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Tá Chovendo Ceo - Graci Rocha
Tá Chovendo Ceo - Graci Rocha
O que eu me tornei
Minha mais doce amiga?
Todos que eu conheço vão embora
No final
O que me tornei
Minha mais doce amiga?
Todos que eu conheço vão embora
No final
É isso. Eva, com aquele seu olhar intrigante, sua voz rouca e o jeito
espevitado bagunçou tudo dentro de mim.
Absolutamente tudo.
Depois de tomar café da manhã e almoçar no quarto, aproveito para
colocar as demandas do escritório em dia durante uma boa parte da tarde.
Quem diria que a internet do hotel podia ser tão boa, hein?!
Finalmente resolvo encarar a maldita convenção, ou meu chefe vai
acabar me demitindo, afinal de contas, pra que eu iria em um evento desses
se não fosse para levar novidades na volta?
Me inscrevi em uma apresentação de tecnologias para o mercado
armamentista, sobre programas administrativos com proteção extra contra
hacker. Muito animador (sim, estou sendo irônica).
O problema é que, enquanto desço de elevador, uma sensação de
apreensão toma conta de mim, como é que vou fazer pra me livrar da
perseguição dos CEOs?
Antes de sair do quarto, coloquei um conjunto de terninho social todo
em xadrez, com uma blusa preta discreta, um lenço ao redor do pescoço e dos
cabelos, que domei com muita dificuldade (eu sei, tá um calor danado, mas
preciso me esconder) e um par de óculos escuros grandes que ocupam quase
todo meu rosto.
Olho para a imagem diante do espelho do elevador e rio. Meu Deus,
estou terrível, tão terrível quanto alguém pode ficar ao tentar se disfarçar. Pra
ficar pior do que estou preciso só de um bigode daqueles dos bandidos dos
filmes de faroeste.
Sim, um bigode, ou seja, não falta muito.
Se bem que... com esse lenço eu quase pareço uma mulher dos anos
60. Até que não é tão ruim. Só uma ajeitadinha aqui e ali e sou a versão plus
size da própria Jackie Kennedy[10]. Tudo bem, não é para tanto.
Resmungando com a minha maluquice, espero a porta abrir e me
esgueiro pelo saguão, escapando para a rua antes que alguém me note.
Caminho com pressa, desta vez o salto baixo me dá alguma vantagem.
O centro de convenções é na mesma quadra do hotel, na verdade é há
poucos metros de distância e tão logo o avisto, me apresso a entrar e cobrir
melhor meu rosto, transformando o lenço numa versão fajuta de burca.
Assim que piso dentro do saguão sinto uma onda de ansiedade
percorrer meu corpo, o que eu não daria por um pote de sorvete agora, nada
mais reconfortante que isso... suspiro, tentando decidir rápido o caminho que
vou seguir.
Tarde demais.
Antes que eu dê dois passos sequer já estou cercada por três ou quatro
homens de terno, dois deles reconheço da fila que se engalfinhou ontem,
enquanto eu e Derek tentávamos escapar para um jantar que acabou
ganhando proporções épicas.
Afasto a lembrança do que aconteceu depois que escapamos dos
brutamontes enfeitiçados, porque só de pensar nas coisas que Derek me disse,
em como me senti diante da sua ânsia em me tocar, já fico quente como um
forno de pizza.
— Oi, princesa — a voz do homem com um hematoma roxo nos
olhos me desperta do transe. Pulo de susto quando sinto a mão dele na minha
lombar. — Vem, vou levar você...
— Me levar? — Encaro-o, confusa.
— Sim, amor, levar você pra um lugar lindo, tenho tudo planejado.
— Ah, é? Então me conta, querido, o que você planejou? — Fecho a
cara, mas ele entende totalmente errado e abre um sorriso todo iluminado e
sexy.
Não, ele não é feio, pelo contrário, é tão gostosão que talvez em uma
situação diferente eu até apreciasse esse seu jeito arrebatado, mas não hoje,
não com esse feitiço maluco pairando sobre nós.
— Vamos pra Vegas, lá podemos nos casar, vou fazer reserva no
hotel mais bonito e caro, minha deusa. Vou servir morangos e champagne
direto nos seus lindos lábios.
Meu Deus, a coisa fica cada vez mais louca.
— Depois... — ele continua, praticamente delirante. — Vamos
consumar nosso amor, formar uma linda família e...
— E ter um final feliz digno de um conto de fadas? — pergunto,
irritada.
— Sim, isso, meu amor, vamos morar em um palacete, vou mimar
você com joias, perfumes, tudo que que quiser.
— Eu não quero mimos. — Afasto as mãos dele de mim. — Eu quero
um amor, um de verdade, com defeitos, qualidades, brigas desnecessárias por
causa de alguma coisa idiota como a toalha molhada na cama. Eu quero
acordar tarde no domingo, disputar o último biscoito do pacote, queimar o
assado da Ação de Graças. Eu quero a coisa real.
— Eu te dou, tudo que quiser, minha rainha — outro engravatado me
diz, empurrando com força meu pretendente de olho roxo.
Esse é loiro e mais alto, tem um porte estilo viking e posso ver o
começo de uma tatuagem escapando pela gola da camisa social. Merda, um
maldito viking? Cleo, sua cigana terrível, assim é maldade.
Olho ao redor para ver se encontro Derek, ele sempre dá um jeito de
me salvar desses doidos, é instintivo e não o ver só aumenta a necessidade de
sentir o conforto e a segurança do seu sorriso, da sua postura protetora. Meu
Deus, de repente sinto falta até da sua pose de briga, com aqueles punhos de
boxeador dos anos 1920 erguidos e a carranca brava no rosto.
Por que é que, mesmo sabendo que ele está agindo assim por causa do
feitiço da Cleo, eu continuo pensando nele, no seu jeito e nas suas
provocações?
Talvez porque conversar com ele sobre todo tipo de coisa tenha me
feito sentir um pouco mais normal no meio de toda essa bagunça, os assuntos
fluíram com muita naturalidade, menos quando estávamos dando uns
amassos, claro.
Queria que ele não estivesse sob o feitiço, queria que fosse de
verdade, eu poderia me apaixonar por aquele jeito torto e o sorriso safado.
Ah, sim, eu poderia sim.
Escapo do grupinho enquanto discutem sobre qual deles vai fugir
comigo para casar em Vegas e entro num dos auditórios. Afundo no primeiro
banco que vejo, puxando a gola do meu terninho para me esconder e
embolando ainda mais o lenço nos meus cabelos.
Mas não dá outra, o apresentador que fala sem parar sobre
mecanismos de segurança empresarial se vira pra mim e abre um sorriso
torto. Merda!
Ele larga o microfone sem se importar com o estrondo e começa a
correr na minha direção. Em pânico, me coloco de pé e começo a olhar para
os lados, em busca de um jeito de chegar à saída antes de ele chegar a mim.
As poucas mulheres do ambiente me olham espantadas e eu não faço
ideia de como explicar a maluquice que se desenrola bem diante dos meus
olhos.
Os mais de cinquenta homens de terno, espalhados pelo auditório,
também se levantam e começam a correr na minha direção, me chamando de
coisas como meu amor, minha rainha, minha princesa, deusa...
Merda, merda, merda.
— Minha nossa senhora das peitudas enfeitiçadas, o que eu faço
agora?
Pulo pra cima do banco, tentando correr pelas cadeiras conectadas que
me lembram muito as salas de cinema. Enquanto me equilibro e dou graças
por ter vindo de calçado baixo, sinto mãos raspando nas minhas costas.
Ai meu pai do céu, me socorre aqui, não nasci para ser o prêmio de
ninguém.
Corro pelas cadeiras, dando pulinhos e rezando para não acabar
estatelada de cara no chão, enquanto isso, a gritaria dos CEOs apaixonados só
aumenta. Alguns se esmurram de um jeito assustador. E as mulheres fogem
por uma porta do lado oposto de onde estou.
— Valeu pela ajuda — grito para a última, que espia antes de bater a
porta com ela para o lado de fora.
Eu me distraio por um instante e alguém agarra meu lenço, só espio
de relance, voltando a correr por todo o auditório entre corredores e cadeiras.
Procuro por uma brecha no tumulto, tentando chegar até a porta que
as mulheres usaram para fugir da loucura, quando noto que o homem que
pegou meu lenço o empunha como um prêmio e três outros se jogam pra
cima dele, criando outro foco de briga.
Corro de um lado, mas um baixinho tranca minha passagem subindo
em um dos bancos e abrindo os braços pra mim, à espera de um abraço, viro
e volto, mas outro me cerca. É agora, agora eu tô ferrada.
Pulo para o corredor, tentando chegar à maldita porta. Os gritos me
deixam nervosa, e juro por Deus que se eu ouvir mais alguém me chamando
de meu amor vou ter um treco.
É quando sinto algo mexer atrás de mim, me puxando com força.
Levo um segundo para entender que estive encostada em uma porta e
que alguém a abriu e me puxou para fora.
Viro, na expectativa de ver Derek e me surpreendo quando me dou
conta de que na verdade é Mila, a empresária que criou a IA que quase me
matou de vergonha no primeiro dia de Convenção.
— Você está bem? — ela pergunta com seu sotaque brasileiro. —
Ouvi uma gritaria e tomei um susto quando a vi em cima dos bancos. Tentei
chamar você, e como não pareceu escutar, esperei que chegasse mais perto.
— Graças a você estou viva, obrigada.
A porta se abre num rompante e eu arregalo meus olhos quando vejo a
confusão de homens se espremendo para passar por ela.
— Tô ferrada.
— Vem comigo.
Mila me guia pelos corredores, entrando e saindo de auditórios e salas
fechadas. Ela é inteligente e ágil, apesar de ser pequena e, ao que tudo indica,
sabe exatamente para onde está me levando.
Paramos diante de uma porta, no último corredor. Ela fala algo,
colocando a mão no ouvido.
— Oscar, a porta. — E então eu entendo que ela está conversando
com sua IA, talvez ele a tenha guiado todo o tempo.
Assim que a porta eletrônica apita e nós entramos, Mila a bate com
força e pede para sua IA trocar a senha enquanto estivermos ali, impedindo
que qualquer pessoa entre.
É um tipo de sala de reuniões menor que os auditórios onde a
convenção ocorre, fica longe das barracas de demonstração, do stand de tiro e
tudo mais, embora tenha um grande ar-condicionado funcionando a todo
vapor, parece não receber ninguém já algum tempo.
Sento em uma das cadeiras e dou uma ajeitada nos meus cabelos,
tentando acalmar meu coração que bate frenético e ansioso, com medo que a
confusão me encontre outra vez.
— Então, o que foi aquilo, Eva?
— Você lembra de mim. — Sorrio, surpresa pra valer.
— Claro, não é todo dia que cruzo com um gênio por aí.
Rio alto e Mila faz uma grande interrogação no seu rosto.
— Gênio é você, eu não passo de uma secretária executiva.
Mila bufa, como se discordando de mim.
— Nem todos os gênios são donos de empresa, alguns são pessoas
comuns, outros são loucos e existe alguns como eu, uma mistura das duas
coisas. Qual deles é você?
— Do tipo que experimenta as coisas.
— Certo, então você ainda está tentando se encontrar, é isso?
— É, acho que sim, a verdade é que na maior parte dos empregos que
tive acabei ficando muito entediada e tentando algo novo.
— Interessante.
— Ah, não me julgue — resmungo e ela sorri. — Eu tenho alguns
investimentos para o futuro, não preciso de um emprego de vinte e quatro
horas, mas eu gosto de estar em movimento.
— Notei, até agora pouco você estava praticamente correndo pelo
auditório do que deveria ser uma das palestras mais tediosas do universo.
— Meu Deus, nem me lembre que chega a me dar nervoso só de
pensar. — Esfrego o rosto, apoiando minha cabeça na mesa e
choramingando. — Isso é tudo culpa daquela velhinha doida.
— Velhinha doida?
Respiro fundo e conto tudo o que passei nos últimos dias, não
escondo absolutamente nada, bem porque depois do que Mila viu, nada pode
piorar a minha imagem. Ela escuta com atenção, seus belos olhos me
analisam bem.
— Uau, é uma história e tanto.
— Nunca mais tento salvar ninguém — resmungo.
— E o que você vai fazer pra sair dessa confusão?
— Você não acha que eu sou doida? — E lá vai ela me surpreender
outra vez, com seu olhar sereno de quem tem a vida ganha.
— Eu já vi muita coisa nessa vida, não duvido de nada mais.
Suspiro outra vez, parece que estou fazendo isso bastante desde que
isso tudo começou.
— Sabe, talvez essa velhinha, essa Cleo, seja um tipo de guia
espiritual te ensinando algo importante.
— Me ensinando a correr de homens lindos e ricos? — ironizo e ela ri
alto, de um jeito natural e lindo.
— Você só precisa descobrir o que é que ela quer que você aprenda,
qual é a lição, quando isso acontecer você vai se livrar dessa confusão. E
quem sabe, o tal do Derek por quem você está caída seja o seu par.
— Como você e o seu magnata?
— Isso.
— Mas o Derek está enfeitiçado, ou melhor, eu estou enfeitiçada e
por isso ele me quer.
— Bom, não tem como ter certeza até que você quebre esse feitiço. O
amor pode surgir de maneiras nada óbvias, Eva e isso não quer dizer que seja
menos verdadeiro por isso.
Mila e eu ficamos conversando por mais algum tempo, ela me conta
um pouco da sua história e de como enfrentou um perigo de quase morte e de
quebra ainda me ofereceu a vaga de secretária na Faces, se um dia eu quiser
experimentar um novo chefe.
Não vou mentir, eu gosto da ideia de trabalhar para uma mulher
extremamente inteligente, sagaz e poderosa, mas não sei se quero continuar
por muito tempo exercendo essa coisa de cuidar da agenda alheia.
Cada dia que passa, a pulguinha nômade me morde um pouco mais,
como faz sempre que está chegando a hora de experimentar algo novo. Será
que algum dia vou descobrir minha vocação?
Eu poderia ser cantora, amo cantar e acho que minha voz até que é
afinada, mas se não consigo lidar com a loucura de alguns homens em uma
convenção, imagina só com uma plateia de fãs. Melhor não.
E nessa história de não descobrir, já coleciono profissões, de babá à
camareira de hotel, de guia turística a sócia de um pet shop. E sim, eu ainda
sou sócia, mas só à distância mesmo, do tipo investidora anjo.
Não sei o que há de errado comigo, além do fato de estar enfeitiçada,
é claro. Eu começo empolgada com o projeto, gosto de investir, fazer os
planejamentos, alocar recursos, mas no fim, quando a rotina se instala, eu
fico tão entediada que preciso sair em busca de um novo desafio.
Até alguns dias, meu desafio atual dizia respeito a fazer meu chefe me
enxergar, me amar e o resultado foi esse, eu enfeitiçada e um monte de
homens que normalmente não me enxergariam me perseguindo.
Merda.
