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Copyright© 2023 - Jéssica Oliveira

Edição 01

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breves citações incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei
de direitos autorais.

1. Literatura Brasileira 2. Romance 3. Jovem Adulto 4. Contemporâneo

Revisão

Mariana Barbosa

Diagramação

B. S. Oliver

Betagem

Eduarda Azambuja
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Sumário
Prólogo
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 09
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Epílogo
Prólogo

Ando até a ampla fachada de vidro do meu escritório e avisto a


extensão do Rio Charles. Nunca me canso de olhar o crepúsculo daqui,
outrora Eva imploraria para retratar esse horizonte.

Uma batida tange na porta, em seguida meu advogado, Brandon


passa por ela. Ele entra carregando uma maleta executiva e uma pasta preta.

— Max, encontrei uma jovem que bate com todos os seus


requisitos. — Reúno a sobrancelha e estendo a mão para apanhá-la.

Já escutei isso das outras vezes e ainda estamos em busca, eu não


desejo uma mulher perfeita, mas uma ideal para carregar o meu material
genético.

Me escoro contra a mesa e cruzo as pernas enquanto removo o


documento da pasta.

Do jeito convencional, seria tão mais prático, mas me geraria uma


puta dor de cabeça e um casamento.

Encontro, na primeira folha, uma jovem de feições pequenas e


angelicais, sorriso caloroso e olhos claros, com longos cabelos loiros.

Nome: Judy Mayer.

Idade: 28 anos.

Altura: 1,64.
Peso: 51 kg.

Religião: Católica.

Sem tatuagens.

Norte-americana, nascida e criada em Detroit - Michigan.

Nenhuma comorbidade em três gerações.

Não fuma, bebe, ou usa drogas.

— Ela aceitou doar os óvulos e ser a sua barriga de aluguel dentro


das suas diretrizes. Vocês não precisam entrar em contato, mantendo a
confidencialidade de ambos, e não se opôs a morar na mansão em
Hamptons sob os cuidados de uma equipe de segurança e empregados até o
nascimento do bebê.

Solto o documento na mesa e encaro meu advogado com


expectativa. Acredito que ele também já não esteja aguentando ir atrás de
barrigas de aluguel.

— Acerte com ela — autorizo, visto que o meu tempo está


acabando.

A regra arcaica que meu bisavô determinou, exigindo um herdeiro


no testamento, está acabando com o meu bom senso. Isso até que não seria
um problema se fosse há três anos... Eva cruza meus pensamentos, mas a
afasto para longe.

Tenho que ter um filho antes de completar trinta e seis anos para
garantir o meu cargo de CEO, se Judy não engravidar nos próximos três
meses, estou ferrado e o Fundo Snyder também, pois cairá nas mãos do meu
primo, Joseph Snyder, que não é de todo ruim, só muito irresponsável.
Capítulo 01

Boston - A taxa de desemprego voltou a subir no país após três


anos consecutivos.

— Me conte uma novidade, USA Today? — escarneço, visto que


tenho um diploma em administração financeira e sou garçonete no Royal
Coffee Executive há onze meses.

— Atrás de emprego ainda? — Nicole, minha colega de trabalho,


pergunta as minhas costas.

— Só paro quando sair daqui — afirmo com um pequeno sorriso e


fecho o jornal, o empurrando para longe.

— Serra Banking, Baumann Gestão Imobiliária e o Fundo de


Investimento Snyder estão contratando.

Me viro e encaro os belos olhos castanhos de Nic.

— Enviei minha carta de apresentação para esses, exceto para o


Fundo Snyder. — Ela estreita os olhos, pegando duas xícaras de café de
cima do balcão branco.

— É uma empresa multimilionária — menciona, as soltando na


pia.

— Que quase teve um processo por fraude um ano atrás. Não


quero manchar a minha imagem.
Embora a história inteira tenha sido enterrada pelo novo gestor
Maxwell Snyder, eu já carrego uma mancha disforme em minhas costas,
não preciso mais delas.

Meu pai, Rick, era viciado em jogos e devia mais de cem mil para
a casa de jogatinas. Quando faleceu, sua dívida foi transferida para mim.
Descobri da pior forma, quatro meses depois do infarto que papai teve, fui
intimidada por um homem na saída do café, ele era alto, forte, cabelos
pretos e um caráter de merda. Ele me deixou a par da situação e me deu um
tempo para eu me restabelecer.

Vendi a casa onde cresci, mas, como tinha muito juros, não foi o
suficiente para quitar a dívida, e agora estou reunindo o resto do dinheiro.

Recolho as xícaras de uma mesa e, quando estou levando até a


cozinha, Bernard, o gerente, um homem baixo e robusto, entra no meu
caminho.

— Persephone, lamento informar, mas estamos cortando horas


extras. Seu turno acabou. — Suspiro audível.

— Bernard, eu preciso dessas horas extras — falo, suplicante,


estou vivendo na miséria, há meses para juntar o dinheiro para pagar a
dívida, se ele cortar minhas horas agora, ficarei fodida num nível hard.

— Sinto muito.

Balanço a cabeça, sem argumentos. Ando até o pequeno depósito,


tiro o avental, pego a bolsa no armário e saio pelos fundos. Está noite,
mesmo assim, a brisa quente do início de junho penetra o meu corpo.
Atravesso o beco escuro até a minha lata velha e tenho a impressão
de que há alguém me vigiando, entro no carro e olho pelo retrovisor, era
apenas um cachorro comendo lixo de um dos containers.

Santa paranoia, Perse!

Acredito que ainda tenho mais algumas semanas antes de virem me


cobrar, e a minha impressão é de que estou constantemente sendo vigiada.

Ligo o rádio, está tocando Don't Blame Me, de Taylor Swift, abro a
janela e pego um cigarro de dentro da bolsa; no banco do passageiro, o meu
telefone acende quando meus dedos se aproximam, exibindo uma
mensagem de Caleb de uma hora atrás:

Me avise se for fazer horas extras, vou comprar o jantar.

Ignoro a mensagem, estou totalmente sem fome, e acendo o


cigarro.

Caleb e eu não somos casados, começamos a namorar no terceiro


ano da faculdade e, como tive que vender a minha casa, decidimos dividir
apartamento. Ele ainda está cursando o último ano em Direito, espero que
tenha mais sorte que eu.
Estaciono em frente ao meu apartamento e subo dois lances de
escadas para o segundo andar. Talvez Cal me anime, como estava
trabalhando em dois turnos, quase não nos vemos e, quando nos víamos,
estava tão cansada que tudo que eu mais desejava era adormecer.

Abro a porta, entrando na sala de estar, que está uma bagunça,


roupas espalhadas pelo sofá de canto marrom e dois copos em cima da mesa
de centro ao lado do note ligado, então, vagueio os olhos até a pequena
cozinha à parte, mas não o encontro.

— Cal, cheguei — aviso, tirando os tênis no caminho para o nosso


quarto. — Podemos pedir uma pizza — digo, empurrando a porta. — Já
estou falida mesm...

As palavras me fogem da boca, e o sangue infla na minha cabeça,


fazendo o meu coração bater nas alturas, quando enxergo Briana descer da
cama enrolada em um lençol, revelando Caleb.
Olho para a sua colega da universidade, os cabelos loiros rebeldes
e os lábios vermelhos e inchados, e engulo toda a repulsa que me sobe.

— Persephone. — Caleb se ergue atordoado, procurando as roupas.

— Vai! — exclamo para a garota, seus olhos ficam enormes, ela


assente e, quando se abaixa para apanhar o vestido no chão, eu piso nele. —
Sai daqui agora! — berro, empurrando-a para fora do cômodo.

— E-eu não posso ir sem roupa — gagueja, o que me faz tremer


como um pinscher raivoso.

— Foda-se como você vai sair, apenas desapareça da minha frente.


— Empurro-a pelos ombros para fora do quarto.

— Perse, deixe-a — Caleb pede atordoado, direciono meus olhos


fulminando em sua direção, ele vestiu a cueca pelo menos, e seu cabelo
loiro está inteiramente bagunçado.

— Não me dê ordens, seu filho da puta desgraçado — grito e


arremesso os meus tênis nele, Caleb se abaixa do outro lado da cama.

Olho para a menina seminua ainda na porta, ela está olhando para o
vestido em meus pés.

Me abaixo e o apanho do chão com um sorriso.

— Você quer? — pergunto com uma fúria cega dominando cada


partícula do meu corpo, ando até a janela e jogo no meio da via.

— Persephone, me desculpe. — Briana sussurra, me dando as


costas e desaparecendo na sala enrolada no lençol.
Meus olhos queimam pelas lágrimas contidas. Olho para Caleb
sem saber o que pensar. Meses eu indo para o café e deixando ambos aqui
no apartamento fazendo trabalho da universidade.

Trabalho. Quanto estupidez!

— Essa foi a única vez, eu juro — sussurra e se abaixa com as


costas arranhadas para pegar uma camisa no chão.

O nó em minha garganta se torna insuportável, e as malditas


lágrimas escorrem.

— Você tem cinco minutos para pegar as suas coisas — respondo e


minha voz mal passa por meus lábios. Me afasto, fechando a porta, criando
uma barreira entre mim e ele, sem conseguir entender o que estou sentindo.

Saio na sacada e acendo um cigarro com muito custo, os meus


dedos tremem violentamente.

Olho para o céu estrelado, pensando que o Senhor podia distribuir


a desgraça ao longo da semana. Caleb era o mais próximo de uma família
que eu tinha, a decepção é imensa, mesmo que lá, no fundo, enterrado nas
minhas entranhas, eu sentia nosso afastamento, mas estou tão
sobrecarregada, com meus problemas, que o coloquei em segundo plano.

E ele fez o mesmo.

A porta do quarto se abre, Cal sai de lá com uma mochila nas


costas, ele fecha o note em cima da mesinha de centro e o coloca dentro de
outra mochila.

Seus olhos azuis cristalinos me fitam à distância, as grossas


sobrancelhas claras unidas em descontentamento.
— Vamos conversar, Perse.

Balanço a cabeça em negação e dou as costas a ele, soltando a


fumaça para o céu.

Acordo no sofá completamente desorientada e com minha cabeça


latejando a ponto de explodir. Olho para a mesinha de centro, e a caixinha
de baseado do Cal está aberta em cima dela.

Ah, Deus.

Levanto-me de repente, sentindo tudo se mexer, como se estivesse


alcoolizada. Preciso de um banho e um café forte, penso, olhando-me no
espelho do banheiro.

Cristo, estou um lixo, se minha intenção era ficar chapada a ponto


de esquecer a noite passada, fracassei miseravelmente, mas, pelo menos,
meu cérebro está tão desconexo que não consigo me importar com Cal.
Entro no banho com os pensamentos lentos, agora estou por conta
própria, terei que arrumar um emprego de meio turno durante a noite, mas
antes vou deixar minha carta de apresentação no Fundo Snyder.

Melhor uma reputação suja do que assassinada por um criminoso.

Penteio meus longos cabelos escuros para trás com pressa e visto
uma saia lápis midi preta, uma blusa social branca, com botões pretos, e
calço uma sandália de salto baixo. Me encaro no espelho e alinho minha
blusa com as mãos, terá de servir. Jogo as roupas de ontem em uma sacola,
para vestir quando chegar no café.

Ainda tenho uma hora de folga, passarei na empresa Snyder e


torcerei para que ainda tenha alguma vaga.

Pego minha bolsa e deixo o apartamento sem olhar para trás. Sei
que, quando o efeito da maconha passar, ficarei solitária e deprimida, e não
vou acelerar o processo.

Olho para a minha lata velha cogitando se é aceitável dirigir nas


minhas condições. Mas, se estou ciente o suficiente para pensar nisso,
acredito que esteja para dirigir. Rio.
Estaciono em uma das ruas no Distrito Financeiro de Boston,
sentindo o meu coração acelerado, supostamente outro sintoma da
maconha. Faz meses que não fumo um baseado, não me recordava de que
tudo fica volúvel.

Passo um batom rosê nos lábios e, enquanto olho pelo retrovisor,


vejo um carro preto estacionar atrás de mim. Desço em uma avenida quase
vazia a fim de esconder o meu carro dos bancos imponentes e arranha-céus
de escritórios.

É o meu sonho trabalhar nesse lado da cidade.

Ando pela rua pouco movimentada, segurando minha bolsa firme


ao corpo.

Meu telefone vibra, o pego, e tem uma chamada perdida de número


desconhecido e algumas mensagens do Cal da noite passada, as ignoro.
Cachorro! Solto meu telefone na bolsa e, nessa hora, ele vibra.
Mensagem número desconhecido: Está na hora de pagar o que
me deve, Persephone Beaumont.

Paraliso no lugar com o meu coração agitado. Achei que tinha mais
tempo, pelo menos mais dois meses.

Recebo outra mensagem: Entre na Coffee Break e vamos


conversar.

Avisto o outro lado da rua e há uma franquia da Coffee Break,


engulo o nó em minha garganta e olho a minha volta, percebendo que estou
sendo vigiada.

O pânico se instala em meu âmago com força, olho para trás a fim
de voltar para o meu carro, e tem dois homens desconhecidos sentados no
capô dele, um com o telefone em mãos, ambos olhando para mim com
expressões maliciosas.

Viro-me para frente e aperto o passo, com meu coração


determinado a quebrar minhas costelas com a potência que bate. Dobro em
uma rua, me misturando entre as pessoas.

Mensagem número desconhecido: Não tem para onde fugir, P.

Maldita hora que decidi entregar minha carta de apresentação.

Ouso olhar por cima do ombro e os dois homens estão a alguns


metros de distância. Eles são altos, com o corpo atlético, e cabelos cortados
à máquina, exibindo tatuagens nas laterais.

Em vez de continuar andando sem direção, corto caminho entre as


pessoas e entro em uma clínica médica, deduzo pelo logo estampado na
parede de vidro. Atravesso a recepção, vendo muitos casais sentados em
sofisticadas poltronas cor de creme.

Olho por cima do ombro, na esperança de ter me livrado dos


homens, mas um deles está nas minhas costas. Engulo o pavor, não tem
para onde correr, me enfiei em um beco sem saída.

Continuo caminhando até o fundo da clínica com a esperança de


ver uma saída. Mas não tem, só uma sala de espera vazia, com muitas
portas fechadas, atravesso uma delas e me escoro contra ela com o meu
peito apertado.

Levo uma mão ao coração, tentando controlar os batimentos


cardíacos, olho à minha volta e acredito que estou em um consultório
ginecológico, pelas vaginas nas paredes e o leito com um par porta-coxas.

Uma médica sai por uma porta na lateral da sala, ela estreita os
olhos enquanto arruma os óculos de grau no rosto.

— Eu tenho uma consulta com a senhora agora — informo,


esboçando um sorriso.

A médica se senta a sua mesa e joga os longos cabelos cacheados


para trás do ombro, mexendo em seu computador com praticidade.

— Judy Mayer — ela confirma, e tudo que eu consigo é esboçar


um sorriso, meus pensamentos não saem de lá de fora.

O que farei se eles estiverem lá ainda?

— É um procedimento rápido e indolor. Pode tirar sua roupa e


vestir o avental no banheiro, por favor. Enquanto isso, vou buscar o
material. — Ela me dá um sorriso iluminado.
Faço o que ela me pede no automático e, quando volto para a sala,
a médica já está posicionada aos pés da maca, me sento e tento relaxar para
trás, sentindo o desespero enraizado em meu âmago. Respiro fundo e ouço
o meu telefone vibrar em minha bolsa, tenho certeza de que são eles.

— Isso que está fazendo é muito corajoso.

Assinto, mesmo incompreendida. É o primeiro pré-câncer que eu


faço na vida, estou imensamente nervosa que estar exposta dessa forma
nem me deixa envergonhada. O desconforto que tenho é pequeno perto do
que estou sentindo. A médica tenta puxar assunto, mas a ansiedade e a
maconha estão mexendo drasticamente com a minha mente, então, tudo que
eu faço é concordar com o que ela diz.

Talvez se eu conseguir um empréstimo com o banco apenas com a


quantidade de dinheiro que falta, posso quitar a dívida.

Ah, Cristo, sou muito jovem pra passar por esse caos.

— Pronto, precisa ficar trinta minutinhos em repouso e terá o seu


milagre. — Ela dá um largo sorriso, — Eu já volto, vou buscar um folheto
com todos os cuidados que você precisa ter.

A médica deixa a sala, aproveito e pulo da mesa, arrancando o


avental, visto a saia às pressas, pego a minha bolsa e os sapatos e abro uma
fresta da porta pela qual entrei. Tem apenas um casal do lado de fora, uma
garota de cabelos loiros, talvez mais velha que eu, acompanhada por um
homem que carrega uma maleta preta.

Calço os sapatos rapidamente e deixo a sala antes que a médica


volte. Olho ao meu redor, e não vejo nenhum dos homens. O alívio que
sinto é imediato, mas não permaneço na clínica por nem mais um segundo.
Capítulo 02

Sangue escorre entre os nós dos meus dedos, deixando minha mão
pegajosa. Maverick, meu segurança, trombudo e com a expressão sempre
fechada, me estende uma toalha branca, ele para ao meu lado, fitando o
meliante que acabei de arrebentar, atirado no chão de uma garagem
subterrânea.

— O que devo fazer com ele, senhor?

— Mate-o.

Ando até a minha Mercedes-Maybach e pego o meu terno em cima


do capô. Meu advogado desce do seu carro, caminha até mim com passos
largos e paralisa quando enxerga o homem atirado no pavimento.

— Podíamos ter adotado uma medida menos agressiva. — Um tiro


repercute, fazendo Brandon ter um pequeno sobressalto. — Max, aqui não é
a Calábria, não pode sair matando pessoas.

— Quem matou foi Maverick. E já se passou quase um mês, e você


não me deu nenhum retorno sobre quem é a garota que está carregando o
meu filho. Mas aquele filho da puta ali — viro-me para o homem que
Maverick está colocando em um saco preto —, ele estava a seguindo,
segundo as câmeras da clínica, e disse que se chama Persephone Beaumont
e tem uma dívida de jogo com um tal de Jammy Xang, então, em vez de
encher os meus ouvidos com suas merdas do que é politicamente correto,
encontre-a para mim.
— E o que eu devo fazer quando encontrá-la? Sequestrá-la? —
pergunta retoricamente, o que ele não sabe é que farei de tudo para ter esse
bebê em minha posse.

— Me avise. Não quero mais nada fora de controle. E pague a


dívida da garota antes que alguma merda aconteça com ela.

Entro no carro e arranco com minha paciência ao limite. O


processo da inseminação era para ser algo tranquilo e parece que estou
vivendo em um pesadelo desde então.

Penso em Persephone, sem acreditar que levei semanas a fim de


encontrar a mulher ideal para contribuir na genética do meu herdeiro, e uma
garota disfuncional tomou o seu lugar.

Só vou descansar quando encontrá-la e ver em qual situação ela


nos enfiou. Se ela tem dívidas em jogos, deve precisar de dinheiro, talvez
uma grande quantia seja o suficiente para mantê-la calada e afastada. Será
mais fácil do que ter uma âncora nos arrastando para baixo a cada dia que
passa.

Deus, que inferno!


Atravesso os portões da mansão Snyder, e o peso das lembranças
caem em meus ombros sempre que chego aqui. Vivi com Eva nesta casa até
o incidente, depois abdiquei do fundo e me mudei para o mais longe
possível. Itália. Então, comecei a trabalhar como consultor financeiro,
apenas para os soberanos da Calábria.

Voltei há um ano para consertar a bagunça, antes que o Fundo de


Investimentos afundasse de vez, com todas as acusações que alegavam a
respeito do antigo gestor, o meu tio, que nega as acusações. Se a empresa
não era corrupta, agora ela é, pois foi a única maneira de não a quebrar,
arrastando o meu sobrenome consigo.
Capítulo 03

Me sento em uma das banquetas pretas do café plenamente


enjoada, sentindo as gotículas de suor se acumularem no meu pescoço. Não
lembro a última vez de estar tão cansada e de repente a fuga daqueles
homens no mês passado invade minha mente, mas a afasto.

— Cara, você está com a maior cara de doente. — Nic se debruça


em cima do balcão, enquanto torço o nariz.

— Acho que é pior que isso. — Ela me encara preocupada, e seus


olhos apontam que ela me compreendeu.

— Tem certeza? — Solto uma lufada de ar.

— Não tenho certeza de nada, só que vomitei quatro vezes na


última semana, e o seu perfume está me nauseando. — Ela faz cara feia e
joga uma mecha do seu box braids para trás do ombro.

— Vá para casa, Perse, se for virose, deixará todos doentes. À


noite, conversamos — diz e me estende a chave do seu apartamento.

Depois que fui perseguida por aqueles dois brutamontes, fiquei


com medo de morar sozinha em meu apartamento, então Nicole me
convidou para ficar com ela até eu quitar a minha dívida com a casa de
jogos.

Chego em meu carro e enxergo minha expressão de doente no


reflexo da janela, com grandes olhos verdes opacos, e estou mais branca
que o normal, forço um sorriso e consigo ficar pior do que já estou.
Não sei o que será de mim se estiver grávida, não tenho condições
para cuidar uma criança sozinha, balanço a cabeça, espantando essa dúvida,
melhor não me torturar com isso agora, sem antes ter certeza, mas meus
pensamentos insistentes buscam pela última transa que tive com Caleb, e
não consigo lembrar de quando foi. Tá aí o motivo da traição, aperto os
lábios, insatisfeita.

Dirijo até o meu antigo apartamento, preciso de roupas limpas, e


não quis levar todas as minhas coisas de vez para o apartamento da Nic para
não a assustar, por mais que ela viva sozinha, sinto que estou tirando sua
privacidade.

Estaciono e subo os dois lances de escada com letargia, talvez eu


tome um banho antes de ir para o apê e tire um cochilo. Ainda nem passou
das três horas da tarde e já estou com muito sono.

Chego no meu apartamento e, quando vou colocar a chave na


maçaneta, a porta se afasta, abrindo para trás, revelando dois homens de
terno no interior. Eles se viram para mim nessa hora e, antes que o pânico
domine o meu corpo, firmo minhas pernas e disparo em direção às escadas,
saltando entre os degraus. Me atiro para dentro da minha lata velha e, com
minhas mãos tremendo, eu tento enfiar a chave na ignição. O meu coração
bate tão forte na cabeça, deixando-me puramente enjoada e muito
desnorteada.

O carro dá sinal de vida, olho pelo retrovisor, vendo os dois


homens aparecerem na entrada do prédio, e arranco com força,
desaparecendo na estrada.

Deus, quando isso vai acabar?


Seguro o volante com força e, conforme me afasto do apartamento,
sinto meu coração desacelerar. Meu pai me enfiou na porra de um beco sem
saída. Quem sabe deva pegar as minhas coisas e o pouco dinheiro que tenho
e deixar a cidade. Nada mais me prende aqui em Boston.

Preciso de um novo começo.

Ainda tremo quando entro no apartamento da Nic. Tomo um banho


gelado e me jogo no sofá em seguida. Respiro fundo e não preciso de
muitos pensamentos autodestrutivos para adormecer chorando.

Desperto com minha amiga fechando a porta do apartamento, ela


solta sua bolsa em cima da mesa na entrada e abre a geladeira, pegando uma
garrafa de cerveja.

— Estou vendo que não melhorou — diz, abrindo a garrafa, me


encolho no canto do sofá e mexo a cabeça em negação.
Não contarei a ela sobre os homens do apartamento, isso não me
ajudaria em nada, certamente ela me mandaria ir à polícia, eles fariam um
boletim de ocorrência e me enviariam para casa novamente.

— Trouxe algo para você. — Comenta, enfiando a mão na bolsa,


me atirando uma caixinha branca.

Leio na embalagem: Teste de gravidez. Resultado em um minuto.

Meu estômago volta a se contorcer, faço cara feia e solto a caixinha


ao lado.

— Não quero fazer. — Nic pega a caixinha e rompe o lacre.

— Você disse que sua vida sexual estava tão parada quanto às
segundas-feiras à noite no café. As chances de dar positivo são de 50%. E
um teste de gravidez custa mais barato que uma consulta médica, pelo
menos assim podemos descartar essa opção.

— Ok. Me convenceu. — Ela dá um sorriso animado e me entrega


o teste descartado.

Caminho até o banheiro do outro lado do cômodo entre os dois


quartos e faço o xixi no palito, orando a Deus que seja apenas uma virose
das brabas.

Encaro o teste mergulhado no minúsculo potinho de xixi, vendo a


mágica acontecer. As duas linhas cor-de-rosa se formam rápido,
exclamando minha gravidez. Quero bater minha cabeça em alguma coisa,
talvez seja apenas um pesadelo, tem que ser.

Ahhhhh, Deus.
Não tenho como fazer isso sozinha, pelo menos não com meu
salário e com aqueles capangas atrás de mim, mas voltar com Caleb seria
estupidez.

Deixo o banheiro com uma expressão de derrota e minha amiga me


lança um olhar pesaroso. Me atiro no sofá aos pés dela, sem entender o que
estou sentindo.

— O que eu faço Nic?

Ela suspira e depois pressiona os lábios pensativa.

— Você tem três opções, e nenhuma é de fácil escolha: abortar —


torço o nariz com a ideia —, colocar na adoção, ou ser a família dele.

Escoro a cabeça para trás, colocando na balança essas duas últimas


hipóteses. Conseguiria seguir em frente sabendo que deixei um pedaço de
mim para trás? Ou deixaria essa criança passar pelo caos que estou
carregando apenas por egoísmo?

— Não precisa decidir agora, Perse.

— Até parece, a ansiedade vai me devorar viva.

— Independente do que decidir, você não vai estar sozinha nisso.

— Obrigada, Nic. — Ela aperta minha mão carinhosamente.

— Vai contar ao Caleb?

Balanço a cabeça positivamente.

— Sim. Se eu perder o meu sono, ele também vai. — Ela ri alto.

— Justo.
Com a cabeça latejando de chorar, nariz entupido e olhos ardendo,
eu me viro na cama, tentando encontrar o sono, que eu não terei tão cedo.
Colocar o bebê na adoção certamente me faria viver cada maldito dia na
minha vida com o pensamento no passado, questionando-me se foi uma
sábia decisão e se ele/ela, está sendo amado e cuidado.

Minha família era simples, mas unida de certa forma, até minha
mãe falecer após uma batida de carro, aos meus dezesseis anos, e o meu pai
se tornar viciado em jogatinas.

De toda essa desgraça, pelo menos consegui me formar na


faculdade, só preciso encontrar uma alma caridosa que me contrate. É
difícil ter experiência quando eles não dão a chance de provar como somos
bons.

Vou ter esse bebê, e ele terá uma mãe que posso se orgulhar.
Capítulo 04

Analiso o relatório mensal, insatisfeito com o resultado das


aplicações. Se continuarmos nesse ritmo, terei que rever as considerações
de investimento.

Chego na última página, negócios ilícitos com uma automotiva de


luxo, Alfa Romani, da Itália, é só mais uma das grandes empresas do
soberano do crime, Dário Romani. Ele se tornou meu cliente assim que
cheguei na Calábria. Descobri que o seu contador estava cometendo fraude
contábil, beneficiando a si mesmo. Enfim, o contador morreu, e eu ocupo o
seu lugar.

Uma batida soou na porta, fecho os documentos e a porta se abre,


uma cabeleira loira surge na entrada e minha secretária me dá um sorriso
educado.

— Senhor Snyder, seu advogado está aqui.

— Mande-o entrar. — Guardo os documentos na última gaveta e


me ergo quando Brandon atravessa a porta com outra pasta preta.

— Tenho boas notícias — declara, me estendendo o conteúdo.

— Veremos — digo, voltando para a cadeira.

Brandon e Maverick deram uma inspecionada no apartamento da


garota alguns dias atrás, teria ocorrido tudo bem, se ela não tivesse
aparecido de repente. Imagino o medo que ficou, para ter corrido tão rápido
após ver dois homens engravatados na sala. Com certeza achou que fosse
um dos cobradores de jogos.

Abro a pasta igual à de Judy Mayer e avisto uma jovem oposto da


qual escolhi. Ela tem grandes olhos verdes brilhantes com traços castanhos,
os lábios cheios exibem um sorriso divertido, acredito que a foto seja após
formatura, pelo capelo em sua cabeça. Os cabelos longos são pretos e
ondulados, e há pequena pintinha acima do lábio superior.

Nome: Persephone Beaumont.

Idade: 21 anos.

Altura: 1,69.

Peso: 54 Kg.

Religião: Católica.

Pais: Mortos.

Formação: Superior, na Universidade de Boston - Administração


Financeira.

Atual emprego: Garçonete – Royal Coffee Executive.

Tatuagens: Sim.

Norte-americana, nascida em Boston - Massachusetts.

Fuma, bebe e usa drogas ilícitas.

Patrimônio:
Está em branco.

— Você leu? Porque isso é o oposto de boas notícias, Brandon.


Além de ela ser apenas uma garota que não tem nem onde cair morta, tem
tudo que eu rejeitei nas outras barrigas de aluguel, mas usar drogas é o
ápice.

— Ela precisa de dinheiro, e você, do bebê, Max, confie em mim,


será uma transação fácil, deixe comigo.

Balanço a cabeça.

— Não há mais como fazer isso sigilosamente. Ela tomou algo que
é meu e eu vou recuperar do meu jeito. E, se me der licença Brandon, eu
tenho um café para tomar no Royal Coffee.

— Já sabe como vai abordá-la? Talvez seja melhor levar uma


mulher contigo, para não parecer tão intimidador.

Coço minha barba escura, ponderando sua sugestão, mas não


conheço nenhuma mulher de confiança, e as que conheço certamente não
levaria para tomar um café com a suposta mãe do meu herdeiro.

— Vou sorrir e ser educado, embora ela não mereça um pingo


dessa cortesia. — Brandon aperta os lábios, ele é um pouco mais jovem que
eu e tem a paciência que perdi no caminho da Itália para cá.

Deixamos o meu escritório juntos e, no caminho para o


estacionamento, aviso a ele que precisaremos de um novo contrato em
nome de Persephone Beaumont, deixando em aberto o valor.
Estaciono em uma viela estreita e vazia, na lateral da cafeteria, que
se localiza no térreo de um edifício executivo, deduzo. Ando até a frente
dele, entre as pequenas mesinhas marrons de madeira ao lado de fora,
avistando a fachada de vidro; no seu anterior, há inúmeras luzes de led na
cor quente, penduradas em um teto alto.

Atravesso as portas da cafeteria e me aproximo do balcão escuro


que fica abaixo de um mezanino, com porta-copo de vidro. Não vejo
Persephone no ambiente, espero não ter errado de cafeteria. Aproveito que
tem apenas meia dúzia de clientes e me sento ao balcão, e, quando estou
abrindo o meu paletó azul-carbono, a mãe do meu filho se ergue do outro
lado com uma caixa de leite.

Sua face apresenta uma expressão de cansaço, as semelhanças com


a foto que vi em meu escritório são pequenas. O cabelo dela está preso em
um coque frouxo, com pequenas mechas soltas em frente a sua face, e ela
assopra uma para o lado enquanto me fita com desinteresse.
Certamente, não sou nada diferente dos clientes que costuma
atender, visto que é um café executivo.

— Já sabe qual pedir? — Persephone pergunta com a voz casual e


corta contato visual.

Ela gira a tampa do leite ainda em minha frente, suas unhas são
curtas e a tinta preta está começando a descascar. E, nas falanges do meio
em seus dedos, capto brevemente pequenas tatuagens: uma cruz, uma rosa,
um raio, um trevo...

— Não — falo, ela desvia o olhar para o lado e me alcança um


cardápio do café.

— Me chame quando escolher. — Ela se afasta, puxando outro


cardápio e se abana com ele, mesmo que o ambiente esteja bem refrigerado.

Será que ela já sabe a respeito da gravidez? Por isso esse


abatimento, ou por todo o restante que li naquele dossiê?

Grrr, tenho que parar de dar meia-volta, ela visivelmente está


péssima nessas condições e precisa começar cuidar da gravidez de forma
correta.

Na hora em que vou chamá-la, uma morena de cabelos trançados


entra no espaço do café usando o mesmo avental preto que Persephone.

— Você está bem? — sua colega de trabalho pergunta, colocando a


mão na testa dela. — Está suando frio — afirma, e Persephone sorri,
balançando a cabeça.

— Cal está chegando — responde, soltando o cardápio e


encontrando o meu olhar.
— O senhor já escolheu? — pergunta, fixada em algo além de
mim, e, então, paralisa no lugar. Olho por cima do ombro e tem um cara
jovem, loiro e alto diante da entrada.

— Vá lá, eu termino aqui — sua colega fala, abrindo um largo


sorriso em minha direção, mas tudo que consigo fazer é seguir com o olhar
o casal caminhar para um corredor na lateral do café.

— Já escolheu o seu café? — pergunta.

Olho para o cardápio e decido pelo primeiro da lista, ela assente,


me dando as costas. Espero um momento e depois levanto, jogando uma
nota de vinte dólares em cima do balcão, e caminho com passos largos na
direção daquele corredor.

Ando até o fim, passando pelos banheiros e uma área restrita,


alcançando uma porta entreaberta de ferro no fim, e escuto as vozes deles.
Nunca fiz o tipo bisbilhoteiro, tenho funcionários para isso, mas não resisto,
permanecendo em silêncio para ouvi-los.

— Isso é impossível, Persephone.

— Você é o pai, ou eu sou a porra da Virgem Maria, Caleb! — ela


explode, irritada, se apoiando em um contêiner de lixo.

— Nós não transamos há meses. Eu não sei onde você quer chegar
com isso, mas preciso mais que um teste de farmácia para acreditar que esse
filho é meu.

— Vai se foder, Cal. — Ela o empurra para trás, espalmando o seu


peito, o afastando.
— Pare! — ele rosna com irritação e a segura pelos pulsos,
contendo a fúria dela, nessa hora, abro a porta, chamando atenção do Caleb,
que assume uma postura rígida.

— Solte a garota e saia daqui — aviso em tom inflexível,


recebendo atenção dela. O garoto cerra um par de olhos bem azuis na minha
direção e se afasta com as narinas infladas.

Persephone me olha com lágrimas contidas, ela leva uma mão ao


coração, como se estivesse tentando contê-lo ali dentro.

— Você está bem?

— Eu não sei — sussurra com um olhar distante, ela cambaleia


para perto dos contêineres de lixo e, antes que caia no chão, a pego em
meus braços.

Ela é leve feito uma pluma. Sua cabeça pende para trás, exibindo
um queixo fino, e os olhos da garota tremulam, mas não se abrem.

O que eu faço com você, Persephone?

Suspiro, vendo o meu carro estacionado a alguns metros de


distância.
Capítulo 05

Desperto ainda sonolenta com a sensação de formigamento nos


dedos das mãos, então, percebo que estou deitada de bruços em uma cama
espantosamente macia.

Me sento com os pensamentos lentos, e meu cérebro, tentando


processar que lugar é este, parece um quarto de mansão, paredes claras em
tons de rosa-matte e quadros com molduras douradas fixado nelas, além de
uma grande janela vitoriana saliente exibindo um céu acinzentado pronto
para a chuva, quatro poltronas sofisticadas e uma mesa de centro ao meio,
à sua frente.

Desço da cama, sentindo o tapete branco felpudo em meu pé, e


avisto meu all star atirado no chão, perto de uma porta aberta, dando vista
para um amplo espelho, lembrando-me de um closet.

Onde diabos eu estou?

O meu coração acelera enquanto me abaixo e apanho os sapatos,


ando até a janela, vislumbrando um jardim e o restante do que parece ser
uma mansão.

Procuro o meu telefone nos bolsos do avental da cafeteria,


recordo-me da briga que tive com Caleb e... Deus, aquele homem que
mandou Cal ir embora, ele...

— Senhorita Beaumont. — Tenho um sobressalto quando ouço


uma voz sólida nas minhas costas.
Me viro com a sensação de estar em um filme de terror, por mais
que o ambiente inteiro grite o contrário.

O homem do café está parado diante de uma porta, ocupando quase


a passagem inteira com seu corpo robusto e feições duras, e olhos escuros
como uma obsidiana negra me fitam com uma emoção que eu não consigo
descrever, mas é o suficiente para fazer um arrepio atravessar minha coluna.

— Não se aproxime! — exclamo, segurando meus tênis com força


quando ele dá um passo em minha direção.

Engulo em seco, buscando uma saída que não tenha que passar por
ele, mas não há, e ele sabe disso. Ele expira com força e se escora no
batente da porta, coçando sua barba tão escura quanto seus cabelos, na
curva do maxilar.

— Quem é você e que lugar é esse? — exijo com a voz estridente.

— Você desmaiou, devia se alimentar direito — diz e seus olhos


percorrem o meu corpo. Contenho a vontade de berrar para que ele pare de
me analisar.

— Me chamo Maxwell Snyder — menciona, entrando no espaço e


fazendo algo forte se agitar dentro de mim, eu conheço esse nome, Boston
inteira conhece esse nome. Balanço a cabeça em negação, deve ser uma
piada de mau gosto, ou realmente um pesadelo.

