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Dare Me

Uma novela de Nocte

DE

COURTNEY COLE

***

DIZEM QUE ELA É LOUCA.

Ela não é.

Não conhecem a verdade

Ela sim. O problema é que nem sempre ela se lembra.

Mas eu lembro.

Meu nome é Dare DuBray.

Sou apaixonado por uma garota que é imprevisível e bonita e um


pouco louca.

Mas não tem problema.

Somos todos um pouco loucos, não somos?


UM

Na verdade, a realidade é apenas uma ideia.

É fluida. Ela muda e se inclina e nem sempre é o que parece.

Certamente isso é algo que eu aprendi.

Considere a minha realidade agora, por exemplo.

Encaro-a do outro lado da sala lotada, Calla. Minha Calla.

Ela senta-se entre o perturbado e o verdadeiramente louco. No

entanto, ela é absolutamente graciosa, sedutora em sua beleza, mesmo

usando um traje de hospital, fino. Ela é esbelta e feminina, delicada, mas

forte. Ela é esbelta e etérea, seu cabelo vermelho escuro cai ao redor de

seus ombros, os olhos arregalados e azuis e brilhantes. Ela tem a

curiosidade de uma criança, e possui aquele estranho “algo” que as

mulheres pagariam um milhão de libras para comprar.

Ela olha para cima e me vê olhando para ela. Ela sorri timidamente

e olha para o lado, escondendo o rosto por trás da cortina de cabelo.

Nesse momento, ela não sabe que ela é minha.

Ela saberá, claro. Ela vai se lembrar, porque ela sempre lembra,

logo que todas as peças se encaixarem. Mas, por enquanto, ela está no

escuro. E enquanto deveria ser difícil para mim, quase impossível, não

é. Porque eu tenho fé que ele sempre acontecerá da maneira que deve.

Agora, no entanto, devo cortejá-la. Devo cortejá-la. Devo permitir

que ela me conheça.


Mais uma vez.

Tudo começa com Olá.

Ando na direção dela com um propósito. Não finjo passear ou

andar à toa. Ela olha para cima, com os olhos arregalados.

— Este assento está ocupado? — eu pergunto para ela, como

sempre faço. Meu sotaque é inconfundivelmente britânico. Ela fica

assustada, um cervo diante dos faróis. Mas ela sorri e acena para a

cadeira. A pulseira do hospital envolve o pulso delgado. Calla Elizabeth

Price, Sexo feminino, ela diz.

Mas ela é muito mais do que isso.

— Vá em frente. — ela me diz, e seus olhos brilham. Ela está

roendo as unhas novamente, eu vejo quando eu olho para a mão

dela. Quero lembrar-lhe para parar, mas não posso. Ainda não. Eu não

devo conhecer os detalhes.

Eu sorrio para ela. Ela cora. Suas bochechas ficam de um vermelho

bonito. Adoro quando isso acontece.

— Sou Adair DuBray. — digo a ela. — Mas você pode me chamar

de Dare.

— Sou Calla. — ela me diz. — Como o lírio de funeral. Prazer em

conhecê-lo. — ela me olha de cima a baixo, me analisando sem rodeios. —

Por que você está aqui no hospital? Certamente não é pelo café. — ela

olha o copo de café na minha mão.

— Você sabe que jogo gosto de fazer? — pergunto casualmente,

dando um gole no copo de isopor. Eles não permitem vidro aqui. Eu não
quero mentir para ela, é claro, mas não posso lhe dizer a verdade

também. Então, evasão é fundamental.

— Não, qual? — as sobrancelhas dela franzem.

— Vinte perguntas. Dessa forma, eu sei que ao final do jogo não

haverá mais nada. Quero dizer, perguntas.

Calla surpreende-se por um breve momento, e então a boca se

curva em um sorriso. — Você odeia perguntas também? — ela

questiona. — Estou tão cansada de falar sobre mim mesma aqui que eu

poderia morrer.

— Você não vai. — eu a asseguro suavemente. Ela arqueia a

sobrancelha.

— Eu não vou morrer? — sua boca se contorce. — Como você pode

ter tanta certeza?

— Eu vejo coisas. — eu digo a ela, arqueando as sobrancelhas. —

Coisas escuras.

Estou falando sério, mas ela ri, porque falo como se fosse piada. Eu

não estou brincando, mas não tem jeito de ela saber isso.

— Bem, isso é bom. — ela decide. — Eu não estou pronta para

morrer, tenho medo.

— Não tenha medo. — eu digo a ela, e olho-a diretamente nos

olhos. — Não tenha medo.

Ela fica desconfortável agora, eu fui longe demais. Eu volto atrás,

sorrindo casualmente.
— Que horas é o almoço neste lugar? — eu pergunto, tentando

mudar de assunto. Calla olha para o relógio na parede estéril. Ela não

pertence a esse lugar, mas ela não está irritada por causa disso.

— Às onze. — ela responde. — Independentemente do que quiser,

não pegue o frango.

— Temos uma escolha? — fico surpreso com isso. Supus que

seríamos alimentados com um tipo de lavagem em uma bandeja de

plástico multicompartimentada. Ela balança a cabeça.

— Sim, se você quiser chamar de escolha. Você pode escolher o

ruim ou o pior. — seus dentes puxam o lábio e os olhos piscam para mim.

— Por que você está aqui?

Devolvo o olhar sem piscar. — Isso é uma pergunta oficial?

Ela revira os olhos novamente, mas concorda.

— Estou aqui para visitar. Mas deixo-os pensar que eu sou um

paciente.

Ela sorri agora, divertida. — Então você está disfarçado?

Eu aceno muito sério. — Sim. Acho que você poderia dizer isso.

— Bem. — ela entra no jogo. — Qual é o seu diagnóstico

disfarçado?

Eu arqueio as sobrancelhas novamente. — Pergunta número dois,

já? Não seria melhor você apenas descobrir isso por conta própria? Seria

mais divertido.

Ela ri agora. — Talvez você seja paranoico. Você é definitivamente

reservado.
Eu sorrio. — Segredos. Todo mundo tem, Calla. Até você.

Ela se assusta com isso e parece tragada fisicamente para trás. —

Parece que eu já ouvi isso antes. — diz ela, e seu olhar fica perturbado.

— Você não odeia déjà vu? — pergunto tranquilamente.

— Sim. — ela responde simplesmente. — Odeio.

— Bem, não se preocupe. — eu digo a ela e não posso evitar,

estendo a mão e aperto a mão dela na minha. Seus dedos finos estão frios,

e ela precisa de um suéter. — Você devia pegar um casaco e nós vamos

fazer um passeio lá fora.

Ela olha para mim, seu olhar é brilhante e claro.

— Eu não ainda não tenho o privilégio de sair ao ar livre. — ela me

diz e puxa a mão da minha, pressionando-a no peito.

— Cheque de novo, então. — eu digo suavemente. Ela balança a

cabeça.

— Eu sinto que já o conhecia. — diz ela. — Isso é bobagem?

Não. Você me conhece por dentro e por fora e através.

— Eu acho que simplesmente tenho um daqueles rostos. — eu dou

de ombros.

— Você é britânico, mas seu sobrenome é francês. — ela ressalta,

mas ela é cuidadosa para não usar uma pergunta.

— Eu sou um enigma. — eu digo a ela volto a sentar. Ela se levanta.

— Disso eu não tenho qualquer dúvida.


Ela vai embora, mas faz uma pausa na porta e nesse momento olha

para trás.

Para mim.

Ela escapa, porém, fora da vista. Quando ela se vai eu sinto o vazio

da sua ausência imediatamente. Eu me sinto como a lua deve se sentir

toda manhã quando o sol nasce.

Frio.
DOIS

Hospitais psiquiátricos não são tranquilos durante a noite.

