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Hawk Tanner não é um homem de muitas palavras, especialmente
se você for uma garota tola fazendo uma tatuagem qualquer em
sua loja. O dono do estúdio Bird's Eye Tattoo não quer que você lhe
dê gorjeta com seu número de telefone ou olhares de flerte. Ele
está cansado de todas as mulheres erradas que o querem por
todas as razões erradas.

Drew Ashby não tem tempo para nada. Como mãe solteira recém-
divorciada, seu foco é encontrar um emprego, cuidar de sua filha e
reconstruir a vida depois de ter sido arruinada.

Quando Drew consegue um emprego no Bird's Eye, as faíscas não


voam imediatamente. Ela não pode negar o fato de que seu chefe é
um delicioso exemplar de homem, sua pele coberta de tatuagens
pode até mesmo torná-lo selvagem, mas a sua forte presença e o
seu queixo definido, o tornam difícil de entender.

Isto é, até que ele deixe de lado a postura de bad boy e comece
com os inesperados gestos de bondade e carinho.

As coisas esquentam, e quando Drew pensa que tudo finalmente


está dando certo, a vida a surpreende com o que faz de melhor,
atira-lhe uma bola curva do seu passado.

Bird's Eye pode não ser a família que Drew imaginava para si
mesma, mas os ideais podem mudar num piscar de olhos. Não há
dúvida de que Hawk é o homem que ela quer, mas será que ele
pode se impor e ser o homem que ela precisa?
Para cada mãe solteira,

para cada pessoa que está começando de novo,

e para todos aqueles que têm certeza de que nunca mais irão
amar.

O seu Hawk está em algum lugar, distraído pelas mulheres


erradas, mas ele vai cair em si e te encontrar.

Ele vai ser um psicopata.

Portanto, não tenha medo de ser a sua camisa de força.


Eu vejo uma garota loira enrolar o cabelo no dedo e depois
estourar seu chiclete, ela aponta para um minúsculo pau com um
rosto sorridente e acena vigorosamente com a cabeça para sua
amiga morena. Sua amiga igualmente irritante ri e aponta para o
pau em forma de coração.

— É perfeito, — diz a loira entre risos.

Ela está brincando, certo?

Eu volto para o meu esboço porque longe de mim julgar essa


garota que mal acabou de completar a maioridade e vai ter o seu

1
Todos os capítulos desse livro se iniciam com o nome de uma música.
corpo permanentemente tatuado, mas a razão pela qual ela
escolheu a porra de um pau sorridente, um com bolas ainda, está
além da minha compreensão, e estou inclinado a acreditar que isso
está mais para bom senso do que julgamento.

Você não tatua órgãos genitais em seu corpo, simplesmente


não os tatua.

Enquanto estou perdido em pequenos pensamentos de


escroto de desenho animado, e sombras nos olhos de uma mulher
misteriosa que estou desenhando, Will me interrompe.

— Ei, cara. Desculpe, mas eu preciso de você nesse aqui, —


diz ela.

Will é uma abreviação de Willette, ela é minha melhor amiga


desde a quarta série, e administra o Bird's Eye Tattoo Studio.

Eu olho para o balcão onde a mencionada loira está de pé,


admirando o esboço do seu pau, e eu imediatamente começo a
balançar minha cabeça. — De jeito nenhum. Esse é um trabalho
para Hanson, — eu digo.

— Sim, eu sei, mas ele está atrasado. — Ela olha para mim,
implorando, com esperança em seus olhos.

Se fosse qualquer um além de Will, eu diria para se foder. Eu


jogo o meu lápis para baixo e fecho o meu caderno de desenho. —
Ok.

— Excelente. Vou mandá-la para cá, — diz ela.

Will, como sempre é direta ao ponto, por isso que ela é a


minha gerente.

Estou derramando tinta e espalhando agulhas quando a


minha cliente limpa a garganta atrás de mim.
— Oi! — Diz ela, com muito entusiasmo para o meu gosto.

— Sente-se aqui, — instruo, esperando enquanto ela se sente.

Ela olha para a placa acima da minha cabeça que exibe meu
nome. — Uau, Hawk é o seu nome verdadeiro? — Pergunta,
novamente enrolando o cabelo em seu dedo.

Ouço o estalo de seu chiclete no final da frase e quero dizer a


ela para jogá-lo fora, mas não digo.

— Sim, — eu respondo pela vigésima vez esta semana. Veja


bem, ainda é quarta-feira.

— Isto é tão legal. Meu nome é Rebecca, mas meus amigos


me chamam de Becky. — Ela inclina-se para mais perto de mim e
junta os braços de um jeito que faz seus seios subirem.

Não é que eu não goste de peitos. Quem não ama peitos? Eu


só não gosto dos peitos de Rebecca.

— Onde você quer esse pau?

— O quê? — Ela pergunta, nervosa.

Levanto o estêncil do desenho animado do escroto sorridente


que ela escolheu há poucos momentos. Parece que ela tentou
flertar, mas o meu nome tão legal a distraiu.

— Oh, claro! Bem aqui, — diz, enquanto desabotoa o topo da


calça e puxa um pouco para baixo, virando-se de lado para me dar
o quadril.

Esta garota está prestes a ter um pau sorridente com bolas


tatuado em seu quadril. Não foi para isso que me tornei um tatuador.

Coloco meus fones de ouvido, garantindo a Rebecca que faço


o meu melhor trabalho quando estou focado. Descobri que os
clientes não tendem a discutir quando arriscam sua pele, e é uma
maneira fácil de evitar a tagarelice entorpecente que eles tentam
cuspir no meu caminho. Coloco as minhas luvas de nitrilo pretas,
e vejo Rebecca observando os músculos do meu braço flexionar.

Então, começo a trabalhar, coloco o estêncil, mergulho a


agulha, piso no pedal e o zumbido familiar da minha máquina
preenche qualquer silêncio deixado pela música.

Enquanto minha mão vibra para cima e para baixo nas linhas
do pau de desenho animado, estudo a linguagem corporal entre
Rebecca e a sua amiga sem nome, e me pergunto como ela chegou
neste momento. Como ela chegou aqui, fazendo essa tatuagem.

Que escolha de vida te trouxe aqui, Rebecca? Por que você está
arruinando a sua vida sexual futura com um pequenino pênis
sorridente?

Estou apenas falando por mim aqui, de jeito nenhum iria


dormir com uma mulher que tem a porra de um pau e bolas
tatuados nela.

Eu faço um trabalho rápido na tatuagem bastante simples, e


removo os fones de ouvido quando termino, bem a tempo de ouvir
sua amiga lhe dizer como isso é engraçado, e como elas irão rir
disso nos próximos anos.

Não, Rebecca. Você, não vai.

Eu não vou mentir, a amiga dela é uma amiga de merda. Você


deve alertar os seus amigos sobre decisões terríveis na vida, e não
encorajar aquelas que irão atrapalhar completamente a sua vida
sexual. Estou supondo que haverá um encobrimento ou remoção
programada em dezoito meses ou menos.

Acompanho as meninas até a frente depois de terminar,


dando a Rebecca a folha de instruções sobre os cuidados, antes de
passá-la para Will no balcão da frente para processar o seu
pagamento.

Rebecca aproxima-se e entrega-me um maço de dinheiro. —


Há uma pequena gorjeta extra aí, — diz, piscando para mim de
forma bastante descarada.

Agradeço e volto para a minha cabine, com cuidado para não


dar qualquer indicação de que sua piscadela foi bem-
vinda. Enquanto desdobro o dinheiro para colocá-lo na carteira,
percebo que o número de telefone de Rebecca está escrito em um
pedaço de papel dentro, separo-o do dinheiro e fico olhando para
ele por um momento, a garota tem coragem. Literal e
figurativamente agora, lembro-me.

— Parece que você tem outro. — Avery diz.

— Você quer isto? — Digo mostrando o número para o meu


colega tatuador na minha frente, sua cabeça raspada é a única
coisa quase ameaçadora nele. Isso, e ele continuar tentando fazer
com que todos o chamem de Spider. Penso que ele não ache que
Avery seja assustador o suficiente para esse estilo de vida.

— Não, obrigado. Gosto de ser o único pau na cama, — diz


ele.

Pobre Rebecca. Tenho a sensação de que Avery não será o


último homem a ter tal opinião. Amasso o pequeno pedaço de papel
e jogo-o no cesto de lixo. Não tenho tempo para isso.

Eu limpo o meu espaço, voltando a atenção para o meu


esboço. A mulher que estou desenhando tem olhos quentes e
cabelos claros, seus lábios estão pressionados numa linha, e eu
não decidi se isso é porque está triste ou não. Continuo sonhando
com ela. Em meu sonho, nunca a alcanço a tempo de
descobrir. Chego tão perto, acordo e fico pensando nela.
— Desculpe, estou atrasado! — Hanson irrompe pela porta
dos fundos, e lhe lanço um olhar. Hanson ainda não é um artista
em tempo integral, apenas um aprendiz. Ele também é tão jovem
que não conhece a boy band Hanson2, o que o torna um alvo fácil
para piadas e brincadeiras.

— Você vai ter que se desculpar com a Will, — eu digo,


levantando uma sobrancelha.

Ele engole. Hanson morre de medo de Will, assim como as


crianças católicas temem as madres superiores. Ele coloca a sua
mochila na sua cabine, baixando a cabeça enquanto fica de mau
humor por ter que encontrá-la. Depois de aceitar o pagamento de
Rebecca, Will foi para os fundos, provavelmente até ao escritório.

Os seus medos não são infundados, ela vai deixá-lo


estocando as prateleiras o dia todo por causa do seu atraso. Will
não leva merda nenhuma. Tenho uma ligeira vantagem de
conhecê-la há tanto tempo, então ela não me assusta como ela faz
com Hanson e Avery.

Quando você é amigo de alguém há tempo suficiente para ter


presenciado a sua primeira menstruação, o que aconteceu em sua
casa pouco antes de chorar em meu ombro, você simplesmente
não sente tanto medo.

Eu verifico o relógio e vejo que o dia está terminando, estico-


me para trás na minha cadeira, rolando os meus ombros e
pescoço. Ficar curvado o dia todo realmente afeta seu corpo.
Termino mais algumas linhas do meu esboço e coloco-o de lado
para que possa terminar de limpar o resto da minha cabine. Depois

2
Hanson é uma banda norte-americana de pop rock, formada por três irmãos em 1992.
de pegar minha jaqueta e as chaves, começo a andar em direção
aos fundos.

— Ei, Hawk? — A voz de Will soa de algum lugar no depósito.

Eu mudo minha trajetória e volto para dentro, olhando ao


redor, seu cabelo roxo da altura dos ombros balançando para cima
e para baixo atrás de uma prateleira enquanto dou um passo em
sua direção.

— E aí? — Pergunto.

— Não se esqueça que temos aquele cara amanhã para uma


entrevista para o cargo de recepção. Você quer conhecê-
lo? Entrevistá-lo? — Ela indaga.

— Eu não me importo. Confio em você, — digo.

Ela bufa. Ela odeia quando sou indiferente.

— Olha, se eu estiver por perto, vou entrevistar, se não


estiver, não importa. — Digo.

— Tudo bem. — diz ela.

Nós acenamos um para o outro, nossa maneira não falada de


dizer adeus.

— Vejo você amanhã. — Saio pela porta dos fundos e


imediatamente sigo para as escadas. Sim, sou o dono da loja de
tatuagem clichê que mora em um loft acima de sua loja de tatuagem.

Quando eu coloco dessa forma, parece horrível, mas quando


digo que sou um pequeno empresário bem-sucedido, dono do prédio
em que sua empresa está instalada, e moro no espaçoso loft acima
dela, soa melhor.
Destranco a porta e entro em meu lugar de consolo, saudado
pelo amor da minha vida. A única vadia com quem me
importo. Bem, quase.

— Oi, menina. Você está com saudade de mim? — Eu digo


em um tom suave e brincalhão.

A minha pitbull preta de dois anos, Raven, se espreguiça e


pula vagarosamente do sofá.

É uma saudação nada entusiástica, mas aceito o que ela me


dá.
Eu vou vomitar. Vou vomitar porque vou chegar tarde e odeio
chegar tarde. Eu corro pela calçada movimentada o mais rápido
que posso, não calculei os engarrafamentos da manhã, o tráfego
de pedestres ou o tempo que levaria para deslocar-me
corretamente. Louisville, Kentucky, não é tão grande quanto
Philly, mas esta área em particular é muito mais movimentada do
que eu esperava.

— Mãe, vai devagar! — Ava diz.

— Eu gostaria de poder, querida! — Falo para ela. Neste


ponto, estou praticamente puxando-a atrás de mim pela
mão. Ouço os seus pés se arrastando para me acompanhar, e
tenho a certeza de que se tentar acelerar mais, vou fazer com que
ela tropece e caia.
Viramos a esquina e vejo a placa do lugar. Quase lá. Só mais
um pouco. Claro, terei que descobrir o que fazer com Ava durante
a entrevista, embora saiba que não é exatamente profissional levar
uma criança com você para uma entrevista, não tive escolha.

Ela não começa a escola até segunda-feira porque a sua


transferência está atrasada, e considerando que ela tem apenas
oito anos, ela é pequena demais para ficar em casa sozinha, então,
eu tive que trazê-la comigo.

Desacelero quando chegamos à entrada e olho para a


placa. Bird's Eye Tattoo Studio tem um logotipo de caveira de
pássaro ameaçador, e o olhar no rosto de Ava diz tudo. Você
realmente vai trabalhar aqui?

O sinal de ESTAMOS CONTRATANDO ainda está na janela,


mas espero que não por muito mais tempo. Meu coração afunda
quando abaixo meus olhos e vejo a placa adicional que diz NÃO É
PERMITIDO MENORES. Não deveria estar surpresa, é claro. Isso
é bastante normal em estúdios de tatuagens, mas agora estou em
pânico. Eu olho para Ava, que está ofegante, o peito arfando
enquanto recupera o fôlego.

Há um estacionamento na lateral do prédio, e sigo até a


entrada dos fundos conforme as instruções. Lá, vejo um pequeno
pátio com alguns bancos e uma mesa de piquenique sob um toldo,
bem em frente às grandes janelas. É muito tranquilo e privado
aqui.

Não tenho escolha. Eu me viro para a Ava. — Ok, sente-se


aqui e não se mova. Não fale com ninguém. Estarei lá dentro, mas
vou ficar de olho em você o tempo todo.

— Ok. — Ela se senta no banco antes de pegar o seu bloco de


desenho e lápis, claramente imperturbável pela situação.
— Deseje-me sorte! — Eu digo, dando um passo em direção à
porta, mas ela não me ouve. Ava não escuta, não depois que pega
o bloco de desenho e o lápis, ela não vê ou escuta nada depois
disso.

Entro na loja, em direção ao que estou supondo que seja


tecnicamente a recepção, e olho para trás, aliviada por ainda poder
ver Ava pela janela daqui.

— O que posso fazer por você? — Uma mulher, com cabelo


roxo desbotado e olhos castanhos penetrantes, pergunta atrás do
balcão da frente.

— Meu nome é Drew Ashby. Tenho uma entrevista para o


cargo de recepcionista. Acho que devo perguntar por Will? — Eu
digo, meus ombros se endireitando com cada palavra.

— Oh, puta merda, sou eu, — a pequena mulher diz.

Oh, tudo bem. Will é uma mulher. — Oh, olá. — Digo,


estendendo a minha mão para ela apertar.

— Então Drew é uma mulher? — Ela pergunta.

— E Will também. — Confirmo, conspirativamente.

— Touché, — ela diz, rindo e balançando a cabeça. Parece


que ambas ficamos confusas com os nossos nomes não
convencionais de gênero neutro. Isso é o que ganhamos por nos
comunicarmos apenas por e-mail até agora.

— Vamos para o escritório. — Ela diz.

— Sinto muito, odeio fazer isso, mas é possível fazermos essa


entrevista aqui? — Eu pergunto.

— Oh, claro, — ela diz sem questionar.


Esperava ter que explicar a minha situação, mas ela aceita o
meu pedido na esportiva, e sinto uma onda de alívio enquanto
caminhamos naquela direção.

Nós nos sentamos no sofá na parte de trás, bem em frente à


janela, e estou a poucos centímetros de Ava, então respiro aliviada
sabendo que posso fazer a entrevista com ela bem na minha linha
de visão.

— Então, por que você quer o emprego? — Will pergunta.

— Bem, acabei de me mudar da Filadélfia, sou recentemente


divorciada, e o único membro da família que me restou estava
morando aqui, mas ela decidiu há cerca de uma semana, logo
depois que cheguei, que era hora de fazer algumas viagens. Agora,
somos só eu e a minha filha. — Aponto pela janela a cabeça de
Ava, observando os olhos de Will se arregalarem enquanto ela
começa a entender minha situação.

— Você já trabalhou em uma loja de tatuagem antes? — Ela


pergunta.

— Não, mas eu já tive outros cargos em recepção no passado,


e estou confiante de que poderia aprender rapidamente. — Digo,
tentando não deixar a minha voz falhar. — E,
sendo totalmente honesta, este lugar é bem perto para mim, e o
divórcio me deixou sem carro.

Will me estuda, olhando-me de cima a baixo. — Você também


tem tatuagens? — Ela levanta a sobrancelha para mim, com um
sorriso em seus lábios.

A pergunta me confunde. — Hum, apenas uma. — A minha


resposta saiu mais como uma admissão.

— Do que é? — Ela pergunta.

— Apenas o contorno de um pássaro, — respondo.


Ela balança a cabeça, como se estivesse deixando essa
resposta penetrar mais do que qualquer outra que eu já dei.

— Escute, preciso deste trabalho, preciso sustentar minha


filha. Tenho a impressão de que o pai dela não vai ajudar muito e
estou fazendo o melhor que posso. Fui meio que inesperadamente
empurrada para a maternidade solteira há alguns meses. Não
estou aqui para fazer ondas, mudanças drásticas, ou mesmo
amigos, se você não quiser. Apenas dinheiro para sustentá-la. —
Admito, totalmente ciente do desespero em meu tom.

Eu olho com amor para Ava, que ainda está rabiscando em


seu bloco de desenho.

Will concorda. — Entendo. Bem, o trabalho é seu, se


quiser. Se quiser, pode começar na segunda-feira. Por que você
não a manda entrar e se sentar para que eu possa mostrar a loja
a você?

Meus olhos brilham, imediatamente lacrimejando. —


Obrigada. Muito obrigada. — Eu aceno e engulo, suprimindo a
emoção que estou sentindo por este simples ato de bondade da
parte dela. Então, vou buscar Ava.

Deixamos Ava sentada no mesmo sofá em que estávamos


enquanto Will me leva para preencher alguns papéis e me mostrar
o local.

Isso é bom. As coisas estão melhorando. Finalmente. De


desamparada a ter um emprego em uma semana não é
ruim. Agora, se eu conseguir manter esse tipo de registro, talvez
eu possa dar a Ava algum tipo de vida decente. Seu pai com certeza
não parece preocupado com nada disso.

Depende de mim. Apenas de mim, e posso fazer isso. Eu acho.


PARDON ME

A campainha toca quando eu entro na loja, limpando a


mancha de mostarda que deixei na minha camiseta na hora do
almoço. Eu odeio manchas, detesto-as, conheço-me bem o
suficiente para saber que vou acabar saindo direto pela porta dos
fundos, e subindo as escadas para me trocar antes de voltar ao
trabalho.

Sigo em direção ao saguão dos fundos, notando um pequeno


par de pernas balançando para frente e para trás com o canto do
meu olho, é estranho e perturbador. Lentamente viro-me e olho
para cima, ainda limpando a mancha de mostarda com um pano
molhado, há um pequeno ser humano sentado no sofá perto da
janela. Quantos anos ela tem, tipo, sete? Ela está fazendo um
desenho ou algo assim, balançando a cabeça para frente e para
trás, cantando para si mesma, e onde diabos estão seus pais?
Eu olho ao redor da loja, mas os únicos adultos à vista são
Avery e o seu cliente. A placa na porta indica claramente NÃO É
PERMITIDO MENORES, e esta é definitivamente uma menor. Eu
caminho até ao estande de Avery.

— Ela pertence ao seu cliente? — Pergunto, com meu polegar


apontando sobre o meu ombro, sem me preocupar em perguntar
diretamente ao cliente. Ele balança a cabeça.

Onde está Will? Ela deve lidar com isto, é sua função.

— Will? — Eu grito de volta para o escritório e a sala de


estoque.

— Sim? — Ouço de volta.

— Há algo que você precisa lidar, — eu digo.

— Vai ter de esperar, — ela responde.

Eu ando até o escritório e abro a porta. — Cara, tem uma


criança lá fora... — Digo, antes de perceber que Will não está
sozinha.

Ela revira os olhos para mim do jeito que normalmente faz,


quando o que realmente quer fazer é me chutar na canela. — Sim,
eu sei, — diz. — Hawk, esta é Drew. Drew, este é Hawk, o dono da
loja. — Ela olha para mim e completa: — Ela é a nossa nova
recepcionista. A criança lá fora é Ava, e pertence a Drew.

Will olha para mim como se eu tivesse acabado de matar um


gatinho, engulo e olho para Drew, que está me encarando. Ela não
está sorrindo, não está enrolando o cabelo ou estourando um
chiclete. Ela tem olhos quentes e cabelos claros. Seus lábios estão
pressionados em linha reta, o mesmo tipo de boca que acho que
estava desenhando ontem.
— Drew Ashby. — É tudo o que ela diz enquanto estende a
mão para mim. Seus olhos de mel estão turvos e acho que ela está
chateada comigo, mas não tenho certeza.

Nem me importo, sinceramente. — Pensei que você fosse um


cara?

Sua mão permanece suspensa entre nós. — Bem, eu não sou.

— Não deveria haver menores aqui, — digo.

— Não vai acontecer de novo, — ela fala, finalmente


abaixando a mão.

Drew volta-se para Will e diz que a verá na segunda-feira, em


seguida passa por mim, caminhando para a parte de trás da loja,
pega a pequena criança e elas andam pelo lugar para saírem pela
porta da frente, o sino tocando, quando o fazem.

— Que porra é essa, Will? — Pergunto.

— Eu? Que porra é essa, Hawk? Você poderia ser ainda mais
idiota? — Will acusa, batendo o cotovelo em minhas costelas.

Eu rio e recuo. — Eu pensei que o candidato era um cara.

— Eu também. — Ela encolhe os ombros.

— Nenhuma mulher deve trabalhar aqui. Você é a única


exceção. — Relembro-a de algo que discutimos um tempo atrás.

— Bem, é hora de mudar. Além disso, o nome dela é


Drew. Funciona. — Responde.

Balanço a minha cabeça, sabendo que não importa o que eu


diga, é tarde demais. Posso ser o dono, mas coloco confiança e o
poder de gestão em Will por um motivo. — Por que a filha dela
estava aqui?
— Ava só começa a estudar na segunda-feira e Drew é mãe
solteira, — diz Will.

— Oh. — Eu penso em minha própria mãe. Ela criou a mim


e ao meu irmão sozinha e tenho certeza de que vi meu pai um total
de talvez dez vezes, dos cinco anos de idade até a formatura do
ensino médio.

— Exatamente. — Will diz.

Reviro meus olhos, me conhecer por tanto tempo tem as suas


desvantagens também. — Tudo bem, — digo. — Mas a filha dela
não pode ficar aqui o tempo todo.

Empurrando os meus fones nos ouvidos, volto de mau humor


para a minha cabine, sento, pegando meu caderno de desenho e
abrindo.

Eu perdi esta batalha. Coço a minha nuca, a irritação subindo


pela minha espinha, embora eu não saiba por quê. Era claro o
aborrecimento de Drew comigo? Poderia ser. Ou talvez eu esteja
chateado comigo mesmo? Talvez eu esteja aborrecido por ela estar
claramente aborrecida comigo.

Olho para a tatuagem de um Falcão saindo da minha camisa


manchada, da qual eu havia esquecido completamente. É a
tatuagem que fiz quando finalmente decidi abraçar o meu nome,
agora eu meio que odeio um pouco, mas é o que é.

Por que aquela mulher queria trabalhar aqui, afinal? Ela não
se encaixa no perfil. Sem tatuagens, sem piercings, parecia tão
normal. Não é o típico trabalhador de uma loja de tatuagem. Somos
conhecidos pelas nossas tatuagens, nossos alargadores e as
nossas escolhas de cabelo rebelde, entre outras coisas.

No mês passado, Will tinha cabelos verdes. Agora está roxo. O


cabelo de Hanson foi descolorido no verão passado. Eu tenho meu
nariz perfurado e todos nós temos mais tatuagens do que podemos
contar.

Meus pensamentos se fixam na garotinha. Qual era o nome


dela? Anna? Amber? Não. Ava? Sim. Ava.

Ela estava desenhando, pergunto-me como a sua mãe


tornou-se uma mãe solteira, onde está seu pai e o mais importante,
o que ela estava desenhando. Não consigo evitar. Eu deixo meus
pensamentos se empolgarem quando começo a trabalhar em uma
peça personalizada para um cliente que virá na próxima
semana. Eventualmente, esses pensamentos voltam para a minha
própria mãe.

Minha mãe, Gail Tanner, foi a minha salvadora, na minha


juventude, ela é uma das melhores pessoas que
conheço. Considero-me um sortudo por ter uma mãe tão forte e
capaz. Meu irmão Derek e eu não tornamos as coisas fáceis para
ela, certamente tivemos a nossa cota de nos meter em encrencas e
brigas, não apenas entre nós, mas também com as outras crianças
da vizinhança.

— Ei, Hawk? — A voz de Will é abafada pela minha música e


olho para cima para vê-la encostada casualmente contra minha
cabine.

— E aí? — Eu pergunto, tirando um dos meus fones de


ouvido.

— Preciso de um favor, — ela começa e isso nunca é bom.

Sempre que Will começa uma conversa, dizendo que precisa


de um favor, quase sempre termina comigo concordando em fazer
algo ridículo por ela. Tipo, concordar em ajudá-la a mudar o
apartamento inteiro em uma noite depois do trabalho porque ela
esperou até o último minuto. Eu mencionei que não tínhamos
nenhum caminhão de mudanças?
Ou a vez em que ela perguntou se eu poderia cuidar de seu
gato enquanto ela saía da cidade no fim de semana com um cara
que estava namorando e a minha cadela Raven quase o matou
porque ele não parava de arranhar o seu focinho.

Ou a vez em que ela me implorou para ir a uma festa de


fantasia como o Chapeleiro Maluco e depois de finalmente
concordar, eu apareci apenas para descobrir que ela mudou de
ideia e foi como uma vampira em vez de Alice.

— O que você precisa, Will? — Eu relutantemente pousei meu


lápis, preparando-me.

— Você pode vir jantar comigo e com os meus pais neste fim
de semana? — Pergunta, seus olhos estreitando-se e implorando.

Porra.
Quando a minha tia Penny decidiu, seis dias depois que Ava
e eu chegamos aqui, que ela precisava viajar e visitar pontos
turísticos enquanto ainda tinha tempo, vendeu quase todas os seus
pertences e saiu rápido. O que resta é o seu pequeno apartamento
com sofá e cadeira incompatíveis, uma pequena mesa de cozinha
com uma boa cadeira e um banquinho vacilante, um sofá-cama
num quarto enquanto o outro está completamente vazio, e
algumas peças de louça apenas o suficiente para eu e Ava usarmos
durante uma refeição, mas temos bastantes canecas de café, no
entanto, muitas, por algum motivo que desconheço.

Além disso, tudo que temos é o que Ava e eu trouxemos


conosco quando nos mudamos. Três malas de roupas, uma sacola
de brinquedos e pertences pessoais, como fotos e lembranças.
Dizer que o lugar é bastante vazio é um eufemismo
grosseiro. O lado positivo é que o aluguel é barato, as utilidades
domésticas para um lugar desse tamanho não são tão ruins, e fica
perto de tudo que eu preciso. Gastei o último dinheiro que tinha
nos uniformes escolares de Ava, as calças cáqui e camisas polo
obrigatórias e suprimentos, além de colocar um pouco de comida
na geladeira. Só espero que isso dure até o meu primeiro
pagamento.

A necessidade desse cheque de pagamento é a razão de eu


estar na cozinha domingo à noite, embalando o almoço de Ava na
sua lancheira roxa, revisando o horário do ônibus escolar com ela,
explicando-lhe que o ônibus vai levá-la da escola para o meu
trabalho e assim que ela chegar, terá de esperar do lado de fora da
loja até eu sair. Porque tudo tem que correr bem.

Tenho que trabalhar, não há outra opção. Ava está


surpreendentemente calma sobre a coisa toda, enquanto eu, por
outro lado, estou tremendo de pânico.

— Não se preocupe, mamãe. Já peguei ônibus antes, — diz


ela.

Para o meu alívio, ela terá uma viagem de ônibus


razoavelmente curta até meu trabalho, e só terá que esperar cerca
de uma hora ou mais até o final do expediente.

— Não fale com nenhum estranho, — lembro-a. — E


mantenha seu celular na mochila, no modo silencioso até você
entrar no ônibus, mas depois ligue-o, ok?

Em circunstâncias normais, eu não teria dado a ela um


celular nesta idade, mas como estamos em uma nova cidade e ela
vai andar de ônibus, parecia a única opção
lógica. Consequentemente, outra razão para estar falida até
receber o meu primeiro salário.
Ela acena com a cabeça para mim pela centésima vez esta
noite, e coloco a sua lancheira já pronta na geladeira para ela a
pegar pela manhã. Seu uniforme está pendurado no seu armário
e a sua mochila está cheia de materiais escolares. Minha filha está
preparada, eu estou exatamente o oposto.

A ansiedade cresce na minha garganta e ameaça se espalhar


por todo o meu corpo, mas engulo em seco, forçando-a de volta
para baixo. Parte do problema pode ser o fato de que não comi
hoje. Eu esqueci completamente, com a carga de atividades na
compra de material escolar, ou talvez fosse devido à inquietação
para fazer uma limpeza profunda do apartamento, onde esfreguei
os rodapés e os ladrilhos do banheiro. Um ou ambos são uma
possibilidade.

Pego uma maçã da tigela sobre o balcão e a mordo, fazendo


um esforço consciente para relaxar os ombros e respirar fundo
algumas vezes. O que se veste quando se trabalha em uma loja de
tatuagem?

Oh, meu Odin, não posso acreditar que vou trabalhar em uma
loja de tatuagem. Se os meus professores da faculdade pudessem
me ver agora.

Tenho a sensação de que um dos meus nove pares de calças


será um exagero. Eu penso no que Will estava vestindo, jeans
skinny pretos rasgados e um top. Oh, céus. Eu não tenho certeza
quanto a isso. Distraidamente, volto para o quarto vazio e abro a
porta do armário, que emperra no meio e tenho que forçar para
abri-la completamente.

Não admira que a minha tia quisesse viajar, este lugar está
desmoronando. Procuro nas roupas que trouxe comigo e percebo
que, além das calças, tenho pouquíssimas opções. Eu mordo a
maçã, segurando-a entre os dentes, e tiro um par de jeans escuro
de um cabide, segurando-o na frente dos meus quadris, indo até à
frente do espelho de corpo inteiro encardido afixado na parte de
trás da porta do quarto. Nada mal. Eles têm pequenos rasgos
acima dos joelhos, nada muito exagerado.

Coloco-os sobre o meu braço e vasculho as minhas t-shirts


antes de escolher uma camiseta com John Wick3 nela. Porque John
Wick é legal, certo? Sim, é. Isto irá funcionar. Tem que funcionar,
pois é isto ou business casual corporativo, e eu já pareço deslocada
no Bird's Eye, só por causa do meu aspecto, por isso é melhor não
chamar mais atenção.

— Mamãe! — Ava grita da cozinha e corro de volta para lá


para encontrá-la em pânico agachada no chão, arrancando tudo
da mochila nova perfeitamente embalada que acabei de organizar.

— O que está errado? O que você está fazendo? — Eu caio de


joelhos para reunir os itens.

— Meu lápis quebrou e não consigo encontrar um novo! —


Ava diz isso como se fosse uma questão de vida ou morte, e para
ela talvez seja.

Suspiro, tirando a mochila das suas mãos frenéticas, alcanço


sua caixa de lápis, pego dois e os entrego a ela. Ela abraça o meu
pescoço e depois levanta-se rapidamente. Estou pensando em fazê-
la arrumar isso, mas sou obsessiva, sei que ela não vai fazer do
jeito que quero, então eu mesmo o faço. A situação de uma mãe.

Depois que a sua mochila é reembalada e o meu caroço de


maçã está no lixo, coloco-a na cama, que na verdade é apenas um
colchonete, dobro o seu edredom turquesa sob seu queixo e beijo
a sua testa, saboreando este momento, quando os seus olhos estão
fechados e posso simplesmente absorvê-la sem me

3
John Wick é um filme norte-americano de ação.
preocupar. Crianças são uma bênção, mas também são meio
idiotas, e qualquer pessoa com uma irá confirmar.

Vou para a sala de estar e pego a roupa de cama que uso no


pequeno armário do corredor, jogando-me no sofá, que funciona
como a minha cama. O estofamento verde oliva não é atraente ou
confortável, sua textura áspera tem de ser coberta todas as noites
com duas camadas de lençóis, parece que a tia Penny tinha uma
afinidade para se sentar em algo que lembra uma escova de aço.

Olho para a cadeira listrada de laranja e creme e pergunto-


me como a minha tia adquiriu estes dois móveis. Então,
novamente, se eu tivesse que adivinhar, diria que tudo neste
apartamento provavelmente veio de um brechó ou de uma loja de
segunda mão. Não que haja algo de errado nisso, explica apenas
por que nada corresponde. Também tenho certeza de que ela não
comprou nada depois de 1983.

Eu penso na minha antiga vida, na minha vida com Curtis e


os nossos móveis bege perfeitamente combinando. Seus ternos
bem passados alinhados em nosso closet, que provavelmente tinha
metade do tamanho dos quartos do apartamento. Um aviso:
quando o seu marido advogado pede o divórcio, você não recebe
nada. Não recebe a casa em que sua filha mora e de onde vai para
a escola, nem a mobília que você ajudou a escolher, muito menos
o carro que você dirige. Ele descobre uma maneira de pagar a
quantia mínima de pensão alimentícia, apesar de ganhar muito
mais dinheiro do que aquele que declarou, e recusa qualquer tipo
de guarda compartilhada.

Essa é provavelmente a parte que mais dói. Não me importo


com os bens ou dinheiro, importo-me com o coração de
Ava. Embora ela não diga isso, sei que a está magoando
silenciosamente.
Verifico o alarme no meu telefone quatro vezes antes de
finalmente adormecer, os pensamentos sobre Ava, Curtis e o meu
primeiro dia de trabalho amanhã, girando e girando em minha
mente.
Apesar do exterior duro de Will, ela na verdade é bem
sensível, não que alguém por aqui saiba. É por isso que todas as
segundas-feiras de manhã ela insiste em trazer donuts para a loja,
mas esta manhã estou fazendo isso. Por quê? Porque o jantar com
seus pais na noite passada foi o maior show de pesadelo de merda
de todo o estado, talvez de toda a região, uma vez mais, por
quê? Resumindo, seus pais são e sempre foram idiotas. A versão
longa envolve as suas escolhas de vida ruins e as tatuagens em seu
corpo, e algumas outras coisas das quais tenho um assento na
primeira fila há anos.

Algumas pessoas pensam que estamos transando, mas não


estamos. Nós nunca o faríamos. Eu não posso. Ela não pode. É
muito estranho até mesmo para pensar, nunca houve um
momento em que consideramos isso.

Viro a esquina em direção à loja, três caixas de donuts


balançando em uma mão enquanto tento pegar as minhas chaves
no bolso com a outra, e paro quando vejo Drew na frente dela. Oh,
certo. Ela começa hoje. Por que ela está aqui tão cedo?

Ela olha para o relógio e olha para a calçada na direção


oposta, depois volta a olhar na minha direção e um olhar de
reconhecimento cruza o seu rosto. Os seus ombros se endireitam
apenas um pouco enquanto vira seu corpo na minha
direção. Ainda estou a alguns passos de distância, e aproveito
esses poucos momentos para avaliá-la de uma forma que não fiz
quando ela estava na loja outro dia.

No melhor da minha capacidade, sem chamar a atenção,


meus olhos percorrem as suas pernas. Suas coxas esculpidas e
quadris largos se estreitam em uma cintura proporcional, e os seus
seios são... impressionantes. Realmente impressionantes e, ao
contrário de Rebecca, estou totalmente olhando para eles. Sua pele
pálida não está tatuada, e isso me confunde, não de um jeito ruim,
necessariamente, mas ainda me pergunto como ela começou a
querer trabalhar em uma loja de tatuagem.

Ela está usando uma camiseta do John Wick e eu apoio isso,


porque um homem que mata por seu cachorro é muito legal, na
minha opinião. Seu cabelo loiro cai sobre os ombros e ela
obviamente usou algum tipo de engenhoca para colocar ondas
nele.

À medida que me aproximo, noto o punhado de sardas em


suas bochechas. O rosa pálido de seus lábios, mas,
principalmente, noto a forma como a luz captura e ilumina a suave
cor de mel de suas íris. Por um momento, esqueço que devo
destrancar a porta.
Até ela falar.

— Você quer que eu te ajude com isso? — Ela estende as


mãos.

Estico as caixas de donuts para ela, tomando cuidado para


não fazer contato pele a pele, embora eu não saiba o
porquê. Mantendo a porta da loja aberta, aceno para ela entrar
primeiro.

— Você pode colocar os donuts no balcão da frente. Willette


virá dos fundos em alguns minutos para mostrar a você onde eles
devem ficar, — digo.

— Willette? — Drew indaga.

— Sim, Will. Desculpe, é a abreviação de Willette. — Volto


para a sala de estoque e pego algumas coisas que preciso para o
meu estande.

Quando saio, Drew está folheando os pôsteres de tatuagens


que estão fixados na parede, ela parece intrigada e quase
apreciando a arte. Do canto do olho, a vejo parar em uma folha
cheia de constelações, parece que ela está procurando por algo
específico. Seus olhos se estreitam enquanto seus dedos traçam
uma. Assim que estou me virando para ver o que chamou sua
atenção, ouço uma voz familiar mas mal-humorada.

— O café já está pronto? — Will pergunta. A porta dos fundos


bate atrás dela. — E por que temos que estar aqui meia hora antes
de a loja abrir e antes que aqueles outros dois idiotas tenham que
entrar? — Ela faz um gesto com o polegar por cima do ombro para
as cadeiras de Avery e Hanson.

— Você quer lidar com eles por mais tempo do que o


necessário? — Eu pergunto.
— Bom ponto, — ela diz, pressionando o botão para ligar a
máquina de café.

— Drew está aqui. — Eu aceno em direção a ela.

— Perfeito. — Will diz. — Ei, Drew? Venha aqui. Tome um


café. — Ela estende uma caneca para a nossa nova funcionária,
que abandona o desenho que estava olhando para se juntar a nós.

Empurro os meus fones nos ouvidos, enquanto Will assume


para explicar onde os donuts ficam e de como sempre temos café
fresco, e assim por diante. Ela mostra a Drew o estoque, onde
guardamos todos os suprimentos da recepção, e eu tiro os meus
fones de ouvido de forma intermitente, ouvindo Will dizer a Drew
como ela agora vai reabastecer os suprimentos do estande quando
a recepção está lenta, e para ter certeza de que ela ocasionalmente
pergunte a mim e aos caras se precisamos de alguma coisa.

— Ah, e isto, — acrescenta Will. — Isso aqui é a caixa de


dinheiro. — Ela pega a caixa de dinheiro que mantemos embaixo
da recepção. — Guardamos aqui para emergências. É para os
funcionários retirarem e usarem. Nós também doamos para
ela. Bem, principalmente Hawk doa para ela, mas sim, você
trabalha aqui agora, então se precisar, pegue. — Will abre para
mostrar a ela.

As sobrancelhas de Drew se erguem. — Você quer dizer e


devolver mais tarde?

— Não necessariamente, — Will diz. — Se você estiver com


pouco dinheiro antes do dia do pagamento, ou se tiver uma
emergência, ou mesmo apenas precisar de um refrigerante e não
tiver dinheiro consigo, é para isso que está aqui. Se você quiser
pagar de volta, vá em frente. Mas não é obrigatório. — Will encolhe
os ombros, enquanto Drew parece genuinamente perplexa.
Eu sorrio, mas não sei o porquê, fornecer a caixa de dinheiro
é algo que tenho orgulho de fazer pelos meus funcionários.

A porta dos fundos abre e fecha, e com ela vem o som do


arrastar de pés não de um, mas de dois pares.

— Cara, sim. — Avery diz.

— De jeito nenhum, cara. — Hanson diz.

— Estou te dizendo, eu totalmente a comi. — Avery diz com


confiança.

Eu reviro meus olhos porque o que diabos é isso.

— Com licença? — Will diz, parada no balcão, agora de frente


para eles, claramente indignada com a escolha dos tópicos de
conversa.

O rosto de Drew está queimando em um rosa brilhante ao


lado dela, os rapazes parecem veados apanhados pelos faróis de
um carro, totalmente assustados, e me encosto na minha cabine
para ver isso se desenrolar, porque não perderia Will dando a eles
uma lição por nada.

Estou interessado em ver como Drew lida com todas as


travessuras que acontecem neste lugar. Entre as brincadeiras
muitas vezes rudes de Avery e Hanson, a forte presença de Will, e
meu comportamento silencioso que beira o território do idiota, não
acho que ela irá durar.
Além de Will ter dado a Avery e Hanson seis tipos diferentes
de inferno na primeira hora desta manhã, meu primeiro dia de
trabalho foi bastante fácil. Eu atendi ligações, a maioria das quais
tive que colocar em espera enquanto perguntava as respostas a
Will, mas isso era de se esperar. Ela pretendia que fosse assim,
pois concordamos que aprender fazendo é o melhor método. Ela
me deu acesso ao calendário eletrônico de compromissos, que era
bastante simples de aprender, e eu o tenho informado aos artistas
também.

Todos na Bird's Eye parecem muito legais. Will é na verdade


uma das pessoas mais doces que já conheci, não que você pudesse
dizer olhando para ela, tenho a impressão de que, quando as
pessoas a conhecem, pensam que ela é rígida e certamente ela
pode ser, mas não é seu padrão.

Ela tem âncoras tatuadas no peito, seus braços estão


cobertos, assim como uma parte das suas costas, pelo que pude
perceber. Suas orelhas têm vários orifícios em cada uma e acho
que na sua língua também tem piercing. Nas duas ocasiões em que
a vi, ela estava quase toda vestida de preto. Avery e Hanson
parecem suficientemente legais também, eles são mais jovens,
comunicativos e vibrantes, com disposições descontraídas, mas
não parecem levar nada muito a sério.

E Hawk...

Ele parece, no mínimo, neutro. Talvez essa não seja a palavra


certa. Cordial? Indiferente? Profissional? Sim, talvez uma dessas
opções, embora ele tenha sido meio rude outro dia. Eu realmente
não consigo entendê-lo.

Ao longo de hoje, o notei me olhando algumas vezes. Toda vez


que eu estava de costas para ele enquanto realizava uma tarefa,
juro que era como se pudesse sentir seus olhos em mim, o calor
subia pela minha nuca e as minhas mãos começavam a tremer. Eu
virava o mais indiferente que podia e, a cada vez, ele desviava os
olhos.

Talvez seja porque sou nova ou porque ele não consegue


descobrir o que alguém como eu está fazendo em um lugar como
este, quando claramente não me encaixo.

Seja qual for o motivo, seu olhar é bastante inquietante.

Talvez sejam seus ameaçadores e elétricos olhos azuis, ou a


forma como eles contrastam com o cabelo quase preto e pele
pálida, talvez seja sua mandíbula devastadora, ou a maneira como
sua boca está sempre pressionada em uma linha reta quase
perfeita, ou o fato de que ele está coberto de tatuagens e eu quero
examinar todas elas. Ou talvez seja sua mandíbula devastadora.
Espere, eu já disse isso.

Quer saber, não importa. Tecnicamente, ele é meu chefe.

Tenho certeza de que ele pensa que sou estranha, ou talvez


me odeie, não faço ideia, e mesmo que tudo isso não seja verdade,
ainda estou no trem do divórcio e não pararei nas próximas
estações.

Meus olhos voam para o relógio na parede, não tinha


percebido que muito do dia já havia passado. Só mais uma hora
até sair. Caminho para o saguão dos fundos para verificar se Ava
já está lá fora, bem a tempo de vê-la chegar. Um pequeno suspiro
de alívio me escapa.

Ava acena para mim, depois se senta no banco e pega o seu


caderno de desenho. Eu sorrio, feliz por ela ter conseguido chegar
aqui no ônibus sem problemas, odeio que ela tenha que se sentar
naquele banco todos os dias por uma hora até eu sair, mas não há
muito que possa fazer sobre isso.

Enquanto volto para o balcão da frente, lembro a mim mesma


que sempre poderia ser pior, embora tenha que pensar em um
novo plano em breve, porque de jeito nenhum vou deixá-la se
sentar lá no inverno. Eu só rezo para que não haja dias chuvosos
tão cedo.

— Então, você gosta de astrologia? — A voz de Hawk


interrompe meus pensamentos, assustando-me, e eu largo a pilha
de papéis que estava segurando. Eles se espalham no chão. Ótimo.

— Merda, sinto muito. O quê? — Pergunto enquanto me


ajoelho.

Ele também se ajoelha, recolhendo os papéis perdidos perto


dele. — Eu vi você olhando para as constelações na parede.
— Oh, hum, acho que gosto delas, sim, — respondo, a minha
voz menos segura do que pretendia.

Hawk é enervante, por muitas razões.

— Qual delas? — Ele pergunta.

— Eu gosto de Orion, — eu digo.

— Você deveria tatuá-la.

Continuamos parados enquanto Hawk coloca os formulários


no topo da pilha em minhas mãos, seus dedos roçando a pele
sensível dos meus pulsos.

— Não sei. — Eu encolho os ombros. — Eu acho que daria


uma boa segunda tatuagem.

— Qual é a que você tem agora? — Ele pergunta.

— O contorno de um pássaro.

Observo os olhos de Hawk procurando, examinando o meu


corpo como se ele estivesse tentando resolver um enigma, fazendo-
me sentir um formigueiro.

— Onde? — Pergunta.

— Na minha coxa. — Eu aponto para baixo. — Bem aqui.

Está quente pra caralho aqui de repente? Meu peito está


quente, sem dúvida rosa e com manchas. Os seus olhos percorrem
todo o comprimento do meu corpo até onde estou apontando e eu
não gosto disso. Isto não está certo. Eu volto para o balcão,
reorganizando os papéis que deixei cair.

