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29f03dcd UM CEO EM MINHA VIDA - Vania Freire
29f03dcd UM CEO EM MINHA VIDA - Vania Freire
Capa:
Leitura crítica: Natalia Souza
Revisão: Natalia Souza, Mariana Santana
Diagramação: Vania Freire
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UM CEO EM MINHA VIDA
Vania Freire
1ª Edição — 2023
______________________
Registro:
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Desejo que se encantem com a história dessa mulher que como uma
flor de lótus negra, vai renascer depois de ser jogada na lama...
Sinopse
Manuela Souza sempre sonhou em ser mãe e ter um casamento feliz. Ela
não media esforços na busca por seus objetivos, e acreditava estar no
caminho certo. Até perceber que tudo desmoronaria.
Manuela
Arregalo meus olhos e levo uma mão à boca para impedir um grito.
Por sua vez, ele continua:
Volvo meu corpo, querendo voltar para a cama, mas acabo caindo.
Não seguro seu olhar, não consigo, ali está explícito tudo o que ele
queria me esconder. Em uma atitude covarde, eu abaixo a cabeça, evitando
confrontar e tentando, de forma desesperada, formular uma desculpa em
minha mente.
— Vou me encontrar com ele hoje, mas você precisa entender que
ele está seguindo um pedido da minha mãe — informo, me esforçando para
manter minha voz tranquila.
Minha mãe lutou contra o câncer de mama por muitos anos e como
era menor de idade, antes de falecer, ela fez um testamento nomeando Dr.
Guilherme, seu amigo de infância e meu padrinho, como meu tutor legal.
Acesso a galeria e levo uma mão à boca ao ver várias fotos dele com
uma mulher loira, alta e muito bonita; em algumas, eles estavam abraçados,
se beijando na cama e, em uma delas, ela está nua.
Fungo enquanto vejo uma lágrima deslizar pelo meu rosto, a deixo
correr livremente e a acompanho até pousar em meu peito.
Eles estavam ali, bem na minha cara. Não fazemos amor há mais de
cinco meses. Ele estava a cada dia mais irritado, distante. E eu, inventando
desculpas, achando que era estresse no trabalho. Seu pedido constante para
passar meus bens para o seu controle e a recusa do meu padrinho também
estavam em evidência.
Mordo meu lábio para conter uma resposta e, por fim, apenas
assinto, giro meu corpo e caminho devagar até o outro cômodo. Contratei
um buffet sofisticado para que o jantar seja perfeito. Normalmente, estaria
olhando cada pequeno detalhe para garantir que nada desse errado, mas
hoje quero apenas ficar quieta e pensar no que vou fazer da minha vida.
Ele não me olha mais assim; as rugas em sua testa já não são de
preocupação sobre como estou.
Quando isso mudou?
— Está no seu período? Se for para ficar com essa cara no jantar, é
melhor nem sair do quarto — avisa.
Não costumo usar esse tom de voz, sou calma, equilibrada, falo
suavemente, de forma carinhosa e sempre evito conflito.
— Você não quer que nada estrague este dia, não é mesmo? — Sorri
enquanto acaricia meu ombro. — Seja lá o que for, nada é mais importante
que o jantar, e você tem que autorizar alguns pagamentos.
Tento protestar, mas Jonas sai sem me dar a chance de falar mais
nada.
Capítulo 2
Manuela
Perco a noção de quanto tempo fiquei olhando para a porta que
Jonas saiu, mas algo que minha sogra fala chama a minha atenção.
— Ainda bem que você chegou mais cedo, Juliana, assim me ajuda
a organizar tudo. Manuela hoje está muito avoada — diante da minha
negativa, Raquel volta a reclamar.
— Está tudo bem, Manu? — minha cunhada questiona, preocupada.
Sempre nos demos bem, ela sempre foi carinhosa e amorosa comigo.
— Ela deve estar naqueles dias, ou deve estar para entrar — Raquel
sugere em um tom irritado.
Juliana tem 30 anos, ela é uma mulher linda, ruiva, alta, com um
corpo escultural. É daquele tipo de pessoa pronta para uma boa briga, que
nunca corre de uma discussão. Já minha sogra é loira, está com 60 anos, é
uma mulher altiva e autoritária, com seus cabelos pintados de preto e um
porte sofisticado, não aparentando a idade que tem.
Eu sou o tipo de pessoa que nunca levanta a voz, meu tom é sempre
manso e suave, mas, neste momento, minha cabeça está a ponto de explodir,
eu sequer sei como ainda estou de pé.
— Meu filho, elas estão saindo e tem várias coisas para resolver.
Manuela tem que autorizar os pagamentos da florista e do pianista. Eu já
tenho certa idade, preciso de ajuda. — Raquel muda completamente seu
tom de voz ao se dirigir ao filho.
— Seu filho está aqui, pede para ele te ajudar e pagar a florista e o
pianista. — Indica o marido, depois segura sua gravata, puxando-o para
próximo de si, e o beija rapidamente. — Vou sair para conversar com
Manuela, depois nos falamos — avisa.
— Leve Cristina — ele pede, ao que ela assente e me leva para fora
da cozinha.
— Por quê?
— Sim.
— Quando descobriu?
— Ele ficou falando sobre meu advogado, que era um absurdo ele,
como meu marido, não controlar minha herança. Enquanto isso, minha
cabeça estava explodindo. Eu não conseguia acreditar que ele tinha feito
isso! Naquele momento, eu perdi minha voz, mas, quando lembro, eu só
sinto raiva, muita raiva.
— Não vou!
— Sabe que sempre pode contar comigo, não sabe? Estarei sempre
ao seu lado.
— Se eu não fizer, quem vai fazer? Esse era o papel do seu marido.
Quando me lembro do quanto você é carinhosa, amorosa, gentil e faz de
tudo pelo bem daquele safado... — Bufa, indignada. — Me desculpe a
explosão, estou com tanta raiva, isso é tão injusto!
— Por uns sete anos, mal nos víamos, ele tinha sua vida, e eu, a
minha, até que, em uma noite regada a muito álcool, tudo mudou entre nós.
Alguns meses depois, fiquei grávida. A gestação não estava no acordo, acho
que primeiro engravidei e depois nos apaixonamos e decidimos rasgar o
contrato.
Sei cada detalhe dessa história, e acho que ela a está repetindo
apenas para me distrair e me fazer sorrir, e eu a admiro mais por este gesto.
— Não vou desistir, essa foi a gota que transbordou um copo quase
cheio. Por meses, venho arrumando desculpas pela forma como ele vem me
tratando.
— Fico feliz por estar agindo e decidindo algo por você e para você,
mas triste por ter se magoado no processo.
— Obrigada.
— Vai falar mais o quê? Deixa seu advogado agir! — Juliana não
esconde a raiva.
Manuela
— Mas ela escolheu seu pai, e a vida seguiu seu rumo. Me casei,
não tive filhos, mas, quando você nasceu, ela me convidou para ser
padrinho. Fiquei ao seu lado quando seu pai morreu e, quando ela ficou
doente, prometi que cuidaria de você.
— Sim.
Odeio esse sentimento, não fui eu que errei, não deveria sentir
vergonha, mas sinto.
— Deveria ter percebido antes, pois, pelo que descobri, o caso entre
eles já dura alguns meses.
— Não pense assim, Manuela. Só espero que não volte atrás em sua
decisão de se divorciar.
— Perfeito! — comemora.
— Guilherme...
— Me desculpe.
— Não se desculpe, pelo menos você acordou, e fico feliz que tenha
sido antes de passar a procuração para ele. Como lhe disse, restam os
imóveis comerciais, eles lhe garantirão uma boa renda, portanto, apesar de
que não viverá mais em meio a tantos luxos, terá uma vida digna.
— Sim.
— Então, você vai voltar para a sua casa, e eles que vão sair!
— Tudo bem, farei como você diz, mas pelo menos hoje não quero
voltar para lá, tem um jantar importante para o Jonas e...
— Minha doce criança, você é tão boa que, mesmo magoada, ainda
está pensando em não prejudicar quem te machucou.
— Você sabe que pode ficar na minha casa o tempo que quiser,
Bruna te adora e vamos amar te receber — sugere, se referindo à sua
esposa.
Ele me olha por alguns segundos, faz menção de falar algo, mas
desiste, assente e me despeço dele com a promessa de que me ligaria no dia
seguinte para conversarmos novamente sobre o divórcio. Na saída do
escritório, recebo uma ligação de Juliana.
— Manu, como você está? Como foi a conversa com seu advogado?
— questiona assim que atendo.
A cada vez que sofria um aborto, eu queria morrer com meu bebê, o
sentimento de impotência e incompetência me agarrava de tal forma que
não sentia vontade de fazer mais nada e, nesses momentos, sempre ouvia
que deveríamos viajar para esquecer, ou comprar algo bonito, seja carro,
joias, ou até mesmo uma mansão.
Acreditava que tudo o que fazia não era para Jonas e sua mãe, era
para o homem que julgava me amar, era para a sogra que vivia conosco. Eu
os queria felizes, não fazia por eles, era por nós, pela nossa família, mas a
verdade é que a felicidade chegava até eles, mas não me alcançava e, nessas
horas, eu forçava um sorriso, porque era a única coisa que poderia fazer.
Agora penso que toda pessoa tem que ter um limite para se doar,
deveríamos ter algo que alertasse no exato momento em que estivesse
ultrapassando a barreira, como um semáforo vermelho piscando, para evitar
que fosse além, que nos magoássemos, nos feríssemos, nos arrebentássemos
inteiros por dentro.
— Eu, neste momento, me sinto uma idiota por não ter percebido
antes o que estava acontecendo. Meu Deus, eu fazendo planos para
reacender nosso casamento, pensando em viagens, ignorando as ligações de
Guilherme enquanto ele queria me alertar de que meu dinheiro estava se
esvaindo, e eu arcava com os luxos deles. Fui uma completa insana!
— Passei tanto tempo fingindo não ver a frieza que ele me tratava,
disfarçando com problemas do trabalho.
— Você quer que eu fique com você? Dou uma desculpa aqui e vou
te encontrar.
— Tem certeza?
— Promete?
— Sim.
— Uma mulher tão linda como você não deveria chorar assim. —
Me surpreendo ao ouvir uma voz forte e rouca.
Levanto minha cabeça e noto que tem um homem no elevador
comigo, eu sequer havia notado antes.
Ele eleva uma mão e me oferece um lenço. Não sei o que me deixou
mais surpresa, o fato de me oferecer um lenço ou de ter um lenço. Faço um
meneio de cabeça e aceito, notando que o tecido é branco com uma linda
flor de lótus negra.
Ele é alto, bem alto mesmo, a ponto de eu ter que levantar a cabeça
para fitar seus olhos azuis, bem claros, seus cabelos são pretos, com alguns
fios brancos, sua pele é clara, sem barba, e, ao redor dos seus olhos, percebo
algumas marcas de expressão que em nada diminuem a sua beleza.
O homem é lindo!
Desço meu olhar para seus lábios finos e reparo que sorri de lado,
provavelmente achando graça da minha avaliação minuciosa. Constrangida,
desvio dele e limpo meu rosto com as mãos.
— Não vai usar o lenço que te dei? — indaga, apontando para o
tecido.
Manuela
Após passar em algumas lojas e comprar peças de roupas e lingerie,
me hospedo em um hotel em Ipanema, de frente para a praia. Assim que
entro no quarto, jogo as bolsas no sofá próximo à cama e me aproximo da
janela. A vista é linda! Estamos no verão, a praia está lotada, o céu azul e as
pessoas felizes, caminhando e se divertindo.
— De forma alguma, para ser sincera, acho que só agora estou sã.
— Tento soar calma.
— Manuela, não importa o que houve, mas você tem que voltar
agora, você vai me deixar sozinho em um momento importante, sabe o
quanto estou ansioso para conhecer o CEO e o quanto ele pode ajudar na
minha promoção? Você sabe o quanto estudei, me preparei e ansiei por este
momento, então como pode sequer pensar em não estar ao meu lado para
me dar apoio? — Suaviza o tom de voz, e eu fecho meus olhos,
reconhecendo a tentativa de manipulação.
— Não vou voltar, Jonas, pelo menos não hoje, talvez daqui a
alguns dias, quando resolver as coisas dentro da minha cabeça nós
poderemos conversar.
Não era assim que eu queria falar sobre isso, pretendia conversar,
pôr um ponto-final na nossa história e seguir em frente.
— Sabe do quê? Não faço ideia do que você está falando. Pare de
besteira e venha para casa agora!
— Você não ouviu o que eu disse? Eu quero o divórcio, sei que está
me traindo.