Gritos ecoam pelos corredores, não porque os pacientes estão, na

verdade, sendo feridos, mas porque alguns pensam que estão, e alguns

simplesmente têm medo. Medo do escuro, medo do desconhecido, medo

de ficar sozinho. O medo é uma arma poderosa, e tende a ter poder sobre

nós.

Eu espero na minha cama estreita, meus lençóis dobrados

perfeitamente até a minha cintura. Fico olhando para o teto e conto os

quadrados enquanto escuto os enfermeiros. Eles estão fazendo as rondas

no momento, uma porta após a outra após a outra, olhando e

verificando. Eu espero até eles me olharem, e então eu sento na cama e

enfio os pés nos chinelos.

Eu sei onde ela está.

É a primeira coisa que fiz quando cheguei... andei furtivamente

pelo corredor e encontrei-a.

Ela está lá agora, em seu quarto, com a porta entreaberta. Ela nunca

gosta da porta fechada. Faz com que ela se sinta fechada. Ela sempre foi

assim.

Verifico o caminho dos enfermeiros, está vazio e não encontrando

nenhum, espio o quarto da Calla.

Ela está sentada na beira da cama, etérea e encantadora, mesmo em

um traje hospitalar. Há uma janela, com vidro inquebrável, claro – e o


vislumbre da lua. O luar deixa a pele da Calla ainda mais pálida, e seus

olhos ainda mais luminosos.

Eu empurro a porta, e ela olha por cima do ombro e quando seu

olhar encontra o meu, ela assusta, então relaxa.

— Dare, certo? — ela pergunta, embora eu saiba que ela não se

esqueceu.

Eu concordo. — Sim. Todos os dias e todas as noites.

Ela sorri, e seus dedos tocam a pulseira do hospital.

— O que o traz ao meu quarto, Dare? — a pergunta é suave, mas

não é tímida. Seus olhos me encontram e ela está quase desafiadoramente

segura. Eu suponho que ela precisava estar aqui. Ela sabe que não

pertence a este lugar, mas aqui está ela.

— Estou inquieto. — digo a ela. — Você se importa se eu entrar?

Ela encolhe os ombros e sorri novamente.

— Sinta-se em casa. — ela oferece. — Mas se a enfermeira Helga

vier, você tem que se esconder debaixo da cama.

Ela ri.

— É nisso que penso quando eu a vejo também. — eu digo a ela. —

A grande enfermeira com o punho de ferro e o coque loiro?

Calla concorda. — Claro. Os outros são todos simpáticos.

— A enfermeira Helga me deu uma injeção na bunda quando eu

cheguei. — eu digo, esfregando o local da memória pura. — Ainda dói.

Ela ri agora, escandalosamente se divertindo com a minha dor.


— A ideia de você inclinado sobre uma mesa tomando uma

injeção... — ela ainda está rindo, e isso me faz sorrir.

— Obrigado por rir da minha dor. — eu digo a ela ironicamente, e

ela continua rindo. Quando ela finalmente para, ela me examina.

— Você não pertence a este lugar. — ela diz abruptamente, e fica

séria subitamente. Seus dedos param de se mexer, e seu olhar é direto.

Ela olha em meus pensamentos, em minha alma.

Faz-me querer recuar.

O que ela vê?

Eu dou de ombros. — Qualquer um de nós, acha que pertencemos?

É ela que encolhe agora. — Provavelmente não.— ela aponta para o

espaço vazio na cama ao lado dela. — Você já está aqui. Pode muito bem

se sentar.

Ela está tentando ser indiferente, mas eu a conheço.

Eu a conheço tão bem que dói.

E ela está morrendo de vontade de me conhecer.

Mais uma vez.

Mas eu sento-me, como se nunca a tivesse beijado ou

abraçado. Como se não conhecesse o seu corpo como a palma da minha

mão. Sou muito cuidadoso agora para ficar a uma distância respeitável

dela, certificando-me de que minha coxa não toque na dela, mesmo que

se entrelaçaram antes.
Por um momento, penso em Whitley, a propriedade onde nos

conhecemos há muito tempo. Lembro-me dos jardins escondidos, e posso

sentir o cheiro dos perfumes das flores florescendo à noite, da chuva

sobre a grama, as coisas obscuras no meio da noite.

O primeiro onde a tive.

É onde primeiro soubemos que nós estávamos apaixonados, e

inexplicavelmente amarrados.

É onde eu preferiria estar agora, não importa que outros pesadelos

existissem em Whitley, sempre existia Calla.

E isso que importa.

— Diga-me sobre você. — diz ela suavemente.

— Não. — eu respondo imediatamente. Porque não é assim que

fazemos isso. — Você tem vinte perguntas. Lembra?

Ela me estuda por um minuto, em seguida, parece longe.

— Eu não gosto de jogos.

Isso faz a minha cabeça levantar de repente.

— Desde quando? — eu pergunto antes que possa me conter e ela

me olha com curiosidade.

— Desde sempre. — ela responde.

Mas isso não é verdade.

Isso é diferente. Por quê?

Claro, eu não posso perguntar. Eu não posso dizer nada.


Então, em vez disso eu me acomodo na cama, inclinando-se sobre

um cotovelo.

— Você não parece pertencer a esse lugar também.

Ela pensa sobre isso.

— Bem, se não pertencesse, como eu saberia? Duvido que pessoas

loucas saibam se são loucas.

— Você não é louca.— minhas palavras são firmes.

— Não é o que eles dizem.

Seus olhos estão tão luminosos, como duas luas azuis. Eu me

inclino para ela.

— Eu sei que você não é.

— Você não me conhece. — ela ressalta.

— Eu sei tudo sobre você.

Ela me encara e não recua. — Sério? Conte-me.

— Seu nome é Calla Elizabeth Price. Você é linda. Você é

forte. Você rói as unhas. Você não dorme bem. Você confia em estranhos,

mesmo que você não deva. Você odeia a porta fechada. Você não gosta de

meias.

Eu enuncio todas essas coisas, triunfante, mas ela revira os olhos.

— Você aprendeu tudo isso só por estar aqui comigo.

Eu arqueio uma sobrancelha. — Então? Mesmo assim sei que é

verdade.
Ela balança a cabeça agora e o gesto é triste. — As coisas nem

sempre são o que parecem, Dare.

— Oh, eu sei que isso é verdade. — eu concordo. — Muito mais do

que você imagina.

— Por que você fala em enigmas? — ela exige. — Você faz sentido

sem fazer sentido. É o seu diagnóstico aqui? Desorientação de realidade?

Começo a rir.

— A realidade é fluida. — digo a ela. — Você sabe disso.

Ela suspira. — Eu sabia que você era bom demais para ser

verdade. Desorientação de realidade. Você está delirando.

— Eu estou? — pergunto suavemente, e seus lábios são tão

carnudos e ela corre a língua ao longo deles. — Muito bom para ser

verdade?

Ela hesita.

— Estou bem. — eu asseguro-a. — E eu estou aqui.

Eu decido ir adiante, tomo-lhe a mão, e meu polegar traça o dela,

enquanto equilibro as nossas mãos na minha coxa.

— Você sente isso? — pergunto. — Nós temos uma conexão, você e

eu. Pode sentir isso?

Ela dá um suspiro trêmulo, e seus olhos se fecham.

— Chama química. — diz ela suavemente. — Concluir qualquer

outra coisa seria simplesmente loucura.


— Mas não é isso o que você disse que nós somos? — eu pergunto e

me inclino, e os meus lábios encontram os dela, porque não posso esperar

mais um segundo para prová-la novamente.

Seus lábios se derretem contra os meus e ela tem gosto de amoras,

como eu me lembro.

É um beijo doce, quente e elétrico, e ela não se afasta até que eu

faça.

Quando separamos, ela parece tão instável quanto eu.

— Eu mal posso esperar para conhecê-la. — eu digo a ela

suavemente quando deslizo da cama e caminho em direção à porta.

