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Copyright © 2021 por Jéssica Larissa

Fúria| 1ª Edição
Todos os direitos | Reservados
Livro digital | Brasil

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos aqui são produtos da imaginação do
autor. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.

Nenhuma parte desta publicação pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer
forma ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros métodos eletrônicos ou
mecânicos, sem a prévia autorização por escrito do escritor, exceto no caso de breves citações
incluídas em revisões críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos pela lei de direitos
autorais.

Capa: Lucas Ferreira


Betas: Tauania Vieira
Brena Camargo
Daisy Capistrano
Raquel Tavares
Carla Freitas
Revisão: Sandra Siebra e Isadora Duarte
Diagramação: Mellody Ryu

O artigo 184 do Código Penal tipifica como crime, apenado com detenção de 3 (três) meses a 1
(hum) ano, ou multa, a violação de direito de autor. Pela Lei nº 10.695/2003 incluiu, em seu tipo
penal, a violação dos direitos conexos aos direitos de autor, que são aqueles relacionados aos
artistas intérpretes ou executantes, aos produtores fonográficos e às empresas de radiodifusão,
conforme o disposto nos artigos 89 a 96 da Lei nº 9.610, de 19.2.1998 (“Lei de Direitos
Autorais”), mantendo-se a mesma pena.
Sumário
SINOPSE
Nota da autora
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO FINAL
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
Outros livros da Autora
REDE SOCIAIS DA AUTORA
SINOPSE

Obcecado por vingança.


Essa é a frase que melhor define Dener Daniel Kraven. Ele foi
forjado pela dor de seu passado e tem no tempo o seu melhor amigo.
Daniel sente que já não tem alma. Sua vida foi destruída duas
vezes a sangue frio e ele planeja revidar, pacientemente, a morte da
mulher que amava, assassinada pelo chefe de uma grande máfia de Nova
York.
Ele tem sede de sangue e poder, escolhendo como instrumento da
sua vingança a frágil herdeira da máfia Laccount, Lexie, obrigando-a a
um casamento por contrato.
Para Lexie, o terror que já era sua vida iria piorar ainda mais ao
ter de se casar forçada com Dener. Ela prefere a morte a entregar seu
corpo àquele homem cruel, embora seus olhos tempestuosos e jeito
quente como o inferno a façam arder toda vez que se cruzam.
Num jogo arriscado e perigoso, em que a obsessão e o desejo
andam lado a lado, será o amor selado por um contrato de vingança?
Nota da autora

A cada novo livro criado, os desafios são constantes e necessários


para o nosso amadurecimento. Com fúria não foi diferente. Chorei, sorri e
sofri junto com os personagens enquanto escrevia cada capítulo. O
protagonista Daniel, é derivado de um outro romance escrito por mim em
2019, “Pecador: um amor que desafia a morte”. Daniel e Alexander são
amigos, mesmo doze anos após os acontecimentos de Pecador. São dois
personagens intensos, cada um com sua peculiaridade, e eles conseguiram
penetrar fundo no meu peito.
Com essas palavras, queridas e queridos leitores, eu espero de
todo o coração que Fúria te faça sentir tudo o que eu senti. Que seus
corações também se aqueçam.
Para quem ainda não conhece, o Pecador também está disponível
na Amazon: https://amzn.to/3fIKzJV
Desejo-lhes uma excelente leitura. Sintam-se à vontade para me
chamar no Instagram: https://instagram.com/autorajessicalarissa.
Amo fofocar sobre livros.

Com amor, Jéssica Larissa.


PRÓLOGO

Doze anos antes

DENER

Caminhava a passos rápidos pela rua escura do Brooklyn,


camuflando-me em meio às sombras das casas e prédios antigos
daquela parte do distrito. Uma névoa fina cobria o lugar,
dificultando a minha visão em uma longa distância. Um vento frio
soprava suavemente, fazendo-me encolher os ombros e me agasalhar
dentro do moletom escuro.
Ajeitei o capuz em minha cabeça e apressei os passos,
ouvindo o barulho de cacos de vidro se quebrando debaixo dos meus
pés. Entrei em um beco pacato, com poucas luzes, distante o
suficiente do centro de Nova York. Adrienne havia escolhido aquele
lugar justamente por isso: era o local perfeito para os nossos
encontros às escondidas, longe dos olhares suspeitos e curiosos e,
principalmente, longe dos olhos de Hector, chefe de uma das
maiores máfias de Nova York, o homem que ela odiava, mas que
fora obrigada a se casar.
Eu tinha consciência do quanto era perigoso encontrá-la.
Envolver-me com a mulher de um poderoso mafioso era o mesmo
que assinar a minha sentença de morte. Porém, não conseguia me
manter longe. Adrienne, apesar dos anos a mais que eu, era dona de
uma beleza extraordinária, única. Eu a amava ferozmente e a
mínima possibilidade de perdê-la fazia meu peito sangrar. Aquilo
doía como o inferno.
Eu não tinha mais nada a perder. Minha família estava morta,
a máfia Ivanov fora desmembrada. Minha vida era o caos. Sem
perspectivas, restara apenas o meu amor por Adrienne, e para ficar
com ela, eu estava disposto a correr todos os riscos.
Respirei fundo e parei em frente ao hall de entrada do prédio
antigo com azulejos marrons decorando a fachada. Enfiei as mãos no
bolso da calça jeans, apertando a chave do apartamento alugado e
entrei. Segui rumo às escadas de madeira que começaram a ranger
com o peso do meu corpo a cada passada.
Era um prédio frio, mal iluminado e pouco movimentado. Os
poucos moradores não eram os tipos de pessoas mais amigáveis ou
confiáveis devido à vida clandestina que levavam, mas, ainda assim,
preferi subir as escadas que pegar o elevador, para evitar o máximo
possível ser visto por alguém.
Após deixar a escadaria no terceiro andar, caminhei pelo
corredor de paredes amareladas, até deparar-me com a porta do
pequeno apartamento em que eu me encontrava uma vez por semana
com Adrienne.

O local estava no breu quando entrei, e um leve odor de


poeira e infiltração exalava dos móveis velhos e das paredes
manchadas.
Tateei a parede fria até encontrar o interruptor que ligava a
luz da sala, encostei a porta como sempre fazia ao esperar por ela, e
quase corri para o único quarto que havia ali.
Estava ansioso para abraçá-la outra vez, sentir seu cheiro.
Minhas mãos formigavam pelo desejo de explorar o corpo magro e a
pele levemente bronzeada e, principalmente, estava disposto a
convencê-la a ir embora comigo. Deixaríamos Nova York, a máfia e
tudo de ruim que havíamos vivido. Começaríamos do zero, uma vida
nova em um outro lugar.
Enquanto eu mergulhava em pensamentos e planos, coloquei
a arma que estava no cós da minha calça em cima da mesinha de
cabeceira, retirei os lençóis empoeirados da cama e os sacudi.
Deixei-os em um canto nos pés da cama e limpei o colchão o
máximo que pude.
Não demorou muito e ouvi os passos rápidos de Adrienne
vindo na direção do quarto. Ela apareceu na porta, ainda coberta
com a capa preta que cobria seus cabelos e corpo, e caminhou na
minha direção.
— Deni… — A voz suave e sussurrada penetrou os meus
ouvidos. Eu sorri e a observei retirar o capuz da sua cabeça. Os
olhos azuis brilhantes me fitaram.
— Adrienne… — Sentindo meu corpo quente de saudades,
caminhei até ela e a envolvi em meus braços. — Como senti sua
falta.
Ela afundou o rosto no meu peito e passou as mãos em volta
da minha cintura, abraçando-me apertado. Afaguei os cabelos loiros
com cuidado e toquei o seu queixo, fazendo com que ela erguesse o
rosto. Afastei os nossos corpos por tempo suficiente para me inclinar
e tomar os seus lábios em um beijo ardente.
— Está tão linda… — murmurei entre seus lábios e com
muito pesar afastei a boca da sua.
Linda e minha. Suspirei, feliz.
Adrienne sorriu, mantendo a cabeça erguida e o olhar
límpido, fixo no meu. Levou as mãos até o laço que fixava a capa
em seus ombros e desfez o nó, relevando o vestido vermelho que
usava.
— Me beije, Deni. Me faça sentir que sou sua esta noite.
Apenas sua…
A súplica que captei em suas palavras, fez o meu sorriso se
desvanecer. Vi dor ali, uma mistura de tristeza e angústia, algo que
contradizia com a sua natureza alegre.

Precisávamos ir embora logo, era a única coisa em que eu


conseguia pensar naquele momento. Eu sentia que tinha algo fora
dos trilhos e quanto mais tempo Adrienne passasse casada com
aquele demônio, maiores eram as chances de sermos descobertos.
— O que aconteceu? — questionei, aflito e segurei seu rosto
entre as minhas mãos enquanto me inclinava na sua direção para
observar o seu rosto com precisão. — Me diga, meu amor.
Adrienne desviou o olhar do meu e suspirou.
— Não aconteceu nada. Eu só… preciso sentir você… por
favor.
— Adrienne… — Tentei questioná-la mais uma vez, mas ela
me garantiu que conversaríamos depois, então decidi não a
pressionar mais.
— Hoje eu não quero pensar em mais nada. Quero que seja
apenas eu e você. Pode fazer isso por mim?
Arqueei a sobrancelha, incerto, mas acabei concordando com
um aceno de cabeça.
Deslizei os meus dedos lentamente pelo seu braço, sentindo
sua pele quente e segurei a mão de Adrienne. Puxei-a na direção da
cama.
— Se é o que deseja, então é o que irei te dar, minha linda.
Ouvi uma risada gostosa escapando da sua garganta e aquele
som delicioso me fez sorrir também. Aquela era a minha Adrienne, a
mulher que fazia o resto do mundo perder o sentido para mim ao
sorrir.
Sentei-me na beirada da cama, deixando meus pés apoiados
no chão e a trouxe para o meu colo. Ergui seu vestido o suficiente
para que ela pudesse se sentar com as pernas abertas, de frente para
mim. Sentia-me vivo quando Adrienne estava comigo, era como se
uma parte da vida que perdi, depois que minha família morreu,
voltasse para mim na forma desenfreada das batidas do meu coração.
— Não sabe o quanto esperei por esta noite — sussurrou,
passando a mão em meu peito.
— Nem eu! Estou ficando louco sem poder vê-la todos os
dias… — Minha voz saiu rouca, murmurada.
Mordisquei o lóbulo da sua orelha e, com cuidado, deslizei
minhas mãos pelas coxas bem desenhadas. Adrienne gemeu,
apertando os dedos no meu ombro e procurou a minha boca. Nosso
beijo começou lento, apenas um leve roçar dos nossos lábios, mas
em questão de segundos eu já estava devorando sua boca, sugando e
lambendo a língua ávida.
Enquanto a beijava, tentei retirar seu vestido por cima da sua
cabeça, mas Adrienne me impediu, segurando a minha mão.
— Agora não, Deni — pediu, um pouco aflita, mas logo
depois sorriu e fez charme. — Não seja tão impaciente, serei sua a
noite toda.
Senti seu corpo estremecer ao falar, uma reação contrária ao
que ela queria transparecer com o sorriso sexy no rosto.
— Faz muitos dias que não toco você, querida. Estou
sofrendo — argumentei.
— Eu… — Sua voz falhou e seu olhar refletiu dúvida.
Naquele momento, senti mais uma vez que havia algo errado. Um
arrepio incômodo passou por minha espinha e eu suspirei. — Quero
que me tome assim, Deni. Com roupas. Por favor…
Adrienne acariciou o meu rosto e voltou a tocar os meus
lábios com os seus, distraindo-me, usando a língua sedutora para me
fazer perder a sanidade.
Levei a boca até o seu pescoço, beijando e mordiscando a
pele sensível e voltei a capturar seus lábios, ao mesmo tempo em
que minhas mãos exploravam o seu corpo macio.
— Eu preciso entrar em você — murmurei sem ar
O olhar vibrante encontrou o meu, repleto de luxúria. Um
sorriso lascivo surgiu em seus lábios.
— Eu quero você, Deni. Agora! — balbuciou roucamente.
Eu sabia que deveria respirar fundo e amá-la lentamente,
deveria explorar e beijar o seu corpo com cuidado, mas a
necessidade que eu sentia, estava ardendo por dentro. Tudo em mim
queimava, ansiando em me fundir a ela. Naquela noite, eu iria amar
Adrienne por horas, iria explorar e lamber cada pedacinho do seu
corpo, mas naquele momento, eu precisava estar dentro dela, queria
sentir o corpo receptivo se abrindo para receber o meu.
Em questão de segundos, retirei o moletom e a camisa que
me cobria e ajudei Adrienne a ficar de pé, para que eu pudesse
libertar minha ereção que pulsava dolorosamente dentro da calça.
Enquanto ela firmava os braços no meu ombro, coloquei sua
calcinha de lado, segurei firme em seu quadril e entrei nela devagar,
tão devagar que precisei fechar os olhos para não perder o controle.
Deliciei-me com seus murmúrios, carregados de luxúria e
paixão. Abracei a cintura de Adrienne, colando os nossos corpos,
lambi e beijei os seus lábios ao mesmo tempo em que me
impulsionava eu seu interior.
Movido pelo desejo, levantei-me, ainda dentro dela, me
inclinei sobre a cama e deitei Adrienne de costas. Terminei de retirar
as minhas roupas e continuei penetrando-a.
Assim que Adrienne chegou ao ápice, levantei o meu rosto e
fitei sua face linda. Sorri admirando os lábios inchados e o rosto
corado por causa do gozo.
Em uma mistura de desejo ardente e loucura, segurei a barra
do seu vestido e o retirei por cima da sua cabeça. Fitando seus olhos,
abracei-a e intensifiquei as investidas, até sentir o clímax me tomar.
Derramei-me dentro dela, gemendo, cravando as unhas no colchão.
Assim que os espasmos diminuíram, eu sorri. Acariciei o seu
rosto levemente, vendo-a fechar os olhos para receber a minha
carícia e então me retirei de dentro dela. Desci o meu olhar para
analisar o corpo perfeito de Adrienne e foi então que senti meu
coração parar. Meus olhos se arregalaram, incrédulos, o ar faltou em
meus pulmões e o choque me arrebatou quando compreendi o
porquê ela estava agindo de forma tão estranha. Seu corpo estava
repleto de marcas roxas e azuis espalhadas pelo seu abdômen,
barriga e coxas. Paralisei, amaldiçoando-me por não ter percebido
antes que ela estava machucada. Naquele momento, senti a fúria me
invadir com tanta força que meu corpo tremeu. Eu iria matá-lo.
— Eu irei matá-lo, Adrienne!
Levantei-me tomado pelo ódio. Peguei a cueca jogada sobre
a cama e me vesti rapidamente, disposto a ir atrás daquele maldito.
Hector iria pagar por tê-la machucado daquela maneira, eu me
certificaria disso.
— Deni, não. — Adrienne saiu da cama e correu até mim,
passando as mãos pela minha cintura. — Por favor, não faça isso.
Ela levantou o olhar e meu estômago se revirou de raiva ao
ver as lágrimas grossas começando a banhar o seu rosto. Respirei
fundo tentando controlar a minha fúria, mas cada machucado que eu
detectava em seu corpo, me enlouquecia mais.
— Ele machucou você, querida… — falei, revoltado,
levando a mão até os seus cabelos para consolá-la.
— Ele é muito poderoso, não pode confrontá-lo —
argumentou ela entre os soluços.
— Como não percebi isso?
Eu queria me socar até arrancar sangue. Não poderia me
perdoar por querê-la daquela maneira insana enquanto Adrienne
estava repleta de ferimentos no corpo.
— Eu precisava sentir você dentro de mim, Deni. Queria me
sentir amada, importante. Por isso não te disse nada.
Outro soluço escapou da sua garganta e eu a trouxe para um
abraço apertado.
— Por que ele fez isso? — perguntei em um murmúrio,
sentindo minha garganta seca. Meus olhos ardiam.
— Eu me recusei a ir para a cama com ele… — Meu corpo
estremeceu e a bile subiu só em imaginar Adrienne na cama com
aquele maldito. — Hector teve uma filha do primeiro casamento,
mas agora ele quer um filho. Um herdeiro…
Uma imagem da garotinha, filha de Hector, passou por minha
cabeça. Lembrei-me de tê-la visto algumas vezes de longe, ao lado
de Adrienne.
— Maldito! — rosnei fora de mim e a apertei mais contra o
meu corpo. — Ele te… forçou?
Fechei os meus olhos temendo não suportar quando ouvisse a
resposta dela, minha mente parecia um vendaval.
— Eu não quero falar sobre isso… — respondeu com a voz
entrecortada, angustiada.
Minhas suspeitas se confirmaram e o chão pareceu abrir
debaixo dos meus pés. Mas, eu tinha que ser forte, Adrienne
precisava da minha força e do meu amor. Eu a faria saber o quanto
era amada, nunca mais permitiria que Hector a machucasse.
— Ele irá pagar por isso, querida. Eu prometo! — Suspirei
pesadamente e a afastei, disposto a dar prosseguimento ao meu
plano imediatamente. — Vista-se, nós vamos embora. Não posso
permitir que volte para aquela casa.
Com os olhos arregalados, Adrienne deu um passo para trás
negando com a cabeça.
— Não… Deni… o Hector nunca irá me deixar ir. Ele matará
a nós dois.
Vi medo no seu olhar e eu sabia que ela tinha razão. Aquele
maldito nunca a deixaria em paz enquanto fosse vivo. Ele era
conhecido como um carrasco no mundo do crime organizado. Era
cruel, temido. Um verdadeiro monstro. Mas eu não desistiria sem
tentar.
— Eu prefiro morrer a permitir que ele te machuque outra
vez! — bradei, irritado e passei a mão por meus cabelos curtos.
Adrienne se assustou com o tom alterado da minha voz,
mesmo que a minha raiva não fosse direcionada a ela, e mais
lágrimas marcaram as suas bochechas. Eu não conseguia controlar a
fúria que havia tomado conta do meu corpo só em pensar em tudo o
que ela sofreu nas mãos daquele homem.
Determinado, passei por ela apressadamente e caminhei na
direção da cama para pegar as roupas e terminar de me vestir. Havia
fechado o zíper da calça quando senti as mãos frias de Adrienne em
minha barriga, e então ela me abraçou por trás. Seus braços e
ombros tremiam, eu podia sentir.

Fechei os meus olhos e tomei fôlego, sentindo meu peito


apertado e o gosto amargo do medo em minha boca. Medo de perdê-
la. A dúvida sobre o que o destino havia nos reservado estava me
massacrando.
— Deni, eu preciso te dizer algo. — Fungou.
Por um momento, temi em ouvir o que ela tinha a dizer mas,
ainda assim, tomei coragem, virei-me e fitei o seu rosto.
Adrienne levantou a mão e tocou a minha face lisa,
acariciando a minha pele com ternura. Era como se ela quisesse
guardar as minhas feições em sua memória.
— Meu amor… eu estou esperando um filho. — Sua voz
falhou e eu prendi o fôlego, processando a informação. — É por isso
que não posso ir com você. Não poderei arriscar a vida do nosso
bebê, Hector matará a nós três.
Uma lágrima dolorosa cortou a minha face quando
finalmente compreendi o que tudo aquilo significava.
— Oh Deus… não… não…— A realidade dos fatos bateu na
minha cara como um soco pesado.
Eu iria ser pai. Eu teria um filho com Adrienne.
E na mesma proporção que meu coração bombardeou o meu
peito, emocionado, também senti-me morrer um pouco mais, por
saber que não poderia ter nenhum dos dois ao meu lado.
Os segundos passaram lentamente, eu lutava para não
desmoronar. Minhas pernas fraquejaram e eu caí de joelhos na frente
de Adrienne, a visão turva pelo choque.
Eu iria perdê-los, era o preço que eu pagaria por me certificar
que nosso filho ficasse em segurança. Hector não machucaria
Adrienne sabendo que ela teria uma criança e eu me certificaria que
ele nunca descobrisse a verdade. Naquele instante, eu me dei conta
que o que tive com Adrienne estava chegando ao fim.
Doía…
Levantei o olhar para fitá-la e segurei suas mãos, enquanto
engolia a saliva com dificuldade. Os olhos dela brilhavam por causa
das lágrimas e um bolo amargo havia se formado em minha
garganta.
Tentei dizer algo, confortá-la de alguma maneira, mas minha
voz não saía. Sentia-me impotente, preso em uma bola de arames
farpados que me feria, os espinhos afiados não permitiam que eu me
libertasse.
Por que, Deus?
Agarrei-me a ela e encostei a cabeça em seu ventre, sentindo
sua pele nua e fria sob o meu toque. Permanecemos assim, parados e
em silêncio. O único som ali presente era o barulho das nossas
respirações ofegantes e os soluços de Adrienne.
Não sei exatamente quanto tempo havia se passado,
havíamos nos perdido nos minutos e segundos agonizantes em uma
maneira tão profunda que mal notei o barulho de passos na direção
do quarto. Levantei a cabeça, recobrando a minha consciência e foi
quando o verdadeiro inferno começou.
A porta foi arrombada sem nenhuma pena. Os pedaços de
madeira pairaram no meio do quarto, me fazendo dar um salto
apressado para me colocar de pé e poder agir.
Em um instante, éramos eu e Adrienne dentro do quarto, no
outro, o lugar estava repleto de homens bem-vestidos e armados até
os dentes.
Coloquei Adrienne às minhas costas para proteger a sua
nudez ou qualquer chance que tivessem para machucá-la e fiz sinal
para que ela se cobrisse com o lençol que eu havia deixado aos pés
da cama. Fitei a arma sobre a mesa de cabeceira, a alguns metros de
distância e fiz um cálculo mental sobre os riscos de correr até lá. O
mais provável é que eu seria morto no meio do processo se decidisse
por isso.
Deixei meus ombros caírem ao perceber que não havia
escapatória, quem quer que fossem aquelas pessoas, tinham a mim e
a Adrienne sob suas miras.
— Quem são vocês? — perguntei, aturdido. Lá no fundo eu
já imaginava a merda que estava acontecendo.
— Afaste-se da minha esposa, bastardo!
Os homens que bloqueavam a porta saíram do caminho e
deram espaço para que Hector entrasse. Adrienne estremeceu e a
ouvi engolir o soluço, quase que prendendo a respiração. O maldito
a aterrorizava.
Para a minha surpresa, ele sorria. Seu olhar escuro refletia
desprezo, frieza, mas não vi vestígios de raiva. Na verdade, ele
parecia mais tranquilo que o normal para um homem que acabara de
encontrar a esposa nos braços de outro. Aquele olhar maligno fez
todos os pelos do meu corpo se eriçarem e eu temi por Adrienne.
— Hector… — Adrienne sussurrou o nome dele com a voz
entrecortada e se agarrou mais às minhas costas —, por favor, deixe-
nos em paz!
Dando um passo à frente, Hector entregou o cigarro que
estava em sua mão para o capanga à sua esquerda, ajeitou o
colarinho do terno cinza e sorriu abertamente.
— Não está feliz em me ver, meu amor? — questionou,
cínico, fitando em um ponto específico atrás de mim. — Você me
magoa falando dessa forma.
A hostilidade em sua voz era quase palpável, fazendo meu
estômago embrulhar. Eu quis socá-lo e certamente era o que eu teria
feito se não fosse o mesmo que cometer um suicídio.
— Venha até mim, Adrienne! — ordenou e eu senti meu
peito gelar.
— Não! — neguei e coloquei os dois braços em minhas
costas para segurá-la no lugar. — Ela não vai a lugar nenhum com
você!
— Não? Tem certeza? — enfatizou, curvando os lábios em
um riso debochado.
Com apenas um aceno de mão, Hector sinalizou para que
seus capangas dessem mais um passo e apontassem as armas na
nossa direção, destravando-as em sintonia.
Prendi o ar.
— Achou mesmo que eu não descobriria, querida esposa?
Como pôde me trair assim? — questionou, colocando a mão no
peito e fingindo sentir uma dor que não existia.
Fechei os punhos, sentindo a raiva me possuir e cerrei a
mandíbula com tanta força que meus dentes rangeram.
— Ela não ama você, Hector! Entenda isso!
Hector desviou a sua atenção de Adrienne e focou seu olhar
ao meu. O homem sorriu novamente, dessa vez, o riso debochado
transformou-se em uma gargalhada que se espalhou pelo cômodo.
— E quem falou em amor, moleque? Não sabe que eu a
comprei? Eu paguei uma fortuna por ela. — Colocou os braços atrás
das costas, em uma postura relaxada e deu um passo à frente. — Ela
é minha propriedade.
Todo o meu corpo se retraiu, não porque eu não soubesse
daquele fato, que Adrienne havia sido forçada pelo pai a se unir a
Hector em troca de poder, mas, sim, porque a dor de saber que ela
nunca seria minha me fez querer gritar.
— Deni, eu preciso ir com ele — ela sussurrou, afastando o
corpo do meu, derrotada. Porém, eu a segurei com mais força,
mesmo sabendo que não havia uma alternativa.
— Eu sinto muito… — concluiu baixinho entre um soluço,
apenas para que eu ouvisse.
— Adrienne… — murmurei o nome dela, quase que
implorando para não se afastar de mim, enquanto eu mantinha o
olhar cravado em Hector e seus homens.
— Por favor, Deni. Me solte!
Ela puxou a mão trêmula, deu alguns passos para o lado e
caminhou devagar na direção de Hector, agarrada ao lençol que
aquecia e protegia o seu corpo dos olhares.
Permaneci parado, com as mãos atadas, observando seus
passos lentos até chegar a ele. Pedi aos céus em silêncio para que ela
ficasse bem. Para que nosso filho ficasse bem.
— Vamos, Hector… — Ela ergueu a mão e tocou o ombro
dele, sem encará-lo. — Eu sou sua, eu sempre serei — disse, a voz
tomada pela angústia que ela tentava desesperadamente disfarçar.
Hector segurou sua mão, levando-a aos lábios e sorriu
friamente. Meu estômago pulsou em ira e nojo e então, ele estapeou
o rosto de Adrienne com um golpe rápido, fazendo-a cair no chão.
— Nããooo! Malditooo! — berrei e me movi para alcançá-
los, tomado pelo ódio, cego pela fúria que explodiu em meu peito.
Eu iria matar aquele desgraçado, iria despedaçá-lo com minhas
próprias mãos.
O tempo pareceu parar à medida que avancei na direção de
Hector, disposto a tudo. Eu pouco me importava com o que
aconteceria comigo, sem ela, tudo perdia o sentido. O raciocínio
havia sumido da minha mente.
Ele estava perto, encarava-me com um brilho divertido no
olhar e permanecia despreocupado enquanto Adrienne fungava no
chão. Eu já podia sentir as minhas mãos apertando o seu pescoço,
sufocando-o.
Preparei-me para o embate, movido pelo instinto de proteger
a mulher que eu amava, regado pelo desejo de acabar com todo
aquele sofrimento e tirá-la dali em segurança…
Mas eu nunca o alcancei.
Meu corpo foi puxado e imobilizado rapidamente. Nem ao
menos tive a oportunidade de lutar antes que minha cabeça batesse
no chão com força. Meus ouvidos zuniram e pequenos glóbulos
negros tomaram conta da minha visão, me impedindo de ver os
homens com clareza.
Mãos fortes e ásperas seguraram-me no piso frio, esmagando
o meu rosto, e um chute dilacerante acertou as minhas costelas.
O ar faltou em meus pulmões e a ardência do golpe me fez
grunhir. Era sufocante.
Ainda me movi, tentando forçar o meu corpo a se levantar e
continuar lutando, mas fui nocauteado, pisoteado e massacrado em
todos os lugares.
Senti o líquido quente de aroma metálico escorrendo pelo
meu nariz, pingando no piso. Minha boca latejou e as paredes do
quarto giraram quando os homens me forçaram a ficar de joelhos.
Prenderam os meus braços às minhas costas e seguraram a minha
cabeça de forma que não tive alternativa a não ser focar a minha
atenção em Hector e Adrienne.

Ela já não estava mais no chão. O maldito a tinha presa entre


os braços, as mãos nojentas passeando por seu corpo, entre os vãos
do lençol.
A bile subiu e eu precisei lutar com todas as minhas forças
para não vomitar diante da cena nauseante.
Respirar doía. Viver doía.
Estava quase desfalecendo quando senti fortes punhaladas
em minhas costas, braços e costelas. Retorci o corpo e gritei, levado
pela dor alucinante dos cortes.
Sentia o sangue escorrendo pelo meu corpo, queimava, mas
eu me negava a perder a lucidez. Lutei, fiz de tudo para suportar a
dor e manter-me consciente, mesmo ao sentir a pele do meu rosto
queimar como brasa no momento em que uma lâmina afiada
deslizou pela minha carne, rasgando o maxilar.
Com desprezo, Hector fitou-me uma última vez,
provavelmente imaginando o lixo que eu era. Um ser que ninguém
sentiria falta se morresse.
— Deveria saber que ninguém toca no que é meu, moleque!
E ao mesmo tempo em que seus homens firmavam a minha
cabeça, forçando-me a prestar atenção em todos os seus passos,
Hector pegou uma lâmina dentro do bolso do paletó e passou no
pescoço de Adrienne, rasgando-o, dilacerando a pele macia que há
poucos instantes eu havia beijado.
Então eles me soltaram. Caí com o rosto no chão, sem forças.
A visão embaçada, tomada pelos hematomas, o peito dilacerado.
Minha mente transformou-se em breu, meu corpo começou a
perder os sentidos. Mas antes de tudo, antes que tudo se apagasse, a
lembrança de uma garotinha de cabelos escuros veio à minha mente.
Ela sorria, parecia feliz enquanto corria para os braços do
pai.
Lexie. Ela se chamava Lexie.
Eu me vingaria.
CAPÍTULO 1

Dias atuais

LEXIE

Dentro do campus da Universidade, caminho devagar pelo


corredor movimentado, segurando as flores com delicadeza em
minhas mãos. Eu ganhei lírios, doces e encantadores lírios brancos, e
não poderia estar mais feliz.
Levo as flores ao meu nariz e inspiro o aroma suave
enquanto coloco uma mecha de cabelo atrás da minha orelha.
Suspiro. Meu coração bate acelerado no peito e um sorriso
apaixonado estampa o meu rosto.
Apresso o passo na direção das escadas que levam para o
pátio, tomando todo o cuidado para não esbarrar nas pessoas que
circulam por ali e possivelmente estragar as flores. Seria um pecado
se isso acontecesse, elas são tão lindas…
Ao colocar os pés na grama, olho mais adiante e o vejo. Matt
está escorado no tronco do antigo carvalho, atrás de uma linha de
pilares gigantes, à minha espera. As covinhas em suas bochechas
surgem quando ele sorri para mim e o vento balança seus cabelos
escuros de um lado a outro, deixando-o mais bonito do que deveria.
Sorrio de volta, dou um aceno discreto e caminho com pressa
em sua direção.
— Oi… — digo sorridente, assim que me aproximo.
— Oi, lindinha. — Matt passa a mão em minha cintura e me
puxa para si. — Gostou das flores?
Os olhos verdes sorriem com seus lábios. Eles têm um brilho
tão intenso que me faz perder o fôlego.
— Eu amei, Matt, obrigada.
Os lábios finos encostam nos meus, depositando um selinho
suave.
— Você merece o mundo, lindinha.
Meu coração palpita de felicidade ao saber que sou querida
por alguém, mas ao mesmo tempo, sinto meu sorriso morrer ao
lembrar-me que devo voltar para casa. Para aquele inferno que
chamo de lar.
— E então, gostaria de sair um pouco? Que tal darmos uma
volta pelo Central Park? — pergunta, ainda sorridente.

Seu sorriso vívido, sempre estampado no rosto é o que mais


me fascina.
— Sua companhia me faz tão bem, Lexie. — Pisca.
Gargalho e sinto minhas bochechas corarem por causa do
flerte descarado. Mas, me identifico com cada uma de suas palavras.
O mundo deixa de ser preto e branco e torna-se colorido quando
estou com ele.
Matt segura a minha mão e entrelaça os meus dedos aos seus,
porém, por mais que eu queira ir com ele a todos os lugares, eu não
posso.
— Eu não posso, Matt. Você sabe. — Suspiro cansada. Sinto-
me como um pássaro que deseja sobrevoar o mundo, mas que está
preso dentro de uma gaiola de ouro.
Sua expressão muda de sorridente para sério em milésimos
de segundos.
— Sim. Eu sei — concorda, desanimado. — Mas não queria
que fosse assim, Lexie. Você não pode ser praticamente uma
prisioneira do seu pai pelo resto da vida.
Retiro minha mão da sua e dou um passo para o lado,
evitando cruzar meu olhar com o dele.
Não. Eu não queria que as coisas fossem assim, queria ser
livre para ir aonde quisesse sem maiores preocupações. Queria poder
sorrir e viver de verdade, não apenas existir. Porém todas essas
possibilidades foram tiradas de mim no momento em que nasci. No
momento em que abri os meus olhos pela primeira vez como filha de
Hector.
— Matt, eu preciso ir — desconverso e volto a olhá-lo. — O
motorista deve estar me esperando e eu não posso me atrasar para o
jantar com o papai.
— Tudo bem, lindinha — ele concorda, mas percebo o
quanto essa situação o incomoda.
Matt aproxima o rosto do meu e volta a me beijar
suavemente, apenas breves e doces segundos.
— Te vejo amanhã? — pergunto, esperançosa quando ele dá
um passo para trás e eu ajeito a mochila no meu ombro.
— Eu te vejo amanhã, Lexie — responde, sorrindo. Sua mão
desliza pelo meu rosto e acaricia o queixo. — Te ligo mais tarde,
tudo bem?
— Combinado.
Não consigo disfarçar a felicidade que me toma em imaginar
falar com ele mais tarde e vê-lo no dia seguinte. Dou alguns passos
para trás, ainda olhando-o. Abro um sorriso e me viro, sigo na
direção da rua onde o motorista e alguns seguranças me aguardam.

Enquanto caminho, recordo o momento em que bateram na


porta da sala de aula e pediram para me chamar. Era um entregador
com um maravilhoso buquê de lírios brancos e um cartão do Matt.
Ao retornar para a minha mesa, todos na sala me encararam
curiosos, alguns tinham um risinho animado e cúmplice no rosto;
outros um olhar debochado. Ignorei a todos e me sentei, colocando
as flores sobre a mesa, ansiosa para ler o cartão.
Ah Matt.
Mordo o meu lábio ao lembrar-me dos nossos poucos
momentos juntos. Com um pequeno cálculo mental, chego à
conclusão de que foram os melhores e mais reconfortantes que já
tive em minha vida.
Conheci-o há alguns meses, quando comia sozinha no
refeitório da universidade. Eu estava triste, machucada. Meu rosto
doía por causa do tapa que havia ganhado do meu pai por desafiá-lo.
Também não tinha amigos, meu pai não permitia que eu recebesse
ninguém em casa, muito menos que saísse com alguém, então eu
evitava me aproximar das pessoas na universidade, pois sabia que no
fim alguém poderia sair machucado.
Naquele dia, Matt sentou-se ao meu lado, com seu riso
espontâneo e conversa animada. A princípio, eu o evitei de todas as
formas possíveis, mas ele foi insistente, mas nos tornamos amigos e
passamos a fazer as refeições juntos. Em algumas semanas, tivemos
nosso primeiro beijo no pátio.
— Boa tarde, senhorita. — A voz do motorista me traz de
volta para o presente e eu deixo meus ombros caírem, frustrada.
O homem de cabelos grisalhos, usando terno escuro
impecável, está de pé, segurando a porta para que eu entre no banco
traseiro do SUV preto. Ele me encara sério, em seguida, olha para as
flores em minha mão.
O ar falta e todo o sangue parece ser drenado do meu corpo.
Eu me esqueci completamente do buquê. Deveria tê-lo colocado na
mochila, mesmo que amassasse um pouco, mas estava tão entretida
pensando em Matt que esqueci.
— Boa tarde… John. — gaguejo.
Desvio o olhar, sabendo que não há como fugir das suas
suspeitas. Entro no carro e ajusto o cinto de segurança. O vento frio
do ar-condicionado me faz estremecer um pouco, contrastando com
o calor escaldante do lado de fora.
Vejo quando ele acena de forma sutil na direção do SUV com
os seguranças, estacionado há alguns metros de distância. Dá a volta
e entra no banco do motorista.

— Pronta? — pergunta e me olha pelo retrovisor.


— Sim — confirmo.
Aproveito o momento para colocar os lírios na mochila o
mais rápido que consigo. Com as mãos trêmulas, fecho o zíper e
levanto o olhar para encarar o motorista pelo reflexo do espelho.
— John… eu… por favor, não diga para o papai — peço,
quase que implorando.
O carro entra em movimento, mas eu continuo apreensiva
por uma resposta, até que ele confirma com um aceno de cabeça
sutil.
Respiro aliviada, pois sei que ele não dirá nada a meu pai
sobre as flores que ganhei, graças a Deus, tenho os meus motivos
para confiar em sua palavra.
Conheço John desde que eu era uma garotinha. Ele já foi
cúmplice de inúmeras travessuras desde a minha adolescência.
Tenho-o como alguém da família e seu respeito e consideração por
mim são recíprocos.
— Obrigada… — sussurro.
Os minutos passam lentamente enquanto o carro se
locomove pelas ruas movimentadas de Nova York.
Olho pela janela, percebendo que logo o sol irá se pôr e que
algumas pessoas aproveitam os últimos raios do dia para se exercitar
ou passear pelas praças e parques. Algo que nunca terei. Não sem
meia dúzia de capangas do meu pai às minhas costas.
Meia hora depois, antes de passar pelo portão principal que
dá acesso à mansão, John para o carro e pigarreia, chamando a
minha atenção:
— Tenha cuidado, Lexie. — Sua voz soa sussurrada e
preocupada. — Não queira provocar o seu pai, criança. Ele não é
alguém que possa ser desafiado.
Sinto-me estremecer por causa do tom das suas palavras e
engulo a saliva com dificuldade.
— Ele não vai descobrir, John! São somente algumas flores
— afirmo. Mas lá no fundo, não sinto tanta firmeza e nem creio
nisso com tanta veracidade. Meu peito se aperta.
Pelo reflexo do retrovisor, vejo o olhar escuro de John em
minha direção. Sua testa enrugada expressa uma mistura de
desaprovação e tristeza. Ele balança a cabeça em negativa e dá a
partida no carro, passando pelos portões.
Desço do carro e sigo pelo caminho de pedras que leva até a
entrada da mansão de estilo georgiano. É um casarão antigo e
cinzento, rodeado por enormes palmeiras, grama e arbustos. Está na
minha família há gerações e é um dos principais orgulhos do meu
pai.
Passo pelo hall, aliviada por não encontrar ninguém, e sigo a
passos rápidos, direto para a imponente escadaria de mármore.
Meu coração bate forte assim que entro no meu quarto e
fecho a porta às minhas costas. Corro até a cama para retirar as
flores da mochila e as coloco dentro do closet. Mais tarde,
providenciarei um jarro com água, agora preciso tomar banho e me
aprontar para o jantar. Papai vira uma fera se me atraso.
Retiro a camiseta de mangas e a calça jeans o mais rápido
que consigo, descarto-as no cesto de roupas e corro para o chuveiro.
Em alguns minutos, estou pronta, usando um vestido de seda
verde, batendo na altura dos meus joelhos. Fina e elegante,
exatamente como ele ordena que eu me vista, diferente do jeans
habitual que gosto de usar.
Mordisco os meus lábios ao encarar o reflexo do meu rosto
no espelho. Há olheiras debaixo dos meus olhos, mas eu pouco me
importo.
Arrumo os meus cabelos, repartindo-os ao meio e me viro
para sair. Estou quase alcançando a porta quando ouço uma leve
batida. Abro-a e dou de cara com John.
— O chefe a espera no escritório dele, Lexie. — Ele hesita,
dando um passo para o lado, percebo que está agitado.
— O que aconteceu? Pensei que iríamos jantar agora —
questiono, confusa. Meu pai nunca me permite entrar em seu
escritório.
— São assuntos da Famiglia. Apresse-se — responde com
firmeza, mas seu olhar não nega que algo grave está acontecendo.
Engulo em seco e minhas pernas começam a tremer
pensando que receberei outro castigo, mas algumas coisas não fazem
sentido algum.
Assuntos da Famiglia? Eu nunca me interessei pelos assuntos
do meu pai, e ele jamais fez questão que eu me metesse em seus
negócios. Segundo ele, meu único dever é ficar calada e obedecer,
sem perguntas.
Caminho atrás de John, sentindo o meu corpo perder as
forças a cada passada. O pavor me consome e meu coração acelera
de forma excruciante.
Posso ouvir as batidas descompassadas quando chego em
frente ao escritório. Com cuidado, respiro fundo e bato na porta.
— Entre! — A voz dele é fria. Causa um nó doloroso em
meu estômago.
Entro, dando o meu melhor para manter a postura séria e
confiante que ele exige.
John permanece do lado de fora enquanto fecho a porta e dou
mais um passo na direção do meu pai.
Seu olhar gelado está pousado em mim e um sorriso
presunçoso estampa os seus lábios. As mãos cruzadas em cima da
enorme mesa de madeira, dão-lhe um ar autoritário e perturbador.
Estremeço.
Sento-me em uma das poltronas de frente para ele e passo a
mão na barra do vestido para enxugar a umidade do suor. Preciso
esconder o meu nervosismo a todo custo, papai não tolera
demonstração de fraqueza.
— Algumas organizações de Chicago estão se aproximando
de forma muito perigosa do nosso território, querida — diz, fitando-
me com seu olhar penetrante.
Continuo calada e espero que ele continue. Mesmo que a
confusão e as dúvidas estejam povoando a minha cabeça, não sou
capaz de interrompê-lo.
— Por muitos anos, tivemos o poder absoluto aqui em Nova
York e até mesmo em Las Vegas e outros estados, mas estamos
perdendo forças. Precisamos de novos aliados poderosos para
proteger nosso conglomerado e é por isso que você está aqui.
Papai se levanta e dá a volta na mesa. Vira-se, colocando as
mãos atrás das costas, algo costumeiro para ele, e passa a analisar os
livros das estantes enquanto fala.
— Acabo de ter uma reunião com o Chefe da máfia
Underworld e seu Consigliere. Chegamos a um acordo e alegro-me
em poder dizer que consegui algo útil para você fazer. — Sinto uma
pontada em meu peito quando ele joga tais palavras no ar. Meu pai
nunca fez questão em esconder o quanto se envergonha de mim.
Com as mãos trêmulas, puxo o ar para os meus pulmões e
forço-me a impedir que uma lágrima caia.
— Sabe que não é uma mulher bonita, Lexie. É gorda,
desajeitada, bem diferente do que foi a sua mãe. Então, seja uma boa
menina e não faça nenhuma burrice ou pessoas que você se importa
sofrerão as consequências. — Fecho os meus olhos, fungando,
sentindo dificuldade em engolir a saliva. Parece que Hector tem
prazer em me humilhar.
— A partir de amanhã, sua faculdade está suspensa e você
ficará reclusa em seu quarto até a próxima semana.
O tempo para à minha volta e analiso cada uma das suas
palavras por partes.
— O quê…? — murmuro, incrédula. — Papai, o senhor
prometeu que eu poderia frequentar a universidade. Eu não
entendo… — Minha voz falha e eu não consigo concluir a frase.
Quando completei dezoito anos, fiz um acordo com o meu
pai. Pedi-lhe para que eu pudesse ter uma vida normal na faculdade
de artes visuais, sem ter que me preocupar com dezenas de capangas
em meu encalço lá dentro. Entre os muros, seria apenas eu, Lexie.
Em troca, eu me comportaria, seria a filha obediente e submissa do
poderoso mafioso, Hector.
Meu pai vira-se, cravando os olhos em meu rosto e sorri.
— Criança tola. A faculdade era apenas uma distração para
te manter entretida, longe de problemas.
Sinto como se acabasse de receber uma bofetada em meu
rosto, o ar falta em meus pulmões.
— Como… pôde? — Minha voz sai ofegante. Falha. — Eu
sou sua filha…
— Simples, querida. A partir de hoje, você pertence ao seu
futuro marido. O meu mais novo aliado. Não é maravilhoso, Lexie?
Uma lágrima desliza pelo meu rosto e eu levo a mão à minha
garganta, sentindo-me sufocar, enquanto ele me observa com
desprezo.
— Você irá se casar com Daniel Kraven, o chefe da
Underworld. O jantar de noivado acontecerá semana que vem e eu
ordeno que se prepare para tal ocasião.
— Papai, por favor… — Penso em Matt e no quanto ficará
arrasado quando descobrir que fui prometida a outro homem.
— A decisão está tomada, Lexie! Você é a filha de um Don e
me deve respeito.
Meu próprio pai… me vendeu.
Eu agora pertenço ao meu futuro marido…
Como dói.

Ele me fita uma última vez, irredutível em sua decisão e


aponta na direção da porta.
Saio do seu espaço, firmando-me na parede para não cair no
chão, o peito doendo tanto que temo não suportar. Sinto como se
estivesse dentro de uma bolha, nada mais tem importância a minha
volta. Nada mais faz sentido.
Acabou. O futuro que sonhei para mim foi destruído.
Fui jogada nos braços de um homem que não conheço, mas
que agora é dono de todos os meus desejos e vontades. É o dono da
minha vida.
CAPÍTULO 2

DENER

Ando pelo caminho de pedras amareladas da residência de


Hector, na companhia de George Siegel, o Consigliere da
Underworld e mais dois dos meus homens.
Está feito! O acordo de casamento foi firmado e em uma
semana acontecerá o jantar de noivado. Em pouco tempo, serei o
marido de sua preciosa filha e então darei a cartada final. Destruirei
tudo que é importante para Hector Laccount. Seu poder, seu respeito
dentro da máfia e sua amada filha…
Passo pelas árvores e arbustos que decoram a área da piscina
e entro no banco traseiro do Chrysler preto. George senta-se do meu
lado e os dois guarda-costas entram no SUV, estacionado logo
adiante.
Em poucos segundos, o motorista coloca o carro em
movimento e seguimos para a saída.
— Acha mesmo que ele não desconfia de nada? — George
questiona enquanto pega um charuto no bolso de dentro do paletó.
O homem de cabelos grisalhos, com cerca de cinquenta anos,
ajeita o terno cinza no corpo e pega um isqueiro no bolso da calça
para acender o charuto.
— Não. Ele não desconfia — repondo, convicto e escoro o
meu braço no encosto do banco do carro, relaxado. — Hector
realmente acha que me matou naquela noite. Do contrário, eu teria
visto algum indício de surpresa ou vacilo em seus olhos.
Com a mesma confiança com a qual o respondo, pego o
celular e ligo para o chefe da segurança que está à espreita do outro
lado da rua, próximo à mansão, com meia dúzia de homens.
Confirmo que tudo saiu conforme o esperado e ordeno para que
sigam na minha frente.
— Ele é perspicaz, Dener. Mais cedo ou mais tarde. Hector
descobrirá quem é você. — afirma e sopra uma baforada de fumaça
pela janela.
— E eu estarei esperando este momento de braços abertos.
Mas, até lá, terei conseguido tudo que quero.
Sorvo ar para meus pulmões e sorrio ao me lembrar da
expressão confiante e firme no rosto do homem que por tantos anos
odiei. Hector acha que está firmando uma aliança de poder e um
escudo impenetrável. De uma certa forma, sim, mas até certo ponto.
Ele só não imagina que quando chegar o momento oportuno, os
mesmos aliados que o protegem, se virarão contra ele, e então todo o
seu território passará a ser meu.
— Está arriscando muito. — Ele balança a cabeça em
negativa. George nunca concordou com meus planos sobre Hector,
mas eu sou impassível em minha decisão. — Você já tem tudo,
Dener, por que pôr a máfia e tudo que conquistou em risco por causa
de uma vingança? Já se passaram doze anos.
— Cuidado como fala comigo, George — advirto, frio.
— É o meu braço direito e um dos homens que mais confio,
mas não se meta em meus assuntos pessoais.
George assente e suspira, acenando com a cabeça.
— Não tocarei mais no assunto, Dener. Mas, e quanto à
garota? Você nem ao menos quis conhecê-la. Não se importa com
sua aparência?
— Na verdade, não! — respondo, indiferente. — Não dou a
mínima para como ela se aparenta, desde que possa gerar o meu
herdeiro. Até porque, depois que meu filho nascer, já não me
interessa o que acontecerá com ela.
— Certo! — O homem volta sua atenção para seu charuto e
eu permaneço em silêncio por mais alguns minutos.
Flashes da garotinha de longos cabelos escuros passam por
minha cabeça. Não a vi desde que desapareci por mais de uma
década. Agora é uma mulher crescida, que segundo o seu pai,
acabara de completar dezenove anos.
Trinco os dentes, nervoso, ao lembrar-me com exatidão das
palavras do homem sobre a filha. De acordo com Hector, Lexie é
uma jovem obediente, discreta e submissa. Nunca teve qualquer
envolvimento emocional e físico com outro homem e é perfeita para
ser a esposa de um poderoso mafioso.
Maldito bajulador de merda!
Enquanto ouvia seu relato, não conseguia parar de pensar no
quanto eu a faria sofrer, apenas para atingi-lo.
— Vá direto para a mansão, Ethan — ordeno ao motorista e
me ajeito no banco. Minha testa sua pela raiva que sinto daquele
homem e cravo os dedos no estofado, tentando ao máximo controlar
meu temperamento explosivo e a minha sede de sangue.
Já é noite. Lá fora o vento sopra a copa das árvores de um
lado para o outro, montando um cenário acolhedor repleto de
sombras. É exatamente como vivi durante todos esses anos. Um
homem fadado à solidão, sobrevivendo em seu mundo sombrio.
Levo o copo de uísque à boca e tomo um gole generoso. O
líquido amargo queima a minha garganta, porém apenas me faz
querer mais e mais, como um ciclo vicioso.
Afasto-me da janela e fecho o vidro, caminho a passos lentos
na direção do banheiro e paro de frente para o espelho. Deixo o copo
sobre a pia de mármore e após lavar e secar as mãos, levo-as até
meus olhos para tirar as lentes escuras.
Analiso o meu reflexo no espelho e devo admitir que quase
sofri uma metamorfose nos últimos anos, nem mesmo eu me
reconheço mais. As mudanças em minha fisionomia são drásticas, é
quase impossível que Hector me reconheça.
Meus traços joviais endureceram. Não sou mais um rapaz de
vinte e poucos anos. Agora sou um homem maduro, no auge do
poder.
Toco o meu queixo, passando os dedos pelos fios loiros da
barba que agora é proeminente, mas ainda consigo sentir a cicatriz
que desfigura a minha pele e nunca me deixa esquecer meu
propósito.
As tatuagens que se destacam pelo meu corpo, também são
consequências do que aconteceu naquela noite. Eu as fiz para
camuflar as diversas cicatrizes dos cortes.
Afasto-me e retiro a toalha em volta da minha cintura. Entro
debaixo do chuveiro e permito que a água quente leve embora um
pouco dos meus tormentos diários.
Lexie…
Penso na mulher que em breve estará em minha cama e não
tenho o menor interesse em vê-la, até que chegue o dia do maldito
noivado.
Já se passaram doze longos anos, mas ainda me recordo da
última vez que a vi, depois que saí do hospital.
Era noite, estava frio como nunca. Meu corpo tremia e os
ferimentos dolorosos me martirizavam. Andava sem rumo pelas ruas
do Brooklyn, o peito sufocado, a dor da perda me engolindo.
Não me lembro ao certo por quantas horas andei, até que em
um ato de desespero, roubei um carro, peguei uma arma no pequeno
apartamento que eu morava e segui até a mansão de Hector. Fiquei à
espreita nas sombras das árvores, na rua, imaginando as diversas
maneiras que o mataria. Mas, era impossível passar por seus
capangas e chegar até ele.
Horas após horas, escondi-me e o vigiei obsessivamente.
Porém, o esforço foi compensado quando consegui passar pela
segurança dos muros e me vi a alguns metros de distância da janela
do quarto da garotinha.
Chovia forte. Os relâmpagos pintavam o céu escuro,
ajudando-me a passar despercebido.
E lá estava ela, em pé, próxima à janela, abraçando um urso
marrom com os cabelos compridos sendo balançados pelo vento.
Estava cabisbaixa, como se chorasse baixinho, olhando as gotas
d’água caírem no chão.
Ainda agora, ao fechar os olhos, posso descrever com
detalhes o terror e o susto que vi em seu olhar quando uma forte
trovoada a assustou e a luz do relâmpago permitiu que ela me visse.
Seu grito de horror foi abafado por suas pequenas mãos, mas,
ainda assim, mirei a arma e a destravei para atirar. A pequena Lexie
estava na minha mira. Apenas um tiro e tudo se acabaria. Eu
vingaria a morte de Adrienne e do meu filho… Mas não consegui
apertar o gatilho. Nem a morte daquela garotinha seria suficiente
para aplacar toda a agonia que eu estava sentindo. Nada era
suficiente…
Naquele momento, eu soube que para dar a Hector o fim que
ele merecia, eu teria que me tornar tão poderoso quanto ele. Teria
que ser cauteloso… frio… e principalmente paciente.
De volta dos meus devaneios, levo a mão às minhas costas,
próximo ao ombro e fecho os olhos ao sentir a região áspera. A
cicatriz de um tiro marca a minha pele e a minha alma como uma
tatuagem.
Agora Lexie é uma mulher, e eu tenho em mãos o poder da
máfia Underworld, uma gigantesca organização que comanda quase
todo o território americano e que possui aliados em várias partes do
mundo. Não terei pena de ninguém.
Posso imaginar o quanto se tornou mimada e fria, tão
traiçoeira quanto o pai. Será que ela sabe o preço que paguei por
ela? Com certeza sabe! O fruto não costuma cair longe da árvore.
Neste momento, os dois devem estar se vangloriando, fazendo
planos de como irão gastar os milhões de dólares inclusos no acordo.
Pobre Lexie. Não sabe o inferno que viverá em minhas mãos.
Termino o banho e sigo pelado até o closet, deixando um
rastro de água pelo piso. Meu sangue ferve e minha cabeça lateja por
causa do estresse a que venho me obrigando a suportar dia após dia.

Hoje eu preciso me distrair, e nada é mais bem-vindo do que


uma boa corrida e muito sexo.
Visto-me com uma calça jeans e jaqueta de couro preta,
deixando o zíper da jaqueta aberto. Volto a pôr as lentes de contato e
pego a chave da Ferrari que comprei essa semana.
Ando até o cofre de segurança, coloco a combinação e entro.
Há uma infinidade de armamentos e munições aqui. Escolho uma
pistola de calibre 9, uma arma discreta e letal, confiro a munição e a
coloco na lateral do cós da calça de forma que fique camuflada pela
barra da jaqueta.
Desço as imensas escadarias e sigo até a garagem da mansão,
entro no carro e arranco na direção da rua. Oito dos meus melhores
homens me seguem dentro dos SUVs escuros.
House of the Rising Sun toca alto enquanto piso com tudo no
acelerador, indo na direção do local que costumo frequentar. O vento
chicoteia o meu rosto, mas o som do motor rugindo faz a adrenalina
borbulhar pelo meu corpo em pequenas doses.
Quando estou próximo da pista, onde acontecem as corridas,
diminuo o volume do som e desacelero para que meus guarda-costas
possam me acompanhar. Os SUVs não são páreos para a Ferrari e eu
não posso me dar ao luxo de comparecer desprotegido em uma
corrida clandestina. Há chefes de gangues e inimigos por lá que
adorariam me ver debaixo de sete palmos.
Assim que os seguranças me alcançam, dirijo até o local e
estaciono no meio da pista, chamando a atenção de todos ali. Saio da
Ferrari e os seguranças me acompanham. Eles formam um paredão
altamente armado em minha volta.
O cheiro de álcool e cigarro toma o ar, misturando-se com o
odor de sexo. Há uma verdadeira multidão aqui, apesar de a área ser
distante o suficiente de ambientes residenciais. É um local afastado
do centro de Nova York, possui prédios e galpões abandonados e
que são utilizados para abrigar o que de mais sórdido pode acontecer
no submundo do crime organizado. Rola de tudo aqui: drogas,
corridas clandestinas, prostituição…
Algumas pessoas, eu conheço; outras não, mas nada disso
tem importância agora. As corridas são apenas um hobby, algo que
uso como distração de vez em quando, para sentir que ainda estou
vivo.
Vadias quase nuas rebolam ao lado dos carros que estão na
linha de partida, no ritmo da música alta. Os seios estão quase
explodindo dentro dos sutiãs pequenos, da mesma forma que as
calcinhas minúsculas estão enfiadas em seus traseiros, me excitando,
trazendo à tona o pior que há em mim. O ambiente é sujo e
indecente, exatamente como eu sou.
Caminho até o grupo de apostadores que estão reunidos ao
lado da pista. Permito que a pistola fique à mostra enquanto os
cumprimento e começo com um pequeno lance de duzentos mil
dólares.
Um dos meus capangas coloca a mala com o dinheiro no
chão, no centro do círculo de homens e a abre, revelando o
amontoado de cédulas.
Roger, o dono da gangue que comanda este território, me
olha, incerto. Ele não é muito confiável, mas há um acordo de boa
convivência entre nós. O homem sabe que onde passo, deixo lucros
e mortes na mesma proporção então, não é uma boa ideia me ter
como inimigo.
— Duzentos mil dólares, irmão? — Ele sorri e dá um passo
adiante. — Aquele é o seu novo carro? — pergunta, apontando na
direção da Ferrari estacionada a alguns metros.
— Posso melhorar o lance se desejar! — Cruzo os braços e
sorrio de lado, debochado, demonstrando que não estou para
brincadeiras.
Não tenho medo de apostar e sei que não irei perder.
— Sempre tão aberto a negócios, Daniel.
O homem alto de frios olhos escuros, analisa as opções
olhando de mim para o carro e então concorda.
— Feito! — diz, estendendo a mão. — Duzentos mil dólares
e algumas mulheres, parceiro. As vadias são um agrado para firmar
o nosso acordo.
Seu sorriso se amplia. O homem abre os braços e acena, sem
deixar de me encarar. Em alguns instantes, cinco belas mulheres
caminham em sua direção e sorriem para mim, mordiscando os
lábios.
— Pode escolher. Será bem atendido até chegar o momento
da nossa aposta.
Assinto e analiso as mulheres cuidadosamente.
— Quero as duas loiras! — indico enquanto admiro os lábios
carnudos de uma e corro os olhos pela boceta suculenta que marca a
calcinha da outra. Meu pau lateja, louco para ser libertado.
— Cuidem do bem-estar do nosso convidado, garotas. Ele
tem uma longa corrida pela frente e precisa estar relaxado.
Fito-o e sorrio de lado, imaginando o quanto toda essa
bajulação é tediosa. Roger não passa de mais um puxa-saco de
merda, penso.
No entanto, eu nunca dispenso uma boa foda!
Sexo é como uma válvula de escape para os meus demônios
e, para esquentar a noite, nada melhor que um gostoso boquete ao ar
livre.
Analiso os corpos das mulheres e gosto do que vejo, apesar
de não fazerem tanto o meu estilo. São magras demais para o meu
gosto, mas os belos pares de seios compensam o resto.
Indico para que me sigam e entro em um beco mal
iluminado.
— Tirem a roupa! — exijo, ao mesmo tempo em que pego a
pistola, mantendo-me atento.
Gosto de tê-las vulneráveis, completamente nuas e expostas
sob o meu domínio.
As putas não medem esforços para fazerem o que digo e
ficam nuas, jogando as minúsculas peças de roupas no chão. Sem se
importarem com as pessoas que passam pela rua, elas se abaixam na
minha frente e começam a acariciar o meu corpo, passando as mãos
pelo meu abdômen e virilha.
Encosto-me nas paredes do antigo edifício e aceno para que a
loira de cabelo mais curto fique de pé ao meu lado.
— Se incline para a frente e abra bem as pernas, vadia.
Quero ver sua boceta arreganhada para mim.
— Sim, senhor… — responde com a voz rouca.
Firmando-se na parede, ela faz o que digo. Empina a bunda
em minha direção e abre as pernas, permitindo que eu veja cada
detalhe da boceta avermelhada.
Acerto seu traseiro com um tapa e acaricio o local, em
seguida, deslizo minha mão pelas dobras da sua boceta e penetro
dois dedos em seu canal, fazendo-a grunhir.
A mulher de joelhos à minha frente, desce a minha calça com
a cueca e segura o meu pau. O caralho pulsa vibrante e cheio de
veias vigorosas.
Ouço uma exclamação sair da sua boca e sei que ela está
impressionada com o tamanho e grossura. Sempre causo esse efeito
nas mulheres.
— Engole todo, até chegar à sua garganta — ordeno,
impaciente.
Ela me toma em sua boca e eu sinto a língua ávida percorrer
o meu comprimento. Grunho, me deliciando com o prazer
passageiro que me invade.
Usando a mão que segura a arma, agarro algumas mexas de
cabelo da sua nuca e forço o meu pau em sua boca. Fodo seus lábios
sem pena, fazendo a mulher se engasgar e seus olhos lacrimejarem.

Afasto-a por alguns segundos, para que tome ar e volto a


meter. Ao mesmo tempo, retiro os dedos lambuzados da boceta da
outra e os enfio no cuzinho.
Fodo as duas, metendo o pau na boca de uma e enfiando os
dedos na bunda da outra, fazendo a tensão se diluir em meu corpo,
esquecendo momentaneamente quem sou e a maldição que tenho
que carregar por cada maldito dia da minha vida.
CAPÍTULO 3

LEXIE

Sozinha em meu quarto, sento-me desolada na cama com


meus braços cruzados na frente do corpo.
O que irei fazer? É tudo em que consigo pensar enquanto a
agitação me consome. Sinto-me fraca e impotente diante de tal
situação. Não vejo outra saída a não ser seguir as ordens do meu pai
e me casar com este tal de Daniel. Porém, casar-me com alguém que
não seja Matt é o mesmo que me jogar de um abismo profundo do
qual sei que nunca sairei. Não viva.
Meu corpo treme de forma descontrolada, meu coração
palpita forte. Levo as mãos à minha cabeça e entrelaço os dedos nos
fios do meu cabelo, buscando a todo custo diminuir a agonia e o
incômodo que se formou em minha garganta.
Meus olhos ardem por causa do choro que reprimo com tanto
afinco. Quero gritar, desesperada, mas até mesmo nisso Hector me
controla. Ele seria capaz de me punir severamente se me flagrasse
chorando ou fazendo algum alvoroço como tenho vontade de fazer
agora. Ele me chamaria de fraca, inútil e depois me deixaria com
alguns hematomas no corpo.
Oh meu Deus…
Desço a mão até o meu peito e esfrego, como se este simples
gesto pudesse aliviar a dor que estou sentindo. Não sou religiosa, fui
poucas vezes à Igreja, se bem me recordo, ainda quando Adrieene
estava viva, mas no momento desesperador em que me encontro,
agarro-me a tudo e torço para que os últimos vestígios da minha fé
me salvem desse destino cruel de alguma forma.
Pensar em minha mãe faz o meu peito se abrir em carne viva.
Eu era tão pequena quando ela morreu, as lembranças das suas
feições há tempos dissiparam-se da minha memória.
A vontade de chorar vem forte. Já não consigo impedir que
mais lágrimas caiam e banhem o meu rosto. Sinto que vou explodir.
Levanto-me, me esforçando ao máximo para vencer a
tremura que atinge o meu corpo e caminho até a janela do quarto.
Abro as cortinas e os vidros e inspiro o ar que adentra o
ambiente. A brisa me conforta um pouco ao roçar em meu rosto e ao
fazer as lágrimas secarem.
Lá fora está um verdadeiro breu.
A noite sem luar engole todas as formas e cores, prendendo-
as em sua escuridão. De certa forma, sinto-me igual. Presa em um
mundo de sombras do qual nunca poderei sair.
Enquanto sinto o vento me abraçar, os flashes de um sonho,
de uma lembrança vêm a minha mente e eu fecho os olhos.
Passo os dedos pelo batente da janela e levanto o olhar para
encarar a escuridão. As imagens confusas passam por minha mente
como o estalar de um raio. No meu sonho, eu estava exatamente
aqui na minha janela. Eu chorava, não me lembro direito, mas acho
que papai havia me deixado de castigo por eu ter me sujado no
jardim.
Por muito tempo, tive medo dos olhos daquele homem. Eles
eram tão expressivos, endemoniados e frios como gelo. É apenas
disso que me lembro… aqueles olhos gelados, fitando-me com
amargura, como se eu fosse a semente do mal aqui na terra, então
todas as imagens se dissolvem e misturam-se com as outras…
Cansada, suspiro e volto a fechar a janela.
É uma noite quente, o ar está seco e abafado, deixando-me
ainda mais sem ânimo.
Caminho até o closet e apenas encaro as roupas tristemente,
desejando com todas as minhas forças ter nascido em outra época e
em outra família.
Passam-se alguns segundos enquanto permaneço em pé,
pensando no futuro aterrorizante que me espera ao invés de trocar a
roupa. A dor pelo preço que terei que pagar é tão forte que não
consigo pensar coerentemente. Meu coração dói. Minha alma dói.
Serei obrigada a abrir mão dos meus sonhos para servir ao
meu futuro marido. Pensar nele faz todos os meus músculos
enrijecerem e eu estremeço.
Seria este homem um velho asqueroso? Deus… O pânico me
toma. Hector nem sequer teve a decência de me falar sobre ele.
Estou tão absorta em pensamentos que me assusto quando
ouço uma batida na porta.
Rapidamente saio do closet e arrumo o vestido, pensando
que possa ser o meu pai. No entanto, este pensamento se desfaz, pois
sei que ele não seria tão cavalheiro assim em bater, ao invés disso,
entraria em meu quarto sem se importar com nada, como sempre fez.
Levo as mãos às minhas bochechas e seco as lágrimas que
escorrem com abundância, em seguida abro a porta.
Abigail, a governanta da mansão e o mais próximo que tenho
de uma mãe, me fita com o olhar preocupado e olhos vermelhos,
como se tivesse andado chorando. John está logo atrás dela.
— Minha criança… — A mulher de cabelos grisalhos,
presos em um coque elegante no alto da cabeça, entra no quarto e
me puxa para os seus braços. — Eu sinto tanto…
— Abby… — murmuro o apelido que estou familiarizada a
chamá-la e fungo baixinho dentro do seu abraço, lutando para não
desmoronar.
Apesar da pose rígida, autoritária, e na maior parte das vezes
séria, Abby é uma mulher boa e de coração mole. Cuida de mim
desde que nasci. Nas poucas lembranças que tenho com minha mãe
ou Adrienne, Abby sempre estava ao meu lado, zelando todos os
meus passos.
— Por que eu, Abby? Por que ele fez isso comigo?
— São os negócios do seu pai, querida… E infelizmente
dessa vez você estava nos planos dele e da Famiglia.
Outro soluço me toma e eu caminho na direção da cama,
ainda envolvida pelos braços maternos de Abby.
Sentamo-nos e ela segura a minha mão, mas antes de dizer
qualquer coisa para mim, vira-se na direção de John que nos observa
da porta, atento.
Só agora percebo que ele segura uma bandeja nas mãos.
— Pode deixar a comida na mesa de cabeceira, John — pede
e olha-me.
Suas mãos gentis seguram o meu rosto com ternura e ela
deposita um beijo em minha testa.
— Você precisa ser forte, Lexie. Não tente desafiar o seu pai,
menina. Ele é perigoso. Tenho medo de que a machuque mais.
— Eu não sei o que fazer. — Aperto sua mão tremulamente.
— Eu sei que Hector nunca me amou, mas nunca imaginei que ele
pudesse fazer isso comigo. Ele me vendeu, Abby.
A mulher não nega o quanto está aflita. Sombras arroxeadas
destacam-se debaixo dos seus olhos, intensificando as linhas de
expressão causada pelos anos. Até mesmo o vestido elegante e
minimamente passado que ela usa não consegue disfarçar seu ar de
cansaço e desânimo.
— Eu sempre estarei do seu lado, filha — diz com o olhar
marejado. — Não importa para onde aquele homem irá levá-la. Eu
irei com você.
Engulo o soluço e a observo com afeição. Meu peito aperta-
se ao me lembrar das ameaças do meu pai. Eu não tenho outra
escolha a não ser fazer tudo o que ele me ordena, ou então Hector irá
machucar todas as pessoas que amo, começando por Abby.
— Obrigada…— murmuro.
— Abigail, se apresse. Sabe que o chefe deu ordens
explícitas para ninguém incomodar a menina — diz John, parecendo
aflito. Seu olhar não nega o quanto essa situação o incomoda.
Olho para o homem parado ao lado da mesinha de cabeceira
e de repente tenho a ideia de perguntar sobre o meu futuro marido.
Talvez se eu tiver sorte, ele o conheça.
Abigail levanta-se e eu também me coloco de pé. Ainda
segurando a minha mão, ela diz:
— Lexie, descanse, querida. Tente comer e dormir um
pouco, amanhã você estará melhor.
Desvio minha atenção de John que se encaminha para a porta
e assinto para a mulher na minha frente, em seguida, dou alguns
passos na direção da porta e chamo por ele:
— John, espere.
O homem para a poucos metros de distância de onde estou e
vira-se.
— Não podemos ficar mais, menina. Se seu pai souber que
estivemos aqui te incomodando, as coisas poderão ficar feias para o
nosso lado.
— Eu sei… eu sei… e desculpe por isso. — Respiro fundo.
Sinto minhas pernas fraquejarem enquanto ando lentamente
em sua direção, mas eu preciso saber:
— O meu… futuro marido. Você o conhece?
Por um instante, percebo quando John arregala os olhos,
ficando ligeiramente pálido. Olha-me fixamente, como se procurasse
as palavras certas a me dizer. O pânico me invade e eu engulo saliva
com dificuldade.

Sim, John o conhece, percebo não por causa da forma que ele
hesita em dizer algo, mas pela apreensão que vejo em seu semblante,
agora tenho certeza que meu futuro marido não é a pessoa mais
gentil do mundo.
— Por favor, me fale sobre ele… por favor, John.
— Lexie, querida, não se torture com isso agora — pede
Abigail, e coloca a mão em meu ombro.
Balanço a cabeça em negativo e continuo com o olhar fixo
em John, aguardando uma resposta.
— Ninguém sabe muito sobre ele, Lexie, apenas que é um
homem poderoso, dono de todo o território da costa novaiorquina e
de grande parte dos territórios da Filadélfia, Las Vegas, Chicago e
Washington. Ele é conhecido no submundo do crime como o próprio
diabo. Todos, sem exceção, o respeitam e o temem.
A bile sobe em minha garganta ao imaginar a espécie de
monstro com quem irei me casar. O pavor me toma.
— John… — Abigail tenta intervir na conversa, mas John a
impede.
— Ela precisa saber, Abigail… — diz ele, sem desviar o
olhar de mim. — Ele é perigoso, Lexie. Mata sem nenhuma piedade
ou misericórdia. Tem aliados em todas as partes do mundo,
incluindo dentro da casa branca e no FBI. — Cada palavra dita
parece abrir um buraco no meu peito. — Fugir dele é quase
impossível, criança… Tome cuidado, muito cuidado.
Assinto, tendo a certeza de que agora, mais do que nunca, o
meu destino está traçado. Eu fui amarrada e embalada para presente
para ser o brinquedo de um homem sem escrúpulos e perigoso.
— Onde está… meu pai? — pergunto uma última vez. A voz
falha, a respiração irregular.
— Ele saiu e não deve voltar esta noite.
John desvia o olhar, visivelmente agitado e vira as costas,
saindo do quarto. Abigail se despede de mim e sai também,
fechando a porta atrás de si.
Respira, Lexie, seja forte. Repito as palavras de Abigail na
minha mente, me recusando a derramar mais lágrimas.
Sigo até o closet, pego um pijama qualquer e me troco.
Retorno para a cama e olho para a bandeja em cima da mesinha.
Retiro a tampa, deparando-me com uma vasta variedade de comida,
mas não sinto fome. Na verdade, a simples ideia de colocar algo na
boca faz meu estômago se revirar.

Deito-me, me agasalhando debaixo dos lençóis e meus


pensamentos voam até Matt.
Deus, como irei dizer tudo o que aconteceu a ele? Matt irá
me odiar quando souber que irei me casar com outro.
Como se adivinhasse o que se passa na minha cabeça, meu
celular toca e vejo seu número na tela. Não salvei seu contato por
medo de que meu pai descobrisse, mas tenho o seu número gravado
em minha memória.
Corro até o banheiro e tranco a porta para evitar que alguém
me escute do corredor. Recosto-me na pia e atendo. Quando ouço
sua voz macia, é como sentir a paz retornando para o meu corpo.
— Matt… — sussurro, desolada, mas busco disfarçar a
apreensão em minha voz.
— Oi, lindinha. Como você está?
— Estou bem — minto. — Senti a sua falta.
— E eu a sua. — A menção de que ele também sentiu a
minha falta me faz sorrir bobamente. Mas meu sorriso logo se desfaz
ao me dar conta que os nossos momentos estão com os dias
contados.
— Queria estar com você agora — diz ele, fazendo meu
peito doer.
— Eu também, Matt. É tudo o que mais quero… — sussurro,
mais para mim do que para ele.
Permanecemos assim, conversando baixinho enquanto eu
encaro o meu reflexo no espelho.
Matt diz coisas engraçadas, me distrai com sua conversa
gostosa e descontraída.
Ele brinca falando bobagens em meu ouvido ao mesmo
tempo em que eu analiso o meu rosto no espelho, me sinto morrer a
cada segundo que se passa.
Feia, gorda, desajeitada… As palavras de meu pai não saem
da minha cabeça.
Mas Matt não enxerga apenas a minha aparência estranha,
ele enxerga o que está dentro do meu coração, fazendo as minhas
forças se renovarem.
Respirando fundo, reflito:

Eu irei me casar com outro. Eu irei ser prisioneira de outro…


Mas, e se a gente sair uma única vez? Seria tão bom se eu pudesse
ter uma noite minha, apenas minha.
— Matt… — interrompo-o. Meu coração está acelerado,
contudo a decisão já está tomada.
— Sim, meu amor, o que foi?
— E se sairmos hoje? Eu posso dar um jeito de sair
escondida. Meu pai não está em casa, eu acho que consigo…
— Ah Lexie, seria maravilhoso, lindinha.
Sorrio, satisfeita com a possibilidade de vê-lo, apesar de
saber que não poderei ir além dos beijos. Hector mataria quem eu
amo se qualquer atitude minha arruinasse esse maldito casamento.
— Eu quero viver, Matt. Quero correr na rua e sentir o ar
batendo no meu rosto.
— E o que você tem em mente, Lexie?
Penso por alguns instantes, mas a verdade é que não sei dizer
o que estou sentindo. A única coisa que quero é me sentir livre por
uma noite. Quero fazer algo que possa ser lembrado em cada dia da
minha vida.
— Eu não sei, Matt. Só quero sentir que estou viva. Quero
me aventurar… sem regras.
Matt suspira e diz:
— Eu posso te dar tudo isso, meu amor. Confia em mim?
— Sim. Me surpreenda… — peço, esperançosa.
— Eu acho que tenho o lugar perfeito para irmos. Você
poderá extravasar todo este senso de aventura. — Sua risada gostosa
me faz sorrir também.
Passo o meu endereço a ele e indico um ponto longe da
mansão para que eu possa encontrá-lo. Despedimo-nos e eu começo
a traçar um plano para passar despercebida pelos homens do meu
pai.
Para começar, precisarei aguardar a troca de turnos que deve
ocorrer em alguns minutos. Lá fora está repleto de câmeras por
todos os lugares, mas se eu for rápida, posso ter a sorte de sair sem
ser notada.
Visto uma calça jeans, tênis e camiseta de manga curta. Pego
um moletom preto e me cubro, colocando o capuz na cabeça.

Devagar, caminho até a porta e ouço os movimentos dos


seguranças no corredor. Imagino ser John e algum outro homem.
Não tenho alternativa, a não ser sair pela janela. É a opção
mais segura.
John é atento, mas se eu for silenciosa o suficiente, poderei
escapar sem grandes problemas, ainda mais agora que ele está
focado na troca de guardas. Provavelmente está passando instruções
pelo rádio.
Os homens da patrulha são turrões, mas conhecendo-os como
eu conheço, sei que estarão atentos a movimentos vindos de fora.
Eles estão sempre prontos para um possível ataque, mas dificilmente
para uma fuga, muito menos a minha. Com a troca do turno se
aproximando, terei poucos minutos sem que haja um brutamontes de
olho na minha janela.
Enquanto os minutos passam, arrumo alguns travesseiros
debaixo do edredom para o caso de alguém decidir entrar no quarto,
apago todas as luzes e caminho até a janela. Confiro o horário no
visor do celular e o guardo dentro do sutiã.
— Está na hora… — murmuro, nervosa e sento-me no
batente.
Com o auxílio dos galhos das árvores próximos à janela,
consigo descer pela sacada, tomando cuidado para não fazer ruídos e
chamar a atenção dos capangas de Hector. A outra possibilidade é
que eu venha a cair e me estatele no chão.
Quando piso na grama, escondo-me atrás dos troncos das
árvores e torço para que ninguém esteja vigiando as câmeras de
segurança no momento. Prometo a mim mesma que ficarei fora
apenas algumas horas. Estarei de volta antes que alguém perceba a
minha ausência.
Andando abaixada por entre os arbustos decorativos,
caminho o mais rápido que consigo até a lateral da cerca viva que
rodeia a mansão. Encolho-me atrás do tronco de uma árvore e
prendo a respiração quando ouço vozes na direção do jardim, a
alguns metros de distância de onde estou.
Aguardo por alguns minutos e então o silêncio reina outra
vez, me fazendo soltar o ar aliviada.
Salto a cerca e corro rapidamente até o local que combinei
com Matt. A palma da minha mão arde por causa de um pequeno
arranhão, mas isso não tem importância agora.
Estou ofegante ao chegar no ponto marcado e avisto o carro
dele. Matt abre a porta do passageiro assim que me aproximo e eu
entro.

— Oii — digo, ofegante. O coração quase saindo pela boca


devido à pequena corrida e ao medo de ser pega.
— Oi, lindinha. — Ele sorri e inclina o corpo. Os lábios
macios se encontram com os meus por breves segundos e eu fecho
os olhos.
— Como conseguiu sair tão facilmente? — pergunta
roucamente.
Gargalho convencida e ao mesmo tempo trêmula, e conto a
ele todos os detalhes da minha fuga regada a um punhado de sorte.
Matt ouve tudo atento e roça os meus lábios com os seus
mais uma vez, de leve.
— Estou orgulhoso, Lexie. — Seus olhos brilham e meu
sorriso amplia-se.
— Para onde vamos? — pergunto, curiosa.
— Vamos nos aventurar como você sugeriu ao telefone. O
que acha?
— Acho que é uma excelente ideia — respondo, animada.
— E depois eu irei beijar muito você. — Ele pisca, me
fazendo corar. Mas o sorriso continua presente em meu rosto. —
Iremos conversar e então te trarei de volta ou podemos ir para a
minha casa.
Meu coração acelera, dando batidas frenéticas ao imaginar o
que ele quer dizer com a sugestão de irmos para a sua casa. Abro a
boca algumas vezes para respondê-lo e dizer que não posso, mas
minha voz simplesmente não sai.
Matt sorri de lado e dá a partida no carro tomando
velocidade, mas vez ou outra dirige o seu olhar para mim.
— Não precisa ficar envergonhada, Lexie — tranquiliza-me.
— Uma coisa de cada vez. Primeiro vamos conversar e nos divertir
um pouco.
Mordo os meus lábios, envergonhada, sabendo que sou quase
um livro aberto e ele pode ler tudo o que se passa em minha cabeça.
Assinto e foco o meu olhar na rua, em pouco tempo,
começamos uma conversa agradável.
Matt fala um pouco sobre si e a família. Diz que veio para
Nova York há alguns meses para ingressar na faculdade, mas que
deixou pai e irmãos em Chicago.
A conversa flui e aproveitamos o trajeto para nos
conhecermos mais. Sinto-me orgulhosa em saber o quanto ele é forte
e ajudou o pai a criar seus irmãos depois que sua mãe morreu de
câncer.
Algum tempo depois, chegamos a um local afastado do
centro.
Matt explica que é um lugar utilizado para a disputa de
corridas clandestinas e acha que irei gostar. Diz que combina com
meu senso de aventura e foi a primeira coisa que veio em sua mente
quando eu disse que queria me aventurar sem regras. Ele estaciona a
alguns metros de distância do aglomerado de pessoas e vira-se na
minha direção.
— Podemos ir para outro lugar se você não gostar, Lexie —
diz, segurando minha mão.
Mordisco o lábio um pouco receosa, mas decido que será
uma experiência interessante. Afinal, quando poderei ter outra
oportunidade como esta?
— Não… — murmuro e o fito com ternura. — Eu quero
estar aqui com você. Sem regras, lembra?
Ele assente.
Ao descer do carro e sinto o vento balançar os meus cabelos,
abro os braços e rodopio no meio da rua, gargalhando.
Matt segura-me pela cintura e continua a me rodar no ar, me
arrancando mais algumas gargalhadas, me fazendo sentir tão viva
como nunca estive.
Como é bom ser livre.
— Já vai acontecer o primeiro racha. Vamos? — diz, assim
que me coloca no chão e aponta na direção de alguns prédios à
frente, onde o número de pessoas está mais concentrado. — Se eu
tiver sorte, posso tentar uma aposta também. Amaria ver você
torcendo por mim, lindinha.
— Vamos… — respondo, animada.
Ele segura em minha mão e corremos rumo à pista onde
acontecerá as corridas.
Passamos por becos mal iluminados, procuro ignorar as
mulheres que circulam quase nuas pelo local. O cheiro de bebida e
cigarro é forte, mas nem isso é capaz de tirar o sorriso estampado em
meu rosto.
Logo à frente, consigo ouvir o ronco do motor dos carros e
apresso o passo.
Estou tão feliz e concentrada em chegar até a pista que mal
percebo o homem enorme que sai do beco bem no instante que
passo.
O choque (ou a trombada) é inevitável e faz com que eu
largue a mão de Matt, cambaleando para trás e caindo sentada no
chão.
Oh céus…
Ofegante, retiro os cabelos que caíram em meu rosto e olho
para cima. Minhas nádegas doem, mas este é o menor dos meus
problemas agora.

Uma grande mão está estendida na minha direção e a sombra


do homem paira bem à minha frente, onipotente e intimidade.
Estremeço ao sentir um arrepio em meu corpo e prendo o ar,
envergonhada pelo tombo.
— Cuidado por onde anda, pequenina. — Sua voz calma e
aveludada entranha-se em meus ouvidos. — Segure a minha mão.
Olho mais uma vez para a mão estendida na minha frente,
mas a ignoro. Continuo subindo o olhar, sentindo-me embaraçada
por ficar tão impressionada com os músculos de suas pernas e pelo
fato de o zíper de sua calça estar aberto.
Ele usa uma jaqueta de couro, mas o abdômen bronzeado e
definido está à mostra. Seu tamanho é impressionante… posso dizer
que é o maior e mais musculoso homem que já vi em toda a minha
vida.
Trêmula, fito a sua face e quase perco o ar ao ver o rosto
sério e brutal, coberto pela barba loira proeminente. O olhar escuro
está fixo no meu, tão penetrante como se olhasse o fundo da minha
alma, dando-lhe uma onda de perigo.
Céus… céus…
Seus cabelos estão bagunçados e seu corpo suado, como se
ele tivesse acabado de exercer um grande esforço físico.
Chocada, vejo seus lábios se curvarem em um sorriso
sórdido e ele leva as mãos até o cós da calça para fechar o zíper.
Involuntariamente, meus olhos acompanham cada detalhe dos seus
movimentos e sinto minha face corar, notando o volume que se
formou naquela região.
O homem tem um ar ousado, misterioso, exalando
sexualidade, o que me deixa momentaneamente aterrorizada. Quero
desmaiar e fingir que isso não passa de um pesadelo, mas não
consigo me mover, tudo em mim está congelado, mesmo quando o
meu sexto sentido grita para que eu me mova e corra o mais rápido
possível, até estar longe o bastante do olhar animalesco deste
homem.
CAPÍTULO 4

DENER

Gozo como um pervertido na boca da mulher e cerro os


dentes, sentindo o tremor do orgasmo me tomar.
Retiro os dedos do traseiro da outra e seguro os cabelos da
mulher que me tem nos lábios. Faço com que ela tome o meu pau
por completo, forçando meu comprimento em sua boca, até ver os
movimentos de sua garganta engolindo todo meu esperma. Então a
largo, satisfeito e ofegante. As pernas tremendo em êxtase.
— Boa garota. Tão obediente quanto uma cadelinha…
A vadia sorri de forma submissa e limpa o canto da boca
com os dedos. Chupa-os e se levanta.
— É um prazer servir os amigos do chefe… — murmura,
ainda com os dedos na boca. Uma verdadeira puta.
Usando a arma que seguro com a outra mão, acaricio seu
rosto pálido, agora com manchas de batom vermelho, e enfio o cano
da pistola em sua boca, fazendo movimentos libidinosos. Em
seguida, ordeno para que ambas saiam.
As mulheres se vestem em silêncio e se vão pelo mesmo
local que vieram. Recosto-me na parede por alguns instantes para
recuperar as forças e decido sair dali.
Estou pronto para retornar até a pista e ganhar a aposta,
agora sinto-me um pouco mais relaxado. Embora esteja suado e
ofegante por causa do esforço, a noite está apenas começando.
Muito sexo e álcool ainda vão rolar nas próximas horas, até que eu
esteja exausto e anestesiado.
Coloco a arma presa à minha cintura e fecho os botões da
calça enquanto caminho, com a cabeça baixa, mas ainda assim
atento aos movimentos ao meu redor. Qualquer atividade incomum e
eu estarei preparado para agir.
Saio do beco sombreado e estou prestes a dar alguns passos
para a rua quando um corpo pequeno se choca contra o meu, perde o
equilíbrio e cai no chão por causa do impacto. Tudo acontece rápido
demais.
Em alerta, levo a mão à pistola e olho com a expressão
fechada na direção do serzinho que se chocou comigo. Constato que
se trata de uma mulher. Uma linda e pequena mulher, ao menos é o
que parece ser na posição em que ela se encontra: de bunda no chão,
os cabelos negros e muito compridos espalhados pelo seu rosto,
impedindo que eu veja suas feições.
Inspiro, voltando a relaxar e ao perceber que ela não é uma
ameaça, estendo a mão para ajudá-la a se levantar.
Ela levanta a cabeça e arruma o cabelo espalhado pelo seu
rosto, permitindo que eu veja cada detalhe de sua face. Encara-me
com o olhar alarmado, e, por fim¸ posso confirmar minhas suspeitas:
ela não é somente linda. É maravilhosa… Maldição! Quase um anjo
em forma de mulher.
Seus lábios são tão volumosos e vermelhos que minha boca
saliva querendo provar e saber se seu gosto é tão bom quanto
aparenta ser, sua pele é clara, contrasta com os fios escuros de seu
cabelo, seu rosto é cheio e jovial como uma escultura e embora eu
não consiga ver a cor de seus olhos por causa das sombras, ela tem
uma expressão marcante e inconfundível que eu reconheceria em
qualquer outro lugar ou ocasião.
— Cuidado por onde anda, pequenina — digo calmamente.
— Segure minha mão.
Como um gatinho acuado, ela olha a minha mão estirada em
sua direção, mas não se move nem um milímetro. Continua subindo
o olhar devagar e posso ver seu peito ofegante, indicando o quanto
está nervosa e assustada, mas há uma pontinha de curiosidade e
interesse em seu semblante também.
Ela me encara como se eu fosse alguma espécie de predador
que está prestes a avançar e reivindicar a sua presa. E é exatamente
assim que me sinto agora, vendo a linda mulher em minha frente,
analisando cada centímetro do meu corpo com atenção, de forma
inconsciente, incapaz de desviar o olhar.
Ela nem ao menos se dá conta que me encara como um
pedaço de carne que deseja provar. Vejo em seu rosto uma mistura
de pavor e desejo que faz meu sangue ferver de uma forma tão
intensa que nunca senti antes.
Sinto meu pau inchar quando a moça passa os olhos pela
minha virilha. O caralho tão avidamente duro, como se não tivesse
acabado de gozar com um boquete. Meu corpo arde respondendo a
ela, minha respiração acelera. Descendo o olhar até o cós da minha
calça, constato que o zíper ainda está aberto.
Não consigo esconder um sorriso presunçoso ao mesmo
tempo que fecho o zíper da calça, antes que meu pau salte para fora
tão duro quanto uma barra de ferro.
Não quero que ela fuja, não agora…
— Querida, você está bem?
A voz de um homem se aproximando dela me faz levantar o
olhar para fitá-lo. Não é mais que um jovem rapaz de vinte e poucos
anos. Retraio a mão até a arma e o observo se agachar ao lado dela e
ajudá-la a se levantar.
Xingo em silêncio por não ter percebido que a moça estava
acompanhada. Fiquei tão focado em seu adorável rosto que baixei a
guarda à minha volta. Inferno!
Cravo meu olhar nas mãos dele ao passar em volta da cintura
dela e de repente sinto vontade de sacar a pistola e atirar nas mãos
desse imbecil. Dou um passo para trás e a vejo virar o rosto na
direção do homem, firmando-se em seus braços para se levantar.
— Estou bem, Matt — tranquiliza-o e volta a atenção para
mim. — Foi só um acidente…
— Vem, lindinha, a corrida já vai começar.
— Ele segura a mão da moça e a puxa para os seus braços,
dando um selinho em seus lábios, em seguida, a guia no meio da
multidão.
Ela olha uma última vez na minha direção, como se ainda
tivesse chocada demais para agir coerentemente, mas o segue.
Ergo a sobrancelha ao ouvir o homem referir-se a ela como
lindinha e concluo que o imbecil não passa de um babaca de merda.
É apenas um moleque se fingindo de homem. Quem em sua sã
consciência traria sua garota para um lugar como este? Ainda mais
uma mulher como ela, que chamaria a atenção de qualquer homem
aqui, incluindo a minha. Ou ele é muito burro ou há algo de muito
errado acontecendo aqui. A verdade é que não importa o motivo
pelo qual vieram. Estão andando em terreno perigoso.
Dou de ombros e decido esquecer aquilo. Agora é hora de
me preparar para a próxima corrida e seguir o cronograma que
planejei. O sexo e as mulheres ficarão para o final da noite. Já corri
riscos demais aqui, distante de meus homens. Embora eu nunca
esteja desprotegido, prevenção nunca é demais.
Avisto meus homens a uma curta distância, espalhados e
atentos a qualquer movimento suspeito na direção onde me
encontro. Aceno para o chefe da segurança, indicando para me
acompanhar e sigo para o interior de um dos edifícios.
Encontro um banheiro e me lavo rapidamente, tirando o
cheiro das prostitutas de minhas mãos. Aproveito e jogo água no
rosto para me refrescar. Aquela garota me deixou quente apenas com
um olhar e meu corpo está suado por causa do esforço que fiz há
poucos minutos.
Quando saio do edifício, os seguranças me acompanham
formando uma barreira de proteção dos lados, atrás e na frente, até
que me aproximo da pista de corrida. Perto o bastante para ver os
carros que estão na pista ultrapassarem a linha vermelha, mas longe
o suficiente para me manter afastado da aglomeração, dos corpos
suados de homens e mulheres que estão ali.
Paro e permaneço em pé, observando as máquinas que irão
correr no próximo racha, analisando meus adversários com atenção.
O ronco dos motores é tão alto quanto o som da boate no prédio ao
lado.
Mulheres seminuas desfilam ao redor da pista, rebolando.
Carregam placas suspensas que cronometram o tempo dos
competidores. O público vai ao delírio quando os carros se
aproximam da linha de chegada, os gritos são ensurdecedores.
Pelo canto do olho, vejo Roger caminhar na minha direção,
acompanhado por seus capangas, e indico para o homem que faz
minha guarda lateral permitir que apenas ele passe pela barreira de
corpos e venha até mim.
— Olá irmão. — Ele bate no meu ombro e sorri, cínico. —
Pelo visto se divertiu, não é mesmo? Aquelas garotas são umas
cadelinhas adoráveis, não acha?
— Olá, Roger. Me diverti como nunca! — afirmo, calmo,
sem desviar minha atenção dos carros que cruzam a linha de
chegada.
Cruzo os braços na frente do corpo, evidenciando os
músculos de meu peito e viro o rosto na direção do homem.
— Ótimo, irmão. Sabia que iria apreciar aqueles traseiros
bonitos.
— Com toda certeza! — Sorrio, apesar de minha única
vontade agora ser atropelar o homem com meu carro. Talvez eu faça
exatamente isso quando estivermos na pista, assim ele deixará de ser
tão bajulador.
— Boa sorte, Kraven. — Ele estende a mão em minha
direção de forma desafiadora e eu gargalho. — Talvez vá precisar de
sorte para conseguir me vencer hoje — desafia-me.
— Talvez… Mas não conte tanto com isso, irmão —
debocho e aperto sua mão.
Desvio minha atenção para além dele brevemente. É tempo
suficiente para ver a garota que se chocou comigo mais cedo, de
mãos dadas com o imbecil do namorado.
Roger fala mais alguma coisa, mas não presto atenção no que
ele diz, apenas sigo os passos dela.
No momento que os dois param de andar, ficando a uma
distância considerável do tumulto, consigo ver seu corpo com maior
precisão.
A garota usa calça jeans e um moletom grosso que esconde a
maior parte das formas de seu corpo, no entanto, posso distinguir
que ela tem um belo traseiro e coxas grossas deliciosas. O conjunto
final é de tirar o fôlego, combinando com o cabelo comprido e
escuro, que a deixa com ar de menina rebelde, daquelas que sabe
como desafiar um homem como eu. Minha boca saliva.
Ela sorri de algo que o rapaz diz e isso, de uma certa forma,
me incomoda. Talvez porque a mulher tenha me fascinado e agora é
ela quem eu desejo que esteja em minha cama hoje à noite. Já
imagino a boceta suculenta e quente me recebendo de quatro,
enquanto seguro aqueles cabelos por trás.
Fecho os punhos, irritado quando ela o abraça de frente,
passando as mãos pelo pescoço do rapaz. Mas de onde estou,
consigo ver o olhar lascivo que ele dirige para as mulheres que
circulam quase nuas próximas à pista. Por um instante, tenho a
impressão de vê-lo piscar para uma delas.
— Quem é aquele cara, Roger? — questiono e indico
discretamente na direção deles. — Aquele que está acompanhado da
mulher de moletom.
O homem olha na direção que indiquei e sorri, dando de
ombros.
— É um dos trombadinhas do Sam. É novato na área e ainda
é inexperiente na pista, mas é um bom piloto — responde sem muito
interesse e fecho a expressão.
Sam é também o chefe de uma gangue e aliado de Roger.
Será que ela sabe disso?
— Ele irá competir? — questiono cada vez mais interessado
no assunto. Meu instinto predador ainda mais aguçado.
— Talvez. Mas não sei se chegará muito longe com a lata
velha que ele chama de carro.
Entediado, decido jogar um pouco e usarei Roger para o meu
propósito.
— Preciso que faça um favor para mim, irmão. Sabe que
minhas recompensas são… generosas. — Bato em seu ombro de
leve, da mesma forma que ele havia feito comigo e me aproximo de
seu ouvido para propor o que tenho em mente. — Ofereça uma
aposta ao rapaz, dê-lhe um dos seus melhores carros e certifique-se
que a garota fique sob sua proteção, lá em cima, em uma sala
privada na boate. Quero trocar uma palavrinha com ela a sós sem
precisar causar um grande alarme.
A verdade é que estou mais interessado em conquistá-la,
pouco a pouco. Tomo isso como um delicioso desafio.
O homem volta sua atenção para a moça e gargalha,
entendendo perfeitamente o que tenho em mente.
— Uma delícia de mulher, Kraven. Tão jovem… — diz,
fitando-a de cima a baixo. — Isso será uma tarefa fácil, afinal ele
está em meu território. Eu dito as regras aqui.
— Sabia que poderia contar com você. — Uso de sua
bajulação para fazê-lo pensar que está ganhando pontos comigo.
— Mas não seria mais simples se você simplesmente pedisse
para um de seus cães de guarda trazê-la aqui? Por que todo esse
trabalho para comer uma mulher?
— Tudo que vem fácil, vai fácil, Roger. Onde está o senso de
diversão?
Roger concorda com um balanço de cabeça e acena para dois
dos capangas que estão atrás dele.
— Espere por ela lá em cima. Dois de meus homens irão
acompanhar você e seus cães de guarda até o local.
Dito isso, o homem me entrega uma chave e eu passo mais
algumas instruções. Vira as costas e vejo-o marchar na direção dos
dois, cumprimenta o trombadinha dando um tapa nas costas da
mesma forma insolente que costuma fazer comigo. Enquanto eles
conversam, sigo os capangas de Roger até o local combinado,
acompanhado dos meus seguranças armados até os dentes.
Passo pela boate lotada de corpos se esfregando e sou guiado
até as escadas que dão acesso a uma sala privada.
Sempre atento, aguardo um dos homens abrir a porta e
inspeciono o local rapidamente com uma mão na pistola, antes de
dar um passo à frente e entrar.
— A garota estará aqui em alguns instantes — ele diz e se
afasta.
— Estou contando com isso — respondo de forma tranquila,
deixando claro que não aceito falhas e que seria muito ruim para o
chefe dele se isso não acontecer conforme o combinado.
Meus homens fazem a guarda no corredor de frente para a
sala e eu fecho a porta para esperar por ela.
Enquanto isso, aproveito para me servir de um pouco de
uísque que está sobre a mesa.
Pego a garrafa para ler o rótulo e, embora não seja da mesma
safra que eu aprecio, servirá de qualquer maneira.
Sirvo uma dose em um copo de vidro e o levo a boca. Sorvo
o líquido devagar, sentindo o sabor forte em minha língua, ao
observar a sala cuidadosamente.
Embora o prédio caindo aos pedaços não passe uma sensação
muito prazerosa ao ser olhado por fora, aqui dentro, o assunto é
diferente.
Móveis de madeira estão espalhados pelo local, desde a mesa
grande no centro da sala, as estantes repletas de esculturas em
mármore e bronze, parecendo antigas. Couro fino reveste o encosto
e estofado das cadeiras.
Deixo o copo sobre a mesa e me sento em uma das cadeiras
confortavelmente, colocando um braço em cada encosto, deixando o
abdômen à mostra sob a jaqueta aberta. Este provavelmente não é o
escritório principal de Roger, ele não seria tão idiota para me trazer
até o lugar onde guarda coisas pessoais, mas pelo luxo esbanjado
com certeza é o local em que são fechados alguns de seus principais
negócios.
Os minutos passam devagar enquanto aguardo.
Viro a poltrona na direção da porta e espero paciente, até
ouvir passos vindos na direção da sala.
Em instantes, a porta é aberta parcialmente e posso ouvir um
pouco da conversa que se estende do lado de fora.
— Por favor, isso não é necessário. Eu posso aguardar por
Matt próximo à pista. Gostaria de vê-lo correr.
É a voz da pequena desconhecida.
— Não seria muito inteligente, moça. É perigoso lá fora para
uma mulher sozinha. Além disso, eu prometi ao seu namorado que a
deixaria em segurança enquanto estivesse na pista. Não posso faltar
com minha palavra quando se trata de um amigo, entende doçura?
Ela suspira, mas acaba concordando.
— Entre! Matt logo virá buscá-la.
A porta se abre completamente e a mulher é guiada para
dentro da sala, mal tendo tempo para virar-se e tentar sair ao me ver.
Mas Roger tranca a porta pelo lado de fora, assim como
combinamos.
Ofegante, ela arruma os cabelos e foca sua atenção em minha
direção. Seu olhar se alarma ao me reconhecer e eu apenas encaro-a,
sem me mover um centímetro da posição em que me encontro.
— Olá, pequenina.
— O que… o que está acontecendo? — Ela se vira e tenta
abrir a porta, apenas para encontrar a fechadura trancada. — Aquele
homem disse que … Oh meu Deus, Matt confiou nele…
— Acalme-se, você está segura aqui. — Procuro tranquilizá-
la antes que ela se machuque tentando abrir a porta.
Levanto-me da cadeira e caminho na sua direção. Paro a
alguns passos de distância.
— Estou cuidando de sua segurança… — minto
descaradamente e me abstraio de dizer que apenas quero conhecê-la
um pouco mais, ganhar sua confiança e tê-la em minha cama por
livre e espontânea vontade.
— Então você trabalha para aquele homem lá fora? —
indaga, voltando a me encarar.
Arqueio a sobrancelha, surpreso com sua conclusão.
— Não exatamente.
Ela cruza os braços na frente do corpo e este movimento faz
com que as formas de seus seios fiquem à mostra por baixo do
moletom. São cheios, e já posso imaginar minhas mãos acariciando
a carne macia e pesada.
— Então quem é você? — pergunta com petulância. A
sobrancelha levantada, os lábios lindos semiabertos enquanto puxa o
fôlego.
— Sou um amigo. — Pisco e volto a pegar o copo de uísque
na mesa, atrás de mim.
Encho-o e volto a atenção para ela.
— Eu me lembraria se fôssemos ao menos conhecidos — diz
com ar atrevido, empinando o nariz. — Mas antes de hoje mais
cedo, eu nunca vi você antes.
— Sim… eu me lembro do que aconteceu mais cedo. —
Sorrio para ela de forma lasciva. Meu olhar analisando cada
centímetro de seu corpo descaradamente. — Foi assim que nos
conhecemos, não é verdade? Então eu posso me atrever a dizer que
sou um amigo — provoco.
— Até dizer quem é você, não posso concordar com
nenhuma palavra que saia de sua boca.
Definitivamente ela é atrevida, mas eu gosto disso. Quanto
mais difícil é a tarefa, mais gostoso é o prêmio.
— Aceita um gole? Pode ser que seu… — Faço uma pausa,
olhando-a de baixo para cima, constatando que a palavra namorado
não cai muito bem aqui dentro desta sala. Não quando a mulher à
minha frente se tornou a minha mais nova fonte de desejo pessoal.
Eu a quero! — Pode ser que o Matt demore um pouco.
— Não. Obrigada! — responde, seca e indiferente, me
arrancando um riso.
— Muito bem!
Tomo todo o conteúdo do copo enquanto a observo e, quanto
mais meus olhos passeiam por seu rosto perfeito e os cabelos cheios,
mais atraído me sinto.
Ela tem uma beleza diferente do senso comum. Seus olhos
são de um azul esverdeado, tão brilhantes quanto as águas do
pacífico, suas sobrancelhas são grossas, marcantes, harmonizam
perfeitamente com as bochechas coradas, cheias e essa boca,
maldição! Como quero prová-la. É tão vermelha, volumosa.
Dou alguns passos em sua direção, mas não me aproximo o
suficiente para alertá-la. Não quero que a mulher se sinta
amedrontada, muito pelo contrário. Irei conquistar sua confiança e
seu corpo, está decidido.
— Sou um homem poderoso, pequenina. É isso que sou.
Passo a língua em meus lábios, faminto, observando o corpo
arredondado, repleto de curvas generosas e quase posso sentir
minhas mãos amassando sua carne por baixo do moletom.
Quando volto a me concentrar em sua boca e seus olhos,
encontro-a sorrindo com incredulidade e logo os risos contidos
transformam-se em gargalhadas gostosas.
— Muito engraçado — diz, colocando a mão na boca para se
conter. — E o que um homem tão poderoso faz trabalhando como
segurança em lugar como este?
Balanço a cabeça também sorrindo. Então ela realmente acha
que sou o segurança?
— Eu não disse que trabalhava para o Roger. Disse apenas
que a manteria em segurança.
— Acho que dá na mesma coisa. — Sorri e percebo que seu
corpo fica mais relaxado.
Ela talvez ache que estou sob ordens de Roger, e como seu
namorado supostamente confia no homem, então eu sou inofensivo.
Mal imagina que o tal Matt não teve nenhuma escolha sobre aceitar
o convite para competir na pista. Uma recusa dentro de um território
do tráfico é quase uma sentença de morte. O moleque sabe disso. A
pergunta que não quer calar é, por que ele trouxe a garota até aqui?
— Como se chama, moça? — pergunto, curioso. Embora eu
saiba que ela pode se recusar a dizer ou dirá um nome falso, não tem
importância, depois darei um jeito de descobrir tudo o que preciso
sobre ela.
Pigarreando, a mulher me encara pensativa.
— E então? Posso saber o nome de minha protegida?
— Lisa — ela responde imediatamente. — Me chamo Lisa.
— Humm. Sei. E o que uma moça tão jovem e linda faz em
um lugar tão perigoso como este? — questiono, focado em seus
movimentos.
— Como já deve saber, sr. Segurança, estou apenas me
divertindo com meu namorado.
Ela vira-se na direção das estantes e passa a olhar as
esculturas com atenção, me dando uma visão privilegiada de seu
traseiro apertado na calça jeans.
Lindo, delicioso…
Observo a mulher por alguns minutos em silêncio, enquanto
ela explora o lugar, visivelmente admirada.
A moça prende alguns fios de cabelo atrás da orelha e me
vejo substituindo seus pequenos dedos com a minha boca, louco
para mordiscar sua orelha e vê-la arrepiada. Ofego, excitado apenas
por observá-la.
— Gosta dessas coisas? — indago e me aproximo mais.
— Sim… eu… gosto de arte — responde, ao pegar uma
cabeça feminina entalhada em mármore… — Eu fazia artes visuais
na faculdade.
Eu me aproximo da mesma estante que ela observa, ficando
ao seu lado e pego uma outra escultura.
— E do que mais você gosta? — Minha voz é firme, com um
tom de duplicidade. Um sorriso lascivo se forma em meu rosto.
A mulher coloca a peça de volta na estante e vira-se na
minha direção, se deparando com meu olhar atento, analisando-a
sem perder um só segundo de seus movimentos.
Arqueando uma sobrancelha, ela responde:
— Gosto de desenho. Sempre amei criar formas em um papel
em branco.
— Então se eu te entregasse um papel em branco e um lápis,
você faria um desenho meu?
— Talvez… — Ri e se movendo para mais longe.
— Por que talvez? Garanto que sou um ótimo modelo —
brinco.
— Talvez porque não costumo desenhar desconhecidos
atrevidos…
Seu riso doce entranha-se em meus ouvidos e me vejo
admirando-a como fiz mais cedo. A garota está me fascinando com
seu bom humor e beleza. Ela é tão doce, maldição! Deliciosa
demais.
— E o seu lance com aquele cara? É realmente sério?
Ela suspira ao lembrar do rapaz e fecho as mãos, irritado. O
moleque não a merece. Não é preciso passar mais que dois minutos
observando os dois para saber que apenas ela se importa.
— Eu não sei dizer… eu gosto dele…
— Mas? — encorajo-a a continuar.
Lisa, se é que é esse mesmo o seu nome, desvia o olhar do
meu rosto e fita a estante na sua frente.
— É complicado, pois envolve o meu pai e digamos que ele
não sabe desse meu romance…
— E?
— E ainda não sei por que estamos falando de minha vida
particular. Eu mal acabei de conhecer você… — Ela me corta com
um sorriso travesso nos lábios. — Coloque-se em seu lugar,
segurança.
— Já disse que não sou segurança, Lisa…— murmuro,
tomado pelo desejo.
— Então o que mais faz aqui?
Dou mais um passo na sua direção e ela se afasta, dando
outro para trás.
— Aquele homem, o Roger, disse ao Matt que me deixaria
segura. Matt confia nele…
Ao mesmo tempo que a acho encantadora, tenho vontade de
sacudi-la até ela entender que aquele moleque não passa de um
fracote indigno de confiança. Maldição!
— E se eu disser que sou eu o responsável por você está
aqui? — interrompo-a.
Dou mais um passo em sua direção, olhando-a seriamente
nos olhos, fazendo Lisa se deparar com a parede.
— O que quer dizer? — questiona, surpresa.
— E se eu disser que estou interessado em você?
— Eu só posso dizer que sinto muito por você, mas…
— Você mente muito mal, menina. Vi a forma que me olhou
lá fora.
Percebo que sua respiração fica ofegante e ela olha de um
lado para o outro, procurando uma forma de manter-se distante de
mim.
— Eu estava assustada, não é como se eu trombasse com um
homem quase pelado no meio da rua todos os dias.
Sorrio ao relembrar o ocorrido. Os olhos dela cravados no
volume de minha calça, pasmos, o peito subindo e descendo pelo
ritmo acelerado de sua respiração.
— Não gostou do que viu? Eu fiquei excitado por você! —
provoco, indo direto ao ponto, sem mais saco para sustentar esses
joguinhos.
Seu olhar recai para o meu abdômen e ela passa a língua nos
lábios, por breves segundos, mas é o tempo suficiente para fazer
meu corpo acender. O que há nessa mulher que me instiga tanto?
Não é só pela beleza. Há algo mais… algo em seu olhar me lembra
alguém, me induz a desejar uma desconhecida como um louco.
Estou quase encurralando a mulher contra a parede quando
ela pega uma escultura e me fita séria, o olhar determinado.
— Pare onde está ou eu irei gritar… — ameaça enquanto
segura a peça de mármore com força entre seus dedos.
Paro no mesmo lugar, não porque me sinto ameaçado por
suas lindas e pequenas mãos, mas sim, porque neste exato momento
alguém bate na porta.
Maldição, Roger… cedo demais.
Eu poderia mantê-la aqui por mais tempo, até conseguir o
que desejo, mas não quero que ela se renda a mim sendo
pressionada. O desejo de conquistá-la pouco a pouco fala mais alto
que qualquer outra coisa.
Dando um suspiro aliviado, a moça caminha apressada na
direção da saída e eu a acompanho. Antes que a porta seja aberta no
entanto, encosto meu corpo na madeira escura e coloco meu braço
na frente de Lisa, bloqueando sua passagem.
Olho-a de cima a baixo, constatando que devo ser uns 35
centímetros mais alto que ela.
Maldição, ela caberia perfeitamente dentro de meus braços.
É tão baixinha se comparada a mim, tão pequena.
— Eu preciso ir… — diz, arfante. — Matt aguarda por mim.
— Ele pode esperar um minuto — respondo e me aproximo
mais dela. Levo minha mão até a sua nuca e a trago para mais perto
em um rápido movimento, fazendo um grito surpreso escapar de sua
boca.
Inclino-me para encostar meus lábios nos seus e a beijo
ferozmente, esmagando sua boca macia contra a minha.
Em um primeiro momento, sinto a rigidez de seu corpo e a
surpresa que a atinge, mas quando firmo minha mão em sua cintura
e colo seu corpo no meu, ouço seu suspiro sofrido, carregado de
surpresa e confusão e então ela entreabre os lábios para receber
minha língua que luta desesperadamente para penetrar em sua boca.
Seu gosto me inebria, envia correntes elétricas para o meu pau, me
arrancando um grunhido de puro prazer. Sua boca é ainda mais
deliciosa do que imaginei que seria e essa constatação me deixa
ainda mais doido para possuí-la.
Seguro seu rosto com as duas mãos e aprofundo o beijo,
sugando sua língua de forma imoral, dizendo a ela, em silêncio, tudo
o que eu adoraria fazer com seu corpo.
Como se adivinhando meus pensamentos, a mulher desvia o
rosto para protestar e minha boca é certeira em seu pescoço. Chupo e
mordiscou a pele macia de uma forma tão intensa que ela grunhe e
segura-se em meus braços, tremendo.
— Por favor, pare. Eu não posso…
Busco sua boca novamente, movido pelo desejo louco de
sentir seu gosto outra vez antes de deixá-la ir. A moça geme ao
mesmo tempo que suas unhas se cravam em meu peito em uma
mistura de desespero e desejo.
Oh inferno!
Preciso me controlar para não ceder ao fogo que me toma.
Meu pau lateja quando minha língua toca na dela.
Estou lutando bravamente para soltá-la, mas sou
surpreendido por uma dor aguda em meu lábio inferior, seus dentes
prendem minha carne e a puxam.
— Maldição! — murmuro um xingamento, ao perceber que
fui vencido por ela.
— Afaste-se. Não tem o direito de encostar em mim… —
vocifera.
Levo a mão em meus lábios, sentindo o gosto metálico do
sangue na boca e sorrio sarcástico, deixando-a ainda mais irritada e
ofegante.
—Tem ideia do quanto é linda e atrevida?
Suas bochechas ficam vermelhas, deixando-a ainda mais
sexy e atraente, se é que isso é possível. No entanto, continua em
silêncio, me encarando com o olhar ameaçador e adorável.
Volto a colocar a mão na parede, impossibilitando que ela
saia e toco o seu queixo com a outra mão para impedir que ela
desvie o olhar.
— Cuidado com os lugares que frequenta, pequenina, e
principalmente com quem faz isso. Este não é lugar para uma
mulher como você — digo, sério, disposto a alertá-la sobre o perigo
que aquele babaca a fez passar. — Sabe aquelas mulheres desfilando
quase nuas lá fora? A maioria são prostitutas, e aqueles homens são
traficantes da pior espécie. Eles não mediriam esforços para colocar
as mãos em você se a encontrassem sozinha.
Dito isso, abro a porta e espero que Roger entre
acompanhado de meus homens.
A moça sai da sala, ainda desnorteada, mas não me dirige
uma única palavra.
Antes que Roger saia para levá-la, no entanto, digo para que
feche a porta um segundo e informo que o valor a ser pago por seus
favores será entregue em algumas horas, com um adicional para
outro serviço.
— Cuide para que aquele babaca a leve para casa
imediatamente — ordeno. — Faça-o entender que se ele tocar em
um único fio de cabelo dela, eu o caçarei e o matarei com minhas
próprias mãos.
Quando ele assente e sai, suspiro ainda sentindo minha boca
latejar por causa do ferimento que ela me causou. Contudo, o pau
está ainda mais dolorido de tesão.
Decido que, por enquanto, deixarei a mulher em paz.
Primeiro irei colocar os assuntos de meu casamento em ordem, mas
assim que estiver casado e com tudo preparado para afundar Hector,
irei atrás dela e farei de tudo para torná-la minha.
CAPÍTULO 5