Depois de me despedir de Mila, subo as escadas sem fazer barulho,
meu estômago ronca alto, já sem comer há muitas horas, mas só de pensar em
ir ao restaurante do hotel para pedir alguma coisa meu sangue ferve e o
nervoso se instala por todo meu corpo, sem mentira, até meu dedinho do pé
se arrepia.
O jeito é pedir serviço de quarto e tentar muito não ser vista por
nenhum CEO, nem mesmo por Derek, não é justo com ele e sei que posso
acabar não resistindo.
Meu Deus, por que é que esses homens não podem ser uns feios e
chatos? Porque a maioria deles tem de ser forte, sarada, musculosa. E por que
é que Derek tem que ser o mais bonito, gostoso e safado?
Certo, chega de pensar no bonitão, lembre-se que no normal, sem
feitiço, ele é um babaca arrogante com você, Eva. Ele nunca olharia pra uma
garota com os quadris e os peitos do tamanho dos meus.
Infelizmente, a maioria dos homens não enxerga além da superfície.
Eu enxergo e mesmo assim continuo atraída pelo meu babaca do
aeroporto.
Merda. Preciso encontrar Cleo e acabar com essa confusão.
Ou vou acabar traindo meus princípios e vou direto para os braços
dele.
Não tem mais nada que meu corpo queira nesse momento.
Sacudindo o cartão da minha possível futura chefe entre os dedos,
subo as escadas tentando fazer o mínimo de barulho, e me obrigando a focar
no lado bom dessa coisa toda. Pelo menos conheci Mila e ela foi com a
minha cara.
Imagine todas as coisas que eu poderia aprender com ela. Que sonho.
Se bem que eu preferiria tirar um ano sabático só para viajar e
finalmente conhecer os castelos mais bonitos do mundo. Quem sabe criar um
blog de viagens. Viajando com G, de grande gostosa. Rio comigo mesma.
Embora esteja viajando na maionese, não posso deixar de pensar que
seria bem divertido, levar garotas sonhadoras, que não percebem que
merecem tudo, a conhecer o mundo, castelos, montanhas e quem sabe até
Paris.
Apesar do estresse da tarde, esse início de noite me soa bem mais
animador e com várias ideias sobre meu futuro pipocando na cabeça, abro a
porta do quarto e tomo o maior susto.
— Vou matar você, Cleo!
— Vou matar você, Cleo!
Estacada na porta feito uma planta enraizada, não consigo mexer um
único músculo, enquanto observo a cena que além de maluca, é meio bizarra
e muito inusitada.
Por todo o quarto, baldes, vasos, buquês e arranjos de rosas
vermelhas, caixas de bombons refinados e muitos, muitos cartões disputam a
atenção dos meus olhos.
As coisas estão se complicando, o nível da loucura está subindo e
estou começando a ficar assustada pra valer.
Entro no quarto com uma sensação de que estou mesmo ferrada com
essa história de feitiço, começo a pegar os cartões nos buquês de flores, sobre
as mesinhas e até no chão, tem centenas, muitos repetidos, mas todos da área
bélica. Seriam bons cartões, sérios e sóbrios, não fosse o fato de que alguns
têm corações desenhados atrás e outros tem perfume borrifado. Todos, sem
exceção, têm nome e número pessoal de telefone do dono do cartão.
Um rangido de dentes e uma tosse forçada me fazem virar de susto
para a porta, com o coração pulando no peito e com medo de que seja algum
deles, mas o olhar irritadiço da camareira me faz sentir uma onda de alívio.
— Desculpe, tive de pedir ao gerente para abrir seu quarto com a
chave mestra, por conta dos muitos presentes e das flores. — Ela acena para a
confusão vermelha ao redor.
— Tudo bem, muito obrigada.
— A senhora precisa de alguma coisa?
— Como é mesmo o seu nome? — pergunto e ela arqueia as
sobrancelhas, sem entender.
— Tess.
— Tess, você gosta de chocolate?
— Sim, senhora. — A camareira se anima e eu sei que vou fazê-la
muito feliz.
— Então me ajude a recolher todo esse chocolate pra você e as outras
meninas que trabalham no hotel.
— É sério? Todos eles?
— Sim, eu sou mais do salgado. Adoro um sorvete, mas sou alérgica
a chocolate, ao cacau, na verdade. Então se você não quiser, vai tudo pro lixo.
— Eu quero, as meninas vão amar, obrigada.
Tess e eu nos empenhamos em separar todos os bombons e
equilibramos as caixas por todo o seu carrinho. Ela ainda me ajuda a juntar os
cartões do chão e mandá-los direto para a lixeira.
Depois de três ou quatro viagens de elevador, que eu evito por puro
medo de encontrar algum CEO pelo caminho, ela some com as flores, me
garantindo que vai dar um fim criativo para as plantinhas. Eu odiaria vê-las
no lixo.
Finalmente sozinha no quarto, tomo um banho demorado, tentando
desfazer os nós no meu pescoço e ombros. Acho que nem quando fui me
meter a fazer academia me senti com tanta dor nos músculos. Caramba.
Revejo mentalmente a situação, colocando minha cabeça super
pensante e ansiosa a funcionar, em busca de algum jeito de me livrar desse
rolo.
Eu poderia ir embora, e correr o risco de ser demitida por não fazer o
meu trabalho? Se bem que, será que seria tão ruim assim eu ser demitida? Pra
quem Robert ligaria no meio da noite para pedir pra comprar presente pra sua
namorada?
Suspirando, encho minha mão de shampoo e levo aos cabelos,
massageando o couro e começando a cantar. Sim, eu sou dessas que canta no
banho. Johnny Cash na maioria das vezes, não consigo evitar, amo a voz
daquele homem.
As primeiras notas saem da minha boca no mesmo instante em que a
espuma começa a correr pelas minhas costas. Quem não adora um banho
demorado e regado a uma boa música?
Uma ponta acobreada do meu cabelo me faz viajar direto para ele.
Derek. Sua voz me chamando de ruiva, seu olhar safado para dentro do meu
decote. Jesusinho amado, o calor que percorre meu corpo e se instala bem no
meio das minhas pernas é suficiente para me fazer perder o ritmo e a melodia
da música.
Termino meu banho, me seco e enrolo uma toalha no meu corpo e
outra nos cabelos. Vou até o quarto e abro a porta do guarda-roupa do hotel,
procuro na prateleira onde coloquei meu creme e começo a espalhá-lo por
meus ombros. Pelo menos um pouco de paz, depois de tanta loucura.
Um zumbido chama minha atenção, uma mistura de asas batendo e
algo mais, quase o cruzamento de uma abelha com uma mosca. O som
distante não me prende e eu retomo logo a minha empreitada com o creme.
Ter um tamanho plus size pode não agradar o padrão de beleza, mas
eu gosto de diversas coisas, como o fato de os meus peitos ficarem grandes
em qualquer roupa, além de... mas que barulho é esse?
Começo a procurar pelo quarto, levantando coisas, empurrando
móveis, o zumbido da mosca/abelha só vai ficando mais forte e eu mais
irritada.
Nada.
Até que...
Viro para a minha janela e nada mais e nada menos que um maldito
drone está pairando do lado de fora.
Minhas mãos vão instintivamente para a toalha e eu não sei se grito,
choro ou se quebro a maldita coisa.
Começo a procurar algo para usar para detonar a porcaria. A hora que
eu descobrir quem foi o idiota que resolveu invadir meu quarto com um
drone, juro que vou dar mesmo um golpe ninja, como Derek fala.
Um não, muitos golpes ninja.
O drone entra no quarto e eu pego a única coisa que encontro, um
travesseiro fofo que uso para dormir. O maldito aparelhinho voa para todo
lado, vindo pra cima de mim e quase me jogando no chão.
— Filho da mãe — eu grito, tentando bater com o travesseiro nele. —
Volta aqui, bandidinho.
Caramba, é uma cena dos infernos, meus peitos saltando dentro da
toalha, enquanto eu tento alcançar o drone, que fica indo e vindo na direção
do meu rosto.
Pulo na cama, na cadeira perto da porta do banheiro, quase entro
dentro do guarda-roupas tentando pegar a coisinha escorregadia que está me
espionando.
Lanço meu travesseiro com toda a força e acerto o drone, impedindo-
o de escapar pela janela.
Procuro a câmera e a encaro com toda a minha fúria.
— Escuta bem seu maluco, eu tenho uma amiga que é hacker e a IA
dela vai descobrir quem é você, quando isso acontecer vou dar um chute na
sua bunda. — Faço uma careta e sacudo o drone, depois dou um tchauzinho
para a câmera e o jogo pela janela.
Em queda livre, o drone vai direto para o chão e mal o vejo se
espatifar no piso da calçada. Humpf! Bem-feito bobão. Achou que podia
invadir meu quarto e ia sair impune?! Vai sonhando.
Aperto a toalha no meu corpo, apanho uma camiseta e vou me vestir
no banheiro, era só o que me faltava isso, ter um drone espião tentando me
ver peladona.
Imagina se aquela porcaria conseguisse... amanhã eu poderia estar em
um site de fotos de mulheres plus size nuas. Meus pais não me criaram para
dar essa vergonha pra eles. Não que eu julgue as garotas que tiram fotos nuas,
só não acho que é pra mim, o mais longe que vou nesse sentido é usar biquini
na praia.
De volta ao meu quarto, depois de secar os cabelos de um jeito meia
boca, me jogo na cama e pego o telefone. Peço o serviço de quarto, que inclui
um pedaço grande de lasanha, um vinho, uma fatia de torta e morangos
frescos.
Espero tudo chegar e só abro a porta quando estou certa de que se
trata do meu jantar. Eu sei, é vergonhoso, mas é um mal necessário, não sei
se consigo lidar com mais algum CEO enfeitiçado esta noite.
Logo que termino de jantar, me jogo na cama com o prato de
morangos e começo a procurar alguma coisa boa pra assistir na televisão.
Nada de terror, suspense, acho que não dou conta de ver nem um bom
drama, daqueles que faz a gente chorar até inchar as pálpebras e ficar com
olheiras. Preciso mesmo é de uma comédia romântica.
Assim que a encontro, mergulho o morango na minha boca e o
saboreio quase de olhos fechados, ouvindo as falas iniciais de uma
protagonista que tem um corpo magro, peitos empinados, boca carnuda e
cabelos perfeitos, que caem nos seus ombros como se fosse uma cascata.
Certo, Eva, sem implicar, a atriz não tem culpa que o mundo elegeu o
padrão dela como o ideal de mulher, quando na verdade, isso é forçar a barra.
Eu precisaria de anos e anos passando todos os meus dias na academia e
provavelmente não teria o queixo, o nariz e os peitos assim. Se bem que eu
curto meus peitões...
A história vai rolando e eu vou afundando cada vez mais sobre as
cobertas, deixando minha mente vagar para o filme e se afastando do estresse
que tenho passado desde que meus caminhos cruzaram com os de Cleo.
Tudo vai bem, meus olhos começam a pesar e o meu corpo relaxa, até
que...
A porta do quarto quase explode, abrindo-se num rompante e me
presenteando com um susto dos diabos. Uma latinha roda para dentro e
começa a encher o quarto de fumaça. Uma maldita bomba de fumaça?
A coisa é rápida demais para que eu consiga raciocinar direito. Num
minuto estou numa boa levando um morango aos lábios e no seguinte estou
rolando pela cama, xingando e me jogando do outro lado para me proteger do
que quer que seja que está acontecendo.
Assim que a fumaça começa a dissipar, tusso e esfrego meus olhos
pra ter certeza de que estou mesmo vendo isso.
Quatro homens armados, vestidos como soldados camuflados do
exército se espalham pelo meu quarto. Meu Deus, entrei em um filme de
ação. Eles checam o perímetro e então, um deles acena para a porta.
— Pode vir chefe, tudo limpo.
O tal do chefe faz uma entrada triunfal, dando um tipo de cambalhota
no ar e caindo em pé ao lado da minha cama. Ele usa uma roupa como a dos
outros, uma touca que o cobre até as orelhas e um tipo de óculos de luz
infravermelha, além de uma arma que aponta pra cá e pra lá. Quando me vê,
ele abre os braços e grita:
— Minha princesa, vim regatá-la!
Eu deveria ter ligado pra ela, do que adianta inventar de dar um tempo
pra ela perceber que não estou enfeitiçado e ficar aqui, bufando, morrendo de
vontade de provar aquela boca gostosa outra vez?
Como é que eu posso ser tão cabeçudo às vezes?
Deito com as mãos cruzadas atrás da minha cabeça e estico as pernas.
Vestindo apenas uma bermuda, deixo meus olhos vagarem para o meu pau,
que só de pensar em Eva dá sinal de que quer acordar.
Eu sei, eu sei, poderia bater uma pensando nela, outra na verdade,
mas não é isso que meu corpo quer. O que eu quero é sentir o gosto da pele
dela, da sua umidade que me atiça.
Hoje foi o dia da minha primeira apresentação sobre a carreira como
roteirista e minha entrada na escrita de livros, tão logo acabou, me vi rodeado
de mulheres, várias idades, várias belezas, mas nenhuma era a minha ruiva
desastrada. Por algum tempo eu tive esperanças de que ela aparecesse e me
desmascarasse, assim eu poderia acabar com essa farsa de que sou um
empresário que pode ou não estar enfeitiçado.
Seria simples se eu apenas contasse a verdade, mas como ela vai olhar
pra mim depois que souber que menti, ou se descobrir que sou um roteirista
que ganhou um Oscar e cujo livro já está entre os mais vendidos do The New
York Times?
Não quero que ela me veja como um cara rico, ou um famoso de
quem pode tirar algum proveito. Se bem que não acho que Eva seja assim.
Merda, que confusão. Por fora, a cara de idiota de sempre, por dentro, uma
verdadeira bagunça e um monte de desculpas furadas para justificar minha
cretinice e uma vontade louca de ir até ela e conseguir o que eu quero.
Pego o controle remoto para ligar a televisão e me impedir de ficar
stalkeando as redes sociais da minha ruiva peituda, quando uma barulheira
me chama a atenção.
Desligo o aparelho e aguço meus ouvidos. Gritaria, xingamento, uma
pancada na parede.
— Filho da mãe — escuto e me dou conta de que é a voz de Eva. —
Já disse que não sou sua princesa.
Sem tempo pra me vestir, abro a porta do quarto e vou para o corredor
de pés descalços mesmo. A cena não é só inusitada, mas um pouco
engraçada.
Eva vestida com um camisetão, enfrenta um cara vestido como
soldado do exército (sim, com o rosto pintado e tudo). Ela empunha um tipo
de buquê de rosas como se fosse um cacetete.
O homem está meio acuado e seus companheiros tentam desviar dos
golpes da ruiva briguenta.
— Já disse que não sou sua donzela. E vocês, tirem seu chefe daqui
ou vou processar todos por invasão, assédio e o que mais me der na telha.
— Desculpe, senhora — um deles diz, tentando pegar o chefe, que se
joga no chão, agarrando as pernas dela.
— Solta! Sai. — Ela bate na cabeça dele com as flores, espalhando
pétalas pelo corredor.
— Linda como você — ele declara, pegando uma pétala do chão e
esfregando na panturrilha de Eva.
