento acreditei que Lauren tivesse a
coragem de ir embora.

― Para onde ela foi? ― perguntei, tentando soar indiferente.


Não queria que Jessica soubesse dos pensamentos que me
atormentavam.
― Não sei. ― Ela deu de ombros. ― Dei algum dinheiro para
ela e a fiz jurar que não voltaria para Nova Iorque.
Mais essa.

Bebi mais um pouco do líquido em meu copo e assenti.


― Não vai fazer nada? ― Jessica perguntou, com os braços
cruzados.
― O que quer que eu faça? ― Bufei. ― Se Lauren não
aguenta ouvir uma bronca, não posso fazer nada.
― Ela não é uma criança para levar broncas, Bruce ―
Jessica a defendeu. ― Ela disse que tentou se explicar, porém,
você não deixou. A humilhou, sem saber o que, de fato, aconteceu.
― Eu não a humilhei. ― Me levantei, socando a mesa. ―
Vocês todos foram inconsequentes, mas foi nela que confiei para
que cuidasse da Caroline.

Jessica me olhou por vários segundos.


Ela não era idiota.

Porra, ela era minha irmã. Ela me conhecia como ninguém.


― E, por que confiounela, sendo que a tia da garota sou eu?

― Bem... ― Coloquei o copo na mesa e abaixei a cabeça,


pensando no que responder. ― Caroline tem liberdade com Lauren
e gosta dela. Se abre mais com ela do que com você. ― Abri os
braços. ― O que porra queria que eu fizesse?
Jessica sorriu do jeito irritante, de quando queria sugerir algo,
mas se mantinha calada.
― Ah... sei. Bom, quando eu tiver o novo endereço dela eu te
passo.

Virei-me de costas, observando a paisagem através das


janelas.
― E para que eu quero saber o endereço dela?
Jessica suspirou.
― Mesmo que tenhamos passado um tempo longe um do
outro, eu o conheço tão bem, querido irmão. Se quer saber de uma
coisa, vocês são bem diferentes em algumas coisas, quase todas,
mas no quesito teimosia e orgulho, vocês são imbatíveis. Sabe,
acho que é por isso que ela gosta de você.
Virei-me para Jessica, disposto a mandá-la para o quinto dos
infernos, porém, não foi necessário. Ela me deu uma piscadela e
saiu, me deixando atormentado com aquelas palavras.

Será mesmo que Lauren gostava de mim?


Fechei as mãos, querendo socar meu próprio rosto.
Lauren... Lauren...
Porra!

Anos antes

Eu me apaixonei por ela como nunca antes.


Aquela única noite, se transformou em duas e depois em três.
Agora, já nos encontrávamos praticamente todas as noites.
Loren se tornou a minha vida, apesar de sempre advertir que
nunca poderíamos levar nossos sentimentos para fora daquelas
paredes.
Entretanto, todas as noites, eu dispunha de uma alta quantia
para que ela não precisasse dormir com nenhum outro homem.
Ela era minha e eu não a dividiria com ninguém.
Eu estava perdidamente apaixonado.

John, meu amigo, algumas vezes me perguntou se existia


algo mais entre nós ou se era somente divertimento. E era claro que
eu alegava ser apenas um passatempo, mas para mim, Loren era o
centro da minha vida.
― Sabe qual era o meu maior sonho? ― disse ela, com a
cabeça encostada em meu peito depois do sexo louco que fizemos.

― Qual?
― Eu queria ser uma atriz famosa de Hollywood. ― Ela me
olhou e sorriu, os dentes perfeitos e bem alinhados. ― E queria
comprar a casa que era do Michael Jackson.
― Eu tenho uma casa gigantesca igual à do Michael Jackson
― sussurrei.
Loren suspirou.

― Você tem, querido.


Puxei seu queixo gentilmente.

― Mas pode ser sua também. Só basta você me dizer que


sim.

Eu estava disposto a enfrentar tudo e todos pela mulher que


eu amava. Loren e eu podíamos deixar o país e viver em outro
lugar, afinal,dinheiro não era o problema. No entanto, ela sempre se
esquivava quando eu lhe propunha largar tudo e viver comigo.
Ela riu e se levantou com seu belo corpo nu. Observei-a e
não pude controlar meu corpo mediante o desejo de fodê-la mais
uma vez.

― Eu sou uma prostituta, querido. ― Eu odiava com todas as


minhas forças quando ela dizia isso, porque soava como se ela não
fosse digna de ser feliz.

Loren foi até sua bolsa e tirou de lá um maço de cigarros,


acendendo um deles.
― Para mim, você é a mulher que eu amo.
― Bruce, você dá dinheiro para o dono desta casa todas as
noites para ficar comigo. Como se chama isso?
Sentei-me na cama, frustrado.

― Loren, chega! Eu a amo! Já disse isso... E não posso


suportar vê-la com outro.

Loren sempre retribuía dizendo que também me amava. No


entanto, naquela noite, ela não disse nada e me olhou de uma forma
estranha, como se quisesse me dizer algo, porém, som algum saiu
de sua boca.

― O que houve? ― perguntei.


Ela tragou o cigarro algumas vezes e se deixou cair na
poltrona perto da cama.
― Não é nada...

Levantei-me e fui até ela. Peguei na sua mão livre. Eu não


gostava que ela fumasse, mas Loren alegava que aquilo a
acalmava.
O que eu podia fazer se tudo o que eu queria era estar ao
seu lado e vê-la feliz?

― Nós podemos ir embora daqui. Eu tenho dinheiro


suficiente e... Meu pai pode continuar administrando as empresas.
― Bufei. ― Jessica está crescendo e logo vai poder ajudá-lo... Eu
posso trabalhar a distância...
Ela me fitou com seus olhos azuis, cheios de lágrimas.
― Bruce, seu pai deposita toda a confiança em você. O que
ele diria se soubesse que está fazendo juras de amor para uma
puta?

― Chega! Não diga essa palavra, meu amor! Você não é isso
e eu realmente não me importo com o que meu pai fala!
― As coisas não funcionam assim, querido. ― Ela parou de
falar e engoliu em seco. ― Acho que deveríamos parar com isso.
Você deveria tocar a sua vida e esquecer que eu existo.
― Nunca! ― retruquei, furioso. ― Só vamos parar no dia em
que você disser que não me ama mais.
Loren engoliu o choro e balançou a cabeça negativamente.
Deitei a minha cabeça em seu colo e ela passou as mãos pelos
meus cabelos.
Eu tinha a certeza de que nós levaríamos aquilo até onde
nosso coração mandasse. E se fosse preciso, eu lutaria contra
todos para mantê-la comigo.
Eu a amava e não abriria mão do nosso relacionamento.
Capítulo 27

Esta casa foi construída na confiança

Isso é o que é e o que sempre foi


Nenhuma bola de demolição poderia derrubá-la
Esta casa foi construída em um terreno alto

This House Is Not For Sale – Bon Jovi

Lauren

Passei uma semana inteira sem dar notíciaspara Jessica. No


oitavo dia, ela me ligou, desesperada, acreditando que eu falhei na
minha promessa e voltei para Nova Iorque.
Eu a acalmei dizendo que não, ainda estava na cidade.

Ainda estava furiosa com Bruce, mas precisava dar um jeito


na minha vida. Precisava ir atrás do meu emprego, se é que ele
ainda estava disposto a me oferecer. Precisava de dinheiro, afinal,
estava hospedada em uma boa casa, de ninguém mais, ninguém
menos que Danna.
Bem, naquela noite que saí da casa de Bruce e encontrei o
diabo em forma de mulher, caminhei umas boas quadras até
encontrar um posto de gasolina. Por sorte, a loja de conveniência
estava aberta e entrei lá, para comprar cigarros.

Ao entrar, fiquei surpresa ao dar de cara com Danna, que


estava comprando algumas bebidas para ela e Josh.
Josh estava no carro e insistiu para que eu os
acompanhasse, mesmo eu dizendo o quanto estava cansada e
queria achar algum lugar para ficar. Expliquei para eles a briga
horrível que tive com Bruce, Danna, compadecida pela minha má
sorte, me ofereceu um quarto vago em seu apartamento.
Segundo ela, precisava mesmo encontrar uma colega de
quarto para ajudar a pagar o aluguel. Eu não sabia se era sorte ou
não, mas o apartamento era muito confortável e eu estava no céu,
mais uma vez.

Josh, finalmente, entendeu que nós seríamosapenas amigos


e não me procurou mais. As vezes em que ele ia ao apartamento,
era para falar com Danna e nós aproveitávamos para combinar
coisas sobre a banda. Fiz ambos jurarem que não contariam para
Jessica onde eu estava. Precisava daqueles dias para pensar em
toda a minha vida.

Rolei de um lado para o outro da cama, tentando não pensar


em Bruce Hastings. Coisa que era impossível, porque todas as
vezes em que eu fechava os olhos, seu rosto aparecia como se
estivesse ali, pessoalmente.
Sentei na cama, frustrada comigo mesma. Eu precisava de
um emprego. No começo, cogitei procurar em outro lugar, mas Josh
insistiu dizendo que Bruce tinha um amigo que era o seu braço
direito na gravadora e que todas as noites ia naquele bar procurar
por novos talentos.

Era a minha chance, mas o problema era aquele homem


maldito.
A campainha do apartamento começou a tocar, o que era
bem estranho porque Danna não era de receber visitas. Às vezes
Josh ou Brandon apareciam, mas eles entravam direto.

Abri a porta do quarto e olhei no corredor. O quarto de Danna


era ao lado do meu e, bem, pelo jeito ela não estava em casa.

― Porra ― xinguei, saindo do quarto e seguindo até a sala.


― JÁ VOU, ESPERA AÍ!

O sujeito era apressado, pelo amor de Deus.


Calcei um chinelo velho no meio do caminho e só percebi que
estava usando apenas uma camiseta velha quando cheguei próximo
da porta.

― Ah, vai assim mesmo... ― Abri a maldita porta e o que vi


fez os meus olhos se arregalaram.

Bruce estava parado na minha frente, usando um terno cinza


escuro que o deixava tão gostoso quanto só ele conseguia. Em sua
mão, havia um buquê de rosas vermelhas e uma caixa de
chocolates na outra.
Seus olhos pretos percorreram-me da cabeça aos pés e eu
sei que ele me despiu lentamente em sua cabeça.

Ordinário filho da puta.


― O que quer aqui? ― disparei, ciente de que eu ainda
estava puta com ele.
― Não vai me convidar para entrar?
― O apartamento não é meu, então não tenho autorização
para colocar qualquer um aqui dentro.
Bruce olhou para o lado e bufou.
Ele estava tentando se controlar, eu sabia.

― Lauren, precisamos conversar.


Cruzei os braços.
― Ah, é? Conversar sobre o que exatamente? Sobre o
quanto você foi um filho da puta comigo? Sobre o quanto me
humilhou e agora vem aqui com essas... ― Puxei o buquê de sua
mão e cheirei as rosas. ― Rosas lindas e esse... ― Puxei o
chocolate da sua outra mão. ― Chocolates que parecem deliciosos
achando que eu vou perdoá-lo pelo que fez.― Abri a porra da caixa
e peguei um bombom. O mordi só para constatar que realmente
eram maravilhosos. Então voltei a olhar furiosa para Bruce. ― Nem
pense nisso. Não quero ver a sua cara nunca mais.
Entrei no apartamento e bati a porta. Encostei-me nela e
esperei até ouvir os passos dele no corredor.
Só que eu não ouvi.
― Lauren, sei que está aí... consigo ouvir você mexendo na
caixa de bombom ― Bruce falou com uma voz que parecia de um
homem completamente cansado. ― Vamos conversar, por favor.

Porra.
Eu o odiava, mas também queria que fizéssemos as pazes.

Respirei fundo e abri a porta bem devagar.


Bruce ainda estava sério, mas eu via um brilho de esperança
em seu olhar.
― Entre ― falei baixinho.
Afastei-me para dar passagem a ele e Bruce entrou. Então
fechei a porta e respirei fundo mais uma vez, tentando resgatar
dentro de mim todo auto controle que conseguia naquele momento.
― Danna não está em casa ― Bruce disse. Não era uma
pergunta, mas sim uma afirmação.
― Como descobriu onde eu estava? ― perguntei, indo até a
cozinha para procurar um vaso para colocar as flores. Peguei uma
jarra de suco e enchi de água, então coloquei lá.
― Eu tenho meus meios.

― Torturou Josh ou Brandon para conseguir a informação?


― Ergui as sobrancelhas.
― Quase isso.
Virei-me para Bruce.
― Vindo de você, não duvido.
Ele respirou fundo e se aproximou.

O cheiro de seu perfume invadiu as minhas narinas e inebriou


os meus sentidos.
Bruce me cercou onde eu estava, encostada em um balcão e
apoiou as mãos ao meu redor, para que eu não conseguisse sair.
― Pensei em você a porra da semana inteira ― ele falou,
sem nenhum pudor. ― Me desculpe, sei que fuium babaca e agi de
uma forma que não deveria.

Olhei dentro dos olhos de Bruce por vários instantes.


Ele não era um homem de pedir desculpas, eu sabia disso.
Aquilo era um verdadeiro milagre.

― Você foi mais que um babaca. Você foi um babaca idiota


sem coração.
Ele não deixou de olhar em meus olhos.
― Eu sei. Eu sou um babaca idiota sem coração.
E então seus olhos desceram até a minha boca.

Logo, a temperatura do meu corpo começou a se elevar,


minhas pernas amoleceram e eu tive aquela sensação horrível de
que eu não conseguiria viver sem aquele homem.
― A Danna... ― falei,tentando lembrar a mim mesma de que
aquilo não podia acontecer. Eu devia estar colocando aquele idiota
para fora do apartamento e não pensando em levá-lo ao meu
quarto.
― Danna saiu e vai demorar bastante para voltar ― Bruce
disse baixinho. ― Acho que não temos muitas escolhas nessa vida,
Lauren.

― E o que isso quer dizer?


Bruce abriu um meio-sorriso.
― Que estou cansado de lutar, Lauren. Não importa o quanto
vamos lutar, sempre vamos voltar um para o outro, porque esse
desejo não vai se apagar, sempre estará conosco. Porque assim é a
porra dessa vida.
Bruce me prensou mais forte contra o balcão ao mesmo
tempo que suas mãos cercavam meu rosto e seus lábios
encontravam os meus em um beijo repleto de ódio, saudade e
vontade de aliviar aquele tesão reprimido.
Joguei os braços ao redor de seu pescoço e me entreguei ao
beijo, deliciando-me com a sensação de seus lábios se movendo
com os meus. Sua língua adentrou a minha boca e raspou meus
dentes, então encontrou a minha e a sensação foi deliciosa.
Bruce me pegou no colo e me colocou em cima do balcão.

Suas mãos estavam desesperadas apalpando-me por todo


lugar. Na cintura, nas costas, nos braços.
Quando precisamos parar o beijo para respirar, Bruce afastou
meu cabelo e se concentrou em meu maxilar e depois no meu
pescoço. Soltei um gemido satisfeito e inclinei-me para que ele
tivesse ainda mais acesso ao meu corpo.
― Gostosa pra caralho ― ele murmurou, suas mãos subindo
pelas minhas pernas. ― Vou te foder bem aqui, na cozinha da sua
amiga, só para você lembrar que nunca vai conseguir se esconder
de Bruce Hastings.

Sua promessa fez acender um caminhão de fósforosdentro


de mim.
― Eu só me escondi porque você mereceu o gelo, seu idiota.
― Por que me dar um gelo se você pode me dar o mais puro
fogo? ― Ele ergueu as sobrancelhas, como se o seu raciocínio
fosse digno de um Nobel. ― Vamos, Lauren. Entregue-se.

― Então cale a porra da boca e tire logo a minha camiseta.


Bruce deu uma risadinha e fez o que eu disse, deixando-me
apenas de calcinha sentada em cima da bancada.

Inclinei-mepara trás e ofereci meus peitos para ele, que não


perdeu tempo e os abocanhou. Revezando sempre entre lamber e
mordiscar enquanto acariciava o outro com a mão.
Eu estava em completa combustão.

― Ah, Bruce... ― gemi. ― Por que você faz isso comigo?


Ele se afastou, abriu um sorrisinho e assoprou o bico do meu
peito.
― Porque você me deixa louco, então preciso retribuir o
favor.

Sua cabeça se abaixou e ele chupou meu mamilo. Uma de


suas mãos desceu pela minha cintura e ele acariciou o meu ponto
sensível por cima da calcinha.
― Que porra, eu só tinha essa limpa ― resmunguei, odiando-
me pelo meu corpo reagir tão bem às suas carícias.

― Disse bem. Você só tinha essa... porque agora, vai ter que
ficar nua o dia todo.

Bruce deixou as carícias nos meus peitos para distribuir


beijos na minha barriga. Então ele se abaixou mais e com facilidade
tirou a minha calcinha, arremessando-a sem querer em cima do
fogão.

Danna me mataria se soubesse que estávamos profanandoa


sua cozinha de revista.
― Vamos, abra essas pernas para mim. ― Bruce segurou
meus tornozelos, erguendo-os até me deixar completamente
exposta para ele. ― Hoje eu vou te fazer gozar com a minha boca.

Bruce não era homem de perder tempo, por isso abaixou-se


e lambeu meu clitóris. Soltei um gemido alto, meu corpo
estremecendo a cada segundo. Querendo mais, querendo tudo o
que ele podia me oferecer.

― Geme mais alto, Lauren. Quero ter certeza que está


gostando disso.
Bruce lambeu com mais força, mordiscou e depois chupou.
Fiz o que ele pediu, gemendo mais alto, pedindo por mais.
Se aquilo era uma punição por ter saído de casa e ficado
uma semana sem dar notícias, eu faria de novo, sem dúvidas.

― Bruce! Mais, eu quero mais!

Sua língua estremeceu em meu ponto sensível e seu dedo


indicador penetrou a minha boceta, em um movimento de entra e
sai.
― Diz o meu nome, Lauren! ― ele disse de forma
animalesca.

― Bruce! Bruce malditoHastings! ― gritei. ― Ah, isso,


assim. Continue!
Ele continuou fodendo-me com seu dedo enquanto sua
língua fazia maravilhas no meu clitóris.

Estremeci de prazer quando o orgasmo me atingiu, gozando


na boca de Bruce. Ele ergueu a cabeça, sorridente. Sua boca
lambuzada com o meu liquido e foisimplesmente erótico quando ele
me beijou na boca, compartilhando o meu gosto comigo.
Aproveitei a deixa para fazê-lo tirar sua própria roupa.
Empurrei seu terno, que caiu no chão sem cerimônias. Bruce
parou o beijo e afastou-se para tirar o restante.
Seus olhos brilhavam.

Eu conseguia ver o volume majestoso por baixo de suas


calças.
E estava ansiosa para também fazê-lo ter prazer.
― Também quero te chupar ― falei enquanto ele tirava as
calças junto com a cueca.

― Então desce daí e vem cá.


Bruce ficou completamente nu e vislumbrei seu corpo
maravilhoso por alguns instantes.

Ver seu pau ereto, pronto para mim, me deixou com água na
boca.

Desci do balcão e me ajoelhei na frente de Bruce.


Seus olhos estavam repletos de desejo.

― Vai gozar na minha boca? ― perguntei com a voz


inocente.
Bruce se inclinou, enfiou uma das mãos na minha nuca e
puxou minha cabeça para trás.

― Issoé muito tentador, mas eu passei as noites sonhando


com a sua boceta ao redor do meu pau, então vamos seguir por
essa linha de raciocínio.
Ele soltou minha cabeça e eu abri um sorriso malicioso.
― O senhor é quem manda, então.

Aproximei-me dele e fechei uma das minhas mãos ao redor


do seu pau. Ele era tão macio, quente, duro. Deslizei minha mão em
suas bolas, acariciando-as.

Lambi a glande, arrancando um gemido de Bruce.


Abocanhei seu pau, tomando cuidado para não mordê-lo.
Chupei-o com vontade, até que ele encaixou as mãos em minha
cabeça e começou a orientar os meus movimentos.
― Porra, Lauren! ― ele gritou. ― Porra! Isso, assim... maldita
gostosa!

Acariciei suas bolas enquanto sentia-o entrar e sair,


aproximando-se da minha garganta.
Bruce jogou a cabeça para trás e aumentou um pouco o meu
ritmo.
― Chega! ― Ele me fez parar e puxou-me para cima. ―
Agora eu vou foder você por trás e isso vai ser a nossa
reconciliação, entendeu?

Balancei a cabeça afirmativamente.


― Incline-se para mim. Erga essa bunda gostosa.

Encostei-me no balcão e apoiei meus antebraços e meus


peitos na pedra fria de mármore enquanto erguia meu quadril.
Bruce se posicionou atrás de mim.

Ele alisou a minha bunda.


Seu dedo indicador percorreu a minha boceta molhada.

― Eu estou muito fodido ― resmungou. ― Muito mesmo.


Bruce guiou seu pau até a minha entrada e eu soltei um
gemido quando o senti. Ele ergueu um pouco mais a minha bunda e
abriu-me para ele. Então meteu de uma só vez.

― Porra, Bruce! ― gemi alto.

Ele ficou alguns instantes em silêncio e parado dentro de


mim.
― Eu te odeio, Lauren. Odeio por me fazer ser um louco
assim ― ele disse como se estivesse guardando essas palavras
para o momento certo. ― Puta que pariu, que vontade de ficar
dentro de você até não aguentar mais.
― Sim, por favor. ― Fechei os olhos.

Eu queria isso, como queria.


Bruce era tão gostoso, tão maravilhoso.

Eu precisava dele, mesmo que ele fosse um Ogro idiota e


sem sentimentos.

Bruce deu um tapa na minha bunda que doeu a princípio,


mas depois a ardência ficou gostosa. Ele saiu da minha boceta e
entrou novamente com força. Meu útero reclamando, mas eu queria
que tudo fossepara o infernodesde que aquele homem continuasse
dentro de mim.

― Lauren, Lauren... ― Bruce meteu novamente. ― Gostosa


do caralho.
― Vá, Bruce! ― pedi. ― Me faça sua, por favor!
Ele respirou fundo.

Suas mãos seguraram a minha cintura e ele acelerou seus


movimentos, entrando e saindo com força.
Joguei a cabeça para trás, nossos gemidos se misturando ao
prazer que estava nos alcançando.
― Ahhh! Homem desgraçado! ― gritei, alcançando uma
colher de madeira que estava perto da pia. ― Eu quero te matar! ―
Joguei a colher para trás, mas ele desviou a tempo.
― Só se for de prazer! ― Bruce gritou de volta. ― Puta que
pariu, deliciosa! ― ele deu outro tapa na minha bunda. ― Diz que
você é minha!

― NÃO SOU SUA! ― Gritei, para deixar bem claro aquele


aspecto. ― Mas a minha boceta é, por enquanto.
Ele grunhiu e meteu com mais força, me levando ao delírio.
Fechei os olhos quando minha boceta se contraiu e
espasmos percorreram o meu corpo. Bruce estocou as últimas
vezes, então senti o liquido quente preencher-me ao mesmo tempo
que ele grunhia.
Só havia silêncio e nossas respirações ofegantes.
Bruce saiu de dentro de mim e pegou o rolo de papel toalha,
tirando algumas folhas e entregando-me para limpar seu gozo que
escorria nas minhas pernas.
― Você está bem? ― perguntou, respirando fundo.
― Sim... ― respondi, abaixando-me para me limpar. ― E
você?
― Estou bem.
Agora era a hora que ele ia virar as costas e ir embora?

Bruce deu um passo em minha direção, ergueu o meu rosto


com gentileza e disse:
― Lauren, volta para casa, por favor?
E não sei se foi o modo como ele disse aquela fraseou se foi
o brilho em seu olhar, mas sei que aquilo mexeu comigo mais do
que muita coisa que aconteceu nas últimas semanas.
Abaixei a cabeça para esconder os meus verdadeiros
sentimentos e respondi:
― Tudo bem, eu volto.
Capítulo 28

Eu procurei em outros corpos encontrar você

Eu procurei um bom motivo pra não, pra não falar


Procurei me manter afastado
Mas você me conhece eu faço tudo errado, tudo errado

Só por uma noite – Charlie Brown Jr.

Lauren

Depois que Bruce se foi, fiquei arrumando as coisas que


bagunçamos no apartamento.
Transar na cozinha não foi suficiente...

Bruce e eu também brincamos na sala e no chuveiro.


E só de pensar em tudo o que aconteceu, meu interior se
revirava e a vontade louca de sair correndo atrás daquele homem e
repetir tudo novamente era muito grande.
Porém, eu sabia que precisava ir com calma.
Meus ficantes em Nova Iorquesempre foram esporádicos. O
único que fiquei mais tempo que o necessário foi Ian.Porque havia
a coisa de misturarmos trabalho com sexo.
Enquanto eu varria a cozinha e juntava a poeira em uma pá
de lixo, ouvi a porta se abrindo.

― Nossa, estou exausta ― Danna jogou uma sacola em


cima do sofá e respirou fundo. ― O que está fazendo aí?
Levantei-me com a pá de lixo.
― Apenas limpando o apartamento.

Danna me olhou desconfiada.

Então ela mexeu o nariz como se estivesse farejando. Olhou


para os lados e farejou novamente.
― Bruce esteve aqui?

Filha da puta!
― Ahn, eu...
― Não precisa ficar vermelha, Lauren. ― Ela ergueu as
sobrancelhas. ― Esse homem é muito cheiroso para passar
despercebido.

E nisso ela tinha muita razão.

― E aí, sobre o que vocês conversaram? ― Ela veio até a


cozinha e foi na geladeira pegar uma jarra de suco. ― Ou... fizeram
mais do que conversar?
Porra, ela era o quê? Uma vidente?

― Conversamos sim ― faleicom a voz estridente demais. ―


E acho que chegamos a um acordo.

― Ah, é? ― Danna bebeu um pouco do suco que despejou


em um copo e se encostou na beirada da bancada onde eu tinha
ficado de pernas abertas para Bruce. ― Que tipo de acordo?

Ok, eu não ia começar a rir nesse momento porque ela ia


descobrir tudo.
Respirei fundo.

― Ele esqueceu a história do show e quer que eu volte para


casa. Digo, para a casa dele.

― Hummm. E você quer voltar?


Aquela era uma pergunta difícil de ser respondida.
Por um lado, era o que eu mais queria, por outro, eu sabia
que conviver com Bruce era a coisa mais difícil do mundo.

― Bem, eu disse que voltaria.

Danna bebeu o suco e ficou em silêncio por alguns instantes.


― Faz tempo que você o conhece? ― perguntei, ao puxar
preguiçosamente uma banana da fruteira.
Ela suspirou.

― Jessica e eu somos amigas desde a infância.― Seu olhar


estava perdido no nada. ― Bruce nunca foi muito falante, sempre
concentrado nos estudos e nas suas responsabilidades.
― Igual a você ― falei, de repente.

Danna era diferente dos outros amigos de Jessica.

Durante esses dias que fiquei em seu apartamento, sempre a


via com cadernos e livros, estudando e tentando evoluir.

Nesse quesito, eu a invejava.


― Digamos que sim. ― Ela sorriu. ― Ele ajudava o pai nas
empresas da família, mas aí depois veio a morte do pai, o
nascimento da Caroline... E, alguma coisa que eu não sei até hoje,
aconteceu, o deixando ainda mais sombrio e distante.

Balancei a cabeça, tentando imaginar como seria o progenitor


de Bruce. No mínimo, ranzinza em uma escala maior.
― Você conheceu a mãe dela? ― perguntei, antes de morder
a banana.
Danna me fitou.

― A vi algumas vezes, mas ela era... Como posso te dizer?


Estranha?
Dei de ombros e mordi mais um pedaço da banana,
interessada naquela história.
― Estranha, talvez não seja a palavra certa ― continuou. ―
Loren mal falava com a gente. Jessica a odiava. Houve um tempo
que Jessica só ia para casa para dormir. Ela sempre reclamava o
quanto queria que Bruce metesse o pé no traseiro de Loren.

Loren...
Ao ouvir o nome da mulher, aquele pedaço de banana
desceu lentamente pela minha garganta e eu pensei que morreria
sufocada. Arregalei os olhos e fiz força para que descesse logo.
― O que você disse? ― perguntei, atônita.
― Sobre a Loren? ― perguntou Danna, com a sobrancelha
arqueada. ― Lauren, você está bem?

Não, eu não estava nada bem.


Meu. Deus.

O nome daquela mulher era, no mínimo,bem parecido com o


meu. Será que... Será que Bruce me quis só porque nossos nomes
eram parecidos?
Isso é loucura, Lauren.
Respirei fundo, tentando não demonstrar o quanto aquilo me
afetou. Por Deus, eu sequer sabia como era a mãe da garota.
Provavelmente, era loira, de cabelos longos... iguais aos meus.

Porra.
No momento certo eu confrontaria Bruce sobre aquela
história.
Só que se fosse verdade, céus, eu nem queria pensar em
quantas maneiras diferentes eu iria matá-lo.
― Estou bem sim ― respondi, por fim. ― Acho que vou para
o quarto descansar mais um pouco. A noite eu vou para o bar,
porque Bruce disse que o emprego está lá me esperando e depois
vou voltar para a casa dele. Ok?
Danna deu de ombros.
― Tudo bem, espero que dê certo desta vez.
Assenti e saí da cozinha o mais rápido que consegui. Segui
pelo corredor, com o único objetivo de me trancar no quarto e não
pensar que Bruce apenas me usou com o objetivo de se lembrar da
ex.

Porque, se ele a quisesse, ele a teria, não?


Bruce era um imbecil, e, provavelmente, nem a mãe da
menina suportou conviver com ele.

Quando o relógio marcou 18h, eu já estava pronta. Por via


das dúvidas, passei uma maquiagem bem leve, do jeito que Jessica
me ensinou, destacando meus olhos azuis com um lápis preto.
Olhei-me no espelho e suspirei. Droga, eu só tinha roupa
curta e, eu esperava que elas servissem para o trabalho que me
aguardava. Pelo menos, no bar do Ian elas serviam até demais.
Fui até a mesinha de cabeceira, peguei meu celular e vi mais
chamadas de Jessica. Ignorei-as e liguei para Josh.
― E aí, gatinha ― disse ele, ao atender a chamada.

― Josh, preciso de um favor seu.


― Pode falar, princesa.
Revirei os olhos.
― Daqui a pouco vou para o bar do Bruce. Começo a
trabalhar hoje. ― Ri, sem humor. ― Mas, vou tentar convencê-lo a
deixar nos apresentarmos lá. O que acha?
― Acho uma boa ideia, gatinha ― ele falou. ― Mas eu tive
um problema aqui em casa e não vou poder ir.

Bufei, irritada.
― Faz assim ― continuou ele. ― Vê se vai dar certo o
emprego lá com o Bruce, se der... Amanhã podemos tocar. Pode
ser?
― Pode, né, inútil ― falei. ― Então, avise a Jessica, por
favor.
― Pode deixar, minha rainha.
― Vá para o inferno ― falei e desliguei o telefone.

Josh sabia como irritar alguém.

Saí do apartamento, após vasculhar e ver que Danna não


estava mais lá. Fui em direção ao elevador e quando ele abriu as
portas, me deparei com um casal de idosos. Sorri para eles e entrei,
porém, eles não fizeram questão de esconder que reprovavam as
minhas roupas.
― Essa juventude está cada dia pior... ― a senhora
comentou.

Apenas revirei os olhos. Ela deu sorte, pois eu sentia o


quanto estava mudando meu comportamento, pois se fosse algum
tempo atrás, eu teria prazer em mandá-la cuidar da própria vida.

Peguei um ônibus que me deixou alguns metros de distância


do local. Ao chegar mais perto, meu estômago revirou com a
sensação de que as coisas finalmente estavam indo pelo caminho
certo.
O bar já estava aberto, mas havia poucas pessoas ainda.

― O que está fazendo aqui sozinha, hein, loirinha? ― Um


grandalhão se aproximou. ― Veio se divertir? ― debochou.
― Seu chefe... está aí?
― E o que uma garota franzina como você quer com ele?
Sua intenção era me intimidar, mas não arredei meus passos.

― Não é da sua conta.

O babaca olhou para outro, que estava atrás do balcão, e riu.


― Garotinha marrenta, hein? ― debochou, mais uma vez, e
voltou a olhar para mim. ― Podemos negociar.
― O quê? ― perguntei, incrédula. ― Quero apenas falarcom
Bruce. Se você disser a ele que estou aqui, ele vai me receber.

O grandalhão se aproximou ainda mais e eu recuei um


passo.
― Já disse que podemos negociar. Deixo você falar com ele,
mas quero saber o que pode me oferecer em troca...
Náusea me atingiu quando vi o olhar lascivo que aquele filho
da puta me dirigia. Por Deus, que tipo de sujeito era aquele que
Bruce mantinha em seu estabelecimento?

― Eu não tenho nada a oferecer a você, seu babaca! ―


disse, irritada. ― Vai me deixar falar com ele ou vou ter que fazer
um escândalo?
O babaca se aproximou mais, me puxou pela cintura e eu
senti o seu cheiro de suor.
Socorro!
― Solte-a, Grimm. Agora.
O sujeito me soltou no mesmo instante que ouvimos a voz de
Bruce. Respirei fundo e tentei me manter sã, para não pular no colo
do Hastings. Inferno,somente a sua voz conseguia mexer com
todas as minhas estruturas.

Grimm se afastou após me lançar uma última olhada e eu


avistei Bruce, lindo como sempre, usando roupas sociais totalmente
pretas.
Nossos olhos se encontraram e ficamos ali, nos observando
sem dizer sequer uma palavra.

Ele queria sorrir, mas algo o impedia.


Então eu sorri por nós dois.

― Venha comigo ― disse ele.


A promessa velada em sua voz reverberou em meu sangue e
eu o acompanhei assim que ele virou as costas. Antes, claro, virei-
me para o idiota grandalhão e mostrei-lhe os dois dedos do meio.

Subimos as escadas em silêncio e a cada passo eu me


perguntava onde as minhas forças foram parar. Minhas pernas
tremiam, meu estômago tomado por náuseas e as minhas mãos
suavam frio.

