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© 2019 Luh Carvalho

Capa e diagramação: Cappia Design


Revisão: Carol Cappia

Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas. Nomes,


personagens, lugares e acontecimentos descritos são produto da imaginação
da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua Portuguesa.

Todos os direitos reservados. São proibidos o armazenamento/e ou a


reprodução de qualquer parte dessa obra, através de quaisquer meios–
tangível ou intangível –sem o consentimento escrito da autora.

Criado no Brasil
A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na lei nº 9.610/98 e
punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Dedicatória
Sinopse
Prólogo - Alice
01 - Lucas
02 - Lucas
03 - Lucas
04 - Lucas
05 - Lucas
06 - Alice
07 - Lucas
08 - Alice
09 - Lucas
10 - Alice
11 - Lucas
12 - Luís
13 - Alice
14 - Lucas
15 - Lucas
16 - Alice
17 - Léo
18 - Lucas
19 - Alice
20 - Alice
21 - Lucas
22 - Alice
23 - Lucas
24 - Alice
25 - Alice
26 - Alice
27 - Alice
28 - Alice
29 - Lucas
30 - Alice
31 - Lucas
32 - Alexandre
33 - Alice
34 - Alice
35 - Lucas
36 - Alice
37 - Lucas
Epílogo - Lucas
Dedicatória
Dedico Um Simples Olhar a minha amada mãe e ao meu querido e
amado marido, que sempre me apoiou, foi paciente, muito paciente. Muito
obrigada, meu amor.
Sinopse
Alice Carvalho é uma mulher forte, apesar de nunca ter recebido o
apoio de sua família, pela qual sempre foi desprezada, nunca conheceu o seu
pai e a única coisa que a liga a ele é o dinheiro que entra em sua conta todo
mês desde que completou dez anos. Nunca realmente se apaixonou, mas
como para tudo tem a primeira vez, o destino resolve colocar alguém em sua
vida no momento menos esperado.
Lucas Vilar é um homem sério, um profissional brilhante e tem o
coração cheio de amor. Luta contra tudo e contra todos para defender a quem
ama. Sempre sonhou em ter sua própria família, mas nunca teve muita sorte
no quesito relacionamento. Quem sabe o destino não dê uma forcinha agora.
Vocês acreditam em amor à primeira vista? Alice e Lucas não
acreditavam, mas bastou “Um Simples Olhar” para eles mudarem de opinião.

Não recomendado para menores de 18 anos.


Prólogo - Alice
Acordo sobressaltada com os gritos que me arrancam do sono. Olho
para cima para ver Josi, uma das minhas melhores amigas e sócia da
“Floricultura Bella”, com uma cara não muito boa. O que é raro, diga-se de
passagem, pois Josi está sempre de bom humor.
Hoje me cansei mais rápido do que os outros dias e resolvi tirar um
cochilo no quartinho que temos nos fundos da loja.
— Josi, me deixa, já disse que não vou sair hoje. — Essa menina não
cansa nunca.
— Anda, Lili, é sério — diz ela, com a voz estranha.
— Só mais um pouquinho...
Quem sabe não consigo voltar para o meu sonho, que foi
interrompido bem na hora em que o Elijah ia me beijar — Elijah é o meu
príncipe, que sou totalmente apaixonada do livro “Proibido de entrar no
Paraíso” da escritora Priscila Silva. Adoro os foras que a Marissa dá nele.
São hilários esses dois.
Droga! Saco viu, essa estraga prazeres da Josi me fez perder a minha
chance.
Saio da cama sem olhar para ela e vou ao banheiro, com Josi logo
atrás de mim. O que será que ela tem? Volto-me para ela e a encaro de
braços cruzados.
— Anda logo, desembucha — falo, não querendo saber de enrolação,
pois já tinha perdido mesmo a minha grande chance de beijar o meu príncipe.
— Lili, tem dois sujeitos estranhos querendo falar com vc.
— Estranhos como? — pergunto, já com medo da sua resposta e
dirigindo-me para a loja, sem me importar com a minha aparência recém-
acordada.
Tento manter a calma. Não pode ser quem estou pensando que é. Por
favor, Deus, não!
— Senhores, sou Alice Carvalho, como posso ajudá-los?
Eles me olham de cima a baixo e erguem as sobrancelhas. Depois se
olham, dão de ombros e vem em minha direção. São fortes, altos e ambos
usam preto da cabeça aos pés.
Tudo acontece tão rápido que só me dou conta quando um deles me
dá um soco no rosto e caio no chão com uma dor excruciante e tonta pela
força dele. Josi grita e corre para mim, só para ser pega por um deles e jogada
na parede próxima. Não consigo ouvir mais os seus gritos e fico preocupada.
O outro homem me levanta e segura com ambas as mãos o meu
pescoço, deixando-me sem ar. Olho em seus olhos e vejo que estava perdida.
Mas por que estão fazendo isso comigo? Nunca fiz mal a ninguém.
— Por favor, eu tenho dinheiro, pode levar tudo — com um fio de
voz que ainda me resta consigo falar, apesar do seu aperto.
Ele sorri, me joga no chão e me chuta duas vezes nas costelas. Deus!
Não vou aguentar.
— Presta atenção que só vou falar uma vez — fala o brutamonte
número um. — Vadia boa é vadia morta. O senhor Leon manda lembranças.
Depois se vira e, junto com o brutamonte número dois, sai rindo como
se nada tivesse acontecido. Não consigo me mexer, dói tudo e não consigo
falar, me sinto tonta e também preocupada com a Josi. O que será que
fizeram com ela?
Não sei quanto tempo se passa, pois para mim parecem horas e eu
estou com dores fortes na minha barriga e por mais que queira gritar por
ajuda, não consigo.
Deus, não deixe que nada de mal nos aconteça!
Não tenho medo por mim, mas por ela. Com uma força que não sei de
onde vem, consigo me arrastar aos poucos até a porta. Como ela é de
empurrar, consigo abri-la e me arrasto pela calçada bem na hora que um
homem se aproximava da floricultura.
Consigo ver só um vulto. Fecho os olhos sem forças para nada, mas
consigo ouvir alguém falando.
— Preciso de uma ambulância, urgente...
Não consegui entender mais nada do que ele falava com quem quer
que fosse, mas senti um toque ou outro no pescoço, na barriga. Em certo
momento, consegui abrir os olhos e olhei para a pessoa ao meu lado e... Deus
do céu, só posso ter morrido, pois quem estava à minha frente era um perfeito
anjo. O seu rosto é perfeito, cabelo castanho-claro e os olhos verdes. Boca?
Totalmente beijável, como dizem as minhas amigas taradas. — Deus por que
me levaste tão cedo? Se bem que valeu a pena, já que um anjo desses estava à
minha espera.
— O quê? — pergunta ele com preocupação em seu lindo rosto.
Deus do céu! Eu disse isso em voz alta? Que vergonha. Uma luz
ilumina o seu rosto e... Uau, não dá para acreditar! Eu morri e fui para o
céu, não sei por que, mas fui. Obrigada senhor!
Tento manter os olhos abertos e entender o que ele fala, mas não
consigo distinguir. E em seguida não vi mais nada. Só escuridão.
01 - Lucas

Hoje faz quatro dias que encontrei aquela moça na calçada em frente à
floricultura, que por sinal iria comprar flores para a minha irmã, pois era
aniversário dela. Não consigo tirar da mente aquele olhar. Como um simples
olhar pode mexer tanto comigo? Sabendo que ela estava ferida e ainda por
cima grávida? Senhor, quem ousou fazer isso com uma mulher e em seu
estado ainda. Teria sido o marido? Mas não vi aliança em seu dedo.
Namorado?
Tomara que não.
De repente sinto um ciúme que não tenho o direito de sentir por ela,
afinal nem a conheço. Mas Josi, sua amiga que também estava na loja e
acabou desmaiando com o impacto da parede em que foi jogada, não chamou
ninguém do sexo masculino desde que recebeu alta. Graças a Deus está tudo
bem com ela.
Josi me disse que o nome da minha menina é Alice.
Opa pera lá, eu disse minha menina? Eu realmente disse. Estou
fodido. Não consigo explicar o que estou sentido. Só sei que estou.
Todos os dias vou ao seu quarto e fico com ela o máximo que o meu
horário permite entre uma consulta e outra. Seguro a sua mão, observo o seu
lindo rosto, converso com ela e conto sobre a sua linda princesa. Depois saio
e vou ao meu lugar especial antes de voltar ao trabalho.
Estou furioso e preocupado, se eu pegar quem fez isso com ela, mato.
Ela ainda não acordou, mas o médico que a atendeu é um dos melhores aqui
do hospital e ainda é meu amigo. Disse-me que está tudo bem com ela. Alice
teve uma leve concussão e é até melhor que fique desacordada mais um
pouco. Tiveram que tirar o bebê às pressas, mas graças a Deus deu tudo certo.
É uma menina! A coisa mais linda que eu já vi na minha vida, nem (Adriana),
minha irmã, quando pequena, era tão linda quanto ela.
Que ela não me ouça. Minha maninha é muito ciumenta. E mesmo
assim, adivinha onde estou hoje? No berçário babando a minha menininha.
Opa! Aconteceu de novo.
O que deu em você, cara?
— Doutor Lucas a sua namorada acordou, ela está um pouco nervosa
e quer ver a filha. É melhor o senhor ir lá e tentar acalmá-la — diz uma
enfermeira, tirando-me dos meus devaneios.
Minha namorada? Na verdade, gostei do som disso. Mesmo sabendo
que não poderia acontecer.
— Obrigado, Carmem. É o que vou fazer agora.
Não querendo desmentir o fato sobre Alice não ser “a namorada”,
saio me sentindo feliz como há muito tempo não sentia.
Chego ao quarto e é como se alguma coisa se acendesse dentro de
mim.
Como ela é linda! Sua pele clara tem algumas marcas da agressão,
mas estão sumindo e nem isso tira a sua beleza, muito menos o vestido do
hospital. O seu cabelo de um loiro mel incrível — acho eu, não entendo
muito dessas coisas de cores. — Mas é linda a cor deles e estão com uma
trança de lado, sobre o ombro direito.
Como se sentisse alguém a observando, se vira e me fita com os olhos
mais lindos que já vi na minha vida e um sorriso que faz alguém, que não
devia acordar lá embaixo.
Acalme-se, companheiro! Quer me fazer passar vergonha na primeira
conversa que terei com a moça? Foco, cara. Onde eu estava mesmo? Ah!
Os olhos.
Olhando daqui parecem azuis, mas quando vou aproximando-me
percebo que são de um verde claro tão intenso que paraliso no lugar. Ela
também tem umas sardas no nariz, que torna o seu rosto ainda mais lindo.
Sinto um misto de emoções dentro de mim, que acho que nunca mais
fosse sentir.
O que na verdade era uma grande mentira, pois nunca senti tal
magnetismo apenas com um simples olhar inocente. Mas vamos deixar esse
pensamento para mais tarde. Só sabemos uma coisa com certeza, não é
companheiro?
Estamos fodidos!
Alice

Acordo um pouco desorientada, sentindo uma leve tontura e


preocupada com a minha filha. Começo a chorar sem saber o que aconteceu,
tento não pensar no pior, mas é impossível. Desespero-me aqui sozinha nesse
quarto, mas logo vem uma enfermeira, me examina e sai dizendo que vai
chamar o meu namorado. Tento entender, pois não tenho namorado nenhum,
mas decido deixar isso para depois.
Recosto-me melhor na cama e fecho os olhos, tentando me acalmar.
Não demora muito e sinto que deveria abrir os olhos.
Deus, eu quero a minha filha.
Olho para onde o meu interior queria que eu olhasse e sou
surpreendida por uma visão. Sorrio. Não sei por que, nem conheço esse
homem, mas sinto que não é como aqueles que me agrediram.
Ele dá um passo à frente e logo paralisa no lugar. Os seus olhos lindos
e bondosos, como me lembrava do meu sonho, observando-me. É isso! Eu o
conheço do meu sonho. Meu herói!
— Oi — fala, com uma voz que é um convite para a perdição.
Oh Deus!
Sério? Além de lindo, precisava ter essa voz rouca como se estivesse
gozando e sussurrando palavras sujas ao meu ouvido? Pera lá, dona Alice, de
onde veio isso? Está até parecendo uma daquelas donas de casa
desesperadas, como passa na TV. Você acabou de parir, dona tarada! Foco
menina, foco!
— Mas não estou morta.
— O quê? — indaga confuso.
Ah não, eu disse isso em voz alta? Eu e minha boca grande. Ele vai
pensar que sou maluca, isso sim. Vamos ao que realmente interessa.
— Onde está a minha filha? Por favor, diga que não aconteceu nada
de mal com ela. — Volto a me desesperar, tento levantar da cama e sinto uma
dor em minha barriga e cabeça, que me deixa zonza.
Choro e grito ao mesmo tempo. O homem vem para mim e me abraça
de leve, com carinho.
— Calma, ela está bem. Calma. É o bebê mais lindo do berçário e está
fazendo o maior sucesso com os garotos no quarto. É linda como a mãe dela.
Fico sem jeito. Lógico que ele estava falando isso para tentar me
alegrar. Claro, como estar linda se acabei de ser espancada e dar à luz a uma
criança? Sem contar que estou parecendo uma Jamanta gorda.
Menos, Alice, menos.
— Obrigada, mas creio que isso não seja verdade.
— Nunca fui tão sincero em toda a minha vida. — Sua voz é rouca
com um toque de desejo. Nossa que voz é essa?
Olhamo-nos por tempo demais para o meu gosto, mas quem disse que
conseguia tirar os olhos desse homem? O seu olhar tem um poder tão grande,
que se já não estivesse deitada, teria caído com a moleza que sentia em todo o
meu corpo.
E isso não tem nada a ver com termos médicos. Não mesmo.
Consigo desviar os olhos dos seus e me deixo passear pelo seu corpo,
o que é uma péssima ideia. Ele está usando uma camiseta branca e jeans
escuro que se molda ao seu corpo com perfeição. Tem ombros largos, braços
fortes e um rosto de causar inveja nos poucos namoricos que tive. Se juntasse
os três não dava nem os seus pelos... Da barba.
Minha nossa senhora das paridas necessitadas, o que é isso?
Fecho os olhos, balanço a cabeça para tentar dispersar esses
pensamentos e foco no que realmente importa. A minha filha!
— Quero vê-la. Sinto que tiraram um pedaço de mim e isso está me
deixando fraca. Odeio essa sensação. — Odiava de verdade.
— A enfermeira já vai trazê-la, não se preocupe. Como está se
sentindo?
— Bem. Assim que acordei me senti estranha, mas agora estou bem
melhor.
— Que bom. Fico feliz em saber. — Sorri e senta em uma poltrona
que está ao lado da minha cama, a qual não tinha notado antes. — Onde está
o seu marido? — pergunta com a voz diferente e percebo que o seu
semblante mudou também.
Estranho, estava todo suave ainda há pouco.
— Não tenho e nem quero.
Fui sincera, realmente não me importo, nunca quis. Também nunca
estive apaixonada. Mas vamos esquecer isso e focar na minha pequena, que é
o mais importante em minha vida neste momento.
— Nunca? — Sua voz volta a ser suave nesse momento.
Quando vou responder sua pergunta, a porta do quarto se abre e entra
uma enfermeira com a minha filha no colo, seguida por um médico. Lágrimas
escorrem pelo meu rosto emocionado. Vou ver o seu rostinho pela primeira
vez em quatro dias.
A enfermeira me informou que passei esses dias recuperando-me de
uma concussão, que graças a Deus foi leve. Josi e a minha filha também
estavam bem e isso completava a minha alegria.
A mulher se aproxima e a coloca em meus braços.
Prendo a respiração.
Sei que vou amá-la de qualquer jeito, não importa com quem se
pareça. Olho em seu rosto e a abraço, sentindo-me a pessoa mais feliz da face
da terra.
— Oi, minha vida. Mamãe está aqui. Eu te amo tanto.
— Bom dia, senhorita Alice. Sou o doutor Caetano e a atendi quando
deu entrada no hospital há quatro dias. Como está se sentindo?
— A pessoa mais feliz deste mundo inteirinho. Olha como ela é
perfeita.
— É muito linda mesmo. Meus parabéns! Bom, temos que examinar a
senhorita para ver se está tudo bem e aí poderá ir para casa amanhã e curtir a
sua filha.
E com isso o meu “herói” pega a minha pequena no colo e eu fico
maravilhada em como eles ficam perfeitos juntos.
Opa, de novo, de onde veio isso? Acho que bateram na minha cabeça
forte demais e o efeito veio atrasado.
Concentro-me nas perguntas do médico e decido esquecer o homem
ao lado, o que estava difícil pra caramba. Tenho certeza que entendem o que
quero dizer.
Agradeço a Deus, pois está tudo indo bem e eu poderei ir para casa
amanhã. Hoje ficarei em observação só para garantir a minha recuperação.
Mas logo me lembro do que aconteceu na loja e me desespero. Se aqueles
brutamontes forem na minha casa eu não conseguirei proteger a minha filha e
nem a mim. Eles são mais fortes.
Aquele desgraçado! Só podia ser ele. Há muito tempo que não recebia
nenhum telefonema estranho e nem tinha a sensação de estar sendo seguida.
Achei que ele tinha me deixado em paz.
Ledo engano, minha querida!
Não temo por mim. Há muito tempo ele não me amedronta mais, mas
a minha bebê é tão frágil e indefesa. Vou ter que chamar as meninas e ver o
que podemos fazer.
— Bom, vou indo — diz o doutor, tirando-me dos meus pensamentos
angustiantes. —— Lucas, posso falar com você um minuto?
Uau. Sempre achei lindo esse nome. Se tivesse tido um menino esse
nome seria o escolhido. Então esse é o seu nome? Combina com ele. “Lucas
Lindo”.
— Claro, Caetano.
Lucas me olha e diz que volta depois, deixando-me com a minha
pequena e tentando entender o que ele quis dizer com isso.
Tá ele me salvou, mas por que ainda está aqui? Deve ter uma
namorada esperando por ele ou até mesmo uma esposa.
Espero que não.
De repente me bate um ciúme que nunca tinha sentido com homem
nenhum com quem já estive envolvida. Suspiro e olho para a minha filha, que
nesse momento abre os olhos e vejo que são iguais aos meus.
— Obrigada, meu Deus, não sabe o que isso significa para mim.
02 - Lucas

Saio do quarto seguindo Caetano. Já sei o que ele vai falar, mas
resolvo lhe dar o benefício da dúvida.
— Vamos, me diga, o que está acontecendo com você e essa moça?
— Nada está acontecendo. Ainda — sou sincero.
— Ah é? Pois parece que está acontecendo tudo. Você age como se
fosse o marido dela e o pai da menina. Eu vi quando a pegou no colo, parecia
um daqueles pais babões do ano. — O seu rosto mostra preocupação. — Eu
não quero que você passe pelo que passou com Karin e...
— Ela não é como a Karin. Você não a conhece, então não a compare
com aquela mulher! — digo com raiva por ele me lembrar dela.
— Ah e você a conhece, o quê? Uns quatro dias. E hoje foi a primeira
vez que se falaram e já a conhece? — Suspira.
Sei que ele está certo, mas sinto que ela é diferente.
— Caetano, eu não sou mais criança e eu sei o que estou fazendo.
Fique tranquilo, tudo vai ficar bem.
— Ok. Você quem sabe.
Caetano sai, deixando-me sozinho no corredor.
Hoje não trabalhei. Resolvi ouvir os meus irmãos e tirar umas férias
do hospital. Desde o fim do meu noivado com Karin que eu não tiro e tem
mais de três anos.
Volto para o quarto de Alice e vejo que ela está amamentando a sua
filha. Fico observando e me sinto um pervertido. Como essa mulher é linda.
Desejei ser eu a estar sugando o seu mamilo em minha boca e sentir o
seu gosto. Só de imaginar minha boca lá eu já fico duro.
Deus do céu o que há comigo? Voltei a ser adolescente, é isso?
— Você vai ficar aí olhando o meu seio o dia todo?
Fui pego. Droga!
— Desculpe — digo, meio sem graça por ter sido repreendido.
— Eu só estava brincando, mas se quiser eu tiro uma foto e te dou. —
Sorri brincalhona e me dá um olhar que me deixa desconcertado.
Não bastava esse seu olhar, tinha que ser engraçada também? Ela
realmente está mexendo comigo.
Alice olha a menina e diz com a voz embargada.
— Eu queria te agradecer por ter nos salvado. Eu ainda não vi a Josi,
mas a enfermeira disse que ela está bem e nem ficou internada. Muito
obrigada!
— Quem fez isso com você?
— Não sei — responde rapidamente.
Percebo que ficou meio nervosa e resolvo deixar passar. Não é o
momento.
— Então acho que precisamos nos apresentar. Eu me chamo Lucas
Vilar, sou médico Cardiologista aqui nesse hospital, mas desde hoje estou de
férias.
— Me chamo Alice Carvalho, mas acho que já sabia, não é?
— Sim, mas prefiro ouvir de você. Lindo nome, para uma linda
mulher.
Ela sorri, morde o lábio inferior meio nervosa e suas bochechas
coram. Olha para a pequena em seus braços e informa emocionada:
— E essa pequena aqui é a Maria Clara.
— Muito prazer, Clarinha. — Olho para ela e resolvo falar o que
estava pensando desde o dia em que a vi. Se ela vai aceitar aí é outra história,
mas vou arriscar assim mesmo. — Eu queria te perguntar uma coisa. Sei que
a gente acabou de se conhecer e eu não tenho o direito de invadir sua vida,
mas é que eu estou preocupado com você e a Clarinha sozinhas. E como você
teve uma cesariana, vai precisar de alguém por perto o tempo todo e...
— Não me diga que é o que eu estou pensando, pois, a resposta será
não.
— Mas você nem esperou eu terminar. E se aquelas pessoas
resolverem voltar, eles poderão descobrir onde você mora, se já não sabem. O
que vai fazer?
— Eu tenho a minha madrinha Lívia e minhas amigas. Que, aliás, já
deviam estar aqui.
— Suas amigas estão no café ali embaixo. Levaram a Josi para comer
alguma coisa, ela não tem se alimentado direito esses dias, estava muito
preocupada com você. E sua madrinha está viajando, mas prometeu que volta
até o fim de semana. — Paro, pensando numa maneira de fazê-la ceder. —
Elas não têm que trabalhar? E eu estou de férias e posso ajudar a Josi com a
floricultura e ficar com você e a Clarinha até a sua madrinha voltar.
Acho que consigo tocar em alguma coisa que a faz pensar, pois ela
não me corta como antes. Estou nervoso. Afinal, o que há de errado comigo?
Estou aqui, praticamente implorando para cuidar de uma mulher que mal
conheço e com um bebê ainda. É claro que eu não faço isso todos os dias,
mas sei que não conseguirei dormir se eu não as tiver em segurança. E se eu
for bem sincero comigo mesmo eu não quero ficar longe delas.
Parece uma eternidade até Alice me olhar com aqueles olhos lindos e
eu ficar sem palavras. De novo.
— Sinto muito, mas eu não posso. Agradeço mais uma vez por nos
salvar, mas é só isso. Se você me der licença, as minhas amigas vão chegar
daqui a pouco e gostaria de um pouco de privacidade — fala, tão diferente
dessa vez que fico olhando para ver se é a mesma pessoa que falou comigo
ainda há pouco.
Respiro fundo para não soar irritado. Ela está certa. Quem em sã
consciência vai morar com um estranho? Não sei onde estava com a cabeça.
Acho que essas férias vieram a calhar, não conseguiria me concentrar no
trabalho de jeito nenhum.
— Se é isso o que você quer, então terá. Não incomodarei mais.
Adeus Alice! — Aproximo-me um pouco e dou um beijo na cabeça de
Clarinha. — Tchau, meu anjinho.
Saio do quarto com um sentimento de perda que nunca havia sentido,
mas vou superar, afinal ela é apenas uma mulher que eu salvei, como ela
mesma disse.
Pego o meu telefone e ligo para Luís, o meu irmão mais velho e
melhor amigo, ele atende no primeiro toque.
— Fala, mano, o que te deu para me ligar a uma hora dessas? Não
está trabalhando?
— Estou de férias e queria te perguntar se podemos nos encontrar
naquele bar perto da academia? Preciso conversar com você.
— Claro. Às 20h00, então?
— Combinado!
Desligo o celular e me dirijo ao elevador. Tenho que sair daqui. E
amanhã eu resolvo se continuo de férias ou adio mais uma vez.
Alice

Até agora não consegui entender por que eu falei daquela maneira
com Lucas? O que eu fiz? Ele só queria que estivéssemos seguras. Estava
pensando em nosso bem-estar. Por outro lado, acho que foi melhor assim,
nem nos conhecemos, não sabemos nada um sobre o outro. Então por que a
senhorita não para de pensar nisso desde que o homem saiu daqui há meia
hora? Boa pergunta. Por que mesmo?
— Cadê a mamãe mais linda do mundo?
Levanto os olhos e me deparo com as minhas mais que amigas, Josi,
Nique, Andrea e Adriana, na porta, observando-me com um sorriso de orelha
a orelha e com minhas flores favoritas e presentes nas mãos.
— Oi, meninas! Vocês demoraram, achei que nem fossem vir.
— Até parece que a gente ia deixar de vir e olhar para os gatos que
trabalham aqui. Gente, aqui mais parece uma agência de modelos do que um
hospital. Não vi nenhum médico velho e nem barrigudo desde que chegamos.
Nossa, limpei minhas vistas pelo resto do ano — brinca Josi.
Tive que rir com as meninas, pois os dois médicos que eu vi são
lindos demais. Um em particular, mais que o outro.
— Tenho que concordar com você, Josi. E olha que só vi dois.
— Como você está se sentindo? — perguntam as quatro ao mesmo
tempo, o que me fez rir.
— Estou bem. Sentindo um pequeno incomodo na barriga, mas nada
que eu não consiga suportar.
Olho para cada uma delas com uma sensação de alívio por estar viva e
aqui com elas, que desde muito tempo são o meu porto seguro. Conheci Josi
quando fui visitar a minha avó quando era criança em Laranjeiras. Ela
morava na casa vizinha e desde então não nos desgrudamos mais. Foi tipo
uma amizade à primeira vista.
Andrea é prima de Josi, no começo nos estranhamos um pouco. Mas
um dia, quando um menino no parquinho disse que eu parecia um macaco,
Deia bateu nele e disse que sumisse da nossa frente, pois ele é que era um
macaco fedido. Desde esse dia ficamos inseparáveis.
Nique é filha da minha madrinha Lívia, ela é doce, meiga e as vezes
até parece inocente.
Dri se juntou a nós um pouquinho mais tarde. Conhecemo-nos no
curso de fotografia e a apresentei as meninas, hoje somos um grupo
inseparável. Elas são mais minha família que a minha própria. A minha mãe
nunca gostou de mim, prefere a minha irmã gêmea Angélica, pois ela sempre
foi a mais magra, a mais bonita, a mais obediente. E como dizem minhas
amigas: a mais chata. Tenho que concordar com elas.
Nunca conheci o meu pai, minha mãe disse que ele não quis saber da
gente. Mas sei que é ele que me manda dinheiro todos os meses. Isso vem
acontecendo desde que completei dez anos e não é pouco dinheiro. Claro,
por que dinheiro compra amor, né? Só que não. Queria tanto conhecê-lo.
Agora a minha filha não vai ter ninguém para chamar de avó e avô. Dona
Daniela prefere morrer a ver a mim ou a minha filha. A última vez que a vi,
disse que se eu não tirasse “essa coisa”, como ela chamou minha bebê,
poderia esquecer que tinha uma mãe.
— Que bom que está bem, Lili. Eu estava quase pirando porque você
não acordava. Mas o Lucas me disse que estava tudo bem, que só precisava
descansar, pois você teve uma concussão quando sua cabeça bateu no chão
— diz Josi, tirando-me dos meus devaneios.
— Por falar em Lucas, ele só saia do seu lado quando tinha que voltar
para os seus pacientes. Ficava aqui segurando sua mão e conversando como
se você pudesse ouvir. Estava realmente preocupado com você.
— Sério? — indago.
Isso só me faz sentir pior do que eu já me sentia, pelo modo como o
tratei. Mas se ele soubesse a verdade não ia querer ter nada a ver comigo e
nem com a minha filha.
— Sim, às vezes quando eu ia ao berçário via ele babando na nossa
pequenina também. Acho que ele gostou de vocês — ela fala de uma
maneira, como se Lucas estivesse mesmo interessado. Até parece.
— Bom, será que eu posso segurar a minha afilhada um segundo? —
Já vi que vai ter briga. Josi fala isso desde que soube que eu estava grávida.
— Sua nada, minha. — diz Nique e Dri ao mesmo tempo.
Não disse? E lá vamos nós.
— Chatas. Todo mundo sabe que eu é que sou a madrinha. Como
você vai chamá-la? — Andrea a pega no colo e fica olhando para ela, como
se fosse uma coisa de outro mundo. — Como pode ser tão linda? Eu quero
uma.
— Tenho certeza que Roberto vai amar saber disso, Deia — falo, não
perdendo o brilho em seus olhos enquanto olhava para a minha filha.
Roberto é noivo de Andrea há um ano e sempre quis ser pai, ela é que
vive fugindo do assunto.
— Chega de monopolizar a minha afilhada. Dê-me ela aqui.
— Cai fora, Nique, ela não gosta de virgens.
Tenho que rir.
— Claro que gosta, pois ela também é. — Toma essa, Deia. —
Bobona!
— Vocês são muito infantis — Dri resolve entrar na conversa
enquanto as duas louquinhas disputam a minha filha. — Então, Lili, como vai
se chamar a nossa mascote?
— Maria Clara. Queria dar o nome da minha avó para ela e sempre
gostei do nome “Clara”. Então juntei os dois. O que acham?
— Lindo nome, Lili. Mas vou chamá-la de Clarinha, tudo bem? —
Me lembro de outra pessoa que também a chama assim e rio com o
pensamento. — O que foi, do que está rindo?
— É que quando falei o nome da Maria Clara para o doutor Lucas ele
a chamou de Clarinha como você — explico.
De repente sinto um aperto no peito, como se nunca mais fosse vê-lo
outra vez.
— O doutor Lucas? Você conheceu o meu irmão?
— O quê? Estou falando do homem que nos salvou e nos trouxe para
o hospital. Por falar nisso, a senhorita nunca nos apresentou os seus irmãos,
sua ciumenta!
— Ok. Vamos ver se entendi direito. O homem que a Josi estava
falando lá embaixo, que é lindo, gostoso, um anjo e tudo mais é o doutor
Lucas que trabalha aqui?
— Sim — respondo, sem entender nada.
— Então acho que ele está perdoado por esquecer do meu jantar de
aniversário.
— Do que você está falando, Dri? — pergunto.
As meninas também parecem estar esperando uma explicação.
— O Lucas que as encontrou aquele dia é o mesmo Lucas, meu irmão
e Cardiologista desse hospital. Que mundo pequeno, não?
Estou sem palavras diante dessa nova descoberta.
— Como assim? Ele se apresentou como Lucas Vilar e você não tem
Vilar no nome.
— Pois é, eu não sou filha do marido da minha mãe e sim de um caso
que ela teve com sei lá quem. Incrível, eu sei. — Nossa! Que revelação. —
Bom, então acho que agora podem dizer que conheceram um dos meus
irmãos gatos, hein.
— E que irmão. Jesus! Eu com um doutor desses na minha vida
ficaria doente todos os dias. — Josi se abana de forma teatral e olha
novamente para Adriana. — Você disse cardiologista? Aí meu coração!
Preciso dele agora mesmo.
Como sempre, Josi entra com uma das suas pérolas para tentar
diminuir a tensão no quarto. O que funcionou, pois todas riram, até mesmo
Dri. Mas eu sei que ela sente muito por isso, conversarei com ela depois com
mais calma.
— Tome jeito, menina. O meu irmão não é desses por aí, é um
homem sério. — Fita Josi e parece um tanto triste quando continua: — Acho
que por isso que não tem muita sorte com os seus relacionamentos. Às vezes
é sério até demais, mas é o jeito dele, o que o torna ainda mais especial.
— Sério como? — a pergunta sai antes que eu pudesse pará-la.
— Ele não ri muito. Quase não sai, não gosta de balada, prefere ficar
em casa e ler um bom livro ou estudar. É do trabalho para casa, de casa para
o trabalho. Nada de ficar com uma e com outra, prefere namorar, esse tipo de
sério. Nosso irmão Léo, diz que ele é o sinônimo de chato. Eu não concordo,
Lucas é único. Enquanto tem uns tantos de homens por aí que não querem
nada, só se divertir com a gente, Lucas sempre quis construir sua própria
família. Mas como eu disse antes, ele tem o dedinho meio podre. Acho que
temos isso em comum. — Ri sem humor.
— Eu não diria chato. Para mim seria o cara perfeito — digo.
As meninas concordam comigo e começam a falar sobre outras
coisas. Pelo visto tudo está indo bem na Floricultura, no escritório de Andrea,
na loja da Nique e Dri está mais que satisfeita com seu trabalho. Ela é
fotografa e trabalha como Freelancer. Mas por mais que elas falassem não
conseguia prestar muita atenção. Lucas não saía dos meus pensamentos.
Agora pensando bem, não tinha percebido como ele era sério e que
isso só aumentou o meu interesse por ele. Mas até parece que ele olharia para
mim desse jeito, só queria ser gentil.
Pare já com esses pensamentos, Alice! Me repreendo mentalmente.
Fico tão absorta em meus pensamentos que não vejo a enfermeira
entrar.
— Meninas, se despeçam, acho melhor vocês voltarem outra hora. Ela
precisa descansar e esse anjinho também. Vou levá-la de volta para o berçário
e amanhã as duas terão alta — a enfermeira informa e pega Clarinha dos
braços de Dri e traz até mim. — Diga tchau para a mamãe.
Pego Clarinha nos braços, dou um beijo em seu lindo rostinho e digo
que a amo e que logo nós estaremos juntas de novo.
— Eu só vou passar na loja e ver como a Fernanda está se saindo e
volto mais tarde. Comporte-se, mocinha — Josi fala, como se eu fosse uma
criança.
Só ela mesma para me fazer rir.
— Pode deixar não vou atacar ninguém.
Despeço-me das meninas e fico pensando nos braços de Lucas ao meu
redor quando ele veio me confortar, o seu cheiro e a sua voz.
A última coisa que lembro antes de adormecer são os seus lindos
olhos e a tristeza que vi refletido neles quando recusei sua quase proposta.
03 - Lucas

— Alice... — gemo, deliciando-me com a sensação.


Esse é o melhor sonho que tive desde sempre. Como é gostoso sentir
sua boca quente em torno do meu pau. Os seus lábios são tão suaves. Ela
alterna entre lamber e chupar e faz como se sua vida dependesse disso.
— Amor, se não parar agora eu vou gozar na sua linda boca. — Mas
como é um sonho eu não vou reclamar.
Nesses vinte e cinco dias, desde que a conheci, venho sonhando com
os seus olhos e o seu sorriso quase todas as noites. Mas esse é diferente. Sinto
que estou quase chegando lá, seguro os seus cabelos com as duas mãos e
puxo de leve para não machucá-la. Não quero e não vou acordar, pois sei que
quando abrir os olhos ela não vai estar aqui.
— Goza para mim, meu gostoso. Você não imagina como senti a sua
falta.
Sinto-me enrijecer. Como assim sentiu a minha falta? Eu conheço
essa voz e com certeza não é de Alice. De repente, abro os olhos e me deparo
com Karin, minha ex-noiva em minha cama, segurando o meu pau e com seu
sorriso mais cínico.
— Que porra você pensa que está fazendo aqui?
Pulo da cama, cobrindo-me com o lençol. Estou tão furioso. Como ela
ousa aparecer na minha casa?
— Falei para sua empregada que era sua noiva e ela me deixou entrar.
— Você não é nada minha!
Não quero tocá-la, mas vai ser preciso, pois voluntariamente sei que
não irá embora. E eu a quero longe de mim e da minha casa.
— Pelo jeito, mudou o seu jeito de dormir. Lembro que não gostava
de dormir pelado. Cheguei e o vi ali deitado nu e não resisti, você está ainda
mais gostoso do que me lembro — fala tentando soar sexy, mas a única coisa
que consegue é ser mais vulgar do que já é.
— Você nunca mais ouse se aproximar de mim.
Seguro o seu braço e saio puxando-a rumo às escadas. Estou com
tanta raiva que não vejo mais nada à minha frente, espero que ela não abra
essa maldita boca, pois estou de saco cheio e odeio a sua voz.
Como pude um dia estar interessado em uma mulher como ela?
Chego à porta da frente, abro e a empurro para fora sem nenhuma
cerimônia.
— Esquece tudo relacionado a mim, Karin. Tudo!
— Não vai nem querer saber por que estou...
Fecho a porta na sua cara e vou procurar por Inês. Encontro-a na
cozinha e quando me vê, sorri calorosamente como sempre.
Inês está comigo desde que comprei essa casa, há quatro meses. É
uma mulher bonita em seus 50 anos, morena, alta, cabelos pretos na altura da
cintura e olhos cor de mel.
— Bom dia, meu menino, sua noiva já foi?
— Aquela mulher não é nada minha. Nunca mais a deixe entrar aqui,
entendeu?
— Tudo bem, entendi. Desculpe-me, Luke.
— Tudo bem, você não sabia. Pode tirar essa semana de folga, vou
viajar com o meu irmão Luís.
Aproximo-me, lhe dou um abraço e volto para o meu quarto para
tomar um banho. Karin conseguiu estragar o meu dia.
Está tudo pronto e estou indo buscar Luís na academia onde
combinamos de nos encontrarmos para ir à nossa fazenda, como fazemos
quase todos os meses. Dessa vez vamos passar mais tempo do que
costumamos, no caso eu, pois Luís costuma passar muito tempo por lá;
apesar de ser dono de duas academias. Mas eu estou precisando sair e respirar
ar puro, ficar um pouco longe de tudo, ver se consigo tirar essa vontade de
estar com uma mulher que não me quer.
Quase um mês que a conheço e não consigo tirá-la da cabeça. No dia
em que ela me dispensou, saí do hospital, fui me encontrar com o meu irmão
e bebemos tanto que no dia seguinte olhei no espelho para ver se era eu
mesmo, pois nunca faço isso. Mas isso não voltará a acontecer.
Desisti das férias e voltei a trabalhar no outro dia, logo que a ressaca
passou. Mas de tanto os meus irmãos me encherem e o diretor do hospital
também insistir, hoje começa as minhas férias de verdade. E a fazenda é o
lugar perfeito para isso, fica aproximadamente duas horas do Rio,
dependendo do trânsito, uma distância boa para eu não fazer uma besteira.
Vou me contentar com as fotos de Alice e Carinha, que Josi me
manda quase todos os dias e os relatos de que estão ambas bem.
De repente começo a prestar atenção em uma música que está tocando
no rádio e a letra me chama a atenção.

I Won’t Give Up — Eu Não Vou Desistir (Jason Mraz)

“(...)Eu não vou desistir de nós


Mesmo que os céus fiquem furiosos
Estou te dando todo meu amor
Ainda estou olhando para cima

Porque até as estrelas queimam


Algumas até mesmo caem sobre a terra
Temos muito a aprender
Deus sabe que valemos a pena
Não, não desistirei (...)”

Quando a música acaba, fico refletindo e decido que eu com toda


certeza não desistirei. Não é todo o dia que você encontra uma pessoa que te
faz sentir o que sinto só em pensar nela. Eu nem ando sorrindo, mas basta
lembrar dos seus lindos olhos e aquelas sardas sexys que ela tem no nariz,
que um sorriso bobo ilumina o meu rosto.
Olho no relógio e vejo que é quase dez da manhã, tenho um lugar para
ir antes de ir à fazenda.
É isso aí, não seja um covarde.
Alice

Acordo animada hoje e resolvo abusar um pouquinho. Faz quase um


mês desde que dei à luz a Clarinha e a minha madrinha e as meninas não me
deixam fazer nada a não ser ficar enfurnada em casa. O que só me faz ficar
pensando num certo dono dos olhos verdes mais lindos que já vi.
Estou proibida de pegar a minha filha no colo, a não ser que esteja
sentada ou deitada. Isso é um saco, odeio ficar parada.
Aproveitando que a minha madrinha saiu e me deixou sozinha com
Clarinha, decido tirar umas fotos dela. Sou uma fotografa, amo tirar fotos,
tenho um Studio na casa dos fundos, no meu quintal, onde tiro fotos sensuais
para as minhas amigas e conhecidas quando elas querem presentear os seus
gatos, mas só por diversão.
Flores sempre foram a minha verdadeira paixão, por isso tenho uma
floricultura, que está indo muito bem por sinal. Herdei essa casa da minha
avó e amo morar aqui. Tudo lembra a minha vozinha, é tão aconchegante.
Temos cinco quartos, quatro no piso superior, sendo duas suítes, e um
embaixo, onde a minha bebê e eu estamos acampadas, para não ter que subir
e descer escada. Uma cozinha, uma sala enorme, um escritório e uma
varanda. Temos um quintal grande onde fazemos muita farra. A segunda casa
que é o meu Studio, só tem três cômodos e um banheiro.
Clarinha está deitada de lado na cama e olhando exatamente para
mim. Já sabe que você quer aprontar com ela. Está usando um
macacãozinho branco com flores rosas e azuis e meias rosas. Ajeito-a melhor
e começo a tirar fotos dela, num certo momento ela sorri e consigo tirar
várias fotos com ela sorrindo, espreguiçando, bocejando e fazendo biquinho.
Tem um momento em que ela coloca a mãozinha no rosto e olha diretamente
para a câmera como se tivesse fazendo uma pose.
Estava rindo quando um movimento na porta me chama atenção.
Olho para cima e vejo o homem que tem mexido mais do que deveria
comigo. Está tão bonito. Na verdade, bonito é pouco, é o homem mais
perfeito que já vi na minha vida.
Lucas é mais alto que eu com certeza, cerca de 1,80m de altura. Não
havia notado isso aquele dia no hospital. Os cabelos são castanho-claros,
lindo. Está usando uma calça preta e uma camiseta vermelha, um pouco justa,
o que me dá uma bela visão dos seus braços. Que por sinal, gostei muito.
Fico totalmente sem palavras ao vê-lo na minha casa. O que não
acontece muito, na verdade, nunca.
— Bom dia, Alice. — Como senti saudade dele chamando o meu
nome. Ah claro, você viu o cara uma vez e já sente saudade. Por incrível que
pareça, sim. — Como está? Espero não estar atrapalhando sua sessão de
fotos.
— Como conseguiu entrar aqui?
— Josi me emprestou suas chaves. — Claro que tinha dedo dela. —
Eu trouxe isto para a Clarinha. Não sabia o que comprar e decidi trazer
metade do que gostei.
Só agora noto umas sete sacolas no chão próximo a porta e um urso
Panda e um Minion lindo em cima da poltrona. Amo Minions. Tenho vários
deles em miniatura. Decorei o quartinho de Clarinha com eles e algumas
flores. Agora ele está apelando.
— Obrigada, Lucas, não precisava de toda essa extravagância. Ela vai
amar tudo.
— Esse é para você. Fiquei sabendo que você adora esses bichinhos
feios aqui. — Faz uma cara engraçada apontando para o Minion.
— Eles não são feios.
Mostro a língua para ele, o que o faz sorrir. Aproximo-me dele
devagar e o abraço. Grande erro. Sinto uma eletricidade passar entre nós e
algo em meu interior acorda. O meu coração acelera no momento em que ele
retribui o abraço, fazendo arrepiar até os pelos... Dos dedos dos pés. E como
foi que fiquei arrepiada, se está um calor danado? Será que já é a menopausa?
Claro que não sua, anta, você só tem 27 anos. Ah tá, ok.
Afasto-me um pouco.
— Nunca mais repita que eles são feios. E obrigada, eu amei.
Ficamos nos encarando por alguns segundos, até alguém se sentir
ignorada e resmungar querendo a nossa atenção. Sorrimos.
— Posso? — pergunta, já se aproximando da cama onde Maria Clara
está.
— Claro.
Nesse momento o meu celular toca e vou até o criado-mudo para
pegá-lo. Fico admirada com o jeito que o Lucas segura a minha filha. Parece
que realmente sabe o que estava fazendo e ela está toda derretida para o lado
dele. Nem Clarinha é imune a você, doutor Lucas.
Atendo o telefone sem nem ao menos olhar o identificador.
— Alô?
— Olá, querida! Sentiu minha falta? — diz a voz do outro lado.
Ah não, por favor, não! Tente manter a calma, Alice, digo a mim
mesma.
— O que você quer? — indago baixo para Lucas não ouvir e tento
agir o mais natural possível.
— Eu disse para você se livrar dessa ratinha quando ainda estava
dentro de você! — grita. — Mas não, você preferiu fazer o contrário para me
afrontar. Agora vocês vão pagar! Vai se arrepender...
Não consigo ouvir o restante, fico imóvel no lugar, e nem vejo que
solto o telefone. Estou em pânico pensando em Clarinha. O que vou fazer?
Nem na minha própria casa eu estou segura. Faz muito tempo que ele não me
liga com suas ameaças estupidas. Eu nunca me preocupei, pois ele só latia,
mas depois do que aconteceu na floricultura eu sei que ele morde também.
Sua burra, ele já não deixou isso claro aquela noite em que sua vida mudou?
Não vou pensar naquela noite agora. Preciso de um plano.
— Alice, o que houve? Você está pálida. Vem, sente-se aqui.
— Está tudo bem, Lucas. Não foi nada.
— Eu sei que foi alguma coisa e tem a ver com esse telefonema.
Quem era?
— Ninguém.
— Sei que está mentindo. Por favor, me diga o que é e me deixe
ajudá-la.
Não sei se devo confiar nele. Uma parte de mim quer e a outra tem
medo. Ninguém nunca fica tempo suficiente, com exceção das meninas,
todos me deixam e não se importam.
— Por quê? — Não sei se ele vai entender a real pergunta, mas ele
está me olhando como se entendesse além dela.
— Porque eu quero vocês duas na minha vida. Desde que a conheci
não penso em outra coisa a não ser vocês. Sinto-me tão bem quando estou
com vocês. Sei que é difícil de acreditar, faz apenas vinte e cinco dias que
nos conhecemos, é eu estou contando, mas eu sinto isso. E quero continuar
sentindo.
Fico sem palavras, apenas olhando para ele. Agora sei que quero
confiar nele.
— Era ele Lucas e ele quer fazer mal a minha filha.
— Ele quem? — Olho em pânico para ele. Não estou pronta para falar
sobre isso. Balanço a cabeça e olho para Clarinha, que me olha inocente, sem
saber todo o perigo que está nos rondando. — Ninguém vai chegar perto de
vocês, eu não vou permitir. Espere aqui que eu já volto.
Lucas sai do quarto e eu fico pensando nas alternativas que tenho.
Não posso ficar aqui esperando que ele venha e tente alguma coisa contra
mim ou contra a minha filha. Ainda estou de resguardo, estou praticamente
inútil. O que faço?
Minutos depois Lucas retorna.
— Pronto, vamos arrumar as suas coisas e ir para a nossa fazenda e
não vou aceitar recusa dessa vez. Falei com o seu médico e podemos ir, não é
muito longe e eu vou cuidar de vocês.
— Quê? Fazenda? Médico? Como assim? — Estou meio tonta com
tanta informação.
— Isso mesmo, sem discussão. Estamos saindo em uma hora. E antes
que diga alguma coisa contra, eu já estava indo para lá com o meu irmão, e
não, vocês não vão atrapalhar. Entendido?
Quero recusar, mas quem eu estou querendo enganar? Sinto-me
segura com ele e sinto que é o melhor a se fazer. Então vamos lá, se mexa,
menina! Seja o que Deus quiser.
— Tudo bem. Eu vou... Quer dizer, nós vamos.
Sorrimos e olhamos ao mesmo tempo para uma Clarinha
resmungando. Hora de mamar.
— Você alimenta a mocinha zangada ali e eu arrumo tudo. Não se
preocupe.
Fico ali olhando Lucas correr para lá e para cá, pegando tudo como se
já conhecesse e soubesse exatamente onde tudo estava. Termina de arrumar
as minhas coisas e vai arrumar as de Clarinha, pega tudo o que precisámos e
sai para levá-las para o carro junto com a cadeirinha para instalá-la.
Tenho que levar a minha câmera, mesmo sabendo que Lucas não me
deixará sair para tirar fotos, eu vou tentar.
Apesar das circunstâncias estou feliz que passarei mais tempo com
ele. Poderemos ser amigos, pois outra coisa eu tenho certeza que nunca será
possível. De repente me sinto triste com esse pensamento.
Mas não vou sofrer de véspera, como dizia minha avó.
— Está tudo pronto, arrumei tudo no carro. Precisa de ajuda com mais
alguma coisa?
Será que esse homem existe mesmo? Quem colocaria uma completa
estranha em sua casa? Se bem que do jeito que estou, não faria mal nem a
uma mosca.
— Vou só trocar a fralda da Clarinha e podemos ir. Você pode, por
favor, pegar essas duas câmeras que estão no criado-mudo e colocá-las
naquela bolsa que está embaixo do urso? — Aponto para a poltrona.
— Claro. Elas também vão? — pergunta sorrindo. Parece que ele está
feliz por nós estarmos indo com ele.
Assinto e começo a trocar a fralda da minha menina. Como tomei
banho mais cedo e coloquei um vestido confortável não tinha porque me
trocar.
— Quando chegarmos à fazenda já terá um berço esperando por essa
menina linda aqui.
— Lucas, não precisa, ela pode dormir na cama comigo e...
— Precisa sim e não discuta comigo. Toda vez que você começa a
querer discutir a Clarinha começa a se exaltar. Não percebeu? — diz
brincalhão.
— Ah, então quer dizer que vou ter que concordar com você o tempo
todo para não irritar a Clarinha? — Sorrio também. É tão fácil brincar com
ele.
— Pode apostar — diz, dando-me um beijo no rosto. — Vamos, está
na hora.
— Tenho que ligar para a Josi, ela vai me matar, e tenho que avisar
também a minha madrinha.
Elas vão achar que estou louca.
— Eu já avisei a Josi, e expliquei mais ou menos o motivo. Ela disse
que fala com você depois e que depois vai aparecer por lá também. Ah e
disse que se eu não cuidar bem de você vai me matar lentamente.
Tive que rir. É bem a cara da Josi fazer esse tipo de ameaça.
Saímos de casa ainda rindo e entramos em sua Hilux SW4 SRV 4x4
preta. Eu e Clarinha no banco de trás.
Ligo para a minha madrinha e explico tudo. Ela fica bem preocupada,
mas diz que é melhor sair daqui, por enquanto, pelo menos até eu terminar o
resguardo. Concordo e digo que ligarei para ela todos os dias.
Desligo e fico observando Lucas pelo espelho retrovisor. Ele me olha
e sorri. E agora que noto que desde o momento que disse que estaria indo
com ele, que sorri o tempo todo.
É, parece que a Dri se enganou quando disse que ele quase não
sorria.
04 - Lucas

Chegamos à fazenda uma hora e meia depois. Por sorte o trânsito e o


tempo ajudaram bastante, está um dia agradável. Ou talvez seja eu que esteja
vendo tudo lindo hoje.
Apesar do começo da minha manhã.
A fazenda continua linda como sempre foi. Paulo cuida dela muito
bem, fico feliz que ele nunca quis ir embora, mesmo depois de sua mulher ter
ido embora com um peão que trabalhava para ele, deixando Paulo com seus
dois filhos, mas isso já faz uns dez anos.
Aqui entre nós, ela sempre foi oferecida e nunca gostei dela.
Estaciono o carro na frente de casa e olho para trás, as minhas
meninas estão dormindo. Minhas. Essa palavra não sai da minha cabeça.
Ana e seu marido Edgar, já estão na porta nos esperando. Eles
trabalham pra gente desde que me conheço por gente. Desde a época do meu
pai. Essa fazenda é praticamente deles e do seu filho Paulo.
— Boa tarde, menino Lucas.
Edgar se aproxima e me dá um abraço assim que saí do carro. Ele está
mais forte do que me lembro, quando tiver sessenta anos quero estar como
ele. Saudável como um touro.
— Como vai, Edgar? — Retribuí o abraço.
— Estamos todos bem. Tudo em ordem por aqui e já providenciamos
tudo que pediu ao Paulo por telefone.
— Obrigado, Edgar. Ana, não vai falar comigo?
Aproximo-me da mulher que foi mais minha mãe que a minha
própria. Ela me olha com os olhos marejados como se estivesse a ponto de
chorar.
— Por que você não me disse que eu sou avó? Isso é imperdoável —
indaga e já vai abrir a porta do passageiro, sem nem chegar perto de mim.
Mas depois converso com ela.
— Não liga para ela, daqui a pouco passa — diz Edgar sorrindo.
— Depois explico tudo para vocês.
— Ah a Lindalva vai parir por esses dias. — Lindalva é minha égua
querida.
— Que bom que vou poder ver. Faz muito tempo que não vejo o meu
bebê. Mas agora vamos entrar e acomodar as meninas.
Como Ana já está com Clarinha, abro a outra porta e pego Alice nos
braços. Nesse momento ela abre os olhos e me olha com tanta saudade que
parece que não me via há dias, sorri e se aconchega mais em mim. Acho que
ela ainda está dormindo.
— Olha só para esse anjinho, Edgar, como é linda. — Com certeza a
minha pequena arrumou mais uma fã.
Vamos direto para o quarto para que elas possam descansar. Como
tinha pedido, o berço está próximo a cama e tem um monte de coisas de
criança que eu não me lembro de ter mencionado ao Paulo. Isso deve ser
coisa da Ana.
Olho para Alice e ela ao invés de estar olhando ao redor do quarto
como eu, está olhando para mim.
— Oi.
— Oi.
Ficamos nos olhando até que alguém resmunga. Sorrimos e olhamos
para a resmungona.
— Acho que tem alguém carente aqui — digo, colocando Alice na
cama.
— Parece que sim. Oh me desculpe, eu sou Alice. Não queremos dar
trabalho a senhora.
— Eu sou Ana, e não é trabalho nenhum. Eu amo casa cheia e faz
muito tempo que ninguém se importa em vir nos visitar. — Olha para mim
como se eu fosse um vilão malvado. — E eu nunca vou perdoar vocês por
não terem me informado antes, que sou avó de um anjinho tão lindo como
esse aqui.
— Ana depois eu explico tudo para você. Não foi intenc...
— É um prazer conhecer você, Ana, e Lucas e eu somos só amigos.
Ouvi-la dizer isso me dói. Mas é a verdade, não é? Infelizmente sim.
— Sim, só amigos. Por enquanto. — Olho em seus olhos e deixo bem
claro isso para ela.
Nunca fui de desistir fácil e nesse caso não desistirei, pois sei que a
afeto também. Sinto que o meu lugar é com elas.
Minha família.
— Acho que você precisa comer alguma coisa, já passa das duas da
tarde. Ana, por favor, você fez o que pedi?
— Está pronto, meu menino. Tome, segure-a enquanto eu vou buscar
o almoço de Alice.
Pego Clarinha no colo e vou para a janela com ela. Enquanto olho
para fora, na imensidão verde à minha frente, fico imaginando como seria ter
elas todos os dias comigo. Dormir e acordar sabendo que está tudo bem com
elas.
Desde sempre quis ter a minha própria família, nunca fui como Luís
que prefere ficar só ou como Léo que fica com todas ao mesmo tempo.
Nunca gostei de usar as mulheres só para o sexo. Claro que na adolescência
já tive alguns encontros e sexo sem compromisso, mas não achava justo usar
ninguém, por isso decidi desde cedo que namoraria ao invés de só ficar...
Teria que conhecê-la primeiro antes de entrar em suas calcinhas.
E por ser assim nunca teve sorte em nenhum dos seus
relacionamentos, não é mesmo, companheiro?
Sim sou um homem de 35 anos que namorou três mulheres e foi
trocado por outro, duas vezes, e traído uma. Não posso mudar o meu jeito,
sou assim e assim serei a minha vida toda.
Mas voltando ao presente, nunca senti por ninguém o que sinto
quando estou perto de Alice, em tão pouco tempo me liguei a ela como se a
conhecesse há tempos. E vou lutar por ela, quer dizer elas, pois já considero
Clarinha como minha filha. E se esse cara que ligou aparecer, acabará tendo
uma surpresinha. Ninguém machucará minha família. Ninguém.
Nesse momento sinto um cheiro estranho e olho para uma pessoinha
em particular, já sabendo o que está se passando.
— Acho que alguém precisa de uma ida ao banheiro, não é, minha
linda. Vem que o papai vai trocar a sua fralda — sussurrei, não querendo
alarmar Alice ainda mais ao ouvir o que disse a Clarinha.
Conversarei com ela mais tarde e deixarei claro o que sinto.
Vou para o trocador que estava perto do banheiro e começo a tarefa
de deixar a minha pequena limpa. Tiro sua fralda suja, pego os lenços
umedecidos que estão na prateleira ao lado e a limpei com delicadeza para
não machucá-la. Troco sua fralda, arrumo sua roupinha e fico brincando com
ela mais um pouco antes de pegá-la no colo novamente.
Quando me viro, deparo com três pessoas olhando-me de boca aberta
e com os olhos arregalados.
— O que foi?
— Eu poderia ter trocado a fralda, Lucas, não precisava ter se
incomodado — fala Alice com a voz embargada.
— Não é incômodo, e ela precisa se acostumar comigo, não é
pequena? — Clarinha geme e sorri para mim, deixando-me com uma cara de
pai babão. — Viu? Ela me ama.
Todos riem ao mesmo tempo e eu olho para a mãe da minha pequena,
que me olha com os olhos brilhando.
Essa noite você não me escapa, penso esperançoso.
Depois de tomar banho, coloco uma calça de pijama e uma regata
branca e vou para o quarto de Alice. Já passa das onze da noite e eu preciso
falar com ela antes de dormir, mas estou nervoso.
Calma cara você consegue falar com uma mulher. Você faz cirurgias
complicadíssimas e se sai bem, por que é tão difícil falar com ela? Pergunto-
me isso desde que a conheci.
Bato à porta e como não tenho resposta, entro assim mesmo. Não a
encontro na cama como achei que estaria. Clarinha está dormindo no berço e
Alice só pode estar no banheiro. Vou até o berço e acaricio o rostinho da
minha filha. Ela dormia pacificamente, mas quando o meu dedo encontra sua
pele macia, ela levanta a mãozinha, agarra o meu dedo e sorri. Deus, que
sensação boa sentir que essa pequena benção gosta de estar comigo.
— Ela gosta de você. — A voz de Alice me tira dos meus
pensamentos.
— Eu a amo. — E a você também, mas claro que não digo para ela.
— Lucas, eu queria te dizer uma coisa, mas primeiro queria, te agra...
— Não precisa me agradecer de novo, Alice. Estou fazendo isso por
motivos totalmente egoístas e sei que você já percebeu isso.
— Sim, já, mas não podemos, Lucas. Eu sou mãe e estou em um
momento que não existe espaço para relacionamentos. E também não quero
que se envolva com os meus problemas, não é justo com você. Você merece
mais.
— Eu quero fazer parte da vida de vocês e não só como amigo. Sei
que nos conhecemos agora, mas eu sei que o meu lugar é aqui, junto com
vocês. Quero que seja a minha namorada e quero ser o pai da Clarinha.
— O quê?
Aproximo-me dela devagar e toco o seu rosto, ela está chorando.
Droga!
— Não chore. Se está preocupada com o telefonema de mais cedo,
fique tranquila, ninguém chegará perto de vocês sem passar por mim. Eu
prometo.
— Mas você não sabe o que aconteceu. Ele vai vir, eu sei que vai, não
quero que se machuque e...
— Nada vai acontecer comigo, eu prometo.
— Mas...
— Não, amor. Eu quero que ouça o que vou dizer e ouça bem, tá. Os
seus esforços de me manter longe são inúteis, eu já estou apaixonado por
você, aliás me apaixonei no momento em que me olhou naquela calçada, do
lado de fora da floricultura, e isso não vai mudar. É melhor se acostumar com
isso. — Chego mais perto, com a boca quase tocando a sua, e sussurro: —
Estou louco para te beijar.
Alice