— Onde você faria a Orion? — Ele pergunta.


Faço uma pausa, remexendo os papéis para considerar sua
pergunta. — Talvez na minha clavícula? Não tenho certeza. Eu
realmente não pensei sobre isso.

— Diga-me se você decidir. Nós nos tatuamos de graça


quando temos horário livre, — diz ele.

Então se afasta tão rapidamente quanto me interrompeu e


me perturbou.

Esfregando o calor no meu peito, termino com esses malditos


papéis enquanto penso um pouco em sua oferta. Então, empurro-
a o mais longe possível na minha mente, porque se fico nervosa
quando ele me entrega simples papéis, não tenho certeza se ele me
tocando repetidamente com uma agulha é uma boa ideia.

Ele é meio frio e blasé com tudo, nunca abre um sorriso ou


faz qualquer tipo de expressão facial além dos seus lábios neutros
e retos. Tivemos um encontro rude outro dia, então ele mal falou
comigo o dia todo hoje e agora está se oferecendo para me
tatuar? O quê? Estranho. A sua nova característica é estranho.

Indiferente e estranho.

Olho para o relógio e percebo que essa provação fez o tempo


passar, sendo quase hora de ir embora e procurar Will. Vejo Ava
pela janela enquanto vou para o escritório para discutir o meu dia
com Will, em que consistirá o amanhã e se algo precisa mudar ou
melhorar.

À parte os momentos estranhos, mas meio quentes entre mim


e Hawk, estou tão feliz por hoje, acho que correu bem. Inferno,
estou apenas aliviada e feliz por estar trabalhando. Eu faço contas
mentais enquanto saio pela porta em direção a Ava, calculando se
posso pagar um sorvete para nós duas antes de irmos para casa,
afinal, devemos comemorar por sobreviver ao nosso primeiro dia
oficial, ela na escola e eu aqui.
Ainda assim, enquanto a pego pela mão, levando-a para longe
de Bird's Eye, não posso deixar de relembrar cada momento em
que encontrei Hawk olhando para mim.

Faz muito tempo que não sinto um calor


assim. Possivelmente nunca senti.
Falar com Drew foi um erro. Percebi isso cerca de quarenta e
três segundos depois de me afastar da minha tentativa. Erro. Um
grande erro.

Eu a observei sair alguns minutos atrás, a vi na calçada com


Ava, onde conversaram por um momento, depois se abraçaram
antes de irem para a sorveteria de Lulu do outro lado da rua. É
como um quiosque com algumas mesinhas bem na frente. Olho
para elas novamente pela janela, vendo Drew vasculhar na sua
bolsa. Ela está contando os trocados para pagar pelo sorvete?

— Ei, Hawk? — Will grita do escritório, chamando a minha


atenção, abaixo minha cabeça enquanto ela lê algo na tela do
computador.
— Boas notícias, — ela diz. — As licenças de expansão foram
aprovadas naquele espaço ao lado, então podemos começar na
próxima semana. O empreiteiro estará aqui no final desta semana
para discutir, o plano é renovar grande parte do espaço antes de
derrubar a parede divisória para que possamos continuar a
trabalhar na maior parte do tempo.

Eu concordo. Estou de olho no espaço vazio ao lado há meses,


a padaria que antes o ocupava fechou cerca de seis meses atrás e
está no mercado desde então. Eu fiz a minha oferta assim que eles
colocaram um aviso de PREÇO REDUZIDO na janela,
interpretando isso como um sinal para arriscar. Eu tenho grandes
planos, que incluem mais um ou dois tatuadores a bordo, entre
outras coisas.

— Você está com aquele sorriso estranho no rosto de novo,


cara, — ela diz.

Eu entro e me sento em frente a ela, apoiando os meus pés


na mesa enquanto rio e esfrego minhas mãos. — Sim, eu sei.

— Isso me assusta. — Ela franze as sobrancelhas em falso


horror.

Ela sabe que as únicas vezes em que mostro algum tipo de


entusiasmo é quando estou falando sobre o trabalho ou os meus
planos futuros para ele. Dou a ela o meu sorriso mais sinistro e
balanço as minhas sobrancelhas, fazendo-a bufar. Desde que me
lembro, ela sempre bufava enquanto ria, não é terrivelmente alto,
mas definitivamente está lá, ela odeia isso, mas eu não, acho que
é cativante e exclusivamente da minha amiga.

— O que você acha de Drew? — Ela pergunta.

Ugh. Bem quando eu pensei que fossemos falar dela. — Ela


parece boa. — Eu encolho os ombros. Determinado a mudar de
assunto, continuo com: — O que você vai fazer esta noite?
— Depois de terminar aqui, vou para casa acariciar o meu
gato, — diz ela.

— Isso é triste.

— Eu sei, certo? Eu sou a solteira dos gatos. — Ela suspira,


afundando ainda mais em sua cadeira.

— Por favor, não fique triste na segunda-feira, espere pelo


menos até quinta-feira, a semana estará quase no fim, —
encorajo. Principalmente por razões egoístas, não posso passar
cinco dias com Will de mau humor neste lugar. Eu vou
enlouquecer.

Ela cruza os braços sobre o peito, projetando o lábio inferior


para mim. Reviro os meus olhos e começamos a nos encarar. Esse
tem sido nosso relacionamento durante a maior parte de nossas
vidas.

— Tudo bem, — ela finalmente diz. — Então, o que vamos


fazer com a Ava?

Ah, meu Deus. Eu não posso escapar disso. — Desculpa, o


quê?

— Você me ouviu, — ela diz.

— Sim, mas não sei o que você quer que eu diga. Não
podemos ter uma criança andando pela loja de tatuagem todos os
dias, — eu digo, jogando minhas mãos para cima.

Will inclina a cabeça para mim. Ela faz isso quando estou
sendo... bem, eu, Hawk Tanner, meio idiota.

— Bem, nós temos que pensar em algo. Não podemos deixá-


la do lado de fora em um banco todos os dias. — Diz.

— Como esse é o nosso problema? — Pergunto.


— Hawk Anthony Tanner! — Ela exclama.

— Você não fez isso! Você não me chamou pelo meu nome do
meio, Willette Susan Archer.

— Você sabe muito bem que cuidamos dos nossos. A partir


de hoje, Drew é nossa e isso inclui Ava. E não diga Susan
para mim, — ela diz com os olhos brilhando intensamente. Sou o
único aqui que sabe seu nome do meio e exatamente o quanto ela
o detesta.

Cruzo os meus braços sobre o peito, absorvendo as suas


palavras. Ok, mas o que devo fazer? Pagar uma creche? As crianças
da idade dela vão para a creche? — Quantos anos tem Ava? Você
sabe?

— Drew disse que ela tem oito anos, — responde.

Eu levanto-me da mesa e saio do escritório, processando


essas informações da melhor maneira que posso. As renovações
vão começar. Drew é uma de nós. Ava não precisa estar no
banco. Ok, Hawk, pense.

Will estúpida. Ela não pode cuidar da própria vida?

Não. A resposta é não. Ela sempre mete o nariz onde não é


chamada, sempre tentando ajudar, sempre tentando melhorar as
coisas. É uma das características que mais admiro e desprezo
nela. Claro, por que ela tem que me arrastar para sua intromissão
na maior parte do tempo é outra coisa completamente diferente.

Por que ela não consegue encontrar uma solução? Por que ela
não pode simplesmente fazer o que ela quer que eu faça e me deixar
fora disso?

Por que é que isso está se tornando o meu problema?


Estou aborrecido, de novo. Meus compromissos do dia
acabaram, então limpo a minha área e olho para o outro lado da
rua, Drew e Ava já se foram, penso na insistência de Will e decido
que ela provavelmente está certa. Claro, uma loja de tatuagem não
é lugar para uma criança estar, mas novamente, um banco do lado
de fora também não. Pego nas minhas coisas e saio pelos fundos,
subo as escadas para pegar Raven. Ela precisa de uma boa e longa
caminhada e eu também. Talvez isso ajude a clarear a névoa em
minha mente.

Entro e saio depois de trocar para shorts de basquete e uma


camiseta com decote em V, e colocar uma coleira em Raven. Os
olhares que recebemos são uma das minhas partes favoritas
quando saio com ela, eu sou o grande cara tatuado assustador e
ela a feroz pitbull negra. As pessoas desviam-se de nós, como se
tivéssemos alguma doença, mas não me importo. Gosto do meu
espaço. Estou contente em deixá-los pensar que nós dois
arrancaremos seus rostos se não forem cuidadosos.

— Hawk!

Uma voz do meu passado não tão distante chama-me e


pergunto-me se posso fugir dela agora mesmo no parque, viro-me
para ver o quão longe ela está. Perto demais. Isso é tudo o que
realmente importa.

Ela anda até mim e posso ouvir Raven rosnando no fundo da


sua garganta.

— Ei, Nina, — falo.

Arrependimento. Tanto arrependimento embrulhado em uma


ruiva.
Will coloca meu primeiro pagamento na minha mão na sexta-
feira de manhã, e estou tão feliz que pode até haver lágrimas se
formando no canto dos meus olhos. Eu tento segurá-las, evitar que
caiam. Eu delicadamente agarro o envelope em minha mão. É o
primeiro que ganho sozinha em anos. Eu aceno e me viro para sair.

— Bom trabalho esta semana, — diz ela.

— Obrigada - de verdade, — falo, voltando-me para ela.

— Hawk não vai dizer isso, mas ele também acha que você
está fazendo um bom trabalho, — ela garante.

Concordo com a cabeça novamente, e antes que as lágrimas


realmente comecem a cair, faço um caminho mais curto para o
banheiro, onde fecho rapidamente a porta atrás de mim. Eu fico
na frente da pia e fungo, enxugando o canto dos meus
olhos. Abrindo o envelope, rezo para que seja o suficiente para
alguns itens essenciais e economizar para as contas.

Por um lado, estou feliz por ser paga semanalmente. Por outro
lado, isso significa somas menores de dinheiro. Eu vejo a
quantidade e começo a fazer as contas. Isso não pode estar
certo. Isso é mais do que deveria ser. Eu acho que? Não é? Eu vejo
a descrição linha a linha, e há uma de gratificação. Gratificação?

Eu volto para o escritório.

— Will, o que é isso? — Eu pergunto.

— Oh, isso não é típico de lojas de tatuagem, mas é algo que


Hawk e eu decidimos. Os artistas recebem gorjetas, então
tentamos calcular uma média, fazer algumas contas, e dar gorjeta
a você como se fosse uma hostess em um restaurante, se isso faz
sentido?

— Oh, ok, — digo, balançando a cabeça e tentando


acompanhar.

— Os caras estão bem com isso. Além disso, ajuda a


compensar o fato de não oferecermos seguro nem nada. Pelo
menos ainda não, — diz ela.

— Certo, ótimo. Obrigada, — respondo, não querendo tomar


muito do seu tempo. Eu começo a recuar para sair do escritório,
quase chorando de novo porque é muito generoso da parte
deles. Este lugar é incrível.

— Ei, espere. O que você fará esta noite? — Will pergunta.

— Hum, nada. Estarei em casa com Ava.

— Quer beber alguma coisa? Sair, talvez?


— Eu não posso. Eu tenho Ava, — digo, meus olhos se
movendo para o chão.

— Tudo bem. Posso ir até a sua casa? — Ela oferece.

Eu sorrio porque a ideia de fazer uma amiga é legal. Eu


realmente poderia usar pelo menos uma. — Isso seria bom.

— Ótimo. Que tal às oito?

— Funciona para mim, — concordo.

Eu sigo para a frente para retomar ao meu lugar no balcão,


parando para colocar o envelope na minha bolsa que está
pendurada no cabide. Ao passar pelos estandes dos artistas, olho
em volta para ver no que todos estão trabalhando, porque
realmente gosto dessa parte do trabalho.

Hanson está gravando um flash bastante simples no ombro


de uma garota. Avery - ou, errr... Spider - está tatuando uma
grande peça nas costas de um cara. E Hawk está trabalhando na
coxa de uma mulher. Ela o olha como se ele estivesse coberto de
joias e reprimo uma risada. Pensando bem, todas as mulheres que
entram na loja olham para ele assim. Não que eu as culpe. Acho
que é a mandíbula. Mas eu já disse isso.

— Ei, Drew? — Hawk me chama assim que passo por sua


cabine, e dou alguns passos para trás.

— Sim? —Respondo, um pouco surpresa por ele estar me


chamando, especialmente no meio de um trabalho.

Ele realmente não tentou falar comigo desde o desastre de


papéis no chão. Eu atribuí aquele momento estranho à insanidade
temporária da parte dele. Desde então, ele retomou sua atitude
tranquila de flexionar a mandíbula acima mencionada, desenhar
em seu caderno de desenho e ouvir música sempre que pode. Acho
que a música é um meio de evitar as pessoas, mas não posso dizer
com certeza.

— Tenho pensado em Ava, — diz ele, e isso me


assusta. Também parece meio estranho, mas espero que faça
sentido antes de contestá-lo.

— Ok... — Estou hesitante.

— Will me disse que não quer mais que ela se sente lá atrás,
então se você quiser, tenho uma alternativa. Se você estiver bem
com isso, — diz ele.

Eu olho para o saguão da frente e depois para o escritório dos


fundos, me perguntando se mais alguém está ouvindo isso porque
parece muito estranho para mim. — Ok. O que é?

— Vamos conversar depois que eu terminar aqui, — avisa.

Aceno para ele e caminho para a frente, onde puxo o


calendário eletrônico e dou uma olhada na cliente em que ele está
trabalhando. Leanna está fazendo uma cena de golfinho em sua
coxa.

Arrumo todas as revistas no saguão da frente e organizo os


portfólios dos artistas. Eu corro meus dedos sobre a frente do de
Hawk e lentamente abro em uma página aleatória onde há fotos
das costas de uma mulher. Flores de cores vivas estão lindamente
pintadas em toda a sua espinha.

Eu viro para a próxima página. O peito de um homem é


orgulhosamente exibido, ondas quebrando ao redor de Poseidon
segurando um tridente e outra parafernália náutica. Uau. Eu acho
que se eu quiser uma tatuagem, escolher Hawk seria uma boa. Seu
trabalho é deslumbrante.

Eu ouço as máquinas de tatuagem pararem, e percebo que


Leanna acabou de fazer seus golfinhos. Então, volto para a
recepção para processar o pagamento dela, enquanto Hawk fica
em sua cabine para limpar.

— Você pode dar isso a ele? — Ela pergunta. E me entrega


uma gorjeta generosa - várias notas de vinte dólares, com o que
parece ser o número do telefone dela escrito num pedaço de papel
em cima.

— Hum, claro, — concordo.

Leanna sorri e sai correndo pela porta da frente, sua coxa


quase nua enfaixada sob o short.

Volto para a cabine de Hawk e seguro o que ela deixou para


ele. — Hum, ela pediu para lhe entregar isso, — digo, mal
conseguindo pronunciar as palavras.

— Se for o número dela, não quero. — Ele ainda está de costas


para mim enquanto continua a limpar sua área de trabalho.

— Bem, não é apenas o número dela, — acrescento.

— Coloque a gorjeta dela no caixa, — diz ele.

Eu vejo que facilmente é uma gorjeta de cem dólares, se não


mais, meus olhos se arregalando.

Ele finalmente se vira para me ver, como se percebesse o quão


estranha eu me sinto. — Na verdade, apenas fique com
isso. Considere-o como um pagamento pela dor e sofrimento que
ela fez com que passasse com este pedido estranho. — Com isso,
ele sorri.

Puta merda, senhoras e senhores. Isso foi um sorriso


malicioso. Quase um sorriso completo. A porra de uma expressão
facial. Ele está vivo!

— Vou colocar na caixa do dinheiro, — digo.


— Como quiser, — fala. — Oh, espere, sobre Ava. Will está
preocupada sobre ela ficar lá fora. Então, uh, siga-me. — Ele
aponta para a porta dos fundos da loja e saímos para o
pátio. Então ele se vira para a escada à nossa direita e aponta para
cima. Quando chegamos ao topo, ele destranca a porta e abre
lentamente, fazendo sinal para que eu entre.

— Este é o meu lugar, — ele diz atrás de mim, ainda de pé


perto da porta.

Eu olho em volta e não é o que eu esperava. A luz é filtrada


pelas janelas altas. A mobília é leve e confortável. As paredes
externas são todas de tijolos à vista, e os pisos de madeira são
acentuados com tapetes macios. O que vejo da cozinha é moderna
e leve também. Bancadas em granito branco e armários escuros,
com eletrodomésticos em inox.

Um movimento chama minha atenção e, antes que eu


perceba, um grande pitbull preto está parado aos meus pés,
abanando toda a bunda. Todo o seu rosto está sorrindo para mim
e eu me ajoelho para acariciá-lo.

— Essa é minha garota, Raven, — ele diz.

— Oi, Raven, — digo na minha melhor voz de cachorro


bebê. Raven recompensa meus esforços com vários beijos de
cachorro na minha bochecha.

— Uau, ela geralmente não é tão amigável, — Hawk diz.

Eu olho para cima para vê-lo esfregando a nuca, observando


o meu encontro com Raven.

— Talvez ela apenas saiba o quanto eu amo John Wick, —


digo, rindo enquanto Raven continua a me lamber.

— Bem, de qualquer maneira, Ava pode subir aqui se


quiser. Quero dizer, se você estiver bem com isso. Até você sair, —
diz Hawk. Ele se mexe desconfortavelmente, e enfia a mão
esquerda no bolso.

— Eu não poderia pedir isso a você, — começo.

— Você não está pedindo, estou oferecendo, — ele diz


claramente.

— Você tem certeza? — Pergunto.

— Ela pode fazer companhia a Raven, a não ser que tenha


medo de cachorros. E ela ficará mais confortável aqui.

— Tudo bem, podemos tentar, — digo. — Mas caso se torne


muito ou um incômodo de alguma forma, ela não precisa ficar.

Ele acena com a cabeça e se vira em direção à porta. — Tudo


bem, sim. Podemos trazê-la hoje e mostrar o lugar a ela antes de
vocês partirem. Você pode ficar com ela por alguns minutos apenas
para acostumá-la a isso, e depois sair do trabalho mais cedo. Ela
pode começar a vir para cá na segunda-feira, — diz ele.

Eu fico lá, puxando meu queixo caído para cima até que meus
lábios se encontrem. Acho que é assim que se sente em choque.

Eu teria jurado a qualquer um, cinco dias atrás, que Hawk


não tinha coração.

Mas agora…

Talvez haja algo batendo nas paredes dessa caixa


torácica. Talvez seja pequeno, talvez esteja um pouco
congelado. Mas acho que só pode estar lá - descongelando.
Ocorreu-me, enquanto estava na loja tentando escolher um
vinho, que não sei muito sobre Will. Por exemplo, que tipo de vinho
ela bebe? Ou a comida que ela gosta? Ela é vegetariana? Alguma
dessas pessoas é vegana? Você não pode convidar alguém para a
sua casa e só ter manteiga de amendoim, geleia e algumas
bananas quase pretas na sua cozinha.

Então, quando saí do trabalho mais cedo, cortesia de Hawk,


aproveitei para parar no mercado no caminho de casa, e pegar
vários itens. Em seguida, corri para casa o mais rápido que pude,
para arrumar o apartamento e todos os mantimentos que tinha
comprado. Também concluí que não haveria problema em estar de
moletom, considerando que esta é uma noite de garotas para ficar
em casa e não para sair.
O que me traz ao presente, quinze minutos antes da hora que
ela deveria estar aqui, em pé no meu balcão, com uma calça de
moletom e um top, segurando as garrafas mais baratas de vinho
tinto e branco que pude encontrar, e olhando para um tabuleiro
de charcutaria improvisado que criei, com isto quero dizer que
comprei umas embalagens de Lunchables4, adicionando
frutas. Parecia uma ideia brilhante, mas agora me sinto uma
idiota, e estou xingando baixinho sobre as minhas decisões de vida
em geral.

É verdade que o meu salário era mais do que eu esperava, e


depois que Hawk e eu mostramos o apartamento a Ava, e ela
conheceu Raven, ele ainda insistiu que eu mantivesse esse
arranjo, mas preciso continuar a economizar o máximo que puder
para as contas e as coisas necessárias para o apartamento. Sem
falar que gostaria de poder comprar roupas novas em algum
momento.

Volto-me para olhar para o frasco de vidro em cima da


geladeira. Depositei a maior parte do meu cheque em minha conta,
parte em minhas economias e o dinheiro foi direto para o pote - um
fundo para dias chuvosos. É um dos únicos conselhos que me
lembro de ter recebido de meus pais quando eles ainda estavam
vivos.

Uma batida na porta interrompe os meus pensamentos e eu


verifico meu relógio, percebendo que estou parada aqui
reorganizando este prato de carnes em miniatura e queijos por
mais tempo do que eu pensava.

Passo por Ava, que está esparramada no chão da sala, os pés


chutando no ar, desenhando o que parece ser uma casa com

4
Lunchables, é uma marca que vende diversos aperitivos já preparados na mesma embalagem, como por
exemplo, uma embalagem pode ter bolachas, queijo e fiambre.
pessoas na frente dela. Por razões desconhecidas para mim, Ava é
realmente muito talentosa, e ela não herdou de mim ou de seu pai.

Abro a fechadura e vejo uma Will muito relaxada e alegre,


segurando uma garrafa de vinho branco. Vinho branco. Guarde isso
na memória, Drew. Também estou feliz em ver que ela está usando
leggings e um moletom que cai em um ombro.

— Ei, garota, — ela diz.

Ela só me chamou pelo primeiro nome esta semana, então a


saudação amigável me confunde por um momento, mas é
boa. Quando me mudei, deixei as poucas amigas que tinha, fazer
algumas novas é algo que desejo realmente.

— Oi. Entre, — digo. — O lugar não é muito extraordinário,


mas é um lar, pelo menos.

Ela entra e olha em volta. — Parece bom para mim. Exceto


que com certeza você precisa de alguma arte nas paredes, mas
graças a esta aqui, sei que você terá esse problema resolvido em
pouco tempo. — Ela diz isso enquanto olha para Ava e eu
sorrio. Ela está certa sobre isso.

Se eu deixasse Ava fazer o que quisesse, ela cobriria todo o


apartamento com desenhos. O que, pensando bem, não seria a
pior ideia, certamente melhor do que algumas das manchas e
arranhões que os adornam agora.

— Vamos pegar algumas taças, — eu digo, levando Will para


a cozinha.

Eu coloco o vinho no balcão enquanto me estico, tentando


encontrar duas taças decentes no armário. Não há nada perto de
se parecer com uma taça de vinho, então pego duas canecas de
café.
— Ah, perfeito, — ela diz, rindo. — Eu prefiro que meu porta-
vinho venha com uma alça de qualquer maneira.

— Você não é vegana, é? — Eu pergunto.

— Deus, não. — Ela ri. — Por que você pergunta?

Aponto para o prato de salgadinhos e deixo que responda à


pergunta por mim.

Sem hesitar, Will pegou um biscoito, com o que acho que é


uma fatia de presunto e um pedaço de queijo, depois enfiou-o na
boca. — Eu adoro lanches, — ela declara.

Eu sorrio para mim mesma, satisfeita com o meu trabalho e


volto à minha tarefa de servir o vinho.

Quando entrego a ela uma caneca que diz VICIADA EM


CAFEÍNA, ela pergunta: — Então, qual é a sua história? Quer
dizer, conheço a versão curta, mas qual é a longa?

Eu ando até a mesa da cozinha e me sento no banquinho,


fazendo sinal para ela juntar-se a mim. Ela me segue, com a
caneca e a tábua de charcutaria na mão, sentada na única cadeira
boa à minha frente. Acho que, se quiser fazer amigos, terei que
revelar os detalhes sórdidos do meu passado, e Will me dá
confiança e me faz sentir bem com ela o suficiente para poder
desabafar.

— Não sou mãe solteira há muito tempo, — admito, mais


como uma confissão, baixando a voz para que Ava não pudesse
ouvir.

Will inclina-se, compreendendo. — O que aconteceu?

— O pai dela, Curtis, pediu o divórcio sem nem mesmo


discutir o assunto comigo. — Eu tomo um gole do meu vinho antes
de continuar. — Eu mencionei que ele é um advogado?
Os olhos de Will se arregalam de preocupação ou talvez de
choque, não tenho certeza, mas não ficaria surpresa se fossem os
dois. — Ele mora perto? — Pergunta.

— Não e é assim que eu quero, — digo. — Ele me disse que


não me amava mais e tudo bem, mas quando me disse que não
queria nada com Ava, quase perdi o controle.

— Jesus, que porra. — Will rapidamente cobre sua boca,


olhando para a sala de estar em direção a Ava.

Eu rio e aceno de acordo. — Sim, ele é um filho da mãe.

— Bem, você agora faz parte da família Bird's Eye, — diz ela.

— Sobre isso... — Eu começo. — Entendo que você é a razão


pela qual Ava não tem que esperar mais no banco. Eu realmente
aprecio isso.

— Tudo o que fiz foi dizer a Hawk que precisávamos descobrir


algo, — diz ela, levantando as mãos em inocência. — O resto foi
ideia dele.

O quê? O. QUÊ? Porra?

— Mesmo? — Eu pergunto, sem tentar esconder o choque na


minha expressão.

— Sim. — Ela acena com a cabeça e bebe o seu vinho. Em


seguida, pega uma uva e a coloca na boca enquanto eu deixo essa
nova informação se estabelecer na minha cabeça.

— Eu pensei que ele me odiava. —Digo rindo.

A cabeça de Will levanta-se e me olha perplexa. — O que


diabos te daria essa impressão? Conhecemos o mesmo Hawk?

— Bem, ele não é exatamente o mais amigável e mal fala


comigo, — respondo.
— Esse é o Hawk. Acredite ou não, ele falou mais com você
na semana passada do que com Hanson nos primeiros três meses
de trabalho.

Uau. Isso é um monte de não falar. — Qual é o problema


dele? Por que ele é assim?

Will dá de ombros. — Eu conheço o cara desde que estávamos


na quarta série e, honestamente, não sei se ele já não foi assim.

Penso nisso enquanto pego um biscoito com presunto e queijo


e dou uma mordida, então ela faz a sua próxima declaração.

— Ele é solteiro, sabe... — Ela sorri.

Começo a engasgar, sentindo um pedaço da pequena fatia de


presunto saltar na minha garganta., pedaços de biscoito saem da
minha boca enquanto Will ri. Ela claramente não está muito
preocupada com a minha segurança. Alguém famoso não morreu
sufocado com um sanduíche de presunto? Ou eram notícias
falsas? De qualquer forma, é verossímil por um motivo.

Finalmente paro de tossir por tempo suficiente para tomar


alguns goles do meu vinho e olhar para Will, que está
positivamente radiante, o seu queixo apoiado no dorso da mão, o
cotovelo apoiado na mesa, enquanto me encara com expectativa.

— Sim, eu não acho que isso funcionaria, quer dizer, acho


que não é uma boa ideia, por causa do trabalho, também não é
algo em que ele estaria interessado, — eu divago.

— Ah, ha! — Ela diz com bastante entusiasmo.

Eu jogo a minha cabeça para trás com sua aparente


descoberta e espero, virando os meus olhos da esquerda para a
direita.

— Mas você não disse que não estava interessada, — diz ela.
Eu engulo em seco. Por quê? O quê? — Não, eu... eu nunca
namorei ninguém como Hawk.

— Não significa que você não pode. — Ela parece tão objetiva
sobre isso.

— Algo me diz que ele também não sai com mulheres como
eu, — digo com confiança.

— Mulheres como você...? Mulheres bonitas? Mulheres


independentes? Mulheres inteligentes? — Ela divaga, acenando
com a mão no ar em um gesto exagerado como se ela estivesse
tentando me lembrar a mim mesma.

Sinto as minhas bochechas esquentarem, e sei que estão


rosadas com o peso das suas palavras. — Não. Quero dizer mães
solteiras, mães em geral. Com crianças. Mulheres que possuem
mais calças sociais do que jeans. Divorciadas.

Will agita o vinho em sua caneca e bebe a última gota, antes


de se levantar e ir até ao balcão para pegar mais. — Sim, talvez ele
nunca tenha namorado alguém assim, mas isso não é quem você
é, no máximo, essas coisas apenas solidificam o fato de que você é
uma durona, exceto a coisa das calças. Nós realmente deveríamos
ir às compras, isso não é normal, — diz ela, rindo.

Eu rio também e mudo de assunto, perguntando sobre os


planos de expansão.

Preciso de tempo para pensar em seus elogios e esquecer a


sua sugestão ridícula.

Ela seria o pior Cupido.


Desde que Will me disse que ela estava indo para a casa de
Drew hoje à noite, não consegui parar de pensar nisso. O que elas
estão fazendo, afinal? Do que elas estão falando? Onde Drew mora?

Eu mando uma mensagem rápida para Will e coloco o meu


telefone de lado, tentando me concentrar no fato de que, apesar de
não querer estar aqui, Nina me arrastou para um bar na mesma
rua da loja. Ela provavelmente pensa que vamos voltar, mas
honestamente, estou apenas tentando aguentar tempo suficiente
para ver se consigo convencê-la a me dar Sadie, a outra pitbull que
tínhamos quando morávamos juntos.

O acordo, quando nos separamos, foi que ela levaria Sadie e


eu ficaria com Raven. Eu não gostava desse acordo antes e não
gosto agora. Ela não dá a mínima para Sadie, só a levou para me
machucar. Lamento ter concordado com isso desde então, deveria
ter lutado por Sadie.

Por essa razão, aqui estou eu, observando-a a girar uma das
suas extensões vermelhas brilhantes entre os dedos. Para o
registro, não dou a mínima se uma mulher usa extensões, mas as
de Nina estão uma merda, não são da mesma cor do resto do
cabelo e, apesar de tentar lhe dizer sutilmente o tempo todo
enquanto estivemos juntos, ela não as consertou.

Nina está me dando aquele olhar que sempre me dava quando


pensava que íamos transar, mas isso não vai acontecer.

— Você quer comer algo? — Pergunto.

Ela preguiçosamente olha para o menu e inclina a cabeça


como se estivesse tendo dificuldade para ler ou alguma merda
assim. É comida de bar, caralho, não é difícil ler BATATAS FRITAS
e NACHOS.

— Talvez alguns palitos de mozzarella, — diz ela.

Levanto a minha mão no ar para sinalizar para a garçonete


no canto. — Como está Sadie? — Pergunto a Nina, e ela sorri,
porque ela sabe.

— Oh, ela está bem, mas sente falta do papai, no entanto, —


diz. — E o sentimento é mútuo.

Porra. Que nojo.

— Eu também sinto falta dela. — Digo, pulando direto sobre


a perversão do termo papai que ainda não consigo entender, tentei,
realmente tentei. Simplesmente não é minha praia.

Ela bufa, e esta é sua maneira de me informar que percebeu


o que pulei, não dizendo que também sentia a sua falta.
Peço a comida, tomando um grande gole da minha vodca
depois, enquanto me recosto na cadeira. Tento olhar mais uma vez
para Nina com novos olhos. Uma sensação renovada de... não
sei? Menos julgamento? Seu cabelo vermelho falso ainda me irrita,
mas é só cabelo, posso superar isso, e parece que ela parou com o
bronzeamento em spray, graças a Deus.

Eu sei o que você está pensando: por quê? Por que, Hawk?

Ela estende o braço por cima da mesa e acaricia meu braço


com as suas longas unhas de acrílico.

Foda-se. Eu não sei. Ok? Não sei. Eu estava bêbado na festa


de um amigo. Nós ficamos e depois ficamos novamente. Uma coisa
levou à outra, então estávamos morando juntos, comprando
cachorros. Uma vez que tínhamos os cachorros, eu não podia sair,
porque os amava demais. Nunca amei Nina, apenas os
cachorros. Eu sei que isso não me torna um cara legal, mas merda
assim acontece.

Minha nuca coça e tento não puxar o meu braço de seu toque
para esfregá-lo, porque ela vai bufar novamente e não vou chegar
a lugar nenhum, mas então o meu telefone vibra na mesa e
felizmente ela se distrai com o seu próprio telefone, então aproveito
a oportunidade para pegar no meu.

Will: Sim, cheguei sã e salva. Por favor, diga-me que você não
está com a Nina?

Eu: Só estou tentando pegar Sadie.

Will: Não durma com ela por causa de um cachorro.

Eu: Eu faria muitas coisas por um cachorro.

Will: Cara.

Eu: Cara.
Eu: De qualquer forma. O que vocês estão fazendo?

— E aqui estão seus palitos de mozzarella e os anéis de


cebola, — diz a garçonete, colocando os pratos na mesa entre nós
e tirando a nossa atenção dos telefones, que Nina e eu pousamos
quase ao mesmo tempo para nos concentrar na comida.

Coloco um guardanapo no colo e pego um anel de cebola.

— Você acha que se eu passasse esta semana, você poderia


terminar isto? — Nina pergunta, puxando a barra de sua camisa
para me mostrar o desenho de pata esquisito meio acabado em seu
peito direito.

Eu me encolho por dentro, mordendo o anel de cebola para


não dizer algo pelo qual vou me arrepender. — Sim, claro. — Pego
o meu telefone de volta para olhar a minha agenda e vejo uma
notificação de Will. Eu deslizo para abrir a semana em questão. —
Eu não tenho nada marcado na quarta-feira.

— Está ótimo para mim. A que horas? — Pergunta.

— Dez? A primeira vaga do dia? — Pergunto.

— Perfeito. — Com um sorriso em seus lábios.

Seu batom roxo escuro está parcialmente manchado no


queijo que ela está comendo em seu palito, e está bem nojento,
mas se eu não fizer contato visual direto, não vou conseguir o que
vim à procura. Eu meio que tenho que tratar todo o seu rosto como
um eclipse, e olhar perto do topo de sua cabeça.

— Excelente. — Digito o seu nome no calendário do meu


telefone para que sincronize com o do trabalho, e não me reservem.

Lembro-me da notificação de Will, abro as minhas mensagens


e clico no seu nome, e a minha tela é preenchida com uma foto. Will
e Drew estão sentadas em um sofá verde feio, com as suas
bochechas rosadas pressionadas uma contra a outra. Elas
parecem estar rindo, e se conheço Will, e a conheço bem, elas estão
um pouco embriagadas, provavelmente com vinho branco.

Estudo o rosto de Drew, seus traços suaves, relaxados, ela


está à vontade, com a guarda baixa, completamente diferente de
quando está no trabalho.

— Olá? — A voz de Nina corta meus pensamentos como uma


daquelas vozes irritantes de South Park.

— Sim, o quê? — Pergunto, lhe voltando a minha atenção.

— Você está ouvindo?

— Desculpe, o que você estava dizendo? — Pergunto.

Ela bufa novamente. Não é bom. Estou a um xingamento de


nunca mais ver Sadie novamente. — Estava dizendo que talvez eu
pudesse passar na quarta-feira depois do trabalho? Levar
Sadie? Mas se você estiver muito distraído...

— Não, eu não estou. Isso soa bem, sério, — digo, a emoção


na minha voz palpável novamente porque é realmente real. Ver
Sadie é a única razão de eu estar aqui.

— Está bem então. É um encontro. — Ela sorri, girando sua


maldita extensão novamente.

Quero jogar meus anéis de cebola para cima, mas pressiono


meus lábios em uma linha e faço um aceno rígido.

Ela volta a sua atenção para beber a monstruosidade enorme


de algo que ela pediu. É azul com frutas flutuando. Ela chupa o
canudo enquanto me faz os seus melhores olhos de foda-me, e
engulo em seco para manter os anéis de cebola longe mais uma
vez. Ela enfia meio palito de queijo na boca e bebo o resto da vodca
no meu copo, calculando exatamente quanto tempo vou precisar
mantê-la em meu apartamento para separá-la de Sadie antes de
expulsá-la.

Não é roubo se for o seu cachorro, certo?

Ela não tem documentos de propriedade. Sim, isso pode


funcionar.

Eu coloco a vodca na boca, tentando me livrar do gosto da


cebola, porque tudo está me deixando enjoado agora, mantenho os
meus olhos baixos porque não posso olhar para Nina novamente,
simplesmente não consigo fazer isso.

Meu telefone apita novamente e o coloco no colo, levantando


a tela para revelar outra notificação de imagem de Will. Esta é uma
foto sincera de Drew. Ela está sentada na extremidade oposta do
sofá, sorrindo, e parece que ela está falando sobre algo. Seus olhos
estão iluminados com aquela cor de mel que vi em seu primeiro
dia de trabalho.

Tenho uma coceira repentina para desenhar esses olhos,


usar lápis de cor para trazê-los à vida.

— Do que você está sorrindo? — Nina interrompe os meus


pensamentos novamente.

— Nada. — Digo, bloqueando o meu telefone, antes de acenar


para a garçonete e pegar outra vodca. Porque preciso de outra
vodca se vou continuar aqui.

Ainda estou pensando nos olhos de mel de Drew. Ainda estou


pensando no roubo de Sadie. Eu mantenho os meus lábios
pressionados em uma linha reta, tentando dar a Nina minha
melhor expressão de pôquer.

Eu não quero fazer isso. Não tenho tempo para isso, mas
sacrifícios devem ser feitos e estou rezando para não ter que dormir
com ela para que isso aconteça, porque, e digo isso com toda a
sinceridade do mundo, não acho que conseguirei ficar duro por
ela.
Como o donut de chocolate mais delicioso de sempre e
abençoo Will, e a sua insistência nos donuts de segunda-feira de
manhã, porque yeee-ummm. Ela e eu passamos todo o fim de
semana enviando mensagens de texto e até indo às compras.

Na noite passada, percebi: Puta merda, eu tenho uma


amiga. Uma amiga de verdade.

Quando digo que fomos às compras, quero dizer que Will


mostrou-me os seus lugares favoritos para fazer compras, já que
sou nova na área. Para meu alívio, ela prefere brechós do que lojas
de grife. Não mencionei o meu orçamento para ela, mas economia
é tudo o que posso fazer agora, então funcionou perfeitamente. De
alguma forma, porém, a escolha de Will em itens de segunda mão
não era tão decepcionante quanto a de minha tia Penny.
Talvez a caça às pechinchas tenha mudado nos últimos trinta
anos, ou talvez Will apenas saiba quais são as lojas certas e as
lojas erradas. De qualquer maneira, ela me mostrou as coisas
porque, admito, quando era esposa de um advogado importante
não era exatamente muito versada.

Ainda assim, quando me aproximei do caixa com a maior


pilha de roupas que poderia carregar, comecei a ficar nervosa com
o quanto poderia custar. Eu pensei que gastaria facilmente várias
centenas de dólares com tudo, mas quando o caixa me disse meu
total, vinte e oito malditos dólares, quase chorei.

É por isso que, nesta segunda-feira de manhã, atrevi-me a


usar jeans skinny pretos incríveis com rasgos na altura das coxas
e uma camiseta que está rasgada na parte inferior. Obviamente
não é meu estilo típico, mas estou abraçando todas as
mudanças. Eu até tenho botas assassinas, e sinto-me
incrivelmente fodona com esta roupa.

Estou limpando o chocolate dos lábios quando ouço a porta


dos fundos se abrir, seguida pelo som familiar de botas.

— Ei, Hawk. — Chamo. Esta é a nossa saudação


superficial. Nada chique.

Seus olhos estão baixos, mas quando olha para mim, ele para
de andar, e os percorre pelas minhas botas e sobem pelas minhas
pernas, demorando-se nas minhas coxas e no meio, antes de
finalmente alcançar o meu rosto.

— Você caiu no armário de Will? — Ele pergunta.

— Não, estas roupas são minhas. — Nossa, o cara não pode


apenas dar um elogio?

Ele emite um som de hmph ao passar por mim e entrar em


sua cabine, onde tira a jaqueta e se senta.
Bem, é isso, e Will achou que poderíamos namorar? Okay,
certo.

Volto a minha atenção para o meu donut, e abro o calendário


eletrônico para que esteja pronto para fazer as marcações de
hoje. Eu o folheio, para me familiarizar com o que está acontecendo
esta semana, quando vejo uma nova entrada. Eu me lembro
claramente de que a quarta-feira de Hawk estava vazia quando saí
na sexta, mas agora está completamente bloqueada, e apenas com
um nome. Nina. Eu não coloquei isso, então ele deve tê-lo feito
sozinho no fim de semana. Estranho.

— Ei, Drew. — Will me diz enquanto se serve de sua terceira


xícara de café.

A garota ama o seu café. A minha caneca VICIADA EM


CAFEÍNA seria definitivamente apropriada para ela, e considero a
lhe dar como um presente.

— E aí? — Pergunto.

— Você foi para a faculdade, certo? — Ela pergunta.

— Uh, sim, tipo um ano e meio, — admito. — Eu não terminei.


— Posso sentir os olhos de Hawk em nós, como se estivesse
ouvindo, mas ignoro o desejo de me virar para ele.

— Acho que preciso da sua ajuda em algo, se não se importa,


— diz Will.

— Claro. — Eu coloco o último pedaço de donut na minha


boca e sigo-a para o escritório.

Ela fecha a porta atrás de mim, e ela só fecha a porta quando


a merda é séria. Ela se senta à mesa e a sigo, cruzando as pernas,
esperando que me dê alguma notícia ruim.
— Você é boa com números e essas coisas, certo? — Will
pergunta.

Pisco algumas vezes. — Bem, antes de largar a faculdade, fiz


alguns cursos de contabilidade e tal? Por quê?

— Então, com a expansão e a administração desta loja, tenho


um pouco mais do que posso lidar em termos de
gerenciamento. Eu queria saber se você estaria disposta a ajudar
com os livros e outras funções de gerência?

Eu hesito. Não sei por que hesito, mas o faço, talvez porque
não queira decepcioná-la.

— Claro que isso significa que você receberá mais, —


acrescenta ela. — E Hawk e eu discutimos uma posição de gerente
assistente permanente após a conclusão da expansão.

— Estou dentro. — Digo rapidamente.

Will sorri para mim, parecendo satisfeita consigo mesma,


enquanto ela empurra o punho no ar como se tivesse ganhado um
prêmio. — Excelente! No final desta semana, gostaria de examinar
alguns detalhes relacionados ao projeto e fornecer as informações
de contato de várias pessoas envolvidas. Vou acompanhá-la pelo
espaço ao lado também, — diz ela.

Digo a ela que estou animada com as novas


responsabilidades e saio do escritório sentindo-me bem, bem pra
caralho. Radiante na verdade, pego outro donut no meu caminho
de volta para o balcão da frente, e paro abruptamente porque
Hawk está parado lá, inclinado sobre o dito balcão. Ninguém mais
está por perto, nenhum cliente para ajudar. Ele está apenas
passando o tempo no meu espaço. Eu endireito os meus ombros,
levanto o meu queixo e me aproximo.
— Por que você só foi para a faculdade por um ano e meio?
— Ele pergunta sem rodeios. Sem conversa fiada. Hawk vai direto
ao ponto.

— Fiquei grávida, — digo a ele.

Seus olhos se arregalam e ele pisca para afastar o choque. Ele


parece estar tentando fazer cálculos de cabeça.

— Eu tenho vinte e sete anos, Ava tem oito. Eu tinha dezenove


anos, — digo.

— E o pai dela? — Ele pergunta.

Nossa, esse cara...

— Curtis tinha 21 anos, e permaneceu na faculdade para


terminar o curso de Direito. — Eu encolho os meus ombros. —
Quando desisti, fez mais sentido me concentrar em criar Ava, e
apoiar Curtis enquanto ele terminava, para que todos pudéssemos
ter uma vida boa.

A mandíbula de Hawk flexiona enquanto ele processa esta


informação. — Onde está Curtis agora?

— Eu não tenho a certeza, provavelmente em nossa velha


casa ou viajando. Longe daqui é tudo o que sei com certeza.

— Ele não vê Ava? — Hawk pergunta.

— Não, ele não quer. — Digo, minha voz baixando um pouco


com a dor das memórias.

Hawk endireita-se e as suas mãos se fecham em punhos ao


lado do corpo. Observo os músculos, de seus antebraços até os
ombros, rolarem e enrijecerem, seus lábios pressionando naquela
linha característica, e então ele se vira para ir embora sem dizer
outra palavra.
— Oh, isso me lembra, — falo, parando-o. — Bem, não tanto
as coisas sobre Curtis, mas Ava. Eu sei que não devemos ter filhos
aqui, mas a escola planejou um dia para o aluno trabalhar com
um de seus pais. Eu já lhe disse que talvez não possa vir aqui, e
está tudo bem se você disser não, mas apenas pensei...

— Está tudo bem, — ele interrompe.

— Mesmo? — Pergunto, apenas para ter certeza de que o ouvi


corretamente.

— Sim, ela pode vir. — Responde e se vira para se sentar em


sua mesa.

Eu fico olhando para a parte de trás de sua cabeça por vários


minutos, perguntando-me o que diabos aconteceu, porque ou eu
ou Hawk não deveríamos estar bem da cabeça.

— Ok, ela virá comigo na sexta-feira!

Ele acena com a mão no ar, numa confirmação muito evasiva.

Bem, droga. Hawk definitivamente não é sem coração.


A última merda do mundo que quero fazer hoje é tatuar a
minha ex-namorada. Não quero me sentar e embalar o seu peito
na minha mão, enquanto ela me fode com os olhos, não quero a
sua respiração em meu rosto, e não quero desperdiçar tinta de
tatuagem perfeitamente boa com impressões de patas
estúpidas. Por outro lado, perfurá-la com uma agulha uma e outra
vez teria seus méritos, talvez até fosse terapêutico.

Eu verifico o relógio enquanto ando para frente e para trás no


depósito. Nina deve chegar a qualquer minuto, só preciso de
alguns momentos para relaxar e colocar a minha cara de jogo. Eu
rolo os meus ombros e pescoço. Isto precisa correr bem. Eu preciso
pegar Sadie.

Você pode fazer isso, Hawk. Só mais uma vez.


A porta do depósito se abre e Will aparece, cruza os braços
sobre o peito e começa a bater o pé.

— O que foi? — Pergunto.

— Por que diabos o furacão Nina está no nosso saguão? —


Ela pergunta.

Esse tipo de coisa é um dos motivos pelos quais estou aliviado


por Will não prestar atenção ao calendário de clientes.

— Ela quer que eu termine sua tatuagem, — digo


calmamente.

— Desde quando e por que raios você aceitou?

— Desde a outra noite, e então posso pegar Sadie. —


Respondo enervado.

Will revira os olhos, mas acaba relaxando seus ombros,


entendendo que é um mal necessário. Ela me dá um tapinha no
ombro. — Você deveria ter ficado com os dois cães desde o início,
de qualquer maneira.

— E eu não sei disso? Porra, — digo, passando a mão pelo


meu rosto.