— Santo Deus, sai, me deixa em paz. — Ela sacode a perna, mas isso
só o faz ronronar como um gato.
— Eva... — chamo e os olhos dela se iluminam quando me vê,
revirando alguma coisa dentro do meu peito.
— Derek, acho que preciso de ajuda — resmunga, sacudindo a perna
sem conseguir se livrar do CEO apaixonado.
Com dois passos grandes, corto a distância da minha porta para a dela
e pego o homem pelo colarinho, colocando-o em pé. Ainda bem que ele está
enfeitiçado mesmo ou ia acabar comigo. A criatura deve ter pelo menos dois
metros e um porte que me lembra o Dwayne Johnson[11].
Contrariando toda e qualquer imaginação de homem durão que eu
teria ao ver um cara grandão como esse vestido como soldado, ele
choraminga e implora, pedindo que eu o deixe com sua amada.
O entrego para os seus homens que o arrastam pelos braços em
direção ao elevador.
Ele ameaça se soltar, mas o sujeito ao seu lado o segura firme e
impele os demais a fazer o mesmo.
Assim que somem de nossas vistas. Eva se joga nos meus braços e
suspira. Desse jeito fica difícil me comportar.
— Você está bem?
— Acredite, isso não foi o pior que me aconteceu hoje.
Pego seu rosto lindo entre as minhas mãos e aprecio a beleza genuína
da ruiva. Com maquiagem, Eva Harris é uma tentação, sem, é perfeição pura.
Droga, agora quem parece o doido?
— Pra um cara enfeitiçado até que você é bem sensato.
— Vem, vou manter você segura essa noite. — Eu a puxo pela mão
em direção ao meu quarto.
— Espera — ela fala, então entra no quarto e volta com alguma coisa
amontoada na sua mão, além do cartão magnético que ela sacode no ar. —
Depois de um drone, uma invasão militar e a perseguição de hoje à tarde,
quero distância daqui.
Puxo Eva para o meu quarto e abro a porta, deixando que ela dê uma
boa olhada no lugar, enquanto começo a pensar que preciso me comportar, ou
vou acabar recebendo umas pancadas também.
A ruiva se senta na beirada da minha cama e esfrega o rosto.
— Eu achei que queria ser vista, agora tudo o que eu mais quero é que
esqueçam de mim.
— Até eu?
— Você está enfeitiçado, vai acabar me esquecendo.
— Mas é isso que você quer?
Ela suspira e me lança um sorriso amarelo. Começo a improvisar uma
cama no chão pra mim, porque se eu dividir a cama com ela, não vai ter
milagre que me faça manter minhas mãos longe dela.
— Sinceramente? Eu poderia gostar de um cara como você, sabe, com
esse jeito rabugento e tudo.
— Mas eu tenho me comportado, não fui arrogante nenhuma vez
desde que te conheci.
Ela ri e esse gesto é suficiente para me fazer sentir poderoso, forte, o
maldito rei do pedaço.
— Além de ter me salvado mais de uma vez — conclui.
Aceno que sim, vendendo meu peixe. É difícil competir com um
bando de empresários cheios de recursos e tecnologia, cada mínimo ponto
conta.
— Bom, vou dormir no chão e você fica com a cama — digo,
rangendo os dentes e me obrigando a não bancar o idiota agora.
— Obrigada. Posso usar seu banheiro? — ela pergunta, mostrando o
pulso fechado com alguma coisa escondida.
Aperto os olhos, tentando descobrir o que é.
Eva esconde a mão nas costas, aguçando ainda mais a minha
curiosidade. Corto a nossa distância e a rodeio, tentando ver. Muito maduro,
eu sei, mas algo me diz que isso vai mudar tudo.
— O que você tá fazendo? — Ela se vira, escondendo a mão.
— Investigando — digo, simplesmente.
— Por quê?
— Não consigo evitar, sou muito curioso.
Quase colo meu corpo à Eva e é quando noto os olhos dela caindo
direto para o meu abdômen, sua respiração fica pesada e eu sei, sem qualquer
sombra de dúvidas, que não vou conseguir me comportar. Eu quero essa
mulher.
— Tá gostando da vista? — pergunto, puxando a mão livre de Eva e
levando ao meu abdômen.
— Não faz isso, eu não posso — ela quase geme, mas eu sou um
desgraçado, só faço me aproximar mais dela, puxar seu rosto para perto e
lamber seu pescoço, bem devagar e quente. — Derek...
Assim que ela se rende um pouco, alcanço sua mão e puxo o tecido
fino que ela está segurando, por uma fresta entre seus dedos.
— Derek! — Ela reclama, mas é tarde, meus olhos estão fixos na
calcinha de renda que estou segurando.
— Droga, Eva, desse jeito você acaba comigo — é tudo que consigo
dizer quando recobro o controle do meu corpo. E então, de súbito, me dou
conta de mais uma coisa. — Você veio pro meu quarto, sem nada aí
embaixo?
Eva fica vermelha como um tomate.
— Eu sempre durmo sem, e não tive tempo de vestir quando aqueles
malucos invadiram meu quarto.
— Você tá sem calcinha? — Balanço a calcinha de renda preta no ar.
— Sem calcinha no meu quarto.
Os olhos de Eva caem para o meu pau, que é claro que está duro,
fazendo volume na bermuda. Ela suspira e eu mando para o espaço qualquer
bom senso que ainda poderia existir em mim.
Sem pensar, arranco minha bermuda e a cueca, deixando todo meu
corpo a vista para que Eva saiba exatamente como me sinto, ao descobrir que
está sem calcinha no meu quarto.
— Derek... — ela sussurra quando enfio minhas mãos nos seus
cabelos. — Não posso... você...
— Eu não tô enfeitiçado, mas em todo caso, assumo o risco.
— Não posso. — Ela geme quando enfio minha mão por dentro da
camiseta e roço meus dedos na sua boceta.
— Diga que não quer e eu paro.
Ela fica muda, os olhos azuis dilatados conforme roço mais meus
dedos.
— Entendo seu silêncio como sim, você me quer como eu te quero.
Arranco a blusa de Eva e ela fica um pouco tensa.
— O que foi? — pergunto, beijando o ombro nu.
— É... que... eu não sou do tipo que homens lindos como você
gostam.
— Você não é mulher?
— Sou, mas sou fora do padrão — ela fala, recuperando o tom forte
da voz.
— Não estou entendendo. — Eu me afasto, buscando a resposta em
seus olhos tensos.
— Eu não sou toda magrinha. — Ela gira sem sair do lugar, erguendo
os braços e mostrando o corpo cheio de curvas. — Eu sou grande, peituda,
bunduda, tenho celulite.
— Você é perfeita — retruco e volto a puxá-la pra mim,
mergulhando-a no meu abraço e deitando minha cabeça no seu pescoço.
Adoro esse cheiro. — Então agora, se você puder parar com o drama, eu
quero muito colocar a boca em vários lugares, a começar por esses seus
peitões. Tô louco por eles desde aquele maldito aeroporto.
Eva geme e sei que acabo de ganhar a batalha. Mal posso esperar pra
me enterrar fundo nessas curvas.
O corpo de Derek é perfeito, o abdômen trincado e firme é tão
gostoso que só de tocar com a ponta dos dedos já fico excitada. E falando as
coisas assim como ele faz, me sinto tão desejada que não há resistência que
aguente.
Que Deus e todas as entidades do universo me perdoem, mas não tem
a menor chance de eu recuar agora, quando ele mergulha na minha boca,
cavando com a língua e me fazendo gemer baixinho.
Derek chupa meu lábio inferior, e eu enfio meus dedos na sua nuca,
puxando de leve os cabelos e abrindo a minha boca outra vez pra receber a
língua dele.
O encaixe é perfeito e uma onda de eletricidade percorre da minha
nuca até o ponto mais sensível.
É intenso e sexy.
Levo meus dedos ao tanquinho dele, que arqueja de um jeito tão
gostoso.
— Quero você na minha cama — ele diz, me guiando de costas e sem
tirar a boca da minha.
Deito devagar, com Derek cuidando para não me deixar bater a
cabeça. É doce e por mais que ele esteja enfeitiçado e eu saiba que isso é
errado, não consigo deixar de imaginar que ele é sempre assim, cuidadoso,
carinhoso. Ele se deita por cima de mim, roçando o pau grande no meu ventre
e apoiando os braços na cama.
Num movimento suave, ele roça mais um pouco e eu arquejo, louca
de desejo.
Com a boca, ele desce desde a ponta da minha orelha, passando pelo
meu pescoço, até se alojar no mamilo. Primeiro passa a língua, arrepiando e
deixando ainda mais pontudo o bico, depois ele o prende no meio dos dentes
e dá uma puxadinha de leve.
Irresistível.
— Mamilo grande e rosado, do jeito que eu gosto — ele diz,
abocanhando com tudo.
Enquanto chupa o bico do meu seio, eu remexo, excitada demais,
precisando de mais contato, buscando por isso. Uma das mãos de Derek vai
ao meu outro seio e ele aperta sem dó, puxando o mamilo com a ponta dos
dedos na sequência.
— Caramba — digo, gemendo sem qualquer controle.
— Você gosta disso? — Ele volta seus olhos para os meus e há
qualquer coisa de selvagem na sua expressão. Algo que me deixa ainda mais
excitada.
Derek desce pela minha barriga, mordiscando, lambendo. Depois ele
para com a língua na minha virilha, onde planta um beijo que me deixa louca.
— Derek — choramingo e ele ri, um som erótico e vitorioso.
Então coloca a boca no meu centro úmido e impele a língua para a
fenda, provocando e lambendo. Agarro seus cabelos e abro mais minhas
pernas, me entregando totalmente a onda de prazer que vai ganhando cada
vez mais força.
Derek sobe com a língua bem devagar, até achar meu clitóris já
inchado e carente. Ele passa a língua de leve e eu solto um gemido bem mais
forte. Impelido por isso, me chupa com força.
Excitada, não consigo pensar em mais nada, nem no medo, na culpa
ou sequer na loucura em que me meti. Tudo o que quero nesse momento, é
que ele me faça sentir todo o prazer que seus olhos prometem.
Sinto dois dedos entrando em mim e os aperto de leve, mordendo com
força meu lábio inferior e apertando o lençol e a cama com minha mão livre.
Isso é tão excitante, tão bom.
— Goza, gostosa, goza que eu quero te lamber toda molhadinha.
Começo a mexer meus quadris no mesmo ritmo em que os dedos
entram e saem e a língua segue lambendo a região mais excitada.
Derek me chupa e lambe, me fazendo gemer cada vez mais. Até que
não resisto e me deixo ser levada por uma onda tão intensa que mal consigo
me dar conta do restante.
Chamo o nome dele quando encontro o ponto alto do meu prazer,
apertando seus dedos dentro de mim e me sentindo em queda livre. Tão livre
que eu mal posso esperar por mais.
— Que delícia sentir você gozando — Derek sussurra no meu ouvido
e depois volta para onde estava e mete os dedos mais uma vez. Ele entra e
sai, até que volta com eles molhados do meu prazer e os leva direto à boca.
— Gostosa.
— Minha vez — declaro, assim que me sinto mais consciente e
pegando ele de surpresa.
Derek me lança um olhar excitado, enquanto eu o faço deitar na cama.
— Agora eu quero sentir você — digo, me sentindo poderosa e sexy.
Primeiro sento na sua cintura, tomando o cuidado para não encaixar,
ainda não estou pronta pra tê-lo dentro de mim. Chupo o lóbulo da sua
orelha, raspo meus dentes no pescoço, mordo seu lábio inferior.
Dessa vez, eu mando.
Com as unhas, raspo o abdômen dele e na sequência desço com a
língua, lambendo cada um dos gomos do tanquinho. Meu Deus, esse homem
é um verdadeiro parque de diversões e eu adoro senti-lo assim arrepiado.
Vou devagar saboreando sua pele, até chegar ao pau, então volto
meus olhos pra ele. Inflamado, Derek espera até que eu o mergulhe dentro da
minha boca, de uma só vez. Ele solta um tipo de rosnado que me excita. O
chupo uma vez e depois o tiro de dentro da minha boca, me concentrando em
lamber a glande e o pré-gozo que escapa.
— Caramba, Eva, isso é muito bom — ele diz e eu lambo toda a
extensão, molhando-o bem, antes de voltar a mergulhá-lo na minha boca.
Chupo Derek, alternando entre bem fundo e a cabeça, criando um
ritmo que o faz afundar mais na cama e se entregar pra mim.
Entro e saio com o membro rígido na minha boca, brincando com as
mãos em suas bolas e depois passando minha língua nelas. Ele estremece e eu
sinto que está bem perto de gozar. Posso ver na forma como está rendido a
mim.
Eu deveria odiá-lo, não é?
Mas então como faço isso se tudo o que quero fazer é sentar nele e me
deixar arrebatar por outro orgasmo delicioso?
— Precisamos de camisinha, ruiva, ou vou acabar gozando na sua
boca.
Suspiro e só pra testar sua resistência, mergulho-o bem no fundo da
minha boca, até onde aguento sem dar vexame. O arquejo dele é um alarme.
— Não tem nada que eu mais queira do que gozar na sua boca e
peitos, mas só depois de entrar em você — diz e aponta para a mesinha de
cabeceira. Abro e tiro uma bolsinha quadrada onde ele guarda barbeador e
algo mais. Pego uma camisinha e rasgo o saquinho.
Subo na cama outra vez e me ajoelho ao seu lado.
A mão de Derek vem para minha bunda e ele a aperta, depois, seus
dedos correm para o meio das minhas pernas e ele enfia o dedo dentro de
mim. É difícil me concentrar, sentindo-o entrar e sair, então deixo que ele
pegue o preservativo.
Ele fica de pé e eu me sento na beirada da cama. Derek me beija, sua
boca faminta chupa meu lábio e sua língua investe por dentro, buscando a
minha. Passo meus braços ao redor do seu pescoço, enquanto ele termina de
desenrolar o preservativo no pau.
Deito de costas na cama, me sentindo exposta e excitada. Derek é
lindo, delicioso e me faz sentir muito desejada. Ele sobe em cima de mim e
chupa meus seios outra vez, deslizando o pau sobre meu ventre e me
provocando.
— Você me quer, Eva? — Sussurra e eu abro os olhos para encarar
sua cara de safado. Eu adoro esse olhar devasso. — Eu quero você, mas só se
você também quiser.
— Eu quero.
— Então me diga o que quer que eu faça.
— Derek... — fico com um pouco de vergonha, mas ele encara de
frente, esperando. — Eu quero você dentro de mim. Quero gozar de novo.
— Então você vai gozar no meu pau agora — diz e afasta minhas
pernas com seus joelhos, se ajeitando entre elas e acariciando a entrada.
Solto um gemido e ele grunhe, excitado;
— Molhada e gostosa — Começa a impulsionar para dentro de mim.
Derek vai aos poucos abrindo passagem e entrando mais e mais. Todo
meu corpo pede por ele, mas levo algum tempo para me ajustar.