Ele, que diz ser o homem mais rico do estado de Massachusetts,


destampa uma bandeja clara, ao lado de um monitor fixado no fundo de
uma prateleira branca. Olho brevemente para o lanche e depois encontro o
seu olhar.
— Coma — fala, e soa como uma exigência.

Mexo a cabeça em negação.

— Por que me trouxe aqui? — pergunto com os sentimentos


entalados em minha garganta.

Maxwell suspira, pegando um controle preto e ligando o monitor;


na tela, aparece a imagem de uma sala de espera.

— Esse lugar te lembra alguma coisa? — indaga, se afastando para


poder enxergar melhor, deduzo.

Balanço a cabeça em negação e posso ver a irritação tomar conta


da sua face, Max dá play e um vídeo começa a rodar. Dentro de instantes,
eu apareço na tela correndo, exasperada. Atravesso uma porta de madeira
escura e não preciso assistir ao resto para me recordar daquele dia, quando
o grandão de cabeça raspada entra em ação. Max pausa o vídeo.

— Estou aqui porque não paguei a consulta? — pergunto, e os


lábios do homem se curvam em um riso prepotente que me dói o estômago.

— A consulta é o menor dos seus problemas Senhorita Beaumont


— entoa, e não gosto de como o seu tom de voz saiu, mordaz.

Tento em vão puxar na memória o que ocorreu naquele dia, estava


sob efeito da maconha. Além dos homens atrás de mim e o exame que fiz,
eu não consigo lembrar de mais nada relevante.

— Você fingiu ser Judy Mayer e passou por uma inseminação


artificial — esclarece.
— O quê?! — Minha voz afina enquanto processo o que eu acho
que acabei de escutar.

— Persephone, o bebê que está esperando é meu. — Um riso me


escapa, mesmo sentindo cada partícula do meu corpo se torcer em agonia.
Levo as mãos na cabeça porque, de alguma maneira, acredito que vou
conseguir colocar os pensamentos em ordem.

Oh, Deus... isso até que faz sentido devido ao meu histórico de
transas com Caleb.

Encaro o homem à minha frente, sua expressão é inescrutável, ao


contrário de seu olhar feral, que não faz questão de esconder a escuridão
que há nele.

O que vai acontecer agora? Penso e tenho medo da resposta.

Por que ele me trouxe até aqui? Podia ter me levado de volta ao
café, temos sala de descanso lá.

— Não vou machucá-la, senhorita Beaumont — profere, mas sua


voz e expressão soam o contrário.

Estreito os olhos, assentindo, mesmo não confiando nele. Eu ferrei


com o que devia ser um dos dias mais importantes da vida dele, e julgo que
ele só não fez picadinho de mim porque estou carregando seu filho... meu
filho. Argh, nosso filho? Ah, Deus!

— Eu lamento de verdade, e não sei o que posso fazer para corrigir


isso, mas preciso ir, não posso perder o meu emprego — explico, calçando
o tênis, e porque não confio em você, penso. — Podemos nos encontrar no
café mais tarde, para conversar — sugestiono, encontrando o seu olhar.
E novamente sua expressão não se altera em nada.

— Não. Você pegou algo que é meu e ficará sob minha posse até
eu tê-lo de volta.

O calor inunda o meu corpo quando compreendo o significado de


suas palavras. Dou um passo atrás e me agarro na escora da poltrona com
força, pois meus joelhos começam a bambear.

Ele não tem esse poder para me manter sua prisioneira, muito
menos tomar o bebê de mim. Tem? A sensação é de que engoli minhas
palavras e estou começando a sufocar com elas.

Olho para o homem, e não vejo insegurança ou temor em suas


feições, apenas especulação.

— Meu advogado virá conversar com você — comenta como se


estivesse falando do clima e não sobre me manter sob sua posse.

Balanço a cabeça, horrorizada.

— Não! — exclamo. — Isso não vai acontecer — rosno


entredentes e não sei de onde arranjo coragem, mas caminho na direção
dele com passos largos e determinados.

Paro na sua frente, mal alcançando o seu peito, tenho que esticar o
pescoço para olhá-lo. Ele permanece diante da porta, sua expressão é
ocupada por algo que eu devia temer: maxilar rígido, narinas dilatadas e um
olhar predatório.

— Acredite, você não vai me querer aqui — digo o mais áspero


que consigo e tento fazer a volta nele, o ouço suspirar e o homem passa a
mão em volta da minha cintura, me impedindo de sair. Me debato como um
peixe fora d’água para me livrar de seu toque.

— O que eu quero, ou você, não faz diferença agora. Judy passaria


a gravidez em Hamptons, mas como não confio em você, ficará nesta casa
comigo, longe das drogas e do álcool.

Franzo o cenho, incompreendida.

— O que você pensa que eu sou?

— A barriga de aluguel do meu filho. — Um riso debochado e


desacreditado percorre meus lábios. — Se meteu onde não devia, senhorita
Beaumont, apenas assuma as consequências pelos seus atos irresponsáveis.

Suas palavras me atingem em cheio, engulo o desconforto subindo


pela minha garganta e, mesmo assim, derramo lágrimas em abundância.
Ando até a cama com a impressão de que vou desabar a qualquer momento.

Respiro fundo, sentindo o desespero puro e profundo dominar o


meu coração. Solto um soluço e, de esguelha, o vejo se aproximar, estendo
o braço para que permaneça onde está, sem conseguir olhá-lo.

Não preciso da pena dele, de nada.

— Eu só quero o bebê em segurança, Persephone. — Ele tenta soar


ridiculamente casual, mas não consegue. — No vídeo da clínica, estava
fugindo daquele homem, foi por isso que entrou no consultório, não foi?

Assinto. Malditos homens!

— Só peço que leia o contrato, depois conversamos — pede,


persuasivo.
— Vai me deixar ir, depois que eu ler?

Max balança a cabeça em negação, o que faz minhas lágrimas


duplicarem, desvio o olhar, fechando as mãos em punhos. Se ele pensa que
vou acatar suas ordens, ele devia conhecer melhor a mãe do filho dele.

Maxwell deixa o quarto, mantendo a porta aberta, o primeiro


pensamento é sair correndo, mas não farei isso, essa casa deve ser enorme e
ter empregados e seguranças que me entregaram para ele, assim que me
vissem.

Levanto-me e tiro o avental, me sentindo agoniada com ele, seco as


lágrimas que insistem continuar rolando e caminho até a janela vitoriana. É
alto demais para pular, mas, se eu usar algo para descer, talvez não nos
mate, fugindo desse lunático filho da puta.

Me viro para o quarto, se eu tivesse um telefone, podia ligar para


polícia ou para Nicole, penso, procurando por qualquer coisa eletrônica
além do monitor, Nic certamente vai perceber que sumi depois da conversa
com Cal e vai procurar por mim. Respiro fundo, preciso acreditar nisso.

Entro no closet, que está vazio, nada que possa me ajudar a pular a
janela. Arfo com irritação, desejando desmontar esse cômodo inútil. Volto
para o quarto com o coração acelerado e há um homem de terno cinza-
chumbo diante da porta, segurando uma pasta preta.

Prendo meus olhos nos deles, azuis-escuros quase gentis, cabelos


loiros dourados fixados para trás por algum spray e os lábios tentam
fracassadamente exibir um sorriso.

Ando até o meio do quarto, me sentindo um animal de zoológico,


presa e observada por abutres.
Estreito os olhos, o analisando também, e de repente recordo-me
dele em meu apartamento com o outro homem de terno e cara fechada.

Ah, Cristo! Aquele boçal estava mesmo atrás de mim.

— Vai ficar parado aí, me olhando? — pergunto, ríspida.

Os lábios do homem se comprimem, e ele tenta, de forma


medíocre, relaxar. Como se eu fosse puxar uma faca de alguma parte do
meu corpo e picotá-lo nesse quarto.

— Me chamo Brandon Crawford. — Mantenho minha cara de


indiferença, nada que eles me digam me farão mudar de ideia em relação a
ficar aqui ou dar o meu bebê. Por mais que ele não tenha sido feito de forma
convencional, estou gerando-o, terá o meu sangue e 50% do meu DNA, e
aquele imbecil terá que engolir isso, gostando, ou não.

— Trouxe o contrato para você...

— Não vou ler nada, ou assinar, sem a opinião de um advogado —


o interrompo, e o homem assente.

— Isso é muito inteligente. — Estreito os olhos. — Estou aqui para


esclarecer suas dúvidas. Max pediu que eu fosse imparcial, então, tudo que
me perguntar responderei com a mais sincera verdade.

Solto um riso desacreditada: eles pensam que vou cair na lábia


deles?

— Isso que ele está fazendo é sequestro, não é? — pergunto, e a


expressão do homem endurece.

— Sim.
— Ele vai me deixar ir embora só depois do parto?

— Sim.

— O bebê vai ficar com ele?

— Sim.

Balanço a cabeça em negação, freando minhas lágrimas no canal


lacrimal.

— A única forma de ele se livrar de mim é me matando — digo,


me afastando e me sentando na cama com a sensação de que estou vivendo
vários dias em um só.

— A situação é complexa, senhorita Beaumont. Você se passou por


outra pessoa, e isso é crime, não é dos mais graves, mas, como gerou danos
irreversíveis, o Max pode processá-la.

— Então é isso, eu me afasto, ou vou presa — afirmo, balançando


a cabeça, ele vai me prender por oito meses nessa casa, mas essa parte é
irrelevante, certamente estará no contrato para que eu não possa usar contra
ele futuramente, deduzo enojada.

— Tem outra forma — diz, olhando em direção à porta, parece que


conferindo se há alguém ali. — Aceite os termos, passe a gravidez aqui e
conquiste a confiança dele.

Minhas lágrimas escorrem com a ideia de ter que ficar presa aqui,
sem saber como será o meu destino e o do bebê quando ele nascer. Se Max
vai me aprisionar por todo esse tempo, como posso acreditar que ele ficará
compassivo no fim?
Seria estúpida se apostasse nisso.

— Escute... — diz, chamando a minha atenção —, entendo que


isso seja assustador para você, mas também é para ele, que planejou ter um
filho sozinho — o advogado fala de Max como se fossem amigos.

— Ele não tem uma esposa? — pergunto.

Brandon balança a cabeça.

— Max é viúvo.

Sua resposta abre um leque de perguntas em minha cabeça, mas


estou esgotada demais para me importar, ou para pensar em mais coisas
nesse momento.

— O contrato é pequeno e simples de entender, eu posso ler com


você, se quiser — oferece, se aproximando.

— Deixe na cama e saia. Sou formada em administração


financeira, acredito que consiga ler a porra de um contrato sozinha.

O homem assente, e a maneira que ele consegue ser tão impassível


me irrita, ele solta o contrato na cama e uma caneta preta e dourada de
ferro.

Grrr, caneta pomposa, de riquinhos de merda!

Espero o advogado sair e me deito para trás, vendo o teto ficar


turvo pelas lágrimas contidas.

Ah, Deus, como eu queria que esse bebê fosse de Caleb, era
preferível me foder lá fora sozinha a com esse completo estranho que quer
me tomar a paz e a única coisa de importante que tenho nessa porcaria de
vida.

Eu não tenho ninguém, parece egoísmo querer o bebê, sendo que


ele teria uma vida melhor aqui, repleta de oportunidades e sonhos que
poderá realizar.

Fecho os olhos com força, expulsando as lágrimas, e retiro o


documento da pasta ainda deitada. O título em negrito me chama atenção,
fazendo meus olhos se encherem de água novamente.

Contrato de Gestação de Substituição

Começo a ler a única folha, sentindo cada pulso do meu coração


cada vez mais forte. Os termos são simples como o advogado falou e um
tanto óbvios demais.

Não preciso de um contrato para não fumar, usar drogas ou beber


durante a gravidez, e, sim, é evidente que terei acompanhamento obstétrico
no decorrer da gestação, mas não poder transar é uma novidade. Passo meus
olhos por cima do restante das informações.

As partes em acordo concordam que a gestante Persephone


Beaumont ficará sob os cuidados do contratante, residindo na Mansão
Snyder, até o fim da gravidez.

Arfo, honestamente não sei por que estou perdendo o meu tempo
lendo isso, eu não vou assinar!

A barriga de aluguel terá que renunciar a suas obrigações


maternais ao nascimento da criança.
Vai sonhando, jogo o papel longe quando enxergo um cifrão com o
campo de valor vazio.

Desgraçado! Ele acha que vou me vender?

Se Maxwell estivesse disposto a me deixar participar da vida do


bebê, eu assinaria esse caralho de contrato sem pedir nada em troca.
Balanço a cabeça, espantando as lágrimas.

Está na hora de deixar Boston, sei que, nessa luta pelo bebê, não
tenho chances, Max é poderoso e influente, uma fera nesse mundo, onde
mulheres como eu não passam de pobres coitadas aos olhos de terceiros.

Só preciso saber como sair daqui.


Capítulo 06

Solto o meu copo vazio na mesinha do escritório e, em vez de


preenchê-lo, tomo direto do bico. Esse dia já exigiu demais de mim para
continuar com as boas maneiras.

Sequestrei a mãe do meu bebê.

Tomo outro gole do meu Macallan e faço cara de nojo, a ideia de


prender a garota na minha casa soa tão ruim quanto o gosto desse uísque de
especiarias. Sento-me em uma poltrona do escritório com uma inquietação.

Quando ela desmaiou naquela viela, a trouxe para cá, sem a


intenção de raptá-la, mas, no caminho, eu me peguei pensando que não é
nada mais justo, ela tomou algo de mim, e eu vou recuperá-lo do meu jeito.

Avisto Brandon no corredor, andando em minha direção. Espero


que ele tenha conseguido convencê-la a assinar o contrato. Depois que Eva
se foi, nunca mais desejei uma família, e, se Persephone persistir em ficar
com o bebê, acabaremos nos tornando uma e terei duas pessoas para tomar
conta, visto que a garota tem a palavra confusão grifado na testa.

Brandon entra e se senta na minha frente com uma expressão não


muito melhor que a minha.

— Ela não assinou, não é?

— Nem me deixou ler.

Solto um riso pelas narinas desacreditado e um tanto


impressionado.
— Ela não se intimida fácil, tem personalidade forte e é inteligente.

— Nossa, que sorte a minha — escarneço, roçando os nós dos


dedos em meu queixo, buscando uma saída que não seja ficar ligado a essa
menina.

— E se oferecermos liberdade em troca da assinatura? —


sugestiona.

Mexo a cabeça em negação.

— Ela foge.

— Ela não tem dinheiro.

— Pior ainda, fugiria sem dinheiro.

— Só resta uma opção, Max, processá-la — Brandon fala como


meu advogado, mas sei que ele não aprova essa ação. A expressão no rosto
dele quando disse que manteria ela sob minha posse até o bebê nascer é
impagável.

— Então, serei visto como o monstro que colocou a mãe do


próprio filho na cadeia, isso não cairia bem para os negócios.

— Não temos mais opção, alguém terá que ceder.

— Ainda temos uns sete meses e meio, comece a pensar. — Um


trovão estronda lá fora, Brandon suspira e fica em pé.

— Se precisar, me liga.

Assinto, e ele me deixa só.


Me levanto e solto a garrafa de uísque na mesa, já anoiteceu e, pelo
barulho, chove lá fora. Vou pedir para Nina preparar algo saudável para a
dona encrenca, talvez esteja mais calma e com fome. No caminho até a
cozinha, olho de relance para o andar superior, está silencioso demais lá em
cima. Está certo de que a mansão é extensa, mas o silêncio é tão grande que
nem parece haver a presença dela.

Dou a volta e subo para o andar superior, a comida pode esperar e


ando na direção dos quartos. A casa tem três suítes e ela ficou com uma,
para se sentir confortável e ver que não tem nada a temer.

Podia ser pior, podia tê-la jogado no porão, mas acredito que ele
precise de uma dedetização.

Enxergo a porta do seu quarto de madeira vermelho-escuro, com


arabescos incrustados nas extremidades, dou um toque suave na porta e
tento abri-la a seguir, mas está trancada.

— Persephone — chamo e aguardo, não quero ser mais invasivo,


porém, a paciência é uma das coisas que perdi já faz tempo. — Se não abrir,
eu vou entrar de qualquer jeito — aviso, procurando a chave extra no
paletó.

Por algum motivo, previ um comportamento assim, penso,


colocando a chave na maçaneta e abrindo a porta. Entro no cômodo, e não a
vejo, apenas a cama desfeita e sem o cobre-leito e o lençol.

Não é possível, penso, vendo a janela aberta. Meu sangue infla a


minha cabeça na velocidade que meu coração acelera. Ando até lá, sentindo
as rajadas de vento e da chuva percorrer o quarto e encontro o lençol preso
em um dos ferros.
Desgraçada, maluca!

Olho para baixo e não consigo decifrar o que sinto quando vejo a
garota pendurada no fim da corda improvisada, ela está distante do chão
para pular, aposto que não pensou nisso quando teve esse caralho de ideia.

— Persephone! — berro, ela olha para cima com o cabelo colado


no rosto pela água da chuva e aponta o dedo do meio para mim.

Ah, Deus, se ela não se matar, eu a mato!

— Eu vou descer para pegar você! — exclamo, ela olha para baixo
e pula, caindo como um gato de quatro.

Filha da mãe!

Persephone corre disparada em direção às árvores do extenso


jardim, e faço o mesmo, descendo para o andar superior, sentindo a
adrenalina explodir em cada célula do meu corpo como pólvora no fogo.

Tiro meu paletó quando chego ao lado de fora e corro na direção


do jardim. Se Persephone tem coragem de pular daquela altura, não sei mais
o que devo esperar dela. O porão me parece uma boa ideia agora.

A chuva forte me encharca em segundos, reprimo a raiva em um


nível aceitável, porque, quando eu a encontrar, não sei o que serei capaz de
fazer com ela.

— PERSEPHONEEE! — berro alto e estridente, chegando nas


árvores. Eu vou amarrá-la ao pé da cama quando encontrá-la; olho em
volta, está um breu, o pátio é iluminado apenas por pequenos relâmpagos.
— Não há como fugir de mim, Persephone, e você vai descobrir
isso da pior maneira.

Paro embaixo de uma árvore e passo as mãos pelo meu cabelo para
tirar o excesso d’água. As minhas vistas já se acostumaram com a escuridão
do pátio, e as dela também, aposto que está escondida em algum canto
batendo o queixo de frio.

— Esse clima não é bom para o bebê. — Recorro ao seu lado


materno, se Persephone quer tanto essa criança, deve se preocupar com ela,
ou não, por ser tão estúpida e fugir por uma janela, podia ter se matado.

Santo inferno! Quando penso que terei que aguentar mais disso por
meses, a fúria percorre meu corpo como uma onda incontrolável,
pulverizando todo o meu discernimento.

— PERSEPHONEEE! — rosno, e um trovão estronda, tremendo o


gramado, então vejo um vulto percorrer a extensão do pátio.

Achei você, pequena monstrinha.

Aperto o passo em sua direção, e estamos nos fundos da mansão,


onde não há tantas flores e árvores. Consigo vê-la correr a céu aberto.
Persephone se aproxima das grades do portão e, com esforço, ela pisa na
primeira barra de ferro, elevando o seu corpo a alguns centímetros.

Ela olha para mim, com uma expressão raivosa, enquanto seu pé
tenta alcançar a outra barra de ferro.

— Não se aproxime! — vocifera e tenta me chutar quando não a


obedeço.
— Você vai entrar andando ou comigo te arrastando, escolhe! —
Meu tom de voz não sai diferente do dela.

— Você pode ir para o inferno que não vou entrar com você — diz,
colada à grade.

— Escolha errada, monstrinha. — Me aproximo e seguro em seu


tornozelo quando ela tenta me acertar.

Grudo meu corpo no dela para que não possa me chutar, e a garota
se debate ferozmente. Agarro em seus punhos e tento puxá-la, enquanto ela
pragueja para meio mundo o que pretende fazer comigo.

Suas mãos estão firmes de modo que não consigo soltá-la sem
machucá-la. Deslizo uma mão por sua axila, e Persephone se torce pela
cócega inesperada, e seus dedos se soltam do ferro, então, ela tenta me dar
uma cotovelada, mas a desço e a prendo contra o meu corpo com força,
contendo toda a sua fúria. Sinto o seu coração acelerado bater contra o meu
punho, certamente isso não fará bem para ela e nem para o bebê.

Depois de um momento, ela relaxa como se tivesse perdido as


forças, sua cabeça cola na altura do meu peito, e, mesmo assim, consigo
sentir o perfume do seu cabelo, chiclete.

— Vamos entrar — digo, aliviando o aperto em seu peito.

— Vá se foder — sibila.

Inspiro com força e a viro para mim, Persephone levanta o queixo,


encontrando o meu olhar, sua íris verde quase sumiu, ocupada por algo
profundo e cru e outra coisa que não consigo definir.
Me abaixo e jogo-a por cima do ombro, ela não se debate, nem ao
mesmo tenta resistir, será que aceitou o seu destino? Duvido, deve estar
recuperando o fôlego e tramando novamente.

Alcanço a entrada da casa, e Maverick faz de conta que não me vê


e continua fumando o seu cigarro escorado contra uma pilastra.

Subo direto para o meu quarto e solto Persephone no chão, ela dá


três passos para trás, se afastando e olhando em volta, parecendo um
pintinho molhado e aterrorizado.

— Tome um banho, vai ficar doente se continuar molhada. — Seus


olhos encontram os meus, vermelhos e úmidos.

— Me deixe ir, por favor — implora com lágrimas nos olhos.

Respiro fundo e balanço a cabeça em negação.

— Assina o contrato, e amanhã pela manhã conversamos sobre


você sair da minha casa e talvez residir em um apartamento mais seguro, no
centro da cidade.

Ela balança a cabeça e as lágrimas escapam em abundância,


Persephone funga, levando uma mão ao peito, sua expressão de ruína
parece uma farpa espetando meu peito, provocando um tipo de sensação
que eu não tinha há muito tempo.

Deixo o quarto, trancando-a lá dentro, me sentindo frustrado e


impotente com toda essa merda de situação. Desço os curtos degraus para o
segundo andar e entro em uma sala aleatória, com os pensamentos
nebulosos, bato a porta com força atrás de mim, e um quadro cai da parede.
Ligo a luz, revelando o estúdio de pintura da Eva, várias telas em
branco encostadas nas paredes e alguns cavaletes cobertos por um fino
lençol, escondendo o que quer que ela tenha pintado antes de decidir tirar a
própria vida. Vou pedir que removam toda essa parafernália, o fantasma
dela já me atormenta todas as noites em meus sonhos, não preciso de mais
lembranças. Odeio essa casa, odeio tudo que ela me faz lembrar. Eva.

Desço para o primeiro andar e peço para Maverick comprar


algumas roupas para Persephone, depois ando até a cozinha e minha
governanta, que trouxe da Itália comigo, está preparando o jantar.

— Nina, leve o jantar para casa, mas antes me faça umas


panquecas e um suco de laranja — peço, abrindo a minha camisa molhada
colada ao corpo.

Ela sobe seus olhos astuciosos pelo meu torso e franze o cenho,
confusa.

— Nem pergunte. — A senhora sorri.

— Fará o jantar à mesa ou devo pôr em uma bandeja?

— Bandeja — aviso.

Subo para outra suíte, onde meu primo Joseph está acomodado.
Quando decidi me mudar de Boston, eu não conseguia ficar em casa e
tampouco vendê-la. Joseph se ofereceu para ficar, na época, me pareceu
uma boa ideia, eu não imaginava as orgias que ele pretendia fazer aqui.

Entro em seu quarto, uma completa bagunça, roupas por todos os


lados, Bong, maconha e envelopes de camisinhas espalhadas na mesinha de
centro.
Deus, que porqueira!

Caminho até o closet e está ok, as roupas, pelo menos, estão nos
armários. Escolhi uma camisa e uma calça de moletom preta e procuro
outro quarto para tomar banho.

Depois do banho, passo na cozinha e pego a bandeja com as


panquecas e o suco, mesmo duvidando que ela queira comer. Se ela pelo
menos entendesse que não desejo seu mal, que isso é tão complicado para
mim quanto para ela.

Abro a porta do quarto e está parcialmente escuro, a primeira


impressão que tenho é que ela está aprontando alguma coisa, porém, a luz
do banheiro está acesa e um facho de luz ilumina a grande cama de casal,
expondo Persephone encolhida, usando uma das minhas camisas. Ela está
enrolada no edredom e seus cabelos pretos cobrem boa parte das suas
costas, e ela nem parece respirar de tão imóvel que se encontra.
Solto a bandeja no armário e me sento em uma poltrona reclinável
entre a cama e a porta. Olho para ela, pensando que teremos que entrar em
acordo logo, não vou poder vigiá-la 24 horas por dia, e mesmo que ela
assine o contrato, tenho certeza de que, na primeira oportunidade que tiver,
dará o fora daqui.

Escoro a cabeça para trás, vendo que esta será uma longa noite.
Capítulo 07

Estou consumida pelo cansaço e com dor no corpo, na cabeça e nas


palmas da mão. Os meus olhos queimam como duas esferas pegando fogo,
mas não me entrego ao sono.

Quando o relógio digital da cômoda marca duas horas da manhã,


me viro na cama, sentindo meus membros dormentes e abro os olhos
vagarosamente com medo do que posso encontrar. A luz do banheiro ainda
permanece acesa, de forma que consigo enxergar bem o psicopata que me
mantém presa, esticado em uma poltrona cor de creme, dormindo como a
porra da Bela Adormecida.

Deus, que vontade de matá-lo com minhas próprias mãos. Max não
vai me deixar ir, assinando ou não aquela porcaria de contrato, não sei o que
faz ele pensar que vou facilitar minha estadia nesta casa.

Estava tão perto de fugir quando alcancei a grade, reflito, me


sentando na cama e vendo seus olhos tremerem, ainda fechados, será a
consciência lhe dando pesadelos?

Grrr. Duvido que ele tenha consciência.

Meu pé toca no chão, enviando picos de ansiedade por todo o meu


corpo. Se conseguir um telefone, posso ligar para a polícia, eu não tenho
ideia do endereço, mas acredito que apenas o nome dele já sirva de alguma
coisa, só é capaz dos policiais não acreditarem, inferno!

Preciso tentar de qualquer forma.


Puxo a camisa dele para baixo, ela se ajusta, ficando na altura dos
meus joelhos. Odeio me sentir tão exposta, mesmo que tenha colocado a
mesma calcinha, o que me pareceu mais adequado do que ficar seminua na
cama de um estranho.

Por todas as razões e pela forma que ele me olha com nojo e
indiferença, não tenho medo de ele tentar algo pior que me sequestrar, só de
ele nunca mais deixar eu ver o meu bebê. Porra, ele nem nasceu, e a
sensação é de que Max quer arrancar um membro do meu corpo à força.

Faço a volta na cama, pisando em um tapete felpudo, quase mais


macio que o meu colchão. Enxergo outra bandeja de comida e faço cara de
nojo, mesmo sentindo a fome abraçar o meu estômago.

Olho para Max em seu sono agitado e penso que não tem como ele
ser parcialmente do bem. Acredito que, nesse quesito, não exista um meio-
termo, mesmo me trazendo comida em bandeja ou me colocando em
melhores quartos, isso não vai amenizar o que ele está fazendo comigo.

Me aproximo da porta e giro a maçaneta, escutando o meu coração


na cabeça, causando um estardalhaço em meus pensamentos. A porta abre
facilmente, fazendo-me pensar que a merda ainda está por vir.

Atravesso, mas não me dou o trabalho de fechar, está muito escuro,


e não sei para qual direção seguir. Se eu encontrar o escritório ou o meu
telefone, consigo pelo menos enviar uma mensagem a Nic.

Ando por um corredor escuro com portas de ambos os lados,


continuo caminhando até que a claridade vai aumentando e alcanço uma
área aberta próxima ao porta-corpo de ferro.
Lá embaixo, consigo ver as luzes acesas do pátio entrando pelas
janelas de vidro. Espio o andar inferior, a casa é enorme, e de onde estou, só
vejo 50% dela, a cozinha e o que parece ser uma imensa adega de vinho que
divide a sala de jantar com o início da sala de estar.

Caminho em direção à escada, passando por várias estantes


anexadas a paredes, com objetos inúteis de enfeites, parece mais uma casa
de mostruário.

Quando chego na ponta da escada, enxergo uma porta aberta com o


que parece ser um escritório. O meu coração explode de alegria e
adrenalina, não perco mais tempo e corro para dentro dela.

Nem me presto a dar a volta na mesa, procuro pelo telefone fixo na


grande mesa escura, e o encontro atrás de uma ampla tela de computador.
Puxo do gancho e o som que faz indicando que tem sinal é música para os
meus ouvidos.

Meus dedos apressados discam o número 911 e meu coração quase


se fragmenta com a intensidade que bate quando ouço a chamada iniciar.

Ah, Deus, obrigada!

— 911, onde é sua emergência? — uma voz masculina profere, me


desorientando.

— Eu não sei o endereço, fui sequestrada, ele se chama Maxwell...


— Mal termino de pronunciar o nome e o bloco firme de músculo as
minhas costas encerra a chamada.

A minha cabeça cai para frente, frustrada e com raiva, a fúria


distorcida controla minhas ações. Quando dou por mim, estou jogando
longe tudo o que alcanço de cima da mesa.

Os braços de Max se fecham em torno do meu tronco e me afastam


da mesa, quase me tirando do chão, enquanto me debato e o arranho onde
alcanço.

Voltamos para o quarto, ele me joga na cama com força e de


barriga para cima, depois bate à porta como se quisesse arrancá-la das
dobradiças, fazendo meu coração afundar no peito.

Maxwell se vira para mim com uma expressão animalesca, aqueles


olhos sombrios e perigosos me devoram milimetricamente, olho para baixo
e vislumbro a camisa que visto enrolada acima da barriga. Um arrepio
indesejado percorre minha espinha enquanto tento puxar o tecido para
baixo. Um sorriso prepotente surge na curva dos seus lábios, provocando-
me cólicas.

Max anda na minha direção e meu corpo treme, enviando-me


sinais para correr, me viro de quatro e tento engatinhar para fora da cama,
mas sou agarrada pelo quadril e arrastada de cima do colchão.

— Me larga! — grito, presa em seus braços novamente.

— Acho melhor você parar com essa histeria, antes que algo de
pior te aconteça — murmura em meu ouvido, e sua maldita barba me
arrepia inteira.

— Está ameaçando a mãe do seu filho?

— Se considera isso uma ameaça, eu adoraria viver no seu mundo.


— Max me vira bruscamente para ele e me arrasta em direção ao closet,
tento frear meus pés no chão, mas ele parece imbatível com o seu tamanho
e força.

— Vai me prender aqui? — quero saber, vendo-o abrir uma gaveta


de gravatas, ele ignora minha pergunta e pega uma de seda cinza-chumbo.

— Não. — Sua voz é mordaz.

Maxwell me solta e passa a gravata em volta do punho, olho em


direção à saída, notando seus olhos o tempo todo em mim.

— Nem tente — brada, pegando em meu punho de repente e


passando a seda em volta dele. Puxo meu braço quando me dou conta do
que ele está fazendo, nos amarrando.

— Você é o homem mais doente que eu conheço.

— Isso vindo da garota que fez o caralho de uma inseminação


achando que estava em uma consulta ginecológica. Só podia estar chapada
— diz, vermelho de raiva, e parece que entrarei em erupção com o calor
crescente em meu corpo.

— Queria estar chapada agora — profiro, carregada de


menosprezo, e dou as costas para ele.

Voltamos para o quarto, paro em frente à grande cama, mas ele


segue em minha frente, me forçando a andar. Max se deita no colchão de
barriga para cima e desliza até a outra ponta, deixando o braço esticado,
enquanto permaneço em pé olhando para ele.

— Não tem medo que eu te mate enquanto dorme? — Ele se vira


para mim, puxando a coberta até a altura da cintura.
— Você não é assassina, Persephone.

— E você? — Percebo que minha pergunta o deixa pensativo.

— Não — responde, e sua pequena pausa me deixa com receio. —


Eu não vou matá-la, você carrega o nosso filho — ele diz, nosso, e não sei
se está tentando suavizar, ou cansado demais para discutir.

— Você fala nosso, mas quer me tomar ele. — Max contrai a


mandíbula, pensativo.

— Eu não quero tomá-lo de você, só não quero ter que cuidar de


você.

— Não preciso que tome conta de mim — respondo, sem entender


o que ele quer dizer com isso.

— Sua conta bancária e estilo de vida mostram outra coisa.

— Só porque não nasci com o pé em uma mina de ouro, não


significa que preciso de cuidados, eu sei me virar sozinha. — Tento soar
menos ríspida.

Ele suspira, pensativo novamente.

— Para de tentar fugir, e vamos conversar a respeito amanhã cedo


— oferece, indicando o lado esquerdo da cama para mim.

Como se eu tivesse escolha, é deitar ou dormir em pé, reflito,


vendo o relógio marcar duas e vinte e seis da madrugada. Me aconchego ao
seu lado, mantendo uma distância confortável, o braço dele sobe, ficando
em cima do meu travesseiro, para que eu possa me mover com essa porcaria
de gravata presa no pulso.
Tento formular qualquer pensamento coerente a respeito dos
acontecimentos, mas estou completamente esgotada que me sinto desligar
gradativamente.

Desperto na ponta da cama com a sensação de vistas pesadas,


como se tivesse dormido um dia inteiro. Tento me virar, mas há um braço
sobre minha cintura, enrijeço quando sinto os músculos sólidos do Max
colados a minhas costas e sua ereção contra a minha nádega.

Ah, Deus!

— Max! — grunho, o homem se estica praticamente me abraçando


e pressionando ainda mais seu pau na minha bunda, — Dá para tirar esse
negócio de perto de mim?! — sibilo, olhando para ele por cima do ombro.

Seus olhos se abrem lentamente, encontrando os meus, parece


perdido no mundo da lua.
— Me desculpe — diz, se afastando. — Faz tempo que não durmo
uma noite inteira — explica e gira para o lado, mas seu braço me leva junto,
pois estou enrolada na porcaria da gravata.

— Eu preciso ir ao banheiro — aviso, me sentando, ele faz o


mesmo e desfaz o nó do tecido.

Dou um pulo da cama com a sensação que a bexiga vai explodir.


Quando termino as minhas necessidades, ouço minha barriga protestar por
comida.

Paro em frente ao grande espelho e temo a pessoa que enxergo.


Deus, os meus cabelos secaram sem pentear, eu pareço uma maluca, ignoro
o ninho de passarinho em minha cabeça e pego uma embalagem fechada de
escova de dente dentro da gaveta. Ontem, quando entrei para tomar banho,
futriquei em tudo, atrás de algo que pudesse usar contra ele, mas não achei
nada, nem no closet.

Volto para o quarto sem saber o que esperar do resto do dia, ele
disse que, se eu não fugisse, iríamos conversar, espero que não tenha sido
apenas lorota.

Max está falando ao telefone, ele me olha brevemente e, por


alguma razão, fecho os braços em volta do corpo. Ele desliga em seguida,
me dando sua total atenção.

— Meu segurança comprou algumas roupas para você. — Indica


com a cabeça várias sacolas na cama.

Inspiro com força, segurando a língua dentro da boca, e ando com


má vontade até a cama, onde estão as sacolas da Ralph Lauren e Victoria 's
Secrets.
Viro-as em cima da cama, e a sensação é de que estou na
primavera ao ver tantas cores. Pego uma tanga vermelha fio dental com
correntinha e pelinhos na extremidade e olho para Max. Ele não parece
muito confortável com a situação.

— Tem outras aí, Maverick não sabia seu gosto e comprou várias.
— Inflo as narinas.

— Quero minhas roupas, o meu celular e o meu apartamento —


exijo.

Max suspira.

— Um passo de cada vez, Persephone. Vista algo e vamos descer


para tomar o café da manhã.

— Pare de agir como se eu fosse uma convidada! — exclamo com


as mãos em punho.

— Acredite, você não vai querer que eu te trate de outra forma. —


Outra ameaça vazia, contenho a necessidade de revirar os olhos e pego um
macacão de tecido, com regata branca na parte superior e o short laranja
floral com cordões dourados.

Max tranca a porta do quarto e entra no banheiro enquanto procuro


uma calcinha razoável, e encontro uma descente de algodão que cobre 40%
das nádegas. Me troco no closet, com minha cabeça doendo, e sei que é a
fome moendo minhas entranhas, pois me sinto muito fraca.

Volto para o quarto, e ele também, seus olhos analisam os meus


brevemente e depois descem até o meu curto decote em V.

— Perdeu alguma coisa aí? — pergunto, soando ríspida.


Ele inspira.

— Você tem muitas tatuagens.

— Algumas — digo com indiferença, cobrindo com o decote o


pequeno ramo de louro que tenho tatuado na curva do seio esquerdo. — Vai
me dizer que é aquele tipo de homem que acha tatuagem obra do diabo?

Max dá um pequeno risinho.

— Não, a minha espos... minha falecida esposa era — profere,


abrindo a porta do quarto. — Vamos, deve estar com fome.

