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Copyright © 2022 – Carla Arine

Capa: LA Capas
Foto: Adobe Stock
Revisão: Walter Bezerra
Diagramação Digital: Carla Arine
ISBN: 978-65-00-52888-6 .
Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

__________________________________
1ª Edição
2022
__________________________________

Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e / ou a reprodução de qualquer parte dessa


obra, através de quaisquer meios ─ tangível ou intangível ─ sem o
consentimento escrito da autora.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e


punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sinopse
Nota da Autora
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Epílogo 1
Epílogo 2
Agradecimentos
Sobre a Autora
Outras Obras
Redes Sociais
Bárbara e Brian têm uma história de amor mal resolvida.
No passado, eles viveram uma paixão fulminante e em segredo.
Mesmo pondo em risco suas carreiras, já que faziam parte de times opostos,
não conseguiram resistir à química explosiva que os puxava um para o
outro como um ímã.
Um mal-entendido pôs fim ao relacionamento tórrido, mas mesmo
anos depois eles não conseguem se esquecer do que viveram.
Quando Bárbara é selecionada para uma vaga de emprego em outro
país, a última coisa que espera é reencontrar o herdeiro bilionário que é
também o dono de seu coração, mas o destino já decidiu que eles precisam
dar continuidade àquela história de amor, e quando estão frente a frente
outra vez, o sentimento há muito adormecido volta à tona com toda sua
força avassaladora.
Um Contrato com o Bilionário contará a história de Bárbara
Alves, uma profissional de turismo que acaba de ganhar um prêmio, e Brian
Hamilton Smith, um CEO bilionário à frente de uma empresa familiar, num
reencontro anos depois de se separarem.
Atenção. Esta história é derivada do romance CEO’s: A Disputa.
Então, esperem para ver um pouquinho mais de Carolina e Samuel.
Preparem-se para rir e se emocionar com a bela história desses dois.
Mil beijinhos e uma ótima leitura.
Carla Arine
Estava perfeito demais para ser de verdade. Ele era todo fofo,
tímido, e sabia fazer um jantar maravilhoso... Tinha que ter um defeito.
Ainda bem que descobri a tempo, seria pior se tivéssemos firmado
compromisso público ou quem sabe um casamento. Sim. Somente Carol
sabia, e foda-se se aquele outro gringo tinha conhecimento.
— Chegou, moça — o motorista do Uber me avisa.
Abro a porta do carro e sigo direto para a minha casa.
Hoje tinha tudo para ser uma noite memorável. Foi a prova final de
Carolina contra Samuel, e claramente seria tenso. Ainda não sabemos quem
vai ser o próximo CEO, mas a revelação mais surpreendente de todas já
tinha acontecido e eu ainda não conseguia acreditar: que Brian Smith,
Samuel Wilson e o tio dele, Oscar Wilson, vieram para o Brasil com o plano
mais sórdido de todos.
Não posso negar que também me encantei pelos gringos, mas minha
melhor amiga se apaixonou de verdade, mesmo com toda a loucura que foi
odiar e amar seu maior oponente. Mas agora sabemos o porquê disso tudo.
Uma aposta. Colocaram o poder de sedução do gringo sortudo para
conquistar a minha amiga e estavam comemorando o resultado, tirando-a do
páreo. O que eles não esperavam era que a Carol daria um show em cima de
um salto.
— Eles que se fodam! — exclamei, no banheiro encarando minha
cara branca no espelho. Meus olhos já vermelhos de tanto tentar evitar as
lágrimas que querem jorrar.
Que merda!
Quem diria que a noite terminaria assim? Quando saí, estava certa
de que passaria a noite nos braços de Brian, num motel ou no seu
apartamento. Até uma lingerie sexy tinha escolhido, mas agora, só de
pensar no infeliz, tenho vontade de... argh.
Volto para a sala e pego na bolsa umas das duas cervejas que trouxe
do evento, tentando me consolar por ter me apaixonado pelo cara errado.
Não posso acreditar. Mais um mentiroso para a minha lista de decepções.
Novamente vou dormir sozinha refletindo sobre meus erros.

Desempregada e com uma mensalidade de faculdade de Turismo


que custa quase um rim para pagar. Essa é a minha atual realidade. Um dia
passou e a minha fúria com Brian e Samuel não diminuiu nem um pouco.
Principalmente por conta do meu quase ex, que está com a foto piscando na
minha tela de 20 em 20 minutos como se nada tivesse acontecido.
Que ranço eu estou daquele gringo gostoso! Falando a verdade, eu
sei que Carolina não entende tanto de inglês, mas tudo o que disse tem a ver
sim com aposta. Vindo da boca do Brian, deixa mais do que claro que está
envolvido até o pescoço nessa história.
Agora, Carol saiu para falar com o seu ex, e estou em casa comendo
sorvete de chocolate enquanto torço para que esse sentimento passe logo de
uma vez. Estou tentando evitar, mas Brian entrará na listinha dos infelizes
que me fizeram sofrer e conquistará a primeira...
Ding Dong.
Levanto-me na hora e, imaginado ser Carol, libero a entrada ao abrir
a porta, mas me decepciono no instante em que vejo quem vem. Não
acredito que é ele. O mais insano é que meu coração descompassado
descobriu antes dos meus olhos.
Eu me encantei por ele na primeira vez que o vi. Ele é branquinho
de cabelos pretos, olhos azuis claros, porte atlético e um jeitinho romântico
que dá vontade de colocar no potinho. Um beijo desse homem me leva às
estrelas e quando me toma em seus braços, esqueço até o meu nome. No
entanto, agora eu sei que não é só disso que ele é formado.
— Bárbara...
Assim que escuto meu nome, toda a lembrança me assalta.
— Fala a verdade, Brian — exijo em inglês. Na verdade, só
conversamos no idioma dele. Com poucas exceções pontuais. — Eu sei que
você sabe do que estou falando.
Ele hesita e imediatamente entendo que Carolina tinha razão. Por
que ele fez isso?
— Vai embora daqui! — exijo, apontando para fora.
— Meu amor...
— Eu não vou ouvir mais nenhuma mentira sua, Brian! — eu o
interrompo, mandando-o embora. — Some da minha casa!
— Bárbara, me escuta... — ele tenta novamente, mas não deixo.
Nunca mais um homem vai mentir para mim assim.
— Eu não quero te escutar. Desaparece da minha vida, Brian. Volta
para sua terra e me esquece.
— Querida, me escuta...
— Eu não quero te ouvir — respondo, nervosa. — Vai mentir outra
vez, não é? — acuso.
— Eu não menti para você — ele declara.
Imediatamente a fúria me cega.
— Vai falar que você e seu amigo não fizeram a aposta?
— De que aposta está falando?
Somente agora percebi a presença de Samuel. Era só o que faltava.
Mas quer saber, talvez seja bom jogar umas verdades na cara desse infeliz
também.
— Vai falar que não apostou com esse aqui e seu tio que iria dormir
com a minha amiga?
Samuel dá um passo para trás, nervoso, mas não acredito em uma
linha do que vejo.
— Do que você está falando, Bárbara? Eu nunca fiz isso e jamais
faria algo assim com alguma mulher...
— Mentira! — exclamo, revoltada. Como homens conseguem
inventar tanto? — A minha amiga ouviu a conversa de vocês. Não passa de
um conquistador barato que só a usou.
Exponho tudo que sei, mas então Samuel começa a falar que a culpa
era de Carolina, e quando minha amiga chega com o ex, o barraco está
armado. Entretanto, no meio da discussão dos dois, eu só consigo ver o
quanto fui idiota por ter me apaixonado por um enganador que só me usou.
Depois que Carol vai embora, ele tenta de me convencer de novo,
mas não dá. Por isso, expulso os dois e falo as palavras que me recordarei
para sempre. “Esquece que eu existo, Brian Smith. Eu não vou dar a chance
de brincar com meus sentimentos como seu amigo fez com a minha amiga.”
Então, bati a porta, permitindo-me chorar por ter escolhido errado
mais uma vez. Deixei-me levar pelo amor e novamente meu coração foi
despedaçado.

As malas estão prontas. Meu passaporte com visto de trabalho e


tudo mais que se faz necessário. É hoje que vou para a cidade mais
romântica do mundo, entretanto estou indo sozinha.
— Falta mais alguma mala? — Sam me pergunta ao levar a minha
terceira bagagem.
— Não — respondo ao pegar minha bolsa, dando uma olhada na
minha casa pela última vez e relembrando de tudo que vivi aqui. Momentos
felizes com meus pais, aniversários que tive, momentos com a Carol e até
com alguns babacas que mais me usaram do que qualquer outra coisa. Os
mais recentes e ainda vívidos em minha cabeça são aqueles com Brian. Tem
meses que não nos vimos, e mesmo assim ainda penso em seus lábios nos
meus, no seu cheiro delicioso, uma mistura única de refinado, claramente
dos perfumes de Sam, e o aroma das roupas simples que veste.
— Babis? — Carol me chama me tirando de meus pensamentos e
então a abraço.
— Eu vou sentir saudades de você, minha amiga! — declaro, a
apertando em meus braços, e as lágrimas surgem.
— A gente sabia que esse dia chegaria, lembra? — ela me pergunta,
limpando os olhos castanhos e se fazendo de forte. — Você vai realizar o
seu sonho...
Confirmo com a cabeça, emocionada.
— Amiga, você vai conquistar aqueles franceses. Não tenha
dúvidas.
Eu a abraço com força e nós duas choramos. Estamos juntas desde
quando entrei na Vision, e por anos vi Carolina batalhar para realizar seus
sonhos; agora conseguiu, e de quebra está namorando oficialmente Samuel
Wilson. Como os dois brigões se entenderam? Uma hora eu conto.
— Vocês estão chorando? — Sam aparece na porta, estranhando, e
nós duas rimos ao sair. Por fim, passo a chave na porta.
Samuel Wilson[1] é um projeto de homem que muitas ficariam
babando. Ele é loiro, alto, forte, viciado em corridas no parque da região
onde mora, olhos azuis, e parece demais aquele deus nórdico do filme de
super-herói, como a própria Carolina fala.
— Estávamos nos despedindo, Honey — ela fala, o beijando, e
segue de mãos dadas com ele até o Audi que vai me levar para o aeroporto.
Respiro fundo, sorrindo e ansiando pelas próximas aventuras que
virão. Então, me despeço do meu antigo lar e entrego as chaves para a
minha melhor amiga.

— Só você para me tirar de Paris, Carol! — reclamo, falando


comigo mesma, sentada na festa de casamento mais badalada que a Lapa já
viu.
Sim, aqueles dois apaixonados tão opostos como água e óleo se
casaram. Confesso, sempre imaginei que eles ficariam juntos e teriam
vários CEOszinhos, na verdade, creio que isso vai acontecer. Mas não posso
deixar de falar o quanto é louvável ver como se entenderam depois da
enorme disputa que viveram.
Quem os vê juntos nem imagina o que passaram para que esse dia
fosse possível. Minha amiga conseguiu um amor de verdade e fico muito
feliz por ela.
Para quem pensa que foi na igreja e super formal, está totalmente
enganado; até a cerimônia aconteceu aqui, na Lapa, onde se encontraram
pela primeira vez, o que deixou tudo lindo e emocionante. Bastante penoso
para mim foi sentir o olhar de Brian em meu corpo a cada segundo.
Claro que também fiquei mexida por reencontrá-lo depois desse
tempo todo; foi demais tentar controlar minhas emoções quando o vi
chegando para entrar como padrinho do noivo num smoking azul-marinho,
cabelos alinhados para trás e barba curta. A minha vontade era de chamá-lo
para um canto e o bagunçar com beijos quentes, mas tive que me conter.
Ainda bem que Carol não me colocou para entrar com Brian, porém
não adiantou tanto assim, principalmente por ele estar exatamente atrás de
mim.
Agora eu vou contar uma verdade: tem horas que dá uma raiva do
meu coração bandido; ele só quer aqueles que não prestam. Queria tanto
que existisse uma pequena chave nele para que eu conseguisse me livrar
facilmente desses sentimentos indesejáveis. Assim seria muito mais fácil
não me sentir enciumada ou até mesmo furiosa por vê-lo conversando com
outras mulheres que estão babando por ele.
Claro que jamais voltaria com Brian. Eu sei que é um mentiroso
daqueles, mas bem que eu poderia aproveitar um pouco mais dele sem ter o
risco de me apegar. Aff! A quem eu quero enganar? Eu ainda estou
apaixonada pelo gringo e tenho que dar um jeito de não mais vê-lo.
— Amiga. Tá tudo bem? — Carol se senta ao meu lado.
Balanço a cabeça confirmando.
— O casamento foi lindo e está estampado na sua cara o quanto está
feliz.
Ela sorri, alegre. Está belíssima no seu vestido curto, um pouco
bufante, mas que não deixa de contrastar belamente com sua pele negra e
seus cabelos crespos.
Um garçom passa com champanhe, pegamos uma taça e brindamos.
Depois, seu semblante muda e ela segura minha mão.
— Amiga, eu não ia te falar, mas acho melhor que saiba.
— O que foi? — pergunto, preocupada.
— Já se passaram meses desde que você e o Brian terminaram,
então acho melhor falar tudo de uma vez.
— O que foi, Carol? Diz logo de uma vez. Tá me deixando tensa,
mulher — reclamo.
Ela torce o lábio e foca meus olhos.
— O Brian foi atrás de você em Paris. Sendo mais específica, dois
dias depois que você viajou.
— Mas... ele nunca me procurou... — esclareço, procurando-o com
o olhar.
— Ele já foi embora — ela afirma, compreendendo meu
movimento. — Despediu-se de nós há alguns minutos.
Engulo em seco, sentindo mais uma vez a decepção e a tristeza me
assaltarem. Tem quase um ano desde que terminamos, mas ainda dói como
se fosse ontem que tudo aconteceu.
— Amiga... — ela começa, mas dessa vez sou eu que seguro sua
mão.
— Obrigada por me contar, Carol. Acho que agora meu coração vai
entender que realmente acabou. Seja lá o que o Brian procurou em Paris,
não foi a mim quem encontrou.
Pouco depois, volto para o hotel e pego minhas coisas. Então,
retorno para o lugar de onde deveria ter saído. Minha agência, na França.
Três anos depois.

— Eu amei a sua equipe — uma brasileira me agradece. — Saber que os


guias falam nosso idioma facilita demais. Vou indicar a todos meus amigos lá em
São Paulo.
— Agradeço demais — respondo sorrindo e apertando sua mão, mas ela
me puxa para um abraço, que é um costume tão grande do nosso Brasil.
Depois nos despedimos e a vejo ir embora com a família. Nada poderia
melhorar. Estou realizando o meu sonho de trabalhar com turismo na Cidade Luz.
Não posso dizer que foi fácil, mas fui conquistando espaço e agora tenho o
que eu mais queria, que é uma empresa que cresce na internet e por indicação de
outros clientes. São tantos que ligam para nós marcando pacotes com hospedagens
que há dias em que preciso manter alguns funcionários depois da hora.
No entanto, quando chego em casa, me vejo sonhando com novos
horizontes. Bem que eu poderia expandir para outra cidade ou país, não é? Claro
que todos me dizem que ainda não é o momento, mas quem sabe eu possa
começar com uma agência nova em Marselha?
Sei que é do outro lado da França, mas a mobilidade aqui é muito mais
fácil e lá tem um ponto turístico grandemente rentável: a Basílica de Notre-Dame
de la Garde. Seria perfeito, só precisaria de um sócio para entrar de cabeça
comigo.
De certo que não iria pedir essa ajuda para a Carol. Ela já é minha sócia na
agência, mas sei que não tem como colocar mais capital. Casada, com dois filhos,
e gerenciando duas empresas; impossível pedir para entrarmos na terceira. A
minha melhor oportunidade seria encontrar com alguém do ramo. Melhor pensar
depois nisso, o mais importante agora é resolver os probleminhas de reservas dos
clientes.

— Mademoiselle Bárbara?
Estou muito distraída, focada na tela à minha frente para que um grupo de
50 pessoas venha para uma renovação de votos na Fontaine des Mers, no fim do
próximo mês.
— Fale, Simon — respondo para meu gerente e braço direito, tirando os
olhos da tela.
— Podemos ir? — pergunta e só então olho para o relógio e percebo a
hora.
— Deus do céu! Está muito tarde.
Então, dispenso-os também, saio e fecho a agência.
Vou para o meu apartamento, tomo um banho relaxante e caio na cama.
Bem que seria uma boa encontrar um velho da lancha para me dar umas férias
dessa rotina de trabalho com mais trabalho que é a minha vida. Não é reclamação,
eu amo trabalhar com turismo, mas bem que eu queria um cara gato na minha vida
para pagar minhas contas, me fazer gozar entre quatro paredes e, ainda por cima,
dizer que me ama. Será que seria pedir demais?
— Eu tenho que parar de ler romances — falo comigo mesma, rolando nos
cobertores.
Pensando nos meus relacionamentos, nenhum deles tinham renda para
realizar o meu desejo. Desde o primeiro até o mais recente, fica provado que tenho
dedo para pobre. Se for elencar, Agenor, que era dono de um mercado de
vizinhança, foi o mais endinheirado com quem fiquei, mas era tão... apressado na
cama que foi decepcionante. Um dos que pagava a conta nos restaurantes e até de
surpresa era Francisco, entretanto esse dava dor de cabeça breve. O homem
tomava uma cerveja e se tornava o maior ciumento de todos os tempos. Carol foi a
primeira a me dizer que tinha algo errado com ele. Como ainda estávamos
começando, foi fácil dizer que não estava rolando e o dispensei.
Aquele que quase bateu todas as minhas especificações foi uma das minhas
maiores decepções. O último com quem me relacionei quando estava no Brasil:
Brian Wilson. Um americano que é melhor amigo do marido da minha amiga. Ele
tinha quase tudo, pegada com gosto, beijos quentes, bom de cama, se dizia
apaixonado por mim... Só faltava dinheiro e uma grande empresa para ser o CEO
de um livro.
Como me entreguei a esse homem! Foi tudo tão rápido e intenso que não
vi as mentiras na minha cara. Por isso, sempre falo quando penso nesse assunto
“Fica de aprendizado”.
Trim Trim
Estico a mão pelo colchão e alcanço o telefone. Vejo o nome de Carolina e
atendo à videochamada.
— Que cara é essa, Babis? Não dormiu? — pergunta ela.
— Estava quase.
— Eu sempre me enrolo com fuso horário.
— Mais cinco horas aqui — lembro-a pela quinta vez, eu acho.
— Desculpe, mas eu precisava te falar uma coisa.
— Fala — peço.
A vejo sorrir antes de começar.
— Lembra daquela inscrição de sócios com o Arnon Miller?
Imediatamente me sento, alerta.
— Claro que sim. O “Sócios pelo mundo”. Amiga, o cara é o mestre em
turismo, qualquer empresário gostaria de fundar uma empresa com ele. Em
qualquer lugar do mundo. Se Arnon fala que o lugar é bom, o povo compra
passeios para conhecer.
— Está sabendo que começaram as convocações?
No mesmo instante, me sento na cama e pego meu notebook.
— Como assim, Carol?
Ela vai explicando que Samuel foi a uma conferência em São Paulo e que
comentaram sobre a expansão da fundação de Arnon Miller no mundo, bem como
falaram que iriam selecionar um grupo de 30 pessoas. A convocação já tinha
começado selecionando um nome por dia.
— Amiga, no Instagram da fundação estão falando os nomes dos
selecionados.
Vejo que já estão no número 28 e que só faltam dois nomes para aparecer.
— Pode ser que não saia o meu nome...
— Eu acho que sai, sim. Você é uma ótima empresária e tem um negócio
próspero. Tenho quase certeza de que seu nome sai antes de fechar.
Eu rio.
— Bem que eu queria ganhar esse sócio e o capital que vem junto. Eu
poderia fazer uma expansão maravilhosa, mas... — Minha voz vai morrendo.
— Babis, não faz isso contigo. — ela me repreende — Sonhar faz parte da
vida. Sei algumas coisas não deram certo, mas não significa que você deve se
fechar para o mundo. Já viu seus rendimentos deste ano? Estão cada vez melhores.
— Estão assim porque tive a sua ajuda — lembro.
— Eu sei, amiga. Mas o crédito na França é seu. Nunca se esqueça disso.
— Ela suspira. — Quer saber? Se esse tal de Arnon te chamar ou não, eu tenho
certeza de que vai conseguir expandir a agência no próximo ano.
Sorrio para o telefone. Só Carolina para ser assim, decidida e
supercompetente em tudo. Até nas amizades. Depois, trocamos de assunto e
passamos a falar dos filhos dela, David e Rose, que estão cada vez mais lindos. A
caçula está com um ano e é uma fofura. David está com quase três anos e se acha
o homenzinho da casa. Eles já vieram aqui e, sempre que posso, fico mimando os
dois com presentes, carinhos e beijinhos.
Ao fim, falamos das novidades e ela sempre me pergunta dos meus
relacionamentos. Novamente digo que não estou tendo nada sério com ninguém, o
que é um fato, mas falar que não peguei alguns franceses nesse período é mentira.
Assim, encerramos a chamada e volto para a cama tentando dormir.
Falando a verdade, bem que eu queria ter um relacionamento sério, mas
quem disse que consigo? Não é que os homens sumiram do meu radar, mas todas
as vezes que estou na cama com um desses me lembro de Brian. Aquele gringo
que é tão lindo quanto mentiroso. Até queria me entregar, namorar de verdade, me
apaixonar, casar e ter filhos tão fofos como os da minha amiga. Só que,
infelizmente, acredito que essa vida não seja para mim.

— Bonjour!
Entro na agência cumprimentando os funcionários e percebo na hora que
tem algo estranho rolando. Pergunto o que é e depois de tanto insistir, meu gerente
mostra o telefone na página do instituto de Arnon Miller. Então, vejo a minha foto,
e mesmo tendo conhecimento na língua francesa, não consigo entender o que está
escrito. Traduzo a página para português-Brasil e então consigo ler.
— Deus do céu! — exclamo, saltando de susto e alegria.
Não creio, mas está realmente ali “Bárbara S. S. Alves. Vigésima nona
selecionada para o projeto Sócios pelo Mundo”.
— Em quanto tempo chegaremos? — pergunto ao motorista, me
inclinando para frente.
— Aconteceu um acidente na via, mas já devem estar liberando o
trânsito.
Suspiro, irritado, me encostando no banco. O trânsito de Nova York
é uma merda. O problema é que estou em cima da hora para uma reunião
importante.
— Senhor, estão começando a liberar...
— Assim espero.
Ainda bem que dez minutos depois ele para na frente do prédio
empresarial e abre a porta para mim. Pego minha pasta de negócios e
caminho para dentro a passos largos.
— Bom dia, senhor Smith. — A recepcionista me cumprimenta
enquanto sigo para o elevador privativo da diretoria.
Assim, paro no último andar do edifício, a porta se abre e duas
secretárias se aproximam. A primeira pega a minha pasta e a outra me passa
relatórios e documentos para a reunião.
— Eles estão te esperando na sala de conferências um, senhor
Smith.
Concordo com a cabeça e sigo na devida direção, lendo o
documento que me foi apresentado.
Hoje vamos ter um encontro tenso, principalmente pela quantidade
de pessoas envolvidas, mas nada diferente do que já fiz antes. Abro a porta
e encontro meu primo, Robert H. Price, conversando com eles.
— Graças aos céus você chegou — declara ao me ver e me
apresenta. — Agora é contigo.
Balanço a cabeça confirmando, deixando os documentos sobre a
mesa e me colocando no extremo da mesa.
— Bom dia a todos — cumprimento os outros presentes. — Sou
Brian Hamilton Smith. Herdeiro e CEO da Hamilton Empreendimentos
Imobiliários. Vamos fechar a nossa negociação sobre os terrenos dos
senhores?
Duas horas; esse é tempo em que estou tentando fechar a negociação
das áreas de terra pertencentes aos herdeiros dos Kings. O pai havia
falecido há pouco e já sabia de pronto que eles queriam vender, o problema
era o preço. Cada um queria um montante maior. Aí começou o problema.
Principalmente porque eu já tinha um valor fechado de quanto pagaria, mas
o mais velho deles, por conta do meu atraso, insistiu que deveria pagar mais
pelo descaso de fazê-los esperar, e eu já estava perdendo a paciência.
— Senhora e senhores — digo olhando para meu relógio. — Devido
ao impasse, nós da Hamilton estamos retirando a oferta...
— Não, senhor Smith — a mulher me interrompe. — Posso
conversar com meus irmãos a sós?
Olho para Robert e ele concorda com a cabeça. Saímos os dois,
deixando-os a sós.
— Vai deixá-los lá por quanto tempo? — ele me pergunta ao fechar
a porta.
— Vai por mim, em menos de cinco minutos...
Toc Toc.
— Senhor Smith. — A porta se abre e a mulher que pediu o tempo
aparece. — Vamos fechar a venda.
Então, abrimos um champanhe e a moça, que agora descobri se
chamar Aurora King, começa a flertar comigo. Claro que não estou
interessado. Não sou de misturar negócios com prazer, e a verdade é que
estou fechado por tempo indeterminado para relacionamentos.
Por isso, dou de desentendido e deixo meu primo festeiro com o
trio. Como ele é casado, sei que não vai se engraçar demais com a moça, o
que me deixa livre para ver os projetos das novas construções da empresa.
Vou para o almoço e quando retorno, encontro na mesa uma caixa
vermelha com um cartão em cima. De início, fico preocupado, mas minha
secretária fala que foi a moça de hoje de manhã que deixou.
Então abro a caixa e vejo uma calcinha de renda vermelha carregada
de um perfume doce. No bilhete, um recado que, se fosse de outra pessoa,
teria mexido comigo “Adoraria usar somente essa peça contigo”.
— Mais direta que isso aqui é impossível — comento comigo
mesmo.
O azar dela é que não sou assim. Se fosse o meu melhor amigo,
Samuel, antes de ser casado, estaria transando com ela num canto sem
pensar nas consequências. Porém, a senhorita King errou na sua cartada.
Um fato é que sempre fui muito seletivo. Não é qualquer uma que
vou levar para a minha cama. Na verdade, em toda minha vida, só tive sete
mulheres, e cada uma deixou sua marca na minha estrada. Mas a única que
conseguiu me arrebatar à primeira vista foi uma bela brasileira de sorriso de
sol. A minha eterna número sete.
Quando fui para o Brasil, me mostrei a todo tempo como uma
pessoa comum, sem recursos, vantagens, e é por isso sei que jamais passou
por sua cabeça que eu era um herdeiro com muitas riquezas, e muito menos
que o “H” do meu nome significa Hamilton. Entretanto, foi o
relacionamento mais natural e genuíno que já tive na minha história.
Depois de Bárbara, as seis anteriores se tornaram somente
recordações rasas. Algumas boas e outras nem tanto, mas nenhuma se
assemelha ao quanto aquela mulher foi na minha vida.
O único problema é que a perdi para sempre. Eu tentei de tudo para
provar que foi um grande mal-entendido, mas ela jamais me perdoou por
conta de um comentário infeliz do senhor Oscar Wilson, tio de Samuel.
Dei um tempo para que ela conseguisse pensar no assunto, mas
todas às vezes que perguntava sobre aquilo para a amiga e esposa do meu
melhor amigo, nada tinha mudado. Quando ela se mudou para Paris, pensei
que lá poderia acontecer a nossa tão aguardada reconciliação, mas não deu
certo.
Não tive a chance de falar com Bárbara. Na verdade, minha irmã
mais nova, Madson, que tive que deixar para trás quando fui ao Brasil,
estava precisando de mim. Desta forma, tive que voltar aos EUA para
reencontrar-me com ela e meus problemas, e é assim que tenho passado os
dias desde então.
Resolvi boa parte da situação, mas infelizmente não consegui voltar
para Paris. Sendo sincero, perdi as contas de quantas vezes troquei a data da
viagem para vê-la, mas sempre surge alguma coisa por aqui que me impede
de ir.
No casamento de Carol e Sam, uma das poucas vezes que viajei, eu
a vi depois de quase um ano do nosso término, mas não tive oportunidade
de conversar com ela. Um pouco depois da cerimônia, recebi uma ligação
do meu primo falando que não tinha conseguido fechar o prazo de um
contrato importante. Até tentei pedir para meu pai resolver, mas ele tinha
ido para a Espanha e não poderia me ajudar. Por isso, rapidamente me
despedi dos noivos e voltei de jato particular para a América, com raiva de
mim mesmo por perder outra chance com a minha amada.
— Você tem que aceitar, Bárbara! — exclama Carol do outro lado da linha.
— Carol, como assim? E o que eu faço com a minha agência em Paris?
Esqueceu que é tudo em Nova York?
— Claro que não, e é por isso que você vai — ela me incentiva. — Você
não consegue gerenciar boa parte das coisas com o computador com internet?
Concordo.
— Então, mulher? — ela me questiona. — Você vai mexer essa bunda
brasileira, sair de Paris e partir para Nova York. Entendeu?
Reviro os olhos.
— Para você parece tão fácil — comento.
— Falou a empresária divando na França, que não está fedendo a leite
azedo, com olheiras enormes e com o cabelo tão cheio como um leão raivoso —
declara minha amiga, e não consigo deixar de rir.
— Mas, amiga — digo depois que me controlo —, quem vai ficar tomando
conta da loja quando eu não estiver? É no mínimo um mês de curso e mais seis
para inaugurar a agência. Eu tinha a ideia de montar negócio aqui na França.
Sendo mais específica, em Marselha, mas isso é totalmente fora do que eu estava
planejando.
Ela fica em silêncio por alguns instantes e depois escuto ao fundo da
chamada a porta bater.
— Babis, nem sempre a vida é planejada. Veja o meu caso, mulher. Me
casei com um gringo que era o único empecilho para realizar o meu sonho. —
Você sabe que sempre foquei em carreira, mas Sam...
— Nem todas têm sorte no amor...
— Mas quem sabe os EUA é o lugar onde você vai conseguir esquecer de
verdade do Brian? Tirando também que 550.000 dólares para fundar uma agência
nova não caem de uma árvore.
É verdade. Não caem. Ontem mesmo eu estava pensando em conseguir um
capital para me ajudar. Contudo, vamos combinar: essas coisas não acontecem
duas vezes com a mesma pessoa. É uma oportunidade incrível. Por isso, fecho os
olhos e digo: — Carol, partiu Nova York.

Não acredito que estou aqui. Os táxis amarelos, o povo que anda correndo,
a cidade que nunca dorme, a Big Apple. Sim! Estou em Nova York, e como isso é
lindo e emocionante.
Em dois dias consegui arrumar minhas coisas em duas malas grandes e
deixei meu gerente à frente da loja. Ainda bem que Carolina e Sam prometeram
que farão viagens quinzenais para ver o movimento das coisas, enquanto vou
estudar com o meu ídolo. Arnon Miller.
Essa é outra coisa que está me deixando com o coração na boca. Conhecer
esse homem, para mim, vai ser como ver uma celebridade. Estou o acompanhando
desde o primeiro período da minha faculdade. Carol fez certo em insistir, se não
estivesse aqui, iria me martirizar para sempre.
— Chegamos no hotel, senhora — o motorista do táxi me avisa.
Agradeço ao sair e logo abro o porta-malas. O concierge as pega para mim
e coloca num carrinho, ao passo que me acompanha até a entrada do hotel.
— Uau! — exclamo na hora, vendo o quanto o lugar é fino e requintado.
Graças aos céus não pago as diárias, mas se fosse no meu bolso, faltaria rim para
pagar a terceira diária.
— Nome completo, por favor — pergunta-me o recepcionista.
— Bárbara Sophia Souza Alves — respondo.
Mais brasileiro que meu nome, acho difícil encontrar.
Ele confirma e me entrega a chave. Quando entro no meu quarto, seguro
meu queixo para que não despenque. Se lá embaixo é lindo, meu quarto dá até
pena de entrar e usar de tão bonito. O rapaz deixa as malas no armário e espera a
gorjeta. Eu o pago e tranco a porta após sua saída. Depois, abro a janela e me
deparo com a Time Square.
— Puta que pariu! — exclamo, rindo como uma criança.
Nem nos meus melhores sonhos imaginei ficar num lugar como este. O
ridículo é que assim que vejo os corações nos letreiros, a primeira imagem que
surge na minha cabeça é a dele. Brian. Entretanto, sei que ele jamais voltaria para
os EUA devido aos seus problemas de família.
E isso é bom, pelo menos vou curtir minha vida. Quem sabe encontro
outro gringo? NÃO! Nada de americanos até daqui a uns 20 anos. Mesmo que
sejam gatos, gostosos, cabelos escuros, olhos azuis, sorriso charmoso e jeito fofo
que dá vontade de colocar num potinho.
— Para de pensar no Brian, Bárbara! — reclamo comigo mesma.
Então, tiro a imagem dele da minha cabeça e pego na mesinha o
cronograma das atividades do programa “Sócios pelo mundo”. Percebo que estou
em cima da hora e, então, tomo uma chuveirada rápida, babando na banheira de
hidromassagem maravilhosa que tem no meu quarto.

