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CAPÍTULO I:

NASCER DO SOL

ELEMENTUS - ANO 518

Um erro com a espada e um pequeno acidente acontece.

— Desculpa mamãe, eu não sirvo pra usar armas.

Mamãe vem andando calmamente em minha direção,

ela se agacha, segura minha mão ferida e diz:

— Não precisa se preocupar querida, tudo tem seu dev

ido tempo.

— A ferida está doendo mamãe, não consigo curá-la.

Ela apertou carinhosamente minha mão pela parte de t

rás enquanto olhava pra mim sorrindo de leve.

— Você precisa concentrar a energia direito querida, ca

nalize sua força na ferida.

Olho para o corte em minha mão e ele lentamente se fe

cha.
De repente tudo muda, assim que volto os olhos para o

nde estava a mulher que me instruiu, ela está caída de joelhos,

com alguém atrás dela à estocando.

O olhar do assassino faz eu me sentir como se estivesse

sendo controlado, enquanto também sinto as dores infernais

pela morte da “mamãe”.

Numa sombra e com os olhos vermelhos o assassino di

z:

— Venha comigo garota, dê-me seu poder.

A vontade de não segui-lo é imensa, mas mesmo reluta

ndo começo a seguir sua ordem. A batalha contra essas orden

s ferve dentro de mim, sinto uma grande força instável vibran

do e me mantendo firme para resistir ao controle.

Fecho meus olhos, me concentro e então vejo essa força.

Elas se assemelham a vida e a morte, ressoando e lutando ent

re si. Eu foco em balanceá-las, como papai e mamãe me ensin

aram, meu esforço parece surtir efeito, quando consigo equili

brar a vida e a morte, o sol e a lua, a luz e a sombra eu me livr

o do controle do assassino, abro meus olhos e vou em sua dir

eção.
Eu acordo de novo sonhando que sou essa garota e ve

ndo os ensinamentos da minha mãe, mesmo que eu não seja

uma garota, não saiba esses ensinamentos e não conheça min

ha mãe.

Isso tudo eu penso antes mesmo de voltar a perceber o

mundo ao meu redor, o clássico estado meio preguiçoso que s

into antes de acordar.

Ouvindo os pássaros cantarem nas copas das árvores n

a praça ao lado, eu finalmente desperto. Mesmo sentindo o na

scer do dia, o despertar do mundo à minha volta, ainda não e

ntendo o real motivo para eu continuar despertando.

Deitado em um beco qualquer, vivendo à deriva de qu

alquer coisa, sem pais para cuidarem de mim e sem nada a pe

rder.

As coisas costumam ser sempre assim, mas nesse dia f

elizmente algo mudou, um homem, o homem com uma cicatr

iz no olho esquerdo, cicatriz essa que ia da metade de baixo d

a testa até o início da bochecha. Ele veio até mim algumas vez

es antes para conversar, me deu alguns trocados de Hértem q

ue eu usei pra comprar comida e me disse algumas coisas mei

o estranhas sobre a vida.


Aparentemente ele era bem comum, tinha cabelos long

os para o padrão masculino (um pouco menores que os meu

s), pele entre o escuro e claro, bem alto e é claro a enorme cica

triz no olho esquerdo.

Nesta manhã ele me chamou de onde eu estava deitad

o, estendeu a mão em minha direção e falou pra eu agarrar, p

ois ele iria me ajudar a levantar, então disse:

— Hoje nós vamos fazer algo diferente — Disse ele enq

uanto eu me levantava — Siga-me.

Na saída do beco eu pude encarar melhor a praça, pod

ia sentir que os ventos chacoalharam as árvores, não sei por q

ual motivo mas isso fazia eu me sentir sujo, talvez pelo motiv

o de que eu realmente estivesse um lixo.

Logo após a minha rápida auto avaliação viramos a dir

eita e logo na primeira olhada para os estabelecimentos havia

um bar.

Esse bar ficava literalmente do lado de onde eu dormia.

O caolho foi na frente, abriu as portinholas e nós entra

mos e nos sentamos na terceira mesa no sentido vertical à por

ta, instantaneamente o clima ficou meio estranho, pois nenhu


m de nós disse nada e ninguém nos atendeu, então ele logo se

levantou e foi ao balcão pedir algo.

Eu estava há um tempo sem uma refeição forte, apenas

o cheiro da comida sendo preparada na cozinha já fazia meu

estômago se retorcer, todos os meus sentidos pareciam mais a

guçados, isso fez com que eu ouvisse o pedido do caolho, que

foi exatamente: coxas e sobre-coxas de frango assadas, com ba

tatas doces cortadas e salada.

Eu fiquei extremamente feliz com a possibilidade daqu

ilo ser pra mim, mas como qualquer pessoa de rua, não come

ntei nem expressei nada, eu queria me manter firme, o menos

vulnerável possível, para evitar qualquer tipo de problema.

Ele voltou e se sentou na minha frente novamente e me

olhando quase que fixamente disse:

— Eu lembrava de você diferente Télos.

Ele fez uma expressão leve de confusão, parecia arrepe

ndido de ter dito aquilo.

Nesse tempo em que ele fazia careta, a comida chegou.

Eu o encarei, inclinei a cabeça pra frente e mesmo sem

saber se a comida era minha comecei a comer, estava curioso


sobre como ele sabia de mim, mas a fome era infinitamente m

aior.

Depois de um tempo começaram a ressoar certas perg

untas na minha mente:

Como ele sabia meu nome sendo que eu nunca havia d

ito isso a ele?

Ele conhece alguém da minha família que eu nunca co

nheci?

Ele me observa há mais tempo?

Eu estava entretido demais com a comida pra pensar

muito nessas respostas, mas mesmo assim questionei:

— Como sabe meu nome sendo que nunca nem menci

onei ele pra você?

Eu fiquei meio travado com isso.

A comida estava boa mas era meio saca, as poucas pala

vras e o olhar dele me deixavam com a comida entalada na ga

rganta.

Eu era o jovem de doze anos com fome e delirando, ma

s o que ele disse não tinha sentido, devia estar bêbado.


— Você parece faminto — Falou ele enquanto me olha

va devorando a comida — Que bom que você viveu até aqui

para ter essas sensações.

— Que bom que vivi? Engraçado, quem quer que tenh

a me dado a vida falhou miseravelmente, eu fui exposto a mu

ita coisa que uma criança normal não deveria nem sonhar em

ver — Eu fiquei realmente bravo com isso, eu até parei de co

mer neste ponto — Eu fico com raiva só de imaginar que algu

ém me deixou pra…

— …sofrer nesse mundo.

Ele completou o que eu estava dizendo, a última parte

da minha frase saiu em uníssono com a dele.

Ele sabia o que eu ia dizer?

— Olha eu sei que você acha que não é nada, que tudo

é um inferno eterno — Além de vidente ele agora lê sentimen

tos? Que merda é essa? — Porém não é, você pode mudar o

mundo se quiser.

Mais merda que gente velha diz.

— Não, não é mais merda que gente velha diz.

Que? Espera isso não faz sentido, eu não disse isso alto

como ele sabia o que eu pensei?


—Você tem um papel importante a cumprir, sua vida

nem começou — Ele então se senta de lado — Vai entrar algu

ém por ali — Ele aponta em direção a portinhola — Ele virá a

trás de você, não vá, lute contra o controle, ele é um dos vilõe

s.

— Como assim controle? Um dos vilões? Como diabos

eu luto contra ele?

—Não se preocupe, você saberá o que fazer.

Ele enfia a mão no bolso, tira umas moedas de Hértem,

me dá pra eu pagar a comida, se levanta e começa a sair. Eu si

nto que não podia deixar ele ir embora assim do nada, então

questiono:

— Como assim alguém atrás de mim? Que pessoa é ess

a? Como eu saberei o que fazer? E outra, quem é você?

Eu falei essas palavras mais rápido do que imaginei, ta

lvez ele não tivesse entendido, mas como supostamente ele li

a pensamentos eu chutei que ele entendeu.

— Eu tenho uma coisa pra te entregar antes de ir — Ele

usa uma espécie de bolsa de couro que está pendurada com u

ma alça em seu ombro, tudo isso por debaixo da enorme capa

preta de tecido que ele usa. De dentro dessa bolsa ele tira um
objeto que não sei o nome, mas parecia um dispositivo cilínd

rico de metal, nele haviam vários números e um pequeno bot

ão numa das bases do cilindro — Guarde isso com você, será

de extrema importância — Ele começa a caminhar na direção

da saída — Até mais Télos, nos reencontraremos em breve.

Num relance de segundos eu devorei os últimos pedaç

os de batatas que havia no prato e fui correndo na direção do

homem.

Durante toda a minha vida eu nunca havia conhecido

alguém com qualquer resquício de vínculo comigo ou com m

eu passado, eu não poderia deixar o sem olho sair assim.

— Como assim você me diz isso do nada, seu caolho, v

ocê me ajuda, me trata bem, me alimenta, me entrega esse ba

gulho estranho, fala coisas sem sentido e simplesmente vai e

mbora?

— É, as coisas não fazem sentido mesmo, é o que eu te

nho pra você.

— Pelo menos me diga seu nome.

— Pode me chamar de Tales, Tales Ileac.

Eu não sabia o motivo dele ter respondido apenas essa

pergunta.
No momento em que eu comecei a segui-lo, minha esp

inha gelou, engoli em seco e não conseguia fazer mais nada.

A única coisa que consegui fazer foi soltar umas palavras tort

as:

— Obbbrigado Sr. Ileleleac.

Gaguejando foi tudo que eu consegui dizer, não sei por

qual razão. Algo estava errado comigo e não eram os proble

mas normais de falta de comida e dores de cabeça, era algo di

ferente.

Tales sorriu e saiu do bar pelas portinholas, logo em se

guida me inclinei sobre a mesa mais próxima, como se não fo

sse me aguentar em pé. Eu sentia medo, pavor, angústia, todo

s esses sentimentos ruins, a ponto de não conseguir me mexer

uma dor emocional tão forte que era quase física.

Pelo lado de fora Tales se virou, olhou pra mim e sorri

u novamente, enquanto o vento balançava seu cabelo e sua en

orme capa preta, nesse momento vi algo estranho, seu olho di

reito começou a brilhar em tom de luz, como se houvesse um

a bola de energia clara dentro de sua cabeça, quando notei iss

o o vento ficou muito mais forte, as portinholas do bar começ

aram a tremer, e numa troca de abre e fecha Tales o sorrident


e de olho brilhante desapareceu, no mesmo instante parei de

sentir todas aquelas desgraças emocionais.

Os ventos realmente estavam fortes, o senhor, dono do

estabelecimento foi às portinholas para poder trava-las, mas a

ntes que ele chegasse até elas alguém apareceu. Um homem d

e uns dois metros de altura, usando uma capa preta (semelha

nte a de Tales) com um símbolo no lado esquerdo do peito, o

símbolo da União, com certeza era alguém de patente alta. El

e entrou antes que o senhor fechasse a portinhola e retirou o c

apuz da cabeça, ele tinha o cabelo e barba feitos como qualqu

er homem comum, sua pele era clara, ele tinha olhos extrema

mente pretos e com esses olhos ele focou no dono do bar com

eçou a dizer:

— Tudo bem meu bom senhor, deixe aberto e vá para

a cozinha.

Os braços do senhor caíram e ele pareceu dormir de ol

hos abertos, logo após ele seguiu a ordem do homem de capa.

Nesse momento eu me toquei, Tales havia dito que alg

uém viria atrás de mim, mas por qual razão seria alguém da

União?
Pensando nisso eu me acalmei e me sentei, na mesma

hora o cara da capa me olhou com aqueles olhos infinitament

e negros e veio em minha direção. Acho que eu cairia ali mes

mo se não tivesse me alimentado, pensei em lugares para ir o

u me esconder mas até então não tinha razão nem pra me esc

onder nem pra fugir. Até consequentemente ouvir a voz do h

omem de capa:

— Não saia daí garoto, fique exatamente onde está.

Quando ele me disse isso, era como se eu estivesse nu

m estado de sono, ele caminhou até minha mesa e se sentou n

a minha frente dizendo:

— Você virá comigo, sem contestar.

O que quer que ele tenha feito com o senhor dono do b

ar ele fez comigo, eu não conseguia evitar a ordem. Eu ainda

pensava por mim mesmo mas não me controlava totalmente.

O cara da capa então se levantou, ergueu a mão em mi

nha direção e me chamou com os dedos, no mesmo momento

eu me levantei, ele se virou e andou e eu o segui, ainda naque

le estado de sono.
Espera, por qual motivo eu tô fazendo isso? Eu não qu

ero seguir ele, eu quero sair daqui, fugir, ou sei lá, pelo meno

s agora eu tenho motivos, mas não consegui evitar.

Enquanto eu o seguia tudo na minha mente gritava pa

ra eu obedecer ele. Quando ele saiu pela portinhola o vento c

omeçou a balançar a sua capa e eu parei de andar. Ali parado,

prestando atenção em mim, senti algo estranho. Eu havia sent

ido aquilo antes, mas não era comigo, era no sonho, no sonho

com a garota, quando o homem viu que eu estava parado ele

disse:

— Venha criança, vamos logo! — Ele falou se virando

para mim e forçando o olhar em minha direção.

Era exatamente como eu tinha visto no sonho. Fecho m

eus olhos e visualizo a grande força que reluta contra aquelas

ordens, como se fossem a vida e a morte, o sol e a lua, a luz e

a sombra. Eu tenho que balanceá-las, deixá-las estáveis, eu sei

lutar contra o controle, Tales estava certo. Só que eu não consi

go, não dá, essas forças opostas dentro de mim são poderosas

demais, incontroláveis demais.

Abro meus olhos e vejo que o cara da capa está sendo c

onsumido pelo chão enquanto se debate, como se estivesse se


ndo engolido pela terra, eu sinto o controle dele sobre mim fa

lhou. Aproveitando a conveniência do destino eu saio corren

do para os fundos, no caminho jogo o dinheiro no balcão e en

tro na cozinha. Não entendo como aquele cara foi engolido pe

la terra, mas foi a melhor coincidência de todos os tempos.

O senhor dono do bar estava na cozinha coçando a cab

eça, numa expressão de dúvida do motivo de estar ali. Eu pas

so tão rápido que ele nem deve ter me visto. Eu vou em direç

ão a porta dos fundos e saio logo após abri-la.

Essa porta dava exatamente no beco em que havia dor

mido.

— Eu disse que você saberia o que fazer.

Quando olho pro lado esquerdo vejo Tales Ileac me es

perando.

— Como você sabia disso desgraçado?

— Para de perguntar tudo ô demônio. você vai entend

er tudo algum dia, tenho que ser rápido, minha hora está che

gando, corra em direção ao porto desta cidade, procure pelo

velho Goldenu, ele vai te ajudar.

— Pera aí, você me chamou de demônio seu desgraçad

o?
— Sim, agora vá.

Tales havia previsto praticamente tudo, até lido meus

pensamentos, ele não estaria errado justo agora. Eu corri pra f

ora do beco e quando cheguei na rua de pedras e virei na dir

eção do porto notei que o homem de capa que estava tentand

o me levar agora estava desacordado ainda com metade da ci

ntura afundada na terra.

Corri na direção do porto. Num resquício de tempo ol

hei para trás e consequentemente pra cima então eu vi a coisa

mais bizarra de toda a minha vida.

Uma enorme bola de fogo vinda do céu, logo acima do

beco que eu tinha acabado de sair. Ela vinha em direção ao ch

ão, mas antes que ela caísse uma pessoa, não, não era uma pe

ssoa comum, era Tales, ele voou na direção da enorme bola d

e fogo e a segurou com vento? Era algo invisível mas dava pa

ra notar uma forte massa de ar surgindo ali que mantinha o f

ogo no céu. Quanto mais olhava, eu notava que havia alguém

perto da bola de fogo. Eu não estava entendo direito, como aq

uilo era possível? Como algo assim acontecia? Como Tales co

nseguiu criar essa massa de vento para segurar o fogo? Como

o fogo veio do nada?


Realmente eu deveria parar de ficar perguntando e fug

ir logo, resolvi correr, no instante em que me virei para fazer i

sso novamente ouvi uma grande explosão.

Ao olhar novamente vi que realmente tinha alguém co

m a bola de fogo, ele estava logo ao lado dela com o braço esti

cado, a pessoa usava a mesma capa preta do cara que tentou

me levar, notei também que a bola de fogo estava dez vezes

maior, Tales ficou invisível perto dela.

O vento de Tales não era mais nada, a explosão se repe

tiu, era a pessoa do fogo, estava jogando pequenas bolas de fo

go com a outra mão contra Tales, deixando assim mais difícil

para ele segurar a enorme massa de fogo. Foi então que as ch

amas ficaram tão grandes que consumiram Tales. Depois de u

ns segundos ele começou a cair, provavelmente desacordado.

Uma pessoa normal morreria na queda ou para as queimadur

as. Ele não queria deixar que eu fosse capturado, minha culpa

como em tão pouco tempo alguém se torna tão importante?

Foi aí que aquela versão menor do sol caiu em cima do

bar e do beco, provavelmente matando todos ali. Eu não podi

a fazer nada, sou incapaz de qualquer merda, porra, por qual

motivo eu estou chorando?