Andamos juntos, agora na claridade e sem estar de ponta-cabeça,


vislumbro a beleza da casa: colunas altas, teto abobadado, uma grande sala
de estar, à parte, e uma parede apenas para quadros pendurados.

Passamos pelo escritório, a porta está aberta e os pertences dele


jogados no chão. Max me guia em direção a uma cozinha clara, ampla e
moderna, que tem quase o tamanho do meu apartamento.

O exagero é um eufemismo para essa casa.

Entramos na sala de jantar e tem um cara um pouco mais velho que


eu, sentado à mesa, cabelos pretos rebeldes, regata branca, deixando a vista
músculos definidos, e olhos claros maliciosos, que olham para Max com um
risinho.

— Calado — Max entoa quando o outro separa os lábios para falar


alguma sacanagem provavelmente.

O cara dá de ombros, levando um copo de suco à boca.


— Ele é meu primo e já está de saída — fala, puxando uma cadeira
para me sentar, de frente para o homem.

— Gostei das tatuagens — diz, olhando entre meus seios.

Arqueio a sobrancelha com uma resposta cruel na ponta da língua,


mas estou cansada e com fome e idiotas feito ele só me perturbariam mais.

— Gostei do cabelo — respondo, ele me dá uma piscadinha.

— Sou Joseph, e você?

— Persephone — Max responde às minhas costas. — Se puder


terminar seu café no seu chiqueiro, seria ótimo.

— Como a deusa do submundo? — Joseph pergunta, ignorando a


presença do primo.

Balanço a cabeça, confirmando. A minha mãe tinha uma


fascinação por mitologia; pelo meu pai, eu teria me chamado Cagney. Ah,
Deus, não sei qual o pior.

Max se senta ao meu lado e solta um copo de suco na minha frente,


uma cesta de pão, depois um prato com bolo de chocolate e outro com
biscoito.

— Coma — ordena.

— Dá pra parar com esse comportamento, você não é o meu dono


— aviso, fazendo um coque no meu cabelo e pegando um pedaço de pão,
porque sinto que vou desmaiar a qualquer momento.

— Então qual é a história? — Joseph pergunta com outro risinho,


enquanto começo a comer. — Normalmente eu é que trago as desaforadas.
— Foi ela quem se passou pela barriga de aluguel. — Max me olha
de esguelha.

O homem pragueja, e apenas inspiro com força e com a sensação


de que tudo isso nunca vai acabar.

— De Cinderela à Mortiça. — Ele me olha com arrependimento.


— Não me leve a mal, Perse, você faz o meu tipo, mas não o dele.

— Ela não fará o tipo de ninguém enquanto tiver o meu filho na


barriga.

Me viro para Max, ele mastiga um pedaço de panqueca com


irritação.

— Nosso filho. Meu corpo. Minhas regras — digo, irritada, eu não


quero transar com ninguém, mas odeio como tudo sai como uma ordem
dele.

— Eu disse que vamos conversar a respeito do contrato, mas esse


termo permanece.

Cerro maxilar, assim como ele.

— Adicione no contrato que o pai do bebê também não poderá


trepar até o nascimento — Joseph sugeriu, e me pego sorrindo pela primeira
vez desde que cheguei aqui. — Ou os únicos que poderão saciar os desejos
da gestante serão os homens da família Snyder.

Estava demorando para sair uma asneira.

— Você não vai transar com ela, Joseph. — Respiro fundo e ignoro
os dois, eles discutem sobre minha boceta como se eu não estivesse aqui
presente.

Quando termino de comer, a minha barriga dói, não consigo


lembrar a última vez que comi tanto. Escoro-me para trás na cadeira
almofadada e aliso meu estômago inchado.

— Sente dor? — Max pergunta, virado para mim.

— Enjoo — respondo, vendo Joseph abandonar a mesa do café.

Isso é que dá comer igual a uma sem-teto, reflito.

— Consegui uma consulta para você hoje à tarde — informa, e lhe


dou um aceno com a cabeça sem muita vontade.

— Quero o meu telefone, Max, minha amiga deve estar


preocupada.

— Primeiro o contrato, depois o telefonema — diz gentil, mas de


forma ensaiada.

Por Deus, eu quero pegar algo e bater na cabeça dele.

— E o que terá de diferente neste contrato? — pergunto, tentando


saciar a minha ansiedade, e vejo o advogado aparecer do outro lado da sala
de jantar.

— Persephone, vejo que passou bem a noite — diz ao se


aproximar.

— Foi uma noite agitada — respondo, sinto os olhos de Max em


mim.
Respiro fundo, vendo meu estômago se embrulhar e minha boca se
encher de saliva. Ah, Deus. Seguro no pulso dele em cima da mesa, e Max
cobre a minha mão com a sua, me dando total atenção.

— Banheiro. — Cubro minha boca com a mão e me levanto, ele


faz o mesmo, pegando em minha mão e me levando com passos largos até o
um banheiro no fim da cozinha.

Ele abre a porta e não tenho tempo de levantar o assento da privada


e nem de expulsá-lo. Despejo o café, tremendo como uma vara verde, e
Max puxa o meu cabelo que desenrolou, caindo as minhas costas. Me
levanto quando meu estômago para de se contrair e me lavo na pia do
banheiro, sentindo a presença dele ainda atrás de mim.

— Pode ir, não vou sair correndo — falo, passando a mão molhada
pela nuca úmida de suor.

Não nessas condições.

Me viro, Max me olha nos olhos e balança a cabeça, me


alcançando um papel-toalha para me secar.

— Vamos pedir algo para enjoo à médica. — Assinto.

O sigo para a sala de estar e o advogado se levanta quando


entramos.

— Fiz as alterações que me pediu mais cedo — comenta,


entregando um documento para Max. Ele lê em silêncio e sua expressão não
entrega nada sobre o que há ali. O que me faz ficar ansiosa e com o coração
acelerado.
— Se quiser privacidade, pode ler em meu quarto. — Max me
estende o contrato, meus dedos se fecham na outra ponta, mas ele não solta,
encaro seus olhos escuros, profundos e contidos. — Pense no que é melhor
para o bebê.

Suas palavras fazem minhas entranhas se enrolarem outra vez, me


deixando sem saber no que pensar.
Capítulo 08

Perdi a noção de quanto tempo se passou desde que subi e li o


contrato. Eu não compreendo aquele homem, e não sei o que ele quer de
mim.

O novo documento tem como nome apenas Contrato, o advogado


removeu o termo sobre o qual eu teria que renunciar às obrigações
maternais, ao nascimento da criança, e modificou o outro termo. Agora,
em vez de residir aqui até o fim da gravidez, terei que morar até o décimo
aniversário do bebê e, caso eu me case dentro desses dez anos, Maxwell
ficará com a guarda integral do nosso filho.

Esse homem quer foder com o meu juízo. Assinar isso é como dar
um tiro no escuro, eu tenho apenas vinte um anos, não planejava me casar
tão cedo, mas saber que ele está com as rédeas da minha vida pelos
próximos dez anos me dá vontade de pular a janela e fugir o mais longe
possível dele.

Será que ele não pensa no futuro dele, daqui a dez anos, ele terá
uns quarenta e poucos anos talvez, e uma nova esposa, que o infernizará
para me tirar daqui.

Inferno! O destino é tão incerto que meu cérebro vai se dissolver


com essas opções de merdas.

Deixo a suíte e escuto o som da música Sail de Awolnation,


caminho até lá, me deparando com outra suíte, a porta está aberta
revelando, um cômodo bem bagunçado, e Joseph sentado no assento
integrado à janela, olhando para o lado de fora e, pelo cheiro, ele fuma um
baseado.

Provoco um barulho com a garganta, chamando sua atenção.

— Perse… — fala surpreso —, entra aí — profere, se virando para


mim, ele está sem camisa e veste apenas uma calça de moletom escura.

Entro no quarto sem saber por que vim, devia estar procurando
uma forma de me livrar de Max, acredito que a polícia agora não seja mais
uma opção. Se ele refez o contrato a fim de me deixar ficar com o bebê sob
o seu teto, quem sabe podemos entrar em um acordo e refazê-lo sem a parte
adicional de dez anos.

— Ele está te deixando maluca, não é? — diz quando me sento em


sua cama, olho para a bagunça dos lençóis e acho que tomei uma péssima
decisão.

— Max é sempre assim?

— Controlador, egocêntrico e narcisista? — pergunta


retoricamente, comprimindo os lábios, — Ficou assim depois que a Eva se
matou.

— A esposa? — pergunto, sem esconder o meu choque.

Joseph confirma com a cabeça e solta a fumaça do baseado, depois


se senta na cama ao meu lado e se deita para trás com os braços atrás da
cabeça; se ele queria exibir o tanquinho, conseguiu, meus olhos deslizam
pelo seu tronco, encontrando o seu olhar.

— Seu primo me sequestrou e agora quer que eu assine um


contrato que me fará morar aqui por dez anos. Acha que tem chances de ele
cair na real e mudar de ideia?

Joseph fica pensativo por um momento, terminando o seu baseado


e nem um pouco impressionado com a palavra sequestro.

— Não sei, Perse, tecnicamente você sequestrou o bebê dele,


talvez, com o tempo, Max perceba que está sendo radical, afinal, ele nem
queria ter filhos, mas o testamento exige que ele tenha para continuar no
cargo.

O quê?! Meu cérebro explode com a informação.

O maldito está desgraçando a minha vida por algo que ele nem
deseja, só quer para poder usá-lo em um jogo absurdo de poder. Me sinto
tremer de raiva, as emoções descontroladas é algo que venho sentindo
muito nesses últimos dias.

— Tem um celular aí?

— Depende, vai ligar para a polícia?

Balanço a cabeça em negação. Joseph desliza a mão pelo bolso da


calça e pega o aparelho, ele solta em minha mão e, quando vou puxar, ele
segura encontrando o meu olhar.

— Lembre-se desse favor. — Dá um pequeno risinho e puxo o


telefone com força dos seus dedos, sem retribuir. Veremos se, quando eu
estiver com uma barriga imensa, essa malícia dele persistirá.

Disco o número de Nicole, ela atende no terceiro toque, fazendo-


me quase engasgar com o coração.

— Nic...
— Puta merda, Persephone! Onde você está? Eu liguei até para a
polícia! — exclama.

— Eu fui raptada pelo cara de terno que estava no café ontem à


tarde.

Nic ri de maneira histérica.

— Isso é o sonho de toda mulher, ser sequestrada por um gostosão


— desdenha. — Onde você está, Perse? Não me diga que voltou para
Caleb.

— Por Deus, estou na casa daquele homem!

— E ele deixou você ficar no telefone, assim, bem de boa?

Reviro os olhos com força.

— Procure na internet o endereço da mansão Snyder e venha me


ver amanhã, na sua folga. — Nic ri outra vez.

— Cara, eu não sei o que você fumou, mas está na hora de parar,
está grávida, esqueceu?

Ahh, Cristo, que vontade de gritar e me descabelar.

— Nic, lembra que eu fiz um exame ginecológico semanas atrás e


cheguei no café um pouco alterada e chapada? — pergunto, recebendo um
“uhum” dela, e sinto os olhos de Joseph em mim, pelo visto interessado na
conversa. — Era uma clínica de inseminação, estou grávida de Maxwell
Snyder! — grunho e percebo como é estranho dizer isso em voz alta.

— Nãoooo! — pragueja. — Isso é impossível.


— Acredite, não é!

— Cara, se eu for, e você não estiver aí, eu vou arrancar essa


criança a tapa de você. — Rio.

— Peça para falar com Joseph. — O cara me olha e levanta dois


dedos, indicando que estou devendo dois favores, faço cara feia.

— Ok. Nos vemos amanhã. — Ela desliga.

Relaxo, me deitando para trás, ignorando a presença de Joseph e a


sua cama bagunçada. Uma parte da inquietação em meu peito se acalmou,
mas ainda preciso saber o que faço com o contrato.

— Persephone. — Apenas a voz de Max consegue fazer meu


estômago embrulhar, ainda mais quando ela soa áspera. Giro a minha
cabeça na direção da porta, encontrando o seu olhar.

— Pois não?

— Acredito que esse cômodo não seja adequado para uma


gestante. — Me pergunto se ele se refere ao primo seminu, ou à pequena
neblina de maconha em cima de Joseph.

— Talvez você queira acrescentar no contrato em quais cômodos


da casa posso me locomover na década que quer me manter aqui —
respondo secamente, me sentando, e Joseph faz o mesmo.

— Acho melhor eu dar uma volta — Joseph sibila, puxando uma


camisa da poltrona e me dando as costas tatuadas.

Max entra no espaço do quarto, agora ele veste um terno slim,


cinza-chumbo que esculpe bem os músculos do seu corpo, e usa a gravata
que nos acorrentamos essa noite.

— Desça para almoçar, temos a consulta em uma hora.

Seus olhos atentos encaram os meus com uma emoção


indescritível, desvio o olhar, encarando a pequena cruz desenhada no meu
dedo anelar, pedindo a Deus uma luz. Queria conhecê-lo melhor, talvez
assim algo me fizesse aceitar tudo que está me impondo.

— No testamento que exige um herdeiro, também solicita que o


pai da criança seja um babaca, ou essa parte você exerce voluntariamente?

— Estou sendo o mais conivente possível, Persephone — aperto os


lábios, concordando com aquilo que convém a ele —, queria ficar com o
bebê... — Ele ergue as mãos para o alto, como se não compreendesse a
minha inconformidade.

— Ontem, você disse que não queria cuidar de mim, o que mudou?

— Ainda não quero, preferia nunca tê-la conhecido, você pegou o


resto da paz que eu tinha e a exterminou. Preciso ter certeza de que mais
nada sairá do controle.

Um sorriso mordaz se abre nos meus lábios.

— Você não exerce poder algum sobre mim, e acho que isso é o
que mais te incomoda — ele cerra o maxilar —, eu vou assinar o contrato,
Max, se prepare para ter os dez anos mais longos da sua vida.

Pois, farei deles um inferno.

Passo por ele e o sinto as minhas costas enquanto eu caminho para


o seu quarto. Ainda não acredito que vou fazer isso, talvez o mais sábio seja
pensar com calma, mas isso pode acabar me levando de volta ao primeiro
contrato.

Entro no quarto e me viro para ele.

— Deixando as ofensas à parte, queremos a mesma coisa,


Persephone, o bem-estar do bebê. Quero confiar em você.

— Você é como um gato, dá o tapa e esconde a mão. Podemos


concordar com o bem-estar do bebê, mas, na minha cabeça, sempre será um
filho da puta egocêntrico. — Sua expressão não se altera em nada, esse
boçal é mais controlador do que presumia.

— Assine o contrato — profere, abrindo a porta do quarto — e não


se envolva com Joseph, ele não é um cara legal.

Drogado, folgado e mulherengo, uma cópia bilionária de Caleb.

— Deve ser de família — digo e dou as costas para ele.

Me sento na cama quando escuto a porta fechar e puxo da cômoda


o contrato. Leio novamente, pensando nos pontos positivos; o bebê terá
uma vida descente, não preciso me preocupar com os pitbulls da casa de
jogos e assim posso procurar um emprego na minha área com mais calma.

Solto o contrato na mesinha quando percebo que não tenho caneta,


talvez seja o destino me enviando algum sinal. Balanço a cabeça, se fosse
tão fácil assim.

Tomo um banho ligeiro para não nos atrasar na primeira consulta e


depois coloco um vestido azul acinzentado, com decote no formato de
coração e alças fininhas, ele é curto e por cima da saia há uma camada de
tule ilusion com pequenas flores bordadas. É tão fútil que fico enjoada.
Deus, preciso das minhas roupas.

Calço o meu all star preto e penteio meus cabelos com os dedos
ligeiramente enquanto desço. Quando chego a certa altura da escada, vejo
Max na sala de estar, sentado e mexendo no telefone.

Seus olhos encontram os meus, depois descem para minhas mãos


vazias, a sua expressão se torna cautelosa, o contrário do seu olhar, que
tenta porcamente esconder o seu descontentamento.

— Você não me deu uma caneta — explico, e seu maxilar se


contrai.

Ele se ergue majestoso, fechando o terno e guardando o telefone no


bolso da calça.

— Não vai comer?

Balanço a cabeça, ainda me sinto enjoada com o café da manhã.

Max se aproxima e desliza uma mão pelas minhas costas, nos


levando para a saída. Nos aproximamos de uma Mercedes preta estacionada
no pátio próximo de uma piscina de chão. Ele abre a porta para mim, como
um legítimo cavalheiro, pena que seus atos contrariam todas as suas ações.

Atravessamos os portões da mansão com outro carro colado às


nossas costas.

— Por que anda com segurança? — questiono, olhando o trajeto e


tentando me localizar.

— Não ando, ele está aqui por você.


— Para que eu não fuja?

— E para protegê-la.

— Você não faria isso? Me proteger.

— Faria. — Seus olhos param em minhas mãos inquietas em cima


do meu colo. — Sofre de ansiedade?

— Metade da população sofre — escarneço.

— Tem histórico de doenças crônicas, patológicas ou


degenerativas na família?

Comprimo os lábios, me recostando na escora do banco, pensativa.


Não conheço bem minha família, meus pais saíram da França quando eram
jovens e eu sei que tenho uma tia por parte de mãe, que permanece na
Europa.

— Que eu saiba, não, você tem?

Ele balança a cabeça em negação. De repente, a esposa dele me


vem à mente e a curiosidade de saber por que ela se matou se aguça em
meus pensamentos, mas me parece invasivo demais perguntar a respeito.

Argh! Garanto que é menos invasivo que sequestrar uma pessoa.

— Você ainda é jovem, por que não começou uma família de modo
tradicional?

— Tem coisas que não dá simplesmente para recomeçar, e eu sei


que parece arrogante ter um herdeiro apenas para me manter no cargo, e
pretendo mudar isso — assegura, sem tirar os olhos da via.
Me aconchego no banco, conseguindo encaixar pequenas peças.
Max ainda sofre pela esposa, e Joseph disse que ele ficou dessa forma
depois que Eva se matou. Me pego olhando para ele e mexo a cabeça em
negação, não posso criar empatia por esse homem, independente do que
passou, não justifica tudo que está fazendo comigo.

Entramos na clínica, Max caminha um passo à minha frente, e


Maverick, três passos atrás de mim, como se eu fosse dar meia-volta e
correr, rio, imaginando exatamente isso. Paro ao lado de Max no guichê, a
ruiva magricela do outro lado o atende com sorriso furtivo e as bochechas
salpicadas de sardas coradas. Olho para ele, tentando ver o que todas as
mulheres que passamos até aqui, veem.

Alto, forte, charmoso, cabelos pretos e sedosos, lábios cheios e


curvados, maxilar largo coberto por uma barba escura que o deixa com uma
expressão perigosa, misteriosa e um pouco sexy quando morde a pontinha
do lábio inferior sem perceber.
Max me olha de volta, e suas sobrancelhas malditamente
assimétricas se unem sutilmente.

— O que foi, Persephone? — questiona, encaixando os dedos em


volta da minha cintura e me levando em direção à sala que a recepcionista
indicou.

— Estava tentando entender o motivos dos olhares e risinhos. —


Um risinho charmoso se abre no canto de seus lábios.

— Entendeu?

Torço o nariz.

— Não.

Max dá dois toques em uma porta branca, onde tem o nome de


Grace Truman fixado em letras metálicas. A porta abre, revelando uma bela
mulher com cabelo loiro acinzentado, óculos de grau preto e um sorriso
adorável para o pai do meu bebê.

— Entrem e fiquem à vontade — diz, nos dando as costas.

Seguimos a médica e nos sentamos de frente para a mesa dela,


primeira consulta do bebê com esse total estranho ao meu lado, minhas
entranhas se contraem em uma luta e minha perna se torna
insuportavelmente inquieta. Max estende a mão e segura em minha coxa,
um pouquinho acima do joelho, contendo a minha agitação. Meu primeiro
pensamento é lhe dar um chute para que se afaste, mas então a médica
começa a falar.

— Está nervosa? — pergunta, desviando os olhos do notebook a


sua frente, encontrando os meus de uma maneira gentil.
— Sim — respondo, sentindo os olhos de Max em mim, e afasto
sua mão para longe da minha perna.

— Quando os enjoos terminam? — Max questiona.

— Após o fim do primeiro semestre, os níveis de hCG começam a


diminuir, o que significa menos náuseas e mais energia. Se sentirá menos
ansiosa, mais relaxada, e perceberá um grande aumento na libido e, por
estar mais sensível, terá mais prazer no ato sexual, então aproveitem, pois
no terceiro semestre, infelizmente, o cansaço voltará e talvez os enjoos. —
Sinto os olhos de Max em mim até imaginando o que ele está pensando.

Sem sexo para você, Persephone. Aff, ele parece um coronel.

Pelo menos, terá uma pausa entre o cansaço e os enjoos, penso


enquanto a médica fala um pouco a respeito da inseminação, e esclarece
que a parte fundamental passou, agora só preciso tomar os devidos cuidados
e uma porção de vitaminas.

Coloco um avental azul-clarinho no banheiro e volto para sala,


recebendo atenção dos dois. Calculando a data da inseminação, já podemos
fazer um ultrassom para ouvir o coração do bebê. Não posso negar que isso
deixou o meu coração agitado pra caralho, tem um minúsculo ser vivo
dentro de mim.

— Pode se deitar — Grace avisa, sentada em uma cadeira de frente


para o que se parece bastante com um computador ao lado da maca. —
Faremos um ultrassom transvaginal. — Balanço a cabeça com uma agitação
no peito.

Me ajeito, esticando as pernas, e a médica solta um pequeno lençol


sobre elas. Ela pega uma camisinha e desliza em um instrumento
demasiadamente grande.

Max para ao meu lado, chamando a minha atenção.

— Será que eu tenho que lembrá-la de respirar também. — Encaro


ele, seus olhos estão calmos, quase gentis, será que estou tão apavorada
assim? Eu nunca fui de esconder minhas emoções, sou uma folha
transparente.

Lhe dou um olhar duro.

— Não tem com o que se preocupar, senhorita Beaumont, não é


um procedimento invasivo. — Ela sorri, segurando o negócio que parece
bem invasivo para mim. — Aproxime os calcanhares do bumbum e abra as
pernas.

Inspiro profundamente e obedeço à médica, os meus pensamentos


se tornam lerdos quando sinto a sonda deslizar pela minha vagina
lentamente, e o meu peito é tomado por uma aflição esquisita, como se,
nesse exato momento, começasse a entender o grau de loucura que está a
minha vida.

— Preciso que relaxe, Persephone — a médica pede, pois estou


com todos os músculos contraídos, inclusive os de lá de baixo.

— Hey — Max sussurra, ficando mais perto, e segura minha mão,


que repousa em punho em cima da cama. — Vamos conhecer o nosso bebê.

Encontro o seu olhar e solto o ar, vendo os meus músculos


endurecidos se tornarem tenros. A médica cutuca o meu interior enquanto
mexe no aparelho a sua frente.
Olho para tela e não entendo nada do que vejo, está tudo preto e
cinza e se mexendo. A médica acerta um ponto dentro de mim e congela a
imagem. Ela se vira para nós com um sorriso.

— E aqui está ele. — Ela indica com o mouse um círculo preto


com outro menor dentro; — Isso é o saco gestacional e essa pequena
bolinha do lado de dentro é o bebê de vocês.

A médica reforça o sorriso, e tudo que consigo fazer é encarar


aquele pequeno ponto na tela, completamente apavorada, e não consigo
nem disfarçar.

Isso é real. A minha vida mudou drasticamente e estará ligada para


sempre a esse homem, que permanece segurando minha mão com
tenacidade, quem sabe precisando de mais amparo que eu.
Capítulo 09

Giro na cadeira do escritório, encarando o meu notebook com a


tela trincada. Aperto meus lábios, pensando nela, ultimamente meus
pensamentos sempre estão nela. Persephone.

Vejo as horas e não tenho coragem de me deitar. Depois que


saímos da clínica, voltamos para cá em silêncio, acredito que ambos
tomamos um choque de realidade ao ver aquele círculo preto.

Um filho com uma completa estranha, não me parecia ruim quando


eu sabia que nunca a conheceria pessoalmente. Agora ela está deitada em
minha cama, e eu não consigo nem entrar em meu quarto.

Uma notificação de e-mail sobe na tela, de Salvatore Ricci, o


conselheiro de Dário. Quando parti da Itália, abandonei muitos clientes,
ficando apenas com o mais promissor, o que me obriga a ir lá
regularmente.

Pensar em viajar e deixar Persephone para trás não me agrada, ela


pode aprontar alguma coisa, não sei por que, mas sempre que penso nela
espero o pior, com certeza a forma que nos conhecemos não foi uma boa
impressão para ambos. Ela tomou algo de mim, e eu a tomei para mim
pelos próximos dez anos.

Joseph aparece na entrada do meu escritório, ele se escora no


batente, sem camisa e de calça de moletom enquanto fuma um cigarro.
— Ocorreu tudo bem na consulta, papai? — diz, de maneira
zombeteira.

— Sabe que terá que se mudar assim que o bebê nascer, não é?

Ele dá de ombros.

— As universitárias não gostam de choro de bebê mesmo.

— E quem gosta — escarneço, vendo-o me dar as costas, e meu


primo se vira para mim novamente.

— Devia ser menos duro com ela, apesar dos pesares, ela é uma
garota legal — diz, e não gosto de como soa sentimentalista, Joseph transa
com tudo que se move, ele só a magoaria.

— Não ouse tocar naquela garota — aviso seriamente, tirando um


risinho dele.

— Talvez em dez anos eu seja o pai do seu filho. — Ele ri, e minha
vontade é de socar a sua cara.

— Vai precisar estar vivo para isso. — Seu sorriso se alarga.

— Você devia transar, Max, quanto tempo não enfia o pau em uma
boceta? Desde que Eva se foi? — Cerro a mandíbula.

— Se não quiser começar a procurar outra casa para morar, sugiro


que saia da minha frente agora.

Ele me dá as costas e se retira, descendo para o primeiro andar.


Pego o telefone dela de dentro do cofre, e o ligo, ainda tem bateria. Várias
mensagens entram, com os nomes de Nic, Caleb e Baumann, que é uma
renomada empresa de Gestão Imobiliária, o que me deixa intrigado, não
posso negar.

Enfio o telefone no bolso da calça e ando até o meu quarto, a porta


está encostada, e a luz do abajur, acesa. Persephone está deitada usando
outra camisa minha, enrolada até a altura do seio, enquanto seu dedo
indicador faz pequenos círculos na barriga e seus olhos encaram o teto,
dispersos.

— Vai ficar parado aí, admirando, ou vai entrar? — Sua voz como
sempre sarcástica e mordaz.

Empurro a porta enquanto ela desce a blusa até as coxas, cobrindo


sua calcinha rosa-chiclete que se destaca bem em sua pele pálida. Entro no
quarto e ela cruza os braços, assumindo uma postura defensiva, quando me
aproximo da cama.

Tiro o paletó e solto em uma poltrona, depois desfaço o nó da


gravata, deixando-a em frente ao peito.

— Acho que está na hora de arrumarmos roupas do seu tamanho e


do seu gosto — falo, me sentando na cama, e ela se vira para mim,
colocando o braço dobrado embaixo da cabeça e abraçando a coberta com
as pernas.

— Do que adianta, daqui alguns meses, nada mais vai servir em


mim.

— Não vai poder andar pelada por aí. — Ela dá um sorriso


iluminado, e nem parece que noite passada tive que amarrá-la a mim para
que não fugisse. Acho que foi a primeira vez que dormi uma noite inteira
desde que voltei para essa casa, estava exausto e acredito que isso tenha me
ajudado.

— Foi Brandon que selecionou as barrigas de aluguel, todas


mulheres adultas que escolheram passar pelo processo de gestação...

— Eu estou bem — afirma e automaticamente fica na defensiva,


colocando-se de barriga para cima e entrelaçando os dedos acima do
abdômen.

— Não tem que ser forte o tempo todo.

— Daí, eu baixo a guarda e você me fode, e não seria de um jeito


bom — entoa, carregada de escárnio.

— Se eu te fodesse, de qualquer jeito seria bom — respondo com a


mesma petulância dela.

Persephone gira a cabeça para mim e solta um risinho desdenhoso,


sua sobrancelha arqueada gerando dúvidas consegue me deixar irritado.
Puxo a gravata do pescoço e estendo a mão para pegar a dela.

— Isso é ridículo.

— Já assinou o contrato? — Sua carranca se aprofunda e ela nem


precisa me dar uma resposta para eu saber que não assinou.

— Eu não vou fugir! — exclama.

— Ainda não confio em você. — Ela ri com raiva.

— O sentimento é mútuo — rosna, me estendendo o pulso, com a


mão em punho. — Isso, me amarre, pelo visto é só assim que consegue
trazer uma mulher para essa cama.
— Não me provoque — sibilo, dando um laço em seu pulso e
depois removo a minha camisa, Persephone cerra o maxilar e me dá as
costas quando me prendo a gravata.

Chuto meus sapatos para longe enquanto me deito ao seu lado e


tiro o seu telefone do bolso. Respiro fundo, me virando para ela, seus
cabelos ocupam quase todo o meio da cama.

— Vire-se para mim, tenho algo para você — peço e, depois de um


momento, sua cabeça gira, olhando por cima do ombro, seus olhos
encontram os meus ainda com raiva.

Estendo o telefone para ela, e seus olhos se estreitam, encarando o


aparelho, desconfiados.

— Você me deixa confusa — fala, se virando.

— Eu não confio em você, não significa que eu não queira


começar a confiar. Precisamos um do outro, Persephone, vamos dar uma
trégua.

— E parar de te aborrecer? Estava virando o meu passatempo


favorito — afirma, puxando o aparelho dos meus dedos.

Ela se senta na cama, se escorando contra os travesseiros, seus


olhos nem piscam enquanto olha para a tela e de repente um largo sorriso
abre em seus lábios.

— O que foi? — pergunto, não contendo minha curiosidade, seus


olhos encontram os meus, e a tela do seu telefone desliga, indicando que a
bateria terminou.
— Nada. — Ela solta o telefone na cômoda e me dá as costas,
encolhida na extremidade da cama.

Aproveito para relaxar, acredito que as coisas estejam começando a


ir para seus devidos lugares. Se continuar nesse ritmo, quem sabe até o fim
da gravidez sejamos amigos.

Acordo incrivelmente descansado e com a sensação de bexiga


apertada. Desço a mão por baixo da coberta e encontro uma perna
entrelaçada à minha cintura, minha mão desliza por sua coxa macia a fim de
removê-la, mas Persephone se aninha ainda mais perto de mim, e sua mão
sobe para o meu peito. Olho para ela, vislumbrando uma mecha do seu
cabelo bagunçado na curva do queixo e, com os dedos, a empurro para trás
da orelha, seus olhos se abrem lentamente e ela os fixa nos meus por um
momento.

— Devia ter me acordado — sussurra com preguiça, descendo a


perna, e sua expressão se contrai quando sente a minha ereção matinal, só
não me justifico, pois ela já é bem grandinha para saber que não tem como
controlar pela manhã.

— Parecia bem relaxada.

— E estava, depois que engravidei, passei a ter um sono agitado —


explica, se espreguiçando.

— Eu não vi nada — respondo.

Me sento para remover a gravata do pulso dela e percebo o quão


casual esta conversa é.

— Vou pedir para Nina preparar nosso café — aviso, descendo da


cama.

Deixo o quarto, pensando que preciso passar no escritório, já


estamos na quarta-feira. O início dessa semana foi rápido e conturbado,
contudo, consegui resolver um grande problema.

Chego nas escadas para o andar inferior e encontro Joseph e a


garota do Royal Coffee sentados na sala de estar. Ambos ficam em silêncio
quando me veem na escada. Meu primo abre um risinho, daqueles que
fazem o meu sangue entrar em erupção.

— Perse já acordou? — ele pergunta naturalmente, enquanto a


garota ao seu lado me analisa milimetricamente.

— Sim — respondo na entrada da sala.

— Posso falar com ela? — a garota pergunta, enrolando uma longa


trança na ponta do dedo.
Balanço a cabeça a fim de esganar Joseph por tê-la deixado entrar.
Dou meia-volta e ando até meu quarto, me perguntando como e quando
Persephone falou com a menina. Alguma coisa me diz que o bastardo do
meu primo tem algo a ver com isso.

Entro no cômodo e fecho a porta, Persephone está no banheiro,


ouço o barulho do chuveiro ligado. Atravesso a porta sem ponderar, assim
como fiz ao trazê-la para cá. Vislumbro-a de olhos fechados, ensaboando os
seios volumosos embaixo de uma corrente d’água, paraliso, considerando
que agora atravessei todos os meus limites, sair é a melhor opção, mas estou
preso nas suaves curvas do seu corpo. A mão dela desce para o centro da
sua barriga chapada, que não exibe qualquer vestígio da gravidez, e meus
olhos sobem para o seu rosto enquanto o sangue desce para o meu pau.

— Max! — Persephone vocifera e dá um tapa no vidro do box,


trazendo-me à realidade. — Você enlouqueceu?!

Em anos, nunca me sentia tão perdido como agora, minha mente se


tornou uma tela preta, e não sei o que dizer, entrei aqui furioso, mas fui
hipnotizado por um maldito par de peitos, sem contar o resto do seu corpo,
dou um passo atrás e deixo o banheiro, espero que ela não tenha reparado o
volume em minhas calças, estou tão duro que poderia quebrar uma parede.

Joseph está certo, não enfio o pau em uma boceta desde que voltei
para Boston, simplesmente não consigo pensar em sexo quando estou nessa
casa, me afundei no trabalho e no álcool nos primeiros meses até me
adaptar à mansão e aos fantasmas do passado.

A porta do banheiro se abre com força e sei que terei que enfrentar
a ira de Persephone, que entra no quarto enrolada em uma toalha branca,
com as mãos em punho, ela é pequena demais para emanar tanta raiva,
penso, vendo-a rubra.

— Eu posso explicar — digo tranquilamente, vendo a tensão


distribuída em seu corpo. — A sua colega do café está na sala de estar.

— Isso não explica nada. — Sua voz sai estridente. — Você não
tem limites, se vou ficar aqui, quero ter privacidade pelo menos durante a
porra do banho.

Inspiro fortemente, ainda nem tomei a porcaria do café da manhã e


tenho certeza de que os gritos dela ficaram na minha cabeça durante o resto
do dia.

— Se te deixa menos irritada, não tem nada aí que eu já não tenha


visto em outras mulheres. — Sua expressão se torna violenta, e não
compreendo o que disse de errado.

— Coloque o pau para fora — manda, olhando para minha ereção


perdendo a vida, arqueando as duas sobrancelhas com o semblante de
indignação.

Aperto os lábios, acho que isso está saindo do controle.

— Qual o problema, Max? Te garanto que não tem nada aí que eu


já não tenha visto em outros homens.

Outros? Não me prendo em suas palavras e, também, não vou


mostrar o meu pau, já compreendi o que a deixou irritada, a comparei com
outras mulheres.

— Vou pedir para sua amiga subir — aviso e não espero sua
resposta, puxo a minha camisa da poltrona e deixo o quarto sem acreditar
na situação que acabou de acontecer, se continuarmos nesse ritmo, um dos
dois acabará em uma camisa de força até o fim dos dez anos.
Capítulo 10

Tremo tanto que acho que vou abrir um buraco no chão. Max não
tem um pingo de limite, quando o vi parado como uma coluna no meio do
banheiro, senti meu coração querer sair do peito. Sempre que fecho os
olhos, lembro como os dele me olharam, com excitação, posse e luxúria.
Lembro de como estava duro... ah, Deus, aplaque esses hormônios da
gravidez, oro, sentindo meu rosto aquecer.

Eu não sou o tipo de garota burra e inocente que não entende os


sinais. Sou mulher e tenho desejo tanto quanto ele, mas sei que me envolver
sexualmente com o Max seria a maior burrice que cometeria desde que
cheguei aqui.

Ah, Senhor, por que continuo pensando nisso? Max me sequestrou


e me fará assinar um contrato que dura dez anos, ele está tirando a minha
sanidade, eu devia querer jogar gasolina e pôr fogo nele, não me sentir
excitada com sua virilidade.

Uma suave batida soa no cômodo, termino de pentear os meus


cabelos no closet e volto para o quarto usando outra camisa dele. Diante da
porta, segurando uma bandeja com o meu café, enxergo Nic.

— Aonde quer que eu vá, isso — ela indica a bandeja com a


cabeça — me segue. — Sorrio, encurtando o espaço entre nós e pegando-a
da sua mão.

— Dois dias, e achei que nunca mais a veria — falo, me sentando


na cama e soltando o café entre nós. Nic olha em volta, admirada com o
requinte do ambiente.

— Esse é o seu quarto? — Bufo, fazendo os lábios tremerem.

— Dele. Mas estamos compartilhando a cama por ora. — Ela solta


um riso desacreditada.

— Como assim?

Dou de ombros.

— Ele tem medo de que eu fuja. — Ela revira os olhos, mexendo a


cabeça.

— Você me deu um baita susto, Perse, e Bernard está uma fera —


adiciona, aperto os lábios, vendo que agora mais que nunca terei que
arrumar outro emprego.