Depois de mais alguns minutos, sacudo a última gota de nojo


que sinto pela situação, e caminho em direção à porta. — Deixe-
me acabar com isto, — digo.

Aproximo-me do balcão da frente, onde encontro Nina tendo


uma ampla discussão com Drew sobre o trabalho no seu peito, e
estou completamente mortificado. Tipo, estou realmente
envergonhado por mim mesmo. Isso está realmente acontecendo?

— Vamos. — Eu aceno para Nina e ela me segue até a minha


mesa, apalpando o meu antebraço e inclinando-se muito perto.
Drew está olhando para nós, e quero morrer ou jogar Nina em
um buraco, em algum lugar, e esquecer que a conheci. Nina e eu
nos sentamos, e coloco as luvas me preparando para ir direto ao
assunto.

— A nova garota parece legal, — ela diz, mastigando o


chiclete.

A porra do chiclete. Um de nós não vai sobreviver a isto.

— Sim, ela é ok, — digo, derramando tinta nos pequenos


copos na minha frente.

— Você já transou com ela? — Ela pergunta.

— Jesus Cristo, Nina. — Meu tom é uma exclamação abafada.

Ela ri muito alto com a boca aberta, e posso ver o chiclete em


sua boca subindo e descendo enquanto ela bufa. — Relaxa, só
estava brincando. Ela não é exatamente o seu tipo.

— O que você quer dizer? — Pergunto.

— Você está brincando comigo? Olhe para ela. Ela é tão


simples.

É isso que eu faço, olho para Drew, que está reabastecendo


os brindes nas prateleiras e sorrindo para algo que Hanson
disse. Ela não nada de normal. Não para mim.

Gosto da maneira como ela põe o cabelo loiro para trás sobre
os ombros, a maneira como ele balança de um lado para o outro
quando anda. Gosto de sua pele, uma tela pálida em branco. Isso
não me impede de querer arrastar uma agulha nela, mas talvez
seja apenas um efeito colateral do que faço, e qualquer homem vivo
pode ver que ela tem um corpo bonito, sem falar nos seus olhos,
prismas cor de mel que dançam na luz.
Olho novamente para o que estava fazendo antes que ela
perceba. — Sim, acho que você está certa.

— Eu conheço você, Hawk. — Nina diz.

Não tenho coragem de lhe dizer que, embora tivéssemos


ficado juntos por um ano, ela realmente não me conhecia, em
nada. Ela não sabe que odeio o som de chiclete estalando e
estalando, não sabe que odeio o seu cabelo vermelho falso, e não
sabe que, apesar de 80% do seu guarda-roupa consistir em
macacões colantes, como o que está usando agora, eu os odeio pra
caralho. Sempre odiei, especialmente quando eles caem quase até
quase o umbigo.

Agora, não me entenda mal, sou totalmente a favor de


ocasionalmente se exibir o que tem, exibir o corpo, vestir-se
sexy. Era principalmente o fato de que era Nina quem estava
fazendo isso.

Eu pressiono a agulha no peito de Nina e ela


geme. Deus. Tudo o que ela faz é tão exagerado, tenho que esmagar
tudo com a minha mão e ela arqueia as costas, aproveitando ao
máximo o momento barato. Nojento.

— Então, a que horas devo vir mais tarde? — Ela pergunta.

Ela simplesmente tem que fazer isto, não é? — Seis? — Sugiro.

— Sim, está bom para mim, — ela diz, e me encolho, mas


então ela acrescenta: — Sadie mal pode esperar para ver o papai.

E, com isso, lembro-me do porquê estou tolerando esta


situação em primeiro lugar.

O resto de seu horário é preenchido comigo tentando ser


legal, mas sendo principalmente curto quando respondo, e
mantendo a minha mente ocupada com, literalmente, qualquer
outra coisa que possa pensar. Ocasionalmente me pego pensando
em Drew.

Ela não é simples. Talvez Nina só pense assim porque nada


sobre Nina nem se aproxima de simples ou sutil. Claro, se você
colocar Nina ao lado de qualquer pessoa, incluindo um palhaço de
rodeio, eles parecerão simples.

Drew é... elegante. Sutil. Não conheço muitas mulheres como


ela. Pelo menos, não no mundo ao qual estou acostumado. No
mundo em que vivo, a maioria das mulheres é como Nina ou
Rebecca, fazendo tatuagens idiotas de paus, Will não é tão ruim,
mas ela é como a minha irmã, então é um grande não. Drew é
diferente. Doce, mas forte.

— Pronto, — digo, colocando um fim aos meus próprios


pensamentos e a esta tatuagem triste.

Nina olha para baixo, estudando o meu trabalho. — Você é o


melhor.

— Obrigado, — murmuro.

— Quanto lhe devo? — Ela pergunta só por perguntar.

— Nada.

Ela pisca o olho para mim e aperta meu bíceps. — Vejo você
mais tarde.

Com isto, sai da minha cabine e atravessa o saguão da frente,


passando por Drew, até que ela está fora, na calçada. Vejo-a
colocar os seus óculos de sol, irritantemente grandes, enquanto
ela começa a se afastar.

Está quase acabando, Hawk. Está quase acabando.


Ava está sentada à mesa da cozinha na única cadeira boa, e
eu me equilibro no banquinho enquanto jantamos. Ela conta sobre
o seu dia na escola e como fez uma nova amiga chamada Jill.

Estou realmente tentando me concentrar, mas minha mente


está de volta aos acontecimentos no trabalho. A misteriosa Nina, e
como sua presença parecia ter esgotado Hawk antes, durante e
depois da sua visita. Ele mal havia se recuperado quando saí e
peguei Ava em seu apartamento. Não consigo definir o que é, mas
arrisco dizer que há muito mais nessa história, não que eu fosse
perguntar a ele.

Ava termina de me contar sobre o seu dia e leva o prato para


a pia, então salta para a sala de estar e segue pelo corredor até seu
quarto. Levanto-me para levar meu prato para a cozinha, mas o
grito dela do outro cômodo quase me faz derrubá-lo. Coloquei o
prato no balcão e corri pela porta.

Com Ava, o seu grito de filme de terror pode significar


qualquer coisa, desde uma aranha subindo pela sua perna ou que
estamos sem papel higiênico e ela não sabe o que fazer. A criança
certamente tem um toque de teatralidade no sangue, e não tenho
ideia de onde ela herdou este talento artístico.

— O que está de errado? — Pergunto, correndo para o quarto


para encontrá-la despejando o conteúdo da sua mochila no chão,
espalhando tudo.

— Não está aqui! — Ela chora.

— O que é que não está aqui? — Eu pergunto.

— Devo ter deixado no apartamento de Hawk! Temos que ir


buscá-lo, mãe!

— Ir buscar o quê?

— O meu caderno de desenho! — Ava olha para mim com as


lágrimas nos olhos.

— Não podemos simplesmente pegar amanhã? — Pergunto,


embora já saiba a resposta.

Seu lábio inferior começa a tremer e está começando. — Por


favor, mãe?

Eu suspiro e olho meu relógio, vendo que são seis e quinze. Se


nos apressarmos, podemos estar de volta em casa às sete.

— Pegue a sua jaqueta. — Digo, caminhando para pegar a


minha.

Vamos rezar para que Hawk esteja agora com um humor


melhor do que antes.
VAMOS até a loja, contornando o edifício para chegar às
escadas que levam à porta de Hawk. Hesito na parte inferior, com
um pé no primeiro degrau.

— Vamos, mãe, — Ava diz, puxando a minha mão.

Subimos as escadas juntas, de mãos dadas, e quando


chegamos ao topo, Ava bate antes que eu possa pensar melhor em
tudo isto.

Ouço barulho lá dentro. — Talvez ele esteja ocupado, — digo.

— Vamos apenas esperar um minuto. — Ava implora.

Antes que eu possa protestar, a porta abre, mas não é Hawk


quem o faz.

Nina, a mulher de hoje cedo, está parada na nossa frente,


seus longos cabelos ruivos brilhantes caindo sobre o decote. —
Posso ajudar? — Pergunta.

Antes que eu possa dizer qualquer coisa, a inocência de Ava


fala. — Eu sou Ava, — ela se apresenta a Nina. — Deixei o meu
caderno de desenhos aqui mais cedo.

Nina olha para Ava, depois para mim, e de volta para Ava.

Então interrompo. — Ela espera aqui depois da escola até eu


sair do trabalho, — digo, tentando o meu melhor para explicar a
situação.
Nina abaixa-se para Ava e a estuda, como se ela nunca tivesse
visto uma criança antes. — Bem, por que você não vai procurá-
lo? Não se preocupe, Sadie não vai machucar você.

Quem diabos é Sadie?

Fico sem jeito na porta por vários segundos até que Nina
finalmente acena para eu entrar.

— Você quer entrar e ajudá-la? — Pergunta.

Aceno antes de entrar no apartamento de Hawk, percebendo


que a minha filha passou mais tempo aqui do que eu. Vejo Raven
cumprimentar Ava, lambendo o seu rosto. Sadie, que deve ser o
outro cachorro, fareja as mãos de Ava e a lambe também. Eu olho
em volta, mas Hawk não está à vista.

Ava começa a mexer em todas as almofadas do sofá. Ela


provavelmente estava sentada nele e o caderno deslizou por uma
fenda, não seria a primeira vez e provavelmente não será a última.

— Então, há quanto tempo você trabalha na loja? — Nina


pergunta, interrompendo os meus pensamentos.

— Esta é apenas a minha segunda semana, — respondo.

— Muito gentil da parte de Hawk deixar Anna subir aqui


enquanto você trabalha, — ela diz, fazendo um barulho irritante
de estalo com seu chiclete.

— O nome dela é Ava, — digo severamente.

— Ah, certo, desculpe.

Tenho a impressão de que não é isso que queria dizer, mas


deixo passar, voltando a minha atenção para Ava, que agora está
de joelhos olhando embaixo do sofá. Ela não está tendo sorte para
encontrar o caderno, o que não é bom. Olho em volta no chão e na
cadeira mais próxima de mim, quando ouço um barulho vindo do
corredor à minha direita.

— Quem estava na porta? — A voz de Hawk corta o silêncio e


viro-me para ver um Hawk sem camisa parado na entrada do
corredor.

Jesus. Maldito. Perdoe-me, pai. Cristo. Meus olhos não


conseguem se desviar do seu torso tatuado. A tinta cobre quase
tudo, da borda elástica da sua cueca boxer até à garganta e ao
redor das costelas. Ele está coberto de tinta. O seu corpo é um
templo. Adornado.

Ele se cobre rapidamente com a camiseta em suas mãos,


claramente não esperando ver a mim ou Ava na sua sala. Este
momento é muito estranho, estou quase abusando dele
sexualmente com os meus olhos.

— Deus, eu sinto muito. Ava deixou algo aqui e nós apenas


voltamos para pegar. Deus, me desculpe. — Digo, meio correndo
pela sala e agarrando Ava pela mão. Ela está protestando e se
debatendo.

— Mas mãe...

— Nós vamos pegar amanhã. Está tudo bem, — digo,


correndo para fora da porta antes que alguém possa dizer qualquer
outra coisa.

Eu. Sou. Uma. Idiota. Esta foi uma ideia terrível. Claro que ele
poderia e teria companhia à noite. Deus, acabamos de interromper
uma transa? É assim que as pessoas a chamam? Um encontro? Ai
credo. Com esta mulher? Não é como se eu conhecesse bem Hawk,
mas pensei que ele pelo menos namoraria alguém... diferente do
que isso. Alguém interessante ou divertido, como Will, ou alguém
que pelo menos não me dê vontade de me esfaquear nos olhos. Não
importa, não é da minha conta.
Paramos numa loja no caminho de volta para o nosso
apartamento, e deixo Ava comprar um novo caderno para aliviar a
coceira até encontrarmos o outro. Espero que possamos encontrar
a maldita coisa. Ela ficará com o coração partido se não o fizermos,
Ava guarda todos os seus desenhos, e aquele caderno de esboços
estava meio cheio. Eu mesma não entendo a importância disso,
mas faço o possível para entender que, embora possa não me
importar, a minha filha se importa. Portanto, se é importante para
ela, não o menosprezo.

Quando chegamos em casa, ela abre o novo caderno de


desenho meio animada e começa a desenhar. Eu desabo no meu
sofá de cacto feio, beliscando a ponta do meu nariz, amaldiçoando-
me pelos eventos que se desenrolaram nesta noite.

Erro colossal. Nunca vá para o apartamento do seu chefe


depois do expediente. Nunca. Nunca. Talvez consiga o número dele
em caso de emergência, sim. Verificar antes. Seja talvez uma
adulta, porra, Drew. A minha cabeça está em curto-circuito
principalmente sobre Hawk seminu, que é a pior ou a melhor
parte, não tenho certeza. Então, como se isso não pudesse ficar
pior, alguém bate na minha porta, e considerando que não
conheço ninguém aqui, fora do trabalho, dificilmente espero que
isto seja bom.

Eu me levanto do sofá, perguntando-me se é aquela velha


senhora do outro lado do corredor, e olho pelo olho
mágico. Merda. Não é a senhora.

Abro a porta para ver Hawk na minha soleira. — Um, oi. —


Eu não sei mais o que dizer.

— Acho que Ava estava procurando por isto. — Diz ele,


segurando o seu caderno de desenho.

Imediatamente relaxo os meus ombros e chamo Ava.


Ela vem pelo corredor, iluminando-se ao ver o que está
aqui. — Oh, meu Deus, você o encontrou! — Ela pega o caderno
da mão dele e o embala contra o peito como se fosse o seu bem
mais precioso.

— Vocês saíram às pressas, não tive a chance de dizer que o


tinha encontrado e guardado para lhe devolver, —
esclarece. Depois coloca a mão no bolso e olha para mim.

Pressiono os meus lábios e olho para Ava, que está


absorvendo cada palavra. Então ela faz o impensável, entrega-me
o caderno de desenho, volta-se para Hawk e o abraça.

— Muito obrigada, Hawk! — Ela diz, apertando-o no maior


abraço que o seu minúsculo corpo de oito anos pode dar.

Eu vejo o corpo de Hawk enrijecer no início. Ele olha para


mim novamente e eu sorrio, cruzando os braços sobre o peito. Sim,
você fez uma amiga, companheiro.

O seu corpo amolece, e ele libera as mãos e os braços para


abraçá-la de volta, desajeitadamente dando tapinhas em suas
costas. — Sem problema, garota.

Ela o solta e pega o caderno de mim, então desaparece de


volta no apartamento.

— Obrigada por encontrá-lo e o trazer para ela, mas eu


poderia tê-lo pego amanhã, você não precisava, hum, deixar os
seus... planos, — digo sem jeito.

— Sim, sobre isso, — fala. — Deveríamos conversar.


— Você gostaria de entrar? — Pergunto, engolindo em seco,
de repente nervosa com a ideia de Hawk no meu apartamento, no
meu espaço pessoal.

Ele acena, passando por mim enquanto fecho a porta atrás


dele. Hawk paira na beira da minha sala de estar, claramente
desconfortável, e possivelmente sem saber o que fazer.

— Você gostaria de algo para beber? — Pergunto, minhas


maneiras arraigadas de anfitriã aparecendo.

— Não, estou bem, obrigado, — responde.

Eu passo por ele em direção ao sofá, me sentando e


gesticulando para que ele faça o mesmo.
Ele dá um passo à frente, e lentamente desliza para o canto
do sofá, possivelmente o mais longe de mim que consegue,
enquanto ainda está no sofá. — Então, ouça, não quero que você
pense que eu estava aleatoriamente saindo com alguém da loja, ou
que estou ficando com a Nina.

— Quer dizer, realmente não é da minha conta, — digo. —


Você não me deve uma explicação.

— Não, isto é importante, — diz ele, afastando um fio de


cabelo. — Nina é a minha ex-namorada, e ficou com a minha outra
cachorra, Sadie, desde que nós terminamos. Tenho tentado ser
bonzinho o máximo que posso para recuperá-la. Eu só estava sem
camisa porque ela derramou algo em mim então fui me trocar.

Ohhhhh. Ok. Quer dizer, vi seu amor por Raven, e imagino


que ele tenha esse mesmo amor por Sadie, então, entendo os seus
motivos. Eu aceno para ele continuar.

— Ela foi à loja mais cedo para fazer uma tatuagem e insistiu
em voltar à noite. Concordei apenas com a intenção de conseguir
a minha cachorra de volta. Não estou nem remotamente
interessado em reatar com ela, — diz ele.

— Oh! — Exalo. — Bem, conseguiu recuperá-la?

— Sim, — responde. — Graças a Deus, porra. Porque agora


não preciso mais vê-la.

Não consigo evitar quando começo a rir de seu claro desgosto


por Nina. — Bem, isso é bom então.

— Sim, definitivamente, — ele diz.

Alguns momentos embaraçosos se passam, e os uso para me


perguntar a razão pela qual ele se sentiu compelido a compartilhar
isso comigo em primeiro lugar. Ele poderia facilmente ter me visto
amanhã, ou explicado parcialmente.
— Você veio até aqui só para me dizer isso? — Pergunto.

Hawk esfrega a nuca, os seus olhos saltando dos meus olhos


para baixo, e depois para cima novamente. — Uh, bem, sim. —
Sua mão se move do pescoço em minha direção, como se fosse me
tocar, mas então ele recua. — Estou feliz que você trabalhe na loja,
realmente te respeito. Eu só não queria que você tivesse uma
imagem negativa de mim.

— Também gosto de trabalhar na loja, — digo. — E respeito


você, não penso nada de mal. — Engulo em seco, perfeitamente
ciente de sua proximidade.

— Bom, — diz, balançando a cabeça. — Oh, e sobre sexta-


feira. Tudo pronto. Disse aos caras que Ava está indo, eles vão se
comportar da melhor maneira.

— Oh, você não precisava...

— Não se preocupe com isso. — Ele abre o menor


sorriso. Acho que é para me confortar, mas ele sorri tão raramente
que sinto que é um presente.

— Está bem, certo. Ótimo. — Falo.

— Eu deveria ir, — ele diz. — Hum, vejo você de manhã.

— Obrigada novamente por trazer o seu bloco de desenho, —


digo, me levantando para levá-lo até a porta.

Hawk acena com a cabeça e dirige-se para a porta. No


corredor, ele se vira, dando-me uma última sugestão de sorriso,
depois desaparece escada abaixo.

Fecho e tranco a porta, dando um suspiro pesado de


alívio. Fecho os olhos por um momento para reunir minha
compostura, para tentar descobrir o que diabos acabou de
acontecer. Isso foi estranho, certo? Talvez eu pergunte a Will sobre
o seu comportamento, e se isso é típico dele.

Depois de ajudar Ava a ter ideias para fazer algumas


perguntas a meus colegas de trabalho quando ela for comigo na
sexta-feira, a coloco na cama.

— Mamãe? — Ava pergunta.

— Sim, baby? — Sussurro.

— Você acha que Hawk é legal?

— Sim, acho que ele é, — respondo.

— Você acha que ele é amigável? — Indaga.

— Acho. — Eu puxo seus cobertores sob o queixo,


certificando-me de que ela está aconchegada.

— Você acha que ele é bonito? — Ela ri.

Oh céus. — Eu realmente não pensei sobre isso. — Respondo,


mentindo, porque não há nenhuma maneira de ter esta conversa
com ela agora, ou possivelmente nunca, e com certeza não vou
dizer a ela que, desde que o vi sem camisa, a imagem está gravada
nas minhas retinas para sempre, irei para o meu túmulo com ela.

— Eu o acho bonito. — Continua ela, balançando as


sobrancelhas para mim.

— Ava Elaine. — Falo, meio rindo. — Boa noite. Vá para a


cama, bobinha.

Fecho a porta do quarto dela e balanço a cabeça. Ela é louca.

Estou surpresa porque me fez estas perguntas. Embora, para


ser honesta, a partida do seu pai a magoou muito, e ela também
viu o quanto isso me machucou. Eu acho que em sua mente, não
há como ele voltar, então talvez esteja decidida a encontrar alguém
novo para mim. Não posso expressar o quanto odeio toda esta
situação, por ela.

Vasculho o meu armário, tentando decidir o que vestir para


trabalhar amanhã antes de escolher um short cortado. Eu vi Will
os usando, então presumo que eles não sejam contra a política de
vestimenta, e pensando bem, nem tenho certeza se existe um
código de vestimenta de qualquer tipo. Estou supondo que,
contanto que não entremos com nossos mamilos à mostra,
estaremos livres para fazer as nossas escolhas.

Depois do meu banho, me sento na beira do sofá verde feio,


esfregando as minhas têmporas, os pensamentos girando um
pouco violentamente na minha cabeça. Eles saltam entre o peito
tatuado de Hawk, gostando e precisando demais do meu trabalho
para prejudicá-lo, e imaginando se realmente irei namorar
novamente em breve. Entre trabalho e Ava, não é como se eu
tivesse muito tempo livre.

As feridas deixadas por Curtis são profundas e ainda muito


recentes. Eu odiaria pular em algo muito cedo e o tiro sair pela
culatra. Deixarei as observações tolas de Ava para as minhas
decisões futuras. Aquela garota.

Deitada no sofá irregular, começo a calcular exatamente


quanto tempo levará para encher a minha jarra da geladeira com
dinheiro extra para comprar uma cama adequada. A resposta não
é breve o suficiente, muitas noites nesta coisa e vou ter danos
permanentes nas costas.

Apesar de tudo, adormeço ainda com as imagens da pele de


Hawk, a tinta preta em volta do seu corpo como vinhas. Imagino a
extensão das suas costas, perfeitamente esculpidas e adornadas.
Não consigo parar de me perguntar como seria vê-lo nu,
perfeito e dolorosamente lindo.
Não poderia dizer o que me deu para implorar a Nina por
Sadie momentos depois que Drew e Ava partiram. Eu literalmente
juntei minhas mãos e lhe ofereci dinheiro, o que ela aceitou de bom
grado em troca da minha cachorra. Se eu soubesse que tudo que
ela queria era dinheiro, já o teria oferecido há muito tempo. Mil
dólares e dez minutos depois, Nina tinha ido embora e eu estava
correndo em direção ao apartamento de Drew, depois de obter o
endereço com Will, em velocidade recorde.

Não sei dizer por que era tão importante esclarecer as


coisas. Para aparecer em sua porta sem avisar, como um
psicopata, mas assim o fiz. Eu precisava.

Também não sei dizer por qual razão, depois que Drew saiu
do trabalho hoje, chamei todos ao escritório para uma reunião de
equipe, para lembrá-los de que Ava estaria aqui o dia todo amanhã
e que todos deveriam se comportar da melhor maneira possível, e
isso significava sem palavrões ou piadas inapropriadas, a última
parte foi principalmente direcionada a Avery e Hanson.

Deixei claro que ninguém poderia ser vulgar, todos deveriam


tratar Ava como uma maldita princesa, e tornar o dia de amanhã
o melhor dia de ir para o trabalho com seus pais que qualquer
criança já teve, ou eu iria matá-los pessoalmente.

Por que isso era importante para mim? Não sei. Eu não sei,
porra. Talvez tenha algo a ver com a porra do short cortado que
Drew usou hoje, ou talvez seja porque aquela criança não tem mais
pai e não podia nem escolher ir trabalhar com ele, se quisesse. Por
isso, quero ter a certeza de que este dia de trabalho seja o melhor
possível. Para ela.

FIZ questão de chegar cedo à loja esta manhã, o que é


bastante inédito para uma sexta-feira típica. Agora, estou parado
aqui na minha cabine, cortando tatuagens temporárias de fadas e
outras merdas femininas para que possa mostrar a Ava o que
fazemos aqui. Bem, tentar pelo menos. Deus. O que está
acontecendo comigo?

Ouço a campainha na porta da frente e olho para cima para


ver Ava e Drew entrarem. Ava é toda sorrisos, claramente animada
por estar aqui em vez de na escola. Ela acena para mim e aceno de
volta, tentando o meu melhor para ser menos... eu.

— Oi, Hawk. — Diz, aproximando-se de mim.


Eu saio da minha cabine, em direção a elas. — Olá, senhoras.
— Digo.

— Ava está pronta. Ela preparou um monte de perguntas


para fazer a todos. — Drew diz, sorrindo para Ava e acariciando o
seu cabelo.

— Bem, os caras chegarão a qualquer minuto, — respondo e


volto a minha atenção para Ava. — Mas primeiro, quero te dar algo,
se estiver tudo bem?

Eu vejo Ava olhar para sua mãe como se ela precisasse de


permissão para receber um presente meu, mas Drew apenas
concorda.

Estendo o braço no balcão e pego a pequena sacola de


presente com os itens que comprei depois de deixar o seu
apartamento, e a entrego a Ava.

— O que é isso? — Ela diz animadamente.

— Apenas uma coisinha para uma pequena artista. —


Encolho os ombros.

Ela rasga a bolsa e tira um caderno de desenho novo, mas


não do tipo que ela está acostumada. Este tem páginas mais
grossas e melhor textura para esboços. Então ela puxa o kit de
lápis e o olha com curiosidade.

— Percebi que você estava usando o tipo de lápis errado, —


digo.

— Tipo errado? — Ela pergunta.

Como suspeitei, ela não sabe que existe mais de um tipo de


lápis. — Eu vou te mostrar. — Abro a caixa de lápis e aponto. —
Esses lápis têm o grafite mais suave, então as linhas ficarão mais
grossas e com mais textura, estes têm o grafite mais duro, então
as linhas são mais finas, melhores para desenhar linhas iniciais e
detalhes.

Pego no meu próprio caderno e viro uma página em branco,


demonstrando a diferença. — Estas ferramentas são para
misturar. — Esfrego o ponto onde fiz as linhas e aliso as marcas,
observando os olhos de Ava se iluminarem.

Ela parece estar absorvendo tudo, totalmente investida no


tutorial. — Uau! Isto é incrível! Muito obrigada, Hawk! — Ela diz.

Então, pela segunda vez nesta semana, ela se estica para me


abraçar. Desta vez ela abraça o meu pescoço, porque estou
agachado e ela pode alcançá-lo.

Dou um tapinha em suas costas novamente. — De nada,


garota.

Ela enfia seus novos lápis e caderno de desenho na mochila


que trouxe, e pega um caderno, aparentemente preparada para a
parte de negócios do dia.

Enquanto a vejo folhear as páginas de seu caderno, noto


Drew observando-me. Eu percebo que ela provavelmente esteve
assistindo o tempo todo e seus olhos estão um pouco brilhantes.

— Ok. — Ava interrompe. — Estou pronta.

— Ótimo, porque eu sou o primeiro, princesa. — A voz de


Hanson ecoa no corredor dos fundos, suas raízes brasileiras
visíveis no seu carinho preferido. Ele chega até nós alguns
momentos depois, usando uma coroa. — Oh, e esta é para você! —
Ele exclama, apresentando uma tiara para Ava. — Eu sou Hanson,
a propósito. É um prazer conhecê-la.

— Hum, eu estou um pouco velha para coroas. — Ava diz. —


Mas obrigada, de qualquer maneira.
Rio. Na verdade, rio alto. Tão alto que todos me olham como
se tivesse crescido uma segunda cabeça em mim, mas esta merda
é engraçada, acabei de assistir Hanson ser queimado por uma
menina de oito anos. Ela pode ser a minha nova pessoa favorita.

— Oh... — Hanson diz. — Sem problema. — Fala


desmoralizado.

— Eu vou usar. — Drew oferece.

— Não, está tudo bem. Vou usá-la, — diz Ava. Ela vai até
Hanson e pega a tiara, depois a coloca na cabeça. — É perfeita, Sr.
Hanson. Obrigada.

— Oh, apenas Hanson. — Ele diz.

Ava fica quieta por alguns segundos. — Ok. Você está pronto,
então? — Ela pergunta a ele.

Eu juro, essa garota é a melhor. Eu olho para Drew, que está


dando palmadinhas no rosto, mas lhe dou um olhar que espero
transmitir que está tudo bem.

— Ava, estarei aqui se você precisar de mim. — Drew diz, mas


Ava está muito interessada em dar merda para Hanson para se
preocupar com qualquer outra coisa.

Eu volto para a minha mesa, mas sinto uma mão na parte de


trás do meu braço, olho por cima do ombro e fico cara a cara com
Drew.

— Obrigada por isto. Por tudo, realmente, — diz ela.

— Não se preocupe com isso. — Respondo, encolhendo os


ombros.

— Não, é sério. Eu realmente aprecio vocês se esforçando


para ela hoje, — diz Drew.
Olho para Ava e não tenho certeza, mas acho que estou
sorrindo. — Posso mostrar uma coisa para vocês amanhã?

— Amanhã? — Ela repete.

— Sim, é um lugar que acho que Ava vai gostar. — Digo,


usando totalmente Ava a meu favor para persuadir Drew a
concordar.

— Ok, claro. — Drew diz, acenando com a cabeça.

Aceno antes de voltar para a minha cabine, já elaborando um


plano para amanhã.

Enquanto trabalho, ouço Ava falar com Hanson e depois com


Avery. Ela não vai chamá-lo de Spider, porque até alguém da idade
dela sabe que é um apelido idiota.

Will explica a Ava o que seu trabalho aqui implica, em


seguida, lhe mostra o escritório e o estoque dos fundos. Ela dá a
Ava uma camiseta Bird's Eye, e alguns adesivos para ela e as suas
amigas. Bem, os adequados para a sua idade, claro

Ava fica sentada com a mãe por um tempo, observando o que


ela faz e ajudando a atender algumas ligações.

Então é minha vez. De propósito, pedi a Ava para me


entrevistar por último.

— Ok, Hawk. Você está pronto? — Ava pergunta, aparecendo


na entrada do meu estande.

— Estou, coloque o seu caderno aí e pule aqui na minha


cadeira, — falo, deslizando em minhas luvas. — O quê? — Ava
pergunta. — Você quer ver o que eu faço, certo? — Indago.

Ava sobe na cadeira, cheia de confiança e curiosidade.


— Agora, normalmente eu tatuaria uma pessoa com tinta,
algumas agulhas e essa pistola. — Explico, segurando a minha
máquina. Quando os seus olhos se arregalam e ela encolhe-se na
cadeira, acrescento: — Mas, não desta vez.

Viro-me e empurro o meu pequeno carrinho ao lado da


cadeira, mostrando a ela uma variedade de tatuagens temporárias,
um prato de água morna com sabão e algumas toalhas de papel.

Os olhos de Ava se arregalam novamente, mas com


entusiasmo em vez de pânico, e pressiono o dedo sobre meus
lábios, o sinal universal para shh para que Drew não nos ouça, e
Ava sufoca o riso.

Então, começo a trabalhar no plano mestre que criei


ontem. Enquanto isso, Ava me faz as suas perguntas mais como
um encobrimento do que qualquer outra coisa.

Um pouco depois, terminamos. Limpo o seu braço e jogo


todos os pedaços de papel no lixo, nos levantamos e saímos da
minha cabine.

— Mãe, eu terminei aqui, — Ava diz, claramente tentando


manter a voz firme.

Drew vira-se para nós e dá uma segunda olhada. O braço


antes nu de Ava agora está coberto de tatuagens temporárias, do
ombro até ao pulso. Dei à garota a sua primeira manga inteira
temporária.

— Oh, meu Deus. — Drew diz.

Merda. E se ela estiver chateada? Percebo que não pensei


direito nisso, talvez devesse ter lhe pedido permissão. Então ela
começa a rir e exalo a respiração que estava segurando.

— Você gosta disto? — Ava pergunta.


— É incrível, garota. — Drew responde, sorrindo primeiro
para Ava, depois para mim.

Eu também estou sorrindo e foda-se, mas estamos apenas


parados ali sorrindo um para o outro, por um tempo.

— Estou com fome, — ouço Ava dizer, interrompendo o que


quer que esteja acontecendo.

Drew abaixa o olhar e começa a acenar para Ava. — Ok, quer


jantar?

— Sim, mas Hawk pode vir? Por favor? Por favor? Hawk, você
pode vir também? — Ava diz.

Ela coloca a sua mãozinha na minha e me encara com os


olhos suplicantes.

Eu não tinha percebido antes, mas ela tem o mesmo brilho


mel nos olhos que a sua mãe tem. Isso me desequilibra um pouco,
de uma maneira completamente diferente, porque não entendo
como o pai dessa menina não quer fazer parte da vida dela.

Ava é a melhor. E se eu puder realizar alguma coisa, quero


que ela saiba que tem um amigo em mim.
Quando Ava pediu a Hawk para jantar conosco, esperava que
ele recusasse educadamente, mas ele não fez isso. Quando ele se
ofereceu para cuidar dos planos do jantar, esperava que ele nos
levasse para uma refeição que vinha em embalagens e sacos de
papel então, mas ele também não o fez. Em vez disso, estamos
sentados no seu apartamento, e Ava está brincando com os seus
cachorros, enquanto estou empoleirada num banquinho de bar, e
este filho da puta está preparando tudo com as próprias mãos.

Com. As. Mãos. Dele.

Só para constar, Curtis não sabia cozinhar. Não conheço


nenhum homem que saiba cozinhar, por isso quando vejo Hawk
picar e refogar, e colocar macarrão na água fervente, fico
estranhamente intrigada e um pouco, ouso dizer, excitada.
Inicialmente, após o desastre Nina, pretendia voltar ao
apartamento dele somente para pegar Ava, ou talvez se eu tivesse
um osso quebrado.

Agora, eu olho para trás para ver Ava relaxando com Raven e
Sadie. As três se tornaram amigas rapidamente, embora duvide
que alguém acreditaria em mim se contasse que Ava fez amizade
com duas pitbulls gigantes. Nunca tive medo delas, mas sei que
muitos têm suas opiniões baseadas em um estereótipo.

— Mais vinho? — Hawk pergunta, interrompendo os meus


pensamentos.

Eu olho para a minha taça quase vazia e aceno com a cabeça,


grata que o meu principal meio de transporte é caminhar e a minha
casa não é tão longe. — Claro, — digo.

Hawk inclina a garrafa e derrama vinho branco em minha


taça, antes de colocar a garrafa na mesa e retornar a sua atenção
para a tábua de corte.

Estou quase hipnotizada vendo as suas mãos trabalharem, e


me peguei precisando parar de olhar algumas vezes.

Ele toma um gole de um líquido claro, provavelmente vodca,


do seu copo, e o coloca de volta na mesa, fazendo contato visual
brevemente. — Então, Will teve a chance de lhe mostrar o espaço
ao lado que estamos expandindo?

— Na verdade, não. Ficamos sem tempo esta semana, vamos


ter que fazer isso na próxima.

Esta semana tinha sido muito atarefada com compromissos


e a visita, e Will teve mais reuniões com fornecedores do que ela
esperava. Simplesmente não tínhamos resolvido isso.

— Eu poderia te mostrar depois do jantar, se você quiser? —


Ele oferece.
— Claro, se estiver tudo bem. Estou morrendo de vontade de
ver. — Digo, permitindo um pouco de excitação em meu tom.

Ele acena com a cabeça, seus lábios ainda pressionados em


uma linha, mas menos severa do que o normal.

Todos nós comemos na ilha, e as pernas de Ava balançam em


seu banquinho. As duas cachorras estão sentadas embaixo dela,
parecendo que esperam silenciosamente que ela deixe cair algo do
prato. Hawk conta a Ava sobre algumas das tatuagens mais
engraçadas que ele fez às pessoas. Bem, aquelas que são
apropriadas para ela ouvir. A sua favorita é o cara que queria
uma cabeça gigante do Mickey Mouse em seu estômago com os
músculos do peito sendo as orelhas. Ele queria flexionar seus
peitorais para dentro e para fora, dando a ilusão de que as orelhas
do Mickey balançavam. Ela riu tanto que quase se engasgou com
o pão de alho.

Eu mencionei que o pão de alho era caseiro? Com algum tipo


de massa caseira? Não, não saído de uma caixa da seção de
freezer.

Eu vejo a animação em seu rosto enquanto ele conta a ela, a


maneira como as suas feições suavizam cada vez que ele está se
envolvendo com Ava. Os seus olhos se iluminam, os seus lábios
não estão mais pressionados em uma linha, mas curvados nos
canos, ouço a sua risada, misturando-se com a de Ava no espaço
entre nós. Melódica. Profunda, macia e suave.

Eu percebo, em algum momento entre ele aparecendo na


minha porta com o seu bloco de desenho e agora, Hawk é muito
mais do que seu exterior frio, mais do que o seu taciturno e mau
humor. A sua mandíbula rígida nada mais é do que um mecanismo
de defesa, e lenta, mas seguramente, as paredes parecem estar
diminuindo.
Não sei o que há do outro lado, mas há uma parte de mim,
não sei quão grande, que quer descobrir.

DEPOIS DO JANTAR, ajudo Hawk a limpar os pratos e, embora


ele insista para não fazer isso, faço questão de ajudar porque é o
mínimo depois que ele cozinhou para nós. Ava se senta no sofá
enquanto limpamos os pratos e os colocamos na máquina de lavar,
mas quando terminamos, ela adormeceu.

— Oh, querida, — digo.

— Basta deixá-la aí enquanto te mostro o espaço, — ele


oferece. — Então vou ajudá-la a levá-la para casa.

Concordo e lentamente deslizamos pela porta, fechando-a


atrás de nós. Afinal, estamos apenas descendo as escadas. Além
disso, tenho um bom pressentimento de que uma mosca não
poderia pousar nela sem que Raven e Sadie soubessem.

Passamos pela porta dos fundos da loja e chegamos à


próxima entrada, onde Hawk tira uma chave do bolso e a
destranca, sinalizando para eu entrar. Caminho pelo espaço vazio,
notando que há uma área de cozinha parcialmente desconstruída.

— Era uma padaria antes. Os empreiteiros estão trabalhando


primeiro na retirada da cozinha, — diz ele.

Eu aceno e sigo até a área frontal, onde ele começa a apontar


e explicar.
— Todos os tatuadores também são artistas tradicionais
incríveis, então nesta parede, eles poderão exibir telas e vendê-las
se quiserem, — diz, apontando para a parede mais distante de nós.

— No início, quero ter mais mercadorias do que temos


agora. Roupas, bolsas e adesivos. Todo tipo de coisas, —
acrescenta. — Então quero mais duas estações de artistas, talvez
um balcão adicional para piercings, e uma sala de piercings nos
fundos.

— Ter um serviço de piercings seria legal, — digo, olhando ao


redor e imaginando.

Ando até a frente do espaço e olho pelas janelas. Posso sentir


os olhos de Hawk atrás de mim.

Ouço as suas botas no piso de madeira, o espaço vazio é uma


caixa de ressonância perfeita para me enervar. Os meus braços
cruzam instintivamente sobre a minha cintura enquanto sinto-o a
se acomodar atrás de mim, provavelmente a apenas alguns
centímetros de distância.

Se eu me concentrar o suficiente, posso sentir a sua


respiração mover meu cabelo a cada expiração.

— Você gosta disto? — Pergunta.

— Acho que vai ficar ótimo, — digo.

— Gosta de trabalhar aqui?

— Realmente gosto, — respondo, com a maior sinceridade


que posso reunir.

O silêncio nos cerca e vários segundos se passam,


estendendo-se em minutos.

— Você gosta de mim? — Ele pergunta.


A sua pergunta me assusta e viro a minha cabeça para olhar
para ele, sem saber o que ele quis dizer ou como responder. Os
seus olhos estão praticamente brilhando no espaço escuro,
iluminados pelos raios de luz que se filtram dos postes de luz na
calçada. Este maldito azul elétrico.

— Claro que gosto de você, Hawk. Você tem sido muito bom
para mim e para a Ava. — Asseguro-lhe.

Há algo sobre a maneira como os seus olhos se estreitam,


apenas uma fração, e seus lábios se abrem como se ele fosse dizer
algo, mas então os pressiona. Isso me leva a acreditar que essa
não era a resposta que ele procurava.

Hawk olha pela janela como eu, e vejo sua mandíbula


trabalhar, estudando os músculos de sua garganta provavelmente
por um momento a mais.

Ele puxa a mão para cima e esfrega a nuca. — Acho que


devemos voltar até Ava, — diz.

Eu aceno porque literalmente não sei mais o que fazer.

Caminhamos de volta para seu apartamento em silêncio, o


tempo todo me perguntando se ele quis dizer outra coisa, algo
mais, quando me fez essa última pergunta.

Permito-me pensar, por um momento, se ele quis dizer mais


do que um amigo.
Os cachorros pularam na traseira do Jeep porque, sim, moro
na cidade, mas ainda insisto em ter um veículo. Às vezes, quero
sair desta caixa de concreto, como hoje. Eu coloco o cooler no
banco traseiro e saio para ir buscar Drew e Ava.

O que me deu para fazer isso? Não sei. Por que acho que será
uma boa ideia? Novamente, não sei, mas acho que Ava vai gostar
e, droga, as crianças merecem alegria. Principalmente ela.

Estaciono na lateral da rua e dou um tapinha em Sadie e


Raven, garantindo a elas que estarei de volta em apenas alguns
minutos, antes de subir as escadas para o apartamento de Drew
no segundo andar. Eu não vou mentir, não gosto deste prédio, é
um pouco sombrio. Parece que algumas pessoas mais velhas
moram aqui, mas também muitas pessoas menos confiáveis vivem
na área. Espero que eles fiquem quietos e lembro-me de perguntar
a Drew se alguma vez lhe causaram problemas.

Três batidas e vários segundos depois, sou saudado por Ava,


que está vestindo shorts e uma camiseta com tênis, conforme as
instruções que lhe tinha dado.

— Ei, Hawk! — Ela agarra a minha mão, puxando-me para o


apartamento. — Entre. Mamãe ainda está se arrumando.

Eu me sento no sofá verde feio como fiz na outra noite, e é tão


desagradável quanto me lembro. É tão áspero e desconfortável
quanto feio, mas me controlei.

Ava senta-se ao meu lado e puxa o seu caderno de desenho


no colo. — Olha no que estou trabalhando! — Exclama, passando
para o que presumo ser a sua mais nova criação.

Tenho que admitir, a garota tem talento. Muito mais talento


do que eu tinha na idade dela.

— Vejo que você está pegando o jeito com os lápis que lhe dei
— Digo, esfregando o topo da sua cabeça e despenteando o seu
cabelo enquanto Ava ri.

— Sobre o que vocês dois estão falando? — A voz de Drew


vem do corredor, meus olhos se erguem para encontrá-la parada
ali, ajustando o relógio do seu pulso.

Eu examino a sua forma de uma vez. Desde os tênis Vans,


passando pelas pernas nuas, até a blusa que expõe os ossos da
clavícula e parte de mim realmente gosta da aparência deles. Eu
quero tocá-los ou tatuá-los, não consigo decidir. Provavelmente
ambos.

— Oi. — Consigo dizer, engolindo em seco. Controle-se,


cara. Ok, sim, Drew é atraente. Isso é bom. Você já viu mulheres
atraentes antes. Guarde-o e se concentre, pelo amor de Deus.
— Olá, — ela sorri para nós.

Antes que possa me conter, levanto e caminho em sua


direção. Eu me inclino e pressiono um beijo na sua bochecha. Não
sei por que o faço, não pensei nisso. A sua mão chega até onde os
meus lábios tocaram a sua pele e ela acaricia o lugar, fazendo a
sua pele pálida ficar rosada com o calor, e eu realmente gosto
disso.

— Pronta para ir? — Pergunto.

Ela acena e recolhe uma pequena sacola, deixando Ava


colocar o seu caderno de desenho e a bolsa de lápis dentro antes
de descermos.

— Uau, você dirige um monster truck5! — Ava diz quando vê


o meu Jeep.

Suponho que para ela, um jeep pareceria um monster truck,


talvez porque ele é preto fosco com aros pretos foscos e janelas
escuras. Eu acho que parece um pouco ameaçador.

— Entre, mocinha. — Digo, abrindo a porta e estendendo a


minha mão para ajudá-la, vejo Sadie e Raven se mexerem com
entusiasmo por sua chegada.

— Certifique-se de apertar o cinto. — Drew lembra Ava.

— E agora você, — digo a Drew, estendendo a minha mão


para ajudá-la a entrar no banco da frente.

Ela dá um passo e pressiona a sua mão na minha, é macia e


pequena, a minha mão grande e calosa envolve a sua
completamente. Ela se acomoda no banco do passageiro e, quando

5
Monster truck é um tipo de caminhonete gigante, feita para competições.
olha para mim e reprime um sorriso, percebo que ainda seguro sua
mão.

— Oh, certo. — Rio, liberando o meu aperto.

Fecho a porta e corro para o lado do motorista. Assim que


entro, esfrego as minhas mãos.

— Então, para onde vamos? — Drew pergunta.

— Bem, espero que você goste de viagens e melodias, porque


temos um pequeno passeio pela frente, — digo, sorrindo enquanto
começo a dirigir.

AVA É UMA ROQUEIRA. Drew parece tão surpresa quanto eu. Nós
dois nos revezamos espiando o seu pequeno corpo, enquanto ela
balançava a cabeça para cima e para baixo ao som do meu rock
and roll incrível, como ela o chamou. Na verdade, coloquei para
tocar Chevelle, Pop Evil e outras coisas semelhantes.

Saímos da cidade e seguimos um pouco para o sul por


algumas horas, indo para o conservatório. As coisas são mais
lentas aqui, um pouco mais calmas. Finalmente chegamos ao
nosso destino e, apesar da longa viagem, Ava está tão animada que
não reclamou nenhuma vez.

Depois de ajudar Drew e Ava, coloco as cachorras na coleira


e começo a andar.

— Onde estamos? — Drew pergunta.


— Num parque. — Eu a vejo olhar ao redor, absorvendo tudo.
Existem pequenos edifícios, áreas de piquenique, áreas cercadas e
trilhas arborizadas ao longo das bordas.

— Não se preocupe, estamos apenas deixando as cachorras,


depois temos algo para ver, — digo.

Ao virarmos a esquina, minhas garotas peludas


imediatamente começam a abanar as caudas.

— Um parque para cães! — Ava exclama.

— As cachorras podem brincar aqui enquanto mostro a vocês


um dos meus lugares favoritos. — Confirmo olhando para ela.

Depois de registrar as cadelas e soltá-las para brincar, levo


as meninas para o prédio no centro, aquele pelo qual viemos aqui.

— O que é um con-servar-tor? — Ava pergunta.

— Conservatório, — corrijo. — Um conservatório de


borboletas, para ser exato.

— Tem borboletas aí? — Ava pergunta, com os seus olhos


brilhando.

— Sim. — Concordo. — Um monte delas.

— O que estamos esperando? — Ava pergunta, mal


conseguindo conter a sua excitação. Ela agarra uma das minhas
mãos, também uma de Drew, nos arrastando em direção à porta.