— Senhorita Alves, bem-vinda — uma moça me recepciona e me entrega


uma prancheta, caneta e um crachá.
Agradeço e me acomodo na cadeira nominada. Como eles organizaram por
sobrenome e o meu é com A, estou na primeira fileira, quase na ponta. A
vantagem é que terei visão privilegiada do meu ídolo. Será que vai ficar feio tirar
uma foto sua quando ele subir ao palco?
Os minutos vão se passando, e mais pessoas vão chegando. Como somos
trinta, há bastante gente nessa sala. Depois de quase meia hora começa a palestra,
e não posso negar que meu coração está mais acelerado que batida de escola de
samba.
— Boa tarde, senhoras e senhores — começa uma moça loira de olhos
claros. — Me chamo Agnes Howard, e sou diretora de comunicações do Instituto
Miller. De princípio, viemos parabenizar a cada um dos trinta profissionais que
foram selecionados para montar uma nova agência de turismo pelo mundo. O
trabalho de vocês foi o que nos motivou a selecioná-los. Temos profissionais de
todo mundo que serão desafiados a trabalhar em inúmeros tipos de mercados e...
— A mulher para de falar mirando o fundo — Bem. Vou deixar o nosso querido
fundador e idealizador do projeto continuar com vocês. Apresento a todos, Arnon
Miller.
Então, o homem vem caminhando pelo corredor e me sinto uma
adolescente babando pelo boyband favorito. O senhor Arnon não é um homem
jovem de 20 a 30 anos, na verdade, está mais perto dos 50. Tem cabelos grisalhos
e marca de idade no rosto, mas tem um ar jovial que muitos de menos idade não
possuem.
— Uma ótima tarde a todos. Agnes, agradeço por tê-los recebido para mim
— fala para a mulher que está descendo as escadas. — Eu precisava olhar para o
rosto de vocês para confirmar que mais uma vez vamos expandir da melhor forma
de todas: com sangue novo.
Alguns atrás batem palma e todos são contagiados a fazer o mesmo.
— Obrigado, mas quem merece esses aplausos são vocês. Acho que não
sabem, mas estudei cada um antes de selecionar os participantes do projeto.
Na hora, meu coração erra a batida.
— Eu vi o que tinha de melhor nas empresas e qual o diferencial de cada.
Também fiz a seleção ao inverso. Os últimos foram os primeiros. Então, do 28º ao
30º tenho os meus top 3.
Sinto um frio nas costas na hora. Quem diria que eu seria selecionada
como a segunda mais bem colocada no mundo? Absolutamente chocada!
— O trabalho vai ser árduo e... — do nada ele para de falar e começa a
sorrir para o fundo o auditório — não estava planejado, mas tem uma pessoa que
gostaria de apresentar a vocês. Ele é um grande CEO em Nova York, herdeiro do
sobrenome dos Hamilton e também meu afilhado, que há muito tempo não vejo —
ele o chama: — Venha aqui em cima, Brian.
O sobrenome é diferente, mas soube num programa de televisão que é de
uma família com muitos recursos financeiros. Muitos mesmo. Pelo que lembro,
são donos de quase um estado. A única questão é o nome do afilhado do Arnon...
Para de loucura, Bárbara. Vamos combinar, quantos Brian existem no mundo? O
único que você conheceu não é herdeiro de uma fortuna. O sobrenome Smith não
é tão vinculado à riqueza. Precisa parar de ler romances.
Percebo o engravatado passar pelo outro lado do auditório. Depois sobe e
abraça o senhor Arnon. Deve ser coisa da minha cabeça, mas ele me parece
familiar. Quando ele se vira para frente, meu queixo cai literalmente no chão. O tal
afilhado que é um herdeiro rico é ninguém menos do que o meu Brian. Digo, o
meu ex mentiroso pra cacete, Brian Smith.
Tenta dormir com esse filme.
— Robert, estou chegando no hotel, espero que você não faça
nenhuma besteira enquanto estou aqui.
— Eu não sou criança, Brian. Já te falei do que preciso e só você
pode me liberar.
— Você já tem essa resposta. O orçamento da festa está fechado. Se
quiser colocar mais coisa, vai ter que sair do seu bolso. Entendido?
Ele bufa do outro lado da linha.
— Brian, você precisa entender que estou fazendo o melhor para a
nossa empresa e...
Tiro o telefone do ouvido e me apresento na recepção do hotel. Em
dez minutos, vou ter uma reunião com o arquiteto do novo projeto de
imóveis residenciais. Um novo loteamento de alto padrão com todo luxo
que estamos trabalhamos.
— Segue o corredor e vai para a sala 3, senhor Smith — informa o
recepcionista, indicando o caminho. Agradeço e me afasto.
— Brian, está me ignorando?
— Estou aqui, Robert. Eu tenho reunião agora...
— Mas como eu vou resolver com as esculturas de gelo da festa?
— Se vira — respondo, sem paciência. — Você também é herdeiro e
deve saber fazer o seu trabalho.
— Eu te substituí quando estava no Brasil — acusa.
— Para de história de que foi o meu pai que fez isso, você somente
o auxiliou, como está fazendo comigo. Agora vou ter que desligar, Robert
— aviso, parando na frente da porta.
— Espera, preciso de 100 mil — ele me pede.
— Está louco? — questiono. — Se resolva até o fim do dia, ou
teremos que trocar o nosso diretor de eventos e realocar sua função —
aviso, desligando a chamada e me sentando na sala vazia enquanto aguardo
a chegada do arquiteto.
Um fato: é uma merda trabalhar com a família. Todos nós, netos do
velho Oliver Hamilton, sabíamos que um dia assumiríamos a empresa. Meu
avô teve três filhas, minha mãe, chamada Kate, a primogênita, depois minha
tia Victória, que vive explorando o mundo com reportagens investigativas, e
a mãe do meu primo, Abigail, que está sempre por perto de nós ajudando
com minha irmã.
Na verdade, tia Abigail criou a mim, Madson e Robert juntos.
Infelizmente, minha mãe faleceu no nascimento da minha irmã, e é ela
quem assume todo o cuidado conosco, auxiliando meu pai, que ficou muito
recluso depois de perder a esposa.
A minha relação com meu primo sempre foi muito boa, mas depois
que tive que me afastar dos EUA e passei a temporada no Brasil, parece que
a nossa relação ficou estremecida. A todo tempo tenho que ser o chefe do
meu primo, não o amigo ou parente. Sempre soube que era esbanjador, mas
parece que se eu não tivesse assumido a empresa, talvez não teríamos mais
legado para cuidar. As contas estavam uma loucura e passei os últimos três
anos tentando equilibrar as coisas, e só agora estamos realmente chegando a
um bom momento financeiro.
De repente, sou retirado dos meus pensamentos pelo som de
aplausos. Levanto-me, abro a porta e vejo que o som vem da entrada do
auditório principal. Vejo um toldo na frente em azul e branco. Aproximo-
me para ler e encontro a seguinte mensagem: “Reunião dos selecionados
para o projeto ‘Sócios pelo Mundo’, do instituto Miller”
Miller? Será que é do instituto do meu padrinho Arnon Miller?
Sei que não devia, mas abro a porta delicadamente, só para matar a
curiosidade. Observo as pessoas ao redor e percebo que a reunião é dele,
sim. Sinto falta de conversar com ele. Fazia um bom tempo que não o via,
mas agora não é o momento, pois tenho...
— Não estava planejado, mas tem uma pessoa que gostaria de
apresentar para vocês. — Fecho os olhos, sabendo ser de mim que fala. —
Ele é um grande CEO em Nova York, herdeiro do sobrenome dos Hamilton
e também meu afilhado, que há muito tempo não vejo. Venha aqui em cima,
Brian.
Por que caralho eu fui abrir essa porta? Que vontade de fugir e fazer
de conta que ele me confundiu, mas os responsáveis pela organização de
sua reunião, me colocam para dentro. Que merda! Agora não dá para fugir.
“É só ir lá desejar boa sorte para essas pessoas e voltar para a minha
sala”, penso. Então me forço a dar passadas rápidas e subo no palco de
carpete azul.
— Olá, padrinho — eu o cumprimento e ele me cobre com um
abraço saudoso.
— Bom te ver, meu afilhado. Por favor, diga umas palavras para
eles. São todos profissionais de turismo que vão ser meus sócios em novas
agências. Eles ficarão muito motivados em te ouvir.
Confirmo o que pede, me virando para o público de forma
mecânica.
— Boa tarde a todos — cumprimento-os de forma contida, focando
um canto. — Me chamo Brian... — Nesse instante, meus olhos batem na
dona dos meus sonhos. A eterna Número Sete. Pisco duas vezes, tentando
confirmar se realmente é verdade o que estou vendo. Mas é, sim. Bárbara
está aqui. Como eu não imaginei isso? Turismo é o que corre em suas veias.
Ela ama a carreira, mas... não deveria estar na França?
— Filho, está tudo bem? — meu padrinho pergunta, e só então paro
de encarar Bárbara, que está sentada e me olhando com assombro.
Puta merda! Agora ela sabe de verdade quem eu sou. Entretanto de
hoje Bárbara não me escapa. Precisamos conversar e não haverá
adiamentos. Não consegui voltar para a França e o destino a trouxe de volta
para mim. Nunca me perdoaria se perdesse mais essa oportunidade.
— Sim — respondo e me volto para o público, sentindo um tremor.
Mesmo assim, respiro fundo e começo a falar: — Me chamo Brian
Hamilton Smith, e como meu padrinho falou, sou CEO da Hamilton
Empreendimentos Imobiliários.
Depois de alguns comentarem, falo um pouco do negócio da
família, começando a relaxar. Conto sobre as dificuldades e alegrias do que
possuímos e como é importante separar bem as coisas para que tudo dê
certo. Ao fim, desejo a todos que consigam inaugurar e estabelecer nos
primeiros dois anos as novas agências e os vindouros.
Saio lá de cima, com os nós dos dedos brancos de nervoso e a mão
tão fria como uma geleira, mas depois de tanto treinamento, consegui
disfarçar isso tudo. Agora, meu padrinho assume com o pessoal e estou
louco para que cesse o falatório para que eu consiga conversar com
Bárbara.
— Senhor, seu telefone está vibrando — uma moça me informa.
Estou tão desligado olhando para uma cadeira na direção do palco
que nem percebi o toque. Atendo sem nem olhar quem é, e sou
surpreendido pela voz do arquiteto com o qual tenho uma reunião marcada.
Cacete! Até disso esqueci.
Vou para fora e o encontro na sala. Como é um conhecido de longa
data, explico que não vai dar para conversarmos hoje. O profissional
entende e fico do lado de fora, esperando que ela saia. Tenho prioridades,
mas nenhuma delas tem a ver com trabalho; porém, ele não precisa saber
disso. Não possuo a sorte de Samuel, mas estou acreditando que dessa vez
ela me sorriu. Como da primeira vez que Bárbara me viu.
Tão linda e estabanada. A bela de Raio de Sol não sabia, mas já
tinha o meu coração quando a vi pela primeira vez na Lapa, toda animada,
com Carolina. Claro que não foi uma lembrança totalmente feliz,
principalmente por conta do homem no qual achei ser o namorado na época.
Então, sou trazido de volta ao presente quando as portas se abrem e
as pessoas começam a sair. Procuro seu rosto no grupo, que pelo menos não
é grande, mas algumas me veem e começam a me questionar coisas
aleatórias. Pensa que não sei o motivo? Claro que procuraram uma aliança
na minha mão e não acharam. Elas possuem interesses. Não sei se na minha
família, no meu padrinho, em mim ou em ambos... No entanto, a única com
a qual quero falar nesse momento é ela, e o meu sorriso se expande quando
vejo a Raio de Sol sair pela porta.
Deve estar escrito “otária” na minha testa. Só pode. Como que eu
beijei, transei e me apaixonei por um falso pobre e não percebi?
Brian cozinha bem pra caramba. Como um herdeiro milionário sabe
mais que fritar um ovo? Nem ele ou o Sam queriam pessoas no apartamento
para fazer nada. Até o jantar romântico, uma carne deliciosa, foi ele quem
fez. Ou será que comprou e jogou fora as embalagens? Vindo dele, devo
esperar qualquer coisa.
Mas que raiva que estou sentindo desse homem! Quando acho que
somente a história da aposta foi o início, descubro que tem muito mais. Ele
está mais lindo e gostoso, porém, ainda continua sendo um mentiroso.
— Espero que as palavras do meu afilhado tenham os incentivado.
Agora, vou passar para todos os cronogramas dos cursos. Ao fim, vamos
entregar as cidades de cada um de vocês.
Vou anotando o que vai sendo passado, mas não consigo deixar de
pensar nele. O ridículo é que a trouxa aqui achava que eu e ele poderíamos
ter dado certo. Como fui idiota! Forço tanto a caneta que o material plástico
trinca na minha mão.
Balanço a cabeça para os lados tentando desfocar um pouco, mas é
impossível.
Ainda bem que a reunião termina, deixando marcado para o dia
seguinte, de manhã, a primeira aula coletiva. Arrumo minhas coisas e me
encaminho para fora. Como estava na primeira fileira, sou uma das últimas
a sair, no entanto, quando passo pela porta, seus olhos azuis cruzam com os
meus.
Que ranço!
Disfarço, caminhando para o corredor em direção aos quartos, mas
escuto: — Bárbara!
Imediatamente, todo meu corpo vibra. Ouvi sua voz no microfone
há pouco, mas nada se compara a ela chamando meu nome. Na hora, fico
parada. Alguém me responde como depois de três anos Brian ainda
consegue mexer comigo? Sua mão toca meu ombro e me viro, começando a
minha vingança.
— Oi, senhor Hamilton — eu o cumprimento com um sorriso digno
de uma atriz de cinema.
Ele cerra os olhos, entendendo minha jogada.
— Senhorita Alves. — Ele estica a mão para me cumprimentar e
faço a asneira de repetir o gesto. Principalmente porque ele se curva,
segurando meus dedos, beijando minha mão e, em seguida, mirando meus
olhos.
Até os pelos dos dedos do meu pé se arrepiaram. Que merda! Tá
vendo quando falo que sou idiota?
Então, puxo minha mão, me afastando dele e subindo as escadas na
direção do meu quarto. No entanto, escuto seus passos atrás de mim. Que
ódio!
— Bárbara, precisamos conversar — ele insiste.
— É melhor você ir embora ou vou te denunciar por assédio. Porque
eu não sei quem é você. — Paro, segurando no corrimão. — O Brian que
conheci no Brasil jurou jamais voltar para os Estados Unidos.
Ele bufa e, então, continuo subindo, mas infelizmente tropeço no
meu salto e caio de costas em seus braços.
— Você está bem? — ele me pergunta, todo preocupado.
Como dá para odiar um cara assim? Lembrei! Ele é muito
mentiroso.
Firmo meus pés no chão e volto a subir. Graças aos céus, não torci
nada. Só me faltava essa: ter que ficar sentindo seu cheiro delicioso e tentar
não me lembrar das vezes em que passei grudada em seus braços.
Já falei que está difícil resistir à tentação?
— Você não sabe o quanto eu queria te ver de novo — ele confessa
animado e começo a ferver de raiva.
— Pra quê? Para inventar mais uma história? — Então, dessa vez,
sou eu que o coloco contra a parede. Volto meus olhos para seu relógio e
reconheço como o que vi nas fotos das revistas. — Espera aí. Isso aqui é um
Rolex? Aquele relógio que custa 100 mil? Então, você realmente é rico, não
é?
Ele puxa o braço, levando-o para trás.
— Preciso te explicar algumas coisas...
— Eu não quero ouvir.
— Por favor — ele me pede, segurando minhas mãos. Sei que se
tentar me desvencilhar, eu consigo. Mas quem falou que é esse o meu
desejo?
Eu sei que deveria mandá-lo para a casa do caralho, mas uma parte
minha quer escutar o outro lado da história. E é a última que ganha. Então,
peço que me acompanhe para meu quarto e fecho a porta.
Só posso ser doida para ter feito isso. Num quarto fechado com o
homem com o qual sonho fielmente há mais três anos. E vamos combinar?
Como o Brian ficou gato de executivo gostoso! Eu nem acredito que já
transei com ele. Muito menos que acordei nua em seus braços enquanto
escutava palavras doces e... aff!!! Enganadoras!
— Eu preciso te contar muitas coisas. Posso me sentar? — ele
pergunta, olhando para as cadeiras.
Sento-me em uma delas e indico a da frente. Não devo olhar, mesmo
querendo. Não posso desejar, mas já quero e muito.
— Eu queria falar contigo sobre tudo isso faz tempo. Pena que no
casamento do Sam não pude ficar muito tempo...
— Você me evitou, foi isso?
Ele junta as sobrancelhas, estranhando.
— Jamais faria isso. O que eu mais queria era te levar para um canto
e dar fim naquela história de aposta. Nem Carolina acredita mais...
— Mas foi verdade — eu o interrompo.
— Não do jeito que você pensa — ele rebate. — Seu Oscar brincou
e... sabe bem que Carolina não falava inglês. Maldita hora que falei aquilo.
— Brian se levanta e caminha de um lado para o outro. Então, aponta para
mim. — Só para você saber, nunca teve nada investido em apostas. Não sou
homem de jogos de azar. A merda é que você é cabeça dura e não quis me
ouvir nenhuma vez.
— E demorou três anos para me procurar? — questiono com ironia.
— Foi ali que descobriu que tinha uma herança? Ou já sabia e queria se
divertir se fazendo de pobre, assessor de Samuel, só me enganar?
Suas mãos cerram em punho.
— Eu nunca faria algo assim. Achei que você me conhecia, Bárbara
— declara com pesar.
Rio do seu comentário.
— Eu não sei quem é você — confesso, sentindo minha garganta
fechar. — O homem com quem me relacionei nunca gostou de ostentar
riqueza, porque não tinha. Ele resolveu morar com o amigo porque era bom
para os dois. O Brian que conheci adorava comer lanches baratos comigo
porque eu sabia que não ganhava tão bem, e eu me apaixonei por esse cara.
Só que depois que soube da primeira verdade, tudo que sentia morreu.
Ele se abaixa na minha frente e passa delicadamente o dedo de
baixo dos meus olhos, limpando minhas lágrimas, que eu nem sabia que
tinham saído.
— Eu sei que errei contigo, e não só uma vez, mas me dá uma
chance para tentar de novo. Permita-me contar toda a verdade e te prometo
que jamais existirá mentiras entre nós. Você é o meu sete da sorte, e há anos
que não faço outra coisa que não seja desejar tê-la outra vez em meus
braços.
Merda! Por que ele falou isso? Eu sou uma boba romântica com um
problema de relacionamento que nunca teve um final bem resolvido. Na
verdade, o certo seria expulsá-lo e deixar tudo do jeito que está. No entanto,
meu coração bandido toma a frente, pedindo que ele conte a sua versão dos
fatos.
Eu já tinha tudo certo em minha cabeça sobre o que dizer, mas agora
as palavras me fugiram da mente. Meus planos eram ir para a França,
procurar a agência dela e levar flores vermelhas, que ela adora. Depois a
chamaria para um jantar ou um almoço, sei lá... Então, começaria com o
nosso problema do Brasil e depois contaria sobre a herança da minha
família, o meu sobrenome Hamilton. Só que infelizmente não foi desse
jeito; agora estou com um problema de proporções épicas para solucionar.
— Você vai falar ou somente ficar me olhando? Se for para isso, vou
exigir que...
— Espera um pouco. — Passo as mãos pelos cabelos. — Primeiro,
eu preciso te dizer que... Merda! Fala o que você quer saber primeiro.
Seus olhos caem no meu relógio.
— Eu ganhei de presente — respondo. — Meu pai me deu...
— Rá. Só falta você inventar que somente o seu pai tem dinheiro...
— Não é isso — eu a interrompo. — Eu falei sério quando disse que
seria somente verdades, mesmo que fossem dolorosas. A menos que você se
negue a saber.
Ela cruza os braços com força e retomo a fala.
— Bárbara, por herança familiar, sou bilionário. Minha falecida mãe
e o pai dela deixaram uma empresa grande e subdivisões como um valor
inestimável de bens e riquezas em muitos bancos pelo mundo.
Percebo que ela fica branca na minha frente, mas agora não dá para
parar.
— Eu sei do meu destino desde sempre. Fui treinado pelo meu avô e
pelo meu pai para assumir a Hamilton Empreendimentos Imobiliários
quando era bem novo. Mesmo tendo meu primo de idade próxima à minha,
o escolhido para assumir o cargo fui eu. — Aproximo-me dela. — Tudo ia
ser assim, até que meu avô faleceu. Tive problemas com relacionamentos
antigos e então preferi me afastar daqui. Decidi passar um tempo com
Samuel no Brasil. — Seguro uma de suas mãos e viro seu rosto para mim,
admirando seus lindos olhos castanhos. — Então, eu conheci você e...
— Mentiu para mim desde o primeiro instante — ela responde com
dor em sua fala, se afastando. — Me conta. Eu fui a única das suas ex que
não soube da sua riqueza? Você tinha medo de que eu te roubasse?
Levanto-me, segurando seus braços.
— Não. Nunca, Babi.
— Então o quê? — questiona com lágrimas brilhando em seus
olhos.
— Raio de sol, me escuta. — Eu a trago para meus braços, sentindo
o cheiro delicioso dos seus cabelos. — Eu tentei te falar várias vezes, mas
sempre acontecia alguma coisa que me impedia. Por Deus, me perdoe.
Então, ela começa a socar o meu peito e a solto.
— Ficamos juntos quase um ano e não conseguiu me contar. —
Bárbara caminha para a porta. — Você falou que não contaria mentira, mas
tá na cara que não quer contar alguma coisa.
— Bárbara, por favor.
— Chega. Me faz mal tê-lo por perto — confessa ao abrir a porta.
— Três anos se passaram, mas você não mudou nada.
Então, eu fecho a porta e a impeço de abri-la novamente.
— Bárbara. Eu precisava ser uma pessoa normal no Brasil porque já
tinha passado por muito aqui nos EUA — confesso, evitando seu olhar. —
Você não imagina a quantidade de caça-marido rico que me cerca por dia.
— Viro-me para ela. — Eu vivo sendo pressionado diariamente sobre
casamento mesmo sabendo que a única mulher que quero ao meu lado
estava na França com muita raiva de mim.
— Por que está falando isso? Eu não vou me casar contigo —
declara com fúria. — Acha que sou louca de ficar me rastejando aos seus
pés depois desse tempo todo separados?
É mais do que óbvio que ela diria não para mim, mas não posso
desistir tão fácil da dona do meu coração.
— Eu não estou te pedindo, mas...
Ela vai negar de novo, mas será que vale a tentativa?
— O que você ia dizer, Brian?
— Deixa para lá. — Suspiro, abrindo a porta, mas dessa vez é ela
quem fecha.
— Você falou que não vai haver mais mentiras entre nós?
— Eu nem sabia que ainda existia nós — confesso, deixando um
sorriso escapar.
— Não foge do assunto. O que está me escondendo?
— Se você responder sim, eu digo.
Ela cruza os braços e cerra os olhos em minha direção.
— Está bem. — Levanto as mãos em rendição. — Eu ia te chamar
para ser minha acompanhante num evento da empresa, mas está na cara que
não quer ir. Ainda mais depois de ter dito o quanto a minha presença te faz
mal.
Bárbara se mostra desconfiada, me olhando e pensando. Para quem
estava esperando um “não” épico a ponto de me mandar para a casa do
cacete, estou no lucro.
Então, meu telefone toca, tirando-me da nossa conversa. Pego no
bolso o aparelho, mas antes de ver quem é, escuto: — Eu vou com você.
O telefone cai da minha mão de susto, mas tento me conter, como
um bom negociador que me tornei.
— Você...
— Mas eu vou como colega. No máximo, conhecida de longa data.
Está bem?
Estou tão sem palavras que somente balanço a cabeça. É um misto
de felicidade e surpresa.
Pego meu telefone no chão, e o mesmo toca novamente. Recuso a
chamada e digo: — Daqui a três dias às 9h da noite te busco no saguão do
hotel.
Então, saio do quarto me sentindo como se eu fosse um homem sem
dinheiro que tivesse ganhado na loteria.
Se a essência de Brian fosse vendida pelo mundo, seria a mais
comercializada da história. Eu sei que eu deveria odiar demais aquele
homem, mas ainda o amo. Agora, sabendo que tem mulheres marcando em
cima dele, não o quero sozinho. A loucura é que também não o quero pra
mim. Tá, vamos combinar, eu quero o Brian, lindo e gostoso, comigo, num
quarto, me fazendo gemer de prazer, mas depois de chegar ao ápice, desejo-
o bem longe. No entanto, solteiro e disponível a um simples chamado.
Que confusão estou me tornando! Eu tenho que cancelar esse
encontro. Meu foco é na minha nova agência, que ainda nem imagino onde
será instalada. Quem sabe seja na Sibéria ou na Índia, ou mesmo na China.
Se Deus quiser, essa tentação terminará e vou embora para longe em pouco
tempo. Assim, conseguirei enfim esquecer aquele gringo bom de cama, de
pegada forte e... Vamos combinar, é melhor parar por aqui e cancelar essa
merda toda.
Só vou buscar no meu telefone o seu número e...
— Que droga! — exclamo, trancando a porta. — Eu não tenho mais
o telefone dele. Que saco!
O problema é que a única pessoa que tem é a minha melhor amiga,
Carolina, que vai ficar mais do que feliz em saber que vou sair com Brian e
não vai me passar o telefone dele para desmarcar essa doideira. Está vendo
como é complicada a minha vida?
Trim Trim
Pego o meu telefone na esperança de ele também ter pensado que é
uma péssima ideia, mas na verdade é uma ligação da minha agência de
Paris. Vamos ao trabalho!
Passei os últimos três dias com medo de chegar uma ligação dela
cancelando tudo, mas graças aos céus não foi o que aconteceu. Fiquei tão
ansioso que minha irmãzinha percebeu. Como somos superligados — e foi
por causa dela que precisei voltar para os EUA —, relevei a verdade sobre
Bárbara.
Madson sabe tudo sobre a minha vida e vive dizendo para todos que
ela tem um irmão príncipe. É claro que desfaço o que diz, mas até nos seus
atuais 20 anos ela continua dizendo isso. Devo confessar que ela ficou
chateada por saber que foi um dos motivos pelo qual fiquei longe da “Raio
do Sol”. Mas expliquei que não tinha culpa alguma, porque nem sempre na
vida as coisas acontecem do jeito que desejamos e até queremos.
No entanto, minha irmã falou que fará de tudo para me ajudar a
reconquistar Bárbara, e que vai até apresentá-la para a família como minha
namorada. Claro que falei que não era para tanto, mas a minha irmãzinha
falou que já está quase com 21 anos e que faria de tudo se visse que Bárbara
me merecesse de verdade.
Madson por si só constatará. Bárbara é a única com quem gostaria
de me casar, seria a minha eterna número sete. Ou o meu sete da sorte.
Falando nela, espero que tenha gostado do vestido que mandei para o hotel
ontem à noite. Deixei a costureira do hotel de sobreaviso, em caso de
ajustes, mas conheço o corpo dela como a minha mão. Não tive a
oportunidade de tocá-la outra vez, mas pelo que pude perceber, ela mudou
muito pouco.
Agora, estou acabando de colocar a gravata-borboleta e fechando
meu smoking.
— Uau! — Escuto Madson atrás de mim. — Desse jeito minha
futura cunhada não aguenta... — ironiza.
Viro-me para ela rindo e, na hora, fecho a cara ao ver suas roupas.
— Não está faltando pano nesse vestido, Madson?
— Não começa — ela reclama —, ele é da última moda.
Minha irmã está num vestido rosa-choque que aparenta ser longo,
entretanto é muito curto. Tudo isso por causa de uma transparência em
renda no qual é possível ver muito bem o comprimento da sua saia, bem
acima do joelho. A parte de cima, também tem partes poucas partes
cobertas. Um decote revelador que não deixa nada para a imaginação
Indiferente da minha análise, ela gira, me mostrando a roupa, e fico ainda
mais preocupado com o que vejo.
— Eu amei esse vestido e não adianta reclamar que vou usá-lo.
Quem sabe assim arranjo um marido e papai se livra de mim.
Torço o lábio com a sua fala.
— Ninguém quer se livrar de você. Eu muito menos. — Rio,
tentando abraçá-la, mas ela foge.
— Meu cabelo, Brian!
Ela reclama, mas não adianta.
— A quem eu vou pentelhar? Acha mesmo que vou deixar qualquer
marmanjo levar minha irmãzinha embora?
Faço cócegas nela, que tenta fugir.
— Te amo, irmão.
— Também, maninha.
Depois de alguns minutos, saio de casa e o motorista me leva para o
hotel. Assim que chego, faltando alguns minutos para as 9h, a apreensão
volta. E se Bárbara mandar alguém avisar que desistiu? Infelizmente terei
que ir sozinho e...
Então, como ímã, meus olhos se voltam para as escadas e a vejo
descer lentamente. Deus, como amo essa mulher! Está mais linda do que
em meus pensamentos. “Eu não poderia escolher algo muito ousado, mas
também não precisava ser uma coisa que a deixasse menos deslumbrante do
que é”, foi assim que falei com a vendedora. Só deixei claro que deveria ser
num tom de azul claro, pois eu sabia que ela gostava. Fui falando para a
mulher e direcionando-a para o modelo que achei ser a melhor escolha.
Tenho certeza de que será a mais bela da noite!
— Boa noite — ela me cumprimenta.
— Você está maravilhosa — disparo a primeira coisa que penso.
— Obrigada. — Bárbara me presenteia com um sorriso, me
esticando o braço para que sigamos para fora.
Eu não consigo deixar de olhar para ela. Seus seios estão bem
ajustados, a sua cintura bem-marcada. Como a parte de baixo é esvoaçante,
não dá para ver mais coisas.
— Não era para aparentar uma simples amizade? Nenhum amigo
olha para o outro assim — ela reclama.
— Confesso que não consigo desprender os olhos de você.
Ela ri, balançando a cabeça para os lados. Ainda bem que o
motorista abre a porta, nos colocando para dentro. Então, eu a ajudo para
que entre.
Depois de poucos minutos, chegamos à mansão dos Hamilton. O
motorista abre a porta e a acompanho até o interior. Assim que passamos
pela segurança, eu a escuto dizer: — Isso aqui é tão grande. É locado para o
evento?
Fecho os olhos com força, pensando em como responder. Então ela
me para.
— Brian...
— É a mansão da minha família — confesso.
— Puta que pariu! — xinga em português.
Uma risada me escapa, mas sou salvo pelo gongo quando escuto.
— Você deve ser a Bárbara Alves, a namorada misteriosa do meu
irmão, não é? — pergunta para ela.
Bárbara me olha, nervosa, mas nem consigo dizer algo quando
minha irmã entra com mais essa.
— Eu sou a Madson e estava louca para te conhecer — fala,
segurando a mão dela e me afastando. — Meu irmão não fala de outra
coisa. Você tem que conhecer a família. — Então, vira-se para mim dando
uma piscada. — Depois a trago de volta.
Desta forma, ela leva Bárbara para os círculos familiares, me
deixando sozinho.
— Só espero que seu plano dê certo, maninha — falo baixinho.
Sabe o que é ser arrastada por um pequeno furacão vestido de rosa-
choque? Foi isso que aconteceu comigo. A irmã do Brian tomou conclusões
precipitadas e agora estou num turbilhão de apresentações para pessoas da
mais alta classe, sendo reconhecida como a namorada de Brian. O pior é
que a jovem não deixou nenhum de nós se explicar.
Eu estava certa de que a noite seria algo diferente de tudo que já vi.
Sendo acompanhante do Brian, evitaria que várias intrometidas chegassem
perto dele; assim que acabasse, voltaria para casa e para minha vida
tranquila. Juro que foi isso que pensei, principalmente quando o vestido
lindo, quase de princesa que Brian me deu, estava antecipando a
probabilidade de uma noite romântica. No entanto, está sendo uma noite de
apresentações, da qual não tenho capacidade de fugir ou corrigir. Como vou
falar que a irmã dele está equivocada se nem paramos para respirar e ela
fala “Essa é Bárbara Alves, a namorada brasileira do meu irmão”? A única
coisa que faço é esticar a mão e agradecer.
— Eu amei esse vestido. Foi meu irmão quem escolheu, não foi? —
ela me pergunta.
— Sim, foi.
Não posso negar que achei lindo. É rodado na parte de baixo, mas
tem um decote em V que ficou perfeito nos meus seios pequenos. Fiz um
penteado em coque para cima e coloquei brincos pequenos e uma
gargantilha de pedrinha. Vamos combinar, não é? Não nasci rica como eles.
— Bem a cara do que o Brian gosta. Belo e elegante — comenta. —
Acredita que ele reclamou do meu vestido?
Reparo na roupa e até entendo o motivo. Como irmão mais velho,
tenho certeza de que implicou com o decote, comprimento e as
transparências no busto e na saia, que está disfarçada de longa, mas é bem
curtinha por baixo da renda.
— Eu até entendo, mas irmãos sempre são ciumentos.
— O meu é até demais. — Ela revira os olhos.
— Boa noite, jovem Madson.
Olho para o lado e reconheço na hora o meu ídolo, Arnon Miller. No
entanto, dessa vez está acompanhado de uma moça que parece mais nova
do que eu.
— Olá, minha querida. Você me parece familiar — o senhor Miller
me cumprimenta.
— Eu sou uma das ganhadoras do projeto “Sócios pelo Mundo” —
apresento-me, animada.
— Tio Arnon, ela é a Bárbara Alves. Namorada do Brian. —
Madson toma a iniciativa novamente.
— Você é a ganhadora do projeto? — A jovem loira me
cumprimenta, ignorando a fala da Madson, mas não gosto do que vejo em
seus olhos. Ai, Deus.
— Sim — respondo, receosa. — Sou uma das trinta selecionadas.
— Annie, essa é uma das brasileiras de que te falei. Você tem
agência na França, não é? — Arnon me pergunta.
Deveria estar esfuziante por ver que se lembra quem sou, mas a cara
emburrada da esposa está me deixando mega apreensiva.
Preciso fazer alguma coisa. Sei bem que uma mulher enciumada
pode causar uma tragédia na vida de uma pessoa, num emprego e muito
mais. Não posso perder a minha vaga por conta de uma pessoa que não
gostou de mim por somente...
Então, como um príncipe encantado no “time” certo, Brian surge do
meu lado.
— Boa noite, padrinho. Olá, Annie — ele cumprimenta os dois e
aproveito para passar a mão em sua cintura.
— Então, vocês estão juntos? — pergunta a esposa.
— Sim — respondo junto a Madson.
Brian, esperto como sempre, percebe a situação e me acolhe em seus
braços. Mesmo assim, percebo que a mulher não acredita no que falamos.
Por isso, complemento: — A gente tá quase casando, não é, amor? —
pergunto para Brian, que por muito pouco não destrói a minha farsa inteira.
— Essa parte o Brian não me contou — Madson comenta de queixo
caído.
Agora deu merda! Se a história de namorada virou uma fofoca em
poucas horas, imagina ao falar de noivado...
— Peço licença para vocês, preciso aproveitar um tempo com a
minha quase-noiva — Brian avisa, se afastando comigo para um lugar bem
distante das pessoas.
Ele solta a minha mão quando chegamos num coreto lindamente
ornamentado com flores. Então, caminha de um lado para o outro. Começo
a ficar apreensiva, porque sei que está pensando em alguma maneira de
resolver a doideira que eu fiz, só que não consigo ficar tão quieta quanto
ele.
— Brian...
— Você tem noção da besteira que falou sobre casamento, Bárbara?
— ele indaga, nervoso.
— Eu... estava nervosa — confesso. — Aquela mulher me odeia
somente por eu existir. Ela bateu os olhos em mim e puder sentir o quanto
me detesta. Eu não posso perder o meu prêmio e o curso que fiz...
— Você não tem nada a ver com essa história — confessa.
— O que quer dizer? — pergunto, preocupada.
— Meu padrinho teve um relacionamento há algum tempo e
terminou por ter se encantando por uma brasileira. Por isso a Annie não
gosta de você, mas o Arnon nem imagina que a atual esposa sabe dessa
história. É certo que a Annie vai fazer de tudo para que desista somente
para não ficar perto dele.
Meu coração se aperta de nervoso.
— O que eu posso fazer? Não posso perder essa chance —
questiono, apreensiva.
— Você já começou o que daria para fazer. Por que falou que era
quase minha noiva?
Fecho os olhos.
— Desespero — confesso.
— Por quê? — ele pergunta.
— Eu achei que ela iria me expulsar daqui por conhecer o marido
e...
Escuto seus passos próximos a mim e seu toque em meu queixo.
— Você veio comigo. Nada iria te atingir. Sei que ainda não confia
em mim, mas acredite no que digo quando falo que vou te proteger do que
vier.
Confirmo, abraçando-o e sentindo seu cheiro gostoso. Durante
alguns instantes, ele retribui o gesto colando o rosto em meu pescoço, mas
depois para e me afasta um pouco, fitando meus olhos.
— Bárbara, precisamos resolver essa história — ele afirma.
— Como assim?
— Esqueceu que falou para três pessoas que a gente estava quase de
casamento marcado?
Afirmo, tentando imaginar o que ele vai fazer.
— Eu sei que você não me vê como seu marido, mas para manter os
ânimos tranquilos neste antro de víboras — comenta, rindo —, a gente
precisa...
— Você... quer dizer que vai ter que afirmar a minha mentira
oficializando um noivado? — pergunto, esperando que Brian negue, mas
não é o que acontece.
Seus dedos passam na lateral do meu rosto e fico vidrada em seus
olhos azuis, ouvindo-o dizer: — Eu não quero te forçar a nada, mas foi você
quem inventou isso, e certamente estão comentando que o solteiro mais
desejado está de casamento marcado com...
Toco com um dedo em seus lábios, o interrompendo: — Mas, Brian,
a gente não se ama — confesso um fato. — Seria algo como uma fachada
e...
— Eu sei disso, mas a maioria dos casamentos aqui são assim.
Amanhã a gente pode acertar os pontos do acordo, mas hoje a gente precisa
fazer o que a Annie e o Arnon estão esperando.
— A sua irmã também...
Ele balança a cabeça.
— Só vou precisar de um anel de noivado, mas acho que... — Eu o
vejo sorrir, pensando em algo. — Fala que vai aceitar que vou lá buscar.
Afasto-me e respiro fundo.
— Está bem, Brian Hamilton Smith. Eu aceito ser sua noiva de
fachada pelo tempo que for necessário.
Após ouvir suas palavras, entro em casa e sigo para o meu quarto no
andar de cima. A todo instante, penso que só devo estar delirando ou
sonhando. Somente assim para achar que a Bárbara iria aceitar ser minha
noiva em três dias depois do nosso reencontro. Agora, depois de tantas
tretas do passado, vamos nos casar. Não! Noivar.
Eu deveria comprar um Porsche para a minha irmã depois dessa
loucura. Não é que ela conseguiu me aproximar de Bárbara? No entanto, a
principal pivô foi a esposa do meu padrinho. Annie, por ciúmes, fez com
que a minha “Raio de Sol” voltasse para os meus braços em uma fachada
que já me deixa esperançoso.
Não é um “Ela ainda é apaixonada por mim”, mas já é um avanço
significativo. Quem sabe, com a nossa convivência forçada, Raio de Sol
não começa a me ver como antes, uma pessoa simples e comum?
Entro no meu closet, fecho a porta e vou até o cofre escondido. Das
joias que tenho, todas heranças da minha mãe e algumas abotoaduras,
encontro o anel de ouro amarelo com diamante cravejado de brilhantes.
Esse foi o anel de noivado da minha mãe, e como tudo que sinto por
Bárbara é genuíno, é a joia mais certa de todas.
Fecho o cofre e saio do quarto assoviando pelos corredores
enquanto admiro a peça. De repente, encontro Madson no topo da escada.
— Maninho, então é verdade a história de quase-noivos? —
questiona rindo.
— Você é uma diabinha, mas eu te amo — confesso, abraçando-a.
— Eu jurei que uma hora ela iria me desmentir, mas foi a própria
que quase me jogou para trás falando de noivado. — Ela ri e entro no clima.
Seguro em seus ombros e digo: — Irmã, vou dar o anel da mamãe
para ela daqui a pouco.
Ela arregala os olhos.
— Mas nem para a infeliz da Scarlet você pegou uma das joias da
família...
— Eu sei, mas é diferente. — Suspiro, pensando. — Você sabe
como era a situação com a número seis. Nunca nem chegou a um por cento
do que sinto pela Bárbara.
Ela sorri, saltando e batendo palminhas.
— Você realmente a ama, não é? — pergunta.
E somente balanço a cabeça tentando conter o sorriso, mas é
impossível.
— Eu vou explicar para você depois, mas vou fazer o pedido daqui
a alguns minutos.
Minha irmã me abraça e beija meu rosto.
— Seja lá o que vocês planejaram, eu quero ser madrinha.
— Claro que será.
Então, seguimos o dois de volta para o local do evento.
Assim que chegamos na parte iluminada, escuto Mad bufar.
Estranho, mas logo vejo o motivo. Meu pai, Joseph Smith, ali se encontra;
está parado na entrada do evento.
— Eu não vou apresentar a Bárbara a ele, Brian — avisa minha
irmã, fechando a cara.
É bastante incomum a relação do meu pai com a minha irmã. Na
verdade, desde o seu nascimento, meu pai não se esforça em ter uma
ligação afetiva com a filha caçula. Todos dizem que ele ficou assim por
causa do falecimento da minha mãe no parto. Eu era pequeno e tinha quase
onze anos, mas consegui superar a falta que sentia crescendo com minha
irmãzinha e com o auxílio das nossas tias.
O tempo foi se passando e depois de tanto receber negativas, minha
irmã desistiu. Tornou-se uma menina-problema e vive dando dor de cabeça
para todos.
— Está bem, mas tenta não aprontar hoje. Ok? — pergunto.
Ela confirma com a cabeça.
Afasto-me dela, deixando-a com alguns conhecidos, e cumprimento
meu pai. Comigo sempre foi o oposto. Nos aniversários e “Natais”, os meus
presentes eram escolhidos por ele. Já com minha irmã, eram outras pessoas
que os escolhiam, deixando-a cada vez mais amargurada. Eu até queria
perguntar o motivo disso tudo, mesmo achando ser parte do luto, mas o
tempo passou e nunca consegui fazê-lo.
— Boa noite, pai — falo, cumprimentando-o.
— Que noite maravilhosa, não é filho? — ele pergunta, animado. —
Mais um empreendimento na empresa dos Hamilton. Sua mãe e seu avô
ficariam orgulhosos de você.
Concordo com ele, me animando, e subo para o palanque onde está
a maquete do projeto. Falo das áreas de lazer e das distribuições de ruas.
Não sou arquiteto, mas antes mesmo de fechar a compra das áreas de terra,
já sabia que conseguiria, e fiz todas as especificações de como deveria ser.
— Está de parabéns, foi ótimo o seu retorno para a família. Agora só
falta uma esposa como...
— Eu já estou pensando nisso, pai — respondo.
— O que quer dizer com isso? Está interessado em alguma mulher?
— ele questiona. — Sei que gostou da brasileira, mas me contou que
terminaram mal...
— Sim, pai. Mas a reencontrei e estamos nos entendendo.
É quase isso, mas ele não vai entender se explicar tudo.
— Hoje vou pedi-la em casamento — falo.
Ele fica pálido.
— Uma estrangeira na nossa família. Tem certeza, filho?
Concordo, pedindo para o DJ da noite diminuir o som e me entregar
o microfone. Meu pai se afasta um pouco, mas percebo que não está
gostando tanto da história do meu noivado repentino. Porém, é minha
escolha. Procuro a Raio de Sol e vejo seus cabelos escuros ao lado da minha
irmã. Viro um copo de whisky para me dar coragem de falar em público, o
que ainda é difícil.
Qualquer um pode dizer que essa é a maior loucura da minha vida.
No entanto, pela minha Bárbara eu faria tudo! Até mesmo entrar num
relacionamento de fachada, claramente apaixonado por ela. Fala se não é a
receita certa para sair machucado? Entretanto não quero pensar no amanhã,
somente no sim que ela dirá daqui a poucos minutos.
Ainda bem que meu primo, Robert Hamilton Price, aparece do meu
lado e toma a iniciativa para fazer o lançamento. “Vilas Marítimas
Hamilton”, é esse o nome. Ele explica toda essa parte e informa sobre a
disponibilidade de compra imediata no site da empresa.
— Desejo a todos uma noite maravilhosa — ele finaliza.
— Rob, não encerra, eu quero falar — aviso.
Ele junta as sobrancelhas, estranhando. Rob sabe que é um pedido
atípico, mas faz o que peço.
— Esperem um pouco, pessoal. Meu primo, Brian Hamilton Smith,
CEO da Hamilton, deseja deixar algumas palavras. — Ele me entrega o
microfone, e parece que o objeto possui mais de 100kg em minhas mãos.
— Não deixa para baixo porque dá microfonia — avisa-me ao se
afastar.
Concordo, levantando um pouco próximo ao meu rosto. Cacete!
Essa merda é tão difícil e os outros mostram ser tão fácil... Mas chegou a
hora da verdade.
— Boa noite a todos — começo, tremendo nas bases.
Que merda estou fazendo! Eu nem deveria tentar fazer esse anúncio
aqui. Se fosse num jantar familiar seria bem mais fácil.
— Primo... — Escuto a voz do Rob, mas peço para que pare de
falar.
— Como sabem, sou reservado, não tenho muita facilidade com isso
aqui — esclareço — Todavia hoje não é só o dia do lançamento da “Vilas
Marítimas Hamilton”, mas também é... — vejo Bárbara se aproximar do
palco — é o dia em que estou encarando um dos meus maiores medos. —
Escuto risadas no fundo, mas não me constranjo. — Isso tudo por causa da
minha bela acompanhante. Bárbara Alves. — Ela sorri para mim e só então
consigo relaxar um pouco. — Por ela eu pedi o microfone e resolvi falar o
que meu coração transborda. — Ela vai achar que é tudo teatro, por isso,
decido falar a verdade: — Fazia tempo que a gente não se via, mas parece
que vivi todos os meus dias te esperando, e enfim te reencontrei. Bárbara,
você é o meu sete da sorte, a Raio de Sol e todos os apelidos carinhosos que
te dei, minha linda. Agora te pergunto: você aceita ser a minha senhora
Hamilton Smith?
Por que estou tão emocionada com um pedido de casamento falso?
Não sei, mas a minha vontade é de chorar de alegria, mesmo sendo tudo
uma grande mentira.
— Responde, Bárbara. — Levo um cutucão da Madson e só então
entendo que fiquei em silêncio por certo tempo, pensando.
Olho para Brian, que sei que está mais do que nervoso na frente
dessas pessoas, e corro para as escadas sentindo seu olhar sobre mim.
— Bárbara... — ele tenta falar, mas sem pensar muito, grito rindo.
— Sim.
— Você quer?
— Sim. Eu quero. — Jogo-me em seus braços e o beijo.
Então, me arrependo no primeiro instante. Era para ser um beijo
casto, mas virou algo incendiante. Sua língua tocou a minha e seu gosto de
saudade e animação me tomou. Sabemos que tudo isso é fictício, mas de
Brian não tem nada disso. Sei que deveria ter parado no começo, mas o que
quero é manter mais tempo seus lábios junto aos meus, no entanto, somos
interrompidos por um homem grande de cabelos grisalhos coçando a
garganta.
— Então essa é a famosa brasileira que conquistou o coração do
meu filho? — ele indaga, já me cumprimentando.
— Pai, essa é a minha noiva, Bárbara Alves — Brian me apresenta e
falta pouco para eu me derreter em seus braços.
Viro-me para ele e percebo que está todo borrado de batom cor-de-
rosa.
— Prazer, senhor...
— Joseph Smith — ele responde. — Acho melhor vocês descerem,
os convidados querem parabenizar o casal.
Brian segura na minha mão e descemos pelos fundos.
— Depois precisamos acertar algumas coisas — ele fala no meu
ouvido e sinto os pelos da minha nuca se arrepiarem. — Mas antes, você
tem que usar isso aqui.
Ele segura minha mão direita e coloca um anel no meu dedo. Em
seguida, beija-a com carinho.
— Parabéns aos noivos! Foi lindo! — a minha cunhadinha agitada é
a primeira a nos parabenizar. Depois, toda a família e amigos deles fazem o
mesmo.
Eis que chega a minha prova de fogo. Meu ídolo Arnon e a esposa
novinha dele, Annie. Deus sabe o quanto eu queria afogar essa mulher
numa piscina de óleo fervendo.
— Parabéns, meu afilhado. Ela é uma mulher muito bonita. Fez uma
ótima escolha.
Pra que esse homem foi falar isso? É só essa mulher achar que ele
pode se interessar por mim que vai destruir a minha vida.
— Esperamos que seja um casamento breve — Annie “serpente” dá
o bote —, ao contrário do que aconteceu no passado...
No mesmo instante, Brian tenciona os músculos.
— Annie, meu passado não está em questão — Brian responde de
forma mais ríspida.
“Como assim passado? Aí tem coisa e eu preciso saber disso, senhor
Brian”, penso.
— Claro que não está — responde a mulher com um sorriso
amarelo.
Arnon Miller percebe a situação e intervém pela esposa.
— Filho, Annie falou sem pensar. Perdoe-a por isso, não é, querida?
— Sim. Mas como o seu afilhado é um partido bastante disputado
na alta sociedade, seria bom eles se casarem logo, não acha? — questiona.
Caramba! Oh, víbora! Preciso fugir dela antes que me morda.
— Ainda não conversamos sobre isso — Brian responde. — A
família da minha noiva é do Brasil e a logística para trazer todos não é tão
fácil.
— Mas com dinheiro tudo se resolve, não é mesmo?
— Annie, pare com isso! — Arnon briga com a esposa. — Mil
desculpas. Estamos indo embora. Ela exagerou no champanhe e está
falando além da conta.
Então os dois se afastam, nos deixando à sós.
— De quem ela está falando? — pergunto.
— A gente fala sobre isso depois. Te prometo — ele responde —,
acho que já posso te levar para casa. Não é?
Concordo e nos despedimos de todos. Ao contrário do motorista,
Brian me conduz até a garagem e me surpreendo com a quantidade de
carros esportivos ali presentes.
— Eu vivo esquecendo que você é rico. Não. Rico é pouco. É
bilionário — comento e o escuto rir. Em seguida, ele levanta a porta de um
carro com a identificação pintada na parede dizendo: Lamborghini Veneno.
Sento-me no carro colocando a parte volumosa do vestido para
dentro. Quando ele dá a volta, consigo olhar para o anel em meu dedo.
Parece um diamante, mas tem uma tonalidade mais rosada. Seu corte é
muito delicado e feminino.
— Ficou lindo em sua mão — comenta Brian, me observando e
tirando o carro da garagem.
Vamos combinar, eu sei que meu noivo é cheio da grana, mas será
que ele me daria uma joia tão cara em um relacionamento de fachada? Não.
Deve ser folheado, só pode.
— Ele é lindo. Tem garantia?
Brian junta as sobrancelhas sem entender.
— Esse anel tem mais de 30 anos, só tem certificado de
autenticidade...
— Brian, isso... isso aqui é um diamante de verdade!? — Salto no
banco ao perguntar.
Então ele começa a rir mais ainda.
— Você achou que te daria uma réplica, Bárbara?
— Por que não!? — indago. — O nosso noivado é de fachada e...
— Esqueceu que vivo num mundo onde se sabe bem a diferença de
uma joia e uma bijuteria chique?
Na mesma hora coloco a mão no pescoço, percebendo como fui
vista por aquelas pessoas.
— Se eu te desse um anel falso, todos saberiam.
Olho novamente para a minha mão e começo a sentir o peso dos
diamantes, uma vez que ele não tem só a pedra rosada maior.
— É um diamante verdadeiro — constato surpresa. — Deus do céu!
Eu não posso perder esta joia. Quanto será que custou? Melhor não saber
isso. Não me conta, Brian.
— Não vou falar nada.
— É tudo porque você mentiu para mim... Se eu soubesse que era
rico, teria sumido do seu caminho na primeira chance. Nós somos de
realidades bem diferentes, eu nunca tive uma joia na vida. Sabia? — Ele
não responde, então deixo o meu nervosismo falar mais alto e boto tudo
para fora para que ouça: — Eu nem sei como vamos resolver essa história.
Tenho um curso para fazer, uma nova agência para inaugurar e administrar
online... a da França. Coisa de pessoas com vidas normais, não...
Posiciono-me no encosto e fico encarando o anel que deve ser mais
caro que todo meu corpo. Mas a culpa é minha. Bem que eu fiquei
desejando um romance de CEO, mas ninguém conta que é uma loucura de
proporções estratosféricas.
Até que chegamos e ele abre a porta para mim em extremo silêncio.
Percebo que a animação de antes deu uma sumida... Então, me preocupo. É
tão estranho isso tudo! Ele é o mesmo cara tímido e lindo que conheci no
Brasil, mas com o bônus de ter nascido bilionário e ser CEO.
— Tenho que falar algumas coisas contigo, Bárbara — ele avisa
quebrando o silêncio, convidando-se para entrar.
Subimos para meu quarto sem trocar uma frase e já até sei que quer
tanto conversar... Mas pensa que não vou falar nada? Está totalmente
errado. Quem é a ex citada por Annie? E qual o envolvimento dela com ele?
De hoje ele não me escapa.
Assim que fecho a porta do meu quarto Brian se senta na minha
cama e abre o smoking, mas não o suficiente para levar minha cabeça
devassa para outro departamento mais sensual.
— Bárbara, precisamos nos organizar em como vai funcionar esse
noivado.
Por isso que falam que não existe felicidade, mas sim momentos
felizes. Eu estava nas nuvens com a minha noiva linda que faz meu coração
bater mais forte. No entanto, na volta, ela começou a falar besteiras e não
tive como ignorar. Eu queria que o nosso relacionamento fosse real, sim,
mas já sei que é fachada desde o início.
Claro, o beijo apaixonado que ela me deu não foi fictício. Nem a
melhor atriz faria isso. Ela sente alguma coisa por mim, mas ainda estamos
com muitos problemas do passado para serem processados.
— Sobre o que você quer falar? Eu também tenho perguntas.
— Já que quer começar, pergunte — digo.
— Quem é a ex da qual Annie falou?
Puta merda! Ela nem amaciou. Foi direto ao ponto. Se quer assim...
— É a minha ex. Só isso. Pronto? — respondo.
Percebo na hora que não gosta da minha resposta, mas foi ela quem
perguntou.
— Não rola mais nada entre vocês?
— Foi por causa dela que fui embora para o Brasil e me afastei de
quase todos — prossigo. — Lembra que te falei sobre um grande problema
de família? — Ela balança a cabeça. — O nome do problema é Scarlett.
Vejo seus olhos cerrarem na minha direção.
— Eu te falei que não teria mentiras entre nós. Não me crucifique
por te contar a verdade.
— Está bem. Entendi, mas... — seus olhos batem nos meus — eu
queria saber por que a esposa do seu padrinho falou dela.
Passo os dedos pela perna, pensando.
— Quer mesmo saber isso? — pergunto. — É o meu passado, não
vai influenciar em nada.
— Diga, por favor. — Bárbara se senta ao meu lado, mas sinto
temor em sua voz.
— Ela foi minha noiva, mas terminei tudo faltando um mês para o
casamento e...
— Por que você fez isso? — questiona-me, chocada — Eu achava
que você era um príncipe, mas largou uma moça perto do casamento...
Suspiro.
— Não foi do jeito que está pensando — retruco. — A gente não
combinava e era ela quem queria casar de qualquer jeito...
— Acho melhor você ir embora — ela me interrompe agitada.
Dou um tapa no colchão, já irritado.
— Bárbara, foi você quem escolheu saber do meu passado.
— Ela também foi o seu sete da sorte?
— Claro que não, mas isso não importa. O importante é resolvermos
essa história de noivado, porque quem me meteu nessa loucura foi você.
— Eu não quero falar sobre isso agora. Preciso de um tempo para
pensar.
Levanto-me da cama nervoso pra cacete.
— Quer saber? Eu estou cansado disso tudo — começo com o tom
irritado. — Você fala que quer verdades, mas não consegue lidar quando te
digo as coisas. Eu entrei de cabeça para te ajudar, mas se escolher voltar
atrás, deixo avisado que não vai ser tão simples para mim.
— O que quer dizer com isso?
— Eu fiz um pedido público de casamento e passei anos me
esquivando do assunto. Acha que se desfizermos o compromisso vou poder
ficar sozinho por muito tempo de novo? Vai virar um escândalo na minha
família e na empresa. As ações vão cair e tudo vai se transformar num baita
castelo de cartas. A minha credibilidade vai ser questionada de diversas
formas possíveis, e isso é só o início.
— Você poderia ter me dito isso antes...
— Eu tive espaço para dizer alguma coisa? — indago — Percebi na
hora que estava precisando de ajuda, mas quem falou que iríamos nos casar
foi você. Esqueceu?
Ela balança a cabeça para os lados.
— Como ainda é sexta-feira, até segunda consigo reverter os
rumores. Então, espero sua resposta o mais breve possível se vai acabar
com essa farsa ou não.
Finalizo saindo do seu quarto, deixando-a sozinha.