— Você só pode estar delirando, por acaso bebeu? De onde tirou
uma loucura dessas?
— Isso não faz nenhum sentido. Vamos, me diga onde está, estou
realmente preocupado.
— Meu Deus! Como ele pode fingir que não está com alguém? —
Aperto minhas mãos com tanta força que meus dedos ficam brancos, minha
vontade é de arrancar meus cabelos.
Meu celular volta a tocar e pego-o com a raiva correndo solta pelo
meu corpo.
— Vocês brigaram?
— Sim, algumas peças, pretendo ficar aqui alguns dias, vou tomar
um banho e dormir até esquecer tudo o que houve.
— Manuela, não pense mais nele, sei que é difícil, mas tente tirar o
foco. Vai jantar em um lugar bonito, ver gente linda, depois volta e
descansa — aconselha, e eu sorrio, sentindo o carinho em sua fala.
— Para ser sincera, aconselho que você faça sexo com o primeiro
gostoso que ver.
— Pois deveria.
Volto a rir.
Eu posso estar muito confusa, magoada, com raiva, mas, desde que
soube da traição, nunca pensei em perdoá-lo. A partir do momento em que
absorvi e confirmei com as fotos, algo se quebrou dentro de mim.
— Quem sabe este peso em meu peito não alivia se sair e andar um
pouco — sussurro, decidida a não ficar na cama chorando e sofrendo.
Capítulo 5
Manuela
Fecho meus olhos, forçando meu corpo a se mover. Mal coloquei
meus pés para fora do hotel e tive vontade de entrar novamente, mas me
contive e segui em frente. Atravessei a rua com passos pequenos e
hesitantes, mas não parei, não podia parar.
Ele me avalia por algum tempo com o cenho franzido e depois sorri
de lado, e eu vejo em seu olhar que me reconheceu.
— Nem sei por que revelei isso, nem te conheço, não temos
intimidade o suficiente para comentar algo tão íntimo, sequer sei seu nome,
mas acho que é melhor assim. — Rio pela situação.
Ele abre um lento sorriso, daquele tipo que te convida a sorrir junto,
que cria rugas ao redor dos olhos e te transmite uma sensação gostosa, é o
que estou sentindo agora. Existem pessoas que são assim, têm uma energia
tão boa que nos fazem sentir bem, mesmo mal as conhecendo.
— Talvez seja por causa da flor de lótus negra, ela criou uma
ligação entre nós — sugere.
— Não vai me dizer seu nome? Assim, na próxima vez em que nos
encontrarmos, poderíamos nos cumprimentar.
Essa é a segunda vez que o vejo e, nas duas vezes, ele me fez
esquecer o quão triste estou.
— Eu não tenho a menor dúvida disso — decreta.
Neste meu dia tão caótico, esse homem desconhecido foi o ponto de
calmaria em meio ao caos. Nas duas vezes em que estava a ponto de
desabar, ele apareceu. Talvez seja a minha mente fantasiosa e romântica
querendo, ansiando por uma fuga da realidade, ou talvez, apenas talvez, ele
seja um anjo enviado para me fazer sorrir em um dos dias mais tristes da
minha vida.
Notei que este é um movimento que ele faz com frequência, vindo
acompanhado de um sorriso matreiro.
Desço mais uma vez meu olhar e vejo que ele veste terno e gravata
muito refinado e sua sofisticação destoa completamente das outras pessoas
que caminham pelo calçadão. E, parecendo que pouco se importa, coloca
uma mão no bolso e me fita com atenção.
— Porque você disse que eu te fiz sorrir, e hoje isso era algo que eu
precisava ouvir.
Um sonho?
Nos meus últimos cinco anos, vivi em função desse sonho, mas ele
não existe mais. Perdi cada gestação que tive, meu relacionamento era uma
mentira e ainda não sei o que vou fazer a seguir.
— Não sei mais quais são os meus sonhos. — Solto o ar devagar. Eu
queria não chorar a cada vez que me lembro da traição, queria me manter
forte, mesmo que, por dentro, esteja em frangalhos.
— Obrigada.
— Eu achei que você fosse o tipo de jovem que ama passar as tardes
na praia e depois curtir a noite — especula, fazendo-me gargalhar.
— O quê?
— Por quê?
— E valeu a pena?
— Não.
— Hoje não, pois andei mais do que imaginei. Mas foi bom
conversar com você, me lembrar de que gostava de pintar, enfim, obrigada
por me ouvir.
— Por quê?
Menos eu.
Então, somente uma vez, eu me escolho e cometo a maior insensatez
de minha vida.
— Sim, eu aceito.
Capítulo 6
Manuela
Sorvo um gole de café enquanto me recordo da noite passada, talvez
seja por causa daquele passeio, daquela conversa que consegui dormir tão
bem. Não me arrependo de ter saído ou de ter revelado tanto de mim para
aquela pessoa.
Por causa dele, consegui dormir sem chorar, sem pensar no passado
e fazendo vários planos para o futuro. Quero terminar a faculdade, voltar a
pintar e, quando der, quero visitar a Índia.
Sei que é uma fuga, uma euforia momentânea, mas, por enquanto,
quero me segurar a ela por mais um dia. Amanhã eu volto para casa e
converso com meu futuro ex-marido.
Mais uma vez meu celular toca e, desta vez, é o nome de Juliana que
aparece na tela, portanto não demoro a atender.
— Bom ouvir sua voz animada! Bom dia, como você está?
— Isso é verdade.
— Você vai voltar para casa hoje? Ou resolveu tacar o foda-se e não
pisar mais lá?
— E ele está certo, cada pequena coisa naquela casa foi você que
comprou. Você está precisando de alguma algo?
— Não, estou bem, obrigada por se preocupar.
Dou alguns passos até a mesa e pego meu celular, verifico que tem
diversas ligações de Jonas e uma de Guilherme, então escolho retornar à
ligação do meu advogado. Após me questionar como estou, ele começa a
me pôr a par da minha situação financeira.
Ontem ele fez um resumo por alto, hoje me passou o saldo que
tenho no banco, quantos imóveis, valores de aluguéis, as despesas da
mansão, limites do meu cartão de crédito e quanto Jonas e minha sogra
gastam nos cartões em meu nome.
— Me desculpe por ter lhe dado todo esse trabalho, não tinha
pressa, poderia ter resolvido isso mais devagar.
— Não foi agradável rever certas informações, mas confesso que fiz
tudo com um sorriso no rosto, você não tem noção de quantos anos esperei
por isso, da vontade que eu tinha de te sacudir para você acordar a cada
negativa que me dava quando tentava passar essas informações para você.
Tive pressa por puro medo de você desistir.
— Estava completamente alienada, não tem outra explicação, como
pude não te ouvir? Parece que a paixão tampou meus olhos e ouvidos —
murmuro, sentindo algumas lágrimas caírem.
— Não quero que pense que será incômodo. Conversei com Bruna
sobre o que está acontecendo, e ela também está preocupada com você.
— Sim, eu sei, sinto muito por todas as vezes que não te ouvi.
Prometo te ligar.
— Perfeito.
— Tenho sim.
Meu padrinho tem pressão alta e saber que está com dor de cabeça
me deixa preocupada.
Mas ele não sorri, me fita sério, analisando meu rosto com cuidado
e, ao terminar, fixa seus olhos nos meus.
— Você está bem? — sua voz soa receosa enquanto analisa meu
rosto.
— Hoje há uma tristeza que não havia em seu olhar ontem. Não,
para ser sincero, ela estava ali, só que bem escondida, o que a fez emergir
novamente? — insiste, ainda me fitando com atenção.
Engraçado como meu marido, com quem eu convivi por cinco anos,
não sabia reconhecer quando meu sorriso era forçado ou não, mas um
homem que conheci ontem consegue perceber. Notar isso faz meus olhos
pinicarem, um bolo se forma em minha garganta e respiro fundo antes de
responder.
Manuela
De todos os lugares que imaginei que Felipe me traria, um iate não
estava entre as opções. Com certo receio, aceitei entrar na luxuosa
embarcação quando ele me estendeu a mão e me pediu para confiar nele.
Assim que entramos, deu partida, e eu aproveitei para olhar ao redor.
Foco no homem que está pilotando, hoje ele veste camisa e bermuda
brancas. Felipe é o tipo de homem que se destaca em qualquer lugar que
esteja, ele deve ter por volta de 1,80 de altura e seu corpo é bem
constituído, provavelmente resultado de genética com academia.
Me surpreendi por seus braços e pernas serem fortes, era óbvio que
ele era alto, mas a maioria das pessoas é mais alta que eu, contudo, todas as
vezes que o vi, ele estava de terno, e isso me deu uma visão errônea do seu
corpo, reparei que a camisa de manga curta e a bermuda revelaram braços e
pernas fortes.
O que não mudou, de ontem para hoje, foi o impacto que o seu rosto
marcante causa, sem barba e com penetrantes olhos azuis. Seus cabelos são
pretos, com alguns fios brancos, ele os mantém para trás, mas, às vezes,
alguns fios caem em sua testa, lhe dando um ar maroto e atrevido. Perdi as
contas de quantas vezes tive vontade de perguntar sua idade, mas desisti,
manter esse clima misterioso me dá a sensação de que estou vivendo uma
aventura parecida com os livros que amo ler.
— Vamos ver o que o meu chefe preparou para nós. — Sigo-o até a
área gourmet. — Ele preparou meu prato favorito, lagosta à thermidor
acompanhada de arroz branco — explica após pôr as travessas na mesa,
puxando a cadeira para mim.
— Por quê?
— Eu sou uma pessoa calma, pacífica, do tipo que cede para não
causar divergência, que pensa mais na pessoa que ama do que em si mesma,
que se doa a ponto de esquecer quem é, de não ver os sinais, que tenta a
todo custo consertar o que não está bom e vai se arrebentando no processo.
Então, neste momento, eu sou uma confusão completa e absoluta!
— Para não se sentir desconfortável, vou falar mais sobre mim. Fui
adotado aos cinco anos por um casal que tinha duas filhas mulheres de 7 e 8
anos e tinha acabado de perder seu filho com a mesma idade que a minha.
Eles me tiraram de uma situação de extrema pobreza e violência, meu nome
foi mudado para o do filho deles e todo amor que eles tinham pela criança
foi passado para mim.
— E isso é legal?
— Conflito não é uma palavra que defina a situação, o que gerou foi
uma guerra! Meu relacionamento com as minhas irmãs sempre foi bom,
nunca houve ciúmes ou desavenças, isso até elas se casarem. — Sua
expressão é severa enquanto faz o seu relato. — E só piorou quando meu
pai informou que se aposentaria e me deixaria no controle de tudo, desde
que eu me casasse e tivesse os netos que eles queriam, o que não deixou
minhas irmãs e cunhados felizes. Infelizmente, minhas duas irmãs têm
problemas de infertilidade e não podem ter filhos.
Queria dizer quão errada é esta imposição, mas prefiro ficar em
silêncio, e ele continua:
— Ainda não me casei, mas até bem pouco tinha uma noiva por
contrato.
— Você a amava?
— Você ia se casar com quem não ama só porque seus pais querem
um neto para você manter o controle das empresas que eles moldaram você
para comandar? — questiono, incrédula.
— Ah, mas não se engane, eu não sou bonzinho e nem uma vítima
indefesa, eu fui implacável com meus adversários, destruí seus negócios e
suas reputações no mercado, coloquei detetives particulares para descobrir
traições e desvio de dinheiro e, sem dó, nem piedade, mostrei para minhas
irmãs. Eu fui o motivo de uma se separar, e a outra estar com o
relacionamento abalado, para proteger o meu patrimônio e as pessoas que
eu amo, não tenho nenhum escrúpulo.
Sua fala me deixa desconcertada, não esperava por isso.
— Sim, você mexeu comigo de uma forma que não sei explicar.
Não vou dizer que me apaixonei à primeira vista, porque esta é a fala de um
adolescente, e não de um homem que já viveu muitas coisas. Mas posso
afirmar que você mudou a química do meu cérebro, Manuela, e eu queria te
roubar para mim e garantir que nunca mais ninguém te fizesse chorar, mas,
como não posso, me contento em te fazer sorrir e esquecer, mesmo que por
alguns momentos, o que te magoou.
— Não precisa ter medo de mim, não farei nada que não queira.
Felipe
Vejo a mulher à minha frente abrir e fechar a boca várias vezes sem
nada dizer. Observo-a atentamente enquanto lhe dou tempo de absorver a
minha revelação. Manuela é absurdamente linda, não teria outra forma de
descrevê-la.