— Ai, Derek, quero você — me escuto dizendo entre um gemido e
outro. — Quero você agora.
Ele impele um pouco mais forte, entrando com tudo dessa vez e me
fazendo gemer bem alto.
A boca dele mordisca minha orelha e pescoço e ele começa a colocar
um pouco mais de força.
Criamos o nosso ritmo quando começo a rebolar, fazendo
movimentos circulares que me levam ao caminho sem volta do orgasmo.
— Porra, desse jeito eu não aguento — Derek rosna e eu o aperto com
força contra mim, sentindo o poder do prazer que ele me proporciona.
Ele entra e sai uma e outra vez, depois mais uma e outra. Tantas vezes
quanto preciso para gozar. É tão intenso que todo meu corpo se retesa,
apertando ele dentro de mim.
Nos olhamos sem desviar e sinto o momento em que ele se deixa
levar e alcança o próprio prazer. Derek me beija e estoca mais algumas vezes,
até que seu corpo começa a relaxar.
Ele se deita ao meu lado, tira o preservativo e dá um nó, depois vai até
o banheiro se livrar dele e volta um instante depois.
— Caramba — diz, deitando e me puxando para os seus braços.
— É, caramba — retruco, tocando no seu abdômen e deslizando o
dedo. — E já que eu acabei de abusar de você, um homem enfeitiçado, acho
que vou pisar na jaca e passar mesmo a noite aqui.
— Ótima ideia. Assim posso abusar de você também. Mal posso
esperar pra ver você empinar essa bunda e eu poder te comer de quatro.
— Você é um safado.
— E você uma gostosa.
Eu sei que é errado, mas não consigo me sentir culpada. Esse foi o
melhor sexo que tive em anos e ainda que amanhã eu vá me sentir a pior
pessoa do mundo, esta noite, vou empinar a minha bunda e deixar ele me dar
outro orgasmo incrível.
Na verdade, mal posso esperar por isso.
Depois de finalmente conseguir que Eva se rendesse a mim, ficamos
algum tempo deitados juntos, até que ela foi tomar banho e eu pedi serviço de
quarto, depois que o garçom deixou a bandeja em cima da mesa, me enfiei no
chuveiro com ela e comecei a provocá-la, chupando com força os mamilos
que atiçam o meu lado mais tarado.
Quando voltamos para cama, peguei o controle remoto e coloquei
num canal aleatório, dividimos dois sanduíches de rosbife com queijo e um
vinho. Então a ruiva se aninhou a mim, nua. E aqui estamos, ela nua, roçando
os peitos em mim e eu duro, outra vez. É claro que meu lado safado jamais
vai deixar uma provocação assim passar.
Como quem não quer nada, viro meu corpo pra ela e levo uma das
minhas mãos a sua boceta, ela dá um sorrisinho maroto, mas não diz nada a
respeito.
Começo a acariciar e ela vai ficando molhada, quase como um
convite para que eu meta a cara ali e a chupe até que goze.
Fricciono meu dedo no clitóris, massageando e massageando.
Eva faz menção de se mexer, mas eu a impeço.
— Assista ao filme — declaro, descendo pela cama, me posicionando
no meio das pernas dela e puxando a coberta sobre a minha cabeça.
Bem de mansinho, continuo passando o dedo, brincando com seu
ponto de prazer. Então, a toco minha língua, sentindo seu gosto delicioso.
Passo a língua desde a fenda molhada até em cima, devagar, uma vez
e depois outra.
Eva geme, mas eu não a deixo se mexer. Neste momento, ela é toda
minha, inclusive sua bocetinha molhada. Tudo nela me pertence e eu vou
tomar o que é meu.
Lambo-a por algum tempo, percebendo como ela vai ficando mais
excitada, conforme começa a mexer os quadris e choramingar para me sentir
dentro dela.
Então coloco dois dedos e começo a entrar e sair.
As mãos da ruiva apertam o lençol ao meu lado e ela abre as pernas,
pedindo por mim.
Eu a chupo com força, entrando e saindo com os dedos, mas antes que
ela goze, eu paro e empurro a coberta para longe.
— De quatro — peço e ela nem pensa duas vezes, empinando a bunda
bem redonda e me dando uma visão alucinante.
Enfio a língua na boceta de Eva e ela geme mais alto ainda. Sua
bunda empinada me deixa com muito tesão e mal posso esperar pra encher a
mão quando estiver entrando e saindo dela.
Pego outra camisinha na minha bolsa de higiene pessoal e rasgo o
pacote com o dente, voltando, em seguida, a enfiar a língua da boceta melada
e deliciosa. Desenrolo o preservativo no meu pau, que pulsa, implorando para
estar nela.
Inchado, dolorido e cheio de tesão, me posiciono atrás de Eva, e
encaixo a cabeça do meu pau na sua entrada. Eva, rebola devagar,
acariciando com sua bunda grande e gostosa.
— Com força — ela choraminga, quando começo a entrar bem
devagar, cuidando para não machucá-la com a grossura do meu pau.
Assim que entro um pouco, ela força a bunda e me faz penetrá-la com
tudo, gemendo e começando a rebolar de um jeito que acaba com a minha
força de vontade.
Aperto seus quadris, puxando e empurrando, entrando e saindo na
força e ritmo que ela me exige, tentando não rugir como uma fera e não gozar
antes da hora.
— Vou gozar, minha nossa... — ela rebola mais rápido e eu encho a
mão com tudo, numa palmada suave que acaba num aperto forte. — Derek...
Derek.
— Delícia de bunda. — Curvo meu corpo um pouco sobre o dela,
começando a buscar meu próprio prazer.
Eva não para de responder às minhas estocadas, apertando todo meu
pau dentro da sua boceta deliciosa quando goza.
Tiro meu pau de dentro dela só por um minuto.
— O que foi?
— Nada, quero sentir o sabor do seu orgasmo — respondo e enfio a
língua na sua boceta. — Deliciosa.
Eva dá uma mexidinha pra mim, sensível por causa do orgasmo e eu
volto a me posicionar e a penetro com toda força. Ela geme alto, me deixando
mais louco ainda.
Meto com força, apertando sua bunda com minhas duas mãos e
pairando sobre suas costas. Entro e saio, entro e saio, até que não aguento e
explodo.
Gozo com toda a força e energia. Minha respiração pesada e meu
coração acelerado me impedem de mexer e Eva fica imóvel, recobrando sua
própria calma.
Planto um beijo nas costas dela e saio.
Eu sei, amanhã ela vai se sentir culpada, achando que ficou com um
cara enfeitiçado, mas amanhã eu vou contar a verdade, torcendo para que ela
não me odeie e me deixe fazê-la gozar mais vezes. Tantas vezes quanto for
possível.
Entregue, afundo na cama e a puxo para os meus braços. Não sei o
que está acontecendo, nunca senti tanta necessidade de estar em uma mulher,
de ouvi-la gozar e chamar meu nome.
Pelo jeito, o furacão ruivo bagunçou não apenas minha viagem, mas a
minha vida.
Acordo com a cabeça apoiada no peitoral de Derek. Ele dorme com a
respiração pesada, deve estar bem cansado, depois de toda a ação que
tivemos durante a noite e a madrugada.
No fundo, eu sabia que ele devia ser cheio de fogo, mas não imaginei
que eu pudesse ser tão assim. Tudo bem, vai, eu gosto de sexo como qualquer
mulher deve ou deveria gostar, só que eu não esperava que ele pudesse me
fazer sentir isso tão intensamente.
Se for pra ser bem honesta, acho que nunca namorei um cara que me
fizesse ter tantos orgasmos em uma única noite. Um ou dois e olhe lá ainda.
Derek não apenas me fez sentir muito prazer, como me deixou
completamente desinibida, ousada e com muita vontade de vê-lo sentindo
prazer por minha causa.
E tem mais, com sua comissão debaixo, eu até poderia passar a noite
brincando de chupar pirulito. Não ria, não ria. Eu sei que estou divagando
porque estou nos braços do homem mais bonito, sexy e erótico com quem já
estive, mas o que eu posso fazer? Ele desperta uma gata selvagem em mim.
Mesmo com as possíveis marcas de mãos que deve ter deixado na minha
bunda.
Caramba, só de lembrar já tenho vontade de sentir tudo de novo.
E então a realidade me acerta um tapa na cara com toda a sua força.
Eu não posso fazer isso de novo. O que eu fiz foi terrivelmente errado. Eu fiz
aquilo que prometi não fazer, transei com Derek, abusei da sua
vulnerabilidade por conta do feitiço.
Com um nó na minha garganta, eu vou me arrastando para fora da
cama, tentando não o acordar enquanto fujo da cena do meu crime.
Eu me sinto mesmo como uma criminosa.
Saio sorrateira, tomando o cuidado para não bater a porta e usando,
outra vez, apenas minha camiseta e levando meu cartão de acesso.
Fecho a porta com cuidado e corro para o meu quarto.
Mas o meu quarto não é mais um local seguro e assim que abro a
porta, comprovo isso.
Deitado na minha cama, completamente nu, dorme o homem que
invadiu meu quarto ontem. Sei que é ele porque, apesar de estar peladão, ele
ainda está com a tintura de camuflagem espalhada por todo o rosto.
Sem qualquer reação, fico parada a poucos passos da porta, pensando
em como me livrar desse sujeito sem criar toda uma nova confusão, até
porque agora ele está pelado e isso por si só já vai causar problemas.
Respiro fundo, contando até dez para tomar a decisão de expulsá-lo
ou fugir daqui do jeito em que estou, bagunçada, sem nada por baixo e
cheirando a sexo.
— Mas que porra é essa? — A voz de Derek me faz dar um pulinho
de susto.
— É o maluco de ontem.
— Tô vendo — ele resmunga, entrando e parando ao meu lado, todo
protetor. — Achei que isso ia acabar, mas pelo jeito, só tá ficando pior.
E então eu faço a única coisa que nem mesmo espero, começo a rir
feito uma louca. Rio tanto que acabo acordando o peladão dorminhoco, mas
ele apenas bate as pestanas por um momento e então volta a dormir,
começando um ronco leve de quem está com o nariz congestionado.
— Meu Deus, e eu que achava que seria bom que alguém me notasse
e me achasse bonita, agora daria um dedo, não, eu daria a mão inteira pra me
livrar disso.
Derek respira fundo, a carranca no seu rosto mostra o quanto está
afetado pela cena. Nossa, o que eu fiz com ele foi muito errado, como me
deixei levar a esse ponto?
Será que um dia ele vai me perdoar?
Espero que pelo menos não me odeie.
— Ei, babaca, acorda — Derek começa a sacudir o dorminhoco. —
Eva, esconda-se ali.
Derek aponta para a cortina, e eu faço sem pensar duas vezes. Será
que se ele não me vir vai embora numa boa?
Grogue, escuto um gemido do homem ao se dar conta de que está nu.
— Caralho, onde eu tô? — Até que sua voz normal, sem feitiço, é boa
de ouvir.
Seguro a vontade de sair pra dar uma espiada, porque se ele botar os
olhos em mim ou sentir minha presença vai voltar a ser o mesmo maluco que
invadiu meu quarto ontem.
— Você tá no quarto errado, pega isso e vai embora.
Não sei o que Derek dá pra ele, mas o homem gagueja, resmunga e
então se vai.
— Tudo bem, pode aparecer conquistadora de peladões.
— Você é o meu herói — brinco, mas não temos nem um segundo de
paz.
Assim que escapo da cortina, um som estranho de algo se batendo no
banheiro me faz dar outro pulo de susto.
Merda, ainda não acabou.
Derek vai até o banheiro e eu o sigo, num misto de medo, curiosidade
e raiva. Muita raiva.
— Puta merda, eu morri e não sei se tô no inferno ou num paraíso de
saradões pelados.
O homem é mais baixo que o que estava dormindo na minha cama,
mas é ainda mais musculoso, do tipo baixinho entroncado, sabe?
Ele está apagado, assim como o outro, mas seus países baixos estão
em modo ereção matinal e apesar de não ser lá grande coisa, é difícil não
ficar meio envaidecida né, afinal, tem mais um pelado e duro, no meu
banheiro.
Ah, e não vamos esquecer, o Dom Juan tem uma rosa vermelha
atravessada na boca, acho que colocou ali e acabou dormindo com o cabinho
da flor na boca.
Respiro fundo pra não ter outra crise de riso nervoso, optando por
parar ao lado de um Derek mais do que furioso e tocando de leve no seu
braço.
— Vou voltar para meu esconderijo na cortina — sussurro e ele
concorda sem nem me olhar.
Será que acabou sua temporada de CEO enfeitiçado e ele está bravo?
Não, ele está chocado, assim como eu.
Volto para trás da cortina e prendo a respiração quando escuto Derek
começar a expulsar o homem.
Os dois discutem, o estranho não faz ideia do que está acontecendo e
meu vizinho de quarto diz que ele deve parar de beber em viagens de
negócios, justificando a cena com uma espécie de porre.
Assim que escuto os passos até a porta e os pedidos constrangidos de
desculpa, dou graças a Deus por poder voltar a respirar, saio da cortina e
sento na cadeira. De jeito nenhum vou sentar ou deitar na minha cama até que
todos os lençóis, cobertas e fronhas sejam trocados.
— Obrigada — digo e encaro um olhar frustrado de Derek.
— Tenho um compromisso no começo da tarde, ontem me ligaram da
organização do meu evento e acabei aceitando participar de duas
apresentações hoje.
— Certo.
— Mas depois de tudo o que eu vi, talvez seja melhor cancelar e ficar
aqui...
— Nem pensar, não é sempre que você trabalha e eu não quer ser a
responsável por você não receber um pagamento. Você vai, mesmo que eu
tenha de passar o dia atrás dessa cortina.
Ele sacode a cabeça, afastando uma risada torta que faz meu coração
todo derreter por ele.
— Á noite, quando eu voltar, vou montar guarda aqui, ninguém vai
passar por mim.
— Combinado — digo, mas já pensando na conversa dura que
teremos mais tarde. Preciso afastá-lo pelo seu próprio bem, ou nunca serei
capaz de me perdoar.
Por mais que eu saiba que preciso me afastar dele, meu corpo
discorda em grau, gênero e número, pois assim que ele dá alguns passos e
toma meu rosto entre suas mãos, eu enregelo e esquento ao mesmo tempo,
sentindo a ansiedade e expectativa de ser tocada por ele.
Derek beija minha boca de um jeito doce e se afasta.
— Nem pense em ir embora, ruiva, não me faça virar um perseguidor
maluco — declara, antes de bater a porta às suas costas.
Droga, vai ser difícil fazer o que é certo.
Vai mesmo.
Tudo bem, decidi que está mesmo na hora de contar para Eva a
verdade e lutar para que ela não me odeie. Por quê? Não faço ideia.
A princípio achei que seria bem mais fácil deixá-la pensando o que
bem entendesse, poderia dizer adeus sem me preocupar e ainda não teria de
explicar sobre a minha carreira ou lidar com uma tiete. Se bem que Eva pode
ser tudo, doidinha, atrapalhada, linguaruda, mas não é tiete.
