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Direitos autorais do texto original copyright © 2021, Graci

Rocha, Socorro, o CEO quer casar.

Capa: Magnifique Design


Diagramação: Brenda Ripardo

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desse livro pode
ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes —
tangíveis ou intangíveis — sem autorização por escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº
9.610/98, punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Para as minhas leitoras, que não cansam de se apaixonar
pelos meus mocinhos quentes.
“Ela ergue os olhos e pisca os cílios devagar, seus lábios
vermelhos se abrem de leve e, no fundo, sei que estou perdido. Sou
dela, não importa o tempo que ela leve pra se dar conta, mas sou
inteiramente dela”.

Gabriel Dupont é o segundo irmão de uma família de quatro


CEOs lindos e temperamentais. O dramático e divertido empresário
está em uma encrenca séria, pois acaba de ser roubado por alguém
em que ele achou que podia confiar.
Agora, seu pai está decidido que ele precisa de rumo na vida,
ou vai tomar drásticas atitudes, ou seja, vai infernizá-lo até que pare
de aprontar e sumir sempre que algo dá errado.
Desesperado e sem ter a menor ideia de como se livrar dessa
confusão, o dramático Dupont decide pedir que sua amiga
embarque em uma aventura que vai virar a vida de ambos de
cabeça para baixo.
Luciana Perloni é a irmã mais velha e mais séria. Ela é sócia
em uma confeitaria que tem crescido cada vez mais, mas parece
que quanto mais sucesso tem no lado profissional, mais as coisas
se complicam no amor.
A jovem mãe está decidida a dedicar sua vida ao filho e a
carreira, já que parece fadada a ser enganada sempre que decide
confiar em alguém, além do mais, ela tem certeza de que é incapaz
de amar. Existe algo quebrado dentro dela.
Será mesmo?
Gabriel e Luciana, uma combinação que tem tudo para dar
tremendamente errado ou muito certo.
Com cenas picantes e provocações quentes, esse casal vai
descobrir que para a felicidade ser completa precisam apenas de
amor e confiança. E não vamos esquecer de uma boa dose de
pegação.

Este é o terceiro livro da Série Irmãos Dupont. O livro faz parte


de um projeto feito em parceria com a autora Brenda Ripardo, e
cada história pode ser lida de forma independente, ainda que a cada
novo livro você encontre um pouco dos personagens dos anteriores,
afinal de contas, eles são irmãos unidos que vivem metendo o nariz
na vida uns dos outros.
Não recomendado para menores de 18 anos, contém
cenas adultas e alguns socos na cara.
Adele - Easy On Me.
Ben Barnes - Rise Up.
Elvis Presley - Can't Help Falling In Love.
Jennifer Lopez - Ain't Your Mama.
Pink - Try.
Pink - Just Like Fire.
Bishop Briggs - Champion.
Mark Ronson - Uptown Funk ft. Bruno Mars.
Mina Okabe - Every Second.
Sam Smith - Diamonds.
Sam Tinnesz - When the Truth Hunts You Down.
— Não posso acreditar que você está fazendo isso outra vez
— meu pai diz, sentando-se na cama, ao lado da mochila em que
enfio roupas sem qualquer cuidado. — Fugir não é a solução.
— Não estou fugindo — respondo, trincando os dentes. — Só
preciso dar um tempo.
— Você precisa é colocar a cabeça no lugar e resolver as
coisas. — Meu pai cruza os braços sobre o peito, o que me alerta
que ele está começando a ficar irritado. — Eu não entendo, não
ensinei meus filhos a agirem feito malucos e ainda assim vocês
quase me provocam um infarto sempre que se metem em encrenca.
— O que é que eu posso fazer, pai? Fui um idiota, levei ela pra
casa, achei que tínhamos uma coisa legal, ela roubou a patente,
ponto final.
O gosto amargo me invade quando lembro que misturei
negócios e prazer e acabei me ferrando. O que era pra ser uma
noite de sexo casual com uma engenheira da empresa, acabou se
tornando a minha derrocada quando ela decidiu roubar o projeto da
nova tecnologia em que venho trabalhando nos últimos dezoito
meses. Merda, eu e meu pau idiota ferramos tudo.
— Isso porque você não escuta o que digo — ele brada,
realmente muito irritado. — Você precisa parar com esses casos,
ache uma boa garota e sossegue.
Não respondo, mas continuo amontoando coisas na mochila.
Meu pai se levanta da cama e começa a andar de um lado para o
outro. Algo me diz que não vou gostar do rumo desta conversa.
— É o seguinte, meu filho... já fui paciente demais com você.
— Ele gesticula, enfatizando as palavras. — Estou aposentado,
quero curtir o resto da minha vida com a sua mãe, não posso ficar
me preocupando com um filho desmiolado que some pelo mundo
toda vez que algo dá errado.
— Não pedi que você se preocupe — retruco e ele me lança
um olhar indignado por causa da minha malcriação.
— E o que eu faço com sua mãe? A deixo se debulhando em
lágrimas toda vez que você não dá sinal de vida por dias e dias?
Sabia que da última vez ela me fez até ir ao IML procurar por você?
— Desculpe — respiro fundo e falo, mas não olho meu pai nos
olhos, sei que no fundo ele está certo, só não sei como lidar com
isso agora. — Só preciso de uns dias pra pensar... esfriar a cabeça
e procurar uma solução.
— O que você precisa é de uma esposa, alguém em quem
pensar além de você, que não o deixe fugir toda vez que uma merda
acontecer e que acabe com esses casos de uma noite só.
— Eu não preciso de uma esposa — retruco birrento, como
quando eu era criança e fazia alguma coisa errada e meu pai me
obrigava a me desculpar mesmo de má vontade.
— É o seguinte. — Meu pai me olha com uma sobrancelha
erguida e a covinha no queixo que combina perfeitamente com a
nossa genética. — Você tem duas opções: número um, você arruma
uma boa moça, se casa e todos saímos ganhando. Ou...
— Ou?
— A segunda opção é eu usufruir do meu direito como
acionista da sua empresa e me tornar o CEO. Acho que vai ser
muito bom trabalhar com você, colocar todas as coisas no lugar,
limites... se vou ter que deixar sua mãe e voltar a trabalhar, que seja
como CEO, claro.
Começo a rir, porque meu pai só pode estar louco se acha que
vai me chantagear com as suas ações. Ele levanta uma sobrancelha
e nesse momento eu sei, com toda certeza do mundo, que meu
velho está jogando pra valer.
Merda.
— Pai... você não pode estar falando sério. — Respiro fundo e
passo a mão pelo cabelo, tentando não sair gritando e arrancando
cada fio. — Eu te amo pai, mas nós nunca daríamos certo
trabalhando juntos.
— Eu cansei! — Ele me fita com muita firmeza, me fazendo
engolir o nó que se forma na minha garganta. — Ou você arruma
uma esposa ou vou abandonar minha aposentadoria e assumir a
empresa. Os negócios não podem ser tratados como brinquedos,
filho. Você ter sido enganado por uma funcionária é a prova disso.
— Mas...
— E tem mais, não quero um casamento de faz de conta,
quero a coisa real, você vai abrir esse coração teimoso e achar uma
boa moça que o faça pensar antes de sumir por aí.
— E o que o faz pensar que eu seria capaz de manter um
casamento? Eu mal consigo manter minha sanidade — resmungo,
cruzando os braços.
— Um ano. Um ano é o tempo mínimo e você vai se esforçar
pra dar certo, se conseguir, devolvo minha cota de ações pra você
sem pedir nada em troca, nem um real sequer, mas se não
conseguir, assumo os negócios e veremos do que ainda sou capaz
à frente de uma empresa Dupont.
— Não!
— Está decidido, agora se quiser fugir, por mim tudo bem...
mas quando voltar já sabe, ou casa ou perde o comando da
empresa.
— Pai, você não faria isso.
— Já fiz — meu pai sorri e se vai, me deixando atônito no
quarto, com a minha mochila cheia de roupas e um gosto amargo na
boca. — Um ano. 365 dias, nada menos.
— Merda!
Eu sei que deveria ser mais romântica, mas acho que esse
parafuso veio faltando em mim, principalmente depois do que o pai
do Felipe fez comigo, ao me abandonar grávida e ainda por cima
levando tudo que eu tinha. Ainda bem que, desde que o ameacei
com a polícia, ele nunca mais deu as caras, nem mesmo para saber
se teve um filho ou filha. Felipe, meu menininho de cachinhos
castanhos e bagunçados, não tem nada daquele babaca, nem
mesmo o nome.
Pensei que, ao ver como o relacionamento da minha irmã é
lindo e cheio de amor, eu fosse voltar a me sentir assim, mas, de
repente, me sinto tão distante disso. Não sei explicar, talvez eu só
não seja capaz de sentir aquela coisa avassaladora que transforma
relacionamentos em finais felizes para sempre.
De qualquer maneira, estou vivendo uma boa fase da minha
vida, trabalho no que amo, já tenho mais dinheiro do que jamais fui
capaz de imaginar que teria um dia, faço parte de uma família
incrível, arrumei um melhor amigo meio maluco e super mulherengo
e tenho um namorado que quer construir uma família e que adora o
Felipe.
Acho que eu deveria sentir algo mais intenso, mas apesar de
não me ver capaz disso, gosto de estar com ele, me faz sentir parte
de um relacionamento, de algo mais, e tenho esperança de que as
coisas possam crescer, o amor possa crescer com o tempo.
Ainda que precise constantemente segurar a minha língua e
ser uma “boa garota” para ser a namorada perfeita, me sinto bem e
acho que pode ser o momento de aceitar o pedido do Ricardo para
morarmos juntos.
Por falar em Ricardo, comprei um vinho caro para
comemorarmos a marca de quinze franquias instaladas com
sucesso, a Petite é a confeitaria em maior expansão hoje, nem
posso acreditar que estou à frente dos negócios, transformando o
sonho da minha irmã em uma realidade linda e única.
É claro que recebemos ajuda dos Dupont e Miguel, o marido
rabugento da minha irmã que já foi meu chefe assustador, tem
estado conosco, ajudando e me ensinando mais à cada novo dia.
Aqueles homens Dupont podem ser muito temperamentais,
mas também são muito competentes em gerir negócios lucrativos,
constroem marcas poderosas como se fosse a coisa mais simples
do mundo.
Inclusive o mais dramático de todos se tornou o melhor amigo
que eu poderia querer. Gabriel é um tipo único, além de lindo e meio
surtado, ele sabe exatamente quando me dizer as verdades que
preciso ouvir e quando apenas ceder o ombro para eu apoiar a
cabeça cansada. E com ele eu posso ser exatamente a Luciana que
nasci pra ser, linguaruda e meio neurótica.
Afasto o pensamento enquanto estaciono na frente do prédio
do Ricardo, não é muito saudável ir para a casa do namorado, no
dia que planejou dizer sim para o pedido dele de morar juntos,
pensando no melhor amigo sarado e gostosão. Não mesmo.
Pego o elevador e viro para o espelho, me certificando de que
minha aparência está como eu planejei: fatal. Depois de dizer sim
ao meu namorado, vou abrir o vinho e o meu casaco, expondo a
lingerie preta e sexy que comprei.
Geralmente não fazemos nada assim, Ricardo é mais
reservado e tem sido um tanto difícil explorar o lado sexual do nosso
relacionamento, é sempre o básico, rápido e sem muitas
preliminares ou orgasmos. Mas acho que ao darmos esse passo, as
coisas vão mudar e mal posso esperar para termos uma daquelas
noites de sexo que toda garota ama, regada a preliminares e muitas
descobertas. O bom e velho sexo selvagem de qualidade. Mal
posso esperar para ter um orgasmo incrível, faz tempo desde o
último.
Tiro a chave da bolsa assim que a porta do elevador se abre e
segurando minha bolsa um pouco mais tensa do que planejei, rumo
para o apartamento.
Abro a porta e encontro tudo escuro. Será que ele já está
dormindo? Nossa, não são nem nove horas ainda.
Caminho me equilibrando no salto fino, dou uma ajeitada no
casaco fechado sobre a roupa íntima e respiro fundo. Abro a porta
do quarto e sinto todo o sangue escapar do meu cérebro.
Ricardo não apenas não está dormindo como está com a cara
enfiada no meio das pernas de uma garota que já vi no escritório
onde ele trabalha.
Deixo o vinho cair com o susto e ele se vira pra mim,
sobressaltado.
— Lu! — ele grita pelo susto, como se meu nome fosse um
palavrão.
Enquanto isso, a garota se encolhe na cama, puxando um
lençol sobre o corpo.
— Lu? Lu é o cacete, agora eu entendi tudo — digo, descendo
da porcaria do salto e pegando os sapatos na mão.
— Calma, Lu, vamos conversar. — Ricardo pelado tenta vir na
minha direção, mas aponto o salto para ele, como forma de ameaçã.
— Calma, porra nenhuma, nem pense em chegar perto de mim
com essa boca nojenta — falo bem alto, praticamente aos berros. —
E eu achando que você era reservado no sexo... pra me comer era
só aquela porcaria básica sem graça, mas pra enfiar a cara no meio
das pernas dessa daí, tudo bem.
Jogos os braços para o alto, pensando em todas as coisas que
eu pensei em dizer, tudo que planejei e em todas as noites que
dormi rezando para me apaixonar de verdade, para amá-lo como
achava que ele merecia. Achando que eu deveria ser perfeita e não
falar nem um palavrãozinho sequer. E então, meu mundo se desfaz
porque o babaca não conseguiu manter o pau dentro das calças ou
dentro de mim.
— Lu, por favor, não é bem assim, só fica calma.
— Por quê? Achei que você quisesse ter uma família, achei
que gostasse de mim.
— Eu gosto, foi... foi um erro.
— Tá vendo, pelo jeito nós duas fomos um erro pra ele — digo
para a garota que sai da cama e começa a se vestir ainda sem abrir
a boca.
— Você podia ter terminado, pedido um tempo, qualquer
merda assim, mas preferiu isso — aponto para a cena ao redor. A
cama bagunçada, a garota seminua, as roupas e os calçados
revirados pelo chão como se tivessem sido arrancados às pressas.
— Eu cometi um erro, Lu, por favor espera, a gente pode
consertar as coisas — ele tenta se aproximar, mas acabo
esbofeteando a cara ridiculamente linda e traidora.
Ricardo cambaleia, digerindo a minha fúria. Depois tenta se
aproximar novamente, mas para quando vê minha cara de nojo. Ah,
sim, nojo é o que sinto ao ver me traindo, o homem em quem
depositei o pouco de confiança que ainda era capaz de ter.
A expressão assustada no rosto dos dois é o bastante pra me
fazer entender que meu tempo nesse quarto chegou ao fim, o mais
estranho é que não sei bem como me sinto, apenas sacudo a
cabeça e começo a rir, droga, é um maldito riso de nervoso.
— Tá certo, parece que isso resume o nosso relacionamento,
a porcaria de um erro, um erro que eu cometi ao achar que você
valia o meu tempo — viro as costas e vou embora, engolindo o
choro, a raiva e a vontade de quebrar tudo.
Sigo até meu carro controlando tudo que tem dentro de mim,
mas assim que afundo no banco do motorista meu coração acelera
e as lágrimas vencem. Apertando o volante com força, deixo a raiva
e a dor tomarem conta e me desmancho em lágrimas.
Eu podia não estar perdida de amores por ele, mas gostava o
bastante para decidir começar uma vida juntos.
Droga, o apresentei à minha família, ficamos juntos por mais
de um ano. Só consigo pensar em quantos chifres levei nesse
tempo, e tudo isso pra quê? Pra um sexo ruim e um par de galhos
na cabeça?
Humpf!
Meu celular toca dentro da bolsa, cogito ignorar porque não
estou com qualquer disposição para lidar com o universo nesse
momento, mas sei que é a Cici pelo toque de pantera cor-de-rosa, e
ainda que vontade de não atender seja grande, penso em minha
irmã grávida, com pressão alta e que nunca para de trabalhar. Pode
ter acontecido alguma coisa.
Respiro fundo, limpo o rosto e atendo a ligação de Cici, sem
abrir a câmera, claro.
— Oi — digo, segurando o aperto no peito e a vontade de
correr até ela e afundar no seu colo. Não posso fazer isso agora,
não seria justo estressá-la mais e sei que é exatamente isso que vai
acontecer se eu for chorar nos seus braços. — Aconteceu alguma
coisa?
— Você está bem? Tá com a voz meio estranha, aguda — Cici
pergunta, como se tivesse um radar de sentimentos.
— Eu tô bem, só cansada e como está a nossa besourinha?
— Bem, me fazendo comer feito uma leoa, mas tirando isso
tem se comportado bem a noite e tem me deixado dormir.
— E você está cuidando da pressão?
— Simmmm — ela diz, estendendo a palavra daquele jeito
debochado e irritante que é só dela. — Você tem certeza de que
está bem, Lu? Tô te achando tão estranha.
— Tá tudo bem, não precisa se preocupar.
— Tá, só mais uma coisa, você tem alguma notícia de onde o
Gabriel pode estar? Minha sogra ligou e disse que ele surtou, pegou
uma mochila e sumiu.
Suspiro.
— Isso é tão a cara dele — respondo e Cici ri do outro lado da
linha.
— Eles são todos doidos — minha irmã diz. — Mas mesmo
assim não gosto de ver minha sogra preocupada e como vocês são
amigos... pensei que podia saber de alguma coisa. Tentamos ligar,
mas o celular está desligado.
— Acho que sei pra onde ele pode ter ido, não precisa se
preocupar que vou buscar aquele cabeção.
— Tem certeza? E o Felipe?
— Ele está bem, da última vez que chequei estava comendo
biscoito e vendo Bob Esponja com a mãe e a babá.
— Tá bom, obrigada... e Lu, se tiver algo acontecendo você
sabe que pode me contar, não é?
— Sei, obrigada. Agora pare de se preocupar e vá descansar.
Desligo o celular e bato com a mão no volante. Maldita hora
que virei amiga daquele Dupont maluco. Agora, além de ter de lidar
com as minhas merdas, ainda tenho que lidar com as merdas dele.
Acho o telefone dele na agenda do celular e mando uma
mensagem de áudio bem desaforada.

Luciana: Onde é que você se meteu, seu maluco? É melhor


que tenha sido abduzido por um alienígena ou vou comer seu fígado
por causar tanta confusão.

Ele não responde, então ligo o carro e piso no acelerador, juro


que se ele estiver com uma mulher curtindo enquanto minha irmã
grávida se preocupa, vou arrancar as bolas dele fora.
Por todo o percurso que faço da casa do Ricardo até a casa na
praia da Joaquina[1], que Gabriel comprou há uns dois anos para se
esconder quando está chateado, fico remoendo a merda que eu vi.
O que é que faz um cara ser tão sem graça na cama com uma
e todo interessado com outra? O que eu fiz de errado para ele fazer
isso comigo?
Droga, será que nunca terei sorte na porcaria do amor? E pelo
jeito, nem no sexo.
Acho que o melhor que eu faço é chutar o balde e focar só em
ter sucesso no trabalho, pelo menos isso tem dado certo.
Deixo meu carro na frente da garagem e desço. A casa é uma
construção não muito grande e bem mais simples do que a casa dos
pais Dupont.
Com estilo praiano de tijolinhos à vista e janelas grandes, tem
espaço o bastante para uma família, com um bom quintal e um
andar que acomoda três quartos, uma sala grande e arejada e uma
varanda, além de uma cozinha bem equipada, uma piscina e um
sofá que caberia um time de futebol.
A primeira vez em que estive aqui foi um pouco antes de
começar a namorar o Ricardo, as coisas estavam estressantes para
gravidez e Gabriel me trouxe e me colocou sentada de pernas pra
cima na varanda, me entupiu de coisas gostosas saudáveis e
passou o dia medindo minha pressão, desde então nos
aproximamos tanto que posso dizer que esse Dupont virado do
avesso se tornou meu melhor amigo.
Nos falamos toda semana e pelo menos duas vezes por mês
saímos pra almoçar e discutir alguma conquista maluca com quem
ele esteve. Sabe, Gabriel nunca gostou do Ricardo, sempre o
achando enjoado demais, crítico demais e reclamando de como viro
um robô perto dele. Talvez ele estivesse certo desde sempre e só eu
não quis ver.
Bom, agora eu vi e vi bem mais do que queria ter visto.
Merda de traidor.
Tento voltar a me concentrar em Gabriel, ele é meu amigo,
cunhado da minha irmã Cici e um homem muito generoso, já fez
mais pela minha família do que todo mundo que eu conheço e se
ele precisa de apoio, estou disposta a deixar de lado essa dor no
peito e estender meu ombro pra ele desabafar.
Agora é a minha vez de fazer o que é preciso por ele.
Abro a porta com a chave que ele oficialmente me deu para
escapar pra cá quando achar necessário e entro. Só espero não
tomar outro susto, com certeza não aguento pegar outro homem
com a boca em uma vagina na mesma noite.
Por sorte, encontro Gabriel sentado no sofá com uma cerveja
na mão e olhando para as portas da varanda, na mesinha há pelo
menos mais quatro garrafas.
A água da piscina, do outro lado da porta da varanda, está
mexendo um pouco, por causa do vento que começou, mas ele
parece não notar.
Gabriel é um grandalhão de mais de um metro e noventa, só
uns dois ou três centímetros menor que Miguel, marido da minha
irmã. Os cabelos castanhos são bagunçados e quase sempre ele
usa um par de óculos que encaixam com perfeição no seu rosto e
dão ares de homem inteligente. E ele é mesmo muito inteligente.
Todo mundo na sua família diz que ele é um tipo de gênio da área
de tecnologias hospitalares.
Quando trabalhei pra ele e pro Miguel pude comprovar isso,
suas ideias eram sempre diferentes, inovadoras e quando ele abre a
boca para contar sobre algum projeto sempre arrebata todos ao
redor.
Isso e seu maxilar definido, com aquele furo no queixo e a
barba por fazer, os braços fortes, a bunda durinha...
Inteligente, sarado e convencido. Combinação complexa.
É, sem camisa, não posso negar que é uma visão e tanto, mas
ele jamais vai saber que eu penso isso do seu tanquinho, ou minha
vida vai se tornar um inferno. Nunca vi um homem mais cheio de si
do que esse.
— Quer dizer que você surtou e sumiu? — pergunto e Gabriel
ergue os olhos bêbados na minha direção. Merda, pelo jeito é pior
do que eu pensava.
— Lu!!!! — ele grita e estica os braços pra mim, sem levantar
do sofá.
— O que aconteceu? — Sento ao lado dele e o deixo que me
prense em um abraço de urso.
— Como você tá cheirosa — diz, farejando o ar e sorrindo.
— O que aconteceu, Gabriel? Por que você fugiu? Tá todo
mundo preocupado com você.
Gabriel bufa e me puxa para outro abraço alcóolico. Não
resisto, porque nesse momento sinto que preciso muito disso, então
afundo no seu peitoral definido e deixo que ele enfie o nariz nos
meus cabelos.
— Já disse que gosto de você loira?
— Já, quando eu clareei mais. — Sorrio.
— Você é a minha melhor amiga.
— E você é o meu.
— Ótimo, então posso pedir uma coisa — ele diz e ergue a
garrafa pra mim. — Mas antes você precisa beber.
— Quero uma coisa mais forte que cerveja — digo e vou abrir
os armários de onde tiro um whisky e abro a tampa. — É muito sério
o que você quer?
— Muito.
— Então vou beber direto no gargalo.
— É todo seu.
— Quer casar comigo, Luciana Perloni? — fala, e eu começo a
rir.
— Como é?
— Isso mesmo. Quer casar comigo?
— Você só pode estar de sacanagem — solto, perplexa. —
Que conversa louca é essa de me pedir em casamento, Gabriel
Dupont?
Gabriel se ajeita no sofá com uma expressão atormentada no
rosto lindo. É difícil não rir, mas tento me controlar porque a bebida
ainda não fez seu bendito trabalho e estou mais sobrea do que
preciso para ouvir o que ele tem a dizer.
— O que tem de errado comigo? Qual o problema de casar
comigo? — ele engrola e não sei bem o que responder, então opto
por ir direto ao ponto.
— Tirando o fato de você ser um mulherengo, também é meu
amigo... e casamento é uma coisa séria.
— Eu posso ser sério — ele resmunga e eu pego sua mão
grande na minha.
— Eu sei, mas o ideal é que as pessoas estejam apaixonadas.
Entendeu?
— Mas não é um casamento de verdade, bom, é, mas não é,
entende?
— Não mesmo. — Rio e bebo mais do whisky, porque o dia de
hoje merece uma ressaca das brabas.
— Eu fiz merda, uma das grandes e agora ou eu me caso ou
perco o comando da Dupont.
Aperto as minhas sobrancelhas e Gabriel, com seu cabelo
castanho bagunçado e seus olhos amendoados vivos, puxa minha
mão e leva a face dela aos seus lábios. Planta um beijo casto e
depois suspira.
— Lembra da Cíntia, lá da empresa?
— Aquela que parece uma top model de revista? — pergunto e
ele apenas acena, concordando.
— Ela é engenheira mecânica, na verdade.
— Tudo bem, o que tem ela?
— Não foi um sexo fenomenal, mas não foi dos piores...
— Foco, Gabriel — digo, bebendo mais um pouco. — Você a
levou pra cama? E o que tem de errado nisso?
— Então, enquanto eu dormia, ela roubou um projeto do meu
notebook, uma coisa grande e que vai mudar muito a vida de
pessoas com deficiência. Ela pediu a patente e me ferrou.
Suspiro, entendendo o motivo dele ter surtado e vindo se
esconder na casa da praia. Gabriel é o irmão Dupont mais
dramático, mas tem um coração de ouro e não faz nada que não
seja para ajudar as pessoas que precisam. É uma merda que essa
tal engenheira/modelo de capa de revista tenha feito isso com ele.
— E como é que eu posso ajudar você?
— Se casando comigo — ele diz e seus olhos tristes vêm
direto para os meus.
— Socorro, o CEO quer casar — provoco e ele sorri de um
jeito triste.
— Meu pai decidiu que se eu não estiver comprometido, parar
de me envolver com ladras de patente e também de sumir quando
me dá na telha... vai assumir como CEO da minha empresa, e ele
pode fazer isso, tem ações e todos do conselho o amam.
— Você é bem crescidinho, sabe que não precisa mais
obedecer ao seu Raul.
— É, mas se eu não achar uma garota pra me casar e ficar por
um ano pelo menos, ele vai cobrar suas ações, favores no conselho,
vai assumir como o CEO com certeza. Meu pai não joga pra perder,
Lu.
— Ele não faria isso — digo, mas algo me diz que aquele velho
Dupont é capaz de qualquer coisa só para dar uma lição no filho.
— Ele vai fazer, eu conheço meu pai e o pior é que não acho
que conseguiria lidar com ele. Eu amo meu pai, Lu, só que eu gosto
de fazer as coisas do meu jeito.
— Mas você conseguiu lidar com o Miguel por um bom tempo.
— Não foi nada fácil. Além disso, o Miguel é fichinha perto de
Raul Dupont. Meu pai vai me enlouquecer, mais do que eu já sou.
Ele tem o jeito dele, o Miguel tinha uma visão bem menos
tradicional, gostava de arriscar, investir em projetos inovadores e
levou a empresa longe. Meu vai me castrar no trabalho!
Estico os braços para que Gabriel deite sua cabeça bagunçada
no meu colo e começo a acariciar seu cabelo macio. Não vou mentir
e dizer que nunca me imaginei fazendo mais do que isso, vamos lá,
o cara é praticamente um astro de cinema, lindo, inteligente do tipo
gênio, sarado pra caramba, nem sei como posso estar pensando em
algo assim no dia que tecnicamente deveria ser o pior da minha
vida... ou o melhor, porque acabei de ser pedida em casamento.
Quanta maluquice.
Dando conta da ironia da situação, começo a rir. Um pouco
porque o whisky começou a bater e outro tanto porque é mesmo a
porra do dia mais louco da minha vida.
— Do que você tá rindo?
— Do pior dia da minha vida — digo e ele apenas espera. —
Hoje deveria ser o pior dia da minha vida ou o melhor, já que você
me pediu em casamento agora pouco.
— Acho que tô muito bêbado pra entender.
— Há meia hora eu estava indo pra casa do Ricardo pra dizer
que aceitava ir morar com ele, sabe, dar o próximo passo.
— Não gosto daquele cara, é um babaca que pensa que você
é um objeto — ele declara, brincando com a barra do meu casaco.
— O que ele fez dessa vez?
— Meteu a cara no meio das pernas de outra mulher.
Gabriel se senta ereto e bastante desperto.
— O que é que ele fez?
— Ele me traiu. — Dou de ombros. — Pra falar a verdade, não
sei se estou mais chateada porque fiz planos de morarmos juntos ou
se por ter ido vestida assim.
Levanto e dou uma voltinha, meu sobretudo preto vai até as
coxas e cobre toda a roupa íntima, mas ainda assim me sinto
exposta e ridícula.
Como percebo que Gabriel não está entendendo a coisa com a
roupa, abro o casaco e mostro a lingerie preta de renda com cinta
liga. Ele arregala os olhos e depois leva, instintivamente, a mão na
direção do seu pau, como se escondendo uma reação.
— Não acredito que ele perdeu você assim — Gabriel solta,
puxando uma almofada azul do sofá e se cobrindo.
Solto um risinho, porque apesar de meu ego estar
tremendamente ferido hoje, gosto de saber que sou capaz de
provocar reações físicas em um cara lindo e sexy, mesmo que ele
seja meu melhor amigo e cunhado da minha irmã caçula, ou seja,
totalmente proibido pra mim.
Fecho o casaco e volto a me sentar no sofá, Gabriel
esquadrinha meu rosto como se tivesse uma máquina de raio X.
— Vou quebrar a cara do imbecil.
— Não, você não vai fazer isso.
— Preciso fazer alguma coisa, aquele merda não pode sair
impune.
— Mas não bater, ele não merece que você se encrenque por
causa da babaquice dele.
— Droga, Lu, eu ia dar um soco com gosto no idiota. Já disse
que nunca fui com a cara dele? Não gosto de como ele te faz
murchar, você é outra perto dele, totalmente sem graça.
— Bom, agora acabou, ele não vai fazer mais nada por mim —
cruzo os braços sobre o peito.
— Mas e eu, o que posso fazer por você?
— Que tal preparar o nosso casamento? — brinco, mas o rosto
dele se ilumina e sei que a conversa vai ser ou muito divertida ou
muito pervertida. Espero que ambas.
Depois de praticamente passar boa parte da noite discutindo
detalhes de um casamento que não vai acontecer, caio na cama do
quarto de hóspedes e apago. De flores à cor dos convites, de
convidados a docinhos e sabor de bolos, falamos sobre todas as
coisas que rodeiam esse suposto grande momento para casais do
mundo todo e não concordamos em absolutamente nada.
Por fim, decidimos que se um dia fôssemos nos casar de
verdade, provavelmente fugiríamos para algum lugar paradisíaco e
faríamos algo bem simples, secreto, ou talvez completamente louco.
Eu posso ser louca também, eu consigo.
Não, a quem eu quero enganar? Sou tão certinha que chega a
ser um tédio, vai ver é por isso que acabei sendo traída.
Droga, não foi por isso, não pode ser. Aquele babaca não
conseguiu manter o pau dentro das calças porque é mesmo um
imbecil. Talvez eu devesse deixar o Gabriel bater nele, afinal de
contas.
Apesar de toda a insanidade da conversa bêbada que tive com
Gabriel, não posso deixar de pensar que se um dia eu fosse
realmente me casar, iria gostar que fosse alguém como ele,
honesto, safado e carinhoso me esperando no altar.
E com um tanquinho de povoar sonhos eróticos, claro.
Não tenho nenhuma dúvida de que um dia ele vai ser um ótimo
marido, sorte da garota que conseguir conquistar o coração desse
Dupont. Não vai ser uma tarefa fácil. Não mesmo.
Durmo até perto do horário de almoço e quando acordo,
Gabriel está com olhos grandes e vivos sorrindo na minha frente,
agachado diante de mim.
— Já disse que você é uma gracinha quando dorme e baba?
— Hum — resmungo e ele abre mais o sorriso.
Gabriel levanta e vai até o banheiro, volta de lá um instante
depois.
— A sua sorte é que eu sou um cara respeitador, porque essa
roupa e essa posição são um convite e tanto.
— Merda! — digo, percebendo que tirei o casaco em algum
momento da nossa conversa louca e que dormi só com a lingerie e
de bunda para cima. Puxo o lençol e me cubro, depois tento
inutilmente dar um jeito nos meus cabelos.
— Você tá linda — ele diz simplesmente. — Fiz almoço, e,
ainda acho que eu deveria quebrar a cara daquele imbecil.
— Não precisa — resmungo, seguindo-o toda enrolada no
lençol. — Mas aceito a comida, porque se tem algo que ajuda a
curar qualquer merda é comer.
— Já disse que gosto dessa coisa que você e a Cici têm com
comida? É como se comer fosse mais que comer. — Ele sacode a
cabeça, sorrindo. — Deixei toalha e uma camiseta no banheiro pra
você e já avisei sua irmã que está aqui comigo, sã e salva. Talvez a
camiseta fique grande, mas aposto que vai ficar melhor do que em
mim.
Pisca e olha para as minhas pernas, me fazendo revirar os
olhos.
— Bobo! — Rio e ele volta os olhos para as minhas pernas
outra vez, lambendo os lábios para me provocar, e fazendo um calor
correr delas para o local carente do meu corpo. Respiro fundo e
desvio o olhar. — Então, o que a Cici disse?
— Perguntou se você estava bem, falou que parecia chateada
ontem.
— Você não contou a ela sobre o Ricardo, contou?
— Claro que não — ele responde com seu jeitão direto. — Vai,
toma um banho que eu te espero pra almoçar. Não demora, ou vou
entrar aí e arrancar minha noiva a força do banheiro, já tô com fome.
— Nem pense, você pode ser um cara grande, mas eu sou
ninja.
— Uma ninja nanica — ele diz e sai do quarto rindo.
— Você vai ver só quem é nanica quando eu chutar as suas
bolas — grito, mas ela apenas ri do corredor. — Além do mais,
tenho 1,68, cabeção.
Entro no banheiro espaçoso e ligo o chuveiro, a água quente
ajuda a aliviar a tensão no corpo e dou graças a Deus quando
arranco a lingerie idiota que marcou o fim do meu futuro, o fim da
minha chance de confiar em um relacionamento depois de tudo.
Estalo o pescoço, notando os nós nos meus músculos.
Não bebi tanto a ponto de perder a memória ou me acabar
abraçada ao vaso sanitário, mas apesar disso, meu estômago
reclama um pouco e o princípio de uma dor atrás das têmporas me
incomoda.
A água abundante corre por cada pedaço do meu corpo,
provocando as terminações nervosas e aliviando o estresse da
porcaria toda de ontem, pelo menos não fui pra casa comer bolo e
chorar.
Vim pra casa de praia do Gabriel encher a cara, grande
diferença.
Depois de tomar banho e lavar os cabelos, me enrolo na toalha
e pego a camiseta que ele deixou pra mim. De volta ao quarto, paro
diante do espelho e noto as olheiras que contornam meus olhos
claros. Solto um suspiro longo enquanto termino de me secar e
mergulho dentro da camiseta do Dupont mais safado que eu
conheço. Parece um vestido em mim, mas gosto da sensação.
O cheiro dela é como uma mistura de amaciante e o perfume
de Gabriel e só de senti-la, roçando macia na minha pele, sinto cada
parte de mim reagindo. Merda, não posso estar pensando nele
desse jeito. Maldita carência idiota.
Faz tanto tempo que não sei o que é um orgasmo que acho
que meu corpo resolveu criar caso e começar a apelar pra qualquer
homem gostoso que cruzar meu caminho. Se bem que, se for pra
ser honesta, Gabriel é muito mais do que lindo, é um pedaço de
mau caminho, não espere, é o próprio mau caminho, a perdição, o
paraíso, enfim...
É aquela combinação provocante que pode levar uma mulher à
loucura. Garoto gênio, nerd sarado e com um temperamento picante
e um sorriso fácil. Tá, parei ou vou acabar virando uma tarada.
Termino de secar o cabelo com a toalha e saio do quarto, de
pés descalços mesmo, porque de jeito nenhum vou colocar aqueles
saltos nos pés hoje.
Enquanto desço as escadas, faço uma chamada de vídeo para
casa, para saber como minha mãe e Felipe estão. Ela tem uma
cuidadora e ele, uma babá, o que ajuda em situações como a de
ontem, mas não estou acostumada a ficar longe do meu garotinho,
então estou ansiosa pra ouvir sua voz.
— Oi mãe! — falo, quando escuto a voz dela. — Como vocês
estão?
— Tudo bem, Felipe acabou de comer. — Minha mãe sorri. —
Como foi com o Ricardo? Ele gostou da surpresa?
Bufo e aceno que não. Minha mãe devolve o olhar com uma
expressão de que não está entendendo nada.
— Te conto melhor mais tarde, mas não foi como eu estava
esperando.
— E você está bem?
— Sim, estou na casa do Gabriel — suspiro. — E onde está o
meu pequeno aprontador?
Mamãe leva o celular até Felipe, que brinca na varanda com a
babá. Ele está num daqueles conjuntinhos fofos de jardineira e
camisetinha polo que o fazem parecer um homenzinho, brincando
sobre um tapete estilo tatame de academia, rodeado de bonecos,
ursinhos e uns brinquedos de encaixar que, segundo minha mãe leu
na internet, estimulam a inteligência das crianças.
Felipe está com dois anos, mas é falante e brincalhão e são
raras as vezes que chora, deixando bem claro que o seu
temperamento é mais parecido com o da tia Cici do que com o meu.
Depois de receber um beijo de longe do meu filho, converso
com a babá e a cuidadora e ambas me garantem que correu tudo
conforme o planejado. Sei que minha mãe está bem melhor, mas
ainda fico insegura de deixá-la sozinha com o neto, ele é pequeno e
cheio de energia e ela não pode se sobrecarregar, mas minha mãe
não fica nada feliz, claro.
Falo mais uma vez com minha mãe e desligo. Gabriel está me
observando, ele arruma a mesa como se fosse receber um monte
de gente, colocando talheres, dois pratos, copos, saladas...
Ele está sem camisa e a bermuda encaixa bem naquele V que
poderia provocar muitas fantasias sexuais em uma mente
assanhada como a minha. E é obvio que eu já estou imaginando,
simplesmente não consigo me controlar. Não sei o que há comigo.
— Por que é que vocês Dupont sempre precisam ficar exibindo
os tanquinhos? — provoco, devorando o corpo sexy do meu melhor
amigo.
Antes eu sempre tentava evitar, afinal de contas, tinha um
namorado e mostrar uma queda pelo cunhado da minha irmã não
era uma boa ideia, inclusive cheguei a afirmar mais de uma vez que
achava o Joaquim mais bonito (mentira, claro), mas agora, que se
foda, se ele quer mostrar, eu quero olhar.
— Porque nós temos tanquinhos — responde, como se isso
explicasse tudo. — E você não pode dizer que está escondendo
muito também.
Os olhos marotos de Gabriel caem direto nas minhas pernas e
eu sinto imediatamente minhas bochechas corando e o resto do
corpo esquentando. Puta merda, agora eu entendo porque Gabriel
tem uma lista enorme de mulheres sempre derretendo por ele, é
difícil pensar muito quando ele devora a gente com os olhos.
— Era isso ou ficar desfilando de lingerie pela sua casa —
retruco e me arrependo na mesma hora, porque o sorriso dele deixa
bem claro o tipo de pensamento que passa por sua cabeça.
— Não que eu esteja reclamando, você está linda — fala,
colocando uma travessa de macarronada na mesa. Meu estômago
rosna de fome. — Mas não ia ser nada mau ter uma visão sua em
roupa íntima. Ia ser como um daqueles presentes de natal
antecipados.
— Você já viu o suficiente ontem e hoje cedo quando foi me
acordar — rebato, pegando um talher para me servir de
macarronada.
— Nunca é suficiente ver uma bunda redonda e durinha como
a sua.
— Caramba, Gabriel, hoje você está pior do que nunca —
resmungo, afundando na cadeira.
— Você gosta — ele devolve e eu arregalo meus olhos.
Geralmente é bem mais sútil, mas hoje está mais afiado do que
nunca. — Você tem essa carinha inocente, mas no fundo, você
gosta de ser provocada.
Será que eu gosto?
— Presunçoso!
Gabriel dá uma gargalhada alta e rouca e eu me vejo rindo
junto com ele, é contagiante, ainda que ele possa ser muito, muito
mesmo, irritante.
— Droga, como é que vou ficar brava com você?
— Não vai. — Ele se serve e leva uma garfada à boca,
fazendo um som exagerado de satisfação que poderia ser
vergonhoso, mas é engraçado.
— Muito maduro — respondo, e como outra criança boba, faço
exatamente a mesma coisa, puxando um macarrão longo e sugando
com um ruido bem sugestivo, só que ao final, dou um gemidinho de
prazer. — Isso tá bom.
Os olhos de Gabriel me encaram com uma expressão
endiabrada. Eu sei, ele está pensando em sacanagem, esse homem
de quase dois metros só pensa nisso. E ficar perto dele é embarcar
em uma viagem com passagem só de ida pra safadolândia.
Decido ignorar a expressão dele e ataco a comida, não só o
cheiro é delicioso, mas o sabor também é incrível, como uma
explosão quente de puro prazer, e meu estômago desesperado
recebe tudo com muita alegria.
— Então, pra quando marcamos a data? — Gabriel pergunta e
eu engasgo, soltando macarrão e molho para todos os lados. —
Acho que daqui uma semana tá bom, não? Não, espera, acho que
não é possível, por causa do cartório.
Limpo meus lábios e o encaro com a minha famosa expressão
de: “Que porra é essa?” que ele devolve com aquele seu olhar de
lado que me faz sentir um arrepio na espinha.
— Eu falei sério, Lu, preciso me casar.
— Tá, mas eu não posso ser a sua noiva — declaro.
— Você pode, só não quer.
— Isso porque eu vou fazer vinte e oito anos, e preciso
encontrar meu próprio romance.
— Mas não tô falando de romance e sim de casamento.
— Exatamente. Eu quero encontrar alguém de verdade, não
apenas por um ano ou de mentira. Ontem achei que você estava
brincando, não levei a sério.
— Pensa bem, nanica, poderia ser bom pra nós dois, meu pai
com certeza ama vocês Perlonis e não ia me torrar mais a
paciência, e de quebra ainda daríamos uma lição no idiota do seu
ex. Ou você está pensando em voltar pra ele?
— Claro que não, não quero nem ver a cara do traidor mais —
resmungo.
— Então, imagina a cara dele ao ver você com um cara
bonitão, inteligente e sarado como eu. E rico.
— Mais convencido impossível.
— Só tô sendo honesto, ainda mais porque eu sei que ele
morre de ciúme de mim. Seria a vingança perfeita e ele ficaria sem
nem entender o que houve. Atropelamos ele como um caminhão.
— Ou podemos só atropelar ele de verdade.
— Isso também, mas depois do casamento. Nada como
esconder um corpo pra fortalecer uma relação.
— Meu pai do céu, você bebeu muito ontem, pirou
completamente. — Tento voltar a comer, mas não consigo mais me
concentrar, a sobrancelha levantada dele é demais pra minha
sanidade.
— Nossa, mas por que é tão difícil se imaginar casando
comigo? O que tem de errado? Eu sou um cara legal. — Ele enruga
a testa e cruza os braços no peitoral sarado, nitidamente chateado.
Suspiro.
— Não tem nada de errado com você, acho que sou eu que
não estou me sentindo muito inclinada a me casar depois do que vi
ontem.
— Eu não sou ele — Gabriel retruca rápido e algo no jeito
como fala me deixa incomodada. Será que o magoei? — Eu nunca
desrespeitaria uma mulher, meu pai me fez um homem direito.
— Eu sei que você não é ele, mas... é complicado.
Gabriel bufa e não diz mais nada. Não vou negar, aceitar me
casar com ele seria uma vingança espetacular contra o Ricardo,
mas esse não é o jeito certo de fazer as coisas, não foi assim que
minha mãe me ensinou e não sei se consigo lidar com um Dupont
por vinte e quatro horas. Ainda mais um Dupont que sabe que é
gostoso e deixa isso bem claro.
Passo a hora seguinte deitada no sofá, com as pernas
esticadas sobre uma almofada e mexendo aleatoriamente no
celular. Gabriel anda de um lado para o outro, argumentando sem
parar sobre as vantagens de eu me tornar uma Dupont como Cici.
Eu explico o problema da situação, mas ele faz pouco caso com
qualquer coisa que eu diga.
— E quando nos separarmos, como ficarão as nossas
famílias? — resmungo, já meio estressada.
— Do mesmo jeito que agora, nós vamos continuar amigos,
eles vão entender.
— Não vai ser igual, sempre vai ficar aquela coisa de sermos
ex um do outro. E se um dia nós tivermos parceiros de verdade?
Como eles vão ficar nessa bagunça? Ainda mais sabendo que
estamos ligados pra sempre por causa da Cici e do Miguel...
— Quem é a dramática agora? — Ele me lança seu olhar sexy
e eu atiro uma almofada na sua barriga.
Gabriel finge que doeu e senta no sofá, pega um dos meus
pés e começa a massagear.
— Viu, outra vantagem de casar comigo, posso oferecer meus
serviços como massagista sempre que você cansar de andar
naqueles saltos sexys por aí.
— Só não estica esses olhos intrometidos — resmungo,
fechando encostando um joelho no outro, e é como se eu tivesse
acabado de acender o botão da curiosidade.
— Esticar pra onde? — provoca, acariciando minha
panturrilha. E a sensação quente é mais um dos motivos pelos quais
não posso aceitar ser sua falsa noiva. Pelo simples fato de que vou
sentir muita vontade de cair nos seus braços.
Encolho as pernas, evitando que a parte interna das minhas
coxas fique visível, não quero passar a vergonha de ele, sem
querer, acabar descobrindo que estou sem nada por baixo.
Tarde demais, o olhar arregalado de Gabriel diz tudo.
— Não! — ele alonga a palavra, mordendo o lábio. — Você tá
sem calcinha no meu sofá? Só com a minha camiseta?
— Eu não trouxe roupa reserva, porque tinha na casa do
traidor, além do mais, eu não queria ficar nem mais um minuto com
aquela porcaria de lingerie — resmungo e tento puxar a minha
perna, mas ele segura e vai, bem devagar, subindo com a mão,
firme, quente e sexy. Eriçando tudo por onde toca.
— O que você tá fazendo?
— Por que você tá nervosa? — provoca e eu não sei o que
responder.
Gabriel me olha de um jeito febril e não sei se está tentando
me tirar do sério ou o quê. Então ele abre aquele maldito sorriso e
tenho minhas resposta.
— Você tá me sacaneando — digo, puxando minha perna e
levantando. — Vocês Dupont são o inferno na terra.
Deixo Gabriel na sala, rindo feito o pavão idiota que é e subo
para o quarto. É hora de arrumar minhas coisas e voltar pra casa.
Depois de comer metade de uma torta e tomar duas xícaras
grandes de café com a minha mãe, finalmente coloquei tudo pra
fora, do momento em que decidi aceitar o pedido até a ida pra casa
de Gabriel depois do flagrante da traição. Só não contei do pedido
absurdo de casamento que ele me fez, é claro. Ah, e da sua mão
assanhada na minha perna. Isso eu quero esquecer.
— Acho que eu sou um ser humano horrível, mãe. Eu nem tô
triste, só com raiva por ter sido feita de idiota, por ter ido vestida de
um jeito provocante.
— Não diz bobagem, Luciana, você é a melhor pessoa que eu
conheço, dedicada a família, boa mãe... — minha mãe me
repreende de um jeito doce, pegando minha mão e dando uma
batidinha leve.
— Mas eu deveria estar mais arrasada. Como é que eu ia
morar com um cara sem amar? Eu não sei o que há de errado
comigo.
— Você teve o coração partido uma vez, é difícil abri-lo de
novo.
— Acho que tem algo quebrado demais pra ser consertado —
declaro, suspirando pesado. — Bom, pelo menos eu descobri agora
que ele é um cretino, imagina se já estivesse morando com ele.
Meu celular toca e vejo o nome de Miguel surgir na tela,
atendo preocupada, não é habitual que ele me ligue. Geralmente é
sempre a Cici que dá notícias de todo mundo e ainda enche meu
saco, coisa de irmã mais nova.
— Está tudo bem — ele diz antes mesmo que eu abra a boca.
— Mas nós estamos no hospital, Cici entrou em trabalho de parto.
— Ai, caramba, é muito cedo.
— Eu sei — ele responde, num tom levemente alterado. —
Mas os médicos estão aqui. Só liguei pra avisar.
— Estamos indo praí, me passa as informações por
mensagem.
— Tudo bem, mas venham com calma.
Chegamos ao hospital e damos de cara com toda a família
Dupont. De um lado da sala estão Ingrid e Raul, os pais do Miguel e
dos outros sarados que ele chama de irmãos. Perto deles estão
Henrique e Marisol, Joaquim está ao telefone, mais perto de uma
cafeteira. Gabriel, que está parado ao lado da janela, mas vem na
nossa direção assim que nos vê.
Ele estica as mãos para o Felipe que praticamente pula do
meu colo para o dele, sorrindo.
Depois de cumprimentarmos todo mundo, minha mãe senta
perto da Ingrid, que parece um pouco mais nervosa do que o
normal, as duas seguram uma na mão da outra, tentando dar apoio.
— Vou ver se consigo notícias — digo, indo ao balcão de
informações.
As recepcionistas me atendem com a maior cortesia, o que só
me mostra o quanto o dinheiro é importante nesse nosso mundo.
Infelizmente, quando éramos as garotas pobres, esse tipo de
tratamento era raro, esse tipo de hospital era raro, pra falar a
verdade.
Dispenso o pensamento e peço que nos avisem assim que
souberem de algo. Elas acenam concordando e eu volto para perto
da família.
Gabriel está sentado perto da janela, com Felipe em seus
joelhos e fingindo que é um cavalinho. Meu filho adora todos os
irmãos Dupont, mas tem um carinho especial por Gabriel, que
também parece adorá-lo.
— Você soube de alguma coisa? — ele ergue as sobrancelhas
quando me vê. Aceno negando.
Sento ao seu lado e fico olhando para o meu filho, que parece
nem se importar com a minha presença. Ainda não está na hora de
Cici dar à luz, mas a pressão dela andou muito alta e isso pode
complicar as coisas. Meu coração aperta com o medo de que
qualquer coisa possa acontecer com a minha irmã.
— Vai ficar tudo bem — Gabriel diz, pegando minha mão.
— Tenho medo — sussurro e ele me puxa para um abraço
caloroso.
Algum tempo se passa sem que eu consiga sequer me
envolver com as conversas ao redor, o pânico vai crescendo dentro
de mim, conforme as notícias não chegam. Até que Miguel aparece
na porta que dá para a parte interna do hospital.
— Vim rapidinho dar notícias — ele diz, sem colocar o corpo
todo pra fora. — Estamos bem, Cici vai pra sala de parto e eu tô
indo com ela.
Levantamos rapidamente e vamos até ele. Todos querem falar
ao mesmo tempo, mas é pra mim que ele olha, congelo no lugar.
— Cici pediu pra dizer pra você parar de se preocupar, ela está
bem e já está batendo papo com todas as enfermeiras, todo mundo
a adora.
Nem pergunto como minha irmã sabe que estou nervosa,
porque sinceramente ela me conhece melhor do que qualquer
pessoa e sabe bem que não vou descansar até saber que está fora
de perigo.
— Tá bom — resmungo e ele vira os olhos pra minha mãe e a
sua, que ainda estão muito próximas.
— E vocês também, nada de se estressar, eu volto quando for
pai. — Ele sorri meio bobo. — Eu vou ser pai!
Seus irmãos começam a tagarelar, dando tapinhas em suas
costas e parabenizando. É uma bagunça estar no meio desses
homenzarrões altos, fortes e falantes. Todos comemorando a
masculinidade do caçula como se esse bebê fosse um troféu.
Miguel aceita os parabéns e dá pra ver que está emocionado
com o nascimento da filha, depois se despede e volta lá pra dentro,
nos deixando à espera de notícias outra vez.
Gabriel me puxa para sentar com ele outra vez, enquanto
Joaquim pega meu filho do seu colo e começa a brincar de
aviãozinho por toda sala de espera.
— Agora que a gente já sabe que a Cici e a bebê estão bem,
vamos falar de nós.
— Nós? — pergunto, me fazendo de louca, mas sei
exatamente o que ele quer deizer.
— Essa cara não me convence, você sabe o que eu quero. —
Ele aperta as sobrancelhas e tenho vontade de rir, porque ele
sempre fica bem fofo quando justamente está tentando fazer uma
cara de mau.
— Tá, fala. — Suspiro e Gabriel sorri com um lado dos lábios.
Droga, preciso parar de prestar atenção nesse homem, tudo nele
me dá vontade de morder, apertar, tocar. Acho que a falta de um
sexo decente e a traição criaram um vulcão prestes a explodir.
— Tem muitas vantagens em se tornar uma Dupont. Número
um — ele diz, erguendo o dedo para enfatizar. — As portas se
abrem quando você tem o meu sobrenome, e digo pra tudo, mas
principalmente no mundo dos negócios. Dois, você vai estar se
casando com seu melhor amigo e se tem uma coisa que nós dois
fazemos bem é falar a verdade um pro outro, cuidar um do outro.
— Nossa, você ensaiou quantas horas esse discurso? —
provoco, mas ele não cai nisso.
— Três, podemos combinar uma compensação, financeira se
for o caso...
— Você quer me comprar? — esbravejo, tentando conter a
vontade de colocar o dedo na sua cara e gritar bem alto.
— Má ideia, desculpe — ele solta, nitidamente arrependido. —
Como compensação por me ajudar a enrolar o meu pai, vamos
esfregar na cara do imbecil traidor que trocou ele por alguém mais
rico, mais alto e mais gostoso.
— E mais safado — concluo e ele sorri, concordando com um
aceno.
— Vamos, Lu, me ajuda, eu topo qualquer coisa — Gabriel
sussurra perto do meu ouvido e eu me obrigo a engolir a sensação
quente que se aloja em mim.
— Desculpe, eu queria ajudar, mas você vai acabar resolvendo
as coisas com o seu Raul, ele é um bom homem.
— Ele é uma máquina, um trator, um ônibus e vai me atropelar.
Rindo, dispenso o assunto e vou buscar o meu filho, que
dormiu nos braços do Joaquim.
— Uau, você é bom — falo e ele sorri muito satisfeito consigo
mesmo. O estranho é ele estar tão calado por aqui, geralmente
Joaquim é muito falante e sorridente. Aquele tipo boa pinta por
quem todas as mulheres se derretem, se bem que as mulheres se
derretem por todos os Dupont, é um inferno. — Felipe gosta muito
de você.
— Não é? Eu sou o domador oficial de bebês desta família —
Joaquim diz e eu sorrio, porque é incrível como essa família tão rica
e poderosa adotou a minha, é mais do que receber minha irmã,
somos todos nós. De Cici à minha mãe, Felipe, e até a minha tia
espevitada quando vem visitar é bem recebida e tratada como se
pertencesse ao clã Dupont.
Pego Felipe e me sento perto da minha mãe, esperar por
notícias não é uma tarefa muito fácil, ainda mais quando tenho um
pretendente muito decidido a me levar ao altar.
Meu Deus, de onde foi que ele tirou que eu poderia ser sua
esposa? Luciana Perloni, a salvação do sarado safado. Ai, ai, ai.
— Nossa, ele dorme tão quietinho — diz Marisol, ao se sentar
do meu lado, enquanto estica o corpo. — Queria que as coisas
fossem assim lá em casa.
— E está tudo bem? — pergunto e ela abre um sorriso
enorme.
— Não poderia ficar melhor nem se eu nascesse de novo —
declara naquele tom engraçado e honesto que cativa todo mundo.
— E como estão os seus pais?
— Amando cada momento da nova fase, acho que aqueles
dois nasceram para ser avôs.
— Fico feliz — digo e ela sorri.
— Vai ficar tudo bem, Lu, a Cici é forte e corajosa.
— Obrigada Sol — respondo e ela passa o braço ao meu
redor, me apertando em um abraço meio de lado.
A garota, que geralmente fala tudo que pensa e é bastante
atrapalhada, se tornou amiga da minha irmã rapidamente e acabou
que eu também me acostumei com seu jeito. Não dá pra negar que
a gente não fica nem um pouquinho entediada sequer com essa
família, nem com as mulheres nem com os homens.
Ela e Henrique estão juntos praticamente pelo mesmo tempo
que Cici e Miguel, e os dois ainda estão completamente
apaixonados um pelo outro. O que me lembra que tem algo
quebrado dentro de mim. Não sei o que aconteceu, em que
momento me tornei essa pessoa mecânica que não consegue se
apaixonar e pior, que decide morar com um cara que claramente
não ama e nem é amada.
Será que alguma vez eu gostei de alguém assim como vejo
minha irmã gostando do marido ou Sol e Henrique?
Puxo pela memória e nem pelo Cadu, pai do Felipe, eu senti o
que vejo Cici e Marisol sentirem pelos seus companheiros.
É difícil saber que talvez eu nunca encontre esse tipo de amor,
esse tipo de relação feliz, sexy e apaixonada.
Afasto o pensamento no momento em que a porta se abre e eu
vejo surgir um Miguel de avental, touquinha e até aqueles protetores
de pés. Ele sorri feito bobo e um alívio se instala em mim. Se ele
está feliz é porque correu tudo bem.
Miguel mostra uma foto no celular e apresenta a pequena
Isabela, minha sobrinha. Todo mundo o parabeniza e vejo surgir
lágrimas emocionadas nos olhos da minha mãe.
— Isabela, é um lindo nome — diz Raul, sorridente, abraçando
o filho.
— E a minha irmã, como está? — pergunto, cuidando para não
acordar o Felipe.
— Ela me deu um susto, a pressão baixou demais depois do
parto, mas está controlada agora. Vai ficar em observação, então as
visitas vão ficar pra amanhã.
— Mas e nós... nós podemos vê-la? — pergunta minha mãe.
— Eu também — diz Ingrid, a mãe do Miguel.
— Vocês, minhas senhoras, podem entrar por um momento —
ele responde, arrancando um sorriso feliz de ambas.
— Então vou esperar aqui e depois levo as duas pra casa —
diz Raul, o vô babão.
Todo mundo se despede e eu deixo minha mãe com a sogra
da minha irmã e volto para casa. Queria ver minha irmã, abraçá-la
nesse momento, mas a minha mãe precisa disso ainda mais do que
eu.
Com Felipe no bebê conforto, passo o cinto e o prendo. Entro
no carro e quando me preparo para dar partida no carro, dou de
cara com o sorriso mais diabólico do universo. Um sorriso diabólico,
lindo, e muito convencido.
— Você não vai mesmo me ajudar?
— Sinto muito — digo e ele fez beicinho.
— Tá bom, mesmo assim ainda é minha amiga.
— A melhor, não se esqueça — provoco e ele sorri.
Quando chego em casa e começo a colocar as coisas em dia é
que sinto o baque de tudo que passei nas últimas vinte e quatro
horas. Fui traída, pedida em casamento e acabo de ser tia.

