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Clarisse e o mundo preto e branco.

Capítulo 1 – luvas brancas são mais expressivas.


Acordei com mais sono, com preguiça de sair da cama. Há quanto
tempo eu estava dormindo? Não importa. De repente um relógio começa a
gritar comigo. Sim, o relógio.
- TÁ NA HORA DE ACORDAR! TÁ NA HORA DE ACORDAR! SE
LEVANTE VAGABUNDA!
Eu ainda estava com sono e não me toquei na hora, mas eu estava
sozinha na casa. Respondi a voz ainda com sono.
- por que?
- ACORDA! ACORDA! HORA DO CAFÉ! JÁ TEM CAFÉ NA MESA!
QUEM GANHA DINHEIRO NA CAMA É VAGABUNDA!
Café pronto? Me sentei na cama, ainda de pijamas, para ganhar forças
para me levantar. E, com muito esforço, me levantei para tomar café, meu
cabelo estava todo embaraçado. Não tinha ninguém na mesa, enquanto eu
tomava café, me perguntava como que algo tão gostoso havia sido feito do
nada. Aí que eu realmente me toquei, essa casa é minha? No susto eu quase
derramei o café. Onde é que eu estou? Porque eu só notei isso agora? Um
pinguim de geladeira começa a se mover e falar comigo.
- você está bem?
- é... eu só preciso...
- ainda não fez sua higiene diária né? Vai tomar um banho! Tudo fica
melhor depois que você acorda de verdade.
- ISSO! Só preciso de um banho.
Eu me levantava, deixando todo o café na mesa. Iria correndo para o
banheiro, lavava meu rosto para acordar melhor e olhava no espelho.
No momento em que eu me olhava, não reconhecia meu rosto, pulava
de susto ao ver outra pessoa. Neste momento me tocava de mais um detalhe
aquele era realmente o meu rosto? Qual era meu nome? Oque tá
acontecendo? O ambiente em minha volta também não fazia sentido algum!
Era tudo preto e branco, sem cores, porém parecia tudo tão... cotidiano, na
minha cabeça era tudo... normal? Sempre foi assim? Por que eu me sinto
confortável em estar em um lugar que eu não conheço?
Eu entrei em pânico, estava com medo do que iria acontecer na casa, eu
ia morrer? Eu estava presa? Mas onde é a minha casa? Aqui é a minha casa?
Eu andava em círculos desesperada.
- onde diabos eu estou? Onde diabos eu estou? Onde diabos eu estou?

Eu repetia isso mais de um milhão de vezes. Até que o chuveiro começa


a falar.
- você está na sua...
- CALA A BOCA, OBJETO FALANTE ESTRANHO!!!!!
Respondia o chuveiro rapidamente, porque objetos falam? Isso é algo
estranho, parecia cotidiano quando eu acordei, mas logo me dei conta de que
talvez isso não deveria acontecer. O chuveiro volta á falar.
- ah meu deus, essa é a sua casa, bobona, tome logo um banho e se
arrume, você vai ter um dia cheio.
- do que você está falando? Por que eu teria um dia cheio?
- porque você não é uma vagabunda que só vive dos outros? Pelo amor
de deus, só toma um banho e depois vá tomar um ar.
Aquilo simplesmente não fazia sentido para mim. Eu tenho até mesmo
uma rotina agora? Eu, ainda hesitante, tomava banho, me cobria com uma
toalha e voltava para o quarto.
Ao chegar no meu quarto, eu abria o meu guarda-roupas e me deparava
com as roupas que tinha lá, dessa vez eu me surpreendi com algo, arrisco
dizer, mais estranho do que o mundo em minha volta.
- querem que que eu saia como uma prostituta?
Só tinha roupas curtas lá, nada muito erótico, mas ainda era curto.