Eu não posso perder tempo, o tempo que ele me deu c

om sua própria vida. Ou até mesmo a vida de quem nem sabi

a quem eu era. Eu até esqueci que Tales tinha controlado uma

enorme massa de ar, e que alguém com uma bola de fogo cai

u do céu.

Goldenu, preciso encontrá-lo no porto, alguém que ace

rtou tudo que disse não poderia estar errado sobre mim, confi

arei no que Tales disse, não tenho nada a perder, seja lá o que

eu tenha que fazer ele apostou a própria vida nisso.

Eu tinha esquecido de agradecer, então enquanto corro

digo a mim mesmo:

— Obrigado, Tales Ileac.


CAPÍTULO II:
AFOGAR DO PASSADO

ELEMENTUS - ANO 512

O já velho Goldenu, com todos os anos do passado nas costas,

estava trabalhando em seu pesqueiro para poder viver norm

almente. Mesmo que esse não fosse seu destino, ele queria ap

enas ter uma vida normal. Em mais uma tarde ensolarada de

pois de passar uma manhã arrumando redes, linhas de pesca

e o barco pesqueiro, Goldenu se preparava para mais um dia

de trabalho naquele vasto oceano. Ele organizou tudo, prepar

ou o barco e partiu mar à dentro.

Ele notou que aquele dia estava diferente, os ventos est

avam estranhos, Goldenu sabia a direção exata que eles sopra

vam naquela hora e local. O clima no geral estava instável, se

m um rumo certo e impossível de se navegar, isso era uma da

s coisas do passado de Goldenu, ele sabia em partes o que est

ava acontecendo ali, algo o chamava, mas mesmo assim ele ig


norou o passado, como sempre fazia. Ele tentou seguir pesca

ndo e mantendo sua vida, porém, o destino é inevitável como

ele sempre soube que era.

Os ventos estavam fortes demais agora, a ponto de traz

er uma tempestade, que junto com a ventania destroçaram o

barco pesqueiro de Goldenu, ele então se jogou no mar. Era p

reciso força para superar aquilo, não a força do mar, mas sim

a força do passado. Goldenu sabia que alguém o estava cham

ando.
ELEMENTUS - ANO 518
Eu corri por muito tempo depois de tudo que vi, passei por p

artes diferentes da cidade, tanto as bonitas e estruturadas, qu

anto as feias e sujas. Mesmo não sabendo se o que eu havia vi

sto era a realidade eu corri, era o que me restava, a ideia de ra

ciocinar se aquilo era mentira ou verdade nem foi cogitada po

r mim.

Eu já havia ido ao porto antes para olhar o mar, me rec

ordava de algumas coisas. O fedor de peixe morto era uma m

erda, mas fora isso o mar era incrível, tem um clima quente e

úmido em algumas épocas do ano, a mistura perfeita entre ca

lor e frio, além de possuir uma brisa agradável que me faz rel

axar.

Sinceramente, isso não me acalma agora, uma bola de f

ogo enorme vinda do céu parada por um vento mágico de u

m cara humilde que além de ler minha mente, me alimentou

e me salvou de coisas que eu nem fazia ideia que existiam.

Algo que eu havia notado era que por incrível que par

eça ninguém estava comentando o que havia ocorrido, por al

gum motivo parecia que só eu no mundo inteiro havia visto a


quela batalha nos céus, a destruição de estabelecimentos e a

morte de pessoas inocentes, eu me pergunto se estava ficando

louco. Não, eu sei o que vi, porém se eu contasse pra qualque

r um acredito que me chamaria de criança idiota e me daria u

ma bicuda. A única certeza que eu tinha estava em torno de u

m nome: Goldenu.

Talvez ele tivesse respostas, ou mais perguntas, mas er

a a única coisa fixa para mim naquela hora. Ao chegar perto d

o mar eu caminhei pela orla até onde ficavam os aglomerados

de trabalhadores. Esse lugar era montado por vários barracos

de madeira desorganizados um ao lado do outro, onde na fre

nte deles havia uma rua de pedras ladrilhadas e logo após a c

alçada larga que ficava antes da areia da praia. Eu caminhava

onde ficavam vários vendedores, isso se estendia até o porto

que ficava mais à frente.

Eu pensei que se Goldenu ficava no porto ele pescava e

vendia seus produtos do mar para os mercadores dali, quem t

rabalha por ali todo dia saberia de um homem com esse nom

e. Assim comecei a perguntar, tanto pros mercadores na calça

da , tanto dentro dos barracos com fedor de peixe podre.


Acho que foi meu primeiro erro. Todos sem exceção fiz

eram cara de medo, engoliram em seco, perguntaram se era r

ealmente quem eu procurava e apontaram na direção do final

do porto, onde havia um morro que encerrava essa orla. Se nã

o me engano ouvi uma vez que do outro lado do morro havia

outra praia menor.

Ao chegar ao porto caminhei até chegar perto do fim d

ele, foi uma caminhada um pouco longa, estava suado, mesm

o com a umidade alta o sol queimava o triplo de líquidos do

meu corpo.

Eu parei pra descansar e notei que do lado da praia no

decorrer da calçada havia uma dessas torneiras de água doce,

era de metal e estava emendada num bloco de pedras montad

as como um quebra cabeça, eu parei para me refrescar e toma

r um pouco d’água. Vendo um pouco adiante na direção do

mar havia a base e madeira por cima da água onde eram sust

entados por grossos e redondos troncos de madeira que se fir

mavam no solo submerso. Antes disso havia barracos que par

eciam compartilhar essas bases para parar os barcos. Falando

em barcos haviam alguns grandes e pequenos ali parados, se

guindo o leve fluxo do mar. Enquanto eu olhava com dificuld


ade para os barcos e molhava minha cabeça, vi pelo canto do

olho alguém passando atrás de mim.

Ao focar na pessoa notei que era um velho, mas não u

m velho caquético e idoso, um coroa de uns sessenta ou seten

ta anos, altura normal, um pouco calvo e muito, muito muscu

loso, talvez um soco dele arrancasse o resto da água do meu c

orpo. Ele segurava uma vassoura e um balde e me olhava co

m ódio.

Quando eu digo ódio eu não estou exagerando, não sei

se era o calor, mas as veias próximas aos seus olhos pulsavam

e seus punhos se fechavam cada vez mais. Eu imediatamente

rolei para o lado e cedi para que ele usasse a torneira, então el

e disse:

— Por qual motivo você saiu desgraçado — Ele rodou

a vassoura na mão livre, segurou firme e bateu de leve na mi

nha cabeça — Quem mandou você ceder sua vontade de faze

r algo seu merda.

Eu estava assustado, mas fiquei puto, mesmo que ele t

enha batido de leve na minha cabeça a pancada doeu, doeu p

ra caralho, com isso eu não ficaria calado nem nas próximas

mil vidas, então eu me ergui e disse:


— Eu saí por minha própria vontade seu velho de mer

da, era a porra da minha vontade.

Eu não notei mas havia gritado essas palavras alto de

mais, e à volta todos os outros pescadores e vendedores que a

li estavam ouviram o que eu havia dito, todos pareciam ter pe

dras amarradas nos olhos e nos queixos, me encarando boqui

abertos. O velho imediatamente largou a vassoura e o balde e

veio em minha direção. Eu estava a um triz de me mijar mas

eu não ia deixar meu orgulho de lado, ele havia falado merda

primeiro, eu apenas me defendi, como sempre fazia. Nessas h

oras sinto como se a raiva fosse minha resistência para não ch

orar igual bebê.

Ele veio até mim como um gigante, mesmo que ele não

fosse tão grande, quando chegou à minha frente olhou pra ba

ixo, na minha direção, me encarou nos olhos e eu o encarei de

volta.

O sol estava exatamente atrás da cabeça dele, era por v

olta do meio dia então a metade de trás da careca dele deveri

a estar toda torrada. Ele esticou a mão para trás e eu quase se

nti a porrada que eu iria levar antes mesmo de acontecer, par

a reduzir o sofrimento fechei os olhos. Então senti, senti a mã


o dele fazendo carinho na minha cabeça, bagunçando mais m

eu cabelos, enquanto ele fazia isso eu o olhei novamente e ele

estava sorrindo, logo após ele falou:

— Exatamente isso garoto, HAHAHAHA, era você qu

e eu aguardava — Ele se virou em direção a um barraco do p

orto e gargalhando notou ao seu redor que todos olhavam inc

rédulos — Estão olhando o que seus vagabundos de merda,

vão trabalhar porra.

Todos saíram do estado catatônico e voltaram ao seus s

erviços, passou-se um tempo e eu disse:

— Quem é você velho? — Eu disse isso como se ele fos

se alguém íntimo, mas foi totalmente sem querer — Está bêb

ado é? Pra ficar mudando desse jeito?

Ele rapidamente se virou em minha direção e a cara de

puto dele se restabeleceu, eu quase desmaiei, mas ele começo

u a rir de novo enquanto dizia:

— HAHAHAHAHAHAHAHA você caiu de novo seu

bundão — Ele gargalhava e alimentava minha raiva aos pouc

os, foi então que ele entrou no barraco que havia ido em direç

ão e voltou com uma garrafa esverdeada, ele à virou-a num g

ole longo, depois de alguns segundo tirou-a da boca — Não,


eu não bebo e nunca beberei — Ele deu mais um gole, o cheir

o de álcool vinha até onde eu estava — Meu nome é Goldenu,

mas pode me chamar de Goldenu, afinal é o meu nome.

Que porra de comentário foi esse? E outra, é ele que irá

me ajudar? Velho, alcoólatra, bipolar e com senso de humor h

orrível, tudo isso em menos de dez minutos. Ele foi entrando

novamente eu seu barraco de costas e disse:

— Vamos entrar, eu sei que tu tá me procurando — El

e disse isso enquanto se virava de costas pra mim e sacudia a

mão erguida em cima da cabeça me chamando, nisso ele bate

u a mão na parte de cima da porta onde havia a ponta de um

prego enorme — Ah inferno, prego filho da puta, eu sempre e

squeço dessa merda.

Ele pulou e deu um soco de vingança no prego, soco e

sse com coreografia digna de artista, ao voltar ao chão ele aba

ixou as duas mãos e a cabeça e começou a chorar. Eu estava i

ncrédulo.

Ele entrou na cabana, deitou-se no chão rolando de dor

e chorando igual uma criança. Eu ainda embasbacado digo:

— Por qual motivo você revidou contra um pregou se

u velho burro? — Falei isso indo cabana à dentro, ele não par
ava de rolar e chorar — Para de se mexer, lava esse machucad

o.

Ele parou do nada, se sentou no chão de madeira com

as pernas cruzadas, me olhou e gritou:

— Quem é você seu meliante bandido, saia da minha c

asa, eu vou te matar!

— Você acabou de me chamar pra entrar seu velho de

merda! — Ele se levantou rapidamente, arrancou um pedaço

de madeira da parede do barraco e bateu na minha cabeça, de

novo — Ai desgraçado, pra que fez isso seu velho doente!

— Ah é verdade, eu te convidei — Disse Goldenu enqu

anto tentava colocar o pedaço de madeira de volta na parede.

— Então pra que você me bateu de novo seu corno!

— Eu me lembrei de você, mas já tinha te batido, e outr

a, eu sabia que você ia me chamar de corno, isso me machuca

de verdade, não se diz isso a um velho homem — Ele começo

u a chorar de novo enquanto pegava uns pregos numa lata e

m cima de uma das várias prateleiras acima dele, mantendo a

ssim a tentativa de arrumar a parede — Como eu poderia evit

ar, eu nem sabia que ela não gostava de mim.


Fora o drama, ele disse que sabia o que eu ia dizer, assi

m como Tales, sabendo disso eu disse:

— Eu vim pois Tales Ileac disse que você me ajudaria

— Ele continuou pregando a tábua — Tinha um cara atrás de

mim e…

— Poupe-me — Ele disse e parou instantaneamente de

chorar, parecia uma troca de personalidade — Ele disse que v

ocê me chamaria de corno, eu já queria te bater mesmo antes

de te conhecer.

— Mas como ele sabia disso?

— E eu sei lá porra — Goldenu pregava a última parte

da tábua na parede, tapando assim o buraco — Mas eu sabia

que ele estava certo, já vivi muito pra não acreditar nas palav

ras dele.

— Então o que diabos eu tenho que fazer? — Isso saiu

meio alto, eu estava gritando novamente, logo abaixei minha

voz — Um cara da União veio atrás de mim e uma bola de fo

Goldenu correu de onde estava, veio até mim, colocou

a mão que não sangrava na minha boca, e com a mão que san

grava ele fez sinal de silêncio com o dedo indicador na frente


dos lábios. Ele olhou numa fresta que havia entre as madeira

no fundo do barraco e disse:

— Eles vieram aqui, estão no porto — Ele então tirou a

mão da minha boca devagar e falou baixinho — Não diga as f

antasias reais desse mundo em alto som jamais, eles tem ouvi

dos em todos os lugares.

— O que eu faço? Eu não tenho pra onde ir, não tem ni

nguém pra me ajudar — Ele se virou de costas, alongou-se, vi

rou-se novamente e sorriu pra mim.

De repente houve um barulho no mar, corri pra fresta

na parte de trás da cabana, a mesma que Goldenu olhou anter

iormente, lá vi um barraco com o símbolo do governo. Como

Goldenu viu eles de tão longe?

Depois de um tempo, as ondas cresciam gradativamen

te, até que veio uma onda maior e virou o barco da União, en

quanto isso Goldenu estava com as mãos levantadas balançan

do-as de um lado para o outro, enquanto fazia isso ele disse:

— Vamos lá, é a sua deixa — Goldenu me segurou pel

a gola e me arrastou para fora da cabana em direção ao mar

— Eu não disse o que você tinha que fazer, mas vou dizer ago

ra, você tem que morrer garoto.


Eu não acreditei no que estava ouvindo, noventa por c

ento do que Goldenu falou até agora era merda, mas isso par

ecia verdade, ele disse num tom amigável e verdadeiro, foi se

melhante a quando ele pediu pra eu não falar das reais fantas

ias deste mundo. Eu me contorcia de maneiras indescritíveis

para ele me soltar mas não conseguia sair.

— Você vai se sair bem, ele estava certo sobre o próxim

o — O próximo? Então eu faço parte de uma série de sacrifíci

os infantis agora? — Você precisa morrer, é só isso que precis

a saber.

Ele me arremessou no mar e numa sincronia perfeita u

ma onda gigante veio, me agarrou e me levou para o fundo.

— Boa sorte Télos — Gritou Goldenu dando uma garg

alhada.

Não sei como ele sabia meu nome, novamente, mas iss

o era o de menos agora.

Foi a última lembrança que tive dele, enquanto dizia is

so ele virava sua garrafa de cachaça e saudava com a mão san

grando. Eu comecei a me afogar, era óbvio que eu não sabia n

adar, eu comecei a me debater e já estava cansado, meus pul


mões estavam morrendo antes de mim, meus braços e pernas

não me obedeciam direito.

Eu não sei por qual motivo eu estava tentando viver, e

u sempre quis desaparecer, por qual motivo eu queria ficar vi

vo ali? Acho que era a curiosidade, não sei, não estava pensan

do direito.

Foi aí que comecei a apagar. E vi coisas que não sei o q

ue eram. Seria mais um sonho?

— Nós precisamos fazer algo senhor, o mundo será de

struído — Um subordinado dizia isso aos meus pés — Quais

são suas ordens.

Eu estava num palácio com diversas pessoas à minha v

olta e logo na frente tinha uma praia. Olhando para lá uma en

orme onda vinha engolindo tudo, toda a terra tremia e estava

se abaixando. A terra estava ficando abaixo do mar, enquanto

a água cobria tudo.

Eu movia meus braços tentando parar a água mas só c

onseguia proteger a mim mesmo, todas as outras pessoas co

migo estavam sendo arrastadas, foi quando cedi dentro do so

nho e na vida real também, seguindo assim a ajuda de Golde

nu, segundo a morte.


CAPÍTULO III:
AMANHECER E A NOITE

O sol foi a primeira coisa que vi e senti com meus olhos cerra

dos, o calor queimava minha visão. Pra mim era a prova que

eu não estava morto, isso foi a coisa que me veio à cabeça mai

s rápido desde que estou ali, apenas boiando, pois eu ainda es

tava na enorme dúvida entre querer ou não morrer.

Depois de um tempo notei algo, eu estava boiando no

meio do oceano, e mesmo que na lógica eu perdesse equilíbri

o eu não afundava. Eu me mexi de todas as maneiras possívei

s, mergulhei, girei e mesmo assim permanecia flutuando. Na

realidade eu poderia estar morto e aquilo poderia ser meu es

pírito boiando em alto mar, ou aquilo era algum lugar pós-m

orte. Não, não era isso, depois que notei mais duas coisas tive

certeza de que não era possível eu estar no pós-morte.

Primeiro: A água me rodeava de certa forma, eu sentia

como se ela fluísse envolta do meu corpo, contornando-o de c

erta forma.
Segundo: Eu estava me movendo muito rápido, como s

e estivesse num rio no meio do oceano, isso não fazia sentido,

era uma corrente rápida demais para estar ali.