Cici: Amamos você, beijo titia.


A mensagem de Cici vem acompanhada de uma foto dela,
Miguel e a bebezinha e enche meu coração de amor. Tudo bem,
talvez eu não seja capaz de amar um cara como minha irmã, mas
eu sou capaz de amar minha família e agora tenho mais uma
pequena Perloni pra amar.
Abro os olhos e dou de cara com um dedo de unha vermelha
apontando acusadoramente na direção dos meus olhos. Levo um
bom tempo para entender o que está acontecendo. Luciana está
curvada na minha frente, mas quando vê que estou de olhos
abertos, volta a ficar ereta e se afasta um pouco, cruzando os
braços sobre o peito e me lançando um olhar furioso.
Viro para o outro lado da cama e vejo a garota com quem
passei a noite, uma ruiva sexy que, se não me engano, se chama
Clara. Ela está dormindo ainda e alheia ao que parece ser o começo
de uma crise.
Sento e esfrego o rosto.
— O que tá fazendo aqui?
— Você me deu a chave de todas as suas casas, lembra? —
ela está tão brava, só não entendo o motivo.
— Hunrum e o que houve? Alguém morreu? Não foi nada com
a Cici e a bebezinha, foi? Porque a chave era pra emergências e se
foi uma emergência é melhor você desembuchar logo.
— Ninguém morreu, não foi nada disso.
— Então não entendi nada — resmungo e ela vai até o outro
lado da cama, com um olhar perverso puxa a coberta e suspira,
vendo a mulher só de roupa íntima.
— Ei, acorda. — Luciana cutuca a ruiva. — Tá na hora de dar
o fora, bonitinha.
— O que tá fazendo, Luciana Perloni? Você não pode entrar
na minha casa e expulsar a pessoa que tá na minha cama —
esbravejo, mas ela me ignora de propósito.
— E você não pode me pedir em casamento num dia e eu
achar você na cama com outra no dia seguinte, seu maldito
mulherengo! — ela devolve falando alto e fazendo a ruiva acordar
de susto.
— Você não aceitou, lembra? — pergunto, ajudando a ruiva,
Clara, a se vestir. Ela ainda parece meio confusa com a cena de
Luciana. E a nanica anda de um lado para o outro, ainda furiosa.
— Mudei de ideia, aceito o casamento, a vingança, tudo, mas
não aceito chifres, isso não.
— Desculpe, gata, emergência de família — digo e Clara me
encara com uma expressão confusa.
— Você não disse que era comprometido — reclama num tom
meio manhoso e meio bravo que eu até acho bonitinho, isso se não
estivesse mesmo querendo me livrar dela pra ter certeza de que
Luciana está dizendo que aceita a minha proposta.
— Eu não era até cinco minutos atrás, mas pelo visto acabei
de ficar noivo.
— Não entendi — Clara fala, tocando meu abdômen de um
jeito sugestivo. — Você é solteiro ou não?
— Ei, é o seguinte: acabei de aceitar o pedido de casamento
dele, então ele não está mais disponível. Agora cai fora. — Luciana
aponta a unha vermelha para garota que imediatamente fecha a
cara.
— Nossa, você é uma grossa — retruca. — E você, é assim
que se livra das mulheres com quem dorme? Deixando que uma
doida varrida expulse?
— Não — digo, me colocando entre Luciana e Clara, que
parecem prestes a sair no tapa. — Mas eu pedi mesmo ela em
casamento e se ela disse sim... então acho que acabo de sair do
mercado, gata. Sinto muito.
— Vão à merda, vocês são loucos — Clara diz, pegando seus
sapatos e indo embora.
Escuto a porta da rua batendo com força e viro para Luciana.
Ela está suada, andando de um lado para outro como uma fera
enjaulada, crispando fogo pelas ventas, mas está linda na roupa
social e nos saltos de bico fino. Linda pra caralho.
Eu sei que ela não é nanica, na verdade é uma mulher alta e
linda, seios fartos, cintura fina, olhos e cabelos claros, mas eu adoro
provocá-la, mesmo quando já parece irritada o suficiente. Então...
— O que aconteceu, nanica? Acabei de perder um segundo
encontro por sua causa, é bom que seja sério o que disse.
Lu pega o celular e me mostra uma foto. É a rede social do
Ricardo, o cretino que a magoou há dois dias, e na foto ele está com
uma garota bem sem graça e uma declaração de amor logo abaixo.
Ela mostra o perfil do babaca e tem pelo menos quatro fotos com a
mesma garota e todas com declarações de amor apaixonadas.
— Que filho da puta! — digo e Lu senta em uma cadeira que
fica perto do espelho. Os ombros dela caem e sinto uma estranha
vontade de pegá-la no colo e dizer que tudo vai ficar bem.
— O que é que tem de errado comigo? Por que comigo o sexo
era ruim? Eu tinha que ser sempre a mulher certinha e ele nunca,
nunca mesmo, fez uma declaração sequer...
— Não tem nada de errado com você, ele é um idiota.
— É. E com certeza vai morrer de raiva quando ver que
estamos juntos, que o superei por alguém melhor — ela diz e seus
olhos vêm direto para os meus. — Você se importa com os meus
motivos?
— Depende — respondo, com sinceridade.
— Depende do quê? — As sobrancelhas da loira sexy se
erguem e eu sei que acabei de atrair sua atenção. — Achei que era
o que você queria, pelo seu pai.
— Sim, eu preciso disso pelo meu pai e você é a única garota
que confio que não vai me ferrar, mas se for pra você fazer ciúme e
depois voltar pro babaca, prefiro não me meter, mas se for pra dar
uma lição e esfregar na cara dele a mulher que perdeu, eu
realmente tô dentro.
— Não vou voltar, eu acabaria cortando o pau dele fora — ela
diz e eu rio alto.
— Tudo bem, então você me ajuda com meu pai e eu te ajudo
com o ex cretino. Combinação perfeita.
Luciana suspira e sei que está pensando sobre o assunto.
— Tudo bem, eu topo, mas eu não aceito traição. Já tive minha
dose pra essa vida e tô mesmo de saco cheio disso.
— Eu não traio — sou firme, mas então penso em algo
realmente importante. — Mas não estou acostumado a ficar muito
tempo sem sexo. Isso é um fato.
Os olhos da loira se erguem e ela remexe na cadeira.
— Vamos pensar em alguma coisa — digo e vou para o
banheiro. — Vou tomar banho.
— Tá bom, noivo — ela fala e escuto a porta do quarto
batendo de leve.
Pois é, pelo jeito, mais um Dupont vai se casar.
Depois que saio do banho, visto uma bermuda e vou até a
cozinha. Luciana está colocando uma xícara com café na mesa no
momento em que chego. Ela ergue os olhos e passeia com eles
pelo meu corpo, inspecionando meu abdômen e me provocando os
instintos mais primitivos.
Eu sei, ela é a irmã da minha cunhada linguaruda e
encrenqueira, se tornou minha melhor amiga desde que descobri
esse temperamento rabugento, mas não consigo evitar. Tem algo no
jeito como me olha que me faz querer bancar o homem das
cavernas, arrancar suas roupas e ouvi-la gemer alto. Merda.
Empurro o pensamento bem para o fundo da minha mente,
antes que a minha imaginação sacana me faça ter uma ereção
diante da minha, agora, noiva.
Caramba, ela aceitou.
— Então, eu estava pensando — diz, servindo uma xícara pra
mim. — Podemos resolver a questão do sexo.
— Quer dizer que você quer fazer sexo comigo? — pergunto,
porque sei que isso vai irritá-la e adoro ver aquele rosto franzido. E
bem, se ela disser que quer eu não vou perder tempo.
— Não é isso, só não quero ser mais humilhada nesta vida.
— Tudo bem, por você eu até faço voto de castidade. — Puxo
Luciana para um abraço e ela me deixa conduzi-la para o meu peito,
afundando e soltando um suspiro pesado. — Mas se você quiser
sexo, eu tô sempre à disposição pra satisfazer suas necessidades,
senhorita.
— Cartão do sexo — ela diz e se afasta. — Cada um de nós
terá um pra usar quando estiver precisando muito, assim não
traímos e seguimos com nosso plano. Se você sentir que não vai
aguentar e precisar, você usa o seu cartão, a gente resolve o
problema e segue como amigos que dividem a casa.
Solto uma gargalhada, mas então percebo que ela está
falando sério.
— Cartão do sexo? Você acha que transar uma vez em um
ano vai me satisfazer? — encaro-a com seriedade.
— Duas, um cartão seu e um meu.
— Por que não dez?
— Dois, é pegar ou lagar.
— Certo, sua muquirana de sexo.
— Muquirana de sexo? Meu Deus, quem é você, um velho?
— Um tarado, talvez — provoco e ela arregala os olhos. —
Tudo bem, parei, mas saiba que não vou prometer nada, se eu
precisar vou mesmo usar meu cartão e pode apostar que vou gostar
muito disso.
Luciana morde o lábio, mas sacode a cabeça de leve, como se
tentando não pensar que eu acabei de falar que pretendo transar
com ela e que vou gostar muito disso. Droga, é melhor eu também
não pensar.
— Tá, eu sei — ela responde, mas sua voz soa insegura. —
Eu também, talvez eu use o meu, não sei. Você nem é tão lindo
assim.
— E desde quando alguém precisa ser lindo pra fazer sexo? —
Cruzo os braços sobre o peito, porque sei que ela não dá a mínima
para aparência e só está tentando me irritar, Luciana é mais do tipo:
caras inteligentes que a desafiem. Eu sou esse tipo.
— Você tá certo, mas eu tenho um vibrador, então talvez nem
precise de você.
Assim que Luciana despeja a novidade, eu sinto meu corpo
inteiro reagir. Porra, ela tem um vibrador. Agora vou ficar
imaginando a minha futura esposa dando prazer a si mesma, como
se eu já não tivesse pensamentos pervertidos sem saber disso.
— Hum — resmungo e saio de perto, sentindo a ereção querer
dar as caras. Droga, nunca mais vou conseguir tirar isso da minha
cabeça.
— De qualquer forma, ficamos acertados assim, um ano de
casamento em que seremos as pessoas mais felizes do universo e
apaixonadas, e, se um de nós precisar, usa seu cartão do sexo pra
conseguir segurar as pontas.
— Certo — respondo, olhando pela porta da varanda do
apartamento. — E onde é que vamos morar? Porque eu sou meio
tradicional, uma vez que eu colocar uma aliança no seu dedo, não
tem essa de casal moderno que se vê só uma vez na semana,
moramos no mesmo teto e dormimos na mesma cama, não tem
negociação.
— Pra alguém que foge de relacionamentos, você é bem
exigente. — Luciana se senta no sofá, o rosto sorridente. — Mas
tudo bem, sou tradicional nesse sentido também. Eu prefiro uma
casa, por causa do Felipe, também preciso ficar perto da minha
mãe, para o caso dela precisar de mim. Podemos alugar e depois,
quando nos separarmos a gente vê o que faz.
— Dona Noeli não vai morar com a gente? — Me sento ao seu
lado e pego sua mão delicada entre as minhas. — Eu não me
importaria.
— Não, minha mãe jamais ia aceitar, além do mais, depois
teríamos de nos mudar de novo e isso seria uma chatice pra ela.
Agora que finalmente tá bem, não quero arriscar.
— Tá, vou falar com meu pai quando assumirmos a coisa toda.
Minha família tem uma casa lá em Jurerê[2], fica há algumas quadras
da casa dos meus pais. E não é tão longe da sua mãe.
— Como se a casa de vocês já não fosse enorme. — Ela ri. —
Ainda precisavam de mais uma?
— Era um bom investimento na época, mas acabou que
usamos poucas vezes para receber familiares e dar festas.
— Sei — Luciana retruca. — Festas de sexo, no mínimo.
— Não, festas de família.
— Certo, desculpe.
— Você pensa muito mal de mim e dos meus irmãos —
provoco ainda mais e Luciana fica vermelha como um tomate.
— Eu... é que... bom, vocês são homens lindos, normais, eu
acho natural que tenham aproveitado, que aproveitem, pelo menos
você e o Joaquim que são solteiros ainda.
— Tudo bem, ganhou o meu perdão em homens lindos. Agora,
próximo tópico do nosso contrato.
Luciana me bate de leve com a almofada. Eu sei, pareço um
adolescente, provocando, irritando, tudo pra ver ela agir com
impetuosidade, cheia de fogo, mas eu adoro isso, é divertido pra
caramba, não é à toa que viramos aqueles amigos que se
conhecem desde sempre e contam tudo um para o outro. Quase
tudo.
— Como faremos com a nossa família? Acho melhor a Cici
não saber, minha irmã parece que tem um radar e não vai ser fácil.
Eu sei que ela é de confiança, mas acho que seria estranho contar
que aceitei me casar com o cunhado dela pra me vingar do meu ex.
— Meu pai também não é fácil de enganar.
— Então teremos que fingir bem.
— Não vai ser difícil, eu sou lindo — declaro e ela solta uma
gargalhada debochada. — Qual é, as mulheres me adoram!
— Você é um idiota, Gabriel Dupont.
— Eu sou o seu idiota, Luciana Perloni.
Depois de acertarmos todos os detalhes, Gabriel troca de
roupa para que possamos ir ver a Cici e a pequena Isabela, novo
membro das nossas famílias. Enquanto espero na sala, depois de
organizar as coisas do nosso café de negócios, ou café de acerto de
casamento, dou uma espiada no Instagram e descubro que meu
futuro marido (nossa isso é muito surreal e louco) postou uma foto
minha há poucos instantes.
Nem sei em que momento ele fez isso, acho que quando foi se
arrumar. Na foto estou com uma expressão meio rabugenta, com os
braços cruzados e olhando pela janela para a paisagem à frente.
Espera, a postagem é de hoje, mas essa foto não. Não consigo nem
lembrar de quando é.
Gabriel Dupont é um homem difícil de decifrar, o que é que
uma foto minha de nem sei quando estava fazendo no seu celular?
Bom, pelo menos ele está começando a colocar as coisas no
rumo do nosso plano e, de repente, sinto tudo muito mais real do
que pareceu até agora. Meu Deus, eu vou me casar.
Respiro fundo, digerindo o baque.
A ideia é ir dando a entender que podemos estar em um clima
de romance e quando menos esperarem a gente casa, cerimônia
simples no cartório, porque não sou dada a colocar vestidos de
noiva espalhafatosos.
Olho a legenda e fico meio boba: “linda até quando está
brava.”
De repente, minha boca fica seca e meu estômago agitado, eu
sei, Gabriel e eu estamos entrando em uma viagem maluca, mas a
nossa amizade é forte e se tem alguém em quem posso confiar,
esse alguém é ele. Se prometeu não me humilhar com mais uma
traição, eu acredito.
Procuro na minha galeria uma foto que tirei quando estávamos
enchendo a cara lá na casa de praia dele. É noite, Gabriel está
parado, sem camisa e olhando para a piscina, ele estica o corpo de
um jeito que suas costas ficam desenhadas com perfeição e ainda
temos uma boa visão dos braços fortes e das mãos, encostadas na
parte de cima da porta que leva para a varanda.
Eu sei, eu tirei de brincadeira, mas acabei guardando, nunca
se sabe quando vou precisar de inspiração para... você sabe, me
dar algum tipo de satisfação.
Posto a foto e escrevo a legenda: “1,94 de músculos, sorrisos
e tentação.”
Ousada demais será? Que seja, se é pra entrar nesse jogo de
esposa de mentira, vamos com tudo.
— Pronto. — Ele surge, pouco depois que eu posto sua foto.
O celular de Gabriel vibra e ele o olha com uma sobrancelha
levantada. Assim que seu sorriso presunçoso aparece, eu tenho
certeza de que acabou de ver a minha postagem. Vai ser difícil
controlar o ego desse homem depois disso.
— Vamos lá, nanica, vamos ver nossa sobrinha.
— Certo, senhor tentação, vamos nessa.
Sorrindo, ele me pega pela mão e nós saímos.

Chegamos ao hospital juntos, o que provavelmente é o motivo


pelo qual Cici me dá uma olhada estranha, daquelas que só faz
quando está desconfiada de alguma coisa. Ignoro a forma como
seus olhos correm direto para a minha mão enganchada na de
Gabriel e sorrio.
Deixo meu noivo com Miguel perto da porta, babando na bebê
Isabela enquanto vou abraçar a nova mamãe do pedaço.
— Como você está? Quase me matou de susto.
— Eu tô bem — Cici sorri e me puxa pra um abraço.
Seus cabelos estão mais longos e têm só as pontas cor-de-
rosa, porque com a gravidez ela os deixou crescer no tom natural,
um castanho bem claro que dá ares totalmente diferentes dos que
estamos acostumados.
— Parabéns — falo no seu ouvido, ainda abraçada a ela.
— O que é que você estava fazendo de mãos dadas com o
Gabriel? — Cici sussurra de volta. Eu sabia que ela não ia deixar
passar.
— Longa história, te conto depois.
— E o Ricardo? — Cici me olha nos olhos.
— Prefiro ver o diabo — respondo e ela acena,
compreendendo que algo saiu muito errado. — Vamos deixar isso
pra outro dia também, agora eu quero ver a minha afilhadinha.
Isabela tem a pele bem clarinha, os olhos azuis como a
maioria dos bebês recém-nascidos, mas acho que vai acabar
ficando, por causa dos pais que têm olhos claros. Os cabelinhos
dela são bem escuros e o narizinho é arrebitado como o da minha
irmã.
Miguel a segura com toda a delicadeza. É um homem grande e
todo definido e segurando sua filhinha parece uma manteiga
derretendo. É fofo ver os olhos dele cheios de ternura e amor.
Gabriel a pega depois de mim e ver outro homem grande todo
bobo por causa de um pequeno par de olhos me deixa com o
coração aquecido. Talvez eu não seja capaz de amar
romanticamente ninguém, mas posso ao menos ajudar meu amigo a
não perder sua empresa, e com certeza ele merece todo meu apoio.
— E como foi o parto? — Gabriel pergunta e Miguel faz uma
careta engraçada.
— Pensei que ele ia desmaiar — Cici responde, sorrindo.
— Até parece, logo eu — Miguel retruca. — Mas tenho que
admitir que foi meio chocante.
— Isso quer dizer que não teremos mais filhos? — Minha irmã
arqueia as sobrancelhas. Miguel vai até ela e a beija nos lábios com
carinho. — Ou você encara outro parto chocante?
— Se você quiser eu quero, senão, ficamos apenas com a
nossa menininha.
— Tudo bem, vamos voltar nesse assunto daqui um ano ou
dois.
— Sabe o que eu imagino? — ele pergunta, olhando para os
cabelinhos da filha que Gabriel segura todo sem jeito. — Imagino a
mini Cici com cabelinhos rosa, correndo pela casa atrás do
Cupcake. — Miguel sorri, acho que lembrando do gato que Cici
arrumou quando nem sabia que Miguel era seu cliente misterioso.
— Será que ele vai ficar muito enciumado? — pergunto e Cici
dá de ombros.
— Ele costuma dormir na minha barriga e a Isa já o chutou
muitas vezes, acho que vai acabar se apegando por ela também.
— Aposto que ele vai amar a Isa como ama a Cici, é um gato
muito vendido — Miguel declara num tom solene que é muito fofo.
— Mas quem pode culpar o comedor de meias por isso? Eu não sou
menos vendido que ele.
Caio na risada. Meu Deus, esse Miguel é tão... ele combina
mesmo com a Cici. Num momento está bufando e discutindo na
Petite, no outro tá babando e se declarando pra minha irmã.
Depois que saímos do quarto e deixamos os novos pais com
sua garotinha, entramos no elevador. Gabriel está calado e eu me
pergunto se ele pode estar querendo desistir do nosso projeto doido
de nos casarmos, estar com Isabela nos braços parece ter mexido
com algo dentro dele.
Pode ser que queira encontrar uma garota para levar a sério
ou pode ser que tenha se tocado que em breve terá um menininho
de dois anos andando por sua casa e a vida de solteiro vai mudar
completamente, mesmo que seja por apenas um ano.
— Você está bem?
Ele vira na minha direção e sorri de um jeito doce.
— Um dia eu quero ter filhos. — Volta a olhar para a porta que
acaba de fechar.
— Nunca imaginei — respondo e ele me lança um olhar
estranho. — Você nunca mencionou isso antes.
— Acho que nunca pensei muito nisso, mas eu poderia ser pai,
um bom pai.
— Você seria um daqueles pais babões que fazem tudo pelo
filho — concluo e ele sorri mais abertamente, concordando.
— Com certeza.
Não respondo nada, pensando se devo lembrá-lo de que o
Felipe faz parte do pacote, perguntar se ele vai conseguir lidar com
o fato de não apenas ter uma mulher em casa como também uma
criança pequena, bagunçando sua rotina, tirando as coisas de lugar.
Ai, caramba, nem eu tinha pensado direito nisso tudo. Casar com
uma mulher com filhos significa compreender que existe mais vidas
envolvidas. E Felipe é pequeno, mas já foi rejeitado pelo pai, então
tudo o que menos quero é que ele passe por isso de novo.
Será que ele pensou a respeito?
— Não vejo a hora de decorar o quarto do Felipe — ele
interrompe meus pensamentos e eu suspiro, sentindo uma onda de
alivio. Pelo menos não preciso me preocupar com a questão do meu
filho, ele está animado.
— Então, acho que não faltou a gente acertar nada, não é? —
pergunto e o olhar de Gabriel muda de doce para pervertido. Lá vem
bomba.
— Não, agora já podemos nos beijar pra selar o nosso acordo.
A porta do elevador se abre nesse momento. Dou uma boa
olhada nele antes de rumar para fora e responder sua provocação.
— Vai sonhando.
Entro no carro com uma ideia quicando dentro da cabeça. Eu
sei que é uma loucura essa história de me casar com a Lu, mas se
tem alguém que não vai me ferrar, eu sei que é ela. Além do mais,
se o meu pai acha que vai ganhar essa, está pra lá de enganado.
Só quero ver a cara do seu Raul Dupont quando descobrir que
vou levar a irmã da Cici ao altar.
Por falar em altar, depois de comprar um belo anel para a
minha noiva, vou providenciar o casamento, antes que Lu caia em si
e desista da nossa aventura insana. Seria bem complicado arrumar
uma noiva assim em cima da hora, mas eu não poderia encontrar
uma mais honesta, trabalhadora e, porra, sexy de um jeito que me
deixa tarado.
Chego à joalheria onde os homens da minha família costumam
comprar presentes para as nossas mulheres, principalmente minha
mãe, e sigo até a vendedora que já me conhece.
Da última vez que estive aqui comprei um colar delicado de
aniversário pra minha cunhada que me rendeu um sorriso grande e
feliz, Marisol pode ser impertinente e linguaruda, mas é capaz de
encher um ambiente com seu sorriso e adoro vê-la implicando com
o Henrique, aqueles dois nasceram um para o outro.
— Doutor Gabriel Dupont — ela fala, abrindo o sorriso polido
de sempre.
— Só Gabriel, lembra? — peço, tentando lembrar o nome dela.
— Certo, e como posso ajudá-lo hoje?
— Preciso de um anel de noivado e encomendar um par de
alianças.
— Uau, então teremos festa em breve. — Ela sorri, já se
colocando em movimento atrás do balcão.
— É o que parece — realmente é uma novidade e tanto. Quem
diria que Gabriel Dupont compraria alianças, hein? Penso e sorrio.
— E você tem a medida?
Abro a carteira e tiro um cordãozinho amarrado que usei para
tirar a medida do dedo de Luciana, antes de deixá-la na Petite,
resmungando sobre não precisarmos de aliança e nada disso. Até
parece que eu prestei atenção nos resmungos. Depois sou eu o
dramático.
— Então, eu medi, mas não sou muito bom com isso.
— Está perfeito — ela pega e reserva dentro de um pequeno
suporte que lembra muito um pratinho de metal. — Podemos ajustar
melhor se precisar depois, agora você precisa me dizer o que tem
em mente? Pra isso, ajuda pensar em como ela é.
— Baixinha e invocada — respondo e ela sorri. — Não, ela não
é baixinha, ela tem 1,68 segundo ela, mas perto de mim é uma
nanica.
— É que vocês Dupont são bem altos — a vendedora, cujo
nome ainda não lembro, diz. — Certo, temperamento forte, então?
— Isso, sorriso bonito, língua afiada, olhos claros, seios de
encher os olhos — solto sem pensar, mas então me dou conta de
como meu corpo reage com a lembrança do corpo da Lu e volto a
me concentrar. — Ela é inteligente, paciente, mas nunca deixa de
responder a uma provocação. E, ela tem uma mania que nem nota.
— Mania?
— Sim, ela morde a bochecha por dentro quando está
distraída e também ergue bem as sobrancelhas, quando tá
contrariada, desconfiada.
— Pelo jeito temos um homem apaixonado aqui — a
vendedora diz e eu fico quieto. Não, eu sei que não estou
apaixonado, mas a convivência e a amizade fazem a gente notar
coisas que não vemos em outras pessoas, e Lu é uma mulher muito
marcante, não posso negar.
— Do que ela gosta? Digo, pra passar o tempo.
— Ela lê aqueles livros com homens sarados na capa, ouve
música e adora um filme meloso. Mas ela é discreta, usa roupas
bonitas, ao contrário da irmã, que é toda colorida e tem aquele
cabelo rosa.
— Ela irmã da Cici?
— É — digo, já sabendo que minha cunhada andou por aqui,
deixando sua marca.
— Eu conheço a Luciana, as duas estiveram aqui há alguns
meses pra comprar um presente para a mãe. Quem diria, duas
irmãs e dois irmãos.
— Louco, né? — entro na brincadeira, porque no fim das
contas é mesmo uma maluquice sem tamanho.
— E como está a Cici?
— Acabou de ganhar bebê, Isabela é o nome da minha
sobrinha.
— Uau. Olha, se você a vir, diga que minha mãe amou o bolo
que ela mandou pra nós.
— Ela mandou um bolo?
— Sim, parece que gostou tanto de nós aqui que mandou um
bolo sem lactose que era de lamber os beiços.
— É bem a cara dela.
— Então, me deixe pensar um pouco, lembrar da irmã da Cici.
— Ela aperta as sobrancelhas e eu espero, correndo os olhos sobre
o balcão e vendo todas as joias expostas e bonitas.
— Acho que ela é bem discreta e social, tenho algumas
opções de anéis que podem agradar.
Ela traz uma pequena bandeja de um armário atrás dela, os
anéis são discretos e delicados, mas lindos, não posso negar.
— Ela é discreta, mas eu nem tanto — declaro, pegando um
anel todo delicado que me lembra dos filmes que Luciana assiste,
com príncipes, palácios e tal. A pedra é um diamante solitário.
— Eu gosto desse, essa cor é bonita — pego o anel e ergo
diante dos olhos. Parece mesmo algo que ela usaria e algo que eu
compraria para alguém como ela.
— Tem personalidade. Esse é um anel de noivado estilo
princesa, de ouro rosé, com um diamante de trinta pontos.
— Eu gosto, é esse mesmo que vou levar. Aposto que vai ficar
lindo na nanica. E para aliança, eu quero uma daquelas fininhas,
com um pequeno diamante em cima.
— Tenho algumas no mesmo estilo rosé que acho que você vai
gostar — diz, pegando outra bandejinha com alianças e colocando
na minha frente.
— Essa — ergo a aliança de mesma cor do anel de noivado e
sorrio. — É exatamente o tipo de aliança que me vejo colocando no
dedo dela.
— Então vou separar para ajustar, medir seu dedo e
providenciar a gravação.
— Depois você manda entregar na minha empresa ou me liga
que venho buscar.
— Tudo bem.
Depois de pagar minha compra, saio animado. Nunca me
imaginei comprando um anel de noivado e um par de alianças, mas
não posso negar que é divertido. Escolher uma joia que é a cara de
Luciana não é a pior coisa do universo e, de repente, me sinto
energizado.
O que não quer dizer que eu goste da ideia de me casar. Acho
que gosto da ideia de mimar minha melhor amiga.
Eu sei que em algum momento vamos acabar nos divorciando,
esse é o plano, mas até lá posso, pelo menos, deixar as coisas
divertidas. E isso significa carregar Luciana para um casamento
inusitado e colocar uma bela aliança no seu dedo.
O que me leva a pensar em por que é que nunca a chamei pra
sair. Luciana é linda, sexy e algo me diz que existe uma mulher
muito ardente por trás daquela pose de empresária séria.
Imediatamente minha mente me leva para a noite em que
decidi pedir ajuda pra ela. Aquela lingerie preta, com renda nas
coxas e os seios fartos pedindo para serem chupados. Droga.
Esquece isso, esquece!
Não, nunca que eu vou conseguir esquecer que vi a bunda
firme de Luciana, numa calcinha minúscula, quando fui acordá-la.
Só de lembrar meu pau lateja e sei que o maldito traidor adoraria
entrar e sair daquela mulher.
Mas não. Ela não é uma opção, inclusive já deixou claro que
se precisar de prazer, pode providenciar com um vibrador. Merda.
Ela tem um vibrador e eu consigo imaginá-la se tocando, sentindo
prazer com o brinquedo sexual. Ai, caramba. Quanto mais tento,
pior fica.
Para de pensar nisso, Gabriel Dupont. Esqueça. Luciana é sua
amiga e está te fazendo um favor.

Não foi nada fácil parar de pensar em uma versão sexual de


Luciana, mas quando finalmente consegui descarregar as energias
no banheiro do meu escritório, me senti um babaca.
Como é que eu fui bater uma pensando nela? Onde eu estava
com a cabeça? No pau, é claro. Na imaginação viva do meu pau
entrando e saindo do corpo quente e excitado da Luciana.
Se fosse minha noiva de verdade, tudo bem, mas ela é minha
amiga e não foi nada fácil conseguir conquistar sua amizade e
confiança. Me sinto um idiota que só pensa em sexo.
Sexo com a melhor amiga e falsa noiva.
Tentando não voltar a entrar nesse ciclo, coloco minha mente a
funcionar. Quando estávamos conversando, bêbados lá na casa da
praia da Joaquina, Lu me disse que gostaria de ser mais ousada e
se casar de um jeito inesperado. Talvez, eu tenha uma ideia de
como fazer isso.
Pego o telefone e ligo para o meu advogado, o deixo
incumbido de resolver a questão, checar os vistos e todos os
documentos que vamos precisar. Ele também vai resolver as
questões técnicas de nos casarmos em um outro país, incluindo
tradução dos documentos, notificar o consulado e preparar a
validação da cerimônia no Brasil.
Satisfeito com a minha eficiência, tento me concentrar no
trabalho, mas minha mente não cansa de pensar na bendita imagem
de Luciana de lingerie, dormindo de bunda pra cima na cama de
hóspedes da minha casa.
E então, outra ideia doida pipoca na minha cabeça. Pego o
telefone e ligo para a joalheria. Depois de pedir o que quero, vou
para o banheiro, e como o pervertido que sou, me masturbo outra
vez pensando nela.
Faz apenas alguns dias que aceitei me casar com Gabriel e
ele já se tornou uma constante na minha vida. Se antes nos víamos
uma ou outra vez para almoçar juntos, agora nos vemos todos os
dias e quando não, ele me liga e ficamos tagarelando sobre as
coisas do casamento e sobre como faremos depois, quando
tivermos de morar juntos.
É tão estranho assim que eu esteja me divertindo com a ideia
de me casar com alguém com quem não pretendo fazer sexo?
— Pronta? — A voz de Gabriel me sobressalta, arrancando-me
dos devaneios malucos e me trazendo de volta ao escritório da
Petite.
— Mais do que pronta, faminta — respondo, pegando minha
bolsa da cadeira e seguindo até ele.
Gabriel me dá um beijo casto nos lábios e eu ergo minhas
sobrancelhas, estranhando.
— Acostume-se, tem que parecer real. — Sorri com aquele
olhar bobo que enruga a testa toda e eu acabo retribuindo. — Então,
sushi?
— Com certeza.
O restaurante japonês onde costumamos comer sushi fica na
Avenida Beira Mar Norte, bem perto de onde está o prédio da
Dupont e a Petite. Costumamos ir caminhando até lá, aproveitando
a paisagem e curtindo o clima, mas hoje Gabriel me guia até seu
carro, tocando de leve na minha lombar quando abre a porta do
passageiro.
Me sento bem confortável e coloco o cinto, enquanto ele faz o
percurso e assume o banco do motorista.
— Um dia você vai me deixar dirigir esse carro? — pergunto,
apreciando a beleza do interior do seu Range Rover Sport.
— Vai sonhando — ele solta e sei que está me dando o troco
pela coisa no elevador do hospital.
— Tudo bem, quando eu for sua esposa metade dele vai ser
meu.
Gabriel ri, pisando no acelerador e nos levando até o
restaurante.
Depois de comermos e de uma longa e divertida conversa
sobre todas as coisas que nossa família vai dizer ao descobrir que
viramos um casal, Gabriel me leva para dar uma volta na Beira Mar.
Sempre gostamos de sentar nos bancos e ficar vendo o mar ou as
pessoas correrem, é tranquilizante.
A vida frenética da avenida me anima, ciclistas, patinadores,
pessoas caminhando, sem contar as banquinhas de lanche, o
movimento é intenso mesmo que já seja perto das oito da noite.
Aspiro fundo o cheiro do mar e sorrio, apreciando a noite.
De mãos dadas, o que é bem estranho pra dizer a verdade,
andamos até o trapiche[3] e ficamos um bom tempo sem dizer nada,
apenas vendo o movimento suave e o brilho da lua no mar.
O vento balança suavemente meus cabelos e a maresia
afunda no meu peito, me dando uma sensação gostosa. Eu sempre
me sinto bem quando venho aqui, mas hoje é como se todo o
quebra-cabeça da minha vida estivesse encaixado como deve.
Eu sei que pode ser loucura, mas é como se eu pudesse fazer
qualquer coisa, ser qualquer coisa. Finalmente não sou mais aquela
secretária que foi roubada e abandonada grávida, nem a mulher que
foi traída. Eu sou sócia da Petite Floripa, a confeitaria que mais
cresce no sul do Brasil, sou mãe, irmã, filha e acabo de virar uma
noiva também.
— Você tá muito quieta. — Gabriel me puxa para o seu abraço
como ele sempre faz quando estamos apenas nós dois.
— Eu gosto daqui, acho que é um dos meus lugares favoritos.
— Que bom — ele diz e puxa algo de dentro do casaco. —
Porque não te trouxe aqui por acaso.
Aperto meus olhos, mas demoro um momento para entender a
cena.
Gabriel se ajoelha e abre uma caixinha, mostrando um anel
lindo que posso apostar que é de diamante. Ele sorri e me olha bem
no fundo dos olhos, erguendo uma sobrancelha e franzindo a testa.
— Luciana Perloni, minha nanica favorita no universo inteiro,
você aceita se casar comigo pra ser atormentada, irritada e muito
mimada por mim pelos próximos trezentos e sessenta e cinco dias?
As poucas pessoas que estão caminhando no trapiche param
para ver a cena do homem enorme que está de joelhos na minha
frente, fazendo um pedido fofo e totalmente pirado.
— Eu não sou nanica, eu sou alta pra caramba, mas eu aceito
— digo e ele coloca o anel no meu dedo.
Todo mundo aplaude e, estimulado, Gabriel me levanta nos
seus braços e esmaga meus lábios com os seus. É rápido, mas é
quente.
— Ela aceitou! — ele comemora com uma dancinha
engraçada, como se já não tivéssemos combinado o casamento. É
doido. — Ela aceitou!
Escuto alguns parabéns dos estranhos ao redor enquanto
admiro o lindo anel que ele me deu. É tão perfeito, delicado e sexy
ao mesmo tempo, se é que isso é possível.
— Você não deveria ter gastado tanto por um casamento falso
— cochicho e Gabriel fecha a cara.
— Você tem que parar com isso — diz e eu estranho seu jeito
sério. Ele toca no meu queixo, me fazendo levantar o rosto na
direção do seu. — Nunca aceite nada menos do que você merece,
nada menos que o universo todo, nanica.
Alguns dias depois

Não consigo acreditar que estou fazendo isso, nem que


Gabriel me deu, há alguns dias, o anel de noivado mais bonito do
mundo. Deve ter custado uma fortuna, mas ele nem se importou,
nem mesmo com o fato de que nosso suposto casamento não vai
passar de um ano.
Depois do pedido formal e fofo que fez, caminhamos mais um
pouco pela Beira Mar e Gabriel me contou sua ideia. A princípio
pensei que era uma brincadeira, mas quando me explicou o
procedimento e todas as providencias que já tomou, eu
simplesmente entrei de cabeça.
Nunca fiz nada louco e ousado, mas mal posso esperar por
isso. Acho que existe uma Luciana muito menos certinha dentro de
mim e Gabriel consegue fazer ela mostrar a cara de vez em quando.
Afasto o pensamento do dia do pedido de casamento com um
aceno, tentando me concentrar na tarefa à minha frente.
— Eu ainda não entendi — minha mãe fala, com um olhar
confuso enquanto arrumo minha mala.
— A babá e as cuidadoras vão alternar pra ficar com vocês,
serão só alguns dias.
— Tudo bem, essa parte eu entendi, filha, o que não entendi é
o que você vai fazer lá.
Suspiro, porque ainda não estou pronta para contar pra minha
mãe que vou me casar com Gabriel em dois dias.
Eu sei que logo todo mundo vai saber e terei de enfrentar um
monte de questionamentos e olhares confusos de nossas famílias,
mas até lá, prefiro evitar.
— Vou a negócios, mãe. Não se preocupe, não estou fugindo
— respondo e passo meus braços ao redor dela, apertando-a forte
do jeito que faço sempre que quero tranquilizá-la.
— Tá certo, mas tome cuidado, tem muita gente perigosa
nessas viagens de avião.
— Sei. — Sorrio. — Bom, vou me despedir do Felipe, logo a
minha carona chega.
Minha mãe sempre foi uma mãe leoa, assim como minha irmã,
sempre pronta para um embate quando precisa proteger a família.
Não sou tão intensa quanto Cici, mas não posso negar que não
deixo ninguém pisar no calo das Perloni também, acho que é uma
característica nossa, nos preocupamos com quem amamos.
É bom saber que meu filho vai estar bem cuidado, é a primeira
vez que viajo sem ele e estou um pouco incomodada com isso, além
do nervosismo da loucura que estou prestes a fazer.
— Certo — digo para mim mesma, voltando ao quarto para
pegar minha mala, enquanto reviso minha lista mental de coisas a
serem checadas antes de viajar. — Liguei para o Miguel e ele vai
trabalhar de casa, além do mais, a gerente da Petite dá conta
sozinha, Felipe está bem, os remédios da mãe estão em dia...
— Falando sozinha, Luciana? — escuto a voz brincalhona e
me viro. — Nervosa, noiva?
— Shiiiii — repreendo, puxando-o para dentro do meu quarto e
fechando a porta. — Não contei a ninguém e não tô pronta pra lidar
com um interrogatório da minha mãe.
— Dona Noeli me ama — ele solta, sorrindo daquele jeito
convencido e irritante. — Vai adorar ter outro Dupont como genro.
— Meu Deus, aonde é que estou amarrando meu bode? —
coloco as mãos na cintura, pensando seriamente em desistir. — Só
fica quieto até a gente sair daqui.
— Ok, rabugenta.
Suspiro, decidida a seguir adiante com a maior maluquice da
minha vida. É isso, vou me casar com um Dupont só pra me vingar
do meu maldito ex/traidor/babaca/escroto/namorado e para ajudar
Gabriel a vencer uma disputa com o pai.
— Certo, acho que é isso, não esqueci nada.
Termino de conferir meus documentos dentro da bolsa e me
certifico de que minha mala está bem fechada.
Finalmente pronta para encarar a viagem, passo as mãos
suadas sobre a calça e tento sorrir.
— Parece que você está com dor de barriga — Gabriel diz,
rindo e sacudindo a cabeça. — É só uma viagem de negócios,
lembra?
— Não me provoque ou o próximo ano da sua vida vai ser um
tormento — aponto o dedo na sua direção e ele ri mais alto.
— Mal posso esperar.
Depois de incontáveis horas de voo, finalmente chagamos aos
Estados Unidos, mais especificamente em Las Vegas. Isso mesmo,
vou ter um casamento digno de uma comédia romântica da sessão
da tarde, com um cara que provavelmente vai estar vestido como o
Elvis Presley.
Pegamos um carro com destino a um hotel chique de cinco
estrelas, com uma diária que deve custar o preço de um automóvel,
pra dizer o mínimo. O Waldorf Astoria fica na Las Vegas Boulevard,
mas o motorista a chamou de The Strip.
A The Strip é a principal avenida de Las Vegas e, segundo
Gabriel me disse solenemente, a ligação entre os principais shows e
eventos. Ela é gigante, cheia de árvores por sua extensão e
canteiros, o que é bem surpreendente se considerar que está um
calor de doer e que a cidade fica no deserto.
Se eu não tivesse uma rede de franquias para administrar e
um filho pequeno para quem voltar, me daria o prazer de tirar férias
na iluminada Las Vegas, adoraria conhecer todos os parques
nacionais e gastar algum dinheiro nos cassinos.
O Waldorf é um verdadeiro luxo, o prédio enorme tem um
jardim na frente e palmeiras, além de um aspecto um pouco
diferente dos outros pelos quais passamos. Com uma grande logo
em forma de WA entrelaçados, ele inspira luxo. Sem contar que não
tem cassino nem toda a loucura do clima de Vegas. Em
compensação é o maior requinte que já vi na vida.
Gabriel o escolheu para que pudéssemos ter um clima mais
tranquilo, curtir algo mais intimista e sem cheiro de cigarros.
Palavras dele, não minhas.
A recepcionista que faz nosso check in é muito elegante e
educada e eu agradeço a todos os santos por ter me empenhado
tanto a aprender inglês quando decidi que seria secretária, assim
não me sinto uma completa pateta quando ela faz as perguntas de
praxe.
Gabriel e eu entramos no elevador, ele está quieto e tenso,
mas não de um jeito ruim e eu estou quase pirando, claro.
Assim que a porta se fecha, solto o ar que estava prendendo e
ele sorri, pegando minha mão na sua e dando um aperto bem leve.
Está me confortando, e não precisa dizer nada para isso.
A suíte é luxuosa, com uma sala realmente refinada, sofás,
mesa, um tipo de ilha com um barzinho, passo pela porta do quarto
e dou de cara com uma cama de casal grande e uma vista incrível
para a The Strip.
É lindo, vivo, agitado.
Volto meus olhos para a cama e sinto tudo me acertar com
força. É, eu estou prestes a me casar e pelo próximo ano inteiro não
vou mais dormir sozinha.
Ainda não sei como me sinto sobre dividir a cama com um
homem grande, forte e espaçoso, que é também muito linguarudo,
safado e um pouco (muito) presunçoso.
— Uau, isso aqui é... — Não consigo nem falar quando entro
no banheiro e vejo a banheira chique que facilmente acomodaria
nós dois ali dentro, admirando a noite de Vegas enquanto tomamos
um banho de espuma relaxante. Certo, melhor não pensar nisso
mesmo. — Acho que é maior que a minha antiga casa.
— É grande — ele diz e sorri. — O que acha de tomar um
banho e depois sairmos pra comer alguma coisa?
Assim que Gabriel termina de falar sou arrebatada pela minha
imaginação safada e carente e me vejo entrando na banheira e
dando de cara com aquele olhar intenso que ele faz quando está
pensando em sacanagem.
Sinto o ponto sensível no meio das minhas pernas
esquentarem no mesmo instante e me obrigo a olhar para algo
aleatório, no caso, uma toalha de rosto macia que está pendurada
perto de um armário comprido com duas pias de mármore.
— Eu sei o que você pensou — ele sussurra no meu ouvido,
por trás de mim, e eu me recuso a me mexer, ou vou acabar
atacando-o sem pensar.
— Você não sabe nada. — Respiro fundo, erguendo os olhos
pelo espelho e dando de cara com um olhar que me diz: Vou te
fazer gritar de prazer.
Deus, eu quero muito gritar de prazer. E algo me diz que
Gabriel sabe exatamente o que estou sentindo nesse momento.
Começo a mexer nos produtos em cima da pia, então sinto a
respiração quente de Gabriel no meu pescoço, sua mão firme pousa
na minha cintura e eu estremeço.
— Droga — resmungo e ele ri, me deixando sozinha no
banheiro. — Você me paga!
— Com prazer — provoca e eu me atrapalho toda, derrubando
os produtos cheirosos e fazendo a maior barulheira.
Volto para o quarto reclamando baixo e Gabriel ergue uma
sobrancelha na minha direção, mas não fala nada. Ele está
desfazendo sua mala e parece concentrado nos próprios
pensamentos. Trato de fazer o mesmo, não levantando os olhos na
sua direção nem para ver se está respirando, mas tramando uma
vingança venenosa contra a provocação dele no banheiro. Ele vai
ver só!
Depois de terminar de organizar minhas coisas, tiro minha
calça jeans e minha blusa e deixo em cima de uma cadeira. Vestida
só de calcinha e sutiã zanzo pelo quarto, depois pego uma roupa no
armário e vou para o banheiro, sem sequer olhar para ele. E eu sei,
posso sentir, ele está me devorando com os olhos.
Meu plano é tomar um banho rápido, mas a ducha é
simplesmente incrível, é tanta água que nem sei como não inunda o
banheiro inteiro. E a água desce massageando minha pele quente e
dolorida dos ombros. É ótimo e eu estava mesmo precisando disso.
Fecho meus olhos e a cena da minha traição me invade com
força. Talvez, ser traída seja como viver um luto, a ficha demora a
cair, mas quando faz isso, é tão forte que rouba todo o ar do corpo
da gente, como se rasgasse tudo de dentro pra fora.
Eu teria me casado com ele, teria me dedicado, sido a Luciana
que ele sempre esperava que eu fosse, certinha, controlada. Teria
tentado amá-lo para o resto da minha vida e teria me conformado
com o sexo meia boca. Tudo pra darmos certos.
Mas não deu.
E aqui estou, me preparando para me casar com Gabriel.
Um Gabriel com 1,94 de altura, musculoso, sarado, quente,
provocante, sorridente, desafiador. Merda, pare de pensar nele
assim.
Abro os olhos e enfio a cabeça na água corrente, talvez eu
devesse ter entrado na banheira, com certeza ficar mergulhada na
água teria me feito parar de pensar em coisas que não posso ter. Ou
talvez só inflamasse ainda mais, já que só de olhar para a banheira
já imagino Gabriel tirando suas roupas e me esperando sentado.
Pior, me imagino sentando nele.
Ai Deus, vai ser difícil ficar um ano vendo todo dia aquele
tanquinho sem tocar.
Vou ter que usar muito o meu vibrador.
Depois que Lu sai do banho, vestida numa daquelas blusas
que parecem dar asas às garotas, eu suspiro, pegando minha roupa
e indo para a ducha. Se ficar aqui observando enquanto ela se
arruma, vou acabar desarrumando-a todinha e devorando aquela
boca marcante e o corpo delicioso. Eu sei, eu sou um tarado, mas a
coisa do cartão do sexo despertou algo louco em mim, algo só há
muito custo contido em nome da nossa amizade.
Além do mais, aquela ceninha dela só de lingerie indo para o
banheiro foi uma vingança e tanto e me acertou em cheio.
Decididamente, ficar me imaginando enchendo a mão na bunda
redonda e firme da Lu não ajuda em nada.
Mas quando eu penso que as coisas vão melhorar, descubro
que estou tremendamente enganado.
Assim que entro no chuveiro e o ligo, dou de cara com a
calcinha de Luciana pendurada no box. Ela a lavou e deixou aqui,
para esfregar na minha cara que usa tanguinha.
Quando dou por mim, estou pegando a calcinha e levando ao
nariz. Cheiro de sabonete e mesmo assim meu pau fica duro e
minha mente traidora me leva a um nível da safadeza que não estou
preparado para encarar.
Tento devolvê-la, mas o tecido desliza entre os meus dedos,
proporcionando ainda mais munição para a minha imaginação.
Foda-se.
Num instante estou me tocando e pensando em Lu,
imaginando a boca dela ao redor do meu pau, sugando com força e,
depois, estou me enfiando na bocetinha molhada. Eu me imagino
rasgando a calcinha que agora está apertada na minha mão e
dando uma boa palmada na bunda branquinha da loira.
Gozo antes mesmo de chegar à melhor parte da imaginação.
Merda, eu sou terrível.
Depois do banho, coloco uma calça jeans, uma camiseta preta
e uma jaqueta. Lu já está na sala, pronta.
A blusa de asas é de um azul escuro que cai muito bem com a
pele e os olhos claros dela, a calça jeans colada vai até quase a
altura do umbigo, me chamando para apreciar as curvas marcantes.
Ela arrematou tudo com um tênis alto e brilho nos lábios.
— Acabei de bater uma cheirando sua calcinha — digo, na
maior cara de pau. Se ela achava que eu ia deixar essa pequena
maldade passar, se enganou. — Pronta?
Vermelha como um tomate, Luciana levanta do sofá e pega a
bolsa e o casaco, me seguindo para fora do quarto sem dizer uma
única palavra. Quem foi que ganhou?
Depois do jantar e de dar uma volta pela Strip com Luciana,
decidimos jogar em um cassino e a rabugenta logo melhorou muito
seu humor, principalmente depois que ganhou uma rodada na
roleta, ainda que tenha perdido o dobro de dinheiro antes disso.
Luciana é uma mulher vibrante e cheia de vida, mas se
esconde por trás de um muro que construiu para não se magoar.
Aquele babaca só piorou tudo.
Quando estavam juntos ela não era a mesma, não sorria, não
dava os pulinhos estranhos ao comemorar algo, na verdade, parecia
nunca ter motivo para comemorações. E definitivamente não parecia
dada a provocações como deixar a calcinha no box para eu ver
quando fosse tomar banho.
Luciana me olha enquanto caminhamos na noite bem
iluminada de Las Vegas, e deita a cabeça para o lado de leve,
tentando descobrir no que estou pensando.
— Amanhã, a essa hora, provavelmente vamos estar casado
— digo e ela arregala os olhos, compreendendo a magnitude da
loucura que estamos fazendo. — Ainda pode desistir se quiser.
— Você quer desistir? — pergunta, mordendo a bochecha por
dentro.
— De jeito nenhum. — A puxo para um abraço e o cheiro do
seu cabelo invade meu nariz e torce algo no meu estômago, me
lembrando que há poucas horas me masturbei pensando nela.
Preciso focar no nosso projeto, não posso arriscar que ela
desista porque não consigo me controlar. Maldita hora que a vi de
lingerie preta, desde então não pude mais conter essa vontade de
me afundar nela.
Posso ser muitas coisas, mas não sou mentiroso,
principalmente comigo mesmo e sei que me sinto atraído por
Luciana, já sentia antes, mas agora as coisas foram a um nível que
não sei como frear. Talvez o fato de ela estar prestes a ser minha e
ainda assim não ser minha esteja fodendo a minha cabeça. Ou
talvez seja o fato de ela deixar claro que não quer...
Voltamos para o hotel e Lu não demora a cair no sono,
aproveito para responder alguns e-mails e acalmar os ânimos na
casa dos Dupont. Minha mãe já me mandou umas cinco
mensagens, achando que eu perdi a cabeça e sumi de novo,
preocupada que eu esteja deprimido e faça alguma bobagem.
Envio uma mensagem dizendo que estou justamente prestes a
fazer algo insano, mas que ela não se preocupe que em breve
estarei em casa, vivo, feliz e saudável.
É claro que um minuto depois de mandar a mensagem me
arrependo, pois minha mãe, meu pai e meus três irmãos começam a
ligar sem parar.
— Eu estou bem — digo, ao atender a ligação de Henrique,
meu irmão mais velho. — Não vou me matar nem nada assim.
— Onde você tá? Quero ir pessoalmente saber se você tá bem
— Henrique ordena, mas eu apenas rio.
— Estou com uma loira sexy e linguaruda, mas acho que ela
não é dada a festinhas a três — provoco e Henrique bufa.
— Eu sou casado.
— É, e eu não, ainda — deixo escapar, rindo.
— Vou dizer pra mãe que você tá bem, ela estava apavorada.
— Acho que a nossa mãe precisa de mais netos, o seu e a do
Miguel não parecem suficientes pra ocupar aquela cabeça
preocupada dela.
— Talvez você devesse providenciar alguns — meu irmão
crispa, irritado.
— Talvez — é tudo que respondo.
Depois de reclamar mais um pouco sobre eu ter desaparecido
sem dar notícias de novo e eu rebater dizendo que minha secretária
sabe tudo que precisa saber e que a vida é minha, meu irmão
finalmente cede e desliga.
Minha família é calorosa, mas às vezes pode ser sufocante.
Desligo o computador e afundo na cama, ao lado de Luciana.
Pra piorar meu estado de espírito, descubro que ela está só de
camiseta. Merda, é hoje que eu não durmo.
Depois do café da manhã, Luciana e eu tiramos o dia para
passear por Las Vegas, fizemos compras, conhecemos alguns
cassinos e assistimos a uma apresentação de mágica que a fez
soltar muitos “ohhhh” e “ahhh”.
À medida que a noite foi se aproximando, fui ficando mais
tenso, calado e meio soturno. Dá pra acreditar que estou uma pilha
de nervos?
Eu sei, é um casamento falso e como Lu diz, com data de
validade estabelecida, mas ainda assim estou andando de um lado
para o outro no saguão, esperando Luciana descer. Morrendo de
medo que ela desista e me deixe aqui com cara de idiota.
Ela me expulsou do quarto quando percebeu que eu estava
explodindo de ansiedade. Depois de deixar claro que precisava de
tranquilidade para se arrumar, simplesmente me chutou porta a fora
e desde então aqui estou, esperando.
Meu celular vibra no bolso, pego e olho a mensagem de
Luciana.

Luciana: Preciso de ajuda.


Luciana: A merda do zíper do vestido emperrou, estou presa.
Gabriel: Venha sem, vou adorar me casar com você de
lingerie.
Luciana: Não consigo nem tirar, nem colocar a porcaria do
vestido.
Gabriel: HAHAHAHAHA
Luciana: É sério, socorro!
Gabriel: Ok, seu herói já está indo.

Rindo, pego o elevador e aperto o botão do nosso andar.