A segunda-feira está acabando e ainda estou esperando uma ligação


dela. Sim, a briga foi feia, mas foi totalmente necessária. Falando a verdade,
estou sendo um covarde em demorar a ligar para o hotel em busca de
notícias. Sendo sincero, coragem até tenho, mas saber que ela não quer mais
nada comigo é o pior de todos os meus pesares.
Por isso estou trabalhando em modo automático. Já recebi e-mail,
presentes e cartas me parabenizando pelo noivado, mas a verdade por trás
disso tudo é o que mais me assusta. Temos problemas, mas sei que podemos
nos entender com o tempo. Só preciso que ela nos dê uma chance.
— Senhor Smith, tem uma moça na recepção falando que quer falar
contigo. Eu a mando entrar? — A minha secretária me passa o aviso.
Estranho na hora, provavelmente é uma caça-dotes que descobriu do
meu noivado.
— Qual o nome dela? — indago.
— Se chama Bárbara Alves e se apresenta como sua noiva.
Na hora, meu coração acelera.
— Mande que entre imediatamente — respondo apressado
encerrando a chamada.
Levanto, ajeito rapidamente meu terno, vou até a porta e a vejo
caminhando em minha direção.
— Senhor... — minha secretária chama a minha atenção.
— Avise que é assunto de família e já continuo com a minha
agenda. — Fecho a porta e me volto para ela.
A minha bela noiva... Ela está linda em um vestido de veludo
vermelho.
— Isso aqui é grande — comenta.
— Normalmente as salas dos CEO’s são grandes.
Então ela se vira para mim e espero o que virá. Ela já perdeu o prazo
que dei, no entanto eu não estranho, Bárbara sempre foi uma atrasadinha.
— Decidiu alguma coisa sobre nós? — pergunto.
— Sim — responde.
— Então...
Meu coração está na boca de tanto nervoso. Ela morde o lábio,
também nervosa, e declara de uma única vez.
— Precisamos resolver isso o mais breve possível. Quer casar
comigo amanhã, Brian?
Uau! Mais uma surpresa na minha vida. Só a Raio de Sol para fazer
isso comigo.
Desde o instante em que ele saiu pela porta, estou pensando em tudo que
falou. Sim, fui eu quem nos meteu nessa história toda, mas não sei lidar com toda
essa confusão dentro de mim.
Sim, eu o desejo, e depois do beijo parece que todo o sentimento retornou
com força total. Todavia, eu não me esqueci das mentiras. O problema é que a
cada instante em que Brian me conta uma verdade, fico enciumada, e ele está
totalmente certo em reclamar que não sei lidar.
Vamos combinar? É lógico que ainda o amo. Sei que por trás de todo
dinheiro e do cargo de CEO está o mesmo cara por quem me apaixonei. O
estrangeiro tímido, fofo, romântico e atencioso.
É por isso que sei que não aguento o perder para sempre. Tenho certeza
que no instante em que eu desistir do noivado — que eu mesma inventei —, ele
vai ter tanto problema que jamais vai querer olhar na minha cara. Então, um time
de patricinhas vai cair matando em cima dele e, depois do escândalo, uma delas
vai conquistá-lo e vou ter que assistir ele se casando com uma milionária
americana.
O problema é que não consigo lidar com essa promessa de sem mentiras.
Não posso negar que ele está sendo sincero até demais, mas também não quero a
verdade nua e crua. Saber dessa tal de Scarlet que quase casou com ele mexeu
demais comigo. E se a mulher for uma das musas que vi no lançamento? Toda
retocada e linda? Ela pode tirá-lo de mim, não é? Mas se Brian não é meu, como
vou perder o que não tenho?
Tá vendo como tá confusa essa droga...?
Pi Pi Pi Levo um susto com o som do despertador que nem me recordava
que tinha programado, mas ainda bem que o fiz. Não poderia perder o café da
manhã do hotel e a aula de segunda. Tomo um banho rápido e desço pensando que
estou atrasada para procurar Brian, já que ainda não tenho o telefone dele para
mandar notícia. Vamos combinar, nunca será fácil conseguir o contato de um
bilionário.
— Bom dia. Você é a Bárbara Alves, não é? — uma moça me pergunta.
— Sim — respondo enquanto pego um pedaço de bolo.
— Estão todos falando do seu noivado repentino.
— Verdade? — pergunto, surpresa.
— Sim! — ela diz. — Cadê o seu anel de noivado?
Pensa se eu, toda esquecida e estabanada, iria andar com aquele pedaço de
milhões na minha mão? Só se eu fosse louca! Deixei-o no cofre. Eu falo da vida
das mocinhas dos romances, mas ninguém pensa na loucura que é andar com um
anel de diamante na rua.
— Está guardado, ele chama muito a atenção.
— Se for aqui, é bem seguro. Não tem problema — ela fala. — Vem para a
aula com ele. Estão todos loucos para ver de perto aquele diamante.
Balanço a cabeça pensando no que ela falou. Então, me sento sozinha e
mais outras quatro mulheres se sentam comigo.
— Mas me conta, Bárbara. Como você conquistou Brian Hamilton? Ele é
o solteiro mais disputado — começa a primeira.
— Eu também estou louca para saber — fala a outra. — Todos aqui
achavam que ele se casaria com a Scarlett Harris. Ela estava tão animada com isso
que planejou o casamento sem o noivo saber.
— Verdade? — comento, gostando e também odiando o rumo da conversa.
— Eu soube que a família dela estava falida e precisava do casamento com
ele o mais rápido possível. No entanto, faltando algumas semanas, ele desistiu. —
A moça ri. — Ela quase arrancou os cabelos da cabeça e o seu noivo foi embora
para o Brasil. Foi lá que ele te conheceu?
Balanço a cabeça, confirmando.
— Bom dia, meninas. — Reconheço assim que escuto a voz. — Bárbara,
tudo bem com você? Como foram os seus dias pós-noivado? Ganhou algum
presente novo do Brian? — A serpente da Annie. — Te deixo o aviso: não demore
a se casar, porque homens como Brian Hamilton tem a tendência de escapar pelos
dedos.
— Isso é verdade — a moça que me falou do noivado anterior concorda.
— Avisa logo que quer casar e marquem a data de uma vez.
— Concordo demais — Annie me avisa. — Arnon vai ficar mais que feliz
em casar o afilhado.
Ela pensa que não sei o que deseja. Quer me ver do outro lado do mundo,
bem longe do marido. Brian não está me pressionando, mas essa víbora está
ameaçando o meu futuro e eu não posso ficar parada esperando tudo acontecer.
— Depois da aula vou conversar com o meu noivo — aviso enquanto bebo
o café.
— Faça isso antes que ele mude de ideia.
Que vontade de jogar tudo para o alto. Eu sei que os recursos quase
infinitos do Brian poderiam me ajudar a ter uma rede de agências, e eu até poderia
pedir isso no contrato de casamento, mas o que quero é estudar e aprender do jeito
certo a gerenciar o meu negócio. E essa cobra não vai conseguir me tirar do
projeto.
Ao fim da aula, recebemos as instruções sobre as cidades em que vamos
ficar. Eu pensava em Marselha, mas a minha agência será aqui em Nova York.
Então, vou ter que começar a ver os documentos para ficar no país, e com contrato
de trabalho não vai ser tão difícil.
— Senhor Miller — uma moça negra levanta a mão —, eu gostaria de
mudar a minha sede de trabalho. Aqui na América tem muita burocracia para
conseguir visto, até mesmo de trabalho.
Falo com uma das meninas que estavam comigo no café e tenho uma
confirmação tensa.
— Realmente é difícil para quem é de outro país — comenta ela —, mas
ainda bem que você já está noiva.
Era só o que me faltava.
— Agora é só decidir se vai continuar como Bárbara Alves ou Bárbara A.
Hamilton Smith — comenta a outra, se metendo na conversa.
Assim que somos dispensados e ficamos no coquetel de encerramento, eu
me despeço do pessoal dizendo que tenho que sair. Procuro no telefone o endereço
da sede administrativa da empresa e pego um táxi. Chego lá e fico pasma ao ver
como o lugar é enorme.
Deus do céu! O Brian coloca a renda do Sam e da Carol no bolso e ainda
fica com o troco.
Caminho para dentro assustada com o refino nas cores branco e gelo, com
detalhes de metal escuros. Paro na recepção e a moça me olha dos pés à cabeça
antes de dizer um simples “boa tarde”.
— Olá. Eu gostaria de falar com o senhor Brian Smith. Digo, Brian
Hamilton Smith.
Ela revira os olhos e me responde: — O nosso CEO só atende com hora
marcada e a agenda dele está bem cheia para as próximas semanas.
— Moça, é importante. Fala para ele que é Bárbara Alves. Ele vai me
receber.
Então, com toda má vontade do mundo, ela pega o aparelho e faz a
chamada.
— Não esquece de dizer que sou a noiva dele. Ok? — Ela fica pálida na
hora, mas pouco me importa.
Poucos minutos depois, entro na sala do Brian. Gente, agora parece que
estou num livro de romance com CEO. Pena que o meu é todo de fachada.
— Como assim você quer casar amanhã? — ele questiona.
— Eu estava pensando e vi que o melhor é a gente casar de fachada.
Ele se senta na cadeira de diretor, mas vejo riso em sua expressão.
— Por quê?
— Simples. Vamos evitar problemas na sua empresa e com sua família, e
assim também evita que eu perca a minha vaga e seja deportada...
— Deportada! Como assim, Bárbara? — indaga, preocupado levantando-
se. — A emigração foi atrás de você?
— Não, mas vai. Não é?
Ele junta a sobrancelha sem entender nada.
— A minha agência em sociedade com o seu padrinho vai ser aqui, e por
isso tenho que fazer um visto definitivo. Ainda vou precisar ir até Paris para ver a
outra de vez em quando e...
— Eu poderia jurar que isso tem a ver com a Annie — ele comenta.
— Eu também acho, mas não posso me livrar dela. — Aproximo-me dele e
logo sou assaltada pelo seu cheiro. — Então, o que acha de darmos mais alguns
passos nessa loucura?
Seus braços tocam minha cintura e sei que é loucura, mas não quero
resistir. Não quero que ele resista. Desejo que ele insista. Que me tome para ele e...
— Bárbara, eu quero te dizer sim, mas para mim vai ser complicado — ele
sussurra no meu ouvido.
— Por quê? — pergunto com a garganta apertada de tanto nervoso.
— Eu jamais conseguiria te ver simplesmente como uma amiga.
Para tudo. É isso mesmo que estou entendendo?
— Três anos se passaram, mas nem tudo mudou. A grande questão é que
não sabemos se um dia vai realmente me perdoar pelos meus erros.
No meio dessa revelação um pouco confusa, eu sei que ele está certo.
Também não o vejo como amigo. A todo instante em que estamos próximos, eu o
quero e não existe fraternidade alguma em meus pensamentos. Mas o passado
ainda bate em minha mente contra um futuro de promessas que pressinto que
podem trazer alegrias algum dia.
Quem sabe minha intuição — somada ao meu desejo desenfreado de tê-lo
— esteja certa e até vai vencer essa guerra interna? Prefiro apostar nisso. Por isso,
digo:
— Eu te prometo que vou tentar. — Eu o abraço. — Mas não força nada,
por favor.

— Eu jamais faria isso, Raio de Sol. — responde sorrindo — Somente


quero um beijo seu.
Respondo cobrindo seus lábios nos meus. Prendo-me em seu pescoço e
seus braços me colocam sobre a mesa. Seu beijo me devora. E como quero ser
tragada deliciosamente por ele! Sinto sua ereção contra minha barriga. Tiro seu
terno chique do caminho.
— Você quer? — ele sussurra no meu ouvido.
— Eu quero agora.
Suas mãos vão direto para meus seios e seus dedos abrem os botões do
meu vestido expondo o meu colo. Ele beija meu pescoço enquanto abro sua
camisa social. Tanta roupa atrapalhando...
— Senhor Smith... Ah!
A secretária dele entrou na sala e nos pegou no flagra.
— Me desculpe, senhor.
— Me dê vinte minutos — diz ele para a mulher, que fecha a porta.
Eu começo a ajeitar minha roupa super envergonhada. Estávamos só no
começo, mas... do nada escuto Brian rindo.
— Qual é a graça? — pergunto, acabando de fechar o meu sutiã, que nem
tinha percebido que ele tinha aberto.
— Das loucuras que você me leva a fazer... Acredita que isso nunca tinha
acontecido?
Dessa vez sou eu quem ri.
— Acho que não vai ser um casamento de fachada tão ruim — ele declara,
e só então entendo o que quer dizer.
— Então, você aceita? — pergunto.
— Eu devo estar ficando louco, mas aceito, sim. Daqui a quinze dias. Traz
a sua família do Brasil, o Sam, a Carol e mais quem você quiser. Vamos nos casar,
Babi.
— Ainda não acredito que você vai se casar — comenta Samuel no meu
quarto. — Quando você me ligou, eu até me engasguei tomando água.
— Obrigado pela parte que me toma, meu amigo — agradeço, fazendo o
nó de gravata. — Mas você sabe que é um casamento de fachada, não é?
— Sim, mas a convivência ajuda — ele pondera. — Vocês vão ser como
“amigos com benefícios”, não é? Eu adoro essas expressões brasileiras — ele
brinca.
Meu melhor amigo se casou com uma brasileira esquentada. Eles brigaram
muito até começarem a se entender, e eu e Bárbara assistimos muita coisa desses
dois complicados.
— Papai, o que é fachada? — o filho dele, David, pergunta.
Na mesma hora, lanço meus olhos para Sam em advertência.
— Responde essa, papai do ano — incentivo, acabando de me vestir.
— Filho, é quando a gente monta a... a frente de uma loja. Aquilo é
fachada.
— Mas o tio Brian e a tia Bárbara vão fazer a fachada? — ele retruca e nós
dois rimos.
— Quase isso, David. Depois sua mãe explica melhor.
Quinze dias. Foi tudo tão rápido que ainda não estou acreditando que vou
me casar. Se no início do ano, alguém me contasse que estaria casado, diria que é
uma grande mentira. Por mim, teria seguido as coisas de maneira mais lenta;
talvez em dois anos eu me casaria, mas com Bárbara tudo é a mais de 200Km/h.
— Está lindo, irmão — Madson me elogia.
Como minha mãe é falecida, vou entrar com minha irmã, que é madrinha.
Graças aos céus, Bárbara deu uns toques sobre o vestido e não está ousado demais.
Meu pai entrou com a mãe dela, Carolina e Samuel, os filhos deles foram pajem e
daminha de honra. Agora, só falta a minha noiva entrar.
— Aguenta, coração, que a noiva tá vindo, meu amigo.
Para quem vê de fora, é um casamento como qualquer outro. Um pouco
apressado, mas nada que dinheiro não pague. Contratei uma grande organizadora
para fazer tudo do jeito que Bárbara queria. Na verdade, Bárbara, Madson e minha
tia Abigail. Para mim, ficou muito bonito, e esse é o ponto. Cem pessoas foi a
quantidade selecionada. Foi difícil, principalmente por minha causa, mas consegui
fechar nesse quantitativo.
Das roupas e tudo mais, deixei meu cartão black nas mãos da minha irmã.
Sei bem que Bárbara se assusta demais com a minha realidade financeira, mas
acredito que com o tempo ela vai se acostumar.
— Ela tá demorando, não acha? — pergunto para Sam.
— É normal a noiva atrasar. Relaxa que ela tá vindo.
Então a música toca e Bárbara aparece na entrada da tenda coberta
acompanhada seu pai.
Essa imagem maravilhosa que ficará para sempre gravada em minha mente
não pode ser mentira.
Paro diante do espelho, no quarto amplo que foi reservado para
mim, e me vejo no vestido de noiva.
— Ainda não dá para acreditar que isso é real — falo comigo
mesmo.
Meus cabelos estão presos num coque chique. Tem uma tiara de
brilhantes, brincos pequenos e um belo colar de pedras azuis que estou com
medo de perguntar se são safiras. Algo emprestado e azul eu já tenho. Meu
vestido de noiva é de uma cor chamada off-white, em corte sereia, decote
coração com alça cigana curta e cintura muito marcada. Quis assim para
ninguém achar que estou me casando por ter dado o golpe da barriga em
Brian. Minha maquiagem está suave e me sinto mais bonita do que já
pensei na minha vida.
O engraçado é que tudo parece ser verdadeiro. Quem vê de fora
jamais imaginaria que estamos dando mais um passo na nossa fachada.
— Ai, que noiva linda! — exclama minha mãe em português.
— Amiga, você está maravilhosa — elogia-me Carolina.
— Uma princesa para um príncipe — comenta minha futura
cunhada em inglês.
Isso aqui está uma confusão de idiomas, e ainda é o fim da manhã.
Daqui a poucos minutos, vai acontecer o casamento e a festa vai durar até
tarde. Depois, vamos passar a noite no hotel cinco estrelas. Assim que o dia
clarear, vamos no jatinho dos Hamilton para o Havaí. Presente do pai dele
para nós.
— Filha, suas malas já estão prontas? — mamãe me pergunta em
português.
— Sim, mãe — respondo. — Carol, vai poder continuar cuidando
da agência?
— Claro que sim, pode curtir seu marido à vontade — ela brinca.
Daqui, somente Carolina sabe que é um casamento de fachada. Bem
que seria ótimo passar a lua de mel ardendo e sendo amada nos braços de
Brian, mas é tudo uma mentira. Muito bem decorada? Sim, mas ainda é
uma farsa.
— Está na hora de começar — a organizadora nos chama.
Elas me abraçam e me desejam felicidades. Quem fica por último é
Carolina, que vem em um vestido vermelho logo atrás de mim.
— Será que estou fazendo uma merda enorme insistindo nesse
casamento? — pergunto.
— Babis, acredito que mesmo sem entender, está fazendo o melhor
para vocês dois. Sabe que o Brian não tem nada a ver com o seu pai.
— Claro que sei, mas ainda não confio nele e...
— Mas não esqueceu o seu gringo, não é? — indago.
Um sorriso curto surge em meus lábios.
— Era isso que tá faltando. Um belo sorriso numa noiva.
— Carol! — Escutamos Sam a chamando e ao fundo, uma criança
chorando. — Querida.
— Provavelmente a Rose acordou — comento.
— Tá na dúvida? — ela pergunta. — Você vai ver quando tiver os
seus. Só te indico a não fazer parto humanizado. Cesariana é muito melhor.
Dou risada do comentário.
— Entendido o recado, amiga.
Então ela sai e fico por alguns instantes esperando meu pai chegar.
— Está muito linda, filha. Seu marido é um homem de sorte —
elogia quando me vê.
— Obrigada. Vamos então?
Não consigo ser natural com ele, mas se é para parecer que tenho
uma família no meu casamento, é isso que farei.
Do lado de fora, sou auxiliada a entrar num carro com ele ao meu
lado.
— Filha, não sei se um dia poderá me...
— Pai, agora não é um bom momento para conversar.
— Mas será que consegue liberar perdão para o seu velho pai? —
Ele segura minha mão e me olha.
— Pai, eu posso falar que te perdoo, mas tem muita coisa que não
vou conseguir jamais esquecer. Então, será somente palavras.
Ele suspira.
— Espero que um dia você entenda que relacionamento não é do
jeito que imagina, minha filha — comenta — Chegamos! — avisa o
motorista.
— Eu e Brian nos amamos. — Faço algo que odeio só para ele parar
de falar, minto. — Confiamos um no outro. Não existem mentiras entre nós.
Uma pessoa da organização abre a porta e meu pai sai, encerrando a
conversa. Logo em seguida, me auxiliam a sair. A maquiadora retoca o meu
rosto e papai segura minha mão. Tiramos as primeiras fotos e a equipe de
filmagem se posiciona.
— Liberada a entrada da noiva — alguém grita e a tenda se abre.
Meu noivo, lindo demais, está no fim do tapete vermelho olhando e
sorrindo para mim. Será que está tarde para dizer que amo o meu futuro
marido? Assim que chegamos ao fim, meu pai entrega minha mão para
Brian e ele a beija suavemente.
Paramos na frente do padre, exigência da minha família, e foi bem
breve a cerimônia. Rose trouxe as alianças e a troca foi linda e
emocionante. Quando foi dito “pode beijar a noiva”, senti uma verdadeira
alegria ao estar em seus braços enquanto ouvimos os aplausos dos
convidados.
Enfim, casados.
Dou mais uns beijos na minha esposa linda e a levo para fora.
Cumprimento alguns e quase tropeço nos meus pés meus olhos batem na
última cadeira da tenda, exatamente no canto. Vestida numa roupa branca
está Scarlet. Eu jamais imaginaria encontrá-la no meu casamento, e não sei
como permitiram a sua presença.
— Vamos às fotos do casal? — o fotógrafo nos chama e tento me
voltar para esse momento.
Como tínhamos combinado, faremos tudo para ficar o mais
romântico possível. Ninguém pode desconfiar de nós e estamos nos saindo
muito bem. Contudo, não consigo tirar da mente que a minha ex está aqui.
Fazemos todas as fotos de noivos com amigos, padrinhos e
familiares. Depois ajudo Bárbara a entrar no carro em direção ao local da
festa.
— Sam, vem aqui — chamo meu amigo.
Ele se aproxima de mim e falo no seu ouvido: — Descobre por que
a Scarlet apareceu aqui.
Meu amigo confirma e então entro no carro.
— Brian, está tudo bem?
Respiro fundo e penso.
— Você não vai querer saber — confesso —, e não quero te ver com
raiva no dia do nosso casamento.
— Me conta. Eu quero saber — ela exige.
Reviro os olhos e digo: — A minha ex apareceu no nosso
casamento.
— O quê? — questiona, surpresa.
— Eu nem imagino quem a convidou. Pedi para o Sam descobrir.
Seja quem for, será demitido.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, mas dá para sentir que
odiou saber disso. Que raiva me dá isso!
— Bárbara...
— Só não fique longe de mim — ela me interrompe com a voz mais
fria que gelo. — Está bem?
Seguro sua mão com a aliança e a beijo.
— Ficaremos o mais próximo possível.
Nem preciso pensar muito para me recordar sobre Scarlet. Já afirmo
que ela não foi uma das minhas melhores conquistas. Eu a conheci por
intermédio do meu primo Robert. Na verdade, da esposa, que na época era
namorada.
Foi no Natal, há uns seis anos. Nessa época, meu avô, Ben
Hamilton, era vivo e tinha o costume de fazer uma grande festa de fim de
ano e reunir a família e convidados. Nesse ano, tinha chamado somente
meu amigo de sempre, Samuel.
Lembro de que na época estava muito desiludido por conta de uma
namorada que havia terminado comigo. Por mim, nem teria ido naquela
festa, mas por dever familiar, tive que comparecer.
Scarlet veio, surgiu como uma deusa no campo de visão de qualquer
homem. E assim como todos, fiquei impactado com tamanha beleza.
Porém, por estar numa fase de “juntando os pedaços do meu coração”,
somente a cumprimentei e me afastei. O problema é que ela também tinha
me visto, e ao contrário de mim, estava interessada em algo mais.
Na mesma noite, ela me roubou um beijo, e somar a desilusão com o
álcool me levou a fazer algo impensável: passar a noite com uma mulher no
primeiro dia em que a conheci. Despertei com uma grande dor de cabeça
física e na vida. A notícia de que ela tinha dormido comigo se espalhou com
uma facilidade tão grande que até hoje me assombra.
Quando descemos para o café da manhã, ela já se dizia minha
namorada, e por estar magoado com a ex, pouco me importei com isso. O
tempo foi passando e sempre éramos vistos juntos. Então, quando sua
amiga se casou com meu primo, Robert, meu inferno pessoal piorou.
Minha namorada queria de qualquer jeito que, além dos presentes
caros como joias, perfumes importados e roupas de grife, também lhe desse
o maior anel de noivado. Imediatamente recusei, meu avô estava nas
últimas por conta de uma pneumonia — que acabou o levando — e também
não me sentia bem para um passo tão grande. Mas ela insistiu, apelando aos
mesmos motivos e usando sexo até conseguir o meu sim. No entanto, não
acabou por aí.

— Pombinhos, vamos para as fotos na mesa? — a responsável pelas


filmagens nos chama, me tirando dos meus pensamentos.
Bárbara vai na frente, segurando forte em minha mão. Retribuo o
gesto a trazendo para perto de mim. Como qualquer mulher, ela deve ter
pesquisado o meu passado, principalmente agora, sabendo o meu
sobrenome. A Scarlet pode ser bonita, mas nunca foi ou será a dona do meu
coração. Preciso deixar a minha esposa segura sobre isso, mesmo que tenha
que sair um pouco da nossa farsa e deixar meus reais sentimentos falarem
mais alto.
Então, eu a viro para mim e toco suavemente do lado do seu rosto,
colocando uma mecha do seu cabelo atrás da orelha.
— Raio de Sol — digo e um belo sorriso se forma em seus lábios.
— Nem olha para os lados. Preste a atenção somente em mim.
Ela abre os braços para me envolver num forte abraço e me beija
com o desejo que conheço há tanto tempo. Sua língua degusta a minha e a
trago mais junto a mim, me sentindo endurecer. Bárbara é a minha
insanidade misturada com verdade. Tudo nela me conquista e me toma de
um jeito tão incomum que me recorda uma canção que conheci enquanto
estava no Brasil, que se chama “Por Você”.
“Por você conseguiria até ficar alegre
Pintaria todo o céu de vermelho
Eu teria mais herdeiros que um coelho
Eu aceitaria a vida como ela é
Viajaria a prazo pro inferno
Tomaria banho gelado no inverno Eu mudaria até o meu nome
Eu viveria em greve de fome
Desejaria todo dia
A mesma mulher”
— Vocês são tão lindos juntos! — a mulher exclama, animada, nos
tirando da nossa bolha. — Que casal perfeito! Felicidade aos dois.
O único problema é que não sei o que a bela moça em meus braços
sente algo de verdade por mim.
— A dança dos noivos! — Madson nos chama.
Eu não posso me perder nesses olhos azuis outra vez, nem deixar
suas mãos fazerem estrago no meu corpo com somente um dedo, e muito
menos permitir que seus lábios destruam as minhas estruturas.
Estar ao lado de Brian é uma confusão sem tamanho para a minha
cabeça toda errada. Sinto-me tentada a ceder e também a recuar. Uma luta
interna de querer me entregar e o medo insano de me machucar mais uma
vez.
Principalmente porque essas cicatrizes que carrego não foram só
causadas pelo meu marido. O passado fez o seu estrago em minha história.
Os amores que vivi deixaram algumas marcas profundas, e da minha
família também não há muito o que aproveitar.
— Vamos dançar o quê? — Brian me pergunta ao pé do ouvido.
— Nem imagino — respondo, sincera. — Ninguém falou comigo.
— Muito menos comigo — ele me responde, rindo. — Mas...
Então, começa o início de uma música clássica. Leio os lábios do
meu marido, eles dizem “Valsa”. Respondo na hora que não sei, mas Brian
cola seus lábios em minha orelha, me fazendo arrepiar.
— Confia em mim. — Engulo em seco e somente confirmo com a
cabeça. — Então, me deixe te conduzir e siga meus passos.
Enquanto a música avança, Brian coloca a mão em minha cintura e
eu, em seu ombro. Assim, nos unimos na outra mão. Sigo seu primeiro
passo para a direita, permitindo-me andar, ou melhor, flutuar na pista de
dança.
Meu herdeiro bilionário é um dançarino maravilhoso. Já girei e
saltei em seus braços, e mesmo assim, desejo do fundo da minha alma que a
música nunca termine. Aqui não tem ninguém da realeza, mas me sinto
como a Cinderela no seu grande baile com o meu príncipe CEO Bilionário.
Porém, a música termina comigo curvada em seus braços, com meu
rosto bem próximo ao dele. Escutamos as palmas e ele me levanta. Até
queria falar alguma coisa que não sei o que é, mas sou interrompida com a
aproximação dos meus pais.
— Foi lindo, querida. — Minha mãe me abraça. — Vocês formam
um lindo casal.
— Agradecemos, senhora Alves — Brian responde em português.
— Pode me chamar de Ângela e seu sogro, de Breno — ela diz e
Brian agradece.
Logo após, cumprimenta meu pai. Eu faço o mesmo, mas não com
tal entusiasmo como fiz com minha mãe.
— Felicidades, minha filha — ele deseja, segurando a minha mão.
— Obrigada, pai.
O clima fica estranho, mas minha mãe percebe e entra com novo
assunto. Como não consigo ficar muito tempo perto do meu pai, peço para
ir ao banheiro e me afasto.
Deus do céu! Não dá para disfarçar que o perdoei quando tudo o que
vivenciei reflete no meu presente e...
— Oi, noivinha feliz. — Carol entra no banheiro com a filha nos
braços. — Amei a dança de vocês.
Ela dá uma olhada nas portas para ver se tem mais alguém e fala
baixinho: — Para quem está num relacionamento de fachada, vocês dois
estão apaixonadinhos demais.
Respiro fundo, olhando-a.
— Você sabe que todos devem achar que é um casamento real e...
— Eu sei disso — fala enquanto troca a fralda da menina de pele
mais clara que a dela, mas que lembra em muito o pai. — Mas se eu fosse
você, ia logo lá para fora porque tem uma mulher que parece modelo
vestida de branco cercando seu marido.
— Merda! — Lavo a mão com rapidez e saio.
— Curta a lua de mel, amiga! — grita ela.
Bem que eu queria ter uma lua de mel e noite de núpcias. No
entanto, isso não faz parte do que significa casamento de fachada. Tudo que
devemos fazer é somente para manter a farsa e ninguém desconfiar de nós.
Não dá para esquecer que tem o meu concurso, o nome da família e a
empresa do Brian, e também o meu visto de nacionalidade. Ninguém pode
imaginar algo diferente de nós.
Assim que chego ao corredor, passo os olhos e procuro Brian, e
rapidamente o vejo no canto com uma mulher; está óbvio que se sente
desconfortável. Ele mantém uma postura fria e distante, mas o que não
quero é vê-la perto dele. Então, me aproximo no estilo “esposa
apaixonada”.
— Amor, voltei — digo e sei que ele percebe o que faço. Brian beija
meus lábios suavemente e me prende em seus braços.
— Já conhece a minha esposa, Scarlet? — ele pergunta, e nesse
instante realmente descubro quem é a ex. Caramba, a mulher é linda! Linda
é pouco, é belíssima — Essa é Bárbara Alves Hamilton Smith.
Tem alguns sobrenomes no meio, mas preferi não o corrigir. Se ela é
a ex, eu estou ferrada. Quando Brian cansar de brincar de casinha comigo,
vai voltar correndo para ela ou alguma modelo do tipo.
Ela tem uma pele branca que parece porcelana, olhos castanhos.
Traços precisos e marcantes, e é magra de tal forma que parece comer
apenas uma fatia de alface por dia. De semelhante, só temos a cor do
cabelo, escuro, e a altura de quase um 1,65. Quanto ao restante, é melhor
nem comentar.
Estávamos nos medindo tanto que Brian apertou meu ombro e só
então despertei.
— Oi, Scarlet — a cumprimento, esticando a mão.
Ela olha para os meus dedos e mira o anel de noivado que deixei na
mão direita. Só depois, ela aperta meus dedos de um jeito como se estivesse
enojada de fazê-lo. Riquinha ridícula!
— Digo o mesmo, Bárbara. — Seus lábios esboçam um sorriso que
não sobem ao seu olhar. — Desejo felicidades aos noivos.
Agradecemos e só então ela se afasta, enquanto fico encostada no
peito de Brian vendo-a sair pela porta.
Pouco tempo depois, nos despedimos dos nossos amigos e fomos
embora na limousine. Seguimos em direção ao hotel para termos a nossa
noite de núpcias. Subimos até a suíte presidencial e me assusto quando vejo
o quarto. Está repleto de pétalas vermelhas e sob a luz de velas. Que
sugestivo, pena que o nosso casamento é de fachada e não vamos usar nada.
— Eu não tive como evitar isso...
— Eu sei... — respondo.
— Não sabe — ele retruca, rindo e acendendo as luzes. — Foi meu
padrinho e a Annie que nos deram a diária.
Uma risada me escapa.
— Até aqui aquela mulher está? — reclamo, rindo.
— Ela quer realmente se livrar de você, Raio de Sol — ele fala,
sentando-se na cama e tirando os sapatos. — Mas o pior é que conseguiu,
não é?
Concordo, tirando meus saltos, e em seguida bocejo e estico meus
braços.
— Precisa de ajuda aí?
Volto meus olhos para ele e quase perco o fôlego. Brian está com a
camisa social branca aberta, cabelos bagunçados e sem sapatos. Com as
rosas vermelhas nas cobertas, está um convite daqueles para...
Bárbara, você precisa parar de pensar nessas coisas! Ele é seu
marido, mas é de fachada. Não é de verdade. Por isso, você não pode querer
beijar, apertar, chupar e...
— Bárbara?
— Sim? — respondo sem nem lembrar do que ele estava falando.
Então, Brian sai da cama e vai ao meu encontro, pedindo para me
virar de costas com os dedos.
Bem que isso poderia ser cena de um livro, não é?
“Então, o mocinho beija o pescoço da mocinha, aperta seus seios e a
fode contra a parede, com ela ainda no vestido de noiva e...
— Eu vou tirar os botões aqui para te ajudar. Ok?
Aff! Então foi isso que...
Espera um pouco. Seus dedos tocam meu ombro com uma
delicadeza até tirar cada um dos botões do meu vestido. A cada um que
abre, sinto as mãos quentes em minhas costas, como também sua respiração
aquecendo minha pele. Sei que o ar-condicionado está ligado, mas juro que
isso aqui está pegando fogo.
Vou sentindo o tecido ceder e o seguro pela frente. Brian é tão
detalhista que sei que vai até...
— Terminei de abrir. Pode ir se trocar no banheiro.
Somente balanço a cabeça e faço o que falou. A luz branca do
ambiente mostra o quanto a minha cara está vermelha. Tiro o vestido e
entro na água fria para apagar meu fogo. Quando saio, Brian entra e passa
um bom tempo lá. Aproveito para vestir minha camisola simples e me deito
na cama.
Quando sai, me avisa que vai dormir no divã enorme, que mais
parece uma cama. Concordo, mesmo achando que o colchão é bem grande
para nós dois.
Depois de algum tempo no silêncio do quarto, percebo que ele
dormiu. Porém, fico alguns minutos acordada observando o meu marido.
Será que um dia vou me acostumar a essa palavra sobre o Brian, ou nós
vamos durar menos? Isso eu não sei, e esse não é o melhor momento para
pensar no assunto.
Que dor nas costas! Rolo na cama e quase caio no chão devido ao espaço
limitado. Somente então começo a despertar e perceber onde estou. Demoro uns
instantes para entender o que está acontecendo e a luz da manhã ilumina algo na
minha mão esquerda.
Caralho! Uma aliança. Só agora percebo que me casei com ela. Volto meus
olhos para a cama e vejo Bárbara, minha esposa. Não é um casamento
convencional, mas saber que tenho a chance de ao menos tentar é maravilhoso.
Sento-me no divã e observo seu rosto se curvar em um sorriso enquanto
dorme. Ela sempre fez isso. Na época em que estávamos juntos, eu a acordaria
com beijos suaves, fazendo-a relaxar, ao passo que a excitaria com meus dedos
descendo até seus seios, depois por sua calcinha e...
Porra! Só de ficar pensando eu começo a me sentir excitado. Estamos
casados, mas não do jeito normal e prefiro cortar minha mão a exigir sexo por
conta do nosso acordo. Nunca precisei me rebaixar e não vai ser agora que o farei.
Por isso, me levanto e vou para o banheiro.
Entre a banheira quente e o chuveiro, a melhor opção é a ducha fria.
Também não adianta muita coisa. Então, me alivio batendo uma pensando nela,
que está do outro lado da porta. Mesmo assim, o efeito é curto, pois não é o
suficiente para esquecê-la.
Tento disfarçar com o roupão torcendo para Bárbara ainda estar dormindo
e não perceber, mas assim que abro a porta, seus olhos estão bem abertos e focam
diretamente nesse ponto.
Agora entendo o motivo pelo qual as mulheres reclamam quando estão
chamando atenção indevida.
— Bom dia, Bárbara — a cumprimento depois de alguns instantes,
constrangido.
Imediatamente ela se senta de costas para mim, deixando-me um tanto
quanto confuso com o que aconteceu.
— Você dormiu bem? — pergunto ao puxar minha mala de roupas.
— Aham. — Em seguida, questiona: — Qual o horário do nosso voo?
Uma risada me escapa quando penso na resposta.
— Será na hora que chegarmos ao aeroporto — digo e na mesma hora seus
olhos batem nos meus. — Não precisa ter pressa. O jato está disponível.
Ela fica sem palavras e me olha juntando as sobrancelhas. Não devia, mas
faço uma prece mental agradecendo por não ter que explicar mais alguma coisa.

Demoramos uma hora para sairmos do hotel. Ela tem somente duas malas
enormes e eu tenho uma grande. Não planejei fazer negócios por lá, mas é bom ter
uma roupa formal em caso de necessidade. Como vamos para uma região praiana,
estou preparado para curtir o momento com ela; quem sabe quando voltar de lá
não estejamos mais em uma fachada.
A quem eu quero enganar? Vai ser um sacrifício ver a minha esposa num
daqueles biquínis brasileiros. Pior ainda é ter que me segurar para não surtar se
algum babaca olhar demais para ela.
— Chegamos, senhor.
Olho para a “Raio de Sol” e percebo terror em seus olhos.
— O que foi, Bárbara? — pergunto, preocupado.
— Você não mentiu quando falou sobre o jatinho — confessa, juntando as
sobrancelhas de nervoso.
— Te falei que não mentiria, já se esqueceu?
— Brian, esse avião é tão pequeno... — declara, segurando a minha mão.
— Isso é seguro?
Agora entendi o problema.
— Minha linda, não precisa se preocupar. — Toco em seu rosto e a trago
para junto de mim. — Os pilotos possuem muitas horas de voo, vão nos levar e
trazer em segurança. Confia em mim?
Ela balança a cabeça e vem me abraçar. Porém, no mesmo instante, um dos
seguranças abre a sua porta.
— Senhora Hamilton Smith.
Bárbara sai do carro e faço o mesmo, apressando-me em segurar sua mão.
Como está um pouco frio, estamos com casacos fechados. Passo o braço por seus
ombros, trazendo-a mais para perto, até que chegamos nas escadas da aeronave.
A comissária de bordo nos cumprimenta, bem como aos pilotos. Peço que
Bárbara vá na frente e a acompanho. Nos acomodamos lado a lado e esperamos a
decolagem.
— Vai ficar tudo bem — falo ao pé de seu ouvido.
Ela pega meus dedos e segura minha mão. As turbinas são ligadas e seu
rosto cai nos meus ombros. Passo a mãos por seus cabelos, tentando fazê-la
relaxar, enquanto isso, sou impactado pelo seu cheiro delicioso.
Minha esposa nem percebe quando saímos do chão. Pouco depois ela
adormece, e só acorda quando estamos quase chegando.
Aterrissamos com uma Bárbara sonolenta ao meu lado. Quando estamos
caminhando, faço a pergunta que ficou na minha mente: — Você quer um quarto
separado para nós?
Vejo surpresa quando me encara. Em seguida, ela nega com a cabeça.
— Somos recém-casados, Brian. O melhor é ficarmos no mesmo quarto.
Vai que alguém surge no Havaí e desconfia de alguma coisa.
— Tudo certo, minha esposa — declaro e abro a porta do carro para ela.
Meu marido. É tanta coisa para me acostumar... Essas palavras são
complicadas para serem pronunciadas. Vamos combinar? Eu me casei com
um herdeiro bilionário, nunca mais vou precisar pensar em boletos...
Hospedagens em hotéis cinco estrelas é pouco. E meu marido, além de
lindo e gostoso, só tem olhos para mim e...
— Já levaram as nossas malas para o quarto — ele me avisa,
despertando-me dos pensamentos pervertidos —, vamos entrar?
Brian me mostra a chave em cartão e o acompanho. Aqui é tudo tão
lindo, o som do mar está presente e traz a memória de férias. Passamos pela
parte inicial e seguimos até os chalés.
O mais perto da praia, que é do tamanho de uma casa com dois
andares, é o nosso.
Ele abre a porta para nós e vejo se tratar de um duplex chique. Tem
sofá, televisão, cozinha e banheiro no andar de baixo. O ambiente é bem
claro, com vidros por todos os lados. Também possui cortinas, caso
queiramos privacidade. No canto há uma escada com pétalas vermelhas nos
degraus, e acredito que está com tal decoração até a cama de casal.
— Isso é lindo — comento.
Ele fecha a porta e mais uma vez estamos sozinhos.
— Eu vou lá em cima pegar meu calção de banho — ele me avisa,
subindo as escadas. — Melhor aproveitar o sol.
Concordo e subo com ele. Brian me ajuda com a mala e pego meu
biquíni e uma saída de praia. Eu juro que tentei usar um desses das
americanas, mas ele é tão grande atrás que parece que estou usando as
roupas de banho da minha avó.
Desço e vou para o banheiro, deixando-o no andar de cima.
Enquanto estou trocando de roupa, me lembro do último momento em que
passamos sozinhos, ainda em Nova York. Aquela barraca armada estava tão
sugestiva que se ele não tivesse falado algo, eu teria caído de boca
literalmente. Deus do céu! Bem que poderíamos aproveitar a fachada do
casamento e virarmos amigos com benefícios como estávamos pensando.
Aí estaria tudo perfeito e... Droga! Não dá para fazer isso.
— Vamos, querida? — Escuto sua voz do lado de fora.
Eu até queria cair em seus braços, mas perdão não é algo da minha
natureza. Estou tentando relevar, no entanto, não é tão simples. Sei que se
passarmos dos limites dos beijos, como o que quase aconteceu quando ele
aceitou o casamento na sua sala, tudo vai ficar ainda mais confuso entre
nós. Por isso, acho que não vale o risco.
Abro a porta e vou para a sala. Porém, sou impactada com a imagem
do Brian com somente um calção de banho branco e peitoral nu. Deus do
céu! Eu não acredito que esse gringo lindo é meu, mas não posso transar
com ele. É tentação demais para esta pecadora aqui.
Fica ainda mais difícil quando ele sorri para mim e segura minha
mão. Imediatamente sinto como se tivesse uma eletricidade gostosa entre
nós.
— Recém-casados ficam juntos a maior parte do tempo, senhora
Hamilton Smith.
Sinto-me presa no mundo azul que vem dos seus olhos e juro que
não quero acordar. Seus dedos seguram os meus com força, e aquele jeito
tímido de que quer a mesma coisa que me chama para ele. Engulo em seco,
doida para continuar.
Aproximo-me mais dele passando os braços ao redor de seu
pescoço. Sinto sua respiração arrepiar os pelos da minha nuca. Ele aperta
minha cintura e me levanta contra a bancada da cozinha.
Passo minhas unhas em suas costas enquanto sinto seu pau roçar
entre as minhas pernas. Seus lábios tocam meu pescoço e me sinto derreter
com o calor de sua boca. Sua mão pega um dos meus seios numa carícia
que só ele sabe fazer.
Desço minhas mãos até seu calção, mas paro tudo quando o escuto
me perguntar: — Você quer seguir por esse caminho mesmo?
Então, percebo a grande merda que estávamos quase fazendo.
Ter Brian por perto e ser obrigada a ficar no zero a zero é muito
penoso. Não fizemos acordo para sexo, mas não sei se consigo resistir sem
isso. Vamos combinar: Estou tão na seca que estou atacando meu marido
gostoso, que só se casou comigo para me ajudar a conseguir um visto e
manter um emprego.
— Acho melhor... a gente parar por aqui — declaro, e na mesma
hora vejo a decepção brilhar em seus olhos.
Mas Brian não reclama ou fala algo. Somente balança a cabeça e se
afasta, indo para o banheiro.
Que merda que eu fiz! Ele é um homem maravilhoso e eu aqui como
uma bruxa o fazendo sofrer por minha causa. É melhor a gente acordar os
termos do nosso casamento. Sei bem que não vai querer ficar sem sexo por
tempo indeterminado, e eu também. Talvez possamos ter amantes
reservados com o tempo, como vi em algumas histórias, mas... saber que
alguma infeliz vai estar transando com ele me deixa tão furiosa e...
— Brian, a gente pode conversar?
— Depois, Bárbara. Pode ir para a praia. Te encontro lá — ele
responde sem abrir a porta.
Respiro fundo esperando que ele mude de ideia, quando não o faz,
saio sozinha enquanto penso no que posso fazer para reverter essa situação.
Vai faltar água gelada para me deixar apresentável para sentar numa
cadeira na praia ao lado dela. Essa pequena brincadeira que tivemos foi o
que faltava para destruir o fim do meu juízo. Queria ir com ela, mas agora
vai ser difícil. Nenhuma das minhas ex conseguiram mexer comigo desse
jeito, mas Bárbara brinca com a minha razão e acaba com a minha força de
vontade. Se ela dissesse um simples “Sim”, eu teria perdido a praia com
gosto e não daria descanso até vê-la gozar algumas vezes gritando meu
nome.
Agora nem imagino como ela está. Bater mais uma não vai resolver
o meu problema. O que quero é essa mulher, mas já que não posso tê-la, é
melhor ficar um tempo na água fria e me sentar no sofá da sala.
Demoro mais uns quinze minutos e acredito que estou sozinho.
Prendo uma toalha na cintura e vou para o sofá. Relaxo assistindo algum
filme de ação. Quando estou mais tranquilo, coloco uma roupa e já me
preparo para a noite.
Quando ela retorna, somente me cumprimenta e vai para o banheiro.
Como sua roupa está um pouco úmida, consigo ver por baixo o desenho de
sua bunda arrebitada. Caralho! Por que fiz isso? Ela só é minha no papel, e
infelizmente ainda não encontrei uma estratégia para tê-la de outras
maneiras...
— Vamos ficar aqui à noite? — ela me pergunta, tirando-me dos
meus pensamentos.
— Não, vou te levar para jantar...
— Brian, a gente precisa falar sobre...
— Podemos fazer isso depois. Você vai gostar da comida daqui.
Ela concorda, pega umas roupas e volta para o banheiro. Será que
Bárbara pensa que não sei o que está planejando? Ainda não estou pronto
para conversar sobre nós e quem sabe jogar uma das piores opções, que
seria abrir o nosso casamento. Sei que vai ser difícil para mim, mas não
quero nenhum infeliz fodendo com a minha mulher. Jamais vou dar aval
para isso. Ela ainda não sabe, mas já é minha.
Fico mais algum tempo vendo televisão e só percebo sua presença
quando seu perfume invade o ambiente. Puta merda! É maldade dessa
mulher! Ela está num vestido florido vermelho com decote, deixando seus
seios marcados. O tecido leve bate em seus joelhos, e com o vento lá de
fora será impossível que não levante. Nos pés, somente um chinelo de
couro. Os cabelos estão soltos. Ou seja, a visão da minha loucura.
— Demorei muito?
— Não mesmo — respondo. — Podemos ir?
Ela balança a cabeça e abro a porta para que saia. Eu sabia que o
vento iria bagunçá-la, mas preferi não comentar. Bárbara fica mais solta
quando perde o controle das coisas. Quando entramos no restaurante, ela já
estava sorrindo e brincando.
— A mesa de vocês já está pronta — o maitre do restaurante nos
indica o lugar.
Ao chegarmos na mesa perto do aquário, ajudo minha esposa a se
sentar.
— Isso aqui é tão bonito — ela comenta.
Não posso negar que é. Este restaurante é belíssimo, mas o
arquipélago em si é maravilhoso também.
Recordo-me que na última vez que vim aqui, foi com o Sam, e é
claro que não fomos para um restaurante assim. Na verdade, eu curti os
eventos e meu melhor amigo, as mulheres que estavam neles.
— Posso pedir para nós? — ela pergunta.
— Você que manda, esposa — respondo.
— Obrigada, marido.
Ela chama o garçom, mas me perco pensando no que ela falou. Não
me lembro de quando ela me chamou assim. Então, fico admirando minha
bela esposa, desejando que isso seja verdade um dia. Como seria perfeito se
Bárbara fosse realmente a minha esposa e a mãe dos meus filhos. Pensando
bem, esse é um assunto que não falamos até agora.
— Você pensa em ter filhos? — indago e ela se assusta, quase
derrubando o vinho. — Desculpe, não foi minha intenção...
Ela limpa os lábios com o guardanapo.
— A gente deveria ter falado sobre isso antes do “sim”, não acha?
— ela me questiona.
Rio, balançando a cabeça.
— Verdade, mas tivemos — abaixo, aproximando-me dela — pressa
para nos casar.
— Minha culpa — confessa, rindo. — Mas eu penso sim. Penso em
dois. Quem sabe um adotivo também? Mas um casal seria ótimo.
— Se vier uma menina como você, vou ser o pai mais feliz de todos
— comento.
— E o mais babão também — brinca e balanço a cabeça, vendo o
quanto está certa. — Que trabalho essa criança vai me dar.
Seguro sua mão sobre a mesa.
— Você vai ser uma mãe incrível. O meu sete da sorte — declaro
sorrindo para ela.
Na mesma hora, chega o nosso jantar. Nem imagino o que pediu,
mas parece ótimo.
Passamos o restante da noite conversando. Não sei o que foi, só que
não me bateu bem e comecei a me sentir estranho quando voltamos para o
chalé. Bárbara me perguntou o que eu tinha, mas desconversei, achando ser
somente cansaço.
— Eu durmo no sofá...
— Não mesmo. A cama é grande e há espaço suficiente para nós
dois.
Concordo e vou para cima. Tiro somente os sapatos, me deito e
fecho os olhos...
Ele está com alguma coisa. Homens. Por que não falam de uma vez
que estão doentes e deixam a gente ajudar? Está na cara que não está bem.
— Brian...
— Vou dormir — ele me interrompe, subindo.
Reviro os olhos e troco de roupa. Vou para a cama e o vejo jogado,
desengonçado no colchão. Jogo um lençol sobre ele e me deito ao lado,
apagando as luzes enquanto tento dormir.