Não contar é uma alternativa para me afastar.
O problema é que agora não quero dizer adeus.
Desde que acordei com a cama vazia e a encontrei encarando um
peladão na sua cama, e outro na banheira, que alguma coisa está me
incomodando, alguma coisa me diz que estou indo de cabeça.
E isso está ferrando o meu humor.
Eu sei que não é amor, desde que fui feito de idiota pela minha ex, não
tem a menor chance de eu cometer o mesmo erro outra vez, amar, me
apaixonar, levar alguém a sério, nada disso é uma opção pra mim.
Então por que é que não quero deixá-la sair ainda da minha vida?
Sacudo a cabeça, afastando os pensamentos e viro para o espelho do
elevador, dou uma ajeitada na gravata e espero a porta abrir.
Ok, vamos lá.
Ando pelo saguão do hotel e me encaminho para uma porta na lateral.
Em uma sala adjacente a que vou me apresentar, onde devo encontrar o
pessoal da organização.
Tudo passa como um borrão, me apresento, pego o microfone da mão
de alguém, escuto o que a organizadora tem a dizer, finjo que escuto, porque
definitivamente minha cabeça está em outro lugar.
O fato de ela estar à três prédios de distância, no centro de eventos,
onde está acontecendo a convenção e eu aqui, no hotel, está corroendo meus
nervos e me deixando ansioso.
É difícil não saber o que está acontecendo com ela, se está bem, se
algum outro maluco invadiu seu quarto. Eu sei, eu sei, Eva sabe se defender,
mas tem qualquer coisa em mim que quer protegê-la, ou mais, que não quer
que mais ninguém a toque.
Merda. Tô muito ferrado.
Sinto como se tivesse sido atropelado por um caminhão ruivo de
língua afiada. Com certeza Eva virou minha vida de cabeça para baixo e
agora tudo em que consigo pensar é nos gemidos dela enquanto eu me
enterrava gostoso entre suas pernas.
Porra. Preciso comê-la de novo, sentir todo aquele fogo.
Escuto o som do outro lado da porta e me forço a respirar fundo e
empurrar para dentro de mim esse caos. O apresentador começa a falar e
imediatamente sinto aquela vontade de sair correndo. Odeio me expor. Odeio.
— Ele é tímido e geralmente não dá entrevistas, mas também é
talentoso e brilhante na construção de personagens memoráveis. É o roteirista
do momento, premiado com o desejado Oscar de melhor roteiro original. E
como se não bastasse, na sequência engatou um best seller. Senhoras e
senhores, por favor recebam Derek Preston.
Abro um sorriso falso e entro no auditório, caminhando com passos
mais duros do que o planejado até o palco.
— Boa noite, obrigado por me receberem. — É a primeira coisa que
digo, sem fazer ideia do que mais vai sair. Odeio aparecer, odeio mesmo.
Começo explicando minha trajetória de desempregado à roteirista de
sucesso, falo sobre os concursos que participei e como desenvolvi meu estilo.
Na sequência, falo do Oscar, faço algumas brincadeiras que nem sabia que
era capaz e começo a explicar por que decidi escrever um livro.
Conto sobre o desafio de criar algo num formato completamente
diferente e nas principais técnicas que pude aproveitar para desenvolver o
projeto do livro. Discorro um pouco sobre inspiração, criatividade e leituras.
Finalizo lendo um trecho do livro, respondendo a algumas perguntas
previamente selecionadas e, por fim, agradecendo a presença de todos.
A organizadora sorteia alguns exemplares do meu livro, enquanto o
apresentador, um baixinho emproado que nem olha na minha cara, encerra a
apresentação de uma hora e meia.
Acho que me saí relativamente bem, consegui manter minha vida
pessoal fora de vista e divulguei minha carreira e livro.
Essa não foi a primeira apresentação do evento, na verdade, já é a
terceira, mas em todas eu sinto um caminhão de nervosismo e ansiedade,
além da habitual vontade de sair correndo e fugindo daqui.
Uma fila de mulheres espera por mim antes mesmo que eu termine de
sair do palco. Algumas seguram meu livro para ganhar um autógrafo, outras
apenas o celular para tirar fotos, e todas, com um sorriso ansioso e exultante.
Começo a tirar fotos e autografar, tudo vai indo bem até que sinto uma
mão boba no meu braço. O toque é sutil, mas desperta um alerta em mim.
Ergo os olhos e encontro um sorriso sedutor de uma mulher de não
mais do que cinquenta e poucos anos. Elegante, bem-vestida, perfume caro.
Ela joga os cabelos louros platinados para o lado, acentuando a curva do
decote em formato de um longo V.
A primeira coisa que penso é: Seus seios podem ser grandes pra média,
mas não chegam nem aos pés dos da ruiva. Aquela ruiva atrevida que virou
minha cabeça.
— Então, o que me diz? — ela pergunta, tocando no meu braço e me
tirando do mundo da lua.
— Desculpe, o que você disse?
— Que tal um jantar, sou agente literária e gostaria de discutir
algumas ideias.
Recuo sutilmente e assumo uma postura distante, a loura, que nem sei
o nome, me lança um olhar confuso, mas eu não faço questão de prolongar a
conversa, então encerro o mais diretamente possível.
— Tenho um agente, mas obrigado.
— Então nós podemos apenas jantar, falar de outras coisas. — Ela
morde o lábio inferior.
— Já tenho um compromisso — declaro e viro para a próxima mulher
da fila. — Oi, como você se chama?
— Jennifer. — A mulher seguinte responde.
Pego o livro e escrevo uma mensagem para Jennifer, que sorri como
se acabasse de receber um prêmio da loteria.
— Posso tirar uma foto? — ela pede e eu sorrio, aceitando com um
aceno.
Não volto a ver a loura e tão logo a fila vai reduzindo, depois de lidar
com mais uma ou duas ou quatro atiradas, eu me apresso a subir para o meu
quarto, para tomar uma ducha e sair em busca daquele par de peitos que tem
me deixado louco.
Coloco um jeans e uma jaqueta, pego minha carteira e penteio meus
cabelos com a mão, empurrando-os de qualquer jeito. Um jato de perfume e
estou pronto.
Bato na porta do quarto de Eva e espero, repito o gesto mais uma ou
duas vezes, até me convencer de que ela não está me esperando. É claro que
não, Eva é dona de si, é linda, forte, não faz o tipo que fica enfurnada em um
quarto de hotel esperando um cara para transar.
“Quero ouvir você gemer o meu nome quando eu me enterrar fundo
em você, ruivinha atrevida.” Penso, enquanto sigo para o elevador.
Cantarolando baixinho, espero o elevador, mal posso esperar para ver
como ela está vestida, que batom enfeita aquela boca gostosa.
Só de me lembrar do seu cheiro, meu pau pulsa dentro da calça. Viu,
um maldito adolescente que não consegue se conter.
Assim que entro na convenção, tenho um vislumbre de um tumulto
mais à frente. Eu me estico na ponta dos pés para tentar captar alguma coisa,
mas só consigo ver um amontoado de homens, braços, pernas, resmungos que
lembram aqueles filmes dos homens das cavernas e... não pode ser. Não. Sim.
Eva Harris.
A senhorita ladra de taxis vem correndo como um furacão, os cabelos
voando como tentáculos de um polvo, os seios pulando pra cima pra baixo.
Suas bochechas estão rosadas e o olhar. Esse é de pânico, puro e simples.
Os homens de terno correm atrás dela, tentando alcançá-la. Eva dá um
tipo de chute para trás, praticamente um coice, no homem que toca numa
mecha de seu cabelo, então se vira para correr outra vez, mas não me vê.
Eu teria rido, se não me desse conta de que ela e um bando de malucos
estão vindo com tudo pra cima de mim.
Eva passa correndo ao meu lado, mas então se dá conta de que sou eu e
volta, para na minha frente, a respiração pesada, o rosto afogueado.
— Você é o menos louco, vamos. — Ela me pega pela mão e quando
me dou conta, estou correndo porta afora do centro de convenções, fazendo
um esforço para segurar na mão dela.
Sem falar nada, com as mãos grudadas uma na outra, nós corremos
pela rua, sem decidir um destino certo, se para o hotel, se para o meio da rua
ou algum outro lugar.
— Você é rápida — digo, com a respiração ofegante, assim que
paramos na frente do hotel. — O que vamos fazer agora?
— Preciso voltar pro meu quarto, não aguento mais esse inferno. — Ela
range os dentes.
Paro na frente da ruiva, ajeito seus cabelos e sorrio, quando noto a cor
de batom que está usando. Roxo brilhante. Como se tivesse comido um saco
de purpurina.
A camisa social se enruga abaixo dos peitos e entra dentro da calça
jeans colada, que vai até a altura do umbigo. As sandálias têm um salto
quadrado não muito alto e uma tira que combina perfeitamente com o batom.
Pois é, como me comportar quando tudo que eu penso é em arrancar
essa roupa e comê-la todinha?
Sem soltar da sua mão, a guio para a rua lateral ao hotel, cuidando para
escondê-la e desviar quando vejo alguém que possa ou não ser um CEO. Não
vou mentir, aproveito pra puxá-la para o meu abraço e sentir os seios
durinhos se chocando contra o meu peito. Tarado, eu sei.
— Vamos sair daqui.
Aceno para um taxi e abro a porta para Eva. Rabugenta, ela afunda no
banco e cruza os braços.
— Nunca mais vou sair daquele maldito quarto.
— Ótimo — retruco, já me imaginando trancado com ela numa rodada
de sexo selvagem, vinte e quatro horas comendo Eva de todos os jeitos
possíveis.
— Sozinha — resmunga, mas eu faço pouco caso, puxando sua mão
para a minha e levando até a minha boca. Planto um beijo casto e ela suspira.
— Vou ter que começar a listar todos os motivos pelos quais você deve
me deixar ficar com você? — pergunto, tentando controlar minha mente
safada, mas perdendo o jogo por completo.
Ela ergue uma sobrancelha desconfiada, motivo suficiente pra eu
chegar perto do seu ouvido, mordiscar o lóbulo da orelha e começar a
provocá-la.
— Quero que você monte em mim, pra eu ver seus peitos subindo e
descendo enquanto entro em você.
— Derek... — ela solta um grunhidinho que mais parece com um
miado de gato do que uma reprimenda.
— Vou chupar sua bocetinha deliciosa, Eva, quero lamber você depois
de gozar...
— Derek...
— Vamos, linda, quero sentir você estremecer todinha.
— Droga!
— Vou entrar e sair até que você grite o meu nome.
— Motorista, por favor, de volta ao hotel — ela manda e eu
comemoro, dando um soquinho no ar, vitorioso.
— Prometo que vou fazer valer a pena — declaro, sorridente.
Eva me lança um olhar irritado.
— A única coisa que você vai fazer é tomar a porcaria de um banho
frio.
— Merda!
— Não quero ouvir mais nada sobre esse feitiço, tudo o que quero
agora é sentir você se derreter na minha cama. — Ele crispa pela milionésima
vez.
Assim que a porta do elevador se abre, eu espio com cuidado e só saio
quando tenho certeza de que a barra está limpa.
Caminhamos até a porta do meu quarto, então me viro e o encaro de
frente.
— Me desculpe por tudo e obrigada por me ajudar, mas não posso
mais ver você.
— Não faz isso, Eva. — Ele encosta a testa na minha. — Eu não
estou enfeitiçado.
— Eu sei, sou eu que estou, e não é justo com você...
Derek me cala com um beijo quente que me faz estremecer e, no
fundo, eu sei que estou perdida, porque agora não tem mais volta, eu quero
isso tanto quanto ele.
Tem algo diferente na forma como ele reage a mim, em como me
sinto quando estamos pertos. Não sei explicar e as coisas só pioram porque
ele não age feito maluco como os demais.
Só que eu sei que ele está enfeitiçado, não tem outra explicação para
um cara que praticamente me odiou desde a primeira vez que me viu, agora
estar caindo de amores por mim.
O pior é que eu sei, de todo meu coração, que Derek é o tipo de
homem que eu escolheria pra viver um grande amor, alguém que eu amaria
sem pensar duas vezes, porque por trás da fachada de ranzinza tem um
homem doce, que consegue mexer com meu coração tanto quanto com meu
corpo. Que não diz algo só pra me agradar, mas fala a verdade por mais torta
que ela possa ser.
Eu poderia amá-lo em uma situação diferente.
Mas como não é o caso, afasto Derek e entro, deixando-o do lado de
fora.
Meu coração aperta, mas é o melhor que posso fazer por ele, é o único
jeito de respeitar sua integridade, seu livre arbítrio. Droga, então por que
sinto que estou cometendo um erro do tamanho do Everest?
Me jogo na cama de roupa e tudo e puxo um travesseiro para cobrir
meu rosto. Meu celular toca algumas vezes, mas eu não quero falar com
ninguém, ainda mais se for o meu chefe idiota que só me liga quando precisa
que eu compre presente pras suas conquistas.
Talvez esteja na hora de deixar tudo para trás e sair em busca de uma
nova experiência. E daí se Robert não vive sem mim, ou melhor, não vive
sem que eu administre sua agenda, funcionários estressados, fornecedores
furiosos e namoradas vingativas que não gostam de levar fora pela secretária
do pretendente. Ele pode muito bem pedir que sua noiva faça tudo isso.
Quando é de interesse, sou a secretária supercompetente, mas para me
amar, eu não passo de uma secretária gorda que só serve para ser alvo de
piadas.
“Mulher gorda é como pantufa, pra usar em casa é gostoso, mas pra
sair na rua só dá vergonha.”
“Seus saltos devem ser mesmo bons, hein, pra aguentar o peso.”
Assim que Robert passa pela recepção sinto uma mudança estranha
no ar, algo familiar, mas que não consigo identificar até que ele para bem na
frente da minha mesa com um sorriso torto e meio lunático.
Será?
Não.
Droga.
Robert me pega pela mão e me puxa para sua sala, sem dizer sequer
um bom dia. Ele bate a porta quando entramos e passa a chave, me fazendo
sentir um frio na espinha. Pra piorar, ainda fecha as cortinas que separam sua
sala do restante do escritório.
Sim, ele está enfeitiçado.
— Senti tanta saudade — diz, vindo me abraçar.
— Como é? — Desvio para o lado.
— Até que enfim você voltou, meu amor. — Robert dá mais um
passo na minha direção. Parece um zumbi dos filmes dos anos noventa.
— Primeiro que eu não sou seu amor — crispo, dando a volta na mesa
e empurrando uma cadeira para cima dele. — Segundo, o senhor é noivo.
— Noivo com o nosso amor... — ele cantarola, tentando ter acesso à
mim pela lateral da mesa.
— É melhor você se afastar.
— É melhor amar você, querida.
— Não! Não! O senhor não me ama, o senhor ama a Lara.
— Lara? Que Lara, não conheço ninguém com esse nome, a única
que eu vejo é você.
Paro no meio da sala, ameaçando Robert com uma pasta que peguei
em sua mesa.
— Parado! — Grito e ele para, quase babando na minha direção. —
Ou você para ou vou embora.