Como se a situação já não fosse louca o bastante, ainda tenho de ir
salvar minha noiva do vestido que a está atormentando.
A tensão vai dissipando conforme desço do elevador e
caminho para o quarto. Pego o cartão magnético do bolso do terno e
passo no leitor. A porta se abre sem qualquer dificuldade, mas eu
confesso que não estava nem um pouco preparado para a imagem
à minha frente.
Luciana está de costas, lutando com o zíper atrás do vestido,
preso no meio do caminho. As pernas alongadas entram dentro de
um vestido de seda cor-de-rosa suave que a envolve em um abraço
sensual, marcando a curva da bunda de um jeito que faz meu corpo
todo latejar.
Ela está impaciente, movendo-se com raiva e resmungando.
Sacudindo o corpo, xingando. É a cena mais engraçada de todas.
Me aproximo e coloco minha mão na sua cintura, tentando
manter a serenidade para não me deixar levar e acabar rasgando a
roupa dela e levando-a para o quarto.
— Não se mexa — falo perto do seu ouvido e a sinto
estremecer, os braços se arrepiando no mesmo instante. — E por
favor, não se arrepie desse jeito ou não serei educado.
— Não posso evitar — ela geme e eu, definitivamente, preciso
tirar minhas mãos da sua cintura e dar um passo para longe ou vou
agir como um brutamontes e atacá-la.
Respiro fundo e volto a me aproximar, segurando o fecho e o
vestido, cada um com uma mão e encostando o mínimo possível.
Primeiro desço um pouco, destrancando-o e expondo a lingerie de
renda que combina com o vestido. Então, com uma única respirada,
puxo o zíper e fecho a roupa de uma vez, porque ficar olhando a
pele sob a renda agita as coisas em mim.
Luciana se vira e seu rosto é um mistério que não consigo
decifrar.
Então ela suspira, olhando meu corpo e mordendo o lábio
inferior.
— Você tá bonito — diz, apreciando meu terno sem gravata.
— Você está pronta? — me forço a perguntar, controlando a
vontade de cortar a distância e me afundar na boca pintada de
vermelho. Não sei o que deu em mim hoje.
— Sim, meus documentos estão na bolsa.
— Ótimo.
Ela pega a bolsa e o casaco, enquanto ligo para a recepção
para me certificar de que o carro estará pronto, quando descermos.
Depois estendo a mão e espero Luciana depositar a sua. De
mãos dadas, saímos do quarto e rumamos para uma capela que vai,
no mínimo, ser o maior clichê do universo. Mal posso esperar para
ver a cara da Lu.
Assim que Luciana se depara com a limusine preta, ela
arregala os olhos.
— Discrição não faz parte do seu vocabulário, não é? —
pergunta, com um sorriso grande que me diz que adorou a surpresa.
— Foda-se a discrição — rebato e ela ri alto. — Vamos abusar
do clichê.
— Certo, gostei, me sinto em um filme romântico.
Abro a porta da limusine e Luciana se lança para dentro, rindo
e assoviando, impressionada. Converso com o motorista que vai
nos acompanhar a noite toda e depois abro um champanhe que foi
disponibilizado para nós, com o pacote.
Sirvo duas taças e enquanto percorremos a avenida,
arrancando olhares divertidos das pessoas do lado de fora, Luciana
bebe todo o líquido borbulhante e sorri. Volta e meia ela dá
tchauzinhos mesmo com o vidro fechado e escuro.
Seu rosto iluminado e feliz é como um combustível que me faz
querer providenciar a noite mais divertida e romântica que puder.
Tornar esse momento memorável e inesquecível.
— Quer fazer uma coisa de filme? — pergunto e Lu se vira na
minha direção com uma expectativa genuína.
— O que você tem em mente?
Aponto com a cabeça para o teto solar e Luciana arregala os
olhos.
— Podemos?
— Você pode tudo hoje — digo e volto minha atenção para o
motorista. Peço que ele abra o teto para que possamos olhar.
Assim que ele faz isso, subo no banco e iço meu corpo para
fora, depois estendo a mão para ajudar Luciana a fazer o mesmo.
Ela sorri como boba, dando tchau para todo mundo que vê, inclusive
uma versão dançarina do homem aranha.
— Meu Deus, eu sempre quis fazer uma maluquice dessas —
ela cantarola, feliz da vida.
Depois que voltamos para dentro do carro, Luciana bebe mais
champanhe e me abraça.
— Obrigada por isso — diz. — Eu sei que é bobo, mas eu tô
adorando cada minuto.
— E você ainda nem viu tudo.
— Nós vamos numa daquelas capelas loucas com roupas de
gente famosa, não vamos? Ai, meu Deus, mal posso esperar.
Tomamos todo o champanhe enquanto o motorista nos guia
para o primeiro evento da noite. A capela é a mais conhecida de
todas, do Elvis Presley.
Luciana parece uma criança num parque de diversões, com
um sorriso que vai de orelha a orelha. Enquanto acerto as coisas do
casamento, mostrando os documentos e a licença providenciados
pelo meu advogado, ela vai se arrumar.
Mando entregar um champanhe para ela, enquanto eu mesmo
me arrumo numa sala adjacente.
Sabe aquelas cenas de filmes onde os casais bebem muito e
se casam em Vegas?
É basicamente isso que começamos a fazer.
Com um topete estiloso e uma roupa de Elvis, espero minha
futura esposa perto do altar. Um padre vestido a caráter conversa
rapidamente comigo e a música Can't Help Falling In Love começa a
tocar no momento em que Luciana aparece na ponta da nave da
capela.
O vestido branco dos anos 60 é bem rodado, com uma faixa
na cintura, um decote quadrado e alças que se prendem no
pescoço. Ela se equilibra com perfeição nos saltos altos e vem
caminhando, segurando um buquê que não sei de onde surgiu e
balançando um véu delicado.
Linda pra caralho.
E eu só penso em arrancar o vestido.
Se estivéssemos no Brasil e fôssemos nos casar pra valer,
com certeza minha mãe prepararia uma festa que sairia até nos
jornais, ainda bem que decidimos fugir e fazer essa maluquice toda.
Beijo Luciana na bochecha assim que ela chega. A música vai
se encerrando e eu não consigo desviar do olhar dela.
A formalidade da cerimônia é bem parecida com o que vemos
nos filmes, e dois ajudantes servem de testemunhas já que não
temos ninguém da nossa família. Ainda que seja totalmente
estranho, eu me sinto bem pra caramba.
— Eu sei que não é um casamento dos sonhos... — começo a
dizer, mas Luciana me cala com um indicador enriste.
— É perfeito, sempre quis fazer algo louco e digno de filme —
diz, logo depois do sim e pouco antes de eu dar um beijo casto nos
seus lábios.
Junto com a cerimônia, comprei um pacote de comemoração,
regado a champanhe e um bolo de casamento.
Tudo vai bem, até que as músicas românticas dão lugar ao
rock e nós começamos a dançar feito dois malucos. É uma festa de
dois e não poderia ser melhor.
Dançamos por quase uma hora, até que me lembro que ainda
não acabou.
— Vamos tirar uma foto, linda — digo, puxando uma Luciana
levemente alcoolizada para os meus braços.
Começamos com umas fotos bobas sorrindo, fazendo careta,
desfilando com nossas vestimentas e uma mostrando nossa aliança.
Depois, aviso que temos de ir e ela se troca meio trôpega,
novamente preciso socorrê-la com o vestido e confesso que me
estendo um pouco mais com a mão na sua cintura. O álcool está
ganhando a batalha contra a minha força de vontade.
— A noite ainda não acabou — digo, puxando-a para a
limusine de novo.
— E o que faremos agora?
— Vamos nos casar.
— Nós já casamos.
— Vamos casar de novo.
Eu nunca me diverti tanto na vida como nessa noite. Luciana
não apenas é a garota mais divertida e louca do mundo como é a
esposa mais fácil de agradar e mais incrível também. Ela embarcou
de cabeça na nossa aventura e eu me vejo desejando agradá-la
cada vez mais.
Sim, nós estamos oficialmente casados, mas ainda não estou
satisfeito e decidi que temos que casar mais duas vezes para fazer
valer a pena. Na verdade, eu já tinha pensado nisso e por isso
encomendei mais dois pares de aliança, formando um conjunto de
três alianças fininhas e bonitas, com aquelas pedrinhas de
diamantes em cima e que se complementam.
Nossa segunda parada é o point para noivos nerds e geeks, e
Luciana solta uma gargalhada quando se olha no espelho. Ela já
bebeu bastante, mas está mesmo curtindo a coisa toda.
Seu rosto maquiado e os cabelos amarrados como da princesa
Lea de Star Wars a deixam com ares de ficção científica e eu, como
um bom nerd/geek não posso dizer que não estou louco pra fingir
que estamos em uma nave, fugindo do Darth Vader.
— Meu Deus, eu sou a princesa Lea e você é o Luke — diz,
colocando as mãos na cintura e se atrapalhando com as mangas do
vestido.
— O Luke e a Lea não podem se casar — explico, mas ela
bufa e fecha o cenho, pensando.
— O Luke não era irmão dela? — pergunta, depois de tomar
um gole da taça de champanhe.
Aceno que sim e Luciana cobre os lábios com a mão, rindo alto
e sem qualquer delicadeza, tentando evitar que o champanhe
escape dos seus lábios e bagunce tudo.
— Eu sou o Han Solo, serve?
— Um Han Solo sarado. — Ela suspira. — Vamos lá?
Segurando a mão de Luciana com uma das minhas mãos e um
sabre de luz azul na outra, nos guio até o altar que lembra uma nave
espacial de qualidade duvidosa.
— Acho que gosto mais de Star Trek — Luciana diz, tocando
os coques na lateral da cabeça. — Tô horrível.
— Você está ótima — digo e tiro várias fotos de Lu, diante do
nosso altar espacial e comigo.
As coisas esquentam pra valer e eu me vejo puxando Luciana
para um beijo ardente que arranca o fôlego de ambos. Ela não
resiste e solta pequenos gemidos excitados que me inflamam pra
valer.
No mesmo tanto que bebemos, nos beijamos e conversamos
coisas aleatórias e sem qualquer importância, ignorando o homem
parado à nossa frente.
É bom de um jeito que nem sei explicar. Bom e louco.
Depois que nosso cerimonialista começa, Lu levanta a mão
como se fosse uma aluna e ele o professor, mas o homem não
entende uma única palavra sequer, porque ela está falando nosso
idioma. Luciana acaba se dando conta e mudando para um inglês
fluente, mas carregado de sotaque.
— Eu quero fazer meus votos — diz e ele concorda. Ela
respira fundo e começa. — Prometo ser fiel ao seu tanquinho,
jamais trair e pensar em você quando usar meu vibrador.
— Ainda bem que você fez seus votos em português — digo,
rindo. — Bom, prometo ser fiel, desafiar seu mau humor e bater em
qualquer babaca que tentar magoá-la.
— Droga, você é fofo, enquanto eu só consigo pensar em fazer
um sexo selvagem de boa qualidade — ela diz e eu a puxo para um
abraço e um beijo.
Um beijo quente que me envolve completamente. Droga, é a
porra de um beijo que mexe com meus instintos e me deixa com
cada parte ligada no 220.
E Luciana reage me puxando para ela, abocanhando meu
lábio inferior e o sugando como se fosse água no deserto. Minha
língua a invade, buscando o encontro que agita tudo dentro de mim.
Ela geme e eu engulo seu gemido com a boca, movimentando
nossos corpos conforme nos aproximamos mais.
As mãos de Luciana correm para a minha nuca e ela brinca
com meus cabelos enquanto se derrete sob meu toque. Minhas
mãos percorrem suas costas enquanto sugo seu lábio inferior e
mordisco sua boca.
Caramba.
Agora somos dois pensando apenas em sexo.
Nossa terceira capela é de longe a mais divertida. Luciana se
anima mais do que o normal quando vê a decoração, a roupa e a
maquiagem. Talvez seja porque ela já está de pileque, ou apenas
seja uma fã de zumbis, não sei, mas ela não faz qualquer cerimonia
e deixa a maquiadora abusar na sua aparência.
Depois que dizemos sim, fingindo sermos zumbis loucos por
cérebros e depois de nos beijarmos mais algumas vezes, Luciana
pega o celular da minha mão e começa a tirar muitas fotos, de
selfies borradas a fotos com beijo na boca e tudo mais. Está solta e
rindo à toa e eu me deixo levar.
— Eu adoro me casar — diz, passando a garrafa de
champanhe pra mim. — Quero me casar todo dia.
— Tá bom — falo, um pouco bêbado e levando meus braços
ao redor dela. — Você fica gostosa até de comedora de cérebros.
— Uma comedora de cérebros que não goza faz tempo —
Luciana suspira e eu afundo meu nariz no seu pescoço, chupando
de leve a pele quente do seu pescoço, descendo com a ponta da
língua até a alça do vestido de zumbi. Ela geme, ligando algo dentro
de mim.
— Podemos resolver isso, eu adoraria providenciar quantos
orgasmos você precisar — sussurro, pronto para abocanhar seus
lábios outra vez, mas Luciana suspira outra vez, endireitando o
corpo e focando em algo na sua mão. Com um leve puxão dentro de
mim, sinto-a se afastar e entendo, ela não quer cruzar o limite. Tudo
bem.
— Meu Deus, eu tenho três alianças — sorri, e eu tiro uma foto
nossa, ambos mostrando as alianças. — E juntos temos seis. Seis
alianças. Gabriel, nós somos tão loucos. E dizer que eu achei que
era uma pessoa sem graça.
— Você não é sem graça — digo e ela acena, concordando.
Dou uma boa olhada na foto e acabo postando no meu perfil
com uma legenda que promete revolucionar as coisas na casa dos
meus pais.
“Mais casados do que isso é impossível” escrevo e aperto no
enviar.
— Acabo de anunciar para o mundo que estamos casados —
falo e Lu afunda nos meus braços como vem fazendo desde que
nossa pequena aventura começou.
— Vai ser um inferno — diz, rindo. — Então vamos aproveitar.
Assim que sinto meu telefone começar a vibrar nem me dou ao
trabalho de ver quem pode ser, simplesmente desligo e o enfio no
bolso, concentrando toda a minha atenção na zumbi gostosa que
está enfiando na boca um doce com aparência de mini cérebro.
— Isso tá horrível — ela diz, mostrando os dentes manchados
pelo corante azul de dentro do doce. — Minha irmã vai me matar
quando souber que não foi ela que fez meu bolo de casamento e os
doces.
— Sua irmã vai te matar quando souber que você se casou e
nem a convidou.
— É verdade — Lu completa e dá de ombros. — Não me
arrependo e você?
— Não mesmo, inclusive preparei uma festinha pra nós na
suíte, com bolo e mais champanhe.
Lu tira a maquiagem de um jeito meio atrapalhado, me pedindo
pela terceira vez para fechar seu vestido, mas sem que ele esteja
realmente trancado como da primeira e algo me diz que a versão
bêbada e nada comedida de Luciana está querendo me deixar
louco.
E está conseguindo.
— Vou querer um presente de casamento especial — declara,
entrando na limusine. — Quero comer bolo de casamento no seu
tanquinho.
— Então você quer usar seu bilhete do sexo? — provoco,
afundando no banco e a puxando para se se aconchegar nos meus
braços.
— Cartão do sexo — ela me corrige. — Mas não falei em fazer
sexo, falei em comer bolo no seu tanquinho.
— Tudo bem, eu topo, mas vou querer algo em troca.
— O quê?
— Vou querer que você faça isso usando apenas lingerie.
Luciana geme e ainda que eu tenha certeza de que nada vai
acontecer, porque não sou do tipo que se aproveita de uma garota
bêbada, mal posso esperar para vê-la comendo bolo no meu
abdômen. Esse virou meu novo momento especial e com certeza
vai me render alguns pensamentos bem sacanas.
— Tudo bem, minha lingerie pelo seu tanquinho.
— Fechado, sócia.
Assim que entramos na nossa suíte, encontramos o bolo,
champanhe e pétalas de rosa pelo chão, além de um cartão cordial
do hotel, felicitando a gente pelo casamento. Lu não espera nem eu
fechar a porta e já começa a tirar o vestido.
Meu Deus, essa lingerie cor-de-rosa é de tirar o fôlego.
Os seios redondos e empinados no sutiã, a calcinha de renda,
tudo me faz querer esquecer que sou um homem decente e me
jogar pra cima dela como um leão caçando uma presa difícil.
— Você vai tirar ou eu tenho que arrancar? — Luciana diz,
apontando para minha roupa.
Tiro a blusa e a calça e fico apenas de cueca box. Minha
esposa, sim, agora é assim que vou chamar, ao invés de minha
melhor amiga, minha esposa suspira e morde o lábio inferior.
— Vai ser difícil — bebe outro gole da garrafa que trouxe do
nosso último casamento. — Vai ser difícil não me imaginar sentando
em você.
Puta merda, ela quer me matar.
— Podemos resolver isso — provoco e ligo uma música no
laptop. — Não hoje, mas quem sabe quando voltarmos pra casa.
— Isso, vamos usar nossos cartões do sexo.
— Viu, eu disse que deveríamos ter combinado cartões extras
— declaro e Luciana dá uma risada gostosa e alta, daquelas que faz
a gente passar vergonha quando tem gente por perto.
Ela começa a balançar o corpo, enquanto eu acompanho o
ritmo ao som de Jennifer Lopez em A’int your mama. Não é
exatamente uma música sexy e a letra é uma crítica clara para
homens que não valorizam suas esposas, mas eu estou pouco
ligando. Luciana rebolando só de lingerie cor-de-rosa é a coisa mais
sexy que me aconteceu em muito tempo, foda-se a música.
— Essa música é muito conveniente — falo, puxando Lu para
junto de mim e tocando seus ombros e cintura. Tentando controlar
os impulsos, mas sem conseguir me distanciar mais. — Ela te faz
rebolar bem gostoso pra mim.
— É verdade, é bem conveniente, porque não vou passar, nem
cozinhar e nem lavar suas roupas. — Ela bate no meu peito como
se estivesse brava. — Meu Deus, Gabriel, devia ser proibido ser
gostoso assim.
Passo minhas duas mãos no rosto de Luciana e a puxo pela
nuca, cravando minha boca na sua e a invadindo com a minha
língua. Ela geme e eu preciso de toda a minha força de vontade
para não chutar o balde e levá-la para cama. Eu quero muito fazer
isso.
O beijo é ávido, sedento e eu me vejo puxando o corpo violão
para junto de mim.
— Vamos providenciar seu presente, minha senhora — digo,
me afastando a muito custo do corpo ardente e da boca convidativa
e inchada pelos nossos beijos.
Deito no sofá e coloco um pequeno pedaço de bolo no meu
abdômen. Luciana suspira quando vem na minha direção. Ela fica
olhando para mim por algum tempo, então solta:
— Vai ser uma longa noite.
Luciana geme quando se aproxima do meu abdômen. Ela
tenta não me tocar, mas acaba me obrigando a colocar suas mãos
em cima do meu peito.
— Vamos lá, você sabe que quer — suspiro.
Ela vem com a boca quente até o bolo e passa a língua,
acendendo meu pau. Ela lambe o glacê e mastiga, pensando por
um instante. Em seguida, volta com a boca e limpa as sobras do
creme, me deixando mais cheio de tesão.
— Esse, com certeza, é o meu momento favorito do nosso
casamento.
— Ótimo, agora é sua vez de comer bolo na minha barriga.
— Porra! Como é que eu vou me comportar com você dizendo
isso?
— Do mesmo jeito que eu: lambendo todo o creme pra não me
deixar lambuzada.
Suspiro, pensando que lambuzá-la é justamente o que quero
fazer com ela. Labuzar, lamber e chupar.
Acordo meio que me engasgando. Minha cabeça pende para
fora da cama e lateja, e eu estou deitada de bunda pra cima, venho
dormindo muito assim ultimamente.
Um dos meus braços está solto no ar, em direção ao chão, do
mesmo jeito que minha cabeça. É a posição mais estranha em que
já acordei.
E, puta merda, estou de ressaca.
Puxo meu braço meio dormente e me dou conta de que algo
está em cima da minha bunda, espio pela lateral e tomo o maior
susto do mundo. Um Gabriel só de cueca, lindo e bagunçado dorme
tranquilo com uma mão na minha bunda. É claro.
E a minha bunda está só numa calcinha de fio cor-de-rosa e
com rendinhas nas alças. Ai Deus, o que foi que eu fiz?
Solto um gemido dolorido, quando me forço a endireitar meu
corpo e me sentar encostada nos travesseiros, puxando o lençol dos
pés da cama e me cobrindo tanto quanto é possível, já que o
homem ao meu lado é grandalhão e ocupa um espaço enorme.
Gabriel Dupont espaço? Nossa, que surpresa. Humpf!
Assim que termino de me cobrir até quase o pescoço, meus
olhos correm direto para o corpo quente que dorme descansado ao
meu lado. As pernas grossas, o abdômen trincado com três gomos
de cada lado, os braços firmes e as mãos grandes. Meu Deus, não
tem nada de mais perfeito do que esse corpo e tudo em mim pede
para tocá-lo.
— Tá gostando do que tá vendo? — a voz sonolenta me pega
desprevenida e só então percebo que ele está me observando.
— O que nós estamos fazendo quase pelados? — rosno,
antes de conseguir pensar direito.
— Você eu não sei, mas eu estava dormindo — ele retruca,
rabugento.
— Mas... nós... nós não...?
— Nós transamos? — pergunta, de repente, desperto e
erguendo o corpo para nivelar ao meu. — Você não lembra de
nada?
— A última coisa que eu lembro é de passar a língua no seu
abdômen e comer bolo — suspiro, levando as mãos à cabeça. —
Meu Deus, eu assediei você, pedi pra comer bolo no seu corpo. Eu
sou uma abusadora. Que horror! Nós transamos, não foi?
— Luciana, você acha que eu sou o tipo de cara que se
aproveita de uma mulher bêbada? Mesmo que ela seja minha
esposa, eu jamais faria isso.
— Mas eu fui atrás, abusei de você — choramingo, me
recriminando por ter cruzado uma linha bem complicada do nosso
acordo. — Você não vai me odiar por isso?
— Nós não transamos — ele declara, chateado pra valer. —
Não que eu não quisesse, vamos ser honestos, você é gostosa e
estava toda excitada e desfilando com essa bunda empinada numa
calcinha minúscula. Mas eu já disse que jamais me aproveitaria de
uma mulher bêbada, mesmo ela comendo bolo em mim.
— Certo, obrigada. E... me desculpe por ter comido bolo em
você, eu passei do limite.
— Não se preocupe, também comi bolo em você, então
estamos quites.
— Certo, estamos quites.
— Nós podemos transar se você quiser — ele diz e eu rio,
sentindo a tensão dissipar. — Tudo bem, podemos continuar sem
transar também, mas não posso prometer não ficar com tesão
quando você estiver usando cor-de-rosa. Virou minha nova cor
favorita.
Engulo em seco e mordo meu lábio inferior.
— Falou o cara que tá só de cueca ao meu lado — devolvo,
olhando a protuberância que deixa bem claro o desafio que seria
sentar em cima desse homem. Gabriel com ereção matinal é
perturbador.
— E eu fico muito assim — declara solene, e eu não sei se ele
está se referindo a ereção matinal ou ao fato de andar de cueca o
tempo todo. — Você tem duas opções, tirar proveito ou acostumar.
Gabriel decide ignorar a minha careta, ele vira para o lado,
depois pega o celular na mesa de cabeceira e solta um suspiro
longo.
— Tem um monte de mensagens de todo mundo — diz, me
mostrando a tela do celular. — E um monte de ligações perdidas.
— Eu me lembro de você dizer que postou a nossa foto —
procuro meu celular para ver o Instagram de Gabriel, mas não
encontro a foto e nem a legenda.
— Acho que eu não postei nada — ele diz, os olhos
arregalados. — Mas com certeza anunciei em grande estilo que
casamos.
Gabriel me mostra o resultado da nossa bebedeira. Ele
realmente enviou a foto, mas não para a rede social que pensava,
ele colocou no grupo da família Dupont, e pior, ainda colocou um
vídeo e mais duas fotos nossas.
— Meu Deus, você é louco.
A primeira foto estamos mostrando nossas alianças e tem uma
legenda junto dizendo: Mais casados que isso é impossível.
Na segunda foto, estamos nos beijando e rindo, uma cena bem
estranha e maluca, ainda mais porque estamos vestidos de zumbis
e meus dentes estão azuis.
— Coloca o vídeo, quero ver o tamanho do estrago — digo e
ele aperta o play.
No vídeo, Gabriel está me filmando e eu estou no meio do
salão, vestida de princesa Lea fazendo uma dança terrivelmente
desajeitada, meus cabelos parecem fones de ouvido e as mangas
do vestido estão atrapalhando meus movimentos, piorando tudo.
Então Gabriel vira a câmera para o modo selfie e aparece na
tela com um sorriso grande e bobo.
“Este é o nosso segundo casamento temático” ele fala, vindo
na minha direção e mostrando o par de alianças e mais o anel de
noivado no meu dedo.
“Meu dedo vai ficar duro com tantas alianças” eu falo, engrolo
na verdade, porque estou nitidamente bêbada.
“Senhoras e Senhores, conheçam a nova Sra. Dupont e sim,
antes que perguntem, um casamento em Las Vegas é válido no
Brasil” Gabriel declara no vídeo, rindo alto. Com certeza ele também
estava de pileque.
“Eu adorei, meu casamento de filme romântico tem até
limusine” digo no vídeo e Gabriel me puxa para um beijo ardente,
depois ele perde o controle da câmera e baixa seu braço, acho que
comprimindo o celular no meu corpo, porque fica escuro, mas ainda
escuto ele me chamando de gostosa enquanto me beija.
— Porra, espero que meu pai não tenha visto isso — Gabriel
diz, mas não consegue se conter e começa a rir.
— Agora todo mundo sabe que você me acha gostosa —
suspiro, só imaginando a reação da minha mãe e irmã ao saberem
que me casei com um Dupont que me acha gostosa.
Olhamos as mensagens e é impossível não morrer de rir com
a família.

Mãe: Pelo amor de Deus Gabriel, o que você está fazendo?


Henrique: HAHAHAHAH.
Henrique: É agora que a mãe tem um troço.
Joaquim: Parabéns aos pombinhos hahahahaha.
Joaquim: Mãe, para de me ligar, sei tanto quanto você sobre o
maluco do Gabriel.
Mãe: Gabriel, atenda o telefone e me explique essa história de
casamento.
Marisol: Bem-vinda à família, cunhada :-)
Cici: Meu Deus, agora além de minha irmã você virou minha
cunhada Lu huahuahuahua.
Miguel: Porra, que loucura.
Raul: Gabriel, eu vou matar você.
Joaquim: Socorro, sou o único CEO solteiro dessa família ;-P
Mãe: Isso não pode ser sério, Gabriel está de brincadeira, ele
não se casaria em segredo.
Henrique: Eu não contaria com isso, mãe. Aquele beijo não
pareceu nem um pouco brincadeira.
Mãe: Meu Deus!
Cici: Meu Deus, por quê? Minha irmã é ótima.
Mãe: Eu sei querida, só não posso acreditar que os dois se
casaram em segredo e tão longe.
Cici: E eu não fiz o bolo, Luciana eu vou matar você.
Joaquim: Pai, compra um calmante e tira o celular da mãe, ou
ela não vai me deixar dormir. Já disse que não sei de nada.
Ninguém me conta nada nessa família.
Henrique: Olha quem é o dramático agora.
Joaquim: Claro, porque não é pra você que a mãe fica ligando
a cada 2 minutos.
Henrique: isso porque você é o único que não consegue
esconder nada dela.
Joaquim: Isso porque vocês só aprontam e eu não.
Marisol: Meu Deus, coitada da mulher que for te aturar,
Joaquim.
Cici: Coitada mesmo.
Miguel: Melhor ficar calado, mano, ou vai sobrar pra você, ao
invés do cara que acabou de se casar em Las Vegas com a minha
cunhada. Caramba, que família maluca.
Raul: Vou acalmar a mãe de vocês, se conseguirem falar com
Gabriel me avisem.
Marisol: a essa hora ele está ocupado fazendo outras coisas,
sogro, vai ser difícil alguém conseguir falar com eles.
Raul: Vocês ainda vão me enlouquecer.
Cici: E nesse meio tempo ainda vamos enchê-lo de netos.
Mãe: é o mínimo que vocês fazem, depois de dar tanto
trabalho. Joaquim atenda o telefone, eu sei que você está
escondendo algo.
Joaquim: Nem pensar.

— Bom, nós agitamos mesmo as coisas — Gabriel diz, rindo.


— Vem, vamos fazer um vídeo para esse bando de loucos.
— Certo.
Me encosto em Gabriel, ainda enrolada no lençol e sem me
preocupar com a bagunça de maquiagem e cabelo, ele passa o
braço sobre meus ombros e eu me aninho.
— Pronta?
— Sim — suspiro e ele me aperta de leve para me passar
confiança.
Gabriel aperta o botão de gravar do celular.
— Oi pessoal, só pra dizer que estamos bem. Desculpem pela
forma como souberam dos nossos casamentos, acho que me
empolguei um pouco. Mas sim, estamos mesmo casados.
— Três vezes casados — digo, mostrando as alianças que
ocupam uma parte do meu dedo. — Estamos bem contentes e
espero que fiquem felizes por nós. Mana, desculpe pelo bolo,
prometo que te compenso depois.
— Bom, vamos curtir mais um pouco nossa lua de mel e logo
estaremos em casa. Ah, não adianta ficar me ligando mãe, eu casei
mesmo com a Lu e não vou atender o telefone, vou estar ocupado
demais pra isso.
— Gabriel! — o repreendo, mas ele ri e eu acabo rindo
também. — Por favor, não fiquem chateados, nós estamos muito
felizes.
Gabriel aperta pra parar de gravar assim que mandamos beijos
e eu pego meu celular e gravo uma mensagem pra minha mãe logo
na sequência. Embora eu esteja no grupo da família Dupont, nem
sei porquê, minha mãe não está e não acho que ela ficaria nada
feliz se visse o vídeo de Gabriel e eu anunciando nosso casamento.
Enquanto Gabriel envia o nosso vídeo no grupo da família
Dupont, mando meu vídeo pra minha mãe, explicando que me
casei, mas que ela não se assuste, pois explicarei mais tarde.
Aproveito para responder as mensagens de Cici e Marisol, preciso
falar que estou bem e que a história é verdadeira, ou vão mandar
até a polícia atrás de mim.
Cici: Meu Deus, por que você não me contou?
Marisol: Cacetada, eu não esperava por isso.
Leio as últimas mensagens e dou risada, depois digito uma
mensagem para cada uma delas e desligo o celular. Não, de jeito
nenhum que vou ficar online, ou minha vida vai virar um inferno.
— Podemos dizer que eu engravidei você e por isso casamos
às pressas — Gabriel fala, virando-se pra mim com uma cara de
safado.
— E o que faremos quando a barriga não crescer?
— Sempre podemos dar um jeito nisso. — Ele dá uma
piscadinha e eu pulo fora da cama.
— Ou podemos só dizer que casamos por impulso. —
Caminho até a porta do banheiro. — Estávamos aqui, bebemos
demais, casamos e vamos pagar pra ver se dá certo.
— É uma opção — ele diz, levantando da cama e esticando o
corpo. — De qualquer maneira, estamos casados e eu vou postar
no Instagram praquele idiota ver.
Rindo, entro no chuveiro e deixo a água levar o cheiro de
álcool e a canseira do meu corpo. Embora tenha bebido bastante,
não demora nada para a dor de cabeça da ressaca dissipar e meu
estômago começar a roncar.
Quando volto para o quarto enrolada na toalha, Gabriel ergue
os olhos na minha direção, levantando uma sobrancelha.
— O que foi? — pergunto, me sentindo exposta e um pouco
carente.
Durante o banho fiquei algum tempo pensando sobre como eu
me sentiria se tivéssemos realmente transado. Eu sei que
combinamos os cartões do sexo, mas não espero que ele queira
usar.
Ou será que espero?
Acho que um ano é tempo demais, vou acabar enlouquecendo.
— Postei uma foto nossa com as alianças no meu Instagram
— Gabriel declara e eu me jogo em cima da cama, com meu celular
na mão.
Já tirei todas as fotos que tinha com meu
ex/traidor/babaca/escroto, agora vou começar a postar fotos com
meu atual/sexy/lindo/inteligente/safado.
Mas antes decido espiar o que ele postou e escreveu.
“Obrigada por ser minha parceira, melhor amiga e, agora,
esposa.”
Uau, simples, objetivo e profundo, e bem honesto se
considerar que eu sei exatamente o que ele quer dizer.
Me concentro por algum tempo e então posto uma das fotos
que ele me enviou enquanto eu estava no banho. “Três vezes sua”
escrevo na legenda, porque na foto é possível ver minhas três
alianças fininhas e o anel de noivado.
Pois é, agora não tem mais volta, sou oficialmente a esposa do
CEO mais temperamental e dramático da família Dupont e, também
o mais gostoso, com certeza.
— O que acha de fazermos um spa com massagem e depois
dar mais um passeio?
— E almoçar, tô quase ficando azul de fome — retruco.
— Vamos lá, nanica, vamos curtir nossa lua de mel enchendo
a barriga.
— Uhul! — Dou um pulinho e comemoro com um soquinho no
ar.
— Meu Deus, me casei com uma doida.
— Você se casou com uma Perloni, acostume-se.
Voltar para casa não é nem de longe o momento mais crítico
dessa nova fase da minha vida. Encarar a minha mãe com duas
sobrancelhas erguidas e a expressão de: “Onde você estava com a
cabeça?” é que mexe comigo pra valer. Ela não diz nada, enquanto
largo as malas no chão e fecho a porta atrás de mim, mas eu sei
que tão logo seja possível, o interrogatório vai começar.
Assim que coloco meus pés de fato para dentro de casa,
Felipe vem correndo e se joga nos meus braços. Ainda que tenha só
dois anos, meu garotinho é esperto e ágil. Monta todos os
brinquedos que a minha mãe comprou, numa velocidade
espetacular e sempre sorri, não importa o que aconteça.
Depois de abraçá-lo e ouvir sua conversa infantil, contando
sobre o cachorro do vizinho pegar a bolinha no ar e sobre um
desenho animado que viu, o deixo descer para correr para os
braços da avó.
— Onde está o meu genro? — minha mãe pergunta num tom
quase divertido e eu sei que ela não vai deixar passar batido.
— Precisou fazer algumas coisas, mas vem pra cá mais tarde.
— Suspiro, tentando escapar da conversa.
— Você vai começar a falar ou tenho que ligar pra sua irmã vir
aqui e colocar juízo na sua cabeça? — Cruza os braços sobre o
corpo.
— Tem café?
— Vou passar — minha mãe diz, soltando Felipe com um
biscoito na mão.
— Então vou tomar um banho e trocar de roupa, quando eu
voltar conto tudo que tem pra contar.
— Espero que sim.
Arrastando minhas malas e bolsa, sumo pelo corredor e vou
para o meu quarto. Tudo que mais preciso é de um momento para
pensar com clareza e bolar uma boa explicação. Durante o voo de
volta para casa, Gabriel e eu formulamos várias possibilidades e
decidimos que o melhor é não dar satisfação para ninguém, então, é
isso, nós casamos e ponto final.
Depois de tomar um banho mais longo do que o normal,
porque sim, estou tentando escapar da minha mãe, visto uma
camiseta larga e um short curto de tecido que vai até a cintura.
Calço um par de meias e o chinelo e vou pra cozinha.
Meu filho pula dos braços da babá para mim e deita a cabeça
no meu ombro.
— Sentiu saudade, filho?
— Muita — diz, e beija meu ombro.
— Eu também, amor, muita saudade do meu rapazinho.
— Quero um cachorro — pede, com sua vozinha infantil e uma
pronúncia engraçada.
— Cachorro?
— Sim.
— Vou pensar no assunto.
Com Felipe no colo, eu me sento e o ajeito com as pernas para
baixo da mesa. Ele vai direto com a mão na colher e pega um
pedaço de bolo que leva à boquinha. Faz um hummm demorado
quando saboreia um dos bolos da Petite.
— Comece a falar, Luciana.
— Ai mãe, não tem nada pra dizer. Gabriel e eu decidimos que
queremos ser um casal.
— Sim, e precisava se casar? Não podia começar com um
namoro?
Dou de ombros e levo uma garfada de bolo à boca. Realmente
esse é um dos meus favoritos, recheio de coco com massa de
chocolate meio amargo.
— Será que você pode me apoiar nisso? Eu sei que parece
precipitado, mas eu realmente quis me casar e ele também, e nós
estamos felizes.
— Isso não tem nada a ver com o Ricardo, tem?
— Claro que não, aquele babaca é passado. Meu presente e
futuro agora tem 1,94 de altura, um tanquinho delicioso e umas
pernas que só vendo.
— É, foi uma boa troca — minha mãe sorri marota.
— Dona Noeli, quem diria — me surpreendo.
— O que eu posso fazer? Aquele rapaz é mesmo um pedaço
de gente.
— É, aquela família sabe fazer homens bonitos.
— Assim como eu fiz filhas lindas — mamãe soa toda
convencida e eu fico feliz, porque, no fim, não importam meus
motivos, ela sempre vai estar do meu lado.
— Quer ver as fotos? — Pego o celular do bolso do short,
dando espaço para Felipe descer do colo e ir brincar na sala com a
babá. Ele não para quieto, não adiante nem tentar.
— É óbvio.
Passo a meia hora seguinte mostrando as fotos e os vídeos e
explicando para minha mãe todos os aspectos temáticos do nosso
casamento triplo. Ela acaba escutando, inclusive, Gabriel me
chamando de gostosa e seu olhar diz que ela ficou satisfeita com o
que ouviu.
— Bom, tem umas coisas que nós precisamos conversar, mãe.
Primeiro, vou me mudar com o Felipe, você quer ir junto? Podemos
alugar essa casa se quiser ir morar com a gente.
— Não diga bobagens, um casal não precisa de uma velha
com manias em casa.
— Ai mãe, quem tá falando bobagem é você. Gabriel já disse
que fica feliz se você quiser vir.
— Fora de questão.
— Tá bom, mas então você vai deixar as cuidadoras se
revezarem também durante a noite, pelo menos no começo.
— Hum — ela resmunga e eu sorrio, tentando ser doce ao
invés de mandona como sempre.
— Por favor, mãe, é isso ou vamos todos morar aqui e o
Gabriel vai acabar enlouquecendo você. Ele é espaçoso, barulhento
e adora andar só de cueca.
— Talvez seja uma boa ideia, não é sempre que temos um
rapaz bonito desfilando pelado pela casa.
Caio na gargalhada e minha mãe ri também. Geralmente
somos Cici e eu que falamos as besteiras, mas acho que o
casamento inesperado deixou minha mãe solta. Não vou mentir, eu
gosto desse lado dela, suave, divertido e pronto para a zoação.
— Tudo bem, eu aceito as cuidadoras, mas só por enquanto,
eu sou plenamente capaz de cuidar da minha própria vida.
— Eu sei, e você tá cada vez melhor, mas eu ainda sinto muito
medo — confesso e minha mãe vem com a mão na minha,
cobrindo-a e dando tapinhas leves de consolo.
— Só porque não quero atrapalhar sua vida de casada. Meu
Deus, minha filha certinha fez uma loucura. Se fosse a Cici, toda
destrambelhada e impulsiva eu não me espantaria, mas você
sempre tão centrada... o que deu em você?
— Vi o Gabriel pelado, acho que me apaixonei — apelo e
minha mãe solta uma gargalhada grande e alta. — Acho que posso
ser meio louca às vezes.
— Isso é bom, a vida é pra ser vivida e não importa o que
aconteça, sempre vou estar aqui pra você.
— Obrigada, mãe, por não me julgar e por me dar apoio.
Ela dispensa meu agradecimento com um aceno e então serve
mais café pra nós duas, ou seja, ainda não estou liberada do
inquérito.
— Agora me explique uma coisa, por que seus dentes estão
azuis na foto?

Gabriel chega na casa que Cici e eu compramos pra nossa


mãe por volta das sete, ele passou no seu apartamento para deixar
a mala e pegar algumas coisas, além de alguns documentos que vai
precisar para que o advogado consiga validar nosso casamento de
Vegas aqui no Brasil.
Assim que ele entra em casa, minha mãe, que está na cozinha
fazendo um jantar de bem-vindo à família Gabriel Delícia Dupont,
estica os lábios em um sorriso grande e doce. Ele sorri de volta,
daquele jeito que faz todo mundo se derreter ao redor.
— Dona Ingrid — diz, esticando os braços para um abraço.
— Quer dizer que agora vou ter que chamar você de meu
genro? — minha mãe devolve, deixando-se ser abraçada por ele.
— A senhora pode me chamar do que quiser, senhor gostosão
do universo, genro favorito...
— Miguel vai ficar com ciúmes — eu digo e ele dá de ombros,
convencido como sempre.
— Com o mau humor do meu irmão, eu sou sempre o favorito.
— Meu Deus, como você é convencido — digo, cruzando os
braços sobre o peito, mas sem estar realmente chateada.
— Eu sou sincero, além do mais, fiquei com a filha mais bonita,
então, de qualquer maneira me dei bem.
— Boa resposta — minha mãe fala e dá um tapinha leve no
braço dele, voltando para a panela sobre o fogão.
Gabriel vem até mim e passa seus braços ao meu redor,
depois deita a cabeça de leve e cheira o meu pescoço, arrepiando
tudo. Não satisfeito com a minha reação rápida, ele ainda dá um
beijinho molhado na curva do pescoço, provocando uma reação em
cadeia na minha pele, que vai de um arrepio quente na coluna até
se instalar no meio das minhas pernas. Deus, vai mesmo ser um
ano daqueles.
Minha mãe nos expulsa da cozinha depois do jantar e Gabriel
pega Felipe no colo, enquanto rumamos para o canto temporário.
Levo meu filho para escovar os dentinhos e tomar banho,
enquanto meu marido (isso é tão surreal) arruma o quarto, porque
segundo ele, não vai dormir longe da esposa, na sua compreensão
de mundo, mesmo que nosso casamento seja uma farsa, ainda é
real o bastante para não ultrapassar seus princípios. É fofo, na
verdade.
Quando volto para o quarto com Felipe quase dormindo nos
meus braços, Gabriel está sentado na cama. Ele ergue os olhos na
minha direção e acena para que eu coloque Felipe na cama.
— Acho que essa noite ele vai querer dormir com você — diz e
mostra a cama improvisada que fez no chão.
— Vai mesmo — concordo, ajeitando meu garotinho no meio
da cama. — Mas você não precisa dormir no chão, tem espaço aqui
com a gente, vem.
Gabriel pega o travesseiro da cama no chão e se acomoda do
lado direito da minha cama, me fazendo pular por cima do meu filho
e me acomodar do outro lado.
— Sem beijo de boa noite? — Ele faz bico e eu o acerto com
meu travesseiro, antes de ajustá-lo debaixo da minha cabeça.
Felipe já está completamente apagado, os cachinhos clarinhos
caem bagunçados e eu os tiro dos seus olhos. É tão pequeno e
inocente, nem sabe o tanto de coisa que já passou, nem imagina
que o homem que o colocou na minha barriga nos abandonou.
— Ele parece com você — Gabriel fala baixo, me fazendo
perceber que está nos observando.
— Ainda bem. — Sorrio, e o meu amigo, que já conhece bem a
minha história com Cadu, apenas concorda.
— Ele tem o sobrenome dele? — pergunta, levando a
mãozinha minúscula do meu filho à sua e segurando-a com carinho.
Eu aceno que não, e Gabriel meneia a cabeça, mas não diz
nada. Ele volta a olhar para os dedinhos pequenos entre os seus e
suspira. No meu coração eu sei que um dia, quando uma mulher
conquistar esse CEO dramático e cheio de si, ele vai ser um pai
incrível, meio amalucado, mas muito dedicado e amoroso.
Pelo menos por um ano, meu filho vai ter uma presença
paterna, um pai que vai tratá-lo com carinho e se preocupar com
ele. Não tenho dúvidas disso.
Vou caindo no sono e, a última imagem que grava em minha
mente, antes de apagar por completo, é a mão grande e forte,
segurando com cuidado a mãozinha pequena e frágil.
Gabriel seria um ótimo pai.
Fico algum tempo observando a forma como Luciana
aconchega o filho a si, ela mexe distraída no cabelinho cacheado do
menino, matando a saudade causada por sua primeira viagem sem
ele.
É claro que a Luciana sabe que terá de viajar outras vezes,
conforme a confeitaria dela e da Cici vá expandindo, mas a primeira
viagem deve ser a mais difícil. E essa viagem sem o menino foi logo
para se casar escondida comigo.
Sou obrigado a organizar uma viagem para nós três juntos,
compensar Luciana e Felipe pela saudade que eu causei neles.
Talvez um final de semana na praia pra começar.
É, pode ser uma boa.
E quanto mais eu penso em compensar o garotinho, mais me
vejo tendo ele em minha vida, correndo pela casa, brincando. Não
sei se foi o nascimento dos meus sobrinhos Bernardo e Isabela ou
se só estou ficando velho e babão, mas me sinto um pouco ansioso.
Disparo o pensamento para longe e fecho meus olhos, não é
nem um pouco prático achar que ter Luciana e Felipe em minha vida
me dá algum direito sobre eles, embora saber disso não me faça
sentir diferente de jeito nenhum.
Porque minha cabeça é uma teimosa.
E quanto mais eu olho para os dedos de Luciana acariciando o
cabelinho de Felipe, quanto mais escuto o suspiro do menino, mais
eu quero fazer parte disso.
Enlouqueci, só pode.
— O que foi? — Luciana sussurra e eu ergo meus olhos e a
vejo me observando por cima da cabecinha de Felipe. — O que são
todos esses suspiros?
— Não é nada — digo e Luciana ergue uma sobrancelha.
— Meu filho sempre vai fazer parte de mim, se isso te
incomoda, você pode desistir agora — despeja.
— Não é isso, nanica.
— Então o que é?
— Eu estava pensando, que tipo de pai abandona a mulher
grávida e nem sequer registra o filho?
Luciana fica quieta, não tem uma resposta e eu sei que esse
assunto dói, mas é uma mulher forte, do contrário jamais teria
aceitado embarcar na minha aventura louca de casamento de um
ano.
— Eu jamais teria abandonado você — me vejo dizendo antes
que meu cérebro consiga controlar a minha boca.
— Eu sei, você é um bom homem, Gabriel Dupont — Luciana
fala e estende uma das mãos para mim.
Pego a mão pequena e sorrio.
— Eu sou um ótimo homem — provoco e ela sorri, sacudindo a
cabeça inconformada.
— Você não tem jeito — resmunga, mas sei que não está
brava.
— Eu sei que só temos um ano, que somos amigos, mas
nesse um ano, Felipe e você são meus e eu vou cuidar de vocês.
— E nós de você — ela devolve rápido e eu sei que é verdade,
não apenas pelo compromisso que firmamos, mas porque é uma
mulher de palavra e é uma mulher que cuida.
— Obrigado por me ajudar, Lu, eu não sei o que seria de mim
sem você.
— Seria a mesma coisa, safado, cheio de si e muito
convencido... só que tudo isso desempregado.
Rio e Lu corresponde, rindo também.
Levo minha mão ao cabelo louro de Luciana e deixo meus
dedos correrem, é bom tocar na minha melhor amiga, sem me
preocupar de estar cruzando limites. Agora ela é minha e eu posso
cruzar todos os limites. Bom, quase todos.
Porque tecnicamente sim, ela é minha esposa, mas na prática
não.
Eu não me importaria nadinha de levar as coisas para a
prática, mas sei que isso poderia mudar tudo entre nós, complicar o
que já não é exatamente simples.
Levanto meus olhos uma última vez e noto que Lu pegou no
sono. Fecho meus olhos e tento desviar minha mente para algo que
não seja o rosto perfeito, nem a sensação que ela faz crescer no
meu coração.
Não vai ser fácil.
Depois do café, deixei Luciana no shopping para comprar
umas coisas que precisaremos para nossa mudança. Ainda falta
resolver as coisas com meu pai, ou seja, agora vem o verdadeiro
desafio.
Então, sem avisar, dirijo para Jurerê, estaciono em frente à
casa onde fui criado e fico dentro do carro por alguns minutos,
tentando reunir a coragem necessária para enfrentar o verdadeiro
tumulto que vai ser quando eu abrir a porta e colocar meus pés pra
fora.
Depois de alguns minutos e sem conseguir cogitar bons
argumentos, decido que é hora de enfrentar meu velho.
Caminho para a entrada da nossa casa e coloco a mão na
maçaneta. Uma das empregadas me intercepta assim que abro a
porta.
Vou entrando, sem esperar que alguém me diga que sou bem-
vindo na casa da minha família e já me preparando para o ataque
que vai acontecer assim que dona Ingrid Dupont colocar os olhos
em mim.
— Bom dia, seu Gabriel — diz e eu aceno.
— Meus pais estão em casa?
— Seu pai está no escritório, sua mãe saiu. Quer que eu o
chame?
— Não — falo, e vou para o escritório. Pelo menos vou poder
lidar com um de cada vez.
Aliviado, bato na porta e entro. Meu pai, que está lendo um
livro, sentado confortavelmente no sofá do escritório, ergue os olhos
e me lança um olhar de escrutínio.
— Então resolveu das as caras — diz e eu dou de ombros.
— Vim pedir uma coisa — retruco e meu pai aperta os olhos,
salientando o furo no queixo.
— Claro, explicar a loucura que fez você não quer, mas pedir
algo sim — meu pai crispa, mas não parece chateado.
— Você queria um casamento, não queria? — Cruzo os braços
e retruco irritado.
— Eu queria que você encontrasse uma moça e se
apaixonasse, daí sim se casasse, meu filho.
— Foi o que eu fiz.
— Gabriel — meu pai começa, mas eu o interrompo com um
aceno.
— Eu gosto da Luciana, é com ela que eu quero estar e ela
quer estar comigo. Você queria que eu sossegasse, bom, nem que
eu tente aquela mulher vai me deixar aprontar.
— Ela é uma boa moça, não é certo brincar com ela.
— Não estou brincando com ninguém — devolvo, começando
a ficar chateado por meu pai pensar que sou capaz de iludir ou
magoar alguém. — Além do mais, a Lu é capaz de se defender, pai,
você não a conhece como eu. Pode ser pequena, mas tem uma
língua afiada e um temperamento terrível. E é a melhor
companheira que eu poderia querer.
— Hum... você não ofereceu nada em troca do casamento,
não foi?
— Pai! — explodo, levantando do sofá e batendo com as
mãos nas pernas. — Olha bem pra mim, você acha que eu preciso
comprar uma mulher? A sua sorte é que a minha esposa não está
aqui ou você ia ouvir poucas e boas.
— Não estou falando por mal, mas me preocupo com tudo
isso. Não envolve apenas vocês, tem a Cici, o Miguel, o filhinho da
Luciana, como a família vai ficar se você partir o coração daquela
moça?
— Do mesmo jeito que todas as famílias sempre ficam —
retruco, realmente bravo. — Não acredito que você pensa tão pouco
de mim, eu sou capaz de fazer alguém feliz.
— E se dedicar, porque casamento requer dedicação,
compromisso...
— E amor, eu sei — completo e me sento. — E tem mais,
preciso que você me dê um presente de casamento.
Meu pai sorri e me dá um tapa de leve no joelho.
— Você sempre foi o mais complicado — diz e não sei se isso
é um elogiou ou não. — Não posso dizer que esteja surpreso de
você ter sentimentos pela irmã da Cici. Aquelas moças são como
furacões. Então, o que você quer de casamento?
— A casa perto da praia.
— A casa daqui de Jurerê?
— Isso.
— Tenho que conversar com sua mãe, mas não vejo por que
não.
— Ótimo, vou me mudar pra lá hoje mesmo.
— Tudo bem, faça como quiser, filho.
— Obrigado, pai. Confesso que eu achei que seria mais difícil.
— É só uma casa.
— Estou falando de você aceitar o casamento.
— Depois que você colocou três alianças no dedo da Luciana,
como eu seria capaz de tirar?
Sorrio e ao invés de responder a pergunta retórica do meu pai,
apenas dou de ombros e faço a expressão mais descarada e
mentirosa que eu conheço.
— O que posso fazer, sou um romântico?
— Não esqueça, Gabriel, um casamento precisa de dedicação,
não é uma casa bonita que vai manter aquela moça feliz. Ainda
mais uma Perloni.
— Não se preocupe, tenho bons meios de mantê-la feliz —
respondo e meu pai solta uma risada alta e rouca.
— Você não muda.
— Quem não muda? — a voz da minha mãe entra pela porta
junto com o som de um salto fino batendo contra o piso.
A loura de um metro e setenta tem um andar altivo e elegante,
um olhar doce, mas não me deixo enganar, minha mãe é uma leoa
quando se trata da família, e assim que seus olhos caem em mim,
eu sei que estou encrencado.
— Não acredito que você se casou em Las Vegas — fala pela
terceira vez. Ela anda de um lado para o outro e já me deu várias
broncas desde que chegou.
— Desculpe, mãe — digo, fazendo cara de coitadinho. Sempre
funciona, quase sempre, porque hoje ela está furiosa.
— Sem essa, você poderia ao menos ter me contado que
estava em um relacionamento com aquela moça. Achei que ela
tivesse namorado.
Mamãe para no meio do escritório e leva uma mão à boca.
— Meu Deus! Não me diga que vocês estavam enganando
aquele pobre rapaz.
— Não, mãe, qual é? Eu tenho cara de que aceita ser o
amante de alguém?
— É, não tem mesmo, você é espaçoso demais pra isso.
— Aquele cara é um babaca, ele não merecia a Lu — já
emendo e minha mãe me lança um olhar profundo que faz um nó se
formar na minha garganta.
— E desde quando vocês estão juntos?
— Pouco tempo, mas eu gosto dela há muito tempo — minto.
Bom, não é totalmente mentira, eu gosto mesmo dela, mas sempre
gostei como amigo.
— E ela gosta de você, suponho...?
— É claro, aquela mulher não consegue manter as mãos longe
desse corpo.
— Ai, Gabriel, você quer me enlouquecer.
— Não sei por que você está surpresa, Ingrid. — Meu pai puxa
a esposa para sentar ao seu lado, pega sua mão pequena, e faz um
carinho. — É do Gabriel que nós estamos falando, o nosso filho que
some quando algo não sai como ele quer.
— É, você tem razão, nada mais dramático que um casamento
escondido — minha mãe diz, sacudindo a cabeça ainda
inconformada. — E agora, o que vem a seguir?
— Vamos nos mudar aqui pra perto, papai me deu a outra
casa aqui de Jurerê como presente de casamento.
— Na verdade, eu disse que tinha que falar com sua mãe —
meu pai me corrige.
— E você acha que a mãe vai perder a chance de morar perto
do filho favorito dela? Aquela casa é minha já.
Meus pais riem e eu fico aliviado, porque honestamente me
livrei com bastante facilidade por ter aprontado essa.
— Pra sua sorte, faz dois dias que a empresa de limpeza deu
uma geral na casa, só precisa colocar alguns móveis que estão
faltando — mamãe declara. — Se você quiser posso chamar uma
decoradora.
— Não, nós vamos fazer isso juntos. Mas vou precisar de uma
empregada.
— Podemos providenciar — mamãe, no seu modo mais
prático, diz.
— E, mais uma coisa, onde eu arranjo um parquinho?
— Um parquinho? — meu pai pergunta.
— Pois é, quem diria, Gabriel Dupont um homem de família
que precisa de um parquinho... — concluo e então a realidade me
acerta com força total.
Eu vou ter uma criança e uma mulher na minha casa me
esperando todos os dias quando sair do trabalho no fim do
expediente. Eu vou ter uma casa e acabaram as noitadas de
solteiro, regadas a bebedeira e garotas para quem não ligo no dia
seguinte.
Cacetada, eu virei mesmo um homem de família.
Minha mãe é a pessoa mais eficiente que conheço. Depois de
ir comigo até a casa onde Luciana, Felipe e eu vamos morar, ela fez
uma lista de coisas que vou precisar comprar e uma lista de lojas de
boa qualidade onde encontrar as coisas que queremos.
Sem contar que me deu uma aula sobre sutileza na decoração,
pois, segundo a minha mãe, a casa precisa de um toque feminino e
não ser como meu apartamento, um abatedouro de jovens solteiras.
Rindo, me despeço dos meus pais e escapo antes de dar de
cara com algum dos meus irmãos. Lidar com meus pais já é
exaustivo demais, não preciso dos meus irmãos metendo o nariz na
minha vida também. Não hoje, pelo menos.
Luciana e eu passamos duas horas em uma loja de móveis,
comprando as principais coisas que faltam na casa, depois
seguimos para outra loja, onde escolhemos uma cama king size
confortável, porque apesar de um ser um cara grande, a nanica é
quem ocupa mais espaço do que qualquer ser humano normal,
mesmo que ela diga que não. Se bem que dormir apertado em uma
cama pequena, sentindo o cheiro dela não seria ruim.
Roçando meu pau na sua bunda dura quando estivéssemos de
conchinha...
Afasto os pensamentos safados que querem se formar na
minha mente, enquanto abro a porta do carro para minha esposa
(isso é muito maluco e difícil de acreditar ainda) entrar. Ela afunda
no banco e me lança um olhar engraçado.
— Você está com dor de barriga ou algo assim? — pergunto.
— Não, essa é a minha cara de morta de cansaço. Meus pés
estão me matando.
— Falei pra vir de tênis, mas você tinha que insistir em usar
saltos — devolvo e ela me olha com uma raiva fingida.
— Pensei que você gostasse, disse que eles eram sexys —
cruza os braços na frente do peito.
— Em casa, com você vestida apenas de lingerie.
— Ai, Gabriel, você é um abusado mesmo.
— Culpe a falta de sexo. — Dou a partida no carro. — Já está
afetando meu cérebro.
— Mas faz apenas alguns dias que peguei você com aquela
ruiva.
— Duas semanas e meia que praticamente virei o melhor
amigo da minha mão.
— Foi você quem quis casar, agora se divirta com sua mão.
— Bom, talvez você possa me emprestar a sua, isso ajudaria
muito, ou arrumar mais alguns daqueles bilhetes de sexo, acho que
vou precisar de uns vinte.
— Cartões do sexo — ela rebate. — Caramba, você é um
safado.
— Um safado que acaba de comprar uma cama bem
confortável que nós podemos estrear do melhor jeito possível.
— Ou você pode estrear com a sua mão — ela devolve, com
ares maquiavélicos e preciso conter a vontade de morder a boca
provocante.
Posso ter que me conter, mas isso não significa que não vá
provocá-la.
— Por mim tudo bem, desde que você a estreie com o seu
vibrador, mal posso esperar pra ver isso.
Luciana remexe no banco e sei que acertei um nervo sensível,
será que ela está mesmo ponderando sobre fazer sexo comigo?
Não seria nada mal, hein.