— O que é isso... quente?


Rolo na cama e sinto algo fervente ao meu lado. Ligo o abajur e
vejo Brian batendo o queixo de frio. Coloco a mão em sua testa; ela pega
fogo de febril que está.
— Brian, acorda — eu o chamo, mas ele parece ainda estar
dormindo.
Tento sacudi-lo, mas nada adianta.
Não tenho força para tirar Brian daqui de cima. Por isso, chamo
alguém da recepção que me atende de pronto. Falo o que está acontecendo e
o médico do hotel chama uma ambulância, dizendo que Brian está muito
mal.
Sinto como se o chão estivesse sumindo dos meus pés. Isso não
pode estar acontecendo. Visto uma roupa de sair e o acompanho.
— A senhora é da família? — o paramédico me pergunta.
— Sou a esposa dele — respondo ao entrar na ambulância.
Não estão falando nada para mim, mas é palpável a tensão no ar. Os
profissionais mexem em seu corpo, mas Brian parece um boneco
inanimado. Deus! Que não seja isso.
— Meu marido está morrendo? — questiono, deixando meu
desespero aflorar.
— Calma, senhora. Estamos fazendo o melhor por ele.
Não é essa a resposta que estava esperando. As lágrimas começam a
nublar meus olhos de nervoso. Eu não posso estar perdendo o Brian.
Chegamos no hospital e eles o levam para dentro, me deixando
desolada na recepção por horas. Caminho de um lado para o outro, tomo
café, chá, alguns biscoitos, mas nada de resolver a minha ansiedade.
Quando o dia está quase clareando, escuto: — Parentes de Brian
Hamilton Smith.
Levanto-me na hora, aproximando-me do médico.
— Sou a esposa.
— Senhora Smith, seu marido teve uma grande reação alérgica. Foi
muito complicado o que passou e fizemos o máximo possível. Agora,
vamos ver como vai reagir.
— Espera um pouco... — começo a falar — você falou que o Brian
pode morrer...
O profissional suspira.
— Esperamos que...
— Não! — exclamo. — Temos dois dias como casados e você está
dizendo que...
— Senhora, tenha fé...
— Eu quero vê-lo agora! — exijo, desesperada. — Onde ele está?
Ele pede para uma enfermeira me levar e quase desmaio ao vê-lo
daquele jeito. Brian está pior do que quando o tiraram o chalé. Parece que a
vida está o abandonando e... Não. Corro até a maca e o abraço, sentindo sua
pele fria.
— Brian. Está me ouvindo? — começo a falar. — Sou eu. A sua
Raio de Sol. Não me deixa, por favor. — Viro-me para seu rosto e o
nervoso piora quando começo a pensar que jamais vou ver seus olhos claros
e sorriso tímido.
— Senhora...
Ignoro a voz e continuo conversando com Brian.
— Se puder me ouvir, volta pra mim. A gente tem muito o que viver
ainda. — Minha voz sai em soluços. — Lembra que falamos de filhos? Se
você acordar, vamos ter quantos você quiser. Quem saber sete, como fala
sempre que é o seu número da sorte...
— Dona Smith. A senhora precisa sair. — Um segurança segura
meu braço.
— Me solta! — reclamo, virando-me contra o homem.
— Senhora Smith. Seu marido está na UTI em observação — a
enfermeira me informa.
— Eu vou ficar com ele... — aviso, revoltada.
— Aguarde o horário de visita. — Ela me cerca, afastando-me de
Brian.
Tento passar, mas eles não deixam.
— O senhor Smith está sendo bem cuidado com o que temos de
melhor. Agora deve aguardar que as medicações o ajudem a melhorar.
— O que eu faço enquanto isso?
A mulher suspira e declara: — Ore a Deus e tente falar com a
família de vocês.

Tem cinco dias que estou aqui esperando meu marido acordar. Brian
resistiu às primeiras noites e já está respirando mais tranquilamente, mas
nada de despertar. Durante esse tempo, aprendi na marra o que é ser esposa
de bilionário.
Tive que adiar a nossa estadia, porque a tempestade não deixou que
fôssemos para a América, e também não confio naquele jatinho. Falei com
alguns investidores, disse que ele estava impossibilitado e que teria que
negociar com o primo Robert ou com o meu sogro. Falei com a minha
família, com a dele, com nossos amigos em comum e todos que foram
relevantes. Mesmo assim, não consigo ficar tranquila.
Por que ele não acorda? Estou todos os dias questionando os
médicos sobre isso, principalmente depois de descobrir que eles o
colocaram em coma para conseguir tratar a reação. Só que agora eles não
conseguem fazê-lo sair desta condição. Que ódio! Já os ameacei de todas as
formas possíveis. Se meu Brian ficar com alguma sequela por conta disso,
eu nem sei o que faço com a administração deste lugar.
— Senhora Hamilton Smith — o médico me cumprimenta. —
Temos boas notícias. Hoje de manhã, seu marido mostrou reação. Parece
estar despertando.
Sinto-me mais aliviada, mas não vou suavizar com eles.
— Eu quero vê-lo agora.
Caminho com pressa, na expectativa de encontrá-lo desperto, mas
novamente fico frustrada ao encontrá-lo dormindo em seu quarto hospitalar
de puro luxo.
— Ele ainda está dormindo... — declaro.
— Mas está quase...
Bufo, irritada.
— Vão embora. Eu quero ficar sozinha com o meu marido — aviso,
expulsando-os e fechando a porta.
Quem diria que essa seria a minha vida de recém-casada? Meu
marido sofreu um baita ataque alérgico que quase o matou. Passei dias
desesperada, mas como a médica tinha me dito, conversar com ele ajuda a
nós dois, é isso que tenho feito.
Sento-me na cadeira ao lado de sua cama e observo seu rosto. Exigi
que mantivessem sua barba e seus cabelos cortados como sempre. É o
mesmo cara com o qual me casei, a diferença é que está dormindo direto há
mais de cinco dias.
— Oi, marido. Sou eu, a sua “Raio de Sol”. Que saudade estou de
conversar contigo. Acredita que desde o dia em que você dormiu ainda não
teve sol por aqui? — pergunto, segurando sua mão. — Acho que ele ficou
triste porque estou sozinha neste lugar lindo e... o homem que eu quero do
meu lado está dormindo no ponto. — Rio, lembrando-me da expressão. —
Ontem à noite eu estava lembrando de quando nos conhecemos no Brasil.
Lembra disso? Eu derrubei os papéis da apresentação da Carolina e você
me ajudou. Sabia que me encantei com o seu jeito fofo ali? — Uma lágrima
desce dos meus olhos. — Eu até falei para a Carol que você era do tipo que
se guarda num potinho.
Passo a mão em seu rosto, que está com uma temperatura mais
natural.
— Estava pensando em quando me beijou pela primeira vez na sala
de xerox. — Lembro. — Que loucura foi aquilo, não é? A gente namorando
escondido com documentos de dois adversários tensos. Acredita que Carol
nunca desconfiou que isso aconteceu?
Trim. Trim.
— Tem uma ligação aqui no seu telefone. Uma tal de “Número
três”. Quando você acordar, vamos conversar sobre isso. Está bem?
Penso em beijar seu rosto, mas, dessa vez, deixo um beijo casto em
seus lábios.
— Até daqui a pouco, meu marido — me despeço, saindo e
fechando a porta.
Quando estou longe o bastante, atendo à chamada e a mesma cai na
hora. Reviro os olhos, mas seja quem for, liga novamente.
— Oi, você é a esposa do Brian? — uma voz feminina me questiona
do outro lado da linha.
— Quem é você? — questiono. — Se for uma amante que...
— Não! — ela me interrompe. — Sou uma amiga de infância dele.
Me chamo Emma Ambani.
Esse nome é familiar, mas não consigo identificar quem é.
— Por que seu nome está como “Número três”?
— Merda! — ela xinga em francês.
— Eu entendo esse idioma — retruco —, vai responder ou não?
— Acho que temos coisas mais urgentes agora, que é a saúde do
Brian. Eu consegui um jato, vou até aí buscar vocês dois e mandá-lo para o
melhor hospital do planeta...
— Não precisamos de sua ajuda — declaro.
— Madson falou que você tem pavor de voar de jato. Eu posso
ajudar e...
— Senhora Hamilton Smith — a enfermeira me chama —, seu
marido acordou e está chamando a senhora.
“Sabia que me encantei com o seu jeito fofo? Eu até falei para a Carol que
você era do tipo que se guarda num potinho.”
Isso parece música nos meus ouvidos, mas na verdade eu sei que é um
sonho. Até a sensação deliciosa dos lábios da minha Raio de Sol sobre os meus
parecia ser...
Tento abrir meus olhos, mas não consigo. Eles estão pesados, como se eu
estivesse dormindo há muito tempo. Mas eu sei que não foi isso. Mexo meus
braços, que também demoram para responder. Depois de alguns instantes, com
muita dificuldade, consigo abrir os olhos.
Cacete! Tá tão claro. Será que dormi até tarde?
Coloco a mão contra o rosto e percebo algo a prendendo, limitando o
movimento. Reconheço o fio branco e o sigo, encontrando ao lado da cama um
soro.
— Onde é que estou? — questiono, me sentando.
— O senhor acordou! — exclama uma mulher de branco. — Deus seja
louvado!
— Quem é você? Cadê a minha esposa...?
Meus olhos batem na minha mão esquerda e percebo que a aliança sumiu.
Será que sonhei que me casei também? Não. Bárbara...
— Brian!
Aí está ela. A minha eterna número sete. A dona do meu coração.
— Bárb...
Antes que eu diga uma palavra, ela me beija com um desespero que até me
assusta.
— Graças a Deus você acordou.
Bárbara me abraça com força, como se não me visse há tempos. Confesso
que não estou entendendo nada do que está acontecendo, mas não vou negar que
estou gostando. Despertar com um beijo dela e... Então, começo a sentir algo
molhando minha camisa e vejo que ela está soluçando.
— Raio de sol, o que está acontecendo? — pergunto. — Você está bem? É
algum problema em casa? Com sua família ou a minha?
Ela se levanta e seus olhos castanhos estão vermelhos de tanto chorar.
— Você não se lembra?
— Do quê? — questiono, confuso.
— Quase perdi você nessa ilha e fiquei fora de mim... — Ela vai falando, e
mesmo acreditando no que diz, parece uma grande utopia. — Nunca mais faz isso
comigo. Eu não sei o que faria da minha vida sem você, Brian.
Eu queria acreditar que o que me diz é sobre sentimentos, mas sei que não
é isso, infelizmente. Entretanto o futuro dela já estava acertado quando nos
casamos.
— Você seria uma viúva rica que...
Ela bufa, irritada, e dessa vez sou eu quem não entende nada.
— Quem disse que quero o seu dinheiro?
Antes que eu possa retrucar, um homem de jaleco entra no quarto.
— Senhor Hamilton Smith. Ainda bem que despertou. Sua esposa não te
deixou sozinho um só instante por todos esses dias.
Dias?
Olho para ela e percebo a irritação em seu olhar.
— Seu caso foi bem preocupante — prossegue o médico. — A senhora
Hamilton Smith chamou a emergência e quando percebemos o choque
anafilático...
— Espera um pouco — interrompo o homem, que claramente é um
médico. — Eu estou hospitalizado por causa de uma alergia? Há quanto tempo?
— Olho para Bárbara, esperando resposta.
— Você está aqui quase seis dias — ela me responde.
— Como é que é? — questiono, abismado. — Vocês estão enganados. Eu
me casei há dois...
— Brian, temos uma semana de casados — comenta Bárbara, quase
chorando de novo.
Que porra está acontecendo? Eu quase morri mesmo?
— Fizemos um teste alérgico para saber como tratá-lo e descobrimos que
tem alergia a camarão... — continua o médico.
— Lagosta — respondo.
— Senhor Smith, se continuar do jeito que está, amanhã terá alta — ele me
informa, virando-se para a porta. — Vou deixá-los a sós. Mais à noite retorno.
Ele fecha a porta e passo a mão na cabeça, bastante nervoso com isso tudo.
Tá estampado na cara da Bárbara que não é mentira, mas não consigo crer que
perdi uma semana da minha vida.
Até que a escuto soluçar outra vez.
— Bárbara... — eu a chamo e ela chora ainda mais alto.
— Eu não sabia...
— Não sabia do quê? — questiono.
— Nunca faria isso...
— Do que está falando? — Sento novamente e tento me levantar, mas
minhas pernas fraquejam.
— Brian! — Ela se levanta rápido, me apoiando, mas quase cai junto. —
Ainda bem que seguro a maca e me jogo de costas no colchão. Porém, ela vem
batendo forte na minha barriga.
— Ai!
— Eu te machuquei!? — fala, se afastando. — Eu sou a pior esposa de
todos os tempos. Por minha culpa você está aqui e...
— Bárbara. Do que está falando? — pergunto, encostando-me na cama.
Ela coloca as duas mãos contra o rosto e balança a cabeça.
— Fui eu quem pediu o nosso jantar e era tipo um bobó de frutos do mar.
Parecia tanto com os que comia no Brasil que eu quis que você provasse e... —
Ela volta a chorar. — Eu quase matei você...
Não me lembro da última vez que a vi tão sensível.
— Vem aqui, Raio de Sol — eu a chamo e ela reluta em se aproximar, mas
vem.
— Você me perdoa?
— Por que eu teria que te perdoar? Você não sabia...
— Mas eu devia saber — ela retruca.
Eu rio e passo os dedos no seu rosto, ao passo que a vejo fechar os olhos.
— Vai ter tempo para saber mais de mim assim como eu devo saber sobre
você, senhora Hamilton Smith.
— Eu quero uma lista completa. Isso não vai se repetir jamais...
— Aham.
— Brian, não brinca comigo! — ela reclama, se aproximando do meu
rosto. — Estou falando sério. Não posso perder você. Está entendendo?
Eu acho que ainda estou dormindo. Bárbara está parecendo demais com a
minha namorada brasileira esquentadinha, mas deve ser só impressão ou somente
preocupação pelo que passei. Por isso, digo: — Sim, minha senhora.

Acredita que o médico só voltou na manhã seguinte? Bárbara está soltando


fogo pelas ventas com todos por aqui, e pelo que vi, ninguém estava apreciando a
sua presença. Eu estou me mantendo bem quieto enquanto ela bota ordem nas
coisas. Somente mandei notícias para a minha família, Sam e Carol.
Referente a trabalho, minha esposa escondeu meu telefone. Como ainda
não consigo andar, ela está no lucro, mas já avisei que assim que sair do hospital,
terei que ver como ficaram as coisas. Íamos ficar somente alguns dias, mas com o
tempo instável, nem tenho data certa de retorno. Vou ter que resolver algumas
coisas por telefone e internet.
— Não podem chamar um enfermeiro para ajudar o meu marido a tomar
banho?
Como é que é?
— Senhora, o enfermeiro está tratando outros casos e...
— Vamos esperar. Meu marido é bem grande e sei que não vai aguentar o
peso dele — Bárbara responde com firmeza e a mulher se afasta, assustada.
Falando a verdade, até eu estou.
— Querida, o que está acontecendo? — pergunto.
— Prefiro explicar quando a gente sair deste lugar — ela me responde,
mas nem me olha.
— Bárbara...
— Brian, assim que chegarmos no hotel, vamos ter uma conversa daquelas
por conta de umas certas chamadas no seu telefone.
Eu reviro os olhos.
— Já te falei que não tenho segredos contigo. Não mais.
Então, ela se vira na minha direção cerrando os olhos.
— Tem certeza?
Do que caralho essa mulher está falando?
Quem é essa tal da “Número três”? Isso lá é nome de gente? Ou
identificação? Será que é uma amante que ele chama quando as duas primeiras não
respondem? Desde o momento em que ele acordou e comecei a ver até as
enfermeiras olhando demais para o meu marido, não consigo pensar em outra
coisa.
Ainda bem que, depois do enfermeiro o ajudar com o banho, porque não
quero mais nenhuma oferecida perto dele, o médico o libera para o chalé.
— Babi, agora eu preciso do meu telefone — ele me perde quando é
colocado no sofá.
— Primeiro preciso que me responda uma coisa.
Ele suspira e sinto um misto de alívio por ele estar aqui e raiva por causa
daquela ligação.
— Quem é “Número Três”? E não inventa que é trabalho porque sei que é
uma mulher e ela te conhece.
Eu o vejo sorrir e a vontade que tenho é de dar uns tapas nele. Estou há
horas remoendo essa história...
— É uma velha amiga. Só isso — declara. — É por causa dela que você
está assim?
Tem alguma coisa que ele não está me contando. Eu sei disso.
— Mas por que a registrou com códigos? Eu vi que tem outros “Números”
também.
— Você fuxicou no meu telefone...
— Quem me prometeu sem segredos foi você — retruco, cruzando os
braços.
Ele aperta o alto do nariz mostrando impaciência, mas preciso de
informações.
— Brian!
— Você não vai querer saber disso...
— Você já transou com ela? Foi isso? É sua amante?
— De onde tirou isso?
— Eu preciso saber...
— Já basta! — ele me interrompe com firmeza. — Me explica agora
mesmo porque está agindo como uma esposa ciumenta. — Desde que acordei
você está fora de si e me deixando louco.
Afasto-me e vou para a cozinha, sei que ele não virá. Pego um copo
d’água. Meus dedos estão tremendo enquanto tento beber e me acalmar um pouco.
É lógico que estou com ciúmes, e o ridículo é que não posso sentir isso do meu
marido de fachada.
Indiferente a toda loucura que estou tentando organizar dentro de mim, eu
sei que ainda estou apaixonada por Brian. Não deveria, mas...
— Babi, vem aqui.
Volto para a sala e ele está sentado de frente à televisão. Brian bate no sofá,
indicando para que me sente ao seu lado. Evitando seu olhar, me acomodo no
estofado. Está passando um filme desses de polícia e ladrão, mas estou sem
nenhuma paciência para ver. Mesmo assim, os minutos vão passando enquanto o
silêncio toma o ambiente.
— Já que você quer tanto saber, vou te contar sobre “As Números”...
Na mesma hora, meu coração se aperta. Sinto como se o que vai sair dos
seus lábios tenha o poder de destruir meu coração e tudo que está dentro dele, mas
também quero saber. Quem sabe isso mata de vez o que sinto? Mas que merda de
confusão!
— A mulher que te ligou se chama “Emma Ambani” — começa, e só a
primeira fala mostra o quanto eles são próximos. — Ela é uma artista fenomenal.
Trabalha em Paris, numa galeria de artes e...
— Você a ama? — pergunto sem olhar para ele.
Ele demora para responder e meu desespero começa.
— Bárbara...
— Me responde, por favor.
— Olha para mim primeiro — ele me pede.
Estou tão sem coragem, mas o faço. Deus! Só de ver seu olhar triste fica
claro que é mais loucura da minha cabeça do que qualquer outra coisa. Ele quase
morreu e eu estou colocando-o contra a parede por conta de...
— Me desculpa, Brian. — Eu o abraço. — Eu passei um pesadelo sozinha
e...
Meu marido me abraça e acaricia meu cabeço. Como senti saudade de seu
colo, do seu cheiro.
— Por favor...
— Minha bela esposa — ele fala me prendendo em seus braços —, eu não
tenho a intenção de ter uma amante e espero que, em meio a esse casamento falso,
você não...
— Não quero — respondo, apertando-o mais. — Fica só comigo.
— Até o fim das nossas vidas, Raio de Sol.

— Quer ajuda? — ele pergunta.


— Fica quieto aí. Você precisa descansar — respondo, ouvindo-o rir. —
Qual é a graça?
— Que esposa mandona que arranjei! Aprendeu com a Carolina?
Dessa vez sou eu quem cai na risada. Minha amiga não é fácil, mas o Sam
consegue dobrar de jeito aquela geniosa.
— Não, mas quero você bem.
Aquele sorriso matador molha-calcinha surge, deixando-me fora do ar.
— Ter você cuidando de mim é o melhor dos remédios.
Dou um sorriso contido e volto a inflar o colchão que cederam para nós.
Como a cama do chalé fica no andar de cima e lá não tem banheiro, estou
montando uma outra aqui embaixo.
Depois de uns minutos, coloco as cobertas e o ajudo a se deitar. Ajusto os
travesseiros e os cobertores. Depois me despeço e volto para o andar de cima na
intenção de dormir.
Que merda! Estou rolando na cama enorme e não consigo pregar o olho.
Foi uma semana de tensão devido à sua saúde, mas ainda não consigo ficar
tranquila. Parece que ele está no hospital dormindo e eu, em frangalhos, morrendo
em agonia longe dele.
— Caramba — murmuro ao me sentar.
Olho para baixo do mezanino e vejo Brian dormindo. Ele acabou ficando
com o peito exposto e vou ter que ir lá para ajeitá-lo. Sento-me no sofá tentando
não acordá-lo e coloco as cobertas. Decido ficar por aqui e me encosto no
cantinho, vigiando sua respiração.
Tá na cara que ele está bem, mas quem pirou aqui fui eu.
Então, do nada, Brian rola mais uma vez, ficando de bruços e expondo as
costas. Merda! Novamente o cubro, só que, dessa vez, prefiro ficar mais perto e
me deito no colchão de ar. Agora vai ficar mais fácil vigiá-lo.
Porém, o sono vai me vencendo e...
Desperto com ela nos meus braços e quase me belisco, pois acho que ainda
estou sonhando. Lembro do momento em que Bárbara subiu para a cama, mas o
cheiro dos seus cabelos estão aqui. É ela. Os lábios avermelhados, a pele rosada,
os cabelos negros. Nenhuma mulher se assemelha à minha Raio de Sol.
Como ainda estou fraco pelo longo tempo dormindo, sei que ela veio pelas
próprias pernas. Então me pergunto: será que aquela crise de ciúmes tem uma
ponta de verdade? Será que a Babi tem algum sentimento real por mim? Eu
adoraria se isso fosse verdade.
— Bárbara? — eu a chamo, mas como sei que é mais soneca do que eu,
continua dormindo e encolhe o rosto no meu peito.
— Me deixa dormir mais um pouco, gringo — ela reclama.
Eu rio e beijo seus cabelos, e em poucos segundos ela está dormindo de
novo. Afasto-me cobrindo seu corpo e forço-me a levantar. Primeiramente me
arrasto para o sofá. Sento, firmando as pernas, e me ergo. Que merda faz ficar sem
andar por uma semana! Por isso, arrasto minhas pernas firmando meus braços nas
paredes e superfícies.
Quando estou quase na porta do banheiro, Bárbara surge apoiando meu
ombro.
— Você não falou que estava com sono? — pergunto.
— Tenho outras prioridades agora.
Prioridades? Essa não passou desapercebido.
Ela me ajuda a passar pela porta pequena e pergunta: — Você precisa de
ajuda?
— Não. Aqui consigo me virar sozinho. Obrigado.
Ela balança a cabeça, fechando a porta e saindo. Me resolvo e a encontro
do lado de fora, me esperando. Novamente, Bárbara me apoia e seguimos juntos
até o sofá.
— Você está saindo melhor que a encomenda...
— Não diga isso, Brian. Por minha culpa você está assim.
Paro de andar e a viro para mim.
— Bárbara, me escuta — falo com firmeza. — Você não sabia, por isso
não tem culpa alguma.
— Mas, Brian...
— Nada de “mas”, não quero te ver assim. — Passo uma das mãos em seu
rosto. — Você não consegue perdoar nem a si mesma? É isso mesmo?
Seus olhos brilham em lágrimas.
— É uma das melhores pessoas que tive o prazer de conhecer. Nesse
mundo de alta sociedade, poucos ficariam do meu lado como você está fazendo.
— Aproximo-me, mirando seus olhos castanhos. — Não entende o quanto
consegue mexer comigo, não é?
— Brian...
— Sei lá se é quebra de contato, mas preciso beijar a minha esposa. —
Então, tomo seus lábios e sou correspondido com tanta vontade que quase caio
sem forças nas pernas.
— Meu Deus!
Rimos juntos.
— Eu sou toda atrapalhada...
— Mas é a minha atrapalhada.
Ela sorri e me beija com os lábios mais deliciosos que me recordo.
— Fiquei com tanto medo de te perder...
— Eu estou aqui, Raio de Sol. Não em plena forma, mas...
— O que acha de ficarmos mais um pouco por aqui? Até você se recuperar
e... — Sua voz vai morrendo.
— Isso são promessas, minha esposa? — questiono com malícia e vejo seu
rosto assumir um tom mais rosado.
— Depende de você. — Ela sorri.
— Me dá meu telefone, terei que fazer umas ligações. Mais duas semanas
no Havaí. Tá bom para você?
Ela me dá um beijo casto e me abraça.

Cinco dias depois que voltei do hospital, já consigo andar tranquilamente.


Ainda bem que o clima na ilha demorou. Por isso, conseguimos fazer todos os
passeios possíveis. Agora, estamos numa trilha, de mãos dadas, seguindo para
onde fica uma cachoeira chamada “Rainbow Falls”.
Bárbara ficou maravilhada com a vista e aproveitamos a privacidade para
nadar.
Estamos numa fase gostosa de “namorando de novo”. Ainda não
transamos, mas beijos e amassos estão sempre acontecendo.
Ciumenta. Bárbara se mostrou uma das piores e não vou negar que estou
até gostando. É só uma mulher começar a ficar me olhando demais que ela fica
puta na hora. Ainda bem que não reclama comigo, mas faz de tudo para mostrar
que é a minha esposa e que ninguém me rouba.
— Isso aqui é maravilhoso — fala, nadando para perto de mim.
— Com você aqui fica mais ainda — declaro.
Ela passa os braços em meus ombros e me beija. Passo a mão em sua
cintura, trazendo-a para perto, e suas pernas cruzam em minha cintura sem
desgrudar dos meus lábios. Bárbara começa a rebolar no meu pau, e ainda bem
que a água não é tão clara para ver como está a minha situação.
— Bem que a gente podia transar na água — fala em meu ouvido, me
tirando do sério.
— Você quer acabar com o meu juízo, não é?
Ela ri, mas insiste, passando os dedos na minha ereção.
— Só quero transar com o meu marido gostoso. — Ela pega minha mão e
a coloca em sua intimidade, e...
— Você perdeu o seu biquíni? — pergunto, preocupado.
— Não, só soltei um lado — responde rindo. — Pega aqui que você vai
sentir.
Faço o que diz e percebo o laço do outro lado. Essa roupa de banho é um
perigo. Como que ela veio com algo que pode sair do corpo com tanta facilidade?
— Brian, não pensa demais. Só cumpra os deveres como meu marido, está
bem?
Ela toma meus lábios e desço um pouco o meu short, colocando meu pau
para fora. Nem preciso de estimulação. Então, forço sua entrada com um pouco de
dificuldade, avançando lentamente.
— Isso, mete — ela me incentiva, rebolando, e antes que fale mais alguma
coisa, tomo sua boca, deixando-a em silêncio, e fodo como queria há um bom
tempo.
Como estamos em um lugar público, não podemos ser escandalosos. Eu a
mantenho calada metendo fundo e com força. Somente nossos murmúrios são
percebidos. Seguro sua bunda, fazendo a penetração ser mais profunda enquanto
engulo seus gemidos deliciosos.
Minha! É isso que estou marcando nela enquanto mergulho na sua boceta
gostosa, feita para mim. Eu a sinto apertar meu pau e pressiono o seu ponto de
prazer, metendo fundo enquanto nós dois gozamos.
Ela fica molinha nos meus braços, se recuperando, então a cubro de beijos
até que volte ao normal. Depois, saio de dentro dela e a viro de costas enquanto
salpico beijos em seus ombros. Eu a vejo amarrando o lado do biquíni e percebo
que essas roupas de banho brasileiras não são nada ruins nessas ocasiões.
Não sei o que tem nas águas do Havaí que me fez cometer essa
loucura de transar em uma cachoeira, mas amei. Foi a nossa primeira vez
desde quando nos reencontramos, e foi muito melhor do que me lembrava.
Claramente temos muito a conversar e resolver, mas quero demais
repetir tudo isso. Depois que saímos da água, voltamos para o chalé já nos
pegando pelo caminho. Não consigo tirar as mãos dele e ele não me solta
por nada.
Vou tropeçando pelo caminho e o beijando até que batemos na porta
de entrada.
— Uma rapidinha não é o suficiente, Bárbara. Eu quero você —
sussurra ele em meus ouvidos, o que me faz me contorcer de desejo.
— Me torna sua, Brian — declaro, tirando sua camisa e beijando
sua boca.
Sinto a parte de cima do meu biquíni ser aberta. Seus dedos
massageiam o bico do meu seio.
— Se você não abrir essa porta, não vou me importar se alguma
pessoa nos pegar transando aqui na frente...
Rio enquanto tento abrir a porta, mas a maçaneta não abre.
— O cartão não está com você? — pergunto.
Na mesma hora ele se afasta de mim, e já fico até preocupada.
— Onde você colocou a chave? — ele me questiona. — Não está na
sua bolsa.
Merda! Merda!
— Eu não levei bolsa — confesso.
Brian se afasta de mim e se senta num banco.
— Tinha quer ser a minha esposa — declara rindo.
Então, brigo comigo mesma por ter cortado o clima. Deveríamos
estar em outro ponto agora, mas outra vez eu fiz besteira.
— Você é demais, Raio de Sol — confessa.
— Por que está rindo? — falo, mas antes que ele responda,
continuo: — Como podemos resolver isso?
— Vai ter que ir na recepção e pedir uma nova — responde.
Levanto a mão e aviso: — Eu já volto.
Dou um passo e escuto.
— Bárbara! — exclama.
— Ai! O que foi? — reclamo.
Ele pega a blusa que estava vestindo e a joga para mim.
— Veste isso — exige. — Não quero nenhum infeliz olhando para
os seios da minha mulher.
Solto uma risadinha e faço o que pede, mas antes de ir, me aproximo
dele e beijo seus lábios enquanto acaricio sua ereção firme do jeito que eu
quero.
— Eu já volto, marido ciumento.
Caminho até a recepção e converso com a direção. Por estar num
dos espaços mais caros, rapidamente me entregam duas novas chaves.
Agradeço e volto apressada, mas não encontro meu marido no lugar que
deixei.
Dou a volta no chalé que tem a lateral e fundos fechada para
privacidade dos hospedes. Escuto o barulho do chuveirão e ali encontro,
numa imagem pornográfica, principalmente por estar nu com o membro
ereto debaixo d’água. Sabe quando a gente vê algumas coisas e quer ser a
água? É assim que estou me sentindo.
— Vem aqui, minha linda — ele me chama, sorrindo e esticando a
mão para mim.
Não sou louca de fugir, então tiro minhas roupas e vou ao seu
encontro somente com a parte de baixo do biquíni. A primeira coisa que ele
faz é beijar meus lábios e descer pelo pescoço até um dos meus seios. Me
apoio na parede, deixando que sua boca faça estrago em mim.
Sinto o tecido da calcinha do biquíni cair, e só então percebo que ele
soltou os laços. Sua mão tira a peça e toma o lugar, tocando minha fenda.
— Que falta senti disso — confessa, desligando o chuveiro —, mas
quero você lá dentro.
— Precisava me deixar nua para isso?
Seu sorriso branco e lindo surge.
— Sim. Tinha que ver na luz do sol o que vou ter na minha cama.
Pego uma das chaves e abro a porta. Antes que eu entre, sinto Brian
me pegar nos braços e me levar para a cama no andar de cima. Ele me solta
no colchão, fazendo com que molhe tudo, mas pouco me importo, uma vez
que vejo esse monumento de olhos azuis me comendo com os olhos.
— Vai ficar somente me observando?
Brian cerra os olhos e puxa minhas pernas até ficarem entre as dele.
Depois me toma num beijo rápido e vai descendo com outros beijos entre
meus seios, indo para umbigo até chegar na minha fenda.
— Terrivelmente linda.
Sinto seu hálito quente e quase derreto de tão excitada que estou.
Quando sua língua invade a minha feminilidade, um gemido alto escapa dos
meus lábios.
— Calma que só estou começando, minha esposa — declara, caindo
de boca em mim.
Brian me devora com a boca e me fode com o dedo, levando-me à
loucura.
— Estou quase lá.
— Goza na minha boca, minha gostosa.
Então, em pouco tempo, atinjo o orgasmo e me derramo em seus
lábios, me desfalecendo até recuperar o fôlego.
— Espero que não pare por aí — comento.
— Ainda tem muita coisa que quero fazer com você, Raio de Sol.
Ele vai subindo pelo meu corpo e tomo seus lábios, sentindo-o roçar
em minha entrada, que está molhada à sua espera.
— Mete em mim... Ah!
Brian nem espera o segundo pedido para fazer o que peço. Seus
lábios me devoram enquanto o sinto bater fundo dentro. Somos como um
emaranhado de beijos e gemidos. Perdendo-nos um no outro, sem vontade
alguma de terminar.
Mas tudo tem um fim, e ele chega quando atingimos o ápice juntos
nos beijando.
— Eu senti muitas saudades de você, Brian — confesso, falando
“saudade” em português.
— Não imagina o quanto senti “saudades” de você, minha Babi —
declara, me roubando um beijo e saindo de dentro de mim rolando na cama.
Ele me abraça e me coloca em conchinha, e só então começo a
sentir algo escorrendo pelas minhas pernas. Passo a mão e na hora
reconheço.
— Merda! — exclamo, me sentando.
— O que foi? — Ele se senta, alarmado. — Bárbara, o que foi?
— A gente transou sem camisinha?
Ele somente balança a cabeça em concordância.
— Deus do céu!
— Na cachoeira e aqui transamos sem camisinha, Bárbara...
— Eu não estou tomando remédio. Tá me entendendo? — indago,
nervosa.
— Cacete!
— Eu não estou preparada para engravidar agora. Ainda tenho tanta
coisa para fazer e resolver. Estamos começando a se entender agora e...
Ele salta da cama, vem em minha direção e segura meus braços. Só
então percebo meu rosto molhado.
— Calma, minha linda. Seja o que for, a gente vai resolver.
— Não é tão simples, Brian. Eu...
— Você?
Brian nunca vai me entender. Disso eu tenho certeza.
Como sou louco por essa mulher! Transar com ela, do meu jeito, foi
maravilhoso. Eu já sei que amo há tempos, mas não quero assustá-la. Ela é
tudo que mais desejo e saber que é minha me faz um bem danado.
Essa história de transar sem preservativo realmente me pegou
desprevenido. Bárbara inventou de transar na água, mas se fosse por mim
teríamos começado em outro lugar, do jeito certo.
Mas se fizemos um filho nessa aventura, é mais do que claro que
vou assumir a criança e amar tanto quanto amo a mãe.
Porém, o mais estranho disso tudo são essas lágrimas. Passo os
dedos em seus olhos para limpá-los, mas não adianta. Ela desaba em
prantos nos meus ombros.
— Minha linda, você não está sozinha — falo, confortando-a. —
Estou com você e não vou embora.
Parece que minhas palavras fizeram com que mais lágrimas
surgissem. Fico um tempo confortando-a e a cubro com os lençóis,
deixando-a mais confortável. Por fim, visto uma cueca.
Dou água para ela e só depois de alguns minutos ela consegue
conversar.
— Se você quiser o divórcio depois do que eu te falar, não vou me
opor — declara, soluçando.
— Essa opção não passa pela minha cabeça. Eu quero te ajudar. A
gente precisa se entender, minha linda.
Bárbara balança a cabeça confirmando o que digo, e então começa:
— Você sabe que não tenho facilidade de perdoar, certo?
— Eu que o diga, não é? — brinco, roubando um sorriso dos seus
lábios.
— Mas eu sou assim há muito tempo e...
Ela engole em seco e depois responde: — Tudo começou por causa
dos meus pais — prossegue, fungando. — Eu sei que minha vida não é a
dos meus pais, mas tudo que eles viveram influenciaram na vida da única
filha que tiveram. — Seus lábios tremem. — Ele traía minha mãe e eu
descobri tudo.
— Caralho! — xingo.
— Foi complicado demais. Ele queria que eu acobertasse, mas não
consegui, e um certo dia falei para minha mãe e ela se separou dele. A
verdade era que seu Breno mentia demais e por isso criei uma dificuldade
enorme em confiar principalmente nos homens.
Agora estou entendendo as coisas.
— Eles ficaram afastados por anos e quando entrei na faculdade de
turismo, os dois se aproximaram novamente. Agora estão juntos, mas...
— Você não consegue acreditar nele e muito menos perdoar —
concluo.
Ela balança a cabeça.
— Eu sei que o que me escondeu não foi algo como uma traição,
mas por ter me omitido tudo...
— Te entendo, minha linda — declaro, abraçando-a e beijando o
topo da sua cabeça.
— Eu não queria ser assim, mas...
— Shiii!
Bárbara começa a chorar mais.
— Eu sou quebrada, Brian. Não sei se um dia vou ser normal e
conseguir confiar em você...
— Mas só de estar falando isso deixa claro que acredita que vou
guardar seu segredo.
— Brian, eu não sou...
Tomo seus lábios antes que continue.
— Jamais diga que não é a certa para mim. Você quis, mas eu
também te escolhi.
— Está bem.
— Só me prometa que vai se esforçar para aceitar que é a minha
mulher. Seremos só nós dois hoje... para sempre. Ok?
— Sim. Sim.
Ela me beija.
— Mas vamos começar a transar com camisinha nas próximas até
voltarmos para a América e eu conseguir marcar um médico para ver uma
pílula.
Confirmo, beijando-a. Se não tem uma criança se formando dentro
dela, vamos prorrogar isso mais para frente.
Trim. Trim.
Resmungo e pego o aparelho barulhento. Atendo minha tia dizendo
que Madson aprontou mais uma e que somente eu posso resolver. Então,
explico que já estamos quase voltando e passo o aviso para a minha esposa.
— Infelizmente, tudo que é bom acaba.
Chegou o dia de nos despedirmos do Havaí. Fizemos maravilhosas
lembranças, mas nossas vidas nos chamam e temos que retornar. Pegamos o
jato e novamente ela fica nervosa.
Eu a beijo e ela passa a viagem dormindo no meu ombro, grudada
no meu braço. Enquanto o tempo passa, vou ajustando a minha agenda com
a secretária pela internet.
Quando aterrissamos, sou eu quem está cansado. Descemos da
aeronave sentindo o frio do inverno mais forte do que na ida. Depois,
seguimos para a mansão da minha família.
Assim que passamos pela porta, estranho o silêncio demasiado da
casa.
— Isso está estranho — comento.
— O que foi, Brian? — ela me pergunta, retirando o casaco na
entrada de casa, mas antes que possa responder, minha tia Abigail aparece a
passos agitados.
— Ainda bem que chegaram. Só você para controlar aquela menina,
Brian.
— Ela invadiu uma casa de novo? — pergunto, sabendo a pretensão
à drama da minha tia.
— Fez pior, Brian!
— É da sua irmã que ela está falando? — indaga minha esposa e
somente balanço a cabeça em concordância.
— Ela foi presa por atentado ao pudor. Entende o que é isso?
Puta que pariu! Minha irmãzinha não para.
— Me fala a delegacia que vou lá agora.
— Quer que eu vá contigo? — Bárbara me pergunta.
Eu a abraço e planto um beijo em seus lábios.
— Acho melhor eu resolver isso tudo com ela...
— Acredito que posso te ajudar, marido. Não juramos na alegria e
na tristeza?
Concordo com ela, então deixamos as malas com os funcionários e
vamos para a delegacia. Quando entramos de mãos dadas, reconheço a
mulher que vem em minha direção.
Caralho!
A Número quatro.
Amélia Burton. Melhor dizendo, Delegada Burton.
— Brian Hamilton Smith. É você mesmo? — ela comenta, animada,
e na hora sinto os olhos de Bárbara crispando sobre mim. Mais um dia de
conversas nada animadoras.
— Oi, delegada Burton...
— Pode me chamar de Amélia — a mulher responde algo que vai
causar ainda mais problemas para mim. — Tantos anos, não é? Desde a
faculdade...
Balanço a cabeça, confirmando.
— Você trancou o curso para entrar para a polícia — continuo.
A mulher junta as sobrancelhas ao se lembrar.
— Foram tempos difíceis aqueles. Perder meu pai...
— Entendo — respondo e logo troco de assunto para não piorar a
minha situação. — Essa aqui é minha esposa. Bárbara Hamilton Smith.
Ela cumprimenta a delegada com simpatia, mas vejo claramente seu
ciúme.
— Prazer em conhecer — fala Amélia. — A gente está relembrando
o passado e não entrei na situação principal. Vieram soltar a pequena
problema, não é?
— Onde está a minha cunhada? — ela pergunta. — Foi muito grave
o que ela fez?
— Somente contra ela — confessa, nos conduzindo para sua sala.
— O que aconteceu?
— Ela foi pega... — A mulher suspira. — Não sei se seria bom você
ver isso, mas como também é responsável por ela...
— Pode nos dizer, por favor — fala Bárbara.
— Ela foi pega tendo relações sexuais com um rapaz com uma ficha
longa de pequenos furtos. E isso dentro de um carro denunciado como
roubado.
— Como é!? — solto, surpreso.
— Ela estava... transando com um marginal? — pergunta minha
esposa.
Amélia somente balança a cabeça.
— Quem é o filho da puta? — questiono revoltado. — Minha irmã é
uma menina de vinte anos que ainda...
— Brian, ela não é mais criança, mas precisa de muito conselho
para arrumar aquela cabecinha travessa — ela me aconselha. — Vocês
precisam ajudá-la. Madson tem a vida toda pela frente, mas está se
envolvendo com os caras errados, e isso pode ter consequências sérias.
Balanço a cabeça concordando. Era meu pai quem deveria estar
cuidando disso na minha ausência, mas até hoje não consegue superar o luto
por ter perdido a nossa mãe. Por isso, ignora a minha irmã, que está cada
vez mais perdida.
— Eu já volto com ela — avisa Amélia, nos deixando a sós.
— Marido, a gente vai resolver isso. Está bem? — Bárbara me fala,
segurando meus dedos e me dando um beijo casto.
— Eu achei que estava furiosa comigo — confesso, roubando um
beijo.
— Claro que estou — diz, juntando os olhos.
Cacete!
— Mas a Madson é um assunto urgente. Sobre a delegada e a tal da
número três, a gente conversa mais tarde.
Agora fodeu de vez.
— Maninho! — Escuto uma voz e nem dá tempo para reagir quando
ela corre ao meu encontro e me abraça.
— Mad. Que bom que está bem — falo, apertando-a em meus
braços.
— Que falta eu senti de você. Eu queria tanto ter ido no Havaí, mas
a chuva não deixou e a tia Abigail pegou o meu cartão...
— Eu estou aqui, Madson — falo, interrompendo-a.
Olho para Amélia e ela indica que podemos ir embora. Mad abraça
Bárbara e saímos os três da delegacia para o meu carro. Ela se acomoda no
banco de trás e fica silenciosa durante toda a viagem.
Quando entramos, ela é a primeira a abrir a porta.
— Mad, precisamos falar sobre o que aconteceu. — aviso.
— Já viu o meu estado? Estou precisando de um banho. Assim que
sair, encontro contigo na biblioteca, está bem?
Balanço a cabeça concordando e seguimos nós dois para o nosso
quarto. Tomamos um banho rápido e esperamos minha irmã na biblioteca.
Os minutos vão passando e ela só aparece quase uma hora depois, com os
cabelos enrolados numa toalha e vestindo roupas de inverno.
— Eu sei que fiz besteira...
— Madson, o que você fez foi uma imprudência das grandes.
Aquele cara é um marginal.
— Brian, você não o conhece...
— Ele já é fichado.
— A número quarto te disse isso, não foi? — ela me questiona sem
ter noção de que falou merda. — Mas são todos pequenos delitos.
— Você também sabe da história das “números”? — Bárbara
pergunta.
— Ele não te contou? — retruca minha irmã.
— Madson, eu vou conversar sobre isso com Bárbara depois.
Então, Bárbara vai para a porta dizendo que me espera depois lá em
cima. Cacete!
— Você está guardando informações sobre suas ex e quer me dar
lição de moral? Eu e o Adam não temos segredos...
— Cacete! Para de fugir do assunto. Eu estou aqui para te ajudar a
sair dessa loucura que está vivendo.
Ela se levanta e caminha de um lado para o outro.
— Como vai me ajudar se quem mais deveria estar assumindo a sua
função de me amar é quem menos quis o meu nascimento? — questiona
com pesar.
— Mad...
— Brian, eu sei que você me ama, mas está formando a sua vida
com a Bárbara. Está estampado na sua testa que a ama e que jamais a
deixaria sofrer, e isso é lindo. Mas...
Ela funga e eu a trago para meus braços. Como o tempo passa
rápido. Ainda me lembro dela pequena chorando por ter perdido uma
boneca. Eu realmente não quero acreditar que agora se tornou uma mulher.
Um pouco inconsequente, mas nada que carinho e amor não possam
reverter.
Porém, preciso manter a linha da confiança com ela. Caso contrário,
vai se fechar e aí perdemos tudo.
— Maninha, você gosta mesmo desse cara? Esse tal de Adam?
Ela sorri.
— Ele é engraçado, gosta de aventuras, me faz pegar fogo...
— Me poupa dos detalhes sórdidos — aviso, me afastando. —
Nenhum irmão gosta desse papo de sua irmã fazendo...
— Transando? — ela brinca.
— Isso aí. Com sei lá quem. — Suspiro. — Só não quero que se
machuque mais do que já está.
— Eu já tomo cuidado. Uso sempre camisinha e estou em dia com
as minhas pílulas anticoncepcionais.
— Olha, eu não queria ouvir isso, mas por um lado é bom saber que
alguém te falou sobre isso.
— Tia Vic.
Uma risada me escapa. Nossa tia que ama viajar é a influência mais
positiva que tivemos de mãe. Enquanto tia Abigail era mais severa e
restritiva, a nossa tia agia como uma amiga mais velha que nos contava de
tudo. Comigo não foi diferente. Principalmente quando viu a número dois
cheia de lascívia comigo. Mais isso é outra história.
— Ainda bem que temos um pouquinho dela.
— Verdade. — Ela balança a cabeça, sorrindo.
— Promete que vai conversar comigo e tentar se aproximar mais da
sua cunhada?
Ela dá uma risada.
— Prometo, mas aviso que ela tá puta contigo. Por que não falou a
história das “números”?
— Estava evitando esse assunto desagradável.
— As anteriores sabem — lembra.
— Sim, mas Bárbara é ciumenta demais, se contasse seria mais um
ponto para resolvermos... Na verdade, nem sei como começar esse assunto.
Não dá para dizer “Amor, você é a minha sétima namorada, e é por isso que
te chamo de ‘Sete da Sorte’”. Bárbara vai virar a mão na minha cara e ir
embora.
Ela torce o lábio tentando não rir.
— Maninho, esse é o seu problema. Agora vai ter que se entender
com a sua número sete — ela diz ao pegar um livro na estante.
— Mas amanhã quero saber mais sobre esse cara. Se possível, traga
para jantar conosco. Quero ver com meus olhos quem é e espero que fique
mais caseira depois desse novo escândalo.
Ela confirma com a cabeça e subo até meu quarto, encontrando
minha esposa sentada na beira da cama. Não posso negar que está linda,
mesmo furiosa.
— Oi...
— Brian, quem são as “números” e por que parece que todo mundo
sabe desse assunto, menos eu?
Agora deu merda.
Ele me prometeu sem mentiras, e é assim que vai ser. Todos temos
segredos, mas eu preciso saber sobre isso. Depois que descobri que Madson sabe
também, todo meu corpo deseja essa resposta.
Subi para o nosso quarto, tomei um banho e fiquei à espera de seu retorno.
Ele não vai fugir de mim, principalmente nesse frio. Vou colocar até fita adesiva
nos olhos, mas não vou dormir sem saber mais dessa história.
Números. Eu sei que tem coisa aí.
Número três, a tal da Emma, que ligou toda oferecida quando estávamos
no Havaí. Número quatro, a delegada de pele preta e cabelos crespos. Eu sei que
tem mais. Mas o que esses números significam?
Então, ele entra pela porta como se nada tivesse acontecido.
— Lembra de assuntos que eu sei que não vai gostar se saber? Eu ia te
falar, mas você mostrou que não queria saber...
— Mas agora eu quero.
Ele suspira.
— Está bem. — Ele coça a barba e declara: — As “números” são as
minhas ex-namoradas.
Bufo furiosa.
— Você mentiu dizendo que a tal da “Número Três” é só sua amiga!
— E é. Foi somente um namoro de verão quando eu era adolescente. —
Ele pausa antes de continuar: — Para de surtar com o meu passado, foram
relacionamentos que vivi e que me trouxeram até você.
Eu queria brigar, mas tá mais do que na cara que ele está certo. É passado,
mas quanto a mim?
— Que número eu sou?
Uma risada escapa de seus lábios e seus olhos claros miram os meus.
— Está mesmo me perguntando isso? Pensa um pouco que vai descobrir.
Ele sempre me chamou de “Raio de Sol”, “Babi” e...
— Eu sou a número sete — murmuro.
— Isso mesmo, o número da perfeição.
— Teve alguma oito?
— Não mesmo — confessa, abaixando-se na minha frente. — Depois que
te conheci, não quis aumentar a contagem.
Dá para perceber que tem muito mais sentimento envolvido do que nas
palavras que me diz. Seus olhos brilham, e acabando com essa discussão boba,
passo a mão em seus ombros e o beijo.
Na verdade, o que importa ele ter se relacionado com seis mulheres antes
de mim? Quem está casada com Brian sou eu e não abro mão disso por nada.
— Já te falei e repito, minha linda. É você que eu quero.
— Você tá certo. O passado não importa, mas gostaria de saber quando
qualquer uma vier a aparecer.
Ele confirma, tirando a minha blusa.
— Eu te conto, mas vamos trocar de assunto. Quero foder a minha esposa
linda.
Brian tira meu short e minha calcinha, deixando-me somente de sutiã.
Facilito, somente soltando, e ele o tira do meu corpo. Sua blusa cai no chão, e suas
calças com todo o resto também.
Seu corpo cobre o meu e o deito na cama, tomando a frente. Beijo seus
lábios descendo lentamente sobre seu abdômen definido, até que chego no seu
pau, que já está ereto. Começo a masturbá-lo, ouvindo-o gemer ao meu toque.
Vamos combinar, faz pouco tempo desde a nossa última vez, mas estou
com saudades de chupar um pau. Na verdade, este em específico.
— Isso é maldade...
Quando ia continuar, passei a língua no seu pau e provei seu sabor.
Mergulho seu membro em minha boca e o chupo com vontade. Massageio suas
bolas e continuo. Ele aproveita, segurando minha cabeça e fodendo a minha boca,
fazendo-me engasgar.
Quando canso, escalo seu corpo e sento, metendo na minha entrada
encharcada. Suas mãos colam na minha bunda e quico na sua vara grossa. Gemo
quando Brian me levanta e me penetra com rapidez, levando-me às estrelas.
Depois ele me coloca de bruços no colchão, levanta minhas pernas e se
coloca entre elas, metendo forte. Gemo demais quando ele me domina assim. Seus
dedos seguram meus cabelos e os tapas são marcados na minha bunda.
Em poucos minutos, gozo no seu pau, mas nem tenho tempo para me
recuperar quando ele me fode fundo até chegar a gozar segurando meus seios.
Depois ele tomba em cima de mim, mas sai rapidamente. Novamente me lembro
que de novo transamos sem preservativos.
— Brian...
— Nem começa. Você que sentou no meu pau depois de me chupar.
Eu rio, concordando.
— Eu não resisti — confesso, envergonhada.
Ele beija meu rosto e rolo, ficando de frente com ele.
— Amanhã é dia de voltar ao trabalho. — Ele se apoia de lado. — Vai
começar a trabalhar de verdade com o meu padrinho e eu sigo para a Hamilton.
— Tenho que ligar para Carol, meus pais e para a loja da França. Mas
podemos fazer isso no outro dia, não acha?
Ele concorda e me dá um beijo quente, ficando em cima de mim.
— Já está pronto para outra, marido?
— Ainda estamos de lua de mel, esposa — comenta com a mão na minha
intimidade. — A minha obrigação é te fazer feliz lá fora e aqui dentro.
Sinto seus dentes no meu pescoço e sua outra mão apertar o bico do meu
seio. Ele quer me levar à loucura, só pode. Minhas pernas relaxam ao seu toque e
um gemido escapa dos meus lábios.
— Se falar que não quer, eu paro agora.
— Você não se atreveria, Brian. — Ele ri. — Mete do jeito que você quer.
Sou sua.
Dessa vez, ele mergulha no meu corpo mais lentamente, mas não menos
prazeroso. É menos agitação e mais sentimento. Ninguém falou, mas estamos
fazendo amor. Deixando nossos atos falarem mais do que as palavras e terminando
com nós dois suados dormindo de conchinha.