Eu não consigo respirar. O que eu estou fazendo que ainda não me


joguei nos braços desse homem?
Eu me sinto da mesma maneira, desde que o vi pela primeira vez que
me sinto diferente, mas estou com tanto medo. Ninguém nunca me disse
coisas assim, eu nem o conheço e ele já quer que eu seja a sua namorada. A
quem eu estou querendo enganar? Eu quero sim que ele faça parte da nossa
vida.
Quero me inclinar contra ele, mas estou determinada a lutar contra
esse desejo que estou sentindo, então me contenho.
Não esqueça o resguardo.
— Você não pode estar falando sério, não é? Nós nem sequer nos
beijamos, como pode estar apaixonado por mim?
Boa pergunta, Alice, e você porque está por ele?
— Se esse é o problema — diz com a voz rouca e se aproxima ainda
mais de mim.
A minha mente está lutando com o meu corpo, mas ele é um traidor e
já sei bem quem vai acabar perdendo. O desejo é tanto que está cada vez mais
difícil me conter. Eu o quero, mas e depois que ele souber sobre mim? Será
que me odiaria? Olharia a mim e Clarinha com outros olhos? Não posso
começar nada com ele sem ser sincera, não quero mentiras entre nós, então
vou contar logo e seja o que Deus quiser. A decisão se vamos continuar ou
não, será dele. Eu sei que o quero.
Mas antes que eu começasse a falar, sou surpreendida com uma mão
em minha nuca e a outra em minha bochecha esquerda, acariciando de leve.
Lucas me puxa um pouco para frente e toma a minha boca num beijo que
rouba o meu fôlego e me deixa em chamas, acordando sentimentos que não
sabia que existiam dentro de mim. Já sabia que sentia alguma coisa por ele,
mas agora, depois desse beijo eu sei que sinto muito mais. Então eu tenho
que contar para ele e saber se vamos encerrar aqui ou seguiremos juntos.
Afasto-me dele e olhando em seus olhos, digo:
— Tenho que te contar uma coisa primeiro, antes de responder à sua
pergunta.
E se ele não me quiser mais depois que contar tudo? Se tivesse falado
antes de ele me beijar seria mais fácil a rejeição. Mas pelo menos terei o que
lembrar além do seu simples olhar.
— O pai da Clarinha, ele...
Lucas me faz calar com mais um beijo, depois me pega delicadamente
no colo e me coloca na cama.
— Eu não quero saber, nada do que me disser vai fazer diferença. Eu
quero ser o pai dela e o seu namorado. Então você aceita me namorar?
— Mas eu acabei de ser mãe, não vou poder te satisfazer do jeito que
quer.
— Se está se referindo a sexo, pode ir parando. É claro que quero,
mas nem tudo é movido a isso. Vamos nos conhecer primeiro e quando o seu
resguardo acabar já estaremos juntos por um tempo e pensaremos no próximo
passo. O que acha?
Sei que devo contar tudo, mas não consigo dizer mais nada. Assinto,
pois se falar algo vou chorar. Ele me recompensa com o sorriso mais lindo e
me abraça. Gemo porque me doe um pouco a cirurgia.
— Desculpa, amor. Já tomou o seu remédio? — Assinto de novo. —
Então vamos dormir que está tarde. Daqui a pouco alguém acorda querendo
comer.
— Verdade.
— Vou dormir aqui no quarto com vocês e, não se preocupe, vou
dormir no chão ou naquela poltrona.
— Não precisa...
— Precisa sim, você ainda não pode pegar a Clarinha do berço, ainda
está recente a cirurgia e tem que se cuidar para sarar logo. Então daqui não
saio e daqui ninguém me tira.
Tive que rir.
— Eu só ia dizer que não precisa dormir no chão, somos adultos e
essa cama cabe umas quatro pessoas tranquilamente.
Bato no colchão e mostro com a cabeça. Ele sorri e vem deitar ao meu
lado. Ajeito-me devagar e me cubro sobe o olhar intenso de Lucas.
— Promete que não vai roncar? — digo.
Ele sorri e passa a mão em seu rosto.
— Prometo, meu amor. Boa noite!
— Boa noite.
Meu amor. Meu amor. É, meu amor.
Com essas palavras em minha cabeça e um sorriso de orelha a orelha,
me viro para o outro lado da cama e fecho os olhos. Segundos depois sinto
Lucas se aproximar e começar a mexer em meus cabelos, acariciando da raiz
até as pontas. E com isso adormeço.
05 - Lucas
Nunca dormi tão bem em toda a minha vida. Alice aceitou namorar
comigo e eu não consigo conter a felicidade que estou sentindo. Acordei
ainda há pouco para pegar Clarinha, que só acordou agora e nos deixou
dormir à noite toda. São 05h00 da manhã e ela está com muita fome, pois o
grito que ela deu foi enorme.
— Calma minha pequena, o papai está chegando. — Abaixo-me, a
pego em meu colo e instantaneamente ela para de chorar. — Oi, eu estou
aqui. Está com fome, não é, minha linda? Vamos chamar a mamãe, vamos?
— Mamãe está acordada, filha, me dá ela aqui, Lucas.
Coloco-a em seu colo e vou para o banheiro. Faço minhas
necessidades, lavo o meu rosto e volto para o quarto, mas paro na porta com a
cena diante de mim. O meu coração acelera e eu sinto uma felicidade que
sempre busquei e nunca havia sentido.
Alice está dando de mamar a Clarinha e beija sua mãozinha.
— Você sempre vai ficar desse jeito quando eu estiver amamentando
a minha filha?
— Nossa filha. Você não mudou de ideia, não é? — Por favor, diga
que não.
— Não, eu não mudei. É que ainda não acostumei. Mas vou, logo.
Sorrio feito um bobo, admito.
— Bom dia, minha linda.
Sento ao seu lado e dou um casto beijo em seus lábios, que ontem
beijei pela primeira vez e foi maravilhoso.
— Bom dia. Você vai trabalhar hoje? — indaga com uma voz que
parece que não querer que eu vá.
— Não. Estou de férias, serei todo de vocês esses dias. Vou só dar
uma olhada na fazenda, mas não devo demorar muito e quando não estiver
aqui a Ana vai ficar com você. Falando nisso, hoje nada de levantar muito da
cama, ontem abusou demais.
— Tudo bem, doutor Lucas, mais alguma coisa?
— Engraçadinha. — Sorrio e aperto o seu nariz. Adoro aquelas sardas
que ela tem lá. — Agora, se já terminou, me dê a minha pequena aqui, vou
fazê-la arrotar e você descansa mais um pouco.
— Tudo bem, mas só porque estou cansada e não porque você
mandou. — Faz beicinho e deita assim que pego Clara.
Beijo o seu rosto e vou trocar a fralda e pegar uma manta mais grossa
para cobrir a minha pequena, pois vou levá-la para conhecer a casa.
Como se ela fosse entender tudo que você mostrar para ela. Claro que
vai.
Mais tarde volto para ver como Alice está.
Depois de mostrar a casa para Clarinha, quem parecia estar se
divertindo muito enquanto eu mostrava cômodo por cômodo, a deixo com
Ana e me concentro no assunto que estava deixando-me intrigado.
O assunto do canalha que ligou para Alice. Quem será esse cretino?
Um idiota que não quer assumir a responsabilidade, ou... não, ela não se
envolveria com um homem casado. Sacudo a cabeça para dispersar esse
pensamento. Recuso-me a pensar nisso outra vez.
Ligo para Luís e peço para não tirar os olhos de Josi, por enquanto, e
entrar em contato com o nosso primo Alexandre, um ex-lutador como ele,
mas agora dá uma de detetive para passar o tempo, para pedir que descubra
quem são os dois caras que entraram na floricultura e bateram na minha
mulher e na sua amiga, e o mais importante, para quem eles trabalham. Não
roubaram nada, então só pode ser outra coisa. Não quero sobrecarregar Alice
com esse assunto e Josi também desconversou, o que me leva a pensar que
elas sabem exatamente quem foi o mandante. Por sorte os cretinos não se
esconderam das câmeras ou são tão burros que nem se ligaram nisso.
Preciso descobrir quem é esse cara e quando isso acontecer ele vai se
arrepender de ter nascido. Ninguém tocará na minha família de novo. Isso eu
garanto.
— Então como estão as coisas por aí? — pergunta Luís com a voz
meio receosa.
Assim como Caetano, ele também está preocupado que eu vá passar
pelo mesmo que passei anos atrás, com a fulana.
— Está tudo bem, Ana e Edgar adoraram Alice e Clarinha e eu estou
oficialmente namorando.
Você está parecendo um adolescente com a primeira namoradinha,
cara.
— Quer dizer que ela aceitou, assim do nada?
— Vamos dizer que eu não aceitaria um não como resposta.
— Entendi. — Limpa a garganta duas vezes. — Está feliz?
— Muito.
— Isso é o que me importa. E a pequena?
Sabia que não ia resistir a perguntar, o meu irmão é todo machão,
carrancudo mesmo, mas é só colocar uma criança em sua frente que ele se
desmancha. Lembro-me de quando Adriana era um bebê, era tão paparicada.
Quando ele conhecer Clarinha não vai ser diferente.
— Ela está cada dia mais linda. As fotos que Josi me mandava, não
fazia jus de como ela está linda. Você vai ficar encantado, mano.
— Uh-hum. Bom, me deixa dar início as minhas tarefas e mais tarde
eu ligo para te informar da conversa que tive com Alexandre. Cuide-se. E,
mano... — hesita como ele sempre faz nesses momentos.
— Eu sei, mano, eu também te amo. Obrigado por tudo.
— Ok. Tchau
Luís desliga antes mesmo de eu me despedir. Ele sempre foi assim,
não é de demonstrar sentimentos, mas nós sabemos que a nossa família é
tudo para ele, como é para mim e meus outros irmãos.
Estava quase levantando-me e indo atrás de Ana quando me dou conta
de que dia é hoje e decido ligar para Léo também, ver como ele está. Hoje
não é um dia fácil para ele. Se pelo menos viesse para cá, poderíamos ficar
um tempo juntos e ajudaria ele a colocar as ideias no lugar, ou pelo menos,
tentar. Mas infelizmente ele não atende, o que só me preocupa mais ainda.
Ligo de novo e nada. Jesus!
Olho no relógio e já são oito da manhã e ele deveria estar quase
pronto para ir trabalhar. Vou ter que ligar para o Luís outra vez e ver se ele
pode ir verificar se está tudo ok. Hoje Léo precisa da gente.
Calma, cara, você é só um, está sofrendo sem saber se aconteceu
alguma coisa.
— Então é verdade que você está brincando de casinha, mano?
Viro e dou de cara com o meu irmão mais novo, ele parece meio
abatido, mas só isso.
Léo está segurando uma Clarinha sorridente nos braços.
— Vejo que já conheceu Clarinha. Como você está? Estava tentando
te ligar.
— Estou bem, não se preocupe. Não vou me matar se é com isso que
está preocupado. E, sim, acabei de fazer amizade com essa pessoinha linda
aqui.
— Que bom que veio, mano.
— Também acho, vamos nos dar as mãos e tomar chá da tarde, o que
acha? Ou podemos nadar nus na cachoeira. Menos a mocinha aqui, ela ainda
está nova para tomar banho pelada com meninos, se é que eu vá deixar a
senhorita fazer isso algum dia.
Isso me faz rir. Nem quero ver quando essa criatura tiver um filho, vai
viver numa bolha a pobre criança.
Uma batida na porta me faz voltar dos meus pensamentos.
— Entre.
No momento em que a porta é aberta perco todo o ar dos pulmões.
Alice aparece com um vestido verde longo, que marca suas curvas
perfeitamente e o cabelo em um rabo de cavalo, não tem nenhuma
maquiagem, o que deixa as suas sardas à mostra. Ela está simplesmente
maravilhosa. Sorri e parece meio envergonhada.
— Ela sim pode tomar banho pelada com a gente — diz Léo,
fazendo-me voltar a atenção para ele.
— O quê?
— Disse que ela pode nos acompanhar na cachoeira — fala com a voz
arrastada e levanta as sobrancelhas em desafio.
— Se não parar de olhar para a minha mulher desse jeito vou ter que
te mandar para uma cirurgia plástica no nariz, maninho.
— Quanta violência, eu só estava tentando ser legal com a sua amiga.
— Ele quer mesmo apanhar.
Olho para Alice e ela está sorrindo e corada, o que a deixa mais do
que linda. Vou até ela, a abraço e beijo para deixar claro para o meu querido
maninho que ela não é minha amiga.
Isso mesmo, marca território.
No começo ela fica meio tímida com o beijo, mas continuo beijando-
a, explorando a sua boca e provando a sua língua de forma sensual. Ela logo
corresponde, entregando-se de maneira que esquecemos que tem mais
alguém na sala com a gente. Alice geme e suas mãos vão passeando pelo meu
corpo até chegar a minha nuca, ela puxa os meus cabelos, deixando-me duro
como pedra.
— Hello! Não sei se lembram, mas tem uma criança no recinto e eu
também não estou a fim de ver o meu irmão mandando ver em alguém, a não
ser que me deixem participar.
Droga! Tinha esquecido que não estávamos sozinhos.
Devagar interrompo o beijo e olho em seus lindos olhos, que agora
estão injetados de desejo. Que bom que não estou sozinho nessa, Alice
também está além de excitada.
— Acho que alguém está agitada, e com razão. Não se faz isso com
uma criança, mano. Que belo exemplo, ganhou o troféu de pai do ano. Não é,
lindinha, o titio vai te salvar sempre que puder. É só chamar, ok.
Sorrimos com as bobagens que o meu irmão diz e vamos até eles.
— Mano, essa é Alice, minha namorada e a mãe da Clarinha. Alice,
esse é meu irmão Léo.
— Prazer em conhecê-la, cunhadinha. Você está despertando uma
coisa que eu nunca tinha visto no meu irmãozinho — ele se inclina para perto
e sussurra: — Ele nunca marcou território com ninguém na minha frente.
Acho que está levando-o para o mau caminho, por isso já gostei de você. —
Beija o seu rosto, demorando um pouco demais para o meu gosto.
— Chega, Léo. — Alice sorri e o beija também.
— O prazer é todo meu. Posso? — pergunta, apontando a sua
pequena.
Léo a libera e me olha com um sorriso enorme no rosto.
— Estou com fome, alguém aí quer me acompanhar? Não tomei café
da manhã — diz e sai.
Estava demorando falar em comida. Incrível o quanto essa criatura
consegue comer e continua em forma.
Viro-me para Alice e vejo que ela está me olhando.
— Vamos, amor, você precisa comer.
— Ok, mas você pode me explicar o que foi aquilo? Fiquei morrendo
de vergonha do seu irmão.
— Não fique, eu amo te beijar. Amo o meu irmão, mas ele é um
mulherengo e não sabia que você era a minha namorada, só o meu irmão
mais velho sabia. Por isso foi melhor que ele logo soubesse que você está
mais do que comprometida.
— Estou é? — indaga sorrindo e olhando-me de uma maneira que me
deixa excitado de novo.
Balanço a cabeça concordando e pego sua mão, puxando-a para a
porta, preciso alimentá-la.
Hoje será o nosso primeiro café da manhã juntos. Tinha pensado em
tomar na cama com ela, mas as coisas mudaram um pouco. No entanto, não
vão faltar oportunidades agora que estamos juntos. Nós três.
06 - Alice
Até agora não consigo acreditar que tenho um homem tão
maravilhoso ao meu lado e essa primeira semana juntos está sendo uma das
melhores da minha vida.
No primeiro dia conheci o seu irmão mais novo, o Léo. Gostei muito
dele, um brincalhão, sempre sorrindo, sempre com respostas na ponta da
língua. Bonito demais. Um pouco mais alto do que o Lucas, mas não muito,
tem olhos verdes também como os do seu irmão, só que um pouco mais
claro. O seu rosto é lindo, furinho no queijo de matar, boca bem desenhada.
Nossa, aqui entre nós, ele e Nique formariam um casal perfeito. Léo é forte,
vê que malha muito e a roupa que usava, Jesus, se as meninas estivessem
aqui teriam babado na hora, estava de bermuda branca e regata vermelha.
De vez em quando fingia dar em cima de mim só para ver a reação do
Lucas, que ficava irritado. Passou só dois dias com a gente e foi embora,
coisas de trabalho. Amei saber que é um veterinário. E que veterinário. Que
Lucas não me ouça, mas não tem que se preocupar, ninguém é mais lindo do
que ele para mim.
Confesso que gostei do meu amor sentir ciúmes de mim. Muito.
O segundo e o terceiro dia Lucas me levou café da manhã na cama,
com uma rosa branca e disse que aqui não tem minha flor favorita, então a
rosa tinha que servir. Fiquei perplexa por ele saber qual era a minha flor
favorita, mas depois me lembrei de que ele e Josi trocavam mensagens o
tempo todo e falavam de mim pelas costas.
Alimentou-me, como ele gosta de chamar e depois dormimos os três
juntos na cama mais um pouco, com Clarinha entre nós. Quando acordei mais
tarde, no terceiro dia, Lucas estava dormindo e a minha pequena tinha rolado
e estava com a cabeça quase encostando ao peito dele. Não resisti e levantei
para pegar a câmera e registrar esse momento lindo. Já tenho várias fotos de
momentos especiais assim dos dois.
O quarto dia foi uma correria louca, pois Lindalva, a égua de Lucas,
deu à luz a uma coisinha tão linda que não resisti e tive que ir com eles para
ver. Com a câmera em mãos, claro, porém fiquei pouco, mas o pouco que vi
quase chorei. Quando cheguei lá a égua mãe estava lambendo sua cria, era
tão esquisitinha que era bonitinha. Lucas logo anunciou que a nova integrante
da fazenda era de Clarinha, o que me fez chorar de verdade. E decidimos que
ela se chamaria “Angel”, Clarinha concordou na hora.
O quinto dia choveu e passamos o dia inteiro aconchegados,
conversando e nos conhecendo melhor, como ele gosta de chamar, assistindo
filmes, comendo e brincando com Clarinha. Impressionante o jeito dele com
a minha pequena, as vezes acho que ela gosta mais dele do que de mim, o
jeito que sorri para ele, como fica quietinha em seu colo. É lindo ver como
interagem, e olha que faz poucos dias que se conhecem.
O sexto dia estava um dia lindo lá fora e fizemos um piquenique na
varanda, perto do jardim para não correr o risco de a grama estar molhada da
chuva passada. Conversamos mais sobre o que ele gosta e o que eu gosto,
descobri que Lucas ama comida japonesa, surfar e fazer caminhadas, só
malha de vez em quando, e é bem caseiro, mas isso eu já sabia. Além disso,
ama a sua profissão, os seus olhos brilharam quando tocou nesse assunto,
assim como a sua família e são bem unidos por sinal.
Estou aqui pensando o que vamos fazer hoje, no sétimo dia, e é
quando meu telefone toca. Acordei faz uns quarenta minutos, e tinha um
bilhete ao meu lado, Lucas está dando uma olhada na fazenda, já que tomei
todo o seu tempo esses dias. Mas amei ele ter me paparicado.
Claro que amou, quem não gostaria de ter um deus como aquele do
lado? Só louco mesmo. Sorrio, pois é verdade.
— Alô — atendo sem olhar de novo. Tenho que parar com isso, para
não correr o risco de falar com aquele imbecil de novo.
— Ah até que enfim a senhorita resolveu atender ao telefone. Queria
saber se está viva já que não tenho notícias suas tem três dias. E, também não
responde o WhatsApp. — Josi, claro. — Está no viva-voz e as meninas estão
aqui.
— Bom dia, meninas! Desculpe não ter atendido as outras vezes e
quando pensava em retornar acontecia alguma coisa. — Tomara que cole.
— Dia, Liliiiiiii — falam ao mesmo tempo e me sinto culpada por não
ter ligado para elas.
— Estou muito bem, Lucas cuida bem de mim. — Acho que minha
voz sai meio melosa. Melosa é pouco.
— Aí que lindo, Lili. Será que se eu for aí ele cuida de mim também?
— Josi safada.
Rindo respondo.
— De jeito nenhum, ele é só meu.
— Hum, já está toda possessiva. — diz Andrea, me provocando.
— Com um homão daqueles? Ela tem que ficar mesmo — Nique
também não fica quieta.
— Ok. Ok. Eu estava brincando. Ligamos para saber o que vamos
fazer no Natal, Deinha queria que fôssemos ao purgatório com ela na casa
dos seus pais. Tia Lívia, como sempre, está viajando com o seu novo
namorado e Monique vai ficar com a gente. Fernanda vai para a casa da sua
irmã Ester com os filhos e vão ficar por lá mesmo. Queremos saber se você já
fez planos com o acelerador de corações ou não. — dispara Josi.
Tenho que rir. Acelerador de corações? Só a Josi mesmo.
— Bem, não falamos sobre isso ain...
— E o que ficam fazendo o tempo todo? Não vai me dizer que já
estão fazendo o canguru perneta? — Josi indaga.
Nesse momento entramos em um ataque de risos, o que acaba
acordando Clarinha. Respiro fundo e continuo a conversa.
— Josi, sua assanhada, infelizmente ainda não estamos. Está cada dia
mais difícil olhar ele saindo do banheiro de toalha ou deitado ao meu lado
todas as noites. Vou voltar no médico depois do Natal e se ele liberar eu caio
de boca.
Todas riem ao mesmo tempo de novo.
— Lili, para cair de boca não precisa do aval do médico. — Sabia que
ela não ia deixar passar. Josi sempre foi assim.
— Isso mesmo, Lili, só faz e depois nos conte o tamanho. A nossa
tabelinha precisa ser renovada, faz muito tempo que não colocamos nada lá.
Até agora o carinha que a Josinha pegou na praia é o vencedor. Se formos
esperar pela Nique e a Dri nossa tradição vai para o ralo. — Essa Andrea não
nega que é prima da Josi.
— Começou a dona chata. Só não quero perder com qualquer um e
até agora não encontrei ninguém que fizesse minha cabeça virar.
Concordo com a Nique, queria poder ter esperado também, mas já foi.
— Andrea, deixa a menina em paz. Ela está certa e eu não vou falar
tamanho nenhum para vocês.
Sorrio sozinha, pois sei que elas não me deixariam em paz.
— Isso mesmo, Lili, não quero saber essas coisas sobre o meu irmão.
Eca! — Dri diz com toda certeza.
— Ah vai sim eu coloquei o do Roberto lá, esqueceu?
Claro que não esqueci, Andrea, mas preferia ter esquecido.
— Tudo bem, se você prefere que eu vá e meça eu mesma, sem
problemas. Vou amar ver aquele pão pelado. Nossa, só de pensar nisso, lá
embaixo pisca mais que pisca-pisca no Natal. — Como pode uma pessoa ser
desse jeito? Rio porque sei que ela está brincando. Mas que ela tem coragem,
isso ela tem. — Brincadeiras à parte, Lili, queremos saber se você está feliz e
como está nossa princesinha.
— Estou, meninas, achei que fosse me arrepender no dia seguinte.
Ainda estou com medo, mas eu me sinto tão bem com ele, segura e querida
como nunca me senti antes. E precisam ver o jeito dele com a Clarinha, fica
triste quando me refiro a ela só como minha filha, fala que é nossa.
— Que bom, Lili, ficamos muito felizes em saber que está tudo bem.
E aquela coisa ligou outra vez?
— Graças a Deus que não, Josi, e se tivesse eu não teria atendido.
Estou muito feliz aqui e não quero pensar naquilo e estragar o meu dia.
Contem-me de vocês, como está a loja sem mim?
— Melhor impossível, temos muita coisa para fazer até o Natal. Está
corrido, mas estamos nos saindo muito bem, obrigada. Se preocupe com
você, que cuidamos de tudo. Nique nos trouxe o café da manhã, ela não quer
que eu caiba no meu vestido derruba cueca que comprei para o Natal, mas
nem que eu vista só um lado dele, vou arrasar. Como sempre. — diz Josi em
sua animação de sempre. Amo esse jeito dela.
— Claro que vai. Estou morrendo de saudades das delícias que ela
faz. Que bom que a loja está indo bem, sinto falta de trabalhar. Ah Andrea,
não me esqueci do seu ensaio não, tá. O que acha de vir para a fazenda e
fazer aqui? A casa é linda, tem vários quartos vazios e podemos usar um
deles. Tem o celeiro também, dei uma olhada nele outro dia e o lugar é
perfeito para umas fotos diferentes, do jeito que queria. Fiquei sabendo que
tem uma cachoeira aqui perto e seria maravilhoso passarmos um tempo lá. E
planejarmos o chá de lingerie que está bem atrasado. O que acham?
Tomara que venham, estou sentindo falta dessas loucas.
— Eu estou dentro — fala Josi.
— Eu também — Nique também concorda.
— Com certeza, estou ansiosa pelas minhas fotos. — Deia parece
bem empolgada.
— Acho que não vou poder ir, Lili. Tenho muitas coisas pra fazer,
algumas fotos que tenho que ver. — Ah, mas isso não está certo. Dri vai ter
que vir.
— Está decidido. Então a ceia vai ser aqui, tenho certeza que o Lucas
também pensa assim, então você terá que estar presente, mocinha. Sei que é
tradição de vocês passarem o Natal juntos.
— Ok — fala um ok tão fraco que fico pensando no que está por trás
dessa palavra.
— Eu tenho que ir para o jantar na casa dos meus pais, mas no dia
seguinte estarei lá. É só me passar o endereço por mensagem. E vou solteira,
pode crer. — Claro que vem. Essa Andrea, só rindo mesmo.
Uma batida na porta me chama atenção.
— Combinado, então, meninas! Josi você traz as minhas flores, Nique
a sobremesa, Deia suas coisas para as fotos e Dri a sua graça. Tenho que ir,
estão me chamando. Beijos, amo vocês mais que chocolate. Tchauzinho.
— Tchau, Lili — falam todas ao mesmo tempo.
Desligo e vou atender a porta do quarto. Abro e tem uma mulher alta,
magra e linda do outro lado, com um sorriso radiante no rosto. Mas quando
me vê, uma carranca se faz presente. E ainda me olha de cima a baixo.
— Pois não? — pergunto, já meio apreensiva.
— Achei que esse fosse o quarto do Luke, mas acho que me enganei.
A empregada disse que ele estava aqui.
Quem é essa criatura? E o que ela quer com o meu Lucas?
— Sim, esse é o nosso quarto e ele não está no momento. — Com a
menção do “nosso”, ela levanta uma sobrancelha. Ah vou gostar muito de
chutar sua bunda sua magrela. — Posso ajudá-la em alguma coisa?
— Sério, é alguma pegadinha? — indaga com uma cara de nojo.
— Não, querida. Esse é o nosso quarto, quer dizer o que deseja?
Nossa filha está dormindo se não se incomoda.
— Filha? Não sabia que o meu noivo tinha uma filha.
Sorri como se eu fosse cair nessa. Ah, então essa que é a tal de Karin?
Prazer, vadia, sou a namorada!
— Não quer dizer ex? Pelo que eu saiba há muito tempo, não é
mesmo? Então, querida, arrume outra coisa, pois nessa eu não caí.
Ela faz uma careta e me olha como se fosse me matar. Depois sorri
forçado.
— Isso vai mudar em breve. Quando souber que não estou mais com
o Rodrigo, ele vai voltar correndo para os meus braços. Eu sou tudo o que ele
sempre quis.
Cara, que raiva que estou sentindo agora. Será que ela está falando
sério? Eu não o conheço há muito tempo, eles namoraram por um tempão e
pelo jeito iam casar, só não casaram porque Lucas descobriu que ela tinha um
caso com o seu amigo.
Pare de pensar besteira, Alice, agora ele está com você. Vai deixar
essa baranga estragar o que de melhor já te aconteceu? Acorda, criatura!
Levanto o queixo em determinação e respondo:
— Seu tempo já passou, queridinha, agora ele está comigo e é onde
vai ficar.
— Isso é o que vamos ver. Tudo o que eu quero eu consigo, não vai
ser diferente dessa vez.
Saio do quarto, fecho a porta atrás de mim e vou puxando o seu braço,
com força, em direção ao corredor. Essa mulher vai sair daqui agora.
— O que pensa que está fazendo? Solta o meu braço, sua doida.
Lucas! — grita o nome dele, o que me faz ficar com mais raiva ainda.
Ele é meu.
— Você nunca mais chega perto do meu namorado! Suma daqui!
Você não é bem-vinda. Se eu a vir de novo por aqui, acabo com a sua raça.
Ouviu bem ou quer que eu desenhe?
Chego à porta da frente com Karin tentando se soltar do meu agarre,
mas sem um bom resultado. Abro e a empurro para fora, fazendo-a tropeçar
em seus pés e cair de bunda no chão. Bem feito. Não sei o que uma pessoa
vem fazer numa fazenda com saltos de doze centímetros. Só uma sem noção
mesmo como essa zinha aí.
— Você enlouqueceu, sua molambenta? Sabe quanto custou esse
vestido? Você vai me pagar, sua grossa!
Mostro o dedo do meio para ela e me viro para dar de cara com o meu
amor, olhando-me com um sorriso lindo nos lábios. Puta merda! E agora?
— Luke querido, olha o que essa doida fez comigo! — Karin grita.
Lucas me puxa e invade a minha boca, deixando-me sem fôlego.
Surpresa, abro os lábios e ele logo enfia sua língua saboreando a minha boca
como se fosse uma coisa deliciosa. Agarro a parte de trás do seu pescoço e
puxo de leve os seus cabelos, sei que isso o deixa louco. Ele geme e sinto sua
ereção em minha barriga, suas mãos estão em meus quadris, apertando de
leve.
De repente Lucas interrompe o beijo e sussurra em meus lábios.
— Ver você fazendo isso me deixou tão excitado. Eu preciso tanto de
você amor, mas não podemos. Vou tomar um banho e já volto, preciso me
acalmar.
— Não está bravo comigo? — Ainda estou meio zonza pelo beijo.
Nossa, que beijo!
— Nunca. — Olha bem em meus olhos e depois me beija mais uma
vez e olha para a sua ex. Suas feições mudam, o que me deixa mais que feliz,
pois ali soube que ele não sente mais nada por ela. — Karin faça o que a
minha mulher disse e suma daqui. Não quero voltar a ver você, nunca mais.
— Mas Luke, eu vim para dizer que deixei o Rodrigo e que agora
podemos ser o que éramos antes. Nós íamos nos casar e ser muito felizes.
Estou pronta.
Lucas ri e me abraça mais forte.
— Não tem nada aqui para você, Karin, volte para ele, pois eu nunca
mais quero pôr os olhos em você. Eu nunca amei você realmente, estava
apenas acomodado com a ideia de construir uma família. Foi melhor assim.
— Ah, mas você não reclamou quando eu estava chupando o seu pau
há uma semana, não é mesmo?
Enrijeço e me afasto de Lucas, olhando para ele.
— O quê? — sussurro as palavras, pois minha voz sumiu.
— Não é nada disso que está pensando, amor. — Vira e encara a
vadia mais uma vez, com ódio nos olhos. — Vá embora daqui agora por bem
ou vai sair por mal — fala entredentes, sua raiva é palpável.
— Com prazer, querido. E você, sua ridícula, vai pagar caro pelo que
fez ao meu vestido! — ameaça e sai em direção ao seu carro.
Saio e entro em casa indo em direção ao quarto, com Lucas logo atrás
de mim. Chegamos lá e ele vai logo falando.
— Não foi do jeito que ela falou, amor, eu estava dormindo e
sonhando com você, como eu fazia todas as noites desde que a conheci.
Achei que fosse você e quando acordei ela estava lá, a minha empregada a
deixou entrar, mas logo que vi que era ela a expulsei da minha casa. Eu só
desejo você, só quero você — fala tudo de uma vez, sem uma pausa.
Sinceramente, eu acredito nele, mas imaginar a boca daquela cobra
nele me deixa possessa.
Não sei o que me dá, mas quando dou por mim já estou atravessando
o quarto em passos rápidos. Vou direto para a calça de Lucas, a abaixo de
uma vez, junto com a cueca, e seguro o seu lindo e ereto pênis em minhas
mãos. Minha nossa, ele é enorme, grosso e está tão pronto para mim que
quase gozo. Deus! Faz tanto tempo que não tenho ninguém dentro de mim.
Depois que engravidei, só fiquei com um cara para ver se conseguia por dez
segundos no máximo e ele já tinha terminado e me deixado na mão.
Caramba, Alice, você com um tesouro desses nas mãos e está
pensando naquele perdedor? Fala sério, né, minha filha!
Tem razão.
— O que você está...?
— Shi... Não fala nada, venha.
Conduzo-o até próximo à cama e me sento para ficar numa posição
mais confortável. Olho o berço e minha filha está dormindo de costas pra
gente, o que é bom, pois não quero que veja o que vem a seguir.
Começo acariciando o seu pênis com a mão, espalho a gota pré-sêmen
por toda a sua extensão e me delicio com o gemido que ele dá. Aperto sua
cabeça grossa mais um pouco e me inclino, lambendo os lábios e enfiando de
uma vez em minha boca.
O som que sai da sua boca é a minha perdição. Começo chupando
com vontade, enfiando fundo até a garganta e só paro quando está todo
dentro. Sugo forte duas vezes e retiro da boca, começo a lamber só a cabeça,
deliciando-me com o que vejo ao olhar para cima. Lucas está com as mãos
nos cabelos e olhando para mim como se estivesse com tanta sede e eu fosse
o último copo de água restante. Não penso, o enfio de novo na boca e começo
a chupar pra valer, acariciando suas bolas, chupo e chupo até ele me implorar
para retirar ou vai gozar na minha boca, o que me atiça ainda mais. Sugo
mais forte até sentir os seus testículos se enrijecerem avisando que é agora.
Lucas segura os meus cabelos e os puxa com força, deixando-me
insana.
— Amor, eu não vou aguentar. Ah Alice, que delícia. Você não
engasga?
Sinto o primeiro jato quente do seu gozo e continua vindo quente e
delicioso até não sobrar nada. Engulo tudo, depois lambo a cabeça redonda e
deposito um beijo lá.
Levanto-me, passo uma mão por sobre o seu pescoço e o puxo para
mim, olhando bem em seus olhos, digo:
— Sonho realizado. Você é só meu!
Mordo o seu lábio inferior forte e depois o lambo e chupo. Ele me
abraça e geme.
— Uau amor, isso foi... Incrível. — Acaricia os meus lábios com o
dedo, depois fala com uma voz rouca que me deixa louca. — Todo seu, meu
amor. Só seu — com a última palavra dita alguém, acorda com um grito que
nos faz rir e olhar na sua direção ao mesmo tempo.
— Timing perfeito! — fala o meu amor.
— Sim. Vou só ao banheiro um minuto, depois pode ir tomar o seu
banho. Ah e eu combinei com as meninas que iriamos passar o Natal aqui.
Não sei se fiz bem, mas imaginei que era o que você ia sugerir.
— Perfeito, ia falar com você sobre isso mesmo. — Sorri, um sorriso
lindo, fazendo-me sorrir de volta. Com esse sorriso bobo vou ao banheiro,
para logo cuidar da “nossa” pequena.
07 - Lucas
Natais sempre foram apenas os meus irmãos e eu, mas sempre foi
alegre, pois estávamos com pessoas que amávamos. Hoje temos mais gente
incluída nessa comemoração. Os meus amores Alice e Clarinha, suas amigas
Josi e Monique, Ana e Edgar com Paulo e os seus dois filhos Natalie e Noah.
Ana está brilhando de alegria, como ela mesma diz, ama a casa cheia e hoje
realmente está.
Ainda não me recuperei daquele dia no quarto, há três dias, quando
Alice definitivamente me marcou como seu. Achei que fosse chutar o meu
traseiro pelo que aquela louca falou, mas fez exatamente o contrário e me
deixou de queixo caído quando começou a me chupar. Quando terminou
disse com autoridade que eu era só dela. Aquelas palavras quase me fizeram
gozar de novo.
Só de lembrar já fico duro. Deus que mulher! Minha mulher.
— Amor, fica com a Clarinha um momento enquanto eu ajudo Ana
um pouco. Ela deve estar cansada, não nos deixou fazer quase nada, as
meninas se ofereceram, mas ela nos expulsou. Só deixou a Nique na cozinha
porque queria aprender a receita que ela inventou de uma torta gelada e uns
cupcakes — fala Alice, tirando-me dos meus pensamentos eróticos.
Ela está linda com um vestido vermelho frente única um pouco acima
do joelho, com um decote que deixa os seus seios deliciosos à mostra, até
demais para o meu gosto, e sandálias pretas de salto, deixando suas pernas
ainda mais longas. O seu cabelo está preso em um rabo de cavalo frouxo e
usa uma maquiagem bem simples. Está linda.
— Claro, amor. Você está linda, mas não acha que o decote está
muito grande?
— Ah fala sério, Lucas, pode ir parando. Minhas roupas ninguém vai
controlar. Esteja avisado — fala e já me entrega Clarinha, que também está
de vestido, só que o dela é bem-comportado na cor rosa, e um sapatinho
branco. Sorrio assim que olho para ela.
— Calma, mamãe, papai só fez um comentário — imito uma voz de
bebê.
— Uh-hum, sei. Você está lindo também, meu amor, mas só que esse
tipo de comentário, eu não quero nem ouvir. — Me beijo e sai rebolando.
Olho até que ela entra na cozinha e fica fora da minha visão.
— Mas que o decote está demais, está, não é, minha linda?
— Não, não está — responde uma Alice divertida da cozinha.
Rio e deixo o assunto de lado, meio contrariado.
Nesse momento a porta se abre e Luís entra seguido por Léo. Adriana
veio junto com as meninas à tarde.
— Que porra é essa que você está usando, Léo?
— Hohoho, sou um Papai Noel sexy, o que achou? — indaga e dá
uma voltinha para mostrar o que era para ser uma roupa. Ele está com um
short que parece mais uma cueca vermelha bem justa, um lenço vermelho no
pescoço e um gorro de papai Noel. E está descalço.
— Isto não é uma festa a fantasia, Léo — repreendo, mas tive que rir,
essa criatura só pode ser louca.
— Que seja, estraga prazeres, mas eu estou sexy, não é mesmo?
Aposto que Alice vai amar. Cadê ela? — Levantou as duas sobrancelhas e
fica mexendo-as só para me irritar. — Ela vai adorar mais ainda quando eu
mostrar o meu saco de presentes. Hohoho.
— Fique longe da minha mulher. Você está com sorte que vou deixar
ficar seminu, mas mantenha suas mãos bem longe dela, entendeu bem? E
esqueceu que combinamos que nada de presentes esse ano?
— Não esqueci e já fiz a minha doação.
Combinamos que esse ano ao invés de nos presentearmos, doaríamos
para uma Instituição de crianças especiais.
— E você, Luís, como está? Fala oi para o tio velho, minha pequena.
Levo-a até ele e a coloco em seus braços.
— Estou bem e você? — responde sério, mas na hora que Clarinha
sorri para ele não resiste e sorri de volta.
— Tudo maravilhoso.
— Ah meu Deus! Só você mesmo para pagar esse mico, maninho —
Adriana fala da escada, referindo-se a vestimenta de Léo.
Dri dá umas boas gargalhadas e fica sorrindo até que desvia o olhar e
paralisa. Viro-me para ver o que é e vejo que Paulo e seus filhos tinham
chegado. Mas minha irmã está olhando diretamente para Noah. Nem vou
perguntar, pois não quero me estressar hoje.
Vou cumprimentá-los e os convido para uma bebida na sala. Luís
continua segurando Clarinha, enquanto Adriana conversa com Natalie, mas
os olhos em Noah, que também a observa com intensidade.
— Estou com fome, vou até a cozinha. Alguém mais quer comer? —
Estava demorando Léo mencionar comida, nunca vi comer tanto.
— Ana vai te expulsar de lá em segundos.
— Vou tentar roubar alguma coisa, mesmo assim — diz e sai com sua
falta de roupa ridícula até a cozinha.
Luís se junta a nós na sala e começamos a conversar com Paulo sobre
algumas coisas que temos que fazer por aqui. Quando o meu telefone toca,
olho o identificador e vejo que é Caetano, faz dias que não falava com ele.
Vou até o escritório atender, pois pode ser alguma coisa do hospital.
— Lucas.
— Olá! Como vão as férias?
— Bem. E por aí, como estão as coisas?
— Eu vou bem, obrigado por perguntar.
Claro, o costume de só falarmos em trabalho faz isso com as pessoas.
— Desculpe! Como está? O que estará fazendo hoje?
— Estou na casa da minha mãe, ela quer que eu conheça o filho de
uma amiga dela, aí já viu, né? — Rimos juntos, a mãe dele é um amor, mas
quando empaca com uma coisa ninguém a segura.
— Mas não foi por isso que liguei. Ontem vi o Rodrigo em um bar
perto do hospital, estava falando alto e dizendo que quem levou a mulher dele
vai pagar. Não entendi direito, por isso resolvi falar com você, antes que ele
apareça de surpresa. — Então é verdade o que Karin disse sobre não estarem
mais juntos. Mas isso não importa, por mim ele pode ficar com a sua mulher
que não me importo.
— Ela apareceu na minha casa uma manhã há uns dias atrás e também
apareceu aqui na fazenda no domingo, dizendo que queria voltar comigo.
Alice ficou furiosa e a jogou para fora. Literalmente!
Rio ao lembrar, minha menina não é de levar desaforo para casa.
— Hum, uma tigresa! — Ri o bastardo.
— Olha a boca! Sorte sua que é gay.
— Ok. Ok. Não está mais aqui quem falou. Mas sério, toma cuidado
com ele, parecia meio instável, e você sabe que ele mexe com gente ruim.
— Não se preocupe, vou tomar cuidado. Agora preciso voltar para as
minhas meninas. Obrigado por ter ligado. Feliz Natal, amigo. Vemo-nos em
breve.
Despedimo-nos e volto para o que realmente importa, não vou
desperdiçar os meus pensamentos naqueles dois. Eles estão no passado e é lá
que vão ficar.
Alice

Estava tudo indo bem até um papai Noel seminu entrar na cozinha
querendo comer antes da Ceia. Quando olhei para a criatura, quase tive um
ataque do tanto que ri e babei ao mesmo tempo.
— Nossa, isso está uma delícia! Hum, cunhadinha, me diga quem foi
que fez isso que eu me caso com ela agora mesmo — diz Léo, saboreando
umas das sobremesas que Nique preparou.
Nesse momento, como que por obra do destino, ela entra na cozinha.
Sorrio e dou uma de cupido.
— Então, nesse caso, te apresento sua noiva, Monique.
Léo se vira, olha para mim, depois para onde estou apontando e fica
de boca aberta, deixando um pedaço do cupcake que estava comendo cair no
chão, mas continua olhando Monique de cima a baixo, despindo-a com o
olhar. Também não é para menos, Nique parece uma modelo, alta, magra,
mas não aquelas muito magras. Ela tem carne, como dizia a minha vozinha,
loira com cabelos longos, olhos azuis e uma boca de causar inveja na
Angelina Jolie. Brincadeira.
E para completar ela está corando, enquanto olha o senhor seminu.
— Fecha a boca, cunhadinho — sussurro próximo ao seu ouvido. —
Essa é minha amiga Monique. — Olho a minha amiga. — Esse é o irmão
mais novo do Lucas, Léo.
Ela sorri e baixa o olhar antes de passar a mão no cabelo.
— Oi, prazer em te conhecer.
— O prazer é todo meu, baby, acredite.
Reviro os olhos para ele e o enxoto da cozinha.
— Fora daqui, Léo, está na hora de irmos para a mesa, já vai dar
meia-noite.
— Vamos, Monique? — Léo estende a mão, convidando-a a ir com
ele, ela me olha como se pedindo alguma luz, dou de ombros e sorrio.
Monique coloca a mão na dele e vejo quando os dois, meio que
recuam. Hum... os meus sentidos estavam certos, há uma química ali. Missão
cumprida!
Feliz Natal, amiga.
Voltamos para a mesa e nos sentamos bem na hora. Edgar faz uma
oração agradecendo, desejamos Feliz Natal a todos e como combinamos nada
de presentes, jantamos em silêncio. Por incrível que pareça, até Léo está
calado e não tirava os olhos de uma certa loira.
Olho na outra direção da mesa e vejo o outro irmão de Lucas olhar
para Josi, como se quisesse comê-la. Mas eu o entendo, minha amiga é linda,
tem curvas e não tem frescura com relação a isso. Os seus olhos são
castanhos e vibrantes e um rosto lindo, bem expressivo. Luís, esse é o seu
nome, tem uma cara bem séria, fechada, realmente cara de mau, mas é muito
bonito assim mesmo, do jeito que a Josi gosta.
Percebo também que Adriana está bem quieta e de vez em quando
olha para o homem que está de frente para ela na mesa. Ele é lindo, com
certeza irá para a lista dos homens mais lindos que já vi na minha vida. Noah.
Dá para notar que tem uma história entre eles. Como se sentisse meu olhar,
Dri me encara e eu aproveito e faço uma pergunta silenciosa, mas ela só
balança a cabeça. Mesmo curiosa decido que esse não é o momento para
questionamentos e aproveito o meu jantar. Ela vai me contar quando estiver
pronta.
Só faltou a Andrea no primeiro Natal com a família Vilar, para ser
perfeito, mas ela teve que ir para a casa dos pais. Por falar em pais, eu liguei
para a minha mãe duas vezes e ela não atendeu, a minha irmã tampouco. Mas
tudo bem, eu já devia estar acostumada.
Sinto uma mão acariciar a minha perna por baixo da mesa e olho para
Lucas, ele me encara com os olhos brilhantes, tão lindo. Lucas me trata como
se eu fosse um tesouro valioso o tempo todo, tirando o comentário sobre o
vestido mais cedo, ele é um amor sempre. Estou feliz por ter aceitado ele na
minha vida, em poucos dias ele me fez mais completa do que posso me
lembrar.
E por isso pedi para Josi me fazer um favor, pois não sai para comprar
presentes, então mandei uma foto de nós três juntos para que ela pudesse
colocar dentro do medalhão que pedi que comprasse para ele como presente.
Vou entregar mais tarde, quando estivermos a sós em nosso quarto.
O jantar corre bem e depois de comermos as sobremesas, vamos todos
para a sala. Clarinha está dormindo no colo de Lucas e eu e as meninas
estamos do outro lado da sala, conversando coisas do dia a dia, quando vejo
que Natalie, a neta de Ana, não para de olhar para o meu namorado. E mais
essa agora? Decido não dizer nada, pois vejo que ele não corresponde o olhar
e está concentrado na conversa com os outros homens.
Relaxa, Alice! Ciúme não é legal.
— Então, Dri, por que nunca tinha apresentado os seus irmãos pra
gente? — pergunta Josi com uma voz divertida, tirando-me dos meus
pensamentos.
— Nunca surgiu a oportunidade.
— Acredito. Você é bem ciumenta, isso sim. Achou que iríamos
cravar as unhas neles, não é mesmo? — Essa Josi.
Todas riem, até mesmo a Natalie.
— Juro que não foi por isso. Já fui muito ciumenta, mas passou, coisa
de adolescente insegura.
— Nossa, mas os seus irmãos são lindos demais. Cara, esse Luís é tão
gostoso que está me deixando zonza, aquela cara de mal dele. Se quisesse
poderíamos ir agora mesmo conhecer os recantos dos quartos da casa...
— Ah, não começa a falar essas coisas que não quero ouvir. Ele é
meu irmão!
Rimos e conversamos um pouco mais até eu ver que Luís se afasta do
grupo e está parado perto da janela olhando para fora. Josi também percebe.
— Vou lá e ver se está tudo bem. — Dá um beijo no próprio ombro,
sorri e se afasta.
As meninas continuam conversando e nem se ligam aonde a
louquinha vai. Léo se aproxima e começa a puxar assunto com Monique, que
fica toda envergonhada olhando o seu abdômen sarado, totalmente exposto.
Realmente ele é um papai Noel bem sexy. Mas eu prefiro o meu doutor.
Não vejo a hora de todos saírem para que eu possa tê-lo só para mim.
Olho para onde a doida da Josi tinha ido perturbar o meu cunhado e
quase tenho um troço. Ela passa a mão no braço dele e se inclina para
sussurrar em seu ouvido, ele sorri meio de lado e olha para ela. Assim que
Luís vira totalmente o seu rosto, ela o beija. Caralho! Ela realmente o beijou.
Essa Josi não tem jeito. Mas como ela mesma diz: a vida é bela e
estamos aqui para isso.
Sorrindo, decido ir ao encontro de Lucas que me olha intensamente
enquanto me aproximo.
Depois de tudo arrumado e de todos os convidados terem se retirado,
Lucas e eu vamos para a cama. Clarinha já está dormindo há muito tempo.
— Aqui está o seu presente, minha linda.
Sento na cama e vejo uma caixinha pequena em cima das pernas dele.
Meu deus, é o que eu estou pensando?
Será? Mas é tão cedo para isso. Sinto o ar sumir dos meus pulmões e
arregalo os olhos. Pego a caixinha com mãos trêmulas e a abro. Nela tem um
lindo anel de prata com dois corações incrustrados, um dourado e o outro
prateado. É tão lindo e delicado.
— Na verdade, não é bem um presente, pois também tenho um. É o
símbolo do nosso compromisso, então agora já pode voltar a respirar. Quando
for o momento certo você vai ter o seu anel de verdade. O que achou? Olha o
meu, já estou usando.
Olhei sua mão e vejo que o dele é bem simples e não tem os corações
como o meu, mas é mais grosso também e tem uma linha fina dourada no
meio. Confesso que foi um alivio que não era outro tipo de anel.
Respiro aliviada.
— Eu amei, é lindo. Obrigada!
Tiro-o da caixa, coloco no dedo e fica perfeito.
— Que bom que gostou. Feliz Natal, amor. Esse foi o primeiro de
muitos que passaremos juntos.
— Agora o seu. — Pego a caixa embaixo do meu travesseiro e
entrego para ele. — Não tive como sair para comprar, mas Josi nos ajudou
com isso. E eu tinha pensado nele antes de combinarmos nada de presentes.
Espero que goste, sou péssima para presentear os outros.
— Não precisava. O meu maior e melhor presente é ter vocês comigo.
Tenho certeza que vou amar.
Fico emocionada com suas palavras. Ele realmente nos quer em sua
vida.
E ainda tinha dúvidas?
Lucas abre a caixa e retira a corrente com o medalhão, abre e sorri de
orelha a orelha.
— Adorei, é lindo. Nós três juntos nessa foto. Não tirarei nunca.
Ele coloca no pescoço, me abraça e beija a minha testa. Não vejo a
hora de ir ao médico, estou verdadeiramente louca para estar mais próxima de
Lucas, se é que me entendem.
Deitamos e coloco a cabeça em seu peito, fico brincando com o cós
da sua cueca boxer preta. Ele estremece e sorri por dentro, Lucas está ficando
excitado. Melhor eu parar, pois hoje não me responsabilizo se eu o ver
gozando. Melhor dormirmos e esperar até eu voltar do médico, aí poderei
atacá-lo, pois só de olhar para ele eu fico mole de desejo.
— Acho melhor dormirmos, amor.
— Também acho. Feliz Natal de novo, minha linda! Esse foi com
certeza o melhor Natal da minha vida — fala e me deixa com lágrimas nos
olhos, pois foi o melhor para mim também.
Aconchego-me mais nele e fecho os olhos, concentrando-me em seus
braços ao meu redor e em sua respiração.
Estava quase dormindo quando ouvi:
— Eu te amo, Alice.
Mas não consegui responder de volta.
08 - Alice

— Mais um clique e terminamos, Deinha. Essas ficaram perfeitas.


Ficamos duas horas tirando fotos para o presente que Andrea vai dar
para o seu noivo. Tiramos umas com as meninas só para zoar mesmo, essas
ficaram incríveis no celeiro, vamos à cachoeira mais tarde e faremos outras.
Aí tchau sessão de fotos.
— Ok, estou cansada já e nem sei se Roberto está merecendo, há dias
que está estranho, meio disperso e distante.
— Como assim? Está acontecendo alguma coisa que não me contou?
— Já fico preocupada. Lá no fundo eu nunca gostei do noivo dela, mas decidi
relevar, pois ela estava feliz e não queria atrapalhar.
— Sinceramente, não sei, Lili, talvez seja paranoia minha. Ele nunca
me deu motivos para desconfiar, mas ultimamente está estranho. Desde que
descobriu que Larissa está grávida na verdade.
— Larissa sua secretária? Não sabia que ela estava grávida, quanto
tempo de gestação?
— Quatro meses. Ela só me contou semana passada quando voltou de
suas férias, agora que está começando a aparecer a barriga — falou com uma
voz meio chorosa.
Roberto sempre quis ser pai, pelo menos ele sempre falou isso.
— Não deve ser nada, Andrea, e com esse presente quem sabe não
melhore o humor dele? — Queria acreditar nas minhas próprias palavras.
— Você tem razão. Vamos deixar isso de lado e encontrar as
meninas, pois já estão tempo demais sozinhas com a Clarinha, devem estar
fazendo a cabeça dela contra mim.
Tive que rir. Toda vez é assim quando estão perto da minha filha, uma
briga só para ver quem vai segurar primeiro, mas Lucas sempre vence, minha
pequena prefere sempre ele. E ele fica todo bobo.
— Delícia a vista — sussurra meio divertida.
— O quê?
Não entendo suas palavras, viro para ver para onde ela está olhando e
meu coração dá um salto de 360° com a visão do meu namorado suado, só de
calça jeans e botas, vindo em nossa direção. Jesus é muita judiação comigo.
Como estamos com visitas sempre tem alguém para nos atrapalhar, então
resolvemos ir ao médico só depois do Réveillon. Léo inventou uma festa e
chamará alguns amigos para vir, as meninas estão aqui desde o Natal, Josi
ficou, mas Fernanda está tomando conta da loja com a nova menina que se
chama Thaisa, só Andrea que chegou sábado, como o seu noivo está viajando
resolvendo algumas situações com o pai dela, ela veio ficar com a gente.
— Vou indo, Lili, boa sorte, pois ele está com um olhar determinado.
Com um risinho ela me deixa sozinha no celeiro e vai encontrar as
meninas, no momento em que Lucas chega.
Ele sorri para mim e segura minha mão. Olhando bem fundo em meus
olhos ele fala:
— Cada vez que a vejo eu sinto que minha vida antes de você não
tinha sentido nenhum, cada vez que sorri, a cada olhar seu eu me perco ainda
mais por você. Minha Alice, você é a única que já fez o meu coração acelerar
de uma forma inimaginável. Não existe nada melhor do que sentir você todas
as noites e manhãs — diz com um olhar cheio de amor. — Você levou o meu
coração e eu não o quero de volta, pode fazer o que quiser com ele, só não me
deixe. Nunca.
— Por que está me dizendo tudo isso? — sussurro as palavras com
muita dificuldade.
Deus! Estou chorando.
— Porque é a verdade. E eu quero que você nunca esqueça o que
significa para mim.
Como posso ter tanta sorte? Sério, eu devo ter feito alguma coisa boa
para ter um homem lindo desses na minha vida.
— Não disse isso para te fazer chorar, minha linda.
Lucas seca minhas lágrimas com os seus dedos gentis e me puxa para
um abraço, depois me beija com carinho. Como pode em tão pouco tempo
sentir tudo isso por uma pessoa?
O beijo começa a mudar no momento em que puxo os cabelos de sua
nuca, sua boca fica mais urgente e ele desliza sua língua em minha boca com
vontade, deixando-me zonza. Ele geme o meu nome e me pega no colo
levando-me mais para dentro do celeiro. Lucas me coloca em uma mesa
velha, próxima a parede, e continua a me beijar, sua mão sobe e alcança o
meu seio por cima da blusa que está usando, mas eu quero sentir mais, então
pego sua mão e coloco por baixo da blusa e olho em seus olhos, para que veja
que pode continuar. Não preciso dizer duas vezes e ele acaricia um mamilo e
gememos ao mesmo tempo.
— Essa espera está me matando, amor — sussurra e torce o meu
mamilo mais forte dessa vez, deixando-me em êxtase.
De repente sinto uma coisa estranha, um aperto no peito que me deixa
sem ar, parece que Lucas também sente e paralisa. Ele solta o meu seio e olha
para mim com uma expressão estranha.
— Clarinha — dizemos ao mesmo tempo.
Desço da mesa ao mesmo tempo em que Luís entra no celeiro com
preocupação estampada em seu rosto.
— Tem alguma coisa errada com a menina, ela não para de chorar.
Nem a Ana conseguiu acalmá-la.
— Estamos indo, obrigado, mano — Lucas fala com seu irmão.
Ele segura a minha mão e vamos o mais rápido possível para casa. Dá
para ouvir o choro da porta da frente e eu estou quase chorando junto, não sei
o que fazer.
Chegamos à sala e Ana está com ela no colo, ninando-a, mas sem
nenhum resultado.
— O que foi, bebê? Mamãe está aqui. — Pego Clarinha com cuidado.
— Está com fome? — Ela grita mais alto e eu me desespero.
Sento-me e aceito a toalha molhada que Lucas está segurando e limpo
o meu seio, seco e tento que Clarinha pegue, mas ela não quer e continua a
chorar. Olho para Lucas sem saber o que fazer.
— O que eu faço, amor?
— Me dê ela aqui, deve ser cólica, vamos para o quarto. Vem,
pequena, com o papai, vai passar. Shi...
Já no quarto, só nós três, Lucas a coloca na cama e começa a
massagear a barriga de Clarinha com movimentos circulares, por um tempo.
Depois pega suas pernas e as empurra em direção a barriga, faz uma, duas, na
terceira vez ouvimos um barulhinho e descobrimos que realmente era cólica.
Ela estava com gazes.
— Está melhor, pequena? Diz para a mamãe que está bem, pois ela
não para de chorar.
Nem havia percebido que lágrimas escorriam pelo meu rosto. Sorrio e
seguro a mãozinha dela.
Lucas faz movimentos com as perninhas dela como de bicicleta e ela
parece estar gostando, pois começa a sorrir e fazer barulhinhos com a boca.
Parece a minha pequena de novo.
Uma batida na porta e Ana entra com uma chuquinha na mão.
— Aqui, fiz um chazinho de erva-doce, dê um pouquinho que vai
ajudar a acalmar suas cólicas. Mas parece que o papai já ajudou, não é
mesmo? — fala com a voz emocionada e olha com um brilho nos olhos para
Lucas. — Vou deixar vocês e avisar a todos que ela está bem. Luís estava
realmente preocupado.
— Obrigada, Ana. Parece que está melhor, mas vou dar o chá assim
mesmo.
Mais uma vez sozinhos, nos ajeitamos e Clarinha toma o chá, depois a
coloco para arrotar e logo dorme.
Resolvo que não vou desgrudar da minha filha tão cedo.
— Sou uma péssima mãe — murmuro para mim mesma.
— Não diga isso nunca mais, você só ficou assustada, é normal. Você
é uma ótima mãe. E nós dois amamos você, não é filha? — Como que
respondendo à pergunta Clarinha geme em seu sono. — Viu? Amamos e
muito.
Lucas me abraça e ficamos os três na cama.
— Vamos ficar em casa, nada de cachoeira, não vou deixá-la.
— Nem eu. O que acha de assistirmos aquele filme de músicas que
você adora?
— A Escolha Perfeita? — indago sorrindo, pois amo esse filme.
— Sim, esse mesmo — fala, revirando os olhos. — Só nós três e aqui
no quarto. Quero ficar o mais perto possível da pequena.
Beija a cabecinha de Clarinha e os meus lábios e levanta da cama.
— Acho melhor eu tomar um banho rápido, estou meio suado e
depois assistimos ao filme. O que acha?
— Eu gosto de você suado — falo maliciosa, ele me compensa com
um sorriso lindo e começa a tirar suas botas, logo depois as meias, a calça
jeans e finalmente a cueca.
Que maravilha é esse corpo.
— Você poderia ter tirado a roupa no banheiro.
— Eu sei que sim, mas amo o jeito que me olha sempre que estou sem
roupa. Aproveite! — diz e sai sorrindo para o banheiro.
Olho até que some de vista, apreciando seu belo traseiro.
Estou mais calma, mas confesso que estava apavorada quando vi
minha pequena chorando. O meu coração não ia aguentar se fosse alguma
coisa mais séria. Olho para a minha filha dormindo, agora tranquila, e fico
pensando em como ela é a amada. — Mais uma vez o nosso doutor salvou o
dia, né filha? — sussurro. — O meu... nosso Herói! Vive nos salvando.
— Prontinho, vamos ao filme em família — Lucas murmura minutos
depois, tirando-me dos meus pensamentos.
Olho para seu rosto lindo.
— Você é meu herói, doutor Lucas Vilar.
Leon

Não acredito que aquela desgraçada levou adiante aquela gravidez


estúpida. Eu nunca quis uma criança. E agora, como ela vai ficar comigo se
tem aquela coisa para cuidar?
Para piorar tudo agora sumiu, não a encontro em lugar nenhum, não
sei por que está fazendo isso comigo, sempre fiz tudo o que me pediu, dei
tudo o que desejava. Quando encontrá-la vai me pagar. Não deveria ter
mandado os meninos à floricultura, seria melhor se eu tivesse ido, aí sim eu
teria a levado comigo e arrancado eu mesmo aquela coisa dela. Se minha mãe
não estivesse tão doente e não tivesse tratando do meu divórcio teria ido
buscar minha mulher. Essa velha está demorando demais para morrer, estou
quase fazendo isso com minhas próprias mãos.
— Com licença, senhor Leon, a sua ex-mulher está aqui.
E mais essa agora.
— Mande-a entrar e vá alimentar a minha mãe. Diga que mais tarde
irei vê-la.
— Sim senhor, com licença.
Alice onde você está? Por que faz isso comigo? Eu já estou me
divorciando como me pediu. Por que eu tive que passar tanto tempo fora? Se
eu não tivesse ouvido a minha ex-mulher e ido para os Estados Unidos com
ela, não teria deixado Alice ter esse filho, pois agora ficarei sempre em
segundo plano. Ela nem me contou que estava grávida, se eu não tivesse visto
sua barriga aquele dia no shopping não teria acreditado. Só não a arrastei
comigo porque estava com Kay.
Já liguei depois do acidente, não queria machucá-la, na verdade,
queria sim, ela me desobedeceu. Mas ela não quis me ouvir, desligou na
minha cara e não atende mais minhas ligações. Sem contar que sumiu e tinha
seguranças na floricultura. Está se escondendo de mim e a única coisa que fiz
foi amá-la demais. Não é justo!
— Oi querido. — Me viro para a voz melosa de Kay e sinto tanta
raiva dela, tudo está acontecendo por sua culpa. — Desculpe aparecer assim,
mas eu estou com saudade. E não quero mais me divorciar de você.
Kay tira o casaco longo que usa e vejo que está totalmente nua por
baixo. Apesar da raiva e de estar sem notícias da minha mulher, fico tentado a
comer essa vadia. Mas não vou. Só quero uma mulher e ela vai ter que ser
minha de novo.
— Já falamos sobre isso e a reposta continua a mesma. Se vista e vá
embora. — Olho para longe dela e me dirijo para a porta do escritório. — E
não volte nunca mais ou vai se arrepender. Você já sabe o caminho da rua.
Saio já discando o número do telefone de Alice, mas está desligado. E
nada do detetive que contratei aparecer com informações, isso está deixando-
me furioso de verdade. Tenho que encontrá-la ou vou enlouquecer.
Ah Alice, você não perde por esperar, querida!
09 - Lucas

Era só o que me faltava, Léo quer morrer hoje só pode, disse que
seriam só alguns amigos e agora tem uma multidão aqui. E para piorar tudo a
minha mulher e suas amigas decidiram que vão dançar uma música junto
com a banda. A única coisa que Léo deixou Alice decidir foi à banda, que é
de uma amiga dela, composta só por meninas.
— E agora filha o que a gente faz? — Clarinha só sorri para mim e
toca o meu rosto.
Desde o dia das cólicas que não nos desgrudamos dela, Alice ficou
apavorada.
De repente começo a ouvir uns gritos e vou em direção ao palco, e
para o meu desespero, lá está Alice e suas amigas, Monique, Josi, Andrea,
Fernanda, Adriana, Dy e as meninas da banda que conheci mais cedo, Luana
e Silene, todas com shorts jeans, uma regata preta e botas.
Por que elas tinham que inventar isso?
— Boa noite, galera! — Silene cumprimenta o público e estes
começam a gritar e assoviar.
Clarinha se agita e penso que vai chorar, mas não, ela quer é olhar a
bagunça. Eu posso com isso? Vai ser como a mãe, com certeza.
— Vamos começar a festa e nos despedir deste ano com muita
animação. Prontas, meninas? Essas são minhas amigas e vamos agitar as
coisas aqui em cima e vocês agitam aí embaixo. Combinado? — continua
Silene.
— Sim, sim, sim. Gostosas! — gritos e assovios são só o que se ouve.
— Então vamos à festa! — dessa vez é Luana quem fala, a outra
vocalista.
A música começa e elas começam a dançar, reconheço, é Timber-
Kesha e Pitbull. É a primeira vez que eu vejo minha Alice dançando. E como
ela dança bem, subindo e descendo, rebolando até o chão.
“Calma, cara, você está com uma criança no colo, não se anime
demais.”
— Verdade. Uma criança bem animada por sinal, não é pequena?
Quando a música acaba elas saem do palco sorrindo e pulando como
se fossem adolescentes. Adoro ver Alice assim, feliz, animada. Mesmo
morrendo de ciúmes não vou dizer nada, não posso tirar esse sorriso do seu
rosto que a deixa mais linda do que nunca.
— Então, mano, gostando da festa? Nossa, que pernas lindas têm a
cunhada, hein! — Léo me tira dos meus pensamentos para me mandar para
outros que incluem matá-lo se não calar essa boca grande.
— Se falar desse jeito de novo da Alice vai começar o ano com um
olho roxo, Léo.
Ele cai na gargalhada e me abraça.
— Calma mano, ela é linda sim, mas só falei isso para ver a sua
reação. Nunca te vi assim, nem com a Karin, e olha que vocês namoraram por
muito tempo, mas vou te confessar que nunca gostei daquela mulher. Alice
combina mais com você e ainda trouxe ao mundo essa pequena aqui. Vem
com o titio preferido, vem? — Estendeu os braços, mas Clarinha não vai com
ele e se aconchega mais em mim.
— Acho que perdi o meu charme com as mulheres mais novas.
Espero que tenha mais sorte com aquela loira linda, amiga da Alice.
— Léo, não faça isso, Monique é doce e não como as mulheres que
você pega por aí. Além do mais é amiga da minha mulher e não quero
confusão.
— Eu sei, mano, mas ela mexeu comigo e isso não acontece desde...
Você sabe. Ela é tão linda e nem se dá conta disso, é tão alheia a atenção que
os outros homens dão a ela. Desde o Natal que ela não sai da minha cabeça.
— Fico feliz por você, mano, mas vai com calma. — Não quero que
sofra de novo. Foram dias terríveis.
— Bom, vamos mudar de assunto. Hoje é dia de festa, vou convidar
alguém para dançar já que levei um fora dessa mocinha linda. — Beija a
bochecha de Clarinha e sai sorrindo em direção à multidão.
— Oi, meu lindo. — Alice se aproxima e nos abraça. Já estava com
saudade. — Vou só trocar de roupa e volto logo, não querem ir comigo?
— Você estava perfeita no palco. — Retribuo o abraço. — Melhor
não, amor. Vou conversar com o meu primo Alexandre que acabou de
chegar, se eu for junto não vamos sair de lá tão cedo.
— Ok. Não vou demorar. Tchau bebê, mamãe volta logo.
Dirijo-me para onde tinha visto Alexandre com o meu irmão Luís,
preciso saber como andam as investigações dos agressores das meninas.
Enquanto não resolver isso não terei sossego. Tem outra coisa que está
tirando o meu sono, tem dois dias que não consigo dormir direito.
Mais tarde vou conversar com Alice, está na hora de voltarmos para
casa no Rio e eu a quero comigo, mas estou com medo da sua resposta. Estou
totalmente dependente dela.
Mal chegamos e Luís já pega Clarinha dos meus braços, ela
conquistou a família toda mesmo.
— Alexandre, como vai? Que bom que veio.
— Estou bem e obrigado por me convidar. E por enquanto não tenho
muita coisa sobre aquele assunto, ainda sem novidades.
— Tudo bem, paciência. Mas eu quero que os seguranças continuem
na floricultura e vou precisar de mais, pois não vou correr riscos com Alice e
Clarinha.
— E nem eu com Josi — diz meu irmão e eu acho estranho, pois ele
nunca foi protetor com ninguém além da família. Decido que vou falar com
ele mais tarde.
Conversamos mais um pouco sobre outras coisas e combinamos um
jogo de futebol para a próxima semana. Faz tempo que não jogamos.
De repente alguém me chama atenção do outro lado e meu sangue
ferve, pois vejo Alice abraçada e quase beijando um homem que não sou eu.
Ela está usando uma minissaia branca e uma blusa amarela, mostrando a
barriga, ela mudou de ideia sobre a roupa. Quando dou por mim já estou
avançando em sua direção.
— Que diabos você pensa que está fazendo?
Pego o homem e lhe dou um soco, ele grita e cai no chão segurando o
nariz que está jorrando sangue.
— Você quebrou o meu nariz! — sai meio abafado, mas dá para
entender.
— Vou te quebrar inteiro, seu imbecil. Fica longe da minha mulher!
De repente os meus irmãos e o meu primo estão ao meu lado,
Alexandre tenta me segurar, mas estou com tanta raiva que o jogo no chão e
vou para cima do homem de novo.
— Você está louco? Por que bateu no meu namorado?
— Por que fez isso, Alice? Nunca pensei que seria capaz de fazer isso
comigo.
— Calma, Lucas essa não é a Alice, parece, mas não é. — Olhei o
meu irmão Léo.
— Ah então é você o namorado da minha querida irmãzinha? —
A mulher começa a rir, um riso estridente e sem graça, nada a ver
com o da minha Alice. Olho direito para ela e vejo que ela é a cara de Alice,
mas o seu cabelo é mais escuro e ela não tem as sardas no rosto, o seu nariz é
meio estranho e o seu corpo é bem mais magro.
— Bem, você é bem melhor do que imaginei quando soube que ela
tinha um namorado — diz.
Ela se aproxima de mim e começa a passar as mãos nos meus braços.
Afasto-me do seu toque e com uma voz rude pergunto:
— Irmã? E como você veio parar na minha casa? — Não me lembro
de Alice ter mencionado nenhuma irmã e muito menos uma irmã gêmea. Só
disse que não se dava bem com sua família.
— Sim, irmã, vai me dizer que não sabia disso? — Ri e mais uma vez
toca meus braços. Isso só está irritando-me mais ainda, odeio gente me
tocando sem eu querer.
Alice

— Amiga, você está gostosa! — diz Dri com um sorriso lindo no


rosto, ela já tinha bebido um pouco.
— Obrigada, você também está linda. Na verdade, todas estão lindas.
— Eu amei dançar hoje, fazia tempo que não dançávamos. Devemos
fazer isso mais vezes — diz Andrea.
Todas concordaram e ficamos terminando os últimos retoques na
maquiagem e falando sobre o beijo de Josi em Luís no Natal. Ela ri e diz que
estão se conhecendo. Sei, conhecendo. Rimos dela e continuamos até que
umas batidas na porta nos tiram do nosso momento.
— Alice, sou eu Natalie, você precisa descer, o Lucas está brigando
com um cara lá no jardim.
— O quê? — dizemos quase todas ao mesmo tempo e vou abrir a
porta. — Tem certeza que está falando do meu Lucas?
— Sim, tinha uma menina que é a sua cara quase beijando um cara e
acho que ele achou que era você e quebrou o nariz dele.
Angélica está aqui?
— Droga! Meninas, eu tenho que ir.
Desço as escadas correndo, alguém me cumprimenta, mas não vejo
quem é. A casa está cheia, Léo chamou uma multidão para a festa. A banda
continua tocando, ainda bem que não parou com a briga.
Chego ao jardim e vejo que realmente é a minha irmã e ela está
tocando o meu namorado. Me sobe uma raiva tão grande que vou com tudo
para cima deles.
— Tira as mãos do meu namorado, Angélica. E o que diabos você
está fazendo aqui?
— Ora, ora, ora se não é a minha querida irmãzinha. Nossa, maninha,
você está horrível, ganhou uns quilinhos a mais depois da gravidez. Precisa
fazer um regiminho.
— Lave essa sua boca para falar da minha mulher! — Lucas a
fulmina com o olhar e ela murcha um pouco.
— Tudo bem, amor, ela sempre foi desprezível assim. Já nem ligo
para o que ela fala.
Abraço-o e olho para Angélica.
— Quero que saia daqui agora e não se aproxime mais de Lucas.
— Quando se cansar dessa aí. — diz e me olha de cima a baixo —,
estarei à sua espera, querido.
Angélica vai embora e deixa o seu não sei o quê no chão gemendo.
Olho para Lucas procurando para ver se tem algum machucado, mas
não encontro nada.
— Você está bem? E o que deu em você para sair por aí distribuindo
socos? — Realmente não gostei disso.
— Não sei, eu fiquei furioso com o que vi. E por que eu não sabia que
tem uma irmã gêmea? — Passa a mão pelo cabelo e me olha com uma
expressão que eu não tinha visto nele ainda.
— Vamos falar sobre isso mais tarde, tudo bem? A casa está cheia e
eu não quero falar sobre ela agora.
— Tudo bem, mas eu quero saber de tudo.
Com essas palavras dele, sinto um calafrio por dentro, um que faz
tempo que não sentia. Para de bobagem, Alice!
Abraço-o e beijo o seu rosto emburrado, logo ele relaxa um pouco.
— Gente, falta dois minutos para a meia-noite. — Lua e Si estão com
o microfone na mão e estão animadas.
— Onde está a Clarinha?
— Aqui está ela. — Luís se aproxima e me entrega a minha filha.
— Obrigada, Luís.
Pego Clarinha e ela parece meio sonolenta. Nesse momento, as
meninas aparecem e todo mundo olha para elas, mas não os culpo, estão de
parar o trânsito.
— Um... Feliz Ano Novooooooo — todos gritam.
Começa os fogos e os gritos da multidão. Clarinha se assusta e
começa a chorar. Lucas nos abraça e ficamos olhando os fogos.
— Feliz ano novo, amor. Eu te amo e você está tão linda — sussurra
em meu ouvido.
— Feliz ano novo, eu também te amo, Lucas.
Beijamo-nos e ficamos um momento nos olhando, antes das meninas
virem nos abraçar.
— Mais um ano juntas, meninas. Sempre juntas. — Fazemos um
abraço coletivo, só as meninas. — Agora vão dançar que a festa só está
começando.
Afastam-se e fico com a minha pequena e Lucas. Sorrio para ele e
seguro a sua mão. — Vamos dançar essa música, nós três? E depois nos
sentar um pouco. Estou com saudade do meu namorado.
— Você que me abandonou. Eu estou sempre aqui para você.
Um dia ainda vou me acostumar com isso. Juro que vou. Sorrio e
vamos dançar, Silene está cantando uma música da Ellie Goulding - Burn.
Adoro essa música. Dançamos com Clarinha sorrindo, como se estivesse
aproveitando, o sono de antes, esquecido. Ela é muito animada a noite.
Quando a música acaba vamos nos sentar em um banco mais afastado
dessa multidão louca.
Três horas mais tarde estou quase estregando os pontos e indo deitar
como Lucas sugeriu, mas não posso deixar as meninas sem checar como
estão.
— Léo, você viu as meninas?
— Não e nem quero ver. — Nossa, parece que está zangado.
— O que houve, aconteceu alguma coisa?
— Por que não pergunta a sua querida amiga Monique? — diz e se
vira na outra direção, com uma tromba maior que a de um elefante. Eu, hein!
Ando mais um pouco e vejo Fernanda com um homem bem alto aos
beijos, e não é um beijinho não. Ah sua safadinha. Mais à frente Josi me dá
um sorriso malicioso, está dançando com Luís em um local mais afastado.
Faço sinal de positivo e sigo o meu caminho, parando um pouco quando vejo
Dri e Noah discutindo um com o outro. Será que me envolvo ou deixo para
lá? Decido ir lá, dou dois passos, mas paro quando ele passa a mão em seu
rosto com um gesto carinhoso e se aproxima dela. Resolvo sair e deixar que
se entendam. Mais à frente Andrea, Dy e as meninas da banda estão
dançando, pois agora a música é com o DJ. Só acho estranho que Monique
não está com elas.
Faço sinal de que vou dormir e elas assentem, pois entendem que
tenho uma pequena e tenho que cuidar dela, já tínhamos combinado isso mais
cedo, desde as cólicas não a deixamos sozinha, está sempre comigo ou com
Lucas. Sem contar que a menina adora uma bagunça.
Volto para a casa e quando estou próximo da escada ouço vozes,
aproximo-me um pouco e reconheço Léo e Monique. Estavam abraçados e
ele está pedindo desculpas.
— Desculpa, meu anjo.
Alguma coisa aconteceu, mas não vou interromper os dois. Depois
vou ter que ter uma conversinha com as minhas amigas. Mas agora vou ter
que ter uma conversa com o meu homem brigão.
Chego ao quarto e Lucas está deitado na cama... Pelado. Que
conversa o quê, eu quero só ficar agarradinha com o meu lindo namorado no
primeiro dia do ano. Ainda bem que na semana que vem vamos voltar para o
Rio e o médico será a primeira coisa na minha lista de afazeres.
Tiro a roupa toda e me deito ao seu lado, é tão bom sentir sua pele na
minha.
— Resolvi deixar a nossa conversa para depois, senhor Lucas Vilar.
Você é uma bela distração.
Ele me puxa para os seus braços e beija o meu pescoço.
— Semana que vem vamos voltar para o Rio e eu queria te perguntar
se você aceita morar comigo na minha casa — fala com uma voz carinhosa.
Eu já sabia que ele ia perguntar isso. Confesso que queria ir, mas
estamos avançando muito rápido e tenho medo de um dia ele acordar e
decidir que não me quer lá e aí já vou estar mais dependente dele.
— Acho melhor cada um na sua casa, estamos indo rápido demais
com esse relacionamento. E não quero que se canse de mim.
Olho para ele e a tristeza que vejo em seu olhar me dá um aperto no
peito. Não gosto disso.
— Eu nunca vou me cansar de você. Eu só passei a existir de verdade
depois que você e Clarinha surgiram em minha vida. E já que você não quer
se mudar comigo, eu vou morar com vocês, Josi já deixou e me mudo na
terça.
— O quê? Não! Você está louco? — Como assim deixou? Vou ter
uma conversinha com aquela traidora. Só pode ser esses olhos verdes dele
que deixam as minhas amigas boazinhas com ele.
— Louco por você. Não vou deixá-la sozinha, nem que você pare de
falar comigo. Se acontecer alguma coisa com vocês eu enlouqueço de vez.
Tinha esquecido esse pequeno detalhe. Droga!
10 - Alice