— Isso tudo é uma loucura — falo, beliscando um pedaço de pão.

— Acertou na loteria, hein? Foi a maconha mais bem fumada da


sua vida. — Rio.

— Só que é mais complicado do que parece, Max é...

— Um gostoso bilionário que quer te dar tudo? — Tudo menos a


liberdade, solto um riso forçado e balanço a cabeça em negação.

— Ele é inconveniente em todos os níveis, mal-humorado, grosso e


intolerante, e quer que eu assine a porra de um contrato para viver nessa
casa pelos próximos dez anos.

— Puta merda — sibila. — O que vai fazer?


— Vou assinar, conseguir um emprego e viver às custas dele,
então, quando o contrato terminar, terei dinheiro suficiente para dar uma
vida adequada para meu filho, bem longe dessa casa.

— Parece um bom plano — diz e sinto que há um mas a caminho.


— Mas dez anos é muito tempo, amiga, você não pode pular o agora e
começar a viver só daqui a uma década, muita coisa vai acontecer.

— E que escolha eu tenho? — pergunto retoricamente, pois não há


mais opções. — Ganhar a confiança dele e depois fugir no meio da noite
com o bebê?

— Que tal só ganhar a confiança.

— E depois faço o quê, brinco de casinha com o homem que me


sequestrou? — Ela ri.

— Você está em uma situação promissora, em vez de tentar fugir,


dê uma família ao seu bebê.

— Você escutou a parte que eu disse sequestro?

— Ouvi, mas cuidar de um bebê custa caro e, morando aqui, terá a


proteção contra os caras da casa de jogos.

— Max pagou você para fazer minha cabeça? — brinco, e Nic faz
cara feia.

— Estou do seu lado, Perse, mas, por estar fora da situação, vejo
coisas que você não vê. Segurança, amparo, oportunidade. Se ele vai te
obrigar a ficar aqui, pelo menos desfrute das coisas boas.
— Falando em oportunidades, Baumann Gestão Imobiliária me
ligou ontem à tarde. Max me entregou o telefone à noite, mas está sem
bateria — explico, queixosa.

— Hoje é seu dia de sorte — diz, enfiando a mão na pequena bolsa


transversal presa em seu dorso, e puxa de lá dentro um carregador
enroladinho.

Dou um largo sorriso, com um puta frio na barriga. Pego o


carregador de suas mãos e o telefone, depois conecto em uma tomada,
enquanto Nic me conta como foi seus últimos dias.

A manhã passou mais rápido que eu desejava, ficamos no quarto


fofocando, e Nic não quis ficar para o almoço, mas disse que retornava
assim que tivesse outra folga. Aproveitei a privacidade longe de Max e
liguei para a empresa Baumann, eles querem fazer uma entrevista comigo
na sexta, daqui a dois dias.

Confesso que estou nervosa pra cacete, as minhas condições não


são favoráveis, assim que eu anunciar a minha gravidez, há uma boa chance
de eles não quererem me contratar, mas posso fingir demência e contar
depois que já estiver contratada, caso isso aconteça.

Desço as escadas para o andar inferior depois de uma longa soneca


da tarde, levando o contrato. Maxwell, o advogado e Joseph encerram a
conversa quando me veem entrar na sala. Os olhos do pai do meu bebê se
fixam nos meus, enquanto os do seu primo observam minhas coxas
expostas pela larga camisa masculina. Preciso de roupas, estas são
confortáveis, mas me fazem parecer uma sem-teto.
— Eu interrompo? — questiono retoricamente, visto que os três
ainda me olham.

— Não — Max responde, olhando o contrato em minha mão, —


Assinou? — pergunta quando me sento no braço da poltrona.

Balanço a cabeça em negação.

— Preciso de uma caneta — esclareço, e Brandon se estica para


me alcançar a dele, outra dourada de ferro.

Escorrego para o assento da poltrona e encaro o documento solto


em minhas pernas... dez anos é tudo que me vem à mente quando posiciono
a caneta entre meus dedos, aperto os lábios e ergo os meus olhos até os de
Max, e eles permanecem presos em mim.

— Tenho uma entrevista de emprego na sexta — comento,


tentando adiar a porcaria da assinatura outra vez.

— Como? — Max pergunta, incompreendido.

— Ela disse que tem uma entrevista de emprego na sexta —


Joseph explica, recebendo um olhar de condenação do primo.

— Preciso das minhas roupas Max. — Na verdade, eu preciso de


roupas novas, pelo menos para fazer a entrevista, não posso ir maltrapilha,
Baumann é uma empresa reputada.

Maxwell balança a cabeça como se quisesse organizar os


pensamentos. Agora eu o encaro incompreendida, isso não é a porra de um
pedido, é apenas um aviso.

— Não precisa trabalhar, Persephone, eu te darei tudo.


— Não preciso que me dê tudo, sei que sou capaz de conseguir
sozinha.

— Não duvido disso — afirma, se inclinando para frente —, mas


prefiro que não trabalhe até o nascimento do bebê.

Prefere... um riso me escapa.

— Estou grávida, Max, e não com uma doença terminal. — Sua


mandíbula endurece e seus olhos conseguem me encarar ainda mais frios do
que quando me encontrou ligando para a polícia.

— Tem sorte de não estar. — Sua voz soa ríspida e cortante


enquanto se ergue e deixa a sala pisando firme.

Que caralho aconteceu aqui? O acompanho com os olhos e o vejo


subir as escadas para o segundo andar, consigo sentir a tensão dominando
cada milímetro do seu corpo.

— Ignore ele — Joseph fala, puxando um cigarro do bolso da


bermuda, de repente sinto vontade de fumar, mas não me atenho a esse
desejo, ele se ergue e deixa a sala também. Olho para o advogado, e ele está
guardando alguns documentos em uma maleta preta. Aproveito que estamos
apenas nós e assino o contrato, antes que Max queira adicionar mais coisas
nele, e lhe entrego, pedindo uma cópia para mim.

— O que eu disse de errado? — Brandon olha em meus olhos,


atencioso.

— Nada. — Ele força um riso.

— Ah, qual é, eu não sou besta. Brigamos o tempo inteiro e agora


só porque eu disse uma verdade ele ficou todo na defensiva.
O advogado aperta os lábios e puxa a maleta de cima da poltrona.

— A Eva estava com uma doença terminal — fala baixinho.

Ah, não fode.

— Ignore o Max, como Joseph sugeriu. Ele só não sabe lidar com
o passado. — E nada que não seja do agrado dele, penso.

— Por que ele não vai embora daqui?

— Ele foi, e voltou há um ano, ter você e o bebê nessa casa talvez
traga um pouco de paz. Max faz o estilo família, eles se apaixonaram
rápido, se casaram jovens e estavam planejando ter o primeiro bebê quando
descobriram a doença dela.

Penso em Maxwell e tudo que passa pela boca do advogado não


faz sentido, ele descreve um mocinho, quando tudo que eu enxergo é um
vilão.

— Max disse que eu peguei o resto da paz que ele tinha e a


exterminei. — O homem sorri.

— Se ele não a suportasse, não pediria para viver na sua presença


pelos próximos dez anos. Dê espaço a ele, Persephone, e verá que, no
fundo, ele não é o monstro que demonstra ser.

Comprimo os lábios, pensativa.

Me despeço de Brandon e subo para o andar superior. No caminho


de volta para o quarto, sinto cheiro de cigarro, Lucky Strike mentolado,
tenho certeza, fumava desde que iniciei a faculdade, nas épocas de provas,
era o que me trazia um pouco de sossego.
Me sinto uma cadela farejando o cheiro, que me leva até uma sala
escura com alguns móveis cobertos por lençóis brancos. Avisto Max em pé
diante da janela, com os olhos perdidos no lado de fora e os pensamentos
presos aqui dentro.

Sua esposa com os dias contados tirou a própria vida... me sinto


estúpida por me sentir mal por ele, porém, de alguma forma, isso me faz
compreendê-lo. Eu não acredito que bebês sejam milagrosos, mas talvez
choros, fraldas e cólicas sejam uma boa válvula de escape para ele. Ando
até lá com passos silenciosos, pensando que se eu tivesse que viver nessa
casa, na situação dele, faria qualquer coisa para tirá-la da cabeça.

Paro as suas costas e, quando ergo a mão para tocar na parte de trás
do seu braço, Max se vira num sobressalto, me colocando contra a janela de
vidro. Sinto meu coração romper rápido e frenético colado contra o peito
dele, encaro seus lábios rosados e volumosos entreabertos, escutando sua
respiração tão ofegante quanto à minha.

Encontro seu olhar e a tensão se espalha por nossos corpos,


estamos nos encarando a poucos centímetros de distância, consigo sentir o
hálito mentolado em seus lábios, minha boca se enche d’água e tudo que
penso é em provar o seu gosto.

Avanço milímetros, e Max cobre o restante, moldando seus lábios


grossos e suaves aos meus. Sua língua habilidosa explora minha boca quase
lentamente, deixando-me perto de dissolver com seu toque macio.

Estou consciente, até certo ponto, meus pensamentos estão lentos


como se estivesse bêbada, e a sensação é tão boa quanto fumar um baseado.
Max segura em minha cintura por baixo da camisa e pressiona seu
corpo no meu, intensificando nosso beijo. Dentro de mim, soa um alarme,
berrando como sou estúpida. Esse homem é a minha desgraça, se provou
ser um verdadeiro miserável desde que me trouxe para cá, e, mesmo assim,
não sei por que não o afasto.

Seus polegares acariciam minhas costelas, subindo em direção aos


meus seios, e, conforme seu pau cresce com força em minha barriga, as
ondas de calor atravessam meu corpo, fazendo meu sexo se contrair, por
mais intimidade. Seguro em sua nuca, trazendo-o para mais perto, tentando
aplacar a minha sede de desejo. O pau dele aperta meu clitóris, e os meus
lábios se separam, soltando um gemido bem perceptível.

Sua mão cobre o meu sexo, não estou molhada, estou ensopada,
Max solta um lamurio de satisfação quando arrasta minha calcinha para o
lado e o primeiro toque do seu dedo na minha abertura me faz segurar seu
pulso com força. Encontro o seu olhar, e as minhas bochechas queimam
com o calor da vergonha.

— Eu acabei de assinar o contrato, Max, e isso é uma péssima


ideia. — Ele balança a cabeça desconcertado, como se eu tivesse roubado
sua ação.

Max se afasta, e arrumo as minhas roupas de volta ao lugar. Isso


inquestionavelmente não pode voltar acontecer de forma alguma, pois
aquele contrato foderia comigo. De repente me vem à mente que ele queria
que quebrássemos de propósito, para ter a guarda integral do bebê, mas é
impossível, pois acabei de assinar.

Ah, Deus, estou ficando maluca.


— Acho melhor dormimos em quartos separados — declara
naturalmente, como se nada tivesse acontecido, e talvez seja melhor assim.

— Eu também. — Deixo o cômodo notando que não são móveis, e,


sim, pinturas, ando até o corredor das suítes, olhando para o quarto de Max,
se não vamos dormir juntos, para onde eu vou?

— Fique com o meu quarto, até arrumarmos um permanente para


você. — Ouço a voz dele quase suave, olho por cima do ombro, mas não
tenho coragem de virar, apenas entro no quarto, fechando a porta, e me
escoro nela.

Levo uma mão à boca, ainda sentindo o gosto dos lábios dele, abro
os olhos com força, repudiando as sensações que despertam em meu corpo
mais uma vez. Preciso de um banho frio.
Capítulo 11

Entro no banho às quatro horas da madrugada, depois de um longo


pesadelo. Eva tirou a vida e agora quer tirar a minha paz, talvez vender a
casa seja uma opção ou acabarei enlouquecendo. Nossos melhores
momentos foram aqui, e os piores também... balanço a cabeça, jogando para
longe as lembranças ruins.

Quando deixo o banheiro, o sol já está nascendo, e minha


tranquilidade, indo embora. Enrolo uma toalha na cintura e ando até o meu
quarto para buscar um terno, talvez consiga sair dessa casa antes de vê-la
acordada.

Ontem à noite... toda vez que lembro daquele beijo, do seu toque e
cheiro, os comandos do meu corpo ficam desordenados, meu pau ameaça
acordar e meu cérebro o repreende, de repente me sinto na puberdade, só
que o que fizemos não se dá para resolver com castigos.

Gostaria de poder apagar da mente dela, não queria deixá-la


confusa, a nossa situação já é complicada e tem o contrato, penso agora, se
ela não tivesse assinado, teria me impedido de ir em frente? Grrr! Ainda
bem que impediu, porque a única cabeça que estava funcionando ontem era
a debaixo.

Atravesso a porta silenciosamente e enxergo-a encolhida e


agarrada em um travesseiro, as cobertas estão bagunçadas e emboladas ao
pé da cama, exibindo que também teve uma noite agitada.
Pego nas pontas do tecido e a cubro até a altura da cintura. Ela
precisa de roupas novas, antes que me deixe sem camisas. Sorrio, andando
até o closet, me visto com um terno preto rapidamente. Hoje preciso ir ao
escritório, pelo menos para analisar os possíveis novos investidores. Sem
contar que ficar longe dessa casa também nos fará bem, precisamos nos
afastar pelo menos até eu conseguir esquecer de como ela estava quente e
molhada para mim.

Santo inferno!

Volto para o quarto e Persephone está sentada na cama, mexendo


no celular. Seu rosto está levemente amassado e os olhos inchados.

— Eu acordei você?

Ela balança a cabeça, confirmando.

— Tudo bem, pode ficar na cama, já estou de saída.

Ela balança a cabeça de novo e esfrega os olhos, tentando abri-los.

— Preciso ir ao meu antigo apartamento, quero minhas coisas,


Max, e preciso de roupas novas para a entrevista na sexta — fala com a voz
levemente rouca.

Balanço a cabeça em negação, pensando em uma forma de fazê-la


mudar de ideia; quando fiz o contrato, não passou pela minha cabeça que
ela fosse querer trabalhar. Eu apenas a quero segura até que o bebê nasça,
mas não posso proibi-la de ter uma vida durante esses sete meses e meio.

— Não o que, Max? — Ela balança a cabeça assim como eu.


— Trabalhe para mim — respondo mais rápido do que penso,
normalmente sempre levo pelo menos um dia para tomar uma decisão da
qual não vou me arrepender depois, e aqui estou eu pela segunda vez
decidindo algo no impulso, me trazendo mais dor de cabeça.

Persephone enruga o nariz e balança a cabeça em negação, sem


cogitar. Estranho sua rejeição descarada, as pessoas costumam disputar
qualquer cargo no Fundo Snyder.

— E passar mais horas na sua presença, não, obrigada. — Ela


desce da cama, puxando a camisa para baixo.

Hum, se ela trabalhar para mim, sei que estará segura pelo menos
durante o dia e à noite estará na mansão, o que, de certa forma, também é
bom.

— Eu dobro o salário. — Persephone ri, entrando no banheiro.

— Max, eu nem fiz a entrevista ainda.

— Ótimo, então me diga um valor. — Ela revira os olhos,


fechando a porta na minha cara.

Filha da mãe! Me sento na cama como se não tivesse mais nada


para fazer da vida e a aguardo sair do banheiro. Instantes depois, a porta se
abre, ela está com a escova de dentes na boca, me olhando pensativa. Será
que mudou de ideia? Persephone escora no batente e remove a escova.

— Quero trabalhar com o Diretor Financeiro e ganhar o mesmo


salário que ele. — Ela é direta e ousada, gosto disso... gosto disso nas
pessoas que trabalham para mim

Persephone junta as sobrancelhas, esperando uma resposta.


— A vaga para qual se candidatou na Baumann era de
administração financeira?

Ela balança a cabeça de forma negativa e me dá as costas,


escovando os dentes e indo em direção à pia do banheiro.

— Não, eles só tinham vaga para recepcionista, mas prefiro servir


café para eles do que para você — diz depois de enxaguar a boca e voltar
para o quarto.

— Ok. E se vamos fazer isso, é melhor não contar para ninguém da


nossa situação.

— Que você me sequestrou e me forçou a assinar um contrato


inaceitável, ou tiraria o meu bebê? — pergunta retoricamente, ficando com
as mãos em punhos e os ombros tensos. — Não se preocupe, não quero ter
ligação nenhuma com você.

Lhe dou um aceno, ficando de pé.

É compreensível a sua mágoa, mas foi ela quem nos meteu nessa
situação, eu só desejo o melhor para o nosso filho, e farei o que é preciso
para que isso aconteça, mesmo que ela me odeie.

— Tire o dia para comprar roupas novas e comece amanhã —


aviso e deixo o quarto antes que uma objeção passe por sua boca.

Deixo a casa sem tomar café e encontro Maverick dando uma


ronda no pátio.

— Senhor. — Lhe dou um aceno de bom-dia ao me aproximar do


meu carro.
— Persephone vai querer sair hoje, não desgrude dela e me ligue se
qualquer coisa fora do comum acontecer.

— Claro, senhor.

Entro no carro sem entender o que estou sentindo, foram muitos


acontecimentos em pouco tempo e preciso confiar que ela não sairá
correndo na primeira oportunidade.

Chego no saguão do meu escritório e Mandy, minha secretária, se


levanta ao me notar. Não escondo o meu desânimo, estou há três dias
ignorando todos os seus e-mails e mensagens que ela tem me deixado.

— Se vai me dar más notícias, podia ser acompanhado de um café.


— Ela sorri e puxa um copo descartável debaixo da recepção.

— Nada que o senhor não consiga resolver. — Ela reforça o


sorriso. — Os documentos que precisa analisar estão na primeira gaveta da
sua mesa.
Lhe dou um aceno.

Entro em meu escritório. Sento-me e abro a primeira gaveta sem


perder tempo, e encontro o porta-retrato de Eva, pego-o, o guardei assim
que voltei para Boston. Ela tinha um sorriso tão lindo e pequenas covinhas
nas bochechas. Os cabelos loiros dourados emolduravam uma face pequena
e angelical, com sardas no nariz e olhos azuis, como safiras.

Queria me lembrar dela do jeitinho que está nessa foto, só que, em


meus piores pesadelos, Eva sempre surge morta, dentro da banheira.
Suspiro, procurando eliminar da mente as memórias.

— Max. — Ergo meu olhar, encontrando o de Brandon.

— Persephone começará a trabalhar conosco — esclareço antes de


tudo.

— Como convenceu ela a trabalhar para você? — pergunta, já


imaginando que Persephone não cederia por vontade própria.

A monstrinha tem gênio ruim.

— Deixei-a escolher o cargo e o salário. — Brandon me dá um


olhar de reprovação. — Diga — instigo-o a seguir em frente.

— Você conseguiu que ela assinasse aquele contrato engenhoso, já


pensou em como será sua vida pelos próximos dez anos? Onde quer que
você olhe ela estará lá.

— Se tem uma coisa que eu aprendi com a morte de Eva, é nunca


fazer planos. — Ele estala a língua.
— Devia começar a pensar, porque, para isso se tornar um
casamento, só faltam as alianças. A não ser que seja isso que você queira.

— Acha que eu quero brincar de casinha com a baixinha


rabugenta?

A monstrinha sabe como me deixar maluco e não é no sentido


figurado, ainda que possa sentir a maciez dos lábios dela nos meus, da sua
intimidade úmida, e que isso certamente embaralha um pouco os meus
sentidos, deve-se levar em consideração que não faço sexo há muito tempo,
é compreensível.

— Acho que você já está brincando.

— Devia relaxar, Brand. Vou a Itália na próxima semana, talvez


passe um tempo lá, ficar longe da mansão me fará bem. — Ficar longe de
Persephone e da casa é a melhor coisa que posso fazer nesse momento,
antes que acabe fazendo outra besteira.

— Confia em deixá-la sozinha?

Balanço a cabeça em negação.

— Maverick e outro segurança irão ficar de olho nela 24 horas por


dia, se algo acontecer, o que espero que não aconteça, em 13 horas estou de
volta.

— Pode dar certo, você não vai estar aqui para deixá-la irritada. —
Lhe dou um olhar duro.

— Avise o diretor financeiro que ele terá uma sombra pelos


próximos meses e, se ele perguntar o motivo, invente um.
— É sempre um prazer trabalhar com você — Brandon escarnece e
me estende uma pasta preta. — Ela assinou, agora é a sua vez. — Ele solta
na mesa e deixa a sala a seguir.

Pego o contrato e vejo a assinatura rabiscada dela no fim da folha,


a cena de ontem ameaça percorrer a minha mente e preciso balançar a
cabeça para espantá-las. Ela mexeu mesmo com a minha cabeça.

Quando atravesso os portões da mansão o sol já está se pondo, e


Maverick está sentado em um banco na varanda com uma expressão de
cansaço. Aguardei durante o dia qualquer mensagem ou ligação de que
Persephone pudesse ter aprontado alguma coisa, mas, aparentemente,
ocorreu tudo bem.

Retribuo o seu aceno de cabeça e entro na casa; da entrada, noto


uma silhueta esguia, usando um vestido justo de cetim vermelho puro, que
modela perfeitamente um traseiro tentador, percorro os olhos pelo longo
decote nas costas e desço mais uma vez, analisando o suave comprimento
assimétrico, que expõe mais uma coxa que a outra.

A garota está debruçada na escora de um sofá, e seus cabelos


escuros levemente ondulados cobrem sua face. Deve ser uma das vadias de
Joseph, preciso começar a cortar o barato dele e colocá-lo na linha para
representar seu pai. O bastardo está sentado no sofá no qual a garota está
debruçada, consigo ouvir a risada dele daqui.

Me aproximo, chamando atenção de ambos.

— Joseph, precisamos conversar... — Me calo quando a garota


joga os cabelos ondulados para trás do ombro, assumindo uma postura reta,
que irradia sensualidade e poder.

— Aposto que agora se arrepende daquele termo do contrato, não


é? — ele ironiza, dando uma piscada para ela, Persephone revira os olhos e
começa a guardar as peças de roupas jogadas no sofá de volta nas sacolas.

Recobro a clareza, e, mesmo assim, continuo vidrado nas feições


dela, está tão bela e delicada que a agressividade em seus olhos quase passa
despercebida.

— Você vai trabalhar assim? — pergunto por fim, quando ela


arruma a postura com várias sacolas nas mãos.

Se ela for, terei que dobrar a segurança, era mais fácil quando
andava descabelada, com as unhas descascando e sem maquiagem.
Persephone analisa minha expressão, e seus olhos brilham com uma
emoção que não consigo compreender.
— Não, comprei roupas formais para o trabalho, só estou assim
porque vou sair com Nic — explica sem muita vontade.

— É quinta-feira, devia descansar já que começa amanhã. —


Ignoro Joseph ainda sentado no sofá com um risinho e vejo os lábios dela
pintados de vermelhos se abrir em um sorriso radiante, capaz de iluminar
um estado.

— Vamos comemorar o meu novo emprego e Maverick ficará na


minha cola, não é mesmo? Então, não tem com o que se preocupar, papai
— enfatiza. Passo a língua pelos lábios, tentando entender como aceitar a
situação.

Minha vontade é de amarrá-la e prendê-la dentro do quarto, acho


que nunca senti algo assim antes, é doentio e um pouco perturbador. Não
compreendo como pequenas ações dela conseguem me deixar fora de mim.

Certamente passar um tempo na Itália será melhor para nós dois,


reflito vendo-a subir para o andar superior e percebo que Joseph também.
Quando ela some das nossas vistas, ele se vira para mim.

— Não tem de quê — diz, ficando em pé e pegando um cigarro do


bolso da calça jeans.

Encaro-o circunspecto.

— Você foi às compras com ela?

— As compras, ao salão, a manicure.

— Se tornou o melhor amigo gay dela?

Meu primo estala a língua com um riso, levando o cigarro à boca.


— Não precisa ter ciúmes, sabe o que dizem, coração de mãe
sempre cabe mais um.

— Eu falei sério quando disse pra ficar longe dela, Joseph.

— Uau, não lembrava dessa possessividade com a Eva. — Ele


ergue as mãos para o alto. — Perse é gente fina, devia conhecer melhor a
mãe do seu filho — diz, passando por mim, deixando a casa.

Ando até o meu escritório, buscando qualquer normalidade em


algum canto dessa casa. Desfaço o nó na gravata enquanto encho um copo
de uísque, virando tudo num gole, e depois caminho até o meu quarto
tirando o paletó. Dormi tão mal essa noite, e aposto que não vou conseguir
pregar os olhos até ela voltar para casa.

Entro no quarto, as sacolas de Persephone estão espalhadas pelo


chão, e ela, esparramada no colchão apenas de calcinha, e o vestido
vermelho cobrindo os seios e a cabeça.

Ela descobre a face e desliza o comprimento do vestido até a


cintura, aguardo uma reprimenda, mas Persephone apenas me encara com
exaustão.

— Não guardei nada, porque não sei em qual quarto vou ficar.

— Tudo bem — digo, passando entre as sacolas no chão. — Você


não ia sair? — questiono quando alcanço o closet.

— Desisti, os meus pés doem, a minha cabeça lateja, e preciso


estar bem pra manhã. — Assinto, até diria para começar segunda-feira, mas,
cabeça-dura do jeito que ela é, duvido que aceitaria.
Solto o terno e a gravata no closet, e escolho uma peça de roupa
mais confortável, amanhã peço para Nina arrumar a outra suíte para ela,
espero que dessa vez ela não fuja.

Volto para o quarto e Persephone está apagada, deitada de lado e


abraçada ao vestido que deslizou para fora do seu corpo. Santo Inferno, eu
censuro tanto Joseph, mas não há ninguém para me censurar. Suspiro.
Persephone consegue destruir o meu juízo até quando está adormecida.

Pego uma manta ao pé da cama, cubro-a até a altura dos ombros e


deixo o quarto em seguida.
Capítulo 12

Encaro o meu reflexo no espelho, estou usando um vestido preto


tubinho com uma pequena fenda no comprimento, o decote é reto,
sustentado por alças grossas e um cinto marrom terracota acima da cintura.

Me afasto do espelho e olho a montanha de roupas em cima da


cama, esse foi o quarto que experimentei, estou ansiosa e indecisa, quero
dar uma boa impressão, se bem que isso é meio irrelevante, estou dormindo
na cama do chefe. Jogo a cabeça para trás e calço uma sandália alta e preta,
pedindo a Deus por equilíbrio.

Ontem, quando pedi que Joseph me acompanhasse, não sei o que


passou pela minha cabeça. Ele foi pior que qualquer amiga maluca que já
tive, entramos em mais lojas que posso lembrar, e ele me fez até tirar o
buço, caralho, aquilo dói demais.

Depois das compras, ainda passamos no meu antigo apartamento,


peguei o dinheiro que estava guardando para pagar o cara da casa de jogos e
minhas roupas e documentos, quando cheguei aqui na mansão, não sei de
onde eu tirei que teria forças para sair com Nic à noite.

Percebi a tensão que percorreu o rosto de Max quando disse que


sairia com a Nic, e depois o alívio quando disse que não iria mais. Essa
posse toda que ele tem em cima de mim, às vezes fico pensando que vai
além da maternidade. Estou carregando o filho dele, mas ainda tenho uma
vida fora dessa casa, assim como ele.

Pego uma bolsa preta que contém apenas o meu celular e deixo o
quarto antes que eu decida trocar de roupa outra vez. Acredito que tenha
acordado cedo demais, levantei-me no meio da noite para fazer xixi e
depois não consegui mais dormir, imaginando como será o resto do meu
dia, estou eufórica.

Entro na cozinha e começo a preparar algo para comer de café da


manhã, estou aqui a menos de uma semana, e às vezes sinto como se já
fizesse parte desse lugar há mais tempo. Estou passando manteiga de
amendoim no pão quando noto a presença de Max, ele usa um terno preto
slim, que adorna seus músculos e para diante da grande ilha, onde estou
sentada. Seus olhos me analisam com a mesma emoção de ontem. Se eu não
tivesse ficado impressionada com o resultado do Spa, me sentiria ofendida.

Ele balança suavemente a cabeça como se espantasse algo da


mente e suas feições ficam mais firmes, como no primeiro dia que o vi.

— Maverick irá acompanhá-la até a empresa, e depois Brandon a


encontrará para orientá-la.

Uau! Bom dia, pra você também.

— Tudo bem — respondo, estranhando o seu comportamento


indiferente. Não sei por que me presto a entender esse homem ainda.

Max pega algo da geladeira e se retira da cozinha sem dizer mais


nada. Termino de comer rapidamente, puxo a minha bolsa de cima do
balcão e ando até a saída a tempo de ver Maxwell deixando os portões.

Maverick apaga o seu cigarro e anda até o Jaguar preto que usamos
ontem, abrindo a porta do passageiro para mim. Entro no carro e escoro a
cabeça no banco, ansiosa para o que me aguarda o resto do dia.
O segurança precisa apressar os passos para me alcançar depois
que estacionou em frente ao Fundo de Investimento. Olho a esplendorosa
empresa, e me pego lembrando que semanas atrás não quis largar um
currículo aqui porque não considerava confiável, e agora estou grávida do
herdeiro desse império.

As portas de vidro do prédio se abrem quando me aproximo e a


primeira coisa que noto é Brandon na recepção, com a sua habitual
pastinha. Ele também não esconde o espanto quando me enxerga e abre um
sorriso exagerado, retribuo, percebendo que vou ter que começar a me
acostumar com os risinhos, e o sigo em direção ao elevador, olho por cima
do ombro e percebo que Maverick ficou na entrada.

Enfim, privacidade.

— Está muito bonita — elogia gentilmente quando entramos no


elevador.
— Você também. — Ele sorri, me olhando pelo espelho. — Max
disse que irá me orientar. Eu aprendo rápido, então, seja o que for, pode
mandar.

— Vou apresentá-la ao CFO, Colin Rindel. Ele pensa que você é a


filha de um casal de amigos do Maxwell.

— Ótimo, mais mentiras. — Uma fração da minha alegria se


dissipa, minha vida será uma mentira pelos próximos dez anos. As portas
do elevador se abrem, levando meus pensamentos embora, talvez assim seja
melhor, aceitar o meu destino, para poder, pelo menos, conseguir me
adaptar a ele, até o nascimento do bebê.

Caminho ao lado de Brandon, chamando atenção de algumas


pessoas na recepção.

— Tem mais alguma coisa que eu deva saber?

— Dado os problemas que tivemos no passado, Colin, acredita que


está aqui para espioná-lo, e não para auxiliá-lo.

Auxiliá-lo???

— Espero que Max tenha deixado claro que não aceitei trabalhar
no fundo para servir café. Eu sei que ele me quer aqui para poder me
controlar, e estou dando corda pra essa maluquice, contanto que eu ganhe
algo em troca.

— Você não vai servir café, não se preocupe. — Ele abre um


sorriso que não me passa confiança e para diante de uma ampla sala com
parede de vidro. Avisto um homem loiro de terno cinza-claro, recostado em
uma cadeira de couro.
Brandon se vira para mim com uma expressão neutra.

— Para o bem de todos, é melhor que se mantenha afastada do


chefe durante o expediente, Max é reservado e ninguém sem marcar hora
consegue conversar com ele, e isso não seria diferente com você.

— Uau, que bela amizade ele tem com os meus pais — escarneço
sutilmente.

— Não seja demitida. — Sorrio para Brandon, que abre a porta do


escritório.

Colin Rindel se põe de pé, abotoando o botão do paletó, sua


expressão não é nem um pouco hospitaleira. Dou um passo à frente,
analisando-o, apesar da carranca ele, é muito bonito, aparenta estar na casa
dos trinta anos, olhos claros, os lábios grossos e curvados estão rígidos
exibindo seu descontentamento e, em seu queixo, um pequeno furinho,
como o do Clark Kent.

— Colin, esta é Persephone Beaumont, de quem te falei.

— É um prazer — comenta com um tom de voz firme sem um


pingo de satisfação.

— Vou deixá-los trabalhar — Brandon avisa, dando um passo


atrás, deixando o escritório.

Solto um pequeno suspiro, encontrando os olhos de Colin, ele se


sentou e me observa com despretensão. Tudo bem, ele é só mais uma
montanha em que terei que passar.

— Sente-se, senhorita Beaumont. — Não entendo o motivo, mas o


tom de voz dele me faz pensar que estou em uma entrevista de emprego.
— Me chame de Persephone — aviso, me sentando em uma
cadeira de frente para ele. — Não estou aqui para vigiá-lo, senhor Rindel —
sua expressão endurece —, tenho apenas interesse em ganhar experiência e
ficaria feliz se pudesse me ajudar — digo com sinceridade.

O homem empurra o lábio inferior com a língua, pensativo. E


depois de um momento, ele balança a cabeça, amenizando a expressão
cautelosa.

— Me chame de Colin. — Dou-lhe um aceno e um sorriso,


sentindo a situação sob controle.

Colin relaxa assim como eu e começa a balançar uma caneta entre


os dedos.

— É o seu primeiro trabalho nessa área?

— Sim — respondo, balançando a cabeça.

— Arraste a cadeira e se sente ao meu lado, assim será mais fácil,


mas fique sabendo que terá que ler muita coisa para conseguir me
acompanhar. Cada empresa gerencia de uma forma, e se aqui é o seu
primeiro contato fora da faculdade, tem a aprender mais do que imagina —
explica, mexendo em algo no notebook.

Arrasto a pesada cadeira para o lado dele e, quando me sento, ele


se vira para mim, seus olhos azuis profundos encaram os meus, ele cheira
muito bem, parece baunilha. Eu comeria um sorvete de baunilha agora,
penso, sentindo minha boca se encher d’água.

Ah, Deus, foco Persephone.

— Tudo bem? — pergunta, acredito que eu tenha encarado demais.


Manejo a cabeça em concordância e aponto para a tela para ele dar
sequência na explicação.

Colin esclarece que trabalha com alocação dos recursos em


diferentes tipos de investimentos, como ações, fundos imobiliários, análise
de mercado e de risco, operações financeiras, acompanhamento de
desempenho e elaboração de relatórios financeiros. Ele segue falando e fico
impressionada com a quantidade de coisas que terei que aprender e
entusiasmada na mesma proporção.

A manhã sucedeu com mais explicações, pensei que Colin se


cansaria, passamos a manhã toda conversando sobre finanças, confesso que
foi bem melhor que as aulas que tive na faculdade.

— Está na hora do almoço, retomamos mais tarde — avisa, ficando


em pé.
— Ah, claro. — Me levanto também, pegando a minha bolsa,
pensando onde comer, sigo Colin para fora da sala e me pego olhando em
volta, em busca do elevador.

Ah, Deus, é possível a gravidez deixar a mulher com os


pensamentos lerdos?

— Já sabe onde vai almoçar? — pergunta ao meu lado enquanto


caminhamos em direção à saída.

Balanço a cabeça em negação.

— Estava tão entusiasmada com o meu primeiro dia que nem


pensei no almoço. — O homem sorri, exibindo dentes bem brancos.

— Tem um restaurante japonês do outro lado da rua, se quiser,


pode vir junto.

— Sério? Não quero importuná-lo mais que o necessário. — Ele


sorri e chama o elevador.

— Relaxa, é sexta-feira e, de qualquer forma, ainda tem muita


coisa para aprender.

— Tá bom — respondo e noto uma presença as minhas costas,


olho por cima do ombro e vejo Brandon e, ao seu lado, Max aguardando o
elevador. Meus olhos fixam-nos do pai do meu bebê, por instante, então as
portas abrem e Colin gentilmente coloca a mão na minha cintura, me
guiando para dentro.

Quando as portas se fecham com todos dentro, me sinto asfixiada,


meu coração bate ligeiro sem compreender o motivo.
— Já sabe onde vai almoçar, Persephone? — Brandon pergunta
naturalmente, preenchendo aquele silêncio ensurdecedor.

— No japonês com o Colin. — O CFO me olha e lhe dou um


sorriso involuntário, depois olho para frente e encontro Max me observando
com uma expressão especulativa, ainda mais firme do que a de hoje cedo.

As portas se abrem, e o ar volta aos meus pulmões. Os dois descem


à nossa frente, e Max reduz os passos quando nos aproximamos dele.

— Persephone, me dá um minuto? — pede, roubando a minha


ação.

Olho para Colin, e ele diz só para eu ouvir que me aguarda do lado
de fora e depois segue andando, conversando com Brandon.

— Pois não, senhor? — Ele faz uma careta devido à formalidade.

— Como se saiu? — pergunta, e franzo o cenho, confusa a respeito


do seu interesse.

Dou de ombros.

— Bem, eu acho. Deseja mais alguma coisa? Não quero deixá-lo


esperando — explico, dando um passo atrás, me afastando dele.

— Não. — Max balança a cabeça e lhe dou as costas, paro e me


viro para ele novamente ao ver o segurança na entrada me aguardando.

— Dispense, Maverick, não estou correndo perigo.

— Nem pensar. E vê se não come peixe cru, pode fazer mal ao


bebê. — Não consigo disfarçar meu asco por ele. Me viro e quase tombo no
segurança, preciso erguer o queixo para encontrar seus olhos.
— Senhora.

— Seja invisível — aviso, fazendo a volta no corpo dele e,


caminhando com passos largos para fora do prédio, encontro Colin ainda
conversando com Brandon.