Eu sempre tive medo de sentir essas coisas, porque os filmes


mostravam que, aqueles, eram sinais de pessoas apaixonadas.
Por Deus, eu não estava apaixonada por Bruce. Nem de
longe.

Bruce deu passagem para eu entrar primeiro e assim que


cruzei a porta do escritório e ele entrou, fechou a porta e passou a
chave.

Engoli em seco.
Bruce se aproximou por trás e seus braços circundaram a
minha cintura. Respirei fundo,meu coração praticamente errando as
batidas e ele aproximou sua boca da minha orelha:

― Não quero que use esse vestido para trabalhar... ― Sua


mão desceu pela minha cintura e apertou com força a minha coxa
direita. Segurei um gemido. ― Mas já que veio assim, acho que
posso aproveitar um pouquinho.
Minha vontade era de gritar: SIM,BRUCE! SE APROVEITE
O QUANTO QUISER.

Ele depositou um beijo no meu pescoço.


― Porra, acredita que senti falta da sua pele?
Minha respiração estava acelerada. Minha bolsa já tinha ido
ao chão.

― Só da minha pele? ― perguntei.


Sua boca percorreu o caminho da minha orelha até o ombro
semi-exposto.

― Acho que de tudo.


Bruce subiu a outra mão e apertou meu peito coberto pelo
tecido do vestido. Sua boca continuou espalhando beijos no meu
pescoço, revezando com mordidas na minha orelha aliada a
suspiros que faziam os pelos do meu corpo eriçarem e ondas
percorrerem minha pele.
― Bruce... ― gemi seu nome.

A mão que estava na minha coxa subiu um pouco,


adentrando o vestido. Ela percorreu o elástico da minha calcinha e
eu suspirei pesadamente. Meus olhos estavam fechados e minha
respiração acelerada.
― O que é, Lauren? ― ele perguntou baixinho em meu
ouvido.

― Eu vim para trabalhar.

Bruce

Lauren já estava entregue às minhas carícias. E vê-la se


derretendo desta forma, me deixava ainda mais louco. Acordava o
animal dentro de mim e eu só conseguia pensar em tê-la cada vez
mais.
― E você vai trabalhar. ― Tirei a mão do cós de sua calcinha
e a direcionei até a minha mesa. Arrastei alguns papéis e a fiz se
abaixar, ficando com a bunda erguida para mim. ― Mas só depois.
Agora eu quero aproveitar um pouquinho e acho que você também.
Lauren gemeu.

― Filho da puta.
Abri um meio-sorriso.
Meu pau já estava duro e eu queria aliviá-lo, mas antes eu
queria chupar Lauren novamente. Quase fui à loucura quando ela
gozou na minha boca hoje mais cedo.

Ergui o vestido deixando sua bunda à mostra. Ela usava uma


calcinha preta de renda e eu gostei disso.
Lauren era linda, merecia vestir apenas renda.

Passei minha mão de forma possessiva sobre sua nádega


direita. Lauren soltou um gemido controlado.

Porra, ela era tão gostosa.

― Quer que eu a foda aqui na minha sala para você se


lembrar todos os dias que no seu primeiro dia de trabalho já trepou
com o chefe? ― perguntei de forma irônica apenas para irritá-la.
Lauren grunhiu.
― Eu vou trabalhar lá embaixo. Quem vai ficar aqui
remoendo as memórias vai ser você, babaca.

Dei uma risadinha. A maldita tinha razão.


― Vai ser difíc
il pra caralho deixar você trabalhar. Ainda mais
se vier vestida assim todos os dias.

― E quer que eu venha como? Vestida como uma freira?


Porra, mesmo se ela usasse roupas como a de uma freira,
ainda assim, eu iria querê-la.
― Não é uma má ideia... ― falei, arrastando meus dedos
pela sua boceta molhada. Nossa, como eu queria me enterrar nela e
aliviar aquilo que estava me deixando louco.

― Até parece. ― Ela bufou.


Esfreguei seu clitóris e Lauren gemeu alto. Entregue, do jeito
que eu gostava.

― Bruce!
― Isso, querida. Gema alto... não me importo que ouçam. Até
prefiro, assim eles saberão a quem você pertence.

Lauren ergueu um pouco o tronco, seus gemidos altos e


constantes enquanto eu a esfregava sem dó.

Empurrei suas costas para que ela continuasse deitada de


bruços.
Segurei o elástico de sua calcinha e o puxei para baixo bem
devagar, apreciando suas pernas torneadas, lisas e perfeitas.
Ajoelhei-me.
― Quero que goze na minha boca, Lauren ― falei, abrindo-a
para mim.

― Sim, Bruce ― ela gemeu em resposta. ― Sim, eu vou


gozar.
Aproximei meu rosto de sua boceta e raspei minha línguaem
suas dobras. Ela estremeceu e soltou mais um gemido. Raspei
minha língua mais algumas vezes, satisfeito com seu gosto de
mulher, seu cheiro que me deixava ainda mais excitado. Minha
língua penetrou sua boceta e a fodi daquele jeito. Lauren estava
gostando, sua cabeça se erguia as vezes e os gemidos não
paravam de sair de sua boca.
― Bruce, porra! ― ela gritou. ― Quero você dentro de mim!
O corpo de Lauren estremeceu com o orgasmo que consegui
proporcionar a ela daquele jeito e lambi suas dobras até os últimos
resquícios de seu prazer.
Ergui-me, ficando em pé e a virei de frente.
Minha boca voou até a dela e a beijei freneticamente. Lauren
segurou a minha cabeça e devolveu o beijo na mesma proporção.
Sua língua brigava com a minha e era a melhor sensação do
mundo.
Coloquei-a sentada na borda da mesa e me afastei apenas
para ajudá-la a tirar o vestido.
― Podia ter vindo sem sutiã ― falei, levando meus dedos
para abrir a peça.

Lauren deu uma risadinha.


― É ótimo torturá-lo, senhor Hastings.
― Desgraçada ― murmurei dando uma olhadinha para o seu
rosto pós orgasmo.

Ela era perfeita.


Lauren se esticou na mesa, deixando seus peitos livres para
mim.
Não perdi tempo e os acariciei com os polegares e depois os
abocanhei, chupando com avidez os botões cor-de-rosa.

― Tire a porra dessa roupa ― Lauren exigiu. ― Quero seu


pau dentro de mim, agora.
Afastei-me com um sorrisinho.
Gostava de mulheres decididas no sexo.
Abri o cinto e abaixei minha calça, acompanhada da minha
cueca. Puxei Lauren em minha direção e segurei meu pau em sua
entrada. Penetrei-a de uma só vez, arrancando um grito de sua
garganta.
― Era assim que você queria? ― perguntei em seu ouvido.
― Era. ― Ela suspirou. Suas mãos seguraram meus ombros
enquanto as minhas seguravam suas pernas em minha cintura.

― Que bom, então.


Movi minha cintura em sua direção, entrando e saindo em um
ritmo lento, provocativo. Queria que o momento durasse para
sempre, porque quando eu estava dentro de Lauren, eu me sentia
um outro homem.
E foi isso que me torturou durante todo o dia.
Mas aquele não era momento para pensar naquelas coisas,
não enquanto eu estava fodendo aquela gostosa.
― Gema o meu nome, Lauren.
Fechei os olhos e acelerei meu ritmo, metendo com força
enquanto Lauren se segurava a mim e gemia em resposta.
― Bruce! Porra, isso... assim. Caralho, você sabe fodercomo
ninguém!
O prazer se aproximava a cada segundo que suas paredes
quentes circundavam o meu pau, proporcionando-me as melhores
sensações.
Meti com forçamais algumas vezes, o som de nossos corpos
se chocando ecoando em nossos ouvidos. Nossa respiração, tudo...
era erótico demais e eu estava cada vez mais viciado em seu corpo.
Segurei suas coxas com força, deixando meus dedos
marcados.
Lauren era só minha.
Nenhum babaca ia tocar nela a partir de hoje.

O corpo de Lauren estremeceu com o orgasmo, melando


meu pau e as minhas bolas. Então acelerei meu ritmo, deslizando
para dentro dela com facilidade. Gozei forte enquanto os espasmos
percorriam-me da cabeça aos pés.
O cansaço era real, mas a noite ainda estava no começo.
― Você está bem? ― perguntei, saindo de dentro dela. Puxei
uma caixa de lenços de papel e entreguei-os a ela.

Lauren pegou os lenços e começou a se secar.


― Sim, bem... cansada.
Dei uma risada lenta.
Sequei meu pau, puxei minha cueca, minha calça e fechei o
cinto. Precisava me recompor e ser o chefe de Lauren.

― Vou te ajudar a se vestir.


Puxei as roupas de Lauren e a ajudei. Passei os dedos pelos
cabelos loiros e finos, tentando colocá-los no lugar.
Os olhos de Lauren estavam em meu rosto.

― Sei que quer dizer algo, vá em frente.


― Eu realmente começo hoje? ― ela perguntou.

― Já deveria ter começado há um bom tempo ―


resmunguei, afastando-me dela para pegar alguns papéis que tinha
afastado. ― Só estou aqui as terças, quintas e alguns sábados.
Amanhã quero que entregue esse papel para a Kris.
Lauren me olhou desconfiada.

― Tudo bem. E sobre o meu salário?


― A Kris também vai ver isso para você ― respondi,
encarando seus lindos olhos azuis. ― Você trabalhará todos os dias
à noite. Sua folga será aos domingos.
― Tudo bem.
Lauren e eu nos encaramos por longos instantes.
Queria beijá-la, mas sem a intenção de levá-la novamente ao
sexo. Queria beijá-la apenas porque sua boca era deliciosa e eu
precisava dela.
Só que beijos eram perigosos.
― Quando você descer, Lucy vai te entregar as roupas
apropriadas ― falei, olhando suas roupas.

Lauren assentiu, desceu da mesa e se afastou até a porta


como se o que acabou de acontecer tivesse sido apenas fruto de
nossa imaginação.

― Bruce, posso te pedir algo?


― Claro.
― No final do expediente, posso cantar para o público?
Eu já tinha contrato com as bandas certas para se
apresentarem em meu bar, mas aquele pedido era de Lauren e, por
algum motivo, eu não estava conseguindo dizer não.
― Tudo bem. Agora vá, daqui a pouco os clientes começarão
a chegar.
Lauren sorriu em agradecimento e isso descongelou mais um
pouco da pedra que eu carregava em meu peito.
Porra, não podia ir por esse caminho.

Mas o que eu podia fazer se não conseguia tirá-la dos meus


pensamentos?
Capítulo 29

Bem-vindo a um novo tipo de tensão

Que atinge toda a nação alien


Onde nada é feito para dar certo
American Idiot – Green Day

Lauren

Porra, minhas pernas estavam trêmulas.


Desci as escadas com dificuldade, mas... estava mais felizdo
que nunca. Primeiro pelo sexo maravilhoso e depois porque eu
sabia que uma hora ou outra, Bruce iria ceder, mas nunca
imaginaria que seria tão fácil.
Ao chegar ao andar térreo, o grandalhão, que agora eu sabia
que se chamava Grimm, passou bem longe de mim.
Esperava que Bruce o mandasse embora. Não queria ter que
dividir o lugar com ele.

No palco, a banda que tocaria naquela noite já estava lá,


preparando seus equipamentos. Aproximei-me do balcão de
bebidas quando alguém chegou por trás e me tocou no ombro.
― Você deve ser a Lauren.
― A própria.

Ela sorriu.
― Sou a Lucy. ― Estendeu-me a mão e eu a apertei. ― O
chefe me disse que você vai começar hoje. Eu vou te ajudar nos
primeiros dias. Se bem que — Ela olhou ao redor ―, não tem
segredo para o que você precisa fazer.
Arqueei a sobrancelha.

― Vou servir as mesas, certo?

Lucy me fitou da cabeça aos pés e eu me arrependi pela


vigésima vez ao ir com aquelas roupas.
― Hoje, definitivamente, não. Esqueci-me de trazer as
roupas extras que tenho em casa, mas... você pode me ajudar no
balcão. Sabe fazer drinks?
― Um pouco. ― Sorri, lembrando-me das vezes em que
fazia drinks a pedido de Ian. ― Eu trabalhei em um bar em Nova
Iorque.

― Então, venha comigo, vou te explicar como fazemos aqui.


Lucy era tão baixa quanto eu, mas tinha cabelos loiros curtos
e espetados. Bem nas pontas tinha a coloração rosa. A parte dos
seus braços que estava à mostra, denunciava o quanto ela gostava
de tatuagens.

Sempre tive vontade de fazer uma, mas eu tinha medo de


agulhas, então...

Lucy estendeu um avental em minha direção e disse:


― Boa sorte, garota nova.

As horas passaram e o movimento se tornou bem intenso.


Lucy e eu tivemos pouco tempo para conversar, mas, ao ver que eu
não lembrava muito de como fazer as bebidas, ela me deixou servir
apenas as bebidas já “prontas”.

Conheci outros funcionários, alguns bem legais, outras mal-


encaradas. No entanto, quem mais me chamou a atenção foi
Fernando, um brasileiro, que também estava tentando a sorte em
São Francisco.
― Do que você mais gosta no Brasil? ― perguntei, enquanto
secava alguns copos. Algumas vezes, eu alternava entre servir e
lavar copos.

Fernando chacoalhou e fez algumas manobras perspicazes


com a coqueteleira ao sorrir para mim. Um sorriso bem bonito, vindo
de um sujeito alto, forte, moreno... Um belo partido, se eu já não
tivesse olhos para alguém.

― De tudo. O Brasil é lindo.


― Então, por que veio para cá?

Fernando terminou o drink e serviu para um cliente ansioso.


Ele se virou para mim, com seu sorriso e seu jeito brasileiro,
extremamente sedutor.
― Trabalho. Oportunidades na vida... ― Deu de ombros. ―
Uma vida melhor ou, como dizem por lá, o famoso sonho
americano.
Assenti e uma cliente me chamou, pedindo uma garrafa de
cerveja. Servi-a juntamente com outro homem, o qual ela estava
acompanhada.
As horas continuaram passando e eu me impressionei com o
movimento. Rolava um boato que aquele lugar se transformou num
point de novos talentos e todo mundo queria a oportunidade de
tocar em algum dia.
Apesar desses boatos, me impressionei ao ver que Bruce
não desceu em nenhum momento daquela noite. A decepção me
pegou desprevenida e eu me odiei por sentir aquilo.

Foco, Lauren. Foco. Você está aquipara trabalhare não para


ficar de olho naquele sujeito encrenqueiro.
Quando se aproximou da meia-noite, o bar começou a se
esvaziar e Lucy pôde conversar mais um pouco comigo. Fiquei
sabendo que ela trabalhava ali porque seu marido não conseguia
emprego e ela tinha dois filhos para criar.

Quando passou da meia-noite, percebi que aquela noite não


seria minha. A banda do começo ainda estava lá, tentando animar o
restante das pessoas que sobraram.
Estava conformada com aquilo, lavando alguns copos,
quando levantei o olhar e vi Bruce se aproximando com seu estilo
sexy e poderoso. O terno escuro e aberto, de uma maneira
despojada.

Naquele momento, eu não sabia se olhava para ele ou se


desviava o olhar. O fato era que ele mexia com todos os meus
sentidos e, eu sabia que não era a única, pois as vadias ao meu
redor cochichavam coisas como “ Ah se ele me desse uma
chance...”.
Mal sabiam elas que a boca dele estava nas minhas partes
íntimas algumas horas antes.
― Mais uma que vai babar no chefe? ― Lucy comentou
baixinho, entre risos.

Desviei o olhar, no mesmo instante, para a pia à minha frente.


― Boa noite, senhoritas.
Eu não quis olhar para ele, mas vi que ele se sentou bem
perto de mim. O nervosismo tomou conta e, por pouco, não quebrei
um copo.

― Boa noite, chefe― Lucy o cumprimentou. ― Deseja beber


algo?
― Uma cerveja ― respondeu e, eu sabia que ele estava
olhando para mim.
― O senhor prefere que a Lauren o sirva?
Olhei para Lucy e depois para ele. Bruce abriu um leve
sorriso.
― Vá você ― respondeu ele, desviando o olhar para Lucy. ―
Preciso falar algo com Lauren.

Porra. O que ele queria agora?


Fechei a água, peguei o pano de prato e sequei as mãos.
Aproximei-me dele, tentando não parecer abalada com a sua
presença.
― Está gostando do trabalho? ― perguntou, me queimando
com seu olhar escuro.

― Sim. ― Dei de ombros. ― Eu já trabalhei antes, caso não


saiba.
Lucy voltou com a garrafa e eu, com um sorrisinho, peguei
das suas mãos e coloquei em cima do balcão. Coloquei também um
copo e quando o segurei para entornar a bebida, Bruce colocou sua
mão sobre a minha.
Engoli seco e não quis olhar em seus olhos. Eu sabia que se
eu fizesse isso, corria o risco de encher o copo até derramar todo o
líquido da garrafa.

Coloquei a bebida no copo, mas sua mão continuava sobre a


minha, com a horrível sensação de que o seu contato queimava a
minha pele. Deixei a garrafa lentamente sobre o balcão e respirei
fundo. Encarei Bruce e nossos olhos se fixaram por um longo
tempo.
Havia tantas coisas que precisávamos falar.
Havia tantos sentimentos conflituosos, que eu não sabia nem
como agir.
Bruce me magoou, mas, mesmo assim, eu o queria como
nunca. Queria conhecer a sua vida, conhecer o seu passado.

Inferno.
Puxei minha mão. Bruce pegou o copo e engoliu de uma só
vez.
― Acho que já cumpriu com as suas obrigações por hoje. Vá
e assuma aquele microfone. Não aguento mais a voz dessa garota.

Ele se lembrava do meu pedido.

Saber disso fez meu coração dar um salto.


― Acho que é melhor deixar para amanhã. ― Suspirei. ― O
pessoal da banda nem está aqui...

― Desde quando você precisa deles para algo? ― disse ele,


sério. ― Vá e pegue aquela porra de microfone. Isso é uma ordem.

Sorri para ele, lentamente.


Isso injetou algo em minhas veias.

― Você é quem manda, chefe.― Bati continência e larguei o


pano de prato no lugar.

Bruce balançou a cabeça e me deu mais um leve sorriso.


Aproximei-me do palco e a vocalista tinha acabado de parar e
estava guardando seus equipamentos.
― Hey... ― a chamei. Ela se virou para mim com um sorriso
triste no rosto. Certamente, havia percebido o péssimo trabalho que
eles haviam feito. ― Posso usar o violão?
― É que... Eu já estou indo embora.
― É rápido. ― Sorri. ― Uma música, apenas.
E eu pretendia mesmo tocar apenas uma música.
A jovem olhou para o guitarrista e ele deu de ombros. Ela
abriu a caixa e me entregou o violão.

― Vou ficar lá no fundo.


― Tudo bem.

Eles saíram do palco e foram para os fundos. Ainda havia


algumas pessoas, desanimadas, mas estavam lá. Algumas estavam
bêbadas demais para prestar atenção em alguma música, mas eu
iria tentar, mesmo assim.
Respirei fundo, sentei no banquinho e ajeitei o microfone.
Bruce estava lá no fundo, me olhando, intrigado. Não seria a
primeira vez que ele me via tocando, mas eu estava nervosa da
mesma maneira.

Quando eu ia abrir a boca para falar alguma coisa, vi um


rapaz de terno escuro se aproximar de Bruce. Ele tocou em seu
ombro e ambos sorriram, cumprimentando-se.

Eu queria continuar olhando o cara para tentar descobrir


quem ele era, no entanto, vários olhares curiosos estavam recaídos
sobre mim. Eu precisava levar aquela apresentação à diante.
Respirei fundo e aproximei o microfone da minha boca.
― Boa noite ― falei, devagar, sentindo-me uma idiota
principiante. ― Vou tocar apenas uma música. Espero que gostem.
Meus cabelos estavam presos em um rabo de cavalo e, por
isso, os soltei. Balancei a cabeça, alinhando-os em volta do meu
rosto. Tentei não olhar para Bruce, quando alguém assobiou e me
chamou de gostosa.

Eu sabia que ele estava lá, me observando e esperando que


eu começasse logo aquela maldita apresentação.
Fechei os olhos e deslizei os dedos pelo violão. Abri a boca e
cantei a primeira música que veio à minha cabeça. Não era minha
composição, mas era uma que se encaixava perfeitamente ao
momento que nós vivíamos.

Por favor, coloque os seus braços embriagados em mim

E vou deixar você me chamar de sua hoje à noite


Porque ficar um pouco despedaçada é o que eu preciso
E se você me der o que eu quero

Então, eu vou te dar o que você gosta

A música era lenta, mas era praticamente tudo o que eu


queria colocar para fora. Eu sabia que aquelas palavras eram
direcionadas a uma única pessoa, que nesse momento, estava em
pé, com os braços cruzados.

Por favor, me diga que sou a única


Ou minta, e diga pelo menos essa noite

Tenho uma nova cura para a solidão


E se você me der o que eu quero

Então, eu vou te dar o que você gosta

Quando você apaga as luzes

Vejo estrelas em meus olhos

Isso é amor?
Talvez, algum dia

Então, não acenda as luzes

Vou te dar o que você gosta

Isso era amor?

Que porra, eu não podia me apaixonar por Bruce. Mil vezes


não.
Mas por que todas as vezes em que ele se aproximava, eu
sentia como se fosse desmaiar? Por que minhas mãos tremiam,
meu coração batia mais rápido, meu estômago revirava?
Eu sabia que ele não era imune aos meus encantos, se é que
eu tinha algum. Mas por que cada um de nós não podia seguir com
a própria vida e nos esquecermos de quem éramos?

Eu sabia que “
Lauren e Bruce” era a piada mais ridícula que
a vida poderia nos pregar.

Vou te dar uma última chance para me abraçar


Se você me der o último cigarro

Já deve ser de manhã


Agora que eu te dei o que você queria

Tudo o que eu quero é esquecer


Avril Lavigne – Give
ouYWhat You Like

Encerrei a música com a chuva de aplausos dos poucos


clientes que ficaramno bar. Olhei envolta e me surpreendi quando vi
até os funcionários animados com a música.

― Por hoje é só, pessoal. ― Sorri. ― Agradeçam ao meu


chefe. ― Olhei na direção de Bruce e lancei uma piscada cínica.
O sujeito que o cumprimentou, estava ao seu lado,
boquiaberto, enquanto Bruce me olhava de um jeito estranho.
Desci do palco e a dona do violão se aproximou. Ela me
cumprimentou dizendo que eu cantava bem e eu sorri,
agradecendo-a. Entreguei-lhe o violão e dei alguns passos para
trás, disposta a voltar ao meu posto, quando esbarrei em uma
muralha.

Virei-me lentamente, já imaginando que seria Bruce, no


entanto, me surpreendi ao ver que era o rapaz que estava ao lado
dele.
― Bruce é um grande filho da puta! Nunca mencionou que
tinha uma raridade aqui, bem debaixo do nariz.
Olhei para ele de cima a baixo. Ele era elegante, usava um
terno bem ajustado ao seu corpo. Era mais alto que eu, tinha
cabelos escuros e, se eu não conhecesse Bruce, podia afirmar que
os dois eram irmãos.

― Mas primeiro, vou me apresentar. ― Ele sorriu largamente


e me estendeu a mão. ― Sou Richard Collins, sócio de Bruce.
Arqueei a sobrancelha e vi Bruce logo atrás, com uma cara
amarrada.

― Lauren Stewart. ― Sorri e apertei a sua mão. ― Aceita


beber algo?

O homem se virou para Bruce.

― Além de bonita e cantar bem, é uma ótima funcionária ―


disse ele. ― Meu amigo, você está de parabéns!
Capítulo 30

Segundas chances não importam,

as pessoas nunca mudam


Uma vez vadia, sempre vadia,
me desculpe, isso nunca vai mudar

Misery Business - Paramore

Lauren

Richard Collins gostava de conversar e eu percebi isso após


o término do expediente. O bar fechou em torno de 1h30 da manhã
e todos os funcionários já haviam ido embora, exceto eu, que fui
arrastada por Collins até uma mesa para conversarmos sobre
muitas coisas.
Bruce arrumou uma desculpa, falandoque precisava resolver
algumas coisas no escritório, para não ter que presenciar a nossa
conversa muito amigável.

Peguei uma garrafa de tequila, dois copos e servi Collins. Se


Bruce estivesse vendo aquilo por uma câmera, certamente, estaria
furioso.
― Então, você começou a cantar desde criança? ― ele
perguntou, levando o copo à boca.

― Exatamente. Eu cantava para... Bem, esquecer meus


problemas.
Problemas que não eram poucos e nem fáceis de lidar
.
― Entendo ― Collins murmurou. ― Não me entenda mal,
mas eu estou verdadeiramente apaixonado pela sua voz.

Pela maneira que ele me olhava, parecia apaixonado por


outra coisa também.

― Obrigada. Fico lisonjeada.


Collins sorriu de volta e colocou a sua mão sobre a minha,
que estava estendida sobre a mesa. Fiquei um pouco tensa, mas
não a recolhi. Ele era apenas um amigo... Que eu acabei de
conhecer, mas que já se mostrava muito mais amigável que Bruce
fora no começo.
Isso devia ser algo bom, não?

― Lauren, como você deve saber, sou sócio de Bruce em


uma gravadora. Mas, na verdade, quem sempre está em busca de
novos talentos, sou eu. ― Ele enfiou a mão no bolso do paletó e
tirou um cartão de visitas. ― Além disso, sou agente musical e não
restam dúvidas que me interessei por você. Digo — ele balançou a
cabeça ―, por sua incrível voz.
Bruce e sua gravadora...
Aquele ainda era um assunto no qual eu tinha vontade de
confrontá-lo, mas não tinha coragem suficiente.
― Não entendo como ele não a levou para gravarmos algo.
Nós podemos investir em você sem medo, afinal, você é uma
raridade!
Pelo jeito, Bruce não pensava daquela maneira ou, então, já
teria conversado comigo e Jessica sobre aquele assunto. Ele sequer
queria que soubéssemos daquele assunto.
― Bruce tem uma gravadora? ― Banquei a desentendida. ―
Eu nem imaginava isso.

― Sim, mas ele não é muito participativo. ― Richard ergueu


as sobrancelhas. ― Talvez, acha melhor ficar enfiado dentro do
escritório, em um bar de quinta.

Eu também achava aquilo e ia concordar com ele, quando


meus olhos recaíram sobre a figura imponente atrás de Richard.
Bruce estava com os braços cruzados, mas seu olhar recaía
somente em uma coisa: a mão de Collins sobre a minha.
Eita, porra.
― Eu gosto de ficar enfiado no escritório do meu bar de
quinta ― Bruce retrucou. ― Afinal, é deste bar de “quinta”
que você
tira as suas supostas “
estrelas da música”.

Richard explodiu em risos e se virou para Bruce.

― Você sabe que eu estava brincando, meu caro. O dinheiro


é seu, invista onde quiser.
― Tem razão. O dinheiro é meu e eu invisto onde e em quem
eu quiser.
Bem, aquilo, provavelmente, era uma indireta para mim.
Bruce estava claramente dizendo que não queria investir seu
precioso dinheiro em uma pessoa como eu, que dias antes, julgou
como inconsequente.

― Bem, já está na hora de ir embora ― Bruce falou,


descendo seu olhar até mim. ― Passamos muito do horário.
Collins assentiu e também me olhou, com um sorriso nos
lábios.
― Foi um prazer conhecê-la, minha querida ― disse, ao se
levantar. Eu também fiquei em pé. ― Tenha certeza de que voltarei
aqui para vê-la cantando mais uma vez.

Richard se aproximou e depositou um beijo no meu rosto. No


primeiro momento, eu não sabia como agir, apenas deixei rolar. No
segundo momento, adorei ver a cara de frustração que estava
estampada no rosto de Bruce.
Será que ele estava com ciúme?
Collins se afastou e ao passar por Bruce, lhe falou algo no
ouvido, que eu não pude ouvir, somente o vi respirar fundo e olhar
seriamente para o sócio.

― Vá se foder, Richard.
Collins olhou para mim e riu, depois virou as costas e se foi,
me deixando a sós com Bruce para lidar com toda aquela tensão.
As coisas já não estavam boas e o homem me olhava com uma
cara estranha. Como se estivesse decidindo se me odiava pouco ou
muito.
― Vou pegar as minhas coisas.

Saí da presença dele o mais rápido que pude e fui até o


banheiro, nos fundos. Deixei o avental negro e peguei minha bolsa.
Voltei para frente, esperando que Bruce já tivesse saído de lá, mas
ele continuava parado no mesmo lugar.
― Sobre o que vocês conversaram?
― Não é da sua conta ― retruquei. ― E, boa noite, chefe.

Fui passar por ele, quando senti sua mão agarrar o meu
braço. Olhei para ele, assustada.
― Está chovendo. Você vai embora comigo.
Fiquei tão entretida com a conversa de Richard que eu não
havia notado que estava chovendo. Olhei para as vidraças,
constatando que ele falava a verdade.
― Eu chamo um táxi... ― falei, não querendo dar o braço a
torcer. ― Boa noite, chefe ― provoquei, puxando meu braço de
volta.

― Lauren, não seja assim.


Arregalei os olhos.
― Não seja assim, você!
Bruce me soltou, respirou fundo e eu aproveitei a deixa para
me encaminhar até a porta, porém, como o destino adorava pregar
peças comigo, a chuva triplicou em questão de segundos.
― Ainda quer rejeitar ir embora comigo? ― disse ele, com
ironia na voz.
Virei-me para ele, disposta a mandá-lo ao inferno, mas
respirei fundo e retruquei:

― Vamos logo! Antes que eu me arrependa disso.

A chuva era tão intensa que nem mesmo o limpador de para-


brisas estava dando conta.
― Bruce, acho melhor encostar e esperarmos um pouco ―
sugeri, ao vê-lo tenso pela falta de visibilidade proporcionada pela
tempestade.
No entanto, ele não queria me ouvir.

― Mas onde está o seu motorista? ― Alterei o tom de voz.


― Não sou nenhuma criancinha que não sabe dirigir, Lauren
― Ele rebateu. ― A chuva não está tão forte assim.
― Ah, não. É claro que não. ― Revirei os olhos. ― Mal
passamos do primeiro quarteirão!
E, mais uma vez, ele não me deu ouvidos.
Bufei, sentindo uma sensação estranha. Que porra! Se ele
não parasse aquele carro, nós poderíamos nos envolver em um
acidente de trânsito. Claro que não seria nada fora da nossa
realidade, porém, eu não queria ser, novamente, a culpada.

― Bruce, encosta o carro... Por favor.


Ele não me deu ouvidos e aconteceu o que eu temia. Meu
corpo foi para frente, devido ao impacto, quando atingimos uma
caçamba de lixo. A minha sorte era que o cinto de segurança era
bom o bastante.
― Porra! ― Bruce xingou, enfiando a cabeça contra o
volante.
― Eu avisei...
Bruce virou a cabeça para mim, com seus olhos arregalados.
Pela primeira vez, eu senti medo ao falar aquelas duas palavras.

― Ah! Pelo menos, alguma vez, você tentou me dizer algo


sensato!

― E que você, babaca como é, não fez questão de ouvir ―


rebati. ― Agora, estamos aqui, no meio de uma forte chuva, sem
saber para aonde ir.
Cruzei os braços e ficamosem silêncio, por algum tempo, até
que Bruce me olhou novamente.
― Você me chamou de babaca?

― E do que mais eu chamaria?


Aceitar aquela carona foi a pior loucura que eu fiz na minha
vida. Bruce era aquele tipo de pessoa que deveria ser mantida em
cativeiro, afinal, ora estava sorridente, ora estava com aquele mau-
humor dos infernos.
Os únicos momentos que eram bons entre nós era quando
ele estava dentro de mim.
Esse era o ponto.
No sexo nos dávamos super bem. Mas na vida real?
Queríamos nos matar a todo instante.
O seu silêncio me incomodava mais que tudo. Se, ao menos,
ele gritasse e me mandasse ao inferno, tudo bem... Eu entenderia.
Mas não, ele mantinha aquele silêncio que somente nos afastava.

― Eu te chamei de babaca... Você deveria me chamar de


inconsequente ― faleibaixo. ― Afinal,não é isso o que eu sou para
você?

Bruce me encarou, sabendo que uma hora ou outra eu


jogaria aquela conversa na roda.

― Tem razão, você é uma inconsequente ― explodiu. ―


Você simplesmente deu as costas para a minha filha, que está há
dias desesperada querendo ver você!
Arregalei os olhos, assustada.

Eu nunca pensei que aquela escolha afetaria Caroline. Por


Deus, Bruce mesmo havia dito o quanto ela gostava de mim. A
menina se abria mais comigo do que com a própria tia.

Como eu pude ser tão insensível?


― Está vendo, Lauren? As suas escolhas interferem e
machucam quem está ao seu redor. Você machucou a minha filha e
o que eu posso esperar de você? Nada. Absolutamente nada.
― Eu nunca pedi que esperasse algo de mim ― retruquei,
indignada. ― Eu não quero que espere nada de mim, Bruce. Mas,
fique tranquilo porque eu sei o que você pensa sobre mim e, não se
preocupe, eu não vou aceitar a oferta de Collins sobre a porra da
sua gravadora.

― E o que Collins tem a ver com essa conversa?


― Ele, nada. Porém, eu sei o que pensa sobre mim e que
jamais contrataria uma pessoa como eu para a sua gravadora. Tanto
é, que escondeu esse detalhe até de Jessica.

Bruce não respondeu.

― Se você espera que eu seja uma pessoa diferente, digna


de um maldito contrato, você está bem enganado. Eu sou o que sou
e nunca vou mudar. Por você ou por qualquer outra pessoa.

Não esperei para ouvir a resposta de Bruce.


Abri a porta do carro e, mesmo com os seus protestos,
ignorei-os e saí, com a consciência de que aquela chuva me faria
cair doente. Corri pela rua, sentindo minhas roupas encharcadas, as
lágrimas rolando pelo meu rosto e se misturando com a chuva.

Por sorte, um táxi estava passando e eu consegui fazê-lo


parar.