— Lar doce lar. Sejam bem-vindas, minhas meninas — murmura


Lucas, a animação em pessoa.
Depois que ele me deixou sem argumentos, resolvi vir de uma vez
para sua casa, por enquanto. É o melhor a fazer no momento, não posso
pensar só em mim e sei que ele ia ficar louco longe da Clarinha, mesmo
sendo apenas quinze minutos de carro até a minha casa.
A quem você está tentando enganar, dona Alice? Você também está
totalmente dependente dele. Sim estou, mas ele não precisa saber disso. Rio e
com a minha filha no colo entramos na casa de Lucas.
A sala é linda, bem espaçosa, a janela é de vidro do chão ao teto com
uma vista maravilhosa para o jardim, os móveis de um bom gosto fascinante
tudo em tons marrom e branco, lustres pendentes e quadros lindos nas
paredes. Minhas flores preferidas, tulipas vermelhas, estão em um vaso numa
mesinha ao lado do enorme sofá marrom. No canto esquerdo da sala,
próximo a janela tem uma montagem com pequenas imagens formando a foto
de uma criança deitada fazendo biquinho, que me chama atenção, caminho
para poder ver de perto e vejo que é a minha filha.
— Adriana fez semana passada para mim e pedi que colocasse aqui
na sala, para quem chegar ver a minha menina. O que achou? — murmura
um Lucas meio preocupado, parece que está com medo da minha reação.
Lucas, Lucas, você vai me enlouquecer ao ponto de nunca querer ir
embora, não vai?
— Eu amei, ficou perfeito!
— Ah que bom, achei que não fosse gostar de estar expondo muito a
nossa pequena. — Oh Deus! Esse homem é tão fofo que às vezes tenho
vontade de congelá-lo para que não mude nunca.
— Eu amo quando você fala nossa pequena! — exclamo emocionada.
— É. Nossa. — Duas palavrinhas que fazem o meu coração apertar de
tanta felicidade.
— Bom, agora vamos subir e conhecer o nosso quarto e o da
Clarinha. Espero que esteja do seu gosto. Vai ter muito tempo para ver o
resto da casa mais tarde. Vamos?
Subimos as escadas e vamos primeiro ao quarto da Clarinha. Abro a
porta e tenho que me segurar em Lucas. Está praticamente igual ao que eu e
Josi decoramos lá em casa. As paredes de um lado têm flores, rosas amarelas,
vermelhas e azuis, parece um jardim. A outra tem minions pequenos e
grandes, não chega a preencher a parede toda, fica só no meio, como se fosse
uma faixa grossa. Mas está lindo.
O berço é branco com detalhes amarelos, o mobile dele é de
abelhinhas, flores, dois ursinhos, um rosa outro amarelo, e um pandinha, tem
também duas chupetas de pelúcia, é lindo. A cômoda e o guarda-roupa são
brancos, e parece que tudo, mas tudo mesmo, da Clarinha está aqui. E dona
Josi deve estar metida nisso. Ah vou ter uma conversinha com ela.
Tem uma poltrona branca linda ao lado do berço, um pufe gigante
amarelo claro próximo à janela, que têm cortinas amarelas e brancas e vários
bichinhos de pelúcia em cima da cômoda, incluindo alguns minions, um
abajur pequeno, uma estante com alguns livros infantis, caixinhas de músicas
e vasos pequenos cheios de ursinhos marrons, rosa e brancos e caixas
coloridas que daqui não dá para ver o que tem dentro, alguns porta-retratos.
Um tapete lindo, enorme, em forma de minion no centro do quarto. Da para
acreditar? Acho que eu que vou ficar com esse quarto. Menos, Alice, menos.
Uma mesa pequena e duas cadeiras também pequenas próximas à parede
branca com vários quadros espalhados, fotos minha e de Clarinha juntas, de
Lucas com ela e dela sozinha, uma mais linda que a outra.
— Quando você arrumou esse quarto? — Preciso saber.
— Dois dias depois de chegarmos à fazenda, pedi a minha irmã para
decorar.
— Você parece que sabia o que estava fazendo. Um pouco
presunçoso, não?
— Eu diria esperançoso — fala, com uma expressão tão decidida e
calma.
Já eu estou em pânico, não sei o que pensar ou o que dizer, estou
suando, isso tudo está demais.
— O que estamos fazendo, Lucas? Você não acha isso tudo um
absurdo?
— Não, não acho. E estamos vivendo, não vamos discutir mais isso,
Alice. Eu amo vocês e por mim nos casaríamos amanhã, mas como sei que
você está surtando, não vou fazer o pedido hoje. Mas esteja avisada que não
vai demorar muito — informa com uma voz decidida, que não deixa nada
para discussão. — Agora vamos colocá-la no berço, ela está dormindo e não
gosta quando discordamos um do outro. Vamos ligar a babá eletrônica e
poderemos ver o nosso quarto e o resto da casa, o que acha?
— Tudo bem, por enquanto, mas essa conversa não terminou.
Será que quero um pedido de casamento? Ele só pode estar doido, não
temos nem um mês de namoro e já quer casar? Louco, isso sim. Mas como
diz a Josi, vamos viver o agora e deixar de besteira. Preocupamo-nos com o
futuro quando ele chegar.
Fácil falar.
Deixamos Clarinha no quarto e vamos para o nosso, preciso tomar um
banho e descansar para a minha consulta amanhã. Passamos pelo corredor e
vi que tinha mais cinco portas, o que seria talvez mais cinco quartos além do
nosso, que fica ao lado do de Clarinha.
— Bem, esse é o nosso quarto. — Sorri, aquele sorriso que com
certeza já aprendi a amar.
O seu quarto é lindo. Do jeito masculino, simples com só um quadro
acima da cama e dois porta-retratos com fotos nossas em cada um, como se
fossemos um casal. O que na realidade somos, né. A cama é enorme, e estou
louca para experimentar. Opa! Mudança de pensamentos. Reparo no restante
e, pelo visto, Lucas gosta de vidro, pois assim como a sala, o quarto tem uma
parede inteira de vidro, com cortinas brancas. A vista é maravilhosa, uma
imensidão de praia à frente e à noite com essas luzes é simplesmente perfeita.
Eu poderia passar um tempo enrolada em uma das poltronas próximas a
janela e apreciar a vista o dia todo.
Viro-me e noto Lucas observando-me. De repente, me alcança e me
beija. Um beijo rápido e superquente que me deixa sem palavras, totalmente
atordoada.
— Venha, quero lhe mostrar uma coisa. — Vamos mais à frente,
ainda estou recuperando-me do beijo. — Aqui está. Abra.
Paramos em frente a portas duplas e abro sem hesitação, mas arfando
logo em seguida. Puta merda!
Parece um segundo quarto, dentro do quarto e está repleto de roupas,
sapatos, bolsas, casacos, maquiagem.
— O que significa tudo isso? Estamos no quarto certo?
— Sim, meu amor, estamos no quarto certo e tudo o que está aqui é
seu. Andrea e as meninas foram às compras e deixaram tudo pronto antes do
Natal. Pedi para elas, pois não sabia por onde começar e nem o que você
gostava.
— Meu Deus! Você só pode ter enlouquecido. E eu vou matar as que
se dizem minhas amigas. — Isso só pode ser um pesadelo. Por que ele faz
isso? Não tinha nem me recuperado do quarto da Maria Clara e agora isso. —
Eu não posso aceitar isso, Lucas, não é justo.
— Nem começa, amor, isso é só o começo, é melhor se acostumar —
diz e me beija, calando-me como se eu não estivesse pirando.
Só você me faz pirar e acalmar ao mesmo tempo, meu doutor.
Acordo com beijos em meu pescoço, e apesar do pânico que senti
com tudo ontem à noite, dormi muito bem. Clarinha só acordou uma vez às
três da manhã, parece que gostou do novo quarto.
— Bom dia, minha linda. Adoro acordar e sentir o seu cheiro.
— Bom dia, meu lindo. Tenho que levantar, a minha consulta é às dez
horas. Tenho que tomar banho e arrumar tudo para a Dri poder cuidar da
Clarinha. Espero que não demore, pois não quero ficar muito tempo longe da
minha filha. — Faço um biquinho e Lucas o desfaz com um beijo carinhoso.
— Vamos, minha linda, eu já tomei banho, vou estar no quarto ao
lado enquanto toma o seu. Adriana mandou uma mensagem, está quase
chegando.
Lucas levanta e sai do quarto.
Tomo um banho rápido e escolho um vestido de alcinha azul que fica
um pouco acima do joelho, do meu novo e extravagante guarda-roupa, e um
salto Peep Toe preto com uma bolsa também preta. Deixei os cabelos soltos e
resolvi não usar maquiagem, Lucas gosta das minhas sardas, credo. Vou
agradá-lo um pouco.
Depois de amamentar a minha pequena e deixar duas mamadeiras
com leite prontas. Deixo Clarinha com minha cunhada e Inês, a senhora bem
simpática que conheci ontem à noite e vou para o hospital junto com Lucas.
Chegamos rápido, e por onde passamos têm pessoas nos olhando,
mais precisamente para Lucas. As mulheres presentes, todas, sem exceção de
idade olham para o meu namorado.
— Parece que o doutor faz sucesso por aqui. — Tento não soar
chateada, mas não consigo.
— Ciúme, amor? — indaga Lucas sorrindo e parece divertido. Que
raiva!
— Claro que não! — Acho que estou tentando convencer a mim
mesma.
— Que bom, porque eu só tenho olhos para a minha mulher.
Lucas me puxa mais para perto e me beija na frente de todo mundo,
depois sorri e continuamos andando em direção ao consultório de Caetano.
Vejam meninas, só meu!
— Bom dia, ao mais novo casal — Caetano fala, assim que entramos
em seu consultório.
— Bom dia, Caetano, como vai?
Lucas e ele se abraçam e Caetano se volta para mim, olhando-me de
cima a baixo. Olha tanto que já estava ficando envergonhada.
— Será que você pode parar de olhar para minha namorada assim? —
Lucas pede e parece chateado.
Caetano cai na gargalhada e me abraça.
— Adoro deixá-lo irritado, mas não se preocupe, eu sou gay e não, eu
sou só amigo dele, sem interesse nenhum naquele corpinho — sussurra em
meu ouvido e pisca para mim.
Dessa vez foi a minha vez de sorrir.
Meia hora depois, Caetano me diz que estou ótima e que já posso
aprofundar mais o meu namoro. Palavras dele. Não muito profissional, mas o
adorei assim mesmo, se Jeff não tivesse namorando os dois formariam um
casal e tanto. Jeff é um amigo totalmente gay, como ele fala, que se mudou
para Nova Iorque ano passado com o namorado, estou com muita saudade
dele. Odeio aquele namorado dele. Pronto falei!
Despedimo-nos e estávamos virando o corredor quando, de repente,
Lucas me puxa para uma sala e fecha a porta atrás de nós, não deixando
tempo para questionar o que estava acontecendo, ele me beija com uma
vontade que parece que fazia semanas que não nos víamos.
— Lucas... — gemo e me pergunto se ele pode ouvir as batidas loucas
do meu coração. — O que está fazendo?
— Eu preciso de você, amor — sussurra em minha boca, lambe o meu
lábio inferior e depois o chupa, deixando-me completamente excitada.
Não vejo a hora de chegarmos em casa e me jogar em cima dele.
Quem precisa de casa para isso? Se joga, mulher!
Não precisa falar duas vezes.
Afasto-me um pouco e olho ao redor, estamos numa sala que parece
estar em reforma, mas vai ter que servir. Vejo uma mesa à frente e puxo
Lucas.
— Vamos para casa, amor.
— Não. — Puxo-o mais forte — Aqui. Agora.
Então ele me beija outra vez, explorando a minha boca com a sua
língua e suas mãos acariciando as minhas costas, depois desce as alças do
meu vestido, deixando os meus seios à mostra e ansiosos pelo seu toque. Não
demora muito e aquelas mãos estão segurando e tocando os meus mamilos
rijos e doloridos. De repente ele para de me beijar, tira a camisa preta que
estava usando, coloca na mesa e me senta lá. Depois olha para mim como se
eu fosse a coisa mais linda do mundo.
— Linda! — murmura com uma voz que não passa de um sussurro,
olhando fixamente para os meus seios. — Você é tão linda, que me deixa sem
palavras.
E eu acredito nele, mas não temos muito tempo.
— Chega de falar, amor, e vamos fazer. Eu quero gozar.
— Não precisa pedir duas vezes — fala e cai de joelhos, levanta o
meu vestido, afasta a minha calcinha de lado e coloca sua língua quente no
lugar dela, acariciando o meu clitóris que a muuuuuito tempo não recebe
nenhuma ação.
— Você está tão molhada, amor, que aposto que se eu colocar o meu
pau aqui dentro agora, vai entrar sem problema. — Eu quero muito isso,
estou quase gozando só com essa língua deliciosa e... Ah... ele colocou o
dedo dentro de mim e não resisto. — Goza para mim, amor, me deixa sentir
você vir em minha língua, seu gosto é tão bom.
E com isso eu venho com tanta intensidade que me arqueio em sua
direção, gemendo o seu nome e puxando o seu cabelo. Lucas levanta e
quando estou acordando do meu estado comatoso de orgasmo, o vejo rolando
um preservativo em seu lindo pau e começo a sentir o meu clitóris pulsar
mais uma vez.
Anda logo!
Sinto os seus dedos em minha pele novamente, e quase tenho outro
orgasmo. Ele começa a me beijar de novo e me abraça bem forte.
— Lucas, eu preciso de você. Agora! — grito e ele logo atende ao
meu pedido.
Lucas esfrega a minha entrada com a cabeça impressionante do seu
pau e começa a beijar o meu pescoço, como não estou mais aguentando essa
tortura, passo as pernas ao redor da sua cintura e o puxo com força, forçando
a sua entrada. Assim que Lucas está totalmente em mim, por um momento
entro em pânico, mas logo olho em seus lindos olhos e vejo tanto amor ali,
que eu nunca pensei que veria na minha vida, e relaxo. Esse é o meu amor. E
eu não vou deixar ninguém entrar no nosso relacionamento.
— Eu te amo, Lucas — confesso e começo a mexer, sentindo-o
inteiro dentro de mim. Ele me acompanha e começamos a nos mexer juntos,
sentindo, provocando, nossas mãos em todo o corpo um do outro. As suas
mãos acariciam os meus seios, a sua boca beija o meu pescoço, eu puxo os
seus cabelos e rebolo em seu pau como uma louca.
— Goza no meu pau, amor, estou tentando de tudo para fazer isso
durar, mas você mexendo assim está dificultando muito. Goza, linda. Agora!
— pede exigente, despertando um lado meu que eu não sabia que tinha.
Adorei esse seu jeito autoritário durante o sexo. Com isso gozo,
apertando o seu pau dentro de mim, enquanto gozava.
— Ah! Alice, Alice...
Lucas goza forte dentro de mim.
Enquanto nos recuperamos, fico pensando onde estamos e começo a
rir.
— Amor, isso não foi muito romântico da sua parte, sabia? Me
atacando em uma sala em reforma no meio de um hospital — fala um Lucas
divertido e rio mais ainda.
— Foi você quem me trouxe aqui, se bem me lembro, meu amor.
— Mas eu só queria te dar um beijo em privado, minha linda. Só isso.
— E eu não aguentava mais esperar. Agora me leve para casa e abuse
bastante de mim. No bom sentido.
Rimos um pouco e nos limpamos da melhor maneira possível.
Saímos do hospital o mais rápido possível e vamos para casa.
11 - Lucas
“(...)Esse amor molhado faz tudo acontecer
Você me deixa atiçado pra te dar mais prazer
Eu cubro com espuma o seu corpo nu
Nós dois debaixo do chuveiro
Amor com cheiro de shampoo(...)”

Amo ver Alice assim, feliz, cantando. Não conheço essa música, mas
não me importo de ela cantar, adoro a sua voz.
Passamos quase o dia inteiro no quarto, conheci cada curva do seu
corpo perfeito, os seus sons quando a fazia gozar uma e outra vez me deixam
duro só de lembrar. Chegamos em casa e fomos direto para o nosso quarto, e
como pedi estava tudo pronto, o quarto banhado só pela luz das velas
decorativas, nem me importei se era dia ou não, só não queria esperar mais
e sei que Alice também não. Pedi suas flores preferidas e pedi que
espalhassem pétalas por todo o quarto, principalmente pela cama.
Descobri que a minha mulher é impaciente, hoje no hospital, e não
perdemos tempo. Reverenciei o seu corpo inteiro com a minha boca,
lembrando-a como ela era linda o tempo todo.
Fizemos amor mais duas vezes, uma lenta e demorada, a outra rápida
e forte, depois ficamos aconchegados só curtindo o momento. As únicas
pausas que fizemos foram para comermos alguma coisa e também porque a
nossa pequena estava exigindo a nossa presença e minha irmã tinha que ir
embora resolver suas coisas, pois já era noite.
Voltando para o agora, estou deitado em nossa cama, já limpa, com a
minha pequena dormindo de bruços em meu peito, esse é o jeito que ela mais
gosta de ficar. Temos uma ligação muito forte desde quando ela nasceu.
Estava na sala de parto junto com Alice, mas ela não sabe. Ainda. Na hora
que Clarinha nasceu, a segurei em meus braços e ela segurou o meu dedo
com força, desde esse dia parece que ela me sente quando estou por perto. E
quer o papai o tempo todo. Eu fico totalmente em êxtase, pois ela é minha
vida. Incrível como as coisas acontecem, sempre quis a minha própria
família, mas nunca tive sorte nos relacionamentos anteriores e quando já
tinha desistido disso Alice e Clarinha entram em minha vida. E apesar do
pouco tempo que nos conhecemos a amo como nunca amei ninguém e vou
fazer de tudo para que ela me aceite para sempre.
— Está pensando em que, meu amor? Está tão concentrado que nem
me ouviu, o seu celular está emitindo som de mensagem há um tempinho,
deu para ouvir lá do banheiro.
Estava pensando que vou prendê-la aqui para nunca mais ir embora,
mas claro que não vou dizer isso para ela. Acorda, bobão!
— Estava pensando em você, minha linda — admito a metade da
verdade. — Pode ver de quem é a mensagem? Está tão confortável aqui com
a minha princesa que não quero perturbá-la em seu sono.
— Posso sim. E o senhor está deixando-a mal-acostumada. Ela não
consegue mais ficar longe de você. — Isso sempre me faz sentir o pai mais
babão do mundo inteiro.
— E nem eu dela. Papai sempre vai estar com você. Sempre —
sussurro e beijo a sua cabecinha cheirosa.
De repente sou tirado dos meus pensamentos por uma gargalhada
gostosa da minha mulher.
— Esse Léo é maluco mesmo, olha só isso?
Olho o conteúdo e fecho a cara para o telefone. Só pode estar de
brincadeira comigo!
A foto foi enviada por meu querido irmão que estava fazendo
Bundalelê para a câmera, junto com o seu cachorro Brad, um Bulldog inglês
marrom e branco enorme, e pelo visto pareciam estar se divertindo muito.
Brad é um cachorro com um aspecto não muito amigável, mas basta
passar dois minutos em sua companhia que ele mostra o contrário, é
brincalhão, fiel e gosta de carinho o tempo todo. Ele foi encontrado na rua há
um ano, estava quase morrendo o pobre cachorro, pois tinha sido atropelado e
se arrastava pela rua, mas teve a sorte de ter sido o meu irmão a encontra-lo.
Passou quase quatro meses para ficar totalmente curado e saiu da clínica
veterinária direto para a casa do Léo, os dois se ajudaram. Léo estava
passando por um momento muito difícil em sua vida e Brad trouxe um pouco
de alegria, estão juntos desde então. São dois palhaços.
— Não tem jeito para o meu irmão — falo, mas rio ao mesmo tempo.
O meu irmão é único, tão diferente de Luís.
— Eu gosto dele — murmura Alice, olhando-me ao invés do telefone.
— Ele também já caiu nos seus encantos.
— Encantos? — Franze o cenho e depois joga a cabeça para trás e ri
alto, fazendo Clarinha se assustar. Acalmo a minha pequena e depois olho
para a sua mãe.
— Sim, minha bruxinha linda. — Nos olhamos um pouco e me
lembro de uma coisa. — Você vai se atrasar se não se arrumar logo. Daqui a
pouco as meninas estão aqui para irem buscar o seu amigo no aeroporto.
Não gosto da ideia de ela sair sem mim, mas os seguranças e Luís vão
estar por perto e ninguém, além da família, sabe que ela está morando aqui
por enquanto. Enquanto não resolver a questão do seu ex não viverei
tranquilo. Mas também não posso mantê-la prisioneira. Se bem que essa ideia
é tentadora.
— É verdade, vou me apressar. Não vejo a hora de ver o Jeff, faz
mais de um ano que não o vejo. — Alice sai e logo volta com as suas roupas
nas mãos e começa a se vestir na minha frente. Como pude ser tão sortudo?
— E sabe o que é engraçado? Hoje no hospital quando Caetano me abraçou
me lembrei dele. Quando Josi ligou dizendo que ele estava vindo, quase me
desmanchei em felicidade. Você vai adorá-lo.
Vinte minutos depois, estamos nos despedindo.
— Volto logo e viremos direto para cá. Divirtam-se, mas não muito.
Sorri e me deu as costas, as meninas estavam no carro esperando por
ela. Oriento os seguranças que seguiriam em outro carro atrás delas e o Luís
estava com eles. Falando nisso, o meu irmão está muito protetor da Josi,
quando toquei no assunto com ele ontem me cortou e disse que não queria
falar disso. Deixei de lado, por enquanto.
Resolvo voltar para o quarto e escuto um barulho de telefone tocando,
mas não é o meu. Procuro de onde vem o barulho e vejo que Alice esqueceu
o seu celular, olho e vejo que é de um ID bloqueado. Logo entro em alerta e
resolvo atender. Não deveria, mas quando dei por mim já estava atendendo.
— Alô — falo com uma voz grave.
A outra pessoa exala forte e depois responde.
— Quem é você e o que está fazendo com o telefone de Alice? — A
voz é de homem e parece que não gostou que desse lado da linha também
quem vos fala é um homem.
— Bem, sou eu quem deveria perguntar quem é você e o que quer
com a minha mulher! — exclamo meio sem paciência.
— Sua mulher uma ova! Passe o telefone para a minha mulher.
Agora! — grita e parece que quer me matar pelo telefone.
Bem, olha, tivemos a mesma ideia, pois também estou considerando
fazer isso com ele se for quem estou pensando que é.
— Como eu disse, a MINHA mulher, — enfatizo bem o minha — não
está. E você não tem nada para falar com ela, portanto pare de ligar. Seu papo
agora é comigo, sei o que fez a ela e a minha filha, aliás, eu vi e não gostei
nem um pouco. Vou descobrir quem você é e vou fazer você se arrepender de
um dia ter tocado nela — rosno as palavras para ele, pois estou fervendo de
raiva desse cara.
— Ah, então, quer dizer que a vadia já está de casinho? Não perdeu
tempo, não é mesmo? Mas sinto te desapontar amigo, a mulher é minha e a
quero comigo. A ratinha você pode ficar para você, não preciso dela para
nada, mas Alice é minha, querendo ou não.
— Nunca mais se refira a minha filha desse jeito! E se chegar perto
delas eu te mato — grito tão alto que Clarinha acorda e começa a chorar.
Tento acalmá-la, mas não adianta.
— Eu falo do jeito que eu quiser, e mais cedo ou mais tarde ela vai vir
até mim. Ela sempre vem, só estamos dando um tempinho.
— Não conte com isso, seu lunático! Estamos morando juntos e logo
vamos nos casar. — Ouço a sua respiração forte no telefone. Ah! Isso o
afetou. — Esteja avisado, ninguém mexe com o que é meu. Eu vou te caçar
até o inferno se for preciso.
— Isso é uma ameaça?
— Uma promessa. E eu cumpro as minhas promessas. Fique longe da
minha família!
Desligo sem esperar por sua resposta. Vou descobrir quem você é, seu
idiota e vou resolver esse problema de uma vez por todas.
Apago a ligação e vou cuidar da minha pequena. Vamos conversar
sobre ele quando Alice estiver preparada. Só espero não surtar até ela estar
pronta.
Mas de uma coisa eu tenho certeza. Eu vou acabar com esse imbecil!
— Então, cara, qual é a sua? Será que está levando a minha amiga a
sério ou está só querendo brincar com ela? — Jeff fala, olhando-me bem
sério com uma voz grave e grossa que engana bastante.
Gostei dele de cara, ele defende a minha menina como um irmão e
isso já basta para mim.
Desde que chegaram do aeroporto estão grudados, comeram juntos no
mesmo prato e beberam no mesmo copo. No começo fiquei com ciúmes,
admito, mesmo sabendo que ele não era perigo nenhum. Mas logo ficou bem
claro, quando ele chegou e me disse que eu era um escândalo de bonito.
Reviro os olhos com a lembrança e respondo.
— Muito sério. Por mim me casava com ela amanhã.
Ele sorri para mim de orelha a orelha. Parece que conseguiu o que
queria. Jeff me olha de cima a baixo e lambe os lábios. Pronto, voltou o
verdadeiro Jeff. Fecho a cara e olho para Alice, ela olha de mim para ele e cai
na gargalhada. Gesticulo um “você me paga mais tarde” e sorrio de volta.
— Vamos logo com esse filme, meninas! Se não vou ter que atacar
esse monumento aqui. — Jeff aponta para mim e sorri. Eu, hein!
As meninas riem mais ainda e se dirigem para a sala do cinema.
— O que vamos assistir? — pergunta ele sorrindo.
As meninas dizem ao mesmo tempo: — A Escolha Perfeita!
— E sobre o que é?
— É muito bom, Jeff, eles fazem música com a boca.
— Eu sei fazer outra coisa com a boca.
— É claro que sabe, seu safado — fala Alice, rindo do seu amigo e
todas somem, rindo no corredor.
Fico para trás e resolvo estudar um pouco. Estou sentindo falta do
hospital.
Estava no escritório fazia uns vinte minutos, quando Alice entra e
fecha a porta, com uma expressão determinada, e vem andando lentamente
em minha direção. Alguém ali embaixo está acordando. Senta-se à mesa e
abre bem as pernas e... Minha nossa! Ela está sem calcinha. Isso me deixa
excitado e zangado ao mesmo tempo.
— Não me olhe assim, acabei de tirá-la. — Sorte sua, amor. — Fui
ver como Clarinha estava, depois passei em nosso quarto, olhei para a cama e
lembrei do que fizemos. Aí, fiquei com vontade de tê-lo dentro de mim de
novo. Não vou aguentar até todo mundo ir embora. Deixei-os vendo o filme.
Será que pode resolver esse pequeno probleminha? — fala com uma voz
sensual e passa o dedo médio em sua vagina, deixando-me totalmente
atordoado.
— Deus, Alice! Você está querendo me matar? — murmuro e vou
com tudo para cima dela.
Deito o seu corpo na mesa, retiro sua mão e coloco a minha língua em
seu lugar. Ela coloca uma perna em meu ombro e a outra no braço da cadeira
que estava sentado. Beijo sua boceta como se fosse sua boca. Ela geme e
arqueia as costas, puxando os meus cabelos com força. É minha perdição
quando ela faz isso.
Paro um momento e olho para ela
— Aqui. — Lambida. — Está. — Lambida. — O verdadeiro. —
Lambida. — Néctar da vida. — Mais uma lambida e depois enfio a minha
língua dentro dela, fazendo movimento de vai e vem.
Retiro quando sinto que ela estava quase gozando. Ela geme em
protesto, olhando-me com os olhos em chamas.
— Sua boceta é simplesmente a melhor coisa do mundo.
— Lucas... — sussurra com a voz fraca. — Eu preciso...
— Eu sei, amor.
Interrompo as suas palavras e coloco dois dedos dentro dela. Dentro,
fora, dentro, fora. Quando sinto que está quase gozando de novo, retiro os
dedos, me inclino, capturo um mamilo e o mordo por cima do vestido.
— Ahhh... Lucas, você está me matando aqui. Se não entrar em mim
e me comer agora vou te jogar no chão e eu mesmo vou fazer isso.
Sorrio e mordo o seu mamilo mais forte, arrancando um grito seu.
— Ah vai é? — Acena com a cabeça. — Eu quero ver ent...
De repente sou empurrado e estou sentado de novo na cadeira, que
como é de rodinhas vai para trás e bate na parede. Aconteceu tão rápido que
fiquei sem reação. Num instante ela estava deitada na mesa, no outro está em
pé e totalmente nua, tirando o meu pau para fora e colocando um
preservativo. Que não tinha visto até agora. Jesus, essa mulher vai me matar.
Gememos juntos quando ela se encaixa em mim e começa a rebolar
rápido e forte. Sinto que ela está apertando, sugando o meu pau com sua
boceta encharcada.
— Passe as pernas em volta dos meus quadris, amor, segure com
força ao redor dos meus ombros — peço e ela fez, sem questionar.
Levanto-me, seguro os seus quadris e começo a subi-la e descê-la
rápido e forte, como ela estava mexendo em cima de mim, fico com medo de
machucá-la.
— Mais rápido, mais rápido. — Era tudo o que eu precisava ouvir.
Acelero os movimentos e com mais duas estocadas gozamos juntos,
numa explosão de gemidos e sussurros.
— Ai que delícia... amor.
— Alice...
— Eu amo você.
— Eu te amo mais.
Desabamos no tapete, abraçados e ofegantes, com ela em cima de
mim e começo a mexer em seus cabelos. Sabia que ela adorava isso.
Alice beija o meu peito e sorri.
Nunca me senti tão feliz em toda a minha vida.
12 - Luís

— À sua direita.
— O quê?
— Nossa! Primo, às vezes você é meio lento. Estou falando da mulher
que está te observando há dez minutos sem parar, como se quisesse te comer
no jantar. Não posso negar, ela é muito bonita.
Já passa das dez da noite e estamos quase fechando a academia, pois
tenho que estar na casa da Josi, para assumir o meu posto. Contratei
seguranças, mas gosto de ver com os meus próprios olhos o que está
acontecendo.
Pare de pensar nela. Pare! Digo a mim mesmo, sem nenhum
resultado.
Ela está virando quase uma obsessão. Por que ela teve que me beijar?
Por que ela não age como as outras, que me olham e tem medo de se
aproximar? Ela sempre foi diferente. Desde que o meu irmão Lucas me disse
o que aconteceu com ela e sua amiga, que estou de olho para que nada mais
como isso aconteça, ela me frustra e isso me deixa muito zangado.
Nunca quis me ligar a ninguém. Nunca quis uma companheira. Mas
ela desperta em mim coisas que não estou acostumado. Ela é linda, alegre,
forte, fiel aos seus amigos e sem contar que tem curvas que me deixam duro
sempre que a vejo. E isso acontece desde o primeiro momento, há quase dois
meses. Chega!
Olho na direção que ele disse e me surpreendo com a pessoa que está
me olhando.
Era só o que me faltava mesmo.
O que em nome de Deus, Luara está fazendo na minha academia?
— Ah não! — exclamo irritado.
Essa mulher de novo, não! Luara é a irmã de um amigo, ficamos umas
duas vezes e só, mas ela queria mais e como eu prefiro ficar sozinho e não me
envolver muito, dei um basta nisso. Mas ela não levou muito bem a dispensa.
Problema dela. Achei que estivesse me livrado dela há seis meses. Pelo visto
não foi o caso e ela aparece justo na minha academia.
— Preciso falar com você, Luís. Urgente!
Não vou dar brecha a ela. Não estou interessado.
— Sinto muito, mas estou sem tempo. Já estava de saída — digo o
mais natural que pude e caminho até a saída, sem nem olhar para ela.
Virando-me para Alexandre, digo:
— Pode fechar para mim? Tenho cinco minutos para chegar ao meu
compromisso.
— Claro. Vai pela sombra! — grita e depois começa a rir, esse
bastardo.
Espero que não se envolva com ela, pois não passa de uma Maria-
tatame.
Saio de lá sem olhar para trás, vou para o meu carro com o coração
acelerado. Não sei por que estou tão nervoso, vou só sentar no carro em
frente à sua casa e observar, nada mais.
Chego lá o mais rápido possível e dispenso Logan até meia noite,
quando ele volta a assumir e vou para casa.
Acomodo-me da melhor maneira que consigo e fico olhando para
cima, vejo que a luz do andar de cima está ligada. Fico imaginando o que ela
usa quando vai dormir, se alguma camiseta ou um pijama confortável, uma
camisola sexy ou se prefere dormir sem nada.
Deus! Estou por um fio.
Mas já tinha deixado bem claro que não vamos ter nada. Fiquei
maluco com o beijo que ela me deu no Natal.
Sim, foi ela que me beijou.
Nunca ninguém me beijou, eu é que ditava as regras, mas com ela as
minhas barreiras estão sempre desmoronando. Isso não pode continuar e disse
a ela no Réveillon, que eu não era como o meu irmão e não fazia essa coisa
de namoro. Sabe o que ela me respondeu? — “Quem disse que eu estava
querendo namorar você? Queria apenas curtir o momento, seu estraga
prazeres, se não quer tem quem queira. Tchau, lindo, vou curtir a festa que
eu ganho mais.” — e saiu rebolando, deixando-me meio confuso e com
muita raiva da sua resposta. Vai entender, né.
Voltando ao presente, me concentro na janela acima e vejo uma
sombra passando. Ela deve estar quase indo dormir.
— Nãoooo! — De repente escuto um grito.
Saio do carro o mais rápido possível e corro para a casa dela. Como
tenho as chaves é mais rápido.
— Aí meu Deus! — Escuto, assim que entro pela porta e vou em
direção de onde veio o grito.
— O que houve?
Olho ao redor à procura de alguém, mas não vejo ninguém. Chego
mais perto dela e ela está em choque, pois nem reage a minha presença.
— Josi, querida, olhe para mim. O que aconteceu?
Ela só aponta a frente e vejo que estávamos no quarto de Clarinha e
ela aponta para o berço.
Chego mais perto e o que eu vejo lá dentro me deixa espantado.
Tem um gato branco dentro do berço e ele está todo ensanguentado,
tem só as patas da frente e um corte enorme do pescoço até a barriga. Na
parede, perto do berço, está escrito: “MORTE” com letras maiúsculas.
Meu Deus!
Volto-me para Josi, a pego no colo e a levo comigo para a sala. Sento
no sofá com ela no meu colo e vejo que ela está chorando.
— Calma, estou aqui com você — digo, sem saber mais o que dizer,
pois não sou nada bom com situações como essas.
Ela diz algo que não entendo e me pergunto se não deveria ligar para
Alice?
— Eu a tinha só por dois dias — diz e chora mais ainda.
O que eu faço? Ela é sempre tão forte, que estou estranhando ela estar
chorando assim.
Como não sabia o que fazer, fico ali sentado, com ela em meus
braços, acariciando as suas costas. Ela se agarra a mim como se dependesse
disso para viver.
— Cadê o seu amigo? Quando saíram da casa do Lucas achei que ele
estivesse com você.
— Como sabia que eu estava na casa do Lucas? — sussurra e
continua chorando.
— Hum... Ele me disse que estavam assistindo um filme, alguma
coisa assim, quando me ligou para resolvermos um assunto.
Esqueci que ela não sabia que eu estou no lugar do segurança. Espero
que não questione eu ter invadido a sua casa.
Por favor, esqueça esse detalhe.
— Viemos para cá, mas ele ficou muito ansioso para conhecer a loja
de cupcakes e foi fazer um tour por lá com a Monique. Talvez até durma lá,
não sei.
Está explicado a sua ausência. Que bom! Gosto de tê-la só para mim.
Oh cara.
Ficamos no sofá, ela em meu colo chorando baixinho, eu acariciando
as suas costas e de vez em quando beijando o topo da sua cabeça. É tão bom
senti-la assim, o seu cheiro é tão bom. Josi se encaixa perfeitamente em mim
e eu acho que vou enlouquecer com isso.
Devia chamar as suas amigas e ir embora, mas não foi o que fiz, se
passaram dez, vinte minutos, e continuamos onde estávamos. Nenhum disse
mais nenhuma palavra, achei que ela estava dormindo, mas de repente ela
quebra o silêncio.
— Quando tinha doze anos a avó de Alice me deu uma gatinha branca
e eu a amava tanto que dormíamos juntas, ficamos inseparáveis. Um dia,
quando cheguei da escola e a procurei, ela não respondeu como sempre fazia
e fiquei apavorada. Corri para o quintal para procurar lá e vi o meu pai
sentado numa cadeira, olhando para o chão e sorrindo, quando cheguei mais
perto vi que Fofinha estava no chão, morta, e o meu pai com uma faca na
mão toda ensanguentada.
“No momento que o meu cérebro registrou o que eu estava vendo, eu
comecei a gritar, xinguei o meu pai e o derrubei da cadeira. Ele era forte, alto
e estava bêbado como sempre. Ele me acusou de um monte de coisas e disse
que viu quando meu colega me deu um beijo de despedida mais cedo, na
pracinha perto de casa. E na sua cabeça louca concluiu que eu merecia sofrer,
por isso matou a Fofinha.
Ela me olha com lágrimas nos olhos e continua:
— Foi só um beijo no rosto, porque eu o ajudei com o seu dever de
casa, tentei dizer ao meu pai, mas ele não quis me ouvir. Veio para cima
como sempre fazia, mas dessa vez ele estava com uma faca, então comecei a
gritar por socorro e o empurrei com todas as forças que tinha e corri, mas ele
me alcançou e deu uma facada na minha barriga. — Josi levanta a blusa e me
mostra uma cicatriz no seu lado direito da barriga. Jesus! — Quase perfurou
o apêndice, foi por pouco. Gritei mais forte ainda, e não consegui me mexer
por alguns minutos. O meu pai começou a rir em cima de mim e disse que a
culpa era minha, se sentou no chão perto de mim e ficou me olhando com um
olhar estranho. A avó de Alice era nossa vizinha, me ouviu gritar e chamou a
polícia, logo eles chegaram e o meu pai já estava roncando no chão ao meu
lado. O levaram preso e eu fui para o hospital.
Meu deus! O que fizeram a você, minha bela? Estou com tanta raiva
que mataria esse monstro agora. Por um momento não consegui dizer nada.
— Onde está o seu pai? — Quero desmembrá-lo todo, covarde de
merda.
— Não sei... E nem quero saber. Só te contei isso por... Nem sei por
que te contei. Esqueça isso.
Ela ameaça se levantar do meu colo, mas a seguro no lugar e ela
desiste.
— O quê? Esquecer? Posso viver milhares de anos e não vou
esquecer o que esse maldito fez com você. Eu vou encontrá-lo e ele vai pagar
muito caro.
— Isso não é da sua conta, Luís! Por favor, esqueça. É só que ver o
meu outro gatinho ali, morto, eu desatei a falar sem pensar. — Começa a
chorar de novo. — Eu tinha dado a ela o nome de Fofinha, de novo, quando a
encontrei no portão da minha casa dois dias atrás, e ela morreu. Nunca mais
eu vou pegar outro gato para criar.
— Vem cá. Shi... Pare de dizer que não é da minha conta. Isso é mais
da minha conta do que você imagina.
Josi me olha com os olhos arregalados e depois deita sua cabeça em
meu peito e fica ali. Não demora muito para ela cair no sono e eu fico só
observando-a.
Amanhã conversarei com Alice e descobrirei tudo o que preciso para
começar a minha caçada. Dessa vez não acho que tenha sido ele, pois estava
no berço da Clarinha, com certeza foi outra pessoa, mas essa também não
perde por esperar. Ou não me chamo Luís Vilar!
13 - Alice

Infelizmente, hoje Lucas voltou a trabalhar, ele não conseguiu ficar


mais tempo longe do hospital e tinha um paciente que precisava ser operado
urgentemente, então ele decidiu voltar logo. Não o culpo, pois se Clarinha
não fosse tão novinha eu já teria voltado para o meu. Mas estava acostumada
com ele em casa todos os dias, mimando-me e brincando com a nossa filha.
Acostumou-nos mal, isso sim.
A casa parece imensa sem ele aqui, e isso me causa algumas
inseguranças. Não faz nem uma hora que ele saiu e nós já estamos morrendo
de saudade.
— O que vamos fazer hoje, filha? — Estamos deitadas uma olhando
para a outra. — Olha só para você, minha menina, está cada dia mais linda. O
que acha de assistirmos um filme agora? Depois podemos ir à floricultura
para você conhecer onde mamãe e tia Josi trabalham. Quem sabe o papai
venha almoçar conosco e matamos um pouquinho a saudade. Hã? — Ela
sorri e começa a fazer barulhinhos, como se estivesse totalmente de acordo.
Seleciono o filme Frozen e ficamos rindo e nos deliciando com os
personagens. Não me canso de assistir esse filme. Quando começam a
cantar, a minha pequena ri e parece estar mesmo entendendo e gostando do
filme.
Minha princesa.
Terminando o filme ela ainda está bem agitada e começo a arrumá-la,
pois iríamos visitar o trabalho da mamãe. Visto um vestidinho lilás e branco
com uma tiara combinando, presente de Andrea, e uma sapatilha branca.
Acho roupinhas de criança tão bonitinhas.
Arrumo suas coisinhas na bolsa e vamos até a garagem onde Will já
está nos esperando. Dá para acreditar? Lucas não quer que eu dirija ainda, e
Will é de confiança, como ele mesmo diz, ele deve ter uns cinquenta anos e já
se encantou com a minha pequena, a trata como um avô.
— Bom dia, senhora. Menina. — Acaricia a bochecha da Clarinha e
abre a porta do carro.
— Bom dia, Will, como está?
— Muito bem, obrigado. — Poucas palavras, entramos e seguimos
viajem.
Às vezes me pergunto se fiz o certo em vir morar com Lucas? Temos
quase um mês de namoro agora, e já estamos vivendo como marido e mulher.
Sei que ele nos trouxe pelo bem de Clarinha e sua segurança. O medo me
bate de vez em quando, mas sei que depois que passei uns dias com ele na
fazenda sabia que não conseguiria ficar mais longe.
Chega de pensar nisso e viva, Alice! Essa voz na minha cabeça só
pode ser uma das minhas amigas.
Estacionamos em frente à minha loja, pego a minha bebê no colo, sua
bolsa junto com a minha e entramos. Se eu achava que estava com saudade
antes, quando entro e vejo as minhas lindas flores, sinto vontade de chorar.
— Lili, que saudade! — Fernanda corre para nós, me abraça e logo
tira Clarinha dos meus braços.
— Você não imagina como estava com saudade daqui! O cheiro aqui
é maravilhoso. Onde está Josi?
— Ela teve que dar uma saída, temos dois casamentos esse mês, três
festas de quinze anos e a noiva que veio aqui mais cedo está nos deixando
louca, carregou Josi, Dy já estava com ela e só Deus sabe a que horas volta.
Não queria estar no lugar dela.
— Nossa, tudo isso? E quais flores essa noiva escolheu? — Ela mexe
as sobrancelhas e sorri.
— Ela já mudou de ideia quatro vezes. Primeiro queria Amarílis,
depois azaleia branca...
— Sério? — Questão de gosto não se discute.
— Sim, pensei o mesmo que você. Depois queria rosas amarelas e no
final ficou com as tulipas rosa e branca. Mas até Josi voltar ela deve mudar
de ideia de novo. — Rimos juntas, aqui aparece cada uma.
Caminho pela loja e observo tudo. Não tinha entrado aqui desde o
acidente, por falta de nome melhor. Está tudo perfeito, como se aquilo nunca
tivesse acontecido. De repente sinto um calafrio e tudo voltou à minha mente.
Não posso ficar aqui, preciso abraçar a minha filha. Volto, a pego e saio pela
porta apressada.
— Desculpa, Nanda, mas eu preciso ir — falo, já fechando a porta.
Aceno para Will, que estava do outro lado da rua próximo ao carro.
Ele não demora e entramos no carro. Abraço a minha pequena e fico uns
minutos assim, só sentindo o seu cheirinho e dizendo uma e outra vez em
minha cabeça que tudo vai ficar bem, que nada vai nos acontecer.
Assim que arrumo a minha pequena no bebê conforto o meu telefone
toca, é Lucas. Minha tensão diminui um pouco e sorrio.
— Oi, amor.
— Oi, minha linda! Como vocês estão? Liguei para avisar que não
poderei ir almoçar com vocês, vou entrar em cirurgia daqui a meia hora e o
meu celular vai estar desligado. — Que pena.
— Estamos bem. Viemos à floricultura...
— Por favor, me diga que Will está com vocês.
— Já estamos voltando, vou só dar um pulinho ali na loja de cupcakes
da Nique, já que não vamos almoçar juntos e vou para casa. — Ignoro seu
comentário de propósito.
— Está tudo bem? Sua voz está diferente. — Claro que ele ia
perguntar. Por incrível que pareça ele me conhece bem.
— Sim, amor, tudo está bem.
— E minha pequena, está se comportando? — O seu tom perguntando
de Clarinha me deixa mais feliz que mil Coca-Colas juntas.
— Como sempre. Ela é adorável e acho que gosta da rua. Está
animada desde que saímos.
— Ah Deus, já vi que vou sofrer muito quando ela crescer. Deus me
ajude — murmura rindo ao mesmo tempo.
— Pare de bobagem está parecendo o seu irmão Léo falando.
— Não mesmo. — E ri aquela sua risada gostosa.
— Tenho que ir, minha linda. Assim que terminar tudo vou para casa.
Estou morrendo de saudades de você. — O seu tom mudou. — Vai estar em
casa quando eu chegar?
— Mas é claro que vou, que pergunta.
— Maravilhoso! Então nos vemos mais tarde. Beije a nossa pequena
por mim. Amo vocês.
— Também amamos você.
Desligamos e digo ao Will aonde vamos.
O movimento na loja está intenso hoje, ainda bem que Jeff está aqui
com ela. Depois que voltou de Nova Iorque disse que queria ser o seu sócio e
se juntaram. Ele tinha um café lá, então está praticamente em casa.
Vou para uma mesa vaga no canto, sento e espero o movimento
diminuir para poder cumprimentá-los.
Não demora muito, eles me veem e acenam. Monique mais parece
uma modelo do que uma confeiteira. Na verdade, os dois parecem, não sei
como não engordam com todas essas delícias ao redor deles. Pelo que vejo
nas vitrines, Nique inventou novas receitas de cupcakes. Não vejo a hora de
prová-los.
Logo a minha pequena começa a querer “dizer” que está com fome.
Levanto e faço sinal de que vou amamentar Clarinha no escritório deles.
— Está com fome, meu bebê? — Choraminga em resposta. — Aposto
que viu o que tinha nas vitrines e gostou, né?
Adoro amamentar, é tão incrível o que sinto quando sua boquinha
toca o meu seio. Ela foi a melhor coisa que me aconteceu.
Olhando o seu rostinho, penso em meu pai e tento imaginar por que
ele não nos quis. A minha irmã tem a personalidade horrível da com minha
mãe, mas eu tenho certeza que eu sou toda o meu pai, mesmo não o
conhecendo. Será que algum dia eu vou conhecê-lo? Gostaria pelo menos
uma vez, só perguntar o por que de ele ter nos abandonado, a não ser que
mamãe esteja mentindo. Não, não, ela não faria isso. Ou faria?
Se bem que pode se esperar de tudo da dona Daniela. Não quis nem
saber de sua neta.
— Desculpe, minha querida, mas hoje o bicho está pegando aqui. No
bom sentido, claro.
Sou arrancada dos meus pensamentos por Jeff que entra no escritório
sorrindo.
— O que houve? Por que está com essa carinha triste?
— Não estou triste, só estava pensando.
— E o que está se passando nessa cabecinha? Se aquele doutor
gostoso fez alguma coisa com você eu arranco as bolas dele, mas antes eu as
acaricio um pouquinho.
— Você é terrível. E nunca mais mencione as bolas dele.
Caímos na gargalhada por um momento e Jeff me olha sério.
— Sério, Lili, o que houve? Estou te sentindo tensa desde quando
chegou. Conte-me tudo e não esconda nada.
Respiro fundo e conto sobre o meu medo de estar indo rápido demais
com Lucas, sobre o meu pai, a minha irmã invejosa e mimada, a minha mãe e
principalmente sobre ter me sentido mal de estar na floricultura que sempre
foi o meu lugar preferido. Quando termino de falar ele e Clarinha estão me
olhando.
— E então? — pergunto e me levanto para fazer a minha pequena
arrotar.
— Lili, acho que você está inventando desculpas para não ser feliz
com esse homem que, pelo que sei desde que cheguei, lambe o chão que você
pisa e que faz tudo pela sua filha. Faz apenas quatro dias que cheguei aqui e
já estou com as meninas no fã-clube do Lucas. Estar insegura é normal, mas
não deixe que isso estrague o que vocês têm. Não é todo dia que encontramos
um homem que quer um relacionamento sério e que a aceita com o bônus,
que é essa lindeza de menina aqui. — A minha pequena ouvindo isso começa
a fazer barulhinhos com a boca para mostrar sua opinião também. De tudo o
que contei ele só se ligou no assunto “Lucas”. Okay.
— Então não acha que foi precipitado ir morar com ele? Sei que me
convidou porque era o mais seguro no momento, mas eu não aceitei só por
isso. Eu já estou totalmente dependente dele e isso não é normal.
— Você só não acha normal porque nunca teve isso. Nunca teve
alguém para cuidar de você, sempre foi independente e todas as pessoas que
deveriam estar lá por você, sempre vão embora. Mas coloca uma coisinha na
sua cabeça, o Lucas não vai a lugar nenhum. É melhor começar a acreditar
nisso.
— Eu quero, eu realmente quero, Jeff, mas...
— Chega disso, mocinha. Pare de sofrer de véspera e curta o que
Deus lhe trouxe de bom grado.
Quero discutir mais um pouco, mas resolvo deixar para lá. Esse
também já foi fisgado pelo meu lindo doutor. Rio com o pensamento do dia
que Jeff viu Lucas pela primeira vez e o chamou de monumento. Solto uma
gargalhada e o abraço.
— Bem, acho que vou ficar com ciúme. Será que sobra um abraço
para mim? E eu estou querendo apertar as bochechas da minha afilhada linda.
— Nique nos faz sair do nosso abraço em trio.
— Claro que tem. E se Josi, Andrea e Dri verem você falando que ela
é sua afilhada vai ter briga.
— Sem brigas, eu sou a melhor para ser sua madrinha. Não é, meu
anjinho? Vem com a dinda, vem.
Clarinha sorri e vai de bom grado.
— Tenho que aproveitar que o papai não está aqui, né? Você tem que
ver Jeff, quando Lucas está por perto ela não quer mais ninguém além dele.
Jeff me olha depois que Monique termina de falar e eu só dou de
ombros confirmando. Ele faz aquele olhar de ‘se questionar o bofe de novo te
parto a cara’ e resolve que vamos almoçar com eles hoje, não me dando
alternativa a não ser aceitar. Eu sou muito sortuda por ter amigos como os
meus. Falando em amigos, não podemos esquecer do chá de lingerie de
Andrea daqui a três semanas. Temos muito o que organizar, mas ainda bem
que temos a santa Dy para nos ajudar a planejar. Ela realmente faz milagres.
Depois do almoço vou para casa e decido que hoje eu vou cozinhar
para o meu namorado. E eu serei a sobremesa. Sua tarada! Com ele eu sou.
Um dia de cada vez. Esse será o meu lema de hoje em diante. Nada
de sofrer de véspera. Eu posso fazer isso.
14 - Lucas

Eu realmente estou exausto, mas valeu a pena. Sempre vale. Diogo


está com o seu coração novo e está reagindo bem.
Diogo é um garoto incrível de dez anos de idade, que estava na fila
por um coração há um ano e quando o doutor, que ficou no meu lugar
cuidando dos meus pacientes, ligou no sábado dizendo que estavam quase
conseguindo um coração para ele, eu não consegui não voltar. Eu realmente
estava sentindo falta do hospital e dos meus pacientes. Não há nada mais
gratificante para um médico do que quando conseguimos salvar uma vida e
vemos o sorriso e o alivio de uma mãe, sabendo que o seu filho ficará bem.
Agora, chegando em casa às 20h00 eu só quero abraçar a minha
mulher e a minha filha. Estou morrendo de saudade. Mandei uma mensagem
dizendo que estava a caminho de casa há dez minutos. Mas antes passei para
comprar as flores que Alice tanto ama.
Fechando a porta atrás de mim, aciono o alarme e vou em busca das
minhas meninas. Estou a caminho das escadas quando escuto a minha
pequena rindo da sala de jantar e vou nessa direção.
Chegando à sala sorrio feito bobo com o que vejo. A mesa está linda,
posta para dois, uma música tocando ao fundo baixinho, mas o que me chama
mais a atenção são as minhas meninas. Alice está com Clarinha no colo, as
duas estão vestindo vestidos iguais e sorrindo para mim. Vestidos verdes, a
minha cor favorita, de alças finas, longo com um cinto fino preto marcando a
cintura, tiaras pretas com laços iguais nos cabelos e nenhuma maquiagem, a
única coisa que não é igual, são as sandálias, pois Alice está usando um salto
alto e a minha pequena uma sapatilha. Deus, como é possível amar tanto duas
pessoas?
— Seja bem-vindo, querido. Nós fizemos o jantar! — Oh Deus, não
sinto as minhas pernas. O meu coração está tão acelerado que tenho certeza
que elas podem ouvir. Nunca ninguém me fez o jantar, além de Inês, mas ela
exatamente não conta porque trabalha para você, né cara! — Lucas, você
está bem?
Alice se aproxima com preocupação estampada em seu rosto e
Clarinha está com o rostinho querendo chorar porque ainda não a peguei no
colo. Isso me faz acordar da minha paralisia momentânea.
— Estou muito bem, minha linda. Vocês só me pegaram de surpresa.
— Não é um sonho, elas realmente estão aqui. Eu sou um sortudo filho da
puta! Obrigado, meu Deus.
— Ah que bom, já estava começando a achar que não tinha gostado
e...
Chego mais perto e a interrompo esmagando sua boca na minha num
beijo suave no começo, mas então ela abre os lábios, eu não resisto e o nosso
beijo se torna proibido para menores de dezoito anos, nele eu mostro o
quanto eu gostei e quanta saudade senti o dia inteiro. Só nos afastamos
quando a minha pequena começa a fazer barulhinhos com a boca, como se
estivesse nos repreendendo.
Tão pequena e tão esperta.
Paramos de nos beijar, mas não nos afastamos um do outro. Pressiono
a minha testa na dela e digo:
— Eu senti tanta saudade de vocês hoje.
— Eu também — diz com a respiração ofegante.
— Alice, eu te amo com cada respiração. E voltar para casa e
encontrar vocês me esperando para o jantar, é um dos momentos mais
perfeitos da minha vida.
Ela me olha com lágrimas nos olhos e cora, deixando-me duro com
vontade de outras coisas. Ela fica sexy pra caralho quando cora.
— Essas são para você — digo, entregando as flores para ela, que
sorri de orelha a orelha olhando para elas. — Vou tomar um banho rápido
antes de pegar a minha princesa no colo. Não demoro.
— Tudo bem. Vou colocar as flores num vaso e colocá-las na mesa.
— Me olha meio insegura e continuou: — Eu fiz uma coisa simples para o
jantar, não sou muito boa na cozinha, mas espero que goste. Fiz um filé de
peixe com molho de espinafre, um arroz branco e uma salada simples.
— Tenho certeza que vou adorar. A propósito, a mesa está linda.
Obrigado. — Dou um último beijo em seus lábios e um na bochecha de
Clarinha e vou tomar banho. Mas não sem ouvir a minha pequena chorando e
sua mãe tentando acalmá-la.
— Calma, meu amor, papai foi só tomar um banho e já volta para
você...
Tomo banho em tempo recorde, pensando o tempo todo em estar
dentro da minha Alice. Calminho aí, companheiro. Ainda não. E é com ela
em meus pensamentos que um plano começa a se formar em minha cabeça. E
no final ela vai dizer sim, tenho que pedir ajuda a minha linda filha.
Quando volto para a sala, Alice está nos servindo. Pego a minha
pequena, que agora está no carrinho próximo à mesa, com lagrimas nos olhos
e o rostinho vermelho.
— Pronto, papai voltou. Shi... não vou soltá-la. Shi...
Beijo o seu rostinho e a aconchego em meus braços, ela deita a sua
cabecinha em meu peito e funga mais um pouco, depois para de chorar. Fico
acariciando as suas costinhas, como ela gosta.
— Isso é culpa sua, ela sente quando você está por perto e não se
contenta com nada além de você — diz uma Alice sorridente para mim.
— Nós temos uma ligação desde que ela nasceu e isso nunca vai
mudar. Não é, pequena?
— O que quer dizer com isso?
— Quando ela nasceu eu estava na sala com vocês e a segurei contra
o meu peito assim que o médico me entregou, ela agarrou e segurou o meu
dedo com tanta força que não conseguia soltá-la para a enfermeira poder
limpá-la. Depois de alguns minutos consegui, mas ela continuou me
segurando.
— Por que nunca me disse isso? — Sua pergunta não passou de um
sussurro e ela estava chorando de novo.
Droga! Eu tinha esquecido que estava falando em voz alta.
— Amor, não chore. Eu não contei antes porque não queria te
assustar, achando que eu fosse um perseguidor ou coisa assim.
— Oh Lucas, isso é tão lindo. Agora entendo porque são tão apegados
um ao outro. E pensar que deixei vocês longe um do outro por um mês.
Desculpa amor, se soubesse tinha poupado os dois. — Chora mais ainda,
fazendo o meu coração em pedaços.
— Venha aqui. — Ela vem, senta em meu colo e eu a abraço. — Não
tem do que se desculpar, minha linda. Agora estamos juntos e é assim que
vamos ficar. Vocês são a minha família. — Beijo os seus lábios macios e
olho para o seu rosto lindo. — O que acha de jantarmos esse jantar
maravilhoso que fez para a gente?
Começamos a comer e a falar sobre o nosso dia, ainda segurando
nossa pequena. Conto sobre o sucesso que foi a cirurgia e ela me conta que
foi a floricultura, mas que não se sentiu muito bem e teve que ir embora.
Sabia que tinha alguma coisa errada quando falei com ela pela
manhã.
Mas depois melhorou quando ela foi à loja de Monique e Jeff. Que
bom, pois eu não gosto de vê-la triste e incomodada com nada.
Terminamos o jantar e estava delicioso.
— Vou colocar Clarinha no berço e já volto para limpar tudo.
— Não, você fica mais um pouco com essa mocinha e eu limpo.
— Tudo bem. Mas não demore porque estou com saudade de você
também.
— Oh meu deus. Oh... — Alice geme descontroladamente, esse é o
seu segundo orgasmo e eu não aguento mais segurar, ela está apertando tanto
o meu pau, sugando-o para dentro dela que fica impossível não se deixar
levar. Empurro mais duas vezes profundamente e gozo também.
— Alice... — gemo seu nome e ficamos um momento sem nos
mexermos, com a respiração entrecortada.
Caio na cama ao seu lado e a puxo para mim, beijo sua boca com
carinho e devoção. Ela abre os olhos e me olha com os olhos cheios de amor.
— Nem toda a Coca-Cola do mundo é mais gostosa do que o doce
dos seus lábios, doutor do meu coração — diz Alice meio sonolenta.
Isso me faz rir e o meu coração inchar com essa frase.
— Tão romântica, minha linda?
— Sempre. — Sorri e boceja ao mesmo tempo. — Você acabou
comigo.
— Durma, meu amor. Eu cuido de você.
— Para sempre? — sussurra quase adormecendo, mas me deixa muito
feliz.
— Para sempre. — Sorrio ao confirmar. Ela não sabe, mas já aceitou
ser minha esposa.
Fico na cama por mais uns minutos acariciando suas costas e os seus
cabelos até ter certeza que ela dormiu. Depois me levanto e vou ao banheiro.
Retornando, olho mais uma vez para a linda mulher em minha cama e me
sinto tão completo. Tão feliz.
Visto minha boxer e desço até o escritório, recebi mais cedo uma
mensagem de Alexandre dizendo que tinha notícias, só que não deu para
responder. Ligo para ele, que atende no segundo toque.
— Já estava achando que não iria retornar. O que houve?
— Desculpe, mas estava passando um tempo com Clarinha, ela estava
se sentindo deixada de lado, comecei a trabalhar hoje e ela sentiu a minha
falta. — Sorrio ao dizer isso.
— Ah sim, certo. Tem certeza que essa menina não é sua filha de
verdade? Vocês são um grude.
— Ela é minha filha e ponto.
— É só que...
— Vá direto ao ponto e me diga o que descobriu. — Corto logo, pois
essa conversa está deixando-me irritado. Não vou aceitar que digam que não
sou o seu pai, só porque não fui eu que a fiz. Ela. É. Minha. Filha.
— Então, o que eu descobri foi que um dos homens que bateu em sua
mulher e sua amiga aquele dia, foi morto ontem à noite em sua casa com dois
tiros, um na cabeça e outro no peito. Seu nome era Ronaldo Ramos. Quem o
matou estava com raiva, porque além dos tiros deixou tatuado “otário” em
sua barriga. — Droga, eles chegaram antes de mim.
— E o outro cara? Alguma pista?
— Não, nada. Ele sumiu do mapa. Mas tenho uma coisa que me
pareceu interessante. Ontem eu vi a irmã da sua namorada e seu ex-amigo
Rodrigo num restaurante, estava almoçando com uns amigos e os vi entrando.
Ele não estava com a insuportável da Karin?
— Pelo que parece terminaram, mas isso não me interessa. Eu só
quero saber quem mandou fazer aquilo com Alice e por que. Mais alguma
coisa?
— Nada mais, por enquanto. Vou continuar e vou descobrir quem é
ele. Boa noite, primo, volte para a sua mulher. Eu, como não tenho para quem
voltar, vou assistir a um filme com o meu coleguinha Jack Daniel’s.
Sorrio com a menção de seu colega.
— Boa noite, primo, juízo.
— Sempre, meu caro.
Desligo e fico pensando sobre o que ele me disse sobre o cara. Quem
será que o matou? Seu parceiro talvez? Pode ser, mas agora eu preciso olhar a
minha pequena e voltar para a mulher esparramada em minha cama.
Vou ao quarto de Clarinha ver como ela está e ela dorme como um
anjinho. Junto-me a Alice na cama, a abraço forte e inalo o seu cheiro
maravilhoso, adormecendo logo em seguida.
15 - Lucas