Deixo a porta entreaberta para ela.

Assim como ela gosta.


TRÊS

Acho Calla no jardim na parte da manhã, ou a instalação que

parece ser um jardim. É realmente apenas um grande terraço com alguns

vasos de plantas.

Ela está no banco, olhando para longe.

De início, eu me pergunto se ela está sob o efeito de medicamento,

mas então ela pisca e me nota.

— Oh, oi. — ela murmura e coloca o cabelo vermelho longo para

trás com os dedos. Sua bochecha tinge de rosa e ela se lembra do nosso

beijo.

— Bom dia. — eu cumprimento-a educadamente. — Eu vejo que

você tem privilégios ao ar livre agora. Você dormiu bem?

— Eu não costumo dormir bem. — ela admite. — Sonhos ruins,

você sabe.

Sento-me ao lado dela. — Sobre o que você sonha?

Ela encolhe os ombros. — Meu irmão, na maior parte.

— Você tem um irmão? — pergunto, como se eu não soubesse. Ela

balança a cabeça.

— Sim. Eu tenho. Nós somos gêmeos. Quero dizer, nós éramos. Ele

já morreu.

— Sinto muito. — eu digo, minha voz baixa. — Você está bem?


— Isso é uma coisa muito britânica para se perguntar. — ela

ressalta.

— Essa é a coisa mais malvada que você já me disse.

Ela ri, mas ela não sabe o porquê.

— Vou pegar algum café da manhã para nós. — eu digo a ela. —

Vamos comer aqui fora.

Ela balança a cabeça em concordância. — Está bem.

Eu vou até o refeitório e preencho duas bandejas com café da

manhã... ovos mexidos esbranquiçados, torradas e alguns pedaços de

fruta que se parece com doce de milho.

Quando volto para a Calla, ela está sentada na grama, com as

pernas debaixo dela.

— Você vai ganhar uma coceira. — eu indico, colocando a bandeja

no colo dela.

— Não importa. — ela responde. Ela está tímida agora, escolhendo

sua torrada, e eu pego a minha e dou uma mordida grande.

— Diga-me sobre você. — eu sugiro.

Ela engole. — O que você quer saber?

Eu sorrio. — Tudo.

Ela revira os olhos e os reflexos azuis no sol, um azul celeste, como

se ela pertencesse ao mar, ao lado de Atenas.

— Eu cresci em uma casa funerária. — ela me diz. — O que mais há

para saber?
— Se você acha que me espanta, está errada.

Ela olha para mim. — O que você tem? Verdadeiramente. Qual é o

seu diagnóstico?

Eu rio. — O mesmo que o seu, provavelmente. Delirante. Mas eu

não sou. Sou, oficialmente, inocente!

Seus lábios se curvam para cima e ela mastiga delicadamente.

— Meu irmão Finn morreu. A minha mãe morreu também. Eu

tenho o meu pai, mas não somos próximos. Não mais.

— Por quê?

— Porque ele não pode suportar me ver aqui. — diz ela, e seu rosto

está tão triste.

— Então mude isso. — eu sugiro.

Ela olha para mim. — Se eu soubesse como, eu mudaria.

Eu não posso lhe dizer como, ou ela realmente me acharia louco,

então eu mordo minha língua e fico em silêncio.

— Diga-me sobre você. — diz ela e ela é firme.

— Eu sou da Inglaterra. — digo a ela. Ela revira os olhos.

— Isso é óbvio. Diga-me algo que eu não sei.

Eu penso sobre isso. Ela sabe tudo sobre mim. Ela só não se

lembra. Eu tento pensar em algo que ela goste... então me ocorre.

— Eu tenho uma tatuagem. — eu digo a ela, e ela fica surpresa com

isso.

— Sobre o quê?
— Palavras. Lê-se VIVA LIVRE. É nas minhas costas.

— Mostre-me.

Sem pausa, eu abaixo o traje hospitalar e viro as costas para ela. Eu

sinto seus dedos traçando as letras grandes.

Sua pele é quente contra a minha, seus dedos curiosos. Ela toca

meus ombros, minha espinha, meu pescoço. Eu sinto a eletricidade em

seu toque, é uma corrente que flui debaixo da minha pele, conectando-

nos, mantendo-nos juntos.

— Viva livre. — ela sussurra, suas palavras tão suaves. — Eu amo

isso.

Seus dedos param de se mover e eu me viro, puxando minha roupa

de volta.

— E você? — ela pergunta. — Você vive livre?

Eu dou de ombros. — Eu tento.

Ela fica quieta agora, e seus olhos vidrados. — Eu sinto... Tenho a

sensação que já estivemos aqui antes de alguma forma. — ela murmura. E

ela está confusa.

— Déjà vu? — eu sugiro.

Ela pondera. — Eu não sei.

— Você tem essa sensação frequentemente?

Ela não responde. Em vez disso, ela diz: — Eu odeio essa sensação.

Quero tanto afastar essa confusão e desagrado que faço a única

coisa que me ocorre.


Eu beijo-a.

Seus lábios são macios e moldam nos meus, e as suas mãos... elas

sobrem e agarram as minhas costas, os dedos afundando nas minhas

costelas. Ela se agarra a mim como se eu fosse um bote salva-vidas, e

talvez eu seja. Ela suspira em minha boca, e é disso que eu vivo.

Ela se inclina sobre mim, e eu seguro-a, e nos beijamos e beijamos

no sol da manhã.

E então, somos separados por enfermeiros e enfermeiras, porque

beijar é contra as regras.

Ela é levada por enfermeiros, e olha por cima do ombro para mim e

seus olhos são tão grandes e tão familiares.

Seu olhar encontra o meu, e estamos conectados.

Eles não podem nos manter separados.

Espero que ela saiba disso.


QUATRO

— Quando você sorri para mim, eu sinto como se estivesse me

desafiando a fazer alguma coisa. — diz Calla , e suas palavras são tão

rítmicas, tão suaves.

Estamos sentados no seu quarto de novo, nós dois no chão. Nossas

pernas estão ambos em um V, nossos pés se tocando. Ficamos de olho nos

enfermeiros enquanto conversamos calmamente.

— Talvez eu esteja.

Ela faz uma pausa. — O que você está me desafiando a fazer?

Eu me inclino para ela, minha mão em seu joelho. — Tudo.

Ela recua e respira pela boca.

— Há algo sobre você... — sussurra. — Eu conheço você. Mas não

conheço. Eu sinto que deveria confiar em você, mas também sinto que

não deveria. É... você é um enigma.

Eu rio. — Sim, esse sou eu.

— Você é. — ela insiste.

Agarro sua mão na minha agora, e eu amo tudo sobre ela. Eu amo o

calor dela, a sua forma, a força dos seus dedos. Eu conheço estes dedos,

como os meus.

Eu levanto a mão dela até a minha boca.

Ela pisca, e sua pele é de alabastro.


Ela mantém a mão ali, os dedos trêmulos enquanto ela traça meus

lábios. Eu fecho meus olhos, e seu toque é elétrico.

— Posso? — ela sussurra, e antes que eu possa dizer algo, os lábios

quentes cobrem os meus.

Ela é tímida no início, suave e doce. Este beijo é uma infinidade de

coisas. É acolhedor e familiar e selvagem e elétrico. É ficar de pé na chuva

com relâmpagos caindo ao nosso redor e ser enrolado por um fogo

crepitante. É tudo.

Os braços de Calla alcançam o meu pescoço e ela me puxa cada vez

mais perto, e a química, Senhor Todo-Poderoso, a química. Eu posso

sentir. Assobia em minhas veias, e é esmagadora.

Ela respira rapidamente em minha boca, em pequenas arfadas, e

seus olhos abrem largamente, olhando para os meus.

Ela se afasta. — Eu não quero deixar você ir. — ela admite. — Eu

não quero te perder.