Eu não fazia noção da minha velocidade, mas pra onde

é que eu estivesse sendo carregado eu chegaria em breve, ou

caso eu estivesse girando em círculos eu estaria prestes a criar

um enorme tornado no meio do oceano. Me senti como uma c

orrespondência sendo entregue.

Enquanto eu estava apenas aceitando a correnteza nu

m estado quase vegetativo, sem pensar em muita coisa pra nã

o surtar, ouvi um alto e assustador som ressoar. Era bizarro, e

u não conseguia identificar de onde vinha, parecia vir de todo

s os cantos, como se o próprio mar estivesse gritando, eu me e

rgui de uma maneira estranha, fiquei na vertical, como se esti

vesse de pé, mas só que com a cabeça para fora d’água.

Quando foquei meus olhos vi que aquela correnteza q

ue me levava estava indo rumo a uma grande tempestade che

ia de nuvens negras, raios e trovões piscando em flashes rápi

dos de luz, mas o que eu tinha ouvido não era um som de tro

vão, com certeza era algo diferente. Eu já havia ouvido históri

as quando era mais novo, tanto dos marinheiros da União qu


e vagavam fiscalizando o oceano, tanto dos piratas que eram

os criminosos que viviam nas ilhas e arquipélagos de Element

us e passeavam clandestinamente pelo Novo Continente. Am

bos diziam histórias sobre monstros e eu sabia que eram em s

ua maioria mentiras, mas depois do que eu vivi hoje, monstro

s não eram coisas tão distantes da verdade.

Eu morria de medo de tudo isso, mas com o tempo o

medo foi diminuindo cada vez mais, e eu notei que era babos

eira, porém haviam coisas que ainda me intrigavam.

Certa vez quando fui à praia numa das minhas visitas

aleatórias, enquanto os soldados do Exército e da Marinha da

União não estavam escoltando a costa, numa época onde vári

os piratas apareciam para ir em bares e comprar suprimentos,

se equipando para saquearem arquipélagos, ilhas menores e a

té navios ao redor de Elementus, eu vi alguns navios e barcos

chegarem destruídos, pessoas feridas e alguns até gritavam p

ara ninguém ir para o mar.

Isso deveria ser uma daquelas lendas antigas ou históri

as inventadas por pessoas loucas, dizia isso a mim mesmo na

quele momento. Eu sei que tinha me esquecido do medo, mas

agora ele havia voltado à tona, comecei a me sentir em agonia.


A água do mar era tão densa que ao olhar para baixo e

u não conseguia ver nada além de uma imensidão azul escura

e isso me fez entrar ainda mais em desespero.

Novamente aquele som assustador ecoou gradativame

nte, eu estava mais perto da tempestade e o pavor se intensifi

cou em mim.

Em meio a todo esse caos, algo se esclareceu e eu não s

abia se realmente queria entender aquilo. A origem daquele s

om tinha uma forma, uma coisa enorme, indescritivelmente g

rande…

Eu não sabia o que era aquilo, mas no meio das nuvens

escuras que brilhavam com trovões de vez em quando pareci

a haver uma montanha. Nesse ponto a chuva engrossou aind

a mais, os ventos traziam gotas d’água que me cegavam, mas

eu consegui distinguir o que era aquilo, e não era uma monta

nha. Era um tentáculo, eu havia visto lulas e polvos antes, aq

uilo com certeza era um tentáculo, porém gigantesco, estava

distante em meio a névoa e estava dobrado em forma de ond

a o que fazia parecer muito uma enorme montanha.

Com mais tempo vi mais detalhes, agora estava se mex

endo, se esticando para cima, deixando a face de baixo do ten


táculo à vista, e enquanto isso o outro tentáculo vinha descen

do de dentro das nuvens lá do alto. Esses tentáculos pareciam

vir de um ponto em comum e faziam um movimento ondulat

ório quase que sincronizado.

Eu parei de prestar atenção nos meus olhos quando a á

gua passou a ficar extremamente gelada, e quanto mais a corr

enteza me levava pra perto daquilo, mais frio ficava. Eu conse

guia ver mais claramente no decorrer do caminho o que parec

iam ser mini ilhas de gelo. Isso não fazia sentido, eu só ouvia

histórias de frios congelantes a extremo norte e sul do Novo

Continente, eu já estava perto do extremo norte ou sul?

Como se não bastasse de merdas acontecendo, a corren

teza parou e eu agora estava seguindo o fluxo das ondas, que

não eram fracas, vinham e voltavam me fazendo engolir quil

os de sal, de uma forma ou de outra eu estava temendo me ap

roximar daquele monstro. Mais uma vez ele berrou em meio

a névoa e agora estava infinitamente mais alto. Eu me assuste

i tanto com o barulho que gesticulei um pulo com meu corpo

dentro d’água e num movimento quase que irracional eu me i

mpulsionei para fora da água, e eu estava…


De pé, por cima da água. Ela fluía em torno dos meus

pés, da mesma maneira que estava em volta do meu corpo an

teriormente. As ondas me levantavam e abaixavam. Ao olhar

pra baixo enquanto eu estava de pé sobre a água eu via grand

es e pequenos peixes, baleias, tubarões, lulas e diversos outro

s animais nadando em grupo, como se estivessem em uma ún

ica rota, não fazia ideia se isso era algo natural. Como eu não

vi esse tanto de bicho antes? Talvez fosse apenas uma questão

de perspectiva, ou talvez eles realmente não estavam no alcan

ce dos meus olhos. Eles pareciam nadar em torno daquele pol

vo monstro gigantesco, como se estivesse criando uma socied

ade.

A tempestade começou a ficar ainda mais intensa, as o

ndas ficam cada vez maiores e eu em pé sobre elas estava ind

o cada vez mais alto. Mesmo que eu não saiba o motivo de co

mo consigo ficar em pé ali no meio do oceano me sinto um do

s heróis dos livros de história que li anos atrás.

Apesar de todos os problemas, tudo ainda parece nor

mal, na realidade desde que vi Tales e toda essa bizarrice aco

nteceu, pra mim tudo ainda parece normal, mesmo eu sabend

o que não é.
Fiquei tão perdido na minha mente que passei a apena

s sentir a água indo e voltando com as ondas, isso fez com qu

e eu me desequilibrasse, então estiquei os braços para o lado

para tentar manter o equilíbrio. Foi nessa confusão, onde eu p

arecia um idiota tentando não afundar que ela apareceu pra p

iorar tudo.

Eu não sabia quem era, sabia apenas o que meu olhos

me mostravam: era uma menina do meu tamanho, com uma r

oupa estranha e um olhar de extrema desconfiança.

Ela vinha caminhando de dentro da névoa, de onde o

monstro estava, a roupa dela parecia com a de guerreiras anti

gas dos livros de história da escola em que estudei. A blusa b

ranca colada, uma saia até o joelho e uma espécie de suspens

ório em formato de X em frente ao seu peito que passava por

cima dos ombros e se prendia num cinto, tanto a saia quanto

o suspensório eram feitas de tiras de couro.

O suspensório em X parecia servir para segurar uma h

aste de madeira, tipo um cajado, que estava preso junto às su

as costas, na horizontal, aparentava ser a arma que ela usava,

e era bem grande, talvez um pouco maior que ela.


Enquanto ela se aproximava via mais detalhes, ela par

ecia estar com uma cota de malha de ferro por baixo da blusa,

uma espécie de armadura. Além disso estava descalça, o que

não fazia muito sentido, tão protegida, mas descalça? Até eu t

inha umas botas velhas.

Eu não senti medo dela, apesar das roupas peculiares,

ela parecia comum, por aparentar ter minha idade e eu sentir

como se tivesse conhecido ela antes.

Meio confuso o que senti agora, ia totalmente contra o

que eu senti anteriormente, mas quando me dei conta de que

eu talvez conhecesse ela o medo veio como uma onda, eu sabi

a que nunca tinha visto ela antes, mas algo em mim gritava q

ue eu já a conhecia e que ela não era sinal de boa coisa.

Ela não era do bem. Não, não… ele não era do bem.

Ele?

Na minha cabeça a recordação era dela como ele, mas e

ra claramente uma garota, qual o sentido de uma coisa dessas?

Ela se aproximava cada vez mais.

A pele dela era clara, seu cabelo era loiro e seus olhos e

ram claros também, não identifiquei a cor exata.


A chuva agora me molhava mais que o oceano, uma le

gítima tempestade, em que pingos d’água machucam a pele e

os ventos cortam os olhos como se pequenas lâminas estivess

em nele. Minha percepção do espaço que já não é boa fica ain

da mais debilitada e eu me sinto desorientado.

Ela continuava a andar na minha direção, mas agora s

uas expressões desapareceram. De repente a garota parou, nu

ma distância razoável, então fechou os olhos, ergueu a mão es

querda e abriu os olhos novamente. Algo se repetiu ali diante

de mim, a mesma coisa que vi em Tales, aquela bola de energ

ia clara dentro da cabeça dele, só que agora era o oposto nela,

tinha a energia oposta e a cor também.

Os olhos dela estavam negros por completo e a escurid

ão começou a se intensificar cada vez mais dentro da cabeça d

ela a ponto da garota parecer um demônio, nisso uma voz res

soou na minha mente, uma voz feminina, a garota me encara

va e eu fazia o mesmo, a voz então disse:

— Vamos ver o que de especial há em você Yahweh.

Era ela dizendo, só que dentro da minha mente, eu tin

ha certeza disso.
Yahweh, esse nome era estranho pra mim, mas não era

ao mesmo tempo, o mesmo conceito de tudo que eu passei at

é agora: é e não é desconhecido. Eu não controlei mais meu co

rpo, era semelhante ao que vi no sonho hoje cedo antes de tu

do começar. Ou no encontro com o cara encapuzado da Uniã

o onde ele tentou me controlar, com isso eu apaguei de novo.

Sem sonhos desta vez, era como se eu tivesse realment

e morrido.

Acordei num barraco, deitado em uma cama que ficav

a encostada na parede, nessa parede havia uma janela, o sol ir

radiava forte, aparentava ser umas duas ou três da tarde. Eu

ouvia gritos alegres do lado de fora, pareciam crianças brinca

ndo.

Ao olhar melhor a minha volta notei que esse barraco e

ra feito de madeira e haviam algumas coisas jogadas por todo

o cômodo: móveis, roupas, armaduras, outras camas, colchõe

s de palha assim como o meu, notei também que estava tudo

meio empoeirado.

Eu nem levantei, estava com preguiça de mais mistério

s que eu sabia que estavam por vir, eu estava cansado disso t

udo. Eu fiquei encarando o teto por alguns segundos, peguei


o objeto que Tales me deu e analisei-o melhor. Era um cilindr

o de metal com um botão em uma das bases, no meio do cilin

dro havia uma espécie de seletor de números onde girando-o

s eu poderia colocar uma combinação de números de oito díg

itos. Eu brinquei por alguns minutos com o objeto, coloquei al

gumas combinações de números, mas nada aconteceu, conseq

uentemente eu fiquei bravo e guardei o que nomeei como: “ar

tefato de Tales” no bolso e voltei a não fazer nada.

Após um tempo eu ouvi umas pessoas se aproximand

o da porta, alguém bateu e uma voz feminina adulta pergunt

ou:

— Posso entrar?

Uma pessoa educada, será que eu poderia ficar tranqui

lo nesse lugar?

— Pode — Falei enquanto continuava deitado olhando

para o teto.

Quando ela entrou notei que era uma mulher que usav

a as mesmas roupas da menina que eu havia visto no oceano,

era uma versão maior dela, tinha cabelos encaracolados e pret

os, sua pele tinha um tom moreno escuro que parecia estar qu

eimada pelo sol.


— Como foi a viagem até aqui jovem Yahweh.

Como já havia notado ela parecia ser educada, não ia x

ingar ela nem nada, vou tratá-la do mesmo jeito, respondi diz

endo:

— Foi confusa pra caralho — Eu me sento na cama e co

loco a mão na cabeça — Por qual motivo eu vim parar aqui m

esmo? E por qual razão você e a garota que eu encontrei no m

ar me chamaram de Yahweh? Na real eu quero saber como tu

do isso que aconteceu é possível.

Ela então puxou um banquinho que estava jogado de l

ado junto com a bagunça, se sentou e disse:

— Eu sei que você deve estar cheio de dúvidas, é algo

comum, vou lhe explicar o que eu conseguir, mas antes precis

o que venha comigo, você não tem ideia alguma do que está o

correndo mas a maioria de nós também está do mesmo jeito.

Minhas dúvidas não serão respondidas, eu fico um po

uco puto com isso, mas é só a raiva normal de sempre, dá pra

lidar. Ela ainda sentada no banco, estende a mão e diz:

— Vamos, vou te mostrar uma coisa antes de te explica

r tudo — Ela se levanta ainda com a mão esticada, seguro nel


a e me levanto — Tem algo que preciso confirmar antes de sa

ciar suas dúvidas.

Ela saiu e eu a segui. Como antes eu estava meio que à

deriva do destino eu só poderia dizer sim e segui-la. Mas o lu

gar me intrigava, havia algo diferente, eu sentia como se um

pedaço meu estivesse por perto, como se meu braço estivesse

jogado por aí, mas eu ainda não o pudesse controlar. Eu não c

onseguia prestar atenção em nada do ambiente, eu vi que o m

ar estava próximo, haviam muitas árvores e todas as cabanas

eram semelhantes a que eu estava. Apenas reparei nisso, esta

va confuso, tentei me distrair um pouco.

— Qual seu nome, moça? — Eu ia avisar ela da sensaçã

o estranha que havia em mim, mas não sabia o nome dela.

— Swipkins, mas todos me chamam de Swip, eu sou u

ma das líderes da força desta ilha.

Era um puta nome bizarro, mas ok, isso era o de meno

s, eu ainda estava me sentindo estranho, ao ponto de esquece

r de falar pra ela da minha sensação estranha. Swip e eu segui

mos um caminho de pedras até o que parecia ser o centro da

vila que eu não conhecia. Aparentava estarmos numa ilha, pe

la praia próxima e também pela vegetação, as aulas que tive n


a escola não pareciam assim tão inúteis agora. Eu achava que

estávamos indo ao centro da vila pois com o tempo o número

de pessoas e comércios aumentava. Porém minha análise foi i

nterrompida quando vi o que ela queria me mostrar. Tudo pa

recia estar em volta daquela coisa, a vila inteira. Já que ela foi

a única a me responder perguntas até agora eu questionei:

— Swip, onde é essa ilha exatamente? É algum arquipé

lago perdido e isolado? Por que não vi ninguém do governo a

qui?

— Antes de eu responder suas perguntas me diga seu

nome, garoto.

— Meu nome é Télos.

Ela continuou caminhando em direção àquilo e respon

deu a minha pergunta anterior dizendo:

—Boa pergunta Télos, há uma explicação. Estamos seg

uros da União aqui, pode ficar calmo, essa ilha fica fora do rai

o de poder deles — Ela então tirou um mapa que tinha numa

bolsa de couro ao lado da cintura (semelhante a de Tales), era

o mapa de Elementus, eu havia estudado isso algumas vezes

e me lembrava vagamente das divisões de terras e das capitai

s da União. De cara notei que o mapa dela era diferente do qu


e aprendi na escola, havia quatro grandes ilhas, como se uma

estivesse em cada ponto do mapa (noroeste, nordeste, sudeste

e sudoeste) e diversas ilhas menores ao redor do globo — Nó

s estamos nessa ilha aqui — Ela aponta pra ilha grande no ca

nto inferior esquerdo do mapa — A União não vem aqui pelo

monstro que você viu logo antes de chegar, por algum motiv

o ele protege e esconde essa ilha a centenas de anos.

Esclarecedor eu diria, mas eu não estava brincando qu

ando disse que iria aproveitar a boa vontade de Swip para res

ponder perguntas:

— E essas outras ilhas? — Apontei para as outras três i

lhas maiores, e para as diversas outras ilhas menores — Com

o eu nunca ouvi falar delas?

Ela guardou o mapa e voltamos a andar enquanto ela

dizia:

— Você e todos que vivem no Novo Continente não te

m esse conhecimento, pois a União restringiu essa informação

a todas as pessoas. Ela tem tolerância zero a piratas que se ap

roximam destas três ilhas maiores, exceto desta que estamos

que eles não tem poder sobre por causa do Kosish, aquela lul
a gigante que você viu e as outras ilhas menores que desde se

mpre são dominadas por piratas ou outros governos menores.

Outro nome bizarro, levemente familiar, porém não co

mo Kosish e sim Koshi, não entendi o motivo. Isso foi um pen

samento rápido, pois logo a garota bizarra que me apagou lá

no meio do oceano me veio à mente.

— E quem era a garota que me desacordou magicamen

te e me trouxe até aqui?

Ela sorriu tão largamente que deu pra ver pela lateral

de seu rosto, era a única forma de eu notar isso já que estava

do lado dela e ela era bem mais alta que eu, então Swip disse:

— O nome dela é Nix, ela também foi enviada do Nov

o Continente quando era bebê… — Swip parou de andar e eu

fiz o mesmo, ela apontou para aquilo que andávamos em dire

ção — Enfim, vamos ao ponto do motivo disso tudo.