Nossos corpos balançam para frente para acompanhar a


superforça de uma criança animada, e uma vez que estamos
dentro, começamos a andar pelos corredores do conservatório.
Borboletas circulam livremente acima de nós, preenchendo o
espaço com cores brilhantes, todas voando juntas.
Circulamos pelo local enquanto Ava para em cada vitrine com
répteis e cobras. Ela tem um gosto especial pelas cobras amarelas-
claras. As lagartixas azuis parecem ser as favoritas de Drew, pois
deslizam sobre as pedras e batem o focinho no vidro onde está a
mão dela. Pessoalmente, os meus favoritos são os pequenos
morcegos marrons na sala escura no final. Eles ficam pendurados
de cabeça para baixo sob uma luz negra. Eles são praticamente
cachorrinhos minúsculos com asas.

Ava olha com fascinação, nunca largando a minha mão, ou a


de Drew. Somos uma corrente humana. Ava é o pequeno elo do
meio, ligando todos nós, guiando-nos de uma exibição para a
outra.

De vez em quando, os olhos de Drew encontram os meus e


ela sorri. Então percebo que sou eu que estou sorrindo. Por uma
fração de segundo, acho que estamos tendo algum tipo de
momento, até que Ava nos arraste para a próxima coisa.

Claro que não estamos tendo um momento. Isso seria


ridículo. Não acho que Drew me veja assim. Na verdade, até
recentemente, ela deveria pensar em mim como um idiota. Espero
que me veja como um cara legal agora, ou pelo menos um bom
chefe.

A próxima coisa que sei é que saímos do prédio ainda ligados,


e percebo qual a imagem que devemos mostrar para quem
passa. Para qualquer estranho que não nos conhece, o que
realmente somos, de mãos dadas assim, parecemos uma família.
Nós nos sentamos numa mesa de piquenique, e Hawk traz
um cooler que nem tinha percebido que estava em seu jipe. Ele
realmente tinha tudo planejado. De onde estamos sentados,
podemos ver a área cercada com todos os cães estão
brincando. Sadie e Raven estão se divertindo, e algo me diz que
elas dormirão muito na viagem de volta para casa, e por falar nisso,
é provável que Ava também.

— Isto é para você, — ele diz, colocando um Tupperware na


minha frente. — E isto é para você. — Coloca também um na frente
de Ava. Hawk puxa o seu próprio recipiente por último, deixando
as bebidas na nossa frente.

— Uau, eu tenho uma Coca? Melhor dia de todos! — Ava diz.


— Merda, acho que deveria ter perguntado antes. — Hawk
diz, lançando-me um olhar.

— Está tudo bem, — falo, pegando em seu antebraço e o


apertando, tentando tranquilizá-lo.

Abrimos os nossos recipientes, e enquanto ele e eu temos


uma seleção mais adulta, que inclui os mais deliciosos sanduíches
de salada de frango em croissants e acompanhamentos de salada
de macarrão, vejo que ele se preocupou em embalar para Ava uma
pasta de amendoim e geleia, com uvas e queijo.

— Gostou? — Ele pergunta-lhe.

Ava acena vigorosamente e morde o seu sanduíche, os seus


olhos se arregalando. — Mamãe! É manteiga de amendoim
crocante e geleia de morango!

Eu rio e olho para Hawk, que parece satisfeito consigo


mesmo. Estou satisfeita com ele também. Ele é cheio de surpresas.

Começamos uma conversa leve enquanto comemos o nosso


almoço. Ava é o centro das atenções na maior parte da conversa e
nos diverte com histórias dos seus amigos da escola e
dramatizações da classe. Bem, tanto drama quanto possa existir
numa escola primária. Quando ela termina, pergunta se pode
brincar nas proximidades e eu deixo, pensando que será bom ter
um momento a sós com Hawk.

Enquanto a vejo sentir o cheiro das flores silvestres


desabrochando, noto que Hawk está olhando para ela também.

— Obrigada por hoje, — digo. Percebendo que estou lhe


agradecendo muito ultimamente.

— Não tem de quê, — responde. — Estou me divertindo


muito.
— Posso te fazer uma pergunta? — Hesito em indagar sobre
algo muito pessoal, mas a coceira existe há muito tempo.

— É claro.

— Por que ficou bravo? Ouvindo sobre o pai de Ava?

Hawk enrije um pouco, mordendo o lábio inferior como se


estivesse se perguntando se deveria responder. — Minha mãe
também foi mãe solteira. Ela criou a mim e ao meu irmão mais
velho sozinha, — diz ele.

— Oh, — falo. — E você apenas...

— Por isso entendo, e me deixa tão bravo quanto com meu


próprio pai, — admite.

— Você conversa com o seu pai?

— Posso contar com as duas mãos quantas vezes o vi até fazer


dezoito anos. Então parei de falar com ele, e depois ele morreu. —
Não há emoção em sua voz.

Eu suspiro. — Oh, meu Deus, sinto muito.

— Não sinta. Ele não era um pai para mim ou para meu
irmão. Ele dava algum dinheiro para a minha mãe às vezes, e meu
irmão e eu recebemos o dinheiro do seguro quando morreu. É isso.
— Os ombros de Hawk se contraem e depois caem.

É menos um encolher de ombros e mais uma demonstração


de derrota. Eu sei que ele diz que não se importa, mas parece que
sim.

— Você ainda pode estar triste com isso. Você ainda pode se
sentir triste.

— Prefiro não ficar, — diz ele. — E você?


— Eu?

— Os seus pais, — esclarece.

— Meus pais morreram quando eu tinha dois anos, não me


lembro deles de jeito nenhum. Acho que fiquei aqui com minha tia
Penny por um tempo até que ela não pudesse mais, e então me
colocou num orfanato.

O choque está espalhado por todo o rosto de Hawk, seus


olhos silenciosamente me incitando a continuar.

— Depois de um tempo fui adotada, e eles foram bons o


suficiente, mas nunca nos unimos, se isso faz sentido. Então fui
para a faculdade, e acho que foi por isso que, quando conheci
Curtis e engravidei, me apeguei tanto à ideia de uma família. Eu
nunca tive uma, então queria fazer a minha própria.

Hawk concorda. — Compreendo.

— Sim?

— Sim, também qualquer um em Bird's Eye. Porque foi isso


que fizemos, a nossa própria família.

Eu deixo as suas palavras afundarem, lembrando detalhes


vagos de conversas que tive com cada pessoa lá, e ele está certo. O
relacionamento estressado de Will com seus pais, o pai abusivo de
Avery, a mãe de Hanson era viciada, eu acho. Todos eles, de
alguma forma, expulsos ou magoados pelas suas famílias. Agora,
eles estão juntos, unidos por escolha.

Ava corre, interrompendo o nosso momento intenso, soltando


respirações cansadas, parece que correu uma maratona.

— Posso desenhar agora? — Ela pergunta, se sentando à


mesa de piquenique e tomando um grande gole da sua Coca.
Pego a bolsa que trouxe e tiro seu caderno e lápis. Ela abre
em uma nova página, mas não antes do desenho na página
anterior chamar minha atenção.

— O que é isso? — Pergunto.

— Isso não é nada. — Responde.

Ava nunca escondeu os seus esboços, ela está sempre tão


orgulhosa deles e quer exibi-los.

— Vá lá, nos mostre. — Peço.

Observo-a engolir em seco e mudar o seu olhar entre Hawk e


eu. Ele olha de Ava para mim, a sua curiosidade tão palpável
quanto a minha. Ava relutantemente vira a página, revelando um
desenho de Hawk. Definitivamente é Hawk porque suas tatuagens
também estão desenhadas e está bom, muito bom. Ela capturou a
sua mandíbula afiada, o seu cabelo liso, os seus ombros largos.

— Achei que seria divertido tentar desenhar as suas


tatuagens. Sinto muito, — ela diz, com os olhos baixos.

— Ava, por que você se desculpa? — Ele pergunta, inclinando


a cabeça em direção a ela.

— Não quero que você fique com raiva de mim, — fala.

— Eu nunca ficaria bravo com você por causa disso, Ava, —


ele diz, puxando o queixo dela para que o encare. — Isso é
incrível. Nunca ninguém me desenhou antes.

— Sério? — Os seus olhos começam a brilhar novamente


enquanto a tristeza rapidamente desaparece do seu rosto.

As minhas entranhas estão uma poça, mas me seguro


enquanto observo esta cena se desenrolar.

— Juro, criança, — ele garante a ela.


Não posso dizer com certeza quando as coisas começaram a
mudar. Talvez tenha sido antes, talvez estivesse acontecendo
silenciosamente em segundo plano o tempo todo, mas enquanto
vejo Hawk inclinar-se sobre o esboço de Ava com ela, apontando,
rindo e desenhando, fico emocionada. Felicidade.
Medo. Excitação. Ansiedade.

Uau, são muitas emoções.

Então, em algum lugar bem no fundo, ouço o crepitar das


brasas, os restos de um fogo que uma vez ardeu tão forte dentro
de mim e se apagou há muito tempo. Eu achava que não tinha
sobrado nada, mas aqui está ele, cavando sem saber os escombros,
alimentando uma chama quase morta.
Faça isso. Apenas faça isso, cara. Foco. Diga!

— Espero que Ava tenha se divertido hoje, — digo, em vez


daquilo que realmente queria, parado na porta de Drew.

Depois de ajudá-la a colocar uma Ava adormecida no


apartamento, junto com a sua bolsa, estive aqui de papo por mais
tempo do que o necessário. Sinceramente, não sei o que está
acontecendo comigo agora, não consigo nem fazer uma simples
pergunta, porra.

— Sim, ela se divertiu muito, — diz Drew. — Obrigada


novamente.
Ela me encara, os seus olhos dançando e, se estou
interpretando bem a situação, quase na expectativa. Ela está se
inclinando para mim e eu poderia fazer isso, poderia estender a
mão e lhe tocar o rosto, passar o meu polegar sobre o seu queixo,
roçar os meus lábios contra os dela. Ok, não.

— Você quer ir a um lugar comigo amanhã à noite? —


Pergunto, mordendo meu lábio inferior.

— Apenas eu?

— Eu tenho uma babá, se é com isso que está preocupada.


— Tranquilizo-a, e os seus olhos se estreitam. — Alguém que você
conhece.

— Sim, quero, — responde.

— Sim? — Confirmo.

— Sim. Aonde estamos indo? — Indaga, rindo.

— Eu não posso te dizer.

— Bem, o que devo vestir?

Eu esfrego o meu queixo, olhando para cima, realmente


dando um show. — Algo... Picante.

— Picante? — Ela repete.

Eu a observo engolir em seco, vejo o menor indício de cor


preencher as suas bochechas, então pisco para ela. — Sim,
Drew. Picante. — Sorrio.

Ela silenciosamente acena para mim, absorvendo as minhas


palavras, ou melhor, a única palavra que usei para deixá-la sem
fala.
Digo-lhe que virei buscá-la às sete e vou para o meu jipe,
pegando o meu telefone do bolso enquanto entro.

Eu: Preciso de um favor.

Will: Você já a beijou?

Eu: Estou trabalhando nisso.

POR QUE ESTOU nervoso é um enigma para mim, uma porra de


enigma! Eu não sou um cara nervoso, as mulheres não me
enervam. Ir a encontros geralmente é uma brisa, mas com Drew é
diferente. Ela é diferente. Eu firmo as minhas mãos enquanto paro
do lado de fora da sua porta antes de bater, segurando um buquê
de orquídeas.

Finalmente bato, um momento depois Ava atende a porta.

— Hawk! — Ela diz.

— Ei, querida, — cumprimento, lhe dando um sorriso e


bagunçando o seu cabelo.

Ela agarra a minha mão e me leva para a sala. Eu me sento


no lugar do costume no sofá enquanto ela explica que Will e Drew
estão no quarto.

— Will está aqui há muito tempo ajudando mamãe a se


arrumar. — Podemos sempre contar com ela para ser honesta. —
São para a mamãe? — Ela aponta para as orquídeas, seus olhos
brilhando.

— Você acha que ela vai gostar? — Pergunto.


Ava acena com a cabeça, e nos viramos quando ouvimos o
clique fraco da porta do quarto. Eu fico engolindo em seco.

Will sai primeiro, parecendo satisfeita consigo mesma, e dou


um aceno de cabeça para a minha velha amiga. Ela sempre está
presente quando preciso, mas os meus olhos estão fixos além dela,
por cima do seu ombro.

A cascata loira de ondas fluindo pelos ossos nus da clavícula


chama a minha atenção primeiro. O vermelho profundo das alças
envolve os braços de Drew, tecido de aparência suave abraça todo
o caminho desde os seios até um pouco acima dos joelhos, cada
curva em exibição. Ela está usando salto plataforma preto, o que
a deixa muito mais perto da minha altura, e, por um momento,
esqueço que não estamos sozinhos.

Aproximo-me dela, observando o seu rosto, a sua maquiagem


é sutil, com exceção dos lábios pintados num tom vermelho escuro,
combinando perfeitamente com seu vestido. Oh, os lábios. Levo o
meu tempo, admirando Drew, saboreando o momento, porque ela
é uma visão do caralho. O animal dentro de mim quer manchar
seus lábios vermelhos, agarrá-la pelo pescoço e esfregar o meu
polegar neles até que quase desapareça. E puta merda, pare com
isso.

— Olá. — Digo, entregando-lhe as orquídeas.

— Olá. — Responde, os seus olhos caindo sobre o meu corpo


no que parece ser o mesmo tipo de avaliação que acabei de lhe dar.

— Ok, vocês dois. Divirtam-se, fiquem fora até tarde ou


melhor ainda, fiquem fora a noite toda. Ficaremos bem aqui. Não
é Ava? — Will diz, conduzindo-nos em direção à porta e pegando
as flores da mão de Drew.

— Claro que ficaremos! — Ava diz, acenando para nós do sofá.


A próxima coisa que sei é que estamos no corredor, sozinhos,
e estou pensando em todas as maneiras que quero beijá-la, mas
não o faço. Eu a levo para o meu jipe, ajudo-a a entrar e vou para
trás do volante.

— Você gosta de jazz e comida italiana? — Eu pergunto.

— Amo os dois.

— Ótimo, mas não podemos beber, — digo a ela com firmeza.

— Oh, ok, — fala, confusão aparente em sua voz.

— Você confia em mim, não é?

— Sim.

— Bom. — Então começo a testar as águas, alcançando o


console do meio e deslizando a minha mão na dela, entrelaçando
os nossos dedos.

Drew não recua nem hesita, ela me dá a sua palma e


entrelaça os dedos nos meus, e vejo com o canto do olho um sorriso
se espalhar pela sua boca pintada.
Vamos recapitular?

Assim que Hawk me pediu para usar algo picante e saiu,


imediatamente mandei uma mensagem para Will, por que o que
diabos picante significa? Eu sou mãe desde os dezenove. Devo
colocar molho picante no bolso?

Ela me levou para o que chamou de brechó chique no bairro


rico, e comprei um vestido vermelho deslumbrante e saltos
pretos. Não vou nem comentar sobre como me sinto com eles,
ainda.

Em seguida, passamos o que pareceu um milênio fazendo a


maquiagem e enrolando o meu cabelo da maneira certa. O tempo
todo ela esteve me garantindo que isto é picante.
E então estou pronta na minha sala de estar. Hawk, com um
ar torturado, me olha como se nunca tivesse me visto antes, como
se estivesse com fome, como se quisesse me tocar, e o estou
olhando também, porque ele está usando jeans pretos justos,
botas pretas e a camiseta com decote em V mais branca que eu já
vi. Além disso? Uma jaqueta de couro. Uma porra de jaqueta de
couro.

O cabelo está liso e as suas tatuagens estão aparecendo por


cima da sua camisa, subindo pela sua garganta, e toda a vez que
ele engole parece um sonho molhado, mas em minha defesa, ele
me encara com aqueles olhos azuis elétricos e posso sentir o meu
coração na garganta, e coisas vibrando por toda parte.

Antes que eu perceba, estamos fora da porta.

Estamos de mãos dadas em seu carro. De mãos dadas!

No restaurante, toca um jazz perfeito e suave, a iluminação


fraca nos embala. Uma única vela em nossa mesa ilumina o rosto
de Hawk tão sutilmente, e juro que nunca o vi mais
relaxado. Nossa comida é perfeita e, como ele pediu antes, nós dois
bebemos água.

O que nos traz ao presente.

Estou sentada na cadeira de tatuagem de Hawk, o brilho de


sua lâmpada é a única luz acesa no Bird's Eye Tattoo Studio. Eu
o vejo derramando tinta em pequenos copos, então coloca agulhas
na sua pistola.

Já com as luvas pretas, passa bálsamo na minha clavícula,


onde coloca um estêncil da constelação de Órion sobre a pele, a
parte inferior atingindo o topo do meu peito e envolvendo o topo do
meu ombro. O Cinturão de Órion fica sobre minha clavícula e o
arco do caçador está apontado para dentro, em direção ao meu
peito, são apenas pequenas estrelas e linhas delicadas, mas estou
nervosa.

Talvez seja por estar sendo tatuada, mas acho que é mais
sobre quem está fazendo isso e a sua proximidade.

— Está pronta? — Hawk pergunta.

— Tão pronta como jamais estarei. — Respondo, agarrando


os braços da cadeira e apoiando minha cabeça para trás.

— Apenas respire, — aconselha, e é exatamente o que eu faço.

Então ele se inclina bem perto, e respirar torna-se um pouco


difícil. O rosto de Hawk está a centímetros do meu enquanto paira
sobre meu ombro e pressiona a ponta da sua pistola na minha
pele. A onda de dor vibrante me entorpece quase imediatamente.

— Tudo bem? — Pergunta, sem tirar os olhos de seu trabalho.

— Sim. — Sussurro, tentando manter minha respiração


estável e movimentos mínimos.

— Não é bom beber antes de fazer uma tatuagem. Isso pode


fazer com que sangre mais, — esclarece, enquanto limpa minha
pele e mergulha a agulha novamente.

— Obrigada por ser tão profissional.

— Posso ser muitas coisas desagradáveis, mas levo a


tatuagem a sério, — fala.

— Não acho você desagradável. — Eu ouço a arma parar o


movimento quando os seus olhos encontram os meus.

— Você não acha? — Pergunta.

Balanço a minha cabeça, incapaz de quebrar o contato visual,


os meus lábios se abrem um pouco e mal posso me conter. O meu
coração está batendo tão forte que ele pode até ser capaz de
percebê-lo batendo no meu peito. A minha pele está quente e rezo
para que não esteja ficando vermelha.

A pistola começa novamente e ele olha para baixo, traçando


mais linhas em silêncio. Eu me reclino e fecho os olhos. O tempo
passa sem que eu repare, até que ele anuncia que terminou.

— Você realmente não sangrou muito e não deve escorrer


mais, já que é delicada a tatuagem, mas vou colocar um curativo
para que a tinta não manche seu vestido, — diz ele.

Ele usa dois dedos para cobrir suavemente a pele afetada com
o bálsamo mencionado, em seguida, coloca uma bandagem sobre
a área e fita ao redor das bordas, depois de me mostrar a tatuagem
acabada pelo espelho.

— O que você acha? — Pergunta.

— Eu amei, — falo. — Muito obrigada.

Hawk levanta-se e puxa as luvas de suas mãos, jogando-as


na lata de lixo.

— De nada. Fico feliz em contaminar sua pele, a qualquer


hora, — diz ele.

Parada cardíaca. Oh, meu Deus.

— Oh, e podemos tomar uma bebida agora, se quiser. — Seus


olhos procuram os meus, os seus lábios se separando num sorriso.

— Tudo bem. — Eu esfrego os meus braços, de repente


estremecendo. Estou com frio? Algo errado com a temperatura
daqui? O que está acontecendo?

— Tome. — Ele puxa sua jaqueta das costas da cadeira e a


coloca sobre meus ombros.
Posso sentir o cheiro dele no couro preto gasto. Especiarias e
sabonete. Tento disfarçar o fato de que estou inspirando
profundamente, repetidas vezes.

Ele pega a minha mão na sua novamente, conduzindo-me


pela porta dos fundos e subindo as escadas para o seu
apartamento. De repente, acho difícil respirar novamente. Talvez
seja este vestido ou a poluição da cidade, a poluição do ar é uma
coisa real, ou talvez seja o se, a possibilidade do que pode
acontecer.

Hawk destranca a porta e entramos. Eu logo ouço o clique da


porta fechando atrás de mim, soando tão alto contra o silêncio do
seu apartamento.

— Vou colocar uma música, — diz. Ele pega um controle


remoto no balcão e clica em alguns botões até que o espaço se
enche com uma música suave e sexy.

Ele vai para a cozinha, me serve uma taça de vinho e uma


vodca para si, e quando se aproxima para me entregar a taça,
estende a sua vodca na minha direção. — Um brinde, — fala.

— Por quê? — Eu pergunto.

— À série de eventos que nos trouxeram aqui, — responde, e


apesar da difícil jornada, tenho que concordar. Eu toco a minha
taça suavemente contra o copo dele e tomo um gole.

Uma nova música começa a tocar, uma que nunca ouvi, e


realmente gosto dela. — Que música é esta?

Hawk sorri. Pills, de Denim Blue e Miclain Keith. Ele toma


outro gole de sua vodca, em seguida pega a minha taça e a coloca
no balcão com seu copo. — Dance comigo, — pede, dando um
passo na minha direção com os braços abertos.
Eu ergo minhas mãos quando o alcanço, envolvendo-as em
seu pescoço. As suas mãos deslizam para baixo sobre as minhas
costelas, se acomodam nos meus quadris, enquanto ele me guia
de um lado para o outro. Juro que só bebi alguns goles de vinho,
mas estou com muito calor e muito bêbada. Ele se inclina e
descansa a sua bochecha contra a minha, seu hálito quente atinge
o meu ouvido.

— O que você está pensando? — Pergunto, engolindo para


tentar remediar minha boca seca.

Hawk fica em silêncio por vários momentos, apenas a música


e a sua inspiração e expiração enchendo o ar. — Estou achando
que isso é muito bom. Estou pensando em centenas de maneiras
diferentes de te beijar, e estou pensando que não quero estragar
tudo, — admite.

Eu exalo rapidamente, percebendo que estava prendendo a


respiração enquanto o ouvia. As suas mãos deslizam do meu
quadril para a parte inferior das minhas costas e me puxam para
mais perto, contra o seu peito.

— Drew? — Ele sussurra.

— Sim? — Murmuro de volta contra sua mandíbula.

— Deixe-me te beijar. — Suas palavras saem mais como uma


declaração do que um pedido.

A outra mão de Hawk desliza por todo o comprimento do meu


corpo, agarrando a minha mandíbula de tal forma que sinto as
suas pontas dos dedos pressionadas na minha nuca, o seu polegar
sobre meu queixo. Ele se afasta, seus olhos fixos nos meus,
esperando por permissão.

— Sim, — a minha voz quase inaudível.


O seu polegar pressiona contra o centro dos meus lábios
fechados, em seguida arrasta pela minha pele, manchando o
batom vermelho.

— Eu quis fazer isso a noite toda, — ele sussurra, enquanto


seus lábios se movem mais perto dos meus.

A sua mão desce contra a minha garganta, aplicando a menor


quantidade de pressão enquanto finalmente pressiona os seus
lábios contra os meus. Eles são cheios e macios quando exala
contra minha boca.

Um gemido me escapa e, meu Deus, acho que desperta algo


nele. O seu aperto em volta da minha garganta aumenta um pouco
mais, a sua língua separando meus lábios. Não que eu esteja
reclamando, porque puta merda.

As minhas mãos agarram a parte de trás de sua camisa com


força, e espero que este passeio esteja longe de acabar.
Antes que eu possa me parar, vou de encontro à parede mais
próxima, pressionando o meu corpo no seu, porque, foda-se, ela
tem um sabor tão bom. Inclino ainda mais sua cabeça para trás,
mordendo e chupando os seus lábios, até que finalmente consigo
interromper o beijo, movendo a minha boca para a sua garganta
exposta. Eu lambo, chupo, mordo e beijo, vivendo para os gemidos
que vêm dela.

Ela é divina. Assistir a sua pele ficar rosa me deixa selvagem.

Drew arranha as minhas costas, e não sei se está me


estimulando intencionalmente, mas sou um animal solto. Eu beijo
mais abaixo, mordo a sua clavícula, lambendo o topo de seus seios.
Oh meu Deus, o que diabos estou fazendo? Usando a parede
atrás dela, eu me afasto, respirando fundo várias vezes. O som de
sua respiração ofegante é tudo o que posso ouvir, mas os meus
olhos estão fixos no chão, porque se a olhar vou atacar novamente.

— O que está errado? — Ela pergunta.

Ai Jesus. — Deus, nada. Tudo. Eu quero você, — confesso.

Estou me perguntando se isso soou mais patético em voz alta


do que na minha cabeça. E me perguntando se fui longe demais.

— Então me pegue, — ela diz, talvez eu não tenha abusado


da sorte, afinal.

Não perco tempo, voltando a pressionar contra ela, beijando-


a novamente. Eu me baixo apenas o suficiente para passar os
meus dedos por baixo da borda do seu vestido, subindo para que
possa envolver as suas coxas em volta da minha
cintura. Erguendo-a com facilidade, seguro a sua bunda enquanto
ela geme em minha boca novamente e, juro por Deus, posso me
perder bem aqui contra a parede da minha sala de estar.

As suas coxas apertam ao meu redor, as suas mãos puxando


o meu cabelo enquanto a carrego pelo corredor. Empurro a porta
do meu quarto e caminho até a beira da cama, deitando-a, e fico
de pé diante ela. Ela está me olhando com fome em seus
olhos. Estou desesperado por este momento, consumido pelo
desejo.

— Tem certeza? — Pergunto.

Ela acena com a cabeça suavemente e tiro minha


camisa. Vejo os seus olhos se moverem sobre a minha pele,
saltando de uma tatuagem para a próxima, observando cada
uma. Eu levanto um de seus pés e depois o outro, removendo os
seus saltos altos, beijando os seus tornozelos antes de colocá-los
de volta na cama.

— Drew?

— Sim? — Ela sussurra, enquanto me abaixo próximo a ela.

— Eu realmente quero ver sua outra tatuagem. — Coloco seu


cabelo atrás da orelha e sorrio.

— Procure, — ela provoca.

Um arrepio desce pela minha espinha. Ela. É. Uma. Diaba.


De. Mulher.

Ajoelho-me aos pés da cama, beijando suavemente a parte


interna de seus joelhos, abrindo um pouco mais as suas pernas,
empurro o vestido mais alto, beijando uma trilha sobre as suas
coxas até encontrar o passarinho. Um pequeno pardal senta bem
onde sua coxa encontra seu quadril. Ela ri quando pressiono meus
lábios nele.

Então coloco um beijo em cima de sua calcinha, mas ela não


ri dessa vez. Ela agarra os lençóis da cama enquanto a sua
respiração fica mais rápida e difícil. Posso sentir o seu corpo
resistindo ao impulso de se arquear na minha direção, para
convidar mais ao toque.

Apoio-me o suficiente para olhar em seus olhos de mel


encobertos, escurecidos e nublados, os meus polegares
engancham na borda da sua calcinha de renda, e a deslizo para
baixo até que caia no chão. As minhas mãos seguram a sua bunda
enquanto eu olho para o seu ponto sensível. Estou salivando.

— Hawk? — A voz de Drew corta o meu foco e olho para ela. —


Só porque não tenho um monte de tatuagens, não significa que
você tem que ser gentil, — diz, sem hesitação em seu tom.
Oh, foda-se. Desafio aceito.

Eu abaixo e lambo o centro dela lentamente, em seguida,


sopro. Ela arqueia e geme. Eu lambo novamente, girando minha
língua em círculos até que sinto as suas pernas começarem a
tremer. Então eu me afasto e sopro contra sua pele novamente. Ela
geme mais alto, cobrindo a boca.

— Ninguém pode ouvir você, — sussurro contra ela.

Ela move a mão de volta para os lençóis, segurando-os com


mais força.

Eu lambo novamente, em seguida, chupo seu clitóris, a


minha língua mais e mais insistente, fazendo-a arquear as costas,
as pernas balançando. Drew pressiona-se na minha boca, um
apelo por mais.

— Hawk, por favor, — implora.

— O quê? — Pergunto, soprando contra ela novamente.

— Eu quero você, — ela diz, se abaixando para mim.

— O que você quer, baby?

— Eu quero você dentro de mim. Eu quero tudo de você, —


fala.

Lambendo o gosto dela dos meus lábios, levanto-me e começo


a desabotoar a minha calça. Ela se senta e abre o zíper da lateral
do vestido, puxando as mangas para baixo, expondo seus
seios. Perfeição.

Drew joga o vestido no chão enquanto a luz da rua entra pela


janela, iluminando sua pele de porcelana, e fico hipnotizado por
ela. Pele leitosa. Olhos de mel. Tão doce.
Drew fica na beira da cama, onde estou congelado no lugar,
ajudando a desabotoar minhas calças. Deixo as minhas mãos de
lado, para que ela assuma a liderança. Ela abre o zíper,
enganchando as mãos na parte de cima da minha cueca e calça ao
mesmo tempo, puxando tudo para baixo num movimento fluido.

De repente, estou exposto e ela envolve a sua mão mim, me


encarando. Eu não sabia que era possível alguém parecer tão
angelical e diabólica ao mesmo tempo.

Ela coloca o meu pau na sua boca, e é preciso toda a minha


concentração para não gozar no instante em que sinto a sua língua
contra mim, porque, caralho, se houver um paraíso e puder ir para
lá, quero isto. Exatamente isto, não as não sei quantas virgens
prometidas no Alcorão6.

Depois de alguns minutos, ela para e se deita na cama, se


movendo até atingir os travesseiros, coloca as mãos atrás da
cabeça e me encara.

— Vamos. Estou esperando. — Ela ri.

Pego um preservativo da cômoda, rasgo a embalagem e o


coloco. Eu me viro e rastejo pela cama em sua direção, me abaixo
e a envolvo nos meus braços. Beijo os seus seios, chupo seus
mamilos, passo a minha língua até seu esterno. Ela geme
novamente e eu rosno. É gutural, de algum lugar dentro do meu
peito.

As suas pernas se separam e se engancham em torno de mim


enquanto me esfrego contra ela, saboreando a provocação, a forma
como o seu corpo se arqueia mais uma vez. Então me empurro
dentro dela lentamente, por completo, ouvindo a sua inspiração

6
Alcorão é a "bíblia" da religião islâmica, e nele está escrito que todo o homem que se sacrificar pela causa
islâmica será recompensado com virgens no paraíso.
forte contra o meu peito. Deslizo para fora e volto para dentro,
desaparecendo dentro dela.

Nossos quadris se movem juntos até encontrarmos um ritmo


confortável. Os seus gemidos ficam mais fortes e mais profundos
até que ela está quase gritando. Eu pressiono nela, mais forte,
mais rápido, alcançando seus seios, a minha boca contra a dela,
separando os seus lábios com minha língua novamente, beijando
seus gemidos.

— Eu vou gozar, — ela diz contra a minha boca, enquanto me


perco mais profundamente dentro dela.

— Sim, goze para mim, — imploro.

Sinto o seu corpo estremecer contra o meu, apertando e se


contorcendo de prazer. Ela enrijece, depois relaxa, e só então
sucumbo aos meus próprios desejos. Segurando-a com força, gozo
para ela, por causa dela. Em seguida, desabo, tentando conter a
minha respiração irregular.

Drew envolve os seus braços em volta de mim, colocando


beijos suaves contra a minha têmpora, bochecha e mandíbula.

Eventualmente, e bem relutante, saio dela, o seu corpo


imediatamente aninhado ao meu lado. Ficamos em silêncio por um
longo tempo, nós dois apenas tentando recuperar o fôlego. Eu ouço
o ritmo dentro e fora enquanto sincronizam um com o outro.

— Você já percebeu como as pessoas são como conchas? —


Ela diz.

— O quê?

— Se você colocar o seu ouvido no peito delas assim, pode


ouvir o coração batendo, o sangue passando e os pulmões se
enchendo, tudo de uma vez. Há um mundo inteiro lá dentro, — ela
responde, sua orelha pressionada firmemente contra meu peito.
— Acho que nunca pensei nisso, — digo. Eu enrolo as mechas
de seu cabelo em volta do meu dedo e fecho os olhos, aproveitando
o momento.

— Aqui, tente. — Ela está deitada de costas, me convidando


a colocar a minha cabeça em seu peito, com os braços abertos para
mim.

Envolvendo os meus braços em torno dela, coloco minha


cabeça no seu peito, pegando a maior parte. — Mmmm,
travesseiros embutidos, — pondero.

Ela ri e diz: — Ouça.

Fecho os meus olhos e me concentro nos sons vindos do seu


peito. Eu ouço seu coração batendo primeiro, então os seus
pulmões se enchendo enquanto ela inspira e expira, um grande
som rodopiante acompanha tudo isso, muito parecido com o som
do oceano que você ouve em uma concha. Realmente é como se
houvesse um mundo inteiro dentro do seu peito.

Então me ocorre. Drew é uma concha. Pequena e delicada,


despretensiosa por fora, mas se você ouvir com atenção, existe um
mundo inteiro lá dentro.
Meu rosto ainda está aninhado entre os seios suaves e
requintados de Drew quando os meus olhos se abrem. Seu
batimento cardíaco está consideravelmente mais lento, a
respiração estável. Quando adormecemos? A luz do dia turva entra
pelas janelas.

— Bom dia, — ela diz suavemente, esticando os braços sobre


a cabeça.

Apoio-me no cotovelo, a olhando à luz do amanhecer, porque


acredito que é quando as mulheres são mais vulneráveis, e por
extensão, mais bonitas. As ondas antes perfeitas em seu cabelo
agora estão uma bagunça, a delicada pele ao redor de sua boca
está inchada dos meus beijos, manchada do vermelho do seu
batom, o rímel está borrado sob os olhos. Ela me encara, aquele
brilho de mel mais intenso do que nunca neste momento. Ela é
uma deusa.

— Bom dia, linda. — Respondo, estendendo a mão e


pressionando um beijo na sua testa.

— Que horas são?

Eu olho por cima do ombro para o relógio na minha mesa de


cabeceira. — Um pouco depois das sete.

— Você pode enviar uma mensagem de texto para a Will? —


Ela pergunta. — Só para ter certeza de que está tudo bem?

Aceno, estendendo a mão para o chão, tateando os bolsos da


minha calça e encontrando o meu telefone.

Eu: Está tudo bem?

Will: Queremos ir até aí para o café da manhã.

Reviro os olhos, porque o que ela realmente quis dizer é que


sugeriu isso a Ava, então pode vir e nos interrogar silenciosamente,
tornar isso estranho para nós na frente de Ava como um meio de
tortura.

Eu: O quê? Não.

Will: É tarde demais. Ava já escolheu roupas para Drew, e


estamos pegando um pouco de comida e café no
caminho. Estaremos aí em breve.

Eu lanço um olhar para Drew. — Então... quer companhia?


— Eu lhe pergunto, nervosismo crescendo em mim.

— O que você quer dizer?

— Will meio que convidou a si mesma e a Ava para o café da


manhã. Elas estão trazendo algumas roupas, junto com o café da
manhã, — digo, estremecendo. Espero uma reação, imaginando
que talvez ela entre em pânico, pelo menos um pouco.

— Você tem algo que eu possa usar até elas chegarem aqui
com minhas roupas? — Ela pergunta.

Ok, não é o que eu esperava. — Você não está chateada?

— Por que eu ficaria chateada? Todas as minhas pessoas


favoritas estarão aqui para o café da manhã. — Ela se inclina para
me beijar na bochecha.

— Eu não sabia se você gostaria que Ava nos visse, tipo... eu


não sei, você sabe? — As minhas palavras morrem porque não sei
o que diabos estou tentando dizer, porque nunca fiz nada disso
com alguém com um filho, não sei quais são as regras.

— Bem, quero dizer, não quero que ela nos veja deitados nus
na cama, não. — Ela ri.

Eu dou a ela aquele olhar. Você sabe que estou tentando ser
sério aqui, olha.

— Hawk, ouça. Ela gosta de você. Vocês são amigos, acho que
está tudo bem para ela nos ver abraçando, de mãos dadas, talvez
não devêssemos nos beijar na frente dela ou algo assim? De
qualquer maneira, ainda não.

O que ela diz faz sentido. Achei totalmente que precisaria


fingir uma barreira invisível de quinze centímetros entre nós o
tempo todo, então estou um pouco aliviado. — Ok, sim. Por mim
está tudo bem, — concordo depois que as suas palavras
acalmaram o meu pânico.

— Bom. Posso ter algumas roupas agora? — Ela pergunta.


Meus olhos deslizam sobre o seu corpo nu uma última vez,
guardando-o na memória. Eu pressiono meus lábios em uma linha
dura, exalando profundamente.

— Acho que não posso simplesmente mantê-la trancada no


meu quarto, nua e pronta para o sexo o dia todo, — digo, me
levantando da cama e caminhando até a cômoda.

Eu a ouço afastar os lençóis e se levantar, em seguida sinto


os seus braços me envolverem por trás. Ela estende a mão e agarra
o meu peito.

— Eu prometo que se puder ter roupas agora, vou compensar


mais tarde, — ela sussurra, seu hálito quente batendo na minha
espinha.

Viro-me para encará-la, meus olhos profundamente


conectados aos seus. Sem os saltos, eu me elevo sobre ela.

— Como vai fazer isso exatamente?

— Você é um psicopata, sabia? — Ela ri.

— Já fui chamado de coisas piores, — digo, inclinando-me e


pressionando a minha testa na dela.

— Se eu puder ter roupas agora... — Diz. — Vou deixá-lo me


vestir como uma camisa de força mais tarde.

Porra. Combinado.
Sem surpresa, Hawk não tem exatamente roupas que me
sirvam. Quando Will chegou com Ava, eu estava usando uma de
suas camisetas, que me engoliu, e um par de shorts de basquete
apertados e enrolados. Então, acho que você poderia dizer que
estou grata por elas terem pensado o suficiente para me trazer
roupas.

Saio do banheiro vestindo a minha própria legging e sutiã


esportivo, mas não consegui me separar da camisa que cheirava a
ele, então dei um nó na parte de trás e decidi ir para o look chique
preguiçoso de domingo. Claro, isso funciona.

— Você ainda está usando a minha camisa? — Hawk


pergunta do balcão da cozinha. Todos os olhos estão em mim
enquanto caminho até eles.
— Sim. É mais confortável, — encolho os ombros. Ele levanta
uma sobrancelha para mim e me sento num banquinho, ignorando
as suas acusações silenciosas. Em vez disso, pego um café gelado
da cafeteira e digo: — Will, você é uma salva-vidas, em mais de
uma maneira. — Dou-lhe um agradecimento silencioso de mulher
para mulher.

— Não mencione isso. Mas diga-me, como foi sua noite? —


Ela pergunta, olhando entre nós, apoiando o cotovelo no balcão e
o queixo na mão. Seu sorriso cresce, e sei que o meu peito está
ficando manchado, sinto o calor irradiando da minha pele.

— Sim, Drew, como foi a nossa noite? — Hawk pergunta.

Que porra é essa? Ok, também posso jogar. — Perfeitamente


normal, obrigada.

— Apenas normal? — Will pergunta, lançando a Hawk um


olhar divertido, para o qual os seus olhos se estreitam.

— O que vocês fizeram? — Ava interrompe.

Ugh, isso não pode estar acontecendo. — Jantamos e ouvimos


música, — respondo, lhe dando a versão censurada, não aquela
totalmente proibida para menores.

— Parece chato. — Ava dá de ombros, fazendo Will rir.

— Bem, não é quando você é adulta, — digo.

Ela encolhe os ombros novamente, voltando para o sanduíche


do café da manhã e seu leite com chocolate.

— Se você me perguntar, — Hawk fala. — Acho que foi um


pouco mais do que normal.

— Os homens sempre pensam isso. — Will retruca,


inclinando a cabeça para ele.
Hawk olha para mim, esperando, como se eu devesse
esclarecer tudo agora. Então Will vira-se para mim. Oh meu
Deus. Meu rosto inteiro está queimando. Eu posso sentir isso, vai
derreter a qualquer momento.

— HAWKWARD.7 — Will diz, balançando a cabeça.

— Você acabou de colocar o meu nome junto com a palavra


embaraçoso? — Hawk pergunta a Will.

— Sim. — Will afirma. — Quer que eu faça uma hashtag?

— Eu gostaria que você não fizesse isso, — diz ele.

— Hashtag Hawkward. — Will ri. — Eu gosto disso.

Isso está ficando fora de controle. Todo o tempo, Ava está


apenas dando mordidas em sua comida, completamente
inconsciente. Os dois adultos na sala olham para mim novamente.

Eu começo a gaguejar, — Eu, uh, quero dizer... tudo foi...

— Veja, — diz Hawk.

— Ok, ok. — Will levanta as mãos em derrota. Depois vem


ficar ao meu lado, envolvendo o seu braço pelo meu ombro. — Você
ficou sem palavras, baby. Está tudo bem. Todos nós já passamos
por isso.

Meus olhos se arregalam e olho para Hawk.

— Eca, nojento. Não com Hawk. Eca, — ela fala.

— Ei. — Hawk diz. — Shiu.

7
Ela faz um trocadilho com a palavra awkward, que significa embaraçoso, e o nome dele HAWK.
— Só quero dizer em geral, — ela esclarece.

— Ei, Hawk? — Ava interrompe, entre mordidas do seu


sanduíche.

— E aí, garota? — Ele responde, antes de morder o seu


próprio sanduíche.

— Você é o namorado da minha mãe agora? — Ela pergunta,


sem pausa ou hesitação em sua voz. Deixe que as crianças façam
as perguntas mais contundentes.

Se nunca viu um homem bem musculoso e tatuado, com uma


mandíbula rígida e comportamento frio, se engasgar com a comida
por uma pergunta simples de uma menina de oito anos, você
deveria. Eu recomendo. Pedaços de comida voam da sua boca
enquanto ele se engasga e bate no peito. Will e eu observamos
enquanto Ava bebe o seu leite com chocolate como se nada tivesse
acontecido.

Hawk toma alguns goles de água e me lança um olhar de


“AJUDA! O QUE EU DIGO?”, mas apenas encolho os ombros em
resposta, porque também não sei o que diabos dizer. Além disso,
eu meio que quero vê-lo se contorcer.

— Hum, bem, isso é algo que você gostaria, ou não? — Ele


pergunta a Ava.

— Acho que vocês seriam bons como namorado e namorada,


— ela responde.

Os olhos de Hawk se arregalam e eu cubro minha boca,


olhando para Will, que parece satisfeita enquanto toda essa cena
se desenrola.

— Você acha? Por quê? — Ele pergunta a ela.

— Bem, você acha que ela é bonita, não é? — Ela pergunta.


Juro por Deus que o homem fica vermelho.

— Sim, — ele concorda. — Sua mãe é muito bonita.

— E ela é legal e engraçada, você é legal e engraçado, e eu sei


que ela o acha bonito, — diz ela.

— Ela acha, hein? — Ele pergunta a ela, virando-se para mim


e levantando uma sobrancelha.

— Sim, eu a ouvi dizer a Will que ela acha que você


é yummmyyy, — Ava diz.

E então eu morro. Bem ali, de repente, e o meu fantasma


flutua até o teto.

— Bem, isso é bom. — Ele ri, cruzando os braços sobre o


peito, parecendo bastante presunçoso.

— E você gosta de mim, não é? — Ava pergunta a ele, e o meu


coração realmente dói com essa indagação.

Observo Hawk engolir em seco e descruzar os braços,


caminhando em direção a ela. Ele bagunça o topo de sua
cabeça. — Claro, garota, — responde. — Você é a melhor.

Os olhos de Ava se iluminam, e sou tomada pela felicidade e


pelo medo ao mesmo tempo. Porque já vi esse olhar antes, quando
o seu pai a surpreendia com dias especiais de pai e filha, quando
a deixou ficar acordada para assistir a um filme com ele, quando
ele dizia que ela era a sua princesinha. Até que esses momentos se
tornaram cada vez menos frequentes. Após a separação, eles
pararam completamente, e se seu pai arrancou isso dela, como
posso confiar que outro homem não o faça?

— Então…? — Ava diz.


Ele dá a Ava um longo olhar, estudando o seu rosto e
absorvendo suas palavras. — Você está certa, garota, só há uma
coisa lógica a fazer. — Ele caminha na minha direção, um sorriso
malicioso brincando em seus lábios.

Oh Deus. Oh Deus. Oh Deus. O que ele está fazendo?

Ele fica na minha frente e pega na minha mão. — Drew, —


ele diz suavemente. — Você será minha namorada?

Eu engulo em seco, olhando para Will, cujos olhos estão tão


arregalados quanto os meus, então olho para Ava, que está
praticamente caindo da cadeira com antecipação.

— Sim, — respondo suavemente.

— Yeah! — Ava exclama. — Agora beije ela!

Oh céus.
Na semana passada, eu era apenas Drew. Esta semana,
ainda sou Drew, mas também sou a namorada do proprietário
muito sexy e ardente do Bird's Eye Tattoo Studio, e tem sido uma
semana muito, muito boa para mim. O trabalho está regular e
estou me acostumando ao ritmo da loja.

Apesar dos pedidos constantes, tanto de Ava quanto de


Hawk, resisti aos seus apelos, para que todos nós
tivéssemos festas do pijama no apartamento de Hawk todas as
noites.

Exceto agora, que é sexta à noite. E a minha desculpa de não


pode fazer festas de pijamas em dias de escola foi jogada pela
janela. Então aqui está ela no balcão da frente do Bird's Eye,
esperando pela minha resposta. Porque a regra de proibição de
menores na loja não se aplica à filha da namorada do rei Hawk, e
bem ao lado dela, Hawk está de pé com a mão em seu ombro em
total apoio a sua missão.

— Comprei aperitivos de filmes, — diz ele.

— Por favor, por favor, mãe? — Ava entrelaça as mãos com


tanta força que os nós dos dedos estão começando a ficar brancos.

— E podemos alugar o novo filme Frozen, — ele acrescenta.

Os olhos de Ava ficam grandes como pires e sei que


oficialmente perdi.

— Ok, podemos ter uma festa do pijama, — cedo.

— Sim! — Ela grita.

— Oh, e você pode olhar para cá? — Eu puxo a sacola que


tinha escondido atrás do balcão o dia todo. — Eu vim preparada.

Hawk sorri para mim, seus dentes brancos afundando em


seu lábio inferior.

Fechamos a loja e subimos para o apartamento dele mais


cedo, onde somos recebidos na porta por Raven e Sadie,
balançando os seus corpos inteiros e lambendo Ava como se
tivesse passado um mês desde que a viram.