Eu sei por que ela se sente assim, e eu sinto o mesmo, e eu agarro-a

e seguro-a na frente da janela.

Ela é tão pequena, tão feminina, e seu longo cabelo vermelho

derrama sobre meu braço.

Minha mão vaga pelo seu braço, ao longo dos seus dedos, da sua

coxa. Ela empurra-se para mim, seus quadris pressionando os meus, e ela

empurra e geme, e olha para mim.

— Eu quero fazer mais. — ela me diz. — Mas estou com medo. Eu

nunca…
Eu olho em seus olhos azuis. Eles estão tão escuros agora que

parecem pretos. Escuros como a noite, escuros de desejo por mim.

— Você nunca fez amor? — eu pergunto, minha voz está rouca.

Ela balança a cabeça.

— Não, eu não fiz.

Ela está envergonhada, mas ela não deveria.

Ela fez amor. Comigo. Mas como todo o resto, ela não se

lembra. Como todo o resto, faremos de novo pela 'primeira vez'.

— Está tudo bem. — eu digo a ela. — Não vamos nos apressar.

Ela concorda e sua cabeça cai para meu peito. Ela ouve o meu

coração por um momento, então inclina a face para cima.

— Mas estou impaciente.

Eu rio, porque ela está. Enfio uma mecha do seu cabelo atrás da

orelha. Até o lóbulo da sua orelha é delicado.

— Eu sei.

Sua mão de repente está em mim, na minha masculinidade, e eu

sugo uma respiração, porque é tão descarado e surpreendente, ela sorri

com conhecimento de causa.

— Você gosta disso? — sussurra. Ela move os dedos, pressionando-

os contra mim. — Você gosta quando eu toco em você?

Ela não está brincando. Ela está fazendo uma pergunta sincera.

Eu mal posso responder.

— Sim. — eu consigo dizer. — Muito.


Ela suspira de alívio, e não consigo respirar em tudo, quando ela

desliza os dedos ao longo do meu comprimento do lado de fora da minha

calça de hospital. O material é fino, e sua mão está quente, e Senhor Deus.

Eu gemo e afasto a sua mão. Preciso de toda a minha força de

vontade, mas faço isso.

Porque mesmo que esta não seja a nossa primeira vez, ela pensa

que é. E não vai acontecer em um chão encerado de quarto de hospital.

— Eu fiz alguma coisa errada? — suas sobrancelhas unem-se, e ela

morde o lábio.

— Não. — eu me apresso para tranquilizá-la. — De modo

nenhum. É só... vamos esperar. Eu quero que seja mais especial do que...

isso.

Faço um gesto para o chão e ela sorri, um sorriso suave.

Ela faz uma pausa, depois assente.

— Isso é muito doce. — ela decide. — Obrigada.

Ela repousa contra mim novamente, e seu quadril está contra

minha virilha e eu tenho que cerrar os dentes para não virá-la e levá-la

aqui e agora.

Eu posso ser um cavalheiro, mas ainda sou um homem.


CINCO

Acho Calla na sala comum, sentada perto da janela, a testa

pressionada ao vidro, uma perna dobrada debaixo dela, e a outra

pendurada.

Ela está esperando por alguém.

O irmão dela? Ou eu?

Só há uma maneira de descobrir.

Atravesso a sala rapidamente e sento-me ao lado dela.

— Saudade de mim? — pergunto casualmente. Ela assusta, então

relaxa, seu olhar me varrendo da cabeça aos pés.

— Sim. — ela admite.

Ela estende a mão para mim, como se eu fosse o ar e ela precisa

respirar.

Hesito, porém, uma vez que um conselheiro nos observa.

— Vamos dar uma volta. — eu sugiro em vez disso. — Tem tempo?

Ela balança a cabeça e desliza para fora do assento, e pega a minha

mão no caminho para a saída. Eu não quero levantar suspeitas do

pessoal, porque não quero que eles nos chequem mais do que o

habitual. Mas não posso puxar a minha mão também.

Nossa mão entrelaçada parece um vínculo inquebrável.

Eu aperto forte.
— As flores estão desabrochando. — ela aponta quando

caminhamos até a lagoa. É mais uma poça, mas tem patos e Calla gosta

de vê-los. — Eles não estavam ontem.

— A primavera está chegando. — eu concordo.

— Eu odeio quando as coisas mudam. — Calla diz-me séria, ao

pegar um pedaço de pão do bolso. Ela atira para as aves, observando-as

descer até ele.

— A mudança pode ser boa. — eu digo a ela.

— Às vezes.

— Considere-me como exemplo. — eu digo. — Eu poderia mudar

tudo para você.

Seus lábios tremem. — Tudo? Isso é meio arrogante, não acha?

— Sim. — eu concordo. — É.

Ela ri e gosta da minha resposta. Ela gosta de mim. Ainda. Sempre.

— Eu sonhei com você na noite passada. — ela me diz em voz

baixa, como se ela estivesse confidenciando algo. Eu observo-a. Ela está

séria, pensativa.

— Sonhou? — eu respondo. — O que eu estava fazendo?

Ela sorri. — Coisas ruins. Coisas muito boas. — sua voz é

sugestiva, e minha virilha aperta em resposta. Eu não posso evitar, exceto

me perguntar se ela estava sonhando com lembranças, ou com desejos.

— Eu sou bom em tornar os sonhos realidade. — eu ofereço, e ela

ri.
— Eu aposto.

— Sério, eu sou.

Ela revira os olhos, e pega uma pedra, fazendo-a saltar em toda a

pequena poça de água.

Ensinei-a fazer isso.

— Você estava me lambendo. No meu sonho. — ela diz e lança um

olhar para mim, e suas bochechas ficam vermelhas.

Doce Jesus. Eu engulo.

— Lambendo você?

Ela balança a cabeça, o rosto vermelho brilhante. — Sim. Lá em

baixo.

— Esse é o único lugar para estar. — eu ofereço. Ela cora ainda

mais. — Como eu disse. Eu sou bom em tornar os sonhos realidade.

Ela faz uma pausa. — As pessoas realmente fazem isso?

— Claro que sim. — eu asseguro-a. — É muito normal.

— Eu ouvi falar disso, obviamente. — diz ela de modo afetado. —

Eu só nunca fiz.

Sim, você fez. Mas eu não digo isso.

— Bem, eu sou um professor muito bom. — é realmente o que eu

digo.

— Há um passeio na sexta-feira. — diz ela, mudando de

assunto. — Eles vão nos levar a uma pequena feira de artesanato. Você

vai?
— Agora vou. — digo a ela.

Ela sorri.
SEIS

Sou eu que sonho esta noite.

Eu remexo e viro e sonho com as minhas memórias.

Calla e eu estamos no barco, balançando com as ondas do oceano. Ela está

usando um vestido e um chapéu mole e minha cabeça está no seu colo.

— Você me ama? — ela pergunta e ela sorri, porque ela sabe a resposta.

— Mais do que as estrelas. — eu digo a ela, como sempre.

Ela fica feliz com isso, e porque o sol está se pondo, ela tira o chapéu e

lança-o para baixo. — Você já ouviu a história de Perseu e Andrômeda?

Claro que sim. Fui eu que contei para ela. Mas eu animo-a, e deixo que ela

me diga.

— Eles eram amantes. — diz ela em voz baixa. — Mas a mãe de

Andrômeda insultou Poseidon, então ela foi condenada à morte por um monstro

marinho.

— Isso não parece justo. — eu digo, mordiscando os dedos de Calla.

— Eu sei. — ela assente. — Mas não se preocupe. Perseu salvou-a, e

depois ele se casou com ela. Eles vivem nas constelações no céu agora, o amor

deles é imortal.

— Você não acha que o amor termina? — pergunto, curiosamente.

Ela balança a cabeça. — Claro que não. É para sempre, Dare.