Quem que usa shorts em plena luz do dia? Apenas prostitutas usam isso, ou
pessoas mais indecentes. Sem opções, eu peguei um shorts mesmo, uma
camiseta com uma estrela e de gola v, tinha croppeds também, mas só quem
usa isso são homens, porque estaria em um guarda-roupas feminino? Coloquei
um sobretudo, só pra complementar. Abri a gaveta e... bom, pelo menos os
acessórios eram bonitinhos, peguei um lacinho e botei no cabelo. Olhei na
próxima gaveta e tinha mais acessórios, dentre eles, luvas brancas. Achei elas
lindas! Quando eu vesti elas, notei uma coisa: eu tinha apenas 4 dedos. Eu não
liguei, mas sei lá, parecia algo errado. Tirando isso, as luvas eram uma sacada
genial! Aposto que eu vou arrasar com essas luvas, elas são bem expressivas.
Quando eu terminei de me arrumar, o relógio voltava a falar.
- agora é hora de sair! Pegue a sua maleta!
- sair? Não vai falar o que está acontecendo?
- o que mais a gente pode falar? Essa é apenas a vida que você sempre
viveu. Pegue a suas maleta e saia.
Não tinha notado antes, mas havia uma maleta do lado da minha cama.
Uma maleta grande e parecia cara, feita de pano, com uma estrela estampada,
é tipo aquelas maletas de viagem. Peguei a maleta e resolvi finalmente sair da
casa. Se aqui eu não iria conseguir respostas do que estava acontecendo,
então lá fora eu iria achar.
Eu abri a porta. A parte de fora tinha a mesma paleta que a de dentro,
preto e branco. Prédios pareciam dançar e se mexer, algumas coisas pareciam
meio borradas, como se fossem feitas em aquarela, principalmente árvores. Na
real, notei mais uma coisa, as coisas que se mexiam tinham contornos em
preto, inclusive eu, não dava para ver o movimento nas coisas borradas. Outra
coisa é que eu não ouvia nada além de uma leve música. Era bem simples,
mas passava um ar cotidiano.
Andei até mais para frente da calçada. Foi quando me deparei com um
homem de terno. Que por algum motivo, estava investigando a minha casa. Ele
tinha contornos pretos, então cheguei perto dele para perguntar alguma
informação, como onde estou.
Eu me aproximava dele e gesticulava que ia falar, mas ele me
interrompia
- HEY! Olá, nova vizinha! Oque te traz aqui na cidade? Meu nome é
Matheus, e o seu?
Ele estendia a mão para mim. Eu levava um certo susto quando ele
estendia a mão rapidamente, pulando um pouco para trás. Logo eu notava que
ele também usava luvas brancas. Ele teve a mesma ideia que eu? Impossível.
Eu, bem devagar, apertava a mão dele. O mesmo chocalhava a minha
mão junto com o meu corpo, me fazendo tremer. Quase caí depois que ele me
colocou no chão.
Depois de me recompor. Tentei lembrar-me do meu nome. Nada. Então
´resolvi pensar em um nome para mim. Falei o primeiro nome que viria á minha
mente.
- ... Clarisse, me chama de Clarisse.
- muito bem! Seja bem vinda, Clarisse.
Com o Matheus ali, logo resolvi tirar as minhas dúvidas com ele.
Ele me olhava com um gigante sorriso no rosto, como se estivesse
vendo uma amiga próxima. Talvez esteja apenas curioso para me conhecer.
- ehm... Matheus né? Poderia me falar onde eu estou?
- oque? Como assim “onde você está”? você não sabe? Você está na
melhor cidade de todas para se viver! A cidade grande! A cidade que nunca
dorme!
Do que raios ele estava falando? Cidade que nunca dorme... as pessoas
não dormem aqui? Em fim... resolvi fazer mais uma pergunta.
- quando eu estou?
- dia dez de janeiro do ano do rádio!
Mais uma vez eu não entendi o que ele quis dizer. Eu desisti de
perguntar para ele e resolvi apenas conversar. Talvez eu fosse conseguir
alguma coisa naturalmente.