— Vamos? — ele pergunta, e o acompanho para o outro lado da


rua.

O almoço ocorreu perfeitamente, assim como a manhã. Colin é


engraçado sem ser forçado, a conversa fluiu bem entre nós e, quando me dei
conta, já estávamos de volta ao escritório. Brandon nos fez uma visita à
tarde e, em menos de seis horas, eu já tinha a minha própria sala. Max e
suas sutilezas. Mesmo ganhando a sala, preferi ficar com Colin, pois é mais
fácil aprender o sistema da empresa.

Solto um longo bocejo e por pouco não caio para fora do carro
quando Maverick abre a porta. Quase não consegui ficar com os olhos
abertos durante a tarde. Me arrasto para dentro da casa e me atiro no
confortável sofá da sala, jogando os meus sapatos longe.

Desperto no mesmo quarto que tentei fugir pela janela, olho ao


redor e percebo que foram acrescentadas algumas coisas, como um
notebook em cima de uma escrivaninha, uma penteadeira entre o banheiro e
o closet, uma cadeira de balanço suspensa perto da janela e um porta-retrato
com uma foto de quando era pequena na cômoda, que peguei no
apartamento quando fui buscar minhas coisas.

O ambiente é fofo e confortável, mas já estava começando a me


acostumar a dormir na cama dele, lá me sinto mais segura, provavelmente
isso é coisa da minha cabeça, ou porque foi aqui que Max disse que não me
deixaria ir embora.

Me sento, ouvindo uma suave batida na porta.


— Cansada? — Max pergunta da entrada com uma bandeja de
comida, e de repente me sinto em um déjà-vu.

— Um pouco — confesso, me escorando contra os travesseiros, ele


acende a luz e entra no quarto, usando um terno diferente de hoje cedo,
como se estivesse pronto para sair. Max se senta ao pé da cama e empurra a
bandeja em minha direção, destapando-a e despertando a minha fome.

— Vai sair? — pergunto, puxando uma berinjela à milanesa do


prato.

Ele balança a cabeça, confirmando, enquanto me observa a comer


com atenção.

— Então por que está aqui, Max?

— Vou a Itália. — Ele aperta os lábios com pequeno riso.

Oh. Emito surpresa.

— Agora? — pergunto, encarando-o, e ele balança a cabeça.

— Ainda tenho negócios lá — esclarece com mais uma breve


resposta. Diria até que está indo para lá para fugir de mim, mas isso não faz
sentido, faz? Depois que nos beijamos, as coisas ficaram um pouco
estranhas, mas... em qual momento a nossa situação deixou de ser
estranha?

— Volta quando?

— Dois meses talvez, eu não sei ainda.

Meus lábios se abrem involuntariamente e me sinto forçar o


maxilar para fechá-lo, mas meus olhos se enchem de lágrimas, enquanto
tento entender os meus sentimentos, é estranho me sentir abandonada
quando ele ainda está aqui na minha frente, sem contar que nunca fui dele
para me sentir assim.

Os hormônios vão me matar até o fim da gravidez.

— Está chorando? — pergunta se inclinando para frente, com as


sobrancelhas unidas.

Uma lágrima escapa, impedindo-me de mentir, desvio os olhos


para o prato de comida e puxo outra berinjela. Só me senti frágil dessa
forma depois que perdi os meus pais, e ridícula a ponto de chorar por um
homem que não vale o ar que respira.

— São os hormônios, Max, se já terminou, gostaria de acabar o


jantar sozinha.

Ele fica em pé, analisando o meu rosto úmido pelas lágrimas, seu
maxilar se contraí firme, como a tensão que percorre o seu corpo.

— Vai ficar bem? — Seus olhos escuros e intensos me passam


preocupação que ele tenta esconder.

Tenho vontade de revirar os olhos.

— Dois meses sem a sua adorável presença é como um presente de


Deus. — Sorrio.

Ele assente, caminhando até a saída, mas para no batente, se


virando para mim.

— Tudo do que precisar, peça ao Brandon, eu entrarei em contato


durante a semana e, Persephone, espero que esteja aqui quando eu voltar.
Em outras palavras, que não quebre o contrato.

Lhe dou um aceno de cabeça, Max fecha a porta, e as lágrimas que


estava segurando rolam em abundância. Minha mente é tão clara a respeito
dos sentimentos que tenho por ele: controlador, egocêntrico, grosso e sem
limites... mas meu coração bizarro está deprimido com o seu afastamento
repentino.

Deus, vou precisar de um bom tratamento psicológico no fim da


gravidez.
Capítulo 13

Minha cabeça lateja pela pilha de papéis que acabei de ler. Quem
diria dois meses depois e não preciso mais do auxílio de Colin para decifrar
os documentos. Quando comecei a trabalhar em minha sala, que fica em
frente à dele, fiquei responsável pela elaboração de relatórios financeiros. E
ele ainda me deixa ajudá-lo estabelecer as metas e desenvolver as
estratégias para alcançá-las.

Quando pedi ao Max para trabalhar ao lado do CFO, não imaginei


o trabalho desgraçado que é, se fosse em outra empresa, provavelmente
ainda seria a moça do café. E se Colin negasse a me ensinar, pois, na
prática, não tem nada a ver com o que o professor ensinou na universidade,
possivelmente seria sua assistente financeira.

Deslizo a mão pela barriga já proeminente, é pequenina, mas


notável a olhos aguçados. Na última consulta que tive há duas semanas,
fizemos um ultrassom, o bebê tinha quase vinte centímetros, a médica ficou
impressionada com o seu tamanho, e eu, preocupada, pois quanto maior,
mais difícil de sair.

Max participou da consulta por videochamada e não quis saber o


sexo do bebê, ele quer estar presente quando descobrirmos, gostaria de
entender o motivo. Confesso que estranhei o seu afastamento no começo e
passei a dormir em seu quarto para conseguir alguma espécie de conforto,
eu detestei a ideia de saber que só me sentia bem naquele quarto, mas, ao
mesmo tempo em que me sentia culpada, a necessidade de ficar melhor era
maior e eu ignorava o restante.
Levei um mês para esclarecer meus confusos sentimentos por ele,
cheguei à conclusão de que tudo é culpa do bebê. A raiva que sentia por
causa do sequestro e o contrato diminuiu com o passar dos dias, não o ver e
ouvi-lo, com certeza ajudou, temo como será nosso reencontro. Semanas se
passaram e, em todas as nossas breves conversas sobre a maternidade, ele
não disse quando retornaria, e eu tampouco quis me mostrar interessada.

Ergo os olhos e encontro os de Colin em mim através do vidro,


falando ao telefone. Ele rabisca algo em uma folha e a ergue em seguida,
expondo a palavra café??? em vermelho. Sorrio. Pego uma folha em
branco, escrevo adoraria e mostro para ele, que assente com um largo
sorriso.

Gosto de Colin, é fácil conviver com ele, não brigamos sequer uma
vez desde que entrei para o escritório, ele me faz rir com piadas idiotas, não
me deixa almoçar sozinha e ainda divide sua secretária comigo.

Admito que gosto de flertar com ele, pois são nesses pequenos
momentos que ainda me sinto desejada. A entrada para o quarto mês tem
aumentado a minha libido, senti desejo até em Brandon. Esses dias, no
elevador, me peguei olhando para ele, imaginando-o nu. Por Deus, minha
mente não tem limites, e Joseph quer acabar com minha saúde mental, ele é
uma tortura deliciosa, que adora perambular pela casa apenas de cueca, está
ficando difícil ignorá-lo.

Eu preciso transar! Eu quero transar, e aquele maldito contrato não


me permite. Quem sabe se eu conversar com Max, ele pode abrir uma
exceção para... Joseph? Ele parece detestar o primo, e Brandon não teria
coragem de fazer isso nem por caridade. Encaro Colin do outro lado, ele é
inteligente, limpinho e não deve sair com qualquer mulher. Balanço a
cabeça, espantando esse pensamento, que não tem cabimento.

Ok, só mais cinco meses sem transar. Oh, Deus! Quando o bebê
nascer, fará um ano que eu não faço sexo, e com certeza ficarei presa
naquela bolha materna pelos próximos seis meses... Uma suave batida na
porta me tira do meu tortuoso devaneio.

Colin me aguarda do lado de fora, calço o meu Scarpin e deixo a


minha sala alinhando o meu vestido preto, pois ele disfarça melhor o
pacotinho em minha barriga. Ainda não inventei uma história para o bebê e
me sinto péssima por ter que mentir para as pessoas com quem trabalho,
mas, enquanto não perguntarem, não me sinto na obrigação de esclarecer.

Os meus peitos, sim, tiveram os seus cinco minutos de atenção


quando vim para empresa com um vestido muito decotado. A secretária de
Colin me perguntou onde eu estava escondendo-os.

— Aonde quer ir? — ele pergunta, deslizando a mão para minhas


costas, me guiando em direção ao elevador.

— Já esteve no Royal Coffee Executive? — pergunto, entrando na


caixa metálica e os dedos dele não me abandonam, seu polegar inicia
pequenas carícias próximo ao centro das minhas costas, e Colin parece bem
confortável com o gesto.

Ah, por Deus, não faça isso. Oro em pensamentos.

— Não, é bom? — responde, se virando para mim e seus dedos


abandonam as minhas costas.
Encaro seus lábios rosados e a forma como seus dentes mordiscam
a pontinha do inferior enquanto me analisa. Colin abre um pequeno risinho,
e suas sobrancelhas se unem sutilmente.

— Perse? — sussurra. Encontro os seus olhos azuis intensos com


uma leve pitada de libertinagem, o olhar que usa para flertar.

— Colin — respondo, percebendo sua proximidade com muita


clareza. Os lábios dele tocam os meus lentamente, enquanto seus dedos se
prendem em torno da minha nuca. Deslizo as mãos para o seu abdômen,
meu primeiro pensamento é empurrá-lo, mas a sua língua reivindica a
minha com um pouco mais de força, despertando algo no meu interior.
Trago-o para mais perto, e Colin pressiona a minha barriga com a sua,
fazendo-me recobrar a porra do juízo.

Meus olhos se arregalam nisso, as portas do elevador se abrem e


nos afastamos. Desço na frente dele, buscando por ar e à procura do meu
discernimento.

— Persephone. — Colin está logo atrás de mim, mas não consigo


encará-lo, a minha vida está uma confusão e não vou arrastá-lo para isso.

Paro de repente, me virando para ele no meio do saguão, e sua


expressão é uma bagunça.

— Lamento se passei dos limites, achei que também estava a fim.


— Balanço a cabeça em concordância, pressionando os meus lábios.

— Eu estou grávida, Colin — esclareço e acho que nunca vi uma


pessoa ficar branca tão rápido. Seus olhos caem sobre meu abdômen e
depois sobem para os meus olhos.
Ele está sem palavras, bem como eu imaginei que ficaria.

— Acho que o café fica pra próxima — profiro e deixo o saguão


sozinha.

Isso, além de vergonhoso, foi um choque de realidade para o que


me aguarda daqui para frente. O que eu tenho na porra da cabeça? Não
posso mais sair flertando com as pessoas, pelo menos não enquanto estiver
grávida.

Ah, Deus! Consegui deixar o único ambiente que me sentia à


vontade, com o clima hostil.

Assisti ao pôr do sol sem um pingo de ânimo, essa casa é enorme e


me faz sentir tão pequena e solitária. Deito-me em minha cama sem
expectativa de dormir e, pela primeira vez em semanas, me sinto sem fome.
Não consigo tirar da cabeça o que rolou com Colin. De tudo isso, a única
parte boa foi que ninguém presenciou. Suspiro e tento encontrar o meu sono
sabendo que terei uma noite agitada.

Desperto pela centésima vez, notando que já amanheceu. Viro-me,


tentando voltar a dormir; nisso, percebo uma presença ao pé da cama, me
sento sobressaltada, vendo Max ali, e suas malas no chão do quarto.

— Você voltou. — Minha voz sai trêmula, Max solta o paletó na


cama, e seus olhos escuros mergulham firmes nos meus. Ele está diferente
de quando viajou, seus cabelos estão cortados, e a barba feita, definindo
bem a sua expressão algoz. — Max — sibilo, confusa, e desço da cama,
seus olhos me seguem silenciosos, como uma fera analisando qual a melhor
hora para atacar.

— Você não entendeu a proposta do contrato, não é? — profere


entre os dentes, diminuindo o espaço entre nós, e sua camisa desabotoada se
abre, ficando presa em seus ombros largos e tensos.

Balanço a cabeça, incompreendida.

— Eu não quebrei nenhum termo, Max — respondo com o mesmo


temperamento que ele, e seus lábios se curvam em um riso, que faz o medo
invadir o meu estômago. — Se quisesse me privar de qualquer contato
humano, devia ter descrito melhor essa parte. — Seu sorriso mordaz se
dissipa, e a raiva transparente em seu rosto, de alguma forma, o deixa mais
atraente.

Malditos hormônios.

Max avança em minha direção, seus dedos se fecham em torno dos


meus braços com força, e a parede de músculo do seu corpo me prende
contra o cômodo.
— Me larga! — protesto.

— Me deixe ser bem claro, pequena monstrinha, pelos próximos


dez anos, você será minha, e eu serei o único homem que tocará em seu
corpo. — Seus dedos seguram em meu queixo com força, me obrigando a
encará-lo. — Você entendeu? — pergunta com os lábios colados aos meus,
e posso sentir o cheiro mentolado neles, se eu me concentrar, posso até
sentir o gosto deles.

— Vá se foder — assobio entre os dentes, o aperto de Max fica


mais intenso, e seus olhos queimam com selvageria. Seus dedos seguram
nos cabelos da minha nuca, erguendo mais o meu rosto. Ele só pode ter
perdido o juízo de vez.

Max roça os lábios nos meus, me instigando a ceder ao seu toque,


mas prefiro morrer. A mão que segura o meu queixo desce entre as minhas
pernas, e o nó do dedo indicador provoca o meu clitóris por cima do tecido
da calcinha.

— Não podemos — sussurro, notando minhas pelves


involuntariamente ir ao encontro da sua mão. Fecho os olhos, odiando não
ter um pingo de controle perto dele.

— Comigo, você pode tudo. — A voz de Max soa embargada de


luxúria, e seus dedos invadem o fino tecido da minha calcinha, seguro em
seu pulso quando ele alcança a minha entrada molhada, pronta para tudo
que ele tem em mente.

Encontro seus olhos determinados, e Max mordisca o lábio inferior


quando guio o seu dedo na minha fenda, me preenchendo muito lentamente.
Meus lábios se separam, e sua língua feroz mergulha para dentro da minha
boca. Me agarro em seus ombros com força enquanto me coloca sentada na
cômoda. Os seus dedos se fecham em torno da minha calcinha, ele a arranca
num puxão firme e quase instantaneamente sinto o seu pau me penetrar
num golpe duro.

Gemo contra seus lábios.

— Porra — Max geme de volta, apertando minha bunda com força,


ele se afasta e me ergue pelo quadril em direção a sua ereção. — Você é
gostosa pra caralho, monstrinha. — Seu pau bate com força, fazendo-me
estremecer.

— Max. Ai, meu Deus... — Embalo meus quadris ao encontro dos


dele, desejando cada pedacinho seu dentro de mim.

Os lábios de Max se curvam em um riso que eu nunca havia visto


nele, e seus movimentos se tornam mais rápido e intensos, assisto a cada
músculo do seu torneado abdômen enrijecer. Traço um dedo sobre ele,
percorrendo a trilha de pelos em seu peito, o meu dedo encaixa embaixo do
seu queixo, erguendo o olhar até mim. Seus olhos escuros como uma
obsidiana me encantam e aprisionam em uma escuridão tão implacável
quanto à de Hades.

Max desliza uma mão delicadamente pelo meu abdômen e ergue a


camisola até altura dos meus seios, meus olhos caem sobre meu corpo,
fazendo-me travar as pernas quando não enxergo mais volume em meu
ventre.

Cadê o meu bebê?

Passo a mão pela barriga chapada, sentindo o suor frio e o medo


pungente penetrar até os meus ossos.
Ai, Deus, o que eu fiz?

Desperto de repente sobressaltada, com o coração acelerado e


suada em várias partes do corpo.

MEU DEUS!

MEU DEUS!

MEU DEUS!

Pulo para fora da cama e arranco a minha camisola, jogando-a


longe, encaro o meu ventre e o bebê está aqui, protegido e seguro da minha
mente suja e imunda. Por Deus, que caralho de sonho foi esse?

Olho em volta, sentindo o meu coração voltar a ficar acelerado, foi


assustadoramente real. Balanço a cabeça, tentando bloquear a cena doentia
da minha mente. Entro no banho sem intenção de voltar a dormir, quem
sabe, retornar para o meu quarto seja a melhor opção, para o meu bem;
preciso me afastar de todos os homens ao meu redor.
Capítulo 14

Me encaro no espelho do elevador, fiz um coque alto, pois não


estava no clima para arrumar os cabelos, coloquei uma saia de couro preta,
uma blusa social branca e um par de botas de cano longo.

As portas se abrem e como a vontade de querer voltar para casa


não passa, eu desço do elevador. Não tive coragem nem forças para vir no
período da manhã, dormi muito mal, e sei que ainda tenho que conversar
com Colin sobre ontem, sinto que devo uma explicação a ele.

Caminho em direção à minha sala, Colin não está na dele, ainda


não deve ter voltado do almoço, viro-me para minha e Brandon está sentado
em um requintado sofá cinza-escuro.

Senhor, como ele sabia que eu viria exatamente agora? Argh!


Maldito Maverick.

Atravesso a porta sem esconder minha expressão de


descontentamento. Caminho até a ponta da minha mesa e me sento nela,
cruzando as pernas e os braços.

— Você entrou sem ser convidado, então não espere que eu te


mande falar — esclareço sem a menor ideia do que ele quer de mim.
Brandon me dá um breve aceno com a cabeça e se coloca de pé, assumindo
uma postura desconfortável.

— Colin relatou ao RH que beijou você no elevador. — Sinto o ar


ser sugado dos meus pulmões.
— O que você quer de mim, Brandon? — pergunto, tremendo de
nervosa.

— Ouça, ele mencionou que você está grávida e queria deixar


claro que não teria agido daquela forma se soubesse.

— Isso é ridículo e constrangedor pra cacete — vocifero, irritada


não com Brandon, mas com o Colin, que agora me encara do outro lado da
sala, estou com as mãos em punhos, maluca para lhe dar um murro no meio
da cara.

O que ele pensou que eu faria, uma denúncia por assédio sexual?
Qual o problema dele?!

— Max já sabe? — pergunto com uma tentativa ridícula de


suavizar o tom de voz.

— Sim. — Que caralho, de repente o sonho da noite passada


percorre minha mente como um flash, balanço a cabeça, jogando-o para
longe.

— Brandon, se puder me dar licença, eu preciso de um minuto


sozinha.

O advogado assente e se retira em silêncio, aproveito e fecho todas


as venezianas pretas, me isolando no escritório, meio dramático, mas não
conseguiria segurar as lágrimas até o banheiro.

Espero chegar logo o dia no qual vou parar e rir de tudo que está
acontecendo comigo, sento-me no sofá onde Brandon estava e, sem cabeça
para trabalhar, solto o meu cabelo e relaxo no estofado, desejando me
teletransportar daqui.
Uma batida desperta na porta, fazendo-me fungar e limpar as
lágrimas rapidamente. Ela se abre e Colin entra, tão tenso quanto ontem no
saguão. Desvio os olhos quando sinto o acúmulo das lágrimas neles.

— O que faz aqui, Colin? — pergunto, mais lamentosa do que


desejava.

— Você baixou as cortinas, eu fiquei preocupado. — Ele dá passos


incertos até se aproximar de mim. — Persephone, eu... não sabia que tinha
outra pessoa.

Outra pessoa??? Tipo um marido, ou um namorado???

— Não há outra pessoa. — Suspiro, erguendo a cabeça para


encontrar o seu olhar. — Estou grávida, o meu bebê tem um pai, mas não
estamos juntos — explico a parte razoável, já que a bagunça toda Max
proibiu de falar.

— Por que não me contou? — pergunta, sentando-se na minha


frente, seus olhos azuis me fitam com atenção e gentileza.

— É um pouco mais complicado que isso, e você não reagiu nada


bem ontem — enfatizo com um meio riso.

— Me desculpe, fui pego de surpresa e realmente eu não soube


como agir. — Ah, tudo bem, o último homem que soube que eu estava
grávida me sequestrou, o que é informar o RH comparado a isso?

Colin puxa minha mão de cima do meu colo, enquanto seus olhos
procuram os meus.

— Que tal um café mais tarde, sem compromisso? — Sorrio.


— Eu adoraria. — Ele desliza o polegar pelos nós dos meus dedos
antes de me soltar.

— Nos vemos mais tarde, Perse.

Assisto o Colin deixar a sala, a nossa conversa tirou um pequeno


peso do meu peito. A minha maior preocupação é Max, eu sei que não
devia me importar com o que ele vai pensar a respeito do meu beijo com
Colin, mas não consigo tirar da cabeça como ele vai reagir. O sonho foi tão
nítido e o mais preocupante é que, com toda a sua possessividade e anseio
por controle, posso vê-lo agindo daquela forma, e isso, de maneira alguma,
devia me deixar excitada. O meu bebê desapareceu no meio da transa, por
Deus, só pode ser um presságio do que vai acontecer se eu me envolver
com Colin, Max vai tirá-lo de mim.

Empurro o pensamento para fora da cabeça, me levanto e começo a


trabalhar com as cortinas fechadas mesmo. Foi bom me resolver com Colin,
porém, agora não é a melhor hora para começar um romance.
Olho pela janela o pôr do sol se desenrolar além dos arranha-céus
altos e as ruas movimentadas. As folhas amarelas e vermelhas das árvores
do outono dançam na brisa fresca, se abrir a janela, tenho certeza de que
posso sentir o cheiro de maçãs e canela emparelhando no ar. Suspiro diante
dessa bela vista, e um sentimento de vitória desperta dentro de mim, eu
consegui alcançar o topo, só preciso ignorar os meios que me trouxeram
aqui. O sol mergulha lentamente no horizonte, espalhando cores vivas pelo
céu que se misturam em um arco-íris de tonalidades quentes.

— Perse. — Olho por cima do ombro e enxergo Colin atrás de


mim, a luz reflete em seus olhos azuis, deixando-os ainda mais radiantes.

— É tão lindo.

— É lindo demais — comenta e se afasta quando me viro. —


Vamos?

Lhe dou um aceno e pego a minha bolsa do suporte de mesa.


Deixamos o escritório juntos e, no caminho para o elevador, Brandon surge
em nossa direção, mas se detém na recepção e começa a conversar com a
atendente enquanto entramos no elevador. Ele nos analisa com os lábios
rígidos enquanto as portas se fecham, certamente não aprova nossa
aproximação.

— Isso foi embaraçoso pra você também? — Colin questiona com


um sorriso, e lhe dou um olhar feio.

Meu telefone toca na bolsa, olho o nome de Max na tela e o


silencio guardo de volta, percebendo meus batimentos cardíacos
aumentarem, só ele consegue provocar isso em mim, a milhas de distância.
Respiro e desço do elevador ao lado de Colin.
— Você está bem? — pergunta, balanço a cabeça em concordância,
não posso permitir que Max afete e controle até os meus pensamentos. —
Era o pai do seu bebê?

— Sim, ele está viajando, então me liga de vez em quando para


saber como estamos.

— Já sabe o sexo?

— Vou saber na próxima consulta. — Lhe dou um sorriso.

Maverick surge na minha linha de visão e faço um sinal sutil para


que se afaste. Caminhamos para fora do prédio em direção ao
estacionamento privativo na extremidade da avenida, e está quase vazio,
tenho que começar a sair mais cedo.

— Royal Coffee Executive, certo? — relembra quando nos


aproximamos do seu carro.

— Sim, tenho uma amiga que trabalha lá — menciono, fazendo a


volta no veículo, Colin destrava as portas, nesse instante, um carro bordô
entra no estacionamento, fazendo uma manobra meio perigosa e estaciona
atravessado, ocupando duas vagas, a uns 20 metros de distância.

Dois homens descem deixando as portas abertas, levo milésimos


de segundos até reconhecer o grandão de cabeça raspada, ele me seguiu até
a clínica de inseminação.

Ah, Deus!

— Persephone! — Colin chama a minha atenção, mas estou


travada vendo os dois brutamontes caminhar em minha direção sem um
pingo de hesitação. Puxo a maçaneta as minhas costas, sentindo o terror
borbulhar em minhas entranhas ao ver algo metálico reluzir na mão dele.

A porta abre e, pela visão periférica, capto Maverick e outro


homem de terno se aproximar, os passos deles são lentos, assim como o
meu raciocínio. Minhas pernas amolecem quando percebo que os quatro
homens estão com as armas em mãos, mas baixadas rentes ao corpo, apenas
se encarando.

— Entre no carro — Maverick fala, cobrindo meu corpo com o


seu.

Obedeço ao seu comando, tremendo como uma folha frágil,


escorrego para o assento, e o segurança bate a porta com força, em seguida
Colin faz o mesmo ao meu lado.

Os homens do lado de fora começam a falar, contudo, mal ouço ou


enxergo, estou completamente absorta e ainda tentando assimilar o que
aconteceu. Colin dá a ré, fazendo meu corpo colar no assento, e entra na
avenida movimentada, sumindo em alta velocidade entre os carros.

— Quem eram aqueles homens? — O questionamento dele soa


uma exigência, no entanto, sua expressão suaviza ao ver a minha. — Que
merda aconteceu lá, Perse?

— Eles trabalham para uma casa de aposta em South Bay. — Colin


ergue as sobrancelhas, impressionado. — A dívida é do meu falecido pai —
esclareço e escoro a cabeça, sentindo a barriga endurecida, aliso-a com a
mão, tremendo e com os nervos à flor da pele.

Colin percorreu o caminho me observando e aposto que se


segurando para não me encher com perguntas. Em instantes, entramos em
uma garagem subterrânea. No meio de toda desordem, esqueci de pedir para
ele me levar para casa, de repente me lembro que, se fizesse isso, Max e eu
diríamos adeus ao sigilo.

Sigo Colin para dentro do seu apartamento, fica na cobertura de


um edifício perto do Fundo Snyder. Colin tira seu paletó e atira em cima de
uma poltrona no caminho para uma ampla sala, solto a minha bolsa
também.

— Quer beber alguma coisa?

— Uma água — peço com o estômago enjoado e caminho até um


espaço aberto. Inalo o ar puro, olhando para o céu, aquela paz que senti
minutos atrás foi embora e substituída por terror.

Respiro profundamente, enquanto limpo o rastro de lágrimas em


minhas bochechas. Não gosto nem de pensar o que teria acontecido comigo
se Maverick não tivesse entrado em minha frente. Tenho que resolver a
dívida com a casa de jogos antes que o bebê nasça.

— Persephone — me viro para Colin as minhas costas e pego o


copo d’água em sua mão —, você está bem?

— Estou. Me desculpe por tê-lo envolvido nisso tudo.

— Não se preocupe, só vamos parar de marcar para tomar café. —


Ele me dá um meio-sorriso.

Colin se senta em um sofá e bate no assento ao seu lado, tomo a


água e solto o copo na mesinha de centro, depois me junto a ele, mantendo
uma distância confortável. Ele se vira para mim, deslizando o joelho no
espaço vazio entre nós.
— No carro, você disse que a dívida é do seu falecido pai. Pensei
que seus pais fossem amigos do Maxwell e, no estacionamento, aqueles
homens de terno... quem são eles? — Sinto-o analisar minha face. Solto um
suspiro, farta das mentiras, sinto que estou me afundando nelas.

— Os meus pais já faleceram, e nem de longe conheceram o Max


— confesso. — E os homens de terno são meus seguranças.

Colin alisa a nuca enquanto me encara incompreensível, aposto


que ele vê o rosto da mentira.

— Tem mentido desde que entrou no escritório, mas foi Brandon


quem te levou até a minha sala... não entendo, Persephone... — A
campainha toca, o silenciando.

— Eu quero contar a verdade, você é o mais próximo de um amigo


que eu tenho naquela empresa. — Colin me dá um aceno pequeno e se
afasta sem dizer nada.

Escoro a cabeça e relaxo abraçada em meu corpo, sentindo a brisa


da noite. Está meio frio, minha pele está levemente arrepiada e meus dedos
das mãos gelados e úmidos, resultados da ansiedade, que só vai aplacar
quando eu resolver essa dívida.

Fecho os olhos por um instante e quase consigo escutar os meus


batimentos cardíacos.

— Persephone. — Ergo o meu olhar para encontrar o de Colin,


mas paraliso no caminho quando enxergo Maxwell em minha frente em
uma pose imponente, usando um terno escuro, barba e cabelos cortados,
maxilar cerrado, e o olhar inescrutável, que, de qualquer maneira, consegue
me desestruturar.
Meus lábios se separam brevemente, mas os forço a fechar
enquanto me levanto.

— Max o que faz aqui? Você não estava na Itália? — pergunto sem
conseguir disfarçar a minha confusão, e Colin também, ele cruza os braços
em frente ao peito, aguardando uma explicação.

— Eu explico no carro.

— Eu também adoraria uma explicação — Colin pontua, tirando os


olhos de Max, de mim.

— Claro, você merece, senhor Rindel, Brandon irá até a sua sala
amanhã e esclarecerá tudo.

— Não. — Balanço a cabeça, chamando atenção de ambos. —


Amanhã eu te explico tudo, Colin, prometo — expresso, apertando o seu
pulso.

— Tudo bem — profere.

Me afasto deles em direção à saída, e não preciso olhar para trás


para saber que Max me segue de perto. Entro no elevador que nos aguarda
no hall de entrada, Max para ao meu lado, e sinto seus olhos em mim o
tempo todo.

As portas se fecham e puxo o ar lentamente, sentindo o seu


perfume tomar conta do pequeno espaço, Max vira o corpo para mim, o
peso do seu olhar é como se tivesse uma tonelada em cima dos meus
ombros.

— Fiquei preocupado com você — diz depois de um momento.


— O bebê está bem — respondo, encontrando os seus olhos.

— Estou me referindo a você — responde, e seu dedo trilha pelo


contorno do meu rosto empurrando delicadamente uma mecha do meu
cabelo para trás do ombro. Meus olhos desviam dos dele, cortando o
contato visual. Já tive emoção demais no elevador para repetir a dose essa
semana.

Não confio nos meus hormônios com Max por perto outra vez,
apenas o seu maldito cheiro, é tão envolvente que é quase impossível
resistir à tentação de tocá-lo. Argh, Senhor, eu pareço uma cadela no cio.

As portas abrem, desço sem aguardá-lo e ando em direção ao seu


carro no estacionamento. Ele abre a porta para mim e depois desliza ao meu
lado e, sem dizer nada, começa a dirigir.

— Como chegou em Boston tão rápido?

— Peguei o voo bem cedo essa manhã. — Ele me olha de soslaio.

— Por que voltou, Max? — Ele direciona os olhos para a estrada,


pensativo. Não quero ligar o seu retorno com o meu curto e humilhante
envolvimento com o Colin, mas é tudo que me vem à mente.

— Pensou que eu ficaria para sempre na Itália? — desconversa.

— Pensei que mentisse melhor que isso. — Ele cerra o maxilar, e


eu cruzo meu braço, insatisfeita com sua resposta.

O que há de errado comigo para eu preferir o Max do meu sonho?

Olho pela janela e recordo que tem algo mais importante que a sua
volta.
— Preciso que pague a minha dívida — falo, engolindo o orgulho,
minha segurança nesse momento é mais importante que o meu ego.

— Já está paga, Persephone. Brandon cuidou disso antes mesmo de


nos conhecermos. — Até ficaria surpresa, mas nada que vem dele me
surpreende mais.

— Então o que eles querem de mim?

— É o que eu vou descobrir.


Capítulo 15

Dispenso Maverick de uma longa reunião. Ele me passou os


detalhes de como ocorreu a abordagem dos caras da casa de jogos e pedi
que encontrasse os dois. Algo me diz que esses caras não estão atrás dela
por causa da antiga dívida.

Encaro o largo corredor do lado de fora do meu escritório e ingiro


um gole do meu Macallan. É bom estar em casa, a vontade constante de
voltar ocupou a maior parte dos meus pensamentos durante a noite. Quando
decidi viajar, achei que tivesse tomado a decisão certa, as coisas entre mim
e Persephone estavam seguindo um caminho para o qual eu não teria o
menor controle, só me dei conta que eu já o perdi quando Brandon me
informou o que aconteceu no elevador entre ela e o diretor financeiro. Isso
não devia me tirar a paz, pelo menos não a ponto de me fazer embarcar de
última hora para Boston, o que, de alguma forma, foi bom, vou mantê-la
segura.

Joseph para na entrada do escritório e se escora no batente com


uma expressão presunçosa.

— Pensei que não aguentaria uma semana longe.

— Pensei que tivesse mandado você procurar outro lugar para


morar antes de viajar.

Ele estala a língua.

— Ainda tenho mais alguns meses até você começar a brincar de


casinha. — Lhe dou um olhar enervante e recebo um risinho dele. — Ela
dormiu no seu quarto desde o dia que viajou — comenta, se retirando em
seguida.

Tomo outro gole e depois empurro o copo para longe. Nina havia
mencionado em uma das muitas mensagens que trocamos, pedi que tomasse
conta dela, que certificasse que Persephone se alimentasse bem e não só
com besteiras.

Não tenho o menor conhecimento pelo qual a fez dormir em meu


quarto, deixei o dela pronto, com penteadeira, notebook, alguns livros e o
máximo do conforto que uma garota da idade dela poderia ter. Eu não a
compreendo. Me afastei porque não queria confundi-la e cá estou eu,
confuso e com os pensamentos nela outra vez.

Pego o presente que comprei na Itália e ando até o meu quarto, um


banho veria a calhar, passei treze horas dentro de um jato e, quando
aterrissei, havia uma mensagem do segurança contando da abordagem dos
homens do Jammy Xang, talvez devesse mandar matar aquele filho da puta
comedor de arroz.

Empurro a porta e noto um amontoado de roupas em cima da cama


e Persephone sentada, dobrando-as. Ela olha por cima do ombro, mas não
se vira para mim.

— Se tivesse me avisado que voltaria hoje, teria arrumado essa


bagunça antes — esclarece, soltando uma peça na pilha de camisolas e
pegando outra.

— Pode ficar se quiser. — Ela para de dobrar e fica em silêncio.

— Acha uma boa ideia? — Sua voz soa incerta.


Não. Mas estive pensando durante o tempo que fiquei fora que, nas
duas noites que dormi ao lado dela, em um ano desde que voltei para
Boston, eu realmente dormi.

— Prometo não a agarrar no meio da madrugada. — Ela se vira.

— Tudo bem, mas eu acordo muito durante a noite para ir ao


banheiro. — diz com meio-sorriso, encarando a sacola em minha mão. — É
presente? — A um tom mais natural em sua voz.

Balanço a cabeça, estendendo-a para ela, enquanto Persephone


desembrulha, pego o amontoado de roupas desdobradas e coloco em uma
poltrona perto da janela. Me viro, e ela está encarando um colar de ouro
branco com o pingente gota de diamante negro.

— Quando o vi na vitrine, pensei em você na hora. — Ela analisa a


joia por um breve momento, com as feições tensas.

— Por que está me dando isso? Pensei que me odiasse.

— Eu nunca te disse isso — respondo, repensando em nossas


discussões daquela primeira semana. Em uma semana, briguei mais com ela
que durante meu casamento inteiro com Eva, mas não recordo de ter dito
que a odiava.

— Disse que preferia nunca ter me conhecido e não foi de forma


muito carinhosa — esclarece com meio-sorriso.

— Você, como ninguém, sabe como me tirar do sério. —


Realmente, ninguém além dela, me deixou em estado enervante tantas
vezes e eu ainda permaneço em contato.
— Se estivéssemos casados, acharia que está me traindo —
comenta, puxando o colar da caixinha.

— Eu não sou esse tipo de homem. — Dá de ombros como se não


se importasse.

— É lindo demais — entoa, ficando em pé. — Você pode? —


indica, me estendendo o colar. Ela me dá as costas depois que o pego e puxa
as mechas do seu cabelo para frente, o contato da joia em seu pescoço a
deixa arrepiada. Fortuitamente, deslizo a mão pela curva macia e delicada
do seu pescoço e outra explosão de arrepio percorre o seu pescoço.

Por Deus, eu não sei o que me pede de afundar o nariz em sua pele
tenra e me perder em seu doce perfume.

— Pronto — digo, reunindo meu autocontrole e me afastando.


Persephone se vira, atirando os cabelos para trás, o colar ficou perfeito
como imaginei que ficaria. — Eu vou tomar um banho — aviso, dando as
costas para ela.

— Obrigada, Max. — Lhe dou um aceno e fecho a porta do


banheiro, com os pensamentos bagunçados. Eu me afastei por dois meses
para não a deixar confusa, e, em menos de doze horas, fiz tudo ser em vão,
e o que me preocupa é não me arrepender por esta decisão.