LEXIE

Com as pernas bambas, a respiração ofegante e uma


sensação estranha no peito, coloco os pés para fora da sala e
caminho o mais rápido que consigo para longe daquele homem. Para
longe daquelas mãos que praticamente queimaram minha pele com o
toque quente. Para longe do olhar animalesco que parecia se infiltrar
em minha mente. Para longe do beijo cruel que me invadiu com
tamanha fúria e sabor de pecado.
Como eu odeio esse imbecil…
Quem ele pensa que é?
Continuo andando sem me importar para onde vou, contanto
que me afaste dele o máximo possível.
Estou quase alcançando as escadas, quando dois homens
fortes, armados e mal-encarados se colocam na minha frente, me
impedindo de dar mais passos adiante.
— Não tão rápido, princesa — diz um deles seriamente,
encarando-me com o olhar escuro e profundo. — Não pode sair
sozinha daqui. Roger e os capangas dele irão acompanhar você.
Tentando controlar minha respiração para não parecer tão
nervosa, olho para trás e percebo que o tal Roger ainda conversa
com aquele cretino. Às suas costas, há alguns homens vestidos de
forma casual e desleixada, bem diferente dos dois atrás de mim e
mais alguns atentos na direção do brutamontes loiro. Percebo que
estes usam ternos escuros e estão rigidamente armados.
Engulo em seco, dando-me conta de que estive enganada por
todo este tempo. Não… ele não tem cara de segurança… e nem age
como tal. Parece mais o… chefe.
Nervosa, fico imaginando que espécie de criminoso ele é e
quanto risco corri ali, naquela sala.
— Quem é ele? — pergunto sem desviar meu olhar da porta.
O homem é tão alto e forte que seu corpo se sobrepõe ao de Roger.
— Não irá querer saber, princesa… — responde com
escárnio e ouço um risinho dos dois às minhas costas.
Roger assente para algo que ele diz e logo depois sai da sala,
vindo na minha direção.
— Vamos! — Sua voz sai rude como uma ordem velada.
Não tenho escolha, senão segui-lo. Ainda que haja uma certa tensão
em seu semblante.
— Matt está à minha espera?
— Sim! — É a única coisa que Roger fala antes de passar
por mim.
Sigo-o, sentindo uma pontada de medo, e seus capangas nos
acompanham.
Tento passar pela boate lotada e finjo não ver uma mulher
nua rebolando no colo de um cara. A cena faz a bile em meu
estômago subir, principalmente quando ele começa a tocar suas
partes íntimas sem se importar que um grande público masculino os
observa.
Tranco os meus olhos por milésimos de segundos e apresso o
passo. O cheiro de cigarro, álcool e suor permeia o ambiente, me
fazendo ansiar por sair deste lugar o quanto antes, em busca de ar
fresco.
Assim que coloco os pés para fora, avisto Matt e faço
menção de correr em sua direção. No entanto, Roger segura o meu
braço fazendo com que eu me vire para olhar em seu rosto. Meu
coração bombardeia minha caixa torácica e viro-me para Matt,
observando seu olhar confuso e cauteloso.
— Espere aqui! — ordena Roger, e dois de seus homens
tomam seu lugar, ficando um de cada lado de meu corpo.
Inspiro e expiro lentamente tentando manter-me calma.
Preciso me manter calma… não posso demonstrar medo, pois o
medo significa fraqueza e a fraqueza é o maior ponto fraco perante o
inimigo, seja ele quem for.
Os olhos de Matt estão cravados em minha direção quando
Roger o alcança e o puxa para o lado para falar algo em seu ouvido.
Após alguns instantes, Matt volta a me fitar e dessa vez seu olhar
está carregado de ira.
Embora seja possível ver a raiva estampada em seu
semblante, Matt assente, passa por Roger e caminha na minha
direção.
Ignorando os homens que me cercam, ele segura o meu braço
com força e me puxa para o meio da multidão, me fazendo tropeçar
no chão.
— Matt, espere… Matt… está me machucando…
Seu aperto em meu pulso é brusco, e meus protestos são
completamente ignorados por ele. O homem continua focado em me
tirar dali o mais rápido possível, como se sua vida dependesse disso.
Ao sairmos da vista de Roger, Matt diminui o passo e eu
consigo me soltar de seu aperto forte. Seguro meu pulso e massageio
o local, sentindo-me aturdida e ainda mais confusa diante de todos
os acontecimentos estranhos.
— Matt, o que está acontecendo? Fale comigo…
O homem me encara com a expressão fechada, como se a
raiva que sentisse fosse explodir seu corpo de dentro para fora.
— Preciso te levar para casa em segurança, Lexie…
— Mas por quê? Me diga o que está havendo, quem são
aqueles homens?
— É melhor que não saiba…
— Matt.. — Ele volta a segurar minha mão, forçando-me a
andar mais rápido e eu o acompanho. Mil perguntas passam por
minha cabeça, mas nenhuma delas faz sentido. As respostas parecem
incógnitas impossíveis de serem resolvidas.
Quando chegamos no carro de Matt, ele praticamente me
empurra para o banco do passageiro e entra do seu lado, em seguida,
arranca a toda velocidade, quase atropelando algumas pessoas que
circulam pela rua.
— Olhe por onde anda, trombadinha… — Ouço
xingamentos dirigidos a ele, mas Matt não parece se importar com
mais nada a não ser nos tirar daqui.
Ele dirige rápido, o olhar focado no volante à sua frente, os
ombros tensos.
Uma linha fina de ira forma-se em seus lábios e me
surpreendo ao vê-lo socar o volante com força, exaurindo sua raiva.
Assustada com seu comportamento, cravo os meus dedos em
minhas coxas por cima do tecido da calça jeans e desvio o olhar
dele, mantenho minha atenção focada na rua.
Assim que nos aproximamos do ponto que ele me buscou
mais cedo, Matt para o carro e finalmente olha para mim, segurando
o volante fortemente.
Seu olhar está sombrio ao encontrar o meu, sua testa está
suada, a pele vermelha de raiva.
— Matt… quem são aquelas pessoas? Pensei que Roger
fosse… um amigo seu — questiono embaraçada.
Ele passa a mão pelo cabelo e pondera alguns segundos,
antes de me dirigir a palavra.
— Querida, venha aqui. — Segurando minha mão, ele me
puxa para os seus braços e aconchega minha cabeça em seu peito.
— Desculpe por tirá-la de lá daquela forma… Eu estava fora
de mim.
De uma certa forma, ouvir isso dele me acalma, mas ainda
assim as coisas não fazem sentido. A angústia em meu peito
aumenta a níveis extremos.
— Era para ser uma noite divertida. Eu só queria passar um
tempo com você e iria te apresentar a alguns amigos. Mas aquele…
aquele diabo estragou tudo… sinto muito. — Levanto a cabeça para
fitá-lo enquanto ele fala, mas a sensação de que Matt omite algo não
sai da minha cabeça. Meu peito se aperta. — Quando Roger me
ofereceu um de seus melhores carros para competir na corrida, não
pensei que seria uma armadilha para me afastar de você… me
perdoe…
— Que amigo você iria me apresentar? — Pisco, confusa e
aguardo sua resposta.
Matt suspira parecendo impaciente, mas volta a me apoiar
em seu peito.
— Um amigo da minha família… Queria que ele conhecesse
a namorada incrível que tenho.
Meu corpo treme ao ouvir sua declaração e assinto
emocionada, voltando a me tranquilizar. Sinto-me amada outra vez.
Passo meus braços em seu pescoço e permaneço assim,
agarrada a ele em silêncio.
O coração dói só em pensar que terei que dizer a Matt sobre
ter sido prometida a outro homem, mas não quero estragar nosso
momento. Não agora…
— Quero que me prometa uma coisa, lindinha — pede
enquanto acaricia meus cabelos.
— O quê?
Pisco, amedrontada, sem conseguir disfarçar o medo que me
toma.
— Quero que saiba que sempre vou amar você, independente
do que aconteça — declara, surpreendendo-me.
— Matt, o que quer dizer? — Eu me afasto de seus braços e
o encaro inquieta. O coração dando saltos aterrorizantes no peito.
— Aquele homem é perigoso, Lexie… Ele é um diabo, filho
da puta… e pelo visto, está de olho em você…
Arregalo os olhos, aturdida, e lembranças desagradáveis
invadem meus pensamentos.
Aquele beijo grosseiro quase arrancando meus lábios, as
mãos grandes em minha cintura…
— Matt eu não quero nada com aquele homem… sempre
será você… — digo, mortificada.
Sinto meu rosto quente com a lembrança do gosto dele, com
sabor de uísque e quero morrer de raiva.
— Shh… — Coloca o dedo em meus lábios, silenciando-me.
— Me prometa que seu coração será sempre meu, querida…
me prometa…
— Eu prometo… — digo, a cada segundo mais aterrorizada.
— Serei sempre sua, Matt. Sempre…
Matt me abraça forte e beija a minha testa com carinho, me
acalentando em seu abraço protetor.
— Você precisa ir agora. Não deve correr mais riscos. Além
disso, é melhor evitar um confronto com seu pai. Seria desastroso se
ele descobrisse que saiu de casa.
— Tem razão, meu amor… — assinto e me ajeito no banco
do carro.
Levando uma mão ao meu rosto, Matt acaricia minha pele
devagar e seu olhar encontra o meu.
— Como vai fazer para entrar despercebida? — questiona.
Uma mistura de preocupação e algo mais que não consigo identificar
invade o seu semblante.
Explico a ele o que pretendo fazer e rezo para que dê certo.
O plano é seguir o mesmo percurso que fiz para sair. Se for
preciso, ativarei o alarme que fica do outro lado da mansão,
localizado ao lado contrário dos meus aposentos, e enquanto os
seguranças se distraem para vasculhar a área, aproveitarei para pular
a cerca e escalar a árvore até o meu quarto. Terei no máximo um
minuto para isso antes que foquem suas atenções nas câmeras de
segurança que me vigiam noite e dia.
Despeço-me de Matt com um beijo breve, coloco o capuz na
minha cabeça e corro na direção da mansão.
Ao me aproximar da casa, percebo uma movimentação
incomum nos portões e meu sangue gela ao imaginar que minha
fuga pode ter sido descoberta.
Três SUVs seguem em fila para entrar enquanto vejo outros
dois parados na rua. Homens armados fazem a guarda e observam
qualquer possibilidade de ameaça.
Quando os carros da frente passam, os homens que estavam
de guarda entram nos veículos parados e se dirigem para entrar
também.
Abaixo, quase me rastejando no meio da rua e corro até o
muro, sendo camuflada pelas sombras da cerca viva.
Com cuidado e o corpo rente ao muro, dou passadas laterais
curtas e silenciosas na direção do portão.
Os carros passam pelas grades e seguem o percurso pelo
caminho de pedras. No momento que as grades de ferro estão prestes
a se fecharem, ouço vozes de alguns homens se aproximando e
concluo se tratar da escolta que vigia o portão.
Controlando a respiração para não fazer barulho, caminho na
ponta dos pés, seguindo o curso da cerca viva na direção contrária à
entrada até o local que usei para escapar mais cedo.
Abro uma pequena fresta entre os arbustos e espio.
Homens armados caminham de um lado a outro, vigilantes,
mas não parecem alarmados, indicando que ainda não descobriram
minha fuga.
Preciso me apressar, penso, aliviada.
Caminho mais alguns metros, distanciando-me dos homens e
me aproximando do ponto próximo à minha janela. Por entre as
frestas da cerca, observo uma pequena área sombreada por uma
grande árvore, com arbustos fechados ao redor.
Com um pouco de dificuldade, consigo abrir um buraco
embaixo e me espremo entre os galhos e folhas para conseguir
passar rastejando.
Ofegante, olho de um lado a outro e continuo forçando meu
corpo a escorregar por entre as plantas.
Quando finalmente consigo passar, permaneço agachada e
analiso a distância que me encontro até a janela do meu quarto.
Os homens estão andando a poucos metros de minha janela,
seria impossível correr até lá e conseguir subir sem ser notada. Por
isso, continuo agachada e sigo me camuflando entre os arbustos
floridos e as árvores de troncos grossos.
Caminho uma distância considerável, pisando na grama com
cuidado, rodeando a mansão em busca de uma forma de conseguir
entrar sem ativar todos os alarmes da casa. Decido me arriscar a ir
pelos fundos, talvez eu possa passar o restante da noite ali,
escondida na varanda que dá acesso à área de serviço e me esgueirar
para dentro de casa quando a porta for aberta por um dos
funcionários de limpeza. Se eu tiver sorte, poderei passar
despercebida outra vez na troca de turno dos homens de meu pai.
Encosto-me na parede enquanto analiso as possibilidades
menos arriscadas e é nesse momento em que ouço vozes e sussurros
vindos da lateral da casa. Os sons são distantes, mas vão se
aproximando a cada segundo.
Eu me escondo atrás de um pilar, ficando camuflada pela
sombra e, em um certo momento, começo a distinguir as vozes dos
murmúrios e grunhidos.
O grupo de pessoas passa pela lateral, próximo de onde
estou, e estico a cabeça para verificar o que está acontecendo.
A sombra das árvores próximas e a escuridão da madrugada
impedem que eu distinga os vultos com precisão, mas consigo
identificar a presença de cinco homens e três mulheres que estão
sendo arrastadas. As mãos de ambas estão juntas na frente do corpo,
como se tivessem amarradas.
Meu coração dá um salto brusco e o ar falta em meus
pulmões. O terror me toma ao imaginar que espécie de barbaridade
está acontecendo.
Eu sempre soube o monstro que meu pai é e o quanto nossa
vida é errada e criminosa. Porém, essa é a primeira vez que vejo
mulheres sendo arrastadas até ali. Um arrepio doloroso toma conta
do meu corpo e de repente até mesmo o ar parece se tornar mais
denso e pesado.
As vozes tornam-se mais distantes à medida que eles se
afastam pelo caminho de pedras que leva até uma enorme fonte nos
fundos da propriedade. Continuo espionando até perceber que o
grupo some entre as árvores. Espero alguns minutos e decido
averiguar.
Ofegante, sentindo meus pulmões queimarem de tanto
controlar a respiração, paro atrás de uma estrutura coberta, próximo
à fonte de água e me surpreendo ao ver uma espécie de porta
redonda, aberta no chão, no meio da grama. Uma luz pálida ilumina
o local, me permitindo identificar o meu pai no grupo, com as mãos
enfiadas nos bolsos de forma relaxada.
Ouço as vozes e risos dos homens conforme forçam duas das
garotas na entrada do buraco. Parece ser uma espécie de câmara
debaixo do chão.
As mulheres são jovens e muito bonitas, vestidas com shorts
curtos e blusas regatas que evidenciam os corpos magros e bem-
cuidados. Elas se contorcem e tentam se soltar, mas é inútil. Os
homens apenas sorriem mais. Como as bocas estão amordaçadas,
seus grunhidos e murmúrios são praticamente abafados pelo barulho
da água.
Assim que as duas são jogadas dentro da câmara, meu pai
aproxima-se da que restou e o que acontece a seguir me faz pôr a
mão na boca para não vomitar.
Como se eu visse tudo através de uma câmera lenta, a garota
tem as roupas rasgadas com brusquidão enquanto dois dos homens
seguram-na pelos ombros.
Meu pai desfere um tapa em seu rosto quando ela tenta
chutá-lo, apavorada, lutando bravamente para se esgueirar dos
homens que se apossam de seu corpo. Porém, tudo o que faz é em
vão. Ela luta sozinha contra cinco vermes asquerosos, não há a
menor chance.
As lágrimas de pavor escorrem pelo meu rosto e fecho os
meus olhos assim que mais dois deles seguram suas pernas,
erguendo a mulher no ar e a expõem completamente nua para o
monstro que conheço como pai. E então ele a viola sem um pingo de
humanidade em seu coração e os grunhidos dolorosos dela são como
espinhos cravados em minha alma.
Permito que um soluço escape de minha boca e me ajoelho
no chão sem mais me importar que me vejam. Meu pânico é tão
grande que manter-me de pé se torna uma tarefa impossível.
A bile sobe, meu estômago se revira, o ar falta em meus
pulmões, mas então uma grande mão tapa a minha boca e meus
olhos se arregalam em pavor. Desespero!
— Shh. — É a única coisa que a pessoa às minhas costas
diz antes de forçar o meu corpo a se levantar.
CAPÍTULO 6

LEXIE

Meu coração lateja desesperadamente por causa do medo. É


difícil puxar o ar para os meus pulmões, mas estou prestes a lutar e
arranhar a pele da pessoa que me tem nas mãos antes de permitir que
ela me faça algum mal. No entanto, na mesma proporção em que
estava apavorada, permito que um suspiro aliviado escape quando
reconheço a voz sussurrada do homem:
— Fique quieta, Lexie, precisamos sair em silêncio, criança.
John
Engulo com dificuldade e assinto com um sutil balançar de
cabeça. Lágrimas grossas ainda escorrendo pelo meu rosto.
— Vem comigo. Rápido!
Devagar, John destapa minha boca, segura minha mão e me
puxa para longe daquele lugar.
Caminho por entre as sombras das árvores de forma lenta e
silenciosa, sendo guiada pela mão dele que segura meu punho com
firmeza. Minha visão está turva por causa do choro, o estômago
embrulhado. Todo o meu corpo treme pelo choque.
Seguimos assim, devagar, até ele ter certeza de que estamos
longe o bastante para sermos ouvidos ou vistos e então apressa os
passos, quase que me arrastando pela grama.
— Se apresse, menina… vamos.
Forço minhas pernas a se moverem mais rápido e corro,
desnorteada, apenas seguindo o homem.
Assim que alcançamos a mansão, John observa ao redor e
ordena para que eu fique quieta e aguarde um instante.
O homem afasta-se alguns metros com o rádio na mão, mas
mal consigo concordar antes que o primeiro jato de vômito me
obrigue a baixar a cabeça e despejo para fora tudo o que comi
durante o dia.
As cenas nauseantes cravam-se em meus pensamentos,
fazendo meu estômago revirar-se. O sorriso asqueroso de meu pai
para a garota indefesa… aquele monstro violando-a enquanto seus
capangas a seguravam…
E mais jatos de vômito vêm com força, me fazendo soluçar
sem ar. Sem forças.
Quando termino, ainda tonta e enjoada, firmando-me na
parede, tento focar minha atenção em John e o ouço ditar ordens.
Pelo pouco que consigo ouvir, compreendo que John está afastando
os homens que fazem minha segurança no corredor que leva ao meu
quarto, para que possamos entrar despercebidos.
Assim que ele desliga, me analisa de cima abaixo, mas não
há tempo para preocupações agora. Destranca e abre a porta lateral
que dá acesso à sala de jantar e antes de entrarmos, ele analisa o
local escuro com cuidado, certificando-se que não há ninguém ali.
Todo o percurso até o meu quarto é feito em silêncio e a
passos calculados para não fazermos barulho.
Ele destranca a porta de meu quarto e aguarda do lado de
fora, até que eu entre, em seguida, caminha para o interior do
cômodo, fechando a porta atrás de si. Segue a passos rápidos até a
janela.
John analisa a abertura rapidamente, fecha os vidros e as
cortinas, deixando o quarto num verdadeiro breu pela falta da luz da
lua.
— Pode acender o abajur agora!
Obedeço e permaneço parada, ofegante. A cabeça dando
pontadas dolorosas.
— No que estava pensando, Lexie? Perdeu a noção? — Sua
voz é baixa, mas ainda assim firme e preocupada. — Seu pai seria
capaz de matá-la se a visse ali… porra!
Fecho os meus olhos, sentindo os cílios molhados, o peito
doendo. Os grunhidos apavorados da garota não saem da minha
cabeça.
— Meu pai… é um monstro… — murmuro com a voz
entrecortada. A raiva e o desprezo dominando todo o meu medo.
Sento-me na minha cama e empurro os travesseiros e o
lençol para o lado. Coloco os dedos trêmulos em minhas têmporas e
massageio de leve. Sinto a região pulsar.
— Eu sei… — John suspira e eu levanto o olhar.
— Aquelas mulheres, John… oh Deus…
Outro soluço escapa de minha boca sem que eu consiga
controlá-lo. Sinto vontade de matar o meu pai e nenhum
arrependimento vem à cabeça sobre estes pensamentos.
— Sim. Ele… ele está enfiado até o pescoço dentro do
tráfico de mulheres… Maldição!
Olho em sua direção e me surpreendo ao vê-lo tão abatido,
irritado. Como se o mesmo nojo que me perturba por dentro o
destruísse também.
— Eu o odeio… eu… sinto vontade de matá-lo com minhas
próprias mãos.
John assente e caminha em minha direção.
— Sinto muito, criança… — diz, ainda mais perto, inquieto.
— Mas como eu já disse, volto a repetir: não se meta nos assuntos
de seu pai, você só irá se machucar. Isso se sair viva. Nenhum de nós
pode interferir nos assuntos de merda dele e sair vivo, Lexie. Este é
o mundo da máfia, um lugar tão miserável e cruel quanto o próprio
inferno. Aqui dentro você apenas obedece e segue as regras. Ouvir
demais e falar demais pode ser a sua sentença de morte.
— Como sabia que eu estava lá? — pergunto, desanimada.
— Eu estava monitorando as câmeras de segurança no
momento em que vi você perto do portão. Então apenas presumi
para onde você teria ido, já que não subiu para o seu quarto. Por
sorte, o outro vigia estava focado em outro monitor.
Balanço a cabeça em concordância, percebendo todo perigo
que corri e que fiz John correr também. Como o responsável direto
pela minha segurança, ele seria penalizado ou até pior caso meu pai
descobrisse.
— Eu sinto muito, John… — Suspiro e deixo meus ombros
caírem, sem ânimo. — Eu só precisava tomar um ar longe desta
casa. Mas, isso não voltará a acontecer, tem a minha palavra.
O peso dessas palavras saindo de minha boca é como um
soco em meu estômago. É o veredito final para dizer que da próxima
vez que eu sair dessa mansão, estarei na companhia de meu marido,
não mais de Matt.
— Espero que não tenha feito nada de errado, Lexie. Se
alguma merda impedir que este casamento aconteça, seu pai irá
castigá-la sem pena alguma.
Nem ao menos preciso olhar nos olhos de John para entender
o que ele quer dizer.
— Eu não fodi com ninguém — digo, firme. — Meu futuro
marido encontrará o meu corpo intacto, da forma que ele comprou…
Minha voz sai desdenhosa e eu busco lá no fundo de minha
alma a força necessária para não voltar a desabar ali, mesmo que por
dentro eu esteja quebrada em milhões de pedacinhos impossíveis de
serem consertados.
— Bom! — É a única coisa que John diz antes de sair e
trancar a porta às suas costas.
Encolho as pernas e deito-me na cama, em posição fetal,
sentindo-me fraca demais, vulnerável demais.
As lembranças da noite começam a dançar em minha cabeça
e as imagens grosseiras daquele demônio loiro me perseguem.
Aqueles olhos escuros e sombrios me olharam de uma forma
tão enigmática e devassa, mas, por algum motivo, eu pressenti algo
familiar em toda aquela dureza, como se já nos conhecêssemos. É
tudo tão confuso…
Tento pensar em Matt, em nossos risos, e por um segundo
sinto meu corpo relaxar… Porém as lembranças boas são tão
breves…
Tenho vontade de gritar de angústia quando imagens do beijo
grosseiro e a língua lasciva enfiando-se em minha boca faz com que
os risos e a voz de Matt se dissolvam em minha cabeça, restando
apenas o toque odiável daquele homem em minha cintura.
Eu devo estar ficando louca… concluo internamente.
Um turbilhão de desespero toma conta de mim e quero
morrer antes que a semana termine e eu seja apresentada ao homem
que me comprou, como se eu fosse um mero pedaço de carne.
Não há mais luz em meu coração, eu sinto apenas ódio.
Odeio o meu pai por ser um monstro sem um pingo de
escrúpulos, por ter me vendido…
E odeio esse tal Daniel por ter usurpado a minha vida, por ter
roubado a pequena alegria que um dia eu tive…

Uma semana depois.


— Você está maravilhosa, querida… — A voz de Abby
penetra em meus ouvidos e eu viro o rosto para encará-la,
percebendo seu olhar admirado em minha direção.
Dentro de suas roupas sérias e rígidas, em pé próximo a porta
fechada, Abigail observa atentamente enquanto uma das prostitutas
de meu pai me prepara para conhecer meu maldito noivo e assim dar
início ao jantar de noivado.
— Irei finalizar esta última mecha e você estará pronta — diz
a loira alta e magra, às minhas costas.
Pelo reflexo do espelho que está em minha frente, analiso o
vestido justo e vermelho como sangue que cobre o meu corpo.
O tecido agarra-se às minhas formas redondas e as saias
caem até o chão, me deixando desconfortável. Mal consigo respirar
por causa do corpete apertado que meu pai me obrigou a usar para
tentar diminuir a circunferência de minha cintura.
— Eu mal consigo respirar, Abby… — murmuro, ofegante,
sentindo vontade de rasgar a roupa que me cobre e jogar os pedaços
no chão.
Sinto-me como um rubi dentro de uma caixa de veludo e que
logo estará em uma vitrine para ser observado e leiloado.
Sou apenas um objeto caro.
— Logo irá se acostumar, docinho. — A puta de meu pai
sorri, coloca o babyliss de lado e amassa meus cabelos.
O som alto do seu salto se chocando contra o piso tilinta no
ambiente e o cheiro forte de seu perfume deixa meu estômago
enjoado.
— Apenas pense nas joias e nas viagens que fará em breve
com o seu marido…
Respiro fundo para tentar me acalmar e fecho os olhos para
não socar a mulher.
— Meu futuro marido é um monstro, Megan, tão ou pior que
o meu pai — falo, impaciente e irritada, imaginando a espécie
asquerosa com quem irei me casar.
Apenas rezo para que ele não resolva me traficar também
quando enjoar do meu corpo.
— Ouvi dizer que este tal de Daniel nada em dinheiro…
Queria eu ter essa sua sorte.
Cerro os dentes e volto a olhar na direção de Abby,
angustiada, lutando para que as lágrimas não escapem e borrem a
maquiagem que cobre minhas olheiras.
As ordens de meu pai foram bem explícitas essa noite: “Você
precisa estar perfeita, Lexie ou sofrerá as consequências!”
— Respire Lexie, tudo ficará bem. — Abby tenta me
acalentar, mas lá no fundo de seu olhar, consigo perceber a aflição
esmagando-a.
Megan caminha, rebolando dentro de um minivestido preto e
justo, até a penteadeira, escolhe um perfume e retorna até mim,
borrifando a essência doce em meus pulsos.
— Passe um pouco atrás de suas orelhas. Os homens ficam
loucos quando sentem o cheiro de perfume nesta região. — Sua voz
é tão arrastada e enjoativa que sinto asco.
Fecho a expressão e guardo a informação mentalmente para
nunca a usar.
— Agora você está pronta. — A mulher mantém-se às
minhas costas e segura os meus ombros. Pelo reflexo do espelho
consigo ver seu sorriso orgulhoso e prepotente.
— Seu futuro marido vai se curvar aos seus pés, querida.
Hector ficará tão feliz…
Seu riso torna-se desdenhoso à medida que me observa de
cima abaixo, e sinto minhas bochechas corarem.
— Nem parece a garotinha gorda e desajeitada que vi
crescer.
Meu sangue ferve em ira, vergonha. Quero chorar e
descarregar toda a minha tristeza nesse rosto bonito e falso dela, mas
de que adiantaria?
Ela tem razão. Eu sou…
— Já chega, Megan. Saia!
Abigail dá alguns passos em nossa direção e Megan se
afasta, ainda rindo.
Meu corpo inteiro treme de nervoso e raiva quando a mulher
passa pela porta, balançando os quadris estreitos, sorrindo
zombeteira, arrumando o vestido no corpo magro e perfeito.
— Não ligue para esta cobra, Lexie. Você é e sempre foi
maravilhosa.
Quero acreditar em Abby, mas sei que ela diz isso apenas
para me consolar…
Que seja!
Eu só quero que isso acabe logo.
Engulo saliva com dificuldade e viro o meu corpo. Nego-me
a continuar observando meu reflexo no espelho.
O decote do vestido é tão profundo que quase posso ver o
bico de meus grandes seios saltando para fora, e a abertura lateral
deixa minha perna direita completamente à mostra.
Abby confere as horas no relógio, deixando em evidência o
quanto está impaciente e diz:
— Ele está atrasado. Já era para ter chegado há meia hora e
nada.
Suspiro.
— Espero que não venha. Talvez Deus tenha ouvido as
minhas preces.
Abby me observa com o olhar lamentoso e quase posso
imaginar seus pensamentos, dizendo que sente muito.
Para a minha tristeza, uma batida na porta me faz dar um
passo para trás pelo susto, logo a fechadura é destrancada e John
entra.
— Megan disse que você está pronta… — Ele me analisa e
sorri. Não um sorriso desdenhoso como o de Megan, mas sim de
pura admiração. — Ele acaba de chegar, Lexie. Irei levá-la até a sala
de jantar, seu pai deu ordens explícitas para você não circular
sozinha pela casa.
Meu coração dispara ao constatar que chegou a hora, que irei
finalmente conhecer o homem que mais odeio em toda a minha vida.
Não há para onde correr.
Assinto para John, puxo o ar para os meus pulmões e
caminho devagar, em cima dos saltos altos.
John saca a arma que sempre carrega consigo e aguarda até
que eu passe por ele.
Com o homem em meu encalço, desço as escadas e vou na
direção da sala de jantar, sentindo o coração na boca de tão nervosa,
já ouvindo os murmúrios das vozes.
Reconheço alguns homens de meu pai, armados e atentos,
quase como uma parede de corpos musculosos, fazendo a guarda
enquanto passo.
Assim que chego ao cômodo amplo e bem decorado, paro,
sentindo-me sufocada. Levanto o olhar apreensivo para observar as
pessoas ali presentes.
As vozes cessam e o ambiente fica em total silêncio quando
todos ali notam minha presença.
Observo alguns grupos de homens desconhecidos em pé e
imagino tratar-se dos capangas de meu querido futuro marido. A
agonia aumenta em meu peito, mas continuo observando cada olhar
estranho que agora está focado em mim.
Conheço alguns homens sentados à mesa, um deles é o
consigliere de meu pai, os outros são também membros da máfia
com status inferiores. Sempre os vi por aqui em reuniões de
negócios.
Continuo analisando os rostos, agora passando os olhos pelos
que não conheço e que me fitam com curiosidade e risos maliciosos
nos lábios.
Ignoro-os e vejo meu pai sentado na ponta da mesa, atento,
com aquele olhar triunfante, os lábios curvados em um riso
vitorioso, fazendo o papel de anfitrião respeitado e poderoso. Meu
estômago revira-se em asco.
E então, sentado à sua direita, percebo a presença de um
homem grande, de terno elegante e escuro, ombros largos…
E quando meu olhar encontra com o dele, sinto todo o meu
corpo paralisado. Meus olhos saltam em choque e meu coração
começa a bombardear o peito com batidas tão frenéticas que temo
perder a lucidez.
CAPÍTULO 7

Horas antes…
DENER

Deixo os lírios brancos sobre a grama, logo abaixo da lápide


branca, e inspiro fundo, recordando o quanto ela gostava dessas
flores.
Dizia que o cheiro forte e adocicado a acalmava quando
sentia medo.
Passo os dedos levemente em cima do nome entalhado no
mármore, sentindo a friagem da pedra lisa em minha mão.
Adrienne Laccount
Amada esposa…
Não consigo concluir a leitura das inscrições, por mais que
eu já tenha feito isso milhares de vezes nos últimos anos.
O sangue ferve em minhas veias em ira, amargura, e o aperto
no peito se intensifica mais, como se essa dor, que consome minha
alma dia após dia, não tivesse mais fim.
Levanto-me devagar, incapaz de ir embora sem sentir que um
pedaço de mim fica aqui sempre que visito seu túmulo. Já se
passaram tantos anos, mas as lembranças que tenho são tão vivas em
minha memória, como se tivesse sido ontem.
Ainda agora, enquanto observo a grama verde que cobre o
local que Adrienne fora enterrada, posso me ver há doze anos,
depois que saí da casa de Hector sem conseguir atirar naquela
garotinha.
Já era quase de manhã naquele dia e eu andava pelas ruas de
Nova York, molhado, tremendo de frio por causa da chuva. Recordo-
me de me sentar no chão em algum parque qualquer da cidade e
ficar ali perdido no tempo, até que o sol surgiu no horizonte. As
pessoas começavam a circular pelas calçadas, o fluxo dos carros
aumentava nas ruas.
Alguém passou ao meu lado correndo, provavelmente
atrasado para algum compromisso do dia, e sem perceber, deixou
uma pilha de papéis cair no chão. Porém não me importei em
levantar o rosto para observar a pessoa ou adverti-la sobre sua perda.
Permaneci com a cabeça baixa, as mãos em cima dos joelhos
doloridos. Após alguns minutos, virei o rosto para o lado, onde os
papéis haviam caído, e notei tratar-se do jornal do dia anterior.
Peguei o jornal, notando a umidade nas folhas por causa da
grama úmida, e foi quando senti o golpe em meu peito. Em uma das
páginas, havia uma coluna inteira falando sobre a morte da querida
esposa do poderoso empresário Hector Laccount, assassinada por
marginais nas ruas do Brooklyn em um assalto.
A coluna dava alguns detalhes da grande mentira que Hector
havia inventado para a mídia sobre a morte de Adrienne e incluía o
local onde havia acontecido o enterro. Não pensei muito depois
disso. Levantei-me e fui até o cemitério que ela havia sido enterrada.
Observei o túmulo de longe, encostado no tronco de uma
grande árvore, sem forças para me aproximar da lápide, temendo
fazer uma besteira a mim mesmo ali.
De volta dos meus devaneios, sinto o vento gélido do fim da
tarde soprando e acariciando meu rosto com sua brisa suave. O sol
está quase se pondo no horizonte, a temperatura está caindo aos
poucos por causa da chegada do outono e uma névoa fina e fria
começa a abraçar as lápides distantes.
Ouço o grasnar de um corvo negro, nos galhos das árvores
ali perto e me movo para ir embora, decidido a cumprir o meu
propósito. Eu irei ter de volta tudo o que um dia fora tomado de
mim, não importa quanto sangue a mais eu precise derramar. Mesmo
que doa! Mesmo que eu me destrua no processo! Nada mais
importa!
Caminho pisando sobre as folhas alaranjadas que contrastam
com a grama, enfio as mãos nos bolsos do paletó e rumo na direção
do SUV, estacionado a alguns metros de distância.
Entro no banco de trás e ordeno ao motorista para que siga direto
para casa.

Ajeito o terno negro em meu corpo, faço o nó da gravata e


coloco as lentes escuras. Chegou o grande momento. O anel de ouro,
com uma imensa pedra de diamantes no centro, pesa em meu bolso.
É um lembrete de tudo o que está prestes a acontecer e do quanto
minha vida irá mudar.
Hoje à noite farei de Lexie minha noiva e em poucas
semanas, ela será minha esposa e, então, todo o tormento de Hector
terá início.
Esperei tanto tempo por isso. Há tantos anos buscando ser
quem sou agora. Tanto sangue derramei e tantos amigos traí. Tornei-
me o pesadelo que mais temi, fiz um pacto com o diabo e agora
colocarei as mãos em minha recompensa.
Coloco a pistola no cós da calça, dessa vez deixando a arma
em evidência. Um pequeno aviso para que Hector saiba que
independente de estarmos firmando uma aliança de poder, eu não
confio nele.
Em um bolso oculto, do lado de dentro do paletó, guardo
minha LifeCard, uma minúscula arma de fogo, tão pequena quanto
um cartão de crédito, mas tão letal quanto a pistola que coloquei no
cós.
Saio calmamente de minha suíte, analisando com cuidado
cada passo que darei de agora em diante. Hoje à noite tomarei vinho
na taça de meu inimigo, brindarei em nome de nossa aliança e logo
serei o marido de sua filha. Porém depois, em nome de minha
vingança, encherei a mesma taça com o seu sangue, sentindo o sabor
de minha vitória, sabendo que por fim alcancei tudo o que queria.
Ao chegar na sala de estar da mansão, encontro meu
consigliere vindo a passos rápidos na minha direção, acompanhado
de Ettore, um dos executores da Underworld, homem de minha
inteira confiança.
O italiano bem-vestido, de olhar sério e expressão confiante,
é tão sorrateiro e silencioso como as sombras na noite e é por isso
que é o melhor no que faz em todo o território americano. Ele mata
sem deixar pistas, esgueira-se nas sombras como se fizesse parte
delas. Um dever posto sob sua responsabilidade é considerado um
dever cumprido e ele jamais falha com sua palavra.
— Problemas no paraíso, Dener. — A voz de George ressoa
firme e os dois param no meio da sala, olhando-me seriamente.
— Diga! — ordeno, desinteressado, e caminho até o bar que
mantenho ali. Sirvo-me de uma dose de uísque e aguardo a resposta.
— Nossos informantes descobriram um fornecedor de
Hector. E imagino que gostará de saber do que se trata — diz Ettore,
com seu suave sotaque italiano.
Assinto ainda de costas para eles, atento. Tudo que diz
respeito a Hector e sua filha me interessa, pois quanto mais poder
tenho em minhas mãos, maior será sua queda.
— O fornecedor entregou a mercadoria para o bastardo há
uma semana. Eram três garotas — conclui.
Sorvo o último gole do copo, inspiro e volto minha atenção
para os dois calmamente.
— Ele está metido com o tráfico de mulheres? — questiono.
Um ponto na lateral de minha garganta lateja com a raiva subindo e
borbulhando em minhas veias.
— É o que tudo indica.
— Miserável! — xingo. A fúria me tomando por dentro.
Deixo o copo sobre o balcão do bar e caminho até a janela
com as mãos nos bolsos da calça, irascível, sentindo o ódio me
consumir por dentro.
Hector sabe que tráfico humano não faz parte de meus
negócios. Eu não me meto diretamente com pessoas inocentes, a não
ser que atrapalhem meus planos. No entanto, ele pouco se fode para
o caralho das regras. Engana-se que poderá usar de meu poder e
proteção para fazer o que quiser. O miserável não perde por esperar.
— Onde está este fornecedor?
Volto a conferir as horas em meu relógio de pulso,
confirmando que se eu não sair daqui agora, chegarei atrasado no
jantar de noivado.
— Em um dos nossos esconderijos fora da cidade. Deixei
três homens vigiando o lugar.
Concordo com um balançar de cabeça, sem desviar o olhar
da noite escura.
— Quero que se responsabilize pessoalmente deste assunto,
Ettore. Deixe o bastardo vivo por enquanto e mate qualquer outro
que esteja fazendo este tipo de negociação com Hector. Meu futuro
sogro terá uma bela surpresinha em breve.
Viro-me na direção dos homens.
— É hora de irmos, George! — digo ao consigliere que me
olha calado e apenas dá um aceno com a cabeça.
O homem é um velho amigo. Ajudou-me a tomar o poder da
máfia e foi imprescindível com seu apoio e experiência. Mas, por
algum motivo ele repudia minha vingança contra Hector e, embora
eu confie em muitas de suas decisões e honra, não estou bem certo
se devo deixá-lo longe dos meus olhos quando o assunto é meu
casamento.
Em silêncio, seguimos para a porta.
Um grupo de quatro mafiosos está à minha espera no pátio.
Dois chefes de organizações aliadas à Underworld e seus homens de
confiança, todos prontos para testemunhar o noivado da década. O
laço que ligará duas máfias inimigas e antigas.
Um pouco adiante, avisto Ethan aguardando-me ao lado do
Rolls-Royce escuro.
Aceno para os amigos ali presentes, e explico que está na
hora de irmos. Hector e sua preciosa filha estão à nossa espera para
o evento.
Vejo em seus rostos o quanto estão satisfeitos com minha
decisão. Aliar-se a alguém como Hector, segundo eles, é um passo
longo em direção ao poder absoluto, e no final todos ganham com a
expansão dos territórios onde acontece o tráfico de armas e drogas,
além do apoio governamental atribuído por um número considerável
de chefes políticos dos grandes distritos de Nova York.
Com exceção de George Seagal, meu consigliere, ninguém
ali faz a mínima ideia sobre os meus planos. Ninguém ali conhece
meu passado, a não ser a forma que consegui o poder da
Underworld, e isso basta para mim.
Entro no banco de trás do carro, ao lado de George, e Ethan
dá a partida no veículo.
Chegarei alguns minutos atrasado devido ao pequeno
imprevisto que tive sobre o fornecedor de Hector. Se eu tivesse mais
tempo, iria até o local onde o homem está sendo mantido em cárcere
privado para ter uma palavrinha com ele. No entanto, agora é mais
conveniente que termine logo com o teatro da noite e coloque a
aliança de noivado no dedo da mulher. Quanto mais cedo o
casamento for realizado, melhor será para os meus planos. Em um
outro momento, me encarregarei pessoalmente do fornecedor.
Enquanto o carro circula pelas ruas de Nova York,
permaneço atento a tudo à minha volta. A vida me ensinou que
jamais devo baixar a guarda, e é isso que faço com afinco. Estou
sempre um passo à frente de meus inimigos e foi isso que me
manteve vivo e me permitiu chegar até onde estou.
À medida que nos aproximamos da mansão, permito que
meus pensamentos vagueiem um pouco, até uma semana atrás,
quando conheci uma certa garota atrevida. Aqueles olhos grandes,
azuis esverdeados, não saem de minha cabeça, e só em imaginar
aquele olhar desejoso na minha direção, inconsciente do quanto me
queria, sinto meu pau crescer, louco por ela. Nenhum detalhe sobre
aquela menina passou desapercebido. Senti no tremor de suas pernas
e nos gemidos que deixou escapar que ela também me desejava.
Naquela noite imaginei tudo o que faria com ela nua em
minha cama, as obscenidades que cometeria com seu corpo, cada
centímetro de sua pele que eu lamberia. Deitado em minha cama,
após chegar em casa, fechei os olhos e imaginei Lisa de joelhos, me
chupando com aqueles lábios vermelhos. Em meus pensamentos, eu
a fodi de todas as maneiras possíveis. Primeiro a lambi em cada
dobra, suguei o montinho vermelho que ela tinha entre as pernas,
meti a língua entre as bandas de sua bunda, depois enfiei o pau em
sua boceta quente, de quatro, segurando as mechas grossas de seu
longo cabelo, e por último, gozei no seu cuzinho apertado.
Quase gemendo de tesão, pisco os meus olhos e fecho a
expressão, sentindo-me um tarado. É irritante e ao mesmo tempo
deliciosa a forma como ela toma meus pensamentos assim, do nada.
Uma menina, ela é apenas uma menina desconhecida. Tento repetir
isso em meu consciente, mas nada parece fazer meu pau mudar de
ideia. Ele a quer. Eu quero… e eu a terei.
Embora esteja prestes a me casar com Lexie, não me
prenderei a ela nem serei fiel aos meus votos. Meus planos são
simples e claros. Levarei a mulher para a cama e transarei com ela
até que sua barriga cresça com meu filho. Depois que o bebê nascer,
darei um jeito de me livrar dela da mesma forma que farei com seu
pai. Enquanto isso, farei de Lisa minha doce e deliciosa amante.
CAPÍTULO 8

DENER

O trajeto até a residência de Hector é feito de forma ainda


mais lenta do que imaginei que seria.
O trânsito de Nova York está mais acirrado do que nunca, um
verdadeiro caos, e juntando tudo ao imprevisto que tive, não há uma
forma de evitar o meu atraso.
Impaciente, ordeno ao motorista para que pegue um desvio e
saia do meio desse inferno. Ligo para o chefe da segurança e
informo sobre a nossa mudança de rota até sairmos do formigueiro.
Marco um ponto de encontro próximo à mansão de Hector. É
provável que o lugar esteja fervilhando de capangas em todos os
cantos hoje À noite e eu não sou idiota para entrar no covil dos lobos
sozinho.
Enquanto o tempo passa, penso em Lexie Laccount, a mulher
que usarei como ponte para vingar a morte de Adrienne e o bebê que
ela carregava no ventre. Quando a vi pela última vez ainda era uma
criança indefesa. Uma garotinha de pele clara e olhos tristes,
agarrada a seu urso marrom, presa às suas ilusões infantis. Agora é
uma mulher adulta, que foi criada por Hector e moldada em sua
maldade, disposta a tudo para conseguir mais poder e status,
exatamente como o pai.
O ódio toma conta do meu corpo assim que me recordo de
tudo o que fui obrigado a suportar para chegar até aqui.
As lembranças daquela noite não me largam e coloco os dois
dedos polegares em minha testa ao mesmo tempo em que fecho os
olhos e inclino o corpo para a frente, no banco do carro. Escoro os
cotovelos em cima de minhas coxas e permaneço assim com a
cabeça baixa por alguns minutos, sendo golpeado em todos os
lugares por imagens dolorosas.
Todo o meu corpo doía quando acordei no leito daquele
hospital. Nem sei por quanto tempo fiquei desacordado, mas eu
soube que havia sido levado ali por um dos moradores do prédio que
ouviu o barulho dos tiros e decidiu averiguar depois que Hector foi
embora com seus capangas.
O homem não chamou a polícia. Aquele não era um lugar de
benfeitores e a polícia não era uma opção.
Tive sorte por ter saído vivo naquela noite. Hector me achou
tão indigno de seu tempo que nem sequer conferiu se eu havia
morrido, de fato. Acreditou que as dilacerações em meu corpo
causadas pelas lâminas de seus homens e o tiro que deu em mim no
final, quando eu já estava desacordado, tinham sido suficientes para
me eliminar. Deixou-me ali, à própria sorte, no chão frio, certo de
que estava sem vida. Mas eu sobrevivi.
Infelizmente Adrienne não teve a mesma sorte que eu.
Depois que visitei seu túmulo ainda com a terra fresca, entrei em
contato com um velho amigo e pedi sua ajuda.
Alexander Roussel, um homem a quem ajudei no passado e
que passou a prestar serviços ao FBI, graças a um acordo que fez
com seu sogro, um importante Federal, me livrou de qualquer
investigação envolvendo aquela noite, e ele ainda conseguiu um
corpo para ser enterrado em meu lugar. As notícias no The New
York Times foram notórias nos dias que se passaram: Um homem na
faixa dos vinte anos, identificado por um dos moradores do
Brooklyn como Deni, foi encontrado morto em um apartamento do
terceiro andar de um prédio no distrito. O corpo já estava se
decompondo.
Logo o assunto foi encerrado e o caso abafado. Com a ajuda
de Alexander, certifiquei-me de que Hector tivesse certeza de que o
amante de sua esposa estava morto.
Despertando de meus devaneios, levanto o olhar e percebo
que já não estamos mais no meio do tráfego de carros.
Logo o percurso, até o local marcado com os seguranças e
meus aliados é concluído, e não demora muito para que os carros
sejam avistados. Seguimos direto para os portões da casa de Hector,
e ao me identificar na entrada, a passagem é liberada. Continuamos
o percurso até nos aproximarmos da mansão.
Ethan estaciona o carro e eu aguardo até que meus homens
formem um grupo próximo à porta do carro, com as mãos em suas
armas, os olhares atentos a qualquer possibilidade de emboscada.
Abro a porta do carro e saio. Avanço na frente pelo caminho
de pedras, sendo acompanhado por George, Kraig e Bruce, chefes de
duas importantes organizações que se aliaram a mim, e meus
homens enquanto arrumo os botões do paletó preto.
Assim que chegamos à porta, somos recebidos por uma
mulher loira e atraente, usando um vestido preto que se cola ao seu
corpo. Seu sorriso é amplo ao me analisar de cima a baixo, seus
olhos pretos brilham em surpresa e sinto um ar de satisfação e
lascívia em seu semblante, embora a atmosfera esteja carregada e a
apreensão esteja presente em cada um ali.
Às suas costas, dois homens armados e carrancudos a
acompanham, mas nenhum deles me analisa por um tempo além do
permito, demonstrando respeito.
— Daniel? — Ela sorri mais amplamente na minha direção,
aguardando para que eu confirme que sou eu o homem que Hector
aguarda.
— Sim! — confirmo, impaciente, em um fio de voz.
— Por favor, me acompanhem! — Ela olha de mim para
George e os outros homens, dá um passo para o lado e abre caminho
para que possamos entrar. — O senhor Laccount aguarda por vocês
na sala de jantar.
O sorriso malicioso e sedutor não sai de seus lábios
vermelhos quando volta a me observar, claramente interessada e
curiosa. É uma mulher bonita, não nego. Parece ser experiente e que
sabe o que quer, mas por algum motivo, não a desejo. Sinto apenas
desprezo a tudo que tem relação com Hector Laccount.
Ela anda em minha frente rebolando, os quadris estreitos
marcados dentro do vestido justo, a barra subindo um pouco mais a
cada passo que ela dá, provocante, quase revelando a curva de sua
bunda.
Finjo não perceber que ela praticamente oferece a boceta
para mim, agindo de maneira provocante, dirigindo-me alguns
olhares lascivos. Continuo andando atrás dela sem me importar com
seus jogos. Os dois homens armados vêm ao meu lado, George e os
outros seguem logo atrás.
Ao chegar ao corredor que dá acesso a elegante e luxuosa
sala de jantar, identifico Hector sentado na ponta da mesa comprida
de madeira de frente para nós, conversando com um homem que está
sentado à sua esquerda.
De pé, a poucos metros da mesa, um grupo de capangas
armados e sérios formam uma espécie de paredão. Estão prontos
para atirar, para abater qualquer um que se aproxime do verme de
maneira suspeita.
Aqui ninguém confia em ninguém, nem mesmo em suas
próprias sombras e até mesmo o ar parece torna-se pesado e
pungente, com o cheiro da tensão pairando no ambiente.
A loira caminha até Hector e fala alguma coisa em seu
ouvido. Instantaneamente o homem levanta o olhar, sorri vitorioso e
levanta-se.
Seus passos são lentos e cautelosos enquanto caminha em
minha direção.
— Meus amigos. Que bom que chegaram. Por favor, sentem-
se.
As mãos de Hector tocam meu ombro e fico tenso, mas não
permito que minha raiva extravase além de meus olhos.
Também sorrio. Um riso cínico e fingido de alguém que
aparenta estar feliz com a aliança que estamos prestes a firmar para
sempre.
— Sinto muito pelo atraso… amigo. — A última palavra sai
da minha boca de forma mais lenta, enquanto aprecio o sabor da
vingança em minha língua. — Tive alguns imprevistos antes de vir
— concluo.
— Não se preocupe. Ainda temos tempo para tomarmos um
bom vinho antes que minha bela filha desça. Em alguns instantes,
ela estará aqui conosco.
— Mal posso esperar… — respondo, firme e sorridente,
dando minha cartada final, entregando a Hector a certeza de que
realmente este noivado trata-se de um negócio benéfico e rentável
para nós dois e que estou satisfeito.
Hector aponta na direção da mesa e com um aceno de cabeça
indica uma cadeira que está na parte direita, ao lado da sua.
Ele se vira para um homem sério de cabelos grisalhos e que
se mantém de pé próximo a seu assento, e ordena para que traga sua
filha.
Todos se acomodam em seus devidos lugares e Hector serve
duas taças de vinho que reconheço como sendo raro e antigo.
Pouquíssimas garrafas estão disponíveis para venda.
Ele coloca uma das taças em minha frente, o olhar sempre
atento, os lábios curvados em um riso arrogante. Leva a outra à boca
e toma um gole demorado ao me observar.
— Nada melhor que as boas-vindas acompanhada de um
vinho raro. Hoje à noite celebraremos nossas maiores conquistas e o
começo de uma aliança indestrutível!
Quero gargalhar diante de sua arrogância. O homem está
confiante, o ego nas alturas, quase flutuando.
— Tenho certeza de que a partir de hoje, a máfia Laccount e
Underworld serão imbatíveis — confirmo.
Com um aspecto relaxado, pego a taça em minha frente e
tomo um gole, certo de que o líquido é seguro e não está
envenenado. Não seria viável para Hector tentar algo contra mim
antes do casamento com sua filha. Ele não ganharia nada com minha
morte agora e estaria ao mesmo tempo na mira de meus homens.
Porém desconfio de que esteja tentando ganhar minha confiança. É
um homem traiçoeiro em todas as suas faces.
O silêncio sepulcral se estende enquanto os segundos
passam. Percebo a inquietação de George, os olhares de satisfação
de Bruce e Kraig, indiferentes sobre todas as minhas pretensões com
relação a Hector.
Não demora e ouço o tilintar de saltos chocando-se no chão,
vindo do corredor. As passadas são curtas, demoradas, mas param
assim que se aproxima o suficiente para ficar à vista de todos que
estão na sala de jantar. Sem levantar o olhar, sinto a tensão em meu
corpo aumentar e aperto a taça em minha mão com mais força.
Chegou a hora!
— Minha filha! — A voz de Hector ecoa no ambiente em um
tom ardiloso e me obrigo a levantar a cabeça para fitar a mulher.
Tudo acontece rápido demais. Em questão de segundos, sinto
uma enxurrada de emoções passando pelos meus olhos e concluo
que nada no mundo poderia ter me preparado para o que seria ver
Lexie Laccount em minha frente. Sinto como se tivesse acabado de
levar um soco no estômago. O chão parece sumir debaixo de meus
pés.
Uma mistura de surpresa, deslumbramento e fúria toma conta
de meu peito, o passado encontrando-se com o presente, jogando na
minha cara o quanto o destino pode ser traiçoeiro e cruel. Os olhos
que antes eram infantis e inocentes, agora compõem a beleza
inigualável de uma mulher que me levou à loucura apenas com um
beijo.
Fecho minha mão, cravando os dedos em minha carne com
tanta força que me fere. Uso todo o meu autocontrole para não
deixar transparecer o quanto olhar para esta mulher me deixou fora
dos trilhos. Meu sangue ferve em ira, ódio, desejo. Quero matá-la…
Lexie… Lisa… Minha Lisa… Porra!
Usando um vestido vermelho sangue colado ao corpo
delicioso, ela dá um último passo para a frente, antes de seu olhar
cruzar-se ao meu. Os olhos azuis arregalam-se mortificados. Vejo o
pavor em sua íris. A garota fica tão pálida que por um momento
penso que irá desmaiar ou sair correndo.
Se ela for esperta, é exatamente isso que deverá fazer. Correr
para o mais longe possível de minhas mãos. Maldita, miserável!
Forço meus lábios a se curvarem em um sorriso gelado e
sarcástico. Fito-a de cima a baixo, demorando-me um pouco mais na
fenda do vestido que deixa sua coxa exposta e revela um pedacinho
do quadril. Minha respiração acelera, o ar falta em meus pulmões. A
pele clara parece tão sedosa… macia… gostosa… e então me
recordo que outro homem a tocou, que possivelmente levou Lexie
para a cama…
O ódio flameja em meus olhos e ela parece perceber a minha
ira pois, fica ofegante e nervosa com minha promessa silenciosa.
— Está maravilhosa, minha querida. — Hector caminha até
ela sorridente e coloca a mão em suas costas.
— Obrigada, papai… — responde com a voz suave,
empinando o nariz pequeno e bem-feito. Os lábios cheios, pintados
de vermelho me fazendo ter pensamentos pornográficos.
Por um segundo, tenho a impressão de ver nojo e repúdio em
seu semblante e seus olhos brilham como se tivessem molhados, mas
logo este pensamento é afastado quando ela força um sorriso e
caminha na direção da mesa, ao lado de seu pai, dirigindo-me um
olhar de puro desprezo.
Você está ferrada, garota! Penso, alucinado, calculando os
meus próximos passos. O primeiro deles será eliminar o
trombadinha que ela chama de namorado. Ninguém toca no que é
meu e fica por isso mesmo.
Lexie vai pagar caro por essa afronta!
Respiro fundo para tentar manter a calma antes que eu
cometa uma loucura. Não será uma garota que me fará perder a
lucidez. Muito menos a filha do meu inimigo. Nesse momento,
seguir com o planejado é mais importante que arrebentar a cara de
Hector e dar umas boas palmadas na bunda dessa insolente.
Seguirei como manda o figurino. Farei o papel de noivo
satisfeito, mas quando chegar a hora certa, irei agir.
Levanto-me para me apresentar formalmente a ela, sem
desviar o olhar de seu corpo, ainda chocado por vê-la vestida dessa
maneira, tão diferente de como a conheci.
Seus seios, grandes e fartos, estão quase saltando do decote
do vestido de mangas compridas, fazendo meu sangue ferver de
raiva e tesão. Fico louco. Respiro com dificuldade quando sinto o
sangue correr para dentro de minhas calças, fazendo meu pau pulsar.
Lexie parece outra pessoa. Mais sexy, mais mulher. Mas ao
mesmo tempo, vulgar, como se quisesse passar uma identidade que
não lhe pertence. No entanto, o olhar arredio continua ali, me
tentando, me chamando para levá-la a algum lugar privado e liberar
toda essa raiva e desejo que sinto, com meu pau enfiado dentro dela.
Os dois param a poucos centímetros de distância de onde
estou e, só agora percebo os olhares impressionados e maliciosos de
todos ali na direção dela. Estão fascinados com sua beleza. A garota
tem uma sedução natural que é como um ímã vibrante. Atrai,
enlouquece. Isso me deixa ainda mais irritado.
— Querida, este é seu futuro marido, Daniel Kraven. O chefe
da máfia Underworld. — Há uma nota de triunfo na voz de Hector,
mas pouco me importa agora.
Aproximo-me dela sem desviar o olhar de suas írises azuis
esverdeadas, memorizando cada detalhe do rosto cheio, jovem, os
cílios longos e escuros, as sobrancelhas grossas.
Sentindo-me colérico e deslumbrado, seguro sua mão.
Seu toque está gelado e sua mão treme tanto que ainda não
sei como ela continua de pé. Ligo todo este nervosismo com o fator
da surpresa. Ela também foi pega desprevenida.
Levo seus dedos aos lábios, deposito um beijo e sorrio,
cínico, mascarando a fúria que me corrói por dentro como ácido.
— É um prazer finalmente conhecê-la, pequenina — provoco
e Lexie arregala o olhar, surpresa. De repente, não é mais medo que
vejo em seus olhos e sim raiva por eu chamá-la de pequenina, da
mesma maneira de quando nos conhecemos há uma semana.
Isso será interessante. O gatinho assustado às vezes se
transforma em tigresa.
— Digo o mesmo, Daniel. É um prazer! — responde com
escárnio, em um sussurro para que somente eu perceba sua
indiferença.
Hector caminha para o seu lugar na mesa, permanece de pé e
pigarreia, chamando a atenção de todos os presentes. No entanto,
permaneço com o olhar vidrado em seu rosto, enquanto minha mão
segura a sua fortemente.
— Sente-se ao meu lado, Lexie, querida. Estou ansioso para
conhecer um pouco mais sobre minha noiva!
Ouço sua respiração carregada de desespero, a palidez de sua
pele tornando-se ainda mais visível, mas pouco me importo.
Sento-me no meu lugar e a forço a tomar o assento ao meu
lado, mantendo sua mão presa dentro de minha palma, esmagando
os dedos pequenos e delicados.
Disfarçadamente, encosto minha boca em seu ouvido e
sussurro:
— Então minha noiva estava curtindo a noite com outro
cara? — Minha voz sai como uma espécie de rosnado baixo. —
Cuidado com suas pretensões, minha querida. Eu não sou idiota e
não pense que aquele episódio irá passar em branco.
Lexie não me encara, nem faz um único movimento, mas
sinto o estremecimento de seu corpo e sei que ela entendeu o recado.
Hector começa um discurso ridículo sobre a nova aliança que
estamos formando. Enaltece a honra dentro da máfia, a proteção à
Famiglia e a lealdade. Um bando de asneiras que ele nunca cumpre.
Um momento depois, também me levanto, fazendo Lexie se
manter de pé ao meu lado, obediente.
— Um brinde ao meu noivado, irmãos. — Levanto a taça
cheia de vinho com uma mão e com a outra ergo a mão de Lexie. —
Hoje celebramos novas conquistas e a aliança formada entre duas
máfias importantes. É um prazer e grande apreço tomar Lexie
Laccount como minha esposa. Juntos daremos continuidade a um
grande legado. Um brinde aos filhos que teremos, ao poder e à
honra!
Meus homens e os de Hector sorriem e apertam as mãos uns
dos outros, como se dando as boas-vindas à Famiglia.
Hector nos observa satisfeito. Certo de que estou loucamente
fascinado por sua filha. Um riso cruel estampa sua boca, a expressão
de glória é nítida em seu olhar.
Sua queda virá, Hector. O círculo está se fechando, maldito.
Termino meu discurso, fazendo questão de enaltecer a beleza
de minha futura esposa e o quanto essa aliança com seu pai trará
benefícios para ambos os lados. Em todo o tempo, Lexie permanece
em silêncio, como um cãozinho acuado. A cabeça baixa fitando o
chão, as mãos trêmulas. Provavelmente está morta de medo que eu
dê com a língua nos dentes e fale alguma coisa sobre tê-la visto em
uma corrida clandestina, acompanhada de outro homem. Se bem me
lembro, ela mesma havia dito que seu pai não fazia a mínima ideia
sobre essas suas indiscrições.
Usarei isso a meu favor no momento certo!
Entrego a Lexie uma taça e sorrio para ela, fitando seus
lindos olhos.
— Chegou a hora, minha querida… — sussurro, debochado,
fingindo uma felicidade que não existe e enfio a mão no bolso da
calça para pegar o anel de noivado.
Lexie apenas suspira fundo em resposta e toma um pequeno
gole da bebida.
Abro a caixa preta de veludo e retiro a fortuna em forma de
joia.
Levanto meu olhar para Lexie e vejo raiva ali. Raiva e um
mix pungente de medo, desejo, pavor. Tudo se mistura a atmosfera
carregada que nos cerca e por um segundo, tento imaginar quais
seriam seus planos. Pegar parte do dinheiro e fugir com aquele
moleque ou apenas se contentar em ser amante dele?
Tão linda, diabólica e fingida!
Coloco o anel em seu dedo anelar da mão esquerda, beijo os
nós e subo a mão até o seu queixo suavemente, sentindo a textura
macia de sua pele, o estremecimento de seu corpo sob meu toque.
Fito os lábios vermelhos e volumosos e sinto minha boca
salivar, querendo provar seu gosto outra vez. Engulo saliva,
excitado, lembrando o sabor de sua boca, como ela é doce. Seus
lábios grossos são como um convite para a perdição e neste
momento tudo o que mais quero é me perder em cada gota de sua
saliva, em cada dobra de sua boca deliciosa.
Lexie arregala os grandes olhos, percebendo minha pretensão
e balança a cabeça em negativa, quase implorando para que eu não a
beije ali, na frente de todos.
Como se eu acordasse de um transe, afasto-me de repente e
me excomungo internamente por me permitir ser guiado pelo desejo
e anseio que sinto por essa descarada mentirosa.
Fecho a expressão e me sento, trazendo-a também para a
cadeira ao meu lado.
Os minutos se arrastam enquanto o jantar é servido e uma
conversa irritante é iniciada, mas eu não presto atenção em nada,
apenas respondo de forma curta e direta quando algo é dirigido a
mim.
Pelo canto do olho, vejo Lexie revirar o prato, mas mal toca
na comida. Ela deixa os talheres sobre a mesa, fecha os olhos e puxa
o ar, como se lutasse para permanecer sóbria.
De repente, ela se levanta devagar e sai, quase não chamando
a atenção. Os homens mal notam sua saída, mas seu pai percebe o
momento em que ela deixa a mesa e se dirige para uma porta na
lateral, que dá acesso ao lado de fora da mansão.
A expressão dele torna-se acirrada e o homem parece
transformar-se em pura raiva.
Antes que ele se levante e vá atrás dela, me adianto:
— Lexie não se sente muito bem. Irei vê-la.
Com a respiração ofegante, Hector concorda e me segue com
o olhar enquanto me dirijo na direção que ela foi.
Ao longe, vejo Lexie encaminhar-se até algumas árvores.
Apresso o passo e a acompanho no momento em que coloca
a mão no tronco da árvore mais próxima, baixando a cabeça. Ouço
um arquejo escapar de sua garganta, seguido de soluços lamuriantes,
mas não permito que essa pose de garota inocente e sofrida me
toque. Ela não me engana.
Quando me aproximo o suficiente, seguro seu delicado braço
com brusquidão e ela vira-se para me encarar, amedrontada, chocada
demais para conseguir disfarçar as lágrimas grossas que banham sua
face. Tomo o seu medo como prova de que Lexie não imaginava
com quem se depararia nessa noite. A prova que de fato pensou que
poderia se casar comigo e continuar sendo a amante de outro
homem. Meu sangue ferve em minhas veias. Seria capaz de fazer
uma loucura, mas me controlo. Não valeria a pena arriscar tudo o
que por anos planejei, apenas para ensinar uma lição a Lexie
Laccount. Não agora.
A história novamente se repete, mas dessa vez eu sou o
carrasco.
Puxo o ar lentamente, tomando o controle dos meus atos e
questiono calmo, mostrando uma frieza hostil e desdenhosa em meu
tom de voz:
— O que pensa que está fazendo, garota?
Vejo sua garganta se movimentar sutilmente quando ela
engole saliva, mas ainda assim tenta se manter firme.
— Me solte… Daniel… — Sua voz sai entrecortada,
trêmula. Ela parece um coelho assustado e isso me faz ser um grande
e perverso lobo mau, é bom que Lexie me tema e se coloque em seu
devido lugar.
— Te soltar? — indago com os lábios curvados em um
sorriso diabólico, carregado de hostilidade. Ah pequena Lexie, você
não irá me iludir com essa carinha de anjo, mesmo que seja linda
como o inferno. — Mas eu nem comecei, Lexie. Ou será que devo te
chamar de Lisa?
Comprimo mais o meu aperto em seu punho e encosto suas
costas no tronco da árvore. Aproximo-me mais dela, ao mesmo
tempo em que abaixo um pouco o meu corpo para os nossos rostos
ficarem na mesma linha. Sua respiração está falha, seus olhos tentam
fugir dos meus, mas movimento minha cabeça ao encontro de sua
face para que não consiga deixar de me encarar.
— O que mais você quer de mim? Já não conseguiu o que
queria? — cospe as palavras com coragem e atrevimento, embora
seu tom carregue uma pitada de dor, ira e um inconfundível medo.
— Não, minha querida — digo, me aproximando de seu
ouvido, murmurando calmo e pausadamente: — Eu só terei
conseguido o que quero depois que fizer o acordo que fiz com seu
pai valer. Você será minha esposa e eu verei sua barriga crescer com
o meu herdeiro.
Afasto meu rosto do seu, corrigindo a minha postura e olho-a
de cima com expressão fechada, o maxilar cerrado, mostrando a
Lexie exatamente a que lugar ela pertence.
Lexie soluça e inspira fundo, os seios lindos subindo e
descendo pelo ritmo acelerado de sua respiração, me excitando, mas
não desvia o olhar do meu, como se me desafiasse. Confesso que
gosto dessa sua atitude audaciosa. Esse sangue quente que ela tem,
todo esse atrevimento me instiga, faz essa atração louca que há entre
nós aumentar de maneira quase palpável. Mas então, a lembrança de
quem ela é filha me endurece e repudio com um xingamento mental.
Inferno!
— Eu amo outro homem, não quero nada com você. Me
deixe ir, por favor… — implora em meio ao choro, e sinto o latejar
de raiva em um ponto específico em meu pescoço.
Amo outro… Deixe-me ir…
Essas palavras ecoavam em minha mente, acertando o meu
ego e o tesão que sinto por ela, causando-me ainda mais ira. Com
minha mão livre, bato no tronco da árvore logo atrás dela, bem ao
lado de sua cabeça, fazendo com que todo corpo da garota se
enrijeça. Cerro os dentes, sentindo a fúria me tomar quando me
recordo daquele merdinha a beijando, colocando suas garras no que
me pertence.
— Você transou com ele? — questiono, mordaz, ao mesmo
tempo em que solto o seu punho e seguro seu queixo, prendendo o
corpo de Lexie com o meu, forçando a garota a me encarar. Um
ciúme doentio me toma e eu nem ao menos consigo controlar todo
esse conflito que me atinge de repente. — diga!
Com os olhos alarmados, ela tenta me afastar de seu corpo,
mas meu aperto é firme. Lexie luta bravamente batendo contra meus
ombros, mas eu não me movo nem um milímetro.
— Isso não é assunto seu, Daniel… — responde em um
misto de medo, raiva e desdém. — Minha vida particular não te
pertence. Você comprou meu corpo, mas não o meu coração.
Gargalho cético e deslizo minha mão até a sua garganta.
Fecho os meus dedos firmemente em volta de seu pescoço, sentindo
os movimentos de sua respiração e a sinto estremecer, apavorada. O
medo pulsa em suas veias tomando conta de seu corpo, suas pupilas
mostram sentimentos reais e eu posso confirmar que os olhos são de
fato a janela da alma. É incômodo olhá-la por este ângulo. Faz
parecer que sou o errado, mas não sou. E isso só instiga minha raiva.
Por que tinha que ser logo você, pequenina?
Volto a me aproximar da lateral do seu rosto e encosto a boca
em sua orelha, inspirando o aroma doce de seu cabelo. Ela arfa,
mesmo em meio ao medo que vi transparecer em seu olhar. Isso
mexe diretamente com meu pau, enchendo-o de sangue. No entanto,
volto a trabalhar com a cabeça de cima pois nada de produtivo virá
da de baixo, em seguida sussurro:
— Tem certeza, minha querida? Seu corpo diz outra coisa…
— murmuro rouco, mas dessa vez colo meu corpo ao dela,
permitindo que o volume dentro de minha calça encoste em sua
barriga.
Lexie soluça e vira o rosto na direção oposta a mim, como se
tivesse nojo do meu toque, tentando fugir de meu aperto.
— Não tem ideia do quanto eu odeio você, Daniel. Eu odeio
você! — grunhe, arfante. A voz alterada.
Fico louco com sua rejeição, mas me controlo ao máximo.
— Me odeie mais, Lexie. Ainda não é o suficiente —
desdenho em um tom baixo de voz, assistindo-a se alterar e me
afasto, apenas o suficiente para alcançar um celular pré-pago e
descartável que carrego no bolso interno do paletó.
Desbloqueio a tela e entrego o aparelho a ela.
— Ligue para ele, coloque no viva voz e termine tudo! —
ordeno.
Lexie me encara aturdida e balança a cabeça em negativa.
— Daniel, não, eu irei conversar com ele com calma, me dê
mais um tempo…
— Para um coelhinho que só sabe tremer e usar de lágrimas
para tentar me convencer, você parece muito confiante agora.
Cansou de se fazer de coitada? É necessário que entenda algo,
querida. Você não tem opções. Descumpriu o acordo e agora está
pagando o preço.
Lexie precisa entender que agora ela é minha e meu orgulho
jamais permitirá que ela continue tendo um caso ou que até mesmo
fale com ele pelas minhas costas. É uma questão de honra.
— Daniel, eu amo o Matt, você não pode… — Ela tenta me
ludibriar em busca de mais tempo para falar com o moleque, mas
cada palavra que sai de sua boca é como uma bomba que é acionada
em meu corpo. Então abaixo-me novamente na altura do seu rosto e
digo:
— Não posso o que, garota? Acha mesmo que permitirei que
você continue fazendo o que quer?
Sorrio, colérico, sentindo-me doente ao imaginar tal coisa.
Ela por fim parece compreender o que digo e o quanto odeio
repetições.
— Eu irei terminar tudo com ele, eu só…
— Veja bem, você tem duas opções, Lexie — interrompo-a.
— Ligue para ele e termine ou serei obrigado a fazer uma rápida
ligação. Como você bem sabe, os mortos não podem manter casos
amorosos.
Afasto-me dela, sentindo que estou me alterando mais do que
deveria. Ela, apenas ela é a culpada por este meu descontrole. Ela é
atraente como o inferno, sedutora como o próprio diabo e docemente
tentadora, mas desde o momento em que coloquei os olhos sobre ela,
Lexie só sabe pensar em um maldito moleque e isso me tira do sério.
Lexie leva as mãos trêmulas aos lábios para abafar o choro e
fecha os olhos por breves segundos, em seguida, assente e estira a
mão para pegar o celular.
Seguindo as minhas ordens, disca o número de Matt e coloca
a chamada no viva voz.
— Oi! — Ele atende e eu me aproximo mais dela. Enfio meu
rosto entre os fios de seu cabelo, instigando-a, exigindo:
— Diga a ele, pequenina!
— Matt… sou eu, Lexie.
— Lindinha? Que surpresa… porque está me ligando
desse…
— Matt, eu preciso te dizer algo. Por favor, quero que escute
com atenção e não faça perguntas.
— Isso, meu amor, chute esse moleque. Diga a ele o quanto
está louca por mim — sussurro em seu ouvido, provocando-a e
Lexie estremece.
Ela me empurra com força e eu me afasto um pouco, apenas
para fitar seu rosto vermelho de raiva.
Curvo os meus lábios em um riso gelado, com sabor de
vitória e cruzo os braços na minha frente.
— Matt, eu irei me casar com outro homem — continua sem
tirar os olhos do meu rosto, as lágrimas grossas deslizando por sua
face, manchando a pele delicada. — Encontrei a pessoa certa para
mim… Você não é essa pessoa, sinto muito. — Sua voz falha, mas
ela respira fundo e dá a cartada final. — Está tudo acabado entre
nós.
— Lexie! Maldição! Porra! Lexie… — Ouço a voz irritada e
incrédula do desgraçado e imagino todo o ódio que ele esteja
sentindo agora.
— Adeus, Matt…
Ela desliga e joga o aparelho no chão, chorando
compulsivamente.
— Chega de teatro, Lexie. Precisamos retornar para a
mansão, querida noiva. Seu pai não ficou muito satisfeito quando
você saiu.
— Vá para o inferno Daniel, você e o meu pai!
Ela se abraça instintivamente e por apenas um segundo sinto
pena. Mas, então me lembro de quem ela é filha e o quanto é
traiçoeira. Toda esta palhaçada de amor e sofrimento não passa de
encenação.
CAPÍTULO 9

LEXIE

Usando todo o meu autocontrole, tento dominar minhas


emoções e me recompor. Não quero parecer mais fraca do que já
aparento ser na frente dele.
Usando de uma força, que busco com tanto afinco no fundo
de minha alma, levo minhas mãos ao meu rosto e uso minhas palmas
para secar as lágrimas que marcam minha pele como tatuagem.
Agora não é hora de chorar, Lexie. Digo a mim mesma em
pensamento, disposta a tudo para dar a volta por cima neste jogo.
Daniel já conseguiu o que queria, já me fez quebrar por
dentro. Porém, enquanto eu viver, não me entregarei aos seus
caprichos e crueldades. Jamais serei dele por completo.
Ele e o meu pai podem ter negociado o meu corpo, mas meu
coração e alma pertencem a mim mesma e isso ele nunca os terá. Se
é um objeto que ele quer para desfilar por aí como sua esposa, então
um objeto frio eu serei.
Sinto o peso do anel de noivado em meu dedo e é como se
minha pele queimasse no lugar. A raiva me invade ferozmente por
dentro e quero extravasar todo o meu desespero batendo no peito
deste homem até não me restar mais forças, quero feri-lo da mesma
maneira que ele fez comigo. No entanto, respiro fundo para não
desabar novamente. Preciso pensar, devo agir com cautela e muito
cuidado. Só assim eu conseguirei minha liberdade algum dia.
— Melhor assim, meu amor. As lágrimas não combinam com
você. — Seu riso é cínico, desdenhoso. E me faz querer esbofeteá-
lo.
Os olhos escuros como a noite me encaram animalescos,
exalando perigo e mistério, dando a ele um ar de crueldade e
devassidão.
Sinto-me tão pequena em sua presença, como um inseto
insignificante. Nem mesmo o terno caro e elegante que ele usa é
capaz de disfarçar a imponência dos músculos rígidos de seus
braços, os mesmos que me envolveram e amassaram minha carne
contra o seu corpo há uma semana.
Desgraçado!
— Venha, Lexie. Precisamos voltar! — Ele estende a enorme
mão em minha direção, mas o ignoro.
Essa afronta o faz fechar a expressão e o sorriso cínico se
desfaz em seu rosto lentamente, dando lugar a ira brutal. Exatamente
o que ele é, um bruto.
Desvio meu olhar do seu, incomodada. É difícil respirar com
este corpete me apertando além do limite e com a presença desse
homem queimando o ar que circula entre nós, respirar torna-se uma
tarefa quase impossível.
Tento puxar o ar com mais força, mas não é o suficiente.
Sinto-me tonta, a garganta seca. Uma agonia horrível toma conta do
meu corpo, misturando-se ao fato de não ter me alimentado nas
últimas horas.
A enxurrada de acontecimentos que me engoliu na última
hora tá sendo demais para suportar. O momento em que vi este
homem sentado à mesa ao lado de meu pai, foi como receber uma
facada no peito. Meu chão havia desabado ali. Eu temi por mim,
temi por Matt, pois eu sabia que o que aconteceu não seria esquecido
por Daniel. Ele havia me comprado. Eu era dele desde aquela noite.
Mesmo apavorada, mantive-me focada e obediente como
Hector havia exigido, incapaz de demonstrar fraqueza na frente de
todos aqueles monstros, mas quando não mais suportei ser a joia
cara que era observada e analisada por todos, saí o mais rápido que
pude da sala de jantar em busca de ar, as lágrimas já me afogando
por dentro. De nada adiantou minha saída repentina, pois o diabo
estava agora na minha frente, cobrando o seu preço.
Levo a mão ao meu peito, lutando bravamente para me
manter lúcida e Daniel avança em minha direção.
Afasto-me, dando alguns passos para trás, cambaleante, e
quase rezo de alívio ao sentir o tronco grosso da árvore as minhas
costas.
— Chega de joguinhos, menina. — Mal consigo prestar
atenção em sua voz áspera, grosseira. O mundo começa a girar à
minha volta. — Eu odeio repetições! Quando eu ordeno, espero
obediência! Chega de me desafiar, Lexie.
Respiro com mais força, mas o ar não vem. Eu me
desespero!
A mão de Daniel segura o meu punho com firmeza e ele me
puxa na direção da casa, para o covil dos lobos, para perto de meu
pai.
Dou passadas cambaleantes atrás dele, sem forças, sem fala.
Meu corpo ficando mole, trêmulo. O pânico me tomando de dentro
para fora como lavas de um vulcão eclodindo e engolindo tudo.
— Daniel… por favor… — Tento puxar minha mão de seu
aperto, antes que eu perca a força nas pernas e caia, mas o homem
nem parece perceber que estou quase desfalecendo às suas costas. —
Daniel…
Somente ao nos aproximarmos da porta, ficando à vista de
todos na sala, é que ele diminui o passo e desliza a mão grosseira de
meu punho até a minha cintura.
Paro de andar sem ar, a agonia me sufocando como serpente,
a tontura fazendo tudo girar.
— Lexie… Lexie? — ele chama o meu nome em um
sussurro quando foca a atenção em mim.
Fecho os meus olhos e sinto minhas pernas cederem, minhas
mãos caem em volta de meu corpo, a força se dissolvendo no ar, a
consciência me deixando.
— Porra! — Ouço passos vindo em nossa direção e a voz de
Daniel alterada pela primeira vez, dando-se conta de que em nenhum
momento fingi ou tentei enganá-lo com algum teatro.
Seus braços fortes envolvem o meu corpo e me ergue no ar,
firmando-me no calor de seu peito.
Sinto lágrimas de tristeza brotarem em meus olhos por saber
que ao acordar eu acordar, nada terá mudado. Ainda serei a noiva de
Daniel e a filha de Hector, uma prisioneira trancafiada em seu
destino. Sem vida! Sem esperança!
E então não sinto e nem vejo mais nada.

DENER
— Porra!
Aturdido demais para pensar, seguro a garota desfalecida e
muito pálida em meus braços e a ergo, a preocupação tomando o
lugar da raiva que eu sentia até um segundo atrás.
Os homens de Hector e os meus próprios seguranças se
aproximam, confusos. A tensão é palpável no ar, o clima fica ainda
mais carregado.
Uma verdadeira guerra está prestes a ser iniciada quando os
homens de Hector sacam as armas e os meus revidam, fazendo o
mesmo. Maldição!
Que inferno está acontecendo aqui? Por que Lexie
desmaiou? Não poderia ser apenas pela pressão que impus a ela para
terminar com o namorado. Não! Sei que a menina estava
amedrontada por causa de nosso inesperado encontro, mas desmaiar
assim, do nada?
— O que aconteceu? — A voz de Hector é dura, acusatória,
mas ainda assim acena para os homens baixarem as armas.
Faço o mesmo na direção de meus homens, mas todos os
meus sentidos estão voltados para o pequeno artefato em meu paletó.
Apenas um rápido movimento e eu o terei nas minhas mãos,
mirando em qualquer um que ousar dar um passo na minha direção.
— Ela desmaiou. Está pálida… Mas até então Lexie estava
muito bem enquanto tínhamos uma agradável conversa — respondo
com calma, fitando-o seriamente.
Embora ele saiba que não é páreo para mim ou para o poder
que exerço dentro da máfia, estou em seu território e, por isso, ao
menos por ora, devo agir com cautela e fingir respeito.
— Abram espaço. Deixem-no entrar com a minha filha.
Hector dá a ordem e os homens abrem o caminho para que
eu entre na sala. É o que faço.
Ando apressadamente com ela e encontro a loira que nos
recebeu na porta mais cedo. Ela vem em nossa direção, em busca de
informação sobre o que está acontecendo. Ao ver Lexie
desacordada, ela apressa o passo até nos alcançar e me guia na
direção de uma saleta privada, onde há duas grandes poltronas de
couro preto.
Coloco Lexie em uma delas e encaro o rosto suave e lindo,
embora esteja tão pálida quanto um defunto.
Seguro sua mão pequena, sentindo a palma gelada contra os
meus dedos e ergo o outro braço para tirar uma mecha de cabelo
escuro que caiu sobre os seus olhos. Uma sensação estranha toma
conta de meu peito quando vejo Lexie assim, tão pequena e indefesa.
Desprotegida!
— Deixe-a aí. Ainda temos assuntos a tratar! — diz Hector,
indiferente, como se o fato de sua filha estar desmaiada em sua
frente não fosse motivo suficiente para encerrar esta reunião.
Fecho a expressão, ainda mais desconfiado do que quando
cheguei aqui. As atitudes de Lexie e Hector não condizem muito
com o que imaginei. Ao conversar com ela lá fora, concluí que as
lágrimas dela não passavam de falsidade, apenas para tentar me
amolecer e se mostrar arrependida por não ter cumprido o tratado em
se manter intocada, mas agora, vendo-a desmaiada enquanto seu pai
pouco se fode para seu estado, faz-me ficar em alerta.
— Não irá chamar o médico? — questiono e me levanto. —
Não sabemos por que ela desmaiou.
— Lexie ficará bem. — O homem dá as costas e caminha na
direção da porta da sala sem olhá-la uma segunda vez. — Ordenarei
Abigail para que ela se incumba desse assunto, enquanto isso,
Megan irá ficar com ela. — Aponta na direção da loira e sai.
Alguns de seus homens e uma boa parte dos meus
permanecem na porta, mas não me apresso em sair, até que Lexie
acorde.
Permaneço parado e respiro fundo para controlar a minha ira
sobre este desgraçado, enquanto observo minha pequena noiva. Os
cílios espessos são como sombras em seus olhos, os lábios
vermelhos e cheios me chamam para beijá-los desde o primeiro
momento que a vi. Linda! Meu sangue está borbulhando nas veias
em raiva e uma mistura de senso de proteção. Mesmo sendo minha
inimiga, Lexie desperta coisas estranhas em mim. Meu cérebro sabe
que ela é perigosa, mas meu corpo arde por seu toque, seus beijos,
sua boca rodeando o meu pau.
É quase como uma obsessão…
— Lexie, minha querida, acorde! — Meus pensamentos são
interrompidos por Megan. A mulher inclina-se na direção de Lexie e
dá um tapinha em seu rosto, enquanto empina a bunda para cima.
Vira o rosto na minha direção, mordiscando o lábio inferior e sorri
lascivamente como a verdadeira puta que ela é. Uma das putas de
Hector.
— Acho que o corpete que ela está usando e as várias horas
sem comer não lhe caíram muito bem — Megan sussurra em minha
direção, me fazendo erguer a sobrancelha em questionamento. —
Pobrezinha, é tão esforçada para agradar o pai. — Um biquinho
enjoado surge em seus lábios e a mulher arruma a postura.
Aproxima-se mais de mim, rebolando.
Cruzo os braços na frente de meu corpo e a encaro
firmemente, aguardando que continue, tentado a absorver toda e
qualquer informação que ela tenha para me oferecer.
— É mesmo? Ela foi bem treinada, então… — instigo.
Sorrio de lado como se estivesse me deleitando em ter sua
companhia e a observo de cima para baixo como um predador
observa sua presa. Os olhos da mulher brilham ao notar meu forçado
interesse em seu corpo.
— Oh sim…— responde e passa as mãos nos cabelos curtos,
em seguida, desliza os dedos pelo decote cavado do vestido preto em
uma tentativa clara de sedução. — Mas Lexie, pobrezinha, é tão
desajeitada e gorda… — Vira o rosto na direção da menina
desacordada no sofá com uma expressão falsamente contrariada e
volta-se para mim.
Cerro o maxilar ao ouvir sua expressão carregada de inveja e
veneno, mas decido seguir em frente com o jogo de palavras, ainda
mais agora que sei a causa do desmaio de Lexie.
Garota tola… Quer apenas agradar o pai…
Não percebe que estes artefatos idiotas nem ao menos se
comparam com sua verdadeira beleza? Hector provavelmente sabia
disso, por isso não se preocupou.
— Ela servirá ao propósito. São apenas negócios…
Megan sorri perspicaz, observando-me com interesse. Volta a
mordiscar o lábio e desce o olhar pelo meu corpo, parando por
alguns segundos em minha virilha.
— Que bom que com ela são apenas negócios…
Passos apressados vindo na direção da saleta interrompem a
conversa da mulher e eu agradeço por isso. Ao mesmo tempo, o
gemido de Lexie me faz perceber que ela está acordando então,
decido sair dali e ir até Hector para darmos continuidade a tão
importante reunião de negócios, agora que sou oficialmente o noivo
de sua filha.
Neste momento, não sou mais o cavalheiro que carregou
Lexie nos braços, louco para protegê-la de tudo. Aquilo foi apenas
instinto masculino, um rompante momentâneo causado pela surpresa
em vê-la desacordada.
Agora tudo faz sentido, Lexie só queria me impressionar…
E conseguiu! Não com joguinhos de sedução, mas sim com
aquela boca atrevida e o olhar desafiador.
CAPÍTULO 10

Alguns dias depois…


DENER

Sentado em meu escritório, com um envelope pardo em


minhas mãos, retiro os papéis que contêm todas as informações
sobre a vida de Lexie Laccount. As mais minuciosas.
Quando Ettore me passou as últimas informações sobre a
vida de Hector, antes de firmarmos o acordo de aliança, tudo o que o
relatório mencionava sobre Lexie era o que eu já sabia: que era a
única filha do imbecil, tinha dezenove anos e havia perdido a mãe
aos sete anos de idade. Não me importava saber mais nada sobre ela,
até porque tudo o que me interessava era o casamento. Eu pouco me
fodi para como ela se aparentava ou como vivia. Gerar o meu
herdeiro era sua única serventia nessa história, do contrário, eu a
destruiria com seu pai, assim que tivesse maiores acessos ao
território dele e aos seus aliados.
Mas, desde o dia que conheci a infeliz naquela maldita
corrida, não consigo desviar os pensamentos de tudo que tem a ver
com ela e isso me irrita como o inferno.
Durante o jantar de noivado, ao vê-la outra vez e percebi que
a mulher que eu havia desejado como doido dias atrás, era na
verdade minha noiva, senti meu controle se esvair do meu corpo,
principalmente quando me lembrei que Lexie estava com outro
homem. Fui além do limite com ela, perdi a cabeça e senti-me um
pouco louco, o orgulho ferido. Agi de forma inconsequente ao
ameaçá-la daquela maneira dentro do território do seu pai.
No entanto, estou disposto a me retratar em nome dessa
vingança que me corrói por dentro dia após dia. Decidi que irei
conquistar a confiança de Lexie Laccount, farei com que ela me
queira e me deseje tanto quanto eu a quero, apenas para,
posteriormente, mostrar à pirralha que quem manda sou eu. Eu dou
as ordens e quem for inteligente segue as regras.
— Ela vive como uma prisioneira naquela casa, Dener. — A
voz de Ettore ecoa no escritório, calma, convicta, arrancando-me de
meus pensamentos.
Levanto o olhar e encaro o homem sentado em uma cadeira à
minha frente, relaxado. O olhar focado nos papéis em minhas mãos.
Durante a semana, seu principal dever foi descobrir tudo
sobre ela, incluindo o sumiço misterioso que rodeou sua mãe por
tantos anos.
No relatório, há indícios claros sobre a morte de Catherine
Laccount, mãe de Lexie. Mas ninguém sabe exatamente como a
mulher morreu, e não há muitas informações sobre isso em lugar
algum.
Continuo analisando os papéis em silêncio, apenas
assentindo com as explicações de Ettore sobre a investigação.
— Tudo indica que ela está sendo forçada a se casar. E
quando digo forçada, é no sentido literal!
— Isso já está bem claro… — comento, pacífico,
demonstrando uma calma tão solene que até mesmo eu me
surpreendo. Porém por dentro, meu sangue ferve como as lavas de
um vulcão.
Ettore relata a curta estadia de Lexie na universidade,
deixando em evidência o quanto ela era solitária. Uma garota
aparentemente comum para quem olhasse de longe, mas que não
conversava ou se relacionava com ninguém. O único que se
aproximou foi o tal de Matt.
O homem faz uma pausa, esperando que eu diga algo, mas ao
perceber que não tenho a mínima intenção de interrompê-lo,
pigarreia e prossegue:
— Desde criança, Lexie viveu reclusa. Foram poucas as
vezes que a garota teve permissão para sair de casa. Desde bem
jovem, foi instruída a como ser a esposa perfeita de um mafioso, a
ser submissa e obediente. Ela nunca passou de uma propriedade nas
mãos do pai. — Levantando-se, o homem caminha pelo escritório,
arrumando o terno bem cortado no corpo. Vira-se na minha direção e
conclui: — Mas, segundo o meu informante lá dentro, a menina tem
uma personalidade arteira. Embora tenha sido criada sob rédeas
curtas, a diabinha vive se metendo em confusão e obediência não é
seu ponto mais forte. — Ettore sorri, debochado e coloca as palmas
das mãos sobre a mesa. — Pelo visto, você está encrencado, meu
amigo.
Ouço com atenção tudo o que Ettore diz e junto as
sobrancelhas em um gesto insatisfeito. Cerro o maxilar nervoso,
fazendo Ettore se recompor e fechar a expressão, entendendo o
recado.
Lexie era uma criança solitária e cresceu assim. Sem mãe,
sem amigos, sem família.
O que me leva a outro patamar sobre minhas desconfianças.
As coisas começam a fazer mais sentido.
Ela não somente repudia este casamento como também é
uma vítima do próprio pai. E diferente do que o imbecil fez parecer,
a moça não é nenhuma anjinha inocente e submissa. Parece mais
uma capetinha linda e geniosa.
Foda-se. Penso ainda mais irritado, louco para arrancar o
pescoço de Hector.
Ela até pode ser inocente nessa história, mas ainda carrega o
sangue do desgraçado filho da puta. Não estou entrando neste jogo
para ter misericórdia de ninguém. Apenas tomo o que quero quando
é conveniente.
— Alguma notícia sobre o paradeiro do moleque? —
questiono, impassível, referindo-me a Matt, e deixo os papéis sobre
a mesa, já cansado de toda essa merda. Desde a noite do noivado, o
moleque virou fumaça. Simplesmente tomou chá de sumiço e
desapareceu como névoa, sem deixar uma única pista de seu
paradeiro.
— Nada! Ele se escondeu tão bem quanto um rato de esgoto
— diz Ettore, também irritado.
— Maldição! — Esfrego a mão na parte de trás do meu
pescoço e movimento a cadeira para trás, impaciente.
Que Matt é um trombadinha audacioso isso eu já sei. O que
preciso descobrir agora é o que ele pretendia com a minha noiva.
Com toda certeza, ele não sabia que ela estava prometida a mim,
mas as notícias correm rápido e é certo que Matt tenha sido
informado e por isso sumiu. O infeliz é esperto, sabia que eu não
deixaria barato. E Lexie, porra! Embora seja atrevida, se deixou
levar pela carência. A garota se prendeu na teia do desgraçado
pensando que ele a amava.
Com a cabeça cheia de problemas, decido deixar este assunto
de lado por enquanto.
— Me aguarde lá fora, Ettore — digo ao executor e me
levanto também. Tenho alguns assuntos importantes para serem
resolvidos. Que os jogos comecem. — Esteja preparado para
sairmos em cinco minutos.
— Certo!
O homem vira-se, me dando as costas e sai, fechando a porta
atrás de si.
Sem esperar mais um segundo, pego um celular descartável e
impossível de ser rastreado que uso exclusivamente para conversar
com Hector, clico em chamar e aguardo. Não demora muito e o
homem atende.
— Meu amigo. A que devo a honra? — A voz do miserável é
calma e bajuladora. Reflete o maldito que ele é.
— Olá, Hector… — respondo com um riso travesso e
debochado, enquanto pensamentos insanos passam por minha
cabeça. — Preciso de sua permissão para jantar com sua filha hoje à
noite.
O homem gargalha do outro lado da linha e eu já posso
imaginar cada detalhe das imbecilidades que passam em sua cabeça,
imaginando que estou louco por ela e que logo ele terá minha
proteção em cada canto desse país. Sobre os meus sentimentos por
Lexie, isso não deixa de ser uma verdade, mas nem mesmo essa
doentia obsessão que sinto por ela vai atrapalhar os meus planos.
— É uma bela garota, não é? Vocês se darão muito bem… —
diz ele de forma maliciosa, como se não falasse de sua própria filha.
— Sim. É uma bela garota! — concordo.
Enfio a mão livre no bolso da calça de alfaiataria cinza e dou
alguns passos pelo escritório. Passo os olhos brevemente pela ampla
estante de madeira abarrotada de livros antigos e contemporâneos,
mas continuo atento ao que ele diz.
— Ela estará pronta no horário que desejar, Daniel. Minha
filha ficará maravilhada quando souber.
Jogo a cabeça para trás em um riso silencioso, já imaginando
o momento que a encontrarei. Definitivamente, é certo que Lexie me
golpeará direto no coração com uma faca afiada se eu não tiver
cuidado.
— É certo que sim, Hector. Estou ansioso para este momento
— respondo, debochado.
Troco o celular de uma mão para a outra e o ouço perguntar
se desejo que ela se vista de uma maneira especial. Trinco os meus
dentes, sentindo a fúria me invadir outra vez e me controlo para não
ir até lá esganar o desgraçado. Miserável, filho de uma puta.
É certo que pouco me importa o que Hector faz ou deixa de
fazer com a menina, mas o fato de ele não se importar com a própria
filha me deixa insano. Até mesmo o pior dos bandidos se importa
com sua família. Todos, exceto Hector.
— Enviarei um de meus homens com um presente para ela.
Muito me agradaria se ela usasse — digo como uma ordem velada,
apenas para entrar em seu jogo.
— Seu desejo é uma ordem, meu amigo — bajula de forma
descarada. O desgraçado nem ao menos faz questão de deixar
implícito o seu desejo em conquistar poder às minhas custas.
Passo mais algumas informações para o homem e caminho
na direção da porta, disposto a dar prosseguimento aos deveres do
dia, começando pelo fornecedor de Hector, o homem que Ettore
mantém trancafiado em um galpão abandonado na área rural do
condado de Nassau.

