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Criado no Brasil
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Dedicatória
Sinopse
Prólogo - Alice
01 - Lucas
02 - Lucas
03 - Lucas
04 - Lucas
05 - Lucas
06 - Alice
07 - Lucas
08 - Alice
09 - Lucas
10 - Alice
11 - Lucas
12 - Luís
13 - Alice
14 - Lucas
15 - Lucas
16 - Alice
17 - Léo
18 - Lucas
19 - Alice
20 - Alice
21 - Lucas
22 - Alice
23 - Lucas
24 - Alice
25 - Alice
26 - Alice
27 - Alice
28 - Alice
29 - Lucas
30 - Alice
31 - Lucas
32 - Alexandre
33 - Alice
34 - Alice
35 - Lucas
36 - Alice
37 - Lucas
Epílogo - Lucas
Dedicatória
Dedico Um Simples Olhar a minha amada mãe e ao meu querido e
amado marido, que sempre me apoiou, foi paciente, muito paciente. Muito
obrigada, meu amor.
Sinopse
Alice Carvalho é uma mulher forte, apesar de nunca ter recebido o
apoio de sua família, pela qual sempre foi desprezada, nunca conheceu o seu
pai e a única coisa que a liga a ele é o dinheiro que entra em sua conta todo
mês desde que completou dez anos. Nunca realmente se apaixonou, mas
como para tudo tem a primeira vez, o destino resolve colocar alguém em sua
vida no momento menos esperado.
Lucas Vilar é um homem sério, um profissional brilhante e tem o
coração cheio de amor. Luta contra tudo e contra todos para defender a quem
ama. Sempre sonhou em ter sua própria família, mas nunca teve muita sorte
no quesito relacionamento. Quem sabe o destino não dê uma forcinha agora.
Vocês acreditam em amor à primeira vista? Alice e Lucas não
acreditavam, mas bastou “Um Simples Olhar” para eles mudarem de opinião.
Hoje faz quatro dias que encontrei aquela moça na calçada em frente à
floricultura, que por sinal iria comprar flores para a minha irmã, pois era
aniversário dela. Não consigo tirar da mente aquele olhar. Como um simples
olhar pode mexer tanto comigo? Sabendo que ela estava ferida e ainda por
cima grávida? Senhor, quem ousou fazer isso com uma mulher e em seu
estado ainda. Teria sido o marido? Mas não vi aliança em seu dedo.
Namorado?
Tomara que não.
De repente sinto um ciúme que não tenho o direito de sentir por ela,
afinal nem a conheço. Mas Josi, sua amiga que também estava na loja e
acabou desmaiando com o impacto da parede em que foi jogada, não chamou
ninguém do sexo masculino desde que recebeu alta. Graças a Deus está tudo
bem com ela.
Josi me disse que o nome da minha menina é Alice.
Opa pera lá, eu disse minha menina? Eu realmente disse. Estou
fodido. Não consigo explicar o que estou sentido. Só sei que estou.
Todos os dias vou ao seu quarto e fico com ela o máximo que o meu
horário permite entre uma consulta e outra. Seguro a sua mão, observo o seu
lindo rosto, converso com ela e conto sobre a sua linda princesa. Depois saio
e vou ao meu lugar especial antes de voltar ao trabalho.
Estou furioso e preocupado, se eu pegar quem fez isso com ela, mato.
Ela ainda não acordou, mas o médico que a atendeu é um dos melhores aqui
do hospital e ainda é meu amigo. Disse-me que está tudo bem com ela. Alice
teve uma leve concussão e é até melhor que fique desacordada mais um
pouco. Tiveram que tirar o bebê às pressas, mas graças a Deus deu tudo certo.
É uma menina! A coisa mais linda que eu já vi na minha vida, nem (Adriana),
minha irmã, quando pequena, era tão linda quanto ela.
Que ela não me ouça. Minha maninha é muito ciumenta. E mesmo
assim, adivinha onde estou hoje? No berçário babando a minha menininha.
Opa! Aconteceu de novo.
O que deu em você, cara?
— Doutor Lucas a sua namorada acordou, ela está um pouco nervosa
e quer ver a filha. É melhor o senhor ir lá e tentar acalmá-la — diz uma
enfermeira, tirando-me dos meus devaneios.
Minha namorada? Na verdade, gostei do som disso. Mesmo sabendo
que não poderia acontecer.
— Obrigado, Carmem. É o que vou fazer agora.
Não querendo desmentir o fato sobre Alice não ser “a namorada”,
saio me sentindo feliz como há muito tempo não sentia.
Chego ao quarto e é como se alguma coisa se acendesse dentro de
mim.
Como ela é linda! Sua pele clara tem algumas marcas da agressão,
mas estão sumindo e nem isso tira a sua beleza, muito menos o vestido do
hospital. O seu cabelo de um loiro mel incrível — acho eu, não entendo
muito dessas coisas de cores. — Mas é linda a cor deles e estão com uma
trança de lado, sobre o ombro direito.
Como se sentisse alguém a observando, se vira e me fita com os olhos
mais lindos que já vi na minha vida e um sorriso que faz alguém, que não
devia acordar lá embaixo.
Acalme-se, companheiro! Quer me fazer passar vergonha na primeira
conversa que terei com a moça? Foco, cara. Onde eu estava mesmo? Ah!
Os olhos.
Olhando daqui parecem azuis, mas quando vou aproximando-me
percebo que são de um verde claro tão intenso que paraliso no lugar. Ela
também tem umas sardas no nariz, que torna o seu rosto ainda mais lindo.
Sinto um misto de emoções dentro de mim, que acho que nunca mais
fosse sentir.
O que na verdade era uma grande mentira, pois nunca senti tal
magnetismo apenas com um simples olhar inocente. Mas vamos deixar esse
pensamento para mais tarde. Só sabemos uma coisa com certeza, não é
companheiro?
Estamos fodidos!
Alice
Saio do quarto seguindo Caetano. Já sei o que ele vai falar, mas
resolvo lhe dar o benefício da dúvida.
— Vamos, me diga, o que está acontecendo com você e essa moça?
— Nada está acontecendo. Ainda — sou sincero.
— Ah é? Pois parece que está acontecendo tudo. Você age como se
fosse o marido dela e o pai da menina. Eu vi quando a pegou no colo, parecia
um daqueles pais babões do ano. — O seu rosto mostra preocupação. — Eu
não quero que você passe pelo que passou com Karin e...
— Ela não é como a Karin. Você não a conhece, então não a compare
com aquela mulher! — digo com raiva por ele me lembrar dela.
— Ah e você a conhece, o quê? Uns quatro dias. E hoje foi a primeira
vez que se falaram e já a conhece? — Suspira.
Sei que ele está certo, mas sinto que ela é diferente.
— Caetano, eu não sou mais criança e eu sei o que estou fazendo.
Fique tranquilo, tudo vai ficar bem.
— Ok. Você quem sabe.
Caetano sai, deixando-me sozinho no corredor.
Hoje não trabalhei. Resolvi ouvir os meus irmãos e tirar umas férias
do hospital. Desde o fim do meu noivado com Karin que eu não tiro e tem
mais de três anos.
Volto para o quarto de Alice e vejo que ela está amamentando a sua
filha. Fico observando e me sinto um pervertido. Como essa mulher é linda.
Desejei ser eu a estar sugando o seu mamilo em minha boca e sentir o
seu gosto. Só de imaginar minha boca lá eu já fico duro.
Deus do céu o que há comigo? Voltei a ser adolescente, é isso?
— Você vai ficar aí olhando o meu seio o dia todo?
Fui pego. Droga!
— Desculpe — digo, meio sem graça por ter sido repreendido.
— Eu só estava brincando, mas se quiser eu tiro uma foto e te dou. —
Sorri brincalhona e me dá um olhar que me deixa desconcertado.
Não bastava esse seu olhar, tinha que ser engraçada também? Ela
realmente está mexendo comigo.
Alice olha a menina e diz com a voz embargada.
— Eu queria te agradecer por ter nos salvado. Eu ainda não vi a Josi,
mas a enfermeira disse que ela está bem e nem ficou internada. Muito
obrigada!
— Quem fez isso com você?
— Não sei — responde rapidamente.
Percebo que ficou meio nervosa e resolvo deixar passar. Não é o
momento.
— Então acho que precisamos nos apresentar. Eu me chamo Lucas
Vilar, sou médico Cardiologista aqui nesse hospital, mas desde hoje estou de
férias.
— Me chamo Alice Carvalho, mas acho que já sabia, não é?
— Sim, mas prefiro ouvir de você. Lindo nome, para uma linda
mulher.
Ela sorri, morde o lábio inferior meio nervosa e suas bochechas
coram. Olha para a pequena em seus braços e informa emocionada:
— E essa pequena aqui é a Maria Clara.
— Muito prazer, Clarinha. — Olho para ela e resolvo falar o que
estava pensando desde o dia em que a vi. Se ela vai aceitar aí é outra história,
mas vou arriscar assim mesmo. — Eu queria te perguntar uma coisa. Sei que
a gente acabou de se conhecer e eu não tenho o direito de invadir sua vida,
mas é que eu estou preocupado com você e a Clarinha sozinhas. E como você
teve uma cesariana, vai precisar de alguém por perto o tempo todo e...
— Não me diga que é o que eu estou pensando, pois, a resposta será
não.
— Mas você nem esperou eu terminar. E se aquelas pessoas
resolverem voltar, eles poderão descobrir onde você mora, se já não sabem. O
que vai fazer?
— Eu tenho a minha madrinha Lívia e minhas amigas. Que, aliás, já
deviam estar aqui.
— Suas amigas estão no café ali embaixo. Levaram a Josi para comer
alguma coisa, ela não tem se alimentado direito esses dias, estava muito
preocupada com você. E sua madrinha está viajando, mas prometeu que volta
até o fim de semana. — Paro, pensando numa maneira de fazê-la ceder. —
Elas não têm que trabalhar? E eu estou de férias e posso ajudar a Josi com a
floricultura e ficar com você e a Clarinha até a sua madrinha voltar.
Acho que consigo tocar em alguma coisa que a faz pensar, pois ela
não me corta como antes. Estou nervoso. Afinal, o que há de errado comigo?
Estou aqui, praticamente implorando para cuidar de uma mulher que mal
conheço e com um bebê ainda. É claro que eu não faço isso todos os dias,
mas sei que não conseguirei dormir se eu não as tiver em segurança. E se eu
for bem sincero comigo mesmo eu não quero ficar longe delas.
Parece uma eternidade até Alice me olhar com aqueles olhos lindos e
eu ficar sem palavras. De novo.
— Sinto muito, mas eu não posso. Agradeço mais uma vez por nos
salvar, mas é só isso. Se você me der licença, as minhas amigas vão chegar
daqui a pouco e gostaria de um pouco de privacidade — fala, tão diferente
dessa vez que fico olhando para ver se é a mesma pessoa que falou comigo
ainda há pouco.
Respiro fundo para não soar irritado. Ela está certa. Quem em sã
consciência vai morar com um estranho? Não sei onde estava com a cabeça.
Acho que essas férias vieram a calhar, não conseguiria me concentrar no
trabalho de jeito nenhum.
— Se é isso o que você quer, então terá. Não incomodarei mais.
Adeus Alice! — Aproximo-me um pouco e dou um beijo na cabeça de
Clarinha. — Tchau, meu anjinho.
Saio do quarto com um sentimento de perda que nunca havia sentido,
mas vou superar, afinal ela é apenas uma mulher que eu salvei, como ela
mesma disse.
Pego o meu telefone e ligo para Luís, o meu irmão mais velho e
melhor amigo, ele atende no primeiro toque.
— Fala, mano, o que te deu para me ligar a uma hora dessas? Não
está trabalhando?
— Estou de férias e queria te perguntar se podemos nos encontrar
naquele bar perto da academia? Preciso conversar com você.
— Claro. Às 20h00, então?
— Combinado!
Desligo o celular e me dirijo ao elevador. Tenho que sair daqui. E
amanhã eu resolvo se continuo de férias ou adio mais uma vez.
Alice
Até agora não consegui entender por que eu falei daquela maneira
com Lucas? O que eu fiz? Ele só queria que estivéssemos seguras. Estava
pensando em nosso bem-estar. Por outro lado, acho que foi melhor assim,
nem nos conhecemos, não sabemos nada um sobre o outro. Então por que a
senhorita não para de pensar nisso desde que o homem saiu daqui há meia
hora? Boa pergunta. Por que mesmo?
— Cadê a mamãe mais linda do mundo?
Levanto os olhos e me deparo com as minhas mais que amigas, Josi,
Nique, Andrea e Adriana, na porta, observando-me com um sorriso de orelha
a orelha e com minhas flores favoritas e presentes nas mãos.
— Oi, meninas! Vocês demoraram, achei que nem fossem vir.
— Até parece que a gente ia deixar de vir e olhar para os gatos que
trabalham aqui. Gente, aqui mais parece uma agência de modelos do que um
hospital. Não vi nenhum médico velho e nem barrigudo desde que chegamos.
Nossa, limpei minhas vistas pelo resto do ano — brinca Josi.
Tive que rir com as meninas, pois os dois médicos que eu vi são
lindos demais. Um em particular, mais que o outro.
— Tenho que concordar com você, Josi. E olha que só vi dois.
— Como você está se sentindo? — perguntam as quatro ao mesmo
tempo, o que me fez rir.
— Estou bem. Sentindo um pequeno incomodo na barriga, mas nada
que eu não consiga suportar.
Olho para cada uma delas com uma sensação de alívio por estar viva e
aqui com elas, que desde muito tempo são o meu porto seguro. Conheci Josi
quando fui visitar a minha avó quando era criança em Laranjeiras. Ela
morava na casa vizinha e desde então não nos desgrudamos mais. Foi tipo
uma amizade à primeira vista.
Andrea é prima de Josi, no começo nos estranhamos um pouco. Mas
um dia, quando um menino no parquinho disse que eu parecia um macaco,
Deia bateu nele e disse que sumisse da nossa frente, pois ele é que era um
macaco fedido. Desde esse dia ficamos inseparáveis.
Nique é filha da minha madrinha Lívia, ela é doce, meiga e as vezes
até parece inocente.
Dri se juntou a nós um pouquinho mais tarde. Conhecemo-nos no
curso de fotografia e a apresentei as meninas, hoje somos um grupo
inseparável. Elas são mais minha família que a minha própria. A minha mãe
nunca gostou de mim, prefere a minha irmã gêmea Angélica, pois ela sempre
foi a mais magra, a mais bonita, a mais obediente. E como dizem minhas
amigas: a mais chata. Tenho que concordar com elas.
Nunca conheci o meu pai, minha mãe disse que ele não quis saber da
gente. Mas sei que é ele que me manda dinheiro todos os meses. Isso vem
acontecendo desde que completei dez anos e não é pouco dinheiro. Claro,
por que dinheiro compra amor, né? Só que não. Queria tanto conhecê-lo.
Agora a minha filha não vai ter ninguém para chamar de avó e avô. Dona
Daniela prefere morrer a ver a mim ou a minha filha. A última vez que a vi,
disse que se eu não tirasse “essa coisa”, como ela chamou minha bebê,
poderia esquecer que tinha uma mãe.
— Que bom que está bem, Lili. Eu estava quase pirando porque você
não acordava. Mas o Lucas me disse que estava tudo bem, que só precisava
descansar, pois você teve uma concussão quando sua cabeça bateu no chão
— diz Josi, tirando-me dos meus devaneios.
— Por falar em Lucas, ele só saia do seu lado quando tinha que voltar
para os seus pacientes. Ficava aqui segurando sua mão e conversando como
se você pudesse ouvir. Estava realmente preocupado com você.
— Sério? — indago.
Isso só me faz sentir pior do que eu já me sentia, pelo modo como o
tratei. Mas se ele soubesse a verdade não ia querer ter nada a ver comigo e
nem com a minha filha.
— Sim, às vezes quando eu ia ao berçário via ele babando na nossa
pequenina também. Acho que ele gostou de vocês — ela fala de uma
maneira, como se Lucas estivesse mesmo interessado. Até parece.
— Bom, será que eu posso segurar a minha afilhada um segundo? —
Já vi que vai ter briga. Josi fala isso desde que soube que eu estava grávida.
— Sua nada, minha. — diz Nique e Dri ao mesmo tempo.
Não disse? E lá vamos nós.
— Chatas. Todo mundo sabe que eu é que sou a madrinha. Como
você vai chamá-la? — Andrea a pega no colo e fica olhando para ela, como
se fosse uma coisa de outro mundo. — Como pode ser tão linda? Eu quero
uma.
— Tenho certeza que Roberto vai amar saber disso, Deia — falo, não
perdendo o brilho em seus olhos enquanto olhava para a minha filha.
Roberto é noivo de Andrea há um ano e sempre quis ser pai, ela é que
vive fugindo do assunto.
— Chega de monopolizar a minha afilhada. Dê-me ela aqui.
— Cai fora, Nique, ela não gosta de virgens.
Tenho que rir.
— Claro que gosta, pois ela também é. — Toma essa, Deia. —
Bobona!
— Vocês são muito infantis — Dri resolve entrar na conversa
enquanto as duas louquinhas disputam a minha filha. — Então, Lili, como vai
se chamar a nossa mascote?
— Maria Clara. Queria dar o nome da minha avó para ela e sempre
gostei do nome “Clara”. Então juntei os dois. O que acham?
— Lindo nome, Lili. Mas vou chamá-la de Clarinha, tudo bem? —
Me lembro de outra pessoa que também a chama assim e rio com o
pensamento. — O que foi, do que está rindo?
— É que quando falei o nome da Maria Clara para o doutor Lucas ele
a chamou de Clarinha como você — explico.
De repente sinto um aperto no peito, como se nunca mais fosse vê-lo
outra vez.
— O doutor Lucas? Você conheceu o meu irmão?
— O quê? Estou falando do homem que nos salvou e nos trouxe para
o hospital. Por falar nisso, a senhorita nunca nos apresentou os seus irmãos,
sua ciumenta!
— Ok. Vamos ver se entendi direito. O homem que a Josi estava
falando lá embaixo, que é lindo, gostoso, um anjo e tudo mais é o doutor
Lucas que trabalha aqui?
— Sim — respondo, sem entender nada.
— Então acho que ele está perdoado por esquecer do meu jantar de
aniversário.
— Do que você está falando, Dri? — pergunto.
As meninas também parecem estar esperando uma explicação.
— O Lucas que as encontrou aquele dia é o mesmo Lucas, meu irmão
e Cardiologista desse hospital. Que mundo pequeno, não?
Estou sem palavras diante dessa nova descoberta.
— Como assim? Ele se apresentou como Lucas Vilar e você não tem
Vilar no nome.
— Pois é, eu não sou filha do marido da minha mãe e sim de um caso
que ela teve com sei lá quem. Incrível, eu sei. — Nossa! Que revelação. —
Bom, então acho que agora podem dizer que conheceram um dos meus
irmãos gatos, hein.
— E que irmão. Jesus! Eu com um doutor desses na minha vida
ficaria doente todos os dias. — Josi se abana de forma teatral e olha
novamente para Adriana. — Você disse cardiologista? Aí meu coração!
Preciso dele agora mesmo.
Como sempre, Josi entra com uma das suas pérolas para tentar
diminuir a tensão no quarto. O que funcionou, pois todas riram, até mesmo
Dri. Mas eu sei que ela sente muito por isso, conversarei com ela depois com
mais calma.
— Tome jeito, menina. O meu irmão não é desses por aí, é um
homem sério. — Fita Josi e parece um tanto triste quando continua: — Acho
que por isso que não tem muita sorte com os seus relacionamentos. Às vezes
é sério até demais, mas é o jeito dele, o que o torna ainda mais especial.
— Sério como? — a pergunta sai antes que eu pudesse pará-la.
— Ele não ri muito. Quase não sai, não gosta de balada, prefere ficar
em casa e ler um bom livro ou estudar. É do trabalho para casa, de casa para
o trabalho. Nada de ficar com uma e com outra, prefere namorar, esse tipo de
sério. Nosso irmão Léo, diz que ele é o sinônimo de chato. Eu não concordo,
Lucas é único. Enquanto tem uns tantos de homens por aí que não querem
nada, só se divertir com a gente, Lucas sempre quis construir sua própria
família. Mas como eu disse antes, ele tem o dedinho meio podre. Acho que
temos isso em comum. — Ri sem humor.