Voltamos o foco àquela coisa, era uma pedra quadrada

e enorme, mais ou menos da altura do cara da União que tent

ou me levar, só que um pouco maior. A pedra parecia mármo

re, era de um branco fosco totalmente limpo, só havia visto is

so nas bibliotecas velhas da cidade em que vivo.


Essa sensação que tenho toda vez que eu sei que nunca

vi algo na vida, mas eu acho que na verdade já vi, vou nomea

r de déjà vu. Para poder ilustrar melhor quando isso acontece

Eu senti o déjà vu quando vi a pedra ali. Era comum,

mas não era. Eu comecei a girar em torno da pedra enquanto

Swip permanecia calada e parada me observando de braços c

ruzados.

Numa das faces desse enorme cubo havia uma coisa es

crita, era extremamente ilegível, parecia outra língua, mas no

final havia um detalhe, algo que parecia o nome de alguém, o

nome do autor do que estava escrito ali. Eu sabia disso pois is

so era comum em todo tipo de texto, poema ou história, poré

m o nome estava riscado e restava apenas o sobrenome: Yah

weh.

Era a única coisa escrita em Rourian naquela pedra. En

quanto eu fazia essa análise Swip disse:

— Bem, Goldenu nos disse que você é um importante

Yahweh, e essa pedra é sagrada em nossa vila, ela é cultuada

e passada como algo importante por gerações, sabemos que u


m Yahweh a moldou por ter seu sobrenome escrito ali, e o qu

e quer que ela seja nós devemos proteger.

Eu não entendi o real motivo daquela pedra ser import

ante e expressei isso dizendo:

— Mas não é só uma pedra?

Ela como sempre educada me respondeu:

— Teoricamente sim, mas é da nossa religião, além de

haver peculiaridades com essa pedra: Ela é indestrutível, tem

o risco no nome do autor, o sobrenome do autor é Yahweh e

também já salvou nosso povo diversas vezes. Além disso Gol

denu também protege essa pedra e tem o mesmo pensamento

que o nosso, ele é alguém muito sábio pra se jogar a confiança

fora — Ela falava de Goldenu com brilho nos olhos — Nosso

povo esteve procurando por um dos Yahweh importante há

centenas de anos para poder nos guiar, pois é a única coisa qu

e nos resta para nos livrarmos da União e segundo nossos anc

iãos essa pedra mostra o caminho para a liberdade.

Sem motivo ou razão aparente ela citou a União, na ho

ra eu achava que era loucura, mas depois de pensar por algun

s segundos eu entendi a importância dessa suposta liberdade.

O governo é totalmente agressivo, faz coisas maldosas com as


pessoas, como aquilo que presenciei na cidade Negra: Um bar

sendo inteiramente queimado por um membro da União; ign

ora o sofrimento de milhões de pessoas e ainda oprime aquel

es que são contra ela. Seria o fim da União o caminho para a li

berdade? Faz um pouco de sentido. Swip então completou:

— Desde sempre nossos anciãos lutaram contra a Uniã

o, contra a escravidão em que eles nos colocam, tudo que nós

acreditamos vai contra os ideais da União, da nossa cultura a

nossa religião, nós cremos na divindade que nos protege e me

smo essa deidade em ausência há coisas deixadas por ele, e v

ocê e essa escritura na pedra podem estar relacionados a essa

s coisas e consequentemente a nossa libertação.

Eu não entendi muito bem o que ela quis dizer, mas pe

lo que eu entendi faz sentido. Mesmo eu sendo sequestrado p

or um bando de religiosos que acham que eu consigo entende

r o que uma pedra mágica diz pra poder ajudá-los a concretiz

ar sua libertação.

Mesmo que não fizesse sentido eles não parecem ser m

aus, até agora o único que me tratou estranho foi a porra do

Goldenu, e mesmo assim ele me ajudou, até mesmo Tales po


de ser daqui também, a União nunca ligou pra mim mesmo, n

ão faz sentido eu me rebelar contra Swip e seu povo.

—Antes de tudo, como Goldenu sabe que eu sou dessa

família?

Enquanto se aproximava de mim olhando para a rocha

ela diz:

— Ele disse que alguém de confiança o informou anos

atrás, e como Goldenu é um grande devoto a nossa cultura do

s Kosishians, nós confiamos nele quando nos contou de você.

Então era assim que eles se chamavam, Kosishians, pro

vavelmente pelo monstro Kosish, aquela coisa assustadora re

almente era algo bom para aquelas pessoas.

Mesmo que eu quisesse ajudar eu não fazia ideia de co

mo fazer isso, fui sincero mais uma vez:

— Swip, eu não faço ideia do que seja isso, ou de como

eu e essa pedra somos a liberdade de seu povo.

Suavemente o meu redor mudou e eu não sei por quan

to tempo havia mudado, só percebi agora. Tudo estava parad

o, como se só eu fosse um ser vivo ali, eu me sentia involunta

riamente naquele equilíbrio do sonho e do bar, das duas força

s, vida e morte, sol e lua, luz e sombra. Notei que o ambiente


à minha volta não estava parado, mas sim se passava muito d

evagar, e essa situação me fez ter outro déjà vu, eu sabia o qu

e fazer, só não sabia o porquê disso.

Eu tinha que ler aquela pedra.

Não, não era só uma pedra comum, ela tinha um nome.

Eu sabia o nome, estava na ponta da língua.

B…Be…Bed, o nome da pedra era Bed.

Pra eu ler eu precisava equilibrar aquelas forças nos m

eus olhos, juntar e balancear a mesma energia que senti antes,

assim o fiz, e aquela escrita parecia uma máscara acima das le

tras em Rourian, percebendo isso eu li aquelas palavras e as

memorizei quase que sobrenaturalmente.

Eu voltei pra realidade, o tempo voltou a passar e entã

o eu comecei a dizer à Swip o que eu havia lido, ela estava me

olhando intensamente com os olhos bem abertos depois de o

uvir o que eu disse, me assustou um pouco mas ainda assim e

u voltei os meus olhos para a pedra e a escritura estava desco

nhecida novamente.

Swip parecia emocionada, e dizia várias vezes pra eu p

rovar que o que eu havia lido ali era verdade, que realmente

havia algo importante escrito ali naquela rocha, mas não deu
tempo de eu fazer nada. Eu voltei a sentir aquilo: alguma part

e de mim estava ali na ilha, assim como antes, e esse estado m

e fez inconscientemente ir em direção a pedra Bed.

Era a pedra, era ela a parte que faltava em mim, isso fa

zia eu querer me aproximar cada vez mais dela, até chegar ao

ponto em que eu a toquei, esticando o braço e estendendo os

dedos da minha mão.

Foi aí que vi apenas uma enorme luz.

Um grande poder.

A pedra explodiu, como se um pequeno pedaço do sol

tivesse saído de lá de dentro, eu voei para trás, mas antes que

eu começasse a subir Swip me agarrou pela parte de trás da g

ola da minha camisa e me jogou no chão, ela fez isso tão rápi

do que quase não percebi que era ela. Eu bati as costas no chã

o de pedras ladrilhadas e não senti dor, me sentia estranhame

nte extasiado, mas consegui me levantar e essa sensação se int

ensificou, agora com uma dor fina e crescente em meu estôma

go.

Mesmo que Swip tenha me ajudado rápido, era tarde,

a explosão deixou destroços da pedra em todos os lugares, ap

enas a face com a escritura estava intacta. Dentro da pedra Be


d, debaixo dos destroços, da fumaça e poeira estavam lá soter

rados os papéis. Como assim papéis? Não exatamente só pap

éis, pareciam haver livros e pergaminhos também. Um pouco

decepcionante, eu inconscientemente estava vendo isso com a

energia balanceada atrás dos olhos e tudo corria devagar.

Não senti nada, quando voltei à mim vi que novament

e eu estava morto.

Uma dor intensa surgiu no meu estômago e ia até a col

una, ao olhar vi um enorme pedaço de mármore da Bed me e

mpalando. As pessoas à volta gritavam e corriam e eu ainda

de pé com uma pedra no estômago. Swip pareceu ter notado

minha situação, veio correndo em minha direção e me seguro

u pra eu não cair, eu olhei nos olhos dela e notei que ela esta

va assustada. Mesmo com a visão turva consegui notar isso.

Junto a isso tudo começou a ficar muito calmo e silenci

oso e eu finalmente fui descansar, estava muito cansado de tu

do que havia ocorrido, talvez meu destino fosse realmente a

morte e ser alguém especial foi apenas um breve sonho que n

unca irá se realizar.


CAPÍTULO IV:
RIVAIS DO PASSADO

E
SCRITURAS DENTRO DA PEDRA BED
O Deus Yahweh criou dois filhos para que um pudesse cuida

r da luz das coisas e o outro da escuridão das coisas. Milhões

de anos após a criação de todas as coisas, um casal composto

por Puer e Puella tiveram dois filhos, Noctem e Sero.

Noctem era o filho mais velho, pouco sentimental e ext

remamente rígido com suas condutas, já Sero era o filho mais

novo, pouco dedicado, sentimental e bem flexível. A infância

dos irmãos foi pacífica e mesmo com suas diferenças ambos s

e compreendiam e se amavam como irmãos. Algum tempo se

passou após isso e Puer se tornou um grande líder na sua regi

ão, tendo um dom natural para comandar e organizar todos e

m seu território.

Mesmo passando por eras de paz enquanto Puer gover

nou grande parte da humanidade, sem assassinatos e guerras


Yahweh sabia das desgraças que estavam por vir, ciente de q

ue em algum dia tudo daria certo e se resolveria ele tomou pa

ra si o destino.

Yahweh concebeu visões a Puella, mostrando primeira

mente seu nome, e que ele é o Deus daquele mundo, em segu

ida uma visão, visão essa que se perdeu na vastidão do desco

nhecido.

Tudo um dia vai se resolver, independente da maneira e da r

eação, dentro do infinito tudo sempre terá um fim.

A visão enviada para a futura mãe de deidades, na inte

nção de manter o ciclo eterno em que tudo direciona para paz,

A Menina vê o que está à frente de seu tempo:

O seu grande amor no fim de sua vida, caído aos pés de seu descend

entes.

Um jovem líder que sucumbiu ao amor ao invés do ódio.

Uma garota soberana de pé acima de todos.

Partindo daqui a escrita é de quem guardou essas escrituras e

mesmo que eu não queira guardar essas informações da Era

Amissa alguém acima de mim quer e eu respeito sua vontade

e sabedoria. Algumas partes estão ocultas e subjetivas pois sã


o estruturas muito antigas. As informações da Era Amissa atu

almente só estão em minha mente e nas pedras Bed, eu não e

ntendo a razão dele querer manter tal desgraça existindo.

Para aproveitar que isso não vai ser destruído irei deix

ar algumas informações extras escritas aqui, esses papéis e do

cumentos não podem ser destruídos e eu estou escrevendo no

pequeno espaço que resta, não posso me alongar muito.

Eu tentei ao máximo manter o equilíbrio neste mundo,

tentei consertar o caos que foi causado, mas nunca abdiquei d

e mostrar aos humanos que há dons em suas veias, a maioria

de nós possui essas peculiaridades, se por algum motivo a esc

uridão conseguiu o poder, lutem contra ela e busquem a liber

dade com sua força.

Isso existe em nós por atos dos ancestrais, deidades ent

raram em contato com os humanos e indiretamente os conced

eram essas habilidades, existem duas polaridades dessa força:

Luz e Sombra, tudo parte desse princípio.

Essas energias permitem que sejam controlados os qua

tro elementos básicos da natureza: terra, água, fogo e ar.

Quem descende dos primogênitos que receberam esses

poderes possuem esses dons. Há habilidades distintas entre a


luz e a escuridão, duas para cada, são complexas demais para

eu explicar aqui, apenas busquem-nas não são difíceis de dist

inguir.

Todos os descendentes de ambas as polaridades da for

ça podem dominar os elementos, se esforcem e vão aprender,

morram lutando com eles e irão dominá-los.

Descendentes comuns podem dominar no máximo doi

s elementos, até o momento só eu consigo controlar os quatro,

e suponho que talvez até um quinto elemento. Imagino també

m que minha alma ressoará como luz e escuridão. Os portado

res da minha alma também poderão usar os quatro elementos.

Eu vou deixar informações extras em mais documento

s comuns, mas duvido que durem com o tempo.

Yahweh, .
ELEMENTUS - ANO 518
Já havia algumas horas desde que eu havia acordado, mas eu

ainda estava muito cansado pra fazer qualquer coisa, eu apen

as fiquei ali no que parecia ser um dormitório de doentes, em

que haviam diversas camas de madeira com colchões de palh

a. O lugar era feito de madeira como todas as casas da vila, ha

viam duas fileiras de camas, todas com as cabeceiras encostad

as nas duas paredes opostas formando um corredor imaginár

io no meio do cômodo.

Não havia mais ninguém ali, apenas eu deitado numa

das camas que ficava encostada na parede oposta da parede q

ue estava a porta, ficando mais pro meio do dormitório.

Eu até achava a solidão algo bom, mas após um tempo

começo a me sentir vazio e muito mal. Num milagre Swip ap

arece entrando com um caminhão no dormitório, ela era bem

forte e parecia ser agressiva nas suas expressões. Ela para seu

s movimentos bruscos e vem calmamente em minha direção s

e sentando ao pé da minha cama.

Antes dela falar qualquer coisa eu olhei pra minha barr

iga e percebi que ela estava enfaixada, coloquei a mão e senti


que estava normal, doía de certa forma, mas não havia um bu

raco nos meus órgãos, isso me espantou. Fora as perguntas ge

néricas sobre minha saúde e como eu estou, ela passa a me co

ntar tudo o que estava nos documentos dentro da pedra, que

graças a mim eles passaram a chamar de Bed; logo questione

i:

— Mas eu não me lembro de ter dito o nome da pedra,

como vocês sabem?

Ela deu um sorriso de canto de boca e disse:

— Momentos antes de apagar você ficava repetindo qu

e o nome da pedra era Bed, você disse a mesma coisa alguma

s vezes quando estava aqui descansando.

Eu fiquei com um pouco de medo sobre o que mais eu

poderia ter dito, ainda mais com a minha boca suja, mas resol

vi não pensar nisso. Comecei a sentir dores no abdômen, fiqu

ei feliz não era aquele ferimento grave, logo perguntei à Swip:

— Antes das perguntas sobre as escrituras de dentro d

a Bed, como eu ainda estou vivo? Eu lembro de ter um burac

o próximo ao meu estômago, não seria possível eu estar vivo,

certo?

Ela consentiu com a cabeça e disse:


— Como quem escreveu aqueles documentos disse, há

dons em alguns de nós, nosso povo tinha conhecimento desse

s dons, mas não sabíamos das polarizações das energias, luz e

sombra, mesmo que isso estivesse à mostra para nós desde se

mpre.

Finalmente respostas, ainda não totalmente esclareced

oras, mas respostas, eu não perderia a oportunidade de pergu

ntar mais:

— Como assim dons?

Ela começou a gesticular tentando deixar a explicação

mais clara enquanto dizia:

— Bem, nós nascemos com eles, as pessoas apenas des

envolvem com o tempo e após isso pode-se visualizar esse po

der com meditações, com isso alguns veem luz e outros uma

sombra intensa.

Eu me lembrei na hora sobre a minha experiência, eu v

ia ambas as energias, eu pensei em perguntar ela, mas isso po

deria me deixar com uma imagem má, já que ela não disse qu

e alguns viam ambas as forças, logo questionei ainda mais:

— E quais são essas habilidades?

Ela continuava gesticulando e dizendo:


— Como estava escrito, todos nós controlamos no máx

imo dois elementos, quais serão varia de pessoa pra pessoa —

Ela então se ergueu da cama — Além disso há outras quatro

habilidades que também são citados nos documentos, chama

dos de: Aura, Vitae, Posse e Limbo — Ela se aproximou mais

de mim — Limbo permite que você vá de um ponto ao outro

pelas sombras, a habilidade Aura permite o portador implant

ar sentimentos e sensações a uma ou várias pessoas ao seu re

dor, Vitae foi a habilidade usada por diversos de nossos guer

reiros para curar seus ferimentos, a cura é realizada pela acele

ração da regeneração de suas células, o que faz com que você

fique esgotado por um tempo, Posse é a habilidade usada par

a ter um controle da mente de outras pessoas, essa varia muit

o pela quantidade de treinamento e nível de poder de quem c

ontrola e de quem é controlado.

Eu logo associei alguns desses poderes as coisas que eu

vi, Tales usando a Aura fazendo eu me sentir mal impedindo-

me de segui-lo, Goldenu com certo controle sobre a água, o ca

ra do governo que tentou me levar controlando a minha ment

e usando a Posse.
Isso foi só o que eu lembrei de cara, havia muito mais,

eu parecia estar cego, sentia como se tudo estivesse bem na m

inha cara. Swip voltou a se sentar e continuou a dizer:

— É como disse, estava bem explícito a divisão de ener

gias entre luz e sombra e nós não notamos isso — Swip fez u

ma leve expressão de decepção — Quem possui Aura e Vitae

vê a luz em seu poder, quem possui Posse e Limbo vê a escuri

dão, quem controla um par dessas habilidades não controla o

outro par.