Dentro do SUV preto, observo Ethan conduzir o veículo para


fora dos portões da minha mansão, uma verdadeira fortaleza
localizada nos arredores de Long Island, cercada de homens
armados e preparados para o combate qualquer situação.
Ettore e os irmãos Kraig e Ryder, dois homens de minha
inteira confiança, me acompanham pela pista, no SUV logo atrás.
O galpão fica em uma área isolada no meio do nada, a uma
distância considerável, mas ainda assim segura.
Saímos da pista principal e entramos em uma estrada de terra
batida. A poeira sobe embaçando os vidros fumados e o silêncio é
quebrado apenas pelo barulho dos motores ligados.
A estrada é rodeada por uma vasta área de floresta escura e
antiga. Carvalhos e sequoias de enormes troncos são a principal
vegetação da mata, dando um ar de mistério ao lugar.
Não demora muito e finalmente chegamos à trilha estreita e
acidentada que leva ao galpão. Ethan estaciona o SUV e eu arranco a
arma do coldre que carrego em minha cintura, atento a qualquer
movimento que venha da floresta.
Entramos na trilha a pé, seguindo a passos rápidos e
silenciosos na direção que leva ao galpão. Nunca se sabe o que pode
acontecer. Embora alguns de meus homens estejam fazendo vigia no
lugar, a floresta é densa e escura demais, podendo abrigar algum
fugitivo da polícia desavisado ou até mesmo alguma escória inimiga
que esteja de olho em meus negócios.
O percurso é curto. A poucos metros de distância, avisto o
galpão em meio a uma clareira no meio da mata. Dois de meus
homens fazem a guarda na parte da frente e outros três rodeiam o
galpão de um ângulo mais afastado.
Entro no lugar abafado e logo o cheiro pungente de mofo
entranha-se em minhas narinas, misturando-se ao odor acre de
fluidos corporais. O local é úmido e fétido como a morte. Já foi
palco de inúmeras sessões de tortura e dezenas de assassinatos. Cada
pequena polegada deste chão está coberta com rastros de sangue
seco e apodrecido dos meus inimigos.
Com as mãos nos bolsos, caminho calmamente até a estreita
abertura que dá acesso ao porão. A porta de ferro é aberta por um
dos homens e uma lanterna é posta em minhas mãos.
Ilumino a escadaria profunda de madeira escura e entro,
sendo acompanhado por Ettore e os outros dois.
A densidade do ar é muito maior aqui embaixo e a friagem
causada pelas pedras que revestem o porão tem uma característica
pesada e lamuriante. É o local perfeito para manter os inimigos
encarcerados.
No centro do porão vazio, cercado pela escuridão, o homem
baixo e gorducho está amarrado a uma viga de madeira, mantendo a
cabeça baixa e os olhos fechados.
Ao ouvir o barulho de passos, levanta o olhar e encara-me
nos olhos. Uma mistura de pavor e surpresa toma o seu semblante,
mas a ira também é visível em cada canto de seu rosto moribundo e
gorduroso.
— Você? — questiona com o olhar alarmado,
movimentando-se para tentar afrouxar as cordas que estão rentes aos
ombros. — Maldição! Me tire daqui!
— Calminha, meu amigo. Iremos conversar primeiro. — A
curva de um sorriso se forma em meus lábios e coloco as mãos atrás
de meu corpo enquanto dou a volta na viga, observando. —
Primeiramente me diga o que sabe sobre os negócios de Hector e
quais são as pretensões dele com as garotas?
— Eu não sei de nada! — O homem cospe no chão, irritado.
— Pensei que fossem aliados. Hector deixou bem claro que você
não interferiria nas decisões dele, desgraçado!
Ouço sua respiração ofegante, carregada de medo e
desespero. O homem sabe que irá morrer, mas pelo visto não será
tão fácil fazê-lo falar. Afinal, a única coisa que o mantém vivo são as
informações que ele guarda a sete chaves.
— Tem certeza de que não sabe? — Estalo a língua e balanço
a cabeça em negativa, fingindo contrariedade, enquanto volto a ficar
em seu campo de visão. — Kraig? — Com um único movimento de
minha mão, indico para que o homem loiro às minhas costas dê uma
pequena demonstração de que não brinco em serviço e muito menos
tenho paciência para mentirosos.
Em uma pequena mesa no canto, Kraig pega um alicate
comum de bico enferrujado, e caminha na direção do homem.
— O que vai fazer? Seu maldito! Desgraçado!
— Mostre a ele, Kraig. — Mantendo os braços atrás de meu
corpo, observo o fornecedor de Hector esbugalhar os olhos e se
debater com as cordas.
Em um rápido movimento, Kraig acerta-o com um golpe
certeiro e dolorido no estômago, fazendo o homem rugir, sem ar. A
dor o faz instintivamente pender para a frente e abrir a boca.
Sem esperar um único segundo, meu capanga enfia o alicate
na boca do desgraçado, prende um dos dentes da frente entre as
pinças enferrujadas e torce. O homem berra, contorcendo-se e o
líquido púrpura tão característico começa a escorrer pelo queixo,
tingindo o pescoço e a camisa imunda de vermelho.
Kraig dá um último puxão, retirando o alicate de sua boca
com o dente, e volta a caminhar até a mesinha para depositar o
objeto ensanguentado.
— Filho da puta… porra! — xinga, trêmulo. De onde estou,
posso ver o estremecimento de seus membros.
Aproximando-me, pergunto:
— Vai me dizer ou terei que arrancar toda a sua arcada
dentária?
— Você já sabe o que ele faz com as garotas, seu filho da
puta. Ele as trafica.
— E o que mais? — Retiro minha arma do coldre e a deslizo
por seu rosto ensebado de sujeira. — Hector não arriscaria tanto
apenas para traficar algumas mulheres. Não sou idiota, seu imbecil.
Acerto o cano da pistola em cima do local que o dente foi
arrancado, e o miserável urra, xingando.
— Você vai morrer, Daniel! Maldito! Pode acabar comigo
agora, mas um dia terá o que merece, filho da puta!
— Ou você me diz tudo e eu deixo você vivo. Que tal?
Podemos fazer um acordo — indago, persuasivo. Apenas não
específico quanto tempo o deixarei respirando. Pode ser dias ou
semanas. Vai depender do meu estado de espírito.
O homem gargalha como um lunático, o sangue misturando-
se à saliva que escorre de sua boca, o suor escorrendo pelas papadas
gordas. É uma cena no mínimo repugnante.
— Não sou idiota, Daniel! Vai me matar assim que eu abrir o
bico. — Ele volta a cuspir o líquido borbulhante no chão e me
encara com os olhos tão vermelhos quanto brasas.
— Se prefere assim… — Aceno na direção de Kraig
novamente, sem fitá-lo, e dou um ultimato para o desgraçado que
está amarrado à minha frente.
— Você pode me dizer tudo o que sabe e viver ou pode ficar
de boca fechada e ser torturado lentamente, enquanto seu corpo
apodrece amarrado a esta viga aqui embaixo. Acredite, será uma
morte muito dolorosa. — Olho para o relógio no meu pulso,
verificando que já não me resta muito tempo antes do horário
marcado para jantar com Lexie. — Você tem vinte e quatro horas
para se decidir!
Não tenho o costume de fazer acordos com os meus
inimigos, muito menos quando eles trabalham com o homem que
por tantos anos jurei destruir. Porém, também sei que ele tem
informações valiosas, não seria inteligente acabar com sua raça
agora.
Kraig volta a se aproximar do babaca e eu viro-lhes as
costas. Caminho na direção da saída, sendo seguido por Ettan e
Ryder que apenas observavam.
Os gritos do merdinha são ouvidos antes mesmo que outro
dente seja arrancado, provando o quanto é um covarde.
— Pelo amor de Deus, Daniel. Tenha piedade! — berra,
implorando por pena. — Como… como sei que poderei confiar em
sua palavra? — pergunta com voz falha, trêmula. Deve estar se
cagando nas calças.
— Você não sabe. Apenas aposte na sua própria sorte —
respondo sem me virar para encará-lo.
Começo a subir as escadas no momento em que os gritos de
dor e desespero rugem, estremecendo as paredes de pedra. Posso
sentir seu medo e sua angústia no ar de forma quase palpável, e isso
apenas me deixa mais insano, sedento…
Saio do galpão antigo e retorno para a minha mansão como
se nada tivesse acontecido, como se a vida de alguém não estivesse
em minhas mãos, afinal será apenas mais um.
No fim, nada mais importa: O que eu faço! O que sou! Como
sou! Minha essência deixou de existir no dia em que vendi minha
alma ao diabo e jurei sobre a lápide de Adrienne que eu me vingaria
com sangue.
CAPÍTULO 11

LEXIE

Deixo o celular sobre a mesinha de cabeceira e caminho


angustiada pelo quarto. Desde a noite do noivado, não consigo falar
com Matt. Ele desapareceu como se nunca tivesse existido, e todas
as minhas ligações caem direto na caixa de mensagem.
Aflita demais, paro de andar no meio do quarto e me sento na
cama, massageando o peito levemente para tentar abrandar a
angústia. O medo me consome por inteira como se algo me
comprimisse, sinto meu coração agoniado, dolorido. O desconforto é
tão grande que preciso respirar fundo para levar o ar aos pulmões.
Não quero pensar no pior, busco ao máximo afastar a
possibilidade de algo grave ter acontecido. No entanto, tudo que
minha mente teima em gritar desesperante, é que o sumiço de Matt
tem ligação direta com o diabo que me tomará como sua esposa.
Daniel…
Levo a mão trêmula aos meus cabelos e retiro a toalha úmida
que cobre os fios, tentando afastar os olhos gelados e sombrios
daquele homem da minha cabeça. Nem ao menos o banho morno
que tomei há pouco foi capaz de abrandar meus nervos. Sinto-me
como uma massa mole, incapaz de permanecer em pé por muito
tempo, ainda mais depois que Megan depositou cuidadosamente
algumas caixas sobre minha cama, e deixou informações claras de
que eu deveria me arrumar e usar apenas o que havia sido entregue,
pois eu iria jantar com meu noivo.
Eu quis morrer de raiva quando soube e pensei em fazer os
presentes em pedacinhos antes mesmo de abri-los, embora eu tivesse
certeza de que nada disso seria o suficiente para impedir que eu
fosse obrigada a ir a este jantar. Mas, apesar da raiva que senti e
ainda sinto, sei que essa pode ser a única oportunidade que eu venha
a ter para saber o que aconteceu com Matt, mesmo que para isso eu
deva me sentar frente a frente com aquele homem e aturar sabe se lá
quanto tempo a sua imponente presença.
— Respire, Lexie — digo a mim mesma baixinho, e fecho os
olhos por breves segundos.
Ainda nervosa, decido deixar os pensamentos de lado e volto
minha atenção para a caixa maior sobre a cama. O logotipo da marca
Prada está estampado, deixando-me ainda mais irritada com o
cinismo dele em me enviar presentes tão caros.
Retiro a tampa e a coloco de lado, voltando minha atenção
para o conteúdo. Deparo-me com uma calcinha vermelha minúscula
e rendada, apenas um pequeno pedaço de pano que nada cobriria do
meu sexo. Não há sutiã, ou qualquer outra coisa que eu possa usar
como suporte na parte de cima do meu corpo.
Coloco a calcinha de volta na caixa e pego algo volumoso
que deduzo ser um vestido pela quantidade de pano dobrado. Ergo a
roupa e confirmo do que se trata ao ver as saias longas se
espalharem sobre a cama.
É uma peça elegante, macia. O tecido é gostoso sob os meus
dedos, tem um toque aveludado e leve, embora as alças sejam
finíssimas e tão delicadas que se partiriam com o mínimo puxão.
Sinto meu corpo esquentar ao imaginar as pretensões dele
para essa noite, meu coração dispara sem controle, como se meu
sangue entrasse em ebulição devido à raiva incessante que me toma.
Sem mais ânimo para continuar explorando os presentes
extravagantes, enfio o vestido de volta na caixa e passo os olhos
rapidamente pelas caixas menores, indignada com a audácia daquele
homem. Marcas como Dolce&Gabbana, Dior e Sisley completam o
arranjo exagerado.
Abatida, deito-me na cama com as costas apoiadas nos
travesseiros suaves. O rosto duro de Daniel vem a minha mente e
mais uma vez fecho os olhos tentando afastar sua imagem arrogante
e prepotente da minha cabeça. Até mesmo nisso, o homem parece
ser implacável.
Eu me esforço para firmar as feições de Matt em minha
mente, mas não consigo. Por mais que eu tente, sempre é aquele
maldito demônio que está ali, me atormentando dia após dia,
dizendo para o meu corpo que eu sou dele, que ele me comprou.
Quero gritar de angústia e esquecer o dia em que o conheci.
O dia em que por alguns minutos, pensei que ele fosse um cara legal.
Volto a abrir os olhos, furiosa comigo mesma por me
permitir ser tão fraca. Logo a prostituta de meu pai retorna ao quarto
em seus típicos trajes justos e curtos, e arregala os olhos ao me ver
ali deitada, sem me importar com o horário ou o quanto estou
atrasada para o maldito jantar.
— Lexie, querida, precisa se apressar. Em alguns minutos, o
motorista de seu futuro marido virá buscá-la — diz com a voz
enjoativa e desdenhosa, o estilo típico de Megan, mas nada
respondo.
Ela caminha na direção da cama, o olhar focado nos
presentes.
Inclina-se sobre a caixa e pega o vestido com tanto cuidado
como se fosse uma joia rara. Coloca-o na frente do corpo como se o
experimentasse sem de fato vesti-lo e vejo a sombra de um riso
presunçoso formar-se em seus lábios.
— Nada mal… — Sorri mais amplamente e dá um giro no
quarto, mantendo a parte do busto presa com uma das mãos, rente
aos seios. — Uma fortuna em forma de vestido.
Deixando a peça de lado, a mulher retira um sobretudo da
caixa e continua sua inspeção.
Reviro os olhos, enjoada com a cena, desvio a atenção dela e
foco o olhar no teto branco enquanto cruzo os braços na frente do
corpo. Megan continua explorando a caixa a cada minuto mais
empolgada, até que sou surpreendida por um gritinho de excitação
que escapa de sua boca.
— Cacete! — Volto a olhá-la no momento em que a mulher
abre uma das caixinhas menores e retira um colar. Megan ergue o
olhar na minha direção e dá a volta na cama até ficar próxima a
mim. — Esta belezinha com certeza compraria um carro de luxo —
conclui, impressionada.
Sinto asco ao observar o colar com elos graduados em ouro
rosa e pavé de diamantes. Não que a joia não possa valer o absurdo
que subitamente a corresponde, mas sim porque a cada presente caro
que me é apresentado, sinto-me mais como uma mercadoria. Sinto-
me morta por dentro.
— Nada disso me importa, você sabe. — Ergo o corpo para
me levantar e caminho até a janela do quarto. Observo a noite
escura, sinto a brisa suave no meu rosto, mas até nisso não encontro
prazer. Sonhos e lembranças continuam se misturando e por algum
motivo tudo leva a ele. É uma sensação estranha, fria, algo que não
consigo explicar.
Ouço os passos de Megan em minha direção, mas não a olho.
Continuo parada, observando o breu que se expande como se não
houvesse fim.
— Lexie, precisa se arrumar. Está atrasada… — Suspira,
indicando o quanto está impaciente. — Não me faça ter que
comunicar essa rebeldia ao seu pai.
— Eles já têm tudo de mim, Megan. Será que não posso
tomar para mim apenas alguns minutos? — Viro o meu corpo e
encaro seus olhos flamejantes. — Não tem importância se eu me
atrasar ou não.
Megan dá de ombros, deixando claro que não se importa com
o que acontece ou deixa de acontecer comigo.
— Irei descer e não mentirei se seu pai perguntar se está
pronta. Aconselho a começar a se vestir, do contrário, o Hector te
levará arrastada, usando apenas essa toalha que te cobre. — Após
concluir sua fala, Megan vira-me as costas e sai, indiferente.
Suspiro um pouco trêmula, mas puxo e solto o ar algumas
vezes até me acalmar.
Olho na direção da cama, vendo os presentes caros
espalhados sobre o lençol, e concluo que acabou o meu tempo.
Embora eu deseje muito irritar Daniel, não seria inteligente brincar
com os nervos dele ou de meu pai.
Sigo até o banheiro e seco os meus cabelos com o auxílio de
um secador, deixando as mechas bem soltas.
Ao terminar, retorno ao quarto e pego os presentes que o
desgraçado me enviou.
Visto a minúscula calcinha, sem me importar com o quanto o
tecido fino e apertado marca a protuberância de minhas curvas. Não
quero estar apresentável. Para falar a verdade, até desejo que ele me
ache repugnante, da mesma forma que meu pai acha. Talvez assim,
eu não precise aturar seus toques quando nos casarmos.
Ao colocar o vestido, percebo que o tecido tem um caimento
levemente justo na parte da cintura e deixa os meus seios soltos pela
falta do sutiã, mas ao mesmo tempo, avantajados por causa do
decote de formato “V”. Extravagante, sensual, vulgar.
As costas ficam nuas, marcadas apenas pelas finas alças.
Duas fendas nas saias completam o modelo do vestido, permitindo
que apenas uma faixa estreita cubra o meu sexo que está
parcialmente coberto pela calcinha de renda.
Observo-me no espelho, um pouco chocada com o visual
sombrio e ao mesmo tempo extravagante que deixa todo o meu
corpo gordo e sem graça em evidência.
Prendo o cabelo em um rabo de cavalo simples, caminho até
a cama e pego um dos pacotes com a logo da Sisley. Na caixa, há um
dos clássicos da coleção, o Soir de Lune.
Borrifo o perfume em meu pescoço, coloco o colar, os
brincos e volto a me encarar no espelho.
Não faço questão de usar batom ou nenhuma maquiagem,
não quero parecer bonita para ele. Minha pele está pálida e sem vida,
os olhos repletos de sombras escurecidas por causa das noites sem
dormir, usarei apenas o que Daniel me enviou.
Ouço uma batida brusca na porta e sei que chegou a minha
hora.
Coloco os saltos, cubro meu corpo com o sobretudo e saio,
indo ao encontro do meu algoz.

Tento não parecer amedrontada quando a limusine passa


pelos portões da mansão, localizada em uma área afastada de Long
Island. Homens armados fazem a guarda dentro e fora dos muros,
enquanto outros permanecem à espreita logo adiante, aguardando o
veículo ser estacionado.
— Tudo ficará bem, criança. — A voz de John sai confiante,
embora eu sinta um leve vacilo no fim. — Será apenas um jantar,
não se preocupe.
Assinto para meu segurança sentado no banco à minha frente
e desvio o olhar dos movimentos lá fora.
Assim que a porta se abre e colocamos os pés para fora,
somos guiados por um homem grande e loiro por um caminho de
pedras planas que leva até uma das alas laterais da mansão.
De relance, observo o jardim estilo francês bem-cuidado e
iluminado, cercado por uma infinidade de fontes de mármore
alinhadas uma após a outra, que dão um ar de fascinação ao lugar. É
tudo tão… mágico. O gramado começa no portão e percorre todo o
caminho até a fachada ampla pintada de branco. Por um momento,
me vejo parada, observando o contraste da água cristalina das fontes
com as várias luzes amareladas, dando um banho de brilho nas
plantas verdes e coloridas, podadas de forma minuciosa, formando
figuras geométricas.
— Por aqui. — Ouço a voz do homem logo à frente e aperto
o passo, me mantendo o mais próxima possível de John.
O lugar é magnífico. A mansão de estilo clássico é cercada
por um vasto bosque denso e escuro e pelo barulho inconfundível
das ondas do mar que ouço, é certo dizer que logo no fundo há uma
vista incrível a ser apreciada.
O homem guia-nos para o interior da ala, uma espécie de sala
privativa, e vejo outros dois seguranças de prontidão na porta. Os
três são imensos, quase tão grandes quanto Daniel.
Usando ternos impecáveis e empunhando as armas nas mãos,
os dois que estão na porta dão um passo para o lado, permitindo
minha entrada e a de John.
Coloco os pés dentro da imensa e luxuosa sala, incomoda
pelos olhares minuciosos dos homens em minha direção e aguardo
as próximas instruções.
Vejo o mais alto, um moreno de olhar cor de mel intenso,
pegar o celular e fazer uma ligação breve. Ele assente algumas vezes
e volta a guardar o aparelho.
— O chefe está à sua espera no andar de cima. Kraig irá
acompanhar você! — diz ele em minha direção. Algo em seu olhar
me remete à lembrança, e então recordo-me que era um dos
capangas que estava com Daniel na noite do racha.
Assinto.
A tensão e o mistério crepitando o ar.
Logo o tal de Kraig, o mesmo homem que nos acompanhou
até aqui, se movimenta e me encara de soslaio, com a expressão
fechada.
— Venha comigo! — Ele segura o meu braço com firmeza,
mas não tão forte a ponto de machucar. Olho rapidamente na direção
de John e o vejo marchar para me seguir, mas logo é barrado pelos
outros dois.
— Apenas a garota! — sentencia o moreno, me fazendo
engolir saliva com dificuldade.
— Tá tudo bem, John — digo, ao mesmo tempo em que
tento parecer calma. No entanto, só Deus sabe a aflição que sinto em
imaginar ficar sozinha com Daniel.
John assente, incerto e eu sigo meu caminho, mal prestando
atenção em cada polegada de luxo que me cerca.
Tento entender o que um homem que já tem tudo ganharia
com este casamento. Aparentemente, papai é apenas uma fichinha
perto dele. O que Daniel teria de vantagem com esse acordo? Mais
poder? Dinheiro? É tudo tão confuso!
Ao chegarmos no segundo andar, o homem aponta na direção
de uma área descoberta que logo identifico como um terraço amplo e
bem decorado. Há uma mesa no centro, composta por pratos,
talheres, taças e um balde com vinho. Ao lado, há um buffet móvel,
contendo o que imagino ser o nosso jantar.
Continuo observando o lugar sem conseguir me mover. A
sofisticação e os detalhes minimamente planejados são
impressionantes.
Observo a enorme piscina em formato L, com luzes de led e
uma pequena cascata. O jardim aqui em cima é tão bem-cuidado e
elegante como o que avistei assim que atravessei os portões.
E logo à frente, de costas para mim, com a atenção voltada
para a vista ao longe e as mãos na grade de proteção eu o vejo:
grande, forte, animalesco. A versão mundana do próprio mal aqui na
terra.
CAPÍTULO 12

LEXIE

Como se pressentisse meu olhar em seu dorso nu, Daniel


vira-se e engulo em seco, completamente paralisada.
Usando apenas uma calça jeans, a versão contrária ao
homem que vi há alguns dias de terno e gravata, Daniel caminha na
minha direção, confiante, mantendo o olhar focado no meu rosto.
Prendo o ar, abalada demais pela visão aterradora de seus
músculos grandes, e seguro o sobretudo com mais força ao meu
redor, como se assim eu pudesse me proteger de seu olhar
enigmático.
O corpo dele é repleto de tatuagens de diversas formas e
tamanhos, desde figuras geométricas grandes e angulosas, a
pequenos animais aquáticos e letras, formando uma mistura de
traços no braço esquerdo, e que se ligam aos desenhos no peito e
abdômen.
Lá no fundo, uma pontinha de curiosidade surge, me fazendo
pensar em todos os segredos que esses desenhos escondem. Ou são
apenas informalidades? Ele gosta de se torturar, talvez?
Sua expressão é tão selvagem quanto um predador à espreita,
pronto para devorar, principalmente quando o vento sopra e bagunça
os fios loiros de seu cabelo.
Olho em minha volta à procura de Kraig, mas constato que o
homem desapareceu como num passe de mágica. Agora somos eu e
Daniel…
E que Deus me ajude.
Buscando forças do fundo de minha alma, tento permanecer
firme e dou um passo em sua direção, disposta a acabar logo com
isso.
— Olá, pequenina — diz, curvando os lábios em um riso
calmo, carregado de segundas intenções. O homem para a alguns
centímetros de distância e desvia o olhar para o meu corpo,
analisando cada pequeno detalhe. O nervosismo acarretado pela sua
proximidade me corrói por dentro. — Como você está?
Arfante, eu o encaro, nem um pouco amistosa. Respondo,
ácida:
— Estaria melhor se não tivesse sido obrigada a comparecer
aqui.
Daniel gargalha, mas não há diversão em sua voz. O olhar
gelado que ele me dirige é como um aviso velado para que eu não o
desafie.
— Que bom que também sentiu saudades, meu amor… —
debocha e ergue a mão para deslizar os dedos em meu queixo.
Acaricia a pele, fazendo um arrepio involuntário despertar em minha
espinha.
— O que você quer? — pergunto, indo direto ao ponto.
O medo de que ele tente me forçar a fazer sexo antes do
casamento me deixa mortificada, mas me apego ao fato de que só
serei usada quando for conveniente para ele. No momento, Daniel
parece querer apenas me provocar.
— Quero me retratar, pequenina. Nossos nervos estavam
muito alterados no nosso último encontro.
Uma mistura de confusão e surpresa me atinge. Mas sei que
não devo confiar nas palavras de um homem como ele. Daniel é
perigoso como o diabo.
— Se retrate me deixando ir embora — digo em um tom de
voz amargo, e tento me desvencilhar de seu toque. No entanto, ele
apenas comprime os dedos em meu maxilar.
O homem me analisa, sério por mais alguns segundos como
se pudesse enxergar cada gota de meus pensamentos. Sua
aproximação me deixa ofegante, é difícil não me sentir como um
cordeiro na toca do lobo quando se estou frente a frente com Daniel
Kraven. Ele é grande, me esmagaria facilmente com o mínimo de
esforço.
Afastando-se, ele estende a mão na minha direção e ordena:
— Me dê o sobretudo. Irei guardá-lo para você.
Volto a segurar o tecido grosso com mais força em volta do
meu corpo e balanço a cabeça em negativa.
— Por quê? — Pensar no quanto o vestido negro me deixará
praticamente nua aos seus olhos, faz-me encolher o corpo.
— Porque estou pedindo, Lexie. — Sua voz é dura e firme,
sem um pingo de sutileza.
— O que acontece se eu não o entregar? Irá me obrigar? —
questiono, disposta a aceitar o desafio.
Daniel arqueia a sobrancelha, intrigado e inclina o corpo,
mantendo o rosto de expressão marcante na altura dos meus olhos.
— Posso fazer isso se é o que deseja, querida — murmura.
— Mas, claro que não irei tirar apenas o sobretudo. Te deixarei
completamente nua.
Sorri com escárnio e leva a mão ao tecido que me cobre,
abrindo-o lentamente, fazendo todo o meu corpo estremecer com
uma mistura de medo e raiva.
A surpresa me deixa desnorteada. O vento fresco toca o V
que forma o decote dos meus seios agora descoberto, e seguro o
tecido com mais força.
— Espere! — interrompo-o e dou um passo para trás.
Daniel suspira e vejo as sobrancelhas se fecharem. Um sinal
claro de que a paciência não é sua maior qualidade.
— Eu faço isso. — Dou a volta, rodeando o homem e
caminho na direção à mesa de jantar. Pouco a pouco, retiro o
sobretudo e cruzo os braços na frente do meu corpo.
Embora esteja nervosa além do limite, tento me manter
resistente. Mesmo ao sentir a proximidade de Daniel às minhas
costas.
Ele retira o sobretudo de minhas mãos e caminha lentamente
à minha volta, analisando de forma minuciosa cada detalhe da
mercadoria que ele cobriu com joias e roupas de grife.
Engulo em seco quando o homem leva as mãos ao colar em
meu pescoço, acariciando a peça cara como se isso lhe desse um
prazer inimaginável.
— Perfeita! — diz, fitando-me por breves segundos e desliza
os nós dos dedos pelo meu pescoço e busto, me deixando arfante.
— Terminou a vistoria, Daniel? Não se preocupe, sua
mercadoria está intacta. — alfineto, humilhada e o vejo sorrir.
Daniel baixa o olhar para o meu decote algumas vezes e volta a
acariciar o meu rosto, tocando a pele de forma lenta e possessiva.
Viro o rosto bruscamente para me desvencilhar de seu toque
quente, e suspiro.
— Tenha cuidado como fala comigo, querida. Nem sempre
sou assim, paciente.
Seu tom de voz não é ameaçador como imaginei que seria,
soa mais como sarcástico. No entanto, algo em seu olhar gelado
remete a puro perigo. As írises escuras me analisam com atenção,
como se observasse minha alma.
Todo o meu corpo se arrepia.
— Vamos jantar. Deve estar faminta, não é? — pergunta e
caminha na direção do buffet, deixando-me ali, incomodada e
incrédula com sua mudança de espírito. — Desculpe a falta de
funcionários para servi-la, não queria que fossemos interrompidos
— justifica enquanto se mantém de lado e destapa todos os pratos
sobre o suporte. Um cheiro maravilhoso de carne e especiarias
permeia no ambiente, fazendo meu estômago roncar. Porém o que
realmente me deixa com as pernas bambas, é a visão detalhada dos
músculos de seu abdômen, da tatuagem em forma tribal que pinta
uma grande parte do V muito definido, e some para dentro de sua
calça…
Subo o olhar para o restante do seu corpo, sem ar, afetada
demais pela presença arrogante e viril do macho à minha frente. A
pele marcada e bronzeada me causa uma mistura de sensações
estranhas, uma espécie de formigamento que se alastra em meu
estômago e vai descendo, me embriagando, me consumindo como
labaredas de fogo, até que sinto uma palpitação dolorosa entre as
minhas pernas.
Levo a mão ao meu pescoço e massageio um pontinho atrás
da minha orelha, mortificada e extremamente irritada pelo rumo de
meus pensamentos.
Continuo parada, lutando para controlar os latejos em minha
vagina, e tento imaginar a melhor forma de conseguir algo
pontiagudo sem que ele perceba. Olho para a faca de mesa na minha
frente, mas desvio o olhar com rapidez para não chamar a atenção de
Daniel. Talvez eu consiga machucá-lo e me proteger de seus toques
caso o homem tente algo. Sinto minhas mãos tremerem com a
possibilidade, mas a minha cabeça começa a pôr o plano em prática.
Somente morta eu me entregarei a Daniel Kraven.
— Espero que goste de bife de Ozaki selado com lascas de
trufas negras — diz ele, me arrancando de meus devaneios.
Daniel deposita dois pratos sobre a mesa, e aponta na direção
da cadeira estofada na qual estou encostada.
— Sente-se e coma comigo.
O homem puxa uma cadeira e se senta, descontraído. Abre o
vinho e serve duas taças, empurrando uma delas em minha direção.
Em silêncio, também me sento e pego os talheres, analisando
a carne apetitosa e dourada sobre o prato. O cheiro é magnífico, faz
minha boca salivar instantaneamente.
No entanto, não consigo desviar os olhos dos movimentos
dele. A forma como os músculos se contraem à medida que ele corta
a carne e leva o garfo à boca, mastigando com gosto, satisfação.
— Coma, Lexie. Vai esfriar. — Aponta na direção de meu
prato e volta a comer. Vez e outra, intercalando a comida com um
gole do vinho.
Corto um pequeno pedaço e experimento. A textura macia de
sabor suave e levemente amanteigado derrete em minha boca e
quase gemo de satisfação. As lascas de trufas complementam o
prato, com uma suave lembrança de amêndoas.
Preciso me controlar para não devorar o conteúdo do prato
em uma única garfada. Corto mais um pedaço e mastigo enquanto
levanto o olhar para observar Daniel outra vez.
O homem devora a carne como um leão faminto, mas ainda
assim elegante. O olhar duro e cruel preso a cada um de meus
movimentos, tornando impossível pegar uma das facas sem que ele
perceba.
Pigarreio, sentindo a garganta seca, e tomo um gole do vinho
suave, percebendo que meus nervos estão à flor da pele. Minha
garganta se fecha, o nervosismo me deixa ainda mais tensa sob seu
olhar, principalmente, quando o vejo passar a língua nos lábios para
captar uma gota de vinho.
Deus… o que há comigo?!
Por mais que eu queira, não consigo comer mais nada.
Pego um guardanapo e seco os meus lábios enquanto faço de
tudo para desviar meu olhar do seu.
E é neste momento que o celular dele toca, quebrando um
pouco da tensão que está crepitando o ar.
Daniel levanta-se e se distancia sem desgrudar os olhos de
mim, como se pudesse imaginar cada detalhe do que se passa em
minha cabeça.
Ouço-o grunhir irritado, e então vira-se bruscamente para
responder algo à pessoa que está do outro lado da linha, sem que eu
escute.
Aproveito o momento para pegar a faca e prendê-la na lateral
de minha calcinha, por entre a fenda do vestido.
Afasto a cadeira e me levanto. Caminho na direção contrária
a dele para observar um pouco da paisagem magnífica que a vista do
terraço proporciona. Talvez ao me ver aqui, ele não perceba que está
faltando um talher pontiagudo e perigoso sobre a mesa.
Está escuro lá fora. As poucas luzes que rodeiam essa área da
propriedade não iluminam o suficiente para que eu veja muito bem
além da linha do horizonte. Mas o barulho é inconfundível.
Ondas se quebrando, paz, calmaria. Sinto que a alguns
metros de distância, eu encontraria a liberdade que busco com tanto
afinco. Mesmo que por poucos minutos.
— Algum problema, Lexie? — Os passos dele ecoam duros
e firmes às minhas costas, fazendo meu corpo tremer.
O vento sopra um pouco gelado, trazendo o aroma de seu
perfume almiscarado, marcante, misturado com o cheiro próprio
dele. Cheiro de homem e testosterona.
Meus pelos se eriçam.
— Só estou observando a vista… — respondo, indiferente,
mas não me viro. — Será que posso?
Daniel se aproxima mais, tão perto que posso sentir o calor
de seu corpo em minhas costas nuas. A mão firme toca o meu
ombro, logo abaixo da curva do pescoço e estremeço. Sinto-me
zonza. O ar começa a faltar pela sua proximidade, o coração acelera
descontroladamente.
— Em breve tudo isso também será seu, querida… — A voz
de Daniel sai rouca e aveludada, quase em um sussurro. — Pode
observar o quanto quiser.
Seus dedos deslizam pelo meu braço em uma carícia lenta
enquanto a outra mão alcança a linha de minha cintura. Fecho os
olhos aturdida, um pouco paralisada pelo desconforto e essa
sensação esquisita no meio de minhas pernas.
Começo a puxar o ar com mais força, incapaz de me mover.
Uma mistura de medo e desejo me embriagando. É somente quando
sua mão escorrega até um de meus seios e o aperta por cima do
tecido, que percebo o que está prestes a acontecer.
A boca de Daniel é certeira na curva de meu pescoço. Beija e
mordisca de forma faminta, dolorosa, a barba proeminente arranha
minha pele, me arrancando alguns arquejos de pura surpresa e
prazer.
Desesperada, deslizo a mão devagar na abertura de meu
vestido para pegar a faca e acertá-lo, no entanto, antes mesmo que
eu a alcance, sou surpreendida por sua mão que se fecha em meu
pulso e o aperta dolorosamente, me fazendo grunhir de dor.
— Tão linda e tão inocente — diz ele em meu ouvido,
colando o corpo forte ao meu. Posso sentir as coxas musculosas e
poderosas como um tronco, o volume de seu pênis na altura de meu
quadril, a pele quente de seu abdômen queimando a minha, a
respiração morna em meu ouvido. — Garota tola!
— Desgraçado! — choramingo, arfante e tento me soltar.
Mas seu aperto é tão forte que mal consigo me mover. — Me solte,
seu bruto!
— Acha mesmo que poderia me ferir, Lexie? — Ouço seu
riso letal e ácido, e viro o rosto para o lado mordendo o lábio,
tamanha é a cólera que sinto.
Daniel me solta bruscamente e se afasta um passo. Viro-me
para ele trêmula, a adrenalina me engolindo, a raiva fervendo o meu
sangue.
— Venha, querida. Me mate. Não é isso que quer?
O homem abre os braços, deixando o peito livre para receber
o golpe e vejo o esboço de um riso surgir em seus lábios.
— Mas se certifique de acertar no coração, Lexie. Porque se
eu sobreviver, te caçarei feito um animal — diz de forma calma, mas
o olhar é animalesco.
A raiva que sinto dele e de mim mesma me deixa cega.
Mesmo sabendo que meus esforços dificilmente seriam o bastante
para machucá-lo, o orgulho me impede de pensar coerentemente.
Apenas seguro a faca com firmeza em minha mão e avanço em sua
direção, mirando o lado esquerdo de seu peito, na altura do coração.
Daniel segura o meu braço com tanta força que gemo
baixinho e encolho o corpo, soltando a faca no chão, ofegante.
Em um rápido movimento, o homem solta o meu braço e
enfia a mão nos cabelos de minha nunca, me puxando para si.
Inclina-se e mantém o rosto na altura do meu, os lábios quase
colados na minha boca, meu corpo sendo esmagado de encontro ao
seu.
— Nunca mais tente fazer isso, meu bem — diz friamente. O
hálito quente banhando minha face. — Você não passaria dos lances
de escada. Meus homens te fariam em pedaços.
Sinto meus olhos turvos pelas lágrimas, mas luto
desesperante para contê-las. Mesmo que me sinta terrivelmente
sufocada, não permitirei que nenhuma gota caia na frente deste
homem.
— Odeio tanto você, Daniel. Tanto! — vocifero.
O homem continua a me encarar, pensativo. O olhar
predatório se desfaz em seu semblante, o toque brusco em minha
nuca torna-se mais suave.
— Sinto muito por isso. As coisas são como devem ser, meu
bem.
Puxando o ar com mais força, tento me afastar de seu corpo e
dessa vez ele permite. Um arrepio gelado toma conta da minha pele
ao me lembrar de Matt desaparecido. E então, mesmo sabendo que
Daniel seria capaz de me matar por isso, decido confrontá-lo:
— Onde ele está? — questiono, firme. — O que você fez
com o Matt?
Daniel continua a me analisar em silêncio. A expressão
fechada, os punhos trancados na lateral do corpo, o maxilar cerrado.
Cruzo os braços na frente de meu corpo, tentando esconder
os bicos de meus seios que marcam o tecido vergonhosamente e o
encaro.
— Se ainda te resta um pouco de humanidade, me diga —
peço uma última vez enquanto tento manter a calma.
Aproximando-se de mim, ele diz:
— Não sou do tipo que passa informações sem receber nada
em troca, Lexie. — Daniel ergue a mão até os meus cabelos, segura
o elástico que prende os fios e o puxa, soltando as madeixas pesadas
que caem em minhas costas e ombros.
Permaneço paralisada, sabendo que terei que pagar um preço
alto demais para saber do paradeiro de Matt. No entanto, engulo
todo o meu orgulho e decido ir até o fim.
— Diga o que quer. Eu farei.
Daniel me encara sério, como se estivesse se controlando ao
máximo para não explodir. A mão áspera retira uma mexa de cabelo
do meu rosto e o dedo polegar desliza por meus lábios, lentamente,
entreabrindo-os.
— Me dê um beijo e eu te direi tudo — sentencia.
Ofego, atordoada demais para permanecer firme. Uma
espécie de fogo líquido me toma, ao mesmo tempo em que minha
mente grita para que eu corra sem olhar para trás.
— Daniel… não… — Tento me negar ou inventar alguma
desculpa para fugir de sua armadilha, mas sou interrompida por sua
voz sólida:
— É pegar ou largar, Lexie — incita em uma provocação
barata. Os olhos varrendo o meu corpo como um cão faminto. — Ou
pegarei o que quero, da forma que quero.
Percebo a sombra de um riso imoral surgir em sua boca e
engulo com dificuldade. Passo a língua em meus lábios secos,
amedrontada por ter que me submeter aos desejos dele, sabendo que
nada o impediria de rasgar as minhas roupas e me possuir aqui
mesmo, onde estamos. Ninguém viria ao meu socorro por mais alto
que eu gritasse.
Seja o que for então…
Assinto para ele e dou um passo na sua direção, lentamente,
decidida. Não tenho escolhas.
Perdão Matt… Digo em meu íntimo, me sentindo como uma
puta de esquina.
Daniel entrelaça sua mão na minha e me puxa na direção da
mesa de jantar. Até mesmo este simples toque queima.
Escora o corpo no móvel, mantendo as pernas abertas e o
corpo inclinado para ficar na minha altura, e me leva para dentro de
seus braços.
Respiro fundo algumas vezes, encarando-o. Fecho os meus
olhos, nervosa, e volto a abri-los.
Apenas um beijo… é por uma boa causa…
— Então? — ele incita com a sobrancelha arqueada,
esperando que eu cumpra o combinado.
Aturdida demais para conseguir pensar com clareza, decido
que é melhor acabar logo com isso, e então me aproximo. Fico na
ponta dos pés para alcançá-lo e toco meus lábios na carne macia de
sua boca.
A barba cheia arranha o meu queixo de leve, me deixando
ainda mais consciente do que estou fazendo, de que estou beijando o
próprio diabo.
Daniel permanece parado, os lábios frios e imóveis, as mãos
apoiadas sobre a mesa. Sinto como se eu estivesse em um jogo
impossível de ser ganho, os nervos me deixando louca.
— O que você quer de mim? — pergunto, irritada e me
afasto quando ele não faz o mínimo movimento para retribuir o beijo
maldito e acabar logo com esse joguinho idiota.
Os olhos selvagens me analisam com curiosidade e ele sorri,
fazendo a humilhação crescer em meu corpo como ondas de pura
tortura.
— Não é assim que se beija. Você nem ao menos enfiou a
língua na minha boca — provoca.
— Miserável! — xingo, enfurecida e tento acertá-lo no peito.
Porém, meus esforços de nada valem pois, seus reflexos são tão
rápidos que não consigo encostar uma unha sequer em sua pele.
Com o peito subindo e descendo pelo ritmo acelerado de
minha respiração, não espero que o homem diga mais nada. Fico na
ponta dos pés e volto a colar meus lábios nos dele, mas dessa vez me
certifico de entreabrir sua boca com a minha língua.
Arquejo baixinho ao sentir o sabor marcante do vinho,
inebriando o meu corpo.
Daniel corresponde instantaneamente e segura a minha
cintura, me puxando para si como se para evitar que de alguma
forma eu tente fugir.
Ofego quando nossas línguas se entrelaçam uma na outra, e o
homem parece querer me engolir a cada lambida e chupada frenética
nos meus lábios.
As mãos pesadas e ásperas amassam minha pele, os dedos
rijos cravam-se na carne de meu quadril, e deslizam até alcançar a
curva de minha bunda.
Um grito baixinho escapa de minha garganta assim que o
homem esmaga as minhas nádegas dentro de suas mãos e puxa o
meu corpo ao encontro do dele, gemendo, em seguida, explorando,
cavando cada pedaço de pele em meu corpo.
Tento me afastar sentindo que suas mãos serpenteiam em
meu busto para dentro do decote, mas o ardor que toma meu corpo
quando os dedos ágeis e grandes seguram um mamilo é tão forte que
perco o ar.
— Daniel… — Coloco minha mão em seu peito para afastá-
lo, mas não tenho forças.
A boca voraz devora a minha com ferocidade, a língua dura
penetra minha cavidade, sorvendo o meu ar. Daniel chupa a minha
língua ao mesmo tempo em que aperta o meu seio com sua mão
quente, me fazendo gemer baixinho, desnorteada.
Quero fugir, meu coração golpeia a caixa torácica com tanta
força que temo não suportar mais um segundo perto dele.
Minhas pernas ficam bambas e a respiração entrecortada,
mas o que mais me apavora é a umidade que sinto no tecido fino de
minha calcinha. É vergonhoso.
— Maldição… — Ouço o homem grunhir um xingamento
baixinho e levar os lábios ao meu pescoço. Morde e lambe sem
nenhuma pena, obviamente marcando minha pele com os dentes. —
Tão gostosa. Tão doce…
— Aii — protesto ao sentir o forte arrepio causado por sua
barba em minha orelha, e mal percebo que me agarro ainda mais
nele, trêmula. Minha vagina pulsa, os bicos de meus seios empurram
o tecido de tão duros.
Eu o odeio, mas meu corpo o que quer. Isso me aterroriza. É
tão errado…
Enfiando os dedos nos cabelos de minha nuca, o homem
imobiliza a minha cabeça e ergue o olhar para fitar o meu rosto.
Fogo puro permeia os seus olhos de uma maneira tão intensa
que me sinto queimar.
— Se soubesse tudo o que quero fazer com você, garota…
Mal sinto minhas pernas quando Daniel se mantém de pé e
segura a minha mão para me levar até a parede mais próxima. Pensar
parece ter se tornado uma tarefa impossível, neste momento meu
cérebro não passa de uma massa gelatinosa.
Estremeço assim que as minhas costas nuas tocam a estrutura
fria, mas nem sequer tenho tempo para protestar, pois Daniel ergue
os meus braços e os segura com uma única mão acima de minha
cabeça.
— O que vai fazer? — pergunto, arfante, o medo e o desejo
me dominando na mesma proporção.
— Abra as penas para mim… — ordena com a voz rouca, o
olhar febril me consumindo.
Meu coração gela…
— O quê? Não… Daniel…
Sua boca ávida volta a se apossar da minha em um beijo
ardente, carregado de promessas imorais, me deixando bêbada.
A mão livre se entranha no decote do vestido, e tudo que
ouço é o barulho de tecido se rasgando. Meus seios pesados saltam
livres, completamente à mostra para o seu deleite.
Tento me soltar de suas amarras, mas é impossível. Daniel é
tão grande que chega a ser assustador imaginar vê-lo sem roupas.
Pelo pouco que senti de seu pênis excitado, seu tamanho parece ser
demais para qualquer mulher suportar sem derramar um rio de
lágrimas.
Soltando os meus braços, ele envolve o meu corpo ao seu
com tanta força que sinto todas as suas formas.
A pele firme e quente cola-se aos meus seios nus e eu gemo
baixinho, inebriada com o prazer doentio que me toma. Ódio e
prazer nos consomem, raiva e desejo nos deixam loucos.
O homem enfia o joelho entre as minhas pernas, afastando
uma da outra e puxa a barra do meu vestido para cima. Sinto a mão
ávida serpentear meu ventre nu, provocando cada centímetro de
pele.
O mundo parece girar à minha volta. Minhas pernas não
obedecem aos comandos do meu cérebro.
Tudo o que meu corpo deseja é que ele me toque, que faça
esses latejos em meu clitóris sumirem, que faça esse fogo parar de
me queimar…
Os dedos grossos chegam até o meu sexo e cravo as unhas
nas costas de sua mão, entregue ao beijo faminto, sentindo o quanto
o centro de minhas pernas está escorregadio.
Ele acaricia meu clitóris por cima da calcinha e nós dois
gememos, arrebatados pelo momento.
— Daniel… ai…
Minha voz não sai.
Com um dos braços, o homem envolve a minha cintura,
segurando o bolo de tecido, e larga a minha boca, afastando o tronco
alguns centímetros para ter uma melhor visão da parte inferior do
meu corpo.
— Sabia que a calcinha ficaria perfeita em você… —
murmura rouco e segura o tecido rendado. Sinto a fisgada em meu
clitóris no momento em que Daniel puxa a calcinha fio dental para
cima, enfiando o tecido entre os lábios de meu sexo.
A tortura é alucinante.
— Oh… meu Deus… — choramingo e me firmo no aperto
que ele tem sobre mim, me agarrando ao seu corpo como se minha
vida dependesse disso…— Miserável… — Quero chorar de
frustração quando ele sobe um pouco a mão e volta a tomar os meus
lábios em um beijo possessivo.
Os líquidos de minha vergonha e fraqueza escorrem em
minha vulva, e sei que estou completamente melada por causa dele.
Sinto sua mão abrindo espaço dentro do tecido fino, e em um
segundo Daniel coloca o fio dental de lado e toca o monte de nervos
entre as minhas pernas, esfregando-o.
— Ah… — O prazer que me toma é como uma droga
viciante. Necessito de mais. Meu corpo anseia por ele com
desespero.
Sinto lágrimas de desejo e vergonha me tomando, mas não
consigo afastá-lo.
— Inferno… — murmura rouco. — Que vontade de comer
você, Lexie. Como queria enfiar o pau nessa sua boceta.
Abro e fecho a boca algumas vezes, mas nenhum som é
emitido.
Usando as coxas fortes para afastar minhas pernas ainda
mais, Daniel fita os meus olhos e mergulha os dedos entre os lábios
de meu sexo. Segura o clitóris entre o polegar e o indicador e puxa,
dando uma leve beliscada.
Solto um grunhido, arrebatada pelo susto e o prazer, e viro o
meu rosto, incapaz de continuar fitando o olhar predatório que tanto
odeio.
O corpo dele é como uma jaula de aço, impossível de ser
removida. Sinto-me entregue, um animalzinho acuado prestes a ser
abatido. Sei que não tenho a mínima chance.
Ele me tortura mais. Escorrega um dedo para dentro do meu
canal e choramingo.
— Toda lambuzada, porra — o homem grunhe em meu
ouvido e posso sentir as batidas desenfreadas de seu coração. — Tão
apertada…
E então ele dá a cartada final.
Grito alucinada quando Daniel solta meus pulsos, baixa a
cabeça e captura o bico de um seio em sua boca, mamando, faminto.
Os dedos experientes esfregam o meu clitóris ao mesmo
tempo e me penetram em sintonia, me fazendo perder o ar.
Não preciso de muito para sentir ondas ardentes tomando o
meu ventre. Contorço o corpo desnorteada, grito e arranho suas
costas enquanto remexo os quadris em busca de mais.
Violentos espasmos me tiram o fôlego e cravo os dentes no
peito de Daniel à medida que meu sexo se contrai com um gozo
intenso, engolindo e sugando o dedo dele.
Quando o prazer diminui e minha respiração normaliza, o
homem se afasta e ergue o olhar para fitar o meu rosto.
Uma mistura de raiva e desespero toma os seus olhos, me
fazendo estremecer.
Daniel coloca uma mão na parede às minhas costas, acima de
minha cabeça, e com a outra, segura os meus dedos, me fazendo
segurar seu pênis por cima do tecido.
Sinto a carne dura latejar sob o meu toque. Ele é tão grande,
grosso… me rasgaria…
— Veja o que faz comigo, porra… — grunhe, ofegante, me
encarando com fúria. — Estou tão louco que te machucaria se te
penetrasse agora. Maldição!
Estremeço, amedrontada, por vê-lo assim, sem nenhum
controle. A mandíbula cerrada e os punhos fechados deixam-no
amedrontador.
A humilhação do que acabou de acontecer me faz cruzar os
braços na frente do corpo e um soluço escapa de minha garganta.
Eu sou um monstro… céus… o que fiz?
Daniel se afasta bruscamente e passa a mão nos fios loiros,
como se ao invés de me querer, sentisse repulsa.
Assim como eu repudio a mim mesma.
A passos rápidos, ele caminha até a mesa de jantar e pega o
meu sobretudo. Joga-o na minha direção, mas não se aproxima.
— Saia! — Aponta na direção da porta. — Meu motorista
levará você para casa.
CAPÍTULO 13

DENER

Ainda estou sem ar ao me afastar de Lexie e caminho até a


mesa para pegar seu sobretudo. Meu pênis lateja dolorosamente e
preciso me segurar para não gozar na calça feito um pirralho
inexperiente.
Ainda posso sentir seus gritos e gemidos em meu ouvido
quando gozou. A ardência de suas mordidas em meu peito não me
deixa esquecer sua entrega, a paixão que queimou seu corpo. Ela
estava tão melada, quente, deliciosa…
Desejo e ódio me consomem, uma mistura de loucura com
insensatez que me deixa doido.
Olho na direção de Lexie, vendo-a recostada na parede,
trêmula e aturdida por causa do orgasmo, e a única coisa que passa
em minha cabeça é no quanto quero arrancar suas roupas e comer
sua boceta aqui mesmo no terraço.
Ah, inferno! Como seria gostoso gozar dentro dela, ver meu
esperma marcando essa mulher, deixando claro que seu corpo me
pertence.
Os olhos esverdeados me fitam com alarme, como se
soubessem o quão difícil é controlar o animal que vive dentro de
mim. Os lábios vermelhos e inchados por causa dos meus beijos
estão entreabertos ao mesmo tempo em que ela ofega. Os braços
estão cruzados na frente do corpo, firmando as alças finas que
rasguei de seu vestido em um momento de tesão descontrolado.
Mas não. Não posso perder a merda do controle agora. Essa
atração alucinada que sinto por essa mulher está mexendo com a
minha cabeça. Eu só posso estar louco, não há outra explicação.
Lexie é a filha do homem que assassinou a única mulher que
amei e eu me recuso a permitir que essa atração desesperadora entre
nós atrapalhe os meus planos. Somos feitos de matérias diferentes
que se atraem como imã, mas que se odeiam como verdadeiros
inimigos devem se portar: eu sou gelo e fúria, ela doçura e paixão.
E é por isso que a única saída agora é ficar longe dela.
Quando nos casarmos, o que acontecerá em poucos dias, eu a
terei em minha cama apenas por tempo suficiente para que
engravide. Depois disso, não a verei mais. Lexie é perigosa como o
inferno. Sedutora em sua simplicidade. Meu pau está ficando doido
por ela como se tivesse vida própria. Apenas a menção de seu nome
já me faz ficar duro como aço outra vez.
Permaneço a uma distância segura e jogo o sobretudo em sua
direção.
— Saia! — ordeno mais bruto do que imaginei que sairia a
minha voz. — Meu motorista levará você para casa.
Passo os olhos rapidamente pelo seu semblante surpreso e
confuso. Vejo ressentimento em seu olhar. Porém, logo ela trata de
esconder suas emoções com uma máscara fria.
Sem dizer uma única palavra, a garota deixa o sobretudo cair
no chão e prendo o ar assim que Lexie solta as alças do vestido que
eu havia rasgado, sem se importar que os seios grandes e pesados
saltem nus e deliciosos na minha frente.
Porra! Fico louco para segurar os dois em minhas mãos.
Chupá-los outra vez, sentir a maciez de sua carne em minha boca.
Inferno!
Em um rápido movimento, a garota leva a mão ao pescoço e
retira o colar de ouro e diamantes que dei a ela. Faz o mesmo com o
par de brincos.
Ofegante, vejo o vento balançar os cabelos escuros que
contrastam com a pele tão clara quanto porcelana. Ela parece a
deusa do pecado em minha frente. Seminua, os seios com os bicos
duros e rosados devido à friagem, o olhar gelado e provocador na
minha direção, como se dissesse em silêncio que não está disposta a
ser o meu brinquedo. Em um último ato de rebeldia, deixa as joias
caírem no chão como se fossem descartáveis, volta a se cobrir com o
sobretudo e vira as costas para sair.
Cerro o maxilar, excitado, meu sangue fervendo de desejo e
vontade de possuí-la, o pau doendo dentro da calça. Porém me
controlo ao máximo para não ir até ela e fazê-la engolir aquela
afronta. Não respondo por mim se voltar a tocá-la agora, seria capaz
de fazer uma loucura.
— Eu não sei nada sobre ele! — digo em um tom de voz
calmo, mas alto o suficiente para que Lexie escute. Embora eu odeie
ter que tocar no assunto sobre Matt, fiz um acordo com ela. —
Adoraria eu mesmo matá-lo e jogar seus ossos no mar, mas o infeliz
desapareceu feito fumaça.
Lexie para e vira a cabeça para me olhar por cima do ombro.
Ela não diz nada, as írises esverdeadas brilham por causa das
lágrimas que ela luta com tanto afinco para conter. Eu a admiro
ainda mais por isso. A garota tem garra. É orgulhosa. Não há como
me manter indiferente a isso.
Voltando a me virar as costas, Lexie desaparece no corredor
iluminado que leva na direção das escadas.

O vento chicoteia o meu rosto enquanto piso mais fundo no


acelerador, fazendo o motor da Ferrari rugir na pista.
É quase manhã. Em poucas horas, o sol irá nascer no
horizonte e o fluxo de veículos e pessoas passará a ser constantes
pelas ruas de Manhattan.
Já se passaram dois dias desde aquele maldito jantar. Depois
que Lexie foi embora, pensei que finalmente poderia dormir e
descansar um pouco. Nunca estive tão enganado. Não consegui
pregar o olho um só minuto, muito menos dormir como havia
planejado.
A imagem dela seminua na minha frente não saiu da minha
cabeça. O gosto dos beijos, o cheiro delicioso de sua boceta melada
em minhas mãos. Essa obsessão louca vinha me tirando o sono, me
deixando agitado como nunca estive.
Precisei sair para correr e esfriar a cabeça e vinha fazendo
isso noite após noite, afogando os meus tormentos na adrenalina que
só uma boa corrida clandestina poderia me proporcionar. Como das
outras vezes, essa noite não foi diferente. Corri e abracei o perigo
como sempre fiz. Porém agora chegou a hora de voltar para o
mundo e os problemas que me rodeiam.
No dia anterior, instalei-me em um dos hotéis que possuo no
distrito. Embora uma grande parte do fluxo de dinheiro e transações
envolva o tráfico, a maior parte dos lucros é gerada pelos
investimentos que fiz no decorrer dos anos.
Hotéis, boates e algumas empresas de fusões espalhadas pelo
mundo. Ninguém conhece o dono, apenas sabem que existo, fico às
sombras do negócio que é comandado por uma equipe de confiança.
E é justamente por isso que estou em Manhattan, tenho uma reunião
importante com o CEO da minha companhia.
Deixo a Ferrari no estacionamento subterrâneo e caminho na
direção do elevador privativo. Ryder, Kraig e mais um grupo de
homens me seguem.
Meu apartamento ocupa toda a área da cobertura e tem
acesso direto e exclusivo para o heliponto. Nunca se sabe o que pode
acontecer quando estou longe da fortaleza na mansão, então não é
demais prezar pela segurança.
Sigo direto para a suíte e deixo a pistola sobre a mesinha de
cabeceira, ao lado da cama. Tomo um banho rápido e me enrolo em
um roupão branco. O descanso é breve. Prego os olhos por apenas
duas horas e então me levanto.
Peço um café preto para começar o dia. Minha cabeça lateja,
sinto meus ombros tensos e cansados, mas nada disso tem
importância agora. Há muito a ser resolvido antes que o dia termine.
Sento-me na bancada da cozinha e tomo um gole do líquido
preto, fumegante. A cafeína revigora um pouco do sono acumulado
e deslizo as mãos pela barba comprida em meu rosto, constatando
que precisa ser aparada.
Confiro as horas no visor do celular sobre a bancada e
concluo que preciso me apressar. A pontualidade é uma de minhas
maiores qualidades e preso isso dentro do meu mundo, não importa
em que parte dos negócios eu esteja operando no momento.
Deixo a xícara sobre o balcão na intenção de me vestir para a
reunião, mas ouço o toque do celular e me detenho. Atendo a
chamada de Ettore, já imaginando o assunto que ele irá tratar.
Quando saí de Long Island, o homem ficou responsável pelas
informações dadas pelo fornecedor de Hector que venho mantendo
em cárcere privado.
— Diga, Ettore — atendo, indo direto ao ponto e continuo
andando na direção da suíte.
— Nosso prisioneiro resolveu abrir o bico — diz ele com
calma —, mas tenho a sensação de que há muita gente poderosa
envolvida nessa lama toda. Hector é apenas uma pequena fatia.
— Eu não me importo com o resto — afirmo, impaciente. —
O que o imbecil revelou?
Paro próximo à cabeceira da cama e aguardo que o homem
continue.
— Tudo indica que em algum lugar da Califórnia, Hector
possui ou é sócio de uma mansão que comporta mais de cem
mulheres escravizadas para o sexo. Provavelmente há outros lugares
como este em outros estados, mas o fornecedor deixou claro que
Hector tem um apego especial por este lugar em específico.
— Filho da puta! — xingo, injuriado com essa nova
descoberta. Um harém de escravas sexuais debaixo do meu nariz,
mesmo sabendo que não admito envolvimento da Underworld e
nenhum dos meus aliados com o tráfico humano. A parte boa é que
o círculo está se fechando para o maldito. — O que mais ele disse?
Olho para a pistola sobre a cabeceira e o esboço de um
sorriso toma conta do meu semblante quando imagino como farei
aquele desgraçado sofrer.
— O homem não soube dar detalhes. Acredite, usei todos os
métodos necessários para fazê-lo falar, mas ele realmente não sabia
de mais nada.
— Preciso que encontre esse lugar o mais rápido possível! —
ordeno calmamente. — Quero acompanhar de perto todos os podres
que há lá dentro.
— Farei isso — concorda. — E quanto ao prisioneiro? Devo
eliminá-lo?
Virando-me na direção da janela, levo a mão ao maxilar e
esfrego a barba.
— Ainda não! Deixe-o quieto por enquanto.
Após desligar a chamada, visto-me com um terno negro e
saio do apartamento, sendo seguido por meus homens, rumo ao
auditório do hotel no primeiro andar.
Ao entrar na ampla sala, vejo George já à minha espera,
junto ao CEO da companhia, Cooper Harrison, um homem de
poucas palavras e de mente brilhante. Quase que um computador
ambulante.
Quando toda a equipe está reunida, o homem dá
prosseguimento ao assunto a ser discutido, que, neste caso, trata-se
da inauguração da nova boate de luxo em Miami.
A reunião é finalizada horas depois, deixando-me estressado.
Principalmente porque ainda devo fazer a prova do terno de
casamento, que será entregue em meu apartamento no fim do dia.

LEXIE

Os rabiscos leves e precisos dão formas ao desenho preto e


branco que venho rascunhando desde a madrugada. Os raios do sol
já começam a surgir tímidos entre as frestas da cortina em minha
janela, indicando que mais uma noite chegou ao fim.
É véspera do meu casamento e não consegui dormir durante
a noite. Minhas pálpebras cansadas estão quase se fechando,
pesadas. Os olhos ardem e lacrimejam devido à ausência de
descanso, minha cabeça lateja tanto, como se um martelo fosse
desferido em meu crânio.
O silêncio mórbido no quarto é quebrado apenas pelo
barulho do lápis e minha respiração. Subo e desço a ponta fina várias
vezes sobre o papel branco, sombreando as folhas e pétalas dos
lírios.
Observo as flores que tanto amo e me recordo de Adrienne, a
madrasta que perdi repentinamente, pouco tempo depois de seu
casamento com meu pai. Ela também amava lírios. Dizia que as
flores brancas significam pureza e bondade.
Recordo-me que nos dávamos bem. Ela era linda, parecia um
anjo. E de uma certa forma, eu a admirava. Com o tempo aprendi a
amá-la.
Na minha inocência de criança, não conseguia compreender
que ela também odiava o meu pai e por vezes a vi machucada, os
olhos opacos e tristes. No entanto, ela era tão boa comigo, me
protegia.
Até que um dia ela não retornou mais para casa e Hector
disse que Adrienne havia sido assassinada. Fiquei arrasada na época.
Apeguei-me aos lírios brancos como uma maneira de mantê-la
sempre comigo. E por algum motivo, hoje a lembrança dela está
mais viva do que nunca em minha mente.
Cansada, deixo o desenho de lado e caminho até o banheiro
para lavar o rosto e escovar os dentes. Olho meu reflexo no espelho
e me deparo com um semblante pálido e abatido. Os lábios secos,
sem vida. Seco a pele com o auxílio de uma toalha, cubro minha
camisola com um robe comprido, de mangas longas e decido descer
até a cozinha para preparar uma xícara de chá.
No caminho, prendo os meus cabelos no topo da cabeça. A
casa está silenciosa e me admiro por não encontrar John fazendo
guarda na minha porta. Ele está sempre por perto. Desço as escadas
tomando cuidado para não fazer barulho. Não quero chamar a
atenção de ninguém, neste momento a solidão é a única companhia
que desejo.
Ao chegar a cozinha, preparo uma xícara de chá de
camomila, beberico um pouco do líquido quente e reconfortante,
saio com a bebida na mão. É uma manhã fresca, pelas janelas já
posso ver que o dia está completamente claro e por isso resolvo ir
até a varanda para tomar um pouco de ar e refletir enquanto termino
meu chá.
Passo pela sala mal iluminada e estou quase alcançando o
corredor que dá acesso à área externa quando ouço vozes vindo na
direção do escritório do meu pai.
Penso em continuar sem dar maior atenção ao que ele está
resolvendo lá dentro, mas ao ouvir o nome de Daniel sendo
proferido por ele, sinto o coração dar saltos frenéticos em meu peito.
Hector parece estar nervoso. Pelo timbre de sua voz e os
xingamentos que ouço, imagino que algo grave aconteceu. Mesmo
sabendo que essa ousadia pode trazer grandes problemas, caminho
devagar na direção da porta e me aproximo para tentar ouvir o que
ele tanto discute do outro lado.
— Todos foram assassinados, senhor, exceto o Steven,
aquele gordo filho da puta. Aposto que fugiu com a grana… — diz
um homem que não consigo identificar pela voz, mas por ele chamar
meu pai de senhor, concluo que seja algum capanga.
No entanto, não consigo compreender o assunto que estão
discutindo. As palavras não fazem muito sentido.
— Maldição! Desgraçado!
Meu pai xinga, alterado. Está claramente irritado com o que
este tal de Steven tenha feito. Tanto que uma batida brusca na mesa
me faz dar um passo para trás, temendo que ele resolva sair do
escritório e me pegue no flagra. Por sorte, os movimentos lá dentro
se acalmam.
— Isso não vai ficar assim. Quando eu puser as mãos
naquele verme, irei extirpá-lo — continua.
Volto a minha atenção para a conversa dos dois, tentando
captar o máximo do que estão discutindo.
— Ele não deve ter ido longe. E não seria burro o suficiente
para abrir o bico. O homem sabe que agora você se aliou a
Underworld.
Ninguém seria tolo o suficiente para se meter com seu genro.
Hector gargalha de repente, como se fosse alguma espécie de
lunático e prendo a respiração quando ouço sua voz desdenhosa:
— Não, ninguém seria. Daniel é um perfeito monstro,
exatamente como eu. Acho inclusive que ele vai adorar se divertir
com as garotinhas que comprei ontem em um leilão. Duas
ninfetinhas de onze anos que vieram da Jamaica.
Oh meu Deus…
Coloco a mão em minha boca para não soltar nenhum ruído e
dou um passo para trás, para me afastar da porta.
Firmo-me na parede para impedir que minhas pernas falhem
e sinto minha garganta secar, apavorada.
Duas crianças… como esse monstro pôde?
Daniel… ele também trafica mulheres?
A realidade dos fatos é como um soco no meu estômago.
Fico tão aturdida com o que acabo de ouvir, que o mundo
começa a girar à minha volta, como num vendaval. Nada mais ouço,
apenas dou passos contínuos para longe da porta, como se assim eu
pudesse fugir da presença radioativa de meu pai. Mas para a minha
desgraça, não vejo o nicho de decoração na parede e acabo batendo
o ombro com força no móvel, derrubando o jarro inglês que estava
sobre ele e a xícara que eu segurava.
O choque me deixa momentaneamente paralisada e coloco a
mão em minha testa, respirando com dificuldade. Como em uma
câmera lenta, percebo o vulto da porta do escritório sendo aberta.
Meu olhar recai sobre os dois homens e não consigo me
conter.
— Seus monstros! — grito a plenos pulmões com o olhar
alarmado, ao mesmo tempo em que a face esnobe de meu pai
aparece na minha visão claramente.
— O que faz aqui, sua cadela desgraçada? — Meu pai
avança na minha direção com tanta ânsia, que mal consigo me
mover antes que ele prenda os meus cabelos em sua mão e me puxe
para o escritório.
Tudo acontece depressa demais para que eu consiga
raciocinar coerentemente.
Com um movimento brusco, o homem me joga no chão,
fazendo com que o lado direito do meu quadril receba toda a
pancada da queda. Soluço sem ar por causa da dor e ao virar o rosto
na direção de Hector, vejo mais dois homens caminharem até o
cômodo, bloqueando a porta.
— Você não passa de um monstro… um verme que tenho
nojo de chamar de pai… — vocifero com a voz entrecortada,
arrastada.
Meu pai se agacha e eu me recolho instintivamente, mas meu
movimento não é suficiente para impedi-lo de segurar meus cabelos
com força. O homem me encara com frieza. O olhar hostil indicando
que não dá a mínima para o que falo ou penso.
Tento resistir a forte pressão de seus dedos, mas o homem
puxa os fios com maior pressão e aproxima o rosto, me encarando
com tanto ódio que sinto meu corpo paralisado de medo e repulsa.
— Acha que sou um monstro só porque gosto de
pirralhinhas? — Gargalha mais uma vez, fazendo meu estômago se
revirar por causa do bafo de álcool e cigarro. Sinto a bile subindo e
fecho os olhos por alguns segundos. É difícil não vomitar quando
tudo que vem a minha mente são as mãos nojentas deste homem
manchando a inocência de duas crianças.
— Quero que você morra, Hector. Quero que morra! — rogo
em um murmúrio, à medida que ele aperta ainda mais as mechas de
meu cabelo, quase arrancando os fios.
— Não sabe de nada, garota tola! Se pensa que sou cruel,
espere para ver o que seu marido fará com você. E sabe o que mais?
Eu não dou a mínima. Você sempre foi um fardo para mim. Eu
precisava de um herdeiro, não de uma garota gorda e burra.
Engulo saliva com dificuldade, mas não permito que outro
soluço escape da minha garganta. Não estou disposta a baixar a
cabeça agora. Mesmo que Hector me mate. Nada mais importa.
Hector se levanta rapidamente e larga os meus cabelos no
processo. Levo a mão ao couro cabeludo, sentindo o local dolorido,
mas o sorriso cruel e triunfante que vejo em seu rosto faz minha
raiva e desespero aumentar ainda mais.
Firmando-me na mesa de madeira para me levantar, não
penso em mais nada, a não ser na única solução que pode me salvar
deste casamento fadado à desgraça. Se Hector me matar por isso,
então eu morrerei feliz.
Ainda com as pernas trêmulas, olho no fundo de seus olhos e
questiono:
— O que Daniel fará com você quando souber que não sou
mais virgem? Eu posso estar esperando o filho de outro homem
agora mesmo, sabia? — minto, sabendo que isso deixará meu pai
transtornado. Ele provavelmente irá procurar uma maneira de
reverter a situação e isso me dará mais tempo. Talvez eu consiga
fugir.
O sorriso triunfante morre em seu rosto, dando lugar a uma
ira tão tirana que faz meu coração gelar.
O peso de sua mão em meu rosto ecoa pelo escritório em um
estalo agudo.
Meu corpo gira antes de cair no chão com tanta força que
quase perco a consciência. Meus ouvidos zunem e sinto uma leve
dormência no queixo e lábio inferior, antes do local começar a
latejar. O gosto metálico de ferrugem invade meu paladar e sei que o
corte em minha boca começa a sangrar.
— Vadia! Desgraçada! — ele esbraveja fora de si e sinto a
violência de um chute acertando as minhas costelas, me fazendo
gritar e arquear o corpo de dor.
Não consigo sorver o ar com precisão para meus pulmões,
cada movimento respiratório parece esmagar meu órgão vital.
As lágrimas escorrem pelo meu rosto e choro copiosamente,
tomada pela dor e a humilhação. Meus gemidos são abafados pelo
barulho dos chutes e pontapés desferidos em várias partes do meu
corpo.
Minhas costelas, meus quadris, estômago e barriga. Cada
parte de mim é agredida sem nenhuma pena, ao mesmo tempo em
que sou alvo dos olhares dos homens ali presentes. Eles apenas
observam, como se eu fosse alguma espécie de divertimento
ocasional.
Sinto-me grogue, zonza. Mal consigo manter os olhos
abertos e os sentidos aguçados. Só consigo implorar a Deus em
pensamentos para que Hector me mate logo, que acabe com essa
tortura. Porém tudo o que ele faz é voltar a agarrar os meus cabelos e
me forçar a me levantar.
Puxa os fios para trás, me obrigando a levantar a cabeça e me
encara com aquele olhar agressivo que tanto me causa calafrios
repugnantes.
— Sabe por que não esmago esta tua cara? Porque amanhã
você irá entrar na igreja e irá se casar com Daniel Kraven. Nem que
para isso precise ser costurada, sua vadia.
Fungo baixinho entre soluços quando o homem me empurra
na direção de um dos capangas como se eu fosse apenas um saco de
lixo.
— Segurem-na! — ordena.
Hector continua me analisando, como se refletisse sobre
algo. Seu olhar inquisidor varre o meu corpo com ódio fervilhando
em suas írises.
Do fundo de minha alma, busco forças para me mover e sair
dali, mas as mãos ásperas e firmes de um dos homens me prendem
com força contra seu peito. Solto um grunhido de dor, quase
desfalecendo ao sentir os machucados em meu corpo trêmulo. Tudo
em mim arde e lateja, principalmente na área das costelas, o que me
faz imaginar que uma ou duas estejam fraturadas.
Sinto meus lábios incharem, minha cabeça gira e as pernas
parecem gelatinas, no entanto ainda tento lutar quando Hector se
aproxima do meu corpo em silêncio e afasta a fenda do meu roupão.
— Não… por favor… — balbucio sem forças, enquanto me
contorço para me soltar.
Mas o homem às minhas costas apenas me segura com mais
força, fazendo meus murmúrios transformarem-se em lamento de
puro desespero.
Hector ergue o tecido da minha camisola e rasga a minha
calcinha em meio aos meus gritos desesperados, sem se importar de
me expor para os homens ali presentes.
Sinto-me morrer quando sua mão invade o centro de minhas
pernas e um dedo penetra minha vagina bruscamente, me
machucando no processo, até se deparar com a barreira do meu
hímen ainda intacto.
Viro o meu rosto banhado de lágrimas salgadas e abundantes,
temendo encontrar o olhar desse monstro maldito enquanto sinto
meu orgulho sendo jogado na lama.
— Mentirosa! — ele grunhe, irritado e retira a mão do meu
sexo após constatar que ainda sou virgem. — Ainda está com esse
cabaço intacto. Sorte a sua que foi apenas invenção dessa sua
cabeça.
Um calafrio angustiante me toma e deixo meus braços
caírem em volta do meu corpo em um abandono humilhante.
Machucada e violada.
— Tranquem-na no porão até amanhã. Depois do casamento,
já não me importa mais o que acontecerá com ela.
CAPÍTULO 14

LEXIE

Está um verdadeiro breu aqui dentro, sem nenhum resquício


de luz que possa me guiar a algum lugar. Minha cabeça lateja como
se um prego a perfurasse, minha pele arde tanto que sinto que irá
pegar fogo a qualquer momento.
Embora eu saiba que há um interruptor em algum canto das
paredes geladas do porão, não tenho forças para me levantar do
chão. Meu corpo não consegue responder aos comandos do meu
cérebro. Respirar dói. Meus membros tremem de frio.
O ar está seco e denso à minha volta, impregnado de poeira.
O cheiro acre de sujeira e velharias dificulta a minha busca
por oxigênio, e por isso tento respirar profundamente e devagar para
não me desesperar e ficar sem fôlego aqui, onde ninguém se
importaria se eu morresse sufocada.
Fecho os meus olhos pesados e sonolentos, e encosto a
cabeça na parede. Sinto-me exausta, perdida. Não faço a mínima
ideia de a quanto tempo estou aqui.
Não sei se passaram horas, dias ou apenas minutos. Acho
que perdi a consciência em algum momento, pois não me recordo de
muita coisa, além da dor que fez lágrimas grossas escorrerem por
meus olhos assim que tentei me levantar.
Tudo de que me recordo, é de quando os capangas do meu
pai me jogaram aqui, e eu me recostei na parede para não cair no
chão. Deslizei minhas costas pela parede áspera, devagar, até
conseguir me apoiar e me sentar no piso sujo. Depois disso, tenho
apenas flashes e memórias distantes.
Acho que alguém entrou aqui enquanto eu estava
semiconsciente, deu-me um pouco de água e uma espécie de caldo
quente para beber, mas não sei dizer ao certo quem foi ou se isso foi
real. Talvez tenha sido apenas um sonho.
Meu estômago ronca de fome, sinto minha garganta arranhar
pela falta de água, os lábios inchados e doloridos.
Exausta pela dor, permito que minha cabeça caia para o lado,
e sinto a consciência me deixando outra vez. É impossível conseguir
me manter acordada.
— Lexie… — Abro os olhos com dificuldade, ao ouvir uma
voz baixa e suave, como se eu estivesse em um sonho.
Volto a fechar as pálpebras quando apenas o breu do lugar
me toma.
— Lexie, acorde… Está na hora.
A voz feminina torna-se mais real e próxima, e sinto um
toque firme em meus ombros, me sacudindo.
— Querida, preciso que abra os olhos. Você está queimando
em febre.
É a voz de Abby. Agarro-me a esperança de que ela vá me
tirar daqui, e uso toda a minha força para abrir os olhos e me mover.
Tento focar minha visão na direção da voz, mas está escuro
demais, embaçado. A única claridade é a que vem da porta aberta
logo acima das escadas.
— Hum… — gemo baixinho, sentindo-me mole. Cansada.
Todo o meu corpo dói, como se eu tivesse sido esmagada por
um caminhão desgovernado. Latejos dolorosos palpitam em minhas
costelas e em uma boa parte do meu corpo. Sinto meu lábio inferior
inchado, e quando movimento a parte inferior do corpo, identifico
um desconforto vergonhoso em meu sexo.
Quero morrer…
— Abby? — chamo seu nome baixinho, temendo estar
sonhando de novo. Eu preciso que ela esteja aqui ou não sei se
aguentarei por mais tempo. Tenho a sensação de que há labaredas de
fogo me consumindo de dentro para fora.
— Querida, estou… aqui… — Ouço sua voz vacilar, e
mesmo grogue por causa dos machucados, compreendo que Abby
está a todo custo tentando conter o choro. Eu nunca a vi chorar, nem
mesmo quando mamãe e Adrienne morreram. Ela sempre foi rígida
e impassível. Isso me assusta. — Vai ficar tudo bem, Lexie. Mas
preciso que você me ajude a te ajudar.
Suspiro com mais força, e apoio uma mão no chão. Sinto os
braços de Abby envolverem a minha cintura, e um grunhido de dor
escapa de minha garganta.
— Eu estou… tentando… — digo sem ar. — Por favor, me
tire daqui.
Agarro-me aos seus ombros com uma mão, e com a outra
vou firmando-me na parede, até que consigo ficar de pé com a ajuda
de Abby.
Tudo em mim dói, principalmente no local em que Abby
aperta para me manter firme. Porém, luto para ignorar as palpitações
em meu corpo, e engulo as lágrimas que teimam em tentar cair.
— O que você fez, minha criança? Por que desafiou o seu
pai? — pergunta com a voz mais controlada.
Meu estômago se embrulha quando me recordo de tudo que
meu pai fez, e balanço a cabeça para afastar as lembranças
agonizantes. Sinto o ímpeto de me banhar e esfregar o meu corpo até
a pele ficar vermelha, sem nenhum vestígio dos toques daquele
desgraçado me machucando.
— Eu só estava tentando ganhar tempo para tentar fugir
desse casamento infernal, Abby— respondo, fraca. Até mesmo para
falar algo preciso fazer um enorme esforço.
Abby assente e me guia na direção da saída.
— O que vai acontecer agora? — pergunto ao alcançarmos a
porta e inspiro o ar livre de poeira com toda a força que me resta.
— Você será preparada para o casamento.
A voz de Abby é firme, porém ela não vira o rosto em minha
direção para responder.
Compreendo que chegou a minha hora. Não há mais nada
que eu possa fazer para mudar o meu destino.
Então apenas assinto, esgotada, incapaz de continuar lutando.
A alguns metros de distância, vejo a presença de dois dos
capangas do meu pai. Ambos caminham em nossa direção e o mais
alto deles, justamente o que havia me prendido no escritório,
questiona:
— Ela consegue andar? Já está tudo pronto lá em cima para
preparar a garota! — Ele se refere a mim como se eu não estivesse
ali.
Permaneço parada com a cabeça baixa e evito olhá-los.
— Ela está com febre e sente muita dor por causa dos
machucados. — A voz de Abby ressoa aflita, mas ao mesmo tempo
firme. — Como vai se casar assim?
— O chefe já providenciou tudo. Se dedique apenas em
ajudar essa vadia a ficar pronta. Sabe que Hector não tolera
desobediência — diz o homem bruscamente.
Tremendo, sou guiada por Abby para o andar superior. A
cada passada que dou, sinto que perderei a consciência, tamanha é a
agonia que me toma. Os dois homens nos seguem até o quarto.
Assim que entro, eles trancam a porta pelo lado de fora.
Abby me leva até a cama e me ajuda a me sentar. Ergue as
minhas pernas para se apoiarem no colchão e ajusta vários
travesseiros em minhas costas, de forma que me permitem ficar com
o corpo inclinado.
Olho em volta no cômodo, notando que todos os meus
pertences já foram encaixotados. Uma pilha de caixas está
armazenada, uma em cima da outra em um canto do quarto.
Vejo Megan se aproximar de mim com a expressão neutra,
vestida com a roupa curta e colada de sempre, o cabelo impecável.
Ela observa meu robe desgrenhado de cima para baixo e volta a
pousar o olhar em minha face manchada de lágrimas e sujeira.
Um suspiro cansado escapa de sua garganta, ela revira os
olhos e diz:
— Eu desisto de você, Lexie…— Faz uma pausa como se
estivesse pensando nas próximas palavras. Ela me encara com uma
mistura de pena e desprezo tão grande que o ar fica pesado. — Já te
falei tantas vezes para não desafiar o seu pai. Mas você é tão
ingrata…
Não digo nada a Megan. Não tenho forças para abrir a boca,
muito menos pensar.
Observo que há uma injeção em suas mãos, e alguns
comprimidos.
Ela coloca a mão em minha testa bruscamente, e balança a
cabeça em negativa.
— Como imaginei, está queimando em febre. — Megan
levanta a injeção já preparada, no ar, me encara uma última vez e
desce a mão até a barra do robe. — É morfina. Vai neutralizar a dor.
Balanço a cabeça em afirmativa, compreendendo que aquele
desgraçado pensou em tudo. Ele me machucou, me trancou em um
porão sujo sem se importar que eu agonizava de febre. E agora irá
camuflar as manchas pelo meu corpo, e assim ninguém perceberá o
quão covarde ele é.
Viro o meu rosto quando ela ergue o robe até a altura das
minhas coxas e enfia a agulha no músculo.
Fecho os olhos por breves segundos. A ardência me fazendo
grunhir, a dor nos músculos machucados fazendo o meu ar faltar.
Nenhuma palavra é dita no momento seguinte. Nem por
mim, nem por ela, nem por Abby. Apenas tomo os comprimidos que
a mulher me entrega e aguardo inerte na cama.
A partir de então, quando a morfina começa a fazer efeito,
tudo acontece de forma automática e apenas obedeço aos comandos
de Abby e Megan à minha volta. É como se eu apenas existisse
naquele quarto como um ser sem vida própria. As dores ainda estão
ali se faço movimentos bruscos, só que agora suportáveis.
As duas mulheres retiram o robe e a camisola que cobre o
meu corpo, me deixando totalmente nua sobre a cama.
Não consigo encará-las. A vergonha e humilhação queimam
a minha face. Mas não há nada que eu possa fazer a não ser aceitar
as ordens de meu pai. É isso ou sofrer algo ainda pior.
Seguro as lágrimas com força assim que Megan começa a
depilar o meu corpo, incluindo minhas partes mais íntimas: minha
virilha, vulva e ânus.
Em seguida, me dão um banho caprichado na banheira com
sais aromáticos. Também lavam meus cabelos.
Percebo que Abby evita olhar por muito tempo para os meus
machucados. Está incomodada, aflita. Posso entender sua comoção.
Abby me viu crescer, esteve presente em cada etapa de minha vida.
É como uma mãe para mim.
As mulheres agem com praticidade e rapidez à medida que
secam os meus cabelos e o meu corpo. Abby, que sempre cuidou do
meu bem-estar e Megan é uma espécie de faz tudo do meu pai, além
de ser a sua prostituta particular quando ele está na mansão.
Duas horas mais tarde, estou pronta. Meus cabelos escuros
estão escovados e os cachos modelados caem por minhas costas,
com algumas mechas presas no topo da cabeça. Um véu transparente
de tule branco cobre o meu rosto até a altura do queixo.
Encaro meu reflexo no espelho e suspiro. Quem me observar
de fora, jamais perceberá que por baixo das várias camadas de
maquiagem em minha pele, carrego marcas roxas e vermelhas das
agressões desferidas por meu pai, que feriram a minha boca e meu
queixo de uma forma assustadora. O véu também ajuda a disfarçar o
inchaço nos lábios.
Mal consigo me mover sem estremecer, por causa do corpete
do vestido que comprime as minhas costelas. Não está muito
apertado, mas é incômodo além do suportável.
O vestido branco clássico de mangas compridas, fechado até
o pescoço, envolve o meu corpo como a névoa que envolve a noite
fria. Ele segue justo na cintura e se abre em uma saia bastante ampla
com calda que se arrasta no chão.
É todo trabalhado em renda e tule, desde os detalhes
transparentes no colo, no pescoço e nos braços e a delicadeza com
que reveste todo o corpo. Pareço uma princesa quando me olho no
espelho. Uma princesa sem vida e vazia. Seria o vestido perfeito
para qualquer garota que está se casando com o homem da sua vida.
Porém, para mim, será lembrado como o dia em que fui entregue aos
braços da morte.
Megan segue até a porta e dá uma batida para que os
capangas que fazem a guarda no corredor a abram. Inspiro fundo,
sabendo que agora eu serei dele para sempre. Não há como fugir do
diabo.
A porta é aberta e os dois homens entram, prontos para me
levarem até o carro.
Estranho o fato de John não estar ali. É ele o encarregado de
fazer a minha guarda. No entanto, não o vi quando me trouxeram de
volta ao quarto, e não o vejo agora.
— Está na hora. Vamos! — diz um dos capangas, o mais alto
e mal-encarado.
É um homem com barba escura e fechada, olhos pretos,
opacos e sem brilho. Encarar suas írises é o mesmo que encarar um
abismo profundo e assustador. Maldade pura reina ali. O outro é
mediano, mas igualmente intimidante. Há um ar de pura destruição
em seu semblante.
Caminho na direção da porta, sendo acompanhada por Abby
e Megan que vêm logo atrás. Os dois aguardam que eu passe por
eles, e viram suas atenções na direção das duas mulheres.
— Megan, o chefe te espera na sala dele — fala o
brutamontes mal-encarado.
A mulher assente, olha de mim para Abby com a expressão
preocupada e sai da nossa vista para atender ao chamado do meu pai.
E então, o homem volta o seu olhar para a mulher que cuidou de
mim desde criança e sinto um arrepio gelado tomar conta da minha
espinha.
Abby arregala os olhos quando percebe que agora é foco do
olhar maligno e mordaz. O que presencio no momento seguinte, faz
o meu coração se partir em milhões de pedaços.
— Você já não é mais necessária aqui! — ele diz e ergue uma
arma, mirando a cabeça de Abby.
Sinto meu coração parar de bater.
A mulher simplesmente abaixa a cabeça em submissão e
concorda, como se desde sempre soubesse que aquele seria o seu
destino algum dia.
— Nãooo… Abby… não!! — grito, desesperada e me movo
para tentar impedir que ele atire, mas o outro homem segura o meu
braço com força, impedindo-me de ir até ela.
Abby olha na minha direção com os olhos marejados, e
murmura: — Se cuide, criança.
Ouço o barulho do tiro ecoa pelo corredor, deixando-me
petrificada, sem voz. Busco o ar mas não o encontro, minhas pernas
falham, o mundo para à minha volta.
Seu corpo cai no chão, inerte. O sangue vaza do buraco em
sua cabeça e tinge o piso de madeira de vermelho. Respingos
púrpura mancham as paredes
— Abby…
CAPÍTULO 15

LEXIE

Quando a marcha nupcial se inicia, caminho devagar sobre o


carpete vermelho, sem conseguir prestar atenção em nada que está à
minha volta ou a minha frente. Engulo saliva com dificuldade,
sentindo a secura que arranha a minha garganta e o gosto amargo na
boca que me causa ânsia de vômito.
Fecho os olhos por um segundo e a imagem do corpo de
Abby caindo no chão já sem vida, vem à minha mente com força. É
como se eu revivesse o mesmo pesadelo centenas de vezes, a cada
momento que pisco os olhos.
Não consigo chorar… Não consigo dizer nada…
A ficha ainda não caiu…
Meu corpo está seco por dentro, sou tomada pelo medo do
desconhecido, abalada por tudo que presenciei.
Meu consciente ainda não digeriu tudo o que aconteceu na
mansão. Lá no fundo, algo me diz que em algum momento Abby
virá até mim viva e saudável, com sua costumeira expressão séria e
impecável.
Com a cabeça baixa, o olhar vidrado no chão e o corpo
trêmulo, sinto a mão de meu pai segurando o meu braço. Aperto o
buquê de rosas brancas entre os meus dedos e ele me guia em
direção ao altar como se nada tivesse acontecido. Seu toque é frio
como gelo através do tecido rendado da manga do meu vestido. O
aperto é forte e vitorioso à medida que nos aproximamos do fim.
Pouco tempo depois, o homem para a poucos passos do altar
e vejo os pés de alguém se aproximando.
Somente quando Hector se afasta é que me permito levantar
a cabeça alguns centímetros. Daniel está ali, na minha frente, vestido
de negro da cabeça aos pés, o olhar enigmático fixo e duro em
minha direção.
Ele prende o meu braço ao seu e me puxa, levando-nos para
o altar.
Eu o sigo em silêncio, sem emitir nenhuma resistência,
apenas entregue ao destino que construíram por mim. Não há mais
por que lutar. Meu corpo faz tudo de forma automática.
É tão irônico pensar que estou me casando na Igreja, sendo
observada por tantas pessoas como se de fato eu sempre tivesse
sonhado com isso. Meu pai pensou nos mínimos detalhes. Desde o
casamento tradicional até mesmo no arranjo dos padrinhos. No
entanto, apenas sigo as instruções que me são passadas como se meu
espírito e força de vontade não existissem mais.
A cerimônia é iniciada, mas nada ouço ou vejo. Tenho
apenas vislumbres das pessoas às minhas costas, dos padrinhos que
não conheço ou não prestei atenção suficiente para reconhecer, dos
convidados que nunca vi em nenhum momento da minha existência
ou é assim que imagino, já que mal os olhei.
Em algum momento da cerimônia, meus votos são entregues
em minhas mãos, escritos em um pedaço de papel branco, por
alguém ali ao meu lado. Não levanto a cabeça para observar quem
me entregou, mas imagino ter sido Megan.
Daniel dita os seus votos enquanto mantém o olhar fixo em
mim. Posso sentir suas írises me queimando através do véu. Ele diz
coisas sobre companheirismo, proteção, amor e lealdade. Algo que
nunca existirá entre nós, algo que nunca terei. Quando ele termina,
leio as palavras rabiscadas no papel sem de fato prestar atenção em
nada do que está escrito, nem ao menos consigo me concentrar em
minha própria voz. Apenas leio, desejando que tudo aquilo chegue
logo ao fim.
A troca de alianças é feita rapidamente. Sinto as mãos duras
de Daniel colocando o anel de casamento no meu anelar da mão
esquerda, junto ao de noivado, e tento fazer o mesmo com ele.
Minhas mãos tremem tanto que por um momento penso que
não vou conseguir e o anel cairá no chão. Porém respiro fundo,
fazendo o máximo para não prolongar mais isso, seguro a aliança
com firmeza e a levo em direção ao seu dedo.
Tranco os meus olhos quando ele fecha os dedos da mão
direita sobre os meus que seguram a aliança e me ajuda no processo,
provavelmente irritado com meu descontrole emocional e físico.
Afasto os nosso contato o mais rápido que posso e volto a
puxar o ar com mais força. Seguro um gemido sofrido ao sentir o
latejar em minhas costelas, no entanto permaneço fria e parada.
Concentro-me na dor física para não desabar na frente de todas essas
pessoas.
— Eu vos declaro marido e mulher. O noivo já pode beijar a
noiva! — o Sacerdote dá a sentença final.
Daniel se aproxima enquanto todos os olhares se voltam em
nossa direção, atentos. Levanta o véu que cobre o meu rosto, e sem
qualquer delicadeza desliza a mão rude pelo meu pescoço e encosta
a boca severa na minha. Apenas um selinho breve, mas o suficiente
para eu sentir os fios de sua barba ferindo meus lábios já
machucados. Estremeço, mas continuo imóvel.
Assim que tudo termina, recebemos alguns cumprimentos e
Daniel coloca a mão em minha cintura, guiando-nos para fora da
Igreja.
O sol já está se pondo quando finalmente alcançamos o lado
de fora. Desço os degraus devagar para não perder o equilíbrio
enquanto Megan me auxilia com o vestido para que eu possa entrar
no banco traseiro da limusine.
Sento-me com dificuldade ao mesmo tempo em que fecho os
olhos, tentando não demonstrar os latejos dolorosos em meu corpo.
Permaneço com a postura reta e impassível. A respiração tão
acelerada como se acabasse de correr uma maratona, o coração
dando batidas frenéticas em minha caixa torácica.
Daniel senta-se de frente para mim e me encara seriamente.
Os lábios cerrados em uma linha fina.
Ele está calado, fechado. Seu olhar inquisidor me analisa de
cima para baixo, não demonstrando nenhuma emoção. Tão frio
quanto gelo.
Desvio meu olhar para a janela e me concentro na paisagem
urbana que se estende pelas ruas movimentadas de Manhattan.
— Algo errado, Lexie? — A voz firme chega aos meus
ouvidos, mas eu não me viro para encará-lo.
— Tirando o fato de termos nos casado… Não. Não há nada
de errado — respondo sem forças para maiores discussões, ainda
assim meu tom é arrastado. Sinto meu estômago embrulhado por
causa das extensas horas sem comer, meu corpo cobra o preço e a
fraqueza em meus membros me deixa mole.
Mesmo sem fixá-lo diretamente, posso sentir seu olhar
gelado queimando a minha pele.
Pelo canto do olho, vejo alguns movimentos de seu corpo.
Daniel escora as costas largas no encosto estofado, ficando relaxado.
— Não está ansiosa para a noite de núpcias?
Minha respiração falha ao imaginar o que me espera essa
noite, porém, forço-me a continuar imóvel e não demonstrar
nervosismo.
Após alguns segundos, volto minha atenção para o rosto de
Daniel e me deparo com a curva de um riso cínico estampado em
seus lábios.
— Meu corpo é tudo o que você terá de mim! — afirmo em
um tom baixo, encarando os seus olhos escuros.
O sorriso desdenhoso se amplia mais e o homem coloca o
braço direito acima do encosto do banco. A outra mão desliza pela
barba loira e cheia, analisando-me. No entanto, o riso arrogante que
vejo em seu rosto não compactua com a tempestade furiosa de seu
olhar.
— É o suficiente para mim, Lexie. É apenas o seu corpo que
me interessa — alfineta.
Respiro fundo, fingindo não sentir uma pontada incômoda
em meu íntimo e volto a desviar o meu olhar do seu rosto. Não faço
ideia de para onde estamos indo ou o que está por vir, mas não tenho
a mínima vontade ou ânimo para questionar.
O restante do percurso é feito em total silêncio.
Embora ele tenha tentado me tirar do sério, Daniel também
está distante, silencioso. É como se seu corpo estivesse presente,
mas sua alma vagasse por outro plano. Porém, não consigo e nem
quero decifrá-lo.
É somente quando a limusine estaciona em frente a um hotel
de luxo no centro de Manhattan, que me dou conta que será aqui o
local que acontecerá a recepção.
Vejo alguns veículos chegando logo em seguida, outros são
guiados por manobristas que transitam para estacionar os carros,
pessoas circulam de um lado a outro em frente ao hotel, entre eles,
meu pai, Megan e um batalhão de seguranças.
Um homem abre a porta da limusine e Daniel segura a minha
mão para me ajudar a sair, não me dando oportunidade para ignorá-
lo.
Como havia feito na Igreja, Megan caminha até mim, ergue a
cauda do meu vestido para que o tecido não se enrosque no chão, e
logo sou guiada para o hall de entrada como uma marionete.
Vejo meu pai cumprimenta algumas pessoas enquanto
caminha sorridente, o ego tão inflado como se fosse o dono do
mundo.
Sinto náuseas ao ver a cena, a sua frieza, a maldade que
exala de cada poro de seu corpo.
Desvio a minha atenção do homem e acompanho Daniel em
todo o percurso.
O salão é amplo, está bem iluminado e decorado. Os
convidados sentam-se em seus respectivos lugares, garçons circulam
em seus trajes impecáveis, carregando bandejas com petiscos e
bebidas.
Ao chegarmos em uma imensa mesa no centro do salão,
Daniel indica o assento da ponta e puxa a cadeira para que eu me
sente, deixando-me em destaque para todos os presentes ali, como
um troféu.
O homem se acomoda, tomando o seu lugar do lado esquerdo
e o meu pai o do lado direito. Todos os lugares começam a ser
ocupados também e uma conversa agitada se inicia na mesa.
Não presto atenção. As dores em meu corpo começam a me
atingir com mais força. O efeito da morfina está se extinguindo
pouco a pouco e até mesmo respirar é doloroso.
Inspiro e respiro algumas vezes, incomodada com o
espartilho que comprime as minhas costelas. Sinto meu rosto suar,
minhas mãos ficam frias, meu estômago embrulha. Ainda assim,
mantenho-me firme.
Permaneço quieta, agoniada.
Levanto o olhar e vasculho o lugar procurando uma
distração. Observo Megan sentada ao lado de meu pai, usando um
vestido longo e justo de cor coral. Um colar de pérolas reluz em seu
pescoço esguio. Ao lado dela, identifico a presença de um dos
capangas de confiança de meu pai, trajando elegantemente um terno
cinza escuro. Mais adiante, vejo uma mulher loira e muito bonita
usando um vestido idêntico ao de Megan.
Passo os olhos rapidamente pelos convidados ao redor da
mesa, reconhecendo alguns políticos e empresários importantes.
Ao desviar minha atenção para as pessoas ao lado de Daniel,
o vejo conversar com um homem forte e imponente, também usando
um terno fino.
Observo as feições rudes do homem, a testa vincada por
causa da expressão dura, a barba salpicada de fios brancos, o cabelo
castanho preso no topo da cabeça. A cicatriz na sobrancelha
esquerda o deixa um pouco amedrontador, no entanto, surpreendo-
me ao vê-lo levantar o braço e acariciar o ombro da pequena mulher
que está sentada ao seu lado, sem desviar a atenção da conversa que
está tendo com meu marido.
Incomodada, desvio meu olhar para a mulher sentada ao seu
lado, e me surpreendo ao constatar que ela me observa com
curiosidade. A mulher curva os lábios avermelhados em um riso
suave em minha direção e acena levemente com a cabeça. Sua pele é
tão clara quanto a neve, seu olhar é tão vívido e brilhante que me
causa uma sensação de calmaria.
Percebo que ela também usa um vestido coral como o de
Megan e o da outra mulher, o que indica que as três foram minhas
madrinhas de casamento.
Embora tenha entrado na igreja tão chocada com o que
aconteceu com Abby que nem ao menos percebi o que acontecia à
minha volta, agora, sinto como se estivesse anestesiada. A dor física
que sinto no corpo é intensa, mas ao mesmo tempo é como se eu não
tivesse alma.
Por que não consigo chorar?
Desvio minha atenção da mulher rapidamente, constatando
que a encarei bem mais do que deveria, mas é tudo tão estranho, essa
sensação de paz que ela passa me abala de uma forma inexplicável.
Talvez porque não conheci muitas pessoas ao longo da minha vida,
nunca tive amigas, a não ser Abby.
O jantar é servido e meu estômago revira de fome, incitando
ainda mais o enjoo causado pela falta de comida. Tento comer algo
para não desmaiar, mas é como se eu mastigasse um pedaço de palha
seca. Não sinto o gosto dos alimentos e um bolo incômodo em
minha garganta impede que eu engula.
Sentindo-me fraca, decido sair dali para procurar um
banheiro e tentar me refrescar um pouco, temerosa em passar mal.
Tudo que menos quero agora é a atenção do meu pai para cima de
mim outra vez. Apenas sua mera presença na mesa já me causa
náuseas e um arrepio mórbido.
O suor gelado escorre em meu busto e pescoço, me forçando
a agir com pressa, mas com cautela. Forçando um sorriso para os
convidados, inclino-me e toco o braço de Daniel para chamar sua
atenção.
— Preciso ir ao banheiro. Volto em um instante — aviso
enquanto tento manter as aparências. Prefiro morrer ao permitir que
ele perceba o quão destruída estou.
— Eu te acompanho… — diz ele, já se movimentando para
se levantar, no entanto, mais uma vez sou surpreendida quando a
mulher que está ao lado de seu amigo se levanta da cadeira e sorri
cordialmente, vindo na nossa direção.
É como se de alguma forma, ela soubesse que preciso ficar
sozinha por alguns instantes.
— Lexie, pode ir comigo ao toalete por favor? Preciso…
retocar a maquiagem. — Ela sorri de mim para Daniel e estica o
braço para segurar a minha mão.
O homem que a acompanha nos observa com um brilho de
divertimento nas írises esverdeadas. Olha na direção de Daniel e
movimenta a cabeça em uma espécie de aceno positivo.
— Claro… — murmuro, incerta, mas me levanto para
acompanhá-la.
Vejo meu pai ergue a cabeça e me encarar com uma
expressão feroz no rosto marcado por rugas espessas. Seu olhar
vagueia até Daniel, mas não espero para ver a expressão no rosto do
meu marido.
Caminho devagar para longe dali, ao lado daquela mulher
que não conheço e muito menos confio, mas que de alguma forma,
sem que eu compreenda, passa-me segurança.
— Desculpe te chamar assim, é que… você não parecia estar
muito à vontade naquela mesa — diz ela assim que entramos no
primeiro toalete social que encontramos.
Ando ofegante até a bancada da pia de mármore, abro a
torneira e fecho os meus olhos.
— Obrigada… eu… acho que estou mais nervosa do que
deveria.
Enfio a mão debaixo da água morna, retiro o excesso do
líquido transparente e refresco a pele atrás das minhas orelhas e na
linha acima da gola do vestido, evitando molhar o rosto e manchar a
maquiagem que cobre o machucado em meu queixo e lábios.
— Aqui. Pegue isso. — Ela me entrega um punhado de papel
para que eu seque as mãos, e se recosta na bancada ao meu lado.
Suas mãos arrumam alguns fios do meu cabelo que se desprenderam
e agora caem pelo meu rosto.
— Obrigada… — agradeço, trêmula e nauseada enquanto
continuo fitando a água que escorre da torneira como um ponto de
distração.
— Se sente melhor? — questiona em um tom suave. É
notável a preocupação em sua voz.
— Um pouco… — Não consigo falar muito, embora o mal-
estar esteja diminuindo gradualmente.
Ao me sentir mais estável, ergo a cabeça para fitá-la e
encontro seu semblante aflito em minha direção.
— Agradeço por isso. Eu realmente não estava me sentindo
muito bem.
Busco explicar o motivo do meu mal-estar sem revelar nada
da situação a qual me encontro, e esboço um sorriso em
agradecimento.
O olhar brilhante e esverdeado me analisa com cuidado e ela
assente.
— Não foi nada… — Sorri… — A propósito, eu me chamo
Angelina. Foi um prazer ser a sua madrinha de casamento… — ela
interrompe a fala, como se procurasse a melhor maneira de continuar
essa conversa.
O mais provável é que Angelina saiba as circunstâncias nas
quais me casei, motivo pelo qual eu nem ao menos sabia quem
seriam as minhas madrinhas, mas algo em seu olhar diz que ela não
se sente muito à vontade para tocar no assunto ou está receosa com
relação a minha parte nesse acordo matrimonial.
— É que… bem… Não sei se você sabe, mas aquele homem
que estava sentado ao meu lado é meu esposo, Alexander. Ele e seu
marido são amigos há mais de doze anos.
Arregalo os olhos surpresa com seu comentário. Imaginei
que Daniel e esse tal Alexander fossem próximos, mas não pensei
que seriam amigos há tanto tempo.
— Eu não sabia. Não conheço muito sobre a vida pessoal de
Daniel… — explico e ela balança a cabeça em concordância.
Algo em seu olhar inquisidor me diz que ela compreende o
motivo pelo qual a tristeza em meu semblante é tão nítida, mas
Angelina não comenta nada a respeito. Provavelmente captou que
não estou a fim de tocar no assunto ou que ainda não a conheço o
suficiente para me abrir.
— Se sente melhor para voltarmos? — questiona, indecisa.
Respiro fundo e assinto. Não há alternativa, preciso voltar,
mais cedo ou mais tarde.
Ela abre a pequena bolsa que tem nas mãos, retira um batom
vermelho e um pedaço de papel.
— Melhor passarmos um batom para justificar nossa
escapada para o banheiro.
Colore os lábios com o pequeno bastão e em seguida estende
a mão para que eu faça a mesma coisa.
Quando termino, entrego o batom de volta para ela e me
certifico se os fios do meu cabelo estão no lugar.
— Quero que salve o meu contato, Lexie. — Angelina me
estende o pedaço de papel que segurava e eu o pego, passando os
olhos brevemente pelos números. — Se precisar conversar ou
qualquer coisa que desejar, por favor, me ligue. Será um prazer
passarmos um tempo juntas. — Ela sorri mais uma vez, no entanto
percebo que há uma mistura de preocupação e receio em seu
semblante.
— Farei isso, obrigada. — Guardo o papel dentro da gola do
meu vestido e ela assente.
Saímos as duas em direção ao salão em que está sendo
servido o jantar.
Ao notar nossa presença, Daniel se levanta e caminha até
nós. Sua mão entrelaça-se à minha, porém eu evito ao máximo olhá-
lo. Seu toque em minha pele é repulsivo. Morro todas as vezes em
que o imagino me tocando intimamente essa noite.
Retornamos à mesa e me sento no lugar que ocupava.
Observo Alexander puxar Angelina para os seus braços e
beijá-la nos lábios por breves segundos. Apesar de ser um homem
sério e assustador, o amor que ele demonstra sentir por ela me causa
um arrepio na espinha. Baixo meu olhar envergonhada por invejá-la
mesmo que um pouco. É notável que se amam, que se respeitam e se
protegem.
As horas passam, a conversa em volta das mesas diminui,
alguns convidados se aproximam para se despedirem e retiram-se
para irem embora. Eu me despeço de todos tentando manter um
sorriso pacífico no rosto, ao lado de Daniel.
Somente quando restam algumas poucas pessoas no salão, é
que Daniel me puxa para um local mais afastado do fluxo de
convidados. Ele toca o meu queixo, forçando-me a encará-lo e
desliza a outra mão em meu braço, lentamente, até alcançar meus
dedos e colocar um cartão entre eles.
Engulo em seco e enraivecida, observando o homem
grosseiro de frente para mim. Não faço questão de esconder o
quanto sua proximidade me enoja. Vincos profundos formam-se em
sua testa quando ele fecha a expressão. Inclina o corpo e sussurra em
meu ouvido:
— Pegue o elevador privativo e me espere na suíte do
apartamento completamente nua! Irei ao seu encontro em alguns
instantes.
Sua ordem é calma e fria, mas causa um estremecimento
avassalador em minhas pernas. Sua expressão é neutra à medida que
me observa. Não há nenhum indício ali do que se passa em sua
cabeça, e eu o odeio um pouco mais por isso.
Fito os seus olhos, vendo a tempestade que se formou em
suas írises tão negras quanto a noite, viro-lhe as costas e sigo na
direção do elevador privado. Ao chegar no apartamento, procuro não
pensar muito no que vai acontecer e sigo direto para a suíte.
As dores em meu corpo ficam a cada segundo mais
insuportáveis, o que faz com que eu queira me livrar logo do vestido
de noiva. Arranco o véu dos meus cabelos, jogando-o em um canto
do quarto. Retiro os sapatos brancos, deposito-os no chão e caminho
pelo carpete macio que recobre o piso. Um suspiro sôfrego e
aliviado escapa da minha boca ao sentir a suavidade em meus pés.
Observo a enorme cama coberta com lençóis de cor pastel e
dossel na mesma tonalidade. Luxo e requinte revestem cada
centímetro das paredes deste lugar. Com dificuldade, caminho pela
suíte para apagar todas as luzes, ficando quase em total breu, com
exceção dos flashes de luz da lua que entram pelas frestas das
cortinas e banham o quarto.
Meu corpo está coberto de hematomas roxos e azuis. Seria
humilhante demais ficar nua diante dos olhos daquele homem
enquanto ele observa tudo o que passei para estar aqui.
Essa noite, meu corpo será dele, e Daniel fará o que quiser
comigo. Não há por que lutar, não há por que resistir. Eu não tenho
escolhas e nem forças para enfrentá-lo. Só rogo baixinho para que
tudo termine o mais breve possível e ele não me machuque tanto.
Permaneço de pé de frente para a cama, com as costas
viradas para a porta e levo as mãos à minha nuca. Começo a abrir os
botões do vestido. Não é uma tarefa fácil. As pontadas de dor em
minhas costelas me fazem trancar os olhos e cerrar o maxilar para
não gritar.
Estou na metade da carreira de botões quando a porta do
quarto é aberta e ele entra. Meu coração acelera, quase saindo pela
boca, mas continuo com a tarefa de abrir os botões. O barulho dos
sapatos contra o piso é anulado no momento em que ele alcança o
carpete felpudo e para a alguns metros de distância. Não consigo
vê-lo na posição que me encontro, mas sei que seu olhar está focado
em minhas costas, observando todos os meus movimentos como um
predador à espreita.
Deslizo o vestido pelas minhas pernas e saio do amontoado
de tecido no chão.
Repito o processo com o corpete e a cinta liga as meias e a
calcinha de renda.
Quando termino, ficando completamente nua e vulnerável,
abraço o meu corpo e continuo de costas para ele, aguardando que
me tome.
Estremeço ao ouvir o barulho de peças de roupas caindo no
chão, mas permaneço estática e em silêncio. O peito subindo e
descendo por causa da minha respiração errática, o coração batendo
tão forte que posso ouvir o bombardeio.
Ouço seus movimentos lentos e Daniel se aproxima. O único
barulho no ambiente é o som de nossas respirações desenfreadas.
Tocando o meu ombro, o homem retira os fios dos meus cabelos,
colocando as mechas de lado. Inclina-se e desliza a barba cheia na
curva do meu pescoço, por trás, me fazendo soltar um grunhido por
causa do arrepio que me toma da espinha até o pescoço.
O cheiro de sua colônia mistura-se ao seu hálito com aroma
de uísque. É uma combinação alucinante, capaz de enlouquecer
qualquer mulher em outras circunstâncias.
— Tem ideia do quanto esperei por essa noite, Lexie? —
murmura. As mãos grossas deslizam pelos meus ombros e busto,
alcançando um dos meus seios, apertando-os.
Meus olhos ardem por causa das lágrimas que teimam em
cair, mas forço-me a ser forte. Sinto o calor de seu abdômen nu em
minhas costas, esmagando meu corpo ferido contra o dele.
— Você me deixou doido naquela noite. Quase fui à
loucura… — ele continua murmurando baixinho, trazendo à tona
lembranças que quero esquecer. — Meu pau está tão duro…
Tranco os olhos com mais força e busco levar meus
pensamentos para outro lugar.
Penso em Abby caída no chão, sem vida e coberta de sangue.
A raiva vem com mais força, me rasga por dentro como uma
navalha.
A culpa é dele. Abby está morta por causa dele…
Lágrimas grossas formam-se em meus olhos à medida que as
mãos de Daniel deslizam pelo meu corpo, massageando e
acariciando a parte de dentro das minhas coxas. Quero matá-lo, mas
como fazer isso quando sou eu que estou praticamente morta?
Sobressalto-me assim que suas mãos alcançam o centro das minhas
pernas e um dedo raspa de leve no meu clitóris.
Soluço baixinho tomada pelo desespero e o sofrimento que
carrego dentro do peito, raiva e desprezo por mim mesma me
atordoam por sentir o meu corpo se excitar por causa dele. Os braços
fortes seguram o meu quadril bruscamente, me fazendo girar para
ficar de frente para ele.
Daniel comprime o meu corpo contra o seu e sua boca
procura a minha com um desespero atordoante. Desvio o rosto para
evitar suas investidas, no entanto, não consigo mais me controlar e
solto um soluço doloroso quando ele amassa a minha carne em suas
grandes mãos e aperta o lado latejante de minhas costelas.
Um grito de dor escapa da minha garganta.
CAPÍTULO 16