— Eu não diria chato. Para mim seria o cara perfeito — digo.
As meninas concordam comigo e começam a falar sobre outras
coisas. Pelo visto tudo está indo bem na Floricultura, no escritório de Andrea,
na loja da Nique e Dri está mais que satisfeita com seu trabalho. Ela é
fotografa e trabalha como Freelancer. Mas por mais que elas falassem não
conseguia prestar muita atenção. Lucas não saía dos meus pensamentos.
Agora pensando bem, não tinha percebido como ele era sério e que
isso só aumentou o meu interesse por ele. Mas até parece que ele olharia para
mim desse jeito, só queria ser gentil.
Pare já com esses pensamentos, Alice! Me repreendo mentalmente.
Fico tão absorta em meus pensamentos que não vejo a enfermeira
entrar.
— Meninas, se despeçam, acho melhor vocês voltarem outra hora. Ela
precisa descansar e esse anjinho também. Vou levá-la de volta para o berçário
e amanhã as duas terão alta — a enfermeira informa e pega Clarinha dos
braços de Dri e traz até mim. — Diga tchau para a mamãe.
Pego Clarinha nos braços, dou um beijo em seu lindo rostinho e digo
que a amo e que logo nós estaremos juntas de novo.
— Eu só vou passar na loja e ver como a Fernanda está se saindo e
volto mais tarde. Comporte-se, mocinha — Josi fala, como se eu fosse uma
criança.
Só ela mesma para me fazer rir.
— Pode deixar não vou atacar ninguém.
Despeço-me das meninas e fico pensando nos braços de Lucas ao meu
redor quando ele veio me confortar, o seu cheiro e a sua voz.
A última coisa que lembro antes de adormecer são os seus lindos
olhos e a tristeza que vi refletido neles quando recusei sua quase proposta.
03 - Lucas
Estava tudo indo bem até um papai Noel seminu entrar na cozinha
querendo comer antes da Ceia. Quando olhei para a criatura, quase tive um
ataque do tanto que ri e babei ao mesmo tempo.
— Nossa, isso está uma delícia! Hum, cunhadinha, me diga quem foi
que fez isso que eu me caso com ela agora mesmo — diz Léo, saboreando
umas das sobremesas que Nique preparou.
Nesse momento, como que por obra do destino, ela entra na cozinha.
Sorrio e dou uma de cupido.
— Então, nesse caso, te apresento sua noiva, Monique.
Léo se vira, olha para mim, depois para onde estou apontando e fica
de boca aberta, deixando um pedaço do cupcake que estava comendo cair no
chão, mas continua olhando Monique de cima a baixo, despindo-a com o
olhar. Também não é para menos, Nique parece uma modelo, alta, magra,
mas não aquelas muito magras. Ela tem carne, como dizia a minha vozinha,
loira com cabelos longos, olhos azuis e uma boca de causar inveja na
Angelina Jolie. Brincadeira.
E para completar ela está corando, enquanto olha o senhor seminu.
— Fecha a boca, cunhadinho — sussurro próximo ao seu ouvido. —
Essa é minha amiga Monique. — Olho a minha amiga. — Esse é o irmão
mais novo do Lucas, Léo.
Ela sorri e baixa o olhar antes de passar a mão no cabelo.
— Oi, prazer em te conhecer.
— O prazer é todo meu, baby, acredite.
Reviro os olhos para ele e o enxoto da cozinha.
— Fora daqui, Léo, está na hora de irmos para a mesa, já vai dar
meia-noite.
— Vamos, Monique? — Léo estende a mão, convidando-a a ir com
ele, ela me olha como se pedindo alguma luz, dou de ombros e sorrio.
Monique coloca a mão na dele e vejo quando os dois, meio que
recuam. Hum... os meus sentidos estavam certos, há uma química ali. Missão
cumprida!
Feliz Natal, amiga.
Voltamos para a mesa e nos sentamos bem na hora. Edgar faz uma
oração agradecendo, desejamos Feliz Natal a todos e como combinamos nada
de presentes, jantamos em silêncio. Por incrível que pareça, até Léo está
calado e não tirava os olhos de uma certa loira.
Olho na outra direção da mesa e vejo o outro irmão de Lucas olhar
para Josi, como se quisesse comê-la. Mas eu o entendo, minha amiga é linda,
tem curvas e não tem frescura com relação a isso. Os seus olhos são
castanhos e vibrantes e um rosto lindo, bem expressivo. Luís, esse é o seu
nome, tem uma cara bem séria, fechada, realmente cara de mau, mas é muito
bonito assim mesmo, do jeito que a Josi gosta.
Percebo também que Adriana está bem quieta e de vez em quando
olha para o homem que está de frente para ela na mesa. Ele é lindo, com
certeza irá para a lista dos homens mais lindos que já vi na minha vida. Noah.
Dá para notar que tem uma história entre eles. Como se sentisse meu olhar,
Dri me encara e eu aproveito e faço uma pergunta silenciosa, mas ela só
balança a cabeça. Mesmo curiosa decido que esse não é o momento para
questionamentos e aproveito o meu jantar. Ela vai me contar quando estiver
pronta.
Só faltou a Andrea no primeiro Natal com a família Vilar, para ser
perfeito, mas ela teve que ir para a casa dos pais. Por falar em pais, eu liguei
para a minha mãe duas vezes e ela não atendeu, a minha irmã tampouco. Mas
tudo bem, eu já devia estar acostumada.
Sinto uma mão acariciar a minha perna por baixo da mesa e olho para
Lucas, ele me encara com os olhos brilhantes, tão lindo. Lucas me trata como
se eu fosse um tesouro valioso o tempo todo, tirando o comentário sobre o
vestido mais cedo, ele é um amor sempre. Estou feliz por ter aceitado ele na
minha vida, em poucos dias ele me fez mais completa do que posso me
lembrar.
E por isso pedi para Josi me fazer um favor, pois não sai para comprar
presentes, então mandei uma foto de nós três juntos para que ela pudesse
colocar dentro do medalhão que pedi que comprasse para ele como presente.
Vou entregar mais tarde, quando estivermos a sós em nosso quarto.
O jantar corre bem e depois de comermos as sobremesas, vamos todos
para a sala. Clarinha está dormindo no colo de Lucas e eu e as meninas
estamos do outro lado da sala, conversando coisas do dia a dia, quando vejo
que Natalie, a neta de Ana, não para de olhar para o meu namorado. E mais
essa agora? Decido não dizer nada, pois vejo que ele não corresponde o olhar
e está concentrado na conversa com os outros homens.
Relaxa, Alice! Ciúme não é legal.
— Então, Dri, por que nunca tinha apresentado os seus irmãos pra
gente? — pergunta Josi com uma voz divertida, tirando-me dos meus
pensamentos.
— Nunca surgiu a oportunidade.
— Acredito. Você é bem ciumenta, isso sim. Achou que iríamos
cravar as unhas neles, não é mesmo? — Essa Josi.
Todas riem, até mesmo a Natalie.
— Juro que não foi por isso. Já fui muito ciumenta, mas passou, coisa
de adolescente insegura.
— Nossa, mas os seus irmãos são lindos demais. Cara, esse Luís é tão
gostoso que está me deixando zonza, aquela cara de mal dele. Se quisesse
poderíamos ir agora mesmo conhecer os recantos dos quartos da casa...
— Ah, não começa a falar essas coisas que não quero ouvir. Ele é
meu irmão!
Rimos e conversamos um pouco mais até eu ver que Luís se afasta do
grupo e está parado perto da janela olhando para fora. Josi também percebe.
— Vou lá e ver se está tudo bem. — Dá um beijo no próprio ombro,
sorri e se afasta.
As meninas continuam conversando e nem se ligam aonde a
louquinha vai. Léo se aproxima e começa a puxar assunto com Monique, que
fica toda envergonhada olhando o seu abdômen sarado, totalmente exposto.
Realmente ele é um papai Noel bem sexy. Mas eu prefiro o meu doutor.
Não vejo a hora de todos saírem para que eu possa tê-lo só para mim.
Olho para onde a doida da Josi tinha ido perturbar o meu cunhado e
quase tenho um troço. Ela passa a mão no braço dele e se inclina para
sussurrar em seu ouvido, ele sorri meio de lado e olha para ela. Assim que
Luís vira totalmente o seu rosto, ela o beija. Caralho! Ela realmente o beijou.
Essa Josi não tem jeito. Mas como ela mesma diz: a vida é bela e
estamos aqui para isso.
Sorrindo, decido ir ao encontro de Lucas que me olha intensamente
enquanto me aproximo.
Depois de tudo arrumado e de todos os convidados terem se retirado,
Lucas e eu vamos para a cama. Clarinha já está dormindo há muito tempo.
— Aqui está o seu presente, minha linda.
Sento na cama e vejo uma caixinha pequena em cima das pernas dele.
Meu deus, é o que eu estou pensando?
Será? Mas é tão cedo para isso. Sinto o ar sumir dos meus pulmões e
arregalo os olhos. Pego a caixinha com mãos trêmulas e a abro. Nela tem um
lindo anel de prata com dois corações incrustrados, um dourado e o outro
prateado. É tão lindo e delicado.
— Na verdade, não é bem um presente, pois também tenho um. É o
símbolo do nosso compromisso, então agora já pode voltar a respirar. Quando
for o momento certo você vai ter o seu anel de verdade. O que achou? Olha o
meu, já estou usando.
Olhei sua mão e vejo que o dele é bem simples e não tem os corações
como o meu, mas é mais grosso também e tem uma linha fina dourada no
meio. Confesso que foi um alivio que não era outro tipo de anel.
Respiro aliviada.
— Eu amei, é lindo. Obrigada!
Tiro-o da caixa, coloco no dedo e fica perfeito.
— Que bom que gostou. Feliz Natal, amor. Esse foi o primeiro de
muitos que passaremos juntos.
— Agora o seu. — Pego a caixa embaixo do meu travesseiro e
entrego para ele. — Não tive como sair para comprar, mas Josi nos ajudou
com isso. E eu tinha pensado nele antes de combinarmos nada de presentes.
Espero que goste, sou péssima para presentear os outros.
— Não precisava. O meu maior e melhor presente é ter vocês comigo.
Tenho certeza que vou amar.
Fico emocionada com suas palavras. Ele realmente nos quer em sua
vida.
E ainda tinha dúvidas?
Lucas abre a caixa e retira a corrente com o medalhão, abre e sorri de
orelha a orelha.
— Adorei, é lindo. Nós três juntos nessa foto. Não tirarei nunca.
Ele coloca no pescoço, me abraça e beija a minha testa. Não vejo a
hora de ir ao médico, estou verdadeiramente louca para estar mais próxima de
Lucas, se é que me entendem.
Deitamos e coloco a cabeça em seu peito, fico brincando com o cós
da sua cueca boxer preta. Ele estremece e sorri por dentro, Lucas está ficando
excitado. Melhor eu parar, pois hoje não me responsabilizo se eu o ver
gozando. Melhor dormirmos e esperar até eu voltar do médico, aí poderei
atacá-lo, pois só de olhar para ele eu fico mole de desejo.
— Acho melhor dormirmos, amor.
— Também acho. Feliz Natal de novo, minha linda! Esse foi com
certeza o melhor Natal da minha vida — fala e me deixa com lágrimas nos
olhos, pois foi o melhor para mim também.
Aconchego-me mais nele e fecho os olhos, concentrando-me em seus
braços ao meu redor e em sua respiração.
Estava quase dormindo quando ouvi:
— Eu te amo, Alice.
Mas não consegui responder de volta.
08 - Alice
Era só o que me faltava, Léo quer morrer hoje só pode, disse que
seriam só alguns amigos e agora tem uma multidão aqui. E para piorar tudo a
minha mulher e suas amigas decidiram que vão dançar uma música junto
com a banda. A única coisa que Léo deixou Alice decidir foi à banda, que é
de uma amiga dela, composta só por meninas.
— E agora filha o que a gente faz? — Clarinha só sorri para mim e
toca o meu rosto.
Desde o dia das cólicas que não nos desgrudamos dela, Alice ficou
apavorada.
De repente começo a ouvir uns gritos e vou em direção ao palco, e
para o meu desespero, lá está Alice e suas amigas, Monique, Josi, Andrea,
Fernanda, Adriana, Dy e as meninas da banda que conheci mais cedo, Luana
e Silene, todas com shorts jeans, uma regata preta e botas.
Por que elas tinham que inventar isso?
— Boa noite, galera! — Silene cumprimenta o público e estes
começam a gritar e assoviar.
Clarinha se agita e penso que vai chorar, mas não, ela quer é olhar a
bagunça. Eu posso com isso? Vai ser como a mãe, com certeza.
— Vamos começar a festa e nos despedir deste ano com muita
animação. Prontas, meninas? Essas são minhas amigas e vamos agitar as
coisas aqui em cima e vocês agitam aí embaixo. Combinado? — continua
Silene.
— Sim, sim, sim. Gostosas! — gritos e assovios são só o que se ouve.
— Então vamos à festa! — dessa vez é Luana quem fala, a outra
vocalista.
A música começa e elas começam a dançar, reconheço, é Timber-
Kesha e Pitbull. É a primeira vez que eu vejo minha Alice dançando. E como
ela dança bem, subindo e descendo, rebolando até o chão.
“Calma, cara, você está com uma criança no colo, não se anime
demais.”
— Verdade. Uma criança bem animada por sinal, não é pequena?
Quando a música acaba elas saem do palco sorrindo e pulando como
se fossem adolescentes. Adoro ver Alice assim, feliz, animada. Mesmo
morrendo de ciúmes não vou dizer nada, não posso tirar esse sorriso do seu
rosto que a deixa mais linda do que nunca.
— Então, mano, gostando da festa? Nossa, que pernas lindas têm a
cunhada, hein! — Léo me tira dos meus pensamentos para me mandar para
outros que incluem matá-lo se não calar essa boca grande.
— Se falar desse jeito de novo da Alice vai começar o ano com um
olho roxo, Léo.
Ele cai na gargalhada e me abraça.
— Calma mano, ela é linda sim, mas só falei isso para ver a sua
reação. Nunca te vi assim, nem com a Karin, e olha que vocês namoraram por
muito tempo, mas vou te confessar que nunca gostei daquela mulher. Alice
combina mais com você e ainda trouxe ao mundo essa pequena aqui. Vem
com o titio preferido, vem? — Estendeu os braços, mas Clarinha não vai com
ele e se aconchega mais em mim.
— Acho que perdi o meu charme com as mulheres mais novas.
Espero que tenha mais sorte com aquela loira linda, amiga da Alice.
— Léo, não faça isso, Monique é doce e não como as mulheres que
você pega por aí. Além do mais é amiga da minha mulher e não quero
confusão.
— Eu sei, mano, mas ela mexeu comigo e isso não acontece desde...
Você sabe. Ela é tão linda e nem se dá conta disso, é tão alheia a atenção que
os outros homens dão a ela. Desde o Natal que ela não sai da minha cabeça.
— Fico feliz por você, mano, mas vai com calma. — Não quero que
sofra de novo. Foram dias terríveis.
— Bom, vamos mudar de assunto. Hoje é dia de festa, vou convidar
alguém para dançar já que levei um fora dessa mocinha linda. — Beija a
bochecha de Clarinha e sai sorrindo em direção à multidão.
— Oi, meu lindo. — Alice se aproxima e nos abraça. Já estava com
saudade. — Vou só trocar de roupa e volto logo, não querem ir comigo?
— Você estava perfeita no palco. — Retribuo o abraço. — Melhor
não, amor. Vou conversar com o meu primo Alexandre que acabou de
chegar, se eu for junto não vamos sair de lá tão cedo.
— Ok. Não vou demorar. Tchau bebê, mamãe volta logo.
Dirijo-me para onde tinha visto Alexandre com o meu irmão Luís,
preciso saber como andam as investigações dos agressores das meninas.
Enquanto não resolver isso não terei sossego. Tem outra coisa que está
tirando o meu sono, tem dois dias que não consigo dormir direito.
Mais tarde vou conversar com Alice, está na hora de voltarmos para
casa no Rio e eu a quero comigo, mas estou com medo da sua resposta. Estou
totalmente dependente dela.
Mal chegamos e Luís já pega Clarinha dos meus braços, ela
conquistou a família toda mesmo.
— Alexandre, como vai? Que bom que veio.
— Estou bem e obrigado por me convidar. E por enquanto não tenho
muita coisa sobre aquele assunto, ainda sem novidades.
— Tudo bem, paciência. Mas eu quero que os seguranças continuem
na floricultura e vou precisar de mais, pois não vou correr riscos com Alice e
Clarinha.
— E nem eu com Josi — diz meu irmão e eu acho estranho, pois ele
nunca foi protetor com ninguém além da família. Decido que vou falar com
ele mais tarde.
Conversamos mais um pouco sobre outras coisas e combinamos um
jogo de futebol para a próxima semana. Faz tempo que não jogamos.
De repente alguém me chama atenção do outro lado e meu sangue
ferve, pois vejo Alice abraçada e quase beijando um homem que não sou eu.
Ela está usando uma minissaia branca e uma blusa amarela, mostrando a
barriga, ela mudou de ideia sobre a roupa. Quando dou por mim já estou
avançando em sua direção.
— Que diabos você pensa que está fazendo?
Pego o homem e lhe dou um soco, ele grita e cai no chão segurando o
nariz que está jorrando sangue.
— Você quebrou o meu nariz! — sai meio abafado, mas dá para
entender.
— Vou te quebrar inteiro, seu imbecil. Fica longe da minha mulher!
De repente os meus irmãos e o meu primo estão ao meu lado,
Alexandre tenta me segurar, mas estou com tanta raiva que o jogo no chão e
vou para cima do homem de novo.
— Você está louco? Por que bateu no meu namorado?
— Por que fez isso, Alice? Nunca pensei que seria capaz de fazer isso
comigo.
— Calma, Lucas essa não é a Alice, parece, mas não é. — Olhei o
meu irmão Léo.
— Ah então é você o namorado da minha querida irmãzinha? —
A mulher começa a rir, um riso estridente e sem graça, nada a ver
com o da minha Alice. Olho direito para ela e vejo que ela é a cara de Alice,
mas o seu cabelo é mais escuro e ela não tem as sardas no rosto, o seu nariz é
meio estranho e o seu corpo é bem mais magro.
— Bem, você é bem melhor do que imaginei quando soube que ela
tinha um namorado — diz.
Ela se aproxima de mim e começa a passar as mãos nos meus braços.
Afasto-me do seu toque e com uma voz rude pergunto:
— Irmã? E como você veio parar na minha casa? — Não me lembro
de Alice ter mencionado nenhuma irmã e muito menos uma irmã gêmea. Só
disse que não se dava bem com sua família.
— Sim, irmã, vai me dizer que não sabia disso? — Ri e mais uma vez
toca meus braços. Isso só está irritando-me mais ainda, odeio gente me
tocando sem eu querer.
Alice
Amo ver Alice assim, feliz, cantando. Não conheço essa música, mas
não me importo de ela cantar, adoro a sua voz.
Passamos quase o dia inteiro no quarto, conheci cada curva do seu
corpo perfeito, os seus sons quando a fazia gozar uma e outra vez me deixam
duro só de lembrar. Chegamos em casa e fomos direto para o nosso quarto, e
como pedi estava tudo pronto, o quarto banhado só pela luz das velas
decorativas, nem me importei se era dia ou não, só não queria esperar mais
e sei que Alice também não. Pedi suas flores preferidas e pedi que
espalhassem pétalas por todo o quarto, principalmente pela cama.
Descobri que a minha mulher é impaciente, hoje no hospital, e não
perdemos tempo. Reverenciei o seu corpo inteiro com a minha boca,
lembrando-a como ela era linda o tempo todo.
Fizemos amor mais duas vezes, uma lenta e demorada, a outra rápida
e forte, depois ficamos aconchegados só curtindo o momento. As únicas
pausas que fizemos foram para comermos alguma coisa e também porque a
nossa pequena estava exigindo a nossa presença e minha irmã tinha que ir
embora resolver suas coisas, pois já era noite.
Voltando para o agora, estou deitado em nossa cama, já limpa, com a
minha pequena dormindo de bruços em meu peito, esse é o jeito que ela mais
gosta de ficar. Temos uma ligação muito forte desde quando ela nasceu.