— Bom dia, minha dorminhoca — murmuro, entre um beijo e outro


no pescoço da mulher mais cheirosa do mundo. — Seu cheiro é tão bom.
— Hum... — geme sonolenta e começa a esfregar sua bunda em
minha ereção.
Amo o jeito que Alice dorme. Totalmente nua.
— Continue mexendo assim e eu vou ter que te comer antes de ir
trabalhar.
— Tá esperando o que, então? — pergunta travessa. — Já me
recuperei de ontem à noite. — O seu sorriso alarga quando olho em seus
olhos.
— Eu amo dormir e acordar ao seu lado. — Acaricio o seu rosto,
beijo o seu nariz e depois os seus lábios num beijo casto.
— Eu também amo acordar todos os dias e sentir os seus braços ao
meu redor, sentir o seu cheiro maravilho, que é o segundo melhor do mundo
inteirinho.
Arqueio uma sobrancelha e pergunto:
— O segundo?
O meu rosto deve ter mostrado a confusão, pois ela solta uma
gargalhada e se vira para me abraçar, colando os seus mamilos duros em meu
peito, deixando-me excitado e zangado ao mesmo tempo.
— É sim, o segundo. Tem outra pessoa nesse mundo que o cheiro é
melhor que o seu.
— Que história é essa, Alice? — Sei que é infantil, mas essa conversa
está deixando-me com raiva. Que porra de outra pessoa é essa? — Quem é,
diga!
Continua sorrindo e esfregando os seus seios em mim.
— Alice! — rosno entredentes.
— Ciúme, amor?
Cara, o que está acontecendo comigo? Não estou reconhecendo-me.
Mas opto pela verdade.
— Sim, estou. E por que você está rindo? Isso não é engraçado.
— É sim, e muito. — Continua rindo de mim.
Faço movimento para me levantar, mas ela me segura forte fazendo-
me olhar em seus olhos. Sobe suas mãos dos meus braços e coloca em meu
rosto, acariciando a minha bochecha, nariz e os meus lábios com os dedos
macios. Não consigo quebrar o contato com seus lindos olhos verdes, estava
enfeitiçado por essa mulher. Num minuto ela me deixa zangado com suas
palavras e com um simples olhar eu derreto em suas mãos.
— Você me faz tão feliz. Nunca pensei que fosse ser assim quando
me convidou para ir para a fazenda. Amo os seus olhos, a sua boca sorrindo
ou carrancudo como agora. — Isso me fez sorrir. — Amo o seu cheiro...
— Em segundo lugar — as palavras saem antes que eu possa impedir.
Sorrindo ela continua:
— Poxa, amor, estou tentando ser romântica aqui!
Não aguento e começo a rir. Ela está sempre me surpreendendo.
— Tudo bem, desculpe. — Tento ficar sério e olho mais uma vez em
seus olhos.
— Agora já estragou o clima, seu chato.
— Então só me diz quem é essa outra pessoa, que isso está me
matando. — Realmente infantil, Lucas.
— O único cheiro melhor que o seu, meu ciumentinho lindo, é o da
nossa filha.
Nem sabia que tinha prendido a respiração até que ela falou. Sinto o
meu peito desapertar. O que essa mulher está fazendo comigo? Nunca senti
essas coisas.
— Ela pode ser o seu primeiro cheiro favorito, é o meu também —
falo com uma voz rouca.
— Bom, já que esclarecemos isso, que tal voltarmos para o assunto de
antes, hum?
— Que assunto? Não sei do que a senhora está falando. — Finjo
ignorância.
Vira de costas para mim e começa a esfregar o seu lindo bumbum em
mim de novo.
— O assunto que você estava dizendo: que teria que me comer antes
de ir trabalhar.
— Ah! Esse assunto — falo, acariciando o seu seio.
— Sim, por favor. — Alice já está ofegante.
Com isso a deito de barriga para baixo e puxo os seus quadris para
cima, expondo o seu magnifico traseiro.
— Amo essa sua bunda deliciosa! — exclamo, muito excitado.
Alice não diz nada, só geme.
Não consegui me conter e fiz a pergunta que queria fazer dias atrás.
— Você já...? — pergunto, passando a mão em sua bunda.
— Uma vez há muito tempo, mas eu estava bêbada — responde
ofegante.
Isso me faz ver vermelho, não gosto de saber disso.
Mas você perguntou, né, cara?
Certo, quem fala o que quer, acaba ouvindo o que não quer.
— Ninguém nunca mais, além de mim, tocará em seu corpo, você
será só minha. Hoje vou te comer todinha. Posso?
— E como pode. Mas vamos logo, temos duas horas antes da nossa
filha acordar. Faça-me ir ao céu meu, amor! — diz com um sorriso lindo no
rosto.
Olho-a por um momento, admirando o seu lindo rosto e fico louco
com o seu olhar cheio de desejo.
Começo a acariciar as suas costas, deito por cima dela e começo a
beijar o seu pescoço, de novo, no ponto abaixo da sua orelha, onde sei que ela
fica maluca. Continuo beijando e lambendo, vou descendo pelo seu corpo
com a boca e as mãos e paro com a boca bem onde eu queria, lambo de leve
causando nela um estremecimento.
— Lu... cas...
Os seus gemidos acabam comigo, sou tão fraco quando se trata dela.
— O que foi, meu amor?
— O que está fazendo? — pergunta em um sussurro.
— Estou beijando, lambendo, comendo o seu cuzinho lindo com a
boca, só com ela, por enquanto.
Passo a língua mais uma vez, com movimentos circulares e começo a
estimular o seu clitóris, que está inchado ansiando meu toque.
— Isso é tão bom.
Ela está totalmente excitada. Como a minha mulher é fogosa.
Continuo estimulando o seu clitóris com uma mão, com a outra insiro
dois dedos em sua boceta e passo os dentes de leve em seu buraquinho
apertado, fazendo-a gozar instantaneamente, apertando os meus dedos e
rebolando em minha mão.
— Oh Deus...
— Não é Deus, amor, sou eu. Só seu!
Não aguentando mais, coloco um dedo em sua bunda, massageando
de leve levando a excitação da sua boceta para molhar lá e insiro a ponta do
meu dedo indicador, parando logo em seguida para ela se acostumar com a
intrusão. Alice continua rebolando em minha outra mão e escorrego o dedo
inteiro, movendo devagar e fazendo movimentos de vai e vem.
Logo outro dedo se junta ao outro bem devagar, depois movimento
mais rápido, enfiando os meus dedos até ela gritar o meu nome e me pedir
para tomá-la.
— Lucas, amor, você está me matando aqui. Coloca esse seu pau
enorme e lindo dentro de mim agora, não importa onde, mas me preencha.
Por favor.
— Você me quer, amor? — pergunto com uma voz mais contida, mas
não obtenho resposta. — Diga! — rosno louco de tão excitado.
Adoro quando ela fala assim desesperada.
Alice geme mais alto quando acrescento mais um dedo em seu
cuzinho, não respondendo a minha pergunta.
— Responda ou não vai ganhar o que quer.
Começo a retirar os dedos e ela resmunga em reprovação.
— Eu quero você todo enfiado até as bolas dentro de mim. — Ofega.
—Satisfeito?
Insiro de novo os dedos, adorando a sua resposta.
— É isso o que quer, então vai ter. Vou fazer você gritar tão alto
quando gozar no meu pau e minha mão que até os outros planetas vão saber
que é minha.
Tudo acontece tão rápido depois de dizer isso, pego uma camisinha na
gaveta do criado-mudo e faço o que ela e eu tanto queremos.
Gememos em uníssono quando entro em seu delicioso corpo apertado
e começo com movimentos lentos, torturando-nos um pouco antes de
começar com os movimentos mais rápidos, entrando tão fundo em sua boceta
que é o paraíso. Continuo massageando lá atrás enquanto nos movemos, ela
rebolando com sua bunda empinada e eu segurando-me para não me
envergonhar na sua frente. Com mais duas estocadas longas e lentas ela goza,
apertando-me forte dentro dela e gritando o meu nome.
— Você sempre me deixa louco quando geme o meu nome tão
gostoso assim. Goza, meu amor, aperta, me engole todinho.
— Eu amo quando o meu doutor certinho diz palavras sujas no meu
ouvido.
Continuo com os movimentos até sentir que os seus tremores
cessaram, mas segurando-me para não me deixar levar por suas palavras e
acabar com a nossa sessão matinal antes do tempo.
— Você realmente e literalmente me levou para o mau caminho, pois
nunca fui um homem tão vocal e nem tão boca suja assim.
Ela dá uma gargalhada gostosa e eu me sinto o homem mais feliz do
mundo por ter uma mulher maravilhosa dessas em minha vida, além de ter
me dado uma filha linda, é engraçada, gostosa, linda por dentro e por fora e
me desperta coisas nunca imagináveis.
Sabe o sortudo? Sou eu. Pensar nisso sempre me faz sorrir.
— Bom caminho, meu amor, bom caminho. — Ainda tem aquele seu
sorriso lindo, só que agora ofegante, quando fala.
Resolvo deixar a conversa para depois e, com movimentos rápidos, a
faço gozar mais uma vez. Retiro o meu pau antes que ela começasse a apertá-
lo lá dentro, substituindo por meus dedos.
O barulho dos seus gemidos me faz ficar ainda mais louco e não
posso esperar mais. Retiro os dedos do seu buraquinho apertado e ela geme
mais alto, logo pego o meu pau e coloco no lugar deles, com a cabecinha faço
movimentos circulares deixando-a com mais vontade. Está tão molhadinho.
Alice responde empinando mais o seu bumbum.
— Amor... Não aguento mais esperar. Você está pronta?
— Eu sempre vou estar pronta para você, meu amor — sussurra as
palavras e continua a rebolar e empurrar para trás, convidando-me a entrar.
Entro devagar, sentindo-a se esticando.
— Deus, como é apertado — falo entredentes.
— Ah... Lucas...
Empurro tudo em uma única estocada lenta e cerro os dentes. Caralho
que delícia! Fico imóvel para ela se acostumar por um momento, depois vou
mexendo lentamente e acariciando os seus quadris com uma mão e com a
outra os seus seios. Puxo o seu mamilo sensível com força e ela não me
decepciona, movendo junto comigo e gemendo o meu nome uma e outra vez.
Quero sua boca na minha, então puxo o seu cabelo fazendo com que
arqueie na cama. Uma visão linda à minha frente, sua bunda empinada para
mim, sua barriga no colchão e seu pescoço inclinado para trás, mostrando o
seu lindo rosto e fazendo o seu cabelo cair em suas costas em forma de arco.
Inclino-me para frente e beijo sua boca com uma fome louca que nem
eu sabia que tinha. Essa mulher me tira do sério. Nos dois sentidos. Chupo a
sua língua com força e aumento os meus movimentos. Mais rápido. Mais
forte.
— Mais rápido, Lucas.
— Tudo que você quiser, amor — falo em sua boca.
Ajoelhado atrás dela, me inclino mais e seguro os seus seios fartos e
deliciosos em minhas mãos, puxei mais uma vez os seus mamilos, ela
surpreende-me colocando a sua mão para baixo e massageando sua linda e
rosada boceta.
Isso é tão sexy! Ela está me matando, não aguento mais esperar, ela é
tão apertada em ambos os lugares que fico como louco.
— Vamos gozar juntos, amor, não suporto mais nem um segundo.
Sei como minhas palavras a afetam, ela começa a gozar assim que
termino de falar e eu a sigo num orgasmo tão maravilhosamente longo e
incrível, que as minhas pernas ficam bambas e caio em cima dela, mas
tomando cuidado para não esmagá-la.
Depois de um tempo só com respirações ofegantes e gemidos, eu me
recupero e saio dela bem devagar, com seus sons de protesto. Deito de lado e
puxo o seu corpo lindo comigo.
— Nossa! Acho que você está querendo me matar, não, meu amor?
— Só se for esse tipo de morte. — Sorrio e a abraço mais apertado. —
Eu te machuquei? Será que fui muito bruto?
— Você, como sempre, foi perfeito. Estou dolorida, mas totalmente
satisfeita. Amo como você me faz sentir, antes e depois de fazermos sexo.
— Eu nunca fiz sexo com você, sempre fizemos amor, mesmo quando
sou mais brusco. É sempre amor, meu amor.
— Sim.
Sorrindo o seu sorriso mais lindo ela me beija lentamente, saboreando
a minha boca, deixando-me pronto para outra.
Com relutância, interrompo o beijo e olho o seu rosto lindo corado.
— Melhor pararmos, se não vamos ter que começar tudo de novo e
nosso “primeiro cheiro favorito no mundo” vai já nos interromper. Vamos
tomar um banho juntos?
— Com certeza. — Pula da cama rindo e falando: — Quem chegar
por último esfrega as costas do outro! — grita já do banheiro, fazendo-me rir
como o bobo que sou.
O meu dia começou perfeito!
16 - Alice
Acordo sobressaltada com um grito de Clarinha. Abro os olhos e vejo
que ela não está na cama comigo.
Adormecemos depois que Lucas saiu para trabalhar, o dia está
friozinho hoje, por isso não sairíamos de casa. Ainda estamos nos
acostumando em ter o nosso homem em casa só à noite e poucas horas pela
manhã. Faz uma semana que ele começou a trabalhar e não deu para ele vir
almoçar com a gente nem uma vez.
— Shi...
Meio atordoada, levanto e olho no chão achando que ela tinha caído
da cama, mas tinha colocado travesseiros, como sempre, do outro lado da
cama para ficar mais segura. Eles estavam no mesmo lugar, então alguém
deve ter a tirado.
Ouço outro choramingo e saio do quarto à procura dela. Estou só com
uma camiseta do Lucas e calcinha.
— Inês é você? Onde estão? — Estou no corredor quando ouço o
choro desesperado da minha filha. — Está com fome, né, lindinha da mamãe?
Calma, estou chegando.
— Silêncio, menina chata!
Ouvindo essas palavras corro para o quarto da Clarinha, pois é de lá
que vem a voz e não se parece com o jeito que Inês fala com ela. Chego à
porta e o que vejo quase me fez desabar no chão.
Deus, isso não está acontecendo.
Karin está sentada na poltrona ao lado do berço, com Clarinha no
colo, de frente para mim, essa louca tirou toda a roupa da minha filha e a
deixou só com a fralda e ela está tremendo e chorando.
O que eu faço? O dia está frio, a minha pequena vai ficar doente.
Vou matar essa desgraçada se acontecer alguma coisa com Clarinha.
— Ora, ora, ora, se não é a mamãe do ano! Que descuido dormir e
deixar essa coisa feinha aqui desprotegida.
— Como você conseguiu entrar aqui? — A minha voz sai num
sussurro e entro no quarto, indo em direção a elas.
— Cale a boca, sua cadela, ou mato sua filha agora mesmo! — grita e
aperta o braço ao redor do corpinho pequeno de Clarinha, causando mais
choro, agora em nós duas. — Lucas sabe que você é uma péssima mãe?
Continuo avançando devagar, olhando diretamente para a minha
pequena.
— Karin, o que você veio fazer aqui? Como conseguiu entrar? Onde
está Inês?
— Quantas perguntas, não? Mas como hoje estou boazinha vou
responder. Primeira: Vim acabar com a razão do Lucas não voltar comigo, ou
seja, acabar de vez com essa pestinha, pois sei que ele só está com você por
causa dela. Ele sempre quis ter filhos, mas eu nunca quis.
Ela também está chorando, sua voz está estranha, olho para cima, em
seu rosto, e vejo que os seus olhos estão vermelhos. Parece pensativa por um
momento, antes de continuar:
— Segunda pergunta: Digamos que ainda sei chupar um pau muito
bem e seu segurança novato é bem gostosinho. Portanto, entrar foi fácil. No
começo ele queria te chamar, mas disse que queria te fazer uma surpresa, não
ficou muito convencido, então apelei para o que faço melhor. — Dá uma
gargalhada causando mais um grito da minha filha.
Olho para Clarinha e vejo o seu rostinho banhado em lágrimas.
Calma, Alice, pense e a mantenha falando.
— Karin, por favor, deixe a minha filha fora disso, ela não tem culpa
de n...
— Cale-se! E não dê mais nem um passo! — grita e levanta a mão
esquerda, apontando uma arma para mim, arma essa que eu não tinha visto
ainda. — Fique onde está ou atiro em você.
Sinto o meu sangue gelar e começo a respirar com dificuldade. Nunca
senti tanto medo em toda minha vida.
— Respondendo a terceira pergunta: Aquela velha saiu com o seu
motorista, foram ao supermercado.
Como vamos sair dessa?
— Calma...
— Cale a boca, sua voz é irritante. Como Lucas pode ficar com uma
bunda gorda como você?
— Nem eu sei.
— Como eu disse antes, é só por causa da sua filha.
Isso não é verdade.
— Karin, por favor, você não quer machucar a minha filha. Se
machucá-la o Lucas nunca vai te perdoar.
Ela me olha de olhos arregalados e depois olha para a minha filha,
que agora chora baixinho, olhando-me com o rostinho contorcido de medo.
Isso, Alice, continue distraindo essa louca.
— Vamos, Karin, pense. Lucas ama Clarinha como se fosse dele e se
continuar a apertá-la assim vai deixar marcas nela e ele vai te odiar para
sempre.
— Me odiar? Não pode. — A sua voz não passa de um sussurro
desesperado.
Essa mulher precisa de ajuda profissional. Para mim ela precisa de
uma boa surra.
— Me deixe vesti-la, ela está com frio e com fome. Depois você pode
fazer o que quiser comigo.
Olhando para mim com os olhos arregalados, ela assente e eu ando
devagar até elas e pego a minha filha.
Abraço o seu corpinho trêmulo e vou para o trocador.
Depois de colocar uma roupa em Clarinha, sento numa cadeira do
outro lado do quarto, que fica de frente para Karin e mais perto da porta.
Penso em sair correndo do quarto e trancar a porta, mas ela tem uma arma e
não posso arriscar a vida da minha filha, se fosse só eu nem me importaria.
Mas essa cadela não perde por esperar.
Ninguém mexe com a minha filha.
— Mamãe não vai deixar nada acontecer com você, minha princesa
— sussurro baixinho. — Tudo vai ficar bem. Prometo.
Olho para Karin e ela não tira os olhos de Clarinha mamando. O seu
rosto mostra confusão e lágrimas descem em suas bochechas. Ela é uma
mulher tão bonita e jovem, prestando-se a esse papel de correr atrás de um
homem que já deixou bem claro que não quer nada com ela.
Foi muito burra isso sim, traindo Lucas com aquele pedaço de merda
que se dizia amigo dele. Tem razão, muito burra mesmo.
— Você gosta de ser mãe? — Surpreendo-me com a sua pergunta.
— Sim. Não foi planejada, mas eu amo ser mãe. — Melhor
responder, pelo menos até a minha pequena estar no berço. Depois essa vaca
vai aprender com quantos tapas se desfaz um rostinho de puta do caralho.
Ela parece sair de um transe e me olha com ódio estampado em seu
rosto. Acho que ouviu os seus pensamentos, sua língua grande.
— Chega! Ela já comeu demais.
— Tudo bem. Vou só colocá-la para arrotar, para não causar gazes.
— Eca! Que nojo. Ainda bem que abortei duas vezes para não passar
por isso.
— O quê?
Olho-a horrorizada com o que ela acabou de dizer. Karin, dá uma
gargalhada e diz com um sorriso que não alcança os olhos.
— A primeira eu tinha certeza que era do Rodrigo, pois Lucas estava
numa conferência e antes dele ir não tínhamos feito sexo ainda. Ele sempre
foi careta.
— Ele não é careta. Só respeita as pessoas e prefere conhecer antes de
saltar para dentro das suas calcinhas. Você que foi burra de perder um
homem como ele. — Sinto que deveria defender o meu amor.
— Cala a boca. — Levanta da poltrona e fica caminhando de um lado
para outro. — Não fui burra, fui muito esperta. Odeio choro de criança e
Rodrigo muito mais. A segunda, eu sabia que era do Lucas, já estávamos
noivos, mas não queria estragar o meu corpo e sabia que Rodrigo ia me
deixar se tivesse o bastardo.
— Por que quer voltar com Lucas?
— Porque descobri que é ele que eu realmente amo e não o Rodrigo.
Eu amava os dois, mas ele estragou tudo quando descobriu que estávamos
juntos e me deixou. Deveria ter escolhido o Lucas.
— Você é louca! — exclamo irritada. Essa mulher está me dando nos
nervos.
— Chega! Coloque essa pirralha no berço que temos um assunto
pendente a resolver. Você tem razão, se machucar essa peste o Lucas vai me
odiar. Não pode me odiar, não pode. Vou me livrar de você e talvez até cuide
desse monstrinho, até que possa me livrar dela aos poucos. — Sorri
largamente. — Isso, Karin, essa é uma ótima ideia.
Realmente, tem problemas essa vadia. Mas vou tirá-la do quarto da
Clarinha primeiro e o resto vem depois.
Levanto da cadeira e vou em direção ao berço, a minha pequena
estava dormindo já. Deus ajude que fique tudo bem. Deito-a, beijo a sua testa
e a cubro com um cobertor.
— Vamos lá para fora, não quero sujar esse quarto com seu sangue.
Obedeço e vou em direção à porta, paro, olhando mais uma vez para a
minha filha.
— Mamãe já volta — digo com confiança.
Agora não estou com medo, a minha pequena está segura e não me
importa se essa vadia tem uma arma. Ela ameaçou a minha filha e isso não
vai ficar assim.
Passo pela porta e Karin vem logo atrás de mim, mas ela está olhando
para trás, segurando o trinco da porta e com a arma apontada para o chão.
Parece que está olhando para Clarinha. Não perco tempo.
Aproveito essa distração e seguro bem firme a sua mão que segurava
a arma, torcendo o seu pulso para trás. Ela grita de dor e a arma cai no chão, a
chutei para longe e puxo Karin com força até que ela cai no chão também e
fecho a porta do quarto.
Ela vai arrastando-se em direção à arma, que foi parar próximo dos
outros quartos do outro lado da escada, mas sou mais rápida que ela e puxo a
sua perna com força, deixando-nos longe do revólver.
Estamos a uma distância boa do quarto. Agora posso, a minha filha
está protegida atrás daquela porta. Subo em cima dela, fazendo com que fique
imóvel, dou vários tapas na sua cara de fuinha e soco o seu olho esquerdo.
Ela tenta se defender, mas não consegue.
— Vamos, mostre a sua marra agora.
Quando fico com ódio a minha força aumenta. Sempre fui assim. E as
aulas de krav maga e boxe que as meninas me fizeram ir, ajudaram e muito,
mesmo tendo feito poucos meses por causa da gravidez.
— Isso é por você ter ameaçado a minha filha!
Dou um soco em seu nariz operado, sentindo o atrito, e parece que
quebrou. Que bom!
— E isso é por você ter tocado a minha filha. Nunca mais, sua cadela
dos infernos, sua puta de meia tigela, chegue perto da minha filha! Só não te
mato agora porque a minha filha é pequena e precisa de mim, senão já teria te
mandado para o inferno que é teu lugar, sua desgraçada.
— Sua louca, você quebrou o meu nariz — fala chorando e segurando
o nariz que sangra.
— Hoje vou deixar passar. Mas chegue perto de mim ou da minha
família mais uma vez que acabarei com a sua raça, seu estrupício.
— Que diabo está acontecendo aqui? — Olhei para trás e vejo Léo
segurando uma coisinha peluda e bem pequena, e nos olhando horrorizado.
Respiro fundo e me volto para ele.
— Ah, oi cunhado, não é nada. Só estava dando as boas-vindas para
Karin. — Sorrio o meu sorriso mais inocente e me levanto, mas não sem
antes dar um aperto na mão que ela segura o seu nariz. — Terminamos,
queridinha. Se não quiser que eu cumpra o que prometi fique longe de “nós”.
— Jesus Alice, ela está sangrando.
— Ah, não foi nada, ela queria afilar o nariz, eu só ajudei um
pouquinho. Não precisa agradecer.
— Léo, me ajude, essa mulher é louca — geme e soluça Karin.
Léo solta uma gargalhada gostosa, que só ele sabe dar e beija o meu
rosto, sem nem se dignar a olhar para o lado. A vaca continua no chão
gemendo e falando, só que não dá para entender nada.
— Oh! Que coisinha mais linda que você tem aí em seus braços. —
Olho a bolinha de pelos.
— Bem, esse é o meu presente de tio preferido para a Clarinha. Será
que ela vai gostar?
— Você não está falando sério, não é? — Nesse momento só tem nós
dois e o cachorro no corredor.
— Claro que estou. É um ótimo companheiro, calmo, e vai cuidar
dela.
— Mas, Léo, ela só tem dois meses e meio.
— Não tem problema, cunhadinha. Ele é um filhote também, vamos
pegar uma peça de roupa da “minha” afilhada — enfatiza o minha — e
colocar para ele cheirar, para conhecer bem a sua dona. Quando os dois
tiverem bem calminhos faremos as apresentações, deixando a bolinha aqui
cheirar o seu pezinho. Serão ótimos amigos, vai ver.
Ele parece tão animado que fico sem jeito de dizer alguma coisa que
poderia magoá-lo. Sorrio e falo que tudo bem.
— Onde está minha afilhada?
— Está dormindo, pode ir lá que vou me despedir da minha ilustre
visita. — Aproximo-me como se fosse contar um segredo e falo baixo: —
Acho que ela precisa de ajuda para encontrar o caminho da rua.
Nesse momento, olho para o lado e vejo uma arma apontada para o
lado do Léo, pois ele está mais próximo de Karin. Ela mal está conseguindo
segurar a arma, suas mãos estão tremendo e os olhos inchados. Não deve nem
saber que está mirando ele e não eu.
Tudo acontece tão rápido que nem tenho tempo de falar nada, só
empurro Léo para o lado quando ela puxa o gatilho e sinto um impacto contra
o meu lado esquerdo.
A última coisa que ouço é o grito do Léo.
— Nãoooooooooo.
17 - Léo

— Não, não, não. Deus, não!


Corro para o lado de Alice sem me importar se a louca dê um tiro em
mim também. Nem sei onde o cachorrinho foi parar.
— Alice, minha querida, estou aqui, fica comigo. Por que fez isso?
Sacudo-a e nada. Vejo que o tiro foi no peito esquerdo e sangra
bastante. Ela não se mexe.
— Deus, por favor!
Passo a mão no bolso e não encontro o meu celular. Olho para Karin,
ela está olhando para a cena e chorando.
Mas chorando por que, essa desgraçada?
Corro para o telefone mais próximo, que é no quarto do meu irmão, e
chamo a ambulância, depois ligo para a polícia e dou o endereço.
— Cunhadinha, a ambulância está a caminho, você vai ficar bem. —
Olho Karin — E você não saia daí ou eu juro que torço o seu pescoço igual
ao de uma galinha! — grito e ela se encolhe.
— Senhor, o que aconteceu? Ouvi um tiro — diz uma voz atrás de
mim.
Viro-me e vejo o segurança. Esse é outro que quero matar.
— Por que deixou essa mulher entrar aqui? — Aponto Karin
encolhida no canto.
— Ela disse que era amiga da senhora Alice e só queria vê-la.
— Pois veja que bela amiga! Vigie ela até a polícia chegar e não deixe
que chegue perto daquela arma.
— Sim, senhor.
— Tem os nomes de todas as pessoas que podem entrar aqui, você
não viu?
— Não vi não, senhor. Comecei hoje, a mulher do Escobar teve bebê
por isso ele me solicitou. — E já vai ser demitido hoje também.
Mais tarde eu mesmo cuido desse idiota.
Sento no chão ao lado de Alice e olho o seu rosto. Ela está com os
olhos abertos e escorrem lágrimas deles.
Meu Deus de novo não, eu não vou aguentar isso de novo.
Ela geme e vejo que os seus lábios estão mexendo. Seguro sua mão e
abaixo a cabeça para ouvi-la melhor.
— Estou com você.
Apesar de tudo não vou sair do seu lado, eu prometo. Claro que não
disse essa última parte para ela.
— Mi... Filha, cui... — não consegue terminar a frase, mas eu
entendo.
— Não se preocupe, ela está bem. Vou cuidar dela como se fosse
minha. Não force muito, vai ficar tudo bem, tem que ficar.
Alice me olha nos olhos, dá um pequeno aperto em minha mão e
depois mais nada.
— Não, Alice. Lute, querida, não se entregue.
— Cadê essa maldita ambulância? Por que demora tanto! — grito
desesperado.
Não morra, não morra. Não posso perdê-la também. Deus, eu faço
qualquer coisa que o senhor quiser, mas não tire ela da gente, pense em sua
pequena. Ela precisa tanto da mãe.
— Prometo que se o senhor salvá-la não serei mais um mulherengo.
Eu juro! — sussurro as palavras, fecho os olhos e faço uma oração.
De repente o corredor é invadido pelos paramédicos e a polícia,
tirando-me das minhas orações. Colocam Alice numa maca e algemas em
Karin.
Vejo que Will e Inês estão ao lado deles. Onde estavam mais cedo?
Depois conversarei com eles.
— Vou avisar o senhor Lucas — diz Will e o olho, ele está com uma
expressão triste no rosto.
— Deixa que cuido disso, Will. Quero que cuide da casa, mais tarde
nos falamos, tudo bem?
Assente e sai.
— Vou ver a menina — diz Inês com uma voz chorosa.
Já ia dizer que tudo bem, quando me lembrei de Alice pedindo para
eu cuidar dela. E é isso que vou fazer.
— Não! Eu fico com ela. — Olhei para sua mãe, que está pronta para
ir para o hospital. — Não vou deixá-la. Nunca. — Embora ela estivesse com
os olhos fechados sabia que me ouviria.
Cinco minutos depois, sozinho no corredor, olho para o sangue no
chão e começo a chorar. Não chorar como uma pessoa normal, mas um choro
que pensei que nunca mais choraria, um choro desesperado, angustiado e
cheio de lembranças que nunca mais queria lembrar.
Ela não pode ir, ela não pode ir, não está na sua hora.
Ouço um choramingo e olho para o lado. O pobre cachorrinho estava
num canto, olhando para mim como se quisesse saber o que estava
acontecendo.
— Vai ficar tudo bem, Zeus. — Estou tentando convencer a mim
mesmo.
Preciso ir falar com o meu irmão, mas não posso deixar Clarinha. Eu
prometi que ia cuidar dela e não a deixarei aqui. Não posso tirar os olhos
dela.
Vou para o seu quarto e chegando perto do berço vejo os seus
pezinhos mexendo. Tomara que não tenha ouvido nada.
— Oi, minha afilhada e sobrinha preferida. — Não vou chorar de
novo, não vou.
— Vem, pequena, temos que ir ver o papai.
Ela sorri, eu não aguento e choro de novo.
Lucas

— Muito obrigado, dona Viviane, nos vemos na próxima semana. E


continue tomando o remédio direitinho.
— Pode deixar, doutor. Até mais.
Sozinho, pego o meu medalhão para sentir os meus amores mais perto
de mim.
Hoje, graças a Deus, vou poder ir almoçar com as minhas meninas.
Estou há uma semana de volta ao trabalho e nem uma vez consegui almoçar
com elas, mas em compensação, à noite aproveitamos bem. Jantamos juntos e
ficamos agarradinhos, os três. Está tudo indo bem com o meu plano e se tudo
sair como estou planejando Alice vai dizer sim logo, logo.
O telefone na mesa toca e atendo com um sorriso bobo no rosto.
— Sim Patrícia? — Patrícia é a minha secretária há quatro anos e nos
damos muito bem. O seu marido é uma figura.
— Já desmarquei as suas consultas de hoje, como solicitado, e as de
amanhã encaminhei para o doutor Pedro.
— O quê? Como assim desmarcou?
— Recebi um telefonema da direção me pedindo para desmarcar as
suas consultas de hoje. — Do que ela está falando?
— Não estava sabendo de nada disso, Patrícia. Vou falar com eles,
obrigado. — Estranho.
Desligo e já ia ligar para Antônio, o diretor do hospital, quando a
porta do meu consultório é aberta e vejo o meu irmão Léo com a minha filha
no colo, enrolada em uma manta, e olhando-me.
— Eu sinto muito, eu sinto muito, mano. Não sabia que ela tinha uma
arma. Eu... — Sua voz some.
— Quem tinha uma arma? — Não estou com um bom
pressentimento. — Do que você está falando? E por que está com Clarinha?
— Olho as suas mãos e perco o chão. — E isso em suas mãos é sangue?
Olho para o lado procurando Alice e não a vejo. O meu coração
começa a galopar no meu peito e entendo o porquê das consultas
desmarcadas e o porquê de o meu irmão estar aqui.
— Não, não pode ser. Diga que ela está bem.
— Mano, ela me empurrou e entrou na frente.
Oh meu Deus! Isso não está acontecendo.
— Onde ela está? Cadê a minha mulher? — grito e isso assusta
Clarinha, que começa a chorar.
Vou em direção a eles e quando estou quase tomando ela dos braços
do meu irmão ele a aperta e dá um passo atrás.
— Léo, me dê a minha filha, ela precisa de mim.
— Não posso — sussurra chorando.
— Como não pode? Veja, ela está chorando, me dê ela aqui.
Tento pegá-la de novo.
— Não! — grita e dá mais um passo. — Alice me pediu para cuidar
dela e eu estou cuidando muito bem.
Léo a abraça e beija a sua cabecinha.
O meu irmão está em choque. Deus do céu.
Calma, Lucas!
— Onde ela está? O que aconteceu? — A minha calma está indo para
o ralo.
— Acabei de chegar e me disseram que ela está em cirurgia. Ela levou
um tiro, mano. — Oh meu Deus, um tiro? Mas de quem? Onde? — E eu pedi
para não te falarem, eu queria dizer. — Ele chora mais que Clarinha.
Respiro fundo, tentando manter a calma e faço uma prece.
— Você fica aqui que eu vou ver como ela está. Depois quero saber o
que aconteceu.
— Tudo bem. Caetano está te esperando.
Corro até as salas de cirurgia, procurando em qual delas está o meu
amor. Estou tão desnorteado que nem sei como cheguei aqui. Ao chegar
numa das salas vejo uma multidão em cima dela e o meu mundo desmorona.
O que eu faço? O que eu faço? Quero entrar e ver como ela está, mas
não quero atrapalhar o trabalho dos médicos, e nunca me perdoaria se por
meu deslize alguma coisa acontecesse com ela.
Respire fundo e se mantenha calmo, doutor Lucas.
Fácil falar, o difícil é fazer.
Fico andando de um lado para o outro sem conseguir nem pensar
direito. De repente a porta se abre e vejo Caetano olhando-me com os olhos
tristes.
— Diga que está tudo bem, por favor! — as palavras quase não saiam.
— Não vou mentir para você, amigo.
— Não! Eu quero a minha mulher. — Levanto e vou em direção à
porta da sala, mas não consigo entrar porque Caetano me segura. — Me
solta!
— Deixe-os trabalharem, Lucas, a doutora Raquel está com ela e você
sabe que ela é a melhor. — Com a menção do nome da doutora fico mais
tranquilo, só um pouco.
— Realmente, ela é muito boa. O que aconteceu?
Sentamos os dois no chão e começamos a conversar. Segundo ele,
Alice levou um tiro próximo ao coração e tinha perdido muito sangue, mas já
estava tudo sob controle.
Nem sei quanto tempo se passa, se dez minutos ou uma hora, mas eu
não consigo ficar quieto. Estou quase invadindo a sala de novo quando a
porta se abre e a doutora Raquel sai. Levanto e vou em sua direção.
— Então, como está minha mulher? — Ela arqueia uma sobrancelha.
— Não sabia que tinha se casado, Lucas.
— Isso não é da sua conta. Como ela está? Diga! — Ela se sobressalta
e faz uma cara feia para mim.
— A cirurgia foi bem, retiramos a bala e controlamos a perda de
sangue. Logo ela estará no quarto.
— Graças a Deus. Obrigado, doutora.
Sinto a minha respiração voltando ao normal e o meu coração fica
mais controlado.
— Doutora? Pensei que fosse mais que isso para você, Lucas. Quando
voltei dos Estados Unidos não acreditei no que me contaram, mas pelo que vi
agora é verdade. Você está mesmo com outra mulher? Pensei que tínhamos
algo especial.
— Nós saímos duas vezes para jantar como colegas, só isso, Raquel.
— Do que ela está falando?
— Pensei que...
— Lucas, Clarinha não para de chorar e o Léo também não. Acho
melhor você ir lá antes que o seu irmão enlouqueça. Patrícia acabou de me
ligar — diz Caetano ao meu lado.
— Quem é Clarinha? — pergunta Raquel.
— Minha filha — digo já saindo, mas não sem antes ver a expressão
no rosto dela.
Não entendo porque ficou assim, nós fomos jantar duas vezes e só
isso, nunca nem tive vontade de beijá-la. Isso não importa. O que importa é
que a minha linda vai ficar bem e eu preciso salvar a minha pequena do meu
irmão mais novo.
Obrigado, meu Deus! Muito obrigado, nem sei o que teria feito se
acontecesse o pior. Vou matar quem fez isso. Ah, se vou.
Chegando ao meu consultório, sou abordado por um senhor que a
fisionomia não me é estranha.
— Boa tarde, você é o doutor Lucas? — indaga com uma voz firme.
— Sim, sou eu. Conhecemo-nos?
— Não, mas prazer em conhecê-lo. Me chamo Gabriel Castro e quero
saber como está a minha filha.
Aperto a sua mão, olho bem dentro de seus olhos e parece que já o
conhecia.
— Prazer, Gabriel, em que posso ajudá-lo?
— Já disse, gostaria de saber como está a minha filha e me disseram
que você é namorado dela.
— Sua filha? Você está me dizendo que é o pai...
— Sim, como ela está? Fiquei sabendo agora e vim o mais rápido que
pude.
Pela segunda vez hoje perco o meu chão.
18 - Lucas

Ainda não consigo acreditar no que aconteceu nessas últimas horas,


desde que recebi a notícia do que aconteceu a minha mulher, com o meu
irmão mais novo surtando e a chegada do pai de Alice. Estou tentando ficar
calmo, mas está realmente difícil. Não quero nem pensar na conversa que tive
com o tal senhor Gabriel Castro, primeiro tenho que ligar para Monique e ver
se consigo tirar a minha filha do Léo.
— Lucas, Lucas, como está a nossa Lili? — Pelo jeito não vou
precisar ligar para ninguém.
Viro-me e vejo Andrea, Josi, Monique, Jeff, minha irmã Adriana e o
meu irmão Luís, parados no corredor próximo ao consultório. Sorrio por
dentro, a minha mulher é muito amada!
— Ela está bem, sua cirurgia foi ótima e daqui a pouquinho vou vê-la
no quarto. Ela precisará ficar na UTI em observação por hoje.
— É claro que está bem, Lili não ia ousar nos deixar, ela sabe que eu
iria atrás dela e arrancaria os seus cabelos se nos deixasse — fala Andrea com
a voz embargada pelo choro. — Ela sempre foi forte e não se deixa abater por
nada e agora que tem Clarinha e você, lutará com mais força.
— Minha filha é muito forte — diz meu, querido, sogro logo atrás
deles. — Todos olham para ele com as sobrancelhas levantadas.
Achei que ele tivesse ido embora depois da nossa conversa. Alice
parece muito com ele, os olhos, o nariz e o jeito que mexe nos cabelos.
Definitivamente são parecidos.
— Quem é você? — Josi quebra o silêncio.
— Sou Gabriel, pai de Alice e pelo que vejo a minha filha tem muitos
amigos.
Sorri, o que me faz pensar que a minha Alice perdeu esse sorriso, o
que me faz ficar com mais raiva dele. Nada justifica o que ele fez, deixando-a
sozinha com a mãe louca e a irmã invejosa.
— Como assim pai? Lili não tem pai — dessa vez é Andrea que
pergunta.
— Sim, meninas, contribuiu com seu esperma e nada mais.
Olho bem em seus olhos para ver o que diria, mas ele apenas cerra o
maxilar e olha em outra direção. Bom.
Viro-me e olho para Monique.
— Preciso de sua ajuda, Léo está em choque e não quer soltar a minha
filha, disse que prometeu cuidar dela para Alice e não vai entregá-la para
mim.
— Mas por que eu? Nem o conheço, é mais fácil ouvir o seu irmão
que eu. — Ela parece assustada e o seu rosto fica mais vermelho do que
estava.
— Acredite em mim, ele vai te ouvir. Venha comigo, por favor.
Pensa pelo que parece um minuto e assente.
Vamos para a sala onde pedi para Patrícia levar o meu irmão quando
fui conversar com aquele senhor, chegando lá, paro com a cena que vejo.
Eles estão deitados no sofá, Clarinha deitada em seu peito dormindo e Léo
cantando para ela. Sim, cantando, mas não é uma música de ninar, ele está
cantando uma da Banda Malta, uma que a minha linda mulher canta o tempo
todo em casa, só por isso que já a conheço.

“(...)Diz pra mim


O que eu já sei
Tenho tanta coisa nova pra contar de mim
Diz pra mim
Sobre você. (...)

— Me conta sobre você, pequena — sussurra o meu irmão.


Apesar da angustia que sinto em meu peito, sorrio, Léo é cheio de
surpresas. A minha filha está segura com ele, mesmo em choque ele sabe o
que está fazendo.
Olho suas mãos e graças a Deus estão limpas, Clarinha está usando
outra roupa também.
— Por que essa música? — resolvo começar com uma conversa
relaxante.
— Tentei algumas de ninar, mas ela não parava de chorar, aí lembrei
que vi Alice cantando essa e resolvi tentar. Ela sossegou e dormiu. — Suspira
e fecha os olhos.
— Mano, como está a minha cunhadinha? — pergunta sem olhar,
então não vê quem está comigo.
Faço sinal para Monique responder, ela dá os passos que a separa dele
e se agacha próximo ao sofá.
— Ela está bem, Léo, a cirurgia terminou e ela já foi para o quarto.
Ele se sobressalta, acordando Clarinha que começa a chorar.
— Meu anjo?
Léo a encara e vejo os seus olhos procurando os de Monique.
— Oi. — Ela olha para baixo, envergonhada, e sorri. — Posso pegá-
la? Acho que ela está com fome.
— Mas eu tenho que cuidar dela. — Léo sai do transe e olha a
pessoinha zangada em seu colo. — Eu prometi.
— Eu sei que prometeu e você está cuidando muito bem dela. Mas
Alice não vai gostar de saber que você não deixou que ela ficasse com o pai
um pouquinho, ele também vai cuidar dela. Você conhece o seu irmão e sabe
que ele é louco por essa princesa.
Ele sorri e passa a mão no rosto, parece cansado.
— Tem razão, acho que ela prefere a ele, mas vou ficar por perto.
Léo levanta e finalmente me entrega Clarinha.
— Descansa um pouco, vou levá-la para se alimentar. A filha de Inês
já deve estar aqui e vai alimentá-la até Alice melhorar. Obrigado, mano, por
cuidar da minha pequena.
Ele assente e olha para Monique, que nos olha com expectativa.
— Você pode ficar um pouco aqui comigo? — Léo pede com uma
carinha de cachorro abandonado.
— Claro. Vem, senta aqui comigo.
Saio da sala com a minha pequena em meus braços, ela suspira e
relaxa. Cheiro a sua cabecinha e a abraço um pouco mais apertado.
— Está tudo bem, filha, mamãe é forte e logo vamos estar os três
juntos de novo, mas por enquanto preciso que seja forte também e aceite
outra pessoa sendo sua ama de leite, está bem? Vamos lá, depois o papai tem
que ir ver a mamãe.
Preciso ver Alice, até isso o meu coração não vai sossegar.
Vou matar Karin.
Já passa da três da manhã e eu não consigo dormir, estou no quarto
com Alice, não conseguiria ficar longe dela. Ela ainda não acordou depois da
cirurgia, mas a qualquer momento pode acordar.
As meninas estão num dos apartamentos com Clarinha, sei que
hospital não é lugar para ela, mas eu não podia ficar longe nem dela e nem da
Alice, então pegamos um dos apartamentos vagos e acampamos todos os seus
amigos. Só Luís que resolveu não ficar, ele e Josi meio que tiveram uma
discussão, por que eu não sei.
Estou mexendo em meu medalhão, olhando a foto de nós três juntos,
assim me sinto mais próximo da minha filha. As duas mulheres da minha
vida. Sorrio e o meu coração se enche de alegria, somos uma família. Só falta
Alice aceitar se casar comigo.
— Médicos não poderiam ser tão bonitos, poderia causar infartos em
seus pacientes.
Olho para a cama e Alice está olhando-me. Sinto o ar em meus
pulmões, como se não estivesse respirado por todo esse tempo em que ela
ficou sem me olhar com esses lindos olhos.
— Então eu sou bonito? — Tive que limpar a garganta duas vezes
para conseguir falar.
— O mais lindo que já conheci.
— Estava morrendo de saudade. Como você está se sentindo? Nunca
mais faça isso comigo! Eu não conseguiria viver nesse mundo se você não
estivesse mais nele.
— Está bem, prometo não dar mais uma de escudo do Capitão
América — tenta brincar.
— Estou falando sério, Alice! — A minha voz quebra.
— Ei, está tudo bem. Aí! Está doendo tudo. — Faz uma careta de dor.
Aperto o botão chamando a enfermeira, me inclino e beijo os seus
lábios.
— Fica quietinha, você fez uma cirurgia e precisa me obedecer para
ficar boa logo.
— Obedecer? — Levanta uma sobrancelha.
— Sim senhora, eu estou no comando e se não obedecer vai ser
castigada. — Sorrio da sua expressão de olhos arregalados. — Eu te amo e
nunca a machucaria.
— Eu sei, amor.
A enfermeira entra, checa como ela está e sai para buscar a médica.
Fico olhando o seu lindo rosto e segurando a sua mão.
Logo Raquel entra e começa com as perguntas, que todos os médicos
fazem depois que o paciente acorda de uma cirurgia. Checa o seu ferimento,
aplica um remédio para dor e logo estamos a sós de novo.
— Como está a nossa filha? — Amo quando ela diz nossa. — Onde
ela está? E por que você não está com ela?
— Calma, meu amor, ela está com as meninas e Léo que, aliás, não
quer deixá-la de jeito nenhum. Disse que prometeu a você que cuidaria dela e
foi uma luta convencê-lo que eu também cuidaria bem dela. Tive que apelar
para a Monique. Mas deu certo, acho que ele tem uma queda por ela.
Sorri e depois começa a chorar.
— Ei, ela está aqui no hospital num dos apartamentos, está bem e
dormindo. Com saudades da mãe, mas bem, fique calma. — Pego o meu
medalhão e abro, mostrando a nossa foto. — Olhe a nossa pequena, ela não
pode vir aqui, mas logo vamos estar juntos como na foto.
Alice fica um tempo olhando a foto, calada, depois olha para mim
com uma expressão séria, o que faz o meu coração se apertar. Ela está
pensando em alguma coisa e eu sei que não vou gostar de ouvir.
— Você precisa dormir, logo o remédio faz efeito e a dor vai passar.
Amanhã pela manhã vai para um quarto normal, Raquel disse que está
melhor do que esperava. A minha linda mulher é uma guerreira. — Sorrio
para melhorar sua expressão.
— Ela não parava de olhar para você. Achei que eu fosse a paciente,
ela me olhou uma vez e de relance — fala com uma cara feia.
— Nem percebi nada, pois estava ocupado olhando a mulher da
minha vida. Agora durma, vou ficar aqui com você.
Beijo de leve os seus lábios e lhe dou boa noite. Não demora muito e
ela está dormindo. Fico mais um pouco, observando-a dormir e depois pego
no sono também, com uma enorme sensação de alivio.
Depois de ver como a minha pequena estava e avisar as meninas que
Alice já estava em um quarto normal, voltei para ficar com ela. Mas entrando
pela porta senti que tinha alguma coisa errada.
— Bom dia, meu amor.
Aproximo-me da cama e vou beijar sua boca, mas ela vira o rosto
impedindo-me.
Essa foi a primeira vez que ela fez isso. Doeu.
— Lucas, nós precisamos conversar.
Sento ao seu lado na cama e espero.
— O que houve? — pergunto confuso.
— Acho que devemos acabar tudo por aqui, não posso parar de pensar
no que aconteceu e não quero isso para a minha filha. Ela é tão pequena.
— Nossa filha.
— Minha filha... E você sabe disso, eu te amo, mas preciso pensar
mais nela, nesse momento. Aquela louca foi em sua casa com uma arma e
tocou na minha filha. Se tivesse acontecido alguma coisa com ela eu não me
perdoaria nunca.
— Acabou?
Estou quieto ouvindo-a falar.
— Sim.
Soluça e virou o rosto para o outro lado, para não me olhar nos olhos.
— Entendo o que está sentindo, pois estou sentindo o mesmo. Mas
nunca mais quero ouvir você dizendo que Clarinha não é minha filha, sei que
não é minha de sangue, mas é de alma e a amo. Me fere quando fala assim.
— Desculpe, não quis te magoar, é que...
— Não terminei ainda — falo firme, ela me olha pela primeira vez,
com olhos arregalados. — Karin está presa e eu vou resolver esse assunto de
uma vez por todas, ela nunca mais vai nos incomodar. E quanto a você querer
acabar o que temos, a resposta é não.
— Não pedi a sua permissão, estou dizendo que acabou e ponto —
agora ela fala com raiva. Ótimo.
— Por quê? Me dê outro motivo — sustento o seu olhar.
— É o melhor para nós, nunca ia dar certo mesmo, mal nos
conhecemos e...
— Já passamos por isso, Alice. — Estou quase quebrando.
— Nunca ia dar certo, tenho as minhas próprias coisas mal resolvidas
e não vou mais fugir desse problema. Fui para a sua casa para deixar Clarinha
segura e acontece isso, então não tem mais porque ficar lá.
Não consigo acreditar no que estou ouvindo.
Quebrei de vez.
— Você não pode estar falando sério! — digo, a minha voz rouca
pelas lágrimas que estão rolando em meu rosto. Sim, estou chorando como
um bebê. Quem disse que homem não chora é um total idiota sem coração.
— Diz que é da boca para fora, meu amor. Nós pertencemos um ao outro, nós
três somos uma família. Eu...
— É o melhor, Lucas. Não quer...
— Não! Não ouse dizer que o melhor é ficar longe de vocês. Como?
Se eu não conseguirei viver sem o meu ar, sem o meu sol? Ficar sem você é
como viver na eterna escuridão.
Alice está chorando também.
— Mas...
Tomo as suas mãos nas minhas, me inclino para os seus lábios
trêmulos e a beijo com cuidado, pois não quero machucá-la, apesar de estar
melhor não quero abusar. Coloco nesse beijo todo o meu amor, mostro que
ela não vai se ver livre de mim tão fácil, que esse é o meu lugar, que ela e
Clarinha são o meu lar. E desse lar eu nunca vou ser despejado.
Quando nos afastamos, estamos ambos sem fôlego. Ela me olha com
os olhos encapuzados e sei, nesse momento, que a minha Alice voltou.
— Eu te amo e não, eu não vou deixar você desfazer o que temos por
causa de pessoas insignificantes. Portanto, pode ir tirando o cavalinho da
chuva que não vai a lugar nenhum sem mim. E o que vier vamos enfrentar
juntos, como um casal. E quanto a Clarinha, vou resolver isso ainda hoje e ela
terá o meu nome e você nunca mais abra essa boca linda para dizer que ela
não é a minha. Entendeu?
— Sim! — assente e dessa vez é ela quem me beija.
Vou lutar por você, nem que seja contra você mesma, minha teimosa.
19 - Alice

Estamos agarradinhos, ainda nos deliciando com o nosso momento


pós-tormento, quando Lucas fala uma coisa que me deixa curiosa.
— Tenho que te contar uma coisa que você não vai acreditar.
— O quê?
Olho o seu lindo rosto e percebo que se nós tivéssemos terminado,
como era para ser, eu teria perdido de dormir e acordar com esse lindo
homem que roubou o meu coração assim que pus os olhos pela primeira vez.
Ia perder o seu sorriso, os seus beijos, e isso ia doer mais do que levar um
tiro, isso tenho certeza.
Então, ainda bem que você mudou de ideia, dona Alice encrenqueira.
Ou melhor, mudaram por você.
É eu sei, eu sou estranha.
— O seu pai está aqui no hospital, apareceu logo depois que soube o
que aconteceu. Como ele ficou sabendo, não sei.
— O que disse, amor? — Será que entendi errado? Meu pai?
— Seu pai, meu amor, e ele quer vê-la, mas não sei se vai ser bom
para você, já passou por muito estresse essa manhã.
Encolho-me.
— Desculpe por tudo que disse, eu estava com medo, ainda estou,
mas eu sei que se estivéssemos cada um seguido o nosso caminho, eu
morreria logo de tanta saudade. — Sem contar o mal que faria separando pai
e filha, sua desnaturada. — Decidi que não vou adiar a minha felicidade
porque existem loucos por aí nos ameaçando.
— Assim que se fala, minha linda. Eu também não conseguiria ficar
longe de você. — Me dá um breve beijo e me olha bem fundo nos meus
olhos. — Agora, voltando no outro assunto, o “seu pai”.
Droga! Estava tentando não pensar nisso. O que eu faço?
— Esperei tanto tempo por ele que não sei o que fazer agora.
Começo a chorar de novo. Achei que tivesse acabado as minhas
lágrimas mais cedo, mas pelo visto não.
— Ei, calma! Se não quiser vê-lo tudo bem, eu estou louco para botá-
lo para correr. — Sorri perverso.
— Não! — exclamo, com medo do que Lucas possa fazer, e talvez o
meu pai nunca mais queira voltar a me ver. Estou dividida entre querer vê-lo
e correr para longe.
E se ele me odiar como a minha mãe faz?
— Eu estava brincando, não farei nada que não queira. Conversamos
ontem — diz meio incerto e percebo que os dois não se deram muito bem. —
Você vai querer recebê-lo?
— Claro! Quer dizer, acho que preciso entender porque ele nos
abandonou e nunca deu sinal de vida, até agora.
— Tudo bem, mas eu vou ficar aqui com você.
— Eu não ia querer outra coisa.
— Você está bem mesmo? Precisa descansar. Quem sabe não é
melhor esse encontro acontecer depois, na nossa casa?
Penso por um segundo e decido que não consigo esperar até lá,
sabendo que o meu pai está aqui tão perto de mim.
— Não, amor, eu não consigo esperar mais por isso. Estou com
medo? Sim. Mas como eu te disse mais cedo, não correrei mais dos meus
problemas. Pode chamá-lo, é melhor falar com ele logo, antes das meninas
aparecerem.
— Elas já o conheceram.
— Ok. Depois conversaremos sobre tudo, estou com saudades das
minhas loucas amigas e demais da minha pequena. Quando vou poder ir para
casa?
— A doutora disse que amanhã. Agora me dê um beijo, antes de ir
buscar o seu pai. — Sorrio e o beijo com vontade.
Quando levei o tiro, antes de a escuridão me levar só via o rosto dele
e de Clarinha. Graças a Deus deu tudo certo.
Assim que separamos os nossos lábios, Lucas corre para a porta e
chama alguém. Uau! Eu pensei que ele não estivesse tão perto. Estou mais
nervosa do que quando vi o Lucas pela primeira vez.
Calma, Alice, é só um senhor que diz ser o seu pai. Mais fácil falar do
que fazer.
Estou tentando arrumar o meu cabelo com uma mão para ficar mais
apresentável, quando alguém entra no quarto e sou surpreendida com o que
vejo.
Um homem alto, queixo bem marcado, está usando um terno bem
cortado cor de chumbo. Ele tem cabelos grisalhos caindo em sua testa e os
olhos são verdes como os meus, o seu sorriso é lindo.
Ai. Meu. Deus. Meu pai é um gato!
A minha garganta fica seca. Desde sempre disse que quando visse o
meu pai, eu o odiaria por ter nos deixado e diria exatamente isso a ele.
— Pai? — Não foi exatamente o que fiz, apenas disse isso e comecei
a chorar como um bebê de novo. Aí, eu odeio chorar.
Lucas vem se sentar comigo e segura a minha mão.
— Minha filha! Estou tão feliz que está bem, não sabe o quanto sofri
sabendo que estava correndo risco de vida. Sei que não queria me ver e que
me odeia, mas eu não consegui não vir quando soube da notícia.
— Falando nisso, não me disse como soube — diz Lucas.
— Meu filho viu na internet e me contou. Vim o mais rápido que
pude.
— Na internet? Não estou entendendo — digo com a voz meio
trêmula.
— Está em vários sites. — Ele saca o seu celular e me mostra.

“Namorada do médico considerado o número um em Cardiologia do


Rio de Janeiro leva um tiro em sua própria casa pela ex-noiva dele”

Paro de ler, não quero mais ver isso. Pronto, agora o meu nome está
na internet. Era só o que me faltava!
Mas outra coisa que ele disse me chamou atenção.
— Eu tenho um irmão?
— Sim, ele é adotado, mas o amo do mesmo jeito que amo você e sua
irmã. Ele está lá embaixo, mas achei melhor eu ver você primeiro, sei que
não quer nada comigo, sua irmã me disse que não sou sua pessoa favorita no
mundo e entendo isso, mas preciso que me escute...
— Calma aí, para tudo! Minha irmã te disse o quê? E ela sabe sobre
você? Não estou entendendo nada.
— Sim ela sabe sobre mim, faz uns seis meses que nos encontramos
pela primeira vez.
— Você só pode estar brincando comigo.
Não consigo pensar que a minha irmã escondeu de mim sobre saber
onde estava nosso pai. Ela sabia que eu queria muito conhecê-lo.
— Não. Eu finalmente deixei de ser covarde e liguei para a sua mãe,
não era justo que ela me chantageasse a vida toda, não tenho por que me
envergonhar de ser o que eu sou. Infelizmente demorei demais para perceber
isso e peço que me perdoe, mas estava com medo de você sentir vergonha de
mim e não me querer como um pai.
— Tá, me deixa ver se entendi. Minha mãe te chantageava? Mas por
quê?
— Eu sou gay e sua mãe não aceitava isso, mas eu prometo te contar
essa história em outro momento.
— Você é gay. E daí? Isso não justifica passar todos esses anos sem
nos conhecer. Eu pensei que não nos queria, pensei que...
— Eu sempre quis. Sua mãe escondeu de mim que estava grávida e
quando descobri, disse que se eu não me casasse com ela não me deixaria vê-
las. Aceitei me casar com ela, mas não consegui seguir em frente com o
plano, eu amava outra pessoa e não era justo com nós três. Disse que a
ajudaria com tudo e seria um bom pai, mas ela não aceitou. — Ele está
chorando.
— Depois que nasceram ela veio me ver e descobriu que eu era gay.
Aí começou tudo, disse que vocês nunca iriam aceitar um pai como eu, que
teriam vergonha de mim. Eu fui um burro por me deixar levar pela conversa
dela. Sofri tanto, passei muito tempo em depressão.
Estou surtando.
— Sei que não posso mudar o passado, mas quero estar em sua vida e
espero que me permita, quero conhecer a minha neta. Sua irmã não me deu
muitas coisas de vocês, mas tenho algumas fotos.
— Se era gay por que dormiu com a minha mãe?
Sorri, um sorriso triste que não alcança os seus olhos e diz:
— O que vou dizer vai ser horrível, mas foi o que aconteceu. Sua mãe
me embebedou e passamos a noite juntos, estava mal porque tinha terminado
com Jimmy e ela achou que “Jim”, como eu o chamava, fosse a minha
namorada e disse que me faria esquecer.
— Ingênuo você, não? Devia ter falado que era gay desde o começo
para ela.
— Eu sei, esse foi o meu erro. Me arrependo de não ter lutado por
vocês, mas ela me quebrou e eu acreditei.
— Ainda não consigo acreditar que Angélica sabia de você e não me
contou.
— Como assim não contou? Ela me disse que assim que sua mãe deu
o endereço a ela te informou e você não queria me ver nem pintado de ouro.
Essas foram as palavras que ela usou.
— Eu não sabia de nada. Minha mãe não fala comigo desde que
engravidei e a minha irmã sempre me odiou.
— Por que Ann mentiria para mim? — pergunta papai.
— Para ficar com você só para ela. — Pronto agora estou sendo
infantil. Mas é a verdade, a minha irmã definitivamente me odeia.
— Posso te abraçar, filha?
— Eu...
A quem estou querendo enganar? Estou com raiva dele? Estou. Quero
esbofeteá-lo? Com certeza. Mas acima de tudo, saber que me ama e está aqui,
me faz querer me jogar nos braços dele e chorar. Chorar por todos esses anos
separados, pelos dias dos pais na escola quando as minhas colegas me
enchiam o saco por não ter um. Por tudo o que perdemos um do outro. —
Pode, papai.
Lucas solta a minha mão e me dá um sorriso, dizendo-me que tudo
bem.
O meu pai vem sorrindo em minha direção, me abraça com cuidado e
começa a chorar, eu também vou junto e ficamos um tempo um nos braços
um do outro sem falar nada.
Ele se afasta um pouco e me olha.
— Você é mais linda do que nas fotos. Eu te amo, filha, me perdoe
por ter sido um covarde. Me deixa fazer parte da sua vida?
— Eu estou muito magoada ainda, mas eu não quero ficar sem você,
pai. A minha filha precisa de um avô, não acha?
Sorrindo, ele me abraça e beija o meu rosto várias vezes.
— Desculpe interromper, mas tem uma multidão aqui na porta
querendo entrar, meu amor.
Por cima do ombro do meu pai sorrio para o meu homem e assinto.
— Pai, qual o seu nome?
— Gabriel Castro.
— Acho que já vi esse nome em algum lugar.
— Com certeza já, meu amor. Ele é o dono das Indústrias Castro. Um
dos maiores empresários do Rio — diz Lucas com uma voz dura.
Não entendo a sua reação, mas logo vamos conversar sobre isso.
— Então o seu pai apareceu — diz Andrea pensativa.
Ela está estranha, não sei dizer o porquê, mas não é só pelo meu
“acidente”, já estou bem e amanhã vou para casa. Alguma coisa não está
certa com ela, percebi isso desde que entraram há uma hora.
— Sim. Ainda estou sem acreditar no que minha mãe fez e que minha
irmã sabia da existência dele e não me contou.
— Pois isso não me surpreende. Sua mãe é horrível, sempre foi, e sua
irmã uma invejosa. Sério, se eu ver essa cobra na minha frente eu vou bater
nela. Ah, se vou. — Josi sempre tomou as minhas dores. Sei que sempre
posso contar com ela, aliás com todas as minhas amigas. Incluindo Jeff.
— Eu tenho um irmão — digo meio hesitante.
— Um irmão homem? Sério? — pergunta quem estava calado até
agora, ou seja, Jeff.
— Sim, um irmão homem. Aliás, foi ele quem viu o meu nome na
internet e avisou ao nosso pai do acidente. Se fosse pela minha irmãzinha ele
nem saberia.
— Lili famosa. Eu vi também, só não queria te deixar nervosa com
isso, mas já que sabe, o que acha disso?
— Não acho nada, Nique. São tantas coisas para processar essa
manhã. E estou sentindo demais a falta da minha filha. Como ela está?
— Está bem, mas acho que ela vai querer passar um tempo longe de
Léo depois disso.
Todas riem com o comentário de Josi. Coitado do meu cunhado, sei
que tudo também está sendo difícil para ele. Não sei exatamente o que houve
em seu passado, mas tudo indica que perdeu alguém e agora assistiu o meu
quase fim.
— Ele está sofrendo também, não foi fácil para ele processar o que
viu. Não quero que riam dele.
— Ok, ok, não estávamos zoando ele, mas você precisa ver como ele
está possessivo com a menina. Só Lucas e a Loira aqui estão autorizados a
chegar perto, porque ele prometeu a você cuidar dela — Jeff se defende.
— Eu sei, Lucas me contou.
Olho para Monique e vejo que está toda vermelha. Será? Mais uma
coisa para pensar.
A porta se abre e uma enfermeira entra, tirando-me do meu momento
“friends”.
— Bom, pessoal, está na hora dela descansar, vocês podem voltar à
noite. Agora ela tem que recarregar as baterias, não é, mocinha?
Enfermeira Eloisa é o nome dela, uma senhora muito simpática, deve
ter uns quarenta anos, é carinhosa comigo e super fã do doutor Lucas. Ai já
viu, né?
— Estou bem, Eloisa.
— Não. Está quase caindo no sono e levou um tiro ontem, tem que ir
com calma, menina. — Foi só ela dizer, que bocejei. — Estão vendo? Agora
deem tchau.
— Sim, sargento — diz Andrea em tom divertido.
Ela vem me abraçar e sussurro em seu ouvido:
— Logo vamos ter uma conversinha, sei que alguma coisa não está
bem com você. — Sinto o seu corpo enrijecer. — Seja o que for estarei com
você. Ok?
Ela se afasta e sorri.
Despeço-me de todos e fico triste por eles estarem indo embora.
Por tanto tempo foram só eles e eu. Agora tenho Clarinha, Lucas, o
meu pai e mais um irmão. Espero que este pelo menos goste de mim. Estou
muito feliz, apesar de confusa. Hoje quase terminei com o meu namorado, o
meu pai aparece com um novo irmão e, o pior de tudo, descobri que a minha
irmã me odeia mais do que eu imaginava.
Eloisa está certa, tenho que recarregar as minhas baterias.
Fico sozinha por um tempinho antes de o sono me bater. Sonhando
com a minha pequena em nossa casa. Sorrindo, me entreguei a esse sonho
maravilhoso!
20 - Alice
Duas semanas depois estou em casa, nervosa, ansiosa e tudo o que se
pode imaginar no seu primeiro encontro com o seu novo irmão e o primeiro
dia que o seu pai visita à sua casa. Não queria conhecê-lo em um hospital e
ele teve que viajar por causa do trabalho, então combinei esse almoço com o
meu pai. Resolvemos fazer uma coisa mais descontraída e convidei todos os
meus amores e Lucas convidou Caetano e os seus irmãos. Lucas disse que
seria melhor um churrasco na piscina, todo mundo gosta e o domingo está
lindo. Então está quase tudo pronto.
As meninas aprontaram e foram às compras, compraram um biquíni
lindo para mim na cor amarela e um body para a minha princesa. Estou
usando ele por baixo de um vestido longo estampado em branco, amarelo e
azul, tomara que caia, e a minha gatinha está usando um vestidinho branco
com o mini body por baixo, ficou linda. Essas meninas aprontam.
Rio olhando-me no espelho e depois para uma bagunceira que estava
na cama, olhando-me e brincando com os seus pezinhos com um Lucas com
uma expressão boba no rosto. Não sei o que me deu para surtar daquele jeito
no hospital e querer terminar com ele.
Ainda bem que ele não deixou.
Desde o acidente, Lucas não nos deixa por muito tempo, está sempre
conosco. Chegando em casa do hospital, há duas semanas, eu fui
surpreendida com tudo novo no andar de cima. Ele mandou trocar tudo do
quarto da nossa filha, tudo mesmo. O corredor também estava diferente, até
os quadros da parede, que tinha entre os quartos, tinham sido mudados. Graça
a Deus!
— Está rindo de que, minha princesa? — Saio do meu devaneio e vou
me juntar aos meus tesouros na cama. — Olha como fica ainda mais linda
sorrindo para o papai?
— Sim, amor. — Amo ver os dois juntos.
Sento na cama com eles e olho no relógio, temos duas horas até os
convidados chegarem, então vou curtir um pouco mais da nossa bolha. Desde
que voltei para casa que não tenho momentos a sós com o meu lindo
namorado, estamos sempre cercados por nossos familiares. Léo e as meninas
todos os dias estão batendo ponto, não estou reclamando, longe de mim,
adoro tê-los aqui, mas acho que preciso do meu homem nu, logo.
Alice, sua pervertida! Seu anjinho do lado e você tendo segundos
pensamentos?
Segundos nada, terceiros, quintos, décimos. Se saudade matasse, eu
estaria mortinha. Olhar para ele assim tão gostoso, está me dando água na
boca. Lucas está usando uma camisa verde, que está realçando os seus olhos
que nesse momento estão brilhando, e uma bermuda branca. Está uma
tentação de tão lindo.
Balanço a cabeça para tirar esses pensamentos impróprios e resolvo
focar só em carinho de mãe. Ficamos por mais alguns minutos brincando e
rindo juntos.
Uma batida na porta nos tira do nosso momento cute.
— Pode entrar — falo sorrindo.
— Olá, crianças sorridentes — diz a voz de Andrea da porta.
Olho para cima e vejo ela e Josi paradas, sorrindo para nós. As duas
prontas para curtir um churrasco a beira da piscina.
— Sei que chegamos cedo, mas eu não aguentava mais essa aqui me
enchendo o saco para vir logo. — Revira os olhos para Josi e me dá um beijo
no rosto quando me levanto para cumprimentá-las.
— Ah, não enche, Andrea, só estava querendo saber se você estava
bem, tive um sonho estranho contigo.
Ah entendi. Josi sempre teve isso, quando sonha com alguma de nós e
o sonho não a agrada ela fica o mais próximo que puder, como se fosse evitar
alguma coisa de acontecer.
— Estou bem sim, pode ficar tranquila, maninha.
Abraço-a e as convido para irmos lá para baixo.
— Beijo, doutor lindo — fala uma Josi divertida agora, antes de
sairmos do quarto e deixar Lucas e Clarinha em sua sessão de risos.
Uma hora mais tarde, Monique, Jeff, Adriana e o seu namorado Noah
e a irmã dele Natalie, Léo e Luís chegam e estamos nos divertindo muito,
quer dizer, eu estava sendo motivo de bulling. As minhas amigas estavam
lembrando momentos embaraçosos que eu nunca teria compartilhado por
conta própria. Como um dia em que fomos ao K’s Bar, o bar das irmãs Kila,
Kamila e Katiane, nossas amigas que conhecemos desde a época da
faculdade, e mostrei o bumbum para o bar inteiro para pagar uma aposta. Ou
o dia em que fiz uma apresentação de pole dance no palco de uma boate
porque tinha bebido demais. Ai que vergonha!
— Hum... então será que terei uma apresentação privada depois? —
comenta Lucas, com a menção do pole dance.
— Só se você merecer, meu amor — provoco.
— Vou fazer pôr onde, então. — Sempre faz, mas ele não precisa
saber disso.
Olho, fazendo uma careta para as meninas.
— Chega de falar de mim e vamos falar de outras coisas. Como o
tempo, a economia do país ou qualquer outra coisa.
— Ah, nada disso, cunhadinha, eu adoro ver você toda vermelha de
vergonha — diz Léo com a minha filha no colo, que ele tomou de Lucas
assim que chegou, e por incrível que pareça, ela foi de bom grado. —
Continuem meninas, estou amando tudo isso.
O som da campainha me deixa nervosa de novo, já tinha passado o
meu nervosismo com os meus amigos distraindo-me.
— Só espero que o meu irmão não me odeie igual a minha irmã —
murmuro para mim mesma e vou atender a porta.
Ao abri-la, quase me engasgo com a pessoa que está ao lado do meu
pai, sorrindo de orelha a orelha, o safado!
— Você só pode estar de brincadeira comigo! — exclamo divertida e
atordoada ao mesmo tempo.
— Não vou ganhar nem um abraço, maninha? Poxa, achei que depois
de tanto tempo sem nos vermos eu ganharia mais do que essa expressão em
seu rosto, minha “florzinha”. — Faz biquinho e eu me jogo em seus braços,
com cuidado, pois ainda dói o meu ferimento.
Claro, sua tonta, você não é a mulher maravilha.
Nem ligo para a cara de poucos amigos do Lucas olhando para Bruno,
o meu lindo e querido amigo Bruno, que conheci quando fazia o curso de
fotografia.
Como poderia imaginar que aquele lindo garoto que sempre me
respeitou e me tratou como uma irmã, mesmo não sabendo que realmente o
era, e me defendeu sempre que pôde, era nada menos que o meu irmão?
Sempre gostei dele, quando nos conhecemos não dei muita abertura
porque achei que ele tinha se aproximado de mim com outras ideias na
cabeça, mas ele nunca fez um movimento em mim, nem me olhou com outros
olhos. Agora entendo porque. Sofri muito quando ele sumiu.
— Não me odeie, florzinha — sussurra ele em meu ouvido. — Muitas
vezes quase te contei, mas fiquei realmente apavorado com a sua reação e não
queria estragar o que tínhamos. Só queria ficar com a minha irmãzinha, por
isso entrei no curso com você. No começo eu odiava, mas depois comecei a
gostar e tomei gosto pela coisa de foto.
— Então por que você sumiu? — fungo.
— Depois conversaremos sobre isso. Ok?
— Ok — concordo, ainda abraçada a ele.
Ouço alguém limpando a garganta, me afasto um pouco do meu
amigo/irmão e olho para um Lucas com uma carranca no rosto.
— Será que agora você pode soltar a minha mulher?
— Lucas! — repreendo.
— O quê?
Faz uma cara de inocente e me puxa para o seu lado, deixando um
braço possessivo em minha cintura. Faço cara feia para ele, me afasto e
cumprimento o meu pai, que estava nos olhando com lágrimas nos olhos.
Pode uma coisa dessas? Já sei para quem puxei chorona desse jeito.
Tive que rir disso.
— Entrem, vocês dois. Fiquem à vontade, pai, você já conhece todo
mundo aqui. E, Bruno, seu sacana. — Olho e vejo que todo mundo tinha
vindo para a sala e estavam nos olhando. — Esses são os meus amigos, mas
você já os conheceu.
— Não acredito! — dizem as meninas ao mesmo tempo. Nem eu.
Todos se abraçam.
— E aqui estão os dois irmãos do Lucas, Léo e Luís. — Aponto os
dois lindos homens, que se cumprimentam com um aperto de mão e acenos
de cabeça.
Luís está usando um avental com um abdômen sarado nele. E advinha
quem trouxe o avental? É, foi ele mesmo, o irmão mais novo e sacana deles.
Léo.
— Bom, você conhece Adriana, mas não o namorado dela Noah, e
essa aqui é Natalie irmã dele.
— Prazer em conhecer todos vocês, em especial o seu namorado,
maninha — diz com sarcasmo, olhando para Lucas, que está sério.
— Digo o mesmo — responde Lucas e me abraça mais forte.
— Então, vamos nos sentar? — sugiro, tentando melhorar o clima.
Deixo que todos vão na frente e sussurro para Lucas.
— Depois quero que me explique direitinho o por que dessa cena.
Qual o seu problema?
Ele só me dá um beijo, que me deixa com as pernas bambas, fazendo-
me esquecer do motivo pelo qual estava chateada com ele.
Meia hora depois, estávamos conversando animados e nada do
Caetano chegar, estranho. Ele é sempre pontual.
— Meu Deus, mana, aqui mais parece um harém! Será que tenho
chance com alguma delas? — Bruno se aproxima de mim sorrindo e olhando
as meninas lindas, deitadas nas cadeiras tomando sol.
— Segura a onda, maninho... — Sorrio, ele parece um menino. — Se
comporte.
— Opa! E essa que acabou de chegar? — Olhou por sobre o meu
ombro. — Quero só essa.
Viro para ver quem está chamando a atenção do meu maninho, já que
todas as mulheres estão na piscina. Quando vejo quem está a menos de dez
metros de mim com Caetano, não acredito. Uma loira linda, olhos azuis, um
corpo incrível, usando uma blusa rosa, colada ao corpo e um short preto
soltinho bem curto. Sinto o meu corpo tenso.
Doutora Raquel.
Mas o que ela quer aqui? Será que Lucas a convidou sem me
consultar? Vou matá-lo!
21 - Lucas