DENER

Observo Lexie Laccount virar-me as costas e seguir na


direção do elevador privativo que dá acesso ao meu apartamento
pessoal aqui no hotel. Aceno para Ettore ficar de olho em seus
passos, e permaneço parado com as mãos cruzadas em minhas
costas, seguindo-a com o olhar.
Ela caminha devagar, com as costas eretas e a cabeça erguida
como sempre faz. O vestido branco de noiva se arrasta no chão a
cada movimento sutil de seus passos, me fazendo ferver por dentro
em ânsia de arrancá-lo do seu corpo o quanto antes, mas me
contenho.
Ao vê-la entrar na Igreja mais cedo para oficializar o acordo
que fiz com Hector, senti um descontrole infernal me tomando de
dentro para fora. Aquela obsessão abrasiva em imaginar que ela me
pertenceria, aquele desejo insano que queima o corpo de um homem
e o deixa louco de tão excitado, só em pensar no corpo dela nu em
minha cama.
Eu me excomunguei por isso. Senti ódio de mim mesmo
naquele momento.
A raiva me deixou agitado e me fez puxar e soltar o ar com
força por várias vezes. Fechei os olhos por alguns instantes,
concentrando-me naquela noite maldita, relembrando com detalhes o
momento que Hector cortou a garganta da mulher que eu amava. Eu
jamais me permitiria perder o controle por causa de Lexie Laccount,
por mais bonita e sedutora que ela fosse. Era uma promessa que eu
fazia para Adrienne.
Quando Lexie foi entregue a mim no altar, eu já não era mais
o homem que a queria como um louco. A fúria que tomava o meu
corpo deixara-me cego para tudo o que acontecia à minha volta: eu
só pensava em vingança!
Evitei olhá-la e fiz apenas o necessário para oficializarmos a
nossa união. Assim que o padre encerrou a cerimônia, dando o
veredito para o noivo beijar a noiva, eu simplesmente levantei o véu
que cobria o seu rosto e a beijei por breves segundos. Sem
romantismo, sem promessas falsas, sem um único olhar de apreço.
Agora, enquanto a observo se afastar, os mesmos conflitos
me atormentam como fantasmas, mas agora multiplicados pela
indiferença dela. Lexie não parece ser a mesma pessoa que tentou
me esfaquear em minha própria casa e logo depois me beijou com
insensatez. A mulher quieta e fria que se casou comigo hoje em nada
se assemelha com a versão ousada que gemeu enlouquecida em
meus braços enquanto gozava e cravava as unhas nos meus ombros.
Ela está silenciosa, provavelmente me abominando por ser eu
o responsável por seu rompimento com aquele imbecil, o Matt. Eu
sei que ela me deseja, estava explícito no calor de sua boca e em
cada poro de seu corpo na noite em que jantamos juntos, mas é ele
quem Lexie ama, da mesma forma que a desejo e continuo amando
Adrienne. Porém, imaginar que nesse momento é o desgraçado
quem ocupa seus pensamentos e é com ele que ela gostaria de estar
casada, deixa-me possesso.
A fúria me toma.
A indiferença e frieza em seu olhar foram notáveis quando a
ordenei que me esperasse nua na cama, porém eu pouco me fodi
para aquilo. Lexie logo saberá que a diferença entre o querer e o
poder são bem distintas. E mesmo que pense nele, será o meu corpo
que estará dentro dela, em breve.
É focado nisso, que viro-me e retorno ao círculo de pessoas
para me despedir dos poucos convidados que restaram. Alexander,
um amigo do passado, que fora meu padrinho de casamento,
levanta-se quando me aproximo e sua esposa, Angelina, faz o
mesmo.
— Está na hora de irmos, Daniel — comunica, batendo em
meu ombro com a palma da mão, e logo depois enlaça a cintura da
esposa com o outro braço.
Angelina, uma linda e pequena mulher de cabelos escuros,
olhos esverdeados e rosto angelical, abraça o marido de lado e sorri
ternamente em minha direção:
— Até breve, Deni — sussurra, usando o apelido do meu
primeiro nome.
Apenas ela e Alexander me conhecem como Dener.
— Até breve — respondo-os, forçando o esboço de um riso
no rosto. Apesar de considerar muito a companhia dos dois, ainda
sinto meu sangue ferver por causa de Lexie. Não sei ao certo se é
apenas pela raiva ou tesão reprimido.
— Obrigado por virem, eu os acompanharei até o hall.
— Não será necessário… — diz a mulher com suavidade. —
Acredito que esteja mais ansioso pela companhia da sua esposa. —
Ela pisca, arrancando uma gargalhada de seu marido.
Fecho a expressão, mas continuo em silêncio.
— Acho que minha mulher está certa. Vá curtir sua noite,
irmão. Passarei em sua casa em algumas semanas para tomarmos um
bom uísque — menciona. — Tenho certeza de que minha esposa
também está ansiosa para conhecer um pouco mais a sua noiva, não
é querida?
Angelina assente perante a pergunta do homem, e o abraça
com mais força.
— Ela parece ser uma mulher incrível. Parabéns pela
escolha, Daniel.
Balanço a cabeça em concordância, observando-os. Ambos
sabem que meu casamento não passa de um contrato, no entanto,
agem como se de fato eu e Lexie fôssemos um casal apaixonados.
Apesar do incômodo causado pela expectativa no olhar de Angelina
quando se referiu a Lexie, trato de disfarçar o desconforto e
respondo:
— Eu os aguardarei, então.
Angelina se despede de mim com um abraço terno, e
Alexander com um aperto de mão.
Não foi fácil convencer Alexander a vir ao meu casamento e
misturar-se com tantos homens perigosos, sendo genro de um
Federal. Ele já esteve desse lado da moeda, sabe o quanto essas
pessoas são traiçoeiras. Embora Alexander tenha sido um assassino
de aluguel quando o conheci, depois que se casou, passou a prestar
serviços para o FBI. O homem é mestre em tiro a distância. Atrás de
um rifle e de sua Uzi ou até mesmo em combate corpo a corpo,
Alexander é praticamente invencível.
O único motivo pelo qual o homem aceitou comparecer a
este casamento, foi a amizade verdadeira que mantemos há tantos
anos. Eu o salvei da morte quando ele e sua preciosa Angelina foram
pegos em uma emboscada, e ele foi a minha âncora durante o
período em que estive no hospital logo após ter sido esfaqueado e
baleado pelos homens de Hector. Alexander sabe que esta é uma
ocasião importante para mim, apesar de não ter concordado com
meus planos para vingar-me de Hector. Em sua opinião, eu deveria
simplesmente eliminar o filho da puta e pronto. No entanto, apenas
sua morte não é suficiente para mim e Alexander sabe e respeita
isso.
Quando os dois saem, caminho até a mesa principal que
comporta um pequeno número de convidados: alguns políticos,
Hector, seus homens e os meus seguranças que estão de prontidão.
Deparo-me com o buquê de rosas brancas que Lexie deixou sobre a
mesa, no lugar em que ocupava. Não me movo para pegá-las, apenas
continuo analisando calmamente os meus próximos passos, e o
primeiro deles é fazê-la minha essa noite.
Hector me observa com atenção, relaxado na cadeira
enquanto coloca um charuto na boca e expele a fumaça, um copo de
uísque ocupa sua outra mão.
George também me analisa da outra ponta, mas mantém-se
atento a todos os movimentos ao seu redor, sem disfarçar seu
descontentamento com esse casamento. No entanto, para o seu
próprio bem, meu consigliere não voltou a tocar no assunto. Minha
paciência estava se esgotando com suas tentativas de intromissões.
Aceno para o garçom mais próximo e ele me serve uma dose
da bebida cara e importada, encomendada exclusivamente para esta
ocasião. Viro o líquido maltado de uma vez em minha garganta. A
queimação característica faz o meu sangue ferver ainda mais. Assim
que coloco o copo sobre a mesa, pigarreio para chamar a atenção de
todos e comunico como um bom anfitrião faria:
— Estou me retirando por hoje, meus amigos. — Passo o
olhar rapidamente pelos homens ali sentados, os mesmos homens
que em breve verão a queda de Hector. Desvio minha atenção para o
filho da puta e esboço um sorriso frio, carregado de hostilidade
velada. — Espero que apreciem as bebidas e os charutos.
Um grupo de seguranças me acompanha quando viro as
costas e caminho na direção do elevador privado, entre eles estão
George e Ettore.
Assim que saio do elevador, deixo um grupo responsável em
fazer a segurança da entrada do apartamento enquanto uma outra
parte se encaminha para a cobertura para reforçar a defesa.
George e Ettore fazem a guarda na sala de estar e eu sigo
direto para a minha suíte.
Caminho a passos lentos e pacientes, atento ao silêncio que
permeia a minha volta como uma massa densa e infinita, quebrada
apenas pelo ressoar dos meus sapatos contra o piso. Abro a porta,
deparando-me com o cômodo escuro e igualmente silencioso como
estava o corredor. Os poucos flashes de luz que entram pelas
cortinas e a claridade que vem da porta me permitem vê-la, de costas
para mim, em uma luta lenta para desabotoar os fechos do vestido.
Ouço o som de sua respiração errática. Posso sentir o cheiro
de seu nervosismo entranhando-se nas paredes do quarto. E isso me
excita mais. Fecho a porta às minhas costas, lentamente. Eu não
tenho pressa. Caminho devagar em sua direção e paro a alguns
passos de distância, até meus olhos se acostumarem com a escuridão
latente.
Não quero assustá-la com o meu tamanho, não agora. Por
isso deixarei a luz apagada como é o desejo de Lexie. Com os olhos
focados nas formas deliciosas de seu corpo, enquanto ela se despe,
aproveito o momento para tirar o paletó, a camisa e a gravata. Estou
sufocado de necessidade, a ardência em meu corpo por causa do
desejo está me deixando insano.
Ela fica completamente nua, mas não se vira para me
encarar. Continua imóvel, o cabelo longo e escuro cobrindo suas
costas, a forma arredondada do traseiro me alucinando. Lexie é tão
pequena se comparada a mim, que temo sufocá-la quando seu corpo
estiver debaixo do meu, tamanha é a sede que estou sentindo dela.
Deixo as roupas caírem no chão e dou o mesmo destino a
arma que carrego no coldre. Porém, não retiro a calça. Deixarei que
Lexie faça isso para mim com suas mãos quentes e delicadas.
Diminuo o espaço entre nós até quase sentir os pelos
arrepiados de seu corpo contra a minha pele. Deslizo minhas mãos
pelos seus ombros e pescoço. Sinto-a estremecer sob o meu toque, e
retiro as mechas grossas de seu cabelo do meu caminho. Inclino o
meu corpo para deslizar a barba na curva de seu pescoço e sorrio ao
ouvi-la grunhir com a carícia.
Inspiro o seu cheiro, me permitindo ser inebriado pelo aroma
de seus cabelos: mel. Ela tem cheiro de mel. Minha boca saliva só de
pensar em lambê-la em todos os lugares.
Sua pele está levemente quente, macia e cheirosa. A mistura
tão feminina contrasta com a minha repleta de cicatrizes e marcas da
violência que me seguiu por toda a minha existência. É quase
pecado tocá-la com meus dedos sujos de sangue e a corromper com
a minha escuridão.
Ofego ao sentir meu pênis inchar dentro da calça.
Apenas o cheiro dela me embriaga, me faz ficar em ânsia de
sorver o seu ar em minha boca. Sussurro provocações em seu ouvido
ao mesmo tempo em que acaricio o seu corpo, preparando-a para
mim. Aperto um seio levemente e deslizo a mão em seu quadril e
cintura.
Continuo descendo, tocando, provocando, até alcançar o
interior de suas pernas e roçar o dedo em seu clitóris. Lexie dá um
salto, seu corpo estremece, mas ela não corresponde a nenhuma das
minhas investidas. Continua imóvel como um ser inanimado, o que
me deixa irritado.
Impaciente, viro o seu corpo bruscamente na minha direção e
busco a sua boca. Almejo os seus lábios com a mesma ferocidade
com que preciso do ar que respiro, estou sedento como um animal
enjaulado que não se alimenta há dias. Raiva e frustração borbulham
o meu sangue quando ela vira o rosto para o lado, evitando os meus
beijos, e ouço um soluço escapar de sua garganta.
Paraliso.
A constatação de que ela esteja chorando é como um soco no
meu estômago.
Lexie me repudia tanto a ponto de chorar enquanto a toco?
Uma onda de fúria me toma de cima a baixo, e fico cego pelo
ódio. O orgulho ferido dando um soco mortal em minha cara.
Maldição!
Penso em sair e deixá-la ali sozinha no quarto enquanto tomo
um ar, antes que eu cometa uma besteira e a machuque. Minhas
mãos tremem ao senti-la tão perto de mim, sozinha, nua e
vulnerável. Apenas uma torção em seu pescoço e tudo se acabaria.
Não teria mais desprezo, nem raiva, nem descontrole. Não existiria
outro homem em sua cabeça.
Ela é minha!
Já não consigo raciocinar coerentemente quando a prendo em
meus braços e amasso o seu corpo com minhas mãos, disposto a ir
até o fim, mesmo que ela me odeie por toda a eternidade.
Eu a quero e irei tomá-la!
E é isso que minha mente repete inúmeras vezes no meu
subconsciente, até que estagno imóvel, ao ouvir seu grito estridente
quando aperto suas costelas com força:
— Por favor… Daniel. Não!
Ela soluça, me tirando do transe em que eu estava envolvido,
e me afasto com brusquidão. Passo a mão em meus cabelos,
desnorteado, confuso. A razão voltando ao meu corpo pouco a
pouco.
O primeiro pensamento que se passa em minha cabeça é
acender as luzes para entender que inferno está acontecendo. E é
exatamente isso que faço. Ando pelo quarto escuro ouvindo os
murmúrios dela, o choro que tenta controlar, mas não consegue.
Acendo as luzes do cômodo em uma velocidade desmedida .
Ao virar-me para encará-la, sou tomado por uma sensação de
dejavu tão forte que fico paralisado no mesmo lugar.
O olhar antes brilhante e repleto de desafios, está agora tão
abatido como se Lexie estivesse morta. Posso ver a tristeza que
destrói e corrompe a sua alma.
Desço os meus olhos pelo seu corpo, cético. Naquele
momento, sinto como se não fosse Lexie ali na minha frente. Fecho
os meus olhos e cerro os punhos, abalado demais para conseguir me
mover.
O passado e o presente começam a se misturar em minha
mente como um nevoeiro denso. Como em uma câmera lenta, as
imagens torturantes vêm com força em minha cabeça. Eu me vejo há
doze anos, como se o tempo nunca tivesse passado. Adrienne está
machucada ali na minha frente. A pele marcada por hematomas
escuros, a alma humilhada e violada.
— Lexie… — murmuro o seu nome, sem ar e volto a abrir
os olhos.
As írises opacas me encaram de volta, amedrontadas, como
se fosse eu o monstro que tivesse feito isso a ela.
Ela se abraça instintivamente quando me aproximo, e eu não
tiro a sua razão de estar apavorada. Sinto-me um fodido por não ter
percebido antes. Estive tão cego, tomado pelo ciúme, que a única
coisa que consegui pensar é que ela me odiava e repudiava o meu
toque.
— Querida… o que aconteceu? — Levo a minha mão ao seu
rosto para acalmá-la, mas Lexie desvia do meu toque. Está arisca,
arredia. E eu não a culpo. — Quem fez isso com você?
Ela não precisa responder para que eu saiba quem foi o filho
da puta que a feriu tanto. A pergunta correta seria: Por quê?
Quero matá-lo com minhas próprias mãos.
Meus olhos descem pelo seu corpo nu e prendo o ar com
desespero, revolta.
Sua pele tão alva, agora está manchada pelos machucados
horríveis.
Faço uma análise minuciosa pelo seu corpo tão frágil e
vulnerável. Observo os seios volumosos, os quadris cheios e bem-
feitos grifados por hematomas, a cintura com marcas arroxeadas e
vermelhas, um pouco inchada, os braços…
Puxo o ar com mais força para os meus pulmões, conturbado,
e volto a passar a mão pelos fios dos meus cabelos. A agonia e o
arrependimento pela forma que a tratei me atingem com força. Lexie
é linda, mas não consigo vê-la com excitação agora. Tudo o que se
passa em minha cabeça é o quanto quero segurar seu corpo e
protegê-la dentro de meus braços, até que sua dor passe.
— Não se aproxime… — ela suplica, mas sua fala é sofrida,
angustiada. — Não toque em mim…
Lexie dá um passo para trás, buscando manter-se o mais
distante possível do meu alcance.
— Eu não vou machucar você…— afirmo, atormentado. A
culpa me corroendo por dentro por não ter percebido antes. — Porra,
eu jamais tocaria em você nesse estado.
Percebo que ela não acredita em minhas palavras, e continua
se afastando, um passo de cada vez. De onde estou, posso ver o
tremor de seus membros, seu descontrole emocional e físico, o pavor
que tomou o seu corpo.
Vê-la dessa forma, tão arrasada e ferida é como tomar um
soco no estômago. Fico louco, transtornado. Não penso duas vezes
antes de cruzar o espaço que nos separa e a alcanço. Mesmo que ela
me odeie, mesmo que nunca me queira, jamais permitirei que uma
merda dessas volte a acontecer.
— Por favor… não! — ela implora para que eu me afaste,
mas a única coisa que faço é segurar o seu rosto e puxá-la contra o
meu peito. Coloco uma mão em sua nuca para mantê-la firme e
agasalhada no lugar.
Lexie se debate contra o meu corpo, tentando se afastar a
todo custo, mas eu não permito que ela saia. Acaricio seus cabelos
com uma mão, e com a outra eu a abraço para evitar que seu corpo
colida com o meu e se machuque mais.
— Nunca mais você vai passar por isso, acredite… —
sussurro, lívido, lutando desesperadamente para controlar a minha
ira e não descer até o salão de jantar para matar o desgraçado. Lexie
é mais importante agora. A hora dele chegará em breve.
Ela se debate por mais alguns instantes. Não aceita que o
homem que fez um acordo com o seu pai a tenha tão perto assim.
—Você é… como ele… me solte. Eu não preciso de sua
ajuda, muito menos da sua pena, Daniel — ela grita em meio aos
protestos, as unhas cravando em meu peito na intenção de arrancar
sangue.
— Eu vou cuidar de você… — murmuro.
— Se realmente não quer me machucar como diz, me deixe
aqui sozinha…
Mas eu continuo estagnado no mesmo lugar, incapaz de
soltá-la e tê-la longe dos meus olhos. Ao perceber que não me
moverei e que muito menos a deixarei sozinha, seus protestos dão
lugar a um choro convulsivo que faz Lexie se derreter em meus
braços, sem forças. Ela está abalada demais, machucada demais por
dentro e por fora.
Lexie começa a gritar, como se a dor que ela carrega no peito
estivesse adormecida e agora está desperta e tomando proporções
astronômicas.
— Ele a matou… o meu Deus… ele a matou…
Lexie começa a dizer coisas desconexas, descontroladas.
Está em total estado de choque.
— Quem? Quem ele matou? — questiono baixinho enquanto
acaricio seus cabelos e suas costas, tentando acalmá-la.
— Ele a matou… Abby… Abby… — ela grita em meio ao
choro e aos soluços, sem deixar de mencionar o nome Abby.
Suas pernas fraquejam e Lexie começa a deslizar para baixo,
como se fosse ajoelhar no chão. Para não a machucar no processo,
inclino o meu corpo e passo um braço por baixo de suas pernas e
outro em suas costas, logo em seguida ergo-a no ar e a encaixo em
meu peito.
Caminho com ela na direção da cama e a deito sobre os
lençóis macios, tomando cuidado para não a ferir mais. Também me
deito de frente para ela e coloco o meu braço abaixo de sua cabeça.
Mantenho minha cabeça erguida e os olhos fixos em seu rosto, a
preocupação me dilacerado por dentro.
As lágrimas continuam descendo pelas suas bochechas como
cachoeira, agora mais controladas, mas ainda assim abundantes,
borrando toda a maquiagem que pinta a sua face.
Os olhos borrados me encaram aflitos, sem vida, o batom e o
corretivo borrados, revelam mais ferimentos nos lábios grossos e em
seu queixo. Sinto um nó em meu peito, uma sensação agonizante
que corta todo meu ar.
Por que, porra?
Por que eu não percebi? Como ela conseguiu suportar a dor
durante todo esse tempo?
As perguntas e as dúvidas não param de sondar em minha
cabeça.
— Ele te deu alguma coisa para dor? — questiono em
murmúrio, buscando ao máximo controlar meu temperamento
explosivo para não a assustar mais.
— M… morfina… — Sua voz sai falha, mas consigo
compreender o que diz.
Assinto e a comprimo mais contra mim, sabendo que logo o
efeito da droga irá passar e ela se contorcerá de dor.
Pensar no quanto a garota está sofrendo me faz fechar os
olhos para manter o controle dos meus atos. Não quero soltá-la, nem
me afastar, mas não posso deixar essa merda assim. É hora de agir.
— Irei chamar o médico e pegar algumas roupas para você!
Lexie não diz nada, mas balança a cabeça em concordância.
Ela está pálida, percebo que sua temperatura está aumentando pouco
a pouco, juntamente com as dores que a fazem gemer baixinho
constantemente.
Ainda há muita coisa a ser questionada, mas no momento a
prioridade é que Lexie seja examinada e medicada. Provavelmente
será necessário que seja transferida para um hospital, e enquanto
isso, eu cuidarei daquele filho da puta.
Depois terei as respostas que preciso.
Retiro alguns fios de cabelo que grudaram em seu rosto e me
levanto. Antes de sair, arrumo um travesseiro embaixo da sua
cabeça.
Pego o celular que estava no bolso interno do paletó, jogado
no centro do quarto, e disco uma chamada para Ettore. No primeiro
toque, o homem atende.
— Traga um médico ao hotel. Lexie, está machucada e com
febre — ordeno para o homem e caminho até o closet. — Depois
escolha alguns homens de confiança e siga os passos de Hector.
Preciso que façam uma coisa sem que o imbecil suspeite de algo
relacionado a mim.
Passo todas as informações para Ettore, dando detalhes do
serviço que eles terão que fazer e logo desligo a chamada. Abro um
dos compartimentos que foram abastecidos com roupas para ela.
Olho as lingeries transparentes, as camisolas de seda e sensuais, os
vestidos de noite nada confortáveis. Percebo que nada servirá no
momento.
Minha única alternativa é pegar uma das minhas camisas, e
uma cueca boxer. Terão de servir por enquanto para deixá-la
confortável o suficiente.
Retorno ao quarto com tudo o que preciso em mãos e a
encontro com os olhos fechados. Seu queixo e suas mãos tremem,
pousadas sobre os lençóis. Os lábios estão arroxeados e secos.
Toco a sua testa e percebo que a temperatura aumentou
drasticamente.
Lexie geme baixinho e se remexe na cama, visivelmente
agoniada.
Sem perder mais tempo, pego a camisa de mangas curtas e
começo a vesti-la. Passo a gola larga por sua cabeça, e faço o mesmo
com as mangas em seus braços. Depois de puxar o tecido até abaixo
de seus quadris, pego a cueca para terminar de cobrir seu corpo.
Ela está agitada. Se remexe e geme baixinho na cama,
fazendo a camisa subir e embolar em seus quadris, deixando seu
sexo à mostra.
Tento lutar para não olhar o seu corpo nu e indefeso, mas é
mais forte que eu. O desejo insano que sinto por ela me alucina de
uma maneira tão intensa que me enlouquece.
— Abby… — ela murmura esse nome novamente e se
remexe de um lado a outro. — Abby…
Concentro-me em terminar de vesti-la e seguro o tornozelo
para deslizar a cueca por suas pernas.
Em um rompante, Lexie se debate na cama, soluçando,
deixando o sexo todo rosado exposto na minha direção.
Estremeço sem ar.
Ela é linda, porra!
Deliciosa, inferno!
Ignoro a excitação que me toma como um tornado e termino
de vestir o seu corpo.
Cubro-a até a cintura com um lençol e logo em seguida me
afasto para molhar um pano com água fria e colocar sobre sua testa,
para tentar controlar a febre, até que o médico chegue.
CAPÍTULO 17

DENER

Lexie me encara sonolenta à medida que o médico sai e


deixa-nos a sós.
Os grandes olhos claros me fitam confusos, mas ela não diz
nada. Parece não ter forças nem mesmo para abrir a boca e expressar
os questionamentos que possivelmente passam por sua cabeça.
As olheiras escuras abaixo dos olhos dão-lhe um aspecto
abatido, mas não diminuem em nada a beleza de seus traços
marcantes. É visível o seu esgotamento físico e mental. Além dos
machucados no corpo, que por si só afetam qualquer pessoa, a falta
de uma boa noite de sono parece ter sido uma variante constante nas
últimas noites dela.
Assim que o médico chegou ao hotel para examiná-la, Lexie
já estava delirando de febre. A dor nas costelas a fazia gemer e se
debater em pura agonia.
Foi preciso levá-la às pressas para o hospital.
Pensativo, atravesso o quarto a passos lentos para me
aproximar do leito onde ela se encontra deitada e levemente
inclinada, vestida com uma camisola azul hospitalar.
Um fino cobertor branco cobre suas pernas até a altura dos
quadris.
— Quando foi a última vez que você comeu? — questiono,
preocupado, assim que me aproximo o suficiente. Embora sua
palidez tenha diminuído e as bochechas ganhado um pouco de cor,
recordo-me de Lexie mal tocar na comida quando estávamos no
hotel, e provavelmente não tenha comido nada anteriormente.
Ela suspira fundo, está incomodada com a minha
proximidade, mas mantém o olhar inabalável no meu rosto.
— Ontem pela manhã… eu acho… — Umedece os lábios
com a língua e continua, sua voz sai quase em um sussurro ofegante.
— Não me recordo direito.
Não me movo e muito menos permito que minha ira seja
visível em minhas expressões, apenas assinto.
— Vou providenciar para que tragam algo leve para você.
Lexie balança a cabeça em concordância, e não diz mais
nada. Concentra sua atenção em um fiozinho solto no lençol, que
somente ela consegue enxergar. Ela sabe que não há para onde fugir
e eu quero respostas.
Quando o médico a examinou e fez os exames de imagem
necessários, precisei me controlar para não explodir em ira. Hector
havia ultrapassado todos os limites do bom senso, achando que eu
pouco me importaria com isso. O problema é que agora ela é minha.
E ninguém toca no que é meu!
Agora enquanto a observo abatida, com o corpo coberto de
hematomas escuros, tomando soro para repor as energias e se
reidratar, quase dopada de tanto analgésico para aplacar a dor e a
febre, sinto-me um fodido.
Três de suas costelas estão trincadas. É admirável o quanto
conseguiu se manter firme dentro daquele vestido de noiva, mesmo
sob efeito da morfina. Uma garotinha orgulhosa, preciso admitir.
Muito corajosa também.
Pego o celular e ordeno ao George que providencie a comida
para ela em algum restaurante por perto. Após desligar a chamada,
volto toda a minha atenção para Lexie.
— O que aconteceu? — Vou direto ao ponto, sem rodeios.
A garota desvia o olhar, incomodada, e junta as sobrancelhas.
Um gesto claro de insatisfação.
— Eu não quero falar sobre isso! — responde, hostil,
afastando qualquer aproximação que tivemos na última hora.
Fecho os punhos, mas continuo parado, observando-a.
— Quem é Abby, Lexie, e por que Hector a matou? Eu não
vou perguntar uma segunda vez! — exijo, firme e impaciente.
Ela volta a me encarar, aflita. Seu olhar vacila quando se
encontra com o meu, Lexie é orgulhosa demais para se dar por
vencida.
— Eu… eu estou grata por sua ajuda, Daniel, acredite. Mas
isso é assunto meu, não te diz respeito saber o que moveu meu pai a
fazer isso comigo, e muito menos o que aconteceu com a Abby. Por
que você… não entende?
Sinto um estremecimento em sua voz e me aproximo mais.
Sento-me ao seu lado na cama estreita, e Lexie se encolhe com
minha proximidade. Ela também me teme, vejo isso em cada reflexo
involuntário de seu corpo. No entanto, a garota ainda não entendeu o
principal:
— Você é minha agora, Lexie! — Seguro o seu queixo,
tomando cuidado para não pressionar o machucado e acaricio
levemente. — É minha esposa. Tudo que diz respeito a você,
também é do meu interesse. E quando eu pergunto, espero uma
resposta convincente!
Meu tom de voz é duro, exigente, faz com que ela tente se
desvencilhar do meu toque, virando o rosto. Porém, eu não permito,
e comprimo o meu aperto em seu maxilar, forçando Lexie a olhar no
fundo dos meus olhos.
Ela suspira, trêmula. Não tive a intenção de deixá-la ainda
mais exaltada, mas também não permitirei que a garota me esconda
o que aconteceu.
— Eu irei perguntar pela última vez. O que inferno
aconteceu? — pergunto em um tom calmo e ao mesmo tempo
ameaçador. Seus olhos brilham pelas lágrimas não derramadas.
— Quer saber mesmo o que aconteceu? — Percebo que uma
lágrima escorre do seu rosto ao mesmo tempo em que ela se remexe
bruscamente para escapar do meu aperto. Raiva e desprezo dançam
em suas írises, porém, não desvia o olhar desta vez. — O que
aconteceu é que escutei uma conversa do meu pai sobre o tráfico de
crianças para a escravidão sexual. Ele me pegou no flagra, me
humilhou na frente dos seus homens, me bateu como você mesmo
viu, e depois jogou na minha cara que você, Daniel, seria
presenteado com uma dessas garotas, já que é um de seus
passatempos favoritos.
Lexie cospe as palavras com nojo e amargura, jogando em
minha cara todo o desprezo que sente por mim.
Maldição! Porra!
Agora ela acha que eu também faço parte das tramoias de
Hector. Eu também acharia isso se estivesse em seu lugar.
A garota continua me encarando, ofegante, aguardando que
eu diga algo. É como se ela tivesse… esperança… No entanto,
continuo impassível, sem me defender. Ela não acreditaria em
minhas palavras agora, e pouco me importa o que ela acha a meu
respeito. Contudo, sinto que Lexie não me disse toda a verdade. A
garota ainda me esconde algo.
— E quanto a Abby? Por que ele a matou? — questiono,
irredutível.
Baixando a cabeça, Lexie leva as mãos às bochechas e seca o
líquido salgado que escorre por seu rosto.
— Eu não sei… Ela era apenas a minha babá.
Assinto com um movimento sutil enquanto assimilo as
informações. Sinto pela perda da garota e compreendo seu
desespero. Era de se esperar o que aconteceu com essa tal Abby,
afinal é mais que óbvio que agora que Lexie se casou, a mulher não
teria mais serventia e sabia coisas demais para continuar viva.
Eu me levanto, calado e dou alguns passos pelo quarto do
hospital, ficando de costas para ela. Olho na direção da janela,
coberta por cortinas cor de creme e permito que meus pensamentos
se direcionem para o que farei com Hector.
O silêncio sepulcral reina no ambiente como uma sombra
mórbida, e é quebrado somente pelo toque do meu celular.
Assim que vejo a chamada de Ettore, atendo:
— Diga!
— Está feito, Daniel. Hector está preso e vendado no local
combinado.
— E os homens que estavam com ele?
— Todos mortos.
— Ótimo! Preciso que venha fazer a segurança de Lexie
agora, mas antes, deixe Kraig e Ryder a par dos meus planos. Eu não
admitirei falhas.
— Não se preocupe. Eles saberão o que fazer.
Desligo a chamada e aguardo a chegada de Ettore. Eu o
deixarei no quarto com Lexie, é o único dos meus homens em quem
confio para entregar a segurança de minha esposa.
Embora George seja o meu consigliere, meus instintos dizem
para que eu a mantenha longe dele. O homem não vê este casamento
com bons olhos.
Os minutos se arrastam. Logo George aparece com a refeição
de Lexie e eu ordeno para que ele faça a guarda do lado de fora,
junto a mais dois homens. Ettore também não demora a chegar.
Lexie me encara amedrontada e puxa o lençol para cobrir
mais de seu corpo quando vê o homem entrar no quarto. Um pouco
da sopa que tem na colher, escorre do prato e suja o lençol, mas ela
logo limpa o tecido com o auxílio de um lenço de papel.
Como o bom soldado que é, Ettore mal a olha.
— Tudo o que você precisa está no banco traseiro do SUV,
estacionado nos fundos do hospital. Já verifiquei se há câmeras de
segurança pelo local, está limpo — informa e eu concordo com um
aceno de cabeça.
— Ninguém tem permissão para entrar neste quarto a não ser
o doutor Richard — ordeno ao homem, que assente, impassível e
retiro a arma que carrego no coldre, preso à calça.
Richard, o médico que atendeu Lexie, é um velho amigo,
digamos assim. O homem me deve alguns favores e por isso está
sempre às ordens para me atender quando preciso de seus serviços
médicos.
Confiro a munição, pouco me importando com o olhar
inquisidor de Lexie na minha direção, focado na pistola.
Antes de sair, no entanto, viro-me na direção da garota e
comunico:
— Voltarei em breve. Ettore cuidará de você em minha
ausência.
Lexie assente enquanto olha de mim para Ettore,
desconfiada. Ela não confia em mim, muito menos no homem que
fará sua guarda pessoal nas próximas horas. No entanto, eu sei que
ela está segura, e isso é o bastante por ora.
Volto a colocar a arma em seu lugar e abro a porta para sair.
O caminho até o prédio abandonado é breve. A rua é remota
e o beco escuro e fechado está quase vazio. Percebo somente a
presença de alguns usuários de drogas e prostitutas circulando nos
arredores.
Uma chuva fina começa a cair, fazendo os desabrigados
buscarem refúgio em outro local. A construção antiga está se
deteriorando dia após dia. As paredes sujas e descascadas já não têm
mais resquícios da pintura que já teve um dia.
Mantenho as mãos no volante, analisando cada detalhe à
minha volta, qualquer indício de perigo. Pela janela do SUV, posso
ver uma pequena luz vindo de um dos apartamentos do último andar.
Os dois homens que vieram logo atrás de mim saem do carro
e me aguardam enquanto me preparo. Ambos já estão cobertos com
uma espécie de sobretudo negro que cobre seus corpos até abaixo
dos joelhos. Também visto o sobretudo escuro e logo depois saio do
carro, colocando uma câmera por dentro do paletó.
As gotas frias que caem em meu rosto contrastam com o
calor da adrenalina em minha pele, e a curva de um riso impiedoso
surge em meus lábios.
Meu pior lado veio à tona, mesmo que eu esteja
aparentemente controlado e frio. Não há escrúpulos no que irá
acontecer neste prédio, muito menos honra. Moral não é um dos
meus pontos fortes. Eu a deixei de lado desde o momento em que
Adrienne foi morta e que eu jurei vingança. Do contrário, não teria
chegado aonde cheguei.
Com a pistola em punho, entro no prédio acompanhado dos
homens e sigo para as escadas, em direção ao local que Hector está
sendo mantido preso.
Segundo as informações de Ettore, o homem foi pego em
uma emboscada assim que saiu do hotel. Todos os seus capangas
foram mortos no processo. Estavam com a guarda baixa, certos de
que nenhum de seus inimigos ousaria se aproximar naquela noite de
glória.
Ao me aproximar do apartamento precariamente iluminado,
desço o capuz negro pelo meu rosto, cobrindo até abaixo do
pescoço. O tecido grosso deixa à mostra apenas o detalhe dos meus
olhos, e os homens ao meu lado fazem o mesmo.
A porta é aberta por um dos homens, e logo no centro da sala
suja, cheia de entulhos, vejo Hector sentado e amarrado em uma
cadeira com as mãos em suas costas. Seus olhos estão vendados, a
boca amordaçada com um pedaço de pano imundo. Os gemidos
desesperados são expelidos a todo momento.
Observo em volta, à procura de algo para que eu possa me
sentar comodamente.
Ryder e Kraig, os irmãos carrascos, estão a postos, também
cobertos como eu.
Encontro uma poltrona velha jogada em um canto e me
sento, cruzando as pernas no processo de forma relaxada. Passo a
câmera para um dos homens que entrou no prédio comigo e aceno
para os irmãos começarem o show.
A mordaça é arrancada da boca de Hector, e o homem
grunhe irritado, tal como um leão enjaulado.
— Desgraçados! Quem são vocês? — pergunta, mas
nenhuma resposta é emitida.
— Filhos da puta, digam alguma coisa, porra!
O homem se debate, enlouquecido. Posso sentir a tensão em
seu corpo, o medo evaporando de suas entranhas, o terror que o
toma no silêncio.
— Quando eu descobrir quem são vocês, estarão mortos,
ouviram? Todos vocês estão mortos!
Dou o aval para os homens começarem, e a parte boa da
história se inicia. Hector é silenciado com um soco na altura do
maxilar, de forma similar ao que ele fez com Lexie.
O barulho de seus dentes se quebrando são como música
para os meus ouvidos. Aproveito o momento para escorar o braço no
encosto da poltrona, atento a todos os detalhes do que está
acontecendo à minha frente.
Socos são desferidos em seu rosto, no estômago e
principalmente em suas costelas. O homem grita ofegante, se debate
e tenta se soltar a todo o custo. Porém nada do que ele fizer será o
suficiente para aplacar a fúria que tomou o meu corpo no momento
em que vi minha pequena Lexie machucada.
Hector cospe sangue puro no chão. O líquido púrpuro mina
em várias partes do seu corpo podre, manchando seu terno de grife.
Quando percebo que já é o suficiente, faço uma indicação para os
irmãos seguirem com o próximo passo.
Ryder e Kraig tiram parte de suas roupas, ficando nus da
cintura para baixo.
Hector é desamarrado e jogado no chão como um saco de
pancada. O homem geme assim que seu corpo cai no piso duro, mas
seus movimentos são contidos pela dor dos machucados em suas
costelas.
— O que vão fazer? — Sua voz sai arrastada. Seu medo é
quase palpável. Covarde! — Eu tenho muito dinheiro, podemos
fazer uma negociação… Se querem poder, eu posso providenciar
isso…
Um chute é desferido em seu rosto, e gotas de sangue pintam
o piso ao lado de sua cabeça, fazendo-o tombar para o lado. Sua
calça é cortada e arrancada de seu corpo. Seus braços são presos
logo acima de sua cabeça e suas pernas são amarradas e afastadas
uma da outra, de forma que ficam completamente abertas. Dois dos
homens seguram as cordas para que Hector não tenha a
oportunidade de se mover.
Cruzo as minhas mãos na frente do meu rosto, firmando a
ponta dos dedos em meu queixo. Vejo o homem gritar e se debater
no chão, sabendo exatamente a merda que vai acontecer com ele.
Isso é por você, querida Adrienne, penso enquanto observo o
homem que a estuprou e a matou, agora sendo espancado como um
saco de lixo.
A imagem das duas mulheres se mistura na minha cabeça por
alguns segundos, mas trato de afastá-las.
O grito de Hector ecoa pelo cômodo quando um dos irmãos
se agacha no chão e o penetra no ânus sem nenhuma piedade. A
cena é suja e sórdida, mas é exatamente o que o desgraçado merece.
— Malditos… — ele xinga rouco, sem forças. — Me matem,
porra! Não é o que querem? Me matem logo.
Os homens se revezam entre as penetrações, invadindo-o
bruscamente, rasgando a pele no processo. Os grunhidos de Hector
entranham-se em cada compartimento dessas paredes. De onde
estou, posso ver o sangue escorrendo de seu ânus, manchando a pele
imunda.
Cada detalhe do que acontece com ele está sendo gravado.
Em breve, todos saberão que Hector Laccount é um estuprador de
merda e esse é o preço a ser pago.
Quando Ryder e Kraig terminam, um dos outros homens
caminha até onde estou e me entrega um carimbo de ferro em brasa
que acabara de ser aquecido em um fogareiro portátil.
Levanto-me e analiso o homem estendido no chão, delirando
de dor, degradado, um amontoado de carne, pele e ossos sem
nenhuma serventia. Dois homens seguram a sua cabeça e o prendem
pelo pescoço, deixando uma parte de sua face esmagada contra o
piso frio e sujo.
Inclino-me e estico o meu braço rente ao seu rosto. Sem
hesitar, cravo o carimbo em brasa em sua pele, na altura da bochecha
e o ouço gritar como um condenado. O cheiro acre de pele queimada
é exalado no ambiente, o chiado característico do ferro quente contra
a carne úmida mistura-se aos seus grunhidos.
A marca de uma delicada borboleta com a asa parcialmente
arrancada agora está gravada em sua face. O símbolo que indica
quando um membro da máfia estuprou um ser inocente ou foi
estuprado. O símbolo que indica o início de sua ruína. E então, após
uma última tentativa de se reerguer, o homem desmaia.
— Joguem esse verme em seu território — ordeno aos meus
homens e saio daquele lugar sem olhar para trás.
CAPÍTULO 18

LEXIE

Algumas semanas se passaram desde que saí do hospital.


Quando me movo de forma repentina ou inspiro profundamente,
ainda sinto um desconforto intenso em minhas costelas, mas a pior
dor está cravada em meu peito a cada segundo que penso em Abby.
Nos últimos dias, uma mistura de sentimentos e saudades
tomou conta do meu coração. Minha mãe, Adrienne, Abigail. Todas
se foram de uma forma terrivelmente brusca e dolorosa. Todas se
foram… E eu fui ficando sozinha, sem alguém com quem contar.
Ainda agora, quando ergo o olhar e admiro os raios do sol
que brilham através da janela, posso sentir como se assistisse por
meio de imagens, os momentos marcantes que tive com cada uma
delas. Cada uma à sua maneira.
Coloco o lápis preto sobre a escrivaninha de madeira e
observo os traços do desenho que acabei de fazer. São rabiscos
simples delicados, porém formam uma bonita imagem: as imagens
das minhas lembranças se fundindo.
Minha mãe está sorridente de um lado do papel, na outra
lateral os traços de Abby são sérios e impecáveis. Adrienne está logo
abaixo, um sorriso suave esboçado em seus lábios. As três mulheres
rodeiam um buquê de lírios e as quatro imagens mesclam-se uma na
outra, como se fizessem parte do mesmo momento em preto e
branco. É um bom desenho, gosto do que vejo e sinto-me em paz
quando o olho. É como se as três estivessem ali comigo.
Permito que um suspiro escape dos meus lábios e relaxo os
ombros, recostando-me na cadeira almofadada. Fiquei menos
solitária ao encontrar por acaso junto aos meus pertences, o material
de desenho que usava para me distrair. Senti um aperto no peito ao
imaginar que tenha sido Abby que o colocou em minhas coisas no
dia em que fez minhas malas.
Respiro fundo e desvio meu olhar para o teto. Os dias estão
tão solitários que já não sei mais o que fazer para passar o meu
tempo enquanto permaneço a maior parte do dia trancada em meu
quarto. Não que eu seja obrigada a viver reclusa, embora seja assim
que me sinto. Apesar de tudo, tenho permissão para sair
acompanhada pelo guarda que faz a segurança na porta, mas evito
por receio de dar de cara com ele em algum momento. Desde então,
essa minha discrição vem funcionando bem. Poucas vezes eu o vi
nas últimas semanas e raramente comemos juntos.
Daniel é uma caixinha de mistérios. Cada dia que se passa
aqui neste lugar, sinto-me mais confusa.
Ele está sempre fora resolvendo seus assuntos e ainda não
me procurou. Às vezes sinto que o homem também me evita. Sei
que meu tempo está acabando, pouco a pouco meu corpo está se
curando dos machucados e não poderei mais fugir do meu marido.
Fazer sexo com ele em breve será inevitável, e só em pensar nisso
me sinto zonza.
Eu me refúgio dia após dia, noite após noite neste quarto
elegante e coberto de luxo. Finjo que essas paredes são minha
proteção contra ele, e desde que eu permaneça aqui, quieta, Daniel
não sentirá a minha presença.
Deixo o desenho de lado, colocando-o sobre a pilha de outros
que fiz durante os dias que se passaram: o sol entrando pela janela,
os pássaros no jardim, as noites enluaradas, o mar ao longe. Tentei
fazer um de Matt, mas de alguma forma os rabiscos tornavam-se
grosseiros e os olhos sombrios demais, totalmente o oposto do que
me recordo de seu rosto. Acabei descartando-os.
Levanto-me e caminho até a janela para observar o mar
revolto à minha frente. A vista é estonteante, quase posso tocar a
areia da praia com os meus dedos, quase posso sentir o gosto
salgado da água em meus lábios. Sinto saudade de algo que nunca
tive: liberdade. E não sei se um dia terei.
Sinto falta da faculdade, do convívio com pessoas, mas é
quase impossível que eu retorne. Não tenho ideia de como será o
meu futuro, a única certeza é que a minha vida está nas mãos de um
homem que eu pouco conheço.
As ondas se quebrando sobre as rochas me acalmam. O vento
que sopra e toca minha face me faz suspirar pelas angústias,
incertezas e medos. Coloco alguns fios de cabelo atrás da minha
orelha, tirando as madeixas da minha face. As mechas escuras
chicoteiam o meu rosto por causa do vento e as lágrimas teimam em
cair, mas como fiz tantas outras vezes, engulo-as.
É um pouco cedo, não vi sinal de Daniel hoje, provavelmente
ele não está em casa. Imagino que posso descer até a praia e sentir
com meus próprios dedos e pés o toque da areia e o calor do sol em
minha pele sem ter que cruzar com ele em algum lugar.
Pensando nisso, afasto-me da janela, calço sandálias rasteiras
e caminho na direção da porta. Não faço ideia de quem está fazendo
a guarda hoje. Geralmente, Daniel reveza três dos seus homens para
fazerem a minha segurança dia e noite: Ettore, Kraig e Ryder.
Rezo para que o segurança do dia seja Ettore e que o homem
esteja de prontidão do outro lado da porta. Os irmãos Kraig e Ryder
me causam arrepios. Ambos são sinistros, calados e possuem um
olhar tão maligno que quase posso dizer que enxergam o fundo de
minha alma ao me olhar.
Agarro a maçaneta e a puxo. Inspiro aliviada ao ver Ettore do
outro lado, os braços cruzados na frente do corpo de forma que deixa
a pistola em evidência. O homem é indecifrável. Seu olhar com
nuances cor de mel nunca diz o que ele está pensando e contrasta
com a pele morena de seu rosto, sua expressão é sempre neutra. Ele
mal me olha quando estou em sua frente. De uma maneira que não
sei explicar, sinto-me segura. Acho que exatamente pelo fato de eu
nunca ter sua atenção.
— Quero descer até a praia — digo sem rodeios. O olhar frio
me encara questionador.
— Não vai tomar café? O chefe deu ordens para que se
alimentasse direito.
— Não estou com fome — justifico com firmeza —, mais
tarde eu passo na cozinha e como algo. No momento, só preciso
respirar um pouco de ar puro e me afastar das paredes desta mansão.
— Tudo bem, madame. Sendo assim, irei ligar para o chefe e
informar aonde você vai.
Balanço a cabeça irritada, sentindo-me como se de fato eu
fosse uma prisioneira.
— Por que tem que dizer tudo a ele? Eu apenas irei até a
praia e você irá me acompanhar, não é?
Não vejo nenhum movimento ou ar pensativo em sua face. O
homem continua impassível dentro de seu elegante terno negro, a
expressão dura em minha direção.
— Ordens são ordens! — É tudo o que ele diz antes de pegar
o celular e ligar para o meu marido.
Ouço apenas murmúrios. Ettore diz um sim seco e desliga a
chamada, voltando-se para mim.
— Podemos ir — informa. — Já tem tudo o que precisa?
— Só um minuto.
Viro-lhe as costas e corro até a escrivaninha para pegar a
prancheta, folhas e lápis. Quando tenho tudo o que preciso, retorno
até a porta a passos rápidos.
— Não ficarei muito tempo por lá.
Ettore assente brevemente e me dá a passagem.
— Muito bem. Vamos.
Passo pela porta, fechando-a atrás de mim e sigo andando.
Ouço o barulho dos sapatos de Ettore no piso às minhas costas e
logo ele está ao meu lado, acompanhando cada passo que dou pela
mansão.

Mais uma noite chegou ao fim, e ele não veio. A ansiedade


começa a me dominar e mal consigo dormir, imaginando o momento
em que a porta será aberta e Daniel caminhará até minha cama
exigindo sexo.
O que este homem quer de mim? É difícil saber!
Empurro o edredom para o lado e coloco os pés para fora da
cama.
Arrumo a camisola comprida e macia no meu corpo e me
levanto.
Ainda está cedo, mas sinto a impaciência me tomar por
dentro.
Não há sinais do meu celular aqui. Não sei se Abby esqueceu
de colocar em minhas coisas ou se meu pai o confiscou. Não vejo o
aparelho desde que fui forçada a me casar.
O ar está um pouco frio, mas não me importo com isso
agora. Corro até o banheiro para fazer xixi, escovo os dentes e troco
de roupas o mais rápido que posso. Ao abrir a porta para sair, dou de
cara com Ryder. Os olhos claros me analisam com curiosidade à
medida que me mantenho na sua visão. Sinto-me incomodada, mas
decido que deixarei os receios de lado por enquanto.
— Onde está Daniel? — pergunto, não porque desejo vê-lo,
mas sim porque preciso fazer algo ou irei enlouquecer aqui. Ter um
celular e algum contato com o mundo já me ajudaria.
— O chefe está ocupado… — Seu olhar analisa o meu corpo
de cima para baixo e o esboço de um sorriso cruza os seus lábios.
Sentindo-me exposta, cruzo os braços na frente do meu
corpo e Ryder volta a atenção para o meu rosto.
— Preciso falar com ele — peço, controlando-me para não
soar desesperada.
— Não sei se será possível… — O sorriso endiabrado se
desfaz dos seus lábios e Ryder passa a me encarar com seriedade. —
Daniel está em uma reunião importante com o conselho agora. Ele
sofreu um ataque ontem à noite e os envolvidos precisam pagar por
isso.
Sinto um arrepio em meu corpo quando ouço que Daniel fora
atacado. Estará de alguma forma ferido?
— Ele está bem? — pergunto em um impulso e me
excomungo internamente por isso. Eu não deveria me importar.
Daniel não tem importância para mim.
— Não se preocupe, Lexie. Seu marido está bem. Daniel
sabe se cuidar.
— Bom. Quando puder, diga que preciso vê-lo. É importante.
Dito isso, me afasto do homem e tranco a porta atrás de mim.
Só agora percebo que estou trêmula e muitas perguntas que não
terão respostas passeiam por minha cabeça.
O que teria acontecido? É por esse motivo que ele não veio
ontem à noite? Teria acontecido alguma coisa nos dias anteriores
também?
É torturante permanecer no escuro.

Almocei sozinha na grande sala de jantar. A única


companhia presente era Ryder, com seu porte intimidade e olhar
atento. Não puxei mais assunto com o homem desde então, a forma
como ele me olhava, como se me enxergasse por dentro me deixava
arrepiada.
No período da tarde, andei um pouco pela praia, mas não
fiquei por muito tempo como no dia anterior. Algo na fisionomia do
homem me assustava, aquela aura de perigo estava presente em cada
passo que ele dava ao meu lado.
Quando o sol finalmente se pôs, deixei mais alguns
rascunhos de desenhos inacabados sobre a escrivaninha e guardei os
outros na gaveta ao lado. Agora, enquanto a lua brilha no céu e ouço
os barulhos da noite lá fora, me preparo para tomar um banho e
jantar.
Eu me dispo, deixando as roupas dobradas sobre a cama e
caminho nua até o banheiro. Pego um aparelho de barbear
descartável e vou até a pia para depilar a minha virilha. Não gosto
muito de pelos em meu corpo, e quando percebo que estão grandes
além do aceitável, costumo apará-los ou como é o caso de hoje,
raspo completamente.
Encho a banheira com a água morna e sais de banho com
aroma de lavanda, e então entro. Sinto-me mais leve, relaxada.
Esfrego o meu corpo suavemente e após concluir a limpeza, fecho os
olhos por alguns instantes e quase caio no sono.
Só a ideia de tirar um cochilo na cama macia que me faz
erguer o corpo para sair da água e me secar. Alcanço uma toalha
felpuda nos armários, seco o meu corpo e a enrolo em volta do meu
tronco.
Solto os cabelos que havia prendido para não molhar e
caminho descalça, de volta para o quarto enquanto penteio os fios
com os dedos. Deixo escapar um bocejo, sonolenta demais por ter
acordado mais cedo do que o costume, e continuo andando,
aproximando-me da cama.
No instante em que coloco os olhos sobre os lençóis, sinto o
coração palpitar descontrolado e me agarro ainda mais a toalha que
me cobre.
Daniel está lá. Sentado com as pernas abertas e os pés no
chão, os dedos esfregando a calcinha que eu havia deixado sobre a
cama, os botões de sua camisa abertos até o abdômen definido, o
olhar escuro focado em meu corpo.
— Daniel? — Eu me recomponho do choque e finjo que sua
presença no quarto não me abala. — O que faz aqui?
O homem se levanta da cama e caminha na minha direção.
Para a alguns metros de distância. Sua expressão está acirrada e
cansada. Percebo manchas escuras abaixo dos seus olhos, como se
ele não dormisse bem há vários dias.
Analiso o seu corpo rapidamente, verificando se há algum
ferimento, mas nada consigo identificar. Quase que inconsciente,
respiro aliviada ao perceber que ele não se machucou.
— Me disseram que você queria falar comigo. Estou aqui!
Limpo a garganta ao vê-lo levar as mãos a camisa social
preta e terminar de arrancar o tecido de seu corpo. A mão direita
ainda fechada sobre a minha calcinha.
— O que está fazendo? — questiono quando ele leva a mão
ao zíper da calça e o desce. — Não te chamei aqui para isso, se é o
que está pensando.
O homem arqueia uma sobrancelha e desce o olhar para onde
os meus olhos o fitam. Vejo o volume se formando em suas calças e
quase perco o ar.
— Eu pretendo tomar um banho assim que você me disser o
que deseja, Lexie.
Engulo com dificuldade, sem perder o fato de que Daniel
ainda segura a minha calcinha e ergo a cabeça para encará-lo.
— Aqui? Por que não vai para o seu quarto? Eu não me
importo em esperar — digo com firmeza na voz, torcendo para que
ele dê meia volta e retorne para o buraco em que havia se enfiado
todo esse tempo, porém, por dentro, assemelho-me a uma gelatina
mole.
— Esse quarto também é meu, amor. — Há um ar de cinismo
em sua voz. — E tudo aqui dentro me pertence!
Prendo o ar e o solto, entendendo perfeitamente o que ele
quer dizer.
— Preciso me trocar. Não me sinto à vontade com você aqui
enquanto estou de toalha!
Daniel passa a mão em sua barba loira e me analisa com
cuidado. Não sorri, mas vejo um brilho perigoso em suas írises.
— Eu já vi tudo. Esqueceu que te vesti enquanto delirava de
febre?
Dá um passo para a frente e eu dou outro para trás.
— Conheço cada dobrinha da sua boceta. Até as três
pintinhas pretas que você tem dentro dos grandes lábios. Estávamos
tão perto um do outro naquela noite que senti o seu cheiro e fiquei
louco.
Sinto minhas bochechas esquentarem com sua confissão
imoral e quero me enfiar debaixo dos lençóis. Lembro vagamente de
alguns acontecimentos daquela noite, como o momento em que ele
me vestiu. Eu estava tão quebrada que mais parecia uma marionete.
No entanto, a certeza de que ele me viu nua, cada detalhe, é como
um tapa na cara.
— Saia! — grito, irritada e aponto na direção da porta, meu
sangue fervendo. — Você é ridículo.
Em um rápido movimento, o homem segura a minha mão e a
aperta com força suficiente para me deixar imóvel. Não machuca,
mas incomoda.
— O que você quer? Não tenho a noite toda para te dar
atenção.
Ele é tão, idiota. Sujo. Ele me faz querer estapeá-lo. Porém já
estou tão cansada que decido ser direta e vou logo ao ponto.
— Não suporto mais ficar aqui dentro, e não sou mais
criança para ter uma babá vinte e quatro horas por dia em minha
cola. — Puxo a minha mão do seu aperto e procuro me afastar.
Vejo suas sobrancelhas se juntarem em uma clara cena de
desagrado.
— Eles fizeram algo para irritá-la? — Seu tom de voz é
impaciente. — Ou devo deduzir que você está apenas com birra? —
Ele é ácido, mas não me deixo ser intimidada.
— Eu posso andar com minhas próprias pernas, Daniel.
Além disso, estou dentro da sua propriedade não é? Isso aqui é uma
fortaleza, não há como alguém entrar ou sair! Cada maldito passo
que dou para fora dessa mansão, estou sendo vigiada. Não é preciso
um cão de guarda dia e noite na minha porta ou em qualquer lugar
que eu vá. Eu não irei fugir!
Percebo que a última frase sai tão estridente quanto um grito.
Vejo faíscas de fogo em seus olhos. Daniel parece exausto e
estressado. Irritação permeia o seu semblante.
— Eu não sou tolo, Lexie. Acredita mesmo que cairei nessa
sua conversa de não fugir? — Ele gesticula na minha direção e abre
um sorriso sarcástico. — Além disso, não é somente por isso que
eles seguem os seus passos. Ser minha mulher é perigoso, querida.
Por um pé lá fora sem alguém para proteger seu traseiro é quase uma
sentença de morte!
Percebo que é inútil discutir com ele, mesmo que o lá fora
como ele se refere, ainda seja dentro de sua propriedade e o local
seja rodeado de homens armados até os dentes. O homem não
cederá. Mas também não quero falar os verdadeiros motivos pelo
qual quero Ryder e Kraig longe de mim. De certa forma, eles não me
fizeram nada, eu só não me sinto segura na presença de nenhum dos
dois.
— Eu irei enlouquecer aqui. Preciso fazer algo. Qualquer
coisa que não envolva passar o dia no quarto ou caminhar alguns
minutos na praia — digo, incerta, tentando chegar ao motivo
principal dessa conversa: meu retorno à faculdade.
— Terá que ser criativa e se contentar com as opções!
Ele não é razoável, mas não desistirei.
— Estou cansada de ser uma inútil, Daniel. Passei toda a
minha vida assim. Eu preciso sair às vezes, encontrar um trabalho,
voltar pra faculdade… Eu preciso viver! — Minha voz é firme, mas
por dentro estou quase desmoronando. Desespero me domina.
Ele volta a caminhar na minha direção e dou um passo para
trás, intimidada, até me chocar contra a parede. A trégua que
tivemos parece não mais existir quando eu o olho. O homem que me
abraçou e cuidou de mim durante o tempo em que estive machucada,
não passa agora de lembranças, mas eu não me apego a isso. Sempre
soube que aquela noite tinha sido apenas um caso isolado, algo
nosso que nunca discutimos e talvez nunca iremos. Agora somos
apenas dois desconhecidos que se casaram.
— Ontem à noite eu quase fui morto. Dois dos meus homens
morreram na emboscada e um outro está entre a vida e a morte. A
vida que você almeja não existe em nosso mundo, porra! — ele grita
irritado, os olhos vermelhos pela falta de sono.
Fecho os meus olhos para evitar que lágrimas frustradas
banhem a minha face e volto a abri-los alguns segundos depois.
Encaro os dele ainda me fitando sérios. Sua mandíbula está acirrada.
Quero gritar de raiva, irritação, ódio.
Como eu o odeio… Como o odeio…
Seus dedos tocam o meu queixo e o homem analisa o meu
rosto de forma minuciosa. Meu peito sobe e desce por causa do
ritmo acelerado de minha respiração, meus dedos fecham-se com
força para evitar que a toalha caia.
— Ainda está machucada? Sente dores? — Balanço a cabeça
em negativa, sentindo-me entorpecida de raiva e desprezo. E é tarde
demais quando percebo a merda que acabei de fazer.
Um brilho lascivo surge em seus olhos e Daniel pressiona o
corpo ainda mais contra o meu.
— Ótimo! Eu quero foder você.
Sinto seu pênis duro pressionado contra o meu ventre e tento
empurrá-lo. Uma onda de pânico me entorpece ao pensar na dor, na
exposição. Em tudo que Daniel fará comigo. Humilhação toma o
meu corpo ao relembrar o momento que meu pai testou a minha
virgindade e me nego a passar por algo semelhante àquilo
novamente.
— Eu não quero! — afirmo, convicta, fazendo questão de
olhar nas írises escuras de Daniel.
Algo em seus olhos me chama a atenção, por um segundo é
como se não fossem reais. É como se eu, de alguma forma, soubesse
que eles não são de fato dessa cor. Porém quando ele desliza os
dedos até as mechas de meu cabelo e acaricia a minha nuca, esqueço
até mesmo como se respira.
— Você não tem escolhas, pequenina, sabe disso.
— Prefiro morrer a permitir que você me possua! — cuspo
as palavras de forma amarga.
— Será uma deliciosa forma de morrer, então!
Mal consigo raciocinar coerentemente antes de ser arrebatada
por sua boca lasciva que cobre a minha. A língua dura e ávida enche
a minha boca sem permissão, roubando o meu fôlego, me fazendo
dele.
O gosto de uísque me toma e é embriagador, forte e delicioso
na mesma proporção. Tem sabor de imoralidade e proibição.
Quero gritar, feri-lo. Quero matar Daniel Kraven com minhas
próprias mãos, mas tudo o que faço é beijá-lo de volta, sentindo a
raiva misturando-se às sensações que me envolvem, como ácido e
mel.
É tudo forte demais para eu continuar lúcida. Minha
respiração quase para quando ele leva a mão a minha garganta para
me imobilizar sob seu toque seco e febril. Os dedos ásperos
arranham a minha pele, o corpo musculoso e muito grande se inclina
e Daniel enfia uma de suas pernas entre as minhas, forçando-me a
afastar as coxas para lhe dar passagem.
Meu coração dispara ao sentir a aspereza de sua calça
roçando a minha vagina. Pânico me toma, mas é dominado pelo
desejo de sentir mais. Não sei o que há comigo. Tenho ímpetos de
me afastar, mas não consigo. Rebolo em sua coxa como uma
descarada, sem me importar que ele seja o inimigo e o quanto o
odeio. O atrito rústico em meu clitóris me deixa louca, e gemo
baixinho agarrada aos seus ombros. O gosto do álcool em sua boca
me entorpece, e quando ele enfia e retira a língua entre os meus
lábios várias vezes, quase gozo ao imaginar como seria ter esse
pedaço de carne enfiado em minha boceta.
Sinto os líquidos da minha excitação escorrendo em minha
vulva, e eu também me odeio por isso.
Por que meu corpo o quer tanto?
Permaneço escancarada e ofegante quando ele se afasta
apenas para me observar.
Seu olhar me analisa de cima a baixo e foca-se no decote dos
meus seios, coberto pelo tecido macio.
— Porra, Lexie, pensei que morreria com essa espera
maldita! — ele grunhe rouco.
A mão é certeira em minha toalha. Arranca o tecido do meu
corpo e o jogo no chão, me deixando completamente nua aos seus
olhos, arrepiada e surpresa. Ele volta a me puxar para si, me beija
faminto, apalpa os meus seios com suas mãos grandes, suga a minha
língua para dentro da sua boca.
Sinto-me grogue, como se houvesse sido drogada por seus
beijos rudes, seu toque, mas buscando forças do fundo de minha
alma, viro o meu rosto para escapar de sua boca e questiono arfante:
— Por que você parou naquela noite quando me viu
machucada? Por que cuidou de mim? Eu não compreendo…
Jogo a cabeça para trás, buscando o seu olhar e o vejo
estreitar os olhos.
— Há coisas que você não precisa saber, Lexie. Eu apenas
fiz o que achei que deveria!
Sua voz é grosseira, e o sinto incomodado, mas, por algum
motivo, gosto do que ouço.
Sua boca volta a tomar a minha em um beijo breve, e um
sussurro rouco em meu ouvido faz todos os pelos de meu corpo se
arrepiarem, ao mesmo tempo em que a raiva que sinto dele aumenta
e entranha-se em minhas veias:
— Não pense que sou um homem bom, querida. Não se iluda
com o que aconteceu naquela noite. Eu destruo tudo o que toco. Eu
corrompo tudo o que me cerca. Minha vida foi forjada no sangue,
Lexie…
— Eu nunca me iludi quanto a isso. Nunca pensei em você
como um homem bom, Daniel, muito pelo contrário. Eu te odeio!
Algo dentro do meu peito se aperta quando o vejo levantar o
olhar para me fitar e então ele sorri. Um riso sombrio…hostil…
triste.
— Eu sempre vou odiar você, e sempre vou amar o Matt! —
repito, olhando no fundo dos seus olhos negros.
— Ótimo! — É a única coisa que ele diz antes de segurar o
meu corpo com brusquidão e me jogar na cama.
Solto um grito estalado assim que caio de costas sobre os
lençóis macios. Meu cabelo se amontoa em meu rosto e meu coração
bombardeia minha caixa torácica, agitado.
Busco o ar com força, ainda chocada com o que ele acabou
de fazer.
Não há tempo para pensar ou sentir medo quando Daniel
monta o meu corpo e volta a me beijar como um louco. Seus lábios
queimam os meus, a barba grossa arranhando minha pele, o corpo
pesado me prendendo contra o colchão.
— Você… ai… — Tento protestar mas não tenho forças.
Suas mãos serpenteiam pelo meu corpo e alcança um seio,
me fazendo arquear. Agarro os lençóis ao sentir mordidas e
chupadas em meu queixo, descendo para a curva do meu pescoço.
Sinto os dedos dele em meus lábios, Daniel penetra o polegar
em minha boca e não precisa me pedir para fazer o que tem em
mente. Eu o chupo enquanto o olho, fazendo um gemido escapar de
sua boca.
O homem me encara por breves segundos, retira o dedo da
minha boca e foca a sua atenção entre as minhas pernas. Em um
rápido movimento, Daniel me aninha no centro da cama e segura os
meus tornozelos para afastar as minhas pernas e se acomodar entre
as minhas coxas.
— Daniel… — sussurro o seu nome, trêmula e necessitada,
quando ele ergue as minhas coxas até acomodá-las em meu
estômago e dobra os meus joelhos, de forma que fico completamente
aberta, entregue… — Desgraçado…
Ele desce o rosto para o meio das minhas pernas, as mãos
fortes seguram minhas coxas no lugar e impedem que eu as feche.
Prendo o ar ao sentir a língua molhada e quente deslizar em minha
entrada melada, e então ele abocanha o meu clitóris.
— Aiiii… — grito roucamente, tomada pelo choque e o
prazer.
Contorço o meu corpo, embriagada, perdida, e
instintivamente levo as mãos aos fios dos seus cabelos. Puxo as
mechas loiras, grunho e gemo em abandono. Já não sei mais quem
sou…
— Daniel… oh…
Daniel afasta o seu rosto do meu sexo, me forçando a soltar
seu cabelo, apenas para procurar os meus olhos e voltar a me lamber.
Encaramo-nos e vejo seu olhar repleto de luxúria, desejo. A língua
ávida metida em minha boceta, os dedos rudes apertando e
amassando minha carne.
É a cena mais obscena que já presenciei, mas quanto mais eu
me queimo em seus braços, mais desejo me queimar. E ele sabe
disso…
Daniel solta as minhas coxas doloridas e enfia a mão por
baixo da minha bunda, me levando mais perto dele. Baixa o olhar
para o meu sexo arreganhado, e geme baixinho enquanto me olha lá
embaixo, cada detalhe.
— Você é tão linda aqui… — ele diz, rouco.
Com uma mão, ele me mantém na posição e com a outra abre
os lábios do meu sexo, expondo o feixe de nervosos pulsante.
— Por favor… — Eu nem ao menos sei o que estou pedindo.
Não consigo formar nenhuma palavra em minha cabeça…
— É tão vermelha aqui… — Sinto seus dedos dedilhando o
meu clitóris e descendo mais até o meu ânus. — Quero lamber você
inteira, Lexie, até morrer…
Solto um gemido doloroso e me retraio quando ele força a
ponta de seu dedo em meu ânus.
— Não… por favor…
Atendendo ao meu pedido, sinto a pressão diminuir e logo o
dedo é substituído por sua língua quente que me lambe do ânus até o
clitóris. E ele suga, lambe e chupa, uma vez após a outra. Sobe e
desce em um martírio delicioso, penetra a língua em minha vagina,
lambe o meu ânus, tortura o meu clitóris, prende os nervos entres os
seus dentes, dedilha, esfrega. É quase impossível não me quebrar em
um orgasmo devastador.
Meu corpo convulsiona, minha boceta se contrai. Os
espasmos em meu sexo me fazem gritar em um ritmo incontrolável
de desejo e fecho os olhos. Ergo os meus quadris em busca de mais
fricção, desesperada por mais, louca para ser preenchida e tomada
por ele.
Ouço o barulho de suas calças sendo arrancadas do corpo e a
cama se afunda mais quando ele coloca um braço em volta da minha
cabeça. Meus olhos são levados para o meio de suas pernas
torneadas, apenas para vê-lo segurar o pênis longo e muito grosso
entre os dedos e se masturbar como um louco, gemendo e
grunhindo. Daniel goza em cima da minha vulva, me deixando
completamente melada com os fluidos do seu corpo e, ao mesmo
tempo, embaraçada ao perceber que ele não vai até o fim…
Ao terminar, o seu olhar escuro procura o meu e seu corpo se
inclina até que nossos rostos ficam rentes um no outro, nossas
respirações ofegantes se encontrando.
— Algum dia, você vai me querer tanto, que seu corpo vai
arder exatamente como o meu arde agora. Não será por obrigação,
Lexie, será por desejo ou algo mais. E você vai implorar para que eu
te foda!
Confusão nubla os meus pensamentos e vejo-o se levantar e
caminhar na direção do banheiro. Os músculos saltam a cada passo
firme. Encolho-me na cama, sentindo seu sêmen escorrer entre as
minhas coxas. Uma mistura de raiva, vergonha e tristeza me toma, e
as lágrimas grossas brotam em meus olhos.
CAPÍTULO 19

LEXIE

Algum tempo depois, ouço o barulho de passos vindos do


banheiro e sei que Daniel está retornando ao quarto. Agarrada e
coberta com um lençol, sinto minha pele arder, como se eu estivesse
sendo consumida por chamas.
Ainda posso sentir o toque experiente em cada parte do meu
corpo, o gosto do beijo, as mordidas, cada chupada latejante em meu
clitóris. A maneira como ele me domina é atordoante e terrivelmente
deliciosa.
Meus sentimentos são conflitantes. Meu corpo queima por
esse maldito, mas meu subconsciente grita que ele é perigoso. E
então, lembro-me das crianças traficadas e o horror que passa em
minha cabeça me deixa enojada. Sinto ânsia de vômito ao pensar em
Daniel tocando uma criança indefesa, corrompendo sua inocência
como meu pai havia dito.
Não quero acreditar nisso. Eu não posso acreditar. Como
confiar em alguém que faz negócios com Hector Laccount e ainda
compra uma esposa? Quando ele aparece em meu campo de visão,
com uma toalha em volta do pescoço, secando a pele bronzeada, e
outra na cintura, desejo com todo o meu ser que nada daquilo seja de
fato verdade.
Como quero acreditar, Daniel… penso enquanto o encaro
atordoada.
Ele não deveria mexer comigo tanto assim.
O olhar penetrante procura o meu rosto. A testa vincada
indica o quão está pensativo. O maxilar cerrado é o aval que preciso
para saber que o homem é uma bomba prestes a explodir.
Ele é uma incógnita… É quase impossível decifrar os
mistérios que permeiam sua alma. Eu me pego pensando como seria
desvendar os seus segredos. O que este homem esconde? Qual é o
seu fardo?
Puxo o ar com mais força ao me dar conta de que ficamos
por mais ou menos um minuto nos encarando e desvio o olhar
bruscamente do seu rosto. Os músculos de seu corpo se contraem e
Daniel dá um passo em minha direção. Deixa a toalha que estava
em seu ombro cair no chão, em seguida, faz o mesmo com o tecido
que cobria o seu pênis, ficando completamente nu.
Prendo o lençol com mais força em volta do meu corpo e
desvio o olhar para o seu tronco forte. Não faço questão de disfarçar
quando meus olhos alcançam o pênis grosso e ereto. Minhas mãos
tremem em ânsia de tocá-lo, sentir como seria a textura entre os
meus dedos. A pele parece ser tão aveludada, macia, meu clitóris
palpita diante da visão tão crua.
A cama se afunda na minha frente à medida que ele sobe no
colchão e fica de joelhos. Posso sentir sua respiração ofegante, o
calor que emana de seu corpo. Apenas um pequeno espaço nos
separa. Respiro com dificuldade e continuo olhando o pau de Daniel
Kraven. A cabeça é volumosa e vermelha e há uma pequena gota de
líquido transparente na abertura.
Abro e fecho a boca algumas vezes, sem conseguir formular
uma palavra e acabo prendendo o lábio inferior entre os meus
dentes. O comprimento avantajado é repleto de veias saltadas. Sinto
ânsia de tocá-lo, sentir a maciez da carne em minha mão, dos fios
loiros em sua virilha. Um suor frio gela a minha espinha só em
imaginar sendo penetrada por ele, tendo minha virgindade arrancada
pelo seu pênis rígido, sendo dele por completo. Os líquidos que
escorrem da minha vagina misturam-se com o sêmen de Daniel,
ainda grudado em minha pele e quase fecho os olhos com a sensação
prazerosa que me toma.
Ele é tão grande, grosso, imoral. Os testículos aparentam ser
pesados. Uma mistura de beleza rústica e virilidade que me deixa
sem fôlego. Pareço estar em transe enquanto o olho, e apenas
recobro os meus sentidos quando seus dedos ásperos alcançam o
meu rosto e Daniel segura o meu maxilar, me forçando a erguer o
olhar.
Fogo negro brilha em seus olhos.
Ele se aproxima mais, me puxando para si, e inclina o rosto
na minha direção. A língua invasora penetra a minha boca,
provocando, explorando cada centímetro. Ele suga o meu ar, morde
os meus lábios, me tortura com movimentos frenéticos de vaivém
com a língua. O beijo voraz queima os nossos corpos e
permanecemos com os olhos abertos, fitando o olhar febril um do
outro.
— Basta pedir… — Daniel balbucia com a voz rouca e
desliza a língua em meus lábios…
— Nunca! — sussurro, arfante, enlouquecida para que ele
me beije novamente. Meu corpo está quente, ainda posso sentir os
tremores do orgasmo que ele me deu há alguns minutos. A primeira
vez que senti a boca de um homem em minha vagina. Sinto-me
inebriada, ofegante por mais. No entanto, não me entrego uma
segunda vez.
Seguro os lençóis com mais firmeza, movo-me para me
levantar e me livro de sua mão em meu rosto. Prendo o tecido macio
em meu corpo e coloco os pés no chão, pronta para sair dali, mas sua
mão forte segura o meu punho com destreza e rapidez, puxando-me
de volta para ele.
— Não me vire as costas, maldição! Eu ainda não terminei
com você.
A voz dele é ácida e autoritária. A nuvem de desejo que há
pouco havia nos consumido ainda está ali, mas agora misturando-se
a tensão que paira no ar.
— Preciso me limpar. Me solte, Daniel.
O homem segura o meu queixo usando dois dedos e
aproxima o rosto do meu, ficando com a boca rente à minha. A
respiração quente em minha face me deixa completamente arrepiada.
— Eu vou avisar apenas uma vez, meu amor. — À medida
que ele fala, Daniel inclina mais o corpo e ouço o farfalhar do
travesseiro que está às minhas costas. O aperto em meu queixo se
intensifica — Não traia a minha confiança, querida. Não use da
liberdade que estou te dando para me trair. — Meu coração
bombardeia com força ao sentir a ameaça tão de perto. — Jamais
minta para mim, está me ouvindo? Jamais permita que outro homem
te toque. Não quero ter que destruir você também.
Daniel se afasta um pouco e solta o meu queixo. O brilho
mordaz que vejo em seu olhar me faz entender que ele não está
brincando. Qualquer passo em falso e ele não pensará duas vezes
antes de me exterminar como um inseto.
— Do que está falando? — questiono pacificamente, sem me
permitir ser intimidada por sua ameaça. Ou ao menos é o que tento.
— Disso. — Ele estende a mão em minha direção, me
fazendo perceber o aparelho celular entre os seus dedos. Joga-o
sobre o colchão ao meu lado, e se afasta, ficando de pé sobre o piso.
— Foi por você que fiz isso. Eu protejo tudo o que me pertence e
você faz parte do pacote.
Pisco as pálpebras algumas vezes quando meu cérebro
processa sua fala com precisão. No entanto, nada do que ele diz faz
sentido. Olho para o celular um pouco surpresa e em seguida volto a
atenção para o homem que se afasta da cama e pega suas roupas no
chão. Daniel veste a cueca, permitindo que o volume descomunal de
seu pênis marque o tecido. Sem olhar para trás, vira-me as costas e
sai do quarto.
Daniel jogou minha vida em minhas próprias mãos a partir
do momento que me entregou isso. O homem sabe que posso usar
desse recurso para tentar algo contra ele. Para traí-lo, talvez revelar
informações importantes para alguma máfia ou gangue inimiga,
talvez também acionar as autoridades. Porém Daniel também sabe
que se algo suspeito acontecer, eu serei a primeira na linha de fogo.
Não há escapatórias quando se é casada com o diabo. Ou você segue
as regras ou as regras destroem você.
Suspiro e inspiro algumas vezes, só agora me dando conta do
quanto estou trêmula. Olho o celular ao meu lado e o pego. Aciono a
tela e o inspeciono com atenção. Noto que a bateria está totalmente
carregada e há um e-mail cadastrado em meu nome. A rede de
telefone assim como o wifi já estão ativados.
Exploro o aparelho com atenção, ainda confusa com tudo o
que aconteceu neste quarto.
Há alguns contatos salvos. O de Daniel está agendando como
meu amado marido. Reviro os olhos e edito o contato, salvo o seu
número com o nome brutos. Exatamente como ele é, um
brutamontes idiota. Os demais contatos são de Ettore e Angelina.
Meus olhos brilham de felicidade ao ver o número da mulher
tão amável que conheci no dia do meu casamento. Não penso duas
vezes antes de digitar uma mensagem e enviar para ela, ansiosa em
conversar com alguém.
“Angelina, tudo bem? Aqui é a Lexie. Desculpe a demora
em entrar em contato, acabei perdendo seu número. Espero que
possamos conversar em breve”.
Um sorriso tímido se abre em meu rosto quando a mensagem
é enviada. Enquanto aguardo sua resposta, continuo inspecionando
cada compartimento do aparelho, até me deparar com a galeria.
Há um vídeo aqui. A curiosidade me instiga, mas sinto um
entalo na garganta ao ver a imagem congelada na tela. Há um
homem sentado em uma poltrona suja, de costas para a câmera. Ele
é grande e aparenta estar relaxado com os braços em cima do
encosto, embora o ambiente ao seu redor pareça ser imundo e
úmido. O que mais me chama a atenção é que ele está coberto com
um sobretudo negro e uma touca de carrasco cobre a sua cabeça. A
visão disso é aterradora.
Algo me diz que não irei gostar do que verei a seguir. No
entanto, não consigo deixar o celular de lado e fingir que não há algo
estranho ali. Algo que possivelmente me deixará abalada por dias.
Logicamente sei que se Daniel deixou isso aqui, é para que
eu veja. A certeza disso me causa um reboliço amargo na boca. Nada
do que vem dele pode ser bom, mas mesmo sabendo disso, aperto o
play na tela do celular.
Os gritos estridentes de um homem são a primeira coisa que
ouço. Meu coração acelera a níveis extremos, o choque me domina e
quase deixo o telefone cair sobre o colchão.
A imagem se movimenta, tirando o foco do homem sentado
na poltrona. Mostra nitidamente o moribundo que grita em
desespero enquanto é espancado por outros dois homens, também
cobertos de negro dos pés à cabeça.
As cenas que vejo a partir disso, me fazem prender o ar em
agonia: gritos, ameaças e xingamentos, proferidos pelo homemque
está sendo agredido. O infeliz está vendado e a imagem está
parcialmente sombreada, uma vez que a luz é fraca ali, impedindo-
me de ver o seu rosto com precisão.
Porém, aquela voz. Eu conheço aquela voz… Está rouca e o
timbre soa tão desesperado que destoa das minhas lembranças.
Porém, de repente, a realidade dos fatos me agita como o
sacolejar de um navio no meio de uma tempestade furiosa. Meu
estômago embrulha à medida que o reconhecimento me atinge. É o
meu pai que está ali, sendo agredido e pisoteado. É Hector Laccount
que está sendo massacrado como um rato de esgoto.
E então, as palavras dele começam a fazer sentido…
Foi por você que fiz isso…
Eu protejo tudo o que me pertence…
Meu coração dispara de uma forma tão intensa que perco o
fôlego e preciso puxar e soltar o ar diversas vezes para normalizar a
respiração.
O vídeo continua. As cenas são chocantes e aterradoras, por
vezes, me pego colocando a mão sobre a boca para não soltar um
grito involuntário. Estou chocada e enojada demais com tudo o que
vejo. O estupro, as penetrações violentas, o sangue que vejo escorrer
do corpo de Hector. Quando o vídeo termina com a pele de seu rosto
sendo queimada, não suporto mais segurar o vômito que está
entalado em minha garganta.
Deixo os lençóis e o celular de lado e corro na direção do
banheiro. Sigo às pressas até o vaso sanitário, me ajoelho e jorro
para fora tudo o que comi durante o dia. O gosto amargo e azedo me
causa uma ânsia atrás da outra. As imagens perturbadoras não saem
da minha mente conforme o vômito vem com mais e mais força.
Sinto-me exausta quando os espasmos diminuem. Limpo a
boca suja com as costas das mãos e escorrego para o chão. Sento-me
ofegante, suada, enjoada. Meu cabelo está uma bagunça, meu corpo
sem forças e trêmulo.
Fecho os olhos por alguns instantes, tentando reformular os
pensamentos, e a última coisa que sinto agora é desprezo por Daniel.
Agora eu sei que era ele o homem da poltrona, o homem que assistiu
de perto e que deu a ordem para que meu pai fosse espancado até
desmaiar. No entanto, eu não o odeio pelo que fez.
Eu deveria… Porém não consigo…
O que sinto é mais parecido com… gratidão.
Pela primeira vez em muito tempo, sinto como se eu fosse
importante para alguém de uma maneira diferente de como me
sentia com Matt.
Sinto como se eu estivesse protegida…
Chega a ser um absurdo pensar isso sobre alguém que há
poucos instantes havia me jurado de morte caso eu o traísse.
Atordoada demais para pensar, acabo me levantando do chão,
caminho até a banheira e me lavo da cabeça aos pés. Busco retirar
toda a sujeira que se instalou em minha alma. Seco-me e retorno ao
quarto no momento em que o celular para de tocar.
Corro até o aparelho e o pego. Desbloqueio a tela e vejo duas
chamadas perdidas de Angelina. Antes mesmo que eu retorne a
ligação, ela volta a me ligar, e sem pensar duas vezes atendo a
chamada.
— Angelina? — chamo seu nome aliviada.
— Lexie? Finalmente consegui falar com você. — Sua voz
está alegre e isso de uma certa forma também me alegra.
— Sinto muito por não ter atendido. Estava no banho… —
Sento-me na lateral da cama e me recosto nos travesseiros próximos
a cabeceira.
— Estou feliz que tenha ligado.
— Oh… eu também. — sinto sinceridade em sua voz. —
Estava ansiosa para falar com você e não podia esperar por uma
visita.
Sua euforia é tanta que também me pego sorrindo, embora
meu subconsciente ainda esteja abalado demais. Porém, a confiança
que ela me passa é fora de série. É como se eu conhecesse a mulher
há anos e não poucas semanas.
— E como estão as coisas? — Eu me arrisco a perguntar.
— Estamos bem. Meu esposo quer passar por aí em breve.
Logo poderemos conversar pessoalmente.
— Isso seria ótimo… — Penso em falar que Daniel ficaria
contente pela visita, mas acabo mudando de ideia. Não sou boa em
mentir, seria um tiro isolado fingir que entre nós está tudo bem, que
somos um casal íntimo e feliz.
— E vocês, como estão?
Sua voz está séria agora quando me questiona.
Solto um suspiro desanimado, e sabendo que nada tenho a
perder, decido ser sincera.
— Nós não nos damos muito bem… — confesso quase em
um sussurro. — Nosso casamento aconteceu em circunstâncias
extremas e… eu não sei mais o que pensar ou fazer, Angel. Eu
simplesmente não sei.
Angelina fica muda do outro lado e apenas ouço o som de
sua respiração.
— Eu sinto muito…
Coloco a mão em minha testa, dando-me conta de que estou
desabafando com alguém que vi apenas uma única vez na vida.
— Não… desculpe. Vamos deixar este assunto de lado e falar
sobre outra coisa.
— Está tudo bem, Lexie. Pode desabafar comigo. Não se
sinta intimidada por termos tido tão pouco contato.
Arrumo o cabelo atrás da minha orelha e fecho os olhos,
pensativa.
— Ainda não fomos pra cama. E não tenho certeza se estou
preparada para dar esse passo. — digo calmamente. — Ele é um
homem perigoso, você sabe. Não tenho certeza de quanto tempo vai
durar sua paciência…
— Oh, Lexie. Eu entendo o que está sentindo. Passei por isso
quando conheci o Alex.
Angelina conta um pouco de sua história com o marido, e
fico chocada ao saber que ele a sequestrou de um convento. Poderia
ser cômico se não fosse tão trágico e absurdo.
— E como vocês… o que levou você a confiar nele?
Deixo os travesseiros de lado e volto a me sentar ereta.
— Ele passou a me proteger com a sua vida.
Ao fundo, ouço algumas vozes e a palavra mamãe é audível.
Filhos. Então eles têm filhos… concluo enquanto a voz
suave de uma garotinha chega aos meus ouvidos.
— Lexie, preciso desligar agora, em breve a gente conversa
com mais calma.
— Tudo bem. Obrigada por isso… Por me ouvir.
A linha fica silenciosa por alguns segundos, e então a voz de
Angelina retorna mais branda e baixa.
— Antes de desligar, quero te dizer que depois de tudo o que
vivi, preciso que você ouça a voz da minha experiência.
Independente dos seus planos, independente do que aconteça,
conquiste a confiança e o coração dele, Lexie. Tenha esse homem
em suas mãos e você terá o mundo aos seus pés.
As palavras que saem de sua boca me deixam estarrecida.
Simplesmente não sei o que responder.
Daniel não tem coração para ser conquistado.
— Angel, eu… — Antes mesmo que eu consiga formar uma
frase, ela me interrompe.
— Preciso ir agora. Fique bem, tá?
— Obrigada. Fique bem também.
Ela desliga a chamada e eu deixo o celular cair sobre a cama.
Olhando para o teto, tento afastar as imagens do que
aconteceu com Hector e foco os meus pensamentos em Daniel
Kraven.
A fala de Angelina não sai da minha cabeça…
Conquiste-o.
CAPÍTULO 20

DENER

Foco minha atenção nas imagens da câmera de segurança do


quarto de Lexie, e recosto o meu corpo no encosto da poltrona do
meu escritório. Os dados no computador são bem claros. Minha
querida esposa acabou de receber uma chamada da mulher de
Alexander, Angelina, e conversaram por poucos minutos.
No entanto, não acionei o viva voz. Estou dando essa mínima
liberdade a ela para testá-la. Preciso saber até que ponto Lexie é
confiável ou não. A garota pode me odiar, mas não é boba. Ela sabe
que a merda vai ser feia se me trair, não importa como.
Passo a mão pela barba enquanto a observo deitada na cama.
Lexie está pensativa, provavelmente ainda chocada com tudo o que
viu nas imagens. Coberta com o tecido grosso de uma toalha, seu
olhar está focado no teto branco do quarto. Eu Me movimento para
desligar a tela, me livrar da gravação e sair dali, mas congelo no
mesmo lugar quando a vejo levar a mão ao nó na frente da toalha e
desfazê-lo.
Fecho as mãos em punho, sentindo o sangue fervilhar pelo
meu corpo quando o tecido cai no colchão e ela fica completamente
nua.
Amaldiçoo por não conseguir ver seu corpo com maior
nitidez como gostaria. A câmera pega apenas a lateral de suas
curvas. Consigo ver os seios firmes e deliciosos, uma parte do
traseiro gostoso, a barriga macia, mas pelo ângulo da imagem não
consigo ver a boceta. Tenho apenas um pequeno vislumbre da
virilha, mas até isso perco no momento em que Lexie inclina a perna
esquerda, apoiando o pé no colchão.
Só de pensar nela toda abertinha para mim outra vez fico
louco. Minha boca saliva com seu gosto ainda recente na língua. Sua
boceta estava tão melada e quente enquanto eu a chupava.
Relembrar isso me deixa doido.
Maldição… De repente o cômodo fechado começa a ficar
quente de uma forma insuportável, mesmo com o ar-condicionado
ligado.
Meu pau convulsiona dentro da calça e eu gemo baixinho por
causa do atrito.
Lexie começa a massagear os seios devagar, se tocando,
explorando o corpo macio.
Vejo a garota fechar os olhos e abrir a boca, se dando prazer.
Fogo líquido corre por minhas veias ao vê-la ali, tocando os seios,
como se não tivesse gozado há pouco tempo.
A garota é gulosa, e a química entre nós é tão forte que eu
poderia gozar só em vê-la se tocar assim.
A mão pequena massageia os bicos rosados, deixando-os
durinhos, e vai descendo pelo tronco, acariciando, cavando cada
curva até chegar à virilha.
Fecho os meus olhos por poucos segundos, louco de tesão
quando sua mão some de meu campo de visão por causa da coxa
inclinada, e se perde entre as dobras de sua boceta.
Começo a imaginar se ela está esfregando o botãozinho
vermelho ou se está testando até que ponto consegue enfiar o dedo
em seu canal.
Meu pau dói por causa da pressão contra o tecido. Abro o
zíper da calça e puxo a cueca para o lado. O caralho salta pesado
para fora, tão duro feito aço, louco para ser enterrado até o fundo na
boceta dela.
Massageio a cabeça grossa de leve, gemendo rouco sem tirar
os olhos da tela. Imagino o momento em que irei esfregar a glande
na entradinha melada e depois irei enfiar todo, até sentir as paredes
de sua boceta me engolindo gostoso.
— Caralho, Lexie…
Minha garota contorce o corpo, abre e fecha a boca algumas
vezes, esfrega as coxas uma na outra. Ela está enlouquecida na cama
enquanto se masturba. A expressão fechada, junto aos tremores que
vejo em sua coxa, indicam que ela está perto de gozar.
Meu pau fica babado, melando minha mão com o pré-gozo.
— Porra… maldição! — xingo quando a vejo encolher o
corpo na cama, tremendo, se contorcendo toda.
Perco a cabeça, o raciocínio, os sentidos.
Só penso em invadir o seu quarto e fazê-la minha. Meter meu
cacete nela como se não houvesse amanhã, deixar sua vagina
inchada e vermelha, implorando por mais. E é exatamente nisso que
me concentro ao desligar as imagens que vêm de seu quarto e me
levanto da poltrona, enfiando meu pau duro de volta na calça.
O descontrole me deixa insano, enlouquecido. Sei que estou
andando em terreno perigoso, não deveria querê-la tanto assim, mas foda-
se. Abro a porta do escritório e saio a toda pressa.
Meus passos ecoam pelo piso, apressados, decididos. Minha
respiração errática é visível para qualquer um que vier a me
encontrar. Estou quase alcançando as escadas que dão acesso ao
segundo andar quando meu celular toca, arrancando-me do meu
transe louco, causado pelo desejo de fazer sexo com ela.
Pego o aparelho e diminuo o passo, levando o celular ao
ouvido.
Continuo andando, focado em Lexie. Paro apenas Ao ouvir a
voz de Kraig, informando que Hector se encontra no portão e quer
falar comigo.
— Inferno! O que o desgraçado quer? — questiono, irritado.
A frustração me domina por dentro.
— Disse apenas que precisa falar com você com urgência.
Mas acredito que você já saiba sobre o que se trata a conversa.
Passo a mão em meu cabelo, impaciente e completamente
louco de raiva. Mudo o percurso, sabendo a merda que Hector
deseja, que eu use de minha influência para descobrir que
organização criminosa fez a emboscada para ele.
Forço os meus lábios a curvarem-se em um sorriso carregado
de arrogância e veneno.
— Leve o imbecil para a sala de reuniões do conselho, Kraig.
Não permita a entrada de nenhum dos seus cães de guarda.
— Entendido!
Desligo a chamada e faço o percurso de volta. Saio das
escadarias, ajeito o terno que vesti logo após sair do quarto de Lexie,
e caminho a passos firmes em direção ao local combinado. Pelo lado
de fora da mansão, o compartimento destinado ao conselho é
acessado através de uma sala de jogos. Há uma passagem ampla na
parte mais privada, camuflada por prateleiras de livros. A passagem
dá acesso a uma escadaria subterrânea que leva a uma câmara com
isolamento acústico.
Pelo lado de dentro, consigo acessar a câmara por uma
passagem oculta, direto do meu escritório. O botão automático que
aciona a porta fica debaixo de uma tábua solta do assoalho, próximo
à parede e camuflada pelo carpete. Ao contrário da outra, essa última
é conhecida apenas por mim.
Avanço pelas escadarias subterrâneas, usando a lanterna do
celular para quebrar a escuridão, e sigo em direção à câmara. O local
possui vários túneis que decidi manter da planta original da
propriedade, antes da reforma.
Alguns levam ao lado de fora dos portões, outros servem
apenas como esconderijos em caso de um possível ataque. Chego à
sala de reuniões antes de todos. É como se eu já estivesse ali quando
Kraig me ligou. Com as mãos atrás do corpo, fico de costas para a
passagem da sala de jogos, e foco minha atenção nos vários quadros
espalhados pelas paredes. Meus sentidos estão todos atentos.
Ouço o barulho da porta sendo aberta e logo a voz de Hector
é ouvida.
— Daniel, meu querido amigo.
Viro-me em sua direção, com um riso cínico esboçado no
rosto.
— Hector. A que devo a surpresa?
Observo o homem completamente desfigurado. Todo o rosto
carrega marcas roxas e azuladas. O nariz está torto, a boca com um
corte profundo em estado de cicatrização. A queimadura em sua face
foi tomada por uma crosta grossa e asquerosa, deixando-o digno de
pena.
Ryder e Kraig ficam a postos, em frente à porta fechada.
Vestido com um terno risca de giz, Hector dá alguns passos
até mim, e segura minha mão, depositando um beijo em meus dedos.
O gesto que há muito tempo não é usado, indica respeito. No
entanto, a única coisa que sinto é cólera e desprezo. Porém, trato de
manter a expressão impassível.
— Preciso de sua ajuda, Daniel. Fui pego em uma
emboscada, e os desgraçados quase me mataram. Por pouco
consegui fugir.
Ergo a sobrancelha, indiferente. Não há surpresa em suas
mentiras, o homem não passa de um covarde de merda, se borrando
de medo do inimigo. Eu já esperava que ele viesse até mim pedir
socorro.
— Quem foram os imbecis? E por que fizeram isso?
Viro-lhe as costas e volto a fitar os quadros, passando os
olhos pelas réplicas de pinturas renascentistas do século XV.
— Não faço ideia. Fiz de tudo para descobrir o paradeiro dos
desgraçados, mas não há pistas. É como se tivessem evaporado no
ar.
— E você quer que eu os ache e os mate! — afirmo.
— Seria uma honra se fizesse isso. Agora somos uma única
família. Protegemos os nossos.
— É claro — respondo calmamente. — Diga-me meu amigo,
o que aconteceu?
Enquanto o homem narra os acontecimentos daquela noite,
sem mencionar o estupro, deslizo a mão pelos bolsos internos do
paletó e alcanço minha Push T Dagger, uma espécie de mini faca,
com lâmina de apenas cinco centímetros de comprimento.
Retiro a minúscula e afiada arma da bainha e encaixo a
lâmina entre os dedos médio e indicador.
Ainda de costas, chamo por Kraig:
— Mostre a Hector por que ele agora tem a marca de uma
borboleta na cara.
O barulho dos gritos de Hector ecoa pela câmara, vindos da
gravação.
— Este vídeo está rodando nos quatro cantos do mundo,
Hector. Cada organização criminosa nos Estados Unidos, agora sabe
quem é você, e qual a sua posição dentro da máfia.
Viro-me em um rompante, encarando-o friamente, o homem
estático na minha frente.
Seus olhos arregalam-se, sua pele toma uma tonalidade
pálida.
Avanço em sua direção bruscamente, e sem esperar nenhum
segundo, uso as costas de minhas mãos para golpeá-lo na face, na
parte que não fora marcada pelo ferro.
— Estúpido! — grito a plenos pulmões ao vê-lo cambalear e
quase cair no chão.
O sangue começa escorrer pelo seu rosto, e o homem leva a
mão ao ferimento profundo, causado pela minúscula lâmina.
— Você ficou louco? — questiona ainda em choque. O olhar
ameaçador fixando-se em meu rosto.
Pego um lenço branco no bolso do terno, limpo o sangue que
ficou na Push T Dagger, e volto a embainhar a lâmina.
— Mais um movimento e meus homens irão estourar seus
miolos! — Aviso quando Hector se movimenta para pegar a arma no
coldre.
— Tínhamos um acordo — ele cospe em ira.
— E você me traiu, amigo — respondo, tranquilo e
triunfante ao vê-lo sangrar outra vez. — Não passa de um estuprador
filho da puta. Você é só um amontoado de lixo, Hector Laccount.
Aceno para Ryder pegar a arma de Hector e sorrio ao vê-lo
me encarar como um cachorro raivoso.
— Nosso amigo não sabe brincar em segurança, Ryder. É
melhor você cuidar do brinquedinho dele, antes que se machuque.
Não revelo quem sou, e muito menos que fui o responsável
pelos ferimentos que ele carrega no corpo. Hector não precisa saber
desse pequeno segredo, não ainda. Por enquanto, apenas o faço
pensar que estou irritado por ele ter descumprido as regras.
— O que fará agora? — questiona, mais controlado. A
compreensão tomando conta do seu semblante à medida que ele se
dá conta de que não adianta tentar lutar ou fugir. Posso sentir o
estremecimento de seu corpo.
— Tenho um presentinho para você e fico feliz que tenha
vindo até mim. — Caminho em volta do homem e aponto na direção
de Ryder.
— Traga nosso convidado. Hector vai gostar de revê-lo.
Ryder entra em outra porta no cômodo e desce mais alguns
lances de escada.
— Como descobriu? — Hector indaga, ainda estático, no
mesmo lugar.
Inspiro fundo, impaciente e frustrado pela falta de sexo. A
vontade de matá-lo é grande por ter me interrompido justamente
quando estava indo até Lexie, mas decido ser razoável.
— Um pouco antes do meu casamento com sua filha. Ou
você pensou que eu não saberia de seu envolvimento com o tráfico
de mulheres?
Apenas o silêncio perdura pelos minutos seguintes.
Enquanto aguardo o retorno de Ryder, retiro minha arma do
coldre e a destravo.
Logo o homem está de volta, arrastando o moribundo
amordaçado.
O maldito fornecedor cai no piso quando Ryder o empurra
nos pés de Hector. O homem geme, sem forças, mas não se
movimenta. Seu corpo está destruído pela infecção. A carne de seus
membros feridos, está apodrecida, liberando uma salmoura viscosa
misturada com pus. O cheiro exalado dos cortes e ferimentos
pútridos é tão forte que toma todo o cômodo e me causa ânsia de
vômito.
— Inferno! — Hector sussurra, mas não levanta a voz. Tapa
o nariz com uma mão e dá um passo para longe do homem jogado
no chão.
O barulho de meus passos estala pelo piso. Caminho até o
amontoado de carne podre, miro sua cabeça e atiro.
Miolos e sangue escorrem pelo chão.
Hector me encara com ira nos olhos e eu o fito de volta.
— É isso que acontece com quem não segue as regras em
meu território — digo, e passo as mãos em seus ombros. — Mas eu
serei razoável com você, meu amigo. Em nome de nosso acordo e
amizade. Não irei matar você, não ainda. Mas que isso sirva de
aviso.
Afasto-me e estendo a mão em sua direção, sorrindo.
— Estamos entendidos? — pergunto. A arma ainda em
punho na outra mão. — E antes que eu me esqueça, não se preocupe.
Iremos achar os culpados. — Pisco.
O homem olha de mim para a pistola, as írises flamejando de
raiva e humilhação. Porém, aperta minha mão e assente.
— Sim.
Dou um tapinha em seu rosto, fazendo questão de machucar
o local ferido, ainda sangrando.
— Agora vá lavar este rostinho enrugado. Está nojento com
todo este sangue sujando o piso. Isso fede pra caralho!
CAPÍTULO 21

DENER

Mal-humorado, entro no box do banheiro e ligo o chuveiro


para me lavar. Ando mais irritado do que o normal ultimamente,
principalmente após a emboscada que tramaram para mim próximo à
entrada de Long Island, dias antes do meu último encontro com
Hector. Alguns dos desgraçados fugiram quando meus homens
revidaram. Perceberam que seria loucura tentar me enfrentar com os
meus soldados armados até os dentes com artilharia pesada. Os dois
que conseguimos capturar, morreram devido aos ferimentos de bala.
Voltei à estaca zero. E se há uma coisa que me deixa furioso
é permanecer no escuro, sem ter certeza de onde virá o próximo
ataque. Sem informações de quem estava por trás da emboscada e
ainda sem comer uma boceta há dias, sinto meu estresse subindo à
cabeça, deixando-me completamente alterado.
A única parte boa de tudo isso, é que após a saída de Hector
do meu território, duas noites atrás, Ryder e Kraig foram
encarregados de segui-lo. O homem passou parte da noite em uma
zona de prostituição, encoberta por uma boate de luxo.
Um rastreador foi fixado na parte de fora do assoalho do
carro dele e no veículo de alguns dos seus homens. E hoje,
exatamente, há meia hora, o sinal dos rastreadores indicaram que
Hector saiu de Nova York, sentido à Califórnia, local que ele
mantém seu harém de mulheres traficadas e que possivelmente
guarda a porra de um segredo. E eu não descansarei até cavar ao
fundo tudo isso.
Termino de me lavar rapidamente, desligo a água e retorno
ao quarto.
Visto-me apenas com uma calça de flanela, pego a pistola
que sempre deixo ao meu lado, e desço para jantar. Encontro Lexie
sentada à mesa, comendo e conversando com Ettore. O homem, que
quase nunca sorri ou conversa com alguém, está sentado em uma
cadeira de frente para ela, e parece bastante interessado no que a
garota diz.
Lexie curva os lábios sorridentes e corta um pedaço de bife,
colocando a carne na boca. Mastiga devagar, prestando atenção na
conversa, leva o copo de água à boca e toma um gole, sempre atenta.
Com a expressão fechada, caminho na direção dos dois me fazendo
ser ouvido.
Ettore se levanta em um rompante ao perceber minha
presença na sala e fica estático. Desvia o olhar de Lexie e me encara
seriamente. O aviso de perigo está estampado em meu semblante e
ele entende isso quando abaixa o olhar. Coloco a pistola sobre o
vidro, sento-me no meu lugar, na ponta da mesa, e destampo a
refeição que está bem montada sobre o prato.
Purê de batatas com molho e bife bovino.
— Está dispensado por hoje, Ettore — ordeno, sem tirar os
olhos do prato.
— Sim, chefe.
Pelo canto do olho, vejo o homem ajustar a pistola no coldre
e se retirar, sem voltar a desviar o olhar para ela outra vez. Corto um
pedaço de carne e mastigo. Estava faminto e o bife está no ponto que
gosto. Macio e suculento.
Quando ergo o olhar, vejo Lexie me encarando com a
sobrancelha erguida e expressão incrédula.
— Algum problema? — questiono, cínico. Pego a taça, mais
relaxado do que o costume, e tomo um generoso gole de água.
— Eu estava conversando com ele, Daniel. Não precisava
expulsá-lo assim — argumenta.
Deixo a taça sobre a mesa e estalo a língua, ainda apreciando
o prazer de ouvir meu nome saindo de sua boca. Observo-a, vestida
com uma camiseta branca, regata. A blusa colada deixa seus seios
deliciosos em evidência e o ritmo acelerado de sua respiração faz
seu busto subir e descer. Um movimento vital que me deixa
terrivelmente excitado.
— E sobre o que conversavam, meu amor?
— Coisas banais… Ettore é um bom ouvinte. — Percebo que
sua voz vacila quando responde. Deixando os talheres sobre o prato,
Lexie levanta-se, revelando as pernas grossas, cobertas apenas com
um shorts jeans, curto demais para exibir esse traseiro por aí. A
mulher é linda. Não culpo Ettore por não conseguir disfarçar o
sorriso bobo da cara olhando esse rosto de boneca. O problema é que
o ciúmes me deixa doido e não admito que meus homens olhem para
ela uma segunda vez.
Faço uma anotação mental sobre o que farei com ele. Porém
de repente recordo-me que Ettore é o melhor encarregado para
investigar os passos de Hector na Califórnia. Decido que a
Califórnia será seu novo destino nas próximas semanas.
— É mesmo? Pelo sorriso que vi no rosto dele, parecia ser
bem mais engraçado do que uma simples conversa! — acuso,
desviando a direção dos meus pensamentos.
Também me levanto e a encaro firmemente.
— O que foi, Daniel? Também não posso conversar com
seus funcionários?
Lexie cruza os braços na frente do corpo, e este simples
movimento aprofunda o decote da blusa. Porra! Linda pra caralho…
— Meus soldados não estão aqui para conversar, Lexie. Eles
apenas fazem a segurança, nada mais.
Aproximo-me mais dela, ficando a menos de um metro de
distância.
— Então é apenas por isso essa sua implicância? — O
esboço de um sorriso desafiador surge em seu rosto, e Lexie
mordisca o lábio inferior. — Eles são seus soldados e por isso não
podem conversar comigo?
— Nem conversar, nem olhar para você… — Começo a
entrar em seu jogo, surpreso por sua mudança de comportamento
repentina. Daria tudo para saber o que se passa nessa cabecinha
geniosa.
— E se eu quiser continuar conversando com Ettore? Vai me
proibir?
Mais um passo, e meu corpo quase cola-se ao dela. Ergo a
mão e alcanço seu queixo bem-feito, pequeno, tão delicado quanto
todo o resto de seu corpo.
— Se insistir nisso, algo de muito ruim pode acontecer com
ele.
A advertência não parece surtir nenhum efeito em seu
atrevimento.
— Falando assim, posso imaginar que esteja com ciúmes,
Daniel.
Ela passa a mão pelos cabelos soltos, jogando os fios para o
lado e volta a erguer uma de suas sobrancelhas.
Tento me controlar, mas a verdade é que sim. Essa diabinha
safada me deixa doido de ciúmes.
— Está interessada nele? — interrogo.
Deslizo meus dedos pela maçã de seu rosto, acariciando a
bochecha volumosa, a pele macia.
Os lábios grossos e avermelhados são como um convite ao
prazer. Tudo que penso agora é em como seria enfiar meu cacete
nessa boca linda, deixá-la completamente melada com meu esperma.
— E se eu estiver? Afinal, nosso casamento é apenas de
fachada, não é?
Inspiro fundo para manter o controle e não cair em suas
provocações. Não sei por que diabos ela está fazendo isso ou o que a
fez mudar de ideia sobre ser razoável.
— É isso o que acha, Lexie?
Volto a deslizar a mão pelo seu rosto, até a nuca. Enredo
meus dedos nos fios de seu cabelo e os puxo em minha direção.
Ela ofega.
Inclino o corpo e mordisco o lóbulo de sua orelha, ouvindo
seus suspiros entrecortados. Inspiro o cheiro dela com força. O
aroma de mel me inebria. É quase como uma droga da qual desejo
me fartar. Ela estremece sob meu toque. Sua pele fica quente, a
respiração acelerada. Lexie está louca, me querendo, mas é
orgulhosa demais para admitir, e eu estou quase entrando em
combustão.
— Sim. É o que acho… — murmura.
— Para mim foi bem real quando eu estava com a língua
enfiada em sua boceta. — Sinto suas mãos espalmadas em meu peito
e seu corpo treme. — Você cheira tão bem… Tem o gosto delicioso
lá embaixo.
— Daniel… — ela sussurra meu nome, mas volta a ficar em
silêncio e ofegante.
Encaro seu rosto brevemente, fitando os olhos brilhantes e
famintos, e então me inclino outra vez.
Esmago sua boca com a minha, invadindo a cavidade úmida
com a língua.
Minha mão arde à medida que invado a barra de sua blusa e a
levanto, expondo o sutiã que Lexie usa. Movo o bojo estofado e
acaricio um seio, depois o outro. Prendo os bicos deliciosos entre os
meus dedos e esfrego levemente, ouvindo um gemido escapar de sua
garganta.
Minhas mãos deslizam para o seu traseiro redondo,
apertando e amassando a carne.
Lexie geme alto e retribui o beijo faminto. Ela me provoca
com a língua, introduzindo-a em minha boca. É difícil me controlar
assim, com suas mãos apalpando meu peito e barriga, descendo
mais.
— Porra… — grunho rouco quando suas mãos trêmulas
serpenteiam pelo cós de minha calça e ela apalpa o meu pau por
cima do tecido.
Ela é inexperiente, está nervosa, trêmula, mas é o suficiente
para me deixar louco. Preciso usar todo o meu autocontrole para me
afastar de seu corpo, antes que eu a possua aqui mesmo, na parede
da sala de jantar.
Embora eu esteja doido pra fodê-la, ainda não é a hora.
Quero ver a garota gemendo e implorando para ter o meu pau dentro
de sua boceta.
Quero que seus pensamentos sejam todos meus, não dele.
Seguro sua mão, impedindo-a de continuar com essa tortura
devassa.
— Ainda não — murmuro em sua boca.
Limpo seus lábios com a ponta dos meus dedos, afasto-me e
viro as costas para sair dali.
— Daniel…
Sua voz é baixa quando me chama, mas eu não paro para
respondê-la.
— Obrigada por me proteger… do meu pai… — São as
últimas palavras que ouço antes de desaparecer da sua vista.
Então é isso. Ela está grata…
Irritado, caminho rápido em direção à academia que possuo
na área exterior. Preciso me exercitar até a exaustão para diluir a
tensão em meu corpo e arrancar esse desejo louco que me tomou dos
pés à cabeça.