Podia voltar à casa de Danna e fingir que aquilo não


aconteceu, mas indiquei o endereço de Bruce.
Esperava que todos já estivessem dormindo, porque,
francamente, eu não queria falar com ninguém.
Capítulo 31

Mantenha os seus pés no chão

Quando a sua cabeça está nas nuvens


Brick By Boring Brick - Paramore

Bruce

Anos antes

Já havia alguns dias que Loren estava estranha comigo e eu


sabia que algo muito sério estava acontecendo. Quando eu a
confrontava, Loren negava, dizendo que não era nada e que tudo
ficaria bem.
Como de costume, naquele dia cheguei cedo ao bar.

Por mim, eu já teria tirado Loren daquele lugar, entretanto, ela


não queria. Propusera-lhe casamento várias vezes, o que ela
sempre rejeitava, dizendo que quando descobrissem que eu estava
casado com uma ex-prostituta, nossas vidas se transformariam em
um inferno.
E eu não ligava para nada daquilo, porque tudo o que eu
queria era tirá-la daquela vida e formar uma família.
O show começou no mesmo horário e ela estava linda, como
sempre. Com o passar do tempo, Loren aperfeiçoou sua
apresentação, incluindo algumas acrobacias no pole dance. Porém,
naquela noite, avisaram aos clientes que não teríamos
performances diferentes.

Estranhei o fato, no entanto, achei que ela não deveria estar


se sentindo bem.
E o show seguiu, como sempre, fazendo os homens
esvaziarem suas carteiras em busca da oportunidade de passar
uma única noite com ela. A cada vez que eu via aqueles lobos,
minha vontade era socar a cara de um por um.

A única coisa que me confortava era que Loren não aceitava


nenhuma oferta.

Loren desceu do palco e caminhou entre as pessoas. Um


homem se colocou à sua frente e lhe mostrou um cheque.
As coisas eram sempre assim, e, mesmo que fosse um valor
exorbitante, não importava, porque Loren sempre corria para os
meus braços.
Entretanto, naquela noite, ela olhou para mim e sussurrou:

― Me perdoe.

Loren encaixou a mão na do homem, que olhou para mim e


sorriu, sabendo que eu havia perdido naquela noite.
John estava no outro lado do bar e me olhou desentendido.
Eu estava desentendido. Completamente sem chão.
Meu sangue ferveu e eu segui os dois até o quarto principal.
Era lá que Loren e eu dividíamos o leito. O que porra estava
acontecendo? Ela estava pregando uma peça em mim?
Loren dizia que me amava!
Movido pela raiva e pela mágoa, entrei no quarto logo depois
deles e fui para cima do sujeito, disposto a tirá-lo de lá a socos e
ponta pés.

― Você não vai ficar com ela! ― gritei, puxando-o pelo


colarinho da camisa. ― Ela não é para a sua laia!

Algumas pessoas entraram e tentaram nos separar. Porém,


eu queria arrebentar a cara daquele desgraçado antes que ele
ousasse tocar na minha mulher.

― Bruce! Pelo amor de Deus! ― Loren gritou, desesperada.


― Solte o homem!
Olhei para ela, atônito.

― Não vou soltar, enquanto não me disser o que está


acontecendo!

― Cai fora, ela não te quer ― ele zombou. ― Não consegue


aceitar que ela não te quer mais, seu playboyzinho?
Soltei o sujeito e enfiei um soco em seu rosto. Aquilo não
podia ser, ela não podia me trocar daquela maneira! Eu lhe prometi
o mundo, eu lhe jurei o meu amor.
Ela era a dona do meu coração.

Loren gritou algo que eu não consegui entender. Alguns


homens me seguraram, enquanto eu tentava chutar aquele sujeito.
― Bruce, para! ― Loren se colocou à minha frentee segurou
meu rosto, enquanto as lágrimas caíam de seus olhos. ― Não faça
isso!
Olhei para seus olhos, decepcionado.
Por que Loren não me queria mais?
Se ela tivesse me pedido, eu teria ido embora, mas ela não
havia dito nada. Sempre disse que me amava.
Loren respirou fundo e balançou a cabeça negativamente,
como se aquele assunto a fizesse sofrer
.

― Eu estou grávida, Bruce. Eu estou grávida!


Capítulo 32

Está uma noite fria pra caramba

Estou tentando entender essa vida


Você não vai me levar pela mão?
Me leve a algum lugar novo

I’m Withou
Y – Avril Lavigne

Bruce

Soquei o volante com força e gritei com a minha alma


despedaçada. Era como se o meu coração estivesse reabrindo
aquelas feridas que lutei tanto tempo para manter fechadas.
E a culpada daquilo era Lauren.

Ela era a maldita que não saíados meus pensamentos. Até o


seu cheiro estava impregnado em minhas narinas.

Precisei de um controle descomunal para não descer e


acabar com a vida de Richard quando o vi conversando com ela,
rindo, sendo agradável. Tudo o que eu deveria ter sido desde o
começo!

Depois de muito tentar, meu carro pegou novamente e assim


consegui chegar em casa. Em partes. O motor morreu bem na
entrada, não me deixando escolha a não ser sair do veículoe seguir
a pé até a porta principal, debaixo da chuva intensa.

A casa estava escura e em completo silêncio.


Subi as escadas lentamente, cansado e malditamente me
sentindo culpado por toda aquela merda.
Quando cheguei no topo, olhei na direção do quarto onde
Lauren estava hospedada. Com a briga, ela devia ter voltado para o
apartamento de Danna e não havia muito o que fazer.
Sempre que estávamos chegando a um acordo, algo
acontecia e voltávamos à estaca zero.
Mesmo assim, segui na direção do cômodo, com a estranha
sensação de que a encontraria lá, apesar de tudo.
Apoiei a mão na maçaneta e a girei, encontrando-a
destrancada. Adentrei o cômodo, que estava escuro, iluminado
apenas pela luz que vinha da rua. Meu coração acelerou quando a
vi, parada perto da janela, olhando para a chuva caindo com força
do lado de fora.

Se fosse em outros tempos, eu estaria furioso por Lauren


estar pingando água da chuva em meu carpete. Mas, agora, nada
disso importava, porque, inferno, eu precisava dela.

Precisava de seu corpo.


Aproximei-me lentamente.

Ela suspirou.

A simples presença de Lauren fazia o meu corpo incendiar.


Esperava que ela também se sentisse assim.
Ela não se afastou quando me aproximei. Sequer disse uma
palavra. Seu corpo tremia.

Afastei lentamente seu cabelo, deixando seu pescoço a


mostra. Abaixei-me aspirando seu perfume misturado a água de
chuva. Então lambi sua pele desde o ombro até perto de sua orelha.
Lauren se retraiu, mas não fugiu do meu toque.

― O que eu sou para você, Bruce? ― perguntou baixinho.

Dei mais um passo, colando meu corpo ao dela.

Íamos incendiar juntos.


― O que você quer ser para mim? ― devolvi a pergunta,
enquanto minhas mãos se ocupavam em abrir o zíper do vestido.

Lauren suspirou, puxando os cabelos para a frente, dando-


me um acesso melhor ao zíper.

― Não sei ― respondeu. ― Só não quero ser uma...


inconsequente.
Minhas mãos afastaram o tecido do vestido, que caiu aos
seus pés. Sua pele estava fria, mas ao mesmo tempo quente. Eu
sabia que ela me queria com o mesmo fervor que eu a queria.

Era um troca muito mais do que agradável.

― Eu sou um homem com a mente fodida pelas


circunstâncias, Lauren ― falei, abrindo o fecho do sutiã. ― Não
espere um príncipe encantado, porque eu sou o mais quebrado dos
homens.
Ela se virou para mim e seus olhos encararam os meus. Eles
estavam borrados pela maquiagem, mesmo assim, ela continuava
linda.
― Você foi quebrado por alguém que amou, não é?
Não queria falardaquele assunto com Lauren, mas por algum
motivo eu me sentia à vontade. Era quase como um escape, uma
libertação.
― Sim.
Suas mãos pequenas subiram pelo meu terno molhado.
Depois vieram ao meu rosto.
― Me deixa fazê-lo esquecer o passado.
― Não posso, Lauren. ― Suspirei. ― Não posso te dar
ilusões de que vou ser diferente do que sou. É assim que as coisas
são.
Ela balançou a cabeça negativamente e segurou meu rosto
com um pouco mais de força.

― As coisas podem ser diferentes. Só... tenta. Não estou


pedindo que seja meu namorado ou algo do tipo, só quero que a
gente se dê bem definitivamente.
Eu também queria aquilo.
Assenti lentamente.

― Posso tentar, Lauren. Mas não prometo que vai ser assim.
Seu polegar desenhou o meu lábio.
― Você é tão bonito. Gosto do seu rosto, apesar de ele estar
fechado a maior parte do tempo.

Suas palavras me fizeram ver um pouco além da escuridão.


― Gosto quando você sorri ― ela continuou. ― O torna
mais... humano.
Beijei a ponta de seus dedos.
Puxei-a para mim e beijei seus lábios. Não foi um beijo
frenético, daqueles que trocamos quando estamos excitados. Foi
um beijo calmo, porém, que ativou todas as nossas veias fazendo o
sangue percorrer a velocidade da luz.
Tornando-nos ainda mais quentes e cheios de desejo.
Lauren empurrou meu terno, que caiu no chão junto com seu
vestido.
Aumentei o ritmo do beijo. Minha língua explorava sua boca,
raspava em seus dentes. Segurei sua nuca enquanto as mãos
pequenas e calejadas percorriam meu peito.

― Essa é a sua forma de pedir desculpas? ― Lauren


perguntou quando puxei sua cabeça um pouco para trás, para
respirarmos.
Meus olhos percorreram seu rosto, admirando-a ainda mais.
Ela era tão linda que me deixava sem fôlego.

― Talvez ― respondi.
― Olhe nos meus olhos, Bruce.
Fiz o que ela pediu e naqueles poucos segundos senti uma
conexão que nunca tinha sentido antes.

Nem mesmo com a mulher que me destruiu no passado.


― Não devo, mas eu o quero ― ela disse baixinho, seus
dedos abrindo os botões da minha camisa. Ela empurrou-a, jogando
no chão junto com as outras peças. Lauren se aproximou, depositou
um beijo em uma das minhas tatuagens e eu suspirei. ― Eu gosto
delas.
Lauren nunca havia mencionado nada sobre as tatuagens
que eu carregava. Também nunca achei que fosse necessário falar
sobre elas, porque elas não carregavam significados. Era apenas a
minha forma de extravasar a dor, através de mais dor, quando a
agulha percorria a minha pele.
― Eu também tenho uma marca ― ela ergueu o pulso,
mostrando-me uma cicatriz que eu já tinha visto, mas não tive
coragem de perguntar. ― Essa foi a minha forma de tentar
extravasar a minha dor.

Éramos quebrados e, de certa forma, aquilo nos unia.


Mesmo que fosse por questões diferentes.

― Todo mundo tem uma cicatriz ― segurei seu pulso e o


levei até meus lábios, depositando um beijo. ― Alguns as deixam
dentro de si, outros as colocam para fora.
Lauren fechou os olhos.
Abaixei-me e a peguei em meu colo, então a levei até a
cama.
Coloquei-a com cuidado e afastei-mepara tirar o restante das
roupas molhadas.

Os olhos de Lauren não saíam do meu corpo.


E eu gostava daquilo.
Não foi novidade para ela ver o quanto eu já estava excitado.
Acho que novidade era o fato de eu não querer uma transa louca,
mas sim algo que nos conectasse ainda mais.

― Me beija, por favor― ela pediu assim que me coloquei por


cima de seu corpo.

Beijei os lábios de Lauren como se fosse a primeira e a última


vez.
Seus braços circundaram meu corpo, suas mãos percorriam
minhas costas. Ela estava quente debaixo de mim, pegando fogo e
eu não conseguia pensar em mais nada além de tê-la. Para sempre.
― Diz que é minha ― falei,mordiscando seu lábio inferior. ―
E eu vou ser seu para sempre.

Lauren suspirou.
― Eu sou sua. Mesmo não querendo, mesmo lutando contra
isso.

Deixei seus lábios para percorrer seu maxilar. Minha mão


abandonou sua cintura e subiu até seus seios. Meu polegar brincou
com o mamilo intumescido e não consegui conter um sorriso quando
Lauren arqueou as costas e gemeu o meu nome.

A porra do meu nome.


Desci meus lábios pelo pescoço longínquo, beijei seu colo.
Abocanhei um de seus mamilos, chupando-o com avidez. Lauren os
entregava a mim, arqueando-se, pedindo por mais.

Abandonei seus seios temporariamente, descendo minha


boca pela barriga lisa. Lauren abriu as pernas quando me aproximei
de sua boceta. Mas eu queria torturá-la um pouco, então depositei
beijos em suas coxas, depois mordidas.
― Bruce... ― ela gemeu. ― Por que faz isso comigo?

― Porque gosto de torturá-la um pouco.


― Filho da puta.

Abri um sorriso, então abri as pernas de Lauren. Sua boceta


já estava inchada, pronta para receber as minhas carícias. Abaixei-
me e chupei seu clitóris. Movi minha língua por toda a extensão,
arrancando gemidos altos.
― Bruce!
― O que foi, minha linda? ― brinquei com seu clitóris,
chupando-o bem devagar.

Lauren jogou a cabeça para trás.


― Isso, assim.

Ela enfiou os dedos em meus cabelos e moveu minha


cabeça, do jeito que ela queria. Ela ergueu o quadril, entregando
tudo para mim.

Quando ela estremeceu com o orgasmo, joguei-me na cama


ao seu lado e a puxei para cima do meu corpo, de costas para mim.
― Vamos lá, querida.

Lauren sabia exatamente o que fazer.


Ela empinou a bunda e lentamente se sentou em meu pau,
arrancando a porra de um gemido da minha garganta. Por estar no
extremo do prazer, ela deslizou com facilidade.

― Eu sou a porra de um sortudo ― falei, admirando sua


bunda.

Lauren se virou e abriu um pequeno sorriso.

― Você é, mesmo.
Fechei os olhos, ela subia e descia em um ritmo perfeito.
Nem muito rápido e nem muito lento. Lauren gemia. Ela adorava
estar no controle, eu sabia disso, por isso deixei que ela conduzisse
tudo.

― Porra, Lauren ― segurei-a pela cintura. ― Você vai me


fazer gozar rápido igual a um adolescente pervertido.

Ela riu.
A desgraçada riu.

― Vamos lá, Bruce. Eu sei que você quer gozar que nem um
adolescente pervertido.

Era claro que eu queria.


Mas eu queria vê-la gozando novamente.
― Vem cá. ― Puxei-a, deitando-a entre o meu peito e o meu
braço. ― Depois que eu ver você gozar novamente, eu vou meter
tão fundo e tão rápido que você vai se arrepender de ter dito isso.
Ela depositou um beijo em meu rosto e riu.

E eu soube que adorava o riso dela.


Esfreguei seu clitóris com os dedos e Lauren se derreteu em
meus braços. Logo a vi estremecendo de prazer, exatamente do
jeito que eu queria.

Virei-a de costas na cama e me coloquei por cima dela. Guiei


meu pau em sua boceta e a penetrei de uma só vez.
― Porra, Bruce ― ela gemeu, mais uma vez.

― Porra, Lauren.
Sua boceta úmida, quente e apertada estavam me levando a
beira do precipício.
Comecei estocando-a lentamente. Aumentei o meu ritmo,
assim como nossos gemidos aumentaram.

Lauren fechou os olhos e eu estoquei ainda mais fundo e


com mais força.
O orgasmo veio como a onda do mar, batendo contra meu
corpo.

Gozei, fechando os olhos, gemendo mais uma vez.

O prazer era inexplicável.


Saí de dentro de Lauren e me deitei ao seu lado. Puxei-a
para os meus braços.

Nossas respirações aceleradas.

― Isso foi diferente ― Lauren disse. ― Mas eu gostei.


Eu também havia gostado.

Apesar de saber que ali, não fora apenas sexo.


Um sentimento começava a brotar em meu peito.

Mesmo que eu soubesse que aquilo podia ser o meu fim,


mais uma vez.
Capítulo 33

Estou com minha mente no seu corpo

E seu corpo na minha mente


Tenho uma queda pela cereja
Só preciso dar uma mordida

Cool For The Summer – Demi Lovato

Lauren

― Será que você consegue disfarçar essa cara de idiota


apaixonada? ― Jessica me deu um cutucão que quase me
empurrou na piscina.
― Porra, tá maluca?

― Maluca está você com esse ar apaixonado enquanto


estamos aqui tentando ensaiar.

Olhei para os demais, tentando descobrir se eles tinham


ouvido o que Jessica disse. Porém, cada um parecia entretido em
seu próprio mundo, o mesmo mundo que eu também deveria estar,
ao invés de ficar olhando para um Bruce sentado no jardim, com a
filha nos braços enquanto lia um livro para ela.
― Eu, ahn... ― Passei uma mecha do cabelo atrás da orelha.
― Qual música íamos tocar mesmo?

Jessica disse algo, mas novamente me perdi em Bruce. Só


que desta vez, ele também estava olhando para mim com um meio-
sorriso nos lábios.
― Vocês são patéticos. ― Jess bufou. ― Galera! Pausa de
quinze minutos.

Respirei fundo e passei a alça da guitarra pela cabeça,


colocando-a em um pedestal.

Josh, Brandon e Danna resmungaram que iam na cozinha


procurar algo para comer, Jessica chamou Caroline e eu sabia que
era uma desculpa para me deixar a sós com Bruce.

Já fazia quase um mês que estávamos saindo escondidos e


a cada oportunidade que tínhamos para nos pegar, aproveitávamos
de verdade.
E dessa vez, não foi diferente.

Ele se aproximou, deu uma olhadinha na direção da cozinha


e quando confirmou que ninguém estava nos olhando, me puxou
para seus braços e depositou um beijo longo em meus lábios.

― Vocês estão indo muito bem ― disse após separar nossos


lábios e depositar um beijo em minha testa. ― Desse jeito, Collins
vai querer assinar o contrato imediatamente.
Bruce havia me explicado que adquirira sim ações em uma
gravadora, mas era Collins quem estava a frente dos negócios. Era
ele quem escolhia suas estrelas, apostava nelas e trabalhava para
fazer dar certo.

Com isso, Collins nos reuniu em uma noite no bar e nos deu
a missão de nos prepararmos para uma pequena apresentação. Ele
queria ver como lidávamos como “banda” e essa era uma
oportunidade perfeita.
― Espero que sim... ― Meus dedos subiram pelo peitoral de
Bruce. ― Estamos nos esforçando muito.

― Eu sei. ― Ele beijou minha testa novamente.

― Você não tinha que ir para a empresa hoje? ― perguntei.

No instante que as palavras saíram da minha boca, o celular


de Bruce começou a tocar e ele o pegou no bolso da calça jeans e o
levou até o ouvido.
― Meredith?
Assim que ele disse o nome dessa ordinária, fechei o
semblante.
Não falávamos sobre ela, nem sobre comoo seria o futuro.
Mas eu sabia que Meredith estava lá, investindo todas as suas
fichas para ser a próxima senhora Hastings.
E não havia muito o que eu fazer.

― Eu te disse que ia tirar a manhã livre para ficar com


Caroline, agora que ela está de férias ― Bruce disse, um pouco
irritado. ― Ok, não tem problema. Eu já vou.

Ele encerrou a ligação e enfiou o celular no bolso da calça.


― Problemas?

― Sim.
― E Meredith não é paga para resolvê-los? ― Cruzei os
braços.

― Ela resolve, a maioria pelo menos. Mas alguns precisam


de mim. ― Os olhos escuros de Bruce recaíram em meu rosto. ―
Hey, não faz essa cara.
Ergui as sobrancelhas.

― Que cara? Não fiz cara nenhuma!


Virei as costas como uma garota emburrada.
Bruce me abraçou e sussurrou em meu ouvido:
― Desse jeito vou ter que convidá-la para jantar comigo esta
noite.
― Vá. Convide-a. ― Forcei meu corpo para a frente,
afastando-me dele enquanto meu coração se retorcia com um ciúme
doentio. ― Não ligo para esta porra.

Bruce se aproximou novamente e me puxou para ficar de


frente para ele.
― Estou falandode você. Quero que jante comigo esta noite.
Fiquei sem palavras por um bom instante.

No momento que pensei em responder algo, Danna, Brandon


e Josh voltaram e nos obrigaram a nos afastarmos imediatamente.
― E aí, Laurenzinha. ― Josh se aproximou, jogando o braço
em volta do meu pescoço. ― Qual música do Nirvana você quer
colocar no nosso repertório?

Bruce fechou o semblante no mesmo instante.


― Aff, Josh... me deixa. ― Afastei-me dele. ― Qualquer
uma. Tanto faz.
Jessica e Caroline também voltaram e ali morreu a minha
chance de responder à Bruce.
Concentrei-me na guitarra enquanto o ouvia dizer que ia para
a empresa pois precisavam dele.
― Vou ficar aqui com vocês ― Caroline disse assim que
Bruce se foi.
― Pode sentar nessa caixa, gatinha ― Brandon indicou. ―
Vai tremer um pouquinho, mas acho que você não liga para isso,
não é?
Ela riu.

― Não mesmo.
― Bom, galera... vamos lá. Foco total ― falei, voltando-me a
eles. Passei a faixa da guitarra pelo pescoço e me aproximei do
microfone. ― Danna, mantenha um tom abaixo, ok?
― Ok.
Respirei fundo, tentando me concentrar no que realmente
precisava. Então, meu celular vibrou e eu o peguei para ver o que
era.
“Esteja em frente à mansão às 19h. Não aceitonão”
“ como
resposta.”

Meu coração deu cambalhotas.


Bruce seria meu por mais um dia.

― Jess? Posso entrar?


Jessica estava deitada de bruços na cama, com um livro nas
mãos.
― Claro. O que houve? ― Ela se sentou no mesmo instante.
― O que foi, Lauren? Você está com uma cara estranha.

Sentei-me na beirada da cama e respirei fundo.


Não era fácil dizer aquela porra toda que eu havia ensaiado
em meu quarto. Primeiro porque era como assumir o que ela já
imaginava e, segundo, porque ia contra tudo o que eu defendia com
tanto entusiasmo.
― Eu queria te pedir um favor... ― falei devagar. ― Se você
puder, é claro.

― Claro, amiga. Pode dizer.


― Sei que já estou te devendo uma boa grana e juro que vou
pagar assim que eu conseguir juntar mais dinheiro de gorjeta no bar,
mas...
Jessica bufou.

― Já disse que não precisa pagar nada.


― Mesmo assim. Eu queria ver se você poderia comprar um
vestido para mim. Queria algo bonito para usar essa noite.
Jessica levou vários instantes para entender o que eu tinha
dito. Ou ela entendeu e manteve o silêncio somente para me
torturar, não sabia dizer ao certo.

― Vai sair com meu irmão? ― a pergunta foi direta.

Não havia motivos para mentir.


Balancei a cabeça afirmativamente enquanto olhava para os
meus próprios pés com o esmalte das unhas descascado.

Jessica assobiou.
― Não sei porque caralhos vocês insistem em esconder as
coisas de mim ― ela disse, irritada. ― Mas, ok... eu sei que é tudo
muito complicado, mas eu vou te ajudar. ― Jess pulou da cama e foi
para o closet. ― Vamos ao shopping! Sei exatamente do que você
precisa!
Levantei-me e a segui.

― Jessica, não... eu não quero ser uma boneca nas suas


mãos! ― avisei. ― Eu só quero ficar um pouco melhor, mas não
quero que mude a minha essência!

Jessica se aproximou e apoiou as mãos em meus ombros.


― Você não precisa mudar a sua essência para estar bem-
vestida, Lauren. Confie em mim, vou fazer algo por você que depois,
quando Bruce estiver em suas mãos, você vai me agradecer.
Meu coração deu outro salto ao pensar que Bruce poderia me
olhar de uma forma diferente.
Com... amor.

Porque paixão eu via em seus olhos, todas as vezes que ele


estava dentro de mim.

Mas talvez eu quisesse algo mais.

Mesmo sabendo que era como cavar a minha própria cova ao


imaginar algo assim.
― Tá bom, Jess. Eu confio em você.

Ela me lançou um sorriso e se perdeu em seu enorme closet.

Jessica estava animada com tudo.


Ela andava na minha frente, mostrava-me as vitrines das
lojas, tentava imaginar looks que dariam certo com a minha
personalidade e eu estava achando tudo muito engraçado.
Nossa primeira parada foi em uma loja que vendia vestidos
de grife.Mesmo eu dizendo que não queria nada caríssimo,Jessica
não me ouvia. E foi em uma destas lojas que encontrei o vestido
perfeito.

Ele era preto em renda e descia pelo meu corpo marcando as


minhas curvas. Suas mangas iam até os pulsos, mas como as
noites costumavam ser um pouco mais geladas, não tinha problema.

Peguei mais alguns vestidos, todos em tons escuros. O mais


ousado que me aventurei foi com um de cor vinho.
Depois fomos em outras lojas, onde compramos mais
algumas peças básicas, mas que me proporcionariam looks mais
formais. Fomos às lojas de sapatos e me apaixonei por uma
sandália de tiras com salto fino.

Provavelmente meus pés reclamariam, mas ele era tão


bonito.

Estávamos cheias de sacolas nos braços, mas Jessica


insistiu que eu precisava cuidar um pouco de mim. Ainda restava
algumas horas até eu precisar me arrumar para encontrar Bruce.

Ela me levou em um salão de beleza que costumava ir antes


de embarcar para NY.
Começamos pelas unhas e, desta vez, optei por um esmalte
claro. Queria ver como minhas mãos ficariam. E o resultado? Amei,
apesar de ser uma cor que quase não aparecia, alongava os meus
dedos.
Não queria me parecer com Meredith, mas eu achava que
era isso que ela escolheria. E, se Bruce projetava um futuro com
ela, era porque ele gostava disso também.
― Agora vamos para a parte mais interessante de tudo isso!
― Jessica falou, com um ar diabólico. ― Depilação!
Arregalei os olhos porque eu realmente tinha medo de sentir
dor.
― Ah, não mesmo... ― Virei as costas para me afastar, mas
ela me puxou de volta.

― Nem pensar. Meu irmão vai gostar. Você vai surpreendê-


lo.
Isso me deixou em dúvida.

Bruce nunca havia reclamado dos meus pelos, apesar de eu


sempre apará-los com uma tesoura.
Mas se aquilo o surpreenderia, talvez fosse positivamente.

― Que Deus me ajude... ― resmunguei enquanto Jessica me


empurrava para a sala de depilação.
A mulher que ia me atender sorriu de uma forma muito
estranha, quase sádica.

― Pode se deitar aqui, querida.

Olhei para Jessica e ela também sorria, igual a uma vadia.


― Eu te odeio.

― Mas vai me amar depois dessa noite. ― Ela piscou


sugestivamente.
― Filha da puta... ― resmunguei, tirando minha roupa. ―
Você vai me pagar, Jessica.

A depilação foi um verdadeiro inferno.


Mas, quando tudo terminou e passei a mão pela minha
vagina sem sequer um pelo, achei o máximo.

Esperava que Bruce também gostasse.


O dia finalizoucom uma cabeleireira cuidando dos meus fios.
Ela fez um corte, já que eu costumava cortar para economizar e
sempre saía torto, e depois fez escova. Então finalizou com baby-
liss, deixando meu cabelo lindo e perfeito em muitas ondas.

― Jess, obrigada, de verdade ― falei, quando já estávamos


dentro do carro voltando para casa. ― Não sei nem como te
agradecer.

Ela me fitou e sorriu.


― Não precisa agradecer. Eu... fazmuitos anos que não vejo
Bruce assim. Nesse último mês ele está mais calmo, mais receptivo
e parece o irmão que perdi há tantos anos. ― Ela fitou a janela do
carro. ― Eu só espero que vocês saibam o que estão fazendo. Não
se esqueçam que há uma criança no meio de tudo isso. Caroline te
ama, ela realmente te aprovaria como madrasta, mas será que você
também a veria como uma filha?
― Claro que sim... ― Mesmo que eu não quisesse, aquilo
era algo que sempre vinha à minha cabeça. Eu poderia ser uma boa
mãe para Carol. Eu a amava. ― Você sabe que ela é especial para
mim.

Jessica assentiu.
― Ótimo. Espero que nenhum de vocês saia machucado
dessa história.
O táxi estacionou em frente à mansão e tivemos bastante
dificuldade de chegar até a entrada por causa das sacolas.

Fui direto para o meu quarto me arrumar.


Faltava pouco para ver Bruce.

E eu esperava que a nossa noite fosse maravilhosa, como


todas as outras que tivemos durante esse mês.
Capítulo 34

Me diga todas as coisas que você quer fazer

Ouvi dizer que você gosta de garotas más, meu bem


Isso é verdade?
Video Games – Lana Del Rey

Bruce

― Uau, onde você vai assim, todo arrumado? ― Meredith


perguntou enquanto eu enfiava minhas coisas dentro da pasta.
Era fato que eu tinha caprichado um pouco mais no meu
perfume e no meu cabelo alguns minutos antes. Mas eu não
esperava que fosse tão aparente assim.
― Nada demais...

Meredith encostou-se na minha mesa.

― Iaconvidá-lo para ir ao meu apartamento. Pensei em pedir


uma pizza e...
― Sinto muito, mas já tenho um compromisso esta noite.
Vi a decepção em seu olhar.
Era claro que ela já sabia o que estava acontecendo.
Fazia mais de mês que eu estava distante, sempre perdido,
pensando em outra pessoa na maior parte do tempo.

― Quer me contar sobre ela? ― sua voz saiu como um


sussurro.
Puxei o zíper da minha pasta e respirei fundo.
― Em outra oportunidade.

Ela assentiu lentamente.

Saí detrás da minha mesa e me aproximei dela.


― Talvez você devesse dar uma chance ao Rick. Ele gosta
de você.

Meredith encarava um ponto vazio da minha mesa.


― Boa noite, Bruce.
Aproximei-me mais um pouco e depositei um beijo no topo de
sua cabeça. Virei as costas e quando eu estava saindo da sala, ela
disse:

― Ainda não perdi as esperanças, Bruce. Eu posso esperá-


lo.

Não soube o que responder, porque não havia nada o que eu


pudesse dizer.
Meredith era a mulher ideal para se casar comigo, mas
porque eu não conseguia deixar de pensar em Lauren?

Achei que depois que finalmente saciasse o meu desejo, me


veria livre daquela obsessão. O problema é que tudo triplicou e a
cada dia eu só via aquele desejo aumentando desenfreadamente.
Eu a queria a todo o momento.

E não era apenas fisicamente falando, mas também queria a


sua companhia.
Enfiei minhas coisas dentro do carro e acelerei até minha
casa com o coração um pouco ansioso.

Queria que aquela noite fosse perfeita.

Assim que entrei na minha rua, meu celular acendeu com


uma nova mensagem.

“Você está atrasado, senhor Hastings”

Sorri.
Então vi uma mulher parada na calçada, com os longos
cabelos loiros caindo como cascatas em suas costas. Um vestido
preto que marcava seu corpo perfeito e saltos altos que ajudavam a
empinar sua bunda.

Quase passei direto, completamente idiota ao vê-la.


Porra, era Lauren.
Sim, era ela.

E não que eu já não a tivesse visto arrumada, mas agora...


ela estava espetacular.

Parei o carro e ela se virou na minha direção. A maquiagem


apenas acentuou seus traços, deixando-a ainda mais bonita.
Porra.

Mil vezes, porra.


Saí do veículo como um verdadeiro animal. Aproximei-me
dela que estava sorrindo e dizendo algo que eu não conseguia
entender, porque tudo o que eu queria naquele momento era borrar
seu batom vermelho com o beijo que eu ia lhe dar.
Encostei-a contra a porta do meu carro, mas ela segurou o
meu rosto.
― Hey, está maluco?

― Estou. Por você.


Ela riu.
― Idiota. Pare com isso. Levei horas para conseguir ficar
assim.

― E eu poderia desarrumá-la em minutos.


Ela cogitou a minha sugestão, mas logo balançou a cabeça.

― Não, eu quero jantar primeiro. Você prometeu e estou com


fome.
Suspirei pesadamente, deixando-a livre.
― Tudo bem, vamos lá.
Lauren sorriu e me olhou da cabeça aos pés.

― Isso é um encontro?
Cocei a cabeça.
― Eu nunca tive um encontro ― desabafei. ― Acho que é
válido ter o primeiro encontro aos 35 anos.

Lauren riu.
― Nunca é tarde para se ter a “primeira vez”.
Dei um tapa em sua bunda.
― Você está linda, Lauren. Perfeita.

Mesmo com a escuridão da noite, consegui ver a timidez em


forma de bochechas rosadas.
― Obrigada, Bruce. Você também não está nada mal.
Dei a volta no carro e abri a porta para ela.
Fazia muito tempo que meu coração não batia
descompassado desta forma.
Era estranho, mas ao mesmo tempo era bom.

Lauren

Bruce estacionou em frente à um prédio elegantíssimo.


Um rapaz veio em nossa direção e pegou as chaves do carro,
guiando-o para longe, enquanto Bruce encaixava uma mão em
minha cintura e me guiava para dentro do edifício.
― Aqui é um hotel? ― perguntei, olhando para a majestade
que era o lugar.

― Sim. E tem um restaurante maravilhoso aqui.


― Hum... E você também é dono daqui?
Bruce nem precisou responder, apenas o seu sorriso
convencido já disse tudo.

Fomos recebidos por um homem vestido com um terno preto


que nos cumprimentou e nos guiou até uma mesa já preparada.
O restaurante era lindo.
E eu devia me sentir mal como das outras vezes, mas agora
eu me sentia mais calma. Talvez porque Bruce e eu estávamos nos
entendendo muito bem.
― Só não me diga que os pratos daqui são da culinária
francesa ― falei, abrindo o cardápio bem devagar
.

Bruce riu.
― Não. Aqui é da culinária italiana.
― Hum, ainda bem.
Meus olhos deslizaram pelo cardápio, mas no final das
contas acabei pedindo o mesmo que Bruce. Era mais fácil assim.
Enquanto esperávamos, apoiei meu queixo no antebraço e o
observei. Ele era muito bonito e eu poderia ficar por horas
admirando-o.