— Aí, mano, não queria estar na sua pele agora — murmura Luís ao
meu lado e aponta numa direção.
Olho para onde ele está apontando e quase me engasgo com o meu
refrigerante.
Jesus, o que a Raquel está fazendo aqui?
Alice já ficou meio enciumada no hospital e agora ela aparece na
nossa casa. Estou literalmente ferrado.
— Mano, enfia esse espeto em mim agora que é melhor que a ira da
Alice — falo entredentes a Luís, que está na churrasqueira.
— Relaxa, Lucas, não seja dramático! Estou te desconhecendo — me
critica sorrindo. — Alice não vai fazer uma cena como você. — Depois sorri
largamente e acrescenta numa voz sarcástica: — Mas olha a cara dela! Tá
dando medo.
Divertindo-se as minhas custas. Valeu irmão.
Fiz mesmo uma cena. No mesmo dia, descubro que o irmãozinho dela
é na verdade um amigo antigo e muito boa pinta. Não basta o seu pai
aparecendo e me deixando sem dormir, com a ideia de ela poder me deixar
para ir com ele?
Estou totalmente dependente delas.
— Bom, acho melhor eu armar um plano para matar o meu amigo
Caetano, sem chamar muito atenção — falo, mais para mim do que para o
meu irmão. No que Caetano estava pensando ao trazê-la aqui? — Vou me
juntar a minha mulher e tentar ser um submisso — falo sorrindo dessa vez,
mais uma vez o meu irmão ri de mim.
— Ela te pegou de jeito mesmo, meu irmão. — Me dá um aperto no
ombro.
— Você não tem ideia. Eu a amo desde o primeiro momento que pus
os olhos nela. É uma coisa que não consigo explicar — falo, olhando para
Alice a distância e saio.
Quase chegando onde estão Alice e o seu irmão, o meu telefone toca e
vejo que é meu primo Alexandre. Atendo sem hesitar, talvez ele tenha
alguma notícia do homem que esteve ligando e ameaçando as minhas
meninas. Aliás, ele está sumido, nunca mais ligou para nos importunar.
Melhor assim. Ou não, está muito quieto.
— Lucas.
— Fala, primo. Tenho notícias de tão, tão distante — fala com uma
voz engraçada.
— E o que isso quer dizer?
— Nossa, você nunca viu o filme do Shrek? — Ri de mim. — Pois
vai ter que começar, crianças adoram essas coisas.
— É claro que já vi. Mas estou querendo saber o que isso tem a ver
comigo. — Já estou nervoso com a situação da Raquel na minha casa e
Alexandre vem me encher o saco com besteiras. — Diga logo!
— Nossa, quem foi que comeu a carne do seu espeto? — Rosno mais
uma vez. — Ok, ok, eu digo. Não sabe nem brincar, Léo é que tem razão,
você quando ficar velho ninguém vai te aguentar.
— Você e o meu irmão não passam de duas fofoqueiras! — Suspiro e
olho para a minha mulher, que tem uma expressão tensa no rosto.
Fico observando-a por um tempo e só ouço ao longe o meu primo
falando comigo.
Engulo em seco quando Raquel se aproxima e a chama para o lado,
não sem antes ser apresentada a Bruno que parece bem interessado.
Isso muito me agrada.
— E aí, o que você acha Lucas?
Saio do meu transe e foco em Alexandre. Quanto antes ouvir o que
ele tem a dizer, logo vou poder ir para junto de Alice.
— O quê?
— O que eu acabei de contar. O que acha?
— Você pode repetir, por favor. Estava acontecendo alguma coisa
que precisava da minha atenção.
— Está tudo bem? — pergunta, a preocupação em sua voz. — E
desculpa não ter ido para o almoço, mas precisava mesmo checar uma coisa
antes de te contar tudo isso.
— Não se preocupe, está tudo bem.
— Certo. Então, como disse antes, eu consegui chegar ao outro cara
que agrediu as meninas na floricultura, mas só tem um probleminha.
— Qual? — pergunto, querendo logo que ele conte tudo.
— Ele quer dinheiro para contar quem foi o mandante. E não é pouco.
Pensei em quebrar suas costelas e sua cara, mas resolvi falar com você
primeiro.
— É claro que quer, aquele cretino — rosno. — Se é isso que ele
quer, ele vai ter. Eu mesmo quero entregar.
— Não, você não vai. Eu resolvo isso com o Luís, fique seguro para
sua mulher e sua filha e os outros que vierem, pois sei que vocês dois são
piores que coelhos — de novo o fofoqueiro falou tentando me distrair.
— Vou matar vocês dois, suas comadres. Pare com gracinhas, eu vou
e ponto final.
— Lucas, ele é perigoso, foi ele quem matou o seu parceiro. E... —
Para e suspira.
— E o quê? — pergunto.
— Ele não é qualquer bandido, Lucas. É o segundo pior do Rio, a sua
ficha é mais suja que pau de galinheiro.
Não penso duas vezes e dou a minha resposta.
— Me diga quanto ele quer e onde nos encontraremos, pago o que for
necessário para descobrir quem é esse imbecil e tirá-lo, nem que seja na
marra, da vida da minha família. E espero que seja o mais rápido possível.
Ele suspira em derrota, concordando.
Conversamos por mais alguns minutos, combinando o que faríamos.
Alexandre vai ligar para o “idiota” e me mandar uma mensagem mais tarde.
Desligo e vou ao encontro de Alice.
Enfim cheguei ao escritório, já tinha procurado Alice pela área interna
inteira, em alguns cômodos e nada.
Chegando perto da porta ouço vozes. Não exaltadas. Graças a Deus,
então não irrompo logo pela porta adentro.
— Eu gostaria de pedir desculpas pelo jeito como nos conhecemos,
Alice, e a impressão que deixei em você aquele dia no hospital. — Raquel
suspira e continua: — Não vou mentir, eu realmente estava com raiva porque
pensei que tínhamos alguma coisa, mas eu que interpretei mal. Lucas nunca
me chamou para sair, do jeito que alguém interessado faz, e nunca deu sinal
de que seriamos algo mais do que colegas. Realmente, fui eu que destorci as
coisas e me comportei de maneira impropria.
Resolvo não interromper já que elas estão conversando normal e nem
quebrando nada.
Vá embora, Lucas, é feio ouvir atrás da porta.
— Vou ficar só mais um pouco e saio — sussurro para mim mesmo e
fico ouvindo.
— Bem, confesso que estava com vontade de quebrar a sua cara —
diz Alice, fazendo-me sorrir depois de um tempo sem dizer nada. — Mas já
que está aqui e parece estar sendo sincera, eu vou lhe dar um voto de
confiança. Mas só um aviso: eu não costumo ser muito gentil se pisarem no
meu calo.
Raquel solta uma risadinha.
— É, estou sabendo. Mas será que... — Para e eu fico curioso com o
que ela iria dizer. E torço para ela não irritar a minha mulher, pois ela não
está 100% recuperada ainda.
— Que...? — incentiva Alice.
— Então, será que eu posso ficar? — pergunta Raquel, meio
hesitante.
Era só o que me faltava. O que será que Alice vai responder?
— Bem, se tiver tudo bem com o meu namorado, por mim também.
Decido bater na porta e entrar.
— Interrompo alguma coisa? — pergunto, fazendo contato só com
Alice. Procurando algum sinal de raiva como vi há alguns momentos, mas,
surpreendentemente, ela está com o rosto calmo e sorri para mim, aquele
sorriso que me deixa babando por ela.
— Tudo bem, meu amor. Raquel só veio conversar comigo sobre um
mal-entendido — diz com a voz neutra.
Atravesso a sala, paro em sua frente e lhe dou um beijo possessivo.
Infelizmente ela quebra o beijo antes do que eu realmente queria.
Adoro sua linda boca.
— Raquel estava comentando que gostaria de ficar conosco para o
almoço. O que você acha?
— O que você decidir está bom para mim, você é a dona dessa casa e
do meu coração, minha linda. Você manda. — Sorri e a abraço mais forte.
Dá mais um dos seus sorrisos lindos e se vira para a terceira pessoa no
escritório.
— Então, eu a convido a se juntar a nós na piscina, Raquel. Fique à
vontade.
— Obrigada, Alice e Lucas — murmura, com um sorriso de orelha a
orelha. Se virou para sair, mas para antes de chegar à porta. — Ah Lucas,
Antônio se esqueceu de te avisar, o nosso jantar beneficente foi marcado para
o mês que vem porque muitos dos colaboradores não poderiam vir essa
semana e ele achou melhor marcar no próximo mês.
— Ok, muito obrigada. Se nos der licença, eu tenho que ter um
momento a sós com a minha “noiva”. — Faço questão de enfatizar a palavra
noiva.
Raquel sorri para nós e realmente pude ver que era um sorriso
verdadeiro. Sempre gostei dela, não quero que fique um clima ruim no
hospital, pois nos veremos o tempo todo por lá.
Ainda bem que ela enxergou o obvio e viu que não posso ser de mais
ninguém.
— Enfim sós — falo assim que Raquel sai e olho para Alice, que está
olhando-me com olhos arregalados. — O que foi? — pergunto, já sabendo a
resposta.
— Você disse “noiva”? — as suas palavras não passam de um
sussurro.
E graças a Deus a questão Raquel foi resolvida e ela não está chateada
comigo.
— Cada letrinha da palavra, meu amor.
— Mas não somos.
— Oficialmente.
Roço os meus lábios nos dela e passo as minhas mãos por seu corpo,
que não vejo a hora de poder explorar de novo. Ela já está relaxada contra
mim.
Bom ponto, Lucas, a fez esquecer sobre o noivado. Mas eu não
esqueci, está quase tudo pronto com o meu plano. Em breve.
Mas agora quero outra coisa.
— Nossa, como você está sexy com esse vestido — sussurro em seu
ouvido.
— Estou nada. Estou me sentindo horrível.
— Você é a mais bela de todas as mulheres. A mais atraente, gostosa
e maravilhosa. Eu fico duro só de observá-la.
— Lucas, pare com isso, temos convidados e eu estou quase subindo
pelas paredes. Você não joga limpo.
Calo Alice com um beijo cheio de luxúria, fazendo-a me apertar e
gemer.
— Temos que voltar, o meu pai e irmão estão aí e eu não posso
aguentar se você continuar me beijando assim.
— Droga de empatas — falo entredentes.
Ela solta uma risada e morde os meus lábios.
— Acho que você não gostou muito do meu pai, não é?
— Eu só estou com medo de você querer ir com ele e me deixar
abandonado e sozinho aqui. — Faço beicinho para ela e depois que percebo o
que tinha dito realmente. Droga!
Quanta maturidade para um senhor de mais de trinta anos.
— Eu nunca vou deixar você, meu amor. Agora somos um só. — Ela
diz cada palavra com firmeza, olhando dentro dos meus olhos e eu acredito.
Nada pode nos separar.
Sorrindo como um garotinho, a abraço forte e deslizo a minha mão
por dentro do seu vestido, encontro a costura da calcinha do biquíni,
passando o meu dedo indicador até que estivesse enterrado em sua umidade e
falo com desejo em minha voz:
— Que tal mais tarde, depois dos convidados terem ido embora, nós
brincarmos de médico?
— Essa é a melhor ideia de todas — diz ofegante e eu continuo
acariciando a sua entrada com meu dedo, que está encharcado.
Retirei-o e o levo a boca, adorando o seu gosto em minha língua.
Chupo com delicadeza.
— O néctar da vida. Da minha vida. — Ela me olha com os olhos
acesos e morde o lábio. — Também está sofrendo, não é? — Balançou a
cabeça.
— Hoje à noite você vai ser bem atendida, minha senhora.
Sorrio e pego a sua mão, nos levando para fora, para os nossos
convidados.
22 - Alice

Acordo e Lucas não está comigo na cama, apenas uma nota no


travesseiro e uma tulipa vermelha. Sorrio e pego a flor. Ele todos os dias,
desde a fazenda, me traz uma, quase sempre a minha preferida que é a tulipa,
mas também rosas, orquídeas, gérberas.
Amo todas.
— Meu amor, sempre tão atencioso. — Pego a nota.

“Eu te amo cada dia mais, minha dorminhoca linda. Clarinha foi dar
um passeio com Léo e as meninas. Então pensei em fazermos um piquenique
romântico. Não demore, estou morrendo de saudades.”
PS: Encontre-me na parte de trás da casa, logo. Siga as pistas.
Um beijo entre o queixo e o nariz.

Sorrio e corro para me preparar para a nossa manhã preguiçosa e


romântica de sábado. Hoje à noite vamos ao K’s Bar, com o meu irmão e
Raquel.
Pois é, é isso mesmo. O meu irmão a convidou para sair uma semana
depois de ela ter vindo aqui para se desculpar comigo e resolvermos nossa
questão, no começo fiquei meio apreensiva, mas resolvi dar uma segunda
chance. Eles estão juntos há quinze dias e hoje vamos sair juntos, porque o
meu lindo irmão insistiu muito e quero levar Lucas lá para uma noite
diferente, é o lugar perfeito.
Adriana e Noah não se desgrudam mais desde o Natal e estão mais do
que animados em ficar com Clarinha hoje. Então, no caso, Lucas e eu
teremos uma noite para aprontarmos.
Graças a Deus estou bem recuperada do “acidente” como todos
chamam, e nunca mais fiquei sabendo nada daquela louca da Karin. E nem
quero.
Mas chega de pensar nos outros. O meu amor está me esperando lá
embaixo.
Saio do banheiro, visto um vestido rosa claro de alcinhas e calço
minhas havaianas de gatinho. Depois corro escada abaixo para achar as tais
pistas.
Quando chego à porta que dá para o jardim, ou seja, parte de trás da
casa, vejo uma tulipa amarela no chão. Abaixo-me e a pego revelando um
papel embaixo.

“Desde que te conheci que realmente sei o que é ser feliz.”

Sorrio feito uma boba e continuo andando.


— O que será que o senhor está aprontando, hein, meu doutor?
Mais à frente tem uma tulipa rosa, como já sabia o que fazer corri e
peguei os dois ao mesmo tempo, abrindo o papel em seguida.

“Agora não sei o que seria dela sem você.”


Agora ele quer me fazer chorar e está conseguindo.
Com lágrimas nos olhos, sigo o meu caminho até o portãozinho que
tem depois do jardim, faz tempo que não vinha aqui. Está um pouco
diferente, no entanto.
— Onde você está, seu danado? — falo baixo.
Ele deve estar do outro lado.
Abro o portão e no chão, dessa vez, tem uma tulipa na cor roxa. Abro
o papel.

“E seria o homem mais feliz do mundo se concordasse em ser minha


para sempre”

Com lágrimas manchando o meu rosto, mal sussurrei:


— Eu já sou totalmente sua.
Praticamente correndo, querendo mais do que nunca saber o que
Lucas está tentando me dizer com todo esse mistério, sigo adiante, e virando
uma pequena curva no caminho, paro de repente com as pernas bambas, com
o que tem diante de mim. Não posso acreditar no que os meus olhos estão
vendo.
Por um momento eu não faço nada, só olho e choro com tamanha
perfeição. Depois olho para o chão, quase aos meus pés, havia um lindo
buquê com tulipas vermelhas. Seguro com as mãos trêmulas e tento ler o
bilhete, mas as lágrimas estão embaçando a minha visão. Limpando-as com
as costas das mãos, consigo ler.
Minha linda,
Com um simples olhar você transformou a minha vida, encheu de luz,
se transformando em meu sol.
Com um simples olhar me fez ficar coodependente de você.
E com um simples olhar roubou o meu coração para sempre.
PS: E nem ouse querer devolvê-lo.
— Eu te amo e...
Soluçando, viro o papel procurando o restante da frase, mas não há
mais nada. Olho para frente de novo e mais uma vez sou arrebatada. Estou
totalmente sem palavras pela beleza dela. Sempre quis ter uma e essa está do
jeito que imaginava, parece uma casinha pequena de vidro por fora.
Sem poder mais esperar, coloco um pé na frente do outro com passos
hesitantes e caminho até a porta da casinha de vidro. Uma porta branca, que
estava aberta, convidando-me a entrar.
O meu corpo todo está tremendo, mas consigo entrar.
Chegando lá, mais uma vez paro os meus passos e também de respirar
com a imagem de Lucas em um joelho, no meio da estufa cheia das minhas
flores favoritas e pétalas de tulipa vermelhas cobrindo todo o chão, segurando
uma caixinha aberta e sorrindo o melhor dos sorrisos, aquele que sempre me
faz perder a razão.
— E ficaria honrado se aceitasse ser minha esposa para sempre.
Termina a frase inacabada do bilhete e eu não consigo dizer nada.
Arregalo os meus olhos com o seu pedido.
Ainda olhando-me, ele continua:
— Você apareceu na minha vida, me deixando coodependente do seu
cheiro, do seu sorriso, do seu beijo, das suas sardas... — Ouvi-lo falando das
minhas sardas sempre me faz rir. — E desse seu lindo corpo sexy, que me
deixa tão louco que até chego a pensar em me masturbar inúmeras vezes por
dia no trabalho, só de pensar em você, e isso nunca aconteceu, nem mesmo
quando eu era um adolescente. Então veja, você me arruinou para o resto do
mundo feminino, agora cabe a senhorita me consertar pelo resto de nossas
vidas!
Sorriu e continua:
— Alice Carvalho, você me daria a honra de ser a minha esposa, por
favor?
Eu mal consigo enxergá-lo por causa da minha visão embaçada de
lágrimas. Depois sorrio de surpresa, de nervoso e boba com essa declaração
do Lucas. Ele começa tão romântico, depois faz com que fique engraçado e aí
como se estivesse desesperado. O meu amor está nervoso, eu o conheço.
Oh Deus, o que vou fazer com esse homem? Como pude ter tanta
sorte assim?
Fico só observando-o por um momento, olho ao redor, pela linda
estufa que ele fez para mim, com todas as flores que amo, o carinho, o tempo
que levou para fazer tudo, tão sorrateiro. Solto uma risada trêmula e olho para
ele de novo, encontrando os seus olhos, que estão apreensivos, e tento falar.
— Eu... — A minha voz falha e tento de novo. — Eu... — Eu o que,
Alice? Por que não responde logo, criatura?
Perdi a minha voz, o meu controle, tudo, e só continuo olhando para
esse homem lindo à minha frente, pedindo-me para ser a sua esposa. Será que
eu quero casar? Será que vamos estragar tudo casando? Será que precisa
mesmo casar? Será que...
Chega, Alice!
Mas... — Mas nada! Minha batalha interna continuava.
A quem estou tentando enganar tendo esses pensamentos? Se tudo o
que quero é passar a minha vida inteira com esse homem.
Danem-se os “se” e “serás”.
Mas também não posso aceitar sem esclarecer um assunto muito sério
com ele.
— Lucas, nós precisamos conversar sobre uma coisa primeiro.
— Não, amor, você vai dizer quando estiver confortável e segura, sem
pressão. Nada do que me disser vai fazer diferença ou mudar o amor que
sinto por você aqui. — Coloca a mão em sua cabeça. — E aqui. — Coloca a
mão em seu peito, ainda de joelhos.
Eu estou uma bagunça. Mas chega de tentar arrumar desculpas.
— Mas é claro que eu aceito! — exclamo e corro jogando-me em seus
braços.
— Graças a Deus — murmura um Lucas aliviado e sorridente,
beijando os meus lábios e apertando-me em seus braços.
— Eu te amo tanto, minha torturadora. Quase tive um ataque
esperando a sua resposta — sussurra com a testa encostada na minha.
Enlaço as minhas pernas em seu quadril e beijo o seu rosto inteiro,
depois beijo sua linda boca com vontade, um beijo cheio de amor, de
saudade, desejo. Começo a me esfregar em sua ereção, que já está evidente.
Ele se afasta um pouco e me olha sorridente.
— Uau! — diz meio sem folego. — Eu preciso colocar o anel em seu
dedo antes de fazer amor com você.
— Então coloque logo, porque você está tão gostoso com essa camisa
branca e olhos brilhando no meio das minhas flores.
— E você está linda com esse vestido rosa. — Beija o meu nariz. —
Estou doido para saber que cor você está usando por baixo dele. — Faz uma
cara de safado que me deixa mais excitada ainda.
— E quem disse que estou usando alguma coisa por baixo dele?
— Meu Deus, Alice, você estava pensando em me seduzir no café da
manhã? — Sorri largamente.
— Pode apostar que sim. Agora pare de falar, quero ver o meu anel
que você prometeu — Faço biquinho.
Lucas me coloca no chão, mais uma vez se põe em um joelho, desliza
o anel em meu dedo e dá um beijo em cima dele.
O anel é tão lindo, um coração verde no meio e pequenos diamantes
ao redor do anel, deixando-o ainda mais bonito.
— Eu achei que você fosse gostar de esmeralda e achei lindo esse
coração com diamantes. Agora você tem nossos corações em suas mãos.
— O quê? — Não entendi o que quis dizer, ainda estou olhando o
meu anel de esmeralda e diamantes. É tão lindo.
Lucas pega a minha outra mão e beija o meu anel de compromisso.
— Estes são o seu e de Clarinha. — Pega a mão, que eu ainda olhava
como uma boba, e beija o de noivado também. — E este é o meu.
— Ah Lucas, olha como você me deixa. Estou chorando desde o
primeiro bilhete. — Fungo e rio ao mesmo tempo. — E agora quero saber
quando fez uma estufa e por que eu não sabia de nada?
— Vou mostrar tudo e contar tudo, mas antes preciso consumar o
nosso noivado — murmura com a voz rouca acendendo-me de novo.
Aproximo-me mais dele, coloco os meus braços em seus ombros,
beijo de leve os seus lábios macios e puxo o seu cabelo, fazendo com que ele
cole mais o seu corpo ao meu e gema.
Lucas me pega no colo e me deita no chão, que só agora noto ser uma
toalha de piquenique com pétalas de flores, sem contar as diversas outras
plantas que tem ao nosso redor, pois vamos fazer amor numa estufa. “A nossa
estufa”.
Olho para ele com intensidade, pronta.
— Eu te amo tanto, Alice — diz, beijando o meu maxilar, depois o
meu pescoço e vai descendo até os meus seios.
Lucas desce as alças do meu vestido e acaricia um seio com a língua,
dando lambidas suaves e depois mordendo de leve, o outro, com a mão
suave, aperta em sua palma. Logo depois belisca forte o meu mamilo, ao
mesmo tempo em que morde o outro, fazendo com que o meu clitóris vibre
de tanta vontade de ser tocado.
Levanta o meu vestido amontoando-o embaixo dos meus seios e
segue dando beijos suaves em minhas costelas e barriga, mas não deixa de
acariciar os meus seios, agora um em cada mão. Ele está chegando onde eu
mais quero que me toque, a expectativa está deixando-me louca, estou muito
perto de gozar. Lucas sempre me desfaz com sua boca.
Finalmente ele chega lá, mas para e fica olhando com um brilho nos
olhos.
— Você realmente não colocou calcinha. — Não foi uma pergunta.
Balanço a cabeça.
— Não.
— Você é tão linda aqui. — A sua voz está cheia de desejo e ele traça
um caminho na minha fenda. — E está encharcada para mim.
— Ah... — Jogo a minha cabeça para trás e me contorço com o calor
que seu toque deixa. Se me tocar mais uma vez eu não vou conseguir me
conter.
— Posso bebê-lo? — Oh Deus, ele quer me matar.
— Tudo.
— Tudo — repete e abocanha o meu clitóris pulsante, causando-me
uma explosão e desencadeando um orgasmo alucinante. Gozo tão forte que
demoro muito para voltar a ter sentidos, mas Lucas não para de me chupar,
lamber e sugar, não deixando nada escapar e bebendo tudo, deixando-me à
beira de outro orgasmo.
Passa mais alguns minutos e eu gozo de novo, gritando o seu nome e
puxando os seus cabelos.
Voltando do meu segundo orgasmo, percebo que Lucas está em cima
de mim, sem nenhuma roupa, e me olha com tanto amor e olhos marejados.
— Eu te amo tanto que às vezes fico bobo.
— Eu te amo assim também. — Sorrio.
— Quero que saiba de uma coisa.
— O quê?
— Eu quero mais filhos.
— Eu também. — Sorrio largamente. — Mas você disse “filhos”? No
plural?
— Sim, minha linda, no plural. Quero ver sua barriga crescendo. —
Passa a mão nela e eu tremo. Deus, o que esse homem faz comigo? — Quero
acompanhar a minha mulher ficando mais linda e carregando o fruto do nosso
amor aqui dentro. — Abaixa-se e beija a minha barriga.
Meu Deus, será que estou sonhando?
— Lucas, eu não quero estragar o nosso momento lindo, mas
precisamos de verdade conversar, eu sei que já devia ter te contado tudo, mas
eu estava com medo e...
Ele coloca um dedo em meus lábios e se inclina até os nossos rostos
estarem ainda mais próximos.
— Como eu já disse antes, você vai me contar quando se sentir
confortável e nada, nada, do que me disser vai fazer com que eu ame menos
você e a nossa filha.
— Eu preciso...
Cala-me com um beijo dessa vez. Ficamos nos beijando até que eu
não posso argumentar mais.
— Agora podemos voltar para a nossa consumação?
Como não amar esse homem? Sorrindo, o abraço.
— Então, que tal começarmos a praticar agora? — Levanto os meus
quadris, convidando-o.
— Podemos? — pergunta com um fio de voz.
Concordo com a cabeça, ele me dá um sorriso de orelha a orelha e
cola os seus lábios nos meus, beijando-me com carinho e devoção.
Lucas me penetra dolorosamente lento, nós dois ofegamos ao mesmo
tempo quando ele entra todo e fica lá, sem se mexer, enterrado em mim e
respirando com dificuldade.
— Você é tão apertada, meu amor.
Dá pra ver que ele está controlando-se.
— Você que é grande — digo gemendo, sentindo o seu pênis todo me
preencher. — Lucas, por favor. Mova-se.
Com o meu pedido ele começa a se mover devagar, fazendo amor
lento e maravilhoso comigo, sem parar de me beijar, hora lento, hora mais
rápido. Movemo-nos juntos, abraçados e apertados, tentando nos fundir um
com o outro. Ofegantes, deliciando-nos.
— Vem comigo, meu amor — pede, sussurrando em meus lábios. —
Com você me sinto forte. Te amo, amo, amo.
— Vou para onde você quiser, meu amor
Viemos juntos, consumando, como ele diz, o nosso noivado.
23 - Lucas
— Hum, você acabou comigo — diz uma preguiçosa Alice.
Sorrio como um bobo e a aperto mais em meu abraço, deitados na
toalha depois de termos feito amor e nos alimentarmos e feito amor de novo e
de novo...
Quando pensei numa estufa, tinha certeza que ela ia amar, pois ela
ama flores.
— Você gostou da sua estufa? — pergunto, já sabendo a resposta.
Alice chorou e riu todo o momento em que estava mostrando tudo a
ela, principalmente as suas tulipas e gérberas, que são suas favoritas, ela
sempre me falou dos significados das flores quando conversávamos a noite
depois de estarmos deitados no nosso quarto.
— Não. — Faz uma pausa. — Eu amei. Conte-me por que decidiu
fazê-la?
— Porque eu sabia que você não resistiria a mim se eu envolvesse as
suas flores.
— Não é verdade — protesta. — Eu nunca resisto a você. Você é
irresistível, doutor do meu coração.
— Sou é? — Já estou duro de novo e sentindo o seu cheiro e o meu,
juntos, não resisto. — Nunca vou me cansar do seu cheiro.
— Nem eu do seu — diz e me beija, colando mais os nossos corpos.
Estávamos quase começando de novo, quando o meu telefone avisa o
recebimento de uma mensagem, nem ligo e continuo deleitando-me do beijo
e mãos da minha noiva. Mas como tudo que é bom dura pouco, o meu celular
começa a tocar.
— Temos que atender. — Suspiro em sua boca.
— Tudo bem.
Sorrio ao ver quem está ligando.
— Fala, maninho — atendo, ainda com um sorriso no rosto.
— E aí, já terminou com a breguisse? — Léo indaga sorrindo. — Ela
disse sim?
— É claro que ela disse sim.
— É claro que eu disse sim.
Alice e eu respondemos ao mesmo tempo, e caímos na risada.
Léo fala com alguém no fundo, sorriem e dá para ouvir baterem
palmas e assoviarem.
Esses nossos amigos são umas figuras.
— Que bom, então, a minha afilhada quer a mãe. Estamos a caminho,
portando se limpem porque não quero dar os parabéns a pessoas sujas com
certas coisas.
Dá uma gargalhada e desliga. Não tem jeito para o meu irmão.
— Ouviu o que ele disse? — pergunto rindo.
— Uhum. — Cheira o meu pescoço, depois lambe, deixando-me
doido. — Será que dá tempo de mais uma rodada até eles chegarem?
— Vai ter que dar — afirmo e nos entregamos ao nosso prazer mais
uma vez.
Combinamos de encontrar o irmão da Alice e Raquel no bar e quando
chegamos somos logo abordados por um enorme grupo de mulheres, suas
amigas. Tem algumas que eu não conheço ainda.
Confesso que fiquei meio sem jeito quando Alice me disse que
viríamos aqui, nunca fui de sair muito, mas por ela eu vou até a lua.
Conversaram um pouco e Alice me apresenta a quem eu não
conhecia. Sou beijado e abraçado por umas quinze mulheres, incluindo Josi,
Andrea, Monique, Dy e Fernanda. Jesus! Ainda bem que os meus irmãos e o
meu primo vão vir também, se não iria me sentir estranho demais no meio
dessas mulheres.
— Vem, amor, Bruno está nos esperando em uma mesa ali na frente.
Alice me tira dos meus pensamentos e seguimos em frente.
O bar da sua amiga é bem diferente do que pensei, tem uma pista de
dança de um lado com um palco grande, do outro lado ficam as mesas e o
espaço é muito bom. Só tem um problema!
Está cheio de mais.
Mas já que estamos aqui, vamos curtir. Nós cumprimentamos o seu
irmão e Raquel, que já estavam se agarrando, ao chegar à mesa, ou melhor,
em uma área que parece que foi reservada apenas para “as amigas de Alice”,
pois todas nos seguiram.
— Eu vou querer uma caipirinha de kiwi, obrigada, Paulinha. —
Ouço Alice falando e decido que não beberei nada hoje. — Amor, você vai
querer o quê?
Aproximo-me e sussurro em seu ouvido.
— Quero beber você. — Como previ ela se arrepia e cora.
— Pare com isso, estamos num lugar público e o meu irmão está aqui.
— E? — Sorrio largo e continuo: — A culpa é sua. Olha o vestido
que vestiu? E ainda não terminamos a nossa consumação do noivado, está me
devendo.
Ela está usando um vestido branco, com um decote na frente, que
deixa os seus seios incríveis e chamando-me para tocá-los, e para piorar tudo,
as suas costas está toda nua e o vestido é curto. Realmente, ela não queria que
eu me comportasse hoje à noite.
Alice bate em minha mão, que está em sua coxa e suspira, olhando
para o outro lado e conversando com uma das suas amigas. Sorrio e decido
deixá-la se divertir com elas.
Uma hora depois, estamos dançando, por pura pressão dela, e uma
mulher começa a se insinuar para mim, mexendo nos seios e lambendo os
lábios. Finjo que não vejo, continuo com o corpo colado ao de Alice e
olhando em seus olhos. A mulher continua tentando chamar a minha atenção,
já estou ficando com raiva disso. Será que ela não percebeu que não estou
interessado?
A mulher se aproxima mais de nós, passa a mão pelo meu braço e fico
tenso. Alice vê e não gosta nadinha também. Ela me solta, pega a mão da
mulher e aperta com tanta força que os olhos dela se arregalam.
— Você está cega ou o quê? — rosna, ainda apertando a mão da
desconhecida. — Não percebeu que ele tem dona? Suma da minha frente
antes que quebre essa sua carinha.
Ela solta a mão dela e a mulher sai disparada, resmungando e
segurando os dedos.
Fico olhando embasbacado para Alice, que me olha e dá de ombros,
depois sorri e continua a dançar.
— O que houve? — As meninas se aproximam.
— Só uma oferecida que queria um pedacinho do meu doutor, mas já
resolvi.
Pisca e me chama com o dedo. Balanço a cabeça e vou para ela. Os
meus dias serão os mais perfeitos com essa mulher, nunca serão monótonos.
Amo que ela seja possessiva tanto quanto eu.
Duas horas depois, Alice está assediando-me. Bruno faz um brinde e
nos parabeniza. Estamos nos dando bem, mas só depois que vi que ele e
Raquel estavam mesmo saindo e o meu ciúme diminuiu, mas não morreu.
Alice já está em sua quinta bebida, elas e as meninas já dançaram,
pularam e quase subiram no palco. Mulheres animadas são meio loucas. Rio
por dentro e deixo a minha noiva linda passar à mão em mim por baixo da
mesa.
— Amor, eu preciso ir ao banheiro — diz toda manhosa. — Você
pode vir comigo?
Passa a língua pelo seu lábio superior e aperta o volume, nada
discreto, na minha calça. Olho ao redor, mas os nossos amigos, alguns estão
longe de serem encontrados e os outros ocupados.
Levantamo-nos e vamos à procura do banheiro. Ela, como já conhecia
o lugar, nos leva por um corredor que está meio escuro, mais afastado, e abre
uma porta com uma chave que só vi agora. Isso está estranho, não estou
gostando de onde os meus pensamentos estão querendo me levar.
— Que chave é essa, Alice?
Não responde, só empurra a porta depois de destrancá-la e ligar a luz.
Alice me puxa e me joga contra a parede, depois me beija até ficarmos sem
fôlego e coloca uma perna em meu quadril.
— Esse é o banheiro privado das donas do bar, Kila me emprestou a
chave. Você me tentou a noite toda, agora eu preciso que me foda forte e
rápido.
Suspiro de alivio e perco o pouco controle que ainda tinha.
— Não precisa pedir duas vezes, amor.
Com um puxão forte, rasgo a sua calcinha, a penetro com dois dedos e
quase babo, pois ela já está pronta para mim. Alice joga a cabeça para trás e
arqueia mais as costas, pressionando os seus seios mais em mim.
— Tão molhada — gemendo, abocanho o seu mamilo por cima do
vestido e mordo forte, fazendo-a gritar e rebolar em meus dedos.
Retiro os dedos de dentro dela e começo a esfregar o seu clitóris.
Alice não demora a gozar e gritar o meu nome e outras palavras que não
entendo.
Pego-a no colo, a levo até o balcão da pia e a sento enquanto abro a
minha calça e liberto o meu companheiro, que está além de duro. Coloco bem
devagar, só para provocá-la, depois de estar todo dentro, paro um pouco para
não me envergonhar, pois estou muito excitado e não quero que seja tão
rápido. Esse vestido que ela usa e o jeito que dançava, realmente me deixou
maluco.
Beijo o seu pescoço e brinco com os seus seios por baixo do vestido.
Ela abraça os meus quadris com as pernas e me puxa para frente.
— Eu disse que queria forte, por que está parado? — indaga e morde
a minha orelha.
Começo a investir contra ela, em estocadas fortes e rápidas.
— Assim está forte o suficiente, meu amor?
Ela arqueia até estar quase deitada no balcão e deito em cima dela,
mordendo, chupando os seus mamilos.
— Hum...
— Responde!
— Oh, Lucas, não pare. Mais, eu quero mais.
Ela geme tão gostoso que me deixa insano, fazendo-me investir forte
e rápido como ela quer. Sinto Alice me apertar e vejo que está gozando de
novo, eu não consegui segurar mais e gozo junto com ela.
Ficamos alguns instantes nos recuperando, depois ela sorri e me beija,
mordendo os meus lábios.
— Agora vou ter que ficar sem calcinha na festa. — Sorri divertida.
— Nem pensar! Vamos para casa, a nossa pequena nos espera.
— Deus, a minha filha! Tem razão, vamos logo.
— Nossa, Alice, nossa. — Suspiro e saio de dentro dela.
— Foi o que eu disse.
— Não, não foi. — Odeio quando ela faz isso.
Estou de costas para ela, arrumando a minha roupa, quando sinto os
seus braços ao meu redor e ela beija o meu pescoço.
— Desculpe Lucas, não foi a minha intenção. Eu te amo. — Sorrio,
pois eu sempre fico tapado quando ela diz que me ama.
— Eu te amo mais.
Saímos do banheiro e nos despedimos de quem está na mesa. Luís
está longe de ser encontrado, Léo está dançando com Monique, Alexandre
resolveu não aparecer, disse que tinha uma companhia hoje.
Vamos para casa, Alice dorme assim que ligo o carro. Fico
observando-a dormir, feliz demais.
Ela disse sim! Vai ser minha para sempre. Felicidade me consome.
Chegamos em casa em meia hora, a ajudo se limpar no banheiro e a
coloco na cama.
— Não, eu tenho que ver a nossa pequena antes de dormir — reclama
assim que coloco o cobertor em cima dela, acordando de vez.
— Eu vou buscá-la, passamos muito tempo longe dela. Fique aqui, já
volto.
— Tudo bem, não demore — diz bocejando.
Assim que abro a porta do quarto de Clarinha, me assusto com a cena
que vejo. A minha irmã e Noah estão deitados no tapete, abraçados.
— Ei, maninha. — Acaricio o seu rosto, ela abre os olhos e sorri para
mim. — Por que estão deitados aí no chão?
— Clarinha estava difícil hoje. Quando saiamos do quarto ela
começava a chorar. — Faz uma careta. — Foi só nós ficarmos aqui que ficou
quietinha.
Dou uma risada e vou pegar a minha princesinha. Ela está com os
olhos abertos e sorri para mim.
— Oi, linda do papai. Deu trabalho para os tios, né? — Sorri mais,
assim que a pego no colo. — O que acha de dormir com mamãe e papai hoje?
Beijo o seu rostinho e a aninho em meus braços.
Viro-me para encontrar Adriana olhando-me e sorrindo.
— Obrigado por cuidarem dela até voltarmos. Agora vão dormir, está
tarde.
— Você fica tão bem de pai, maninho.
— Eu sei. — Pisco para ela e saio do quarto.
Quando volto, Alice está dormindo de novo, mas é só eu colocar
Clarinha na cama que ela abre os olhos e puxa a sorridente mocinha para
perto dela, cheira sua cabecinha e passa os braços ao seu redor.
Tiro as minhas roupas, tomo um banho rápido e volto para a minha
família. Deito com Clarinha em meu peito, acariciando as suas costas, ela
adora quando faço isso. Alice se aconchega ao meu lado, a abraço e ficamos
os três juntos na cama.
— Um dos meus momentos preferidos em todo o mundo é dormir
com as minhas meninas em meus braços. Vocês duas são a minha vida!
— Vocês dois também são a minha vida — sussurra Alice, sonolenta.
— Boa noite, lindas, eu sempre vou estar aqui para vocês e por vocês!
Beijo a cabeça das duas e fecho os olhos, agradecendo a Deus por tê-
las colocado em minha vida.
De repente me lembro de que o meu encontro com um dos idiotas que
machucou a minha mulher é no próximo sábado e a festa beneficente
também. Vou ter que ser rápido com o idiota, para voltar logo para Alice.
Não vejo a hora de resolver tudo de vez e nos casarmos sem ninguém
incomodar.
Chega de pensar nisso, as tenho aqui comigo e é onde elas vão
permanecer sempre.
Deixa o amanhã para amanhã.
Com esse conselho, aconchego mais as minhas meninas e durmo o
melhor dos sonos.
24 - Alice

Essa primeira semana como noiva foi perfeita! Lucas estava ainda
mais romântico que de costume. Se é que é possível.
Quando contei ao meu pai ele disse que já sabia, pois, o meu
sorrateiro namorado falou com ele antes de me pedir, apesar de ainda estar
com o pé atrás com ele, foi procurá-lo para “avisar” que iria me pedir em
casamento e o meu pai ficou mais que feliz.
Felicidade é pouco para o que eu estou sentindo, além do nosso
noivado, essa semana fomos ao cartório e registramos a “nossa filha”, e agora
Clarinha é legalmente filha do Lucas. Não precisamos lidar com a justiça
nem nada, já que eu não tinha registrado ela ainda. Depois que saímos de lá,
choramos os três abraçados em nosso caminho para casa. Chegando, fomos
surpreendidos por nossa família com um almoço de comemoração.
Nada no mundo poderia mudar isso, a nossa família estava completa.
MARIA CLARA CARVALHO VILAR. Esse é o nome que está na certidão.
Na sexta-feira sai com as meninas para comprar um vestido para a
festa beneficente, e passamos o restante da tarde batendo perna, mas valeu a
pena, estava com saudades de sair com elas e comer besteiras, até não
aguentarmos mais.
Hoje, sábado, dia da festa, estou nervosa desde que acordei e até
agora não consegui descobrir o motivo, já liguei para as meninas para saber
se estão bem e todas disseram que sim, o meu pai e irmão também. Conferi
umas dez vezes a temperatura de Clarinha e olhei o seu corpinho todo para
ver alguma coisa diferente, mas tudo está perfeitinho como sempre. Lucas
está trabalhando hoje e disse que vai chegar um pouco atrasado, por isso vou
com o meu pai para a festa, ele vai direto do hospital.
Deve ser isso, você está insegura porque não vai chegar lá com o seu
‘namorido’. Tomara que seja isso mesmo, pois estou angustiada.
Bom, chega de pensar besteira, o meu lindo pai chega daqui a pouco e
ainda nem terminei de me arrumar.
Estou usando um vestido escolhido pelas meninas, ele é branco e
longo, com um decote estratégico na frente e as costas nuas, no cabelo eu
preferi uma trança lateral, um batom vermelho e não ousei no olho, preferi a
boca hoje. Para completar estou usando uma sandália de salto prata e uma
bolsa de mão também prata.
Quando estou terminando de me arrumar escuto o toque que coloquei
para Lucas no meu celular, a música Never Gonna Be Alone de Nickelback,
amo essa música. Corro para atender, talvez ele diga que vai poder ir comigo.
— Oi, meu lindo.
— Oi, minha linda. Como você está?
— Com saudades. —Suspiro. — Você ligou para dizer que vai poder
ir comigo? — Prendo a respiração esperando a sua resposta.
— Infelizmente não, meu amor. — Suspira. — Liguei porque queria
ouvir a sua linda voz antes de sair com o seu pai e dizer que te amo. Prometo
que assim que terminar aqui eu vou correndo para você.
— Bem, tudo bem. Eu também te amo. — Alguma coisa deve estar
errada comigo, estou me sentindo estranha mais que o normal e ele não
estando comigo me deixa ainda mais. — Vou esperar ansiosa por você lá, não
conheço ninguém mais além do meu pai e Raquel, então estou nervosa.
— Nem vai sentir a minha falta. — Sinto o sorriso em sua voz. — O
que está usando? — Ah rá!
— Não vou dizer, terá que ver com os seus próprios olhos. — Não
vou dizer que estou usando só um fio dental branco de renda, minúsculo, por
baixo do vestido
— Adoro as suas surpresas. Vou manter isso em mente até vê-la.
— É bom vir logo, então, fiquei sabendo que lá vai estar cheio de
senhores bonitões. — Rio, pois sabia o que ele diria.
— Nem sonhe em olhar para os lados e nem converse com nenhum
desses senhores! — Sua voz está bem tensa.
Uma batida na porta me faz parar de rir. Cubro o telefone e chamo
quem quer que esteja batendo. Monique, que vai ser a babá de Clarinha hoje,
entra.
— Seu pai chegou, Lili — sussurra, me olha de cima a baixo e faz um
sinal de positivo.
— Amor, o meu pai chegou, te vejo mais tarde.
— Você ouviu o que eu disse, né?
Rindo respondo:
— Claro que ouvi. Seja simpática com todos eles, não foi isso que
disse?
— Aliceeee.
— Beijos. Até mais tarde, lindo.
— Espere até eu chegar, se eu não gostar do que eu ver, você...
— Vou o quê? — o corto, dando outra risada.
Não espero sua resposta e desligo.
Monique está com a sobrancelha levantada quando olho para ela.
— Esse doutor Lucas me faz rir até quando não estou a fim. — Ainda
rindo, pego a minha bolsa e saio do quarto de braços dados com a minha
Loira.
— Qualquer coisa me liga que venho correndo — aviso, enquanto
descemos as escadas.
— Pode deixar, Lili, Clarinha me ama e vamos nos divertir muito.
— Sei.
Chegamos à sala e o meu pai está com a minha pequena no colo, está
usando um termo preto, uma camisa branca e uma gravata azul, o seu cabelo
está penteado para trás, lindo, totalmente grisalho.
— Uau, pai, você tá um gato!
— Até parece. Você que está linda, filha. Vamos?
Abraço e beijo a minha princesa e Monique e saímos para a festa, que
será em um dos hotéis mais chiques do Rio, em Copacabana, pois é de um
dos donos que é colaborador do projeto do Coração do hospital. Eu não o
conheço ainda, nem o hotel e nem o dono.
Quando chegamos, sinto uma pontada no peito que me faz perder o ar
por um instante e tenho que me concentrar para poder me acalmar.
Alice, para com isso! Repreendo-me mentalmente e sigo o meu pai
para dentro.
— Ei, maninha, olha só você! Lucas que não demore, se não vou ter
que bater em muitos caras sozinho hoje.
— Seu bobo, pare com isso. — Me sinto melhor por estar com ele,
apesar de não saber o que tenho, ver o meu pai e irmão juntos me deixa mais
confiante. Só um pouco. — Oi, Raquel, como vai?
— Bem. Você está linda.
— Obrigada, você está linda também.
Ela está com um vestido tomara que caia rosa pálido longo, o cabelo
preso em um coque no meio da cabeça, batom rosa escuro forte. O meu irmão
está com um terno cinza escuro e camisa preta.
— Não sou sortudo? — diz o meu maninho sorrindo. — Com duas
mulheres lindas ao meu lado? — Beija o meu rosto e os lábios de Raquel.
— Sai, Bruno, eu fico com a minha florzinha — o meu pai resmunga,
mas não esconde o sorriso.
— Tudo bem, papai, vamos para a nossa mesa.
Raquel pisca para mim e sorrimos desses dois. Já não me sinto com o
pé atrás com ela, estamos nos dando bem, até já saímos sozinhas, sem nossos
homens e nos divertimos muito.
No caminho para a nossa mesa somos apresentados a muitas pessoas,
como Raquel trabalha no hospital conhece a maioria do pessoal que está aqui
hoje.
Estávamos em nossa mesa há algum tempo e nada do Lucas chegar,
são quase nove horas já. Estou tomando muito refrigerante de tão ansiosa,
olho para o celular a todo minuto.
— Cadê você, amor? — sussurro para mim mesma.
Em nossa mesa estamos em sete pessoas e um lugar vago, que é de
Lucas. O meu pai está conversando com um senhor que é um empresário do
ramo dos cosméticos. O meu irmão e Raquel estão conversando com um
colega dela, que é obstetra e sua esposa que mais parece uma modelo.
De repente sinto um arrepio e os cabelos da nuca se eriçarem, começo
a suar frio, como se alguém estivesse observando-me. Olho para os lados e
para trás e não consigo ver ninguém suspeito.
— Devo estar ficando louca.
— O que foi, filha?
— Nada, pai, só queria que o Lucas chegasse logo.
— Ele deve estar quase chegando, não se preocupe.
— Claro. Vou ao banheiro e já volto.
Levanto e saio.
O banheiro fica longe do salão, estou quase chegando lá quando
alguém pega em meu braço e me puxa com força, jogando-me numa parede
que não me deixa chance de me virar. Eu já sei quem é e me encho de pânico
por um momento, por mais que eu não quisesse nunca mais sentir esse cheiro,
eu sei a quem pertence e volto para aquela noite, à noite em que lutei com
todas as garras que tinha para esquecer. Está aqui o motivo de eu estar
estranha hoje.
— Olá, querida — fala entredentes em meu ouvido. Dá-me vontade
de vomitar. — Como você é ingrata. A minha mãe faleceu e você nem para
me ligar. — Sua mãe? Esse cara é louco. — Aliás, por que você vive
trocando de celular? Estou cansado de só nos encontrarmos quando você
quer, Alice. Agora você vai comigo, já que há essa hora o seu queridinho
deve estar morto e você nunca mais vai ver aquela ratinha.
A minha respiração fica presa em minha garganta.
— O que você fez com o Lucas, seu doente?
— Eu, nada. Eu estou aqui, não estou? — Sorri e lambe o meu
pescoço. — Seu perfume está diferente. Eu gostava mais do outro, mas não
importa, eu acostumo de novo.
Ele está apertando com tanta força o meu braço que me deixa quase
sem forças para sair do seu agarre. Quase. Eu não vou deixar esse bastardo
me levar para lugar nenhum, eu não sou fraca, eu consegui superar o que ele
me fez há um ano, por minha filha eu não vou me entregar sem uma luta.
Sinto que ele está excitado, o desgraçado.
Que nojo!
Com muito esforço, consigo tirar o meu rosto da parede, ele está
beijando o meu ombro nu, uma mão apertando o meu braço e a outra na
minha cintura, está concentrado. Percebo que uma das minhas pernas não está
presa e em um movimento rápido, acerto a sua canela com o meu salto. Ele
geme e me solta por um breve momento, mas não dá tempo de fugir. Logo
estou na parede de novo, agora com os dois braços para trás, num aperto de
morte. Ele acerta a minha cabeça na parede, deixando-me um pouco zonza.
— Por que não quer ir comigo? Eu me separei de Kay como você
queria.
Do que esse louco está falando agora?
— Você é louco! Eu não sei quem é você e muito menos essa tal de
Kay. Me deixa em paz! Eu preciso voltar para a minha filha. — Eu não vou
chorar, tenho que conseguir sair daqui.
— Filha que eu nunca quis! Eu disse que não a queria, mas você não
me ouviu. Aquele dia eu fiz do jeito que você queria, te peguei do jeito que
combinamos, mas você não seguiu com o plano e sumiu. Eu tive que viajar, e
quando voltei, adivinha a surpresa de te ver grávida! Eu queria te matar, eu
ainda quero, mas eu também te amo.
Que loucura, esse homem não está dizendo nada que faça sentido.
Será que ninguém vai aparecer, estou sem forças e preocupada com Lucas.
Meu Deus, Lucas.
Lucas

Como combinado chegamos ao armazém na Zona Norte do Rio, na


hora, estava com o dinheiro e Alexandre e Luís estavam armados, insistiram
para eu colocar a porra de um colete, mas preferi não. Apesar de ser um
médico e ter feito um juramento de salvar vidas, não estou pensando nisso
agora, só penso em acabar com a raça desse desgraçado que machucou a
minha mulher e descobrir quem mandou.
— Aqui está o que vamos fazer, Lucas, Luís e eu iremos lá,
entregamos o dinheiro e pegamos o nome, você fica no carro.
— Não vai acontecer, primo — falo, já saindo do carro.
— Merda! — murmura Alexandre. — Eu tentei.
Caminhamos pelo armazém e vimos dois homens encostados numa
parede, guardando uma porta e olhando para nós.
— Viemos ver o seu chefe — Luís informa com uma voz grossa,
quando o meu irmão está zangado dá medo.
— Entrem, ele está esperando por vocês.
Ele nos olha de cima a baixo e sai do caminho.
Entramos pela porta e olhamos para três figuras, me concentro no que
estava no centro, sorrindo para nós. Ele é grande, com cabelos com
dreadlocks, dente de ouro e uma corrente grossa no pescoço com um
pingente de um revólver.
— Bom dia, senhores. Onde está o meu dinheiro? — Desgraçado,
então foi você que fez a minha mulher sofrer aquele dia.
— Primeiro o nome. — Sinto tanta raiva que mal consigo falar, tudo
que quero é quebrar o pescoço desse idiota, por ter machucado a Alice.
— Claro. Como não, ele disse que eu poderia lhe dizer, então aqui
está uma foto com o nome. Presente dele.
Primeiro acho que ele está zoando com a minha cara, o meu irmão e
primo estão preparados ao meu lado e me dão um sinal de cabeça. Então, ele
ainda está em contato com o homem e ele dá permissão para entregá-lo?
Isso está me cheirando à armação. Sabia que estava bom demais para ser
verdade.
Ele colocou uma foto sobre a mesa, chego mais perto e a pego,
fazendo contato com o idiota que eu nem sabia o nome, não quis saber
quando Alexandre descobriu. Tiro os olhos do bastardo, olho para a foto e
quase me desequilibro. Não pode ser. Não, ele não!
— Isso não está acontecendo, não pode ser ele.
— Mas é e, faça o favor, me passe o meu dinheiro ou não vão viver
para contar a história.
Atiro a maleta com o dinheiro para ele e viro para ir embora. Preciso
chegar até Alice, esse idiota vai estar na festa hoje à noite, o hotel é dele.
Esse desgraçado nunca vai sumir da minha vida?
Nem chego à porta e sou interceptado pelos homens que estavam
guardando-a quando chegamos.
— Saiam da minha frente — digo com toda a calma que consigo.
— Desculpe senhor, mas tenho ordens de não deixar que veja a luz do
sol de novo — o idiota fala e eu não estou com paciência para ficar aqui mais
nem um minuto.
Avanço e dou um soco no da esquerda, ele tropeça e bate na porta. O
outro me olha com ódio e mira uma arma para mim, mas sou mais rápido e
lhe dou um chute que fez a arma cair no chão e me jogo em cima dele. Dou
duas joelhadas em seu estômago e soco a sua cara. Não sei de onde tirei isso,
claro, com dois lutadores na família eu sempre tentei acompanhá-los nas
minhas folgas e sei me defender, mas hoje estou possuído pela preocupação
com a minha mulher. Tenho que chegar a ela.
Acerto a sua cabeça na parede e o outro resolve querer me acertar,
dou só um chute e ele cai no chão. Ouço dois tiros logo atrás de mim, olho
para ver o que está acontecendo ao meu redor, pois nem tinha pensado em
Luís e Alexandre quando decidi me virar e ir embora. Os dois caras que
estavam ao lado do dreads estão no chão mortos e o “segundo mais perigoso
do Rio” está nos olhando com suas feições em branco e olhos arregalados.
— Calma, companheiros. É melhor irem logo, o restante dos meus
homens não estão longe e vocês estão encrencados, se eles chegarem aqui. —
Luís me olha e acena.
Levanto-me e vou em direção ao homem atrás da mesa. É agora que
vou fazê-lo sofrer bem mais que a minha Alice aquele dia. Ele me aponta
uma arma, mas continuo indo.
— Nem mais um passo ou eu te mato, seu merda.
— Bater em mulher é fácil, não é? Por que não vem me bater agora?
Estou doido para apanhar.
Abro os braços e continuo andando. Luís caminha junto comigo e
olha feroz para o dreads.
— Abaixe a arma! — rosna.
Como eu disse, quando ele fica com raiva dá medo. O homem olha
para Luís e treme, mas não abaixa a arma.
Luís dá um soco em seu braço, fazendo a arma cair no chão.
— Eu disse abaixe a porra da arma, imbecil! — Não espera reação,
pega a cabeça do idiota e acerta na quina da mesa e o joga na cadeira sentado.
Dreads geme e cai desmaiado.
— Vamos, terminamos aqui.
Luís nem me olha, apenas pega a maleta com o dinheiro, depois olha
para o homem no chão, se vira e sai pela porta.
Alexandre e eu nos olhamos e seguimos atrás. Eu queria ter feito isso,
mas o homem machucou Josi também, então o meu irmão tinha que fazê-lo.
Entramos no carro e vamos a toda velocidade para o hotel, nem me
preocupo de passar em casa e trocar de roupa.
Chegando, corro para o salão de festas, nem deixo o carro parar de
vez. Encontro a nossa mesa, mas Alice não está lá, só o seu pai, irmão e
Raquel.
— Onde está Alice? — pergunto entre respirações.
— Lucas, o que aconteceu? Suas roupas estão amassadas.
— Onde ela está? Diga.
— Calma, ela foi ao banheiro.
Corro para encontrar o banheiro, mas antes de chegar lá escuto uma
voz. Caminho para ela, mas travo no lugar quando os vejo.
— Filha que eu nunca quis! Eu disse que não a queria, mas você não
me ouviu. Aquele dia eu fiz do jeito que você queria, te peguei do jeito que
combinamos, mas você não seguiu com o plano e sumiu. Eu tive que viajar, e
quando voltei, adivinha a surpresa de te ver grávida! Eu queria te matar, eu
ainda quero, mas eu também te amo.
O quê? Ele a ama? Será que ela também?
Eu não consigo respirar.
Eles realmente se conhecem, eu sempre a achei a mulher mais perfeita
que conheci. Poderia ser qualquer um, menos ele. Ele não, Deus.
Como assim fiz do jeito que combinamos? Ele a prendia contra a
parede, então ela não queria estar com ele, não é?
Foco, Lucas! Primeiro tire esse imbecil de cima da “sua mulher”.
Sim, ela é minha. Só minha!
Avanço e acerto a sua mandíbula.
— Mas que diabos? — ele geme e olha para o lado.
— Solta a minha mulher, Rodrigo. Agora!
25 - Alice

Ouvir a voz de Lucas me deu forças para me empurrar da parede e me


soltar das mãos desse doido. Corro para Lucas, que está olhando com os
punhos cerrados e o rosto em fúria para esse ser desprezível que é o outro
homem.
Abraço-o forte e beijo o seu queixo e lábios.
— Você está bem, meu amor? — pergunto ofegante.
Ele não me olha, mas assente com a cabeça. Procuro por algum
machucado em seus braços, peito e rosto e não vejo nada. Respiro fundo e
agradeço a Deus que ele está vivo e bem.
— Que cena mais linda. Sua cadela, volte aqui, você é minha! — fala
o idiota atrás de mim.
— Não se aproxime de novo dela, Rodrigo, ou eu juro por Deus que
mato você! — rosna Lucas, irradiando raiva de sua voz.
— Hahahaha. Você sempre foi um imbecil, Lucas, resolveu se vingar
de mim por ter ficado com a inútil da Karin e quis a minha Alice pra você?
— grita as palavras. — Mas não vai acontecer, só saio daqui com ela. Na
verdade, estou no meu hotel você é quem vai sair. Cansei de esperar, ela me
disse que estava quase acabando com você, se livraria da chatinha e viria para
mim. — Do que esse maluco está falando agora? — Só que eu cansei e não
suporto mais ela dormindo com você!
— Isso é verdade... amor? — a última palavra de Lucas sai em um
sussurro.
— O quê? — Olho horrorizada para ele. — Não, não, eu nem
conheço esse homem, nunca nem tinha visto essa sua cara desprezível.
— Mentira! Depois que você voltou sei lá de onde com ele, depois
que a ratinha nasceu, nos encontramos várias vezes. Não negue que passou
muitas noites comigo!
— Você é louco! Eu nunca nem sequer pensaria em dividir o mesmo
espaço com você, seu doente!
Estou com tanto ódio desse homem, ele não tem o direito de estragar
a minha vida. Eu não vou deixar.
— Sua mentirosa, você disse que me amava ontem à noite. Está
fazendo isso por que mandei te bater aquele dia? Eu achei que tivesse me
perdoado, expliquei que fiquei fora de mim, porque você não quis se livrar
dela.
— Você realmente é louco — murmuro.
— Você vem comigo ou eu vou te matar, sua desgraçada! — grita e
vem na minha direção, só que antes de encostar um dedo em mim já está
voando pelos ares, pois Lucas o intercepta.
Entre socos, chutes e maldições, o outro homem consegue ficar em
cima de Lucas e bate em seu rosto, depois segura sua garganta sufocando-o.
Vejo quando Lucas perde as forças.
Saio do meu transe e vou com tanta raiva para cima dele. Começo a
enforcá-lo com toda a minha força. Ele solta Lucas, segura os meus braços e
se sacode.
Sinto uma mão em meu ombro e, por um minuto, fico tensa, mas é só
ouvir a voz que me acalmo um pouco.
— Venha, Alice, deixa que vou cuidar desse idiota — Luís fala com
uma voz extremamente suave.
Solto o homem e dou um passo atrás, assim que Luís o tirou de cima
do Lucas, eu corro e me ajoelho ao seu lado. Beijo os seus lábios e começo a
chorar.
— Eu te amo, eu te amo. Olha para mim, meu amor.
Acaricio o seu rosto, Lucas abre os olhos e começa a tossir, depois
arregala os olhos e olha ao redor, mas se acalma assim que vê Luís e
Alexandre com o idiota.
— Minha filha, o que está acontecendo aqui? — Ouço a voz do meu
pai e choro mais ainda. Agora não tem mais para onde correr, eu tenho que
contar tudo.
— Eu preciso ir para casa, pai, depois eu converso com você. —
Concentro-me em Lucas, ele está olhando-me com mil perguntas em seus
olhos. — Vamos, meu amor, precisamos esclarecer uma coisa.
Ele não fala, mas se levanta, segura forte a minha mão e saímos. Mas
não sem antes ouvir a voz horrível me xingando.
— Você cometeu um grande erro brincando comigo assim! Vai se
arrepender, sua vadia!
Algumas coisas que ele disse me deixaram confusa, mas agora eu
tenho que ter uma conversa muito séria que não me deixa pensar muito nelas.
Chegamos em casa em tempo recorde, Lucas não respeitou nem um
sinal vermelho.
— Comece — diz assim que entramos pela porta, com sua voz
trêmula. — Eu quero entender, porque as coisas que estou imaginando estão
me fazendo muito mal. — Me olha com os olhos vermelhos. — Você ainda o
ama?
— Nunca! Eu o odeio com todas as minhas forças. — Suspiro. — Eu
amo você. Não ouse nunca mais duvidar disso.
— Então me diz. Me conta sua história com o Rodrigo. Ele é mesmo
o pai de Clarinha?
— O pai dela é você. Só você. — Olho determinada e depois meio
confusa para ele, lembrando-me de uma coisa. — Você o chamou de
Rodrigo? Mas no dia que aqueles brutamontes foram a floricultura o
chamaram de Leon.
— Leon é seu nome do meio — ele fala com uma voz dura.
Chego mais perto dele, passo os braços ao seu redor e coloco a minha
cabeça em seu pescoço. — Eu vou te contar tudo, mas preciso que você me
abrace e me segure.
— Sempre — sussurra no meu cabelo.
Lucas se senta no sofá e me coloca em seu colo.
Respiro fundo, preparando-me, mesmo correndo o risco dele me odiar
e não querer mais nada comigo ou com a minha filha. Devia ter contado
antes.
Conto até dez e volto para aquela noite, a noite em que lutei tanto para
esquecer. Apesar de ter sido a pior noite da minha vida, foi à noite que me
deu a coisa que mais amo no mundo, que é a minha filha.
Lucas