— Muito confuso pra minha cabeça, ainda não digeri

muito bem essa ideia de poderes.

— Eu posso te ajudar com isso fazendo você se lembra

r de algumas coisas — Ela apontou pra janela em direção ao c

éu — Sabe o dirigível que ronda a cidade Negra?

Eu tinha vagas lembranças desse dirigível, e agora que

ela disse era mais chamativo do que parecia. O dirigível tinha

uma enorme base feita de pano abaixo da cabine em forma de

um enorme disco, disco esse que cria uma enorme sombra po

r onde passa na cidade Negra, por qual motivo aquilo parecia

normal?
—Limbo permite que você viaje pela sombra e Posse se

intensifica com a sombra, a União mantém um desses dirigíve

is em cada uma das grandes cidades para poder manter o con

trole sobre qualquer conflito ou desavença que envolva coisas

que eles queiram apagar, fazendo as pessoas se esquecerem d

e grande parte das coisas estranhas que acontecem — Ela tira

uma nota do bolso me mostra e diz — Goldenu nos disse que

houve uma explosão e houveram mortes, mas não saiu em ne

nhum jornal e ninguém comentou isso.

Agora eu me sentia nascendo novamente, eu não estav

a vendo nada da realidade, todas as ideias e pensamentos que

tive foram manipulados pela União, eu realmente entendi e e

ra totalmente verdade, logo perguntei:

— Então tudo que a União não quer que seja de conhec

imento das pessoas faz com que eles usem o dirigível para cri

ar essa sombra e usando Limbo e Posse chegando rapidament

e onde querem e apagam a memória das pessoas?

Swip balançou a cabeça em afirmação.

Parecia sobrenatural, mas não era, eu me senti sufocad

o e me lembrei de trechos e coisas que não me lembrava de te

r visto e agora eu sabia que havia visto.


Swip agora havia mudado de expressão, ela começou a

falar num tom mais baixo e sem gesticular tanto:

— Alguns anos atrás um grupo de nossos guerreiros fo

i em direção a cidade Negra em busca de informações sobre c

omo entrar nas outras ilhas na intenção de explorá-las, o grup

o tinha quatro pessoas sendo que cada um era mestre num el

emento específico, eles não voltaram até hoje e coincidenteme

nte ou não na época houve um grande incidente que destruiu

parte do congresso da União — Seus olhos começaram a lacri

mejar e ela secou as lágrimas — Uma delas estava grávida, e

mesmo que fizéssemos de tudo para ela não ir ela foi, ela era

habilidosa demais pra não ir.

Eu estava com pena dela, não queria força-la a ter essa

lembranças, imediatamente eu falei:

— Não precisa falar se não quiser — Me sento ao lado

dela e coloco a mão em seu ombro — Imagino que deve ser di

fícil falar sobre isso, deviam ser seus amigos ou até família, n

ão precisa se forçar a isso. Ah, e outra, eu me lembro sim de u

m incidente no congresso, eu era bem mais novo, devia ter un

s oito anos. Pelo que me lembro das notícias esse incidente nã

o envolvia em nada pessoas contra a União, foi dito que houv


e um acidente que causou um incêndio e destruiu uma parte

do congresso, mas pelo que já entendi nada é como realment

e é.

Swip disse em tom de afirmação:

— É exatamente assim que eles limpam a sujeira, deve

ser assim desde sempre.

A conversa fluía bem, eu resolvi confiar nela e tentar ti

rar mais uma dúvida:

— Eu queria mencionar alguém pra você, uma pessoa

me ajudou a chegar até aqui, antes de Goldenu.

Swip se alongou sentada, esticou as costas, contorceu d

e leve o pescoço, estalou os dedos das mãos e enquanto isso d

isse:

— Mesmo que não haja mais infiltrados nossos no Nov

o Continente para poder te trazer aqui, diga, talvez eu possa t

e ajudar.

Ela respirava fundo, não parecia estar totalmente resta

urada da tristeza que passou minutos atrás, porém ela se man

tinha estável. Como citei antes acho que iria confiar nela, mes

mo que estivesse com receio antes, agora parecíamos mais lig

ados, as palavras saíram leves da minha boca:


— Tales Ileac, um homem alto de cabelos longos com u

m corte no olho esquerdo, parece controlar o vento e talvez te

rra, é o máximo que sei sobre ele.

— Hum, Tales — Após alguns segundos ela coçou a ca

beça, mas enfim respondeu — Não me recordo de ninguém i

mportante com esse nome, o que ele fez?

— Eu morava na rua e…

Num som estrondoso a porta do dormitório se abriu,

Nix a menina que me tirou do meio do oceano veio correndo

ofegante, nem me olhou, apenas foi direto para Swip e disse:

— Swip, os anciãos acharam algumas informações extr

as naqueles documentos — Swip se levantou e começou a seg

uir Nix — Eles conseguiram decifrar alguns dos papéis deixa

dos pelo escritor, aqueles que não são indestrutíveis.

Swip respondeu com uma voz totalmente diferente da

que falava comigo:

— Mas o escritor não havia dito que os documentos nã

o indestrutíveis seriam destruídos pelo tempo?

Nix começou a ofegar menos, respondeu mais devagar:

— Sim senhora, mas há um trecho que está legível, a m

aioria dos papéis não indestrutíveis realmente está deteriorad


o — Nix tirou um pergaminho que ficava dentro da sua bols

a de couro, bolsa essa semelhante a de Swip, abriu-o e mostro

u-o para Swip — Os anciões estão convocando os membros d

o alto escalão para uma reunião.

Swip se levantou, parecia chateada na realidade com e

ssa reunião, ela perguntou a Nix:

— O que há de importante nesses documentos extras p

ara que os anciões convoquem mais uma reunião?

— Eu não fui informada por completo, mas ouvi algu

mas coisas por alto, na parte que ouvi eles citaram um perigo

so rei antigo chamado Tales, que iniciou a destruição do mun

do, mas felizmente foi parado pelo escritor, porém seus filhos

possivelmente compartilham da mesma vontade do pai e con

tinuariam seu plano de caos, os anciãos querem essa reunião

para procurarmos em nossos registros históricos o nome de T

ales e seus possíveis filhos.

Era muito azar o meu. Não ter pais, ser salvo por um c

ara que tem o mesmo nome de um vilão para os anciãos do p

ovo que me salvou, povo esse que tem uma religião forte. Tal

es era do mau? Pensando agora tudo dava a entender que eu

era seu filho, se eu não tivesse dito nada a Swip eu estaria seg
uro, merda, até quando as coisas estavam dando certo as cois

as estavam dando errado.

Swip estava indo na direção da porta e do nada parou

de andar, ela já estava de costas pra mim virou-se e pergunto

u:

— Quem são seus pais Télos?

Era óbvio, ela duvidava de mim agora, não tinha como

eu mentir mais, a única coisa que me restava era dizer o resto

da verdade:

— Eu não os conheço, cresci em um orfanato e na rua.

— Entendi, estranho essas coincidências, mas não se pr

eocupe e fique a vontade Télos, vou para a reunião com os an

ciãos, qualquer outra dúvida sobre as habilidades pergunte a

Nix.

Nix olhou para Swip numa expressão de agonia, como

se tomar conta de mim fosse o pior dos infernos, logo ela que

stionou:

— Mas senhora eu tenho meus afazeres.

Swip retrucou rapidamente enquanto andava em direç

ão à porta:

— Está dispensada, tome conta do Télos.


Swip abriu a porta e saiu do dormitório, quando voltei

os olhos para Nix notei que ela me olhava em tom de desprez

o, nisso ela se sentou numa cama em frente a minha, posta qu

ase que exatamente na minha frente. Ela me encarava e eu a e

ncarava, ficamos nisso por alguns segundos, do mesmo jeito

de como nós nos vimos pela primeira vez, eu me cansei disso

e me deitei olhando pro teto dizendo:

— Pode ir para seus afazeres se quiser, eu não quero se

r um incômodo.

— As ordens são da Swip, você não tem autoridade ma

ior que a dela.

Olha audácia dessa filha da puta, tentei aliviar a barra

dela e ela me diz isso, tô puto agora, sinto uma raiva subir à

minha cabeça, fez eu me esquecer dos problemas que tinha cr

iado ao dizer o nome Tales à Swip, isso se intensificou quand

o recordei minha dúvida sobre Nix, lembrando dela como ho

mem, tendo déjà vu dela como homem, relevei isso, mas a me

mória ficou guardada em minha mente, logo eu falei:

— Vamos fazer algo então, me ajude aqui — Ergui a m

ão pra ela me ajudar — O que tem de interessante pra fazer a


qui? — Ela se levantou e segurou minha mão, quando fiz forç

a pra levantar algo ocorreu.

Ela ficou parada segurando a minha mão olhando para

cima com os olhos virados, totalmente brancos e começou a d

izer o que pareciam ser dois nomes: Tenebris, Noctem. Ficou

repetindo por alguns segundos e depois parou, até que volto

u a si, largou minha mão, meu braço foi solto, eu estava estarr

ecido, esqueci de controlar meu braço, ela se afastou assustad

a e começou a sacudir a mão que me tocou dizendo:

— É você, você matou eles, o esquadrão de busca a qu

atro anos atrás.

— Que? Você tem um surto e volta do nada dizendo es

sas merdas, nem tem como eu ter feito isso, eu não conhecia e

ssas pessoas.

— Não, não, você teve as memórias apagadas pela Uni

ão, você não se lembra mas matou eles.

Ela segurou minha mão com as duas mãos dela e apert

ou e eu acho que vi o que ela viu. Haviam quatro pessoas, ela

s estavam ao meu redor: uma mulher grávida com a barriga n

ão muito grande, três homens, um baixo e outros dois altos, o

s três eram bem fortes, o lugar era escuro e não sabia distingu
ir qual era. Os quatro reposicionaram ficando na minha frente,

pareciam me proteger, enquanto isso chamas vieram e consu

miram tudo, até mesmo eu. Eu sabia que eram minhas memó

rias, não pareciam vir do nada com as outras, era eu, uma vis

ão em primeira pessoa da minha perspectiva.

Eu voltei ao normal e notei que Nix começou a falar so

zinha, andando de um lado pro outro com as mãos apertando

a cabeça dizendo:

— Eu não sei como nem porquê, mas eu vejo essas cois

as, é como se fossem coisas que outras pessoas viram.

Era exatamente como eu, ela descreveu exatamente co

mo acontece, uma identificação com ela me fez tentar ajudá-la:

— Nix se acalma eu também passo por isso, vejo essas

coisas, talvez isso que vimos ao nos tocarmos seja a prova que

você não está sozinha nisso, eu não falei nada até agora, mas

coisas assim acontecem sempre comigo.

— Cala a porra da boca! Droga xinguei — Ela colocou

as duas mão sobre a boca, mas logo tirou e continuou a dizer

— Você matou o esquadrão que estava no Novo Continente.

— Você está louca, eu não fiz nada!


Ela tirou o cajado que estava presa em suas costas e fic

ou de prontidão dizendo:

— Você virá comigo até a reunião dos anciãos agora, el

es sempre ouvem sobre minhas visões, vão acreditar que você

é o assassino deles.

Eu estava com medo óbvio, mas como antes com Gold

enu eu não baixaria minha voz para aquilo, eu não estava err

ado, eu tentei dizer o mais firme possível:

— Nix você não parece bem, guarda esse cajado por fa

vor — disse isso escorado na cabeceira da cama com os dois b

raços erguidos — Eu não fiz nada, eu não faria algo assim, ess

a visão não diz nada sobre meus atos, eu tinha apenas oito an

os nessa época, como eu faria isso?

— Você fez com que toda essa merda ocorresse, perceb

i isso desde o momento que te vi no mar, você vai para a reun

ião comigo agora.

Ela pareceu se acalmar, abaixou a arma e prendeu-a no

vamente nas costas, eu relaxei o corpo novamente, me sentei

como estava, Nix se manteve de pé e disse:

— Como assim você também vê essas coisas?


— Eu tenho esses sonhos e visões desde sempre, e a se

nsação é exatamente a mesma que você descreveu.

— Eu sabia que já tinha te visto, você é ela, você apago

u tudo da história, você é a mesma que me matou no passado

a mesma que…

Ela me via como ela, era estranho mas eu entendia, eu

via ela como ele.

Depois que parei de pensar nisso voltei meus olhos aos

olhos dela, estavam numa mistura de expressões entre raiva e

medo. Mas ali as lembranças se juntaram, quando estávamos

no mar, a energia escura em sua cabeça era familiar, era igual

a que tinha visto em meu sonho, sonho que tive antes de tudo

começar, na manhã que Tales me chamou pra comer. O olhar

dela era o mesmo do assassino da minha mãe, enquanto eu vi

a como aquela garota, mãe que me ensinava a curar minha m

ão, usar o Vitae, aquilo era real. Por isso ela me via como mul

her, as visões que eu tive eram sob os olhos de uma garota, e

por isso que eu via Nix como homem, ela tinha a mesma ener

gia escura e o mesmo olhar daquele assassino.

Ela me via como mau e eu via ela como mau, talvez tiv

éssemos nascido para sermos rivais, muito simples pra eu ace


itar, ela não fez nada à mim nem eu fiz nada à ela, não tínham

os que brigar.

Agora que eu estava ali ligando todos os pontos vi que

Nix falou coisas que se encaixavam com o que eu dizia, e perc

ebi que na verdade tudo aquilo dos sonhos e visões realmente

tinha acontecido, não com nós, mas com outras pessoas, pess

oas do passado.
CAPÍTULO V:
VERDADE E CONFUSÃO

Era como se tudo até agora se resumisse a isso, eu não estive

vivendo somente a minha vida. Por fora, na frente de Nix, en

quanto penso nisso eu estou ok, mas por dentro eu estou: put

a que pariu que porra é essa. Como eu havia pensado antes, e

ssa sensação é como déjà vu, coisas que eu sabia que não con

hecia, mas algo dentro de mim as conhecia, e esse algo possiv

elmente eram outras pessoas, outras vidas e aos poucos minh

a vida inteira e suas bizarrices poderiam ser explicadas a part

ir disso.

Nix gritava muito e eu estava em estado de choque, po

is essas outras memórias na minha cabeça estão ali, mas eu nã

o estou cem por cento no controle delas. Parece quando se te

m um sonho e depois não se lembra, você sabe o que sonhou,

lembra de alguns trechos, mas não se lembra de tudo com exa

tidão.
Mesmo que eu ainda estivesse meio tonto comecei a re

capitular tudo que havia acontecido desde o começo o caos e

m minha vida, havia muitas respostas agora, eu sou burro o b

astante para continuar confuso mesmo com essas respostas, e

ntão vou ligar todos os pontos logo:

Tales com certeza era alguém poderoso, isso é um fato,

ele sabia coisas que eu iria dizer, adivinhou coisas que iriam a

contecer mesmo eu não sabendo como ele fez isso. Ele fez eu

sentir uma angústia enorme, e aqui as coisas começam a fazer

sentido, pois possivelmente ele fez isso usando a Aura, tal se

ntimento foi tão intenso que eu não consegui segui-lo, ao sair

do bar Tales desapareceu com o vento, elemento esse que co

m certeza ele controla. O cara do governo apareceu e controlo

u o dono do bar e logo após a mim com a Posse, após um tem

po eu consegui me livrar do controle graças às memórias da g

arota que vi no sonho, abri os olhos e vi que o cara do govern

o estava enterrado até cintura desacordado, possivelmente Ta

les também controla terra, o chão não ia engolir aquele cara d

o nada. Quando saí pelos fundos do ar o senhor dono do esta

belecimento também estava fora do controle da Posse. Tales

me esperava na saída dos fundos, no beco, ele parecia querer


se despedir, mesmo que tivéssemos nos conhecido a pouquíss

imo tempo, ele falou sobre Goldenu, parecia conhecê-lo, pedi

u pra eu ir atrás dele, então ele subiu aos céus para conter um

a enorme bola de fogo, que era controlada por algum membr

o da poderoso da União, após isso aparentemente Tales foi pe

go ou está morto, junto com isso uma parte do quarteirão aba

ixo foi destruída e certamente muito morreram.

Isso está um pouco mais claro na minha mente agora,

na realidade tenho respostas para muitas outras coisas que nã

o lembrei de cara.

Quando fui atrás de Goldenu no porto, ao passar pela

cidade notei que ninguém falava o que havia ocorrido, como

Swip disse o dirigível foi usado para gerar a sombra intensific

ando os poderes que possibilitam o governo de manipular a

mente das pessoas que ali vivem, quando cheguei em Golden

u ele também parecia saber de coisas do futuro, assim como T

ales, exemplo disso foi ele saber da minha chegada. Tirando t

oda a babaquice de Goldenu com seus problemas amorosos e

psicológicos, ele sabia do navio da União antes dele aportar, s

endo que ele estava muito longe, talvez ele tenha controlado

a água e percebeu isso, pois como ocorreu em seguida no mo


mento em que ele me lançou no mar uma onda pareceu me a

garrar e me levar pra longe do porto, ele também sabia meu n

ome, assim como Tales, será que os dois se conhecem? Golde

nu não respondeu nada sobre isso. Swip me contou que nos d

ocumentos do escritor dizia que a pessoa teria que morrer lut

ando contra o elemento que se quer aprender para dominá-lo,

Goldenu me disse pra morrer da mesma maneira, e ele não sa

bia dos documentos até então.