Eu sorrio um pouco, porque isso me deixa feliz, e, em seguida, sua mão

está arrastando pelo meu braço, e eu sei o que ela quer.


Eu viro-a e meu peso pressiona-a nos acolchoados, e ela morde meu

pescoço, seus lábios macios e quentes.

— Eu quero você, Dare. — ela sussurra. — Eu quero você. Você é

meu. Sempre.

— Sim. — eu concordo. — Eu sou.

Acabo de deslizar para dentro dela, seu calor me engolindo, quando olho

para cima e uma onda gigante está caindo sobre nós. Não temos tempo para

reagir.

Somos atingidos e forçados a nos separar, e Calla é levada para longe de

mim.

— Dare. — ela grita e sua mão está estendida, e não consigo alcançá-la. —

Dare!

Eu acordo com um sobressalto, coberto de suor, minha respiração

rápida e áspera.

Isso não aconteceu.

Ela não se afogou.

Nós não viramos. O resto era real.

Não era o fim.

Não era real, eu me garanto. Não era real.

Mas essa sensação de vazio terrível fica comigo e eu não consigo

despistá-la. Tenho uma sensação fria de vazio quando Calla não está

comigo.
Eu tento raciocinar comigo mesmo, tento usar a lógica, mas

finalmente desisto. Eu tenho que ir verificar. A história tem me ensinado

isso.

Eu rastejo pelo corredor, escondendo dos enfermeiros no caminho,

e, finalmente, finalmente, chego à sua porta.

Espio na fenda e me sobressalto.

Sua cama está vazia.

Está amarrotada e vazia.

Minha respiração acelera e meu coração dispara.

Ela se foi.
SETE

Abro a porta e entro com um estrondo e o quarto está vazio.

Luar brilha sobre as cobertas, deixando-as prateadas e ela não está

aqui.

Eu sento na borda, os meus joelhos fraquejam.

Isso não pode estar acontecendo de novo.

Não tão cedo.

Eu olho fixamente para o travesseiro, para o recuo que sua cabeça

fez e eu estendo a mão e toco-o. Ela esteve aqui recentemente.

— Dare?

Sua voz é suave, e minha cabeça levanta de repente.

Calla paira na porta do banheiro, um olhar curioso no rosto.

— Calla.

Alívio escorre por todos os meus poros, por cada célula.

Ela não se foi.

— Você está aqui. — eu sussurro.

Ela ergue a cabeça. — Sim. Onde mais eu estaria? A verdadeira

questão é... por quê você está aqui?

No quarto dela.

Eu não posso responder isso sem parecer louco.

— Senti sua falta. — eu digo a ela com sinceridade.


Ela sorri.

— Você sentiu?

— Sempre.

— Você não pode ter sentido minha falta sempre. — ela

argumenta. — Você não me conhece bem o suficiente.

— Conheço também. — eu argumento e ela se senta ao meu lado.

— Vamos fazer isso de novo? — pergunta ela, revirando os olhos.

— Não. Eu sei que eu te conheço. É o suficiente.

Ela balança a cabeça, mas agarra a minha mão, e inclina a cabeça no

meu ombro.

— Talvez nós nos conheçamos de outra vida. — ela sugere.

— Talvez.

— Não importa. — ela decide. — Agora eu te conheço. É o

bastante.

— Verdade.

Sua mão está na minha coxa. Seus dedos se contorcem e ela quer

movê-los, ela quer me tocar, mas ela tem medo.

— Faça. — sugiro.

Ela olha para mim.

— Fazer o que?

— Toque-me. Onde quer que você queira.

— Eu não quero que nós fiquemos fora de controle. — ela

sussurra. — Ainda não.


Eu sorrio. — Confie em mim. Eu serei uma estátua. Você pode fazer

o que quiser. Eu não vou me mover.

— Nem um músculo?

— Nem mesmo uma contração muscular.

Ela faz uma pausa, mas então decide confiar em mim. Sua mão

desliza ao longo da minha coxa, os dedos leves e experimentando.

Ela desliza ao longo da curva do meu músculo. A outra mão toca o

meu peito. Arrepios surgem onde ela toca, e seus dedos pausam na

minha virilha.

A outra mão para no meu mamilo endurecido.

Sua boca é um botão de rosa perfeito, franzido na concentração. Ela

está tímida, mas ela quer.

Então ela faz.

Minha menina brava move sua mão, e toca-me.

Ela traça meu eixo através das minhas calças de pijama, e suga uma

respiração quando endureço sob seus dedos.

— Você se contorceu. — ela sussurra.

Eu sorrio. — Ele tem uma mente própria. Peço desculpas.

— Não. — diz ela. — Eu gosto disso.

— Eu também.

Seus lábios se curvam para cima, e Deus, como eu queria que ela

usasse aquela boca em mim.


Eu ainda permaneço fiel à minha palavra, porém. Eu não faço

nenhuma sugestão. Eu não digo uma palavra.

Suas mãos traçam meu corpo, cada músculo, cada protuberância.

— Você é forte. — ressalta.

— Sim.

— Eu me sinto segura com você.

— Bom.

Eu protejo-a com a minha vida.

Sua respiração fica curta agora. Ela me quer.

Eu a quero.

Ela estende-se na ponta dos pés e beija minha boca. Quero puxá-la

para perto de mim, mas eu sou fiel à minha palavra. Minhas mãos ficam

ao meu lado, e ela mergulha sua língua na minha boca, explorando,

sentindo, buscando.

Ela geme.

Minha virilha aperta.

Eu quero virá-la e mergulhar nela.

Mas eu não faço isso.

Eu pratico contenção.

— Toque-me. — ela implora me liberando da minha promessa.

Eu não hesito.

Gentilmente empurro-a de volta para a cama e pairo ao lado dela,

deslizo minha mão em sua calcinha, buscando seu centro quente. Seus
olhos vibram logo que chego lá, quando eu deslizo um, então dois dedos

dentro dela.

Ela choraminga.

Eu sofro de desejo.

Eu circulo-a com a ponta dos dedos, em seguida, ela empurra para

eles novamente.

Ela grita.

Eu continuo.

Ela arqueia suas costas.

Seus dedos agarram os lençóis.

Eu a conheço.

Eu conheço seu corpo.

Eu sei do que ela precisa.

Depois de mais um minuto, ela chama meu nome, e depois cai em

mim, agarrando meu peito, respirando com dificuldade.

— Oh meu Deus. — ela sussurra.

Suas bochechas estão rosadas; seus olhos estão brilhantes.

— Obrigada. — acrescenta ela, e eu rio.

— De nada.
OITO

Continuamos assim por três noites.

Eu esgueirava-me para o seu quarto, ou ela fugia para o meu.

Tocamos, exploramos, sentimos.

Nós não fomos mais longe do que isso.

Nesta terceira noite, eu deito na cama, e seus quadris estão

pressionados nos meus.

— Vamos fugir. — ela sugere. — Para longe daqui.

— Para onde vamos? — eu entro no jogo. — Para o mar?

Ela balança a cabeça. — Estou falando sério, Dare. Nós não

pertencemos a este lugar.

— Não. — eu concordo. — Mas não vamos ficar aqui por muito

tempo.

— Como você sabe disso? — ela pergunta, e sua mão está

espalhada no meu peito.

— Eu só sei. Confie em mim.

— Ok. — ela sussurra e não me questiona mais. Em vez disso, ela

levanta a cabeça e seu cabelo passa na minha barriga. — Se você pudesse

ir a qualquer lugar, aonde você iria? — ela pergunta.

— Em qualquer lugar com você. — eu respondo, e essa é a verdade.

Ela hesita. — Você tem certeza? Eles dizem que eu sou louca.

— Mas você não é.


— Eu concordo. — diz ela. — Às vezes. Mas outras vezes, eu sinto

que poderia ser.