— Vocês demoraram demais para voltar — fala o meu sogro, seu Joseph,
conosco na mesa de café da manhã. — Mas fico feliz que esteja bem, meu filho.
Estamos em quatro aqui na mesa. Abigail, meu sogro, Brian e eu. Na
verdade, nem acredito que saímos da cama na hora. Ficamos tanto tempo
trancados no quarto que achei que me atrasaria para o meu primeiro dia.
— Sim, eu não sabia da alergia de Brian, mas isso não vai mais acontecer.
— Assim espero, minha nora.
Ele me olha tão estranho que fico até ressabiada. Tomo meu suco e aviso
ao Brian que vou pegar minha bolsa para irmos. Ele concorda e me afasto, indo
para o andar de cima. No corredor, encontro com Madson, que me manda um
sorriso amistoso.
— Ele te contou, não é, número sete?
Balanço a cabeça em concordância.
— Ainda precisamos falar mais sobre isso. O que acha de fazer isso no fim
do dia, quando eu voltar?
Ela aceita o meu convite.
— Até mais e bom primeiro dia.
— Bárbara, se acontecer qualquer coisa que te deixe constrangida, preciso
que você me fale. Está bem?
Do nada, Brian entra nesse assunto. Estamos a caminho da loja e ele viajou
quieto, provavelmente pensando em como falar disso.
— O que quer dizer com isso?
— Nada demais. Mas você é minha esposa e ninguém pode te rebaixar por
estar casada comigo. Ok?
Concordo. Quando paramos na entrada do trabalho, ele sai, indo para a
porta do carona. Então ele me beija. Arnon aparece na hora e cumprimenta meu
marido.
— Ela está em boas mãos, meu afilhado. Não precisa se preocupar.
— Está bem, padrinho. — Brian se vira para mim e diz: — Não se esquece
do que te falei.
Concordo dando um outro beijo em seus lábios.
— Bom trabalho, marido.
Ele sai com o carro e percebo na hora os olhares estranhos das outras duas
funcionárias contratadas. Arnon me apresenta como uma das sócias da nova
agência. Depois, nos reunimos montando as estratégias competitivas para nós.
Falo do que fiz na França e como conseguir manter a empresa funcionando. Meu
novo sócio gosta bastante do que digo e me explica que vai ficar trabalhando
diretamente comigo pela primeira semana. Em seguida, vai verificar comigo
online como vamos funcionar com a sua agenda apertada.
Quando o dia termina, ninguém menos que a maior ciumenta da história
surge toda retocada. Annie.
— Querida, começamos hoje com a agência da nova senhora Hamilton
Smith.
— Sinto muito que sua lua de mel tenha sido interrompida por um marido
doente acamado. Ele já está melhor? — ela me pergunta, mas sinto a agulhada na
hora.
— Está maravilhoso. Passou aqui mais cedo — respondo.
— Acredito que já está na nossa hora — começa ela. — Vamos Arnon?
— Sim, mas como a agência ainda não está funcionando, vou fechar tudo e
deixar Bárbara em casa, meu docinho.
Vê se isso não dá enjoo?
Mesmo assim, chego em casa um pouco antes pegando carona. Eles abrem
o portão para mim e quando passo pela entrada, escuto a voz da dona Abigail
dizendo: — Infelizmente ele se casou com aquela brasileira.
— Eu estava aqui — comenta uma voz feminina. — Não gostei do que vi e
o pior foi ser escorraçada...
— Mas tente entender, ele nem imaginava que tinha essa bênção.
Bênção?
Dou uns passos para dentro da mansão e me deparo com um menino de
cabelos escuros sentado no chão, de mais ou menos quatro anos, brincando com
um carrinho.
— Bárbara? — comenta Abigail.
Nesse momento, a criança olha para mim e são os mesmos olhos azuis que
o meu marido possui.
Isso deve ser loucura da minha cabeça.
Por Deus.
Tem que ser isso.
Depois que deixei Bárbara na agência com meu padrinho, fui
trabalhar mais tranquilo. Quem disse que quase morrer diminui os
trabalhos, está redondamente enganado. Tinha tanta coisa para resolver que
praticamente perdi meu almoço acertando os orçamentos que ficaram
devendo autorização.
Precisamente, foi necessário pedir revisão de alguns que meu primo
fez no qual não concordei com os valores e algumas quantidades. Ele ficou
furioso, mas como a palavra de ordem é minha, teve que acatar.
A todo instante eu queria ligar para Bárbara, digo, para minha
esposa. Mas eu sei que também está trabalhando e não ficaria bem ser
interrompida por mim no seu primeiro dia.
— Que merda!
Olho para mais uma pasta de documento do período em que estava
no Havaí e não tem como não surtar com o que leio. Tiro o telefone do
gancho e passo para a secretária um recado simples e direto: quero falar
agora mesmo com Robert. Recebo a informação de que ele está em reunião,
mas que virá assim que possível; me seguro para não ficar mais furioso do
que antes.
Isso é demais. Eu e Robert somos incrivelmente parecidos. Temos
altura semelhante, porte, cor de cabelo, os olhos claros, mas em
personalidade, nada mais é semelhante. Seu pai abandonou minha tia
Abigail quando era criança, e numa tentativa de compensação, deu tudo que
o filho queria; nesta, causou o estrago.
Disso posso agradecer ao meu pai. Mesmo sem minha mãe, aprendi
o valor do dinheiro e sou cauteloso, mas ele... Se permitir, vende a própria
casa para fazer uma festa de ostentação e ainda fica devendo parte do valor.
— Brian?
— Entra e senta — digo, voltando para minha mesa.
Ele me olha de rabo de olho e se senta.
— Primo...
— Que merda foi essa, Robert? — questiono ao jogar uma pasta na
mesa.
Ele pega o documento e olha com uma paciência fora do comum.
Analisa página por página das 20 folhas e só depois para e me olha.
— Prestação de contas. É só você assinar...
— Eu não vou assinar essa merda! — exclamo.
— Por que não?
— O que é esse gasto no SPA? Eu estava quase morrendo no Havaí
e você torrando dinheiro da empresa para relaxar? Que porra foi essa?
Ele se levanta e passa a mão no terno.
— Eu deveria ter te contado. — Torce o lábio.
— O quê?
— A Julie pediu o divórcio! — confessa com pesar.
Fico paralisado com sua fala. Ele e Julie sempre foram perfeitos
juntos e claramente ela o amava.
— Mas...
— Prefiro não falar disso. — Ele suspira. — Estava sem chão. Por
isso precisei do SPA, mas eu posso pagar. Deixa que eu abato nas minhas
contas.
Fico pensando em como fiquei quando me separei de Bárbara, e
realmente foi penoso. Fiz algumas merdas, mas nada tão ostentoso assim.
Somente me isolei um pouco mais e criei amizade com as garrafas e meu
telefone. Samuel aguentou muito a minha fossa. Porém, meu primo não tem
o mesmo histórico e um amigo como o meu.
— Rob. Eu vou pagar essas contas...
— Não, primo...
— Sim. Eu vou fazer o pagamento na minha conta pessoal — digo,
finalizando o assunto. — Mas espero que isso não aconteça novamente.
Contas da empresa são diferentes das pessoais.
Ele balança a cabeça.
— Sim...
— Por isso, vamos precisar realocar sua função — continuo.
— Como é que é?
— Rob...
— Nem vem com isso! Minha vida virou um inferno enquanto você
estava trepando com aquela brasileira no Havaí e ainda quer mexer no meu
dinheiro...?
— Olha como você fala da minha esposa... — ameaço, tentando me
controlar.
— Será que não percebe que ela é uma golpista, Brian?
Levanto-me na hora com as mãos em punho.
— Lave sua boca antes de falar da Bárbara, ou vamos entrar em
terras desconhecidas aqui.
— Senhor Smith? — chama a minha secretária.
— Então não se meta na minha parte da herança ou teremos grandes
problemas, priminho — acusa, saindo da sala.
A secretária me olha e fico pensando em como resolver essa merda.
— Devo chamar alguém?
— Não. Só anota que na reunião geral vamos ter que falar sobre
meu primo.
Ela balança a cabeça e sai da sala.
As horas se passam e enfim chega o fim do dia. Um pouco mais
cedo, recebi o recado de que Bárbara pegou carona com meu padrinho. Por
isso, vou para casa sozinho.
Assim que fecho a porta do carro, o cheiro do seu perfume toma o
ambiente e chego a sorrir mais relaxado.
— Quando te encontrar, vou mostrar o tamanho da saudade que
estou sentindo, minha linda — murmuro conduzindo o veículo.
Chego em casa deixando o carro com os seguranças e encontro na
entrada de casa a minha esposa.
— Raio de Sol?
Eu a chamo, mas meus olhos encontram com ninguém menos que
Scarlet sentada no sofá, acompanhada da minha tia Abigail e... um
garotinho bastante familiar.
— O que está acontecendo aqui? — pergunto, chamando a atenção
de ambos enquanto caminho para o centro da sala.
— Brian — declara minha ex abrindo um dos sorrisos ensaiados que
já conheço há tempos.
— O que você está fazendo aqui?
— Graças a Deus você está bem! — Ela me abraça, mas
imediatamente a tiro de perto de mim.
— Vai embora da minha casa. Não é bem-vinda aqui há bastante
tempo.
— Sobrinho. É melhor esperar um pouco — começa minha tia, mas
parece que o dia de hoje foi planejado para me tirar do sério.
— Do que vocês estão falando? — questiono e capturo o olhar
desesperado da minha esposa.
Sigo o olhar e vejo a criança brincando no tapete, alheia a tudo.
— Eu sei que não vai acreditar, mas ele é nosso filho e está
precisando muito do pai — declara Scarlet.
Viro meu rosto em sua direção e declaro firmemente: — Não é!
Ela arregala os olhos, chocada.
— Você quer que eu te lembre quando me engravidou?
— A gente nunca transou sem camisinha. Disso eu tenho certeza,
Scarlet — lembro.
— Mas teve uma vez que ela furou e...
Porra! Pior que ela está certa. Caralho! Foi uma única vez, mas... é
possível. Puta merda! Será que abandonei um filho gerado por acidente com
a Número Seis? Eu nem imaginava, mas isso também pode ser mentira.
Dou uma olhada no menino e realmente se parece comigo. Tem
cabelos escuros, olhos tão azuis como os da minha família e...
— Brian, você abandonou um filho para ir ao Brasil? — Bárbara me
pergunta, e pela primeira vez não sei o que responder.
Parece que tudo está girando em alta velocidade e não sei o que
dizer. Sento-me no sofá tentando me encontrar nessa volta de 360º que
minha vida está dando.
— Brian — Scarlet chama meu nome —, eu sei que te devo quatro
anos da vida do nosso filho, mas...
— Scarlet, fique calada. Eu preciso pensar...
— Ele é um menino bom...
— Se ele é mesmo meu filho, por que não apareceu antes? Sempre
teve acesso à minha família...
— Mas eu fiquei com medo de contar tudo e tirarem o Ryan de
mim.
Ryan. Esse é o nome dele.
— O parto foi difícil e fiquei muito envergonhada de falar disso.
Você estava no Brasil e eles poderiam exigir a guarda do nosso menino. —
Ela suspira. — Ninguém conseguia falar contigo enquanto estava lá.
E a culpa disso era de quem? Da própria que fez um inferno na
minha vida.
— Você não está sendo sincera, Scarlet.
— Claro que estou! — questiona, revoltada. — Brian, eu te procurei
por um tempo enorme. Tive que parar de modelar quando a barriga
começou a aparecer e até depois do nascimento, já que modificou todo o
meu corpo. — Ela tenta segurar minhas mãos, mas não deixo. — Quando
soube que tinha voltado para a Hamilton, descobri que já estava de
casamento marcado com a brasileira. Não deu tempo para te contar isso
antes.
Respiro fundo e passo as mãos nos cabelos, quase os arrancando de
nervoso.
— Você pode falar o que for, mas saiba que vou precisar de todas as
provas de que essa criança é realmente minha.
Esforço-me para encontrar uma luz diante desse pesadelo de ter um
filho com uma mulher que não amo, mas sou tragado pelo terror quando
escuto: — E você vai ter, meu querido.
Perdoem-me, mas não pude suportar escutar a tal da Scarlet
lembrando de quando engravidou do meu marido. Fato que aconteceu bem
antes de nos conhecermos. Vamos combinar, foi antes, mas quem quer
escutar esse tipo de coisa da ex?
Eu sei, o certo seria ficar ouvindo tudo ao lado dele, mas meu
estômago ou o meu ciúme não iria aguentar tanta tortura. Por isso, olhando
quem também claramente não estava participando da conversa, trouxe o
menino para a cozinha da mansão.
Deixei-os conversando, tendo a tia dele como observadora, e
convidei o menino para vir comigo. O rapazinho nem olhou para trás e
veio; acredito que fiz o melhor nesse momento. Quem já passou por um
trauma familiar sabe bem o que pode ser feito para evitar que isso se repita.
Então, eu o coloco sentado na mesa da cozinha e peço que deem
algum doce caseiro para ele, torcendo para que não tenha alergia alimentar.
Nada de repetir o episódio do camarão. Pelo amor de Deus!
— Oi. Qual o seu nome, rapazinho?
Os olhos azul-claros batem nos meus, mas ele não me responde de
primeira, apenas dobra os braços e baixa a cabeça. Tento novamente ao
entrar numa conserva como da época quando aprendi inglês.
— Meu nome é Bárbara e o seu...?
— Ryan — ele responde, abrindo um olhinho.
Ryan. Tinha que ter um nome semelhante ao do suposto pai? Calma,
Bárbara. Melhor não comentar sobre isso agora. Por isso, seguro nos dedos
que estão mais próximo e cumprimento.
— É um prazer te conhecer, Ryan.
Ele assume uma postura mais reta e aperta a minha mão como um
pequeno cavalheiro.
— O prazer é meu. — Então, volta-se para frente e percebo mais um
ponto do Brian.
Sei que ele ainda desconfia, mas está mais do que certo que essa
criança tem, sim, algum parentesco com meu marido. Impossível não ter. A
timidez e o jeito são totalmente do Brian.
Preciso parar um pouco de pensar nesse baita “Elefante na Sala”.
— Você quer comer alguma coisa? — pergunto, fugindo do óbvio.
Ele somente balança a cabeça afirmando. Somando ao doce, solicito
um lanche simples de biscoitos com suco e peço para que sirvam. A criança
come os primeiros biscoitos tranquilamente, mas do nada começa a tossir
forte. Eu acho que se engasgou, principalmente quando os espasmos
pioram. Começo a me desesperar. Será que estou matando o filho do meu
marido? Está vendo? Nem para madrasta eu tenho facilidade.
— Deus do céu! O que eu faço? — pergunto para as cozinheiras e
uma delas pega água, mas Ryan recusa, pegando na sua mochilinha uma
bombinha.
— Ryan...
Ele não me responde e se medica sozinho, apertando o inalador duas
vezes e recuperando a respiração como se nada tivesse acontecido.
Depois, volta a tomar suco e comer os biscoitos. Simples assim.
Ryan até me oferece o biscoito, mas depois do coração ir até a boca de tanto
nervoso, prefiro somente tomar água. A tal da Scarlet não mentiu, esse
menino precisa urgentemente de ajuda.
— Está ouvindo isso, Brian? — Scarlet questiona, mas não estava
prestando atenção em nada.
Apurando os ouvidos, percebo o barulho de criança tossindo lá
dentro de casa. Também procuro Bárbara, não a encontrando. Estamos
somente a Número Seis e minha tia.
— É o nosso filho lutando para respirar contra a asma — ela
esclarece.
— Como é que é? Você o deixou sem medicação? — indago,
preocupado.
— Claro que tem, Brian — responde. — Que tipo de mãe eu seria?
A verdade é que Ryan desenvolveu esse mal com seis meses de vida, e
desde então sofre com as medicações, que são caras.
Suspiro um pouco aliviado. Mesmo sem saber se o garoto é meu
filho, jamais desejaria mal a uma criança.
— Scarlet...
— Se aquela brasileira não tivesse te cercado o tempo todo, teria te
contado. Eu juro. Ryan é seu filho e já estava necessitando de apoio desde
quando engravidei. Você sabe que remédios não são baratos, não é? E agora
que não consegui mais convites de trabalho, vou precisar que me ajude com
a saúde...
— Para com isso! — exijo, cortando o seu velho drama crônico.
— Você sabia que asma pode matar? Ryan poderia não ter
resistido...
A merda é que, em meio às pesquisas que fiz quando jovem sobre
uma bronquite que Madson e Robert desenvolveram na infância, sei que
não está mentindo.
Não dá para ter certeza que é meu filho, mas jamais deixaria de
ajudar uma criança necessitada. Posso afirmar que Scarlet não foi a minha
melhor namorada, mas o menino não tem culpa da mãe que tem. Quem sabe
realmente seja meu filho?
Depois vamos descobrir sobre isso. O mais importante é resolver o
que está diante de mim. Por isso, me levanto do sofá e pego no bolso do
meu terno o telefone.
— Eu vou te ajudar, mas não espere mais do que isso antes de
confirmar a real paternidade do menino.
Um sorriso triste brota em seus lábios e uma lágrima desce pela
face.
— Agradeço, mas você não imagina quantas vezes tentei te achar,
Brian! — argumenta. — Quando tive o teste positivo, eu vim te procurar,
mas me contaram que estava no Brasil com o Samuel. Liguei pelo seu
telefone, mas nem o seu melhor amigo, que seria o nosso padrinho de
casamento, atendia minhas ligações.
— Para de história. Sabe que me afastei da América por sua causa e
todo aquele circo que armou — recordo. — Lembra do escândalo que
causou quando eu não aceitei casar contigo?
Ela limpa as lágrimas e aperta os lábios olhando para os lados.
— Eu sei que errei quando terminamos...
— Você tentou me dar um golpe, Scarlet! — esclareço, nem um
pouco convencido da sua cena. — Ainda usou a mídia mundial para fazer
tudo...
— Me perdoe! — grita em desespero. — Eu não sabia que estava
grávida de um filho seu.
— Mas se soubesse, teria feito pior — confesso.
Ela olha para cima deixando mais uma lágrima rolar em seu rosto.
— Lembra daquela noite? — pergunta.
— Scarlet... — começo, tentando impedi-la de falar daquele dia que
prefiro esquecer. Porém, sei que não vai adiantar.
Seus olhos castanhos passam por meu corpo e desvio olhando para o
telefone.
— Era nosso aniversário de namoro.
Lembro dessa noite, mas preferia esquecer.
— Você me deu uma pulseira linda de diamantes, feita em ouro
branco. Tivemos um jantar fabuloso e fechamos a noite nos amando
enquanto eu vestia somente aquela joia...
— E o preservativo estourou e te comprei a pílula do dia seguinte —
declaro com frieza. — Dessa parte eu lembro.
— Você sabe que aquilo não é totalmente certo...
Suspiro, cansado dessa besteira toda, e abro o aplicativo do meu
banco. Acredito que cinco mil dólares será o suficiente para ela se
estabelecer com o menino.
— Brian — ela me chama.
— Scarlet, relembrar o passado não vai resolver nada — declaro
com firmeza. — Já te falei. Só vou fazer algo a mais quando tiver um teste
de DNA.
— Não acredito que desconfia de mim — diz, tentando me tocar. —
Eu ainda te amo e se aquela brasileira não tivesse entrado no seu caminho,
seríamos uma família.
— O que está rolando aqui? — Escuto a voz de Madson, que
claramente caiu no meio dessa loucura.
Simplesmente tiro os braços da mulher de perto de mim, ficando
furioso com minha tia, que nada faz. De positivo, Bárbara aparece
segurando o menino pela mão.
— Filho! — A mulher pega o menino nos braços, lançando um
olhar enviesado para minha esposa.
— Scarlet, deixe com minha tia o número do seu telefone...
— O meu número permanece o mesmo — declara, mirando meus
olhos.
Puta merda! Era só o que me faltava.
— Não me recordo. Somente faça o que estou falando — exijo e
puxo Bárbara para perto de mim, sentindo-a fria ao meu toque.
— Diga tchau para o papai, Ryan. — Ela me olha e avisa: — Daqui
a uns dias o trago de volta.
Olho para o menino, que somente cai nos ombros de Scarlet sem
entender nada. Então, vão embora deixando para trás um problema épico
que nem imagino como irei resolver. Puta merda! O que eu faço agora?
Sabe aquelas situações em que você quer fazer muita coisa, mas está sem
ação diante das circunstâncias insanas que se apresentam? É desse jeito que estou.
— Bárbara? — Brian chama a minha atenção, mas parece que estou em
outro planeta.
Vamos combinar. Quem imaginaria uma bomba dessas?
Então, percebo que Madson estava na entrada da casa e passa por nós.
— Mad... — ele a chama.
— Irmão, depois a gente conversa. Acho que seria melhor falar com a
Bárbara primeiro. Ok? — Antes que possamos dizer algo, ela sobe para seu
quarto.
Viro-me para Brian e toco seu rosto, percebendo que mesmo sendo a
esposa de conveniência, ele precisa de mim.
— Vamos subir? — pergunto.
Ele somente segura minha mão e nos leva para o quarto. Tranco a porta e
fecho as cortinas, dando-nos privacidade. Brian se afasta e entra no closet. Tira
suas roupas e segue para o banheiro, ao passo que entra na banheira ainda vazia.
Abre todas as torneiras, enchendo-a enquanto está lá.
Fico o observando, perdido em seus pensamentos, claramente perturbado
com essa situação. Pego um pouco de sais de banho e jogo na água. Ele segura
minha mão, me impedindo. Seus olhos travam nos meus e consigo ver o medo
aterrorizante em seus olhos.
Sem me importar de ainda estar vestida, entro na água quente com ele.
Seus braços prendem o meu corpo junto ao dele. Sinto seu toque em meu rosto e
fecho os olhos, sentindo meus cabelos sendo soltos do prendedor.
Suas mãos passam por debaixo da minha blusa e levanto meus braços,
facilitando para que as retire de meu corpo. Levanto-me um pouco, ainda presa em
seu Mar Azul enquanto tiro a calça e a calcinha.
Brian me puxa para ele, fazendo com que uma parte da água caia, mas
pouco importa. Nesse momento, sinto-me como se fosse a sua fórmula sob
medida. Não posso negar que estou mais do que envolvida com Brian, e dói
demais ver o homem que amo assim.
— Brian...
— Shiii! — Ele coloca as mãos em meus lábios. — Seja somente minha
mulher. Só preciso disso neste momento.
Sorrio e me prendo em seus braços, beijando sua boca e permitindo que
nossas línguas se toquem enquanto sinto suas mãos acariciando todo meu corpo.
Jamais poderia negar que sou dele.
Quando achei que continuaríamos aqui, Brian me ergue da água e me
carrega para a cama.
Adorada. Não tem outra palavra que possa descrever como me sinto
quando os olhos de Brian observam meu corpo. Ainda estamos molhados, mas não
sinto frio. Na verdade, há um calor fervente que começa no dedo do pé e vai até o
fio de cabelo.
Brian segura uma das minhas pernas e tira os olhos dos meus para beijar
meus pés, subindo pelo calcanhar, joelho, coxa, até chegar ao meu centro. Faz o
mesmo na outra perna, deixando-me fervendo por ele.
Seus toques vão para meus braços repetindo o mesmo processo. Quando
seus lábios tocam meu seio, um gemido escapa dos meus lábios. Seus dedos tocam
o outro, massageando-o enquanto amasso seus cabelos, sendo arrebatada com
tamanha atenção.
Brian não está com pressa. Por isso, desce lentamente beijando minha
barriga, meu umbigo, e por fim abre minhas pernas, deixando toda a minha
intimidade a seu bel-prazer. Sinto sua língua passar e solto um gritinho de
antecipação. Seus dedos mergulham dentro de mim e sua boca me devora.
Estou tão excitada que sei que não vou demorar para gozar. Mesmo sendo
somente o dedo, Brian consegue o que quiser de mim. Seu toque fica mais rápido
e não consigo segurar meus gemidos de puro prazer. Quando chego ao ápice, ele
ainda está me chupando como se eu fosse sua fruta favorita.
Capturo seus olhos e sei que ainda não terminou. Na verdade, nem sei se
quero que termine.
Ele escala meu corpo, deixando uns beijos quentes no caminho. Depois,
levanta uma das minhas pernas e a coloca em sua cintura, entrando em mim de
uma única vez, sem dar aviso.
Arfo com a surpresa e seus lábios tomam os meus. Brian mete fundo e me
beija com profundidade. Suas mãos me apertam enquanto me arremete com força.
Ele me arranca mais um orgasmo, chegando ao ápice junto comigo.
Espero que se recupere massageando seus cabelos. Brian me coloca de
lado e consigo perceber que o desespero de mais cedo está diminuindo.
Ele segura minha mão esquerda e beija minha aliança com uma ternura
fora do comum.
— Você não imagina o quanto é importante na minha vida, Bárbara —
declara.
Sorrio em resposta a seu gesto e deixo meu coração falar: — Seja como
for, vou estar do seu lado, meu marido.

— Raio de Sol. — Escuto a voz de Brian me chamando.


Cubro meu corpo com os lençóis tentando afastar um pouco do sono.
Mesmo tendo dormido cedo, sei que Brian quase não dormiu, uma vez que rolou
bastante de um lado para o outro na cama. Por isso, estou cansada.
— Oi.
Ele se senta do meu lado e percebo que está de banho tomado e todo
perfumado. Uma delícia. Não posso deixar de comentar.
— Minha linda, acho melhor que saiba por mim do que por terceiros.
Lá vem.
— Já tinha decidido, mas estava sem cabeça para conversar ontem...
— Eu sei — comento segurando sua mão —, mas acredito que esteja mais
tranquilo depois de ontem.
Um sorriso safado brota em seus lábios.
— Se eu soubesse que a vida de casado era tão boa assim, teria te
importado do Brasil há mais tempo.
Rio e dou um beijo suave em seus lábios.
— Você sabe que se continuarmos assim, vamos esquecer a conversa,
minha linda — ele lembra e não posso deixar de confirmar.
— Verdade.
Então, sento-me no colchão cobrindo meus seios com os lençóis. Se é para
evitar segundo round, vou ajudar como posso.
— Voltando ao meu assunto — ele declara. — Eu vou ajudar
financeiramente o menino da Scarlet...
Suspiro e pergunto: — O menino é mesmo seu filho, Brian? — Isso está
me angustiando.
Ele desvia a cabeça para longe e fica um tempo sem me responder.
— Bárbara. Eu não sei, mas pode ser... — confessa. — O pior de tudo é
pensar que eu poderia ter abandonado...
— Eu sei que jamais faria algo assim, mas se fez, foi por não saber e...
Brian segura minha mão.
— É melhor não ficarmos em conjecturas. Vamos esperar o resultado do
DNA, do jeito que expliquei para a Scarlet.
Confirmo e o abraço. Depois vou ao banheiro e começo a me arrumar para
o trabalho. Brian vai cedo para o trabalho e fico um pouco mais atrás, pegando a
viagem com o motorista da mansão. Depois paro num mercadinho para comprar
uns lanches.
Não sei por que ainda reparo nos preços das coisas? Se quiser, meu
herdeiro bilionário pode comprar a loja inteira. Entretanto, bem que falam que
quem já foi “Classe Média” jamais esquece. Por isso, fico comparando os valores
e a qualidade dos produtos.
— Essa maçã está linda, não acha? — uma mulher ruiva de pele branca e
olhos claros me pergunta.
Reparo na fruta e somente confirmo com a cabeça.
— Não acredito que te achei! — declara, mirando meu rosto.
Junto as sobrancelhas imediatamente sem entender o que ela está falando.
— Eu... A gente se conhece? — questiono, confusa.
— Não — responde sorrindo de um jeito meio estranho e até engraçado.
— Mas eu conheço o seu marido há muitos anos.
Meu Deus! Será que ela é uma das tais “Números”?
— Sério? — pergunto.
Não sei por qual motivo resolvi dar corda para a doida, mas estou curiosa
para descobrir de onde ela conhece o Brian.
— Sim. Estudamos juntos no início da adolescência. Quando tínhamos
mais ou menos 14 anos. — Ela se abaixa e comenta: — Na verdade, tivemos a
nossa primeira experiência carnal juntos.
Carnal? Será que ela está falando de sexo? Com Brian? Deveria estar
furiosa dela falar assim do meu marido, mas ela parece tão fora da caixinha que
não consigo. A única vontade que tenho é de rir, entretanto, preciso me conter.
— Acredita que a gente ia se casar? — a mulher explica enquanto pega
outras frutas. — Ia ser como manda o figurino, mas Brian ficou com medo por
sermos jovens demais e... — seu olhar vai se perdendo — infelizmente não deu
certo.
O pesar no qual fala é demais para mim. Não sei se rio da louca ou se fujo
para as montanhas. Brian se casando aos 14 anos? Deus do céu! Isso nem é
permitido.
— O pior é que quando conto que quase fui a senhora Hamilton Smith,
ninguém acredita? Nem o meu marido. — Ela me olha firme e pergunta: — Você
acha que estou mentindo?
— Claro que não — respondo de pronto.
Ouvi a minha vida toda dizerem que “o médico mandou não contrariar”.
Vai que ela implica comigo somente por eu ser a esposa.
Então, do nada, a mulher me abraça como se eu fosse sua melhor amiga.
— O Brian acertou ao escolher você! — declara. — É bem melhor que a
Hope e a infeliz da Scarlet.
Nossa, ninguém gosta da mãe do pequeno Ryan. Vamos combinar, não
existe motivo para nos entendermos.
— Estou indo. — A mulher vai para o caixa. — Foi um prazer conhecê-la.
Manda um abraço para o Brian, está bem?
— Sim, mas... qual o seu nome?
— Bessie West. — Ela sorri, pegando a carteira. — West, não. Agora é
Ford. Bessie Ford.
Ela paga a conta e sai da loja dando tchau.
Assim que a porta bate, me dá um ataque de risos daqueles. Ainda estou
sem entender o que rolou, mas não posso rir sozinha. Por isso, ligo para Brian, que
demora a entender do que estou falando. Quando entende, ri junto e me responde:
— Número dois. E saiba que não me orgulho nem um pouco disso.
— Diga “oi” para o papai, Ryan — incentiva Scarlet assim que me
vê passar pela porta de casa.
O menino passa os olhos ligeiros em mim e volta a brincar com seu
carrinho, comprado por Bárbara para ele.
— Tudo bem, Ryan? — pergunto.
Entendo que deveria permanecer distante a ele, mas a frequência
com que os dois aparecem em minha casa tem me exigido mais do que a
tradicional diplomacia. Acabei criando um apreço pelo menino de cabelos
escuros nessas últimas semanas. Mesmo sendo uma situação totalmente
fora dos meus planos, estamos conseguindo lidar da melhor forma.
Todavia, Bárbara está completamente apaixonada por ele. Não sei
como aconteceu, mas quando percebi, já era tarde para alertá-la. Indiferente
se ele é ou não meu filho biológico, percebo que Ryan está conquistando
completamente a minha esposa.
— Gostaria de me contar como foi seu dia, Ryan?
Pergunto novamente e o menino somente balança a cabeça em
negativa. Sorrio passando as mãos em sua cabeça enquanto ele continua a
brincar sozinho.
— Dê um abraço...
— Scarlet, pare de coagir a criança. Se ele quiser fazer isso, vai
fazer no momento dele — respondo, cortando-a.
Ela cerra os lábios, mas a ignoro, sentando-me no sofá. Deixo minha
pasta ao lado do estofado e me inclino, tentando entrar na brincadeira dele.
Quando estava quase conseguindo ganhar o meu carrinho de brinquedo,
escuto.
— Oi?
Imediatamente, nós dois olhamos para a porta e vejo a minha Raio
de Sol sorrindo. Não, quem ganhou esse sorriso lindo foi outra pessoa.
— Babi! — grita o menino, animado. Deixando tudo para trás, corre
para ela e a abraça.
— Cadê meu beijo?
Ele beija seu rosto enquanto minha esposa o abraça com força. É
inacreditável, mas arranjei um concorrente que pode me fazer perder a
esposa. Qualquer um vê o quanto o pequeno Ryan está encantado com
Bárbara, e a recíproca é totalmente verdadeira.
— Vou cobrar o meu também — brinco, chamando a sua atenção.
Só então ela percebe a minha presença e a de Scarlet. Está vendo o
que falo sobre esses dois? Se eu facilitar, perco minha Raio de Sol
facilmente para o pequeno.
— Deixa de ser bobo — responde, segurando o menino pela mão e
me dando um beijo casto. — Ryan, já cumprimentou o Brian?
— Claro que meu filho já falou com o pai dele — Scarlet se
intromete. — Foi para isso que viemos aqui. Ou já se esqueceu?
Vejo Bárbara respirar fundo.
— Scarlet... — começa.
— Bárbara... — A minha ex repete o tom, tentando irritar.
— Babi, vamos comer uns biscoitos? — o pequeno pergunta,
cortando o clima complicado.
— Ryan, comemos assim que chegamos — a mãe intervém. — Você
veio para passar tempo com o seu pai, não com a...
— A o quê? — Bárbara pergunta, mas me intrometo, evitando que
as duas briguem como quase sempre acontece.
Todos os dias, as duas soltam suas farpas. Sei que uma parte tem a
ver comigo, mas acredito que Scarlet não está gostando nada da preferência
clara do filho para com a minha esposa.
— Quer mesmo que eu diga, brasileira?
Minha esposa dá uma risada.
— Você acha que não me orgulho do país de origem? Sou mesmo...
— Scarlet, acho que está bom de visita por hoje. Já vi o Ryan e
estamos cansados — interrompo, tentando acabar com essa faísca.
Minha ex move seus olhos para baixo, decepcionada com minha
fala.
— Mas estava esperando o momento certo para falarmos do
aniversário do nosso filho.
Puta merda!
— Temos que comemorar o ano de vida do fruto do nosso amor,
Brian — emenda.
— Depois conversamos sobre isso — respondo. — Temos um
assunto muito mais importante a tratar. — Suspiro. — Lembra do teste de
DNA, Scarlet? Você argumentou de todas as formas possíveis que não
poderia, ou que o garoto não teria disponibilidade. O que acha de fazermos
amanhã?
— Está querendo me crucificar, Brian?
— Do que está falando?
— Não tivemos tempo, e nas suas saídas com sua esposa, ficou
claro que não era a sua prioridade.
— Eu tenho a minha vida...
— Então não me culpe por...
— Amanhã sem falta, Scarlet — exijo.
Ela fecha as mãos em punho, mas não diz mais nada. Somente
aproxima-se de Bárbara e puxa o braço do menino da mão da minha
mulher.
— Babi! — ele a chama, agarrando-se a suas pernas.
— Solta dessa mulher, Ryan — exige a mãe.
— Scarlet, calma — falo, tentando evitar a briga.
— Deixe-o ficar. Ele está chorando — Bárbara pede, o que deixa a
outra ainda mais furiosa.
— Ele é meu filho! — responde aos gritos, separando os dois. —
Ryan tem que obedecer à mãe dele.
Scarlet nem agasalha o menino e o leva para fora, no frio da noite
nevosa. Bárbara cai em meus braços chorando enquanto escutamos os gritos
do menino chamando por ela.
— Brian, por que...
— Eu vou lá fora trazer os dois de volta, meu amor. — Beijo seus
lábios, coloco somente o casaco e vou para fora.
Cacete! Está pior do que há meia hora. O gelo da noite toca minha
pele como agulhas bem afiadas. Se eu estou sentindo isso, imagina o
menino, que tem a saúde frágil.
Caminho para a entrada da mansão e pergunto aos motoristas sobre
os dois. Sou informado de que foram embora num carro escuro que os
aguardava. Fico curioso em saber quem era, mas não me dou ao trabalho de
pensar no assunto neste momento.
Volto para dentro da parte aquecida e encontro Bárbara numa
discussão acalorada com minha tia.
— Eu, uma péssima anfitriã, dona Abigail? Se eu pensasse no
melhor para a minha família, tiraria todos que não querem o nosso bem. Um
dos primeiros nomes seria o da senhora.
Minha tia coloca a mão no peito, totalmente abismada com sua fala.
— Menina, você deveria me tratar como se eu fosse a sua sogra. Eu
criei o seu marido e sua cunhada. Já se esqueceu disso?
Bárbara ri.
— Nunca ouvi você falar bem da Madson. Qual o seu problema com
ela?
— Raio de sol — eu a chamo e ela percebe a minha presença.
— Brian...
— Eles já foram num carro. Vamos subir? — digo, pegando minha
pasta.
Seguimos para o nosso quarto e ainda bem que a lareira está bem
aquecida. Somente tiro a blusa e me aproximo do fogo. Ela se senta na
cama, próximo a mim, e consigo ler a tristeza em seu olhar que tem nome
na ponta da língua.
— Bárbara — eu a chamo, mas ela está perdida em pensamentos.
Insisto, e só na terceira tentativa ela me escuta.
— Estava pensando no...
— Ryan — respondo. — Acha que não sei o quanto se apaixonou
pelo menino? Deveria estar com ciúmes, minha esposa?
Ela não responde à minha provocação, mudando totalmente o tom
da nossa conversa.
— Brian, você precisa fazer alguma coisa. Ele é tão frágil nas mãos
daquela louca...
— Bárbara. Não acredito que ela fará mal ao menino. Scarlet pode
ser muita coisa, mas é a mãe...
— E você pode ser o pai! — argumenta, furiosa.
Toc toc toc.
— Babi. Brian. O senhor Joseph pediu jantar de família hoje —
avisa minha irmã, pesando ironia em sua fala, estando do outro lado da
porta. — Vai ser servido em vinte minutos. Aguardo os pombinhos.
Bárbara suspira, se afastando de mim e cruzando os braços contra o
corpo.
Depois que Scarlet ressurgir com o menino, meu pai quer provar
para todos que é um homem de família. Algo que ninguém entende é o
motivo que faz com que queira tanto se mostrar digno a um neto, no
entanto, até hoje não consegue se aproximar da própria filha.
Troco de roupa e aguardo minha esposa se arrumar para descermos
juntos. Quando nos sentamos à mesa com todos os nossos, inclusive Robert,
que veio ver a mãe, está latente o quanto Bárbara está incomodada com essa
história. Tenho certeza de que os meus parentes percebem que tem algo
errado entre nós. Mesmo não sendo tão fã da minha tia e do meu pai, ela se
entende bem com a minha irmã e solta algum comentário engraçado. Seja
sobre a comida diferente da sua cultura, ou o vinho que detesta na maioria
das vezes, ou seja lá o que for, Raio de Sol comenta algo.
— Minha nora, a comida não te agrada? — meu pai pergunta.
Até eu me surpreendo com isso. Seu Joseph, desde o meu pedido de
casamento, não aprecia tanto a minha escolha de esposa, mas jamais será
deselegante de destratar Bárbara.
— Não. Está boa, mas me sinto indisposta — ela responde,
levantando o canto do lábio. — Brian, vou dormir. Estou cansada e...
Ela para de falar quando o segurança da mansão aparece me
chamando.
— Senhor, a senhorita Scarlet e o filho te aguardam na garagem da
casa.
Estranho esse retorno repentino, entretanto, confirmo que estou
indo. Como Bárbara também ouviu o recado, me segue em direção à
garagem. Assim que abrimos a porta, encontramos outro segurança
acompanhando os dois. Scarlet está parada com uma mala no braço e o
menino está encolhido debaixo de seu casaco.
— Obrigada por vir nos ajudar, Brian — agradece minha ex batendo
queixo de frio.
— Feche a garagem — ordeno para o segurança.
Tem mais de três horas que eles saíram e a noite congelante está
piorando a cada minuto que passa. Sinto Bárbara tentar ir ao encontro do
pequeno, mas a seguro.
— O que aconteceu, Scarlet? Por que o trouxe nessa noite tão fria?
— questiona minha esposa. — Esqueceu que ele pode adoecer?
Minha ex ignora as perguntas de minha esposa e se vira para mim.
Essa duas nunca vão se entender. Se o assunto for Ryan ou eu, a situação
piora.
— Brian, se lembra de que não tenho mais a quem pedir ajuda, não
é?
— O que quer dizer? — questiono, preocupado com o rumo dessa
conversa.
Antes que ela me responda, escutamos o menino começar a tossir
forte.
— O nosso apartamento está com problemas para aquecimento.
Você poderia nos abrigar aqui...
— Não! — falo.
— Sim! — Bárbara responde ao mesmo tempo.
Estranho seu ato, principalmente por causa da sua inimizade com
Scarlet, mas claramente é por causa do menino. Seus olhos castanhos batem
nos meus e fecho os meus aceitando o seu pedido. Ela se solta dos meus
dedos e chama o menino. A criança se afasta da mãe e corre ao encontro da
minha esposa.
— Você está gelado, Ryan — comenta.
Tiro o meu casaco do corpo, cubro-o e o pego em meus braços
usando o meu corpo para aquecê-lo. Bárbara pega uma manta e coloca
sobre nós, acompanhando-nos para dentro.
Se Bárbara não aceitasse o pedido, como imaginei que faria por
causa da Scarlet, hospedaria os dois no melhor hotel da cidade com o quarto
mais caro e quente.
— Brian, leve-o para a cozinha — ela me pede e depois se volta
para o menino. — Ryan, vamos tomar um chocolate quente?
Ela está distraída, esperando a resposta do menino, que somente
confirma com a cabeça. Entretanto, consigo ver que a alegria retornou à sua
face desde o instante em que Ryan veio para nossa casa. Posso dar presente,
levar a festas, sairmos juntos, mas somente quando esse menino está
conosco que a vejo desse modo. No entanto, me pergunto se isso é algo
bom ou não. Todavia, nunca poderia me intrometer na ligação que vejo
entre esses dois.
Como poderia negar algo para esses lindos olhinhos azuis. Sabe um
sentimento que te arrebata de um jeito único? É dessa maneira que me sinto
quando esse menino está perto de mim. Sentir seu cheirinho gostoso, incentivá-lo
a comer quando está tentando me enrolar, rir da sua risada gostosa nas
brincadeiras de cosquinha... Nossa! Esse menino é tão tímido que, quando sorri,
aquece meu coração molenga.
— Prepare dois quartos para nós. — Escuto a lambisgoia exigir a um dos
empregados e me viro na hora, deixando Brian ir para a cozinha com a criança.
— Com quem você pensa que está falando? — questiono.
Os empregados me olham, esperando resposta.
— Eu somente adiantei para nós...
— Não temos quartos próximos para os dois — explico, colocando-a em
seu lugar. — Vocês vão passar a noite no mesmo. Temos outros hospedes hoje.
— Seriam...?
— Da família do meu marido — alfineto do jeito que ela merece. — Deve
conhecer o Robert, não é?
Sem me responder, a mulher curva os lábios puxando a mala pelo corredor.
Peço aos funcionários para auxiliá-la enquanto sigo para a cozinha na intenção de
ajudar Brian.
Como o jantar já está finalizado e as pessoas se recolheram, não temos
outra opção que não seja fazermos algo.
Quando chego, Brian esquenta uma leiteira para adiantar enquanto fica
observando o menino pelo canto do olho. Meu marido nega, mas também está se
encantando por Ryan.
Caminho até a geladeira e pego os ingredientes que faltam para fazer um
chocolate quente para os dois homens da minha vida. Deus! Por que pensei algo
assim? De onde veio esse pensamento?
— Raio de Sol, está tudo bem? — Brian me pergunta, baixando o fogo da
leiteira. Contudo, não sei como responder.
Volto meu corpo para eles, e só de ver esses quase idênticos, sinto em mim
a clara confirmação de que realmente amo esses dois. Cabelos, olhos e jeito.
Mesmo sabendo que Ryan não nasceu de mim, já o amo como se fosse meu e de
Brian... Vamos combinar. Já amo há anos esse gringo gostoso.
— Sim, marido — respondo, escondendo meu sorriso enquanto pego uma
panela no armário.
Faço uma receita tradicional de inverno e coloco de quebra alguns
marshmallows nas xícaras dos dois. Brian provou o primeiro gole e gemeu de
satisfação. Roubo um beijo de seus lábios e ouço Ryan fazer som de nojinho, o
que nos faz rir.
— Eu não posso beijar a Babi? — Brian pergunta ao menino, que somente
nega com a cabeça. — Mas por que não?
— Ela é minha amiga — ele responde, bebendo mais um pouco do seu
chocolate.
— Mas eu vou continuar sendo a sua amiga, Ryan — respondo. — Mas eu
sou... — olho para Brian antes de continuar — a esposa do Brian, que é um pouco
mais que namorada.
Ele evita me olhar e somente declara, cruzando os braços: — Isso de
adulto é muito chato.
Minha vontade na hora é de dar a volta, abraçá-lo e cobrir seu rosto de
beijos, mas Brian não deixa.
— É um pouco chato mesmo — comenta ele. — Ter que trabalhar o dia
todo e só encontrar a namorada de noite é muito ruim.
— Brian... — repreendo-o, baixinho.
— Posso ir dormir? — ele pergunta.
— Raio de sol — ele fala comigo em português —, me deixa conversar
com ele um pouco.
— Está falando estranho — comenta o menino, rindo de forma contida.
— Tem certeza? — pergunto na minha língua natal. — Se você quiser...
— Pode descansar, está estampado no seu rosto o quanto quer fazer isso.
Mais tarde te encontro lá em cima.
Confirmo o seu pedido e dou um beijo casto em seus lábios. Em seguida,
faço cócegas em Ryan e subo para meu quarto. Depois de quase uma hora, Brian
se junta a mim na cama, aquecendo-se com meu corpo.