Estava na sala de parto junto com Alice, mas ela não sabe. Ainda. Na hora
que Clarinha nasceu, a segurei em meus braços e ela segurou o meu dedo
com força, desde esse dia parece que ela me sente quando estou por perto. E
quer o papai o tempo todo. Eu fico totalmente em êxtase, pois ela é minha
vida. Incrível como as coisas acontecem, sempre quis a minha própria
família, mas nunca tive sorte nos relacionamentos anteriores e quando já
tinha desistido disso Alice e Clarinha entram em minha vida. E apesar do
pouco tempo que nos conhecemos a amo como nunca amei ninguém e vou
fazer de tudo para que ela me aceite para sempre.
— Está pensando em que, meu amor? Está tão concentrado que nem
me ouviu, o seu celular está emitindo som de mensagem há um tempinho,
deu para ouvir lá do banheiro.
Estava pensando que vou prendê-la aqui para nunca mais ir embora,
mas claro que não vou dizer isso para ela. Acorda, bobão!
— Estava pensando em você, minha linda — admito a metade da
verdade. — Pode ver de quem é a mensagem? Está tão confortável aqui com
a minha princesa que não quero perturbá-la em seu sono.
— Posso sim. E o senhor está deixando-a mal-acostumada. Ela não
consegue mais ficar longe de você. — Isso sempre me faz sentir o pai mais
babão do mundo inteiro.
— E nem eu dela. Papai sempre vai estar com você. Sempre —
sussurro e beijo a sua cabecinha cheirosa.
De repente sou tirado dos meus pensamentos por uma gargalhada
gostosa da minha mulher.
— Esse Léo é maluco mesmo, olha só isso?
Olho o conteúdo e fecho a cara para o telefone. Só pode estar de
brincadeira comigo!
A foto foi enviada por meu querido irmão que estava fazendo
Bundalelê para a câmera, junto com o seu cachorro Brad, um Bulldog inglês
marrom e branco enorme, e pelo visto pareciam estar se divertindo muito.
Brad é um cachorro com um aspecto não muito amigável, mas basta
passar dois minutos em sua companhia que ele mostra o contrário, é
brincalhão, fiel e gosta de carinho o tempo todo. Ele foi encontrado na rua há
um ano, estava quase morrendo o pobre cachorro, pois tinha sido atropelado e
se arrastava pela rua, mas teve a sorte de ter sido o meu irmão a encontra-lo.
Passou quase quatro meses para ficar totalmente curado e saiu da clínica
veterinária direto para a casa do Léo, os dois se ajudaram. Léo estava
passando por um momento muito difícil em sua vida e Brad trouxe um pouco
de alegria, estão juntos desde então. São dois palhaços.
— Não tem jeito para o meu irmão — falo, mas rio ao mesmo tempo.
O meu irmão é único, tão diferente de Luís.
— Eu gosto dele — murmura Alice, olhando-me ao invés do telefone.
— Ele também já caiu nos seus encantos.
— Encantos? — Franze o cenho e depois joga a cabeça para trás e ri
alto, fazendo Clarinha se assustar. Acalmo a minha pequena e depois olho
para a sua mãe.
— Sim, minha bruxinha linda. — Nos olhamos um pouco e me
lembro de uma coisa. — Você vai se atrasar se não se arrumar logo. Daqui a
pouco as meninas estão aqui para irem buscar o seu amigo no aeroporto.
Não gosto da ideia de ela sair sem mim, mas os seguranças e Luís vão
estar por perto e ninguém, além da família, sabe que ela está morando aqui
por enquanto. Enquanto não resolver a questão do seu ex não viverei
tranquilo. Mas também não posso mantê-la prisioneira. Se bem que essa ideia
é tentadora.
— É verdade, vou me apressar. Não vejo a hora de ver o Jeff, faz
mais de um ano que não o vejo. — Alice sai e logo volta com as suas roupas
nas mãos e começa a se vestir na minha frente. Como pude ser tão sortudo?
— E sabe o que é engraçado? Hoje no hospital quando Caetano me abraçou
me lembrei dele. Quando Josi ligou dizendo que ele estava vindo, quase me
desmanchei em felicidade. Você vai adorá-lo.
Vinte minutos depois, estamos nos despedindo.
— Volto logo e viremos direto para cá. Divirtam-se, mas não muito.
Sorri e me deu as costas, as meninas estavam no carro esperando por
ela. Oriento os seguranças que seguiriam em outro carro atrás delas e o Luís
estava com eles. Falando nisso, o meu irmão está muito protetor da Josi,
quando toquei no assunto com ele ontem me cortou e disse que não queria
falar disso. Deixei de lado, por enquanto.
Resolvo voltar para o quarto e escuto um barulho de telefone tocando,
mas não é o meu. Procuro de onde vem o barulho e vejo que Alice esqueceu
o seu celular, olho e vejo que é de um ID bloqueado. Logo entro em alerta e
resolvo atender. Não deveria, mas quando dei por mim já estava atendendo.
— Alô — falo com uma voz grave.
A outra pessoa exala forte e depois responde.
— Quem é você e o que está fazendo com o telefone de Alice? — A
voz é de homem e parece que não gostou que desse lado da linha também
quem vos fala é um homem.
— Bem, sou eu quem deveria perguntar quem é você e o que quer
com a minha mulher! — exclamo meio sem paciência.
— Sua mulher uma ova! Passe o telefone para a minha mulher.
Agora! — grita e parece que quer me matar pelo telefone.
Bem, olha, tivemos a mesma ideia, pois também estou considerando
fazer isso com ele se for quem estou pensando que é.
— Como eu disse, a MINHA mulher, — enfatizo bem o minha — não
está. E você não tem nada para falar com ela, portanto pare de ligar. Seu papo
agora é comigo, sei o que fez a ela e a minha filha, aliás, eu vi e não gostei
nem um pouco. Vou descobrir quem você é e vou fazer você se arrepender de
um dia ter tocado nela — rosno as palavras para ele, pois estou fervendo de
raiva desse cara.
— Ah, então, quer dizer que a vadia já está de casinho? Não perdeu
tempo, não é mesmo? Mas sinto te desapontar amigo, a mulher é minha e a
quero comigo. A ratinha você pode ficar para você, não preciso dela para
nada, mas Alice é minha, querendo ou não.
— Nunca mais se refira a minha filha desse jeito! E se chegar perto
delas eu te mato — grito tão alto que Clarinha acorda e começa a chorar.
Tento acalmá-la, mas não adianta.
— Eu falo do jeito que eu quiser, e mais cedo ou mais tarde ela vai vir
até mim. Ela sempre vem, só estamos dando um tempinho.
— Não conte com isso, seu lunático! Estamos morando juntos e logo
vamos nos casar. — Ouço a sua respiração forte no telefone. Ah! Isso o
afetou. — Esteja avisado, ninguém mexe com o que é meu. Eu vou te caçar
até o inferno se for preciso.
— Isso é uma ameaça?
— Uma promessa. E eu cumpro as minhas promessas. Fique longe da
minha família!
Desligo sem esperar por sua resposta. Vou descobrir quem você é, seu
idiota e vou resolver esse problema de uma vez por todas.
Apago a ligação e vou cuidar da minha pequena. Vamos conversar
sobre ele quando Alice estiver preparada. Só espero não surtar até ela estar
pronta.
Mas de uma coisa eu tenho certeza. Eu vou acabar com esse imbecil!
— Então, cara, qual é a sua? Será que está levando a minha amiga a
sério ou está só querendo brincar com ela? — Jeff fala, olhando-me bem
sério com uma voz grave e grossa que engana bastante.
Gostei dele de cara, ele defende a minha menina como um irmão e
isso já basta para mim.
Desde que chegaram do aeroporto estão grudados, comeram juntos no
mesmo prato e beberam no mesmo copo. No começo fiquei com ciúmes,
admito, mesmo sabendo que ele não era perigo nenhum. Mas logo ficou bem
claro, quando ele chegou e me disse que eu era um escândalo de bonito.
Reviro os olhos com a lembrança e respondo.
— Muito sério. Por mim me casava com ela amanhã.
Ele sorri para mim de orelha a orelha. Parece que conseguiu o que
queria. Jeff me olha de cima a baixo e lambe os lábios. Pronto, voltou o
verdadeiro Jeff. Fecho a cara e olho para Alice, ela olha de mim para ele e cai
na gargalhada. Gesticulo um “você me paga mais tarde” e sorrio de volta.
— Vamos logo com esse filme, meninas! Se não vou ter que atacar
esse monumento aqui. — Jeff aponta para mim e sorri. Eu, hein!
As meninas riem mais ainda e se dirigem para a sala do cinema.
— O que vamos assistir? — pergunta ele sorrindo.
As meninas dizem ao mesmo tempo: — A Escolha Perfeita!
— E sobre o que é?
— É muito bom, Jeff, eles fazem música com a boca.
— Eu sei fazer outra coisa com a boca.
— É claro que sabe, seu safado — fala Alice, rindo do seu amigo e
todas somem, rindo no corredor.
Fico para trás e resolvo estudar um pouco. Estou sentindo falta do
hospital.
Estava no escritório fazia uns vinte minutos, quando Alice entra e
fecha a porta, com uma expressão determinada, e vem andando lentamente
em minha direção. Alguém ali embaixo está acordando. Senta-se à mesa e
abre bem as pernas e... Minha nossa! Ela está sem calcinha. Isso me deixa
excitado e zangado ao mesmo tempo.
— Não me olhe assim, acabei de tirá-la. — Sorte sua, amor. — Fui
ver como Clarinha estava, depois passei em nosso quarto, olhei para a cama e
lembrei do que fizemos. Aí, fiquei com vontade de tê-lo dentro de mim de
novo. Não vou aguentar até todo mundo ir embora. Deixei-os vendo o filme.
Será que pode resolver esse pequeno probleminha? — fala com uma voz
sensual e passa o dedo médio em sua vagina, deixando-me totalmente
atordoado.
— Deus, Alice! Você está querendo me matar? — murmuro e vou
com tudo para cima dela.
Deito o seu corpo na mesa, retiro sua mão e coloco a minha língua em
seu lugar. Ela coloca uma perna em meu ombro e a outra no braço da cadeira
que estava sentado. Beijo sua boceta como se fosse sua boca. Ela geme e
arqueia as costas, puxando os meus cabelos com força. É minha perdição
quando ela faz isso.
Paro um momento e olho para ela
— Aqui. — Lambida. — Está. — Lambida. — O verdadeiro. —
Lambida. — Néctar da vida. — Mais uma lambida e depois enfio a minha
língua dentro dela, fazendo movimento de vai e vem.
Retiro quando sinto que ela estava quase gozando. Ela geme em
protesto, olhando-me com os olhos em chamas.
— Sua boceta é simplesmente a melhor coisa do mundo.
— Lucas... — sussurra com a voz fraca. — Eu preciso...
— Eu sei, amor.
Interrompo as suas palavras e coloco dois dedos dentro dela. Dentro,
fora, dentro, fora. Quando sinto que está quase gozando de novo, retiro os
dedos, me inclino, capturo um mamilo e o mordo por cima do vestido.
— Ahhh... Lucas, você está me matando aqui. Se não entrar em mim
e me comer agora vou te jogar no chão e eu mesmo vou fazer isso.
Sorrio e mordo o seu mamilo mais forte, arrancando um grito seu.
— Ah vai é? — Acena com a cabeça. — Eu quero ver ent...
De repente sou empurrado e estou sentado de novo na cadeira, que
como é de rodinhas vai para trás e bate na parede. Aconteceu tão rápido que
fiquei sem reação. Num instante ela estava deitada na mesa, no outro está em
pé e totalmente nua, tirando o meu pau para fora e colocando um
preservativo. Que não tinha visto até agora. Jesus, essa mulher vai me matar.
Gememos juntos quando ela se encaixa em mim e começa a rebolar
rápido e forte. Sinto que ela está apertando, sugando o meu pau com sua
boceta encharcada.
— Passe as pernas em volta dos meus quadris, amor, segure com
força ao redor dos meus ombros — peço e ela fez, sem questionar.
Levanto-me, seguro os seus quadris e começo a subi-la e descê-la
rápido e forte, como ela estava mexendo em cima de mim, fico com medo de
machucá-la.
— Mais rápido, mais rápido. — Era tudo o que eu precisava ouvir.
Acelero os movimentos e com mais duas estocadas gozamos juntos,
numa explosão de gemidos e sussurros.
— Ai que delícia... amor.
— Alice...
— Eu amo você.
— Eu te amo mais.
Desabamos no tapete, abraçados e ofegantes, com ela em cima de
mim e começo a mexer em seus cabelos. Sabia que ela adorava isso.
Alice beija o meu peito e sorri.
Nunca me senti tão feliz em toda a minha vida.
12 - Luís
— À sua direita.
— O quê?
— Nossa! Primo, às vezes você é meio lento. Estou falando da mulher
que está te observando há dez minutos sem parar, como se quisesse te comer
no jantar. Não posso negar, ela é muito bonita.
Já passa das dez da noite e estamos quase fechando a academia, pois
tenho que estar na casa da Josi, para assumir o meu posto. Contratei
seguranças, mas gosto de ver com os meus próprios olhos o que está
acontecendo.
Pare de pensar nela. Pare! Digo a mim mesmo, sem nenhum
resultado.
Ela está virando quase uma obsessão. Por que ela teve que me beijar?
Por que ela não age como as outras, que me olham e tem medo de se
aproximar? Ela sempre foi diferente. Desde que o meu irmão Lucas me disse
o que aconteceu com ela e sua amiga, que estou de olho para que nada mais
como isso aconteça, ela me frustra e isso me deixa muito zangado.
Nunca quis me ligar a ninguém. Nunca quis uma companheira. Mas
ela desperta em mim coisas que não estou acostumado. Ela é linda, alegre,
forte, fiel aos seus amigos e sem contar que tem curvas que me deixam duro
sempre que a vejo. E isso acontece desde o primeiro momento, há quase dois
meses. Chega!
Olho na direção que ele disse e me surpreendo com a pessoa que está
me olhando.
Era só o que me faltava mesmo.
O que em nome de Deus, Luara está fazendo na minha academia?
— Ah não! — exclamo irritado.
Essa mulher de novo, não! Luara é a irmã de um amigo, ficamos umas
duas vezes e só, mas ela queria mais e como eu prefiro ficar sozinho e não me
envolver muito, dei um basta nisso. Mas ela não levou muito bem a dispensa.
Problema dela. Achei que estivesse me livrado dela há seis meses. Pelo visto
não foi o caso e ela aparece justo na minha academia.
— Preciso falar com você, Luís. Urgente!
Não vou dar brecha a ela. Não estou interessado.
— Sinto muito, mas estou sem tempo. Já estava de saída — digo o
mais natural que pude e caminho até a saída, sem nem olhar para ela.
Virando-me para Alexandre, digo:
— Pode fechar para mim? Tenho cinco minutos para chegar ao meu
compromisso.
— Claro. Vai pela sombra! — grita e depois começa a rir, esse
bastardo.
Espero que não se envolva com ela, pois não passa de uma Maria-
tatame.
Saio de lá sem olhar para trás, vou para o meu carro com o coração
acelerado. Não sei por que estou tão nervoso, vou só sentar no carro em
frente à sua casa e observar, nada mais.
Chego lá o mais rápido possível e dispenso Logan até meia noite,
quando ele volta a assumir e vou para casa.
Acomodo-me da melhor maneira que consigo e fico olhando para
cima, vejo que a luz do andar de cima está ligada. Fico imaginando o que ela
usa quando vai dormir, se alguma camiseta ou um pijama confortável, uma
camisola sexy ou se prefere dormir sem nada.
Deus! Estou por um fio.
Mas já tinha deixado bem claro que não vamos ter nada. Fiquei
maluco com o beijo que ela me deu no Natal.
Sim, foi ela que me beijou.
Nunca ninguém me beijou, eu é que ditava as regras, mas com ela as
minhas barreiras estão sempre desmoronando. Isso não pode continuar e disse
a ela no Réveillon, que eu não era como o meu irmão e não fazia essa coisa
de namoro. Sabe o que ela me respondeu? — “Quem disse que eu estava
querendo namorar você? Queria apenas curtir o momento, seu estraga
prazeres, se não quer tem quem queira. Tchau, lindo, vou curtir a festa que
eu ganho mais.” — e saiu rebolando, deixando-me meio confuso e com
muita raiva da sua resposta. Vai entender, né.
Voltando ao presente, me concentro na janela acima e vejo uma
sombra passando. Ela deve estar quase indo dormir.
— Nãoooo! — De repente escuto um grito.
Saio do carro o mais rápido possível e corro para a casa dela. Como
tenho as chaves é mais rápido.
— Aí meu Deus! — Escuto, assim que entro pela porta e vou em
direção de onde veio o grito.
— O que houve?
Olho ao redor à procura de alguém, mas não vejo ninguém. Chego
mais perto dela e ela está em choque, pois nem reage a minha presença.
— Josi, querida, olhe para mim. O que aconteceu?
Ela só aponta a frente e vejo que estávamos no quarto de Clarinha e
ela aponta para o berço.
Chego mais perto e o que eu vejo lá dentro me deixa espantado.
Tem um gato branco dentro do berço e ele está todo ensanguentado,
tem só as patas da frente e um corte enorme do pescoço até a barriga. Na
parede, perto do berço, está escrito: “MORTE” com letras maiúsculas.
Meu Deus!
Volto-me para Josi, a pego no colo e a levo comigo para a sala. Sento
no sofá com ela no meu colo e vejo que ela está chorando.
— Calma, estou aqui com você — digo, sem saber mais o que dizer,
pois não sou nada bom com situações como essas.
Ela diz algo que não entendo e me pergunto se não deveria ligar para
Alice?
— Eu a tinha só por dois dias — diz e chora mais ainda.
O que eu faço? Ela é sempre tão forte, que estou estranhando ela estar
chorando assim.
Como não sabia o que fazer, fico ali sentado, com ela em meus
braços, acariciando as suas costas. Ela se agarra a mim como se dependesse
disso para viver.
— Cadê o seu amigo? Quando saíram da casa do Lucas achei que ele
estivesse com você.
— Como sabia que eu estava na casa do Lucas? — sussurra e
continua chorando.
— Hum... Ele me disse que estavam assistindo um filme, alguma
coisa assim, quando me ligou para resolvermos um assunto.
Esqueci que ela não sabia que eu estou no lugar do segurança. Espero
que não questione eu ter invadido a sua casa.
Por favor, esqueça esse detalhe.
— Viemos para cá, mas ele ficou muito ansioso para conhecer a loja
de cupcakes e foi fazer um tour por lá com a Monique. Talvez até durma lá,
não sei.
Está explicado a sua ausência. Que bom! Gosto de tê-la só para mim.
Oh cara.
Ficamos no sofá, ela em meu colo chorando baixinho, eu acariciando
as suas costas e de vez em quando beijando o topo da sua cabeça. É tão bom
senti-la assim, o seu cheiro é tão bom. Josi se encaixa perfeitamente em mim
e eu acho que vou enlouquecer com isso.
Devia chamar as suas amigas e ir embora, mas não foi o que fiz, se
passaram dez, vinte minutos, e continuamos onde estávamos. Nenhum disse
mais nenhuma palavra, achei que ela estava dormindo, mas de repente ela
quebra o silêncio.
— Quando tinha doze anos a avó de Alice me deu uma gatinha branca
e eu a amava tanto que dormíamos juntas, ficamos inseparáveis. Um dia,
quando cheguei da escola e a procurei, ela não respondeu como sempre fazia
e fiquei apavorada. Corri para o quintal para procurar lá e vi o meu pai
sentado numa cadeira, olhando para o chão e sorrindo, quando cheguei mais
perto vi que Fofinha estava no chão, morta, e o meu pai com uma faca na
mão toda ensanguentada.
“No momento que o meu cérebro registrou o que eu estava vendo, eu
comecei a gritar, xinguei o meu pai e o derrubei da cadeira. Ele era forte, alto
e estava bêbado como sempre. Ele me acusou de um monte de coisas e disse
que viu quando meu colega me deu um beijo de despedida mais cedo, na
pracinha perto de casa. E na sua cabeça louca concluiu que eu merecia sofrer,
por isso matou a Fofinha.