— Não, meu amor, vamos embora juntos.
— Ai, meu Jesusinho, o que eu faço?
— Casa comigo! — Ele avança um passo e eu ergo a mão, tentando
fazê-lo parar.
Eu passei os últimos três anos imaginando como seria ter Robert
Sampson apaixonado por mim, me pedindo em casamento, se derretendo com
declarações de amor nada menos do que perfeitas, mas agora, só consigo
pensar em fugir daqui.
— Eu entendo que você está enfeitiçado, mas não vai rolar, ou você
para ou vou quebrar seu nariz. — Pego a cadeira que está entre nós.
— Como você é linda, perfeita, incrível, minha vida...
Empino a cadeira me sentindo uma verdadeira domadora de feras,
tentando afugentar Robert sem quebrar de verdade nenhum osso seu.
Isso vai ser mais difícil do que eu sequer imaginei.
Beber não é bem o meu forte, mas ficar sóbria depois de quase cair da
ponte Bay Bridge não está na minha lista de opções para o momento. Então,
vamos ao álcool.
Olivia senta no tapete da sala com uma bacia de pipoca, em algum
canto sombrio da sua mente vinho e pipoca é uma combinação perfeita.
Como eu não tenho nada a perder, me junto a ela.
Nossos copos (sim, estamos tomando vinho no copo, a taça não seria
suficiente para o resultado que estamos buscando, um porre) estão apoiados
em cima dos descansos, na mesa de centro que empurramos para frente, pra
podermos esticar as pernas sem empecilhos.
— Certo, agora que estamos prontas, só precisamos pensar em como
salvar você dessa confusão — minha amiga declara com um tom solene. —
O que foi que a velhinha disse da última vez que falou com ela?
— Você diz da última vez que estive cara a cara com ela ou em sonho
também conta?
— Bom, se a gente considerar que ela é toda poderosa e enfeitiçou
você, acho que conversar com ela em sonho também deve valer alguma
coisa.
— Certo, deixa eu pensar. — Levo o vinho até a boca e tomo um gole
generoso, começando a sentir os efeitos da bebida doce. — Que todos os
CEOs iriam me enxergar, mas que eu deveria me enxergar também, que só eu
posso acabar com essa confusão.
— Eu concordo. — Olivia declara, se levantando. — Vem, vamos
fazer um exercício de aceitação.
— Ai, meu Jesusinho.
— Vamos, não seja preguiçosa.
— Tá, tá, tá, mandona.
Levanto e fico de frente pra minha amiga, ela pega minhas mãos
sobre as suas e começa a respirar fundo.
— É pra eu fazer isso? — pergunto, segurando o riso.
— Leve a sério, Eva, ou vamos ter que despachar muitos caras de
terno para o hospital. Uma coisa assim chama atenção, já pensou se os
federais resolvem bater na nossa porta.
— Eu ia acabar virando um rato de laboratório.
— Exato.
Respiro bem fundo, imitando a minha amiga e com toda a minha boa
vontade. Não gosto nem de pensar na possibilidade de ir parar na prisão por
causar uma revolução mágica na cidade.
— Certo, agora pense em coisas bonitas. Tipo um lugar legal.
— Um castelo medieval na Escócia.
— Nossa, você é bizarra às vezes.
— Falou a mulher que ama múmias.
— Eu não amo múmias, eu só trabalho com elas.
— Sei.
— Se concentra, Eva.
Fecho os olhos.
— Tá, castelo medieval na Escócia, com pedras milenares, uma linda
paisagem verde...
— Isso, respira bem devagar e vai sentindo que você está lá.
Abro os olhos e coloco as mãos na cintura, fazendo minha cara de que
porcaria é essa que você está fazendo?
— Você não está tentando me hipnotizar, está? Nem pense em me
fazer imitar uma galinha dona Olivia Cooper.
— Assim não dá, você não cala a boca nunca.
— Desculpe. Prometo que vou me comportar.
— Tá bom, então vamos começar de novo, e vê se leva a sério.
— Tá. Vamos lá.
Começo a respirar fundo outra vez, puxando o ar pelo nariz e soltando
pela boca, repetindo pra mim mesma várias e várias vezes que estou
passeando em um castelo na Escócia, tocando suas pedras, sentindo o cheiro
da história incrustrado nas paredes...
— Agora que você está concentrada, quero que pense no motivo para
você merecer estar nesse lugar.
Penso por um instante, tentando buscar uma resposta que faça sentido.
— Eu adoro castelos.
— Tudo bem, agora repita comigo: Eu adoro castelos e eu mereço
conhecê-los.
— Eu adoro castelos e eu mereço conhecê-los.
— Eu adoro castelos e eu mereço conhecê-los.
— Eu adoro castelos e eu mereço conhecê-los.
— Eu adoro castelos e eu mereço conhecê-los.
— Eu adoro castelos e eu mereço conhecê-los.
— Então, funcionou? — Olivia pergunta depois de ficarmos repetindo
o mantra do castelo.
— Não sei, mas tô morrendo de vontade de comprar uma passagem
aérea pra Escócia.
Ela cai na gargalhada e eu acompanho. Rimos alto, alternando entre o
vinho, a pipoca e engasgos causado pela risada.
Posso não ter me curado do feitiço/maldição, mas com certeza quero
mais do que nunca conhecer os castelos medievais da Europa.
— Bom, talvez se você repetir que se ama funcione, o castelo parece
que funcionou.
Rindo, tomo o restante do meu vinho e enquanto Olivia volta a se
sentar no chão, eu começo a andar em círculos sobre o tapete, com os olhos
fechados e repetindo um novo mantra.
— Eu me amo, eu me aceito. Eu me amo, eu me aceito.
— Isso, esse é bom, repita aí, sem parar.
— Eu me amo, eu me aceito. Eu me amo, eu me aceito.
E assim eu fico por muito tempo, até que a base dos meus pés começa a
doer e eu resolvo me sentar e beber mais vinho.
— E aí, funcionou?
— Não sei, mas suponho que vamos descobrir amanhã.
A última coisa da qual me lembro é de segurar os cabelos de Olivia
enquanto ela praticamente colocava todo o vinho barato vaso sanitário
abaixo. Minha melhor amiga e eu tomamos duas garrafas e meia de vinho
enquanto riamos e xingávamos nosso invasor ninja que quase nos fez sofrer
um acidente em cima da ponte.
Depois disso a noite só foi ladeira abaixo, com Olivia reclamando das
constantes brigas e descaso do namorado, o coroa que é o coordenador da
equipe de arqueólogos e que ficou enrolando por quase dois anos para dar
uma vaga como chefe de pesquisa para Olivia na Universidade, onde ela está
terminando seu doutorado.
Coloquei minha melhor amiga na cama, com ela declarando que
talvez saia da arqueologia para trabalhar como jornalista, já que escrever
sobre fofoca dá menos trabalho que aturar um namorado que é seu chefe e
acha que manda em você.
Dispensei o assunto com uma risada, porque sei que ela nunca vai
abandonar essa profissão, Olivia Cooper ama mexer com múmias, a não ser
que vá trabalhar em um museu, acho que daí ela não pensaria duas vezes.
Sem tem algo que ela ama mais que múmias é um museu cheio delas.
Deitei na minha cama e logo em seguida apaguei.
Mas não foi a porcaria de um sono tranquilo.
Sonhei com Cleo e sua cara deslavada me mandando pensar direito.
Como é que foram as palavras dela mesmo?
— Para alguém tão inteligente você está meio burrinha — disse, rindo
e chacoalhando aqueles brincos enormes.
Apertei meus olhos e ergui meu dedo indicador, acusando-a.
— A culpa não é minha se você me pediu algo que eu não sei como
fazer. Você acha que eu não me aceito, ou me amo, ou o que seja,
simplesmente por que não quero? Humpf! Cleo, o mundo todo me enxerga
como a garota gordinha que tem um lindo rosto, mas que precisa emagrecer,
como se transar comigo fosse um tipo de favor. É difícil desconstruir a
bagunça que essas coisas provocam na gente. Mas eu tô tentando.
— Você não está tentando coisa nenhuma, só fica aí reclamando e
reclamando, perdendo as oportunidades. Acho até que está gostando de ter
todos esses homens bonitos aos seus pés, morrendo de amor.
— Não estou! E eles não estão realmente morrendo de amor, é só um
feitiço. Vamos, Cleo, uma ajudinha seria bom, sou só uma, não dou conta de
aguentar tanta loucura.
— Bom, pelo menos você não matou ninguém até agora... — Ela deu
um sorrisinho debochado e antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, me
mandou um beijo no ar e se foi, como fumaça.
Fumaça de sonho, essa é boa.
Deitada na cama, depois de passar por uma discussão infrutífera em
sonho com a minha personal enfeitiçadora, fico rangendo os dentes.
— Pelo menos não estou de ressaca.
Levanto e começo o longo processo de me arrumar para ir trabalhar.
Só de pensar em ter que lidar com uma versão enfeitiçada do meu chefe, já
fico estressada, e olha que ainda nem tirei o pijama.
Preciso achar um jeito de lidar com aquele homem, não é natural... ou
talvez eu só devesse parar de reclamar e aproveitar as oportunidades que Cleo
tem colocado na minha frente. Quem sabe dar uns amassos no meu chefe...
hum, preciso correr, não quero me atrasar.
Ligo a cafeteira e coloco as fatias de pão na torradeira, enquanto as
coisas funcionam na cozinha, eu calço meus saltos quadrados que me dão um
pouco mais de segurança para enfrentar o dia de hoje e enfio meu planner[13]
de qualquer jeito dentro da bolsa.
Pego um guarda-chuva quando escuto as trovoadas e vou acordar a bela
adormecida do quarto ao lado.
— Ei dorminhoca, você não tem que estar em algum lugar daqui a
pouco?
— Hummmmm... — Ela geme e eu puxo suas cobertas.
— Vamos, você tem que ir assinar o contrato da sua vaga de chefona
da arqueologia, antes que o velhote que você chama de namorado desista e
passe pra outra pessoa.
— Nãoooo, eu quero morrer.
Olivia rola na cama e aperta o travesseiro sobre sua cabeça,
choramingando. Eu pego água e dois comprimidos que sempre funcionam
quando estou de ressaca e coloco na mesinha de cabeceira.
— Você que sabe, suas múmias sempre podem ir parar nas mãos de
outra pess...
— Ok! Você venceu — ela diz, cobrindo a testa com a mão como se
fosse uma atriz do cinema antigo prestes a desmaiar.
Deixo minha amiga dramática resolvendo sua própria vida e tomo
meu café às pressas, pego minhas coisas e saio.
Eu abro a porta de casa e sou arrebatada pelo cheiro de manhã fria, a
neblina baixa me deixa com uma boa visão, mas a chuva e o vento começam
a engrossar. Abro meu guarda-chuva e o posiciono sobre o ombro,
amparando minha bolsa enquanto tranco a porta.
Assim que me viro e desço os primeiros degraus da escadaria, escuto
um grito desesperado. Olho para cima só em tempo de ver um homem de
terno caindo do parapeito do segundo andar.
— Ai, merda! — grito e pulo para o lado, mas o homem leva meu
guarda-chuva e eu com ele, quando se estatela no chão.
Merda.
De bunda pra cima, a roupa imunda e o guarda-chuva completamente
destruído, não consigo nem me mexer, porque o estranho é pesado e está com
os braços em cima de mim. É vergonhoso demais.
— O que é isso, tá chovendo CEO agora, também? — Olivia pergunta
e eu solto um gemido.
— Uma ajudinha, por favor.
— Só porque eu te amo — ela diz, rindo. — Nenhuma ressaca no
mundo me faria perder essa cena. Eva Harris, a encrenqueira da escola, presa
a uma montanha de músculos e terno.
— Socorro... — resmungo e ela empurra o homem para o lado com
ajuda dos joelhos. Ele está completamente apagado e deve pesar uma
tonelada.
— Meu Deus, como ele pesa.
— Eu sei. — Ajudo a empurrá-lo para o lado, ele vira de barriga para
cima e continua desmaiado. — Olha, não tô nem aí se ele morreu, esse corpo
vai ficar aí onde está, o que é que ele tava pensando ao escalar a casa?
— Eu não sei, mas pelo ronco ele está bem vivo.
Limpo minha roupa o melhor que dá, mas o estrago é tanto que só
trocando de novo. Enquanto faço isso, Olivia pega o carro, ela vai me dar
uma carona porque depois de quase ser esmagada por um CEO, não tenho
coragem de sair sozinha pelas ruas de São Francisco.
Não volto para o escritório depois da minha conversa com Lara. Fico
zanzando um pouco por aí, sem um destino certo e remoendo as coisas. Não
vou mentir, se tudo isso tivesse acontecido há pouco tempo, se Robert tivesse
me encurralado na sala de fotocopias num dia qualquer do mês passado, com
ou sem coisa verde no dente e bafo de alho, eu teria me rendido, ficado feliz e
mesmo que nada disso fosse verdade, que não passasse de magia, eu teria me
achado a mulher mais sortuda do mundo.
Eu o queria.
Mas agora eu não sinto nada, só essa determinação ferrenha de
descobrir um jeito de convencer a mim mesma de que um bom homem pode
me amar, que eu mereço e me aceito.
Eu tentei, até fiquei bêbada tentando, só que não funcionou.
Mas se eu já entendi a coisa toda, por que ainda não deu certo?
Já sei que posso me amar, ser amada, ir pra cama com um gostosão
qualquer, vestir o que eu quero.
Porcaria, acaba maldição!
Fico viajando em pensamentos e caminhando pela calçada, até ver um
taxi, que me leva direto pra ele, Derek. Tudo me faz pensar nele, caramba.
Aceno e o carro para pra mim, entro logo que a chuva recomeça. Casa. É a
única coisa que eu quero agora.
Feitiço de amor é o cacete, eu tô vivendo um apocalipse insano com
rosas vermelhas, caixas de bombons e gravatas.
Só quero que isso acabe.
Então é isso, eu quero mesmo que acabe toda a bajulação e a paixão
melodramática?
Por um lado, é bom ser o alvo da afeição de tantos homens
importantes, de cores e corpos tão diferentes, mas também é como um
maldito tapa na cara, me mostrando que eu preciso de mágica para que um
cara bem-sucedido se interesse por mim.
Mesmo um CEO desempregado que só trabalha de vez em quando
como Derek.
Derek com seu jeito ranzinza, seu sorriso torto e a mente pervertida
que emerge até a superfície quando eu menos espero e me brinda com uma
porção de coisas safadas. Ele é uma incógnita. Não consegue aceitar que não
sou ruiva, que não roubei seu taxi, mas se mete em uma briga para espantar
outros caras enfeitiçados que estão atrás de mim.
Tudo o que eu queria é que com ele fosse de verdade.
Eu me apaixonei pelo sorriso torto, pelo olhar, pela voz, o toque.
Droga, eu amo aquele rabugento.
Como se ter de me livrar de uma maldição em nome da minha
sanidade e da sobrevivência de todos os CEOs que cruzarem meu caminho
não fosse trabalho suficiente, ainda vou precisar aprender a lidar com essa
dor de amar uma pessoa que não pode ser minha.