Ficamos hospedados na casa da mãe da Lu enquanto


empacotamos as coisas em nossas respectivas casas e esperamos
a entrega da mobília nova, minha sogra é um amor de pessoa e
parece se divertir muito com as minhas provocações com sua filha
rabugenta.
Mas apesar disso, gosto da ideia de nos mudarmos logo.
Estou acostumado desde sempre a ter meu espaço e não gosto de
me sentir um intruso ou um peso para ninguém.
Não que dona Noeli tenha dito alguma coisa, acho que sou
apenas um cara sistemático e mal posso esperar para começar a
minha vida de marido exemplar e muito feliz, mesmo que eu não
faça ideia de como ser esse cara.
Assim que recebo a notificação de que a empresa vai entregar
os móveis, pego Luciana e vamos juntos para a casa. Ela ainda não
a conhece, mas não parece tão nervosa quanto eu me sinto.
E por que é que estou tão nervoso?
Sem querer pensar muito, estaciono na garagem e guio Lu até
a porta da frente.
— Bem-vinda ao lar, senhora Dupont — digo e coloco minhas
mãos diante dela, mas é claro que a nanica não facilita minha vida e
faz uma careta.
— Qual é? É praxe o marido carregar a esposa quando entram
em casa pela primeira vez.
— Não mesmo! — Ela cruza os braços, rabugenta.
— Tudo bem, sendo assim, você não me dá escolha — digo e
a pego nos braços e a coloco em cima do meu ombro, como se
fosse um cara das cavernas ou um daqueles carregadores do porto
e ela não passasse de um saco de feijão.
— Você é louco. — Luciana ri.
— Aproveite a vista, não é todo dia que você vai poder olhar
minha bunda dessa perspectiva — provoco-a e dou uma palmada
na bunda redonda e cheia dela, enquanto entro dentro de casa e a
levo até a sala.
Me preparo para colocar Luciana no sofá, mas a nanica é
impaciente e faz um movimento estranho, tentando descer do meu
colo e impulsionando as mãos nas minhas costas.
— Pare de se mexer ou vou ficar com você no colo até
amanhã — falo, num tom autoritário que só a irrita mais. — Falei
sério, nanica.
— Nanica é a vó — ela rebate e tenta pular, mas está numa
posição de desvantagem e acaba desequilibrando-se e indo na
direção do sofá. A nanica me leva junto com ela.
Caio por cima de Luciana, minha cabeça apoiada nos seios
fartos e durinhos que apontam assim que me sentem tão perto. Sem
tempo de pensar no que isso significa, forço meu corpo pesado
sobre ela e quase a esmago no sofá confortável e fofo.
— Argh! — ela resmunga, mas meu peso está todo sobre ela e
não consegue se mexer.
— Eu avisei pra você parar — digo, erguendo os olhos. —
Agora você está ainda mais presa à mim.
Levo minha mão até a lateral do corpo de Luciana, para
provocá-la, mas o olhar que ela me dá é de pura teimosia.
Com um movimento de quadril rápido e ágil, Luciana me
impulsiona para o chão e eu caio de costas sobre o tapete da sala,
entre o sofá e a mesa de centro.
— Eu disse que era ninja — ela declara, pulando pela guarda
do sofá e fazendo uma pose estilo Mister Músculo, que me arranca
uma gargalhada alta.
A campainha toca no momento em que me preparo para correr
até ela e mostrar quem é o ninja neste casamento.
Suspirando e escondendo o início de uma ereção, caminho até
a porta, deixando minha garota ninja andando pela casa,
descobrindo os cômodos do seu futuro lar.
Enquanto recebo os móveis, escuto os resmungos espantados
de Luciana, ela assovia quando entra na cozinha e solta um chiado
quando vê o escritório, cada ambiente é uma reação e um som
diferente.
Algo me diz que ela vai gostar de morar aqui e vai ser difícil
quando nosso casamento falso acabar e tivermos de ir cada um
para um lado.
Talvez eu acabe propondo que ela fique com a casa, não sei
se eu conseguiria morar nesse lugar sem ela e o menino. Além de
muito espaço para um cara sozinho, seria meio solitário ficar
olhando os ambientes vazios, sem aqueles cachinhos rápidos que
correm por tudo.
Eu sei, estou muito piegas e sentimental, mas desde que a
ficha caiu, tenho pensado demais no que significa ter Luciana e
Felipe em minha vida. Eu vou ter um enteado, um menino que
precisa muito de um pai.
Enteado. Eca, odeio essa palavra. Enquanto esses dois
estiverem em minha vida, eles serão minha família, e acho que eu
posso ser algo como o pai do Felipe. Sim, isso.
Nada dessa coisa de padrasto. Eu vou ser o pai e talvez,
mesmo quando nos separarmos, eu possa continuar como
referência para ele, acho que a Lu não se importaria, pelo menos
ela nunca disse nada sobre isso.
Ai droga, estou ficando louco, só pode. É sério que estou me
vendo como pai? Logo eu que até um mês atrás não pensava
sequer em me comprometer com alguém por mais de uma noite.
Assino a nota e fecho a porta assim que os entregadores se
vão. Passo pelas caixas e vou na direção do quintal.
Luciana está parada, olhando para o parquinho que mandei
instalar com a ajuda da minha mãe.
Depois que o encomendamos, minha mãe ficou encarregada
de escolher o melhor lugar e ela fez mesmo um bom trabalho,
criando um espaço perfeito para muitas crianças correrem e
brincarem. Talvez até um cão.
Luciana continua olhando para o playground em total silêncio.
Tem um balanço, uma casinha com uma escadinha, um escorrega e
uma corda para se pendurar. Minha mãe colocou também um gira-
gira e uma gangorra com cadeirinha reforçada, pois Felipe ainda é
pequeno para se segurar sozinho.
— Você fez isso? — ela fala, levando os olhos aos meus, e o
que vejo neles me enchem de uma emoção inexplicável. Ela está
emocionada.
— Espero que não se importe — digo, passando meus braços
ao redor dela. — Quero que o Felipe seja feliz aqui.
— Ele vai, tenho certeza. — Luciana suspira. — Vai ser difícil
quando acabar.
— A gente pensa nisso quando chegar a hora, até lá, quero
ser um bom pai pra ele e um marido safado pra você.
Luciana deita a cabeça no meu peito e não diz nada por algum
tempo. Quando se afasta, sem dizer qualquer coisa, corro para
acompanhá-la ao redor da piscina.
— Precisamos dar um jeito na piscina — digo. — Pensei numa
daquelas coberturas firmes e retrateis.
— Acho que podemos começar com um portãozinho na porta
da varanda — Lu completa. — Eu sou boa em fazer coisas assim,
com algumas madeiras, pregos e um martelo tudo se resolve.
— Esposa carpinteira, gostei disso.
Enquanto pinto o quarto de Felipe e encho de enfeites que
comprei compulsivamente em uma das lojas que fomos, Luciana se
dedica à construção do portãozinho, escondendo as trancas para
que o filho não encontre um jeito de burlá-las. Depois começamos a
montar os móveis e arrumar algumas das coisas que já trouxemos
em caixas. Parece que nunca tem fim.
É tarde da noite quando finalmente sinto que terminei de
montar o guarda-roupa de Felipe. Luciana se joga no tapete da sala
e resmunga.
— Mandei mensagem para o Miguel e ele está trabalhando de
casa, tudo bem na Petite, também. Você acredita que ele me
chamou de cunhada duas vezes? Tipo, tá tudo bem, tire uns dias de
folga, cunhada, cunhada.
— Ele está te provocando por você ser irmã da Cici e eu, dele.
— Vocês Dupont são loucos.
— Loucos, rabugentos e dramáticos... a lista é grande de
elogios, não se limite.
— É mesmo.
— E não se esqueça de gostosos, eu principalmente.
Luciana atira uma almofada na minha direção, eu a pego e
devolvo, acertando-a nas pernas.
— Vou ligar pra minha mãe e avisar que vamos ficar aqui, o
que acha de pedir comida? — pergunta e eu aceno, abrindo o
aplicativo do celular.
— O que quer comer?
— Alguma coisa que não seja saudável, depois de todo o
esforço de hoje, acho que quer comer algo calórico e suculento.
— Você é quem manda, chefa.
Depois de fazermos uma videochamada com dona Noeli e
Felipe, comemos uma lasanha grande e cheia de queijo, bebendo
vinho e esticando as pernas sobre o sofá.
— Eu detesto fazer mudança — Lu declara.
— Isso porque você é cheia de manias.
— Eu não sou cheia de manias.
— Quer que eu faça uma lista?
Luciana aperta as sobrancelhas e vai levar o prato e a taça até
a pia, desviando de mim pelo caminho.
— Só por causa disso, a louça é sua.
— Tá vendo, é praticamente uma velha mal humorada.
Rangendo os dentes, ela sai da cozinha e vai para o nosso
futuro quarto.
Dou um jeito na cozinha, enquanto Luciana toma banho. Ainda
falta a cama e uma cômoda que compramos, por isso improvisamos
uma cama com colchonetes na sala, sobre o tapete.
Depois que termino com a arrumação, fico zanzando pela sala,
zapeando os canais da televisão aberta, já que não transferiram
meus canais ainda. É, fazer mudança tem suas complicações.
Penso em pegar o notebook para trabalhar, mas minha cabeça
está em outro lugar. Luciana está nua no nosso banheiro, nua e
ardente. Ai merda, aquela mulher vai acabar com a minha sanidade.
Vou para o banheiro sem pensar no que vou fazer, é mais forte
do que eu e me sinto um maluco, abro a porta e dou de cara com Lu
só com camisetão, escovando os dentes, os cabelos molhados
caem bagunçados pelos ombros.
Feito o tarado que sou, arranco minha camiseta e a calça de
moletom e entro só de cueca no chuveiro, querendo provocar a
mulher tanto quanto me sinto provocado pela simples perspectiva de
vê-la só de camiseta.
— O que você está fazendo? — pergunta e eu sei que estou
bem perto de cruzar uma linha. Uma linha perigosa que nos tira da
zona da amizade e leva por um caminho totalmente novo, um
caminho que eu faço qualquer coisa para tê-la na minha cama.
— Você pode me alcançar a escova de dentes? — peço,
ignorando a pergunta dela. — Com pasta, claro.
Ela estica a mão para dentro do box e noto que está de olhos
fechados, sem se dar conta que ainda não estou nu e tentando
evitar de me ver pelado. Pego a escova, mas não só isso, pego
também a mão dela e a puxo para dentro do chuveiro.
— Gabri... — Luciana começa a protestar, mas eu passo meus
braços por ela e a aperto.
— Você precisa relaxar um pouco — digo e a vejo morder o
lábio inferior, atiçando ainda mais o meu lado primitivo.
Eu sei, estou sendo um babaca, mas é mais forte do que eu,
irritar Luciana tem sido o ponto alto da nossa história e vê-la tão
sem jeito é como uma brasa para um fogo que há muito viemos
esquentando. E talvez, só talvez, eu esteja pronto para me queimar.
— Por que você tá fazendo isso? — ela sussurra.
— Porque você me deixa louco — digo no seu ouvido e sinto a
pele do seu pescoço se arrepiando.
— Droga, Gabriel, isso é maldade — Luciana fala, se
afastando de mim. Ela sai batendo os pés e eu rio bem alto.
Não sei por que é que eu me sinto assim, mas não posso
negar que irritar a garota bonita que carrega três alianças minhas é
bom demais. E saber que ela se sente mexida com as minhas
provocações é tão bom quanto.
— Você vai me pagar por isso. — Luciana grita do quarto.
— Ótimo.
Gabriel coloca Felipe na sua garupa e faz um tour pela casa,
arrancando risinhos e gritinhos engraçados do meu filho. Os dois se
esquecem totalmente da minha presença quando meu filho
descobre seu novo quarto.
Meu marido falso, nem tão falso assim, pintou carrinhos em
uma das paredes, pendurou luminárias que projetam estrelinhas no
teto e encheu de pufes em um dos lados do quarto, com ursinhos e
outros brinquedos macios, e um tapete antialérgico para Felipe
brincar. Ele também montou um guarda-roupas e instalou algumas
prateleiras.
Além de termos colocado um portão pelo lado de fora da porta
de correr da varanda. Não foi fácil fazer, mas consegui criar algo
decente que vai impedir que o Felipe se jogue na piscina num
momento de distração. Isso até que a gente instale a tampa retrátil
que Gabriel encomendou. Deve levar pelo menos um mês pra isso.
Depois do jantar, coloco Felipe na cama e ligo a babá
eletrônica. Fiquei receosa o dia inteiro, preocupada com a reação do
meu filho na vida nova, mas ele reagiu melhor do que eu, que nos
meti nessa confusão e agora passo a maior parte do tempo ansiosa.
Num minuto estava andando de cavalinho nos ombros de Gabriel e
no seguinte já estava se sentindo dono do quarto e dos brinquedos.
Acho que uma coisa que ajudou nessa rápida adaptação foi o
fato de trazermos seus brinquedos favoritos da casa da minha mãe.
Ele nem estranhou a cama nova e agora dorme tranquilamente
no berço, como se esse sempre tivesse sido seu o espaço.
Depois de checá-lo mais uma vez, rumo para a sala e afundo
no sofá. Gabriel se senta ao meu lado e me puxa para o seu abraço,
iniciando um carinho no meu cabelo bagunçado.
— Você precisa saber que estou muito grato por tudo.
— Não tem ninguém no mundo que eu escolheria amar além
de você — digo, sem pensar, porque quero que Gabriel saiba como
me sinto e que não é um fardo pra mim ter que ajudá-lo. — Eu não
sou capaz de amar, Gabriel, mas se fosse, certamente já estaria
caída por você.
— Isso porque eu sou lindo.
— É, lindo por dentro e por fora.
— Eu sabia que mais cedo ou mais tarde você ia perceber. —
Ele sorri, mas sei que está apenas aliviando a tensão ao nosso
redor.
Algo na forma como ele me olha remexe as coisas dentro de
mim, como se esperando por algo mais. Não sei o que é, e
provavelmente estou vendo coisas que não existem.
— Nós poderíamos colocar duas camas de solteiro no quarto
ou eu posso dormir num dos quartos de hóspedes — digo e Gabriel
ergue a sobrancelha, formando linhas de expressão na testa.
— E perder de dormir com a irmã Perloni mais sexy? Você só
pode estar louca — ele diz e se levanta do sofá, estendendo a mão
para mim na sequência. — Vamos lá, você já sabe que eu não
ronco, não deve ser tão ruim dormir ao meu lado.
— Eu não disse que era ruim — devolvo, pegando sua mão
para levantar do sofá.
Viro e sigo para o quarto, com Gabriel andando atrás de mim e
sentindo seus olhos no meu corpo. É claro que ele está
inspecionando, nunca vi um cara para ser tão descarado como
esse.
— Pare de olhar pra minha bunda — resmungo.
— Não consigo evitar — ele retruca.
— Safado!
— Rabugenta.
Assim que entramos no quarto ele se joga em cima da nossa
cama, fazendo bagunça nas cobertas. Eu me jogo na cama ao lado
dele e sinto todo meu corpo relaxando. Sei que Gabriel teve o
cuidado de comprar uma cama nova para que eu não dormisse
onde ele fez várias garotas verem estrelas, mas não consigo deixar
de pensar em como ele seria capaz de me fazer suar aqui nessa
cama. Eu seria mais uma a ver estrelas, muitas estrelas.
— Meu ex morreria se soubesse que estou na sua cama.
Nossa cama.
— Não seja por isso, nanica. — Gabriel me puxa para os seus
braços, pega o celular e tira uma foto no momento em que morde o
lóbulo da minha orelha, arrepiando a minha pele inteira.
Gabriel me mostra a foto, e nela estou mordendo o lábio
inferior enquanto ele, de olhos fechados, está com a boca na minha
orelha. É sexy e não dá pra dizer que não estamos apaixonados ou
mesmo que sequer estejamos sexualmente envolvidos.
O casal da imagem parece o tipo que enche as telas de
cinema com comédias românticas apaixonadas e sexys, talvez
sejamos bons atores, afinal de contas.
Sentindo a energia pulsante no meio das minhas pernas, eu
me afasto um pouco dele, enquanto digita boa noite na legenda e
posta nossa foto.
Caramba, eu queria mesmo ver a cara do Ricardo dando de
cara a boca do Dupont mais convencido na minha orelha e a minha
cara de safada.
Gabriel parece pressentir o que estou pensando, pois remexe
na cama de leve e me lança um dos seus olhares mais astutos
quando abre a boca pra falar.
— A gente pode não ver a cara do babaca, mas ele vai se roer
de raiva. Acabou de perder a mulher mais sexy do mundo — diz e
eu não sei está tentando ser fofo ou se me acha mesmo uma mulher
sexy.
De qualquer maneira, não posso nem pensar em descobrir.
Em que momento as coisas ficaram tão bagunçadas dentro de
mim? Sinceramente, as coisas estão cada vez mais complicadas de
compreender. Por um lado, eu sei que sou um cara decente, pelo
menos tento ser na maioria das vezes, e poderia ser um bom marido
e pai, por outro, sempre pensei em casamento como uma coisa que
nunca, jamais, se enquadraria na minha vida de mulherengo e
safado.
E, no entanto, aqui estou, deitado na cama da mulher que
topou fingir estar apaixonada por mim, postando fotos para irritar o
ex dela, enquanto tento entender sua reação ao meu toque.
Eu devo estar ficando maluco. Não tem outra explicação.
Luciana vai aos poucos se aconchegando ao meu peito e
pegando no sono, enquanto fico passando as fotos e vídeos da
galeria do celular. Paro em um vídeo que nem sequer me lembro de
ter gravado.
Nele, Luciana está perto da mesa de doces, no nosso
casamento de Star Wars. Ela balança de um jeito sensual, entretida
com o movimento do vestido branco, acompanhando o corpo com
os braços no ar e os quadris. Nem percebe que a estou observando
e com toda certeza está bêbada.
O cabelo dela está engraçado, com aqueles dois coques que
parecem fones de ouvido gamer, mas não está ruim e se ela fosse a
atriz do filme, com certeza teria arrebatado milhares de fãs pelo
mundo.
Em seguida, o Gabriel do vídeo, vira a câmera para o modo
selfie, meio bêbado e rindo feito um idiota. E então, conforme falo na
tela, vou me lembrando do que aconteceu.
— Eu sou um cara de sorte, arrumei logo uma garota
inteligente, muito brava e sexy pra cacete pra carregar pro altar — é
o que digo no vídeo. — Acho que tô amando.
Não me lembro de ter dito a última parte, mas a minha
expressão é um misto de álcool e felicidade genuína e isso é um
sinal de alerta dos grandes.
Nunca me senti assim com ninguém. Gosto de estar perto de
mulheres bonitas, de me enterrar com força no meio de suas
pernas, mas é só isso. Nenhuma delas jamais me inspirou de um
jeito que me fizesse querer algo mais.
Desligo a tela do celular e fecho os olhos, tentando não me
mexer para não acordar Luciana, porque agora, além de provocá-la
feito um adolescente bobo diante de uma garota bonita, meu corpo
também quer cuidar dela, zelar por seu sono e me certificar de que
tem a vida que merece. E quem sabe, senti-la estremecendo com o
meu toque outra vez...
Definitivamente estou precisando transar.
E como transar não é uma opção, meu cérebro decide me
agraciar com um sonho erótico onde Luciana é a protagonista e está
vestida com a mesma lingerie preta que apareceu na minha casa,
na noite em que propus nossa parceria.
De manhã, levanto da cama com uma ereção matinal e com
um humor azedo, que não melhora em nada quando chego na
cozinha e vejo Luciana só de camiseta, tentando pegar alguma
coisa na prateleira de cima do armário.
A polpa da sua bunda à mostra é o suficiente pra deixar me
completamente sem jeito. Geralmente eu faria alguma brincadeira,
provocaria a garota bonita até vê-la vermelha como um tomate, mas
simplesmente não consigo pensar.
— Você pode parar de olhar pra minha bunda e vir me ajudar?
— Luciana solta e eu travo, sem conseguir formular uma resposta.
— Alô, tem alguém aí?
— Desculpe — resmungo e vou até ela.
O cheiro do perfume de Luciana me envolve e meu pau lateja
de leve, conforme fico mais perto dela.
— O que você quer?
— O pote de biscoitos sem glúten — diz e aponta com o dedo
para uma lata bem no alto.
Estico o braço e pego a lata, tentando não chegar mais perto
da mulher gostosa que está atiçando cada pedaço do meu corpo.
Torcendo para que ela não perceba que estou com o começo de
uma ereção.
Merda, o que é que eu tô fazendo?
Saio, esbarrando nas coisas, enquanto tento me afastar ao
máximo do cheiro dela. Merda, essa cozinha enorme parece
minúscula.
— Você tá bem? — Luciana pergunta, olhando pra mim com a
sobrancelha erguida.
— Vou me despedir do Felipe, tenho que ir pro escritório —
respondo, sem olhá-la de frente.
Dou uma corrida até o quarto de Felipe, o menininho dorme
tranquilo ainda e levo algum tempo para perceber que a babá já
chegou e está sentada na cadeira, folheando um livro.
— Bom dia, seu Gabriel — diz, me dando um susto.
— Bom dia — respondo, quando me recomponho, e toco de
leve os cachinhos de Felipe, para não o acordar.
Quando volto para a cozinha, Luciana está sentada em cima
da ilha. Ela só pode estar de brincadeira comigo, não tem outra
explicação.
— Quer um biscoito? Não tem glúten, mas é muito bom.
Sacudo a cabeça negando e tentando inutilmente não
percorrer seu corpo com meus olhos.
Em uma das mãos ela segura um biscoito e com a outra uma
caneca grande de café, suas pernas balançam devagar, ameaçando
se abrirem para me mostrar o paraíso. Desvio os olhos, mas ela
percebe e ri.
— Você tá tão estranho, o que aconteceu?
— Nada — resmungo, mas Luciana não se dá por satisfeita.
— É sério, o que aconteceu com você, Gabriel, nunca te vi tão
quieto e nem tão... como eu posso dizer? Hum... sem reação.
— Tô atrasado — digo e vou até ela, beijo sua bochecha,
sentindo o perfume doce afundar dentro de mim e ligar de vez a
ereção que está há dias querendo dar as caras.
— Bom, pelo menos nem tudo está sem reação — Luciana diz,
com os olhos claros voltados para o volume da minha calça, ela
morde o lábio inferior, remexendo de leve os joelhos.
Merda. Merda. Merda.
Preciso sair daqui.
Bato a porta quando escapo para o ar fresco da manhã. Minha
cabeça e meu pau gritando coisas diferentes pra mim. Um quer que
eu fuja, o outro quer que eu corra lá pra dentro.
— A chave do carro — Luciana grita lá de dentro, levo as mãos
ao meu corpo e me apalpo todo só para descobrir que esqueci a
porra da chave do carro. Puta que pariu, esse dia só piora e nem é
hora do almoço ainda.
Volto, tentando não olhar nem para as pernas nem para o rosto
de Luciana, do contrário vou mandar meu bom senso para o espaço
e vou partir pra cima dela, matando a vontade de fazer todas as
coisas que sonhei essa noite.
— Você tá ficando doente? — ela pergunta e seu rosto é um
misto de desconfiança e curiosidade.
— Não — digo lacônico.
— Então eu fiz alguma coisa que te chateou?
— Não. — Passo as mãos pelo cabelo.
— Então o que é?
— Juro que não é nada, só tô muito atrasado pra uma reunião
importante.
— Tudo bem, não esquece que amanhã temos aquele almoço
com a Cici.
— Merda!
— É, merda — ela diz e morde o biscoito, fazendo meus olhos
travarem nos seus lábios apetitosos.
— Preciso ir. — E praticamente saio correndo de casa, como
se tivesse medo de uma mulher.
Talvez eu só tenha medo do que disse no vídeo ou do que
sinto quando estou perto dela. Talvez eu tenha mesmo medo de
Luciana. Que Inferno!
Maldito sábado, maldito almoço em família e maldito tesão
recolhido. Preciso de muito tempo no banheiro, me imaginando
comendo Luciana de quatro embaixo da água quente que corre
feroz, pra só então conseguir começar a pensar com um pouco mais
de clareza. Tentar pelo menos.
Minha imaginação fértil me leva pra uma imagem vívida e,
nela, eu abocanho o mamilo de Luciana e ela geme alto.
Me masturbar no banho, pensando em como Luciana pode ser
ardente, imaginando que estou chupando sua bocetinha enquanto
ela goza na minha boca tá acabando com a minha sanidade.
Eu poderia arrumar uma garota, uma profissional, mas não vou
fazer isso, porque ainda que esse casamento seja falso, não sou do
tipo que trai, e pra piorar tudo, minha cabeça fértil pensa cada vez
mais em fazer sexo com ela.
E o fato de ela reagir a qualquer brincadeira ou toque, não
melhora em nada a minha obsessão. Eu quero provar Luciana,
quero vê-la derretendo na minha mão, na minha boca e no meu pau.
E lá está de novo a imagem de Luciana em uma lingerie sexy,
rebolando a bunda enquanto me afundo nela com força.
Assim que gozo, controlo a vontade de soltar um rugido e
termino de tomar banho. Teoricamente, eu me masturbar deveria
aliviar as coisas, mas, então, por que é que eu estou com mais
vontade do que antes?
Mais vontade de devorar Luciana.
— Estamos prontos — Luciana fala da porta do quarto, sem
notar que estou só de toalha e com outra maldita ereção.
— Tudo bem, já estou quase pronto — respondo, mas na
verdade, estou longe de me sentir pronto.
Termino de me arrumar e encontro Luciana e Felipe na sala,
ela anda de um lado para o outro, fazendo seu check list das coisas
que tem que levar para o almoço em família na casa dos nossos
irmãos.
— Bolo? Sim. Presente da Isa? Sim. Fraldas? Sim,
Mamadeira? Sim...
— Luciana? Sim. Felipe? Sim. Gabriel gostosão? Sim —
provoco, mas ela bufa como resposta.
— Olha só quem voltou...
— Ué, quem? — entro na brincadeira, porque se eu posso ficar
sofrendo de tesão por essa mulher, o mínimo que mereço é vê-la
irritadinha.
— O babaca pretensioso. — Ela coloca as mãos na cintura e
me lança um dos seus olhares fatais. — Pronto?
— Sim, senhora — digo, rindo. Babaca pretensioso é meu
novo apelido favorito, porque por mais que seja um insulto, na boca
dela não soa nem um pouco diferente de: o homem que vai me
fazer gozar. Eu sei, estou ficando louco.
Pior do que estar cheio de tesão, é estar cheio de tesão num
carro, ao lado da mulher que provoca esse tesão, sentindo seu
perfume e seus olhos em cima de mim. Talvez eu precise usar meu
cartão do sexo, antes que fique maluco. Mais maluco do que eu já
sou.
Chegamos à casa de Miguel e Cici e somos recebidos por
praticamente toda nossa família, tirando meus pais que ainda não
chegaram. De dona Noeli aos outros Dupont, suas mulheres e
filhos, todos bem entrosados ao redor da piscina.
Desde que Miguel decidiu vender o apartamento e comprar
uma casa que os churrascos de família meio que migraram pra cá.
Não que a casa seja maior que a dos meus pais, pelo contrário, a
casa dos meus pais é enorme e tem o maior jardim dos fundos no
bairro inteiro, mas Cici gosta de receber e está sempre empenhada
em fazer sobremesas.
Todo mundo meio que acostumou.
Nossa, em pouco tempo nossa família de solteiros e
mulherengos se tornou uma família de pais babões e maridos
derretidos. Menos Joaquim, aquele não tem jeito.
Luciana abraça Cici e Isabela, enquanto dona Noeli leva Felipe
para a piscina, onde Henrique brinca com Bernardo, o bebê que tem
os olhos vivos da mãe.
Marisol vem da cozinha carregando dois abacaxis que servem
de copos com canudos. Ela sorri quando me vê e sei que não vai
demorar para que solte sua língua afiada pra cima de mim.
— Cunhado, que bom te ver — diz, me dando um dos
abacaxis. — Não tem álcool, mas tá uma delícia, é receita do meu
pai Helano.
Provo a bebida e aceno concordando, o que a agrada, pois ela
logo abre um sorriso grande e bobo.
— E seus pais não vem, Sol? — Luciana diz, se juntando a
mim e a ela e roubando minha bebida. — Nossa, que delícia.
— Eles foram viajar, mas disseram que vão trazer um presente
de casamento pra vocês — Marisol pisca pra Lu e sai.
— Presente de casamento, sei — resmungo, mas Luciana não
dá bola.
— Vamos grandão, não tem escapatória, temos que enfrentar
a tropa — ela diz, me empurrando pra varanda grande onde Miguel
pilota a churrasqueira.
Assim que passo pela porta, Henrique sai da piscina, deixando
Bernardo com a mãe e vindo na minha direção. Miguel deixa a
churrasqueira e vem também, o que não deve ser um bom sinal,
porque os dois Dupont mais rabugentos só se juntam quando
querem encher meu saco.
— Vejam só, se não é o mais novo CEO casado da família. —
Henrique sorri.
— Gostava mais de você quando era mal-humorado — solto e
ele e Miguel riem ao mesmo tempo.
— Você não pode nos culpar, pra quem disse que nunca,
jamais, nem se o mundo acabasse, ia casar, você se arranjou bem
rápido — Miguel fala, e seus olhos esquadrinham os meus como se
adivinhando que tenho algo a esconder. — E logo com a minha
cunhada, quem diria.
— Eu tinha que aproveitar que ela ficou solteira — falo e meus
olhos correm até a piscina, onde Luciana está tirando a camiseta e
ficando só de biquini e shortinho jeans. Algo remexe dentro de mim
com a visão e meu pau lateja, pedindo pela atenção dela.
— Eu nem sabia que ela estava solteira — Henrique declara.
— E que estava com você — Miguel completa.
— Isso porque somos discretos.
— Sei, tanto quanto um elefante numa feira de livros —
Henrique declara e Miguel e eu viramos pra ele imediatamente,
estranhando a comparação. — Eu gosto de ler.
— Então, acabou o interrogatório? — resmungo e meus irmãos
me dão tapinhas de consolo nas costas.
— Parabéns, mano, você vai ser muito feliz.
— É, isso se ela não me matar antes — solto, sacudindo a
cabeça.
— Não, as garotas Perloni só têm a fachada de duronas —
Miguel diz, olhando pra Cici que balança sua bebezinha para fazê-la
arrotar. E não há qualquer dúvida de que ele está certo, por trás da
pose de garotas bravas, elas são doces e ardentes.
Pelo menos eu desconfio que Luciana é ardente pra caralho.
— É, elas ocupam cada espaço vazio, e do nada tomam conta
de tudo — digo e Henrique concorda com um aceno.
Meus pais chegam na sequência, trazendo uma porção de
mimos para os netos, até mesmo para Isabela, que nem sabe o que
é um urso de pelúcia ainda.
Marisol solta uma gargalhada alta quando minha mãe tenta
colocar Bernardo e Felipe nos cavalinhos que trouxe e meu pai, que
tenta ajudar, acaba se atrapalhando todo.
Henrique deixa Miguel e eu e vai socorrer nossos pais,
assumindo a função de pilotar os pequenos cowboys, enquanto
Marisol e Luciana bebem em seus abacaxis, sentadas na borda da
piscina, molhando os pés.
— Vem, quero te dar uma coisa — Miguel me puxa para o
escritório, fechando a porta assim que entramos. — Fiquei
pensando no que dar pra um irmão que se casou em segredo.
— Ah, desculpe, foi uma loucura... — começo a me justificar,
mas ele me para com a mão espalmada.
— Tá tudo bem, eu sei que tem algo mais nessa história e que
você vai me contar quando e se quiser, mas até lá, presente de
casamento. — Miguel me passa uma caixinha pequena.
— Só isso? Poxa, pra um irmão especial como eu, esperava
algo mais...
— Como uma geladeira? — meu irmão provoca, rindo.
— Algo como um carro.
— Abra a caixa, idiota.
Abro a caixinha e solto um riso alto quando vejo o que tem
dentro.
— Você não fez isso — digo, mas Miguel acena que sim. —
Você me deu um carro?
— Um carro de família.
— Mas eu tenho um bom carro.
— Você tem um carro esporte, mas esse carro é considerado o
mais seguro para pais com filhos. Estudei muitos, até comprei um
pra mim.
Sacudo a cabeça, sem conseguir acreditar.
— Não me diga que é uma daquelas minivans que vemos na
televisão.
Miguel acena, todo contente e eu quero morrer, meu irmão
está me transformando numa versão dele. Puta merda, tô mesmo
encrencado.
— Ué, achei que você queria um carro, foi você quem disse. —
Miguel cruza os braços.
— Valeu, mano — abraço-o e suspiro. — Mas tenho que te
contar uma coisa.
— Eu sabia.
Depois que termino de contar toda a história por trás do meu
casamento repentino com Luciana, da ameaça do nosso pai e da
traição do cretino do Ricardo, meu irmão solta uma gargalhada
rouca e alta. É claro que ele está se divertindo com a minha
situação.
— E agora você está louco por ela — ele conclui, porque,
claro, de tudo que contei é nisso que ele presta atenção. — Não
posso dizer que não entendo, Cici tem esse efeito em mim.
— Não, não estou louco, só precisando transar e ela ser
gostosa não me ajuda.
— Tá, repita isso quantas vezes quiser, talvez acabe
acreditando.
— De qualquer forma, nosso pai não pode nem sonhar com
isso.
— Minha boca está trancada com cadeado.
— Obrigado.
A mesa na sala de jantar acomoda facilmente todo mundo,
inclusive Joaquim, que além de chegar atrasado veio com uma cara
de quem viu um fantasma, não, cara de quem viu o além todo.
— Você tá bem? — Cici pergunta pra Joaquim, que está
sentado em um dos lados dela e de frente pra mim.
Joaquim acena que sim, mas está na cara que está encucado
com algo. Provavelmente alguma nova conquista que não saiu
como ele queria ou algum negócio mal sucedido.
— Tudo bem, vamos falar do elefante na sala — Marisol diz e
todo mundo ri. — O que foi? Tá todo mundo curioso, só que eu sou
a única que tem coragem de perguntar.
— É, você tem — Henrique diz e sorri meio bobo pra esposa.
— Minha rabiosa[4].
— Então, qual dos dois vai contar o que deu na cabeça de
vocês pra se casarem? Ninguém nem sabia que vocês estavam
juntos.
Marisol olha pra Lu, que está dando uma colherada de comida
pra Felipe. Minha esposa dá de ombros como se não dando a
mínima para o que esperam de nós.
— Gabriel pediu, eu aceitei, aqui estamos — diz, com seu jeito
prático e simples de quem não quer dar explicações.
— Faz sentido — Marisol declara. — Sabe, acho que você é a
escolha certa, só as fortes sobrevivem com os garotos Dupont.
Cici dá risada, sacudindo a cabeça feliz da vida. Luciana
concorda, mas não chega a sorrir e eu sei que algo a está
incomodando desde hoje cedo, só não consegui descobrir ainda o
que é. Acho que passei tanto tempo focado na minha necessidade
que não percebi que algo pode a estar afetando também.
Nota mental: Descobrir o que está perturbando a nanica.
— Mas então, o casamento é pra valer? — Marisol pergunta.
— O seu casamento é pra valer? — pergunto e Marisol solta
um cabrón[5] baixo, mas todo mundo escuta e ri. — Meu casamento
é pra valer.
— Tudo bem, parabéns pra você então, não é todo dia que se
encontra uma garota legal como a Lu.
— Obrigada — Lu diz, séria demais para o meu gosto.
— E não é todo dia que se acha um Dupont gostosão e sarado
por aí — provoco e Luciana me lança um olhar estranho. — Qual é?
Luciana é linda, eu sou lindo, somos perfeitos um pro outro.
— Eu sou mais do que isso — Lu resmunga, realmente
incomodada.
Eu sei, eu deveria parar por aqui, mas como eu sou mesmo
um idiota, não consigo me conter e provoco ainda mais.
— Você é, mas vamos ser honestos, a primeira coisa que a
gente nota é a aparência e não o QI, olha pra vocês três, são lindas
e com certeza meus irmãos não se interessariam no primeiro
momento se não fossem atraentes.
— É, mas beleza não faz as pessoas gostarem umas das
outras. Não de forma duradoura.
— Mas é um começo.
— E a inteligência fica onde, a cumplicidade, o respeito? —
Luciana cruza os braços sobre o peito e meus irmãos praticamente
prendem a respiração, esperando a explosão que não deve
demorar.
— A inteligência é um complemento, é bom, eu realmente não
me daria bem com alguém que não soubesse o básico do mundo,
mas não é a primeira coisa que a gente nota quando olha pra você,
amor.
— E o que é?
— Sua bunda.
— Você é um idiota — Luciana diz, soltando o guardanapo na
cadeira ao levantar da mesa. — Desculpa Cici, mas preciso ir tomar
um ar. Mãe, fica com o Felipe.
— Aonde você vai? — Cici pergunta e Luciana me lança um
olhar furioso.
— De preferência pra bem longe, não consigo lidar com esses
malditos Dupont. Com exceção de vocês, claro. — Ela fala para os
meus pais. — Vou lá pra fora.
Luciana sai, deixando todo mundo com uma carranca na
minha direção. Levanto e vou até a porta da varanda, então a
seguro pelo braço pouco antes de ir para o quintal.
— O que deu em você? — pergunto e ela range os dentes.
— O que deu em mim? Você se acha mesmo o maior gostosão
do universo, não é? Pois fique sabendo que você nem é tão bonito
assim e às vezes pode ser um pateta. — Ela retruca e sai, me
deixando com cara de bobo.
— Você precisa se desculpar — Meu irmão Miguel fala,
fazendo-me virar e vê-lo atrás de mim com aquela sobrancelha
irritante erguida.
— Caramba, nunca imaginei que um dia ia ouvir você dizer
uma coisa dessas pra mim — resmungo e ele sorri. — Geralmente
quem manda você se desculpar sou eu.
— Pense pelo lado positivo, pelo menos você não levou um
bolo na cara.
— Bom, se acabasse com a gente rolando na cama depois, ia
valer a pena — bufo e Miguel me dá uma cotovelada nas costelas.
— Não seja idiota, você está falando da irmã da minha mulher.
— Eu sei — resmungo. — Mas essas mulheres Perloni são
doidas, parece que nasceram para enlouquecer os Dupont.
— Ou para nos fazerem felizes. — Miguel sorri, porque é claro
que ele é completamente apaixonado por Cici e não consegue
imaginar um mundo onde uma Perloni não seja capaz de fazer um
Dupont feliz.
— No meu caso, é mais fácil ela arrancar o meu couro.
— Você poderia se surpreender se desse uma chance... além
do mais vocês estão casados.
— Qual é, com a Luciana? Às vezes ela me odeia.
— Por que não? Ela é linda e bem sucedida...
— E é uma Perloni — cruzo os braços sobre o peito e fecho a
cara.
— Com certeza. — Miguel ri, porque sabe exatamente o que
isso quer dizer. — Vai lá resolver as coisas com a sua esposa, antes
que a nossa mãe venha dar umas palmadas em você.
Saio pela porta e cruzo a piscina, encontrando Luciana parada
perto de uma espreguiçadeira, decidindo se senta ou não.
— Desculpe, eu sou um idiota.
— Você fez parecer que minha bunda tem mais valor que meu
cérebro. Eu gosto de ser inteligente, mais do que de ser bonita.
— Você tem uma bela bunda — digo e ela range os dentes. —
Foi a primeira coisa que eu notei quando vi você saindo do escritório
do meu irmão. Aquela mulher de terninho, batendo os saltinhos
enfezada era a coisa mais linda que eu já tinha visto, e aquela
bunda, eu adoraria encher a mão nela.
— Meu Deus, você é um tarado.
— Só depois descobrir que além de gostosa pra caralho, ela
era inteligente, teimosa e com um coração enorme.
Luciana não diz nada, então eu continuo:
— Vamos, será que você pode me perdoar? Fique brava
comigo depois, mas agora me perdoe ou o resto do nosso almoço
vai ser um inferno.
Passo meus braços ao redor dela que ergue os cílios na
direção do meu rosto, é a primeira vez que noto como esse gesto é
sensual. Algo revira dentro de mim, mas não penso muito no
assunto para evitar de começarmos outra crise, uma em que eu a
levo para um quarto e mato a vontade de comê-la.
— Por favor, me perdoa — falo, fazendo bico e Lu, deita a
cabeça no meu peito. — Eu sei que tem algo incomodando, quer me
contar?
Ela sacode a cabeça de leve, negando.
— Então, me perdoe agora e brigue comigo depois, em casa.
Pode ser?
— Você vai ter que me compensar, porque essa versão
babaca de marido é muito irritante.
— Tudo que você quiser.
Luciana sorri de um jeito maroto e sei que ela não vai deixar
barato a cena durante o almoço.
— No mínimo um desfile com direito a tanquinho de fora.
— Até pelado se você quiser.
— Combinado — ela diz e eu fico feliz pra valer. Não estava
esperando por isso, mas gosto de como ela pensa. — E nada de
ficar falando da minha bunda pras nossas famílias.
— Fechado, agora posso beijar você?
— Me beijar?
— Sim, pra mostrar pra todo mundo que estamos
apaixonados, felizes e que fui perdoado. Estão todos olhando,
acredite.
— Certo, pode me beijar.
Passo minhas mãos pelo rosto de Luciana e puxo sua boca
para minha, sem imaginar a explosão que vai se iniciar dentro de
mim.
O beijo é como uma fogueira quente e eu me vejo
mergulhando com tudo na chama, cavando a boca de Luciana,
procurando com a minha língua aquele contentamento que só
encontramos quando temos aquilo que mais queremos. E ela se
rende a mim, passando as mãos pela minha cintura e me puxando
na sua direção, mordendo meu lábio e arfando quando puxo de leve
seu cabelo na nuca.
Eu me afasto por um momento, mas ao ver o rosto de Luciana,
tão cheio de vontade, tomo sua boca novamente, mergulhando na
busca pela satisfação. Isso, até me dar conta de que estou com uma
ereção cutucando a garota bonita que retribui ao beijo.
Luciana se afasta ofegante e seus olhos caem direto para o
meu pau, ela morde o lábio, surpresa com a minha reação. E como
já meti o pé na jaca mesmo, eu a tomo para outro beijo, sem ligar
que alguém possa ver o que estamos fazendo. Sem ligar de
parecermos loucos, tarados, pervertidos, o que for.
Sugo o lábio dela, colando seu corpo e roçando minha ereção
no seu shortinho. Luciana solta um gemido e tudo que eu quero é
acabar com essa vontade que estou de tê-la.
Afastamos nossos rostos, confusos com a coisa toda.
Surpresos. Luciana sorri desconcertada.
— Isso foi... — digo, mas não encontro as palavras.
— É, foi mesmo — ela fala, sacudindo a cabeça de leve. —
Caramba.
— Tá vendo, casar com um Dupont tem suas vantagens.
— Idiota!
— Seu idiota, não esqueça.
Desde que fui ao quarto pegar minha bolsa e ouvi os barulhos
no banheiro, e tive certeza de que Gabriel estava se masturbando
no banho que não consigo parar de pensar nisso.
Não apenas me senti completamente excitada com a
perspectiva de ele estar pensando em mim ou me desejando, ainda
que seja loucura minha pensar assim, como também fiquei
morrendo de vontade de entrar no banheiro e jogar para o diabo o
meu bom senso.
Talvez seja a falta de um bom sexo na minha vida, ou a
constante provocação de Gabriel, que não esconde que está louco
pra colocar as mãos em mim, mas a verdade é que isso está me
perturbando num nível que não sei explicar.
Pra piorar tudo, teve o beijo perto da piscina. Meu Deus, aquilo
foi épico de um jeito que fiquei bem molhada só de ter a língua dele
na minha boca e sua mão nos meus cabelos. E quando senti sua
ereção me pressionando, caramba, pensei que ia derreter.
Depois que fizemos as pazes, o dia passou voando e mais
tranquilamente, eu realmente não consegui ficar brava com Gabriel,
ele é cheio de si e tem o ego do tamanho de um prédio, é difícil lidar
com esse lado dele, mas se for pra ser honesta ele é mesmo
gostoso.
Gostoso pra caramba.
Chegamos em casa perto das oito da noite, como minha mãe
decidiu ficar na casa de Cici para ajudar com a Isabela, não
precisamos levá-la em casa e pudemos esticar um pouco mais.
Felipe adorou, claro, brincando e correndo pra todo lado atrás do
gato da minha irmã.
Foi só colocarmos ele no bebê conforto que meu filho pegou
no sono pra valer. Algo me diz que vai até amanhã.
Gabriel estaciona dentro da nossa garagem, pensativo e
enquanto eu tiro as coisas do porta-malas, ele carrega Felipe nos
braços, todo cuidadoso para que o meu filho não acorde, o coloca
no berço e liga a babá eletrônica.
Depois de organizar tudo, entro no chuveiro e tomo um banho
demorado, tentando não pensar nem no beijo que demos na casa
da Cici nem no que ouvi mais cedo, quando ele estava se tocando
neste mesmo banheiro.
E mesmo assim aqui estou, pensando, imaginando, ficando
excitada com a mínima possibilidade desse homem me desejar.
Droga, esqueça isso, Luciana Perloni. Luciana Dupont. Puta merda.
Depois de sair do banho com a minha camisetona de dormir,
me sento na poltrona do quarto com o meu kindle pra ler, acabo
escolhendo um livro de fantasia, porque se partir pra um HOT vou
acabar perdendo a batalha e pedindo pra usar meu cartão do sexo
com Gabriel.
Por falar em Gabriel, não demora muito e ele passa por mim
e para, seus olhos vão direto para as minhas pernas soltas na
guarda da poltrona. Ele não diz nada, mas algo nesse simples olhar
mexe demais comigo.
Depois de um momento que parece uma eternidade, ele se
vira e vai praticamente marchando para o banheiro.
Eu demoro um bom tempo para conseguir me conectar com a
leitura e não é culpa da autora ou dos personagens, minha cabeça
não consegue desconectar do tumulto que meu falso marido
provoca no meu corpo.
Pra piorar, ele sai do banheiro enrolado numa toalha, exibindo
um tanquinho bronzeado e levemente molhado em que eu poderia
me perder, passando a língua devagar por cada gominho, até
chegar no V que encaixa no início do paraíso. Droga, fiquei louca
mesmo.
— Tá gostando do que tá vendo? — Gabriel pergunta, me
fazendo perceber que fui pega no flagra secando o corpo gostoso
dele.
— Por que você tá fazendo isso? — Passo a mão pelo meu
cabelo e me sento ereta.
— Foi você quem disse que eu devia compensar pelo almoço
— ele declara e arranca a toalha, exibindo a cueca boxer e o início
de uma ereção que tem tudo pra ser proeminente.
Droga, como é que eu fico numa situação dessas?
Gabriel é convencido, mas ele tem motivos pra isso.
Ele começa a fazer uma dancinha, sacudindo o corpo e
passando a mão no peitoral, virando e me dando uma visão
completa das costas bem trabalhadas e da bunda empinada.
Começo a rir com o jeito maluco que ele balança os braços,
mas conforme ele se solta e os movimentos diminuem o ritmo, a
cena fica mais sexy do que estou acostumada e do que estou
preparada para lidar.
Imediatamente minha respiração falha e eu sinto uma onda de
calor percorrer meu corpo e se alojar no meio das minhas pernas.
Gabriel dá dois passos grandes e corta a distância entre nós.
Ele me puxa da cadeira e me prensa em seus braços.
— Me dá um motivo pra não arrancar sua roupa agora mesmo,
Luciana — Gabriel fala com a voz rouca que reverbera por todo meu
corpo. — Um motivo pra não me enterrar fundo em você.
Os olhos dele estão inflamados e algo me diz que se eu quiser,
ele vai me levar pra cama e me proporcionar uma noite de muito
prazer.
Mas eu não quero isso, não é mesmo?
Seria muita complicação para o nosso acordo.
Ou será que eu quero?
Caramba, talvez eu queira isso.
Minha respiração fica ainda mais pesada e ofegante, me forço
a não olhar para o corpo forte e vigoroso que paira sobre mim,
esperando que eu sinalize que também o desejo. Eu sei que posso
fazer isso, mas depois, as coisas vão acabar mudando entre nós e
talvez a gente não consiga lidar com o ano que teremos de conviver.
O sexo muda tudo.
— Eu... eu preciso ir ver o Felipe — digo, reunindo toda a
minha força para fugir da vontade de derreter nas mãos dele.
— Medrosa — escuto ele falar, mas não volto para discutir.
Não hoje.
Não é fácil deixar para trás aquele homem ardente,
nitidamente interessado em transar comigo, e quando chego na
sala, meu coração está acelerado e meu corpo queima de desejo.
Talvez eu acabe tendo que usar meu cartão do sexo antes do
que planejei. Acho que eu deveria ter combinado vários cartões.
Merda.
O que é que tem de errado comigo?
Luciana já deixou claro que não quer ir pra cama comigo e eu
continuo pensando num jeito de fazê-la mudar de ideia. E quanto
mais penso nisso, mais eu sinto que tenho que fazer alguma coisa.
Sem essa de cartão do sexo, eu a quero na minha cama por
vontade própria, não por uma obrigação idiota que combinamos feito
dois bobões antes de realmente considerar o que estar num
casamento significa.
Quero lamber cada pedaço daquela pele rosada, fazendo ela
chamar meu nome quando gozar na minha boca e no meu pau.
Quero muito isso.
Sentindo a energia sexual fluir frenética, impulsiono meu corpo
para a barra, se não tem como gastar com sexo, vou torturar meu
corpo com exercícios.
Luciana passa pelo corredor, sem notar minha presença na
varanda. Ela tem os cabelos bagunçados e uma cara de sono que é
meiga. Ela liga a cafeteira e então se vira, parada entre a ilha da
cozinha e a sala.
Seus olhos correm direto pelo meu corpo, dos meus braços me
impulsionando pra cima e pra baixo, até a calça de moletom que
cobre minhas pernas. Ela nem desvia, mordendo o lábio inferior de
um jeito que me dá toda a certeza de que preciso. Ela me quer, só
precisa descobrir isso por conta própria.
E eu vou dar um jeito nisso.