Enquanto espero que ela comece a falar eu me concentro em seu


cheiro e não em matar aquele desgraçado que estava com as mãos nela. Deus,
será que ele nunca vai sair da minha vida?
Dou algumas respirações profundas e espero.
— Aconteceu numa sexta-feira que fiquei na Floricultura até mais
tarde, porque queria terminar umas coisas e não estava a fim de sair para
beber com as meninas.
Para, suspira e continua:
— Fechei a loja e fui para o meu carro, o estacionamento estava quase
deserto, então andei rápido e quando estava quase chegando ao carro alguém
apareceu e me levou para um beco escuro, que ficava perto do
estacionamento. Ele tinha uma arma, apontou firme no meu lado direito e eu
fui sem nem questionar. Chegando lá, ele me mandou ficar quieta, rasgou a
minha blusa, jogou no chão e me mandou não virar o rosto para ele, se
virasse ele me matava. Pedi, implorei para ele levar o meu carro e o dinheiro
que tinha na bolsa, mas ele só riu e disse que isso ele tinha demais, queria
outra coisa e eu ia dar a ele.
Ela não está mais aqui, parece meio aérea.
— Eu estava tremendo, nervosa e não sabia o que fazer para sair
dessa. Quando ele tirou a arma da minha costela para abrir a minha calça, eu
tentei correr, mas ele me pegou, me jogou no chão e forçou o meu rosto no
piso sujo do beco. Depois deitou em cima de mim e puxou o meu cabelo, me
deixando imóvel. Eu só comecei a chorar e rezar.
— “Deus não vai te ajudar agora querida. Então cale essa sua boca
e curta o passeio”. Ele disse no meu ouvido.
Deus, me ajude. Eu vou matá-lo.
Tento me acalmar e ouvir o resto.
— Eu tentei mais uma vez sair do seu agarre, mas foi inútil, ele me
prendeu no chão, sentou em minhas pernas e continuou a puxar o meu cabelo
com uma mão, a outra ele puxou a minha calça tão forte que arrebentou o
botão e o zíper, depois enfiou as unhas na minha bunda, arranhando com
força. Eu gritei e ele bateu com o revolver no meu rosto, depois colocou a
ponta de uma faca, que eu não tinha visto até o momento, nas minhas costas
nuas.
Ela está tremendo e chorando em meu colo e eu não queria mais fazê-
la reviver isso, mas eu precisava ouvir tudo, porque quando ela terminar eu
irei vingá-la.
— Eu sabia que não tinha mais jeito, então eu só fiquei quieta e deixei
ele fazer o que quisesse, pois sabia que sozinha não ia conseguir sair dessa.
Ele disse que se eu ficasse em silêncio e quieta, me deixaria ir embora logo.
Então eu deixei, fechei os olhos com força e não lutei mais.
Estou tremendo de raiva, eu nunca pensei que fosse isso. Meu Deus!
Alice

— Doeu tanto quando ele entrou em mim, eu gritei de novo e ele


afundou mais um pouco a ponta da faca, soltou o meu cabelo e tampou a
minha boca. Ele me estuprou como um animal, o tempo todo me chamando
de querida e dizendo que eu era gostosa e apertada e era dele. Eu chorava e
rezava para acabar logo ou que ele me matasse logo de uma vez...
Paro de falar, não vou contar que ele me estuprou mais duas vezes.
Não quero que Lucas tenha mais nojo de mim por não ter lutado mais.
— Quando acabou, mordeu os meus lábios até sangrar e foi embora.
Fiquei um tempo sem conseguir me mexer, sem forças, só conseguia chorar.
Acho que fiquei uma meia hora lá sozinha, mas consegui chegar ao carro e
fui para casa. Dei graças a Deus que Josi não estava lá, não queria falar sobre
isso. No outro dia fui ao médico, pois ele não tinha usado camisinha, fiz um
monte de exames e, graças a Deus, estava livre de doenças. Aos poucos eu
consegui falar com as meninas sobre isso e elas me ajudaram. Começamos a
fazer aulas de defesa pessoal, boxe e krav maga.
Sorri ao me lembrar do apoio delas, mesmo não gostando, insistiram
que eu fizesse e foram comigo porque me amam.
Respiro fundo e voltei a falar:
— Dois meses depois, eu descobri que estava grávida e quase entrei
em depressão, mas as meninas não me deixaram, me deram forças, ficaram
do meu lado e disseram que me apoiariam em qualquer decisão que tomasse.
Fiquei mal até o quarto mês, mas me recusei a abortar, ela não tinha culpa de
nada, nunca faria isso. — Soluço e limpo as lágrimas do rosto.
— Não foi até o quinto mês que fui ao médico. — Sorrio, lembrando-
me. — Quando eu ouvi o seu coraçãozinho batendo decidi que eu ia ser forte
para ela e nunca ia contar sobre isso. Que a protegeria e amaria, não importa
como foi gerada. Eu sei que não posso te pedir para que entenda e não me
odeie por não ter lutado mais, por ter deixado, mas eu não quero que desconte
em Clarinha. Me odeie, mas não ela.
Lucas está tremendo e me apertando forte, suas mãos estão quase
machucando-me.
— Lucas? — chamo o seu nome, mas ele parece não me ouvir.
Sacudo-o e chamo de novo. — Lucas, diz alguma coisa, por favor.
— Eu vou matá-lo — ele diz e eu acredito.
— Você não está com raiva de mim?
— De você? Claro que não! Isso não foi culpa sua, nunca mais diga
isso, meu amor. Você é a pessoa mais forte que eu conheço, eu amo você,
tanto. — Me dá um beijo rápido e me olha profundamente. — Eu vou matar
esse desgraçado. Ele vai pagar por isso.
Levanta, quase derrubando-me e corre para a porta.
— Lucas! — grito atrás dele, mas é tarde demais.
Lucas sai e eu desmorono no chão, sem saber o que fazer.
Meu Deus, o que eu faço?
Levanto e começo a andar de um lado para outro.
— Luís. Tenho que ligar para ele.
Disco o seu número, mas só dá na caixa postal, o de Lucas também, e
eu não tenho o telefone de Alexandre.
— Droga!
Sento no sofá me debatendo se vou ou não para o hotel atrás do
Lucas. Não quero que ele se machuque, se algo acontecer com ele eu nunca
vou me perdoar.
— Ei, Lili, vem cá. Não chore. — Monique aparece depois de um
tempo.
— Eu contei tudo para ele, Nique. Bem, quase tudo. Ele saiu daqui
como um louco dizendo que vai matá-lo.
— Calma, eu liguei para as meninas e elas estão a caminho. Nada vai
acontecer com ele, logo Lucas estará em casa.
— Eu vou buscá-lo.
Levanto, mas as minhas pernas estão fracas e me sento de novo.
Chorei tão alto que Clarinha acorda, Monique vai buscá-la e ficamos as três
esperando.
Não sei quanto tempo fico sentada no sofá olhando para frente, sei
que as meninas estão aqui, o meu pai também com Bruno e Raquel, mas não
estou com ânimo para falar com ninguém.
Ouço um som distante, uma hora mais tarde, por algum motivo parece
conhecido, mas não ligo. Só salto quando alguém coloca o meu celular na
minha cara e o som que ouvi antes fica evidente que é ele tocando.
Olho para a mão da pessoa e para o celular e o meu coração quase sai
pela boca quando vejo o nome do Lucas no identificador. Tiro o telefone das
mãos de quem, não sei, e atendo.
— Lucas, meu amor, onde você está? — Soluço ao telefone.
— Alice, é o Luís. — Respirou fundo, a sua voz está abafada.
— Cadê o Lucas? Eu quero falar com ele. — Não gosto do tom de
voz dele.
— Alice, fica calma. — pede Luís. Isso não é bom.
— Luís, o que está acontecendo? Passe para ele, por favor — imploro.
— Alice...
— Por que você está com o telefone dele?
— Meu Deus, mulher, me deixa falar! — Calo-me e espero. —
Desculpe.
— Tudo bem, ele está aí com você?
— Alice, ouve um acidente.
— Não!
— Um caminhão...
— Meu Deus, não!
Sinto o meu mundo desabar e a escuridão me leva.
26 - Alice

Estou me sentindo muito mal. Lucas está ferido, desmaiei quando o


seu irmão me ligou e quando acordei achando que tinha tido um pesadelo,
descobri que era verdade e fui o mais rápido possível para o hospital.
— Estava voltando com o Alexandre de carro e vi uma confusão de
pessoas e carros, fomos até lá e quando vi que era o carro do Lucas, fiquei
sem chão. Falamos com alguém que disse ter visto o acidente e disse que um
caminhão ultrapassou o sinal e bateu no carro dele, bem no lado do
motorista, ele bateu forte a cabeça e estava sangrando muito até onde eu vi.
Estou aqui e ninguém me disse nada desde que cheguei. Não sabia o que
fazer, estava com o telefone dele, mais cedo eu o peguei porque o meu tinha
acabado a bateria, por isso te liguei com o dele.
Luís começa a ficar com a voz fraca, nos abraçamos e ficamos nos
consolando juntos.
Balanço a cabeça, tirando-me da conversa que tive com Luís no
momento em que cheguei ao hospital. Estamos aqui há quase uma hora,
Raquel foi para a sala de cirurgia logo que chegamos e disse que assim que
tivesse notícias voltaria, mas até agora não voltou.
— Não posso perdê-lo, pai, não existe mais Alice sem Lucas.
— Calma, filha, vai ficar tudo bem, ele está nas mãos dos melhores
especialistas e Deus está guiando cada um deles.
Ele está segurando-me desde que acordei.
Os seus irmãos estão aqui, o meu, as minhas amigas, menos Andrea
que ficou com Clarinha. Estamos todos na sala de espera, uns sentados no
chão encostados à parede, outros caminhando pra lá e pra cá, todos nervosos.
Não consigo mais ficar aqui sentada sem saber de nada.
— Não é possível que ninguém saiba o que está acontecendo, pai.
Levanto-me e saio à procura de alguém que possa me dar uma luz.
Vejo uma enfermeira sair por uma porta e corro para ela.
— Moça, por favor, eu sou noiva do doutor Lucas, ele deu entrada
aqui tem quase uma hora e ninguém me diz nada, pelo amor de Deus me diga
alguma coisa! — boto tudo para fora de uma vez.
— Calma, senhora, o que eu sei é que ele ainda está em cirurgia.
— Então é grave?
Sinto as minhas pernas fraquejarem, ela me ajuda a sentar em uma das
cadeiras próximas.
— Só o que eu sei é isso, logo alguém vem aqui falar com você. Sinto
muito por não poder te ajudar mais.
— Obrigada por falar comigo.
Ela se vai e fico sozinha, rezo pela vida do meu amor, estou sentindo
o meu coração apertado e um pressentimento ruim.
— Por favor, Deus não o tire de mim. Por favor, por favor, por favor
— fico repetindo as palavras em minha cabeça por mais um tempo, até Josi
me encontrar e me abraçar.
— Essa espera está me matando, Josi.
— Eu sei, Lili, vamos continuar rezando. Vai ficar tudo bem e logo
ele vai te olhar com aquele olhar lindo e aquele sorriso matador que só ele
tem.
Sorrio forçado.
— São lindos, ambos. O homem mais lindo que já pus os olhos e ele é
meu. Não posso mais ficar sem ele, não posso perdê-lo.
— Não vai. Sei que é difícil, mas tem que ser forte por Clarinha, por
ele e por você também.
— Não consigo, estou com medo. Isso é minha culpa, se não fosse
pelo o que eu contei a ele, Lucas não teria saído furioso e não estaria
correndo risco de vida.
— Você não tem culpa de nada, Lili.
Começo a soluçar e tremer com o choro, Josi me aperta mais em seu
abraço e começo a falar com Deus.
— Deus... Toda a minha vida eu sempre sentia que estava faltando
algo, por muito tempo pensei que fosse porque o meu pai não me queria ou
porque a minha mãe e irmã me odiavam. Mas quando conheci Lucas, vi que
o que estava faltando era ele. Ele sempre fala a coisa certa, na hora certa, só
olhar para ele já me faz ficar bem. Então, eu lhe peço, lhe imploro não o leve
ainda. Sei que não mereço fazer tal pedido, mas lhe peço mesmo assim. Por
favor!
Ficamos assim por alguns minutos, horas, não sei. Até que Raquel
vem até mim, não gosto da expressão em seu rosto e me preparo.
— Então, como ele está? — pergunto, querendo e não querendo saber
a resposta.
— Alice ele está na UTI agora. Não vou mentir para você, o seu
estado é crítico, ele bateu a cabeça com o impacto e houve um sangramento
no cérebro, por isso tivemos que fazer uma cirurgia urgente. E também
quebrou o braço esquerdo. — Ela me olha profundamente e eu sinto que não
será nada bom, antes mesmo dela me dizer, mas me contenho, tenho que ser
forte por nós. — Ele está em coma. Temos que esperar alguns dias para ver
se a cirurgia funcionou ou não.
— Eu preciso vê-lo, Raquel. — Eu queria estar em seu lugar. Meu
coração estava tão acelerado.
— Infelizmente só daqui a quarenta minutos, estão cuidando dele.
Mas assim que terminar eu a levarei até ele.
— Obrigada. Quanto tempo ele ficará em coma? — Quase não
consigo pronunciar essa palavra.
— Isso vai depender dele. Não posso dizer ao certo, pode ser um dia,
uma semana, um mês ou...
— Não! Não continue, ele vai sair dessa. Lucas é forte.
Assente e vai falar com o meu irmão, deixando-me com a minha
angustia.
— Lucas é tinhoso, Lili, ele não vai conseguir ficar muito tempo
longe de você e da Clarinha, logo vai acordar — diz Josi ao meu lado.
— Deus te ouça.
Ele vai sair dessa, tenho que me agarrar a isso.
Quarenta minutos depois e eu estou na porta do quarto, em que
levaram Lucas, com a mão na maçaneta, eu preciso vê-lo, mas estou
apavorada.
Faço uma oração silenciosa e abro a porta, para logo parar e cobrir a
minha boca, abafando um soluço com o que vejo na minha frente.
Lucas está deitado em uma cama, a cabeça enfaixada, tubos em sua
boca e vários fios ligados em seu peito e em aparelhos ao lado da cama, a sua
pele está pálida e o seu braço quebrado imobilizado com gesso.
Vou até ele, seguro a sua mão do braço bom e começo a acariciá-la,
sentindo a sua pele contra a minha.
— Meu amor... — sussurro, ainda segurando sua mão imóvel. É tão
difícil vê-lo assim. — Sou eu, sua Alice. Não sei se pode me ouvir, mas se
puder, saiba que estou aqui e vou ficar até que acorde, para irmos para casa e
para a nossa pequena, que está com muita saudade do papai.
Respiro fundo e me inclino para deixar um beijo em seu rosto.
— Eu amo você. Você e Clarinha são a melhor coisa que aconteceu
em minha vida. Desculpe-me, meu amor, é minha culpa por você estar nessa
situação. Volte para nós.
Chorando, me sento em uma cadeira que estava próxima a cama e fico
observando o seu rosto, para ver se ele abriria os olhos, mas nada acontece.
Coloco a minha cabeça na cama e fecho os meus olhos, lembrando o dia em
que ele me pediu em casamento na linda estufa que ele me fez.
Choro até que adormeço.
Dois dias se passaram e nada dele acordar, se não fosse pelos sinais
vitais estarem bons eu teria ficado mais apavorada.
Segundo Raquel, ele pode acordar a qualquer momento, estamos
confiantes e ao mesmo tempo angustiados. Fiquei aqui a noite de sábado e
durante o dia de domingo, mas tive que ir para casa por causa da minha
pequena. Ela estava meio resfriada e agitada, passamos a noite grudadinhas
uma com a outra. Ela sente a falta do Lucas e não o vendo desde sábado fica
nervosa.
Quando a deixei, meia hora atrás, ela estava dormindo tranquila. A
minha madrinha chegou de viajem e vai ficar esses dias lá em casa para me
dar uma força.
Estou dobrando a esquina do corredor, que vai para o quarto onde
Lucas está, quando paro de repente. Não posso acreditar no que os meus
olhos estão vendo.
— Como você ousa aparecer aqui?
Estou com tanto ódio que vejo tudo vermelho. Karin a cadela, está
bem na minha frente e saindo do quarto do Lucas. Como a deixaram entrar?
Ela me olha de olhos arregalados, abaixa a cabeça e vai quase
correndo para o outro lado.
— Ah não, você vai me dizer o que estava fazendo no quarto dele?
Você não é bem-vinda aqui! — Corro atrás dela e a prendo entre o meu corpo
e a parede. — Anda, diga.
— Eu, eu... — Suspira. — Só queria ver como ele está, fiquei sabendo
do acidente e tive que vir aqui.
— Achei que estivesse presa — vomito as palavras, lembrando-me do
porque ela tinha sido presa. Desgraçada.
— Pois é, não estou. — Sorri aquele seu sorriso de deboche. — Não
sei se sabe, mas tenho uma fada madrinha.
— Foda-se, sua cadela. Saia daqui e não volte ou vai ficar feio para
você.
— Pode deixar eu vou, já o vi. — Ela parece triste quando diz. Falsa.
Dissimulada. A minha vontade é de torcer o pescoço dela.
Solto-a e fico olhando Karin dobrar a esquina, só então entro no
quarto à procura de alguma coisa suspeita, pois não confio nessa vaca.
Suspiro quando não encontro nada. Sento-me na cadeira e seguro a mão do
Lucas, é só o que eu posso fazer.
Hoje trouxe um livro e fico lendo para Lucas, sempre converso com
ele, deixando-o por dentro de tudo o que está acontecendo. Tive notícias do
homem que dirigia o caminhão, ele morreu ontem, teve uma parada cardíaca
e não conseguiram trazê-lo de volta. Começo a contar o que nossa pequena
tinha aprontado esses dois dias, apesar de só tê-la visto ontem à noite, as
meninas me atualizaram de tudo. Andrea gravou um vídeo dela rindo e
gargalhando, brincando com os seus pezinhos. Ou pousando para fotos para
Adriana e sua câmera.
— Nossa filha vai te deixar muitas noites sem dormir quando crescer.
Ela já causa bastante, mesmo pequena.
Lucas ama a nossa pequena. Enquanto falo dela fico observando o seu
rosto, procurando algum sinal de que ele está mesmo ouvindo, mas nada
acontece. Tento não deixar isso me deixar pra baixo, mas está difícil, faz dois
dias e nada dele abrir os olhos.
Sento-me e começo a ler o livro de novo. Não importa quanto tempo
passe, não vou deixá-lo. Sempre estarei aqui para ele.
27 - Alice

Depois de ter expulsado Karin daqui, na segunda-feira, não a vi de


novo. Mas confesso que fiquei intrigada com o que ela veio fazer aqui no
hospital, já que Lucas deixou bem claro na fazenda que ela não era bem-
vinda perto da família, e depois do tiro que ela me deu, pensei que sumiria de
uma vez e nos esqueceria. Mas como não conseguimos tudo o que queremos,
vou ficar alerta, ela não vai me surpreender de novo.
Hoje faz quatro dias que Lucas está em coma, estou lutando com
unhas e dentes para não desmoronar, buscando forças que nem sabia que
tinha.
Agora estou aqui, olhando o seu lindo rosto, se não fosse pelo lugar
onde estamos e o barulho das máquinas, pensaria que está dormindo, apenas
descansando de mais um dia de trabalho.
Deus, tem horas que penso que não vou aguentar.
— Meu amor... — Luto com a emoção na minha voz, mesmo que eu
não saiba se ele me ouve, eu continuo falando dia após dia. — Sinto tanto a
sua falta. Sinto falta dos seus braços a minha volta, dos seus beijos, da sua
linda voz quando diz que me ama ou quando conversa e brinca com a nossa
pequena. — Com a menção de Clarinha não posso evitar em deixar as
lágrimas, que estava segurando, caiam por meu rosto.
— Clarinha está tão triste sem você, Lucas, esses dias ela não tem
sido a mesma, está sentindo falta do papai. — Solto um soluço. — Volta para
nós, meu lindo. Sem você é tão difícil respirar.
Não conseguindo mais falar, coloco a minha cabeça na cama e fico
ouvindo a sua respiração e acariciando a sua mão.
Nessas horas que passo sem estar lendo ou falando com ele, não
penso em outra coisa a não ser que se eu não tivesse aceitado ir com ele para
fazenda aquele dia, se não tivesse aceitado namorar com ele, casar com ele,
nada disso teria acontecido.
Lucas estaria bem, trabalhando no que ele ama fazer, saindo com seus
irmãos e se divertindo. Poderia ter encontrado alguém sem tanta bagagem
para namorar...
— Não. — Balanço a cabeça, dispersando esse pensamento. Imaginá-
lo com outra pessoa me deixa insana. — Meu Lucas. Meu namorado. Meu
noivo. E em breve o meu marido.
Por mais culpada que me sinta, não posso deixar de ser egoísta e
querê-lo mais ainda, pois sem ele não me vejo mais.
A culpa de tudo isso é daquele pedaço de merda do Leon, vou
descobrir tudo o que está por trás disso. É muita coincidência ele ser o
mesmo homem que fez o que fez comigo e amigo do Lucas. Que mundo
pequeno, meu Deus, agora eu o odeio ainda mais. Ainda não sei como, mas
vou descobrir o que ele quis dizer com aquilo de “fez tudo o que eu pedi”,
como se me conhecesse. Não tive tempo para pensar sobre tudo o que
aconteceu e as informações que obtive daquela noite terrível, assim que
Lucas ficar bem vou acabar com aquele cara por tentar estragar as nossas
vidas.
Louco. Aquele homem só pode ser louco!
— Oi, Lili, cheguei. — Uma voz me fez parar os meus pensamentos.
Olho para cima e vejo Adriana na porta do quarto, observando-me.
— Oi. Tudo bem?
— Mais ou menos. Eu vim para ficar com ele um pouco, você precisa
descansar e as meninas estão nervosas por Clarinha não parar de chorar. Sua
madrinha viajou, de novo, com o novo namorado. — Revira os olhos para a
última frase.
A minha madrinha troca de namorado o tempo todo.
— O que aconteceu? — Levantando, pego a minha bolsa e beijo o
meu amor. — Saí de manhã e ela estava bem.
— Não sei o que houve, só que não para de chorar. Sabe como são
Monique e Andrea, exageram, mas achei melhor vir aqui ficar com o meu
irmão. Também não gosto que ele fique sozinho.
Olha Lucas com tanta saudade que me vejo querendo chorar de novo.
— Ele vai acordar logo, Dri, eu sei que vai.
Abraçamo-nos por um momento e sigo para casa.
Quando chego em casa está tudo quieto, então vou direto para o
quarto da Clarinha. As meninas são uns amores e estão fazendo de tudo para
me ajudar nesses dias que não posso ficar o tempo todo com a minha filha.
Hoje elas nem foram trabalhar só para virem aqui. Eu tenho as melhores
amigas do mundo. Momentos felizes ou tristes, elas estão sempre comigo.
Não sei o que seria de mim esses dias sem elas.
Abrindo a porta do quarto sou surpreendida por Monique, Andrea e
Clarinha, dormindo no chão. A minha pequena está entre as duas, em um
colchão que não sei de onde veio. Sorrio com a cena, resolvo deixá-las
dormir mais um pouco e vou tomar um banho.
Hoje opto por tomar um banho de banheira e tentar relaxar, sei que se
acontecer alguma coisa a Dri vai me ligar e a minha pequena está dormindo.
Ligo a torneira para encher a banheira, tiro as minhas roupas e vou
procurar uma camiseta de Lucas para vestir, logo após o banho. Revirando a
sua gaveta de camisetas, pego uma verde que me faz lembrar os seus lindos
olhos observando-me com tanto amor sempre que chegava do trabalho e me
pegava aqui no closet.
Fecho os meus olhos e lembro a última vez em que fizemos amor no
chão do closet.

— Você tira ou eu tiro, linda?


Estamos ofegantes depois do beijo de perder a noção do mundo, que
recebi. Eu totalmente nua, pois havia saído do banho e não tinha colocado
nenhuma roupa antes de ser surpreendida por um doutor lindo e excitado,
que infelizmente está totalmente vestido.
— Vamos resolver logo isso, meu lindo. Você tira, eu vou assistir ao
show — digo com a voz cheia de desejo.
Se ele me tocar em qualquer lugar do meu corpo agora, gozaria.
Duro.
Lucas abre um sorriso malicioso e começa a tirar sua camisa,
desfazendo os botões com uma lentidão que me deixa fascinada e mais ligada
do que já estava. Terminando, joga a camisa na minha direção, pousando em
meus seios sensíveis e vai caindo deixando a minha pele pegando fogo em
seu caminho.
— Oh, Lucas... — gemo e começo a acariciar os meus seios, ainda
assistindo ele se despir.
— Amo o som do meu nome em seus lábios, principalmente quando
está excitada para mim, minha linda.
Tira os sapatos e meia, e por incrível que pareça sinto um pulsar lá
embaixo. Eu sei, isso é estranho, mas eu sou “estranha”. Depois tira a calça
e a cueca boxer junto, ficando à minha frente, nu em pelo.
— Duas opções. — Não consigo tirar os olhos de sua ereção, não
vejo a hora dele me encher com ela. — Lento e suave ou rápido e duro? —
Esse homem ainda vai me matar.
— Pode ser os dois?
— Tsc. Tsc. — Estala a língua e balança a cabeça em negativo.
— Então eu fico com rápido e duro hoje. Mas tem uma condição. —
Sorrio maliciosa.
— Hum... fazendo exigências, hein? Diga e eu resolvo se concordo ou
não.
Vem andando lentamente em minha direção e só para quando fica a
centímetros da minha boca, dá para sentir a sua respiração em meus lábios.
— Diga!
— Só se você falar sujo em meu ouvindo enquanto faz duro e rápido.
— Ele inspira forte e me puxa contra o seu corpo.
— Isso você nunca precisa pedir. Agora eu quero que você se ajoelhe
no chão e levante essa bunda deliciosa, que vou meter em você até perder a
consciência. — Amo quando diz coisas assim.
— Nem precisa pedir duas vezes.
Saltitante, me abaixo e fico do jeito que ele queria. Sinto quando ele
se posiciona atrás de mim e...
Fica parado, só me olhando.
Viro o rosto e percebo que ele está se tocando e olhando minha
bunda.
— Lucas...
— Está pronta?
— Mais do que pronta, meu a... Ahhhh
Nem espera eu terminar a frase e investe com força dentro de mim.
Sinto uma dorzinha, mas é uma dor boa. Lucas me monta forte, mordendo o
meu ombro, beliscando os meus mamilos com uma mão e com a outra
dedilhando o meu clitóris, como se estivesse tocando uma música.
— Está sentindo o que você faz comigo? Deus, Alice, você me
enlouquece! Essa sua boceta é tão apertada que está moendo o meu pau de
um jeito que eu não vou conseguir durar muito. Tão gostosa.
— Lucas, eu vou...
— Vem no meu pau vem. Me aperta dentro de você, quente e gostoso.
Ohhh... Vem para o seu homem vem deliciosa. — Com essa frase me desfaço
em um orgasmo forte, enlouquecedor. Quase me perco, mas consigo ouvir e
senti-lo vindo logo em seguida, gritando o meu nome e dizendo que sou
perfeita.
Só que está faltando alguma coisa.
— Minha.
— Meu.
Pronto, agora não está faltando mais nada. Sorrio satisfeita.
Toda vez que fazemos amor agora, ele diz essa palavra que significa
tanto para mim, e eu digo de volta. Porque eu sou dele e ele é meu.

— Lili, tudo bem? Está tremendo e chorando. — Andrea me tira do


meu devaneio luxuriante, fazendo-me voltar à realidade. Uma realidade em
que o meu amor não está aqui fazendo amor comigo e sim em uma cama de
hospital.
Começo a chorar alto, o choro que eu estava guardando desde o
acidente.
— Ele não está aqui — as palavras são um sussurro angustiado.
Choro, grito e soluço por um tempo e Andrea fica comigo, não diz
uma palavra, mas está ali no caso de precisar dela.
Ela sabe que você precisava disso — sussurra uma voz em minha
cabeça.
Recomponho-me, olho para ela e assinto, levantando-me. Ela parece
entender, vai comigo para o banheiro e pega alguma coisa na bancada,
enquanto eu entro na banheira e deito, descansando a minha cabeça numa
toalha.
— Senta, Lili, e não discuta, sou mais velha que você.
— Dois anos só. — Rio com ela. É bom rir.
Fecho os meus olhos e deixo que ela lave os meus cabelos. É tão
relaxante.
— Josi e Jeff vêm mais tarde e vamos fazer uma noite do pijama —
diz Andrea, atrás de mim.
— Que bom, estou sentindo falta deles.
Concentro-me no que ela está fazendo e suspiro, aproveitando.
Dez minutos depois, estou de banho tomado e um pouco mais
relaxada. O choro me fez bem, mas o banho e a massagem na cabeça,
enquanto a minha amiga lavava os meus cabelos, fez maravilhas.
Agora estou vestida com uma camiseta quentinha do meu amor,
penteando os meus cabelos, quando escuto Monique entrar no quarto com
uma Clarinha aos berros.
— Lili, não sei mais o que fazer. Ela está chorando sem parar há
quase cinco minutos, não quis comer, não quer brincar e nem ficar deitada.
Mesmo no meu colo não para. — Soluça e percebo que está quase chorando
também.
Tadinha da minha amiga.
— Obrigada, Nique e Deca, por cuidarem dela. Vocês são um amor.
— Sorrio para as duas. — Eu já sei porque essa mocinha está assim. Deus
sabe que eu estava desse jeito minutos atrás.
Jogo a escova de lado e vou pegar a minha princesa.
— Ei, meu anjinho, o que foi?
Quando Dri chegou ao hospital para trocarmos de lugar e eu poder
voltar para a minha pequena, pois segundo as meninas ela não parava de
chorar, senti o meu coração tão pequeno. Estava dividida, ao mesmo instante
que queria voltar para ela, não queria deixá-lo, por mais que ele estivesse em
boas mãos e nem fosse sentir mesmo a minha falta.
Pego-a no colo e embalo o seu pequeno corpo, sentido o seu cheirinho
de bebê.
— Shi... Mamãe está aqui. — Continua chorando. — Eu sei, eu sei,
também estou sentindo isso, mas ele vai voltar logo pra gente, eu prometo.
Ajuda a mamãe a ser forte? — Com o meu pedido ela para de chorar e fica
me olhando, como se tivesse entendido.
Clarinha levanta o seu braço e passa sua mãozinha gordinha em meu
rosto, fazendo-me sentir uma paz, um conforto que tinha perdido nesses
últimos dias desde o acidente de Lucas.
— Mamãe te ama. Muito!
Sorrio e ela corresponde. Deito na cama, com ela em meu peito,
observando enquanto ouço a sua respiração desacelerando, deixando o sono
levá-la.
Estava quase dormindo também, quando o meu telefone toca.
Olhando o identificador, sinto um arrepio que me deixa nervosa. Mesmo
assim atendo.
— Alô?
Ouço tudo o que a pessoa do outro lado da linha diz e sinto como se
fosse desmaiar. Ainda bem que já estava deitada.
Chego ao hospital meia hora depois do telefonema, estava presa em
um engarrafamento. Nem acredito que ele realmente acordou. Estou nas
nuvens com essa notícia. Meu amor está de volta.
Quando Raquel ligou me dizendo que ele tinha acordado e estava
sendo examinado, eu travei, quase desmaie. E logo em seguida comecei a rir
e terminei de embalar a minha pequena, dizendo para ela que o seu pai estava
de volta, sei que ela me entendeu mesmo dormindo, pois sorriu.
Deixei Clarinha dormindo na minha cama com as meninas e só vesti
uma calça jeans, calcei uma sapatilha e peguei um casaco, colocando por
cima da camiseta do Lucas. Ele adora me ver em suas roupas.
— Ele vai amar me ver com essa em especial.
Sorrindo, entro pela porta da frente e vou correndo para o quarto
esperar ele retornar dos exames.
Não fui a primeira pessoa que ele viu quando acordou e isso me deixa
um pouco triste, mas não vou pensar nisso. O que importa é que ele voltou e
nunca mais vou sair do seu lado de novo. Obrigada Deus por trazê-lo de
volta.
— Oi, Dri. Por que você não me ligou assim que ele acordou? Raquel
disse que faz quase uma hora, nem tinha percebido que tinha se passado tudo
isso desde que fui para casa.
— Eu... — Ela estava chorando?
— O que foi? Há algo errado? Ele não está bem? Raquel disse que ele
estava bem e pediu para eu vir o mais rápido possível. Então estou aqui. —
Minha nossa, estou divagando. — Me diz, por favor! — Sacudo os seus
ombros.
— Eu não consegui te ligar. Ele está bem, sim. Eu só fiquei
emocionada e o meu celular descarregou.
Franzo a testa, ela não parece muito sincera, mas vou deixar passar.
Talvez ela só esteja emocionada como, ela mesma disse só isso.
Não seja paranoica, Alice.
— Ai, graças a Deus, Dri, não sabe como estou feliz que ele está bem
e acordado. Quero tanto abraçá-lo e senti-lo bem juntinho de mim. Ele falou
com você? Perguntou por mim e por Clarinha? É claro que perguntou, que
pergunta estúpida! — Começo a andar pra lá e pra cá e continuo falando: —
Logo ele vai poder voltar para casa e vamos nos casar, voltaremos a ser
felizes, mais do que antes.
— Alice, eu preciso te contar uma coi... — Dri estava tentando me
dizer alguma coisa, quando a porta se abre e dois enfermeiros entram
empurrando uma maca, com Lucas deitado. Raquel e outro homem estão bem
atrás deles.
Saio do caminho para eles entrarem e seguro a respiração, para ver se
me concentro em não correr e pular em cima dele e o encher de beijos.
Depois de eles terem arrumado Lucas na cama e ele ficar confortável,
vou para frente.
— Meu amor, que bom que você acordou. Me desculpa não estar
aqui quando abriu seus olhos, mas a nossa pequena estava tristinha e precisou
de mim. — Ele não diz nada só fica me olhando.
Dou mais um passo à frente e me inclino para lhe dar um beijo, mas o
seu olhar me paralisa. Sinto que algo não está certo antes mesmo que ele fale.
— Quem é você? — As suas palavras me cortam em mil pedaços e
um gelo se instala em minhas veias. Isso não pode estar acontecendo.
— Onde está Karin, Adriana, você disse que ela só tinha ido ao
banheiro e já voltava. — Ele nem me dá um segundo olhar e já está falando
com a sua irmã.
— Lucas... — Respiro fundo e me obrigo a fazer a pergunta. — Você
sabe quem eu sou?
— Desculpe, mas não. É amiga de Karin e está aqui a apoiando? —
Não, não, não, isso só pode ser um pesadelo. — Muito prazer em conhecê-la
e obrigado pela força que está dando a minha noiva. Sou Lucas Vilar, mas
acho que já sabe, não é?
Olho para Raquel, que me observa, procurando por algum sinal de
que isso é um pesadelo, mas o olhar que ela me dá faz com que as minhas
pernas fraquejem.
— Lili! — Adriana corre e me segura. — Calma, precisamos
conversar lá fora.
— Lucas, meu amor, você não se lembra de mim? De mim?
Toco o dedo em meu peito e olho para ele. Vejo quando ele reconhece
a sua camiseta, claro, ele a tem há mais de cinco anos, saberia que é dele.
— Por que você está usando a minha camiseta? — A sua voz está
dura, sem emoção.
Esse não é o meu Lucas.
— Sou eu, meu lindo, Alice. Sou sua noiva e vamos nos casar, você
me pediu em casamento na nossa estufa, lembra?
Ele balança a cabeça e olha para a porta com um sorriso que eu odiei,
porque não é dirigido a mim.
— Vim o mais rápido que pude. Ele está bem? — Eu ODEIO a voz
dessa mulher.
— Melhor agora que você chegou. Vem aqui. — Ah não, tudo menos
isso.
Atiro dardos em direção a Karin e estou quase erguendo a mão para
fazê-la sumir daqui, quando Raquel segura o meu braço e sussurra em meu
ouvido.
— Preciso que venha comigo, vou te explicar tudo lá fora. Lucas tem
que descansar, não pode se estressar. Vem, isso não vai fazer bem para ele.
Isso? Eu sou isso, agora? O chão some dos meus pés e as lágrimas,
que antes eram de felicidade, agora caem por um motivo muito desesperador
de perda. Claro que estou feliz por ele ter acordado, mas o meu coração está
partido. Ele não se lembra de mim.
Olho para Lucas e ele continua olhando para a desgraçada, que está
com um sorriso de triunfo no rosto. Corro para ele, beijo a sua boca e toco o
seu rosto, como sei que ele gosta.
A princípio ele fica surpreso e depois me beija por uns quatro
segundos, para depois virar a cabeça e tentar me empurrar para longe.
— Por que fez isso? — pergunta confuso.
— Eu sou sua e você meu, lembra? — Lucas me olha nos olhos e
balança a cabeça. — Por favor, você tem que se lembrar de mim. — Começo
a chorar desesperada. — Isso não pode estar acontecendo, não com a gente.
Lucas, meu amor, olhe para mim, sou eu sua Alice. Eu te amo tanto.
— Desculpe senhora, mas eu gostaria que se retirasse do meu quarto.
Você deve estar me confundindo com outra pessoa. — Olha para Karin. —
Eu não beijei, juro. Você sabe que não traio.
— Tudo bem, querido, ela já está de saída e não incomodará mais.
Não é, queridinha?
Não consigo nem responder. Só olho para Lucas por mais alguns
segundos, me viro e saio. Parando na porta, olho por sobre o ombro e ele está
segurando a mão daquela vaca! Deus, me dê forças para não fazer o que
realmente tenho vontade.
— Eu vou mais eu volto. Logo vamos para casa.
Só vou embora para não lhe causar nenhum mal. Lucas tem que ficar
bom e logo vai se lembrar de mim. Karin vai me pagar por essas palavras.
Saindo do quarto, escorrego na parede até cair sentada no chão e
desmorono. Ele não se lembra de mim, nem da nossa filha.
Deus, a minha pequena já está sofrendo tanto sem o seu pai e agora
vai ter que ficar mais tempo sem ele, porque Lucas não se lembra de nós. Eu
não posso mais ficar aqui, sabendo que ele está tão perto, mas ao mesmo
tempo tão longe. O meu coração está despedaçado, eu não consigo respirar.
28 - Alice

Ainda do lado de fora do quarto de Lucas, lutando para encontrar a


minha respiração, penso em todos os modos de fazê-lo se lembrar de mim e
não consigo chegar a nenhuma conclusão. Não estou me sentindo bem.
— Me ajude, não estou me sentindo bem — falo para ninguém em
especial, mas sabia que alguém havia me seguido quando saí do quarto e
estava parado bem à minha frente. Provavelmente é a Dri. — Eu quero ir para
a minha filha, preciso abraçá-la. Me leva para casa? — peço, ainda com a
cabeça abaixada.
— Casa do meu noivo e agora minha também. Preciso que pegue as
suas coisas e saia de lá ainda hoje ou vou chamar a polícia. — Não é a Dri,
mas sim a cobra peçonhenta da Karin.
Tento falar, mas a minha boca está seca e não consigo formar
nenhuma palavra. Ainda estou em choque com tudo o que Lucas disse e o
que essa louca está dizendo também.
— Está avisada — diz e sai, deixando-me com o meu coração
dilacerado.
A minha visão fica turva, sinto os meus membros mais leves e quando
dou por mim estava caindo e caindo.
Acordo sobressaltada com o pesadelo horrível que tive com Lucas.
No pesadelo, ele não se lembrava de mim nem da nossa filha e isso acabou
comigo, que sensação horrível. Graças a Deus acordei!
Respirando fundo, sento na cama e olho ao redor, vejo que não estou
em casa, no meu quarto, muito menos na minha cama.
Essa compreensão faz o meu coração bater mais forte e percebo que
não foi um pesadelo, isso está mesmo acontecendo.
— Meu Deus, não!
Nesse momento a porta se abre e entra Raquel, com o mesmo homem
que vi no sonho. Na verdade, não foi um sonho.
— Raquel, o que está acontecendo?
— Calma, Alice, nós vamos te explicar. Como está se sentindo?
— Nem sei te dizer como. — Estou tremendo.
— Você teve uma queda de pressão e desmaiou no corredor. Você
comeu hoje?
— Não sei, acho que sim. — Estou meio confusa.
— Você não pode ficar sem se alimentar, Alice.
— Eu sei. — Suspiro com o coração ainda acelerado. — Agora me
diz o que está acontecendo. Por que o homem que eu amo não se lembra de
“nós”? — Luto para conseguir dizer essas palavras, que fazem com que eu
sinta uma dor enorme em meu peito.
— Alice, esse é o doutor Jonas, ele é neurologista e acompanhou o
caso do Lucas desde o dia do acidente. Bom, a cirurgia foi um sucesso e ele
nos surpreendeu com o quão rápido está se recuperando. Fizemos novos
exames, sem inchaço, sem sangramento, sua cabeça está perfeitamente bem.
O quê? Como ela pode dizer isso?
— Como perfeitamente bem se ele está com amnésia?
— Eu sei, desculpe. O doutor vai te explicar melhor. — Pelo menos
ela pareceu sincera.
— Olá, senhora. Como a minha colega explicou, os seus exames estão
bem e não aponta o motivo dessa amnésia. Estamos seguros de que pode ser
uma amnésia pós-traumática, alguma coisa não o está deixando se lembrar,
pode ser uma coisa temporária, ele pode lembrar amanhã, daqui um mês ou...
— ele hesita.
... ou pode não se lembrar nunca. Completo sua frase. Espere!
— Mas como ele pode lembrar dela? Faz mais de três anos que
terminaram e pelo que vi no quarto é como se ainda estivessem juntos. Ele
acredita nisso.
— Fizemos algumas perguntas para ele logo após os exames, ele se
lembra dos seus irmãos, que é um médico nesse hospital, o nome dos seus
pais, da sua noiva e...
— A ex e não eu — sussurro, mais para mim do que para qualquer
outra pessoa que está no quarto.
— A última coisa de que se lembra é que o seu casamento é daqui
cinco meses. Sinto muito, senhora. O cérebro humano é imprevisível, vamos
ter esperanças de que logo a sua memória volte, mas por enquanto ele não
pode se alterar devido a sua recuperação. Daqui uns dias podem ir mostrando
coisas que façam com que lembre, mas sem sobrecarregá-lo. Só o tempo vai
mostrar as respostas que estamos procurando.
— Isso não pode estar acontecendo. — Começo a lutar contra a onda
de pânico que está prestes a me sugar. — Por um lado estou tão feliz que
esteja se recuperando bem das suas lesões, mas por outro me sinto mal,
angustiada, vazia. É ruim eu não estar cem por cento feliz por ele? É muito
egoísmo da minha parte?
— Não, Alice, nós entendemos o que está sentindo. É temporário,
logo ele se lembrará de você, foi um trauma muito grande e o seu cérebro
decidiu bloquear uma parte disso, mas o Lucas vai voltar a ser o seu Lucas.
— Enquanto isso não acontece vou ter que ver aquela mulher se
esfregando nele o tempo todo? Não tenho sangue de barata, Raquel. Não vou
conseguir!
— Nesse momento ele precisa se recuperar. E sua filha precisa de
você. — Com menção a minha filha, me desespero mais ainda. Ela é tão
pequena e estava acostumada a todos os dias dormir em seus braços.
— Deus, Raquel, eu preciso falar com ele mais uma vez. Quem sabe
se eu conversar sem ninguém lá ele pode me reconhecer.
Ela troca um olhar com o médico e esfrega as têmporas.
— Alice, eu liguei para Bruno vir pegá-la. Ele vai te levar para casa.
— Mas...
— Desculpe te dizer isso, mas ele pediu para não te deixarem chegar
perto do seu quarto. E a Karin já colocou um segurança na porta.
— O quê? — Isso é brincadeira, não é?
Lucas não aceitaria isso, ele não é assim.
Sim, mas ele acredita que você é uma louca que o beijou na frente da
sua noiva... Claro.
O meu mundo está literalmente desmoronando. Nunca pensei que
nada pudesse superar aquela noite horrível do passado, mas perder Lucas é
ainda mil vezes pior.
Com pernas trêmulas, desço da cama, pego a minha bolsa e vou em
direção à porta, sem fazer contato com as duas pessoas que me deram as
piores notícias que alguém poderia ouvir.
Consigo sair do hospital sem esbarrar em ninguém e quando chego lá
fora está chovendo. Sem me preocupar com nada, continuo caminhando,
deixando a água da chuva lavar as minhas lágrimas, as minhas angústias e
medos.
Estou feliz que Lucas esteja bem, de verdade, eu estou meu Deus.
Mesmo ele não se lembrando de quem eu sou, o que importa é que está vivo e
logo vai voltar pra casa.
De repente paro os meus passos, lembrando-me do que Karin disse.
— Vou ter que sair da sua casa. Mesmo que isso me mate, não vou
atrapalhar a sua recuperação. Vou fazer isso por você, meu amor, só por
você.
Mas ao mesmo tempo em que as palavras saem da minha boca, não
tenho mais tanta certeza. E se ele se lembrar, amanhã? Ou depois de amanhã?
Melhor esperar pelo menos uma semana. É isso mesmo que vou fazer.
Ele tem que se lembrar de mim.
Uma semana depois...

Lucas volta para casa amanhã e eu tenho que sair de sua casa hoje. As
minhas esperanças de ele recuperar a memória foram desmoronadas no
terceiro dia, no quarto e quinto desisti. Já arrumei as minhas coisas e as de
Clarinha, só falta eu me despedir da minha estufa e voltar para a minha casa.
A caminho da estufa eu juro a mim mesma que não vou chorar, lá é o
lugar que enchemos de amor e alegria e não vou deixar a minha tristeza
apagar essas lembranças. Forte, eu serei forte.
Chegando cada vez mais perto, as minhas mãos começam a suar, as
minhas pernas ficaram cada vez mais trêmulas e as lágrimas, que disse que
não deixaria cair, estão ameaçando sair de qualquer jeito.
Paro no caminho, olho mais uma vez e volto para a casa. Não
consigo fazer isso sozinha. Penso comigo mesma.
— Ei, filha, o que houve? — O meu pai está na sala, segurando sua
neta.
— Preciso dela, pai, não consigo entrar lá sozinha. — Não dá para
esconder a dor em minha voz.
— Tudo bem, filha.
Sorri e me entrega Clara.
Dessa vez é mais fácil, entro pela porta e os meus olhos vão direto
para o local em que Lucas se ajoelhou e me pediu para ser sua para sempre,
depois fizemos amor.
Desvio os olhos e me concentro em minhas flores. Vou sentir tanta
falta de vir observá-las e cuidá-las todos os dias de manhã, de sentir o cheiro
e a maciez das suas pétalas.
Mas é o jeito.
— Gostou das flores, meu amor? — pergunto a Clarinha, que estava
estendendo a mãozinha para pegar uma.
Olho mais uma vez o nosso refúgio e saio de lá, pois está sendo
demais adiar o inevitável por mais tempo.
— Vamos voltar para casa, filha. Casa que a bisa nos deixou e ver o
que acontece a seguir.
Encontramos o meu pai conversando com uma Inês com lágrimas nos
olhos. Vou sentir falta dela, ela era como uma mãe para mim nesse tempo
que fiquei aqui e ela é tão querida com a minha pequena.
— Oh, minha menina, eu vou sentir tanta saudade de vocês. Essa casa
não será a mesma sem as duas. — Funga e nos abraça, fazendo um sanduiche
de Clarinha.
Abracei Inês de volta e beijo seu rosto, tentando acalmá-la, mas é
inútil porque eu estou do mesmo jeito.
— Você pode nos visitar sempre que quiser, é pertinho. Será sempre
bem-vinda. Tudo bem?
— Vou sempre que puder. Não vou conseguir ficar longe dessa
menina linda.
— Cuide dele por mim — sussurro para ela.
— Eu vou. — Assente.
Ficamos mais alguns minutos, enquanto Inês beija e balança Clarinha,
depois vamos para o carro e para a nossa nova/antiga casa.
No caminho, o meu pai tenta mais uma vez me convencer de ir morar
com ele, mas eu quero o meu cantinho. Quero cuidar da minha filha, voltar ao
trabalho e descobrir tudo que ouve no hotel na noite do acidente. Não soube
de mais nada do Leon, ele está quieto. Mas dessa vez quem vai surpreender
sou eu, não sei onde encontrá-lo ainda, mas vou e ele vai falar comigo nem
que eu tenha que quebrar todos os seus dedos.
Agora que não tenho Lucas comigo, preciso me defender sozinha.
Chega de medo, já fugi disso por muito tempo, antes achava que Leon só era
louco, mas agora tenho certeza de que tem mais coisa aí. E eu vou descobrir
ou não me chamo Alice Carvalho.
— Alice? — A voz do meu pai me tira dos meus pensamentos.
— Hã?
Olho para trás e Clarinha está brincando com o seu brinquedo.
— Chegamos há cinco minutos. No que estava pensando? Chamei
várias vezes e você estava longe.
— Nada, pai, só pensando na vida — desconverso. Não quero que ele
saiba o que pretendo fazer.
— Tem certeza que não quer ir passar um tempo lá em casa?
— Tenho, pai. Eu vou ficar bem. Josi mora comigo, esqueceu?
— Está bem, está bem, mas se precisar de qualquer coisa, qualquer
hora é só me ligar que venho correndo. Seu pai está aqui e não vai a lugar
nenhum.
Ele ainda se sente culpado por ter passado tanto tempo com medo de
se apresentar a mim e não ter estado aqui quando precisei todos esses anos
atrás. Não o culpo, na verdade, eu nem penso mais nisso, o que importa é que
ele está aqui agora.
— Eu amo você, pai. E eu prometo te chamar todos os dias. Agora
vamos entrar que eu tenho que alimentar essa mocinha, que daqui a pouco
pedirá comida aos berros. — Beijo a sua bochecha e sai do carro.
Não vou olhar para ele, sei que os seus olhos estão marejados, sempre
que digo que o amo ele fica emocionado.
Abrindo a porta de casa, sou surpreendida com os meus amigos todos
aqui. As minhas irmãs e os irmãos de Lucas, as meninas da banda, as que
trabalham na floricultura, o meu irmão, Jeff e até Raquel. Estão todos aqui.
— Ah até que enfim, estava morrendo de fome. Porra, cunhadinha, o
seu pai dirige igual uma vovozinha — dispara Léo, depois sorri meio
envergonhado quando olha para o meu pai atrás de mim. — Desculpe,
senhor. — diz, fazendo todos rirem e eu chorar.
Saber que tenho esse tanto de gente ao meu lado me faz ficar
emocionada. Mesmo os irmãos do Lucas estão aqui.
— O que está acontecendo? — consigo falar depois de duas tentativas
de fazer a minha voz sair.
— O que está acontecendo é que mesmo que estejamos tristes,
estamos felizes ao mesmo tempo, e sempre estaremos aqui para você. — diz
Léo franzindo a testa. — Faz sentido o que eu disse?
— Eu entendi. — Sorrio para ele.
— Ótimo, então vamos comer?
Explodimos em gargalhadas com a ansiedade de Léo. Nunca vi uma
criatura comer tanto e quando está com fome é chato pra caramba.
Abraço a todos e Clarinha é passada de mão em mão até parar nos
braços de Luís e sorrir, passando a mão em sua cabeça enquanto ele cheira
sua barriga, fazendo-a gargalhar.
A única pessoa que eu vou contar o que pretendo é ele, porque sei que
ele vai estar me vigiando de qualquer maneira.
— Obrigada por estar aqui — falo, encostando a minha cabeça em seu
ombro.
Depois que voltamos da fazenda ele e eu nos aproximamos mais, Luís
é um durão de coração mole.
— Ele vai voltar, você sabe. — Limpa a garganta. — Eu sei que vai.
Não respondo, porque estou com um pressentimento de que as coisas
vão ficar ainda piores.
Olho a minha pequena rindo e lembro que faz dias que ela não ria
assim. O meu coração fica mais leve. Nós vamos ficar bem até ele voltar, e se
ele não voltar, eu vou trazê-lo de volta, nem que seja na marra.
29 - Lucas

— Eu amo as suas sardas! — digo, não sabendo de onde isso vem,


pois não consigo ver o seu rosto.
— E eu amo você inteiro, meu lindo.
Não reconheço a voz de novo. A única coisa que eu consigo ver na
neblina que se instalara em meus olhos, são os “seus olhos”. Olhos verdes
lindos, e o olhar que ela me dá, cheio de amor, me deixa com o coração mais
leve e me sentindo a pessoa mais amada no mundo inteiro. Mas logo a
mulher, que eu não consigo ver o rosto, começa a chorar e eu não sei o que
fazer e digo sempre a mesma coisa.
— Eu te amo mais, minha linda... — E ela chama o meu nome mais e
mais e, então vai embora correndo.
— Lucas.
— Lucas...
— Lucas, acorda!
Com um grito e um empurrão sou acordado para encontrar Karin me
olhando com os olhos semicerrados. Como toda vez que tenho esse sonho, a
minha mão vai direto ao meu pescoço à procura de algo, que não sei o que é
mais que sinto que deveria estar lá.
— De novo sonhando?
Fico olhando para ela, que acendeu o abajur, e dá para ver o seu rosto
perfeitamente. E não estava feliz.
— Você não tem sardas — as palavras saem da minha boca antes
mesmo que eu conseguisse parar.
— O quê? Isso de novo, Lucas? Tem um mês que você diz essa
mesma coisa toda vez que te acordo, porque está aí se mexendo e gemendo.
Não suporto mais isso! — Começa a chorar e me sinto um pouco culpado.
Deus, por que estou tendo esse sonho repetidamente?
— Vem aqui — a chamo.
Karin se aconchega ao meu lado na cama. Apesar de dormirmos todas
as noites no mesmo quarto, me sinto estranho. Quando ela tenta me beijar eu
não consigo deixar, alguma coisa me impede. Ela tentou várias vezes me
seduzir, mas não consigo sentir nada. De jeito nenhum.
Isso tem que acabar, pois apesar de estarmos noivos e do nosso
casamento ser daqui quatro meses, não posso fazer isso com a gente. Não
casarei com Karin, se nem consigo sentir desejo mais por ela. Por mais grato
que esteja por ela cuidar muito bem de mim esse tempo, não posso fazer isso.
Ela merece mais que gratidão. Sinto que amor, eu não sinto por ela.
Nesse momento, me lembro do sonho e o meu desejo por aquela
mulher, que não consigo ver o rosto, vem com tudo. Percebo uma barraca se
formando embaixo dos lençóis. Droga! Não sou só eu a perceber.
— Hum... até que enfim alguém acordou. Estava com saudades desse
equipamento, achei que estivesse se quebrado no acidente também —
dizendo isso, ela coloca a mão em cima só para a minha ereção murchar em
segundos.
Karin grunhe, sai da cama e do quarto. Suspiro de alívio e me sinto
culpado ao mesmo tempo.
Luto para me lembrar de quem são os olhos verdes, mas não consigo.
Tenho que fazer alguma coisa ou vou enlouquecer.
Tem um mês e meio que sofri um acidente, que não me lembro, os
meus irmãos me encheram de histórias sobre uma mulher, que eu também
não lembro. Encheram o saco por eu ter voltado com a Karin sendo que para
mim nunca sequer terminamos.
Não consigo entender o que eles querem que eu faça e quando
discutimos demais pela mesma coisa eu forço a minha mente a trabalhar para
satisfazê-los, mas não consigo lembrar ou assimilar nada do que me dizem.
Só o que vem são dores de cabeça terríveis, então eles param de falar e vão
embora, deixando-me com minha dor.
Dez dias depois que saímos do hospital, Karin teve a ideia de
viajarmos. No começo não queria e nem me faria bem, pois ainda não estava
totalmente recuperado das lesões. Ela fez beicinho, mas concordou. E como
ela não desiste fácil, duas semanas depois me convenceu a irmos para Paraty
e ficarmos em uma pousada linda, chamada Pousada Lua Clara.
Assim que vi esse nome senti um aperto no peito, comecei a pensar
onde tinha visto esse nome antes, mas nada veio. Forcei um pouco mais e só
fez com que sentisse uma dor de cabeça, dor essa que já estava me irritando.
Ainda não conheço a “minha casa”, Karin me levou para o seu
apartamento assim que deixamos o hospital. Os meus irmãos não queriam,
mas eu preferi ir, lá eu conhecia e para a minha recuperação seria melhor no
momento. Só fiquei triste porque eles não iam muito lá e quando iam, sempre
traziam na conversa, outra mulher, brigávamos e iam embora. Parece que
nem se preocupavam mais comigo, só sabiam falar e falar dela o tempo todo.
Eu juro que queria lembrar, mas nada vem.
— Devia ter aceitado ver as coisas que trouxeram para você, isso
teria acendido uma luz nessa sua cabeça oca! — diz uma voz irritante em
minha cabeça. Ela está me irritando desde que aceitei viajar com a Karin,
para tentar esquecer as pressões dos meus irmãos. Ah cale-se!
Por isso decidi ir para essa pousada com Karin e esfriar a cabeça,
esses dias me fizeram bem, apesar dos sonhos ficarem mais frequentes aqui e
me deixarem mais confuso que antes.
Está na hora de voltarmos e de dar mais créditos aos meus irmãos,
eles não iriam mentir para mim.
Levanto e vou procurar por Karin, decidido a resolver logo essa
situação. A encontro sentada na área da piscina, a pousada inteira é linda e
gostaria de voltar aqui depois com a...
Com quem? Deus, sinto que vou enlouquecer.
— Karin, precisamos conversar. Por que não voltamos para o quarto?
Ela me olha com uma carranca e sai a minha frente.
Fechando a porta atrás de nós, resolvo falar logo.
— Por mais grato que eu esteja por ter ficado comigo esses dias e
cuidado de mim, sem forçar a minha cabeça, me deixando pensar no que
quisesse, não posso casar com você Karin. Não consigo nem te beijar e
apesar de a última coisa que me lembre é que vou casar com você, não posso
fazer isso. Sinto muito. Você merece mais que gratidão.
— É claro que não pode, seu idiota! — ela explode. — Eu já sou
casada!
O quê?
O meu rosto deve ter me entregado, porque ela começa a rir da minha
confusão.
— Você é patético, Lucas, eu achei que poderia fazer com que se
interessasse por mim de novo, mas aquela desgraçada não deixa, mesmo que
não se lembre dela.
Me vem uma onda de raiva quando ela fala “aquela desgraçada”.
— Não a chame assim! — esbravejo e ela se encolhe, mas logo se
recupera. — Você é casada? Com quem?
Vasculho a minha mente e nada vem, um grande e gordo nada, é o
que tenho.
— Estou me divorciando, na verdade, e esperava que você e eu
déssemos certo, mas eu não suporto mais isso! Não tinha estômago para
aturar você antes e agora menos ainda.
Não consigo dizer nada, só fico olhando para essa mulher totalmente
diferente da que sugeriu cuidar de mim depois do acidente.
Agarrando as chaves do carro, ela me deixa com essa nova
informação e sai sem nem ao menos arrumar suas coisas.
— Pensa, Lucas, pensa! — falo comigo mesmo e passo as mãos na
cabeça para tentar pensar nisso que ela disse. Essa informação me faz ficar
com tanta raiva de mim mesmo. Eu devia ter ouvido a minha família e não
ficado contra eles. — Eu sou tão burro!
Eu tenho que sair daqui, preciso dos meus irmãos.
Olho a hora e vejo que já se passava da meia-noite. Esses dias que
passei aqui na pousada, deixei o meu celular desligado para não brigar com
eles. Agora eu entendo o porquê de odiarem a Karin, apesar de não
conseguir me lembrar do que ela acabou de despejar.
Ligo o celular e vejo que tenho mais de vinte chamadas.
Léo.
Luís.
Adriana.
Alexandre e um número desconhecido.
O meu peito se aperta e me sinto uma pessoa horrível por ter
praticamente os excluído.
Pressiono o número do Luís e espero ele atender.
— Lucas?
— Oi, mano...
— Ah, Graças a Deus que ligou. O que estava pensando sumindo sem
nem ao menos nos dizer para onde? Meu Deus, irmão, não faz mais isso,
perdi os meus cabelos todos esses dias.
— Até parece, você é careca. — Sorrio.
— Não tem graça. Onde você está? E por que estava com o celular
desligado?
— Estou em Paraty e gostaria de uma carona, se você puder. Karin
me disse um monte de coisa e foi embora, me deixando sem carro.
— Aquela desgraçada! Eu devia ter amarrado você na minha casa
assim que saiu do hospital. Só não fiz isso para não prejudicar a sua
recuperação e porque Raquel ficou me enchendo o saco, só por isso não te
soquei até você voltar a fazer sentido. Nunca mais escuto ninguém quando se
tratar da minha família.
— Agora eu também ia querer que me socasse por ter sido tão mal
com você e os outros.
— Me mande o endereço que chego aí.
— Obrigado, Luís, e me desculpe de novo, tenho sido horrível. —
Suspiramos juntos. — Eu te vejo logo, então.
— Conversaremos quando chegar. Não se preocupe com nada, está
bem?
— Tudo bem.
Desligamos.
Mando o endereço, vou arrumar as minhas coisas e esperar ele chegar
para conhecer a minha nova casa.
— Então quer dizer que ela é mesmo casada?
— Sim — responde Léo com raiva.
Quando Luís chegou, sou surpreendido com Léo e o meu primo
Alexandre no carro. Abraçamo-nos e conversamos o trajeto todo de volta
para casa. Então sou informado de que Karin me traiu com o meu amigo e
que se casaram, há mais de três anos.
— Agora entendo porque a odeiam e não queriam que eu fosse com
ela.
— Por isso e porque ela...
— Deus, minha cabeça parece que vai explodir — gemo e fecho os
olhos, realmente essa dor está mais forte hoje. — Luís, vamos passar no
hospital, eu preciso de remédio. Os que eu trouxe acabaram e o restante está
na casa daquela mulher.
— Claro! Você está bem?
— Estou, logo passa. — Olho o meu maninho caçula, que está ao meu
lado no banco de trás, e me olha impassível. — Eu prometo que não te
cortarei e vou ouvir tudo o que me disser e ver o que me mostrar quando essa
dor passar, tudo bem?
— Tudo bem. — Ele aperta o meu ombro e assente.
— Então, o que estavam fazendo? Parece que estavam juntos quando
liguei? — os questiono e ouço Alexandre gemer no banco da frente e Léo
gargalhar ao meu lado, fazendo com que a minha cabeça lateje por causa do
som alto. Gemo.
— Desculpe, mano, vou diminuir o volume. — E continua rindo.
— Tudo bem — o tranquilizo. — Vão me contar ou não?
— Bem, é que hoje à noite, já que já é sábado, vai ser o chá de
alguma coisa e despedida de solteira da Andrea. — Para, rindo mais um
pouco e continua: — E Alexandre foi sorteado para cuidar delas. Por mais
que você não se lembre, a sua mulher vai estar lá, junto com as meninas, e
como sabemos que nos mataria quando recuperasse a memória, se não
cuidássemos dela, resolvemos fazer um sorteio para ficar de olho nelas.
— E eu fui o sortudo. Não sei por que vocês não usam as bolas que
tem e vão cuidar das suas próprias mulheres! — diz Alexandre.
— Suas mulheres? Como assim, será que se casaram e eu também não
lembro?
— Não é nada disso. Não casamos, não temos namoradas. Alexandre
está viajando — responde Luís no banco do motorista, com uma expressão
séria.
— Ahan, continuem mentindo para si mesmos, seus frouxos.
— Do que ele está falando?
— Nada.
— Nada.
Respondem os meus dois irmãos ao mesmo tempo e vejo que eu estou
perdendo, sim, muita coisa aqui, mas não vou insistir.
Meia hora depois, chegamos ao hospital e converso com o médico.
Ele me receita outro remédio e diz para eu voltar daqui uma semana para
novos exames de rotina e retirar o gesso do braço.
Saímos de lá direto para a minha casa nova. É realmente uma casa
que eu compraria, é linda.
Entrando pela porta, sinto uma sensação de paz e conforto, que não
sinto há muito tempo.
— Bem, essa é sua casa, mano. O que achou?
— Até onde estou vendo estou gostando, mas vou explorá-la depois
que acordar, pois esse medicamento que Jonas me deu já está fazendo efeito.
— Vem que eu te mostro o seu quarto. — oferece Luís.
— Não precisa, eu sei onde fica.
— Sabe? — pergunta com uma sobrancelha levantada.
— Claro que sei, essa é minha casa. — E eu realmente sinto que sei.
Subo as escadas com três homens atrás de mim. Sigo para onde sei
que é o meu quarto, abro a porta e sou invadido pelo cheiro que eu sabia que
era dela, da mulher cujo rosto se esconde de mim em meus sonhos.
— Onde ela está? — pergunto sem saber por que, mas sinto que quero
saber.
— Quem?
— A dona desse cheiro.
— Vem, Lucas, deite-se e durma. O doutor disse que era para deitar
assim que chegasse em casa. Conversamos depois.
— Sim, papai.
Sorrio e me jogo na cama, abraçando um travesseiro e adormecendo
logo a seguir. Sonho com ela, mas ela está de costas e não dá para ver os seus
lindos olhos.
30 - Alice
— Pare com isso, Alice, eu faço questão de ficar com ela para você ir
se divertir um pouco, Deus sabe que você precisa. E hoje você e as meninas
são indispensáveis para a Andrea.
— Raquel, eu não quero te incomodar, papai disse que viria e eu po...
— Chega! Eu já estou aqui e daqui a pouco Bruno estará também.
Teremos uma noite linda e maravilhosa pela frente, com essa princesa linda.
— Tudo bem, então, mas qualquer coisa me liga que volto correndo
— digo.
Pego a minha pequenina no colo e a aperto, fazendo-a rir. Esse último
mês, Clarinha cresceu muito e me corta o coração por Lucas estar perdendo
isso, mas ao mesmo tempo fico com raiva dele por estar com aquela vaca da
Karin.
— Vem com a tia Raquel, para a mamãe se produzir. As meninas já
estão a caminho. — Olho para Raquel e sorrio, lembrando-me de quando nos
conhecemos e eu queria estapeá-la.
— O que foi? — ela pergunta, olhando-me com curiosidade.
— Estava me lembrando de quando nos conhecemos. — Ela começa
a rir junto comigo e Clarinha nos vendo, começa também.
— O que há de tão engraçado por aqui? Diga-nos que também
queremos rir — diz Jeff, entrando pela porta com Josi, Andrea, Monique e
Adriana, atrás. — Está na hora de começarmos, amores. Temos que estar na
nossa área Vip às dezenove horas para começarmos com o Chá de Lingerie e
quando a boate estiver bobando, começar a Despedida de Solteira dessa
safada aqui. — Aponta para Andrea, fazendo-a revirar os olhos.
— Então, vamos — gritamos e fazemos uma dancinha, seguindo-o
para o andar de cima da minha casa.
Realmente, estava sentindo falta disso, de me divertir, de rir de
qualquer bobagem.
Esse tempo, desde o acidente, não fiz outra coisa senão trabalhar,
cuidar da minha filha e procurar o desgraçado do Leon, que por sinal tomou
um chá de sumiço. Mas tenho certeza que Luís e Alexandre têm alguma coisa
a ver com isso. Luís não quis me dizer, mas eu sei que ele fez alguma coisa,
pelo menos consegui descobrir onde fica a casa do cretino. E assim que ele
aparecer por lá eu saberei e farei uma visitinha.
Balanço a cabeça, dispersando esses pensamentos e vou começar a me
arrumar. Como já tinha tomado banho faltava pouco.
Nesse momento o meu celular apita, avisando que recebi uma
mensagem. É do meu pai avisando que Raquel já o avisou que ficaria com
Clarinha. Não resisto e olho mais uma vez a mensagem que recebi do Léo,
hoje pela manhã.