LEXIE

Trêmula, vejo-o se afastar, deixando bem claro o quanto foi


sincero quando disse que eu imploraria por ele. Fico estática ao me
lembrar do que fiz. Praticamente o ataquei de forma desajeitada e
patética. Estava quase desabando no chão de tão nervosa que eu
estava ao enfiar a língua em sua boca e ao agarrar o pau de Daniel
Kraven, o homem que jurei odiar eternamente.
Coloco a mão em minha cabeça, sentindo-me zonza e dopada
pelos beijos trocados. Só então, quando meus pensamentos são
interrompidos por uma das funcionárias da mansão que chega para
retirar a mesa, é que me dou conta de que não há seguranças à minha
volta.
Olho ao redor, surpresa, mas realmente não há ninguém.
Ele está brincando comigo, não há outra resposta plausível.
Deve pensar que sou idiota por agir daquela forma. Concluo. Não sei
o que pensar sobre isso no momento. Simplesmente sigo para o
quarto e me coloco de frente para o espelho.
Observo as roupas que uso, tão básicas e nada atrativas, que
nada valorizam minhas curvas exageradas. Gorda. Desajeitada. A
voz de meu pai começa a ressoar em minha mente, mas balanço a
cabeça tentando afastar todas as lembranças ruins. A verdade é que
não sei como fazer isso. Não sei como conquistar aquele homem e
seguir o conselho de Angelina.
Preciso ser mais sensual, talvez, me vestir de forma
provocante, ser mais ousada. Só então conseguirei fazer com que
Daniel Kraven baixe a guarda para que eu tenha uma chance de
fugir.
Conquiste-o e fuja!
Oh merda! Eu estou tão fodida.

Os próximos dias passam lentamente como todos os outros.


Não vi mais Ettore. O homem simplesmente desapareceu sem deixar
vestígios e sei que Daniel tem algo a ver com isso. É uma pena, pois
estava me fazendo bem a proximidade que tivemos nos últimos dias.
Embora calado, gostei de conversar um pouco com alguém. Ettore
falou sobre Daniel e me advertiu para não fazer besteiras, dessa
forma, eu estaria segura. Ele me contou um pouco sobre sua vida na
Itália e sua vinda para os Estados Unidos, mas não entrou em
detalhes sobre sua função dentro da máfia.
Suspiro. Não há mais ninguém fazendo a segurança da minha
porta 24 horas por dia, o que me deixou ainda mais surpresa. É como
se eu estivesse passando por um teste de vida ou morte. Obedeça e
viva, dê um passo em falso e morra. Daniel está me testando, eu
posso sentir.
Também não o vi muito. Com exceção na hora do jantar ou
algumas noites em que o vi se exercitar na academia que fica no
pátio. Como agora não há um guarda seguindo os meus passos tão
de perto, passei a explorar o exterior da mansão pela manhã e à
noite.
Os homens de Daniel me observam a uns bons metros de
distância, dando-me privacidade. Costumo passar horas no jardim,
desenhando a paisagem geométrica, o céu azul e as flores coloridas, em
outras vezes, ando pela praia e converso com Angelina.
Foi em um desses passeios à noite, enquanto andava pelo
pátio, que o vi entrando na academia. O local enorme possui paredes
de vidro de cima a baixo. Permaneci nas sombras, observando
enquanto ele socava um saco de pancadas e levantava barras e mais
barras de ferro pesadas quase até a exaustão.
Era impossível não admirar o corpo forte, os bíceps rígidos,
o abdômen suado. Sua pele brilhava de suor ao final do treino, e me
imaginei várias vezes o tocando, sentindo os músculos grandes em
minhas mãos.
Meus pensamentos são interrompidos quando ouço uma
batida forte na porta. Em um sobressalto, deixo a escova de cabelo
sobre a penteadeira e me levanto. Arrumo os fios atrás da orelha,
coloco um robe sobre a camisola que vesti para dormir e abro a
porta.
É Kraig que está ali do outro lado, frio e sombrio como
sempre.
— O chefe ordenou que você faça uma mala. Irão para
Miami em uma hora.
Surpresa me abala dos pés à cabeça.
— O que? Mas por quê?
— Ele tem negócios, madame. E dessa vez você irá
acompanhá-lo.
— Onde está o meu marido? Exijo falar com ele agora
mesmo.
— Seu marido está ocupado… — Percebo que o homem está
impaciente ao me fitar com aquele olhar de poucos amigos. — Se
apresse, o chefe aguarda por você lá embaixo.
Dito isso, Kraig fecha a porta e me deixa ali, irritada com as
loucuras de Daniel.
O que ele acha que sou? Uma boneca que pode carregar para
onde e quando quiser? Minhas têmporas latejam enquanto faço a
mala. Não sei exatamente qual será meu papel nisso tudo, mas
escolho alguns vestidos e lingeries elegantes.
Visto-me com calça jeans e camiseta, pego meu celular, a
mala com meus pertences e sigo até o andar de baixo. Ao me
aproximar das escadas, ouço vozes alteradas, e reconheço a fala de
Daniel na discussão.
Diminuo meu passo para não fazer barulho e me concentro
para ouvir a conversa.
— Porque levar essa mulher, Dener? Ela só está te
distraindo, maldição!
Dener? Pisco algumas vezes, imaginando ter ouvido errado e
volto a prestar atenção.
— Cale a merda da boca, George, a garota vai comigo e está
decidido.
— Por que insiste tanto nessa porra? Enquanto você continua
obcecado por ela, os inimigos estão rondando e esperando você
baixar a guarda. Se livre dela, caralho. Case-se com outra mulher
que queira te dar um herdeiro e esqueça o inferno dessa vi..
Ouço o barulho de um soco sendo desferido e preciso colocar
a mão na boca para não gritar de susto. Desço as escadas o mais
rápido que posso até alcançar a sala de estar. E então vejo Daniel
com a arma em punho, apontada para George que está ofegante e
com a boca sangrando.
— Eu falei pra calar o inferno dessa boca. Já disse para não
se meter nos meus assuntos ou acabo com você, porra. Eu meto uma
bala no seu cérebro — ele grita, tão nervoso que fico estática.
Preciso me policiar para controlar a respiração. Inspiro e
respiro várias vezes.
Meu marido vira as costas para o homem e me fita. Seu olhar
está severo, o rosto transformado pela raiva. Ele caminha na minha
direção, segura o meu braço me puxando para a porta sem dizer uma
única palavra.

A viagem sentido a Miami é no mínimo estranha.


É a primeira vez que viajo em um jato executivo e só posso
dizer que em nada consigo aproveitar do conforto do Bombardier
Challenger. Meu estômago está embrulhado, e as minhas mãos
suadas. Também é a primeira vez que saio do Estado de Nova York.
Daniel está calado, pensativo. Não me dirigiu a palavra em
nenhum momento. Sete dos seus homens estão nos acompanhando
na viagem: Ryder, Kraig e mais cinco que não me recordo o nome.
Tento me distrair com alguns jogos no celular, mas o mal-
estar causado pelos milhares de km acima do nível do mar é intenso.
A tensão que se formou aqui dentro também não ajuda, então coloco
os fones de ouvido, aperto o play do Spotify e a canção Human de
Rag’n’Bone Man ressoa em minha cabeça.
Algumas horas depois, entramos no hotel em que iremos nos
hospedar sabe-se lá por quantos dias. Já é tarde. Passa das 2 horas da
manhã quando deixo a mala sobre a cama King Size da suíte e olho
a tela do celular.
Observo meu marido deixar suas coisas no chão, retirar o paletó e
se dirigir para a porta que dá acesso ao restante do apartamento. Antes
que ele consiga cruzar a passagem, o chamo:
— Daniel será que podemos conversar um minuto? — peço
enquanto tento entender tudo o que está acontecendo.
Qual o significado de estarmos aqui e por que eu era o
motivo daquela discussão entre ele e George?
— Agora não, Lexie.
A voz firme me faz parar e meus nervos se afloram.
— Preciso resolver algumas coisas. Descanse!
Frustração nubla meus pensamentos à medida que ele sai e
bate a porta, deixando-me ali sozinha, confusa.
Daniel está me evitando e com isso está conseguindo me
deixar louca com suas atitudes incoerentes, seu silêncio.
Mas isso não vai ficar assim, prometo a mim mesma
enquanto retorno para a cama e me preparo para dormir.
CAPÍTULO 22

LEXIE

Abro os olhos lentamente por causa da claridade que adentra


pela vidraçaria que fica de frente para a cama, afasto o edredom e
forço-me a sentar.
Passo a mão pelo rosto, sonolenta demais por causa da noite
mal dormida e bocejo.
Olho em volta à procura de qualquer sinal de Daniel, mas
não há nada aqui. Seu lado da cama está frio, o travesseiro e lençóis
intactos. Ele nem sequer retornou durante a noite.
Daniel dormiu fora. Pensar nisso causa-me uma espécie de
sufocamento e um aperto estranho em meu peito. Não deveria me
importar, mas a verdade é que nem ao menos consigo explicar o que
sinto. Apenas me incomoda.
Lembro-me que após rolar na cama por horas, acabei
pegando no sono e dormi mais do que deveria. São 10h15 da manhã
agora. O sol brilha com toda sua força e o céu muito azul me faz
suspirar baixinho. Levanto-me para usar o banheiro, só agora
prestando atenção na suíte enorme. As paredes são de cor creme e
branco e a decoração do teto fica por conta das sancas de gesso
iluminadas.
Caminho pelo tapete geométrico e macio, com cores
parecidas com a das paredes, e sigo para o banheiro. Escovo os
dentes, uso o vaso sanitário e retorno ao quarto após tomar um
banho rápido. Estou enrolada na toalha quando a porta é aberta e
Daniel entra. Ele ainda usa a mesma roupa da noite anterior. O
tecido da camisa está amassado e o olhar aparentando cansaço está
rodeado de olheiras profundas.
Sem dizer uma única palavra, caminha até a cama, senta-se e
se livra dos sapatos.
— Vamos sair à noite. Esteja pronta às 23h — informa sem
me encarar.
Sinto minhas mãos tremerem de raiva e uma espécie de
angústia quando imagino o porquê do seu sumiço. O porquê de ter
passado a noite fora. Fecho os olhos e volto a abri-los, sentindo-me
uma tola por me incomodar com isso. Eu não deveria me importar
com as mulheres que ele fode, mas é mais forte que eu. Inspiro
fundo para controlar os nervos e questiono friamente, decidida a
destruir esse incômodo idiota:
— Para onde vamos?
Suas mãos descasam os botões da camisa social e o tecido é
jogado sobre o colchão, revelando o abdômen e os braços fortes.
— Para a inauguração de uma boate. — Sua resposta é seca.
— É por isso que estamos aqui?
Ele ergue o olhar para mim e todo o meu corpo estremece
sob seu exame minucioso.
— Sim. Tenho negócios aqui. A boate faz parte de uma
companhia. Como também este hotel e vários outros espalhados pelo
mundo.
Espanto alastra-se pelo meu corpo enquanto o fito.
— Pensei que tudo em sua vida envolvesse a máfia —
comento, completamente surpresa.
Daniel coloca-se de pé e dá o mesmo destino da camisa a
calça social, ficando apenas de cueca boxer branca. O tecido delineia
o volume impressionante, mas finjo não me importar.
— E envolve, Lexie. A única diferença é que fiz
investimentos inteligentes ao longo dos anos.
Estou tentada a questionar por onde andou e por que não
dormiu no hotel, no entanto, sei que é mais esperto tentar uma
aproximação mais descontraída se eu quiser atingir meus objetivos.
— Então você é mafioso e CEO? — Tento quebrar o clima
tenso no quarto e Daniel sorri.
Acho que é a primeira vez que o vejo sorrir assim, tão
natural.
— Não. Eu cuido dos assuntos da máfia e uma equipe
especializada se encarrega dos negócios da companhia.
Recosto-me na parede e cruzo os braços na frente do corpo.
— Interessante. Você tem uma rede de boates e hotéis
espalhadas pelo mundo. O que mais eu não sei?
Ele passa a mão na barba comprida e balança a cabeça me
observando com atenção. Os lábios ainda curvados em um sorriso
convencido.
Babaca.
— Algumas empresas de fusão, também.
— Uau! — Deixo escapar quando percebo que ele é mais
rico e poderoso do que imaginei.
— Está surpresa, querida? — Seu questionamento soa mais
como uma provocação barata.
— Pra falar a verdade, sim. E estou mais surpresa por você
ainda se envolver com tudo isso. Tráfico de drogas, armas,
mulheres… A pergunta correta é. Por quê?
Daniel suspira. Embora estivesse sorridente há um segundo,
o cansaço e a noite aparentemente em claro estão cobrando seu
preço.
— As coisas não são tão simples como imagina, pequenina.
Nunca foi uma escolha para mim não estar enfiado até o pescoço
dentro deste mundo. Mas, ao contrário do que você pensa, eu não me
meto com o tráfico de mulheres. Essa espécie de negócio dentro do
meu território é paga com a morte dos envolvidos.
Suas palavras penetram meus sentidos e quase sinto alívio ao
ouvi-lo dizer isso. Porém, não é tão simples assim acreditar no que
Daniel diz. Mas, o que ele ganharia em mentir? É tudo tão
confuso…
Ele se aproxima mais e acaricia o meu ombro, deixando
nossos corpos próximos, mas não o suficiente para se tocarem.
Encaramo-nos quase em um transe.
— Quais são seus segredos, Daniel? — Ergo a mão e toco o
seu rosto de leve. Ele fecha as pálpebras por alguns instantes, meu
coração acelera de uma forma incontrolável quando sinto a textura
de sua barba proeminente nos dedos. — Onde está sua família?
Ele volta a abrir os olhos, deixando-me estarrecida com o
brilho da dor que vejo ali.
— Estão todos mortos, Lexie…
Puxo o ar com mais força, meu corpo inteiro estremece
quando sinto a dor dele tão densa, quase palpável, tão verdadeira…
— O que aconteceu?
— Você quer mesmo falar sobre isso?
A resposta dele me faz perceber o quanto estou sendo
invasiva.
— Sinto muito. Eu… Você não precisa falar se não quiser.
Seus dedos seguram o meu punho, e ele afasta meu contato
de seu rosto.
— Por que está fazendo isso? — questiona duramente. A
tristeza que por alguns minutos vi tomar conta de seu semblante se
desfaz no ar.
— Isso o quê? — questiono.
— Está sendo gentil. Da última vez que estivemos juntos em
um quarto, você deixou bem claro o quanto me odiava.
Sinto minhas bochechas esquentarem quando meu olhar
desce pelo seu abdômen brevemente, e prendo um suspiro ao ver o
corpo forte e musculoso tão perto do meu.
— Tem razão. Não deveríamos ser amigáveis um com o
outro. Afinal, você me comprou e eu não passo de mercadoria.
Em um movimento rápido, Daniel enlaça a minha cintura e
me puxa para si.
— O que você quer, Lexie? Diga!
Arfante, sinto seus dedos cravarem-se na minha carne, por
cima do tecido da toalha.
Eu quero você. É a única coisa que meu corpo deseja agora,
mas em vez disso, me acovardo ao sentir a dureza de seu pênis,
pressionada contra minha barriga.
— Eu… eu não quero nada Daniel, me solte.
Ele faz o que digo sem hesitar e passa a mão pelos cabelos.
Cambaleio para trás quando fico livre do agarre dos seus braços.
Firmo-me na parede, ofegante e excitada. Apenas um toque, apenas
sua proximidade e o aroma de seu corpo másculo inundando meus
sentindo, e eu fico assim, implorando internamente para ter mais
dele.
Daniel continua me encarando com aquele olhar devastador,
que parece enxergar o fundo de minha alma.
Recomponho-me e prendo a toalha com mais força em volta
do meu corpo.
— Preciso fazer compras, não tenho nada adequado para
hoje à noite — Informo-o para mudar o rumo da conversa, antes que
me derreta bem aqui no chão do quarto.
Pensamentos mirabolantes passam pela minha cabeça
enquanto imagino o vestido que desejo usar mais tarde.
Conquiste-o.
— Vou providenciar para que Kraig vá com você…
— Quero que você vá comigo, Daniel. Será que podemos ter
ao menos um dia normal? — Eu me adianto e interrompo sua fala.
— Estarei ocupado, Lexie. Tenho negócios para resolver.
— Por favor, só dessa vez — insisto, sabendo que de uma
forma ou de outra, preciso estar perto dele o máximo que conseguir.
— Está tramando algo, não é? Qual seu jogo, garota? — Ele
volta a se aproximar.
— Não há jogo, Daniel. Mas, se for pra fazermos isso, que
seja direito — minto, referindo-me ao nosso casamento.
Ergo o queixo para demonstrar convicção e o fito nos olhos,
sem perder nem por um milésimo de segundos o abismo profundo de
suas írises.
— Muito bem. Vamos brincar de família feliz então. Estarei
pronto em um minuto.
Meu marido retira a cueca que cobre o seu pênis, e o pau
duro e muito grande salta imponente, grosso, robusto. Tão arrogante
quanto o próprio Daniel.
Desvio o olhar de sua ereção e caminho até a mala de roupas
sem olhar para trás. Ouço os passos dele se afastando, e só então
consigo respirar com melhor precisão.
Visto um conjunto de lingerie preto com sutiã sem alças, e
escolho um vestido branco Midi, com decote profundo em V.
O tecido leve se ajusta bem ao meu corpo até a cintura, e as
saias se abrem, me dando um visual despojado, moderno e bastante
confortável.
Em poucos minutos estou pronta, e meu marido retorna ao
quarto já vestido.
Ele usa camisa branca de mangas compridas e calça jeans.
Os botões abertos até o peito deixam-no tão gostoso que preciso
respirar fundo e fingir que meu corpo não está se transformando em
gelatina.
— Pronta? — Ele se coloca em minha frente enquanto dobra
as mangas da camisa. O tecido quase se partindo por causa da
pressão de seus músculos.
— Sim. Estou pronta…
Daniel segura minha mão e me guia na direção da porta de
nossa suíte.
Os sete soldados estão a postos para fazer a segurança e para
seguir-nos por cada rua de Miami.
Quando chegamos ao lado de fora do hotel, Daniel me leva
em direção a um Mercedes Maybach Exelero. O carro escuro inspira
luxo em cada pequeno compartimento.
A porta do carona é aberta por ele e eu entro. Logo em
seguida, meu marido assume o volante e dá partida no carro. Os
músculos de seu braço se estendem à medida que ele passa as
marchas e pisa no acelerador. É como se aqui, no controle de um
motor potente, ele estivesse de fato em seu mundo.
Dois SUVs seguem na frente do Mercedes, e mais dois às
nossas costas. Formam uma barreira de homens e máquinas, que
dariam suas vidas para proteger o rei.
Miami é puro sol, sal e mar. A cidade é magnífica, parece ter
uma luz própria que irradia beleza e liberdade.
CAPÍTULO 23

LEXIE

Minhas mãos suam e um frio intenso me invade a cada passo


que dou no quarto. Receios tomam conta do meu corpo ao imaginar
o que farei em alguns minutos. Daniel se vestiu mais cedo, e agora
está na sala de estar do apartamento tratando de negócios como
sempre, enquanto eu me arrumo. Ele estava puro poder e virilidade
ao passar pela porta da suíte. Vestido com um blazer negro, camisa
branca e calças também negras, precisei abafar um gemido quando o
vi se perfumar e abrir mais dois botões da camisa, deixando algumas
tatuagens do peito à mostra.
Balançando a cabeça para afastar os pensamentos luxuriosos,
observo o vestido sensual e revelador que comprei, ainda
embrulhado sobre a cama. Joias e maquiagens compõem toda a
produção que farei a seguir. Meu marido não poupou dinheiro nas
compras pela manhã, e embora eu estivesse um pouco relutante,
decidi que precisaria estar o mais apresentável possível hoje à noite.
Mordisco os lábios e caminho até o banheiro, levando
comigo tudo o que irei precisar. Tomo um banho demorado com sais
aromáticos de baunilha, seco os cabelos e os prendo em um coque
alto para obter algumas ondas nos fios.
Após me secar e cobrir-me com um roupão macio, coloco em
prática algumas dicas que peguei com vendedora da loja. Faço uma
maquiagem um pouco mais pesada nos olhos, mas não tão marcada,
de forma que apenas realço o azul esverdeado das minhas íris.
Uso uma base no tom da minha pele e blush com efeito
bronze, aplico rímel nos cílios e finalizo a make com um batom
vinho avermelhado. A cor vibrante deixa-me maravilhada. É
impressionante o poder de um batom provocante e sensual.
Satisfeita com o resultado, retorno ao quarto, pego o
embrulho que contém o vestido e inspiro fundo. Não há mais como
fugir e minha decisão está tomada. Abro o pacote, retiro a peça de
grife que quase me fez desistir de adquiri-la por causa do valor
astronômico e a deposito sobre a cama.
Retiro o roupão que cobre o meu corpo, coloco um sutiã
vermelho escuro de sustentação tomara que caia, e finalmente visto
o vestido. O tecido grosso com glitter, tem um caimento justo em
meu corpo e cobre até alguns centímetros acima dos joelhos.
Coloco-me na frente de um espelho, um pouco nervosa, e
dou uma voltinha para analisar todos os detalhes. As alças finas e o
decote profundo, são como um convite a sedução. Apesar de me
sentir um pouco desconfortável por causa do excesso de peso, não
posso negar que estou bonita ao encarar minha fisionomia no
reflexo. O busto está bem delineado e o tecido agarrado ao corpo
valoriza meu bumbum. Há muito tempo, não me vejo assim, sensual.
Talvez um pouco provocante demais, mas afinal estou indo
para uma boate no coração de Miami, acompanhada pelo meu
marido mafioso e seus soldados. Quero provocá-lo, fazê-lo sentir, ter
sua atenção focada em meu corpo.
Deslizo os dedos pelo busto marcado e volumoso. O
vermelho escuro do tecido contrasta com minha pele clara. Para
finalizar, a lateral esquerda possui uma abertura de mais ou menos
10 cm de largura, que começa na cintura e segue até a barra,
deixando um bom pedaço de pele à mostra. Por causa deste detalhe,
dispenso o uso de calcinha e fico completamente nua por baixo.
Dessa vez, não me sinto como se fosse uma prostituta. Dessa
vez, eu quero estar assim. Provocante, sensual… poderosa. Pronta
para conquistar Daniel Kraven.
Deixando os medos e os receios de lado, termino de me
arrumar, coloco os brincos, um delicado colar de diamantes e uma
pulseira do mesmo conjunto. Calço saltos pretos, passo perfume e
pego a pequena bolsa de mão.
Antes de sair, solto os cabelos que caem em suaves ondas em
minhas costas, respiro fundo e caminho na direção da porta.
Daniel está sentado em uma poltrona de couro na sala do
apartamento privativo do hotel, de frente para um homem que não
conheço. Ambos conversam e sorriem como se fossem bons amigos
enquanto degustam uma dose de uísque.
Ao perceber minha presença, a conversa é encerrada e seu
olhar me fita. O sorriso que estava estampado em seu semblante se
desfaz no ar. Daniel me analisa dos pés à cabeça. Um brilho de
animal predador surge em seus olhos escuros. Com os punhos
fechados e os lábios trancados em uma linha fina, ele levanta-se e
caminha na minha direção.
Seu aperto é firme em minha cintura quando se aproxima.
Posso sentir a temperatura de suas mãos com o seu toque rude na
abertura do vestido. Inclina o corpo até a altura do meu rosto e diz:
— Está maravilhosa… — Meu corpo inteiro se arrepia no
momento em que seus lábios deslizam pela minha boca, mas não me
beija. Ele é certeiro no lóbulo da minha orelha, mordiscando-o. —
Eu comeria você bem aqui nesta sala, se não tivéssemos visita —
sussurra.
Tento fingir que suas palavras não me atingem, mas falho
vergonhosamente quando sinto uma pontada entre as pernas, como
se recebesse uma beliscada gostosa bem no clitóris.
— Não seja tão ansioso, querido… — sussurro em sua boca
apenas para desafiá-lo.
— Se continuar me provocando assim, sabe que é isso que
vai acontecer, não é?
Pigarreio quase sem ar e viro o meu rosto por breves
segundos na direção do sofá.
— Não vai me apresentar seu amigo? — Desvio os rumos da
conversa e me afasto de Daniel.
Rebolo um pouco, bem sutilmente, para provocá-lo. Não sei
ao certo até que ponto este meu plano dará certo, mas preciso tentar.
Caminho em sua frente, e coloco um sorriso forçado no
rosto, em direção ao homem que acaba de se levantar e nos encara
um pouco sem graça.
O homem na faixa dos cinquenta anos, usando terno cinza
bem cortado, olha de Daniel para mim e sorri. Estendendo a mão eu
me apresento:
— Olá. Eu sou a Lexie, esposa de Daniel.
Ele pigarreia e aperta minha mão.
— Prazer em conhecê-la, Lexie. Daniel me falou a seu
respeito. Mas confesso que ele não fez jus a sua beleza.
Minhas bochechas coram diante do seu comentário, mas
mantenho-me firme, com a cabeça erguida e os lábios curvados.
— Ele é Cooper Harrison, o CEO da companhia — meu
marido informa e passa a mão em minha cintura, puxando-me para
ele.
— Oh, que maravilha. Prazer em conhecê-lo, Cooper.
O CEO pisca, afastando-se um pouco, provavelmente
incomodado pela nossa ceninha há alguns minutos. Ainda com a
mão em minha cintura, Daniel diz para seguirmos para a boate e
assim fazemos.
A primeira coisa que se destaca, logo na área externa,
próximo à entrada da casa noturna, é uma piscina extravagante,
decorada com luzes azuis e roxas. Pessoas dançam e conversam ao
som de uma batida forte. Garçons circulam com infinitas variedades
de coquetéis.
Quando passamos pelos seguranças, seguidos pelos homens
do meu marido, e entramos, perco o fôlego ao ver o requinte da
decoração luxuosa. Todas as paredes são formadas por espelhos, e
uma profusão de corpos e membros misturam-se entre a realidade e
os reflexos. As cores predominantes aqui dentro são vermelho e
negro. Puro mistério domina o lugar e cada centímetro das paredes
frias.
Daniel passa a mão por minha cintura de forma possessiva,
deslizando os dedos na abertura do vestido como se para mostrar a
qualquer um que ousar me encarar por mais tempo do que deveria,
que meu corpo tem um dono.
Caminho calmamente pelo espaço amplo que liga o hall de
entrada e a pista de dança, buscando não ficar tão chocada com o
que vejo a cada passo que dou. Homens e mulheres interagem entre
si. Presos entre conversas, bebidas e amassos.
Mulheres rebolam na frente de alguns homens enquanto os
caras mantêm as mãos presas aos corpos femininos, acariciando-as e
dançando no ritmo da música. Com seus vestidos curtos e
extravagantes ao extremo, parecem não se importar em revelar a
curva entre as pernas para qualquer um que deseje olhar.
Numa parede espelhada em uma ala mais escura, vejo um
casal se agarrar, quase comendo um ao outro. O vestido da mulher
está erguido até a cintura, enquanto o homem a beija e aperta sua
bunda nua. Em outro canto afastado da pista, um trisal se beija e se
agarra. A mulher está quase nua enquanto os homens a fazem de
sanduíche humano e apalpam seu corpo.
No centro da casa, há uma pista de dança agitada. Luzes
roxas e azuis são o destaque no efeito eletrizante. Casais e grupos de
amigos bebem e dançam descontraídos. Sendo guiada por Daniel,
passamos por um compartimento que se assemelha a um toalete por
causa das bancadas de mármore. Não possui portas, mas é afastado
do restante da casa, dando um pouco de privacidade aos visitantes.
Uma jacuzzi gigantesca está instalada no centro da ala, e
algumas pessoas aproveitam a água espumante e a iluminação em
tons quentes para conversarem relaxadas e tomarem champanhe.
Meu marido me leva em direção às escadas de vidro que dão acesso
ao primeiro e segundo camarote. São dois andares acima, e
pouquíssimas pessoas circulam por ali.
A música agitada parece alcançar todos os meus órgãos
internos, pois sinto-os pulsar a cada batida eletrizante.
Ao chegarmos no camarote do segundo andar, um local com
iluminação vermelha e ambiente mais tranquilo, sentamo-nos no
sofá de couro preto que circula uma mesa repleta de bebidas, frutas e
petiscos.
Daniel pega um morango bem vermelhinho, com aparência
apetitosa e coloca na boca. Pega outra fruta com a ponta dos dedos e
leva em direção aos meus lábios. Mordo o morango um pouco
sobressaltada com sua atitude. Mas mantenho o olhar focado no seu
rosto. Um pouco do suco escorre em minha boca e ele usa o dedo
indicador para limpar as gotas doces, encarando meus lábios de
forma tão faminta que parece hipnotizado.
Em um rompante, ele me puxa para seu colo, me fazendo
arfar.
Uma áurea sensual e erótica nos envolve enquanto fitamos
um ao outro. Puro desejo permeia o ambiente, deixando nossos
corpos febris. Não sei o que há comigo, não entendo o que acontece
quando estou perto dele, mas a vontade de beijá-lo e tocar todo seu
corpo bem aqui me deixa grogue.
— Daniel… — sussurro seu nome pela força do hábito.
Meus pensamentos são conflitantes quando penso se devo sair ou
ficar em seu colo.
— Uma trégua, Lexie. Vamos dar uma trégua, tudo bem?
Concordo com um aceno e seus olhos faíscam.
— É justo. — Minha voz sai murmurada.
— Gostou do lugar? — pergunta, calmo. Quem nos visse de
fora jamais imaginaria que por algumas vezes tentamos nos matar.
— É incrível aqui. Todas as outras boates são assim? — Ele
pega outro morango e me oferece. Mordo um pequeno pedaço e
Daniel come o restante. Vê-lo se deliciar com a fruta me deixa
suada. É difícil me controlar sentada em seu colo e sinto o pênis
rígido embaixo da minha bunda. O ambiente sensual também não
ajuda muito.
— Não. Algumas são menores e menos explícitas — diz,
referindo-se as cenas de quase sexo que vimos pelo caminho.
— E o que acontece quando as coisas esquentam demais?
Meu marido sorri e se remexe no sofá. Solta um gemido
quando o atrito entre os nossos corpos aperta seu pênis.
— Há quartos disponíveis, meu bem. — Ele aponta para um
corredor logo à frente e só então percebo o compartimento de vidro
do elevador. — A estrutura começa no térreo, passa pelos camarotes
e segue em direção às suítes no último andar do edifício.
— Que espécie de pessoas frequentam este lugar, Daniel? —
questiono, ainda mais curiosa, envolvida. Nunca tivemos um
momento assim, tão calmo.
A curva de um sorriso se abre em seu rosto, e sua mão
serpenteia por minha coxa.
— Políticos, artistas, mafiosos. A elite e o submundo se
encontram aqui, Lexie.
Observo ao meu redor, notando a presença de um grupo de
homens acompanhados por belas mulheres. Um deles, um homem
bonito e bem-vestido, acomoda-se em um dos sofás, cerca de cinco
metros de distância de onde estamos. Ele me encara e olha para
Daniel, em seguida beija uma das garotas, uma ruiva de belas pernas
e a acomoda em seu colo. Dá o mesmo tratamento à loira de cabelos
longos e seios grandes.
As demais sentam-se ao seu lado. O restante dos homens
mantém-se atentos e de pé, atrás do sofá.
Desvio meu olhar do grupo e volto a atenção para meu
marido.
— Essas pessoas conhecem você? Sabem que é o dono de
tudo isso?
Sinto uma carícia gostosa de sua mão em minha nuca, e
quase fecho os olhos com o prazer que me toma.
— Algumas me conhecem pelo que sou dentro da máfia.
Mas é só.
Ele também percebe a presença do homem. Nota que o chefe
do grupo está mantendo um grande interesse em nossa direção.
— Aquele, por exemplo, é o chefe do tráfico aqui em Miami.
Provavelmente está esperando um momento oportuno para se
aproximar. Nos conhecemos há alguns anos. Remexo-me em seu
colo para encontrar uma posição mais confortável, mas o vestido não
ajuda muito, pois o tecido desliza para cima, me deixando mais
exposta.
Vendo meu embaraço, Daniel segura o meu queixo e força-
me a encará-lo.
— Em que estava pensando quando passou esse batom,
Lexie? — Sua pergunta me surpreende, e eu me remexo mais,
tentando puxar a barra do vestido. — É como se ele tivesse sido
feito para você. E eu odeio que tantos homens a vejam com estes
lábios pintados hoje à noite, principalmente enquanto você usa esse
vestido.
Estendo a mão para pegar uma taça de champanhe sobre a
mesa, sentindo-me nervosa, tomo um gole e devolvo-a ao seu lugar.
— E quem será louco de olhar para mim, Daniel? — provoco
e estico o braço para acariciar seu peito. Mas lá no fundo sei que é
essa a verdade. Ninguém jamais ousaria desviar o olhar para a
esposa do Don.
Sua mão serpenteia mais por baixo do tecido, alcançando a
parte interna de minhas coxas, perto demais dos lábios vaginais.
Estremeço mas não o afasto. O desejo de sentir seu toque é forte, me
atordoa. Mesmo estando em público é como se só existisse nós dois
ali.
— Qualquer homem daria tudo para ter você. Mas pelo visto
é isso que quer, não é? Que eles caiam aos seus pés?
Engulo em seco ao ouvir sua acusação. Percebo em seus
olhos que o homem está louco de ciúmes. Internamente eu sorrio,
tendo a certeza de que estou conseguindo o que preciso. A atenção
dele.
— Acho que preciso beber algo mais forte… — sugiro e
mordisco os lábios. Rebolo em seu pênis de forma involuntária, bem
sutil. Faço meu marido prender a respiração.
— Porra, garota… Está me deixando doido — ele grunhe em
meu ouvido e sua mão avança mais, alcançando os lábios melados
da minha boceta. — Maldição! — Daniel congela, como se tivesse
levado um choque e agora precisasse de tempo para se recuperar. —
Cadê a merda da sua calcinha?
O homem me retira do seu colo em um movimento brusco, e
me coloca sentada no sofá. Inspeciona a abertura do vestido que
deixa toda a lateral do meu corpo à mostra e percebo o dilatar de
suas íris quando volta a me fitar, finalmente compreendo que não há
como usar a peça de baixo usando um vestido como este.
Reviro os olhos.
Homens…
Há fogo e fúria ali. Como se ao mesmo tempo em que
desejasse me devorar, também desejasse dar um tiro em minha
cabeça.
— Você ficou louca?! Maldição! Está quase nua, Lexie,
porra!
Sorrio para ele e prendo o lábio inferior entre os dentes.
Volto a tocá-lo e esfrego as coxas uma na outra, sentindo-me tão
melada que fico envergonhada. Minhas mãos exploram os braços
fortes e deslizam em direção ao abdômen. Seu olhar feroz e
animalesco me fazendo tremer.
— Não gostou? — pergunto e faço o olhar mais inocente e
meigo possível, quase gemendo de vontade de fazer amor com ele.
Ofegante, Daniel toca o meu queixo e aproxima a boca da
minha. A mão forte desliza por meu pescoço e segura algumas
mechas do meu cabelo, prendendo-as entre os dedos.
— Está deliciosa, maldição. Mas eu a proíbo de sair do meu
lado, está me ouvindo? — Sua ordem é severa, exigente. Rouba o
meu ar.
— Sim… — murmuro.
Eu me aproximo mais dele e apalpo seu peito com carícias
suaves. Minhas mãos alcançam os próximos botões da camisa e
começo a abri-los ali mesmo, meu corpo implorando para sentir
mais da pele quente. Nossos olhares ainda estão fixos e nossas
bocas quase se tocando quando somos interrompidos por uma voz
baixa e rouca.
CAPÍTULO 25

DENER

— Daniel? — A voz de um homem é ouvida quando estou


prestes a beijar minha mulher. E contra minha vontade, sou obrigado
a afastá-la um pouco, já possesso de raiva. — Não te reconheci
assim que cheguei. Perdoe a interrupção.
Ergo a vista e olho para o filho da puta que me interrompeu.
O reconhecimento de suas feições deixa-me ainda mais irritado. É o
idiota que estava sentado no sofá próximo ao nosso. O chefe do
tráfico aqui em Miami.
Há um brilho ardiloso em seu olhar quando ele me fita, e em
seguida sua atenção é dirigida para minha esposa, inspecionando seu
corpo dos pés até o último fio de cabelo.
— Blame… — digo seu nome, chamando sua atenção de
volta para o meu rosto. Levanto-me sempre atento e percebo a
aproximação dos meus homens.
Duas mulheres estão grudadas nele como uma segunda pele,
e os capangas formam um paredão nas suas costas. O clima fica
desagradável, não confio no filho da puta e ele sabe disso. Apesar do
meu aviso silencioso para se manter longe, o homem me
cumprimenta com um aperto de mão e inspeciona o ambiente, logo
depois dá um passo para trás.
Seguro a mão de Lexie e indico para que ela também se
levante e fique ao meu lado.
Não responderei por mim se ele resolver inspecionar suas
pernas outra vez, ainda mais agora que sei que a garota está nua por
baixo do vestido. É mais seguro que ela fique de pé, junto a mim.
— Bela garota. Faz parte do pacote da casa? — pergunta de
forma maliciosa, sem tirar os olhos dela.
— Não. Ela é minha! — Sou direto e não faço jogos.
Conhecendo o homem como conheço, ele teria a cara de pau de
sugerir um compartilhamento. E se isso acontecer, a noite não
terminará muito bem para nenhum de nós dois.
Conheço Blame há alguns anos. Embora tenha muito poder
nas mãos, é jovem demais, inexperiente para a carga que carrega nas
costas. A primeira vez que o vi, ele ainda era o aprendiz de seu pai, e
eu estava formando novas alianças.
Não somos próximos, muito menos amigos. Porém nos
entendemos. Ele não atrapalha meus negócios por aqui e eu faço
vista grossa em seus assuntos em Nova York. Aprendi muito com
seu pai ao longo dos anos.
— É uma pena… — Balança a cabeça em negativa, fingindo
desapontamento. — Mas enfim, o que o traz a Miami?
Sinto as mãos de Lexie fechando-se em meu tronco, mas
continuo imóvel, atento a qualquer movimento ao meu redor. Ela
parece incomodada com a presença de Blame.
— Negócios. Sempre negócios. — Tento ser amigável,
embora a minha vontade seja dar um tiro em sua cabeça.
No entanto, não seria inteligente provocar uma guerra agora.
Não quando a boate acaba de ser inaugurada e há milhões de dólares
e cabeças envolvidas.
— O destemido Daniel. Sempre um passo à frente dos
outros.
Percebo que seu olhar vacila para Lexie vez ou outra. Como
se fosse difícil demais resistir ao magnetismo exalado por ela.
Irritação me corrói por dentro, o ciúme faz meu sangue ferver como
lava.
Cerro a mandíbula e o encaro friamente. Blame não é
conhecido por ser um bom moço. O cara pode ser a merda de uma
pedra no sapato quando quer.
Por isso decido tirá-la de sua vista para que possamos
conversar sem maiores distrações, antes que eu perca a cabeça e faça
uma besteira. Não seria bom para ninguém se isso acontecesse,
principalmente estando em seu território. Deixar Lexie desprotegida
caso algo me aconteça, é a última coisa que farei.
Aceno para Kraig e meu segurança se aproxima devagar para
não gerar alarme ou causar uma retaliação. Cada movimento é feito
de forma pacífica, planejada.
Inclino-me para ela e sussurro em seu ouvido:
— Vá com Kraig. Não saia de perto dele.
Suas mãos se apertam em volta da minha camisa. Lexie está
tensa, receosa. Posso sentir o medo a cada toque firme em meu
corpo.
— Daniel o que está acontecendo? — pergunta com aquele
olhar amedrontado que me deixa doido.
— Não se preocupe, logo me junto a você — tranquilizo-a
brevemente e a entrego para Kraig.
Quando Lexie passa por mim, olhando-me indecisa, Kraig a
leva em sentido ao outro lado do camarote. Vejo o olhar faminto de
Blame na direção dela e fecho os punhos.
— O que quer, Blame? Seja breve, não tenho a noite inteira.
— Cruzo os braços na frente do corpo e o fito. Meus sentidos
sempre atentos a pequena arma que carrego em um bolso oculto do
blazer.
O homem levanta as mãos com um gesto idiota de rendição e
curva os lábios em um sorriso sarcástico.
— Calminha aí, meu amigo. Só quero aproveitar que você
está por aqui para lhe fazer uma proposta.
— Sente-se. — Aponto para o sofá à sua frente e me sento. O
homem faz o mesmo, junto às garotas que o acompanham.
— Que proposta?
Relaxo os braços no encosto do sofá, focando a atenção no
que Blame diz. O homem tem uma visão apurada para negócios, não
posso negar. E desta vez seu foco é um carregamento gigantesco de
armas pesadas.
— E onde me encaixo nessa história? — pergunto quando
Blame termina de relatar os detalhes sobre o arsenal que chegará em
Nova York, um carregamento de rifles e fuzis, assim que ele der o
aval.
— Preciso de sua ajuda para transportar o carregamento, via
terrestre, de Nova York até Miami. A partir daqui, a carga será
despachada em um navio com destino a Porto Rico.
Sirvo-me com uma dose de uísque, tomo um gole e analiso
sua proposta por alguns segundos. O líquido maltado queima a
garganta à medida que desce lentamente, mas é algo que aprecio.
— Sabe que é arriscado passar por Nova York. Por que não
pegar a via marítima direto? — questiono.
Blame gargalha e se serve de uma dose da bebida.
— Qual é Daniel? Você sabe que os perigos são os mesmos.
Mas, com você tendo o controle do território Nova Iorquino e
usando de seus contatos para garantir que a carga passe
despercebida, será um negócio ganho. Pense na grana, parceiro.
Blame continua falando dos planos sobre a carga, e embora
esteja interessado nos lucros, não tenho certeza se vale a pena o
risco. Meus contatos são sólidos e confiáveis. Porém não os uso para
qualquer bobagem. Utilizo as cartas em minha manga apenas em
momentos de extrema necessidade, assim evito ter que prestar
serviços a alguém. Na vida, eu cobro favores, jamais devo.
Enquanto Blame continua utilizando de sua lábia para tentar
me convencer, desvio minha atenção da conversa e busco Lexie pelo
camarote. Pessoas circulam pelo local, bebendo, dançando e
curtindo. Observo alguns casais subirem pelo elevador em direção às
suítes, e sinto o tesão me deixar febril quando me recordo de Lexie
dentro do vestido vermelho e apertado.
Encontro-a com uma taça de coquetel na mão observando a
pista de dança lá embaixo. Aparentemente a tensão se diluiu de seu
corpo, pois ela fecha os olhos e balança os quadris no ritmo da
batida.
Kraig a olha a poucos metros de distância. As mãos no
coldre da calça indicam o quanto está preparado para qualquer
embate. Porém, o imbecil não é imune a ela. Ele desvia o olhar de
seus movimentos, mas volta a fitá-la quase que alucinado. A diaba
deliciosa está mexendo com minha cabeça e a dos meus homens e o
pior, é que a garota não parece se dar conta disso ou apenas é uma
atriz muito talentosa.
Lexie está maravilhosa. Linda como o inferno. Os seios
volumosos e deliciosos estão quase saltando para fora do decote, o
traseiro grande e redondo me faz arfar em ânsia de tocar e morder o
belo pedaço de carne. Não há um único pedacinho dela que não
desejo pôr a língua.
A abertura reveladora na lateral de seu corpo é a peça final
para virar a cabeça de qualquer homem aqui dentro. Ela está jogando
comigo. Está me provocando além do limite. Já não consigo pensar
coerentemente. Só quero fodê-la, até o talo.
Blame continua falando, empolgado, e eu apenas concordo
com a cabeça algumas vezes, sem conseguir tirar os olhos dela,
obcecado por cada movimento gostoso.
Alguns homens ao redor a olham famintos, tão hipnotizados
quanto eu. A menina continua dançando lentamente, se soltando aos
poucos. Pega outra taça de coquetel e toma o líquido doce em um único
gole. O álcool faz efeito em seu corpo, pois a barra do vestido começa a
subir, mas ela não se importa.
Ela está entregue à melodia, deliciosa, sensual.
É gota final para mim.
Levanto-me em um rápido movimento e coloco o copo de
uísque sobre a mesa. Arrumo os botões da camisa e Blame me
encara confuso, sem compreender a merda que estou fazendo.
— Preciso ir. Depois marcamos uma reunião.
Nem ao menos espero por uma resposta. Simplesmente
caminho até ela como se minha vida dependesse disso. Sem aviso
prévio, eu a seguro pela cintura, trazendo-a para mim.
Lexie sobressalta-se, mas volta a ficar tranquila quando
percebe que sou eu.
Ela rebola desavergonhadamente e meu pau corresponde. Eu
me esfrego em sua bunda ali na pista, deixando bem claro a qualquer
babaca aqui dentro que Lexie é minha. Quase deliro de desejo, não
me importo se as pessoas estejam vendo meu descontrole, eu só
preciso estar dentro dela.
Como se movida pela mesma loucura que me atingiu, a garota
vira-se de frente para mim e passa as mãos no meu pescoço. Os lábios
grossos encontram os meus, famintos, trêmulos. Sem dizermos nenhuma
palavra um ao outro, arrasto-a para uma ala afastada dos seguranças, atrás
de um vidro com pouca iluminação, e ergo o vestido até seus quadris.
Fico em sua frente, de forma que apenas eu consiga ver a
sombra de seu corpo quase nu.
Busco os lábios de sua boceta e acaricio as dobras meladas
com os dedos. Ela geme baixinho, rouca. Enfio os dedos lambuzados
em sua boca, fazendo-a sentir seu gosto e quase enlouqueço com a
visão tão crua.
— Eu não sei qual é o seu jogo, mas você não me engana,
Lexie. — Beijando a curva de seu pescoço, sentencio: — Vamos sair
daqui, eu preciso comer você ou vou ficar louco.

LEXIE

Daniel me leva em direção ao elevador e eu o acompanho


com os nervos a mil. O coração está quase saindo pela boca a cada
passo que dou em direção ao seu covil. Não sei se ele me levará para
uma das suítes ou se iremos para o hotel. A única certeza é que estou
tremendo dos pés à cabeça. O álcool que consumi pouco ajudou a
me descontrair.
Seus passos são firmes e rápidos, não se importando se
atropela alguém pelo caminho.
Assim que entramos no cubículo de vidro, ele me envolve
em seus braços, me fazendo passar a mão em seu pescoço outra vez.
Seu abraço é forte, gostoso, carregado de promessas silenciosas. É
somente quando ele volta a me soltar, que percebo a presença de
outras pessoas que até então não havia notado.
— Daniel? Que surpresa! — Meu marido vira o rosto e
depara-se com uma mulher belíssima que está acompanhada de três
homens de terno.
Ela possui cabelos loiros enormes, presos em um rabo de
cavalo, e usa um vestido dourado. A peça minúscula é
completamente transparente. O tecido fino deixa à mostra a calcinha
fio dental e os seios nus. Os bicos rosados são quase uma oferenda a
qualquer um que deseje se fartar.
Não consigo decifrar a sensação angustiante que me toma
assim que a mulher se aproxima com um sorriso sensual nos lábios,
e beija meu marido no rosto, próximo à boca.
— Você estava incrível ontem à noite… — É a última coisa
que ouço antes de me sentir sendo arremessada em um abismo.
O mundo parece rodar debaixo dos meus pés. A
incredulidade estampa meu semblante quando procuro o rosto dele e
o vejo conversar com ela, como se ambos se conhecessem há anos.
Como se fossem velhos amigos ou algo mais.
Permaneço firme, quieta, observando os dois. Os
pensamentos a mil, o peito sufocado. Uma névoa densa e escura me
envolve, e nada ouço de forma coerente. A mulher fala algo sobre a
máfia e os seus irmãos. Nem ao menos olha em minha direção.
Assim que o elevador chega ao térreo, eles se despedem, mas
antes que Daniel possa voltar a me envolver em seus braços, ela se
adianta e dá um beijo rápido em sua boca. Só então, olha na minha
direção, sorridente, arredia. Tão perigosa quanto uma leoa faminta.
Tudo acontece tão rápido que mal consigo pensar com
clareza. A dor é forte em meu peito. A realidade machuca tanto que
buscar o ar torna-se uma tarefa difícil. De repente, quando senti que
estava no alto, me vejo no fundo do poço outra vez. Em choque, saio
de perto dele e corro para a multidão, me camuflando no meio do
aglomerado de pessoas.
Uma sensação amarga se formou em minha garganta. Meus
pensamentos nublam e tudo agora faz sentido. Ódio mortal me
invade por ele ter permitido que ela o beijasse na minha frente. Por
ele ter passado a noite com essa mulher em vez de ficar comigo no
hotel. Por ele ter me traído.
As batidas da música me invadem, e eu ergo o queixo para
impedir que lágrimas quentes banhem meu rosto. Não permitirei ser
humilhada assim, eu darei o troco. Tomada pela adrenalina, o ciúme
e a raiva, não paro para pensar, nem mesmo por um segundo.
Caminho em direção ao bar e vejo dois homens conversando
descontraidamente. Um deles sorri ao notar que estou indo em sua
direção, mas não me importo em fazer uma vistoria pelo seu rosto.
Nem ao menos consigo identificar a cor de seus cabelos,
simplesmente me aproximo e o beijo na boca.
Quero que Daniel sofra e sinta um pouco do que estou
sentindo enquanto outro toma e toca o que é dele.
O beijo é vazio e frio, me faz sentir náuseas quando sinto o
gosto forte de bebida e cigarro. Mas eu não me importo com isso,
não me importo com mais nada.
Mãos ágeis agarram-me pela cintura e cambaleio para trás
quando o desconhecido é nocauteado por um soco e jogado no chão.
Ofegante, vejo Daniel sacar a pistola e mirar em sua cabeça,
completamente enlouquecido. A personificação do próprio diabo na
terra.
Um tiro é disparado e eu grito de susto, chocada demais para
processar todos os acontecimentos. Sangue se espalha pelo chão,
como um rio vermelho de destruição e morte. E como um leão
enjaulado, meu marido caminha na minha direção e me segura pelo
braço, forçando-me a segui-lo para fora da boate.
Ele não diz nada ao me jogar dentro do carro, no banco do
carona e pega a direção.
Só sei tremer e ofegar, meus cabelos ainda caídos em cima
do meu rosto por causa do impacto com o banco. Raiva borbulha
dentro de mim, pavor me consome ao me lembrar do homem morto
no chão por minha culpa.
Quando entramos no hotel, preciso usar todas as minhas
forças e correr direto para o elevador sem olhar para trás. Daniel me
segue com o olhar persuasivo, descontrolado de raiva e ciúmes. Ele
parece outra pessoa.
Antes que eu consiga entrar no quarto e me trancar lá dentro,
o homem segura o meu braço e me prende contra a porta, de frente
para ele. As pernas musculosas são como um tronco pesado e firme,
impedindo qualquer movimento da minha parte.
— Está satisfeita? Era isso que queria? Começar uma
guerra?! — ele grita sem controle algum. O olhar feroz e
transtornado.
— Foda-se, Daniel. Me solte!
Seu aperto é firme em meu braço, mas não me darei por
vencida. Não quando tudo que mais desejo é desaparecer da vista
deste homem que me destrói sem nenhuma piedade.
— Foda-se? Sim, eu vou foder mesmo. Tire a roupa.
Fico lívida ao ouvir suas palavras. Meu coração dispara com
força, quase estourando a caixa torácica.
— Não vai tocar em mim, seu idiota! — grito fora de mim,
movida pelo ciúme que estou sentindo por este desgraçado. Movida
pelo desespero de presenciar a morte de alguém por puro despeito
dele.
— Tire a porra da roupa ou não respondo por mim, Lexie.
Minhas pernas ficam bambas e ele diminui o aperto.
Aproveito a brecha para me desvencilhar dos seus braços e corro
para o outro lado da sala de estar, buscando a todo custo ficar longe
dele.
Daniel não se movimenta. Continua parado na porta de
correr, me olhando com fúria. Ira flameja em seus olhos escuros.
Desvio o olhar para a mesa de jantar ao meu lado, com vista para a
sacada, e vejo um pequeno e pesado vaso de flores.
Ouço os passos de Daniel, caminhando em minha direção e
não penso duas vezes antes de pegar o objeto e lançá-lo em sua
direção.
O barulho de cacos se partindo no chão ecoa pela sala. O
homem se desvia com facilidade, me fazendo sentir como uma tola
por tentar enfrentá-lo. Apressa o passo e segura-me pelos ombros.
Eu nunca tive qualquer chance contra ele.
Tudo acontece rápido demais. Não há tempo para gritar ou
tentar fugir.
Quando percebo, estou jogada sobre a mesa de vidro, com as
pernas escancaradas em volta dos seus quadris, suas mãos firmes
mantendo meu corpo, imóvel, no lugar.
Com um baque brusco, a porta é aberta e dois dos soldados
de Daniel entram na sala, com armas em punho.
— Chefe, ouvimos um barulho…
— Saiam! — Ele nem ao menos desvia o olhar do meu.
— Mas Daniel…
— Saiam, porra! — Sua voz é grave, descontrolada.
Fecho os olhos, trêmula e nervosa demais quando a porta
volta a ser fechada. Meu coração bate tão rápido que temo ter uma
parada cardíaca a qualquer momento. O medo do que ele irá fazer
deixa-me momentaneamente paralisada.
— Por que fez aquilo? Tem trinta segundos para me explicar
ou eu mato você!
Ele retira a pistola do coldre e a desliza pela minha coxa.
Com a outra mão, aperta meus quadris e me leva para ele.
Sinto o pênis rígido pressionando minha vagina nua enquanto
mantém o olhar hostil e vermelho em minha face.
— Você passou a noite fora e depois aceita que outra mulher
te beije na minha frente. Você me humilhou, Daniel. E eu não
permitirei que essas mãos sujas toquem o meu corpo. Prefiro morrer
— cuspo seu nome com tanta indiferença que ele grunhe de
irritação, me apertando mais contra si.
— Primeiro. Eu não humilhei você. Ela me pegou de
surpresa… — explica, deixando-me ainda mais irritada.
— Mentiroso! — Tento estapeá-lo, mas ele segura minhas
mãos com força e prende-as no topo da minha cabeça.
A pressão de sua rigidez em meu clitóris aumenta com seu
corpo inclinado sobre o meu, e quase grito de raiva, frustração e
desejo.
— Segundo. Eu não estava com ela ontem à noite. Apenas a
encontrei em uma corrida clandestina. Quando passo a noite fora é
porque estou dentro da porra de um carro, dirigindo a mais de 300
km por hora.
— Eu não acredito em você, seu monstro. Você matou aquele
homem…
Sua mão desliza por minha garganta e eu ofego. Seu aperto é
firme, preciso, perigoso. Um passo em falso e minha vida terá
acabado.
— Eu disse que te mataria se deixasse outro homem tocar
você… — grunhe — É exatamente isso que eu deveria fazer, Lexie.
— Então me mate. Vá em frente! — Desafio-o e jogo a
cabeça para trás, dando a ele minha vida, minha essência. Dando a
ele o acesso necessário para acabar com tudo aqui e agora.
Sinto seu aperto se intensificar em minha garganta, mas ao
invés de me machucar, este movimento me excita mais. Sinto minha
vulva melada, escorregadia, acesa.
As mãos de Daniel deslizam até o meu rosto e acaricia o
ponto atrás das minhas orelhas. Inclina-me e força-me a encará-lo.
Há uma mistura de fúria e desejo em seu olhar. Como se mil
sentimentos passassem por sua cabeça causando um turbilhão de
sensações conflitantes.
Sem reservas, a boca possessiva toma a minha em um beijo
ardente e a língua úmida invade minha cavidade, explorando e
sugando. Reivindicando o poder que tem sobre mim.
Gemo baixinho ao sentir suas mãos percorrerem meu corpo
dos quadris até os seios. Daniel belisca os bicos sensíveis por cima
do tecido de forma faminta, extenuante. Grunho, sendo devorada por
sua boca e suas mãos.
O que sentimos beira a loucura. É obsessivo, abrasador,
doentio. O que sinto por Daniel Kraven ultrapassa qualquer lucidez.
Ele é a personificação de tudo o que eu deveria me manter longe,
mas eu não consigo. Sua aura de perigo me chama e me consome. Já
não consigo mais suportar o toque quente de seus dedos em meu
corpo. Eu preciso ter tudo dele.
— Me faça sua… — murmuro, entregue, trêmula e ofegante.
Pensar já não é mais uma opção. Apenas meu corpo fala e minha
mente obedece. As mãos febris largam o meu corpo e alcançam o
decote do vestido. Em um segundo, o tecido é rasgado de cima a
baixo e eu fico completamente à mostra e nua para ele.
CAPÍTULO 25

DENER

Estou agitado por dentro e furioso por fora como há muito


tempo não me sentia. Minha cabeça está um caos, completamente
fodida de ciúmes e desejo. Ainda agora, enquanto a observo nua
sobre a mesa de jantar, usando apenas os saltos e um sutiã sem alças,
tenho ímpetos de beijá-la e matá-la.
Minhas mãos tremem ao tocar a pele macia como seda do
seu rosto. Meus instintos mais primitivos gritam ferozes quando fito
a boca volumosa que outro homem beijou, com o batom todo
borrado. Fogo líquido corre pelo meu corpo ao me recordar daquele
inferno, das mãos do filho da puta em sua cintura, dos pensamentos
luxuriosos que provavelmente passaram por sua cabeça. Porra!
Preciso torcer o pescoço de um lado a outro para quebrar a
tensão que se formou nos músculos, mantendo os olhos sempre fixos
no rosto angelical de Lexie. A única coisa que me impediu de
cometer uma loucura foi o fato de a menina ter sido movida pela
mesma força que me deixou doido: o ciúme.
Scarlet me pegou de surpresa com aquele beijo no térreo. A
maldita fez de propósito, apenas para me provocar. Estava irritada
por eu nunca a ter visto como uma mulher, mas sua ousadia
descontrolada havia passado dos limites.
Por ser a irmã mais nova de Blame, conheci-a ao longo dos
anos. Seu pai quando vivo, tentou um acordo de alianças pelo
casamento entre nós, mas eu nunca me importei com isso. Meus
planos eram outros. No entanto, Scarlett não perde a oportunidade
para tentar se aproximar sempre que eu aparecia em Miami. Embora
seja uma mulher belíssima, seu pai era um dos únicos homens deste
meio que conquistou meu respeito, e por isso eu não levei sua
filhinha mimada para a cama. Apesar disso, desistir é uma palavra
que não parece existir no vocabulário da mulher, e pensar em toda a
merda que ela causou, deixa-me irritado pra caralho.
Com o pau doendo de tesão e os nervos à flor da pele,
percebo que fiquei mais tempo do que deveria analisando o rosto da
minha esposa com a expressão acirrada. O pedido dela para que eu a
possua paira em minha cabeça e percorre meu corpo como uma
corrente elétrica. O efeito foi devastador no meu pau. O caralho está
tão duro quanto o aço.
Lexie está corada, os lábios semiabertos à medida que me
encara de volta com curiosidade e uma pitada de apreensão. Posso
sentir seus temores em cada arquejo que escapa de sua boca, nas
pernas que tentam se fechar a qualquer custo para esconder a boceta
nua.
Apesar do seu medo, a química e o tesão que nos envolve é
maior que qualquer força contrária. Eu preciso ter essa garota com
uma necessidade tão desmedida que dói a alma.
Desvio o olhar de seu rosto e faço uma vistoria pelo corpo
gostoso.
Seu peito sobe e desce por causa do ritmo acelerado da
respiração. Suas mãos estão inquietas em volta do corpo, deixando o
nervosismo transparecer. Se minhas suspeitas se confirmarem, ela
ainda é virgem. Embora tenha me provocado até o limite, sua
inexperiência é palpável desde o primeiro momento em que
estivemos juntos.
Meu ego vai nas alturas. Minha boca enche de água ao
pensar em tudo que farei com ela. Não teria importância se fosse o
contrário. No entanto, saber que serei seu primeiro homem em tudo
me deixa doido. Um sentimento de posse varre o meu corpo, minhas
bolas se contraem.
— Nunca fez isso, não é? — questiono, ofegante e seguro
suas coxas fortemente. Arrasto Lexie para a ponta da mesa e
pressiono o volume dentro da minha calça na sua boceta deliciosa.
Lexie geme baixinho e inclina-se na minha direção,
colocando os dois cotovelos sobre a mesa para sustentar o corpo. Os
cabelos compridos caem em seus ombros e alcançam o vidro do
móvel. A visão tão perfeita me alucina.
— Não. Eu nunca fiz… — confessa sem rodeios, o olhar
brilhando enquanto me encara de volta.
Caralho… quase reviro os olhos, me sentindo como um
homem das cavernas. Deslizo os dedos pelo seu cabelo macio e
fecho a mão nos fios sedosos. Puxo seu rosto para mim e me curvo
para ficar rente à sua boca.
— Então não serei tão bruto dessa vez. Porém, fique ciente
que gosto de sexo quente e suado, querida. Quero comer você em
cada canto dessa suíte — expresso rouco e mordisco sua boca,
sentindo o pau pulsar. Minha raiva e desejo se intensificam mais ao
perceber que estou sendo nocauteado por uma menina tão jovem e
inexperiente. — Você vai chupar tanto meu pau, até seu corpo
esquecer que beijou outro. Eu quero tudo de você, Lexie.
Com os lábios entreabertos e o nariz empinado, a garota não
diz nada pelos próximos segundos, mas consigo ver o brilho de
surpresa e irritação em seus olhos.
— Não fui a única a beijar alguém essa noite — finalmente
rebate com acidez e estreita os olhos, me fazendo curvar os lábios
em um riso arrogante.
— Mas foi a única a fazer isso de propósito.
Eu me afasto um pouco de seu corpo e seguro suas coxas
com precisão, forçando Lexie a abri-las mais. O movimento a faz
pender o corpo para trás, em busca de equilíbrio. Passo a língua em
meus lábios e quase vou à loucura quando vejo a boceta arreganhada
para mim. Os grandes lábios brilhando por causa do mel de sua
excitação, o pequeno clitóris inchado de desejo.
— Você é um ordinário… — ela me acusa e tenta fechar as
pernas, arredia e irritada por causa da minha provocação.
Seguro suas coxas com mais força, impedindo Lexie de me
privar da visão do paraíso e coloco uma das pernas apoiada em meu
ombro.
— Quietinha, amor. Estou fazendo exatamente o que você
pediu.
Levo o dedão em seu montículo de nervos e acaricio o
clitóris em círculos lentos. Lexie treme e choraminga baixinho, os
dentes prendendo o lábio inferior.
— Deliciosa demais… — murmuro, hipnotizado pela visão
tão gostosa. Deslizo o dedo em sua protuberância e desço um pouco,
indo e vindo, revelando mais do feixe de nervos inchado e rosado.
Meu dedo fica completamente lambuzado com seu mel. — Perfeita.
— Daniel… Ai… — a garota geme e fecha os olhos por
alguns instantes. A mão pequena busca a minha para afastá-la de seu
corpo em uma tentativa vã. A intensidade do prazer fazendo-a se
contorcer sobre a mesa.
Levo meu olhar para o seu e a observo em agonia, ansiosa. A
respiração errática. Inclino-me depressa sobre o seu corpo quase
perdendo a lucidez, alcanço a boca macia e a beijo com desespero,
meu corpo febril. Enfio a língua rígida entre seus lábios e levo a mão
aos botões da minha camisa. Arranco a maioria no processo,
impaciente demais para sentir o corpo dela moldado ao meu.
Quando finalmente consigo me livrar da camisa e do blazer,
faço o mesmo com seu sutiã e o que sobrou do vestido destruído.
Deixo Lexie nua para mim, ficando apenas com os saltos. Os seios
lindos saltam pesados e acaricio os dois de uma única vez. Amasso a
carne sensível e dolorida dos bicos.
A pele quente sob o meu toque é um convite para me perder
em cada dobrinha de seu corpo gostoso.
Largo seus lábios e desço pelo pescoço delicado, beijando e
mordiscando cada curva. Lexie grunhe arrepiada assim que prendo o
lóbulo de sua orelha entre meus dentes, em seguida, lambo a
pontinha. Dou o mesmo tratamento ao queixo e sigo descendo,
lambendo, sugando seu pescoço. Quero deixar todo o seu corpo
marcado com a minha língua.
Ofegante, a menina aperta os dedos nos fios do meu cabelo
quando chego em seus seios. Chupo um bico com vontade e amasso
o outro em minha palma. Lambuzo a aréola rosadinha de saliva e
sopro, fazendo-a se contorcer sob mim.
— Hummm… — Outro gemido lamurioso escapa de sua
boca.
Largo o seio torturado e começo a chupar o outro. Sugo o
bico, passo a língua levemente no botãozinho duro e volto a
abocanhar a carne macia o máximo que consigo.
Lexie parece estar quase em seu limite à medida que desço,
lambendo seu corpo. Ela geme baixinho, puxa meus cabelos e
inclina os quadris em busca de fricção, esfregando a bocetinha nua
em meu pau ainda coberto pela calça. Vou à loucura.
Ela está alucinando e eu sinto que estou perdendo o controle
de tudo. Uma menina. Ela é apenas uma menina atrevida. Mas que
está me deixando maluco. Raiva borbulha o meu sangue quando
penso que não deveria deixá-la penetrar tanto em mim. Porém o
desejo me impede de pensar coerentemente.
— Daniel… — Lexie geme o meu nome contorcendo-se
toda, incapaz de permanecer quieta e agarra os meus ombros. Passa
as unhas levemente por minha carne, me arrancando um grunhido.
Enfio as mãos debaixo de seu corpo e seguro suas nádegas rente à
mesa, deixando-a imóvel.
— O que há com você, garota? — Ergo o olhar furioso para
o seu e quase piro ao vê-la com os olhos fechados, a boca aberta em
abandono. — Estou ficando louco.
Sem reservas, passo a língua em seu umbigo bem-feito,
mordisco a barriga macia, cravo os dedos em seus quadris. Sigo
lambendo a virilha nua e toda depilada, a pele completamente
arrepiada com meus toques. Quando chego na boceta carnuda, ela já
está toda trêmula, tão melada que os líquidos escorrem e lambuzam
o cuzinho delicioso.
— Abra bem as pernas, me dê essa boceta, Lexie.
A garota faz como ordeno e segura a parte de trás das coxas
com as mãos, deixando a boceta toda aberta para mim. Lexie está se
transformando numa verdadeira monstrinha gulosa. A visão é
enlouquecedora. Quase gozo nas calças ao observar o traseiro
grande amassado contra o vidro da mesa, a pele vermelha nos
lugares em que apartei, a vulva arreganhada, mostrando os pequenos
lábios e o clitóris inchado, o cuzinho virgem pedindo para ser
chupado por mim.
Enfio a cabeça entre suas pernas e começo a mordiscar o
interior de suas coxas
— Quer minha língua aqui? — Esfrego o nariz e a boca na
entradinha melada e sinto o gosto salgado, o cheiro intoxicante de
puro desejo. — Responda!
Com um rápido movimento, estapeio sua nádega esquerda e
ela grita, choramingando. A marca dos meus cinco dedos fica
estampada em sua pele clara.
— Aii… Cretino…
— Diga! — exijo rouco e uso o dedo do meio para penetrar
em sua entrada.
— Sim. Quero sua língua aí…
Gemo gostosamente ao sentir a temperatura dentro dela, a
boceta escorregadia me engolindo. Louco de desejo adiciono outro
dedo em seu canal estreito e começo a fodê-la. Ouço a menina gritar
outra vez e penetro mais fundo. Estagno quando sinto a barreira de
sua virgindade em meu caminho, o delicado lacre impossibilita que
eu continue.
Lexie arqueja fora de si, ofegante e leva a mão trêmula para
segurar o meu pulso, me impedindo de investir mais fundo.
— Não por favor… está ardendo.
Estou quase perdendo a cabeça, louco para entrar de uma vez
nela, mas me controlo.
— Preciso preparar você para me receber, querida. Meu pau
é bem mais grosso que meros dois dedos.
— Não tenho culpa se você é um cavalo, seu ordinário… —
ela reclama e eu gemo, curvando os lábios em um riso arrogante,
implacável.
Uso os polegares para separar os lábios do seu sexo e
exponho o feixe de nervos completamente. Seu clitóris está inchado
e vermelho, o buraquinho virgem lambuzado de excitação.
As três pintinhas estão ali, como um minúsculo caminho da
perdição. Duas na parte interna dos grandes lábios e a terceira
levemente escondida nas dobras que envolvem o clitóris.
— Toda melada, caralho.
Gemendo, coloco a língua para fora e abocanho a
protuberância sensível, fazendo-a gritar e afastar o corpo
instintivamente com a invasão da minha boca. Deslizo a língua pela
fenda escorregadia e a penetro sem cerimônia, sentindo as paredes
meladas me dando espaço.
— Oh… céus! — Lexie grunhe alto, arranhando o vidro com
as unhas, e eu seguro suas coxas com força. Arrasto seu corpo para a
beirada da mesa e arreganho suas pernas o máximo possível,
inclinando-as para o alto.
Começo a chupar o montículo pulsante, sugando os nervos
inchados para dentro da minha boca. Ela geme chorosa, entregue a
mim, gostando do sexo imoral assim como eu. Mais líquidos de
excitação escorrem do seu canal e eu passo a lambê-la de baixo para
cima. Círculo o anel virgem do seu cuzinho, indo e vindo com a
língua, e volto a penetrar na fenda da sua boceta. Tomo todo o mel
que ela me dá, engulo seu gosto, me farto nos líquidos do seu corpo.
Quando a sinto tremer, gemendo, contorcendo-se enquanto
inclina os quadris para esfregar a boceta em minha boca, percebo
que Lexie está prestes a gozar. Seu corpo está clamando por um
orgasmo arrebatador, mas não quero que ela chegue ao ápice agora.
Estapeio sua outra nádega e ela dá um pequeno pulo,
assustada e excitada.
— Daniel… não pare!
Frustração nubla suas írises quando me afasto um pouco para
me livrar do restante das minhas roupas. Seu rosto está corado por
causa da vontade de gozar, a boca úmida. Desço a calça com a cueca
e tiro os sapatos. Jogos as roupas de lado e seguro meu pau
vermelho. O caralho está todo babado, pingando de tesão. A cabeça
toda melada e sensível de excitação, as veias saltadas.
Os olhos esverdeados não escondem o interesse e Lexie
inclina o corpo para observar enquanto manipulo o pênis duro.
Curiosidade estampa cada centímetro do seu rosto, a língua úmida
acaricia os lábios vermelhos.
Afasto suas coxas novamente e pincelo a cabeça grossa em
sua fenda, misturando os líquidos dos nossos corpos. Lubrifico a
ponta do meu pau e deslizo para cima, forçando os pequenos lábios a
se abrirem e a deixarem o clitóris todo à mostra. Gemendo, esfrego e
bato a cabeça grossa em seu montículo, amassando a protuberância
de um lado para o outro.

Lexie geme gostoso e abre mais as pernas. Sou surpreendido


quando ela se inclina mais em minha direção e leva a mão aos meus
testículos. Segura e acaricia as bolas pesadas, me fazendo gemer,
quase gozando. Embora esteja doido para me enterrar nela até o talo,
deixo a garota brincar um pouco para se acostumar com o meu
corpo.
— Isso, Lexie. Segura o que é seu… assim… porra.
Deliciosa.
Coloco a palma das mãos sobre o vidro, uma em cada lado
do seu corpo. Meus músculos todos retesados de prazer. Com os
olhos esverdeados fixos em meu rosto, os dentes prendendo o lábio
inferior, sinto sua mão delicada segurar meu caralho e me masturbar
devagar. Seus movimentos são inexperientes, não possuem um ritmo
constante, o aperto é firme, quente, gostoso como o inferno. Gemo
baixinho, perdido de desejo, paixão, loucura. Preciso cerrar o
maxilar quase perdendo o controle no momento em que Lexie
encaixa a ponta do meu pau na entrada da sua boceta e levanta o
quadril para tentar penetrar a cabeça em seu canal.
— Porra! — Trinco os dentes.
— Aiiii — ela grita, trêmula com a pressão de meu pau na
sua entrada, mas a fenda é estreita demais para mim e não cede. A
cabeça escorrega para o lado, esmagando os grandes lábios, fazendo
nós dois gemermos.
Sorrio quando minha mulher estreita os olhos, frustrada e
dolorida, a respiração ofegante. Prendo uma mão em seus cabelos e
a puxo para mim. Beijo sua boca, faminto, e volto a afastá-la alguns
centímetros.
— O que foi, querida? Não aguenta a pressão? — Provoco e
a vejo arquear a sobrancelha, raivosa. Os lábios inchados e
vermelhos por causa dos beijos gananciosos.
— Idiota… — Ela me beija e passa as mãos em volta do meu
pescoço. A língua deliciosa desliza para fora e eu a sugo, exatamente
como fiz em seu clitóris… — Cretino…
Esmago seu corpo delicioso e quente com minhas mãos,
acaricio os seios volumosos, os quadris redondos, as coxas grossas.
— Vou meter tudo em você!
Seguro meu pau e volto a encaixá-lo em sua boceta. Lexie
estremece, mas se agarra ao meu corpo, cravando as unhas em meus
ombros. A boca grudada na minha. Invisto o eixo grosso contra ela,
empurro firmemente até sentir as paredes lambuzadas cederem para
me dar passagem. Lexie grita, chorosa quando a cabeça começa a
entrar, apertada, e empurra o meu peito, tentando me afastar.
— Daniel, para… Está doendo — pede.
Congelo no mesmo lugar, dando tempo para que a dor
diminua e alcanço sua boca em um beijo rápido. Minhas mãos
acariciam sua coluna.
— Calma. — Seguro seus pulsos e coloco suas mãos em
cada lado do seu corpo. — Incline o tronco para trás e abre mais as
pernas. Vai ser mais fácil entrar assim — instruo. Levo o dedo
indicador ao montículo gostoso, esfrego os nervos delicados e a
garota relaxa um pouco.
Ela se apoia com uma mão sobre a mesa e lambe a boca
enquanto mantém os olhos fixos entre as coxas. Está fascinada com
a visão crua, a cabeça do meu pau entre os lábios de sua boceta,
abrindo sua entrada além do limite, meu polegar torturando o
pequeno clitóris.
— Assim Lexie, veja como eu fodo você. — Empurro outra
vez e ela grita de dor, chorosa. Trinco os dentes em busca de
controle e a cabeça entra toda, sua vulva estreita estrangula meu pau,
tão apertado que o ar falta em meus pulmões.
— Porra! — xingo rouco.
— Daniel. Tira… — choraminga. Seguro suas coxas no
lugar quando ela tenta se afastar e me inclino outra vez para capturar
seus lábios no ímpeto de acalmá-la. — Eu não consigo. Isso dói
como o inferno…
— Que boquinha deliciosa e suja. — Acaricio seu rosto e
enfio a língua em sua boca outra vez, tomando tudo dela. Meus
dedos deslizam pelo seu pescoço, esfregando levemente a pele
cheirosa, acalmando-a. — A cabeça está toda enfiada em você —
murmuro e ela ofega.
Retiro meu pênis de dentro dela, beijo Lexie outra vez e me
abaixo para chupar sua boceta. Preciso fazê-la relaxar um pouco e
nada mais relaxante do que gozar gostoso.
Há um pouquinho de sangue na ponta do pau e na sua vulva,
o líquido vermelho mancha os pequenos lábios e se mistura com sua
excitação. Embora esteja toda melada de desejo, sua vagina é
pequena demais para mim. Qualquer mulher teria dificuldade para
me tomar todo de uma vez, e Lexie sendo virgem, torna a situação
extrema, no limite.
Chupo seu clitóris e deslizo a língua no brotinho delicado.
Lexie resfolega fora de si e passa a erguer os quadris, rebolando
devagar. Exponho seus nervos com os dedos e chupo com força.
Dou uma surra de língua em seu clitóris, sugando e esfregando a
carne sensível. A garota grita ao se quebrar em um gozo intenso.
Suas pernas tremem, a boceta começa a pulsar, os quadris são
investidos continuamente contra minha boca.
— Aiiii! Daniel… — As mãos são certeiras em meus
cabelos, puxa os fios e dá uma chave de pernas em meu pescoço.
Continuo lambendo o clitóris inchado e deslizo a língua até a
entradinha encharcada. Sinto o gosto de ferrugem na boca, mas
pouco me importo. Quero apenas senti-la, tomar seu gozo para mim.
Quando sua respiração começa a normalizar, retiro suas
pernas dos meus ombros e ergo o corpo para ficar de pé outra vez.
Com o olhar fixo no seu rosto corado, puxo Lexie para a beirada da
mesa e seguro seus pulsos acima de sua cabeça. Mantenho-a presa
sobre o vidro. Suas pernas se abrem em volta dos meus quadris e ela
fecha as pálpebras por alguns instantes. Volta a abri-las e me fita,
entregue, o corpo ainda tremendo com as ondas do orgasmo.
Posiciono o pau na sua entrada e a cabeça grossa começa a abrir os
lábios delicados.
Empurro firme. O pequeno canal se abre lentamente para
acomodar meu eixo grosso, e Lexie grita alto, todo seu corpo
estremecendo por causa da penetração difícil. Continuo metendo,
sentindo as paredes meladas me dando espaço, abrindo-se além do
limite para conseguir me acomodar. Sinto o lacre intocado e Lexie se
retesa, encolhendo os quadris para se desvencilhar da invasão
dolorosa.
— Quando isso acabar, eu vou arrancar seu pau fora, Daniel
— ameaça, arfante e choraminga.
Sorrio entre um ofego e outro. O tesão misturado ao
divertimento deixa tudo ainda mais voraz, intenso. O prazer se
alastra por cada célula como uma corrente elétrica.
— E ficar sem o seu brinquedo? — Coloco o dedo polegar
em seu lábio inferior e forço a entrada na boquinha quente. A visão
de tê-la assim, me recebendo na boca e na boceta é devastadora. —
Relaxa, boneca. Estou quase todo enfiado em você — minto para
tranquilizá-la.
O hímen se parte no momento em que invisto com mais força
e Lexie contrai o corpo. Seguro seu quadril com firmeza no lugar, e
estoco o pau todo, lentamente dentro dela, até o punho.
— Puta que pariu — rosno, agitado demais pela sensação do
pênis sendo estrangulado. Entra tão apertado que preciso trincar os
dentes para não gritar junto com ela, tamanho é o prazer que sinto.
— Deus… — reclama, chorosa. Seus olhos brilham por
causa das lágrimas não derramadas que ela luta com afinco para
contê-las. Morde os lábios com força e vira o rosto quando uma gota
salgada escorre pela bochecha e pinga sobre a mesa de vidro.
Inclino-me sobre ela, me contendo para não a penetrar mais
fundo, para não a machucar mais.
— Ei… — Solto seus pulsos e deslizo uma mão em seu
rosto. Seguro o queixo delicadamente e forço Lexie a me olhar. — A
pior parte já passou, estou todo enterrado em você, Lexie. Vem aqui
— sussurro e lambo o lóbulo de sua orelha.
Seco as gotinhas molhadas embaixo dos seus olhos e capturo
a boca deliciosa com a minha. Pela primeira vez, a beijo com
delicadeza, sentindo a maciez dos seus lábios nos meus, apenas
faço-a se sentir segura dentro dos meus braços.
— Hummm — ela geme baixinho, mais calma, e as mãos
macias alcançam meus ombros, arranhando com força.
— Me toma todo, querida. Recebe o pau do seu marido nessa
boceta deliciosa.
Volto a estocar profundamente dentro dela e giro o quadril,
massageando suas terminações nervosas. A pressão é intensa, mas
sua vulva está tão melada que sinto meu pau sendo engolido
enquanto desliza para dentro e para fora.
— Aii… sim… — ela diz coisas desconexas, tomada pelo
prazer e pela dor.
Deito a menina no vidro e fico de pé. Ergo suas pernas e
meto gostoso, tiro e enfio meu caralho profundamente com
punhaladas lentas até que ela se acostume com meu tamanho. Lexie
leva uma mão à boca e morde o punho para não gritar, está febril, a
testa franzida por causa da ardência.
Fico louco ao ver sua boceta me envolvendo, toda esticada.
O botãozinho à mostra e inchado. Aperto uma mão em seu quadril,
cravando os dedos na carne macia, e com a outra coloco um dos
tornozelos em meu ombro para abri-la mais.
Volto a enfiar até o punho e tiro devagar. A cada metida, ela
grunhe mais alto, perdida. O olhar manhoso busca o meu, a boca se
abre em um gemido rouco.
— Eu… Ahhh… — grunhe gostosamente quando volto a
girar o quadril, moendo meu pau na sua boceta sem pena. Minhas
bolas batem no cuzinho gostoso a cada metida, minhas pernas
começam a perder o equilíbrio, meus testículos se contraem.
Subo em cima de Lexie e passo a comê-la com força. Retiro
e meto o pau até o fundo com estocadas cada vez mais violentadas,
profundas, ardentes.
A mesa range com o movimento de nossos corpos suados,
Lexie resfolega em minha boca, as mãos pequenas se agarram a mim
fortemente, como se eu fosse seu mundo, seu único porto seguro.
— Goza no meu pau, pequenina. Goza pra mim, porra! ―
grunho, descontrolado já não mais suportando o prazer arrebatador
que tomou conta do meu corpo. Como-a com voracidade, metendo
forte, fazendo Lexie tomar tudo de mim. Meus testículos doem, as
ondas deliciosas se espalham, tornando quase impossível me manter
por muito mais tempo.
Ofego e procuro seu ponto sensível entre os nossos corpos.
Esfrego, acaricio, prendo o montinho torturado entre meus dedos.
— Daniel! — ela grita meu nome e seu corpo se retesa por
instinto. A boceta quente se contrai em volta do meu pau, apertando
meu eixo além do limite, me deixando tonto com o prazer mais cru e
intenso que já senti.
É o meu fim.
Já não consigo raciocinar como deveria.
Dou uma última estocada violenta e me perco num orgasmo
arrebatador que me toma dos pés à cabeça.
O primeiro jato sai forte, alucinante e me faz jogar a cabeça
para trás em abandono, grunhindo como um louco, como o animal
que sou. Todo meu corpo treme em cima dela. Encho sua bocetinha
linda com meu esperma, dou a ela até a última gota do meu desejo.
Meu controle se desfaz aqui, enquanto estou enterrado até o
punho dentro da minha mulher. Enfio o rosto em seu pescoço e
inspiro fundo o perfume que exala de sua pele, sentindo-me vivo
como há muito tempo não sentia.
A boca trêmula busca a minha e Lexie me abraça, me
puxando mais para si, me prendendo em sua teia perigosa. Nossos
lábios se encontram famintos, gulosos, querendo tudo um do outro.
Meu corpo desaba em cima do seu e eu me enterro mais fundo.
Quando os tremores diminuem e minha cabeça volta a
funcionar coerentemente, percebo que estou andando em uma corda
bamba que está prestes a se partir se eu não tomar cuidado. A garota
é geniosa e arredia, mas o que sentimos é pura química, perigo. Um
passo em falso e tudo o que planejei por anos poderá ruir.
CAPÍTULO 27

LEXIE

Sinto os braços dele me esmagando contra seu corpo forte e


ofego. O calor que emana de seu peito é como uma manta que me
envolve e me faz desejar ficar em seus braços para sempre. Saciada
e terrivelmente dolorida, permito que minhas mãos escorreguem por
seu pescoço e acaricio os fios loiros e curtos do seu cabelo.
Êxtase me toma e meu corpo estremece quando a realidade
dos fatos me açoita no peito. Tudo foi tão intenso e gostoso, que por
alguns instantes senti-me verdadeiramente como se pertencêssemos
um ao outro. Como se o que fizemos fosse de fato a coisa certa.
Apesar da dor, o prazer que passei a sentir após me acostumar com a
penetração ultrapassou qualquer desconforto. Os beijos quentes, o
toque firme em meu corpo, o olhar de puro deslumbramento que vi
em suas írises. Foi como ir ao céu e voltar para a terra em milésimos
de segundos.
Deslizo os dedos devagar em seus ombros, sentindo os
músculos rígidos sob meu toque. O calor de seu corpo queima o meu
quase como brasa. A pele febril está escorregadia de suor, a
respiração ofegante. Enquanto eu o acaricio devagar, nos perdemos
no mais profundo silêncio. Apenas nossas respirações aceleradas são
audíveis em cada compartimento desta sala.
Minhas pernas estão moles e cansadas por causa da posição
que me encontro, enrolada em seus quadris. Mas não quero me
separar agora. Tenho medo de me mexer e a magia do que estamos
vivendo ser quebrada, se diluir no ar como névoa.
Os segundos se arrastam enquanto nos beijamos lentamente,
seu pênis ainda enterrado fundo em mim. Experimento seu gosto de
homem misturado ao uísque, a língua dura tomando tudo de mim,
tomando meu ar, minha essência.
Um gemido escapa da minha boca ao sentir meu lábio
inferior sendo sugado. Deslizo as mãos em suas costas e começo a
explorar cada pedacinho dele como nunca fiz antes. Lembro da
localização das tatuagens, cada desenho assimétrico que está
gravado em seu corpo como uma tela que fora pintada. Meus dedos
exploram e sentem a textura da pele com cuidado, gravando cada
sensação.
Por algum motivo que desconheço, Daniel estremece quando
meus toques reconhecem e acariciam uma sutil ondulação em sua
pele, próximo às costelas. A boca possessiva não se desgruda da
minha, mas ele encerra os movimentos, ficando estático, a
respiração torna-se mais intensa.
Aguardo alguns instantes para ter certeza de que ele não irá
dizer nada ou fazer algum movimento para me impedir de tocá-lo,
mas Daniel continua quieto. Entendo que, em meio ao seu silêncio,
ele está me dando permissão para continuar tocando-o.
É o que faço. Minhas mãos passeiam por suas costas e mais
ondulações são encontradas. Algumas quase imperceptíveis, outras
mais elevadas ou profundas.
Cicatrizes
Meu peito se aperta ao imaginar como adquiriu as marcas
que agora estão cravadas em sua pele. Nunca as tinha visto, pois as
tatuagens camuflam as ondulações como uma segunda pele.
— Daniel… — sussurro seu nome e me afasto do seu rosto
para buscar seus olhos. Minhas nádegas, costas e pernas doem
devido a posição desconfortável e a textura dura do vidro, no entanto
isso pode esperar.
As írises escuras me encaram cálidas, suaves. Nunca o vi
assim, tão calmo e ao mesmo tempo, angustiado. Ele luta para
esconder os pedaços feridos que há dentro de si, mas por poucos
segundos, eu consigo identificar a dor.
Minhas mãos seguem os caminhos dos desenhos em seus
braços. E há mais marcas ali, fincadas em sua pele como uma
lembrança viva de tudo o que tenha vivenciado.
— Onde mais? — pergunto baixinho, referindo-me às
diversas cicatrizes espalhadas pela sua pele. Meu corpo gelado de
choque.
Em um primeiro momento, Daniel não me responde. Seus
movimentos são lentos à medida que segura minhas pernas para tirá-
las de seus quadris, ergue o corpo e o pênis desliza para fora da
minha vagina.
A ardência me faz encolher. O líquido denso de seu sêmen
vaza do meu canal e lambuza o centro das minhas pernas. Nem ao
menos tenho ânimo para me movimentar de tão cansada e exausta.
Minha vagina lateja, dolorida. Uma sensação de vazio me engole
quando ele se afasta e fica de pé.
Mordo o lábio inferior para não gemer, levada pelo
incômodo.
Daniel segura minha mão e a leva ao seu rosto. Meus dedos
penetram a barba proeminente e respiro profundamente ao sentir a
aspereza de uma cicatriz acentuada em seu maxilar. Um corte longo,
profundo, camuflado por pêlos da face.
Meus olhos arregalam-se, mas não tiro os dedos do seu rosto.
É um período curto, mas ele me permite desvendar um pouco dos
mistérios que rodeiam sua alma. Ele me entrega uma gota da sua
confiança. Ele compartilha comigo uma intimidade que vai além do
sexo.
— Foi há muito tempo, Lexie. — Sua voz é quase
sussurrada. — Não tem mais importância.
Não noto convicção em sua voz ao ouvir a última frase. O
maxilar cerrado e a voz arrastada indicam que este é um assunto que
ainda machuca quando vem à tona.
— São tantas — comento, tomada pela aflição. Meus dedos
trêmulos.
Daniel não diz mais nada. Simplesmente começa a tirar as
sandálias dos meus pés, e assim que termina, segura minha mão e
me ajuda a descer da mesa.
— Outro dia falamos sobre isso. — O ar de repente se torna
frio. O calor que havia nos envolvido como a lava de um vulcão se
desfaz de um segundo a outro.
Daniel recobra sua aura dura e impenetrável. O olhar antes
aprazível, torna-se gelado, opaco.
— Coloque as mãos em volta do meu pescoço — instrui
assim que piso os pés no chão e eu obedeço.
Ele rodeia minha cintura com um braço e o outro é utilizado
para segurar minhas pernas. Sou erguida no ar e carregada em
silêncio para a suíte como se não pesasse nada. Daniel me coloca
dentro da banheira com uma calma serena, e começa a enchê-la com
água morna.
O líquido refrescante me faz suspirar baixinho ao tocar
minhas partes íntimas doloridas e inchadas. Mas o alívio vem logo
em seguida.
— Melhor? — ele pergunta ao me ouvir gemer.
— Sim. Obrigada… — Olho-o e suas írises me fitam de
volta. Seu olhar está sombrio, causando um arrepio em minha
espinha.
Daniel assente, afasta-se e segue até a ducha. Lava-se
rapidamente, pega uma toalha e envolve sua cintura. Pego um pouco
de sabão líquido e me lavo, dando uma atenção especial ao centro
das minhas pernas para retirar os vestígios de sangue e sêmen.
Quando termino, permaneço um pouco mais na banheira até
a água começar a esfriar. Minhas pernas estão tão doloridas que é
difícil pensar em ficar de pé por algum tempo. Até mesmo meus
lábios doem.
Marcas avermelhadas de seus dedos marcam meus quadris e
barriga, deixando gravado em minha pele o domínio que teve sobre
meu corpo.
Minutos depois, saio da água e me seco com um roupão
macio. Chego no quarto e encontro Daniel vestido com uma calça
jeans e camisa de mangas compridas, de frente para a vidraça. Sua
atenção está focada na iluminação da cidade, as mãos enfiadas nos
bolsos, os pensamentos tão longe que não se dá conta da minha
presença.
Um copo de uísque está posto sobre a mesinha de cabeceira,
pela metade. O clima está tenso, estranho. Como se agora fossemos
dois desconhecidos, não marido e mulher que acabaram de fazer
sexo.
— Vai sair? — pergunto, tentando parecer descontraída, mas
a única coisa que se passa em minha cabeça é que ele vai se
encontrar com aquela mulher.
Pego uma das camisolas que trouxe para a viagem e viro-me
de costas para ele, sem esperar por uma resposta. Procuro não deixar
transparecer o ciúme e a raiva que sinto. Mantenho-me fria, embora
o peito esteja apertado e o coração batendo forte. O corpo ainda
febril por causa do desgraçado.
Deixo o roupão cair aos meus pés, formando um emaranhado
de tecido branco no chão como uma ilha à minha volta. Passo a
camisola de seda vermelha pela cabeça e arrumo os cabelos o
máximo que consigo.
Ao me virar, percebo que a atenção dele agora está focada
em mim, o olhar gelado e sombrio como sempre, o rosto irascível.
— Sim. Eu irei sair. — O homem tira do bolso as chaves do
carro que alugou assim que chegou em Miami e pondera por alguns
instantes, pensativo.
Pega o copo de uísque e toma o restante do líquido âmbar.
Não digo mais nada. Caminho em direção a cama, afasto os
lençóis e me deito de lado. Segundos depois, ouço os passos dele se
afastando e a batida da porta sendo fechada.
Abraço-me e fecho os olhos, torcendo para que o sono
chegue. Meu corpo está exausto, as pernas trêmulas, a vagina ainda
ardendo. Porém o que mais incomoda é o bolo sufocante que se
formou em minha garganta.
DENER

O gosto dela ainda está cravado em minha boca quando saio


da suíte, agora misturado ao sabor intenso de uísque. Minha cabeça
lateja dolorosamente, minha consciência gritando para que eu me
afaste enquanto há tempo.
Ela é perigosa, Dener… E é a filha do inimigo.
Digo a mim mesmo incontáveis vezes, lutando para não
retornar àquele quarto e fazê-la gritar em meus braços outra vez
enquanto penetro seu corpo.
Meu sangue pede por adrenalina e perigo. Minha mente está
um verdadeiro caos. Os demônios do passado estão lutando para
tomar o controle. Preciso correr e fazer evaporar toda essa agonia
que me tomou desde o momento em que Lexie tocou minhas
cicatrizes. Mas ao chegar ao estacionamento subterrâneo e entro no
carro, correr é a última coisa que passa em minha cabeça.
Permaneço sentado no banco do motorista por um tempo
incalculável. Os olhos vidrados no painel do veículo. Flashes do
passado invadem minha cabeça como um vendaval, revirando e
trazendo à tona tudo o que mais lutei para esquecer durante anos.
Respirar dói, pensar em Adrienne me faz refletir o quão fodido eu
sou. Sinto-me como um traidor de merda.
“Meu amor… eu estou esperando um filho.”
Ouço a voz de Adrienne em minha mente, como se ela
estivesse ali comigo, dizendo as mesmas palavras que disse há tantos
anos na noite que foi assassinada. Nós teríamos um filho. Eu iria ser
pai. Teria de volta a família que fora arrancada de mim. Mas então,
os planos mudaram quando percebi que não poderia tê-la comigo.
Hector jamais a deixaria ir com vida.
Sabia que a criança era minha, pois Hector quase nunca a
tocava, ao fazer pela última vez, ele a forçou. O filho da puta
estuprou Adrienne quando decidiu que queria um maldito herdeiro.
Naquela noite, fiz a escolha mais difícil da minha existência. Eu
abriria mão dela para guardar a vida da nossa criança. Eu me
afastaria de sua vida para sempre. Era o sacrifício que faríamos em
nome do que sentimos um pelo outro. Porém a decisão foi tomada
tarde demais.
Minutos depois, Hector invadiu o apartamento em que
estávamos, matou Adrienne e meu filho, juntos. Ele me destruiu ali.
Mesmo que não tenha acabado com a minha existência, ele me
roubou a vida naquela noite.
E agora…
Agora há Lexie… A garotinha do passado que se viu na mira
da minha pistola. A garotinha que jurei matar e destruir, assim como
Hector havia destruído o que era meu. A garotinha que agora é uma
mulher linda, geniosa, e que está me deixando louco.
Transtornado, soco o volante e sinto os nós dos dedos
arderem com o impacto. Um gosto amargo se apossa da minha boca
quando analiso meus próximos passos. Um aperto intenso toma
conta do meu peito, mas o ignoro de uma vez por todas. Não há mais
retorno, não há escapatória para ninguém.
O objetivo agora, antes de acabar com Hector de uma vez
por todas, será plantar uma criança no útero da minha esposa. Assim
que Lexie engravidar do meu filho e sua barriga começar a aparecer,
darei a cartada final. Hector saberá quem sou, mas já estará
destruído demais para conseguir algum aliado. Só lhe restará morrer
em minhas mãos, sabendo que sua filha carrega o meu filho. E que
tudo o que um dia foi arrancado de mim, terei de volta.
Tudo o que um dia lhe pertenceu passará a ser meu,
incluindo seu legado de merda. Seus negócios, seus territórios, sua
mansão. Até mesmo seu sangue. Lexie ficará grávida em breve. Eu
me certificarei disso em cada momento que estiver dentro dela. E
depois que tudo estiver acabado e nosso filho nascer, lhe darei o
divórcio. Ela poderá fazer o que quiser com sua vida, afinal embora
seja a filha do desgraçado, não merece morrer em nome do filho da
puta. Ele nem ao menos se importaria com a sua morte.
Respiro fundo quando decido tudo o que farei. Sexo. Apenas
sexo será a ligação que teremos de agora em diante. Será o melhor
para nós dois. O martelo foi batido e a sentença está dada.
A cabeça zunindo deixa em evidência a falta de uma noite
bem dormida. Não faço ideia de quanto tempo fiquei aqui neste
estacionamento, colocando meus pensamentos em ordem. Talvez o
dia já esteja clareando, era bem tarde quando saí do apartamento e
vim para o estacionamento subterrâneo.
Preciso retornar e dormir um pouco antes de partirmos para
Long Island. Miami já não é mais tão segura depois dessa noite. O
cara que matei na boate fazia parte de uma gangue conhecida.
Haverá retaliação em breve, isso é fato.
Passo a mão na barba comprida que precisa ser aparada,
sentindo-me exausto, um aperto doloroso no peito. Olho no espelho
retrovisor, e mesmo com a luz fraca aqui embaixo, posso ver as
linhas cansadas no meu rosto.
Abro a porta do carro e saio com a mão na pistola,
certificando-me de estar só no recinto. Quando tenho certeza de que
não há nenhum movimento incomum, dou alguns passos e bato a
porta. Proibi meus homens de me seguirem ao sair do apartamento
com a cabeça cheia, e os que fazem a guarda na parte exterior do
hotel não foram notificados sobre minha presença aqui embaixo.
Apesar do risco, não estava pensando com coerência. Eu só
precisava respirar e pensar com cautela.
Entro no elevador e aguardo a subida para a cobertura.
Assim que entro no apartamento, arranco a camisa e sigo
direto para a suíte.
Como imaginei que estaria, vejo o céu alaranjado através da
vidraça que fica de frente para a cama. O dia já está claro, jogando
na minha cara que o tempo é imperdoável. Ele passa e leva consigo
a vida, a felicidade, as boas lembranças, deixando apenas um vazio
no peito, tão doloroso quanto se o coração tivesse sido arrancado.
Minha atenção se volta para a cama e vejo Lexie dormindo
como um anjo, coberta com um edredom branco. Os cabelos escuros
e muito compridos estão esparramados pelo lençol, os cílios negros
como grandes leques molduram seus olhos, as maçãs cheias do seu
rosto dão a ela um ar tão jovem, inocente.
Tão perfeita… diabos! Minhas mãos tremem para tocar a
pele macia outra vez, minha boca enche de água só em fitar os lábios
carnudos. Eu me aproximo mais dela, com cautela para não a
acordar e analiso suas feições com cuidado.
Meus dedos retiram uma mecha de cabelo que caiu sobre sua
testa, e deslizo o toque pelo queixo pequeno. Ela suspira e se remexe
na cama, mas não acorda. Também está cansada, a noite foi tensa,
agitada, e o sexo que fizemos… caralho… Só de pensar já fico duro
como pedra.
Ignoro o desconforto doloroso que se formou entre as minhas
pernas e passo as costas dos dedos em sua bochecha. Uma parte do
meu interior se aperta. É uma sensação amarga, sufocante. Sinto
como se estivesse sem fôlego e algo comprimisse minha garganta.
— Sinto muito, pequenina. Você é nociva demais para que eu
possa te manter ao meu lado sem me afundar — sussurro baixinho e
a olho por mais alguns instantes.
Vencido pelo cansaço, me afasto e me deito do outro lado da
cama. Durmo assim que meu corpo cai ao encontro do colchão
macio.
CAPÍTULO 27

DENER

Acordo no susto, levado pelo instinto. Meus olhos pesam,


mas forço o corpo a se levantar e procuro o aparelho celular no bolso
da calça.
São 07h04 da manhã. Devo ter ficado apagado por cerca de
1h30, talvez menos. Envio uma mensagem para Ryder, e o incumbo
dos preparativos do voo junto ao piloto do avião.
Passo a mão em meus cabelos e bocejo, sonolento. Desvio a
atenção para Lexie e a vejo dormindo meio de barriga para baixo,
meio de lado, o edredom jogado no chão. Seu corpo cheio e
delicioso está parcialmente coberto por uma fina camisola de seda
vermelha. O pedaço de pano pequeno está embolado em seus
quadris, deixando parte do traseiro grande à mostra. Um travesseiro
fofo está bem apoiado entre suas pernas me fazendo abrir um sorriso
torto ao perceber que ela é espaçosa e gosta de se esparramar na
cama.
Lexie não usa calcinha, mas devido a posição que se
encontra, seu sexo permanece oculto entre as pernas e o emaranhado
de tecido do travesseiro. No entanto, a garota parece ter feito um
pacto com o diabo. Cada movimento seu, por mais sutil que possa
ser, me deixa doido.
Meu sorriso se dissolve no ar assim que olho para baixo, no
meio das minhas pernas. O volume do meu pau duro é
desconfortável como o inferno. Gemendo, levo a mão a calça e
desço o zíper.
Baixo a calça até o meio das coxas, junto a cueca e seguro o
eixo.
O pau está quente, cheio de sangue e desejo. Minha testa sua
ao ser arrebatado por uma luxúria incontrolável. É a primeira vez
que durmo ao lado da minha esposa, mesmo que por pouco tempo.
Era algo que eu deveria ter evitado também, mas as circunstâncias e
o cansaço me venceram.
Coloco-me de lado, apoio a cabeça na palma da mão e o
cotovelo no colchão. Encosto meu corpo ao dela, não muito próximo
para não despertar seu sono de forma brusca. Acaricio suas costas
através do tecido, os braços gelados por causa do ar frio, e desço as
mãos em direção ao traseiro redondo. Subo e desço com meus
toques incontáveis vezes. Gravo na memória casa pedacinho do
corpo de Lexie.
Ela é perfeita.
Prendo os dedos no tecido fino e ergo a peça, juntando a
barra acima de sua cintura em uma profusão de seda. Depois de
observá-la por um tempo indefinido, termino de retirar minhas
roupas para ficar mais confortável, e volto a acariciá-la, passando a
palma das mãos na carne macia da sua bunda, adorando-a.
Lexie se remexe na cama e ouço alguns sussurros
incompressíveis escapando de sua boca. Inclino-me, quase cobrindo
seu corpo com o meu e alcanço o lóbulo da sua orelha. Mordisco a
pele quente.
— Acorda, querida… — murmuro baixinho, tomado pelo
desejo.
Minhas mãos são certeiras em seu traseiro. Acaricio, amasso.
— Daniel? — Sua voz é sussurrada, quase inaudível. Lexie
ainda está presa entre os sonhos e a realidade.
Eu me posiciono atrás dela e me deito de bruços, com o rosto
na altura de sua bunda, os pés apoiados no chão. Sinto aquela
dorzinha gostosa no pau espremido contra o colchão e gemo
baixinho.
Alcanço as bandas de seu traseiro e abro. Tudo em mim se
descontrola, suor umedece minha testa ao ver o sexo vermelho e
inchado. Inclino o rosto e deslizo a língua para fora. Começo a
lamber seu traseiro de cima para baixo, mordiscando, louco para
enfiar a língua em sua boceta. O cheiro dela me inebria, e quase
posso sentir o gosto salgado e úmido da fenda morna.
Mordo os quadris, provando o gosto de sua pele, apenas
esperando o momento em que ela despertará.
Lexie geme, contorcendo-se e ouço o barulho característico
de suas unhas arranhando o colchão. O entorpecimento é breve, pois
logo depois ela vira o corpo ainda grogue de sono e fica de frente
para mim, me obrigando a me afastar por breves segundos.
— O que está fazendo? — Surpresa estampa seu semelhante
sonolento ao abrir os olhos. Confusão nubla as írises claras. —
Você… você dormiu fora e agora… — Ela interrompe a fala e tenta
se recompor como pode, puxando a barra da camisola.
Merda!
Vejo dor em seus olhos e Lexie busca o travesseiro para se
cobrir. Tento não me odiar por fazê-la se sentir assim, mas eu me
odeio. É inevitável.
Não esperava que ela estivesse chateada, mas pouco parei
para pensar sobre isso. Eu só precisava pensar sozinho quando desci
até o estacionamento.
— Estou tentando transar com a minha mulher! — respondo
rouco e volto a me inclinar sobre ela, buscando a curva de seu
pescoço.
Lexie se afasta e senta-se no colchão. Ignora qualquer
tentativa de aproximação.
— O que pensa que sou, Daniel? — Sua voz sai sussurrada,
mas a garota não diz mais nada. Não é preciso.
Buscando o edredom no chão, ela se levanta e envolve o
tecido grosso no corpo. Começa a se afastar na direção do banheiro
sem se preocupar em ouvir uma resposta, desafiando-me como
apenas Lexie sabe fazer.
A irritação me toma assim que ela se distancia.
Cortando o espaço que nos separa, seguro seu braço e forço
Lexie a me encarar. Apesar de não dar satisfação para ninguém do
que faço ou deixo de fazer, decido que serei sincero com ela.
— Eu não saí ontem à noite. Apenas precisei me afastar para
esfriar a cabeça, então desci até o estacionamento e fiquei um tempo
por lá. Sinto muito se te fiz pensar o contrário, mas porra… — Solto
seu braço e passo a mão em meu cabelo, agitado. — Minha cabeça
está fodida, Lexie. — Ergo a mão para tocar seu queixo e analiso o
semblante assustado, confuso. — É tudo tão complicado, pequenina.
As mãos delicadas seguram meus dedos e Lexie suspira.
— E o que tem a dizer sobre aquela mulher? Como posso ter
certeza de que não estava com ela? Eu não serei mais uma de suas
putas, Daniel!
Vejo um brilho esperançoso em seu olhar. Meu coração
dispara, o ar fica curto. A garota pode ser arredia, mas é inexperiente
demais para conseguir esconder o que sente. Estamos os dois
fodidos, loucos um pelo outro, e eu nem ao menos faço ideia de
como ou em que momento essa merda aconteceu.
— Não preciso mentir sobre isso. Sabe bem que se eu desejar
comer outra boceta, é isso que farei e você será a primeira a saber.
— Sou curto e grosso. Deixo claro que ela não é a única opção, caso
assim eu deseje.
Ela puxa a mão como se acabasse de levar um choque e a
expressão torna-se irascível.
— Se não posso confiar em você, então vá para o inferno! —
diz com rispidez, o queixo erguido. Seu olhar de desdém me deixa
louco, principalmente quando a garota volta a me virar as costas e
sai.
Perco a cabeça e todo meu autocontrole. Enlaço sua cintura e
a prendo contra mim e a parede. Minha mente fervilhando em
conflito, o sangue borbulhando de desejo por essa maldita sedutora.
— O que você quer de mim, caralho? Diga!
Arranco o edredom do seu corpo e jogo o tecido no chão
com força.
Embora sua respiração esteja ofegante, a menina não
demonstra medo.
— Eu quero tudo, Daniel.