― O que foi? ― perguntou, um pouco tímido.


― Você é muito bonito.
Bruce abriu um meio-sorriso.

― Você é bonita, linda. Eu sou aceitável.


Sorri de volta.
A mão dele se encaixou na minha que estava apoiada em
cima da mesa.

Nossos olhos se encontraram.


Eu o queria tanto, que chegava a doer.
De repente, nosso momento íntimo foi quebrado quando
alguém se aproximou, gritando a plenos pulmões:

― Bruce Hastings! Você é injusto!


Girei minha cabeça para ver quem era e me surpreendi ao
constatar que era a mesma mulher que falou comigo naquela
madrugada que saí da mansão.
Ela continuava suja, com os cabelos bagunçados e os
seguranças estavam tentando segurá-la.

Bruce se levantou e eu o vi se transformar em um fantasma.


A cor sumiu de seu rosto.
Seus olhos foram tomados por algo que eu podia arriscar
dizendo que era ódio.
― Bruce! Não adianta fugir! Você vai pagar pelos seus
pecados!

A mulher foi arrastada para fora do restaurante e Bruce se


virou para o homem que eu acreditava ser o gerente.
― Como essa mulher entrou aqui??? Será que vocês não a
viram? Pelo amor de Deus, eu vou assinar a carta de demissão de
vocês, para quem sabe assim vocês prestem mais a atenção em
quem entra na porra do meu hotel!

Dizendo isso, Bruce virou as costas e saiu pisando duro.


Foram segundos de pessoas desentendidas, completamente
sem graça.

Algo me dizia que aquela mulher fazia parte do passado de


Bruce. E eu precisava descobrir.
Segui o caminho que Bruce trilhou, mas não o encontrei
mais.

― Hey, você viu um homem furioso passando aqui? ―


perguntei à um rapaz que estava varrendo o chão.
― Ele entrou no elevador.

― E para qual andar foi?

― Para a cobertura, senhorita.


Apertei o botão do elevador e esperei ele descer. Entrei e
segui até a cobertura.

Bruce não havia me convidado, mas...


Eu precisava falar com ele.
Era a nossa noite especial, nosso encontro. Nada podia
arruinar aquilo.
O elevador abriu em uma sala escura. As janelas de vidro
iam do teto ao chão e proporcionavam uma linda vista da cidade.
Bruce estava ali, em pé, olhando para as luzes da cidade.

Ele ergueu o braço e apertou alguma coisa, que travou o


elevador, me fazendo dar um pulo de susto.
― Bruce... ― chamei-o baixinho enquanto me aproximava
devagar.

Ele parecia absorto em seus próprios pensamentos.


― Bruce...

― Psiu. ― Ele se virou apenas para me puxar para si. ―


Psiu.
Ele encostou-me contra a parede de vidro e beijou-me nos
lábios.

Bruce tinha o horrível poder de me fazer derreter sob o seu


toque, então não foi difícilestar entregue em questão de segundos,
enquanto sua boca se movia sobre a minha com avidez.

Ele parecia com fome.


Suas mãos percorriam meu corpo de forma possessiva. Sua
boca prensava a minha com força, sua língua exigia espaço. E eu
deixei, me entreguei de corpo e alma.

Enfiei minhas mãos por dentro de seu terno e o empurrei,


deixando-o cair a nossos pés. Logo foi a vez da gravata, da camisa
e quando ela foi ao chão, me deliciei tocando seu corpo perfeito e
quente.
― Bruce... ― gemi quando sua boca desceu pelo meu
maxilar.
― Psiu.

Bruce estava tão afoito que sequer tentou abrir o zíper do


meu vestido. Seus dedos se uniram, rasgando o tecido caro. Ele
desceu o tecido pela minha barriga e eu ajudei a me livrar do
vestido, jogando-o longe com os pés.
Sua boca espalhou beijos pelo meu maxilar, pescoço e colo.
Ele afastou as alças do meu sutiã, liberando os meus seios. Com
uma das mãos começou a massagear um dos meus mamilos,
enquanto o outro chupava com a boca e fazia movimentos
delirantes com a língua.

― Bruce, porra... ― gemi.

Ele intensificou a carícia, agora descendo uma mão até a


minha boceta. Com os dedos começou a massagear meu clitóris,
levando-me a loucura.
― Molhada pra caralho ― ele resmungou. ― É assim que eu
gosto.
Bruce beijou a minha boca novamente, com mais fúria.
Depois se afastou e disse:

― Vire-se. Empine essa bunda pra mim.


Fiz o que ele disse e ouvi Bruce abrindo o cinto e descendo a
calça.
Sua mão alisou a minha bunda e depois desferiu um tapa
com força.

Sua boca percorreu desde a minha nuca até a base da minha


coluna e eu mal podia esperar para tê-lo dentro de mim.
― Isso, gostosa. Assim, empina um pouco mais. ― Ele me
puxou para si, e guiou seu pau sem proteção para dentro de mim.

Gememos juntos.
Apoiei as mãos no vidro e Bruce segurou minha cintura,
fodendo-me com força.

Era gostoso, mas aquele sexo estava diferente.


Havia um animal ali. Alguém que eu tinha medo de descobrir
quem era.

― Porra, Lauren ― Bruce gemeu enquanto bombeava para


dentro de mim. ― Você é tão gostosa. Estou viciado em você. Pra
caralho!
― Bruce... ― gemi, meu interior formigando de prazer. Eu
podia sentir o orgasmo se aproximando. ― Porra. Isso é tão bom.

Bruce começou a acariciar meu clitóris com os dedos,


enquanto seu pau entrava e saía com força de dentro de mim e eu
estava à beira do colapso a qualquer segundo.

O orgasmo veio como a onda do mar, levando tudo de mim.


Bruce acelerou seus movimentos e logo senti o liquido quente
de seu gozo se esparramando dentro de mim.

― Diga que é minha, Lauren ― ele exigiu, me virando para


ele. ― Diga que é minha, porra.

Sua mão segurava o meu queixo com força e o que vi em


seus olhos, não era o Bruce com quem eu estava saindo.
Era outro.
O Bruce dela.

― Quem era aquela mulher?


Ele paralisou.

Era ela.

Sim, porra. Não havia meios de mentir.

Somente a mulher que quebrou seu coração era capaz de


fazê-lo transtornado daquele jeito.
Então, de repente, senti-me usada.

Bruce havia transado comigo apenas para lembrar dela?


― Me diz, Bruce! ― gritei, as lágrimas começando a descer
pelo meu rosto. ― Quem era aquela mulher???
― Não é da sua conta, Lauren. ― Ele se afastou, nervoso.
Puxou as roupas e começou a se vestir.

― Se você fode o meu corpo pensando no dela, é claro que é


da minha conta!
Bruce não respondeu.
E aquilo esmagou o meu coração ainda mais.

Mas eu não podia deixá-lo fazer isso. Não Bruce, não aquele
imbecil.

― Você é um grande filho da puta. Merece ficar sozinho para


sempre.
Usei a calcinha para secar minhas pernas. Puxei o meu
vestido rasgado e me vesti como deu. Bruce não tentou me impedir
de ir embora, o que significava que eu estava certa.

Ele destravou o elevador e eu entrei nele, desejando que os


cabos que o sustentavam se rompessem e que aquele fosse o meu
fim.
Acho que doeria menos do que o meu coração naquele
momento.
Capítulo 35

Eu estive trancado dentro de sua caixa em

formato de coração por semanas


Eu fui atraído para sua armadilha magnética
Eu queria poder comer seu câncer quando você morrer

Heart-Shaped Box – Nirvana

Bruce

Anos antes

O choque da notícia que eu seria pai, já havia passado.


Nunca imaginei que aquilo poderia acontecer, afinal, sempre fui
extremamente cuidadoso no uso de proteção. Mas, as pessoas
tinham o costume de dizer que a vida adora pregar peças e ali
estava a minha vez.

Depois da confusão daquela noite, Loren me explicou que


estava apenas tentando me manter afastado,porque ela queria lidar
com aquilo sozinha. Na sua cabeça, acreditava que se eu soubesse
que ela esperava um filho meu, eu a deixaria.
Um terrível engano, porque eu a amava e ninguém poderia
mudar aquilo.

Entramos num acordo, afinal, ela dizia que não era


indiferente aos meus sentimentos e que a única coisa que nos
separava era o fato da vida que ela levava e minha família,
principalmente meu pai, que jamais a aceitaria como minha mulher.
Eu jurei lidar com meu pai e fazê-lo entender que aquela
mulher carregava um filho meu no ventre. Eu faria de tudo para
protegê-los, mesmo que para isso eu precisasse renunciar a minha
vida, ao status social, ao dinheiro, ao poder.

Se antes já amava Loren, daquela notícia em diante passei a


amá-la ainda mais.

Depois de uma semana inteira sondando meu pai e


preparando o território, levantei cedo, tomei banho e vesti minhas
habituais roupas sociais. Iriacom ele para o escritório e, não podia
adiar mais aquela conversa. Durante o café da manhã, seria a
oportunidade ideal para dar-lhe a notícia de que seria avô.

― Papai vai surtar com a notícia ― Jessica resmungou,


enquanto eu arrumava a minha gravata.
― Eu sei disso ― respondi, olhando-a através do espelho. ―
Mas não quero revelar muitos detalhes. Só vou dizer que vai ser avô
e pronto.
Jessica riu.

E eu amava aquele sorriso.


Jessica e eu éramos como unha e carne. Ela tinha apenas
quinze anos e, apesar de estar na adolescência, era madura o
suficiente para entender tudo o que estava acontecendo comigo.

Ela e John eram as pessoas mais próximas a mim. Eu podia


confiar cegamente naqueles dois e eles nunca me decepcionariam.

― Você vai se casar com ela?

― Sim, é claro. ― Terminei de arrumar a gravata e me virei


para Jessica. ― Quero dar o mundo para Loren.
Jessica revirou os olhos.

― Sabia que você apaixonado é a coisa mais nojenta que eu


poderia ver hoje?

Balancei a cabeça negativamente.


― Você diz isso porque só se apaixona por quem não vale
nada. ― Peguei o terno em cima da cama e o vesti. ― Quando
encontrar alguém que vale a pena, tudo isso na sua cabecinha vai
mudar.

― E você acha que essa tal Loren é a pessoa certa? ―


Bufou. ― Veja bem, não quero me meter nas suas coisas, mas, será
que essa mulher não quer aplicar o golpe do baú? Fingiu que não
queria que você assumisse a criança, apenas para... amolecer o seu
coração?

Fechei o semblante e olhei para ela irritado.


― Loren não é assim ― determinei, ao pegar a minha pasta.
Apesar de novo, meu pai contava comigo como se fosse qualquer
outro executivo mais experiente. ― Nós nos amamos e eu não ligo
para o que ela foi. Temos um futuro pela frente e um filho para criar
e, eu espero que você a aceite.

Jessica suspirou e se aproximou de mim.


― Me desculpa. ― Ela segurou meu rosto gentilmente. ― Se
ela o faz feliz, quem sou eu para julgá-la?
Sorri para Jessica e a abracei.

Eu entendia a sua preocupação e, afinal de contas, também


era a minha. Meu pai não aceitaria aquela situação assim, tão fácil.
A sociedade, então? Sempre tão implacáveis em seus julgamentos,
que eu não temia somente por Loren, mas principalmente pelo meu
filho.
― Bom, chega de lamúrias. ― Me afastei.― Preciso encarar
nosso pai e contar tudo o que está acontecendo para ele.
Jessica assentiu.

― Acho que vou com você, sabe, para te apoiar.


Sorri.
― Não é necessário. Apenas fique com o celular na mão,
caso seja necessário chamar uma ambulância.
Nós rimos, mas sequer imaginávamos que alguns minutos
depois, o choque daquela notícia faria com que aquele, se tornasse
um dos piores dias de nossas vidas.
Capítulo 36

Você deveria saber que era melhor,

melhor não foder com alguém como eu


Ei, você
Para sempre e sempre você vai desejar

que eu fosse sua esposa


Bite Me – Avril Lavigne

Lauren

― O negócio é o seguinte. ― Collins jogou a pasta preta em


cima da mesa e se sentou. ― A demo que vocês gravaram foi
aprovada. Vamos gravar a porra de um disco!

Levei muitos segundos para entender, assim como os outros,


que estavam sentados ao meu lado.

― Espera aí ― Jessica falou, depois do silêncio absurdo de


minutos. ― Você quer dizer que aprovaram a nossa demo e vamos
finalmente gravar a porra de um disco?

Collins relaxou no assento e sorriu de forma convencida,


como ele costumava ser.
― Foi isso mesmo que eu disse.
E foi aí que nos levantamos gritando, jogando cadeiras para
cima e pedindo uma dose de bebidas extras para comemorarmos a
nossa vitória.
Já faziamais de um mês que havíamosgravado uma demo e
mandado para a gravadora. Por Collins, ele já teria gravado o nosso
disco, mas ele precisava convencer os outros produtores de que
éramos realmente bons.
E ele conseguiu.

O filho da puta convencido conseguiu.

― Não acredito, Collins. ― Joguei-me em seus braços. ―


Você é foda. De verdade.

Ele me abraçou de volta.


― Claro que sou. Mas vocês também, senão nem fazendo
um pacto com o diabo teria dado certo.
Nós rimos.

E foi quando me afastei de Collins que meus olhos recaíram


no homem parado do outro lado do bar, olhando-me como se
estivesse com saudade.
Porque a verdade era que eu estava morta de saudades
daquele desgraçado. Não foi fácil ficar todo aquele tempo longe
dele, sem correr para ele, sem ir atrás de seus beijos, seus toques...

Mas Bruce me magoou muito.

E eu sabia que quando as coisas começavam a sair do


controle, o melhor a se fazer era se afastar
.
E foi exatamente isso o que eu fiz.

― Nossa, nem acredito que vamos ser estrelas do rock. ―


Josh me segurou pela cintura e me rodopiou no ar. ― Imagina
quantas mulheres vou pegar?
― Eu sempre soube que a fama só lhe faria mal, Josh ―
Danna comentou. ― Aprenda com o Brandon, ele é de uma só
mulher.

Olhamos na direção de Brandon e o que vimos não nos


surpreendeu nem um pouco. Era só questão de tempo até que ele e
Jessica se resolvessem. Talvez o choque da notícia tenha ajudado
um pouco, porque agora ele não queria desgrudar da boca dela.

Oh céus.

― Parabéns, Lauren ― ouvi a voz de Bruce bem atrás de


mim. Congelei, meus pelos se arrepiaram e lentamente me virei em
sua direção.
― Obrigada, Bruce.

Seu sorriso era sincero, assim como o seu olhar cheio de


saudade e outras coisas que eu não sabia definirporque ele era um
homem extremamente fechado.

De repente, as pessoas ao nosso redor sumiram e fiquei


sozinha com Bruce, coisa que eu estava evitando nesse último mês.
Até para o apartamento de Danna eu havia voltado.
Ele enfiou as mãos nos bolsos da calça.

― Eu, ahn... gostaria que você me acompanhasse até um


lugar.
Meu coração estava acelerado.

― Não sei, eu acho que o pessoal vai sair para comemorar


e...
― Por favor, Lauren ― ele me interrompeu. Seus olhos
presos aos meus. ― Eu... ― Ele fechou os olhos, respirou fundo e
depois me encarou novamente. ― Estou morrendo de saudade de
você. Acho que precisamos conversar.
Meu lado teimoso e arrogante queria mandá-lo ao inferno,
mas eu sabia que precisávamos realmente de uma conversa.
Queria que Bruce soubesse que eu estava ao seu lado e que ele
podia confiar em mim para contar o que quisesse.

― Tudo bem, vamos lá.

Era finalde tarde e o dia estava muito bonito, apesar de estar


ventando bastante.
Bruce havia estacionado o carro bem na entrada do parque,
mas seguimos caminhando na direção da ponte Golden Gate, que
era linda, imponente e gigantesca.
Era quase como realizar um sonho de infância.

Eu só a via em filmes, séries e em matérias jornalísticas.


Sonhava com o dia que poderia conhecê-la pessoalmente.
O vento batia forte contra o nosso rosto, bagunçava o meu
cabelo.

― Eu gosto de vir aqui. ― Bruce parou de andar quando


chegamos ao observatório. ― Quando quero pensar, esquecer os
problemas... só apreciar o barulho das águas indo na outra
direção...
― É linda. A ponte.
Bruce assentiu.

― Ela começou a ser construída em 1933 e foi concluída em


1937. Sabia que o engenheiro responsável, Joseph Strauss não
tinha nenhuma experiência com pontes suspensas quando aceitou
projetar esta ponte?
Arregalei levemente os olhos.
― Não sabia.
― Pois, é. ― Bruce enfiou as mãos nos bolsos da calça. ―
Corajoso.

― Genial ― rebati.
― Aqui é um dos locais onde mais as pessoas se suicidam
no mundo ― Bruce falou, virando-se para mim. Um arrepio
percorreu a minha espinha ao imaginar pessoas se jogando de lá.
― A queda dura em torno de 4 segundos e pode atingir em torno de
100km/h o que torna praticamente impossível continuar vivo.
― Que horror.

― Horrível mesmo. ― Ele suspirou e se voltou para a frente.


― É por isso que instalaram umas redes de proteção.
Respirei aliviada.

― Espero que isso tenha ajudado.


― Quem quer mesmo acabar com a própria vida, pode achar
outro lugar.
Ele disse como se já tivesse cogitado isso em algum
momento da vida.

― O que queria falar comigo, Bruce? ― indaguei, mudando


de assunto, porque aquilo era terrível demais.
Ele se virou novamente para mim.
― Primeiramente quero pedir desculpas por aquela noite. Fui
um idiota, um babaca, como sempre.
Balancei a cabeça minimamente concordando com suas
palavras.

― E... eu quero que volte para mim, Lauren. ― Ele deu um


passo em minha direção. Seus olhos imploravam por atenção. ― Eu
não consigo parar de pensar em você e estou morrendo a cada
segundo que estamos longe.
As lágrimas vieram aos meus olhos e eu precisei desviar o
olhar. Não queria que ele visse o quanto eu estava afetada.
― Eu também sinto a sua falta, Bruce. Mas... entenda, não
posso. As coisas estavam saindo de controle e...

De repente, eu estava em seus braços.


― As coisas saíram de controle desde que você cruzou meu
caminho naquele acidente, Lauren. Eu imploro, nos dê uma chance.
Eu... fazia muito tempo que não me sentia eu mesmo. E com você,
eu vi que isso é possível.

Apoiei minhas mãos em seu peito. Bruce parecia tão sincero.


― Não posso estar com alguém que não é capaz de abrir o
coração e me deixar entrar, Bruce. Eu sequer sei sobre o seu
passado.
Ele desviou o olhar para a ponte e respirou fundo.

― Voltar lá é muito difícilpara mim, Lauren. É como se me


destruísse mais uma vez.

Eu queria que Bruce se abrisse, mas sabia que era difícil.


― Aquela mulher era Loren, não era?

Seus olhos se arregalaram levemente, talvez por descobrir


que eu sabia quem era a pessoa que o destruíra.

Então ele assentiu.


― Sim.

Respirei fundo.
― Você a ama.
Os olhos de Bruce brilharam de uma forma nada amigável.

― Eu a odeio. Com todas as minhas forças.

Se fosse outra pessoa dizendo isso, eu questionaria. Mas


Bruce... ele sabia ser convincente.

― Por que Caroline pensa que ela está morta?


― Você a viu, Lauren. ― Ele me soltou e deu um passo para
trás. ― Não quero aquela maldita perto da minhafilha.

Fiquei em silêncio, refletindo aquela descoberta por alguns


instantes.
― Você não acha que ela vai descobrir? Ainda mais porque
ela sempre está atrás de você.

Bruce balançou a cabeça negativamente.


― Loren não vai se aproximar mais de nós. Ela já está
avisada sobre o que vai acontecer se tentar outra gracinha. ― Ele
se aproximou novamente e segurou meu rosto com delicadeza. ―
Nós vamos ficar bem, Lauren. E não, eu não a fodiapensando nela.
Jamais. Sempre foi você que esteve em meus pensamentos e em
meu corpo.

Sua voz reverberou em meus ouvidos e os pelos do meu


corpo se arrepiaram novamente.
Eu queria acreditar em suas palavras, mas tinha medo do
que poderia acontecer. Não queria me apaixonar por ele, para ter o
coração despedaçado sem piedade alguma.

― Eu te quero, Lauren. ― Ele deslizou o polegar em meu


lábio inferior. Seus olhos presos em minha boca. ― Preciso de você.
Preciso da sua luz em minha vida caótica.

Eu também o queria tanto que doía o meu peito.


Fechei os olhos e joguei os braços ao redor do seu pescoço,
colando meus lábios nos dele em um beijo apaixonado.
Bruce me envolveu em seus braços e devolveu o beijo na
mesma proporção, movendo lentamente sua boca sobre a minha.
Seus dentes mordiscaram meu lábio inferior e foi preciso de apenas
alguns segundos para o meu corpo se acender e entrar em
combustão.

― Vamos para algum lugar ― falei ofegante. ― Qualquer


lugar.
― Eu tenho o lugar ideal ― ele disse, roubando um beijo. ―
Vamos agora.

Bruce se abaixou e me pegou no colo, me fazendo dar um


gritinho e em seguida começar a rir.

Ele me levou para o carro e, bem, quase ficamos por ali


mesmo.

― Bruce Hastings mantém apartamentos escondidos... hum,


bom saber ― falei assim que ultrapassei a porta da cobertura.
― Eu sou dono de quase metade da cidade, Lauren ― ele
disse, colocando as chaves em cima do aparador.
― Claro que é.

Olhei cada detalhe conformeia entrando no mundo de Bruce.


Para ele ter me levado ali, era porque aquele lugar era especial para
ele, assim como o parque da Golden Gate.
O apartamento tinha janelas que iam do chão ao teto e eu
podia jurar que era a melhor vista para a Baíade São Francisco. Ao
fundo, conseguia ver a ilha de Alcatraz e o melhor, não estávamos
assim tão longe do parque, porque eu ainda estava fervendo por
dentro, querendo aquele homem.

― Venha aqui ― o chamei com o indicador, na direção do


sofá extremamente branco.
Bruce veio até mim e eu o empurrei, então me sentei em seu
colo.
― Gostei daqui ― falei no intervalo de um beijo para outro.
― Podemos fazer desse lugar o nosso. Nosso segredinho.

Bruce segurou o meu rosto.


― Não quero que sejamos um segredo. Não mais, Lauren.
Sua frase me deixou completamente desconcertada.

― Como é?

Ele segurou-me pela cintura e me deitou no sofá, colocando-


se sobre mim.
― Quero assumir perante todos o que temos. Com você eu
quero que seja diferente. Já começando por todos saberem.
Meus dedos deslizaram pela barba começando a crescer em
seu lindo rosto.
― Você... está... dizendo...
― Sim, Lauren. Quero que seja minha namorada.
Seus olhos estavam presos aos meus e eu estava
completamente sem reação. Queria que Bruce evoluísse, mas
nunca pensei que ele queria evoluir tão rápido. E comigo.

― Mas e Meredith?
― Meredith é uma amiga e nada mais que isso ― disse,
encostando sua testa na minha. ― É você que eu quero assumir
perante a minha família como namorada.

― Bruce, eu... ― Estava completamente sem palavras. ―


Não sei o que dizer, de verdade, eu...

― Só diga que sim, que quer ser minha namorada.

Seus olhos estavam ansiosos.


Meu coração batia como louco no peito.
Era óbvio que eu queria aquilo, mesmo com tantas coisas a
serem ditas, eu acreditava que Bruce gostava de mim.

E eu estava verdadeiramente apaixonada por ele.


― Porra, você é louco. ― Sorri e o puxei para um beijo
demorado. ― Louco pra caralho.

Ele deu uma risada contra a minha boca.


― Vai aceitar ou não?
― É claro que vou.

― Ah, que sensação boa ouvir isso. ― Bruce se afastou,


levantando-se. Por alguns segundos senti a sua falta, mas isso logo
foi saciado porque ele se abaixou novamente e me pegou no colo.
― Caroline vai adorar saber disso.
― Vai mesmo ― concordei, rindo. ― Ei, para onde está me
levando?

Bruce estava subindo as escadas.


― Para o lugar onde vou mostrar quais serão os meus
direitos como seu namorado.
― Uau, mal posso esperar.
Capítulo 37

Estou bem, sim, estou me sentindo bem

Amor, eu vou ter a melhor noite da minha vida


E onde quer que me leve, estou pronta para o passeio
Amor, você não sabe que estou bem?

Sim, estou me sentindo bem


I’m Good (Blue) - David Guetta, Bebe Rexha

Bruce

Eu estava feliz pra caralho.


Pela primeira vez em tantos anos me sentia jovem, me sentia
eu mesmo. E aquilo tudo era por causa de Lauren Stewart, a jovem
mais linda que estava em meus braços enquanto eu subia as
escadas e ia na direção do meu quarto.

― Bruce, eu posso andar ― ela disse, envergonhada por eu


estar carregando-a.
― Eu sei que pode, mas eu quero carregá-la. Você é leve
como uma pluma.
― Isso é ruim? ― ela ergueu uma sobrancelha.
― Claro que não. Mas isso também pode significar que eu
sou forte demais e estou enganado em relação ao seu peso.

Lauren me deu um tapa no ombro e riu.


Eu adorava o som de sua risada.

Eu adorava quando ela jogava os cabelos loiros para trás.

Eu adorava tudo nela.


Esse último mês foi um verdadeiro inferno na minha vida. Eu
a queria, mas ela fugia de mim, tentei várias vezes cercá-la, mas
Lauren parecia um gatinho assustado.
Mas a culpa, afinal de contas, era minha.

Empurrei a porta do quarto com o pé e girei com ela nos


braços para que pudesse vislumbrar a vista. Dava diretamente para
as águas da Baía de São Francisco.

― Céus, isso é perfeito, Bruce ― ela disse, deslumbrada. ―


Eu viveria aqui para sempre.
Eu sabia que sim.
Coloquei Lauren no chão e segurei seu rosto com delicadeza.

― Você é tão linda. Não me canso de olhar para você.


Suas bochechas ficaram coradas.

― Você também é, Bruce. Eu te acho um gato.

― Que bom. ― Sorri. ― Mas você nunca vai entender o que


estou dizendo. Mesmo que se olhe no espelho, ele nunca vai refletir
o que eu vejo pelos meus olhos. A sua beleza é muito mais que a
sua pele, o seu cabelo ou o seu rosto. A sua beleza, vem de
dentro... ― Toquei seu coração.

Lauren ficou sem palavras.


E eu também, porque... eu nunca havia dito aquelas palavras
para nenhuma outra mulher.

Loren era linda, mas logo se mostrou alguém monstruoso,


alguém capaz de destruir as pessoas sem pensar em nada. E era
óbvio que Lauren não tinha nada em comum com ela, porque eu
duvidava que ela fosse capaz de algo assim.

― Venha aqui, Bruce. Me faça sua, pelo amor de Deus.

Lauren me puxou pelo pescoço e caímos na cama, rindo.


― Você já é minha.

Ajoelhei-me e puxei minha camisa pela cabeça,


arremessando-a em um canto qualquer. Abaixei meu corpo e Lauren
não perdeu tempo para encostar sua boca no meu peitoral,
deslizando-a lentamente enquanto eu descia até reivindicá-la com
meus beijos.

Nos beijamos como se não houvesse amanhã.


Minhas mãos percorriam seu corpo de formapossessiva e eu
estava ansioso para tê-la. Meu corpo queimava, minha ereção
estava me deixando louco e eu só conseguia pensar em afundarem
Lauren e ouvir seus gemidos de prazer.
As mãos pequenas percorriam minhas costas.

― Lauren, você é minha ― falei em seu ouvido. ― Só minha.


― Eu sou. ― Ela arqueou o corpo em minha direção. ― Só
sua.
Afastei-me, puxando Lauren comigo. Ajudei-a a se livrar da
camisa, então concentrei meus beijos em seu pescoço, descendo
pela sua clavícula.Empurrei-a contra a cama e a beijei bem próximo
ao peito, apenas torturando-a.
― Bruce, não faça isso. Você quer me matar, não é?
― Só se for de prazer, meu amor.
Meu amor.

Fazia tempo que eu não dizia aquelas palavras e aquilo


mexeu comigo, deixando-me momentaneamente paralisado.
Depois, quando percebi que Lauren sequer prestou atenção, voltei a
mim e ao que eu estava fazendo.
Abri o fechode seu sutiã e deixei seus peitos livres para mim.
Deslizei minha língua no mamilo rosado, dando voltas, fazendo
Lauren arquear as costas e pedir por mais.
― Céus, Bruce. Como senti a sua falta.

Desci minha boca pela barriga lisa, depositando beijos e


mordidinhas. Ela gostava disso.
Suas mãos se apoiaram em meus ombros.
― Vamos tirar isso aqui... ― Levei meus dedos ao botão da
calça, abrindo-o com cuidado. Puxei o tecido pelas pernas,
apreciando cada momento, cada toque, cada sensação. ― Porra,
eu adoro as suas pernas.

Ela sorriu.
Segurei seu tornozelo e o ergui, beijando lentamente a parte
de dentro de suas pernas. Fui subindo devagar, passando pelas
coxas, aproximando-me de sua boceta. Quando cheguei bem perto,
Lauren ofegou. Estava ansiosa por me ter ali.

― Você quer que eu a chupe, querida?


― Quero.
― Você é quem manda.

Puxei sua calcinha sem cerimônias e aproximei-me de seu


clitóris. Deslizei minha língua lentamente, saboreando seu gosto,
sentindo seu cheiro de mulher. Ficando louco a cada segundo.
― Vamos fazerdiferente.― Afastei-me,descendo da cama e
ajoelhando-me fora dela. Puxei as pernas de Lauren, trazendo-a
para mim.
Deslizei novamente a língua pela boceta molhadinha.
Brinquei com seu clitóris, chupei-o, mordisquei-o. Apoiei minhas
mãos em sua bunda, erguendo seu quadril um pouco, dando-me
uma posição assertiva enquanto eu a fodia com a minha língua.

― Porra, Bruce! ― Lauren gemeu, extasiada. Suas mãos


seguravam o lençol com força. ― Eu adoro a sua língua.
Dei uma risada e comecei a fazer movimentos de entra e sai
com a língua na entrada de sua boceta. Ela era gostosa demais,
quente, molhada e eu me achava um maldito sortudo por estar ali.
Lauren enfiou as mãos em meus cabelos e forçou a minha
cabeça.
― Mais rápido ― ela exigiu.
Chupei-a com mais força e mais rápido, do jeito que ela
queria. Ela gemeu alto quando gozou, lambuzando-me com seu
mel.

― Isso é o paraíso ― ela disse, com a face serena, de quem


estava nas nuvens.
― É, sim. Gostosa... Vem comigo. ― Segurei sua mão e a
puxei, levando-a até a janela que tinha aquela vista bonita.
Lauren me fitou, curiosa.

― Quer que eu te chupe aqui em frente a janela? ―


perguntou com um sorriso safado.
― Quero.
Lauren se ajoelhou na minha frente.
― O senhor é quem manda.

Segurei meu pau e o deslizei lentamente ao redor de seus


lábios carnudos. Os olhos azuis de Lauren não deixavam os meus
e, porra, aquela era a visão do paraíso.
Enfiei meus dedos nos cabelos dela e segurei sua nuca.
Lauren levou as mãos até as minhas bolas e as acariciou,
arrancando um gemido fácil dos meus lábios.

― Vai gozar na minha boca?


A proposta era tentadora, mas eu queria mais do que aquilo.

― Não. Você vai me chupar e eu vou terminar isso te


fodendo aqui em frente a essa janela.
Ela assentiu.
Sua mão deslizou em meu pau, desde a glande até a base.

Porra, ela sabia como me enlouquecer.


Lauren enfiou a cabeça do meu pau na boca e sua língua a
circundou. Joguei a cabeça para trás, extasiado com as sensações.
Então ela o engoliu quase todo. Seus dentes raspando bem de leve.
Caralho.

Segurei sua cabeça e a movi para frente e para trás. Bem de


leve. Apenas apreciando o momento. As mãos pequenas seguraram
a minha bunda e ela deixou que eu a guiasse no ritmo perfeito.

― Gostosa ― falei baixinho enquanto a via engolir o meu


pau. ― Isso, assim.
Lauren estava tão entregue como eu.

― Porra ― gemi alto. ― Essa é a porra do paraíso.

Guiei sua cabeça por mais um tempo, apenas o necessário


para me deixar a beira da loucura.
― Chega. ― Puxei-a para mim e a ergui em meu colo. ―
Vou gozar dentro de você, olhando em seus olhos.

Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço e sorriu.


― Você é quem manda.
Prensei Lauren contra o vidro da janela, suas pernas ao redor
da minha cintura. Enfiei meu pau em sua boceta molhadinha e
precisei de alguns segundos para não gozar rápido.

Então acelerei meus movimentos, segurando-a com força


enquanto a fodia contra a janela. Do jeito que deveria ter sido
naquela noite.
Encostei minha testa na dela, meu pau entrando e saindo, um
desejo desenfreado, um prazer que nos ameaçava jogar daquela
ponte.
― Eu te amo, Bruce ― ela disse as palavras que me
surpreenderam. ― Não deveria, mas te amo com todo o meu
coração.

Beijei sua boca em resposta. Eu também estava apaixonado


por ela como um maldito adolescente, mas ainda era difícilassumir
tais sentimentos. Eu esperava que ela entendesse através das
minhas atitudes que meu coração estava deixando de pertencer a
mim, para ser entregue a ela.

Segurei-a com mais força enquanto bombeava para dentro


dela. Lauren estremeceu quando o orgasmo a atingiu pela segunda
vez e eu me permiti gozar. Estoquei até o último segundo. Satisfeito.
Feliz.
Encostei minha testa na dela.
― Vamos escrever uma nova história, a partir de hoje. Eu
juro.
Lauren acariciou meu rosto.

― Eu sei que vamos.