Sei dos seus abortos e de como seu marido e sogra sugam seu
dinheiro e sei também que é o tipo de pessoa mansa, educada e amável, que
evita conflito e é abnegada.
Mas não sabia que o aroma doce dos seus cabelos longos e
cacheados, que moldam seu rosto angelical, me inebriaria a tal ponto que
ficaria desnorteado por alguns segundos. Também não imaginava que seus
lábios fossem tão cheios e convidativos. As fotos que o detetive tirou não
fazem jus à sua beleza. Em seu rosto, ela carrega um sorriso encantador e
um pouco inocente, seu corpo é esbelto, com uma silhueta delicada e
encantadora.
Seu estilo de vestir é discreto, ela não usa roupas que acentuam a
sua beleza ou joias chamativas, apenas uma maquiagem mínima, como se
não quisesse chamar muita atenção. O que é impossível, pois Manuela é
uma mulher marcante, e eu não entendo o que ela viu naquele idiota.
Manuela tem 25 anos, 17 anos mais nova que eu, sou mais
experiente e malicioso, e ela está frágil e magoada, seria muito fácil levá-la
para minha cama, mas o caralho é que eu não quero ser mais uma pessoa
magoando esta mulher! Quero ser aquele a secar suas lágrimas, e eu nem
sei por que este sentimento está me dominando. E por mais que eu tente
arrancá-lo da minha mente, não consigo.
— Não faça isso, não destrua a imagem que fiz de você, sei que está
magoada e ferida, mas é uma mulher inteligente, sei que entendeu o que eu
disse.
— Sequer sei o que pensar, estou tão atordoada que não consigo
raciocinar direito.
— Me faça qualquer pergunta que serei o mais sincero possível.
— Eu queria vingança.
— Eu sei tudo sobre o que aconteceu com você nos últimos anos, as
vezes que foi ao hospital, o descaso do seu marido nesses momentos, as
compras exacerbadas da sua sogra e como aquele safado usa seu dinheiro
para mostrar um luxo que de fato não tem.
— Meu Deus! Como você sabe disso? — Dá alguns passos para
trás, como se estivesse com medo de mim.
— Não precisa ficar com receio, não vou te fazer mal. Acho que, na
sua bolha, sou uma das poucas pessoas que não pretende te machucar.
— Como posso acreditar, você mesmo disse que, até pouco tempo,
queria me usar para se vingar de Jonas.
— Porque, além do meu ego ter sido ferido, também descobri que
minha ex-noiva, com seu marido, estava passando informações para o
marido da minha irmã com o intuito de me prejudicar e, de certa forma,
conseguiram. Creio que Jonas almejava uma posição mais vantajosa na
empresa; já Sofia, ainda não sei ao certo quais eram as suas intenções e, ao
contrário de você, eu não consigo ter uma atitude pacificadora diante desse
fato. Desisti de te usar, mas não de me vingar.
— Já disse, não consigo ser como você, não era apaixonado, mas
existia cumplicidade e, principalmente, confiança em nosso acordo, traição
era proibida.
— Fazê-los pagar.
— Você não está sofrendo por amor, por que insistir nisso?
Manuela
Estática, é assim que fico com o seu questionamento.
Cada vez que acho que encontrei uma estabilidade, descubro algo
que me desestabiliza, como se eu estivesse navegando em cima de uma
prancha em um mar revolto, tentando, a todo custo, ficar de pé.
Ele não quer ser meu amigo, sou um dos alvos da sua vingança, um
caminho para o seu objetivo, porém, ao contrário do meu marido, ele teve a
coragem de me dizer a verdade.
Até uma hora atrás, este sorriso era o que mais ansiava ver hoje, ele
era a certeza de bons momentos longe de toda tristeza que me assolava.
Contudo, agora, não me sinto mais assim.
— Como posso me sentir segura com a pessoa que mentiu para mim
desde o primeiro momento em que encontrei?
— Eu te contei a verdade para você confiar em mim, para que este
detalhe não seja um trunfo nas mãos daqueles que eu quero me vingar.
— Quero que saiba que, de agora em diante, você conta com minha
proteção e amizade.
— E, nesses dois dias, você criou uma conexão tão forte comigo a
ponto de me ver como seu lugar de conforto — devolve no mesmo tom.
— Isso que temos é uma química inexplicável, algo que nunca senti
por nenhuma mulher antes, eu quero te proteger, não quero que nada te
machuque, mas não vou mentir dizendo que me apaixonei à primeira vista,
nunca te enganarei. De mim, você só terá a verdade.
— Você já me machucou.
— Quero que você se acalme antes de irmos, ou, pior, pensando que
pretendo fazer algo para te prejudicar.
— Deve ser Jonas, ele tentou falar comigo hoje algumas vezes. —
Evito fitá-lo.
— Você acha que ele não te dará o divórcio? — pergunta,
deslizando um dedo pelo meu braço, o arrepiando no processo.
Até faço menção de falar alguma coisa, mas meu celular mais uma
vez toca e, querendo sair da sua frente o mais rápido possível, desvio dele e
vou em busca do aparelho, atendendo-o sem sequer verificar quem está
ligando.
— Bruna? — indago.
— Ele está vivo, mas requer cuidados. — Sua voz está cansada.
Assim que desligo o telefone, Felipe gira meu corpo e segura meu
rosto com ambas as mãos, me fazendo fitá-lo.
— Calma, estou aqui com você, me fala o que está acontecendo para
que eu possa te ajudar — pede, acariciando meu rosto e limpando minhas
lágrimas.
Manuela
Acaricio devagar as costas de Bruna enquanto ela segura a minha
outra mão fortemente. Já se passaram duas horas desde que cheguei e ainda
não conseguimos ver Guilherme. Apenas recebemos informações de que ele
segue em cirurgia.
— Vocês duas precisam estar bem para dar força a ele. Venham,
vamos nos sentar um pouco — acrescenta Felipe.
— Obrigada por me trazer aqui, mas você pode ir. Não sabemos a
hora que iremos sair e, como Bruna mencionou, você deve ter outros
compromissos — recomendo, ele se acomoda na cadeira e cruza as pernas.
— Não almocei, mas acho que não consigo comer nada — responde
com um suspiro desanimado.
— Vou comprar suco de laranja e sanduiche, e a senhora come o
quanto conseguir — Felipe propõe enquanto se levanta. — Comprarei para
você também, mal tocou no almoço — se dirige a mim antes de ir em
direção ao balcão.
Solto um suspiro e volto a atenção para Bruna, que bebe seu café,
pensativa. Pouco tempo depois, Felipe volta com os sanduíches e sucos. A
esposa do meu padrinho dá pequenas mordidas e eu faço o mesmo. Não
sinto fome, um bolo em minha garganta não me deixa saborear o sanduíche.
— Quem é ele?
— Por quê?
— Como não estava conseguindo falar com você, eu liguei para ele,
tanto para ele, quanto para sua sogra.
— A melhor coisa que você tem que fazer é ficar bem longe deles.
— Obrigada — agradeço.
— Não consigo.
— O quê?
— Por quê?
— Você tem que aprender a não ser tão sincera, não se sangra em
mar de tubarão, porque eles te engolem.
— Eu te ensino.
— Vamos deixar o tempo dizer. Por enquanto, quero que saiba que
estarei ao seu lado em qualquer momento, em qualquer situação.
— Esta, cumprirei.
— É melhor não.
— Não precisa.
— Eu sei, mas farei mesmo assim. Boa noite, Manuela, e não sinta
como se estivesse enfrentando tudo sozinha.
“Lembre-se, a culpa não é sua. Desejo que tenha uma boa noite e
que relaxe. Amanhã cedo enviarei uma mensagem quando estiver saindo de
casa”.
Manuela
Como prometera, Felipe enviou uma mensagem meia hora antes de
parar o carro na frente da casa do meu padrinho. Após nos
cumprimentarmos, fizemos o trajeto em silêncio. Acreditei que ele iria
embora em seguida, mas me surpreendi quando o vi entrando no hospital.
Felipe me assusta quando segura minha mão e me puxa até uma área
urbanizada perto do estacionamento.
— Não faça isso, não se esconda de mim, já disse que estou ao seu
lado — reafirma.
— Mas seu marido pensa da mesma forma? Ele não vai usar a
situação do seu padrinho para tentar te fazer mudar de ideia?
— Felipe...
— Não faz essa cara assustada, não estou tão mal assim — sua voz
soa cansada.
Assinto, engulo em seco e forço um sorriso, mas falho
miseravelmente, então me viro de costas para que não veja minhas
lágrimas.
— Pare! Não fale sobre isso, tudo pode esperar, não vou fazer nada
até você melhorar.
— Você não pode ficar perto dele, seu marido já percebeu que não
vai mais conseguir te manipular e é capaz de fazer qualquer coisa para ter
acesso ao seu dinheiro, Jonas pode te fazer assinar algum documento ou
coisa pior.
— Eu sou a pessoa que detém uma procuração total dos seus bens e
estou incapacitado. Como ainda são casados, juridicamente ele pode anular
esta procuração se conseguir provar que você também está debilitada. Não
volte para casa. Não assine nada. Não se aproxime dele. Não se ponha em
perigo, fique com Bruna até eu me restabelecer.
— Manuela me escute...
— Você quer que te leve para onde? — indaga assim que entramos
no carro.
— Você disse que não estava se apaixonando por mim, esta é a fala
de um homem apaixonado. — Rio, me afastando novamente.
— Manuela, não acho que seja uma boa ideia — insiste, segurando
a minha mão.
— Eu preciso, tenho que liberar esse grito que está preso em minha
garganta, me consumindo. — Puxo minha mão lentamente, e ele fica
olhando para ela, como se quisesse pegá-la novamente.
— Mais uma vez obrigada por ter ficado ao meu lado, porém, creio
que seja melhor você ir.
— Vou esperar você fechar a conta e te levar para sua casa.
— Não, daqui em diante, faço sozinha. Como disse antes, é algo que
eu tenho que fazer.
— Continuo achando que não é uma boa ideia, Jonas parece estar
desesperado, e uma pessoa assim comete loucuras. De todo modo, vou
acatar o seu pedido. Irei te dar alguns dias para resolver sozinha esta
situação, contudo, se não conseguir, invado aquela casa te tiro de lá e estou
pouco me fodendo para que merda isso vai dar.
Sua fala me fez abrir e fechar a boca, ele faz algo inesperado, segura
meu rosto, se aproxima devagar, como se me desse tempo para desviar, mas
não me movo, quero saber até onde ele irá. Pouco segundos antes de
encostar os lábios nos meus, ele sorri de lado, daquele jeito que gosto, me
fazendo morder o lábio inferior. Sua boca encosta na minha delicadamente,
seus dedos acariciam meu rosto e sua respiração aquece minha pele.
Foi rápido, apenas um encostar de lábios, mas fez meu coração bater
acelerado e só piorou quando encostou a testa na minha e esfregou o nariz
no meu.
— Este sou eu deixando claro que quero você em minha vida, sem
jogos, sem mentiras e sendo o mais honesto possível. Você já sabe que não
sou perfeito, já te falei todos os meus defeitos e não escondi que estou
obcecado por você — confessa.
— Isso não vai dar certo, tenho muitos problemas — balbucio com a
respiração acelerada.
Todo meu corpo treme, sinto minha pele arrepiar e o gemido fica
preso na garganta enquanto ele se afasta e desliza as mãos pelos meus
braços, e mais uma vez estremeço.
Ele tira um cartão preto com seu nome escrito em letras douradas do
bolso e me entrega.
Manuela
Tomo uma forte respiração antes de entrar na minha casa e fecho
meus olhos quando o cheiro de lavanda me envolve.
Mas, desde que saí daqui, muitas coisas aconteceram em minha vida
e acho que não consigo mais ser a mesma pessoa de antes.
— O que houve com você? Jonas disse que você estava estranha,
inventando coisas, passou dias fora de casa, não estava presente no jantar
que foi um verdadeiro fiasco. Você sumiu e, no meio desse caos, seu
advogado cancelou os nossos cartões. Aquele homem mesquinho nunca
gostou do meu filho, você tem que passar logo a procuração para Jonas! —
exige de forma arrogante.
Raquel, nos últimos anos, foi uma figura materna para mim, pois
julgava que minha sogra poderia substituir o lugar da minha mãe, mas
somente eu pensei assim.
— Pensei que esta conversa seria difícil apenas com Jonas, mas não,
com você também será complicada. Por cinco anos, eu busquei algo
inalcançável, que você me amasse como se fosse sua filha e, quando notei
que o meu afeto não era correspondido, comecei a te dar presentes caros e a
me iludir, achando que aqueles sorrisos e abraços eram o começo de um
sentimento verdadeiro. Eu fui tão ingênua, não é mesmo?