Ela me olha com lágrimas nos olhos e continua:
— Foi só um beijo no rosto, porque eu o ajudei com o seu dever de
casa, tentei dizer ao meu pai, mas ele não quis me ouvir. Veio para cima
como sempre fazia, mas dessa vez ele estava com uma faca, então comecei a
gritar por socorro e o empurrei com todas as forças que tinha e corri, mas ele
me alcançou e deu uma facada na minha barriga. — Josi levanta a blusa e me
mostra uma cicatriz no seu lado direito da barriga. Jesus! — Quase perfurou
o apêndice, foi por pouco. Gritei mais forte ainda, e não consegui me mexer
por alguns minutos. O meu pai começou a rir em cima de mim e disse que a
culpa era minha, se sentou no chão perto de mim e ficou me olhando com um
olhar estranho. A avó de Alice era nossa vizinha, me ouviu gritar e chamou a
polícia, logo eles chegaram e o meu pai já estava roncando no chão ao meu
lado. O levaram preso e eu fui para o hospital.
Meu deus! O que fizeram a você, minha bela? Estou com tanta raiva
que mataria esse monstro agora. Por um momento não consegui dizer nada.
— Onde está o seu pai? — Quero desmembrá-lo todo, covarde de
merda.
— Não sei... E nem quero saber. Só te contei isso por... Nem sei por
que te contei. Esqueça isso.
Ela ameaça se levantar do meu colo, mas a seguro no lugar e ela
desiste.
— O quê? Esquecer? Posso viver milhares de anos e não vou
esquecer o que esse maldito fez com você. Eu vou encontrá-lo e ele vai pagar
muito caro.
— Isso não é da sua conta, Luís! Por favor, esqueça. É só que ver o
meu outro gatinho ali, morto, eu desatei a falar sem pensar. — Começa a
chorar de novo. — Eu tinha dado a ela o nome de Fofinha, de novo, quando a
encontrei no portão da minha casa dois dias atrás, e ela morreu. Nunca mais
eu vou pegar outro gato para criar.
— Vem cá. Shi... Pare de dizer que não é da minha conta. Isso é mais
da minha conta do que você imagina.
Josi me olha com os olhos arregalados e depois deita sua cabeça em
meu peito e fica ali. Não demora muito para ela cair no sono e eu fico só
observando-a.
Amanhã conversarei com Alice e descobrirei tudo o que preciso para
começar a minha caçada. Dessa vez não acho que tenha sido ele, pois estava
no berço da Clarinha, com certeza foi outra pessoa, mas essa também não
perde por esperar. Ou não me chamo Luís Vilar!
13 - Alice
Paro de ler, não quero mais ver isso. Pronto, agora o meu nome está
na internet. Era só o que me faltava!
Mas outra coisa que ele disse me chamou atenção.
— Eu tenho um irmão?
— Sim, ele é adotado, mas o amo do mesmo jeito que amo você e sua
irmã. Ele está lá embaixo, mas achei melhor eu ver você primeiro, sei que
não quer nada comigo, sua irmã me disse que não sou sua pessoa favorita no
mundo e entendo isso, mas preciso que me escute...
— Calma aí, para tudo! Minha irmã te disse o quê? E ela sabe sobre
você? Não estou entendendo nada.
— Sim ela sabe sobre mim, faz uns seis meses que nos encontramos
pela primeira vez.
— Você só pode estar brincando comigo.
Não consigo pensar que a minha irmã escondeu de mim sobre saber
onde estava nosso pai. Ela sabia que eu queria muito conhecê-lo.
— Não. Eu finalmente deixei de ser covarde e liguei para a sua mãe,
não era justo que ela me chantageasse a vida toda, não tenho por que me
envergonhar de ser o que eu sou. Infelizmente demorei demais para perceber
isso e peço que me perdoe, mas estava com medo de você sentir vergonha de
mim e não me querer como um pai.
— Tá, me deixa ver se entendi. Minha mãe te chantageava? Mas por
quê?
— Eu sou gay e sua mãe não aceitava isso, mas eu prometo te contar
essa história em outro momento.
— Você é gay. E daí? Isso não justifica passar todos esses anos sem
nos conhecer. Eu pensei que não nos queria, pensei que...
— Eu sempre quis. Sua mãe escondeu de mim que estava grávida e
quando descobri, disse que se eu não me casasse com ela não me deixaria vê-
las. Aceitei me casar com ela, mas não consegui seguir em frente com o
plano, eu amava outra pessoa e não era justo com nós três. Disse que a
ajudaria com tudo e seria um bom pai, mas ela não aceitou. — Ele está
chorando.
— Depois que nasceram ela veio me ver e descobriu que eu era gay.
Aí começou tudo, disse que vocês nunca iriam aceitar um pai como eu, que
teriam vergonha de mim. Eu fui um burro por me deixar levar pela conversa
dela. Sofri tanto, passei muito tempo em depressão.
Estou surtando.
— Sei que não posso mudar o passado, mas quero estar em sua vida e
espero que me permita, quero conhecer a minha neta. Sua irmã não me deu
muitas coisas de vocês, mas tenho algumas fotos.
— Se era gay por que dormiu com a minha mãe?
Sorri, um sorriso triste que não alcança os seus olhos e diz:
— O que vou dizer vai ser horrível, mas foi o que aconteceu. Sua mãe
me embebedou e passamos a noite juntos, estava mal porque tinha terminado
com Jimmy e ela achou que “Jim”, como eu o chamava, fosse a minha
namorada e disse que me faria esquecer.
— Ingênuo você, não? Devia ter falado que era gay desde o começo
para ela.
— Eu sei, esse foi o meu erro. Me arrependo de não ter lutado por
vocês, mas ela me quebrou e eu acreditei.
— Ainda não consigo acreditar que Angélica sabia de você e não me
contou.
— Como assim não contou? Ela me disse que assim que sua mãe deu
o endereço a ela te informou e você não queria me ver nem pintado de ouro.
Essas foram as palavras que ela usou.
— Eu não sabia de nada. Minha mãe não fala comigo desde que
engravidei e a minha irmã sempre me odiou.
— Por que Ann mentiria para mim? — pergunta papai.
— Para ficar com você só para ela. — Pronto agora estou sendo
infantil. Mas é a verdade, a minha irmã definitivamente me odeia.
— Posso te abraçar, filha?
— Eu...
A quem estou querendo enganar? Estou com raiva dele? Estou. Quero
esbofeteá-lo? Com certeza. Mas acima de tudo, saber que me ama e está aqui,
me faz querer me jogar nos braços dele e chorar. Chorar por todos esses anos
separados, pelos dias dos pais na escola quando as minhas colegas me
enchiam o saco por não ter um. Por tudo o que perdemos um do outro. —
Pode, papai.
Lucas solta a minha mão e me dá um sorriso, dizendo-me que tudo
bem.
O meu pai vem sorrindo em minha direção, me abraça com cuidado e
começa a chorar, eu também vou junto e ficamos um tempo um nos braços
um do outro sem falar nada.
Ele se afasta um pouco e me olha.
— Você é mais linda do que nas fotos. Eu te amo, filha, me perdoe
por ter sido um covarde. Me deixa fazer parte da sua vida?
— Eu estou muito magoada ainda, mas eu não quero ficar sem você,
pai. A minha filha precisa de um avô, não acha?
Sorrindo, ele me abraça e beija o meu rosto várias vezes.
— Desculpe interromper, mas tem uma multidão aqui na porta
querendo entrar, meu amor.
Por cima do ombro do meu pai sorrio para o meu homem e assinto.
— Pai, qual o seu nome?
— Gabriel Castro.
— Acho que já vi esse nome em algum lugar.
— Com certeza já, meu amor. Ele é o dono das Indústrias Castro. Um
dos maiores empresários do Rio — diz Lucas com uma voz dura.
Não entendo a sua reação, mas logo vamos conversar sobre isso.
— Então o seu pai apareceu — diz Andrea pensativa.
Ela está estranha, não sei dizer o porquê, mas não é só pelo meu
“acidente”, já estou bem e amanhã vou para casa. Alguma coisa não está
certa com ela, percebi isso desde que entraram há uma hora.
— Sim. Ainda estou sem acreditar no que minha mãe fez e que minha
irmã sabia da existência dele e não me contou.
— Pois isso não me surpreende. Sua mãe é horrível, sempre foi, e sua
irmã uma invejosa. Sério, se eu ver essa cobra na minha frente eu vou bater
nela. Ah, se vou. — Josi sempre tomou as minhas dores. Sei que sempre
posso contar com ela, aliás com todas as minhas amigas. Incluindo Jeff.
— Eu tenho um irmão — digo meio hesitante.
— Um irmão homem? Sério? — pergunta quem estava calado até
agora, ou seja, Jeff.
— Sim, um irmão homem. Aliás, foi ele quem viu o meu nome na
internet e avisou ao nosso pai do acidente. Se fosse pela minha irmãzinha ele
nem saberia.
— Lili famosa. Eu vi também, só não queria te deixar nervosa com
isso, mas já que sabe, o que acha disso?
— Não acho nada, Nique. São tantas coisas para processar essa
manhã. E estou sentindo demais a falta da minha filha. Como ela está?
— Está bem, mas acho que ela vai querer passar um tempo longe de
Léo depois disso.
Todas riem com o comentário de Josi. Coitado do meu cunhado, sei
que tudo também está sendo difícil para ele. Não sei exatamente o que houve
em seu passado, mas tudo indica que perdeu alguém e agora assistiu o meu
quase fim.
— Ele está sofrendo também, não foi fácil para ele processar o que
viu. Não quero que riam dele.
— Ok, ok, não estávamos zoando ele, mas você precisa ver como ele
está possessivo com a menina. Só Lucas e a Loira aqui estão autorizados a
chegar perto, porque ele prometeu a você cuidar dela — Jeff se defende.
— Eu sei, Lucas me contou.
Olho para Monique e vejo que está toda vermelha. Será? Mais uma
coisa para pensar.
A porta se abre e uma enfermeira entra, tirando-me do meu momento
“friends”.
— Bom, pessoal, está na hora dela descansar, vocês podem voltar à
noite. Agora ela tem que recarregar as baterias, não é, mocinha?
Enfermeira Eloisa é o nome dela, uma senhora muito simpática, deve
ter uns quarenta anos, é carinhosa comigo e super fã do doutor Lucas. Ai já
viu, né?
— Estou bem, Eloisa.
— Não. Está quase caindo no sono e levou um tiro ontem, tem que ir
com calma, menina. — Foi só ela dizer, que bocejei. — Estão vendo? Agora
deem tchau.
— Sim, sargento — diz Andrea em tom divertido.
Ela vem me abraçar e sussurro em seu ouvido:
— Logo vamos ter uma conversinha, sei que alguma coisa não está
bem com você. — Sinto o seu corpo enrijecer. — Seja o que for estarei com
você. Ok?
Ela se afasta e sorri.
Despeço-me de todos e fico triste por eles estarem indo embora.
Por tanto tempo foram só eles e eu. Agora tenho Clarinha, Lucas, o
meu pai e mais um irmão. Espero que este pelo menos goste de mim. Estou
muito feliz, apesar de confusa. Hoje quase terminei com o meu namorado, o
meu pai aparece com um novo irmão e, o pior de tudo, descobri que a minha
irmã me odeia mais do que eu imaginava.
Eloisa está certa, tenho que recarregar as minhas baterias.
Fico sozinha por um tempinho antes de o sono me bater. Sonhando
com a minha pequena em nossa casa. Sorrindo, me entreguei a esse sonho
maravilhoso!
20 - Alice
Duas semanas depois estou em casa, nervosa, ansiosa e tudo o que se
pode imaginar no seu primeiro encontro com o seu novo irmão e o primeiro
dia que o seu pai visita à sua casa. Não queria conhecê-lo em um hospital e
ele teve que viajar por causa do trabalho, então combinei esse almoço com o
meu pai. Resolvemos fazer uma coisa mais descontraída e convidei todos os
meus amores e Lucas convidou Caetano e os seus irmãos. Lucas disse que
seria melhor um churrasco na piscina, todo mundo gosta e o domingo está
lindo. Então está quase tudo pronto.
As meninas aprontaram e foram às compras, compraram um biquíni
lindo para mim na cor amarela e um body para a minha princesa. Estou
usando ele por baixo de um vestido longo estampado em branco, amarelo e
azul, tomara que caia, e a minha gatinha está usando um vestidinho branco
com o mini body por baixo, ficou linda. Essas meninas aprontam.
Rio olhando-me no espelho e depois para uma bagunceira que estava
na cama, olhando-me e brincando com os seus pezinhos com um Lucas com
uma expressão boba no rosto. Não sei o que me deu para surtar daquele jeito
no hospital e querer terminar com ele.
Ainda bem que ele não deixou.
Desde o acidente, Lucas não nos deixa por muito tempo, está sempre
conosco. Chegando em casa do hospital, há duas semanas, eu fui
surpreendida com tudo novo no andar de cima. Ele mandou trocar tudo do
quarto da nossa filha, tudo mesmo. O corredor também estava diferente, até
os quadros da parede, que tinha entre os quartos, tinham sido mudados. Graça
a Deus!
— Está rindo de que, minha princesa? — Saio do meu devaneio e vou
me juntar aos meus tesouros na cama. — Olha como fica ainda mais linda
sorrindo para o papai?
— Sim, amor. — Amo ver os dois juntos.
Sento na cama com eles e olho no relógio, temos duas horas até os
convidados chegarem, então vou curtir um pouco mais da nossa bolha. Desde
que voltei para casa que não tenho momentos a sós com o meu lindo
namorado, estamos sempre cercados por nossos familiares. Léo e as meninas
todos os dias estão batendo ponto, não estou reclamando, longe de mim,
adoro tê-los aqui, mas acho que preciso do meu homem nu, logo.
Alice, sua pervertida! Seu anjinho do lado e você tendo segundos
pensamentos?
Segundos nada, terceiros, quintos, décimos. Se saudade matasse, eu
estaria mortinha. Olhar para ele assim tão gostoso, está me dando água na
boca. Lucas está usando uma camisa verde, que está realçando os seus olhos
que nesse momento estão brilhando, e uma bermuda branca. Está uma
tentação de tão lindo.
Balanço a cabeça para tirar esses pensamentos impróprios e resolvo
focar só em carinho de mãe. Ficamos por mais alguns minutos brincando e
rindo juntos.
Uma batida na porta nos tira do nosso momento cute.
— Pode entrar — falo sorrindo.
— Olá, crianças sorridentes — diz a voz de Andrea da porta.
Olho para cima e vejo ela e Josi paradas, sorrindo para nós. As duas
prontas para curtir um churrasco a beira da piscina.
— Sei que chegamos cedo, mas eu não aguentava mais essa aqui me
enchendo o saco para vir logo. — Revira os olhos para Josi e me dá um beijo
no rosto quando me levanto para cumprimentá-las.
— Ah, não enche, Andrea, só estava querendo saber se você estava
bem, tive um sonho estranho contigo.
Ah entendi. Josi sempre teve isso, quando sonha com alguma de nós e
o sonho não a agrada ela fica o mais próximo que puder, como se fosse evitar
alguma coisa de acontecer.
— Estou bem sim, pode ficar tranquila, maninha.
Abraço-a e as convido para irmos lá para baixo.
— Beijo, doutor lindo — fala uma Josi divertida agora, antes de
sairmos do quarto e deixar Lucas e Clarinha em sua sessão de risos.
Uma hora mais tarde, Monique, Jeff, Adriana e o seu namorado Noah
e a irmã dele Natalie, Léo e Luís chegam e estamos nos divertindo muito,
quer dizer, eu estava sendo motivo de bulling. As minhas amigas estavam
lembrando momentos embaraçosos que eu nunca teria compartilhado por
conta própria. Como um dia em que fomos ao K’s Bar, o bar das irmãs Kila,
Kamila e Katiane, nossas amigas que conhecemos desde a época da
faculdade, e mostrei o bumbum para o bar inteiro para pagar uma aposta. Ou
o dia em que fiz uma apresentação de pole dance no palco de uma boate
porque tinha bebido demais. Ai que vergonha!
— Hum... então será que terei uma apresentação privada depois? —
comenta Lucas, com a menção do pole dance.
— Só se você merecer, meu amor — provoco.
— Vou fazer pôr onde, então. — Sempre faz, mas ele não precisa
saber disso.
Olho, fazendo uma careta para as meninas.
— Chega de falar de mim e vamos falar de outras coisas. Como o
tempo, a economia do país ou qualquer outra coisa.
— Ah, nada disso, cunhadinha, eu adoro ver você toda vermelha de
vergonha — diz Léo com a minha filha no colo, que ele tomou de Lucas
assim que chegou, e por incrível que pareça, ela foi de bom grado. —
Continuem meninas, estou amando tudo isso.
O som da campainha me deixa nervosa de novo, já tinha passado o
meu nervosismo com os meus amigos distraindo-me.
— Só espero que o meu irmão não me odeie igual a minha irmã —
murmuro para mim mesma e vou atender a porta.
Ao abri-la, quase me engasgo com a pessoa que está ao lado do meu
pai, sorrindo de orelha a orelha, o safado!
— Você só pode estar de brincadeira comigo! — exclamo divertida e
atordoada ao mesmo tempo.
— Não vou ganhar nem um abraço, maninha? Poxa, achei que depois
de tanto tempo sem nos vermos eu ganharia mais do que essa expressão em
seu rosto, minha “florzinha”. — Faz biquinho e eu me jogo em seus braços,
com cuidado, pois ainda dói o meu ferimento.
Claro, sua tonta, você não é a mulher maravilha.
Nem ligo para a cara de poucos amigos do Lucas olhando para Bruno,
o meu lindo e querido amigo Bruno, que conheci quando fazia o curso de
fotografia.
Como poderia imaginar que aquele lindo garoto que sempre me
respeitou e me tratou como uma irmã, mesmo não sabendo que realmente o
era, e me defendeu sempre que pôde, era nada menos que o meu irmão?
Sempre gostei dele, quando nos conhecemos não dei muita abertura
porque achei que ele tinha se aproximado de mim com outras ideias na
cabeça, mas ele nunca fez um movimento em mim, nem me olhou com outros
olhos. Agora entendo porque. Sofri muito quando ele sumiu.
— Não me odeie, florzinha — sussurra ele em meu ouvido. — Muitas
vezes quase te contei, mas fiquei realmente apavorado com a sua reação e não
queria estragar o que tínhamos. Só queria ficar com a minha irmãzinha, por
isso entrei no curso com você. No começo eu odiava, mas depois comecei a
gostar e tomei gosto pela coisa de foto.
— Então por que você sumiu? — fungo.
— Depois conversaremos sobre isso. Ok?
— Ok — concordo, ainda abraçada a ele.
Ouço alguém limpando a garganta, me afasto um pouco do meu
amigo/irmão e olho para um Lucas com uma carranca no rosto.
— Será que agora você pode soltar a minha mulher?
— Lucas! — repreendo.
— O quê?
Faz uma cara de inocente e me puxa para o seu lado, deixando um
braço possessivo em minha cintura. Faço cara feia para ele, me afasto e
cumprimento o meu pai, que estava nos olhando com lágrimas nos olhos.
Pode uma coisa dessas? Já sei para quem puxei chorona desse jeito.
Tive que rir disso.
— Entrem, vocês dois. Fiquem à vontade, pai, você já conhece todo
mundo aqui. E, Bruno, seu sacana. — Olho e vejo que todo mundo tinha
vindo para a sala e estavam nos olhando. — Esses são os meus amigos, mas
você já os conheceu.
— Não acredito! — dizem as meninas ao mesmo tempo. Nem eu.
Todos se abraçam.
— E aqui estão os dois irmãos do Lucas, Léo e Luís. — Aponto os
dois lindos homens, que se cumprimentam com um aperto de mão e acenos
de cabeça.
Luís está usando um avental com um abdômen sarado nele. E advinha
quem trouxe o avental? É, foi ele mesmo, o irmão mais novo e sacana deles.
Léo.
— Bom, você conhece Adriana, mas não o namorado dela Noah, e
essa aqui é Natalie irmã dele.
— Prazer em conhecer todos vocês, em especial o seu namorado,
maninha — diz com sarcasmo, olhando para Lucas, que está sério.
— Digo o mesmo — responde Lucas e me abraça mais forte.
— Então, vamos nos sentar? — sugiro, tentando melhorar o clima.
Deixo que todos vão na frente e sussurro para Lucas.
— Depois quero que me explique direitinho o por que dessa cena.
Qual o seu problema?
Ele só me dá um beijo, que me deixa com as pernas bambas, fazendo-
me esquecer do motivo pelo qual estava chateada com ele.