Crash!
— Ai! — grito, despertando.
Olho para os lados, mas não encontro nada quebrado. Ainda está de noite,
mas tenho certeza de que ouvi barulho de vidro.
Tiro os braços do meu marido de cima de mim e vou ao banheiro à procura
de algo que tenha caído. Entretanto, está tudo no seu devido lugar. Volto para o
quarto tentando ver se tem algo aqui no chão; mesmo com a luz da lareira acesa,
não encontro nada.
Abro a porta que dá para o corredor e escuto vozes ao longe. Como isso
aqui é enorme e está de madrugada, deve ter sido alguém da equipe de cozinha
que deixou algo cair.
— Amor, cadê você? — Escuto a voz rouca de Brian.
Ele nunca mais me chamou assim e só esse pouco já é o suficiente para
aquecer meu coração molenga. Então, retorno para os cobertores e me prendo aos
seus braços.
— Estou aqui, meu amor — respondo ao me aconchegar em seu calor,
adormecendo em minutos.
Um silêncio a nível ensurdecedor. Olho de relance para Bárbara e
consigo ver os nós de seus dedos brancos contra sua bolsa de mão. Está
claro o quão furiosa se encontra, e ela tenta se conter para não explodir. Sei
o motivo disso, e ele corresponde a uma única pessoa.
Ligo o som do carro e coloco uma música clássica bem tranquila
para que ela relaxe, entretanto, está nítido seu nervosismo. Principalmente
por reduzir o volume até nos encontrarmos, outra vez, em extremo silêncio.
Preparo-me, aguardando o seu momento de fala, mas os minutos se
passam e nada disso acontece tão cedo.
Agora, estamos em um dos meus carros voltando de um evento
beneficente, no qual fomos convidados para representar a Hamilton.
Passamos duas horas por lá e estamos voltando para casa.
Entretanto, o aborrecimento dela aconteceu antes da nossa ida ao local.
— Abigail está cada vez mais intragável, Brian. Principalmente para
agradar aquela infeliz — reclama.
— Bárbara...
— A sua tia me detesta e sei que se tivesse a oportunidade, me
mandaria de volta para o Brasil sem pestanejar...
— Ela não pode fazer isso com a minha esposa.
— Mas se ela descobrir a verdade sobre nós...
— Isso não vai acontecer, Bárbara — finalizo, encerrando o assunto.
Ela bufa, batendo a mão no painel.
Eu deveria ter imaginado que o problema era maior que Scarlet na
nossa casa. Por incrível que pareça, Bárbara está certa. Antes da chegada da
minha ex, no início da semana, minha tia ligou para meu escritório na
empresa para questionar os costumes peculiares da minha mulher. Falou do
vício de banho, da mania de guardar as coisas em lugares estranhos para
nós. Tentei explicar, mas quando argumentou de que fiz uma péssima
escolha para esposa, encerrei o assunto deixando claro que ela não
influencia minhas escolhas. Podemos estar num casamento de fachada, no
entanto, nunca desejei outra mulher como quero a minha Raio de Sol.
— Vou tentar conversar com ela — afirmo para Bárbara.
Ela somente balança a cabeça e se mantém quieta enquanto
trafegamos pela estrada quase congelada pela neve. Quando entramos, a
sala está vazia e seguimos para o nosso quarto. Assim que a porta se fecha,
seu telefone toca. Bárbara corre até o computador, que fica numa mesa que
deixamos no quarto, e começa a mexer nele.
Troco de roupa e vou atrás de dona Abigail. Posso afirmar que
estamos estremecidos, mas como é com a minha esposa o problema, isso é
algo para que eu resolva.
Bato na porta de seu quarto, mas quem a abre é Scarlet. Ela me dá
um daqueles sorrisos que nunca tiveram efeito comigo e me pergunta: — Se
perdeu no caminho para o quarto da brasileira? Bem que a gente poderia
relembrar o passado...
Suspiro, resignado.
— Não mesmo, Scarlet. Estou em busca da minha tia. Ela deveria
estar aqui.
Seus lábios se curvam num sorriso e ela passa os dedos nos cabelos
lisos.
— Ela foi um amorzinho e trocou de quarto comigo. — Scarlet sai
do recinto. — O nosso menino está aqui do lado...
Estranho esse comportamento dela por saber que ama demais a vista
matutina que o cômodo possui. Pensando bem, Scarlet poderia ficar no
mesmo que o filho, não é? Agora, tenho que concordar com Bárbara: minha
tia tem uma clara preferência para a Scarlet. Isso é péssimo.
Nem me despeço da minha ex e caminho para o quarto de hóspedes
que fica vazio normalmente, e minha tia, que me atende de pronto, me
coloca para dentro de seu quarto. Por conseguinte, temos uma conversa
sobre o que ela pode ou não fazer aqui, não sendo a dona da casa.
— Aquela estrangeira não pode fazer isso comigo, Brian —
reclama. — Eu estou aqui há mais tempo.
— A senhora sabe que ela é minha mulher. Depois que meu pai
deixou a responsabilidade da empresa e da casa nas minhas costas, quem
coordena a mansão é ela e não pode desacatar às suas ordens...
— Estava ajudando ao seu filho, que é como se fosse o meu neto —
retruca.
Respiro fundo.
— Tia, do jeito que está agindo, está criando atrito no meu
casamento. — Foco seus olhos e digo: — Exijo que não se intrometa nos
assuntos da minha mulher e de Scarlet. Espero que estejamos entendidos
depois disso.
Seu rosto começa a avermelhar de pura raiva, no entanto, não posso
fazer nada sobre isso. Então, viro-me e retorno para meu quarto quando
escuto: — A Scarlet seria uma esposa melhor para você...
— Já falei que não vamos entrar nesse assunto.
Estou cansado dessa insistência, por isso volto-me para ela.
— Somente para a senhora saber, eu amo demais a minha esposa e
espero um dia encher essa casa de brasileirinhos meus e dela. Independente
disso, mesmo se Bárbara não existisse e não tivesse surgido em meu
caminho, tenho certeza de que não estaria com Scarlet. Ela pode ser bonita,
mas nunca me atraiu nem um por cento do que a minha mulher faz. Então,
se realmente se considera como minha mãe, pense na minha felicidade e
jamais repita essas palavras.
Depois, saio de seu quarto batendo a porta.
Sinto como se o peso de um mundo tivesse saído das minhas costas.
Declarar meus sentimentos sobre Bárbara trouxe um alívio enorme para
minha alma. Eu e ela ainda não trocamos palavras apaixonadas, mas
qualquer um que me vê perto dela percebe o quanto a amo.
O Ryan, que pode ser meu filho realmente, falou a mesma coisa na
nossa última conversa.

“— Você gosta muito dela, não é? — ele me perguntou.


— Desde quando a vi pela primeira vez — respondi sorrindo ao me
recordar daquele dia na Lapa. — Mas eu sei que ela gosta muito de você
também. Não do mesmo jeito, mas o sorriso dela diz tudo. Ela é como um
Raio de Sol numa tarde fria que nos traz alegria e esperança na felicidade.
— Isso é bonito — afirmou, maravilhado.
— Assim como ela — declarei, encerrando a nossa conversa.”

Abro a porta do meu quarto e me deparo com Bárbara gritando no


telefone, em francês, de costas para mim. Tirando isso, estranho o aparelho
que encontro sobre a mesa. Um tipo de câmera com áudio. Pego na mão e
vejo a imagem de Ryan. Agora entendi. Uma babá eletrônica do menino.
— Por que não sai logo essa merda de visto para que eu possa ver a
minha agência? — reclama em português, desligando o telefone.
— Sobre o governo americano, não tenho como intervir, minha
linda — respondo, fazendo-a saltar de susto ao virar-se para mim.
— Eu não vi você voltando...
— Sei disso. — Levanto o aparelho, questionando-a.
Bárbara se aproxima, tirando-o da minha mão.
— Sabe que não confio nessa mulher.
— Bárbara... — eu a advirto.
Ela corre para meus braços e me rouba um beijo.
— Por favor, não fala nada. — Ela me prende, tentando me seduzir,
o que nem precisa. — Eu estou com muitos problemas para resolver e se o
Ryan...
Eu a seguro em meus braços, tomando seus lábios deliciosos.
— O que está lotando essa sua cabecinha? — pergunto. — Eu acho
que a minha esposinha está precisando relaxar.
Beijo seu rosto, descendo os lábios por seu queixo até alcançar seu
pescoço, mas sou parado quando escutamos Ryan tossindo com força.
Imediatamente, Bárbara se solta dos meus braços e corre para lá. Eu
a acompanho. Ao entrar, verifica sua saúde e dá xarope até que sua
respiração normalize e a criança volte a dormir tranquilamente.
— Babi. A tia Victória está chegando de viagem. Você vai amá-la —
comenta Madson, quase que me agarrando de manhã.
Estamos indo para a sala de jantar e estou meio que dormindo
acordada. Ando tão cansada ultimamente que deve ser stress por tanto
problema que não estou conseguindo resolver. Na agência daqui, todos
pensam que sou uma interesseira que conquistou o apreço do magnata do
turismo e se casou com o herdeiro bilionário da Hamilton, que era o solteiro
mais desejado daqui.
Na França, problemas e mais problemas. Carol e Samuel estão
conseguindo resolver a maioria, mas tem coisas que precisam de mim. Há
conhecimentos que somente eu, que estudei a área, posso ajudar. Entretanto,
estou presa nos Estados Unidos por tempo indeterminado.
Sim, realmente Brian conversou com Abigail. Foi fofo o que fez por
mim, mas o resultado é que aquela mulher me odeia muito mais agora do
que antes. Não está mais me desacatando, porém, se eu precisar dela até que
seja para me dar uma linha, tenho certeza de que vai me negar sem pensar
duas vezes.
Mas que merda! A mãe do Brian é falecida, mas deixou uma irmã
que trabalha dobrado para infernizar a minha vida com ele. Se Deus quiser,
provavelmente essa outra tia gostará de mim.
— Bom dia — cumprimento o meu sogro, me sentando à mesa.
Madson não se entende com o pai por nada, e nem cumprimentar o
faz. A situação piorou mais ainda quando ela trouxe o tal namorado, que a
colocou na cadeia por atentado ao pudor. O Josh terminou com ela no fim
da noite, e isso rendeu uma briga daquelas.
Juro, a mansão quase caiu, mas infelizmente não pude assistir.
Conforme Brian me contou, a menina-problema jogou na cara do pai que
ele nunca foi presente e jamais poderia falar sobre com quem ela se
relaciona. Brian tentou intervir, mas foi em vão. Uma das palavras de
Madson me deixou preocupada: “Quando eu engravidar de um qualquer,
você vai lembrar de mim, não é, pai? No entanto, sei que vai passar os dias
torcendo para que eu morra no parto como aconteceu com a minha mãe.”
Brian me contou que o pai quase deu um tapa na menina, mas
Madson fugiu de casa no dia e só voltou três dias depois de nós dois
insistirmos por telefone.
— Bom dia, família.
Só de ouvir a voz dessa mulher, meu estômago embrulha. A vontade
que eu tenho é de fazer como aquela garota do exorcista e vomitar na sua
cara nojenta. Família também não sou, mas ela é muito menos.
“Relaxa, Babi. Ou você vai trabalhar de estômago vazio”, penso.
— Madson. Que bom que te encontrei. Acredito que por ser a irmã
mais nova, esteja sem direcionamento feminino e...
— Do que está falando, Scarlet? — pergunta a minha cunhada,
bebericando seu café.
— Sei que você já se formou, mas não escolheu uma faculdade e
então...
Antes que ela continue, Mad deixa a xícara no pires fazendo barulho
e diz: — Não precisa se preocupar comigo. — Sorri para ela. — Se quisesse
uma ocupação, eu viraria modelo, e quando estivesse velha e no fim da
carreira, daria um golpe da barriga num bilionário. No entanto, não tenho
essa necessidade porque tenho muito dinheiro na conta.
Ela se levanta e vira os olhos para mim.
— Babi, estou indo. Perdi a fome.
— Eu também — respondo, levantando-me e a acompanhando.
Madson é a nossa tempestiva garota-problema, mas tem uma língua
ferina que amo demais.

“Cunhada. Ela chegou e trouxe presentes para todos!”


Vejo a mensagem de Madson superanimada. Estou saindo da
agência e, sendo sincera, estou preocupada com essa tia que chegou. Mad e
Brian são sobrinhos, e pelo que parece, ela os ama. Eu sou uma agregada
que se casou rápido com o bilionário mais desejado por todas. Vai que essa
tal de Victória me odeia como Abigail? Esses Hamilton são imprevisíveis.
Aviso para Brian que vou para casa de táxi e ele me retorna dizendo
que está tendo um problema na empresa e que vai demorar para ir embora
— o que me deixa um pouco apreensiva com o que vou encontrar em casa.
Por outro lado, sei que sendo como for, Brian vai estar ao meu lado
para me ajudar. Por isso, relaxo um pouco pensando no evento que está
chegando. O aniversário de Ryan, que acontece no fim de semana. Scarlet
havia falado com Brian que queria fazer uma festa chique, mas acabei com
seu fogo de querer gastar o dinheiro alheio alegando que quem iria escolher
tudo seria o próprio menino.
Dito e feito. No mesmo dia, conversei com Ryan para saber o que
iríamos fazer, e depois de insistir um pouco, ele me contou que queria o
aniversário do Aquaman. Então, liberei a piscina aquecida e o espaço para a
festa do jeitinho que esse menino doce merece.
Assim que abro a porta de casa, ouço vozes animadas. Caminho
lentamente, preparando terreno, e encontro uma senhora bem-vestida e
animada.
— Bárbara chegou! — Madson me denuncia.
— Babi! — Ryan corre para mim e me abraça.
Retribuo o gesto beijando o topo de sua cabeça, mas o nervosismo
retorna. A desconhecida, que está com roupas chiques e visivelmente caras,
se aproxima de mim com lentidão.
— Então você é a brasileira que fez a cabeça do meu sobrinho por
três anos? — pergunta, bem-humorada.
Tento não rir, mas não consigo.
— Acho que sou — respondo, temerosa.
Ela bate palma e me abraça forte, quase esmagando Ryan, que se
prende em minhas pernas. Que alívio. Essa, sim, parece que gosta de
pessoas.
— Sou Victória Hamilton — ela se apresenta.
— Sou Bárbara. É um prazer conhecer você.
Madson comemora a nossa aproximação e nos sentamos no sofá
para ouvirmos suas histórias de viagem. Pelo que descubro, Victória é uma
jornalista que investiga crimes políticos, com a fachada de fazer matéria
turísticas. Ela conta cada história que fico de queixo caído. Até no Brasil ela
já fez temporada e suas matéria causam reviravoltas extraordinárias.
Gostaria de saber por que alguns homens têm a imaturidade de agir
como se fossem crianças que nunca viram uma nota de dinheiro. Meu primo
é o principal deles. Tenho total certeza de que Ryan tem mais senso de
maturidade do que meu primo. Se eu entregar cem dólares nas mãos do
menino, vão durar muito mais do que na mão de Robert.
Temos mais um evento planejado e novamente ele está me causando
dor de cabeça por conta de orçamento. Dá até para entender que seu esforço
é movido por estar pensando no melhor para o negócio da família. No
entanto, alguém me explica por que procura as lojas mais caras com os
produtos com preços exorbitantes?
O lucro da Hamilton Empreendimentos está em queda livre a
trimestres seguidos. Desde quando voltei para a América, estou tentando
fazer pelo menos isso se estabilizar, mas sempre acontece algo e eu tenho
que ficar esquentando a cabeça por conta de um inconsequente como ele.
— Brian, é o melhor champanhe. Os nossos clientes só gostam do
melhor.
— Já viu outros fornecedores? Essa empresa está aumentando o
preço faz algum tempo. Precisamos rever valores e a quantidade. Não se
esqueça de que nem todos os nossos clientes preferem champanhe. Temos
que ter variedade. Ainda por cima, tem aqueles que preferem um verdadeiro
Whisky ao invés de espumante. Analise o que dá para fazer. Não tenho
como liberar o valor de uma unidade residencial para montar um evento.
Ele suspira, caminhando de um lado para o outro.
— Não entende que podemos perder a credibilidade e clientes
assim? — argumenta.
Apoio-me na mesa e declaro: — Podemos perder a empresa se
formos no seu ritmo, Robert.
Ele solta uma risada.
— Para de falar merda, Brian. Somos herdeiros bilionários.
Fecho os olhos pensando na sua fala.
— Rob, podemos ter uma fortuna inestimável, mas se a Hamilton
falir, podemos ficar sem nada em meio a processos.
— Mentira...
— Estou falando sério! — respondo com firmeza. — Essa cadeira
de CEO me deixa na responsabilidade por todos da família. Inclusive você.
Volto-me para o computador e só então percebo que já se passaram
das dez da noite. Caralho! Depois que me casei, faço o máximo para não
chegar em casa tarde, mas hoje extrapolei e a culpa é do meu primo sem-
noção.
Me levanto pegando minhas coisas e telefone.
— Estou indo para casa — aviso, desligando o computador. —
Espero que estejamos entendidos sobre o orçamento.
Ele balança a cabeça.
— Espero um novo amanhã — finalizo.
Quando chego, encontro Bárbara dormindo tranquila. Tomo um
banho e me deito ao seu lado. Beijo seus cabelos e adormeço, tentando
esquecer um pouco dos problemas que nos cercam.
Chegou o dia do aniversário de Ryan. No entanto, até agora não
conseguimos fazer o infeliz do teste, mas sinto como se, de alguma forma,
ele fosse realmente nosso. Meu e de Bárbara. Ele está animado correndo
pela piscina com os seus amiguinhos. A minha bela esposa está ao meu
lado, mais feliz que a própria mãe do menino.
Aquaman. Foi assim que escolheu, e o cartão black que dei a
Bárbara pagou a conta. Confesso que faz pouco tempo que a Raio de Sol
está aceitando com mais facilidade a nossa realidade financeira. Ela não
ostenta com banho de loja e joias, mas usa quando precisa sem ter que me
pedir.
Todavia, sou eu que ando perdendo uma pequena fortuna com a
minha bela esposa. Como tenho uma boa reserva, resolvi comprar para ela
um lindo colar de diamantes. Entreguei hoje de manhã e sua expressão de
surpresa e maravilhamento deixou o meu dia mais feliz.
Não pedi ajuda para comprar. Somente passei na frente da loja, vi a
joia na vitrine — que me remeteu imediatamente seu belo sorriso — e
comprei. Ela gostou tanto que está usando agora na festa.
— Está lindo, não é? — ela me pergunta enquanto a mantenho presa
a mim com a mão em sua cintura.
— Sim, as crianças estão amando a piscina aquecida — comento.
— Bom para elas — fala ao pé do meu ouvido. — Queria ficar
contigo dentro da água quente.
Sorrio pensando na imagem e falo bem baixo ao pé de seu ouvido:
— Quando a gente acabar isso aqui, podemos ir para a nossa banheira e
nadar à vontade sem roupas enquanto te faço gemer de prazer em meus
braços.
Ela tenta conter um sorriso.
— É uma promessa, marido? — ela me pergunta.
No entanto, quando ia responder, escutamos minha tia chamar.
Ganho um beijo rápido e a vejo se afastar com dona Victória. Ryan chega
perto dela e as duas seguem para o banheiro feminino.
Cumprimento alguns convidados trocando palavras e pego uma
bebida para mim. Logo após, vou observar a mesa de lembranças e meus
olhos encontram Scarlet.
— Mais um ano de vida do nosso filho, Brian — comenta.
Balanço a cabeça concordando.
— Mas ainda temos um assunto importante a ser resolvido. Não
acha, Scarlet? — questiono ao tomar um gole.
— Hoje seria um dia ruim...
Seguro o copo com mais força, sentindo-me esgotado por suas
desculpas.
— Ontem também foi complicado, não é? — ironizo. — Entenda.
De amanhã não passa — afirmo. — Eu mesmo vou chamar um profissional
para fazer a coleta aqui em casa.
Ela fica atônita com o que digo, mas rapidamente se recupera.
— Brian, você precisa entender que o Ryan precisa de um plano de
saúde e medicamentos — argumenta —, e não de um estranho furando seu
corpo.
— Esqueceu da mesada generosa que estou te pagando? —
questiono. — O valor era para que pagasse uma locação para os dois e arcar
com o tratamento do menino. Se ele não tem um plano ainda, a culpa é sua,
que não sabe administrar o dinheiro.
— Eu fiz, mas foi o básico e... Brian, que tipo de mãe você acha que
sou?
Antes que eu responda, Bárbara surge do meu lado e ela se apoia em
meu ombro. Agora, vamos começar de novo.
— Brian, acho melhor terminamos logo a festa. Não é bom o Ryan
ficar tanto tempo na água quente — Bárbara me avisa.
— Concordo, querida — respondo.
— A ideia foi sua, não é, Bárbara? — intromete-se Scarlet.
— Sim, mas foi pedido dele.
— Que irresponsabilidade...
Estava demorando.
— Por que você não vai lá e tira o menino da piscina? — questiono.
— Não falou agora mesmo que é uma ótima mãe?
Scarlet bate seus saltos a caminho da piscina. Olho para Bárbara e
percebo que há algo além da sua antipatia comum com a minha ex
intrometida, da qual não conseguimos nos livrar.
— O que está causando essa ruguinha em seu rosto, Raio de Sol?
Me conte o que aconteceu. — Puxo assunto.
— É que... — ela pondera. — A gente foi levar o Ryan no banheiro
para fazer xixi, mas quando ele abaixou o short diante do vaso sanitário, sua
tia Victória ficou muito estranha.
Viro-me para ela, juntando as sobrancelhas.
— Como assim?
— Eu não entendi bem, principalmente o fato de que o menino
estava de costas para nós e dava para ver somente suas nádegas. No entanto,
seja lá o que tenha visto, a deixou desconfortável e ela se atrapalhou,
falando que tinha se recordado de algum problema. Foi embora, mas não
sem antes falar com Madson.
Olho ao redor em busca das duas, mas não as encontro. Entretanto,
Scarlet aparece com Ryan vestido em roupas comuns para tirar fotos e
fecharmos a comemoração do aniversário do garoto.
Estava no oitavo sono, de tão cansada, quando comecei a escutar
barulho de tosse bem longe. Rolo nos cobertores ao sentir o calor do corpo
de Brian e me aconchego nele. Então, o barulho de tosse novamente me
desperta.
Sento-me na cama procurando a origem do som, que sei que não é
de Brian. O som persiste e por isso me levanto à procura da origem. Assim,
encontro a babá eletrônica ligada.
No mesmo instante, visto um robe e vou para o quarto de Ryan a
passos acelerados. Abro a porta lentamente e o frio que vem do quarto me
deixa assustada. Finalizo a abertura e o frio aqui é de bater os queixos. Vejo
a janela escancarada ao entrar no ambiente; Ryan está somente com um
lençol de verão sobre o corpo.
Desesperada, sentindo o gelo da noite que entra pela abertura
cortando minha pele, forço a janela a se fechar e, com um pouco de
insistência, consigo fazê-lo. Em seguida, vou até Ryan, que está tremendo
de frio sobre o colchão.
Procuro cobertores no armário, mas não encontro. Vou para o
corredor, onde as camareiras da casa organizam as coisas, e pego uma
manta grossa, ao passo que volto ao seu encontro. Eu o cubro, trazendo-o
junto a mim, mas ele parece um bloco de gelo em meus braços.
— Ryan, é a Babi. Acorda.
Eu o chamo, mas não tenho resposta. Percebo que seus lábios estão
arroxeados e o pavor começa a me acometer. Sem ter muito o que fazer,
deixo meu robe quente em seu corpo e volto para o meu quarto,
despertando Brian no susto.
— O que foi, Raio de Sol? — questiona, sonolento.
— É o Ryan. Vem, pelo amor de Deus.
Ele salta da cama e vem me ajudar. Começo a explicar o que vi, mas
sei que não está me ouvindo.
— Pega a minha carteira, vamos para o hospital agora.

Desespero. Essa palavra define completamente a situação que


estamos vivendo. Faz horas que aguardamos notícias, desde o momento em
que o menino foi retirado dos meus braços direto para o centro de
tratamento intensivo. Entretanto, nada aconteceu.
Estou horas a fio pensando no que poderia ter acontecido se eu não
tivesse acordado com o som da babá eletrônica que escondi em seu quarto.
Será que meu menino de ouro teria morrido de... Melhor não dar palavras
para isso. No entanto, não encontro respostas de como aquela janela foi
aberta, principalmente por estarmos no inverno.
Confesso que essa história está muito estranha. Sei que Ryan,
mesmo animado com seu aniversário e disposto a travessuras, não teria
altura para alcançar a trava. A não ser que...
— Responsáveis por Ryan Harris. — Escutamos um médico nos
chamando.
Despertamos na hora.
— Eu sou o pai do menino — Brian avisa, levantando-se.
— Senhor, o seu filho teve hipotermia, mas conseguimos recuperar.
O problema principal agora é a pneumonia por causa da friagem.
— Ele tem asma também — alerto —, toma medicação diária...
— Entendido, senhora. Vamos adicionar essa patologia ao
prontuário — informa-me o médico.
— Pneumonia? — meu marido me questiona, preocupado. — Mas...
— Então, suspira. — O que podemos fazer para ajudar?
— Somente esperar o horário de visitas do CTI e esperar que Deus o
ajude a se recuperar. Estamos fazendo o nosso melhor, senhor.
O médico se afasta e não consigo deixar de lembrar quando Brian
adoeceu no Havaí. A diferença é que agora tenho alguém para me ajudar
com o fardo da impotência perante uma situação crítica como essa.
Nos sentamos de volta no estofado enquanto tento me controlar para
não deixa as lágrimas caírem. Como é domingo, não devem estar nos
procurando. No entanto, temos que alertar a família sobre onde estamos.
Por isso, por Brian ser o pai e eu... somente a madrasta de fachada que ama
demais aquele menino, combino com ele de ir para casa pegar algumas
coisas para os dois.
Durante o trajeto no carro dele, me permito chorar de nervoso. Já
passei por isso uma vez e é o pior pesadelo acordado pelo qual se pode
passar. Uma pessoa que amamos estar tão adoentada desse modo é
desesperador. Todavia, eu preciso ser forte. Mesmo desesperada por dentro,
tenho que me fazer de forte para que meus homens se recuperem. Se eu
desabar, serei mais uma para Brian acudir; jamais poderia fazer isso com
ele.
Entro na garagem deixando o veículo com os motoristas, mas assim
que abro a porta do carro de Brian, consigo escutar os gritos de Scarlet.
Quando passo pela porta de entrada, eu a encontro descabelada, ainda de
camisola, com os olhos brilhando de fúria. No instante em que me vê, corre
como louca contra mim.
— Cadê o meu filho, brasileira!? — vocifera.
— Se acalme, Scarlet...
— Como me acalmar? Você roubou o Ryan de mim — acusa-me,
apontando o dedo em meu rosto. — Se não bastasse o Brian...
Neste instante, meu sangue começa a ferver e tudo que se encontra
engasgado que guardo dessa mulher começa a sair para fora.
— Onde está meu filho!? — ela grita.
— No hospital! — respondo no mesmo tom.
Ela se surpreende com a minha fala, mas não sai do lugar.
— Qual hospital? — questiona, a voz comedida.
— Não antes de você me responder o motivo pelo qual a janela do
quarto dele estava escancarada no meio da noite...
— O que você está insinuando?
— Fala logo de uma vez, Scarlet. Você deixou a janela aberta?
— Claro que não. Ele mesmo abriu... — responde, se afastando.
— Impossível. Ele não alcança...
Assim, ela me interrompe, revoltada: — Você que deixou o meu
filho brincar o dia todo na piscina aquecida. À noite, ele ficou com calor e
abriu a janela.
— Não inventa história, Scarlet.
— Acha que realmente estou inventando? — indaga. — Por que a
única que vive criando teorias insanas de que uma mãe poderia fazer mal a
um filho é você.
Deus sabe que não confio nessa mulher infeliz. Ainda mais com as
lágrimas de crocodilo que saem de seus olhos.
— Bárbara, você não se cansa de me acusar? Não são suas crises de
ciúme que vão me afastar. Precisa entender que a ligação entre mim e Brian
é eterna e você nunca vai conseguir destruir.
— Eu... eu não estou tentando destruir a relação de pai e filho do
Brian...
— Está, sim, Bárbara — afirma. — Desde o momento em que
entrou na vida dele, só veio para tirar sua atenção do que realmente importa.
O filho dele. No entanto, sua presença criou tantas contendas a ponto de
Brian brigar com a tia que o criou como filho. — Ela suspira, prendendo os
cabelos. — Se a gente estivesse junto, como é o esperado de um pai e uma
mãe, meu filho não estaria num hospital agora.
— Eu não fiz nada, Scarlet... — tento me defender de suas palavras
duras.
— Somente destruiu um futuro maravilhoso de família para uma
criança que você vive dizendo que ama. Satisfeita?
Sem que eu tenha a chance de responder, ela sobe para o quarto. No
entanto, não consigo deixar de pensar em suas palavras. Scarlet não me
inspira confiança, mas suas palavras foram certeiras referente ao meu falso
casamento com Brian.
Se for confirmada a paternidade, mesmo estando apaixonada de
verdade por Brian, a melhor opção seria me separar e deixar o caminho
livre para que o meu menino de ouro tenha a chance de ter uma família de
verdade. Independentemente de ter que sentir o meu coração sangrar ao ver
Scarlet ao lado do homem que amo.
Será que isso significa ser pai? Ficar velando o sono do filho,
verificar sua respiração, cobri-lo quando se mexe dormindo, morrer de
preocupação quando a medicação não está surtindo efeito e ver toda a
minha existência refletida em alguém tão frágil que se torna o centro do seu
mundo? Se for, estou no caminho certo.
Quando Bárbara me acordou nervosa, com desespero brilhando em
seu olhar e me avisando do menino que encontrei gelado na cama, foi o pior
dos sentimentos que vivenciei em minha história. Ryan está como se
estivesse morto, exceto pela respiração ruidosa em um único fio. Deus sabe
como agradeci por ele ainda estar no mundo dos vivos e o levei para o
hospital com o coração na mão. Eu ainda não sei o que aconteceu, todavia,
a lareira está desligada, o chão parece molhado de neve, e o quarto está
gelado como se estivéssemos lá fora.
No entanto, deve existir alguma explicação plausível. Tem que
haver.
— Meu bebê! — Levo um susto com o grito de Scarlet quando ela
abre a porta do quarto.
O menino treme de susto, mas não chega a despertar. Ela o abraça e
o cobre de beijos. Sinto-me um intruso diante dessa demonstração de afeto,
por isso saio do quarto, dando mais privacidade para os dois.
Tenho que tirar essa dúvida da minha cabeça. Por que será que...
Então, menos de dois minutos após me retirar, Scarlet sai do quarto para me
cumprimentar: — Obrigada por trazer o nosso menino para o hospital. Pode
me dizer o que aconteceu com ele?
Abaixo a cabeça, ponderando como falar, mas não tem como
protegê-la do inevitável. Por isso, explico de uma única vez: — Tem a ver
com hipotermia e pneumonia.
Seus lábios se abrem em assombro, mas logo se recupera, dizendo:
— Foi culpa da Bárbara — ela acusa sem pestanejar.
— Como assim? — indago.
— Se ela não inventasse de fazer festa numa piscina aquecida, o
nosso filho estaria bem, Brian.
Passo a mão no rosto.
— Bárbara não abriu a janela do quarto do Ryan para que ele quase
morresse de frio — argumento, sem paciência com essa implicância.
— Então investigue. Deve ter sido algum empregado. Procure a
governanta ou quem fica na responsabilidade deles para saber quem mexeu
nas janelas e quase matou o meu filho — retruca.
Suspiro antes de responder: — Vou averiguar isso.
Estou virado e muito cansado. Preciso dormir um pouco.
— Fique com o Ryan que vou passar em casa. No fim da tarde,
Bárbara virá te cobrir. Está bem?
Percebo que não gostou do que falei, mas ignoro. Então, entro
novamente no quarto, me despeço do meu filho e volto para a mansão.
Enquanto estou dirigindo, começo a me recordar do motivo pelo
qual não deu certo o meu relacionamento com a Scarlet.

Depois dela ter conseguido o meu sim para o nosso noivado,


começou a organizar o casamento. Recordo-me de ter exigido que fôssemos
devagar, principalmente por causa da doença terminal do meu avô, que
acabou o levando. Eu não tinha cabeça para pensar em cores de
ornamentação ou nada que tivesse a ver com o assunto. Toda essa
insistência foi piorando a nossa relação já desgastada, a ponto de evitar vê-
la em alguns momentos.
No enterro que aconteceu poucas semanas depois, soube por Samuel
que meu casamento estava marcado para o mês seguinte. Lembro-me de ir à
sua residência desejando que toda essa história de casamento fosse um
boato, principalmente por ela não ter ido ao funeral por ter um problema na
sua casa.
Poucas vezes estive furioso como naquele dia. Foi uma briga
daquelas e ainda tive que ouvir que a insistência era motivada para me tirar
do luto que tinha acabado de começar. Exigi que cancelasse tudo, mas
Scarlet manteve-se firme, inclusive com as aparências para a sociedade.
Quando minha tia me alertou sobre o convite de casamento, faltando dez
dias para acontecer, de maneira pública, terminei todo o nosso
relacionamento sem me importar com as consequências.
Resultado: Scarlet ficou furiosa e causou um escândalo que
começou a prejudicar o sobrenome dos Hamilton. As ações foram
impactadas e a única solução seria casar com ela para abafar tudo, alegando
que foram somente fofocas. No entanto, estava tão furioso com o que ela
tinha feito da minha vida que pedi ajuda a Sam, que surgiu com a solução
de precisar de um amigo no Brasil. Nem pensei duas vezes. Fui embora da
América como Brian Smith e me esqueci quase completamente de que o H
do meu sobrenome significava Hamilton.
— Babi! — O meu lindo menino de ouro abre os braços para mim
quando entro no seu quarto no hospital.
— Ryan! — respondo no mesmo entusiasmo, deixando um presente
que comprei para ele na cadeira.
Meus braços cobrem o pequeno, e eu o encho de beijinhos. Deus
sabe a alegria que estou sentindo ao ver esses olhos claros brilhantes de
novo e a animação infantil nesse garoto tímido.
— Como você está se sentindo? Está respirando melhor? —
pergunto ao me encostar na maca. São mais de quinze dias no hospital e ele
está melhorando a olhos vistos.
— Tô, sim, mas não quero ir para casa — responde.
— Mas por quê? — questiono, estranhando. — Em casa você tem
toda a família pertinho de você.
Ele olha para a porta, procurando algo, e depois responde: —
Porque aqui ficam só você e o meu pai comigo. Em casa não é assim.
Estranho sua fala.
— Mas a gente vai continuar cuidando de você para sempre, Ryan...
— Aqui é melhor. — Ele abre os braços para mim e o acolho,
trazendo-o para junto do meu corpo.
Visivelmente, há alguma coisa que ele está proibido de me contar, e
coloco a minha mão no fogo se não tem a ver com Scarlet. Entretanto, estou
evitando embates com ela. Mesmo a infeliz fazendo de tudo para tentar
atiçar a minha ira.
Juro que só não a expulso da mansão por conta de Ryan. Por Deus.
Que mãe o meu menino de ouro foi arranjar. Todas as vezes que ela começa
a reclamar da vida, eu me pergunto: Será que vale a pena gastar o meu réu
primário jogando essa mulher da ponte? Depois me lembro de que aqui não
é Brasil, e me recordo de que mesmo merecendo algumas marcas
permanentes em sua face, não estou a fim de ficar presa por causa dela.

— Já tem que ir embora, Babi? — ele reclama.