- então... oque você faz aqui? Trabalha com oque?
- eu quem deveria fazer as perguntas! Nunca vi você aqui, mas já que
perguntou, eu só vim ver a sua casa, que bela casa hein! Nunca vi uma assim
na vizinhança.
Olho novamente para a minha casa. Minha casa era GI-GAN-TE. Tinha
moinhos, fios elétricos, eu acho que talvez eu seja uma cientista? Eu olho na
minha maleta para ver se tinha mais alguma coisa e apareceu um óculos,
unicamente um óculos, eu não tenho nenhuma ferramenta? Pegava o óculos e
colocava em mim mesma.

Capítulo 3:
Eu entrava no ônibus, olhava para Matheus.
- falava para o motorista a onde nós vamos.
Matheus terminava de subir no ônibus e começava a negociar com o
motorista, as pessoas sentadas eram estranhas, mais uma vez, apenas
silhuetas, mas dessa vez elas não agiam naturalmente, elas me encaravam
fixamente, como se eu fosse culpada de algo ou estivesse sendo uma ameaça.
Depois que Matheus pagava, sentávamos em um lugar aleatório no ônibus.
Nós conversávamos no caminho
- então, Clarisse, vai me falar o que era o sonho?
- sonho? Que sonho?
- o sonho que você estava tendo enquanto cochilava, você estava fria,
se remexendo como se fosse de dor! Oque você sonhou?
Nesse momento eu nem sabia o que responder. Os “figurantes” me
olhavam fixamente. O que eles querem que eu faça? Eu conto? Já estava
suando frio, desviava o olhar para a janela para que ele não pudesse ver minha
cara de nervosismo, eu ficava calada.
- Clarisse, fale, por favor.
Em um momento de desespero, simplesmente mandei um:
- eu esqueci!
Ele ria um pouco.
- você é estranha! Como pode estar com medo de algo que nem se
lembra o que é? É que o fato de você estar daquele jeito me assustou.
Acho que eu também que assustaria se eu estivesse no lugar dele. Eu
dou um sorriso depois daquilo.
- valeu por se preocupar, mas eu estou bem, foi apenas um sonho. He
he he.
Eu olhava para a janela, apenas vendo as pessoas passarem.
- para onde estamos indo?
- para um parque.
- que tipo de parque?
- tipo o “National Park” de Nova Iorque, mas apenas com mato e
árvores.
- um parque comum?
- sim, exato.
- deve ser um lugar legal, tem comércios lá? Restaurantes ou algo
assim?
- muitos! Mas não foi só por isso que eu vou te trazer lá.
- então porque você quer me trazer lá?
- hehehe, eu tenho alguns amigos que eu quero te mostrar.
- TEM MAIS PESSOAS NORMAIS??????
Eu estava surpresa. Tem mais pessoas reais? Que não sejam apenas
machas cinzas? Estava meio óbvio que eu não seria a única, mas não
esperava encontrar alguém tão rapidamente.
- sim? Você acha mesmo que eu estaria sozinho aqui? Eu tenho amigos,
aliás, EU TENHO VIDA SOCIAL!!!!
- compreensível, realmente não notei algo assim.
O ônibus parava, o motorista, um cara gordo, grande e de suspensório,
parecia uma daquelas pessoas “reais”, ele olhava para a gente e dizia:
- é a parada de vocês.
- vamos logo, Clarisse.
Matheus me puxava e corria pra sair do ônibus. Eu simplesmente voava,
batendo nos bancos, como se eu fosse uma folha de papel. Ele me botava no
chão quando a gente saía.
- quando você vai parar de fazer esse tipo de coisa?
- do que está falando? Eu só te trouxe para fora do ônibus.
- deixa para lá
Esse tipo de discussão não vale à pena, ainda mais com ele.
Eu olhava ao redor. A música mudou, passou de um jazz à uma música
relaxante de piano, que deixavam meus ouvidos confortados. Tinha cheiro de
lavanda e muitas flores, talvez tendo algum exagero. Apesar de não ter cores,
como todos os lugares, era um canto lindo.