Meu cérebro já está derretendo dentro da cabeça após i

sso, atingi meu limite por hoje, eu acho, na verdade não preci

so recapitular mais muita coisa, pois após eu acordar no mar

eu não estava morto e não afundava, vi um monstro que o gu

ardião desta ilha e é isto.

Fora os detalhes: a corrente de água que me levava rap

idamente, o gelo no bar e as previsões de Goldenu e Tales sob

re o futuro não haviam mais questionamentos. A maioria das

dúvidas já haviam sido respondidas, algumas delas eram sim

ples e eu poderia obter informações depois, as que restavam e

stavam ligadas em um único ponto, uma única pessoa: Tales I

leac.
Eu não tenho noção de quanto tempo eu fiquei pensan

do e ligando esses pontos, eu funciono assim para entender a

s coisas, preciso de tempo, tempo esse que Nix segurava min

ha ola e me sacudia enquanto gritava:

— Télos, Télos, Télos, seu idiota, acorda! O que tá acon

tecendo? O que você tá fazendo?

Eu voltei a mim não pelos chamados dela e sim pelas c

onclusões que eu havia chegado, ela me entenderia se eu expl

icasse, por ter os mesmo sintomas que eu, ver coisas que não

viu de verdade, talvez ela só estivesse confusa e não soubesse

lidar com isso, eu gritei alegre:

— Nix! — Tirei as mãos dela da minha gola e coloquei

minhas mãos nos ombros dela — Você percebeu? Eu entendi

parte do que está acontecendo.

Ela bateu suas mãos em meus braços fazendo-os cair d

os ombros dela, no mínimo grosseira, então me olhou e disse:

— Não vem com essa, eu confio no que vi, você é o gra

nde culpado pelo que aconteceu com a expedição quatro anos

atrás.

— Sim você pode achar isso, mas eu não faria nada con

tra eles, e mesmo que você queira não tem provas pra você m
e culpar — Eu comecei a gesticular semelhante a Swip — Eu t

ambém vi você, mas como um homem, matando uma mulher

e você disse que eu era ela, não acha coincidência? Muito pro

vavelmente essas energias que temos em nossos corpos passa

ram por outras pessoas, elas continuam de certa forma vivas

em nós. Você não sente como se sua vida não fosse apenas u

ma?

Nix pareceu se acalmar, ela finalmente calou a merda d

a boca e pareceu pensar, mas logo falou:

— Eu, eu concordo, não sei como mas sinto isso, só não

sabia como interpretar ou expressar, eu já me senti morrendo

antes, usando alguns poderes e até mesmo falando algumas c

oisas, mesmo que eu nunca tenha feito, era como se fosse um

— Déjà vu.

Falamos um uníssono, foi até legal, agora eu me toquei

que tinha alguém pra falar sobre isso, alguém pra me identifi

car, mesmo que ela seja problemática e meio histérica foi bom

Ela me olhou nos olhos, começou a respirar fundo e falou:


— Me perdoe Télos, eu perco o controle às vezes, é co

mo se outra parte de mim quisesse simplesmente que eu odia

sse tudo, eu não sei lidar bem com a confusão.

Coisas legais que Nix disse, adicionar à lista. Foi como

eu havia previsto, ela apenas estava confusa, eu sorri e respon

di:

— Fica tranquila, eu meio que entendo isso de ter outr

as vontades, não sabemos o que é, mas felizmente agora temo

s uma ideia.

— Você está bem? — Ela ergueu sua mão em frente ao

corpo pra me ajudar a levantar — Vamos levante-se, vamos v

er a vila.

Eu me agarrei a mão dela e disse:

— A ferida ainda dói mas podemos ir.

— Ok, vamos gastar esse tempo nisso e quando a reuni

ão dos anciãos acabar vamos dizer isso a Swip, ela é compree

nsiva e pode nos ajudar.

Eu me lembrei da expressão de Swip quando Nix cheg

ou dizendo sobre um vilão chamado Tales logo após eu dizer

que um Tales me salvou. Mesmo com estas circunstâncias eu

assenti com a cabeça à proposta de Nix, ela pareceu me enten


der, talvez eu pudesse convencer ela de que eu não fiz nada d

e errado mesmo que me punam por ter contato com Tales. An

tes de sair com Nix eu fui trocar minhas roupas rasgadas por

algumas que eles tinham no estoque, era algo mais prático qu

e bonito: Faixas de couro para prender um colete de malha de

ferro, por cima disso uma blusa de manga longa verde-escura,

uma calça preta e por fim uma espécie de bota misturada co

m coturno marrom, Nix me ofereceu espada e escudo, mas eu

neguei pois não faço ideia de como usar esse tipo de equipam

ento.

O local em que eu estava era simples, segundo as pala

vras de Nix esta vila ficava ao sul da ilha, pois ali era onde se

podia ficar em maior segurança devido ao local ficar em meio

a algumas montanhas, e coincidentemente onde a pedra Bed

ficava. As casas de moradores ficavam à volta da vila, eram c

asas de madeira, bem padrões, algumas maiores e outras men

ores mas era só isso que as distinguia, algumas ficavam perto

da praia outras no pé dos pequenos morros mas a maioria del

as ficavam amontoadas próximas dos comércios ao centro da

vila. Imaginando, pareciam que as ruas de pedras ladrilhadas

partiam do meio da vila onde ficava a Bed, e quando se dista


nciaram, tanto do meio da vila, tanto entre si, haviam ruas me

nores que as interligam, no geral parecia uma enorme teia de

aranha. Quanto mais eu caminhava para o centro, mais comér

cios e menos casas eu via. O amontoado de comércios vendia

m diversas coisas, pareciam as feiras da cidade Negra, vende

dores de frutas, legumes, carnes, roupas e etc.

Nix me disse que havia fazendeiros espalhados em alg

uns pontos da ilha em que alguns eram agricultores, outros p

ecuaristas, fazendo assim a obtenção de grande parte dos rec

ursos, ela disse também que pescadores fazem seu trabalho n

o sentido oposto a onde Kosish fica, para evitar problemas. M

ais pra frente havia alguns bares e restaurantes parecidos co

m os da cidade Negra, me fizeram lembrar de Tales, logo quis

esquecer, perguntei algo sobre como eles possuíam alguns rec

ursos mais difíceis de fazer, como pratos, copos talheres, sapa

tos, roupas, mesas, cadeiras, camas, espadas e etc. Nix respon

deu dizendo que grandes mercadores contrabandistas vivem

vendendo essas coisas mar afora escondidos da União, ela dis

se também que até piratas fazem esse tipo de venda. As arma

s, armaduras e escudos são forjados pelos ferreiros e até mes


mo pessoas comuns em tempo livre, é a especialidade de todo

s ali segundo Nix.

Depois de algumas horas dela me mostrando tudo por

ali, nós paramos num lugar próximo a onde estava Bed, ou o

que havia restado dela, os destroços ainda estavam espalhado

s por todo lado. Eu me sentei num deles, Nix tirou umas moe

das que não pareciam de Hértem, foi a uma das barracas e co

mprou dois cachos de uvas, ao voltar segurando-os com amb

as as mãos ela disse:

— Pega um, andamos bastante, você deve estar com fo

me.

Eu aceitei. Comida jamais será negada por mim.

O clima estava agradável, um fim de tarde com sol dei

xando tudo meio alaranjado. Mesmo que a praia estivesse um

pouco longe eu podia sentir a brisa úmida, os ventos estavam

calmos, as árvores chiavam num tom agradável, estava tudo t

ão bem que eu até estranhei. Eu viajei em pensamentos nova

mente, esqueci o mundo ao meu redor enquanto comia minh

as uvas. Quando voltei os olhos para Nix vi que ela estava me

olhando mas não num tom de ódio como antes, parecia bem,

talvez ela tenha ficado melhor por ter compartilhado aquelas


coisas comigo, eu também estava feliz com isso. Eu havia pen

sado antes, aquele detalhe que não reparei direito das caracte

rísticas físicas dela quando a via pela primeira vez, seus olhos

eram azuis como cristais e com a luz do sol poente ali parecia

m brilhar como faróis, me hipnotizaram de certa forma, eram

muito bonitos. Ela sorriu de canto de boca e disse:

— O que você está pensando aí enquanto olha pro nad

a?

Eu inclinei a cabeça num tom de dúvida e respondi co

m outra pergunta:

— Por qual motivo você está me observando enquanto

eu olho pro nada?

— Pra ser sincera, eu não sei, as coisas geralmente são t

ão sérias, eu quase esqueço de como a vida pode ser legal —

Ela tirou os olhos de mim, e se sentou ao meu lado — Eu tenh

o só doze anos sabe, era pra eu estar fazendo algo idiota.

Era verdade, eu também só tinha doze anos, e eu estav

a tentando fazer coisas que não eram pra minha idade, eu de

veria brincar com algumas coisas, correr ou falar merda, na re

al esse último eu já faço.

Eu dei uma gargalhada forçada e falei:


— Mas você está fazendo algo idiota ué, olhando eu ol

har, olha que idiota.

Ela me deu um soco nas costelas, não vou negar que d

oeu um pouco, após isso ela se ergueu e me encarou com cara

de ódio, ok, a Nix que conheci agora a pouco estava de volta,

eu continuei o assunto dizendo:

— Eu também tenho doze anos, que coincidência legal

— Eu me ergui na frente dela e ela rapidamente fez o mesmo,

notei que tínhamos exatamente a mesma altura — Há muitos

jovens e crianças aqui? Não vi nenhum.

— Sim, tem bastante, mas estão todos no norte treinan

do, lá o clima é mais instável e o ambiente também favorece a

aprendizagem para habilidades elementais.

Ajeitei um pouco o cabelo que estava caindo no meu ol

ho enquanto dizia:

— E sobre Swip, quantos anos ela tem?

— Ela tem vinte — Ela aparentava ser mais velha, pela

altura e estatura física, Swip parecia um monstro — Ela é um

prodígio, desde sempre foi bem regrada em sua força, mesmo

abdicando um pouco das leis e coisas que ela acha errado.


Isso era bom pra mim, talvez ela me entendesse caso o

s anciãos quisessem minha cabeça. Eu me empolguei com a n

otícia de que havia mais gente de minha idade ali, fiquei curi

oso sobre o motivo de Nix não os acompanhar e logo disse:

— Por que você não está junto com os outros treinando?

— As informações de Goldenu que você viria chegara

m rápido, alguém teria que trazer você já que não conhece o c

aminho pra cá e eu sou a melhor no caminho oceânico.

— Entendi — Eu abri um sorriso — Obrigado por ter

me ajudado.

Ela ficou com mais cara de raiva e bufou dizendo:

— Era o que eu deveria fazer.

Essa porra tem problema, certeza, do nada ela estava ri

ndo me dando uvas e agora tá com raiva, mas eu relevei e dis

se:

— Fico lhe devendo uma — Estiquei a mão pra marcar

uma paz com um aperto — Fechado?

— Fechado — Ela apertou e logo largou minha mão —

Volta pro dormitório, a reunião deve estar acabando, vou rep

ortar as informações que adquirimos hoje à Swip assim que p

ossível.
— Porquê eu não posso ir junto?

— Os anciãos são rígidos, pessoas vindas de fora são c

omplicadas para eles.

Já não gostei muito, mas não tinha o que fazer, respon

di em consentimento:

— Então ok, qualquer coisa só me chamar.

— Não vou precisar, apenas vá e descanse.

— Deixa de ser ranzinza caralho.

Ela puxou muito ar, arregalou os olhos e disse:

— Cala a boca filho da puta.

Instantaneamente colocou as mãos na boca e olhou pro

chão com um tom de arrependimento, provavelmente não qu

eria ter falado isso. Eu ri alto novamente e ela me deu outro s

oco, agora no estômago, esse doeu pra caralho.

Logo após a dor começar a passar, Nix começou a cami

nhar para longe, acenou rindo do soco que me deu, disse tcha

u, virou-se de costas e começou a correr. Segui caminho de vo

lta para o dormitório onde eu estava, no percurso eu comecei

a lembrar de um trecho citado pelo escritor, que foi dito a mi

m por Swip:
A visão enviada para a futura mãe de deidades, na inte

nção de manter o ciclo eterno em que tudo direciona para paz,

A Menina vê o que está à frente de seu tempo:

O seu grande amor no fim de sua vida, caído aos pés de seu descend

entes.

Um jovem líder que sucumbiu ao amor ao invés do ódio.

Uma garota soberana de pé acima de todos.

Mais especificamente na parte que parece uma profeci

a, sobre a visão “da Menina” será que é dessa menina que vej

o as memórias? Muito cedo para tirar conclusões, mas eu pod

ia pensar nessas coisas que “a Menina” viu, as três linhas do

que parecem ser profecias.

Não consigo me lembrar de nada ou pensar em nada s

obre isso, não agora. Resolvi espairecer e tentar elaborar algo,

eu havia descansado a mente na tarde com Nix, meu nível de

inteligência caiu com as piadas e merdas que falei mas eu ain

da poderia pensar. Fui para a praia caminhar, mas antes, deix

ei os sapatos estranhos no dormitório embaixo da minha cam

a e fui caminhando até a praia. Ainda ia demorar uma ou dua


s horas para escurecer, eu poderia me dar esse luxo. No cami

nho até a praia eu já havia me perdido em ideias e pensament

os, quando me dei conta estava novamente naquele estado e

m que o tempo passava e eu não via.

Quando cheguei à praia enquanto repetia quase que ca

ntarolando o trecho daquela frase do escritor, olhando para o

mar e chutando areia, minha mente fluía em pensamentos so

bre o que poderiam ser aquelas palavras. Após um tempo olh

ei para trás e vi que eu estava distante da vila e a noite já esta

va próxima. Comecei a dar meia volta no sentido da vila, com

os mesmos pensamentos, tentando aproveitar aquele moment

o, até que me toquei de algo.

Um jovem líder que sucumbiu ao amor ao invés do ódio.

Sucumbir ao amor? Amor não é algo bom para se sucumbir.

O ódio não é algo melhor que o amor, isso não faz sentido. U

ma onda grande vem e quebra na praia, me afasto de leve da

água, continuo pensando na mesma frase e então eu vejo aqui

lo.

— Cof, cof, cof, cof…ei, ei você, socorro, eu…


Ouço uma voz, parece ser de uma criança, ao me virar

noto que aquela onda trouxe esse garoto. Sem pensar eu corr

o na direção daquela garoto que estava com a cara enfiada na

areia perto da água, eu viro o corpo dele rapidamente, ele co

meça a cuspir água numa tentativa desesperadora de respirar,

assim que ele conseguiu respirar fundo disse:

— Eu não sei, socorro.

— Você está bem, eu vou te ajudar — Ele era pequeno,

eu conseguia erguê-lo, iria levá-lo em direção a vila — Me dig

a ao menos seu nome garoto.

Eu queria tentar acalmá-lo, ele tremia, poderia ser de fr

io, mas também poderia ser de medo, com ele assustado não

conseguiria ajudá-lo em nada.

Eu caminhei arduamente, a areia era pesada, ele era le

ve mas eu era fraco, ele ficou desacordado numa parte do per

curso até a vila. Foi quando do nada enquanto estava em meu

s braços ele ergueu a cabeça, cuspiu mais água e disse:

— Tales — Ele gagueja ainda mais e eu me arrepiei ao

ouvir este nome — Tales Ileac é o meu nome.

Ele desmaiou e eu quase o acompanhei.


CAPÍTULO VI:
VONTADE DE VIVER

Eu realmente quase caí após saber o nome daquele garoto, Ta

les Ileac, não só o nome como sobrenome eram os mesmos, in

conscientemente um pensamento ecoava em mim: Como ele

veio parar aqui?

Eu não podia me dar ao luxo de fazer perguntas. Pense

i em voltar à vila, mas eu não sabia se Swip iria dizer que um

Tales me salvou para os anciãos, além de eu voltar com um g

aroto de mesmo nome. Eu poderia ser expulso dali ou até me

smo morto, já que com toda a certeza eles iriam ligar os ponto

s de eu ser órfão ao adulto que me tirou do nada e achar que s

ou filho dele. Mesmo que Swip não dissesse aos anciãos, o pr

oblema estava ali comigo, o jovem Tales em meus braços, enq

uanto eu andava pela praia no sentido contrário da vila.

Eu poderia mentir o nome do garoto, conversar com el

e para que pudéssemos atribuir outro nome, mas isso era ince

rto demais, pois eu não sabia nada sobre ele nem sobre seu cu
rto passado, além de ele ser uma criança que poderia facilme

nte perder o controle e falar seu nome do nada. Era uma saíd

a insegura demais levar ele pra vila agora, minha única opção

agora era a que eu seguia. Eu ia na direção contrária da vila te

ndo um mal pressentimento até sobre mim ficar lá, imagina al

guém com o mesmo nome de um vilão aparece lá do nada. M

eu senso de direção é horrível, logo penso que onde eu me es

conderei temporariamente deve ser próximo a praia e não mu

ito a fundo na floresta, mesmo que seja praticamente impossí

vel arranjar um bom esconderijo num lugar com essas especi

ficações, mas eu não tenho escolha.