Queria me expressar sem me emocionar, sem sentir o coração
apertando, sem sentir que fui uma perfeita idiota.
— Choros, gritos, cara feia, tristeza, ou seja lá o que você fizer, não
vão mais me manipular, eu finalmente acordei — asseguro, cruzando os
meus braços.
Ela para de chorar quando repara que nada do que fizer irá me
sensibilizar.
Meu corpo está todo tenso, minha respiração rasa, meus olhos fixos,
focada, alerta, com a raiva correndo solta pelas minhas veias. Percebendo
que não recuaria, ele desvia e segura seus cabelos.
— Você não pode culpar meu filho por essa pequena falha —
Raquel exige, se tornando, mais uma vez, agressiva.
— Como tem a coragem de dizer que ele me traiu por causa dos
meus abortos? — berro, Jonas me segura e me puxa para longe da sua mãe.
— Estou pouco me lixando para o que vão pensar. Não vou mais
ouvir suas merdas e ficar calada, a culpa não é minha se seu filho é um
cretino!
— Tudo bem... Cometi um erro, fui fraco, mas nós podemos superar
isso. — Jonas usa um tom derrotado. — Por favor, Manu, podemos
esquecer isso, não vamos jogar nossa história no lixo por uma besteira.
— Meu filho, não se culpe, você foi o que mais sofreu nessa
história. — Raquel aponta para mim. — Você deveria se envergonhar por
tudo que está fazendo. Me agrediu física e verbalmente e nos humilhou com
o cancelamento dos cartões. Seu comportamento é vergonhoso!
Sou invadida por recordações de cada perda, de cada vez que eu via
o sangue descer pelas minhas pernas, de cada dor, das noites no hospital,
olhando o teto enquanto chorava e sofria sozinha, porque não queria
incomodar ninguém.
Grito!
Jogando tudo que estava preso para fora até quase perder o fôlego.
Felipe
Entro em meu escritório sendo seguido pela minha secretária,
Vitória, e meu advogado, João. Sento-me em minha cadeira e levo minhas
mãos às têmporas. Os últimos três dias foram tensos, o tempo que dediquei
exclusivamente a Manuela cobraram seu preço.
Por causa dela, tirei o foco dos meus objetivos. Por alguns dias,
botei os seus problemas acima dos meus, contudo, não me arrependo, teria
feito mais, muito mais, se ela não tivesse me impedido.
— Dez por cento. Não chega a ser uma ameaça para você.
— Mas, caso ele venha a se separar da minha irmã, ele garantiu que
eu não o ponha para fora daqui como fiz com Davi e, para piorar, tem poder
de voto.
— Sim, isso é um fato. Contudo, você não corre nenhum risco, seu
número de ações é muito superior ao dele, sem contar as dos seus pais.
Como eu, ela foi criada em meio ao luxo e moldada para ser esposa
de uma pessoa com alto padrão aquisitivo. Nosso relacionamento não era
baseado em sentimentos, e sim em negócios, mas, desde que assinamos o
contrato, eu nunca a traí, levo a sério meus compromissos.
— Não tive alternativa a não ser vir aqui pessoalmente. Você não
atende minhas ligações — explica, se sentando.
— Meu caso com Jonas não foi nada sério, não houve sentimento
envolvido, ele já está se reconciliando com a esposa, foi apenas uma
distração para nós dois. Por favor, não deixe que algo insignificante
atrapalhe nosso acordo, nossos pais querem muito essa união.
— Fui leal, mas não posso falar o mesmo de você, que, além de
foder com um funcionário, com ele, passou informações para o Heitor, e
isso acabou me prejudicando. Ou você achou que eu não saberia disso?
— Por que eu acho que você está com mais raiva disso do que por
eu ter ficado com outra pessoa? — Demonstra irritação.
Não a amo, mas a traição mexeu com meu brio mesmo lá no fundo
sabendo que não lhe dei a devida assistência. Bem, a verdade é que julguei
erroneamente que o contrato seria o suficiente e não levei em conta as suas
necessidades; por outro lado, ela poderia ter manifestado sua insatisfação
em vez de me trair.
— Você sabe que está acabando com meu sonho, não sabe? Se
esqueceu que sua irmã também faz parte do projeto?
— Sim, eu sei.
— Nem um pouco.
Volto a abrir minha gaveta e busco um dos meus lenços com uma
flor lótus negra.
Felipe
Estaciono na frente da mansão dos meus pais e noto que o carro do
meu cunhado já está estacionado, indicando que Heitor e Isabela já
chegaram.
Ajeito meu terno e entro, sendo recebido por minha irmã Cecilia,
que abraça minha cintura. Apesar de ser sete anos mais novo que ela, a trato
como uma irmã mais nova. Seguro sua testa e a beijo, arrancando um
sorriso dos seus lábios.
— Para, é apenas uma dose para relaxar, mamãe está uma pilha e
papai quase explodindo, eles já sabem que você terminou com Sofia.
— Para nós? Terá que ser algo muito grande, porque ela está
bufando.
— Por que não sai daqui? Você sabe que, na hora que quiser, eu te
ajudo. Se quiser fazer uma viagem ou até mesmo morar fora do país, pode
contar comigo.
— Eu já pensei nisso.
Minha irmã mais velha até tenta manter a expressão irritada por
algum tempo, mas logo um sorriso furtivo brota no canto da sua boca.
— Sim.
— Fico feliz em ouvir isso, lhe fará muito bem. — Pisco um olho
para ela.
— Ter minha própria galeria onde posso exibir minha arte sem que
tenha que me submeter ao crivo de alguém — Cecilia fala, emocionada.
Ambas bufam.
Meu pai, Paulo Sampaio, evita a todo custo os atritos familiares, ele
não admite que absolutamente nada suje o nome da família Sampaio.
— Não vejo necessidade para isso — meu pai comenta e seu tom de
voz não é nada agradável.
Por mais que ele comande a vida das minhas irmãs e, apesar de eu o
respeitar muito, ele sabe que não consegue me controlar. Este foi um dos
motivos para ter me esforçado tanto para ter minhas próprias empresas e
patrimônio independente da fortuna dos meus pais, não dependo
financeiramente deles para nada, mas esta posição nos negócios da família é
uma questão de honra.
Esta foi a forma que ele encontrou para conseguir a afeição do meu
pai, compartilhar os mesmos sentimentos de superioridade.
— Sim, pai, agora Heitor detém cerca de 10% das ações da empresa
e tem direito a voto — esclareço antes que meu cunhado possa falar algo.
— Não vejo motivos para isso, acaso o senhor não confia em mim,
meu sogro? Desde que o conheci, algum uma vez o fiz duvidar da minha
índole? — Heitor segue falando sem desviar os olhos do meu pai.
— Por que você está me atacando assim, Felipe, é por medo? Sei
que sente ciúmes da minha relação com seu pai, mas não há motivos para
isso.
— Ciúmes? Heitor, julga que está lidando com um moleque? Estou
bastante seguro quanto à minha posição nesta empresa e na minha família.
Felipe
Saio do banho e ouço meu celular tocar mais uma vez, enrolo uma
toalha na cintura e busco o aparelho, que indica algumas ligações perdidas
das minhas irmãs, uma do meu pai e duas da minha mãe.
Também saí da casa dos meus pais sem dar maiores detalhes, e é por
este motivo a preocupação deles.
— Boa noite.
— Você não vai conseguir tirá-la daqui fácil, vai precisar envolver
justiça, polícia e advogados.
— Mais uma vez muito obrigado pela ajuda, vou tirá-la daí o mais
rápido possível.
— Felipe, quem é esta mulher? Você nunca fez algo assim, seus atos
são sempre muito bem calculados, nada é por impulso.
— Você tem esta noite! Vou te passar o nome dele, aposto que, se
fizer uma busca rápida por processos, encontrará algo. Com ela e o
procurador incapacitados, ele tem acesso ao dinheiro dela.
— Vou tentar!
— Não quero uma posição, quero vocês aqui, tirando Manuela deste
lugar terrível! — exijo.
Mais uma vez, agradeço a ajuda, e ela, novamente, diz que apenas
está sendo solidária com outra mulher como um dia foram com ela.
Demorou uma hora para João entrar em contato comigo, mais uma
hora e meia para que a equipe médica da clínica particular chegar com dois
advogados e logo depois meu advogado apareceu acompanhado da
delegada e dos outros advogados.
Entramos no hospital, e eu queria ir direto ver Manuela, mas fui
impedido, pois não sou da família, legalmente não sou nada dela. Isso me
subiu uma raiva surreal, estou acostumado a dar ordens e ser obedecido
imediatamente, contudo, agora, para não prejudicar os profissionais que
estão tentando ferrenhamente tirar Manuela daqui, eu tenho que ficar
calado, com o grito preso na garganta, puto da vida, mas se isso for para
ajudá-la, tudo bem.
Manuela
Tento abrir meus olhos uma, duas vezes, mas não consigo, minhas
pálpebras estão pesadas. Forço mais uma vez e vejo tudo nublado,
desfocado. Volto a fechar meus olhos e ouço algumas vozes, mas não
consigo identificá-las.
Vejo parede e teto branco, estou deitada em uma cama que não é
minha; viro a cabeça e noto um suporte para soro, desvio para meu braço e
me dou conta de que estou recebendo algum medicamento. Percorro o
ambiente com o olhar e percebo mais uma cama, só que está vazia.
— Por favor, quero que saiba que, caso se sinta angustiada ou não
quiser mais falar, me avise e interrompo as perguntas, tudo bem? — a
psicóloga aconselha.
— Eu não deveria estar em uma UTI, já que meu caso foi sério? Eu
fiquei em coma por 7 dias, por que estou em um quarto comum? Ela
também me disse que Jonas me internou, eu não estou compreendendo o
que está acontecendo. — Aponto para o meu machucado, confusa,
intercalando o olhar entre elas.
— Estamos aqui para te ajudar a resolver isso, sei que deve ser
difícil e confuso, mas lembre-se de que, quando não quiser mais falar, é só
me sinalizar — a psicóloga mais uma vez lembra.
— Sim, a minha cunhada Juliana, ela estava presente. Mas por que
você perguntou sobre hospital psiquiátrico? — indago, cada vez mais
confusa.
Julguei que já tivesse passado pela pior fase da minha vida, que
Jonas já tivesse me mostrado o seu pior lado, que absolutamente nada do
que ele fizesse me magoaria e me machucaria. Eu estava enganada!
— Como ele pôde ter feito isso, principalmente depois de tudo o que
me fez! — Levo minhas mãos ao rosto e começo a chorar.
Raiva, ódio, não sei definir o sentimento que me envolve, mas não é
algo bom, é corrosivo e me pega em um rompante, me fazendo agir. Quero
sair deste lugar, quero confrontar Jonas, mas, antes de tudo, quero sair desta
cama.
— Eu não sou doida, fui enganada, traída, roubada, mas não estou
maluca! Como ele pôde fazer isso comigo, como pôde me internar em um
hospital psiquiátrico, como ele conseguiu isso? — Me desespero, me debato
tentando sair do aperto delas e fugir daquele lugar.
Manuela
Abro meus olhos e constato que mais uma vez estou em uma cama
hospitalar. Contudo, desta vez, o quarto é bem diferente, mas nem tenho
tempo de analisá-lo com calma, pois vários médicos entram, atraindo minha
atenção.
— Bom dia, como você está? — A forte voz de Felipe chega até a
mim, me fazendo abrir um sorriso.
— Você está diferente. — Sorrio ao reparar que ele está vestido com
terno e calça preta, blusa branca e o cabelo jogado para trás, assumindo um
ar mais sério, elegante.
— Acho que não tem como você ficar feio. — Brinco, me ajeitando
na cama.
— Ah, mas você faz muito bem ao meu ego! — Senta-se ao meu
lado e acaricia meu rosto.
Felipe volta meu rosto para si, limpa minhas lágrimas, inclina a
cabeça e me beija levemente nos lábios.
— Você não tem pelo que se desculpar, eu que tenho que agradecer.
Se não fosse por você, ainda estaria naquele hospital.
Depois que soube da minha real situação, achei que demoraria a sair
dali, mas os advogados de Felipe tinham uma liminar judicial e, com o
parecer da psicóloga e o aval da delegada, rapidamente fui transferida para
uma clínica particular.
— Ainda não comentei com eles, imaginei que você pediria algo
assim, visto que o marido dela ainda está se recuperando. E fui para casa
por duas horas, queria estar aqui quando os médicos viessem conversar com
você.