Passamos a tarde com Felipe, parece que a pilha não acaba


nunca e a energia dele é vibrante, o que é divertido pra caramba,
porque eu gosto de ficar correndo com ele pela casa, às vezes
servindo de cavalinho, em outras sendo o monstro que o persegue.
Apesar de pequeno, ele me dá uma canseira.
Luciana também não fica atrás, correndo com Felipe,
brincando de lutinha comigo e com ele, tentando não babar pelo
meu tanquinho sempre que provocada. E claro, eu não facilitei sua
vida em nada, imprensando-a contra a parede sempre que possível.
Eu sei, estou sendo um idiota, mas não consigo evitar.
Depois de colocar Felipe na cama, Luciana ficou algum tempo
no chuveiro, estava rabugenta e nem olhou na minha cara quando
saiu do banheiro, se jogando na cama com aquele leitor de livros
que ela arrasta pra todo lado.
É claro que eu não posso deixar isso pra lá, simplesmente é
mais forte do que eu. Então, o que eu faço? Saio pelado do
banheiro e vou para o quarto.
Luciana ergue os olhos assim que me vê e solta um chiado,
sua respiração fica ofegante e ela tenta desviar o rosto do meu pau,
mas não consegue, ela está com tesão.
Droga de garota gostosa e sexy, até o jeito como me olha me
faz querê-la. Puta merda, eu quero mesmo ela, não é? Quero.
— Esqueci a toalha, digo e pego a toalha de cima da cama,
começando a me secar bem devagar.
— Você não pode fazer isso — ela diz, saindo da cama e
parando na minha frente, apontando o dedo no peito e me
cutucando. — Isso é sacanagem, ficar me provocando.
— Desculpe — sussurro, baixando meus lábios até a curva do
pescoço dela e plantando um beijo úmido na pele quente.
Luciana enrijece o corpo, mas não se mexe.
— Por que você tá fazendo isso? — ela choraminga e sei que
está se segurando com toda sua força de vontade.
Luciana me quer.
— Isso não faz parte do acordo — resmunga, se afastando de
mim no exato momento em que minhas mãos estão perto de agarrá-
la.
— Aonde você vai? — pergunto, frustrado.
— Tomar um banho gelado — ela diz, se trancando no
banheiro.
Ok, então é isso que tem pra hoje, Luciana me desejando, mas
sem coragem de pagar pra ver o que rola entre nós.
Eu sei que as coisas podem se complicar, afinal de contas, nós
somos amigos e nos casamos com o objetivo de salvar a minha
empresa das mãos tiranas do meu pai. Tá, ele não é um tirano, mas
é mais ou menos assim que eu me sinto quando o imagino gerindo
a minha empresa.
Preciso fazer esse casamento durar pelo menos um ano, não
posso forçar a barra ou Lu vai acabar desistindo.
Ou se rendendo...
Hum...
Luciana fica algum tempo no banheiro e quando sai vai direto
pra cozinha e fica mexendo nas coisas, batendo coisas. Ela está
irritada e eu... eu também. Acabei de ser rejeitado de novo. Saio
como um furacão do quarto e paro diante da ilha.
— Qual é o problema? Você não sente nada por mim? —
despejo, sem tempo de pensar antes de falar.
— Como é? — ela ergue os olhos, dançando com eles pelo
meu abdômen de fora e pairando na barra elástica da minha calça
de moletom.
— Eu sei que você quer, eu vejo como fica quando eu te
provoco.
— Talvez eu seja a única mulher que não quer arrancar suas
calças — ela rebate, com um olhar diabólico e cruzando os braços
sobre o peito.
— Não quer?
— Não, mas não vou negar que gosto de ver quando você
arranca — ela diz, um sorriso provocante nos lábios.
— Não seja por isso — respondo, abrindo um sorriso grande e
baixando ao mesmo tempo minha calça e minha cueca só pra tirá-la
dos eixos.
Chuto a roupa para o lado e abro os braços.
— Seu desejo é uma ordem — digo, dando uma voltinha.
— Gabriel... — ela quase ronrona feito um gatinho, olhando
para o meu pau que lateja por causa das reações dela.
— É o seguinte, eu tô com tesão, você está com tesão e a não
ser que você me dê uma mão, não vou conseguir esperar um ano
inteiro.
— Uma mão? — ela arqueia as sobrancelhas e eu desço com
meus olhos por todo seu corpo, devorando as curvas e louco pra
senti-la.
Luciana faz justamente o que eu não imaginei, ela tira o top e o
shortinho, ficando apenas de calcinha e sutiã.
— Não vou transar com você, mas vou te ajudar — diz e eu
sinto uma onda elétrica percorrer meu corpo. Essa mulher quer me
enlouquecer.
Então, como o pavão idiota que eu sou, pego Luciana pela
mão e a levo para o nosso quarto.
— Tudo bem, posso lidar com isso por enquanto.
Luciana se deita e eu posiciono a poltrona mais perto da cama
e me sento.
— Tire o sutiã — digo e ela suspira. — Não é um pedido.
— Você é mandão — ela resmunga, mas tira o sutiã, exibindo
os seios redondos e cheios, com os mamilos durinhos que eu quero
muito chupar.
— Agora a calcinha.
— A calcinha? Mas...
— Sem mas, apenas tire a porra da calcinha ou eu vou
arrancar ela de você.
— Tá, tá, tá — ela reclama, mas o tom de voz é ardente e sei
que ela está gostando.
— Agora eu quero que você se toque pra mim.
— O quê? — Luciana se senta e eu me obrigo a ficar no
mesmo lugar, levando minha mão ao meu pau e começando a
acariciá-lo de leve.
— Nós dois vamos gozar essa noite, então comece a se tocar
pra mim, imagine que é a minha língua em você.
Luciana geme e se deita, recostando nos travesseiros e
levando a mão até a bocetinha rosada.
— Eu quero muito chupar você, Lu, passar a minha língua no
seu corpo todo, engolir seu tesão enquanto te fodo com a boca —
falo sem conseguir filtrar a safadeza que explode de mim.
Luciana leva uma mão ao seio, enquanto a outra faz
movimentos circulares e ritmados onde eu queria estar tocando. Ela
geme quando me ouve falar e eu aumento a pressão e o movimento
de vai e vem no meu pau.
— Gabriel...
— Vai linda, goza pra mim, quero ver você meladinha.
— Ai, Gabriel, isso é...
— Isso é o que você provoca em mim. É a vontade que eu tô
de te comer.
— Ai Deus — ela geme alto.
— De olhos abertos, quero que você me veja gozando pra
você — digo e ela abre os olhos e morde com força o lábio, abrindo
as pernas de leve e arqueando os quadris. — Goza, linda, goza pra
mim.
— Gabriel — ela goza, arfando sem parar e eu jogo meu corpo
pra trás quando a vejo levar o dedo aos lábios e chupar.
— Seu gosto deve ser uma delícia — digo e Luciana sai da
cama e vem até mim, ela passa a mão na sua boceta e depois leva
aos meus lábios, na cena mais erótica e excitante do mundo.
Eu sugo seu dedo, impondo um vai e vem intenso e buscando
meu próprio gozo. Luciana desce com a língua até a minha orelha,
morde o lóbulo devagar e depois morde a curvatura do meu
pescoço.
— Goza pra mim, Gabriel Dupont, goza pra eu ver — sussurra
e eu gozo com força.
Solto um rugido quando sinto o esperma escapar do meu pau.
— Puta que pariu, isso foi bom pra cacete — rosno.
Luciana sorri e se vira, desfilando com a bunda empinada e
cheia enquanto caminha até o banheiro.
— Ótimo, acho que agora vou até dormir melhor — ela diz e eu
rio.
— Merda, acho que eu ainda não tô pronto pra dormir.
Depois do que aconteceu ontem à noite passei quase a noite
toda em claro. A intimidade que compartilhei com Lu foi maior do
que se eu tivesse levado ela pra cama e transado a noite toda. Foi
tão... não sei explicar, mas mexeu comigo e com o meu pau traidor
que não me deixou pegar no sono, implorando pra que eu corresse
atrás de Lu feito um cachorrinho pidão.
Eu demorei horas pra dormir, ainda mais com Luciana
apagada ao meu lado, com aquela bunda redonda pedindo por
umas palmadas. E quer saber, eu tinha certeza de que havia uma
mulher ardente dentro daquele corpo sexy. Ela pode até ser toda
certinha, mas no sexo, aposto minha empresa, que ela é um
furacão.
Mal posso esperar pra invadir a tempestade chamada Luciana.
Com a cabeça totalmente fora do trabalho, viro minha cadeira
e encaro as janelas que dão para a avenida Beira Mar. Eu amo a
minha empresa e sei que desejar Luciana é um risco para o meu
plano de não deixar meu pai vencer essa batalha, ela pode não
querer continuar comigo se eu continuar pressionando.
Por outro lado, eu sei que ela se sente atraída por mim,
mesmo que ela negue, eu consigo ver, sentir e eu quero isso.
Não sei por que o fato dessa mulher fugir de mim, mesmo
sendo minha esposa, me faz querer tanto ela. Eu preciso ter
Luciana.
Não faço ideia do que isso significa para a nossa relação, eu
não sou do tipo que se apaixona e Luciana já deixou bem claro que
não é capaz de amar, inclusive a mim, então, talvez possamos
apenas curtir a atração que sentimos.
Mas então por que isso não me soa como suficiente?
Deve ser o maldito tesão acumulado. Parece que mesmo que
eu goze várias e várias vezes, isso só vai passar quando eu estiver
dentro daquela mulher. Porra! Caralho! Eu vou entrar nela!
Pego meu celular e abro o Instagram, não sou muito de usar
redes sociais, mas desde que Luciana e eu começamos com nossa
trama de vingança contra o ex idiota dela, comecei a usar
rotineiramente.
Depois de passar as fotos que postei da gente, sigo para o
perfil dela e me surpreendo ao ver que Luciana tem feito a mesma
coisa, mesmo que a gente não tenha combinado nada.
A primeira foto é de quando nós ficamos amigos, depois que
nossos irmãos resolveram suas crises e se entenderam. Luciana
estava linda naquele dia, com a barriga pontuda num macaquinho
social preto e, como sempre, morrendo de fome. Lembro que nesse
dia fomos almoçar perto da Lagoa da Conceição, em um restaurante
recém inaugurado, e ela tirou a foto minha enquanto comíamos e
discutíamos algo sobre a empresa.
Na foto estou fazendo uma cara engraçada, com a cabeça
meio deitada e tem uma batata frita pendurada na minha boca. Na
legenda, Luciana escreveu: “Tutorial de como comer batata frita.
Passo um: tenha um homem gostoso com você. Fim”.
Rindo, sigo para as outras fotos e em todas as legendas são
provocativas e divertidas. Inclusive na foto em que seguro Felipe
nos ombros, com nossas mãos erguidas. Ela escreveu: “Novo meio
de locomoção, andar na garupa de alguém”.
Em outra, que nem notei quando ela tirou, estou com uma
calça de moletom, sentado no sofá com uma maçã na mão. Luciana
escreveu: “Nada como uma boa mordida”.
E tem também as fotos do nosso casamento, em todas
estamos sorrindo feito bobos e mostrando nossas alianças. E todas
as legendas são doces e divertidas.
Com um suspiro engasgado no peito, desligo meu computador
e pego minha carteira. Chega, tá na hora de colocar as coisas no
devido lugar. Pode ser que eu seja rejeitado, mas algo dentro de
mim está berrando para que eu vá atrás dessa mulher e a faça
minha, ou que pelo menos a gente veja no que as coisas podem
dar.
E não, não estou falando apenas do sexo, porque agora tenho
certeza de que preciso bem mais do que isso.
Preciso de Luciana inteira, das manias de fazer check list
falando sozinha à sobrancelha erguida e ao sorriso sonolento. Tudo.
Eu quero tudo com ela.
Passo por minha secretária e peço que ela desmarque o resto
do meu dia, também envio uma mensagem para Lu, avisando que
vou buscá-la para o almoço e ela responde com um tô morta de
fome que me arranca um riso babão.
Assim que passo pela recepção, o elevador se abre e Luciana
aparece, sorridente.
— Eu estava vindo te chamar pra almoçar quando recebi a
mensagem — sorri e eu entro no elevador. Passo meus braços ao
redor dela enquanto a porta se fecha.
— Como você está? — pergunto, enfiando o nariz no seu
pescoço e aspirando o perfume doce que me arrepia inteiro. —
Cheirosa.
Sinto Luciana estremecer e fico satisfeito, sabendo que ela se
sente da mesma forma que eu. É bom saber que não sou apenas eu
lutando contra essa vontade que cresce cada vez mais.
O elevador para e a porta se abre, meu irmão Joaquim entra e
lança um olhar implicante na nossa direção, sei que devo estar
parecendo um tarado, mas não estou nem aí.
— Tem um quarto na cobertura — ele solta, rindo.
— Idiota — devolvo e ele dá de ombros, ficando de costas pra
nós.
Luciana se empertiga e não diz mais nada, nem quando senta
no banco do passageiro no range rover, nem pelo resto do caminho,
até que chegamos ao nosso restaurante favorito.
— Estou morta de fome — ela diz e eu sorrio.
— Eu também — mordo o lábio, porque minha fome é de
Luciana e não de comida.
Assim que entramos e falamos com a hostess, Luciana trava
no lugar, as mãos coladas ao lado do corpo tenso. Meus olhos
seguem na direção dos dela e então eu o vejo. Ricardo. O babaca
traidor que fez minha garota chorar.
Respiro bem devagar, levando minha mão até a lombar de Lu
e mostrando que ela não está sozinha. Luciana devolve o gesto,
tocando no meu braço, mas não exprime um ruído sequer.
— Lu — Ricardo fala, focado na mão que Luciana mantém no
meu braço.
Luciana não abre a boca, seu rosto levemente vermelho me
diz que ela está com raiva, ou apenas mexida demais para reagir. E
é claro que a reação do ex idiota é exatamente como eu previ, ele a
encara como se tivesse uma interrogação no meio da cara de pau,
como se esperando que ela derreta por sua causa. Vai sonhando
imbecil.
— E aí, cara, tudo bem? — falo, abrindo um sorriso falso para
o idiota em quem eu adoraria dar um soco.
— Vocês estão... juntos? — Ricardo pergunta sem se dar ao
trabalho de disfarçar.
— Você não sabia? Nós nos casamos. Finalmente consegui
convencer essa mulher a me dar uma chance.
— Casaram? — Ele encara pra Luciana, perguntando num tom
meio acusatório.
— Casamos — ela diz e mostra a mão com as alianças,
visivelmente irritada com a forma como ele a inquere.
— Pra ninguém duvidar do que eu sinto — digo, bancando o
babaca, porque francamente esse cara merece que eu faça pior do
que isso. — Bom, vamos almoçar, amor? Foi... interessante te ver.
— Claro, bom ver vocês, parabéns pelo casamento — ele diz,
numa voz trincada de dentes e rangido.
Guio Luciana até a mesa, incomodado com a reação lacônica
dela. Então, assim que afunda na cadeira ela solta a respiração com
força.
— Pensei que você ia dar um soco nele — diz, aliviada.
— Ainda posso fazer isso se você quiser.
— Não vale a pena.
— Você ainda sente algo por ele?
— Além da vergonha de ter ficado com um traidor? Não sinto
nada — ela declara e eu fico feliz, não feliz à toa ou bobo, mas feliz
pra caramba. — Nada, nem bom nem ruim.
— Ótimo.
Durante o almoço, Luciana e eu conversamos sobre um pouco
de tudo, ela se solta e esquece completamente do idiota que sentou
não muito longe de nós e fica lançando olhares na nossa direção.
Impondo meus domínios sobre a loira linda com quem casei,
toco nela tanto quanto possível, no seu rosto, nas costas, levo sua
mão aos meus lábios e beijo os dedos. Luciana sorri, achando a
cena meio maluca, posso ver por todas as reviradas de olhos que
me dá.
— É muito estranho eu falar que estou feliz de ter você e o
Felipe em casa? — Pergunto, fazendo Luciana sorrir de um jeito
genuíno e profundo.
— Tenho que confessar que gosto de ser sua esposa.
— Mesmo quando eu te irrito ou ando pelado pela casa?
— Esse é o bônus — diz e eu levo meus lábios aos seus
ouvidos.
— Acho que posso providenciar mais bônus pra você —
sussurro e sinto a pele de Luciana se eriçando. A vontade de
abocanhá-la é grande, mas me contenho, pois algo está mesmo me
incomodando.
Ricardo não para de nos encarar.
— Acho que não me importo mais com me vingar — solta do
nada e eu sinto uma onda de contentamento percorrer todo meu
corpo e se alojar no meu coração. — Cheguei à conclusão que não
dou a mínima se ele se importa.
— Ele se importa — digo e ela vira o rosto de leve, pegando o
olhar raivoso de Ricardo pela visão periférica.
— Talvez eu goste de me vingar, então — ela fala,
aproximando o rosto do meu e lambendo o meu lábio devagar e
provocantemente, enquanto brinca com os cabelos da minha nuca.
E esse é o meu limite.
Luciana lamber o meu lábio de forma sugestiva aperta o botão
de ligar em mim e num minuto estou impulsionando minha boca na
sua, devorando-a sem qualquer pudor pelo lugar em que estamos.
— Quer saber — falo, assim que afasto minha boca de
Luciana e a vejo completamente entregue a mim. Mando meu bom
senso e meu orgulho pro espaço. — Se você concordar, quero usar
meu cartão do sexo.
Luciana abre os olhos, ainda com o rosto entre as minhas
mãos e me dá um olhar engraçado.
— Hoje? — sussurra.
— Agora mesmo.
Ela demora a responder e eu me sinto como um adolescente
inseguro, esperando que a garota bonita determine o que vai ou não
acontecer entre nós.
— Ainda bem que o Felipe foi pra casa da mãe — diz e uma
onda de animação me faz sorrir. Tô dizendo, pareço um
adolescente.
— Ótimo, mal posso esperar — chamo o garçom para pedir a
conta. — Vou passar o resto do dia te fazendo gozar bem gostoso.
Luciana respira fundo.
O garçom cobra nossa conta e eu enfio o cartão de volta na
carteira, pronto para levar essa garota à loucura. Ela mal sabe o
quanto tenho esperado por esse momento.
Seu rosto tenso está perdido em algum lugar, toco sua
bochecha e Lu solta um suspiro profundo.
— O que foi, por acaso você não me acha capaz de fazer você
gozar? — resmungo.
— Eu sei que você é, mas a verdade é que eu acho que nunca
passei um dia gozando. — E dito isso, minha ereção explode na
calça.
— Porra Luciana, agora vou ficar duro na frente de todo mundo
— puxo minha esposa da mesa e a abraço, afundando meu nariz no
seu pescoço. — Vou comer você em cada canto daquela casa.
— Tá, então vamos embora — ela fala, olhando para a
protuberância na minha calça e lambendo os lábios.
Passo a mão por seus cabelos, sentindo-a estremecer, ela
geme baixinho e isso é mais um golpe no meu orgulho que nem liga
mais se terei de implorar por ela. Sem pensar me abaixo e ergo
Luciana no meu ombro, do mesmo jeito que fiz quando entramos em
casa.
— Chega, vamos embora ou seremos presos por atentado ao
pudor.
Rindo, Luciana me deixa levá-la como se fosse um maldito
homem das cavernas, e ela uma donzela prestes a ser devorada.
Bom, eu vou mesmo devorá-la.
Baixo Luciana e a coloco de pé diante da porta do passageiro,
com meu corpo a pressiono contra o carro e levo minha mão ao seu
seio.
— Faz tempo que quero fazer isso — digo, e Luciana geme
alto. — Você me deixa louco.
Baixo um pouco a blusa de Luciana, deixando à mostra o
ombro, e abocanho a curva do pescoço, raspando de leve meus
dentes e lambendo-a.
— Vou aproveitar cada segundo desse cartão do sexo — digo
e ela passa os braços pelo meu pescoço.
— Caramba, você tá me deixando louca.
Luciana puxa meu rosto e me beija, se rendendo
completamente ao fogo que cresce entre nós. O beijo é quente,
minha língua percorre a boca dela, buscando, sugando, implorando
por mais. Ela geme e eu engulo seu gemido com a minha boca,
como uma fera ensandecida.
— Se quiser desistir o momento é esse — pressiono Luciana
mais um pouco, roçando minha ereção.
— Eu não vou desistir — ela diz. — Agora me leve pra casa
que eu quero você dentro de mim logo.
Eu sabia que esse momento ia chegar uma hora ou outra. E
sendo bem honesta, estava esperando que fosse mais cedo do que
inicialmente planejei ao embarcar nessa aventura de casamento
falso, já que Gabriel não é do tipo que esconde quando está com
tesão.
Mas confesso que agora estou nervosa.
No restaurante, eu me senti ousada e me deixei levar pela
vontade de ser tocada por esse homem delicioso, mas quanto mais
o carro se aproxima da nossa casa, mais o meu sangue gela e o
estômago revira.
Não sou uma virgem inexperiente e assustada, pelo contrário,
sei exatamente o que me dá prazer, mas só a perspectiva de ter
Gabriel dentro de mim, me preenchendo, devorando, já fico ansiosa.
Achei que conseguiria resistir, que seria forte pra não envolver
algo mais na nossa falsa relação, mas a verdade é que eu quero
que o mundo se exploda. Não vou pensar no amanhã, só na
promessa que ele me fez de ter uma tarde de orgasmos.
E eu preciso muito ter um orgasmo daqueles.
Ou muitos orgasmos daqueles.
Depois do que senti só por tê-lo se tocando e me olhando, mal
consigo esperar pra saber o que ele vai provocar em mim quando
de fato me tocar.
Assim que estacionamos na garagem de casa, Gabriel abre a
porta pra mim e me puxa, suas mãos vêm sedentas para o meu
cabelo, e ele me faz deitar a cabeça para trás e passa a língua pelo
meu pescoço.
Solto um gemido involuntário e ele fica ainda mais intenso,
apertando meu seio com uma das mãos e segurando meu cabelo
com a outra.
Entramos aos tropeços, alternando entre beijos desesperados
e apertos quentes que me deixam muito molhada.
Assim que a porta da frente bate, Gabriel me dá um olhar de
arrepiar.
Seus olhos estão profundos e dilatados, e há algo feroz neles
que me inflama. Ele me encosta na parede do vestíbulo e
praticamente rasga minha blusa de botões, expondo minha lingerie.
— Eu adoro suas lingeries — diz, descendo com a boca até a
curva do meu seio e o tirando de dentro da taça do sutiã.
Gabriel olha para o meu peito como se fosse um leão diante de
um filé suculento, mal posso esperar pra sentir sua boca em mim,
mas ele não se mexe, irritando o meio das minhas pernas que está
implorando por um pouco de atenção.
— Tira a calça — ele diz e eu solto um gemido excitado, em
seguida, faço exatamente o que pediu.
Só de calcinha e sutiã, me sinto exposta e frágil, mas também
cheia de desejo.
— Vai ficar só olhando — provoco e Gabriel sorri, provocante,
feroz, indo com a boca direto para a minha barriga e plantando um
beijo molhado nela.
— Vou cuidar dos seus peitos depois — sussurra, lambendo a
pele.
Enquanto seus lábios descem quentes pelo meu abdômen, ele
baixa as alças da minha calcinha, expondo meu sexo e afastando
um pouco minhas pernas.
— Quero provar essa boceta desde o primeiro dia que te vi —
fala e eu solto outro gemido. Nunca antes um homem falou de forma
tão selvagem e eu jamais me imaginei ansiando tanto por algo. —
Abra as pernas, amor, vou chupar você toda.
Abro mais minhas pernas e Gabriel vai com os lábios direto no
ponto sensível. Ele passa a língua devagar, arrepiando minha pele e
me fazendo estremecer. Caramba, isso é melhor do que bom.
Devagar, ele desce com a língua até a fenda encharcada,
brincando com a língua e provocando ondas de prazer.
Arqueio meus quadris quando o sinto colocar um dedo dentro
de mim, enquanto a língua desce e sobe, me excitando ainda mais.
— Você tá muito molhada — diz, lambendo com vontade o
meu clitóris e sugando a pele sensível. Meu Deus, vou enlouquecer.
Meu sexo carente está se segurando por bem pouco, prestes a
entregar a ele o que quer. E nesse momento, ele pode querer
qualquer coisa que cederei sem pensar.
— Gabriel — choramingo.
— Goza, linda, quero sentir você se desmanchar na minha
boca — fala, aumentando a vibração no meu ponto sensível e
colocando o segundo dedo, num vai e vem delicioso.
Minha mão desce para o cabelo de Gabriel e eu o bagunço
conforme o puxo devagarinho. Ele me suga com força, metendo os
dedos num ritmo que me obriga a me contorcer toda.
— Olha pra mim Luciana, quero que você veja quem é que tá
te dando prazer.
— Gabriel — digo manhosa e viro direto para os olhos dele,
que me lambe, sem tirar os lábios de mim, provocando ainda mais a
excitação.
Ergo minha perna e a apoio no ombro de Gabriel, ele ruge
quando tem ainda mais acesso a mim, me levando a um momento
de insanidade. Puxo seus cabelos e solto um gemido alto,
arqueando meus quadris.
Derreto quando o sinto enfiar mais os dedos, alcançando um
orgasmo intenso e arrebatador. Contorço, amolecendo em seguida.
Gabriel passa os braços ao redor do meu corpo e me ergue.
— Deliciosa — diz e me beija enquanto me leva para o quarto.
— Isso foi insano — sussurro.
— E nós mal começamos.
Gabriel me deita na cama e se afasta, ficando dois passos
longe de onde estou. Faço menção de levantar e ir até ele, mas ele
nega com um aceno, então me encosto na guarda da cama e tiro o
restante do sutiã.
Ele me observa e quando percebe que estou concentrada no
seu corpo delicioso, tira a camisa, desabotoando cada botão com
uma calma pecaminosa, e, por fim, me dando uma visão deliciosa
do seu corpo definido.
— Agora tira a calça — provoco, apontando para a calça e ele
ri.
— Você quem manda — ele desabotoa a calça e baixa,
ficando só de cueca boxer. E meu pai do céu, é lindo, musculoso,
sexy.
— Não esqueça da cueca, não vamos precisar dela — aponto
para a cueca, indicando com o dedo que ele deve tirá-la também.
Gabriel tira a cueca e seu pau quase salta, duro, grosso e
grande, completamente proporcional ao homem enorme e trincado
que eu desejo.
Caramba, eu já o tinha visto levemente empolgado e sentido
sua ereção por cima da calça, mas nunca tinha fixado muito meus
olhos, por medo de parecer uma tarada. Agora que posso olhar à
vontade, o quero dentro de mim, me preenchendo por completo.
— Primeiro, eu vou chupar seus peitos, e estou te avisando,
porque não vai ser delicado. Depois... vou comer você de quatro,
apertando essa bunda gostosa.
— Droga, falando assim eu fico mais excitada — respondo e
abro de leve minhas pernas, levando meu dedo primeiro aos lábios
e depois ao clitóris.
Começo uma pequena brincadeira para provocar Gabriel,
apertando um dos meus seios e me tocando bem diante dos seus
olhos.
— Você tem duas opções, Gabriel. A primeira é entrar em mim
agora e me fazer gozar de novo, a segunda é trazer esse corpo até
aqui e me deixar chupar você até gozar.
Gabriel solta o ar dos pulmões com força e vem na minha
direção, puxando minhas pernas até a beirada da cama e levando
um dedo ao meu clitóris. É tão intenso e sexy, brusco e suave ao
mesmo tempo.
Ele sobe na cama, apoiando o braço na lateral, com a outra
mão acaricia meu ponto sensível, e vai com a boca no meu seio,
chupando-o com força e me fazendo arquejar.
— Isso é tão bom — o empurro com as costas na cama. —
Mas é minha vez.
Subo na sua cintura e o beijo, sentindo meu gosto na sua boca
e passando a unha no seu tanquinho. Nossa, fazia tempo que eu
queria fazer isso. Sentir o corpo duro e forte me envolvendo num
prazer intenso e sem explicação.
Ele não se mexe, me olhando de um jeito erótico que é
combustível para a minha vontade.
Devagarinho, vou descendo com o corpo e a boca, lambendo
cada curva dos músculos dele até parar no caminho da felicidade.
Gabriel respira fundo, os olhos me devorando.
— Eu sei que o que a gente tem é um acordo, mas hoje... hoje
você é meu — digo, provocando com a língua em sua virilha. —
Diga que você é meu, Gabriel.
— Eu sou seu, Luciana — ele declara, contendo as mãos ao
lado do corpo e me deixando dominar. — Todo seu.
Passo a língua de leve na cabeça do pau, sentindo o gosto do
pré-gozo. Gabriel deita a cabeça para trás e geme.
— Você vai me matar, nanica. Com certeza.
— Não, eu vou chupar você — digo, me sentindo ousada como
nunca antes.
Lambo a glande bem devagar e depois passo a língua por toda
a extensão do pau, sentindo-o estremecer. Sem me anunciar,
mergulho-o na minha boca e o engulo até não conseguir mais.
Gabriel geme e eu me sinto poderosa, começando um vai e
vem bem molhado com a boca, e a mão dando apoio. Ele traz a
mão ao meu cabelo, segurando com delicadeza e me ajudando a
encontrar o ritmo.
O chupo devagar, lambendo, molhando e então o sugo com
um pouco mais de força, provocando com a mão e o levando à
loucura.
— Devagar, linda, ou vou gozar — ele diz e eu sorrio,
chupando-o mais uma vez com vontade.
Gabriel me puxa pelo cabelo com delicadeza, levando minha
boca à sua e assumindo o controle.
Quando percebo, estou deitada de costas, com Gabriel em
cima de mim, roçando sua ereção no meu sexo molhado. Gemo alto
e ele sai de cima da cama, abre a gaveta da mesa de cabeceira e
tira um preservativo de dentro.
Ele desenrola o preservativo no seu pau, depois vem com a
mão nas minhas pernas e as afasta, me deixando exposta e cheia
de desejo.
— Gostosa demais — diz, ajeitando-se entre as minhas pernas
e passando a língua no meu peito.
Abro mais as pernas e ele se encaixa, entrando bem devagar
para que eu tenha tempo de me adaptar ao seu tamanho. E puta
merda, ele é grande.
— Apertada pra cacete — Gabriel sussurra e seus olhos
excitados encontram os meus. — Se doer, eu paro.
— Nem pense em parar. — Eu o puxo para mim e o beijo,
rompendo seus muros e tomando seu bom senso. — Quero você
todo, agora.
Gabriel solta um rugido baixo, tentando se controlar, então
entra em mim com toda sua extensão, arrepiando cada pedaço
meu, me preenchendo por completo e me fazendo gemer.
— Agora com força — falo e sinto o momento em que algo
muda dentro dele, algo nos seus olhos. O comedimento indo
embora e assumindo seu lado primitivo, feroz.
Gabriel apoia os braços na cama e começa o vai e vem,
primeiro lentamente e depois com força. Meus braços o apertam
contra mim e meus quadris acompanham o ritmo, alertando todas as
terminações nervosas e provocando ondas intensas de prazer.
— Ai, Gabriel, eu vou gozar — choramingo, sem conseguir
conter todo o prazer que me possui, ele morde meu pescoço de
leve, sussurrando no meu ouvido o quanto eu sou gostosa e que
sou sua.
Eu sou sua.
A onda de prazer me arrebata e eu me vejo apertando com
força as costas de Gabriel quando finalmente chego ao ápice do
prazer, ele aumenta a velocidade da estocada, conforme busca a
própria satisfação.
Goza um momento depois, chamando meu nome no meu
ouvido.
Gabriel sai de cima de mim e tira a camisinha, voltando um
instante depois para a cama e me puxando para o seu peito, me
aninho nele e deixo que puxe a coberta sobre mim.
— Descansa, nanica, porque ainda vou comer você de quatro,
mal posso esperar pra dar uns tapas nessa bunda.
— Tudo bem, vamos fazer um acordo — ergo meu corpo e o
encaro. — Você pode me dar algumas palmadas, mas depois vou
querer sentar em você.
— Porra! Com certeza temos um acordo.
Animada com a perspectiva de uma nova rodada de sexo, me
aninho no peito de Gabriel e deixo que a batida forte do seu coração
roube toda a minha atenção.
Talvez eu não seja capaz de amar, mas com certeza sou capaz
de dar e receber prazer. E como prometido, foi mesmo um orgasmo
daqueles.
Depois de passar o restante do dia transando com Gabriel, caí
esgotada na cama, quase não consegui forças para fazer a vídeo
chamada com a minha mãe e Felipe. Meu filho estava sonolento,
assim como eu, que estava mole e doida pra apagar.
Também pudera, né. Além de estrearmos alguns lugares da
casa, incluindo a banheira de hidromassagem, eu levei palmadas de
Gabriel, enquanto me penetrava de quatro, depois ainda cavalguei
bem gostoso, gozando de um jeito que nem sabia que era capaz.
É claro que eu estava carente, com Ricardo, nem nos nossos
melhores dias eu fui capaz de sentir uma fração do prazer que
Gabriel me proporcionou, e ainda que eu não queira ficar
comparando por serem pessoas bem diferentes, é impossível não
pensar no tempo que perdi tentando me adaptar a um homem que
me fazia sentir inferior, e é difícil também não pensar em tudo que
esse Dupont grande e gostoso é capaz de fazer comigo, a energia
sexual dele é tão intensa.
E seu jeito mandão foi uma surpresa deliciosa. Em se tratando
de prazer, não existe um pingo de drama em Gabriel e ele é, com
toda certeza, muito bom em me fazer sentir desejada. É capaz de
me levar de um dia de inverno gelado à um incêndio completo em
segundos.
Um CEO safado, que sabe fazer a gente gozar.
Remexo na cadeira do meu escritório, fui obrigada a vir
trabalhar, embora quisesse ficar em cima de Gabriel, tirando mais
uma lasquinha. Eu sei, combinamos que o cartão do sexo valeria
pelo dia inteiro, mas eu acho que deveria valer logo pela semana
toda. Maldita hora que eu impus essa regra idiota.
— Com licença, dona Luciana. — Nina, minha secretária, entra
com uma caixa na mão. — Um entregador trouxe isso pra senhora.
— Um presente? — Arqueio minha sobrancelha, desconfiada.
Nina deixa a caixa em cima da minha mesa e sai, fechando a
porta em silêncio.
Pego a caixa, ainda desconfiada. Não tem qualquer cartão e
poderia muito bem ser uma bomba, mas algo me diz que tem o
dedo de Gabriel nisso.
Com delicadeza, tiro o laço e abro a caixa, dando de cara com
a cena mais inusitada de todos os tempos, um monte de cartões
pretos transbordam da caixinha. Pego um e está escrito: Cartão do
Sexo.
Rindo, despejo-os em cima da mesa e, então, encontro a
cartinha no fundo da caixa. Com uma letra elegante está escrito:

Cara senhora Luciana Delícia Dupont.


Você acaba de ser sorteada para receber um estoque ilimitado
de cartões do sexo, eles não têm data de validade e podem ser
consumidos sem moderação. Na verdade, devem ser consumidos
sem moderação.
Este estoque é apenas um demonstrativo, caso os cartões
desta caixa acabem, você pode pedir reposição sem qualquer custo
adicional.
Fique à vontade para usá-los todos os dias, quantas vezes
quiser.
Com amor,
Gabriel Gostoso Dupont.
P.S. os cartões só podem ser usados com seu marido, nem
pense em mostrar esses peitos pra outro, eles são meus.

Meu Deus, ele é tão cheio de si.


Mas não posso discordar, Gabriel é o homem mais apetitoso
com quem já estive. Ele é inteligente e divertido, provocante... meu
Deus, quero mesmo usar todos esses cartões do sexo, cada um
deles.
Determinada a dar o troco, vou até uma loja no centro onde
costumo comprar minhas lingeries, e escolho uma vermelha toda de
renda e com fitas.
Compro também uma caixa e peço que Nina providencie um
entregador.
Arrumo a lingerie dentro da caixa com delicadeza, depois
cubro com um papel seda e borrifo meu perfume. Ok, estou
exagerando, mas não consigo evitar. Gabriel Dupont criou um
monstro do sexo chamado Luciana.
Escrevo uma cartinha e coloco em cima do papel seda e de
uma foto minha que tirei e imprimi aqui no escritório mesmo. Na
foto, estou usando a lingerie.

Caro senhor Gabriel Gostoso Dupont.


Em agradecimento ao seu generoso presente, segue este que,
embora você não possa usar diretamente, deverá beneficiá-lo de
qualquer maneira. Fique à vontade para tentar usar se quiser, mas
não vai caber.
Para demonstrar isso, segue uma foto ilustrativa do modelo.
Com amor e tesão,
Luciana Delícia Dupont, sua esposa e testadora oficial de
orgasmos épicos.
P.S. Vou sentar em você usando apenas isso hoje, então não
ouse estragar com sémen.
Pouco mais de meia hora depois que o entregador sai, recebo
uma foto de Gabriel pelo aplicativo de mensagens. Na foto ele está
segurando o pau duro e firme na mão, a lingerie repousando em sua
perna. É mesmo um descarado e essa foto remexe as coisas no
meu ponto sensível. Quente, é como me sinto por saber que ele
está duro por minha causa.
Gabriel: Não sujei, mas foi por pouco.
Luciana: Ainda bem, ou você ficaria sem usar um daqueles
seus cartões hoje.
Gabriel: Você não resistiria.
Luciana: Quer pagar pra ver?
Gabriel: Nem pensar, não vejo a hora de ver você montada em
mim com essa calcinha.
Ficamos trocando algumas mensagens safadas por um tempo,
até que minha secretária me lembra que tenho uma reunião
importante. Ai, caramba, é difícil me concentrar em algo lembrando
que tem uma foto de Gabriel duro como pedra no meu celular.
Não vejo a hora de chegar em casa.
Saímos pra jantar com Felipe, meu filho é completamente
apaixonado por Gabriel e não para de tagarelar com ele, apontando
o dedinho para as coisas que chamam sua atenção.
As pessoas nos olham como se Gabriel fosse o pai perfeito,
Felipe o filho perfeito e eu a mãe perfeita, sem suspeitar que nosso
casamento só não é mais falso porque acabamos de consumá-lo. E
como consumamos.
Depois do jantar, damos um passeio na praia de Jurerê, com
Felipe na garupa de Gabriel e eu ao lado deles. A noite está clara,
com uma lua cheia enorme no céu e pela primeira vez em muito
tempo eu sinto paz.
Por um momento não sou a Luciana traída duas vezes pelos
homens com quem se envolveu, não sou a Luciana abandonada e
roubada grávida. Só a esposa de um homem lindo e inteligente e
mãe de um bebê saudável, com cachinhos lindos e um sorriso de
derreter o coração.
Por um momento esqueço todas as dores e sustos que a vida
fez minha família passar e me permito ser apenas eu mesma. Sem
pensar em nada e é muito bom.
Gabriel me olha de um jeito que mexe com algo dentro de
mim. Ele não precisa falar, cada olhar seu me diz exatamente o que
ele pensa, e nesse momento sei que está experimentando a mesma
sensação que eu.
Mas a paz com esse homem dura pouco e assim que Felipe
dorme e o colocamos na sua caminha, Gabriel me manda ir vestir a
lingerie, como se fosse um tirano e eu uma escrava. Uma escrava
louca pra fazer o que ele manda.
Tomo um banho rápido e monto o look. A lingerie é vermelha
de renda e a calcinha é de fio, com lacinhos de fitas e uma cinta-liga
bonita. Coloco um salto e passo perfume, além de fazer uma
maquiagem rápida e arrumar meu cabelo.
Tomada por uma sensação de estar poderosa, saio do
banheiro, mas nada no mundo seria capaz de me preparar para a
cena à minha frente.
Gabriel está sentado na cama, os braços abertos na guarda e
está duro, mas não apenas isso, há uma camada de chantily no seu
pau e uma cereja vermelhinha e fresca na ponta.
— Era isso ou um lacinho pra combinar com sua calcinha,
acho que o chantily vai ser mais divertido — ele justifica e eu
caminho até ele.
— Boa escolha — digo, colocando meu pé com salto em cima
da cama e passando a mão na meia bem devagar.
— Caramba, você tá muito gostosa — Gabriel diz e eu passo
meu dedo no chantily e levo uma pequena quantidade aos lábios.
— Primeiro a cereja — sussurro, subindo de joelhos na cama.
Então eu pego a cerejinha e a lambo, tirando a parte branca do
creme e depois levando-a ao meu decote.
— Você pode pegá-la com a boca, mas sem as mãos.
Falo e levo meu decote até ele. Gabriel lambe os lábios e enfia
a língua no meu decote, me excitando ainda mais. Ajudo a tirar a
cereja e coloco na boca dele, cobrindo-a com um beijo.
A língua de Gabriel me invade, incisiva, sedenta e eu cedo
sem qualquer dificuldade, deixando que ele tenha tudo que quer de
mim.
Suas mãos vêm instintivamente pra mim, mas eu o impeço, me
curvando sobre seu pau delicioso e passando a língua ao redor da
glande.
Aos poucos vou lambendo o chantily e soltando gemidinhos
que sei que o deixam louco.
Quando finalmente não tem quase nada do creme, mergulho-o
todo na minha boca, quase engasgando. Gabriel arfa e eu sei que
ele me quer.
O chupo bem devagar, deixando-o bem molhado, lambendo o
pré-gozo que escapa e saboreando cada sensação que isso me
provoca. É inebriante saber que consigo atiçar esse homem
gostoso.
— Preciso te chupar, Lu, agora — ele diz e eu sinto meu corpo
todo reagir.
Tiro os saltos e fico apenas de meia sobre a cama, me
levantando e levando meu sexo para perto do seu rosto. Gabriel
arranca a minha calcinha sem qualquer cuidado, provocando um
gemido involuntário em mim. Às vezes ele é tão primitivo.
Chego mais perto e ele leva as mãos à minha bunda, usando-
as para me puxar para o seu rosto.
— Vem gostosa, vem que quero te comer gostoso.
Abro um pouco a minha perna e o deixo se deliciar. Gabriel
passa a língua desde a fenda molhada até o ponto mais sensível,
impelindo um ritmo que é perfeito e me leva às alturas.
Começo a gemer, rebolando minha excitação no seu rosto.
Gabriel é como uma fera que não se satisfaz nunca, sempre
querendo mais, e eu adoro a forma como ele se empenha em me
fazer sentir tanto prazer.
Quando estou prestes a gozar, me afasto um pouco e me
sento em Gabriel, sem qualquer delicadeza ou espera. Só sento.
Ele geme quando o aperto dentro de mim, me preenchendo e
me fazendo arfar.
Gabriel escorrega na cama e se deita, levando uma mão ao
meu peito, que ele arranca do sutiã vermelho e a outra na minha
bunda, ajudando a encontrar o ritmo que vai me levar na montanha
russa das sensações.
Rebolo bem devagar, sentindo que estou bem perto de me
entregar ao clímax. Gabriel começa a impelir o corpo e nós
sincronizamos com perfeição. Quando me dou conta, estou
gemendo alto, implorando pelo orgasmo, chamando seu nome e
pedindo por mais.
— Goza, linda, goza no meu pau — diz e eu fecho meus olhos,
deixando que tudo em mim se volte para esse momento.
Alcanço o ápice no momento seguinte e ao sentir que estou
entregue, Gabriel me vira e vem por cima de mim. Seus olhos estão
diferentes, tomados por uma emoção que não reconheço.
Ele mantém o ritmo de entrar e sair, aumentando
gradativamente a força e velocidade. Abro minha boca e ele engole
meu gemido com um beijo quente e profundo, chupo seu lábio e ele
continua entrando e saindo, entrando e saindo.
— Você é minha — ele diz e eu sinto uma nova onda de prazer
começar a percorrer meu corpo. — Tudo em você é meu, até esse
orgasmo.
— Gabriel... — choramingo, mas ele não para, mantendo a
posição e as estocadas fortes que me fazem sentir tanto prazer.
— Diga que você é minha e eu vou te fazer gozar outra vez,
linda.
— Eu sou sua — falo sem pensar direito no que essas
palavras possam significar.
Gabriel abre os olhos e algo se contorce no meu coração, não
sei explicar, mas não me resta dúvidas de que ele quer mais, ele
quer que eu seja sua.
E eu entrego tudo o que tenho, deixando cair cada barreira,
cada medo, tudo vai por terra conforme ele estoca mais e mais para
dentro de mim.
Quando finalmente chego lá pela segunda vez, Gabriel
impulsiona forte, encontrando o próprio prazer e suspirando pesada
e profundamente.
— Porra, que gostoso — diz, beijando minha boca.
Só então me dou conta de uma coisa, nós não usamos
camisinha.
Ficamos em silêncio por algum tempo, comigo deitada e
brincando no abdômen de Gabriel e ele acariciando meus cabelos.
— Esquecemos a camisinha — digo, depois de algum tempo.
— Caralho, é verdade.
Eu me ergo e viro meus olhos para seu lindo rosto de astro de
cinema.
— Bom, eu tomo anticoncepcional e não transo sem desde
que fiquei com o pai do Felipe, depois disso já fiz exame e sempre
usei preservativo.
— Eu não transo nunca sem camisinha e meus exames estão
ótimos — ele diz todo convencido.
— Se bem que seria meio tarde pra me falar caso seus
exames estivessem ruins. — Cutuco o abdômen dele e Gabriel pega
meu queixo e leva os lábios aos meus.
— Linda, eu sou perfeito, saudável e gostoso.
— Convencido.
— Não, nem pense em ficar rabugenta ou vou arrancar o resto
dessa lingerie à dente.
— Convencido, pretensioso, metido à besta, riquinho mimado.
— Finjo que estou rabugenta e ele ri, me puxando para um beijo que
é o começo de algo mais. Algo que vai além do sexo e dos
orgasmos incríveis.
— Agora vou te dar umas boas palmadas.
— Só se conseguir me pegar. — Pulo da cama e rio,
começando a correr para a porta.
— Nem pense em fugir, nanica — Gabriel me intercepta, me
joga sobre seus ombros daquele jeito ogro que sempre me faz rir e
me leva ao banheiro.
— Droga, você é muito forte, isso é injusto.
— A vida não é justa, Luciana, e você, você é minha.
Acho que começamos bem mais que alguma coisa, algo que
promete virar a minha vida de cabeça para baixo, mas nesse
momento nem penso nisso, tudo o que quero é provocá-lo até que
ele me dê o outro daqueles orgasmos.
Eu não sei o que há comigo, faz dias que não consigo me
concentrar direito e, Cláudia, minha secretária, já ameaçou se
demitir se eu não começar a prestar atenção no que tem a dizer, a
minha sorte é que ela é muito competente e sabe lidar bem com
todas as minhas versões, de Gabriel dramático a Gabriel enfurecido,
do contrário eu provavelmente estaria chorando para o Miguel,
implorando para o meu irmão voltar a trabalhar comigo.
Odeio essa parte técnica da gestão, ter que lidar com
investidores, planilhas e projeções, gosto mesmo é do lado criativo,
mas ainda que essa parte seja um porre, é melhor eu gerindo meu
negócio do que meu pai, que com certeza vai me fazer bater ponto e
vestir uniforme.
Nossa, nem pensar que eu vou vestir um macacão.
Meu celular vibra e eu o pego imediatamente. Abro a foto que
Luciana mandou. É um buquê de rosas vermelhas grandes e
bonitas e há um cartão, mas não consigo ler.

Luciana: Parece que você tem concorrência.


Gabriel: Ele não teve essa cara de pau!
Luciana: Mandei devolver as flores com um cartão dizendo:
Não, obrigada.
Gabriel: Ótimo.

Assim que envio a mensagem, pego o celular, enfio a carteira


com raiva no bolso e saio. Aquele imbecil não pode pensar que vai
sair impune dessa. Já adiei demais essa conversa.

Dirijo furioso para o centro de Floripa, na minha cabeça nem


planejei o que vai acontecer, mas que aquele idiota não vai se livrar
dessa, não vai mesmo.
Entro no pequeno escritório de contabilidade onde Ricardo
trabalha e nem espero que a secretária do lugar me anuncie. Passo
por ela, como um furacão e paro diante da porta com o nome dele,
ignorando a cara de sonsa, que sei que é a garota com quem ele
teve um caso, porque vi as fotos no Instagram do idiota quando
Luciana aceitou minha proposta.
Não bato, apenas abro e entro. Assim que o vejo, com cara de
palerma num terno barato, sou tomado pela fúria e voo para cima
dele, arrancando-o da cadeira pelo colarinho e batendo com suas
costas na parede.
— Quem você pensa que é pra mandar flores pra minha
esposa? — berro e imediatamente a secretária e um velhote vêm
até a porta, assustados com o tumulto.
Aponto para que o homem e a mulher que me observam
fiquem parados.
— Não se metam, esse babaca mandou flores pra minha
esposa — esbravejo e eles me encaram de olhos arregalados.
Não deve ser uma cena bonita, eu sou pelo menos dez
centímetros mais alto que Ricardo e bem mais forte, e o homem foi
pego no susto, então demora um bom tempo para ter alguma
reação e tentar se desvencilhar de mim.
— Você achou que ela não me contaria? — Solto-o, contendo
a raiva e a vontade de quebrar a cara dele. — Achou que eu ia
deixar isso passar?
— Qual é? Você não pode acreditar que ela me esqueceu
assim tão rápido. Você tá sendo usado.
— Claro, porque pra Luciana casamento não é uma coisa séria
por acaso — jogo meus braços para cima, se eu manter as mãos
em punho, não vou conseguir me controlar.
— Ela fez isso porque ainda tá com raiva de mim, mas ela não
te ama cara, não se ilude. Vai acabar vendo o erro que cometeu e
vai voltar pra mim.
E lá se vai minha paciência e meu bom senso. Vou com tudo
pra cima dele, acertando um soco bem no meio da cara do imbecil.
Ele cai de bunda no chão e não tem nem forças para reagir. É um
fracote patético.
— Você nem a conhece direito — digo, sacudindo minha mão
para me livrar da tensão do soco, e ainda tomado pela raiva. —
Aquela mulher é ardente, linda, temperamental, você nem faz ideia
de como fazê-la feliz.
Ricardo limpa o nariz e o lábio com as costas da mão, há um
corte pequeno na sua boca e eu queria que estivesse bem pior do
que parece.
— Você não sabe do que tá falando.
Aponto para ele com tanta raiva que poderia esmurrá-lo outra
vez.
— Esqueça da Luciana, agora ela é uma Dupont.
O idiota bufa.
— Ela é minha esposa. MINHA. E se você chegar perto dela
de novo, não vou te dar apenas um soco.
Passo pela secretária e pelo homem que me observam
assustados e vou embora. Por dentro, o sangue ferve e tudo o que
eu mais quero é voltar lá pra dentro e terminar o que comecei, mas
controlo a minha vontade e não olho para trás.
Quando entro no meu utilitário de família, presente de
casamento do meu irmão Miguel, fecho a porta e bato com força no
volante.
— Maldito cretino de merda — esmurro o volante de novo e de
novo, mas não alivia a raiva que faz meu sangue ferver.
E então eu me dou conta.
Eu estou furioso, ensandecido e morrendo de ciúme.
Não é pelo desrespeito do idiota com o meu casamento, nem
pela enorme cara de pau, mas porque eu estou me roendo de ciúme
da Luciana. Da minha Luciana.
Puta que pariu, eu estou com ciúme.
Então eu deveria ter dado mais de um soco no maldito cretino
de merda. Um que valesse esse gosto amargo na minha boca e na
minha alma.
Luciana é minha e ponto final.
Volto pra casa com a cabeça em turbilhão. Sempre soube que
me sinto atraído não só pelo corpo lindo e sexy de Luciana, mas
pelo seu temperamento azedo e sua mente afiada. Além de sua
língua respondona, claro. Mas não, eu não imaginei que pudesse
ficar tão enlouquecido com o fato de o ex dela começar de
marcação cerrada só porque percebeu que perdeu a mulher para
alguém mais rico e mais bonito.
Sim, eu sou mais bonito.
Não é o momento de fingir modéstia.
A questão é: Que porra está acontecendo comigo?
Claro, é só porque ela é minha esposa, não fui criado para
desrespeitar o matrimônio, é só isso.
Não que eu possa estar confundindo as coisas.
Não, claro que não.
Ou será que sim?
Ah, não!
Droga, sim.
Estaciono o carro na garagem e fico algum tempo dentro,
olhando fixo para frente e pensando em tudo que aconteceu durante
o dia.
Depois da confusão no escritório daquele palerma, não
consegui trabalhar direito e meu humor ficou tão ruim que
praticamente virei uma versão do Miguel, com uma carranca de ódio
a tarde toda, mas sem os gritos loucos que aterrorizavam as
secretárias, não posso me dar ao luxo de perder a eficiência da
Cláudia.
Respiro fundo, pensando em como meu dia passou voando e
nem me dei conta, isso por que fiquei remoendo, e não consigo
mesmo parar de pensar que eu estou com ciúmes de Luciana.
Talvez seja por causa de todo o sexo quente e safado que fizemos,
ou talvez eu apenas esteja sendo idiota e possessivo.
Por causa do sexo. Estou possessivo por causa do sexo.
Mas eu sabia, por trás daquele jeito de garota certinha, existe
uma mulher feroz, sexy pra cacete e só de pensar nela nua me
pedindo para comê-la já fico com tesão.
Merda. Aquele babaca não pode mesmo achar que vou ficar
parado enquanto ele tenta roubar a minha garota.
Mesmo que ela não seja realmente minha e nosso casamento
seja falso, eu não vou permitir que o imbecil a faça sofrer de novo.
Nem que coloque aquelas mãos nela.
Ninguém mais vai dar palmadas naquela bunda gostosa, não
enquanto ela for minha. E ela vai ficar sendo minha, não tem mais
volta.
Ótimo, Luciana é minha, foda-se o resto.
EU. ESTOU. FICANDO. LOUCO.
Não tem outra explicação.
— Você não vai entrar? — Luciana bate no vidro, seu sorriso
doce derrete meu surto e eu abro a porta do carro e saio. — Tá tudo
bem?
— Sim, estava resolvendo uma coisa do escritório, por
telefone. — Minto e Luciana aperta as sobrancelhas, reconhecendo
minha mentira descarada.
— Tudo bem — suspira, sem insistir no assunto, embora seu
rosto tenha mudado completamente de doce para distante.
Entramos em casa e imediatamente sou arrebatado pelo
cheiro de temperos, o aroma da carne é o suficiente para me
despertar do transe.
— Você cozinhou?
— Sim, fiz uma carne de panela que é receita de família.
— O cheiro tá ótimo, não sabia que você cozinhava. Sou
sempre eu que preparo nossas refeições, vai ser bom comer um
tempero diferente, pra variar.
— Só porque eu não faço sempre não significa que eu não
saiba — ela resmunga, indo pegar Felipe do tapete e colocando-o
na cadeira de alimentação.
— A babá já foi?
— Sim — diz, lacônica.
— Vou me trocar rapidinho e podemos jantar. — Suspiro.
— Tá bom, vou servir o Felipe enquanto isso.
Entro no banheiro do nosso quarto, com uma sensação
estranha no estômago. Se eu contar pra Luciana que esmurrei o ex,
ela vai ficar chateada, se eu continuar insistindo na mentira de que
estava no carro resolvendo coisas da empresa, coisa que eu nunca
faço, ela vai ficar chateada. De qualquer maneira, não vou sair
ganhando nessa situação.
Essa mulher vai me enlouquecer.
E a culpa é minha, fui eu que a arrastei para essa confusão de
casamento falso e que ainda pedi pra usar o cartão do sexo,
bagunçando mais as coisas. Merda. Merda. Merda.
Jantamos em um quase silêncio, interrompido só por
conversas com Felipe que, assim como eu, adora a comida da mãe
dele.
Luciana me lança olhares carrancudos e à medida que a noite
se aprofunda, vou ficando mais irritado e tenso.
E daí que eu bati no babaca?
Ele merecia.
— Vou colocar o Felipe na cama — ela diz, depois de escovar
os dentinhos dele.
— Deixa comigo. — Estico o braço para o garotinho que vem
sorrindo e falando sem parar sobre ter um cachorro chamado feijão.
— Quer dizer que você quer um cachorro?
— Quero — ele diz bem direitinho, erguendo o dedo minúsculo
do mesmo jeito que a mãe faz quando quer salientar algo.
— Nem pensar — Luciana solta, virando as costas e indo para
o quarto.
— Veremos — devolvo e ela apenas bufa antes de sumir das
minhas vistas. — Veremos, não é garoto?
Ele retruca falando um veremos meio confuso e eu rio.
Definitivamente, todo incômodo por ter batido naquele cara
passa quando estou colocando Felipe no berço e contando uma
historinha sobre dragões que cospem flores e príncipes valentes.
Felipe nem sabe o que é um príncipe, mas adora dragões e
bate palmas sempre que descrevo a cena de alguma flor voar da
boca do animal imaginário.
Tem ficado cada vez mais difícil não me apegar ao menino. Ele
é tão pequeno e indefeso, tão carente de proteção e vulnerável,
esperto, cheio de vida. Droga, dizer adeus a ele, daqui um tempo,
vai ser a coisa mais difícil que terei de fazer.
E, então, mergulho num clima soturno e irritante de novo.
E a culpa do meu drama é, sem qualquer sombra de dúvida,
daquele cretino que traiu Luciana e agora decidiu que quer voltar
para a vida dela e do Felipe.
Mas isso não vai acontecer.
Ele nunca mais vai chegar perto do garoto ou da mãe dele.
Vou para o quarto e arranco minhas roupas, remoendo como
resolver as coisas com ela. Raivoso, carente e um pouco louco.
Luciana está com outra das suas camisetas que mal cobrem
suas coxas, sentada na cama, emburrada e sexy.
— É o seguinte, nós fizemos um acordo sobre traição — solta,
assim que me vê só de cueca, andando de um lado para o outro.
Tentando me controlar pra não descontar a energia em um sexo
selvagem e rude.
— É isso que você acha que eu estava fazendo no carro? —
pergunto, indo até o lado dela da cama e me sentando na beirada.
De repente, a calma toda de volta ao seu lugar de origem.
Não quero que minha garota pense que eu desejo outra
mulher, que sou capaz de enganá-la quando justamente o que
quero é que ela sinta o mesmo por mim.
Levo minha mão para a panturrilha de Luciana e acaricio de
leve.
— Não sei, você tá todo estranho e mentiu pra mim, eu
conheço sua cara quando mente.
— Você acredita se eu disser que não estou te traindo? —
Subo um pouco com a minha mão e ela vai com os olhos para o
local, respirando fundo. E eu preciso muito dessas reações dela
nesse momento, cada uma, eu as devoro como se pudessem grudar
na minha alma. E talvez possam mesmo.
— Então qual é o problema?
— Vamos fazer um acordo, outro já que fazemos muitos
ultimamente. Nesse momento, eu preciso muito sentir você gozar no
meu pau, mas depois prometo que conto o que é.
— Isso é algum tipo de plano pra me dissuadir? Não vai
funcionar — ela reclama, tentando puxar sua perna, mas eu a
seguro e levo minha mão até a parte interna da sua coxa, tocando
de leve e sentindo-a se arrepiar.
— Eu não traio, Luciana. E dei minha palavra, mas você
precisa aprender a confiar em mim. — Coloco a mão na virilha dela
e Luciana reage imediatamente, movendo-se de leve e mordendo o
lábio. — Mas você está certa, tem algo me incomodando.
— E o que é? — ela pergunta baixinho, arqueando um pouco
os quadris.
Afasto um pouco a perna de Luciana e vou com a mão até a
renda da calcinha, tocando-a por cima do tecido.
Sinto sua umidade e meu pau lateja, precisando estar dentro
dela.
— Você está molhada?
— Para com isso, eu fiz uma pergunta. — Ela tenta ficar brava,
mas morde o lábio e eu mal consigo me conter.
— Você precisa se decidir, ou você quer que eu responda ou
quer que eu te coma. Nesse momento eu prefiro comer você, mas
podemos ficar aqui apenas batendo papo.
— Merda, Gabriel, isso é jogo sujo. — Ela tenta se afastar,
mas arredo um pouco a calcinha e acaricio seu clitóris quente.
Em seguida vou com o dedo até a entrada molhada e o enfio.
Luciana geme e deita a cabeça pra trás. Acaricio a bocetinha com
meu polegar, enquanto enfio o segundo dedo e começo um vai e
vem do jeito que sei que a excita.
— Tudo bem, sexo primeiro, explicação depois.
— Ótimo, agora tira a blusa, quero ver seus peitos — falo e ela
choraminga.
Luciana se mexe rápido e tira a camiseta, mas eu não paro de
acariciá-la e isso a deixa completamente tomada pelo desejo.
— Sem sutiã — exijo e ela dá de ombros. — Você quer que eu
chupe seus peitos?
Os olhos claros me entregam mais do que qualquer palavra
que ela possa dizer, mesmo assim, Luciana acena devagar,
concordando. Então eu me aproximo dos seios e passo a língua por
um dos bicos pontudos, que parece implorar para ser chupado e
mordido.
— Gabriel — ela geme e eu chupo seu mamilo com força.
— Meu Deus, Luciana, você me deixa louco — falo e ela vai
com a mão em cima da minha cueca, sentindo a ereção. — Preciso
entrar em você, linda.
Tiro minha cueca e Luciana acaricia meu pau, bem devagar e
profundamente. Merda, preciso mesmo estar nela.
— De quatro — ela pede, virando-se sobre a cama e
empinando a bunda pra mim.
— Porra, Lu — solto em um rugido e levo meu dedo até sua
boceta molhada, acariciando a umidade e penetrando-a com o
dedo.
— Me come, Gabriel, forte — ela pede e eu tiro meu dedo e
entro nela com força, apertando seus quadris e sentindo-a me
apertar.
— Gostosa — falo e impulsiono forte várias e várias vezes. —
Gostosa pra caralho.
Luciana geme e começa a impulsionar também, escolhendo o
ritmo selvagem com que deseja ser devorada por mim. E eu adoro
isso, não só de estar dentro dela, mas de vê-la sentindo prazer,
mostrando como quer, me deixando ver o que a faço sentir.
Aperto sua bunda forte e ela geme ainda mais alto, rebolando
a bunda gostosa enquanto eu entro e saio dela. Porra, essa mulher
é a tentação em pessoa.
— Gabriel — Luciana chama meu nome quando goza e eu vou
com as mãos aos seus seios, pressionando mais ela contra mim e
me derramando dentro dela no mesmo instante.
Deito na cama e a puxo para mim. Luciana se aconchega nos
meus braços e começa a brincar nos músculos do meu abdômen,
correndo o dedo para cima e para baixo.
— Gosto quando você faz isso — digo e ela ergue os olhos,
num sorriso doce.
— E eu gosto de lamber seu tanquinho — devolve com um
olhar sério que é meigo e safado ao mesmo tempo.
— Você é uma tarada.
— Eu sei, minha mãe ficaria horrorizada se soubesse o tipo de
filha que criou. — Rimos os dois.
— Bati no Ricardo — decido despejar tudo de uma vez. — Por
isso eu estava no carro, estava remoendo a raiva que ainda tô
sentindo daquele imbecil.
Luciana senta na cama, as duas sobrancelhas levantadas e
uma grande interrogação no rosto.
— Ele mereceu, mas foi só um soco — me apresso a dizer.
— Por que você fez isso?
— Porque nenhum cara manda flores pra minha esposa e sai
impune — respondo com toda a minha honestidade. Luciana pode
não ser capaz de amar, como vive dizendo, mas eu acabo de
descobrir que é bem possível que eu seja.
E que também posso ser ciumento.
Um ciumento que precisa fazer alguma coisa antes que
enlouqueça.
Luciana deita a cabeça no meu peito e volta a passar o dedo
no meu abdômen. Aperto-a e sinto o cheiro gostoso do seu
shampoo.
Eu sei, ela não quer misturar as coisas, mas não consigo
evitar, não apenas a quero na minha cama por um ano, por causa
da Dupont Tecnologias Hospitalares. Eu a quero na minha cama e
na minha vida por tempo indeterminado, levando aquele dedo bravo
na minha direção sempre que a irrito. Me respondendo malcriada ou
mordendo o lábio quando a deixo excitada. Rebolando a boceta
deliciosa na minha cara, no meu pau.
Chamando meu nome quando goza.
E quero o Felipe, não como enteado, mas como parte da
minha família, meu.
E, definitivamente, não quero que nenhum babaca mande
flores pra ela.
Puta merda, estou apaixonado por Luciana.
Não tem outra explicação.
Merda, eu amo uma Perloni. Miguel vai acabar comigo quando
souber.
— Você queria fazer isso desde o dia que te contei da traição
— ela diz, me trazendo de volta dos pensamentos.
— Não posso dizer que é mentira.
— Espero que tenha doído — ela declara. — E que aquela
mulher que trabalha com ele tenha visto. Foi com ela que ele me
traiu.
— Ela viu. Na verdade, ela e um velhote.
— O chefe do Ricardo?
— Não sei, mas acho que assustei todo mundo.
— Você é mesmo um Dupont.
— Com todas as letras — falo e Luciana suspira. — E como
um bom Dupont, vou comer você de novo, só que agora no banho.
Sinceramente, andar de um lado para o outro, resmungando,
virou meu passatempo mais comum. Pareço uma barata tonta.
O que é que deu na cabeça do Gabriel pra ir atrás do Ricardo
e dar um soco nele?
Eu sei que ele ficou bravo com o desrespeito do meu ex com o
nosso casamento, mas alguma coisa me diz que não é só isso. Ele
estava tão estranho quando chegou.
E por que é que isso está me incomodando? Não é como se
tivéssemos uma vida inteira pela frente, nosso casamento acaba em
pouco menos de um ano, quando ele vencer a disputa com o pai,
então não tem motivo para eu estar assim, angustiada.
Ou será que tem?
E se o Gabriel perceber que sou complicada demais para
manter o nosso casamento por um ano inteiro?
E eu tenho um filho.
Tenho bagagem e passado.
E um temperamento que não ajuda em nada.
Não confio muito nas pessoas.
Droga. O que está acontecendo comigo?
— Um bolo de caramelo salgado pelo pensamento que tá te
deixando com essa carranca. — Ouço a voz da minha irmã e
desperto do transe. Parada no meio do meu escritório, nem me dei
conta de quando ela entrou.
— Olha aí as duas das três Perlonis que eu amo — falo e vou
abraçar minha irmã e Isabela em seu colo.
— Meio Perlonis e meio Duponts — Cici diz, sorridente.
Bufo e minha irmã faz uma carranca.
— O que foi? — pergunta e eu a levo para sentar no sofá.
— Não foi nada, e vocês, como estão?
— Minha filha parece o pai, sempre morta de fome, e meus
peitos me fazem sentir como se eu fosse uma vaca leiteira, mas
tirando isso, tudo ótimo.
Sorrio e estico o braço para pegar minha sobrinha. Cici me
entrega a filha e estica os músculos do pescoço.
— Então, comece a falar — minha irmã fala e eu suspiro.
— Você não pode deixar essa passar?
— De jeito nenhum. Você é minha irmã, sempre cuidou de
mim, agora eu quero saber o que está acontecendo. E comece do
princípio.
— Você já sabe, não é? — Pergunto, mas sei a resposta,
porque o olhar da minha irmã entrega tudo. — Como?
— Seu marido contou para o meu, que eu convenci a me
contar com métodos muito persuasivos — declara, vitoriosa.
— Vou matar o Gabriel.
— Mas ainda quero ouvir de você e quero saber: em que
mundo você pensou que não devia me contar uma coisa dessas?
— Desculpe, foi tudo muito rápido e aconteceu tanta coisa.
— Vou pedir café e bolo, pelo jeito a conversa vai ser longa.
Cici sai e eu passeio pelo escritório com Isabela nos braços,
produto da felicidade e do amor da minha irmã. Eu queria ser capaz
disso, queria ser capaz de amar um homem mais do que tudo. Mas
acho que as únicas pessoas que amo têm o meu sangue.
A bebê abre as pestanas pequeninas e me olha, sem dar a
mínima pra mim. Seu rostinho angelical enche meu coração de
amor e esperança.
— Certo, desembucha Lu, ou vou chamar a mãe e faremos
uma intervenção.
Colocamos Isabela no carrinho que Cici trouxe depois de
deixar as fatias de bolo e o café na mesinha em frente ao sofá e
então a conversa começa.
— O Ricardo me traiu, descobri naquele dia que você me
pediu para achar o Gabriel.
— E você não me contou? Vou quebrar a cara daquele
babaca, ou vou mandar meu marido quebrar. Ele vai pagar por isso.
— Esquece isso — digo, e Cici bufa. — Eu estava chateada e
fui atrás do Gabriel como falei que faria, nós enchemos a cara e ele
me pediu em casamento.
— Simples assim?
— Nada, nunca é simples quando se trata do Gabriel.
— É verdade.
— O seu Raul intimou ele, ou sossegava com uma esposa por
um ano ou ia assumir a empresa, então Gabriel pediu que eu o
ajudasse com isso.
— Por que vocês são amigos ou por que ele gosta de você?
— Porque somos amigos, pelo menos eu acho que sim.
— O que isso quer dizer? — Cici aperta os olhos e então
arqueia as sobrancelhas, como se ela tivesse tido alguma ideia ou
inspiração divina. — Meu Deus, vocês transaram, não é? É claro
que sim, tá na sua cara. Luciana safada Perloni, você pegou o irmão
do meu marido.
— Peguei — choramingo, baixando a cabeça. — E foi tão bom
que agora eu quero isso sempre. Bom mesmo.
Cici dá uma gargalhada alta.
— Não posso dizer que estou surpresa, esses Dupont são
intensos e gostosos pra caramba. Agora me conta, ele é bom de
cama? Porque ele se acha um monte, deve ser, no mínimo, uma
máquina de sexo.
— É praticamente uma Brastemp do sexo. — Rio e Cici bebe o
café, acenando, satisfeita com a minha explicação.
— Não é à toa que você tá aí toda caidinha por ele.
— Caidinha?
— Sim, beeeeem caidinha — minha irmã fala com aquele seu
jeito irritante que eu tanto amo.
— Eu não fico caidinha por ninguém, pra falar a verdade eu
nunca me apaixono, só me acostumo com as pessoas. Nem sou
capaz de amar, já aceitei isso.
— Tem certeza? — Ela me lança um daqueles seus olhares
investigativos.
— Como assim?
Cici larga a xícara de café na mesinha e aproxima o rosto de
mim, como se fosse me confidenciar algum segredo importante.
— Aquele beijo que vocês deram lá em casa diz o contrário.
— Bobagem.
— Se é bobagem, então por que é que você está toda
irritadinha com a chance de estar gostando de verdade do seu
marido?
— Eu não estou.
— Caramba, Luciana, quando foi que você começou a mentir
pra si mesma?
— Eu só estou tentando entender.
— Entender o quê? Que fazer sexo com um homem gostoso e
lidar com o temperamento intenso dele fez você se apaixonar? Você
não vai entender, só sentir.
— Entender porque ele foi atrás do Ricardo e deu um soco
nele.
— O Gabriel deu um soco no Ricardo? Nossa, essa história só
melhora.
Conto para Cici a história dos cartões do sexo, do encontro por
acaso com Ricardo no restaurante e das flores que ele me mandou
depois, e, por fim, explico que Gabriel foi atrás dele e que o acertou
em cheio.
— Cartões do sexo, hein?! Gostei disso.
Mostro a carta sexy e a caixinha de cartões que Gabriel me
enviou, optando por me abrir com minha irmã como nunca fiz antes.
Sempre fomos unidas e fortes, cuidamos uma da outra, mas sempre
houve um certo limite, sexo e garotos sempre foi a linha final.
Não hoje. Não desde que os homens Dupont bagunçaram a
nossa vida.
— Meu Deus, esse homem tá louco por você.
— Será? Achei que era só pelo sexo. Ele não tá acostumado a
ficar sem.
— De qualquer maneira, quem manda uma caixa inteira de
cartões do sexo? E olha o que ele escreveu no final, seus peitos são
só dele. Bom, faz ainda mais sentido ele ter quebrado a cara
daquele nojento. Gabriel ficou com ciúme de você.
— Caramba, por isso ele tava tão estranho quando chegou.
— Agora, mana, cabe a você decidir se quer levar isso adiante
ou não.
— Como assim?
— Ai, Lu, já sabemos que Gabriel está gostando de você,
talvez ele não tenha se dado conta ainda, mas vai por mim, quando
isso acontecer ele não vai deixar você escapar. Digo isso por
experiência com o Miguel. Ele quase me enlouqueceu antes de me
fazer feliz de verdade.
— Mas ele sempre deixou claro que queria você — digo.
— Não mesmo, meu negócio com ele começou porque
descobri que ele era virgem e me comprometi a ajudar. Mas não
resisti ao tanquinho e aqueles olhos. — Minha irmã dá de ombros,
pegando a filhinha que choraminga no carrinho e a levando ao peito.
— Virgem, é? Uau, essa é nova.
— Seu marido pode não ser virgem, mas é um Dupont, e
esses homens quando amam, amam pra valer.
— Isso quer dizer que posso acabar partindo o coração dele —
concluo.
— Ou entregando o seu e sendo feliz.
— Você não entende, Cici. — Limpo uma lágrima boba que
corre do meu olho. — Eu não consigo amar. Já tentei com o Cadu,
com o Ricardo. Eu me acostumo, mas quando acaba nem sequer
sinto falta.
— Isso porque eles eram idiotas que te tratavam mal. Aquele
Ricardo parecia mais um pai controlador do que um namorado, já foi
tarde o babaca.
— Nunca pensei que você não gostasse dele — falo, surpresa
com minha irmã.
— Eu não quis te magoar, mas se for pra ser honesta, ninguém
gostava do escroto, nem mesmo a nossa mãe.
— Mentira.
— Verdade!
— E eu fiquei com aquele cara por tanto tempo.
— Mas isso é passado e agora você está numa nova fase,
com um cara que nitidamente tá bem a fim de você e que te faz
feliz. — diz, indicando a caixa sobre a mesa.
Tomo um gole do meu café. Ele realmente me faz feliz.
— É, quando achei ele no carro, com aquela cara estranha
ontem, eu pensei que ele estava me traindo. É difícil confiar depois
do que passei...
— E como foi que você se sentiu?
— Fiquei arrasada — digo, lembrando do nó que se formou na
minha garganta só pela possibilidade de ele estar procurando outra
mulher.
— Arrasada e... doeu.
Penso por um momento e a resposta vem como uma grande
bofetada na minha cara, olho pra minha irmã meio desesperada e
ela sorri. Eu sempre achei que tinha uma coisa quebrada em mim,
algo que me impedisse de amar, mas o que eu sinto é o que então?
Gabriel povoa meus pensamentos sempre, sua voz, o jeito
irritante, só de lembrar sinto vontade de sorrir. A forma como ele
cuida do meu filho, como é doce com a minha mãe, enchem meu
coração de uma emoção arrebatadora.
A lembrança dele me tocando. Não quero ser tocada por mais
ninguém.
E o amargo que me vêm à boca sempre que o imagino com
outra pessoa ou saindo da minha vida depois do ano acabar.
Ai nossa, eu não sou incapaz de amar. Não mesmo.
— Puta merda, eu tô apaixonada pelo Gabriel.
— É isso aí, até que enfim você se deu conta. Agora
precisamos fazer o pateta perceber também.