— Está tarde e amanhã eu vou trabalhar. Lembra do que
conversamos? — pergunto.
Ele balança a cabeça, afirmando com tristeza.
— Eu vou indo na frente para não me atrasar. Daqui a pouco, a
Scarlet está chegando. Está bem?
Ryan confirma e deixo um beijo em seus cabelos escuros
prometendo voltar no dia seguinte. Em seguida, sigo para a mansão de táxi
e durante o trajeto, começo a me sentir estranha e enjoada. Me recordo do
que comi e me lembro do lanche do fim do dia. Provavelmente aquela
lasanha do restaurante que Brian comprou para mim. Sei que é de um lugar
refinado e tudo mais, no entanto, não me recordo de mais nada que possa
causar isso em mim.
Ainda bem que o enjoo é bem leve e vai dar para aguentar até
chegar em casa. Preciso entregar os convites para a inauguração da loja.
Conforme o senhor Arnon me pediu, devo convidar todos da família
Hamilton. Então, vou logo para a toca do leão, também chamado de quarto
da tia dele.
Porém, quando vou bater na porta do seu quarto, escuto a voz do
meu sogro e estranho sua presença. Será que... Todavia, antes que pense
besteira, ouço o seguinte: — Brian gosta da brasileira. Você não tem como
argumentar sobre isso, Abigail — ele afirma.
— Eu sei disso, mas... todos concordam que Scarlet está se
mostrando uma mãe primorosa — comenta ela. — Aquela mulher está
atrapalhando tudo desde o instante em que chegou do nada e se casou com
seu filho.
— Abigail...
— Que me lembre, você também era contra.
— Verdade, mas convenhamos que ela é uma boa esposa para o meu
filho.
A vontade que tenho é de entrar e falar umas verdades para aquela
senhora horripilante. No entanto, pelo menos meu sogro me aceita. Não é?
— Mas não é disso que minha mãe está falando, tio.
Demoro um pouco, mas consigo reconhecer a voz de Robert, primo
de Brian.
— Joseph, pense no seu neto que ainda está no hospital necessitando
de uma família de verdade que o acolha. Scarlet precisa do pai da criança ao
seu lado nesse momento difícil e aquela mulher... — Sua voz some e não
entendo o que diz: — Qualquer um vê que esse casamento foi feito de
forma inconsequente. Até mesmo você — continua Abigail.
— Tenho que concordar com mamãe sobre isso. O pequeno Ryan
precisa de uma família estruturada e a brasileira, no meio deles dois, deve
confundir o menino. Seria melhor se meu primo estivesse casado com
Scarlet. Pai e mãe unidos deixa tudo melhor para o crescimento saudável da
criança, não acha?
Não acredito que isso está acontecendo. Eles estão falando de mim
como se eu fosse... nada. E como se não tivesse importância para Brian.
Mas será que...?
— Eu não gosto de me meter nesses assuntos. — A voz potente de
Joseph aparece. — Brian sabe bem o que faz...
— Mas, tio, não concorda que seria muito mais fácil se essa
estrangeira não tivesse entrado no caminho do meu primo?
Não quero ouvir mais nada. Por isso, me afasto dessa porta
percebendo como estou sendo considerada pela família de Brian. Me sinto
mal por ter que lidar com essas pessoas. Como conseguem se sentar à mesa
comigo e falarem essas coisas? Involuntariamente, meus olhos nublam de
lágrimas enquanto caminho pelo corredor. Todo o meu ser quer que eu evite
essa pergunta, mas não consigo evitar. Será que estou realmente
atrapalhando a vida de Brian? Ou será...
No mesmo instante, começo a sentir a minha boca amargar e corro
para o banheiro do meu quarto, jogando tudo para fora no vaso sanitário.
Nem me recordo da última vez que passei por isso. Quem sabe, talvez,
tantos problemas com pessoas com as quais nem realmente me importo
podem ter causado esse enjoo repentino.
Dou descarga e me acomodo no assento, pensando na situação
totalmente fora do comum na qual vivo. Sou casada, mas não sei se meu
marido realmente me ama. Ele tem um filho que surgiu do nada e
atrapalhou toda nossa rotina. No entanto, é a alegria de nossas vidas. Minha
sogra, que é a tia, me detesta tanto que prefere a ex dele a mim. Até o filho
dela, primo de Brian, argumenta que foi tudo muito precipitado e também
incomum. O que se trata da mais absoluta verdade.
Das pessoas que me aceitam, só tenho a minha família, meus amigos
e a minha cunhada, Mad, que ninguém leva a sério por ser a garota-
problema que só faz besteira e... Ah... Também tem a tia dele, Victória, no
entanto, dois dias depois do aniversário de Ryan, ela viajou para a América
do Sul. Bem que poderia ter pegado uma carona. Está tudo uma loucura e
sei bem que, se estivesse na minha terra, próximo dos meus amigos, eu teria
os conselhos de Carol e não estaria arrasada desse jeito por um motivo que
nem sei explicar.
Meu outro dilema é o meu concurso do “Sócios pelo Mundo”, que
está em bom andamento. Falta pouco para a inauguração da agência. Não
posso perder isso tudo. Não posso esquecer da entrevista do meu visto de
permanência, que está marcada para a semana que vem; nem sei se vou
querer realmente continuar com essa farsa ao lado de Brian.
Tudo parece tão errado que... Acho que minha melhor opção é pegar
meu coração trouxa, juntar com as minhas coisas, acabar com esse contrato
com o bilionário e voltar para a minha terra. Quem sabe assim causo menos
sofrimento para todos?
— Sejam bem-vindos a mais uma agência do Instituto Miller,
fundada graças ao projeto “Sócios pelo Mundo”.
Então, meu padrinho, Arnon Miller, corta a fita vermelha da porta
do estabelecimento. Todos os convidados aplaudem e a mulher mais linda
de todas está ao seu lado, comemorando conosco a conquista. A minha Raio
de Sol. Os dois tiram fotos na entrada da loja e nos convidam para entrar, a
fim de evitar que congelemos com o frio do inverno.
Quando todos os convidados entram, os funcionários começam a
servir champanhe e canapés. Observo o espaço amplo e claro, as mesas de
atendimento. Tudo bem agradável e belo. Falando no assunto de beleza,
procuro os cabelos escuros da minha Raio de Sol e me aproximo por trás,
segurando em sua cintura, surpreendendo-a. Quando percebe que sou eu,
ela acaricia meu rosto.
— Mais uma conquista para a senhora Hamilton — Arnon, que já
tinha me visto, brinca com ela.
— A agência está linda — declaro. — Vocês fizeram um trabalho
maravilhoso.
— A sua esposa ajudou demais nesse resultado, Brian — ele retribui
o elogio.
— Sem a ajuda do senhor... — Bárbara começa, mas ele a adverte,
voltando ao início. — Sem sua ajuda não teria conseguido esse resultado.
Ele se inclina para nós e fala em voz baixa: — Claro que teria. Não
direi em voz alta, mas é uma das profissionais mais talentosas com quem já
tive o prazer de trabalhar. — Ele se afasta, tomando sua taça num único
gole. — Você foi muito bem, Bárbara. Agora vou cumprimentar um dos
nossos investidores. Aproveitem esse momento de comemoração.
Normalmente, eles são bem raros.
Arnon se afasta e não consigo evitar me lembrar do seu recente
divórcio com Annie. Realmente durou pouco. A mulher se tornou uma
ciumenta compulsiva e meu padrinho não aguentou lidar com suas crises,
separando-se dela. A mulher até tentou pedir uma pensão, mas os
advogados do meu padrinho argumentaram que a idade da moça não a
impediria de trabalhar, e nenhum juiz acatou ao seu pedido.
— Ficou muito bonito, não é? — Bárbara me pergunta, mas evita
me olhar.
— Sim, minha linda. Vocês fizeram um ótimo trabalho.
Eu a seguro de frente para mim e percebo olheiras em seus olhos,
mas sinto que me evita. Então, Raio de Sol dá um passo para trás, meio que
se desequilibrando nos saltos, e prendo-a junto a mim.
— Babi, está tudo bem? — pergunto, preocupado.
— Sim — responde, balançando a cabeça. — Só estou um pouco
cansada.
Agora tenho certeza de que não está tudo bem.
— Bárbara...
Ela me dá um beijo, apoiando seu peso em mim. Em seguida, seus
lábios se curvam num sorriso fraco. Está claro que algo a incomoda.
— Está tudo bem, marido. Aconteceu muita coisa para conseguir
realizar esse sonho. Agora, meu corpo está cobrando o preço.
Sei que tem uma ponta de verdade, mas a sua relutância em me
olhar por mais de dois segundos me diz que tem algo acontecendo.
Entretanto, estamos em meio a muitas pessoas, e não temos como falar do
assunto sem aparentar uma briga. Conhecendo a minha bela esposa, ela vai
insistir em dizer que não é nada, e eu vou afirmar o contrário, e... merda.
Melhor esperar chegar em casa.
Somente meia hora depois, estamos indo embora no meu carro. Ela
está novamente silenciosa. Todavia, não do mesmo jeito como acontece
quando está com raiva. É outra coisa e não vou sossegar até descobrir.
— Os médicos disseram que Ryan deve ter alta nos próximos dias
— começo por um dos assuntos favoritos da minha esposa.
Contudo, ela somente assente com a cabeça.
— Eu estranhei que ele não gostou de saber que vai para casa. —
Tento outra vez dizendo que ele me relatou isso, no entanto, à minha direita,
silêncio total.
Tiro os olhos da estrada por alguns instantes e a vejo olhando para a
janela, totalmente distraída com sei lá o quê. Cacete!
Assim que paro na mansão, ela é a primeira a sair do carro e nem dá
chance para o motorista ajudá-la. Somente vai para dentro falando que vai
tomar um banho e dormir um pouco.
Estou começando a ficar impaciente. É claro como água que ela está
fugindo de mim. Deixo o carro ligado com o motorista e vou atrás da minha
mulher, que entra na frente pela porta principal.
— Bárbara — eu a chamo em tom baixo, mas ela me ignora.
Acelero meus passos quando está quase nas escadas e seguro em seu
braço.
— Bárbara, me fala o que...
— Brian.
Surge Scarlet descendo os degraus e olhando para mim sorrindo.
— Boa tarde, Scarlet — eu a cumprimento, tentando não ser mal-
educado.
— Eu acabei de vir do hospital — comenta ela, animada. — Ryan
está tão forte como o pai. Em pouco tempo estará aqui conosco
novamente...
Então, Bárbara se desprende do meu agarro passando por ela e
provavelmente indo para o nosso quarto.
— Entendi — respondo olhando para Bárbara — Depois
conversamos.
Vou atrás dela. Vejo a porta do nosso quarto se fechar, abro e entro.
Em seguida, ela se tranca dentro do banheiro. Sento-me na sua cadeira de
computador, me contendo para não romper seu espaço e exigir respostas.
Depois de quase vinte demorados minutos, ela surge num roupão de
banho, mais estranha do que nunca. Não posso negar que já estou irritado
com o seu comportamento. Também estou furioso por estar negando, uma
vez que está claro que tem algo acontecendo.
— Bárbara...
A mulher entra no closet me ignorando, e novamente vou trás dela,
fechando a porta em seguida. Na luz mais clara do ambiente, consigo
perceber seus olhos vermelhos, assim como seu nariz. Que porra ela está
me escondendo?
— O que houve? — questiono, preocupado, tocando seu rosto. —
Por que estava chorando, Raio de Sol?
— Não é nada...
— Não minta para mim — eu a advirto. — Você sempre me exigiu
que não tivessem mentiras entre nós, mas sei que está escondendo alguma
coisa.
Então, suas lágrimas aumentam a ponto de ela soluçar.
— Minha querida, por favor, me fala o que está acontecendo —
suplico. — Não aguento te ver assim.
Ela continua chorando, me fazendo pensar nas piores coisas que
poderiam ter acontecido à minha Raio de Sol. Por Deus, espero que não seja
isso.
— Alguém te maltratou? Encostaram em você? — pergunto,
sentindo minha garganta fechar de nervoso enquanto a vejo somente chorar
e negar com a cabeça.
Quem aguenta ver a mulher amada sofrendo e não fazer nada? Ver o
amor da sua vida desse jeito e não saber o motivo é a pior das impotências
que vivenciei. Nem sei mais o que imaginar e perguntar.
Sem ter o que dizer ou fazer, me afasto e me sento no banco que fica
ao centro do closet, reservado especialmente para calçar sapatos, enquanto
espero que ela consiga se acalmar e me dizer o que acontece. Não saio
daqui sem uma resposta. Seja o que for, farei de tudo para resolver o
problema.
Espero alguns segundos e ela continua chorando, apoiando-se em
uma das estantes.
— Pelo amor de Deus, fala comigo o que... — peço.
— Eu quero o divórcio, Brian.
Seu pedido me corta ao meio e o mesmo sentimento ruim de quando
nos separamos no Brasil me acomete. Divórcio? Poderia ter esperado
qualquer coisa dos seus lábios, menos que novamente quer se afastar de
mim. Depois de ter eliminado as piores situações, pensei que falaria de
alguma grosseria da minha tia ou de Scarlet, mas nunca isso.
Estávamos nos entendendo tão bem! Na alegria e na tristeza,
estávamos e estamos juntos. Eu a amo mais do que a mim mesmo para
deixar isso acontecer. Lutei e me arrisquei mais do que devia para tê-la do
meu lado para que esse seja o nosso fim.
Então, escuto ela fungando e não consigo compreender por que está
assim. Que eu saiba, nenhuma mulher pede o divórcio em meio a lágrimas
sem que o outro tivesse feito alguma besteira. E nesse tempo em que
estamos juntos, não fiz outra coisa que não seja demonstrar o que sinto.
Tem que ter outra razão para isso. Preciso que tenha.
— Por que? — questiono com a voz grave de nervoso.
Ela fecha os olhos e um sorriso triste brota em seus lábios.
— Porque é o melhor para todos — responde.
— Que todos?
— Brian...
Levanto-me, cercando-a e forçando-a a olhar para mim. Sei que
parece masoquista, mas preciso ver em seus olhos que realmente não me
quer mais.
— Me diga, porque não me sinto incluído nessa conta. Para mim,
ficar longe de você é a pior das punições, e já passamos um bom tempo
afastados.
— Brian...
— Bárbara. Me fala o que de melhor tem em nós dois separados
porque não estou vendo.
Seus olhos castanhos se viram para mim e vejo dor neles. Seus
braços tocam meus ombros com tanta tristeza que me dilacera lentamente.
Caralho! Eu não posso perder a minha mulher.
— Por favor, não torna isso mais difícil do que já é... — ela começa.
— Difícil para mim é te ouvir dizer que quer se separar...
— Brian, a gente nunca foi casado de verdade. — Um sorriso triste
brota em seus lábios. — Você não me ama...
— Como é que é? — indago, sentindo uma fúria crescer em mim.
— De onde tirou essa merda, Bárbara?
Ela se assusta com o meu tom irritado, mas não dá para ficar normal
ouvindo uma insanidade como essa. Como ela não me responde, insisto: —
Quem te falou que não te amo? — pergunto, mas suas lágrimas descem
mais rápido em seu rosto.
Beijo seus lábios salgados sentindo seus braços me prenderem. Me
afasto um pouco, tocando em seus cabelos castanhos.
— Eu achei que tudo que fiz fosse o suficiente para te provar, mas
se você precisa ouvir, vou te dizer tudo que está aqui dentro.
Tiro meu terno para ter mais espaço para me mexer. Então, meus
lábios vão em seu pescoço, sentindo-a derreter em meus braços.
— Bárbara, eu te amo. Até quando você se irrita com coisa idiotas.
Nos momentos quando inventa de falar em português achando que ninguém
vai te entender. — Beijo seus lábios. — Quando fala dormindo palavras
doces. Nos momentos em que sorri para mim e ilumina meu dia. Mesmo
nas horas em que está com o nosso filho, te amo demais. Porque mesmo
sem te pedirem, você transborda amor em tudo que toca. E isso me faz te
amar cada vez mais.
— Parece um sonho. Não acredito que está me dizendo tudo isso,
Brian. — Ela sorri, agora chorando de alegria.
— Está muito acordada, meu amor. Acredite quando eu digo que te
amo há mais de três anos e quero passar todos os dias da minha vida do seu
lado, minha Raio de Sol. A perfeita número sete. A mulher da minha vida.
Então, mais lágrimas caem e um sorriso brilha em seus lábios.
— Nunca mais invente isso de separar, está bem? — Ela balança a
cabeça, confirmando. — A gente vai ficar junto até que a morte nos separe,
meu amor.
— Sim! Sim!
Seus lábios cobrem os meus e o beijo se torna urgente. Sinto seus
dedos abrirem minha camisa social sem desgrudar de mim.
— Faça amor comigo, Brian — ela sussurra em meu ouvido. —
Quero você dentro de mim.
— Seu pedido é uma ordem, meu amor.
Abro seu roupão e desço por seu pescoço, provando um de seus
seios enquanto aperto delicadamente o bico do outro. Não me demoro neles
e deixo minha mão tocar em sua boceta, encontrando-a pronta para mim.
Bárbara apoia uma das pernas na prateleira do closet enquanto passo
os dedos onde sei que deseja. Eu a sinto encharcada e introduzo o dedo
nela, ouvindo-a gemer ao meu toque. Continuo a estimulando até sentir seu
corpo chegar próximo ao orgasmo, e então paro.
Deixo seus seios e beijo seu colo, abrindo minha calça e colocando
o pau para fora.
— Mete em mim — ela suplica, forçando as unhas em minhas
costas.
Entro em sua boceta de uma única vez, nos fazendo arfar. Seus
braços se prendem em meus ombros enquanto entro e saio de seu corpo
delicioso. Nossos lábios não se separam enquanto faço amor com a mulher
da minha vida, de pé, no closet. Trocamos juras apaixonadas quando
chegamos ao ápice do prazer juntos.
Agora posso dizer que o problema foi resolvido, porque com a
minha Raio de Sol só existe uma verdade: somos para sempre.
“Amor, só para você entender, a nossa fachada acabou quando
transamos pela primeira vez no Havaí. Eu te amo, minha Raio de Sol. Até o
fim do dia. Seu Brian.”
Eu realmente não mereço um homem como o Brian. Acordei com
esse bilhete ao lado do travesseiro dele e estou como uma boba apaixonada
pelo próprio marido.
— Também te amo, meu gringo lindo — murmuro sozinha, me
espreguiçando.
Estou passando por uma fase tão complicada, em meio a tantos
problemas, que nem consegui vivenciar esse amor que estou sentindo por
Brian. Depois da rapidinha que tivemos no meu closet, continuamos nos
amando até eu ficar esgotada e adormecer após o terceiro orgasmo.
Recordo-me dele grudado e deitado por trás de mim, segurando um
dos meus seios, que estão até um pouco dolorido. Não que ele foi grosseiro
comigo, mas estão mais sensíveis ultimamente.
Saio da cama e vou para o banheiro, apertada. Nossa! Até minha
bexiga parece menor nos últimos tempos. Talvez seja o frio daqui ou quem
sabe o stress. Minha vida está tão louca que estou toda desregulada.
Tomo um banho breve e me arrumo para o trabalho. Meu rosto está
um pouco inchado de tantas lágrimas que derramei, mas nada que
maquiagem não resolva ou diminua.
Passei o dia da inauguração pensando em como terminar com Brian,
e sofri por antecipação sabendo que teria que arrumar minhas coisas para ir
embora pensando nele. Deus! Que bom é saber que sou correspondida pelo
meu gringo.
No entanto, fico receosa de falar sobre o assunto na mansão. Esse
bando de víboras está mais interessado em destruir o meu casamento.
Vamos combinar? É melhor deixar essa história somente para os amigos
próximos. O que significa ligar para a minha melhor amiga brasileira.
Vou retocando a maquiagem e faço a chamada para Carolina sem
me importar com a hora e o fuso horário. Certamente ela já está de pé.
— Não é que a minha amiga casada com um bilionário no armário
lembrou que eu existo — começa ela, no meu idioma natal, me fazendo rir.
— Por qual motivo me procurou, senhora Hamilton Smith?
— Bom dia, Carol. Tudo bem por aí? — pergunto, animada,
passando o corretivo nos meus olhos. — Eu precisava falar contigo, minha
amiga.
— Tanta animação de manhã. O que rolou ontem à noite, Babis? —
ela me questiona e sinto malícia em sua fala. — O Brian, digno de um
potinho, te deu um trato?
— Sim, mas não é sobre isso que quero falar.
— Então fala logo de uma vez, mulher... Comprou carteira, infeliz?!
— ela grita no meio da chamada.
— Carol? — pergunto, preocupada.
— Atendi sua ligação no volante do carro, amiga. Não precisa se
preocupar. Estou sozinha. Sam foi com o dele levar as crianças para a
creche enquanto segui na frente por causa de uma reunião.
— Sempre trabalhando, não é?
— Assim como você — ela devolve. — Fala logo que o nosso
tempo não é grande.
Respiro fundo e sorrio para o espelho antes de dizer: — O Brian se
declarou para mim ontem. Ele disse que me ama, amiga — declaro, quase
chorando de alegria.
A ligação fica em silêncio por alguns instantes e fico preocupada de
ter acontecido algo na sua viagem para o trabalho.
— Carol...
— É só isso? — ela questiona.
— Sim. O que mais seria?
Carolina suspira do outro lado da chamada.
— Babi, o Brian é louco por você desde sempre. Qualquer um vê
que ele te ama. Sério que foi para isso que me ligou? Não tá me escondendo
mais nada, não, dona Bárbara?
— Não. Mas o que seria?
— Tipo uma.... Merda! — ela exclama. — Amiga, vou ter que
continuar nossa conversa mais tarde. Aconteceu uma batida na subida da
ponte e vou ter que ligar para a empresa avisando que vou me atrasar.
Dou um muxoxo.
— Tudo bem, amiga. Depois nos falamos.
— Te amo, doidinha.
— Também te amo, estressada — respondo, encerrando a chamada.

Estou encerrando um novo pacote para um casal de brasileiros que


deseja conhecer a Estátua da Liberdade quando uma das funcionárias me
avisa que meu marido está do lado de fora, me esperando para o almoço.
Estranho na hora por saber que Brian não viria sem me mandar
mensagem. Por isso, pego meu telefone e procuro alguma, mas o número
dele está sem visualização desde o início do dia.
“Será que é uma surpresa por conta da noite de ontem?”, penso.
Um pouco esperançosa, fecho o atendimento dos clientes, visto meu
casaco e pego minha bolsa para falar com o meu amor. Porém, quando vou
para o lado de fora, tudo cai por terra quando percebo que não é meu
marido, mas sim Robert, o primo dele, que se parece demais com o meu
gringo.
— Oi, Bárbara.
— Oi — respondo, desconfiada. — Você por aqui? Está tudo bem?
Ele olha para os lados antes de responder: — Queria conversar
contigo, mas... — Seu olhar vai outra vez para longe. — É quase meio-dia.
O que acha de um almoço? Podemos almoçar juntos?
Ele direciona o caminho, mas paro na hora ao me recordar dos seus
comentários sobre o meu relacionamento com Brian. Ainda me dói a
lembrança das seguintes palavras: “Não concorda que seria muito mais fácil
se essa estrangeira não tivesse entrado no caminho do meu primo?”
Com isso, acredito que a melhor opção é voltar para a agência.
— Agradeço o convite, Robert. No entanto, prefiro...
— Por quê? — ele me questiona. — Somos praticamente parentes.
Você é a esposa do meu primo...
— Prefiro falar primeiro com Brian — informo, pegando o telefone
na bolsa.
Ele suspira pesarosamente enquanto estou, debaixo da neve,
ouvindo que a ligação está sendo encaminhada para fora da área de
cobertura. Guardo o aparelho na bolsa e...
— Te juro que ele não vai se importar — declara, mostrando um
sorriso caloroso. — Eu e ele fomos criados como irmãos. Acredite quando
digo que você estará segura comigo.
Deus sabe que nenhuma das suas palavras me trazem segurança.
Principalmente quando abre a porta do carro para mim. No mesmo instante,
desvio do caminho, falando que prefiro o restaurante chique que fica bem
próximo da agência.
Ele aceita a minha sugestão e abre a porta do estabelecimento para
mim. O maitre pega os nossos casacos e nos direciona a uma mesa. Robert
pede para ser mais próximo à janela e não me importo com sua escolha.
O primo do meu marido se comporta como um cavalheiro, me
ajudando a me sentar. Juro que tento abstrair da mente essa sensação ruim,
mas não consigo. Suas palavras, daquele dia, ficam se repetindo em minha
cabeça. Porém, sendo a esposa de um bilionário, preciso lidar com situações
desconfortáveis como essas. Pena que Brian não atendeu minha ligação.
— Eu preciso ir ao toalete — aviso, me levantando com a minha
bolsa.
Entro no banheiro e tento novamente falar com meu marido, mas
nada de atender. Faço minhas necessidades e quando retorno, eu o encontro
em uma ligação.
— Somente faça o que mandei — fala friamente com a pessoa,
encerrando a chamada sem se despedir de quem quer que seja.
— Está tudo bem? — pergunto, me acomodando.
— Sim. É para o novo lançamento — declara, tomando um pouco
de vinho. — Alguns fornecedores precisam de mão firme — explica. —
Aceita um vinho?
Pergunta, retornando ao seu estilo cortês.
— Não, obrigada. Vou trabalhar daqui a pouco.
Ele devolve a garrafa para a mesa e entra num assunto de viagens. A
conversa fica um pouco truncada por não termos nenhuma intimidade, mas
conseguimos nos entender nessa estranha relação familiar.
A refeição é servida, mas não consigo comer nem a metade. O
cheiro do azeite está me enjoando. Na verdade, tudo está ficando ainda mais
desconfortável com Robert tentando tocar minha mão sob a mesa.
O que será que ele está querendo? Tenho ciência de que se divorciou
há pouco, mas eu jamais seria objeto de suas conquistas.
Ainda bem que mesmo nos alimentando lentamente, meu horário
está acabando e preciso retornar ao trabalho. Passo o aviso e ele dispensa o
fim de seu talharim ao molho pesto, resolvendo me acompanhar.
Falo que não precisa, mas seu sorriso cortês retorna. Deus do céu.
Quando encontrar com Brian, preciso explicar todo esse almoço estranho.
— Adorei esse nosso encontro, Bárbara...
— Não foi um encontro, Robert — esclareço, vestindo o meu casaco
e indo para fora.
Algo em mim diz que devo me afastar, mas como sair de perto sem
parecer uma mal-educada? Também tem o fato de querer saber por que saiu
do outro lado da cidade para vir aqui almoçar comigo. Queria deixar para
lá, mas simplesmente não dá.
— Robert, conversamos por quase uma hora, mas até agora não me
contou o que queria falar comigo — questiono, me voltando para ele.
Novamente vejo seus olhos irem para longe, mas na mesma direção
que todas as vezes anteriores. Ele demora um pouco a me olhar e vejo algo
sombrio em seu olhar.
— Só queria saber que feitiço você colocou no meu primo.
Meu corpo se arrepia ao ouvir o que diz. Involuntariamente, dou um
passo para trás, como se tentasse me proteger. No entanto, ainda que meu
instinto diga que devo fugir, minha curiosidade é mais forte e pergunto: —
O que quer...?
Antes que consiga finalizar a pergunta, Robert me agarra e beija
minha boca com força. Começo a bater nele, tentando me livrar de seu
agarro. Porém, por ser maior do que eu, fico indefesa em seus braços, que
parecem ser feitos de aço.
Tudo piora quando escuto a voz da pessoa que mais odeio nesta
vida.
— Não acredito no que estou vendo! — exclama Scarlet.
Robert me solta e dou um tapa na sua cara pelo atrevimento.
— Nunca mais encoste em mim! — exijo, virando-me para ele.
— Como assim, Babi? — ele questiona. — Era certo que algum dia
alguém descobriria sobre a gente.
— Do que está falando? — Minha voz começa a morrer quando me
cai a ficha.
Foi um golpe. Robert e Scarlet agiram juntos.
Todavia, não tenho tempo para processar o que está acontecendo,
principalmente por Scarlet se virar para mim, colocando o dedo no meu
rosto.
— Se faz de boa moça, mas estava traindo o pai do meu filho com o
primo dele.
— Não! — nego.
— Bárbara, não dá mais para negar... — argumenta Robert.
— Pare de mentir, Robert. Eu nunca tive nada contigo.
— Como não? — Scarlet me questiona, mostrando o telefone. — Eu
tenho fotos de vocês juntos. — Ela passa a mão no rosto com falso pesar. —
O Brian não merecia isso. Você é uma imoral, brasileira. Nunca mais vou
permitir que fique perto do meu filho.
— É tudo uma mentira e eu vou provar que vocês dois estão
envolvidos nisso — aviso, revoltada. — Vocês que planejaram tudo. Dá
para ver que estão juntos nisso e nem sei mais no que estão envolvidos —
vocifero. — Podem inventar o que for, mas eu e meu marido nos amamos e
isso nunca vai mudar.
Sem ter muito o que fazer, me afasto, mas não sem antes ouvir dela:
— Pode começar arrumando suas malas, brasileira adúltera.
Até queria voltar e virar a mão em seu rosto abusado e mentiroso.
No entanto, sei que preciso me manter o mais longe possível daqueles dois.
Por isso, entro no primeiro táxi que encontro, me direcionando para casa.
Tento pegar meu telefone para tentar outra vez falar com Brian, mas o
aparelho simplesmente desapareceu da minha bolsa.
No mesmo instante, peço para mudar o destino para a Hamilton.
Preciso falar com Brian imediatamente. Se Scarlet e Robert estão
planejando nos separar, ele precisa saber o que está acontecendo.
Por ser a esposa do dono da empresa, todas as portas são abertas
para mim. Porém, quando chego na recepção da sua sala, descubro que ele
teve que fazer uma viagem breve para Boston por conta de um problema
financeiro, e que talvez vai retornar no fim do dia.
— Como assim? Brian não viaja sem falar comigo — indago a
secretária dele.
— Senhora Hamilton, seu marido perdeu o aparelho no início do
dia, provavelmente por isso ele não entrou em contato com a senhora.
Frustrada, agradeço e peço para avisá-lo, caso entre em contato, de
que preciso entrar em contato com urgência. Depois, peço para chamar um
motorista, que chega rapidamente.
Sentindo todo o meu corpo vibrar de nervoso, abro a porta da sala e
encontro Scarlet, Robert e Abigail me aguardando. Seus olhares sobre mim
exprimem ódio, decepção e indignação.
Sei bem que não gostam de mim, mas o que estou vivenciando é
algo assombroso e repulsivo. De Scarlet e Robert, se tentasse, poderia
imaginar o golpe que sofri, mas se Abigail também está por trás disso, a
situação é bem pior do que imaginei.
— Não tem vergonha na cara, Bárbara? — questiona Scarlet.
— Você não tem direito de falar assim comigo — argumento.
— Claro que tenho — retruca com um sorriso. — Esqueceu que te
vi aos beijos com o Robert. Não foi ninguém que me falou. Eu presenciei.
— Foi um golpe...
— O beijo ou a minha presença? — questiona com ironia.
— Se acalme, Scarlet — pede Abigail. — Eu sabia que não tinha os
melhores costumes, mas agir assim? Meu sobrinho merecia algo melhor.
— Dona Abigail, a senhora não sabe o que está dizendo... —
argumento.
— Quer mesmo que eu saiba de tudo, menina? — ela me repreende.
— Não dizem que imagens valem mais do que mil palavras? — questiona.
— O que está acontecendo aqui? — Escuto a voz da Madson atrás
de mim. — Babi, tá tudo bem?
— Madson, venha para cá — exige dona Abigail.
Minha cunhada se aproxima caminhando lentamente.
— Tia, o que foi...?
— Fique, Bárbara está saindo da mansão — esclarece.
— Como é que é? E o Brian? — Mad questiona. — Meu irmão sabe
disso?
Ela se vira para mim.
— Mad, você sabe que eu nunca trairia seu irmão, não é? —
pergunto e sua cabeça balança, afirmando. — Então...
— Madson, a sua cunhada, que certamente se tornará ex-cunhada,
estava tendo um caso com seu primo — declara Abigail, me cortando.
— É mentira!
A senhora me ignora, mantendo o seu discurso.
— Por isso, ela deve ir embora. Não é uma boa influência para a
família e está manchando o sobrenome dos Hamilton.
— Tia, isso não parece ser verdade...
— Me escute, menina! — exclama. — Tem fotos dessa brasileira
beijando o Rob em toda internet. Não é uma mentira.
Mad se vira para mim e uma lágrima de raiva desce pelo meu rosto.
— Não é verdade. — Movo os lábios, suplicando que acredite em
mim.
— Se eu fosse você, já teria retornado para o Brasil — declara
Scarlet, chamando a minha atenção.
Aproximo-me dos três e coloco para fora tudo que está pesando
dentro de mim. Foram meses aguentando, mas de hoje não passa.
— Desde o instante que entrei nessa casa eu sei que vocês me
odeiam. Entretanto, essa mentira não vai durar tanto tempo. O que existe
entre mim e Brian é amor, e não é um golpe como esse que vai destruir o
que temos. — Aponto para a porta. — Eu vou embora, mas cada um dos
três vão pagar por causa dessa mentira com o meu nome.
Então viro-me, caminhando para fora. Quando estou esperando um
transporte — uma vez que nem os motoristas têm liberação de me levar —,
Madson aparece me chamando.
— Babi, volta para dentro. A tia Abigail não pode te colocar para
fora de casa.
— Eu sei disso, mas preciso encontrar o seu irmão primeiro. O
problema é que ele está incomunicável e nem sei o que fazer.
— Se a tia Vic estivesse aqui ou o Joseph... — comenta, falando do
pai, que viajou outra vez para fora do país.
Abraço a minha cunhada.
— Pediria por mim ao seu pai? — pergunto, emocionada.
Sei o quanto sua relação com o pai é complicada. Para ela fazer algo
assim, é necessário muito esforço.
— Claro que sim. Essa história está muito mal contata.
Levanto a cabeça, curvando os lábios num sorriso triste.
— Minha queria cunhada, o que aconteceu foi que o Robert me
agarrou na rua. Em seguida, Scarlet surgiu do nada me acusando de traição
e tirando fotos. Não sei o que ganham com isso, mas preciso encontrar com
Brian para esclarecer essa história. — Esfrego minhas mãos. — Agora,
preciso de um lugar quente para me aquecer desse frio enquanto ele não
volta.
Ela concorda comigo, dando-me um último abraço. Depois, pego
um carro e vou para um hotel.
Eu nem acredito que estou em Boston, e por incrível que pareça,
sem telefone. Meu dia está sendo um inferno. Tudo começou a dar
problema desde o momento em que deixei a minha esposa na cama e vim
para a empresa.
Estava verificando as plantas das novas construções, que estavam
extremamente fora do que tinha solicitado. No momento em que estava
preparando um e-mail para o arquiteto, Robert entrou na minha sala
pedindo uma liberação de orçamento para uma viagem.
Para variar, discutimos pelos mesmos motivos de sempre, que são:
ele quer tudo no mais alto luxo, e eu explico que não podemos investir tanto
em algo tão pequeno como uma viagem de dois dias para avaliar uma área.
Quase cem mil dólares de margem? Não tive como acatar. Quando o
telefone da minha sala tocou com a chamada de um cliente importante, Rob
percebeu que não conseguiria o que queria e foi embora.
Somente na hora do almoço percebi o sumiço do meu telefone.
Sendo mais exato, no momento em que estava dirigindo para o hospital para
visitar Ryan. Ia chamar Bárbara para ir comigo, mas considerei que o
aparelho estava no meu escritório.
Passei rápido para ver o garoto, que me recebeu com um sorriso
animado. Conversei com ele um pouco e mais tarde voltei para a empresa.
Foi ali que percebi que o tinha perdido. Porém, não tive tempo para tentar
procurar o aparelho.
Uma chamada de emergência me alertou de que uma das nossas
construções em Boston tinha sido embargada pela prefeitura, o que mudou
todo o meu rumo. Sem poder falar com Bárbara, precisei pegar um jato de
Nova York para Boston a fim de resolver a situação, uma vez que o
departamento jurídico não tinha conseguido.
— Senhor Hamilton. Pode entrar. O prefeito te espera — me avisa a
secretária.
Sim, foi necessário marcar uma reunião de emergência com o chefe
do poder executivo para solucionar o problema. Principalmente em
decorrência de a data de entrega estar bem apertada; os ricos não perdoam
atrasos.
A conversa que temos é bem complicada, já que o problema do
embargo aconteceu por erro do construtor. Suspiro resignado e peço licença
para falar com a equipe designada para a cidade. Quando chego na filial da
Hamilton, soltando fogo pelas ventas, faço uma reunião com o arquiteto e o
construtor, exigindo para ontem que corrijam a merda que fizeram. Deixo-
os alertados de que se a construção não voltar em 48 horas, eles não devem
temer a demissão, mas sim processos por quebra de contrato dos clientes
que já compraram as unidades.
Quando volto para o aeroporto já é de noite, e tirando todos os
problemas, estou nervoso por não falar com a minha mulher. Como é um
voo rápido, em uma hora estou de volta. Peço para o motorista me levar
para casa o mais breve possível. Parece loucura, mas passar o dia todo sem
falar com a minha mulher me deixa mais irritado do que a merda que
aqueles dois fizeram em Boston e a briga de mais cedo com o Rob.
Como já se passou das nove da noite, a sala da mansão está escura e
vazia. Subo para meu quarto e encontro os corredores apagados, o que acho
bastante estranho.
Então, do nada, sinto alguém segurando meu terno pela lapela,
tentando me beijar, e no mesmo instante percebo que não é a minha Raio de
Sol. O perfume doce e enjoativo entrega a pessoa.
— Que merda foi essa, Scarlet? — indago, afastando-a.
— Brian, sou eu. A mãe do seu filho — responde, como se o que
tentou fazer não fosse nada.
Seguro seu braço, furioso com a sua ousadia.
— Eu não tenho nada contigo há anos, está bêbada? — questiono,
cuspindo as palavras. — Eu sou casado e amo a minha mulher. Quando
você vai entender que nunca mais vai acontecer algo entre nós?
Eu a solto do meu agarro, deixando-a para trás enquanto caminho
para o meu quarto.
— Ela te traiu! — grita atrás de mim, me fazendo parar na hora.
Acendo a luz do corredor, que sei lá por qual motivo está apagada.
Assim que me viro em sua direção, vejo algo que numa imaginei presenciar.
A mágoa da rejeição estampada em seu rosto. O pior é que nem imagino
por que isso está acontecendo agora, depois de mais de três anos separados.
Dessa vez eu errei, jamais deveria ter dito para Scarlet essas
palavras frias, mesmo sendo verdade. Por isso que ela falou de traição.
Certamente está com o orgulho ferido e tentando destruir a minha felicidade
com Bárbara.
Respiro lentamente, tentando me tranquilizar, e questiono como se
estivesse falando para uma criança de cinco anos: — Do que está falando,
Scarlet?
— Ela estava tendo um caso com seu primo.
Junto as sobrancelhas, estranhando sua fala.
— Pode pensar que estou mentido, mas é verdade. Eu peguei os dois
aos beijos na rua. Perto da agência que ela inaugurou com o seu padrinho.
Não quero acreditar, mas mesmo assim, começo a sentir algo ruim.
Não deve ser verdade. Não é? A gente se ama. Bárbara não faria isso. Por
isso, fecho os olhos em negativa para ela. Eu e minha esposa passamos a
noite fazendo amor.
Bem que falam que mulher magoada faz de tudo para destruir a
felicidade alheia. Por isso, tenho que me concentrar que é uma mulher
rejeitada por mim, e fará de tudo para que eu me separe da minha amada
Raio de Sol.
— Scarlet...
— Ainda não está acreditando? — questiona, pegando o telefone e
me mostrando a tela. — Não sou somente eu que sei. A mídia descobriu o
adultério da sua brasileira, Brian.
Olho a foto e vejo a minha Raio de Sol, a minha mulher, beijando o
meu primo na frente de um restaurante. Imediatamente, minha garganta
seca. Não sei se arrebento a cara do meu primo ou se corro atrás de Bárbara
atrás de satisfações.
— Isso... Tem alguma coisa errada... — Confundo-me com as
palavras.
— O que isso importa, Brian? — ela me questiona. — Não percebe
que isso é uma boa notícia?
— O quê? — indago.
— Agora podemos ser uma família de verdade. Eu, você e o Ryan...
— Está louca, Scarlet? — grito com ela, passando as mãos nos
cabelos.
Isso só pode ser um pesadelo. Bárbara não pode ter me traído. Eu fiz
tudo por essa mulher. Como pode? Isso tem que ser mentira.
— Claro que não enlouqueci — declara, tentando me tocar, mas me
afasto. — Estou sendo realista. Seremos nós três contra o mundo, meu
amor.
— Saia de perto de mim! — exclamo, caminhando para o meu
quarto. — Preciso falar com a minha mulher. Ou sei lá mais o que ela é.
— Ela foi embora há horas, Brian. Deixou o caminho livre para nós.
Viro-me para ela e aponto o dedo em seu rosto.
— Se você falar mais uma vez que foi melhor para formarmos uma
família, chamo a segurança e te coloco para fora imediatamente — eu a
ameaço.
Só assim ela se afasta sem dizer uma palavra. Entro no meu quarto e
procuro vestígios de que realmente ela foi embora, mas encontro todas suas
roupas e sapatos no closet. Como uma mulher que está indo embora deixa
todas as suas coisas? Certamente, tem algo errado acontecendo.
Passo por seu closet procurando coisas da sua família brasileira e
encontro tudo aqui. Porém, quando vejo o canto dos sapatos, lembro da
nossa conversa de ontem, quando ela quis terminar alegando que nunca a
amei. Eu me declarei de todas as formas possíveis, mas... nenhuma das
vezes ela correspondeu ao meu “Eu te amo”.
— Que merda!
Será que a minha mulher se apaixonou pelo meu primo? Mas por
que teria cedido ao sexo comigo se não queria continuar o relacionamento?
Tem algo muito errado acontecendo e somente Bárbara pode me esclarecer
essa situação.
O problema é que nem imagino onde ela está. Pego o telefone fixo
que fica no meu quarto e peço para que liguem para... ela. Cacete! Essa
dúvida de que fui ou não traído está acabando comigo. As imagens dizem
uma coisa, mas mesmo vendo os fatos, preciso saber se realmente a mulher
que amo destruiu mais uma vez o sentimento que tenho por ela. Se tudo for
verdade, e ela realmente não me amar, serei obrigado a deixá-la ir, sofrendo
eternamente por vê-la ao lado de outro homem.
— Senhor Smith, não estamos conseguindo falar com ela. A ligação
não é completada. Aparentemente, deve estar desligado — responde um dos
seguranças.
Confirmo o que dizem. Peço que me passem o número dela,
alegando que perdi o meu, e agradeço o serviço encerrando a chamada.
— Onde te encontro, Bárbara? — me pergunto.
Como não tenho aparelhos reservas, acabo me lembrando do
Smartphone que usei enquanto morava no Brasil. Nunca cancelei a linha,
mas quem sabe com ele consigo encontrar Bárbara e esclarecer essa história
que está acabando comigo?
Acho o aparelho junto com as minhas gravatas e o ligo. Encontro-o
com alguns pontos de bateria. Tento falar com ela, mas realmente ainda está
fora da área de cobertura ou desligado. Em seguida, faço uma chamada para
meu padrinho, que demora alguns instantes para me atender.
— Não sei como conseguiu esse número, mas... — ameaça,
atendendo à chamada.
— Padrinho, sou eu, Brian — identifico-me.
— Ah, sim. Número estranho, Brian — comenta.
— Sim, é do Brasil. Padrinho, estou atrás da Bárbara. O senhor sabe
dela?
— Sua esposa saiu na hora do almoço contigo e não voltou.
— Como assim comigo? Eu estava em Boston à tarde — declaro.
A ligação fica muda por alguns instantes.
— Uma das funcionárias me afirmou que vocês saíram juntos.
Estranho por alguns instantes, mas aos poucos consigo compreender
o que pode ter acontecido. Se realmente ela tem um caso com Rob, como
somos parecidos, é bem provável que a tal funcionária tenha se confundido.
Mas só de saber disso, torna-se mais palpável o que Scarlet falou. Estou
sendo traído pela minha mulher e meu primo. Não consigo e nem quero
acreditar que seja verdade.
— Agradeço pela ajuda, padrinho — declaro, sentindo minha
garganta travar de nervoso.
— Depois me avise quando falar com ela. É uma moça maravilhosa.
— Aviso, sim — afirmo, desligando e não dando fala aos seus
elogios.
Volto para o andar de baixo e pego meu carro. São mais de dez da
noite e o frio é congelante, mas não posso parar até saber a verdade. Se for
para descobrir que fui traído, tem que ser hoje. Preciso encontrá-la mesmo
que seja para confirmar que vamos nos divorciar.
Passo na frente da agência, mas está tudo escuro e a neve começa a
cair mais forte que antes. Cacete! Bárbara não está acostumada com esse
clima.
Penso em ligar para a mãe do meu amigo Samuel, mas as duas nem
se conhecem. Agora a situação é outra: e se a minha mulher estiver
desprotegida nessa neve e morrer de hipotermia?
Desesperado, faço uma chamada para Sam em busca de notícias por
Carolina.
— Brian, está tudo bem?
— Não, Sam. Tá tudo uma loucura. Eu a perdi numa nevasca. Tem
uma notícia na mídia que diz que... — Fecho os olhos antes de dizer: —
Sam, eu nem sei se realmente vou continuar casado com ela depois de hoje.
— Brian, não estou conseguindo te entender — declara meu amigo
e uma risada triste se forma em meu rosto.
— Nem eu estou, meu amigo. Mas pelo amor de Deus, vê se
Carolina sabe onde Bárbara está. Preciso falar com ela.
A ligação fica em silêncio por alguns minutos, até que escuto a voz
de Carolina falando em português: — O que você aprontou, Brian? —
pergunta.
— Não fiz nada...
— Como não? — questiona. — Hoje de manhã ela estava feliz da
vida dizendo que você tinha falado que a amava. — Como se isso fosse
novidade.
Estranho seu comentário.
— Tem certeza disso? — pergunto.
— Sim. Minha amiga te ama, mas não sei se aguenta a neve. Seja lá
o que os dois aprontaram, resolva logo porque Babi só existe uma.
— Ela falou com você?
— Não, Brian. Só de manhã, mas manda notícias quando a
encontrar e se acertem. São dois complicados apaixonados que não sabem
falar de sentimentos.
— Sim, Carol. Vou dar um jeito e encontrar a minha mulher.
Obrigado por ajudar — respondo, desligando o telefone e beijando a tela.
Só Deus sabe o quanto eu precisava ouvir essas palavras da melhor
amiga dela. Era o que eu precisava para firmar as minhas convicções da
verdade por trás de tudo que escondemos do mundo.
Um sentimento de alívio me acomete. Respiro mais fundo, sentindo-
me leve por saber disso. Então, tentando afirmar para mim que Carolina
está certa, abro a foto no site de fofoca.
Caralho! Como não percebi isso? Os braços de Bárbara estão
travados contra o corpo do meu primo e não existe vontade ou desejo na
imagem. Está claro que ela foi forçada a fazê-lo. Foi tudo forjado.
— Ele vai pagar por isso — prometo.
Então, acelero para casa desejando, até que seja por um milagre,
encontrar a minha Raio de Sol, mesmo sendo mais de onze da noite.
— Brian, graças a Deus você apareceu. — Ela me abraça no instante
em que passo pelo hall de entrada de casa. — Precisa fazer alguma coisa.
— Mad. Me diz o que aconteceu — peço. — Eu não encontro a
Bárbara e estou desesperado com tanto problema na minha cabeça.
— Tia Abigail junto com Scarlet e o Rob a colocaram para fora de
casa.
— Como é que é? — indago, furioso, passando para dentro. — Eles
não tinham esse direito.
— Eu sei. Eles falaram que ela tinha um caso com o Rob, mas sei
que não é verdade. Ela te ama e jamais se relacionaria com o nosso primo.
— Ela balança a cabeça. — Tem mais coisa que...
— Me ajuda a achá-la, Mad — peço, interrompendo-a.
Então, o telefone dela toca, cortando a nossa conversa. Fico atento
esperando notícias, e graças aos céus, recebo uma boa.
Que noite dos infernos!
Como a neve não para, não consigo correr muito, no entanto, minha
ansiedade está a níveis acima do padrão. Quando enfim consigo estacionar
a picape que tem na nossa garagem, saio rápido e entro no hospital.
Passo correndo pela recepção, olhando para todos os lados à procura
dela. Encontro-a sentada ali mesmo, na entrada, com a roupa da foto. Sem
me importar em estar num hospital, grito: — Bárbara!
Minha voz a desperta, mas não é um sorriso que brota em seus
lábios. Está visivelmente nervosa e fica cada vez mais enquanto me
aproximo, apressado.
— Brian...
Corto nossa distância ao abraçá-la e sentir em meus braços o calor
de seu corpo.
— Nem imagina o quanto te procurei hoje — murmuro em seu
ouvido, sentindo-a tremer com meu toque. Caralho, mais uma vez tentaram
nos separar, mas nunca vão conseguir. Não mesmo.
— Brian, nada do que estão falando é verdade... Não é nada
daquilo...
Nem espero que continue falando: tomo seus lábios num beijo
urgente, mantendo-a bem junto a mim. Como senti falta, ou melhor, que
saudades da minha mulher. Saber que está bem, mesmo depois de ter sido
expulsa da própria casa, é o melhor dos mundos. Eu abraço e beijo seu
rosto, ao passo que sinto um alívio fora do comum.
— Eu sei que nada daquilo é verdade, meu amor — declaro. — Eu
quase entrei nessa história, mas consegui perceber a tempo que jamais
poderia ser verdade. Mesmo sem você dizer que me ama e...
Seus dedos tocam meu rosto, virando-o para ela.
— Não falei ontem por besteira, mas eu te amo demais, Brian
Smith. Ou Brian Hamilton. Te quero na minha vida para sempre, meu amor.
Você, o nosso filho e os futuros que virão são os amores da minha vida.
Porque o que vem de você é meu também.
Não achava ser possível, mas estou me apaixonando mais um pouco
por essa mulher.
— Vamos ver o nosso Ryan? — pergunto.
Ela confirma e seguimos os dois para ver o menino. Como é tarde
da noite, ele está dormindo. Raio de Sol deixa um beijo em seu rosto e
repito o gesto, saindo do quarto, pensando no quanto o nosso menino está
nos unindo.
Do lado de fora, ela me explica o que aconteceu, e a raiva que
estava sentindo antes aumenta de nível. Conto o que houve comigo e penso
no quando Robert, Scarlet e Abigail precisam de uma lição definitiva.
Principalmente por sujarem o nome da minha mulher na mídia internacional
e a tirarem da mansão que também é dela.
Qualquer um diria que eu deveria ter ficado em casa. No entanto,
como lutar contra os Hamilton sendo a esposa estrangeira declarada como
adúltera? A minha melhor estratégia foi sair de lá.
Queria tanto ter encontrado com Brian para explicar toda essa
história, mas o maldito telefone só dá desligado. Eu vou perder o meu
marido e nem vou ter a chance de me defender. Brian verá as fotos e falará
que o traí. O problema é que a boba de coração trouxa não falou a verdade
sobre o que sente sobre ele. Fiquei tão preocupada com o futuro de Ryan
com um pai presente que me reneguei. Não falei que amava o meu gringo
fofo e lindo, digno de um potinho.
Eu sou muito otária e... Ai, meu Deus!
— Está bem, moça? — um desconhecido me pergunta.
Do nada, me dá uma tontura que quase me faz ver o teto ficar preto.
— Acho que sim — respondo.
Não posso ficar assim na rua. Provavelmente o estresse está alto
demais e estou tendo sintomas físicos. Entretanto, aqueles infelizes não vão
me derrubar. Pego um táxi e vou para um hospital, pagando a viagem com o
meu cartão black.
Aguardo atendimento médico, um pouco preocupada com o que
pode estar acontecendo comigo. Será que vou precisar me internar para sair
da crise de ansiedade? Por Deus, não. E o Ryan? Mesmo no meio desse
turbilhão que se transformou a minha vida, eu só penso no meu filho do
coração, sozinho e com aquela mãe doida.
— Senhora Hamilton Smith.
Levanto-me e caminho até o consultório. O médico vai me
perguntando o que sinto e a certa altura, seus questionamentos me causam
mal-estar.
— Entendido. Enjoos, vontade frequente de ir ao banheiro, sono
repentino, tontura... — Ele anota algo. — Sentiu os seios doloridos?
— Sim, mas...
— Tem vida sexual ativa? — questiona.
Desde quando parei de transar? Ele precisaria ser mais específico
nessa pergunta.
— Usa algum método contraceptivo?
Juro que não me recordo de ter usado ultimamente. Desde a
primeira vez que voltei a transar com Brian, a camisinha ficou em segundo
plano. Quando começamos, a urgência em nós é tão grande que
esquecemos, e nem é culpa de Brian.
Havia dito que iria no médico quando voltássemos do Havaí, mas
quando chegamos fomos resolver a história da Madson, que foi presa. Aí
veio Scarlet com o filho do Brian, o projeto da inauguração da agência e a
implicância dos Hamilton comigo. Eu nem pensei mais nisso.
— Vamos pedir alguns exames de sangue somente para confirmar o
que estou imaginando.
Ele me entrega os pedidos e saio do consultório anestesiada com a
probabilidade de ser o que ele e eu estamos pensando. Será que... Melhor
nem colocar em palavras para não atrair.
Pouco depois, faço o exame de sangue e espero o resultado. Como
já é de noite e está frio, me encolho num canto, esperando ser chamada.
Estar sem telefone é uma merda. Queria o Brian aqui para explicar o que
está acontecendo e me encolher em seus braços. Sei que ele me diria que
tudo ia ficar bem, mas... com essa história de que o traí, nem imagino como
vai me tratar quando nos encontrarmos.
— Senhora Hamilton Smith — a recepcionista me chama para
entregar os exames.
Levanto, sentindo minhas pernas tremerem de nervoso. Seguro o
envelope e nem abro. Volto para o médico, que o abre para mim. Ele
começa a ler os resultados e depois de longos minutos lendo, olha para mim
sorrindo.
— O que está sentindo é completamente normal na sua condição —
declara. — Acredito que o senhor Hamilton Smith vai ficar feliz com a
notícia de ser pai.
Então, instantaneamente, tudo fica preto e desmaio de nervoso.