— Obrigada.
— Sim.
— Queria ir para minha casa, mas eu não quero ver nem Jonas e
muito menos a mãe dele, e eles não vão sair de lá tão rápido.
— Felipe!
— E por que não? Você achou que estava blefando quando disse que
quero você comigo?
— Mas, Felipe...
— Não vou forçar uma intimidade maior que alguns beijos roubados
e muito carinho. Você virá para a minha cama no momento que quiser;
enquanto isso, eu só quero te proteger. Por favor, aceite, me deixe tomar
conta de você, apenas te quero perto de mim, só assim ficarei tranquilo —
pede com a testa encostada na minha.
Ele segura minha mão e a leva até o peito, fazendo-me constatar que
realmente bate acelerado.
— Uma pessoa com pena teria esta reação física? Manuela, eu sou o
CEO de uma das maiores construtoras do Brasil, além disso, tenho várias
outras empresas, nunca me desviei dos meus negócios e objetivos, jamais
botei qualquer coisa pessoal na frente deles. Sempre considerei desejo,
paixão e amor coisas que desviam do alvo, então, as evitava. Contudo,
estou aqui, respirando aliviado por tê-la tirado daquele lugar, querendo te
levar pra minha casa, te proteger e te fazer minha, te marcar de tal forma
que você não se lembre mais de que um dia sofreu por alguém.
Manuela
Aproveito que estou sozinha, reparo no quarto e constato que é
semelhante ao de um hotel. O recinto é sofisticado, elegante e em tons
pastel de rosa. Há um sofá, mesa com duas cadeiras, um vaso com flores e
uma porta que imagino dar para o banheiro.
Juliana fala rápido, gesticulando, faz uma pausa e olha para o teto.
Em seguida, volta a levar as mãos ao rosto.
— Conforme a delegada questionava se você alguma vez já tinha
sido internada em outros hospitais psiquiátricos ou apresentado algum
desequilíbrio, eu fiquei horrorizada e, quanto mais descobria, com mais
raiva ficava, porque, se Jonas conhece aquele homem, aquele psiquiatra
corrupto, foi por intermédio de Rodolfo, que também é psiquiatra, e só de
imaginar que meu marido pode estar envolvido nessa merda, me dá vontade
de vomitar.
— Quem fez isso comigo foi Jonas. Nas vagas memórias que eu
tenho, só aparece ele, eu nem me lembro de como fui parar lá. — Seguro
suas mãos e as aperto. — Me diga o que aconteceu depois que desmaiei,
tudo que me lembro são pequenos fragmentos.
— A princípio, pensei que você voltaria logo para casa, mas, depois
de dois dias, comecei a achar estranho e pressionei Jonas, que acabou me
dando o endereço do hospital em que você estava. Um lugar terrível!
Quando entrei no quarto, te encontrei dormindo e recebendo medicamento
na veia, não consegui te ver acordada em nenhuma das vezes que fui te
visitar e, quando pressionava Rodolfo, Raquel dizia que era melhor deixar
você se recuperar, que você não gostava que fossem hospital enquanto
estava internada, então ontem recebi a ligação da delegacia. — Relata
nervosa e reparo que suas mãos estão trêmulas.
— Já disse que a culpa não foi sua, se tem uma pessoa que eu tenho
certeza de que não tem culpa pelo que houve comigo, é você. — Inspiro
profundamente e solto o ar com força. — Eu saí de lá, isso que é o mais
importante, mas, desta vez, não vou fingir que nada aconteceu.
— E nem eu deixaria, Jonas foi longe demais. O que ele fez é crime!
— Ainda não sei quais eram suas intenções, mas ele vai responder
na justiça.
— Mesmo em meio à toda tristeza que sinto, fico feliz de te ver tão
determinada, estava com medo de te encontrar deprimida, o que seria
compreensível, depois de tudo o que você passou. — Ela aperta minha mão.
— Não faça isso, pense em Cristina, sua filha tem que vir em
primeiro lugar.
— Por isso preciso fazer isso, Manuela: por ela, por mim. Como
posso viver com um homem que é conivente com uma merda dessa?
— Se ele tivesse feito o que pedi, se tivesse vindo uma única vez te
visitar comigo, conversado com os médicos ou mesmo questionado o
irmão, você não teria ficado tanto tempo lá! — Cada palavra é carregada de
fúria. — Eu pensei que Rodolfo era diferente daqueles dois, mas acho que
estava enganada.
— Não estou pensando nele, mas sim em você, não quero contato
com Jonas ou com a mãe dele, apenas peço que você pense em sua filha.
Não sei o que o futuro me reserva, ainda passarei por muitas coisas,
não tenho dúvida disso. Mas quero que Juliana esteja presente nesta nova
fase da minha vida.
Capítulo 19
Manuela
Demorei três dias para receber alta da clínica, pensei que seria mais
rápido, porém tive que esperar o resultado de todos os exames e as
avaliações dos profissionais para ser liberada. Durante esse tempo, eu
prestei depoimento e tive mais consultas com a psicóloga e com os
advogados.
Suspiro contra seus lábios. Felipe chupa minha língua, aperta minha
bunda, e eu gemo, sentindo meu corpo estremecer.
— Vamos devagar.
— Ao seu tempo.
Tento me afastar, mas ele me puxa mais uma vez ao encontro do seu
corpo. Segura meu queixo, vira minha cabeça e deposita um beijo molhado
na minha garganta, me fazendo arfar. Depois, arrasta os lábios pela minha
pele até o meu ouvido e sussurra:
— Por enquanto, você dorme neste quarto, mas, quando quiser, virá
para minha cama. — Escorrega as mãos pelo meu corpo e aperta a minha
bunda, e eu não seguro um gemido.
— Eu serei muito malvado se disser que não quero que pense tanto,
que apenas deixe acontecer, sem medos, sem reservas?
— Você é um conquistador.
— Pode não dar em nada, mas eu não vou evitá-lo mais, eu quero
todos os momentos de prazer que ele pode me proporcionar, quero carinho,
aconchego e conforto — murmuro, caminhando a passos lentos até a área
externa e não me surpreendo a constatar que é muito luxuosa, é uma ampla
sacada com piscina, ofurô, área gourmet, mesas e algumas espreguiçadeiras
esbanjando refinamento para todos os cantos
O sol do fim de tarde aquece minha pele. Elevo meu rosto, me sinto
leve e livre e quero que este pensamento perdure por muito tempo.
Fiz o mesmo com Juliana. Além de me ligar com frequência, ela foi
me visitar novamente na clínica e me trouxe duas malas com minhas roupas
e objetos pessoais, que agradeci demais a ela.
Como sempre faço, não atendo, não tenho mais nada a falar com ele,
tudo será tratado pelos advogados. Ainda não entendi muito bem o que
houve e já aceitei que essa lacuna sempre existirá, a psicóloga disse que é a
forma que meu cérebro encontrou para me recuperar do trauma.
Tenho medo do que eles possam fazer com esses objetos que, para
muitos, não são nada, mas, para mim, são tão preciosos.
Manuela
Nos dias seguintes, minha rotina se resumia a ir ao hospital para
visitar Guilherme e Bruna e conversar com Juliana. Além disso, matei as
saudades da sua filha, Cristina.
Mas, apesar de querê-lo por perto e de toda proteção que ele me dá,
ainda tenho medo de que seja por causa da sua vingança. Minha relação
com Jonas causou um dano enorme na minha autoestima, tenho receio de
mais uma vez estar idealizando um relacionamento e de não estar
percebendo coisas que estão na minha cara.
E esta insegurança me deixa ansiosa, mas perco a linha de
pensamento quando o vento traz o seu aroma até a mim, seu perfume já
ficou gravado em minha memória. Em seguida, ouço os sons dos passos, até
que sinto suas mãos deslizarem pelo meu corpo, me fazendo arrepiar.
E gosto mais ainda que ele esteja aqui, não consigo, nem quero,
controlar o sorriso.
— Seria impossível fingir que não vejo. — Gira meu corpo de modo
que fique de frente para ele.
Ele sobe um dedo pelos meus braços, ouriçando meus pelos, eleva o
olhar e para nos meus. Suas mãos percorrem minha clavícula e levanta meu
queixo, e eu suspiro enquanto ele acaricia minha bochecha lentamente.
Espero que ele me beije, anseio pelo toque dos seus lábios, mas
Felipe não se aproxima.
— Então repita muitas vezes para mim, repita todos os dias, até eu
acreditar.
— Por que é tão difícil acreditar em mim quando eu ainda não dei
nenhum motivo para duvidar?
Desce a mão pelo meu peito e seu dedo passeia pelo bico do meu
seio, sem realmente o tocá-lo, fazendo-o endurecer. Estremeço, sinto minha
boceta umedecer, a excitação tomar conta de tudo, então prendo a
respiração quando mais uma vez ele me beija.
Sua mão desliza até a cintura enquanto a outra alcança minha nuca e
segura com força, me fazendo gemer.
Em um ato rápido, ele desloca a mão para trás, agarra minha bunda
e me puxa ao encontro do seu corpo, me permitindo sentir o seu pau duro e
grosso contra a minha barriga.
— Foi rápido.
— Desculpe, estava gostoso demais.
Puxo o seu cabelo, giro o bico do meu seio e, mais uma vez, gozo.
E ele não para de sugar; sinto minha excitação descer pelas minhas
pernas e meu corpo tremer descontroladamente. A agonia não passa, o tesão
à flor da pele, meu clitóris duro, latejando, meus pelos arrepiados... É como
se o orgasmo não fosse o suficiente, eu preciso de mais, muito mais.
Não me lembro de quantas vezes gozei, urrei e gritei seu nome até
ficar sem forças, até sentir sua essência me invadir, até ficar mole em seus
braços. Ele me leva com cuidado para dentro, me deu banho com carinho e
fizemos amor novamente. Felipe segurou minhas pernas, me deixou aberta,
exposta e entrou em mim, o jeito como ele me olhava, como metia,
ondulando o quadril para sua pélvis tocar meu clitóris, causando um atrito
delicioso e como sugou meu seio me fez gozar mais uma vez.
— Você pode ainda não aceitar, ou nem mesmo acreditar, mas você
é minha — declara, ofegante, após gozar, e eu sorrio, porque é a única coisa
que tenho forças para fazer.
Capítulo 21
Manuela
Sinto uma deliciosa carícia em minhas costas, seguida de um casto
beijo.
— E não faz.
— Eu preciso de você.
— Podemos adotar.
— Porque eu pedi.
— Felipe!
— Não importa o que for, não faça mais isso. Não sou indefesa,
passei por muitas coisas e não quebrei, não vou dizer que não sofri, mas não
quero que esconda nada de mim — ralho.
— Não, porque você está certa. Eu quero te proteger, mas não quero
tirar seu poder de decisão e nem sua individualidade, já cometi esse erro
antes e hoje estou tentando repará-lo.
Ouço seu relato com surpresa, mas evito fazer comentários. E ele
continua:
E ele segura minha mão e mais uma vez a beija, mas não nega nada
do que eu falei.
— Está caminhando para ficar, não usa mais drogas e aos poucos
está se livrando do álcool. Estou patrocinando uma galeria de arte que
Cecilia abrirá com nossa irmã mais velha, Isabela. Será bom para elas e,
quando você estiver pronta, quero que também seja um lugar para expor
seus quadros.
Arregalo os olhos.
— O quê?
— Não fale nada, apenas quero que comece a pensar na nova fase
da sua vida.
— A exposição na galeria está vinculada a me casar com você?
— Você nunca viu um quadro meu, como sabe que seriam bons para
expor em uma galeria? — saliento.
Olho para o teto quando sinto uma lágrima descer pelo meu rosto.
— Faça essa dor passar, me faça sentir como ontem, livre, poderosa
e desejada. — Esfrego meu rosto com raiva. — Não quero mais pensar ou
sofrer pelas coisas que passei, quero passar uma borracha em tudo. Mas eu
não quero me casar com você agora, não quando estou tão no fundo do
poço, não quero entrar em uma relação assim, porque, mesmo quando eu
tive todas as vantagens, deu tudo errado, e eu não quero passar por aquilo
novamente.
Felipe
Não há mais como negar ou fingir que não estou apaixonado por ela.
Pensei que com ela segura seria melhor me manter longe para recuperar
meu foco, então passei uma semana sem vê-la, viajei, fechei novos
negócios, impedi que Heitor comprasse mais ações da empresa, jantei com
meus pais, almocei com minhas irmãs para acalmar os ânimos das duas e
parece que finalmente entraram em um acordo. Porém Manuela não saía
dos meus pensamentos.