Meia hora depois, estávamos conversando animados e nada do
Caetano chegar, estranho. Ele é sempre pontual.
— Meu Deus, mana, aqui mais parece um harém! Será que tenho
chance com alguma delas? — Bruno se aproxima de mim sorrindo e olhando
as meninas lindas, deitadas nas cadeiras tomando sol.
— Segura a onda, maninho... — Sorrio, ele parece um menino. — Se
comporte.
— Opa! E essa que acabou de chegar? — Olhou por sobre o meu
ombro. — Quero só essa.
Viro para ver quem está chamando a atenção do meu maninho, já que
todas as mulheres estão na piscina. Quando vejo quem está a menos de dez
metros de mim com Caetano, não acredito. Uma loira linda, olhos azuis, um
corpo incrível, usando uma blusa rosa, colada ao corpo e um short preto
soltinho bem curto. Sinto o meu corpo tenso.
Doutora Raquel.
Mas o que ela quer aqui? Será que Lucas a convidou sem me
consultar? Vou matá-lo!
21 - Lucas
— Aí, mano, não queria estar na sua pele agora — murmura Luís ao
meu lado e aponta numa direção.
Olho para onde ele está apontando e quase me engasgo com o meu
refrigerante.
Jesus, o que a Raquel está fazendo aqui?
Alice já ficou meio enciumada no hospital e agora ela aparece na
nossa casa. Estou literalmente ferrado.
— Mano, enfia esse espeto em mim agora que é melhor que a ira da
Alice — falo entredentes a Luís, que está na churrasqueira.
— Relaxa, Lucas, não seja dramático! Estou te desconhecendo — me
critica sorrindo. — Alice não vai fazer uma cena como você. — Depois sorri
largamente e acrescenta numa voz sarcástica: — Mas olha a cara dela! Tá
dando medo.
Divertindo-se as minhas custas. Valeu irmão.
Fiz mesmo uma cena. No mesmo dia, descubro que o irmãozinho dela
é na verdade um amigo antigo e muito boa pinta. Não basta o seu pai
aparecendo e me deixando sem dormir, com a ideia de ela poder me deixar
para ir com ele?
Estou totalmente dependente delas.
— Bom, acho melhor eu armar um plano para matar o meu amigo
Caetano, sem chamar muito atenção — falo, mais para mim do que para o
meu irmão. No que Caetano estava pensando ao trazê-la aqui? — Vou me
juntar a minha mulher e tentar ser um submisso — falo sorrindo dessa vez,
mais uma vez o meu irmão ri de mim.
— Ela te pegou de jeito mesmo, meu irmão. — Me dá um aperto no
ombro.
— Você não tem ideia. Eu a amo desde o primeiro momento que pus
os olhos nela. É uma coisa que não consigo explicar — falo, olhando para
Alice a distância e saio.
Quase chegando onde estão Alice e o seu irmão, o meu telefone toca e
vejo que é meu primo Alexandre. Atendo sem hesitar, talvez ele tenha
alguma notícia do homem que esteve ligando e ameaçando as minhas
meninas. Aliás, ele está sumido, nunca mais ligou para nos importunar.
Melhor assim. Ou não, está muito quieto.
— Lucas.
— Fala, primo. Tenho notícias de tão, tão distante — fala com uma
voz engraçada.
— E o que isso quer dizer?
— Nossa, você nunca viu o filme do Shrek? — Ri de mim. — Pois
vai ter que começar, crianças adoram essas coisas.
— É claro que já vi. Mas estou querendo saber o que isso tem a ver
comigo. — Já estou nervoso com a situação da Raquel na minha casa e
Alexandre vem me encher o saco com besteiras. — Diga logo!
— Nossa, quem foi que comeu a carne do seu espeto? — Rosno mais
uma vez. — Ok, ok, eu digo. Não sabe nem brincar, Léo é que tem razão,
você quando ficar velho ninguém vai te aguentar.
— Você e o meu irmão não passam de duas fofoqueiras! — Suspiro e
olho para a minha mulher, que tem uma expressão tensa no rosto.
Fico observando-a por um tempo e só ouço ao longe o meu primo
falando comigo.
Engulo em seco quando Raquel se aproxima e a chama para o lado,
não sem antes ser apresentada a Bruno que parece bem interessado.
Isso muito me agrada.
— E aí, o que você acha Lucas?
Saio do meu transe e foco em Alexandre. Quanto antes ouvir o que
ele tem a dizer, logo vou poder ir para junto de Alice.
— O quê?
— O que eu acabei de contar. O que acha?
— Você pode repetir, por favor. Estava acontecendo alguma coisa
que precisava da minha atenção.
— Está tudo bem? — pergunta, a preocupação em sua voz. — E
desculpa não ter ido para o almoço, mas precisava mesmo checar uma coisa
antes de te contar tudo isso.
— Não se preocupe, está tudo bem.
— Certo. Então, como disse antes, eu consegui chegar ao outro cara
que agrediu as meninas na floricultura, mas só tem um probleminha.
— Qual? — pergunto, querendo logo que ele conte tudo.
— Ele quer dinheiro para contar quem foi o mandante. E não é pouco.
Pensei em quebrar suas costelas e sua cara, mas resolvi falar com você
primeiro.
— É claro que quer, aquele cretino — rosno. — Se é isso que ele
quer, ele vai ter. Eu mesmo quero entregar.
— Não, você não vai. Eu resolvo isso com o Luís, fique seguro para
sua mulher e sua filha e os outros que vierem, pois sei que vocês dois são
piores que coelhos — de novo o fofoqueiro falou tentando me distrair.
— Vou matar vocês dois, suas comadres. Pare com gracinhas, eu vou
e ponto final.
— Lucas, ele é perigoso, foi ele quem matou o seu parceiro. E... —
Para e suspira.
— E o quê? — pergunto.
— Ele não é qualquer bandido, Lucas. É o segundo pior do Rio, a sua
ficha é mais suja que pau de galinheiro.
Não penso duas vezes e dou a minha resposta.
— Me diga quanto ele quer e onde nos encontraremos, pago o que for
necessário para descobrir quem é esse imbecil e tirá-lo, nem que seja na
marra, da vida da minha família. E espero que seja o mais rápido possível.
Ele suspira em derrota, concordando.
Conversamos por mais alguns minutos, combinando o que faríamos.
Alexandre vai ligar para o “idiota” e me mandar uma mensagem mais tarde.
Desligo e vou ao encontro de Alice.
Enfim cheguei ao escritório, já tinha procurado Alice pela área interna
inteira, em alguns cômodos e nada.
Chegando perto da porta ouço vozes. Não exaltadas. Graças a Deus,
então não irrompo logo pela porta adentro.
— Eu gostaria de pedir desculpas pelo jeito como nos conhecemos,
Alice, e a impressão que deixei em você aquele dia no hospital. — Raquel
suspira e continua: — Não vou mentir, eu realmente estava com raiva porque
pensei que tínhamos alguma coisa, mas eu que interpretei mal. Lucas nunca
me chamou para sair, do jeito que alguém interessado faz, e nunca deu sinal
de que seriamos algo mais do que colegas. Realmente, fui eu que destorci as
coisas e me comportei de maneira impropria.
Resolvo não interromper já que elas estão conversando normal e nem
quebrando nada.
Vá embora, Lucas, é feio ouvir atrás da porta.
— Vou ficar só mais um pouco e saio — sussurro para mim mesmo e
fico ouvindo.
— Bem, confesso que estava com vontade de quebrar a sua cara —
diz Alice, fazendo-me sorrir depois de um tempo sem dizer nada. — Mas já
que está aqui e parece estar sendo sincera, eu vou lhe dar um voto de
confiança. Mas só um aviso: eu não costumo ser muito gentil se pisarem no
meu calo.
Raquel solta uma risadinha.
— É, estou sabendo. Mas será que... — Para e eu fico curioso com o
que ela iria dizer. E torço para ela não irritar a minha mulher, pois ela não
está 100% recuperada ainda.
— Que...? — incentiva Alice.
— Então, será que eu posso ficar? — pergunta Raquel, meio
hesitante.
Era só o que me faltava. O que será que Alice vai responder?
— Bem, se tiver tudo bem com o meu namorado, por mim também.
Decido bater na porta e entrar.
— Interrompo alguma coisa? — pergunto, fazendo contato só com
Alice. Procurando algum sinal de raiva como vi há alguns momentos, mas,
surpreendentemente, ela está com o rosto calmo e sorri para mim, aquele
sorriso que me deixa babando por ela.
— Tudo bem, meu amor. Raquel só veio conversar comigo sobre um
mal-entendido — diz com a voz neutra.
Atravesso a sala, paro em sua frente e lhe dou um beijo possessivo.
Infelizmente ela quebra o beijo antes do que eu realmente queria.
Adoro sua linda boca.
— Raquel estava comentando que gostaria de ficar conosco para o
almoço. O que você acha?
— O que você decidir está bom para mim, você é a dona dessa casa e
do meu coração, minha linda. Você manda. — Sorri e a abraço mais forte.
Dá mais um dos seus sorrisos lindos e se vira para a terceira pessoa no
escritório.
— Então, eu a convido a se juntar a nós na piscina, Raquel. Fique à
vontade.
— Obrigada, Alice e Lucas — murmura, com um sorriso de orelha a
orelha. Se virou para sair, mas para antes de chegar à porta. — Ah Lucas,
Antônio se esqueceu de te avisar, o nosso jantar beneficente foi marcado para
o mês que vem porque muitos dos colaboradores não poderiam vir essa
semana e ele achou melhor marcar no próximo mês.
— Ok, muito obrigada. Se nos der licença, eu tenho que ter um
momento a sós com a minha “noiva”. — Faço questão de enfatizar a palavra
noiva.
Raquel sorri para nós e realmente pude ver que era um sorriso
verdadeiro. Sempre gostei dela, não quero que fique um clima ruim no
hospital, pois nos veremos o tempo todo por lá.
Ainda bem que ela enxergou o obvio e viu que não posso ser de mais
ninguém.
— Enfim sós — falo assim que Raquel sai e olho para Alice, que está
olhando-me com olhos arregalados. — O que foi? — pergunto, já sabendo a
resposta.
— Você disse “noiva”? — as suas palavras não passam de um
sussurro.
E graças a Deus a questão Raquel foi resolvida e ela não está chateada
comigo.
— Cada letrinha da palavra, meu amor.
— Mas não somos.
— Oficialmente.
Roço os meus lábios nos dela e passo as minhas mãos por seu corpo,
que não vejo a hora de poder explorar de novo. Ela já está relaxada contra
mim.
Bom ponto, Lucas, a fez esquecer sobre o noivado. Mas eu não
esqueci, está quase tudo pronto com o meu plano. Em breve.
Mas agora quero outra coisa.
— Nossa, como você está sexy com esse vestido — sussurro em seu
ouvido.
— Estou nada. Estou me sentindo horrível.
— Você é a mais bela de todas as mulheres. A mais atraente, gostosa
e maravilhosa. Eu fico duro só de observá-la.
— Lucas, pare com isso, temos convidados e eu estou quase subindo
pelas paredes. Você não joga limpo.
Calo Alice com um beijo cheio de luxúria, fazendo-a me apertar e
gemer.
— Temos que voltar, o meu pai e irmão estão aí e eu não posso
aguentar se você continuar me beijando assim.
— Droga de empatas — falo entredentes.
Ela solta uma risada e morde os meus lábios.
— Acho que você não gostou muito do meu pai, não é?
— Eu só estou com medo de você querer ir com ele e me deixar
abandonado e sozinho aqui. — Faço beicinho para ela e depois que percebo o
que tinha dito realmente. Droga!
Quanta maturidade para um senhor de mais de trinta anos.
— Eu nunca vou deixar você, meu amor. Agora somos um só. — Ela
diz cada palavra com firmeza, olhando dentro dos meus olhos e eu acredito.
Nada pode nos separar.
Sorrindo como um garotinho, a abraço forte e deslizo a minha mão
por dentro do seu vestido, encontro a costura da calcinha do biquíni,
passando o meu dedo indicador até que estivesse enterrado em sua umidade e
falo com desejo em minha voz:
— Que tal mais tarde, depois dos convidados terem ido embora, nós
brincarmos de médico?
— Essa é a melhor ideia de todas — diz ofegante e eu continuo
acariciando a sua entrada com meu dedo, que está encharcado.
Retirei-o e o levo a boca, adorando o seu gosto em minha língua.
Chupo com delicadeza.
— O néctar da vida. Da minha vida. — Ela me olha com os olhos
acesos e morde o lábio. — Também está sofrendo, não é? — Balançou a
cabeça.
— Hoje à noite você vai ser bem atendida, minha senhora.
Sorrio e pego a sua mão, nos levando para fora, para os nossos
convidados.
22 - Alice
“Eu te amo cada dia mais, minha dorminhoca linda. Clarinha foi dar
um passeio com Léo e as meninas. Então pensei em fazermos um piquenique
romântico. Não demore, estou morrendo de saudades.”
PS: Encontre-me na parte de trás da casa, logo. Siga as pistas.
Um beijo entre o queixo e o nariz.
Essa primeira semana como noiva foi perfeita! Lucas estava ainda
mais romântico que de costume. Se é que é possível.
Quando contei ao meu pai ele disse que já sabia, pois, o meu
sorrateiro namorado falou com ele antes de me pedir, apesar de ainda estar
com o pé atrás com ele, foi procurá-lo para “avisar” que iria me pedir em
casamento e o meu pai ficou mais que feliz.
Felicidade é pouco para o que eu estou sentindo, além do nosso
noivado, essa semana fomos ao cartório e registramos a “nossa filha”, e agora
Clarinha é legalmente filha do Lucas. Não precisamos lidar com a justiça
nem nada, já que eu não tinha registrado ela ainda. Depois que saímos de lá,
choramos os três abraçados em nosso caminho para casa. Chegando, fomos
surpreendidos por nossa família com um almoço de comemoração.
Nada no mundo poderia mudar isso, a nossa família estava completa.
MARIA CLARA CARVALHO VILAR. Esse é o nome que está na certidão.
Na sexta-feira sai com as meninas para comprar um vestido para a
festa beneficente, e passamos o restante da tarde batendo perna, mas valeu a
pena, estava com saudades de sair com elas e comer besteiras, até não
aguentarmos mais.
Hoje, sábado, dia da festa, estou nervosa desde que acordei e até
agora não consegui descobrir o motivo, já liguei para as meninas para saber
se estão bem e todas disseram que sim, o meu pai e irmão também. Conferi
umas dez vezes a temperatura de Clarinha e olhei o seu corpinho todo para
ver alguma coisa diferente, mas tudo está perfeitinho como sempre. Lucas
está trabalhando hoje e disse que vai chegar um pouco atrasado, por isso vou
com o meu pai para a festa, ele vai direto do hospital.
Deve ser isso, você está insegura porque não vai chegar lá com o seu
‘namorido’. Tomara que seja isso mesmo, pois estou angustiada.
Bom, chega de pensar besteira, o meu lindo pai chega daqui a pouco e
ainda nem terminei de me arrumar.
Estou usando um vestido escolhido pelas meninas, ele é branco e
longo, com um decote estratégico na frente e as costas nuas, no cabelo eu
preferi uma trança lateral, um batom vermelho e não ousei no olho, preferi a
boca hoje. Para completar estou usando uma sandália de salto prata e uma
bolsa de mão também prata.
Quando estou terminando de me arrumar escuto o toque que coloquei
para Lucas no meu celular, a música Never Gonna Be Alone de Nickelback,
amo essa música. Corro para atender, talvez ele diga que vai poder ir comigo.
— Oi, meu lindo.
— Oi, minha linda. Como você está?
— Com saudades. —Suspiro. — Você ligou para dizer que vai poder
ir comigo? — Prendo a respiração esperando a sua resposta.
— Infelizmente não, meu amor. — Suspira. — Liguei porque queria
ouvir a sua linda voz antes de sair com o seu pai e dizer que te amo. Prometo
que assim que terminar aqui eu vou correndo para você.
— Bem, tudo bem. Eu também te amo. — Alguma coisa deve estar
errada comigo, estou me sentindo estranha mais que o normal e ele não
estando comigo me deixa ainda mais. — Vou esperar ansiosa por você lá, não
conheço ninguém mais além do meu pai e Raquel, então estou nervosa.
— Nem vai sentir a minha falta. — Sinto o sorriso em sua voz. — O
que está usando? — Ah rá!
— Não vou dizer, terá que ver com os seus próprios olhos. — Não
vou dizer que estou usando só um fio dental branco de renda, minúsculo, por
baixo do vestido
— Adoro as suas surpresas. Vou manter isso em mente até vê-la.
— É bom vir logo, então, fiquei sabendo que lá vai estar cheio de
senhores bonitões. — Rio, pois sabia o que ele diria.
— Nem sonhe em olhar para os lados e nem converse com nenhum
desses senhores! — Sua voz está bem tensa.
Uma batida na porta me faz parar de rir. Cubro o telefone e chamo
quem quer que esteja batendo. Monique, que vai ser a babá de Clarinha hoje,
entra.
— Seu pai chegou, Lili — sussurra, me olha de cima a baixo e faz um
sinal de positivo.
— Amor, o meu pai chegou, te vejo mais tarde.
— Você ouviu o que eu disse, né?
Rindo respondo:
— Claro que ouvi. Seja simpática com todos eles, não foi isso que
disse?
— Aliceeee.
— Beijos. Até mais tarde, lindo.
— Espere até eu chegar, se eu não gostar do que eu ver, você...
— Vou o quê? — o corto, dando outra risada.
Não espero sua resposta e desligo.
Monique está com a sobrancelha levantada quando olho para ela.
— Esse doutor Lucas me faz rir até quando não estou a fim. — Ainda
rindo, pego a minha bolsa e saio do quarto de braços dados com a minha
Loira.
— Qualquer coisa me liga que venho correndo — aviso, enquanto
descemos as escadas.
— Pode deixar, Lili, Clarinha me ama e vamos nos divertir muito.
— Sei.
Chegamos à sala e o meu pai está com a minha pequena no colo, está
usando um termo preto, uma camisa branca e uma gravata azul, o seu cabelo
está penteado para trás, lindo, totalmente grisalho.
— Uau, pai, você tá um gato!
— Até parece. Você que está linda, filha. Vamos?
Abraço e beijo a minha princesa e Monique e saímos para a festa, que
será em um dos hotéis mais chiques do Rio, em Copacabana, pois é de um
dos donos que é colaborador do projeto do Coração do hospital. Eu não o
conheço ainda, nem o hotel e nem o dono.
Quando chegamos, sinto uma pontada no peito que me faz perder o ar
por um instante e tenho que me concentrar para poder me acalmar.
Alice, para com isso! Repreendo-me mentalmente e sigo o meu pai
para dentro.
— Ei, maninha, olha só você! Lucas que não demore, se não vou ter
que bater em muitos caras sozinho hoje.
— Seu bobo, pare com isso. — Me sinto melhor por estar com ele,
apesar de não saber o que tenho, ver o meu pai e irmão juntos me deixa mais
confiante. Só um pouco. — Oi, Raquel, como vai?
— Bem. Você está linda.
— Obrigada, você está linda também.
Ela está com um vestido tomara que caia rosa pálido longo, o cabelo
preso em um coque no meio da cabeça, batom rosa escuro forte. O meu irmão
está com um terno cinza escuro e camisa preta.
— Não sou sortudo? — diz o meu maninho sorrindo. — Com duas
mulheres lindas ao meu lado? — Beija o meu rosto e os lábios de Raquel.
— Sai, Bruno, eu fico com a minha florzinha — o meu pai resmunga,
mas não esconde o sorriso.
— Tudo bem, papai, vamos para a nossa mesa.
Raquel pisca para mim e sorrimos desses dois. Já não me sinto com o
pé atrás com ela, estamos nos dando bem, até já saímos sozinhas, sem nossos
homens e nos divertimos muito.
No caminho para a nossa mesa somos apresentados a muitas pessoas,
como Raquel trabalha no hospital conhece a maioria do pessoal que está aqui
hoje.
Estávamos em nossa mesa há algum tempo e nada do Lucas chegar,
são quase nove horas já. Estou tomando muito refrigerante de tão ansiosa,
olho para o celular a todo minuto.
— Cadê você, amor? — sussurro para mim mesma.