Então perguntei algo que estava me consumindo havia dias.

― Nós estamos transando sem proteção já faz um tempo.


Não aconteceu...
― Não, Bruce. ― Ela abriu um sorrisinho. ― Eu tomo
anticoncepcional desde sempre.

― Ah, sim.
A informação me deu certo alívio, mas também me deixou um
pouco chateado.

Uma filha com Lauren...


Era tudo o que eu precisava para começar a nossa nova
história.

Deixei o pensamento de lado e a levei até a cama. Deitamos


abraçados e eu a beijei novamente, até nossos corpos se
acenderem mais uma vez.
A saudade era tanta, que não demorou para estarmos indo
ao céu mais uma vez.
Capítulo 38

Mas, querida, aí vai você de novo, aí vai você de

novo, me fazendo amar você, ooh


Sim, eu parei de usar a minha cabeça, usar a minha cabeça,
deixei tudo para lá, ooh

Tenho você presa no meu corpo, no meu corpo


como uma tatuagem, ooh
One More Night – Maroon 5

Lauren

― Mandou me chamar, pai?

Meu coração deu um pulo quando ouvi a voz de Caroline na


porta da sala.

Eu estava sentada em um dos sofás, com a perna cruzada,


tentando esconder o nervosismo. Bruce estava na outra poltrona,
perto de mim, tamborilando os dedos no braço do sofá.
― Mandei sim, querida. Entre, precisamos conversar com
você.
Caroline entrou na sala, fechou a porta atrás de si e se
aproximou. Ela estava muito fofa usando um vestido xadrez e
sapatilhas pretas nos pés. Parecia uma boneca.
Bruce respirou fundo.
Estava tão nervoso quanto eu.
― E o que os pombinhos querem comigo? ― ela perguntou,
jogando-se no sofá em frente ao meu.

Pombinhos?

Olhei para Bruce e ele também parecia desconcertado.


― Não precisam fazer essa cara, eu sei que vocês estão
saindo ― ela disse com naturalidade. ― A tia Jess confirmou para
mim esses dias. Claro, ela disse que vocês estavam brigados, mas
eu sabia que era questão de tempo até se resolverem. ― Ela
mordeu o lábio e ergueu uma sobrancelha, então disse: ― Agora, a
pergunta que não quer calar é:resolveram assumir o namoro ou vão
continuar agindo como se eu fosse uma criança inocente?

― Porra, Bruce. Você criou um monstrinho ― falei, soltando


o ar que estava preso desde que ela começou o discurso.

― Caroline. O que está dizendo? ― Bruce tentou reivindicar


o controle da situação, mas era óbvio que nessa partida ele já tinha
perdido. Só precisava aceitar.
― Ai, pai... ― Ela suspirou. ― Eu amo vocês e quero que
fiquem juntos.
Bruce olhou para mim e eu balancei a cabeça
afirmativamente.
Era aquilo.

Não havia mais o que dizer.


― Você quer dizer que aceita o meu relacionamento com
Lauren? ― ele perguntou lentamente. ― Bem, você é uma criança
inteligente e sabe que Lauren é dez anos mais nova que eu, não
sabe?

― Eu sei, pai. Não sei porque isso seria um problema se


vocês se amam.

― E o que você sabe sobre o amor, garotinha? ― perguntei,


cruzando os braços.

Porra, ela era apenas uma criança.


― Eu sei que seja lá o que meu pai sente por você, foi
suficientepara transformá-lo.Faz dois meses que ele é o melhor pai
do mundo e se esse sentimento não se denomina “amor” não sei
mais do que podemos chamá-lo.

Meus olhos se encheram de lágrimas e eu me ajoelhei no


chão.

― Vem aqui, pirralha. Eu te amo.


Caroline pulou do sofá e veio ao meu encontro, abraçando-
me com força. Logo depois, Bruce se juntou a nós e pela primeira
vez senti uma ligação extraordinária com aquelas pessoas. Era
como se um laço fosse colocado entre nós e tudo finalmente se
encaixasse.

Eu os amava e estava disposta a me encaixar em seu


mundo, porque algo dentro de mim também mudou com o passar
dos meses.

E como Caroline dissera, se aquilo não era amor, o que mais


poderia ser?
― Eu ganhei três ingressos para um jogo de baseball esta
tarde. O que vocês acham? ― Bruce perguntou quando nos
afastamos.
― Você “ganhou”
três ingressos? ― perguntei, arqueando a
sobrancelha.
― Ok, eu comprei a porra dos ingressos. ― Bufou. ― Achei
que seria uma boa ideia para nós.
― Claro que é, pai. ― Carol jogou os braços em seu
pescoço. ― Acho que vai ser a melhor tarde de todas!
Então uma ideia absurda se apossou da minha mente.
― Hey... o que acham de subirmos até o meu quarto e
aproveitarmos aquela linda parede preta que o seu pai quase
morreu quando viu... ― Bruce colocou as mãos na cintura,
indignado. ― E escrevermos e desenharmos algo bem legal antes
de sairmos?
― Eu acho uma ótima ideia! ― Caroline jogou as mãos para
cima.
― Então vamos! Weeeeee!
Grudei nos ombros de Caroline e saímos pela casa como se
fosse um trenzinho. Bruce vinha logo atrás revirando os olhos.

Quando chegamos ao meu quarto, Carol foi correndo até um


pote que continha giz e pegou um. Fiz o mesmo e por último Bruce,
que parecia avaliar se batia a minha cabeça contra a parede ou não.

Aproximei-me dela e comecei a desenhar um coração.


Caroline estava entretida em seu desenho.

O senti bem atrás de mim. Seu queixo se apoiou em meu


ombro e seu braço circundou a minha cintura.
Ele ergueu o giz e escreveu dentro do coração que eu estava
desenhando:

Lauren & Bruce.


Forever.

Virei-me para ele, esquecendo até que a menina estava ali.

Meu coração estava dando cambalhotas.


― É isso o que você quer? Para sempre?
Ele abriu um meio-sorriso e disse:
― Para sempre.

Grudei meus lábios nos dele, um beijo simples porque havia


uma criança ali.
― Hey, olhem aqui... ― Carol nos chamou e nos viramos
para ver a sua arte.
Eram pessoas em forma de palitos, mas sabíamos que era
nós três. Hum, e olhando melhor, havia um pequeno palitinho no
que seria os meus braços.
― E isso aqui? ― perguntei, apontando.

Carol riu.
― Meu futuro irmãozinho.

De jogos de Baseball eu não entendia absolutamente nada,


mas assim como no restaurante, Bruce era paciente e me explicava
cada jogada, cada regra. Nós comemos cachorro-quente e pipoca.
Tomamos refrigerantes e rimos durante o jogo todo.
E, para completar a nossa felicidade, Bruce conseguiu pegar
uma bola que veio em nossa direção.

― Depois do jogo vou pedir para ele autografar ― Bruce


falou, animado.
Mas, em certo momento, seu celular tocou e ele pediu licença
para atender. O bom humor refletidono rosto de Bruce evaporou, no
mesmo instante que alguém lhe disse algo ao telefone.
― O que foi? ― perguntei, tentando disfarçar para que
Caroline não percebesse.

Bruce não respondeu.


― Vou dar um jeito nisso
.

Foi a única coisa que ele disse antes de encerrar a ligação.


Seu olhar cruzou com o meu e eu balancei o ombro, como se
perguntasse novamente o que estava acontecendo. Bruce olhou
para o chão e balançou a cabeça, parecendo afastar quaisquer que
fossem os pensamentos que assombravam sua mente.

― Nada demais. Problemas em uma das empresas.


Era mentira e eu podia ver em seus olhos, porém, não sabia
o que fazer para ele falar a verdade.
Olhei de relance para Caroline e meu coração gelou ao
imaginar que a causadora daquela situação toda fosse, nada
menos, que a mãe daquela menina.
Bruce disse que ela ficaria longe.

Será que ele estava mentindo? Será que...?


O jogo seguiu tranquilamente, apesar de toda a animação
que nos envolvia antes ter ido por água abaixo. Nós ainda sorrimos,
mas uma aura negra parecia nos revestir.

Após o jogo, Bruce nos levou até uma sala onde pudemos
conhecer os jogadores. Tiramos fotos e a estrela da partida
autografoua bola que Bruce pegou. Eles foramsimpáticos demais e
até nos deram outro ingresso para ver mais um jogo daquela
temporada.

Nós saímos do estádio e, antes de entrarmos no carro,


Caroline bateu o pé dizendo que queria sorvete.
― Em casa temos sorvete, querida ― Bruce falou,
calmamente, tentando fazer a menina entrar no carro.
― Mas pai, não tem o sorvete daqui.

― Caroline, por favor...


Abri a boca para interferirna situação, mas perdi totalmente o
rumo quando vi aquela mulher se aproximar de nós novamente. Eu
não sabia de onde ela saiu, mas ela estava ali.

Porém, dessa vez, não estava vestida como uma mendiga.


Ela estava bem-vestida, com os cabelos loiros limpos e sedosos. E
eu só a reconheci, porque eu jamais esqueceria aqueles olhos que
me assustaram naquela madrugada e depois invadiram aquele
restaurante.
― Bruce Hastings ― ela falou, calmamente. ― Será que
podemos conversar?

Bruce estava parado no lugar, mais branco que uma folha de


papel.

― O que quer aqui? ― disparou e, no mesmo instante, olhou


para mim. ― Entre no carro com Caroline. Jones ― gritou para o
motorista. ― Ligue o carro e as leve para a mansão.

― Bruce, eu... ― tentei falar, mas ele me cortou.


― Entre no carro, Lauren. Agora.
Assenti, mas ouvi a mulher rir.

― Mais uma que você tenta impor as suas regras, Bruce? ―


Ela estalou a língua. ― Que pena dessa moça.
Entrei no carro e puxei Caroline comigo. Fechei a porta e, se
pudesse, fecharia meus ouvidos.

Aquela maldita mulher.


Será que ela nos perseguiria para sempre?
Bruce precisava dar um jeito. Precisava tirá-la de nossa vida
ou nunca teríamos paz. Entretanto, o que mais me assustou foi
perceber que os olhos dela eram exatamente os olhos de Caroline.

Porra.
― Quem é essa mulher? ― Caroline perguntou, assustada.
― Nossa, o papai está com uma cara de bravo. Nós vamos deixar
eleaqui?

O motorista já tinha arrancado com o carro antes que eu


pudesse dizer alguma coisa.

Puxei Caroline para os meus braços, beijei sua cabeça e


alisei seus cabelos.

― Não sei, meu amor. Não sei.


Capítulo 39

Eu apostaria minha vida nisso com prazer

Que no fantasma desse amor, seu raio de luz fracassa


Sem esperança
Esperança

Estamos vazios, flutuando em nosso embrulho de pele


Miss Murder - AFI

Bruce

Anos antes

Três meses se passaram desde a morte do meu pai. Eu


nunca poderia imaginar que o choque da notícia o faria ter um
ataque cardíaco, no qual ele não se recuperaria.

Três meses que a minha vida mudou bruscamente.


De um lado, eu tinha Loren, que era a grávida mais linda do
universo e eu podia confirmar isso todas as manhãs quando
acordava e a encontrava sentada no jardim, tomando um copo de
suco e lendo as notícias do jornal, enquanto sua barriga crescia.

No entanto, do outro lado eu tinha Jessica que parecia me


odiar a cada segundo.
Desde a morte do nosso pai, ela me culpou pelo que
aconteceu. Ela gritava aos quatro ventos que odiava a mim e,
principalmente, a Loren.

A situação se tornou tão caótica que praticamente não via


mais a minha irmã. Ela saía nos horários que sabia que eu não
estaria em casa e chegava nas madrugadas.

E foi em um sábado chuvoso que Loren e eu nos casamos no


jardim da minha casa.

Não tive a presença da minha irmã, no entanto, John sempre


esteve lá, me apoiando nos momentos mais difíceis. Sempre
dizendo que tudo daria certo. Não apoiando somente a mim, mas
também a Loren, a qual ele dizia que aprendeu a admirar desde que
aquela história se iniciou.
Apesar de tudo, as coisas estavam indo bem.

Eu assumi os negócios do meu pai e todos admiravam o meu


trabalho, mesmo sendo novo. A cada dia eu conseguia contratos
diferentes e multiplicava o dinheiro do meu pai como nunca antes
havia sido feito.

Mas foi quando Loren estava com sete meses de gravidez,


Jessica invadiu o meu escritório gritando palavras desconexas,
tomando a mim e aos meus companheiros de trabalho de surpresa.
― AQUELA FILHADA PUTA ESTÁTRAINDOVOCÊ!― ela
gritou, enquanto a minha secretária tentava segurá-la. ― EU VI!
AQUELA VAGABUNDA DE QUINTA CATEGORIA SÓ QUER O
SEU DINHEIRO!
Os seguranças da empresa tentaram segurar Jessica e eu
não entendi nada do que estava acontecendo. Por que Jessica
estava falando aquelas coisas?
Eu sabia que ela odiava Loren, mas não podia inventar
aquele tipo de coisa!

― Levem-na daqui ― ordenei e os seguranças atenderam no


mesmo instante.
Capítulo 40

Então dê-me algo para acreditar

Porque eu estou vivendo apenas para respirar


E eu preciso de algo mais
Para manter a respiração

Believe – The Bravery

Lauren

As horas se passaram e a escuridão tomou conta da casa.


Harry me ofereceu comida, porém, a fome estava bem longe de
mim. Eu precisava confrontar Bruce e saber sobre o seu passado.
Não aguentaria viver ao seu lado sabendo que a qualquer momento,
aquela mulher ultrapassaria aquelas portas, exigindo o seu direito
de “mãe” da garota.
Por isso, esperei... Esperei... Esperei...
E foientão, cerca de muitas horas depois, que Bruce chegou.
No primeiro momento, não me viu, pois a sala estava escura e ele
foi direto para a bandeja com bebidas.

― O que ela queria desta vez?


Bruce estava de costas, virando o líquido em um copo, mas
percebi que ele respirou fundo.

― Pensei que você estava dormindo.


Levantei-me, furiosa.

― E eu pensei em um milhão de coisas, enquanto estava


aqui plantada esperando você! ― Coloquei-me à sua frente e o
encarei. ― Que porra é essa que está acontecendo? O que essa
mulher maldita quer?
Bruce estava cheirando a álcool, as roupas desajustadas e
de repente uma sensação ruim se apossou de mim.
Ele levou o copo a boca, porém, segurei seu braço.
― Você já está cheirando a bebida! ― gritei. ― Até quando
vai esconder de mim seu passado? Eu quero saber o que
aconteceu! E, principalmente, porque ela está rodeando a sua vida
outra vez!
Bruce sustentou meu olhar, mas eu sabia que se pudesse,
ele teria saído correndo dali. Seu peito subia e descia em um
movimento de respiração acelerada e, talvez, quem sabe, estivesse
lutando contra seus próprios pensamentos.

― Ela sempre fez isso. ― Sua voz saiu quase como um


sussurro.
― Por que? E por que você demorou a vir embora? ―
perguntei, controlando a minha vontade de chorar. ― Você a levou
em casa?

Bruce balançou a cabeça afirmativamente.


Meu Deus.

― Você trepou com ela? ― soltei de uma vez, esperando que


se aquilo tivesse acontecido, eu fosse forte o suficiente para
aguentar.
― Não! Porra! ― Bruce retrucou furioso. ― Eu já disse que
odeioa Loren.

Eu devia ter respirado aliviada, mas eram tantas perguntas


em minha mente.

― Mas, então, por que demorou?

Bruce respirou fundo.


― Levei Loren até seu apartamento. Depois fui encontrar
com meu advogado e nós bebemos um pouco. Nada de mais.

― Você disse “apartamento”?

Bruce puxou a minha mão e me guiou até o sofá. Nos


sentamos e ele alisou meus dedos.
― Eu sei o que está pensando. Que Loren voltou e vai roubar
o seu lugar, mas saiba que... Isso nunca vai acontecer. Loren
sempre esteve por perto, mas de alguma maneira, eu conseguia
mantê-la longe. Porém, ela percebeu o quanto nós estávamos
envolvidos e quis te assustar.

― Mas, por quê? ― Arregalei os olhos. ― Bruce, por que ela


não pode chegar perto da Caroline? A menina sequer sabe que a
mãe está viva.

Os olhos de Bruce escureceram um pouco mais.


― Eu já disse que ela não sabe e quero que continue assim.

Suas respostas eram vagas demais, o que me irritava


profundamente.
― Bruce, por favor... Confie em mim ― pedi, segurando a
sua mão. ― Me deixa saber o que aconteceu. Eu quero entendê-lo!
Bruce sustentou meu olhar e respirou fundo. Vi que as
lágrimas vieram aos seus olhos, porém, ele as segurou.
― Vou te perguntar mais uma vez: Lauren, você confia em
mim?

Assenti, sem pestanejar.


― Loren é meu passado e quero que continue lá. Ela não é
confiável. Ela é a pior pessoa que eu tive a infelicidade de conhecer
na minha vida. Não quero falar sobre o meu passado, não quero
tocar no nome daquela mulher. Os meus assuntos com ela já estão
resolvidos e eu só quero que você se mantenha longe dela. Você
pode fazer isso por mim?
Respirei fundo e assenti, derrotada.

― Você é a única pessoa que faz parte do meu presente e,


quem sabe, do meu futuro. Não quero que nada disso interfira no
nosso relacionamento.
Bruce se aproximou mais e me beijou nos lábios.
Eu também queria que nada interferisse nas nossas vidas,
mas eu também não podia exigir que ele falasse sobre algo que o
machucava.

Tudo ao seu tempo, tentei convencer a mim mesma.


― Vem, vamos tomar banho juntos. ― Ele se levantou,
puxando-me consigo.

Acompanhei Bruce pela casa silenciosa até o seu quarto.


Queria bater o pé e dizer que não, que iria para o meu quarto, mas
eu não conseguia. Aquele maldito homem exercia uma força
sobrenatural sobre o meu corpo e eu não conseguia resisti-lo.
Quando entramos em seu quarto, ele trancou a porta e as
luzes amarelas aconchegantes das arandelas se acenderam.
Ele se aproximou e ajudou-me a tirar a roupa, deixando-me
de lingerie. Em seguida, tirou a sua própria, ficando apenas de
cueca. Ele segurou minha mão e me levou ao banheiro.

O banheiro de Bruce era magnífico.Grande, com uma área


exclusiva para o chuveiro e outra para a gigantesca banheira de
hidromassagem. Os chuveiros, porque sim, eram mais de um, eram
perfeitos.
Desta vez ele escolheu os chuveiros, abrindo os registros um
por um.
Ele abaixou-se, tirando a cueca e não tive surpresa alguma
quando sua ereção saltou em minha direção.

― Venha. ― Estendeu a mão, convidando-me para me juntar


a ele.
A água quente caía sobre o corpo masculino, fazendo-me ter
vontade de deslizar minha língua sobre a pele macia.
― Deixa que eu tiro ― ele disse quando percebeu que eu ia
tirar minha lingerie.
Assenti minimamente e encaixei minha mão sobre a dele.

Bruce me puxou para si e a água quente nos envolveu.


Seus braços se fecharam ao redor da minha cintura e os
meus descansaram em seu peito.
Eu amava Bruce. Estava perdidamente apaixonada por ele.
― Me desculpa ― ele disse baixinho, sua boca deslizando
pela região da minha orelha junto com a água.
― O que exatamente?
― Tudo. ― Suas mãos se apertaram na minha cintura. ― Eu
sempre fui um babaca com você. Não sei como você ainda está
aqui, não sei como pode cogitar ter um relacionamento comigo. ―
Bruce se afastou um pouco e me encarou. ― Eu sou um homem
quebrado, não mereço qualquer sentimento bom vindo da sua parte.
― Não diga isso, Bruce. ― Segurei seu rosto. ― Estou aqui
porque quero. Eu quero você. Quero como nunca quis alguém
antes.
Ele fechou os olhos e em apenas um movimento, prensou-me
contra a parede.
― Eu também a quero como nunca quis alguém antes.
Suas palavras aqueceram o meu peito e eu me entreguei
quando sua boca se encostou a minha, exigindo um beijo fervoroso.

Suas mãos percorreram o meu corpo e logo o meu sutiã foi


arrancado. Bruce segurou meus seios e chupou os bicos
intumescidos com vontade. Sua língua os circulou e ele os
mordiscou, arrancando gemidos da minha garganta.
― Estou viciado em você, Lauren ― ele disse, extasiado com
o calor que havia entre nós. ― Não posso viver sem você. Não
mais.
Eu também não podia viver sem aquele homem.
Bruce arrancou a minha calcinha e a jogou longe. Então
ajoelhou-se a minha frentee me segurou pelas pernas, encaixando-
me em sua boca.
Joguei a cabeça para trás quando sua língua brincou com
meu clitóris.

― Bruce ― gemi, encaixando meus dedos em seus cabelos.


― Isso, assim.

Bruce lambeu-me, mordiscou-me e se saciou em meu corpo.


Sua línguaencontrou a entrada da minha boceta e começou a fazer
movimentos de entra e sai, deixando-me completamente louca.
Suas mãos apertaram a minha bunda e ele voltou a brincar
com meu clitóris.
Não havia mais ninguém na porra do nosso mundo.

Apenas nós.
Apenas aquele momento.

Meu ventre se retorceu e espasmos atingiram meu corpo


quando o orgasmo veio, levando tudo de mim. Deixando-me com a
sensação de que não havia droga melhor do que receber um oral de
Bruce.

Ele se levantou, com a boca lambuzada do meu gozo e me


beijou.
― Gostosa, vire-se ― ele ordenou, já segurando a minha
cintura e me virando de costas.

Prensei minhas mãos na parede e suspirei quando ele


deslizou suas mãos pela minha cintura.
― Não existe outro lugar onde eu queira estar a não ser com
você, Lauren.

Fechei os olhos.
Bruce acariciou a minha bunda e sem aviso prévio me
preencheu com seu pau. Soltei um grito que ele abafou com sua
mão na minha boca.

― Gostosa pra caralho.


Bruce arremeteu uma vez, duas vezes, três vezes.

Uma mão estava em minha boca, tampando meus gritos. A


outra, segurava a minha cintura.

― Porra, Lauren ― ele gemeu. ― Assim. Isso.Tão apertada.


Reproduzi uma técnica que eu havia lido na internet de
apertar minha boceta como se eu estivesse com vontade de fazer
xixi. Issodeixou Bruce maluco, que estocava em mim como se não
houvesse amanhã.

― Eu sei que você já gozou, querida ― ele disse próximo da


minha orelha. ― Mas quero que goze de novo. Comigo dentro de
você.

Bruce tirou a mão da minha boca e começou a estimular meu


clitóris com os dedos.
Eu empurrava a parede com força, minha respiração estava
acelerada e eu estava à beira do precipício do prazer, pronta para
cair a qualquer momento, porque aquele homem conseguia extrair o
melhor de mim a cada vez que transávamos.

― Porra, Bruce ― falei, ofegante. ― Eu devia te odiar, mas,


caralho, você me fode tão bem.
Ele deu uma risada.

― Se isso é um elogio, obrigado. ― Ele empurrou com força.


― Eu adoro foder você.

Os espasmos me atingiram novamente. Joguei a cabeça para


trás, no ombro de Bruce. Gozei mais uma vez, agora,
completamente exausta. Ele aproveitou para aumentar seu ritmo e
então grudou as mãos na parede e urrou quando senti o liquido
quente se espalhando dentro de mim.

Foram muitos segundos de silêncio.


Bruce ainda segurava o meu corpo debaixo do chuveiro.
Havia apenas o som da água caindo.

Olhei para sua mão grande espalmada em minha barriga.


Seus lábios estavam prensados em meu ombro.

― Eu te amo, Bruce ― minha voz saiu embargada porque eu


não deveria amá-lo tanto assim. ― Porra, eu te amo pra caralho.

As lágrimas rolavam com força pelo meu rosto.


Eu sabia que ele não ia responder que também me amava.
Então me contentei com o que eu podia receber daquele
homem. Ele virou-me de frente, me encostou contra a parede e me
beijou como se fosse a última vez.

A semana passou mais rápido do que imaginei.

De segunda a sexta cumpri com meu trabalho no bar e todos


os dias Bruce me deixava tocar com a banda. O que era do agrado
de Collins, que estava conseguindo alguns contratos de shows para
nós.
O clima entre Bruce e eu era muito quente e algumas vezes
eu ficava me perguntando se não estávamos exagerando, sabendo
que Caroline estava no outro corredor, sonhando com os anjos,
enquanto seu pai e eu descíamos até o inferno.
No fim de semana nós saímos juntos e, desde o que
aconteceu, Bruce não tocou mais no nome de Loren. Muito menos
eu, que enfiei na cabeça que o melhor a se fazer era esquecer
aquela maldita mulher.

Ela não nos perseguiu mais, até aquele dia.


Na segunda-feira, Bruce pediu que eu chegasse mais cedo,
pois faria uma reforma em outra parte do bar e queria que eu o
ajudasse na decoração. Claro que precisei lembrá-lo de que eu era
a última pessoa no mundo que entendia daquilo, porém, Bruce não
me deixou escapar e disse que se eu tive coragem para pintar meu
quarto sem a sua autorização, qual seria o problema opinar em uma
nova decoração?

Naquele dia, eu tinha ido até o apartamento de Danna para


pegar algumas coisas que eu tinha deixado lá.
Bruce me ofereceu seu motorista, porém, eu sabia que ele
precisaria dele muito mais do que eu. Tudo naquele lugar era tão
longe. Então, peguei minhas coisas, enfiei dentro de uma sacola e
saí do prédio.
Abri a caixa de texto do celular e digitei uma breve
mensagem:

“Logo estarei aí. Mas já adianto que, pelo menos, uma parede
precisa ter caveiras. Beijos.”

E foi nesse momento que senti o impacto do meu corpo


contra o de alguém. Abri a boca para me desculpar, mas meu
coração quase parou ao vê-la.

― Lauren... ― ela falou, me analisando da cabeça aos pés.


― Engraçado como nossos nomes são parecidos.
Capítulo 41

Digo a mim mesma que eu não me importo muito

Mas eu sinto que estou morrendo até eu sentir o seu toque


Só o amor, só o amor pode machucar assim
Only Love Can Hurt Like This – Paloma Faith

Lauren

― O que você quer? ― disparei. ― Como sabe quem eu


sou?
Ela balançou a cabeça negativamente.
― Calma, Lauren. Não estou aqui para te fazer mal, quero
apenas te contar toda a verdade e, quem sabe, conseguir a sua
ajuda.

Arqueei a sobrancelha, desconfiada. Quem podia acreditar no


que uma doida como ela dizia?

― Olha, eu não tenho tempo agora. Preciso ir para o meu


trabalho.

― Eu sei, mas, por favor, preciso de pouco tempo! Você não


poderia me ouvir? ― implorou. ― Eu prometo que se me ouvir e
achar que tudo o que estou dizendo não faz o menor sentido, eu
desapareço da vida de vocês.

Aquela era uma proposta tentadora e eu não podia recusar. O


que eu mais queria na vida era que aquela mulher sumisse de uma
vez por todas. Mas eu também queria saber a verdade.
Uma verdade que Bruce se recusava a me contar.
― Tudo bem, me acompanhe.

Loren sorriu e eu a guiei até o prédio. Era arriscado, mas não


tinha outro lugar que eu pudesse levar aquela mulher sem levantar
suspeitas. Se Bruce passasse e nos visse juntas, eu nem queria
imaginar o que ele faria.

Abri a porta do apartamento e deixei que ela entrasse. Loren


era um pouco mais alta.
― Quer beber alguma coisa? ― perguntei, ao jogar a chave
no aparador.
― Não, obrigada. ― Ela sentou no sofá e olhou ao redor. ―
Imaginoque deve ser ruim viver em um apartamento tão pequeno
comparado à casa de Bruce.

Dei de ombros.
― Já morei em coisa pior. ― Sentei-me na banqueta. ― E eu
não estou morando aqui, na verdade só vim... ahn, então,
desembucha logo, não tenho muito tempo.

Loren respirou fundo e assentiu.

― Bom, a essa altura você já deve saber que sou a mãe da


Caroline.
Balancei a cabeça, afirmativamente.

― Não sei o que Bruce falou sobre mim, mas quero que
saiba que eu tive a infelicidade de ser separada da minha filha
quando ela nasceu.
― Olha, a primeira coisa que quero saber — a interrompi. ―
É por que caralhos você estava vestida como uma mendiga? E que
história é essa de ser separada da sua filha?

― Entendo que a assustei ― Loren falou. ― Veja bem, eu


não sou nenhuma mendiga, mas às vezes eu exagero nas bebidas,
que me levam a agir daquela maneira. Peço que não me julgue,
mas esse é um dos motivos pelos quais Bruce me mantém longe da
minha filha.
Não respondi, apenas observei os seus modos e Loren não
parecia mentir.
― O que Bruce contou sobre o nosso passado para você?
― Bem... Ele preferiu não entrar nesse assunto comigo ―
respondi, me sentindo idiota por não conseguir arrancar a verdade
do meu namorado. ― Mas eu também não quis pressioná-lo.

Loren arqueou a sobrancelha levemente.

― Vejo que ele não mudou em nada ― ela falou,


amargamente. ― Não estou aqui para atrapalhar o que vocês
vivem. Acredite, eu fico feliz que Bruce, finalmente, encontrou
alguém que o faça feliz. Mas, quero que saiba que Bruce e eu
vivemos em uma briga antiga. Eu só quero ter a oportunidade de ver
a minha filha. Quero passear com ela, mesmo sabendo que eu
nunca poderei ter a sua guarda.
Enquanto falava, os olhos de Loren se encheram d’agua e ela
pareceu reviver tudo o que estava em seu passado. Seria mentira
se eu dissesse que aquelas palavras não estavam mexendo
comigo.

― Por todos esses anos, Bruce tem pagado uma quantia


bem alta para que eu me mantenha longe de Caroline. Eu aceitei,
porque com esse dinheiro, eu pago meus tratamentos médicos,
porém, eu sinto que a minha vida está chegando ao fime eu preciso
viver os últimos minutos ao lado da minha filha. Eu estou doente,
Lauren. Eu vou morrer e a minha filha sequer sabe que eu existo!
Nesse momento, Loren já estava chorando e gesticulando
com movimentos desesperados. Aproximei-me dela e, movida pelo
meu coração, segurei em suas mãos.
― Doente? Como assim?

Loren segurou minhas mãos e olhou no fundo dos meus


olhos.
― Eu tenho câncer. Por isso que o dinheiro que Bruce me dá
eu aceito, para pagar os meus tratamentos. Vivi todos esses anos
com isso em meu corpo, mas agora eu sei que me resta pouco
tempo.
Naquele momento, eu não sabia mais o que falar.

Por um lado, não sabia se acreditava naquelas palavras. Por


outro, elas me pareciam muito sinceras.
― Bruce e eu tivemos um relacionamento perturbado. Ele era
muito controlador e ciumento. Eu era apenas uma prostituta na qual
ele se arrependeu de se envolver, mas quando viu, eu já estava
grávida. Seu pai nunca me aprovou, nem mesmo Jessica. Quando
Caroline nasceu, tive depressão pós-parto. Isso foi o que Bruce
precisava para me afastar da menina. Depois de algum tempo, eu
descobri a minha doença e ele me ofereceu dinheiro para pagar os
tratamentos se eu fizesse o que ele queria.
― Te manter afastada de Caroline ― completei, sentindo o
gosto amargo daquelas palavras.
Loren assentiu e eu soltei suas mãos. Afastei-me e fui até as
janelas, com a respiração descompassada.
Não era possível que Bruce tivesse feito aquilo. Ele era
controlador e ciumento, mas...

― Você foi uma prostituta?


― Sim ― ela respondeu baixo. ― Não me orgulho disso,
mas quando Bruce me conheceu, eu trabalhava naquele bar, que na
época era apenas fachada para o que verdadeiramente era.
As lágrimas vieram aos meus olhos, mas eu as segurei.
Então, era por isso que ele mantinha aquele lugar. Bruce nunca quis
apagar o passado, ele apenas o mantinha sob controle.

Como eu pude ser tão idiota?


― Lauren, eu sei que você não quer ficar mal com ele, mas
eu preciso da sua ajuda para ver a minha filha. ― Ela se levantou e
colocou as mãos em meus ombros. ― A cada ano que se passa, eu
sinto a dor de vê-la crescer sem o meu amor.
― Eu não posso...
E realmente não podia. Quem eu era para me meter
naqueles assuntos?

Loren me fez virar para si e eu vi seus olhos derramando as


lágrimas de sofrimento.
― Você é a minha última esperança, Lauren. Jessica me
odeia e Bruce não quer um acordo. Eu estou morrendo... Eu preciso
da sua ajuda!
Respirei fundo e vi a sinceridade naqueles olhos. Era injusto
que Bruce mantivesse Caroline afastada da própria mãe por tantos
anos. Era vergonha de quem ela fora um dia? Mesmo que fosse,
aquilo não justificava os seus atos.

― Tudo bem. ― Suspirei. ― Eu vou dar um jeito de você ver


a sua filha, mas... Bruce não pode saber que eu a ajudei nisso.
Entendeu?
Loren sorriu fracamente e balançou a cabeça.
― Isso ficará somente entre nós.

Depois que Loren se foi, fui até o bar pensando em cada


palavra que ela me disse. Era inacreditável como aquela história
faziatodo o sentido. Mas também era assustador como Bruce podia
ter feito aquilo.

Se ele estava cansado dela, por que simplesmente não


terminou? Não precisava chantageá-la daquela maneira, separando
a mãe de sua filha.

Eu estava decepcionada e a minha vontade era tirar aquela


história a limpo. No entanto, se eu fizesse aquilo, Bruce saberia que
Loren me contou tudo e aí sim ela nunca mais poderia ver Caroline.
Céus... Eu achava que Bruce era diferente dos outros, mas
agora eu percebi que o dinheiro era quem dava as cartas naquele
baralho.
Ao chegar à esquina do bar, respirei fundo algumas vezes.
Eu o amava e aquela história me cortava o coração.

O que eu faria?