Cunhadinha...
Lucas está em casa, fomos buscá-lo em Paraty.
Boas notícias, ele não está mais com aquela bruxa. Está dormindo
agora, estava com muita dor de cabeça e o médico receitou outro
medicamento. Ele prometeu nos ouvir e ver tudo o que temos quando
acordar. Vamos cuidar dele para você, não se preocupe.
Um beijo molhado do seu cunhado preferido...
Léo.

Suspirei de alivio quando li que eles não estavam mais juntos e que
Lucas está de volta no lugar de onde não deveria ter saído. Mas não consegui
impedir a minha mente de ir para aquele lugar de novo, o lugar onde imagens
deles juntos todos os dias nesses um mês e meio, estão.
— Ei, hoje nada de tristeza, vamos chutar o pau da barraca, enfiar o
pé na jaca e aprontar muito essa noite! — Ela tem razão, hoje vou me
divertir.
— Tudo bem, Andrea, e como andam as coisas com Roberto?
— Ainda na mesma, ainda estranho. Às vezes penso que não quer
mais se casar. — Suspira. — Sei lá, pode ser coisa da minha cabeça, não
quero pensar nisso hoje. Vamos logo terminar.
— Vamos.
Chegamos na hora marcada e somos levadas para a nossa sala
privada. Como imaginei, está tudo decorado com pênis em todos os lugares,
no abajur, nos canudos, no teto. Essa ideia de juntar Chá de Lingerie e
Despedida de Solteira foi ótima. Tem muitas comidinhas com formato de
lingerie, balões na cor preta, vermelha e branco, decorando, e um manequim
com o rosto de Andrea em um espartilho matador.
Na entrada, recebemos um colar de pênis e uma tiara. Só a Dy mesmo
para fazer isso. Ri, mas coloquei assim mesmo.
Mais à frente tem peças de lingerie penduradas em uma espécie de
varal, no meio da sala. Está tudo lindo.
Essa boate é uma das melhores do Rio e hoje o traje é de gala e
máscaras, ainda bem porque estou morrendo de vergonha. Por enquanto
podemos ficar sem elas, mas fora dessa sala temos que usá-las.
As minhas amigas estão vestidas para matar.
As outras meninas vão chegando pouco a pouco e uma hora depois
estamos bem animadas já. Andrea ganha as mais lindas lingeries, de todas as
cores e para todos os momentos. Ela veste algumas e desfila para a gente.
Bebemos, dançamos e falamos besteiras.
Depois nos organizamos, colocamos nossas máscaras e vamos lá para
baixo dançar e nos misturar, seguindo Jeff.
Por incrível que pareça eu estava me divertindo. E isso me deixa feliz
e triste ao mesmo tempo, feliz por estar com as minhas amigas, mas triste por
Lucas não está à minha espera quando chegar em casa, para eu poder atacá-
lo.
Suspirando, continuo a dançar.
— Eu te desafio a mandar uma foto das suas partes femininas para o
Lucas! — grita uma Andrea meio bêbada, no meu ouvido.
— O quê? — Será que eu ouvi direito?
— Ir ao banheiro e tirar uma foto da sua florzinha e mandar para o
Lucas. Aposto que ele vai adorar vê-la de novo. — Ela está mesmo falando
sério!
— Você enlouqueceu. — Começo a rir, mas gosto da ideia.
— Ah, vamos lá, eu vou mandar para o meu noivo também. — Não
custa nada atormentar Lucas um pouquinho.
Sorrio e puxo o seu braço em direção aos banheiros. Chegando lá,
puxo a saia do vestido para cima, retiro a minha calcinha e tiro uma foto bem
íntima e escrevo na legenda:
“Ela está sentindo a sua falta, desesperadamente”.
Envio para o seu número.
— Uau, que loucura!
Estou sentindo-me uma menina má. Começo a rir e Andrea ri ao meu
lado, pois havia feito à mesma coisa que eu. Estamos rindo ainda quando as
meninas entram no banheiro e nos puxam para fora, mal dando tempo de nos
arrumarmos.
— Não vão acreditar no que Jeff fez — diz Monique indignada.
— O que foi?
— Ele disse para o cara da banda que tem uma noiva na casa hoje e
agora você vai ter que dançar para a boate inteira, Andrea.
— Eu? — Ela pergunta sorrindo. — Mas só danço se vocês dançarem
comigo... Vamos, vamos? Vai ser divertido.
— Vamos nessa. Hoje é tudo sobre Andrea, o seu pedido é uma
ordem. — Olho para as meninas e depois para Andrea. — Mas só uma, ouviu
bem?
Andrea bate palmas como uma criança e vamos para o palco. Estou
sentindo-me tão sensual, tão bem, queria tanto o meu Lucas de volta, queria
que me visse. Ele adora quando danço, mas também morre de ciúme. Sorrio
por dentro.
— Essa é para você, meu amor, mesmo estando longe está sempre
comigo — sussurro.
Andrea fala com um homem, que estava em uma cabine, e de repente
começa a tocar a música das The Pussycat Dolls – Buttons. Balanço a cabeça
e vamos para o centro do palco, como se fossemos as próprias Pussycats.
Assim que começamos a dançar ouvimos os gritos, assovios e nos
animamos mais ainda dançando, rebolando, nos jogando no chão e cantando
junto com a música. Essa é uma das nossas preferidas para dançar, sempre
fazíamos isso quando éramos mais jovens, ensaiávamos e quando saíamos
botávamos para fora as nossas habilidades. Andrea sempre amou dançar, só
não seguiu na dança por causa dos seus pais.
A música acaba, pulamos e rimos descendo do palco.
— Uau! O que foi isso, pessoal? Parabéns, meninas, vocês arrasaram.
— Ouvimos os assovios e quando estamos quase chegando à pista de dança,
ele nos chama de novo, dessa vez Jeff está lá em cima com ele. Vou matá-lo.
— Por favor, noiva, volte ao palco que você terá que nos agraciar mais um
pouco com a sua beleza.
Andrea dá de ombros e volta ao palco.
— Então, agora veja o que precisamos que faça, noiva. Você terá que
dançar para alguém, terá de seduzi-lo dançando uma música que nós
escolheremos. O que me diz?
— Vamos nessa! — ela grita e a galera gosta.
— Ela está quase bêbada — sussurra Josi, sorrindo.
— Só está alegrinha — digo rindo.
Olho ao redor e me deparo com um homem alto, que está olhando em
nossa direção e mexendo no celular. Desvio o olhar e foco no palco.
— Hum. Aquele! — diz o homem com o microfone, apontando na
mesma direção em que eu tinha olhado a pouco e, por sorte, ele estava
apontando diretamente para o homem que nos observava. — Ei você aí, você
mesmo com a máscara do Zorro. Você foi o escolhido e o sortudo a ter uma
dança com essa linda noiva.
O homem balança a cabeça e olha em outra direção, mas as pessoas
começaram a incentivá-lo a ir e aplaudir, então ele acaba cedendo. O homem
sobe no palco e Jeff o faz sentar numa cadeira, no lado esquerdo do palco.
Andrea está sorrindo animada, sua máscara é linda, branca e rendada que
cobre até o nariz. A do homem realmente parece com a do Zorro.
— Prontos? — Eles olham um para o outro assentindo. Andrea sorri e
o homem na cadeira também, depois olha para o teto e balança a cabeça. —
Vamos lá, então.
— Música DJ! Quebra tudo Andrea, o palco e esse homem são todo
seus.
A música começa e logo reconheço. Partition da Beyoncé.
Andrea vai caminhando lentamente em direção ao homem na cadeira,
fazendo contato visual e se movendo sensualmente, jogando os quadris para
um lado e para outro, depois joga uma perna, a que aparece na fenda do seu
vestido, pousando o seu pé na perna do homem. Ainda se movendo
lentamente, abaixa o corpo e só para quando está quase tocando seu nariz no
dele.
Vejo quando ele cerra os punhos ao lado do corpo e faz contato visual
com Andrea. Ela retira perna, fica de costas para ele e desce até o chão
rebolando lentamente. Andrea se afastou e depois se agacha no chão, de
frente para ele de novo, e vai rastejando ao som da música em mãos e joelhos
até o homem, mantendo contato visual. Quando chega aos seus pés, levanta e
quase senta em seu colo. Ele não resiste e ergue a mão para tocar a sua perna,
mas Andrea é mais rápida.
— Nananinanão. Sem mão boba, Zorro! — diz, apontando o dedo
para ele e sorrindo, depois continua a sua tortura com o pobre homem.
Estava rindo da cena quando ouço Adriana amaldiçoando ao meu
lado.
— O que foi, Dri?
— Olha quem está vindo ali? — diz ela, apontando para o lado do
bar.
— Tudo bem? — pergunta Josi, que estava dançando com um cara ao
nosso lado e deve ter visto a expressão no rosto de Adriana.
— Luís está aqui, olhe. Eu conheço aquela careca a quilômetros de
distância.
Mal termina de falar e Luís nos alcança, puxando Josi pelo braço e
rosnando na cara do pobre rapaz.
— Suma!
O rapaz não pensa duas vezes e sai, praticamente correndo. Ainda
segurando o braço de Josi, Luís olha para ela e parece feroz mesmo estando
com uma máscara que cobre quase o seu rosto todo.
— Precisava dançar daquele jeito, se esfregando nele? E o que
estavam pensando dançando daquele jeito em cima do palco?
Josi está bufando de raiva e quando vai responder, Luís tasca um beijo
nela, que até eu fiquei sem ar.
— Eita, que o meu irmão está bem possessivo — Adriana diz rindo e
me junto a ela, mas paramos no momento que ouço a voz de Léo. — Pronto o
outro também veio. Essa noite só melhora.
— Que porra é essa que você está usando, Monique? —
Ela, meio aturdida, olha para si mesma.
— Hum... Um vestido? — diz, mordendo o lábio inferior.
— O caralho que isso é um vestido! — esbraveja Léo. Aproxima-se
mais ainda, coloca a mão por dentro da fenda enorme do vestido dela e sibila:
— Puta que pariu, Potranca, você não está usando calcinha?
Nós ficamos sem reação diante a cena em nossa frente.
— Meu deus isso foi quente — sussurro.
E ao mesmo tempo Adriana diz:
— Eca! Ele é meu irmão.
Dá para perceber que Monique está paralisada, arregala os olhos e
depois suspira, liberando o lábio que estava mordendo.
— Do que você me chamou? — suas palavras saem meio arrastadas.
— Minha Potranca! — exclama Léo.
O que veio a seguir me faz ofegar. Monique vira a mão e dá um tapa
certeiro no rosto dele, depois dá um passo atrás. Léo só a olha em choque.
Quando ela se vira com um sorriso enorme no rosto, Léo se recupera e a puxa
pelo braço.
— Ah, tu não vai fugir. — E a beija. Um beijo e tanto.
O que posso fazer a não ser sorrir? Esse povo me mata. Josi e Luís
continuam se agarrando no meio do salão, Monique e Léo estão tão grudados
que parecem um só. A música no palco acabou e Andrea está olhando para o
colo do pobre coitado e sorrindo, faz uma reverencia e desce do palco
correndo em nossa direção. Adriana e eu? Só olhamos uma para outra e
rimos, muito.
— Não sou de ninguém — diz Josi e olhamos para onde estão no
mesmo instante que ela dá uma joelhada na virilha de Luís.
— Ouch — geme Luís, segurando os seus bens.
Josi se afasta e fica na minha frente com uma cara engraçada. Levanto
uma sobrancelha e ela só sacode a cabeça.
— Jesus, se não fosse noiva eu daria para aquele cara agora mesmo.
— Andrea geme e se abana. — Ele é tão cheiroso e eu fiz o pau dele ficar
duro.
Nos entreolhamos e começamos a rir.
Em um instante estou rindo e no próximo estou tonta, tento me
segurar em alguma coisa e quase caio. Se não fosse pelos braços que senti ao
meu redor, teria me estatelado no chão.
— Lili, você está bem? — Não consigo saber quem está perguntando.
— Vamos lá para cima, para a nossa sala.
— Não, aqui está muito cheio, vamos levá-la lá fora para pegar um ar.
Alguém me pega nos braços e quando percebo, já estamos fora da
boate e sinto o vento, que está fazendo maravilhas.
— Obrigada.
— Alice, você está bem?
A minha visão está voltando e consigo ver Luís me olhando com rosto
sério.
— Só fiquei um pouco tonta, já vou melhorar. — Sorrio.
— Pronto, à limusine chegou. Coloque Alice lá, que cuidaremos dela
e vocês dois podem ir embora — diz Josi e parece que ainda está chateada
com Luís.
A limusine foi cortesia do papai, o que agradeci muito.
Luís segue e me coloca dentro do carro, aperta o meu braço e sai.
— Tchau, cunhadinha. Sei que está em boas mãos, mas qualquer
coisa me liga, ok?
— Ok, Léo. — Ele me dá um beijo e vai embora, seguindo seu irmão.
Fiquei só, por um segundo, depois as meninas entraram e ficaram me
olhando. — O quê? Foi só uma tontura, talvez por causa da bebida.
— Anteontem você também estava só tonta, ontem você teve apenas
uma tontura. Alice, você tem que parar com isso e se alimentar direito — diz
Josi.
Claro, ela mora comigo e ultimamente está me observando demais.
— Não é nada, só estou meio enjoada e tonta.
As meninas se entreolham e depois me olham.
— Enjoada e tonta. Quando foi sua última menstruação, Lili?
— Hã?
— Nós menstruamos quase na mesma época e realmente não vi você
reclamando mês passado e você sempre reclama quando ela vem.
— Eu... Eu não lembro. O acidente do Lucas, a perda de memória e
ele sumindo com aquela vaca, eu meio que fiquei meio desligada e não
consigo me lembrar. — Quando foi mesmo? — Hum, foi...
— James, pare na primeira farmácia que encontrar. — Jeff deu a
ordem ao motorista. Nem tinha percebido que estávamos em movimento.
Fecho os olhos e tento me concentrar em lembrar. Realmente, mês
passado foi corrido, pode ter vindo e não lembro.
Momentos depois o carro para, Andrea e Josi descem, deixando-me
com Adriana, Monique e Jeff. Olho para eles e sorrio.
— Estou bem, gente, bebi um pouco e esses dois últimos meses foram
bem puxados. Deve ser estresse, não se preocupem. Prometo me alimentar
melhor.
— Nem que eu tenha que enfiar goela abaixo, você vai mesmo — diz
Jeff segurando a minha mão.
A porta se abre e as meninas entram com uma enorme sacola. Levanto
a sobrancelha sem entender.
— Eu não preciso de nenhum remédio, meninas, sério estou bem
melhor.
— James, pare no próximo bar que encontrar.
Não dá tempo nem de processar o que ela diz, pois o carro para nem
cinco minutos depois e elas saem puxando-me para fora dele.
Entramos no bar e somos agraciados com vários olhos nos
observando, até que não dava para ver mais. Entramos no banheiro e elas me
entregam a sacola. Suspiro e a abro, encontrando uns seis testes de gravidez,
um de cada marca. Sinto o ar dos meus pulmões fugirem.
— Vocês não estão pensando que...
— Não diga nada, só entre na cabine e faça xixi. — Sorri Monique e
ela parece esperançosa.
Deus, será?
— Então, tá. Mas, sinceramente não acho...
— Shi... Vai logo! — dizem em uníssono.
Entro no banheiro e faço o que elas me pedem.
Não devia ter feito aqueles testes lá, agora não paro de chorar, estou
totalmente sem palavras.
Quarenta minutos depois, estou voltando para casa com as meninas, e
a primeira coisa que noto é que o carro de Raquel nem o do meu irmão estão
lá fora.
— Raquel? Bruno? — Nenhuma resposta.
Ando mais rápido à procura deles. Eles iam ficar com Clarinha até eu
voltar. Será que saíram com ela? Olho no relógio e vejo que é apenas 02h00
da manhã. Deveriam estar aqui, é tarde para Clarinha.
— Alguma coisa errada? — alguém pergunta, mas eu já estava
ficando apavorada e não vejo quem foi.
— Não sei. Eles deveriam estar aqui. Vou olhar lá em cima.
Sigo para a escada e chegando ao quarto da minha filha, ouço.
— Shi... Tudo bem, estou aqui. Não chore.
As minhas pernas fraquejam com alguém falando com a minha filha,
não é a voz do meu irmão nem da Raquel.
Parada na porta, com as pernas trêmulas, consigo balbuciar uma
pergunta.
— Quem está aí?
Silêncio se segue e eu começo a me apavorar, porque eu sei que tem
alguém com a minha filha e não reconheço a voz. Estava quase invadindo o
quarto, sem saber o que estava à minha espera, quando a pessoa responde e
abre a porta.
— Sou eu.
— Você?!
Meu Deus, ele está aqui. E ninando Clarinha, que está meio chorosa
em seus braços.
— Você está aqui. — A minha voz está rouca.
— Eu estou aqui. — Para um momento, limpando a garganta. —
Você está tão linda que estou com dificuldade para respirar.
— Lucas... — Fecho os olhos, mas estou com medo de abrir e não o
encontrar mais aqui. — Não estou sonhando?
— Não, meu amor.
Abro os meus olhos ao som da sua voz, não acreditando o olho e me
sinto tonta mais uma vez, depois não vejo mais nada.
31 - Lucas

— Não, meu amor.


Assim que as palavras saem da minha boca ela abre os seus lindos
olhos, me olha por um instante e desmaia.
— Meu Deus, Alice! — Coloquei Clarinha às pressas no berço e volto
para pegar Alice em meus braços, levando-a para a cama e colocando as suas
pernas para cima.
— O que houve? — As meninas estavam na porta em questão de
segundos, mas assim que me vem paralisam. — Lucas! — dizem surpresas.
— Oi, meninas. Me ajudem a retirar esse vestido dela, está muito
apertado. Ela desmaiou.
Antes que terminássemos de abrir o seu vestido, ela voltou e me olhou
com lágrimas nos olhos.
— Você está mesmo aqui — sussurra e passa a mão em meu rosto.
Inclino-me mais para sentir seu toque.
— Estou aqui, meu amor, e não sairei nunca mais — digo e dou
vários beijos em seus olhos, nariz, queixo e por último seus lábios. — Eu te
amo tanto, minha linda — digo entre beijos. — Me desculpa por tê-la feito
sofrer. Eu juro que nunca mais vou fazê-la chorar, a não ser que sejam
lágrimas de felicidade. — A minha voz está embargada.
Afasto-me para olhar para ela e ficamos nos encarando por alguns
minutos.
— Tome um pouco de água, Lili — oferece Adriana, nos tirando do
nosso transe
Alice bebe um pouco e me olha, enquanto acaricio a sua mão.
— Você se lembra de mim, então? — pergunta com um fio de voz.
— Sim, meu amor. Lembro-me de tudo. Me perdoa por ter demorado
tanto.
Começo a chorar e agora estávamos os dois chorando, ou melhor, os
três, pois nossa pequena também começa a chorar de novo.
Olho na direção do berço e vejo que Josi está tentando acalmá-la, em
vão.
— Vou levá-la lá para baixo para vocês poderem conversar — fala
ela, mas não quero me afastar das minhas meninas.
— Obrigado, Josi, mas eu não gostaria de me separar dela. Por favor.
Sorrindo, ela olha para Alice, que assente. Entrega-me a minha
pequena e sai do quarto com as meninas, deixando-nos sozinhos.
Clarinha para de chorar assim que a coloco em meu peito. Com um
suspiro lindo ela esfrega o seu rostinho em minha camisa, depois olha para
cima e fica me observando como se estivesse tentando gravar o meu rosto em
sua linda cabecinha.
— Oi, pequena do papai. Eu amo você, sabia? — Ela sorri para mim e
depois olha para a sua mãe. — Vamos cuidar da mamãe, vamos? — sussurro
e ela se mexe impaciente em meus braços.
— Você está bem, meu amor?
— Estou bem, sim — responde, acariciando a bochecha da nossa
filha. — Como? Quando? — Eu sabia o que ela queria dizer.
— Eu vou contar tudo, mas primeiro você precisa descansar.
— Não! — diz com firmeza, olhando-me com determinação. — Eu
estou bem, não posso esperar mais, por favor. — A sua voz está embargada e
os seus olhos marejados. — Eu não posso esperar.
— Tudo bem. — Me sento mais próximo dela, colocando Clarinha no
meio. Respiro fundo e começo.
— Estava em casa com os meus irmãos, tinha acabado de acordar,
passei o dia apagado por causa do remédio que Jonas me deu.
Olho para Alice e ela está me observando com expectativa. Sorrio e
continuo:
— Tinha prometido escutá-los e não os interromper, e também ver o
que eles tinham a me mostrar. Mas assim que tomei banho e desci as escadas
para encontrá-los, disseram que tinham que ir, uma coisa tinha vindo à tona e
conversaríamos mais tarde.
Balanço a cabeça com a lembrança dos seus semblantes. Estavam
irritados.
— Mostraram-me o telefone com umas carrancas e saíram dizendo
que logo voltariam. Não discuti com eles, os deixei ir e fui explorar a minha
casa nova. — Com a menção a casa, ela estremece.
Inclinando-me, beijo o seu nariz e aspiro o seu cheiro maravilhoso.
Deus! Parece que foi há tanto tempo que a senti.
— Eu amo você. — Olho em seus lindos olhos e vejo as lagrimas
descendo por seu rosto. Ela olha em outra direção, me pedindo para
continuar.
— É... Mal tinha chegado à cozinha quando tocaram a campainha,
abri e vi Raquel parada ali, com uma caixa na mão e um sorriso no rosto.
— Lucas, como está? Vim te devolver isso. — Me entrega a caixa e
fica ali esperando. — Eu queria ter te devolvido antes, mas você
desapareceu, então guardei. Karin não quis trazer todos os seus pertences do
hospital e pediu para a enfermeira jogar no lixo, mas Betty resolveu me
entregar sabendo que éramos quase da mesma família. — Sorri sonhadora.
— Quando soube que estava de volta, hoje de manhã, sabia que não podia
perder mais tempo. Abra! — me incentiva e continua me olhando da porta.
Olho dela para a caixa e resolvo abrir logo.
Abrindo a caixa, vejo uma aliança e um medalhão. Assim que toco no
medalhão, sinto um aperto no peito e algo pulsa forte em minha cabeça.
— Coloque-o no pescoço, lugar de onde ele nunca deveria ter saído
— ela diz e é o que faço.
Assim que o coloco a minha cabeça dói forte, mas eu ignoro, parece
que ele pertence ali. Na verdade, eu sei que está faltando algo porque eu
venho tendo sonhos repetidamente e quando acordo procuro algo aqui e não
encontro nada.
Abrindo o medalhão eu sou consumido por uma onda de emoção que
me faz cair de joelhos. Olho a nossa foto juntos e flashes começam a dançar
em minha cabeça. Lembro-me do dia que a encontrei na floricultura, o
nascimento da nossa pequena, quando aceitou ir para a fazenda comigo e do
nosso primeiro natal, juntos, quando me deu esse medalhão. Nossa primeira
vez juntos, o dia que me atacou no hospital e o dia mais feliz da minha vida,
quando aceitou ser minha para sempre.
Começo a tremer e derrubo a caixa no chão. Raquel a pega, tira a
aliança e coloca em meu dedo, depois sai pela porta e volta nem cinco
minutos depois com Clarinha no colo. Ela sorri para mim e balança os
bracinhos no ar, como se estivesse me chamando. E é então que tudo me vem
de uma vez e eu apago.

— Depois que voltei achei que tivesse sonhado, mas logo vi que era
tudo verdade. Raquel ainda estava lá com Clarinha e o seu irmão também.
Levantei e tomei nossa pequena dos braços dela, a abraçando forte, sentindo
o seu cheirinho.
— Mas você se lembrou de tudo? Tudo mesmo? — pergunta Alice.
— Sim, meu amor, tudo. — Pego a sua mão e beijo o seu anel de
noivado. — Como está, minha linda noiva?
Sinto a sua tensão mesmo pegando só em sua mão.
— Eu preciso saber de uma coisa, Lucas.
— Qualquer coisa, meu amor.
— Você dormiu com ela? — Dá para perceber a dor em sua voz.
— Não. — Ela relaxa assim que a palavra sai da minha boca. — Mas
não vou mentir para você. Quando estava no apartamento dela ficamos em
quartos separados e na pousada dormíamos no mesmo quarto, mas em camas
separadas.
— E nada aconteceu esse tempo todo?
Alice se levanta e começa a andar de um lado para o outro no quarto.
— Nada. Eu nem ao menos a beijei.
De repente ela para de andar e me olha com esperança nos olhos.
— Nada? — A sua voz treme enquanto ela me observa.
— Nada, amor. Mesmo não lembrando da gente, eu sabia que não era
certo, a minha cabeça podia estar ferrada, mas o meu coração sabia mais.
Sempre foi e será você o meu amor.
— Lucas... — Ela começa a chorar e cobre o seu rosto com as mãos.
Deixo que ela absorva o que disse por um momento, sem levá-la em
meus braços e fico observando como ela está linda nesse vestido.
Deus, como pude me esquecer dela?
— Como você pôde esquecer da gente? — Parece que ela leu minha
mente.
— Raquel disse que como passei por algumas coisas antes do
acidente, me deixou mais suscetível ao que aconteceu, por isso a amnesia
pós-traumática. — Lembrar o que aconteceu naquela noite ainda me deixa
com vontade de matar aquele desgraçado! Tudo sempre volta para ele. Tudo
de ruim está ligado a ele.
— Eu senti tanto a sua falta.
— Eu sei, amor. Eu nunca quis que isso acontecesse, eu nunca quis
ficar longe de vocês. Eu odeio tudo o que aconteceu — digo, aproximando-
me dela.
— Também odeio tudo o que aconteceu. Eu queria ter cuidado de
você depois que acordou, queria tê-lo levado para casa e te segurado até
voltar a ficar bom. Eu odiei todos esses dias que me deixou só, os dias que a
nossa filha queria você e eu não podia fazer nada. — Alice balança a cabeça
de um lado para o outro e as lágrimas descem por seu rosto. — Por dias eu
queria te caçar e levar ela pra você, mas ficava com medo de você não querer
e isso a machucar mais. Eu sei que não foi culpa sua, sei que tudo foi injusto,
mas ainda dói tanto...
Para e fica me olhando. Eu quero abraçá-la, mas não sei se me
deixaria, então me contenho para não assustá-la.
— Eu estou aqui e não vou a lugar nenhum sem vocês, nunca mais.
Será que você ainda me quer? Eu vou aceitar tudo o que você disser, tudo o
que quiser, pois sei que mesmo que não quisesse a fiz sofrer e me odeio por
isso. Não vou poder apagar o que aconteceu, os dias de sofrimento que
causei, mesmo sem querer, mas eu juro que vamos fazer novas memórias e
farei de tudo para compensar. Seremos nós três de novo contra o mundo.
Ela fica me olhando e olhando pelo que parece uma eternidade,
depois balança a cabeça, dá meia volta e sai do quarto.
— Acho que está aí a minha resposta. — Sento de novo na cama,
ainda segurando Clara nos braços. — Desculpe, pequena, eu... — Não
consigo terminar. Para falar a verdade nem sabia o que ia dizer.
O que farei sem elas agora? Sem as minhas meninas não sou
ninguém. Sei que não tive culpa, mas também sei como deve ter sido difícil
para Alice eu não me lembrar dela, e lembrar logo da Karin. Como eu queria
poder tirar tudo isso dela, toda a dor, toda a humilhação e traição que causei,
mesmo que involuntariamente.
Ela saiu e me deixou aqui, com certeza não queria que eu fosse
embora com Clarinha ainda acordada, está pensando no bem-estar da nossa
princesa.
— Vem, meu anjinho, está na hora de dormir. — Ela olha para mim
sorrindo. — Na verdade, mocinha, já passou há muito tempo da hora de
dormir. Olhe só para você, minha lindinha, está tão grande, o seu cabelo
cresceu mais e está muito mais linda do que quando te vi pela última vez, se
isso é possível.
Suspiro e começo a niná-la de novo, para que possa dormir e eu possa
dar espaço a Alice. Darei o tempo que ela precisar, mas não vou desistir de
nós.
Estava tão concentrado em Clarinha que não percebi quando Alice
retornou ao quarto, só notei quando ela tocou meu braço, fazendo-me olhar
em seu lindo rosto.
— Eu só vou colocá-la para dormir e vou embora, não quero que se
aborreça. Tudo bem?
Olha-me com a testa franzida.
— Embora? Mas por quê?
— Bem, você está chateada e não quero te pressionar. — Que grande
mentira. — Na verdade, o que quero é te abraçar e não deixá-la ir nunca mais.
— Então por que vai embora?
— Eu perguntei se ainda me queria e você balançou a cabeça e saiu.
— Engulo em seco. — Então eu deduzi que, no momento, não me queria.
— O quê? Não! Só sai para buscar isso. — Termina de dizer, levanta
a mão e abre, me mostrando o que tem.
No momento em que olho para baixo, sinto o ar fugir dos meus
pulmões. Em sua mão, tem vários testes de gravidez, e os que tem a marcação
para cima dava para ver que estão dizendo “Positivo”.
— Alice? — digo o seu nome mais como uma pergunta.
— Fiz no caminho para casa. As meninas me obrigaram — ela diz
sorrindo e o meu coração se enche de mais amor por ela.
— Então, nós...?
— Nós estamos grávidos, meu amor. — Ela pula e bate palmas, como
uma criança quando ganha um presente.
Deus, como eu amo essa mulher. Ela está tão linda, me olhando com
um sorriso enorme no rosto.
— Não seremos nós três mais contra o mundo. Agora seremos quatro.
— Você me faz o homem mais feliz desse mundo, Alice. Saber que
vamos ter outro filho me deixa sem palavras para expressar o que estou
sentindo.
Sinto a umidade em meus olhos diante de tamanha emoção.
— Você está feliz?
— Feliz? Feliz é pouco, meu amor. Estou em êxtase!
Não aguentando mais só olhar para ela, me aproximo até sentir o calor
do seu corpo e não resisto, colocando uma mão em sua nuca e a trazendo de
encontro a mim e beijando aqueles lábios deliciosos. Começa lento, depois
nos entregamos em um beijo que mostra o quanto sentíamos falta um do
outro e o quanto somos perfeitos juntos.
— Eu. Amo. Tanto. Você — sussurro entre beijos, ela geme em meus
lábios e me puxa mais para perto.
Não muito tempo depois somos interrompidos por um grito de
Clarinha, que está sendo praticamente esmagada por nosso corpo.
Separamo-nos bem lentamente e nos olhamos mais um pouco, antes
de darmos atenção a nossa filha.
— Olha, filha, você vai ter um irmãozinho — digo, mostrando os
testes para ela. — O que acha, minha lindinha? Será uma menina linda assim
como você ou um menino lindo para tomar conta da sua irmãzinha?
Ela fica me olhando, com certeza acha que sou um pateta. Sorrio e me
concentro em sua mãe.
— Amanhã vamos ao médico ver como nosso bebê está. Tome,
segure a nossa pequena um pouquinho.
Entrego Clarinha para ela e me ajoelho aos seus pés.
— Lucas, pare com isso. Levante — diz sorrindo.
Balanço a cabeça e me aproximo da sua barriga, a casinha temporária
do nosso pequeno. Acaricio e beijo, o tempo todo murmurando palavras de
carinho. Olhando para cima, vejo a emoção refletida em seus olhos.
Deus, como eu amo essa mulher.
— Conseguimos.
— Sim, meu amor, nós conseguimos. Ninguém vai nos separar de
novo — concordo com ela. — Agora você tem que descansar, eu vou cuidar
de vocês. Sempre. Dessa vez não vou falhar, eu prometo.
— Eu sei, meu amor.
Vamos os três para o quarto dela. Nossa menina estava quase
adormecendo. Coloco-a no centro da cama e vou ajudar Alice a tirar o
vestido, notando que ela está sem calcinha e sem sutiã, o que me faz lembrar.
— Eu recebi sua foto. — Beijo o seu pescoço, fazendo-a estremecer.
— Eu estou morrendo de saudades dela também. Mas por mais que eu queira
me enterrar dentro de você, eu quero mais segurar você e nossa filha juntas a
noite inteira.
— Está ótimo para mim — ela responde com a voz rouca.
— Eu te amo, meu amor.
— Eu te amo mais.
Estar com as duas pessoas que mais amo no mundo em meus braços é
a melhor maneira de voltar à vida. Nunca fui tão feliz em toda a minha vida
como sou nesse momento.
Dá para acreditar? Eu vou ser pai de novo!
32 - Alexandre

— Então, seus perdedores, como foi a noite ontem? — pergunto a


Luís e Léo, referindo-me à festa de Despedida de Solteira de uma amiga da
mulher do Lucas. — Se divertiram com o vídeo e as fotos que mandei?
Sorrio ao me lembrar disso. Como sei que eles não iam aguentar ficar
em casa se vissem, mandei a prova do crime.
Solto uma gargalhada, imaginando a cara que eles fizeram olhando as
imagens. Léo aperta o seu maxilar e Luís soca a mesa.
Devem estar se lembrando também.
— Não sei por que não foram vocês mesmos cuidar das suas
mulheres.
A noite de ontem foi melhor do que imaginei, mas teria sido melhor
se eu pudesse ter visto o rosto daquela mulher que estava me seduzindo com
o seu jeito sexy de dançar e o seu olhar prendendo o meu com cada
movimento do seu belo corpo.
Vermelho agora é minha cor favorita, com certeza!
Fecho os olhos e imagino aquele corpo coberto por chocolate e eu
lambendo tudo, até ela implorar por mim. Eu. O único a saciá-la.
Quando fui comunicado que fui o “sortudo” a ficar de vigia das
mulheres dos outros, queria matar os meus primos. Era só o que me faltava,
ser babá de mulheres crescidas e para piorar tudo, nem pegando nenhuma
delas eu estava. O que seria realmente um problema porque o meu primo
mais velho está de quatro pela amiga de Alice, Josi, mesmo ele não querendo
admitir, mas só um cego que não veria.
Léo, o meu primo mais novo, está arriado com os quatro pneus por
Monique, e ele nem tenta fingir, mas eu sei que está com medo por causa do
seu passado.
Só sobraria Alice, sem chance porque já a considero da família.
Adriana que é minha prima, não mesmo. E as outras que estavam lá são todas
comprometidas também.
Então por isso fiquei surpreso quando recebi a notícia.
Conheci todas as amigas de Alice, menos a noiva, pois toda vez que
acontece alguma coisa ou ela não está presente ou eu não estou. Mas, mesmo
não vendo o seu rosto na boate ontem à noite, gostei muito do que pude ver.
Cheguei até sonhar com aqueles lábios cheios em volta do meu...
— Onde diabos você estava quando um cara estava se esfregando na
Josi? — grunhe Luís, tirando-me dos meus pensamentos perversos.
— O quê? — Tento me concentrar no que ele tinha dito, mas não
consigo lembrar.
— Fomos para a boate assim que mandou o vídeo delas dançando no
palco e quando chegamos lá, Josi estava dançando com um cara e o mano não
gostou muito do que viu — diz Léo com uma expressão séria, olhando para
sua cerveja.
— Até parece que fui só eu que não gostei do que vi! — agora é Luís
quem fala, concentrado na mesa de sinuca.
Resolvemos nos encontrar em um bar, que não íamos há muito tempo,
para a nossa partida de sinuca de domingo, fazemos isso desde que me
lembro, mas este bar estava praticamente esquecido porque fica a quase uma
hora e meia do hospital, e como Lucas não está conosco resolvemos nos
aventurar nele de novo.
— Bem, parece que decidiram ir buscar suas mulheres. Hum...
Quando saí do palco tive que dar uma... — Limpo a garganta e continuo: —
Pausa no banheiro, e quando voltei todas tinham ido embora. Por sorte o
motorista me mandou uma mensagem avisando que estavam em uma
farmácia porque Alice não estava se sentindo bem. Sabem o que houve?
— Alice não estava bem e resolveram ir embora. E você o que estava
fazendo no palco? Devia estar cuidando delas!
— Ah, não enche, eu nem queria esse emprego! Fui obrigado a ir
porque tenho uns bundões como primos que não conseguem admitir o que
sentem.
— Não sei do que está falando. Só me preocupo com elas por causa
do que houve na floricultura e não quero que se machuquem de novo.
— Claro. Continue dizendo isso a si mesmo, Luís. — Quando
encontrar alguém que eu queira comigo não ficarei só olhando de longe.
Isso existe desde o tal do Romeu, que ficava gritando para um balcão,
ao invés de ir lá e pegar sua mulher! Um bando de maricas, isso sim.
Frouxo. Que ele não me ouça, porque quando Luís está zangado dá
um medinho.
Viro-me para Léo e fico olhando sua carranca.
— E você priminho inho?
— Cale a boca. — Ele odeia que o chame assim.
— Só fiz uma pergunta, princesa. Você precisa transar. Vamos à caça
hoje à noite.
— Não esqueça sua promessa, maninho. — Dessa vez Luís contrai os
lábios e parece que um sorriso despontaria de sua boca.
— Que promessa? — Fico curioso.
— Ele prometeu que não seria mais um mulherengo se Alice
sobrevivesse. Então, nada de caça, mocinhas. — Realmente, ele sorri.
Incrível.
— Preciso arrumar uma namorada — diz e franze o cenho ao mesmo
tempo em que as palavras saem da sua boca.
— E a Loira lá? Monique, né?
— Ela me odeia — geme e bateu sua testa na mesa repetidas vezes.
— Ninguém gosta de gente frou...
— Hoje vamos morrer se não aparecermos na casa da Adriana para o
jantar — muda de assunto, cortando-me no meio da frase.
— Deus me livre da ira da prima — zombo e ele sabe porquê.
— Idiota!
— Imbecil!
— Punheteiro!
— Pau pequeno!
— Pau no...
— Chega! Vocês parecem crianças — mais uma vez o nervosinho do
Luís diz.
— Ok, ok — dizemos ao mesmo tempo, rindo.
Levanto-me e vou em direção à mesa de sinuca, mas sou parado no
meio do caminho por uma loira que está me olhando desde a hora em que
chegamos. Não é feia, mas também não é linda.
— Olá, bonitão — praticamente ronrona e toca no meu braço.
Olho de cara feia e ela se toca, largando-me. Sinceramente, odeio
quando estão falando comigo e me tocando, principalmente por
desconhecidos.
— Olá — digo seco e continuo andando.
— Bem, as minhas amigas e eu estamos naquela mesa ali. — Aponta
em uma direção e continua me acompanhando. — E pensei que talvez vocês
aceitassem a nossa companhia.
— Não estou interessado — digo um pouco brusco demais.
— Grosso — xinga, com os olhos arregalados.
— E grande, querida!
Dito isso ela sai e me deixa em paz. Não estou interessado. Hoje não!
Noiva, me deixe em paz!
Sabia que meus primos estavam me seguindo, sempre jogamos
quando estamos estressados, chateados e acima de tudo, frustrados. Como
sempre, pegamos a mesa do canto, a mais escura, pois depois de todos esses
anos longe da luta, algumas pessoas ainda nos abordam querendo nossos
autógrafos.
Começamos uma partida, depois outra, Léo e eu contra Luís e Clóvis.
E como sempre ganhamos deles, até agora, Luís luta muito bem, mas sinuca
não é o seu forte.
Clóvis trabalha comigo há anos e é um ótimo amigo. Como Lucas
está em casa com sua noiva e filha, o chamamos para jogar conosco.
— Então Lucas realmente se lembrou de tudo? — pergunto,
concentrado na última jogada da terceira partida.
— Sim, graças a Deus — diz Luís.
— E a Raquel — conclui Léo.
— Fico feliz que esteja de volta. Alice merece um descanso. A
conheço há pouco tempo, mas já gosto dela.
— Não deixa o meu irmão ouvir isso, priminho inho. — Gargalha
Léo.
Mas era verdade, Lucas é meio possessivo. Não me acostumei com
esse lado dele ainda.
Horas depois estávamos cansados de jogar e ficamos só com a bebida
e o papo. É quase sete da noite.
— Adriana vai nos matar se nos atrasarmos para o jantar, e segundo
ela hoje vai ser especial.
— Foi uma ótima partida, mas tenho que ir ver a minha garota — diz
Clóvis, resolvendo prestar atenção na conversa.
Desde que paramos de jogar ele não sai do celular.
Cretino, está com as bolas amarradas.
— Vai lá. Valeu por sua ilustre presença — falo rindo.
— Até mais, pessoal.
Os meus primos o saúdam e terminam sua bebida.
Como viemos no mesmo carro, seguimos em direção à casa de
Adriana para o jantar.
Tenho dois irmãos mais velhos, mas nunca me dei bem com eles,
sempre foram os meus primos que me fizeram sentir parte de uma família de
verdade.
Depois do jantar volto para casa e resolvo assistir aos meus filmes
favoritos em todo o mundo. Confesso que fiquei com um pouco de inveja do
Lucas e pensando se um dia teria algo parecido com o que ele tem com Alice.
Espero que sim.
Mas depois da noite de ontem eu preciso da maratona dos filmes para
me acalmar e não caçar aquele corpo “comprometido” que fez o meu pau
duro como ferro desde a dança na boate.
Como sou um investigador, já poderia saber tudo sobre ela, mas me
bati três vezes na cara, não vou fazer isso por dois motivos. Um: ela é
comprometida e eu não faço para os outros o que não quero para mim.
Segundo: eu quero saber de tudo dela, mas por ela mesma, nunca fiz isso,
sempre que conheço uma mulher que fico interessado, no outro dia já sei até
quando caiu o seu primeiro dente de leite.
Será que isso faz sentindo? Acho que eu estou cheio de merda, isso
sim.
Shrek. Eu preciso de Shrek.
Tá eu sei, mas fazer o quê? Eu adoro o Shrek, ele é ótimo.
Tiro a roupa e fico só de boxer. Resolvo assistir no meu quarto
mesmo.
Estou no segundo filme, rindo pra caramba e já relaxado, quando a
campainha toca.
Droga! Odeio quando interrompem o meu momento sagrado.
Ao abrir a porta, fico paralisado. De todas as pessoas que imaginei,
não me passou pela cabeça que pudesse ser Keila. Claro, já tivemos uma
coisa, mas isso foi há muito tempo e o nosso relacionamento é só profissional
agora, e nunca dei meu endereço novo para ela. De propósito.
— Oi — ela diz com a voz meio arrastada.
— Você bebeu?
— Só um pouquinho. — Ela ri e leva as mãos para o cinto do seu
casaco.
Keila desfaz o nó e abre me mostrando o que tem por baixo. O que é,
nada! A não ser o novo desenho da sua depilação. Fico meio tenso, mas
consigo não olhar para baixo de novo, mantendo os olhos nos seus.
— O que está fazendo, Keila? Coloque o seu casaco de volta e volte
para sua casa.
— O quê? Não!
Ela cambaleia para dentro do meu apartamento e tenta me abraçar.
— Pare! — Ela para. Sorte dela.
— Por que, Lex? Eu não entendo, nos dávamos tão bem — diz e
começa a chorar e eu fico ainda mais tenso. Nunca sei o que fazer quando
uma mulher chora.
Suspiro e arrumo sua roupa, depois a sento no sofá.
— Keila, eu gosto muito de você, mas não desse jeito. Sinto muito.
— Eu trouxe sorvete — ela diz, fazendo de conta que não me ouviu,
ela sempre faz isso.
— Eu odeio sorvete!
— O quê? Claro que não, eu sei que gosta de sorvete de chocolate.
— Está me confundindo com outra pessoa, então, porque desde que
me conheço por gente que não gosto de sorvete.
— Mas eu ouvi outro dia no escritório você falando ao telefone que
adorava com chocolate.
Levanto as sobrancelhas e tento não ser grosso demais com ela.
— Vou me vestir e a levarei para casa, Keila, e, por favor, nunca mais
faça o que fez hoje à noite ou eu não serei tão amigável com você. Estamos
entendidos?
Arregalando os olhos de surpresa ela sacode a cabeça concordando.
Era só o que me faltava. E lá se foi meu momento relaxado.
33 - Alice

Ao abrir os meus olhos vejo um par de olhos verdes me observando e


sorrio. Ainda não acredito que o meu amor está mesmo aqui e que realmente
se lembra de mim.
— Bom dia, minha linda — diz com a voz suave.
— Bom dia, meu lindo.
Jogo-me em seus braços e encho o seu rosto de beijos.
Faz quase uma semana que voltamos e eu me sinto a mulher mais
feliz desse mundo de meu Deus. Estamos mais grudados do que nunca.
Quando cheguei em casa no sábado e o encontrei aqui com a nossa
filha eu quase tive um troço de tanta felicidade, ao mesmo tempo em que
fiquei apavorada com o que ele ia dizer. Mas quando ele me contou tudo, eu
fiquei com raiva e sem ação, feliz, aliviada e, acima de tudo, com medo. Será
que ele ia esquecer de novo? Será que no outro dia ele nos deixaria e voltaria
para a cobra de novo? Não, não, não. Eu não aguentaria tudo de novo. Ele
lembrou e isso não se apagaria, estava apenas surtando. Então resolvi lhe
contar sobre a gravidez, que tinha descoberto naquela mesma noite, e ele
ficou ainda mais lindo ao descobrir que ia ser pai.
Confesso que ainda estou com um pouquinho de medo, mas não vou
deixar ele me tirar esses momentos de pura felicidade com a minha família.
— Acordou animada hoje, meu amor — sussurra em minha pele.
— Estou feliz por estar aqui.
— Eu sempre vou estar aqui. — Me olha e depois desce a mão para a
minha barriga. — Como está o nosso pequeno? — Nem termina de falar e a
minha barriga ronca.
— Com fome — digo rindo e ele me acompanha.
— Que bom, então, acho que vocês vão gostar do que eu preparei
para o café da manhã.
— Você fez o café para mim? — Já estou chorando. Malditos
hormônios.
— Sim. Eu quero cuidar de vocês.
— Você cuida. — Coloco a minha mão na sua, que ainda está em
minha barriga. — Nem acredito que estou grávida de dois meses e não sabia.
— Tudo que aconteceu não deixou você ter nenhuma folga e pensou
que os sintomas eram apenas por causa do desgaste do estresse, que a fiz
passar.
— Não. Não diga isso, a culpa não foi sua. — Seguro o seu rosto em
minhas mãos e olho em seus olhos. — Nada do que aconteceu foi culpa sua,
nem de ninguém em particular. O que importa agora é que estamos juntos e
vamos ter outro filho lindo. Eu não vou deixar você ir, eu preciso de você,
nós precisamos de você.
— Nunca vou deixar vocês.
— Vamos ficar bem, sei que vai ser difícil esquecer, mas vamos ficar
bem. Juntos.
— Sempre. — Me puxa para o seu colo e me abraça forte. — Ainda
não acredito que vou ser pai de novo.
— Pois pode acreditar, meu doutor. — A minha barriga ronca de
novo, nos fazendo rir. — E ele está com fome. Comida, papai! — brinco.
Lucas me deita na cama e vai pegar a bandeja que estava no criado
mudo.
— Aqui, meus amores. O papai vai alimentar vocês agora, filho, não
fique zangado pela demora.
Coloca a bandeja na cama e se senta ao meu lado.
— O que vai querer primeiro? Tem quase tudo que gosta aqui.
E tem mesmo, desse jeito vou virar uma jamanta enorme, mais rápido
do que eu imaginava. Mas não ligo e como tudo o que tem. Café, suco, pão,
tapioca, frutas. Eu amo como esse homem cuida de mim.
De repente lembro-me de uma coisa e começo a rir.
— O que é tão engraçado? — indaga Lucas.
— Estou pensando que hoje já é quarta-feira e nós ainda não fizemos
aquilo.
— Nem me lembre — grunhe Lucas ao meu lado. — Vou matar os
meus irmãos.
— Não é totalmente culpa deles se nossa filha não quer mais ninguém
além de você. — Acaricio o seu rosto. — Eles tentaram ficar com ela, mas
ela ainda não matou toda a saudade que sente de você.
— Nem eu de vocês duas.
E como estava demorando muito, Clarinha dá sinal de que tinha
acordado. Desde sábado que ela dorme no quarto com a gente. Domingo
trouxemos o berço para cá e toda vez que começamos a nos empolgar um
pouquinho, ela nos interrompe e quer o seu pai, ninguém consegue acalmá-la,
então estamos em abstinência há muito tempo.
— Bom dia, minha pequena. Vamos lá beijar a mamãe e o seu
maninho.
— Oi, mocinha.
Pego-a no colo e beijo as suas bochechas gordinhas, fazendo-a rir e se
contorcer. Fico com ela por um tempo e nem percebo que Lucas tinha
levantado da cama até ele voltar com uma cara séria.
— O que foi? É sua cabeça? Está doendo de novo?
— Não.
— Então o quê?
— Léo acabou de me mandar umas fotos e um vídeo.
— Do quê?
— Olhe você mesma. — Me entrega o seu celular e fica andando de
um lado para outro. As fotos são do dia da Despedida de Andrea e o vídeo é
de nós dançando. Ok.
— Lucas...
— Você me mandou uma foto em que estava sem calcinha, o que eu
adorei. E agora o meu irmão me manda um vídeo de você dançando em um
palco, numa boate lotada. Sem calcinha, Alice!
Começo a rir e logo estou gargalhando, Clarinha começa a rir junto
comigo. Tão linda.
— Do que está rindo?
— De você.
— Eu não vejo graça nenhuma em minha mulher está andando por aí
pelada e todo mundo vendo o que é meu.
— Opa, pera lá, senhor irritadinho. Primeiro: eu não estava pelada e
segundo: só tirei a calcinha para tirar a foto e mandar para você.
— E quando estava dançando estava usando ela?
— Hum... Não lembro. — Faço cara de inocente e olho para ele.
— Alice, Alice — fala entredentes e dá pra ver que força o maxilar.
— Lucas, não dava para ver nada, o palco estava escuro. Não tem
motivo nenhum para ficar com raiva.
— Estou além da raiva. Não gosto de ninguém te olhando com
segundas intenções.
— Ei, pare com isso, não vamos brigar, está bem?
— Não está nada bem.
— Vou te matar, Léo — falo baixinho. Depois olho para Lucas e falo
com a voz mais alta. — Vem cá, meu lindo. Vamos esquecer isso, os nossos
filhos estão carentes de você.
O seu rosto suaviza e ele balança a cabeça.
— Isso é golpe baixo — reclama, mas vem, nos aconchegamos num
abraço gostoso e ficamos em silêncio por um instante.
— Eu amo quando você fica com ciúmes sabia? — provoquei um
pouquinho e dei uma risadinha.
— Não comece Alice. — disse tentando esconder um sorriso.
— Estávamos só dançando, amor. Ninguém me notou, as meninas
estavam lindas.
— Só vi você no vídeo e não existe ninguém mais linda que você.
— Não diga isso que choro.
— Então chore que eu vou secar cada lagrima com um beijo.
— Quando você diz essas coisas me sinto tão boba.
Sorrio e o beijo em um beijo profundo que me faz ver estrelas, mas
logo somos interrompidos por uma mocinha faminta que estava sendo
deixada de lado, e ela odeia ficar em segundo plano.
— Tudo bem, filha, vamos alimentá-la e depois você vai ter que
passar o resto da manhã com o papai, porque hoje a mamãe tem duas sessões
de fotos.
— Duas?
— Sim, agora pela manhã tem o Sam e a tarde uma amiga que quer
fazer umas fotos para o namorado.
— Espere aí. Você disse o Sam e não a Sam?
— E, lá vamos nós.
— Eu pensei que fosse uma mulher quando me disse ontem.
— Pois não é.
— Você não vai tirar fotos de um homem seminu. De jeito nenhum.
— Como é que é? — pergunto indignada.
— Você ouviu.
Era só o que me faltava. Mas se ele pensa que eu sou dessas mulheres
que abaixam a cabeça para o marido, ele está muito enganado.
— Eu amo você, mas você não manda em mim. Eu vou fazer isso,
sim, e você vai cuidar da Clarinha enquanto isso, depois nós vamos almoçar e
quando ela estiver descansando vamos fazer amor porque já estou subindo
pelas paredes. Depois vou para a minha próxima sessão de fotos e a noite
dormiremos de conchinha. É isso ou você pode ir para sua casa. — Estou
furiosa.
Lucas fica me olhando por alguns minutos com uma cara zangada e
não diz nada. Desde que voltamos, estamos na minha casa, nem falamos nada
de voltar para a casa dele, só queríamos ficar juntos não importava onde.
Na segunda fomos ao médico para ver se estava tudo bem com o bebê
e não deu para ir para a floricultura, ontem só trabalhei a tarde e hoje tenho
dois ensaios, então não vou sair de casa.
— Desculpe, não falei com o intuito de mandar em você. Eu...
— Eu sei, eu sei — amoleço um pouco. Só um pouco. — Preciso me
preparar, ele estará aqui em uma hora. Não tem por que ter ciúmes dele, meu
amor, eu só quero você. E a propósito, ele... Só tem dezoito anos e é irmão de
uma amiga — sussurro em seu ouvido, já me levantando, mas sem tirar os
olhos dele.
— Dezoito — repete e fica me olhando, querendo dizer mais alguma
coisa, mas fica calado.
Três horas depois estava me despedindo de Sam e olhando suas fotos,
quando o meu celular tocou. Olho para os lados e para a porta, vendo se
Lucas está por perto, durante o tempo em que Sam estava aqui ele apareceu
com Clarinha aqui várias vezes, dizendo que só estava passeando para distrai-
la.
Como se eu fosse tão ingênua para cair nessa!
Quando tenho certeza que não está por aqui, atendo.
— Olá, alguma novidade?
— Sim, ele voltou e trouxe uma mulher com ele. Tirei algumas fotos
deles porque você tinha que ver isso, quando eu vi pensei que você tinha
chegado antes de mim e o pegado desprevenido, mas depois que olhei direito
vi que não podia ser você.
— Você não está fazendo sentido.
— Ok, desculpe. Vou enviar as fotos e você irá entender melhor.
— Ok, estou esperando e continue observando ele.
— Pode deixar. Enviando.
Desligamos e fico esperando ela enviar as tais fotos. Tomara que
tenha mesmo achado outra mulher para se ocupar e esqueça que existo, mas
sei que não tenho tanta sorte assim, logo ele virá me incomodar de novo.
Quando a mensagem finalmente chega, vou logo abrindo e o que vejo
lá, no primeiro momento, não me deixa impressionada. É só ele com uma
mulher loira de cabelos compridos, ela está de costas nas primeiras imagens.
Tem várias fotos, eles saindo de um taxi em frente à sua casa, depois de mãos
dadas, outras se beijando, e não era um beijinho não, era um beijo daqueles.
— Eca!
Nas próximas dá para ver mais que sua cabeça. Vou passando e paro
em uma em que ela está de perfil. Sinto o meu sangue gelar em minhas veias.
— Não pode ser. — mas assim que eu digo isso, eu sei que pode ser.
Como minha irmã conhecia Leon?
Será que...?
— Não. Não, com certeza não tem nada a ver comigo. Eles podem ter
se conhecido agora e...
Alice, como você é burra!
Agora entendo porque ele disse que eu pedi para fazer aquilo comigo,
que fez tudo o que eu queria, que me ama e que eu ia voltar para ele. O tempo
todo era da minha irmã que ele estava falando, o tempo todo era ela. Meu
Deus! Como não vi isso antes? Estava tão na cara e eu nem imaginei.
Como ela pôde fazer isso comigo? O que eu fiz para ela me odiar
tanto?
Agora percebo que desde pequena ela era estranha comigo, mas eu
nunca pensei que chegaria a tanto. Deus, como eu fui cega.
— Burra, burra, burra — falo e bato na testa várias vezes. — Claro,
agora tudo faz sentido.
— O que faz sentido?
Levo um susto e quase caio da cadeira com a voz do Lucas.
— É... — Penso em inventar uma desculpa e não contar o que tinha
acabado de descobrir, mas resolvo ser sincera.
Suspiro e mostro as fotos para ele.
— Quem é na...? — Lucas logo percebe quem é e cerra os punhos.
Preciso falar com a minha irmã, preciso entender tudo isso, saber até
onde ela está metida. Mas ao mesmo tempo sei que preciso mesmo é falar
com ele, fazê-lo ver a diferença entre nós duas e ver que o que ele fez comigo
foi monstruoso.
— Eu preciso resolver isso logo — digo, já me levantando e pegando
as minhas chaves.
— Não! Você não vai chegar perto dele de novo. — Paro com o pesar
na voz do Lucas e sei que terei que adiar esse confronto por ele.
— Tudo bem, meu amor, eu não vou.
Abraço-o e sinto o seu corpo relaxar em meus braços.
— Me promete que não irá falar com eles sozinha?
— Lucas, eu...
— Alice, não!
Suspiro e concordo, a contragosto.
— Eu prometo que não irei sozinha. — E não ia mesmo.
— Vem, vamos almoçar.
Fecho a porta do estúdio e o sigo, mas sem tirar as imagens da minha
cabeça.
34 - Alice
Como prometido eu não estou indo sozinha. Eu não prometi que não
iria falar com eles, só que não iria só, então não estou quebrando a minha
promessa, não é mesmo?
Sei que quando Lucas disse para não ir sozinha, ele queria dizer sem
ele. Mas eu não podia deixá-lo ir comigo e atrapalhar a sua recuperação. Ele
ainda tem dores e eu não vou fazê-lo encarar aquele imbecil de novo e se
sentir mal. Preciso de respostas e não aguento mais esperar, já foi muito
esperar um dia inteiro, então vamos lá.
Essas meninas estão demorando demais, sorte que a minha irmã e
Leon não saíram de casa.
Olho mais uma vez a mensagem que recebi há cinco minutos.

Sandy: Desde ontem não deixam o local.