Entro no quarto depois de um longo banho, e ela está encolhida na


beirada, mexendo no celular. Visto uma calça de moletom no closet e volto
para o quarto, ganhando sua atenção, seus olhos percorrem meu torso
brevemente e desviam para o teto. Desligo a luz e me deito ao seu lado,
fazendo o mesmo.

— Isso é estranho?
— Eu posso pegar uma gravata se te faz sentir melhor. — Ela sorri
e me chuta na canela por baixo da coberta.

— Boa noite, Max. — Persephone me dá as costas.

— Boa noite.

Chego na cozinha, e Persephone já está pronta para trabalhar. Não


sei como tem disposição depois de ter levantado umas quatro vezes para ir
ao banheiro e, do mesmo jeito, eu dormi como um bebê, rio, e a garota
franze o cenho, encarando o meu rosto. Ela usa um vestido preto que
disfarça muito bem seus quatro meses de gestação.

— Prefiro que não vá trabalhar enquanto a situação de ontem não


for resolvida — menciono ao me aproximar do balcão onde está comendo.

— Eu vou. E acho improvável eles aparecerem na empresa outra


vez, Maverick cumpriu o seu trabalho muito bem — menciona, puxando
uma pequena bolsa de cima do balcão.
— Então eu levo você. — Suas sobrancelhas se unem. — Chega de
sigilo — esclareço.

— E vai me assumir como o que? Porque, se você falar que sou a


sua barriga de aluguel.... — Sua voz aumenta e soa estridente.

— Não direi nada, acha que alguém é tolo de me questionar como


esse bebê foi concebido?

Ela emite um hum baixinho e puxa sua bolsa do balcão.

— Então vamos. — Diz com um sorriso iluminado.

Será que estamos entrando na fase, variações de humor?

Estaciono na frente da empresa, mas, antes de descer, deixo os


seguranças darem uma averiguada na área. Maverick está dispensado até
encontrar os caras da casa de jogos.
Caminho ao lado de Persephone, seus olhos estão em alerta,
procurando qualquer ameaça.

— Está com medo? — Ela me encara, caminhando mais perto que


costuma ficar de mim.

— Seria burrice se eu não tivesse.

— Como sobreviveu todo esse tempo sozinha? — pergunto,


entrando no saguão.

— Minha vida se transformou nesse caos depois que eu engravidei.

— E mesmo assim você quis ficar com o bebê — digo,


incompreendido.

Na idade dela e nas condições que a conheci, poucas aguentariam


passar por isso, Persephone não aceitou o dinheiro em troca de ser minha
barriga de aluguel e de ter uma vida normal.

— Eu sei o que você e os outros devem pensar de mim,


aproveitadora, — ela cita com ênfase e dá de ombros. — Só que vocês
conhecem apenas o meu lado ruim, a encrenqueira drogada, a bêbeda
tatuada... depois que perdi os meus pais, aprendi que não dá simplesmente
para virar as costas e se esconder quando as coisas complicam.

— Nunca pensei que fosse aproveitadora. — Ela me encara com os


olhos verdes brilhando e uma expressão que tento decifrar, as portas do
elevador abrem e entramos.

— Bom dia! — Brandon saúda, parando ao lado dela. — Belo


colar — diz, encarando o seu pescoço, os dedos delas seguram a joia
delicadamente.
— Obrigada. Foi Max que me deu. — O advogado direciona os
olhos em minha direção com um sorriso sutil, o oposto dos seus
pensamentos, garanto.

As portas abrem em nosso andar, Persephone desce a nossa frente e


perde os movimentos por segundos quando enxerga o diretor financeiro na
máquina de café.

Ela caminha na direção dele com passos determinados e sem olhar


para trás. Colin encontra o meu olhar brevemente, antes de começar a
conversar com ela.

— Está com ciúmes? — Encaro Brandon com um olhar visceral e


aperto o passo até a minha sala, e ele me segue de perto.

— O que você quer, Brandon? — pergunto quando ele fecha a


porta do escritório atrás de si.

— Você não perguntou, mas, como seu advogado, acho melhor


falar que está seguindo um caminho arriscado.

— Não sei do que está falando — desconverso, não sou besta, mas
não preciso de pessoas dando pitaco na minha vida íntima.

— Ficou dois meses fora, e foi só descobrir que ela beijou um cara
que voltou correndo e com um presente milionário.

— Está com ciúmes? Na minha última viagem, comprei um Rolex


para você. — Ele faz cara feia. — Relaxa, não sou estúpido de fazer alguma
coisa.

— Nem se ela começar a namorar o Colin?


— Ela não vai! — imponho, sem cogitar que tem uma chance de
isso acontecer. — E não sei por que estamos conversando sobre isso, se não
tem nada relevante para me dizer, pode sair.

— Estamos, porque sou o seu advogado e me preocupo com ações


que podem ser abertas contra você futuramente.

— Deixe que eu me preocupo com isso. Mais alguma coisa? —


pergunto, ligando o meu notebook.

— Conseguiu uma reunião com a CEO Mayumi Shuang, do Orient


Petroleum Corporation.

— Ah, não fode! — digo sem acreditar, estava tentando fazer


negócios com eles desde que voltei para Boston; se firmarmos o acordo, o
Fundo Snyder pode voltar a ser a mais cotada empresa de Investimento da
América do Norte.

— Quando eles veem?

— Você vai pra Hong Kong em uma semana.

— Não posso ir, Brandon... — Seu olhar de reprovação é gritante,


mas se acontecer algo com ela e o bebê enquanto eu estiver fora, nunca vou
me perdoar.

— Você precisa, eles não aceitam representantes. Ficou dois meses


fora, o que é uma semana?

Lhe dou um aceno e peço para que se retire. Eu não sou besta, sei
que Brandon está certo, independente da minha vontade de ficar em casa até
o nascimento do bebê, eu não posso me dar a esse luxo, afinal, fiz tudo o
que fiz para chegar aonde estou: nos tornar a número um no mercado de
ações.

Depois de passar a tarde inteira refletindo, deixo o meu escritório e


ando até a sala de Persephone. Observo-a com os olhos vidrados em uma
pilha de papel na mesa, os cabelos presos em um coque com um lápis ou
caneta, deduzo, e o colar em seu pescoço brilha intensamente, assim como
seus olhos quando encontram os meus na entrada.

Adentro e fecho a porta as minhas costas.

— A que devo a honra da sua humilde visita? — Capto uma pitada


de deboche em sua voz enquanto me sento à sua frente.

— Tenho uma reunião com a Mayumi Shuang...

— A CEO da Orient Petroleum Corporation? — Concordo e não


escondo minha surpresa por ela saber. — Colin comentou que a OPC está
no radar do fundo há um tempo — expressa, feliz.

— Hum. — Deixo escapar, olhando para o outro lado do corredor,


o diretor financeiro me olha brevemente e volta a seus afazeres.

— Eu não fui totalmente sincera com ele — menciona.

— E por que não? — Ela se escora para trás, soltando os cabelos e


um pequeno gemido de satisfação.

— Nossa história é complexa e admitir que eu estava tão chapada a


ponto de passar por uma inseminação sem saber não é algo que eu queira
espalhar por aí.

— Então, o que disse?


— Que você foi a pior ressaca da minha vida. — Não sei se aprovo
essa resposta, mas, sem dúvidas, é melhor que a verdade. — O que veio
fazer aqui, Max?

— Você vai para China comigo — aviso, ficando em pé.

— O quê? Por quê? — A voz dela afina e sua expressão é a que


mais vejo em seu rosto, irritação.

— Não posso desmarcar essa reunião, e não vou deixá-la enquanto


Maverick não encontrar aqueles homens.

— Eu não sou o seu chaveirinho que você pode pegar e carregar


para onde bem entender, Max! — exclama, balançando a cabeça em
negação.

Santo inferno, e lá vamos nós.

— Eu sei, mas é uma reunião importante pra empresa e não quero


que nada dê errado porque meus pensamentos estarão em outro lugar. —
Amacio a voz, mas a monstrinha é osso duro de roer, sua mandíbula
permanece cerrada.

— Tudo bem, só que, da próxima vez, pergunte, pois odeio receber


ordens suas.

— Sou o seu chefe, faz parte do meu trabalho. — Ela ri.

— Você mente, e eu finjo que acredito — fala, ficando em pé e


pegando a bolsa. — No caminho pra casa, vamos passar no Taco Bell, estou
com vontade de algo bem apimentado.

— Desejo?
— Só pode, eu odeio pimenta — diz naturalmente e anda para fora
da sala comentando como foi a primeira vez que comeu comida mexicana, e
eu me pego realmente interessado em saber como termina a história.
Capítulo 16

O meu coração bate descompassado enquanto o carro nos leva para


a pista de pouso, nunca viajei de avião ou saí de Massachusetts, mas espero
desmaiar durante as quinze horas de voo.

Mesmo olhando pela janela, posso sentir os olhos de Max em mim.


Estamos conversando mais, agora que vou e volto com ele do fundo, e à
noite, quando nos deitamos em nossa cama... nossa, quando meu cérebro
pensa isso, automaticamente vêm várias perguntas na minha cabeça: que
porra estamos fazendo? O que vai acontecer quando o bebê nascer? Até
quando vamos fingir que essa situação é normal?

Nós nem de longe temos um relacionamento, Max e eu somos duas


bombas tóxicas que resolvem a maioria dos problemas com discussão, ele
usa a autoridade sobre mim, e eu acabo cedendo não porque sou uma boa
submissa, mas porque sei que consigo tirar o que eu quero dele.

A minha mente sabe que não podemos fazer nada, aquele contrato
foderia comigo, e ainda assim eu quero foder com ele, deve ter algo muito
errado comigo. O meu coração discorda sutilmente do pensamento, e minha
amiga intocada lá embaixo implora por qualquer contato humano que não
seja meu.

— Está ansiosa? — pergunta, reparando na minha perna inquieta.

— Estou, preferia não ir nessa viagem — respondo, e Max segura


em meu pulso, puxando a minha mão para baixo, nem me dei conta que
estava roendo as unhas.
— Estamos indo à noite para que consiga dormir — ele tenta me
tranquilizar, e me desvencilho dos seus dedos na hora que enxergo um
grande jato preto, com a impressão que meu coração dobrou de tamanho.

O motorista estaciona e desce para abrir minha porta, parece


ridículo, mas preciso reunir minhas forças para descer do veículo.

— É mais seguro que andar de carro — diz com um sorriso gentil,


não retribuo, eu podia ter dito não, mas estou aqui por ele e pela empresa.

Às vezes esqueço que não devo nada a ele, só que agir com
infantilidade não deixará as coisas melhores. O meu filho merece crescer
em um lar onde não tenha que assistir aos pais se matando constantemente.

Subo as escadas do jato e, quando penso que não posso mais me


impressionar com a luxúria, fico pasma pelo interior. Grandes poltronas cor
de creme, mesa de centro, sofá, TV. Tiro os meus sapatos, depois me sento
em uma das poltronas na janela, e Max se senta ao meu lado em seguida.

— Já esteve na China? — pergunto, colocando o cinto, tentando


bloquear os meus pensamentos de que logo estaremos a céu aberto, presos
em uma pesada e enorme caixa metálica.

— Algumas vezes, você vai adorar, eu garanto — comenta, então,


sinto que começamos a nos movimentar, Deus, acabamos de entrar! Nem
saímos do chão e a sensação é de que eu vou morrer. Me agarro nos braços
da poltrona com a respiração acelerada, sendo preenchida por um estranho
frio na barriga, fecho os olhos, procurando acalmar o coração.

Max gira a minha poltrona para ele, e sinto seus dedos quentes em
minhas coxas gélidas e inquietas.
— Ficaremos bem, olhe para mim.

— Você é a última pessoa que eu quero ver... — Minhas palavras


são silenciadas pelos lábios do Max, sua língua invade a minha boca, me
beijando com força, meus batimentos cardíacos aceleram, enquanto meus
pensamentos são consumidos pelo seu gosto e cheiro.

Ah, Deus, isso é quase tão ruim quanto cairmos de avião, mas sou
incapaz de resistir o toque macio e aveludado dos seus lábios, nossas
línguas se enroscam com mais ferocidade que o nosso primeiro beijo.

A poltrona se deita e Max sobe sobre mim, sem soltar o seu peso,
sua perna desliza entre as minhas e, quando ele destrava o meu cinto, eu
abro os olhos, ativando o modo segurança.

— Está segura — sussurra contra os meus lábios, com a mão


deslizando no interior da minha coxa.

— Segura de uma morte rápida, mas não daquele contrato. — Max


tenciona o maxilar, e aguardo sua rejeição, mas, em vez disso, sua mão sobe
para o contorno do meu rosto, enquanto seus olhos estão pregados aos
meus.

— Eu não assinei — declara, deixando-me confusa. Isso não faz o


menor sentido.

— Por que não?

— Eu não sei. — Odeio essa resposta. Odeio ainda mais quando


passa pela boca dele, que sempre tem argumento para tudo.

— Sai de cima de mim. — Max desvia os olhos e se afasta, se


sentando na poltrona à minha frente. Reúno o resto da coragem que há em
meu corpo e me levanto, ignorando qualquer abertura que mostre o interior
do jato, e dou as costas para Max, procurando qualquer buraco que eu possa
me enfiar e esquecer que isso esteja acontecendo de novo.

— Persephone. — Me viro, e ele está em pé.

— Eu gosto de culpar os hormônios quando estou perto de você,


porque mascara o quanto patética e burra sou por desejá-lo. Eu espero
realmente que seja apenas outro sintoma desagradável da gravidez... —
desabafo, olhando na escuridão dos seus olhos. — Não me beije mais, não
se aproxime ou me toque — imponho, colocando fim nessa merda toda.

— Voltei porque tive ciúmes do Rindel — paraliso de costas para


ele —, fiquei dois meses fora porque beijar você foi a melhor coisa que
aconteceu desde que voltei para Boston. Eu tentei fugir disso, porque só
Deus sabe como nossa situação é complexa... não quero mais fugir,
Persephone.

Aperto os lábios, absorvendo a intensidade das suas palavras, dois


meses separados deveriam nos afastar, não nos deixar mais sedentos um
pelo outro.

— Me deixe cuidar de você. — Sinto o calor de Max nas minhas


costas, enrijeço com sua proximidade quando ele empurra meus cabelos
para o lado, quase tocando sua barba no meu pescoço. — Diga sim,
Persephone... — sussurra tão perto que me arrepia inteira. — Me deixe
beijá-la... tocá-la... — profere contra o lóbulo da minha orelha, e a lascívia
em sua voz pinica até o meu couro cabeludo.

Minha cabeça cai contra o seu peito firme, e Max planta um beijo
com os lábios abertos na curva do meu pescoço, solto um lamurio, seus
lábios sobem para o contorno do meu maxilar, enquanto os dedos me
pressionam contra o seu corpo, sinto o seu pau ficar duro como uma pedra
em minhas costas e o calor se espalha pelo meu corpo.

Me viro, seus olhos tão escuros quanto os de um demônio


carregam uma tempestade e acho que posso me afogar nela. Abro o zíper do
meu vestido nas costas, ele se amontoa aos meus pés, deixando-me só de
calcinha.

Os olhos de Max descem pelo meu torso, admirando meus seios


pesados e volumosos, capto o arrebatamento em sua expressão, a mão dele
envolve um e meus mamilos endurecem como botões.

— É tão macio quanto imaginei. — Suas mãos me apalpam,


estremeço, ele se abaixa e seus lábios envolvem meu mamilo com anseio,
enquanto seus dedos engatam nas tiras da minha calcinha e a arrastam para
baixo. Sua mão sobe pelo interior da minha coxa, e os dedos afundam na
minha umidade, solto um suspiro. Abro mais as pernas e empurro para
dentro de mim.

Max morde os lábios quando minha musculatura suga o seu dedo.


Ele nos gira, me colocando contra a parede do jato.

— Passei dois meses idealizando como seria fazer isso — diz em


tom pecaminoso e coloca mais um dedo dentro de mim. — É quente e
apertada... — ele geme, indo mais fundo.

Me agarro nos ombros dele à medida que seus dedos sobem e


massageiam meu clitóris, o deixando inchado. Arfo e empurro os quadris
contra seu pulso. Escoro a cabeça no peito dele, ouvindo o seu coração
bater fora de ritmo, minhas coxas tremem, e já posso sentir o orgasmo se
formando, a minha boceta lateja e de repente dois dedos se tornam
insuficientes para aplacar o meu calor. Começo a investir mais e gozo com
um gemido profundo, perdendo completamente a força do corpo.

Max remove os dedos, posso senti-los ensopados, ele os leva até os


lábios e os chupa, coro, sem desviar o olhar, aprisionada na luxúria do seu
rosto. Se ele é o diabo, eu quero queimar no inferno.

— Mais tarde farei você gozar na minha boca — profere com os


lábios colados aos meus. Max tira as roupas com agilidade, e meus olhos
nada sutis encaram o seu grande comprimento coberto por veias salientes,
uma cabeça grossa e o pré-gozo escorrendo pela ponta.

Seguro na base, e, nossa, é bem pesado, percorro o dedo pela


glande e acaricio o seu comprimento, sentindo-me pulsar outra vez.

— Quero sentar em você. — Max abre um sorriso descomunal e se


senta em uma das poltronas, inclinando-a para trás. Subo em seu colo,
olhando em nosso redor, me dando conta que podemos estar sendo
vigiados.

— O piloto pode nos ver? — pergunto, sendo abraçada pela


cintura, seus lábios roçam o meu maxilar e sua barba baixa me provoca
arrepios.

— Provavelmente. — Meu queixo cai. — Podemos ir para o


quarto.

— Eu não tenho vergonha, tenho medo de que ele se divirta na


cabine e esqueça de pilotar. — Ele dá um sorriso lindo e brilhante.
— Então você é mais safada do que eu achei que fosse — diz
torcendo, o meu mamilo de repente, dou um gritinho e fico inteiramente
arrepiada.

— Esse é o meu charme — declaro, levantando a bunda, Max


desliza seu comprimento, espalhando a umidade, depois fricciona a cabeça
no meu clitóris, e sou um caso perdido, pronta para gozar outra vez.
Empurro o quadril para trás e me enterro nele, lhe arrancando um gemido
gutural.

— Pooorra! — Arfa. E suas mãos me seguram com força, cada


canto do meu corpo vibra com a sensação da sua pele tórrida tocando na
minha. Max inicia um ritmo. Cravo as unhas em seu peito sólido e sigo o
olhar dele até a minha boceta engolindo seu pau.

Max geme, tensionando o corpo contra o meu. Me afasto, ficando


reta, os meus seios sobem e descem com a mesma potência das suas
estocadas. Ele percorre os dedos até a minha nuca e segura meus cabelos,
puxando-os, gemo alto e estremeço. Seus lábios abocanham meu mamilo e
sinto seus dentes, gemo de novo, mas Max não o morde como anseio, ele
suga com força, devorando-o, me levando ao clímax.

Me desfaço, sem forças para mais nada. A poltrona desce e eu


permaneço deitada sobre seu corpo. Ele segura nas bochechas da minha
bunda, e as separa ainda metendo, dessa vez mais lento e profundo, sinto o
seu gozo explodir dentro de mim.

Seus dedos sobem para a minhas costas suadas e me acariciam,


enquanto o escuto ainda ofegante. Me afasto depois de um momento e me
sento pela dor incômoda em minha barriga, deslizo os dedos, sentindo-a
dura como uma pedra.
— Está doendo? — Max me olha preocupado, e seus dedos
pressionam meu ventre.

— Não, mas a sensação é estranha. Acho que ela não gosta de ser
agitada.

— Ela? — Dou de ombros.

— Intuição. — Ele sorri. Deve achar que sou maluca, mas é apenas
o que eu sinto.

— Podemos marcar uma consulta e confirmar essa sua intuição —


diz, acariciando minha barriga, ele fica em pé comigo em seus braços e nos
leva em direção a uma porta estreita, entrando em um quarto. É pequeno,
mas contém uma cama de casal, um armário fixado na parede e um pequeno
box oval.

Max me solta na cama, eu rolo para o canto perto de uma pequena


janela, observo brevemente as nuvens e me viro de costas, com o estômago
começando a embrulhar.

— Está com fome? — pergunta, colocando uma cueca preta e se


sentando ao meu lado. Balanço a cabeça, batendo no colchão para que ele
se deite. Ele obedece e me puxa para os seus braços, colocando minhas
costas em seu peito quente, e planta um beijo no meu ombro.

— É assustador, mas bem tranquilo aqui em cima.

— Não sabia que tinha tanto medo de voar. — Me viro para ele,
encontrando os seus olhos.

— O que você sabe a meu respeito? Por acaso tem uma pastinha
com todos os meus podres. — Ele assente, colocando uma mecha do meu
cabelo para trás da orelha.

— Não tem nenhum podre, apenas dados necessários. Brandon


investigou você quando descobrimos que estava grávida.

— E você odiou o que leu, não é?

— Sinceramente — ele afirma com a cabeça —, fui estúpido por


achar que uma folha resumiria quem é você, e as circunstâncias também
não te ajudavam. Você é diferente de tudo que estou acostumado,
Persephone, desafiou a minha paciência, levando-a ao limite. — Faço cara
feia, e Max sorri, alisando a minha barriga. — Tentou escapar de mim
pendurada no caralho de um lençol, você não tem noção do que senti
quando te vi pendurada. — Rio ao lembrar.

— Você sempre foi assim, de pegar o que deseja à força quando


percebe que não pode ter? — ele paralisa as carícias por um momento.

— Fiquei quando percebi que é mais fácil pedir perdão do que


permissão. — O encaro em incompreensão.

— O que te fez pensar isso? — Max solta um suspiro baixinho e


seus olhos se perdem no teto.

Eva me vem à mente e de repente me arrependo de entrar no


assunto, nunca conversamos sobre ela, na verdade, nós nunca conversamos
sobre muita coisa, mas sinto que, quando o assunto cerca a falecida, Max
fica dessa forma, ausente.

— A essa altura, já devem ter contado que minha falecida esposa


tinha uma doença terminal — não finjo surpresa, só assinto —, Eva foi
diagnosticada com Esclerose Lateral Amiotrófica aos 28 anos e se suicidou
aos 29.

— Eu lamento, Max. — Ele aperta os lábios e assente.

— Eu devia tê-la obrigado a lutar pela vida, não nos restava muito
tempo, e Eva roubou esse tempo de mim. — Max se vira para mim. — Eu
sei que isso não explica o que eu fiz com você, só que, quando sinto que
não estou no controle, a sensação é de que algo ruim pode acontecer... Eu
não tenho palavras para descrever o quão ruim é esse sentimento.

— Você não podia tê-la obrigado a viver, Max. — Ele balança a


cabeça em negação e sei que discorda de mim. Permaneço em silêncio, esse
assunto não é sobre estar certo ou errado, mas algo me diz que ele ainda não
superou a falecida.

— Vamos esquecer isso — fala, percorrendo a mão pela minha


barriga, de repente sinto uma pequena vibração. Max me encara no mesmo
instante.

— Foi um chute?

— Acho que sim, nunca senti nada assim antes — falo e nossas
mãos ocupam todas as laterais da barriga. Fecho os olhos, tentando captar o
próximo movimento, mas só ouvimos o meu estômago roncar. Rimos. E ele
se afasta.

— Vou me lavar e pegar algo para você comer — avisa e planta um


beijo em meus lábios.

Fico sozinha no compartimento e me sinto segura pela primeira


vez desde que entrei no jato. Esses meses de celibato com certeza valeram a
pena, pela primeira vez chego ao clímax sem parecer a porra de um GPS.

Há tanta coisa que quero saber sobre ele, mas depois desse assunto
depressivo, vou guardar minhas perguntas para a viagem de volta. Relaxo
na cama, me virando para a janela e, de repente, sinto outro chute, dessa vez
mais forte.

Acho que nossa brincadeirinha te acordou.


Capítulo 17

Entramos na suíte do Hotel Lótus Imperial, localizado no coração


de Hong Kong, segundo as informações de Max. O quarto parece um
verdadeiro santuário de conforto e luxo, com móveis modernos, uma cama
king-size, banheiro de mármore com banheira de hidromassagem e uma
vista esplendorosa da vibrante metrópole.

Me jogo na cama e gemo com a maciez do colchão, depois jogo os


meus sapatos longe.

— É tudo tão incrível — digo embasbacada, absorvendo o máximo


que consigo do ambiente.

Max sorri, ele tem feito muito isso desde a noite passada.

— À noite, te levo para conhecer os pontos turísticos.

— Que horas é sua reunião com a Mayumi Shuang?

— Às quatro horas — fala, se aproximando da cama, fico sob os


joelhos, e deslizo as mãos pelos seus ombros, então, subo em direção à
nuca, brincando com os seus cabelos, ele fecha os olhos, extasiado.

— Ainda temos umas quatro horas até a sua reunião — sibilo, o


puxando pela gravata, Max me beija no pescoço, me arrepiando.

— Duas horas, preciso me preparar para a reunião — diz, dando


um beijo nos lábios e me deitando para trás. Há um mundo desconhecido lá
fora, mas o corpo dele parece mais interessante do que qualquer província
da China.
E cá estou eu novamente, em mais uma luta constante para fechar o
zíper do vestido. Me deito na bagunçada cama quando meus braços
começam a ter câimbras. Estou com o vestido vermelho que comprei com
ajuda de Joseph, ele tem bom gosto, e ele deixou Max sem palavras, seus
olhos não sabiam se encaravam os meus seios ou os meus olhos... e agora
ele não quer fechar.

Meu telefone toca no meio da cama, me estico para pegá-lo, já está


passando das 17h30, aproveitei essas duas horas para dormir, já que em
Boston, nesse horário, são 5h30 da madrugada.

Abro a mensagem de Colin, ele me enviou o itinerário de quando


veio para Hong Kong, nas férias.

Mensagem Perse: Alguém madrugou hoje.

Mensagem Colin: Alguém precisa trabalhar...


Rio, esperando-o terminar de digitar quando a porta do quarto se
abre. Encaro Max e meu sorriso se alarga ainda mais.

— O que está aprontando? — pergunta com um risinho


desconfiado, se aproximando, o telefone apita com nova mensagem, e o
solto na cama para me sentar.

— Nada, estava só conversando com o Colin. — E aquele risinho


desconfiado se transforma em uma expressão dura, porcamente disfarçada.
Ele tem mesmo ciúmes do Rindel, quero rir, pois é ridículo. — Sabe que
não precisa se preocupar com ele, não é?

— Você o beijou — afirma de forma impassível, se sentando na


extremidade da cama.

— E não significou nada, eu teria beijado até o Brandon se ele


estivesse no lugar do Colin. — Sua expressão não se altera em nada, me
agarro em seus ombros e monto no seu colo. — Me prometa que não fará
nada.

Um olhar divertido cobre suas feições.

— E o que eu poderia fazer? — Estreita os olhos.

— Demiti-lo. — Não sei se Max chegaria a tanto, mas dele eu não


duvido de mais nada.

— Isso faria de você a próxima CFO, já pensou? — instiga.

— Não sou apta para o cargo, Max — falo e tento descer do seu
colo, mas ele me prende com os braços, encontrando o meu olhar.
— Não vou demiti-lo, só quero esquecer que aquilo aconteceu —
declara, arrumando a tira do meu vestido no lugar e seu olhar desse pelo
meu torso. — Gosto desse vestido. — Seus dedos percorrem o fino tecido
até a minha cintura. — Embora tenha me dado vontade de rasgá-lo em seu
corpo quando a vi naquela sala.

— Pode fazer o que quiser mais tarde, provavelmente não caberá


mais em mim. — Aperto os lábios. — Eu não consigo nem o fechar —
ressalto, pesarosa.

— Já estamos no meio do caminho. — Sua mão se detém em


minha barriga.

Deixamos o hotel em seguida. É mês de setembro, o calor do verão


cede lugar a uma brisa mais fresca. Penso que devia ter pegado um casaco
quando ele desliza o terno em meus ombros e me puxa para baixo do seu
braço enquanto caminhamos pela cidade que parece pulsar com vida, desde
as ruas estreitas até as modernas avenidas brilhantes, cheias de arranha-céus
imponentes. As árvores frondosas espalhadas pelas calçadas começam a
exibir folhas douradas, criando um cenário encantador.

Enquanto andamos sem destino, Max me conta como foi a reunião


com a CEO da Orient Petroleum Corporation, a próxima será em Boston, o
que tudo indica que irão fechar negócio.

Entramos em um restaurante que estava no itinerário de Colin e,


por coincidência, Max já tinha frequentado também.

Ele empurra uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, depois
seus dedos descem arrumando o colar que me presenteou, confesso que
fiquei um tanto surpresa quando ele disse que se lembrou de mim quando o
viu.

— Ficou aqueles dois meses fora de propósito, ou ainda estava


tratando de negócios? — questiono, tomando um gole do meu suco de
maçã.

— Um pouco de cada. Precisava ficar longe para que isso não


acontecesse — ele indica, subindo a mão pela minha coxa —, mas também
porque tenho um cliente com muitos negócios e propriedades em diversos
países, e cada lugar tem uma legislação.

— Faz tudo sozinho?

Ele balança a cabeça.

— Confiro se ninguém fez alguma merda.

— E por que não abriu mão dele quando retornou ao fundo?

Ele relaxa no assento, pensativo.

— Dário Romani, não é um cliente dispensável — fala sem


grandes explicações. — A próxima vez que for a Itália, pode vir comigo —
oferece e provoca cócegas em meu pescoço quando se aproxima para me
beijar.

O jantar sucedeu tranquilamente. Conversamos sobre a minha


adolescência, visto que acabei de entrar para a vida adulta, Max riu quando
se deu conta disso. Ele relatou brevemente como foi a faculdade e, pelo que
percebi, Joseph tem a quem puxar, disse também que conheceu Brandon no
terceiro ano de Ciências Contábeis e que foi ele quem o apresentou a Eva, e
depois me perguntou a respeito de Caleb.
Retornamos ao hotel após um passeio e a noite se encerra comigo
vomitando todo o jantar. Deixo o box usando apenas uma camisola preta de
alcinhas e vejo Max falando com a moça do serviço de quarto na porta, ele
se vira com uma bandeja coberta.

— Pedi chá, biscoitos e um antiácido. Vai estar novinha em folha


em algumas horas. — Dou um aceno, andando até a cama, e me encolho
contra os travesseiros. Max larga a bandeja na mesinha perto da varanda,
depois me entrega a xícara e uma pastilha branca.

— Obrigada. — Bebo o chá, adorando ser bajulada, isso não


parece fazer muito o feitio dele, Max não faz questão de agradar ninguém
além dele mesmo, pelo menos foi o que percebi quando ele me arrastou
para a mansão, será que estou conhecendo outras camadas, ou ele só é um
cavalheiro quando lhe convém?

— Que tal um filmezinho? — pergunta, pegando o controle da TV,


se deitando ao meu lado.

— Parece uma boa. — Me aconchego contra o seu peito, e com


longas carícias nas costas, adormeço nos primeiros quinze minutos do
filme.
Capítulo 18

Acordo nos braços de Max, sentindo a brisa fria da madrugada


fazer vento em meus cabelos. Forço para abrir os olhos e me situar onde
estamos.

— Já estamos quase chegando — avisa, me colocando sentada no


banco da frente do seu carro; de longe, enxergo o jato ligado numa pista
completamente vazia.

— Quantas horas eu dormi? — pergunto na hora que ele desliza ao


meu lado.

— Dez — diz com um risinho e começa a dirigir.

Solto um bocejo e me espreguiço, virando-me para ele ao volante.

Ficamos quase uma semana em Hong Kong, Max me mostrou a


maior parte dos pontos turísticos, visitamos o Grande Buddha, precisamos
subir uma escadaria de 268 degraus, e não estávamos nem na metade
quando comecei a ter câimbras nas pernas. No dia seguinte, andamos de
teleférico, achei que fosse enfartar, pois até o chão da cabine era feita de
vidro, depois fomos no Victoria Peak, que fica 552 metros acima do nível
do mar, se eu não superei meu medo de altura, eu não supero nunca mais.
Tirei muitas fotos, foi quase como uma viagem em família.

Demos o primeiro passo a caminho da China, mas não chegamos a


conversar sobre o que vai acontecer agora que estamos em Boston.
Moramos juntos, dividimos a mesma cama e vamos ter um bebê, isso é
praticamente um casamento, sem votos e aliança, e me assusta um pouco,
pois um bebê já é grande responsabilidade, e o Max... eu não o conheço
direito, gosto dele, porém, nossa relação é mais incerta que um teste de
gravidez. Tivemos um começo caótico. Quando as coisas começam erradas,
é como construir um castelo sobre areia movediça, as chances de um final
positivo afundam junto de suas bases instáveis.

Me ajeito no assento quando entramos na rua da mansão, que


ocupa quase uma quadra inteira e está cercada por carros dos dois lados da
via. Conforme nos aproximamos, uma batida de uma música vai
aumentando.

— Eu vou matá-lo — Max sibila, assumindo uma postura rígida,


ele acelera, segurando o volante com tanta força que eu acho que é capaz de
arrancá-lo.

Os portões da mansão estão abertos, ele atravessa buzinando para


as pessoas saírem do caminho, mas há tantas que é impossível passar, isso
aqui está parecendo a festa da Project X.

Max para o carro na entrada e se vira para mim com um olhar


atroz. Pobre Joseph, eu não me dei conta que ele iria dar uma festa quando
me perguntou o dia que retornaríamos, e nem ele por não prever que, no
fuso horário em Hong Kong, estamos doze horas à frente.

— Fique aqui até eu pôr todos pra correr.

— Sem chance, preciso ir ao banheiro. — Max me dá um olhar


repreensivo.

Descemos do carro e o som alto preenche o ambiente, vibrando


através das paredes e ecoando por todo o espaço. As luzes coloridas piscam
e se movimentam em sincronia com a batida da música, criando um clima
vibrante. Entramos na casa, a pista de dança é o meio da sala de estar e está
repleta de pessoas dançando, suas risadas e vozes se misturam com a
música e os grupos de amigos reunidos em círculos. Me lembra as festas da
fraternidade. Não sei se sinto falta daquela época, estava sempre cansada
demais, estudando, ou fugindo dos caras da casa de jogos.

Max segura em meu braço, me guiando para o andar superior.

— Vá para o quarto e fique lá — avisa. Na metade dos degraus,


passamos pelo escritório, está fechado com uma fita amarela, formando um
X no batente da porta. Até que ele não é burro.

Chegamos na sala do andar superior, a pegação está intensa nos


sofás, tem mais peito de fora que uma sala de amamentação. Max anda na
minha frente, empurrando para o lado qualquer um que entre em nosso
caminho. Nos aproximamos da parede de quadros atrás da sala, e Max
paralisa de repente, seus olhos fixam no casal que está dando uns amassos
contra os quadros, a mão do cara que pressiona o corpo da menina contra
parede tem um cigarro entre os dedos e está apoiado em uma das paisagens
pintadas.

Max anda na direção deles antes que eu consiga segurá-lo pelo


pulso. Ele para atrás do cara e o agarra pela nuca, arrancando-o do lugar. O
garoto se afasta com uma postura intimidante, com certeza tem mais de
dezoito e o porte físico de um quarterback.

— Você tem cinco minutos para desaparecer da minha frente, antes


que eu te faça engolir esse cigarro.
— Max, ele não tem culpa — falo, percebendo o círculo formado
atrás de nós, suas mãos estão em punhos fechados, quero acalmá-lo, mas
não sei se sou capaz.

Ele indica com a cabeça para o cara passar, e a menina, que estava
beijando-o, parece um pouco apavorada, ela se desencosta da parede para
segui-lo e um dos quadros cai, se partindo em vários pedaços.

A mandíbula de Max se aperta, moldando os músculos rígidos em


torno do seu rosto. Sua postura se torna inflexível e seus olhos escurecem
até ficarem quase pretos.

— Vá para o quarto — sibila, olhando além de mim, me viro e


Joseph se aproxima, todo molhado, com a camisa colada ao corpo, com
certeza está bêbado e chapado, pois o sorriso que ele traz no rosto não é de
alguém ciente do que está acontecendo ao seu redor. — Eu vou arrancar
esse sorriso da sua cara. — A voz profunda de Max é misturada com um
timbre agressivo e ele avança em direção ao primo.

— Max, ele não é capaz de discernir o certo do errado! —


exclamo, acima do som da música, e de repente alguém me puxa para trás.
Quando me viro para ver quem foi, ouço um baque seco e um lamurio de
dor.

— Vamos sair daqui — Nic profere e minha mente dá um nó tão


grande que, por um momento, não sou capaz de entender o que está
acontecendo aqui.

Viro para o estrondo de algo se partindo e enxergo Joseph em cima


das madeiras do que era para ser um armário. Max se abaixa e ergue o
primo pelo colarinho, o prensando contra a parede. Me solto dos dedos dela
e atravesso na frente das pessoas, há tantas e ninguém faz nada para ajudá-
lo.

— Essa vida de vadio acaba hoje. — A voz dele é implacável, ele


arremessa o primo perto das escadas, as luzes da sala são acesas e um rastro
de sangue segue até o corpo de Joseph.