Mesmo que eu queira muito que ele seja meu.
Assim que o taxi para em frente ao sobrado, eu desço, pago a corrida
e sigo marchando pra casa. Banho, cama e sorvete de pistache, é o que eu
preciso agora. Talvez um pouco da mentalização de aceitação da Olivia me
ajude a pelo menos pegar no sono.
Abro a porta de casa resmungando sobre alguma coisa que
imediatamente me foge da mente assim que vejo o que está acontecendo.
Sentada na única poltrona que temos está Olivia, um olhar muito
travesso e no sofá ao lado, está o único CEO que eu queria que me amasse.
Não, não é a porcaria do Robert Sampson, é ele, o homem que me fez
entender que eu não quero uma pessoa qualquer só porque ela me inspira, ou
porque o admiro. O que eu quero é ser amada pra valer. E Derek é a única
pessoa que me faz sentir que é possível.
— Derek. — O ar foge dos meus pulmões com força.
— Oi, ruiva.
Algumas horas antes
Faz dois dias que me demiti e mesmo que eu goste da nova fase, estou
arrasada. Tento ser forte, mas meu coração ainda está em pedaços e não tem
uma única noite que eu não pense nele ao me deitar, que eu não sonhe com
ele ou pense nele ao acordar.
Derek se infiltrou em cada pedaço meu e esquecê-lo parece uma
tarefa cada vez mais difícil. Bom, pelo menos agora ele está livre para viver
sua vida.
— Ei rainha da pipoca, vai demorar ainda? — Olivia grita da sala, me
arranco do devaneio triste.
— Já vai, já vai, senhorita nervosinha.
Termino de encher a bacia de pipoca e a levo para sala, Olivia está
sentada no sofá com uma coberta e um travesseiro. Passo a bacia para a
devoradora de pipocas e me jogo na outra ponta.
Meus olhos correm de relance para a janela coberta com tábuas que
minha amiga improvisou até que o cara que contratamos conserte. Tento não
pensar na confusão que foi aquele dia, ainda mais porque isso me leva direto
para ele, para sua dor e raiva.
— Você tem certeza que acabou? — Olivia me dá um olhar astuto e
misterioso.
Ela está toda estranha, passou o dia trocando mensagens com alguém
que não quis me contar e agora me vem com essa mesma pergunta que tem
feito desde que acordamos.
— Sim, eu sinto que acabou, além do mais você está vendo algum
CEO maluco por aí?
— É, você está certa. — Diz, e digita alguma coisa.
— Então, o que vamos assistir senhorita misteriosa?
— Você já vai saber. Na verdade, você já deveria saber disso há
algum tempo, mas você tem um pouco de talento para o drama.
— Do que você tá falando?
— Disso. — Ela aponta para a televisão.
— Um programa de auditório? Toda essa falação é por causa disso?
Fala sério, Olivia.
— Não, Eva, a minha falação é porque você não escuta nada do que a
gente fala quando se refere ao Derek, mas agora você vai sentar aí bem quieta
e ouvir o que ele tem a dizer.
Meus olhos correm para a tela e eu o vejo sentado em uma cadeira,
perto de uma apresentadora que nem me lembro o nome, ele está lindo, com
o cabelo bagunçado e a barba por fazer, mas ainda assim perfeito.
— Como...?
— Shiiii, eu disse quietinha.
Volto a olhar para a tela quando a apresentadora loura começa a falar.
— E hoje, senhoras e senhores, temos aqui conosco ninguém mais e
ninguém menos que Derek Preston, o roteirista premiado com o Oscar e
grande Best Seller do ano. Obrigada por ter vindo, Derek, estamos felizes de
recebê-lo.
— Obrigado por me receber, April.
— Então... — April começa a falar, um olhar especulativo para ele.
Meu coração contorce de nervosismo. — Achei que você viria contar um
pouco do seu trabalho, mas a produção me informou que você tem algo
totalmente diferente pra nos dizer.
— É isso mesmo — ele declara, visivelmente constrangido pela
exposição.
Olho para a minha amiga e ela está me observando com muita
atenção.
— Você sabia? — pergunto, mas Olivia dá de ombros. — Ele não é
mesmo um CEO?
— Não, amiga, mas escuta, tem mais.
— Bom, há alguns anos eu fiquei noivo e pretendia me casar, mas as
circunstâncias mudaram e o casamento foi cancelado.
A voz de Derek prende meus olhos à tela, não consigo nem respirar
direito, quem dirá pensar com clareza.
— Ah, sinto muito.
— Tudo bem, foi melhor assim — ele diz e suspira pesado. — Mas eu
passei muitos anos sem acreditar no amor, até que fiz essa viagem e conheci a
mulher mais incrivelmente linguaruda do mundo. Sabe, ela roubou meu taxi,
derrubou café em mim, me mandou lavar minhas próprias roupas e roubou o
meu coração.
A plateia e a apresentadora fazem um grande ohhhh em coro e eu
prendo a minha respiração.
— Eu achei que não era capaz de amar, mas ela mostrou que sim e
por isso eu vim aqui hoje.
— Não é fácil, não é? Nós sabemos que você faz mais o tipo recluso e
tem evitado aparecer muito.
— Eu não lido muito bem com a exposição.
— Mas decidiu vir aqui mesmo assim. — April acena, impressionada.
— E pelo jeito ainda virei mais vezes, porque tive de prometer
algumas entrevistas para conseguir esse espaço.
A plateia ri e Derek baixa os olhos, envergonhado. Até assim ele é
lindo.
— Mas então Derek, o que você diria pra...
— Eva.
— O que você diria para Eva se ela pudesse ouvir nesse momento?
— Eu sei que você não acredita, que acha que o universo está
conspirando contra, mas a verdade é que você me ensinou a amar outra vez,
me fez ver que é possível realmente ser visto por alguém, ser aceito com
defeitos e qualidades. Eu me apaixonei pela garota que roubou meu taxi. Eu
te amo e prefiro passar a vida espantando os malucos daquela convenção do
que ficar longe de você. A propósito, o livro na sua mesa de cabeceira,
autografei enquanto você dormia, e fui eu mesmo que escrevi.
Meu coração bate tão forte quando o escuto lidar com a comoção do
auditório. Derek, o CEO desempregado, enfeitiçado, na verdade é um
roteirista de sucesso, um escritor de sucesso.
Corro até o quarto e pego o livro, abro e encontro a dedicatória.
Viro as páginas, mal consigo ouvir o som por causa da força como
meu coração espanca meu peito, e então eu acho a foto e a biografia de Derek
Preston na contracapa.
— Ele me ama de verdade.
— Ama mesmo — Olivia fala ao entrar e me encontrar fora dos eixos
pelo que acabo de descobrir.
Eu a abraço e nós duas pulamos e rimos pelo quarto.
— Ele me ama, ele me ama.
Comemoro.
— Mas o que é que eu ainda tô fazendo aqui? Eu... preciso ir e você
vai me levar.
— Não é melhor esperar ele vir?
— Não, eu preciso ir.
Olivia corre para o quarto e pega a chave do carro e a bolsa, enquanto
eu termino de calçar o primeiro sapato que encontro.
— Pronta?
— Sim — respondo, sem pensar em mais nada.
Minha melhor amiga tem um pé pesado, ela pisa no acelerador sem
dó, aproveitando que o movimento da noite está mais tranquilo. Ela nos leva
por ruas que eu nunca nem entrei antes, mas nem questiono, afinal, tudo o
que eu quero é ir encontrar o homem que me ama e a quem eu amo
perdidamente.
Batuco impaciente na porta do carro e Olivia resmunga que está indo
o mais rápido que pode.
Ela se aproxima do portão da emissora e eu nem espero que ela pare o
carro para correr. Passo feito uma louca pelo guardinha, me esquivando do
homem e correndo para a porta lateral, onde vejo um movimento de gente
saindo.
— Por favor, Derek, Derek Preston. — Respiro ofegante, apoiando a
minha mão no joelho.
— Então você é ela? — Uma voz sonora e doce me faz erguer o
corpo. April está me encarando com um sorriso. O sorriso das mulheres que
ainda acreditam no amor.
— Eu sou ela, Eva. — Estico a mão e ela aperta de leve. — Derek
está aí?
— Ele foi atrás de você, querida. Aquele homem te ama de verdade.
— Ama mesmo — eu concordo, rindo. — E eu amo aquele
rabugento. Eu preciso ir.
— Boa sorte e não deixe de mandar um convite se acabar em
casamento.
Aceno de longe.
— Pode deixar — grito e volto para o carro.
Sento no banco do passageiro e puxo o ar com força, uma dorzinha na
minha lateral me faz arquear o corpo.
— Você está bem? — Olivia pergunta e ainda curvada eu aceno.
— Casa. — Solto um grunhido e ela ri.
— Eu disse que a gente deveria ter ficado em casa esperando.
— É, é, você sempre tá certa, mas sabe como eu sou.
— Teimosa pra caramba.
— Melhor teimosa do que enfeitiçada.
Eu sei, o que eu fiz foi uma loucura, mas aquela cabeça dura não me
escuta, eu tinha que dar um jeito de fazê-la entender que, quando digo que
não estou enfeitiçado, não é o feitiço falando por mim e, sim, eu mesmo.
E eu a amo.
Então, momentos desesperados, medidas desesperadas.
Dirijo e estaciono na frente da casa dela. Desço e bato na porta várias
vezes, mas ninguém atende.
É claro que ela não podia fazer o previsível, fazer o que eu espero que
faça. Eva é um caos e eu estou louco de saudade de sentir o cheiro de
morango do seu cabelo, ouvir seus resmungos quando não concorda com
algo.
Sento no degrau da frente da porta, de jeito nenhum vou sair daqui
sem me entender com minha garota. Ela vai entender de uma vez por todas
que meu coração é dela e que o dela é meu.
Meu celular apita e eu pego logo, procurando o nome dela no visor.
Bufo quando vejo que a mensagem é do meu agente.
James: Foi um show e tanto, vamos vender milhões de livros depois
disso.
Derek: Esse não é o objetivo.
James: Por isso mesmo. Então, já se entendeu com sua ruiva?
Derek: Ela não está em casa.
James: HAHAHAHA
Derek: Eva quer me enlouquecer.
James: Essa garota tem meu total respeito, ela colocou o maior
rabugento do país no devido lugar.
Derek: Muito engraçado. Traidor.
James: Qual é, Derek? É muito mais divertido ver você correndo
atrás dela como um cachorrinho do que enfiado num apartamento sozinho e
raivoso.
Derek: É bom que ela me aceite, porque até o meu único amigo ela já
roubou.
James: #TeamEva.
Não respondo mais nada, porque James está começando a me irritar.
Sei que não vai ser uma tarefa fácil mudar meu gênio ruim, mas não me
importo de mover montanhas se for pra ficar com Eva. E mesmo o meu
agente e único outro ser humano na face da terra que me aguenta já percebeu
isso.
Respiro fundo, passo a mão nos cabelos, bagunçando tudo, ansioso
como se minha vida dependesse disso.
E o que eu faço se ela não me quiser? Se ela decidir que fui um
cafajeste que mentiu e por isso ela me odeia?
Eu sei que vou viver, afinal o mundo não para. Mas a verdade é que
não quero viver sem ela. Eva é o amor da minha vida e só quando estou com
minha ruiva rebelde é que me sinto completo.
O carro de Olivia aparece na outra esquina e eu sinto todo meu corpo
enregelar. Quanto mais perto elas estão, mais meu coração bate forte, tão alto
que quase me deixa surdo.
Olivia para o carro no meio da rua e baixa o vidro, ela acena e dá uma
risadinha travessa que não sei se me alivia ou me deixa mais tenso. É quando
eu finalmente a vejo.
Eva desce do banco do passageiro e vem até mim, seu rosto
impassível é mistério puro e eu me sinto como um desses caras de uma
comédia romântica, esperando para ser perdoado pela garota que ama.
Neste caso, as coisas são um pouco mais complicadas.
Eva para antes da escada e vira para a amiga, acena com um
tchauzinho rápido e a outra acelera o carro e vai embora. Só então a ruiva
ergue os olhos azuis na minha direção.
Seu olhar enche meu coração de medo, há marcas de lágrimas nos
cantinhos e uma expressão triste que se espalha por todo semblante e eu
provavelmente sou o culpado por seu sofrimento.
— Vamos entrar — ela diz e eu suspiro, sem conseguir conter o
nervosismo.
Eu a sigo para dentro de casa, passando a mão pela minha calça jeans
para limpar o suor das palmas. Me sinto como um criminoso a espera do
veredicto, mas nem isso vai me fazer desistir dessa mulher. Nada no mundo
me faz sair daqui antes de dizer tudo.
— Eva, eu...
Ela me cala com um aceno e eu insuflo o ar com força. É um
sacrifício enorme me manter calmo, minha vontade é pular em Eva, pegar seu
rosto e grudar nossas bocas.
Eva acende a luz e para bem no meio da sala, é quase como se
estivéssemos no centro de um palco com os holofotes todos em nós, à espera
do grande clímax da peça teatral. Concentre-se, idiota, ou vai perder a
chance.
— Quer dizer que você ganhou um Oscar?
— Ganhei, mas não é nada demais.
— E você escreveu um best seller?
— Escrevi.
— E não é nada demais?
— Não é — digo, com toda honestidade. — Eu não gosto da
exposição, mas amo escrever.
— É o que você se vê fazendo pelo resto da vida, não é? — Ela me
lança um olhar sereno e eu não posso mais esperar.
— Eu tentei contar, mas você só escuta o que quer — digo e ela ergue
uma sobrancelha. — No começo eu não queria, pensei que seria mais fácil
me afastar se você achasse que eu estava enfeitiçado, depois eu fiquei com
medo que me odiasse e me desse um pé na bunda. E quando você finalmente
me deu o pé na bunda eu percebi o erro de não ter contado. Me desculpe.
Eva fica me olhando por um instante e então faz o que sempre faz,
algo imprevisível que me desconcerta por completo, ela cai na gargalhada.
— Você tem uma mania sabia? — diz, ainda rindo. — Você tem essa
mania de despejar as coisas, parece que nem vai respirar e sai falando tudo
que vem na sua cabeça.
Ela me puxa para sentar ao seu lado no sofá e eu me vejo rindo com
ela, um pouco por ainda estar nervoso e outro tanto porque seu sorriso enche
meu coração de felicidade e esperança.
— Droga, eu tinha que me apaixonar logo pelo cretino do elevador?
Eva sorri, sua mão tocando meu rosto. E isso é tudo que eu preciso
para saber que nada mais importa, ela vai me perdoar e eu vou poder amar
essa mulher que quase acabou com os meus nervos.
— Então você não está brava porque eu não estou enfeitiçado? —
pergunto, rindo feito um idiota.
— Só se você escrever um final feliz para o seu livro, eu odiei o que
você fez com ele, precisava matá-lo?
— Eu escrevo quantos finais você quiser. Escrevo mil finais felizes.