— Ela acordou — uma voz feminina informa. — A senhora se


alimentou hoje?
Nego com a cabeça. Eu mal comi naquele almoço com o crápula.
Me sinto enjoada o dia todo e nem quero pensar em comida.
A enfermeira me entrega alguns biscoitos e sinto as lágrimas
correrem em meu rosto. Não acredito que isso está acontecendo.
— Senhora. — O médico se aproxima, totalmente solícito, enquanto
me sinto em completo pânico. — Aqui estão alguns livretos para vocês
começarem o pré-natal... — Ele vê minhas lágrimas que insistem em cair.
— A notícia não é boa?
Limpo meu rosto.
— Eu... — tento falar, mas certamente ele não sabe quem sou. —
Veio no momento mais louco da minha vida. Estou assustada e...
Volto a chorar, nervosa, e o médico se afasta para me deixar sozinha.
Quem deveria ser o primeiro a saber é o Brian, mas estou
preocupada de contar e ele achar que não é dele. Aí sim, seria um pesadelo.
Grávida e abandonada pelo pai do meu... Eu ainda não consigo dizer em
palavras.
Pouco depois, mais estabilizada, eles me liberam, me entregando um
encaminhamento para um obstetra e nutricionista. Sem rumo e me sentindo
sozinha, desejo falar com alguém que amo. Entretanto, sem telefone fica
difícil. Eu quero chorar com alguém sobre tudo que está acontecendo, mas a
única pessoa que sei onde está, neste momento, é o meu Ryan.
Por isso, fecho mais meu casaco e saio no meio da nevasca. Pego
um táxi e conto os minutos para encontrar com o meu menino de ouro. Ele
não vai entender muita coisa, mas só de tê-lo por perto, será o suficiente
para mim.

— A senhora não pode mais subir.


— Como é que é? — questiono, olhando para a recepcionista que
sempre me ajudou.
— Senhora, eu sei que é madrasta do menino, mas a mãe dele ligou
falando que sua autorização foi negada — a moça me explica com pesar.
— Isso está errado!
A moça jovem suspira.
— Eu também acho...
— Ligue para a mansão e tente falar com a Madson Hamilton
Smith. Eu preciso subir e ver o Ryan.
Ela confirma o meu pedido e começa a fazer ligações. Demora tanto
que me sento no sofá, esperando. Quando estou quase dormindo de tão
cansada, escuto: — Bárbara!
É ele, e nem imagino como agir na sua presença. Estou em dúvida
se corro para seus braços ou começo a me explicar. Melhor a segunda
opção. Vai que ele quer me pedir o divórcio agora por conta daquela foto?
— Brian, não é nada daquilo...
Antes que eu continue, seus lábios tomam os meus num beijo
apaixonado, que é tudo o que eu preciso agora. Ele me explica que não
acredita naquilo, mas ainda tem dúvidas sobre os meus sentimentos. Me
declaro, completamente apaixonada por ele, e seguimos para ver Ryan.
Pena que está dormindo. Fiquei tanto tempo esperando para vê-lo que
adormeceu.
Quando estamos saindo do quarto, falo tudo que aconteceu,
deixando claro até sobre o meu telefone, que sumiu. Só de ouvir, seus olhos
azuis começam a crispar de raiva e ele me segura pela mão, levando-me
para casa.
— Vamos resolver essa merda agora — afirma, nervoso, batendo a
porta da picape.
Ele está tão agitado que nem sei como entrar no assunto do meu
exame. Estou a cada instante mais preocupada com o que ele vai pensar
sobre isso. Não é planejado e, para variar, está tudo uma loucura.
Abro a porta do carro, tensa demais, e subo, me acomodando no
lado do carona. Assim que bato a porta, Brian me pega pela nuca e beija
meus lábios com desejo.
— Nunca mais saia de perto de mim, meu amor. Seu lugar é do meu
lado.
— Eu te amo, Brian, mas...
Paraliso na hora e como ele é rápido e bastante detalhista, percebe
imediatamente.
— Mas? — ele me questiona.
— É melhor a gente conversar sobre isso mais tarde, Brian...
Perco a coragem enquanto coloco o cinto de segurança.
— Não. Fala logo de uma vez — exige. — Estou o dia inteiro
acumulando problemas e se for mais um, eu preciso saber para...
— Eu tô grávida! — falo de uma vez, deixando meu marido
paralisado e até um pouco mais branco que o normal de uma noite gelada.
Deus do céu! Eu não posso ficar viúva e grávida. Isso não é receita
boa para uma história de amor como a nossa.
— Brian! — eu o chamo, mas ele não se mexe. — Acorda.
— Você... tem certeza? — o meu gringo gagueja e começo a ver
seus olhos brilharem.
Pego os exames na bolsa e o entrego. Brian nem olha direito para o
papel e coloca a mão na minha barriga.
— Vamos ter mais um filho, meu amor? — pergunta, chorando
emocionado. Não consigo me segurar, derramando lágrimas no caminho.
— Nosso segundo bebê — respondo, menos tensa, beijando seus
lábios. — Uma surpresinha para alegrar a nossa vida louca. Estou tão
aliviada que você esteja feliz. Fiquei tão assustada. A gente não estava
planejando e...
Ele coloca o dedo sobre o meu lábio.
— Nem sempre a vida é planejada. Nosso reencontro foi surpresa,
por que não os nossos filhos serem assim também?
— Você é incrível — confesso. — Te amo demais.
— E eu amo você e o nossos bebês, minha Raio de Sol.
Eles vão pagar por isso. Cada um deles. Fazer isso com a minha
mulher vai gerar consequências gravíssimas para os três. Hoje começo com
Scarlet e minha tia.
Chegamos em casa juntos e entramos de mãos dadas. São mais de
uma da manhã e estou pouco me importando se estão dormindo em camas
quentes. Bato forte na porta do quarto de Scarlet, que demora alguns
minutos para abrir. Faço o mesmo no quarto da minha tia e quando as duas
aparecem, grito em alto e bom som: — Vão embora da minha casa!
— Como assim, meu sobrinho? — minha tia questiona.
— As duas, desapareçam da mansão — repito.
— Brian... — reclama Scarlet.
— Você ouviu o dono da casa. — Escuto Raio de Sol dizer.
— Se eu for embora, meu filho vai comigo! — ameaça.
— Veremos, Scarlet — argumento. — Arrume suas coisas e suma.
Sobre o Ryan, conversaremos depois.
Minha tia aparece com uma mala pequena.
— Isso é um ultraje. Seu pai nunca faria isso comigo.
Principalmente nessa nevasca.
— Vocês não se importaram em colocar a minha esposa grávida
para fora de casa.
— Grávida? — as duas questionam ao mesmo tempo.
— Brian... — Babi tenta argumentar.
— Bárbara, elas iam saber uma hora ou outra. — Então, me
aproximo da minha tia. — Avise ao meu primo que vou processá-lo pelo
que fez contra a minha esposa.
Ordeno que as duas saiam do quarto e mando o motorista levar as
duas para um hotel. Uma hora depois, elas vão embora e sinto um alívio
quando o carro some na curva.
Depois, subimos para o nosso quarto. Completamente esgotados,
dormimos em paz, abraçados.

Trim Trim.
Escuto o barulho ao longe, mas estou morto de cansado.
— Brian, é o seu telefone. — A voz da Raio de Sol me desperta um
pouco.
Espreguiço-me e tento pegar o aparelho, que nem imagino onde
deixei. Vou seguindo o som até que o encontro dentro do casaco que deixei
no chão. Vejo ser uma chamada do diretor financeiro da Hamilton.
Suspiro e atendo a contragosto.
— Alô — falo com a voz rouca.
— Chefe, você precisa vir urgentemente para a empresa. — Ele
suspira. — Tem um problema daqueles para o senhor ver...
— Me conte — exijo.
Ele fica em silêncio por alguns minutos.
— Seu primo, Robert Hamilton, fez uma grande retirada nas contas
da empresa.
— Como é que é!? — questiono, levantando o meu tom de voz e
saindo da cama.
— Brian — minha esposa reclama —, preciso dormir.
— Desculpe, amor. Descanse. — Beijo sua cabeça e entro no
banheiro.
O meu diretor vai me explicando e a cada instante, fico mais
furioso. Rob não fez uma grande retirada nas contas da Hamilton, ele pegou
uma fortuna em títulos. Mais de um milhão de dólares retirados do caixa da
empresa.
— Como vocês deixaram que ele fizesse isso? Eu não permiti!
— Senhor, é melhor que venha...
— Está bem. Chame o jurídico, faça a demissão dele, prenda-o se
for possível. Robert vai ter que devolver cada centavo da Hamilton.
Quando estava quase dormindo de novo, senti um beijo em minha
barriga e as palavras do meu Brian.
— Cuida da mamãe, filhote. Mais tarde, papai tá em casa.
Eu até ia impedi-lo de ir sem me dar um beijo de verdade, mas sabia
que tinha que sair. Aquela ligação, agora há pouco, o deixou preocupado
demais, mas não a ponto de nos esquecer. Provavelmente mais uma bomba
tinha explodido e Brian estava indo socorrer os feridos.
Pouco depois que foi embora, me arrumei, mais tranquila, e passei o
aviso aos empregados sobre quem não mais morava aqui. Depois, comprei
um telefone para mim, já que Brian está usando o antigo do Brasil, e voltei
para a agência.
Todos se mostraram bastante preocupados comigo e alguns, até
desconfiados. Entretanto, esclareci a todos o que tinha acontecido, deixando
claro que meu casamento estava indo muito bem. Contei também que estou
grávida.
Graças aos céus, eles me apoiaram. Na hora do almoço, fui ver o
meu menino de ouro. Quando entrei no hospital, percebi um clima estranho
entre os funcionários e logo me preocupei com Ryan.
Ainda bem que liberaram logo o meu acesso e subi rápido para ver o
que tinha acontecido com ele. Agora, estou abrindo a porta do quarto e
graças aos céus, fico aliviada ao vê-lo brincando sozinho com um carrinho
de brinquedo.
— Ryan — eu o chamo e ele abre os bracinhos para mim.
Trago-o para meu peito, beijando sua cabeça. Procuro por sua mãe,
mas não a acho. Pergunto à enfermeira, mas a expressão em seu rosto me
traz novamente preocupação. Tento ligar para a doida da Scarlet, mas a
chamada é encaminhada para a caixa de mensagens.
— Ryan, você sabe da sua mãe? Ela não veio te ver? — pergunto
para o meu pequeno.
— A minha outra mamãe não veio hoje. Só você, mãe.
Suas palavras me surpreendem e involuntariamente, um sorriso
cresce em meus lábios.
— Como assim sua outra mãe, meu amor? — pergunto, limpando
uma lágrima que cai. Deus do céu! Como ando emotiva.
Eu amo esse menino de ouro como filho desde o dia em que o
encontrei, mas ele sabe que não nasceu de mim, e isso é demais para o meu
coração.
— Você também é a minha mamãe. Não é, Babi? — Seus olhos
interrogativos vão sobre mim.
Confirmo com a cabeça e o trago junto a mim, deixando as lágrimas
de alegria virem.
— Eu sou sua mãe, meu amor. — Beijo sua cabeça. — Do fundo do
meu coração, você é o filho que a vida trouxe.
— E vocês são a razão da minha felicidade. — Escuto a voz de
Brian, que entra no quarto.
Ele se aproxima sorrindo e cobre seus lábios com os meus, beijando
em seguida a cabeça do nosso filho mais velho.
— Amor, precisamos conversar — ele me avisa, mas estou sem
vontade alguma de me separar do meu menino de ouro. — Você me deixa
roubar sua mãe um pouquinho? — pergunta para Ryan.
— Não demora — reclama, se soltando de mim e nos fazendo rir.
— Prometo que vai ter sua mãe Babi por muito tempo — responde,
segurando minha mão.
Ele fecha a porta e começa a me contar o motivo pelo qual saiu cedo
hoje. Eu ainda não acredito que um outro herdeiro bilionário tenha roubado
o dinheiro da empresa da família. Porém, o que vem depois disso me deixa
preocupada.
— Foi como um assalto. Eles não tiveram como impedir. Rob ficou
louco e seu fascínio por dinheiro chegou a níveis fora do comum.
— Deus do céu, Brian. Eu sabia que ele era um crápula, mas não
que se tornaria um bandido desse jeito.
Ele balança a cabeça.
— Tem outra coisa, amor. A Mad e a tia Vic me contaram que tem
algo importante para nos dizer. No entanto, tem que ser em casa.
— Mas o Ryan? — questiono.
— Vocês são os responsáveis pelo menino aqui?
Um médico se aproxima de nós, interrompendo a conversa.
— Somos os pais — afirmo e sinto Brian segurar a minha mão.
— Era para ter alta ontem, mas nenhum responsável apareceu...
— A gente veio tarde da noite — informa meu marido —, ele já
estava dormindo.
— Entendido, mas ele está de alta. Somente mantenham as
medicações, evitem friagem que o menino vai se recuperar completamente.
Sorrio animada, e sem esperar as receitas médicas, entro no quarto.
— Está tudo bem, mamãe? — pergunta.
— Sim, filho. Nós vamos para casa, meu amor — informo.
No entanto, ele fica triste e cruza os braços.
— Não quero ir — responde. — Quero ficar aqui.
— Filhão. — Brian se senta ao meu lado. — Vai ser bom voltar para
a mansão. Vai ser somente eu, você, sua mãe Babi e o seu irmãozinho que
ainda vai nascer.
Os olhos dele brilham. Por isso, prefiro não corrigir Brian,
lembrando-o que temos uma Scarlet no nosso caminho que pode atrapalhar
os nossos planos de família. Outra hora explicaremos isso para o nosso
menino de ouro.
— Vou ter um irmão?
Então, foi nisso que o nosso menino de ouro pensou? Um irmão?
— Sim, meu amor — respondo, rindo. — E você vai ajudar muito a
cuidar dele, mas não se esqueça de que também pode ser uma menina.
— Sim. Imagina uma garotinha linda como a sua mãe. Vai dar
trabalho para a gente, não acha, Ryan? — comenta Brian, segurando a perna
dele.
— Mas eu vou ajudar, papai — promete ele, sorrindo.
— Para ajudar, você precisa sair daqui — aviso. — Vamos para
casa?
Só então ele concorda e chamamos a enfermeira para nos ajudar.
Pouco depois, estamos os três indo para casa. Ryan está animado e contente
em estar em família conosco. Preferi ficar no banco de trás e manter o nosso
menino quieto nos meus braços.
Quando passamos na estrada que leva para a saída da cidade, vemos
que está um trânsito dos infernos por conta de um acidente. Eu achei que
seria uma viagem rápida para casa e depois iria voltar para a agência, mas
não foi o que aconteceu. Logo após mais de meia hora de viagem, ligo para
eles avisando que não retornaria.
Entretanto, quando entramos na mansão, estranho a presença de
tantas pessoas na casa. Uma delas, Abigail, que chora desesperadamente
sentada no sofá da sala.
Deus do céu! O que será que aconteceu?
— Que merda está rolando aqui? — murmuro para mim mesmo,
entrando em casa.
A princípio, encontro minha tia sentada no sofá chorando. Também,
a ex-mulher de Robert, que por sinal é a melhor amiga da Scarlet.
— Eu sei que não é o melhor momento para ouvir essas coisas. No
entanto, a senhora precisa saber que tipo de homem seu filho era — declara
Julie.
Era?
— O que está acontecendo aqui? — questiono, chamando a atenção
de todos para mim.
Minha tia está com o rosto vermelho, lavado em lágrimas. Seus
olhos se voltam para Ryan, que ainda está segurando a minha mão, e ela
chora, mais desesperada ainda.
— Babi... — Viro-me para a minha esposa, que pega o nosso filho e
leva para dentro.
— Vem com a mamãe, amor. — Ela o leva, me deixando para
resolver mais uma situação.
Ainda bem que Mad aparece e me abraça.
— Irmão, aconteceu uma tragédia.
Sinto um frio nas costas e só então ela se afasta e me fala: — O Rob
e a Scarlet morreram num acidente hoje de manhã. O pior é que não acaba
por aí.
— Como assim? — questiono, chocado com a notícia. — Não sou
fã de Scarlet e estou furioso com Rob, mas... jamais desejaria a morte dos
dois. Ela é a mãe do Ryan e...
As palavras morrem em meus lábios enquanto estou processando a
situação.
Meu primo morreu. A mãe do meu filho também... Como isso está
relacionado? Como que...
— Maninho, é melhor irmos para dentro. A Julie está conversando
com a tia Abigail e a tia Vic quer conversar com você e a Babi.
Concordo, sendo conduzido para o escritório do meu pai. Lá,
encontro minha esposa sozinha com minha tia. Quando passo pela porta,
percebo seus soluços de choro e me preocupo imediatamente.
— Como que ela morreu? Como vou explicar isso para o Ryan?
Ele... — Sua voz some e me sento ao seu lado, trazendo-a para meus
braços.
— Vou explicar melhor para vocês o que sabemos até agora —
começa minha irmã, fechando a porta.
— Nem imagino como vão reagir quando souber de tudo — declara
minha tia, pegando uma caixa de lenço para Bárbara.
— O que querem dizer? Parem de rodeio e contem logo de uma vez
— exijo, já sabendo que o que virá não é coisa boa.
— Brian. O Rob e a Scarlet tinham um caso de muitos anos —
confessa minha irmã, se encostando na mesa do escritório e aguardando a
nossa reação.
— Anos? — questiona Bárbara, tão surpresa quanto eu.
— Como é que é?
— Eu sinto muito dizer isso, mas... — minha irmã suspira — a
gente fez uma pesquisa com um investigador e... Merda!!! — Seus olhos
batem nos meus enquanto deixa os papéis sobre a mesa, provando o caso
deles. — Maninho, o Ryan não é o seu filho, é do Robert.
— Fala que é mentira agora, Madson! — ordena minha esposa,
revoltada.
— Babi, eu sei que... — minha irmã vai explicando e não consigo
compreender suas palavras.
Não consigo acreditar nisso. Como que isso tudo é mentira? Ryan
foi apresentado como meu desde o início e nada me dizia que não poderia
ser verdade. Principalmente por ele ser parecido demais comigo, mas...
Pensando melhor agora, com essa informação, mesmo o menino sendo a
minha cara, eu e Rob somos, digo, éramos muito parecidos.
— Espera um pouco... — falo depois de uns instantes, refletindo. —
Vocês têm certeza disso? Até hoje não consegui fazer o exame de DNA por
causa da Scarlet que...
— Eu encomendei no hospital, Brian — minha tia avisa, pegando da
bolsa um exame. — Recorda-se de quando fez os seus exames da empresa?
Confirmo com a cabeça, me lembrando de que, há poucos dias, foi
solicitado que eu fizesse exames simples. É um padrão na Hamilton.
— Pedi para pegar uma amostra sua em sigilo. Desde quando foi sua
noiva, Scarlet não se mostrava confiável. Entretanto, quando vi a marca de
nascença da família paterna de Rob na nádega direita do menino, precisei
confirmar — confessa. — Eu sinto, digo, sentia muita mentira naquela
mulher, mas a verdade é que Ryan é seu primo de segundo grau. Não é seu
filho.
Estou sem chão diante de uma notícia como essa. Não me sinto
traído pela Scarlet, mas iludido por toda essa farsa. Está claro que a única
coisa que ela queria era dinheiro, e nada mais... Eu me apaixonei por aquele
menino como se ele fosse realmente meu filho e... Sinto um apertão mais
forte em meus dedos e a minha Raio de Sol sorri para mim. Demoro uns
instantes para perceber e só então entendo o que quer. Por isso, sorrio de
volta para ela.
— Eu estou arrasada em saber que aquele menino doce perdeu o pai
e a mãe num acidente... — comenta minha irmã.
— Mad — eu a interrompo. — O Ryan tem a nós. Mesmo que ele
não seja meu filho biológico, já se tornou nosso faz tempo. Não é, meu
amor?
— Sim. Nós vamos adotá-lo — declara a minha esposa, sorrindo
para mim. — Será o nosso filho mais velho como o consideramos, e vamos
dar muito amor para eles.
Dou um beijo suave em seus lábios.
— Mas como mais... Espera aí. Você tá grávida? — minha irmã
pergunta e confirmamos. — Vou ser titia!
— Sim, Mad — respondo. — Tia de dois de uma vez só.
— Eu também adoro aquele garoto quietinho — confessa, nos
abraçando. — Eu adorei saber que tem mais um sobrinho chegando.
— Felicidades para vocês — deseja minha tia. — Sei que estão
vivenciando uma alegria do recomeço, no entanto, devo dar conforto para
minha irmã — avisa, caminhando para porta. — Tenho ciência de que ela e
os dois falecidos erraram muito, mais de uma vez, entretanto, nenhuma mãe
merece perder o filho. Mesmo ele sendo um mau-caráter como foi o Robert,
que renegou um menino lindo como o pequeno Ryan — declara ao sair. —
Até mais tarde.
Permanecemos com minha irmã e ela nos conta como aconteceu o
acidente. Pelo que soube, os dois entraram na mansão pouco depois de eu
mesmo ter expulsado Scarlet. Rob pegou a chave de um dos carros mais
caros da garagem e ambos foram para a empresa. Como precisavam de
dinheiro, fizeram um desfalque daqueles— que ainda estou pensando em
como vou resolver — e depois foram embora, abandonando o filho.
Conforme Mad me diz, eles não tinham mais o que perder depois
que o golpe, quando tentaram nos separar, não surtiu o efeito desejado. A
confirmação provavelmente aconteceu quando a mandei embora da mansão,
deixando claro, com todas as letras, que jamais teríamos algo.
— Os bombeiros avisaram que o Rob perdeu a direção do carro
numa curva e caiu numa ribanceira. A queda foi grande e nenhum dos dois
sobreviveu.
— Deus do céu! — Bárbara exclama.
Eu a trago para meus braços e beijo seus cabelos. Mad sai para
pegar água.
— Amor, vamos ter que explicar isso para o Ryan — comenta.
— O que acha de esperarmos ele crescer mais um pouco? —
questiono. — Talvez quando chegar seu irmãozinho...
— Ou irmãzinha — declara e eu rio, colocando a mão em sua
barriga.
— Quem sabe mais alguns? — pergunta, sorrindo.
— Assim você me mata, Raio de Sol — confesso, roubando um
beijo dos seus lábios doces.
— Mas não é você que diz que o sete é o seu número da sorte?
Meses depois.

— Amor, meus pés estão me matando — reclama a minha bela


esposa.
Então, levanto-a em meus braços, surpreendendo-a.
— Melhor agora?
— Você não existe, meu gringo lindo — responde, balançando as
pernas.
Passo pela porta da mansão e ela comemora, roubando um beijo dos
meus lábios.
— Enfim, acabou! — comemora.
— Corrigindo, enfim você conseguiu provar para “todas as
números” que pertenço à minha Número Sete — lembro.
Ela pede para descer, parando na minha frente, e tira os saltos
brancos.
— Eu precisava conhecer todas, marido — confessa. — Ainda bem
que são só cinco. Melhor dizendo, quatro.
Rio na hora, entendendo bem sobre o que ela está falando. Na
verdade, está lembrando da situação com a minha primeira namorada. Bem,
é que a número 1, que conheci quando tinha perto dos seis anos, tinha o
nome de Evelin, e hoje em dia atende pelo nome de Edward. Sim,
completamente inusitado.
— Mas amei ver aquela infeliz da Hope babando em você.
— A Número Cinco? — questiono, confuso Ela concorda, se
prendendo mais a mim.
— E o incrível é que você nem percebeu os olhares dela. — Ela ri.
— Estava cuidando dos nossos gêmeos, do Ryan e de você —
lembro.se — Esse seu vestido de noiva é muito sexy. Estava de olho nos
outros homens que olhavam demais para a minha mulher.
Então, a Raio de Sol gargalha enquanto beijo seu pescoço.
— Somos dois ciumentos, não é? — ela pergunta.
Sorrio após tomar seus lábios e respondo: — Sim. Passamos a nossa
renovação de votos nos vigiando de outras pessoas.
Ela concorda e aproveito para levá-la para o meu carro. Depois, saio
com o veículo em direção à nossa verdadeira noite de núpcias — que ainda
não tivemos.
— Eu amei a Emma — confessa.
— Eu te avisei que a Número Três não era do jeito que você
pensava...
— Sim, mas como eu iria imaginar que uma ex sua seria aquele
doce de pessoa? Eu adorei as pinturas que ela mandou.
— Uma dela e outra de uma artista plástica brasileira, não é? —
pergunto.
— Sim. Se chama Pri Fontayne[2].
— Acredito que a Bessie foi a que te deixou mais tranquila, certo?
— questiono.
— Claro! — responde, rindo. — O tempo todo mostrando quem era
o senhor Ford.
Concordo ao lembrar de quantas vezes ela nos apresentou o marido.
O homem parece boa pessoa, mas se assusta com os gritos da própria
esposa louca.
Então, chegamos no hotel, que fica próximo a uma cachoeira. Ajudo
minha esposa, que está num belo vestido de noiva, muito mais sexy que o
primeiro — inclusive, me deixando louco.
Pegamos a chave. Bárbara tira os sapatos ao levantar a saia do
vestido e corre para o chalé, que fica um pouco longe da entrada. Eu a
acompanho, tentando não escorregar nas pedras com o sapato social.
Quando a alcanço, ela se joga em meus braços, me beijando com desejo.
Afasto-me um pouco, abrindo a porta e a trazendo para dentro.
— Esse lugar está lindo, amor — declara, reparando nas luzes
vindas de velas e pétalas de rosas vermelhas por todo lado.
— Fica mais ainda com a minha esposa dentro dele — declaro,
segurando sua cintura enquanto subo minhas mãos para tocar um dos seus
seios.
Meus dedos vão em seus cabelos ao mesmo tempo em que beijo
seus ombros.
— Amor, para um pouquinho — ela pede, se soltando dos meus
braços.
Suspiro, frustrado.
— O que foi, Raio de sol? — Ela começa a mexer nos bolsos da
minha calça de uma maneira não tão gostosa. — O que você está
procurando?
Ela encontra o meu telefone, vira a tela para mim e abre o aparelho,
se jogando no sofá.
— Brian, só um minuto que eu preciso ligar para saber das
crianças...
Cruzo os braços e fico pensando nessa pausa. Essa minha esposa,
depois que se descobriu mãe, é uma das mais dedicadas de todas.
Entretanto, nossos filhos estão sob a responsabilidade dos três avôs babões
e da tia. Por esse motivo, quando está tentando fazer a chamada, tiro o
aparelho de seus dedos e desligo a ligação.
— Nada de telefones até amanhã. Hoje você é só minha, Raio de
Sol.
— Só um pouquinho, Brian...
Nego, tomando seus lábios e me inclinando sobre seu corpo
enquanto me esforço para tirar de sua cabeça a vida lá fora e se concentrar
em nós.
— Está bem, amanhã eu ligo para eles — afirma.
Ela levanta os braços, tirando o meu smoking e abrindo a minha
blusa social. Coloco a mão por baixo do seu vestido branco até alcançar sua
calcinha de renda.
— Você não fez isso — murmuro entre seus lábios e ela morde
minha orelha.
— Fiz, somente para o meu gringo gostoso.
Seus dedos vão para minha calça e abrem o zíper, me acariciando
sobre a cueca.
— Amor, sabe algo que sempre quis fazer quando a gente casou pela
primeira vez?
— Peça o que desejar que eu farei, minha linda.
Tento descer um pouco a manga do seu vestido, mas terei que abrir
por trás.
— Eu quero que você transe comigo com esse vestido.
Paro na hora, surpreso com o seu pedido. O tempo passa e Bárbara
ainda consegue me surpreender. Como estou sem palavras, ela prossegue:
— Você falou para pedir o que eu queria e... — confessa com um sorriso
devasso nos lábios — um dos motivos que me levou a fazer a nossa
renovação usando um vestido de noiva foi para realizar essa fantasia.
Levanto-me um pouco, mirando seus olhos castanhos, e então ela
me conta sobre o desejo que tinha de transar comigo na nossa noite de
núpcias com uma riqueza de detalhes que me deixa de queixo caído.
Entendendo o jogo dela, pego-a nos braços, levando-a para o quarto
do chalé. Bato a porta, prensando-a contra logo em seguida.
— É isso que você quer, esposinha? — sussurro em seu ouvido.
— Sim, meu maridinho CEO.
Abro alguns botões do seu vestido, deixando que seus seios fiquem
disponíveis ao meu toque, e levanto a saia para tirar sua calcinha em um
único puxão.
Empino sua bunda e dou um tapa forte, escutando-a gemer.
Entrando na fantasia dela, enfio dois dedos em sua boceta, sentindo-a
encharcada. Meto com os dedos, estimulando seu clitóris enquanto arranco
gemidos de seus lábios.
No momento em que sinto seu corpo engolir meus dedos, tiro o meu
pau da cueca e a penetro de uma única vez. Seguro em sua cintura,
aumentando o ritmo. Aperto seu peito, fodendo-a com gosto.
Ela pede para que eu vá mais forte e atendo ao seu pedido. Depois a
viro de frente para mim, metendo em sua boceta ao mesmo tempo em que
nos devoramos em beijos, até que chegamos ao ápice do prazer.
— Fantasia realizada, Raio de Sol? — pergunto, recuperando o
fôlego.
— Todas elas, meu herdeiro bilionário.
Anos depois

E agora somos sete.


Parece incrível, mas já se passaram quase dez anos e temos cinco
filhos. Ryan, o nosso mais velho, e os gêmeos, um casal chamado de
Camille e Scott, em homenagem aos padrinhos. Depois adotamos mais um
menino, chamado Alan, e engravidei mais uma vez, tendo a nossa caçula
que se chama Belinda.
A mansão ganhou vida com os nossos filhos. Está sempre bastante
agitada e seu Joseph está amando esse mar de netos dentro de casa. Até
mesmo da surpresa que a Madson aprontou para a família anos atrás.
— Mãe. Isso aqui está bom? — Estou sentada na mesa de jantar e
meu primogênito está todo arrumado para o primeiro baile.
Ryan ficou tão lindo! Qualquer exame pode dizer que ele não tem o
sangue de Brian ou o meu, mas quem vê os dois lado a lado afirma que são
pai e filho. O tempo passou e o meu menino de ouro continua mais parecido
com o meu gringo lindo.
— Olha como é que ele está! — Brian brinca, se aproximando dele.
— Assim a sua acompanhante não vai resistir.
— Brian, essa frase ainda é minha — comenta minha cunhada ao
chegar para ver o sobrinho. — Mas não posso negar que está certo.
Na mesma hora, o meu filho fica com as bochechas vermelhas de
vergonha.
— Mãe, me ajuda — ele me pede em português, como o ensinei há
anos, assim como fiz para todos os meus filhos.
Levanto-me na hora e ajeito sua gravata-borboleta, dando um beijo
em sua testa.
— Ryan, não beba nada que te derem, não volte tarde e não esqueça
que vou ficar aqui te esperando — eu o aviso e ele dá um sorriso de lado.
— Está bem. — Ele me abraça e percebo o quanto está grande. Será
que o tempo não pode correr ao contrário e ele voltar a ser o meu garotinho
tímido?
— Amo você, mãe. Beijo, pai. Beijo, tia. Vou sentir “saudades”.
Então, ele se vira e vai em direção ao carro; o motorista dá adeus
com os braços.
— Essa minha esposa brasileira que amo demais... — Brian me
segura na cintura e limpa as minhas lágrimas.
— Babi, ele não foi para a faculdade. E outra, você tem que aceitar
que o seu menino de ouro já é quase um homem — comenta minha
cunhada.
Torço o lábio para ela na hora.
— Espera chegar a sua vez que a gente conversa sobre isso, Madson
— respondo, me afastando de braços dados com meu marido.
Brian recebe uma chamada e sigo sozinha para me acomodar no
sofá da sala para esperar o meu filho. Enquanto isso, me recordo de tudo
que aconteceu nesses últimos anos.
Dona Abigail passou por um longo período de depressão, mas
Victória conseguiu ajudá-la e hoje as duas viajam bastante pelo mundo.
Contamos para ela sobre a real paternidade de Ryan e sempre que pode,
manda um presente para o neto, que possui mais parentes do que esperava.
Lembrando dele, ainda me sinto furiosa ao me lembrar do que Ryan
me contou um pouco depois que aceitou melhor a morte de Scarlet. Nós o
colocamos na terapia, e após meses, ele explicou o que aconteceu naquele
dia em que a janela do seu quarto foi aberta. Foi a mãe dele. Recordo-me
dele chorando e contando que mesmo pedindo para ela parar, por estar com
frio, Scarlet falou que eram sacrifícios necessários para os dois.
Ele também me contou até para onde ia o dinheiro que Brian lhe
dava. Só de lembrar disso, sinto o meu sangue ferver mais ainda. Graças
aos Céus, o meu filho não está mais com Scarlet. Meu menino tem pais que
o amam... Que cuidam dele.
Falando no assunto, seu Joseph agora me aceita de verdade como
nora. O preconceito de antes por eu ser brasileira virou uma piada interna
por conta dos meus costumes de superproteger os meus cinco filhos. O que
posso fazer se meus instintos maternos são fortes? Por mim, eles nem
sairiam de casa na época da universidade, estudariam aqui. Bem pertinho da
mãe deles.
— Amor, vamos para a cama? — Brian me chama.
— Eu tenho que esperar o Ryan, amor — retruco.
Meu marido me pega nos braços, me levantando.
— Ele foi muito bem ensinado sobre a hora em que deve voltar.
Nosso filho é um bom rapaz, Raio de Sol. Agora você precisa dormir
porque tem três agências para gerenciar amanhã.
Isso é outro assunto, a minha agência deu tão certo que consegui
expandir para aqui dentro dos Estados Unidos. Arnon Miller permitiu que
eu comprasse algumas ações e agora também sou sócia no Instituto Miller.
Infelizmente tive que vender a minha filial da França. Com cinco
filhos, fica complicado gerenciar isso tudo. Se até hoje fico tensa quando
Brian viaja para resolver assuntos da Hamilton, imagina como ficaria se
tivesse que me ausentar para cuidar de uma agência do outro lado do
oceano?
— Vamos, minha senhora?
Antes que eu responda, Brian me pega no colo e me leva para o
quarto, mas fujo de seus braços dando uma passada nos quatro dormitórios
para ver como estão as crianças. Alan ainda está se adaptando a nós e tem
alguns pesadelos de vez em quando, entretanto, Belinda ainda está
precisando de muita atenção devido aos seus quatro aninhos de vida.
Verifico a nossa caçula, que é a cara do pai, enquanto relembro de
como foi que consegui me acertar com o meu. Eu ainda estava grávida dos
gêmeos quando fui ao Brasil resolver esse assunto pendente. O seu Breno
não esperava a minha visita, mas eu sabia que depois de tudo que vivi aqui,
precisava falar com ele.
Passei por situações terríveis, nas quais tive que aprender a lidar
com o meu orgulho. Sempre tive Brian do meu lado, mas como conseguiria
ensinar sobre perdão sem perdoar quem me ama acima de tudo? Sei que
meu pai errou demais comigo, mas também não sou perfeita. Errei muito
até aprender a acertar. Quase perdi Brian no caminho por conta disso e não
poderia viver sem resolver esse assunto na minha vida.
Meu pai tentou, de novo, me pedir perdão, mas dessa vez quem
pediu fui eu, principalmente por toda mágoa que mantive por anos comigo,
o que somente me fazia sofrer. Conseguimos nos entender entre muitas
lágrimas e palavras de perdão. Atualmente, meus pais nos visitam sempre
que podem.
— Te amo, filhinha — declaro, beijando seu rosto.
Depois, volto para o meu quarto.
— Amor? — chamo a atenção do meu coroa gato, que ainda merece
ser guardado no potinho. — Quando você me conheceu na Vision, você
achou que seria assim? A nossa família?
Ele passa a chave na porta e responde: — Eu te avistei pela primeira
vez na Lapa, mas quem não me viu foi você.
— Até hoje me arrependo disso. E se uma outra brasileira tivesse te
conquistado?
Brian ri e me abraça.
— Isso jamais iria acontecer, porque o meu destino estava traçado
junto ao seu. Bárbara, você é a mulher da minha vida. A mãe dos meus
cinco filhos. A Raio de Sol e a minha eterna Número Sete.
— Eu te amo, meu gringo gostoso. — Beijo seus lábios.
— Eu te amo pra sempre, minha brasileira doidinha, linda e
atrapalhada.
Fim!
E chegamos ao fim de mais uma linda história. Desta vez, apresentei
Brian e Bárbara. Esses dois lindos, românticos e apaixonados um pelo
outro, sua família e número sete.
Então, venho agradecer primeiramente a Deus por mais uma história
e pelo dom de tocar as pessoas com as palavras.
Como não se sentir grata pela minha família, que sempre esteve do
meu lado. Nos momentos felizes e tristes, sempre estiveram comigo.
Às minhas assessoras literárias. Agradeço demais a Carlinha e Grazi
por me ajudarem de inúmeras formas na minha carreira. Obrigada por
estarem comigo.
Walter, mais uma para a conta. Sou grata por toda a ajuda na
lapidação de minhas histórias, que você já adora.
Como me esquecer das minhas queridas amigas de vida? Alê, Jade,
Paty, Gel, Jessi. Sim. Vão todas em apelidos carinhosos. Obrigada por me
apoiarem e torcerem por mim em todos os momentos.
Agora, falo para as minhas parceiras: obrigada. Minhas lindas!
Agradeço demais por toda a ajuda com os meus livros. Um muito obrigada
às amizades que a carreira trouxe. A cada uma de vocês, obrigada mesmo
por todo ensinamento.
Meus lindos e amados leitores. Agradeço demais por conhecerem e
amarem as minhas histórias. Sem vocês, não existiria a autora que fala aqui.
Já fazem morada no meu coração.
Mil beijinhos e até a próxima.
Carla Arine, carioca de Madureira, sempre se viu envolta com o
mundo artístico. Começou no teatro ainda adolescente, depois aprendeu
canto, desenvolveu poesias e roteiros. Quando viu seus escritos encenados,
desejou que as pessoas levassem a sua arte para seus lares. Então se
embrenhou no mundo da escrita.
Seu primeiro livro, lançado em 2018 no formato ebook,
proporcionou-lhe grande conhecimento da nova carreira e muitos prêmios
na plataforma Wattpad. Porém, ela não parou por aí, e continua escrevendo
novas histórias.
Atualmente, ela mora no interior do Rio de Janeiro com sua mãe e
seus pets. Carla estuda escrita dramática até hoje e tem o apoio na carreira
de sua família, amigos e leitores.
Grávida do Homem Errado
Inusitado Apaixonante (Novela da Série: Uma Esposa Para o Meu Pai.
Livro 3)
Inesperado Irresistível (Novela da Série: Acordo com o Cupido.
Livro 2)
Novamente Nós. (Divórcio: fim ou recomeço?)
CEO’s: A Disputa.
Uma Namorada Para o Meu Chefe.
Um presente do meu (ex) Chefe
As Noites nas Baladas
Eu e o Mar: Um conto sobre o amor, a saudade e o tempo.
As Sete Luas. (A Origem das Irmãs Bruxas)
Asas na Tempestade
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Não se esqueça de avaliar a história.

[1] Mocinho de “CEO’s A Disputa.


[2] Mocinha de Novamente Nós

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