Depois da conversa que tive com a minha irmã, entrei em


parafuso. Primeiro fiquei desesperada por me dar conta de que pela
primeira vez na minha vida estou apaixonada. E depois, mais
apavorada ainda por existir a chance de ele não sentir o mesmo.
E se ele não se importar? Se for apenas pelo acordo que
fizemos para ele não perder a empresa?
Caramba, quem diria que um dia eu ia virar uma adolescente
vivendo seu primeiro amor. Tô muito ferrada. Porque é bem assim
que me sinto, tomada por um sentimento que nem imaginei que
existia.
Merda!
Não adianta nada ficar remoendo. Posso ir pra casa e me
afastar dele, para não ter meu coração partido ou posso ficar e ver
no que vai dar. De qualquer maneira, eu não mudaria nada.
Passar a vida pensando que sou incapaz de amar é pior do
que amar e acabar me machucando.
É, a nova Luciana pode ser bem corajosa.
Ou não.
Fico trancada em uma reunião com dois empresários
interessados em se tornarem franqueados da Petite, a conversa e
os demonstrativos se alongam mais do que deveriam e eu me sinto
exausta.
Pelo menos ocupou minha mente e consegui empurrar para
dentro de mim o pânico que estava sentindo por conta da nova
descoberta.
E o que eu decidi?
Nada. Absolutamente nada.
Então volto pra casa como se nunca tivesse conversado com a
Cici sobre Gabriel e toda essa coisa de amar meu marido falso.
A casa está silenciosa quando chego, é perto de oito horas e
a essa altura Gabriel já deve ter colocado o Felipe na cama. Tiro os
saltos na entrada e sigo para dar uma espiada no meu filho.
À medida que me aproximo, escuto a interação dos dois
homens da minha vida, ando pé ante pé e espio pela porta.
Felipe está no berço, de pé, com um grande sorriso no rosto,
enquanto Gabriel anda pelo quarto fingindo que é algum tipo de
animal voador. Alguns segundos depois e descubro que ele é um
dragão que cospe flores e bolinhas de gude. Combinação estranha,
mas que funciona com o meu garotinho.
Gabriel finge que o dragão está engasgado e Felipe leva as
mãos pequenas aos lábios. Ele tosse de forma exagerada, fazendo
um ruído engraçado e distraindo a atenção de Felipe, que não
percebe que ele vai tirar algo de dentro da camisa, nas costas.
O dragão Gabriel cambaleia, tosse de novo e puft, espirra um
cachorro de pelúcia direto para o berço do meu filho. Felipe pega e
arregala os olhos.
— Vejam só, Senhoras e Senhores, se não é um cachorro
chamado feijão — Gabriel fala, dando batidinhas no peito, como se
tivesse mesmo cuspido o animal de brinquedo.
— Feijão! — Felipe fala, na sua vozinha infantil e levanta a
pelúcia para cima da cabeça e comemora com uma dancinha que
eu sei que ele aprendeu com Gabriel.
Fora da cama, Gabriel imita a dancinha do meu filho e é
quando ele ergue os olhos e me vê. Seu rosto se ilumina e eu sinto
meu coração se encher.
É quando eu sei que ultrapassei qualquer limite que poderia
haver na nossa relação, nosso casamento que começou falso e
acaba de se transformar na melhor coisa que já vivi.
Não, eu não estou apaixonada por Gabriel.
O que eu sinto é amor.
Por causa do Feijão, Felipe demorou a pegar no sono. Achei
que o pequeno ia reclamar por não ser um cão de verdade, mas ele
se agarrou ao brinquedo de pelúcia e dormiu apertando-o contra o
peito. Tão pequeno e tão cheio de amor pra dar ao mundo.
Luciana dispensa o jantar e vai tomar banho, é claro que eu
aproveito o sono pesado do nosso garotinho e me enfio debaixo do
chuveiro junto com ela, que sorri ao me ver entrar pelado e todo
cheio de mãos bobas.
Seus cabelos loiros estão presos em um coque esfiapado e a
pele do pescoço está molhada e levemente marcada pela nossa
última rodada de sexo safado, ou como ela diz: sexo selvagem de
boa qualidade.
— Eu sei, eu sei, temos os malditos cartões do sexo, mas
tomar banho juntos não conta — vou me justificando assim que
entro no box.
— Podemos esquecer os cartões? — ela pergunta manhosa e
eu sinto meu pau imediatamente reagir. Simplesmente adoro
quando Luciana se rende e mostra que me quer. — Nós já sabemos
que foi uma péssima ideia colocar limite no sexo.
— Isso quer dizer que a senhora Dupont quer fazer sexo
comigo sem que eu tenha que usar um cartão ou muitos cartões? —
Passo meus braços ao redor dela.
— Isso quer dizer que a senhora Perloni Dupont comprou
lingeries novas e vai estrear com você. Cada uma delas,
praticamente um arco-íris de renda.
— Já disse que eu gosto do jeito como você pensa? — Coloco
uma mecha fujona do seu cabelo atrás da orelha e acaricio sua
bochecha.
Luciana passa os braços pela minha cintura e cola o corpo ao
meu, suas mãos vão até a minha bunda e ela aperta sem qualquer
pudor.
— Já disse que você tem uma bunda gostosa? Na verdade, se
for pra eu ser honesta, tem várias coisas gostosas em você. — Ela
morde o lábio, me excitando sem nem mesmo se dar conta.
— Viu, eu disse pra você, eu sou perfeito, você devia ter
acreditado.
Lu solta uma gargalhada gostosa e balança a cabeça de um
lado para o outro. Quando chegou parecia tensa, preocupada, mas
agora é apenas ela, com seu jeito ardente e divertido. Com a mente
afiada e um pouquinho pervertida, bem do jeito que eu gosto.
— Você é tão cheio de si — diz, virando-se de costas e
entrando na água quente outra vez.
— Tudo bem, podemos encher você e tudo vai ficar
equilibrado.
— Me encher de quê? — pergunta, virando pra mim outra vez
e arqueando uma sobrancelha desconfiada.
— De beijos pra começar. — Beijo a curva do pescoço dela. —
De mordidas, de palmadas... e claro, definitivamente vamos encher
você com a minha porra.
— Caramba, hoje você tá que...
Não deixo Luciana terminar de falar e tomo sua boca. A beijo
como se disso dependesse todo meu mundo, e talvez dependa
mesmo. Posso não ser muito hábil para fazê-la se apaixonar, mas
pelo menos posso deixá-la tão excitada que nem pense em dar bola
para aquele idiota ou qualquer outro miserável que cruzar seu
caminho.
Nada como um degrau de cada vez.
Eu sei, pareço um garoto do ensino médio que não sabe lidar
com o que sente por sua garota, e talvez o problema seja
justamente esse, não sei lidar com o que eu sinto e tem mais,
Luciana não é de fato minha garota. E é isso que vou ter que mudar.
Ou morrer tentando.
Tudo bem, isso foi um pouco dramático, eu sei.
Mas vamos lá, se eu a quero, tenho que começar por algum
lugar e nada melhor do que começar por um bom orgasmo.
Luciana geme baixinho quando chupo seu lábio inferior,
colando os seios durinhos ao meu peito e acionando meu lado mais
primitivo.
Passo minhas mãos por seus cabelos e a faço deitar a cabeça
para trás, lambo a pele desde o pescoço até o ombro, onde dou
uma mordida molhada e suave. Luciana leva uma das mãos ao meu
pau e solta um chiado quando percebe que estou duro.
Ela o acaricia para cima e para baixo, enquanto volto a beijá-
la, engolindo seus gemidos sexys que me deixam mais tarado
ainda.
Encosto Luciana na parede e puxo sua perna, para ter acesso
a bocetinha deliciosa, tocando-a onde sei que mais sente prazer e
fazendo-a gemer alto.
— Isso é tão bom — minha garota diz e eu ergo a outra perna
dela, fazendo-a cruzá-las na minha cintura.
Com a mão na bunda de Luciana e beijando-a como se fosse
um louco - talvez eu seja mesmo - saio do box carregando minha
mulher e a levo para nossa cama. Hoje eu preciso de algo mais,
algo além do prazer.
Deito-a de costas e observo, tão doce e ardente, tão minha.
— Linda — digo e ela fecha os olhos, deitando a cabeça para
trás. — Abra os olhos, por favor. — Falo e Luciana faz o que peço,
me dando uma bela visão dos olhos claros que me tiram o fôlego.
Roço meu pau de leve na abertura encharcada dela e Luciana
geme, sem desviar os olhos.
— Faz amor comigo, Gabriel, por favor — pede e eu sei que é
disso que preciso. Eu preciso do amor dessa mulher mais do que
jamais fui capaz de precisar alguma coisa na vida.
Afasto um pouco as pernas dela, entrando devagar, sentindo-a
me envolver com sua boceta molhada que me deixa cheio de tesão.
Nenhum de nós fecha os olhos e o que eu vejo, ainda que possa ser
algo da minha imaginação, é suficiente para me dar esperanças de
que talvez eu possa fazê-la me amar. Algo no seu olhar quebra
todas as minhas barreiras e medo.
Talvez seja só a ilusão de um cara apaixonado, mas ainda
assim, me agarro a isso com unhas e dentes. Se existir qualquer
chance de ela me querer eu não vou deixá-la escapar.
Chupo o lábio de Luciana à medida que começo a entrar e sair,
contendo minha ânsia de ir mais rápido. Depois volto para os seus
olhos e me concentro neles.
Ela não desvia, acompanhando o ritmo dos meus movimentos,
gemendo meu nome e apertando minhas costas, mas sem fechar os
olhos, sem desviar.
Entro e saio, aumentando um pouco o ritmo.
— Ai, Gabriel, assim — diz e vencida pela onda de prazer, ela
aperta meu pau conforme é tomada pelo orgasmo.
Luciana goza, e eu começo a impelir um pouco mais de força,
sentindo que também estou prestes a me entregar.
Não demora muito e eu me enterro nela quando alcanço o
pico, entregando tudo o que tenho, cada pedaço do meu prazer, da
minha pele e da minha alma.
É tudo dela. Eu sou dela.

Henrique senta no sofá com uma carranca de quem não está


entendendo nada. Ele passa as mãos pelo cabelo e resmunga,
porque não está acostumado comigo fazendo perguntas íntimas.
— Qual é, fiz uma pergunta simples. Como irmão mais velho é
sua obrigação ajudar os mais novos — apelo e meu irmão ri.
— Você não é mais criança, sabia? Não precisa mais que eu te
ensine a bater em algum coleguinha que roubou seu lanche.
— Droga, Henrique!
— Tudo bem. — Meu irmão, sempre tão fechadão, estica as
pernas e se encosta confortavelmente no sofá do meu escritório. —
Vamos conversar.
Ligo para Cláudia e peço que ela não transfira nenhuma
chamada até segunda ordem e ela já começa com o inquérito sobre
eu estar doente, morrendo ou surtando de novo. Dispenso o assunto
garantindo que estou bem e desligo.
Volto a me sentar ao lado do meu irmão mais velho e espero.
Henrique leva as mãos para trás da cabeça.
— O que foi mesmo que você perguntou?
— Perguntei como você percebeu que a Marisol era a mulher
da sua vida.
— Primeiro ela quase me enlouqueceu, depois ela me
enlouqueceu, e por fim, percebi que não queria estar com mais
ninguém, que preferia estar brigando e enlouquecendo com ela a
estar com qualquer outra mulher.
— Porra, isso foi forte — digo, pensando sobre o que Henrique
acaba de me contar.
— Você e a Lu estão com problemas?
— Não, não a gente, nós estamos bem. Pelo menos eu acho
que sim.
— É, Joaquim contou que pegou vocês no elevador quase se
atracando.
— Ele não consegue mesmo fechar a boca, é um fofoqueiro.
— Qual é o problema? Tá na sua cara que tem alguma coisa
te perturbando.
— O imbecil do ex dela, se deu conta do que perdeu e agora
fica mandando flores pra minha mulher.
— Ele mandou flores? — Henrique se endireita no sofá,
estupefato.
— E ainda teve a ousadia de dizer na minha cara que ela ia
voltar pra ele.
— E o que você fez?
— Dei um soco no babaca, claro.
— O que a sua mulher disse sobre isso? — meu irmão
pergunta, analisando todas as minhas expressões.
— Nada — respondo carrancudo. — Só devolveu as flores.
— Estão transando normalmente?
— Depende do que é normalmente pra você — solto, sem
qualquer filtro porque, por dentro, estou desesperado por alguma
sustentação, algo que me ajude a entender no que me meti e como
lidar com o turbilhão de sentimentos que passam por mim. — Se
transar muito for normal, então somos normais.
Henrique ri e me dá um tapa de leve no joelho.
— Você tá apavorado porque, pela primeira vez na sua vida
dramática, está apaixonado e tem medo de perder a garota, sem
contar que está com ciúmes. Mas se as coisas estão normais, e
conhecendo um pouco a Luciana, não acho que tenha com que se
preocupar.
— Eu sei — quase choramingo, bancando o bobão.
— É o seguinte, vou te dar um conselho muito sábio e você vai
me escutar com atenção, porque, como você disse, sou seu irmão
mais velho. Esqueça o idiota do ex, se concentre em amar sua
garota e vai ficar tudo bem.
— Ah, cara, você virou o Yoda agora?
— Se não queria a porra da minha opinião por que perguntou?
— Sei lá, — Solto os braços para o alto, compreendendo que
nada do que ele disser vai resolver o problema em que estou, nada
vai tirar essa sensação de preocupação de mim.
Eu amo uma mulher forte, linda e determinada, mas não faço
ideia se um dia ela será capaz de me amar de volta.
— Obrigado — digo, vencido.
— Mais uma coisa, continue mantendo ela ocupada —
Henrique provoca, levantando e indo para a porta. — E haja o que
houver, não conte nada para o Joaquim, ele não sabe guardar
segredo da nossa mãe.
Assim que Henrique sai, fecho a porta e me sento diante do
computador. Eu deveria estar preparando uma apresentação para
um novo investidor, mas não consigo parar de pensar em Luciana,
Felipe e na vida que já me acostumei a ter com eles. A vida que
amo ter com eles.
E por falar nela. Uma mensagem de Luciana desperta minha
atenção.

Luciana: Emergência, me espere no elevador. AGORA.

Levanto e saio correndo, passo por Cláudia e apenas aceno,


dispensando-a e focando minha atenção no elevador.
Impaciente, espero até que a porta se abra. Luciana me puxa
para dentro, um sorriso maroto plantado no rosto.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto, afobado.
— Nunca gozei num elevador antes — Luciana declara,
abrindo o casaco sobretudo e mostrando que não está usando nada
por baixo. — Aqui está o meu cartão, senhor.
Mordendo o lábio, a diabinha entrega um dos cartões do sexo
que mandei pro seu escritório como provocação.
— Achei que tínhamos combinado de não usar mais os cartões
— falo, apertando o botão da cobertura.
— Tudo bem. — Ela faz beicinho e começa a fechar o casaco,
mas eu a puxo para mim e aperto o botão para travar o elevador,
quando chegamos no último andar.
— Nem pense em fechar esse casaco, diabinha — digo e
aperto um de seus seios gostosos.
— Então, orgasmo no elevador? — pergunta e eu arranco seu
casaco e a viro para o espelho.
— Orgasmo no elevador — falo, descendo com a minha boca
ao seu pescoço e sugando a pele, enquanto baixo minha calça, sem
qualquer delicadeza.
Luciana me olha pelo espelho, as mãos apoiadas para o alto e
as pernas levemente afastadas, seu rosto é ardente e ela pega uma
das minhas mãos e a leva para a fenda entre suas pernas.
— Nossa, como você tá molhada — urro.
— Molhada pra você, Gabriel.
Me encaixo por trás de Luciana, buscando sua fenda e
ajustando nossa diferença de altura. Entro devagar, afastando bem
as pernas dela.
— Você é gostosa demais — digo, quase como um animal,
entrando e saindo cada vez com mais força. Levo meus dedos ao
seu clitóris e acaricio, provocando o prazer da minha mulher. A
mulher que eu amo.
— Eu vou gozar, vai mais forte — Luciana manda, olhando-me
pelo espelho, enquanto impulsiono com tudo para o seu corpo
delicado.
Ela geme assim que goza e eu me sinto a porra do homem
mais sortudo do mundo. Ter uma visão do seu rosto, tomado pelo
prazer máximo é incrível e eu poderia passar a vida empenhado em
provocar esse tipo de reação nela.
Aperto o botão para liberar a porta e ela se abre, exibindo o
apartamento da cobertura. Esse local geralmente é usado para
executivos de outros estados quando vêm para reuniões com
qualquer uma das empresas da minha família no prédio, mas não
vou negar que já arrastei uma ou outra mulher para cá. E posso
apostar que, com exceção do Miguel, meus irmãos já fizeram isso
também.
Eu trouxe mulheres aqui, mas nenhuma que eu quisesse tanto
ver gozar.
Puxo Luciana para a cobertura, arrastando seu casaco e
ouvindo o som do salto fininho bater contra o piso. Ela entra nua,
desfilando com a bunda dura e olhando tudo ao redor, mas não diz
nada.
— Então é aqui que os Dupont abatem suas presas?
Rindo, ela vai até o vidro grande da janela e olha lá para baixo.
— Ainda bem que o vidro é espelhado por fora, ou alguém dos
prédios vizinhos daria uma boa olhada nos meus peitos — diz e eu
a viro pra mim.
— A única pessoa que vai olhar esses peitos sou eu. — Mordo
o mamilo durinho.
Luciana geme e leva a mão ao meu pau, que ainda está
carente do próprio prazer.
— Então, mais uma rodada de sexo selvagem de boa
qualidade? — pergunta e eu sei que não vai ser apenas uma
rodada, nós vamos colocar esse lugar abaixo.
Depois de tomar um banho no apartamento da cobertura, no
prédio dos Dupont, visto meu casaco e o amarro. Gabriel me lança
um olhar estranho e sei que está se preparando para soltar alguma
das suas pérolas.
— Cadê a sua roupa? Não me diga que veio assim lá da
Petite? Você não veio a pé, veio?
— Deixei minhas coisas no banco de trás do carro.
— Então eu vou buscar, não vou te deixar sair assim por aí.
— Eu não sabia que você tinha um lado machista, sabia que
as mulheres devem se vestir como querem?
— Luciana, você está sem nada e a única pessoa que pode
apreciar esse corpo sou eu — ele diz, e eu rio. Ultimamente está tão
possessivo.
— Tudo bem, vou ver se tem café, então.
— Certo, não demoro.
Ele sai e enquanto vai buscar as coisas no meu carro,
aproveito para dar uma inspecionada no apartamento. O lugar é
refinado e sei que já recebeu vários executivos de fora do estado,
quando vinham para alguma reunião importante.
O pai do Gabriel sempre foi um homem importante e ainda que
eu não tenha pegado a época dele no comando de uma das
empresas, sei que quando Raul Dupont marcava uma reunião, vinha
gente até da lua se fosse preciso. Não é à toa que Gabriel está tão
preocupado de o pai tentar assumir os negócios. O homem era uma
máquina e tudo sempre ocorria exatamente como ele determinava.
Coloco um café para passar e me sento no sofá, puxando a
toalha em que estou enrolada e sentindo o cheirinho bom que vem
da copa. Fico ali até que a cafeteira termina de passar o café, então
levanto e, de pés descalços, vou procurar as xícaras.
Gabriel volta trazendo minha bolsa e a malinha de ginástica
onde guardei minhas roupas. Ele larga tudo em cima da mesa e me
lança um olhar rabugento.
— Você sabia que deixar a bolsa no carro é pedir pra ser
assaltada?
— Quem assalta uma van de família? — retruco, enquanto
encho de café fresco duas canecas que acabo de lavar.
— Qualquer ladrão que ver uma bolsa dando sopa.
— Não exagera, estamos falando de Florianópolis, se você
dormir de porta aberta é capaz que nem um mosquito entre em
casa.
— Não, linda, as coisas não são mais assim, ainda mais no
verão. Vai, me promete que não vai mais dar sopa desse jeito.
— Tá, tá, chefe, prometo.
— Algo me diz que alguém está querendo umas palmadas pra
deixar de ser tão respondona.
Sorrio e ele sacode a cabeça.
— Você é uma tarada.
— E eu não sei?! Mas pra ser justa, a culpa disso é sua, fazia
tempo que eu não gozava tanto, agora eu só quero isso.
— Por mim tudo bem, o seu prazer é o meu prazer.
— Isso foi fofo e meio que me deixou excitada — digo, e
Gabriel pega o café.
— Vamos resolver essa sua safadeza hoje à noite, tem algo
que já está na hora de eu conhecer.
— E o que seria isso?
— O seu vibrador.

Gabriel vem cheio de mãos pra mim, me apertando contra seu


peito e suspirando fundo. O elevador chega bem rápido a um dos
andares que pertencem a sua empresa, mas antes que a porta se
abra, o celular dele toca e o nome na tela o faz mudar
completamente.
O sorriso suave e descontraído se transforma numa carranca
de preocupação. Gabriel atende à ligação e escuta com atenção o
que a pessoa do outro lado da linha tem a dizer, enquanto
caminhamos para o seu escritório de mãos dadas.
Assim que entramos, ele fecha a porta e se senta no sofá.
Sento ao seu lado e espero em silêncio, sem que ele emita um
único ruído enquanto a voz no telefone fala sem parar.
Gabriel pega minha mão e aperta, suspirando.
— Tem certeza, doutor? — finalmente meu marido fala alguma
coisa. — Tudo bem, obrigado por ligar. Vamos continuar tentando.
Assim que desliga, ele larga o telefone em cima da mesinha
em frente ao sofá e passa a mão nos cabelos, a respiração
estressada é audível e eu fico preocupada.
— O que aconteceu?
— Meu advogado descobriu que aquela desgraçada está
negociando os direitos de produção da minha tecnologia.
— Não?! Que tremenda cara de pau.
— O meu projeto, Lu. Trabalhei duro, dei meu sangue e aquela
mulher vai sair ganhando.
— E não tem nada que possamos fazer?
— A não ser que eu arrume alguma prova de que ela nunca
viu o projeto antes daquela noite e que me roubou, está tudo
perdido.
Gabriel cobre a cabeça com as mãos, apoiando os cotovelos
nos joelhos. Levo meus braços instintivamente e o puxo para perto
de mim. Um olhar arrasado vem na minha direção e eu sinto
vontade de arrancar essa tristeza e mandá-la embora. Não suporto
vê-lo assim, tão perdido, destruído.
— Eu sei que você já revirou tudo de ponta cabeça, mas um
olhar novo pode ajudar. Vamos pra casa, vou olhar tudo com calma.
— Tá bom. Obrigado.
Beijo Gabriel e ele deita a cabeça no meu ombro, me deixando
fazer um carinho no seu cabelo rebelde.
— Você é a melhor coisa que me aconteceu — diz no meu
ouvido e eu sinto todo meu mundo balançar.
Não sei o que temos, mas não vou deixar essa batalha sem
lutar, vamos dar um jeito e provar que a patente foi roubada e
depois, farei o que for necessário para conquistar esse homem que
me ensinou a amá-lo.
E é aí que algo me ocorre. Uma coisa simples, mas que não
sei se ele já cogitou.
— Você já tinha finalizado o projeto?
— Não, mas estava em fase final. — Ele me lança um olhar
confuso.
— E se você mudasse algo no projeto? Alguns detalhes, talvez
possamos pedir uma nova patente enquanto o processo corre.
Pensa, depois que estiver no mercado vai ser mais fácil de agilizar
as coisas.
— Eu pensei nisso, mas ela pediu a patente da parte mais
importante, a tecnologia do núcleo, a prótese não vai funcionar bem
sem e levei anos para pensar em como criá-la.
— Tudo bem, mesmo assim vamos pensar em alguma coisa.
Acho que tive uma ideia.
— Ideia?
— Bom, se nada der certo, vou até a ladra e quebro a cara
dela. — Gabriel sorri. — Mas também tem uma outra possibilidade.
— Que possibilidade? Não vou matar ninguém, nanica.
Esconder um corpo até vai, mas matar, não.
— Não fala bobagem — repreendo e sorrindo, retruco. — A
gente nunca deve esconder o corpo, o segredo é derreter com
ácido.
— Nunca mais vou deixar você ver filmes de assassinato —
ele diz, levantando e me puxando para um abraço. — Então, qual
sua ideia?
— Você lembra daquela estilista Alice[6] que casou com um dos
herdeiros da Passatori?
— A ruiva que fez o vestido da Cici?
— Isso, nós meio que ficamos amigas e ela estava me
contando que quando o ex tentou sequestrar o menino dela, o
marido dela usou os recursos de uma empresa de tecnologias dos
Estados Unidos, parece que foi bem caro, mas ajudou. Posso pedir
o contato pra Alice, pelo que me lembro a dona é uma brasileira,
Mila[7] alguma coisa.
— Eu topo qualquer coisa, precisamos resolver antes que ela
venda meu projeto e esteja tudo perdido.
Depois de falar com Alice e ela prontamente conseguir o
contato de Mila, a brasileira que é dona da Faces, empresa de
segurança digital que faz o maior sucesso nos Estados Unidos,
Gabriel e eu entramos em contato.
Ela nos atendeu com agilidade, pedindo acesso aos
computadores de Gabriel e da empresa para rodar um programa
que ela chamou de Oscar. Parece que é um tipo de inteligência
artificial que ela inventou e que é capaz de reunir milhares de dados
e comandos em minutos.
Enquanto esperamos, com a tela do notebook aberta e vendo
uma caretinha do tal Oscar em forma de emoji de cachorro gigante,
Gabriel anda de um lado para o outro ansioso e eu aproveito para
analisar todos os documentos do projeto roubado. Não que eu
entenda muito das imagens do projeto, mas da parte administrativa
eu sei bem, e como já trabalhei para a empresa dele, quando era
secretária do Miguel, conheço muitos dos termos técnicos usados
nos documentos à minha frente.
Felipe brinca com a babá no quintal, perto da piscina,
sacudindo o cachorro de brinquedo como se fosse um avião, estico
meus olhos vez ou outra para ele, mas sempre volto para os
documentos, sabendo que meu garotinho está bem e que é o
momento de cuidar do outro homem da minha vida.
Qualquer coisa que encontrarmos vai ser muito útil.
Infelizmente não há nada ao meu alcance. Eu sei que se
houvesse, Gabriel já teria descoberto, afinal de contas, ele é
praticamente um gênio, mas não me custa nada olhar e olhar de
novo. E é isso que faço.
Além do mais, ajuda a passar o tempo enquanto esperamos
sem saber o rumo que as coisas vão tomar.
Mila, a dona da Faces que está cuidando pessoalmente do
nosso caso, me manda uma mensagem por telefone. Ela pede que
a gente espere mais um pouco, pois está investigando também a
engenheira que roubou o projeto. Cíntia, ela mal pode esperar, se
não conseguimos derrubá-la assim, vou infernizar aquela mulher,
nem que eu tenha que ir nas empresas com as quais está
negociando e queimar o filme da bandida ou dar uma surra nela.
Nunca mais vai se meter com o meu Dupont e sair impune.
— O que ela disse na mensagem?
— Que terminou o escaneamento no notebook e na rede da
empresa, agora ela vai colocar o Oscar atrás da vaca.
— Vaca?
— É, a vaca que roubou você.
Gabriel suspira e acena concordando, não está acostumado a
me ver xingando, mas nesse momento, minha raiva é tanta contra
aquela mulher que eu seria capaz de usar as piores palavras, acho
que eu seria capaz até mesmo de quebrar a cara dela.
Foco em ir preparar o jantar, enquanto Gabriel dispensa a
babá e prepara Felipe para comer. Apesar de estar soturno e
calado, meu marido se solta com meu filho e transborda de carinho.
Os dois realmente se adoram.
Meu marido. Meu filho.
Que loucura!
No meio do jantar, o telefone toca e eu saio correndo para
atender, Mila me explica tudo com calma e concorda em mandar as
informações que descobriu para um e-mail seguro. Também me
aconselha a levar uma cópia dessas informações para a Polícia
Federal, pois segundo ela, Cíntia na verdade tem outro nome e já
roubou de outros empresários com quem se meteu.
Assim que desligo a ligação, Gabriel está parado diante de
mim com Felipe no colo, seus olhos ansiosos me encaram e eu
sorrio, não um sorrisinho qualquer, mas a porra de um sorrisão,
daqueles que diz: Nós vencemos.
— O que foi? — Ele dá alguns passos mais para perto. — O
que ela disse?
— Que vamos acabar com aquela mulher e você vai recuperar
o projeto — digo e Gabriel me abraça. — Nós vencemos!
Juntos, os três, pulamos feito loucos na sala.
— Nós vencemos! — gritamos sem parar enquanto pulamos
abraçados. — Nós vencemos!
Até o meu filho grita que vencemos. E nesse momento somos
exatamente a família que parecemos. Uma esposa, um bebê e um
marido que acabam de vencer um desafio que já parecia perdido.
— A conta vai ser alta, mas vai valer a pena — digo e Gabriel
suspira aliviado.
— Se for pra colocar aquela mulher na cadeia e recuperar o
que é meu, eu pago meu peso em ouro — diz, com seu jeito
exagerado e dramático.
— Não acho que vamos chegar a tanto — concluo e Gabriel
não para de sorrir.
— Nós vencemos, não é?
— Sim, vencemos.
— Certo, nós vencemos e eu amo vocês — ele diz, me
pegando completamente de surpresa, enquanto me abraça outra
vez.
— Amo vocês — Felipe diz e eu derreto, voltando a abraçar os
dois homens da minha vida. Sim, os dois homens da minha vida.
Antes que eu possa dizer o que sinto, Gabriel se afasta e pega
o telefone, deixando Felipe nos meus braços.
— Preciso falar com meu advogado.
— Tudo bem, vou terminar de dar janta pra esse rapazinho.
Eu sei que deveria ter dito e, eu queria, mas a surpresa foi tão
grande que não tive tempo. De repente, algo começa a remoer
dentro de mim, talvez ele não tenha falado no sentido que estou
imaginando, talvez tenha sido apenas uma coisa de amigos, ou algo
de momento, um impulso por causa do alívio de saber que o
programa de Mila conseguiu reunir provas para um processo e
quem sabe uma prisão.
Com o coração apertado, termino o jantar com Felipe e levo
meu filho para escovar os dentinhos, depois o coloco na cama e fico
por ali, observando a tranquilidade que ele dorme.
Felipe disse amo vocês com uma velocidade incrível, talvez ele
não saiba o que significa, mas não me admira nem um pouco que
ele consiga usar essas palavras com mais facilidade do que eu.
E pensando nisso, sinto outro nó se contorcer no meu coração.
Eu amo Gabriel, mas será que ele me ama também?
Termino de digitar um e-mail e suspiro. As coisas parecem
finalmente estar indo para o lugar, mas ainda tem algo que preciso
resolver, e não se trata do problema com a engenheira golpista que
quase destruiu um projeto importante ao me roubar. Preciso colocar
as coisas no lugar no quesito Luciana Perloni.
Luciana Perloni Dupont.
Escuto uma batida de leve e a porta se abre, deixando um
Miguel sorridente entrar. Meu irmão caçula vem com a filhinha num
tipo de sacola de pano amarrada ao seu peito. A bebezinha dorme
tranquila e ele larga a bolsa de bebê e o bebê conforto sobre a
mesa que fica perto do sofá.
— É um canguru, melhor coisa que inventaram para pais —
diz, notando meu olhar confuso para a embalagem em que a minha
sobrinha está.
— E como está a minha afilhada? — Contorno a mesa e vou
me sentar com meu irmão, que já desprendeu a embalagem
canguru, e está ajeitando a filha no bebê conforto.
— Comilona e dorminhoca, parece você.
— Se ela puxar ao tio, vai ser perfeita — retruco e Miguel ri,
como se não acreditasse em nada do que digo.
— Tá tudo bem? — meu irmão pergunta quando suspiro
pesado. É bom tê-lo aqui, senti falta de trabalhar com o resmungão,
ainda que não admita, mas também senti falta de ele estar ao meu
lado sempre que algo dá errado.
— Luciana resolveu o problema com a Cíntia.
— Ah, isso é ótimo — ele fala, pegando uma mamadeira da
bolsa e começando a abri-la. — Cici tirou leite pra poder ir ver como
as coisas estão na Petite.
— Isso é leite da sua mulher? — solto, meio embasbacado. —
Credo!
— Foi uma luta pra usar a bombinha, mas acho que estamos
pegando o jeito. Quem sabe em um ano ou dois podemos tentar
fazer um menino.
— Parece que tá tudo indo bem pra você. — Suspiro de novo.
— E pra você também — meu irmão fala, apertando as
sobrancelhas e analisando minhas expressões. — Ou não?
— Sim, com as provas que a empresa de segurança que a Lu
encontrou, meu advogado abriu um processo e está tudo correndo
bem, já estou bolando um protótipo e o pai vai me colocar em
contato com investidores de maior calibre. Vai ser algo grande.
— Então por que você não parece feliz?
— Porque falei pra Luciana que a amava e ela não disse nada
— solto de uma vez por todas. — Nem uma única palavra. Até o
Felipe disse, mas não ela, ficou muda.
— Mas você falou com todas as letras ou só jogou alguma
coisa do tipo: Sou perfeito e você tem que me amar?
— Eu não faço isso — resmungo e Miguel ri, levando a
mamadeira até a boca minúscula da filha.
— Não mesmo? — diz, provocando. — Então, quais suas
palavras?
— Bom, estávamos comemorando a descoberta que fizemos
sobre a ladra de patentes, abracei ela e o Felipe e falei que amava
os dois.
— E ficou por isso?
— Ela pareceu chocada, e quando não disse nada, eu inventei
uma desculpa e saí.
— E por que é que você não perguntou pra ela?
— Porque esse tipo de coisa a gente não pergunta, se a
pessoa sente ela fala, se não sente, não fala. É simples assim.
— E agora você acha que ela não sente nada porque depois
de você despejar a bomba num momento inoportuno ela não reagiu
como queria?
— Basicamente é isso.
— E ainda dizem que eu que sou o difícil nessa família. —
Miguel sacode a cabeça.
Bufo, mas não respondo nada.
— É o seguinte, você tem que pegar sua mulher pela mão,
olhar nos olhos dela e dizer: Eu te amo. Não sair falando que a ama
no meio de uma confusão.
— E se ela disser que não sente o mesmo?
— Então você vai saber e vai poder se afastar.
— Ou vou poder conquistá-la.
— É sempre uma opção, mas sinceramente, algo me diz que
você já fez isso.
— Será? — pergunto, ansioso demais, incomodado demais.
Virei um babão, definitivamente.
— Meu Deus, Gabriel, em que mundo você vive? Preste um
pouco mais de atenção, todo mundo percebe o jeito como ela olha
pra você, como ambos olham um pro outro.
— Tá, certo. Ela sente alguma coisa — me animo, levantando
e começando a fazer minha famosa dancinha da vitória. Eu sei, não
é uma vitória, mas já é meio caminho andado. — Ela sente alguma
coisa.
Miguel tira Isabela do bebê conforto e a coloca no seu peito,
começa a fazer um movimento para lá e para cá bem devagar,
dando batidinhas nas costas da criança.
— O que você tá fazendo?
— Tô colocando a Isa pra arrotar — ele diz, simplesmente.
— Tão pequena e o pai já está ensinando maus modos —
provoco, mas meu irmão não fica bravo.
— Mesmo você sendo muito convencido, é um bom homem, e
é meu irmão, então tem que ser perfeito mesmo, Luciana vai estar
perdendo se não retribuir o que você sente — Miguel diz e me dá
uma cutucada nas costelas.
— Obrigado. Acho que você tá certo, eu sou perfeito e vou
resolver as coisas.
— Você só escuta o que quer.
Assim que chego e passo pela porta, encontro todas as luzes
acessas, cada cômodo, cada quarto, toda a casa parece uma
grande central elétrica, bem iluminada, mas silenciosa demais para
o horário.
Desde a conversa com meu irmão, estou me sentindo bem
mais corajoso. Talvez eu tenha assustado a Luciana quando disse o
que sentia, talvez eu não tenha feito do jeito certo, o fato é que não
vou esperar mais, hoje vou abrir meu coração e se ela puder
retribuir, vamos começar uma nova vida, uma sem prazo de
validade.
Se ela não sentir o mesmo, então que se exploda a maldita
empresa e a briga com meu pai, vou me afastar dela e dar espaço
para que ela possa encontrar alguém que a faça feliz. Não o
Ricardo, isso não vou permitir.
Provavelmente esse alguém vai ser eu, porque acho bem difícil
que eu me afaste demais agora que tenho certeza de que a amo...
tudo bem, vou tentar me controlar.
Entro no quarto e encontro Luciana na cama, Felipe está
deitado, aconchegado aos seus braços e ela está olhando pra ele
com um semblante de preocupação.
— O que houve?
— Ele teve trinta e nove de febre — sussurra para não o
acordar. — Tô morrendo de preocupação, dei banho e a febre
baixou, mas já está esquentando de novo.
E assim que ela termina de falar, Felipe abre os olhos e
suspira, começando um chorinho dolorido que deixa claro que algo
está errado.
Tomado pelo pânico, começo a andar de um lado para o outro,
pegando documentos, chave do carro, a bolsa de Luciana. Me
preparando para sair correndo com eles. Não posso ficar parado,
trinta e nove de febre é muita coisa.
— Vamos pro hospital — digo e ela acena, concordando. —
Não, espera, vou ligar pra minha mãe, ela conhece gente.
— Como assim?
— Espera — digo e não explico mais nada. Saio do quarto e
ligo pra minha mãe, ela me passa o telefone do médico que atende
o Bernardo, meu outro sobrinho e filho do Henrique.
Ligo para o médico sem esperar que Luciana diga alguma
coisa e depois de passar meu endereço, vou explicar tudo pra ela.
No quarto, ela anda de um lado para o outro com Felipe nos
braços, está assustada, posso ver no seu olhar, mas mantém a
calma para não agitar ainda mais o menino.
Começo a ficar nervoso com a demora do médico, zanzando
pela casa com impaciência e começando a entrar em pânico outra
vez, mas quando estou prestes a ligar para ele, a campainha toca.
Corro até a porta e imagino que devo estar com cara de
maluco, porque o homem grisalho sorri quando me vê.
— Até que enfim, doutor — resmungo e abro a porta para ele
entrar.
— O que aconteceu? Você parecia meio desesperado ao
telefone.
— Meu filho, ele... ele teve trinta e nove de febre.
— Tudo bem, vamos vê-lo então.
Depois de uma explicação rápida em que Lu explica os
sintomas, vamos ao quarto e o doutor Soares examina Felipe,
ausculta seu coração e pulmões, olha a garganta, provocando o
mau humor do meu garoto e então segue para os ouvidos.
— Problema descoberto, papai, nada para se desesperar —
ele declara, analisando meu rosto.
— E o que é?
— É o começo de uma inflamação de ouvido. Vou passar uma
receita de remédio pra dor e antibiótico e vai ficar tudo bem. A febre
pode durar por mais quarenta e oito horas, depois disso, se persistir,
vocês irão à minha clínica e faremos novos exames.
— Nossa — solto, pegando Felipe dos braços da mãe que
ainda parece um pouco angustiada. — Quase matou todo mundo de
susto, hein, garotão.
Felipe me abraça, ainda choroso deita a cabeça no meu ombro
e suspira. Luciana observa a cena em um profundo silêncio. O fato
de o médico dizer que vai ficar tudo bem parece não render o efeito
esperado em nenhum de nós dois.
— Vai ficar tudo bem — o médico grisalho repete e nós
acenamos, concordando.
Luciana volta a me olhar de um jeito estranho e isso liga meu
sinal de alerta. Aquele que me faz pensar em um mundo de coisas,
nenhuma delas boa.
Talvez ela não sinta o mesmo e está me olhando assim porque
acaba de perceber que estou muito apegado ao seu filho, e vai ter
que encontrar um jeito de nos afastar.
Meu Deus! Luciana vai me deixar, só pode ser isso.
Depois de pagar o médico e sair pra buscar os medicamentos,
volto pra casa com um aperto no coração, medo é a palavra que
explica esse sentimento estranho que está me perturbando. Medo
por Felipe e medo de perder o que acabo de descobrir que preciso
mais do que tudo.
Eles.
— Você está bem? — Luciana pergunta, depois de dar a
primeira dose do antibiótico para Felipe e anotar os horários na
caixa.
— Não — decido falar a verdade. — Fiquei com medo que
fosse algo mais grave.
Luciana contorna a cama e vem até mim, depois passa os
braços pela minha cintura e me abraça apertado.
— Eu também.
— Como você está? — pergunto, puxando o rosto dela e
beijando seus lábios suavemente.
— Nervosa, ainda.
— Mas você parecia bem calma, até. Quem parecia um louco
era eu, acho que estava prestes a sair correndo com vocês para o
hospital.
— É, você estava mesmo com uma cara estranha — ela sorri.
— Você fica de olho no Felipe? Preciso de um banho.
— Claro, vamos pular na cama — falo, me jogando ao lado
dele e fazendo uma careta. — Mas antes, aonde foi parar o terrível
feijão? Aquele cão sapeca sumiu.
— No chão — Felipe mostra e faz uma cara engraçada.
Luciana sai do quarto e vai para o banheiro, assim que pego o
bicho de pelúcia, aninho Felipe nos meus braços e afundo sobre as
cobertas, tentando deixá-lo o mais confortável possível.
— Então, que tal uma história?
— Uma história do feijão — ele diz e antes que eu possa
reagir, Felipe ergue o rostinho e com uma carinha triste e um pouco
cansada, fala — Papai, meu ouvido dói.
E, então, todo meu mundo vem abaixo. Qualquer muro ao meu
redor ou pensamento de insegurança por causa da nossa situação
desaparece no minuto que o escuto falar.
Acabo de me tornar pai.
Dias depois.

— Meu Deus, Gabriel, você pode, por favor, não colocar a


tolha molhada na maldita poltrona? — Luciana resmunga e eu
arqueio minhas sobrancelhas, sem entender seu estado de espírito
ranzinza.
— O que é que você tem hoje? — retruco, pegando a toalha
com mau humor e jogando de longe no box do banheiro.
Desde que Felipe ficou doente, nos concentramos
exclusivamente em cuidar dele, foram três dias difíceis e não posso
negar que estou morto de saudade de sentir o corpo de Luciana,
mas ela está tão arisca, tão brava por tudo que não sei o que fazer.
Nem quando estava naqueles dias ficou desse jeito.
— Não é nada — diz, rangendo os dentes e deixando claro
que realmente tem algo errado.
— Claro que é alguma coisa, você está aí toda bravinha.
— Tô de TPM.
— TPM porra nenhuma, da última vez, você ficou sensível,
chorou um pouco, mas não quis me espetar com a escova de
cabelo, como parece que vai fazer agora.
— Eu não vou espetar você — ela guarda a escova no
banheiro e volta marchando. — Mas pare de pensar que sabe mais
do que eu sobre a minha TPM.
— Vou comprar um caminhão de chocolate — digo, virando a
tela do meu celular. — Acabei de ler que ajuda nesses casos.
Luciana me olha como se fosse voar no meu pescoço. Seu
rosto, contorcido de raiva, é como um botão de liga e desliga para o
meu lado mais infantil. E como sou um cara corajoso, quanto mais
parece que eu devo calar a minha boca, mais eu a irrito.
— Mas se não for TPM o chocolate só vai servir pra te encher
de celulite — digo e os olhos dela deixam bem claro que acabei de
perder uma ótima oportunidade de ficar quieto.
— Quem você pensa que é pra falar de celulite? — ela me
acusa, batendo com o dedo no meu peito e me fazendo rir. Ela está
mesmo brava, mas isso só serve para me deixar ainda mais acesso.
Pego as mãos de Luciana e a puxo pra mim.
— Que tal gastar essa raiva com outra coisa? — provoco,
mordendo a lateral do maxilar dela de leve e afundando meu nariz
no seu pescoço.
Luciana geme e sei que acabo de descobrir o motivo pelo qual
minha garota está muito rabugenta. TPM coisa nenhuma, o nome
disso é falta de Gabriel entre suas pernas.
Puxo Luciana para a cama e a deito de costas. Vamos resolver
o problema.
— Vou ver se o Felipe já pegou no sono, quando eu voltar é
bom que você esteja completamente nua.
Saio correndo, sentindo meu pau latejar com vontade de me
enterrar nela.
Entro no quarto de Felipe e o vejo dormindo abraçado ao
feijão, seu cão de pelúcia e novo melhor amigo. Fico algum tempo
observando a criança que passou os últimos três dias me chamando
de pai e que se enraizou no meu coração com força total.
Nunca mais vou conseguir perder essa criança de vista. Nunca
mais vou conseguir perder a mãe dele de vista também.
Volto para o quarto anunciando que o nosso pequeno protótipo
de veterinário está dormindo pesado, mas a cena que eu vejo me
faz sentir todo meu mundo girar. É sexy, ardente e me diz que
praticamente joguei na loteria e acertei sozinho o prêmio principal.
Me casei com a mulher certa. Safada. Gostosa. Minha.
Luciana está completamente nua, encostada na cabeceira da
cama, os joelhos dobrados e as pernas afastadas. Uma das suas
mãos está em um seio e a outra brinca com o vibrador que faz um
barulhinho bem suave. Ela o leva para cima e para baixo na boceta,
suspirando e me olhando de um jeito maroto.
Começo a arrancar minhas roupas como o tarado que sou e
ela sorri.
— É bom que você me faça ver estrelas — diz, rabugenta de
um jeito sexy.
— Linda, eu vou te fazer ver o céu todo — falo e pulo na cama,
vou direto para o meu parque de diversões favorito.
Assumo o vibrador e Luciana geme quando o coloco no seu
ponto sensível, lambendo ao redor e embaixo. Sua fenda quente e
úmida recebe meu dedo e minha língua e eu começo a excitá-la.
— Gabriel — Luciana geme meu nome e eu chupo a pele
sensível, colocando outro dedo e vendo-a erguer os quadris.
— Porra, linda, eu adoro esse gosto, adoro ver você assim —
digo e ela começa a apertar meus dedos com sua boceta. — Goza,
linda, goza pra mim.
Luciana geme alto quando goza e ainda tomada pelo prazer,
ela me faz virar com as costas para a cama, montando em mim sem
aviso prévio.
— Prometo chupar você depois, agora me come com força
porque estou com saudade — diz e eu aperto sua bunda e me
impulsiono para dentro do jeito que sei que ela gosta.
Luciana rebola em cima de mim e a visão dos seus peitos é o
suficiente para desprender meu orgasmo.
— Não vou conseguir esperar, linda, meu pau tá com muita
saudade de você também — digo e ela sorri, levando as mãos até a
cabeceira e aumentando o ritmo dos seus movimentos.
— Eu... vou... Gabriel — ela geme, estremecendo e apertando
meu pau. Não aguento e me entrego ao ponto alto do meu prazer,
sentindo que cada pedaço de mim esperou pelos últimos dias para
chegar a esse momento.
— Porra, isso foi bom — digo e Luciana sorri.
— Foi, mas ainda quero mais — ela faz bico e eu chupo sua
boca, deixando-a sentir seu gosto em mim. Isso parece inflamar
ainda mais as coisas, pois seus olhos ficam um pouco escuros e
dilatados. E é muito bom saber que sou capaz de mexer tanto com
ela.
Luciana desce de cima de mim e vai bem devagar
escorregando, esfregando os seios no meu abdômen de um jeito
erótico que começa a me deixar excitado de novo. Ela brinca com a
cabeça do meu pau, passando-o entre os seus seios e fazendo um
leve vai e vem.
Os olhos da minha garota safada correm até os meus e só de
vê-la passando a língua na cabeça do meu pau, sinto a ereção vir
com tudo. Ela o mergulha na boca com gosto, me fazendo sentir
uma onda de prazer por todo o corpo.
— Agora você vai gozar na minha boca — fala e volta a engolir
meu pau.
— Porra, desse jeito eu não aguento.
Luciana lambe toda a extensão do meu pau, deixando-o bem
molhado, depois suga a cabeça e leva uma das mãos para ajudar
no movimento.
— Se toda vez que nós brigarmos você me chupar assim, vou
sempre esquecer a toalha na poltrona — digo e ela sorri,
mergulhando-o na boca e começando um sobe desce que me leva a
loucura.
Não demoro muito para gozar de novo e a minha garota sorri,
engolindo toda a minha porra de um jeito sensual que é melhor do
que qualquer coisa que eu já vi ou fiz.
E então eu me dou conta de que esse é de longe o melhor
boquete que já recebi, porque foi feito justamente pela mulher que
eu amo.