Em nossa mesa estamos em sete pessoas e um lugar vago, que é de
Lucas. O meu pai está conversando com um senhor que é um empresário do
ramo dos cosméticos. O meu irmão e Raquel estão conversando com um
colega dela, que é obstetra e sua esposa que mais parece uma modelo.
De repente sinto um arrepio e os cabelos da nuca se eriçarem, começo
a suar frio, como se alguém estivesse observando-me. Olho para os lados e
para trás e não consigo ver ninguém suspeito.
— Devo estar ficando louca.
— O que foi, filha?
— Nada, pai, só queria que o Lucas chegasse logo.
— Ele deve estar quase chegando, não se preocupe.
— Claro. Vou ao banheiro e já volto.
Levanto e saio.
O banheiro fica longe do salão, estou quase chegando lá quando
alguém pega em meu braço e me puxa com força, jogando-me numa parede
que não me deixa chance de me virar. Eu já sei quem é e me encho de pânico
por um momento, por mais que eu não quisesse nunca mais sentir esse cheiro,
eu sei a quem pertence e volto para aquela noite, à noite em que lutei com
todas as garras que tinha para esquecer. Está aqui o motivo de eu estar
estranha hoje.
— Olá, querida — fala entredentes em meu ouvido. Dá-me vontade
de vomitar. — Como você é ingrata. A minha mãe faleceu e você nem para
me ligar. — Sua mãe? Esse cara é louco. — Aliás, por que você vive
trocando de celular? Estou cansado de só nos encontrarmos quando você
quer, Alice. Agora você vai comigo, já que há essa hora o seu queridinho
deve estar morto e você nunca mais vai ver aquela ratinha.
A minha respiração fica presa em minha garganta.
— O que você fez com o Lucas, seu doente?
— Eu, nada. Eu estou aqui, não estou? — Sorri e lambe o meu
pescoço. — Seu perfume está diferente. Eu gostava mais do outro, mas não
importa, eu acostumo de novo.
Ele está apertando com tanta força o meu braço que me deixa quase
sem forças para sair do seu agarre. Quase. Eu não vou deixar esse bastardo
me levar para lugar nenhum, eu não sou fraca, eu consegui superar o que ele
me fez há um ano, por minha filha eu não vou me entregar sem uma luta.
Sinto que ele está excitado, o desgraçado.
Que nojo!
Com muito esforço, consigo tirar o meu rosto da parede, ele está
beijando o meu ombro nu, uma mão apertando o meu braço e a outra na
minha cintura, está concentrado. Percebo que uma das minhas pernas não está
presa e em um movimento rápido, acerto a sua canela com o meu salto. Ele
geme e me solta por um breve momento, mas não dá tempo de fugir. Logo
estou na parede de novo, agora com os dois braços para trás, num aperto de
morte. Ele acerta a minha cabeça na parede, deixando-me um pouco zonza.
— Por que não quer ir comigo? Eu me separei de Kay como você
queria.
Do que esse louco está falando agora?
— Você é louco! Eu não sei quem é você e muito menos essa tal de
Kay. Me deixa em paz! Eu preciso voltar para a minha filha. — Eu não vou
chorar, tenho que conseguir sair daqui.
— Filha que eu nunca quis! Eu disse que não a queria, mas você não
me ouviu. Aquele dia eu fiz do jeito que você queria, te peguei do jeito que
combinamos, mas você não seguiu com o plano e sumiu. Eu tive que viajar, e
quando voltei, adivinha a surpresa de te ver grávida! Eu queria te matar, eu
ainda quero, mas eu também te amo.
Que loucura, esse homem não está dizendo nada que faça sentido.
Será que ninguém vai aparecer, estou sem forças e preocupada com Lucas.
Meu Deus, Lucas.
Lucas
Lucas volta para casa amanhã e eu tenho que sair de sua casa hoje. As
minhas esperanças de ele recuperar a memória foram desmoronadas no
terceiro dia, no quarto e quinto desisti. Já arrumei as minhas coisas e as de
Clarinha, só falta eu me despedir da minha estufa e voltar para a minha casa.
A caminho da estufa eu juro a mim mesma que não vou chorar, lá é o
lugar que enchemos de amor e alegria e não vou deixar a minha tristeza
apagar essas lembranças. Forte, eu serei forte.
Chegando cada vez mais perto, as minhas mãos começam a suar, as
minhas pernas ficaram cada vez mais trêmulas e as lágrimas, que disse que
não deixaria cair, estão ameaçando sair de qualquer jeito.
Paro no caminho, olho mais uma vez e volto para a casa. Não
consigo fazer isso sozinha. Penso comigo mesma.
— Ei, filha, o que houve? — O meu pai está na sala, segurando sua
neta.
— Preciso dela, pai, não consigo entrar lá sozinha. — Não dá para
esconder a dor em minha voz.
— Tudo bem, filha.
Sorri e me entrega Clara.
Dessa vez é mais fácil, entro pela porta e os meus olhos vão direto
para o local em que Lucas se ajoelhou e me pediu para ser sua para sempre,
depois fizemos amor.
Desvio os olhos e me concentro em minhas flores. Vou sentir tanta
falta de vir observá-las e cuidá-las todos os dias de manhã, de sentir o cheiro
e a maciez das suas pétalas.
Mas é o jeito.
— Gostou das flores, meu amor? — pergunto a Clarinha, que estava
estendendo a mãozinha para pegar uma.
Olho mais uma vez o nosso refúgio e saio de lá, pois está sendo
demais adiar o inevitável por mais tempo.
— Vamos voltar para casa, filha. Casa que a bisa nos deixou e ver o
que acontece a seguir.
Encontramos o meu pai conversando com uma Inês com lágrimas nos
olhos. Vou sentir falta dela, ela era como uma mãe para mim nesse tempo
que fiquei aqui e ela é tão querida com a minha pequena.
— Oh, minha menina, eu vou sentir tanta saudade de vocês. Essa casa
não será a mesma sem as duas. — Funga e nos abraça, fazendo um sanduiche
de Clarinha.
Abracei Inês de volta e beijo seu rosto, tentando acalmá-la, mas é
inútil porque eu estou do mesmo jeito.
— Você pode nos visitar sempre que quiser, é pertinho. Será sempre
bem-vinda. Tudo bem?
— Vou sempre que puder. Não vou conseguir ficar longe dessa
menina linda.
— Cuide dele por mim — sussurro para ela.
— Eu vou. — Assente.
Ficamos mais alguns minutos, enquanto Inês beija e balança Clarinha,
depois vamos para o carro e para a nossa nova/antiga casa.
No caminho, o meu pai tenta mais uma vez me convencer de ir morar
com ele, mas eu quero o meu cantinho. Quero cuidar da minha filha, voltar ao
trabalho e descobrir tudo que ouve no hotel na noite do acidente. Não soube
de mais nada do Leon, ele está quieto. Mas dessa vez quem vai surpreender
sou eu, não sei onde encontrá-lo ainda, mas vou e ele vai falar comigo nem
que eu tenha que quebrar todos os seus dedos.
Agora que não tenho Lucas comigo, preciso me defender sozinha.
Chega de medo, já fugi disso por muito tempo, antes achava que Leon só era
louco, mas agora tenho certeza de que tem mais coisa aí. E eu vou descobrir
ou não me chamo Alice Carvalho.
— Alice? — A voz do meu pai me tira dos meus pensamentos.
— Hã?
Olho para trás e Clarinha está brincando com o seu brinquedo.
— Chegamos há cinco minutos. No que estava pensando? Chamei
várias vezes e você estava longe.
— Nada, pai, só pensando na vida — desconverso. Não quero que ele
saiba o que pretendo fazer.
— Tem certeza que não quer ir passar um tempo lá em casa?
— Tenho, pai. Eu vou ficar bem. Josi mora comigo, esqueceu?
— Está bem, está bem, mas se precisar de qualquer coisa, qualquer
hora é só me ligar que venho correndo. Seu pai está aqui e não vai a lugar
nenhum.
Ele ainda se sente culpado por ter passado tanto tempo com medo de
se apresentar a mim e não ter estado aqui quando precisei todos esses anos
atrás. Não o culpo, na verdade, eu nem penso mais nisso, o que importa é que
ele está aqui agora.
— Eu amo você, pai. E eu prometo te chamar todos os dias. Agora
vamos entrar que eu tenho que alimentar essa mocinha, que daqui a pouco
pedirá comida aos berros. — Beijo a sua bochecha e sai do carro.
Não vou olhar para ele, sei que os seus olhos estão marejados, sempre
que digo que o amo ele fica emocionado.
Abrindo a porta de casa, sou surpreendida com os meus amigos todos
aqui. As minhas irmãs e os irmãos de Lucas, as meninas da banda, as que
trabalham na floricultura, o meu irmão, Jeff e até Raquel. Estão todos aqui.
— Ah até que enfim, estava morrendo de fome. Porra, cunhadinha, o
seu pai dirige igual uma vovozinha — dispara Léo, depois sorri meio
envergonhado quando olha para o meu pai atrás de mim. — Desculpe,
senhor. — diz, fazendo todos rirem e eu chorar.
Saber que tenho esse tanto de gente ao meu lado me faz ficar
emocionada. Mesmo os irmãos do Lucas estão aqui.
— O que está acontecendo? — consigo falar depois de duas tentativas
de fazer a minha voz sair.
— O que está acontecendo é que mesmo que estejamos tristes,
estamos felizes ao mesmo tempo, e sempre estaremos aqui para você. — diz
Léo franzindo a testa. — Faz sentido o que eu disse?
— Eu entendi. — Sorrio para ele.
— Ótimo, então vamos comer?
Explodimos em gargalhadas com a ansiedade de Léo. Nunca vi uma
criatura comer tanto e quando está com fome é chato pra caramba.
Abraço a todos e Clarinha é passada de mão em mão até parar nos
braços de Luís e sorrir, passando a mão em sua cabeça enquanto ele cheira
sua barriga, fazendo-a gargalhar.
A única pessoa que eu vou contar o que pretendo é ele, porque sei que
ele vai estar me vigiando de qualquer maneira.
— Obrigada por estar aqui — falo, encostando a minha cabeça em seu
ombro.
Depois que voltamos da fazenda ele e eu nos aproximamos mais, Luís
é um durão de coração mole.
— Ele vai voltar, você sabe. — Limpa a garganta. — Eu sei que vai.
Não respondo, porque estou com um pressentimento de que as coisas
vão ficar ainda piores.
Olho a minha pequena rindo e lembro que faz dias que ela não ria
assim. O meu coração fica mais leve. Nós vamos ficar bem até ele voltar, e se
ele não voltar, eu vou trazê-lo de volta, nem que seja na marra.
29 - Lucas
Cunhadinha...
Lucas está em casa, fomos buscá-lo em Paraty.
Boas notícias, ele não está mais com aquela bruxa. Está dormindo
agora, estava com muita dor de cabeça e o médico receitou outro
medicamento. Ele prometeu nos ouvir e ver tudo o que temos quando
acordar. Vamos cuidar dele para você, não se preocupe.
Um beijo molhado do seu cunhado preferido...
Léo.
Suspirei de alivio quando li que eles não estavam mais juntos e que
Lucas está de volta no lugar de onde não deveria ter saído. Mas não consegui
impedir a minha mente de ir para aquele lugar de novo, o lugar onde imagens
deles juntos todos os dias nesses um mês e meio, estão.
— Ei, hoje nada de tristeza, vamos chutar o pau da barraca, enfiar o
pé na jaca e aprontar muito essa noite! — Ela tem razão, hoje vou me
divertir.
— Tudo bem, Andrea, e como andam as coisas com Roberto?
— Ainda na mesma, ainda estranho. Às vezes penso que não quer
mais se casar. — Suspira. — Sei lá, pode ser coisa da minha cabeça, não
quero pensar nisso hoje. Vamos logo terminar.
— Vamos.
Chegamos na hora marcada e somos levadas para a nossa sala
privada. Como imaginei, está tudo decorado com pênis em todos os lugares,
no abajur, nos canudos, no teto. Essa ideia de juntar Chá de Lingerie e
Despedida de Solteira foi ótima. Tem muitas comidinhas com formato de
lingerie, balões na cor preta, vermelha e branco, decorando, e um manequim
com o rosto de Andrea em um espartilho matador.
Na entrada, recebemos um colar de pênis e uma tiara. Só a Dy mesmo
para fazer isso. Ri, mas coloquei assim mesmo.
Mais à frente tem peças de lingerie penduradas em uma espécie de
varal, no meio da sala. Está tudo lindo.
Essa boate é uma das melhores do Rio e hoje o traje é de gala e
máscaras, ainda bem porque estou morrendo de vergonha. Por enquanto
podemos ficar sem elas, mas fora dessa sala temos que usá-las.
As minhas amigas estão vestidas para matar.
As outras meninas vão chegando pouco a pouco e uma hora depois
estamos bem animadas já. Andrea ganha as mais lindas lingeries, de todas as
cores e para todos os momentos. Ela veste algumas e desfila para a gente.
Bebemos, dançamos e falamos besteiras.
Depois nos organizamos, colocamos nossas máscaras e vamos lá para
baixo dançar e nos misturar, seguindo Jeff.
Por incrível que pareça eu estava me divertindo. E isso me deixa feliz
e triste ao mesmo tempo, feliz por estar com as minhas amigas, mas triste por
Lucas não está à minha espera quando chegar em casa, para eu poder atacá-
lo.
Suspirando, continuo a dançar.
— Eu te desafio a mandar uma foto das suas partes femininas para o
Lucas! — grita uma Andrea meio bêbada, no meu ouvido.
— O quê? — Será que eu ouvi direito?
— Ir ao banheiro e tirar uma foto da sua florzinha e mandar para o
Lucas. Aposto que ele vai adorar vê-la de novo. — Ela está mesmo falando
sério!
— Você enlouqueceu. — Começo a rir, mas gosto da ideia.
— Ah, vamos lá, eu vou mandar para o meu noivo também. — Não
custa nada atormentar Lucas um pouquinho.
Sorrio e puxo o seu braço em direção aos banheiros. Chegando lá,
puxo a saia do vestido para cima, retiro a minha calcinha e tiro uma foto bem
íntima e escrevo na legenda:
“Ela está sentindo a sua falta, desesperadamente”.
Envio para o seu número.
— Uau, que loucura!
Estou sentindo-me uma menina má. Começo a rir e Andrea ri ao meu
lado, pois havia feito à mesma coisa que eu. Estamos rindo ainda quando as
meninas entram no banheiro e nos puxam para fora, mal dando tempo de nos
arrumarmos.
— Não vão acreditar no que Jeff fez — diz Monique indignada.
— O que foi?
— Ele disse para o cara da banda que tem uma noiva na casa hoje e
agora você vai ter que dançar para a boate inteira, Andrea.
— Eu? — Ela pergunta sorrindo. — Mas só danço se vocês dançarem
comigo... Vamos, vamos? Vai ser divertido.
— Vamos nessa. Hoje é tudo sobre Andrea, o seu pedido é uma
ordem. — Olho para as meninas e depois para Andrea. — Mas só uma, ouviu
bem?
Andrea bate palmas como uma criança e vamos para o palco. Estou
sentindo-me tão sensual, tão bem, queria tanto o meu Lucas de volta, queria
que me visse. Ele adora quando danço, mas também morre de ciúme. Sorrio
por dentro.
— Essa é para você, meu amor, mesmo estando longe está sempre
comigo — sussurro.
Andrea fala com um homem, que estava em uma cabine, e de repente
começa a tocar a música das The Pussycat Dolls – Buttons. Balanço a cabeça
e vamos para o centro do palco, como se fossemos as próprias Pussycats.
Assim que começamos a dançar ouvimos os gritos, assovios e nos
animamos mais ainda dançando, rebolando, nos jogando no chão e cantando
junto com a música. Essa é uma das nossas preferidas para dançar, sempre
fazíamos isso quando éramos mais jovens, ensaiávamos e quando saíamos
botávamos para fora as nossas habilidades. Andrea sempre amou dançar, só
não seguiu na dança por causa dos seus pais.
A música acaba, pulamos e rimos descendo do palco.
— Uau! O que foi isso, pessoal? Parabéns, meninas, vocês arrasaram.
— Ouvimos os assovios e quando estamos quase chegando à pista de dança,
ele nos chama de novo, dessa vez Jeff está lá em cima com ele. Vou matá-lo.
— Por favor, noiva, volte ao palco que você terá que nos agraciar mais um
pouco com a sua beleza.
Andrea dá de ombros e volta ao palco.
— Então, agora veja o que precisamos que faça, noiva. Você terá que
dançar para alguém, terá de seduzi-lo dançando uma música que nós
escolheremos. O que me diz?
— Vamos nessa! — ela grita e a galera gosta.
— Ela está quase bêbada — sussurra Josi, sorrindo.
— Só está alegrinha — digo rindo.
Olho ao redor e me deparo com um homem alto, que está olhando em
nossa direção e mexendo no celular. Desvio o olhar e foco no palco.
— Hum. Aquele! — diz o homem com o microfone, apontando na
mesma direção em que eu tinha olhado a pouco e, por sorte, ele estava
apontando diretamente para o homem que nos observava. — Ei você aí, você
mesmo com a máscara do Zorro. Você foi o escolhido e o sortudo a ter uma
dança com essa linda noiva.
O homem balança a cabeça e olha em outra direção, mas as pessoas
começaram a incentivá-lo a ir e aplaudir, então ele acaba cedendo. O homem
sobe no palco e Jeff o faz sentar numa cadeira, no lado esquerdo do palco.
Andrea está sorrindo animada, sua máscara é linda, branca e rendada que
cobre até o nariz. A do homem realmente parece com a do Zorro.
— Prontos? — Eles olham um para o outro assentindo. Andrea sorri e
o homem na cadeira também, depois olha para o teto e balança a cabeça. —
Vamos lá, então.
— Música DJ! Quebra tudo Andrea, o palco e esse homem são todo
seus.
A música começa e logo reconheço. Partition da Beyoncé.
Andrea vai caminhando lentamente em direção ao homem na cadeira,
fazendo contato visual e se movendo sensualmente, jogando os quadris para
um lado e para outro, depois joga uma perna, a que aparece na fenda do seu
vestido, pousando o seu pé na perna do homem. Ainda se movendo
lentamente, abaixa o corpo e só para quando está quase tocando seu nariz no
dele.
Vejo quando ele cerra os punhos ao lado do corpo e faz contato visual
com Andrea. Ela retira perna, fica de costas para ele e desce até o chão
rebolando lentamente. Andrea se afastou e depois se agacha no chão, de
frente para ele de novo, e vai rastejando ao som da música em mãos e joelhos
até o homem, mantendo contato visual. Quando chega aos seus pés, levanta e
quase senta em seu colo. Ele não resiste e ergue a mão para tocar a sua perna,
mas Andrea é mais rápida.
— Nananinanão. Sem mão boba, Zorro! — diz, apontando o dedo
para ele e sorrindo, depois continua a sua tortura com o pobre homem.
Estava rindo da cena quando ouço Adriana amaldiçoando ao meu
lado.
— O que foi, Dri?
— Olha quem está vindo ali? — diz ela, apontando para o lado do
bar.
— Tudo bem? — pergunta Josi, que estava dançando com um cara ao
nosso lado e deve ter visto a expressão no rosto de Adriana.
— Luís está aqui, olhe. Eu conheço aquela careca a quilômetros de
distância.
Mal termina de falar e Luís nos alcança, puxando Josi pelo braço e
rosnando na cara do pobre rapaz.
— Suma!
O rapaz não pensa duas vezes e sai, praticamente correndo. Ainda
segurando o braço de Josi, Luís olha para ela e parece feroz mesmo estando
com uma máscara que cobre quase o seu rosto todo.
— Precisava dançar daquele jeito, se esfregando nele? E o que
estavam pensando dançando daquele jeito em cima do palco?
Josi está bufando de raiva e quando vai responder, Luís tasca um beijo
nela, que até eu fiquei sem ar.
— Eita, que o meu irmão está bem possessivo — Adriana diz rindo e
me junto a ela, mas paramos no momento que ouço a voz de Léo. — Pronto o
outro também veio. Essa noite só melhora.
— Que porra é essa que você está usando, Monique? —
Ela, meio aturdida, olha para si mesma.
— Hum... Um vestido? — diz, mordendo o lábio inferior.
— O caralho que isso é um vestido! — esbraveja Léo. Aproxima-se
mais ainda, coloca a mão por dentro da fenda enorme do vestido dela e sibila:
— Puta que pariu, Potranca, você não está usando calcinha?