Loren pediu a minha ajuda e eu não podia voltar na minha


palavra. Restava-me procurar meios de fazer aquele encontro dar
certo e deixar que as duas se entendessem.
Caroline sempre sofreu pela ausência da mãe. Meu Deus,
como Bruce podia ter feito uma coisa daquelas?

Respirei fundo, mais uma vez. Tudo o que eu precisava era


manter a calma e fingir que não sabia de nada. Bruce não podia
desconfiarque Loren se aproximou, pois só assim eu poderia ajudá-
la.

Passei pelas portas de vidro do bar e logo de cara encontrei


Bruce olhando em volta do estabelecimento, ao lado de uma mulher
muito elegante.
― Céus! Por que demorou? ― Ele me encarou. ― Eu já
estava preocupado e quase saí atrás de você!
― Ahn, desculpe. ― Sorri fracamente. ― Me perdi no
caminho... Sabe como é, as coisas ainda são muito novas para mim.

Bruce passou uma mão pelo meu rosto e sorriu. Depois,


depositou um beijo rápido nos meus lábios.
― Lauren, esta é Julia ― ele nos apresentou. ― Ela é a
melhor arquiteta e decoradora de toda a Califórnia. Fez todos os
projetos, desde a minha casa até o meu escritório.

Sorri para a mulher de cabelos cor de mel e apertei a sua


mão.
― Muito prazer.

― O prazer é meu, Lauren. ― Ela sorriu. ― Bruce me disse


que gostaria que você desse a sua opinião no meu projeto. Ele acha
que você tem alguns gostos peculiares que combinariam com o
novo palco.
Olhei de relance para Bruce e ele deu de ombros.
― Ok, acho que sim.

Julia e eu começamos a andar por toda a extensão do salão.


Ela me explicou o que pretendia fazer, resgatando a vibedo cenário
underground. Ouvi cada detalhe e opinei em algumas coisas.
Enquanto nos falávamos, não deixei de reparar que Bruce
parecia nervoso. Olhava para o celular a todo instante e aquilo me
deixou preocupada.

― Bom, então acho que é isso ― Julia falou, encerrando a


nossa conversa.

Nesse momento, Bruce se aproximou de nós.


― Chegaram a um acordo?

― Oh, sim. ― Julia puxou a pasta com suas anotações e


mostrou para ele. ― Tivemos algumas ideias e tenho certeza de que
ficará demais. Só preciso da sua confirmação para dar andamento
ao projeto.
― Perfeito. ― Ele sorriu. ― É claro que tem a minha
aprovação.

Julia assentiu.
― Ótimo, então, vamos nos falando ao telefone, ok?

Ela se despediu de nós e foi embora, toda cheia de


animação. Quando ficamos a sós, Bruce me puxou para si e me
beijou com fervor, o que eu não devolvi na mesma medida e ele
percebeu.
― O que foi, Lauren? ― perguntou ao se afastar
.
― Nada... ― Suspirei. ― O que poderia ser?

Ele me analisou por alguns instantes e eu quis abrir um


buraco no chão para esconder a minha cabeça.
― Está tudo bem?

― Sim... Bom, na verdade não. ― Afastei-me, pensando em


alguma mentira. ― Acho que não estou me sentindo muito bem.
― Quer ir para casa? ― ofereceu.
― Mas e o bar?

― Por aqui vai ficar tudo bem ― respondeu e colocou a mão


em meus ombros. ― Pode ir, só quero que fique bem.
Pelo menos, aquela era uma boa maneira de escapar dele.

― Tudo bem, então ― concordei. ― Acho que deve ser uma


gripe. Não sei.
Bruce assentiu e me encarou por mais alguns instantes.

― Aconteceu mais alguma coisa que você queira me contar?


― Não... Por quê?

Bruce continuou me encarando por mais alguns instantes e


balançou a cabeça.
― Por nada. Você confia em mim, não confia?

Eu confiava?

― É claro, Bruce. ― Sorri, sem graça.


― Ótimo.

Dizendo isso, ele me puxou para mais um beijo, que eu tentei


devolver na mesma medida. Bruce não precisava ter conhecimento
do que aconteceu e eu sabia que depois do que eu estava prestes a
fazer, ele me mandaria embora de vez da sua vida.

Era a questão de escolha que estava me dilacerando.


E a única escolha que eu via naquele momento, era a de
mostrar para Caroline que ela não era uma “
sem mãe”.
Capítulo 42

Estávamos acelerando juntos

Pelas avenidas escuras


E apesar de toda a fama
Tudo o que tínhamos era tristeza

Mary On a Cross - Ghost

Lauren

Alguns dias se passaram e eu planejei como faria para levar


Caroline até a mulher, sem que Bruce percebesse e sem que ela
levasse um choque. No começo, não diria que ela era sua mãe.
Elas precisavam criar um laço.

O fim de semana se aproximou e pedi para Bruce que me


deixasse sair com Caroline. Ela se animou logo de cara e já
planejou as coisas que faríamos.Como eu não tinha muito dinheiro,
disse que apenas tomaríamos um sorvete.

Nada de compras.

― Você sabe que se quiser o meu cartão, pode usar ― ele


disse, enquanto tomávamos o café da manhã. ― Compre o que
quiser.
Sorri e balancei a cabeça.

― Não é necessário. Você sabe que não gosto de depender


do seu dinheiro.
― Imagina... É por isso que você trabalha, né ― Jessica
cutucou. ― Trabalha para ele.
Revirei os olhos, enquanto eles riam.

― É diferente. Eu trabalho mesmo.

― Oh sim, trabalha quando o chefe não te tira do expediente


para fazer sabe-se lá o quê,né?
― Cala a porra da boca, Jessica ― ralhei. ― O que
aconteceu? Brandon está fazendo isso?

Ela bufou.

― Não me fale do Brandon, ok?


― Vocês não podem começar uma briga logo agora ― Bruce
falou, após tomar um gole de suco. ― A banda ainda está
começando. Isso pode atrapalhá-los.
― Nossa briga será eterna ― Jessica retrucou.

Eles continuaram falando sobre coisas aleatórias e eu me


mantive em silêncio, mergulhada no que estava prestes a fazer.
Bruce jamais me perdoaria se soubesse, mas ele também não tinha
muitos pontos somados comigo.
Ao pensar em tudo o que Loren tinha me dito, meu estômago
revirou. Eu não queria acreditar que aquilo fosse verdade, mas não
existiam motivos para aquela mulher mentir.
Analisando bem, toda a situação, agora eu entendia porque
Bruce não me contou toda a história. A forma como ele lidava com
Loren, o medo de ela se aproximar...
Era muito para a minha cabeça.
Minha vontade era a de chorar, só de pensar que eu
entreguei meu coração para um monstro.

― Bem, se a Lauren não quer comprar nada, eu quero ―


Carol disse, me puxando de volta para a conversa. ― Papai, tenho
uma lista de livros que quero ler nestas férias.

― É claro, filha. ― Ele sorriu. ― Compre o que precisar.

Depois do café da manhã, Caroline, Jessica e eu ficamos na


sala de vídeo ensaiando algumas músicas. Collins já tinha marcado
alguns testes e em breve nós gravaríamos nosso primeiro disco.
Era para eu estar muito feliz.
Mas a realidade era outra: eu estava péssima por dentro.

― Está tudo bem com você? ― Jessica perguntou, enquanto


deslizava os dedos pelo violão. ― Você está estranha esses dias.
― Mais ou menos.

― O que houve?

Olhei para Caroline e ela estava entretida com uma nova


série na TV.
― Tirando o fato de que Bruce não me conta nada sobre o
seu passado? ― Suspirei pesadamente.
Jessica se retraiu, mas não me encarou.
― O que quer saber sobre o passado? ― perguntou. ― Tem
coisa que é melhor deixar para trás.
― Ele te falouque Loren apareceu para nós? ― Arqueei uma
sobrancelha.
Jessica suspirou pesadamente.
― Sim. Ele me falou.
― Eu só queria saber o que aconteceu. Ouvir dos seus
próprios lábios.

Jessica parou de mexer no violão e me encarou.


― Eu não posso te falarnada, porque isso é assunto do meu
irmão. Mas... Se você o ama de verdade, confie nele e lhe dê
tempo. Talvez, logo ele se abra e te conte tudo o que aconteceu.
Bruce sabe o que faz.
― Tudo bem. ― Suspirei, derrotada.

Algum tempo depois, Caroline já estava arrumada e descia


as escadas sorridente e saltitante.
― Sabe, Lauren ― ela falou assim que chegou ao último
degrau. ― Você é uma boa mãe.

― Não fala besteira, menina ― falei, rindo ao mesmo tempo.


― Mãe? Pelo amor de Deus.
Ela fechou o semblante e pareceu se chatear com o que eu
falei. Aproximei-me dela e passei as mãos em seu cabelo.

― Desculpa, gatinha. É que isso tudo ainda é muito novo


para mim. Você é uma criança linda e é claro que eu gostaria que
tivesse saído de mim.
Embora fosse estranho pensar em carregar uma barriga
gigante.
Caroline sorriu e me abraçou.

― Eu amo você, Lauren. Primeiro, porque você conseguiu


deixar o meu pai legal e, segundo, porque você também é legal.
Meus olhos embaçaram e tive que me controlar para não
derramar aquelas lágrimas. Eu tinha tudo o que eu precisava. O
amor de Bruce, o amor de Caroline, uma ótima amiga, uma banda
na qual estava crescendo.
Eu poderia mandar Loren ao inferno? Poderia...
Mas não seria justo.

Ela tinha o direito de se aproximar de sua filha, pelo menos,


nos seus últimos momentos de vida. Se eu não fizesse aquilo,
poderia viver com a culpa sussurrando todos os dias no meu ouvido
o quanto eu era medíocre?
Bruce desceu as escadas logo em seguida e parou no último
degrau.
― Somente meninas, então? ― brincou. ― Espero que se
divirtam sem o papai aqui.

Caroline sorriu e se afastou de mim.


― Vou esperar você no carro, Lauren.

Abri a boca para perguntar “quecarro”quando a menina saiu


correndo pela porta. Olhei para Bruce e ele mantinha o rosto sereno.
― Que carro ela está falando?
― Não achou que eu deixaria vocês saírem sem o meu
motorista, não é? ― Bruce respondeu e o desespero quase tomou
conta de mim.

― Mas não é necessário...


― Claro que é ― afirmou. ― O shopping é um pouco longe,
querida. Não quero que vocês fiquem andando por aí, sendo que
podem desfrutar de todo o conforto.
Respirei fundo e assenti. Tudo bem, agora eu precisava de
um plano B.
― Tem razão. ― Sorri. ― Até logo, então.

Virei-me para sair dali, quando senti a mão de Bruce segurar


o meu pulso. Olhei de volta e ele estava sério.
― Cuide da minha filha. Ela é a minha vida.
Balancei a cabeça, afirmativamente, ao mesmo tempo em
que engoli seco.

Que porra! Será que eu estava agindo precipitadamente?

~
O motorista nos deixou no prédio de quatro andares. De lá,
fomos direto a uma pequena sorveteria que Caroline adorava.
Sentamo-nos na mesinha e a observei enquanto ela se deliciava
naquela coisa gelada.
― Lauren, eu sei que você e o papai estão felizes ― ela
falou, de repente. ― Mas, se você sair para fazer turnês, vocês vão
terminar o namoro?
― Terminar o namoro? ― Eu não tinha pensado naquilo
ainda. ― Bem, não... Acho que não.

Ela continuou vidrada no sorvete.


― É que... Ele não gosta de shows, você sabe, né. ―
Balancei a cabeça e ela continuou. ― E essa é a primeira vez que
vejo o papai feliz. Lembro-me de já ter o visto com algumas
mulheres, mas ele nunca sorria. Agora, com você, ele sorri até
demais.
Suspirei lentamente, absorvendo todas aquelas palavras.
Realmente, tanto Bruce quanto eu havíamos mudado desde que
nos conhecemos.
― Eu acho que ele quer se casar com você.

― Ele quer ou você quer que nos casemos? ― Arqueei a


sobrancelha.

Caroline sorriu e me olhou, pela primeira vez, desde que


começou a falar.
― Eu quero. Mas ele também. Apesar de tudo, você é a mãe
que eu gostaria de ter.
Nesse momento, meu celular apitou com uma mensagem de
texto.

“Estou no beco, perto de onde vocês estão. Aguardo vocês.”

― Carol, eu... ― Levantei o rosto. ― Quero que conheça


uma pessoa.

― Uma pessoa? ― ela perguntou, antes de morder a


casquinha.
― Sim. Uma pessoa.

Ela deu de ombros.


― Tá bom.
Respirei fundo e olhei para os lados. O motorista estava
longe, esperando o momento em que eu o chamaria para nos levar
para casa.

― Vem comigo, então.

Caroline terminou o sorvete e nós saímos dali. O local não


era muito grande e, por isso, não foi difícilencontrar a saída. Nós
caminhamos até encontrar o beco e naquele momento meu coração
pesou.
Inferno, eu não podia fazer aquilo.

Aquilo era alta traição. Se estivéssemos nos tempos


medievais, eu, com certeza, seria condenada à decapitação.
Eu ainda não tinha ouvido a versão de Bruce dos fatos. Ele
me perguntou se eu confiava nele e eu disse que sim.

Que tipo de pessoa maluca eu era?


― O que foi, Lau? ― Carol perguntou, quando estaquei no
lugar. Uma sensação ruim se apossou de mim.

― Vamos voltar, Carol ― falei, de repente e puxei sua mão.


― Vamos para casa.

Nesse momento, me virei para voltar pelo caminho que


tínhamos percorrido, porém, um homem barbudo se colocou à
minha frente.

― Aonde as gracinhas pensam que vão?


Meu coração quase saiu pela boca, enquanto recuei alguns
passos, puxando Caroline pela mão.

― Saia da minha frente ― falei. ― Quem é você?

― Ora, Lauren... ― A voz feminina ecoou atrás de nós e eu


dei um pulo. ― Não combinamos que você viria até aqui e me traria
a garota?
Caroline me olhou, assustada. Loren e o homem começaram
a se aproximar ainda mais, nos encurralando.

― Carol, corre! ― A empurrei, porém, quando ela tentou


passar o homem a segurou.

Parti para cima dele, no entanto, Loren me puxou pelos


cabelos. Gritei muito alto, tentando me desvencilhar das suas mãos,
enquanto ela me segurava com força.
― John! Vá, leve a menina, que eu dou um jeito nessa
vadiazinha!

Caroline gritava desesperada, enquanto o sujeito tampava a


sua boca. Tentei lutar com Loren, porém, ela me segurou por trás,
com o braço envolvendo meu pescoço.
― Achou mesmo que eu estava falando a verdade? ― ela
falou, com uma voz maligna. ― Que garota ingênua e burra você é!
― Sua filha da puta! ― gritei novamente, ao tentar me soltar,
porém, ela apertou ainda mais, quase me sufocando. ― Eu vou te
matar!

― Não vai não ― falou no meu ouvido, descaradamente. Eu


já estava sufocada, mas, mesmo assim, tentei puxar seu cabelo. ―
Bruce vai te matar primeiro.

Loren pegou um pano e enfiou no meu rosto.


― Muito obrigada por me trazer o ouro e... Adeus, queridinha.
Tentei me soltar, mais uma vez, mas o cheiro forte invadiu as
minhas narinas. Minha visão ficou turva em questão de segundos e
eu já não tive mais forças para lutar. Tudo começou a se apagar de
forma lenta e gradual, para que eu percebesse o tamanho da
besteira que cometi ao cair nas lábias daquela mulher.

Abri os olhos lentamente, sentindo alguém bater levemente


em meu rosto. Minha visão demorou um pouco para se estabilizar,
mas quando aconteceu, vi um rapaz asiático me encarando e
falando palavras que eu não entendia.

Afastei sua mão do meu rosto e tentei me sentar.


Olhei para os lados, me sentindo um pouco confusa.

― Você está bem? ― o rapaz perguntou com seu péssimo


inglês.
Foi nesse momento que minha memória me ajudou e
lembrei-me do que havia acontecido. Loren tinha sumido com
Caroline e a única culpada era eu.

― Preciso encontrar a menina ― disparei e tentei me


levantar, porém, a vertigem me atingiu, me fazendo cair novamente.
― Acalme-se ― disse o rapaz.
Mas eu não queria ficar calma.

Caroline estava nas mãos daquela louca e era tudo culpa


minha! Bruce me mataria quando descobrisse a verdade.
― Eu preciso encontrar a menina ― repeti e o asiático me
encarou, como se não estivesse entendendo nada. As lágrimas
começaram a cair uma atrás da outra enquanto meu coração se
apertava.

Se algo acontecesse com aquela menina, eu jamais me


perdoaria.

Por sorte, meu celular estava no bolso traseiro, apesar de ter


quebrado a tela, talvez pela queda que sofri quando Loren me
envenenou.
Meus olhos ainda estavam muito embaçados. Entreguei o
celular para o asiático.

― Me ajude, por favor ― falei, devagar, tentando controlar


minhas lágrimas e o nervosismo por não conseguir nem chamar a
ajuda.
Ele demorou um pouco, mas assentiu e pegou o aparelho da
minha mão. Apertou a tecla de ligar e, por sorte, o primeiro número
era o do motorista de Bruce.

― Senhorita! Senhorita! Onde vocês estão? ― ele gritou,


desesperado do outro lado. ― Já procureiem todas as lojas,mas
não as encontro. O patrão me ligou, quer saber se tudo está bem?

Funguei antes de falar.


― Por favor, me ajude.

Por sorte, o rapaz conseguiu me encontrar e me levou até o


carro. O caminho até a mansão foi uma tortura, porque eu queria
melhorar logo para ir em busca de Caroline, antes que o pior
acontecesse.

Foi quando passamos pelos portões da mansão, que eu


percebi o quanto a situação era delicada.

Assim que ele estacionou, abri a porta e saí correndo, mesmo


cambaleante. Eu não conseguia parar de chorar.
Precisava encontrar Bruce.

Mas... Como infernos eu daria aquela notícia? Como eu diria


que a filha dele foi sequestrada pela própria mãe?
Entrei correndo pelas portas e comecei a gritar.
― BRUCE! BRUCE! ― gritei, procurando-o nas salas de
baixo. ― POR FAVOR, ME AJUDE!
Bruce apareceu no mesmo instante no alto da escada. Ele
desceu correndo, enquanto eu, sem forças,deixei meu corpo cair no
chão.
― Lauren, pelo amor de Deus, o que aconteceu? Onde está
Caroline? ― ele perguntou, ao descer correndo e se ajoelhar ao
meu lado. ― O que aconteceu???
As lágrimas caíram com força e, se pudesse, eu sairia
correndo dali.
― Loren a pegou ― falei de uma só vez.

A palidez tomou conta do rosto de Bruce e ele se afastou um


pouco, tomado por choque.
― O que você disse?

Sabe aquela sensação de que seu mundo está


desmoronando pouco a pouco?
― Caroline está com ela! ― gritei novamente. ― Temos que
encontrá-la!
E como se fosse à confirmação para o que eu falava, o
celular de Bruce tocou no instante que ele ainda me encarava,
perplexo.

― Alô? ― disse, devagar. Ele ficou em silêncio enquanto me


encarava com seus olhos negros e ouvia o que a pessoa dizia. ―
Porra, Loren.
Era ela.

Bruce encerrou a ligação e ficou em silêncio por vários


segundos, olhando para a tela do telefone.De repente, tomado pela
fúria, ele gritou como um animal enjaulado, enquanto as lágrimas
caíam de seus olhos.

Eu era a culpada daquilo.


E nada no mundo me faria sofrer mais do que se aquela
menina não fosse encontrada.
― Caroline não! ― Ele chorou. ― Ela não. ― Seu olhar
desesperado e aflito veio de encontro ao meu: ― O que aconteceu,
Lauren?
Capítulo 43

Eu não posso morder minha língua para sempre

Enquanto você tenta fazer isso parecer legal


Você pode se esconder atrás da suas histórias
Mas não me faça de idiota

Your Love is a Lie – Simple Plan

Bruce

A parte mais difícildaquele dia foi ouvir a história completa


dos lábios de Lauren.
― Sinto muito, Bruce ― ela disse, com o rosto molhado pelas
lágrimas. ― Eu fuiuma idiota. Acreditei na conversa daquela mulher
e tive receio de confrontá-lo.Não sabia o que pensar de tudo aquilo.

Respirei fundo, tentando controlar o nervosismo. No telefone,


Loren havia me dito que ligaria para dar mais informações, mas que
até o momento, não envolvesse a polícia ou, então, nunca mais
veria Caroline.
Lauren estava sentada no sofá da sala de visitas, enquanto
eu pensava o que faria.
Ela me traiu.
Mediante aquelas palavras, tudo o que me restou, foi deixar
que as lágrimas corressem livremente pelo meu rosto, tentando
aplacar a dor que assolava meu peito.
― Você me traiu, Lauren! ― falei em meio às lágrimas. ―
Porra, eu pedi que deixasse o passado onde estava. Eu pedi que
confiasse em mim. Pedi que se mantivesse afastada de Loren.
― Você não confiou em mim! ― Lauren gritou de volta. ―
Por que não me contou a verdade? Eu precisava saber!

Arrastei a cadeira que ficava na mesa e a coloquei de frente


para Lauren.

― É a porra da verdade que você quer? ― Ela me olhou


assustada. ― É a porra da verdade que você vai ter.

Dez anos antes...

― Senhor Hastings? ― a enfermeira me chamou e eu dei um


pulo da poltrona. ― É uma linda menininha
.
Respirei, aliviado, com a notícia.

Já estava ali há mais de dez horas e temia que algo pudesse


dar errado. Loren entrou em trabalho de parto justo quando fui
chamado para uma reunião urgente em outro Estado.

― Posso vê-las?
A enfermeira sorriu.
― Sim, mas daqui a pouco. Estamos preparando-as primeiro.

O Saint James era o melhor hospital da cidade. Mas, mesmo


sabendo que Loren e a minha filha estavam sob os cuidados do
médico que eu escolhi por ter ótimas indicações, não conseguia
deixar de me preocupar.
Esperei mais um pouco e quando fui liberado, entrei no
quarto e encontrei Loren segurando o bebê mais lindo que eu já
havia visto.

Segurei as lágrimas e me aproximei delas. Loren sorriu para


mim e indicou com a cabeça que eu me sentasse perto. E assim eu
fiz, morrendo de vontade de pegar aquela criança nos braços.

― O papai chegou, querida ― disse Loren, fazendo aquela


palavra “papai” ganhar um novo sentido aos meus ouvidos.

Ela me estendeu a criança e, mesmo receoso, eu a segurei e


foi impossível não me apaixonar por ela.
― O que acha de “Caroline”? ― Loren perguntou e eu sorri
enquanto observava aquele anjinho.

― É perfeito.

Caroline era muito pequena e eu tive muito medo de que ela


contraísse alguma doença. Todo cuidado era pouco, mas, mesmo
assim, ela contraiu uma febre intensa.
― Não sei o que está acontecendo ― falei, ao pegar a
menina nos braços. ― A febre não abaixa!
― O médico já veio ver essa menina três vezes somente hoje
― falou, mal-humorada. ― Não aguento mais, Bruce. Faz dias que
não durmo com os choros dessa criança.
Olhei para Loren e ela realmente parecia no limite da
exaustão.
― Vá descansar, eu cuido dela.
Loren suspirou, pesadamente.

― Não consigo, Bruce ― falou, ao rolar os olhos. ― Eu


preciso dormir em outro lugar. Aqui, eu não consigo. O choro dela é
horrível. Insuportável.
Desde que Caroline nasceu, Loren não conseguia se acertar
com a menina. Caroline nunca parecia satisfeita com ninguém. Em
apenas um mês, foram três babás que deixaram o cargo.
Durante o dia, eu trabalhava, mas quando chegava à noite,
Loren me entregava a menina.

― Você é o único que consegue acalmá-la.


― Tudo bem. ― Suspirei, balançando Caroline em meu colo.
― Vá para um hotel. Descanse. Amanhã nos vemos.
Os olhos de Loren brilharam e, pela primeira vez, desde que
Caroline nasceu, ela sorriu, animada.

― Você não sabe o quanto eu te amo!


Sorri de volta e ela me deu um beijo no rosto.
Apesar de saber o quanto eu sentiria a sua falta, fiquei feliz
porque ela descansaria. O bem-estar das mulheres que eu amava
estava em primeiro lugar na minha lista.

Aquela não foi a única noite.

Loren aproveitou para escapar praticamente todas as noites,


alegando que precisava ficar sozinha para se sentir melhor.
A febre de Caroline não passava e os médicos não
descobriam a causa. Percorremos vários consultórios, fizemos
inúmeros exames, mas a resposta era sempre a mesma: ela não
tem nada, senhor.
Certa noite, chuvosa, após colocar a menina para dormir,
olhei em volta do seu quarto, todo arrumado como de uma princesa
e suspirei, pesadamente.

― O que está acontecendo com você, meu amor? ―


perguntei baixo, analisando seu rostinho pequeno.
Quando me casei com Loren, achei que as coisas seriam
mais fáceis. Só que ela estava cada vez mais distante, enquanto a
nossa filha tinha algo que ninguém descobria.
Enquanto continuava ali perdido, a campainha tocou.
Estranhei pelo horário e por não costumar receber visitas. Loren foi
aceita pela maioria das pessoas, mas alguns ainda acreditavam que
não éramos a família ideal.
Ouvi uma gritaria envolvendo o meu nome e resolvi averiguar
quem era. Saí do quarto e caminhei pelo corredor. Ao chegar à
ponta da escada, vi Jessica, toda molhada pela chuva.

― Bruce, eu preciso que você venha comigo ― ela falou,


afobada. ― É coisa séria.
― O que você quer, Jess? ― perguntei, sentindo-me
cansado. Apesar de morarmos na mesma casa, raramente eu via
Jessica. Ela sempre preferia a companhia dos outros à minha.
― Vem comigo, agora! Tenho que te mostrar uma coisa.

Desci as escadas e encarei minha irmã. Ainda estava


magoado por ela ter inventado que Loren me traía. Magoado
também por ter me abandonado no momento em que eu mais
precisei.
― Eu tenho que te mostrar uma coisa ― ela repetiu ― E se
depois de ver isso, você ainda acreditar que sou uma mentirosa que
odeia a sua “esposa”, você nunca mais vai ver o meu rosto.
― O que tem a Loren? Essa história, de novo?

Jessica riu e balançou a cabeça.


― Eu sei que ela não está em casa. E sei também que você
tem ficado sozinho cuidando da Caroline, enquanto ela se diverte
por aí.
― Não faleessas merdas, Jessica! ― gritei e ergui a mão. ―
Loren está no hotel, descansando! Ela estava exausta, Caroline
chora o dia todo!
― Desculpas, desculpas... Inúmeras desculpas! Como você
pode ser tão ingênuo, Bruce? Não vê que essa mulher só está
brincando com você?
Puxei Jessica pelo colarinho da blusa.
― Você não sabe o que está dizendo! É só uma adolescente
perturbada que não aceita o meu relacionamento!
― Eu sei o que estou dizendo! E quero te provar!

Soltei Jessica, respirei fundo e me afastei dela.

― Eu vou com você. ― Me virei novamente para ela. ― Mas,


se formentira, Jessica, eu juro que vou te dar a surra que nosso pai
nunca te deu.
Minha irmã engoliu seco e pegou na minha mão.

― Vamos logo, então.

Saímos de casa, mas havia um carro parado em frente.


― Brandon vai nos levar até lá.

― Puta que pariu! Vocês não têm carteira e nem idade para
dirigir! ― ralhei. ― De quem é esse carro?

Jessica deu de ombros.

― É do pai dele. Estou passando uns dias lá, caso você não
tenha percebido. Sem falar que Brandon tem dezessete anos.
A chuva cessou um pouco, o que facilitou a nossa vida.
Jessica abriu a porta do carro e entrou na parte de trás. Eu entrei ao
lado do carona e cumprimentei Brandon.

― Vamos aonde? ― ele perguntou.


― Para aquele lugar que te falei.

― Tudo bem. ― O garoto assentiu e ligou o carro logo em


seguida.
A cada segundo que se passava eu me sentia ainda mais
imbecil. Deixei minha filha doente com Harry para averiguar uma
coisa que eu sabia que era mentira.

Loren não me trairia. Ela me amava!


Jessica esgotou toda a minha paciência com aquela história e
a minha vontade era de os fazer parar aquele carro, para que eu
pudesse voltar para casa. No entanto, Brandon virou em uma rua
bem conhecida para mim e estacionou em frente ao prédio onde
John morava.

― O que estamos fazendo aqui? ― disparei.

Jessica se aproximou de mim.


― Aquele ali, não é o carro que você deu para a sua mulher?
― Jessica estendeu o indicador até o veículo do outro lado da rua.

Eu não podia negar que era parecido com o de Loren, mas...


― Isso não significa que seja o carro dela.
― Você não sabe a porra da placa do carro da sua mulher?
― Brandon perguntou.
Respirei fundo e forcei a vista para enxergar as letras.

Era a porra do carro de Loren.


Fiquei em silêncio, pensando no que ela fazia ali. John e
Loren nutriram uma grande amizade desde que eu a conheci
naquele lugar dos infernos, mas... Não me lembrava de vê-los
assim, tão próximos.

― Se você quiser subir, eu vou com você ― Jessica


ofereceu. ― Sabe que seria um prazer desmascarar aquela puta,
não é?

― Tem que ter uma explicação ― falei, devagar, tentando


convencer a mim mesmo.

Respirei fundo, procurando forças para sair do carro, no


entanto, quando as encontrei, vi Loren saindo do prédio,
acompanhada por John. Ambos estavam bem vestidos e sorriam,
animados.
Eles entraram no carro e se foram.
― Issonão é possível ― falei, sentindo o desespero tomar
conta de mim. ― Não... Não... Mil vezes não. ― Vamos segui-los!
― gritei para Brandon, que ligou o carro no mesmo instante.

Nós os seguimos por uma longa distância, até que eles


entraram no estacionamento de uma boate.
Então, era ali que Loren se recuperava do estresse que
passava ao cuidar da nossa filha.

Senti meu coração se desfazer em pedaços no momento em


que vi os dois saírem abraçados e entrarem naquele lugar. Eles
saíam,se divertiam juntos, enquanto eu ficavaem casa cuidando da
febre sem solução da minha filha.

― Sinto muito, Bruce ― Jessica falou,depois de muito tempo


que ficamos em silêncio.
Eu já não sabia mais o que eu sentia. Naquele momento, só
queria uma coisa: acabar com aquela história.

Saí do carro, nervoso, sob os protestos de Jessica e


Brandon, que me seguiram logo depois. Os seguranças tentaram
nos barrar, principalmente, por causa da idade dos dois, mas
quando preenchi um cheque com um valor altíssimo,ele nos liberou
sem maiores detalhes.

Entrei naquele lugar e varri o local em busca daqueles dois


traidores.

Não demorou para que eu os encontrasse, sentados em uma


das poltronas, abraçados, praticamente, engolindo um ao outro.
Meu coração se afundou, ao perceber que a mulher que eu
amava, estava ali me traindo com a pessoa que dizia ser o meu
“melhor amigo”.

― Então, é assim que você passa a porra das suas noites,


sua vagabunda? ― Avancei furioso e puxei Loren pelo braço.
A minha vontade era explodir... Fazer uma besteira com
aqueles dois. Mas meu coração estava partido.
Doía demais.
Ela arregalou os olhos, enquanto John veio para cima.

― Cara... Calma. Vamos conversar!


O tumulto começou ao nosso redor. Todos pararam para
observar o pequeno show.

― Eu confiei em você, Loren ― falei, derramando as


lágrimas presas em meus olhos. ― Eu te dei tudo e é assim que
você me trata?
Pela primeira vez, Loren me encarou com uma frieza que eu
nunca havia visto antes.

― Eu nunca te amei, Bruce ― ela retrucou, puxando o braço


de volta. ― Você para mim sempre foi um passatempo. Mas... Você
nunca deixava aquela ideia absurda de se casar comigo! Por um
lado foi bom, porque o seu dinheiro me ajudou muito, mas por
outro... Argh, que cansativo!

As lágrimas desceram uma atrás da outra ao ouvir cada


palavra que ela proferia na minha cara.

― Mas... Por quê? ― perguntei, quase sem forças.


― Eu não amo ninguém, Bruce. ― Ela sorriu,
diabolicamente. ― Amo somente a mim. Mas você já deve imaginar
que, por causa da gravidez, eu precisava de um pai para aquela
menina. John não tem nem metade da sua fortuna, não poderia
assumir essa responsabilidade.

Olhei aterrorizado para ela.


Aquela não era a Loren. Não era a minha Loren!
― Do que você está falando? ― gritei, assustado. ― Nossa
filha está em casa, com febre, enquanto você está aqui se
divertindo!
― Minha filha! ― ela gritou de volta. ― Caroline não tem um
pingo do seu sangue nas veias! CAROLINE NÃO É A SUA FILHA!

E aquela frase foi pior do que se eu tivesse levado um tiro.


Caroline não é a sua filha!

Caroline não é a sua filha!


Caroline não é a sua filha!
Capítulo 44

Nunca deixe que digam

Que o romance está morto


Porque há muito pouco além disso
Ocupando minha cabeça

Ruby – Kaiser Chiefs

Lauren

Bruce terminou de contar a sua história e eu não sabia como


parar de chorar. Ao ouvi-lo, senti as mesmas sensações, tive o
coração partido da mesma maneira.
E aquilo só fez piorar a culpa que eu sentia.

― Mas... Como você conseguiu ficar com a menina? ―


perguntei, depois de um tempo.

Bruce estava perto da janela, olhando para o jardim.


― Na época, expulsei Loren de casa e nós entramos em uma
briga judicial. Eu cortei seus cartões, tomei seu carro. Ela não tinha
muitas alternativas, então, abriu mão da guarda. Caroline já estava
registrada com meu sobrenome e eu jamais deixaria que uma louca
como ela ficasse com a menina. Caroline não tinha culpa se a mãe
era uma aproveitadora. Com o passar dos anos, Loren voltou a nos
cercar e eu tive que dar um jeito para mantê-la longe. ― Ele
suspirou. ― Dei-lhe um bom apartamento, um bom carro e todos os
meses, o rendimento daquele maldito bar, cai na conta de Loren.