— Max já chega! — imponho, segurando no seu antebraço, mas


ele se livra dos meus dedos com puxão firme e anda até o Joseph com
passos determinados, que está de quatro, no chão, tentando se levantar,
quando Max se aproxima e desfere um chute em seu estômago.

O gemido que passa pelos lábios de Joseph faz meu coração se


encolher do tamanho de uma ervilha. Avanço, engolindo o nó crescente em
minha garganta, passo por Max, ficando entre ele e o primo no chão.

Seus olhos negros como uma obsidiana avisam silenciosamente


para que eu saia da frente.

— Pare com isso ou vou embora — aviso com uma mão esticada
entre mim e ele, e percebo que estou chorando.

— Ele merece uma lição, precisa parar de ser folgado e virar


homem.

— Você chama isso de lição? — pergunto, sem esconder o meu


choque, — Você estava espancando-o, e ele não tem nem forças para
revidar.

— Acho que ele já revidou o bastante, vivendo às minhas custas


por todos esses anos.

— Eu vou levá-lo à emergência.


— Você não vai levá-lo a lugar algum, tem umas duzentas pessoas
nessa casa, se alguém se importa com ele, que leve.

— Eu me importo, e não cabe a você decidir — aviso, me


abaixando para olhar Joseph, ele com certeza está com o nariz quebrado e
precisará de pontos na curva do maxilar. Max é um monstro sem controle,
se ele faz isso com alguém da própria família... eu não gosto nem de pensar
no resto.

Os olhos turvos de Joseph encontram os meus, ele tem lágrimas


acumuladas nas pálpebras, o que faz as minhas rolarem, pingando em sua
face, ele dá um pequeno sorriso.

— Eu sinto muito.

— A festa acabou, caíam fora — Max vocifera. E dois garotos


sobem as escadas e param ao meu lado, acho que já os vi visitando Joseph
nesses meses que estávamos a sós.

— Nós o levamos — concordo.

— Me deem notícias — peço, assistindo aos garotos pegarem


Joseph um de cada lado. Quando eles chegam lá embaixo, a galera da festa
começa a descer. Max permanece no mesmo lugar, parece uma coluna ao pé
da escada, esperando todos saírem, e encontro Nic no caminho.

— Nunca está disponível para me visitar, mas vem para uma festa
para a qual não sou convidada — reclamo de cara amarrada.

— Fui demitida do café — fala como se isso explicasse a minha


queixa. — Me desculpe, estou fazendo alguns eventos como garçonete e os
horários são uma loucura.
— Por que não em contou?

— Você já tem problemas demais — indica Maxwell com a


cabeça. — Não imaginei que ele ficaria uma fera por causa de uma festa.

— Não foi só a festa. — Sinalizo sutilmente o quadro no chão. —


Está tarde, é melhor você ir, Nic, eu te ligo amanhã. Vou tentar conseguir
um emprego para você. — Ela se despede com um sorriso doce e um abraço
apertado.

Espero minha amiga descer e ando até o quarto com uma sensação
de enjoo no estômago. Não sei como passamos de uma viagem romântica
para isso... Pego uma camisola no closet e entro no banho quente, a minha
cabeça dói, e o meu corpo também, sinto os meus nervos endurecidos pela
tensão.

Fico embaixo do chuveiro um bom tempo, refletindo sobre o que


pensei no carro, e concluí que a areia movediça já está nos engolindo.
Cheguei a pensar que estava começando a conhecer o outro lado de
Maxwell que não fosse arrogante, narcisista e controlador, acho que me
enganei.

Entro no quarto e o alvorecer está começando a aparecer, estou


consumida e não estou pronta para a conversa que ele quer ter. Ele está
sentado no recamier, com os cotovelos apoiados nos joelhos e as mãos
machucadas entrelaçadas entre as pernas.

Seus olhos encontram os meus, e não vejo um pingo de remorso


neles, apenas uma expressão vazia. Max arruma sua postura quando corto o
contato visual e faço a volta na cama.
— Me desculpe, se assustei você. — Ele me olha por cima do
ombro antes de se levantar e sua voz soa controlada.

— Não é para mim que você deve desculpas.

— Isso quebraria o propósito da lição. — O meu coração pesa no


peito com sua resposta.

— Eu não sei o que me apavora mais, a agressão ou você achar que


machucar alguém daquele jeito é dar uma lição. Se essa é a sua maneira de
expor o que é certo do errado, eu quero criar o nosso filho bem longe de
você.

A expressão de Max se torna séria, mas é atada com alguma


aflição, que ele mascara rapidamente em seu rosto.

— Ele passou dos limites com aquela festa, eu nem deveria me


justificar, você viu o estado da casa. Talvez eu tenha pegado pesado demais,
e não me arrependo porque está na hora de ele cair na real e crescer.

— Não foi só pela festa. — Seu pomo de adão oscila e, pela


primeira vez, o deixei sem palavras. — Eu não me importo se você ainda a
ama, Max, mas o que fez por causa de um quadro é demais para mim.

— O quadro não foi o motivo, Persephone, foi o complemento. —


Ele se senta na minha frente, seus dedos machucados puxam os meus para
cima do seu colo. — Nunca machucaria você ou nosso filho, precisa
acreditar em mim. — Sua voz é macia e soa sincera. Brandon disse que
Max faz o estilo família, espero que essa parte não tenha morrido com a
Eva.
— Só preciso de tempo pra digerir. — Ele assente. — Estou
cansada, Max — sussurro lamentosa, me deitando para trás nos
travesseiros.

— Vou deixá-la descansar. — Ele acaricia minha barriga ao ficar


em pé, depois fecha as cortinas do quarto e me deixa sozinha.

Me viro na cama, procurando uma posição confortável, meu corpo


implora por descanso, mas minha mente permanece ligada, procurando uma
razão para tudo isso ter acontecido.
Capítulo 19

Desço para o andar superior e, depois de três dias, a casa está


definitivamente organizada, não sei como sobreviveu dois anos sob os
cuidados de Joseph. E, falando no diabo, ele está sentado no sofá com a
cara inchada e pontilhada, conversando com Persephone.

Ela pediu que ele ficasse aqui até encontrar um apartamento, a


primeira resposta que me veio à mente foi um estridente não, só que as
coisas não ficaram muito boas entre nós, mesmo tendo me desculpado, ela
se manteve afastada e pensativa, respondia às minhas perguntas com sim ou
não, e às vezes só dava de ombros, só por isso aceitei, espero não me
arrepender.

Naquela noite, depois que a deixei em nosso quarto, recolhi os


quadros da Eva, me perguntando se eu teria agido diferente se um deles não
tivesse quebrado. Eu não sei a resposta, mas sabia que está na hora de
abandonar o passado antes que ele acabe com o meu futuro. Guardei os
quadros no estúdio da Eva, que é outro lugar que eu preciso apagar dessa
casa. Na última vez que tentei me livrar das coisas dela, acabei morando em
Calábria por dois anos, só que fugir agora não é mais opção.

Paro diante dos dois, e Joseph evita o contato visual. Persephone


disse que ele não se lembra de quase nada daquela noite, e isso me enfurece
um pouco, ele estava tão chapado que não acreditou que foi eu que o
machuquei.

— Brandon virá conversar com você — aviso, e ele estreita os


olhos. — Parabéns, você acaba de ser promovido, vai trabalhar na empresa
pra pagar a destruição de patrimônio.

Persephone me encara com os lábios comprimidos, ela pode até


não aprovar, eu dei uma surra nele, já compensaria pelos danos na casa,
mas, dessa forma, posso colocar um pouco de responsabilidade nele. Joseph
tem vinte e quatro anos e esqueceu de amadurecer, o pai dele está se lixando
para ele, depois que enfiou a empresa no buraco, se mudou para outro país e
esqueceu que tinha o filho, então, se Joseph quer ficar aqui, não terá mais
regalias.

— Quanto?

— Duzentos e cinquenta mil. — A expressão na cara de ambos é


impagável. — Só o quadro estava avaliado em cem mil.

— O que eu vou fazer? — Dou de ombros e estendo a mão para


ela.

— Brandon vai te explicar, e pode pegar um dos meus ternos, até


você comprar os seus. — Persephone segura em meus dedos, eu a puxo
para cima, a sua barriga está cada vez maior, e seu vestido verde azulado e
escuro a destaca perfeitamente, assim como a cor dos seus olhos.

Caminhamos até a entrada, ela para e olha para dentro da casa.

— Será que dá tempo de ir ao banheiro? — Ela ampara a bexiga


com as pernas apertadas.

— Claro, a médica que aguarde — aviso, ganhando um sorriso


dela, caminho até o lado de fora e puxo um Lucky Strike do bolso, tento não
fumar perto dela, sei que ela tinha o hábito antes da gravidez, e não quero
deixá-la com desejo. Eu mesmo só fumo quando estou estressado, mas
confesso que voltei depois que Persephone entrou em minha vida.

O carro de Maverick está estacionado ao lado do meu e faz


algumas semanas que eu não o vejo, pedi que entrasse em contato só
quando encontrasse os caras. Encurto o espaço entre nós, seja lá o que ele
tem para me dizer, não quero que Persephone escute.

— Estou com eles. Estão em um desmanche de carro perto do Rio


Charles.

— Descobriu o que queriam com ela?

— Podemos ir. — Ouço Persephone, faço um sinal para ele se


calar. — Maverick, quanto tempo eu não o vejo!?

— É bom vê-la, senhora.

— Conversamos mais tarde — aviso e guio Persephone em direção


ao meu carro. Depois que me sento ao seu lado, ela direciona aqueles
audaciosos olhos na minha direção.

— O que as meninas fofocavam? — pergunta, cruzando os braços


em cima da barriga.

— Maverick encontrou os homens — confesso, já escondo uma


mentira que preciso resolver, talvez a verdade seja a solução. Persephone
vai me odiar... Inferno, não sei o que fazer.

— E o que eles queriam comigo?

— Maverick ainda vai descobrir.


— Eu lamento por isso — murmura, encostando a cabeça no
assento.

— A culpa não é sua, não se preocupe com isso, eu vou resolver.

Ela balança a cabeça e relaxa fechando os olhos, ultimamente ela


tem dormido o tempo inteiro, supus que a culpa fosse do fuso horário, mas
acho que me enganei.

Aqueles cinco dias na China me trouxeram mais paz que os


últimos anos. Santo inferno, se eu soubesse que seria tão gostoso foder com
ela, teria feito no primeiro dia que a beijei. Se me concentrar, consigo me
lembrar perfeitamente dos seus movimentos, dos gemidos que passavam
por seus lábios, do seu cheiro... porra, eu me afogaria no seu cheiro
inebriante, e o calor do corpo dela é um cartão de entrada para o inferno.
Mesmo grávida, as curvas em seu corpo parecem a personificação da
perfeição feminina.

Acordo Persephone quando chegamos à clínica, ela está com


quatro meses e algumas semanas, espero que apareça o sexo do bebê, assim,
podemos começar o enxoval. Não esperava ficar ansioso por essa parte.

— Já pensou em nomes para o bebê? — pergunta, sentada ao meu


lado na sala de espera.

— Acho bonito Leon e Alexia.

— Na ponta da língua — comenta com um olhar especulativo.

— Esse bebê foi planejado, esqueceu? — Ela dá uma virada de


olhos.
— Gostei de Leon, mas Alexia... — Persephone comprime os
lábios e balança a cabeça em negação. — Alexia, ligar a luz da sala, Alexia,
solte um pum. Nossa filha não será motivo de chacota na escola. — Sorri
com a sua insinuação.

— Qual você gosta? — pergunto, e a sala da doutora se abre,


Persephone sussurra um depois conversamos e se levanta, animada pela
primeira vez em dias.

A animação durou cerca de vinte minutos, deixamos a sala sem


saber o sexo do bebê. Ele está muito bem, acima do peso estimado, e os
centímetros também, o que a assustou um pouco, a médica disse que, se
entrou, tem que sair, mas isso não pareceu animá-la.

— Descobrimos na próxima ultra — tento reconfortá-la, alisando o


seu joelho. — Vou pedir a Mandy que marque para você — digo,
estacionando em frente à mansão.
Ela balança a cabeça em negação.

— Eu posso agendar minhas consultas, Max — repreende,


descendo do carro, mas, quando ela percebe que eu não faço o mesmo, se
vira para mim.

— Tenho uma reunião agora — aviso, fazendo-a estreitar as


sobrancelhas.

— Tá, só não mate ninguém — profere com escárnio e bate a porta


do carro.

Ela deve ter sexto sentido. Dou partida no carro e ligo para
Maverick me encontrar no desmanche de carro. Está na hora de resolver
essa pendência, a minha única preocupação é eliminar esses dois e aparecer
mais deles. Dirijo, pensando em uma segunda alternativa que não seja dar
dinheiro, porque sempre querem mais.

Quando me aproximo do local, o sol já está começando a se pôr no


horizonte. Enxergo Maverick fumando um cigarro sentado em cima do capô
do seu carro e, ao seu lado, há uma maleta preta que ninguém pagaria para
descobrir o que o grandão guarda ali dentro. Maverick é o homem mais leal
que conheço, era um dos seguranças de Dário Romani e foi designado a
mim quando comecei a prestar serviços ao Romani, há quase três anos.

Desço do carro, olhando em volta, parece que está abandonado há


algum tempo.

— Então, descobriu alguma coisa? — pergunto enquanto


caminhamos entre os condutores dos carros. Um mosaico de odores nos
atinge e o cheiro pungente de óleo, combustível e metal queima minhas
narinas.
— Sim, um dos homens lá dentro é irmão daquele que nos deu
informação a respeito da senhorita Beaumont, na garagem subterrânea. Eles
trabalham para Jammy Xang como cobradores de dívida.

— Aquele que acabou em um saco preto — relembro-o.

— Suponho que ele queira vingança pela morte do irmão.

— Jammy faz parte disso?

— Acredito que sim, senhor, eles eram sobrinhos da falecida


esposa de Xang. — Enrugo nariz, essa história fica cada vez mais enrolada.

— Ele tem mais alguém, além do Xang?

— Uma filha pequena. — Aperto os lábios, não gostando da ideia


de deixar uma menininha órfã de pai. — Se isso facilita as coisas, ele foi
preso há quatro anos por quebrar o maxilar da ex-mulher.

— Hum — emito, cancelando a minha breve empatia. — E o


outro?

— Fará um favor de tirá-lo da sociedade. Com uma ficha criminal


enorme, aceita fazer qualquer coisa por cocaína, venderia até a mãe se
tivesse uma. — Sorrio diante da sua cômica piadinha.

Maverick puxa a maçaneta enferrujada de uma porta de ferro e me


dá passagem.

— Vamos acabar logo com isso e sair daqui — aviso, entrando em


um contêiner velho, possivelmente onde o vigia ficava a maior parte do
tempo.
Uma luz quente mal ilumina os dois meliantes à minha frente,
presos por algemas em barras de ferros. Eles erguem a cabeça, e seus rostos
desfigurados exibem que Maverick pegou pesado.

Me escoro na parede e puxo um cigarro do bolso, Maverick para ao


meu lado, esperando meu sinal. Só que ainda não sei o que fazer, se os
matarmos, tornaremos isso um círculo vicioso. Jammy enviará mais
homens, e ela nunca estará segura. Termino o meu cigarro e me viro para
ele.

— Decapite e entregue as cabeças para Jammy Xang. Avise-o que


a próxima será a dele e que eu arrancarei com minhas próprias mãos se ele
persistir com essa perseguição.

Ele dá um aceno com a cabeça e larga a maleta em cima de uma


mesinha de madeira. Maverick pega dois frascos de Rohypnol para sedá-
los. Até que o grandão é provido de coração.

— Me avise quando estiver feito.

— Sim, senhor.
Chego em casa para o jantar, Persephone está na cozinha de shorts
e chinelo, preparando algo para o jantar ao lado de Nina. O cheirinho me
atinge em cheio, ela abre um sorriso iluminado quando nota minha presença
e caminha na minha direção.

— Como foi a reunião?

— Boa — digo, puxando-a pela cintura, sua barriga toca na minha,


e ela se inclina para trás para encontrar os meus olhos.

— Descobriu o que eles queriam comigo? — pergunta com um


olhar perspicaz.

É agora que eu começo outra mentira? Como explicar a ela que


parte disso é culpa minha, admiti isso não é o problema, mas confessar que
mandei matar um homem depois de já ter descoberto o que eu queria... não
sei se Persephone tem estômago para isso.
— Mais dinheiro, Maverick vai resolver com o chefe deles, não
tem com o que se preocupar. Isso logo vai acabar, eu prometo — afirmo e
me abaixo para beijá-la.
Capítulo 20

Escuto uma suave batida na porta, em seguida, Nic entra


carregando uma xícara de chá. Sorrio para ela, que se senta na minha frente,
vestindo um terninho preto com saia lápis.

— Obrigada, não precisava — digo quando ela desliza a porcelana


pela mesa.

— Tá brincando, você conseguiu o emprego para mim, vou trazer


muitas xícaras, se acostume. — Rio.

— Você está entediada, não é?!

Consegui o emprego para ela como minha secretária, e nem preciso


de uma, mas o fundo paga bem, tem plano de saúde e contribui com uma
porcentagem para a faculdade.

— Volte a estudar. Você trancou administração porque estava dura,


e aqui terá tempo e dinheiro, já que a sua única função é me fazer feliz.

— Nossa, Perse, voltar para faculdade se tornou um sonho tão


distante que não me vejo dentro de uma sala de aula novamente.

— Faça à distância. Ou quer servir café para mim para o resto da


sua vida? — Ela me encara boquiaberta.

— Tem sorte de estar grávida — diz com um risinho. — Eu vou


pensar nisso. — Ela se escora na poltrona e se vira para trás, observando
Colin. Ele está com a cabeça baixa, trabalhando, achei que as coisas
ficariam estranhas entre nós, mas ainda conversamos todos os dias, ele me
traz café, e eu levo para ele quando pego para mim.

— Há boatos de que vocês se pegaram no elevador. — Quase


cuspo o chá na mesa.

— Quem te contou isso? — Ela ri.

— Então quer dizer que é verdade.

— Foi só um beijo, e ele quase desmaiou quando contei que estava


grávida.

— Ele beija bem? — Faço cara feia diante da pergunta.

— Tire suas próprias conclusões, ele é um cara legal.

— Quem sabe eu leve uma xícara de café para ele mais tarde —
diz, olhando para Colin, ele ergue os olhos até nós, e Nic se vira com a
sutileza de uma bazuca. — Acha que ele nos viu? — pergunta, mas meus
olhos estão em Colin sorrindo, ainda olhando para nós.

Balanço a cabeça em negação, respondendo a sua pergunta.

— E como estão as coisas entre você e a fera?

— Ah, para. Ele não é tão ruim, só perdeu a cabeça.

— O primo dele quase perdeu também — enfatiza com ironia. —


Não esperava que ele a atordoasse tanto para assinar um contrato que nem
ele mesmo assinou. Será que percebeu o quanto babaca estava sendo?

— Acho que ele caiu na real. — Dou de ombros, pensando no


contrato, se Max ainda estiver com ele e assiná-lo depois de uma briga ou
discussão... balanço a cabeça, expulsando o pensamento, ele não faria isso,
faria?

— Hey, desencana, agora você pode dar e se casar antes dos trinta.
— Assinto, e assim que Nic me deixa só, meu celular vibra na mesa com
uma mensagem de Max pedindo para eu ir até a sua sala. Já está quase no
fim do expediente, normalmente ele que passa aqui para me buscar, o que
tem gerado algumas fofocas no corredor, isso a Nic não comenta, sorrio.

Deixo a sala e caminho até o escritório de Max, sua secretária não


me barra quando passo por ela. A sala dele é a única que as paredes do
interior não são de vidro, entro sem bater e o encontro diante da fachada de
vidro, vislumbrando a extensão do Rio Charles.

— Queria me ver, senhor — falo com uma voz ensaiada.

Max se vira para mim, e sua expressão não é das melhores, ele
anda com passos lentos até a sua mesa e seu olhar firme permanece preso
no meu.

— Os funcionários estão comentando sobre a sua má conduta no


interior do escritório.

— Minha má conduta? — Minha voz sobe e afina.

— A nossa consideração está em jogo aqui. Não quero precisar


demiti-la, Persephone. — Capto o início de um risinho em seus lábios e
quero bater nele, mas, em vez disso, encurto o espaço entre nós.

— E por acaso tem algo que eu possa fazer para corrigir esse mau
comportamento, senhor. — Meu polegar sobe, riscando o interior da coxa
dele, até a altura do seu pênis.
Max empurra meus cabelos para trás do meu ombro e se abaixa,
sua barba provoca cócegas em meu ouvido enquanto ele sussurra.

— Há uma porção de coisas — profere, me arrepiando, e planta


um beijo de lábios abertos em meu pescoço, ele sobe, encontrando os meus
lábios e me guia em direção à mesa.

Minha bunda se encaixa na curva da mesa, e Max volta a beijar o


meu pescoço enquanto seus dedos exploram minhas curvas.

— E se alguém entrar, Max? — Travo o corpo na hora que os


dedos dele invadem a saia do vestido.

— Do piloto, você não tinha vergonha... — Ele ri contra a minha


boca. — Relaxa, avisei a Mandy para não deixar ninguém além de você
passar.

— Ah, que maravilha, agora ela sabe o que estamos fazendo.

— Não estamos, por que você não cala a boquinha. — Meus lábios
se separam, chocada, e Max enfia sua língua na minha boca.

— Vou cobrar essas horas extras — respondo quando ele desce, se


ajoelhando na minha frente, seus dedos engatam nas tiras da minha calcinha
e descem até os tornozelos. Levanto-os e Max a retira, guardando-a em seu
bolso.

— Abra as pernas, querida. — Há doçura em sua voz.

Max segura por baixo da minha coxa esquerda e, sem esforço, a


levanta, seus lábios molhados plantam um beijo na minha pele, e sinto bem
os dentes dele, o suficiente para enviar contrações ao meu núcleo.
Ele sobe e, mesmo com o volume da barriga cortando nosso
contato visual, eu posso imaginá-lo perfeitamente de olhos fechados e os
lábios presos em minha pele sensível.

Sua língua desliza para dentro de mim, lambendo e separando os


lábios, ele me prova e provoca meu clitóris com longos golpes, deixando
sensível.

— Oh, Deus! — miei, ouvindo um riso provavelmente convencido


dele. Sua língua desliza até a entrada da minha fenda e o latejar no meio das
minhas pernas se torna insuportável, meu corpo enfraquece com o
formigamento, e Max me mantém firme no lugar,

Afundo os dedos em seus sedosos cabelos cor de ébano e


desesperadamente esfrego o meu quadril em sua enlouquecedora língua.
Mordo os lábios, calando meus gemidos, só que é demais para mim, os
espasmos se tornam violentos quando Max volta a chupar meu clitóris.

— Por Deus, Max, pare ou vou gritar — choramingo, perdendo o


controle do corpo. Suas mãos me seguram com mais forças, me impedindo
de afastá-lo. Seus lábios e sua língua sovam a minha intimidade, trazendo o
mais profundo gemido de libertação.

Max se ergue, e escoro minha cabeça contra o seu peito, sentindo-


me mole como uma gelatina, o oposto do seu pau, duro em minha barriga.
Seguro no seu cinto para desafivelar, e Max me impede.

— Aqui não é apropriado, querida. — Encaro-o, pasma, e dou um


olhar feio.

— Me chamou aqui só para me expor? — pergunto, cruzando os


braços em cima da barriga.
— Senti sua falta, você trabalha do outro lado do prédio, quase não
a vejo.

— Oh — emito mais debochada que pretendia. — Podíamos estar


juntinhos agora, mas você não quis baixar a calça — comento, descendo o
vestido e me sentando na luxuosa e confortável cadeira dele. — Deus... O
que eu preciso fazer para ganhar uma dessas?

Max me dá um risinho formidável e se senta na ponta da sua


organizada mesa. Está tudo tão perfeitamente alinhado que nem parece que
alguém trabalhou aqui hoje.

— É só pedir. — Aperto os lábios para prender um sorriso e puxo


umas das gavetas entreabertas dele, tem um porta-retrato ali dentro, percebo
Max enrijecendo quando pego o retrato de Eva.

— Ela era linda — menciono, observando a pele bronzeada pelo


sol da falecida, coberta por várias camadas de tinta, nos braços, e na regata
branca. O sorriso é esplendoroso, assim como os olhos azuis vibrantes.

— É. — Ele me dá um aceno com a cabeça.

Solto o retrato onde estava e fecho a gaveta, um pouquinho


arrependida de ter mexido nas coisas dele. Não tenho ciúmes de uma
mulher morta, pois não teria cabimento, cada pessoa tem o seu tempo para
superar o luto, e Max já deu um grande passo, se livrando dos quadros da
parede e do estúdio de Eva.

— Vamos embora? — pergunto, me levantando e alisando o bebê.

— Eu sempre esqueço de tirá-lo dali — menciona com um timbre


culpado, paro a sua frente, seus dedos ocupam o lugar onde os meus
estavam em minha barriga e ele me acaricia.

— Tudo bem — aviso, deslizando as mãos até a sua nuca. —


Podemos ir? Estou com desejo de sorvete de milho. — Max torce o nariz.

— E isso existe? — Ele ri, ficando em pé.

— Comi na semana passada com a Nic.

Deixamos a sala e a secretária de Max dá uma breve coradinha


quando nos vê passar em frente à recepção, desejo beliscá-lo, mas vou
deixar a minha bronca para dentro do elevador, que já nos aguarda de portas
abertas.

Entramos, quando me viro para Max com a boca aberta, ele me


beija, passando seus braços de aço a minha volta e me prensando contra a
parede do elevador. Desgraçado! Se não fosse tão gostoso beijá-lo...
Capítulo 21

Desperto como se tivesse dormido mais de vinte e quatro horas,


completamente relaxada e desorientada, e procuro por Max na cama, mas o
seu lado já está frio.

O filho da mãe foi sem mim.

Desço da cama quando percebo que são quase dez e meia da


manhã. Eu vou matá-lo! Todas as manhãs, quando acordamos, Max insiste
para que eu durma um pouco mais, que o trabalho no fundo pode esperar.
Ainda estou em condições de trabalhar, eu só tenho muita preguiça, como
qualquer ser humano, ou grávida.

Entro no banho lembrando de como a noite passada foi perfeita, na


verdade, todas as noites têm sido inesquecíveis ao lado dele. Nos damos tão
bem que é fácil acabar esquecendo o que me trouxe aqui. Recebo um
pequeno golpe na barriga, sorrio, será que o bebê escuta meus pensamentos.

O seu pai era um lunático, mas a mamãe está colocando-o nos


eixos, não que a mamãe seja a pessoa ideal para fazer isso... um flash de
memória percorre a minha mente, fazendo-me recordar de como eu fazia
coisas terríveis na faculdade.

Coloco um vestido tubinho da cor-de-rosa queimado, e uma


sandália preta, e desço, penteando o meu cabeça com os dedos. Quando
chego no andar inferior, encontro Joseph no sofá vadiando. Max vai matá-lo
pelo atraso, já faz algumas semanas desde a surra que ele levou, e parece
que o juízo ainda não enraizou na mente dele.
— Joseph — digo, me aproximando dele por trás do encosto do
sofá, ele está vestido de terno e a gravada bagunçada em frente ao peito.

Os vestígios da surra que ele levou são mínimos agora, os pontos já


foram removidos, mas ficaram marcados em sua pele para sempre.

— Pensei que não fosse acordar — comenta com um risinho,


ficando em pé e guardando o telefone no bolso. — Hoje serei o seu
motorista. — Claro, agora que Maverick tirou duas semanas de férias, Max
não me deixaria sem uma sombra. Se já resolvemos o problema com os
caras da casa de jogos, não preciso mais dessa hiper proteção.

— Saudades de dirigir — comento, caminhando para fora. — Nem


sei onde foi parar o meu carro depois que Max me trouxe para cá —
balbucio, cabisbaixa.

— Sua lata velha está na garagem dos fundos. — Meu queixo cai,
ninguém me conta nada nessa casa?

Joseph me estende a chave do Jaguar.

— Só não conte pro Max. — Balanço a cabeça animada,


caminhando até o carro.

Em quinze minutos, chegamos na empresa ao som Arctic


Monkeys, Why'd You Only Call Me When You're High? Joseph me deixa na
frente do elevador e vai almoçar com a secretária do Colin. Eu senti a
maldade no olhar daqueles dois.

Desço no meu andar e, em vez de ir até a minha sala, caminho até


o escritório de Max, um puxão de orelha e um beijo de boa-tarde caíram
bem antes de iniciar o trabalho. Minha barriga ronca de fome, talvez o
chame para almoçar.

Sua recepção está vazia, Mandy deve ter ido para seu horário de
almoço. Entro no escritório de Max sem bater, e a sala está vazia, fecho a
porta atrás de mim e ando até a ampla fachada de vidro, admirando a bela
vista. Pego o meu celular e ligo para ele, e o telefone dele começa a tocar
em cima da mesa, caminho até lá e me sento em sua maravilhosa cadeira.
Antes de encerrar a chamada, pego o celular e vejo uma das fotos que tirei
em nossa viagem estampada na tela. Sorrio com o coração quentinho, me
sentindo completa.

Me escoro para trás e cruzo os braços em cima da barriga, se ele


deixou o telefone, quem sabe ainda esteja no escritório, reflito, e meus
olhos caem sobre a gaveta, onde o quadro de Eva estava, a curiosidade
floresce em mim para saber se ele se livrou dele, já se passaram alguns dias
desde que o vi ali.

Os meus dedos coçam para abri-la só para conferir, mas se ainda


estiver ali... eu disse que não me importava, então por que estou tão
curiosa?

Foda-se, é mais fácil pedir perdão do que permissão, palavras dele.


Puxo a gaveta com o coração acelerado, e não encontro nada, o sentimento
de alívio é tanto que me sinto ridícula, até eu perceber uma pequena
caixinha de joia preta com as iniciais PB, grifadas em prata.

Engulo em seco, sentindo o meu coração disparar, meus dedos


tremem quando se aproximam dela, mas fecho minha mão em punho antes
de tocá-la. E se for a aliança da Eva? Não estava aí no outro dia, mas está
agora, por quê? Deus, tremo como uma vara verde, e o arrependimento por
não tomar café me bate com força no meu estômago.

Estou confusa, e a ansiedade não está me deixando pensar com


clareza. Seguro na gaveta para fechá-la de vez, então, enxergo uma folha
com o meu nome assinado, embaixo da caixa de veludo. É o contrato... não
pode ser, penso, puxando a folha, e encontro com a assinatura de Max.

Ele assinou.

Aquele desgraçado infame assinou.

A náusea bate com força em meu estômago e, mesmo que não


tenha comido nada, corro até o banheiro no canto da sala e vomito, sentindo
o meu sistema querendo desistir de mim. Meus olhos se tornam uma
profusão de lágrimas quando me levanto do chão. Me escoro contra a
parede fria, com medo de desabar.

Respiro fundo, seco minhas lágrimas e deixo o banheiro sem ter


ideia do que fazer. Firmo as pernas bambas, não é hora de ser fraca,
imponho em pensamentos. Saio da sala, e Mandy já está na recepção, seus
olhos focam em minha face e sua expressão é de preocupação.

— A senhora está bem? — pergunta, apenas balanço a cabeça


confirmando e sigo reto em direção ao elevador.

Nic me enxerga, e caminha com passos largos ao notar o meu


semblante, só que entro no elevador e aperto para descer o mais rápido que
consigo, não quero encontrar Max aqui.

Não sei qual será a minha reação quando vê-lo novamente, estou
tão furiosa. Ele mentiu na minha cara tão facilmente, balanço a cabeça
novamente e aquela maldita frase ecoa na minha cabeça, só que nunca vou
perdoá-lo.

Está na hora de ele aprender que ele não tem controle sobre tudo, e
não terá mais sobre mim.

Peço um carro no aplicativo e, no caminho para casa, penso no que


fazer.
Capítulo 22

Retorno do almoço com Brandon e noto o Jaguar estacionado em


frente à empresa. Persephone já deve ter chegado, ela teve uma longa noite
de idas ao banheiro e, quando o relógio despertou, eu não tive coragem de
acordá-la, parecia em um sono profundo. A contemplei por um momento,
preso na suavidade de sua pele, nos traços sutis de seu rosto e na curva
graciosa de seus lábios rosados. Naquele momento, percebi que não havia
preocupação ou problemas, apenas uma serena sensação de completude,
desejei ter aquele sentimento para sempre.

— Ainda não acredito que vai fazer isso — Brandon balbucia


quando entramos no elevador.

— Nem sabemos se ela vai aceitar — aviso, pensando no anel que


repousa em minha gaveta. Hoje, quando acordei, eu não tinha ideia de que
acabaria em uma joalheria, passei metade da manhã escolhendo um anel e
nem por um momento senti como se estivesse indo rápido demais.

Só não tenho certeza se compartilhamos o mesmo pensamento.

— E como vai fazer? Pedi-la em casamento e depois contar que


mentiu sobre não ter assinado o contrato ou vice-versa? — Lhe dou um
olhar de censura.

— Você não estava naquele jato... — menciono, relembrando como


foi perfeito. — Eu faria tudo de novo, Brandon.

— E o que vai fazer com o contrato, Max?

— Tocar fogo. — Ele ri.


Descemos do elevador. Caminho até Mandy para confirmar se não
recebi nenhuma ligação importante, já que só notei que estava sem telefone
quando o de Brandon começou a tocar no restaurante.

— Está tudo bem? — questiono, devido a sua expressão.

Mandy balança a cabeça, positivamente.

— Eu saí para almoçar, senhor, e, quando retornei, a senhorita


Beaumont estava saindo da sua sala chorando.

— Há quanto tempo foi isso?

— Meia hora. Ela pegou o elevador e desceu.

Entro na sala com Brandon em meu encalço, ele fecha a porta atrás
de si. Faço a volta na mesa e encontro minha gaveta aberta e o contrato em
cima da mesa. Pego o celular e tem uma ligação perdida dela de uns
quarenta minutos atrás e mais algumas da Mandy.

Respiro fundo, tentando controlar o tumulto de pensamentos que


giram em minha mente enquanto ligo para ela.

Atenda! Atenda! Atenda! Imploro mentalmente até a chamada cair.

— Tente ligar para ela — digo ao Brandon, e começo a discar o


número residencial da mansão, caindo na caixa-postal.

— Ela não atende, Max. — Paro e encaro o meu amigo, me dando


conta que estou andando de um lado para o outro.

— Vou pra casa — informo, pegando o contrato e a aliança.


— Vou com você. — Aceno com a mente freneticamente em busca
de uma solução. Passo pela recepcionista e a imagem de Persephone, com
os olhos cheios de lágrimas e a expressão magoada, se repete em minha
mente, me atormentando.

Chego na mansão em um recorde de tempo. Ando com passos que


parecem pesar uma tonelada, cada segundo que se passa apenas aumenta
mais a minha preocupação. Eu sei que já passou da hora de enfrentar as
consequências das minhas ações, mas temo os danos que isso poderá ter em
nossa vida. Não estou pronto para perdê-la. Persephone é pavio curto,
quando ela mete algo na cabeça, não há quem tire.

— Procure-a aqui embaixo — peço, subindo com passos largos até


o andar superior. Entro em nosso quarto, a cama está feita e, em cima dela,
diversas roupas amontoadas, também seguindo uma trilha até o closet, entro
lá com o meu coração galopando no peito, e o seu lado do armário está
praticamente vazio.
Ela foi embora.

Eu não acredito que ela foi embora... o pensamento e a ideia dela


fugindo explodem na minha cabeça, junto de uma fúria cega, e meu desejo
é desmontar esse cômodo inteiro a soco, em vez disso, desço, fazendo uma
ligação para Maverick.

— Preciso de você aqui — digo, o homem não pede explicações,


apenas diz que já está a caminho.

Encontro Brandon, ele balança a cabeça, informando que não a


encontrou.

— Ela se foi. — Isso mói a minha alma, se é que ainda tenho uma.

— Como? O carro estava na empresa quando saímos, ela não


fugiria a pé.

— Eu não sei, Brandon. Depois de tantas discussões... depois de


tudo que eu fiz, acho que Persephone iria a pé só para ficar longe de mim.

— O que faremos?

Balanço a cabeça em negação.

— Eu não sei.

Não é como se eu pudesse ir à polícia e fazer uma ocorrência de


desaparecimento, ela não quer me ver e está fazendo isso para me punir. Se
ela tivesse me deixado explicar, ainda assim, ficaria puta, mas, pelo menos,
eu saberia onde estaria.

Peço para Brandon ir embora, preciso ficar sozinho e colocar a


cabeça para pensar. Em quais lugares, ela iria? Persephone não tem família
em Boston, a sua amiga estava na empresa na hora que ela foi embora, e o
ex-namorado, eu não acho que ela o procuraria depois da traição.

Santo inferno, meu cérebro vai dissolver.

Maverick chega em menos de quinze minutos, passo para ele todas


as informações que eu sei, ele deu uma ronda no pátio antes de ir e notou
que o carro dela não estava mais na garagem dos fundos. Não temos como
descobrir onde ela está, pois não coloquei um rastreador no automóvel e
nem no celular, me arrependo amargamente.