O sol fica cada vez mais escondido no horizonte e eu n

ão faço ideia de onde ficar, enquanto eu caminhava pela praia

olhei para a floresta algumas vezes, até que numa dessas veze

s eu vi uma enorme árvore que não parecia nada com as dem

ais árvores do ambiente, ela possuía um tronco grosso que su

bia não muito alto e se ramificava em diversos outros troncos

e galhos, nessa transição entre tronco e galhos parecia haver u

m local em que eu pudesse me esconder com Tales.

O suposto refúgio estava próximo, mas algumas coisas

fizeram parecer que estava longe, os mosquitos, o caminho ín


greme, os sons de animais e o frio vindo com o início da noite,

felizmente minha percepção disso foi temporária e eu conseg

ui me aproximar, agora de perto vi que o tronco era tão gross

o que parecia quadrado, pois altura e espessura eram quase a

s mesmas. Haviam diversos cipós em torno desta árvore, que

era alta, mas não tão alta quanto algumas outras que estavam

à volta.

Deixei Tales escorado na árvore num ponto em que a r

aiz se eleva, ponto esse longe do chão, isso pra deixá-lo livre

de bichos peçonhentos. Me aproximei mais da árvore e notei

que a sua casca fazia o tronco todo parecer uma montanha, ch

eia de pontos pra se agarrar, o que facilitaria a subida, logo fo

i o que eu fiz, peguei um dos cipós, testei sua resistência agar

rando de maneira firme, coloquei os pés na árvore e comecei

a andar no tronco enquanto puxava o cipó subindo assim nu

ma velocidade considerável.

Eu achei que seria mais cansativo, mas eu ainda tinha a

lguma energia e força pra me sustentar por aquele tempo, iss

o fez com que eu conseguisse chegar a parte da árvore onde a

chei que seria um bom local para esconderijo e felizmente eu

estava certo. Havia ali um espaço aceitável, dava pra umas ci


nco pessoas dormirem, além disso o local era côncavo para ba

ixo, ou seja, dava pra se manter escondido caso alguém viesse

e se viesse dava pra subir pelos galhos e ir para a copa da árv

ore.

O lugar era bom agora só faltava subir Tales. Eu até pa

reço calmo e focado mas só de falar essa merda de nome eu já

me arrepio todo, porém como não tenho escolha o que resta é

fazer isso e guardar essa confusão toda pra poder surtar depo

is. Desci até onde Tales estava, ele permanecia apagado, muit

o provavelmente estava exausto e não ia acordar nem com eu

o erguendo até o lugar seguro. A ideia pra subir ele foi bem si

mples, mas por já estar meio escuro eu devia agir rápido, não

sabia o que havia naquela mata.

Como o garoto era pequeno e leve, construir algo para

subir ele não era tão difícil, peguei quatro troncos medianos d

a árvore que eram fáceis de quebrar, arranquei alguns cipós d

a parte de trás da árvore, amarrei os quatro troncos num qua

drado e fiz um X no meio com cipós, haviam vários pequenos

coqueiros mais ao longe, então peguei algumas folhas e coloq

uei sobre esse X. Logo após amarrei mais cipós no sentido ver

tical e horizontal e então estava feito. O resto foram apenas n


ós, amarrei um cipó médio em cada uma das pontas dessa ga

mbiarra quadrada e juntei todos num só ponto acima, agora e

ra só amarrar essa ponta em comum num cipó maior que saía

da árvore, colocar o garoto nesta gambiarra e puxá-lo. Assim

eu fiz, coloquei ele no “quadrado gambiarra”, amarrei os cipó

s no nó que ficava acima, subi, passei o cipó num tronco mais

grosso e resistente e comecei a puxar. Ele caiu algumas vezes

mas eu consegui erguê-lo, talvez ele acordasse com dor de ca

beça, mas pelo menos estaria vivo, não havia motivos pra recl

amar.

Após tudo isso eu estava exausto, mesmo que eu tivess

e energia, meu físico não era tão bom. Eu já estava sujo desde

que saí do Novo Continente e agora percebi que havia ficado

mais sujo ainda com esse processo, decidi ir me lavar num rio

ali perto. Deixei o garoto coberto com algumas das folhas dos

coqueiros que eu havia pego e desci da árvore.

O rio não era tão longe, no caminho eu fui estocando g

alhos pelo chão para não me perder. Ao chegar no rio, me lim

pei, bebi um pouco d’água e voltei, foi algo bem rápido.

Na volta já próximo da árvore um pensamento veio a

minha mente: Como eu sabia do rio? Eu fui na sua direção e a


inda por cima não me perdi, além de tudo eu não ouvi a água

do rio de onde eu estava e ninguém havia me falado de um ri

o, eu simplesmente só fui e cheguei nele. Demorei um pouco,

mas ligar os pontos não foi difícil, era a água me chamando, o

u melhor, era minha habilidade de controle d’água me chama

ndo.

Eu havia aprendido a controlar a água com toda a cert

eza após o que ocorreu comigo, não precisei de muito pra de

monstrar, foi como instinto de saber alguns lugares, eu só sab

ia, bizarro mas útil, suponho que tenha que treinar muito par

a demonstrar a mínima capacidade de lutar usando este pode

r.

Eu subi na árvore novamente, agora pelo menos me se

ntindo minimamente limpo, algo bem raro para alguém que

morou na rua. Tales ainda dormia como pedra. Quanto mais

eu olhava pra ele mais as recordações do que havia acontecid

o vinham em minha mente fervilhando em flashes aleatórios.

Lentamente meu corpo pesou, mesmo com os insetos,

o som da selva e o leve som do mar ao longe me acalmaram e

eu apaguei, foi a primeira vez que dormi sem ser desacordad

o desde que tudo começou.


Ruídos, foram as primeiras coisas que ouvi, algo como

pequenas bombas estalando ao longe. Começava com um ass

obio leve e o som sumia, mas quanto mais eu acordava mais

nítido o som ficava e o assobio se encerrava com um som de e

xplosão. Eu pulo de onde estava deitado e percebo que já era

dia, Tales ainda estava dormindo mas se mexia parecendo est

ar num pesadelo enquanto ficava se revirando para os lados,

eu caminho em sua direção e meu cabelo sacode com uma for

te ventania instável que está nos rodeando, me aproximo dele

e o sacudo dizendo:

— Ei, ei calma — Me agacho e com o braço esticado na

frente do corpo com a mão aberta num sinal de calma me apr

oximo dele devagar — Eu só quero ajudar, fica tranquilo.

Ele abre os olhos rapidamente e se senta se arrastando

para longe de mim dizendo:

— Como sabe meu nome? — Ele se afasta ainda mais

— Como eu vim parar aqui?

Eu me identifiquei um pouco, ele parecia ainda mais c

onfuso que eu, acho que sabia como responder sua pergunta:

— Você me disse seu nome assim que chegou à praia,

você estava confuso e apagou, então eu te trouxe pra cá — Eu


me sentei de pernas cruzadas na frente dele tentando demons

trar calma, mesmo com os sons das bombas e canhões ao long

e — Meu nome é Télos, eu vim do Novo Continente, talvez ex

atamente como você também veio, eu estou há pouco tempo

nesta ilha.

Ele pareceu perplexo, porém gradativamente se acalm

ou, mas não sei por quanto tempo, pois ele era bem mais nov

o que eu, a mente dele deveria estar em delírio, e isso alterou

um pouco do tom de voz dele enquanto ele falava:

— Eu estava em casa sozinho quando um homem velh

o veio e bateu na porta — Seria muita coincidência ser Golde

nu? — Ele disse que queria me mostrar algo legal então eu o s

egui, ele me levou em alguns lugares para comer e nos diverti

r, falou algumas coisas estranhas — Ele esboçou um sentimen

to estranho em sua face, como se não recebesse muita atenção

dos pais — Depois de tudo ele me levou até a praia, ele disse

que tinha poderes especiais e que eu também os teria no futur

o, mas pra isso eu precisaria morrer lutando — Foi exatament

e o que Goldenu me disse — Eu fiquei desesperado, foi quan

do ele me agarrou pela gola da camisa com seu enorme braço

e me jogou muito longe no meio do mar, só lembro dele acen


ando pra mim enquanto vários homens do Exército vinham a

trás dele, após isso eu apaguei.

Goldenu havia trago ele pra cá do mesmo jeito que eu,

não acho que seja coincidência. Ele se abriu tão fácil comigo, e

seguiu Goldenu de maneira tão inocente, senti pena dele nest

e instante. O medo que eu sentia de esse Tales Ileac ser o Tale

s Ileac que me salvou foi sumindo e então eu resolvi tentar pe

rguntas as características do velho que o jogo no mar e ver se

batiam com as características de Goldenu:

— Tales como era esse velho…

Antes que eu pudesse terminar, uma ventania enorme

começou a nos afligir, eu e o garoto nos levantamos ali na árv

ore e quase fomos levados pela força do vento, os sons de can

hões pararam. Foi quando a água do oceano começou a se mo

ver bruscamente de onde eu conseguia ver, através de todas a

s folhas se mexendo eu consegui ver alguém correndo na prai

a, andei até um ponto da árvore em que tinha melhor visão d

e tal e tentei ver, era Nix.

Ela corria com as palmas das mãos apontadas para o c

hão e rapidamente quando se alinhou com a árvore em que es

távamos, no exato ponto em que eu parei de andar ontem ant


es de entrar na mata ela parou e olhou diretamente para onde

eu estava. Rapidamente eu me escondi e segurei o garoto com

igo atrás de um dos galhos grossos, agora junto as explosões

e o vento que agora estava mais fraco, ouvi passos rápidos, m

e virei na mesma direção em que estava anteriormente e vi Ni

x. Ela apareceu rápido bem na minha frente como se o vento t

ivesse trazido ela.

Ela havia controlado vento para chegar aqui tão rápido

Nix realmente tinha esses poderes, rapidamente ela saltou na

minha direção, olhou pra mim e pra Tales e disse num tom ag

ressivo:

— Você é um traidor, eu sempre soube — Ela começou

a tirar o cajado de suas costas— Era tudo mera balela, eu sabi

a, e quem é esse moleque aí.

— Nix — Estiquei as duas mãos na frente do corpo nu

m sinal de redenção e olhei no fundo dos olhos dela — Eu nã

o fiz nada, e sobre ele, eu posso explicar.

Desta vez ela pareceu mais compreensiva que antes, el

a assentiu com a cabeça ainda com a mão posta no cajado e e

u continuei a dizer:
— Eu estava caminhando pela praia pra esfriar a cabeç

a, tentei pensar no texto da pedra Bed, da mesma maneira qu

e fiz ontem no dormitório — Apontei para Tales, que estava e

scondido atrás de mim e parecia estar tremendo — Esse garot

o veio arrastado pelo mar até a praia, foi quando eu o encontr

ei.

Tales ficou quieto nesse instante, ao olhar para ele note

i que o garoto encarava Nix perplexo, ele engoliu em seco qua

ndo Nix questionou:

— Por qual motivo você não levou o moleque pra vila?

— Por esse motivo — Eu olhei pra Tales — Se apresent

a pra ela garoto.

Tales respirou fundo, ele realmente parecia com medo

e disse gaguejando de leve:

— Meu nome é Tales, Tales Ileac.

Nix arregalou os olhos e colocou ambas as mão na cab

eça jogando o cabelo loiro para trás e dizendo:

— Não, não, não, não.

Ela fixou os olhos em mim, veio em minha direção, col

ocou as mãos em meus ombros e disse:


— Vocês precisam sair daqui, tudo coincide pra vocês

serem executados — Fiquei feliz por não ser paranoico enqua

nto tomei essas precauções e triste por estar certo — Eu estou

te procurando desde cedo, achei que você tinha dormido no l

ocal onde ficou antes, mesmo nem sendo encarregada disso e

u te procurei, no meio da busca enquanto ainda estava na vila

os navios da União começaram a atirar na gente usando seus

canhões, está tendo uma batalha lá, vocês devem ter notado is

so — Sim, eu havia notado, eram os guerreiros daqui contra a

União — Eu encontrei Swip no meio disso e ela disse pra eu t

e esconder pois você está sendo colocado como espião pelos a

nciãos devido ao que ocorreu — Exatamente como pensei —

Então esse garoto tendo o exato nome do cara que te salvou, a

ssim como você disse à Swip no dormitório e o primeiro nom

e igual ao do suposto vilão citado nos documentos da Bed faz

em com que as suspeitas sobre você sejam triplicadas, fez be

m em se esconder Télos.

Eu entendi exatamente o que tinha acontecido pois isso

era uma paranoia minha, agora não tão paranoia assim, logo

eu concluí:
— Então os anciãos estão ligando o paradeiro do home

m que me salvou ao vilão dos documentos e agora ao ataque

da União, podemos concluir que seu povo não gosta de mim,

por isso você está falando para nós sairmos daqui.

O próximo passo era fugir, e a sensação de estar livre e

poder sair dali me confortou, então logo disse:

— Como pretende nos tirar daqui?

— Essa é a parte difícil, Swip disse pra eu ir com vocês

até as correntezas em direção ao Arquipélago de Ainstorn no

norte — Ela tirou um mapa de sua pequena bolsa de couro e

mostrou onde era o arquipélago — Porém nossa ilha é íngre

me tanto no Norte, tanto no Sul, ambas são regiões montanho

sas, saídas fáceis sem consumo da minha e das suas energias

só ao Leste e a Oeste — Ela continuava a mostrar no mapa —

O Leste que foi por onde o garoto veio é a praia a nossa frente,

que está sendo cercada pela União, não conseguiremos chega

r nas correntezas por ela, só nos resta ir pelo lado Oeste da ilh

a.

— Então vamos, o que estamos esperando?

— Você não se lembra Télos? O que há lá? — É, agora

eu me lembre, engoli em seco na hora — Kosish, o nosso prot


etor. Mesmo que a lula gigante tenha nos escondido da União

circulando a ilha num ciclo de tempo pelo oceano, ele não no

s entende e pode ser destruidor, nessa época do ano ele fica e

xatamente a Oeste.

Ela circulou com o dedo uma área, simulando o raio de

atuação de Kosish em volta desta ilha. Não tinha outro jeito, a

quela porra de monstro parecia me chamar de novo, isso me

deixava com medo, só de lembrar do som dele me sinto mais

fraco e inútil do que já sou.

A sequência de fatos agora era: chegar até a praia do o

utro lado da ilha com as instruções de Nix. Para chegar até lá

nós deveríamos ir até o rio que corria logo ali atrás, segundo

ela o rio levava até um ponto próximo do nosso destino, após

esse ponto era só andar até a areia da praia. Assim fizemos, N

ix desceu da árvore e foi atrás de um barco que ela havia deix

ado aportado ali perto para percorrermos o rio, eu e Tales fica

mos esperando ela no rio e logo após ela chegar começamos a

descer rio abaixo.

Por todo o percurso no rio as explosões, ventanias e tre

mores de terras não pararam, todos pareciam vir da costa lest

e, consequentemente Tales ficou assustado e não falou quase


nada no caminho. Felizmente o caminho até a praia foi rápido

mas ao olhar melhor para Nix no comando do bote ela apare

ntava estar exausta. Ela estava controlando a água para que p

udéssemos ir mais rápido, eu logo a questionei como poderia

ajudá-la a controlar a água para manter a velocidade, ela me e

xplicou algumas táticas rápidas e eu rapidamente estava a aju

dando, talvez com uma força menor que a dela, mas ela parec

ia menos tensa até chegarmos ao ponto em que precisávamos

descer e andar.

O que mais me surpreendia era o quão calado Tales est

ava, ele provavelmente não sabia nada das habilidades ou so

bre o que de fato estava acontecendo, eu tentei entretê-lo com

histórias e piadas durante o percurso para não precisar explic

ar nada agora.

Nós atracamos o bote num ponto a beira do rio e come

çamos a caminhar, eu e Tales atrás e Nix na frente, eu continu

ava falando com o garoto enquanto Nix olhava um mapa e ab

ria caminho na mata. Quando estávamos quase na praia, a m

ata fechada gradativamente sumia se dissolvendo na praia e

o horizonte ao redor ficava visível, numa sinergia quase perfe

ita, ouvi uma enorme explosão no céu ao longe, vinha de trás,


de onde estava a vila, nós três olhamos para lá e vimos aquilo

Provavelmente nós três ali sabíamos o que era aquilo,

um dirigível da União. Eles possivelmente estavam atrás de n

ós, não sei por qual razão, mas eu tinha motivos suficientes p

ra saber que a união não era boa coisa. Ignoramos temporaria

mente aquela merda voadora com disco em baixo e chegamos

a praia, era uma praia comum, só que havia uma peculiarida

de e eu só havia notado agora quando estava com a cabeça ce

ntrada ali e não pensando em coisas aleatórias.