Nós ficamos sem reação diante a cena em nossa frente.
— Meu deus isso foi quente — sussurro.
E ao mesmo tempo Adriana diz:
— Eca! Ele é meu irmão.
Dá para perceber que Monique está paralisada, arregala os olhos e
depois suspira, liberando o lábio que estava mordendo.
— Do que você me chamou? — suas palavras saem meio arrastadas.
— Minha Potranca! — exclama Léo.
O que veio a seguir me faz ofegar. Monique vira a mão e dá um tapa
certeiro no rosto dele, depois dá um passo atrás. Léo só a olha em choque.
Quando ela se vira com um sorriso enorme no rosto, Léo se recupera e a puxa
pelo braço.
— Ah, tu não vai fugir. — E a beija. Um beijo e tanto.
O que posso fazer a não ser sorrir? Esse povo me mata. Josi e Luís
continuam se agarrando no meio do salão, Monique e Léo estão tão grudados
que parecem um só. A música no palco acabou e Andrea está olhando para o
colo do pobre coitado e sorrindo, faz uma reverencia e desce do palco
correndo em nossa direção. Adriana e eu? Só olhamos uma para outra e
rimos, muito.
— Não sou de ninguém — diz Josi e olhamos para onde estão no
mesmo instante que ela dá uma joelhada na virilha de Luís.
— Ouch — geme Luís, segurando os seus bens.
Josi se afasta e fica na minha frente com uma cara engraçada. Levanto
uma sobrancelha e ela só sacode a cabeça.
— Jesus, se não fosse noiva eu daria para aquele cara agora mesmo.
— Andrea geme e se abana. — Ele é tão cheiroso e eu fiz o pau dele ficar
duro.
Nos entreolhamos e começamos a rir.
Em um instante estou rindo e no próximo estou tonta, tento me
segurar em alguma coisa e quase caio. Se não fosse pelos braços que senti ao
meu redor, teria me estatelado no chão.
— Lili, você está bem? — Não consigo saber quem está perguntando.
— Vamos lá para cima, para a nossa sala.
— Não, aqui está muito cheio, vamos levá-la lá fora para pegar um ar.
Alguém me pega nos braços e quando percebo, já estamos fora da
boate e sinto o vento, que está fazendo maravilhas.
— Obrigada.
— Alice, você está bem?
A minha visão está voltando e consigo ver Luís me olhando com rosto
sério.
— Só fiquei um pouco tonta, já vou melhorar. — Sorrio.
— Pronto, à limusine chegou. Coloque Alice lá, que cuidaremos dela
e vocês dois podem ir embora — diz Josi e parece que ainda está chateada
com Luís.
A limusine foi cortesia do papai, o que agradeci muito.
Luís segue e me coloca dentro do carro, aperta o meu braço e sai.
— Tchau, cunhadinha. Sei que está em boas mãos, mas qualquer
coisa me liga, ok?
— Ok, Léo. — Ele me dá um beijo e vai embora, seguindo seu irmão.
Fiquei só, por um segundo, depois as meninas entraram e ficaram me
olhando. — O quê? Foi só uma tontura, talvez por causa da bebida.
— Anteontem você também estava só tonta, ontem você teve apenas
uma tontura. Alice, você tem que parar com isso e se alimentar direito — diz
Josi.
Claro, ela mora comigo e ultimamente está me observando demais.
— Não é nada, só estou meio enjoada e tonta.
As meninas se entreolham e depois me olham.
— Enjoada e tonta. Quando foi sua última menstruação, Lili?
— Hã?
— Nós menstruamos quase na mesma época e realmente não vi você
reclamando mês passado e você sempre reclama quando ela vem.
— Eu... Eu não lembro. O acidente do Lucas, a perda de memória e
ele sumindo com aquela vaca, eu meio que fiquei meio desligada e não
consigo me lembrar. — Quando foi mesmo? — Hum, foi...
— James, pare na primeira farmácia que encontrar. — Jeff deu a
ordem ao motorista. Nem tinha percebido que estávamos em movimento.
Fecho os olhos e tento me concentrar em lembrar. Realmente, mês
passado foi corrido, pode ter vindo e não lembro.
Momentos depois o carro para, Andrea e Josi descem, deixando-me
com Adriana, Monique e Jeff. Olho para eles e sorrio.
— Estou bem, gente, bebi um pouco e esses dois últimos meses foram
bem puxados. Deve ser estresse, não se preocupem. Prometo me alimentar
melhor.
— Nem que eu tenha que enfiar goela abaixo, você vai mesmo — diz
Jeff segurando a minha mão.
A porta se abre e as meninas entram com uma enorme sacola. Levanto
a sobrancelha sem entender.
— Eu não preciso de nenhum remédio, meninas, sério estou bem
melhor.
— James, pare no próximo bar que encontrar.
Não dá tempo nem de processar o que ela diz, pois o carro para nem
cinco minutos depois e elas saem puxando-me para fora dele.
Entramos no bar e somos agraciados com vários olhos nos
observando, até que não dava para ver mais. Entramos no banheiro e elas me
entregam a sacola. Suspiro e a abro, encontrando uns seis testes de gravidez,
um de cada marca. Sinto o ar dos meus pulmões fugirem.
— Vocês não estão pensando que...
— Não diga nada, só entre na cabine e faça xixi. — Sorri Monique e
ela parece esperançosa.
Deus, será?
— Então, tá. Mas, sinceramente não acho...
— Shi... Vai logo! — dizem em uníssono.
Entro no banheiro e faço o que elas me pedem.
Não devia ter feito aqueles testes lá, agora não paro de chorar, estou
totalmente sem palavras.
Quarenta minutos depois, estou voltando para casa com as meninas, e
a primeira coisa que noto é que o carro de Raquel nem o do meu irmão estão
lá fora.
— Raquel? Bruno? — Nenhuma resposta.
Ando mais rápido à procura deles. Eles iam ficar com Clarinha até eu
voltar. Será que saíram com ela? Olho no relógio e vejo que é apenas 02h00
da manhã. Deveriam estar aqui, é tarde para Clarinha.
— Alguma coisa errada? — alguém pergunta, mas eu já estava
ficando apavorada e não vejo quem foi.
— Não sei. Eles deveriam estar aqui. Vou olhar lá em cima.
Sigo para a escada e chegando ao quarto da minha filha, ouço.
— Shi... Tudo bem, estou aqui. Não chore.
As minhas pernas fraquejam com alguém falando com a minha filha,
não é a voz do meu irmão nem da Raquel.
Parada na porta, com as pernas trêmulas, consigo balbuciar uma
pergunta.
— Quem está aí?
Silêncio se segue e eu começo a me apavorar, porque eu sei que tem
alguém com a minha filha e não reconheço a voz. Estava quase invadindo o
quarto, sem saber o que estava à minha espera, quando a pessoa responde e
abre a porta.
— Sou eu.
— Você?!
Meu Deus, ele está aqui. E ninando Clarinha, que está meio chorosa
em seus braços.
— Você está aqui. — A minha voz está rouca.
— Eu estou aqui. — Para um momento, limpando a garganta. —
Você está tão linda que estou com dificuldade para respirar.
— Lucas... — Fecho os olhos, mas estou com medo de abrir e não o
encontrar mais aqui. — Não estou sonhando?
— Não, meu amor.
Abro os meus olhos ao som da sua voz, não acreditando o olho e me
sinto tonta mais uma vez, depois não vejo mais nada.
31 - Lucas
— Depois que voltei achei que tivesse sonhado, mas logo vi que era
tudo verdade. Raquel ainda estava lá com Clarinha e o seu irmão também.
Levantei e tomei nossa pequena dos braços dela, a abraçando forte, sentindo
o seu cheirinho.
— Mas você se lembrou de tudo? Tudo mesmo? — pergunta Alice.
— Sim, meu amor, tudo. — Pego a sua mão e beijo o seu anel de
noivado. — Como está, minha linda noiva?
Sinto a sua tensão mesmo pegando só em sua mão.
— Eu preciso saber de uma coisa, Lucas.
— Qualquer coisa, meu amor.
— Você dormiu com ela? — Dá para perceber a dor em sua voz.
— Não. — Ela relaxa assim que a palavra sai da minha boca. — Mas
não vou mentir para você. Quando estava no apartamento dela ficamos em
quartos separados e na pousada dormíamos no mesmo quarto, mas em camas
separadas.
— E nada aconteceu esse tempo todo?
Alice se levanta e começa a andar de um lado para o outro no quarto.
— Nada. Eu nem ao menos a beijei.
De repente ela para de andar e me olha com esperança nos olhos.
— Nada? — A sua voz treme enquanto ela me observa.
— Nada, amor. Mesmo não lembrando da gente, eu sabia que não era
certo, a minha cabeça podia estar ferrada, mas o meu coração sabia mais.
Sempre foi e será você o meu amor.
— Lucas... — Ela começa a chorar e cobre o seu rosto com as mãos.
Deixo que ela absorva o que disse por um momento, sem levá-la em
meus braços e fico observando como ela está linda nesse vestido.
Deus, como pude me esquecer dela?
— Como você pôde esquecer da gente? — Parece que ela leu minha
mente.
— Raquel disse que como passei por algumas coisas antes do
acidente, me deixou mais suscetível ao que aconteceu, por isso a amnesia
pós-traumática. — Lembrar o que aconteceu naquela noite ainda me deixa
com vontade de matar aquele desgraçado! Tudo sempre volta para ele. Tudo
de ruim está ligado a ele.
— Eu senti tanto a sua falta.
— Eu sei, amor. Eu nunca quis que isso acontecesse, eu nunca quis
ficar longe de vocês. Eu odeio tudo o que aconteceu — digo, aproximando-
me dela.
— Também odeio tudo o que aconteceu. Eu queria ter cuidado de
você depois que acordou, queria tê-lo levado para casa e te segurado até
voltar a ficar bom. Eu odiei todos esses dias que me deixou só, os dias que a
nossa filha queria você e eu não podia fazer nada. — Alice balança a cabeça
de um lado para o outro e as lágrimas descem por seu rosto. — Por dias eu
queria te caçar e levar ela pra você, mas ficava com medo de você não querer
e isso a machucar mais. Eu sei que não foi culpa sua, sei que tudo foi injusto,
mas ainda dói tanto...
Para e fica me olhando. Eu quero abraçá-la, mas não sei se me
deixaria, então me contenho para não assustá-la.
— Eu estou aqui e não vou a lugar nenhum sem vocês, nunca mais.
Será que você ainda me quer? Eu vou aceitar tudo o que você disser, tudo o
que quiser, pois sei que mesmo que não quisesse a fiz sofrer e me odeio por
isso. Não vou poder apagar o que aconteceu, os dias de sofrimento que
causei, mesmo sem querer, mas eu juro que vamos fazer novas memórias e
farei de tudo para compensar. Seremos nós três de novo contra o mundo.
Ela fica me olhando e olhando pelo que parece uma eternidade,
depois balança a cabeça, dá meia volta e sai do quarto.
— Acho que está aí a minha resposta. — Sento de novo na cama,
ainda segurando Clara nos braços. — Desculpe, pequena, eu... — Não
consigo terminar. Para falar a verdade nem sabia o que ia dizer.
O que farei sem elas agora? Sem as minhas meninas não sou
ninguém. Sei que não tive culpa, mas também sei como deve ter sido difícil
para Alice eu não me lembrar dela, e lembrar logo da Karin. Como eu queria
poder tirar tudo isso dela, toda a dor, toda a humilhação e traição que causei,
mesmo que involuntariamente.
Ela saiu e me deixou aqui, com certeza não queria que eu fosse
embora com Clarinha ainda acordada, está pensando no bem-estar da nossa
princesa.
— Vem, meu anjinho, está na hora de dormir. — Ela olha para mim
sorrindo. — Na verdade, mocinha, já passou há muito tempo da hora de
dormir. Olhe só para você, minha lindinha, está tão grande, o seu cabelo
cresceu mais e está muito mais linda do que quando te vi pela última vez, se
isso é possível.
Suspiro e começo a niná-la de novo, para que possa dormir e eu possa
dar espaço a Alice. Darei o tempo que ela precisar, mas não vou desistir de
nós.
Estava tão concentrado em Clarinha que não percebi quando Alice
retornou ao quarto, só notei quando ela tocou meu braço, fazendo-me olhar
em seu lindo rosto.
— Eu só vou colocá-la para dormir e vou embora, não quero que se
aborreça. Tudo bem?
Olha-me com a testa franzida.
— Embora? Mas por quê?
— Bem, você está chateada e não quero te pressionar. — Que grande
mentira. — Na verdade, o que quero é te abraçar e não deixá-la ir nunca mais.
— Então por que vai embora?
— Eu perguntei se ainda me queria e você balançou a cabeça e saiu.
— Engulo em seco. — Então eu deduzi que, no momento, não me queria.
— O quê? Não! Só sai para buscar isso. — Termina de dizer, levanta
a mão e abre, me mostrando o que tem.
No momento em que olho para baixo, sinto o ar fugir dos meus
pulmões. Em sua mão, tem vários testes de gravidez, e os que tem a marcação
para cima dava para ver que estão dizendo “Positivo”.
— Alice? — digo o seu nome mais como uma pergunta.
— Fiz no caminho para casa. As meninas me obrigaram — ela diz
sorrindo e o meu coração se enche de mais amor por ela.
— Então, nós...?
— Nós estamos grávidos, meu amor. — Ela pula e bate palmas, como
uma criança quando ganha um presente.
Deus, como eu amo essa mulher. Ela está tão linda, me olhando com
um sorriso enorme no rosto.
— Não seremos nós três mais contra o mundo. Agora seremos quatro.
— Você me faz o homem mais feliz desse mundo, Alice. Saber que
vamos ter outro filho me deixa sem palavras para expressar o que estou
sentindo.
Sinto a umidade em meus olhos diante de tamanha emoção.
— Você está feliz?
— Feliz? Feliz é pouco, meu amor. Estou em êxtase!
Não aguentando mais só olhar para ela, me aproximo até sentir o calor
do seu corpo e não resisto, colocando uma mão em sua nuca e a trazendo de
encontro a mim e beijando aqueles lábios deliciosos. Começa lento, depois
nos entregamos em um beijo que mostra o quanto sentíamos falta um do
outro e o quanto somos perfeitos juntos.
— Eu. Amo. Tanto. Você — sussurro entre beijos, ela geme em meus
lábios e me puxa mais para perto.
Não muito tempo depois somos interrompidos por um grito de
Clarinha, que está sendo praticamente esmagada por nosso corpo.
Separamo-nos bem lentamente e nos olhamos mais um pouco, antes
de darmos atenção a nossa filha.
— Olha, filha, você vai ter um irmãozinho — digo, mostrando os
testes para ela. — O que acha, minha lindinha? Será uma menina linda assim
como você ou um menino lindo para tomar conta da sua irmãzinha?
Ela fica me olhando, com certeza acha que sou um pateta. Sorrio e me
concentro em sua mãe.
— Amanhã vamos ao médico ver como nosso bebê está. Tome,
segure a nossa pequena um pouquinho.
Entrego Clarinha para ela e me ajoelho aos seus pés.
— Lucas, pare com isso. Levante — diz sorrindo.
Balanço a cabeça e me aproximo da sua barriga, a casinha temporária
do nosso pequeno. Acaricio e beijo, o tempo todo murmurando palavras de
carinho. Olhando para cima, vejo a emoção refletida em seus olhos.
Deus, como eu amo essa mulher.
— Conseguimos.
— Sim, meu amor, nós conseguimos. Ninguém vai nos separar de
novo — concordo com ela. — Agora você tem que descansar, eu vou cuidar
de vocês. Sempre. Dessa vez não vou falhar, eu prometo.
— Eu sei, meu amor.
Vamos os três para o quarto dela. Nossa menina estava quase
adormecendo. Coloco-a no centro da cama e vou ajudar Alice a tirar o
vestido, notando que ela está sem calcinha e sem sutiã, o que me faz lembrar.
— Eu recebi sua foto. — Beijo o seu pescoço, fazendo-a estremecer.
— Eu estou morrendo de saudades dela também. Mas por mais que eu queira
me enterrar dentro de você, eu quero mais segurar você e nossa filha juntas a
noite inteira.
— Está ótimo para mim — ela responde com a voz rouca.
— Eu te amo, meu amor.
— Eu te amo mais.
Estar com as duas pessoas que mais amo no mundo em meus braços é
a melhor maneira de voltar à vida. Nunca fui tão feliz em toda a minha vida
como sou nesse momento.
Dá para acreditar? Eu vou ser pai de novo!
32 - Alexandre
— Estamos prontas.
Olho para trás e vejo as minhas amigas e parceiras de crime, vestindo
roupas pretas e casaco com capuz. Dri tem em suas mãos spray de pimenta e
na outra um canivete, que parece mais uma faca, Josi tinha um nunchaku,
daqueles que você vê nos filmes de Bruce Lee. Monique tem um soco inglês
em cada mão e Andrea um porrete e uma corda. Elas estão bem empolgadas.
Quase rio da pose delas, mas resolvo deixar para depois, temos trabalho a
fazer.
— Vocês estão prontas mesmo.
— Não poderíamos ir sem estar de alguma forma armadas, não é
mesmo? Aquele homem é louco e você está carregando nosso sobrinho aí na
sua barriguinha. Vamos defende-los — diz Josi com autoridade.
Abro a boca para responder, mas o meu celular toca. Olho para ele e
vejo que é Lucas.
Meu Deus, me ajude. É por uma boa causa. É por uma boa causa.
— Oi, meu amor — falo animada ao telefone.
— Oi, minha linda. Como estão indo os preparativos para o
casamento da Andrea?
— Tudo bem. Já escolhemos as flores. — Não era uma mentira. —
Agora estamos indo em uma degustação de bolos para escolhermos o sabor
do seu bolo de casamento. E está me dando água na boca. — A parte de eu
estar salivando não era mentira. Mas o resto sim, de fato, a degustação existe,
mas não vamos nem passar perto de lá.
Meu amor, me perdoe, peço em pensamento.
— Divirtam-se. Os meninos estão chegando e Clarinha e eu estamos
nos divertindo.
— Que bom que não estou aí para atrapalhar sua diversão. — Sorrio.
— Você nunca atrapalha, estamos com saudades já. Vai demorar
muito? — geme a pergunta.
— Não sei. Depende de quantos bolos iremos experimentar, mas
assim que acabar corro para casa.
— Estarei esperando na cama. Pelado.
— Hum, que tentador. Vou fazer tudo rápido, então, te vejo mais
tarde. Amo você.
— Também te amo, minha linda.
Desligamos e eu me sinto mal por estar mentindo. Mas, mesmo assim
desligo totalmente o celular.
Suspirando, me volto para as meninas.
— Vamos logo, o quanto antes formos mais rápido voltarei para o
meu lindo noivo e a minha pequena.
— Vamos lá, garotas — diz Andrea.
— Uma por todas e todas por uma! — Essa é Monique empolgada.
Sorrimos e falamos o mesmo, entramos no meu carro e seguimos para
a casa monstro.
— Graças a Deus! O que ouve com o seu celular? Estou tentando te
ligar e nada. — Sandy mostra que está fula da vida assim que desço do carro.
Sandy é uma amiga que conheci na faculdade, nos distanciamos, mas
ano passado ela voltou para o Rio, depois que seus pais foram assassinados,
e decidiu que ia ser detetive e ajudar de certa maneira as pessoas.
— Eu desliguei o celular ainda há pouco por causa do Lucas. O que
houve?
— A mulher saiu tem uns cinco minutos mais ou menos. Ele continua
dentro da casa, dei uma boa olhada antes e parece que ele só tem dois homens
lá com ele nesse momento, então vamos logo.
— Como assim vamos logo? Eu vou entrar com as meninas e você
fica aqui.
Pena que a minha irmã saiu, mas talvez seja menos dramático plantar
a semente na cabeça dele, sem ela lá.
— Mas nem que a vaca tussa, eu sou a única que tem uma arma aqui e
não vou deixar vocês sem cobertura.
— Epa, pera lá, justiceira. Em primeiro lugar, nós viemos preparadas
e em segundo lugar, não deixaremos nada acontecer com a mamãe aqui —
intervém Adriana com uma voz autoritária.
— Mamãe? Como assim...? Não vai me dizer que está grávida,
Licinha — pergunta Sandy.