― Então, é por isso que você não se desfaz dele? ―


perguntei.
Bruce assentiu.

― É mais fácil assim ― respondeu. ― Até alguns meses


atrás, eu tinha alguém que o administrava, porém, o senhor que
fazia isso faleceu e eu tomei a frente.

― Entendo. ― Funguei. ― Quem é o pai?

― John.
Balancei a cabeça, nauseada com aquela história. Como
Loren pôde ser tão cretina?
Naquele momento, o amor que eu sentia por Bruce, triplicou
de tamanho, deixando de lado todos aqueles receios que eu senti
antes. Quem teria tanto amor por uma criança que nem era sua?
― Eu te admiro ― falei. ― Por cuidar da menina, mesmo
sabendo que ela não é sua filha.
― Ela é minha filha. ― Bruce se virou para mim, com
convicção. ― Desde o dia em que a peguei no colo. Caroline é a
minha vida, entende? ― Ele voltou a chorar. ― É por isso que eu
não sei o que vou fazer se algo acontecer a ela!
Levantei-me e fui até ele, mesmo sabendo que naquele
momento ele deveria me odiar e o abracei.
― Vai dar tudo certo! Nós vamos encontrá-la.

E ali, nós choramos juntos.

Muitas horas se passaram.


O médico de confiança de Bruce veio até a mansão e me
atendeu. Disse que aparentemente estava tudo bem, mas que
depois eu deveria fazer alguns exames. Nunca se sabia o que
poderia acontecer após inalar um cheiro tão forte.

Bruce não falou comigo desde a hora que nós choramos


juntos. Jessica, Brandon e Josh estavam sentados ao meu lado no
sofá, enquanto aguardávamos Loren ligar.

― Eu acho que devemos chamar a polícia ― Jessica falou,


de repente.
― Sem polícia ― Bruce respondeu. ― Loren é louca. Não
tenho nem ideia do que ela pode fazer com a menina.

― Ela não vai fazer nada com Caroline ― Josh se


intrometeu. ― Se ela levou a menina, é porque acha que você vai
desembolsar mais dinheiro por ela. É assim que funciona a cabeça
de uma psicopata.

Bruce não respondeu e continuamos naquele silêncio que,


aos poucos, estava me matando.
A culpa estava me consumindo de todas as maneiras. Por
que eu não confrontei Bruce e exigi a verdade? Por que eu fui tão
idiota? Por que, por quê?
Levantei-me do sofá, cansada de ficar ali sentada sem fazer
nada.
― Se vocês vão ficar aí parados, tudo bem. Eu vou atrás
dessa mulher, nem que eu precise ir até o inferno para trazê-la pelos
cabelos!
Todos me olharam e, nesse momento, o celular de Bruce
tocou.

― Onde está a minha filha?


― foi direto.
Bruce andava de um lado para o outro, nervoso, enquanto a
mulher falava sem parar.
― Loren! ― ele gritou. ― Falalogoonde está a minhafilha!
Ou eu juro por Deus que...
Ele parou de andar e seu rosto se encheu de entendimento.

― Ninhode amor? ― falou, como se sentisse nojo. ― Issoé


ridículo! Ok, ok.
Bruce desligou o telefone e foi em direção à saída, quando
nós corremos atrás dele.
― Hey! ― gritei. ― Onde elas estão? Aonde você vai?

Bruce passou as mãos pelos cabelos.


― Eu já sei onde elas estão. Fiquem aqui, eu vou resolver
isso.
― Você não vai sozinho! ― Me aproximei dele. ― Pelo amor
de Deus! Aquela mulher é perigosa!

― Eu tenho que ir, Lauren.


Nos encaramos por um longo tempo e meu coração pesou.
Eu não podia deixá-lo ir sozinho!
Bruce olhou para Jessica e mostrou a mim com a cabeça.
― Cuide dela. Se eu não voltar... Bem, você já sabe o que
deve fazer.
Dizendo isso, Bruce virou as costas e se foi. Tentei correr
atrás dele, mas Josh me segurou.
― Vocês não podem me segurar! ― gritei, enquanto as
lágrimas rolavam pelo meu rosto. ― Eu preciso ir com ele! A culpa
foi minha!
Jessica segurou meu rosto.

― Bruce sabe como lidar com aquela mulher. Vai ficar tudo
bem!
― Não, não vai! ― Balancei a cabeça. ― Eu estou sentindo
que algo vai dar errado!
Jessica podia confiar em Bruce e em toda a sua influência.
Mas eu não. Algo dentro de mim dizia que aquilo era uma missão
suicida. Loren era perigosa, era ardilosa. Aquela mulher destruíra a
única coisa boa que aconteceu na minha vida.

― Eu vou atrás dele! ― determinei, ao me afastar de Josh.


― Não posso ficar aqui parada, enquanto tudo o que está
acontecendo é por minha culpa!
― Lauren, pelo amor de Deus! ― Jessica tentou me agarrar,
mas eu me afastei. ― Não é culpa sua. Você foi ingênua, mas meu
irmão também foi um idiota por não te contar a verdade.

― Se eu não o ajudar, eu nunca vou me perdoar.


Dizendo isso, virei às costas e saí da casa o mais rápido que
eu pude. O inferno era que eu não sabia para onde Bruce tinha ido.
Aonde Loren poderia ter levado a menina?

“Ninho de amor”. A única frase que veio em minha cabeça.


Era óbvio que Loren apelaria para o sentimento de Bruce.
Como ela podia ser tão descarada?
Só existia um lugar. O bar. Lugar que guardava uma história.
Respirei fundo e tomei coragem. Eu precisava ajudar Bruce,
mesmo que depois de tudo aquilo, ele olhasse na minha cara e
dissesse que nunca mais queria me ver.

Era madrugada e o bar já estava fechado, mas eu não me


enganei quando pressenti que Bruce estaria lá. Seu carro estava
estacionado em frente. Atravessei a rua, olhando para os lados.
Ninguém podia me ver.

E se aquele cara ainda estivesse ajudando Loren?


Cheguei até a entrada do bar e a porta estava trancada. Não
havia sinal de que alguém estivesse ali. Dei a volta pelo jardim e
encontrei a porta dos fundos semiaberta.

Entrei, tentando fazer o máximo de silêncio. Ali era uma


espécie de depósito, repleto de bebidas e outras coisas. Andei
alguns metros e encontrei um pedaço de madeira. Era a única coisa
que me serviria como uma arma, caso eu fosse atacada.
Tudo estava silencioso demais. Andei até o salão da frente e
vi a porta que descia para o “
submundo” aberta.
Eles estavam lá.
Olhei para a escadaria escura e respirei fundo. Antes de
descer ali, eu precisava chamar a polícia. Bruce disse que não era
para envolvê-los, mas aquilo era burrice. Peguei o celular e disquei
o número.

Eles atenderam e brevemente pedi por socorro. No instante


que falei o endereço, senti uma pancada muito forte na cabeça.
Tudo escureceu em questão de segundos e eu não vi mais
nada.

Bruce

― Ora, ora, ora... olha só quem veio atrás de você, Bruce ―


John desceu as escadas, arrastando Lauren inconsciente.
― O que você fez, seu filho da puta? ― Avancei em sua
direção, mas Loren engatilhou a arma, me fazendo parar.

Ele riu.
― Sua vadiazinha gosta mesmo de você. ― John puxou o
corpo de Lauren até uma cadeira. ― Podíamos ter fingido o
sequestro dela ao invés do da menininha, Loren.

Loren bufou.
― Será que Bruce está assim, tão apaixonado, que seria
capaz de tudo por ela?

Encarei minha ex no fundo dos olhos.


― Lauren é para mim tudo o que você nunca foi.

Ela fechou o semblante, pulou da mesa onde estava


empoleirada e veio em minha direção com a arma apontada para
cima.

― Duvido que ela te faça gozar como eu fazia.


― Você acha mesmo que o mundo gira ao seu redor, não é?
― Abri um sorriso maquiavélico. ― Pois acredite, Loren. Lauren
consegue fazer coisas comigo que você nunca foi capaz.

Ela era uma maldita narcisista e apelar para o seu ego era a
melhor maneira de me vingar dela.

― Desgraçado! ― ela quis bater o cano da arma em meu


peito, mas John a tomou de sua mão.
― Me dê isso, querida. Precisamos do Hastings vivo para
conseguir o dinheiro.
Eles queriam dinheiro.

Muito dinheiro.
Por isso armaram todo aquele circo.

― Não vou dar dinheiro algum a vocês. Eu quero é que


apodreçam no inferno.

John veio para cima de mim no instante que ouvi as vozes


invadindo o estabelecimento. Aproveitei a deixa para avançar em
um John atordoado e ali começamos uma briga pela arma.

Loren começou a gritar desesperada e foi na direção das


escadas para fugir, mas os policiais que estavam descendo a
interceptaram.
Foi então que em um pequeno descuido, o cano da pistola
encostou em meu corpo e o barulho que veio a seguir, mostrou-me
que em apenas um segundo, tudo pode mudar.

Lauren

Abri os olhos devagar, tentando acostumar à vista ao clarão


que me pegou desprevenida. Senti uma pontada na cabeça e levei a
mão até ela.
Droga.
Abri os olhos novamente, detectando que eu estava em um
hospital.

― Graças a Deus você acordou! Estávamos preocupados,


com medo de que algo pior acontecesse com você. ― Jessica se
levantou e veio até mim.
Demorei um tempo para entender o que ela estava falando.
Então, algo estalou na minha memória.
― Meu Deus! Bruce, Caroline! ― Tentei levantar. ― Preciso
encontrá-los!
Jessica me segurou no lugar.

― Calma, Lauren! Acabou... Acabou.


― Acabou o quê? ― perguntei, alarmada. ― Não me diga
que aquela desgraçada conseguiu fugir com a menina?
Jessica balançou a cabeça, negativamente.

― Caroline está bem. Ela está em casa.


― E Bruce?

Jessica mergulhou em um silêncio e a sua feição me disse


que nada estava bem.

― Jessica! ― gritei. ― Cadê o Bruce?


Seus olhos derramaram lágrimas e, naquele momento, eu
soube que algo ruim tinha acontecido.

― Ele foi baleado.

Aquelas palavras me atingiram como se eu tivesse levado um


soco. Baleado? Como? Por quem? O que aconteceu?
Jessica passou os dedos pelas lágrimas e respirou fundo.

― Mas teria sido pior se você não tivesse chamado a polícia.


Conseguimos trazê-lo a tempo para o hospital.
A onda violenta de dor me atingiu e as lágrimas caíram uma
atrás da outra.

― Eu só me lembro de ter chamado a polícia...


― Quando você saiu de casa, recebemos a notícia de que
Caroline estava no quarto. Fomos até lá e era verdade. Josh dirigiu
como louco até o bar e quando chegamos, o prédio já estava
tomado pela polícia. Eles nos informaram que houve uma luta entre
Bruce e John antes da arma ser disparada.
― Mas, os cretinos fugiram? ― perguntei, horrorizada.
― Tentaram, mas a polícia conseguiu capturá-los antes.

― Mas... Mas, Bruce. Como ele está?

Jessica segurou minha mão.


― Ele está sendo operado. Vamos ter féde que tudo vai ficar
bem. Caroline estava em casa o tempo todo! ― Ela ofegou. ―
Aquela maldita mulher enganou a todos nós. Da mesma forma que
ela colocou você para dormir, fez o mesmo com a menina.

Chorei, mais uma vez, porque aquilo tudo era culpa minha.
Se eu não tivesse sido idiota o suficiente para cair na história
daquela mulher, nada daquilo tinha acontecido. Se eu tivesse
forçado um pouco e tentado descobrir a verdade, talvez Bruce
tivesse se aberto.

― Me deixa sozinha, Jess.


Ela engoliu seco, mas assentiu.

Jessica se foi e eu continuei ali, mergulhada no meu poço de


amargura, enquanto o homem que eu amava poderia morrer.
E se aquilo acontecesse, eu morreria junto.

Algumas horas depois, soube pela enfermeira que Bruce


estava bem, mas o efeito da anestesia ainda ia demorar muito para
passar. Eu estava em observação, mas me sentia bem e, por isso,
quando não corria o risco de ninguém me ver, levantei e fui até o
quarto onde ele estava.

Quando abri a porta, foi como se meu mundo parasse.

Ver Bruce daquele jeito, com várias agulhas injetadas em seu


corpo, doeu mais em mim do que, provavelmente, estaria doendo
nele.
Ele estava com os olhos fechados, dormindo pela anestesia,
mas, mesmo assim, me aproximei.

Durante as horas que se passaram, pude chegar a uma


conclusão sobre a minha vida: eu nunca seria boa o suficiente para
um homem como Bruce Hastings.

Não era à toa que nos conhecemos em um acidente de


trânsito no qual eu estava envolvida. A minha rebeldia, o meu jeito
de ser. Nada daquilo combinava com ele. Éramos de mundo
opostos e agora, eu percebia isso da maneira mais dolorosa.
― Eu sei que é covardia ― falei, enquanto derramava
algumas lágrimas. ― Mas por minha causa, tudo isso aconteceu.
Não posso viver ao seu lado, sabendo que eu fui a causadora do
seu sofrimento. Você merece alguém melhor, Bruce. Você merece
alguém que seja inteligente e não uma burra teimosa como eu. ―
Respirei fundo. ― Saiba que você foi a melhor coisa que aconteceu
na minha vida, mas não posso seguir com isso. Eu quero que você
seja feliz. Perdoe-me por ser tão idiota e ter colocado a nossa
menina em risco.
Dei um beijo na testa dele.
― Eu te amo e sempre vou amar.

Alisei o rosto dele com a ponta dos dedos, sabendo que seria
a coisa mais difícildo mundo viver sem aquele homem. Mas era o
melhor a se fazer. Ele precisava encontrar alguém que não o
colocasse mais em risco.
Agora que Loren e John estavam presos, Bruce tinha tudo
para continuar a sua vida e esquecer que um dia uma louca como
eu cruzou seu caminho.
Por isso, mesmo com as lágrimas descendo pelo meu rosto e
com meu coração aos pedaços, virei às costas e saí do quarto.
Eu não podia olhar para trás.
Capítulo 45

Eu ainda me perco em seus olhos

E parece que eu não consigo viver um dia sem você


Fecho meus olhos e você rouba meus pensamentos
Para um lugar onde a luz me cega

Mas isso não está certo


Goodbye to You – Michelle Branch

Seis meses depois

Lauren

Incrívelcomo a minha vida mudou tanto em questão de


meses. Depois que eu saí da Califórnia, voltei para Nova Iorquee,
após algum tempo, algumas discussões, Jessica, Josh e Brandon
concordaram em me encontrar para trabalharmos em nossa banda.

Agora, para valer.


Collins também concordou, pois estava louco para a
gravação do nosso primeiro disco. Com isso, passamos os últimos
cinco meses na preparação e lançamento do álbum.

E, finalmente, decidimos o nome da banda: Good


“ Glass”.
E não me perguntem o porquê desse nome. Foi o primeiro
que veio em nossas cabeças e que foi aceito por todos.

― Lauren! Acorda! ― Jessica abriu a porta do meu quarto,


afoita. ― Collins está na linha.

Bufei, irritada com Jessica, porque ela nunca perdia a mania


de entrar no meu quarto sem bater, e com Collins, que nunca
aprendia que de manhã eu odiava atender ligações.

― O que ele quer?


― Ah, não sei. Ele quer falar com você! ― revirou os olhos.
― Anda logo!

Levantei, mesmo furiosa, fui até a sala e o telefone estava


fora do gancho. O apartamento que nós tínhamos alugado era bem
melhor do que o que morávamos antes. Era semelhante ao de
Danna, mas agora eu dividia com quatro pessoas.

― O que foi? ― perguntei, ao levar o telefone ao ouvido.


― Bom dia para você também ― ele falou e eu revirei os
olhos. ― Estou ligando para que você e a sua turma preparem as
malas. Temos um grande show agendado.

― Sério? ― falei um pouco mais alto do que eu queria. ― E


onde é?

― São Francisco.
― O quê?
Paralisei no mesmo instante ao ouvir o nome da cidade.

― É, eu sei que você não queria voltar lá tão cedo, mas é


necessário. Vocês vão abrir o show de uma grande banda e não há
meios de perder uma oportunidade dessas. Está dentro ou não?
Querem ser reconhecidos ou não?
Jessica me olhava impaciente do outro lado. Havia escolhas?

― É claro que estamos dentro ― falei, um pouco


desanimada.

― Ótimo ― ele falou, com a voz animada novamente. ― O


show é no sábado, então, se quer um conselho, comece a arrumar
essas malas agora!

― Tudo bem, senhor Collins.


Desliguei o telefone, passei as mãos pelo meu rosto e
respirei fundo. Que porra... Eu não esperava ter que voltar para
aquele lugar tão cedo.

― O que ele disse? ― Jessica se sentou ao meu lado.


― Temos que abrir o show de uma grande banda, que ele
não falou qual era, mas enfim... ― Suspirei. ― Em São Francisco.
A boca da Jess se abriu em compreensão e ela demorou
alguns instantes para formular uma resposta.

― Vai dar tudo certo. ― Ela sorriu. ― Tenha calma.

Balancei a cabeça, mesmo que meu coração estivesse


prestes a sair pela boca. Naquele dia, quando saí do hospital, fui
diretamente para a mansão e pedi perdão à Caroline. Conversei
com Jessica e expliquei os meus motivos. Logo de cara, ela me
chamou de louca e ameaçou desconstruir a nossa banda, caso eu
teimasse em fazer aquilo.
No entanto, com o passar do tempo, ela entendeu o meu lado
e, mesmo não concordando, respeitou a minha decisão e nunca
mais pronunciou o nome de Bruce.
“― Mesmo achando que é uma idiotice sem tamanhos, se é o
que você quer, o que posso fazer?”
Foi o que ela disse quando nos encontramos em Nova
Iorque.

Lembrar-me de Bruce era doloroso demais, mas eu sabia que


ele estava bem e finalmentehavia contado a verdade para Caroline.
Alguns dias depois de chegar a Nova Iorque,fiquei receosa
de Bruce aparecer na minha porta a qualquer momento. Mas isso
não aconteceu e, por um lado, a decepção me pegou, mas por
outro, respirei aliviada.
Como eu conseguiria olhar em seu rosto novamente?
― Que cara é essa? ― Josh falou, me arrancando dos meus
devaneios. ― Alguém morreu?
Ele foi até a cozinha e pegou um litro de leite.
― Ninguém morreu, por enquanto. ― Suspirei.
Josh virou a garrafa na boca e após beber uma boa
quantidade, arrotou mais alto que da última vez.

― Que nojo, Josh ― reclamei.


― Estou treinando ― ele falou, com um sorrisinho. ― Ainda
quero entrar em um campeonato de arroto.

Jessica e eu nos olhamos. Definitivamente, Josh sabia como


ser ridículo.
― Collins ligou, temos um show em São Francisco no sábado
― falei, tentando deixar claro a nossa situação.
― Uhul! Vou ver a mamãe. E... Quando vamos?

― Ele mandou já começarmos a arrumar as malas.


Josh saiu da sala animado com a notícia.Eu me afundeimais
ainda no meu lugar, tentando me acalmar. Uma crise nervosa não
me ajudaria em nada naquele momento.
― Está com medo de ver Bruce? ― Jessica segurou em meu
braço.
Balancei a cabeça, negativamente, mas era óbvio que esse
era o meu medo. No entanto, ele não havia me procurado por todos
aqueles meses. Jessica não dizia nada, mas eu tinha quase certeza
de que Bruce já tinha arrumado outra namorada.
Arghhhh... Por que essas coisas aconteciam somente
comigo?
Eu podia ter me apaixonado por alguém como Josh, que
sempre estava disposto as mais altas loucuras. Mas não... O meu
coração lindo e fodido sempre me guiava pelo caminho difícil.
Bruce não é homem para você, Lauren.
~

Dessa vez, eu tinha um pouco mais de roupas, por isso,


passamos a tarde toda arrumando as malas.
Collins passou no apartamento para nos pegar e eu podia
afirmar que ele estava bem mais animado que eu. Toda a vez que
ele olhava para nós, era como se eu visse uma cédula de dinheiro
em cada um de seus olhos.

Mesmo Bruce sendo o “dono” da gravadora, durante todo o


processo de gravação das músicas, nós nunca o encontramos.
Ele não queria te ver
, Lauren.
Pensamentos como esse rondavam a minha mente durante o
dia todo. Algumas vezes, eu corria no Central Park (coisa que eu
odiava fazer) somente para esquecer aquelas frustrações.
Collins alugou dois quartos em um hotel e quando chegamos
lá, a primeira coisa que fiz, foi cair na cama e adormecer. Era muita
informação que a minha mente estava trabalhando e eu precisava
dar um basta naquilo.
Quando acordei, encontrei um buquê de rosas em cima da
mesinha ao lado da minha cama. Elas eram absurdamente lindas e
eu me perguntei quem poderia ter deixado aquilo.
Certamente era para Jessica.
No entanto, a minha curiosidade era maior que tudo e, por
isso, vasculhei o buquê procurando pelo cartão. Quando o
encontrei, vi as iniciais “
BH” e meu coração quase parou.
É claro que é para Jessica, Lauren, sua idiota.

O barulho do chuveiro parou e deixei o cartão onde estava.


Jessica não iria gostar que eu mexesse nas suas coisas.
Respirei fundo e olhei as horas no meu celular. Havia uma
mensagem.

“Vou passar para buscá-los para um jantar


. Estejam preparados.
Collins”

Jessica saiu do banheiro, com o corpo e o cabelo enrolados


em uma toalha.

― Ah, imagino que já saiba. Collins está vindo nos buscar


para um jantar.

― É, acabei de saber. ― Mostrei o celular. ― Não sei que


roupa usar.
― Você nunca sabe. ― Jessica foi até o espelho. ― Pegue
algum dos meus vestidos e vamos logo. Você sabe que ele odeia
atrasos.

Assenti, mesmo que a minha vontade fosse outra. Eu não


queria sair, queria apenas ficar no quarto, fazer aquele show e,
quando terminasse, voltaria correndo para Nova Iorque.

Que era o meu lar. Que era onde eu deveria ficar.


Quando não estivesse em turnê, é claro.
Peguei a toalha e fui para o banheiro. Tomei um banho
rápido, lavei os cabelos e coloquei o vestido que Jessica me
emprestou. Quando saído banheiro, ela já não estava mais lá. Olhei
para o buquê novamente e suspirei.

Bruce realmente amava Jessica.


― Já está pronta? ― Jessica entrou novamente no quarto. ―
Collins já chegou!

― Nossa, calma. Que pressa dos infernos― reclamei. ― Me


espera lá embaixo, já estou indo.
Jessica deu de ombros e se foi. Ainda levei cerca de meia
hora, porque mesmo com um secador de última geração, secar
meus cabelos não era uma tarefa fácil.

Terminei de me arrumar, passando uma maquiagem bem


leve. Não estava com clima de parecer uma femme fatale
.
Desci até o hall do hotel e, encostado ao balcão, estavam
Collins, Jessica, Brandon e Josh. Todos muito bem vestidos e
animados para a noite.
― Nossa rockstar chegou ― Collins brincou. ― O carro já
está aí na frente, vamos?

Dei de ombros e os segui. Nós saímos do prédio e antes que


eu pudesse entrar no carro, avistei a última pessoa que eu esperava
ver, encostado no veículo ao lado, com os braços cruzados.
― Bru... Bru... Bruce? ― gaguejei.
Naquele instante, foi como se meu mundo parasse por um
segundo. Foi como se os carros passassem lentamente. Como se
as vozes das pessoas ficassem tão baixas que eu precisaria me
concentrar para ouvir o que elas diziam.

Aqueles olhos negros.


Acordei do meu transe e Jessica já estava dentro do carro me
lançando um sorrisinho.

― Ah, esqueci de falar que aquelas flores eram para você.


Desgraçada.

― Essa não ― Collins reclamou, antes que Bruce se


aproximasse de nós. ― Olá, meu amigo. Como vai?
Bruce ignorou a mão estendida de Collins porque seu olhar
se concentrava no meu desde o momento que eu o vi. Talvez até
antes, mas eu só tinha a certeza de uma coisa: minhas pernas
estavam trêmulas.

― Olá, Lauren ― ele me cumprimentou, sereno demais.


Como se nada tivesse acontecido em nossas vidas. ― Espero que
tenha recebido o meu recado.

Silêncio se fez,enquanto os que estavam dentro do carro nos


olhavam, curiosos e, Collins, nervoso, entrou no banco do carona.
― Na verdade, não.

Bruce respirou fundo, parecendo indignado.


― Obrigado, Jessica ― disse, alto o suficiente para que ela
ouvisse.
― Desculpa, irmão!
Eu não sabia o que fazer. O que ele queria? O que era o
recado? Deus, eram tantas perguntas.

Aproximei-me dele, um pouco insegura.


― Bom, mas o que você queria? Eu estou saindo para um
jantar...

― Queria levá-la para jantar comigo esta noite.

Nossos olhos se sustentaram por mais um tempo. Eu não


podia. Eu tinha feito uma escolha e não podia voltar na minha
palavra.

― Eu... Me desculpa, Bruce. ― Suspirei e desviei o olhar. ―


Não posso, Collins já deixou tudo reservado.
Bruce assentiu, parecendo chateado, mas o que eu poderia
fazer?
Eu sabia o quanto eu era uma burra, porque aquele homem
continuava tão lindo, tão perfeito dentro daquele terno, tão
cheiroso...

― Entendo. ― Ele suspirou. ― Jessica me disse que vocês


vão fazer a abertura de um show amanhã.
― Vamos sim ― respondi, insegura.
O silêncio continuou entre nós e as coisas que precisávamos
falar um para o outro continuavam penduradas, nos lembrando de
como era bom a verdade e a sinceridade.

― Bem, eu... ― falei devagar. ― Posso ir até o bar... Talvez.


Bruce enfiou as mãos no bolso da calça e abriu um meio-
sorriso.

― Não há mais o bar.


― Não? ― Arregalei os olhos e no mesmo instante tentei me
recompor. ― Er... bom, o que houve?

― Eu demoli ― respondeu. ― Loren está na cadeia e lá ela


não precisa mais do meu dinheiro, então, achei melhor destruir
aquela porra.
Uau.

Aquilo me pegou de surpresa. Se Bruce destruiu o bar era


porque não queria mais manter aquelas memórias?
― Boa sorte, então ― ele falou, depois de um tempo em que
estávamos novamente em silêncio. ― Foi bom revê-la... Você está
linda, como sempre.
― Obrigada, Bruce. Foi bom te ver também. ― Abri um meio-
sorriso, envergonhada, por ter deixado tudo para trás. ― Mande
lembranças minhas para Caroline.

― Tudo bem. Ela sente a sua falta. ― Bruce suspirou. ― Se


puder, antes de voltar para Nova Iorque, vá visitá-la.
Fiquei paralisada quando Bruce se aproximou e me deu um
beijo demorado no rosto. Um beijo que rasgou a minha alma de uma
ponta a outra. Segurei as lágrimas e vi quando ele virou as costas e
se foi em seu carro.

― Você é uma idiota, garotinha! ― Collins gritou de dentro do


carro. ― Agora, vamos logo! Estou morrendo de fome!
Deus, o que era aquilo que tinha acabado de acontecer?

Levei a mão até meu rosto, onde o beijo foi depositado.


Fechei os olhos e suspirei, pesadamente.
Collins tinha razão: eu era mesmo uma idiota.
Capítulo 46

Porque nós perdemos tudo

Nada dura para sempre


Sinto muito, eu não posso ser perfeito
Perfect – Simple Plan

Lauren

Depois do fatídico encontro com Bruce, entrei no carro,


mesmo sem saber, o que eu queria da vida naquele momento.
Estava muito desanimada, mas quando chegamos ao restaurante,
fui surpreendida com algo que iluminou a nossa noite.
O jantar, não era apenas com Collins. Era com os membros
da banda, na qual, nós abriríamos o show. Eles eram lindos,
simpáticos e, claro, conversaram conosco durante toda a noite.
Nem parecia que éramos os novatos.
Em certo momento da noite, pedi licença para ir até o lado de
fora. O lugar onde estávamos tinha uma grande sacada, que nos
dava uma vista privilegiada para a cidade.

Estava tudo perfeito, exceto, pela falta que Bruce me fazia.


― Gosta de ficar sozinha? ― Virei para ver quem era e me
surpreendi quando vi Justin, o vocalista da banda.

― Um pouco. ― Sorri.
Ele se aproximou mais e ficou ao meu lado. Justin tinha os
cabelos claros, era um pouco mais alto que eu, musculoso e
cheirava muito bem.
― Gostei muito do som de vocês. Acredite em mim, vocês
têm um caminho de sucesso pela frente.
― Tomara. ― Sorri novamente e continuei observando a
paisagem à minha frente.
Justin tirou um maço de cigarros do bolso e o acendeu.
― Você fuma? ― perguntou.

― Não, obrigada ― recusei, mesmo sabendo que eu fumava


sim. Bem, talvez, não mais.

Ele ergueu as sobrancelhas e tragou o cigarro.


― Admiro você. Eu queria forças para largar isso, mas quem
disse que consigo?

Pois é, eu não sabia nem de onde eu tinha conseguido forças


para largar aquele vício e todas as outras coisas que eu fazia
quando conheci Bruce.

Situações assim só me mostravam o quanto eu amadureci


desde que conheci aquela família.
― Você tem namorado? ― ele perguntou.

― Não...
Justin assentiu.

― Mas pelo jeito, ainda pensa nele.


Ele tinha razão e eu ri, mesmo que a minha vontade fosse
chorar.

― Eu o deixei.
Cruzei os braços, quando um vento frio passou por mim.

― Sério? ― Justin se colocou à minha frente. ― Você tem


mesmo cara de quem destrói os corações por aí.
― Não é isso. ― Revirei os olhos. Qual era a necessidade de
se explicar para um estranho? ― Eu não sou boa o suficiente para
ele. Bruce é... Ele é demais. No começo nós nos odiamos, claro.
Porque ele era controlador e cheio de regras, um imbecil, na
verdade. Mas depois, ele se tornou tão cavalheiro, tão gentil. Apesar
de ter escondido uma coisa muito importante que me levou a fazer
algo ruim.

― E esse algo ruim determinou que você não é boa o


suficiente para ele ― Justin completou.

― Sim. É bem isso.


Justin respirou fundo, fumou mais um pouco do cigarro e me
olhou no fundo dos olhos.

― Olha, Lauren... Ninguém é bom o suficientepara ninguém.


O ser humano é assim, sempre vai fazer alguma merda que vai
machucar o outro. O que importa é que se você o ama e está
disposta a fazeresse relacionamento dar certo, vá em frente.Dá um
chute nesse pensamento negativo e não o deixe escapar. Porque eu
te garanto, se você não fizer isso, alguma mulher por aí vai fazer
.
As palavras de Justin entraram na minha mente e, realmente,
faziam sentido. Mas, mesmo que eu estivesse disposta a aquilo, já
tinham se passado seis meses. Bruce não me procurou mais,
apesar de me cercar esta noite.
Era só chegar perto de Bruce para que os meus
pensamentos ficassem pulando como pipoca de micro-ondas.
― Obrigada, Justin ― agradeci, sendo sincera. ― Você
também passou por isso?

Ele riu.
― Não, não. Na verdade, eu sou casado há sete anos e amo
a minha esposa mais que tudo. Ela está grávida, por isso, não pôde
estar aqui esta noite. Sabe como são os enjoos, né.
― Ah, nossa! ― Respirei, aliviada. ― Você é casado, então.
Justin arqueou a sobrancelha.

― Não achou que eu estava afim de você, não é?


Arregalei os olhos.
― Não, claro que não.
Justin riu.
― Acho bom, garotinha.

Por que diabos todo mundo estava me chamando de


garotinha naquela noite?
Revirei os olhos e continuei conversando mais um pouco com
Justin, até que nós voltamos para dentro e continuamos rindo com
os demais, e planejando como seria a nossa tão sonhada
apresentação.

O dia estava uma loucura logo cedo.


Collins apareceu na porta do nosso quarto e, literalmente, me
derrubou da cama e me arrastou pelos braços até uma sala
separada.
“Ensaiem o repertório de vocês. Não quero que seja bom.
Quero que seja perfeito. Não me façam sentir o gosto do
arrependimento ao investir meu tempo e dinheiro em vocês!
”.
Pois é, Collins se comportava como um cretino quando a
coisa envolvia dinheiro.

Ensaiamos por algumas horas. Passamos e repassamos todo


o repertório e a cada dia criávamos uma ligação incrível. Desde a
primeira vez que tocamos juntos, sem sequer ter ensaiado, já
sabíamos que aquela banda seria forte.
Com as horas passando rapidamente, não tínhamos muito
tempo.
Antes de sairmos do hotel, olhei mais uma vez para o buquê
e peguei o cartão, enfiando-o na minha bolsa. Eu não queria ler o
que estava escrito ali, porque sabia que era apenas um convite.
Mesmo assim, talvez aquele carinho que Bruce teve ao
mandar aquelas flores, me trouxesse sorte. Eu não sabia, por isso,
não podia arriscar.

Ao chegarmos ao local do show, nos guiaram para os


camarins. Eram duas salas, totalmente brancas, porém, bem
decoradas. Na mesa central, havia muitas frutas, doces e sucos.
― Nada de suco gelado para a senhorita ― Collins reclamou.
― Eu avisei esses filhos da puta que aqui não era para ter essa
coisa gelada.
― Hey, calma aí,papa-léguas ― falei,tentando acalmá-lo. ―
Não vou tomar. Minha voz está ótima, veja.

Aproximei-me do seu ouvido e gritei:AHHHHHHHHH.


Collins quase me empurrou do outro lado da sala, porém,
todos os outros riram.
― Você tem sorte, Lauren ― ele falou,muito furioso.― Você
tem sorte por ser talentosa.

