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Capítulo 3:
Eu entrava no ônibus, olhava para Matheus.
- falava para o motorista a onde nós vamos.
Matheus terminava de subir no ônibus e começava a negociar com o
motorista, as pessoas sentadas eram estranhas, mais uma vez, apenas
silhuetas, mas dessa vez elas não agiam naturalmente, elas me encaravam
fixamente, como se eu fosse culpada de algo ou estivesse sendo uma ameaça.
Depois que Matheus pagava, sentávamos em um lugar aleatório no ônibus.
Nós conversávamos no caminho
- então, Clarisse, vai me falar o que era o sonho?
- sonho? Que sonho?
- o sonho que você estava tendo enquanto cochilava, você estava fria,
se remexendo como se fosse de dor! Oque você sonhou?
Nesse momento eu nem sabia o que responder. Os “figurantes” me
olhavam fixamente. O que eles querem que eu faça? Eu conto? Já estava
suando frio, desviava o olhar para a janela para que ele não pudesse ver minha
cara de nervosismo, eu ficava calada.
- Clarisse, fale, por favor.
Em um momento de desespero, simplesmente mandei um:
- eu esqueci!
Ele ria um pouco.
- você é estranha! Como pode estar com medo de algo que nem se
lembra o que é? É que o fato de você estar daquele jeito me assustou.
Acho que eu também que assustaria se eu estivesse no lugar dele. Eu
dou um sorriso depois daquilo.
- valeu por se preocupar, mas eu estou bem, foi apenas um sonho. He
he he.
Eu olhava para a janela, apenas vendo as pessoas passarem.
- para onde estamos indo?
- para um parque.
- que tipo de parque?
- tipo o “National Park” de Nova Iorque, mas apenas com mato e
árvores.
- um parque comum?
- sim, exato.
- deve ser um lugar legal, tem comércios lá? Restaurantes ou algo
assim?
- muitos! Mas não foi só por isso que eu vou te trazer lá.
- então porque você quer me trazer lá?
- hehehe, eu tenho alguns amigos que eu quero te mostrar.
- TEM MAIS PESSOAS NORMAIS??????
Eu estava surpresa. Tem mais pessoas reais? Que não sejam apenas
machas cinzas? Estava meio óbvio que eu não seria a única, mas não
esperava encontrar alguém tão rapidamente.
- sim? Você acha mesmo que eu estaria sozinho aqui? Eu tenho amigos,
aliás, EU TENHO VIDA SOCIAL!!!!
- compreensível, realmente não notei algo assim.
O ônibus parava, o motorista, um cara gordo, grande e de suspensório,
parecia uma daquelas pessoas “reais”, ele olhava para a gente e dizia:
- é a parada de vocês.
- vamos logo, Clarisse.
Matheus me puxava e corria pra sair do ônibus. Eu simplesmente voava,
batendo nos bancos, como se eu fosse uma folha de papel. Ele me botava no
chão quando a gente saía.
- quando você vai parar de fazer esse tipo de coisa?
- do que está falando? Eu só te trouxe para fora do ônibus.
- deixa para lá
Esse tipo de discussão não vale à pena, ainda mais com ele.
Eu olhava ao redor. A música mudou, passou de um jazz à uma música
relaxante de piano, que deixavam meus ouvidos confortados. Tinha cheiro de
lavanda e muitas flores, talvez tendo algum exagero. Apesar de não ter cores,
como todos os lugares, era um canto lindo.
Matheus olhava para mim com certo orgulho. Acho que ele viu minha
cara de admiração.
- eu não disse? É um lugar legal!
- é, você estava certo. Vamos andar um pouco para ver o que a gente
encontra.
- tem muita coisa legal, mas já que você quer descobrir por si mesma,
então vamos.
Ele me puxava para uma parte do parque um pouco mais movimentada,
tinha um poste, um banco com um jornal amassado na lixeira, alguém se irritou
muito com as notícias!
- e aqueles amigos que você falou? Eles veem?
- já devem estar chegando, a praça é meio grande, então talvez demore
um pouco mais, uns dois minutos.
Alguns segundos depois, dava para ver na estrada, duas garotas e um
cara vindo em nossa direção, quer dizer, vendo mais de perto, o “cara” não
parecia bem um homem, mas com uma armadura, não mostrava o rosto... é,
acho que era um homem. O trio chegava perto da gente, havia uma garota que
parecia um pirata, tinha cara de carrancuda, uma parecia uma pessoa mais
normal, tinha cara de aristocrata esnobe, pelo leque e as luvas longas, e tinha
o cara de armadura, não dava para ver o rosto dele pelo elmo, mas tinha uma
espada pequena, mas um escudo gigantesco.
Uma das garotas, a aristocrata, começava a falar com Matheus...
- hump, veja só quem está aqui.
- ah meu deus, lá vem...
Matheus dava um tapa na sua própria testa, parecia não gostar da
presença delas, da armadura saía uma voz feminina.
- Matheus!
- ah nem vem melissa, não falamos com fracassados.
Dizia a aristocrata.
- mas...
- é mesmo Melissa, nós esmagamos eles!
Dizia a pirata, com uma voz meio rouca e estranha, ela parecia
definitivamente assustadora.
- não vamos nos precipitar, Mary, não queremos usar a violência agora.
- ah, qual é Margaret, você sabe que é divertido.
- nós já falamos sobre isso, nada de violência por enquanto.
- por favor Margaret!
- já disse que não!
As duas começavam a brigar. Melissa ficava entre a briga, apenas
esperando as outras duas terminarem. Matheus apenas fica olhando as duas
discutirem, até que eu pergunto:
- quem são essas três?
- elas? São umas trigêmeas que vivem atazanando minha vida, todo o
santo dia... tirando a melissa, até que ela é legal.
Ele olha ao redor.
- onde estão eles? Eles estão atrasados.
Ele parecia nervoso, como se quisesse que eles vissem logo.
- vamos procurar eles, Matheus, vai que eles chegaram mais cedo e
estão te procurando.
- bom, acho que talvez essa seja uma boa ideia, vamos á então.
Nós dávamos meia-volta para procurar tais “amigos”, mas uma mão me
agarra pelo ombro.
- ei, mas espera um pouco, quem é você? Maruja?
Eu olhava para trás, logo via que Mary tinha esticado seu braço para me
pegar! Eu me assustei de primeira e acabei gritando, jogando a mão para fora,
mas ela acabou me agarrando pela perna e me colocando de ponta-cabeça.
- tinha carne nova no pedaço e ninguém me falou?
As irmãs se entreolhavam com dúvida, Margaret cobria a parte de baixo
do seu rosto com seu leque.
- claro que não! A gente teria te dito, Mary.
Dizia Margaret, com um tom de “isso não é óbvio?” enquanto tirava o
leque para falar.
Mary olhava novamente para mim. Eu já tinha desistido de tentar sair
dali, eu nem alcançava a mão dela. Ela me olhava de cima a baixo com uma
das sobrancelhas levantadas.
- qual o seu nome?
No momento que eu ia falar, Matheus ficava na minha frente com uma
expressão de raiva.
- hey! Eu sei que você é assim mas que falta de educação deixar ela
pendurada assim!