— Ei, Ava? Você quer construir um forte na sala de estar? —


Hawk pergunta.

Se o queixo da minha filha caísse um pouco mais, eu o estaria


raspando do chão com uma espátula.

— O armário do corredor deve ter tudo que precisamos, — ele


aponta para o corredor.
Ava corre como se estivesse pegando fogo, voltando com os
braços carregados com tantos cobertores e lençóis quanto o seu
corpinho pode carregar. Então ela corre de volta para mais.

Hawk arranca as almofadas do sofá, pega todas as almofadas


do apartamento inteiro, os dois insistindo que têm controle sobre
isso e eu deveria ficar encarregada dos lanches, por isso começo a
trabalhar preparando tigelas de pipoca, sacos de doces e um prato
de sanduíches em miniatura. Eu até uso uma tigela gigante como
um refrigerador improvisado para os refrigerantes e caixas de
suco.

— Tudo pronto, — exclama Ava.

Eu me viro e vejo na sala de estar o maior forte de cobertores


que eu já vi. Ele se estende da parte de trás do sofá por toda a área
da sala de estar até a parede em que a televisão está ligada, de
modo que a TV está realmente dentro do forte. — Uau, — é tudo o
que posso dizer.

— Muito incrível, hein? — Hawk diz.

— Isso é realmente impressionante, — falo.

— Não é a minha primeira vez, — ele conta, e agora estou


pensando em que outra vez Hawk esteve fazendo fortes com
cobertores.

Nós nos revezamos para vestir nossos pijamas, então é hora


do evento principal.

Todos nós entramos e, como prometido, Hawk aluga


Frozen II. Até Raven e Sadie se enroscam lá dentro. Ava está
deitada entre mim e Hawk, assistindo ao filme com intensa
concentração por cerca de cinco segundos até Hawk intervir.

Enquanto olho para o filme de vez em quando, me pego


assistindo mais a Hawk e Ava. Eles riem e brincam, ele faz cócegas
nela, ela dá um soco no braço dele. Ele bate no nariz dela e ela
tenta jogar pipoca em sua boca. Ela finalmente vira os olhos de
volta para o filme e ele pega o meu olhar, um sorriso florescendo
em seus lábios. Ele murmura um oi silencioso e faço o mesmo de
volta. Ele estende a mão para mim, colocando meu cabelo atrás da
orelha, em seguida, bate no meu nariz também. Eu sorrio.

Todos nós ficamos em silêncio, ouvindo Anna e Elsa salvar o


mundo mais uma vez. Em pouco tempo, Ava adormece, sua boca
escancarada, um pouco de baba acumulando em seu queixo.

Hawk acena com a cabeça em direção à entrada da tenda e


nós escorregamos para fora, com cuidado para não a acordar,
esticando os nossos braços sobre as cabeças quando saímos. Eu o
olho e percebo que está me encarando e caminhando lentamente
na minha direção com o dedo indicador sobre os lábios.

Eu recuo contra a parede enquanto ele se aproxima,


pressionando sua bochecha na minha.

— Ei, — ele diz, sua voz um estrondo baixo.

— Olá, — sussurro de volta, quase sem fôlego.

— Tenho estado muito bem esta semana, sabe. Mesmo para


um psicopata. — diz ele.

— Sim, você tem. Você só me abordou no trabalho algumas


vezes. — Rio.

— Ainda estou esperando, no entanto, — ele diz.

— Pelo quê?

As mãos de Hawk deslizam por todo o comprimento do meu


corpo, em seguida pressionam contra meus seios. Ele os segura
com firmeza, movendo sua boca sobre minha orelha, mordiscando-
a. — Para vestir você como uma camisa de força.
Arrepios sobem por mim, em cada pedaço de pele
exposta. Sinto borboletas no estômago, mas não exatamente no
estômago. Sim, na minha vagina. Tenho borboletas na vagina.

Ele desliza as mãos para baixo, sob a borda do meu short do


pijama, os seus dedos deslizando sobre minhas coxas. — Diga-me
que posso, — ele implora.

— Sim, — eu sussurro contra a sua pele.

Ele devora a minha boca com a sua, a língua contra a minha,


e eu posso sentir o seu cheiro, e, Deus, ele cheira tão bem que me
deixa louca. Ele se afasta e me levanta por cima do ombro,
agarrando minha bunda. Eu rio e cubro a minha boca.

— Shhh, você vai nos denunciar, — diz ele. Hawk, o bombeiro,


carrega-me de volta para o seu quarto, me colocando no chão
somente depois que ele fecha cuidadosamente a porta atrás de nós.

Eu puxo a sua camisa enquanto ele se inclina para me


permitir tirá-la completamente, as minhas mãos esfregando
instintivamente sobre a extensão do seu peito, então descem para
os músculos ondulados do seu estômago. Ele inala profundamente
sob o meu toque enquanto puxa a minha camisa, os meus dedos
provocam a pele macia em cima da sua cueca boxer antes de puxá-
la para baixo junto com o seu short.

Eu recuo alguns passos e olho para ele, admirando-o.

— O que você está fazendo? — Ele pergunta, olhando para


seu próprio corpo nu.

— Apenas arquivando essa memória para depois. — Suspiro.

— Qual exatamente? — Ele ri.


Eu aceno com minha mão no ar apontando para todo o seu
corpo, e ele fecha a curta distância entre nós, me pegando em seus
braços e me beijando.

— E você me chama de psicopata, — diz, rindo de


novo. Então, Hawk me empurra de volta para sua cama e puxa
meu short. — Vire-se, — ele ordena.

Oh. Ok, sim. Eu me viro, apoiando nas minhas mãos e joelhos,


olhando por cima do ombro para Hawk. Seu rosto é severo, feições
de mármore. Eu o vejo pegar um preservativo e colocá-lo. Então
ele dá um tapa na minha bunda e agarra um punhado dela,
amassando. Ele se ajoelha atrás de mim, esfregando-se contra a
minha entrada, com a mão na parte inferior das minhas costas.

— Incline-se, baby, — fala, envolvendo o seu braço em volta


de mim e puxando as minhas costas contra seu peito. Ele puxa
meu cabelo para o lado, beijando e mordendo o meu ombro, para
cima e para baixo no meu pescoço. Ele morde a minha orelha e a
chupa, sopra o seu hálito quente contra minha pele molhada. Eu
gemo e pressiono minha bunda contra ele, silenciosamente
implorando por mais.

— Drew? — Ele chama contra a minha bochecha.

— Sim? — Eu expiro.

— Eu gosto de você, — diz.

— Eu gosto de você também, — respondo, sem fôlego, com o


peito arfando.

Ele desliza para dentro de mim lentamente. Cada centímetro


dele me preenche, tornando difícil respirar. As suas mãos me
envolvem, acariciando os meus seios, beliscando os meus mamilos
e massageando a minha pele. Eu gemo no quarto silencioso.
— Shhh, — ele sussurra, balançando nossos corpos para
frente e para trás, empurrando em mim uma e outra vez.

— Eu não acho que posso, — sussurro de volta, tentando


abafar os gemidos que crescem na minha garganta.

— Eu posso ajudar. — Hawk cobre minha boca com sua mão,


tomando cuidado para não obscurecer minha capacidade de
respirar. Ele usa isso a seu favor, alavancando minha cabeça para
trás para que eu me incline mais para ele.

O ritmo acelera enquanto ele empurra em mim


repetidamente. Os meus gemidos abafados na palma da sua mão
enquanto ele morde a minha clavícula. Ele encontra o meu clitóris
com dois dedos da mão livre e esfrega círculos sobre a minha área
mais sensível, me enviando numa espiral da maneira mais
deliciosa.

— Goze comigo, — ele comanda, e não o decepciono.

Nós desabamos depois disso, enrolados um no outro, com o


peito arfando, tentando desesperadamente recuperar o fôlego.

Esse sentimento, esse momento, é tudo e eu quero adormecer


bem aqui, assim.

— Não adormeça, — ele sussurra, se afastando de mim.

— Por quê?

— Temos que voltar para o forte, — ele me lembra.

Meus olhos se abrem. Ava. Certo.

Nós rastejamos de volta para o forte depois de nos vestirmos,


de volta aos nossos lugares originais. Em algum momento,
enquanto estávamos fora, Ava chutou o seu cobertor e Hawk a
cobre novamente. Meu coração terno mal consegue aguentar. Ele
se apoia no cotovelo, olhando para ela.

— Ela é boa, — diz.

— Sim, — concordo, sorrindo para ela.

Ele deita a cabeça no travesseiro, olhando para os cobertores,


mas eu fico olhando para os dois um pouco mais. Não me lembro
de ter sentido isso com Curtis. Essa excitação, essa
eletricidade. Nunca. Assim não. Deito-me e fico olhando para os
padrões dos cobertores, absorvendo tudo.

Essa felicidade vai durar? Ou vai doer mais porque parece


muito maior? Eu sei que está apenas começando, mas não posso
deixar de pensar no futuro. Talvez seja por causa de Ava, mas
estou sempre tentando pensar no futuro. Estar um passo à frente
da dor no coração. Eu finalmente adormeço, pensamentos
sórdidos girando em volta.

MEUS OLHOS SE abrem sob a luz suave dentro do forte de


cobertores. Eu me viro para ver se Ava e Hawk estão acordados,
mas ambos ainda estão dormindo. O braço de Ava está esticado
sobre o peito de Hawk, a cabeça apoiada em seu ombro, a sua mão
está perfeitamente dobrada sobre a dela.

Eles estão apenas deitados ali, tão naturalmente quanto duas


pessoas já fizeram, como se estivessem fazendo isso desde
sempre. Lágrimas brotam dos cantos dos meus olhos, o meu
coração incha e desaba uma e outra vez.
Lá, no forte de cobertores, encontro-me tendo um ataque de
pânico silencioso nas primeiras horas da manhã, enquanto todo o
meu mundo dorme a centímetros de distância. Eu entro em
pânico.

E então eu fujo.
Corrija-me se eu estiver errado, mas quando você está em um
relacionamento com alguém, você deve realmente se comunicar,
certo? Talvez uma ou duas mensagens de texto? Talvez um
telefonema? Sinal de fumaça? Mas é domingo à noite e não recebi
nada. Apenas silêncio. Acho que ela está me evitando e estou
preocupado, considerando que ela saiu com pressa na manhã de
sábado. Na verdade, se ela tivesse tentado sair mais rápido pela
porta, ela teria jogado Ava escada abaixo.

Eu lhe mandei uma mensagem para ter certeza de que estava


tudo bem, ter certeza de que ela estava segura em casa pelo menos,
e o que ela faz? Ela me responde com apenas uma palavra,
sim. Porra, sim, e é isso. Isso é tudo que consegui dela durante
todo o fim de semana. Eu tentei ligar, mas ela enlouqueceu
apertando o botão para rejeitar a chamada. Direto para o correio
de voz como se eu fosse um maldito cobrador de dívidas. Enviei
uma mensagem de texto de boa noite, perguntando como estava
Ava, e silêncio.

Escute, geralmente não sou aquele cara, está bem? Aquele


cara perseguidor super pegajoso que está pirando depois de
namorar por uma semana, mas isso está me fazendo sentir como
aquele cara. Mesmo assim, meio que me sinto justificado agora,
justamente agora, em pé na frente da porta de seu apartamento,
sem ser convidado, e pronto para perguntar a ela o que diabos está
acontecendo.

Inclino o meu antebraço contra a moldura da porta e


bato. Depois de vários momentos, Drew abre a porta, os seus olhos
baixos, o braço dobrado na sua cintura. Quase posso sentir o quão
chateada ela está no espaço entre nós, tento alcançá-la mas dá um
passo para trás.

— Drew, o que há de errado? — Pergunto.

— Nada, — responde.

— Certo. Bem, não quero dizer que não acredito em você nem
nada, mas isso me deixa numa posição realmente difícil.

— Olha, acho que podemos ter começado algo que foi uma
má ideia, — fala, com os olhos ainda nos pés.

— Espere o quê? — Eu tropeço para trás. — Jesus, pensei


que algo tivesse acontecido. Achei que você estivesse chateada
com... não sei, outra coisa. Mas não eu. Não nós.

— Escute, você não fez nada de errado, — ela começa.

— Oh, que alívio. Não fiz nada de errado e ainda estou sendo
dispensado. Isso torna tudo melhor. — Eu faço uma careta. — Isso
não faz sentido.
— Só não acho que me envolver com alguém seja uma boa
ideia agora, — diz ela.

— Por quê? Por que você está realmente terminando isto? —


Tento manter a minha voz calma porque, porra, ainda estamos no
corredor do prédio dela, mas está ficando difícil.

— Por quê?! Por causa de Ava, ok? — Ela exclama.

E não entendo porque pensei que Ava e eu éramos


ótimos. Então, calmamente, digo isso. — Eu não entendo.

— E você nunca vai, porque você não é pai, mas a verdade é


que ela está apegada. Muito apegada, e o seu próprio maldito pai
a deixou, e se ele pode fazer isso com ela, o que me faz pensar que
você não vai? — Ela diz, com veneno em seu tom.

Eu engulo em seco, porque entendo melhor do que ela pensa,


mas ela não precisa ouvir nada de mim agora, uma vez que uma
mãe chega a este lugar, a estes pensamentos e sentimentos, é
difícil discutir com ela, difícil racionalizar qualquer outra coisa.

— Ok, — digo, os meus próprios olhos se arrastando até meus


pés. Meu corpo inteiro desmorona em derrota.

— Vou procurar um novo emprego, — fala.

Meus olhos se erguem rapidamente, mas ela ainda não olha


para mim. — Drew, olhe para mim. Por favor, olhe para mim, —
imploro.

Os olhos de Drew finalmente encontram os meus. Eles estão


vermelhos e brilhantes.

— Você não tem que sair da loja, — digo. — Por favor, não
saia da loja. Eu não estou bravo. Somos adultos. Podemos existir
no mesmo espaço.
Sua garganta sobe e desce, seus ombros relaxam. — Ok, —
concorda.

— E Ava ainda pode esperar no meu apartamento. Não há


necessidade de ela ser arrancada de sua rotina, — acrescento.

Ela acena com a cabeça, mas não posso nem dizer se ela está
ouvindo porque está apenas olhando para um ponto no chão onde
o tapete está rasgado.

— Vejo você amanhã, então, — falo. — E Drew?

— Sim? — Ela murmura.

— Por favor, se você estiver com problemas, se precisar de


alguma coisa, saiba que ainda estou aqui, — tento tranquilizá-la.

Desço as escadas do seu prédio e saio para o ar da noite,


exalando antes de respirar fundo. Acho que segurei todo o
caminho.

Começo a caminhada de volta para minha casa, com a certeza


de que, apesar de dizer a Drew que poderia ficar na loja, ela vai
procurar outro emprego de qualquer maneira. O que me mata. Eu
quero que ela e Ava estejam bem, que fiquem seguras. O
pensamento delas lá fora na cidade, em algum lugar onde eu não
posso ao menos ficar de olho nelas, me assusta pra caralho.

As palavras de Will ecoam na minha mente, na época em que


Drew foi contratada. Você sabe muito bem que cuidamos dos
nossos. A partir de hoje, Drew é nossa. E isso inclui Ava. Esse era
o ponto de Bird's Eye, realmente. Construir uma família.

Quando fui até Will com a ideia de abrir minha própria loja e
lhe pedi que me ajudasse a administrá-la, ela deixou o emprego
em outra loja de tatuagem sem pensar duas vezes. De alguma
forma, nos tornamos um lugar para desajustados. Para pessoas
que não têm família para contar ou, pelo menos, para pessoas
como eu, órfãs e amargas.

Alguns vieram e foram embora ao longo dos anos. Avery,


porém, ficou. Seu pai era um militar, generoso com a disciplina e
punição de Avery desde jovem, até que se tornou um abuso
completo, a sua mãe foi embora, incapaz de suportar mais a ira do
seu pai. Ele nunca a culpou, nem por deixá-lo ou abandoná-lo. Ele
apenas disse que era um jogo de sobrevivência.

Hanson veio um pouco depois como aprendiz. Honestamente,


não sei muito sobre o menino. Ele é quase dez anos mais novo,
tem um sotaque brasileiro que deixa as garotas morrendo, e acho
que a mãe dele teve uma overdose ou o pai está na prisão, ou talvez
os dois. Ele não fala sobre isso e não perguntamos. É a regra.

Subo as escadas de volta para minha casa e quero beber ou


dar um soco em alguma coisa, ou ambos. Quando abro a porta e
entro, o meu telefone começa a zumbir dentro do meu bolso. Eu
procuro-o ansiosamente, esperando e rezando para que seja Drew.

Nina: O que você está fazendo?

Eu: Pode vir.

Estou entorpecido de qualquer maneira. Portanto, não


importa.
A semana de trabalho passou tranquilamente. Você poderia
ter ouvido um alfinete cair aqui em qualquer momento. Hawk não
falou comigo, trabalhamos em torno um do outro em completo
silêncio, e embora eu não tenha explicado totalmente o que está
acontecendo a Ava, ela sabe que algo está acontecendo. Todos os
dias ela chega e pega a chave do apartamento de Hawk com ele, e
todos os dias ela tenta agir da maneira que sempre fez, mas ele
está mais quieto, sem sorrisos. A cada dia ele fica um pouco mais
rígido. Claro, ele ainda é legal com ela, mas é diferente, como se
ele estivesse mascarando outras emoções.

Minha mente está perdida nesses pensamentos quando um


homem grande, que acaba de ser tatuado no pescoço por Avery,
aparece na frente do balcão. Ele é do tamanho de um jogador de
futebol americano de merda. Estou convencida de que ele poderia
esmagar o meu crânio com uma mão.

— Não me lembro de ter visto você no site deles, — diz.

Em primeiro lugar, eca. — Desculpe? — Pergunto, tentando


permanecer neutra.

— No menu de produtos e serviços. Eu não vi você listada, —


sorri, revelando seus dois dentes frontais cobertos de ouro.

Ok, em segundo lugar, vou vomitar. — Não sou um produto ou


serviço, então...

— Que tal eu pegar seu número? — Ele pergunta.

Esse homem tem uma tatuagem na lateral do rosto que


diz Hustle, e toda vez que ele fala a estica estranhamente, e quase
que parece que diz Turtle8, então eu rio.

— O que é tão engraçado? — Indaga, os seus punhos cerrados


ao lado do corpo.

— Nada.

— O que, você tem namorado ou algo assim? — Ele pergunta.

Estou perfeitamente ciente de outras pessoas no espaço


agora, observando esta interação. Se eu tivesse que adivinhar,
diria que Hawk está definitivamente em algum lugar atrás de mim,
observando em silêncio. — Não, mas...

— Então qual é o problema? — Ele pergunta, deslizando a


sua mão sobre a minha.

8
Deixamos as palavras em inglês por causa do trocadilho, hustle significa apressado e turtle tartaruga.
Tento me afastar, mas a coisa pesa tanto quanto uma porra
de uma bigorna. — Não estou interessada, — declaro.

O homem ri de mim, na verdade zomba. Tipo, como ouso não


retribuir o interesse dele. Ele inclina-se muito perto de mim, e eu
não posso me mover para trás porque há um maldito vilão me
prendendo ao balcão. Seu hálito cheira a cigarro e talvez a tudo o
que ele comeu no café da manhã.

— Eu poderia te dar um momento muito bom, — diz, quase


em um rosnado.

E não é sexy. Não é um rosnado sexy de Hawk.

— Ela disse não. — A voz de Hawk vem de algum lugar atrás


de mim e me viro para olhar para ele.

O homem olha Hawk de cima a baixo, aparentemente


impressionado. — Quem é você, pai dela? — Ele ri.

Hawk dá um passo em nossa direção e, para minha surpresa,


Avery está bem atrás dele, com os ombros igualmente quadrados
e com a mesma intensidade nos traços do seu rosto. Até agora, eu
nunca tinha percebido como Avery pode parecer
ameaçador. Talvez nunca tenha percebido porque ele sempre é
muito tranquilo, mas aqui, nesta situação, ele é tão rígido e alto
quanto Hawk.

— Não. — Hawk diz com uma risada. — Sou apenas um cara


que está a cerca de dois segundos de ajudá-lo a entender como
tratamos as mulheres em minha loja.

O homem finalmente remove a sua mão da minha e vira seu


corpo de linebacker em direção a Hawk e Avery. Oh, Deus. Por
favor, não derramem sangue por minha causa.

— Você acha que aguenta comigo? — O homem zomba.


— Talvez não, — diz Hawk, apertando os braços sobre o
peito. — Mas morrerei tentando.

— E enquanto estiver ocupado com ele, você não vai me ver


chegando. — Avery acrescenta, cerrando a mandíbula.

— E enquanto você estiver pensando em chutar suas bundas,


eu definitivamente vou sufocá-lo por trás e sentir o seu corpo ficar
mole nos meus braços, — diz Hanson, aparecendo do corredor dos
fundos, os braços estendidos como o messias que viria.

Hanson é jovem, o mais novo aqui. Ele também não é tão


musculoso, mais magro, como um nadador, mas a sua ameaça, o
tom dela, ao mesmo tempo sinistro e brincalhão, falado com o seu
sotaque, é provavelmente uma das coisas mais assustadoras que
já ouvi.

— E quando eles terminarem, e o seu corpo estiver deitado


mole no chão, vou fazê-los tatuar a porra de um pau na sua testa,
seu pedaço de merda, — uma vozinha vem de trás dos homens,
mas passa por cima de toda a cena.

Este pequeno pedaço de poesia sai da boca de Will. Ela se


aproxima e fica ao meu lado, passando um braço em volta de mim
e colocando a mão no seu quadril proeminente.

O grande homem finalmente dá um passo para trás. — Tanto


faz, — fala.

— Muito bem, você provavelmente deveria pagar agora, e


então precisa encontrar outro lugar para fazer seu trabalho, — diz
Avery.

O homem joga um maço de dinheiro no balcão e sai,


resmungando e xingando baixinho.

Eu olho para trás para todos eles, meus olhos vagando de um


para o outro. Os homens de Bird's Eye. Até Will, que uma vez me
disse que também se sente um homem na loja, porque eles nem
registram que ela tem peitos. Eles estão todos observando para ter
certeza de que ele não vai voltar.

Will se vira para mim. — Você está bem? — Ela pergunta.

— Sim, estou bem, — digo, finalmente exalando.

— Não se preocupe, garota. Cuidamos de você. — Hanson diz,


piscando para mim, seu sorriso sinistro brincalhão ainda
estampado no rosto.

Eu olho para Hawk e o seu rosto não é brincalhão. Nenhum


sorriso aparente, ele silenciosamente vira-se e caminha de volta
para a sua mesa, onde coloca os seus pertences, e sai pela porta
dos fundos.

— Oh, merda, — suspiro. — Ele está bravo comigo?

— Porra, não. — Avery diz. Ele aperta as mãos no meu


ombro. — Ele nunca ficaria bravo com você por algo assim.

— Ei, por que não vou hoje à noite e levo vinho? — Will
interrompe, desviando minha atenção.

Eu aceno, porque Will e vinho parecem bons. Muito bom pra


caralho.

— Ótimo, — ela diz. — Te envio uma mensagem. — Então ela


desaparece pela porta dos fundos também.

Eu vou até os fundos para pegar a minha bolsa e jaqueta,


parando na frente do depósito para recuperar o fôlego. Posso sentir
a umidade nas minhas bochechas, nem percebi que estava
chorando, lágrimas suaves e silenciosas escorrem.

— Oh, querida, o que há de errado? — Hanson


pergunta. Seus longos braços me envolvem e não é romântico. É
fraterno. Ou pelo menos acho que seria assim se eu tivesse um
irmão.

De repente, um pensamento me atinge. Talvez eu tenha um


irmão. E uma irmã. E outro irmão. E um... seja o que for que Hawk
seja. Talvez eles realmente sejam uma família e eu faça parte disso.

Eu soluço no peito de Hanson e ele acaricia meu cabelo. Ele


não me faz mais perguntas porque, mesmo sendo jovem, acho que
ele sabe.

Viver em negação é difícil.


Certo, sair furioso da loja não era a melhor opção depois que
aquele cara me irritou, mas ou era isto ou corria atrás dele e
esmurrava o seu rosto, ou agarrava Drew, para sacudi-la e lhe
dizer para acordar e me deixar entrar. Então, sair correndo parecia
a escolha menos severa no momento.

Will correu atrás de mim e tentou colocar algum juízo,


acalmando-me. Eu estava feliz por ela combinar de encontrar com
Drew esta noite. Que Drew não estaria sozinha, e num esforço para
não chafurdar na solidão, convidei Avery e Hanson, que devem
chegar a qualquer minuto.

Termino de vestir o short de basquete, pensamentos de


estrangular um homem do tamanho de uma montanha ainda
girando em minha mente, quando os ouço lá dentro, usaram a
chave para emergências.

— Vejo que vocês se sentem em casa, — digo, indo até cozinha


para ver Hanson enchendo o rosto de batatas fritas e molho.

O rosto de Avery emerge da geladeira e ele abre a tampa de


uma cerveja.

— Foi uma emergência para refrescar, — diz Avery, tomando


um gole da garrafa de vidro em sua mão.

— E uma emergência de batatas, — acrescenta Hanson.

Eu reviro meus olhos e me sento na bancada. — Passe-me


uma, — digo a Avery.

Ele me entrega uma garrafa e tomo um longo gole,


saboreando o gosto, desejando poder beber cerca de vinte. Porque
beber deveria me fazer sentir melhor, certo?

— Você está triste, cara. — Hanson diz.

— Nah, — digo, acenando para ele.

— Sim, cara. Você está. — Avery diz.

Encolho os meus ombros. Entre os dois, o relacionamento


mais sério deles era a ex-namorada de Avery, Kimberly, de três
anos atrás, e eles duraram seis colossais semanas. A sua lista
combinada totaliza muitas mulheres para contar. Acho que o
termo é homem prostituto, embora eu nunca concorde com os
termos da sociedade, desde que todos estejam consentindo e se
divertindo.

— Sem ofensa, mas o que você sabe sobre ficar triste por
causa de uma mulher? — Eu pergunto a eles.
— Ah, cara, só porque nunca senti aquela dor, não significa
que não a reconheço, — diz Hanson.

Juro por Deus, às vezes, quando ele fala, é como se fosse mais
velho do que eu. Talvez seja o sotaque, não tenho certeza. Ele tem
um misterioso outro mundo sobre ele.

Ele coloca a mão sobre o coração, como se pudesse sentir


aquela dor que mencionou.

— Não importa. Não é grande coisa. Foi apenas uma semana,


— eu minto.

— O que diabos a extensão de tempo tem a ver com qualquer


coisa? — Avery pergunta.

— Hum, tudo? — Ofereço, arqueando minha sobrancelha.

Avery cruza os braços sobre o peito e diz: — Explique.

— Olha, não é como se estivéssemos tão envolvidos nessa


coisa. Drew e eu estávamos apenas começando. Recuando agora,
se essa é a escolha dela, só estou dizendo melhor agora do que
mais tarde. Agora é menos doloroso. Agora não é grande coisa.

— Diz o cara praticamente esvaziando a cerveja, — Avery olha


para Hanson, apontando o polegar para mim, e Hanson acena
vigorosamente com a boca cheia de batatas fritas.

— Não estou dizendo que não doeu. Só estou dizendo que está
tudo bem, — digo.

Os dois homens dão de ombros para mim e começam uma


conversa diferente, aparentemente entediados com a minha
negação do que eles presumem ser uma situação maior. Mas eles
estão errados. Não estão? Uma semana de namoro não é muito
tempo. Certamente não o suficiente para chorar no meu
travesseiro ou cerveja.
Talvez seja a perda de potencial que está me ferrando. O
apagar das chamas antes que elas tivessem a chance de nos
consumir.

Levo a minha cerveja para o sofá e me sento, jogando minha


cabeça para trás. Raven pula e cutuca minha mão até que eu a
acaricio. Eu deixei minha mente viajar, pensamentos de Drew e
Ava inundando tudo. Acho que sinto falta daquela garota, o que é
estranho, porque nunca namorei ninguém com um filho. Eu nem
pensei que queria meus próprios filhos, mas Ava é legal e doce. Tão
fácil de gostar.

— Sem ofensa, cara, eu gosto encontrar com você, quase o


tempo todo, mas o que diabos você está fazendo? — Avery
pergunta.

— O que você quer dizer?

— Drew é divorciada, certo? — Eu concordo. — Aonde você


quer chegar?

— E o único homem que jurou estar lá para ela, não importa


o que acontecesse, saiu? Como na doença, na saúde, e até na
morte? Levantou-se e puf? Mudou de ideia? — Avery diz, levando-
me a algum lugar cujo destino ainda não descobri.

— Sim, novamente, qual é o seu ponto? — Pergunto.

— Então, o meu ponto é, agora é o momento exato em que ela


precisa de um cara para não correr. De qualquer coisa. Não
importa o que ela jogue em você, ela precisa saber que você estará
lá, pronto para lutar por ela e por Ava. Pelo menos é assim que eu
vejo. — Avery encolhe os ombros como se fosse a conclusão mais
óbvia.

E quanto mais considero suas palavras... talvez seja? —


Mesmo quando ela me rejeitou categoricamente?
A testa de Avery enruga quando ele pensa sobre isso. —
Deixe-me fazer uma pergunta. Ela realmente rejeitou você? Tipo,
ela te olhou e disse que era feio? Um pedaço de merda? Não era
bom o suficiente para ela ou Ava? Ela disse a você que você era um
saco de bosta? — Ele pergunta.

— Bem, não.

— Ou ela apenas ficou com medo? — Ele medita.

Porra, porra. — Provavelmente a segunda coisa, — admito.

— E o que você acha que ela precisa para se sentir


segura? Realmente segura? Não ficar com medo? Considerando o
que ela passou? — Ele acena para mim.

— Alguém para lutar por ela? — Eu acho.

— Ela precisa de um maldito homem que esteja


presente. Sempre, cara. Não importa o quê. Esteja lá, porra.
— Com isso, ele toma um gole da sua cerveja.

Droga. O meu telefone vibra no bolso e eu o retiro, vendo uma


notificação de Will. Eu abro para ver uma imagem recebida. Drew
está sentada no sofá verde feio, os olhos baixos, olhando para sua
taça de vinho. Ela parece tão triste que eu gostaria de poder a
alcançar pelo telefone e acariciar sua bochecha.

Grande merda.
O vinho não tem um gosto tão doce esta noite. Felizmente,
Ava foi para a cama cedo, porque estive perto de chorar a cada
cinco minutos desde que Will chegou aqui. Tomo mais um gole do
meu vinho amargo, me perguntando se é o vinho ou sou eu, mas
já sei a resposta para isso. Eu penso sobre o que Hawk está
fazendo, apesar de mim. Eu até tenho um lapso momentâneo de
julgamento e quase lhe escrevo uma mensagem. Sei que Will tem
falado com ele e luto contra a vontade de perguntar a ela o que ele
está fazendo, como está.

— Por quanto tempo mais estarei compartilhando esta


tristeza? — Ela pergunta.

Solto um longo suspiro e termino o vinho na minha taça. —


Não posso dizer com certeza.
— Há uma cura, você sabe. — Olho para ela. — Ele tem cerca
de 1,80m, muitas tatuagens. Alguns podem dizer que ele tem uma
mandíbula devastadora...

— Você não acha? — Pergunto.

— Eca, não. Eu olho para Hawk da mesma forma que você


olha para Hanson, — diz ela. Então ela acena com a mão sobre a
virilha. — Fecho éclair. Nada. Nenhuma coisa.

Eu rio, mesmo no meu estado atual. — Vamos. Nesse tempo


todo que o conhece? Nem uma vez?

— Nem uma vez. — Ela balança a cabeça, mostrando a língua


com nojo. — Claro, quero dizer, entendo por que as outras pensam
que ele é um sonho, mas é apenas um não para mim.

Não consigo imaginar conhecer Hawk minha vida inteira e


não sentir borboletas na vagina uma única vez. Conhecer alguém
há tanto tempo... você sabe que eles se viram pelo menos quase
nus em algum momento. A perda dela é meu ganho. Ou melhor,
foi meu ganho. Não tanto mais.

— Quem teve seu coração todos esses anos, então? Há


alguém? — Estou ansiosa para mudar de assunto.

Will se mexe desconfortavelmente pela primeira vez, e coloca


o cabelo dela atrás da orelha. — Eu não namoro ninguém há um
tempo. Meu último namorado era um idiota.

— Certo... Mas não foi isso que perguntei. — Eu levanto uma


sobrancelha para ela porque definitivamente há algo aqui, e não
vou deixá-la escapar tão fácil.

Ela se mexe novamente e bebe seu vinho. — Está bem! Ok,


sim. Claro que tem um cara. Eu o conheço há muito tempo. Mas
somos muito diferentes e ele nunca iria ficar com alguém como eu.
— Alguém como você? Ele não gosta de mulheres
duronas? Incríveis, engraçadas e inteligentes? — Indago.

— Você não entenderia, — ela responde.

— Bem, você disse a ele?

— Deus, não! — Ela grita.

— Então como você sabe? Hawk e eu somos muito diferentes,


e você era totalmente a favor disso, — aponto.

— Sim, e veja como isso acabou, — ela zomba.

Ai. Mas também, ponto justo. Ainda assim, estremeço.

— Sinto muito, — ela se desculpa.

— Não, isso é justo, — balanço a cabeça.

— Ainda não significa que eu deveria ter dito isso, —


acrescenta. — É só... ele e eu, não acho que vamos funcionar. Não
acho que ele me veja assim. Então, novamente, estou começando
a pensar que nenhum homem me vê assim. Estou num estado
perpétuo de ser um dos caras. — Ela inala e exala uma respiração
longa e profunda, uma sensação de desesperança engolindo suas
feições.

Eu simplesmente não consigo acreditar nisso sobre os


homens. Eles não podem ver como ela é adorável? Incrível? Ela é
realmente a melhor e merece o melhor. Por um momento, eu me
pergunto se são suas tatuagens, mas há muitas mulheres
tatuadas que são regularmente adoradas. E caramba, Will deveria
ser uma delas. Ela é impressionante. Muito impressionante.

Seus pais são o tipo de religiosos que não aceitam nem


toleram. Assim que ela começou a usar tatuagens e algo diferente
da estação de rádio de rock cristão, eles começaram a pregar, orar
e implorar para que ela abandonasse seus caminhos perversos e
expulsasse o diabo. Considerando isso, ela não tem
exatamente pais para falar. Ela os chama de Marty e Susan. É por
isso que ela odeia quando Hawk usa seu nome do meio - Susan,
em homenagem a sua mãe.

— Eu acho que o homem certo vai, — afirmo.

Will sorri com a minha resposta, uma pitada de esperança


hesitante brincando em suas feições. Seu telefone vibra em sua
mão e, apesar da minha sequência de vitórias, não consigo mais
me conter.

— O que ele está fazendo? — Pergunto.

— Ele convidou os caras para beber, — ela conta.

— E como ele está?

— Tão miserável quanto você, — diz, inclinando a cabeça para


mim.

Eu fico olhando para um ponto na parede por um minuto e


ela continua.

— Ele alguma vez te falou sobre Rick? — Ela pergunta.

Eu procuro em minha mente por alguém chamado Rick, em


qualquer história que ele tenha me contado, e não encontro
nada. — Acho que não?

— Não me surpreende, — ela se senta um pouco mais ereta,


se inclinando na minha direção. — Olha, talvez eu não devesse te
falar sobre isso, mas ele comentou o que você disse a ele,
ok? Naquele dia em que ele veio aqui. Como você pensou que ele
faria o que seu ex fez, ou pelo menos poderia ser capaz disso. E
como ele nunca entenderia. Então você precisa saber sobre Rick.
Eu também me inclino na direção dela, como se estivéssemos
compartilhando um segredo. Talvez porque de certa forma
estamos. Eu aceno para ela continuar.

— Rick foi seu padrasto por um curto período. Bem, o mais


próximo que ele chegou de um. A mãe dele namorou esse cara por
um tempo. Enfim, Rick era o melhor. Ele o levava aos lugares,
comprava coisas para ele, foi totalmente legal com ele e seu irmão
Derek. Estávamos na sexta série. Então, um dia Hawk chegou em
casa e o cara tinha sumido, — ela encolhe os ombros.

— Você está falando sério? — Eu digo, minha boca aberta.

— A mãe dele estava sentada à mesa chorando. O cara disse


a ela que não conseguia lidar com a pressão de ser pai para os
filhos de outra pessoa ou algo assim, e simplesmente se separou
dela. — Will olha diretamente nos meus olhos. — Então, sim, Hawk
entende. Hawk sabe exatamente como um homem pode machucar
uma família, pai ou não.

Eu me reclino no braço do sofá lentamente, absorvendo essa


nova informação, revirando-a em minha mente.

— Você quer ver por si mesma? — Ela levanta o telefone antes


de jogá-lo no meu colo.

— Oh, meu Deus, não. Não poderia fazer isso, — digo,


tentando o empurrar de volta para ela.

— Olha, ele vai lhe dizer o que você perguntar. Mas parece
que você tem problemas para perguntar a ele. Então pense nisso
como um meio de perguntar o que precisa com um pouco de
proteção de identidade, — ela sugere.

— Eu não sei, — fico olhando para a tela de seu telefone.


— Como quiser. — Ela estende a mão, mas o agarro, relutante
em entregá-lo, e ela se recosta. — Isso é o que eu pensei, — ela
sorri com toda a porra de sua sabedoria.

Abro as suas mensagens com ele e rolo para cima, lendo


algumas das mais recentes. Ela não perguntou muito a ele e ele
não ofereceu muito, então rolo mais para cima. — Oh, meu Deus,
você enviou a ele uma foto minha?

Will simplesmente encolhe os ombros e aponta para o


telefone. Embaixo da foto está sua resposta.

Hawk: Como ela está?

Will: Triste.

Hawk: Eu também.

Will: Vocês são burros.

Hawk: Estou tentando dar a ela o que ela quer.

Will: Você é ainda mais burro por pensar isso.

Hawk: As pessoas aqui parecem concordar com você.

Passo o dedo sobre o teclado, tentando pensar no que dizer,


o que perguntar. Por alguma razão, meus pensamentos giram em
torno de Curtis em nossos últimos meses, o que eu poderia ter
perguntado a ele, como eu poderia tê-lo abordado.

Eu (como Will): Você sente falta dela?

Hawk: Duh.

Eu: Por que você não liga para uma daquelas garotas que te
dão o número? Muitas para escolher.

Hawk: Com quem você está falando agora? Bruta.


Eu: Só estou dizendo. Não é como se fosse um grande negócio.

Hawk: Não diga isso.

Eu: O quê?

Hawk: Foi importante para mim.

Eu: Você quer outra foto dela?

Hawk: Sim. Isso me torna um idiota?

Eu: Talvez.

Devolvo o telefone para Will, que lê as breves mensagens que


troquei em seu lugar.

— Oh merda, faça uma pose, — ela pede.

Tento desajeitadamente colocar meu cotovelo em quatro


lugares diferentes. Tenho certeza de que nada do que estou
fazendo no momento parece natural ou normal.

— Ok, você é péssima nisso. — Ela se estica e move as partes


do meu corpo para mim. — Agora, olhe para mim, mas como se
não esperasse que eu estivesse tirando uma foto, como se te
pegasse desprevenida, — encoraja.

Isso é tão estupido. Nós estamos onde, no ensino médio? Tento


fingir que estou surpresa, e tiramos a foto três vezes antes que ela
fique satisfeita com meu rosto falso de surpresa. Ela clica em
enviar e não temos que esperar muito.

Hawk. Bonita.

Hawk: Isso é idiota.

Hawk. Estou chegando.


Estou andando o mais rápido que minhas pernas
ligeiramente bêbadas podem me levar ao apartamento de Drew. Eu
gostaria de estar sóbrio para poder dirigir e chegar lá mais rápido,
mas isso não foi exatamente planejado. E porque estou fazendo
meu grande movimento, como Hanson chamou, ele e Avery estão
me acompanhando.

— É isso, homem, — Hanson me apoia.

— É, cara. Isso vai funcionar, — Avery concorda.

Eles estão exagerando, não sei se está funcionando ou me


dando vontade de vomitar. Eu observo, no meu estado
embriagado, que eles dizem muito cara e homem também.
Viramos a esquina e quase corri até o prédio dela, parando
bem perto da porta da frente, recuperando o fôlego enquanto os
caras se apressavam para me alcançar.

— Cara, ninguém corre enquanto está bêbado, — diz Avery.

— É, cara. Não é legal. — Hanson coloca as mãos nos joelhos,


respirando com dificuldade.

Eu entro e subo as escadas de dois em dois, com os caras nos


meus calcanhares, e então bato na porta do apartamento
dela. Espero meio segundo e bato novamente.

Will abre a porta, balançando um pouco para os lados. — Ele


está aqui, — ela avisa por cima do ombro.

Drew salta pelo pequeno corredor até a porta da frente, seus


olhos em mim antes de avistar Avery e Hanson bem atrás.

— Drew, — digo. — Por favor, eu preciso falar com você.

— Oh, Deus, todo mundo está aqui? Podem entrar, — ela


gesticula para que todos nós nos amontoemos na sala, e agora
percebo que vamos ter um público inteiro meio bêbado para isso.

Nós cinco paramos na pequena área de estar, olhando um


para o outro sem jeito. Todos os envolvidos estão claramente
inseguros sobre o que fazer a seguir.

— Oh, pelo amor de Deus, um de vocês goobers vai me dar


uma carona para casa? — Will pergunta a Avery e Hanson.

— Não posso fazer isso, minha senhora. Mas podemos te


acompanhar num passeio para casa? — Hanson oferece, rindo.

— Uma caminhada para casa? — Ela repete.

— Nós viemos caminhando até aqui com Hawk, — Avery


conta, e Will revira os olhos.
— Que tal um passeio nas costas? — Hanson oferece.

— Então seu traseiro bêbado pode me deixar cair? — Ela


rebate.

Eu acabo com o desastre dizendo a eles para voltarem para


minha casa e cuidar de Raven e Sadie por mim, acrescentando que
eles podem ficar lá até de manhã. Estar de volta esta noite ou não,
é um bom plano. E funciona. Eles saem do apartamento, com
Hanson ainda jurando que está sóbrio o suficiente para levar Will
por todo o caminho.

Então há apenas nós dois. Drew e eu ficamos paralisados,


minhas mãos enfiadas nos bolsos, porque se as tirar, vou querer
tocá-la, e não acho que seja a coisa certa a fazer.

— Quer alguma coisa para beber? — Ela oferece, ao que


engulo em seco e aceno. Ela aponta para o sofá, então me sento
enquanto ela desaparece na cozinha.

Meu aperto aumenta na borda da almofada porque em todo o


caminho até aqui, não foi assim que planejei isso em minha
mente. Eu ia entrar, levantá-la, beijá-la, cortejá-la. Eu seria
ousado. Agora estou sentado no sofá que coça e ela está me
entregando um copo de água. Eu tomo um grande gole porque de
repente minha boca está seca.

— O que você está fazendo aqui, Hawk? — Ela pergunta.

Agora é minha chance. É agora ou nunca. Fazer ou


morrer. Ganhar ou não. O quê? Cale-se. Eu me viro para Drew,
seus olhos fixos no meu rosto, feições ilegíveis. Isso é esperança?
Medo? Ambos?

— Eu vim lhe dizer que não vou a lugar nenhum.

Ela inclina a cabeça, confusa com minhas palavras.


— Vim dizer que sei que você está com medo e que acha que
vou desistir, mas não vou. Estarei aqui - bem aqui, todos os
dias. Talvez não iremos durar, ok? Talvez mais tarde possamos nos
separar, mas não será porque de repente desapareci, porque de
repente parei de aparecer. Eu posso te prometer isso. E eu sei que
você não deve desistir de nós por medo disso antes mesmo de
tentarmos.

Eu deixei o silêncio cair sobre a sala. Eu a deixo digerir


minhas palavras enquanto aguardo sua resposta.

— Como você sabe que não vai desaparecer? — Pergunta.

Eu estremeço. — Já fizeram isso com você antes, certo? Você


faria isso com alguém? — Eu devolvo.

Ela balança a cabeça, inflexivelmente.

— Sim, bem nem eu. Eu estive no fim da recepção. Fico


fisicamente doente só de pensar em fazer isso. Especialmente para
você e Ava, — digo.

Um pequeno sorriso começa a brincar em seus lábios. O


primeiro que vi nela durante toda a semana. Drew chega mais
perto de mim no sofá, suas pernas quase tocando as minhas, e
posso sentir o calor de sua pele.

— Você promete? — Pergunta.

— Eu vou aparecer para você e Ava todos os dias, — afirmo. —


Eu prometo.

Drew se inclina, levantando uma perna sobre mim para me


montar antes que afunde no meu colo. Minhas mãos
instintivamente alcançam a parte de trás de sua camisa,
acariciando a pele nua de suas costas e Deus, sinto falta de seu
calor.
Ela se inclina para mais perto de mim, pressionando sua
testa na minha, inalando. — Senti sua falta.

— Eu também senti sua falta, camisa de força, — sussurro,


a aperto com força e a puxo para mais para mim, ouvindo sua
risada.

Então, pego sua boca com a minha. Eu a beijo pela primeira


vez em muito tempo. Eu devoro, chupo, provo. Eu passo minha
língua contra a dela, faminto de necessidade. Eu não consigo me
conter. Eu a beijo sem fôlego, arranhando suas roupas e pele. Eu
alcanço a frente de sua calça e descubro que ela não está usando
calcinha.

— Oh meu, — suspiro contra sua boca. Esfrego meus dedos


contra ela, me afastando do beijo para abafar seus gemidos com
minha mão. Seus dedos agarram meu bíceps e sinto suas unhas
começarem a cravar na minha pele. — Você gosta disso? —
Provoco.

Ela acena com a cabeça, arqueando seu corpo contra mim.

— Você quer mais? — Pergunto.

Ela me agarra com mais força, balançando a cabeça


novamente.

Eu guio sua mão para a minha calça para que ela possa abrir
o zíper enquanto continuo esfregando contra ela, mas ela para
assim que me expõe, tirando minha palma de sua boca.

— Espere, não tenho preservativos aqui, — ela diz.

Eu coloco a mão no bolso da calça e puxo um. — Eu acho que


você poderia dizer que eu estava esperançoso, — sussurro.

Ela ri de novo enquanto coloco o preservativo.


Quando ela se levanta para tirar as calças, agarro sua bunda
e enfio minha boca entre suas pernas, desesperado para prová-la,
porque ela tem um gosto bom pra caralho. Ela geme alto demais e
cobre a própria boca, usando a mão livre para agarrar um punhado
do meu cabelo, me guiando do jeito que gosta.