— Você acabou de perder o seu irmão. — eu digo a ela. — Você

sente falta de Finn.

Ela engole em seco com a menção do nome dele, e eu me arrependo

por mencionar. — Vai ficar tudo ok. — acrescento. — Tudo vai ficar bem.

Eu volto para o meu quarto antes do café da manhã, e quando o sol

está brilhando, eu encontra-a no refeitório. Ela está empurrando a comida

ao redor do prato, pulso fino. Sento-me ao lado dela, ombro a ombro.

— Senhorita Price? — uma enfermeira para ao nosso lado. — É

hora da sua medicação.

Calla olha para bandeja. — São novos. — ela aponta, olhando para

as pílulas coloridas.

— Ordens do médico.

Calla balança a cabeça e obedientemente coloca-as na boca. Ela

engole, em seguida, abre a boca para a enfermeira verificar. A enfermeira

concorda e vai embora.

Calla cospe-os no guardanapo.

Eu sorrio. — Legal.

Ela encolhe os ombros. — Eu não vou tomar isso.

— Boa menina.

Estamos conspirando agora, deleitando-nos com a nossa

inteligência. A enfermeira não para ao meu lado, porque eu não tomo

medicação.
Nós comemos e saímos, vamos às sessões de grupo.

Eu detesto este lugar, e eu conto os dias. Tenho certeza, como eu

disse à Calla, que não ficaremos aqui por muito tempo. Nós não

pertencemos aqui, porque não somos loucos. Carma não mantém presos

contra a sua vontade.

Não se eles são indignos.

— Você acredita em carma? — pergunto para Calla enquanto

caminhamos. Ela se inclina para cheirar uma flor.

— Acho que sim. Ela me trouxe você.

— Ela?

— Carma é, obviamente, uma mulher.

Eu rio e Calla para de repente. Ela olha para mim, seus grandes

olhos azuis sérios.

— Eu tenho que te dizer uma coisa.

— O que é?

Ela puxa os meus dedos, remexendo.

— Eu te amo.

Ela diz como se estivesse admitindo alguma coisa.

Eu rio. — Eu sei. Eu também te amo.

— Nós não somos loucos?

— Não.
NOVE

É quinta-feira noite, quando Calla não vem para o meu quarto.

Por alguns minutos, não fico preocupado. Eu acho que ela

adormeceu, ou ela esqueceu. Mas isso não está certo. Ela nunca

esqueceria. Eu sei disso.

Eu caminho sem destino um pouco, e depois ponho a cabeça para

fora da minha porta. Os enfermeiros do posto de enfermagem estão

conversando entre si e não prestam atenção, por isso é fácil deslizar pelo

corredor, para a ala seguinte.

Calla está na cama, por isso os meus medos se dissipam, mas não

por muito tempo.

Ela está remexendo e virando, há um brilho de suor na sua testa.

Eu sento na cadeira ao e pego a mão dela, mas ela não se

acalma. Eu não tenho certeza se é necessário acordá-la. Então, por algum

tempo, eu só sento com ela, observando. Esperando.

Calla geme um pouco, e as sobrancelhas estão franzidas, e seus

dedos apertam os meus, com força, então com mais força.

Ela se contorce e se contorce, e, finalmente, eu não aguento mais.

— Calla, acorde. — eu sussurro. — Você está bem. Acorde. Você

está segura.

Seus olhos abrem e estão cheios de medo e confusão, e ela senta-se,

ainda segurando firmemente a minha mão.


— Dare?

Eu concordo. — Estou aqui. Você está segura.

— Mas por que eu sinto que não estou?

Eu não respondo.

— Estou aqui. Você está.

Ela se enrola de lado e estende a mão para mim, e eu deslizo ao

lado dela. Ela se agarra a mim, como se eu fosse uma jangada e ela

estivesse se afogando.

— Eu continuo tendo pesadelos. — ela me diz, sua respiração no

meu rosto. — Eu sonho com coisas escuras. Eu sonho com bebês, e meu

pai, e alguém continua sussurrando, você deve pagar pelos pecados dos seus

pais. Meu pai nunca fez nada de errado na vida. Eu sou louca, Dare.

— Você não é. — eu asseguro-a. — Eu juro para você.

— Você está em meus sonhos também. — ela me diz, hesitante. —

Você está usando um casaco escuro e um anel, e seus olhos são tão

pretos. Deixe-me ver seus olhos, Dare.

Eu puxo minha cabeça para trás para que ela possa olhar mais de

perto, e ela olha para dentro deles.

— Marrom escuro. — ela decide. — Quase pretos, mas não

completamente.

— Não, não são pretos. — eu concordo.

— Você sabe latim? — ela pergunta-me, de repente mudando de

assunto.
Eu balanço a cabeça. — Só um pouco.

— Meu irmão costumava estudá-lo. Ele costumava dizer Serva mim,

serva bo te.

— Salve-me, e eu vou salvá-la. — eu traduzo.

Ela balança a cabeça, surpresa. — Sim.

— O que significa isso? — eu pergunto.

— Eu não sei.

Ela suspira e olha para fora da janela, a mão pálida brincando com

os meus dedos.

— Você me faz sentir como ele me fazia. — ela finalmente diz. — A

salvo. Segura. Compreendida. Nenhuma outra pessoa já me

entendeu. Mas ele entendia. E você entende.

Eu não posso contar que eu sei.

Eu não posso contar para ela que eu conheci o Finn.

Parece com manter um segredo, mas às vezes, é necessário.

— Fico contente por fazer você se sentir bem. — eu digo a ela em

vez disso.

Ela avança mais perto de mim, como se ela quisesse tentar rastejar

para dentro da minha pele comigo.

— Abrace-me. — ela diz baixinho. — A noite toda.

— Eu vou te abraçar até a ronda. — digo a ela. — Então eu vou ter

que ir antes que a enfermeira nos encontre.

— Quando vamos deixar este lugar? '


— Em breve.

Ela balança a cabeça e fecha os olhos, e ela confia completamente na

minha palavra.

Eu amo isso nela.


DEZ

No dia seguinte, a luz brilha dentro do ônibus, e eu sento-me dois

lugares atrás de Calla. Era para sentarmos com membros do nosso

próprio sexo, mas observo Calla a viagem inteira. Ela olha para mim às

vezes, mas a maior parte do caminho, a cabeça fica pressionado no vidro

da janela.

Ela parece tão triste e isso me preocupa.

Quando chegamos à feira de artesanato, descemos do ônibus, e

Calla espera por mim do lado de fora.

Seus dedos envolvem os meus e nós passeamos ao longo dos

corredores de vendas ao ar livre, navegando através dos fornecedores.

Nós olhamos para a arte, as pinturas tristes e abstratas. Calla parece

gravitar em torno das mais escuras, aquelas que parecem estar

chorando. Ela faz uma pausa na frente de um anjo abstrato de cemitério,

com a cabeça inclinada para o lado.

— Eu acho que pode ser de São Miguel. — diz ela.

São Miguel proteja-me.

Seu irmão usava sempre o medalhão de São Miguel.

— Pode ser. — eu concordo.

Nós nos movemos para o próximo estande e para o próximo, até

que chegamos a um estande de joias. Eu casualmente navego pelas

mercadorias do fornecedor, mas não fico muito impressionado. Sempre

tive dinheiro, mesmo que eu deteste a minha família. Estou acostumado


com coisas boas, e as coisas deste fornecedor, mesmo que não sejam

falsas, não são muito boas.

Mas então Calla suspira e aponta, pegando algo prateado.

— Isto. — ela me diz, abrindo a palma da mão. Um anel de prata

riscado se acomoda lá, brilhando na luz. — Você estava usando isso nos

meus sonhos.

Eu o pego.

— Eu estava usando um igual a este. — eu corrijo-a. — Os sonhos

são engraçados, Calla-Lily.