― Obrigada, monsieur. ― Me abaixei em uma reverência


debochada e Collins saiu do camarim, pisando fundo.
Continuamos por algum tempo no meu camarim,
conversando e rindo de coisas aleatórias. Se eu falasse que não
estava gostando do meu minuto de fama, seria mentira. Aquilo era
incrível!
E eu mal podia esperar para entrar no palco.
Depois de algumas horas, nosso figurino foi entregue. Era
básico, um vestido preto que ia até os joelhos, meia calça toda
rasgada, tênis All star. Uma profissional também foi enviada para
cuidar dos meus cabelos e da minha maquiagem.

― Você é tão bonita, minha jovem ― ela disse, enquanto eu


estava distraída mexendo no celular.
― Obrigada. ― Sorri. ― Esta é a minha primeira
apresentação. Você deve imaginar o quanto estou nervosa, não é?
Veja só, estou até falando demais.
A mulher riu.
Ela lembrava muito a Oprah Winfrey. Uma mulher negra, com
um belo sorriso e, também talentosa, pois o seu trabalho com os
meus cabelos estava ficando perfeito.

― Ahhh você não é a primeira, menina ― ela falou. ― Faz


mais de trinta anos que eu cuido de artistas. A cada show é um
nervosismo diferente.
― Sério? ― me interessei. ― De quem você já cuidou?

― Hummm... ― Ela suspirou. ― Lembra-se da Britney


Spears, logo quando ela começou?

― Lembro.
― Então, eu cuidei dela na época. Mas depois, ela escolheu
outra pessoa para fazer isso.

― Entendi. ― Sorri. ― Mas, uau, estou me sentindo


importante.
― Você é importante. ― Ela sorriu. ― Me disseram que você
era uma jóia preciosa e que eu deveria cuidar de você com todo
amor e carinho que uma princesa receberia.
Uau.
― Aposto que Collins disse isso. ― Relaxei no lugar.
― Não, não ― ela continuou, concentrada no meu cabelo. ―
Senhor Hastings. Ele é um amor. Você já viu a filha dele?

Meu coração quase parou.


Bruce estava ali?

― Você disse, senhor Hastings? ― Arregalei os olhos. ― Ele


está aqui?
― Oh, não ― a mulher falou e eu murchei no lugar. ― Ele
falou comigo há alguns dias.

― Ah, sim.
Suspirei pesadamente e a mulher continuou com seu
trabalho. Era óbvio que Bruce não iria até ali. Ele, provavelmente,
tinha ido ao hotel na noite anterior apenas para...
Bem, eu não fazia a menor ideia do por que ele tinha ido até
lá.

A hora do show chegou e antes de irmos para o palco, Josh e


Brandon foram até o nosso camarim.

― Pois é, chegou a nossa hora ― Josh falou. ― Nunca


acreditei que isso daria certo. Sério, achei que...
― As coisas demorariam muitos anos para acontecer ―
Brandon emendou.
― Eu também achei. Aconteceram rápido demais. Não sei se
fico feliz ou impressionada.
― Pode ficar os dois. ― Jessica sorriu. ― Você sempre teve
talento. Só precisava cair nas mãos certas. Eu te falei que se
fôssemos para a Califórnia, teríamos chances maiores.

― Que você quase estragou ao bater no carro do Bruce ―


Brandon falou, debochado.
― Mas aquilo não foi culpa minha ― retruquei. ― O culpado
está aí, Josh!

Nesse momento, Josh já estava com a boca cheia de


biscoitos que ele tinha pegado em cima da minha mesinha.

― Eu já pedi desculpas! ― ele falou, ainda com a boca cheia.

― Nossa, como você é ridículo. ― Jessica bateu em suas


costas.
Nós sorrimos uns para os outros e nos abraçamos. Aquilo era
apenas o começo do que ainda estava por vir em nossas vidas.
Eu tinha quase certeza.

Quando todos saíramdo camarim, respirei fundoe segurei as


lágrimas, ao pensar que minha mãe, se estivesse viva, poderia se
orgulhar de mim, pelo menos, uma vez. Apesar de um dia a ter
odiado por nunca ter sido uma “boamãe”,agora já não a odiava
mais.
Aproximei-me da minha guitarra e arrastei o dedo pelas
cordas.
― Espero que onde você estiver, veja a mulher que me
tornei.

― VAMOS, LAUREN! ― Collins gritou do outro lado da porta.


Essa era a hora.

Engoli meus medos, minhas frustrações e tudo aquilo que


poderia me distrair.
Foco era a palavra-chave naquele momento.

Peguei o bilhete de Bruce e o coloquei no meu sutiã. Aquilo


me traria sorte.

Respirei fundo, fechei a porta do meu camarim e segui meus


amigos. Passamos por um corredor cheio de pessoas, quando ouvi
anunciarem o nosso nome. Brandon foio primeiro a entrar no palco,
sendo recebido por uma chuva de palmas, gritos e assovios.

Logo depois, entrou Josh, com seu jeito louco e animado,


despejando sensualidade para as mulheres. Quando anunciaram
Jessica, ela me olhou com um sorriso animado antes de sair
correndo para o palco, mostrando que estava ali para arrasar.
Vamos, Lauren. Essa é a sua chance.
Respirei fundo, mais uma vez, e ao anunciarem o meu nome,
eu fui.

E a sensação de ser acolhida por centenas de pessoas era


indiscutível. Fiquei um tempo olhando tudo ao redor, enquanto a
melodia preenchia os meus ouvidos.
Brandon começou a tocar a bateria, assim como Josh e
Jessica estavam arrasando nas suas partes, porém, no momento
em que abri a boca para cantar, o som não saiu.
Minha respiração ficou acelerada, minhas mãos ficaram frias
e meus pensamentos começaram a pular, mais uma vez.
Essa não.
Capítulo 47

Toda vez que eu penso que já tive o suficiente disso

Eu fico mais viciado, sim, estou tão obcecado


Falo de você o tempo todo, eu sou seu narcisista
Bem, se nós nos queimarmos, você será o meu incendiário

Flames – Avril Lavigne feat. ModSun

Lauren

Olhei para os lados e foi como se eu tivesse sido


transportada para os acontecimentos anteriores.
A descoberta da verdade, o hospital, o beijo de despedida, o
olhar de Bruce na noite anterior, as palavras de Justin.

“Eu te garanto, se você não fizerisso, alguma mulher por aí


vai fazer
.”

Estava tudo perfeito, exceto, pela falta que Bruce me fazia.


Abri a boca novamente, mas não consegui cantar.
Jessica me olhava com interrogação e os outros já estavam
ficando impacientes.
Essa não!
― Não posso. Me desculpem ― murmurei no microfonee saí
correndo do palco.

Eu tinha que fazer aquilo.


Bruce não foi atrás de mim na noite anterior por nada. Ele
queria algo e eu precisava saber o que era.
Enquanto corria, ouvi os gritos histéricos de Collins e de mais
algumas pessoas, porém, não parei para dar ouvidos. Eu precisava
sair dali.
Corri com mais pressa em direção à saída. Enquanto isso,
tirei o bilhete do meu sutiã e o abri:

“Temos uma conversa inacabada, senhorita Stewart. Esteja pronta


às sete.”

Eu sabia que era loucura. Eu estava literalmente correndo e


deixando para trás o meu sonho. Mas eu não podia seguir em
frente, enquanto não ouvisse o que ele tinha a me dizer.
Mesmo que fosseum:“teodeio, Lauren”era melhor do que ir
embora sem saber o que ele queria.

― A saída, onde é? ― perguntei para alguns membros da


equipe, que estavam ocupados demais para me dar atenção e
simplesmente ergueram um dedo na direção em que eu estava.

Quando finalmente consegui sair do local, olhei para a rua


constatando que eu tinha me esquecido de um pequeno detalhe.
Eu não tinha um carro. Estávamos dependentes de Collins.

― Inferno!― gritei e nesse momento alguém me tocou. Olhei


para trás, encontrando minha amiga, que deveria estar planejando a
minha morte. ― Que susto, Jessica!
― Eu sei que Collins vai nos matar, mas... O Harry está na
rua de trás com aquela van ridícula que Josh emprestou aquele dia.
Vá até lá.

― Harry? ― perguntei, incrédula. ― O que ele está fazendo


aqui? E com a van?

Jessica sorriu, sugestivamente.

― Eu pedi que ele trouxesse uma pessoinha. Mas depois eu


te explico. Agora vá!
― Jess... Você sabe...
Ela suspirou.

― Eu sei que você e Bruce precisam conversar. Depois a


gente resolve essa confusão.
Pude confirmar que Jessica era mais louca que eu.

Aproximei-me dela, dei um beijo em sua testa e saí correndo


até a direção que ela havia me mostrado.

Ao chegar lá, avistei a van parada. Abri a porta do carona e


encontrei Harry dormindo.
― VAMOS ACORDAR? ― gritei, bem perto do seu ouvido.

― Ahhhhh que susto! ― Ele pulou do banco e levou uma


mão ao peito. ― Senhorita Stewart, eu já não tenho mais idade para
essas coisas!

― Calado, Harry. Onde está a menina? ― perguntei, olhando


para a parte de dentro da Van.
― Ela está no camarim. A deixei lá para te ver depois do
show.
― E Bruce? ― perguntei.
Ele deu de ombros.

― Saiu logo cedo, mas não falou para onde ia.


Afundei-me no banco, pensando onde Bruce poderia ter ido
naquele dia. Era claro que ele já tinha desistido de tudo.
― Harry, eu sei que é loucura, mas preciso encontrar o seu
patrão! Eu não abandonei um show com mais de cem mil pessoas à
toa.

Harry arregalou os olhos.


― A senhorita abandonou o show?

― Pois é. ― Dei de ombros. ― Tenho uma conversinha


pendente com o senhor Hastings.
― Mas como vai achá-lo? ― Harry perguntou.
― Para onde o seu patrão iria depois de um dia muito
frustrado?

Harry pensou um pouco, mas naquele momento eu já sabia


exatamente a resposta.
― Amiguinho, saia da Van porque agora eu vou assumir esse
volante!
Harry pulou para fora e eu liguei o carro, enfiando o pé no
acelerador. Foi aí que percebi que dirigir uma van não era como
dirigir um carro.

Girei o volante e virei à esquina, como se estivesse em um


filme de perseguição.
Aquilo era loucura? Totalmente.
Mas o que era uma van correndo alucinada pelas ruas de
São Francisco, comparado à minha audácia de deixar mais de cem
mil pessoas sem um vocalista?

E se Bruce não quisesse mais saber de mim? Eu iria me


arrepender profundamente de ter abandonado o palco, mas eu
precisava saber. Precisava ouvir de seus lábios que aquilo sempre
foi uma loucura.
Dirigi por uma boa distância e com a ajuda do GPS, cheguei
ao local que eu sabia que ele estaria.
Estacionei a van no começo do parque, desci e saí correndo
pelas pedras. Era finalde tarde e o parque já estava vazio, por isso,
não foi difícildistinguir a silhueta de Bruce admirando a paisagem,
composta pelo mar e por aquela linda ponte laranja. Eu devia ter
muita sorte, porque, nas duas vezes que a vi, não estava encoberta
pela famosa névoa.

O vento batia em meu rosto e mesmo que os meus medos


estivessem gritando para que eu recuasse e voltasse para a minha
vida, eu não podia.
Eu já tinha ido até ali. Iria até o fim.
― Eu sabia que te encontraria aqui ― falei,ao me aproximar.

― O que está fazendo aqui, Lauren? Você não tinha uma


apresentação para centenas de pessoas?
― Por que você foi ao hotel ontem? ― perguntei, indo direto
ao ponto.
Bruce ficou em silêncio, me encarando, e aquilo me matou a
cada segundo. Se ele queria que eu fosse embora, eu iria. Era só
pedir ou mandar, no caso de Bruce acho que “mandar” combinava
mais com o seu jeito.

― Me responda, por que foiao hotel ontem? ― Me aproximei


e nesse momento eu vi a tristeza refletida em seus olhos.
― Acho que quem deveria fazer as perguntas sou eu ―
Bruce retrucou e eu fiz a única coisa que eu sabia: revirei os olhos.
― Acho que é justo. Pode começar.
Cruzei os braços e esperei a primeira pergunta.

― Por que você me deixou quase morto no hospital e fugiu


como uma covarde?
― O quê? Covarde?
― Existe outra palavra para o que você fez? ― Ele arqueou a
sobrancelha e cruzou os braços. ― Abandonar o barco no meio de
uma tempestade é o quê?

Respirei fundo e desviei o olhar. Será que ele não entendia


que eu apenas estava preservando a sua vida longe de uma
inconsequente como eu?
― Você nunca me perdoaria.

― Por ter acreditado nas loucuras daquela mulher e ter


levado a minha filha até ela? Bem, tem razão. Eu tinha sérios
motivos para não te perdoar, mas, acredite Lauren, eu também tive
motivos para me odiar. Se eu, ao menos, tivesse te contado toda a
verdade...
Ficamos em silêncio, cada um olhando para o nada.
O barulho das ondas e dos carros que passavam naquela
ponte, encheram nossos ouvidos e ficamos ali, em silêncio, por um
bom tempo.
― Eu nunca te odiei ― Bruce continuou. ― Talvez, eu odiei,
quando acordei e recebi a notícia que você fugiu para Nova Iorque.

― E por que nunca me procurou? ― retruquei, encarando-o


magoada. ― Se você quisesse, teria me encontrado.
Bruce respirou fundo e balançou a cabeça.

― Como eu poderia interferir na escolha que você fez? ― Ele


desviou o olhar novamente. ― Você estava tão feliz com o rumo que
as coisas tinham tomado. E eu também fiquei feliz por você.
Confessoque nos primeiros dias tive a vontade de pegar um avião e
pousar em cima do seu prédio, no entanto, Jessica me falou que
você não queria tocar no meu nome. Tem ideia do quanto isso me
quebrou?

Nesse momento, eu já não tinha mais forças para segurar as


lágrimas, que ameaçavam correr pelo meu rosto. Então, deixei que
rolassem.
― Eu não sou boa o suficiente para você ― falei baixo, me
sentindo a pior das pessoas.

Bruce riu, mas soou um riso de indignação.


― Acho que quem tinha que averiguar isso...

― Era você ― completei, sabendo que aquilo era a verdade.


Caímos no silêncio, enquanto o vento batia em nossos
rostos. Será que seria possível um dia deixar de amar aquele
homem? Seria possível deixar de querer me atirar em seus braços
todas as vezes que eu o via?

― E agora chegamos à pergunta que vale algumas centenas


de dólares. O que você está fazendo aqui? ― Bruce perguntou.
Respirei fundo e mesmo que a minha vista estivesse
embaçada pelas lágrimas, o encarei.
― Bruce, eu sei que fuicovarde. Eu sei que deveria ter ficado
até o fim, esperando que você se recuperasse. Mas, acredite, eu
tive medo. Tive medo da sua reação. Eu jamais quis colocar
Caroline em perigo, eu amo aquela menina. ― Respirei e continuei.
― E eu também amo você. E, nesse momento, eu estou me
odiando porque mesmo que você tivesse enfiado o pé no meu
traseiro, eu poderia ter lutado por nós.

― Mas agora você tem algo pelo qual lutar ― Bruce falou,
com a voz ressentida.
― Mas nada daquilo vale a pena se você não estiver comigo.
― Me aproximei mais de Bruce, encarando-o. ― O brilho dos palcos
não vale a pena, se existir um buraco no meu coração.
Bruce fechou os olhos e eu me aproximei ainda mais.
Encostei meus dedos em seu rosto e o alisei depois de muito tempo
longe.

― Agora, se você não quiser, por favor, me diga de uma vez.


Eu vou embora e nunca mais vou cruzar o seu caminho.
Nesse momento, Bruce abriu seus olhos negros e me puxou
pela cintura.

― Não somos perfeitos, Lauren. Mas somos perfeitos um


para o outro e, se isso bastar para você, estarei feliz em te entregar
o meu coração mais uma vez.
― Me perdoa... Me perdoa... ― sussurrei. ― Você não tem
ideia do quanto você fez falta na minha vida.

Bruce colou sua testa na minha e sorriu.


― Me perdoe também. Eu fui um imbecil por ocultar a
verdade e também por não ter pousado o avião em cima do seu
prédio em Nova Iorque.
Nós sorrimos um para o outro e mesmo com o vento
bagunçando todo o meu cabelo, Bruce retirou os fios
cuidadosamente e desceu seus lábios até os meus. Envolvi seu
pescoço com meus braços e nós nos beijamos como se aquela
fosse à primeira vez.
A saudade estava dilacerando meu peito. Então, naquele
momento, pouco importava onde estávamos.
― Essa Van é bem fechada?― Bruce perguntou quando nos
afastamos para respirar.
― Sim. ― Sorri maliciosamente. ― É perfeita para nós.

Ele olhou para os lados e riu.


― Bruce Hastings trepando dentro de uma Van. Alguma vez
já pensou que isso poderia acontecer?

― E alguma vez já pensou que Bruce Hastings estaria


apaixonado novamente?

Seus olhos queimaram os meus.

Bruce nunca havia dito em voz alta, mas eu sabia. Eu podia


ver o quanto ele me amava.
― Issoé algo que nunca imaginei ― ele disse, abaixando-se
para me pegar no colo. Dei um gritinho e rimos juntos enquanto ele
nos guiava até a Van. ― E fico feliz que isso tenha acontecido.

Bruce me colocou no chão, abriu a porta traseira da Van e


entramos.

O parque estava vazio, e também ninguém nos condenaria


por querer matar a saudade ali.
Foi uma confusão o nosso beijo, tamanha a euforia e a
saudade que nos assolava.

Bruce estava afoito e foi difíciltirar as minhas roupas do


show. Ele conseguiu afastar a minha calcinha e sem cerimônias me
penetrou fundo.
Arfei, soltando um gemido quando ele me preencheu. Eu
havia sentido falta daquela sensação, do formigamento que
percorria o meu corpo todas as vezes que Bruce me proporcionava
um orgasmo.
― Eu te amo, Lauren ― ele disse, sua testa colada a minha
enquanto bombeava para dentro de mim. ― Porra, como eu te amo.

Suas palavras encheram o meu coração de alegria.


― Eu também te amo.

Ele beijou a minha boca com avidez, seu pau entrava e saia
da minha boceta com facilidade porque não havia como estar com
aquele homem e não ficar completamente molhada.

Por Deus, como eu pude ser tão idiota ao ponto de


abandoná-lo?

― Pronta para esquecer o passado? ― ele perguntou.


― Só se você estiver pronto para esquecer o seu.

Bruce sorriu.

― O meu já está enterrado.


― Ah, Bruce ― gemi de prazer. ― Céus, como senti falta
disso.

Apertei sua bunda e o forcei ainda mais para dentro de mim.


― Issoé só um alíviorápido, eu vou trancá-la em meu quarto
e vamos ficar lá por um mês.
― Isso é loucura, Bruce.
― Claro que é, mas vai valer a pena.

Ele me beijou novamente e acelerou suas estocadas. Não


importava se estávamos de qualquer jeito, praticamente vestidos, o
que importava era que aquilo selava a nossa reconciliação.
E agora haveria bastante tempo para nos amarmos
corretamente.

Depois que eu atingi o orgasmo, Bruce também se permitiu e


gozou dentro de mim.
Deitamos no chão da Van um de frente para o outro.
Estávamos cansados, mas satisfeitos.

― Eu quero te amar por todas as noites pelo resto das


nossas vidas ― ele disse, deslizando os dedos em meu rosto. ―
Você quer isso, Lauren?

― Com você? Eu quero tudo.


Ele sorriu.
Bruce era tão bonito.

― Você disse que demoliu o bar ― comentei. ― Mas o que


pretende fazer com o terreno?
― No começo pensei em fazer um parque. Mas depois,
decidi doar o terreno para um lar de crianças abandonadas. Nós
vamos construir algo grandioso lá, para acolher todas essas
crianças.

― Isso é lindo, Bruce. ― Acariciei seu rosto. ― Você é muito


mais do que eu poderia pedir a Deus.

― Você, Lauren, foi a minha luz na escuridão.


Ele me puxou para si, beijando-me mais uma vez.

― Como chegou até aqui? ― perguntou, curioso.


― Digamos que um anjo colocou seu mordomo no meu
caminho. ― Dei de ombros. ― No entanto, eu acho que peguei
algumas multas por excesso de velocidade no caminho.

Bruce riu e nesse momento seu telefone tocou.


― Ahn... quem será? ― Ele levou o aparelho ao ouvido e
depois de alguns segundos colocou no meu. ― É para você. É
Collins.

Puta merda.

Fodeu.
― Oi, Collins... ― falei, tentando soar calma.
― EU VOU TE MATAR, LAUREN SUA FILHA DA PUT
A!!!
Epílogo

Quando estamos só eu e você

Não precisamos de ninguém para nos dizer o que devemos ser


Nós continuamos aumentando o rádio
E se eu e você

Apenas levantarmos nossos dedos do meio pro céu


Vamos deixar eles saberem que ainda somos do rock and roll
Rock n Roll – Avril Lavigne

Lauren

― Tem certeza de que você quer fazer isso? ― Jessica


ergueu os olhos, após ler o papel em suas mãos.
― É claro. ― Bufei. ― Você sabe como sou.

Ela deu um meio sorriso.


― Sabe que isso aqui vai mudar a sua vida drasticamente,
não sabe?

― Eu sei, Jess. Mas o que posso fazer?


Jessica balançou a cabeça e me abraçou fortemente.
Um ano se passou e eu só podia dizer uma coisa:minha vida
mudou drasticamente desde que eu conheci Bruce Hastings. No dia
em que abandonei aquele show e fui atrás dele, eu soube que não
tinha mais volta.

Eu amava aquele homem e estava disposta a virar as costas


para tudo desde que eu o tivesse ao meu lado.
O que não foi necessário, porque Bruce sempre me apoiou
em tudo. Em cada show, ele estava lá. Era incrível, porque até
mesmo algumas de suas reuniões, precisavam ser reagendadas se
caíssem no mesmo dia que algum show.

O que mais eu poderia querer?


― Quem mais sabe disso? ― Jessica se afastou e me
encarou.

― Só você.
― Ai, meu Deus, que emoção! ― Ela sorriu. ― Eu vou te
ajudar com isso. Vamos.

Jessica puxou minha mão e eu não pude protestar, afinal,


com ela era sempre assim. Não havia meio termo. Se estávamos
naquela jornada, iríamos até o fim... E eu acho que isso era o que
eu mais gostava nela.

Jessica era tão louca quanto eu.

Bruce
― Deseja mais alguma coisa? ― Levantei os olhos e
Meredith ainda estava parada, me encarando.

― Não, obrigado. Se quiser ir para sua casa, pode ir ―


sugeri. ― Estou terminando um relatório e já vou também.
Meredith suspirou e se aproximou da minha mesa. Apesar de
tudo o que havia acontecido, ela ainda continuava se mostrando
uma secretária dedicada e eu não podia e nem queria abrir mão de
seu trabalho, apesar de algumas brigas acontecerem quando
Lauren, às vezes, vinha me visitar no escritório.

― Eu já ia me esquecendo ― ela faloue deixou um envelope


em cima da mesa. ― Um rapaz trouxe isso na hora do almoço, mas
você estava em reunião.
Olhei o envelope e meu coração se encheu de esperança ao
ver o que eu esperava há muito tempo.
Peguei o envelope e o abri no mesmo instante. Li as palavras
e suspirei, sabendo que aquilo era a minha definitiva liberdade.
― Finalmente. – Suspirei aliviado.

― Algum novo empreendimento? ― Meredith brincou e eu


sorri.

― Não, desta vez não. ― Me levantei rapidamente, pegando


a minha pasta e meu terno. ― Issoé a sentença de Loren e John.
Eles vão ter muito tempo para pensarem nas coisas que fizeram,
atrás das grades. Lauren vai adorar isso aqui.
― Lauren... ― Meredith suspirou. ― Você realmente a ama,
não é?
― Como nunca amei ninguém antes ― respondi, com toda a
sinceridade. Loren não havia sido amor. Loren havia sido um
relacionamento conturbado, cheio de problemas que me levaram a
dez anos de solidão.

Lauren era a minha luz.


― Fico feliz por você, Bruce. – Meredith se aproximou mais.
― É sério. Eu sei que sabe que eu tinha a esperança de conquistar
o seu coração, mas eu percebi que não daria certo. Apesar de tudo,
espero que possa me perdoar por ter agido de maneira tão errada
com sua filha. Eu tinha a ilusão de que seria apenas nós e falei
algumas coisas à menina que me arrependo profundamente.
Fechei a pasta e suspirei.

― Eu já perdoei, Meredith.
― Mas...
Aproximei-me dela e toquei seu ombro. Olhei no fundo de
seus olhos para ver se o que ela dizia era sincero.
― Issoque vou te dizer é algo óbvio, mas que às vezes não
praticamos. O passado deve ficarpara trás. Foi isso o que aprendi e
quero levar para o resto da minha vida.
Meredith assentiu.
― Além disso ― falei, dando de ombros. ― Os seus cafés
são os melhores. Mas não diga isso para as outras meninas, elas
podem ficar chateadas comigo.
Meredith sorriu e eu saí da sala, deixando-a para trás. Não
via a hora de chegar em casa e abraçar as duas pessoas mais
importantes da minha vida: Caroline e Lauren.

A maioria dos dias era assim, exceto, quando havia show.


Nesses dias, nós nos desdobrávamos para dar conta de todos os
afazeres. Mas... Eu só podia dizer o quanto me sentia feliz.
Sentia-me vivo de novo.
Apesar de tudo isso, eu sentia que precisava dar mais um
passo com Lauren. Aquele passo definitivo, que sela os
relacionamentos de uma vez por todas.

Casamento...
Eu sabia que ela não pensava nisso, muito menos,
demonstrava o desejo de entrar em uma igreja vestida de noiva.
Aquilo, definitivamente, não combinava com a sua
personalidade.
Eu queria pedi-la em casamento, mas não sabia como fazer e
nem por onde começar. Por isso, pedi a ajuda de Jessica, afinal,
elas eram tão próximas quanto se fossem irmãs de sangue.

E seria naquela noite.


Argumentei com Jessica, se no dia do meu aniversário era
uma boa ideia. Ela disse que era óbvio que sim e que era para eu
cuidar apenas do essencial: as alianças. E o restante, ela tomaria
conta.
E eu esperava que Jessica tivesse feito o melhor
.

Tirei a caixinha do bolso do meu terno e analisei o anel


perfeitamente delicado, que contrastava, mas ao mesmo tempo,
combinava com a personalidade de Lauren.
Será que ela me rejeitaria?

Respirei fundo, sabendo que aquele era um passo gigante


que eu daria mais uma vez. No entanto, eu sabia que agora eu
estava indo pelo caminho certo. Lauren era totalmente o oposto de
Loren. Ela era doce e rebelde, sincera e sarcástica. Lauren falava
tudo o que vinha à boca, mesmo que fosse um palavrão.
Chegamos em casa rapidamente. O trânsito estava tranquilo
e antes de sair do carro, respirei fundo.
O que Jessica havia preparado?

Abri a porta e olhei para os lados, não havia ninguém. Fui até
a sala de visitas, também não havia ninguém.
Nem sinal de uma festa.
Meu sangue começou a ferver ao perceber que Jessica não
havia feito nada para a ocasião. Eu não queria uma festa de
aniversário, queria apenas a oportunidade de pedir Lauren em
casamento de uma maneira diferente.

Fui até a cozinha e Harry estava sentado no balcão, lendo um


livro.
― Oh, patrão. ― Ele largou o livro e se levantou. ― Não vi
que o senhor já tinha chegado.
― Tudo bem ― respondi, já mal-humorado. ― Onde está
Jessica, Lauren ou minha filha?
― Elas saíram, patrão... Mas disseram que não demorariam.

Respirei fundo e balancei a cabeça, afirmativamente. Eu


mataria minha irmã!
― Vou tomar um banho, então ― resmunguei e saí da
cozinha. Tudo estava tão quieto, ao contrário do que eu havia
pedido para minha querida irmã
.
Subi as escadas e virei o corredor em direção ao meu quarto.
Abri a porta e me surpreendi ao ver uma caixa de papelão branca
em cima da cama.
Lauren... Só podia ter sido ela.
Eu havia dito que não queria presentes. Quem, depois dos
trinta anos, gosta de comemorar aniversários?

Coloquei minha pasta e o terno em cima do lençol e suspirei


antes de abrir a caixa.

Eu a abri e me surpreendi. Não havia um presente, nem um


bolo... Nem nada. Só havia um envelope.
Será que todos resolveram me presentear com envelopes
naquele dia?

Respirei fundo, peguei o envelope e o abri.

Foi então que ao ler o que estava escrito, meu coração quase
parou. Li aquelas palavras mais uma vez, li de novo e de novo.
Não podia ser.

― Feliz aniversário, meu amor. ― Ouvi a voz de Lauren e


olhei para trás, mesmo que naquele momento meus olhos
estivessem tomados pelas lágrimas.
― Isso aqui é sério? — Ergui o papel.
Ela sorriu. Aquele sorriso lindo que eu adorava.
― E eu mentiria sobre uma coisa dessas? ― Ela se
aproximou de mim. ― Feliz aniversário, você vai ser papai.

Pai... Papai...
Lauren me abraçou, mas eu ainda estava em choque. As
lágrimas desciam uma atrás da outra e eu não sabia o que falar.

Aquilo era possível? Sim, era muito possível!

Abracei Lauren e a levantei do chão, girando-a no ar.

― Hey! Vai machucar meu irmãozinho! ― Caroline entrou no


quarto com os braços cruzados.
― Ou irmãzinha. ― Jessica entrou logo atrás, com um
sorriso cínico. ― Desculpa, irmão.

Deixei Lauren no chão e ela de imediato nos encarou.

― Desculpa pelo quê?


― Eu tinha que escolher, ajudar você a contar isso para ele
ou ajudá-lo a pedir você em casamento. Ops...

Jessica levou a mão à boca, sabendo que havia falado


demais.
― Obrigado, Jessica. ― Bufei.
Lauren me encarou, com os olhos azuis arregalados.

― Isso... Isso é verdade? ― ela perguntou, parecendo


assustada. Eu sabia que a palavra “casamento”
ainda era demais
para ela.

Balancei a cabeça afirmativamente, mesmo que eu soubesse


que ela diria um “não” gigantesco.
Tirei a caixinha do bolso e estendi para ela. Lauren a pegou e
abriu, analisando a joia que seria sua, se ela aceitasse.

― Casamento... ― ela disse baixinho, e nesse momento, eu


vi as lágrimas formando em seus olhos.
― Não quero pressioná-la a nada ― falei, quase me dando
por vencido. ― Se você achar que esse é um passo largo demais,
eu vou entender. Mas, também quero que saiba que para mim não
existe outra pessoa. Você é a única que eu quero chamar de “
minha
esposa”.

Lauren balançou a cabeça, enquanto as lágrimas desciam de


seus olhos.

Ela diria não.

― É claro que eu quero, Bruce. Eu já estava esperando isso


faz tempo!
― Ufa... ― Jessica sorriu. ― Ainda bem que deu certo.

Ela e Caroline trocaram piscadelas e eu ainda não sabia se


tinha ouvido corretamente.

― Você disse sim?


Lauren me abraçou.

― É claro que eu disse sim. Não existe outra pessoa no


mundo que eu queira chamar de “
meu marido”.

Abracei-a fortemente e foi impossível segurar as lágrimas.


Logo, Jessica e Caroline se juntaram a nós e eu soube que ali era o
único lugar onde eu queria estar.
Nos braços da minha família.

Nos braços de Lauren...


E nos braços dos meus filhos... Caroline e o pequeno que já
estava no ventre daquela que seria em breve, a minha esposa.

― Mas e os shows? ― perguntei, de repente. ― Como


vamos fazer?

― Vamos dar um jeito. ― Lauren sorriu. ― Acho que as


pessoas não vão se importar se uma barriguda fizer o show.

― Claro que não.


― Vou pedir para o Collins preparar um banquinho para você
― Jessica brincou e nós rimos.
E continuamos rindo, sabendo que ali era o lugar certo para
ficarmos:nos braços um do outro. Porque nem mesmo a distância,
os problemas ou qualquer que fossem os dilemas, poderiam nos
separar.

Finalmente éramos uma família feliz.


Porque o amor transformou as nossas vidas.

“Eu esperaria aqui para sempre só para


Para ver você sorrir
Porque isso é verdade

Eu não sou nada sem você”

With Me – Sum 41
Fim.
Recadinho da Autora

Olá! Se você chegou até o final, MUIT


O OBRIGADA!

Revisitar a história de Bruce e Lauren foi um desafio grande,


mas eu adorei o resultado. Um amor que supera todos os
obstáculos, mesmo que no começo foi preciso bater a cabeça
muitas vezes.

Se você gostou desta história, não deixe de avaliar na


Amazon, Skoob, Goodreads e fique à vontade para me marcar no
Instagram,enviar mensagem, surtar e etc... nós autores vivemos do
surto de vocês. : )
Mais uma vez: MUIT
O OBRIGADA!
Agradecimentos

São muitas pessoas que preciso agradecer aqui, mas em


primeiro lugar: a Deus, que é o meu amor maior. Quem me dá
forças nos momentos de tristeza e desânimo. Depois, às minhas
leitoras que gostam e apoiam o meu trabalho. Às meninas do
Bonde! Vocês são demais! Eu amo todas. Aline e Luana, betas
maravilhosas que surtaram muito com esse livro. Bah Pinheiro,
minha revisora e amiga para todos os momentos. Aos meus pais e,
principalmente ao meu marido, que não mede esforços para me ver
feliz.
Muito obrigada!
Sobre a Autora

Nascida e criada em Jacareí, interior do Estado de São


Paulo, Olívia é casada e mamãe de um gato laranja. Desde criança
sempre foi apaixonada por livros, gastando horas dentro da
biblioteca da escola. Aos quinze anos começou a escrever fanfics
que conquistaram leitoras em sites como Nyah! Fanfiction. Sempre
gostou de criar personagens femininas fortes, que apesar de seus
conflitos interiores, lutam pelos seus sonhos. Acredita que os livros
transformam as pessoas.

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