Ela me empurra para trás e retorna à sua posição montada,


puxando minha camisa e depois a dela, para que nossos peitos
nus possam se tocar. Sua pele macia e quente pressiona contra a
minha e envolvo meus braços em torno dela, guiando-a para cima
e para baixo em meu comprimento uma e outra vez. Eu empurro
dentro dela o mais fundo que posso, sentindo seu corpo
estremecer.

Ela beija meus lábios e morde meu queixo, descendo pela


minha garganta e, em seguida, morde minha clavícula. Ela pulsa
contra mim e puxo seu cabelo, expondo sua garganta e seios à
minha boca. Beijo suavemente a tinta da tatuagem que fiz a ela,
quase curada. Eu beijo o topo de seus seios, colocando seus
mamilos na minha boca, um de cada vez, sugando e mordiscando.

Ela é tão boa que não consigo me cansar dela. Eu não quero
que isso acabe, mas não posso desacelerar. É um frenesi. Eu
encontro consolo em saber que terei mais desses momentos com
ela, mais tempo com ela - conhecendo-a, explorando seu corpo e
sua mente. Estou desesperado para saber tudo, perguntar tudo.

Terminamos e coloco meu short de volta. Depois a aconchego


no sofá verde, porque para minha consternação é aqui que Drew
dorme.

— Temos que conseguir uma cama adequada para você,


baby.

Ela ri. — Estou trabalhando nisso.

— E um sofá confortável, — sugiro.


— Não tenho dinheiro para isso, — responde.

— Ok, quando é o seu aniversário?

Ela ri novamente. — Você não vai me comprar móveis de


aniversário.

— Não posso passar a noite com você assim, — ressalto. — E


eu quero. Então, realmente, é um gesto completamente egoísta.

— Ok, você pode me arranjar uma cama. Mas apenas uma


cama. Tipo, a cama mais barata que você puder encontrar.

— Ummm, tenho um problema nas costas. Eu sou


velho. Preciso de um colchão chique, espuma especial, ótimos
lençóis, tudo bem. Não se preocupe, vou cuidar disso. — Eu lhe
dou tapinhas na cabeça.

Ela ri, porque acho que sabe que estou falando sério, e não
há nada que ela possa fazer para me impedir agora.

— Mas, sério, quando é o seu aniversário? — Eu pergunto


novamente.

— Cinco de fevereiro. O seu?

— Dezessete de junho, — conto.

— Acho que terei de pensar no que comprar para você, — diz.

— Você. Usando um laço. Apenas um laço. Nada mais. Um


laço sexy e safado, — sugiro.

Sua risada preenche o apartamento silencioso, ecoando pelo


corredor, e cubro a sua boca.

— Ok, quer saber, se formos pegos em algum momento,


definitivamente vai ser por sua culpa, — digo.
Caímos em uma conversa sonolenta e confortável, trocando
perguntas e voltando. Algumas tolas, algumas
significativas. Nossas coisas favoritas, fatos sobre nós mesmos,
mais coisas de família. Eventualmente, Drew adormece em meus
braços. Eu a seguro com força, desesperado por sua proximidade,
por seu toque. Não sei o que está acontecendo, como cheguei aqui
ou o que estou sentindo. Eu só sei que é bom e certo.
Eu acordo, ainda enrolada com Hawk neste sofá esquecido
por Deus, com uma cãibra no pescoço, porque foda-se é um sofá
esquecido por Deus. Porém, não me importo tanto quanto eu
normalmente faria, dada a parte enrolada com Hawk. Eu faço
todas as tentativas para sair silenciosamente e encará-lo, mas
quase caio do sofá. A única coisa que me salva é o seu aperto.

— O que você está fazendo? — Ele murmura sonolento.

— Desculpe, acordei você? — Sussurro.

— Sim, você me acordou, mas tudo bem. Estar acordado com


você é melhor do que sonhar com você. Embora você estivesse
usando um uniforme de enfermeira safada no meu sonho, — ele
abre um olho enquanto um grande sorriso sonolento se espalha
por seus lábios perfeitos.

— Eu estava o quê? — Eu digo em um tom abafado.

— Talvez algo para colocar na lista de sugestões de


Halloween. — Ele encolhe os ombros e me puxa para perto.

Só então ouvimos a porta de um quarto se abrir e Ava aparece


no corredor. Nós dois congelamos.

— Você acha que se ficarmos muito quietos, ela não vai nos
ver? Como um T. Rex? — Ele sussurra em meu ouvido.

Apesar da piada e da minha risada, seus lábios contra o meu


ouvido causam um arrepio na minha espinha.

— Hawk? — Ava diz.

Hawk enfia a cabeça atrás de mim, parecendo envergonhado


e um pouco preocupado. — Sim, garota, sou eu. Quem mais
poderia ser?

— Yay! — Ava diz, saltando pela sala de estar e pulando sobre


nós, criando uma pilha de pessoas.

Ava e Hawk trocam socos falsos, e então ele faz cócegas em


sua barriga e bagunça seu cabelo. Depois de tentar endireitá-lo,
ela pede o café da manhã e me usa como um escorregador humano
para deslizar para fora do sofá e ir para a cozinha.

— Eu cozinharei. — Hawk oferece, desembrulhando-se de


mim.

O lugar vazio no sofá atrás de mim agora faz minha pele ficar
fria, e me enfio nos cobertores enquanto ouço Ava contar a Hawk
sobre sua semana inteira na escola, já que ultimamente ela não
tinha sido capaz de fazer isso com tantos detalhes.
Eu fecho meus olhos e ouço sua conversa. Parece tão natural,
tão à vontade, ainda estou me acostumando com isso.

— Baby? — Hawk grita da cozinha, me tirando dos meus


pensamentos.

— Sim?

— Onde estão as suas espátulas? Onde estão suas


panelas? Estou perdido, — exclama.

Eu rio, sabendo que ele provavelmente não está perdido, mas


simplesmente não conseguiu encontrar os únicos que
temos. Levanto-me e vou para a cozinha, onde pego a única
espátula e a panela existentes no apartamento, e as entrego a ele.

Ele olha para elas, confusão nas suas feições. Logo,


amolecem. — É isso, — estabelece. — Você pode protestar o quanto
quiser. Você pode chutar e gritar. Mas vamos fazer compras hoje.
Você não pode viver assim. Isso é bárbaro, — ele diz.

A forma como as palavras saem de sua boca não me


envergonham. Ele sabe como é o apartamento, que nada aqui é
meu. Seu tom cômico me faz rir.

— Você realmente não tem que fazer isso, — falo.

Ele coloca a frigideira e a espátula no balcão e segura meu


rosto com suas mãos gigantes. — Escute, sei o que preciso ou não
preciso. Eu sei que você é forte e eventualmente faria tudo isso
sozinha de qualquer maneira. Mas quero vir te visitar. E essa porra
de frigideira minúscula nem mesmo vai segurar ovos suficientes
para todos nós. — Ele ri, então se inclina para sussurrar: — E
aquele sofá vai deixar minhas costas tão doloridas, não poderei
fazer sexo com você.

Eu rio novamente enquanto ele ri no meu pescoço. Eu o


abraço com força, não querendo renunciar a tanto controle ou me
sentir dependente tão cedo, mas também sabendo que não é o que
ele quis dizer. — Ok. Acho que podemos comprar algumas coisas.

— Sim, — ele concorda. — Um pouco. — Suas sobrancelhas


estão levantadas em sua testa de tal forma que algo me diz que
seus poucos e meus poucos são duas coisas muito diferentes.

VOCÊ já foi à IKEA num fim de semana? Nunca vá. É o


pior. Mas se você for, pegue as almôndegas. Porque yum. Ava e
Hawk colocam as almôndegas na boca quase simultaneamente
enquanto ele me observa escolher uma nova espátula.

— Pegue mais de uma, — ele acena para que eu volte para a


prateleira. — Consiga alguns tipos diferentes.

Coloquei três espátulas no carrinho, junto com várias


colheres de cozinha, pinças, panos de prato, e um conjunto novo
de aproximadamente vinte potes e panelas. Embora lhe diga que
não acho que muitos sejam necessários, ele insiste. Eu não luto
muito, porque eles são de cobre e bonitos.

Hawk coloca um par de copos no carrinho, me informando


que estamos jogando fora todos os que não combinam. Ele também
adiciona saleiro e pimenteiro sofisticados, e outras engenhocas
aleatórias de cozinha que eu nunca vi.

Nós vagamos pela seção de banheiro e paramos quando ele


começa a pegar toalhas. — Nós dissemos algumas coisas, — eu o
lembro.

— Ok, bem, qual é a sua situação com as toalhas? — Ele


pergunta.
— Quer dizer, nós temos algumas? — Eu fico olhando de
volta.

— Elas são grandes o suficiente para me envolver? — Ele


pergunta, apontando para baixo em seu corpo.

Aproveito o momento para explorá-lo com meus olhos,


varrendo seu torso para cima e para baixo, através do peito.

— Foi o que pensei. — Ele coloca toalhas fofas de banho e de


mão, um tapete e uma cortina de chuveiro combinando no
carrinho.

Eu rolo meus olhos para ele, sorrindo. — Você apenas gosta


de gastar todo o seu dinheiro?

Ele sorri de volta, balançando a cabeça e apontando na


direção dos sofás. — Então, um sofá?

Ava pula no carrinho, segurando-se como se fosse para salvar


sua vida, enquanto Hawk o empurra pelos corredores e ao redor
dos outros clientes.

Os dois brincam em cozinhas falsas e insistem em se sentar


em todos os sofás do lugar antes de escolhermos um. Em suas
palavras, o novo não deve coçar, por isso é importante ter certeza
primeiro.

Também escolhemos um jogo de mesa de cozinha, porque


Hawk afirma que nós três não podemos nem nos sentar para
comer no que tenho atualmente, e não posso contestar essa lógica.

Um carrinho se transforma em dois, em algum


momento. Sim, temos dois malditos carrinhos agora. Estou quase
envergonhada, mas é tão difícil sentir qualquer coisa além de bem
e especial, e fico despreocupada com a opinião de outra pessoa
quando Hawk está por perto.
Ele caminha no meio da multidão com tanta confiança. As
pessoas olham para ele por motivos diferentes. Metade delas está
maravilhada com sua beleza, a outra metade provavelmente está
intimidada. Presumo que alguns o encarem por causa das
tatuagens, outros por causa de seu tamanho. De qualquer forma,
todos eles se separam como o Mar Vermelho, como se ele fosse
algum tipo de messias tatuado de olhos azuis.

Ava e eu caminhamos com ele nesta aventura, mas enquanto


ela está completamente alheia, estou completamente ciente dos
olhos em mim segurando sua mão.

— Ok, acho que terminamos? — Eu finalmente pergunto.

— Precisamos de mais uma coisa, — diz ele. Nós navegamos


pela loja até que estamos rodeados por coisas fofas cor de rosa
para jovens.

— Ava? — Ele chama.

— Sim? — Ela está arqueando o pescoço para trás para olhar


para ele.

Hawk cruza os braços sobre o peito e sorri. — Escolha uma


cama e todas as coisas para ela.

O rosto de Ava se ilumina mais do que eu vi em muito tempo


e ela sai correndo, tentando se deitar em cada uma para decidir
qual que mais gosta.

Observá-la escolher uma cama é melhor do que qualquer


outra coisa até agora, na minha opinião. A felicidade que ela está
sentindo é incomparável e é tudo de que preciso para me sentir
feliz.

Eventualmente, finalizamos as compras e partimos, com o


jipe cheio até a borda com a maioria das pequenas coisas, e um
pedaço de papel com uma data de entrega para o resto. Em dois
dias úteis, meu apartamento estará completamente transformado,
e devo agradecer a Hawk por isso.

Acho que de qualquer outra forma, com qualquer outra


pessoa, isso poderia parecer estranho. Como caridade ou uma
mãozinha. De alguma forma, Hawk faz com que seja
agradável. Como se estivesse sendo mimada, cuidada. É uma
sensação diferente, mas algo me diz que devo me acostumar com
isso.

Depois que ele nos deixa de volta no apartamento, me deito


no sofá verde que coça pela última vez e meu telefone vibra no
bolso. Pego e percebo que tenho uma mensagem de voz de minha
tia Penny, o que é estranho, porque não tenho notícias dela desde
que partiu.

Toco para a ouvir, mas está tudo abafado e com ruído. Eu


mal posso entender o que ela diz, já que cada palavra é
interrompida pela estática.

Bem, isso não ajuda. Apertei o botão para ligar de volta, mas
tocou até entrar seu correio de voz, que estava cheio. É claro. Acho
que ela nem sabe como excluí-los.

Dou de ombros, decidindo que tentarei novamente


amanhã. Meu telefone vibra na minha mão mais uma vez, mas
agora é uma mensagem de Hawk.

Hawk: Acabei de chegar ao meu apartamento. É silencioso e


vazio, não gosto disso.

Eu: Raven e Sadie estão aí.

Hawk: Ok, justo. Deixe-me tentar de novo. Acabei de chegar


ao meu apartamento. Está vazio da sua presença e ausente da
risada de Ava, não gosto disso.
Eu juro por Deus, meu coração simplesmente cai no chão e
dá um pulo ali mesmo.

Eu: Eu também sinto sua falta.

Hawk: Posso levar vocês a algum lugar esta semana? Depois


do trabalho?

Eu: Sim, onde?

Hawk: Você sabe que não vou te contar.

Eu: Ok, psicopata.

Eu pressiono meu telefone no meu peito, porque sim, talvez


ele seja um pouco psicopata. Talvez ele pareça um pouco
ameaçador, um pouco sinistro. Alguns podem até dizer perigoso.

Mas está tudo bem. Porque ele é o meu psicopata.


É o início da tarde e estou no balcão da frente. Hawk se
ofereceu para esperar no meu apartamento pela entrega da IKEA
e preparar tudo. Como ele não tinha nenhum compromisso hoje,
fazia mais sentido. Eles sempre dão a você um horário de entrega
realmente vago, equivalente a estaremos lá entre o raiar do dia e a
hora do jantar, então fiquei feliz por ele conseguir fazer isso. Ele
também se ofereceu para se livrar das coisas antigas enquanto
esperava.

Coisas de homem. É assim que chamo isso, ele está fazendo


coisas de homem para mim.

Eu estou reabastecendo as caixas de mercadorias na frente,


ocasionalmente observando Hanson trabalhar no antebraço de
alguém, quando ouço a campainha soar na porta. Viro-me para
cumprimentar a pessoa, momentaneamente desconcertada por
quem é, mas coloco a minha melhor expressão de impassível
porque QUE PORRA?

— Oi, posso ajudá-la? — Eu pergunto a ela.

Seu irritante cabelo vermelho brilhante cai sobre as pegadas


em seu peito. Nina. Ex-namorada de Hawk, só de vê-la os meus
olhos doem, mas coloco meu melhor sorriso falso.

— Hawk está? — Ela pergunta, estalando o chiclete,


ajustando a bolsa Coach que ela tem na dobra do braço. Ela enrola
uma de suas extensões de cabelo descolorido com as suas longas
unhas postiças.

O que diabos Hawk viu nela? Ou sou apenas a pessoa mais


chata que ele já namorou? Eu sou super chata? Ainda estou me
comparando a ela quando respondo.

— Não, ele não está agora. — Falo. — Mas eu posso lhe enviar
uma mensagem se você precisar? — Faço a oferta apenas para
bancar a boazinha, sabendo que ela tem o número dele e que pode
lidar com isso sozinha.

Ela bufa alto, como se estivesse irritada com o


inconveniente. — Acho que esqueci a minha jaqueta na casa dele
na semana passada. Vou mandar uma mensagem para ele mais
tarde.

Sua boca continua se movendo, mas não ouço nada depois


das duas primeiras frases que cuspiu. Ela coloca os seus óculos
escuros irritantemente grandes e sai, e tudo parece realmente
confuso e distante. É assim que se sente num ataque de pânico?

Eu corro para os fundos e enfio-me no depósito, sem saber o


que mais fazer. Não quero enviar uma mensagem de texto a ele
sobre isso, seria terrível. Não posso sair do trabalho porque Ava
estará aqui em breve, e não posso exatamente chegar lá, acusá-lo
de traição e voltar a tempo de pegá-la. Além disso, provavelmente
estarei uma bagunça chorona quando ele confessar, e só quero me
afundar na banheira com sorvete e vinho.

Ok, espere. Controle-se. Tecnicamente, ele não me traiu... Eu


acabei as coisas. Então... Ele acabou por ficar com Nina enquanto
estávamos separados. Jesus. Nina? Por que ela? Por que tinha que
ser ela? Tenho que colocar esses pensamentos de lado até que
possa acusá-lo, quero dizer, lhe perguntar sobre o que aconteceu.

Passo as minhas mãos sobre a minha camisa e saio do


depósito, tentando ao máximo manter a minha respiração estável.

Durante a próxima hora ou mais, até Ava chegar da escola,


entro no modo de piloto automático, entorpecida, e mesmo depois
que ela chega, só consigo ouvi-la pela metade falando sobre um
menino no recreio e a sua amiga durante a aula de ciências. Eu
preciso sair daqui, preciso ir para o meu apartamento, preciso
socar Hawk. Não. Acalme-se. Você não sabe, Drew. Você não
sabe. Mantenha-se positiva.

Mas por que mais sua jaqueta estaria lá? E onde diabos
está? Debaixo da cama dele?

Oh meu Deus, não. Pare. Calma.

Eu observo o relógio pelos últimos quinze minutos do meu


turno e agarro a mão de Ava no momento exato em que é hora de
ir, deslizando para fora da porta sem nem mesmo dizer adeus a
ninguém.

De uma forma ou de outra, terei as respostas.


QUANDO CHEGO ao estacionamento onde moro, noto o sofá
verde no lixo. Como ele conseguiu passar com isso pelas escadas
e o colocar na lixeira, é um mistério para mim. Eu me aproximo e
noto que quase tudo do apartamento está lá, o futon, o banco
vacilante, a única cadeira boa.

Eu puxo Ava para dentro, subo as escadas e abro a porta do


apartamento, esperando entrar num espaço vazio porque Hawk
não disse nada sobre as coisas novas terem sido entregues quando
trocamos mensagens de texto hoje, mas não está vazio. Nem perto
disso.

Vemos o lindo sofá azul marinho que escolhi no lugar do sofá


verde, debaixo da janela, e ele furtivamente adicionou uma
poltrona azul marinho combinando, almofadas amarelas mostarda
assentam em ambos os móveis.

Os meus pés atingiram um tapete macio que definitivamente


não me lembro de ter escolhido, ou as almofadas. Ele pegou essas
coisas quando eu não estava olhando? Ouço-o na cozinha e
atravesso a sala, os meus olhos direcionados para onde está o
barulho.

O pequeno conjunto de jantar que escolhi fica sob a janela,


decorado com jogos americanos e um vaso de flores. Posso
acomodar quatro pessoas agora. Eu me viro para ver Hawk
guardando os copos no armário.

— Ei! Você está aqui. — Emoção pairando sobre cada palavra.

— Hawk, este lugar parece incrível, — respondo, ainda


olhando ao redor, absorvendo tudo.
Vejo os recipientes de sal e pimenta chiques que escolhemos,
colocados no balcão da cozinha ao lado de uma torradeira nova e
um abridor de latas elétrico.

— Isso é muito mais do que eu escolhi, — digo.

Os seus movimentos param quando ele olha para mim. — Eu


posso ter voltado lá. Também posso ter percebido que faltavam
algumas coisas quando comecei a arrumar. — Ele olha em volta
nervoso. — Você está chateada?

— Acho que não. — Passo o dedo pelas panelas de cobre que


ele ainda não guardou.

Ele ri. — Vá verificar o resto enquanto guardo isso. — Sorri e


acena com a cabeça em direção ao banheiro e quartos.

Ava e eu olhamos o banheiro, o tapete azul marinho


combinando com a cortina de chuveiro perfeitamente no lugar,
uma pequena prateleira agora está presa na parede acima do vaso
sanitário, contendo toalhas de banho e de mão. Nós nos
encaramos, choque em nossos rostos.

— Oh, meu Deus, o meu quarto! — Ela grita.

— Você não acha que devemos esperar por Hawk? —


Pergunto.

Ava corre de volta para a cozinha e arrasta Hawk para onde


estou parada na frente da porta de seu quarto.

— Vá em frente, — digo, pegando a sua mão na minha.

Ava abre a porta e grita. Do outro lado do quarto, a cama


branca que ela escolheu está arrumada com a roupa de cama roxa
e travesseiros de pele falsa. A cômoda branca combinando está na
parede ao nosso lado, com uma pequena televisão em
cima. Cartazes emoldurados de obras de arte clássicas alinham-se
nas paredes, e Ava para e olha para cada um. A mesa de desenho
branca que ela gostou fica no canto próximo à janela, totalmente
estocada com papel, lápis, lápis de cor e quem sabe mais o quê.

— Acho que ela vai ficar aqui o resto da noite. — Eu estou


rindo.

Ava voa pelo quarto, tocando em tudo, absorvendo.

— Você está pronta para ver o seu? — Hawk me pergunta.

— Hawk, — falo. — Você não fez isso, achei que só tivéssemos


escolhido uma cama.

Ele dá um passo para trás, abrindo caminho para a porta do


outro quarto. — Eu acho que você vai ter que ver. — O olhar em
seu rosto é uma travessura completa.

Colocando a minha mão na maçaneta da porta, respiro fundo,


preparando-me para a surpresa. Eu a empurro, revelando um
quarto completamente decorado. A cama queen-size fica na parede
oposta, adornada com lençóis brancos imaculados. Duas mesas de
metal dourado com tampos de vidro de cada lado, ambas com
pequenas luminárias no topo. Uma grande cômoda preta com um
grande espelho em cima está à minha direita, em frente à
cama. Um vaso de rosas frescas no topo, ao lado de uma pequena
caixa de presente com fita vermelha.

— Isso é para você, — ele aponta.

— Mais? — Pergunto.

— Apenas mais um. — Ele encolhe os ombros, sorrindo.

As pontas dos meus dedos correm sobre a fita de seda antes


de soltá-la. Dentro, há um delicado colar de ouro com um pendente
de diamante. — Hawk, não. Isso é demais. — Mesmo quando as
palavras saem da minha boca, estou puxando o colar, passando
meus dedos sobre ele.

— Considere isso um bônus, — diz ele. — Você gostou?

— Eu amei. — Eu caminho até ele, envolvendo meus braços


em sua cintura, abraçando-o tão forte quanto posso.

Seus braços me contornam, o seu abraço me envolvendo. —


Eu só quero que você e Ava estejam bem, seguras e confortáveis,
— ele sussurra contra o cabelo no topo da minha cabeça.

— Nós estamos, — eu o abraço. — Graças a você.


Estou gostando deste abraço, do doce abraço em que Drew e
eu estamos na porta do seu quarto, quando de repente ela se afasta
de mim.

— Espere, — ela me empurra mais para dentro do quarto e


fecha a porta atrás de nós. Ok, um pouco de beijos, talvez? Ava não
virá nos procurar. Ela está encantada demais com seu novo
espaço.

— Acabei de me lembrar que estou brava com você, — ela


exclama.

Espere, o quê? — Por quê? — Eu a observo cruzar os braços


sobre o peito.
— Eu não posso nem acreditar que você se sentou e fingiu se
importar tanto sobre eu terminar as coisas com você na semana
passada, quando imediatamente correu para os braços de outra
mulher. — Diz com raiva.

— Porra, eu fiz o quê? — Pergunto, piscando várias vezes.

— Nina esteve na loja hoje. — Ela diz como se isso explicasse


tudo.

— O que isso tem a ver com o resto?

— Oh, por favor. Ela é a mulher para quem você correu,


Hawk.

Ok, agora eu sei que estamos em uma realidade alternativa


ou algo assim. Estou sendo trolado, é uma pegadinha. Respiro
fundo, claramente sem entender o que diabos está acontecendo.

— Sinto muito, mas você vai ter que explicar isso para mim,
Drew. Eu não estou entendendo.

— Não consigo acreditar que no momento que tive uma


pequena dúvida sobre nós, você foi para a cama com aquela
pintura de Picasso, — diz ela.

E sei que não deveria ter feito isso, mas eu rio. Muito forte e
muito alto. — Em primeiro lugar, vou pular o fato de que você
chamou de um pouco de dúvida terminar as coisas comigo e, em
segundo lugar, chamar Nina de pintura de Picasso é a melhor
merda que já ouvi, e mais, não dormi com ela, porra, e estou meio
insultado que você pense isso, — esclareço.

— Bem, quando esteve na loja hoje, ela disse que acha que
deixou a jaqueta na sua casa. — Drew diz, batendo o pé em mim.

— Você está realmente batendo o pé em mim agora? —


Exclamo, cruzando os braços sobre o peito.
Ela não diz nada, mas os seus olhos começam a lacrimejar
e, oh Deus, não. Ela realmente acha que algo aconteceu.

— Por favor, venha aqui. — Pego sua mão, guiando-a para a


beira da cama, mas não a deixo sentar ao meu lado, em vez disso,
pego-a em meus braços, em meu colo. Eu empurro os seus cachos
loiros para trás dos seus ombros e olho em seus olhos,
desesperado para consertar isso.

— Baby, me escute, nada aconteceu com a Nina. Depois que


você terminou comigo, é verdade que ela me mandou uma
mensagem e eu disse a ela para ir lá, mas apenas porque ela queria
ver Sadie. Ela passou o tempo todo ignorando Sadie e falando
sobre um cara novo com quem ela estava transando, acho que
estava tentando me deixar com ciúme e quando isso não
funcionou, tentou sugerir que fizéssemos sexo e eu disse a ela para
se foder, — tento fornecer todas as informações o mais rápido
possível.

O rosto de Drew está contorcido com tantas emoções e não


sei se ela acredita em mim ou não. — Ok, — diz ela.

— Ok? — Insisto.

— Ok, acredito em você. — Ela envolve os braços em meu


pescoço.

Oh, graças a Deus.

— Posso te fazer uma pergunta? — Ela respira em meu


pescoço.

— Claro. — Passo os meus dedos por seu cabelo.

— Você gostaria que eu fosse mais... não sei. Como ela? Ou


como as outras mulheres que entram na loja? — Ela se afasta com
os olhos baixos.
— Em primeiro lugar, não. Eu definitivamente não gostaria
que você fosse como a Nina, porra, mas o que exatamente você
quer dizer com as outras mulheres? — Indago.

— Você sabe. Mais tatuagens, roupas mais justas, mais


maquiagem, — explica.

— Eu vou parar você aí mesmo, porque embora seja um


prazer colocar mais tinta em seu corpo se quiser, você a tendo ou
não, não é um ponto a favor para a minha atração por você. Você
pode ser uma linda mulher com ou sem tatuagens. Você é mais
bonita quando se sente bem com a sua aparência.

— E não, — acrescento. — Eu não quero que você coloque


macacões justos e use quatro quilos de maquiagem ou qualquer
coisa assim. Eu acho você mais sexy quando não está usando
nada, — sussurro, passando minha mão por sua coxa.

— Agora, — continuo. — Não vou impedi-la se quiser se


maquiar, só sei que provavelmente sempre vou querer borrar o seu
batom. E não vou impedi-la se quiser usar algo justo ou que mostre
um pouco de pele, não sou um amante inseguro, irei te exibir com
orgulho, mas definitivamente protestarei se você colocar aquelas
unhas postiças horríveis e falsas.

Isso a faz rir e a mim também. — Sério, como você limpa com
segurança as suas partes íntimas com essas coisas? — Indago.

Ela ri de novo e diz: — Não sei, mas tive exatamente os


mesmos pensamentos.

— Sério, um bom prego comprido é uma coisa. Uma garra de


raptor voraz é outra bem diferente.

— Terminamos com isto, baby? Podemos namorar agora?

Ela embala meu rosto com as mãos, pressionando os seus


lábios nos meus, separando a minha boca com sua língua,
beijando-me profundamente. Um grunhido baixo se forma no
fundo da minha garganta enquanto ela afunda os dentes no meu
lábio inferior.

— Você é o diabo, — sussurro contra sua boca.

— Só perto de você, — admite.

Um homem pode viver com isso.


Quando chego ao trabalho na quinta-feira, estamos fechados,
mas não tenho certeza do motivo.

— Tradição, — diz Will.

Todos estão reunidos ao redor e Will segura um boné, mas


ninguém está dizendo mais nada. Eles passam o chapéu pelo
círculo, cada um pegando um pedaço de papel, e eu sou a última
a tirar. Pego uma pequena tira e devolvo o boné para Will.

— Drew, antes de abrir, há algo que você deve saber. Temos


uma festa de Amigo Secreto do Papai Noel todos os anos na
primavera como uma forma pacífica de rebelião, — diz ela.

— Contra o quê? — Eu pergunto.


Will olha ao redor do círculo. Hawk olha para Will e depois
para mim.

— Não temos ideia, — Hanson responde.

Todos explodem em gargalhadas e começam a abrir seus


pedaços de papel. O meu diz Will e estou superexcitada e nervosa
porque agora tenho que pensar no que dar a ela.

— A festa é no domingo à noite, — diz ela. — Casa de Hawk.

Eu aceno, deslizando o papel no bolso da frente da minha


calça jeans e caminhando para Hawk.

— Ei, — ele diz.

— Ei, você. — Eu envolvo meus braços em volta dele e aperto


com força.

— Vamos a um lugar hoje, — avisa.

— Vamos? — Pergunto.

— Sim, hoje é o dia. Todos vão. — Acrescenta.

— Onde? Quando? — Eu pergunto.

— Assim que Ava chegar, — diz.

Onde diabos toda a gangue poderia estar indo?

COMO PROMETIDO, assim que Ava chega na porta do Bird's Eye,


vamos todos juntos para os subúrbios, com cães e tudo. Will fica
me enviando mensagens do outro carro, sobre como se jogaria pela
janela com o carro ainda em movimento se ouvisse mais
um cara entre Avery e Hanson, e eu estou rindo quando paramos
numa grande casa.

Eu olho em volta e o bairro é tão... normal. Verde brilhante,


grama recém-cortada em cada gramado bem cuidado,
revestimento branco limpo, carros imaculados na maioria das
calçadas. Não é um bairro super rico, mas é de classe média alta,
com certeza.

— Onde estamos? — Eu pergunto.

— Casa. — Hawk diz, saltando do jipe e dando a volta para


ajudar a mim e Ava.

Eu vejo Will e os caras saindo do carro atrás de nós e pegando


coisas no seu porta-malas. Isso é embrulho para presente? O que
está acontecendo?

Só então a porta da casa em que estamos estacionados se


abre, uma mulher idosa e pequena acenando. Seu cabelo cinza
está puxado para trás em um coque, um avental floral enrolado
ordenadamente em torno de sua cintura pequena. — Vocês estão
aqui! — Ela grita para nós.

Eu me inclino e pergunto a Will: — Quem é essa?

— Mãe de Hawk. — Ela sorri para mim.

Eu engulo em seco e sinto as minhas mãos começarem a


tremer. Puta merda. A mãe dele?! Não entre em pânico. Não entre
em pânico. Não entre em pânico.

Um homem que parece ter a idade de Hawk, ou talvez um


pouco mais velho, sai atrás dela e ouço Will xingar.

— Oh, merda, — fala.


— O que está errado? — Indago.

— Nada. Eu, uh, só não sabia que Derek estaria aqui. — Ela
está torcendo as mãos.

Oh. Derek. O irmão mais velho de Hawk. O outro Tanner.

Eu avalio o homem à distância, notando quase


imediatamente que eles não se parecem muito. Não que Derek não
seja atraente. Ele definitivamente é, mas onde o cabelo de Hawk é
quase preto escuro, o cabelo de Derek é de um castanho médio e
macio. Talvez seja só porque ele tem um rosto diferente, mas os
seus traços são bem menos severos. Embora suspeite que com
provocação podem ser bem ameaçadores. Ele é alto, e basicamente
tão largo quanto o irmão, mas no geral parece menos... um menino
mau. Acho que disseram que ele era médico. Então, o seu
comportamento mais acolhedor faz sentido, acho.

— Ei, Willette. — Derek diz.

Os meus olhos se arregalam, já que raramente ouço alguém


usar o seu nome completo. Hawk usa ocasionalmente quando
estão mexendo um com o outro. Ela odeia quase tanto quanto o
seu nome do meio, mas Derek diz isso com muita sinceridade e
para minha surpresa, ela não reage como eu esperava.

— Oi. — A voz dela soa tão diferente falando com ele. Tão
suave em comparação com como ela soa na loja, ou mesmo
sozinha comigo.

— Você deve ser Drew. — Ele caminha direto para mim, me


envolvendo em seus braços.

Ok, eles meio que têm o mesmo abraço, menos a parte em que
Hawk me apalpa. — Hum, sim, — confirmo.

— Meu irmão é um cara de abraços, — Hawk fala.


Derek me solta e vai cumprimentar o seu irmão.

— Ouvimos muito sobre você. — Este comentário vem de sua


mãe, o que me deixa quase paralisada, e não sei o que lhe dizer. —
Também de você! — Ela se vira para Ava.

— Eu? — Ava estranha.

— É claro, o meu filho diz que você é uma artista e tanto.


— Sua mãe se volta para mim e sorri. — Agora, vamos entrar para
que um desses homens possa cozinhar um pouco para nós. — Ela
me pega pelo braço e me guia pela calçada.

Oh Deus. Não entre em pânico.

Todos estão na cozinha, colocando presentes na mesa, e puxo


Hawk para o lado apenas tempo suficiente para conseguir dois
momentos de silêncio.

— O que estamos fazendo aqui? — Pergunto.

— É o aniversário da minha mãe, — diz ele.

— Oh, meu Deus. Você deveria ter me contado. Eu não


comprei nada para ela, — digo em pânico.

— Relaxe. Eu cuidei disso, mas sabia que se tentasse lhe


dizer, você protestaria, e eu queria que você a conhecesse, — fala.

Bem, ele está certo sobre isso. Eu definitivamente teria


protestado e entrado em pânico, então protestado mais um pouco,
mas acho que ter Will e os outros caras aqui suaviza o encontro. É
como uma reunião, que é um bom ambiente para isto.

— Tenho que ajudar o meu irmão na grelha ou todos


comeremos discos de hóquei, — diz ele.

— Eu ouvi isso. — O seu irmão grita do outro lado da sala.


— Você vai ficar bem? — Ele pergunta.

Eu aceno rigidamente, porque sim. Eu posso fazer isso. Sou


capaz de ser uma pessoa normal e sociável.

Hawk beija a minha bochecha, me entrega uma taça de vinho


e desaparece para ajudar Derek. Ava brinca no quintal com Raven
e Sadie, me deixando sozinha com a mãe de Hawk e Will. Avery e
Hanson estão perto da churrasqueira, rindo e brincando com os
irmãos Tanner.

Eu olho para Will, e ela não está do seu jeito borbulhante


normal. Suas palavras e ações são muito comedidas.

— O que está errado? — Questiono.

— Nada, — ela diz. — Só cansada, eu acho.

— Cansada de abrigar algo como uma paixão de vinte anos


pelo meu filho, — diz Momma Tanner, e me engasgo, cuspindo o
meu vinho.

Oh. Meu Deus.

— Shhhhh. — Will sussurra.

— Oh, relaxe. Eles não podem nos ouvir.

Eu olho para os homens, que estão definitivamente longe


demais para nos ouvir, tornando impossível para a confissão
chocante de Gail perturbá-los.

— Derek é a paixão? — Sussurro.

Will embala o rosto dela nas mãos. — Sim, — ela geme.

Uau. Eu imediatamente me viro e olho para Derek novamente,


querendo uma avaliação mais completa. Acho que entendo o que
ela quis dizer quando disse que ela e sua paixão são pessoas muito
diferentes. O Dr. Derek Tanner parece um cara muito normal. Se
ele tem tatuagens, não consigo vê-las.

— Não se deixe enganar por ele, — diz Will. — Quando ele


arregaça as mangas, fica coberto de tatuagens. Apenas nenhuma
visível quando ele está trabalhando.

Oh. Ok, Doutor Derek. Eu te vejo. Exterior de cara bom. Interior


de bad boy.

Os irmãos riem juntos com facilidade, e me deixa feliz de uma


forma estranha ver Hawk tão alegre. Por um momento, me
pergunto novamente como seria ter um irmão. Então olho para
Will e os caras e decido que não importa. Porque a família que
quero é a família que tenho agora.
— Desde quando você traz mulheres para casa, irmãozinho?
— Derek pergunta, virando um hambúrguer na grelha e me dando
uma cotovelada nas costelas.

— Uma vez que valha a pena a trazer para casa, — respondo.

As suas sobrancelhas se erguem porque eu nunca trouxe


uma mulher para casa. Muito menos uma mãe solteira com um
filho. Mulheres e eu sempre fomos complicados, antes de Drew, eu
não tinha exatamente atraído o material familiar que alguém
consideraria levar para casa.

— Ela sabe? — Ele pergunta.

— Sabe o quê?
— Que você é cheio da grana? — Ele diz.

Não sei por que Derek fala assim. Não somos


exatamente cheios da grana, mas não precisamos nos preocupar
com dinheiro. Quero dizer, não posso sair e comprar um jato
particular ou a minha própria ilha, por isso, definitivamente não
nos descreveria como ricos, mas também não hesito em comprar
móveis novos para Drew.

— Ela provavelmente tem uma ideia de que estou bem


financeiramente. — Digo.

Derek estreita os olhos para mim, avaliando a situação da


maneira fraterna. — Então você não acha...

— Nem mesmo sugira isso, — exclamo irritado,


interrompendo-o.

Derek levanta as mãos em derrota. — Só estou tentando


cuidar de você, irmãozinho. — Ele toma um gole de sua cerveja.

Hanson e Avery se aproximam, encerrando a conversa que


definitivamente terminaria com um soco em Derek. Eu sei que ele
é meu irmão mais velho, e que está apenas mencionando isso para
cuidar de mim, mas não é algo que me preocupe com relação a
Drew, e definitivamente não é algo que ele precisa trazer à tona
agora, na casa de nossa mãe, com todos aqui. Na verdade, ela pode
se irritar com essa insinuação.

Eu olho para o pátio onde Drew está sentada com a minha


mãe e Will, todas elas rindo e conversando. Observo as feições
delicadas do rosto de Drew se iluminarem e fico tomado por uma
profunda satisfação por ter decidido trazê-la.

Os meus olhos pegam Ava correndo, e viro-me para observá-


la sendo perseguida de maneira brincalhona pelos cachorros, os
seus braços estão bem abertos e ela os agita como um pássaro ou
talvez uma fada. Eu realmente não sei o que as meninas fingem
ser.

Ela para perto da mesa de piquenique e tenta recuperar o


fôlego.

— Ei, garota. — Ando até ela por um momento, deixando os


caras. — O que você estava fazendo aí? — Eu lhe pergunto,
apontando para onde ela estava anteriormente batendo os braços.

— Eu estava fingindo ser um falcão bebê. — Ava responde.

O RESTO da noite se desenrola como um sonho. Todos se


sentam juntos para comer no pátio, todos contando histórias, mas
claro, minha mãe tem mais. Ela relembra episódios antigos dos
irmãos Tanner bem jovens, e passamos a maior parte da noite nos
defendendo das ações de nossos eus mais novos para os nossos
amigos. Tudo bem, no entanto. É a parte favorita das reuniões da
minha mãe, e quem seríamos nós para negar a ela tanta felicidade
no seu aniversário?

Às vezes, gostaria que ela não estivesse sozinha, que tivesse


encontrado alguém que se tornasse seu companheiro ao longo dos
anos. Se você perguntar a ela, dirá que prefere assim, que tem todo
o amor de que precisa em seus filhos e amigos, mas acho que ela
simplesmente não quer admitir.

No final da noite, ao nos reunirmos na porta da frente para


as despedidas, observo Derek puxar Drew para um abraço,
sussurrando algo para ela. A conversa deles parece ser mais do
que uma troca superficial, e preocupa-me o que meu irmão pode
lhe dizer, considerando suas observações mais cedo na
churrasqueira.

— Ela é boa, eu acho, — minha mãe diz, estendendo os braços


para abraçar meu pescoço.

Eu me inclino, cedendo a ela, devolvendo o abraço. — Eu


também acho, — digo.

— Cuidem um do outro, — sussurra, beijando minha


bochecha.

— Vou fazer o meu melhor, mãe. Feliz aniversário. — Eu a


felicito.

Ela me liberta do seu abraço e dá um tapinha na minha


bochecha, virando-se para se despedir de Will.

Depois do que pareceu uma hora inteira nos despedindo,


estamos de volta no jipe a caminho de casa. Ava desmaiou na parte
de trás, os cachorros enrolados com ela. Drew está com a minha
mão no colo, desenhando círculos no dorso com o polegar. Apesar
da diferença de tamanho, nossas mãos se encaixam perfeitamente,
seus dedos pequenos entrelaçados entre os meus grandes.

Meus pensamentos voam pela noite, repetindo todos os


momentos em que fiz contato visual com Drew do outro lado da
mesa, a cada vez seus olhos estavam iluminados e calorosos. Ela
parecia tão feliz.

— O que meu irmão disse a você quando partimos? — Eu


pergunto a ela, quebrando o silêncio.

A cabeça de Drew vira para me olhar, aparentemente


surpresa por eu ter interrompido a viagem tranquila de volta com
minha pergunta. — Hum, você sabe, ele estava apenas sendo um
bom irmão mais velho, — responde.
Meu aperto fica mais forte no volante. — O que isso significa?
— Insisto.

Ela solta um longo suspiro, hesitante em continuar. — Ele


só... ele queria ter certeza de que eu estava com você pelos motivos
certos. Que eu realmente me importava.

— Ele não deveria ter dito qualquer coisa a você, — minha


voz mais rígida do que eu gostaria que fosse.

— Claro que ele deveria. Ele está apenas cuidando de


você. Hawk, você é um bom partido, possui seu próprio negócio,
herdou dinheiro quando seu pai morreu, quer dizer, eu posso ver
isso. As mulheres podem querer estar com você pelos motivos
errados. Para tatuagens grátis ou seu dinheiro, conheço essas
mulheres e espero ter mostrado a você que não sou uma delas,
mas ainda posso ver a sua preocupação. Eu tenho uma filha, sou
uma mãe solteira. Ele está apenas sendo um irmão para você. Eu
não levei isso para o lado pessoal.

Eu realmente não gosto de nada do que ela está dizendo. Não


gosto que ele tenha falado com ela sobre isso, que ele tenha
colocado ideias na sua cabeça.

É verdade que no passado eliminei algumas mulheres


precocemente quando detectei que eram interesseiras. Depois de
alguns encontros, elas pediam para tatuá-las esperando que fosse
de graça, ou, se por acaso descobrissem sobre o dinheiro que
herdei, de repente havia tanto que queriam comprar e davam
dicas.

Com o passar dos anos, fui aprendendo cada vez mais


rápido. Provavelmente porque nunca trouxe ninguém para casa,
porque me encontrei em um relacionamento com Nina, que tinha
o seu próprio dinheiro, e mesmo assim fiz sua tatuagem de
graça? Sim. Paguei-lhe para ter a minha cachorrinha de
volta? Também sim. Então, mesmo quando eu achava que estava
tudo bem, claramente não estava e isso me fez ficar cada vez mais
frio com as pessoas em geral, pelo menos a maioria delas.

— Acho que ele testemunhou algumas coisas no meu


passado. Mesmo assim, sinto muito, — finalmente digo.

— E eu sinto muito que essas coisas tenham acontecido com


você. Que aquelas mulheres não gostavam de você. Embora... eu
não sinto muito. Porque, bem, agora você é meu. — Ela sorri,
inclinando-se sobre o console central e pressionando um beijo na
minha bochecha.

— E eu sinto muito pelas coisas que aconteceram com


você. Mas não sinto muito...

Drew sorri quando paro, me beijando novamente. Parece que


ambos percebemos, que o que passamos nos colocou onde
estamos, e estamos bem com isso.

— Agora, quer experimentar aquela cama nova? — Ela


pergunta.

Eu me viro para vê-la balançando as sobrancelhas para mim,


o seu sorriso se transforma em algo um pouco mais diabólico, e
adoraria nada mais do que experimentar aquela porra de cama
nova.
Para o meu alívio, a rebelde troca de presentes de Amigo
Secreto do Papai Noel na Primavera foi adiada para duas semanas
depois. Posso apenas dizer como foram duas semanas
gloriosas? Quase todas as noites eram passadas com Hawk em sua
casa ou na minha. Os fins de semana eram reservados para
viagens a lugares que ele achava que Ava e eu gostaríamos de ir. No
fim de semana passado, ele nos levou a um museu de arte
interativo. Alguns quartos eram apenas bonitos, enquanto outros
permitiam que você se tornasse parte da arte, e alguns até
permitiam que você criasse a sua própria. Desnecessário dizer que
Ava teve uma explosão. Cada noite passada com ele foi um furacão
de momentos doces e momentos sexy e safados. O suficiente para
fazer minha cabeça girar.
Ava e eu chegamos ao apartamento de Hawk, com meu
presente para Will em mãos. Somos saudadas literalmente por
todos, já que parece que somos as últimas a chegar, e Ava culpa
minha rotina de maquiagem.

Hawk sai vem sala para me abraçar, imediatamente


envolvendo os seus braços em mim e beijando meus lábios. — Eu
sei que só se passaram duas horas desde que te vi no trabalho,
mas senti sua falta, — ele sussurra.

Will faz um barulho audível de engasgo atrás dele. — Ok,


pombinhos, vamos guardar isso para depois e chegar à parte em
que todos ganhamos presentes, hein? — ela diz.

Todos se reúnem na sala de estar, uma pilha de presentes na


mesa de centro muito maior do que deveria ser para apenas cinco
pessoas. Deveríamos receber vários presentes? Enquanto o pânico
começa a crescer em meu peito, Hanson fala.

— Aqui está, princesa. — Ele entrega um presente a Ava.

— Para mim? — Ela diz.

— Claro, — Hanson confirma, olhando ao redor. — Você acha


que todos nós trocaríamos presentes e não daríamos algo para a
nossa Ava?

Lágrimas crescem em meus olhos. Nossa Ava, ele disse. Antes


de virmos esta noite, deixei claro para Ava não esperar presentes
porque isso era coisa de adulto, mas quando vejo Avery dar um
presente a ela em seguida, e depois Will, fico emocionada. Embora
cada um de nós esteja apenas trocando um presente, todos eles se
deram ao trabalho de trazer algo a mais para Ava.

Eu pisco para afastar as lágrimas, esfregando os cantos com


meus dedos indicadores.

— Você está bem? — Hawk sussurra para mim.


Eu aceno, incapaz de formar palavras.