— Eu te amo, Derek Preston. Estou feliz que tenha sido real e não um
feitiço.
Ela sorri e eu me rendo. Eva tem meu coração, minha alma, eu sou
dela e agora eu sei que ela também é minha.
Levanto do sofá e começo a comemorar, rio, dou um pulinho. Não
consigo me conter, Eva me ama.
— E o cretino arrogante ganha a partida, senhoras e senhores —
começo a falar, puxando Eva do sofá direto para os meus braços. — Ele
conquistou a ruiva genial que tem mania de roubar taxis.
— Eu não roubei o taxi — declara com um bico.
— Eu não ligo — digo, puxando o rosto dela para me olhar bem de
pertinho.
Beijo os lábios carnudos que mesmo sem batom continuam sendo a
coisa mais apetitosa do mundo. Meu corpo reage e o olhar travesso da minha
ruiva deixa bem claro que ela está sentindo como me deixa, duro, ansioso e
louco pra levá-la pra cama.
— Eu te amo, Eva. De verdade e de todo meu coração. Você é a única
capaz de me fazer sentir como um ser humano de verdade, completo, e agora
não tem mais volta, eu sou seu, cada pedaço meu pertence a você.
— E eu sou sua. — ela deita a cabeça para trás e eu aproveito para
mergulhar o nariz no seu pescoço. — Todinha sua.
— Nossa, como eu senti saudade desse cheiro. — Passo a língua na
curva do pescoço da minha ruiva atrevida, sentir sua pele se arrepiando é
como brasa para um fogo que ela acendeu quando derrubou café gelado em
mim e tão cedo não vai apagar. — Agora vou fazer jus ao meu bom hábito.
— Bom hábito?
Ela aperta as sobrancelhas, sem entender que estou prestes a despejar
nela todas as coisas safadas que estou planejando fazer. Sexo de
reconciliação, não, sexo safado de reconciliação, isso sim.
Derek me pega pela mão para evitar que a gente perca o avião por eu
cair no meio do caminho para o portão de embarque. É interessante como as
coisas entre nós começaram em um aeroporto e estão recomeçando do
mesmo jeito.
A diferença é que agora viemos juntos no taxi.
Essa é nossa primeira grande viagem como marido e mulher. Fizemos
outras durante o ano, mas essa é nossa lua de mel. E adivinha só o que nós
vamos fazer.
Acertou se disse conhecer castelos por toda a Europa.
Derek fez uma reserva em um hotel cinco estrelas na Escócia e
comprou vários pacotes turísticos com castelos na programação. Dá pra
acreditar que vamos passar um mês inteiro conhecendo castelos milenares
onde pessoas de verdade lutaram por seus reinos?
Certo, estou exagerando, mas é que estou muito empolgada.
Os últimos três livros do meu amor foram um sucesso total e por isso
resolvemos nos dar essas férias barra lua de mel. James não reclamou, mas
também pudera, está nadando em dinheiro.
Eu ainda não sei o que quero fazer pelo resto da minha vida, por isso,
eu me demiti e mandei, literalmente, Robert Sampson achar outra pessoa para
pedir pra comprar seus presentinhos pra sua noiva. Bom, não foi bem assim.
Mas o resultado foi o mesmo.
Ela acabou perdoando-o, mesmo com ele garantindo que não se
lembrava de nada, o que só a fez acreditar ainda mais na mentira da hipnose.
Olhando para trás hoje, percebo como eles são perfeitos e como têm
coisas em comum, além do mais, a gente não escolhe a quem amar, não é?
E eu não poderia ter descoberto o amor verdadeiro se continuasse
acreditando que o que eu sentia era amor, que a pessoa que eu queria jamais
me amaria ou que eu não merecia o amor.
A verdade é que não importa se eu sou uma garota plus size, magra ou
um alienígena azul. São milhares de pessoas nesse mundo enorme em que
vivemos, existe a pessoa certa para cada um de nós, só precisamos entender
que os quilos a mais na balança ou alguma coisa que nos faça diferente dos
outros não nos diminuem em nada, que ser diferente faz parte de ser um ser
humano em um planeta enorme.
E se a gente não se amar de verdade, como poderemos encontrar a
pessoa que vai nos amar acima de tudo e que vai fazer aquele sexo gostoso de
deixar as pernas bambas?
Derek me lança um olhar estranho, quando paramos perto do portão
de embarque.
— Você está bem, amor?
— Estou ótima — digo, pegando seu rosto e plantando um beijo
comportado nos seus lábios.
Dá última vez que decidi provocá-lo com um beijo mais safadinho
quase perdemos a hora do embarque, transando feito loucos no nosso duplex,
pra onde nos mudamos há alguns meses, quando Derek resolveu que não
dormiria nem mais uma única noite longe de mim. Não demorou muito para
ele fazer o pedido, antecipar o casamento e nos mandar nessa viagem de lua
de mel.
Como o apartamento em que eu morava é de Olivia, decidi que não
era justo fazê-la ficar convivendo com nossa rotina sexual, ainda mais depois
que ela terminou o namoro e resolveu mergulhar de cabeça no seu trabalho de
arqueóloga. Nesse momento ela está no Egito escavando múmias de gente, de
gatos e do que mais achar por aí.
Acabamos comprando um duplex lindo, com uma suíte espaçosa, um
escritório, um quarto de hóspedes e um que reservamos para um bebê. Nunca
se sabe quando pode acontecer.
— No que está pensando? — ele pergunta, ansioso.
— Em como eu estou feliz. Nunca pensei que isso fosse possível.
Derek sorri de um jeito torto e convencido, o mesmo sorriso que me
conquista todas as manhãs quando acordo e que me aquece antes de dormir.
— Eu te amo, Derek Preston.
— Eu te amo, ruiva ladra de taxis.
Passamos pelo processo de embarque e começamos a descer pela
rampa que dá acesso ao avião. Antes, porém, Derek aperta minha mão e me
faz olhá-lo de frente.
— Me prometa uma coisa.
— O que quiser — digo, rindo.
— Aconteça o que acontecer você não vai salvar nenhuma velhinha
surda por aí, não quero ter que lidar com mais nenhum CEO enfeitiçado.
— Agora eu não preciso, eu já sei que mereço o amor.
— O meu amor.
— Certo, certo, eu mereço o seu amor. E não vamos esquecer, eu
mereço o meu amor também.
Mais do que o amor de qualquer pessoa nesse mundo, eu mereço o
meu amor.
Eu mereço.
Sinto um ligeiro tremor no joelho e decido me sentar. Não se
preocupe, pois não estou morrendo ainda, só cansada. Não é fácil carregar
essa velha carcaça por tantos séculos, ainda mais quando estou nessa... como
explicar sem assustar você? Digamos que, nesta aparência de velha ossuda.
Não adianta perguntar, não vou dizer a minha idade. Ninguém nunca
te disse que é uma tremenda falta de educação perguntar isso para uma dama?
Mas saiba que estou por aqui há muito, muito tempo, então nem pense
que pode me passar a perna.
E tem mais, ao contrário do que aquela jovenzinha cabeça dura pensa,
eu escuto muito bem, melhor do que bem, tanto é que escutei a dor dela lá de
onde eu estava.
E escutei a dor dele também. Derek e seu enorme coração partido.
Todo aquele rancor e tristeza já estavam soando como um disco arranhado e
eu já estava ficando irritada. Então decidi dar um empurrãozinho e colocar
esses dois corações no mesmo lugar, pra ver se resolviam logo suas questões.
Espere um pouco, já vou explicar melhor.
Eles estavam destinados a cruzar o caminho um do outro em algum
momento e poderiam ou não ficar juntos, mas como eu não gosto de deixar
tudo nas mãos do acaso, e como as lamurias dessas almas carentes estavam
cansando a minha beleza, decidi adiantar o encontro.
E não poderia ter feito melhor.
Não precisei nem me esforçar muito, eles se atraíram como imãs.
Acho que nasceram um para o outro.
Mas você tem que concordar que a coisa dos CEOs enfeitiçados foi
um toque e tanto, hein?
Acho que meu humor está ficando mais aguçado conforme o tempo
vai passando.
Arrumo o lenço na minha cabeça, a roupa colorida e cheia de contas e
medalhinhas barulhentas faz parte da proposta, embora eu esteja louca para
me livrar delas.
Por que não?
Respiro fundo e estalo meu pescoço e costas, estico as pernas e com
um único piscar de olhos toda a minha aparência se transforma. De velha
colorida à jovem linda e exótica.
Minha roupa de cigana se transforma num lindo terninho de alta
costura, bem cortado e muito mais confortável do que todos os badulaques
que estiveram pendurados em mim nos últimos tempos.
Ah, eu não me apresentei direito, não é?
Bom, prazer, meu nome é Cleópatra, mas Eva me apelidou de Cleo e
eu gostei, deu uma modernizada nas coisas.
Por falar em Eva, vejo-a sacudindo aquele cabelo ruivo bagunçado
enquanto dá uma corridinha para pegar o avião. Derek a puxa pela mão,
tentando não fazer ambos caírem de cara no chão.
É estranho como esses dois parecem atrair coisas como café, taxis e
tombos.
Mas eu gosto deles, tenho um carinho especial por essas duas almas
que estiveram em busca um do outro por muito tempo.
É tão gostoso ver o amor, você não acha?
Para ser sincera, eu não costumo me meter na vida alheia, mas tenho
que admitir também que bancar o cupido pode ser muito divertido, mesmo
que para isso seja necessário enfeitiçar um hotel cheio de homens poderosos.
Satisfeita por ver o belo resultado do meu projetinho pessoal, olho ao
redor e solto o ar dos pulmões com leveza.
Missão cumprida.
Mas então por que é que sinto que esse é só o começo?
Dando de ombros, pego a mala de rodinhas e a guio até o portão de
embarque. A jovem comissária me dá um olhar simpático.
— Bom dia — ela diz e eu entrego o bilhete.
— Está me parecendo mesmo bom — respondo, deixando que o ar
fresco penetre nos meus pulmões.
— Boa viagem, senhora. — Ela devolve o bilhete e pega minha mala.
Ah, vai ser uma ótima viagem. Férias no Egito, o que pode dar
errado?
Oi! Vamos conversar um pouquinho?
E aí gostou da Eva e do Derek?
Tenho que dizer que foi um enorme desafio contar e viver essa
história de amor atravessada, mas agora aqui, enquanto termino o livro e me
pego escrevendo pra você, eu sinto de todo meu coração que valeu a pena.
Eva precisava vir ao mundo aprender a ver a si mesma, a superar as
suas dores e se entregar ao amor. E o Derek, bom, ele precisava, ainda
precisa, aprender a lidar melhor com ladrões de taxi.
Espero sinceramente que você tenha gostado da leitura e que continue
caminhando comigo pelas próximas jornadas literárias.
Tenho alguns projetos muito legais que quero dividir com você esse
ano e pra começarmos bem, vou deixar um bônus do meu próximo livro.
Então, nas páginas a seguir você vai conhecer uma garota brasileira
que tenta muito não se meter em confusão, mas que sempre acaba enrascada.
Nos vemos nas próximas leituras e não deixe de me acompanhar no
Instagram, tem sempre alguma novidade por lá.
Instagram: @gracirocha_autora
Iris
Fecho a porta da rua com cuidado, porque tenho a impressão de que
se batê-la vai cair mais um pedaço do telhado. Maldita casa velha. Corro até
o carro sob um véu de chuva fina, tentando proteger minha cabeleira sob uma
mão espalmada. Como se fosse possível, tenho tantos cachos que nem mesmo
se cortá-los, minha mão pequena seria capaz evitar que ficassem encharcados.
Eu adoro chuva, pelo menos normalmente eu adoro chuva. Hoje é um
dia de exceção, meu humor e minha aura estão tão cinzentos que nem mesmo
um dia de sol me faria sentir melhor e a culpa não é do tempo.
Encaro por um segundo a porta do meu carro, faz quase um ano que
ele foi pichado com a palavra BRUXA e eu decidi deixá-lo assim, só por que
se mandasse pintar, não levaria muitos dias para que a palavra bruxa voltasse
a ser pichada nele.
É um pecado estragar um carrinho tão lindo.
Dou uma sacudida na água dos meus cabelos e mergulho no calor
abafado do carro, ligo o rádio, mas a estática me vence. Estou tão carregada
hoje que nada funciona direito.
Comprovo isso quando dou a partida, ou melhor, tento dar a partida e
o carro não dá o menor sinal de que está disposto a sair do lugar.
— Vamos lá, carro teimoso, ou você liga ou vou me atrasar, acabar
sendo presa e sabe o que fazem com carros de condenadas? Ainda mais
depois que foram pichados com palavras como Bruxa... Vão para o ferro
velho, viram picadinho. SUCATA. É isso que você quer?
Tento dar a partida e nada.
— Tudo bem, ferro velho então — digo e giro a chave. Dessa vez,
meu carro teimoso funciona de imediato. — Isso garoto, é assim que se faz,
vamos enfrentar a fogueira. Não literalmente, claro.
Sigo dirigindo com cuidado para não aquaplanar na rodovia, enquanto
viajo para a cidade vizinha para chegar ao fórum em tempo de dizer para
aquela velha maluca que esse processo não tem cabimento. Eu não sou uma
bruxa e mesmo que fosse, a gente não vive mais na Idade Média, não é?
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[1]
Sala de roteirista é uma prática muito comum nos Estados Unidos quando se está criando uma série. Há um
showrunner, que é o roteirista chefe e criador da série geralmente, um roteirista sênior ou dois, um assistente que não
abre a boca para nada e roteiristas juniores, que geralmente são os que escrevem a maioria dos episódios. No Brasil, é
uma prática que está começando a ganhar uma forma mais robusta, conforme a produção de séries se intensifica.
[2]
Episódio piloto é o primeiro episódio de uma série, geralmente usado para testar a série, argumentos e sinopses são
etapas do roteiro, contendo elementos da história e podendo ser usados para venda. Assim como a Bíblia da série que é
de fato um documento de apresentação que contém vários aspectos da série, cujo objetivo é vendê-la para produtores ou
outros.
[3]
Morning Show é um tipo popular de programa da manhã nos Estados Unidos, com entrevista e jornal.
[4]
É um tipo de café com leite.
[5]
Refere-se a protagonista do livro Green Card – Um magnata em minha vida.
[6]
Inteligência Artificial criada no livro Green Card.
[7]
Howard Gardner é um psicólogo cognitivo e educacional dos Estados Unidos, responsável pela teoria das múltiplas
inteligências.
[8]
Josh Howard é o bilionário, CEO do Conglomerado bancário Howard e marido de Mila, é também o protagonista de
Green Card- um magnata em minha vida, lançado em 2021.
[9]
Referência à série CSI Miami, muito popular nos Estados Unidos há alguns anos.
[10]
Refere-se a Jacqueline Kennedy Onassis.
[11]
Astro de diversos filmes, como “Treinando o papai”, “Bem-vindo à Selva” e outros.
[12]
Refere-se ao valor pago para algum artista, músico, escritor, a título de direitos autorais.
[13]
É um tipo de agenda.