— Me faça esquecer, não quero mais pensar no quanto fui idiota por
acreditar nele — pede com a cabeça deitada em meu peito.
Este também foi um dos motivos pelos quais eu vim para casa
ontem, não queria que ela recebesse essa informação sozinha.
— O que você quer que eu faça? Sabe que estou aqui para você e
por você, então, me diga, do que precisa? Quer que eu mande dar uma surra
nele? Posso fazer isso! Quer que o ponha na cadeia? Está sendo
providenciado! — revelo.
— Cadeia?
Ela se afasta e tenta sair de cima de mim, mas eu seguro sua cintura
e a mantenho em meu colo.
— Como ele pode fazer isso comigo! O que eu fiz a ele? Será que
tudo se resumiu a dinheiro? Todos esses anos sempre foi por causa do meu
dinheiro? Nunca houve sentimento? Meu Deus! Há algumas semanas, eu
podia jurar que ele me amava, será que sou tão idiota assim para não
perceber quais eram suas intenções? — Ela leva a mão ao rosto e começa a
chorar.
— Não sei se aguento mais isso, quero ser forte, quero enfrentar
tudo, mas não param de acontecer coisas, não paro de receber rasteiras.
Quando acho que Jonas já fez a pior coisa que podia para mim, descubro
que ele ainda pode fazer mais — queixa-se.
Seguro seu rosto, limpo suas lágrimas e beijo cada lado da sua
bochecha.
— Posso aceitar isso, contanto que seja minha para adorar, proteger
e cuidar. Vou te amar por nós dois, tanto, mas tanto que você vai esquecer
cada mágoa em seu coração, irá esquecer cada vez que chorou, todas as
vezes que se sentiu sozinha, triste, desnorteada, tudo isso será apagado,
porque eu estarei ao seu lado e serei seu ponto de conforto e o homem que
ama você — declaro.
Por um tempo, não falamos nada, apenas nos olhamos, sem desviar.
É como se ela estivesse procurando alguma dúvida em mim, mas não
encontrará, demorei muito para achar a mulher com quem eu quero passar o
resto da minha vida.
Meu peito bate acelerado quando seguro sua cintura e ajeito nossos
corpos na cama. Apoio minhas costas na cabeceira e deslizo minhas mãos
pelas suas curvas enquanto ela me beija e meu pau endurece. Aperto seu
quadril quando ela morde meu lábio inferior, desejando deitá-la na cama e
comandar, mas sinto que ela precisa disso, ela necessita sentir algum
controle em sua vida.
E eu dou esse controle a ela, sem nenhuma reserva, sem ser ativo,
apenas sentindo e a deixando fazer o que quiser.
Ela sorri e joga a cabeça para trás, aperto o bico dos seus seios e
mais uma vez sinto sua boceta esmagar meu pau, me fazendo gemer. Meu
corpo fica tenso, com o tesão correndo solto em minhas veias, a pele
arrepiando, delirando, quase sucumbindo. A visão de Manuela cavalgando é
deliciosa demais, mas me seguro, quero vê-la gozando muitas e muitas
vezes.
Substituo meus dedos por minha boca e faço o que tanto ansiava,
mamo gostoso seu seio, fazendo barulho, deixando-o molhado. Minha
garota começa a gemer mais alto, agarra meus cabelos e começa a rebolar
no meu pau, descontrolada, chamando meu nome, a pele suando, os olhos
fechados, uma visão deliciosa. Procurando deixá-la mais louca de desejo,
deslizo uma mão pela sua barriga e toco seu clitóris com vigor.
Ela goza gritando meu nome, e eu dou atenção ao outro seio, sem
parar de tocar seu clitóris. Manuela começa a fazer movimentos intensos de
vaivém com o quadril, sinto meus pelos arrepiarem e a respiração acelerar.
Minha garota está cada vez mais molhada, com a boceta pulsando ao redor
do meu pau; subo minha boca, a beijo e estou no meu limite, sentindo o
gozo vir. E, sem conseguir mais me segurar, gozo na sua boceta, chupando
sua língua, gemendo, e ela não para de cavalgar, nem eu de tocar seu
clitóris, de beijá-la, de amá-la.
— Vou garantir que você fique para sempre ao meu lado — afirmo,
acariciando seu rosto.
Capítulo 23
Manuela
Acordo assustada, levando a mão à minha barriga. Sonhei que
estava grávida, já no final da gestação, sentindo o meu bebê mexer.
Um mês!
Estamos juntos há um mês e, durante este período, em todas as
vezes que fiquei triste ele me fez sorrir logo em seguida.
Apesar de todo infortúnio das últimas semanas, sinto uma paz que
há muito tempo não experimentava, uma sensação de leveza, sem cobrança.
Felipe não exige nada além da minha presença, me dá tanto carinho e me
faz sentir protegida, amada e segura.
— Você vai me dar mais um presente? Felipe, você tem que parar
com isso! — ralho.
— Eu não vou parar de te mimar. Venha, acho que você vai gostar
da surpresa.
— Você, todo dia, me dá algo e diz que quer me manter aqui, por
acaso quer me comprar com presentes e joias?
— Volto a dizer que apenas quero mimar a mulher que amo, e você
poderia aceitar sem rir! — reclama de um jeito tão engraçado que seguro
seu rosto e o beijo.
— Como estava dizendo, eu fiz para você, quero que você saiba que
sempre irei te incentivar a realizar seus sonhos — declara e abre a porta.
Emerja como uma lótus negra e mostre ao mundo toda a sua beleza.
Um arrepio delicioso passa pelo meu corpo enquanto ouço sua voz
rouca. É impossível segurar o sorriso e o suspiro quando ele desliza a
camisola pelos meus ombros, deixando meu seio exposto.
— Ah, Felipe!
Ele sobe uma mão até o meu seio e a outra mão segura minha
bunda, me mantendo no lugar e me fazendo delirar. Seguro seus cabelos e
fecho meus olhos, movimento o quadril, esfregando minha boceta no seu
rosto.
— Ahhh, Felipe! — Ele sabe que eu gosto que meta o dedo ali
quando estamos fazendo amor.
— Você ficou mais molhada — sua voz soa baixa e rouca enquanto
abre minha bunda. — Vou meter devagar, me avise se for demais para você.
Sorrio, reconhecendo que Felipe não mentiu quando disse que faria
de tudo para eu me apaixonar por ele.
Capítulo 24
Manuela
O carro para na frente do hospital e Felipe segura meu queixo e me
beija.
— O motorista virá para levar vocês até a casa do seu padrinho, mas
eu te buscarei. Deixei meu dia quase livre, tenho apenas duas reuniões que
não consegui cancelar — avisa, acariciando meu rosto.
— Você não tem noção do que eu sou capaz de aguentar por você.
— Seu sorriso morre no rosto.
— E se ficar insuportável?
— Você está linda, Manuela. Sempre foi linda, mas hoje está
diferente.
— Tenho que concordar com Bruna, está com um sorriso que não
tira dos lábios.
— Tem a ver com aquele rapaz que veio algumas vezes aqui, o
Felipe? — Bruna indaga com uma piscada.
Eles abrem um enorme sorriso e, antes que consiga falar algo mais,
um médico entra na sala com dois enfermeiros. Os profissionais tiram o
acesso do meu padrinho enquanto o médico passa as instruções e informa a
data do seu retorno para avaliação clínica.
— Quanto mais você fala desse homem, mais curioso eu fico para
conhecê-lo — meu padrinho diz, admirado.
— Está morando com ele porque não tem para onde ir? Pensei que
estavam apenas namorando, e não morando juntos. Você pode e deve vir
para cá — meu padrinho pede.
Jonas.
E foi o que decidir fazer. Nunca mais eu vou dar a ele o poder de me
machucar, nunca mais vou baixar a guarda ou estar vulnerável diante de
Jonas, então eu o aguardo se aproximar, olhando em seus olhos, sem
demonstrar fraqueza ou medo, porque a única coisa que eu sinto por ele
agora é desprezo!
Capítulo 25
Manuela
Jonas para na minha frente e me fita de cima a baixo.
— Não acredito que você vai fazer de conta que nada aconteceu! —
Fito-o, incrédula.
— Vamos para a nossa casa e... — Tenta mais uma vez, mas o
interrompo.
— Fala como se eu não quisesse te ajudar. Tudo o que fiz foi por
você. Não se lembra de que estava descontrolada e agrediu minha mãe,
falava coisas ilógicas e absurdas, alucinando? — Faz um meneio negativo,
e meu queixo quase cai.
— Você não tem noção do quanto minha vida ficou complicada por
tentar te ajudar, perdi meu emprego por causa de todas as faltas, não queria
deixar minha esposa desamparada e não tinha como ir trabalhar com você
internada naquele hospital. Sua sogra foi hospitalizada após você agredi-la,
levou semanas se recuperando, até hoje não se encontra bem. Ficamos em
dificuldades financeiras e, por esse motivo, vendi alguns imóveis com o
intuito de ajudar no seu tratamento, mas gastei quase todo o dinheiro
contratando detetives para te encontrar. Até o casamento do meu irmão foi
abalado, você deveria ter vergonha de tudo que fez.
— Oh, sim! Eu ouvi cada absurdo que saiu da sua boca, eu ouvi! A
única diferença é que não caio mais no seu jogo sórdido, você não me
manipula mais. Pode falar o que bem entender, pois, no final, ainda será
processado, terá que devolver o dinheiro das pessoas que enganou e ainda
correrá o risco de ser preso — retruco, tentando me manter calma, mesmo
que por dentro esteja com vontade de gritar.
— Por que você está falando assim comigo? — Seu tom de voz
muda, se tornando baixo e ameaçador.
Jonas é mais forte e maior do que eu; por isso, quando noto que não
vai parar até me pôr dentro do veículo, o medo começa a dominar meu
corpo. Bato nele mais forte, puxo meu braço com mais força, porém, ele
segue me segurando e, quanto mais perto fico do carro, mais me desespero.
Então, por não saber mais o que fazer, começo a gritar.
Tento sair, puxo seu cabelo, bato em sua cabeça, chuto a porta, mas
ele segura meus braços com uma mão e me dá um soco na cara que me
deixa momentaneamente desnorteada.
— Seu filho da puta, como você ousa tocar nela! — Felipe urra.
— Não, esquece ele, não quero que se prejudique por causa desse
infeliz — imploro. — Olha seus dedos, você se machucou por minha causa.
— Não seguro mais as lágrimas ao ver seus dedos cheios de sangue.
Seu nariz, testa e boca estão sangrando, uma de suas mãos está
sobre a barriga e seu corpo, um pouco curvado, talvez esteja sentindo dores
por causa dos chutes.
Eu viro meu rosto para Jonas, com seu rosto sangrando, corpo
dobrado e com uma expressão de dor, e percebo que talvez uma outra
versão minha sentisse pena, até mesmo iria querer cuidar dele depois de
tudo que me fez, mas meu ex-marido me quebrou de tantas formas que
jamais serei daquele jeito novamente.
Sem perder mais nenhum segundo, volto minha cabeça para Felipe e
grudo meus lábios nos dele.
— Eu quero você fora da minha casa, quero cada centavo que você
me roubou, te quero na cadeia, preso, humilhado e que passe por tudo o que
eu passei. Não vou ter dó, nem piedade, porque você não teve comigo, e
você vai pagar por tudo que me fez. — Paro perto dele e lhe dou um tapa no
rosto, usando toda a minha força, meu ódio, meu remorso e minha ira.
Jonas não reage, creio que esteja em choque por minha reação ou
talvez por medo dos seguranças de Felipe que o cercam. Giro meu corpo e
volto para Felipe, que me recebe de braços abertos, me acolhendo e
protegendo como sempre fez desde que me conheceu.
Felipe
Orgulho!
Estou feliz por ela, mas puto pela situação. Se eu demorasse mais
um pouco, ele a teria levado, e só Deus sabe o que faria.
E, quando achei que estava quase tudo concluído, uma mulher entra
na delegacia, seguida por outro homem, e assim que vê Manuela, vai para
cima dela.
— Quem você pensa que é para mandar prender meu filho, sua
louca! — Ela levanta a mão com a intenção de dar um tapa na minha
garota, mas ela a segura no ar, impedindo de concluir o ato.
— Você não vai ajudá-lo? Irá deixar Jonas dormir em uma prisão
imunda? — a outra segue falando. Pelo visto, mudou a tática de persuasão,
primeiro tentou humilhar Manuela, não conseguiu e agora tenta fazê-la se
sentir culpada.