Mas ela balança a cabeça. — Não, era este. Eu sinto isso, Dare.

Eu enfio-o no meu dedo médio, e seus olhos se arregalam. — É

esse. Feito para você.

Eu sorrio um pouco, mas não posso resistir. Eu pago o fornecedor e

fico com o anel.

Calla está satisfeita, e ela brinca com ele no meu dedo enquanto

caminhamos. Ela o gira uma vez e outra.

— Você não sente isso? — ela me pergunta. — Porque eu

sinto. Alguma coisa... alguma coisa…

Ela divaga, e qualquer outra pessoa poderia pensar que ela é

louca. Mas eu não.

Conheço-a melhor.

— Vamos sair daqui por um tempo. — sugiro. Seus olhos desviam

para os meus e ela olha em torno de nós procurando sinais da equipe.


— Nós vamos ter problemas. — diz ela.

— Vale a pena. — eu respondo.

Ela sorri. — Está bem.

Eu puxo-a no meio da multidão escassa e desaparecemos na

próxima rua, a que leva ao oceano. Pegamos a trilha para a praia, e uma

vez que chegamos lá, tiramos os sapatos e andamos descalço na areia.

— Eu amo isso. — admite Calla. — Isso me lembra de casa. Eu

moro perto da praia. Acima dela, na verdade. Nos penhascos.

Eu sei.

As ondas batem na costa, e uma tempestade está chegando.

Mas Calla e eu passeamos como se não tivéssemos uma

preocupação no mundo, mesmo que gotículas de chuva estivessem

salpicando nos nossos ombros.

Quando o vento aumenta, nós paramos, e Calla se vira para mim.

Ela olha para mim, os olhos arregalados e pensativos.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, ela envolve os braços

delgados no meu pescoço e me beija.

Seus lábios são ardentes quentes e apaixonados, pressionando com

força contra os meus. Seus quadris se projetam imediatamente para os

meus, e sua respiração fica difícil de imediato. Seus dedos cortam a

minha pele, e ela é urgente.

— Eu quero você. — ela me diz. — Estou cansada de esperar,

Dare. Eu quero você, aqui e agora... onde eles não podem nos ver.
Eles, ou seja, os enfermeiros, presumo.

Eu faço a varredura da praia. Há uma enseada... apenas um pouco

longe.

Eu pego Calla, deixando os nossos sapatos na areia.

Ela beija meu pescoço enquanto ando, eu acelero meus passos,

porque Deus, a espera.

A espera está me matando.

Faz semanas ou anos?

Eu nem sei agora.

Acomodo Calla com cuidado para baixo e espalho o meu casaco no

chão. Ela imediatamente me puxa para baixo para ela, e suas mãos estão

por toda parte.

Meus lábios, meu cabelo, meu peito, minha virilha.

Ela me toca como se fosse me memorizar através dos dedos, e

talvez ela esteja.

— Você é meu. — ela sussurra na minha boca antes de me

beijar. Eu beijo-a de volta, com força, antes de eu concordar.

— Sou seu.

Eu a puxo para mim, e ela é tão macia. Suas mãos são fortes

quando ela agarra minhas costas.

— Eu preciso de você, Dare. — ela sussurra. — Por favor.

Ela acha que esta é a nossa primeira vez, e então eu trato-a como

tal. Eu a excito até ela estar comigo... meus dedos deslizando dentro dela,
deixando-a molhada, flexível. Ela arqueia as costas, e seus seios macios

esmagam em mim, e eu posso sentir seu pulso lá, rápido e leve.

— Calla, libere-se. — eu digo a ela em seu ouvido. — Relaxe e

apenas sinta.

Seus músculos relaxam e sua cabeça cai para trás, e posso ver seus

olhos se movendo por trás das pálpebras, enquanto ela geme.

Ela se contorce na minha jaqueta, ela empurra-se na minha mão, e

não é até que ela está arqueando, arqueando, tremendo... que eu deslizo

para dentro dela.

Seus olhos abrem enquanto eu encho-a, então as pernas dela

fecham em torno do meu quadril.

— Oh meu Deus, Dare. — ela murmura, e sua respiração é quente

no meu ouvido. — Meu Deus. Não pare. Por favor. Por favor.

Sua mendicância é quase a minha ruína.

Eu balanço com ela, toco-a, beijo-a, consumindo-a.

Seu cabelo balança em torno de nós por causa do vento e nós

estamos subindo juntos, escalando, escalando, escalando em direção ao

clímax.

Seus dedos afundam em mim, e os meus nela, e o atrito é delicioso,

a atração inegável. Juntos, Calla e eu somos magias.

O ar em torno de nós crepita e estala e ela respira e ofega e geme.

— Calla. — eu grito, e o vento leva as minhas palavras e leva-as

para fora. — Calla.

Estou gozando e não posso esperar mais.


Eu esvazio dentro dela e não posso adiar por mais tempo. Eu pulso

e pulso e ela absorve, contraindo-se em torno de mim, e ela grita meu

nome.

— Dare. — diz ela, e há uma lágrima no rosto dela e eu limpo-a

enquanto ainda estou enterrado profundamente dentro dela.

— Por que você está chorando? — pergunto rapidamente, mas ela

está sorrindo.

— Estou feliz. — ela explica. — Você me faz feliz. Você é tudo,

Dare. Não me deixe ir, ok? Não me deixe ir.

Eu agarro-a, balançando a cabeça, e nós ficamos assim por muito

tempo, enquanto podemos, até eu ouvir vozes chamando nossos nomes,

procurando por nós.

Colocamos nossas roupas de volta, e relutantemente caminhamos

de volta para a praia, para encontrar os enfermeiros vindo na nossa

direção. Eles são severos e estamos com problemas, mas nenhum de nós

se importa.

Eles nos separam no ônibus, e vamos ser castigados, mas não

importa.

Nada importa, exceto Calla.


ONZE

Não vejo Calla por longas quarenta e oito horas.

Essa é a quantidade de tempo que ambos ficamos confinados em

nossos quartos de castigo. Nós comemos nos quartos sem companhia.

Eles nos observam com tanto cuidado que não podemos fugir à

noite, e eu não posso ver por mim mesmo que Calla está ok. Eu tenho que

acreditar que ela está, e que ela está esperando por mim do outro lado do

corredor.

Na quadragésima nona hora sou autorizado a sair para o café da

manhã e procuro Calla pela sala.

Ela não está aqui.

Eu examino todas as faces, e ela simplesmente não está aqui.

Meu coração acelera quando pego uma bandeja e sigo para fora, tão

certo que ela estará lá.

Os jardins estão vazios.

As trilhas estão vazias.

Ela não está na lagoa também.

Eu pergunto ao redor, mas ninguém a viu, e eu realmente começo a

me preocupar enquanto percorro os corredores em direção ao seu quarto.

— Sr. DuBray? — uma enfermeira me para. — Onde você está

indo? — eu posso dizer pelo seu rosto que ela sabe.

— Estou apenas indo para uma caminhada. — eu minto.


Ela parece simpática, mas ela não ceder. — Eu não acho que você

precisa caminhar por este corredor. Vá lá fora e aproveite algum ar fresco.

Calla é o meu ar.

Eu olho nos olhos dela. — Calla Price está bem?

Ela faz uma pausa.

— Eu não posso dar-lhe informações sobre outro paciente, Sr.

DuBray.

Mas ela quer. Eu posso ver isso em seus olhos.

— Pode me dizer se ela está ok? Por favor?

Os olhos castanhos da enfermeira vacilam.

— Ela já não é mais uma paciente aqui, Sr. DuBray.

Meu coração pula na minha garganta.

— O quê?

Eu luto para manter a calma, manter minha compostura, para

respirar.

A enfermeira abaixa a voz.

— Após o incidente na praia, seu pai achou prudente removê-la

daqui.

— Ela foi embora? — minha voz está mole.