Mais alguns dias depois.


— Você pode não mexer nos meus papeis? — resmungo e
Luciana ergue uma sobrancelha atrevida. Ela está praticamente
subindo em cima da minha mesa do escritório de casa, procurando
alguma coisa que não faço nem ideia do que é.
Tínhamos combinado de sair para jantar, foi a última dose de
antibiótico do Felipe e ele está totalmente curado, brincando como
sempre e mais falante do que nunca, só que desde o momento que
ela o ouviu me chamando de pai que ficou assim, fora dos eixos,
desistiu de jantar fora com uma desculpa esfarrapada e começou a
zanzar pela casa. Agora isso, fica revirando tudo na mesa.
— O que é que você quer? — reclamo, olhando a bagunça que
ela fez e me sentindo implicante. — Meu projeto não vai se
organizar sozinho.
— Desculpe, não acho meu celular.
— Na sua bolsa — respondo e aponto para a cadeira onde ela
deixou a bolsa.
Luciana corre até ela e a revira, tira o celular de dentro e
comemora com a mão para o alto.
— Tudo isso por um celular?
— Preciso falar com a minha mãe.
— Certo, quem sabe ela te ensina como guardar melhor o
celular da próxima vez — retruco, quase raivoso.
— Mas estava guardado na minha bolsa.
— É, mas você sabia disso por acaso?
— Meu Deus, o que deu em você? Tá de TPM por acaso?
Quer chocolate?
Debochada, minha vontade é de colocá-la sobre a mesa e
encher sua bunda gostosa de palmadas, mas estou decidido a
controlar minha tara até que ela resolva dizer o que sente, ou pelo
menos não fique estranha toda vez que me vê sendo o pai do seu
filho. Porque eu não vou abrir mão disso de jeito nenhum.
— Então, vai dizer o que tá rolando?
— Não é nada — resmungo, mas por dentro meu coração
berra para que eu fale exatamente o contrário. Pra que eu exploda e
jogue na sua cara tudo que está me corroendo. Toda a espera e
expectativa. Todo o meu amor.
Baixo minha cabeça e suspiro, quando ergo os olhos percebo
que Luciana está desabotoando a camisa. Ela ergue os olhos e
pisca os cílios devagar, seus lábios vermelhos se abrem de leve e,
no fundo, sei que estou perdido. Sou dela, não importa o tempo que
ela leve pra se dar conta, mas sou inteiramente dela.
Luciana deixa a camisa cair, seus olhos vêm direto para os
meus e ela morde o lábio inferior. Então tira o sutiã e o joga no chão,
em seguida ela desce a calça jeans e a calcinha.
Nua, é a visão mais incrível que já tive, linda, sexy e, espero
eu que, minha.
— Ainda está bravo? — pergunta, vindo até mim.
Não digo nada, mas viro a cadeira de rodinhas na sua direção
quando ela se aproxima, deixando-a no comando. Ao invés de se
aproximar, Luciana me empurra para trás com o pé de salto alto e
bato na parede atrás de mim. Ela senta em cima da minha mesa,
bagunçando todos os pais.
— Ops, acho que fiz uma bagunça — diz e abre as pernas,
levando um dedo ao clitóris.
Não me mexo e Luciana me lança um olhar ardente que faz
meu corpo todo implorar para que eu assuma o controle e a coma
do jeito que preciso. Então, sem aviso outra vez, minha garota fica
de joelhos na mesa e empina a bunda, de quatro.
—Eu sou sua se quiser — diz e eu levanto como um animal,
arrancando minhas roupas. — Eu sou toda sua.
— Você é minha. — Solto um grunhido que mais parece um
rugido, entrando nela como uma fera faminta.
Luciana pode não saber disso, mas ela realmente é minha. Só
minha.
Estico meus pés por baixo da minha mesa e deixo os sapatos
caírem, sentindo o prazer de ter meus dedos livres do bico fino do
scarpin. Estalo os músculos do meu pescoço e respiro fundo. Tudo
bem, as coisas estão loucas, mas vou sobreviver.
Gabriel tem andado meio estranho e tenho ficado realmente
apreensiva com a possibilidade de ele estar sentindo o peso de
estar em um casamento falso, afinal de contas, as coisas com a
patente têm andado bem.
O advogado da família Dupont ajuizou uma ação e fez uma
denúncia contra a Cíntia, a suposta engenheira que na verdade se
chama Deborah alguma coisa, e é uma golpista de carteirinha.
Então agora se ele quiser já pode me deixar, seu pai não vai
ter muito o que discutir por causa da nossa separação, até porque
com o argumento da patente recuperada, Gabriel pode acabar o
convencendo.
De qualquer maneira, essa coisa de brigar primeiro e em
seguida fazer sexo selvagem de boa qualidade está me deixando
maluca. Não quero transar só porque um de nós não está lidando
bem com a situação. Acho que dormir nos braços do Gabriel se
tornou um hábito que ainda não me sinto pronta pra abrir mão.
Mas e se ele estiver?
Será que Gabriel está com medo de me contar que chegou o
fim do que temos?
Desde que ele disse que amava a mim e ao Felipe, no meio
daquele rompante de felicidade que tivemos, que tenho me sentido
estranha. Ele nunca mais tocou no assunto, o que me mostra que foi
algo do momento e, pra piorar, tem se distanciado mais e mais.
E só de pensar que ele pode estar se sentindo sobrecarregado
por minha causa, ou procurando um jeito de me dizer que quer
terminar, já fico rabugenta de um jeito que nem mesmo eu consigo
suportar.
Tudo bem, é melhor arrancar o curativo, se é isso que ele quer,
vamos acabar logo com esse casamento falso. Quanto antes eu
souber a verdade, antes volto pra minha vida e curo as feridas que
provavelmente vão se abrir.
Pelo menos eu aprendi que sou capaz de amar, não é mesmo?
Peço para Nina desmarcar o resto do meu dia e enfio meus
pés no sapato outra vez, começando a colocar minhas coisas dentro
da bolsa e me preparando para ir até Gabriel e resolver, de uma vez
por todas, nossa situação, antes que eu enlouqueça ou que acaba
desenvolvendo uma gastrite de tanta ansiedade.
Assim que levanto da minha cadeira e pego minha bolsa,
minha porta se abre num baque que me faz pular de susto.
Nina vem falando sem parar e levo algum tempo para me
recuperar e entender o que está acontecendo.
— Desculpa dona Luciana, ele foi entrando como louco.
— Tudo bem — falo para Nina e encaro Ricardo com muita
vontade de mandar o filho da mãe para o inferno. — Se eu precisar
chamarei os seguranças.
— Quer que eu fique aqui com a senhora? — Nina o fuzila com
os olhos.
— Não, eu vou ficar bem.
Minha secretária sai, mas deixa a porta bem aberta. Ricardo
faz menção de fechá-la, mas para quando vê minha expressão de:
Nem ouse mexer na minha porta!
— Lu...
— Não importa o que você quer, diga de uma vez e vá embora,
tenho que ir almoçar com meu marido — minto, sem a menor
vergonha, tudo o que menos quero é lidar com esse traidor. Minha
cabeça está em outro lugar, em outro homem pra ser mais exata.
— Por favor, escuta. Eu sei que eu cometi um erro muito sério.
Te magoei e tô arrependido.
— E o que eu tenho com isso?
— A gente ainda pode dar certo, Lu.
— Claro, esse corte no seu lábio é a prova disso — provoco,
cruzando os braços sobre o peito, sem arredar o pé do lugar.
— Ele te contou? Aquele cara é um louco, invadiu meu
escritório e me atacou.
— Você o provocou quando me mandou flores e quando teve a
cara de pau de dizer que eu não o amo.
Ricardo passa a mão pelos cabelos e respira fundo.
— Algo me diz que depois da visita do meu marido sua
namoradinha não quis mais saber e agora você tá aqui, correndo
atrás do osso velho, como um cachorro.
— Não, eu terminei — ele diz, mas seu tom não me transmite
qualquer confiança. — Eu errei feio, nunca deveria ter deixado
aquilo acontecer, mas eu te amo, Lu, quero casar com você, ter uma
família.
— Tarde demais, já estou casada. — Mostro minhas alianças,
remoendo o pensamento de que não faço ideia de até quando elas
estarão no meu dedo.
— Mas você não ama ele, não tem como.
— O que te faz pensar que sabe alguma coisa sobre os meus
sentimentos? —Aaperto as sobrancelhas, realmente irritada. —
Quem eu amo ou deixo de amar não é mesmo da sua conta.
— Porque eu te conheço, você é séria, nunca se envolveria
com alguém como ele.
— E esse foi o meu engano pra começar, me envolvi com
alguém como você e me dei mal — retruco.
— Não, nós somos perfeitos, e você sabe que me ama.
— Perfeição é um conceito bem distante do que tínhamos.
Você me fazia sentir pequena e controlava a minha vida, e ainda me
traía.
— Desculpe, você pode me perdoar? Eu juro que eu mudei,
nunca mais vou errar de novo.
— Eu não dou a mínima se você mudou — respondo, cansada
do assunto.
— Não, Lu, não diz isso, eu sei que você me ama e só se
casou com ele pra me punir, pra fazer ciúme, mas podemos resolver
isso, podemos nos entender.
— Ai, sinceramente, eu não sei de onde você tirou tanta
bobagem. Eu me casei com o Gabriel porque ele é o homem mais
lindo, sexy e gentil que eu conheço. E é o mais gostoso também. E
o que eu sinto por ele não te diz respeito. Agora se puder me dar
licença, tenho mais o que fazer.
— Você não pode... ele não vai te fazer feliz.
Solto uma gargalhada irritada.
— E o que você saberia sobre isso?! Nunca se deu ao trabalho
sequer de tentar.
— Mas eu posso mudar, eu mudei.
— Olha, presta bem atenção que a minha paciência é curta e
não gosto de ficar me repetindo. Vai embora, você tá passando
vergonha. Eu sou casada e não tem a menor chance de eu voltar
com você, nem mesmo se um raio cair na minha cabeça.
— Você sabe que me ama.
Ricardo dá um passo para dentro do meu espaço pessoal e
segura meus braços, levando a boca até a minha mais rápido do
que consigo desviar.
Então faço a única coisa que consigo pensar, ergo meu joelho
e o acerto bem no meio das pernas, pegando em cheio suas bolas.
— Seu escroto! — digo, empurrando-o. — Se eu não sentisse
nada pelo Gabriel, ainda assim não ficaria com um cara que nem
sabe fazer uma mulher gozar.
Nisso, olho para o lado e vejo Gabriel me encarando. Ele é
rápido e com dois passos está dentro da minha sala, avançando
contra Ricardo e o jogando contra a parede, perto de uma pequena
estante de livros que balança com a pancada.
Ricardo bate com as costas, mas não cai.
— Pelo jeito você não entendeu quando eu disse pra esquecer
a minha esposa — Gabriel esbraveja, totalmente tomado pela fúria.
Por um momento congelo no lugar, me defender eu sei, mas
lidar com uma versão enfurecida do meu marido é algo novo que
demoro algum tempo para digerir.
— Você não sabe de nada. — Ricardo o empurra e arruma a
camisa. — Você não vai aguentar, Luciana é fria como pedra de
gelo.
Assim que Ricardo termina de falar, Gabriel fecha a mão e o
acerta com um soco bem no meio da cara, forte. Em seguida ele
parte pra cima do meu ex, esmurrando-o outra vez.
— Nunca mais fale com a minha mulher e nem chegue perto
dela. Ouviu?
— Calma — digo, passando a mão no braço de Gabriel e o
afastando de Ricardo, que limpa o filete de sangue que corre do seu
nariz com a manga da camisa branca. Era uma vez uma camisa
branca.
— Vai embora Ricardo, ou vou chamar os seguranças — digo
e ele me dá um último olhar desesperado. — E não volte mais.
— Lu... — Tenta levar a mão, mas a fúria só há pouco contida
de Gabriel o faz parar.
— Vai — digo e ele sai, furioso.
— Meu Deus! — Nina solta, ao entrar no escritório e ver meu
marido zanzando como uma fera e a bagunça pelo lugar. — Vou
chamar o pessoal da limpeza.
— Ótimo, aproveite e embale um bolo grande pra levarmos,
vamos precisar.
— Tudo bem — ela diz e sai, se colocando em movimento
imediatamente.
— Bolo? — Gabriel ergue as sobrancelhas na minha direção.
— Quer dizer que teremos uma conversa séria?
— Sim, muito séria.
— Merda!
Luciana não me deixou dirigir pra casa, porque minha mão
estava um pouco vermelha, e como ela estava com aquele olhar
que geralmente me faz pensar duas vezes antes de abrir a boca,
viemos num silêncio quase mortal.
Minha cabeça ainda está girando, ouvir aquele imbecil falando
que Luciana ainda o amava me tirou do sério, mas vê-lo tentando
beijá-la foi o que realmente me deixou transtornado, louco, para
dizer o mínimo.
Pra piorar não a ouvi dizer que não sentia nada por ele,
apenas que não ficaria mais com o imbecil mesmo que não sentisse
nada por mim e isso mexeu pra valer com meus ânimos que já não
estavam muito bons.
Remoendo, entro em casa praticamente batendo os pés.
Felipe está na casa da avó com a babá e não tê-lo vindo me abraçar
como faz sempre que chego me deixa ainda mais irritado. Se ela
pensa que vou ouvi-la dizendo que ama aquele cretino ou que não
sente nada por mim, está perfeitamente enganada.
Não vou perdê-la e não vou perder o Felipe. Eles são minha
família e nem aquele idiota nem ninguém vai tirar isso de mim, nem
que eu passe o resto da vida convencendo Luciana a me amar.
— Aonde você está indo? — pergunta, ela acaba de largar o
bolo na ilha e me intercepta no caminho para o quarto.
— Tomar um banho pra esfriar a cabeça — digo, rangendo os
dentes.
— Você pode esperar um momento? Nós temos que
conversar.
— Não, não quero ouvir que você ama aquele idiota, além do
mais, você me prometeu um ano, então também não vou ouvir que
você vai me deixar.
Luciana me lança um olhar irritado e indica com a cabeça que
devo sentar na banqueta perto da ilha que separa a cozinha da sala.
Suspirando, ela pega minha mão e me puxa.
— Você parecia um lutador de MMA — diz, rindo. — Senta aí,
que não estou a fim de socar as bolas de mais ninguém.
— Humf! — Bufo e ela me ignora e vai pra cozinha pegar gelo.
Lu volta com um saco de gelo enrolado em um pano, puxa a
banqueta à minha frente e senta, depois pega minha mão e coloca o
gelo sobre ela.
— Você pode olhar pra mim, por favor? — fala e eu ergo meus
olhos, contendo o ímpeto de fugir para algum lugar bem longe.
Falei que a amava, não, falei que amava os dois, mas ao
contrário de Felipe, Luciana ficou totalmente muda, sem qualquer
reação e isso acabou comigo. Por dias, mal consegui lidar comigo
mesmo e acabamos brigando várias vezes. É claro que na
sequência já resolvíamos as coisas com sexo gostoso, mas a
lembrança disso consegue me fazer sentir melhor agora.
Eu sei, tenho um temperamento ruim, mas sentir que entreguei
tudo que tenho a uma mulher que não consegue retribuir acabou
com os meus nervos. E agora, essa espera está testando minha
sanidade outra vez.
Juro que se ela disser o que estou pensando, vou arrumar
minhas coisas e voar para o outro lado do planeta.
— Às vezes você parece um príncipe encantado, outras vezes
para um ogro que não faz nada além de rosnar e grunhir — diz e há
algo nos seus olhos que me envolvem.
Não, eu não vou fugir, não importa o que ela diga, é aqui o
lugar em que quero estar, ela é o meu lugar no mundo.
— Desculpe, mas ele pediu por isso.
— Eu sei — responde e leva uma das mãos ao meu rosto,
roçando de leve os dedos na minha barba por fazer. — Obrigada por
me defender.
— Não me agradeça, fiz isso por mim — retruco e suspiro. —
Não aceito babacas mexendo com quem me importo.
Luciana levanta e se afasta de mim, deixando um rombo no
meu estômago, uma sensação de desalento. Droga, virei um bobão
mesmo e sinto que estou prestes a ter minha vida virada num giro
de 360 graus.
Então, ela volta, pega meu rosto com as duas mãos e leva
meus olhos aos seus.
— Eu sei que talvez não seja isso que você quer ouvir, mas eu
te amo. Achei que não conseguia, que era quebrada, mas você
mudou isso. Então, se quiser fugir, a hora é agora, porque não vou
amar você menos depois de hoje.
— Você me ama? — pergunto, perplexo.
— Amo. Pra valer, com cada pedacinho do meu corpo.
— Graças a Deus! — Levanto, passando meus braços ao
redor dela. — Por um momento pensei que você fosse me deixar.
Depois que falei que amava vocês tudo ficou uma bagunça...
— Eu sei, desculpe, eu queria dizer, mas fiquei surpresa
demais e com medo que não fosse esse tipo de amor.
— Mas é exatamente esse tipo de amor, nanica. Eu te amo.
— Eu também te amo, então, pode me perdoar por ter
demorado tanto a dizer?
— Tudo bem, está perdoada, isso se você fizer exatamente o
que eu mandar.
— Claro, porque o fato de eu amar você não é suficiente.
— Exatamente por isso vou te levar pro nosso quarto e me
enterrar bem gostoso no meio das suas pernas, quero lamber cada
pedaço seu, até que goze repetindo que me ama. E vou fazer isso
até que eu canse de ouvir que você me ama.
— Tudo bem, estou disposta a ceder e obedecer você nesse
caso.
— Ótimo, mas saiba que não vou cansar nunca de ouvir você
dizendo que me ama, eu mereço isso, você me fez passar um
inferno achando que ia me deixar e voltar praquele paspalho.
Luciana ri e me beija de um jeito terno.
— Não existe mais ninguém com quem eu queira estar além
de você e o Felipe. Vocês são os homens da minha vida.
— Guarde isso pra dizer daqui a pouco, quando meu pau te
fizer gemer alto.
— Combinado — ela fala e eu a pego nos braços e a jogo por
cima dos ombros. Luciana ri e eu sei que vou gostar muito do que
vem a seguir.
Sexo selvagem de boa qualidade.
Olho no relógio pela terceira vez e suspiro. Estamos atrasados
e dessa vez a culpa não é minha. Luciana está zanzando no quarto,
reclamando de não estar se sentindo bem com o vestido que
comprou pra irmos à festa que meu pai está dando para o seu
aniversário.
Apesar de ser uma data importante que geralmente
comemoraríamos com a família apenas, esse ano meu pai decidiu
que ia dar uma festa em casa, e que ainda convidaria amigos e
investidores importantes.
Pra ele, essa é uma ótima oportunidade de encaminharmos
meu projeto para uma execução de sucesso. Investidores da saúde
podem ser complicados, mas o velho Raul Dupont é sempre muito
bom em lidar com todos eles.
— Eu não vou — Luciana cruza os braços, olhando para o
espelho com raiva. — Nunca mais vou sair de casa.
— O quê? Por quê?
— Olha a minha bunda, parece uma lua cheia, não posso sair
assim — resmunga.
Caminho até minha garota, nunca a vi tão nervosa e nem tão
linda, seus cabelos louros caem de um coque sexy e despenteado e
ela contornou os olhos e passou uma sombra com um brilho suave.
Sem contar que o vestido é preto. Essa é, definitivamente, a sua cor.
O vestido cai com perfeição, abraçando-a nos quadris e seios
e ligando imediatamente o meu corpo.
— Se não acredita em mim, acredite nele quando digo que tá
linda e gostosa — pego a mão dela e levo ao meu pau, duro dentro
da roupa.
Luciana sorri, mordendo o lábio.
— Tá bom, nele eu acredito — diz e eu bufo.
— Quer saber, essa noite vai ser ótima, linda, você perfeita, eu
perfeito, família perfeita.
— Tudo bem, vamos nessa, Senhor Perfeição.
Com o relógio que comprei de presente para o meu pai no
bolso e minha esposa enganchada no braço, vou para a festa de
aniversário que promete ser um ponto de virada na confusão com o
projeto. Se eu puder falar com um ou dois investidores já vou ficar
muito satisfeito.
E se não rolar, posso pelo menos aproveitar a noite para
dançar com a minha mulher. De qualquer maneira, eu ganho.
Nos despedimos de Felipe que já está apagado no berço,
Luciana passa as recomendações que a babá já está cansada de
saber e finalmente saímos de casa.
Apesar de a casa dos meus pais serem há poucas quadras da
nossa, em Jurerê Internacional, vamos de carro porque Luciana está
de saltos e não tem a menor chance de ficar desfilando a bunda
deliciosa pelas ruas do bairro. Os turistas que me perdoem, mas
essa visão do paraíso é só minha.
É exatamente isso, a única pessoa que vai apreciar o
espetáculo sou eu.
Eu e uma festa cheia de gente. Merda.
Assim que cruzo a porta que dá para o jardim da casa dos
meus pais, depois de abraçar apertado meu velho, entregar seu
presente e beijar minha mãe, descubro que praticamente toda
Florianópolis está aqui. A parte que cuida de investimentos pelo
menos.
Além de Miguel e Henrique com suas esposas, Joaquim,
desfila com uma garota bonita que acho que já vi antes. Enfim,
deixo pra lá e vou cumprimentar meus irmãos e cunhadas.
Pessoas elegantes se espalham por todo o jardim, bebendo,
rindo, comendo. Meus pais não pouparam gastos para essa festa, o
que é bem incomum já que eles sempre preferiram reuniões
familiares bem mais discretas.
Conforme caminho pelo jardim, vou reconhecendo os rostos
que me cumprimentam com acenos educados, não me passa
despercebido que tem uma ou outra conhecida, mas ao verem
Luciana de mãos dadas comigo, nenhuma delas tenta se aproximar.
Ainda bem, ou minha nanica vai me encher de porrada. Ela jura que
não, mas não consegue evitar de fazer uma carranca cada vez que
percebe um olhar feminino na minha direção.
Se ela não tivesse me dito que me amava há algumas
semanas, talvez eu acabasse descobrindo esta noite, ela parece um
daqueles cães de briga, bufando, pronta pra atacar.
— Você é de longe a mulher mais gostosa dessa festa — digo
e o aperto na minha mão afrouxa um pouco.
— Você também, é de longe o mais perfeito — devolve, com
um sorriso maroto.
— Eu sei — retruco e ela ri.
Tudo corre com a maior tranquilidade, na maior parte do tempo
e eu mal posso esperar para puxar Luciana para algum canto. Ela
está tão linda com o decote em v que mostra a curva dos seios que
amo chupar.
Se alguém me dissesse há poucos meses que eu encontraria
o amor com aquela nanica invocada que nunca se rendeu às
minhas provocações, sinceramente, eu teria rido. Mas hoje não
posso dizer que me arrependo.
Nunca fui do tipo que se compromete com mais do que alguns
encontros de sexo, ou que faz planos para o futuro, quem dirá me
preocupar com a felicidade de alguém mais do que a minha própria.
E eis que aqui estou eu, olhando para a minha mulher que sorri com
a irmã e a cunhada, enquanto fala sobre alguma coisa que parece
divertir as três, consciente de que sou o cara mais sortudo da face
da terra e louco para levá-la pra casa pra poder arrancar seu
vestido.
Nunca pensei que pudesse ser tão feliz. Luciana é o amor da
minha vida e eu vou passar o resto dos meus dias fazendo ela sorrir
e gozar, claro.
— Olhando assim parece que você vai atacar sua esposa na
frente de todo mundo — Joaquim diz ao parar do meu lado com a
cara de boa pinta que tem.
— Tá tão óbvio assim? — pergunto, sem jeito.
— Que você está apaixonado? Ah, sim, ninguém mais tem
qualquer dúvida disso.
— Quem tinha dúvida?
— Todo mundo. Mas a culpa é sua, vai viajar e volta casado
com a irmã da Cici, do nada, sem qualquer explicação.
Bufo e meu irmão dá um tapa leve no meu ombro.
— Tudo bem, cara, te amamos mesmo sendo maluco.
— Falou o fofoqueiro da família — retruco e ele se emburra. —
E aquela garota com você, é sério?
— Longa história, te conto outro dia.
— Tudo bem, tenho mesmo mais o que fazer — falo, e vou
buscar Luciana para uma dança.
Pouco me importo que o aniversário do meu pai está cheio de
gente importante com quem eu deveria estar conversando, tudo que
eu quero é beijar aquela boca respondona.
— Senhoras — digo. — Posso roubar minha esposa gostosa
pra uma dança?
— Ela é toda sua — Cici solta, piscando. — Só não a
machuque ou vou quebrar sua cara.
— Ou jogar bolo na minha cara — completo e ela acena, feliz
da vida.
— Ainda não acredito que você jogou bolo no Miguel —
Marisol fala, rindo. — Acho que só assim mesmo pra colocar esses
Dupont nos eixos.
— Isso ou derrubá-los nas escadas de um navio — Luciana
diz, pegando minha mão e dando tchauzinhos para as parceiras de
crime.
— Derrubar na escada? — pergunto, puxando-a para colá-la
ao meu corpo.
— Marisol caiu e levou o Henrique junto, e sabendo como
aqueles dois são, aposto que foi aí que, além de cair da escada, ele
caiu de amores por ela — minha esposa responde, terminando o
assunto e deitando a cabeça no meu peito.
Começamos a dançar no meio da música.
— Tô feliz — digo e ela me olha através dos cílios bem
pintados. — Nunca pensei que ia dizer isso, mas tô feliz pra caralho.
— E eu tenho alguma parte em toda essa felicidade?
— Você e o Felipe.
— Boa resposta, vai render muita diversão mais tarde.
— Bom saber, vou criar um caderninho com respostas
aprovadas, só pra me aproveitar do resultado depois.
Ela sorri e volta a deitar a cabeça no meu peito, me deixando
guiá-la pela pista de dança montada no jardim. A música é um
pouco mais ritmada do que nossos passos, mas nenhum de nós se
importa.
Ficamos assim por algum tempo, até que sinto uma mão no
meu ombro. Ergo meu rosto e vejo meu pai parado ao nosso lado.
— O que acha de deixar esse velho cansado dançar com a
linda nora enquanto você conversa com alguns investidores? —
meu pai diz e Luciana passa os braços para os ombros dele.
— É bom que o senhor dance bem, ou vou reclamar pra minha
sogra — Luciana diz, e o velho ri.
— Meu Deus, você e sua irmã são impossíveis.
— Espere só pra ver quando a Isa crescer.
Deixo os dois conversando e rindo enquanto começam a
dançar e vou até um grupinho de executivos que são conhecidos
por investimentos de risco moderado. Eles conversam animados
sobre a abertura de capital de uma empresa que um deles resgatou
da falência, eles se animam quando me junto a eles.
Ficamos conversando sobre coisas aleatórias, não trato de
nenhum assunto específico porque não estou desesperado para ter
a atenção de nenhum deles. Conquistar suas carteiras é um jogo
que diz muito mais respeito a minha performance do que de fato a
do meu projeto. Pelo menos no início.
Depois que se soltarem e perceberem que sou um empresário
de sucesso, começamos uma nova dança, aquela em que eu deixo
claro que meu projeto é revolucionário, mas que não estou
buscando parceiros e eles decidem que querem entrar em um
negócio comigo e tentam me convencer disso.
Eu sei, sou um gênio.
Até porque se nada der certo e eu precisar muito, sempre
posso pedir dinheiro emprestado ao meu pai ou tirar da minha conta
bancária, porque, sinceramente, fazer negócios com meu velho
ficou muito perigoso. Vai que ele decide voltar da aposentadoria.
Melhor evitar.
Ficamos ali conversando sobre as últimas do mercado de
tecnologias até que vejo um corpo violão vindo na minha direção.
Valéria é uma morena de quase 1,80 de altura em um vestido
branco com brilhos e uma maquiagem discreta com quem tive uma
sequência de três encontros com um sexo que eu consideraria nota
oito em outras épocas, antes de elevar as coisas com Luciana, hoje
eu daria, estourando de bondade, um sete.
Ela é linda, não vou mentir, mas vê-la, felina vindo até mim,
não me faz sentir absolutamente nada. Nenhum tipo de emoção ou
atração. Meu pau continua dormindo dentro da cueca.
— Gabriel Dupont — ela diz e me puxa para um beijo no rosto.
— Vejam só se não é a poderosa Valéria Mathias — digo e ela
sorri, satisfeita.
Valéria é uma empresária importante na cidade, é conhecida
por ter apostado em grandes negócios quando eram pequenos e
transformado cada um deles em sucesso. Não posso negar que ela
é boa tanto em gerenciar investimentos quanto em negociar, mas
como pessoa não passa de uma mulher egocêntrica e entediante.
Não que eu vá dizer isso pra ela.
— Seu pai me disse que você tem um projeto que vai agitar as
coisas — ela vai direto ao assunto.
— É uma nova tecnologia — respondo sem abrir muito sobre o
assunto.
— Eu gostaria de ver alguns números, projeções, talvez esteja
interessada em entrar para o ramo hospitalar.
— Tudo bem, podemos marcar uma reunião durante a semana
— digo, porque sei que se ela quiser entrar no projeto não vou
negar, ela é boa no que faz e tem bastante dinheiro.
Não que eu precise de dinheiro, mas a ideia de ter investidores
é para não arcar com tudo sozinho caso as coisas não saiam como
esperado.
— Por que não vamos ao escritório do seu pai e você me
mostra agora? — pergunta, num tom suave e discreto.
— Porque estamos no meio do aniversário do meu pai.
— Tudo bem, pensei que você iria querer alguém como eu no
seu empreendimento, mas compreendo totalmente.
Vencido, sorrio daquele jeito amarelo que fazemos quando
estamos contrariados.
— Tenho algumas informações comigo, mas não vou mostrar o
projeto por enquanto, tudo bem? Quero fazer um protótipo antes.
— Ótimo.
Guio Valéria até o escritório do meu pai, deixando a festa
animada para trás e rangendo os dentes. É claro que ela poderia
esperar até segunda-feira pra agendarmos uma reunião, mas como
gosta de sentir que está no comando das negociações, decidiu que
quer ver hoje.
Indico a cadeira para ela se sentar, enquanto ligo o
computador do meu pai, procurando o pendrive no bolso do terno e
assumindo o lugar dele na mesa.
Ao invés de puxar a cadeira como pedi, Valéria contorna a
mesa e vem até mim, suas mãos vão direto aos meus ombros e ela
começa uma massagem estranha.
— O que você está fazendo? — pergunto, levantando e
ficando de frente pra ela.
— Nada. — Ela morde o lábio e eu me arrependo
imediatamente de ter caído na armadilha.
— Você não está interessada no meu projeto — concluo,
irritado.
— Não, ela se aproxima mais, mas estou em você. Sempre
achei que somos perfeitos juntos.
— Achou errado e eu sou casado.
— Tudo bem, não sou ciumenta — diz, colocando as duas
mãos espalmadas no meu peito.
— Mas a minha esposa é — retruco, irritado pra valer. Quem
ela pensa que é pra me fazer de idiota assim? Seguro seus pulsos e
me preparo para afastá-la quando escuto os passos.
Viro o rosto e dou de cara com Luciana.
— Mas que porra é essa? — ela solta e sei que está furiosa.
— Um encontro de amigos, e você, quem é?
— Eu sou a esposa dele e esse encontro acabou — Luciana
vem até nós, seu rosto contorcido de raiva. — É melhor você ir
agora.
— E se eu não quiser? — Valéria provoca e eu me afasto dela
e vou na direção de Luciana, que não me deixa tocá-la. Merda, eu tô
muito ferrado. — Ninguém expulsa uma mulher como eu.
— Sempre tem uma primeira vez.
— Nossa, Gabriel, você escolheu uma mulher bem baixa pra
se casar, mas tudo bem, estou indo embora, caso mude de ideia,
você tem meu telefone. — Valéria desfila com o salto.
— Então eu sou uma mulher baixa? Você vai ver só, sua
piranha! — Luciana se prepara para atacar a empresária, mas eu a
seguro e peço que se acalme.
Valéria percebe o perigo e vai embora sem dizer mais nada,
nem sequer olha pra nós.
Assim que ela some das nossas vistas, Luciana olha pra mim e
o que vejo parte meu coração.
— Confiei em você — diz e vai embora.
Que porra aconteceu aqui?
Saio do escritório como um furacão. Nunca pensei que Gabriel
pudesse fazer uma coisa dessas comigo, não depois de dizer que
me ama, que Felipe e eu o fazemos feliz. Meu coração martela
desesperado dentro do peito e eu só quero sumir.
Cruzo pela sala e busco a porta, sentindo as lágrimas correrem
quentes pelas minhas bochechas e embaçar minha visa.
— Lu, você tá bem? — Minha irmã me segue para fora da
casa, Marisol vem logo atrás de nós.
— Preciso ir embora.
— Não desse jeito, o que houve?
— O que houve foi que eu entreguei meu coração pra outro
maldito traidor. — Engulo o choro e deixo que a raiva ganhe a
superfície.
Gabriel aparece e eu mal consigo encará-lo, ele vem até mim,
seus irmãos e pais logo atrás dele. Aos poucos formamos um
pequeno amontoado na calçada, do lado de fora da casa dos meus
sogros.
— O que houve? — Miguel se junta a nós, segurando um copo
de suco.
— Um mal entendido — Gabriel trinca os dentes e dá mais
alguns passos na minha direção.
— Nem pense em chegar perto de mim, eu confiei em você, te
amei e você aproveitou a primeira oportunidade para colocar as
mãos em outra.
— Eu não fiz isso — ele diz e eu tenho vontade de socar sua
cara bonita.
— Então eu não vi você e ela no escritório? — Encaro.
— Viu, mas eu estava impedindo ela de tocar em mim. Vamos,
Lu, pra isso dar certo você tem que confiar em mim.
— E deixar outro traidor me humilhar? Vai sonhando!
— Eu não sou traidor, Luciana.
— Meu filho, o que está acontecendo? — dona Ingrid
pergunta, vendo minhas lágrimas teimosas que não param de
correr.
— O que houve? Aquela louca botou as mãos em mim, mas eu
não toquei nela. Só que a Luciana precisa acreditar em mim, não
vou viver com alguém que não confia que sou um cara fiel, que eu a
amo.
— Não vai precisar, já conseguiu o que queria — digo,
apertando as mãos até as unhas cravarem na carne das minhas
palmas. — Seu pai não vai mais tirar a empresa, não precisa, você
resolveu o problema com a Cíntia, pode voltar pra vida de
mulherengo.
— Você tá falando bobagem — Gabriel ruge e eu sinto meu
coração doer ainda mais.
— Cici, me leva embora? Por favor? — suplico e minha irmã
passa os braços ao meu redor.
Miguel vem até nós e entrega a chave do carro pra minha irmã,
ela me guia até o outro lado da rua e abre a porta do passageiro pra
mim.
— Espera, vou com vocês — Sol diz, entrando e sentando no
banco de trás. — Pronto.
Escuto Gabriel esbravejar, mas não levanto o rosto.
— É a minha mulher, cara — ele grita. — Tira as mãos de mim,
Henrique. Me solta. Luciana. Luciana não vai!
— Calma, Gabriel — Miguel fala. — Ela tá com a Cici e com a
Sol, quando se acalmar você vai até ela.
Dentro do carro, Cici pega a minha mão na sua e me dá um
olhar carinhoso.
— Tem certeza?
— Sim, me tira daqui agora, por favor.
— Tudo bem — minha irmã diz, colocando a chave no contato
e dando a partida.
— Não, Luciana, não vai! — Gabriel corre atrás do carro, mas
eu afundo no banco e deixo que toda a dor me invada e me
arrebente por dentro.
Ele sabia, era a única condição que eu tinha, era a única coisa
que eu não aceitaria e mesmo assim o peguei prestes a se atracar
naquela piranha.
Já fui traída da pior maneira possível, roubada, machucada,
cheguei a pensar que tinha algo quebrado em mim, mas então ele
veio e bagunçou tudo, me fez sentir viva só pra me machucar mais
do que qualquer um foi capaz.
Deixo a dor voltar para o lugar até agora ocupado pela raiva e
afundo dentro de mim, as lágrimas idiotas saem mesmo que eu
tente segurá-las. Pelo menos eu amei.
Agora preciso aprender a desamar.
Ignoro a festa que ainda está a todo vapor e entro no
escritório. Pego a primeira coisa que alcanço e espatifo na parede,
meu pai, que está entrando nesse momento, não diz nada, mas
minha mãe que vem logo atrás, faz uma cara de desgosto quando
vê os cacos do vaso.
— Ela não escuta ninguém — esbravejo, furioso demais para
conseguir controlar. — Não escuta ninguém e faz só o que quer.
Como é que eu vou ficar casado com uma cabeça teimosa daquele
jeito? Ela me chamou de traidor. Eu não sou traidor, não sou como
aqueles imbecis!
Ando de um lado para o outro e demoro algum tempo para me
dar conta de que meus irmãos também estão no escritório, me
observando.
— O que foi? Vocês não têm nada pra fazer?
— Calma, cara, nós estamos aqui — Joaquim vem até mim e
aperta meu ombro.
— Merda! — digo e me rendo ao abraço do meu irmão. — Eu
não sou traidor.
Sinto outros pares de mãos se unindo ao nosso abraço e sei
que são Miguel e Henrique, do mesmo jeito que fazíamos quando
éramos crianças e nossa mãe dava uma bronca na gente por
estarmos brigando por coisas bobas. Do mesmo jeito que fazíamos
quando um de nós se machucava ou tinha seu coração partido,
como fizemos quando a Dani do Miguel morreu, ou quando
Henrique se separou.
Dessa vez é o meu coração quebrado, é a minha dor que faz
com que eu e meus irmãos nos abracemos juntos. Dessa vez sou
eu que preciso de consolo.
— Vai ficar tudo bem — Henrique diz e eu sinto que meu
mundo todo acabou.
— Não vai. — Eu me afasto deles. — Ela nunca vai acreditar.
Luciana já foi traída, já foi magoada, é a única coisa que não
perdoaria.
— Vocês vão dar um jeito — Miguel diz e eu respiro fundo.
— Preciso que todos vocês sentem, tem uma coisa que eu
tenho que contar.
Meu pai puxa sua cadeira e senta, minha mãe ocupa uma
poltrona e meus irmãos se amontoam, grandalhões, no sofá,
enquanto eu abro meu coração e conto tudo.
Sem esconder absolutamente nada, revelo a verdade que
levou Luciana e eu a nos casarmos e o momento em que percebi o
que sentia. Conto da emoção e alívio de ouvir que ela também me
ama, das mãos intrometidas de Valéria e da dor de ver Luciana indo
embora naquele carro.
Destruído, sento na outra poltrona e esfrego meu rosto com as
mãos. Acabei de ver todo meu mundo ruir. Toda a felicidade que há
poucos instantes me fazia sentir o homem mais sortudo do mundo
agora é justamente o que corta minha alma de dentro pra fora.
— É claro que o Miguel sabia, por que eu sou sempre o último
a saber? — Joaquim reclama.
— Porque você conta tudo pra mãe — Miguel responde e
Henrique concorda com um aceno.
— Eu perdi tudo — digo e meus irmãos suspiram em uníssono,
como se entendendo a dor que corrói meu coração.
— Filho, essa é a história mais absurda que eu já ouvi —
minha mãe fala, puxando minha mão para a sua. — Você sempre
deu trabalho, caramba. Quando você caía e ralava os joelhos, se
escondia e nós passávamos horas te procurando. Quando brigava
na escola, Henrique tinha que ir te tirar das brigas, geralmente você
estava engalfinhado em dois ou três ao mesmo tempo. Não sei qual
de vocês me deu mais cabelo branco.
— Desculpe, mãe — minha voz sai cortante.
— Escuta. Não tô te criticando, afinal de contas eu me casei
com um Dupont e sei exatamente como é lidar com um
temperamento parecido com o de vocês.
Meu pai bufa e mamãe acena com a mão para que ele não
intervenha na conversa.
— O que eu quero dizer é que não importa o que você apronte,
você até pode sumir por algum tempo, mas sempre acaba
encontrando o caminho pra voltar, sempre consegue pensar na
solução pros seus problemas.
Minha mãe dá um tapa na minha mão, um tapa forte, que me
faz a olhar confuso.
— Isso é pela mentira do casamento. Agora, vamos ao que
interessa. Você ama a Luciana?
— Amo mais do que eu pensei que seria capaz.
— Então se recomponha e vá atrás da sua esposa, faça ela te
escutar e resolva as coisas. E, aconteça o que acontecer, não suma,
ou vou acabar colocando um rastreador em você.
— Você tá bem pra dirigir? — Miguel pergunta e eu aceno que
sim.
— Então vá atrás da sua garota — Henrique manda e eu
levanto.
Joaquim também se levanta.
— E eu vou levar a minha pra casa, ela deve estar confusa
com tudo que aconteceu. Depois que essa confusão passar, vamos
nos reunir outra vez, tem uma coisa que preciso contar. Olha, haja o
que houver, se desculpe, elas sempre reagem melhor quando
pedimos desculpas.
— Cala a boca, Joaquim! — Miguel e Henrique falam.
— Eu preciso ir — digo, procurando a chave do carro e minha
carteira. — Eu amo aquela nanica teimosa. De jeito nenhum vou
perder minha mulher.
Depois de pegar algumas das minhas coisas e o meu filho, Cici
e Marisol me levam para a casa da minha mãe, que toma um
tremendo susto quando nota a bagunça de lágrimas e maquiagem
em que me transformei.
Sol assume a função de colocar meu filho na cama, enquanto
minha irmã me ajuda a tomar um banho e vestir uma roupa
confortável.
Deito na cama depois de dizer que amanhã explico as coisas
pra minha mãe. Sol e Cici se juntam a mim, puxando as cobertas e
me aninhando num abraço cheio de carinho.
— Vocês podem ir se quiserem, eu vou ficar bem —
choramingo.
— Nós não vamos a lugar nenhum — Cici diz e eu suspiro,
deixando que elas cuidem de mim.
— Tô tão cansada de homens traidores. E por que é que dói
tanto?
— Porque você o ama — Sol diz com seu jeito firme.
Minha cunhada conta a história do seu outro relacionamento e
como sem querer o encontrou no cruzeiro em que estava quando se
apaixonou por Henrique. Sua história deveria acalmar meu coração,
mas só me faz sentir ainda mais azarada. Minha irmã e Marisol se
apaixonaram pelos Dupont certos, enquanto eu escolhi o que partiu
meu coração na única vez que amei.
— O que quero dizer, Lu, é que existem traidores em todos os
lugares e nós aprendemos a lidar com eles — Marisol fala e eu
escuto com atenção. — Mas não acho que seja o caso aqui e você
deveria escutar o que o seu marido tem a dizer.
— Eu vi, vi ele segurando as mãos dela, pareciam prestes a se
beijar.
— E mesmo assim ele estava desesperado quando foi embora
— Cici diz.
— Ele não esperava ser pego — resmungo, mas Sol faz um
muxoxo e eu fico brava. — De que lado você está, Sol?
— Estou do lado do amor e não tem ninguém na nossa família
que não perceba que vocês dois se amam pra valer.
— Ai, meu Deus, o que eu faço? — Choro.
Encolhida sob as cobertas, meu corpo é tomado pela dor
lancinante da perda e as lágrimas vertem com força, fazendo tudo
sacudir quando choro.
Não sei por quanto tempo eu fico assim, chorando e
soluçando, tentando afastar a dor do meu peito, aos poucos vou
sentindo a exaustão e deixo que ela me leve, do contrário não vou
sobreviver a essa noite.
Todo meu mundo, todos os meus sentimentos. Tudo é motivo
para que eu sinta que acabei de perder a melhor coisa que já tive, o
amor.
Acabei de perder o amor, logo agora que acabei de encontrá-
lo.
Pior do que ver Luciana ir embora naquele carro foi chegar em
casa e não a encontrar em lugar nenhum. Meu coração espanca o
peito e eu perco a noção de mim mesmo. Procurando em cada um
dos cômodos por qualquer vestígio da minha mulher e do meu filho.
Sim, meu filho.
Numa única noite perdi tudo, minha mulher e meu filho e a vida
feliz que nós tínhamos. Antes tivesse deixado Cíntia ficar com a
patente, talvez assim eu não tivesse motivos pra ir ao escritório e
aquela cretina não tivesse colocado as mãos em mim.
Minha mulher nunca teria se magoado e eu não estaria me
sentindo completamente perdido e machucado. Porque eu esperava
qualquer coisa dela, mas nunca que ela me chamasse de traidor.
Nem que ela desistisse de nós sem ao menos me escutar.
Transtornado, depois de quebrar coisas que nem me dou ao
trabalho de perceber o que são, eu pego o carro e dirijo para a casa
da minha sogra.
Furioso, magoado e desesperado.
Bato na porta, mas não vejo nem sinal de Luciana, quem
aparece é Marisol e ela me lança um olhar que vai de pena à raiva.
— Onde ela tá?
— Ela acabou de dormir, estava muito nervosa, chorando
muito — minha cunhada fala, sem sair da frente para que eu possa
entrar.
— Eu quero ver minha mulher, aquela teimosa precisa me
escutar.
— Não é um bom momento, Gabriel, é melhor você vir
amanhã.
— Eu não vou embora!
Marisol sai e fecha a porta às suas costas.
— Não seja um babaca, Luciana viu você segurando as mãos
de outra mulher numa situação que pareciam prestes a se beijar —
ela diz. — E você acha que ela é a teimosa?
— Ela entendeu errado e eu preciso explicar.
— Escuta aqui cabrón, Cici e eu vimos sua mulher chorar até
perder as forças, finalmente ela dormiu e está mesmo precisando
descansar. Então, a não ser que você queira que a gente quebre a
sua cara, você vai entrar naquele carro e ir pra casa, amanhã você
volta e resolve essa confusão em que se meteu.
— Merda!
— Merda coisa nenhuma. Se fosse você no lugar dela e
encontrasse um homem tocando nela, ia gostar?
— Não — concordo, porque no fundo sei que minha cunhada
está certa. — Eu não posso perder a Lu e o Felipe, não posso.
Cici aparece na porta e, ao me ver, vem se juntar a conversa.
— Vou perguntar só uma vez: Que merda você fez com a
minha irmã, Gabriel?
— Eu não fiz nada, ela precisa acreditar em mim.
— Você sabe que ela foi traída, abandonada e traída de novo,
como quer que ela vá contra tudo que viu? Não é só sobre a vida de
vocês dois, é sobre o meu sobrinho também, como você acha que
ele vai ficar com tudo isso?
Ao ouvir o que Cici tem a dizer, sinto meu mundo ruir outra
vez. Faz pouco tempo que Felipe me chamou de pai, no dia fiquei
apreensivo, pesando a minha realidade, mas agora eu daria
qualquer coisa para ouvi-lo dizer isso de novo.
— Eu amo sua irmã — digo, voltando para o meu carro. — Eu
a amo mesmo.
Volto pra casa e me enfio no chuveiro. No chuveiro onde fiz
Luciana gozar dizendo que me amava hoje cedo. Merda!
Volto para o quarto, o nosso quarto. Merda¹
Depois de me vestir, me jogo na cama e sinto o cheiro dela no
travesseiro. O cheiro dos cabelos da minha mulher.
Não, claro que não tem um único lugar nessa casa que ela não
vai estar. Na cama, na sala, no banheiro. Na porra do meu coração.
Vou para o quarto do Felipe e pego o feijão que ficou no berço,
sento na cadeira e, remoendo a dor que me parte de dentro pra fora,
sinto um cansaço tremendo. Com o boneco nos braços, faço a única
coisa que me parece menos idiota nisso tudo. Vou pra cozinha e
pego uma garrafa de whisky. Eu sei que encher a cara não vai me
ajudar, mas pior do que está não vai ficar.
Três dias ligando a cada meia hora e indo bater na porta da
minha sogra várias vezes são suficientes para me deixarem
enfurecido. Não é possível que aquela cabeça dura não me escute.
Como é que nós vamos passar os próximos quarenta ou cinquenta
anos juntos se ela não confia quando digo que não toquei naquela
mulher?
Com saudade e furioso, pego minhas coisas e começo a
colocar dentro da minha mochila. Não tem a menor chance de eu
ficar nesta maldita casa sem a minha esposa. Tudo me faz pensar
nela. Cada canto onde a toquei ou onde ela deixou sua marca.
E cada canto me faz pensar na criança que aprendi a amar
como se tivesse vindo de mim. É enlouquecedor e sinto que se ficar
mais um minuto que seja aqui, vou quebrar tudo e ainda não será
suficiente.
— Aonde você está indo? — A voz de Cici me dá um susto.
— Porra, que susto — esbravejo e Cici apenas dá de ombros.
Até olhar pra ela é doloroso, até pensar que ela precisou
consolar Luciana já me faz sentir um desgraçado. Por que é que
não a segurei e obriguei a me escutar?
— Usei a chave da Lu, desculpe — ela diz e se senta na
poltrona do meu quarto. — Vim ver como você está, chamei várias
vezes, mas você não respondeu.
— Desculpe.
— Então, pra onde você vai?
— Pra qualquer lugar onde eu não sinta o cheiro dela ou fique
me lembrando da voz, daquele jeito de levantar as sobrancelhas ou
apontar o dedo quando quer frisar alguma coisa. Daquela maldita
coisa que ela faz com a cabeça, deitando pro lado e sorrindo.
Merda, eu vou viajar pra Marte, talvez lá eu não pense nela.
— Ela te pegou em cheio, não é?
Sento na cama, de frente pra minha cunhada e passo as mãos
pelos meus cabelos, respirando fundo e soltando o ar com força.
— Eu amo aquela nanica. Já gostei de outras mulheres, Cici,
já me apaixonei, mas nunca amei ninguém como eu a amo. Eu
jamais magoaria a minha mulher e me sinto um lixo de ter que ficar
provando isso. Ela precisa confiar em mim.
— É verdade, mas você tem que lembrar que ela também
nunca amou ninguém antes e está apavorada, daí ela vai atrás de
você e te encontra com outra mulher, depois de ter sido magoada
outras vezes... juntou tudo isso e deu no que deu.
— Não aconteceu nada, a Valéria tentou, colocou as mãos no
meu peito, mas eu segurei os pulsos dela e a afastei — explico,
sentindo o gosto amargo na minha boca. — Não posso ficar aqui
sem ela, vou enlouquecer.
— Então vá atrás da sua mulher e a faça escutar o que tem a
dizer, faça ela olhar nos seus olhos. Ou vai deixar ela sair assim da
sua vida? Vai deixar os dois saírem da sua vida?
— Não!
Levanto e pego as chaves do carro e a minha carteira, sem me
preocupar com Cici que apenas me abraça e me manda ser um
maldito Dupont teimoso, que esse é o único jeito de resolver as
coisas.
Dirijo sem pensar muito, estacionando o carro na frente do
portão da casa de dona Noeli. Bato na porta várias vezes, gritando
feito louco que não vou embora até que Luciana me escute.
Dona Noeli abre a porta e me dá um olhar paciente.
— Você é um rapaz bem barulhento, santo Deus.
— Aonde ela tá? Preciso que a minha mulher me escute, ela
vai voltar pra casa hoje.
— Você está bem? — Dona Noeli abre a porta e me deixa
entrar.
— Não, sua filha é teimosa, cabeça dura e já quase me
enlouqueceu várias vezes, mas eu a amo e ela tem que me escutar.
— A Luciana não está, mas você pode procurar se quiser.
— E pra onde ela foi?
— E eu é que vou saber? Você acha que alguma das minhas
filhas me dá satisfação?
— Merda!
— Ela estava bastante abatida, então espero que você
conserte as coisas.
— Eu vou, nem que tenha que amarrar ela numa cadeira e
obrigá-la a me ouvir. Só preciso descobrir aonde é que ela foi.
Volto pra casa e não a encontro, então pego minhas malas e
rumo para a casa da praia. Se Luciana resolveu se esconder nada
do que eu disser a fará me escutar. E ficar em casa sem ela está
fora de cogitação.
Depois de esmurrar o volante várias vezes, dirijo para o norte
da ilha, rumo a praia da Joaquina, para minha casa. Talvez tudo o
que eu preciso seja de distância.
Quem sabe assim meu coração seja capaz de compreender
que ela desistiu de nós, desistiu do amor que temos sem dar uma
chance sequer.
Paro em um posto de gasolina e o frentista precisa chamar
minha atenção, pra me despertar do transe melancólico que me
acomete.
Quero minha esposa de volta. Quero minha felicidade de volta.
Acabou, não é?
Droga, como é que a gente faz pra convencer o coração de
que acabou?
Um coração teimoso que insiste em continuar se enchendo de
esperança, que continua esperando que ela não desista.
Estou olhando fixamente para a minha aliança quando escuto
alguém bater na porta do quarto onde eu costumava dormir antes de
me casar com Gabriel. Meu filho passou as últimas horas brincando
com a babá e já perguntou várias vezes sobre o feijão e sobre
Gabriel, a quem ele decidiu chamar de pai.
Não ter uma resposta boa me obriga a mentir para o meu filho,
dizendo que Gabriel viajou por uns dias por causa do trabalho.
Talvez eu esteja me agarrando a uma impossibilidade, a algo que
desde o início foi feito para ter um prazo de validade.
Mas o vencimento chegou rápido demais e eu me sinto
derrotada, destruída. Tudo o que eu mais queria é apagar aquela
noite da minha memória, apagar meus sentimentos, mas não é tão
fácil assim, e agora tudo que me resta é chorar, amargando a dor de
mais uma vez ter sido passada para trás.
Escuto novamente a batida na porta e eu suspiro, voltando do
mundo da lua para dar de cara com os olhos claros do Miguel. Meu
cunhado pede licença, entra e senta ao meu lado na cama, depois
segura minha mão na sua e suspira.
— Lembra quando você invadiu meu escritório e me mandou
tomar juízo e ir atrás da sua irmã porque eu estava bancando o
imbecil, que ia perder o amor por algo que não tinha como
controlar?
— Hunrum — digo, sem saber com certeza aonde ele quer
chegar.
— Então, agora estou retribuindo o favor.
— Miguel... — suplico, cobrindo meu rosto e começando a
chorar de novo. Parece que é só isso que consigo fazer.
— Eu nunca cheguei a agradecer de fato, mas aquela
conversa impediu que eu estragasse a minha vida e me deu a
chance de ser feliz. Então, dona Luciana, levante a bunda dessa
cama e vá atrás do meu irmão. Ele te ama, vai por mim, eu conheço
aquele cara desde que nasci. E ele tá sofrendo, vocês dois estão.
— Mas eu sei o que eu vi.
— Pelo menos escute o que ele tem a dizer, depois você
decide se está na hora de seguirem separados ou resolver as
coisas. Você não ama o Gabriel? Eu acho que ama ou não ia estar
com essa cara de acabada.
— Amo.
— Então olhe nos olhos do Gabriel e veja se não acredita nele.
Depois decida o que fazer. Não jogue fora o que vocês têm antes de
dar uma chance.
— Eu sei que você tem razão.
— E ainda tá fazendo o que aqui? Vá resolver as coisas ou
vou me obrigar a agir feito louco. Aposto que tem bolo na geladeira
da sua mãe e como eu não posso bater em você por ser um cara
grande e fortão, posso imitar sua irmã e espalhar bolo por tudo.
— Droga — resmungo.
— Você sabe que não tem a menor chance de as coisas
darem certo se vocês não conversarem, e se não confiarem um no
outro.
— Mas se ele disser que me traiu? Se admitir que não resistiu,
aquela mulher era linda.
— Daí eu mesmo quebro a cara dele pra você.
Miguel me faz levantar da cama e me abraça.
— Não seja teimosa, já chega a sua irmã que só faz o que dá
na telha. Vai resolver as coisas antes que o estrago seja maior.
— Certo, vou resolver as coisas.
— Tudo bem, estou aqui pra servir, que tal trocar de roupa e
eu te levo em casa?
Miguel me dá uma carona até a minha casa em Jurerê, mas
estou sem chave porque minha irmã ficou com a minha, então fico
pulando diante da janela pra ver se Gabriel está em casa. Nada,
nenhum sinal.
Meu coração contorce de tristeza.
Merda, aonde é que ele foi se esconder?
Depois de não encontrar Gabriel na nossa casa, penso em
voltar pra minha e deixar pra lá, mas minha mãe me manda
mensagem dizendo que Gabriel passou lá e foi embora
transtornado. Nos desencontramos e agora estou sem imaginar pra
onde ele pode estar indo. Só espero que ele não tenha sumido,
como fazia sempre que algo saía do seu controle.
Então, como em um passe de mágica, minha mente me leva
para a casa da praia da Joaquina. Sem pensar, dispenso meu
cunhado para voltar para sua vida e peço um Uber, já que a chave
do meu carro ficou trancada dentro de casa e eu fiquei do lado de
fora. Preciso fazer uma chave extra. É o meu pensamento enquanto
saio do carro e dou de cara com a porta trancada.
Achei que chegaria aqui e o encontraria, mas não, a casa está
vazia e silenciosa e só consigo entrar porque deixamos uma chave
reserva escondida.
Me sento no sofá e choro, venho fazendo muito isso desde que
nos separamos naquela maldita festa.
Por pior que seja, nesse momento, chorar é tudo que consigo
fazer.