Ele beija a minha têmpora e sorri. Para Ava, ele diz: — Aqui
está o meu também.

Como se ele não tivesse dado o suficiente. Como se o seu


quarto inteiro não pudesse contar como tal.

Ela agradece a todos quando começa a rasgar o papel de cada


presente.

— Ok, agora nós! — Will diz, o seu entusiasmo tão


cativante. Ela está praticamente eufórica.

— Aqui está, cara. — Hanson entrega um pacote a Hawk.

Hawk abre a caixa, com uma garrafa do que parece ser um


uísque muito irlandês e muito caro.

Todos entregam os presentes uns aos outros depois disso,


dou o meu a Will animada para ver sua reação.

Ela passa as mãos sobre o pacote plano antes de rasgar o


papel na frente. Ela engasga assim que percebe o que é. — Oh,
meu Deus, como você conseguiu isso? — Grita.

— Levei alguns dias, mas não posso dizer exatamente, se não


teria que te matar, — brinco.

Ela olha para o disco de vinil da sua banda favorita, The


Honorary Title. O álbum Anything but the Truth de 2004 sendo seu
favorito absoluto, e eu consegui adquirir uma cópia em vinil, com
as assinaturas de cada membro da banda rabiscadas com
marcador do lado de fora. Dentro do pacote estão alguns outros
produtos da banda, incluindo uma camiseta e adesivos. Eu acho
que isso não era grande coisa, mas a banda se separou há alguns
anos. Aparentemente, foi uma época muito sombria para ela.
— Não, sério, como você encontrou isso? — Ela pergunta.

— Eu posso ter perseguido alguns membros da banda no


Instagram, — admito.

Os olhos de Will se arregalam, seu rosto sério. — Isso


funciona? — Ela pega o seu telefone.

Eu rio, porque é claro que Will pegaria seu telefone para ver
se pode persegui-los até que falem com ela. Estou mais aliviada
por ela ter gostado, porque passei os primeiros dois dias depois de
tirar o nome dela completamente louca sobre o que lhe
comprar. Pensei em todas as conversas que tivemos sobre o que
ela gosta, o que ela lê, o que ela ouve. Eu me lembrei de uma
conversa muito específica que tivemos sobre essa banda ter feito
um show de reunião em algum momento, e como Will ficou de
coração partido por não ter ido. Então essa banda parecia o lugar
certo para começar com uma ideia de presente.

— Sua vez, — Hawk diz, colocando um pacote em minha


mão. É grande e plano.

— Você tirou o meu nome? — Perguntei, semicerrando os


meus olhos para ele.

— Posso ter trocado, — admite. — Mas também lhe trouxe


duas coisas. — Hawk coloca outra pequena caixa em cima da
grande caixa achatada.... parece uma caixa de joias. O pânico volta
ao meu peito porque que diabos? Mais joias? E isso parece uma
caixa de anel. Certamente ele não me deu um anel.

Coloco a pequena caixa no sofá ao meu lado e começo com a


grande, rasgando o papel bem na frente e então eu não consigo
respirar. Dentro há uma pintura, meu rosto e o de Ava
sorrindo. Imortalizados em pinceladas, os meus dedos encontram
meu lábio inferior trêmulo.
— Você gostou? — Ele pergunta, a voz baixa e séria. — Eu
pensei que poderia pendurá-la acima do seu sofá, se você quiser.

— Eu amei. É o melhor presente que já recebi, — tento


segurar o choro.

Hawk me observa enquanto os meus olhos se movem pela tela


repetidamente. Ele é tão talentoso. E agora entendo o que ele quis
dizer quando falava sobre todos na loja também serem grandes
artistas além da arte na pele.

— E agora este. Embora provavelmente não supere a tela.


— Ele coloca a pequena caixa na minha mão, um laço vermelho
simples enrolado na caixa preta.

Hesito, meu coração batendo tão forte no meu peito que acho
que vai sair pela minha caixa torácica. Eu apalpo o laço, puxando
a fita tão lentamente que o tempo pode realmente estar
parado. Abrindo a tampa da caixa, um brilho prateado reflete de
dentro, e minha respiração fica presa. Estou enlouquecendo. O que
está acontecendo? Oh. Meu. Deus.

É uma... chave? Eu pego-a, segurando-a entre o polegar e o


indicador, olhando para ela em confusão.

— É daqui, da minha casa, — ele sussurra.

— Uma chave para o seu loft? — Indago.

Hawk acena com a cabeça, quase timidamente.

— Então tipo, eu poderia vir às duas da manhã e invadir sua


geladeira se estiver sem lanches? — Eu provoco.

— Parece que sim, — diz ele, rindo.

Eu me inclino para mais perto dele, certificando-me que o


resto do grupo não possa nos ouvir. — Ou tipo, eu poderia vir às
três da manhã e rastejar sob os cobertores entre suas pernas e
fazer aquela coisa que você gosta com a minha língua?

— Eu definitivamente adoraria se você fizesse isso, — diz ele,


naquele seu rosnado.

Eu rio e mordo sua orelha, sabendo exatamente o tipo de


resposta que isso vai me dar.

— Eu tenho outra coisa planejada. Algo que não está na pilha


de presentes, mas já organizado, — ele conta.

— O quê? — Pergunto.

— Amanhã, depois do trabalho, faremos uma viagem de fim


de semana. Só você e eu. Will pode cuidar de Ava se estiver tudo
bem para você? — Fala.

— Suponho que não posso perguntar para onde estamos


indo?

— O que é que você acha? — Ele ri.

Este homem e suas surpresas. Não que eu esteja


reclamando. Acho que nunca vou me cansar delas.
Para ser sincero, eu não queria apenas dar a Drew a chave
da minha casa. Eu queria pedir a ela para morar comigo. Mas isso
parecia loucura depois de namorar por tão pouco tempo. Então,
novamente, posso ser um pouco louco. E impulsivo. É por isso que
procurei o conselho de Will sobre isso. Foi quando ela me disse que
eu era louco e impulsivo pra caralho. A chave do meu lugar
significava um compromisso.

— Você está apaixonado por ela? — ela me perguntou.

— O que isso tem a ver? — Retruquei.

— Você não leva a pessoa para a sua casa se não estiver


apaixonado. — Disse.
Eu realmente não tive nenhum argumento para discutir com
ela porque movi Nina sem amá-la, e veja como isso acabou. Mas
então comecei a me perguntar se estava ou não apaixonado por
Drew. E essa foi uma pergunta muito boa para me fazer, porque
tenho quase certeza de que só estive apaixonado uma vez, e foi por
Becky Shemansky na décima série. Ela tinha cabelos castanhos
cacheados e aparelho ortodôntico que cortava meu lábio toda vez
que nos beijávamos. Mas eu continuei saindo com ela porque me
deixava tocar seus seios. E eu era um adolescente, então isso me
rendeu muitos pontos de vestiário, ou o que diabos eu estava
preocupado na época.

Então, durante toda a semana, estive me perguntando: Eu a


amo? Eu estou apaixonado por ela? E a resposta é sempre a
mesma. Essa é uma boa pergunta do caralho. O que é uma espécie
de não resposta. E já me resignei a pensar que, se ainda não posso
responder, talvez ainda não esteja apaixonado por ela. Quer dizer,
adoro passar um tempo com ela - e com Ava.

Eu amo estar perto de Drew. Eu amo o sexo. Amo quem ela é


como pessoa, quem ela é como mãe, como amante. Então, talvez
estar apaixonado esteja ao virar da esquina. Uma progressão
natural.

Esses pensamentos ainda estão girando em minha mente


enquanto levo Will e os cachorros ao apartamento de Drew e a pego
para o nosso fim de semana fora. Finalmente estamos no jipe,
saindo da cidade, minhas mãos segurando as dela no console
central, e isso se tornou uma das minhas coisas favoritas. Eu não
acho que posso descrever com precisão o conforto e a paz que
tomam conta de mim quando sua mão está na minha e ela desenha
círculos nas costas dela. Às vezes, ela olha para baixo e traça as
tatuagens na minha pele, nos nós dos dedos e no meu antebraço,
causando arrepios em toda a minha espinha.
— O que você está pensando? — Ela interrompe meus
pensamentos.

— Você. — Admito simplesmente.

— O que sobre mim? — Drew se inclina mais perto, sobre o


console, e apoia o queixo em sua mão, soltando a minha.

Soltei um longo suspiro. — Estou pensando em quanto do fim


de semana posso mantê-la nua, — respondo. Uma pequena
mentira branca. Ok, bem, não totalmente uma mentira branca,
porque definitivamente passou pela minha cabeça algumas vezes.
Mas não posso dizer a ela que estou me perguntando se a amo ou
não. Isso seria estranho.

— Muito, eu espero. — Ela sorri.

Deus, adoro quando ela faz isso. — E espero que goste de


onde estou te levando.

— Estou certa de que vou. Eu poderia me divertir com você


em qualquer lugar, — diz ela. Drew encosta a cabeça no meu
ombro e aumenta o volume da música.

Passamos o resto da viagem em um silêncio confortável, meus


pensamentos oscilando entre questionar o amor como uma espécie
de filósofo, e um tempo sexy e divertido como um adolescente com
tesão. Que trem louco.

Seguimos pela longa estrada de cascalho até que


estacionamos em frente ao Maple Ridge Bed & Breakfast. Falei com
os proprietários por telefone e me disseram que não tinham outros
hóspedes neste fim de semana, então o lugar é todo nosso. O que
significa que não vou me sentir tão mal quando fizer Drew dar
aquele seu gritinho quando bato duas vezes com meus dedos
naquele lugar de que ela gosta.

— Uma pousada? — Ela pergunta, seus olhos percorrendo a


grande casa vitoriana na nossa frente e a propriedade bem cuidada
ao redor dela.

— Você gosta disso? — Indago.

— Eu amo isso! Nunca estive em uma. — Diz.

Pego nossas malas na parte de trás e faço o check-in, então


encontramos Carl e Nancy, os proprietários. Eles são um adorável
casal de cabelos grisalhos que nos diz que têm dezessete netos, e
que o café da manhã será servido no refeitório às oito. Em seguida,
eles me entregam as chaves da Suíte Oak, o maior quarto que eles
têm.

— Seu jantar privado será servido no terraço às seis,


conforme solicitado, — diz Nancy, nos mostrando as escadas.

Nosso quarto é exatamente o que você esperaria numa


pousada administrada por um casal de idosos. A suíte Oak tem
esse nome porque todos os móveis internos são, na verdade, de
carvalho. Uma cama king-size fica no centro com um dossel de
renda por cima. Uma pequena sacada à esquerda tem vista para
os jardins e o resto do quarto é bem básico. Todos os móveis de
carvalho e uma poltrona.

— Oh, olhe para isso, — Drew diz, parada na entrada do


banheiro privativo.

Aproximo-me e espio dentro, levantando uma sobrancelha


para a banheira jacuzzi que fica ao lado do chuveiro envidraçado.
— Oh, eu gosto disso, — digo. — Sim, muito.
— Devemos... tomar um banho antes do jantar? — Ela inclina
o rosto perto do meu pescoço, mordiscando minha pele.

Eu me afasto e puxo minha camisa sobre a cabeça com uma


mão. — É uma ideia brilhante.

Não podemos entrar no banheiro ou iniciar o banho rápido o


suficiente, ambos tirando as roupas, os sapatos e puxando um ao
outro em um frenesi. Eu paro de tocá-la por tempo suficiente para
abrir a água, enquanto ela joga seu cabelo num coque bagunçado
no topo de sua cabeça.

Em segundos, todo o banheiro está cheio de vapor, o vidro do


chuveiro embaçado e a pressiono contra ele. Minha boca viaja da
dela para baixo em seu esterno e sobre seus seios. Eu levanto sua
perna, prendendo-a ao vidro com meu corpo, deslizando entre
suas coxas.

— Não trouxemos preservativo pra cá, — ela murmura


através de respirações difíceis.

— Você está tomando contraceptivo?

— Sim, — responde.

— Oh Deus, me diga que eu posso, Drew. Por favor, —


imploro, esfregando-me contra sua entrada.

— Por favor, sim, — ela sussurra entre choramingos.

Eu empurro dentro dela, sucumbindo ao seu pedido, aos


meus próprios desejos. Ela me beija, lambendo sua língua contra
a minha. Se não soubesse melhor, poderia jurar que estávamos
literalmente tentando nos devorar. E talvez, até certo ponto,
estejamos.

Eu a levo no chuveiro, sem barreira entre nós, todos os


pensamentos desta semana se foram. Ela é tão fodidamente boa
enrolada em mim, molhada e quente. Mas, mais do que isso, ela
me faz sentir vivo.

Apaixonado ou não, Drew é tudo que eu quero.


Informo que ninguém ficou limpo naquele chuveiro. Na
verdade, esse é o banho mais sujo que já tomei. Preciso de outro
só para lavar a deliciosa sujeira de tudo isso.

Enquanto Hawk está no banheiro se arrumando, coloco um


dos vestidos que trouxe comigo porque me foi dito que poderíamos
fazer algumas coisas boas. Essa é toda a instrução que recebi para
fazer as malas.

Estou dando os toques finais na minha maquiagem na frente


do espelho da cômoda quando Hawk finalmente sai do banheiro. E
ele está vestindo um terno. Deixe-me corrigir essa afirmação,
enquanto meus olhos varrem por ele, começando em seus sapatos
sociais pretos, seguindo pelas suas calças justas pretas,
arrastando sobre a camisa branca de botões bem passada. Porque
não está totalmente abotoada e ele está sem gravata, optando por
deixar as tatuagens no peito e no pescoço aparecerem. Meus olhos
continuam sobre as lapelas de seu paletó preto combinando e
param em seu rosto porque ele tem um rosto lindo. Todas as
borboletas da vagina foram liberadas e estão vibrando, sinto que
não consigo respirar.

Um assobio baixo escapa de seus lábios. — Você não é uma


visão? — Ele diz, seus olhos percorrendo minhas coxas nuas.

É certo que este vestido é curto. Muito curto. Como em melhor


não se curvar. — Esta coisa velha? — Provoco.

Hawk caminha até mim, se inclina e passa a mão pela minha


coxa nua, sua mão desaparecendo sob a borda do tecido fino.

— Não faça isso. Nunca vamos chegar ao jantar, —


sussurro. Estou sem fôlego sob seu toque.

Ele pressiona um beijo em meus lábios, relutantemente


removendo sua mão do calor da minha pele, fazendo beicinho o
tempo todo. — Está bem, mas já sei o que vou comer de sobremesa,
— sugere, pegando na minha mão e dando um beijo nas costas
dela, roçando os dentes lentamente nos nós dos dedos.

Uma trilha de arrepios se espalha pela minha nuca e, num


estado momentâneo de euforia, quase concordo em pular o jantar.

— Vamos lá. — Eu o levo para fora da sala antes que nenhum


de nós saia durante o fim de semana inteiro.

Eu digo uma coisa, entretanto. O jantar estava delicioso,


assim como o café da manhã no dia seguinte, como foi o sexo
matinal depois do café da manhã antes de sairmos para explorar
algumas lojas locais para turistas.
Eu disse a Hawk que queria comprar um souvenir ou dois
para Ava, e talvez um para Will como um agradecimento por ser
babá. Então, enquanto exploramos, também estamos caçando.

— Oh, vamos entrar aqui. — Aponto para uma loja que parece
boêmia com joias e bugigangas na vitrine.

— Ok, mas depois disso, quero almoçar e definitivamente


quero um sorvete, — diz Hawk.

Vejo as camisetas enquanto Hawk olha as joias em uma


prateleira próxima, pego numa com um buquê de flores, com uma
adaga no meio delas. — Acho que encontrei uma camisa para a
Will, — digo, rindo.

— E eu acho que encontrei algo para a Ava. — Hawk caminha


até mim, estendendo a mão. Uma pequena corrente de prata pende
dos seus dedos com um pingente de um pássaro nela. — Somos
todos parte da família Bird's Eye. Até ela, — ele diz.

Eu sorrio e lhe aceno a minha aprovação, sabendo que ela vai


adorar.

Depois de comprar os itens, atravessamos a rua para um


pequeno restaurante com um pátio para o almoço.

— Também comprei algo para você, — diz ele.

— O que, enquanto eu estava distraída no caixa? — Rio.

— Precisamente. — Ela puxa uma pequena corrente de prata


e a entrega para mim. É maior do que a que ele comprou para Ava,
mas tem o mesmo pássaro pendurado nele.

— Agora vocês podem combinar, — diz ele. — Os meus


passarinhos.
Coloco a corrente em volta do pescoço, pressionando-a contra
o peito e sorrio para ele. Por alguma razão, este colar, embora seja
uma fração do custo, parece mais significativo do que o de
diamante que ele me deu.

— Obrigada. Eu amei, — digo.

Depois que estamos sentados no restaurante, Hawk estende


o braço sobre a mesa e pega na minha mão, entrelaçando os
nossos dedos. Para qualquer outra pessoa, podemos parecer
apaixonados. Amor. Uau. Eu acabei de pensar nisso? Vá mais
devagar, mocinha. Tenho certeza de que Hawk não tem pensado
na bomba-amor. Eu empurro esses pensamentos bem nas
profundezas de algum lugar distante e me concentro.

Obviamente, é muito cedo para pensar no amor. Não é? Tento


me lembrar de quando Curtis e eu ainda estávamos
namorando. Quanto tempo se passou antes de amá-lo? Por alguma
razão, a minha mente não consegue fazer as contas. É
extremamente difícil colocar o amor e Curtis na mesma linha de
pensamento, seja no passado ou no presente.

Hawk e eu temos um almoço delicioso, conversando sobre


vários tópicos diferentes, com os meus pensamentos sobre o amor
sempre em segundo plano. Em seguida, passamos por mais
algumas lojas, e ele encontra um peso de papel de tarântula
extremamente atroz como um presente para Avery. Parece uma
tarântula real, ou já foi, uma vez. Talvez fosse um projeto de
taxidermia, mas a coisa grande e peluda é fundida em resina em
forma de octógono. A coisa toda me faz rir, mas também meio que
me assusta. Encontramos uma escultura de leão em miniatura
cafona para Hanson. Aparentemente, ganhar presentes terríveis
uns dos outros é uma coisa que eles fazem o tempo todo.
Quando voltamos para o nosso quarto na pousada, tento
apalpar Hawk assim que colocamos nossas sacolas de compras no
chão.

— Ainda não. — Ele sorri.

— Não? — Eu faço beicinho.

— Vamos dar um passeio antes do jantar. Depois disso,


teremos um tempo sexy na banheira de hidromassagem, — diz
sorrindo.

Tenho que concordar, pois gosto do seu plano geral


imaginado para a noite. — Ok, vamos lá.

— Por que a pressa? — Ele brinca, com as suas mãos grandes


segurando os meus quadris.

— Não estou com pressa, apenas tentando ansiosamente


começar a diversão, — respondo, inclinando-me para envolver os
meus braços em seu pescoço. Eu pressiono os meus lábios nos
dele, mordendo o inferior do jeito que sei que ele gosta, ouvindo a
sua inspiração aguda.

— Ok, sim. Vamos antes que eu perca a cabeça e pule para o


fim. — E me conduz para fora da porta.
É isto. A culminação dos eventos do dia. As lojas foram
divertidas, o almoço estava ótimo, as trilhas por toda a propriedade
eram lindas, o jantar estava delicioso, mas é por isto que estou
ansioso o dia todo, e tenho sido um bom menino. Por isso,
desculpem, mas mereço ficar aqui e ver Drew se despir lentamente,
antes de se jogar na banheira de hidromassagem. Os jatos criam
bolhas suficientes em cima da água para obscurecer a minha visão
do seu corpo, e os meus próprios pensamentos estão me
provocando.

Eu entro na água quente, o vapor subindo, sentindo toda a


rigidez dos meus músculos desaparecer. Faço uma nota mental
para verificar o custo de ter uma dessas instalada no loft porque,
puta merda, é incrível.
— Uau. — Drew diz, a sua única palavra saindo mais como
um gemido. — Isso deveria ser ilegal.

— Acho que deveria ter uma dessas na minha casa. — Eu


reclino a minha cabeça no pequeno apoio atrás e fecho os olhos.

— Mais um motivo para eu usar aquela chave, — diz ela.

Ficamos sentados em silêncio por alguns longos minutos,


absorvendo o relaxamento dos jatos, a calma da água quente
derretendo o nosso estresse. Eu ouço a água se movendo entre nós
e sinto as suas mãos nos meus joelhos.

— Você está muito longe, — ela sussurra.

— Você está certa, — respondo.

Drew monta em mim, pressionando o seu torso nu contra o


meu. Eu envolvo as minhas mãos em torno dela, na sua bunda,
para mantê-la no lugar. Ela passa as mãos molhadas pelo meu
cabelo e sinto pequenas gotas de água escorrerem pelo meu
pescoço, enviando um arrepio através de mim.

Meus dedos percorrem a sua espinha até alcançarem o seu


cabelo e o puxarem, expondo a sua garganta para mim. Beijo os
músculos delicados enquanto ela engole, os seus dedos cavam na
carne dos meus ombros, as suas costas se arqueiam, o seu corpo
empurrando contra o meu.

— Eu quero você, — diz ela, abaixando a boca no meu


ouvido. Eu a aperto com mais força, cavando os meus dedos na
carne macia dos seus quadris.

— Você quer sair primeiro? — Pergunto.

Ela está gemendo contra meu pescoço, lambendo, sugando e


mordendo. — Eu quero você assim, aqui, — ela insiste.
— Tem certeza? — Eu pressiono meus quadris contra os dela,
provocando.

Ela acena com a cabeça, soprando um hálito quente contra


minha pele. — Por favor... — Ela diz, o seu tom implorando.

E isso é tudo o que preciso para cair como um castelo de


cartas. Ela desliza contra mim e eu a realinho, me empurrando
dentro dela. Ela se curva e se torce de prazer, soltando gemidos no
banheiro silencioso, o pequeno espaço emprestando um valor
acústico, enviando um eco que salta de parede a parede.

— Você gosta do jeito que eu te faço sentir? — Eu gemo contra


seu pescoço.

— Sim, — ela sussurra, entre respirações curtas e


irregulares.

— Você quer mais? — Eu pergunto.

— Sim.

Fico louco ao perguntar coisas a ela e ouvir as suas respostas.


Saber como ela está se sentindo, ver o seu rosto se contorcer de
prazer. Fico louco ao saber que sou o responsável por fazê-la se
sentir como se sente. Qualquer homem que se preze na cama,
preocupa-se com os sentimentos da mulher, não deixe ninguém
dizer nada diferente.

Eu empurro dentro dela, repetidamente, até que sinto seu


corpo estremecer e desabar em cima de mim. Então eu gozo,
porque as damas primeiro, em tudo.

Nós rastejamos para a cama mais tarde, ainda nus, mas ei,
pelo menos estamos secos. Ela enrola-se em mim e envolvo-me
completamente em torno dela, tão junto quanto possível, jogando
uma perna sobre a dela, colocando a sua cabeça no meu bíceps, o
meu outro braço ao seu redor. Acaricio o seu cabelo suavemente,
colocando-o atrás da orelha enquanto conversamos sobre o fim de
semana, sobre como nós dois não desejamos que acabe amanhã,
e fazemos planos para ter mais fins de semana como este no
futuro.

Estou tomado por emoções que mal entendo. Planejar fins de


semana futuros parece tão certo, mas tão estranho. Nunca fiz isso
com ninguém, na verdade, nunca fiz nada disso com ninguém, não
assim.

Eu sinto a respiração de Drew lenta, o seu corpo relaxando


no meu, a sua voz parece mais sonolenta quando ela diz: —
Obrigada por este fim de semana.

— De nada, — eu sussurro em seu ouvido.

— Estou me divertindo muito, — ela diz, e sei que não


demorará muito para que ela adormeça.

É assim na maioria das noites em que estou com ela. Ela


adormece antes de mim, às vezes a observo um pouco, ouvindo
sua respiração. Ela parece tão em paz, não consigo resistir.

— Estou feliz que você gostou, — sussurro de volta, e não


posso explicar isto. Não sei exatamente quando decidi ou como a
necessidade cresceu dentro do meu peito, mas inclino-me para
perto dela, os meus lábios pairando acima da pele de sua
bochecha.

— Ei, Drew? — Sussurro.

— Sim?

— Eu amo você.

Drew está em silêncio, apenas o ritmo constante de sua


respiração enchendo o ar, ombros para cima e para baixo
enquanto ela inspira e expira. Ela está dormindo. Achei que ia
dizer a tempo, mas foi um tiro ao lado.

Acabei de dizer que a amo e ela nem está consciente.


Pânico. Garganta apertada. Mini AVC. Cérebro
desligando. Mais pânico.

Sim, fingi estar dormindo ontem à noite quando Hawk me disse


que me amava, ok? Eu fiz. Eu não pude evitar. Eu entrei em pânico.

Eu flutuei para fora do meu corpo, e a aparição de Drew se


viu deitada ao lado de Hawk enquanto ele sussurrava que a amava
em seu ouvido, e ela quase continuou flutuando direto para os
portões do céu. Eu sou uma covarde, ok? Uma grande e enorme
covarde.

Eu não sabia mais o que fazer, ouvi as palavras saírem de


sua boca, sim, mas a minha garganta fechou no instante em que
o ouvi. Não sei o porquê, não sei ou talvez até saiba. Ok, agora estou
divagando comigo mesma.

Acordamos esta manhã ainda enrolados um no


outro. Fizemos sexo lento e apaixonado, com muitos carinhos e
contato visual. Só percebi depois, quando nos levantamos da cama
e começamos a nos vestir, que não estávamos apenas fazendo
sexo. Estávamos fazendo amor. Estávamos fazendo amor com
nossos corpos.

Então entrei em pânico de novo, e usei o banheiro por uns


doze minutos. No momento em que saí, Hawk já tinha se vestido
completamente e feito as nossas malas.

Claro, ele está muito quieto esta manhã, talvez porque ele
esteja tentando descobrir uma maneira de me dizer novamente
enquanto estou bem acordada QUE ELE ME AMA. Mais pânico.

— Estamos prontos para ir? — Pergunto, calçando os meus


sapatos enquanto examino a sala em busca de qualquer item que
possamos ter esquecido.

— Acho que sim, — diz ele, esfregando a nuca com a palma


da mão.

Eu sei que ele faz isso quando está pensando, quando está
incomodado com alguma coisa, e tenho certeza, considerando a
noite passada e esta manhã, ele provavelmente está bastante
incomodado.

— Podemos tomar um café no caminho? Eu realmente


poderia comer um gelado de caramelo. — Digo, tentando manter a
conversa leve.

— Espere, antes de irmos, há algo que preciso dizer. — Ele


coloca a mão em volta do meu ombro, virando-me para encará-
lo. A sua mandíbula está rígida, as sobrancelhas pressionadas, ele
parece realmente aflito, em agonia.

— O que foi? — Eu engulo. Oh meu Deus. É agora. Não sei se


estou pronta para ouvir isso pela segunda vez, mas acho que
estamos prestes a descobrir. Eu estendo a mão e a passo na sua
bochecha, desejando mais do que qualquer coisa que eu pudesse
pelo menos lhe tirar esse olhar, que está estragando as belas
feições do seu rosto. Vejo como os músculos da sua garganta
trabalham para cima e para baixo, as tatuagens flexionando e
relaxando.

— Eu, uh, eu... — Ele começa, mas então faz uma pausa,
deixando escapar um longo suspiro de derrota. — Eu realmente
espero que você tenha se divertido. — Hawk se esforça ao máximo
para trazer um sorriso aos lábios, mas parece atrofiado, e não
insisto no assunto.

— Eu tive o melhor fim de semana de sempre. — Digo. É tudo


o que consigo lidar agora.

O caminho de volta é tranquilo, e sinto que o traí de alguma


forma. Eu me sento da mesma maneira de sempre, a sua mão no
meu colo enquanto desenho círculos nas costas dela, mas nenhum
de nós está realmente presente. Parece que nós dois estamos
dentro de nossas cabeças a cem quilômetros de distância daqui e
um do outro, o que é absolutamente uma merda.

Parte de mim quer dizer a ele que eu sei, que o ouvi, mas
fingir não o ouvir foi uma coisa idiota da minha parte e não quero
que ele fique bravo comigo depois do nosso maravilhoso fim de
semana. Então volto a pensar, quanto mais eu esperar, pior vou
me sentir, quando ou se ele descobrir essa verdade.

Fazemos quase toda a viagem de volta para casa em completo


silêncio, nenhum de nós reconhecendo isso também, mas quando
entramos no meu apartamento, é mais fácil esquecer um pouco o
constrangimento, por estarmos em nosso lar acolhedor.

— Você voltou! — Ava exclama.

Ela corre para a porta quando a abrimos e passa por mim,


para abraçar Hawk primeiro. Que pequena traidora.

— Ei, garota. — Ele afofa o cabelo dela, dando o seu enorme


sorriso genuíno.

— Como foi a viagem? — Will pergunta enquanto entramos


na sala e nos sentamos.

— Maravilhosa. — Eu me recosto no sofá macio e suspiro.

Hawk abaixa-se para cumprimentar Raven e Sadie, e


conversamos sobre as lojas que visitamos, a comida que comemos
e o charme da pousada em si. Então, damos a Will a sua camisa e
a Ava seu colar.

— Agora você também é um pássaro, — diz Hawk, entregando


a Ava a delicada corrente.

Eu vejo os olhos de Ava se iluminarem e ela imediatamente


quer ajuda para colocá-lo. Assim que coloco nela, fica radiante,
parecendo dez vezes mais feliz e confiante num instante.

Ava vai para o seu quarto depois de um tempo e Will


eventualmente diz adeus, deixando Hawk e eu sozinhos
novamente. Não demora muito para o silêncio desconfortável se
estabelecer ao nosso redor. Em um esforço para evitar que isso
aconteça novamente, ofereço vinho. Porque a bebida sempre ajuda,
certo?

— Você quer ficar esta noite? — Eu pergunto.


— Sim, claro, — ele diz. — Os cães já estão aqui, certamente
torna tudo mais fácil.

Eu verifico o relógio e noto que já é hora de começar a planejar


algum tipo de jantar. Abrindo a geladeira, examino o conteúdo e
mordo o lábio com a falta de opções.

— Vamos pedir pizza, — sugere Hawk.

— Agora disse tudo. — Fechando a porta da geladeira, eu me


junto a ele de volta no sofá, então pega o seu telefone e clica em
alguns botões. Graças à tecnologia moderna, você não precisa
mais falar com ninguém para pedir comida.

Tomo alguns goles de meu vinho e inclino-me para trás na


dobra do braço de Hawk. — Eu voto que simplesmente
abandonemos todas as responsabilidades mundanas em favor
disto. — Suspiro.

Os seus lábios roçam o topo da minha cabeça e posso até


sentir ele sorrir. — Definitivamente sou a favor disso, — diz ele.

Antes que eu perceba, estou entrando e saindo da


consciência e, então, dormindo. Suponho que uma soneca antes
do jantar é sempre um bom plano.

O SOM de uma batida na minha porta me desperta e pulo do


braço de Hawk, que aparentemente também cochilou.

— Merda, nós adormecemos. Acho que isso é velhice, —


brinca.
— Deve ser a pizza. — Eu me levanto, passando as mãos
sobre minhas roupas. — Eu vou buscar. Você pega os pratos.

Hawk caminha em direção à cozinha enquanto sigo pelo


corredor que leva à porta da frente. Abro, esperando ser
cumprimentada por algum entregador adolescente.

Em vez disso, o meu passado quase esquecido literalmente


veio bater à porta.

— Curtis? — Eu digo, enquanto toda a cor se esvai do meu


rosto.
Assim como esta manhã na pousada, estou totalmente em
pânico, mas ao contrário desta manhã, não consigo calar a boca
desta vez.

— O que você está fazendo aqui? Como você me achou? Que


diabos? O que você está fazendo aqui? — Pergunto, começando a
me repetir.

Curtis levanta as mãos, me silenciando. — Acalme-se, pelo


amor de Deus. O que, não posso vir para ver minha família? —
Questiona.

Família? Que porra é essa? A indiferença em seu tom me pega


de surpresa.
Curtis caminha para o corredor, passando por mim, quase
chegando à sala antes que eu me vire e o bloqueie.

— O que você está fazendo aqui? — Eu exijo.

— Vim ver como você está, como Ava está. — Ele me empurra
para fora de seu caminho, contornando-me para chegar à sala de
estar. — Vejo que você está bem de vida, — ele zomba, examinando
a sala, os móveis novos.

Se ele soubesse. Como se fosse uma deixa, Hawk aparece da


cozinha, sem dúvida confuso ao ouvir a voz de um homem no
apartamento. Ele encara Curtis e Curtis encara de volta. Um
minuto inteiro passa, e sinto que não consigo formar um único
pensamento coerente, muito menos uma palavra ou frase.

— Parece que interrompi algo aqui, — diz Curtis, cortando o


silêncio primeiro. — Eu sou Curtis, — ele se apresenta a Hawk,
dando alguns passos a frente. O espaço entre os dois homens
diminui quando Curtis estende a mão. — Eu sou o marido de
Drew.

— Ex-marido, — corrijo, interrompendo atrás dele.

Os olhos de Hawk se estreitam para Curtis, que


imediatamente dá meio passo para trás, a mão ainda estendida,
mas, para minha surpresa, Hawk cumprimenta-o, embora pareça
que está segurando com muito mais força do que o necessário. —
Eu gostaria de poder dizer que é um prazer conhecê-lo, — diz
Hawk.

— Hawk, — digo, não querendo tornar a situação pior do que


já está.

Ele me lança um olhar, claramente despreocupado com as


maneiras neste momento em particular.
— Sim, bem, demorei uma eternidade para convencer aquela
sua tia a me dar o endereço do apartamento, — Curtis diz,
voltando-se para focar a sua atenção em mim enquanto dá as
costas a Hawk. — Mas depois que deixei mensagens com ela para
que você me ligasse e você não o fez... bem, tempos de desespero,
medidas desesperadas.

— Tempos de desespero? — Repito, enquanto olho para trás


no corredor para os quartos.

Ava provavelmente se perdeu no que quer que esteja


desenhando, e espero que continue assim um pouco mais.

— Sim, mas talvez não devêssemos falar sobre isso na frente


do seu amiguinho aqui. — Curtis sugere, acenando com a mão em
direção a Hawk.

Pisco várias vezes, e rezo para que sua mão não seja
arrancada do ar por Hawk e quebrada como um graveto, porque
está muito perto de Hawk, e nunca vi o rosto dele tão frio, como
uma pedra. Você poderia cortar vidro com a sua mandíbula agora,
ele parece quase raivoso.

— O que é que isso significa? — Eu pergunto, cruzando os


braços sobre o peito.

— Essa conversa deve ser privada, é o que significa. — Seus


olhos examinando meu rosto.

Eu suspiro tão alto quanto posso, porque não gosto


disso. Não gosto de como ele aparece sem avisar, de como está
sendo tão casual, do jeito como me chama de esposa, de como é a
sua família, e não gosto que ele pense que está de volta ao controle
da situação, tentando ditar como deve ser, mas parece que a única
maneira de sair dessa situação é ouvi-lo, deixá-lo dizer por que
veio até aqui, e, ao que parece, não está disposto a divulgar nada
disso na frente de Hawk.
Embora parte de mim sinta vontade de ter Hawk por perto
apenas por maldade, sei que não vai ajudar em nada.

Só então ouço a porta do quarto abrir, seguida por pequenos


passos hesitantes no piso de madeira.

Ava entra na sala de estar, seu rosto contorcido em confusão,


como se ela estivesse olhando para um fantasma. — Pai? — Ela
diz com a sua voz trêmula.

— É claro que sou eu, princesa, — diz Curtis, estendendo os


braços para um abraço.

Mas Ava não corre para ele. Ela nem mesmo caminha para
ele. Ela anda lentamente ao redor dele, olhando para ele
freneticamente, como se lhe tivesse crescido uma segunda cabeça
desde a última vez que o viu. Em vez disso, a sua mão encontra a
de Hawk, e ela protege a maior parte de seu corpo atrás dele.

— Está tudo bem, garota. — Hawk sussurra para ela.

— Oh, princesa, — diz Curtis. — Sou eu. Não tenha medo.

— O que você está fazendo aqui? — Ava pergunta.

— Só estou aqui para conversar com a sua mãe. Assim que o


seu amigo for embora, — diz ele, olhando para Hawk.

A mandíbula de Hawk flexiona, claramente descontente com


a suposição de que Curtis possa de alguma forma fazê-lo partir, e
é por isso que odeio o que estou prestes a dizer.

— Hawk, por que você simplesmente não me deixa descobrir


o que ele quer? — Digo, já exasperada com a situação.

Curtis só está aqui há cinco minutos e já estou cansada dessa


merda. Por outro lado, devo considerar o meu crescimento, pois
houve um tempo em que aguentei praticamente qualquer coisa
desse homem, e agora? Não aguento nada.

Hawk estica o pescoço, olhando para mim como se eu tivesse


perdido a cabeça, e talvez eu tenha. Não quero que ele vá, mas
sinto que é a única maneira de resolver de vez isto.

A mão livre de Hawk fecha em punho ao seu lado e ele


assente. — Ok. Me mande uma mensagem mais tarde. — Ele
relutantemente solta a mão de Ava antes de passar por mim e sair
pela porta. Os cachorros o seguem, abandonando a nossa rotina
de despedida usual.

— Ava, você pode ir brincar, por favor? — Eu pergunto a


ela. Então, viro-me para Curtis novamente, pressionando as
minhas mãos em meus quadris.

— Mas estou com fome, — diz.

— Vou levar a pizza para você quando chegar aqui, — aviso a


ela.

Ava vai embora sem dizer mais nada, e fico


momentaneamente chocada com a sua frieza em relação ao
pai. Em muitos aspectos, eu meio que esperava que ela estivesse
animada e tivesse pouca memória do que aconteceu, ou pelo
menos nenhum conhecimento do quadro em geral.

— Vejo você mais tarde, querida, — diz Curtis.

Eu reviro os meus olhos com força. Ele olha para mim,


sorrindo, completa e totalmente sem remorso. Uau. Honestamente,
não sei como um homem pode ter tanta coragem.

— Por favor, sente-se, — ele pede.

Seu convite me parece um pouco condescendente,


considerando que é o meu sofá e o meu apartamento. Ele se joga
no sofá perto do centro, praticamente no meio, então não tenho
escolha a não ser me sentar mais perto dele do que
gostaria. Nossos joelhos praticamente se tocam, mas minhas
costas estão pressionadas o mais longe que consigo no braço do
sofá. Mais longe, e estaria me empurrando para trás por cima
dessa coisa e caindo no chão, o que honestamente não é uma ideia
terrível, mas estou divagando.

— Lamento apenas aparecer assim. Tentei ligar, mas percebi


que você mudou de número, e a sua tia não quis me dar o
endereço. Ela é o único contato que tenho, — ele começa.

— O que você quer? — Eu pergunto novamente, pelo que


parece ser a centésima vez.

— Sabe, eu não sinto muito, porque quem é esse cara Hawk


e por que ele estava aqui? Ele parece uma má pessoa, então, estou
feliz por ter interrompido sem querer, — ele continua evitando
minha pergunta.

— Francamente, não é da sua conta quem ele é ou o que


estava fazendo aqui. Não te devo explicação de nada. Agora, o que
você quer, Curtis? — Eu exijo, minha voz firme.

— Bem, acho que é da minha conta saber quem está perto de


Ava? — Ele sugere.

Eu solto uma risada condescendente. — Você não estava


muito preocupado com isso quando nos expulsou, quando não
tínhamos nenhum outro lugar para ir, e quando de alguma forma
evitou pagar quase tudo e recusou qualquer tipo de visita a ela. —
Eu tento muito manter a minha voz baixa, a última coisa que
preciso é que Ava ouça tudo isso.

Curtis recua, mas apenas uma fração ao endireitar os ombros


e limpar a garganta. — Escute, cometi um erro, ok? Eu vejo isso
agora, — diz ele, os traços faciais suaves. Conheço Curtis há muito
tempo e, se tivesse que adivinhar, diria que ele quase parece
arrependido. Sombrio.

— Um erro? — Eu repito.

— Eu nunca deveria ter feito o que fiz. Quero que você e Ava
voltem para casa, onde pertencem. — Ele estende a mão e coloca-
a em cima da minha. Um pequeno sorriso de aparência sincera
mal chega à sua boca, muito menos aos olhos, e assim o mundo
que trabalhei tanto para reconstruir é virado de cabeça para baixo
pelo mesmo homem que estragou tudo da primeira vez.
Drew não me mandou mensagem ontem à noite. Ela também
não veio trabalhar esta manhã e, em vez de me dar a cortesia de
me avisar, ela tratou de tudo diretamente com Will.

Então, naturalmente, a minha mente esteve confusa o dia


todo. Não fui capaz de me concentrar em nada além do
compromisso que tive hoje. Nenhum esboço ou negócio
adicional, nenhuma decisão foi tomada para levar a expansão
adiante. Está quase na hora de finalmente abrir a parede e devo
planejar com a equipe de renovação sobre quando derrubá-la,
quando a loja será fechada e, finalmente, quando fazer uma grande
reabertura como o recém-expandido Bird's Eye’s. Infelizmente, a
minha mente está tão perdida hoje que não consigo me concentrar
no calendário ou contar os dias. Inferno, eu nem tenho certeza se
coloquei as meias combinando esta manhã.

Pensei em enviar a Drew algumas mensagens de texto, mas


num esforço para não parecer completamente patético, me limitei
a duas. Depois que ela deixou a segunda sem resposta, tive que
enfiar o meu telefone no bolso e ignorá-lo.

Então imagine a minha surpresa quando abro a porta da


minha casa e Drew está empoleirada no meu sofá, um cachorro
em cada mão, pacientemente esperando por mim.

Rapidamente atravesso a sala e ela se levanta, mas não faz


nenhuma tentativa de me abraçar, o que me faz parar a poucos
passos dela.

— Oi, — ela diz, sua voz quase um sussurro.

— Ei. — Espero algo mais, mas não tenho certeza do


quê. Qualquer coisa para quebrar o silêncio, para me tranquilizar
ou confortar. Quando nada acontece, pergunto: — Você está bem?

Ela concorda. — Eu só precisava de um minuto para pensar.

Bem, merda. Isso não pode ser bom. Isso nunca é bom. —
Sobre o quê? E onde está Ava?

— Com Curtis, — fala.

Meus ombros enrijecem com a resposta dela, e é preciso


muito esforço para não reagir negativamente. A simples ideia de
estar com ela ou cuidar dela me faz sentir de uma certa
maneira. Claro, ele é o pai dela, tenho certeza que ele irá se portar
bem, e é perfeitamente capaz, mas depois do que ele fez, não acho
que ele mereça o privilégio ou a confiança.

— O que está acontecendo, Drew? — Indago.


— Curtis disse que cometeu um erro e que quer que eu e Ava
voltemos para casa, — responde, empurrando as palavras de uma
só vez o mais rápido que pode.

Solto um ruído que fica entre uma risada e um bufo. — Você


não pode estar falando sério?

— Sério sobre o quê? — Ela pergunta.

— Por favor, não me diga que você realmente acredita


nele? Que ele é sincero? Ele mudou? — A minha voz está ficando
mais alta.

Ela recua, a parte de trás de suas pernas batendo no sofá. —


Não sei o que pensar. As pessoas podem se desculpar, não podem?

— Claro que as pessoas podem se desculpar. As pessoas


podem fazer coisas terríveis com você, e um dia podem voltar e
dizer que sentem muito. O arrependimento pode ser sincero, mas
isso não significa que você deve perdoar, não significa que você
tem que deixá-lo voltar, — digo, exalando depois. Passo os meus
dedos pelo cabelo, incapaz de acreditar no que estou ouvindo.

— Não vou deixá-lo voltar, — diz ela.

Meus olhos se arregalam. — Não?

— Pelo menos não para mim. Mas você não acha que Ava
merece ter o seu pai? Para conhecê-lo? Se ela quiser? — Ela
pergunta.

— Pais e quem os fez são duas coisas muito diferentes, Drew.


— Não consigo nem me conter, tenho que rir.

Ela morde o lábio inferior, mudando de um pé para o outro,


mas não diz nada.
— Deixe-me ver se entendi direito. Eu realmente quero ter
certeza de que entendi direito aqui, — digo. — Você tem um ataque
de pânico absoluto sobre mim, pensando que eu
poderia, talvez, um dia abandonar você e Ava do jeito que seu ex-
marido idiota fez, então você termina comigo, mas o verdadeiro ex-
marido idiota que fez isso antes pode simplesmente voltar? —
Balanço a minha cabeça, incapaz de ver a lógica da situação, e
talvez eu não devesse tê-lo chamado de idiota, mas foi bom e não
vou me desculpar por isso.

— Não é isso que está acontecendo, — ela argumenta, sua voz


ainda tão gentil e calma.

— Oh, e agora? Ele está se mudando para cá? Ele quer ver
Ava a cada dois fins de semana e alguns feriados ou algo
assim? Porque não é isso que você acabou de dizer, — questiono.

— Eu só preciso de tempo para entender a situação e


descobrir o que é melhor para a Ava. Ela sempre virá primeiro,
Hawk, antes de você, antes de nós, antes de qualquer coisa, — diz.

— Isso é o que estou pedindo que você considere. Droga,


Drew, você não consegue ver isso? — Eu encolho os meus ombros,
os meus braços caindo para os lados.

Ela caminha na minha direção, dando passos lentos e


medidos, como se um movimento errado pudesse nos
desemaranhar. Ela é leve como uma pena, estendendo a mão e
roçando os nós dos dedos na minha bochecha e mandíbula e,
finalmente, nos meus lábios. Eu pressiono a minha mão contra a
dela, pressionando o meu rosto na sua palma enquanto fecho
meus olhos.

— Eu só preciso de uma semana para entender a situação, —


diz ela. — Você confia em mim?
Eu aceno lentamente, olhando em seus olhos de mel
enquanto ela está aqui e me deixa fazê-lo. Me rendi a ela, a minha
incapacidade de mudar ou controlar tudo isto, atinge-me, como
um murro no estômago.

— Já conversei com Will para conseguir uma semana de folga,


— diz ela.

Eu engulo, percebendo o que ela está me dizendo sem dizer


isso. Não vou vê-la a semana toda.

— Você pode me enviar mensagens, no entanto, — ela


acrescenta.

Aceno, sabendo que se eu abrir a minha boca, vou


implorar. Também sei que enviar mensagens de texto não será o
suficiente.

Drew estende a mão e pressiona um beijo suave em meus


lábios, em seguida, afasta-se com a mesma rapidez, passando por
mim e saindo pela porta sem outra palavra entre nós.