Se está fazendo isso aqui, na frente de todos, imagino o quanto
minha mulher sofreu com ela por todos esses anos. E o pior é saber que,
além de não se defender, Manu ainda inventava desculpas para a forma
como era tratada. Já imaginava, os relatórios me deram uma ideia de como
era a narrativa entre as duas, mas isso não diminui o impacto ao presenciar.
Volto meu olhar ansioso para ela, doido para agir, ávido para tomar
conta da situação, mas me controlo, este não é o meu lugar de fala, não
agora; mesmo querendo muito, não posso invadir o espaço de Manuela.
Apesar de ela ter falado que discutiu com Raquel no dia em que foi
internada, desta vez é diferente, ela está segura de si, não se
descompensando como outrora. Este momento é importante para ela, então
permaneço mudo ao seu lado e alerta para o caso de precisar de mim.
— Hoje fiz tudo o que julgava que jamais faria. — Ela sorri e
balança a cabeça de um lado para o outro. — Mas a sensação foi
libertadora. — Solta uma gargalhada, mas, em vez de levar a mão ao rosto,
a põe na barriga.
Manuela
Você está grávida!
Sinto uma lágrima descer pelo meu rosto, a agonia tomar conta do
meu corpo, a dor de todas as perdas me dominar, parece que estou caindo
em um abismo escuro e profundo. Meu corpo gela, eu abaixo a cabeça e
levo minhas mãos trêmulas à barriga, meus lábios tremem e vejo a primeira
gota cair em minha mão, sendo seguida por outras e, quando o pranto
começa a me dominar, Felipe acaricia meu rosto, levanta meu queixo e
gruda seus lábios nos meus.
— Nós vamos passar por isso juntos, em cada processo, cada passo,
estarei ao seu lado — sussurra contra a minha boca e logo depois sinto sua
mão cobrir a minha.
E novamente ele vem me tirar de um lugar escuro, mais uma vez ele
é meu ponto de conforto.
— Essa dor pode ser por vários motivos. Sei que é difícil, mas tente
manter a calma. Você teve sangramentos ou algum estresse? — inquire.
Eu respiro fundo antes de responder:
Pelas próximas quatro horas, fiz vários exames, mas um me fez ficar
mais apreensiva: ultrassom transvaginal. Segurei a respiração enquanto a
médica fazia o procedimento. Eu olhava para a tela preta e branca do
monitor, já estive nessa situação algumas vezes, era nesses momentos que
eles diziam que não havia feto na bolsa gestacional ou que ele havia
morrido.
— É seguro para ela ir para casa? Não seria melhor ficar internada
pelo menos esta noite? — questiona, preocupado.
— Por que você ligou para ela agora? São duas horas da manhã,
poderia ter esperado até o amanhecer. — Sorrio do olhar que me envia. —
Além do mais, é provável que não consiga, existem outros bons
profissionais, há anos que tento uma consulta com esse médico e não
consigo, a fila de espera dele é imensa, e eu nunca fiquei grávida por tempo
suficiente para me consultar — comento com um suspiro triste.
Evito tecer comentários, me recordo de que ele disse que suas irmãs
tinham dificuldades em engravidar ou não podiam ter filhos, algo assim, e
isso pode estar relacionado à perda, e disso eu entendo, e muito.
Abraço-o forte, bem forte, apertando meu rosto contra seu corpo.
— Não quero falar para ninguém por enquanto, até ter passado o
primeiro trimestre, nunca consigo passar por ele, sempre perco antes.
— Eu nunca me segurei.
Pego a sua mão, entrelaço nossos dedos e a beijo. Ele repete o gesto
e a encosta em seu peito.
Resolvi muita coisa dentro de mim, não aceito mais ser manipulada,
controlada e nem me deixarei de lado em benefício de outra pessoa. No
entanto, ainda estou tratando outros pontos, será um longo caminho, eu sei
disso, mas não mencionei os meus abortos na terapia, havia coisas mais
urgentes a falar. Provavelmente vou tocar nesse assunto na próxima
consulta.
Vou viver por esse agora está tudo bem, seguir as recomendações do
médico e os conselhos da terapeuta e o apoio de Felipe. Abro um enorme
sorriso ao me lembrar dele, tão companheiro, presente, carinhoso dedicado,
fui casada por cinco anos, mas nunca tive isso.
Manuela
Conforme os dias foram passando, fui me acostumando ao fato de
estar grávida, não senti mais dores, segui uma dieta balanceada, passava
boa parte do meu tempo no ateliê e estava quase concluindo meu primeiro
quadro depois de anos. Também liguei para o meu padrinho, conversei com
Juliana, mas a nenhum deles revelei a gestação, cumprindo o acordo que fiz
com Felipe. Mas falei para minha terapeuta; para ela, desabafei todos os
medos que me afligiam.
Meu bebê.
— Seu amante não veio com você? Ele já te largou? Imaginei que
isso aconteceria, um homem como Felipe Sampaio não ficaria com alguém
como você. — Raquel acompanhava Jonas, segurando seu braço e o
alisando como se desse apoio.
Quando ele sugeriu que eu pagasse uma pensão para Jonas e que os
bens fossem divididos, porque ele sofreu danos emocionais e financeiros
por causa da minha traição, apertei minhas mãos com tanta força que senti
minhas unhas entrarem na minha pele.
— Ficou lindo demais, Felipe ama me dar presentes, mas este foi o
que mais gostei.
— Sua mãe ficaria tão feliz! Você está livre, Manuela, finalmente,
livre para ser feliz! — sussurra, me abraçando.
— Bem, são alguns processos que estamos movendo contra ele, por
enquanto, nenhum deles tem data marcada para a audiência.
— Ainda fico tão constrangida por não ter percebido nada disso
antes... — confesso.
— Não pense assim, sabe que não teve culpa. — Felipe segura
minha mão, e eu aperto a dele.
— Ela foi demitida, mas não se preocupe, agora ela está trabalhando
naquela clínica que você foi transferida. Lá as condições de trabalho e
salário são melhores. — João comenta e eu tenho certeza de que tem o dedo
de Felipe nisso.
— Compreendo.
— Nossa batalha será longa — ele esclarece.
Felipe
Observo Manuela dormindo nua ao meu lado, sua expressão está
serena e tranquila. Quando descobriu que está grávida, ela ficou muito
angustiada, preocupada, e não poderia ser diferente. Minha garota passou
por muitas coisas, e essa gestação, mesmo não planejada, é o seu sonho.
Manuela quer ser mãe, e eu quero ser o pai dos filhos dela.
— Não, desde aquele dia, não senti mais nenhuma dor ou incômodo,
mas também não senti os sintomas normais da gestação, enjoos, tonturas,
essas coisas.
— Vai ser no seu tempo, a única coisa que quero é que ele e você
estejam bem, só isso me importa.
— Assim é covardia.
Minha mulher engatinha até a altura do meu rosto, põe uma perna de
cada lado da minha cabeça, segura meu cabelo e ordena:
Faço o que me pede, passeio minhas mãos pelo seu corpo até seu
seio, aperto o bico e o prendo entre meus dedos enquanto sugo seu clitóris.
Não demora para ela começar a rebolar, lambuzando meu rosto, me
deixando de pau duro, cheio de tesão. Dou atenção aos seus seios enquanto
chupo sua boceta, sedento, lambo, enfio a língua no seu interior e volto paro
o clitóris.
Manu desloca o corpo para baixo, segura meu pau e o põe na boca,
chupando e o masturbando ao mesmo tempo.
— Nunca pensei que falaria isso, mas já não sei se quero continuar
com essa briga. Às vezes sinto como se meu pai quisesse incentivar a
competição, mas nunca me importei, porque meu objetivo sempre foi
permanecer no topo.
— Jornalista?
— Sim, desses de fofoca. Ele queria confirmar se você estava tendo
um caso com uma mulher casada.
— Acho que não precisamos, creio que isso foi coisa de Heitor com
a ajuda de Sofia, que está mais inclinada a esse tipo de nicho. Sem falar no
fato de que meu cunhado não teria como saber do meu envolvimento com
Manuela se não fosse através da minha ex-noiva.
— Amanhã.
Minha secretária entra na sala e avisa que meu pai pediu uma
reunião urgente comigo e, quando confirmo, ela sai.
— Seu pai vindo aqui falar com você? Acho que não vejo isso há
anos.
— Obrigado.
Felipe
Vejo meu pai entrar na minha sala e me levanto para cumprimentá-
lo. Nos sentamos nos sofás, um de frente ao outro. A secretária oferece
água e café, mas ele recusa e, assim que ela sai, ele começa a falar:
— Você tem recusado todos os convites que sua mãe lhe faz
ultimamente.
— E quais seriam?
— De que não anda dando a devida atenção à empresa. Sei que tem
suas próprias empresas e todas elas têm bastante renome no mercado, mas a
empresa da família sempre foi sua prioridade.
— Sei que está se relacionando com uma mulher que não é do nosso
nível e isso está interferindo no seu desempenho, sugiro terminar essa
relação.
— Pai, respeito demais o senhor, mas não sou mais um jovem que
precisa da autorização dos pais para se casar com uma mulher.
— Casar?!
— Não importa como sei, o fato é que você está com uma mulher
casada!
— É um alerta — replica.
— Não será possível, como disse antes, pretendo me casar com ela.
— Sim.
— Sim.
— E quem garante que seja seu filho? Ou, pior, quem sabe não está
tentando dar o golpe da barriga? — Enquanto ele fala, eu não me contenho
e gargalho.
— Essa mulher não é boa o suficiente para você, será que não nota
isso? Tem noção de quantos problemas terá? Você acha que um pai gostaria
de ver o filho em uma situação assim, correndo o risco de perder a posição
que batalhou por anos?
— Não deixarei meu legado para uma pessoa que se deixa ser
guiado por instintos fúteis.
— Meu problema não é e nunca será com você. É meu filho, meu
herdeiro, mas não aceito essa mulher na sua vida e farei o que for preciso
para afastá-la de você.
— Pense bem no que fará, pai. Por toda a minha vida fiz tudo do
jeito que o senhor quis, vivi conforme as suas regras, porque elas iam ao
encontro das minhas, mas, desta vez, não! Vou me casar com Manuela,
teremos nosso filho e pretendo ter muitos bebês com ela; continuarei a fazer
as minhas empresas prosperarem e depende somente do senhor para que eu
faça o mesmo com os negócios da família e que, principalmente, ainda faça
parte dela!
Nunca falei assim com meu pai, sequer imaginei que um dia
teríamos uma conversa assim. Nos encaramos em silêncio, medindo forças,
com mágoas e rancor nos envolvendo.
Ele sai sem dizer nada. Sigo para o bar, encho um copo com uísque,
bebendo-o em um gole, e arremesso o copo longe.
Felipe
Levanto o olhar quando vejo João entrando na minha sala, ele foca
na pessoa que está limpando os cacos de vidro do copo que arremessei e
depois desvia para mim. Ele espera a funcionária sair para somente então
questionar:
— Isso explica por que ele foi atrás de Manuela naquele dia.
Quando viu que não conseguiria entrar na família de Sofia, quis garantir o
dinheiro da ex-mulher.
— Provavelmente.
— Quero que faça duas coisas para mim: primeiro, peça para esse
jornalista publicar uma matéria sobre a galeria das minhas irmãs, quero que
ele exalte as duas e saliente que Cecilia é uma artista voltando após uma
pausa de reflexão, e que Isabela tem uma vasta experiência na organização
de eventos de moda, inclusive auxiliou no último evento que minha
empresa estava patrocinando, o mesmo que retirei o patrocínio devido a
uma má gestão.
Não quero contar para ela o motivo do meu atraso, não desejo que
se preocupe em relação ao meu pai.
Manuela não se declara muito, ela não é o tipo de mulher que fala
“eu te amo” de forma leviana, como se fossem palavras soltas, mas, quando
ela fala, me faz sentir tudo, me faz sorrir e amá-la mais ainda. Minha
vontade é de beijá-la mais profundamente, mas somos chamados por uma
enfermeira para a consulta.
Minha mulher aperta minha mão com força antes de entrarmos, ela
fez três meses de gestação e está mais apreensiva do que nas últimas
semanas. Após o médico questionar como ela passou a semana e avaliar o
resultado do exame de sangue que fez mais cedo, ele nos encaminha para a
sala de exames de imagem.
— Tudo bem, vou ligar para eles e contar para Juliana, eles ficarão
felizes por mim, pois sabem o que passei.
— Sim, hoje ouvi o coração do meu bebê pela primeira vez, apesar
de já ter ficado grávida outras vezes, nunca tinha completado o primeiro
trimestre. Estou com tanto medo de sofrer mais uma perda! Mas, por outro
lado, estou tão esperançosa de que seja diferente, estou vivendo um dia de
cada vez, demorei a querer ouvir o coração dele bater, mas ouvi hoje.