LEXIE

Por um motivo que não consigo explicar, sinto meu coração


se partir em milhões de pedaços quando ele dá a entender que não
será fiel ao nosso casamento.
Para ser sincera, eu não deveria me importar. Muito pelo
contrário. Tinha que estar feliz. Ele se envolveria com outra e me
deixaria em paz. Eu não teria que suportar suas mãos sujas de
sangue em meu corpo, eu não teria que me submeter ao sacrifício de
ser a mulher de um assassino. No entanto, a única coisa que consigo
sentir, é a dor.
Por que dói tanto? Por quê?
Presa entre ele e a parede, vejo Daniel perder a lucidez, mas
não baixo a cabeça para o monstro. É tudo ou nada.
— O que você quer de mim, caralho? Diga! — ele grita e
arranca o edredom do meu corpo. Confusão permeia sua face.
Não há para onde fugir. Respiro fundo e vou direto ao ponto.
Sem rodeios, sem falso moralismo.
— Eu quero tudo, Daniel.
O homem suspira e os dedos se entranham mais em minha
carne.
— Tudo o que, Lexie? Seja bem específica.
Minhas pernas fraquejam enquanto ele me encara com esse
olhar de animal predador, principalmente quando sinto a dureza do
corpo nu colado no meu.
— Seus beijos, seu corpo, seus pensamentos. Eu quero você
por completo. — Ele me analisa com a expressão surpresa, a
respiração ofegante. — É isso ou terá que me estuprar se quiser me
tocar de novo. Só assim vai conseguir se enfiar entre as minhas
pernas outra vez. E eu mato você se tentar.
Incredulidade: Essa é frase que melhor define o que vejo no
rosto de Daniel Kraven.
— Perdeu a noção, porra? — Dessa vez sua voz sai quase em
um sussurro áspero. — Você é minha e irei me enfiar entre as suas
pernas sempre que tiver vontade.
A mão que está em minha cintura desliza pelas minhas
costelas, me apertando, me levando com mais força contra si.
Embora o coração esteja quase saltando pela boca, não
desvio o olhar quando respondo:
— Então tente. Vá em frente, Daniel — desafio.
O homem mantém os olhos vidrados em mim e eu faço o
mesmo com ele. Não demonstro fraqueza, nem medo. Mostro a
Daniel Kraven que a garotinha tola e ingênua que Hector moldou
não é mais manipulável.
Seus dedos deslizam pelo meu pescoço e alcançam minha
boca. O olhar escuro é desviado para meus lábios, mas ele não se
movimenta pelos momentos seguintes.
— Muito bem. — Os dedos fecham-se em torno do meu
queixo e ele inclina o rosto na minha direção, ficando rente à minha
boca. — Mas eu farei as regras, Lexie.
— Diga! Quais são suas regras? — questiono.
Um riso arrogante se forma em seus lábios rudes.
— Primeiro, estará disponível sempre que eu quiser comer
você. Segundo, não quero que me procure em meus aposentos ou
qualquer outro lugar da mansão. Eu irei até você à noite. E terceiro,
eu gosto de sexo sujo e imoral, então esteja pronta hoje à noite, após
nosso retorno para Long Island. Vou comer o seu cu, entendeu?
Suor frio escorre pela minha espinha quando penso em tudo
o que este homem fará comigo na cama. No entanto, não estou
disposta a voltar atrás em minha decisão de conquistá-lo.
Conquiste-o e fuja.
— Combinado — aceito sua proposta e ele se afasta.
No exato momento, somos interrompidos por uma batida
brusca na porta.
Daniel desvia o olhar do meu rosto e pega o edredom caído
no chão. Joga-o nos meus braços.
— Cubra-se.
Faço como ele diz e enrolo o tecido grosso em meu corpo,
deixando apenas os braços de fora.
— Entre! — Ele dá o aval para quem quer que esteja do
outro lado da porta possa entrar no quarto. Pouco se importa com o
corpo nu ou o quanto seu pênis grosso está duro.
Um dos seus capangas entra na suíte. É Ryder. O homem
carrancudo me olha por alguns instantes, quase que de forma
imperceptível, e então foca sua atenção no chefe.
— O avião está pronto como instruiu, é hora de partirmos
para o aeroporto.
Daniel assente para ele e o homem vira-se para sair.
Antes de fechar a porta, no entanto, meu olhar se encontra
com o dele e um arrepio gelado toma conta do meu corpo.
Não consigo compreender, mas algo na essência deste
homem deixa-me amedrontada.
Afastando os pensamentos incoerentes da minha cabeça,
corro até o banheiro para escovar os dentes e usar o vaso sanitário.
Começo a me vestir logo depois e Daniel faz o mesmo. Um silêncio
mórbido toma conta do recinto enquanto nos trocamos na frente um
do outro.
Sinto minhas bochechas esquentarem ao ser o alvo de seu
olhar predatório enquanto tiro a camisola e coloco uma calcinha de
renda branca. Fico completamente à mercê de sua visão,
principalmente agora com a luz do sol entranhando-se no quarto.
Apesar disso, ignoro sua presença, coloco um sutiã da
mesma cor da calcinha, visto calças de alfaiataria, e uma camisa
preta de mangas compridas e botões na frente.
— Vamos! — ele diz assim que fecha o zíper da calça e veste
uma camisa social azul escura.
Tento não o encarar quando o homem coloca o blazer por
cima e um óculos escuro no rosto. O desgraçado é bonito, quente,
me faz tremer dos pés à cabeça sempre que coloca os olhos famintos
em mim.
Termino de arrumar a mala e a deposito sobre a cama. Daniel
pega a arma que sempre carrega consigo e a coloca no cós, atrás da
calça.
Após pegar as malas e deixá-las na porta para que seus
capangas se encarreguem do serviço, meu marido segura minha mão
e me guia em direção ao elevador.
CAPÍTULO 28

DENER

Ainda com o sangue fervendo, entro no elevador que dá


acesso ao hall de entrada do hotel, com Lexie ao meu lado e três dos
meus melhores seguranças fazendo a guarda: Ryder, Kraig e Willian.
Este último é escalado sempre que Ettore está em algum serviço. É
jovem, mas ainda assim, fiel às minhas ordens. O restante dos
homens já está do lado de fora à nossa espera.
Trago a menina para mim, coloco-a de costas com a bunda
gostosa colada ao meu corpo, e levo a mão à sua cintura, marcando
meu domínio. Lexie faz questão de empinar o traseiro e se esfregar
em mim sutilmente, me fazendo ranger os dentes.
Em alguns instantes, chegamos ao térreo do edifício e
finalmente posso respirar. Embora meu o pau esteja duro e
incômodo dentro da calça. Em silêncio, seguro a mão de Lexie
enquanto andamos pelo piso, com sentido à saída.
Os veículos já estão à postos. Dois SUVs estão estacionados
próximo à entrada do térreo, e logo à frente um motorista nos
aguarda com a porta traseira de uma Lamborghini prata, aberta. Os
homens que estavam do lado de fora formam um paredão às minhas
costas, armados até os dentes com rifles e munição suficiente para
explodir um batalhão.
Solto a mão de Lexie e deslizo meus dedos para sua cintura.
Guio minha esposa na direção do Lamborghini a passos rápidos.
Passamos pelo primeiro SUV e eu aproveito para intensificar o
aperto da minha mão em sua pele. Lexie estremece ao meu toque
possessivo, mas continua andando com o nariz empinado, fingindo
que minha aproximação não a deixa com as pernas moles. Acaricio
suas costelas no processo e desço a mão até seu quadril,
provocando-a. É quando ouço o derrapar de pneus em alta
velocidade, vindo na nossa direção.
Meu instinto diz para agir rápido. Jamais espero para saber o
que vai acontecer em qualquer circunstância incomum. Meu lema
sempre foi matar antes de ser morto, proteger-me antes de saber se
de fato há perigo.
E é o que faço. Movido pelo impulso e o ímpeto de proteger
minha esposa, passo a mão em volta do seu corpo e a trago para meu
peito. Abraço Lexie com força, fazendo meu corpo de muralha e me
impulsiono para o chão, jogando-nos atrás do segundo SUV.
— Porra! — xingo pela irritação e a dor que irradia em
minhas costelas, causada pelo impacto. Lexie grita pelo susto, mas
seus gritos são ocultados pelo estardalhaço de vidros se quebrando e
o barulho ininterrupto de tiros. Não é necessário pensar muito para
saber do que se trata esse ataque de merda. Arrasto a garota comigo
para abrigá-la atrás da roda traseira.
Uma nuvem de fumaça e o cheiro de borracha queimada
sobem no ar, tornando a tarefa de respirar pavorosa. Ouço gritos e
passos agitados. Rifles começam a ser disparados à minha volta
quando meus homens revidam.
Levo a mão até a pistola no cós da minha calça, e me
excomungo por não portar uma Uzi no momento. Irado, destravo a
arma e fico em posição de ataque, meus sentidos atentos à respiração
acelerada de Lexie, sentindo os tremores de seu corpo. Inspeciono a
garota de cima a baixo rapidamente e volto a respirar ao constatar
que ela está bem.
Com olhos e ouvidos em alerta, ergo a cabeça para olhar o
cenário à minha volta e vejo um dos meus homens caído no chão.
Outros dois usam o primeiro SUV como abrigo e o restante está
abrigado ao meu lado, revidando. Seria quase um suicídio entrar nos
SUV agora para tentar uma fuga. Estamos cercados por homens
armados com artilharia pesada. Os imbecis fariam uma peneira na
lataria.
— Não se mexa! — ordeno para ela, e me movimento para
verificar a área. — Me dê cobertura, Kraig.
— Sim, chefe — o homem responde em afirmativa e Lexie
segura meu braço.
— Daniel… — Lexie está arfante quando sussurra meu
nome, mas a interrompo, colocando um dedo em seus lábios.
— Me obedeça, Lexie. Fique quietinha aqui, não faça
movimentos bruscos.
A garota assente, aturdida, e eu me arrasto pelo chão,
tomando cuidado para não me cortar com os cacos de vidro, até me
aproximar da parte dianteira do veículo. Ergo o corpo, atendo ao
barulho de tiros sendo trocados pelos meus homens e a corja
inimiga.
Vejo vultos rápidos em vários pontos do outro lado da rua,
onde há um café e algumas lojas. Alguns filhos da puta também
usam os carros para se protegerem dos tiros.
Meus olhos captam no mínimo oito homens, mas é certo que
o número real é bem maior que isso. No entanto, os merdinhas não
fazem ideia do inferno que estão se metendo.
— Caralho, filhos da puta! — xingo, impaciente, mas me
contenho por causa de Lexie ao meu lado. Preciso agir com cautela
para que a garota não saia ferida. Apesar da ganguezinha não passar
de um bando de imbecis em busca de uma vingança ridícula, estão
bem armados.
— Preparem os rifles e atirem em qualquer coisa que se
movimentar! — ordeno aos meus homens.
Volto a me abaixar quando um tiro passa de raspão na lataria,
alguns centímetros de distância da minha cabeça. Encaro Lexie,
sentada no chão com o corpo encolhido e meu sangue explode de
ira. O receio de algo acontecer a ela traz o pior de mim à tona.
Minha garganta se fecha, minha testa sua de raiva, meus músculos
queimam.
Porra!
Preciso tirá-la daqui o quanto antes.
Volto a me arrastar até ela, e me deito no chão para ter um
melhor campo de visão por baixo do SUV. Noto o motorista da
Lamborghini caído no chão, aparentemente sem vida, mas não
identifico nenhum inimigo marcando aquela direção.

Preciso fazer Lexie chegar até o carro blindado em segurança. Só


assim poderei agir sem ter que me preocupar com sua vida. Volto rápido
para o lado dela e a puxo para os meus braços. Sem hesitar, faço a garota
se sentar em meu colo, seguro seu rosto com as duas mãos e digo:
— Você precisa chegar até o Lamborghini. Para isso, vou
acionar um dos meus homens para dirigir o carro. Eu e os demais
seguranças daremos cobertura até que você esteja segura dentro do
veículo. Quando eu falar para correr, você corre sem olhar para trás,
está me ouvindo?
A garota se agarra a mim com força. Está agitada por
estarmos na mira de uma gangue, mas há algo mais em seu olhar.
Um medo obscuro, um receio doloroso.
— O quê?! Não. Você não vem comigo? — Essa
possibilidade a deixa aterrorizada.
— Não posso, Lexie. Esses caras estão aqui por vingança.
Querem a mim. Agirei melhor assim que souber que você está em
segurança — digo, firme.
Além disso, não confio em mais ninguém para te dar
cobertura. A última frase digo apenas para mim mesmo, o coração
batendo forte no peito. Algo que não consigo compreender me
sufoca além do limite.
— Eles podem matar você… Daniel por favor…
— Me obedeça, porra!
A garota balança a cabeça em concordância quando percebe
que estou convicto em minha decisão. Os olhos estão arregalados de
pânico, a respiração errática. Porém ela tenta manter o controle.
— Se prepare para ir. Eu estarei logo atrás de você —
determino.
Ajudo Lexie a se erguer um pouco para ficar em posição de
fuga.
— Me dê uma arma — ela pede, decidida, deixando-me
surpreso. Não esperava por isso. — Por favor Daniel, eu não estarei
tranquila sem algo para me proteger por conta própria.
— Sabe atirar, garota? — questiono e ergo a sobrancelha. —
Isso não é brincadeira de criança, Lexie.
— Não. Mas você pode me mostrar! — Há determinação em
sua voz.
Assinto para ela. Não há tempo para revidar e Lexie pode ter
razão. Caso algum inferno dê errado, é melhor que ela tenha meios
para se proteger.
— Ryder, me passe seu rifle e se prepare para correr até o
Lamborghini com minha esposa. Leve-a para o aeroporto. Se eu não
chegar em dez minutos, embarque!
O homem faz o que digo sem pestanejar, me entrega o rifle e
retira um revólver do coldre.
Entrego minha pistola para Lexie, e mostro a ela como travar
e destravar a arma. Explico o melhor que posso diante das
circunstâncias.
— Ao meu sinal, vocês correm — aviso e me posiciono na
lateral do capô do SUV, próximo aos outros homens.
Analiso todas as possibilidades enquanto tento observar cada
passo dos babacas do outro lado da rua. Um bando de loucos,
colocando fogo no mundo em plena luz do dia. Pelos meus cálculos,
a polícia já deve ter sido acionada e está a caminho, é só uma
questão de tempo.
O mais certo agora, no entanto, é fazer Lexie chegar até o
carro blindado. Depois disso, darei um jeito de entrar em um dos
SUVs sem ser alvejado por balas e irei atrás dela.
— Não tenham pena de atirar quando eu der o aval.
Arrebentem tudo nesse caralho — determino, tomado pela raiva,
mas calculo todos os riscos.
O barulho de tiros diminui e a fumaça se dissipa no ar. Vejo
dois homens atrás de um dos carros, mais quatro se camuflam dentro
de uma loja e outros três estão usando a parede lateral do café.
Aceno para meus homens encerrarem a retaliação. Fomos pegos de
surpresa, os imbecis provavelmente pensarão que usamos toda a
munição disponível. Mas, nunca estiveram tão errados em suas
vidas. Usarei a vulnerabilidade a meu favor. Eles podem estar em
um maior número, mas não sou o chefe de uma máfia por nada, e
não cheguei ao poder de graça. O caminho foi árduo, doloroso,
traiçoeiro.
Os tiros do outro lado também cessam lentamente. Os
minutos se arrastam, quase que em uma câmera lenta, a tensão
aumenta a cada segundo, minha ânsia por um massacre apenas
cresce.
— Kraven, seu maldito. Matou meu irmão por causa de uma
puta e vai pagar por isso!
Ouço o grito alterado de um homem, vindo da direção da
traseira de um dos carros, e foco toda minha atenção no filho da
puta. Ele não precisa falar uma segunda vez para eu saiba que o
babaca é o líder e para que eu saiba também a sua posição e qual
será meu principal alvo.
Ele pode tentar se esconder atrás de seus capangas de merda.
Mas nada no mundo me fará parar. Seus homens se movimentam,
aproximando-se, quase fechando o círculo.
Estão confiantes.
E é aí que erram.
O barulho de vidro se partindo no chão deixa-me ainda mais
atento. Os homens estão cada vez mais próximos, analisando o
terreno, tendo certeza de que é seguro avançar.
Indico para meus seguranças permanecerem parados.
E espero…
Cinco deles se escondem atrás do carro mais próximo da rua.
Viro minha atenção para Lexie, pisco para minha garota e
dou o aval para meus soldados abrirem fogo.
— Agoraaaaaa! — Apenas vejo de relance quando Ryder
puxa minha mulher na direção do Lamborghini e os outros homens
atiram sem descanso na direção do inimigo. Meu foco está um
pouco mais distante, mas ainda assim, miro no carro em que o líder
do grupo está se abrigando e abro fogo com tudo o que tenho.
Fumaça levanta no ar. Gritos são ouvidos.
Não há tempo para retaliação da parte deles. Eu não tenho
pena, não dou descanso. Apenas faço o que devo fazer para que
Lexie fique viva.
LEXIE

Corro o mais rápido que posso quase tropeçando enquanto


Ryder me puxa em direção ao Lamborghini. Minhas mãos e pernas
tremem a ponto de me fazer cambalear, mas uso toda a minha força
para seguir em frente.
O barulho de tiros é ensurdecedor, deixa-me sufocada,
amedrontada, sem ar.
Seguro a arma que Daniel havia me dado com toda a força
que há em mim. Puxo ar para meus pulmões e corro o mais rápido
que consigo sem olhar para trás, exatamente como ele instruiu.
É uma cena no mínimo aterradora quando me aproximo do
carro e vejo o corpo do motorista no chão. Observo o sangue de
relance, mas não há tempo para chorar ou me desesperar agora. A
porta de trás do carro está aberta, exatamente como o homem havia
deixado antes de ser morto por um tiro. Salto suas pernas em um
movimento rápido me jogo no banco traseiro do carro. Antes que eu
consiga me sentar, Ryder arranca a toda velocidade.
Apoio-me no banco, tranco a porta e passo o cinto de
segurança em volta do meu corpo. Meu coração está quase saindo
pela boca quando olho na direção do tiroteio e quase não consigo ver
mais nada à medida que o carro toma distância. Há muita fumaça e
gritos. Os tiros não cessam.
Daniel…
Uma agonia sufocante me toma. Os tremores em meu corpo
não param, o medo de que algo aconteça a ele deixa-me paralisada.
Não posso perdê-lo. Não posso. Pensar nisso é quase como tomar
um soco no estômago. Não consigo entender o que há de errado
comigo. Em que momento ele penetrou em mim assim com tanta
força?
Suor escorre pelo meu rosto e eu passo a mão na testa para
limpar a umidade. Meus olhos turvam de lágrimas não derramadas,
respirar torna-se quase impossível. Volto a segurar a arma com uma
mão, trêmula, cravo as unhas no banco do carro e tranco os olhos.
Inspiro e respiro.
Inspiro e respiro.
Várias vezes.
Não sei ao certo quanto tempo se passou desde que entrei no
Lamborghini com Ryder. O tempo parece ter parado, nada vejo ou
ouço a minha volta. Sobressalto-me apenas ao ouvir o click da porta
do carro sendo aberta. Abro os olhos lentamente, e vejo Ryder ali na
minha frente, me encarando com aquele olhar frio, inquietador, uma
mão estendida em minha direção.
Seguro sua mão quase que de forma automática. Meu corpo
ainda gelado de angústia e medo do que está por vir.
Coloco-me de pé e tento passar por ele para seguir em
direção ao avião. Eu me sentirei mais segura próxima do piloto e do
copiloto, mas o homem intensifica o aperto em meus dedos e força-
me a diminuir o passo.
— O que quer? — questiono sem rodeios, mas não o encaro.
Sua aproximação deixa-me temerosa.
Ryder caminha alguns passos à minha volta e fica de frente
para mim. Levanto o rosto para encará-lo e me deparo com seu olhar
sombrio, assustador. O olhar de quem mataria alguém lentamente
com um sorriso no rosto.
— Tome cuidado, Lexie — diz com a expressão neutra. Não
há um pingo de humanidade em seu semblante. — Não se afaste
nunca dá proteção do seu marido ou coisas ruins podem acontecer
com uma garota como você. — Não consigo identificar se é um
aviso ou uma ameaça.
— O que quer dizer? — Puxo minha mão do seu aperto e me
afasto.
— Isso não importa. Só faça o que digo.
Dito isso, Ryder desvia o olhar e caminha na direção do
avião, deixando-me ali confusa e perdida, os nervos à flor da pele, o
coração quase estourando a caixa torácica. Buscando forças para me
manter firme, me arrasto para o Bombardier Challenger, e subo a
pequena escadaria.
Sento-me em um dos assentos traseiros da aeronave e espero
por Daniel, a arma sempre em punho. O piloto anuncia que a
aeronave irá decolar em breve e me desespero. Levanto-me para
pedir que o esperem, fodam-se esses dez minutos. Estou disposta a
ameaçar se for preciso.
Apresso o passo em direção a cabine, sentindo o olhar mortal
de Ryder em minha direção, mas também o ignoro.
— Volte para seu lugar, garota. Daniel deu ordens para esse
avião decolar se ele não chegasse em dez minutos. O tempo se
esgotou.
Ouço os passos dele na minha cola e quase posso sentir o toque do
homem em meu braço para me impedir de prosseguir. Raiva explode em
meu peito. Uma mistura de dor, desespero e impotência.
Por toda a minha vida vivi segundo as ordens de um homem. Sem
voz, sem vontades. Fadada à desgraça. Mas isso acaba agora. Tomada
pela angústia e a raiva, viro-me para Ryder e miro a pistola em sua
direção.
— Este avião não vai decolar enquanto Daniel não chegar
aqui! Estou pouco me fodendo para as ordens dele! — grito fora de
mim, o corpo trêmulo.
O maxilar do homem se contrai enquanto me encara. Há um
brilho estranho em seu olhar, como o de uma fera que fora
provocada.
Ryder não diz mais nada. Não é preciso. Sua atenção se volta
para o lado de fora da aeronave. Sigo seu olhar para a janela e
respiro aliviada quando um SUV estacionar próximo ao Bombardier.
Daniel e mais alguns homens saem do veículo e correm em
nossa direção.
A porta se abre e meu marido entra no compartimento. Seu
olhar busca o meu e analisa cada centímetro do meu corpo. Detecto
surpresa em seu semblante ao perceber que estou com a arma
apontada na direção de Ryder.
Não penso muito quando me movo e corro na direção dele.
Abraço meu marido com força, passando as mãos em seu tronco,
quase sem ar, o coração doendo de aflição.
E ele…
Ele me abraça de volta. Ofegante. Os braços fortes e
protetores fazendo uma muralha de músculos em volta do meu
corpo.
CAPÍTULO 29

LEXIE

Observo o céu enevoado pela janela aberta do meu quarto na


mansão. Enquanto admiro a escuridão que envolve tudo, busco entender
o que está acontecendo entre mim e Daniel. Quando estávamos no avião,
o homem se sentou comigo no último assento traseiro e me colocou em
seu colo. Seus braços me envolveram de forma protetora durante todo o
trajeto, como se a distância dos nossos corpos lhe causasse dor.
O interior da aeronave tomou um silêncio mórbido após
esclarecermos o porquê eu mantinha uma arma apontada na direção
de Ryder. Meu marido passou toda a viagem de volta pensativo,
calado. Se fechou em uma bolha impenetrável.
Assim que chegamos na mansão, ele me deixou em meu
quarto e saiu sem dizer-me para onde. Estava arredio, tenso. Agora,
sentada de frente para a escrivaninha, analiso o desenho que fiz de
Adrienne, minha mãe e Abby. Um raio corta a noite escura e eu
mordisco o lábio inferior, sentindo-me esgotada.
Largo a folha de papel sobre a mesa e decido tomar um
banho para descansar.
Não tenho certeza se Daniel virá hoje à noite para meu
quarto, ele estava indecifrável quando saiu. Parecia outro homem,
misterioso e frio, não o mesmo que havia me prendido contra a
parede e jurado uma noite suada de sexo bruto e sujo.
Pensar em suas mãos rudes tocando meu corpo já me deixa
acesa. Minha vagina ainda arde por causa do sexo que fizemos, está
um pouco inchada e sensível, mas sinto-me melada sempre que me
recordo de tudo. Não quero sentir toda essa avalanche que luta para
me dominar, mas é quase impossível resistir ao desejo.
Corro para o banheiro e tomo um banho demorado. Hidrato a
pele com um creme delicioso com essência de mel e me envolvo em
um roupão.
Volto a me deitar sobre a cama, reflexiva, o corpo ardendo de
excitação, as lembranças da noite anterior me engolindo da cabeça
aos pés, a pele arrepiada. Uma chuva torrencial começa a cair. Raios
cortam o céu com desenhos assimétricos, trovoadas fortes mostram
sua força na noite afora.
Fecho e abro os olhos algumas vezes, luto para me manter
acordada, mas o cansaço me vence.
Acabo adormecendo.
Não sei ao certo por quanto tempo fiquei apagada. O barulho
do vento nas persianas me traz de volta à realidade, e pisco os olhos,
sem força para abri-los. Ainda chove. Faz um pouco de frio. Sinto
minha pele eriçada.
Forço-me a me mover para ir até a janela e fechá-la. Alcanço
um lençol e o puxo para mim, sonolenta. Abro os olhos totalmente e
foco a atenção na direção da janela.
E então o vejo.
Daniel está ali, próximo à escrivaninha, como uma sombra à
espreita. Seu corpo está nu da cintura para cima e uma toalha
envolve o quadril. Seus cabelos estão úmidos, como se o homem
tivesse acabado de tomar um banho ou mesmo tivesse estado na
chuva.
Seu olhar está focado em algo em suas mãos: é o desenho
que fiz.
— Oi — sussurro.
Daniel não desvia o olhar do desenho, parece fascinado, a
expressão inquieta.
Levanto-me devagar, com os pés descalços no chão frio,
deixo o lençol de lado, ajeito o roupão em meu corpo e caminho até
ele.
Sem pedir permissão, toco suas costas com as palmas das
minhas mãos, deslizando os dedos até seus ombros. Sinto seu corpo
estremecer, mas meu marido não se move.
Sua pele está fria por causa do vento que entra pela janela, os
músculos rígidos.
— Você que fez? — ele pergunta baixinho e coloca o papel
sobre a mesinha.
— Sim… — respondo e pego o desenho. — Essas são Abby,
Adrienne e minha mãe — explico.
Daniel gira o corpo para ficar de frente para mim e me puxa
para si, colocando as mãos em meus ombros.
— Impressionante — diz, sincero.
— Obrigada — agradeço e busco seu olhar, as írises me
encaram de volta, tão escuras quanto a noite que nos envolve.
Eu o sinto agitado. Por fora, Daniel é pura calmaria. Mas,
parece que uma batalha sangrenta está travada no mais profundo de
sua alma. Sinto que ele enfrenta uma luta interna, mas não
compreendo o porquê disso. Nada faz sentido para mim.
— O que aconteceu com sua mãe? — questiona, tirando-me
dos meus devaneios.
Engulo em seco enquanto reflito sobre sua pergunta. Um
vento gelado me faz esfregar as mãos uma na outra. Poucas vezes
falei sobre mamãe com alguém. Doía e ainda dói pensar nela. É uma
ferida aberta que não cicatriza, apenas ameniza de vez em quando.
Mas aqui, nos braços dele, sinto que é o momento certo
para me abrir. Não há um motivo específico do porquê passei a
confiar em Daniel. Apenas confio.
— Ela morreu quando eu ainda era criança. — Engulo a
saliva que se formou em minha boca e continuo: — Não sei ao certo
o que aconteceu. Lembro que todas as noites ela me colocava para
dormir, mas durante o dia ela ficava com meu pai. Às vezes íamos à
igreja… E então um belo dia, minha mãe parou de ir ao meu quarto.
Desde então eu nunca mais a vi.
Os segundos seguintes são carregados de silêncio e
memórias, algumas tristes, outras alegres.
— Sinto muito, querida… — A voz grossa quebra a
quietude. Seu olhar continua sério, gelado. Mas há sinceridade em
seu tom.
Forço um riso amarelo para tentar barrar a tensão que crepita
o ar.
— Faz muito tempo, Daniel. Eu nem me lembro dela direito.
— Falar isso para alguém dói na alma. Mas verdade seja dita. Eu
mal me recordo do rosto da minha mãe, não sei dizer ao certo como
era seu sorriso ou a cor dos seus olhos.
— E essa Adrienne e a Abby. O que as duas significavam
para você?
Pisco, um pouco surpresa pelo seu interesse repentino sobre
as pessoas do meu passado.
— Por que quer saber sobre isso agora? — A dúvida permeia
em minha cabeça e eu me afasto do seu toque. Nada faz muito
sentido na conversa que estamos tendo agora, para ser sincera, nós
dois não fazemos sentido, mas ainda assim estamos aqui, sendo
gentis um com o outro.
Fico de costas para ele e abraço o meu corpo, as lembranças
do passado voltando com força. A voz do meu pai chega em minha
cabeça e um cenário sombrio se forma logo à minha frente. Ele diz
que mamãe havia morrido, enquanto eu, uma garotinha ingênua,
choro e esperneio sentindo a falta dela. O cenário muda, dessa vez
estou um pouco mais crescida, mas a voz de meu pai continua a
mesma: Dura, vazia, sem emoção alguma. Ele me informa sobre a
morte de Adrienne. Recordo-me de tudo, do funeral, do enterro.
Aquela aura de tristeza. E logo depois, as lembranças me levam até
Abby sendo morta na minha frente.
— Não precisa falar sobre isso se não quiser.
Suspiro…
Talvez seja bom falar.
— Adrienne era minha madrasta — declaro.
— Vocês se davam bem? — Volto a me virar para ele e o
encontro com o rosto voltado para a janela.
— Sim. Nos dávamos bem. Adrienne era linda, alegre…
Ela… — Fecho os olhos quando mais lembranças vem à tona. —
Ela me protegia das surras do meu pai como podia. Às vezes ele
também a agredia se ela tentasse me defender. — Os punhos dele se
fecham e os músculos dos braços saltam, rígidos e ferozes. —
Aprendi a gostar de lírios com ela — concluo e aponto na direção do
desenho, onde as três se fundem com os lírios que rascunhei em
volta.
Daniel olha na minha direção. Ele sorri. Não é um riso feliz,
com vida. É um riso opaco, abatido.
— E a Abby era sua babá… — Percebo sua voz falhar.
— Sim — respondo.
Daniel se aproxima de mim e segura minha mão com
cuidado. Ele está pensativo como nunca esteve antes, pondera por
alguns instantes como se buscasse a melhor forma de dizer algo. Por
fim, vai direto ao ponto:
— Me diga, Lexie. Por que Hector a machucou daquela
forma antes do nosso casamento? — Sua voz não vacila. — Sei que
não me disse toda a verdade. Mas, eu preciso que seja sincera
comigo.
Desvio o olhar do seu rosto e puxo o ar. Lembrar-me daquele
dia dói tanto. É tão humilhante. Não sei se Daniel entenderia…
— Daniel… eu… não sei que importância isso teria.
— Diga para mim, pequenina.
Meu marido se aproxima mais, tão lentamente que os pelos
do meu corpo se arrepiam ao sentir sua proximidade. Sinto-me
vulnerável, sem saída. Quero fugir para longe, mas não sei ao certo
para onde ir.
Os dedos longos buscam uma mecha de cabelo em meu
rosto, seu olhar me encara terno, como se dissesse em silêncio para
confiar nele.
Uma chama ardente começa a queimar em meu peito quando
nossos olhares se encontram, suor frio brota em minha espinha. No
entanto, eu sei que preciso conquistar a confiança de Daniel Kraven,
e para isso, terei que me abrir para ele. Depois que eu for embora,
tudo isso será esquecido de qualquer forma.
— Eu estava tentando adiar o casamento… — começo,
incerta, sentindo-me mole, quase hipnotizada por sua proximidade.
— Foi uma atitude impensada, e no momento da raiva eu disse ao
meu pai que havia estado com outro homem, que não era mais
virgem. Eu sabia que ele havia me prometido a você como uma
mulher obediente, submissa e virgem. Foi a melhor maneira que
encontrei ter mais tempo.
Sua expressão permanece neutra, o olhar atento e sombrio.
— Me odeia tanto assim? A ponto de desafiar seu pai para
não se casar comigo? — Seu questionamento deixa-me
momentaneamente sem fala.
Eu odeio? Questiono a mim mesma.
Eu não sei. É a única resposta que vem à minha cabeça.
— Talvez… — respondo quase em um sussurro.
Daniel se afasta, voltando a atenção para a janela. A chuva
continua caindo de forma implacável e gotas de água entram no
quarto, molhando o piso.
— O que ele fez com você, Lexie?
Demoro um pouco para responder, mas quando o faço,
decido ser direta e clara. Sem rodeios, sem pausas:
— Ele rasgou minha roupa íntima e testou minha virgindade
com o dedo, na frente dos seus homens.
Vejo os punhos do meu marido se fecharem com tanta força
que as veias de seus braços saltam. Ele puxa o ar para seus pulmões,
mas não se movimenta. Continua parado, olhando a escuridão lá
fora, focado na chuva que cai sem pena. Daniel é tão tempestuoso
quanto a própria tempestade.
— Sabe que irei matá-lo, não é? — questiona em um
murmúrio.
Sinto meu corpo tremer de cima para baixo quando ouço
suas palavras, a certeza de que o que acabei de dizer é uma sentença
de morte para meu próprio pai. Para o homem que me destruiu.
Engulo com dificuldade, o corpo gelado de medo pelo que vai
acontecer, o coração quase saindo pela boca.
Daniel cuida do que é dele, e eu sou dele agora. É o seu
lema.
O homem volta a me encarar.
Sua expressão está sombria, meu corpo estremece só em ver
a promessa mortal em sua face.
— Sim. Eu sei… — Minha voz falha, mas não desvio o olhar
do seu rosto.
Ele se aproxima de mim lentamente. Seus dedos tocam meu
queixo e o homem me analisa por alguns instantes com o olhar
gelado.
Sua mão desliza pelo meu pescoço e desce devagar pelo meu
corpo, até alcançar o nó que prende o roupão. Seu toque em minha pele é
como fogo: esquenta, arde, desperta algo que sempre esteve adormecido
dentro do meu peito. Faz meu corpo queimar em ânsia de sentir seu pênis
dentro de mim, a boca voraz na minha.
— Quer ir pra cama? — Sua voz é dura, a expressão séria.
Mas em seu olhar vejo faíscas.
— Eu quero! — Não penso em mais nada assim que
concordo em ir pra cama com ele, disposta a tudo.
Daniel desfaz o nó do meu roupão e retira o tecido do meu
corpo, deixando-me completamente nua. Faz o mesmo com a toalha
que o cobre, jogando a peça no chão.
Seu pênis está tão duro quanto o aço quando ele se aproxima
e me leva para si protetoramente. Prende meu corpo contra o seu de
forma faminta, possessiva, os braços fortes me envolvem em um
abraço quente, gostoso. Sinto a rigidez pulsante em minha barriga e
gemo baixinho, entorpecida pela promessa de prazer que nos espera.
Minhas mãos serpenteiam entre nossos corpos, e eu agarro seu pau
entre meus dedos, querendo tudo dele.
CAPÍTULO 30

LEXIE

As mãos dele são certeiras em minha bunda. Amassa e acaricia


minha carne enquanto eu o masturbo devagar. A boca desliza pela minha
orelha. Beija, mordisca, desce até o pescoço. A barba cheia me causa
sensações alucinantes.
O som de nossas respirações mistura-se com o barulho da chuva.
O frio e o vento que entram pela janela deixam-me arrepiada, acesa. Sinto
cada centímetro do corpo de Daniel em minha pele enquanto ele me
esmaga dentro dos seus braços. Ele é grande, forte e intimidante.
Virilidade exala de cada poro.
Gemo outra vez e aperto seu pênis, tomada pelo prazer de suas
carícias em meu pescoço.
— Caralho… — ele xinga rouco, sem fôlego e desliza os dedos
em meus quadris. — Estou doido para ver essa boquinha engolindo meu
pau. Há muitas coisas que você precisa aprender, pequenina.
Deslizo meus dedos em seu eixo de cima para baixo bem devagar,
maravilhada com a carícia tão crua que dou a ele. Toco a glande com as
pontas dos dedos e aperto um pouco. É tão macia, aveludada. Sinto
vontade de colocar na boca e morder.
— Então me ensine! — digo a ele e procuro seu rosto. Sua
expressão está acirrada quando me fita, fogo negro flameja em suas írises.
— Cuidado com o que pede, garota — adverte.
Seus dedos brincam com a minha pele, beliscando levemente e
deslizam até o interior das minhas coxas. Uma mão segura os cabelos da
minha nuca e Daniel mantém meu rosto focado no dele.
A outra mão invade o centro das minhas pernas e sinto um
dedilhar no meu clitóris ainda sensível. Eu me retraio, tomada pelo prazer
brutal, mas Daniel permanece com o aperto firme em meu cabelo.
— Ai… — ofego ao sentir os nervos sensíveis sendo torturados
sem nenhuma pena.
— Quieta! — ele exige e intensifica mais a carícia. Aperta, prende
meu clitóris entre seus dedos, belisca.
Uma mistura de prazer, quase beirando a dor me deixa tonta.
— Daniel… — digo o nome dele ao sentir minhas pernas
tremerem. Firmo-me em seus ombros e cravo as unhas em sua pele.
O homem diminui a carícia e desliza um dedo em meu canal. Ele
me invade em uma única estocada, me arrancando outro murmúrio
ofegante.
— Oh merda. Está tão quente e melada.
O aperto em meu cabelo se intensifica e Daniel me leva para ele.
— Eu disse que gosto de sexo sujo, Lexie. Hoje você vai chupar
meu pau e depois irei comer esse rabo.
— Daniel… Não… você é grande… — Tento negociar, mas
minha voz fica entalada na garganta quando ele volta a esfregar meu
clitóris, alternando entre as penetrações com o dedo. A outra mão larga os
meus cabelos e os dedos deslizam até a minha bunda.
— Pensei que tínhamos um acordo! — Seus dedos começam a
acariciar meu traseiro, cavando entre as dobras da minha bunda. — Está
com medo, Lexie?
Sinto a provocação no tom de sua voz e meu orgulho vem à tona.
Raiva e prazer se misturam. Meus nervos afloram.
— Não. Não tenho medo. Vamos fazer tudo! — Passo a mão em
meus cabelos e encaro Daniel de baixo para cima. O nariz empinado toda
desdenhosa, o olhar firme.
Deus, por que ele tinha que ser tão alto?
Engulo em seco, sabendo que não há como fugir das garras do
lobo. Ele quer tudo de mim, até mesmo o meu ar. E eu não tenho
alternativa a não ser dar tudo o que ele quer. Seu dedo acaricia meu ânus
levemente e fecho os olhos prendendo o fôlego. O mais provável é que eu
esteja vermelha dos pés até o último fio de cabelo, mas não me darei por
vencida, muito menos demonstrarei medo na frente de Daniel Kraven.
— Me espere de quatro na cama. Irei fechar a janela.
Faço como ele ordenou, dou um passo para trás e caminho
devagar, rebolando até a cama para provocar meu marido. Sinto a atenção
dele em minhas costas, mas não me viro para fitá-lo, finjo que o fato de
estar prestes a perder a virgindade da bunda não me deixa à beira de um
colapso nervoso.
Minhas pernas assemelham-se a gelatina à medida que caminho, o
coração quase saindo pela boca, a vagina palpitando, toda melada. Encaro
os lençóis tão brancos como a neve e subo na cama. Engatinho até o
centro do colchão e fico de quatro como ele havia instruído.
Ouço os passos de Daniel segundos depois, se aproximando. O
colchão baixa com seu peso e ele se movimenta atrás de mim. A
respiração morna em minha bunda me faz suspirar. Arrepios deliciosos
eriçam cada pelo do meu corpo em ânsia do que está por vir.
Suas mãos seguram as bochechas da minha bunda e as abre,
expondo todos os meus orifícios para ele.
Estremeço da cabeça aos pés, a pele aquece.
Sua língua dura desliza em meu clitóris, açoitando o montículo de
um lado para o outro, me fazendo gemer baixinho e agarrar o travesseiro.
Grunho rouca de prazer, sendo abocanhada e devorada por este homem
que tanto me tira dos trilhos. Os lábios ávidos beijam meu sexo como se
fosse minha boca e meu marido chupa meu clitóris por trás, colocando e
sugando o nervo sensível todo para dentro de sua boca.
— Daniel… — sussurro o nome dele com a voz falha. Minhas
pernas tremem feito gelatina, mal consigo me firmar de quatro.
Mordo o travesseiro quando sua língua desliza em minha vulva e
penetra a entrada lambuzada. Os gemidos roucos dele e o barulho de suas
chupadas alucinam-me. Perco a vergonha na cara e começo a rebolar na
boca do meu marido. Dou-me toda para ele, meu corpo implora para
sentir a espessura de seu pênis me abrindo.
Sinto os espasmos em meu sexo e sei que estou prestes a gozar.
Fecho os olhos em ânsia e empino mais a bunda, choramingando, as
unhas cravadas nos lençóis.
— Ai meu Deus… aiiii
— Caralho, Lexie! — Daniel grunhe e finca os dedos na minha
bunda. O hálito quente me causando arrepios no sexo molhado de
excitação e saliva. — Deliciosa… porra…
Gemo frustrada quando ele se afasta e avança pelo colchão. Deita-
se com as costas no lençol, apoia a cabeça no travesseiro e me puxa para
ele. Monto em seu abdômen com as pernas abertas, uma em cada lado do
seu corpo. As grandes mãos seguram meu rosto, o olhar febril me analisa
por milésimos de segundos com uma paixão tão quente que fico em
transe, momentaneamente sem ar.
A boca gananciosa se aproxima da minha, mas ele não me beija.
Posso sentir suas mãos queimando minha pele, os pelos grossos da barba
quase tocando meu rosto, nossas línguas enlouquecidas para se tocarem.
Os olhos dele não saem da minha boca e Daniel passa a língua nos
lábios, quase me devorando com o olhar. Porém algo o impede de fazer o
que tanto quer. Algo o impede de se entregar ao desejo e me beijar com
loucura, como somente ele sabe fazer. Resfolego, ansiosa, mordo os
lábios sedenta, busco sua boca com a minha.
— Você é perigosa demais, Lexie.
Daniel segura meu rosto com uma mão e desliza o dedo no meu
lábio inferior, me impedindo de beijá-lo. Em um rompante, prende meus
cabelos e puxa para trás, forçando-me a me afastar, ofegante.
— Chupa meu pau, Lexie. Me toma todo!
Não sei o que há comigo. Embora esteja receosa por nunca ter
feito isso antes, a curiosidade fala mais alto e eu mordo os lábios,
encarando-o. Saio de cima de Daniel e fico de lado. Engatinho na direção
dos pés da cama e fico de joelhos ao lado dele.
Seguro seu pênis duro entre meus dedos trêmulos e engulo saliva.
O membro robusto está todo melado com o pré-semen, a cabeça está tão
vermelha como se fosse sangrar, as veias saltadas.
— Chupa, bebê. Coloca o pau todo nessa boca gostosa.
Sou levada pelo desejo que sinto, a boca saliva, ansiosa. Daniel
coloca a mão em cima da minha, sobre seu pau e com a outra guia minha
cabeça na direção do membro grosso.
Abro a boca levemente e sinto a glande penetrar entre meus
lábios. Ele grunhe roucamente.
É uma sensação estranha, diferente de tudo que já experimentei. A
cabeça é tão macia, aveludada. Sinto o gosto marcante dele, levemente
salgado, sabor de homem e pecado, misturando-se com a minha saliva.
Seu cheiro invade meus sentidos e faz os líquidos da minha excitação
escorrer entre as pernas. É perturbador, delirante.
— Abre mais a boca — ordena, arfante.
Faço como ele diz e tento tomá-lo mais um pouco. Meu maxilar
dói, é difícil respirar, mas tento me abrir mais. Daniel impulsiona o
quadril e o membro longo me invade devagar. Chupo-o, tomando o pênis
do meu marido cada vez mais, até senti-lo na garganta.
Seguro as bolas pesadas e massageio sem jeito. Meus olhos
lacrimejam, mas continuo chupando lentamente sem muito ritmo. O
barulho das minhas sucções permeia no ar.
Saliva escorre da minha boca, deixando seu pau todo babado.
Engasgo e me afasto para tomar fôlego, mas Daniel volta a meter o pênis
em minha boca, lambuzando meus lábios com nossos líquidos.
Ofegante e excitada, murmuro seu nome baixinho quando ele se
afasta e fica de pé no chão. As mãos ágeis seguram na minha cintura com
rapidez e ele deita meu corpo bruscamente na cama com as costas no
colchão.
Meu cabelo se espalha sobre os lençóis à medida que Daniel me
puxa e abre minhas pernas, erguendo-as. Meus tornozelos são colocados
em seus ombros e o homem direciona o pênis grosso até minha entrada.
A glande macia abre meus lábios vaginais, mas ele não penetra.
Simplesmente, passa a mão atrás do meu pescoço e ergue minha cabeça,
deixando nossos rostos próximos um do outro.
— Estava deliciosa com meu pau enfiado na garganta… — diz
com a voz áspera. Os braços e ombros rígidos, a expressão fechada como
se algo o incomodasse.
Seu pênis entra em minha boceta com uma única estocada,
alargando, forçando minha entrada a se abrir para acomodá-lo. Mordo os
lábios para não gritar e cravo as unhas nos braços de Daniel Kraven.
Arde, dói. Seu eixo me leva ao limite, apertado demais. Mas o prazer de
senti-lo tira todo meu fôlego. É devastador.
Seguro um gemido sôfrego, as costas doem por causa da posição
que me deixa completamente arreganhada para ele.
— Maldição! Deliciosa! — Daniel grunhe. Retira meus tornozelos
de seus ombros, coloca-os em volta de seus quadris e impulsiona o corpo
com firmeza, me apunhalando até o talo com seu pau.
— Daniel… cretino… aii
Choramingo dolorida e jogo a cabeça para trás com os olhos
fechados.
Sinto sua mão serpentear entre minhas pernas, ele acaricia meu
montículo gostosamente. Um gemido se forma em minha garganta, mas
não consigo emitir som algum. Daniel gira os quadris, massageia todas as
minhas terminações nervosas, dedilha, esfrega meu clitóris.
Não consigo mais me conter e um grito escapa da minha garganta.
Daniel me come sem pena, com estocadas firmes e vigorosas.
Abro os olhos e o fito. Sua testa está vincada enquanto observa o
movimento dos nossos corpos. Gemidos roucos escapam de sua garganta,
o barulho dos nossos sexos melados permeia o ambiente.
Ele monta em mim e procura o lóbulo da minha orelha. Faz
loucuras com a boca e a língua, me deixa tonta de prazer.
Espalmo as mãos em seu peito, gemendo rouca. Seu corpo está
febril colado ao meu, e eu anseio por um beijo. Porém ele continua
distante, não cede. Não se entrega!
Frustração me domina, mas meus pensamentos nublam quando
ele mete e retira o pau várias vezes em penetrações firmes. Grito,
cravando as unhas em seus ombros, dominada.
Sua respiração está ofegante quando ondas de prazer se formam
em meu ventre. Meus dedos formigam, minha vagina começa a pulsar em
volta do seu eixo. Grito seu nome quase sem ar e impulsiono os quadris
para cima, querendo mais. O orgasmo varre meu corpo como tempestade,
minhas pernas tremem, o clitóris lateja, e Daniel segura meu rosto
grunhindo, todo suado.
— Admita porra, você gosta de ser minha. — Sua voz é rude em
minha boca, o toque brusco.
Não consigo pensar coerentemente, apenas confirmo, trêmula,
mole:
— Eu gosto!
Meu marido retira o pau da minha boceta e eu desabo nos lençóis.
Sinto seus dedos acariciando meu clitóris. Ele abre os grandes e pequenos
lábios, e enfia um dedo na fenda melada.
— Inferno, Lexie. Que boceta deliciosa… Tão quente… — Sua
voz é sussurrada e arfante.
Em um rápido movimento, Daniel gira meu corpo na cama, me
colocando de bruços. Puxo o ar para os pulmões, tão cansada que mal
consigo me mover. Suas mãos retiram os cabelos do meu rosto e a
respiração quente em meu pescoço deixa-me toda arrepiada.
— Vou comer esse rabo. — Um tapa forte estala na minha bunda,
e eu gemo. — Me dê esse cuzinho gostoso, pequenina.
Meu corpo gela, mas inspiro e respiro várias vezes. Trato é trato e
chegou o momento de cumprir a minha parte do acordo.
— Devagar, Daniel… — Minha voz sai falha e eu levanto a
cabeça para fitá-lo. — Por favor…
— Shhh, quietinha. — Suas mãos deslizam em minha bunda e
acaricia o local quente onde ele estapeou. Daniel começa a massagear
meu ânus e penetra a pontinha do dedo. — Vou preparar você para me
receber.
A pressão de seu dedo me deixa tensa, e eu contraio o corpo.
— Relaxe, Lexie. Precisa confiar em mim — ele diz às minhas
costas. — Abra bem as pernas.
— Não tenho certeza se posso confiar em você — rebato.
Meu marido sorri e enfia o dedo mais fundo, me arrancando um
suspiro.
— Daniel… — Levo a mão para trás e seguro seu pulso para
afastá-lo. — Tira.
Daniel não se afasta mas interrompe a penetração.
— Calma… Não vou machucar você…
Inspiro fundo e largo seu pulso, ainda receosa.
— Como posso ter certeza? — questiono.
Ele retira o dedo do meu ânus bem devagar e o orifício se contrai.
Arde um pouquinho, mas é suportável.
— Quero que sinta prazer. — Minhas pernas são afastadas uma da
outra e Daniel se coloca entre elas. — Fico doido quando você goza
gostoso no meu pau ou na minha boca.
— Aiii… — gemo, arrepiada quando ele mordisca minha orelha,
o peito morno e suado colado às minhas costas.
— Seu cheiro me enlouquece, Lexie.
Seu pênis penetra minha vagina inchada outra vez e eu solto um
grito. Ele entra todo, me levando ao limite para acomodá-lo.
Esticada e dolorida, choramingo e cravo os dentes no lençol. O
dedo grosso penetra meu ânus e me contraio. Ele geme.
— Caralho… Estou me segurando para não encher essa boceta de
porra. — O dedo entra mais fundo e o pau também. Estou completamente
preenchida, atrás e na frente. A sensação é estranha, minha cavidade arde
pela invasão do dedo longo.
As penetrações são constantes, firmes. Fico alucinada.
Meu marido me leva ao céu e ao inferno em questão de segundos.
Ele suga meu pescoço, retira o pau da minha entrada e desce pelo meu
corpo. Morde minha bunda, enfia a língua na vulva e lambe meu ânus,
deixando-me ainda mais melada para recebê-lo.
Trêmula de prazer, seguro as bandas da minha bunda e abro as
bochechas carnudas, dando mais acesso a sua boca. Daniel me
enlouquece, me faz gritar e arder, pouco se importando se toda a mansão
está ouvindo o que fazemos no quarto.
— Abre mais querida, assim… — Sua voz enrouquecida ordena
para que eu segure as bochechas da bunda com mais força. — Seu marido
vai te dar uma surra de pau nesse cu gostoso.
Ofegante, ele lambuza o orifício virgem com os líquidos da minha
vagina, e enfia o dedo algumas vezes, dilatando o canal.
Sinto a pressão do seu pau em busca de uma brecha para entrar,
mas sua grossura o impede.
— Aii ai — reclamo e retiro as mãos do meu traseiro. Afasto-o e
me impulsiono para frente. Finco os dedos no travesseiro. — Devagar
Daniel. Isso dói…
Sinto-me tensa, temerosa. Porém meu sexo lateja, querendo me
dar toda pra ele, cada buraco do meu corpo. Sou uma depravada que se
deita com o diabo e gosta, mesmo odiando-o. Não há mais salvação para
mim, e o pior é que não desejo ser salva. Tudo que meu corpo quer é se
queimar dentro de suas mãos enquanto seu pênis me possui e me faz dele.
— Não se contraia, me deixe entrar… — pede com a voz falha de
tesão. — Precisa relaxar os músculos, do contrário vai doer, Lexie.
— Estou tentando… — Tento relaxar, mas é uma sensação
dolorosa. Embora eu queira, não consigo imaginar como poderei
acomodar todo esse pau na bunda.
Os dedos dele dedilham meu clitóris sensível, e Daniel empurra o
pênis outra vez no meu ânus. Suspiro fundo, solto um gemido. A cabeça
entra um pouquinho e eu grito.
— Aiiii… céus…
— Calma…
Ele interrompe a penetração e acaricia minhas costas e ombros. A
língua morna lambe a curva do meu pescoço e desliza por minha orelha,
mordiscando.
Pouco a pouco me acalmo.
— Vem, querida. Fique de quatro pra mim…
Sua voz soa tão rouca e aveludada agora. Viro meu rosto para fitá-
lo e encontro as írises escuras me olhando de uma maneira diferente,
quase como se me venerasse. Fogo líquido brilha em seu olhar, os cabelos
bagunçados e o corpo suado o deixam selvagem, terrivelmente sexy. Meu
coração dispara com força, o peito aquece. Desejo tocá-lo e sentir a
temperatura do seu corpo nos dedos, porém me contenho.
Controlo os sentimentos que gritam forte dentro do peito e faço
como ele diz. Firmando-me com as mãos, ergo o corpo e fico de quatro
para Daniel Kraven.
Empino a bunda e abro bem as pernas.
Com o rosto virado em sua direção, vejo meu marido descer o
olhar para minha vulva e lamber os lábios. Daniel se inclina e baixa a
cabeça. A respiração ofegante em minhas coxas me faz tremer, ansiosa.
Ele suga meu clitóris para dentro de sua boca e o lambe. Quase
sem fôlego, solto um gritinho de dor e prazer. O nervo sensível é
torturado sem nenhuma pena. Logo em seguida, meu marido se posiciona
de joelhos atrás de mim. O colchão baixa com seu peso e o dedo longo
volta a penetrar meu ânus.
— Assim Lexie. Fique bem relaxada… — Beijos quentes se
espalham por minha espinha e pescoço e ele retira alguns fios de cabelo
que se espalham por minhas costas. — Vou entrar agora.
— Estou pronta! — digo, mordendo os lábios. O medo vem forte,
porém mistura-se ao desejo e a curiosidade que sinto.
Daniel tira o dedo do meu ânus e logo sinto a cabeça do pau
grosso tentando entrar. Fecho os olhos um pouco nervosa, o corpo inteiro
em chamas.
— Aiiii. — A pressão é demais, a sensação da cabeça entrando é
diferente de tudo que experimentei. — Daniel…
— Porra… — ele grunhe… — Está quase entrando, bebê.
Empurre esse rabo, Lexie, vai entrar com mais facilidade se você ajudar.
Mesmo dolorida, empurro a bunda na direção do seu eixo e grito,
toda suada. As mãos dele seguram firmes em meus quadris.
— Céus… — Sinto como se estivesse sendo partida ao meio.
Todo meu corpo estremece e a sensação de ardência se intensifica.
— A cabeça está quase toda enfiada nesse cu delicioso… Aguenta
só mais um pouco, Lexie.
Daniel pressiona o pau lentamente e eu empurro de volta. A
glande entra no canal apertado e grito toda ardida. Uma lágrima de dor
escorre em meu rosto, mas aguento firme.
Ele solta um grunhido alto e fica imóvel para que eu me
acostume. Os dedos cravam-se em minha pele, apertando a carne judiada
do meu quadril.
— A pior parte passou… A cabeça está toda metida em você…
— Céus… — Suspiro. — Isso é tão estranho… Dói.
— Você vai gostar, Lexie… Vai querer me dar o traseiro todos os
dias. Só precisa se acostumar com meu tamanho — afirma.
As mãos grandes serpenteiam pelo meu corpo e amassam meus
seios. Sem aviso prévio, ele passa o braço em volta da minha cintura e
ergue meu tronco, forçando-me a ficar de joelhos, de costas para ele. O
movimento inesperado força o pau a abrir passagem e entrar mais. É
doloroso, apertado, ardido. Nós dois gememos, roucos.
— Assim bebê. Que delícia… porra…
— Aiii… você é muito grande, Daniel… — reclamo.
Os dedos experientes deslizam para o meio das minhas pernas e
meu marido tortura meu clitóris, esfregando o pequeno nervo com o
indicador.
Grunho. A dor misturada ao prazer me deixa tonta, sem ar. A
pressão aumenta no meu ânus a cada centímetro que ele entra mais. Um
braço me envolve, apertando os seios e a outra mão me acaricia entre as
pernas.
— Rebola, querida…
Perco a razão e os sentidos. Começo a rebolar em seu pau e
empurro mais a bunda. O pênis entra todo, me alargando além do limite.
As bolas pesadas batem em minha vulva. Grito, choramingo. Daniel me
puxa para ele, cola minhas costas em seu peito suado e retira o pênis do
meu ânus, apenas para voltar a meter. A ardência é intensa, a dor deixa-
me trêmula. Porém, por algum motivo, eu quero mais. Meu corpo clama
por isso.
Ele continua metendo enquanto me acaricia. Tira e retira o pau
firmemente, fazendo a cama balançar com nossos movimentos
inconsequentes.
A carícia em meu clitóris se intensifica. Ondas de prazer me
tomam, pareço estar em outra dimensão. Os testículos batendo em minha
vagina e os dedos dele torturando meu montículo me levam ao limite.
Sinto sua respiração morna em meu ouvido, nossos corpos suados, o
cheiro de sexo toma o ar.
Gozo gritando como louca. O corpo treme inteiro, a vagina pulsa.
Sem forças, perco o equilíbrio e quase desabo na cama. Daniel
sustenta meu corpo, inspira e respira fundo.
— Lexie… — murmura em meu ouvido e o sinto tremer.
Suas pernas vacilam e ele me aperta com força contra seu peito.
Sinto seu pau pulsar em meu ânus, meu marido grunhe e morde
meu pescoço, marcando todo meu corpo como dele.
— Você é minha, está me ouvindo? Tudo em você me pertence,
Lexie — sentencia. — Nunca vou te deixar ir.
CAPÍTULO 31

LEXIE

Debaixo do chuveiro, Daniel limpa o sangue e o sêmen que


escorrem do meu ânus. A água morna varre meu corpo em cascatas
relaxantes e ele me segura firmemente pela cintura.
Com os braços apoiados em seus ombros, permito que meu
marido me lave. Cada pedacinho do meu corpo. As mãos firmes passam a
espuma do sabonete líquido em minha pele, começando pelos seios e
descem em meu abdômen. Limpa as dobras doloridas do meu sexo com
cuidado, e faz o mesmo em minha bunda. Logo depois enxágua.
Quando ele termina, é minha vez de devolver o favor. Lavo sua
barriga trincada e desço até o pau. Seguro o membro semiereto com
firmeza e passo a masturbá-lo com as mãos lambuzadas de espuma.
— Lexie… Vou comer você outra vez se continuar fazendo isso.
Sorrio internamente ao ouvi-lo gemer baixinho e mordisco o lábio
inferior.
— Só estou devolvendo o favor — provoco e o encaro com um
meio sorriso.
Minhas pernas estão moles e trêmulas, o ânus arde, a vulva está
inchada. Mas eu ainda o quero, anseio por um beijo, anseio por sua
entrega total. Daniel está pensativo. Embora me acaricie e toque com
cuidado, percebo que há uma barreira entre nós dois. O sexo que fazemos
foi bruto, gostoso e suado, no entanto ele não permitiu que passasse disso.
A mão grande acaricia minha bochecha e Daniel ergue meu
queixo. Nossos olhares ficam presos um no outro, mas sua expressão é
neutra. Não há sentimento algum ali, ele não demonstra nada. Apenas
frieza.
— É muito bonita, Lexie! — diz por fim, após alguns segundos de
pausa. — Tem uma boquinha atrevida e deliciosa. É fogosa, do jeito que
gosto.
Minhas bochechas coram e relembro tudo que fizemos na cama: o
membro grosso entre meus lábios, o gosto de homem, o cheiro de puro
tesão.
— E você é um safado, Daniel. — Sorrio e aperto seu pau entre os
dedos.
Ele grunhe e fecha os olhos. Quando volta a abri-los, percebo um
brilho de malícia estampado em suas írises.
— Quer me dar a boceta outra vez, pequenina? — Os lábios finos
se curvam em um riso endiabrado e sexy.
Os braços fortes envolvem meu corpo e Daniel segura minha
bunda, apertando-a. Nossos corpos ficam colados um no outro, o membro
agora duro como rocha cutuca meu abdômen. De forma involuntária,
solto um gemido de susto e prazer, mas não me dou por vencida em seus
braços.
Afasto-me de Daniel Kraven e termino de enxaguá-lo enquanto
ele me olha com curiosidade. Assim que termino, pego o roupão e me
seco, mas devolvo o tecido ao seu lugar. Viro as costas para Daniel e viro
o rosto para trás, encarando-o.
— Sinto muito, Daniel, mas já estou satisfeita por hoje — digo
em tom provocante. Passo a mão em meus cabelos e saio do banheiro,
rebolando.
Ele não diz nada às minhas costas, mas ouço seus passos vindo
em minha direção. Assim que me aproximo do closet para me vestir,
Daniel me alcança e empurra meu corpo contra a parede fria. Segura
minhas mãos e as prende acima da minha cabeça, deixando-me
totalmente exposta para ele.
— Dan…— Murmuro seu nome incompleto com o coração
palpitando dentro do peito.
A barba cheia acaricia a nuca, logo atrás da curva da orelha e
arrepios deliciosos me tomam de cima para baixo.
— A noite está apenas começando, querida. Ainda não terminei
com você. — Daniel encaixa o pênis rígido entre as minhas pernas por
trás e empurra, esfregando o clitóris judiado no processo.
A sensação é tão gostosa que se torna impossível me manter
sóbria nos braços dele.
— Estou cansada… — Outro gemido rouco escapa dos meus
lábios assim que meu marido faz movimentos de vai e vem sem me
penetrar.
— Estou viciado em comer essa boceta… — sussurra em meu
ouvido. — Hoje quero você a noite inteira, garota. Até ficar exausto.
As palavras rudes e imorais dele me fazem latejar por dentro.
Sinto a umidade em meu sexo, os bicos dos seios se tornam rígidos, a
boca seca. Embora seu aperto em minhas mãos seja firme, consigo me
soltar e viro-me para ficar de frente para Daniel Kraven.
— E quem disse que quero? — provoco-o outra vez, sabendo que
estou andando em terreno minado que a qualquer momento poderá
explodir.
Porém nós dois somos assim. Pura explosão quando estamos
juntos. E isso é o que mais me enlouquece. Seus lábios se repuxam para o
lado, arrogantes. Seu olhar fixo em mim é tão quente como o fogo do
inferno.
— Veremos, menina.
Sem aviso prévio, meu marido segura-me fortemente pela cintura
e me ergue no ar. Em protesto, esperneio para me livrar do seu aperto
firme, mas é em vão.
— Me solte, Daniel — grito, tendo meu corpo imobilizado entre
seus braços.
— Vou soltar quando for conveniente, querida esposa.
Daniel me leva até a cama e eu desabo nos travesseiros macios.
Seu corpo forte cobre o meu, impedindo-me de me afastar, as pernas
torneadas forçam as minhas a se abrirem, e fico completamente nua e
aberta para ele. Meu coração acelera a níveis gigantescos, a umidade
entre as pernas aumenta.
Seus lábios grosseiros alcançam o bico do seio esquerdo e ele
chupa com força enquanto esfrega o outro entre os dedos, me arrancando
outro gemido.
— Eu odeio você, seu cretino… aiii — grunho em protesto pelo
seu atrevimento. Porém a verdade é que estou louca para ser dele outra
vez.
A língua ávida deixa um seio e passa a lamber o outro com a
mesma intensidade. Seus beijos e mordidas deixam-me em chamas,
quente. A boca gulosa começa a descer em minha pele. Daniel lambe e
chupa cada pedacinho de mim.
Começo a me abrir mais assim que sua boca alcança minha
virilha. Os dedos longos abrem meu sexo e ele chupa meu clitóris
gostosamente, me fazendo gritar de prazer, sem um pingo de vergonha na
cara. Empurro sua cabeça para longe, depois seguro em seus cabelos e
puxo de volta ao mesmo tempo em que ergo os quadris.
Ele não tem pena. Lambe meu sexo e enfia a língua. Daniel me
come e me tortura com a boca, me deixa zonza. Quando estou prestes a
gozar, ele se afasta e deita-se no colchão ao meu lado. Os lábios brilham,
melados com meus líquidos, e seu peito sobe e desce em um ritmo
acelerado.
— Vem aqui, pequenina. Quero que se sente na cara do seu
marido e chupe meu pau ao mesmo tempo.
Seus lábios se curvam em um riso malicioso, minhas bochechas
esquentam.
Daniel é devasso, o homem não brinca em serviço e nunca mentiu
quando disse que gostava de sexo sujo. O que ele faz comigo vai além de
tudo: é imoral, obsceno e lascivo.
Com um braço atrás da cabeça, deitado confortavelmente, meu
marido segura o pênis com a outra mão e me chama com o olhar aceso.
Não penso muito a respeito, apenas me movo e me sento em seu
abdômen, de costas para ele.
Nervosa, puxo o ar para os pulmões e coloco uma perna em cada
lado do seu corpo. Fico de quatro e engatinho para trás, a bunda virada na
direção do seu rosto. Daniel geme baixinho e suas mãos seguram meus
quadris. Ele me puxa na sua direção, fazendo com que meu sexo fique
rente à sua boca.
A língua dura volta a me invadir, e o pênis rígido se contrai logo à
frente do meu rosto. Seguro-o com cuidado e tranco o maxilar quando
Daniel passa a me lamber. Minha visão fica turva de desejo, as pernas
tremem. Contorço-me toda em sua boca e coloco a glande macia entre os
lábios. Começo a chupá-lo devagar, dando a ele o mesmo prazer que
sinto, me permitindo afundar cada minuto mais na paixão que queima
nossos corpos.

DENER
Exausto após gozar gostoso dentro dela, desabo na cama ao lado
de Lexie e puxo seu corpo para repousar em meu peito. Sua respiração
está acelerada, seu corpo mole por causa dos orgasmos que lhe dei. Sinto
a garota sonolenta, mas ela se mantém acordada e em silêncio.
Olho na direção da porta, meu instinto diz para que eu vá e a
deixe quieta por um tempo, antes que essa obsessão que tomou o meu
corpo se torne incontrolável.
Analiso a conversa que tivemos. O que ela disse sobre Adrienne e
sua mãe. O carinho pelos lírios.
Confusão nubla meus pensamentos sempre que a olho. Meu
sangue ferve de desejo pela menina, o ciúme que sinto dela chega a beirar
a loucura. Irritado comigo mesmo, fixo os olhos no teto e decido contar a
ela um pouco sobre meu passado. Talvez assim Lexie se torne menos
arredia. Será uma troca justa:
— Quando eu era garoto, meus pais foram mortos e minha irmã
estuprada até desmaiar. Ela morreu dias depois no hospital, de tanto que a
machucaram — confesso sem encará-la, quebrando o silêncio.
Pelo canto do olho, vejo Lexie erguer a cabeça visivelmente
surpresa.
As mãos delicadas acariciam meu peito e ela suspira.
— Por que… está me contando isso agora? — questiona com a
voz falha.
— Você me falou sobre seu passado, acho que é justo saber um
pouco do meu — justifico.
Ela aperta os dedos em minha pele e se aproxima mais.
— Eu sinto muito, Daniel… não posso imaginar o quanto tenha
sofrido.
Sorrio sem vontade. As feridas causadas naquela noite ainda estão
abertas dentro do peito. Mas, fazendo o que sempre fiz, ignoro a dor.
— Por que fizeram isso?
Fico em silêncio por alguns segundos, relembrando toda aquela
merda. Faz tanto tempo, muitos anos se passaram, mas por dentro ainda
me sinto vazio, sozinho, apesar de estar rodeado pelos meus homens.
— Meu pai devia uma quantia razoável para Patrick Wolff. Na
época, ele era o chefe de uma organização criminosa e o consigliere dá
máfia Ivanov. — Faço uma pausa breve e depois continuo: — Meu pai
havia pedido um prazo para pagar a dívida, na data marcada ele só havia
conseguido parte do dinheiro. Patrick não teve clemência e matou os dois.
Pegou o dinheiro e deixou que seus capangas cuidassem da minha irmã
mais velha.
— Isso é horrível… — Lexie comenta.
— Eu era muito jovem e trabalhava para Patrick, Lexie. Não pude
fazer nada, do contrário morreria também. Patrick disse a todos que meu
pai o havia traído, mas eu sabia a verdade e a guardei comigo por muito
tempo.
— E o que aconteceu depois? — Sua voz sai sussurrada ao
perguntar.
— Algum tempo depois, descobri que Patrick estava tramando
algo contra o chefe da máfia Ivanov. Então eu me aproximei do cara e
passei a treinar com ele.
— Esse cara é o Alex? — questiona.
— Sim, é ele!
Acaricio os cabelos de Lexie e a garota se aninha mais a mim.
Sinto um nó na garganta quando a fito e vejo seu olhar melancólico e
triste. A menina não admite, mas é visível que está envolvida nesse nosso
jogo. Não sei se é pelo sexo ou algo mais, mas Lexie é inexperiente
demais para conseguir esconder o que sente.
— Depois disso, eu o salvei de uma emboscada e juntos
exterminamos Patrick Wolff — concluo.
Lexie se senta na cama e puxa um lençol para cobrir o corpo nu.
Seus cabelos caem pelos ombros e costas, os lábios vermelhos continuam
sérios.
— E como você chegou ao poder? — indaga.
Reflito por um instante, tendo certeza de que nada tenho a perder
se disser a ela. Que eu sou um filho da puta, Lexie já sabe.
— Passei a viver como uma casaca, Lexie. Oco por dentro. Logo
depois conheci uma pessoa. Uma mulher. — As lembranças de Adrienne
vêm à tona e recordo cada detalhe do dia em que a conheci. — Ela estava
correndo no Central Park quando nos esbarramos — conto a Lexie sobre
a mulher, mas não revelo quem de fato ela era. — Fiquei encantado com
o quanto era bonita e bem-educada. Conversamos um pouco naquela
manhã, e no dia seguinte eu voltei ao local para vê-la. Desde então
passamos a correr juntos. Uma semana depois, eu a pedi em namoro.
Vivemos um tempo tranquilos, mas ela foi obrigada pelo pai a se casar
com outro homem.
— E então vocês nunca mais se viram? — Lexie me encara
seriamente. Parece incomodada, mas não hesita em fazer perguntas.
— Quando soube que ela se casaria, fiquei louco de dor e ciúmes.
Fui obrigado a aceitar que a mulher que eu amava seria de outro, mas isso
não me fez desistir dela.
— Então vocês continuaram se vendo, mesmo depois dela ter se
casado?
Reflito, mas respondo:
— Sim. Nos tornamos amantes, e iríamos fugir se ela não tivesse
engravidado.
— Oh meu Deus! — Lexie coloca a mão sobre a boca, chocada
com minha declaração, mas continuo impassível.
— Ela teve um bebê dele?
A dor vem com força, a irritação me domina ao imaginar essa
mínima possibilidade. Porém, não permito que minha raiva e sede de
vingança venham à tona. Não agora.
— O bebê era meu — afirmo, seco. — Ela quase nunca ia pra
cama com ele, e quando ia tomava pílula para não engravidar. Mas da
última vez em que nos vimos, ela estava machucada porque o filho da
puta a pegou à força.
Olho para Lexie e ela me olha de volta, aflita. No entanto, nada
diz e aguarda para que eu continue.
— Então ele descobriu tudo. O maldito matou a ela e ao meu filho
na minha frente. Depois disso, me deixou lá jogado, à beira da morte com
um tiro nas costas e vários cortes de faca espalhados pelo corpo, por isso
as cicatrizes que você viu.
As mãos dela tocam as minhas, e percebo que estão trêmulas.
Continuo parado, não demonstro nada. Nem raiva, nem dor.
Simplesmente nada. Volto a olhar o vazio do teto, um abismo profundo
está cravado em meu peito para nunca me deixar esquecer o fardo que
carrego.
— Eu morri naquele dia, Lexie. Meu coração foi para o túmulo
com os dois.
Em um movimento rápido, Lexie monta em meu colo e segura
meu rosto com as duas mãos. Ela está gelada, provavelmente abalada
com tudo que relatei, mas também mantém o controle.
— Não diga isso… — Há uma súplica em seu olhar e eu balanço
a cabeça em negativa quando percebo o que se passa em seu interior. Ela
está com ciúmes, Lexie está se apaixonando pelo seu pior inimigo.
Porra!
— Não deixe crescer isso que está nascendo em seu coração,
Lexie. Eu não mereço nem uma gota do que está sentindo — declaro,
firme.
Sua expressão torna-se ainda mais séria, e ela vacila ao ficar em
silêncio, sem saber o que responder. O mais provável é que ainda tenta
entender tudo o que está acontecendo.
— Não se preocupe, Daniel — diz e volta a se sentar no colchão.
— Não quero nada mais do que sexo com você.
Enrolada no lençol, a menina se levanta da cama e pega um
roupão para cobrir o corpo nu.
Enquanto permite que o lençol deslize para o chão, observo seu
corpo repleto de curvas que tanto me alucinam. O tempo parece congelar
à medida que analiso cada centímetro de sua pele cheirosa antes que ela
coloque o roupão.
Meu pau voltar a ficar duro e engulo saliva, completamente
excitado. A verdade é que estamos os dois fodidos por mais que me
negue a aceitar.
CAPÍTULO 32

DENER

Lexie segue em direção ao banheiro e logo ouço a água da


banheira ligada.
Quando ela retorna, ainda estou deitado pelado sobre a cama,
olhando para o nada. Os pensamentos fixos nela.
Sem erguer o olhar para mim, Lexie segue em direção ao closet e
veste uma camisola longa de seda. O tecido vermelho e macio emoldura o
corpo gostoso com perfeição, realçando os quadris bem-feitos e os seios
grandes.
Pelos próximos dez minutos, observo a garota pentear os longos
cabelos e passar um hidratante no rosto, preparando-se para dormir. Ao
terminar, ela se aproxima da cama e me analisa dos pés à cabeça.
Confusão permeia seu olhar azul esverdeado.
— Acho que é hora de ir, Daniel. Preciso descansar agora. —
Puxa o edredom e entra debaixo da peça macia. Logo depois, apaga o
abajur ao seu lado.
— Ficarei aqui essa noite — comunico.
Lexie não se movimenta, porém noto que está pensativa, a
respiração errática.
— Por que está fazendo isso? — questiona.
— Isso o quê, Lexie?
A cama balança do seu lado quando se vira e fica de frente para
mim.
— Nunca dormiu aqui antes. Por que agora?
Puxando Lexie para meus braços, eu a enlaço pela cintura e faço
com que a garota fique em cima de mim.
Lexie está distante após a nossa conversa, mas não permitirei que
uma sombra do passado a afaste mais. A verdade é que nem mesmo eu
entendo por que quero ficar aqui essa noite. Porém também não quero
passar a noite em claro e sozinho, perdido na porra dos meus pesadelos.
— É minha esposa. É normal dormirmos juntos de vez em quando
— justifico. — E você, por que está tão pensativa? Não quero que se
distancie.
— Eu não sei… não paro de pensar no que você disse…
Simplesmente não sei Daniel.
— Esqueça isso, pequenina. Faz parte do passado.
— Eu acho que o passado não está tão distante assim — rebate.
— Não percebe que fez comigo justamente o que aquele homem fez com
a mulher… com a mulher que gostava?
— Você não ama aquele trombadinha, Lexie.
Lexie suspira e retira uma mecha de cabelo que caiu em seu rosto.
— Talvez não… — confessa, me deixando surpreso com sua
sinceridade. — Mas e se eu amasse? Você teria feito diferente?
— Não! — respondo também sincero, não deixando dúvidas de
que de uma forma ou de outra, ela seria minha.
Lexie não diz mais nada. Simplesmente rola na cama e se deita de
lado, com as costas viradas na minha direção. Está chateada, mas é
orgulhosa demais para admitir.
— Lexie… — chamo-a e tento me aproximar, mas a garota me
afasta.
— Por favor Daniel. Agora não.
Caralho!
Fico parado no tempo. Louco para me perder em suas curvas
outra vez, mas me sentindo um idiota. Lexie permanece quieta em seu
lugar, no entanto logo sua respiração se torna mais profunda e sei que ela
adormeceu. Durante alguns minutos, repasso em minha cabeça tudo o que
precisei fazer para chegar onde estou.
Eu deixei minha honra de lado quando me aliei a uma organização
criminosa no coração de Nova York, e conquistei a confiança do chefe.
Tornei-me um assassino por minha própria conta e risco. Eu era o braço
direito de Demétrius, fazia tudo o que ele pedia, inclusive assassinar
inocentes. Com sua ajuda, infiltrei-me na máfia Underworld, inimigos
declarados da organização de Demétrius. Fiz alianças lá dentro e me
aproximei o máximo que pude do poder.
Por muitos anos, fui o homem de total confiança de Bruce, o Don.
Mas após causar uma rebelião em seu território, eu o traí e o matei com
minhas próprias mãos. Com George ao meu lado, um homem de grande
influência lá dentro, eu tomei o poder de tudo e os membros da máfia
seguiram comigo.
Minha sede de sangue e poder é o alimento que os mantém fiéis a
mim.
Suspiro e passo o braço pela cintura de Lexie. Enterro a cabeça
nos seus cabelos e inspiro fundo o perfume de mel que exala dos fios.
Em poucos minutos adormeço.

Está frio quando acordo. Ouço o barulho do vento lá fora, mas os


cortes espalhados pelo meu corpo são como ferro em brasa, me levando
ao limite do suportável, impedindo-me de me levantar.
O chão está tão gelado que sinto minha pele queimar. O cheiro
acre de sujeira invade minhas narinas, despertando-me um pouco mais a
cada minuto. Minhas pálpebras pesam quando tento abri-las, a claridade
da lâmpada amarelada é bastante sutil. Não enxergo mais que dois
metros de distância.
Muito fraco para conseguir ficar de pé, cravo as mãos no carpete
poeirento e tento impulsionar o corpo para a frente. Ajuda… eu preciso
de ajuda. Minha visão está turva, como se uma névoa pairasse dentro do
cômodo, é difícil respirar.
No entanto, continuo lutando para tentar sair daqui antes que
seja tarde.
Cansado demais, paro para tomar fôlego, e é nesse momento que
vejo um vulto branco estirado no chão.
Os cabelos longos estão espalhados no carpete, e seu corpo está
imóvel, rodeado por uma poça de sangue.
Adrienne!
Adrienne!
Tento chamar por ela, mas minha voz não sai. Nenhum som é
emitido.
Desespero me toma dos pés à cabeça, e uso toda a força que
ainda resta em mim para me arrastar até ela.
Aproximo-me o mais rápido que posso. Minhas mãos trêmulas
tocam as madeixas brilhantes banhadas em sangue. Seu corpo está de
barriga para baixo, o rosto colado ao chão, todo coberto com os fios de
seus cabelos.
Com o coração doendo e batendo forte no peito, viro o corpo de
Adrienne para poder aquecê-la dentro dos meus braços, porém quando
fito seu rosto, não é suas feições que vejo.
Lexie!
O mundo gira à minha volta. Perco a noção de tudo, o chão
parece ruir debaixo dos meus pés.
Seus olhos esverdeados estão abertos e opacos, sem vida, o
pescoço degolado.
Suas mãos seguram o ventre levemente inchado. Posso ver a
pequena ondulação que se formou em sua barriga.
Nosso filho.
Lexie..
Lexieeeee…
Desesperado, grito seu nome enquanto fico de joelhos em volta do
seu corpo.
Seguro seu rosto e esmago minha boca contra os lábios gelados.

— Daniel, acorda… você está tendo um pesadelo.


Abro os olhos completamente aturdido e viro a cabeça na direção
da voz da minha esposa.
Lexie está de joelhos com as mãos em meu peito. A claridade
fraca do abajur que está ao meu lado, me permite ver seus olhos
arregalados de susto. Minha pele está quente, o coração angustiado. Mas
tudo o que penso é em trazê-la para mim e beijá-la.
Não há muito o que dizer. Os pesadelos me acompanham desde
aquela noite maldita, mas é a primeira vez que vejo o rosto de Lexie sem
vida. Nervoso demais para conseguir pensar com clareza, me sento na
cama e passo a mão no pescoço de Lexie. Trago a garota para mim e a
beijo com loucura, quase a devorando.
De início ela resiste, está confusa, mas quando percebe que
somente sua boca é capaz de me acalmar, a garota sede e me beija de
volta com a mesma fome. Minhas mãos são certeiras no decote da
camisola de seda. Rasgo o tecido em uma única puxada e deito Lexie na
cama, fico por cima do seu corpo.
— Eu preciso entrar em você… — digo com uma necessidade tão
grande de senti-la que chega a doer.
Retiro as bandas do tecido rasgado do seu corpo e passo a lamber
os seios rosados. Abro as pernas da minha mulher, volto a beijá-la e
penetro Lexie com uma única estocada. A garota grita e crava as unhas
nos meus ombros. Coloco uma mão em cada lado de sua cabeça e enfio a
língua na sua boca, sedento, o corpo tremendo de angústia e receio de
perdê-la.
Enfio e retiro o pau da sua boceta freneticamente, comendo minha
garota como um louco, alucinado com a sensação deliciosa de ter sua
vagina apertada engolindo meu pau. Lexie choraminga quando goza. Eu
me enterro mais fundo nela e mordo o queixinho delicado ao mesmo
tempo em que despejo meu sêmen bem fundo. Dou a ela cada gota do
meu prazer.
Suado, porém um pouco mais calmo, abraço seu corpo nu e a
aninho em meu peito. Dormimos juntos, cansados, satisfeitos.
Um baque brusco na porta me faz despertar em um rompante.
Rapidamente, tiro Lexie de cima de mim e me coloco de pé. Antes de
atender a porta, no entanto, cubro seu corpo com o edredom e pego a
cueca no chão.
Olho pela janela e vejo o sol já alto no céu azul e sem nuvens.
Não resta nenhum vestígio da chuva torrencial que caiu no meio da noite.
Confiro as horas no celular que deixei em cima da mesinha de
cabeceira e levo um susto. Já passa das 11 horas da manhã. É a primeira
vez que dormi tanto em mais de doze anos, e o mais provável é que terei
de reagendar um número considerável de reuniões para o dia seguinte.
Observo o visor da tela com atenção, noto que há cinco chamadas
de Ettore.
Caminho até a porta e a abro, sonolento.
— Qual o problema, Kraig? — questiono, irritado ao ver o
homem na minha frente.
Kraig mantém a expressão séria, mas noto perfeitamente quando
inspeciona o quarto por um milésimo de segundos e passa o olhar na
minha mulher adormecida.
Cerro o maxilar.
— Problemas, chefe. O conselho está reunido e aguarda por você
na sala de reuniões. — diz por fim.
— Irei me vestir e logo desço para saber que inferno aconteceu.
Pode ir agora — dispenso-o, mas antes que eu possa entrar e fechar a
porta, o homem informa que Ettore está de volta à mansão.
Assinto e volto a entrar no quarto de Lexie, a cabeça já latejando
com os milhões de problemas que precisarei resolver no decorrer do dia.
Tudo indica que o esconderijo de Hector ainda não foi encontrado.
LEXIE

Dois meses depois.

Acordo sozinha na cama mais uma vez. Sigo até o banheiro, faço
xixi e tomo um banho demorado na banheira.
Assim que termino, posiciono-me de frente para o espelho e
observo meu reflexo com cabelos bagunçados e a boca cheia de espuma
da pasta de dente. Solto a escova e toco meus seios pesados com as duas
mãos. Sinto-os sensíveis e doloridos, até mesmo minha pele parece estar
mais pálida que o normal.
Termino de escovar os dentes e enxáguo a boca. Estou faminta.
Ainda é cedo para o café da manhã, mas sinto que irei perder a lucidez se
não comer alguma coisa o mais rápido possível.
Retorno para a cama e me deito nua. Estava tão cansada durante a
noite, que não vi quando Daniel acordou e saiu do quarto. Agora não faço
a mínima ideia de para onde ele tenha ido e a que horas deve retornar.
Meu coração bate forte no peito ao pensar nas vezes em que
dormimos juntos. Nos últimos dois meses, com exceção da noite em que
ele teve um pesadelo e perdeu totalmente o controle, Daniel está sempre
distante.
Os beijos são escassos ou quase inexistentes quando fazemos
sexo. E são esses os únicos momentos em que nos vemos: sempre que ele
me procura depois das 23 horas para transar.
Apesar de tudo, seu distanciamento sem motivos, não foi
suficiente para impedir que essa paixão maldita se alastrasse pelo meu
peito, deixando-me fraca. Tento odiá-lo, mas não consigo. É mais forte do
que posso suportar, mais forte que tudo que já experimentei.
Tento não demonstrar o que sinto, mas eu sei que ele sabe e pouco
se importa. Ainda assim, continuo dando o que Daniel quer: meu corpo e
meus pensamentos, todos os dias. Frustrada e irritada, abraço meu corpo
e luto bravamente para evitar que uma lágrima caia. Meu orgulho é
grande demais para permitir que eu chore por causa de um homem como
ele.
Preciso sair daqui. É o que minha mente grita todos os dias para
que eu faça o mais breve possível.
Conquiste-o e fuja.
Um pouco mais controlada, caminho até o closet e me visto com
uma saia jeans, batendo na metade da coxa, e uma camiseta cavada. Ao
chegar na sala de jantar, sou surpreendida ao ver meu marido tomando
café, vestido de preto do pescoço aos pés.
Ele está delicioso dentro do terno negro. O olhar fixo em algo no
telefone, não se dá conta da minha presença.
— Bom dia — cumprimento e caminho para meu lugar na mesa.
Daniel levanta o olhar na minha direção. A expressão séria analisa
minha roupa, porém, não diz nada sobre o assunto.
— Bom dia. Dormiu bem? — Leva a xícara à boca e toma um
gole de café.
— Sim e você? — Também me sirvo de um pouco de café
enquanto meu marido responde e a conversa chega ao fim.
Rego uma panqueca com mel, corto um pedaço e levo à boca.
Mastigo a massa macia devagar, estranhando o gosto diferente.
Meu estômago embrulha e deixo o garfo sobre o prato. Apesar de
ouvir o estômago reclamar de fome, perco toda a vontade de comer o café
da manhã. Um pouco enjoada, levanto-me da cadeira e decido passear
pela praia.
Porém, ao perceber que estou saindo sem tocar na comida, Daniel
se levanta da cadeira e segura o meu braço.
— Lexie. Está tudo bem? Você mal tocou na comida.
Puxo minha mãe de seu aperto, sentindo a raiva aflorar meus
nervos. Raiva por sentir todo esse mix de sentimentos por ele.
— Estou bem, não se preocupe! — Tento forçar um sorriso, mas o
mal-estar se intensifica e a última coisa que pretendo fazer na vida é
passar mal na frente dele outra vez.
— Vou caminhar na praia, depois nos falamos — justifico e volto
a virar as costas para sair.
— Depois de amanhã, iremos jantar fora. Alex e Angelina irão
conosco — comunica.
Balanço a cabeça em concordância e continuo andando.
Assim que chego na praia, firmo-me em uma rocha e não consigo
mais segurar o súbito mal-estar. Vomito um líquido amarelo e amargo na
areia branca. Suada e ofegante pelo esforço que acabei de fazer, sento-me
na rocha fria e coloco as duas mãos na testa.
Lágrimas grossas rolam pelos meus olhos, e nem eu mesma
consigo entender o motivo delas caírem assim.
Oh meu Deus, o que está acontecendo comigo? Penso nervosa.
Não posso ficar doente logo agora.
CAPÍTULO 33

LEXIE

Dois dias se passaram e o mal-estar continua, porém um pouco


mais brando, o que me permite sair da cama antes do costume.
O dia está ensolarado quando olho pela janela de vidro. Faz um
pouco de frio assim que afasto os lençóis, pois ainda é cedo. No entanto,
tenho muito o que fazer antes do jantar hoje à noite, e a primeira regra do
dia é justamente quebrar as regras.
Após a higiene matinal, sigo até o closet e tiro a camisola. O
tecido quente escorrega pelas pernas e cai aos meus pés. Visto-me com
um shortinho curto e camiseta, solto os cabelos e saio do quarto. Passo
pela cozinha por tempo suficiente para tomar um copo de suco de laranja
gelado. Aproveito e pego uma maçã bem vermelha também.
Não há sinal de Daniel em qualquer lugar. As únicas pessoas à
vista na mansão são os empregados e alguns dos cães de guarda do meu
marido, armados até os dentes. Assim que termino de me alimentar,
dirijo-me ao pátio, onde fica localizado o centro de treinamento dos
homens.
Daniel havia ordenado para eu não me aproximar dessas áreas, e
nunca o procurar para fazer sexo. Ele viria até mim. O problema, no
entanto, é que estou farta das suas regras idiotas, quando ele próprio só
vai ao meu quarto para foder, como se eu fosse sua bonequinha de luxo.
Com os nervos aflorados, apresso os movimentos, passando pela
academia, a garagem que comporta vários SUVs e alguns carros de
corrida, e continuo em frente. O centro de treinamento de tiros é um local
amplo, com grossas paredes de concreto e é afastado da mansão.
Sinto-me nervosa, a respiração está acelerada, mas a necessidade
de tirar Daniel Kraven dos trilhos é muito maior.
Alguns homens guardam a porta de entrada, entre eles estão os
irmãos Ryder e Kraig. Os outros não me lembro dos nomes.
— O que faz aqui, Lexie? — É Ryder que questiona.
Seu rosto está impassível, mas percebo os punhos fechados. Não
dou a mínima importância para sua ameaça silenciosa. O imbecil sabe
que Daniel o mataria se encostasse o dedo em mim.
— Quero que me ensine a atirar! — digo o que quero sem
rodeios, os olhos fixos em seu rosto.
O homem ergue uma sobrancelha, sério, e percebo pelo canto do
olho que seu irmão sorri.
— Isso está fora de questão. Volte para a mansão antes que se
machuque por aí — diz com firmeza.
Cruzo os braços na frente do corpo e o observo fixamente:
— Não sairei daqui antes de cumprir o que vim fazer. Se não pode
me ensinar, dê licença que farei isso sozinha!
Kraig gargalha e dá espaço para que eu passe. No entanto, Ryder
não se movimenta e continua impedindo minha passagem.
— A resposta é não! Se Daniel souber que esteve aqui, estamos
todos fodidos — Ryder rebate. O tom de sua voz é baixo, porém, carrega
um ar perigoso.
— Não se preocupe. Se tem tanto medo, eu me entenderei com
meu marido depois.
Os olhos de Ryder flamejam de ira.
Passo a mão no cabelo, jogando as mechas para o lado e dou uma
pequena volta para passar por ele e entrar pelo espaço deixado por Kraig.
Porém, o aperto em meu punho é forte quando ele segura e me
puxa para trás.
— Eu sei que se entende com ele todas as noites, madame. —
Coro assim que Ryder se refere as noites de sexo que tenho com Daniel.
— Mas é a porra do meu pescoço que está em jogo.
Puxo meu punho fortemente e levo a mão ao local vermelho de
seu aperto.
— Deixe a garota, Ryder — Kraig intervém e se coloca entre mim
e Ryder. Virando-se na minha direção, o homem estende a mão para que
eu segure, e diz: — Vem princesa, eu te ensino. — Pisca.
Fico atordoada, mas ao mesmo tempo grata por sua intervenção.
— Fique fora disso, porra! — Ryder empurra o irmão, mas é
barrado quando Kraig saca a pistola e mira na sua cabeça.
Sem fôlego, as pernas tremem ao presenciar um embate entre dois
irmãos. Contudo, Ryder dá um passo para o lado, rendido, o maxilar
cerrado de raiva:
— Vai se arrepender disso, Kraig — avisa.
— Não se preocupe irmão, eu sei me cuidar — responde Kraig,
confiante.
Dito isso, ele vira as costas e caminha para a entrada do centro de
treinamento, e eu o sigo.
O local é enorme e bem iluminado. Alguns homens circulam pelo
lugar, portando armas de fogo e protetores de olhos e ouvido.
Ao me verem acompanhada por Kraig, seus olhares se alarmam.
Assim que a porta se fecha atrás de mim, nada mais ouço do que
se passa lá fora. O som é totalmente isolado aqui dentro.
— Por aqui, princesa… — Kraig aponta na direção de uma porta
de metal, e caminhamos até lá. Aciona o sistema de segurança com a
digital e a porta se abre, revelando um arsenal de armas e facas. Pega
munição e uma pistola, em seguida, volta a interromper o acesso ao local.
— Já atirou antes? — pergunta e coloca a pistola na minha mão.
A arma tem um peso razoável. É pequena e bem lustrada.
— Não — admito.
Kraig assente.
Em silêncio, ele demonstra como recarregar a munição e volta a
me entregar a arma.
— Pelo que eu soube, você sabe destravar e travar uma pistola. —
Sorri de lado, referindo-se ao dia do ataque em Miami.
Não dou moral à sua provocação, coloco os equipamentos de
segurança e caminho até um dos compartimentos individuais, separados
por paredes metálicas. Aponto a pistola para a parede de tiro, onde há um
desenho no formato de um homem em tamanho real.
Minhas mãos tremem enquanto miro. Porém preciso pensar que
matarei dois coelhos em uma única cajadada. Terei confiança para me
proteger e ao mesmo tempo desafiarei Daniel Kraven.
Destravo a arma e disparo.
O tiro passa a uns cinquenta centímetros de distância do alvo, ao
lado esquerdo.
— Droga! — xingo baixinho e volto a mirar.
— Precisa ajustar sua posição, Lexie. Do contrário, apenas gastará
munição.
Sinto a aproximação de Kraig às minhas costas e o homem segura
em minhas mãos para alinhar a posição da arma.
— Deixe os dois pés paralelos e separados com a abertura um
pouco além da direção dos ombros — instrui. — Flexione os joelhos para
dar firmeza à posição e estique mais os dois braços.
Faço conforme a orientação de Kraig ao mesmo tempo em que ele
continua com as mãos sobre as minhas, demonstrando a melhor maneira
de segurar a arma.
— Mire sempre em um local estratégico, Lexie — diz
calmamente. — A cabeça é um deles. Precisa abater o inimigo na
primeira oportunidade.
Inspiro fundo e assinto. Faço outro disparo.
Dessa vez o tiro é certeiro na lateral direita da cabeça do desenho.
— Uau… — Tiro os óculos para ver o estrago causado pela bala
com melhor precisão. E Kraig se afasta.
— Muito bem, garota — elogia.
Pelos próximos quarenta minutos, faço vários disparos contra a
parede, sempre seguindo as instruções de Kraig. Aos poucos, o
nervosismo se esvai e relaxo os músculos, tomando confiança para
manejar a pistola.
O processo de aprendizado é constante. Recarrego a arma o mais
rápido que consigo, destravo e atiro, sempre atenta a posição do meu
corpo. Repito o processo várias vezes, enquanto Kraig se mantém ao meu
lado, passando os comandos necessários.
Já com os braços cansados, decido que devo parar por hoje. No
entanto, é nesse exato momento que a porta do centro de treinamento é
aberta com tanta força, que o barulho é ensurdecedor ao se chocar contra
a parede.
Viro-me em rompante e vejo meu marido na entrada, olhando-me
fixamente. Os olhos escuros estão amedrontadores, a expressão
animalesca não deixa dúvidas de que ele está bravo. Muito bravo!
Daniel caminha em nossa direção, sendo seguido por dois
seguranças. Passa o olhar inquisidor por cada milímetro do meu corpo,
mas nada diz. Logo depois, sua atenção é voltada para Kraig, e com
apenas um sinal de sua mão, os capangas avançam sobre o homem,
prendem-no e o forçam a se ajoelhar no chão.
— Daniel, não faça isso! — grito ao ver meu marido retirar o
terno negro, colocando-o em cima da parede metálica e arregaçar as
mangas da camisa.
Ele não me dá atenção e Kraig permanece em silêncio, olhando
firmemente para Daniel, como se já soubesse a merda que iria acontecer,
mas pouco se importasse.
Confusão nubla meus pensamentos e tento segurar na mão de
Daniel para fazê-lo voltar a realidade. Contudo, alguém me impede de
avançar, e quando olho para as minhas costas, constato que é Ryder que
segura meu braço.
O primeiro soco ecoa pela sala silenciosa e o barulho dos ossos do
rosto de Kraig se partindo é ouvido. Horrorizada, sinto meu corpo gelar, e
outro soco é desferido por Daniel. Kraig cospe sangue e alguns dentes no
chão, mas mal tem tempo para se recuperar, antes de ser chutado no
estômago e na boca.
— Já chega, Daniel — peço com a voz falha. O medo
apoderando-se de mim.
Meu marido age como se eu não estivesse ali. Ele pouco se
importa com meus gritos e pedidos de clemência, o instinto violento é
mais forte que tudo. Como em câmera lenta, meu marido pega uma faca e
se agacha, ficando de frente para Kraig. Seus homens seguram-no e
prendem sua mão para que Daniel possa executar o que tem em mente.
Um dedo é dilacerado pela lâmina afiada e quase posso sentir sua
dor.
Kraig, não grita, muito menos se movimenta, aguenta o castigo de
forma impassível e fria. Daniel se levanta e os homens soltam Kraig, que
permanece de joelhos no chão, machucado e sangrando.
Nenhuma palavra é emitida. Ninguém é idiota o suficiente para
abrir a boca quando o chefão está irritado. Inspiro fundo, completamente
trêmula da cabeça aos pés.
Daniel caminha na minha direção e segura meu punho com suas
mãos sujas com o sangue de Kraig. Sem nada dizer, ele me puxa na
direção da porta. Seus passos são rápidos e firmes, a cabeça erguida como
se fosse o rei. Em silêncio, sou obrigada a segui-lo de volta para a
mansão. Meu coração bate tão forte que está quase saindo pela boca.
Pavor toma meu corpo da cabeça aos pés.
Quando alcançamos o quarto, o homem abre a porta e me puxa
com ele para dentro do cômodo, logo depois fecha a porta na chave.
Não sei o que Daniel fará enquanto me olha com fúria. É quase
como se pudesse enxergar o fundo da minha alma. Não faço a menor
ideia das coisas que se passam na sua cabeça, mas não me finjo de vítima.
— A culpa foi minha. — Tomo a iniciativa de fala. — Eu fui até
lá e exigi que Kraig me ensinasse a atirar. — Inspiro.
Finalmente ele responde:
— Era isso que queria, Lexie? Que eu me rebelasse contra meus
homens? Está satisfeita, porra?
Ele se aproxima de mim em um rápido movimento e segura meu
maxilar em um aperto firme. Não me movo, também não desvio o olhar.
— Dessa vez foram só alguns dentes e um dedo. Se tiver uma
próxima, será a cabeça dele que irá rolar no chão!
O olhar animalesco não deixa dúvidas que a ameaça é verídica.
— Kraig não fez nada, e eu não sou sua propriedade Daniel! —
digo, ríspida.
Daniel sorri. É um riso doentio, ameaçador, me causa arrepios na
espinha.
— Você é minha, caralho — vocifera em minha boca. — Eu
deixei bem claro para não me desafiar, Lexie. Eu avisei para não se
aproximar dos meus homens. Se alguns deles morrer, a culpa será sua.
Matarei qualquer imbecil que ousar tocar um dedo em você, esteja ciente.
Meu coração bate descontrolado e algo se quebra em meu interior
quando entendo de uma vez por todas que Daniel nunca irá me amar. Sou
apenas um troféu para ele.
Daniel vira-me as costas e segue na direção da porta. Abre-a e
para no meio do caminho:
— Esteja pronta às 22 horas — avisa e sai.
Só então solto o ar que estava preso em meus pulmões.
CAPÍTULO 34

DENER

Sentado na poltrona de couro do meu escritório, viro o copo de


uísque na boca todo de uma vez, e sinto a bebida queimar a garganta
como fogo. Abro alguns botões da camisa social preta e volto a encher o
copo com o líquido âmbar, porém, nem mesmo o álcool é capaz de
acalmar meus nervos. Inspiro e respiro várias vezes, a cabeça latejando de
raiva e ciúmes, uma mistura perigosa que envenena.
Lexie está me deixando completamente maluco com seu
atrevimento.
Ela me enlouquece com aquelas roupas curtas e coladas, se
exibindo por aí. Provoca-me além do suportável ao se aproximar dos
meus homens, quebrando minhas ordens. Parece sentir prazer em me ver
fora dos trilhos. À noite, o sexo é delicioso, safado. Lexie se transformou
numa verdadeira diabinha gulosa. Ela se entrega toda para mim, e eu me
farto em cada centímetro de sua pele. Mesmo sem perceber, a garota me
alucina. A quero tanto que meu corpo arde de desejo, os pensamentos
nublam.
Nervoso demais para conseguir ficar quieto, deixo o copo sobre a
mesa de madeira e me levanto. Começo a andar pelo cômodo de um lado
para outro, sentindo-me como se estivesse prestes a explodir.
— O que vou fazer com você, Lexie? — murmuro baixinho,
rangendo os dentes.
Paro de frente para a janela e observo o movimento dos
seguranças lá embaixo.
Possuo o mundo debaixo dos meus pés, tenho uma infinidade de
aliados importantes ao redor do continente, o saldo da minha conta
bancária é astronômico, posso conseguir tudo que eu quiser, mas ainda
assim, estou padecendo por causa de uma menina quinze anos mais
jovem. O caralho de uma garota!
Digo a mim mesmo que é apenas um capricho idiota. Ela é
atrevida e eu gosto de um bom desafio, mas a verdade é que não estou
mais sabendo lidar com essa merda. Durante o dia, evito Lexie o máximo
que posso. Eu me entrego de corpo e alma aos meus deveres dentro da
máfia, viajo, me isolo, faço o que devo fazer, principalmente agora com
as merdas que andam acontecendo: cargas roubadas, emboscadas.