Um vazio se espalha por mim, algo que não consigo


explicar. Sinto como se tivesse sido aberto, como se alguém tivesse
arrancado metade das minhas entranhas, e saído por aquela
porta.

O pior de tudo é um medo avassalador de que talvez ela não


volte mais.
A conversa que tive com Hawk pareceu brutal, mas foi
necessária. Não havia nenhuma maneira de fazer o que precisava
fazer esta semana e vê-lo todos os dias, ou tê-lo por perto, isso
apenas tornaria as coisas mais difíceis. Depois de conversar com
ele e dizer a Curtis que poderia tirar o cavalinho da chuva se
pensava que poderia ficar no apartamento, tive que me sentar com
Ava e explicar em mais detalhes o que estava acontecendo.

Não é uma conversa que uma mãe deveria ter com sua filha,
especialmente na idade dela. Mas ela é madura e parece entender
a maior parte do que tenho que lhe explicar. Sim, papai está na
cidade. Não, não estamos juntos novamente. Sim, você pode vê-lo
se quiser. Não, Hawk não estará por perto esta semana. Não, papai
não mora aqui. Não, não estamos nos mudando.
Ou pelo menos acho que não.

Quando a coloco na cama e digo boa noite, ela parece bem e


disposta a ver o pai, o que é mais do que posso dizer de mim
mesma, mas além dos poucos minutos que os deixei sozinhos aqui
no apartamento para que eu pudesse falar com Hawk, é a minha
missão não dar a ele muito mais liberdade em relação a estar
sozinho com ela. Pelo menos não por um bom tempo.

Na manhã seguinte, ele chega bem cedo porque quer levar


Ava para a escola. Ele vem trazendo café e desjejum, o que só posso
presumir ser a sua tentativa de oferta de paz.

Eu tomo um gole, na verdade aliviada por uma coisa que ele


fez, porque o café de manhã é necessário, mas imediatamente o
cuspo na pia. — Isso é simplesmente horrível, — digo, enxugando
o café que escorre pelo meu queixo.

— Você não gosta de avelã? — Ele pergunta.

— Eu nunca gostei de avelã. — Há choque escrito nos nossos


rostos. No meu, porque ele claramente não me conhece, e no dele
provavelmente pelo mesmo motivo.

— Huh, devo ter esquecido, — diz, encolhendo os ombros,


então se vira para Ava com a comida nas mãos. — Aqui, princesa.
— E coloca a comida na frente dela.

Ava olha para ele, seus lábios pressionados juntos.

— O que está errado? — Pergunta.

Aproximo-me e imediatamente vejo o problema. — Ela odeia


bagels de cebola e salsicha, é esse o problema. Sempre um bagel
simples com bacon, — digo, revirando os olhos e removendo o
sanduíche do prato de Ava. — Tome. — Eu lhe entrego alguns
donuts. — Coma estes.
— Sinto muito, — diz Curtis, brincando com seu relógio e
verificando a hora.

— Ocupado? Tem um lugar para estar? — Eu zombo.

— Não, não, claro que não, — responde.

Eu gostaria que houvesse uma maneira de descrever com


precisão a minha frustração com Curtis neste momento. Não é
como se Ava e eu partíssemos anos atrás. Não faz tanto tempo, e
nada disto é informação nova, o que gostamos ou desgostamos não
mudaram, somos as mesmas de sempre, o que me faz questionar
o quanto ele prestava atenção a qualquer coisa quando éramos
uma família de verdade.

Ava pega a sua mochila e vou com Curtis levá-la para a


escola. No trajeto, ela me lança olhares frequentes para se
certificar. Curtis tenta iniciar uma conversa com ela, mas é difícil
e estranho para todos os envolvidos.

Nas noites em que Hawk fica aqui ou quando ficamos em sua


casa, ele fala com Ava com facilidade. Eles riem e se unem. É
natural, confortável. Algo me diz que essas diferenças notadas
entre Curtis e Hawk, e como Ava interage com cada um deles, são
apenas o começo.

Parte de mim se pergunta se é justo comparar os dois


homens. Então, outra parte de mim diz inferno, sim, é, e eu gosto
mais dessa parte, por isso, comparo tudo entre eles.

Eu olho para Curtis enquanto levamos Ava, realmente


observando as características faciais, o seu cabelo castanho não é
muito liso ou encaracolado, mas também não são ondas bonitas. É
apenas, tipo, sei lá, como um capacete de futebol.

Os seus olhos são de um azul nebuloso, nada de especial, não


são elétricos, como os de Hawk, e certamente não brilham, o seu
corpo está... bem, sem tatuagens e isso é tudo que tenho a dizer
sobre ele.

Tatuagens nunca foram uma coisa que notei antes, sua


presença ou falta nunca fez parte da lista de prós ou contras até
agora, olhando para seus braços nus e o queixo duplo se formando
onde seu pescoço deveria estar, posso dizer com segurança que as
tatuagens estão na lista dos prós, e corpos sem elas... bem,
simplesmente não.

Deixamos Ava e continuamos dirigindo. Ele não sabe ainda,


mas o estou direcionando para a loja de tatuagem. Afinal, ele pediu
para ver onde trabalho e eu simplesmente não lhe disse o que fazia,
por isso acho que vai ser uma surpresa divertida para ele.

— Então, vejo que você tem uma nova tatuagem, — diz ele,
ironicamente.

— Sim.

— E o que a levou a fazer isso? — Ele pergunta.

Eu encolho os ombros, não querendo entrar em algum debate


sobre se você deve ou não ser tatuado. — Eu quis.

— Entendo. Poderia ser a influência daquele amigo que você


tem? — Indaga.

A maneira como Curtis continua pontuando a


palavra amigo quando fala sobre Hawk está realmente começando
a me irritar.

— Bem, foi ele quem a fez. — Eu lhe dou um olhar satisfeito.

— Eu não sei o que deu em você. Talvez seja morar na cidade


ou estar perto de pessoas que não deveria, mas a minha Drew
nunca teria feito isso, — diz.
— A sua Drew está morta. — Respondo rigidamente, a minha
mão pousando na maçaneta da porta da loja enquanto olho para
ele.

— O que você está fazendo aqui? — Ele pergunta.

— Você queria ver onde trabalho, não? — Abro a porta e ouço


o sino familiar soando no alto.

— Você trabalha... aqui? — Ele gira o dedo no ar como se


estivesse apontando para tudo de uma vez. A ênfase e o desânimo
que coloca na palavra aqui me divertem.

— Sim. — Um sorriso satisfeito se espalhando pelos meus


lábios.

Curtis olha para o cartaz de tatuagem na parede e para as


cabines nos fundos, então fica cara a cara com Will no balcão da
frente. Ela não parece satisfeita.

— Will, este é Curtis. Eu te falei sobre ele no telefone, — digo,


com o meu maior e mais falso sorriso plantado no rosto.

— Certo, o ex-marido que apareceu para ferrar ainda mais


com sua vida. — Ela estende a mão para apertar a dele.

— Algo assim, — respondo.

Curtis começa: — Bem, isso dificilmente...

— Quem é? — Hanson pergunta.

— Oh, este é Curtis. Meu ex-marido. — Meu tom calmo.

Hanson se aproxima, cruzando os braços sobre o peito,


observando Curtis. — Não gosto da aparência dele, — diz Hanson.

Eu começo a rir, apesar dos meus melhores esforços, bem,


talvez não sejam os melhores, mas tentei um pouco.
— Quem diabos é esse cara? — Avery diz, vindo de trás. Na
hora certa.

— Este é Curtis. Ex-marido de Drew, — diz Hanson.

Avery tem sua vez de encarar Curtis enquanto me inclino


contra o balcão da frente com Will, apreciando completamente o
show.

— O que há de errado com o rosto dele? — Avery pergunta a


Hanson, como se Curtis não pudesse ouvi-los, como se eles não
pudessem simplesmente perguntar a ele diretamente.

— O meu rosto? — Curtis tenta perguntar, esfregando o


queixo.

— Eu não sei, cara. Parece meio flácido, como se alguém


tivesse deixado o ar sair pela metade inferior, — Hanson diz para
Avery, ignorando Curtis.

— Talvez se ele fizesse algumas tatuagens nesta parte do


pescoço, camuflasse um pouco isso, — Avery responde a Hanson,
apontando para a frente do pescoço de Curtis.

— Drew, podemos ir? — Curtis chama, claramente por causa


desse joguinho em que os dois estão às suas custas. Enquanto
isso, estou no céu.

— Drew? — A voz de Hawk vem de trás dos outros, o seu


corpo aparecendo no corredor quando sai do escritório.

— Ei, eu estava apenas mostrando a Curtis onde trabalho, —


digo, piscando.

Hawk caminha em nossa direção, perto da recepção,


passando por Avery e Hanson, e indo para a frente do grupo. —
Então, você quer fazer uma tatuagem? — Ele pergunta a Curtis.
— Não, não é por isso que estou aqui, — responde Curtis.

— Vamos, vou até fazer por conta da casa. Um desconto para


amigos e família, vou lhe dar algo que realmente combina com sua
personalidade, — diz Hawk.

— E seria o quê? — Curtis pergunta.

— Que tal um pequeno pau? Já fiz um antes. Não é difícil, —


diz ele.

Eu rio de novo, assim como o resto do grupo. Porque somos


crianças crescidas e Hawk acabou de fazer uma piada de pau, e
tenho quase certeza que feriu o orgulho de Curtis.

Curtis cerra os olhos para Hawk, os seus olhos redondos


encolhendo ainda mais. Avery e Hanson riem atrás de Hawk, sem
tentar esconder as suas reações.

— Vamos, Drew, — diz Curtis.

Eu aceno para todos eles, desejando dar a Hawk um tipo


diferente de adeus, mas sabendo que agora não é o
momento. Tenho que mostrar a Curtis que ele não pertence aqui,
e não quero dizer nesta cidade, quero dizer comigo e com Ava. Não
mais.

Não sei o que aconteceu entre o momento em que o deixei e


agora, mas mudei, mudamos. Não sou a pessoa que era antes, mão
sou a Drew que ele conhecia, estou diferente e tenho orgulho da
pessoa que me tornei.

Vou ter que fazê-lo perceber isso.


Este é de longe o mais miserável que já estive em anos, não
vejo Drew há dois dias, desde que ela esteve com Curtis na loja. Eu
sei que ela fez isso de propósito apenas para foder com ele e foi
muito engraçado, mas agora, sinto falta dela.

Vê-la, me fez querer chupar a sua garganta como naquela


cena em Roadhouse9, descanse em paz, Patrick Swayze. Eu tive
este desejo violento, principalmente porque é culpa dele eu não a
ter visto, na verdade, é exclusivamente culpa dele. Ela me mandou

9
“Roadhouse” é um filme estadunidense de ação, protagonizado por Patrick Swayze e Kelly Lynch, de
1989. Uma das cenas mais conhecidas é uma na qual Patrick beija, chupa e morde o pescoço da protagonista.
mensagens algumas vezes, mas foi muito breve e casual, não sei
se isso é melhor ou pior do que nenhuma comunicação.

Então aqui estou eu, bebendo com os caras novamente, num


esforço para me impedir de dirigir até a casa dela e reorganizar o
rosto banal e gordo dele. Deus. Nem pensei em perguntar se ele vai
ficar no apartamento com elas. Ele estaria dormindo no sofá? É
melhor ele estar dormindo no sofá. Isto é o pior.

Avery estala os dedos na frente do meu rosto, puxando-me


abruptamente dos meus pensamentos. — Sai dessa, cara.

— Desculpe. — Eu faço beicinho e o pior é que sei que estou


fazendo beicinho.

— O que eu disse a você na última vez que estive aqui? — Ele


pergunta.

— O que você quer dizer? — Indago.

— Quero dizer, esta situação deve estar sendo ainda mais


difícil para ela, — diz.

— Isso não é a mesma coisa. — Estou rejeitando o seu


conselho.

— Claro que é. O que foi que eu disse? Eu disse que mesmo


quando ela não precisa ou não quer você por perto, você tem que
aparecer, tem que estar presente, — ele lembra.

Eu tomo um grande gole do meu uísque e jogo minha cabeça


para trás contra o sofá. Ele está errado. Não está? Como posso
estar presente para alguém que precisa que eu fique longe? Ficar
longe é uma forma de estar presente? Isto é muito confuso para
sequer pensar.
Afasto esses pensamentos e concentro-me no fato de que a
semana que ela pediu para lidar com ele está quase acabando, e
vou saber o que diabos está acontecendo. Vou ter respostas.

O pensamento de perdê-la e a Ava para sempre, tira-me o


fôlego. Como se alguém tivesse me dado um soco no meio do peito.

Verifico meu telefone do jeito que tenho feito a cada hora, mas
não há nada.

— Você a ama, não é? — Hanson pergunta, estudando o meu


rosto enquanto coloco meu telefone para baixo.

— Sim. — Eu suspiro pesado.

— Puta merda, cara. — Diz.

— Eu sei, — respondo.

— Ok, cara, só vou dizer isto uma vez, se você realmente ama
aquela garota e realmente quer estar com ela, então vai ter que lhe
mostrar. Como verdadeiramente mostrar a ela. Faça-a ver, sentir,
acreditar. Afaste qualquer dúvida que ela pode estar segurando.

— Mhmm, — Hanson diz, balançando a cabeça para cima e


para baixo, os seus olhos negros como carvão parecendo olhar
literalmente através de mim.

— Vou para a cama. Vocês podem ficar aqui se quiserem. O


sofá está vazio. No quarto de hóspedes, vocês sabem onde estão os
cobertores, — digo.

Não é que eu esteja rejeitando intencionalmente os seus


conselhos e sugestões, mas não consigo mais pensar nisso. É
muito. Levanto-me e entro no meu quarto, sentando-me ao pé da
cama, pressiono as minhas mãos nos olhos e bufo.
Talvez eles estejam certos. Talvez eu precise de um grande
gesto para isto, talvez precise aparecer e chutar a bunda de Curtis
e... não, isso não está certo. Talvez precise aparecer e pedir a ela
em casamento e… não, isso também não está certo. Talvez devesse
aparecer e dizer a ela que a amo enquanto ela está fodidamente
acordada. Isso pode estar certo, mas não quero fazer isso na frente
daquele idiota. Deus. Vou ter que esperar até que esta merda
estúpida acabe.

Eu me deito na cama e pego o meu telefone, olhando para a


tela vazia. Ainda nenhuma palavra dela. Eu decido enviar uma
mensagem, pelo menos tenho permissão para lhe escrever, e não
acho que tenho que esperar até que ela envie uma mensagem
primeiro.

Eu: Eu sei que não perguntei isso antes, mas está me


incomodando.

Drew: O quê?

Eu: Ele vai ficar aí?

Drew: Deus, não. Ele está num hotel.

Eu solto um suspiro de alívio e não sinto mais vontade de


vomitar.

Drew: Que nojo. Lol.

Eu: Fico feliz que você pense assim.

Drew: Estou com saudades.

Deus. Meu coração.

Eu: Eu também sinto sua falta.

Eu: Isso está quase acabando, não está?


Drew: Acho que sim.

Eu: Eu posso simplesmente fazê-lo desaparecer, você sabe.

Drew: Meu Deus, eu nem quero saber o que isso significa. Lol

Eu: Hanson conhece pessoas.

Drew: O pequeno Hanson? Conhece pessoas que fazem


outras desaparecer?

Eu: Você não quer saber.

Drew: Você está certo.

Eu: Acho que devo dormir um pouco.

Drew: Eu também.

Eu: É difícil sem minha camisa de força.

Drew: Lol, boa noite <3

Eu tiro as minhas roupas e deslizo para baixo do cobertor,


ajustando os meus travesseiros novamente e novamente. Eu até
tento amassar um e abraçá-lo, mas não funciona. Estou
desesperado, nunca tive tantos problemas para adormecer na
minha vida.

Isso é realmente o que o amor é? Porque se for assim, é


estúpido.

Não, isso é preocupação. Calma. Preocupação, não


amor. Preocupação com o futuro, o que está em jogo. O que tenho
a perder. Como vou perder para um idiota como Curtis? Não, não
vou. Sem chance. Não importa o que aconteça, não vou sair
assim. Não para ele, pelo menos. Se um homem melhor aparecer,
bem, conversaremos sobre isso, mas de jeito nenhum vou cair por
aquele homem, se é possível até de chamá-lo de homem.
Eu fecho os meus olhos e penso em Drew, no seu corpo
perfeito pressionado contra o meu. Se me concentrar bastante,
quase posso sentir os seus lábios nos meus.

Que maneira vazia de adormecer.


Não importa o que aconteça, hoje é o dia em que Curtis tem
que ir embora, nem que eu precise pedir um favor a Hanson e fazê-
lo desaparecer, como disse Hawk. Com toda a seriedade, faço uma
nota mental para perguntar mais sobre isso depois, enquanto me
sento na cama de Ava com ela.

Curtis está vindo, esperando algum tipo de resposta. Ele


parece pensar que esta semana correu muito bem, como ele mesmo
disse.

— Você gostou de ter seu pai aqui? — Eu pergunto a Ava.


Ava olha para o colo dela, mas não diz uma palavra.

— Você pode ser honesta comigo, Ava. Somos apenas nós


duas. Você sempre pode me dizer a verdade. — Eu a encorajo para
saber de seus pensamentos e opiniões não filtrados.

Ela olha para mim, com lágrimas nos olhos. — É como se ele
nem me conhecesse.

— O que você quer dizer? — Eu coloco seu cabelo atrás da


orelha.

— Ele não sabe nada do que eu gosto de comer, do que eu


gosto de fazer ou brincar. Ele não sabe a minha cor ou música
favorita. Ele não me conhece em nada, — ela diz, com a sua voz
trêmula.

— Ele poderia conhecê-la novamente. — Tento amenizar.

— Parece que ele não quer, — diz ela.

— Por que você diz isso? — Eu pergunto, o meu coração


apertando um pouco mais com cada lágrima que ela derrama.

— Porque mesmo quando eu dizia coisas a ele, ou o lembrava


do que eu gostava, ele não se importava. Ele não se desculpou ou
se lembrou na próxima vez. — As lágrimas começam a escorrer por
seu rosto, e isso praticamente encerra o assunto para mim.

Talvez se Ava o quisesse por perto, se ela estivesse disposta a


deixá-lo voltar, inferno, talvez se ele tivesse mostrado uma gota de
sinceridade, isto poderia ser diferente, mas a verdade é que acho
que ficou entediado ou talvez desesperado. Talvez a mulher com
quem ele estava o deixou, e ele simplesmente não queria ficar
sozinho, ou tenha pensado que éramos uma aposta segura, mas
não vamos voltar para ele, nem agora nem nunca, a minha mente
está 100% decidida sobre isso.
Eu limpo as lágrimas do rosto de Ava e a beijo na testa. Então,
sigo para a sala para esperá-lo. Torço as minhas mãos, nervosa
pela conversa que estou prestes a ter com ele. Ele nunca foi um
homem particularmente violento, então não estou preocupada com
minha segurança física, mas se o passado me mostrou alguma
coisa, é que Curtis pode ser totalmente vingativo de muitas outras
maneiras.

Quando ele bate na porta, no entanto, algo dentro de mim


estala. A mamãe urso em mim, que não quer nada mais do que
proteger o seu filhote a todo custo, assume o controle. Abro a porta
e aceno para ele entrar, sem nem me preocupar em olhar para ele.

— Bem... — Ele diz.

— Eu vou parar você aí mesmo. Eu tenho algumas coisas a


dizer. — Não quero que ele conduza a conversa. Não desta
vez. Estou no comando agora.

— Oh, tudo bem. Você primeiro então. — Curtis se senta no


sofá, mas eu fico de pé.

— Você não se importa conosco. Eu sei que você diz que sim,
mas esta semana deixou bem claro que não. Qual é o nome
dela? Ou acho que devo perguntar, qual era o nome dela? — Eu
digo irritada.

— Quem? — Pergunta, os seus olhos mudando de um lado


para o outro, um pouco dramáticos demais para parecer sincero.

— Quem você estava vendo até ela ir embora e você entrar em


pânico, e não minta. — Aviso.

— Eu estava saindo com uma mulher chamada Patrícia. Mas


não é por isso...

— Sim, é. Nós dois sabemos que acabou, você entrou em


pânico, e essa é a única razão de estar aqui. Você nem se lembra
do que Ava gosta e do que não gosta, e apesar de ter contado a
você a semana toda, você continua a ignorando, — digo, sem fôlego
agora.

— Posso me esforçar mais.

— Não, você não pode, porque isso é quem você é. Quem


sempre foi, e nós não vamos com você. — Digo, cruzando os braços
sobre o peito.

Curtis morde o interior de sua mandíbula, olhos


semicerrados para mim, avaliando-me. Se ele acha que estou
blefando, pode tentar, mas não vai acabar bem para ele.

— Bem, isso é decepcionante. Eu queria fazer da maneira


mais fácil, — diz ele.

— O que você quer dizer? — Pergunto.

— Quer dizer, vocês duas podem voltar comigo e podemos ser


uma grande família feliz, ou não terei escolha a não ser entrar com
uma ação judicial pela custódia total, — diz.

— Você está louco? Com base em quê? — Eu grito.

— Bem, olhe para você. Este minúsculo apartamento, o seu


trabalho patético, e olhe para onde trabalha, todos aqueles vilões
tatuados. Você está claramente incapacitada e está colocando a
nossa filha em risco, — afirma.

Eu engulo em seco, sabendo que como advogado que ele já


fez pior e provou acusações ainda mais ridículas em casos
anteriores.

— Você não faria isso. — Tento não deixar minha voz tremer.

— Acho que você sabe que eu vou. — Um sorriso sinistro se


espalha em seus lábios.
O pânico na minha garganta ameaça borbulhar na forma de
vômito. Eu vi o impiedoso Curtis em ação e sei que ele faria isso,
apenas para me punir.

Uma batida na porta interrompe a nossa conversa e corro


para abri-la, o pânico e o medo me dominando.

— Hawk, — digo, surpresa. — O que você está fazendo aqui?

— Ele ainda está aqui? — Hawk pergunta, e eu aceno. —


Olha, não posso esperar mais. Eu não deveria ter esperado tanto,
deveria ter ficado aqui.

— Oh, o seu amiguinho está aqui? — Curtis diz e Hawk passa


por mim em direção a ele.

— Sim, eu não acho que irei sair desta vez. — Hawk diz a
Curtis.

— Bem, acho que irei embora logo de qualquer


maneira. Parece que Drew quer ficar aqui. — Diz, fazendo
um tsk em seguida. — Preciso voltar para casa, muita papelada
para organizar. — Ele insinua suas intenções.

— Vai renunciar a todos os seus direitos parentais então? —


Hawk pergunta.

— Oh não, muito pelo contrário. Parece que terei a custódia


total de Ava em pouco tempo. — Reponde Curtis, olhando para as
suas cutículas, sem nenhuma preocupação no mundo.

Posso sentir o vômito subindo na minha garganta, um fio de


suor formou-se na minha testa, e posso realmente
desmaiar. Coloco a minha mão no antebraço de Hawk apenas para
me firmar.

— Que história é essa? — Hawk pergunta, cerrando os


punhos.
— Bem, simplesmente não acho que este seja um ambiente
adequado para a minha filha, por isso vou levá-la. — Curtis
esclarece.

Hawk estreita o seu olhar. Se olhares matassem, Curtis


estaria morto.

Curtis engole, dando meio passo para trás e endireitando o


colarinho.

— Sim, você vai organizar a papelada, — diz Hawk. — Essa é


uma boa ideia, mas você deve saber algo sobre mim primeiro.

— Ah sim? O quê? Vai ameaçar chutar a minha bunda ou


algo assim? — Curtis zomba. — Quer ir para a cadeia? Porque vou
apresentar queixa.

— Oh, tenho certeza que sim, mas não, nada tão juvenil. É o
seguinte, seu cara de merda, eu estive aqui todos os dias. É
verdade que não faz muito tempo, ainda não, mas fui eu quem se
preocupou com elas, sou eu que quero lutar por elas, e é isso que
vou fazer. Vou contratar o melhor advogado do país, muito melhor
do que você, porque tenho muito dinheiro e muito tempo, e no final
do processo, você pagará muito em pensão alimentícia e custos. E
as visitas? Esqueça isso. Você vai pagar tanto que vai morar num
apartamento minúsculo, — diz Hawk. Então ele vem para o meu
lado e envolve o seu braço em minha cintura.

Estou tão chocada com o seu discurso, estou sem


palavras. Eu não poderia formar uma frase se quisesse, apenas
fico olhando para o rosto dele, pasma.

Curtis tem uma reação semelhante. — Por favor. Você tem


dinheiro? — Ele pergunta.
— As aparências enganam muito, Curtis, — diz Hawk. — No
seu caso, por exemplo, você parece bem, mas por dentro é apenas
um idiota. Acredite em mim ou não. Atreva-se.

Curtis engole novamente, esfregando as palmas das mãos


nas laterais da calça. De repente, quero queimar todas as minhas
calças, nunca mais usar uma novamente. — Bem, tudo isso parece
tão desnecessário, — diz Curtis.

— Oh, sim, hein? — Hawk pergunta. — Você gostaria de ir


em frente e mudar de ideia?

Curtis limpa a garganta, ainda não está pronto para admitir


a sua derrota. — Entrarei em contato. — E então sai.

Uma onda de alívio passa por mim. Hawk olha na direção da


porta por mais um tempo, provavelmente certificando-se de que
Curtis não volte a entrar.

Quando parece que realmente se foi, meus joelhos se dobram


e eu me torno uma confusão de soluços no chão.
Assim que a porta se fecha atrás de Curtis, Drew desaba, o
seu corpo treme, soluços escapam dela.

Eu me abaixo para ao seu lado, envolvendo-me em torno


dela. — Shhh, está tudo bem, acabou. — Sussurro.

Drew funga e mantém a cabeça enterrada no meu pescoço


por vários minutos. Porém, eu teria deixado ela fazer isso pelo
tempo que precisasse. Quero que ela saiba que sempre pode contar
comigo, até mesmo apenas para estar aqui se precisar chorar.

— Esta semana foi horrível, — diz ela. — Eu sinto muito.

— Não se desculpe. Não é sua culpa.


— Eu nem deveria ter alimentado a ideia. Eu deveria tê-lo
feito sair assim que ele apareceu, — fala entre soluços.

Parte de mim gostaria que ela tivesse, mas nunca direi que
ela deveria. Eu sei que era uma situação impossível para ela. Ela
teve que tomar as suas próprias decisões, no seu próprio tempo.

— Acabou agora, — asseguro a ela.

— Ele diz que vai entrar em contato, e se ele realmente tentar


levar Ava? — Ela pergunta.

— Eu não vou deixar isso acontecer.

— Mas você não conhece Curtis. Ele é um advogado poderoso,


— diz.

— Vou encontrar um que seja mais poderoso do que ele. —


Eu encolho os ombros, despreocupado com as suas
ameaças. Mesmo assim, entendo que ela esteja.

Ter alguém em uma posição de poder, ameaçando levar o seu


filho embora, deve ser insuportavelmente assustador. A ideia de
perder aquela criança para alguém que só está fazendo isso para
machucar você, certamente deve ser uma dor maior do que alguma
que já senti.

Ficamos sentados juntos em silêncio por mais um tempo,


abraçados, ouvindo o outro inspirar e expirar. Eu fecho os meus
olhos e percebo o quanto senti falta dela esta semana. Sério, não
consigo imaginar passar por isto de novo.

— Ouça, o que estou prestes a dizer vai soar muito louco, mas
me ouça... — Eu começo.

Drew levanta a cabeça do meu peito, me encarando. — Ok...


— Venha morar comigo, — digo, mais uma declaração do que
uma pergunta.

— O quê? — Seus olhos se arregalando. Ela se afasta,


endireita-se e me encara como se eu tivesse perdido a cabeça, e
talvez eu tenha.

— Eu sei, disse que iria parecer loucura, mas pense bem, —


digo, tentando jogar com seu lado racional. — Você estará mais
perto do trabalho. Além disso, Curtis não poderá mais dizer que
você mora num apartamento minúsculo.

— Você está tentando usar táticas de conveniência e


intimidação para me fazer morar com você? — Ela pergunta, rindo.

— Depende. Está funcionando?

— Não acho que a proximidade com o trabalho seja um bom


motivo para morar com alguém, — responde.

Não estou negando o fato de que ela tem razão, mas também
não estou desistindo. — Bem, eu também tenho outros motivos, —
digo.

— Ok, estou ouvindo, — rebate.

Eu respiro fundo, limpando minha garganta. — Eu amo a


Ava, — digo. — E eu amo você. — Estendo a mão para esfregar os
meus dedos na sua mandíbula, e ela treme sob meu toque.

— Você ama? — Indaga.

— Sem dúvida.

Eu vejo os músculos de seu pescoço para cima e para baixo


enquanto engole, tentando conter as lágrimas. Ela pressiona a
testa no meu peito com tanta força que sinto o seu hálito quente
na minha pele através da minha camiseta.
Não sei por quanto tempo ela fica quieta. Pode ter levado
trinta segundos ou cinco minutos completos. Tudo parece igual,
como se o tempo parasse enquanto observo a mulher que amo
lutar com essa nova informação.

Ela inclina a cabeça para cima, finalmente olhando para mim


de novo, e eu prendo a respiração. — Eu também te amo, —
admite.

Meu coração parece que desmorona sozinho, porque esperar


para ouvir a sua resposta foi tão agonizante que não sabia o que
esperar, e agora que ela disse de volta, sinto-me dominado por
alívio e felicidade. Posso começar a chorar também se não tomar
cuidado, não me lembro de nenhuma época na minha vida em que
tenha sido tão feliz.

— Mas você tem certeza de que devemos morar juntos? —


Questiona.

Eu considero a sua pergunta por um longo momento. — Você


quer fazer isto de novo? Esta coisa, onde passamos dias sem nos
vermos ou noites separados? — Ela balança a cabeça. — Eu
também não, por isso, contanto que Ava esteja de acordo e você
queira, então é a melhor ideia que eu tive desde... aquela época no
décimo primeiro ano quando colei os polegares do meu irmão
juntos.

Drew ri, e gosto de fazê-la rir, porque adoro o som disso. —


Ok, — diz ela.

— Ok? — Repito. — Ok, tipo, você vai se mudar?

— Sim.

Eu envolvo os meus braços em volta dela e puxo-a para mim


com tanta força que posso quebrar as nossas costelas, mas vai
valer a pena.
— O que está acontecendo aqui? — Ava pergunta.

Nós nos endireitamos, nos levantando do chão e indo para o


sofá.

— Ava, venha aqui. — Drew diz. — Hawk tem uma pergunta


para você.

— O quê? — Ela pergunta, dando um passo na nossa direção.

— Eu estava perguntando à sua mãe se talvez vocês duas


gostariam de morar comigo? — Pergunto a ela.

Os olhos de Ava brilham enquanto olha do meu rosto para o


de sua mãe e vice-versa. — Sério? — Ela pergunta.

— Sim. Você pode se divertir com as cachorras o quanto


quiser, — digo.

— Sim! — Ela exclama, pulando em nós.

Eu começo a afofar o seu cabelo e ela ri como sempre faz,


então para.

— Espere... — Ava diz. — Eu tenho algumas perguntas.

— Ok, pergunte, — encorajo.

Drew olha para mim e encolhe os ombros, aparentemente nós


dois não temos certeza do que ela pode perguntar.

— Que tipo de sanduíche de café da manhã eu gosto? — Ava


pergunta.

Eu mantenho o contato visual, porque por algum motivo, o


seu rosto parece bastante sério. — Sempre bacon com um bagel
simples, — respondo.

— E qual é a minha cor favorita?


— Roxo.

— Coisa favorita para fazer no mundo inteiro?

— Desenhar, é claro. — Eu olho para Drew, cujo rosto é suave


e compreensivo.

— Ok, podemos nos mudar. — Ava concorda.

Com isso, ela volta para seu quarto porque diz que precisa
começar a fazer as malas, e Drew deita a sua cabeça no meu peito.

— Sobre o que era tudo isso? — Pergunto.

— Nada, ela só precisava ter certeza, — diz Drew.

Aceno, satisfeito por ter passado em qualquer teste que ela


acabou de fazer.

Drew não sabe ainda, mas vou ligar para a empresa de


mudanças amanhã e pagar um extra para um serviço
rápido. Também vou falar com os empreiteiros sobre a expansão
da loja, para expandir meu loft sobre o novo espaço, dobrando o
tamanho da nossa casa. Nosso Lar. É uma sensação estranha e
maravilhosa de se pensar.

Nunca pensei em um milhão de anos que faria isso. Nunca


imaginei que teria uma família fora daquela que fiz com o Bird's
Eye. Se aprendi alguma coisa, é que as pessoas mudam, e eu
definitivamente mudei.

Algo me diz que muitas outras mudanças estão por vir e tudo
bem, estarei pronto para elas. Estaremos prontos para elas. Não
sei o que o futuro reserva, mas sei com quem quero enfrentá-lo.

— Eu te amo, psicopata, — Drew sussurra para mim.

— Eu também te amo, minha pequena camisa de força, —


digo.
E por enquanto, isso é o suficiente.
Quando você se casa, você sempre pensa consigo mesmo, é
isto, é este. Para sempre e sempre. Este é o meu para
sempre. Ninguém está pensando no próximo ou no que farão se
este não der certo. E, se por algum motivo, o primeiro termina,
quase todo mundo jura que nunca mais o fará. É isso. Sem
chance. Terminei. Vou ficar sozinha para sempre antes de passar
por isso novamente. Tenho que admitir, sussurrei todos esses
mesmos sentimentos para mim mesma.

Então imagine a minha surpresa quando Hawk me pediu em


casamento em nosso aniversário de um ano. Ava o ajudou a
escolher um lindo diamante antigo com lapidação de princesa
incrustado em platina, mas, é claro, não fizeram isso até ele
conseguir a permissão de Ava para o pedido.
Sua única resposta foi: — Por que demorou tanto? — Claro, é
assim que as crianças de nove anos são.

O casamento foi brilhante. Usei um vestido champanhe sem


mangas, todo de renda com as costas decotadas. Ele mostrou
todas as minhas novas tatuagens muito bem, ainda não tenho
tantas quanto qualquer outra pessoa na loja, mas adquiri algumas
ao longo do namoro com o meu tatuador.

Ava estava lá, não como uma daminha, mas com igual
importância. Porque Hawk não estava apenas se casando comigo,
ele estava se casando conosco, estava fazendo uma promessa a
nós duas. Garantidamente, promessas diferentes, mas igualmente
significativas.

Eu o vejo vir pela praia, de volta às nossas cadeiras, com duas


bebidas na mão. Nossa lua de mel está quase acabando e em breve
estaremos de volta ao frio, por isso estamos absorvendo todo sol e
areia que podemos enquanto ainda estamos aqui.

Will concordou generosamente em cuidar de Ava enquanto


estivéssemos fora, e deixe-me dizer, dez dias de tempo livre sem
crianças é nada menos que incrível, mas quando a viagem chega
perto do fim, percebo o quanto estou começando a sentir falta dela.

— Sabe... — Hawk diz enquanto se senta em sua


espreguiçadeira. — Estou começando a sentir falta de Ava.

Eu rio e digo a ele: — Eu estava pensando a mesma coisa.

— Mais dois dias e estaremos de volta a Louisville.

Em seguida, me entrega a minha bebida, com pedaços de


frutas e um guarda-chuva colorido. Definitivamente, quero
aprender a fazer o que quer que seja isso em casa. É tão saborosa
e doce que você nem consegue sentir o gosto do álcool, o que
significa que bebo cerca de cinco delas antes de perceber que estou
bêbada, e às vezes Hawk consegue sexo desleixado, mas ele não
reclama. Sexo é sexo, certo?

Eu olho para a água e depois para as minhas alianças de


casamento. Os dedos de Hawk estão entrelaçados nos meus e
estou bastante certa de que poderia ficar assim para sempre.

— O que você está pensando? — Ele pergunta.

— Estou pensando que devemos voltar para o nosso quarto e


fazer um bom sexo, — digo.

Hawk se engasga com o gole de sua cerveja e olha para mim,


rindo. — Eu realmente não posso contestar essa sugestão.

Enquanto ele pega nas nossas toalhas, eu corro. Felizmente,


as portas do pátio de nossa Villa ficam a apenas algumas centenas
de metros de onde estamos sentados. Subo os dois degraus até o
deck e abro a porta de vidro deslizante, tirando os meus chinelos,
e entro.

Passamos a maior parte desta viagem quase nus ou


completamente nus. Estou usando um pequeno biquíni preto e ele
uma sunga preta, então não demoramos muito para nos despir.

Deslizamos entre os lençóis macios e finos, visto que


abandonamos o edredom no chão no dia em que chegamos, e
nunca nos preocupamos em colocá-lo novamente.

Hawk pressiona os seus lábios nos meus e os separo


ansiosamente, dando permissão para a sua língua. Pouco mais de
um ano, e ainda estou com tanta fome por ele. Pouco mais de um
ano depois, e ainda assim meu corpo dói por ele da mesma forma
como da primeira vez.

Eu agarro as suas costas enquanto ele empurra para dentro


de mim, balançando seus quadris contra os meus, o seu torso
tatuado rígido contra mim. Ele coloca um braço sob uma das
minhas pernas e puxa para cima, abrindo o meu corpo ao meio.

Eu gemo contra a sua boca enquanto ele empurra mais


fundo. — Eu te amo, — sussurro.

— Eu também te amo, — ele diz, meio rosnando.

Antes que eu perceba, estou tonta de prazer, um orgasmo


crescendo dentro de mim.

— Goze para mim, — ele murmura contra minha garganta.

Seu comando é tudo o que preciso para me deixar ir. Eu adoro


quando ele faz isso.

Em seguida, nos deitamos na cama juntos, ofegantes e


enrolados um no outro.

— Não sei sobre você, mas poderia tirar uma soneca, — diz
ele.

— Você está tão velho, — provoco.

— Não muito velho para engravidar você, espero, — retruca.

A minha cabeça dispara e fico olhando para ele, perplexa. —


Você está falando sério?

— Quer dizer, estive pensando sobre isso. Você não pensou


sobre isso? — Ele indaga.

— Claro que pensei sobre isso, só não achei que você quisesse
filhos, pelo menos mais um ou um seu.

— Bem, as pessoas mudam, querida. — Ele encolhe os


ombros.

— Deus, você vai ficar muito velho. Tipo, cabelos grisalhos e


outras coisas... —Provoco.
— Uau, obrigado, — ele diz, batendo na minha bunda. — Eu
sou apenas três anos mais velho que você, muito obrigado.

— Sim, mas três anos é praticamente uma vida inteira, —


brinco. — Eu acho que isso significa que eu não deveria ter mais
nenhuma bebida de frutas com guarda-chuva ou tomar as minhas
pílulas anticoncepcionais.

— Podemos esperar um pouco, se você quiser? — Ele


pergunta.

— Talvez apenas mais uma bebida de guarda-chuva de


frutas, — digo, rindo.

Hawk aperta-me com força, pressionando-me ainda mais


contra seu peito.

Às vezes a vida é muito estranha, não funciona da maneira


que você planejou. Não é um corte tão preciso quanto você pensava
que seria, às vezes fica um pouco confusa, mas às vezes é melhor
quando sai do script.

Às vezes, dá a você o que nunca soube que queria.


Para ser claro, nunca ouvimos falar de Curtis, nem nos dias
depois que ele partiu, nem nos meses depois que Drew e Ava foram
morar comigo. Não depois que a pedi em casamento ou depois que
nos casamos. Não tivemos notícias dele quando demos as boas-
vindas ao nosso filho Knox ao mundo e Ava se tornou uma irmã
mais velha.

Nem tivemos notícias de Curtis depois que nossos advogados


lhe entregaram os nossos próprios papéis. Não, não pelo dinheiro
dele, eu não precisava de qualquer pensão miserável que o
fizessem pagar. Eu tinha planos maiores do que isso.

Subo a escada da sala do tribunal, a mão de Ava na minha e


a mão de Drew na outra. Knox está amarrado à frente de Drew,
dormindo profundamente. Passamos por detectores de metal,
esperamos numa fila, subimos as escadas, andamos até a ala do
tribunal de família, e esperamos mais um pouco pela nossa
vez. Nós nos sentamos num banco, com o nosso advogado sentado
à nossa esquerda.

Eu examino a sala, notando que Curtis nem se preocupou em


aparecer hoje.

Quando os nossos nomes são chamados, nos levantamos e


então somos orientados a andar para frente e parar num
determinado ponto. O juiz folheia uma pilha de papéis.

— Este assunto é em relação a Ava Ashby? — O juiz pergunta,


levantando os olhos da pilha de arquivos à sua frente.

— Sim, meritíssimo, — responde nosso advogado.

— Você alegou que o pai biológico assinou todos os direitos


legais da custódia, tornando-o não mais moralmente responsável
ou financeiramente obrigado a ela, correto? — Ele pergunta.

— Sim, meritíssimo, — diz nosso advogado novamente.

— E um senhor Hawk Anthony Tanner está presente e deseja


adotar legalmente Ava Ashby como sua própria filha, correto? — O
juiz olha para mim e depois para meu advogado.

Eu engulo em seco, apertando a mão de Ava. Ela olha para


mim, uma mistura de medo e entusiasmo em seus olhos. Pisco
para ela, para tranquilizá-la de que tudo vai ficar bem.

— Isso está correto, Meritíssimo. Ele é casado com a mãe de


Ava, — diz nosso advogado.

O juiz examina todos nós, Ava por último. — Você é Ava? —


Ele pergunta, suavizando a sua voz enquanto faz isso.
Ela olha para mim novamente e eu aceno. — Sim, senhor, —
diz ela.

— Posso te fazer uma pergunta, Ava? — O juiz indaga e Ava


acena com a cabeça novamente. — Você quer que este homem seja
o seu pai?

Ava olha para mim, um pequeno sorriso genuíno estampado


em seu rosto. Então ela diz: — Sim, senhor. Ele é o melhor.

O juiz ri de sua resposta e eu também. O meu coração incha


e há um nó na garganta do tamanho de um caminhão.

— E você gostaria de ser Ava Tanner agora? — Ele pergunta.

— Sim, senhor, — ela diz com entusiasmo.

O juiz endireita os papéis à sua frente e analisa mais algumas


informações. — Muito bem, então. Pelo poder investido em mim
pelo estado de Kentucky, você é Ava Tanner e aquele, mocinha, é
o seu pai. — Ele lhe dá uma piscadela.

Ava vira-se e pula para tentar me abraçar. Eu me curvo e a


pego, envolvendo os meus braços em torno dela.

— Isso significa que posso chamá-lo de pai agora? — Ela


pergunta.

— Claro, garota. Eu gostaria muito disso, — digo.

Drew inclina-se, com lágrimas nos olhos, e dá um beijo na


minha bochecha. — Obrigada, — fala.

— Pelo quê? — Pergunto.

— Por nos tornar uma família completa, — diz ela.

Eu olho para baixo, para Knox dormindo contra ela, os seus


fios de cabelo preto flutuando como se a gravidade não existisse.
— Drew, antes de você e Ava, eu nem sabia que poderia ter
isso. Eu não completei nada, vocês fizeram, — digo a ela.

Ela inclina-se e beija a minha boca.

— Nojento, caras. — Ava diz.

Eu solto Ava e ela acaricia suavemente as minúsculas mãos


do seu irmão mais novo. Eu fico olhando para Drew, sabendo que
ela tornou tudo isso possível. Não consigo imaginar uma vida
diferente desta.

Se você tivesse me dito há alguns anos que esse seria o meu


futuro, eu teria rido da sua cara e dito para dar o fora da minha
loja, mas agora sou um homem velho, em paz e mudado, mas não
tão mole que alguém deveria pensar em foder com a minha
família. Porque eu definitivamente iria fazer a sua bunda
desaparecer.

FIM
Então nos encontramos novamente, agradecimentos. Meu
arqui-inimigo. Ugh. Bem, bem.

Eu vou fazer isso.

Jen Rogue. Você é, sem dúvida, uma das únicas constantes


que tive em minha vida por muito tempo. Eu não sei o que faria
sem você. Sua presença me motiva, me encoraja e é uma força
motriz para mim. Eu definitivamente desapareceria com alguém
por você.

Christina Slaylen Hart. Quando estou tendo um dia ruim, um


dia bom, um dia inacreditável, você é alguém com quem sempre
posso contar para estar lá para mim. Como minha editora, você
me incentivou a ser uma escritora melhor, uma contadora de
histórias melhor. Como amiga, você me incentivou a examinar a
vida de uma perspectiva diferente. Eu desapareceria com alguém
por você com 100% de certeza.

Para meus filhos, Kali e Kaden. Vocês ainda comem toda a


minha comida e vivem na minha casa de graça, então obrigado por
nada. Para meu filho bônus, Mattie. Você entrou na minha vida
em circunstâncias tristes. A estrada foi difícil, mas estou feliz que
você esteja comigo. Não consigo imaginar a vida sem você agora.
Você come muita comida, no entanto. Vamos nos acalmar. Só mais
alguns anos até que você possa dirigir e ir até a loja para mim,
então, vença! Não se preocupe, eu já desapareço pessoas por vocês.
Estou brincando…
Para Chris, aquele cara que dorme na minha cama. Eu te amo
e tal. Obrigada por ser meu Hawk. Você cuida de três filhos que
não são seus todos os dias e você só reclama de vez em quando.
Mas, queixas normais dos pais. Não reclamações sobre sua
existência. Obrigado por deslizar direto no meu perfil do Tinder.
Você é o mais legal. Definitivamente um pouco psicopata. Não
preciso desaparecer pessoas por você porque você é a pessoa para
quem ligo quando preciso que alguém desapareça, então vou parar
de falar agora, caso o FBI veja isso.

Para cada pessoa, colega autor, amigo, blogueiro, revisor,


qualquer um que leu e amou Hawk tanto quanto eu, obrigada. Seu
entusiasmo por ele me dá vida. Por favor, empurre-o na cara de
todos os seus amigos até o fim dos tempos. Se vocês precisarem
que alguém desapareça, eu conheço um cara.

E por último, mas não menos importante, meus cães, Loki e


Ghost. Obrigado por todos os abraços, por colocar constantemente
seu rosto no meu laptop quando está no meu colo, por precisar
sair para fazer xixi em nossa cerca a cada cinco minutos, e por
precisar de guloseimas 24 horas por dia. Sem vocês me distraindo
regularmente, eu conseguiria escrever muito mais. E, como
autora, não posso dizer o quão terrível isso seria. Que bom que
vocês não sabem o que é sarcasmo. Eu também suponho que vocês
não tenham uma lista de inimigos que precisem que desapareçam.
Não há nada que eu possa fazer sobre o carteiro, superem isso.

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