Nossa, estou me repetindo, falando tudo atrapalhado, desculpe. — Manuela
leva a mão ao rosto, e eu fito minhas irmãs.
— Manuela sofreu alguns abortos, por isso está tão sensível.
— Ora, não seja boba, ele não iria nos apresentar a você se não
estivesse pensando em casamento. Ah! Também temos que organizar o chá
de revelação! — Cecilia lembra, animada.
— Deixem tudo comigo, será perfeito! — Isabela exclama.
Manuela
Eu imaginei este encontro de muitas formas, mas em nenhuma previ
que me sentiria tão confortável com as irmãs de Felipe. Elas são tão
diferentes dele, mais sorridentes, brincalhonas e implicantes entre elas. Não
parecem ser mais velhas que ele, mas sim o contrário, e ele as trata como se
fossem irmãs mais novas. Achei tão linda e amável a relação deles!
Sofia.
Esse é o único nome que sei dela, não sei seu sobrenome, nem
mesmo procurei descobrir mais nada em relação a ela, simplesmente a
apaguei da minha mente. Acho que esta foi uma forma que meu cérebro
usou para me proteger, já que, na época em que descobri a traição de Jonas,
levei uma porrada atrás da outra, eram tantas coisas acontecendo ao mesmo
tempo que não poderia me dar ao luxo de ficar pensando na mulher com
quem meu ex-marido me traiu.
Não foi ao acaso, mas sim algo muito bem planejado por Felipe, que
arquitetou um plano sórdido de vingança e, no meio do caminho, se viu
preso a mim. Hoje, eu vejo que não importa quais foram as motivações
iniciais que o levaram a me encontrar naquele elevador tantos meses atrás, o
que me interessa é que, naquele dia, ele trouxe um pouco de alívio ao caos
em que eu vivia e, desde então, se tornou meu porto seguro, o pai do meu
bebê e o meu amor.
— Não vou embora, ainda não foi apresentada à mulher que Felipe
quer pôr no meu lugar.
— Foi você, não foi? O artigo, foi você. — Aponta para ele, e eu
fico sem entender nada, mas prefiro não tecer comentários, por enquanto.
— Você não irá me perguntar o que eu fiz para Sofia ficar com tanta
raiva? — pergunta, me olhando rapidamente e se voltando para o trânsito.
Ele volta a sorrir e a olhar para frente. Levamos cerca de meia hora
até chegar à casa do meu padrinho, Bruna e Guilherme estavam nos
esperando na entrada. Quando revelei que estou grávida, meu padrinho me
abraçou tão forte quanto no dia em que me divorciei e sussurrou ao meu
ouvido:
— Estou tão feliz por você, minha criança! — Ele segurou meu
rosto e beijou minha testa. — Em breve, teremos um lindo bebê.
Assinto, fungando.
— Ainda é muito cedo, mas, para mim, não importa qual seja o
sexo, apenas quero que o bebê e Manuela fiquem bem — Felipe informa,
orgulhoso.
Bruna nos convida para jantar e ficamos por mais tempo que o
esperado. À noite, adormeço após fazermos amor e desperto de madrugada,
procurando por ele na cama, mas não o encontro. Visto um robe e vagueio
pelo apartamento em busca dele, encontrando-o na varanda, sentado e
tomando um vinho.
— Senti sua falta na cama — solto, me aproximando dele e me
sentando no seu colo. — Não sei mais dormir sem você.
Ele segura meu rosto e me beija com tanto carinho que me faz
suspirar.
— Case-se comigo?
Mas ele tem razão, no final da noite, quem segura minha mão e me
abraça quando o mundo está desabando é ele.
Felipe
Deslizo o olhar por cada pessoa na sala de reuniões, os acionistas
estão desconfortáveis, o escândalo de Heitor caiu como uma bomba na
empresa. Nem eu imaginei que uma simples nota seria como uma
avalanche, derrubando o castelo de areia que meu cunhado criou.
Busco o olhar do meu pai, mas ele desvia dos meus; fixo nele,
desafiando-o a tocar no assunto da substituição do CEO, contudo, ele recua
e muda o foco da assembleia para o escândalo de Heitor. Ao contrário da
uma fofoca boba sobre a minha vida pessoal, as acusações que foram feitas
contra meu cunhado são sérias e podem, sim, manchar o nome da empresa,
já que ele faz parte da diretoria.
Entro em minha sala com um sorriso no rosto, mas ele cede ao ver
meu pai sentado de pernas cruzadas, me esperando. Aproximo-me, sento-
me à sua frente e o fito.
— Concordo.
— Você investigou?
— Contudo, até que você aceite meu casamento e meu filho, nosso
único contato será dentro da empresa — concluo.
Meu pai sai da minha sala sem falar mais nada, eu fecho meus olhos
e solto um longo suspiro. Eu o amo, mas não cederei, não é apenas por um
capricho, é por minha mulher e meu filho.
Ouço seus soluços e sinto uma dor física por a estar fazendo sofrer,
não queria isso, mas não é algo que posso evitar. Não existe outra mulher
para mim, e ela terá que aceitar minha Manuela e meu filho.
— Leve o tempo que precisar, minha casa está sempre aberta para
meus pais. Meu casamento será em três meses, se não se sentir confortável
em ir, tudo bem, isso não diminui meu amor pela senhora, mas, por favor,
mãe, deixe meu filho ter a mesma sorte que eu tive ao ser amado de forma
tão completa e absoluta pela senhora. Quero vê-la segurando seu neto em
seus braços e o enchendo de amor, não só ele, mas todos os meus filhos.
Ao sair da empresa, parei em uma loja de artigos para bebês, agi por
impulso, estava triste pela situação com meus pais, queria mimar meu filho,
mesmo que ele não tivesse nascido ainda. Talvez esse mimo não seja para
ele, mas sim para mim, quero provar que, mesmo que meus pais não
queiram fazer parte da vida do meu filho, não lhe faltará nada,
absolutamente nada! Eu e Manuela o encheremos de amor, carinho e
atenção.
— Sim, minha mãe me ligou, não sei se ela irá comparecer. — Não
escondo a tristeza. — A conversa com meu pai foi mais um jogo de
autoridade e orgulho, mas, com minha mãe, foi emocional e triste.
— Ah, meu amor, nosso bebê será muito amado por nós, ele sentirá
este amor o envolver e o aquecer. — Ela me beija. — Vamos, me mostre o
que você comprou! — incentiva.
— Ah, Felipe, é tudo tão lindo! Agora foi você que me deixou
emocionada. — Manu se senta no meu colo e me abraça. Mas, de repente,
ela se afasta e leva uma mão à barriga.
Manuela
Levanto o olhar quando saio do carro e fito o imponente prédio à
minha frente. Felipe para ao meu lado e segura a minha mão.
Ele sempre sorri quando o sente, fiz seis meses recentemente, agora
nosso bebê se mexe com mais frequência, às vezes amanheço com meu
noivo conversando com minha barriga, beijando e acariciando.
É tão bom saber que ele está curtindo cada processo desta gestação,
cada descoberta! Ele guarda todas as imagens do ultrassom e fica tão
emocionado quanto eu a cada vez que conseguimos ver nosso bebê.
— Sim, está tudo bem. Espero por este dia há muito tempo!
Finalmente, Jonas e todos os envolvidos vão ser julgados por terem me
posto naquele hospital psiquiátrico e tentado me desqualificar mental e
juridicamente.
— Você não cansa de querer prejudicar o meu filho? Quer nos tirar
tudo? Você é uma mulher muito rancorosa, sua traidora! — fala, enfurecida.
Também pedi a Juliana para não comentar nada, e ela acatou meu
pedido, ainda não queria que eles soubessem, mas agora não tenho mais
como esconder, minha barriga está grande e linda. Noto o olhar de Raquel
descer por mim de forma debochada antes de arregalar os olhos.
— Nada do que sair da sua boca me interessa, não temos mais nada
a falar, nem a ouvir, agora é somente com nossos advogados.
Me afasto, dou a mão a Felipe e vamos embora sem olhar para atrás.
Estou com sete meses de gestação, meu bebê segue bem e, com os
meses, acabei relaxando e curtindo o momento. Hoje, eu e Felipe vamos
escolher a decoração para o quarto do nosso filho. Preferi esperar até
completar sete meses para fazer isso, e ele aceitou, eu amo como ele
respeita os meus medos, inseguranças e cautelas, não me força a tomar
nenhuma decisão, apenas espera ao meu lado e me apoia no processo de
cura.
Porque é isso que estou passando, enquanto gero meu bebê, estou
curando cada dor que ainda carregava pelas minhas perdas. Não vou dizer
que esqueci, porque é como uma ferida profunda que deixa uma cicatriz na
pele, mas ela não está doendo mais, apesar de ainda estar ali para me
lembrar do que houve.
Busco o olhar de Felipe e reparo que está olhando para uma loja de
carrinhos de bebês, provavelmente não a viu, então prefiro não comentar.
— Vamos entrar? Você quer comprar o carrinho do nosso bebê hoje?
— Sua empolgação me faz sorrir.
— Tudo bem, meu amor, nos vemos à noite! — Ele acaricia minha
barriga e, em seguida, eu saio do carro.
Manuela
Deixo as bolsas no chão e caminho em direção à mãe do meu noivo.
Quero muito me dar bem com ela, não só por mim, mas por Felipe e
pelo meu bebê.
— Sim, tenho.
Ela assente e vira as costas, saindo do ateliê. Chego a pensar que ela
vai para a sala, mas segue para a saída.
— Sim, minha mãe sempre faz isso quando quer me passar alguma
mensagem e, quando vi o arranjo ontem, eu soube que ficará tudo bem.
Portanto, não se preocupe, com o tempo, tudo irá se ajustar.
— Uma flor de lótus me ligou a você, acho que nunca jogarei aquele
lenço fora. Naquele dia, você me fez sorrir pela primeira vez.
Felipe
Ando de um lado para o outro naquele corredor de hospital,
Manuela entrou em trabalho de parto há três horas. Estava tudo correndo
dentro do previsto, até que sua pressão começou a subir, ela entrou em pré-
eclâmpsia e foi encaminhada para o centro cirúrgico para fazer uma
cesariana de emergência.
Não me deixaram entrar com ela, então eu fiquei ali, olhando para a
porta, torcendo minhas mãos.
Liguei para ela há uma hora, mas não imaginei que viria tão rápido,
nossa relação progrediu, saímos para almoçar e conversamos. Em algumas
ocasiões, Manuela foi comigo, não posso dizer que é o ideal, mas é um
começo.
— Vai ficar tudo bem, filho. — A voz do meu pai me faz elevar a
cabeça e fitá-lo.
Manuela
E, quando ele se vira, percebo que está com nosso filho em seus
braços. Levo minhas mãos ao rosto e começo a soluçar.
— Perfeito. Meus pais queriam entrar para te visitar, tudo bem para
você?
Sua mãe leva uma mão trêmula aos lábios e seu pai ofega e vira a
cabeça para a esposa, que também o fita. Não sei o que passa na cabeça de
ambos, eles se olham emocionados, lágrimas descem pelo rosto da mãe de
Felipe e o pai respira fundo algumas vezes.
Seu pai desvia deles, caminha em minha direção e me surpreende ao
pegar a minha mão.
Fito Felipe e vejo o quanto está emocionado, com seus olhos cheios
de lágrimas. Sua mãe acaricia suas costas.
Manuela
Circulo entre os convidados com Felipe caminhando ao meu lado.
Hoje é a inauguração da galeria das irmãs dele. Era para ter acontecido
antes, mas, devido ao escândalo que envolveu o ex-marido de Isabela, elas
preferiram esperar até o falatório abaixar.
Guilherme e Bruna saíram de férias após meu bebê nascer, acho que
eles queriam ir assim que meu padrinho se recuperou completamente, mas
ele queria ficar ao meu lado nas audiências e no momento mais importante
da minha vida, o nascimento do meu filho.
— Vocês estão falando isso desde que comentamos que vamos para
a Índia em uma segunda lua de mel — brinco.
Eles seguem tentando nos fazer mudar de ideia, é tão bom vê-los
assim! Graças a Deus aqueles momentos tristes e tensos ficaram no
passado.
— Não grita, se não irá acordar nosso filho e a babá, vamos fazer
amor bem baixinho.
— Eu amo você!
FIM!!!
Agradecimento
Primeiramente, gostaria de agradecer a Deus, pois sem ele nada
seria possível. E a minha amada e luz da minha vida, minha filha, Gabi.
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