Mas quando chega à noite, não consigo pregar os olhos enquanto


não a tomo nos braços e a faço gritar meu nome durante o sexo. Lexie é
como uma droga nociva. Quanto mais eu provo, mais me torno viciado.

LEXIE

Termino de me arrumar e encaro meu reflexo no espelho para dar


uma última conferida. Meus cabelos estão soltos e cheios, partidos de
lado. As madeixas modeladas em ondas suaves, caem pelas minhas costas
e ombros, cobrindo um bom pedaço de pele nua.
O vestido que uso é justo e longo, em um tom vibrante de
vermelho. A peça é aberta nas costas até abaixo da linha da cintura,
próximo à curva do bumbum. As mangas são curtas e não possui decote
no busto. É um modelo sexy e ao mesmo tempo sério, passa um ar de
maturidade, aparento ser um pouquinho mais velha do que realmente sou.
Corrijo a maquiagem leve que passei nos olhos e retoco o batom
vermelho, passando outra camada generosa. Borrifo o perfume no
pescoço, pego a pequena bolsa que contém meus documentos e o cartão
de débito que Daniel me deu há algumas semanas. Não faço a mínima
ideia do saldo, mas ele disse na época que eu poderia gastar com o que
quisesse, sem me importar com o valor. No entanto, eu nunca o usei,
guardei-o para a primeira oportunidade que eu viesse a ter para ir embora
daqui. E esse dia acaba de chegar.
Quanto mais os dias passam, mais me vejo presa a ele. Os olhos
endiabrados me seduzem como imã em todas as vezes que fazemos amor.
Os braços fortes me esmagando contra seu corpo é o que me faz perder a
razão. Eu me entrego a ele todas as noites, mesmo sabendo que Daniel
não me ama. Quando estou com ele, vivo em uma linha tênue de paixão e
destruição. Eu o quero e me dou por completa, mas apenas sexo não é
mais suficiente. Eu preciso de mais.
O nervosismo me toma enquanto aguardo meu marido para irmos
jantar com Alex e Angelina, no entanto, respiro fundo. Aperto a bolsa
entre meus dedos e me olho mais uma vez no espelho. Rogo internamente
para que ele não desconfie, ou estarei em péssimos lençóis.
Caminho até a cama e me sento. Sinto minhas mãos geladas, um
enjoo incômodo me faz fechar os olhos. O medo e a incerteza são
constantes, mas me controlo. A porta se abre e meu marido entra no
quarto a passos firmes.
Ele veste uma camisa social na cor vinho. Os primeiros botões
abertos, deixam à mostra o início das tatuagens em seu peito. Os cabelos
arrepiados e ainda úmidos, me fazem passar a língua pelos lábios, louca
para agarrar o desgraçado.
Levanto-me e caminho na direção da porta sem lhe dar atenção.
Ainda não o perdoei pelo que fez mais cedo e Daniel sabe disso. Antes
que eu passe por ele, Daniel segura o meu pulso e faz com que eu me vire
para fitá-lo.
— Tenho algo para você! — diz, seco.
Só então percebo que ele segura uma caixinha preta e aveludada
na mão esquerda.
— Não é necessário — respondo com a mesma rudeza.
Mas o homem não se dá por vencido. Daniel se coloca na frente
da porta para impedir minha saída e abre a caixa, revelando um delicado
colar de ouro branco com o pingente de diamante em formato de lágrima.
A peça é linda e muito feminina. Parece ter sido adquirida dentre
as joias da realeza.
— Você vai usar, querida. Não é um pedido, é uma ordem. — Sua
voz é áspera e firme. O homem não deixa espaço para uma nova rejeição.
— Claro, porque o mundo inteiro deve se curvar aos seus pés,
chefe — desdenho, irritada.
Daniel me segura pela cintura e me leva para ele. O perfume
almiscarado invade meus sentidos, me inebriando. Quase solto um
gemido.
— Eu prefiro quando você se ajoelha. — A boca feroz se
aproxima da minha, faminta. No entanto, ele volta a se afastar antes que
nossos lábios toquem um no outro.
Fico zonza.
Dando a volta, Daniel fica às minhas costas e coloca meu cabelo
de lado para prender o colar ao meu pescoço. Quando termina, os lábios
quentes tocam minha nuca com um beijo demorado e febril. Arrepio-me
da cabeça aos pés.
— Ficou perfeita… — elogia.
As mãos grandes deslizam por meus ombros, braços e cintura,
depois sobem pelo meu tronco, até alcançar os seios. Daniel os aperta e
geme baixinho no meu ouvido. Posso sentir o volume dentro de suas
calças sendo esmagado entre nossos corpos.
A sensação é deliciosa.
— Estamos atrasados… Daniel. — Afasto-me de suas mãos antes
que eu perca o controle, e seguro a bolsa com mais firmeza. — Vamos!
Volto a me dirigir para a porta ao mesmo tempo em que ouço seu
suspiro frustrado.
Sorrio discretamente, satisfeita por tirá-lo dos eixos e deixá-lo
excitado. Daniel pode não me amar, mas a atração que sentimentos um
pelo outro é quase palpável de tão intensa. A mão experiente desliza pela
minha cintura e meu marido me guia em direção às escadas.
Ettore e outros dois homens nos seguem em direção ao carro que
está estacionado em frente ao jardim. Uma Ferrari vermelha está à nossa
espera e há também um SUV preto estacionado ao lado do veículo de
Daniel.
Entramos no carro de luxo, ele assumindo o volante e eu no banco
do carona. Sinto minhas mãos tremerem de ansiedade pelo que está por
vir. Coloco-as no meu colo, por cima da saia do vestido e foco minha
atenção para a janela.
O carro entra em movimento e passamos pelo grande e pesado
portão de ferro. O SUV nos segue. Daniel é pura força e virilidade
enquanto dirige. De vez em quando, desvio minha atenção da pista e o
encaro. O olhar penetrante está focado na direção e o vento balança os
fios de seus cabelos loiros.
De repente, ele fecha os vidros do carro e aumenta a velocidade
da Ferrari, arrancando meu fôlego. Máquina e homem fazem uma
sincronia perfeita, deliciosamente sexy. Minha boca saliva apenas em
olhá-lo tão relaxado com a mão no volante, a outra mão desliza pelo
banco e alcança minha coxa, me arrancando um suspiro, logo nossas
mãos estão entrelaçadas uma na outra.
— Você faz isso sempre? — questiono, impressionada com a
velocidade.
Ele assente sem desviar o olhar da pista.
— Sempre que preciso relaxar.
— Por que correr, Daniel? — pergunto, tentando entender esse
homem. O que o move a ser tão intenso em tudo o que faz?
— A adrenalina me deixa em combustão, Lexie. Preciso queimá-
la, e a maneira mais rápida de fazer isso é correndo ou fazendo sexo —
responde.
Ele solta minha mão para retroceder a marcha e diminuir a
velocidade em uma curva fechada. Volto a apoiar a palma no meu colo.
— Há muito que não sei sobre você, Daniel. Às vezes tenho a
impressão de que esconde algo perigoso — confesso. — É tão misterioso,
fechado…
— Você sabe tudo o que precisa, pequenina — diz com a voz
suave e calma.
Balanço a cabeça em discordância. Observo-o por alguns instantes
e chego à conclusão de que um relacionamento transparente está fora de
cogitação. Minha pele se arrepia ao imaginar o que ele esconde.
— Será mesmo? — questiono. — Durmo com um desconhecido
todas as noites. Isso não passa muita segurança.
— É melhor assim, acredite em mim.
O silêncio volta a se instalar dentro do carro e fazemos o restante
do percurso assim, quietos. Nenhuma frase é emitida. Ao chegarmos em
Nova York, Daniel para o carro em frente a um restaurante de renome e
entrega a chave para o manobrista.
Entramos de mãos dadas no local amplo bem iluminado, com
decoração elegante em tom dourado e luzes amareladas. A recepcionista
confirma a reserva da mesa e guia-nos para o local reservado. Alex e
Angelina já estão sentados à nossa espera.
Ambos conversam e sorriem de mãos dadas sobre a mesa. Ele
aparenta ser tão rude, mas não tem olhos para outra mulher a não ser a
esposa. É nítido que a ama desesperadamente.
— Olá — cumprimento, assim que nos aproximamos da mesa.
Angelina e Alex nos encaram sorridentes e levantam-se.
— Lexie, como é bom te ver outra vez. — Sorrio para a mulher
belíssima, usando um vestido preto e justo na cintura, eu a abraço,
compactuando com o mesmo sentimento.
— É ótimo te ver também, Angel — respondo. — Está
maravilhosa.
Seu sorriso se amplia e ela devolve o elogio.
Nossos maridos se cumprimentam e logo engatam em uma
conversa sobre negócios ao se sentarem à mesa.
— E então, como está o casamento, querida? — A mulher segura
minhas mãos entre as suas e seus olhos me encaram com expectativa.
Não sei bem o que responder. Abro e fecho a boca algumas vezes,
incerta, as palavras não se formam como deveriam. Percebo que seu rosto
perde o tom de expectativa ao ver minha reticência em responder,
tornando-se preocupado.
— Está tudo bem? — questiona baixinho.
Baixo a cabeça e respiro fundo. Como explicar a ela o que nem eu
mesma entendo?
— Podemos falar sobre isso depois? — peço quase suplicante,
rezando para que Daniel não tenha ouvido a curta conversa.
— Claro! — confirma.
Forço um sorriso e mudo o foco da conversa. Falamos sobre os
filhos dela e a viagem que farão para o Brasil em alguns dias.
Após fazermos nossos pedidos, presto atenção nos movimentos de
Daniel e seu amigo. Alex, o apelido de Alexander, é usado apenas pelos
mais íntimos. Para o resto do mundo, ele se chama Jason. Teve que trocar
a identidade após se tornar o genro de um Federal, a partir de então,
passou a prestar serviços ao FBI.
Volto minha atenção para Angelina e conversamos mais um pouco
sobre tudo. Assuntos bem aleatórios para passar o tempo. Em alguns
minutos, os pratos de entrada são servidos, e eu experimento um pouco
da sopa fria de Tomate e Abalone que pedi. A refeição é bem suave e
deliciosa, o Abalone cozido lentamente, possui uma textura tenra que
aprecio, e os tomates secos dão um sabor especial.
Estou na metade do prato quando um enjoo súbito me faz suar frio
e eu estagno no lugar, deixando a colher sobre a mesa. De repente, a sopa
já não parece estar tão apetitosa. Meu estômago se embrulha ao ver os
pequenos pedaços da carne do molusco.
Limpo a boca com o auxílio de um guardanapo e me levanto o
mais rápido que consigo. Meus olhos vão em busca do toalete.
— Com licença, preciso ir ao banheiro. — Olho para o meu
marido e abro um sorriso forçado. Suas mãos seguram a minha e ele
deposita um beijo demorado, assente e volta a prestar atenção na
conversa com Alexander enquanto comem.
Angelina se prontifica para me acompanhar, e seguimos as duas
em busca do toalete. Ao encontrarmos o banheiro feminino, entramos e
eu corro direto para o lavatório. Minha testa sua e eu apoio as mãos sobre
o mármore frio.
Abro a torneira e passo água em meu pescoço tentando acalmar os
nervos. Angelina vem até mim e coloca uma mão em meu ombro,
umedece um pequeno lenço que trazia na bolsa e limpa o suor que brota
em meu rosto.
— Lexie, o que está havendo? Você está gelada…
Inspiro o ar com mais força, regando meus pulmões com o
oxigênio.
O enjoo ameniza e eu me viro na direção de Angelina, o coração
batendo tão forte que me sinto atordoada.
— Estou prestes a fazer uma loucura, Angel…— confesso,
trêmula. — Estou muito nervosa…
Angelina volta a segurar minhas mãos e procura meu olhar com o
seu. A testa vincada indica o quanto meu estado emocional a preocupa.
— Respira, Lexie…
Angelina repete comigo uma série de respirações, até que me
sinto mais calma.
— Agora me conte tudo — pede.
Espero alguns segundos antes de falar, e finalmente abro a boca
para desabafar:
— Eu me apaixonei por ele… Angel — confesso com a voz falha.
— E é maravilhoso quando estamos juntos, mas é só isso. Ele gosta do
sexo apenas e eu já estou cansada… eu estou tão cansada.
— Oh, Lexie. Não se aflija assim. Ele é duro na queda, mas sei
que gosta de você também. — Balanço a cabeça em negativa e forço um
sorriso amarelo.
— Queria poder acreditar nisso, mas eu já tentei, Angel, e falhei
miseravelmente em conquistá-lo.
Angel suspira pesarosa.
— E o que pretende fazer? — questiona.
Faço uma pausa, pensativa, porém, decido acabar logo com isso.
— Eu irei embora! — admito enquanto busco forças para manter
minha decisão.
— Lexie, tem certeza disso? Daniel não vai deixar você ir assim.
— O aperto em minha mão intensifica e um bolo nauseante se forma em
minha garganta. — Não é melhor pensar com calma? Talvez até lá você
consiga penetrar a casca dura daquele teimoso.
Meus olhos turvam, mas mantenho-me forte, a postura imbatível.
Por fora eu posso estar impecável, talvez um pouco pálida, mas por
dentro sinto-me em frangalhos.
— Farei isso hoje, Angel. Já está decidido.
— Oh meu Deus! Você vai mesmo deixá-lo… — A confirmação
dos fatos deixa-a momentaneamente petrificada.
Assinto para ela. Os dedos tremendo enquanto seguro a bolsa com
os pertences que pude pegar. Ou seja, apenas a documentação e o cartão.
— Farei isso agora mesmo… acho que essa pode ser minha única
oportunidade da noite…— Encaro Angelina firmemente. — Talvez…
você possa me ajudar? — questiono, incerta.
Angel suspira, a dúvida permeia em seus olhos esverdeados.
— O que devo fazer?
— Apenas distraí-lo enquanto eu saio pela porta dos fundos. —
Um riso doloroso se forma em meus lábios. — Não será tão difícil,
apenas doído.
Mal me dou conta quando Angelina me abraça com força e me
acalenta.
— Por favor, não me diga aonde vai. Não quero ser obrigada a
mentir para o Alex, é óbvio que ele vai tentar de tudo pra saber seu
paradeiro e eu serei a principal cúmplice.
Assinto para Angelina, respiro fundo e caminho em direção a
porta da saída.
O banheiro fica em um corredor largo e bem iluminado. Observo
o espaço com atenção, constatando que não há ninguém à vista.
— Seja rápida, Lexie. Vou ficar aqui por um tempo e torcer para
que os homens não nos procurem. Você tem poucos minutos antes que
nossa farsa seja descoberta.
Concordo com um aceno de cabeça, aperto sua mão mais uma vez
e sigo caminhando pelo longo corredor, em direção contrária à área de
alimentação.
Logo à frente, vejo uma porta indicando o depósito. Forço a
entrada, mas está trancada. Sigo andando, até ouvir algumas vozes vindas
do outro lado do corredor. Apresso o passo, as vozes ficam mais intensas,
ouço batidas de panela.
De onde estou, consigo ver uma pequena luz saindo do cômodo.
Espio com cuidado e respiro aliviada ao notar duas mulheres
lavando a louça.
Entro sem pedir licença, a respiração ofegante, a mão no peito.
As duas me encaram alarmadas e enxugam as mãos nos aventais.
Adianto-me para dar uma explicação:
— Oh desculpe, eu acabei me perdendo e não estou me sentindo
muito bem. Poderiam me informar onde fica a saída dos fundos?
As mulheres se entreolham e uma delas aponta para um cantinho
logo depois da mesa.
— Por ali, moça.
Sigo na direção indicada, ouvindo os barulhos da cozinha a todo
vapor.
Encontro a porta ao lado de uma grande prateleira, abro-a e sinto
o vento frio me varrer da cabeça aos pés. O beco é pouco iluminado, e o
céu está enevoado com nuvens pesadas e escuras. Em um canto, há um
amontoado de lixo em sacos pretos, e alguns gatos correm do local para
se esconderem. Fecho a porta atrás de mim, e apresso-me para sair o mais
rápido possível daquele lugar.
Minhas pernas estão trêmulas, o coração massacrando a caixa
torácica com as batidas fortes.
Corro pela calçada sem olhar para trás. O medo gritando às
minhas costas, aquela sensação esquisita de que poderei dar de cara com
Daniel Kraven a qualquer momento. Chego à rua movimentada junto à
chuva que começa a cair tímida. Procuro abrigo em frente a uma
hamburgueria e analiso todos os lados antes de avançar.
As gotas de água se intensificam, meu corpo treme de frio.
Abraço-me e observo o circular dos carros, torcendo para que um
táxi passe pelo local.
Não demora muito e consigo chamar por um. Molho-me toda, até
conseguir entrar, porém respiro aliviada.
— Para o aeroporto, por favor — informo ao motorista.
O homem assente e eu me encolho no banco, sentindo-me gelada,
a cabeça zonza.
O balançar do carro faz meu estômago embrulhar e fecho os
olhos, o trânsito não ajuda.
Algum tempo depois o táxi estaciona no aeroporto LaGuardia,
próximo a Manhattan. Pago a corrida e entro no edifício. A primeira coisa
que faço é sacar uma quantia razoável de dinheiro no caixa eletrônico.
Não faço ideia para onde irei, a única certeza é que pegarei o próximo
voo programado para outro estado. Quando estiver instalada, darei um
jeito de tirar o passaporte e sair do país.
Eu me informo sobre os voos disponíveis, e compro a passagem
direto para Montana. Em menos de dez minutos, o avião irá embarcar.
Passo pela inspeção de segurança e corro direto para a fila de embarque.
As últimas chamadas para o voo que seguirá para Montana são
anunciadas.
Com o coração em pedaços, dou um passo em direção ao meu
novo destino.
Minha cabeça lateja, a bile sobe em meu estômago. É difícil
manter-me de pé.
Faço um cálculo rápido, tentando lembrar a quanto tempo estou
me sentindo assim, estranha: Faz algumas semanas, concluo
mentalmente.
Continuo andando em frente, a tontura se intensificando. Inspiro o
ar com força e paro na pequena plataforma que dá acesso ao interior do
avião.
CAPÍTULO 35

DENER

Olho as horas no relógio de pulso em meu braço e levanto o olhar


para analisar a direção que as mulheres saíram.
Já se passaram vários minutos e nada delas retornarem à mesa.
Alexander me encara com a expressão fechada, e por alguns
segundos, a conversa é encerrada.
— Elas estão demorando demais! — comento, já me levantando
da mesa. Meus instintos dizendo que algo pode estar errado.
Lexie saiu no meio do jantar para ir ao banheiro com Angelina e
até então estava tudo normal. Continuei conversando com Alexander
enquanto apreciávamos um bom vinho, e ele me deixou a par do que anda
acontecendo dentro do FBI.
Mas agora, tantos minutos se passaram sem que elas retornem, o
sinal de alerta começa a ressoar em minha cabeça. Alexander também se
levanta, ajeita o paletó cor de chumbo e me encara com firmeza, como se
dissesse em silêncio que não importa o que tenha acontecido, nós iremos
resolver.
Ele dá um discreto aceno com a cabeça e nos preparamos para ir
ao encontro das garotas. Levo a mão a pistola que está presa no cós da
calça, sempre atento a qualquer merda que possa acontecer. Um homem
como eu nunca está despreparado para o combate.
No entanto, Angelina surge na curva, assim que nos aproximamos
do corredor. Ela abraça o marido e se volta na minha direção com o olhar
aflito. Encaro-a, confuso.
— Onde ela está? — questiono, tenso, a voz fria, a respiração
tomando um tom acelerado.
A mulher se aninha mais ao Alexander e responde com um olhar
culpado e alarmado:
— Ela se foi, Daniel.
Todo o sangue parece ser drenado do meu corpo. Fico lívido, sem
fala.
— Como assim ela se foi, Angelina? — Não espero que a mulher
responda e corro o mais rápido que posso em direção ao banheiro
feminino.
Abro a porta com chute e pouco me importa se o dono deverá
fazer uma reforma nesse caralho nos próximos dias
— Lexie! Lexie! ― grito seu nome e abro todas as portas das
divisórias com um forte chute.
Procuro, me desespero, mas ela não está em lugar algum.
Meu celular vibra no bolso da calça, pego o aparelho e o atendo
apressado, sem olhar a porra do visor.
— Daniel — é a voz de Ettore —, o radar do rastreador que você
deu à sua esposa está se movimentando rapidamente em direção ao
aeroporto. Vocês ainda estão no restaurante? — Não preciso ouvir mais
nada para entender tudo o que aconteceu. Lexie foi embora,
simplesmente me deixou plantado em uma mesa e fugiu sem me dar
qualquer explicação.
Maldita! Porraa!
Abro o programa de rastreio no celular e a localizo pelo rastreador
que está cravado no colar que a presenteei. Lexie aproxima-se do
aeroporto. Com os olhos vermelhos de raiva, saio do banheiro e caminho
a passos firmes e pesados. Olho para Angelina, a cúmplice de Lexie, e
sinto meu sangue fervendo em ira. Alexander protege a esposa com o
corpo, ele sabe que neste exato momento, eu não raciocino muito bem e
pouco me fodo para as consequências. Ignoro-os e caminho em direção a
recepção do hotel. Exijo para que tragam meu carro o mais rápido
possível.
Sigo para o hall de entrada e ligo para Ettore. Ordeno que vá com
os outros seguranças para o aeroporto e tente alcançá-la antes que
embarque. Eu os acompanharei assim que estiver com a chave da Ferrari
em mãos.
Uma chuva forte está caindo lá fora, mas meu corpo nem ao
menos sente o frio.
Pouco tempo depois, o manobrista sai da Ferrari e me entrega as
chaves. Enquanto entro no carro, calculo rapidamente qual percurso devo
pegar agora. O mais provável é que a avenida principal esteja com um
trânsito infernal. O percurso secundário é mais tranquilo, no entanto terei
de dar uma volta gigantesca e mesmo assim pegarei o tráfego já chegando
ao aeroporto.
Dou a partida no carro, decidido a ir pelo caminho mais longo.
Piso o pé no acelerador sem um pingo de remorso, apenas a certeza de
que preciso encontrá-la ou não sei que merda irei fazer.
Algo bem lá no fundo se aperta tanto que é difícil respirar. Não
deveria me importar assim, mas agora, o medo de perdê-la grita mais alto
que a raiva que sinto. A certeza de que Lexie não me quer mais é como
ter uma faca fincada no peito: dói, machuca. Deixa-me ensandecido.
Esmurro o volante algumas vezes, sentindo minhas mãos
trêmulas.
Acelero, ultrapasso o sinal de trânsito, corro contra o tempo.
Ao me aproximar do aeroporto, respiro aliviado, notando que o
tráfego de carros é razoável.
Assim que estaciono, saio da Ferrari e caminho a passos rápidos
em direção ao balcão da empresa de voos locais. Lexie não possui
passaporte, o que significa que ela não poderá sair do país por enquanto.
O mais provável é que esteja embarcando para outro estado.
— Quais os voos locais disponíveis? — questiono de forma
autoritária.
A atendente se alarma com minha chegada repentina, mas logo se
recompõe.
— Só um segundo, senhor. — Abre um sorriso idiota e começa a
procurar os registros de voos no computador.
—Tem um voo para Seattle que irá sair em duas horas — informa.
— E um outro para o Texas, para daqui cinquenta minutos.
— Apenas esses? — questiono.
Poderei buscá-la no embarque, Lexie tem de estar à espera do
próximo voo.
— Sim, os próximos são esses. Com exceção do voo que acaba de
embarcar com sentido a Montana.
Porra! Sinto como se estivesse acabado de levar um soco no
estômago.
— Qual o número do portão? — pergunto.
A mulher desvia os olhos da tela e me encara pensativa.
— Senhor, não tem autorização para ir a essa sessão. Somente
passageiros…
— Qual o número do caralho do portão? — questiono, ríspido,
impaciente. Prestes a cometer uma loucura.
A mulher abre e fecha a boca algumas vezes, surpresa com meu
tom nada amigável.
— Número dezesseis, senhor, mas…
Passo a mão pelos cabelos, nervoso, e corro o mais rápido que
posso na direção do embarque. Saco a arma que carrego no cós da calça e
rendo o caralho do segurança, em seguida, dou-lhe uma coronhada na
cabeça e o deixo apagado no chão.
Salto seu corpo e continuo o percurso às pressas, antes que o
inferno de uma guerra comece aqui. As pessoas que circulam pelo local
me encaram com os olhos alarmados. Volto a guardar a arma, identifico a
localização do avião que partirá para Montana e sigo para essa direção.
Quando me aproximo da área de embarque, a primeira coisa que
vejo é o avião na pista, tomando velocidade para içar voo.
Fecho os punhos trêmulos, o ar faltando nos pulmões, o olhar
petrificado.
Lexie foi embora. É a única coisa que se passa em minha cabeça.
Ela me traiu…
Aturdido, levo a mão ao peito e massageio o local, agoniado. O
coração doendo tanto como se acabasse de ser apunhalado por uma
lâmina afiada.

LEXIE

O último passageiro embarca, mas eu não consigo me mover para


dar o próximo passo. Meu corpo está agitado, trêmulo, e o enjoo só
aumenta por estar faminta e com frio.
Volto a fazer os cálculos: Estou há algumas semanas sentindo
mal-estar, principalmente no período da manhã. E minha menstruação…
Oh meu Deus!
Nem ao menos me recordo quando foi a última vez que menstruei.
Esses meses foram tão conturbados que perdi a razão de tudo e do tempo.
Sabia que poderia ficar grávida, pois Daniel e eu não usamos nenhuma
proteção, mas não imaginei que seria assim tão rápido.
Aturdida demais, dou um passo para trás, depois outro e mais
outro.
Quando dou por mim, estou correndo para longe do avião que
ainda está conectado à plataforma de embarque. Paro ao me aproximar
das poltronas de espera e busco uma para me sentar e tentar acalmar os
nervos. Escolho justamente a poltrona que fica perto da parede, pois não
há ninguém sentado desse lado.
Meu peito sobe e desce por causa do ritmo acelerado da
respiração, minha cabeça lateja, o mundo gira ao meu redor. Calafrios
gelados tomam minha pele e eu abraço o corpo para me aquecer um
pouco.
Minha mente torna-se uma confusão de pensamentos e incertezas,
meu coração se aperta dolorosamente dentro do peito.
É difícil assimilar tudo. Não sei o que fazer ou o que pensar.
Um filho…
Deslizo as mãos pelo ventre em choque, sentindo o tecido do
vestido molhado, colado ao meu corpo. Mesmo não tendo certeza da
existência dessa criança, a sinto dentro de mim. Não há outra explicação
para o atraso da menstruação e os enjoos que me atormentam. Só posso
estar à espera de um bebê, um filho de Daniel Kraven, o homem que
sempre jurei odiar.
Em um rompante, levanto-me da poltrona e decido sair dali. É
hora de buscar um hotel para passar a noite, pela manhã pensarei no que
devo fazer e entrarei em contato com Daniel.
Esfrego as mãos nos meus braços nus e viro-me em direção aos
vidros que separam o aeroporto da pista de embarque.
É então que eu o vejo.
Meu marido está de costas para mim, com a atenção focada no
avião que desliza pela pista de decolagem ao longe.
Seus punhos estão fechados, os músculos dos ombros e costas
marcando o tecido da camisa. Meu coração dispara quando o vejo ali, de
pé e imóvel, provavelmente me amaldiçoando por tê-lo abandonado.
Como se pressentisse minha presença, o homem gira o corpo e
suas írises fixam-se em meu rosto. Pura dor, é o que vejo em seu olhar.
Minha garganta fica seca, o corpo estremece. Nunca o vi assim, deixando
transparecer tudo o que está sentindo mesmo que por poucos segundos.
Logo a expressão dolorosa dá lugar à ira e Daniel caminha na
minha direção com a fúria exalando de cada poro do seu corpo.
Eu o traí… repito para mim mesma. E agora terei de assumir as
consequências.
Não há perdão dentro da máfia!
Dou alguns passos para trás, sem saber exatamente o caminho que
sigo. Não há como fugir do diabo, eu deveria saber disso desde o
momento em que decidi ir embora. Choco-me com a parede fria e puxo o
ar com mais força, as palmas das mãos segurando com firmeza na saia do
vestido.
Daniel me encurrala de forma imponente, colocando um braço em
cada lado da minha cabeça. O hálito quente varre meu rosto de cima para
baixo, pareço uma garotinha ao ser comparada com o seu tamanho.
— Maldita! — O punho fechado se choca contra a parede, há
poucos centímetros do meu rosto, com toda a força que há dentro dele.
Ouço o barulho de algo se partindo, mas não consigo desviar a
atenção. Continuo estática, o olhar cruzado ao de Daniel, a respiração
ofegante.
— Olá, Daniel… — falo seu nome como se o experimentasse
dizer em voz alta pela primeira vez.
Suas narinas inflam e o maxilar cerrado deixa nítido seu
descontrole.
— Você me traiu, Lexie… Sabe o que acontece com um traidor,
porra? — O olhar feroz me analisando de cima para baixo, quase me faz
cair de joelhos.
Assinto. Porém, esforço-me o máximo que consigo para não
demonstrar medo.
— Faça o que deve fazer — sentencio sem desviar o olhar do
dele.
A mão pesada e firme desliza pelo meu pescoço, testando,
sentindo a textura da minha pele.
— Apenas um movimento e eu poderia quebrar seu pescoço bem
aqui. Tudo chegaria ao fim, Lexie. Você não teria que me suportar, nunca
mais. Inspiro fundo, sentindo outra náusea me tomar por dentro. Abro e
fecho os olhos.
— Mas você não quer fazer isso, Daniel! — afirmo, convicta,
jogando minha última carta na mesa. — Se quisesse, já teria feito.
O homem me observa por mais alguns segundos. Afasta a mão do
meu pescoço e desliza o dedo polegar pelo meu queixo e lábios.
— Tem razão, eu não faria! — confessa.
O coração dispara…
— Por que… não? — questiono em um sussurro falho.
— Porque eu morreria também. — Preciso usar todo meu
autocontrole para não permitir que uma lágrima transborde e deslize pelo
meu rosto.
Desvio meu olhar do dele, meu corpo tremendo pelo que acabo de
ouvir.
Pelo canto do olho, vejo um vulto escuro atrás de Daniel, mas não
consigo identificar de quem se trata devido a visão turva de lágrimas.
Seco os olhos rapidamente sem nada dizer e noto a aproximação
de Ettore com os outros dois seguranças.
— Precisamos sair daqui. A polícia foi acionada após a
identificação do homem desmaiado na entrada do portão — informa
Ettore.
Daniel não se move, continua me encarando com a expressão
acirrada, o olhar animalesco e voraz.
— Eu estou aqui… não fui embora. — Levo a mão ao seu peito
para acalmá-lo, mas ele segura meu punho com firmeza antes que eu
possa tocar a pele exposta.
O aperto é forte, machuca, porém em poucos segundos Daniel
liberta meu braço.
Outra tontura toma meu corpo e eu firmo-me na parede. A bile
sobe, o mundo começa a girar. Só tenho tempo de me inclinar e virar o
corpo para o lado. Vomito tudo o que comi no jantar, minha boca torna-se
amarga, os olhos lacrimejam pelo esforço.
Começo a tossir ao me engasgar com a saliva e limpo a boca com
as costas das mãos.
Depois disso, não tenho mais coragem para encará-lo. Apenas
fecho os olhos e fico ali imóvel e trêmula.
— Levem-na pra mansão. Eu vou depois! — ele ordena e dá um
passo para trás.
Meu marido vira-me as costas e caminha em direção a saída.
— Daniel… — chamo, mas é inútil, ele continua andando até
sumir de vista.

A viagem de volta é silenciosa e fria.


Eu me encolho em um canto do carro, e foco a atenção na
escuridão além da janela.
Ettore está sentado ao meu lado, de vez em quando noto seu olhar
desviar-se para mim, mas o homem não diz nada. Nenhuma voz é ouvida
no interior do SUV. Os homens parecem entender que o silêncio é tudo
que preciso agora.
Assim que entro em meu quarto, arranco as roupas frias, os
sapatos e corro em direção ao banheiro.
Tomo um banho quente e retorno à cama enrolada no roupão. Meu
corpo está exausto e dolorido, meus pés doem. No entanto, o pior de tudo
é que ainda não consigo assimilar o que aconteceu nas últimas horas.
Em um minuto, eu estava indo embora para sempre, no outro,
estava frente a frente com Daniel Kraven, louca para me jogar em seus
braços outra vez.
Cansada, suspiro e tento dormir, mas o sono não vem.
Não sei por quanto tempo permaneço acordada com os
pensamentos longe, sem saber ao certo o que pode acontecer de agora em
diante.
Em algum momento, ouço passos no corredor e logo depois a
porta do quarto é aberta.
Daniel entra sem pedir licença e fecha a porta atrás de si.
Ainda usa a mesma roupa que fomos ao jantar, o que dá a
entender que ele acaba de chegar. As mangas da camisa estão arregaçadas
até o cotovelo e agora sua expressão é neutra e o olhar esgotado. Mas o
que mais me apavora, é o curativo enrolado em sua mão, consequência do
golpe que dera na parede do aeroporto.
Meu marido se aproxima da cama e eu me sento, puxando o
roupão para cobrir o corpo. Sinto o cheiro forte de uísque invadindo meus
sentidos, a boca fica seca.
Daniel apenas se inclina um pouco para deixar algo cair sobre a
cama e volta a se afastar. Meu olhar segue seus movimentos rumo à
janela. Abre os vidros e cruza as mãos atrás das costas.
— Faça o teste, Lexie — exige. O rosto focado na noite escura.
Meu sangue parece congelar nas veias, o ar crepita, tornando difícil
respirar. — Sua menstruação está atrasada e você passou mal a semana
inteira — continua ainda de costas. — Eu sigo cada um dos seus passos,
garota.
Não há nada o que dizer ou fazer a respeito. Daniel é experiente,
provavelmente ligou um ponto ao outro bem antes que eu começasse a
desconfiar de uma possível gravidez. Afinal, sempre foi isso o que ele
quis: um filho…
Pego a caixinha branca e comprida com detalhes rosa e caminho
em direção ao banheiro. Sento-me no vaso e me concentro para conseguir
fazer xixi.
Quando termino, faço todo o procedimento descrito na bula do
teste de gravidez, coloco a caneta sobre o balcão da pia e aguardo. Os
segundos se arrastam como se fossem minutos. Mal consigo firmar-me
em pé, de tanto que meu corpo treme.
Começo a contar o tempo e vejo uma fina linha azul surgir à
frente dos meus olhos no visor. Segundos depois, surge outra,
confirmando o que eu mais temia: estou grávida de Daniel Kraven.
Não tenho forças para sair do banheiro. Continuo parada, o olhar
alarmado, o coração dando batidas desnorteadas. Com a garganta
sufocada, engulo saliva, fecho e abro os olhos. Massageio o peito para
aliviar o aperto que se formou ali.
Deslizo as mãos em meus cabelos, sentindo-me corroída pelo
choque. Agora não é mais uma possibilidade, agora é uma certeza.
A porta do banheiro se abre e Daniel caminha na minha direção.
Seu olhar varre meu corpo de cima para baixo e pousa na caneta sobre o
balcão.
O homem se aproxima e confirma o inevitável.
— Está grávida… — comenta como se dissesse para si próprio.
Seu olhar se volta para mim e Daniel acaricia meu cabelo
levemente. Seu toque é tão suave que quase posso senti-lo no rosto como
uma brisa fresca.
Os olhos expressivos me encaram sem vida, apagados. Só agora
compreendo o tanto que o feri. Algo dentro de mim se rompe em
pequenos pedaços.
— Se é o que você tanto deseja… — O indicador desliza em meu
queixo, e meu marido acaricia a pele, mantendo-me focada em tudo o que
diz. — Te darei o divórcio assim que o bebê nascer.
CAPÍTULO 36

LEXIE

O impacto de suas palavras é tão grande em meu cérebro, que, por


um instante, não consigo me mover ou dizer algo. Minha cabeça parece
girar à medida que absorvo cada frase dita por ele. Tudo dentro de mim se
transforma em uma bagunça infindável.
Começo a gargalhar histérica, o controle se dissipando de cada
célula do meu ser, os olhos marejados de lágrimas não derramadas.
— E o que você quer, Daniel? Que eu vá embora e deixe o bebê
com você?
Ele assente com o olhar firme, sempre atento a cada movimento
do meu corpo.
— Você escolheu isso, Lexie. Bateu o martelo em sua própria
sentença quando saiu daquele restaurante. — A voz é dura, seca,
carregada de amargura.
O orgulho em seu peito o impede de raciocinar coerentemente.
Balanço a cabeça em negativa, ainda sorrindo exaltada, nervosa demais
para manter meu próprio domínio.
— É engraçado como me achou tão rápido. O que você fez,
Daniel? Colocou um rastreador em mim também, da mesma forma que
faz com seus inimigos?
Ele continua me encarando com firmeza, os braços cruzados na
frente do corpo.
— Por uma questão de segurança, apenas! — justifica, dando a
certeza que sim, esteve me rastreando todo este tempo.
Levo a mão ao pescoço e toco o lindo colar com o pingente em
forma de lágrima que ele me obrigou a usar mais cedo. Tenho ímpeto de
arrancar a peça e jogar no chão, exatamente como fiz na primeira vez que
ganhei uma joia de Daniel Kraven.
— Não o retire, Lexie. Esse colar manterá vocês protegidos. —
Respiro fundo para tentar me acalmar e passo a mão em meus cabelos.
Volto a curvar os lábios em um riso arrogante e falso, também o
encaro firmemente.
— Muito bem, chefe — provoco. — Quando o bebê nascer,
assinarei o divórcio e irei embora.
Daniel cerra o maxilar, a expressão torna-se acirrada. Raiva
flameja em sua face.
Percebo os músculos dos ombros e braços se retesarem, o olhar
incrédulo como se o que acabo de dizer não fosse em nada o que ele
esperasse ouvir. Finjo que não me importo. Dou a ele minha versão mais
cínica e fria, mesmo que por dentro meu coração esteja em pedaços.
— Ótimo! — ele responde com indiferença. Um tom gelado. Em
seguida, vira-me as costas e sai.
Permito que meu corpo escorregue para o balcão e me firmo no
mármore. Só então percebo que segurava a respiração, e um turbilhão de
emoções me atinge com força.
Quero gritar e chorar até que o dia amanheça, mas até para isso
não tenho forças.
Daniel está me punindo, quer me machucar exatamente como eu o
machuquei, mas não permitirei que consiga. Eu nunca abrirei mão do
meu filho por causa de um capricho dele.
Lavo meu rosto vermelho, quase em chamas de tão nervosa que
estou, seco-me e retorno ao quarto. Lá fora está frio, mas minha pele está
quente como brasa. Sento-me na cama, me deito e tento dormir, mas nada
no mundo é capaz de impedir que meu sangue ferva.
Angustiada, volto a me levantar e caminho de um lado para o
outro no quarto.
Meu corpo está agitado, a angústia leva-me ao limite.
Impaciente demais, mal percebo quando agasalho o roupão e
caminho à passos firmes em direção ao quarto dele.
Nunca entrei em seu domínio particular, Daniel sempre deixou
claro para que eu não o procurasse, mas, agora, sinto que esse é o
momento perfeito para quebrar mais uma regra da casa.
Levo a mão a maçaneta da porta e me surpreendo ao encontrá-la
aberta.
Abro-a em um rápido movimento e entro, permitindo que a porta
bata com força atrás de mim. O quarto está sombreado, apenas a pálida
luz de um abajur sobre a mesa de cabeceira permite que eu o veja de
frente para a janela, olhando para a noite escura lá fora.
— O que faz aqui? — questiona.
Seu corpo está nu da cintura para cima e uma toalha cobre a parte
de baixo, deixando as costas musculosas à mostra.
Caminho em sua direção com passadas precisas, pronta para a
guerra.
Paro a poucos centímetros de distância, a respiração tão ofegante
que pareço ter acabado de correr uma maratona. Daniel vira-se na minha
direção, mas não espero nenhum segundo para fazer o que pretendo.
Estapeio seu rosto com toda força que há em mim, movida pelo
instinto de proteger o bebê que carrego no ventre, disposta a assumir até a
última consequência.
— Você nunca vai tirar esse bebê de mim, está me ouvindo,
Daniel? Nunca! Ele é meu filho também e eu o quero. Quero muito! —
grito já no limite.
Puxo ar para os pulmões, as pernas tremendo tanto como gelatina.
Mesmo com a fraca luz, consigo ver seu olhar alarmado em minha
direção, o peito forte subindo e descendo.
Daniel avança, me alcança e segura meu rosto com as duas mãos.
Não há tempo para tentar fugir ou revidar, a boca faminta captura a minha
em um beijo ardente, tão quente como o inferno.
A língua dura e morna penetra entre meus lábios, invadindo e
sugando, deixando-me zonza. As mãos experientes descem pelo meu
corpo, explorando, e arrancam o roupão do meu corpo. Fico
completamente nua em seus braços, sem ar e chocada.
— O que acha que está fazendo? — Tento afastá-lo, mas é inútil.
Eu nunca tive chance contra esse homem.
Minhas unhas cravam-se em seu peito e fecho os lábios para
impedir que me beije. É a única alternativa que encontro para tentar sair
do seu abraço fatal em meio ao anuviamento que tomou conta do meu
cérebro.
Sua boca experiente desce em direção ao meu pescoço. Chupa e
mordisca a pele sensível, a barba comprida deixa-me toda arrepiada.
— Eu estou ficando louco sem você, pequenina… — sussurra,
ainda me esmagando contra o seu corpo. — Não sabe o quanto fico
aliviado em saber que você quer tanto esse bebê, assim como eu.
Minha cabeça não raciocina de forma coerente enquanto ouço
suas palavras. Meu coração explode, a mistura de sentimentos que está
cravada em meu peito é gritante. Meus membros já não obedecem aos
comandos da minha mente.
— O quê? Eu… é claro que quero essa criança, Daniel. —
Finalmente consigo dizer algo, ainda confusa. — Ela faz parte de mim.
Os lábios habilidosos voltam a se apossar da minha boca, cheios
de fome. Sua língua entranha-se com a minha e ele chupa, me fazendo
ficar tonta. Um único beijo e já não sei mais quem sou, porém, uso toda a
força de vontade para afastá-lo. Primeiro quero resolver tudo, do
contrário não restará nada entre nós.
— Pare! — peço, ofegante e ele se afasta um centímetro. — Não
quero que as coisas continuem assim. Ou eu sou sua mulher ou não sou,
Daniel. Ou me ame de volta ou me deixe ir.
Ele suspira, mas continua com os braços em volta do meu corpo.
— Sempre teve tudo de mim, Lexie. Desde a primeira vez que te
vi naquele maldito racha. A única que não percebia isso era você.
Meu coração palpita com força dentro do peito.
As mãos firmes voltam a deslizar pelo meu corpo e ele apalpa
minha bunda nua, amassando a carne.
Solto um gemido sôfrego, queimando de desejo e o abraço de
volta, passando os braços em volta do seu pescoço.
— Por que pensou que eu não quisesse o bebê? — Finalmente
questiono, mas minha fala é interrompida por outro beijo gostoso,
estalado e molhado.
Daniel prende meu lábio inferior entre os dentes e o suga, me
fazendo tremer.
— Quer que eu numere, querida? Eu faço — responde,
desdenhoso. — Primeiro fugiu de mim e quando propus o divórcio, você
aceitou sem hesitar, mesmo sabendo que eu não permitiria que levasse
nosso filho.
Eu o beijo de volta, aninhando-me ao seu corpo torneado de
músculos.
— Eu só queria feri-lo, Daniel — confesso enquanto tomo fôlego.
Meu marido segura-me pela cintura e ergue o meu corpo, me
abraçando com força.
— E você conseguiu, pequenina. Fiquei louco com a possibilidade
de perder você. Caralho… não faça isso de novo, garota.
Passo as pernas em volta dos seus quadris, sentindo o volume
descomunal por baixo da toalha e gemo baixinho. Sinto meu sexo
melado, escorrendo de desejo e vontade de fazer amor. Nossos beijos se
intensificam mais, minha pele arde. É como se os hormônios estivessem
descontrolados, levando-me ao delírio.
Contorço-me, me esfrego em sua pélvis e Daniel grunhe rouco em
minha boca. Ele caminha devagar em direção à cama e se inclina no
colchão, me colocando sentada. Ansiosa e arfante, observo meu marido
retirar a toalha do corpo, expondo o pau rosado e longo, tão delicioso que
minha boca saliva.
Ele se masturba devagar em minha frente, me convidando em
silêncio para que eu o chupe. O tesão aumenta e fico completamente
inerte diante da visão tão crua e imoral.
Levo a mão até os testículos e seguro as bolas pesadas,
acariciando de leve. Ele grunhe, geme, está impaciente, porém, continuo
provocando-o.
— Lexie… — Trinca os dentes quando seguro seu pau.
Aperto a glande macia e espalho o líquido de sua excitação na
cabeça protuberante.

Aproximo o rosto desejosa, sentindo meu clitóris latejando, louco


para ser tocado. O cheiro dele entranha-se em minhas narinas e eu inspiro
profundamente, gemendo. Coloco a língua para fora e toco a ponta na
glande sensível, apenas para sentir o gosto de homem que tanto me
enlouquece.
— Chupa, amor. Engole meu pau todinho… — Obedeço
prontamente e o coloco quase todo na boca.
A carne quente quase me faz engasgar, meu maxilar dói pelo
esforço constante de manter a boca aberta e acomodá-lo na garganta,
porém, quanto mais eu o chupo, mais melada fico e mais desejo tenho de
sentir seu gosto na boca.
Choramingo e afasto o rosto em busca de ar. Seu pau fica todo
babado de saliva e excitação, a cabeça brilha nas sombras do quarto mal
iluminado.
Daniel volta a segurá-lo e esfrega a glande em meus lábios e
bochechas, deixando meu rosto lambuzado com a sua essência. Gemo
baixinho e o tomo novamente na boca.
Suas mãos são certeiras em meus cabelos, prende os fios e passa a
me foder devagar de forma constante. Engasgo, lacrimejo. O barulho das
minhas chupadas entranha-se em nossos sentidos, deixando o clima ainda
mais febril.
Estou sem fôlego quando ele retira o pênis da minha boca e se
inclina sobre mim. Captura meus lábios em um beijo rápido e faminto,
em seguida, segura minhas pernas e me puxa até a beirada da cama.
Perco o equilíbrio e desabo para trás, caindo sobre o colchão
macio. Mal tenho tempo para me recompor. Daniel arreganha minhas
pernas e direciona a cabeça grossa em minha entrada.
Firmo o cotovelo no colchão e ergo a cabeça para olhar entre
nossos corpos, fascinada.
— Assim… Lexie. Veja como eu te fodo gostoso.
E ele entra todo de uma vez com uma punhalada vigorosa.
Grito rouca, minha boceta toda esticada para recebê-lo.
Jogo a cabeça para trás e cravo as unhas no lençol, entregue.
Daniel monta em mim, enfiando tudo até o talo.
Sinto as bolas baterem na minha bunda e ele volta a enfiar a
língua na minha boca, entregando-se ao momento que nos une. Abraço
seu corpo, arranho suas costas com minhas unhas.
Daniel enfia e retira o pau da minha entrada, me comendo com
força, desejo e loucura.
— Eu amo sentir você dentro de mim — murmuro baixinho e
abro mais as pernas.
A boca morna esmaga a minha e meu marido gira o quadril, me
preenchendo por completo, cada pequena terminação nervosa.
Gemo, grito, arranho seus ombros desnorteada.
— E eu amo quando você grita assim, bem gostoso.
— Aiii… — gemo cada vez mais alto, as pernas tremendo de
tesão com a aproximação do êxtase.
Daniel desliza a mão entre nossos corpos e começa a massagear
meu clitóris com o polegar, me fazendo ver estrelas.
— Isso amor. Grita. Diga para mim que é minha mulher… —
ofega, trêmulo.
Seu toque incendeia a pele, as penetrações vigorosas deixam-me
sem ar.
— Sou sua mulher… ahhh.
Ondulações latejantes começam a se formar no meu íntimo e eu
inclino o quadril querendo tudo dele. E Daniel me dá tudo. Beija-me
como se não houvesse amanhã, me entrega seu corpo e sua alma, faz
amor comigo, me venera a cada toque quente.
Resfolego em sua boca e o puxo mais para mim. Minhas pernas
vibram, o chão parece deixar de existir, e eu gozo gemendo seu nome.
— Daniii… — Contorço-me toda debaixo dele, nossos corpos
suados e febris colados um no outro.
— Prometa, Lexie! Prometa que nunca vai me deixar — pede
com a voz aflita, a respiração acelerada.
— Eu prometo — respondo em meio ao abandono e meu marido
me penetra fundo mais uma vez. Então o sinto vibrar dos pés à cabeça.
Seu membro pulsa, enterrado até às bolas na minha boceta. Sua
boca alcança meu queixo e ele morde, grunhindo.
— Oh porra… — xinga, descontrolado, me prendendo dentro dos
seus braços.
Abraço-o e permanecemos assim, colados e em silêncio, até que
nossos corpos se acalmem. Segundos depois, ele sai de cima de mim e
desaba na cama. Puxa-me para ele e beija o topo da minha cabeça.
Sinto minha vagina ardida, mas é uma dorzinha gostosa que se
amplia vagarosamente a cada batida desnorteada do meu coração. Eu me
aninho mais a ele, inspiro seu cheiro.
— Você é tudo para mim, Lexie — confessa, quebrando o
silêncio. — Você e esse bebê em seu ventre.
Assinto emocionada, imaginando o quanto ele desejou ter uma
criança do seu sangue, desde que a mulher que amava foi morta grávida.
— Eu te amo, Daniel… — Sinto as batidas do seu coração se
acelerarem e sorrio internamente. — Amo você e o nosso filho.
Sua mão toca meu ventre levemente e acaricia devagar.
— Preciso te mostrar algo. — Suspira. — Aos poucos, vai
descobrir tudo sobre mim, Lexie. Só espero que o que sentimos seja
suficiente para suportar. Meu coração palpita e uma sensação esquisita se
apossa do meu peito.
Assinto para ele, mas a dor aqui dentro apenas se intensifica:
medo, dúvida, receios, é tudo que consigo sentir agora.
Meu marido levanta-se da cama e caminha até o interruptor.
Acende a luz do quarto e vira-se para mim. Choque, lembranças, sonhos.
Tudo se mistura em minha cabeça como se eu estivesse sendo carregada
por um tornado.
— Seus olhos… — interrompo a fala, trêmula.
— Eles não são negros!
O olhar de Daniel para mim é tão brilhante quanto as ondas do
oceano azul em um dia ensolarado.
Coloco os dois polegares na testa, sentindo minha cabeça latejar.
Fecho os olhos, amedrontada, mas não consigo compreender por que me
sinto assim, em perigo. Um sonho estranho vem à minha mente e eu
inspiro fundo, sem compreender essa mistura de sensações e medos.
As imagens passam como em um filme antigo em preto e branco.
São borradas, distorcidas.
Da janela do meu quarto, ainda criança, eu observava a chuva
caindo fortemente no chão. Raios e trovões pintavam o céu e eu abraçava
meu pequeno urso marrom, com os olhos banhados de lágrimas.
E então aqueles olhos azuis como gelo surgiam na minha frente e
tudo se transformava em um borrão indecifrável.
— Lexie? — As mãos de Daniel tocam meu ombro, tirando-me
dos meus devaneios e eu retorno à realidade. — O que foi, pequenina?
Você ficou pálida.
Balanço a cabeça, confusa e volto a abrir os olhos.
— Não foi nada demais… Só me recordei de um sonho estranho
que tive quando criança — respondo um pouco mais calma.
Passo as mãos pelo pescoço do meu marido e o trago para mais
perto.
— Entendo… — diz ele, quase em um sussurro e me coloca em
seu colo.
— Seus olhos são lindos — elogio, curiosa. — Por que usa
lentes?
Daniel ri baixinho e diz:
— Um homem como eu tem muitos inimigos por aí, Lexie. A
camuflagem faz parte da bagagem.
— Não as use quando estivermos juntos. Gosto deles e já imagino
nosso bebê com esse olhar azul intenso. — Permito que um risinho
escape da minha boca. — Se for um menino, já imagino o trabalho que
terei. Mas se for uma garotinha vai parar o trânsito assim que crescer.
Daniel torce a boca, visivelmente inconformado ao imaginar a
cena.
— Não invente, Lexie. Já estou me corroendo de ciúmes e nem
sabemos o sexo do bebê.
Gargalho, sentindo-me leve outra vez.
Ele também sorri e puxa meu rosto para depositar um beijo na
boca.
— Espere! — Espalmo seu peito com uma mão, interrompendo o
beijo molhado. — Ainda há muito que preciso saber, chefe — brinco.
O homem geme frustrado e ajeita meu corpo sobre o seu, fazendo
com que eu me sente com uma perna em cada lado do seu quadril.
— O que mais quer saber?
— Seu nome! — Vou direto ao ponto. — Qual seu verdadeiro
nome, Daniel?
O dedo polegar acaricia meu queixo e ele me olha com ternura e
paixão, aquecendo meu corpo por dentro.
— Dener. Dener Daniel Kraven.
Mordo meu lábio inferior e sorrio.
— Dener… — Experimento seu primeiro nome na ponta da
língua e gosto da sensação. — Foi assim que assinou nossa certidão de
casamento?
Daniel sorri outra vez e concorda:
— Sim, Lexie. Este documento está guardado debaixo de sete
chaves para que ninguém descubra. — Os braços fortes prendem meu
corpo contra o seu e o hálito quente varre meu rosto. — Está casada
comigo até depois da morte, meu amor.
Volto a beijá-lo bem devagar, experimentando seu gosto e
chupando sua língua para provocá-lo.
— Que bom.
A boca gulosa se apossa da minha mais uma vez e meu marido
ergue meu corpo do seu colo.
— Cavalga seu marido, Lexie — pede com a voz falha,
encaixando a cabeça do pau na minha entrada.
Firmo-me em seus ombros para não cair e desço lentamente no
pênis rígido, sendo tomada por ele até não restar nenhum pedacinho do
membro grosso fora do meu corpo.
CAPÍTULO 37

DENER

Seis meses depois.


O sol do finzinho da tarde bate em minhas costas enquanto me
inclino atrás de Lexie na piscina do terraço.
Sorrio ao ouvi-la soltar um gritinho e se inclinar para frente
quando prendo o pequeno clitóris entre os dentes. Solto o montículo de
nervos vermelhinho e lambo até a entradinha da boceta deliciosa.
Tê-la de quatro para mim em plena luz da tarde à beira da piscina
é o mesmo que ir ao céu e ao inferno, e voltar dez vezes em milésimos de
segundos. Minha pele arde de desejo, as bolas doem. Quero fodê-la o
tempo inteiro, estou completamente maluco pela minha mulher, mas
preciso me controlar por causa de sua gravidez avançada.
Lexie está perfeita. Cada dia mais linda e confiante. A barriga
imensa carregando nossa filha lhe dá um ar de maturidade que me
fascina.
— Deni… não para — ela pede, ansiosa, ainda não gozou.
Abro as bandas de sua bunda e quase vou ao delírio ao ver meu
esperma escorrendo do seu ânus, melando tudo. Volto a lamber seu
clitóris, enfio a língua na vulva lambuzada e subo, sentindo meu próprio
gosto na boca.
Grunho rouco, voltando a ficar duro. Lexie está marcada com meu
cheiro em cada parte do corpo gostoso. O cuzinho está inchado de tanto
me dar o rabo, as marcas dos meus dedos em sua bunda estão
escancaradas.
A gravidez a deixou faminta por sexo e eu me acabo em cada
dobra de sua pele, todos os dias. Enfio dois dedos em sua vulva e começo
um vai e vem lento, intercalando com as lambidas no clitóris.
Lexie geme baixinho, mas eu não dou descanso. Fodo e lambo,
chupo e sugo. Seguro as bochechas do traseiro grande e aperto, enfio a
cara em seu rabo gostoso, provando tudo dela.
Quando se aproxima do ápice, Lexie grita do jeito que gosto, toda
dengosa.
Eu me afasto por um segundo, apenas para ver o buraquinho da
sua boceta pulsando, o clitóris inchado cheio de sangue, o corpo
tremendo.
Volto a enfiar a língua em seu canal até sugar todo seu gozo. Não
resta um único pedacinho dela que não tenha sido chupado, mordido e
sugado, perdemo-nos no corpo um do outro a cada vez que fazemos
amor. Dou tudo de mim para ela e recebo o mesmo em troca, sem
reservas.
Assim que seu corpo se acalma e os tremores diminuem, saio da
água e ajudo minha mulher a se levantar da borda da piscina.
Lexie está ofegante e trêmula, mas há um sorriso imenso em seu
rosto quando me encara. Os olhos esverdeados brilham, as bochechas
estão rosadas por causa do esforço, a raiz dos cabelos escuros está
molhada de suor. Algumas gotas escorrem em sua testa.
Sorrio de volta, completamente apaixonado pela garota, e ela se
firma em mim.
Passo um braço em volta das suas costas e o outro por baixo de
suas pernas. Ergo Lexie do chão e prendo seu corpo contra meu peito.
— Deni, me coloque no chão. — Ela gargalha e esperneia para se
soltar.
— Quieta, Lexie — digo baixinho enquanto caminho com ela nos
braços em direção à espreguiçadeira. — Você se esforçou demais, precisa
descansar agora. — Pisco.
— Seu cretino. Ainda consigo andar. — Seu sorriso se amplia à
medida que ela me encara. Os braços cruzados em meu pescoço.
— Não precisa andar se você tem a mim para te carregar nos
braços.
— Daniel, não seja bobo.
Eu me inclino e a coloco deitada sobre a espreguiçadeira. Alcanço
uma toalha limpa que deixei no encosto e me ajoelho entre suas pernas.
Lexie cora ainda mais quando afasto suas coxas para limpar o
sêmen que escorre de sua bunda. Mesmo após esse tempo juntos, fazendo
todas as depravações possíveis, a menina mantém sua timidez natural que
me deixa doido.
— Deni… — Ela encosta um joelho no outro, escondendo a visão
do paraíso. — Seu tarado.
Curvo os lábios em um sorriso lascivo e volto a afastar as coxas
grossas, mantendo o olhar preso ao dela.
— Fica linda com as bochechas avermelhadas — comento de
forma indecente, deixando bem claro minhas segundas e terceiras
intenções. — Vermelho é a minha cor favorita. É por isso que não me
canso de olhar para essa boceta.
Desço o olhar para o centro de suas pernas e abro mais suas
coxas. Lexie arranha meus braços enquanto tenta fechar as pernas, mas
seus esforços são inúteis.
A garota ri, ofegante, e eu inclino a cabeça em direção a vulva
melada. Deposito um beijo em cima do clitóris inchado, afasto-me e a
limpo com a toalha, da boceta até a bunda.
Ao terminar, ergo o olhar para fitá-la e a vejo com os lábios
presos entre os dentes, o olhar sapeca de quem foi bem fodida e quer
mais.
— Linda… — murmuro, excitado, mas me controlo. Lexie está
trêmula por causa do esforço, e infelizmente tenho uma reunião
importante com o conselho que não poderá ser adiada.
Coloco as mãos em sua barriga e a beijo no topo do umbigo.
A pequena Chloe está quieta em seu casulo aquecido e protegido.
Ainda assim, não hesito em falar com ela, exatamente como faço a cada
momento que estou com Lexie.
— Olá pequenina dois — sussurro, rente à barriga da minha
esposa.
A pele quente nessa região me arranca um sorriso bobo. Chloe se
movimenta bem sutilmente, consigo ver as pequenas ondulações no
ventre de Lexie.
Aos oito meses de gestação, minha garota vem sendo
acompanhada por um obstetra especializado em Nova York, e agora
estamos em contagem regressiva para o nascimento de nossa filha.
— Ela é tão dorminhoca — diz Lexie sorridente, e passa a mão na
barriga enorme. — Puxou a mim, com certeza.
Beijo seu ventre outra vez e me levanto. Seco-me com a toalha e
enrolo o tecido macio na cintura.
Entrego um roupão a Lexie.
— Nisso eu tenho que concordar — brinco. — Já está me
deixando na mão, de tanto que dorme.
Ouço seu riso gostoso e enfio os dedos nos fios de cabelo em sua
nuca. Puxo Lexie para mim e a beijo na boca.
— Coloque o roupão, pequenina. Vou te deixar em nosso quarto,
preciso ir a uma reunião do conselho agora.
Lexie faz como digo e se veste rapidamente. Não consigo parar de
olhá-la enquanto a garota se cobre e arruma os cabelos fartos batendo na
bunda. O vento sopra, bagunçando os fios negros, e ela prende algumas
mechas atrás da orelha.
Pego a arma que deixei sobre a mesa, seguro a mão de Lexie e
caminho com ela para a suíte que compartilhamos.
— Não me espere para o jantar — comunico assim que fecho a
porta atrás de mim. Apresso-me em direção ao closet. — Preciso resolver
alguns problemas.
— É uma pena. — Minha mulher caminha em direção a banheira
de hidromassagem. Vira-se na minha direção e curva os lábios grossos
em um sorriso delicioso. — Não se preocupe, Chloe e eu comeremos por
você.
— Ótimo. — Também sorrio.
Enquanto Lexie se banha na hidro, tomo uma chuveirada rápida,
visto-me apressadamente com uma camisa preta, calça social e paletó
azul escuro. Encaixo a pistola carregada no coldre, camuflo a mini Push
T Dagger e a LifeCard no bolso interno do paletó.
Antes que eu possa sair, Lexie retorna ao quarto bocejando e se
deita na cama, sonolenta.
— Preciso dormir um pouco, por favor não demore… — pede
com os olhos quase se fechando de tão cansada.
— Voltarei o mais rápido possível.
Beijo seu rosto e saio do quarto, deixando a porta trancada.
Enquanto caminho pelo corredor, já não sou mais o homem louco
de paixão que deixou sua garota dormindo, com seu bebê na barriga.
Longe de Lexie, eu não vivo, não tenho alma. Sou apenas um amontoado
de músculos ambulantes, disposto a destruir tudo e todos que ousarem
atravessar meu caminho. Faço o que é preciso ser feito, não importam as
consequências.
Entro na sala de reuniões e me sento na ponta da mesa. Meu olhar
vagueia de um homem a outro, esperando respostas.
George, Ettore, Kraig e Ryder estão sentados nos assentos adiante.
— Mais duas cargas roubadas e ninguém sabe de nada? —
questiono, irascível. — Que merda vocês estão fazendo?
Coloco a pistola sobre a mesa, furioso e encaro cada um dos
homens friamente.
— Eu quero respostas e nomes. Já é a quarta vez em menos de
três meses que sofremos uma emboscada. Três homens morreram nessa
brincadeirinha de merda, quatro carregamentos de arma pesada foram
roubados dentro do meu território.
— Desconfio que há um traidor entre nós, Daniel. — George olha
para os três homens com desconfiança, mas não ousa acusar ninguém. —
Qualquer um aqui dentro pode ser o X9 ou até mesmo alguém que esteja
lá fora.
Coço a barba, irritado e começo a girar a pistola em cima da mesa.
— Isso é mais que óbvio, George. A pergunta certa é: Quem?
Quem será o filho da puta que está me traindo?
— Cedo ou tarde descobriremos, Daniel. Tem a minha palavra —
diz Ettore.

Analiso o homem por alguns segundos, buscando inverdade em


seus movimentos. Ettore e todos aqui dentro são de minha inteira
confiança, no entanto, após os ocorridos, acredito que nem todos são fiéis
aos seus juramentos de honra.
Algo me diz que o traidor está mais próximo do que imagino, eu
só preciso ficar de olhos atentos.
— E se tiver algum inimigo infiltrado aqui dentro? Nunca se sabe.
— Dessa vez é Kraig que interfere na conversa. — Se me permite,
Daniel, tentarei descobrir algum fato suspeito entre os homens,
principalmente os que fazem a segurança dos carregamentos.
— Não é prudente, Kraig. Por enquanto as coisas devem
permanecer da forma que estão — afirmo.
O homem assente e cruza os braços na frente do corpo.
— Farei o que for preciso para dar um fim nisso. — Ryder expõe
firmemente, a expressão fechada em minha direção. — É só me passar as
coordenadas.
— No próximo, carregamento eles terão uma surpresa. — Jogo
verde, prestando atenção nos gestos e olhares de cada um ali dentro.
Os homens ouvem atentamente, sérios.
— Colocarei uma bomba no lugar da carga. Se algo der errado e a
bomba for desarmada a tempo, todos vocês estarão em maus lençóis.
Dou a sentença final. O jogo é arriscado, mas se o traidor estiver
aqui dentro, ele não dará as caras caso algo dê errado com o plano.
Preferirá fugir e se esconder para salvar a própria pele. Porém é aí que o
imbecil se engana. Ninguém consegue se esconder por tempo suficiente
para permanecer vivo, não sob meu domínio.
A conversa se estende por mais um tempo. Outros assuntos são
discutidos, novos problemas surgem, entre eles a interferência do FBI em
meus negócios.
Decido que resolverei isso depois. Antes farei uma ligação ao
Alex. É óbvio que o homem não permitirá que seus colegas de trabalho
morram de graça, em uma investigação fajuta sobre o tráfico de drogas.
Ou ele resolve o caso, ou os federais morrem, este é o nosso lema:
nenhum dos dois interfere nos assuntos um do outro, a não ser em casos
extremos.
Libero os homens, mas George permanece na sala. O olhar hostil
em minha direção.
— Acha mesmo que um de nós é o traidor? — indaga,
visivelmente irritado. — Abra os olhos Daniel. Você dorme com o
inimigo todas as noites em sua cama.
Meu sangue ferve de ira quando ouço sua fala, referindo-se a
Lexie.

— Não diga mais uma única palavra, George. Não estou em um


dia muito bom — advirto.
— Porra, Daniel. A garota já fugiu uma vez, te apunhalou pelas
costas. O que te faz pensar que agora é diferente? Você está cego meu
amigo, está cego.
Levanto-me da cadeira e George faz o mesmo. Ele nunca
escondeu sua aversão à Lexie, desde que soube do meu acordo de
casamento.
— O que deu em você, porra? A garota te dá um chá de boceta e
você esquece tudo? Lembre-se de quem ela é filha. Lembre-se que foi
aquele homem que assassinou Adrienne.
— Não me esqueci de nada, caralho. O Hector está destruído. Já
não tem aliados, nem prestígio. Em breve o matarei com minhas próprias
mãos.
George caminha de um lado para o outro, nervoso, como há muito
tempo não o via. Minha cabeça lateja de raiva, mas mantenho-me frio,
observando seus passos.
— Faça o mesmo com a garota, porra. Não percebe que ela te
deixa vulnerável?
Caminho até George e em um rápido movimento, saco a pistola e
coloco em sua cabeça. A paciência por um fio.
— Cala a porra da boca, caralho! — grito sem controle.
George sorri de lado, pouco se importando se morrerá agora ou
não.
— Pode me matar se quiser — diz em um tom gélido. — Mas se
deseja se manter no poder, elimine a garota com o pai dela, assim que o
bebê nascer, vingue a morte de Adrienne. Foi pra isso que você chegou
até aqui, não foi? Então raciocina, porra.
Acerto um golpe em sua testa com a coronha da arma, e George
cai desmaiado no chão.
Aponto a pistola na direção do corpo estirado, o sangue fervendo
de ódio. Destravo a arma e miro em sua cabeça. No entanto, é nesse
momento que o inferno se inicia:
— Daniel? — Ouço a voz de Lexie na porta e ergo a cabeça para
fitá-la.
O olhar em pânico não deixa dúvidas de que ela acabou de ouvir
toda a porra da conversa.
CAPÍTULO 38

LEXIE

Abro os olhos lentamente e coloco a mão na barriga. Chloe está


agitada como nunca esteve antes, e uma cólica agoniada me faz gemer
baixinho. Sinto minha testa suada, as pernas cansadas. Levanto-me da
cama, lavo o rosto e pescoço no banheiro.
Ao retornar para o quarto, decido enviar uma mensagem para meu
marido e deixá-lo informado sobre o que está acontecendo. Imagino não
ser nada de mais, porém, caso eu precise ir para o hospital, é melhor que
Daniel esteja presente e preparado.
Envio a mensagem e me visto para jantar.
Coloco a calcinha e um conjunto de moletom cinza. Prendo os
cabelos em um rabo de cavalo alto, pego meu celular e saio do quarto.
Após o jantar, verifico se há alguma mensagem de Daniel, mas até então
não obtive resposta.
Retorno ao quarto e me deito. Sinto um incômodo nas costas, a
cólica se intensifica mais. Contorço-me pela dor e para completar o
arranjo, Chloe dá um chutinho doloroso em minhas costelas.
Sento-me, agitada, perco a paciência e coloco os pés no chão.
Ao passar a mão na barriga, percebo que está dura, como se eu
acabasse de ter uma contração.
— Chloe, isso não é hora de dar susto na mamãe. — Apesar do
incômodo, não consigo evitar um sorriso ao ver a barriga se revirar em
ondas, com seus pequenos movimentos.
Volto a pegar o celular e ligo no número de Daniel. Ao mesmo
tempo em que a ligação chama, ouço o toque da chamada em cima da
mesinha de cabeceira. Meu marido simplesmente esqueceu o aparelho no
quarto.
Levanto-me com dificuldade, sentindo o corpo pesado, como se
carregasse uma tonelada na barriga, não uma bebê dorminhoca e
gordinha. Uma pontada forte na virilha me desnorteia e fecho os olhos.
Começo a me assustar, se isso for o início do trabalho de parto, ainda é
cedo demais para Chloe nascer.
Preocupada, saio do quarto e vou atrás do meu marido. Essa
reunião dele vai ter que esperar. Enquanto caminho, a cólica vai
amenizando até ficar bem sutil. Mas por via das dúvidas, concluo que é
melhor procurá-lo antes que a dor retorne.
Apresso o passo para o exterior da mansão e dou a volta no pátio.
Vejo Ettore, Kraig e Ryder saindo da sala de reuniões, deixando a
porta aberta. Eles passam por mim, mas nem sequer desviam o olhar na
minha direção.
Continuo andando, até me aproximar da porta. Só então percebo o
teor de uma discussão. Ouço a voz de Daniel alterada. O homem está tão
nervoso como o próprio diabo.
Permaneço parada longe da vista dos homens, aguardando a
conversa ser encerrada. No entanto, algo que ouço faz minha cabeça girar
e o choque percorre meu corpo até o último fio de cabelo.
— Pode me matar se quiser. — Reconheço a voz de George em
um tom frio. Meu coração dispara. — Mas se deseja se manter no poder,
elimine a garota com o pai dela, assim que o bebê nascer, vingue a morte
de Adrienne. Foi pra isso que você chegou até aqui, não foi? Então
raciocina, porra. — Todo o sangue parece ser drenado do meu corpo.
Dou um passo em frente e fico rente à entrada da porta no
momento exato em que Daniel derruba George no chão e aponta a pistola
na sua direção.
De repente, tudo começa a fazer sentido em minha cabeça: Nosso
casamento conturbado, o ódio que ele sente por Hector. Não era a droga
de uma aliança entre máfias, fui obrigada a me casar com Daniel para ser
a ponte de uma vingança.
Claro, a filha do seu pior inimigo agora é dele e está grávida.
Como fui burra… a verdade estava estampada na minha frente todo esse
tempo.
— Daniel? — chamo o nome dele, arrasada, sentindo-me traída e
violada.
Adrienne… Ai meu Deus! Então era ela a mulher que Daniel
amou no passado, a mulher que fora morta com seu filho no ventre.
— Lexie… — Seu rosto fica lívido ao me ver. Ele sabe que ouvi
tudo, não há margem para dúvidas agora.
O homem dá um passo na minha direção, mas eu me afasto, o
estômago revirado de nojo.
— Não se aproxime… — Mais lembranças me atingem com
força, dessa vez não é somente os olhos azuis intensos que me dominam.
Agora eu o vejo com clareza sem a barba, coberto com uma capa preta
debaixo da chuva torrencial, uma arma apontada na minha direção.
Eu era só uma criança…
— Pequenina, espere por favor…
Afasto-me dele e corro o mais rápido que consigo para longe de
Daniel Kraven: o homem que me fez amá-lo e depois me destruiu. O
homem a quem me entreguei por inteira, me doei, dei tudo de mim.
Corro na direção da praia, o coração partido em um milhão de
pedaços.
Caio de joelhos na areia, iluminada apenas pelo luar opaco, ao
lado das enormes rochas.
Lágrimas grossas deslizam em minha pele, queimando, deixando
marcado em meu rosto toda a dor que ele causou. Algo dentro de mim se
rompe como uma porcelana delicada que fora arremessada no chão e
depois pisoteada.
Não sei por quanto tempo permaneço assim, perdida em meu
mundo de pesadelos, vivendo e revivendo tudo o que ouvi. Chloe se agita
mais uma vez em minha barriga, é como se ela soubesse tudo que estou
sentindo. Passo a mão no ventre inchado e acaricio meu pequeno bebê.
Sinto o pezinho minúsculo dar um chute, as lágrimas misturam-se
com um riso histérico de desespero e mágoa.
— Vai ficar tudo bem, querida — digo a ela baixinho.
A verdade é que não faço ideia do que será de nós duas de agora
em diante. Apenas me apego ao momento em que a tenho dentro do
corpo e coloco as duas mãos no ventre.
Ouço o som de passos, vindos detrás das rochas e levanto a
cabeça. Imagino ser Daniel ou algum dos seguranças, contudo, sou
surpreendida ao reconhecer as feições de Matt se aproximando.
Levanto-me enquanto me firmo nas pedras, confusa.
A luz da lua é fraca, mas não resta dúvidas. É ele! Reconheceria
seu rosto e seus passos em qualquer lugar.
— Matt? — Seco os olhos molhados com a manga comprida da
blusa de moletom. — O que faz aqui?
Sinto alívio ao vê-lo bem e vivo, mas ao mesmo tempo o coração
se aperta. Uma sensação estranha, de que há algo fora dos trilhos. Matt
não deveria estar aqui, como não foi barrado por nenhum dos homens de
Daniel?
— Oi, lindinha. A quanto tempo. — Sua voz é exatamente como
me lembrava.
Um medo gélido se apossa da minha espinha e todo meu corpo se
arrepia. Dou um passo para trás, tomando distância. Meu sexto sentido
gritando para que eu corra.
— Matt, vá embora — peço a ele quase em uma súplica. —
Daniel vai matá-lo se souber que se aproximou de mim.
Matt sorri de lado e continua se aproximando. O olhar cético em
minha barriga. Por instinto de proteção, coloco as mãos em meu ventre,
sentindo minha alma gelada. Chloe se agita mais.
— Eu vim buscá-la, lindinha.
Meus olhos se alarmam e eu me preparo para correr e gritar por
socorro, antes que Matt cometa uma loucura. Não o reconheço mais. De
um minuto para o outro, o olhar cálido que eu conhecia, tomou a forma
de uma pedra de gelo.
Continuo andando para trás, tomando distância, o peito aflito,
temendo por minha filha. Preparo-me para sair dali o mais rápido que
conseguir, no entanto, antes que eu consiga virar-me para correr, tenho o
corpo imobilizado e preso por alguém às minhas costas.
Mãos pesadas tapam minhas narinas com um lenço e o cheiro de
uma solução forte e perturbadora invade meus sentidos. Meus olhos
clamam a Matt por socorro, porém o homem não se movimenta. Seu riso
cínico é a última coisa que me recordo antes de perder as forças e desabar
desmaiada nos braços do desconhecido.

DENER

Coloco as mãos na cabeça completamente abalado enquanto a


vejo partir na direção da praia. O ar falta em meus pulmões, puro pânico
me domina. Fui pego desprevenido em uma discussão comprometedora, e
agora Lexie sabe de toda a merda. Sua expressão de pavor e nojo não
deixou dúvidas de que agora a garota me odeia e sente repulsa só em me
olhar.
— Porra! — xingo, irritado, me sentindo culpado por fazê-la
sofrer. Sou o filho de uma puta desgraçado que a obrigou a se casar, a
engravidou e agora pisa em seu coração por ter lhe omitido a verdade.
Eu mesmo me odiaria se estivesse no lugar de Lexie. Afinal,
Adrienne era o caralho da sua madrasta, a mulher que ocupou o lugar de
sua mãe. Retorno à sala e pego a garrafa de uísque sobre o aparador,
preciso de um pouco de álcool para tentar acalmar os nervos. Viro o
gargalo na boca e tomo um gole generoso. O líquido puro rasga minha
garganta por dentro, mas eu não me importo.
Sento-me na cadeira do topo da mesa e continuo me torturando
com a bebida. Minha cabeça vagueia, pensando no que deverei fazer.
Uma coisa é certa, sou egoísta demais para deixar minha mulher partir.
Também não seria capaz de tirar nossa filha dos seus braços e feri-la
mais. De uma forma ou de outra, não tenho alternativa a não ser
conseguir o seu perdão.
Enquanto isso, permaneço quieto e não vou atrás dela. Se eu
insistir agora, só piorarei a situação. Lexie está magoada, sentindo-se
traída, é melhor que se acalme um pouco antes que eu a procure.
George geme estirado no chão. Por um segundo, havia me
esquecido da presença do desgraçado. Meu sangue volta a ferver de ódio,
minha raiva aumenta. Levanto-me e caminho na sua direção a tempo de
vê-lo abrir os olhos e passar a mão na cabeça, desnorteado.
Acerto um chute em seu maxilar e ouço o barulho de osso se
partindo. O homem perde os sentidos e volta a ficar imóvel. As coisas
começam a acontecer em uma velocidade alucinante. Tudo me grita um
sinal de alerta!
De repente, passos apressados são ouvidos, vindos na direção da
sala de reuniões.
Pego a pistola que havia deixado sobre a mesa e me levanto,
atento a todos os lados.
Ettore caminha a passos rápidos na minha direção, a expressão
indecifrável, o revólver preso na mão.
— Daniel. Temos a porra de um problema. — O homem é direto,
sem rodeios. — Acabo de ser informado por um dos seguranças que faz
patrulha na praia. Uma possível invasão no portão foi notificada, mas
quando chegaram ao local, não havia sinal de ninguém, muito menos de
arrombamento.
Fecho os punhos, o estresse assumindo o controle.
— Um trote? — questiono, impaciente e olho para o corpo de
George, jogado no chão.
Ettore desvia o olhar para o homem, mas nada diz sobre o
assunto.
— Desconfio que tenha sido uma armadilha. Tudo aconteceu
rápido demais.
Porra!
Passo a mão nos cabelos, nervoso e digo a Ettore para jogar
George no calabouço. O filho da puta permanecerá detido até eu ter
certeza se está envolvido ou não nos roubos de carga. Após acusar minha
mulher, os ponteiros do meu alarme mental dispararam a níveis elevados.
Enquanto isso, corro em direção à praia em busca de Lexie.
Sigo direto para o local que ela costuma passar o tempo quando
quer esfriar a cabeça e observar o mar. Aproximo-me das rochas e a
chamo, mas a única coisa audível no momento é o barulho do vento e das
ondas se quebrando.
— Lexie… — Volto a chamar seu nome, porém, tenho apenas o
silêncio agonizante como resposta.
Busco o celular no bolso para rastreá-la, tateio todos os bolsos,
mas nada encontro. Só agora noto que esqueci o aparelho na nossa suíte.
— Lexieee. — Dou a volta nas pedras e caminho em direção a
maré. Meus pés tocam na água fria, o coração acelera de angústia. Não há
qualquer sinal da garota.
Olho para o chão em busca de alguma pista, pegadas dos seus
passos, o que for. A luz da lua é fraca e as marcas na areia transformam-
se em borrões indecifráveis. Estou prestes a correr em direção ao quarto
para saber se ela retornou à mansão, quando vejo o reluzir de um reflexo
a poucos metros de distância, quase enterrado no chão.
Caminho até o local, me agacho e seguro a corrente de ouro
branco nos dedos. O pingente de diamantes em forma de lágrima brilha a
luz da lua. Minhas mãos congelam no ar, o coração para de bater.
Meu Deus, não. Clamo em silêncio, o corpo paralisado.
Minhas pernas fraquejam e eu caio de joelhos na areia fria.
Destruído.
O barulho característico das hélices de um helicóptero mistura-se
às ondas que se quebram no mar.
— Lexieee! Lexieee! — grito seu nome a plenos pulmões.
Gemo de dor, desespero. O passado bate na minha cara como uma
maldição que devo carregar pelo resto da vida.
Lexie e nossa filha foram sequestradas, debaixo do meu próprio
nariz.
A realidade dos fatos penetra em minha pele com violência,
roubando tudo que ainda resta vivo em mim. É difícil demais suportar.
CAPÍTULO 39

LEXIE

Sinto as pálpebras pesadas ao tentar abrir os olhos. Minhas


têmporas estão doloridas e tudo parece girar à minha volta quando me
esforço para levantar a cabeça. As contrações não cessam e eu mordo os
lábios para suportar a dor que vem e volta.
— Calma, querida. Não se esforce tanto… — Ouço a voz
sussurrada de uma mulher, mas não consigo me lembrar se já ouvi essa
voz antes. O som de sua fala sai abafado.
Um cheiro acre de mofo e umidade penetra minhas narinas,
causando uma vontade absurda de espirrar.
— Onde estou? — finalmente consigo dizer algo com a voz fraca
e coloco a mão na testa. — Quem é você?
A mulher suspira pesarosamente, mas continua em silêncio.
— Por que não responde? — Levo a outra mão ao ventre e solto
um suspiro aliviado ao notar Chloe se mexendo.
Sinto seus movimentos calmos em minha barriga e quase me
derramo em lágrimas. Após um grande esforço, consigo pôr os pés no
chão pegajoso e me sento sobre o colchonete fino. Recosto-me na parede
gelada.
O mau cheiro de urina e fezes permeia o ambiente, parece
alastrar-se em cada camada das paredes desse lugar. Abro os olhos
lentamente e foco a atenção à minha frente. De início, minha visão está
turva, consigo identificar apenas um vulto opaco.
Aos poucos, o lugar vai se tornando mais nítido, as sombras e
formas começam a fazer sentido.
O quarto imundo está escuro, mas algumas frestas de luz pálida
entram pelo teto, indicando que o dia está amanhecendo e eu não faço
ideia por quanto tempo permaneci apagada. Observo a mulher que está de
cócoras, a uns dois metros de distância de onde estou.
Analiso sua fisionomia, começando pelos pés descalços e as
roupas esfarrapadas que cobrem o corpo magro. Continuo olhando-a até
me deparar com seu rosto coberto por uma máscara de ferro. As mãos
pequenas tapam a abertura dos olhos e um soluço doloroso escapa da sua
garganta.
A visão perturbadora deixa-me abalada, completamente gelada.
Encolho-me em um canto com as mãos protegendo a barriga, o coração
batendo forte. As lembranças angustiantes vêm à minha cabeça como um
furacão que destrói tudo por onde passa.
Recordo-me de tudo, da conversa de Daniel com George, da
minha corrida para a praia e o encontro com Matt. Logo depois o
sequestro.
Não faço a menor ideia de onde estou ou o que essa mulher faz
nessas condições, a única certeza é que todas as opções são desfavoráveis
para nós três aqui dentro.
— Há quanto tempo estou aqui? — pergunto.
A mulher tenta se recompor o melhor que pode e olha na minha
direção.
Meu coração se parte ao ver um ser humano tão frágil e
maltratado. Os olhos fundos me encaram com cuidado. Não há brilho,
não há alegria em estar viva. É como se ela estivesse morta, presa em um
corpo que não lhe pertence.
— Desde ontem à noite — responde baixinho. — Eu implorei
para que me deixasse vê-la. Em vez disso, ele a trouxe até aqui.
Arregalo os olhos, me sentindo ainda mais confusa.
— Ele quem?
— Hector, o monstro que você conhece como pai.
Suor frio brota em minha pele quando penso em meu pai e na sua
ligação com Matt. Terror me consome por dentro, o medo e a angústia me
apavoram.
— Hector? — Balanço a cabeça de um lado a outro, incrédula. —
Eu não compreendo…
— Ele esteve aqui há uma semana. Fez questão de dizer que você
seria trazida para este lugar. Que seria um presente para alguém
importante.
— Ele está completamente louco — sussurro em choque. O
coração tão abalado que sinto dor.
— Eu sinto tanto, querida… — Sua voz falha e a mulher soluça.
De onde estou, consigo imaginar os tremores do seu corpo. — Eu
supliquei para que não fizesse isso com você, mas conhece seu pai, Lexie.
Ele não tem honra, nem bom senso. É uma alma podre, sem uma gota de
sentimento no coração. Então eu me humilhei, pedi que me levasse até
você quando chegasse a hora, mas ontem à noite, você foi trazida para
este fim de mundo, Hector te deixou aqui comigo e saiu.
— Então você já me conhecia? — Nada do que ela diz faz
sentido.
Ela assente e baixa a cabeça, desviando o olhar sombreado do
meu.
— Não me reconhece, não é? — Meu coração se aperta mais ao
sentir a tristeza que exala dela. — Faz tanto tempo.
— Desculpe, eu não consigo me lembrar. — Sou sincera. Puxo na
memória, me esforço para tentar identificar sua voz, mas com a máscara
de ferro escondendo seu rosto e abafando sua fala, é praticamente
impossível.
— Compreendo. — A mulher ergue a cabeça e foca sua atenção
na minha barriga. — Está tão linda, grávida. Quantos meses, querida?
Inspiro fundo e volto a acariciar o ventre. Chloe está quietinha
outra vez, em sua inocência de bebê, não faz a mínima ideia do filme de
terror que estamos vivendo.
— Oito meses. É uma menininha — expresso, sentindo
necessidade de revelar isso a ela.
— Como se chama?
Continuo acariciando minha barriga, aflita, o peito apertado pelo
que poderá acontecer.
— Chloe. Ela se chama Chloe.
— É um lindo nome.
Ergo o olhar para a desconhecida e respondo:
— Obrigada. Foi sugestão do meu ma… — interrompo a fala no
meio, recordando-me com força de Daniel. — Foi sugestão do pai dela.
Dói pensar nele. A ferida aberta em meu peito sangra, não há
remédio. Só o tempo poderá dizer o que restará de nós dois além da nossa
filha.
— Onde ele está? — pergunta com pesar e eu volto a baixar a
cabeça, os olhos ardendo.
— Imagino que esteja à nossa procura.
Sim, apesar dos pesares e de ter me machucado tanto, Daniel é
louco pela filha. Ele não descansará até ter certeza que Chloe estará em
segurança.
— Torço muito para que isso aconteça o mais rápido possível.
— Eu também — concordo.
A mulher se encolhe no chão e eu a olho compadecida pela
situação.
— O que aconteceu com você? Por que está aqui?
Com os braços abraçando os joelhos, sua atenção recai sobre
mim.
— Faz muito tempo que fui trazida para cá. — Suspira. — Eu sou
apenas uma mulher sem sorte, que caiu em mãos erradas.
— Pelo Hector? — pergunto.
— Sim. Por ele.
As paredes de concreto frias fazem os pelos do meu corpo se
arrepiarem e eu esfrego as mãos nos braços, tentando me aquecer.
— Por que ele te trouxe aqui?
O silêncio se intensifica enquanto aguardo uma resposta. Ela não
diz mais nada, está pensativa, talvez ponderando se pode me confiar essa
informação. Após alguns minutos, sua voz quebra o silêncio gritante.
— Tive um relacionamento com Hector no passado, mas ele
descobriu que eu amava outro homem. Então, achou prudente me manter
aqui, presa, como uma forma de me punir pela afronta.
— Que desgraçado! — xingo, exasperada e ela assente com um
aceno de cabeça.
— Às vezes, um dos seus homens me leva para um quarto limpo e
me obrigam a me lavar. Depois Hector me usa até ficar exausto, algumas
vezes compartilha meu corpo com alguns dos seus amigos. Quando se
cansam, me jogam aqui outra vez.
A mulher relata os fatos de forma calma e pacífica. Como se a
crueldade que vem sofrendo há tanto tempo não a abalasse mais.
— Como consegue falar sobre isso assim, tão calma?
Ela encara o nada, o olhar vazio. Parece flutuar em uma realidade
paralela.
— Queria estar morta, querida. Mas nem mesmo isso me
permitem fazer.
Baixo a cabeça, entendendo perfeitamente o que ela quis dizer.
Posso não ter sentido na pele tudo o que essa mulher sentiu, mas
reconheço o que é ser privada da liberdade. Vivi isso grande parte da
minha vida quando estava nas mãos de Hector.
— Eu sinto muito. — É a única coisa que consigo dizer.
Outra contração me faz contorcer o corpo e fecho as mãos na
barra da minha blusa. A mulher se aproxima e toca minha testa, em
seguida faz o mesmo em minha barriga.
— Está tendo uma contração… — constata, preocupada. — Pelo
que me disse, ainda não é a hora.
— Meu Deus! — Suor frio se espalha pelo meu corpo. — Parece
que Chloe está apressada para vir ao mundo — comento, ofegante. —
Estou sentindo contrações desde ontem à noite, mas agora estão mais
intensas.
As mãos frias seguram as minhas.
— Que Deus te proteja, minha querida. Que Deus te proteja!
A dor cessa e eu volto a respirar, aliviada.
— Os intervalos ainda são longos — informo.
De repente, uma porta estreita na parte mais baixa do teto é
aberta. A luz da manhã invade o cômodo mofado, e Hector entra com um
amplo sorriso no rosto.
Movida pelo instinto materno, levanto-me e me coloco atenta,
pronta para atacá-lo caso seja necessário.
— Olá, queridas. — Meu estômago embrulha somente em ouvir a
sua voz. — Não sabe o quanto estou feliz em ver minhas duas garotas
juntas outra vez.
O monstro caminha na minha direção e inspeciona meu corpo de
cima para baixo, parando em minha barriga. Percebo a marca de uma
cicatriz horrível em sua bochecha.
— Então aquele desgraçado conseguiu o que queria, hein filha
querida? Vejo que a gravidez já está avançada.
Fecho os punhos, irritada, mas não o respondo. Eu me nego a ter
qualquer espécie de conversa com este homem.
— Ele achou que poderia jogar comigo, hein? Bastardo filho da
puta. Eu descobri tudo sobre seu marido, querida. E a melhor forma de
colocar aquele imbecil em seu lugar, é tirando você dele. Afinal, é minha
filha não é mesmo? Tenho direitos sobre você e esse verme que carrega
na barriga. — Hector gargalha e eu fecho e abro os olhos, trêmula.
— Deixe-a em paz Hector. Por favor! — a mulher pede em um
tom de voz brando, a cabeça baixa. Porém, Hector apenas intensifica a
gargalhada desdenhosa.
— E então, Lexie. O que achou de rever a mamãe? — Curva os
lábios finos em um riso arrogante e cínico e se coloca de lado para que eu
possa ficar frente a frente com a mulher desconhecida.
Meu coração falha uma batida quando ouço suas palavras, minhas
pernas tremem pelo impacto que acaba de me assolar.
Ela não levanta a cabeça para me encarar nos olhos. Mantém-se
imóvel e em silêncio, a cabeça baixa. Abalada demais para conseguir
respirar constantemente, constato que toda minha vida não passou de uma
mentira. Todo esse tempo… ela estava viva!
— Mãe? — O tempo para à minha volta, emoções avassaladoras
me consomem dos pés à cabeça.
Lágrimas rolam pelos meus olhos e sem pensar muito, rumo em
sua direção para segurar suas mãos outra vez e abraçá-la. Dizer o quanto
senti sua falta por todos esses anos. No entanto, Hector se coloca na
minha frente e impede que eu me aproxime.
Em silêncio, tira uma arma do coldre, destrava e aponta na direção
dela.
— É uma cena emocionante, filha. Mas agora, preciso que siga
até a porta e seja uma menina obediente. Há alguém ansioso para te ver lá
em cima.
— Não a machuque, Hector, por que está fazendo isso conosco?
— clamo, desolada, temendo por ela, por mim e por Chloe.
O homem estreita a distância entre ele e minha mãe, o olhar fixo
em meu rosto.
— Isso vai depender de você, querida. Seja uma boa garota e faça
como estou ordenando. Tudo ficará bem.
Solto um gemido doloroso e desesperado. O corpo travado
enquanto a olho tão maltrata e vulnerável, um brinquedo vivo nas mãos
de um monstro.
Sem escolhas, só me resta seguir até a porta, rumo ao
desconhecido.
Olho uma última vez na direção dela e juro internamente que a
tirarei daqui, custe o que custar.
Coloco a cabeça pelo lado de fora, e me deparo com uma vasta
extensão de areia. O sol começa a aquecer, levando para bem longe o frio
que há pouco eu sentia.
Não há casas ou qualquer construção à vista. Minha visão se
perde em meio ao amontoado de rochas pontiagudas e terra árida,
indicando que estou no meio do deserto, em alguma parte do mundo.
Botas marrons aparecem na minha frente, e sei que é o homem a
quem meu pai fez a proeza de me entregar de bandeja, como se eu fosse
um objeto descartável. No entanto, agora eu tenho alguém que lute por
mim.
Daniel vai me encontrar, eu sei que vai. Enquanto ele não chega, a
promessa que faço a mim mesma é que me manterei viva.
Inspiro o ar com força e me coloco de pé. Cerro o maxilar
fortemente, vestindo minha melhor versão de indiferença, de alguém que
está disposta a lutar até o fim. Levanto a cabeça e encaro o maldito.
O choque deixa-me momentaneamente atordoada, mas me
controlo ao máximo para não demonstrar fraqueza, muito menos
surpresa.
CAPÍTULO 40

DENER

— Porra! — xingo, enlouquecido, completamente dominado pela


frustração de não saber nada sobre o paradeiro dela.

Alexander mantém os braços cruzados à frente do corpo,


analisando nossas opções em silêncio. Não tive alternativa a não ser pedir
sua ajuda. Alguns dos seus colegas do FBI já iniciaram a investigação
para conseguir alguma pista, e a primeira delas tem ligação com o harém
de Hector na Califórnia.

Após ter a imagem destruída, o homem sumiu do mapa como


fumaça. Estive tão envolvido com a gravidez de Lexie que não me
importei em capturá-lo e acabar com essa maldita vingança o mais rápido
possível. Deixei para depois, sempre atento e confiante que o desgraçado
não voltaria a se aproximar.

Mas se eu estiver certo, posso estar pagando caro por esse erro.

Suspiro, agitado, retiro o paletó e o jogo no chão. Cinco horas se


passaram desde que minhas garotas foram raptadas, e ainda não há pistas
concretas sobre o paradeiro delas.

O acordo com o FBI está sendo mantido em sigilo, somente eu e


Alexander temos a informação. Também não posso voar para a Califórnia
agora, poderei levantar suspeitas. Se Lexie estiver sob o poder de Hector,
um passo em falso e sua vida correrá ainda mais perigo.

Preciso agir com cautela e calma. Não posso perder a cabeça e


cometer um erro. Minha mulher e minha filha precisam de mim, lúcido e
eu não falharei, não dessa vez.

Sem o rastreador para localizá-la, é como procurar uma agulha


num palheiro. Principalmente quando é obvio que há um ou mais
traidores entre os meus homens, mas não sei ao certo se o sequestro de
Lexie tem a ver com o autor das cargas roubadas.

Nesse momento, George está preso, Kraig e Ryder fazem a


segurança no portão, e Ettore está a caminho da Califórnia para continuar
a investigação que havia começado há alguns meses. Enviei-o porque o
homem está na minha lista de possíveis X9, embora sempre tenha sido
leal ao meu nome. No entanto, diante das circunstâncias, ninguém é
confiável. Seria arriscado demais afastá-lo da busca por Lexie, isso
levantaria suspeitas e ele poderia dar com a língua nos dentes.

No entanto, caso seja fiel a mim e a minha esposa, fará de tudo


para encontrá-la sã e salva.

Não me restam escolhas a não ser esperar, quase explodindo por


dentro de tanta angústia.

— Isso está com cheiro de emboscada, Dener. — Alexander abre


o jogo e descruza os braços. — Esse sequestro pode ser uma armadilha
para atrair você para o abatedouro. Alguém muito próximo, sabe o quanto
aquela garota é importante na sua vida. Ninguém se arriscaria tanto assim
por pouca coisa.

Meus ombros desabam, cansados, e eu balanço a cabeça em


afirmativa.

— Eu sei! — confesso.

— Se ligarem pedindo uma troca, o que irá fazer? — questiona e


cerra os dentes, visivelmente apreensivo.

— Eu irei, porra. Não tenho escolha.


Caminho em sua direção e paro a alguns metros de distância.

— Será morto, Dener. Não faça nada sem antes conversar


comigo.

Permito que meus lábios se curvem em um riso doloroso, mas ao


mesmo tempo, arrogante e frio.

— E acha mesmo que continuarei vivo se algo acontecer a elas?


— indago com o olhar firme em sua direção, os punhos fechados. — Já
passou pelo mesmo que eu, Alexander. Sentiu na pele o mesmo caralho
que estou sentindo!

Sua expressão se suaviza um pouco e o homem assente.

Leva a mão ao coldre e destrava a Uzi que é sua marca registrada.

— Iremos encontrá-las — expressa. — Só precisa ficar calmo.

Dou a volta na mesa, transtornado. Coloco as palmas sobre o


tampo de madeira e puxo o ar com força para os pulmões.

— Como posso me manter calmo? — questiono, ríspido. —


Minha mulher e minha filha foram arrancadas de mim, possivelmente há
o inferno de um traidor entre os homens da minha confiança e eu tenho
que ficar parado enquanto espero informações do caralho do FBI. Quer
mesmo que eu fique calmo? — Bato as mãos na mesa, fora de mim. A
cabeça a mil por hora em busca de uma solução.

A casa de Hector e todo seu território foram revistados. Não há


sinais dela, muito menos daquele filho da puta.

As horas passam em uma velocidade alucinante. Cada minuto é


primordial, o tempo não espera, joga a todo instante na minha cara que
um segundo pode ser a linha tênue entre a vida e a morte.
Ao nascer do dia, o telefone de Alexander toca. É uma chamada
de um dos seus parceiros que estão na Califórnia.

Nada sobre Hector e seu harém de mulheres traficadas é


encontrado. Nada que nos leve a uma luz no fim do túnel. É como se
Hector tivesse evaporado do mundo sem deixar um único vestígio.

— Chega! — esbravejo. A última gota da minha paciência acaba


de ser esgotada. — Não vou ficar aqui de braços cruzados.

Levanto-me da cadeira que havia passado a noite em claro,


confiro a munição na pistola e decido fazer as coisas do meu jeito.

Alexander também se levanta.

— O que vai fazer? — questiona, caminhando na minha direção.