— Sim, estou, mas chega de falar e vamos entrar logo.
Ela me dá um olhar de repreensão, mas vamos assim mesmo.
Tocamos a campainha do portão e depois de um minuto alguém fala:
— Pois não.
— Olá, eu me chamo Alice e queria falar com o dono da casa, por
favor.
Quase não termino de falar e o portão se abre. Olho para as meninas,
que estão meio confusas, e entramos.
Sério, só isso? Segurança zero.
Bom para nós.
— Senhora, desculpe fazê-la esperar, não sabia que era a senhora. —
Ele parece apavorado. — Acabamos de trocar o turno.
Ele estava suando. Coitado.
A minha irmã é mesmo horrível.
— Hã... Tudo bem, não tem problema. Minhas amigas e eu queríamos
falar com Leon.
Ele fica me olhando, meio confuso, e depois balança a cabeça.
— Claro, vamos por aqui. A senhora não precisava se anunciar, ele
com certeza está lhe esperando.
Será que ele não notou a diferença? E não imagino a minha irmã
chegando com amigas. Mas tudo bem, ele talvez esteja aqui há pouco tempo.
É, talvez, seja isso. Ou talvez seja porque você está usando uma peruca loira
igual ao cabelo da sua irmã.
É, tem isso também.
— Obrigada.
Entramos e vamos seguindo o homem até uma porta fechada. Ainda
bem que ele não nos revistou, porque ia encontrar muita coisa suspeita.
O homem bate na porta e espera a resposta.
— Entre — vem a voz do desgraçado lá de dentro.
Já está anoitecendo e eu espero que isso termine logo.
— Senhor, a senhora Alice e suas amigas.
Saio dos meus pensamentos e me concentro no aqui e agora.
— Alice? Ela saiu daqui nem tem dez minutos. E você disse...
amigas?
— Sim, amigas. — Entramos no escritório e Leon fica me olhando de
cima a baixo, depois se levanta e caminha para perto de mim. — Preciso falar
com você. — A minha voz sai mais dura do que eu pretendia.
— O que houve? Está tudo bem? Achei que fosse ao cinema com sua
mãe.
Tive que rir. Ao cinema com a minha mãe? Sem chance.
— Bem, a minha irmã com certeza deve estar no cinema, mas eu
quero conversar com você — digo e tiro a peruca e o casaco.
Estou com uma blusa que mostra a minha tatuagem de estrelas no
braço direito. Ele segue os meus movimentos e arregala os olhos.
— Quando... quando fez uma tatuagem? E por que estava usando
peruca e pintou o cabelo?
Balanço a cabeça. Esse homem é um idiota, das outras vezes que o vi,
ele estava bruto e louco, agora está parecendo outra pessoa. Talvez a surra
que Luís e Alexandre deram nele, o fez criar outra personalidade.
— Eu tenho essa tatuagem desde os dezessete anos e o meu cabelo é
dessa cor há mais de três anos.
— Não, querida, seu cabelo é loiro, e bem loiro e você decidiu usar
assim depois do incidente no hotel.
Ele me faz ficar insana com a menção do dia do hotel. Isso me levou
ao que fiz a seguir.
— Você é muito burro mesmo! — grito e soco a sua mandíbula,
fazendo com que ele caia e o seu segurança, porteiro, ou sei lá o quê, venha
em minha direção, só para ser interceptado pelas meninas.
— Não se aproxime dela! — Não sei quem disse, mas o homem fica
lá.
— Por que fez isso? — Leon levanta e me olha furioso sem fazer
mais nada, pois Sandy está apontando uma arma para ele.
— E o que você fez comigo? Acha pouco me esperar sair do trabalho
e me estuprar, depois mandar dois brutamontes até a minha floricultura e me
espancar, mesmo eu estando grávida?
— Nós combinamos que ia ser uma encenação. E já fizemos isso
várias vezes, não sei porque está agindo assim agora. E a questão da gravidez
você me deixou furioso quando decidiu levá-la adiante. Não quero saber de
crianças.
— Idiota, você acha que eu sou uma pessoa, mas eu não sou a cobra
da minha irmã. Ela enganou você para que fizesse o que fez comigo por
algum motivo doentio e...
— Espera, espera. Você não está dizendo coisa com coisa e por falar
nisso, você bate muito forte, querida. — Se vira para as meninas e as olha
com ódio. — Saiam! Preciso falar com minha mulher a sós.
— Ninguém vai sair daqui — dizem com firmeza.
— Tudo bem. — Suspira e senta na borda da sua mesa. — Agora
diga, por que está agindo assim, carinho? Está de TPM?
Leon sorri e esfrega o seu maxilar.
Pego as fotos que trouxe e jogo para ele. Tenho poucas fotos com a
minha irmã, mas em uma delas nós estávamos no aniversário da mamãe.
Tínhamos vinte anos, é da época em que eu ainda tentava me relacionar com
elas.
— Não sabia que tinha uma irmã, querida.
— Pois é, eu tenho e ela se chama Angélica, sua namorada, que me
odeia tanto que armou com você sem você saber ou talvez soubesse, para
fazer o que fez comigo. O que resultou minha filha, a que você tentou que
não nascesse. — Nem tomo fôlego e continuo: — Como você pode ser tão
burro que não notou as diferenças entre nós? Eu tenho sardas no nariz e ela
não. Tenho cabelos cor de mel, ela é loiríssima. Eu tenho uma tatuagem e ela
não, eu tenho nojo de você, mas ela certamente não! — Estou furiosa.
— Olha, vai tomar um remédio porque você está louca e eu não tenho
tempo para isso.
O idiota está tremendo e me olha com desconfiança.
— Ok, então, vamos ligar para o número dela e você vai ver que eu
estou falando a verdade.
Leon fica olhando para mim como se tivesse me analisando, vejo
quando ele vacila e fica encarando o meu nariz, que fiz questão de não usar
maquiagem.
— Você está mesmo falando sério que aquele dia no estacionamento
não queria o que aconteceu e que é outra pessoa?
Balanço a cabeça, mas queria mesmo era bater nele até a sua cara
virar mingau.
Engolindo, ele pega o seu celular e liga para Angélica. O telefone toca
três vezes e ouvimos a voz do outro lado da linha.
— Oi, querido. Estou no cinema com mamãe depois te ligo. Beijos.
— A sua voz está sussurrada.
Ele nem sequer consegue dizer uma palavra antes dela desligar. Leon
fica com a cara vermelha encarando o celular. E é nesse momento que
percebo que dois dos seus dedos estão meio tortos. Hum... deve ser
consequência do carinho dos meninos.
— Então, o que acha agora?
— É mentira. Ela não seria capaz de fazer isso comigo. Nós nos
amamos, eu a pedi que se casasse comigo e ela aceitou.
— Pois bem, vocês se merecem. Dois monstros nojentos que
merecem ir para o inferno.
— Saiam da minha casa! — Agora Leon está parecendo ele mesmo.
— Ou não respondo por mim.
— Eu não tenho medo de você — digo cada palavra me aproximando
dele. — Eu odeio você, Rodrigo, não é esse o seu nome? — Ele está bufando,
mas não me toca. Talvez seja a arma apontada para ele ou a lembrança de
Luís e Alexandre. — Agora eu te dou um aviso, escute bem que não vou
repetir. Fique longe da minha família ou eu acabarei com você com as minhas
próprias mãos. Não tenho medo de sujá-las. — Bato em seu rosto com a mão
aberta, de leve. — Fica a dica.
Viro-me, chamando as meninas e saímos do seu escritório com elas
me seguindo de perto e olhando para os lados, caso Leon resolva se mostrar
como antes.
— O que acharam? — pergunto, enquanto passamos pela sala.
— Eu acho que ele realmente não foi tão cumplice da sua irmã, Lili
— diz Andrea.
— Também acho — concordam as outras meninas.
— Droga, nem deu para usar os nossos apetrechos. — Josi fala
fazendo biquinho e rimos até chegarmos do lado de fora e darmos de cara
com Lucas, Luís e Léo saindo do carro.
— Meu Deus, mano, onde fomos nos meter, elas parecem da máfia —
diz Léo, nos fazendo rir de novo. — Ou melhor, “As Panteras Detonando” —
completa e cai na risada, encostando-se ao carro e segurando a sua barriga.
Esse meu cunhado é maluco. Mas o seu irmão está me olhando com
raiva em seus olhos. Isso não é nada bom, filho.
— O que deu na sua cabeça para vir aqui sozinha, Alice? — E, lá
vamos nós.
— Não sei se você percebeu, mas eu tenho as panteras aqui comigo
— digo, tentando amenizar, mas ele não ri como os outros.
— Eu quase tive um ataque quando recebi uma mensagem do Jeff
dizendo que vocês não chegaram à degustação e não atendia o celular.
Droga! Esqueci que mentimos para ele também, mas não sabia que
ele ia nos encontrar lá. Espere...
— E como você me encontrou?
— Tem um dispositivo rastreador no seu carro — ele diz como se isso
não fosse nada.
— Lucas...
— Não! Eu não vou pedir desculpas, eu fiz isso para tentar te
proteger.
— Bem. Pois estamos quites, eu também fiz isso para te proteger e
aos nossos filhos também. — Cruzo os braços e o olho bem séria.
Ele me dá aquele sorriso lindo e me puxa para um abraço.
— Caralho mulher, você ainda vai me matar.
Suspiro em seu pescoço e inalo o seu cheiro maravilhoso. Casa,
precisamos ir para casa.
— Onde está a Clarinha?
— Ficou com o Alexandre. Eu não poderia não vir buscar a minha
mulher.
— Sua mulher é mais forte do que imagina, Lucas — diz Andrea, me
abraçando por trás. — Ela deu um soco na cara do otário lá dentro.
Rimos juntas e começamos a contar o que tinha acontecido lá dentro,
quando Luís nos obrigou a sairmos de lá e irmos embora, mas não sem antes
eu apresentar Sandy a todos e convidá-la para ir também. Pena que não deu
para vir conosco, pois tinha um compromisso.
Não vai faltar oportunidade, ela me ajudou muito.
Meia hora depois estávamos entrando na casa de Lucas. Nossa, fazia
um tempinho que não vinha aqui. Estava com saudades.
Meu Deus, eu fiz mesmo isso. Eu enfrentei Leon e não derramei uma
lágrima e nem tive medo. Por minha família eu faço qualquer coisa.
Encontramos Alexandre deitado no chão, com Clarinha dormindo em
seu peito. É uma cena tão linda, pena que não estou com a minha câmera
aqui. Mas resolvo tirar uma foto com meu celular.
— Para dormir é mais caro, babázinha linda — zomba Léo alto,
fazendo Alexandre levar um susto e Clarinha dar um grito.
— Parabéns, seu cabeça de vento. Shi... calma linda, está tudo bem —
Alexandre diz, mas para ela não estava nada bem.
Clarinha começa a chorar e só para quando vai para os braços do
Lucas.
— Olha só para vocês! — diz Alexandre nos olhando de cima a baixo
e balançando a cabeça para os apetrechos nas mãos das meninas. — Vocês
são tudo loucas, nem quero conhecer essa tal de Andrea. Deve ser igual ou
pior que vocês.
Monique estava passando perto dele, tropeçou e quase caiu, mas
Alexandre a pegou e a sentou no sofá.
— Obrigada, Alexandre, isso foi doce.
— Tão doce que apodrece os dentes — resmunga Léo, nos fazendo
cair na gargalhada.
Depois que me controlo respondo o meu novo primo.
— Ela estava conosco também, só que tivemos que deixá-la em casa
no caminho.
— Eu, hein, estou fora! — diz ele, balançando a cabeça, mas parece
que estava meio desapontado pelo que eu disse.
— Louca é pouco. Você precisa ver ela em uma moto, cara, arrasa
corações — diz Luís e não pude deixar de ver as sobrancelhas de Josi
subindo.
— Então, o que acham de um jantarzinho em família já que estamos
todos aqui? — Trato logo de mudar de assunto.
Todos concordam e as meninas seguem para a cozinha e os homens
ficam na sala, falando de nós ainda.
Eu estou muito feliz que pelo menos conversei com aquele monstro e
o fiz ver que eu não sou quem ele pensava. Agora só falta falar com a cobra
criada da Angélica. E minha mãe.
Suspiro e deixo os maus pensamentos de lado. Vou me concentrar
nesse momento, só nas pessoas que estão ao meu redor e que me querem
bem.
Vamos ao jantar em família.
35 - Lucas
Manhã de sábado perfeita, acordar ao lado da mulher mais linda que
alguém pode querer, um sol lindo nascendo lá fora, o nosso anjinho dormindo
ao nosso lado e nosso outro anjinho protegido e quentinho. A vida é mesmo
maravilhosa.
Movendo-me atrás de Alice a puxo mais para mim, acariciando a sua
barriga lisa. Não vejo a hora de começar a aparecer, da sua linda barriga ficar
arredondada, ela será a mãe mais sexy do mundo e toda minha.
Estou no céu agora com o meu amor dormindo aqui ao meu lado, tão
serena, tão linda. Incrível como essa mulher me faz apaixonar por ela mais e
mais a cada dia. Conhecemo-nos há apenas cinco meses e parece que a
conheço a vida toda.
Graças a Deus que a visita que ela fez para o idiota do Rodrigo deu
tudo certo e ela voltou bem para mim. Quando soube onde ela estava na
quarta, eu quase tive um infarto de tanta preocupação, mas foi só eu ver o seu
lindo rosto feliz do lado de fora, que soube que a minha mulher é invencível.
Admiro tanto a sua força, ela já passou por tanta coisa e continua sempre de
cabeça erguida, enfrentando o que vier.
Minha guerreira.
— Eu amo você, minha linda, mais do que você possa imaginar —
digo, beijando o seu pescoço e ela se aconchega mais em mim, respondendo
ao meu toque.
Hoje, finalmente voltaremos para nossa casa. Eu adoro ficar com ela
aqui em sua casa, mas estou sentindo falta da nossa, já providenciei um
estúdio para ela lá, aí vai poder continuar com a fotografia, que é sua segunda
paixão. Ela está um pouco triste porque vai deixar Josi, mas se sente melhor
porque Jeff estará com ela.
— Hum... acordou animado, meu amor? — Ela está acordada.
— Bom dia. Ao seu lado sempre estou animado.
Em um minuto eu estava atrás dela e no outro estou deitado de costas
na cama, com uma Alice muito nua em cima de mim.
— Agora eu vou te mostrar o que é animação, senhor meu noivo. —
Sorrindo ela começa a me dar pequenos beijos em minha orelha, pescoço e
rosto.
Alice para a centímetros da minha boca, provocando-me sem tocar os
meus lábios e começa a acariciar todo o meu corpo com suas lindas mãos
suaves, me deixando mais excitado que já estive em toda a minha vida.
— Alice, eu preciso te ver, te provar. Não me torture assim, minha
linda.
— Hoje estou generosa, está com sorte. O que você quer que eu faça?
— Eu estou pronto desde antes de você acordar e eu sinto que se não
entrar em você agora eu vou morrer.
— Oh pobrezinho. Eu vou cuidar de você.
Ela vai descendo por todo o meu corpo com beijos molhados, parando
só quando chega ao meu pau, que está mais duro que uma rocha, e fica dando
beijinhos ora com língua, ora sem, matando-me aos poucos.
— Alice, amor, eu não aguento mais. — Ela para e me olha com tanto
desejo que fico sem palavras.
— Nem eu.
Ela se posiciona, pegando o meu pênis em sua mão e o levando para
onde ele estava doendo para estar. Assim que nos encaixamos, gememos alto
e ficamos uns segundos só nos olhando.
Como é bom estar assim dentro dela, é o paraíso.
— Linda. — Puxo o seu rosto e lhe beijo do jeito que sei que ela
gosta, com pequenas mordidas em seu lábio inferior, depois aliviando com a
língua. Movemo-nos juntos, dançando em nossa paixão. — Você me
enlouquece, sabia?
— Você faz o mesmo comigo — geme e começa a rebolar mais
rápido em cima de mim.
— Me dê esses seios deliciosos, amor. Ofereça-os para mim — peço
quase sem folego.
Ela obedece e os pega nas mãos, esfregando e puxando os seus
mamilos lindos.
— Sou a porra do cara mais sortudo do mundo.
— É?
— Sim, minha linda, agora me dê eles aqui. Esse é meu trabalho.
Ela se debruça e os coloca em minha boca, onde dou a atenção que
eles merecem. Com uma mão, seguro firme o seu quadril e empurro,
encontrando os seus movimentos frenéticos. Não vou durar muito, ela tem
esse jeito de se mover que me deixa tão louco.
— Amor, amor eu não vou du...
— Lucas, estou vindo, vem comigo, eu preciso de você para vir
comigo. Ah... meu amor.
Tiro a boca dos seus mamilos e colo em seus lábios, engolindo os
seus gemidos de prazer. Eu posso sentir a sua vagina apertando o meu pau e
isso é quando eu explodo dentro dela e ela vem ao mesmo tempo, nos
tornando um.
Ficamos minutos tentando controlar as nossas respirações, abraçados
e saciados. Amor pela manhã é o melhor jeito de acordar.
— Cada dia fica melhor fazer amor com você — ela murmura
bocejando.
— Cada dia com você é como se eu estivesse no paraíso. Eu amo cada
pedacinho seu.
Ela não responde e sinto a sua respiração lenta. Ela dormiu.
Com cuidado, a coloco na cama e vou para o banheiro, molho uma
toalha e volto, limpando-a com carinho. Depois me aconchego ao seu lado e
espero a nossa pequena acordar.
— Durma, meu amor, ainda está cedo. — Beijo a sua cabeça e
começo a desenhar em sua pele. Pena ela ter que ir trabalhar hoje, mas de lá
ela vai direto para a nossa casa.
Hoje Clarinha deixou nos amarmos, fazia dias que na hora que
esquentávamos ela acordava querendo colo. Não posso reclamar, eu me sinto
tão bem quando ela está em meus braços, e saber que ela confia em mim para
protege-la me deixa nas nuvens, não vejo a hora de segurar o nosso outro
pequeno em meus braços. Posso até estar enganado, mas sinto que será um
menino. Felicidade é pouco para o que tenho em meu peito. O meu sorriso é
tão grande que chega a machucar minha mandíbula.
Ouvindo o barulhinho inconfundível de todos os dias, sei que a minha
princesa está acordada. Saindo com cuidado da cama, vou buscá-la e mais
tarde iremos para casa.
Alice
“Verdadeira Alice.”
No fundo eu sempre soube que havia alguma coisa errada, mas
como sou fraco quando se trata da sua irmã ignorei. Não espero que
entenda o tipo de amor que eu sentia por ela, nem eu mesmo entendia, mas
sei que a amava mais que tudo.
Não sabe o quanto me arrependo do que eu fiz a você, você era uma
inocente no meio disso tudo que chamávamos de “relação”, se soubesse
que não era ela eu nunca teria te tocado, por isso não espero que me
perdoe, mas mesmo assim te peço perdão pelas monstruosidades que a fiz
passar.
Confesso que nunca quis ter filhos, mas eu fui vê-la depois que você
veio aqui e me contou tudo o que eu não sabia. Eu a vi com o Lucas, do
lado de fora de sua casa, ela é uma criança tão linda. Você é uma ótima
mãe, ela tem muita sorte de tê-la. Não quero e nem espero que conte nada a
ela quando ela crescer, o seu pai é e sempre será o Lucas, mas não posso
deixar de querer compensar todo o sofrimento causado por mim e sua irmã.
Estou deixando tudo que tenho para ela, sei que dinheiro não vai diminuir
o que fiz, mas já é alguma coisa e ela tem todos os direitos de herdar o que
um dia foi meu.
Peço que aceite, faça o que quiser com ele, gaste com besteiras, doe,
ou espera ela crescer e deixe que ela decida, mas é dela.
Queria que as coisas fossem diferentes, mas não são. Eu errei muito
e mereço o que estar por vir, o que me consola é que sua irmã estará
comigo para sempre, não nos separaremos. Você merece o que há de
melhor no mundo e para que isso aconteça teremos que nos afastar. É o
melhor para vocês.
Nunca fui uma pessoa que tem o coração mole, mas por você eu
faço uma exceção.
ME. PERDOA!
E por favor, seja feliz. Você mais do que ninguém merece.
Adeus... Verdadeira Alice.
Rodrigo Leon Albuquerque.
Fim!
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