Subo para o nosso quarto, a sensação de vazio toca meu coração,


jamais pensei que fosse sofrer por amor de novo, amor... que palavra
fodida. Me sento na ponta da cama, pensando que a cada minuto que se
passa sem notícias é uma confirmação de que fodi com tudo
irremediavelmente.
Esfrego os olhos enquanto espanto o cansaço, estou há quase duas
semanas em claro. Dormir é o menor dos meus problemas, não tem uma
mísera novidade do paradeiro de Persephone, isso está me deixando
maluco.

Ninguém some sem deixar um rastro, até parece que ela já estava
com tudo planejado. Não gosto de pensar nisso.

Ando até o pátio quando vejo o carro de Maverick estacionar ao


lado do meu. Ele caminha até mim com passos determinados e uma
expressão que não me agrada nem um pouco.

— Me diga que tem alguma novidade.

Ele me dá um aceno conciso.

— Ela abandonou o carro no condado de Hampden, em


Springfield.

— Fica a uma hora e meia de Boston, o que tem lá?

— Nada que ligue a ela, acredito que esteja querendo me despistar


senhor. — Sorrio com amargor.

Óbvio que ela fará de tudo para não ser encontrada, como faço para
essa raiva que ela sente diminuir?

— Continue procurando e investigue a amiga, talvez ela saiba de


alguma coisa. — Maverick me dá uma aceno e se retira em silêncio.

Pego o telefone do bolso com os pensamentos tumultuados de


sentimentos de culpa. E faço algo que tenho feito muito nesses últimos dias.
Ligo para ela e, como sempre, sua caixa de mensagens tem sido muito
atenciosa.

Aqui é a Persephone, por favor, não deixe uma mensagem.

— Oi... A sua caixa de mensagem está vazia, significa que está


ouvindo minhas mensagens, por favor, me diga onde está. Sinto sua falta,
Persephone.

Encerro a chamada sem mais ideia do que dizer a ela que já não
tenha dito nos últimos dias.
Capítulo 23

Acordo com o meu celular tocando na mesinha de centro, o


silencio quando enxergo o nome do Max. Cubro minhas vistas com o braço
e tento voltar a dormir, mas sinto uma pressão no abdômen, como se tivesse
um cinto me apertando ali, senti isso ontem e hoje mais cedo, acredito que
seja as famosas contrações de Braxton Hicks. Me sento quando sinto as
molas do sofá brincando com minhas costelas e me estico para pegar o
telefone, me questionando se ele vai desistir alguma hora.

Parei de ouvir suas mensagens de voz há duas semanas, tudo isso


não está me fazendo bem. Max me enganou, isso nem deveria ter me
deixado surpresa, eu sabia o caráter dele, mas, mesmo assim, me entreguei
de corpo e alma. O que tínhamos era tão bom que não parecia real...
balanço a cabeça, espantando os pensamentos, eles me corroem a maior
parte do dia.

Queria poder voltar um mês atrás e, em vez de fugir dele, enfrentá-


lo para saber que merda tinha na cabeça quando resolveu mentir para mim,
mas quanto mais tempo se passa, menos tenho vontade de entrar nessa
briga, estou exausta de pensar nele de sentir saudades dele... como posso
sentir falta de alguém como ele?

Nas 1518451512 mensagens de voz que me enviou, ele foi bem


persuasivo, alegou, de inúmeras formas, que estava planejando me contar,
só não sabia como. Porra, era só ter contado, ou melhor, não ter mentido,
mas, com Max, nada é simples.

Pelo menos agora ele sabe como é não ter controle da própria vida.
Suspiro, lembrando da caixinha de anel que vi na gaveta, Nic acha
que ele faria um pedido de casamento, pensar nisso me embrulha o
estômago com força, isso é o ato mais desesperado que eu já vi. É amor,
segunda a minha amiga. Afss.

Fico em pé e ando até o espaço aberto da cobertura do Colin.


Depois que fiz as malas na mansão e peguei o meu carro todo afogado e
empoeirado na garagem, não tinha ideia de onde ir.

Não poderia voltar para o meu antigo apartamento, era um lugar


óbvio e, provavelmente, já deve ter outro inquilino vivendo lá, não poderia
ir para a casa da Nic, Maverick deve estar de olhos em todos que eram
próximos de mim, mas, devido ao meu afastamento de Colin..., ele foi a
minha única saída.

Liguei para ele quando já estava em frente ao seu prédio e, dentro


de alguns minutos, o CFO veio salvar a minha pele, e eu tive que contar
toda a vergonhosa verdade, nada mais justo.

É sexta-feira, e os pombinhos estão olhando o crepúsculo, bebendo


vinho branco e comendo queijo Brie, a minha desventura, pelo menos,
serviu para unir esses dois.

Puxo a manta de uma das cadeiras e me enrolo nela, depois me


sento em um pufe felpudo branco de frente para eles. Colin me encara
brevemente com os lábios comprimidos e depois se retira carregando as
taças de vinho vazias. Ambos acham que estou um lixo, não posso nem
discordar, não tenho ânimo nem para pentear os cabelos, apenas os prendo
para cima em um coque.
Nic se levanta e se senta ao meu lado, passando os braços em
minha volta.

— Está na hora de sair dessa bolha depressiva, Perse — diz,


preocupada. — Precisa resolver isso antes do seu bebê nascer.

— Eu quebrei o contrato ao dormir com ele... não tem como


resolver isso. — Minha amiga balança a cabeça.

— Isso foi antes de ele se apaixonar por você. Ele está péssimo,
amiga, olheiras enormes, barba por fazer... ele a quer de volta não para
tomar o seu bebê, mas porque ama você. — Fecho os olhos, tentando deter
as lágrimas no canal lacrimal, gostaria de saber, se eu não estivesse grávida,
acharia tudo tão dramático.

— E se voltar for a decisão errada?

— Não vai saber até tentar. — Colin se senta em nossa frente. Ele
nunca havia me dado sua opinião até agora. — Você pode ficar quanto
tempo quiser, mas seu bebê precisa de um berço, de roupas e de um lar
permanente, Persephone.

Engulo as palavras junto do nó em minha garganta, tudo isso que


ele está falando tem martelado na minha cabeça nas últimas semanas. Só
que, antes de tomar qualquer decisão, preciso saber que é por mim, e não
pelo bebê. Eu sei que, aonde quer que eu vá, ele estará amparado pelo Max.

— Agradeço a preocupação de vocês, mas ainda preciso de mais


tempo. — aviso, ficando em pé com dificuldade.

Se fosse pelo aperto em meu coração, eu já teria voltado para ele.


Sinto saudades do seu cheiro, dos beijos e das carícias na hora de dormir,
entretanto, como o coração costuma foder conosco nesses momentos,
tenho que ser racional.

Caminho até o banheiro com a sensação de calcinha molhada. Ai,


credo, será que não consigo mais nem segurar o xixi?

Teremos que compartilhar as fraldas, baby.

Baixo as calças, e o pavor atravessa meu corpo quando enxergo o


tecido da calcinha embebido por sangue vivo. Puxo o rolo de papel
higiênico para me limpar, o papel fica ensopado em segundos.

Oh, Deus... O que está acontecendo? Um mar de emoções


violentas cerca o meu coração, me fazendo tremer de uma forma
inexplicável. Puxo as calças para cima e instintivamente coloco a mão sobre
o ventre, como se, de uma maneira pudesse conter o que quer que esteja
acontecendo com o bebê.

Saio do banheiro com passos largos, em direção à área externa, Nic


levanta num pulo quando enxerga minha expressão pavorosa.

— O que foi? — pergunta e Colin vem logo atrás.

— Estou sangrando. — Minha voz sai esganiçada.

— Vamos para o hospital — Colin profere, pegando as chaves do


carro na mesinha de centro. — Vou te pegar no colo. — Assinto com as
lágrimas começando a rolar.

— Vão na frente que eu vou buscar roupas limpas — Nic avisa,


subindo em direção ao quarto onde estou dormindo.
Colin passa os braços em minha volta e me puxa com facilidade
contra o seu peito, ele parece ligado no automático. Entramos no elevador e
aperto o botão para descer na garagem.

— Está com dor? — pergunta.

— E-eu... não sei, desde a noite passada, estava sentindo uma


pressão estranha no abdômen, mas não era nada dolorosa.

— Talvez seja um bom sinal, sem dor... — As portas se abrem, e


Colin se cala, avançando com pressa em direção ao seu carro, ele me solta
no chão para abrir a porta do passageiro e depois me ajuda a entrar.

Amparo a barriga com as mãos abertas, tentando perceber qualquer


movimento do bebê, mas não sinto nada, e quero acreditar que isso seja
devido ao meu nervosismo.

Colin acelera até o elevador e as portas se abrem no mesmo


instante que ele para o carro, Nic desce e corre até nós com uma sacola e se
atira no banco de trás. Olho para ela por cima dos ombros e seus dedos
apertam meu braço, me reconfortando.

Me escoro contra o banco e me encolho a cada solavanco que o


carro dá, implorando a Deus que não aconteça nada de ruim, não vou
suportar mais uma perda.
Capítulo 24

A minha cabeça lateja enquanto tento porcamente ler os relatórios


financeiros que a secretária de Colin me entregou mais cedo. Tomo um
longo gole do uísque da garrafa, sentindo a garganta pegar fogo, e solto os
documentos em uma pilha do que terei que ler novamente na semana que
vem.

Me escoro para trás na cadeira do escritório e olho além da janela o


céu estrelado, o sol se pôs há umas duas horas, e não consegui voltar para
casa.

Eu fodi com tudo, e ela me deixou, mas permanece enraizada como


um vírus infiltrado em minha mente. Sua presença permeia todos os cantos
da casa, tornando impossível pensar em outra coisa que não seja nela. Fugir
para Itália como eu fiz na primeira vez não é mais uma opção, Persephone
carrega o meu filho na barriga, ela me abandonou, mas eu não vou
abandoná-los.

Puxo um cigarro do bolso interno do paletó e paro diante da


fachada de vidro, olhando em direção à cobertura do Rindel, imaginando o
que ela está fazendo agora.

Há uma semana e meia, Maverick seguiu Nicole até uma farmácia,


ela comprou as mesmas vitaminas que Persephone toma, e depois a
observou levá-las até a cobertura do diretor financeiro. O esforço que tive
que fazer para não buscá-la foi enorme. Isso com certeza pioraria tudo.

Estou tentando dar espaço a ela, dizem que o tempo cura tudo,
veremos.
Desligo a luz do escritório e desço sentindo o vazio sovar o meu
peito, jamais supus que sentiria algo assim novamente. Quando Eva se foi,
desejei morrer com ela, pois sabia que não havia nada que pudesse ser feito
para tê-la de volta, e com Persephone... porra, ela está a cinco minutos de
distância, e tudo que mais desejo é levá-la para casa, onde é o lugar dela,
comigo.

Estou me aproximando do meu carro no estacionamento quando o


meu celular começa a tocar. Chamada de Maverick, atendo.

— Fale.

— Persephone foi internada no Hospital Geral de Boston, há cerca


de 2 horas.

— Estou indo pra lá — aviso, encerrando a chamada. Deslizo para


dentro do meu carro, com os pensamentos carregados de preocupação, e
aquele vazio, que assolava o meu peito segundos atrás, está pesado de
preocupação.
Entro na recepção do hospital e caminho até o balcão central com
passos largos, a atendente de cabelos loiros cacheados me dá toda a sua
atenção.

— Qual é o quarto da paciente Persephone Beaumont?

— Boa noite, senhor — responde, digitando no computador a sua


frente. — Qual é o seu parentesco com a paciente?

— Marido. — Os olhos da recepcionista se unem brevemente,


provavelmente ela está analisando a idade, eu já não aparento mais estar na
casa dos vinte anos. — Ela está grávida de, aproximadamente, seis meses,
dá pra agilizar — declaro, ríspido.

— Tudo bem, ele está conosco. — Olho para Colin por cima do
ombro, a mulher concorda, indicando o quarto dela.

— O que ela tem?

— O médico informou que foi um pequeno descolamento na


placenta, ela e o bebê estão bem, mas Persephone terá que ficar de repouso
até o parto — profere, caminhando em direção a Nicole sentada em uma
das poltronas. — Ela está dormindo, se quiser entrar lá...

Claro, porque, se estivesse acordada, me mandaria pro quinto dos


infernos.

Lhe dou um aceno de cabeça e caminho até o quarto que a


recepcionista indicou, olho pela pequena janela e sinto o meu coração bater
fora de ritmo quando enxergo ela deitada, encolhida, de costas para a porta.
A hesitação percorre o meu corpo, ela não quer me ver, mas a preocupação
em saber como ela está é maior que tudo que já senti.

Entro no quarto e percebo uma parafernália de fios ligados em uma


máquina, conectados nela. Seu cabelo está preso para cima, e os fios novos
próximos ao pescoço estão encaracolados.

Dou a volta na cama, e Persephone sobe o seu olhar sem brilho até
o meu rosto, suas bochechas coram em questão de segundos e lágrimas
rolam até a curva do seu queixo.

— Como me encontrou? — pergunta, lambendo os lábios


ressecados, analiso-a, e suas feições estão menores do que eu me lembro.

— Isso não importa agora — falo, levando uma mão até a sua
barriga, mas ela segura meus dedos no ato. — Persephone... — sussurro.

— A minha condição não altera o que aconteceu, Max — profere


com uma voz chorosa.

— O que eu tenho que fazer para você me perdoar? Eu estou


enlouquecendo sem você naquela casa... — Ela balança a cabeça, fazendo
as lágrimas se espalharem.

— Não sei como confiar em você, tenho certeza que, se precisar


mentir para mim de novo, fará sem pestanejar.

Mexo a cabeça em negação.

— Eu não vou, já aprendi a lição, não é mais fácil pedir perdão.


Precisa acreditar em mim, não faria nada que pudesse machucá-la de novo
— afirmo, amparando uma lágrima do seu rosto com o nó do dedo. — Ela
fecha os olhos por um breve momento, depois me fita com um olhar duro e
profundo.

— Quando ele nascer, não haverá hormônios no mundo que me


farão perdoar você outra vez — declara.

— Não será um problema — aviso e reivindico sua boca, sem


avisá-la, seus lábios tensos se tornam tenros em segundos, e Persephone
retribui o meu beijo vagarosamente.

Ouvimos um ruído com a garganta e nos afastamos; do outro lado


da cama, um médico nos encara com os lábios comprimidos e um
prontuário na mão.

— O senhor deve ser o pai do bebê.

Lhe dou um aceno e estendo a mão para cumprimentá-lo.

— Maxwell Snyder — informo, e não leva segundos para o


homem mostrar reconhecimento.

— Quando vou poder sair daqui?

— Amanhã. Por hoje, ainda vamos controlar se há sangramento. —


O médico se direciona para mim. — Como eu havia explicado à senhorita
Beaumont, o descolamento não foi grave, mas precisa de repouso e
monitoramento com maior frequência até o fim da gestação, se acontecer
novamente, faremos uma cesárea para não colocar em risco a vida da mãe e
do bebê. — O médico me dá um aceno e adiciona, deixando a sala: — Sem
sexo até o nascimento.

— O que são mais três meses — digo com a intenção de vê-la


sorrir.
— Quatro, tem o resguardo depois do parto — profere com um
riso, e funcionou.

Me sento ao seu lado na cama e passo o braço por trás do seu


corpo, puxando-a para mim.

— É um menino — expõe, se afastando para me olhar, seu lábio


está curvado em um beiço. — Descobri nos exames que os médicos
fizeram.

— Você queria uma menina? — pergunto, sem conter um sorriso.

Persephone dá de ombros.

— Tanto faz, iria amá-lo de qualquer maneira. Só que a minha


intuição de mãe é uma droga — fala, colando a sua orelha em meu peito e
relaxando.

— Acho que isso vem com o tempo. — Dou um beijo no topo da


sua cabeça e abraço-a apertado, de repente tudo começou a fazer sentido
outra vez.
Capítulo 25

Chegamos na mansão e uma sensação de plenitude toma conta do


meu coração. Nunca pensei que fosse sentir tanta falta desse lugar. Max
desce, faz a volta e depois me pega no colo.

— Isso é um exagero, estou bem, posso caminhar — aviso, mas ele


me ignora e me leva para dentro da mansão, quando chegamos em frente às
escadas, ele comprime os lábios.

— Teremos que descer o nosso quarto até o bebê nascer —


informa, subindo, reforço a minha cara feia.

Entramos na suíte, Max me solta na cama e tira o seu paletó, o


jogando em uma poltrona, depois se senta aos meus pés e remove os meus
tênis cuidadosamente. Se eu soubesse que seria bajulada nesse nível, teria
fugido antes, dou um sorriso triste com esse pensamento, nada compensa
passar por tudo aquilo de novo.

Penso no que aconteceu noite passada e acho que nunca tive tanto
medo na vida, mesmo depois da consulta, com o médico dizendo que
ficaríamos bem, a sensação era de vazio intenso, me peguei pensando que
eu não queria passar por tudo aquilo sozinha.

Quero acreditar que ele não enfiará mais os pés pelas mãos, mas
isso eu só vou ter certeza com o tempo. Max se levanta e apanha os meus
sapatos no chão.

— Maverick buscará suas coisas no Colin mais tarde — avisa,


levando o meu sapato até o closet.
— Como sabia que eu estava lá? — pergunto, olhando-o entrar no
quarto com uma folha na mão.

— Maverick seguiu sua amiga até o prédio dele há umas duas


semanas. — Assinto, sem compreender, se ele sabia onde eu estava, por que
não tentou me ver antes?

Max se senta de frente para mim e me entrega o papel, é o nosso


contrato, meu coração acelera só de vê-lo. Passei ódio desde que cheguei
nessa casa por causa desse pedaço de papel, nele exibe exatamente o início
catastrófico que tivemos.

— Guardei para você dar fim nele.

— Que romântico — digo mais áspera que desejava.

— Eu só quero encerrar esse assunto para sempre e nunca mais


falar desse contrato.

Balanço a cabeça, dobrando o papel e rasgando em vários


pedacinhos, tudo que eu desejei fazer desde que o assinei. Estendo os
pedaços picotados para Max e quando ele abre a mão na minha frente para
apanhá-los, a caixinha de veludo repousa dentro da sua palma.

Contraio a mandíbula, sem saber como reagir. Eu acabei de me


livrar de um contrato de dez anos, será que estou pronta para assinar um que
dure o resto da vida? Sinto o meu coração bater em um ritmo anormal.

Max desce da cama, exibindo o quanto é ligado nas tradições, ele


se ajoelha no chão, abrindo a caixinha na minha frente, meus olhos não
caem sobre a ostentosa aliança que há ali, nada disso me deslumbra, apenas
o brilho intenso em seus olhos escuros.
— Só Deus sabe quanto o nosso começo foi caótico. — ele
comprime os lábios. — Eu estava fodidamente ferrado, parecia um quebra-
cabeça tentando encaixar as peças. Você atravessou o meu caminho como
um furacão, mas, em vez de me bagunçar, Persephone, você me encaixou.
— Ele sorri. — Isso está saindo mais piegas do que eu imaginava — diz,
removendo o anel da caixinha.

Os olhos dele encontram os meus e há uma expressão suprema de


satisfação neles.

— Persephone Beaumont, aceita se casar comigo?

— Não — digo, balançando a cabeça, e minha resposta foi como


se tivesse sugado vácuo o ar dos seus pulmões, sorrio. — Viu, bem menos
piegas.

Estendo minha mão para ele, com um largo sorriso.

— Eu aceito. — Sua cabeça cai sobre minha mão, como se eu


tivesse arrancado um peso do corpo dele, seus lábios beijam o meu dorso e,
em seguida, Max desliza a aliança no meu dedo.

— É pesado, grande e brilhante — comento, admirando o anel, e


Max tem um risinho preso nos lábios.

— É melhor guardar a sacanagem para daqui a quatro meses,


querida. — Rio, e Max se deita ao meu lado, enfiando uma perna entre as
minhas.

— Eu te amo — revela, olhando no fundo dos meus olhos, como se


quisesse projetar isso na minha mente, e me beija antes que eu pudesse
dizer o mesmo.
Capítulo 26

DOIS MESES DEPOIS

Caminho para dentro da mansão parecendo uma pata, Max está


com uma mão em minha cintura com medo que eu desabe no chão, e a
outra carregando o bebê conforto. Uma semana na maternidade e eu já
estava começando a enlouquecer.

Nosso filho nasceu de trinta e três semanas, porque tive outro


sangramento, então, o médico achou melhor fazer uma cesárea de
emergência. Achei que Max fosse desmaiar quando fomos informados, o
medo ficou estampado em sua face, eu estava tão anestesiada pelo pavor
que apenas assenti completamente ligada no automático.

E, em menos de uma hora, estávamos nós três na sala de


recuperação, foi um momento único e perfeito. Não havia mais medo ou
preocupações, apenas um pequeno bebê de cabelos escuros e sedosos,
muito chorão.

Entramos na mansão, e uma enorme faixa azul, escrito em


dourado Seja bem-vindo, Conrad, está pendurada na entrada da sala, onde
nossos amigos nos esperam para ver o bebê, já que eu os proibi de ir ao
hospital.

Conrad nasceu prematuro e perdeu um pouco de peso, eu não


conseguia amamentá-lo no começo e estava começando a ficar frustrada, foi
uma semana longa e emocionante.

— Dez minutos e eu corro com eles — Max sibila, lhe dou uma
aceno com um sorriso. Uma casa cheia de gente é tudo que uma mulher que
acaba de parir precisa. Rio. Acabei de ter um bebê e já me transformei em
uma velha rabugenta.

Max passa na minha frente e solta o bebê-conforto no sofá, todos


em silêncio se aproximam dele.

— Ele é perfeito — Nic sussurra.

— Tem a carranca do Max — Joseph comenta, balanço a cabeça


em concordância, e Max faz cara feia, parando na minha frente.

— Que tal eu subir com você lá pra cima e deixar eles de babá? —
pergunta, deslizando as mãos para a minha cintura.

— Parece uma ótima ideia. — Sorrio, escorando a cabeça em seu


peito, sou capaz de dormir em pé.

Ele passa os braços em volta de mim, me erguendo contra o seu


corpo, olho por cima do seu ombro, e Nic está com as costas coladas no
peito de Colin, que a abraça pela cintura, eles formam um lindo casal.
Joseph e Brandon estão tentando cegar o meu bebê com o flash do celular.
Sorte que ele está dormindo.

Passo pelo quartinho do bebê, fica no antigo estúdio da Eva, tem o


tamanho ideal e uma bela vista para o jardim, mas, por ora, ele ficará
conosco, no berço portátil ao lado da minha cama.

Entramos no quarto, Max me solta na cama, e minha coluna se


derrete.
— Está com fome? — pergunta, debruçado sobre mim.

— Não. — Balanço a cabeça, batendo no colchão para ele se sentar


ao meu lado. — É bom estar em casa — digo, me aninhando contra o seu
peito.

— Descansa — fala contra a minha têmpora, ele planta um beijo


ali e afaga a minha cabeça, não duro dois segundos e me entrego ao sono.

Desperto relaxada, como se nem tivesse um recém-nascido para


alimentar. Me sento na cama, notando os pontos em minha barriga
sensíveis, e enxergo Max no assento da janela, olhando o pôr do sol
pintando o céu com tons dourados com Conrad no colo.

Me escoro para trás e uma sensação de plenitude indescritível


invade meu coração. Max se vira, mostrando surpresa ao me ver acordada,
ele fica em pé, com um sorriso genuíno e os olhos transmitindo uma alegria
inacabável.
— Acho que descobrimos quem ele puxou — comenta, mostrando
Conrad dormindo. Sorrio. Ele se senta ao meu lado, passando o braço em
minha volta, e assim permanecemos por um longo momento, vidrados na
beleza e na pureza do nosso bebê.
Epílogo

CINCO ANOS DEPOIS

Arremesso Conrad para dentro do mar e, na água clarinha, vejo


meu filho emergir, os cabelos pretos molhados caem sobre os olhos verdes
como os de sua mãe.

— De novo, papai. — Ele se joga sobre as minhas pernas, onde a


água tranquila alcança, e ergue os bracinhos para eu levantá-lo.

— Só mais essa vez e vamos sair um pouquinho. — Agarro ele


pelos braços, vendo seu lábio se virar em um beiço.

— Mas ainda tem sol. — Ele ergue os bracinhos, incompreendido,


o que ele não compreenderia é a pressão da idade acabando com a minha
coluna. Rio.

— Vou pedir para Maverick brincar com você. — Ele faz um gesto
de vitória e me abraça pelo pescoço, enquanto ando tentando localizar o
homem entre os guarda-sóis.

Encontro o segurança há uns três metros de Persephone, ela está


deitada em uma espreguiçadeira, de bunda para cima, com um minúsculo
biquíni enfiado entre as nádegas. Argh, odeio praias. Até um lenço de nariz
tem mais pano que aquilo dali.

Solto Conrad no chão e ele corre em direção ao segurança, faço


sinal para acompanhá-lo e depois, com as mãos molhadas do mar, esfrego
na areia branca da praia de Soverato e aperto as bochechas da bunda dela.
Minha vontade era de marcá-la com os meus dentes, mas não cairia bem
agora.

Persephone se ergue num pulo e desliza a mão pela bunda, fazendo


cara feia.

— Você sabe que eu odeio areia — resmunga, se sentando e


tomando um gole da água de cocô.

— E você sabe que eu odeio os seus biquínis — reclamo, e ela


reforça a cara feia, depois coloca as mãos em frente aos olhos para localizar
Conrad.

— Maverick está com ele — aviso, me sentando entre suas pernas,


Persephone me abraça pela cintura, depois deposita um beijo nas minhas
costas e segura em minha mão enquanto gira a aliança no meu dedo. Nos
casamos assim que Conrad conseguiu dar os primeiros passinhos, ele
carregou as alianças até o altar, foi lindo.

Olho de longe Maverick jogá-lo na água, imagino perfeitamente o


som da sua risada... nos dois anos que morei aqui na Itália, acho que nunca
parei para aproveitar o mar, estava sempre ocupado com negócios e mais
negócios, e agora eu tenho um equilíbrio... eles são o meu equilíbrio.
Coloco Conrad para dormir e entro em nosso quarto, Persephone
ainda permanece de biquíni, revirando o armário atrás de alguma roupa. Me
aproximo por trás dela e puxo as tiras da peça de baixo. Ela para o que está
fazendo e estala a língua, balançando a cabeça em negação, então, desfaço
o laço da parte de cima.

— Ele capotou — comento.

— E eu preciso de um banho, porque alguém me cobriu de areia —


censura, me olhando por cima do ombro.

— Vai precisar de um banho depois do que eu vou fazer com você


— aviso, pegando em seus pulsos e puxando para trás.

— Você vai comer areia — profere com um risinho e com a cabeça


colada em meu peito.

— Deixa que eu me preocupo com isso. — Viro Persephone para


mim e a jogo em cima do ombro, minha mão apalpa sua bunda macia com
força, ela dá um pulo.

Solto-a na cama, e seus cabelos rebeldes caem como uma cascata


cobrindo os seios. Persephone se deita para trás, ficando sob os cotovelos e
abrindo as pernas para mim com um risinho. Depois de tantos anos, ainda
assim, o seu olhar intenso penetra minha alma, despertando desejos
proibidos e segredos inconfessáveis.

Agarro em seu quadril e minha língua invade sua boceta,


Persephone abre mais as pernas e sinto seus olhos presos em mim. Provoco
seu clitóris em círculos até sentir a sua perna começar a tremelicar.

Ela solta um lamurio, e sorrio contra sua boceta. Começo a devorá-


la, alternando entre morder e mordiscar o seu nervo durinho, cada gemido e
espasmos que seu corpo produz fazem o meu pau inchar cada vez mais.

— Ohhhh — geme alto e depois cobre a boca com um riso para


não acordar Conrad.

Uma das mãos desce e engata nos meus cabelos, enquanto seus
quadris balançam, esfregando sua boceta na minha língua.

— Ohhhh, Deus, Deus, Deus — grita e treme como as asas de uma


borboleta, gozando em minha boca.

— Eu gostaria de ganhar os créditos também — aviso,


engatinhando por cima do seu corpo.

— Você vai — diz, me derrubando na cama e montando em mim


como uma gata. Persephone se curva para frente, e seus seios cremosos
balançam na minha cara, tento morder um, mas ela se afasta, me dando um
olhar de reprovação.
Ela encaixa meu pau na sua abertura, quente, úmida e acolhedora,
e nos une lentamente, mordendo o lábio inferior. Seus olhos encontram os
meus e como sempre fico maravilhado, com o sorriso dela, que brilha como
o sol, iluminando cada canto do seu rosto.

Ela é perfeita. Ela é minha. Para sempre.

FIM
PRIMEIRO LIVRO DA SÉRIE MARCADO PELO PODER
ROMANCE MÁFIA + CASAMENTO FORÇADO + MAFIOSO IMPLACÁVEL.

Nascida no berço da máfia de Chicago, Fiorella Santoro descobre tarde demais que seu destino já
havia sido decidido antes mesmo de completar dezoito anos.

Para garantir a paz entre Outfit e a máfia nova-iorquina, Ella, é usada como uma moeda de troca,
sendo forçada a se casar com o herdeiro da Cosa Nostra: Franco Fiore.
Franco não tem honra, coração e nem moral, dominado como o Corvo, pois reflete a encarnação do
mal, pretende possuí-la e reivindicar toda sua inocência.

Franco só não presumia que a sua futura esposa fosse tão sombria e perigosa quanto ele, Fiorella não
estava disposta a ceder, quebrar ou se esconder.

Uma união fatal que tem tudo para terminar em sangue, se torna uma paixão ardente, perigosa e
instável, colocando em perigo não só o acordo entre as máfias, mas tudo que está a volta deles.

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SEGUNDO LIVRO DA SÉRIE

Helena Hathaway foi adotada por Carlo Santoro, o Chefe da Outfit, devido a sua amizade com a filha
do mafioso. Ela cresceu sob as regras da máfia, jurou lealdade e submissão. Porém, para ajudar sua
amiga, cometeu um ato de traição, colocando em risco o acordo entre as máfias. Helena se vê no
início de um pesadelo, desesperada e sem alternativas, ela foge para salvar sua vida.
Ettore Reviello, imponente e corrompido, é a voz da razão na máfia nova-iorquina. O
Consigliere, carregado por um passado obscuro, nunca desejou se casar. Logo que descobriu que seu
destino já estava determinado, havia somente uma coisa que ele poderia fazer: encontrar uma mulher
disposta a se casar sem a esperança de um futuro.

Duas almas quebradas se unem. A sedução ardente e a luxúria que já existiu uma vez, revive
entre os dois, e, desejo, ódio e superação é a batalha que Ettore terá que lutar se quiser resistir ao
casamento com Helena.

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TERCEIRO LIVRO DA SÉRIE
Ela é a minha esperança.
Ele é o meu pior pesadelo.

Sienna, menina perfeita de sorriso dócil e mente conturbada, acredita ter


recebido um destino pior que a morte: casar-se com o braço direito do seu
pai, o seu pesadelo encarnado: Romeo Ferraro
O Subchefe, um homem rico, poderoso e perigoso, com a alma escura e
condenada ao inferno, não esperava render-se aos encantos da jovem, que
viu crescer.
Ela aguardava um monstro que devoraria sua alma, que a quebraria em mil
pedacinhos, contudo, o medo que carregava, tornou-se pequeno comparado
aos sentimentos que nasceu pelo homem.
Romeo jurou protegê-la, ele só não imaginava que sua bela esposa,
guardava um segredo que quebraria sua família, colocando-o contra quem
ele mais amava, o seu irmão.
Ódio, amor e traição, é o que esse casamento fadado ao fracasso terá que
enfrentar para encontrar a luz no fim da escuridão.

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GRAVIDEZ INESPERADA - BILIONÁRIO MULHERENGO.

Delphine Dubois aos 27 anos, chegou no auge da sua profissão; Diretora Financeira do Hotel Bel Air
Country Club. Para sua vida ficar perfeita, só falta uma coisa. Um bebê.
Devido a um relacionamento complicado no passado, Delphine não consegue confiar em outro
homem, por isso decide fazer inseminação artificial. Duas semanas antes da consulta, por influência
da sua melhor amiga, ela faz sexo casual com um homem que conheceu no lobby do hotel.
Delphine só não contava que no dia da inseminação já estaria grávida do homem quente e com
sotaque espanhol, com quem ela rolou a noite inteira. Christopher Wesker, um mulherengo
indomável e pior de tudo, herdeiro do Hotel Bel Air.
Christopher fará de tudo para ganhar a confiança dela, porém a sua reputação ao longo dos anos o
coloca em maus lençóis.

O que resta saber é; será que Delphine cederá aos encantos do espanhol, pelo bem do bebê?

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Dante Armstrong abandona Nova York e se muda para Seattle em busca de um recomeço.
Com o passado manchado de relacionamentos fracassados, Dante ergue uma armadura emocional e
decide dizer não ao amor, até sua irmã contratar uma doce e tímida empregada.
Hannah Reese, depois de muito custo foi escalada para trabalhar na cobertura de um ricaço, porém
não imaginava que encontraria um homem gentil, solitário e quebrado.
A atração entre os dois é irrefreável, Dante sabe que não resistira, mas com as feridas do passado
ainda aberta, ele propõe a jovem um relacionamento sem compromisso.

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Michael O'Connor, um advogado bem sucedido que esbanja beleza e status, está à

procura de uma babá para sua filha.

Viúvo há mais de quatro anos, Michael ainda sofre com os fantasmas do passado, mas tudo muda

quando contrata Lindara, uma doce jovem que o abala feito um raio com toda a sua simplicidade.

Lindara Fincher, aos 7 anos de idade, tinha uma vida espetacular, morava em Upper East Side e era

a melhor dançarina de ballet de sua turma. Porém, ela vê sua vida de cabeça para baixo, quando em

uma noite ela e seus pais sofreram um grave acidente de carro a deixando órfã.

Ambos atormentados pelo passado encontram algo em comum, mas para que esse amor floresça

terão que lidar com Sabrina, funcionária e ex-namorada do Michael, que une forças com o arqui-

inimigo de longa data do advogado.

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Lindara aceitou o pedido de casamento, mesmo guardando um segredo que pode destruir seu
relacionamento com o advogado Michael O’Connor. Na tentativa de consertar o seu erro, ela acaba
sofrendo um terrível acidente perdendo parcialmente a memória.
Michael não poupa esforços para ajudá-la a lembrar dele. Porém, no processo, eventos preocupantes
trazem grandes consequências para vida dos dois.
Lindara se encontra em um impasse: ficar ao lado do seu noivo, mesmo não o amando, ou tentar
recomeçar a vida, longe de tudo o que ela já amou.
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Depois de muitos altos e baixos Lindara foi transformada em uma mulher indecorosa pela
mídia, fazendo-a se afastar de todos que mais ama. Ela tenta seguir em frente sem olhar para trás,
mas o passado novamente volta atormentá-la.
Dante antigo rival do Michael se aproveita da situação e faz de tudo ao seu alcance para conquistar o
coração da jovem, que a muito custo acaba cedendo aos seus encantos.
O advogado se torna a válvula de escape da Linda, sempre presente e atencioso. Eles só não
imaginavam que em um piscar de olhos o universo deturparia a relação dos dois, e mais uma vez
Lindara se veria entre o passado e o futuro.

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Um cara novo na cidade.
Um aplicativo estúpido.
Uma aposta que trará estragos irreparáveis.

GRAVIDEZ POR ACIDENTE

Abigail Waterford não poderia estar no melhor momento da sua vida, cursando o 2° ano na
Universidade de Yale e sendo namorada do capitão do time de futebol. Porém, nem tudo são flores, a
garota esconde um segredo que acredita ser a sua ruína. Ninguém conhece o seu passado e na internet
é como se ela não existisse. E isso está prestes a mudar.
Dexter Prescott, ex-capitão do time retorna a cidade para terminar o último ano do curso. Seu maior
objetivo é recuperar sua posição no futebol. Contudo, seus planos mudam quando seu caminho cruza
com Abby.
Dex fica fascinado e intrigado com a ruiva, e quando percebe que ninguém sabe nada a respeito do
passado dela fica propenso a descobrir.

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Um bad boy de caráter duvidoso se rende a uma nerd disposta a colocá-lo na linha.

Dakota King, uma aluna exemplar na Universidade de Nova York, tem sua vida transformada em um
caos no instante em que Savannah, sua irmã gêmea, lhe apresenta Heyden Hayes e Erin Yoshida, o
cara, por quem ela sentia uma tremenda queda.
Estudante de literatura inglesa, a tímida garota sonhava em viver o seu próprio romance e aproveitou
a oportunidade quando foi assaltada em seu trabalho e o assaltante lhe propôs um acordo em troca do
seu silêncio. Dakota pensou que seria fácil enganar a polícia, já que o seu pai estava encarregado do
caso, mas jamais pensou que se apaixonaria pelo assaltante.
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