A enfermeira concorda.

— Receio que sim.

Ela se vira e vai embora e eu fico mole, de pé, imóvel em um mar

de pessoas insanas.
Eu só estava aqui por ela. Se ela se foi...

Ando para o quarto dela entorpecido, entorpecido quando olho

dentro e encontro-o vazio.

Ela estava aqui ontem?

No dia anterior?

Quando exatamente eles a levaram?

Sento-me na cama. Está limpo agora, até o colchão coberto de

borracha. Não há uma coisa da Calla nesta sala.

Eu olho para fora da janela, para a paisagem que ela encarava. A

árvore, o céu, as roseiras.

— Você é Dare?

A voz vem da porta, pequena e tímida. Uma menina.

— Sim, eu sou.

Ela se aproxima de mim, e enfia a mão no bolso.

— Calla me pediu para lhe dar isso.

Ela me dá um pequeno pacote, embrulhado em lenços de papel.

— Obrigado. — murmuro e ela corre para longe.

Eu rasgo o papel e encontro o medalhão de São Miguel do seu

irmão e uma nota.

Fique com isso para mim. Vejo você em breve.

Ela nunca fica sem o medalhão do irmão. Nunca.

É o seu bem mais precioso, e ela deu-me.


É sua maneira de prometer que estaremos juntos novamente em

breve.

Eu deslizo a corrente de prata sobre a minha cabeça e coloco-a sob a

minha camisa.

Os dias passam.

Sem Calla, eles são vazios.

Mas cada vez que eu me preocupo, eu corro meus dedos pelo

medalhão.

Ela vai voltar.

Ela prometeu.
DOZE

Noites passam lentamente, sem saber quando verei Calla de novo.

Quando eu durmo, eu sonho com ela. Os sonhos são tão vivos que

posso sentir seu cheiro e o gosto. Posso ouvir a voz dela. Quando eu

acordo sozinho é esmagador.

Uma enfermeira tenta tirar o medalhão de São. Miguel de mim.

— É contra as regras. — ela me diz severamente.

— Eu não jogo pelas regras. — eu respondo, e me recuso a

desistir. — Nem sequer pense em me dar sedativo. Você sabe o que

aconteceria se a minha avó descobrisse.

Os olhos da enfermeira brilham, mas ela sabe que estou certo.

Eleanor Savage não toleraria isso. Eleanor pode me odiar, mas ela

nunca permitiria que um membro da família Savage fosse tratado de tal

forma. É ruim para a opinião pública.

A enfermeira me deixa em paz, sabendo que não há nada que ela

possa fazer.

Eu mantenho o medalhão seguro na minha mão.

Por enquanto, é tudo o que tenho de Calla.

Quando durmo naquela noite, eu me lembro da primeira vez.

Nossa verdadeira primeira vez.

Também estávamos na praia.


— Vai doer? — Calla me olha, seus olhos tão inocentes e claros. — Eu não

me importo se isso acontecer, eu só quero saber de antemão. — ela ri e está

nervosa, mas sua mão ainda está dentro das minhas calças, me acariciando, me

tocando. Calla não pode ser domada. Isso é uma coisa que eu amo sobre ela.

— Talvez. — eu digo a verdade. — Mas eu vou tentar não machucar.

Ela balança a cabeça e me puxa para ela, e suas mãos estão por toda

parte. O fogo da madeira queima roxo azulado na escuridão, e estamos cercados

por uma luz bonita. Reflete no cabelo de Calla, fazendo-a parecer etérea.

— Eu preciso de você dentro de mim. — ela me diz com urgência. — Eu

quero sentir como se fôssemos um, Dare.

Tiro sua camisa e sua pele é pálida e luminosa e ela é uma criatura das da

noite escura, tão linda que é quase irreal. Ela toca meus mamilos levemente, em

seguida, desliza um na boca, lambendo-o inocentemente com a língua. Ela não

sabe o que isso faz comigo.

A tensão na minha calça e meu pênis ameaça explodir.

Ela não sabe o que isto significa para mim.

Mas ela sorri e desliza a cabeça para baixo, e talvez... talvez... ela saiba.

Eu paro-a, minhas mãos em seu cabelo.

— Não, não esta noite. Nós vamos fazer isso outro dia.

— Mas eu quero te provar. — ela argumenta. Eu sorrio.

— Eu quero que você me prove. Mas esta noite, eu tenho que te sentir,

Calla. Eu tenho que te sentir por dentro.

Ela engole e acena com a cabeça e me agarra, e eu deslizo para dentro dela.
Há apenas uma ligeira resistência dentro dela, uma ligeira barreira que eu

rompo. Ela estremece, então seu rosto relaxa, e eu deslizo para dentro e para fora

dela, suavemente, lentamente, suavemente.

— Dare. — ela sussurra com espanto. — Você é tão gostoso.

Eu engulo em seco, porque Deus, ela é. Eu quero que isso dure para

sempre.

Esta noite é perfeita.

Com Andrômeda acima, nos iluminando, eu tiro a virgindade da Calla e

ela se torna minha em todos os sentidos.

Ficamos na enseada durante horas. Dentro dela, fora dela, inteiro ao redor

dela. Estamos interligados, eu nem sei de quem são os membros neste momento.

— Eu te amo, Dare. — Calla me diz, e a meia-noite é nos seus lábios.

— Eu te amo. — eu digo a ela. — Mais do que há de estrelas.

Nós ficamos assim até de manhã, quando o sol nasce sobre o oceano.

EU ACORDO, sem saber o que me acordou.

A noite está escura. Há gritos vindos dos corredores, mas não é fora

do comum.

Enfermeiros passam pelo meu quarto, mas eles não param à minha

porta. Não há necessidade.

Eu fico olhando para o teto, e eu conto os azulejos.

Então eu ouço novamente.

Uma batida na minha janela.


Eu sento na minha cama, e pressiono o meu rosto no vidro, e Calla

está lá fora. Ela está vestida com jeans e uma camiseta preta, e seu cabelo

brilha vermelho sob o luar.

Eu não posso abrir a janela, e ela sabe disso.

— Venha. — ela me pede, apontando para me juntar a ela. —

Vamos deixar este lugar.

Eu concordo. Pego a roupa, a roupa de verdade na minha mala, e

deixo o meu pijama hospitalar na cama. Deixo minha mala no

armário. Eu posso comprar qualquer coisa que precisar depois que eu

sair.

Calla espera, e eu coloco a cabeça para fora da minha porta.

Não há enfermeiros à vista.

Eu escorrego pelos corredores, furtivamente dentro e fora de

portas, calmamente, rapidamente. Dentro de minutos, vou até a porta do

Sul. Eu sei que no segundo que eu abri-la, os alarmes soarão. E eles soam.

Atravesso e saio correndo.

Eu corro para Calla e quando eu alcanço-a, ela agarra a minha mão.

Juntos, nós corremos para o carro dela.

Ao entrarmos ela dá ignição antes de ao menos colocarmos os

cintos e partimos para a estrada.

— Para onde estamos indo? — eu pergunto a ela.

— Isso importa? — ela pergunta, levantando as sobrancelhas.


— Eu acho que não. — e não importa. Estou com ela, e ela está

comigo. É isso que importa.

Árvores e o oceano passam como um borrão e ninguém está atrás

de nós.

Nós relaxamos.

Coloco o colar de Finn pela cabeça de Calla, onde ele pertence. Ele

se aninha contra o seu peito e ela suspira profundamente.

Eu estendo minha mão e ela agarra-a, seus dedos entrelaçam com

os meus, enquanto ela dirige com a mão esquerda.

— Nada importa agora que estamos juntos. — diz ela com firmeza.

— Sim, eu concordo.

— Eu te amo.

— Mais do que há de estrelas no céu. — eu digo a ela.

Nós dirigimos até o sol nascer sobre o oceano.

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