— Vou buscar minha mulher, Alex. Seja onde ela estiver.

Viro-lhe as costas e vou até a porta porta. Enquanto caminho,


pego o celular e faço uma chamada para alugar um jatinho particular.

Não poderei usar a aeronave que possuo neste caso. Nunca se


sabe se foi feita alguma espécie de sabotagem, e não tenho tempo para
uma revisão minuciosa, muito menos confio em alguém para realizar esse
serviço. Até que o traidor seja pego e morto, todos ao meu redor são
considerados suspeitos.

— Para onde vamos? — Alexander mantém-se rente às minhas


costas.

— Para algum lugar da Califórnia — respondo, sem encará-lo. —


Mais precisamente para Sacramento. Foi o último local que obtivemos
sinal dos rastreadores que foram implantados nos veículos de Hector e
seus homens há alguns meses.
Coloco armas pesadas em uma mala, e pego um dos SUVs usado
pelos homens.

— Não precisa ir se não quiser — digo a ele, enquanto coloco a


mala no bagageiro do carro. — Essa guerra é minha!

Bato a porta do bagageiro e entro no carro do lado do motorista.

Alexander entra e se senta no banco do carona. A Uzi em punho,


um sorriso debochado na cara.

— E deixar você se divertir sozinho, caralho? Nem fodendo.

Assinto em sua direção e o agradeço em silêncio. Estamos prestes


a cometer um suicídio e ele sabe disso, mas uma missão entregue nas
suas mãos, é uma missão cumprida, não interessam as consequências. O
homem é um carrasco quando o assunto é matar sem pena.

Deixo William no comando da máfia enquanto estou fora, sem


revelar meu próximo destino.

Disco o número de Ryder, mas a chamada cai direto na secretária


eletrônica.

— Porraaaaa! — esbravejo, desconfiado, sentindo que o tempo


está se esgotando e o círculo se fechando.

O mesmo acontece quando ligo para Kraig.

LEXIE

O homem me analisa de cima para baixo, com o olhar frio e


gelado, os lábios curvados em um sorriso carregado de arrogância e
vitória.
O vento balança o paletó azul escuro, e traz até mim um forte
cheiro de cigarro.

Dois capangas que não conheço estão ao seu lado. Ambos me


encaram e pousam os olhares maliciosos em minha barriga. Meu corpo
inteiro estremece, pavor me consome de dentro para fora. Contudo,
respiro fundo e busco calma.

Eu só preciso ficar viva até que ele chegue. Repito para mim
mesma, incontáveis vezes.

— Finalmente nosso dia chegou, Lexie… — diz o imbecil, calmo,


aproximando-se.

As mãos nojentas tocam meu queixo e eu viro a cara, desviando-


me do seu toque repleto de veneno.

O homem gargalha, divertindo-se com a minha desgraça.

— A ferinha está bem-disposta pelo visto — comenta, debochado.


— Gosta de desafiar um homem, não é mesmo?

A bile sobe em meu estômago.

— Vá para o inferno seu traidor de merda! — digo entredentes, o


corpo quase entrando em colapso, a raiva me levando ao limite.

Os homens ao lado dele gargalham, e Kraig segura meu maxilar,


dessa vez com força. Inclina o rosto na minha direção e crava as íris nas
minhas, ódio emanando de cada célula do seu corpo.

— Que língua afiada, Lexie — zomba. — Só entenda uma coisa,


garotinha, eu não sou o Daniel.
Um tapa doloroso estala em meu rosto, em cima do lábio inferior,
e seus olhos brilham, atraídos pelo prazer de machucar alguém.

Arde, dói tanto que cambaleio para trás, zonza, os ouvidos


zunindo. Engulo o choro e volto a encarar o desgraçado com a mesma
arrogância que ele se dirige a mim.

Sinto algo quente escorrer em meu queixo, levo a mão a minha


boca e noto que um fio de sangue mancha minha pele. O local está
dolorido, provavelmente ficará inchado em alguns instantes.

Sem um pingo de remorso, Kraig segura meu rosto e analisa de


forma minuciosa o corte que acabara de fazer na pele sensível.

— Linda — diz, zombeiro, o olhar maligno reluzindo. — Adoro


ver uma mulher sangrando.

Ele se afasta sorridente e eu limpo minha pele com a manga da


blusa, no local que ele havia tocado. Meu estômago embrulha de nojo,
raiva e revolta. Todo este tempo meu sexto sentido gritava, avisando-me
de que havia algo de errado na maneira com que este homem me olhava.
Mas nunca pensei que ele chegaria a esse ponto.

— Levem a garota para os meus aposentos — ordena aos homens


e caminha em direção a uma das picapes 4x4 que estão estacionadas a
poucos metros do cárcere subterrâneo. — Agora vou dar prosseguimento
ao meu plano, querida — diz enquanto abre a porta do veículo e olha
diretamente para mim. — Em breve, o corpo do seu maridinho será
jogado aos abutres.

Puro terror me domina. Meus olhos se arregalam e Kraig gargalha


outra vez, divertindo-se com meu desespero.

Engulo saliva com dificuldade e volto a me recompor. Esse


desgraçado não é páreo para o meu marido, concluo. Kraig pode tentar,
mas só conseguirá a morte como consequência.
— Nunca vai conseguir essa proeza, Kraig — digo com a voz
firme. O olhar fixo no homem que tanto abomino. — Quanto a você, eu
já não posso dizer o mesmo.

O homem se mantém, impassível, os lábios curvados, cínicos,


insolentes.

Com um movimento de cabeça, ele acena para os capangas às


minhas costas e entra no carro.

O mais forte deles, um rapaz na faixa dos vinte e poucos anos,


segura meu braço e me puxa em direção a outra picape. Eu o sigo em
silêncio, o coração batendo forte no peito.

As contrações vão e voltam mais fracamente. A dor é incômoda,


tenho a sensação de que minhas costas se partirão no meio, mas aguento
tudo.

O carro arranca a toda velocidade pela estrada de chão batido e


esburacada. Seguro-me no banco para me firmar. Fecho os olhos e mordo
os lábios quando outra contração me atinge, desta vez, mais intensa do
que a anterior.

Os intervalos de tempo entre uma contração e outra diminuem, o


suor frio desce pela minha espinha, me apavoro.

Em poucos minutos, vejo uma grande construção, com uma


imensa porta de madeira na entrada, uma espécie de casa no meio do
deserto árido.

Três homens vigiam a entrada, entre eles reconheço John, meu


antigo motorista. Inspiro fundo, aliviada por saber que ele não teve o
mesmo destino que Abby. Porém, meu coração se aperta ao imaginar que
John esteve aqui todo esse tempo, e nada fez para tentar entrar em contato
comigo. Poderia ter revelado o paradeiro da minha mãe.

Um bolo doloroso se forma em minha garganta enquanto


caminho: raiva e mágoa me tomam da cabeça aos pés.
Olho para Jhon, fazendo questão de encarar as íris acinzentadas.
Sua expressão é de cansaço, as rugas estão mais profundas do que me
lembrava, e os fios grisalhos já são maioria em sua cabeça.

John nem sequer desvia o olhar para o meu rosto e a dor no peito
se intensifica. Ele era como um pai para mim. Estava sempre acobertando
minhas artimanhas de criança e adolescente, tirou-me várias vezes de
enrascadas perigosas, e agora nem sequer parece me conhecer.

A porta é aberta e o capanga de Kraig me empurra para o hall de


entrada.

O lado de dentro da casa, lembra uma boate rústica. O piso é de


madeira talhada, as paredes são escuras e não há janelas nessa ala. As
mesas e cadeiras são distribuídas de forma uniforme pelo grande salão, e
duas mulheres seminuas estão escoradas no balcão do bar, cobertas
apenas com minúsculas calcinhas fio dentais, os seios à mostra. Um
cheiro acre de álcool permeia o lugar, fazendo meu estômago se revirar
de enjoo.

Desvio a atenção das mulheres que me encaram silenciosas, com


olhares apreensivos e opacos. Há uma aura estranha aqui dentro. Um
cheiro de medo e sofrimento. Quase posso sentir as vozes entranhadas
nas paredes gritando por socorro.

O homem me leva em direção a um corredor que dá acesso ao


andar de cima através de uma escada. Portas e mais portas são reveladas à
medida que caminho.

Encontro outras mulheres pelo percurso, algumas mais compostas,


outras quase totalmente nuas. Nenhuma delas para para prestar atenção
em mim. Nenhuma delas abre a boca para dizer alguma coisa uma com a
outra. Circulam pelo lugar como se fossem fantasmas, a cabeça focada no
chão, os rostos sem emoção.

Sou empurrada para a frente, até me deparar com o último quarto,


no corredor do segundo andar.
O homem abre a porta e me joga dentro do cômodo como se eu
fosse um saco de batatas. Em seguida, tranca a fechadura.

Ofegante e trêmula, encosto-me à parede e observo o quarto


sombreado, com paredes acinzentadas, composto apenas por uma cama
de casal, armário de roupas e banheiro.

Outra contração se inicia, e eu seguro a barriga, puxando o ar com


mais força.

Não sei o que será de nós duas se Chloe nascer neste lugar.
Estamos expostas a infecções e sem o auxílio de algum profissional da
saúde. Porém o pior de tudo é que minha filha pode estar correndo um
grande perigo. Kraig e Hector não teriam interesse em resguardar a vida
da herdeira de Daniel Kraven.

— Por favor meu Deus… — rogo aos céus por ajuda.

Caminho com um pouco de dificuldade em direção a cama. As


pernas falhas, a dor sugando meu fôlego.

Deito-me sobre os lençóis pretos de cetim, e fico quietinha,


puxando e soltando a respiração bem devagar.

Não faço ideia da quantidade de tempo que tenha passado quando


a porta volta a se abrir. Não me movo, muito menos faço questão de saber
quem acaba de adentrar no quarto.

Os passos pesados e estalados de botas contra o piso se


aproximam da cama.

Ouço o arrastar de uma cadeira no chão, e então o corpo de Kraig


fica visível na minha frente enquanto ele se senta na cadeira, próximo aos
pés da cama.

O homem acende um cigarro e o coloca na boca. Suga a fumaça


de odor acre e desagradável solta baforadas cinzentas na minha direção.
A fumaça sufocante invade minhas vias respiratórias, me causando uma
sucessão de tosse. Com as pernas cruzadas, o homem mantém uma
pistola apoiada no colo, e um riso cruel estampa seu rosto.

— Chegou a hora de conversarmos, querida. — Ajeita o paletó


azul escuro na frente do corpo, puxa a fumaça mais uma vez e solta.

— O que você quer, Kraig? Por que está fazendo isso?

Ele me analisa por alguns instantes, o rosto inexpressivo.

— Daniel assassinou meu pai, Lexie — responde de forma


pacífica. — Fez todo mundo pensar que meu velho era um traidor. Mas
ele era inocente! — Sua voz se altera no final da frase.

Kraig brinca com a arma, girando a pistola no dedo. Fico tensa,


observando-o, mas nada digo.

— O que quer comigo, Kraig? Está tramando uma armadilha para


o Daniel, é isso? — pergunto sem rodeios.

O homem sorri e joga a cabeça para trás, despreocupado. Age


como se fosse o dono do mundo.

— Como é curiosa, minha linda. Fique tranquila, te contarei tudo.

Kraig se levanta da cadeira e segue até a janela com grades


espessas.

— Bela paisagem, não acha? Tão vazia, sem cor, sem vida. Esse
lugar me desestressa.

— Não faça rodeios — peço, aflita e ouço seu riso cínico.

Fecho e abro os olhos, dolorida, a testa suada.


— Fiz um acordo com seu ex namoradinho, Lexie. Salvei a pele
do Matt e o ajudei a fugir de Daniel. Quando chegasse a hora, eu cobraria
a dívida. Em troca, ainda dei um agrado ao babaca. Disse que você seria
dele se tudo ocorresse como o planejado. — Escuto o que Kraig tem a
dizer com atenção, o corpo mole e trêmulo de angústia. — Depois fui
atrás de seu pai. Foi tudo tão fácil! — Ele se vira na minha direção. —
Daniel fez o belo de um estrago em Hector. Queimou sua imagem dentro
do submundo, marcou-o com uma cicatriz na cara. Uma marca que indica
que é um abusador de garotinhas. O velho estava desesperado para
conseguir aliados e eu fui a sua luz no fim do túnel!

Diz com orgulho, os lábios curvados.

— Se sente melhor por isso, Kraig? — cuspo as palavras.

Ele volta a se sentar, olhando-me com atenção.

— Na verdade, sim. Sem o dinheiro de Hector, jamais teria


conseguido arrancar você de lá. Além disso, Hector é tão interessado em
destruir Daniel Kraven quanto eu.
CAPÍTULO 41

LEXIE

— Você é doente, Kraig — vocifero. — Não possui uma gota de


escrúpulos.
O infeliz não se abala com o tom das minhas palavras. Muito pelo
contrário, tudo que digo parece diverti-lo.
— Talvez eu seja mesmo doente — concorda. — Do contrário,
não teria feito o que fiz, querida. Se lembra daquele dia que te ensinei a
atirar? Fiz aquilo apenas para provocar Daniel. O imbecil perdeu
totalmente o controle na frente dos seus homens, provando que você,
Lexie, é o ponto mais vulnerável do filho da puta.
Tenho ímpeto de agredir o infeliz por ter me prendido em uma
armadilha contra meu próprio marido. Suas palavras entranham-se como
agulhas afiadas na pele, remorso me consome.
— Passei informações sigilosas sobre as cargas de Daniel para
uma gangue do Brooklyn. Joguei um jogo e ganhei, Lexie. Neste
momento, Daniel não confia em nenhum dos seus homens, pois sabe que
entre eles há um traidor. Ele está sozinho e provavelmente desesperado,
não vai hesitar em se oferecer para trocar de lugar com você quando
chegar a hora.
Aos poucos, compreendo o que se passa nessa cabeça
inescrupulosa. Kraig está tão perturbado para vingar a morte do pai, que
mal percebe o precipício do qual está se aproximando.
— Chega de falar sobre mim, não é? Vou chamar o Matt. Aposto
que vocês têm muito o que conversar, não?
Sua voz me causa ânsia. É tão enjoativa, impiedosa. Minha pele
se arrepia de pavor, sempre que o homem coloca os olhos em mim. Sinto-
me exposta, vulnerável, um pedaço de carne fácil.
— Não quero vê-lo! — declaro com determinação. As lembranças
que tenho de Matt causam-me repulsa. Quero esquecê-las, arrancar da
minha mente que já fui beijada por um ser tão covarde e repugnante como
ele.
Kraig me analisa dos pés à cabeça. Um brilho estranho surge em
seus olhos ao encarar minha barriga protuberante.
— Não seja tão má, meu bem. Matt é um bom garoto! — Sorri.
Não gosto do rumo que a conversa está tomando. Kraig tem
manias e falas estranhas, age como se fosse um lunático, é doentio.
Não volto a respondê-lo. Foco minha atenção no lençol escuro, e
apenas ouço quando o homem faz uma ligação e ordena para que o Matt
dê as caras.
Em poucos minutos, a porta se abre, e um Matt bem-vestido entra
no quarto.
Ele sorri na minha direção, ajeitando o terno caro no corpo. Os
cabelos escuros ainda úmidos do banho que tomou.
— Oi, lindinha. — O antigo apelido me soa ridículo agora. Sinto
asco. — Ele caminha até a cama e se senta ao meu lado. As mãos
traidoras seguram as minhas, mas eu me desvencilho do seu toque. —
Nos dê licença, Kraig.
— Claro! — O homem pisca para mim e sai pela porta de
madeira, trancando-a atrás de si.
Matt se aproxima mais, um sorriso ridículo no rosto.
— Como é bom te ver outra vez… — comenta. — Está tão
bonita. — Seus dedos são sutis ao tocarem meu cabelo. Mais uma vez, eu
o afasto.
— Não toque em mim, Matt. É melhor que retorne para o inferno
de onde veio! — esbravejo, ferida.
Apesar de não o amar como pensava, ainda tinha carinho por
Matt. Ele sempre foi gentil comigo, me entendia. Só agora compreendo
que era tudo fingimento. O homem sentado ao meu lado não passou de
uma desilusão dolorosa, uma rede de mentiras.
— Fiz o melhor por nós dois, Lexie. Foi a maneira mais eficaz
que encontrei de te tirar das mãos daquele homem!
— Eu não queria ser tirada dele. Por que não entende?
Penso no quanto Daniel me magoou ao esconder a verdade sobre
Adrienne. Ainda agora, ao me lembrar de tudo, desejo fugir para não ter
de olhar no seu rosto outra vez. Mas ao mesmo tempo, sei que o que
aconteceu entre nós não fez parte de uma mentira. O que eu e Daniel
vivemos nos últimos seis meses foi real, intenso e abrasador. Ele não me
amou com palavras, mas me amou com gestos, se entregou, me fez dele e
se doou para mim na mesma proporção.
Os olhos de Matt faíscam, e suas feições se transformam quando
minhas palavras são absorvidas por sua mente.
— Você me amava, querida. Ainda me ama, tenho certeza.
Sinto o toque frio de suas mãos em meu rosto, e o desgraçado se
inclina sobre mim.
— Já disse para não me tocar… — Interrompo a fala ao sentir
uma forte contração no útero. Seguro os lençóis da cama com força e
fecho os olhos, amedrontada. — Aiii! — A dor é tão intensa que não
consigo segurar um gemido.
— O bebê vai nascer? — Ouço sua pergunta em tom de surpresa.
— Podemos criar a criança como nossa. O que você me diz?
— Saia daqui, Matt. Saia! — Minha voz sai rouca pela dor e a
raiva.
O homem segura os meus ombros e me sacode, como se estivesse
tentando me trazer de volta a realidade.
— Por que é tão ingrata? Estou te dando a chance de criar um
filho bastardo — esbraveja, irritado. — Essa criança era pra ser minha,
Lexie. Mas na primeira oportunidade abriu as pernas para aquele babaca
do Daniel, e agora dá uma de orgulhosa? Não seja ridícula!
— Me larga! Você ficou louco? Por sua culpa, eu e minha filha
estamos em perigo! — acuso, a voz trêmula de revolta. — A única coisa
que quero de você é distância, Matt. Distância!
O homem me encara com a expressão carrancuda. O olhar
cintilando pela raiva.
— Você não tem alternativas, querida Lexie. Vou preparar tudo
para irmos embora ainda hoje. Com ou sem esse bastardo que você
carrega.
A dor ameniza e eu respiro fundo, o coração batendo forte.
Ouço o barulho da porta sendo aberta, e Kraig entra no quarto
batendo palmas.
— Que cena mais encantadora… — debocha. — Digna de uma
família feliz.
Confusão nubla meus pensamentos ao observá-lo. Seus olhos
tomam um ar assustador, mas Matt não se dá conta da expressão letal de
Kraig em sua direção.
— Sabe, Matt. Sempre soube que poderia contar com você para
me ajudar no que eu precisasse. É um homem de palavra.
Um arrepio frio na nuca me faz encolher o corpo. Mal consigo
respirar.
Matt parece deslumbrado com o elogio. Embevecimento toma
suas feições, e ele se levanta da cama, voltando a atenção na direção de
Kraig.
Meu coração se agita. Uma sensação apavoradora ecoa em meu
interior.
— Agradeço, Kraig. Por Lexie, eu sou capaz de qualquer coisa.
— Compreendo — responde o outro homem, a voz mansa e
arrastada. — E é por isso que tenho algo para você. Em nome de sua
lealdade, agora você está livre, meu amigo.
Tudo acontece rápido demais para que eu possa assimilar com
clareza.
Em um instante, Matt está de pé feliz e sorridente de frente para
Kraig, no outro, seu corpo desaba no chão com o barulho certeiro de um
tiro.
Oh meu Deus!
Choque me toma dos pés à cabeça, e fico estática. Minhas mãos
chacoalham, trêmulas, a voz some, o corpo perde as forças.
Com um sorriso frio no rosto, Kraig volta a guardar a arma e olha
na minha direção.
— Te falei que ele era um bom garoto — menciona como se nada
tivesse acontecido. Puxa a cadeira e volta a se sentar próximo a mim,
pouco se importando com o sangue que escorre pelo quarto e infiltra em
alguns lugares no piso.
Náuseas me tomam, a visão escurece. O pânico me leva ao limite
do suportável.
Permaneço congelada, abraçada ao meu corpo na cama enquanto
o homem me encara como se eu fosse sua visão preferida aqui na terra. O
olhar brilha intensamente, gelado.
— Agora você é minha, Lexie — diz friamente. — Sempre te
quis, te desejei como um louco por todos esses meses. E sabe o que é
engraçado? — Um riso perspicaz surge em sua face. — Me excitava
quando ouvia você gemer e gritar nos braços dele. Sabia que logo
chegaria a minha vez. Aqueles seus gemidos… — Estala a língua. —
Puta que pariu! É uma pena que agora carregue esse verme em seu
ventre, mas podemos dar um jeito nisso assim que ele nascer.
— Você é completamente louco. — Coloco a mão na boca,
tentando não vomitar. Meus olhos ardem pelo esforço. — Nunca terá
nada de mim, miserável!
Lágrimas grossas deslizam por minha face e eu temo por Chloe.
As horas passam lentamente, as contrações aumentam. Já não
suporto continuar numa mesma posição por muito tempo.
Kraig permanece me observando em sua cadeira, parece admirado
ao me ver sofrer.
No final da tarde, as dores se tornam intoleráveis. Arranho os
lençóis tentando suportá-las, todo meu corpo está suado.
Mas é ao cair da noite que tudo se intensifica.
Kraig permanece no quarto, observando-me. Os intervalos das
contrações são curtos, os lençóis estão empapados de suor.
— Por favor, me leve ao hospital… — imploro sem forças. —
Meu bebê vai morrer, Kraig. Ainda não está na hora de nascer.
— Que pena! — expressa calmo, não se importando com o quanto
eu grite ou implore. Sua arma está em punho, apenas esperando o
momento.
— Aiii, meu Deus! — A contração é tão forte que perco o fôlego.
— Por favor, Deus….
Sinto uma vontade imensa de fazer força, mas luto
desesperadamente para tentar impedir que Chloe chegue ao mundo
agora.
— Ahhhh! — Choro, grito, me exaspero.
A bolsa se rompe, molhando todo o colchão. Meus soluços ecoam
no quarto.
Já não consigo mais suportar a agonia que me invade,
desespero me corta de dentro para fora. O medo do que poderá
acontecer se Daniel não vier é gritante, rasga o meu peito como a
lâmina de uma navalha afiada.

DENER

— Inferno! — xingo, desolado.


Não há sinal de Lexie em qualquer lugar de Sacramento.
Entrei em contato com alguns aliados na região, fizemos uma
busca minuciosa pelas casas noturnas, bares e boates que poderiam estar
sendo usadas para abrigar as mulheres traficadas.
Nada! Nenhum vestígio surgiu. Ninguém sabe informar o
paradeiro de Hector. O homem sumiu do mapa.
Alexander está com as costas rígidas, olhando pela janela do
quarto do hotel, pensativo. A tarde se aproxima, o sol treme de tão
quente, mas nada se compara com o terror que me assola.
Ryder e Kraig continuam perdidos no mapa, Ettore também está
em sacramento, mas não o informei sobre a minha presença na cidade.
Recosto a cabeça na parede branca, as mãos geladas como há
muito tempo não me sentia. O peito doendo tanto que é difícil respirar.
Eu vou achar você, Lexie. Repito para mim mesmo. Eu juro!
Os minutos se arrastam enquanto volto a andar de um lado para o
outro, pensativo.
Se Hector veio até Sacramento, isso não significa que ainda
continua aqui.
Pode ter trocado de carro, usado uma identificação falsa.
Pego o celular no bolso e deslizo a tela. Recordo-me que essa é
uma região árida, e algumas cidades da Califórnia ficam próximas ao
deserto Mojave. Uma delas é Palmdale, localizada no condado de Los
Angeles, aos arredores do deserto.
Rochas, sol e uma vasta extensão de terra inabitada. O lugar
perfeito para construir um harém de mulheres traficadas, longe o bastante
das autoridades, porém, próximo o suficiente para conseguir acesso.
— O deserto, Alexander. — Caminho na direção do homem, o
coração batendo forte. — Hector só pode estar se escondendo no deserto.
É a única explicação para esse sumiço.
O homem me analisa com atenção, e balança a cabeça em
concordância.
— Faz sentido — responde.
Não espero que ele diga mais alguma coisa. Enfio a pistola no
coldre, pego a mala carregada de suprimentos e vou em direção ao
elevador. Alexander me segue a passos rápidos.
Ao entrar na picape que aluguei, ligo o carro e estou prestes a dar
a partida quando meu celular apita.
É uma mensagem de texto de um número desconhecido.
Franzo a testa, desconfiado e penso em ignorá-la para não perder
mais tempo. Contudo, imagino que possa ser Hector entrando em contato
para trocar minha vida pela de Lexie.
Suor frio e angustiado escorre da minha testa. Abro a mensagem e
leio o texto pequeno e direto.
Tire ela daqui!
Não há outra informação, o remetente não se identifica.
Clico no link disponível no final da mensagem de texto. O
navegador é direcionado para o mapa.
E bem ali, na minha frente, surge o trajeto que poderá me levar até
Lexie, no coração do deserto Mojave, debaixo do sol escaldante, a
exatamente 37 km de distância de Palmdale.
Inspiro fundo. Não penso, não raciocino.
Entrego o celular para Alexander e dou a partida na picape que
aluguei assim que cheguei a Sacramento. O homem observa a mensagem,
e eu piso fundo no acelerador.
— Pode ser uma armadilha — adverte e eu dou um aceno com a
cabeça.
— Estou pouco me fodendo — respondo, furioso. O sangue
borbulhando em minhas veias como lava de um vulcão. — Se Lexie
estiver nesse lugar, irei tirá-la de lá nem que seja a última coisa que faça
na vida. Mesmo que seja necessário explodir tudo que se movimente à
minha frente.
— Estou com você, irmão!
Algo dentro de mim desperta com mais força do que nunca. Uma
sede de sangue e destruição, um desejo absurdo de sentir o cheiro da
morte me rondando.
O trajeto até Palmdale é demorado. São quase 400 km de
distância de Sacramento, mas dou o melhor de mim para chegar o mais
rápido possível.
Ao cair da noite, guio a picape em terra de chão batido, seguindo
o mapa.
O veículo solavanca por causa da estrada esburacada, mas nada
me faz diminuir a velocidade.
Continuo em frente, decidido a ir até o fim da caçada. Em meu
peito, carrego a certeza de que por Lexie e nossa filha, eu morreria.
Ao longe, avisto uma luz fraca, perdida no meio da vastidão de
terra seca.
Piso mais fundo no acelerador, a adrenalina me entorpecendo,
cada célula do meu corpo parece pulsar, seguindo o ritmo das batidas
vitais do coração.
A luz se intensifica. Às vezes, some e desaparece a cada curva
que preciso fazer. Ao me aproximar mais, ouço o som de música alta e
batidas pesadas.
O barulho aumenta a cada segundo que passa.
Logo a frente surge uma curva fechada, imagino ser a última antes
de chegarmos ao local.
Uma sombra aparece a poucos metros de distância. A forma de
um homem acenando com os braços na direção do carro é nítida.
Alexander prepara a Uzi, e eu foco na direção, a mão na pistola
carregada, pronto para mandar para o inferno qualquer imbecil que ousar
me interromper. O farol do carro ilumina o homem no meio da estrada.
Ele fica de frente para mim, permitindo que eu veja seu rosto com nitidez.
Não demonstra uma gota de medo.
Reconheço-o imediatamente.
É o motorista que costumava levar Lexie para a faculdade. O vi
em uma fotografia, quando Ettore fez uma investigação minuciosa sobre
a vida da garota. Ele também estava presente no dia do noivado. Seu
nome é John.
Será ele o autor da mensagem? Não dá pra ter certeza, mas não
tenho alternativa a não ser confrontá-lo em busca de maiores
informações.
Piso no freio em um impulso rápido. O carro derrapa na estrada e
gira, ficando atravessado no meio do caminho. O homem continua
parado, não se movimenta e muito menos saca uma arma.
Alexander bate a porta de um lado e eu saio pelo outro. Vou na
direção dele, tão enlouquecido quanto um felino enjaulado. Seguro o
homem pelo colarinho da camisa e o jogo no chão, minhas mãos são
certeiras em sua garganta.
— Onde ela está? — vocifero fora de mim, as mãos tremendo de
ira.
Alexander segura meu braço, e impede que eu enforque o
desgraçado, capanga do Hector.
Ele tosse quando o aperto ameniza, puxa ar para os pulmões com
força.
— Está quase atrasado, Daniel. Deveria ter se esforçado para
chegar mais rápido — diz em um tom ardiloso, provocativo.
— Imbecil. O que você quer? É dinheiro? Poder? Já tem tudo
isso, só me diga onde minha garota está! — esbravejo e o solto.
O homem fica de pé, respirando com dificuldade. Foca sua
atenção na minha direção e diz:
— Guarde a merda do seu dinheiro. Eu só quero que Lexie seja
tirada de lá, antes que seja tarde demais. O bebê está a caminho porra,
nem Hector, nem o seu comparsa terão pena daquela criança!
O som agudo de suas palavras entranha-se em mim, fico lívido.
Minha filha está nascendo!
Minha pequena Chloe está vindo ao mundo no meio de uma
maldita guerra.
— Deixem o carro e venham comigo para não chamar atenção.
Terão de ser durões, a casa está sendo muito bem vigiada.
Olho na direção de Alexander e ele assente com um balançar de
cabeça. Não há alternativa a não ser confiar nesse homem, que até agora é
o único que possivelmente tem alguma informação sobre o paradeiro de
Lexie.
Confirmo para ele e corro até o carro.
Coloco a pistola no coldre, pego um rifle, munições, e embainho
uma faca no bolso traseiro da calça. Entrego algumas granadas para
Alexander, e seguimos em uma corrida frenética e silenciosa. O som que
vem da casa reverbera em cada rocha pontiaguda.
Escondo-me atrás de uma das pedras, assim que nos aproximamos
o suficiente.
Vejo três homens de tocaia na frente da porta.
— Alguém terá de distrai-los — diz John, convicto. — Eu faço
isso. Você e o gigante aí do lado deem a volta e tentem não fazer muito
barulho quando matarem alguém. Entrem pelos fundos. O salão principal
está lotado de capangas armados, mas estão distraídos fodendo as garotas.
Hector está com eles, próximo ao balcão do bar, e Lexie está trancada no
segundo andar. Vão escutar seus gritos assim que se aproximarem.
Ele se movimenta e eu aguardo para ver qual será seu próximo
passo.
John saca uma arma e caminha firmemente na direção dos
capangas de Hector. Ouço o barulho de um tiro, misturado aos sons que
vem de dentro. Um deles cai no chão e os outros revidam, saindo dos
seus postos de vigilância.
Não há tempo para ver o que irá acontecer com John. Aproveito a
distração para passar despercebido, usando as sombras da casa para me
camuflar. Sigo ao lado de Alexander, rente a parede de madeira.
Um vigia aparece em nosso campo de visão, assim que
concluímos a primeira volta. O Imbecil leva as mãos à arma, mas antes
que o homem possa fazer qualquer alarme, alcanço-o e golpeio sua
cabeça com o rifle.
O homem bate na parede, tonto. Pego a faca no bolso traseiro e a
enfio em sua garganta.
O líquido púrpura borbulha do ferimento e respinga em meu rosto
e pescoço. O cheiro de ferrugem faz meu instinto animalesco rugir. Logo
à frente, outros dois são abatidos. Os corpos caem no chão, sangue
escorre e mistura-se com a terra.
Alexander abre a porta dos fundos com um chute certeiro. O
barulho causado pelo impacto na parede, chama a atenção de capangas
distraídos que fodem algumas garotas no chão da cozinha.
As garotas estão amordaçadas, algumas completamente nuas e aos
prantos.
Não há tempo para analisar a situação, uma guerra se inicia. Uso o
rifle e Alexander a Uzi. O cômodo se transforma em um verdadeiro mar
de sangue, o barulho dos tiros é ensurdecedor. Mais homens aparecem,
vindos do interior da casa, e eu me jogo atrás de um armário para me
proteger dos tiros, Alexander também procura um abrigo.
O círculo começa a se fechar, e recebo uma bala de raspão no
braço.
Arde como o inferno, a raiva e a dor me enlouquecem, mas não
paro de atirar contra os imbecis. Olho na direção do corredor, e faço os
cálculos mentalmente, seguindo a rápida descrição que John fez sobre o
lugar.
— Vá atrás dela, porra — Alexander grita a plenos pulmões. —
Eu cuido desses imbecis.
O homem saca uma pistola com uma mão, e segura a Uzi com a
outra. Sai do seu abrigo atrás do fogão, e abre fogo com tudo que tem em
direção aos vigias que aparecem um atrás do outro.
Salto os corpos ensanguentados, e seguimos os dois em direção ao
corredor. A escada que leva ao segundo andar está logo à frente.
Alexander abre fogo outra vez, o barulho de gritos e tiros estremecem as
paredes, cada compartimento.
Não sei ao certo se sairemos vivos desse inferno, mas corro o
mais rápido que consigo, em direção ao segundo andar.
Atiro sem pena na direção de qualquer alma que se mova.
A munição do rifle chega ao fim, e sou obrigado a me virar com a
pistola. Deixo um rastro de destruição e morte por onde passo. Ao final
do corredor, ouço os gritos de uma mulher, e sei que é Lexie. Meu
coração falta sair pela boca, o pânico me impede de respirar
coerentemente.
Arrombo a porta com os ombros, usando toda minha força no
processo e miro. Os pedaços de madeira caem no chão, e eu congelo na
entrada, o fluxo sanguíneo correndo como fogo em minhas artérias.
Lexie está amarrada na cabeceira da cama, os olhos banhados de
lágrimas grossas, os cabelos molhados de suor.
Minha garota berra de dor e desespero por causa das contrações
do parto.
De pé, ao seu lado, vejo Kraig, com um revólver apontado em sua
barriga, um sorriso zombeiro no rosto.
— Desgraçado! — Solto um rugido de dor e fúria.
— Não dê mais nem um passo, Daniel, ou esse bastardinho morre
— ameaça calmante, passando o cano da arma na barriga da minha
esposa.
Observo a situação desesperadora. As roupas de Lexie estão
molhadas na altura da pélvis, o que significa que a bolsa se rompeu. O
tempo está acabando.
Ela grita por ajuda, puxa as cordas que a prendem na cabeceira da
cama, partindo meu coração em milhões de pedaços ao vê-la assim.
Desvio meu olhar do seu e volto a encarar Kraig.
— Por quê? — questiono em um murmúrio incrédulo.
O homem sorri sarcástico.
— Você matou o meu pai, caralho! — Sua voz se transforma e o
imbecil acaricia o rosto da minha mulher. — Mas não se preocupe,
quando você e este bastardinho estiverem mortos, eu cuidarei muito bem
dela.
— Se tocar nela, eu arranco seu cérebro, Kraig — ameaço.
— É mesmo? E o que vai fazer? Atirar em mim? — gargalha. —
Se fizer isso, nem o diabo poderá impedir que seu filho morra. Então
pense bem e abaixe a arma, Daniel. Qualquer movimento, e eu atiro na
barriga dela.
— Deniii — Lexie grita e contorce o corpo. — O bebê… está
nascendo… me ajude — roga por socorro.
Abatido, sinto meus olhos arderem, a garganta sufocada.
Apenas um passo, apenas um movimento e Kraig irá atirar em sua
barriga.
Pense, Daniel. Pense!
Olho em direção a janela, mas não vejo saída do que poderei fazer
sem colocar as duas em risco de vida. Tudo se complica no momento em
que eu sinto o cano frio de uma arma sendo apontada diretamente em
minha cabeça.
— Largue a pistola, Daniel. — É a voz de Ryder.
Fico estático, mas recomponho os sentidos quando o homem
empurra o cano com força contra o meu cérebro.
— De joelhos e mãos na cabeça, caralho! — exige.
Devagar, me inclino e coloco a arma no chão. Controlo-me, busco
calma. Em algum momento, eles darão uma brecha.
Ryder amarra minhas mãos atrás das costas e passa por mim,
caminhando em direção ao irmão.
— Porra Kraig, por que não me incluiu na diversão? Precisei
investigar seus passos até descobrir o caralho do seu paradeiro. — Kraig
sorri, divertindo-se com o fechar do círculo.
— Pensei que isso talvez não te interessasse, irmão.
— Daniel matou o nosso pai. Tudo que mais quero na vida é ver o
desgraçado morto.
Kraig abaixa a guarda sorridente, tirando Lexie da mira da pistola,
e caminha até o irmão.
Forço o nó da amarração em meus pulsos, e sou surpreendido
quando a corda se solta facilmente. Ryder não seria tão ingênuo a este
ponto.
Olho para o homem, desconfiado, mas ele não me fita.
Passa o braço nos ombros de Kraig e diz:
— O problema, irmão, é que nosso pai nunca foi inocente. Eu
sinto muito!
Um tiro é disparado no cômodo e eu me levanto o mais rápido que
consigo.
Kraig leva a mão ao peito, suas pernas vacilam e ele cai de
joelhos no chão. Sangue começa a brotar de sua boca.
Ryder se afasta do irmão, o olhar feroz e perspicaz:
— Cuide dela, eu vigio a porta.
Assinto para ele, agradecido. Uma dívida de sangue acaba de ser
criada.
Corro até Lexie e a desamarro da cabeceira.
O barulho de tiros é constante lá embaixo, mistura-se com a
música alta e os gemidos dolorosos da minha esposa.
— Eu estou aqui, querida. — Toco seu rosto rosado com cuidado.
— Eu sabia… que viria… — responde com a voz falha. — Nossa
filha…
— Vamos fazer isso juntos. Confie em mim, Lexie.
Corro em direção ao banheiro e lavo as mãos o melhor que posso
mediante as circunstâncias.
É impossível tirar Lexie daqui quando o mundo está desabando
debaixo dos nossos pés. Também temo que não haja tempo de levá-la ao
hospital. Suas contrações estão constantes, não há mais intervalos.
Volto para ela com um pano molhado e limpo sua testa.
— Vou tirar sua calça, tá bem?
Lexie assente, mordendo os lábios para não gritar.
Agarro o elástico da calça de flanela junto a calcinha e a retiro.
Abro as pernas de Lexie para ver a situação, e suo frio ao perceber
o quanto sua vagina está inchada e a abertura dilatada. Cubro-a
rapidamente com uma parte do lençol escuro e corro até os armários, em
busca de algum pano limpo que possa me auxiliar quando a bebê nascer.
Encontro um edredom grosso de cor azul clara. O tecido cheira a
mofo, mas é a única opção no momento. Jogo-o sobre a cama e me
coloco entre as pernas de Lexie.
Não faço a mínima ideia da porra que estou fazendo. Apenas sigo
meus instintos e permito que o curso natural das coisas siga seu percurso.
— Inspira, Lexie e faça força!
Minha garota concorda com um aceno de cabeça e eu conto até
três.
A contração vem forte, Lexie grita de dor enquanto tira forças do
fundo da alma para trazer nossa filha ao mundo. Uma cabecinha peluda e
loira começa a aparecer, fazendo meu coração errar algumas batidas,
bombardeando minha caixa torácica.
— Outra vez, querida. Seja forte! Chloe está quase nascendo.
— Aiiiiii! — Lexie crava as unhas no lençol e tenta outra vez,
inclinando o tronco para a frente, até ficar sem fôlego.
Lexie está exausta, mas se esforça ao máximo, demonstrando o
quanto é imbatível.
Seu corpo cansado cai no colchão, mole, sua respiração ofegante.
Um chorinho estridente ecoa pelo quarto, penetrando meus
sentidos e eu seguro minha pequena filha nos braços, emocionado. Seu
rostinho tão inocente e angelical me deixa sem fala. Os cabelos claros e
molhados arrancam-me um suspiro bobo. É difícil compreender como é
possível amar tanto duas mulheres ao mesmo tempo, mas a verdade é
essa. Amo Lexie e a nossa filha como nunca amei ninguém em toda a
minha vida.
Enrolo a bebê no edredom e a coloco sobre a cama ao lado de
Lexie.
Ajudo minha esposa com a placenta, limpo-a como dá e coloco
nossa filha em seu colo.
Lexie segura Chloe com os olhos molhados, o rosto iluminado de
admiração e alívio.
— Nossa pequena é linda! — digo a ela em um sussurro e me
inclino para deixar um beijo em sua testa. — Me perdoe por tudo, Lexie.
Eu nunca quis magoar você!
Colo nossas testas uma na outra, sentindo os movimentos do bebê
em seus braços, nossas respirações ofegantes.
Lexie fecha os olhos, respirando fundo.
— Eu amo você, pequenina — confesso com o coração doendo.
— Você é a única pessoa no mundo a quem eu me curvo.
Uma gota de líquido quente escorre na minha pele. Não sei se são
dos olhos de Lexie ou dos meus, mas eu não me importo.
CAPÍTULO FINAL

DENER

Lexie toca o meu rosto com a mão delicada, a respiração errática.

— Só o tempo pode interromper a dor que você causou dentro de


mim, Daniel — confessa com sinceridade —, mas eu sei que o passado
não pode ser mudado. Só nos resta seguir em frente agora, tentando juntar
os pedaços.

— Eu sinto tanto… — digo com os olhos fechados e a abraço


com cuidado. — Esperarei o tempo que for preciso para que me perdoe.

Uso meu rosto para acariciar o dela levemente, alcanço sua boca e
dou um beijo suave nos lábios secos, em seguida me afasto. Lexie seca as
lágrimas dos olhos e olha para nossa filha, embasbacada.

— Ela parece bem… — comenta em um sussurro.

Observo minha garotinha toda enrolada no edredom com os olhos


fechados e a mão na boca. Percebo que tudo valeu a pena. Confiro sua
respiração, parece normal, contudo, elas precisam de assistência médica
urgentemente. Apesar de ser forte, Chloe nasceu antes da data prevista.

Procuro a mini faca no bolso interno da camisa que uso e a retiro


da bainha. É necessário cortar o cordão umbilical de Chloe, mas a faca
que trago comigo está infectada com o sangue daqueles desgraçados.
Então a Push T Dagger terá de servir.
— Abra o edredom para que eu possa cortar o cordão umbilical,
Lexie. Precisamos sair daqui o mais rápido possível. Vocês duas têm que
passar pelo médico — digo a ela.

Lexie faz como peço e descobre o corpinho de Chloe. Corto o


cordão umbilical, a mais ou menos sete centímetros do umbigo e volto a
cobri-la bem.

— Não sei o que aconteceu lá embaixo, mas parece que os tiros


cessaram — comento.

Olho em volta, observando os dois corpos sem vida. Kraig está


encolhido no chão, as pernas inclinadas, o olhar alarmado.

O outro não consigo identificar. O homem está de bruços rodeado


de sangue.

— Quem é esse? — questiono para Lexie.

A garota fita o corpo rígido estirado no chão e levanta o olhar na


minha direção para responder:

— Matt!

Ciúmes puro flui em minhas veias, mas não digo nada a Lexie. Se
o desgraçado já não tivesse morto, eu o mataria com as próprias mãos
aqui e agora.

Assinto para a minha mulher e caminho em direção à porta


trancada para conseguir alguma informação com Ryder, pego minha
pistola no chão e a coloco no coldre.

No meio do percurso, Lexie me chama.

— Daniel. Preciso que faça algo para mim — pede.


— O quê? — Viro-me para encará-la.

— É a minha mãe. Ela está viva, e presa em um cárcere


subterrâneo, a mais ou menos 1 km de distância daqui. Ela esteve presa
todos esses anos … com uma máscara de ferro… no rosto. — A voz de
Lexie falha.

— Vou encontrá-la e trazê-la para você, pequenina. Eu prometo.

Minha garota concorda com um aceno sutil e eu abro a porta.


Encontro Ryder a postos do lado de fora.

— O que está acontecendo? — pergunto, desconfiado. — Os tiros


cessaram.

Ryder sorri de lado, mas a dor que está cravada em seu coração
reflete no olhar opaco. Embora Kraig fosse um traidor de merda, ainda
assim era seu irmão.

— Provavelmente Hector e seus capangas estão mortos.

— Então você trouxe reforços? — Suspiro. O alívio me tomando


dos pés à cabeça.

— A tropa está lá embaixo, incluindo Ettore — responde.

— Como conseguiu a localização desse lugar? Não consegui


entrar em contato com você durante todo o dia.

Ryder assente, sem me encarar, entendendo o que se passou em


minha cabeça. Que ele poderia ser um dos traidores também.

— Kraig estava estranho ultimamente. Eu sempre soube que ele


guardava uma raiva sufocante por causa da morte do nosso pai, mas não
levei o assunto a sério, até essa madrugada. — Faz uma pausa. —
Desconfiei que ele estava por trás do sequestro de Lexie, porque sabia o
quanto ele era obcecado por ela. Não disse nada a você porque não tinha
certeza, ele era meu irmão. Mas prometi a mim mesmo que se Kraig
estivesse realmente por trás dessa merda, eu cortaria o mal pela raiz
pessoalmente. E foi o que fiz, Daniel. Quando ele saiu às escondidas na
madrugada, eu o segui e descobri que meu irmão viria para Palmdale.
Segui todos os seus passos, tomando cuidado para não levantar suspeitas.
Peguei o próximo voo para cá, avisei Ettore sobre minhas desconfianças e
ele acionou um grupo de homens bem-preparados. Até conseguirmos a
localização exata do esconderijo de Kraig, levou um tempinho, foi por
isso que nos atrasamos.

Inspiro fundo.

— Obrigado! Te devo a vida, Ryder. — E é verdade, poderia estar


morto agora se Ryder não tivesse interferido.

— Fiz um juramento de sangue, Daniel. Devo cumpri-lo.

No exato momento, Ettore aparece em nosso campo de visão com


um rifle em punho.

O homem analisa em todas as direções, sempre atendo. Quando


percebe que não há perigo, se aproxima.

— Tudo bem por aqui? — pergunta seriamente e eu balanço a


cabeça em afirmativa.

— Lexie teve a bebê. As duas estão bem! — informo.

Um brilho malicioso surge nos olhos de Ettore.

— Então é uma garotinha? — O homem sorri de lado um pouco


surpreso. Nenhum dos meus homens sabia o sexo da nossa filha, eu e
Lexie preferimos resguardar a informação. — Está ferrado, Daniel.

Também sorrio, aliviado em poder tirar minha mulher e minha


filha daqui.
— Onde está Hector? — Volto a ficar sério e questiono sem
rodeios.

— Lá embaixo, acorrentado. Imaginei que você gostaria de ter


uma conversinha com ele antes de irmos.

Balanço a cabeça em afirmativa.

— Sim — concordo —, mas antes irei levar Lexie e nossa filha


para o carro.

Abro a porta do quarto e ambos os homens me acompanham.

Digo para Kraig retirar os dois corpos e levá-los para o salão


principal, em seguida, informo-o sobre o paradeiro de Catherine, mãe de
Lexie. Pego Chloe e a coloco nos braços de Ettore, bem agasalhada
dentro do edredom.

Enrolo o lençol escuro em volta da cintura de Lexie para cobrir


suas pernas, seguro-a em meus braços e a ergo da cama, apoiando seu
corpo frágil e cansado em meu peito sujo de sangue.

— Me leve até Hector, Daniel — ela pede, surpreendendo-me.

— Porque isso agora, querida? Já passou por tanto.

As pequenas mãos apoiam-se em meu peito, convictas

— Preciso fazer algo por mim, e pela minha mãe. — Os olhos


cansados encaram os meus suplicantes.

Não discuto, muito menos questiono. Ettore desce as escadas com


minha filha nos braços e segue em direção a porta dos fundos para sair
dali.
Caminho com Lexie em direção ao grande salão.

Há sangue e corpos espalhados em todas as direções. As paredes


estão manchadas e o piso pegajoso. Uma verdadeira guerra aconteceu
aqui, e nem posso imaginar o que teria acontecido se Ryder não tivesse
agido ao seu modo.

Encontro Alexander em um canto, tirando as amarras de uma das


garotas. Um grupo de mulheres estão encolhidas, observando meus
homens recolherem os corpos e empilhá-los um em cima do outro, os
olhares aflitos.

Algumas estão estiradas no chão, provavelmente foram mortas


por uma bala perdida ou usadas como escudo humano pelos capangas de
Hector.

Mais à frente, noto o desgraçado preso ao balcão por um conjunto


de correntes grossas, com as mãos atadas às suas costas e a boca
amordaçada. Os olhos arregalam-se em minha direção, o medo exala do
seu corpo podre.

— Me dê a pistola, Daniel — Lexie pede enquanto mantém o


olhar focado na direção do filho da puta.

— Eu posso fazer isso por você — sussurro em seu ouvido.

Temo que a decisão que ela acaba de tomar possa traumatizá-la


pelo resto da vida.

— A pistola, Daniel. Esse desgraçado merece sofrer ao menos um


pouco antes de morrer — insiste, convicta.

— Tudo bem. Mas antes pedirei ao Alex para levar essas


mulheres lá para fora.
Lexie concorda e fecha os olhos. Inspira e respira profundamente
algumas vezes buscando coragem para fazer seja lá o que for que se passa
nessa cabecinha geniosa.

Falo com Alexander e o homem assente com um gesto de cabeça.

Uma por uma, as garotas são retiradas do salão, e os outros


homens fazem uma vistoria pelos cômodos vazios, certificando-se de que
todas estão fora de perigo.

O lugar fica em silêncio, com exceção das nossas respirações


aceleradas, incluindo a de Hector. Megan está caída na frente do homem,
como se tivesse sido usada como um escudo ambulante. Há marcas de
tiros em seu abdômen nu, cabeça e pescoço. O rosto está completamente
desfigurado, banhando de sangue e fluidos cerebrais.

Aproximo-me do homem com Lexie em meus braços. Suas


narinas dilatam, os olhos brilham de raiva.

— Acabou, Hector. Você é um homem morto agora! — ela


ameaça com a voz ácida e pega a pistola da minha mão.

Sorrio ao notar que minha garota é mais parecida comigo do que


eu imaginava. Embora ainda seja inexperiente, em breve estará sentada
no trono ao meu lado como uma verdadeira rainha da máfia. Eu e ela
comandaremos a Underworld.

Permito que ela faça tudo à sua maneira, em nada interfiro.

Lexie mira a pistola na direção de Hector, respira fundo e atira


duas vezes na altura de sua coxa. O homem grunhe de dor, mas as
amarras e a amordaça o impedem de se movimentar e gritar. Sangue vivo
escorre pelo chão, misturando-se às poças talhadas no piso.

Lexie me abraça trêmula e sinto o líquido quente das suas


lágrimas banharem meu pescoço.
— Está tudo bem, pequenina. Tudo bem, fique calma.

Tranquilizo minha pequena mulher e acaricio os cabelos longos.


Seu corpo estremece por causa dos soluços, seus dedos agarram-se à
minha camisa.

Emoções fortes tomam Lexie de cima abaixo, o peso de todo o


terror que passou se apossa do seu corpo como um tornado

— Me tire daqui, Deni. Me leve para a nossa filha — pede, aflita.

Caminho para fora do grande salão e a levo para o carro de Ettore,


um SUV escuro, estacionado a poucos metros da casa. O homem está
sentado no banco do passageiro com Chloe nos braços, parece fascinado
com a bebê.

Agasalho Lexie no banco de trás, pego a menina e a coloco no


colo da mãe.

— Eu volto já, querida. Preciso fazer algo antes de irmos. —


Lexie assente e eu beijo a ponta dos seus dedos.

Dou-lhe as costas e sigo em direção ao grupo de mulheres


sentadas no chão em silêncio. Alexander está de pé ao lado delas,
certificando-se de que ninguém tentará fugir antes que as autoridades
cheguem ao local.

— Algum notícia do John? — questiono assim que me aproximo


o suficiente.

— Está ferido, no banco traseiro da picape. — Aponta na direção


do carro. — Teve sorte de sair vivo depois da loucura que fez.

Assinto.

— Obrigado!
Alexander sorri zombeiro.

— Não por isso, Daniel. Estava precisando me divertir um pouco


— brinca.

Vejo Kraig se aproximando de onde estou, conduzindo uma


picape prata. Sai do veículo e abre a porta traseira, revelando a presença
de uma mulher magra e maltratada. A máscara de ferro cobrindo suas
feições.

A mãe de Lexie.

Aceno para o homem em um gesto de agradecimento.

Sem dizer uma única palavra e sob o olhar atento dos meus
homens, pego uma garrafa de água vazia no porta luvas de um dos carros
dos capangas de Hector. Encho o recipiente com gasolina e sigo para o
interior da casa.

Encontro facilmente uma caixa de fósforos sobre o balcão do bar.


Contorcendo-se de dor, Hector segue os meus passos com o olhar
alarmado de pânico. Ele sabe que o fim está próximo, e eu não terei
misericórdia.

Jogo gasolina nas paredes do salão, no piso e no amontoado de


corpos. Aproximo-me do homem, pego a faca e corto a amordaçada que
tapa sua boca.

Hector range os dentes, movido pela raiva, mas nada diz.


Encharco seu corpo com o restante da gasolina e risco um fósforo. Elevo
a minúscula chama acima de sua cabeça.

A luz amarelada reluz em suas íris. Seus ombros desabam,


derrotados, um fio de lágrima escorre em sua cara imunda. Inimigo contra
inimigo, passado versus presente, o início de um ciclo e o fim de outro.
Deixo o fósforo aceso cair sobre os pés de Hector, formando uma
tímida chama no chão. O fogo alastra-se pelos sapatos caros e começam a
consumi-lo pelas pernas. O homem me encara com o maxilar cerrado, a
expressão apavorada, porém recusa-se a se humilhar por misericórdia.

Chamas amareladas se espalham pelo piso de madeira,


consumindo tudo o que encontram pela frente.

Os cabelos de Megan começam a se queimarem, as roupas


desaparecem em questão de segundos. O cheiro repugnante de roupas e
carne queimada invade minhas narinas, misturando-se ao odor forte da
gasolina.

Hector grunhe, o rosto contorcendo-se de dor, a pele ardendo em


chamas, começando a se soltar do restante do corpo.

Viro-lhe as costas e saio do grande salão. O calor torna-se intenso


por causa do fogo que começa a se alastrar pelas paredes, chamas
engolem as mesas, as cadeiras, tudo. Caminho em direção ao local onde
se encontram minha mulher e minha filha: meu presente e futuro.

Ouço os gritos agonizantes de Hector penetrar em meus sentidos e


finalmente permito que todo meu passado seja queimado e transformado
em cinzas junto a ele.

LEXIE

Três meses depois

Despeço-me da minha mãe com um abraço apertado e um imenso


sorriso no rosto. Pego Chloe dos seus braços e aninho a bebê dentro da
manta cor de rosa. O clima já começa a esfriar por causa da proximidade
do outono.
— Fique bem, mamãe — digo a ela, sorridente. O peito inflado
em vê-la tão feliz em seu novo lar.

Está sendo gratificante acompanhar sua evolução em busca da


cura para os seus demônios. Apesar das crises de ansiedade que vem
enfrentando ao se aproximar de pessoas, principalmente as do sexo
masculino, ela é forte, e eu a admiro pela força gigantesca que há em seu
interior.

Embora esteja sendo acompanhada por uma excelente equipe


psiquiátrica, decidimos juntas que o melhor para ela seria se instalar em
um lugar calmo e arejado, afastado dos grandes centros.

Catherine agora mora a alguns quilômetros da mansão, em uma


pequena fazenda de criação de cavalos e todos os dias eu venho visitá-la.

Observo o jardim colorido e bem cuidado, e sorrio internamente.


Se as coisas continuarem nesse nível, em breve todo este lugar estará
tomado por plantas de todas as espécies.

— Tchau, tchau coisinha fofa da vovó. — Minha mãe aperta as


bochechas gordinhas da pequena Chloe e a garotinha abre um imenso
sorriso banguela.

Os cabelinhos loiros brilham ao sol do fim da tarde, os olhos azuis


idênticos aos do pai são tão fascinantes quanto as águas do oceano
pacífico.

— Nos vemos amanhã, mamãe. Não se esqueça de fazer aquela


torta de maçã que adoro, okay?

Minha mãe sorri toda feliz, e eu me afasto também sorridente.


Passo por John que agora é o seu guarda costas, dou tchau para os dois e
sigo em direção ao carro guiado por Ettore.

Após a longa estadia na UTI, John vem se recuperando bem dos


ferimentos que adquiriu na noite em que fui resgatada. Conversamos
bastante durante esses meses e acabei descobrindo que o homem não
fazia ideia sobre a identidade da mulher com a máscara de ferro no rosto
que vivia enclausurada na prisão subterrânea. Quando soube que se
tratava da minha mãe, logo se prontificou a ajudar no que eu precisasse.

Ele é o único homem que minha mãe confia e permite que se


aproxime, sem ser acometida por uma crise de pânico.

Entro no banco traseiro do SUV e agasalho Chloe em meus


braços. Olho em volta, sentindo-me tranquila como há muito tempo não
me sentia. As folhas amareladas começam a cair das árvores, forrando o
chão de cores e formas.

O carro segue seu percurso e em poucos minutos minha filha está


dormindo, tão calma e pacífica quanto um anjinho.

Ao chegar em casa, deixo minha menininha em seu quarto, aos


cuidados da babá e sigo para a suíte principal que divido com Daniel. A
primeira coisa que ouço ao entrar no cômodo amplo, é o barulho
inconfundível do chuveiro ligado.

Tiro meus sapatos e dispo o vestido elegante que uso, pronta para
surpreendê-lo debaixo da água morna.

Mordo o lábio inferior, imaginando o que me aguarda atrás


daquelas paredes: músculos rígidos e um pau deliciosamente grosso. O
coração dispara, começo a ficar quente.

Abro a porta devagar, tomando o máximo de cuidado para que ele


não me ouça e entro no box tomado pelo vapor.

Daniel está de costas, lavando os cabelos. A água morna desliza


pelo seu corpo, formando uma cascata transparente em vários pontos da
pele. Admiro os músculos de suas costas, a bunda e coxas torneadas. O
homem tira todo o meu ar sempre que está em minha frente, desejo flui
por cada uma das minhas artérias.

Aproximo-me e colo minha pele nua na sua, por trás, sentindo


meu marido estremecer. Toco seu abdômen devagar, provando com os
dedos, sentindo cada ondulação deliciosa.

— Lexie… — Ele solta um gemido baixo e segura minha mão


que está em seu abdômen. Coloca minha palma em cima do pênis
semiereto. — Saudade, pequenina? — questiona, convencido.

Sorrio, arteira e dou a volta em seu corpo para me colocar na sua


frente. Daniel me abraça por trás, os braços fortes cobrem cada
centímetro da minha pele, as mãos provocantes agarram meus seios
cheios de leite.

Minhas aréolas são pressionadas e o líquido esbranquiçado vaza


dos meus seios e escorrem pelo abdômen, fazendo meus pelos se
arrepiarem. Ele distribui beijos quentes em minha orelha, suga e
mordisca a pele sensível. Passo a rebolar desavergonhada em seu pau,
agora completamente ereto.

Seus gemidos ecoam nas paredes de azulejos brancos e as mãos


experientes me acariciam, me veneram. Viro-me para ele, nossas bocas se
encontram em um beijo molhado, nossas línguas se enroscam uma na
outra.

Em um segundo, eu estou na ponta dos pés, com os braços em


volta do seu pescoço, no outro, estou escarranchada em seus quadris,
sentindo seu pênis procurando espaço para me possuir. Daniel entra
devagar em mim e nós dois gememos roucos. Nós nos amamos ali dentro
do box do banheiro, nos doamos um para outro, fazemos amor
intensamente.

Porém quando ele me carrega ainda empalada em seu pau em


direção a cama, nossos corpos se queimam, a temperatura aquece.
Entregamo-nos ao amor e a paixão ardente. Fazemos o que mais
gostamos de fazer: sexo sujo, suado e imoral.

Tenho meu corpo chupado e lambido dos pés à cabeça. Meu


marido me lambuza de saliva, enfia a língua na minha boceta, sobe pelo
meu tronco e suga os seios cheios. Sinto o fluido vazando para dentro da
sua boca, gemo e me contorço debaixo dos seus braços.
Assim que estamos satisfeitos, resfolegando na boca um do outro,
Daniel me puxa para seus braços e me aninha em seu peito forte.

— Onde está nossa filha? — Seus olhos brilham ao falar de Chloe


e ele leva a mão aos meus cabelos.

— No quarto com babá. Ela está dormindo. — Minha voz sai em


um sussurro de cansaço. O corpo completamente esgotado.

— Irei buscá-la, está na hora de mamar. — Sorrio outra vez com a


afirmação de Daniel e me sento na cama, firmando um dos braços no
colchão.

Acaricio o peito suado, brilhando de suor.

— Deni, Chloe precisa descansar — brinco com o pequeno


mamilo em seu peito, deslizo a língua para fora e chupo o minúsculo
pedaço de carne tenra.

Meu marido geme baixinho, revirando os olhos. Sorri e afasta


minha boca do seu corpo.

— Depois, pequenina.

Levanta-se e segue até o banheiro para passar água no corpo.

Assim que ele sai em direção ao quarto de Chloe, também me


lavo e coloco uma camisola fina, própria para amamentação. Aguardo-os,
deitada de lado na cama. Os dois surgem na porta alguns minutos depois
e Daniel segue com ela para ao colchão.

Chloe já está desperta. Os olhinhos curiosos olhando tudo à sua


volta, agasalhada dentro de um macacão vermelho. Daniel coloca a
garotinha ao meu lado e leva as mãos à minha camisola para libertar
meus seios.
Os peitos saltam pesados e cheios, um pouco doloridos. Sua
língua desliza pelos lábios, umedecendo-os enquanto me observa.

Não consigo evitar um sorriso ao ver todo o cuidado que ele tem
com a filha. Apesar da explosão em forma de homem, Chloe não puxou
uma gota do seu temperamento. A bebê é calma e tranquila, chora apenas
para trocar a fralda ou quando sente fome.

Ele segura nossa filha com cuidado e direciona a boquinha rosada


para o bico intumescido.

O barulho das sugadas famintas ecoam pelo quarto, deixando-me


emocionada.

— Ela é tão perfeita! — meu marido diz sorridente, os olhos


brilhando em direção à filha. — Talvez seja o momento de pensarmos em
outro, hum? O que você acha?

Balanço a cabeça em negativa e ele se aproxima do meu rosto, a


expressão devassa.

— Talvez daqui a alguns anos… — Mordisco o lábio, fitando a


boca libidinosa.

Inclino-me na direção do seu rosto e grudo minha boca a de


Daniel. Nosso beijo é calmo, repleto de promessas silenciosas. O coração
bate forte em meu peito.

Chloe reclama ao ser esmagada entre os nossos corpos e nós dois


sorrimos. Meu marido me abraça, terno, acolhendo nós duas dentro dos
seus braços. Enfia o nariz entre os fios do meu cabelo e inspira.

— Amo muito vocês! — declara e volta a capturar minha boca na


sua, nossos corpos completamente conectados.

Quanto a dor? Bom, ainda machuca às vezes, bem lá no fundo. As


marcas do passado são difíceis de esquecer, as feridas que abrimos um no
outro ao longo do tempo são dolorosas e levam tempo para serem
amenizadas, mas o amor que sentimentos um pelo outro ultrapassa
qualquer barreira e espinho, nos dar força para continuarmos lutando, nos
deixa mais fortes.

O que parecia errado no início, de repente, se tornou o certo, e


aqui, agora, enquanto amamento nossa filha, tendo os lábios do meu
marido sobre os meus, tenho a confirmação de que tudo acontece como
deve ser.
EPÍLOGO

DENER

3 anos depois

Piso o pé no acelerador do Lamborghini e viro conforme a curva


na pista, logo atrás de Lexie.
Em cima de uma moto Hollister Excite, minha mulher
praticamente voa sobre o asfalto, exalando poder e confiança.
Um ano após o nascimento de Chloe, a presenteei com a
motocicleta potente e rara. Os olhos de Lexie brilharam ao ver a máquina,
e desde então sempre saímos juntos para correr na pista e passarmos um
tempo a sós sendo consumidos pela adrenalina.
Aproximamo-nos do portão de entrada da mansão, e os
seguranças abrem passagem para que ela entre a toda velocidade.
Lexie estaciona próximo ao jardim, levanta-se da moto e retira o
capacete que cobre seu rosto. Os cabelos grandes e compridos, caem
sedosos por suas costas em ondas escuras. O reflexo do sol se pondo
banha seu corpo como uma miragem, contrastando com a roupa de couro
preto que ela usa, colada ao corpo.
Estaciono o veículo a alguns metros de distância da moto e saio.
Escoro o corpo na porta e cruzo os braços admirando-a de longe. O rosto
lindo vira-se na minha direção e Lexie curva os lábios vermelhos em um
sorriso deliciosamente sexy. Seus passos são elegantes e firmes em cima
do salto. Seu olhar tão fatal quanto o de um felino rastreando uma caça
ao cair da noite. O couro colado a sua pele, evidencia as curvas
generosas, marcando a cintura delgada e os quadris fartos.
Minha mulher não tira os olhos dos meus enquanto caminha
rebolando até mim, a pistola potente presa ao coldre em sua coxa. Lexie
passa as mãos em volta do meu pescoço e encosta os lábios grossos nos
meus, apenas para provocar.
— E mais uma vez eu ganhei de você na pista… — sussurra em
minha boca.
As unhas compridas deslizam pelo meu abdômen nu, e todo meu
corpo se arrepia com sua proximidade provocante.
— Não conte vitória, querida. Eu quis assim — respondo,
despreocupado e seguro seu queixo bem-feito.
A mulher umedece os lábios me excitando como somente Lexie
sabe fazer.
A mão ousada escorrega para o cós da minha calça e ela enfia a
mão por dentro da cueca.
— Tem certeza, Daniel? — pergunta em um murmúrio
provocante, seduzindo-me.
— Talvez! — respondo rouco, o cérebro se anuviando de tesão
por essa diaba. — Termine o que começou, pequenina. — Ela sorri arteira
e segura meu pau entre os dedos.
O caralho inflama, cheio de sangue, minha boca saliva, fico louco
por um beijo.
Lexie acaricia a cabeça e eu gemo baixinho, doido por ela, cada
dia mais apaixonado pela mulher forte e decidida que ela se tornou. Ela
sabe que me tem nas mãos, e não tem pena de me ver enlouquecido ao
lambuzar a ponta do dedo indicador nos líquidos que escorre do meu pau
e leva à boca.
A língua libidinosa desliza em sua própria pele, provando meu
gosto, deixando-me em transe. Em seguida, ela se afasta e me deixa ali
com o pau duro, ofegante e confuso. Mal posso acreditar quando Lexie
vira as costas e me olha uma última vez, mordendo os lábios.
Porra!
Gargalho com as bolas doloridas, o olhar seguindo cada passo
dela.
Percebo que Lexie passa pelos meus homens com a cabeça reta e
o nariz empinado; o corpo relaxado e convicto. Até mesmo George
abaixa a cabeça e olha para o chão, em respeito à sua rainha.
Permaneço alguns minutos quieto, aguardando o caralho amolecer
antes de entrar pela porta. O vento frio do final do outono sopra, fazendo
meu corpo nu da cintura para cima se arrepiar. Quando volto a raciocinar
de forma coerente, após o sangue seguir seu percurso para a cabeça de
cima, vou a passos firmes na direção da entrada da nossa casa.
Encontro Lexie com Chloe nos braços. A garotinha está toda feliz,
pendurando um enfeite de Natal na árvore gigantesca próximo à lareira da
sala.
Ao lado delas, Catherine sorri, escolhendo alguns laços brilhantes
enquanto conversa com a neta. Os olhos de Lexie brilham ao falar com
nossa filha. Pega uma bola vermelha e a pendura o mais alto que
consegue. Ao notar minha presença, olhando-as completamente bobo,
Chloe abre um sorriso imenso e se desvencilha dos braços da mãe para
correr em minha direção.
Agacho-me e abro os braços como sempre faço à noite, antes de
colocá-la pra dormir.
— Papai — diz, alegre, os bracinhos pequenos envolvendo meu
pescoço.
Ergo Chloe do chão, e giro seu corpo bem agasalhado no ar.
Minha princesinha gargalha, os olhinhos iguais aos meus se iluminam
mais.
— Como está minha bebê? — pergunto, babão e beijo seu rosto
suave.
— Estamos montando a árvore, papai. Mamãe disse que esse ano
Papai Noel vai me dar uma bicicleta. E eu estou tão, tão feliz.
Olho para a minha esposa que pisca um olho em minha direção e
umedece os lábios.
— Vem com a gente, papai. Vem colocar os laços na árvore.
É quase impossível dizer não a um pedido de Chloe. Coloco-a no
chão e a garotinha corre de volta para a árvore, saltitando. Os cachos
loiros balançam abaixo dos ombros, preso por um laço cor de rosa. O
rosto angelical é idêntico ao da mãe.
Sorrio de lado, dando-me conta do quanto estou fodido.
Caminho atrás dela e a ajudo a colocar alguns enfeites no topo da
árvore.
Enquanto Chloe se distrai com os enfeites, puxo Lexie para um
cantinho afastado dos olhares de sua mãe e da nossa filha, e encosto a
boca no seu ouvido:
— Vai me pagar com juros por ter me deixado de pau duro, Lexie
— sussurro.
Seus lábios gostosos curvam-se e ela sorri maliciosa.
— Tenho algo para te dizer, Daniel.
Sem esperar um único segundo, a mulher me puxa para a sala de
música e tranca a porta. Volta a me encarar.
— E então, o que tem a me dizer? — questiono e passo os braços
ao redor da sua cintura.
Seus olhos sorriem junto com a boca.
— Quero ter outro bebê com você. Nunca me senti tão pronta para
tomar um passo como esse.
Meu coração acelera feito louco dentro do peito, alegria me
consome de dentro para fora.
Tomo Lexie em meus braços e beijo sua boca, faminto e feliz pela
decisão que ela tomou. Sempre quis ter outra criança, mas Lexie deu
prioridade a outras questões em sua vida, incluindo a máfia, e eu respeitei
sua escolha.
— Podemos tentar fabricá-lo agora? Estou apressado.
Lexie agarra-se a mim, sorrindo e volta a me beijar, enfiando a
língua na minha boca em um beijo breve.
— Devemos! Já parei de tomar as pílulas.
As mãos delicadas retiram suas roupas e ela fica nua e devassa na
minha frente.
Com os lábios presos entre os dentes, caminha em direção ao
piano e fica de quatro em cima do órgão. A bocetinha toda melada e
aberta para mim.
Ajoelho-me atrás de Lexie e inspiro o cheiro delicioso de mulher
excitada.
Deslizo a língua para fora e a abocanho seu clitóris vermelho,
tomando tudo dela, completamente entregue à paixão enlouquecedora que
sinto por essa mulher.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, dedico esse livro a cada um que torceu e vibrou


junto comigo para que este lançamento acontecesse. Sou eternamente
grata a cada um de vocês.
Agradeço ao nosso bom Deus, por me ajudar a enfrentar as
aflições e desafios. Agradeço às minhas amigas pela ajuda nas
divulgações e ideias para o livro, ao meu esposo que me apoia em tudo
que faço, a nossa filha que é a luz da minha vida.
Deixo aqui o meu mais sincero obrigada a todos que contribuíram
para que este lançamento acontecesse. Às revisoras Isadora e Sandra, às
betas Carla, Daisy, Quel, Tauana e Brena. À diagramadora Mellody Ryu.
Vocês foram incríveis.
Minha eterna gratidão a vocês, Christine e Mônica, minhas irmãs
do coração que estão sempre comigo para o que der e vier. Amo vocês,
meus amores.
Agradeço a todas que fazem parte do grupo Pecadoras da Jessie
no whatsapp. Eu não seria 1% do que sou hoje sem o apoio constante de
vocês.
Obrigada por tudo, gente:
Andrea Cristina
Stefani Regina
Simone Nunes
Rosa Cristiane
Sarah Rabelo
Adriana Sant’Anna
Dharana Alana
Patrícia Oliveira
Verônica ten Caten
Cass
Francyelle S.G.E.
Pamela kauany de Araújo
Dayse Guedes Nunes
Ana Elisa Xavier de Melo
Ingrid Nelly
Daniely Silva
Margarete Feitosa
Vanessa Borges
Elizabete de moraes
Fabíola Soaresu
Loriany Marques Garcez
Leyde Leonardo
Maria Aline
GabrielaHorau
Dayane Kelly
Daniela Carvalho
Raquel Monteiro
Poliana Prata
Nathália Gomes
Kelviane Sousa
Maiara Lopes
Elaine Cruz
Danielma Costa
Caroline Macedo.
Mônica Cristina.
Alessandra A. D. Nascimento
Marina Abreu
Michelly Félix
Ana Beatriz Dario
Ewely Oliveira
Josilene de Lima
Danny Paixão
Rosineide
Mafalda Pedroso
Tathy
Ana Paula Sousa
Joane Sousa
Márcia Regina
Myh Maciel
Thaisa Pires
Fabiana da Fonseca Lima
Maria das dores
Angela Godoi
Thaís Rocha
Mayngrid
SILMARA
Gabi Ioiô
Allethéia
Juliana Oliveira
Thais Nascimento
Fabrine Viana Olegário
Thaís Alves Oliveira
Michelle Aline Oliveira
Mariana Oliveira
Valdirene Sousa
Gleice Rodrigues
Rozana Bachiega
Regi Souza.
Daisy capistrano
Roberta Anselmé Gardel
Maiara Baldoino
Gabby Bernardo
Pathy Oliveira
Aline Karoline De Sá
SINOPSE

(+18) No coração de Manhattan, tudo pode acontecer. Alexander Roussel é um homem


ferido, que só sabe ferir, que desliza caminhando sua sombra perigosa e sedutora na noite. Um
anjo caído da morte. Ele tira vidas. É um mercenário, um assassino de aluguel. Sem escrúpulos,
sem pena, sem medo. Sem coração. Mas o destino quis que ele cruzasse com aquela que se dedica
a salvar vidas: a filha protegida de um dos chefões da Máfia. Ela é o seu contrário. Angelina
Lucky é a luz da vida, é a inocência. É o coração pulsante. Ela é a ternura que ele nunca conheceu.
Ela é o anjo de luz que talvez ele precise para iluminar seus passos cheios de sangue. Alexander se
vê diante de talvez o seu maior pecado: tirar a pureza da mulher que abala todas as suas estruturas,
fazendo-a conhecer todas as tentações da carne ao lado de um homem corrompido por natureza.
Angelina se vê no dilema entre o amor proibido e tão carnal e suas inclinações religiosas. Eles são
o maior pecado um do outro. Mas também podem ser a salvação que eles precisam.

Aviso: Este livro contém linguagem crua, cenas de violência e sexo explícito. Pode conter
gatilhos. Respeitem seus limites de leitura.
PRÓLOGO

ANGELINA

— Kate… — murmuro. — Não faça barulho.


Tento me agasalhar dentro do lençol fino de cor acinzentada cobrindo o colchão da
simples cama de solteiro enquanto a mulher do meu lado abafa o choro que teima em escapar da
sua garganta. Encosto-me ainda mais em seu corpo esguio e jogo parte do lençol sobre os seus
ombros. Está muito frio. Minhas estruturas tremem devido à baixa temperatura e tensão que se
instala. O barulho de vozes e tiros, antes estridentes lá embaixo, de repente cessam, causando uma
sensação de pavor em minhas entranhas.
Firmando-me no vão da cama, levanto-me e sigo até a porta de madeira. O cheiro de
pólvora domina o ambiente. O barulho de passos em direção ao quarto me faz recuar e o medo
penetra na minha pele, invadindo cada pequena partícula do meu corpo.
— Kate… — Gesticulo para ela e sussurro. — A janela.
Respiro com pesar. Tranco a fechadura e tento correr o mais rápido que consigo até a
pequena janela de mogno do outro lado do cômodo. Os passos firmes e pesados estão mais
próximos a cada segundo.
— Eu não vou conseguir… — Ela abre uma brecha e sussurra de volta.
Não há mais tempo. A porta é arrombada bruscamente, antes mesmo que eu consiga
chegar até Kate, forçando-me parar no meio do caminho. Fecho os olhos por um segundo antes de
me virar e dar de cara com o destino que me rodeia. Dois homens desconhecidos passam pelos
pedaços de madeira no chão, chutando-os para o lado. Suas roupas grossas estão gastas e sujas de
alguma coisa que, em um primeiro momento, não posso identificar. Também não consigo decifrar
a expressão em seus rostos, pois, a essa distância, a fraca luz do abajur não permite. Não entendo
o que os trazem aqui, nem suas pretensões.
Será que tem alguma coisa haver com “Ele”?, penso. Só em imaginar algo assim, sinto
como se o meu coração estivesse sendo esmagado.
Deus, me dê uma luz.
Olho de relance lá fora, pela abertura da janela. Através da noite escura, quase sem luar,
tenho uma fraca visão do chão. O batente é muito alto, tornando impossível pular e sair com vida.
Estamos em um beco sem saída.
Um deles se aproxima de mim sorrateiramente, mantendo a atenção, completamente
vidrada na minha face. Sua estatura é maior que a do seu companheiro, seus cabelos são raspados.
— Pensando em fugir, boneca? — questiona.
Agora, mais de perto, percebo que ele tem olhos escuros e um nariz horrivelmente torto.
O mais impressionante, porém, é a cicatriz profunda do lado esquerdo da bochecha turva.
— Por favor, nos deixe ir… — peço amedrontada.
O sujeito abre um sorriso largo, delimitando cada minuciosidade de sua arcada dentária
podre. Nada responde.
— Sinto muito. Não podemos acatar com o seu pedido dessa vez — diz o outro homem.
Sua voz potente corta o ar, chamando a minha atenção até o batente da porta onde ele se
encontra escorado, observando tudo de braços cruzados. Só agora posso analisá-lo direito, e não é
uma visão muito agradável. Ele possui a pele mais clara que seu companheiro, o rosto coberto de
hematomas, os cabelos são curtos e negros como a noite, mas minha atenção se volta
completamente para o que ele segura nas mãos. Meu coração dispara!
Dou alguns passos para trás, sem conseguir desviar meu olhar, até me chocar com a
parede gelada. Minhas pernas tremulam e quase posso ouvir as batidas aceleradas do meu coração.
Kate, próxima a janela, se agarra a mim. Sinto o pavor emanando dela, pois me sinto assim
também.
O homem da cicatriz tira um celular do bolso e digita algo. O barulho das teclas sendo
discadas ecoa pelo quarto, aterrorizando ainda mais os meus sentidos. O outro, escorado na
entrada do quarto, se movimenta, vindo na minha direção. O barulho estridente das suas pisadas
estala pelo chão cortando o silêncio. Sua proximidade me faz prender o ar e ele parece se divertir
com isso, pois abre um sorriso seco ao me observar encarando assustada. O objeto cortante que ele
segura como se fosse um brinquedo ainda pinga sangue.
A voz do seu parceiro tilinta no ambiente. Ele fala com alguém ao telefone, alto o
suficiente para eu escutar.
— Sim, patrão. Estamos com a garota. Em algumas horas ela estará em suas mãos. —
Ele desliga o celular e se aproxima de mim. — Você tem sorte boneca. O patrão precisa de você
com vida. Mas sua amiga … — Ele analisa Kate dos pés à cabeça. — Não posso dizer o mesmo.
Meu peito se aperta.
— Quem são vocês? O que querem? — interrogo.
Sua atenção se volta para mim. Seus olhos me inspecionam com estranheza. É difícil
decifrá-los.
— Só vamos brincar um pouquinho. Não precisa ficar ansiosa — responde cinicamente.
Sinto meu sangue congelar quando ouço as suas palavras. Não pode ser! Suas mãos
tocam o meu rosto de leve enquanto sua boca se abre em um sorriso asqueroso. Meu estômago
embrulha com o bafo estridente de cigarro e álcool. É insuportável! Movo-me para desviar do seu
toque, mas ele prende meu corpo frágil contra a parede branca. Em seguida, sinto o lado esquerdo
do meu rosto arder com a bofetada que recebo e levo a mão à minha face. Está formigando, arde
muito. Mas eu não vou desistir, não enquanto estiver viva. Debato-me, embora ele seja muito mais
forte que eu. Sendo assim, em vão. Em um ato desesperado, começo a gritar, clamando por um
socorro que talvez nunca chegue.
— Você está sendo uma garota muito má — ele profere sacando uma faca de dentro do
cós da calça. O objeto laminado é posto na minha garganta enquanto a ponta afiada desliza pela
minha pele, fazendo eu me calar. — É melhor ficar quietinha. Prometo que vai gostar do que
pretendo fazer!
Uma lágrima desliza pela minha face quando a realidade bate na minha cara. Estou
prestes a ter o meu corpo violado apenas para satisfazer o desejo insano de um ser humano sem
caráter antes de me levar seja lá para onde. O desespero me domina e o nojo se instala no meu
organismo.
Kate começa a chorar. Um choro abafado, sem fé, enquanto o outro homem rasga as
suas roupas. Meu coração se parte no meio.
— Deixe-a ir. Por favor! Por favor! Vocês querem a mim — imploro com a voz
embargada pelos soluços. Porém, meu pedido é ignorado.
O sujeito a arrasta até a cama, jogando-a bruscamente, fazendo o móvel ranger com o
impacto. Fecho os meus olhos à procura de uma saída. Não posso me entregar assim, sem lutar.
Ouço Kate se debater ao mesmo tempo que o outro sujeito passeia suas mãos nojentas pelo meu
corpo.
O homem à minha frente tira a faca da minha garganta e abaixa a mão devagar, dando a
entender que irá colocar o objeto de volta na calça. Uma luz se acende no fim do túnel. Sem
pensar muito, aproveito sua pequena distração e, em um movimento rápido, levo minha mão no
seu braço, forçando a lâmina na direção do seu quadril, fazendo a ponta o perfurar. Ele urra de dor,
deixando a faca cair no chão, e eu o empurro.
— Sua maldita! — rosna, pondo as mãos no ferimento.
Corro com toda a rapidez possível, pego o pequeno abajur e o acerto com toda a minha
força na cabeça do homem que tenta violentar Kate. O quarto fica totalmente escuro sem a fraca
luz e isso nos dá alguns segundos para fugir.
Seguro na mão de Kate e a ajudo a se levantar. Estapeio as paredes à procura da porta.
Ergo minha roupa para não cair e descemos as escadas o mais rápido que nossas pernas permitem.
A luz da lareira, ainda acesa, clareia o caminho, dando-nos um direcionamento.
Ao chegarmos à sala, vemos o pior cenário imaginado: há corpos ensanguentados e
espalhados pelo chão. As lágrimas queimam conforme rolam pela minha face. As nossas irmãs!
Um grito corta a minha garganta e sinto minhas pernas fraquejarem. Kate ruma em direção à saída
e eu tento acompanhá-la, mas acabo tropeçando em algo. Minha visão está turva e embaçada pelas
lágrimas. Perco o equilíbrio e caio com tudo no chão. Uma dor maçante apossa do meu tornozelo,
impedindo que eu me reerga.
— KATE! KATE! — grito por ajuda.
Respiro com dificuldade. Como dói.
Ela para no batente da porta e sibila algo como um pedido de desculpas e em seguida,
sai, deixando-me sozinha, largada à própria sorte. Sinto como se tivesse uma faca sendo enfiada
no peito. É massacrante!
Meu pânico só aumenta quando ouço o rangido da escada e as pisadas duras dos homens
se aproximando. Vejo uma mesa próxima a mim e a uso como apoio para que possa me levantar.
Caminho com dificuldade até a porta e com sorte, consigo abri-la. Porém, um puxão de cabelo me
surpreende e solto a maçaneta, sendo arremessada em direção ao chão. Na queda, minha cabeça
bate com força, fazendo meus ouvidos começarem a zunir.
— Vadia miserável — ele grunhe com fúria enquanto profere um chute nas minhas
costelas. Encolho-me por instinto, em uma tentativa lastimável de me proteger de mais um
possível golpe. Mas sou surpreendida quando nada acontece, fazendo-me olhar na sua direção, e
então vejo o homem da cicatriz com o rosto bem próximo ao meu. — Agora você vai ficar bem
aqui, quietinha.
Em seguida, minhas mãos são amarradas para trás com alguma espécie de corda
improvisada.
Tudo gira à minha volta. É agoniante! O cheiro de morte, misturado às fortes sensações
é demais para mim. Sinto estar perdendo a consciência, está difícil manter os olhos abertos. O
silêncio reina como em um abismo profundo e, então, percebo que ele não está mais próximo a
mim, pois o cheiro de suor se dissolve no ar com o soprar do vento. Ainda tento forçar minhas
pálpebras a se abrirem e fazer com que de alguma forma eu consiga me soltar e fugir dali. Mas
não adianta, meu corpo não corresponde como eu gostaria.
Os gritos de Kate são ouvidos ao longe, juntamente com algumas risadas e palavrões
obscenos. Eles a pegaram! Só de imaginar o que estão fazendo, sinto ânsia e uma vontade extrema
de vomitar e é tudo o que consigo fazer. O vômito vem em um súbito, incontrolável. Viro meu
rosto na terra batida e jogo tudo o que comi durante o dia para fora — o que não foi muita coisa.
Forço o meu corpo a se arrastar para trás, para não me sujar o rosto. Porém, é inútil
tentar não sentir o odor, o que acarreta outro súbito.
Os minutos passam com toda a lentidão possível e após o que se parece uma eternidade,
os gritos dela são interrompidos. Não posso dizer se está viva ou se eles a mataram. Na verdade,
não consigo raciocinar coerentemente sobre nada, meus sentidos estão se dissipando.
Vários tiros. Gritos. Então… silêncio.
Mãos firmes erguem a minha cabeça e eu sinto um cheiro… O conheço. É bom! Meu
corpo mole é enlaçado por braços fortes e meu rosto pousa em seu peito. Sinto as fortes batidas do
seu coração e isso me acalma. Antes de perder a total consciência, ainda posso ouvir, em sussurro,
o som característico e marcante da sua voz: — Eu estou aqui agora. Nada de mal vai te acontecer.
Eu juro!
CAPÍTULO 1

ALEXANDER

Meses antes…
A noite está totalmente escura e sem brilho, sem nenhum resquício da lua no céu
enevoado de fumaça poluente. Há apenas o movimentar dos carros e o barulho incansável de uma
das maiores metrópoles do mundo. Dois vultos, vestidos com capas pretas, avançam calçada afora,
saindo de um dos edifícios de luxo na avenida Wall Street.
Agachado sobre o parapeito da janela, observo tudo de cima do último andar do prédio
abandonado, imaginando cada detalhe do que se passa naquelas cabeças inescrupulosas. Estou à
espreita há algumas horas, como um felino faminto e traiçoeiro, apenas esperando o momento
oportuno para atacar a presa.
O vento gélido da noite toca o meu corpo, forte e descoberto da cintura para cima,
realçando uma trilha de pelos arrepiados pelo meu abdômen. Meus cabelos, castanhos e selvagens,
batendo na altura dos ombros, são balançados desconexamente no ar. Logo uma pequena garoa
começa a cair, pintando o asfalto maciço da rua, causando um tamborilar característico no que
restou do telhado. Nova Iorque é o cenário perfeito para exercer o que de melhor sei fazer: matar!
Afinal, no coração de Manhattan, tudo pode acontecer, até mesmo o impossível.
O prédio está abandonado há vários anos, desde o último incêndio que levou a vida de
inúmeras pessoas. Uso-o para me camuflar às vezes, pois passar despercebido é meu maior
dilema. O local, além de tudo, é perfeito para observar a cidade lá fora, exatamente por se situar
no centro do grande distrito, sendo uma das construções mais altas e antigas da avenida. Há
comentários de, ainda por cima, ser mal-assombrado, o que facilita e muito a minha vida,
deixando os olhos curiosos a quilômetros de distância.
Fecho a janela com os vidros despedaçados, fazendo um pedaço do material cortante
cair e se estilhaçar no chão. Em seguida, ajusto a pistola na cintura, volto a me vestir com a blusa
preta de mangas compridas, até então jogada cima de algumas caixas empoeiradas, e desço as
escadas do prédio, chegando até a avenida movimentada sem me importar com a chuva que
começa a cair fortemente. O carro antigo, modelo Chevy Impala 1967, um dos meus favoritos,
está estacionado estrategicamente a algumas quadras de distância.
Ando tranquilamente até o veículo como se fosse apenas mais uma pessoa comum
caminhando na correria da noite, indo de volta para sua casa após um dia cansativo de trabalho.
Adentro o carro, saindo devagar, inspecionando cada parte da avenida, sem perder de vista as duas
almas infelizes marcadas para morrer. Os dois homens adentram uma rua deserta, apressando as
passadas. Passam despercebidos pelas demais pessoas que trilham a calçada.
Ambos estão atentos a todos os movimentos em volta, pois sabem exatamente o perigo
corrrido enquanto não estiverem seguros dentro de um avião de fuga, rumo a outro país. Sabem
que se forem pegos, não haverá mais saída. Traição dentro da Máfia jamais é perdoada!
Estaciono e desligo o veículo a uma distância considerável, abaixo de uma tenda escura,
completamente camuflada pelo breu da noite. Observo quando os homens se aproximam de um
Sedan preto de luxo, andando arteiramente pela calçada, enquanto olham para todos os lados.
Cada um carrega uma maleta preta nas mãos. Acendo um cigarro e o trago, em seguida expiro a
fumaça por uma brecha na janela, sem tirar os olhos dos meus alvos.
Antes dos dois infelizes se darem conta de estarem sendo observados, apago a pequena
chama do cigarro com a ponta dos dedos e o jogo pela janela, para então sair do veículo, em total
silêncio. Saco a arma da cintura e miro, dando dois tiros certeiros, acertando em cheio a cabeça de
um dos homens e o pescoço do outro, sem lhes dar a mínima chance de fuga. Os corpos caem no
chão fazendo um barulho conhecido e costumeiro.
Ando na direção aos dois moribundos sem nenhuma pressa. Preciso ter certeza que fiz o
trabalho bem feito. Um sorriso cruel e satisfeito nasce em meus lábios finos ao constatar um dos
homens ainda agonizando, justo o que foi atingido no pescoço. Seu sangue espirra do ferimento,
criando uma fina corrente no chão asfaltado, empoçando em um pequeno buraco. Agacho-me
lentamente, mantendo uma mínima distância do olhar cinzento me encarando amedrontado.
— Nos vemos no inferno, colega! — digo em um sussurro alto o suficiente para o
homem estirado no chão ouvir.
Levanto-me e aponto a arma para o infeliz, que me encara alarmado, sem conseguir
expressar nenhum som. Seu pânico é crucial ao ser atingido pelo olhar penetrante do autor da sua
morte — frio e impiedoso, a concepção do próprio demônio em pessoa. Miro o coração do homem
e atiro. Uma. Duas vezes, fazendo com que o sangue tinja minhas roupas com respingos
vermelhos púrpura.
Permito um sorriso áspero se abrir por baixo da minha barba cheia e rústica. Um sorriso
prazeroso de dever cumprido.
Guardo a pistola de volta na cintura, pego as duas malas e me afasto dos corpos,
satisfeito. Sem sentir ao menos uma gota de remorso. Jogo as malas no banco de trás e dou
partida, saindo devagar, como se nada tivesse acontecido. Ligo o som do carro e em instantes a
voz penetrante do vocalista da banda Metallica ressoa no interior do veículo, cantando Enter
Sandman. Para mim, a noite está apenas começando. Ainda falta o principal: uma boa rodada de
sexo regada a muita bebida.

***
Estaciono meu Impala em frente a Vegas Night Club, que nada mais é do que uma boate de
fachada. Aqui rola de tudo. Tráfico de drogas e, principalmente, as famosas acompanhantes de
luxo. Retiro a camisa de manga e saio do veículo, substituindo a pistola pelo meu Uzi calibre 9, do
qual não me desgrudo nem mesmo para dormir. Um homem com a minha profissão não pode se
dar ao prazer de baixar a guarda nem por um segundo.
O segurança me dá passagem sem pestanejar, chegando para o lado. Quase todos me
conhecem aqui, inclusive sou “amigo” do dono, um dos compatriotas da Máfia Russa aqui em
Nova Iorque. Entro no local sem me importar com os vestígios de sangue na calça jeans de
lavagem escura. Na verdade, ninguém irá perceber esses míseros detalhes e, mesmo que
percebam, não são tão idiotas a ponto de me confrontar.
Muitos olhares se viram para mim assim que passo pela porta de metal. Homens e
mulheres, ambos impressionados com minha estatura e porte físico gigantesco, repleto de
músculos poderosos. Sou completamente ciente do impacto causado por mim nas pessoas e uso
isso ao meu favor. Mas não se enganem, não sou apenas aparência. Digo, com convicção, que o
próprio demônio teme na minha presença e todos aqui têm consciência disso. Fui treinado pelo
melhor atirador de elite dos Estados Unidos. Absorvi cada detalhe e ensinamento com maestria,
tanto que o próprio Charles Harrison sentiu na pele — mais precisamente no coração — o
resultado da sua criação.
Sigo a passos firmes pelo interior da casa. É um ambiente luxuoso, a meia luz, onde
algumas mulheres dançam seminuas em um palco suspenso do lado direito da boate, ao som de
uma batida eletrizante, enquanto outras instigam homens das mais diversas classes e status a
consumirem mais e mais, até o último centavo de dólar em seus bolsos.
Continuo andando até as escadas de vidro que dão acesso à parte privada da casa. Subo
os degraus com toda a calma possível. A noite é uma criança. Não tenho pressa. Passo pelo covil
dos prazeres, o qual conheço tão bem quanto a palma da minha mão. Percebo todos os quartos
trancados, exceto um… O que sempre está reservado para mim. O som dos gemidos femininos é
como música para os meus ouvidos.
Continuo andando até o fim do corredor, a uma porta de madeira maciça com dois
guardas fazendo vigia. Ambos me conhecem muito bem, sabem exatamente o que me leva aqui.
Passo pelos homens e abro a porta, tendo acesso a um outro corredor com fraca luz e paredes
escuras.
Chego à sala da administração, onde dois homens, alguns centímetros mais baixos que
eu, fazem guarda ao pé da porta metálica. Ambos armados até os dentes. Mas, exatamente como
os demais, me dão total acesso. E é o que faço: entro sem pedir permissão.
— Meu caro amigo — diz o homem robusto e baixinho, sentado em seu trono de rei,
como ele costuma dizer, usando terno risca de giz azul escuro, no valor de um rim no mercado
negro, com bigode estilo chevron. Ele me cumprimenta à meia distância, com os braços escorados
nas laterais da poltrona.
Tranco a porta atrás de mim e dou alguns passos em sua direção, parando a uma curta
distância, estampando um sorriso na cara.
— Rodolpho. Que honra o rever! — cumprimento-o. Ser cínico ainda é uma das minhas
maiores qualidades.
Ele ergue um copo de whisky da mesa de vidro ao seu lado direito e toma um gole. A
outra mão se move arteiramente da lateral da poltrona e segue massageando o quadril da bela puta
completamente nua que está sentada em seu colo. Uma loira de curvas generosas, mas com cara
artificial demais para o meu gosto.
— Espero que tenha boas notícias, meu caro — diz ele.
Sigo até a mesa de vidro com a mesma naturalidade com a qual entrei na sala e me sirvo
de um copo generoso de whisky Glenfiddich, 26 anos. Levo o copo à boca, engolindo todo o
líquido de uma única vez. O gosto amargo queima a minha garganta. Mas eu gosto disso, me
excita! Devolvo o copo à mesa com uma certa força, causando um barulho alto pelo choque
tempestuoso entre os vidros. Em seguida, me viro para respondê-lo.
— As melhores possíveis — respondo.
Ele sorri satisfeito e acena para a mulher se levantar. Ela entende o recado e sai do seu
colo. Beija-o na boca de modo estalado, o que causa um rebuliço de nojo em meu estômago,
depois cata as migalhas de roupas no chão e sai da sala.
— Maravilha! — diz ele levantando-se e acendendo um charuto, ficando a poucos
centímetros de distância. Ele traga profundamente e me encara fixamente, soltando toda a fumaça
no meu rosto, antes de continuar. — Ninguém que tenta brincar com a minha cara, sai ileso!
Trinco os dentes com força. Sinto um toque de hostilidade em sua voz, como um aviso,
dirigido diretamente a mim. Rodolpho não é alguém confiável. Ninguém é confiável! Mas não
permito que me afrontem. Viro-me para a mesa e sirvo-me de mais um copo do caro whisky.
Adiciono algumas pedras de gelo e tomo um gole.
— Cuidado com suas palavras, Rodolpho — advirto-o enquanto cravo meus olhos na
sua carranca. — Não se esqueça que um dia é do caçador, e o outro também!
Ele arregala os olhos e em seguida fecha a expressão, pois entendeu perfeitamente o que
eu disse e está furioso por dentro. Não me importo!
— Sou um homem poderoso, Alexander! — Ele cospe o meu nome sem pestanejar. —
Você sabe, tenho meus contatos dentro da Casa Branca, no FBI. Um passo em falso e você pode
sofrer um terrível acidente!
Sorrio com deboche e tomo mais um gole da bebida. Aproximo-me em um movimento
rápido e o seguro pelo pescoço, imprensando-o na parede.
— Você se esquece que no inferno não tem contato e é para lá que você vai se não calar
a PORRA DA BOCA.
Jogo o maldito no chão, tomando todo o cuidado do mundo para a queda o machucar.
Muito!
— Você vai se arrepender disso, seu infeliz! — ameaça, levando a mão até a nuca.
— E você vai fazer o que? Mandar seus vermes atirarem em mim? Vá em frente! Quero
só ver quem vai fazer a merda do seu trabalho sujo — cuspo de volta.
— Maldito! — esbraveja, firmando-se na parede acinzentada, tentando se levantar.
— O trabalho está feito! — afirmo. — Os dois traidores estão mortos agora. E quanto ao
dinheiro? Bom, acho que serve como pagamento dessa vez! — falo ríspido.
Ele acena em concordância, sem dizer mais nada. Os olhos castanhos faiscando de raiva,
a testa franzida, dando mais profundidade às rugas. Pego a garrafa de whisky sobre a mesa. A
bebida ainda está pela metade e tenho belos planos para ela hoje à noite. Sigo até a porta e saio na
mesma tranquilidade com que entrei, trancando-a atrás de mim.
Quase me surpreendo quando passo por uma ala mais escura do prédio, flagrando os
guardas “brincando” com a vadia que estava na sala de Rodolpho há poucos minutos. Eu disse
quase! Nada nesse mundo é capaz de me surpreender realmente. Sorrio de lado e sigo minha rota.
Agora está explicado o motivo de ninguém ter aparecido no escritório quando dei um pequeno
aviso na fuça daquele desgraçado. A guarda faz jus ao dono.
Sigo até meu quarto de honra. Bato a porta e jogo-me na cama larga de casal, coberta
com lençóis vermelhos de seda recém-trocados e várias almofadas espalhadas por toda a extensão
do móvel. Ajeito os travesseiros nas minhas costas, tentando ficar o mais confortável possível.
Pego o whisky que eu havia colocado sobre o criado-mudo e viro a ponta da garrafa contendo a
bebida âmbar de sabor inigualável diretamente na minha boca, tomando um gole generoso, o qual
desce feito brasa. Fito as paredes levemente avermelhadas pela luz decorativa e permaneço assim
longos minutos. Apenas eu, o álcool e meus pensamentos.
Sei que Rodolpho não vai deixar aquele pequeno detalhe passar impune, conhecendo-o
como conheço. É um homem cabeça dura! Tolo! Não sabe a hora de ficar quieto. O principal ele
faz: paga-me muito bem para fazer seu serviço sujo, isso não posso negar. Mas preciso ficar
atento, sei que tem problemas grandes pela frente. Ele é repleto de inimigos que dariam milhões
de dólares por sua cabeça em uma bandeja de prata.
Devolvo a garrafa para o criado, tiro minha arma da cintura e coloco sob o travesseiro,
pego o telefone e aciono atendimento especial na recepção. Agora eu só preciso relaxar um pouco.
Coloco as mãos atrás da minha cabeça, ficando totalmente à vontade, até ouvir uma batida na
porta. Em seguida ela se abre e uma mulher loira de cabelos encaracolados e lábios pintados de
vermelho, usando apenas um conjunto de lingerie com cinta-liga preta, se direciona até mim,
rebolando sensualmente em cima do salto quinze. Logo atrás dela surge uma outra, morena, com
trajes vermelhos e saltos igualmente altos.
Aproveito o momento para ajustar o ar-condicionado, pois prefiro o frio ao extremo. O
verão em Nova Iorque chega a ser insuportável, principalmente em ambiente fechado. Inspiro o ar
profundamente enquanto analiso com satisfação as duas mulheres na minha frente. É uma bela
visão, não nego. Meu pau logo dá sinal de vida, marcando minha calça jeans com o volume.
— Dispam-se — ordeno.
Ambas começam a se despir sensualmente, tirando as pequenas peças devagar, até
estarem completamente nuas. Aprecio cada mísero detalhe. Meu pênis convulsiona dentro da
calça, louco para ser libertado. Levanto-me e tiro o cinto preto, jogando a peça de couro sobre a
cama. Enquanto a morena passeia as mãos pela minha barriga e abdômen, a loira se agacha,
ficando de joelhos no chão à minha frente. Suas mãos experientes agarram o cós da minha calça e
desce junto com a cueca, libertando meu pau completamente duro. Ela segura meu pênis em sua
mão, fazendo movimentos de vai e vem. Mas percebo seus olhos azuis se arregalando ao analisar
o comprimento. Isso me deixa ainda mais excitado. Duas vezes mais. Tanto que surge na ponta
uma pequena gota perolada da minha excitação.
— Quero que me chupe com força, vadia… — sussurro.
Ela obedece. Logo sinto o calor da sua boca me envolvendo. É gostoso pra caralho!
Seguro em seus cabelos e bombeio mais forte, quase fazendo-a engasgar. Invisto mais duas vezes
antes de tirar meu pênis da sua boca e ordenar para as duas ficarem de quatro na cama. Pego um
preservativo e desenrolo sobre o meu pau. Transar sem proteção não entra no meu vocabulário.
Estapeio a bunda das duas ao mesmo tempo, arrancando gritos das suas bocas, deixando uma
marca vermelha no local.
Posiciono-me atrás da loira, afundando-me dentro dela de uma vez até o último
centímetro do meu pau. Essa será uma noite e tanto!
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Sinopse
Diferença de idade, polêmico e proibido.
O que acontece quando a razão e a emoção se desejam? Quando a atração e a realidade
se chocam em um romance sensual e envolvente?
Sebastian é razão e tempestade. Um fuzileiro naval que é pura testosterona, mas que
guarda mágoas profundas em seus olhos cinzas e que busca sua cura ao sair da marinha e voltar a
um lugar do seu passado. Ele quer se reconstruir com suas próprias mãos.
No seu caminho, conhece Eliza, uma jovem rica, emotiva e inconsequente que vai ver
seus sonhos sendo confrontados pela realidade deliciosa de Sebastian e sua atração máscula
implacável.
Eles não apenas se desejam, mas se confrontam. Será que ambos poderão construir uma
vida juntos?
Eles serão a luz um do outro? Podem superar a poderosa volúpia que os consomem?
Emoções envolventes desabrocham em Yellow, como girassóis procurando o sol.

A Menina do CEO: https://amzn.to/33QQCta

Sinopse:
Ele jurou nunca mais amar alguém.
Carlos Eduardo é frio e calculista, mas é deliciosamente sedutor. CEO de uma das
maiores empresas do Brasil, também é o alvo de um amor proibido. Beatriz, a filha do seu melhor
amigo, nutre por ele um amor secreto e um desejo ardente.
Ele carrega lembranças amargas que o fizeram criar uma aversão a relacionamentos
sérios. Ela o anseia e fará tudo para tê-lo, mesmo que tenha que jogar um jogo arriscado, testando
o juízo e o bom senso do homem.
Nesse jogo de sentimentos e desejos opostos, de prazeres e consciência, haverá apenas
um resultado. Você consegue adivinhar qual é?

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Sinopse:
Eles estavam em plena descoberta do prazer e no auge do desejo quando a cegonha
simplesmente não resolveu esperar. Karine era uma linda jovem de olhos encantadores e Felipe
era um rapaz bonito e sedutor, prestes a se tornar advogado.
As lembranças de Um Dia Perfeito mostrarão Felipe e Karine lidando com a chegada de
um bebê simplesmente irresistível: Beatriz.
Um Dia Perfeito é um spin off do livro A menina do CEO e conta a deliciosa, romântica
e engraçada história do primeiro dia dos namorados do casal.
Minha doce Menina: https://amzn.to/3qUGmJH
Sinopse
Pode existir um milagre de natal?
Para o Bilionário Vincent Blackwell, sim.
No passado, o sorriso de uma menina no natal lhe deu forças quando ele mais precisava.
De forma inesperada, um anjo doce o salvou de todas formas que um homem pode ser
salvo.
Agora, um homem duro de negócios, ele nunca deixou de se lembrar de quando era um garoto
ferido que uma certa menina encantou.
Até que um novo milagre de natal acontece, e aquela menina agora em forma de uma
linda mulher novamente reaparece em seu caminho, e ele não vai descansar até conquistá- la.

Escrito por Mellody Ryu, Christine King e Jéssica Larissa


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Pecador: https://amzn.to/3fIKzJV

Pág de autora: https://www.facebook.com/groups/221932408436790/


Table of Contents
SINOPSE
Nota da autora
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
CAPÍTULO 39
CAPÍTULO 40
CAPÍTULO 41
CAPÍTULO FINAL
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
SINOPSE
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
Outros livros da Autora
REDE SOCIAIS DA AUTORA

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