— Estamos prontas.
Olho para trás e vejo as minhas amigas e parceiras de crime, vestindo
roupas pretas e casaco com capuz. Dri tem em suas mãos spray de pimenta e
na outra um canivete, que parece mais uma faca, Josi tinha um nunchaku,
daqueles que você vê nos filmes de Bruce Lee. Monique tem um soco inglês
em cada mão e Andrea um porrete e uma corda. Elas estão bem empolgadas.
Quase rio da pose delas, mas resolvo deixar para depois, temos trabalho a
fazer.
— Vocês estão prontas mesmo.
— Não poderíamos ir sem estar de alguma forma armadas, não é
mesmo? Aquele homem é louco e você está carregando nosso sobrinho aí na
sua barriguinha. Vamos defende-los — diz Josi com autoridade.
Abro a boca para responder, mas o meu celular toca. Olho para ele e
vejo que é Lucas.
Meu Deus, me ajude. É por uma boa causa. É por uma boa causa.
— Oi, meu amor — falo animada ao telefone.
— Oi, minha linda. Como estão indo os preparativos para o
casamento da Andrea?
— Tudo bem. Já escolhemos as flores. — Não era uma mentira. —
Agora estamos indo em uma degustação de bolos para escolhermos o sabor
do seu bolo de casamento. E está me dando água na boca. — A parte de eu
estar salivando não era mentira. Mas o resto sim, de fato, a degustação existe,
mas não vamos nem passar perto de lá.
Meu amor, me perdoe, peço em pensamento.
— Divirtam-se. Os meninos estão chegando e Clarinha e eu estamos
nos divertindo.
— Que bom que não estou aí para atrapalhar sua diversão. — Sorrio.
— Você nunca atrapalha, estamos com saudades já. Vai demorar
muito? — geme a pergunta.
— Não sei. Depende de quantos bolos iremos experimentar, mas
assim que acabar corro para casa.
— Estarei esperando na cama. Pelado.
— Hum, que tentador. Vou fazer tudo rápido, então, te vejo mais
tarde. Amo você.
— Também te amo, minha linda.
Desligamos e eu me sinto mal por estar mentindo. Mas, mesmo assim
desligo totalmente o celular.
Suspirando, me volto para as meninas.
— Vamos logo, o quanto antes formos mais rápido voltarei para o
meu lindo noivo e a minha pequena.
— Vamos lá, garotas — diz Andrea.
— Uma por todas e todas por uma! — Essa é Monique empolgada.
Sorrimos e falamos o mesmo, entramos no meu carro e seguimos para
a casa monstro.
— Graças a Deus! O que ouve com o seu celular? Estou tentando te
ligar e nada. — Sandy mostra que está fula da vida assim que desço do carro.
Sandy é uma amiga que conheci na faculdade, nos distanciamos, mas
ano passado ela voltou para o Rio, depois que seus pais foram assassinados,
e decidiu que ia ser detetive e ajudar de certa maneira as pessoas.
— Eu desliguei o celular ainda há pouco por causa do Lucas. O que
houve?
— A mulher saiu tem uns cinco minutos mais ou menos. Ele continua
dentro da casa, dei uma boa olhada antes e parece que ele só tem dois homens
lá com ele nesse momento, então vamos logo.
— Como assim vamos logo? Eu vou entrar com as meninas e você
fica aqui.
Pena que a minha irmã saiu, mas talvez seja menos dramático plantar
a semente na cabeça dele, sem ela lá.
— Mas nem que a vaca tussa, eu sou a única que tem uma arma aqui e
não vou deixar vocês sem cobertura.
— Epa, pera lá, justiceira. Em primeiro lugar, nós viemos preparadas
e em segundo lugar, não deixaremos nada acontecer com a mamãe aqui —
intervém Adriana com uma voz autoritária.
— Mamãe? Como assim...? Não vai me dizer que está grávida,
Licinha — pergunta Sandy.
— Sim, estou, mas chega de falar e vamos entrar logo.
Ela me dá um olhar de repreensão, mas vamos assim mesmo.
Tocamos a campainha do portão e depois de um minuto alguém fala:
— Pois não.
— Olá, eu me chamo Alice e queria falar com o dono da casa, por
favor.
Quase não termino de falar e o portão se abre. Olho para as meninas,
que estão meio confusas, e entramos.
Sério, só isso? Segurança zero.
Bom para nós.
— Senhora, desculpe fazê-la esperar, não sabia que era a senhora. —
Ele parece apavorado. — Acabamos de trocar o turno.
Ele estava suando. Coitado.
A minha irmã é mesmo horrível.
— Hã... Tudo bem, não tem problema. Minhas amigas e eu queríamos
falar com Leon.
Ele fica me olhando, meio confuso, e depois balança a cabeça.
— Claro, vamos por aqui. A senhora não precisava se anunciar, ele
com certeza está lhe esperando.
Será que ele não notou a diferença? E não imagino a minha irmã
chegando com amigas. Mas tudo bem, ele talvez esteja aqui há pouco tempo.
É, talvez, seja isso. Ou talvez seja porque você está usando uma peruca loira
igual ao cabelo da sua irmã.
É, tem isso também.
— Obrigada.
Entramos e vamos seguindo o homem até uma porta fechada. Ainda
bem que ele não nos revistou, porque ia encontrar muita coisa suspeita.
O homem bate na porta e espera a resposta.
— Entre — vem a voz do desgraçado lá de dentro.
Já está anoitecendo e eu espero que isso termine logo.
— Senhor, a senhora Alice e suas amigas.
Saio dos meus pensamentos e me concentro no aqui e agora.
— Alice? Ela saiu daqui nem tem dez minutos. E você disse...
amigas?
— Sim, amigas. — Entramos no escritório e Leon fica me olhando de
cima a baixo, depois se levanta e caminha para perto de mim. — Preciso falar
com você. — A minha voz sai mais dura do que eu pretendia.
— O que houve? Está tudo bem? Achei que fosse ao cinema com sua
mãe.
Tive que rir. Ao cinema com a minha mãe? Sem chance.
— Bem, a minha irmã com certeza deve estar no cinema, mas eu
quero conversar com você — digo e tiro a peruca e o casaco.
Estou com uma blusa que mostra a minha tatuagem de estrelas no
braço direito. Ele segue os meus movimentos e arregala os olhos.
— Quando... quando fez uma tatuagem? E por que estava usando
peruca e pintou o cabelo?
Balanço a cabeça. Esse homem é um idiota, das outras vezes que o vi,
ele estava bruto e louco, agora está parecendo outra pessoa. Talvez a surra
que Luís e Alexandre deram nele, o fez criar outra personalidade.
— Eu tenho essa tatuagem desde os dezessete anos e o meu cabelo é
dessa cor há mais de três anos.
— Não, querida, seu cabelo é loiro, e bem loiro e você decidiu usar
assim depois do incidente no hotel.
Ele me faz ficar insana com a menção do dia do hotel. Isso me levou
ao que fiz a seguir.
— Você é muito burro mesmo! — grito e soco a sua mandíbula,
fazendo com que ele caia e o seu segurança, porteiro, ou sei lá o quê, venha
em minha direção, só para ser interceptado pelas meninas.
— Não se aproxime dela! — Não sei quem disse, mas o homem fica
lá.
— Por que fez isso? — Leon levanta e me olha furioso sem fazer
mais nada, pois Sandy está apontando uma arma para ele.
— E o que você fez comigo? Acha pouco me esperar sair do trabalho
e me estuprar, depois mandar dois brutamontes até a minha floricultura e me
espancar, mesmo eu estando grávida?
— Nós combinamos que ia ser uma encenação. E já fizemos isso
várias vezes, não sei porque está agindo assim agora. E a questão da gravidez
você me deixou furioso quando decidiu levá-la adiante. Não quero saber de
crianças.
— Idiota, você acha que eu sou uma pessoa, mas eu não sou a cobra
da minha irmã. Ela enganou você para que fizesse o que fez comigo por
algum motivo doentio e...
— Espera, espera. Você não está dizendo coisa com coisa e por falar
nisso, você bate muito forte, querida. — Se vira para as meninas e as olha
com ódio. — Saiam! Preciso falar com minha mulher a sós.
— Ninguém vai sair daqui — dizem com firmeza.
— Tudo bem. — Suspira e senta na borda da sua mesa. — Agora
diga, por que está agindo assim, carinho? Está de TPM?
Leon sorri e esfrega o seu maxilar.
Pego as fotos que trouxe e jogo para ele. Tenho poucas fotos com a
minha irmã, mas em uma delas nós estávamos no aniversário da mamãe.
Tínhamos vinte anos, é da época em que eu ainda tentava me relacionar com
elas.
— Não sabia que tinha uma irmã, querida.
— Pois é, eu tenho e ela se chama Angélica, sua namorada, que me
odeia tanto que armou com você sem você saber ou talvez soubesse, para
fazer o que fez comigo. O que resultou minha filha, a que você tentou que
não nascesse. — Nem tomo fôlego e continuo: — Como você pode ser tão
burro que não notou as diferenças entre nós? Eu tenho sardas no nariz e ela
não. Tenho cabelos cor de mel, ela é loiríssima. Eu tenho uma tatuagem e ela
não, eu tenho nojo de você, mas ela certamente não! — Estou furiosa.
— Olha, vai tomar um remédio porque você está louca e eu não tenho
tempo para isso.
O idiota está tremendo e me olha com desconfiança.
— Ok, então, vamos ligar para o número dela e você vai ver que eu
estou falando a verdade.
Leon fica olhando para mim como se tivesse me analisando, vejo
quando ele vacila e fica encarando o meu nariz, que fiz questão de não usar
maquiagem.
— Você está mesmo falando sério que aquele dia no estacionamento
não queria o que aconteceu e que é outra pessoa?
Balanço a cabeça, mas queria mesmo era bater nele até a sua cara
virar mingau.
Engolindo, ele pega o seu celular e liga para Angélica. O telefone toca
três vezes e ouvimos a voz do outro lado da linha.
— Oi, querido. Estou no cinema com mamãe depois te ligo. Beijos.
— A sua voz está sussurrada.
Ele nem sequer consegue dizer uma palavra antes dela desligar. Leon
fica com a cara vermelha encarando o celular. E é nesse momento que
percebo que dois dos seus dedos estão meio tortos. Hum... deve ser
consequência do carinho dos meninos.
— Então, o que acha agora?
— É mentira. Ela não seria capaz de fazer isso comigo. Nós nos
amamos, eu a pedi que se casasse comigo e ela aceitou.
— Pois bem, vocês se merecem. Dois monstros nojentos que
merecem ir para o inferno.
— Saiam da minha casa! — Agora Leon está parecendo ele mesmo.
— Ou não respondo por mim.
— Eu não tenho medo de você — digo cada palavra me aproximando
dele. — Eu odeio você, Rodrigo, não é esse o seu nome? — Ele está bufando,
mas não me toca. Talvez seja a arma apontada para ele ou a lembrança de
Luís e Alexandre. — Agora eu te dou um aviso, escute bem que não vou
repetir. Fique longe da minha família ou eu acabarei com você com as minhas
próprias mãos. Não tenho medo de sujá-las. — Bato em seu rosto com a mão
aberta, de leve. — Fica a dica.
Viro-me, chamando as meninas e saímos do seu escritório com elas
me seguindo de perto e olhando para os lados, caso Leon resolva se mostrar
como antes.
— O que acharam? — pergunto, enquanto passamos pela sala.
— Eu acho que ele realmente não foi tão cumplice da sua irmã, Lili
— diz Andrea.
— Também acho — concordam as outras meninas.
— Droga, nem deu para usar os nossos apetrechos. — Josi fala
fazendo biquinho e rimos até chegarmos do lado de fora e darmos de cara
com Lucas, Luís e Léo saindo do carro.
— Meu Deus, mano, onde fomos nos meter, elas parecem da máfia —
diz Léo, nos fazendo rir de novo. — Ou melhor, “As Panteras Detonando” —
completa e cai na risada, encostando-se ao carro e segurando a sua barriga.
Esse meu cunhado é maluco. Mas o seu irmão está me olhando com
raiva em seus olhos. Isso não é nada bom, filho.
— O que deu na sua cabeça para vir aqui sozinha, Alice? — E, lá
vamos nós.
— Não sei se você percebeu, mas eu tenho as panteras aqui comigo
— digo, tentando amenizar, mas ele não ri como os outros.
— Eu quase tive um ataque quando recebi uma mensagem do Jeff
dizendo que vocês não chegaram à degustação e não atendia o celular.
Droga! Esqueci que mentimos para ele também, mas não sabia que
ele ia nos encontrar lá. Espere...
— E como você me encontrou?
— Tem um dispositivo rastreador no seu carro — ele diz como se isso
não fosse nada.
— Lucas...
— Não! Eu não vou pedir desculpas, eu fiz isso para tentar te
proteger.
— Bem. Pois estamos quites, eu também fiz isso para te proteger e
aos nossos filhos também. — Cruzo os braços e o olho bem séria.
Ele me dá aquele sorriso lindo e me puxa para um abraço.
— Caralho mulher, você ainda vai me matar.
Suspiro em seu pescoço e inalo o seu cheiro maravilhoso. Casa,
precisamos ir para casa.
— Onde está a Clarinha?
— Ficou com o Alexandre. Eu não poderia não vir buscar a minha
mulher.
— Sua mulher é mais forte do que imagina, Lucas — diz Andrea, me
abraçando por trás. — Ela deu um soco na cara do otário lá dentro.
Rimos juntas e começamos a contar o que tinha acontecido lá dentro,
quando Luís nos obrigou a sairmos de lá e irmos embora, mas não sem antes
eu apresentar Sandy a todos e convidá-la para ir também. Pena que não deu
para vir conosco, pois tinha um compromisso.
Não vai faltar oportunidade, ela me ajudou muito.
Meia hora depois estávamos entrando na casa de Lucas. Nossa, fazia
um tempinho que não vinha aqui. Estava com saudades.
Meu Deus, eu fiz mesmo isso. Eu enfrentei Leon e não derramei uma
lágrima e nem tive medo. Por minha família eu faço qualquer coisa.
Encontramos Alexandre deitado no chão, com Clarinha dormindo em
seu peito. É uma cena tão linda, pena que não estou com a minha câmera
aqui. Mas resolvo tirar uma foto com meu celular.
— Para dormir é mais caro, babázinha linda — zomba Léo alto,
fazendo Alexandre levar um susto e Clarinha dar um grito.
— Parabéns, seu cabeça de vento. Shi... calma linda, está tudo bem —
Alexandre diz, mas para ela não estava nada bem.
Clarinha começa a chorar e só para quando vai para os braços do
Lucas.
— Olha só para vocês! — diz Alexandre nos olhando de cima a baixo
e balançando a cabeça para os apetrechos nas mãos das meninas. — Vocês
são tudo loucas, nem quero conhecer essa tal de Andrea. Deve ser igual ou
pior que vocês.
Monique estava passando perto dele, tropeçou e quase caiu, mas
Alexandre a pegou e a sentou no sofá.
— Obrigada, Alexandre, isso foi doce.
— Tão doce que apodrece os dentes — resmunga Léo, nos fazendo
cair na gargalhada.
Depois que me controlo respondo o meu novo primo.
— Ela estava conosco também, só que tivemos que deixá-la em casa
no caminho.
— Eu, hein, estou fora! — diz ele, balançando a cabeça, mas parece
que estava meio desapontado pelo que eu disse.
— Louca é pouco. Você precisa ver ela em uma moto, cara, arrasa
corações — diz Luís e não pude deixar de ver as sobrancelhas de Josi
subindo.
— Então, o que acham de um jantarzinho em família já que estamos
todos aqui? — Trato logo de mudar de assunto.
Todos concordam e as meninas seguem para a cozinha e os homens
ficam na sala, falando de nós ainda.
Eu estou muito feliz que pelo menos conversei com aquele monstro e
o fiz ver que eu não sou quem ele pensava. Agora só falta falar com a cobra
criada da Angélica. E minha mãe.
Suspiro e deixo os maus pensamentos de lado. Vou me concentrar
nesse momento, só nas pessoas que estão ao meu redor e que me querem
bem.
Vamos ao jantar em família.
35 - Lucas
Manhã de sábado perfeita, acordar ao lado da mulher mais linda que
alguém pode querer, um sol lindo nascendo lá fora, o nosso anjinho dormindo
ao nosso lado e nosso outro anjinho protegido e quentinho. A vida é mesmo
maravilhosa.
Movendo-me atrás de Alice a puxo mais para mim, acariciando a sua
barriga lisa. Não vejo a hora de começar a aparecer, da sua linda barriga ficar
arredondada, ela será a mãe mais sexy do mundo e toda minha.
Estou no céu agora com o meu amor dormindo aqui ao meu lado, tão
serena, tão linda. Incrível como essa mulher me faz apaixonar por ela mais e
mais a cada dia. Conhecemo-nos há apenas cinco meses e parece que a
conheço a vida toda.
Graças a Deus que a visita que ela fez para o idiota do Rodrigo deu
tudo certo e ela voltou bem para mim. Quando soube onde ela estava na
quarta, eu quase tive um infarto de tanta preocupação, mas foi só eu ver o seu
lindo rosto feliz do lado de fora, que soube que a minha mulher é invencível.
Admiro tanto a sua força, ela já passou por tanta coisa e continua sempre de
cabeça erguida, enfrentando o que vier.
Minha guerreira.
— Eu amo você, minha linda, mais do que você possa imaginar —
digo, beijando o seu pescoço e ela se aconchega mais em mim, respondendo
ao meu toque.
Hoje, finalmente voltaremos para nossa casa. Eu adoro ficar com ela
aqui em sua casa, mas estou sentindo falta da nossa, já providenciei um
estúdio para ela lá, aí vai poder continuar com a fotografia, que é sua segunda
paixão. Ela está um pouco triste porque vai deixar Josi, mas se sente melhor
porque Jeff estará com ela.
— Hum... acordou animado, meu amor? — Ela está acordada.
— Bom dia. Ao seu lado sempre estou animado.
Em um minuto eu estava atrás dela e no outro estou deitado de costas
na cama, com uma Alice muito nua em cima de mim.
— Agora eu vou te mostrar o que é animação, senhor meu noivo. —
Sorrindo ela começa a me dar pequenos beijos em minha orelha, pescoço e
rosto.
Alice para a centímetros da minha boca, provocando-me sem tocar os
meus lábios e começa a acariciar todo o meu corpo com suas lindas mãos
suaves, me deixando mais excitado que já estive em toda a minha vida.
— Alice, eu preciso te ver, te provar. Não me torture assim, minha
linda.
— Hoje estou generosa, está com sorte. O que você quer que eu faça?
— Eu estou pronto desde antes de você acordar e eu sinto que se não
entrar em você agora eu vou morrer.
— Oh pobrezinho. Eu vou cuidar de você.
Ela vai descendo por todo o meu corpo com beijos molhados, parando
só quando chega ao meu pau, que está mais duro que uma rocha, e fica dando
beijinhos ora com língua, ora sem, matando-me aos poucos.
— Alice, amor, eu não aguento mais. — Ela para e me olha com tanto
desejo que fico sem palavras.
— Nem eu.
Ela se posiciona, pegando o meu pênis em sua mão e o levando para
onde ele estava doendo para estar. Assim que nos encaixamos, gememos alto
e ficamos uns segundos só nos olhando.
Como é bom estar assim dentro dela, é o paraíso.
— Linda. — Puxo o seu rosto e lhe beijo do jeito que sei que ela
gosta, com pequenas mordidas em seu lábio inferior, depois aliviando com a
língua. Movemo-nos juntos, dançando em nossa paixão. — Você me
enlouquece, sabia?
— Você faz o mesmo comigo — geme e começa a rebolar mais
rápido em cima de mim.
— Me dê esses seios deliciosos, amor. Ofereça-os para mim — peço
quase sem folego.
Ela obedece e os pega nas mãos, esfregando e puxando os seus
mamilos lindos.
— Sou a porra do cara mais sortudo do mundo.
— É?
— Sim, minha linda, agora me dê eles aqui. Esse é meu trabalho.
Ela se debruça e os coloca em minha boca, onde dou a atenção que
eles merecem. Com uma mão, seguro firme o seu quadril e empurro,
encontrando os seus movimentos frenéticos. Não vou durar muito, ela tem
esse jeito de se mover que me deixa tão louco.
— Amor, amor eu não vou du...
— Lucas, estou vindo, vem comigo, eu preciso de você para vir
comigo. Ah... meu amor.
Tiro a boca dos seus mamilos e colo em seus lábios, engolindo os
seus gemidos de prazer. Eu posso sentir a sua vagina apertando o meu pau e
isso é quando eu explodo dentro dela e ela vem ao mesmo tempo, nos
tornando um.
Ficamos minutos tentando controlar as nossas respirações, abraçados
e saciados. Amor pela manhã é o melhor jeito de acordar.
— Cada dia fica melhor fazer amor com você — ela murmura
bocejando.
— Cada dia com você é como se eu estivesse no paraíso. Eu amo cada
pedacinho seu.
Ela não responde e sinto a sua respiração lenta. Ela dormiu.
Com cuidado, a coloco na cama e vou para o banheiro, molho uma
toalha e volto, limpando-a com carinho. Depois me aconchego ao seu lado e
espero a nossa pequena acordar.
— Durma, meu amor, ainda está cedo. — Beijo a sua cabeça e
começo a desenhar em sua pele. Pena ela ter que ir trabalhar hoje, mas de lá
ela vai direto para a nossa casa.
Hoje Clarinha deixou nos amarmos, fazia dias que na hora que
esquentávamos ela acordava querendo colo. Não posso reclamar, eu me sinto
tão bem quando ela está em meus braços, e saber que ela confia em mim para
protege-la me deixa nas nuvens, não vejo a hora de segurar o nosso outro
pequeno em meus braços. Posso até estar enganado, mas sinto que será um
menino. Felicidade é pouco para o que tenho em meu peito. O meu sorriso é
tão grande que chega a machucar minha mandíbula.
Ouvindo o barulhinho inconfundível de todos os dias, sei que a minha
princesa está acordada. Saindo com cuidado da cama, vou buscá-la e mais
tarde iremos para casa.
Alice

— Animada para voltar de vez para a casa do Lucas? — pergunta


Josi, enquanto fazemos uns arranjos novos para a vitrine da floricultura.
Ainda suspiro ao lembrar o nosso lindo bom dia.
— Sim e não. — Olho para ela e a abraço. — Sim porque eu sinto que
lá é a nossa casa, me sinto tão bem lá. E não porque vou ter que deixar você.
— Ah, para, Lili, não se preocupe comigo. Eu vou ficar bem e Jeff vai
estar lá comigo. — Me abraça mais forte e eu começo a chorar. — E, além
disso, vamos continuar trabalhando juntas, nos veremos todos os dias e eu
vou te incomodar em sua casa mais vezes do que vai esperar.
— Eu sei, só estou sendo boba.
— Que chororô é esse aqui? — grita Monique, entrando pela porta da
loja com umas sacolas que cheiram divinamente.
— Se me der o que tem aí eu engulo o choro na hora. — Sorrio, já
tomando as sacolas das suas mãos.
— Bom saber que me ama também, Lili — brinca Monique nos
acompanhando até a nossa pequena cozinha nos fundos da loja.
— Eu tenho que aproveitar para comer enquanto não começam os
meus enjoos pra valer.
— Quando você estava grávida de Clarinha você não conseguia
segurar nada no estômago nos primeiros meses, isso eu lembro muito bem —
argumenta Josi.
— Verdade. E agora eu só fico enjoada, às vezes, no café da manhã,
depois passa — digo com a boca cheia de bolo de cenoura.
— Graças aos céus então. Talvez seja um menino dessa vez. —
Monique bate palmas e pula como uma garotinha.
— O que vier será bem-vindo, estamos muito felizes e não vejo a hora
de pegá-lo em meus braços. — Já disse ele, talvez dessa vez seja mesmo um
Luquinhas. Tomara que se pareça com o pai, será tão lindo ter um mini
Lucas.
Por alguns minutos ficamos em silêncio, só nos deliciando com o
lanche ganhado. Monique vai me fazer virar uma porca enorme de tão gorda.
Mas não vou me privar de nada, eu amo comer. Vou ter que pedir para ela
fazer aquela torta de morangos que eu amo e também aquele pavê de
chocolate. Só de imaginar a minha boca saliva.
Hum... que delícia.
— Alice, o seu noivo no telefone. — Fernanda entrou com o telefone
na mão me tirando dos pensamentos.
— Obrigada, lindona. — Pego o telefone e limpo a boca antes de
falar. — Oi, amor.
— Oi, linda, por que não atendeu o celular?
— Eu o esqueci na minha casa, assim que sair daqui passo lá
rapidinho para pegá-lo e vou para a nossa casa. Está bem?
— Ah, falando nisso, Zeus não deixou Luís se aproximar e como Léo
está com uma emergência no consultório veterinário hoje, pensei que poderia
trazê-lo também já que vai lá.
— Claro, estou quase saindo daqui. Como estão os meus amores?
— Estamos vendo um filme aqui no quarto, só falta a mamãe. — Ele
sorri e posso ouvi-lo dando um beijo em Clarinha.
— Já terminamos aqui, chego a casa em meia hora.
— Não demore, estamos com muita saudade. Eu te amo.
— Eu também te amo.
Desligo e termino de comer, deixando as meninas lidarem com o
restante do sábado. Hoje está tranquilo e já se passavam das cinco da tarde.
Lucas e Clarinha foram mais cedo, com nossas coisas para casa, eu ia direto
daqui para lá, mas esqueci o meu celular e agora o nosso pequeno Zeus não
quis a companhia de Luís, então tenho que buscá-lo também. Ele é tão
manhoso!
— Beijos, meninas, não cheguem tarde amanhã para o almoço.
— Sim, senhora — gritam juntas e eu saio da loja rindo como uma
boba.
Cheguei rápido, o trânsito estava calmo e agradeci a Deus por isso.
Assim que entro pela porta, começo a chamar por Zeus.
— Cadê você pequeno?
Procuro na sala, cozinha, no quarto de baixo e nada.
Talvez ele esteja no andar de cima. Penso, já subindo as escadas.
— Zeus, querido, não se esconda de mim, temos que ir para casa.
Olho todos os outros quartos e nada dele. Faltava só o meu, e na hora
que abro a porta do quarto as minhas pernas ficam bambas com o que vejo
ali. As minhas mãos vão automaticamente para a minha barriga, tentando
proteger o meu filho. Hoje estou sozinha.
Minha irmã está deitada na minha cama e Leon sentado em uma
cadeira, segurando uma arma. O seu rosto parece maníaco, mas na hora que
ele me vê sorri e até parece um sorriso de verdade.
— O que vocês estão fazendo aqui? E como conseguiram entrar?
— Quero ouvir o que disse para mim lá em casa, na frente dela.
Olho para Angélica e ela nem parece estar com medo, mesmo com o
cara louco ao seu lado segurando uma arma.
— Eu não sou quem você esperaria encontrar aquele dia no
estacionamento. — Eu não estou com medo. — Onde está Zeus?
Olho freneticamente para os lados, mas nem sinal dele.
— Ah, aquele cachorro irritante? — pergunta Angélica sorrindo. — O
joguei pela janela, ele estava me dando nos nervos.
— Não. — Coloco a mão na boca em espanto. Zeus, me desculpe. —
Por que fez isso? Ele não te fez nada!
Deus, ajude que ele esteja bem, a janela não é alta, mas tem pedras lá
fora.
Vou até a janela e realmente ele está lá, parece que está se mexendo
um pouco. Tenho que ligar para alguém vir me ajudar com ele. Vou em
direção à porta, mas a voz afiada de Leon me faz parar.
— Se tentar sair eu atiro em você, e eu não quero fazer isso, acredite
em mim. Volte e sente na poltrona de frente para mim. Vamos terminar essa
conversa logo, quanto antes esclarecermos as duas versões, antes você voltará
para a sua família.
Olho com ódio para ele e depois para a minha irmã, que me dá um
sorriso de orelha a orelha e volta a deitar na cama.
— De acordo? — ele pergunta com um tom mais suave.
Balançando a cabeça, eu me sento e começo a pensar em como vou
me safar disso.
Primeiro de tudo, não entre em pânico, fique calma. Mais fácil falar
do que fazer.
36 - Alice
Eu preciso fazer alguma coisa, e rápido. Tenho que engolir o meu
orgulho e pedir pelo menos para ir buscar o Zeus e deixá-lo perto de mim
aqui dentro. Que esteja bem, que esteja bem.
Meu Deus, como a minha irmã se tornou essa pessoa tão horrível?
Ela sempre teve tudo o que quis, sempre teve o amor da nossa mãe e
apesar de sempre me colocar para baixo, eu a amava muito também. Como eu
desejei que fôssemos irmãs de verdade, mas já é tarde demais, não quero esse
tipo de pessoa perto dos meus filhos. Queria uma irmãzinha e não esse
monstro que está aqui na minha frente.
Tudo bem, Alice, respira, pelo menos ele não te amarrou. Graças a
Deus! Pensei comigo mesma. Mas em compensação está me olhando com
uma expressão indecifrável, assim não consigo saber o que ele está pensando.
Estou acostumada a ele me olhar com raiva, ódio. E isso hoje ele só
demonstra quando olha para Angélica.
Chega! Zeus precisa de mim, foco.
Limpo a garganta duas vezes e falo.
— Rodrigo — uso até o primeiro nome dele. — Por favor, me deixa
ir pegar o Zeus, ele deve estar muito machucado. Eu prometo que não farei
nada além de pegá-lo e trazê-lo aqui para dentro. — Solto um soluço e
começo a chorar, não pretendia, mas não consegui segurar. — Ele é só um
filhotinho, por favor.
Fico esperando o que parece ser uma eternidade, enfim ele suspira e
me olha bem em meus olhos.
— Eu vou, mas não tente nenhuma gracinha. — Balanço a cabeça. —
Eu achei o seu celular e o telefone da casa não funciona mais. — Balanço de
novo a cabeça, concordando. Eu só quero que ele vá logo, preciso ver como o
pequeno está.
— O QUÊ?! — grita Angélica, dando-me um susto. — Você não
pode trazer aquele pulguento para perto de mim.
— Cala a boca! Você não apita nada aqui, fica na sua — diz cada
palavra com uma voz grave e dá um tapa no rosto dela.
Olho para a minha irmã e ela está de olhos arregalados, deve ter
ficado surpresa pelo modo como ele agiu. Não fiquei surpresa, sempre que
ele me ligava ou nos víamos falava assim comigo.
Claro, a minha irmã apronta e sobra para mim, como sempre.
Levantando da sua cadeira, Rodrigo anda um pouco e para bem em
minha frente.
— Sem gracinha, linda, ou eu o mato. — Pisca e sai pela porta,
deixando-me do jeito que eu queria.
Não sou boba, eu sabia que ele não me deixaria sair desse quarto, eu
preciso de alguns minutos com Angélica. Preciso saber o por que de tudo
isso.
Espero um pouco e me levanto, quero ficar bem próxima dela e olhar
em seus olhos, enquanto conversamos. Não fico surpresa, ela nem se dá ao
trabalho de me olhar quando paro ao seu lado na cama, está ocupada fingindo
conferir suas unhas. O seu rosto está vermelho da bofetada.
— O que foi que eu te fiz para me odiar tanto, Angélica?
— Nasceu — diz tão baixinho que quase não consigo ouvir.
— Por que tanto ódio?
— Ah quer saber, cansei! — Levanta da cama e ficamos de frente
uma para outra, cara a cara. — Nunca gostei de você, quando pequena tinha
que dividir tudo com você, quando adolescentes todos os meninos na escola
queriam sentar perto de você. Sempre foi a mais inteligente, a que sabia
conversar, se fingia de coitadinha e todo mundo gostava de você. — Essa
menina tem problemas.
Ela para de falar e fica à minha frente, tremendo.
É pior do que eu pensava. Como eu vivia mais com a minha avó eu
perdi muito dela.
— Eu nunca me fingi de coitada para ninguém. Por que fala assim?
— Eu gostava tanto do Brian, mas nada do que eu fazia ou falava,
trazia sua atenção para mim, ele só queria saber de você. Só de você! — Ela
está chorando e tremendo.
Brian? Meu Deus, será que ela está falando do menino do ensino
médio? Conhecemos Brian no segundo ano do ensino médio, estudávamos
todos juntos. Éramos amigos, nunca foi mais do que amizade, e erámos
crianças ainda, pelo amor de Deus! Nem pensávamos nesse tipo de coisa, eu
ainda brincava de boneca com a Josi de vez em quando. E sem contar que a
minha mãe me mataria.
— Eu não acredito que você tem tanto ódio de mim por causa de
Brian. Nós éramos amigos, Angélica.
— Mentira! Eu vi a carta que ele te escreveu, ele dizia que amava
você e queria que você fosse a sua namorada, mas o idiota do Jimmy
entregou a carta para mim ao invés de você, mas tinha o seu nome lá. — Ela
sorri e limpa as lágrimas, enquanto chega mais perto de mim, os nossos
narizes quase tocando-se. — Eu fui ao encontro que ele marcou, nós nos
beijamos e fizemos outras coisas, mas no final ele me chamou de Alice e
estragou tudo. Eu te odeio!
Ela levanta a mão para me bater, mas sou mais rápida e seguro firme
o seu pulso.
— Percebe o quanto isso é doente, Angélica? Você precisa se tratar.
Meu Deus, isso foi há muito tempo, e eu nem sabia que esse menino gostava
de mim. Você só pode ser louca. — Quem em sã consciência guarda tanto
rancor e faz o que fez comigo por causa de besteira? Sério mesmo?
— Eu não sou louca!
Angélica me empurra com tanta força e, como eu estava segurando o
seu pulso, caímos juntas no chão, com ela em cima de mim. Rolamos um
pouco, mas não consigo ficar por cima, ela sentou em minhas pernas e eu não
vou forçar muito por causa do meu bebê. Consigo desviar das suas investidas
em me arranhar com essas unhas gigantes que ela tem.
— Parem! — grita Leon da porta, nos olhando com Zeus em seus
braços. Ele o segura com tanto cuidado que nem parece ser a mesma pessoa
que fez o que fez, parece outro. — Angélica, saia de cima da sua irmã.
— Ela não é minha irmã, eu a odeio. Se ela não existisse tudo teria
sido melhor para mim, a mamãe e o papai, Brian e o Juan seriam só meus.
Juan? Não conheço nenhum Juan. A minha irmã está parecendo uma
louca, os seus olhos estão ferozes.
Entrando no quarto, Leon pega um lençol, coloca na poltrona que eu
estava sentada antes e deita Zeus em cima, depois vem e tira a minha irmã de
cima de mim.
Levanto-me rápido e vou ver como está o filhotinho que nos trouxe
tanta alegria. Clarinha está acostumada com ele e sorri cada vez que ele está
com ela, o que é sempre, pois ele adora ficar perto dela. Quando ela está no
quarto dormindo ele quer ficar lá também, só que no tapete, temos que deixar
a porta entreaberta para ele sair e entrar sempre que quer. Tão companheiro.
— Ei, você vai ficar bem — falo, olhando em todos os lugares do seu
corpo, procurando onde está machucado.
— Quando cheguei lá fora ele estava levantando sua pata da frente, a
esquerda parece estar quebrada, mas não tem nenhum outro machucado. Por
sorte ele não caiu em cima das pedras — diz Leon.
Olhei para ele e ele tem minha irmã no colo. Eu não entendo esse
homem, ele deve ser bipolar.
— Eu já falei tudo o que eu tinha para falar com vocês, eu preciso
levar Zeus no veterinário e ir para casa.
Pego o pequeno no colo, ele está encolhido, coitadinho.
— Você não pode ir, eu vim aqui para resolver essa situação de uma
vez por todas e você só sai daqui quando eu fizer o que tinha que ter feito
desde que desconfiei que a sua irmã estava me escondendo alguma coisa. —
Ele dá uma gargalhada e olha para Angélica. — Eu fingi que estava tudo bem
porque eu amo você, mas sabia que você estava aprontando alguma, eu decidi
não me importar. Mas que homem normal aceita uma mulher que finge ser
outra e ainda me faz aceitar que está dormindo com outro homem?
— Você sabia o tempo todo? — pergunto incrédula.
— Não, eu não sabia que ela tinha uma irmã gêmea, mas o cheiro às
vezes era diferente. No dia do estacionamento estava diferente das outras
vezes, ela nunca me pedia para ser tão violento e dessa vez ela pediu para
machucar muito, para parecer real.
Encolho-me com o seu relato, lembrando-me do quão real foi.
— Quando descobri a gravidez fiquei louco, por isso mandei os
visitantes até você. Eu queria que ela sentisse o quão mal eu estava, mas ela
sumiu, depois voltou como se nada tivesse acontecido, dizendo que precisava
de um tempo para se livrar da filha e do Lucas. Eu aceitei, pois eu roubei a
noiva de Lucas no passado e achava que merecia um pouco do que o fiz
passar. Agora eu vejo como tudo isso foi patético, como eu sou patético!
— Eu ia me livrar da menina, eu vim aqui uma noite achando que elas
estavam aqui, mas não encontrei ninguém. Aí eu perdi a cabeça e matei uma
gata que estava deitada no quarto da pirralha — a minha irmã se pronuncia e
eu ofego de surpresa com o que sai da sua boca.
— O que disse? Que gato? — Eu não sabia de nenhum gato.
— O da sua amiga, a gorducha lá. Esqueci o nome dela. — Começa a
rir.
— Não fale assim da Josi ou eu acabo com você! — defendo a minha
amiga, que é para mim uma verdadeira irmã, apesar de não termos o mesmo
sangue.
— Eu cortei os freios do carro de Lucas também, porque eu tinha que
me livrar dele. Eu prometi para o meu amor que me livraria dos dois, não
consegui me livrar da ratinha, e você parecia tão feliz, irmãzinha, e eu odeio
te ver feliz. Gosto de ver você apavorada, com o rosto banhado de lágrimas.
— Vocês dois se merecem. Vocês são doentes. — Meu Deus, como
ela pôde fazer isso?
— Eu tenho o vídeo daquela noite, você quer ver? — Arregalo os
olhos, ela com certeza está mentindo. — Surpresa, maninha? Você acha
mesmo que eu ia planejar tudo isso e não iria assistir? Não imagina o quanto
eu me excitei com a visão de vocês dois lá no beco escuro. Assisti várias e
várias vezes.
— Não acredito nisso! Você estava lá o tempo todo? Você é pior do
que eu pensava — Leon diz e a derruba no chão, depois sai do quarto.
Não aguentando mais ouvir que tudo de ruim que aconteceu em
nossas vidas foi culpa dela, coloco Zeus na poltrona de novo e avanço em
Angélica, tirando ela do chão. Bato em seu rosto várias vezes, em seu
estômago e depois seguro com força o seu pescoço, só paro quando estou
sem fôlego e sem forças. Angélica cai, tossindo e rindo ao mesmo tempo.
Meu Deus ela é louca, eu juro que nunca fiz nada intencional para
ela me odiar tanto assim.
— Eu não sabia sobre o gato, desculpe. — Ouço sua voz sussurrada e
percebo que Leon tinha voltado para o quarto depois de um tempo.
Ele realmente me pediu desculpas? Esse cara não é certo.
— Depois do que você me contou lá em casa, eu pensei sobre tudo e
realmente eu fui muito burro, tudo estava lá, diante do meu nariz e eu não vi
a diferença entre vocês. Mas eu vou concertar isso, ela me disse que você
estava mentindo, por isso vim para ver se ela negaria na sua frente, mas não
preciso de mais provas. Depois de tudo o que ouvi aqui, ela realmente fez
tudo o que você disse e eu estou realmente arrependido do que te fiz passar,
Alice. Eu só fiz porque achei que fosse ela, sempre jogamos esses jogos.
Olhou para Angélica no chão.
— Eu não farei mais nada, só quero ir com você, meu amor, não me
deixe.
Nesse momento Angélica se transforma e parece tão frágil. Minha
mãe sabe que ela é assim?
Leon vai até ela, acaricia o seu rosto e enxuga as suas lágrimas.
— Ficaremos juntos, sim, apesar de tudo. Eu te odeio, mas também te
amo. — Se virou para mim e me olha com pesar. — E para termos paz eu
preciso fazer isso certo.
Estou sem forças. No automático, volto a segurar Zeus e me sento.
Este é o meu fim, ele vai me matar, eu sei que sim, e eu não tenho
mais forças para lutar, estou me sentindo mal. Fechando os olhos, imagino
que estou em casa, nos braços de Lucas e com Clarinha em meu colo.
Estávamos rindo dos barulhinhos lindos que nossa pequena aprendeu e estava
fazendo o tempo todo. A minha filha, a maior alegria da minha vida.
Deus, o aniversário de Lucas é no mês que vem e eu não vou estar
aqui para comemorar com eles, não estarei aqui no primeiro aniversário da
Maria Clara também. Mas eu só tenho a agradecer por Deus ter me dado a
alegria de ser mãe, de conhecer amigas/irmãs tão especiais como as que eu
tenho e de ter colocado Lucas e os seus irmãos em minha vida. Ter conhecido
o meu pai e o meu irmão também. Muito obrigada!
— Me perdoem, meus amores — digo para mim mesma, ao mesmo
tempo em que coloco a mão em minha barriga. — Desculpa não te proteger
melhor, meu pequenino. Eu te amo.
— Chegou a hora — diz Leon.
Estou sendo carregada, mas não me importo, eu não quero abrir os
olhos e quebrar a imagem que eu tenho das duas pessoas que mais amo no
mundo. Também não solto o meu pequeno companheirinho Zeus. Estaremos
juntos até o fim.
Ouço uma porta se abrindo e depois sinto algo gelado embaixo de
mim, mas ainda não abro os olhos. Só quando ouço o barulho de uma chave
dando um clique é que percebo que algo está errado. Bem devagar, abro os
meus olhos e franzo a testa. Estou no meu banheiro, sentada no mármore da
bancada da pia e trancada aqui dentro.
O que ele vai fazer? Achei que ia só dar um tiro na minha cabeça e
pronto, mas parece que será devagar e doloroso.
— Zeus, temos que sair daqui. Calma, eu vou dar um jeito. — Estou
tentando convencer a mim mesma.
Tento ouvir alguma coisa, mas está quieto do outro lado. Será que
foram embora? Eu não teria tanta sorte assim. Desço da pia, deixo o pacote
pequeno lá e vou até a porta. Puxo a maçaneta, mas nada, está mesmo
trancada, bato com força e grito com tudo o que tenho; alguém iria ouvir.
Alguém bate do outro da porta lado e coloca um papel por baixo dela,
me afasto um pouco e pego. Nele estava escrito apenas três palavras:
Eu. Sinto. Muito.
— O que isso significa? — Não tenho a chance de pensar muito, pois
ouço um tiro. — Meu Deus, não! Me deixa sair! — Bato mais uma vez na
porta.
Depois de alguns instantes ouço um segundo disparo.
Deus, o que ele fez?
Sento de uma vez no chão e sinto a minha visão escurecer.
— Lucas — o seu nome desliza dos meus lábios e não vejo mais
nada.
37 - Lucas

“Venha buscar sua mulher. Agora.”


Desde que recebi essa mensagem, há dois minutos, do telefone de
Alice sabia que alguma coisa estava muito errada. Não precisei nem pensar
muito para saber quem tinha mandado, ele está com ela em sua casa, por isso
a demora em chegar. Meu Deus, se ele tiver feito alguma coisa com a minha
mulher eu vou mata-lo. Vou fazê-lo sofrer tanto que vai se arrepender do dia
em que nasceu.
— Eu vou com você — diz o meu sogro, que tinha chegado há dez
minutos e estávamos tendo uma boa conversa, enquanto esperávamos Alice.
Não discuto com ele e saímos porta afora, deixando Clarinha aos
cuidados de Inês.
— Vamos então. — Entrego o meu telefone para ele. — Ligue para o
meu irmão Luís, diga o que está acontecendo e para nos encontrar na casa da
Josi.
Não conseguiria falar e dirigir ao mesmo tempo, a minha garganta
está se fechando, estou com tanto medo e também muito furioso.
Sei que o seu pai está sentindo a mesma coisa ou pior, mas pelo
menos ele consegue falar melhor que eu nesse momento.
Desde o acidente não dirigi por causa do meu braço, mas hoje não me
importo, eu tenho que chegar até ela, custe o que custar. Quebro todos os
limites de velocidade permitidos, mas parece que quanto mais corro mais
longe fica.
— Calma, Lucas — Gabriel pede, colocando a sua mão trêmula em
meu ombro. — Não precisamos disso agora, tenta manter a calma e foco,
meu filho. Ela precisa de nós, mas bem, então dirija direito. — Ele está certo.
Diminuo a velocidade e peço a Deus que Alice esteja bem, daria tudo
para que ela não passasse por nada de ruim. Senhor, que ela esteja bem,
senhor, que ela esteja bem... Vou repetindo em minha cabeça até dar a volta
na esquina da sua casa, e é quando ouvimos um tiro.
— NÃO! — grito.
Acelero o carro e paro de frente à casa, entrando com tudo,
procurando por ela. Não, não, não. Não pode ser, isso não está acontecendo.
Não encontrando ninguém na sala, subo as escadas de dois em dois.
Com um sentimento de que tudo aconteceu em nosso quarto, me dirijo para lá
com pernas bambas, o coração saindo pela boca e lágrimas quentes caindo
em meu rosto.
Abro a porta de uma vez e o que vejo na cama quase me faz perder os
sentidos.
— Deus, não. — sussurro sem forças. Eu cheguei tarde demais.
Cheguei tarde.
A minha Alice.
— Meu Deus! — exclama Gabriel, logo atrás de mim. — Minha...?
Minha filha... — sussurra e começa a chorar.
Corro, mesmo com as pernas não querendo me obedecer e paro na
frente da cama, olhando a cena de horror à minha frente. É horrível, mas um
segundo olhar na mulher e eu tenho certeza que não é a minha Alice. O seu
cabelo é muito loiro e ela é mais magra, dá pra ver pelas pernas e braços, que
estão aparecendo.
Dou um suspiro de alívio, mas ouvindo o choro de Gabriel me sinto
mal por ele. É a Angélica. Ela está imóvel, com a cabeça virada de lado e dá
para ver que levou um tiro no peito, bem no coração. Ao seu lado está
Rodrigo, com um tiro na cabeça, a arma está ao lado dele na cama. Estão
mortos.
Deus do céu, ele fez isso? Ou tem mais alguém aqui, e onde está a
minha mulher? E se eles a tiverem levado? Não, não, não.
Olho para todos os lados freneticamente, à procura de Alice, mas ela
não está em nenhum lugar desse quarto. Onde ela está?
— Mano? — Graças a Deus o meu irmão chegou. — É... é... a Ali...
ce? — Dá para ver que as palavras estão difíceis de sair.
O meu irmão mais velho não é de demonstrar sentimentos, mas eu sei
que ele ama Alice. Quem não amaria? Ela é perfeita.
Eu tenho que achá-la.
— Não, é a irmã dela. — Vejo o alívio estampado em seu rosto, assim
como no meu. Mas Gabriel está inconsolável, afinal era sua filha, por mais
que ela tenha feito coisas terríveis, ele a amava e eu entendo a sua dor nesse
momento. — Mano, não sei onde a Alice está. Recebi uma mensagem do seu
telefone, mas tenho certeza que não foi ela que me mandou. Precisamos olhar
cada canto dessa casa, não saio daqui até achar a minha mulher!
Luís assente e sai do quarto para procurá-la nos outros cômodos. Dou
mais uma olhada na cena na cama e em meu sogro, que agora está ao
telefone, falando não sei com quem.
Estava quase indo para o closet de Alice para procurar lá, quando vejo
um papel em cima da cômoda próxima à cama.
Com letras grandes está escrito: “NO BANHEIRO” e a chave do lado.
— Claro!
Pego a chave e corro para o banheiro, me atrapalho um pouco em
destrancar a porta, mas consigo depois de algumas tentativas.
Abro a porta com cuidado, não posso correr o risco de Alice estar
logo atrás e eu machucá-la.
— Minha linda, eu estou aqui — digo, mas ela não responde.
Alice está deitada no chão, sem se mexer. Abaixo-me ao seu lado e
checo o seu pulso.
— Graças a Deus — Beijo o seu rosto, a sua barriga e procuro algum
machucado. Faço uma oração em silêncio, agradecendo por não ter
encontrado nenhum. — Vou te levar para longe daqui, vou cuidar de você,
minha vida.
Ela só está desmaiada, vai ficar bem.
— Ela está aqui! — grito, para que os outros saibam que a encontrei.
Ouço passos e vozes altas do quarto, parece que tem mais pessoas
aqui.
— Lucas, tudo bem com minha filha? — Dá para sentir a dor em sua
voz.
— Sim, mas ela está desmaiada. Eu preciso tirá-la daqui antes que ela
acorde, não quero que ela veja o que aconteceu no quarto. Apesar de que eu
acho que ela tenha uma ideia.
— Jesus! Não acredito que isso tenha acontecido. — Gabriel passa a
mão pelos cabelos grisalhos e limpa as lágrimas. — Ele a matou e depois se
matou em seguida, Lucas.
— Eu sinto muito, Gabriel, ela era sua filha também, mas...
— Eu sei. Não precisa dizer nada, já estava sabendo de tudo o que
aconteceu, o Bruno me contou. — Suspira, olhando a sua filha em meu colo.
Ele se abaixa e a beija no rosto. — Leve-a, tem uma ambulância lá fora. Eu
vou cuidar de tudo, os policiais estão aqui também, acho que algum vizinho
os chamou.
Assinto.
— Ela está grávida e tenho certeza que passou por muita coisa hoje,
preciso saber que está tudo bem com os dois.
Levanto-me com Alice em meus braços, apertando-a com carinho.
Algo do outro lado me chama a atenção e olhando nessa direção vejo um
pano se mexendo em cima do balcão da pia.
— Zeus?
— Eu cuido dele, mano. Vai — oferece Luís, entrando no banheiro.
— Obrigado, mano.
Saio do banheiro e passo rápido pelo quarto. A qualquer instante
Alice pode acordar e não quero que veja esse horror.
Como Gabriel disse, tem uma ambulância nos esperando, entro e a
coloco na maca.
— Ela está grávida — falo com uma onda de emoção na voz e
enquanto cuidam dela, eu seguro a sua mão e fico olhando o seu lindo rosto.
— Estou aqui com você, vai ficar bem. Eu juro!
Graças a Deus estava tudo bem com Alice e o nosso pequeno, assim
que chegamos ao hospital ela acordou e chamou por mim. Não saí do seu
lado nem um segundo. Todos foram para lá, esperar por notícias dela e
ficaram aliviados em saber que estava tudo bem. Josi e Jeff vão ficar em
nossa casa conosco por um tempo, não quero que voltem lá até reformarem a
casa.
Agora já é quase meia-noite, estamos em casa e Alice está agarrada a
mim com tanta força que está quase machucando, mas não me importo, ela
precisa de mim. Ela chorou muito, mas não disse mais nada. Eu não
perguntei, sei que assim que ela quiser falar, vai me dizer o que aconteceu lá.
Estava passando os dedos por suas costas e achei que ela estava quase
dormindo quando ela começa a falar, surpreendendo-me.
— Eu achei que ele fosse me matar e eu nunca mais fosse ver você e a
nossa filha — começa a chorar e sacudir a cabeça em meu peito.
— Shi... passou, meu amor. Acabou, estamos aqui e é onde vamos
continuar.
— Nunca passou pela minha cabeça que ele fosse fazer isso. Achei...
achei... que... — Respira fundo e continuou: — Que ele me trancou no
banheiro porque ia me matar de outro jeito e não com a arma, mas quando
ouvi o primeiro tiro me apavorei, depois veio o segundo e eu soube que
quando ele disse que tinha ido resolver tudo, não estava falando de me matar
e sim deles. Ele disse que eles iriam ficar juntos, Lucas.
— Amor, o Rodrigo sempre foi difícil, mas eu não conhecia esse lado
louco dele.
— Ela me odiava, Lucas. Minha irmã me odiava tanto e eu nem sabia
até hoje o motivo, mas quando ela me falou... Eu não consegui acreditar que
ela fez todas essas monstruosidades por causa de coisas tão bobas.
— A mente dos seres humanos é uma incógnita, ela alimentou esse
ódio e inveja por anos, distorceu as coisas e só acreditava no que queria. Ela
precisava de ajuda, isso é verdade.
— Eu fico me perguntando se eu tivesse tentado mais, me
aproximado mais dela, se ela seria diferente.
— Olha para mim, meu amor. — Seguro o seu rosto em minhas mãos
e olho bem fundo em seus olhos. — Você não tem culpa de nada. Nada!
Entendeu? — Não posso deixá-la pensar que de alguma forma é culpada por
uma coisa que ninguém realmente tem culpa.
— Eu sei. — Deita de novo em meu peito e fica olhando para a nossa
filha, que dorme tranquila em seu berço do lado da cama. — Eu me pergunto
se a minha mãe sabia alguma coisa e nunca nos disse. — Balança a cabeça e
suspira. — Lucas, o meu pai está devastado e eu estou aqui, devia estar lá
com ele.
Começa a se levantar, mas a seguro no lugar.
— Ei, minha linda, vem cá. — Ela se aconchegou de volta. — Calma,
ele mesmo me pediu para não deixar você ir para lugar nenhum. Ele entende,
amor. — E também, a sua mãe não quer vê-la, mas isso eu não digo em voz
alta.
— Ela era a minha irmã apesar de tudo. Por mais que eu estava com
raiva por tudo o que ela me fez passar, eu não queria que isso tivesse
acontecido.
— Eu sei, minha linda, eu sei. Vai ficar tudo bem. Você me tem e aos
nossos amigos e familiares, todos estamos aqui para você.
— Eu sei, meu amor. Eu amo vocês.
— Você é a pessoa mais forte que eu já conheci...
— Não me sinto forte agora — sussurra e boceja.
— Mas você é a minha guerreira. A minha fortaleza. — Beijo a sua
testa e a abraço mais perto de mim. — Agora durma um pouco, eu vou ficar
bem aqui e te segurar.
— Para sempre?
— Para sempre e sempre, minha vida.
Ela dorme em seguida e eu fico por um tempo observando-a, antes de
cair no sono também.
Dois dias depois...
Alice

Ainda me emociono quando entro na estufa. Amo a minha nova casa,


mas aqui é o meu lugar preferido daqui. Esses últimos dois dias, depois do
que aconteceu em minha casa, eu tenho vindo muito aqui, esse lugar me traz
lembranças maravilhosas e me relaxa, tirando os pensamentos ruins da minha
cabeça.
O velório da minha irmã passou e a minha mãe não me quis lá, isso
não deveria mexer comigo, mas mexeu, e muito. Queria ter podido estar lá
pelo meu pai e por ela também, mas...
— Sabia que te encontraria aqui — diz Lucas, interrompendo os meus
pensamentos.
— Oi.
— Olha quem veio comigo.
Olho para ele e vejo quem está em suas mãos.
— Zeus! — Pego o pequeno em meus braços e o abraço. Ele ficou
esses dois dias no veterinário, recuperando-se. Léo estava cuidando bem dele.
Sua patinha da frente estava machucada, mas não chegou a quebrar, graças a
Deus. — Você foi buscá-lo?
— Não, Léo o trouxe. — Chega mais perto, prendendo-me em seus
braços. — Ele está lá dentro fazendo a Clarinha gargalhar, ele disse que não
existe som melhor.
— Eu concordo, adoro o som do riso dela.
— Eu também, minha linda. É o segundo melhor no mundo todo.
— Ah é? E qual seria o primeiro?
Estou fascinada pelo modo como ele está me olhando, como se eu
fosse o seu bem mais precioso. Não resisto e começo a chorar.
— O som suave da sua voz, minha linda. É o mais lindo som que
existe, principalmente quando ele vem acompanhado do meu nome.
Sorrimos um para o outro e Lucas se inclina, dando-me o mais doce e
romântico dos beijos.
— Eu amo você, sabia?
— Eu sei, e eu também te amo. Mais que chocolate.
Gargalhamos e brincamos um pouco com Zeus, até sermos
interrompidos pelo meu cunhado e a nossa filha.
— E aí, cunhadinha. — Beija a minha bochecha, demorando um
pouquinho mais só para irritar o seu irmão. — Tem um advogado aqui,
querendo falar com você.
— Um advogado? Ele disse o que queria? — Estou confusa, sem
saber o que um advogado quer comigo.
— Não. — Olhando para Lucas, diz. — Advinha só quem é o
advogado?
— Nosso primo.
Segurando a minha mão, Lucas me leva para a casa onde o advogado
nos espera. Nem me dá chance de perguntar sobre esse primo que eu não
conhecia.
— Lucas, senhora Alice. — Apertamos as mãos e eu fico nervosa
com sua presença. Ele é alto, bem bonito, tem um furinho no queixo, bem
sexy. Essa família só tem gente bonita, é isso mesmo? — Estou aqui da parte
do senhor Rodrigo Leon Albuquerque.
— O quê? — grito e me sento de uma vez no sofá. — Por quê?
— Bem, ele me procurou três dias antes... — Limpa a garganta e me
olha com um olhar curioso. — Antes do ocorrido, que ocasionou sua morte
— completa.
Ele abre uma pasta e me entrega um envelope.
— O que é isso?
Olho para o envelope sem entender nada.
— Isso é o seu testamento e uma carta que ele me deixou encarregado
de entregar a você.
Eu não posso acreditar no que está acontecendo. Até depois de morto
ele não me deixa em paz.
— Eu não quero isso, pode levar de volta. — Empurro os papeis para
ele, me levanto e saio correndo para o meu quarto.
Por que isso? Um testamento? Deixa-me em paz!
Eu estava melhorando, ontem não tive nenhum pesadelo e consegui
dormir à noite inteira nos braços de Lucas. Mas esse cara tem que fazer
alguma coisa para estragar.
Estou deitada na cama me lamentando, quando sinto uma mão
acariciando as minhas costas, deixando-me mais calma no mesmo instante
em que sinto o seu toque.
— Meu amor, não fica assim.
— Eu não quero nada que venha dele, Lucas. Nada!
— Eu sei, amor. — Suspira e se senta ao meu lado. — Mas por mais
que eu odeie admitir isso, a Clarinha tem o sangue dele. O que não muda
nada o que eu sinto por ela, ela é minha filha, a nossa filha.
— Então você acha que eu devo aceitar o que quer que seja que ele
tenha deixado? — Estou surpresa com isso.
Olhando em seu rosto vejo a dor em seu olhar, ele não gosta disso
tanto quanto eu.
— Vamos voltar lá embaixo, ver o que tem naqueles papeis e encerrar
logo as coisas com o passado para sempre. Vamos?
Lucas levanta da cama, me estende a mão e voltamos para a sala.
Uma hora depois, estou de volta a estufa, segurando a carta que
Rodrigo/Leon me deixou. Depois que voltamos, fiquei sabendo que ele tinha
deixado tudo o que tinha para a minha filha, o que era uma fortuna. Do fundo
do meu coração eu não queria nada dele perto da minha filha, mas apesar de
como tudo aconteceu, ela tem direito a isso por mais que eu odeie essa ideia.
Olhando mais uma vez para o envelope em minha mão, penso no que
Lucas disse.
“Encerrar as coisas com o passado para sempre.”
— Não seja uma covarde, Alice. É só uma carta — repreendo a mim
mesma e abro o envelope, retirando a carta de dentro. — Ok, vamos lá.
Sento no chão e começo a ler.

“Verdadeira Alice.”
No fundo eu sempre soube que havia alguma coisa errada, mas
como sou fraco quando se trata da sua irmã ignorei. Não espero que
entenda o tipo de amor que eu sentia por ela, nem eu mesmo entendia, mas
sei que a amava mais que tudo.
Não sabe o quanto me arrependo do que eu fiz a você, você era uma
inocente no meio disso tudo que chamávamos de “relação”, se soubesse
que não era ela eu nunca teria te tocado, por isso não espero que me
perdoe, mas mesmo assim te peço perdão pelas monstruosidades que a fiz
passar.
Confesso que nunca quis ter filhos, mas eu fui vê-la depois que você
veio aqui e me contou tudo o que eu não sabia. Eu a vi com o Lucas, do
lado de fora de sua casa, ela é uma criança tão linda. Você é uma ótima
mãe, ela tem muita sorte de tê-la. Não quero e nem espero que conte nada a
ela quando ela crescer, o seu pai é e sempre será o Lucas, mas não posso
deixar de querer compensar todo o sofrimento causado por mim e sua irmã.
Estou deixando tudo que tenho para ela, sei que dinheiro não vai diminuir
o que fiz, mas já é alguma coisa e ela tem todos os direitos de herdar o que
um dia foi meu.
Peço que aceite, faça o que quiser com ele, gaste com besteiras, doe,
ou espera ela crescer e deixe que ela decida, mas é dela.
Queria que as coisas fossem diferentes, mas não são. Eu errei muito
e mereço o que estar por vir, o que me consola é que sua irmã estará
comigo para sempre, não nos separaremos. Você merece o que há de
melhor no mundo e para que isso aconteça teremos que nos afastar. É o
melhor para vocês.
Nunca fui uma pessoa que tem o coração mole, mas por você eu
faço uma exceção.
ME. PERDOA!
E por favor, seja feliz. Você mais do que ninguém merece.
Adeus... Verdadeira Alice.
Rodrigo Leon Albuquerque.

Não esperava me emocionar com a carta, mas eu me emocionei. Ele


realmente não sabia de nada, a minha irmã orquestrou tudo, ela realmente me
odiava. — Isso dói um pouco. Muito, na verdade. — Mas não vou mais
pensar sobre isso, eu preciso pensar no presente e no futuro. Tenho uma
família linda, que está crescendo e espero que continue crescendo mais e
mais, os meus amigos, o meu pai e o meu irmão. Tenho que colocar uma
pedra nesse assunto e esquecer que isso um dia aconteceu ou pelo menos
tentar.
Caminhando em direção a casa, a minha casa, entro na cozinha e pego
uma caixa de fósforos. Levo tudo para a pia, acendo e fico olhando as chamas
destruírem a carta dele.
— Adeus.
Viro e caminho até as escadas, em busca dos meus maiores motivos
para continuar em frente. A minha filha e Lucas.
Abro a porta do quarto e os encontro dormindo, Clarinha deitada em
seu peito e ele com uma mão acima da cabeça e a outra possessivamente nas
costinhas da nossa filha.
Que cena mais linda. Minha família.
Acaricio a minha barriga e sinto uma felicidade sem tamanho em meu
peito. Agora seremos só nós, seremos muito felizes e seremos porque temos
um ao outro. Converso mentalmente com a pessoinha linda dentro de mim.
Junto-me a eles na cama, aconchegando-me, querendo me fundir a
eles.
— Está tudo bem? — Lucas pergunta com a voz sonolenta.
— Agora está, eu tenho vocês três aqui comigo.
— Para sempre juntos. Você não vai se ver livre de mim, minha linda,
se acostume, pois envelheceremos juntos.
— Soa como o plano perfeito para mim.
— Bom. Agora me dê aqui esses lábios lindos que já passaram tempo
demais longe dos meus.
— Eu te amo, Lucas.
— Eu te amo mais, Alice.
Beijamo-nos por um longo tempo e eu sinto que nada, mas nada
mesmo, poderia atrapalhar mais a nossa felicidade. Logo o nosso pequeno
chegará e a nossa família vai ficar maior. Eu pertenço aqui.
O passado ficou no passado.
Epílogo - Lucas
“Eu enfrentaria o mundo todo com uma só mão, se você me
prometesse que estaria segurando a outra.”
— Mychele Magalhães.

Dezessete anos mais tarde...

— Combinado, então, não me decepcionem.


Desligo o telefone assim que entro pela porta de casa, se a minha
linda esposa ouvir o que estou falando já vai querer saber e eu não posso falar
sobre isso. Primeiro porque eu prometi não interferir e segundo, se ela souber
vai me matar, e hoje é o meu aniversário.
— Querida, cheguei! — grito para uma casa silenciosa.
Acabei de deixar as crianças na casa da Josi, ela vai cuidar delas
porque Alice disse que tem uma surpresa para mim. Almoçamos, toda a
família junta para comemorar, mas agora a noitinha eu sou só da minha
esposa.
Coloco as minhas coisas no sofá e vou à procura de Alice, a acho
cinco minutos depois, na sala de jantar, e a visão que tenho dela me deixa
completamente fascinado.
Deus, como eu pude ser tão sortudo?
Mesmo depois de quatro filhos, ela continua sendo a mesma mulher
linda e formosa que conheci há exatos dezessete anos.
A minha maravilhosa esposa está deitada, completamente nua, em
cima da mesa de jantar, coberta de sushi, nigiri, uramaki e um lindo sorriso
no rosto. Ao seu lado, na mesa, tem salmão, temaki e sashimis, tudo o que
gosto da comida japonesa e servido assim fica ainda mais delicioso.
— Bem-vindo ao seu jantar de aniversário, meu amor — ela diz com
um brilho nos olhos e o rosto corado.
Como é linda!
— O melhor jantar de todos, mas o que diria se fossemos logo para a
sobremesa? — A minha voz está rouca.
— Hum... eu diria que você deveria começar a comer primeiro o que
tem na parte de baixo do meu corpo, então. — Pisca e lambe os lábios,
deixando-me salivando.
— Alice, você sabe como me enlouquecer, não é?
Ando lentamente em direção à mesa e deixo os meus olhos passearem
pelo seu corpo, me inclino e a beijo lentamente, saboreando os seus lábios
deliciosos. Ficamos assim, só nos beijando por um tempo, ela quietinha na
mesa a minha mercê e eu louco para devorá-la inteira. Mas vou fazê-la se
contorcer primeiro, porque sei que ela já está sem paciência. A minha mulher
é tão impaciente.
— Obrigado, minha linda. — Dou mais um beijo em seus lábios e
começo a andar em volta da mesa. — Acho que vou começar por aqui.
Pego o que estava bem próximo do seu seio esquerdo e deixo os meus
dedos acariciarem um pouquinho a sua pele, fazendo-a ofegar. Cada lugar
que eu retiro um item lentamente, vejo a excitação em seus olhos dizendo-me
que ela está gostando e sofrendo por mim ao mesmo tempo.
Vou fazendo a mesma coisa na parte de baixo, onde está o ponto
principal e quando vou pegar o último, somos interrompidos por um grito
estridente seguido por um:
— Eca!
Olho para cima e vejo a minha princesa parada, a poucos metros de
nós, com uma cara engraçada e vermelha. A princípio, pensei que fosse de
vergonha, mas me enganei, ela tinha chorado e muito, pelo jeito que os seus
olhos e o nariz estão inchados e vermelhos.
— Mãe, pai!
Agradeço aos céus que eu ainda estou vestido.
Alice desce da mesa rapidamente, derrubando tudo o que estava em
cima e correu para Maria Clara, ela também viu que ela tinha chorado.
— O que foi? — Passa as mãos em seus braços, procurando alguma
coisa. — O que ele fez com você? — indaga com a voz em modo mãe
superprotetora.
— Mãe... — Clarinha se joga nos braços de Alice, não se importando
com a nudez agora, e chora mais ainda.
Corro para o quarto para pegar algo para cobri-la.
— Vem cá, pequena, e me conte o que aconteceu.
Puxo-a dos braços de Alice e entrego um roupão, que foi a primeira
coisa que achei.
— Papai, você prometeu... — sussurra em meio às lágrimas. Droga, o
que aquelas cabeças de vento fizeram? — Você prometeu e não cumpriu...
eu...
— Do que está falando, querida? — pergunta Alice e depois me dá
um olhar sério, que me faz murchar por dentro. — O que você fez, Lucas? —
Coloca as mãos na cintura. — Não me diga que mentiu para mim e interferiu
no primeiro encontro da nossa filha?!
— Como eu poderia estar em dois lugares ao mesmo tempo, amor? —
digo, mas sem muita convicção.
Estou ferrado!
— Mãe, foi horrível, eles me fizeram pagar o maior mico da minha
vida, agora o Edu nunca mais vai querer falar comigo.
— Ande comece a falar, o que você aprontou?
Agora as duas estão me olhando feio.
— Tá bem, eu pedi para os meus irmãos darem uma passadinha lá
pelo shopping e ver como tudo estava. Mas foi só isso, eu sei que não foi
certo, mas eu não podia deixar aquele pequeno tarado, sozinho com a minha
pequena.
— Papai, pelo amor de Deus eu tenho dezessete anos, não sou
nenhuma menininha.
— Você vai ser sempre a minha menininha.
— Nem vem com essa cara, pai, estou muito triste com você. Tudo
estava bem até eu olhar para o lado e ver o tio Léo, fingindo que estava só de
passagem, depois olhar para o outro e ver o tio Luís encarando o Edu com
uma cara de quem queria matar um, como só ele sabe fazer, só porque o Edu
estava segurando a minha mão. — Respira fundo e continua: — Sem contar o
tio Xandy parado em uma loja que fica próxima à lanchonete onde
estávamos, fazendo a mesma cara de mal. Poxa, pai, você envolveu até o tio
Noah que chegou de viajem hoje de manhã. Ah, a tia Dri vai te matar e matar
ele também, mas isso é uma boa notícia. — Ela meio que sorri quando
termina de falar.
— Eu não pedi nada, ele que se ofereceu — tento amenizar um pouco.
— Então você confessa que quebrou a sua promessa? — A mágoa
transparece em sua voz.
— Filha, desculpe, eu... Está bem, eu sou um idiota e não devia me
preocupar com isso, mas você está muito nova para namorar, pequena.
— Papai, era só um encontro. — Suspira e sai correndo, deixando-me
com uma Alice furiosa.
— Concerte isso, e depois eu penso se te perdoo — diz e sai também.
Vou matar eles, ah se vou. O que houve com o modo invisível?
— Posso entrar? — indago na porta do quarto de Clarinha.
— Não — responde, mas eu entro assim mesmo e sento na cama,
puxando-a para perto de mim.
— Realmente, você não é mais o meu bebê. Está enorme, olha isso!
Será que ainda tem cócegas na barriga?
Começo a fazer cócegas, no começo ela tenta resistir, mas logo se
rende e ri, como fazia quando era uma menininha que não desgrudava do pai
nem um segundo.
— Para! — Ri mais alto. — Papai, por favor.
Paro e só a abraço.
— Me perdoa, filha. Eu não devia ter feito isso, só que eu me recuso a
ver que você está crescendo e não precisa mais de mim. — Sou bobo eu sei,
mas é como me sinto.
— Pai, eu sempre vou precisar de você. — Passa a mão no meu rosto.
— E não era nada demais, era só um encontro. — Suspira e se senta. — Para
falar a verdade nem sei se quero alguma coisa com alguém tão covarde.
— Não quer? O que houve lá?
— Ele só faltou fazer xixi nas calças quando os tios foram até a mesa.
Fiquei morrendo de vergonha, mas fiz as apresentações mesmo assim.
— E então?
— Então que eles começaram a falar que tinham ex-lutadores na
família e blá, blá, blá, que seria bom não os decepcionarem e que ele
mantivesse suas mãos para si mesmo. — Dá risada e continua: — Edu
balançou a cabeça e saiu dizendo que ia ao banheiro e voltaria logo.
— E...?
— E que ele foi e não voltou, então tive que vir de carona com os
meus tios empatas.
— Empatas?
— Sim, pai, assim como eu, que acabei empatando você e a mamãe.
— Não foi nada, filha.
— Não foi nada? Pai, vocês estavam... Eca! Nunca mais vou esquecer
essa cena na minha vida, os meus próprios pais. Jesus!
— Ok. — Mudança de assunto rápido, isso é meio constrangedor. —
Então estou perdoado?
— Só se prometer e cumprir, que não vai mais interferir nos meus
encontros.
— Como assim encontros? Não gostei dessa palavra no plural.
Faço beicinho e ela ri.
— Você entendeu, pai.
— Eu te amo, pequena.
— Eu também te amo, papai. Agora vá que a mamãe está te
esperando.
É, a minha menina não é mais uma menina, ela cresceu e eu vou ter
que aceitar isso.
Vou para o quarto pronto para uma bronca, mas sou surpreendido por
um forte abraço e um beijo daqueles. Nossa!
— Desculpa, amor — peço entre beijos.
— Bem, doutor, eu acho que me machuquei um pouco ao me levantar
da mesa, será que você pode me examinar?
Hum, entendi o que ela está querendo me dizer. Vamos jogar!
— Claro, senhora. Deite ali e me deixe começar o seu exame.
Ela deita na cama e abre as pernas para mim, completamente nua.
— Será que vai doer, doutor? — Alice está ofegante.
— Jesus, Alice, você ainda vai me matar.
— Só se for de amor.
Sorri e entro no personagem de novo.
— Sinto muito, senhora, mas vou ter que lhe aplicar uma injeção. Está
pronta?
— Sempre, amor.
— Segure as minhas mãos e não solte, está bem?
Subo na cama e seguro as suas mãos lindas e delicadas.
— Nunca as soltarei. Juntos somos um só — ela diz com a voz
carregada de emoção e entrelaça os nossos dedos. — Eu ouvi você e
Clarinha. Você é o melhor marido e pai do mundo inteiro. — Os seus olhos
brilham.
— E você é a mulher mais linda, amorosa e maravilhosa do mundo, a
melhor mãe e esposa que alguém pode desejar e eu sou um sortudo filho da
mãe.
Sorrimos juntos e ficamos nos encarando antes de esquecermos o jogo
e fazermos amor apaixonadamente.
Dezessete anos juntos e a cada ano a amo mais. Ela me fez o homem
mais feliz desse mundo, me deu quatro filhos lindos. Maria Clara, Davi
Lucas, Felipe e, a caçula, Allana. Dois meninos e duas meninas, que junto
com ela são a luz da minha vida.
A cada aniversário eu agradeço a Deus por mais um ano de total
felicidade. E a culpa de tudo isso é dela...
A minha amada Alice!

Fim!
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mim.
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Segundo Olhar

O que você faria se encontrasse seu noivo em seu escritório com outra
mulher e ainda por cima tivesse que ouvir a típica frase: “Eu posso explicar,
não é o que você está pensando”.
E aí...?
Andrea Alves sempre buscou agradar seu pai de todas as maneiras
possíveis, inclusive cursar Direito que não era exatamente sua praia, e ficar
noiva de um homem que era o queridinho de seu pai. Mas em uma bela
manhã descobre que seu amado noivo tem um caso com sua secretária e vai
ser pai.
Alexandre Rodrigues, um homem sempre no controle de sua vida e
sua carreira. Ex-lutador de MMA, mas agora possui um dos maiores e mais
procurados escritório de Investigação do Rio de Janeiro. Nunca colocou uma
mulher em primeiro lugar em sua vida, mas como para tudo tem uma
primeira vez, “ela” vai aparecer e transformar sua vida da noite para o dia.

Não recomendado para menores de 18 anos.


A presença do seu olhar

"Monique (Minha Potranca). É linda, tímida e sexy pra caralho. Mas


só tem um problema: não quer ter nada comigo. Será que algum dia ela vai
me dar à chance de provar que eu... Sou o seu homem?" — Léo Vilar.

Monique Muniz é bem-sucedida e dona do seu próprio negócio. Está


feliz com o seu trabalho, amigos e família. Só tem uma coisa a incomodando,
a qual ela não aguenta mais... Ser a virgem do grupo. E não poder
compartilhar suas experiências, como faziam suas amigas.
Mas isso está prestes a mudar...

"Léo (Meu Monstrinho). É lindo, engraçado e de bem com a vida, ou


seja, com ele não tem tempo ruim. E é exatamente isso o que me preocupa.
Será que um dia, ele levará alguma coisa, ou a mim, a sério?" — Monique
Muniz.

Só que nem tudo que parece é... E eles estão prestes a descobrir.
Léo Vilar é um veterinário, apaixonado pela profissão e pela família.
Aos olhos de todos, ele é uma pessoa e não deixa transparecer nada da dor
que carrega do seu passado. Mas quando está sozinho, seus muros desabam e
ele volta para a tristeza que é a sua vida.
Durante muito tempo ele buscou consolo, saindo em vários encontros
sem muito resultado. Mas um dia, a bela e tímida Monique Muniz entrou em
sua vida, deixando um rastro de esperança de que nem tudo estava perdido.

Recomendado para maiores de 18 anos.

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