Quando Gabriel passa pela porta de casa e me vê, seus olhos


tristes se iluminam. Continuo sentada no sofá onde falamos pela
primeira vez do nosso casamento. Não consigo me mexer.
Tudo em mim dói, não apenas meu coração destruído, mas
também o meu corpo que vem recebendo todo o baque e tensão da
tristeza que invadiu a minha vida desde que o encontrei naquele
escritório.
— Por favor, eu preciso da verdade. — Choramingo, sem
conseguir aguentar toda a dor. — Só a verdade.
Gabriel larga sua mala no chão e vem até mim, se ajoelha
diante do sofá e respira fundo.
— Procurei você o dia todo — diz, limpando minhas lágrimas
com o polegar, seu rosto é uma máscara de tristeza sem fim. —
Zanzei feito louco.
— Por favor, Gabriel, só me conte o que realmente aconteceu,
preciso seguir adiante, preciso colar meus pedaços.
Gabriel levanta, seu olhar muda de triste para furioso.
— Eu não entendo, nunca dei motivo pra você não confiar em
mim — diz, rangendo os dentes. — Nada disso precisava acontecer
se você tivesse me escutado naquela merda de noite. Eu tenho
sofrido feito um condenado. Sabia que em toda a casa tem o seu
cheiro? Pra onde eu vou tem você lá, tem as lembranças de nós. E
o Felipe, você arrancou ele de mim. Merda, Luciana, isso tudo é
muito ruim e eu tô acabado.
Não digo nada, dando o espaço que ele precisa pra ter
coragem de me contar o que fez, de como me traiu, só quando eu
estiver bem no fundo desse maldito poço é que vou conseguir me
reerguer e começar uma nova vida. Sem homens, sem traições ou
corações partidos, de preferência.
— Escuta uma coisa, sua nanica teimosa. Eu não toquei
naquela mulher. Fui ao escritório porque ela queria ver os números
e projeções que fizemos para o projeto, pelo menos eu pensei que
fosse isso que ela queria. Eu não gosto de ser enganado e ela
tentou, veio com tudo pra cima de mim, mas quando você entrou na
sala eu estava afastando as mãos dela e tinha acabado de falar que
era casado com você. Eu amo você.
— E como eu posso acreditar?
— Você pode acreditar porque essa é a porra da verdade —
ele esbraveja, jogando as mãos para cima com seu jeito dramático e
exagerado de sempre, o jeito que eu amo. — Eu posso ser meio
maluco, mas não sou mentiroso e nem a porcaria de um traidor.
As palavras de Gabriel vêm com força, seus olhos me dizem
que está falando a verdade, mas meu cérebro ainda quer que eu
pense que toda essa conversa não passa de enganação. É uma luta
sem fim dentro de mim.
— Nunca amei ninguém como eu te amo — ele diz e eu
começo a chorar pela milionésima vez. — E você não acreditar em
mim me machucou de verdade. Luciana, eu sempre fui honesto com
você. Entenda de uma vez por todas que eu te amo pra caralho.
— Virei uma chorona — reclamo e Gabriel senta no sofá e me
puxa pra um abraço.
Afundo no seu peito sentindo seu cheiro me invadir com uma
força arrebatadora, cutucando a ferida da saudade dolorosamente.
Eu amo o Gabriel, amo mais do que jamais imaginei que seria
capaz. E eu quero muito que essa seja a verdade, quero que ele
seja mesmo o homem que eu acredito que é, o homem que meu
filho escolheu para chamar de pai e que meu coração escolheu pra
se entregar.
— Nada do que disser vai me fazer desistir de você, eu te amo
demais pra isso, te amo muito e jamais colocaria o que nós temos
em risco, a nossa família.
— Eu também te amo — me vejo dizendo antes de filtrar as
palavras, com o coração transbordando de dor e amor na mesma
proporção.
Ele está certo, para o que temos funcionar, tenho que confiar
que ele não é como os outros homens que só tiraram tudo de mim.
Gabriel sempre foi diferente, não só generoso comigo e com Felipe,
com minha família, mas me desafiando a ser melhor, provocando
minha mente, meu corpo, sempre dizendo tudo que pensa. E desde
que descobrimos que nos amamos ele me fez a mulher mais feliz do
mundo.
— Eu acredito em você. — Soluço.
— Caramba, você é a porra de um desafio — Gabriel fala. —
Pra minha cabeça, pro meu corpo. Pensei que ia ter que te dar
umas palmadas pra ouvir você dizer isso.
Rio.
— O que quer dizer com desafio?
— Quer dizer que eu te amo tanto que só de pensar que você
não acreditava em mim me fez querer morrer. Além do mais, nanica,
quem escolheria chupar outros peitos sabendo que os seus são os
melhores? — fala, parecendo realmente aliviado. — Eu jamais
magoaria você.
A forma como Gabriel fala, o jeito como seus olhos me dizem
essa sua verdade. Nenhum dos homens que me traíram jamais
conseguiram me transmitir nada assim, com tanta força, tanta
segurança. Eu realmente acredito nele. Caramba, eu acredito
mesmo.
— Talvez em algum momento eu repita o erro de não confiar,
mas eu vou aprender. Eu aprendi a amar, não foi?
— É, e eu provavelmente vou enlouquecer de novo, então, por
via das dúvidas vou seguir um conselho que o Henrique me deu.
— Que conselho?
— Manter a minha senhora Dupont muito ocupada.
Gabriel me beija, sua língua vem feroz para dentro da minha
boca, engolindo um suspiro profundo que deixo escapar. Minhas
mãos vão para o seu cabelo e eu preciso muito dessa sensação. A
sensação de felicidade, de estar completa como só ele consegue
me fazer sentir.
Amar esse Dupont não é fácil, mas com certeza é a melhor
coisa que eu fiz.
— Vamos fazer sexo de reconciliação — declaro, sugando o
lábio inferior carnudo e o puxando para mim. — Tô com muita
saudade.
— E pra compensar todo o drama dos últimos dias, vou dar
várias palmadas nessa sua bunda gostosa.
— Tudo bem, desde que eu possa sentar em você.
Gabriel levanta e me pega no colo, sua delicadeza aos poucos
dá lugar para o lado primitivo que me deixa super excitada. Nossa,
foram poucos dias, mas como eu senti saudade desse homem. Meu
mundo estava inteiramente fora do lugar, nada parecia certo sem
ele.
— Primeiro eu vou comer você, depois vamos buscar o nosso
filho e ir pra casa, nunca mais vou passar uma noite sequer sem
vocês naquela casa.
Algum tempo depois.

Ando de um lado para o outro, ansioso. Eu sei que está tudo


bem, que na outra sala Luciana está se arrumando, mas não
consigo deixar de ficar uma pilha de nervos. Da primeira, ou melhor,
das três primeiras vezes que casamos, não havia qualquer
preocupação porque éramos apenas dois amigos embarcando em
um casamento falso, com o objetivo de salvar minha empresa e de
nos vingarmos do babaca do Ricardo.
Deu certo, meu pai desistiu de assumir as coisas, na verdade,
ele nunca teve realmente intenção de fazer isso, segundo ele, tudo
o que queria era me dar uma sacudida. E valeu a pena, sem isso eu
jamais teria me casado com a minha melhor amiga e jamais saberia
que essa mulher é o amor da minha vida.
Miguel entra na sala com uma carranca rabugenta, a mesma
de sempre, ele me lança um olhar que diz que algo está errado.
— O que aconteceu? — pergunto, apavorado com a
possibilidade de a minha mulher desistir, de pirar por alguma coisa
que eu nem tenha me dado conta de que fiz.
— Por que você está sem calça? — meu irmão pergunta,
olhando para a bermuda que estou usando.
— Porque vou me casar na praia — solto, aliviado. — É por
isso que você tá com essa cara?
— Coloque uma calça Gabriel, pare de ser idiota — meu irmão
resmunga e eu bato com os braços ao lado do corpo, mas não
discuto e vou fazer exatamente isso, vestir a maldita calça. —
Luciana mandou dizer que vai te dar um golpe ninja caso apronte
alguma coisa. Palavras dela, não minhas.
Rio, é o tipo de coisa que ela diria mesmo.
Termino de colocar a calça do terno e coloco o sapato. Em
seguida me olho no espelho, tentando não pensar que em alguns
minutos vou renovar meus votos, ou como minha mãe disse, vou
casar do jeito certo, com toda a família junto.
Luciana aparece na porta, ela está num vestido de seda
branco, com renda no decote e na barra. Linda, sorri quando me vê.
— Até onde eu sei não é permitido ver a noiva antes — Miguel
suspira.
— Esse é o nosso quarto casamento, já passamos dessa fase
— ela diz, entrando e dando passagem para o meu irmão sair.
— Vocês são perfeitos um pro outro, são loucos — ele diz, nos
deixando sozinhos.
Daqui a pouco vou me casar outra vez com a mulher que amo,
só que agora de um jeito muito mais tradicional. E eu não poderia
estar mais feliz, nem se quisesse.
— Ainda podemos fugir e casar em Vegas — ela diz, vindo até
mim e passando as mãos ao redor do meu pescoço.
— O que você tem aí? — pergunto, porque notei que ela tem
uma caixinha pequena de presente nas mãos.
— Tenho um presente de casamento.
— Hum... espero que seja coisa boa, não é o dia certo pra
aprontar, amor.
— Por quê? Está nervoso?
— Um pouco — respondo com honestidade e Luciana me beija
de leve na boca, depois passa a caixinha de presente para as
minhas mãos.
— Abra — diz e a minha expectativa cresce.
Faço o que ela diz, tirando a tampa e deixando-a cair no chão.
De dentro, pego um cartão branco, viro e leio em voz alta:
Cartão Bebê.
— Cartão bebê? — Volto meus olhos para dentro da caixinha e
encontro um par de sapatinhos de lã branca. — Não? Sério? Ah!
Meu! Deus!
Puxo Luciana para os meus braços e a abraço com força,
depois beijo minha esposa, que ri daquele jeito escandaloso que só
faz quando realmente está feliz. Acabo de descobrir que posso ser
ainda mais feliz do que achei que fosse possível.
— Cartão bebê, adoro isso! Quero muitos.
— Nem pensar, só esse é suficiente — ela diz, me puxando
para outro beijo.
Eu a pego pela mão e a levo, quase arrastada até a sala de
casa, onde nossa família toda espera pelo momento de irmos para a
praia, para a cerimônia.
— Cartão bebê, cartão bebê — comemoro e ninguém entende
nada. — Eu ganhei um cartão bebê.
— Eu tô grávida — Luciana diz e a comemoração começa.
Felipe vem para o meu colo e eu abraço, ele e sua mãe juntos,
apertando firme minha família. MINHA FAMÍLIA.
Quando me dou conta, meus irmãos, nossos pais e minhas
cunhadas estão ao nosso redor, em um grande e louco abraço de
família.
— Eu vou ser pai de novo. Eu vou ser pai de novo — é só o
que consigo dizer, porque ainda que Felipe não tenha vindo do meu
material genético ele é mais meu filho do que do pai biológico, ainda
mais depois que dei meu nome a ele. — Eu te amo, nanica. E amo a
nossa família.
— Também te amo — ela responde, rindo.
— E eu amo o cartão bebê.
Algumas semanas depois.

Assim que a médica nos chama, Gabriel pega minha mão e


me puxa de leve. Felipe está no seu braço e ele parece um enorme
e exibido pavão, entrando na sala onde faremos nossa primeira
ultrassonografia. Meu Deus, se já estava cheio de si desde que
recebeu a notícia, imagine agora que vai ver seu bebê pela primeira
vez.
Minha barriga já começou a aparecer, ainda que esteja com
poucos meses de gravidez e eu não seja exatamente uma comilona,
o que me diz que vou precisar ter bastante cuidado com a minha
saúde outra vez.
Nervosa, ansiosa e tensa, me deito na cama de hospital e ergo
minha blusa até perto do sutiã. Gabriel puxa a cadeira e senta ao
meu lado, com Felipe no colo. Ele pega minha mão e dá um aperto
leve.
A médica entra na sala e nos cumprimenta, explica o
procedimento e então cobre minha barriga com gel.
Assim que ela coloca o aparelho, sinto um frio percorrer minha
nuca. Estou com medo, já tivemos alguns sustos por causa de
pressão alta e não gosto nem de pensar no que pode acontecer
caso haja qualquer coisa errada com nosso bebezinho.
Eu sei que faz pouco tempo, mas tanto Gabriel quanto eu e
Felipe já amamos essa criança. Já estamos contando com ela a
nossa família doida e perfeita.
— O que você disse? — Gabriel encara a tela, em choque, me
arrancando dos devaneios e me fazendo virar rápido.
— Aqui é o coraçãozinho — mostra um ponto piscante. — Do
primeiro bebê e esse é o segundo. Parabéns papai, são gêmeos.
— Mentira! — solto, totalmente sem acreditar.
A médica liga o aparelho e conseguimos escutar primeiro um e
depois o outro. Caramba, estou esperando gêmeos. Tô ferrada!
— Eu sou foda! — Gabriel levanta da cadeira com Felipe no
colo. Meu filho já está perto de fazer três anos, mas vive nos braços
do meu marido, os dois se amam e eu adoro ver como são
parecidos, mesmo que não tenham o mesmo sangue. — Fiz dois
bebês na minha nanica.
Gabriel começa a fazer sua dancinha engraçada e Felipe bate
palmas comemorando com o homem que o cria como pai, que é seu
pai.
— Dois bebês de uma só vez. — Gabriel se transforma em um
enorme sorriso. — Quero ver o que os meus irmãos vão dizer.
Quem é o bom agora?!
— Meu Deus, para quieto — reclamo, mas Gabriel vem até
mim e me beija na boca, ignorando a médica.
— Eu disse, linda, você casou com o melhor Dupont dessa
família, o mais potente, com certeza.
— O mais convencido também — retruco.
A médica e eu rimos e Gabriel se senta outra vez, levando
uma mão à minha barriga, sem se importar com a meleca do gel.
— E aí crianças, aqui é o seu pai, já vão se preparando, nós
vamos deixar a mamãe maluca. — Gabriel fala para a minha
barriga. — Dois bebês. Caramba.
— E está tudo bem? Digo, eu e minha irmã tivemos problema
de pressão, tenho medo de...
— Vai ficar tudo bem, amor, você vai ficar de repouso e eu vou
cuidar das coisas, eu e o grandão aqui, não é Felipe?
Felipe concorda, rindo e dando um tchau engraçado pra minha
barriga.
— E o feijão — ele mostra o cachorrinho de pelúcia.
— Você, o feijão e o papai — Gabriel declara, a voz tomada de
uma emoção que enche meu coração de amor.
— Não temos com que nos preocupar agora, você só deve
evitar pegar peso, se estressar e exagerar no sal ou gordura, fora
isso pode ter uma vida normal.
— Certo — falo, aliviada.
— Vou passar uma dieta saudável e vamos maneirar nos
doces.
— Isso eu quero ver — Gabriel declara, rindo.
— Eu consigo ficar sem comer bolo — resmungo e Gabriel me
beija de novo.
— E de repouso — ele diz.
— Não, isso é demais, preciso trabalhar.
— Vamos com calma — a médica nos interrompe. — Uma
coisa de cada vez, primeiro controlamos a pressão e
providenciamos uma alimentação saudável e vitaminas para os
próximos meses, com todos os nutrientes e com pouco sal, faremos
um acompanhamento atento e vai ficar tudo bem.
— Ótimo, mal posso esperar pra ver a cara dos meus filhos —
Gabriel sorri outra vez. — Caramba, gêmeos.
— Pois é.
— Eu te amo, nanica, obrigado por me fazer o homem mais
feliz do mundo — ele fala assim que a médica se afasta para nos
dar algum espaço.
— Obrigada por me mostrar que eu sou capaz de amar —
respondo. — Também te amo, meu CEO safado.
— Pra uma história que começou com o CEO querendo casar,
acho que podemos terminar com o CEO se sentindo o homem mais
sortudo da Terra.
— Pronto, decidido então — digo. — Da saga Socorro, o CEO
quer casar, para: Socorro, o CEO é um convencido. Meu CEO
lindo, meu amor.
— Eu sei, eu sei, você me ama, mas como não amaria, eu sou
perfeito.
— Tudo bem, Senhor Perfeito — provoco, cochichando no seu
ouvido para que Felipe não escute. — Aceito toda essa conversa
com a condição de você me compensar mais tarde com um bom e
quente sexo selvagem.
— De boa qualidade — ele completa.
Eu fico quieta e sorrio, é bom ver o quanto minha vida mudou
desde que entrei nessa insana história de me casar com meu amigo
e cunhado da minha irmã. Quem diria que seria justamente o mais
dramático dos Dupont a me fazer feliz, me mostrar que eu posso
amar e que mereço isso.
Socorro, o CEO quer casar. Realmente, é um ótimo nome para
o começo do nosso amor, mas para o final, com certeza seria:
Socorro, o CEO me faz feliz.
Ah, não vamos esquecer, Socorro, o CEO me faz feliz e me faz
gozar...
Você já conhece os livros anteriores da série Irmãos Dupont ou
como chamamos carinhosamente nas redes sociais, a Série SOS?
Não?
Então não deixe de viver novas aventuras com os irreverentes
irmãos Dupont e as garotas que mesmo sem querer conquistam
seus corações.

SOCORRO, O CEO É VIRGEM


AUTORA: GRACI ROCHA
LIVRO 1

SINOPSE:
Miguel Dupont é o caçula de 4 irmãos. Com 24 anos e um
coração partido, ele se fechou para os relacionamentos, tornando-se
um cara muito rabugento e meio babaca (traduza por MUITO
BABACA).
Mas esse garoto malvado que gosta de gritar com as
secretárias tem muito que aprender e vai contar com uma ajuda
inesperada para vencer o desafio de voltar a se relacionar e, quem
sabe, perder a virgindade.
Sim, você não leu errado, nesse livro a virgem não é a
mocinha e sim o CEO malvadão e lindo.
Cici é cheia de vida e toda colorida. Não tem medo de dizer o
que pensa e está sempre por aí fazendo suas entregas e
apreciando a cidade linda onde mora.
Mas não se engane, a nossa linda garota de língua afiada
carrega suas próprias dores e preocupações e tudo o que ela
menos quer nesse momento é se apaixonar pelo babaca que cruzou
seu caminho num dia ruim.
Mas como é que a gente faz quando tudo parece nos atrair
para aquele alguém que justamente queremos manter longe?
Pois é, Cici, se vira, linda, com aquele tanquinho e o jeito de
garoto triste, vai ser difícil resistir.
Embarque nesta inusitada história de amor e divirta-se com um
CEO virgem e uma confeiteira boa de briga.
Link: https://amz.run/53WI
SOCORRO, O CEO SUMIU
AUTORA: BRENDA RIPARDO.
LIVRO 2

SINOPSE:
Henrique Dupont é o mais velho de quatro irmãos. Tem trinta
anos e às vezes, um temperamento ácido e humor impertinente. Por
causa de um acontecimento do passado, esse CEO foge de
relacionamentos sérios como o Diabo foge da cruz.
Ele é um homem intenso e meio sarcástico, mas tem um
coração bom e só precisa aprender a se abrir mais e deixar as
feridas do passado cicatrizarem.
E quem sabe assim, consiga aprender a amar de novo...
Marisol García é filha única de um casal homoafetivo. Essa
mocinha linda tem vinte e seis anos, uma língua afiada e um gênio
forte.
Já foi muito machucada, por isso sua armadura de proteção é
ser super rabugenta e resmungona. Teve seu coraçãozinho partido,
então vive dizendo por aí que odeia os homens, mas não todos,
porque ela tem dois pais.
Ela não pretende cair de cabeça em um relacionamento sério
tão cedo ou se apaixonar por um cara, muito menos pelo
engomadinho de terno e gravata que quase a atropelou nomeio da
avenida movimentada.
No entanto, é difícil resistir ao CEO de olhos intensos, sarado e
irritante que vive cruzando o seu caminho...
Link: https://amz.run/53WJ
A seguir reservei um bônus de um dos meus próximos livros,
ainda sem data de publicação, mas que já está em processo de
escrita, e logo em seguida um bônus do livro anterior da série dos
Irmãos Dupont, Socorro, o CEO sumiu, escrito em parceria com
Brenda Ripardo. E mais lá embaixo, deixei um recadinho especial
pra você.
Íris
Ajoelhada no chão, com as costas banhadas de suor e uma arma
na nuca. Quem diria que esse seria o meu fim?! Apesar de tudo, gosto
de pensar que são as nossas escolhas que definem o caminho e não o
destino. E foi a minha escolha de seguir a minha intuição que me
colocou aqui, prestes a encarar o suspiro final. Não digo que esteja
pronta para morrer, tem muita coisa que gostaria de fazer ainda, coisas
que gostaria de viver e sentimentos a declarar para ele. Mas se esse é o
momento, tudo bem, sou corajosa para enfrentá-lo.
Fecho os olhos e murmuro um agradecimento ao universo, mando
minha energia e meu amor. Espero que os espíritos realizem meu último
pedido e que ele saiba que mesmo no fim eu o amo.
Respiro fundo e volto mentalmente no tempo. Meses antes eu
sequer imaginaria que discutiria com um juiz, que descobririam um
criminoso na minha pequena cidade e que acabaria aqui desse jeito.
Meses antes minha única preocupação estava em nada além de acabar
com as malditas goteiras no meu telhado, em não queimar o jantar,
abafar as imagens e sensações da minha mente e espantar as
assombrações. Sim, espantar as assombrações.
Meses antes eu nem sequer desconfiava de que estava vivendo
os últimos meses da minha vida...

Fecho a porta da rua com cuidado, porque tenho a impressão de


que se batê-la vai cair mais um pedaço do telhado. Maldita casa velha.
Corro até o carro sob um véu de chuva fina, tentando proteger minha
cabeleira sob uma mão espalmada. Como se fosse possível. Tenho
tantos cachos que nem mesmo se cortá-los, minha mão pequena seria
capaz evitar que ficassem encharcados.
Eu adoro chuva, pelo menos normalmente eu adoro chuva. Hoje é
um dia de exceção, meu humor e minha aura estão tão cinzentos que
nem mesmo um dia de sol me faria sentir melhor e a culpa não é do
tempo.
Encaro por um segundo a porta do meu carro, faz quase um ano
que ele foi pichado com a palavra BRUXA e eu decidi deixá-lo assim, só
porque se mandasse pintar, não levaria muitos dias para que a palavra
bruxa voltasse a ser pichada nele.
É um pecado estragar um carrinho tão lindo.
Dou uma sacudida na água dos meus cabelos e mergulho no calor
abafado do carro, ligo o rádio, mas a estática me vence. Estou tão
carregada hoje que nada funciona direito.
Comprovo isso quando dou a partida, ou melhor, tento dar a partida
e o carro não dá o menor sinal de que está disposto a sair do lugar.
— Vamos lá, carro teimoso, ou você liga ou vou me atrasar, acabar
sendo presa e sabe o que fazem com carros de condenadas? Ainda
mais depois que foram pichados com palavras como Bruxa? Vão para o
ferro velho, viram picadinho. SUCATA. É isso que você quer?
Tento dar a partida e nada.
— Tudo bem, ferro velho, então — digo e giro a chave. Dessa vez,
meu carro teimoso funciona de imediato. — Isso, garoto, é assim que se
faz, vamos enfrentar a fogueira. Não literalmente, claro.
Sigo pela estrada, dirigindo com cuidado para não aquaplanar na
rodovia, enquanto viajo para a cidade vizinha para chegar ao fórum em
tempo de dizer para aquela velha maluca que esse processo não tem
cabimento. Eu não sou uma bruxa e mesmo que o fosse, a gente não
vive mais na Idade Média, não é?
HENRIQUE DUPONT
Scriiich!
Porra.
Isso, definitivamente é a última coisa que eu preciso no
momento. Hoje deve ser o dia mais azarado da minha vida. Solto
uma lufada de ar e aperto o volante com tanta força que os nós dos
dedos ficam brancos. Não tenho cabeça para lidar com esse quase
acidente de trânsito.
A porra do sinal estava verde para mim, mas a ciclista decidiu
se enfiar na faixa de pedestre, bem na minha frente, como se o
mundo inteiro fosse parar para ela passar sem grandes
consequências.
O aro da bicicleta foi amassado e a dona caiu meio que de
joelhos no chão, mas não parece ter se machucado, eu dei uma
freada brusca antes que o pior acontecesse. Mas ela não está feliz.
Ótimo, nem eu.
Saio do carro, enfiando o celular de qualquer jeito no bolso e
observo a situação. Não parece ser uma ciclista de verdade, apenas
uma mulher louca andando de bicicleta e atravessando faixas de
pedestres sem olhar o semáforo.
Na avenida, alguns veículos atrás de mim começam a desviar
ao buzinar e soltar palavrões, como se eu fosse o culpado dessa
merda.
Ela levanta, passando as mãos na bunda, que olhando daqui
de onde estou, parece bem empinada e dura. Uma delícia, se ela
não estivesse com cara de quem vai me irritar, eu teria perdido
alguns minutos admirando o seu rabo bonito.
— Você é louco ou o quê?
Dou uma risada seca, descendo os olhos pelo corpo dela. A
mulher parece um furacão. Os seios são bem empinados e é difícil
não ficar fascinado com eles. A pele morena bronzeada de um jeito
natural é incrível e até brilha por causa do sol. Os lábios são
carnudos e tem formato de coração.
— Eu poderia estar fazendo a mesma pergunta. Você se
meteu na frente do meu carro. O sinal estava verde pra mim, não
viu?
As mãos dela voam para a cintura fina e a vejo respirar fundo.
Contrai a mandíbula antes de começar a falar.
— Eu me meti na frente do seu carro? Sério? Pra começo de
conversa, eu já estava aqui e você quase matou um cachorro —
fala, e meus olhos seguem os dela até o filhote pequeno de cor
caramelo. Ele está em cima da faixa de pedestre e tem aparência de
doente e está tão magro que dá um pouco de pena. — E olha o
estrago que fez na minha bicicleta!
Oscilando a atenção da bicicleta amassada para o carro, noto
que o farol direito da minha BMW novinha está quebrado,
provavelmente por causa do impacto. Eu tinha pegado o carro
ontem. A vida só pode estar de brincadeira comigo.
— O sinal estava verde pra mim e olha o que a sua bicicleta
fez no meu farol.
Ela me ignora.
— Eu estava fazendo uma boa ação, não tenho culpa se você
é muito babaca pra não perceber isso. — Arqueia as sobrancelhas e
prende os olhos aos meus. — Todos os carros desviaram, porque
viram que eu estava tentando resgatar o cachorro. Mas você foi o
único que não viu. Por quê? Viu uma bunda no calçadão? Ou estava
ocupando demais no celular?
Sinto a garganta áspera.
Ela tem razão, eu estava ocupado no celular. Minutos atrás eu
tinha recebido uma mensagem da minha secretária avisando que a
maldita da minha ex ainda não tinha ido embora da empresa. E
saber da minha ex não é o tipo de notícia que vai deixar o meu dia
feliz ou me fazer bater palmas para qualquer louco na rua que esteja
tentando salvar um animal abandonado.
Muito amargo? Sim, eu sei, sou assim.
Penso por um minuto e olho à beira-mar. Não lembro a última
vez que tirei um tempo para correr no calçadão. Nos últimos anos
me joguei de cabeça no trabalho para esquecer as merdas que
aconteceram na minha vida.
Acho que preciso de férias.
Direciono as vistas para a Dra. Dolittle[8] e a vejo tentar pegar
o cachorro caramelo com cuidado. Ele é tão magro e desnutrido,
que não consegue ficar de pé sozinho, mas mesmo relutante, vai
para os braços dela, que não se importa com ele todo sujo e com
certeza, cheio de pulgas.
Meu celular vibra dentro do bolso uma vez e eu o pego. É uma
mensagem da minha secretária, avisando que Nissa deixou claro
que só vai embora do meu escritório depois de falar comigo.
A raiva é tão grande, que é por um triz que não arremesso o
celular na direção da praia.
— O que vai fazer sobre a bicicleta? — a Dra. Dolittle
questiona, me tirando do sério.
— Você quer dinheiro? — retruco, já caminhando na direção
do meu carro para pegar a carteira ao mesmo tempo em que tento
enfiar o aparelho celular dentro do bolso. Não me sinto culpado pela
situação, mas se isso for fazê-la sair do meu pé e calar a boca, é um
ótimo começo. — Quanto?
Ela ri, me fazendo parar com a porta aberta.
— Não preciso do seu dinheiro, mesmo que tenha destruído
minha bicicleta. Mas um pedido de desculpas seria bom e é isso que
eu quero. Peça desculpas.
Minha vez de rir.
— Você pode até querer um pedido de desculpas, mas isso
não significa que terá.
A mulher franze as sobrancelhas para mim.
— Foi a sua mãe que te ensinou a ser babaca desse jeito?
A pergunta me deixa irritado. Minha mãe é uma das melhores
pessoas que eu conheço e se me visse agindo assim, ela me daria
um sermão daqueles. O que seria vergonhoso, porque eu tenho
trinta anos, mas ela não se importaria com esse fato.
— Não fale da minha mãe. Nunca mais — murmuro entre os
dentes e ela vacila por alguns segundos, como se tivesse percebido
algo.
— Ela morreu? Sinto muito, eu não sabia.
Suspiro.
— Ela não morreu.
A mulher revira os olhos.
— Então ela deve estar decepcionada por ter um filho tão
babaca como você. Da próxima vez que você a vir, diga que sinto
muito.
Com a mandíbula contraída, encaro-a com intensidade. Ela é
tão irritante, não faz cinco minutos que estamos aqui e eu sinto que
ela já me insultou de várias maneiras. E mesmo que esteja furioso,
por que não consigo parar de olhar o decote dela? Os peitos são
lindos e parecem apontar para mim.
— Perdeu alguma coisa aqui, bundão? — ela resmunga,
chamando minha atenção. — Para de olhar meus peitos, isso é
assédio sexual.
Levo as mãos até as têmporas e massageio devagar
enquanto respiro fundo. Tenho vontade de mandá-la à merda, mas
também de bater forte na sua bunda empinada como punição por
estar me tirando do sério.
Eu devo estar louco. Nunca uma estranha me irritou e mexeu
com o meu pau ao mesmo tempo. Deve ser frustração por causa da
Nissa. Ela fode com a minha cabeça de mil maneiras diferentes.
— Escuta aqui...
— Escuta aqui você... — ela me interrompe e começa a
tagarelar, mas em algum momento da discussão, eu me desligo e
não escuto mais nada.
Ela não está ferida e o único estrago foi no meu carro e na
bicicleta, então, vou resolver isso da maneira mais breve possível e
viver minha vida antes que essa criatura me deixe louco.
Sem dizer nada, me inclino para dentro do veículo e pego um
cartão de visita no porta-luvas e entrego a Dra. Dolittle. Ela agarra
sem relutância e lê em silêncio os dizeres do cartão com certo
desdém.
— Se quiser uma bicicleta nova, entre em contato comigo — é
o que digo, me afastando para me acomodar no banco do motorista
e pisar no acelerador, dessa vez, desviando da empata trânsito.

Quase uma hora e meia mais tarde, estou saindo do elevador


no décimo andar. Atravesso as portas duplas de vidro e paro no
balcão, perguntando sobre os meus recados. Fiquei uma hora
zanzando pela avenida beira-mar e o centro de Florianópolis,
porque Nissa foi bem persistente e não queria ir embora.
Medo de mulher? Não exatamente. Só quero me manter a dez
mil metros de distância da minha ex.
Heloísa, minha secretária, pega as folhas de post it em que
anotou meus recados e me entrega, mas fica com uma folhinha
colorida nas mãos. Finge uma tosse e lê em voz alta.
— Henrique, quero apenas conversar. Vou continuar vindo
aqui até você falar comigo. Assinado, Nissa.
Arqueio uma sobrancelha, cético.
— O que foi isso?
Heloísa passa a mão livre no rabo de cavalo em cima da
cabeça e sorri.
— Ela mesma escreveu. — Gesticula com a folha colorida e
me entrega. — E ordenou que eu lesse em voz alta, porque tinha
certeza que no momento que eu te entregasse esse papel falando
que era mensagem dela, você jogaria no lixo.
— Pra quem você trabalha? Pra mim ou pra ela? — retruco,
carrancudo.
— Pro senhor.
— Lembre-se disso da próxima vez, Heloísa.
Dito isso, dou as costas e vou até a minha sala. Antes mesmo
de entrar, já estou arrancando a gravata e terno com a mão livre.
Jogo as folhas de post it em cima da mesa e ao ver o nome de
Nissa em um deles, me deixo levar pela raiva e amasso todos, em
seguida, jogo no lixo.
— Você tá bem? — Joaquim pergunta atrás de mim. Olho
para ele e não faço questão de esconder meu desgosto. — Por
favor, não responda, sua cara já diz tudo.
Reviro os olhos e me acomodo na cadeira acolchoada atrás
da mesa.
— Você tem muito tempo livre, Joaquim.
— Você também, já que sumiu por quase uma hora e meia.
— Ela disse que vai continuar vindo aqui todos os dias —
digo, encarando a tela desligada do computador e pensando no que
fazer. — Vou barrar a entrada dela no prédio.
— Isso não vai impedi-la de procurar você. E bem, não tem
como você ficar incomunicável, Henrique. Ela sabe onde você
trabalha, sabe o seu endereço, conhece seus irmãos, seus pais e
sabe até os lugares que você costuma frequentar. Eu esqueci de
alguma coisa?
Suspiro, irritado.
— Quero ficar sozinho — é o que digo, fazendo meu irmão
balançar a cabeça de maneira negativa, mas acaba saindo e me
deixando só.
Meto a mão no bolso para pegar o celular e não encontro.
Levanto da cadeira e procuro pelo chão, mas nada. Saio do
escritório e dou uma verificada na recepção e pergunto a Heloísa se
viu meu smartphone.
— Não, senhor.
Na minha sala, pego a chave do carro e desço até o
estacionamento e procuro no meu carro. No entanto, hoje deve ser
mesmo o dia mais azarado da minha vida, porque eu perdi meu
celular.
Depois de xingar por alguns minutos, subo para o escritório e
peço para Heloísa me comprar outro aparelho. Enquanto ela resolve
o meu problema, passo as próximas horas resolvendo processos
administrativos, assinando papéis e me encontrando com
fornecedores, mas a cada brecha que encontro, meu cérebro me
leva até o episódio de hoje cedo.
Dra. Dolittle e sua boa ação. O que tem de bonita tem de
irritante. Ela agiu como se eu fosse a pior pessoa do mundo por não
ter prestado atenção no que estava fazendo na rua.
Como consequência, meus pensamentos encontram o motivo
por eu ter saído do escritório e quase atropelado uma mulher.
Nissa.
Depois de três anos e ela ainda mexe comigo. Eu a odeio, é
claro, mas às vezes, queria poder não sentir nada em relação a ela.
Porque sentir alguma coisa, me faz lembrar daquele inferno que
vivemos nos últimos anos do nosso casamento.
E isso é uma parte da minha vida que eu quero apagar da
memória.
Pego o telefone fixo, ligo para Heloísa e peço que venha até a
minha sala.
Como sempre, ela entra segurando a agenda aberta e uma
caneta. De maneira sutil, senta na cadeira à minha frente e endireita
os óculos de armação moderna antes de olhar para mim.
— O celular já deve estar chegando. A loja disse que
entregaria antes do almoço — é a primeira coisa que ela diz.
— Do que mais eu preciso na vida? — rebato, fazendo-a unir
as sobrancelhas e me encarar com os olhos semicerrados.
— Isso é uma pegadinha e a minha resposta vai fazer o
senhor me demitir por justa causa?
Bato as pestanas por alguns segundos e respiro fundo.
— Não. Tem algo que você diz sempre que estou estressado...
— Ou seja, todo dia — me interrompe. — Desculpe —
emenda e abre um sorriso amarelo para mim.
Eu conheço Heloísa há um pouco mais de quatros anos. Ela
acompanhou todo o meu drama de estar casado e depois,
divorciado. É uma intrometida, mas é a única que consegue aturar o
meu mau humor impertinente.
Antes dela, eu vivia trocando de secretária a cada seis meses.
Não que fosse eu a dispensar minhas secretárias, mas as garotas
não conseguiam aturar meu humor quando algo não saia do jeito
que eu queria. E bem, digamos que não vou ganhar o prêmio de
chefe do ano nem que eu faça muito esforço.
— A última vez que tirei férias foi... — Paro no meio da frase,
não quero ter que lembrar disso, então pulo essa parte. — Faz
tempo. Acho que preciso disso. Preciso ir para um lugar e ficar
incomunicável. Ou quase incomunicável.
— Sério? Agora?
— Qual é o problema?
— Faltam quatro semanas para o lançamento da linha de
produtos sustentáveis e o senhor gastou bastante tempo e dinheiro
nisso. Vai tirar férias agora?
Sou o CEO de uma empresa de cosméticos, a Renova
Dupont. E recentemente, eu arrisquei criar uma linha de produtos de
beleza totalmente sustentável para lançar aqui no Brasil e na
Europa. Ela tem razão, eu investi muito tempo e dinheiro em todo o
processo, mas está tudo indo muito bem.
Não tive nenhum imprevisto até o momento.
— Vou — é o que digo. Na verdade, é a única maneira de não
esbarrar com a minha ex ou fugir como uma criança toda vez que
ela aparecer por aqui. — Desmarque todas as minhas reuniões, o
resto vou resolver via e-mail ou ligação.
Heloísa pisca devagar, mas assente.
— Sim, senhor.
Ela começa a fazer anotações frenéticas na agenda.
— O que gente jovem gosta de fazer pra passar o tempo hoje
em dia? — questiono e ela explode em uma risada. — Que bom que
minhas perguntas são divertidas, Heloísa.
— É que o senhor fala como se fosse um cinquentão —
comenta, ainda rindo da minha cara. — O senhor ainda é jovem, só
tem o humor de um velho ranzinza.
Respiro fundo e a encaro sério. As bochechas dela coram e
ela balbucia um “sinto muito”.
— O que você sugere?
Além da minha mãe, Heloísa é a única mulher com quem eu
converso de verdade. Não vou mentir e falar que são as únicas
mulheres na minha vida, porque eu tenho uma lista de amigas
íntimas que me ajudam com as minhas necessidades, mas sem
toda aquela conversa de como foi o seu dia.
Só o bom e velho sexo sujo para desestressar.
E assim está ótimo para mim. Extravasar todo o meu estresse
com uma foda selvagem e louca é tudo que eu preciso para ter uma
noite de sono tranquila e dormir como uma criança.
Não tenho pretensão de deixar outra mulher entrar na minha
vida e foder minha cabeça como Nissa fez. Foi difícil me erguer
depois do que aconteceu e não estou a fim de ser magoado de
novo.
— Já sei!
Ela tira o celular de dentro do bolso da calça jeans e começa a
deslizar os dedos sobre a tela ao mesmo tempo em que explica:
— Esses dias, eu vi um anúncio na internet. Viagem de
cruzeiro. Parece muito interessante. O que o senhor acha? Doze
dias e onze noites. Vai sair de Balneário Camboriú, depois vai para
Búzios, Salvador, Fortaleza e Maceió.
Viagem de cruzeiro? Nissa não conseguiria me encontrar nem
se quisesse, o que é bem vantajoso. E eu poderia resolver algumas
coisas do trabalho por e-mails e ligações. Não ficaria tão off assim.
Não é uma ideia ruim.
E acho que estou precisando muito de férias. Faz um pouco
mais de três anos a última vez que tirei um tempo só para mim.
— É perfeito. Compre uma passagem — digo, me remexendo
na cadeira. — Essa conversa é extraoficial. Mantenha em segredo.
Não quero ninguém sabendo. E quando digo ninguém, isso inclui
minha família.
— Vai ser um pouco difícil, a família Dupont inteira trabalha no
mesmo prédio. E o senhor sabe, os seus irmãos são bem
persuasivos. Não sei se consigo esconder uma coisa dessas. O que
eu vou dizer? Sou sua secretária, a agenda do senhor é
praticamente o meu livro de cabeceira.
Solto uma lufada de ar e assinto, contrariado.
— Te dou um aumento de salário.
Heloísa abre um sorriso largo.
— Quanto? Vamos falar de números, senhor.
— Cinco por cento — digo, mas ela não parece satisfeita, pois
torce a boca carnuda pintada de gloss rosa e finge pensar.
— Dez por cento e não se fala mais nisso.
Penso em negar, mas Heloísa está comigo há anos e a
conheço tempo suficiente para saber que é uma pilantrinha e não
vai ceder. Então, decido concordar de uma vez ao soltar um
resmungo.
— Ok.
Ela abre um sorriso triunfante e estende a mão em
cumprimento para selar o nosso acordo.
— Vou reservar uma suíte com varanda e sem visão
obstruída, senhor Dupont — fala e me dá uma piscadinha antes de
sair da sala.
CICI PERLONI

Já reparou como sempre tem algum babaca que acha que


está arrasando só por dar uma secada na sua bunda e depois fazer
um comentário super machista? Fico me perguntando o que passa
na cabeça de um idiota desses. Se bem que não tenho tempo para
isso. Depois de erguer o dedo do meio para o imbecil que gritou
“hummm, bundinha gostosa, hein”, viro as costas e tomo o meu
caminho.
Sinceramente, tem dias que a gente nem deveria levantar da
cama. Só hoje, já deixei cair um bolo no chão, esqueci a chave da
minha biz e tive de voltar na loja da cliente pra buscar e agora isso,
um babaca lambedor de beiços falando da minha bunda para todo
mundo ouvir.
Vai se ferrar seu escroto, é o que eu deveria ter dito, mas
estava ocupada no celular, me desculpando com a cliente do bolo
que deixei cair no chão quando tropecei no cordão da calçada, logo
que saí de casa.
Para minha sorte, tenho um bolo reserva que vai me salvar,
um não, dois, mas o segundo já tem destino certo.
Certifico-me de que a caixa da moto está bem trancada,
porque não quero ter outro incidente nesse dia que já está para lá
de estressante, então me preparo para sair em disparada pelas ruas
de Florianópolis. Imagina estar cruzando a ponte e descobrir que
deixei um rastro de cupcakes. Melhor olhar de novo.
Fechada, vamos nessa.
Levo o bolo reserva para a cliente que está com uma cara
irada quando me vê, na verdade, não era um bolo reserva, mas sim
uma encomenda de outra cliente que cancelou de última hora,
depois que teve uma emergência familiar. O que acabou salvando a
minha pele, porque seria vergonhoso demais não entregar um
pedido por conta de um tropeço que me deixou com o dedinho
doendo.
Peço um zilhão de desculpas, mas a cliente só fica satisfeita
quando dou um desconto de vinte por cento. E olha que o bolo
reserva era mais caro do que a encomenda original dela. Ah, que se
dane, só quero entregar esse bolo e ir embora.
Que dia de merda.
Depois de me acertar com a mulher, enfio o dinheiro no bolso
do meu jaleco e vou para minha biz[9].
Sim, eu sou uma confeiteira boa, só um pouco desmemoriada,
porque posso jurar que esqueci de novo a chave da moto. Merda.
Merda. Merda.
Não, espera, tá no pescoço. Ufa.
Ligo a biz e saio de volta à ilha. Florianópolis é um lugar lindo,
mas dá trabalho transitar pela cidade durante a semana, ainda mais
nos horários de pico, então, termino de entregar o que falta pelo
centro e vou em direção à empresa onde minha irmã está
trabalhando nos últimos três meses.
O escritório da Dupont fica em um edifício de uns quinze
andares, na região mais nobre da principal avenida da cidade, a
Beira Mar Norte. A vista é linda, o cheiro do mar, apesar de não ser
um mar limpo, é bom. Estaciono a biz do lado de fora do prédio,
perto de um canteiro, passo a corrente e bato o cadeado, depois
caminho até o prédio.
O porteiro que me recebe tem um olhar engraçado focado nos
meus cabelos cor de rosa. Ele dá uma inspecionada na minha roupa
colorida por baixo do jaleco e faz uma careta. Ah, qual é? Hoje em
dia todo mundo se veste como quer. Grande coisa eu estar com um
top amarelo florescente por baixo do jaleco, e que o jaleco tem
desenho de um monte de bolos, rosquinhas e brigadeiros.
Propaganda é a alma do negócio, afinal.
Entrego minha identidade e ele bufa.
— Que que foi? — encaro-o, pronta para o embate. Meu dia já
foi uma merda, não estou a fim de aturar mais nada de ninguém. —
Pode ver aí que tenho autorização do décimo segundo andar.
— Você está liberada — ele diz, devolvendo meu documento.
— Que coisa feia, julgar a pessoa pela roupa — resmungo,
olhando-o nos olhos. O homem fica vermelho, mas não retruca.
Saio sem esperar por uma resposta. Hoje minha paciência já
foi testada mais de uma vez e se eu ficar encarando outro babaca
que acha que pode me julgar pela minha aparência vou acabar
chutando a bunda de alguém.
Entro no elevador e aperto o botão de número doze. Dá pra
acreditar que o prédio inteiro é da família Dupont? Eles são um tipo
de Conglomerado e parece que cada irmão tem sua cota de
andares, minha irmã Lu já me explicou mais ou menos como
funciona, mas não prestei muito a atenção. É difícil coordenar o
papo quando se está de frente para uma vista como a que tem aqui.
Pra falar a verdade, nunca estive lá em cima, toda vez que
venho esperar minha irmã é ela quem desce. Mas não hoje, hoje ela
está precisando do meu bolo de conforto.
Pra encurtar a história, minha irmã descobriu há uma semana
que está grávida e até aí tudo bem, ela sempre cuidou bem de mim
e com certeza vai fazer um ótimo trabalho com o bebê, o problema
está no fato de que esta manhã ela voltou para casa com todas as
suas coisas, chorando, porque o cretino do namorado sumiu no
meio da noite e ainda roubou todo o dinheiro que ela tinha
reservado para as contas do mês, além de ter levado a televisão e o
DVD. Filho da puta.
A nossa casa é muito simples. Sempre fomos nós três, minha
irmã Luciana, eu e a nossa mãe Noeli. Sempre demos um jeito e
agora não será diferente. Vou fazer o que puder por ela e o bebê. A
família Perloni vai ter outro membro, mal posso esperar.
Enquanto o elevador sobe, repasso mentalmente o que
planejei, se eu dobrar minha produção de bolos consigo ajudar
minha irmã com o bebê, não só com o enxoval, pois teremos de
arrumar mais um quarto em casa. Assim que a criança nascer ela
vai precisar do quarto que sempre dividimos e não temos uma sala
propriamente dita onde eu possa jogar um colchão e dormir, então
preciso fazer um espacinho pra mim. Cabendo uma cama e um
guarda-roupa tá mais do que bom, ou construir uma extensão onde
possa acomodar ela e a criança com mais conforto. Seria muito
bom.
Afasto os pensamentos quando as portas se abrem, deixando
o ar fresco afundar no meu peito. O lugar é simplesmente de tirar o
fôlego. Chique não chega nem perto de explicar a visão.
O ambiente é grande, em um tipo moderno de conceito aberto,
com as salas feitas de paredes de vidro. Pessoas elegantes
circulam por aqui e por ali, mas ninguém se importa com a minha
presença. E olha que eu destoo bem nesse lugar fino. É como se eu
fosse um quadro impressionista pintado com purpurina e todo
restante fosse só imagem de paisagens nubladas.
Dou alguns passos inseguros para um tipo de ilha circular que
fica na direção das portas de elevador. Olho por cima do balcão e
uma garota com cara de top model ergue os olhos do telefone e
abre um sorrisinho simpático.
— Vim fazer uma entrega para Luciana Perloni, secretária
principal — digo e ela acena concordando, depois aponta com a
cabeça para um outro lado do enorme salão.
Passo pela ilha, absorvendo o requinte do andar principal da
Dupont e caminho até a mesa onde provavelmente minha irmã
trabalha. Começo a me preparar para sentar num sofá que fica
encostada numa grande parede de cimento queimado. Só esse sofá
deve valer mais do que a minha casa toda. Com certeza. O som de
algo se quebrando me faz virar na direção da sala que fica logo à
frente.
E o meu mundo parece paralisar.
Um homem absurdamente lindo, jovem, mas lindo, está
gritando.
O ar foge dos meus pulmões quando o vejo se virar de
relance. Apesar da fúria ele é, uau, delicioso, barba cerrada, pele e
olhos claros, cabelo escuro e bagunçado, terno com corte perfeito. É
a visão do paraíso. Um paraíso furioso e sexy. Babando, minha
mente já consegue imaginar a voz, o sorriso...
Mas então percebo com quem ele está berrando e sinto
imediatamente o meu sangue ferver. Ele está gritando com a minha
irmã grávida que acabou de ser roubada e abandonada pelo pai do
seu bebê.
Sem pensar, invado a sala do homem. Ele para quando me
vê, um olhar de confusão brotando no rosto lindo e brutal.
— Quem você pensa que é? — grito.
— Como é? — ele soa confuso, olhando-me de cima a baixo.
Luciana vem na minha direção, mas estou furiosa demais para
me conter e nem olho pra ela, se olhar e der de cara com o que
imagino que é sua expressão nesse momento, vou quebrar tudo que
estiver ao meu alcance. Ninguém mexe com meu sangue e sai
impune, ainda mais hoje.
— Você ouviu. Quem você pensa que é para tratá-la assim?
— Cici... não — Lu tenta, mas a ignoro.
— Cici? — ele pergunta para minha irmã que percebo que
está tremendo e isso me deixa mais furiosa. — Você conhece essa
doida?
— Doida? Você vai ver doida — digo, e faço a única coisa
doida o bastante para lidar com esse babaca. Num minuto ele está
me encarando confuso, no seguinte, estou atacando.
Com passos rápidos paro diante dele e antes que o
homenzarrão tenha qualquer reação, ergo minhas mãos, tiro a
tampa da embalagem do bolo e o lanço direto na cara dele. Bem no
meio da fuça do babaca que maltratou minha irmã. Se tivesse
mirado com calma provavelmente não teria me saído melhor.
Meu lindo bolo de conforto acaba de se tornar um bolo de
confronto.
Uma mistura de cabelo, glacê cor de rosa e pele. É nisso que
o chefe da minha irmã acaba de se transformar. E ele fica sem
qualquer reação.
O creme e a massa de bolo correm do rosto para a camisa e o
terno. Ele abre os braços para, só então, compreender o que acabo
de fazer.
Suas mãos fortes vão para os olhos e rosto, tentando se livrar
do meu lindo e destruído bolo de chocolate. Seu rosto e sua roupa
se transformam numa confusão de cores e sabores, mas não dou a
mínima, a sorte dele é que eu estava segurando um bolo e não um
machado ou uma arma. Eu acabaria atrás das grades, mas ele
certamente mereceria.
— Mas que porra é essa? — o cara grita e minha irmã cobre a
boca com a mão, assustada. Foi tudo tão rápido que acho que
peguei todo mundo desprevenido.
Viro para ele e o encaro com fúria. Por dentro, tenho que
confessar, estou com um pouco de vontade de rir. Ele é lindo e está
muito bagunçado por causa do meu ataque, mas isso não muda o
que ele fez. Mordo a língua pra me impedir de amolecer e com uma
expressão de brava o encaro de frente. Ergo meu dedo indicador e
miro na sua cara.
— Só porque você é rico não significa que tem o direito de
tratar as outras pessoas como lixo. A minha irmã é uma ótima
pessoa e uma secretária incrível, seu idiota — dito isso, vou até
minha irmã e a puxo para fora da sala. — Vamos, de jeito nenhum
você vai continuar trabalhando aqui.
— Mas Cici... — ela tenta. — Não posso.
— Vamos embora, Lu. Não posso deixar esse cara maltratar
você, ninguém tem esse direito.
O babaca bonitão vem na nossa direção e parece pronto para
briga. Talvez eu precise mesmo lançar mão de algum golpe ninja
que aprendi nos filmes. Ele não perde por esperar, não faz ideia do
quanto posso ser boa com as pernas, já corri muito nessa vida e já
chutei muitos idiotas nos países baixos.
— Vou chamar a polícia — ele pega o celular, e agora estou
mesmo considerando partir para as vias de fato.
— Faça isso, vamos ver o que eles terão a dizer quando
souberem que você estava aterrorizando uma mulher grávida. O
nome disse é assédio moral.
Então ele para e seus olhos correm direto para a barriga da
minha irmã. Sua expressão é um misto de confusão e descrença,
mas ao vê-la colocar a mão no ventre ele recua, atordoado.
— Eu... eu não sabia.
— Agora você sabe, então fique longe de nós.
Oi, tudo bem?
Espero que você tenha gostado de acompanhar a jornada da
Luciana e do Gabriel, que tinha tudo pra dar errado e deu, com os
planos de casamento falso indo para o ralo e se transformando em
um grande amor.
E o que achou do bônus?
É uma história nova e diferente de tudo que já fiz, mas que
está me conquistando a cada dia.
Ainda não tenho uma data de lançamento, mas espero que
você continue me acompanhando para ler esse novo romance
quando ele chegar.
Ah, se você tiver Instagram, te convido a acompanhar as
novidades por lá, sempre tenho algo pra contar sobre os novos
livros. Meu perfil é: @gracirocha_autora
Bom, por hoje é só, espero que logo nos vejamos e que você
esteja bem e seguro.

Boas leituras!
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[1]
Praia oceânica localizada na ilha de Florianópolis, Santa Catarina. Conhecida
por sua beleza e por ser um ponto procurado por surfistas. Com muitas dunas e
água limpa, ela encanta.
[2]
Jurerê é um bairro no norte da ilha de Florianópolis, dividido em Internacional e
tradicional. Aqui, Gabriel está se referindo a parte de Jurerê Internacional, parte
considerada nobre, com casas de luxo e alto padrão.
[3]
Trapiche é o nome usado para o píer que tem na Avenida Beira Mar Norte em
Florianópolis.
[4]
Raivosa em espanhol, apelido carinhoso que Henrique deu pra Marisol no livro
Socorro, o CEO sumiu, livro 2 da série Irmãos Dupont, de autoria da Brenda
Ripardo.
[5]
Cabrón é um xingamento em espanhol, algo como idiota ou coisa do tipo.
[6]
Refere-se a Alice, protagonista do livro Amigo Virtual, a ruiva que pensou que
se casaria com, mas acabou amando outro irmão Passatori.
[7]
Mila Bitencourt, a ex hacker que conquistou o coração de Josh, o bancário das
pernas saradas em Green Card – Um magnata em minha vida.
[8]
Referência ao filme note-americano de 1998, dos gêneros comédia e fantasia.
Dr. Dolittle é o um homem que fala com animais domésticos e selvagens .
[9]
Moto Honda Biz.

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