Matheus olhava para mim com certo orgulho. Acho que ele viu minha
cara de admiração.
- eu não disse? É um lugar legal!
- é, você estava certo. Vamos andar um pouco para ver o que a gente
encontra.
- tem muita coisa legal, mas já que você quer descobrir por si mesma,
então vamos.
Ele me puxava para uma parte do parque um pouco mais movimentada,
tinha um poste, um banco com um jornal amassado na lixeira, alguém se irritou
muito com as notícias!
- e aqueles amigos que você falou? Eles veem?
- já devem estar chegando, a praça é meio grande, então talvez demore
um pouco mais, uns dois minutos.
Alguns segundos depois, dava para ver na estrada, duas garotas e um
cara vindo em nossa direção, quer dizer, vendo mais de perto, o “cara” não
parecia bem um homem, mas com uma armadura, não mostrava o rosto... é,
acho que era um homem. O trio chegava perto da gente, havia uma garota que
parecia um pirata, tinha cara de carrancuda, uma parecia uma pessoa mais
normal, tinha cara de aristocrata esnobe, pelo leque e as luvas longas, e tinha
o cara de armadura, não dava para ver o rosto dele pelo elmo, mas tinha uma
espada pequena, mas um escudo gigantesco.
Uma das garotas, a aristocrata, começava a falar com Matheus...
- hump, veja só quem está aqui.
- ah meu deus, lá vem...
Matheus dava um tapa na sua própria testa, parecia não gostar da
presença delas, da armadura saía uma voz feminina.
- Matheus!
- ah nem vem melissa, não falamos com fracassados.
Dizia a aristocrata.
- mas...
- é mesmo Melissa, nós esmagamos eles!
Dizia a pirata, com uma voz meio rouca e estranha, ela parecia
definitivamente assustadora.
- não vamos nos precipitar, Mary, não queremos usar a violência agora.
- ah, qual é Margaret, você sabe que é divertido.
- nós já falamos sobre isso, nada de violência por enquanto.
- por favor Margaret!
- já disse que não!
As duas começavam a brigar. Melissa ficava entre a briga, apenas
esperando as outras duas terminarem. Matheus apenas fica olhando as duas
discutirem, até que eu pergunto:
- quem são essas três?
- elas? São umas trigêmeas que vivem atazanando minha vida, todo o
santo dia... tirando a melissa, até que ela é legal.
Ele olha ao redor.
- onde estão eles? Eles estão atrasados.
Ele parecia nervoso, como se quisesse que eles vissem logo.
- vamos procurar eles, Matheus, vai que eles chegaram mais cedo e
estão te procurando.
- bom, acho que talvez essa seja uma boa ideia, vamos á então.
Nós dávamos meia-volta para procurar tais “amigos”, mas uma mão me
agarra pelo ombro.
- ei, mas espera um pouco, quem é você? Maruja?
Eu olhava para trás, logo via que Mary tinha esticado seu braço para me
pegar! Eu me assustei de primeira e acabei gritando, jogando a mão para fora,
mas ela acabou me agarrando pela perna e me colocando de ponta-cabeça.
- tinha carne nova no pedaço e ninguém me falou?
As irmãs se entreolhavam com dúvida, Margaret cobria a parte de baixo
do seu rosto com seu leque.
- claro que não! A gente teria te dito, Mary.
Dizia Margaret, com um tom de “isso não é óbvio?” enquanto tirava o
leque para falar.
Mary olhava novamente para mim. Eu já tinha desistido de tentar sair
dali, eu nem alcançava a mão dela. Ela me olhava de cima a baixo com uma
das sobrancelhas levantadas.
- qual o seu nome?
No momento que eu ia falar, Matheus ficava na minha frente com uma
expressão de raiva.
- hey! Eu sei que você é assim mas que falta de educação deixar ela
pendurada assim!

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