O clima era quase sobrenaturalmente nublado com um

a chuva fraca, mas extremamente densa e constante, eu estav

a ensopado já que estava pegando essa chuva fazia um tempo

era bizarro pois momentos antes de entrarmos nessa chuva p

odia-se ver o céu azul ao longe, era um dia quente.

Nix se virou e aparentou que iria explicar como chegar

nas correntezas para fugirmos, mas um empecilho aconteceu.

Enquanto nós estávamos na praia uma coisa caiu do céu um

pouco a frente, arrastando toneladas de areia, quando parou

de arrastar-se no chão rolou até próximo do mar, onde peque

nas ondas atingiam-no. Eu e Nix corremos na frente, Tales m


uito provavelmente vinha caminhando atrás, quanto mais no

s aproximamos notamos que aquilo era uma pessoa, eu já me

espantei, como alguém seria tão resistente? Ao ficar ainda ma

is próximo notei que era uma mulher. Era Swipkins.

Pareceu que Nix notou que era ela ao mesmo tempo q

ue eu, pois aceleramos o passo juntos para ajudá-la, nisso Nix

gritou:

— Swipkins!

Nix alcançou ela primeiro, se aproximou, segurou os o

mbros dela, ergueu-a sentada e sacudiu-a, isso fez ela acordar

incrivelmente calma. Após alguns segundo Swip disse:

— Que droga, esse filho da puta é forte — Ela se levant

ou com minha ajuda, se alongou e sacudiu a cabeça numa ten

tativa de acordar para realidade — Eu tentei proteger esse lad

o da ilha pra dar cobertura para vocês fugirem, mas o Exércit

o da União que vinha pela costa foram derrotados e pelo vist

o era isso que eles queriam para gerar distração, pois eles que

riam buscar ao redor, foi inteligente, consequentemente eles i

riam parar justamente aqui, o cara me deu um golpe surpresa

enquanto eu voava aos arredores da vila evitando que algué

m viesse pra cá e eu caí justamente aqui.


Ok, o primeiro ponto: ela parecia incrivelmente forte, s

egundo ponto: quem quer que fosse esse filho da puta que so

cou ela era um monstro de forte também, notando isso pergu

ntei:

— Quem é esse “filho da puta” Swip? — Fiz aspas com

os dedos.

— Não há tempo para detalhes, mas resumindo ele é u

m dos Regentes da União, mesmo que eu estivesse distraída e

um pouco cansada quando levei o golpe isso não é demérito

dele, com certeza é poderoso — Nesse instante Swip pareceu

fixar o olhar atrás de mim e Nix na direção do garoto — Que

m é esse menino?

— Como você disse, não temos tempo, depois eu te ex

plico — Falei tentando parecer o mais convincente possível.

O clima pareceu mudar, tudo ficou claro, ao olhar para

o céu chamas começaram a cair. As únicas coisas que eu cons

eguia ver eram a mata, montanhas no horizonte, o mar e agor

a um inferno que vinha não do chão mas sim dos céus. A bola

de chamas caiu atrás de nós, Swip encarava o lugar onde ela c

aiu com um olhar sério. Tales veio correndo e se juntou a nós,

depois que a poeira e chamas diminuíram vimos que no local


onde a bola de fogo caiu havia um homem que vinha caminh

ando lentamente em nossa direção, Swip então disse:

— Fiquem atrás de mim — Ela correu à nossa frente e s

ó nessa hora vi o estrago que havia ocorrido com Swip, a part

e de trás de seu pescoço estava com um corte enorme e seu o

mbro estava deslocado para frente — Eu cuido dele, vão para

as correntezas — Swip ficou parada e uma energia calorosa e

mergia dela, era tão quente e acolhedora que parecia ser visív

el, nisso a ferida na nuca dela começou a se fechar num som d

e fogo sendo apagado, ela empurrou o ombro pra trás coloca

ndo-o no lugar numa mistura do mesmo som anterior e do os

so estalando, num conjunto agora todas as outras feridas dela

começaram a se fechar e uma fumaça fraca começou a emergi

r de seu corpo. Swip parecia estar fervendo, a areia em volta

dela girava rapidamente, nisso ela já caminhava rumo ao Reg

ente, ele parecia controlar as chamas em conjunto com vento

pois giravam formando uma pirotecnia maluca, toda a areia a

sua volta se espalhava também, eu juro que podia sentir a ág

ua da chuva fervendo nessa fusão, voltei os olhos à Swip e ela

estalava os punhos — Nix anda logo, leve-os para as corrente

zas.
Nix assentiu, Swip pulou e o vento pareceu erguê-la n

um voo baixo, meu cabelo e o de Nix brigavam com a ventani

a enquanto Tales abraçava a si mesmo assustado. Swip subiu

gradativamente e agora estava numa altura considerável, ela

voou em direção ao mar e mergulhou de ponta, a partir daí e

u e Tales seguimos Nix que parecia confiar na força da amiga,

fomos na direção contrária a do Regente. Fomos correndo na

direção da água para chegar às correntezas, enquanto isso Ni

x falou:

— Télos, lembre-se de quando você andou sobre a águ

a pela primeira vez, conduza a água, se torne um com o elem

ento — Eu não conseguia, era muita pressão, mas eu me força

va ao máximo a reaprender — Segure Tales nas suas costas e

tente andar sobre a água, rápido!

Agora um pouco distante do ponto anterior ao olhar d

e relance para trás vi uma onda enorme surgir, Swip estava n

o topo dela e o Regente das chamas pareceu ser engolido qua

ndo a onda quebrou em cima dele, isso me deu esperanças, m

as logo isso foi encerrado pela chuva que se intensificou muit

o, dificultando muito tudo que eu estava fazendo, porém ness

e resquício de esperança eu tentei, e tentei mais, enquanto Ni


x já estava em pé na água subindo e descendo junto com as o

ndas com o cabelo sacudindo com o vento eu notei que repar

ar no que estava acontecendo ao meu redor me tirava do foco

eu preciso focar.

Como sempre em tudo apenas foco, eu coloco Tales na

s costas, respiro fundo, fecho os olhos e corro mar adentro. Eu

consigo, são os mesmos conjuntos de fatores que fiz inconscie

ntemente da última vez.

Começamos a correr, eu seguindo Nix, quando reparei

estávamos longe vi que havia sim chances de sairmos dali, m

as como sempre, tudo sempre dá merda. Assim que entramos

no rumo das correntezas as ondas começaram a nos puxar pa

ra trás, a água parecia me puxar, era difícil manter o equilíbri

o pelas reações de Nix eu pensei que ela também estivesse se

ntindo isso e com o tempo ficava mais e mais difícil andar, ai

nda mais com Télos nas minhas costas.

Ao olhar para trás vimos o dirigível que estava parado

próximo a praia, longe da luta de Swip, ele estava sendo engo

lido pelas nuvens negras, o disco abaixo daquela coisa gerava

uma sombra densa, de lá saíram pessoas, literalmente de dent

ro da sombra, emergindo de dentro da terra, eram soldados d


o Exército da União. Já haviam alguns soldados que estavam

no chão e pelo gesticular pareciam puxar as ondas com seus p

oderes, eram eles que estavam nos atrapalhando, de relance o

lhei à direita na direção onde Swip lutava e infelizmente o car

a do fogo estava normal, sem pirotecnia, e carregando Swip,

puxando-a pela perna e arrastando-a na areia até mais próxi

mo da sombra do dirigível, até consequentemente largar ela n

o meio do caminho.

Nix parece confiar muito na força de Swipkins, não hes

itou em deixá-la cuidar do Regente, mas nessa hora ela parec

eu desabar, o choque pra ela quando viu a amiga derrotada d

eve ter sido imenso, ela foi correndo na direção do cara, mas e

u agarrei o pulso dela e gritei:

— Nix não vá, temos que ir, vamos fazer isso valer a p

ena!

— É óbvio que você ia falar isso! — Ela puxou seu braç

o da minha mão — Tudo que você fez até agora foi fugir, cala

a boca e vai embora você, eu resolvo a partir daqui.

“Tudo que você fez até agora foi fugir”.

Essas palavras ecoaram em mim como uma dor forte.

Era uma verdade que eu ocultava de mim mesmo, eu fazia co


isas especiais mas mesmo assim me mantive covarde, mas eu

não podia hesitar, nem em toda a minha covardia eu poderia

deixar ela enfrentar eles sozinha, eu tentei acompanhá-la, por

ém estava muito mais lento e ela estava longe de mim e próxi

ma demais do Regente, enquanto ele caminhava na areia Nix

veio correndo em cima de uma onda, pulou e gesticulou um s

oco, a água atrás dela formou uma onda que foi na direção do

Regente que após atingi-lo não parecia nada, o cara gesticulo

u em afastamento com o punho fechado e o braço acima da ca

beça, mão essa que lentamente foi ficando em chamas, ele fez

o mesmo gesto na direção de Nix incendiando-a fazendo com

que ela caísse na areia sendo arrastada de leve pelas ondas ra

sas.

Novamente eu incapaz, as palavras de Nix ecoaram de

novo na minha cabeça.

Ajuda eu recebi de muitos até aqui, mas nunca consigo

ajudar quem me deu apoio, não havia como fugir, as ondas m

e puxavam cada vez mais e sinceramente a essa altura mesmo

que houvesse como fugir eu com certeza não iria. Eu corri até

a praia na direção de Nix para poder afastá-la da maré que su

bia, desci Tales das minhas costas e tirei Nix da área das onda
s, logo caí de joelhos o Regente apenas ficou parado me encar

ando. Eu ofegava, o ar parecia fugir de mim, eu ergui a cabeç

a novamente, Swip e Nix caídas juntas, o cara do fogo rindo,

gargalhando parecendo estar empolgado, ele tirou um charut

o sei lá da onde, colocou-o no canto da boca e enquanto acend

ia-o com a ponta do dedo dizia:

— Que patético, já capturamos o caolho e o velho, pou

co tempo depois nós capturamos os seus protegidos, a única

parte ruim é que isso não serviu nem pra esquentar a merda

do meu sangue, pelo menos seja útil em me distrair seu desgr

açado — Ele disse isso me olhando, e vindo em minha direçã

o, eu fui na direção dele e assim que nos aproximamos ele me

deu um chute e eu caí, Tales estava paralisado, porém nessa h

ora ele veio tentar me ajudar, mas eu permaneci caído — Peg

uem o garoto menor — Ele gesticulou para alguns soldados q

ue assim o fizeram, eu tentei proteger Tales, mas só uma raste

ira daquele filho da puta do fogo me fez cair de boca na areia

— Você é um lixo mesmo, além de ajudar o garoto que nos tr

ouxe até essa ilha, não consegue nem se defender, você devia

ter ficado eternamente naquela sua vida miserável de merda.


Os membros deste governo desgraçado seguiram Tales

pelas correntezas, o garoto trouxe esses desgraçados até aqui

e muito, ele provavelmente não fazia nem ideia disso. Eu iria

ajudá-lo mesmo assim, pois eu precisava ser forte, eu precisa

va lutar.

Tales fez coisas ruins sem saber, eu também posso ter f

eito coisas ruins que não faço nem ideia, se eu não lutar e não

parar de fugir eu nunca vou conhecer meus demônios para p

oder exterminá-los e nunca vou descobrir minhas habilidades

eu preciso ser livre do medo de fracassar.

Sinto a raiva me dominar, mas não por eu ser assim e s

im por ele estar certo, a razão dele sobre isso me deixava com

ódio. Eu era patético e até queria morrer, eu era a prova da m

inha desgraça, preciso mudar isso, vou mudar isso. Enquanto

eu era consumido pela raiva o Regente disse:

— Prendam esse merda, agora!

Ele apontou pra mim e os soldados vieram, dois me ag

arraram e me levantaram. As conclusões que eu cheguei anter

iormente rondavam minha mente, me senti patético por quer

er morrer, depois de tudo aquilo que fizeram por mim. Eu nã

o pude ajudar Tales Ileac, aquele que me tirou do nada, não p


ude salvar Goldenu de ser pego pela União, nem pude ajudar

Nix e Swip que foram massacradas pelo Regente. Esses pensa

mentos fizeram com que as forças dentro de mim começasse

m a conflitar, com anseio por vitória, por ir contra aquela pris

ão de não ser forte, tentando ser livre das amarras da minha p

rópria mediocridade.

Comecei a me mexer usando a energia que me restava,

lutei como nunca havia lutado antes, soltei um dos braços em

que um soldado segurava e soquei a cara do que segurava me

u outro braço. Como se fosse parte de mim a água da chuva c

omeçou a se mover na direção de meus golpes e logo após a á

gua se juntou e foi na direção deles, como se meus punhos fos

sem projetados para fora do corpo, quando me soltei deles m

e juntei ao mar e fiquei com a posição de luta a mostra com os

dois punhos na frente do corpo, eles vieram novamente e ago

ra a água sob controle derrubou os dois, eu estava sério ainda

na posição de luta e meu rosto ficava parcialmente oculto por

meu cabelo. O Regente estava a frente andando de coisas enq

uanto ordenava que soldados levassem Nix, Tales e Swip, ele

demorou alguns segundo pra ver o que eu tinha feito, logo q

ue notou tudo e me viu naquela posição ele disse:


— Afinal você não é completamente inútil, me mostre

então garoto, mostre a mim, Regente Malcolm Fate do que vo

cê é capaz — Ele tirou o charuto da boca, tirou as cinzas, apag

ou-o pressionando contra o próprio braço, jogou fora e veio n

a minha direção com o mesmo golpe que usou contra Nix, u

ma enorme labareda veio em minha direção e eu caí, eu estav

a exausto, não conseguia mais, mas eu precisava lutar, por to

dos, eu me levantei novamente — Eu só não te mato aqui poi

s a missão é te capturar vivo, na primeira primeira oportunid

ade eu te executo, além de fraco é persistente.

Ele então fez aquilo que eu estava cansado de ver, me

olhou nos olhos e do nada eu estava naquilo novamente. Meu

s pensamentos e comandos pendiam para eu seguir ele, toda

a minha vontade estava morta e eu apenas sentia a necessida

de de segui-lo. Ele estava usando o controle da mente, agora

que eu estou mais informado sei que se chama Posse.

A chuva se intensificou ainda mais, quando fui tentar

me livrar do controle ouvi aquele som, o mesmo som que me

fez arrepiar de medo antes de chegar nessa ilha, me arrepiei n

ovamente e agora ainda mais, era aquele monstro, Kosish. To

dos olharam ao redor assustados buscando a fonte do som po


is o monstro estava próximo, mas Malcolm ignorou, se virou i

ndo na direção do dirigível e eu respectivamente comecei a se

gui-lo por conta do controle da Posse.

Eu precisava balancear as energias, vida e morte, sol e l

ua, luz e sombra. Tinha algo diferente, eu não sentia apenas e

ssas forças, abaixou um acima delas, num local separado havi

a quatro lacunas que não possuíam energia alguma, havia esp

aços vazios para outras forças, e só agora aquilo apareceu, nã

o estava ali antes.

Mantive a luz e a sombra em sinergia, comecei a me liv

rar das amarras de Malcolm. Junto a isso gradativamente um

dos quatro espaços para as energias ficava diferente, surgia al

i uma força, mas era distinta da energia da vida e da morte, er

a algo físico, era algo que estava ali ao meu redor, eu podia se

ntir o frescor daquela força em meu corpo, era a água. Eu abr

o meus olhos e vejo os soldados levando meus amigos para a

quela sombra gigantesca, Malcolm ainda andando nota que

me livrei do controle, se vira estarrecido e diz:

— Porra garoto você levou a sério mesmo esse papo de

ser forte hein, mas você já tá fodido, apenas desista…


Ele tirou os olhos de mim lentamente e os fixou na dire

ção do vasto oceano, numa sincronia quase exata eu me aprox

imei do desgraçado do Malcolm e o som de Kosish ressoou n

ovamente, o Regente começou a gritar para os soldados subir

em no dirigível para levar logo os alvos e começou a vir em

minha direção com suas mãos em chamas.

Aqueles lugares vazios que vi, eu não sabia o que eram

mas aquele que senti ser preenchido pela água pulsava em m

im. Novamente Kosish berrou e a força da água pulsou, um

monstro guardando uma ilha controlando água, chuva e gera

ndo gelo, Kosish era aquela energia em mim, a força da água

era o monstro não eu. Eu apenas estava ligado a ele de algum

a forma, me dei conta que não notei antes pois não dominava

por completo o elemento, não havia conexão e agora eu enten

di, finalmente entendi algo. O monstro com que tanto tive rec

eio era algo salvador, ele é a força da água ligada a mim.

Olhei para trás e lá estava aquele enorme polvo, era as

sustador, seus tentáculos se movendo tão lentamente que par

eciam montanhas. Diferente da última vez me senti forte, foi

quando o enorme monstro que mesmo no meio do oceano po

de ser visto daqui, entrou em sinergia comigo, aquele lugar v


azio se preenche com a presença amedrontadora de Kosish. É

semelhante a quando se brinca, você se sente realmente poder

oso a ponto de fazer tudo, foi isso que me instigou a esticar o

braço na direção do dirigível e ao invés da água ir, ou de nad

a acontecer um tentáculo enorme vindo das profundezas se e

stendeu por completo acima de nós e ficou dez vezes o taman

ho normal, numa explosão derrubou o dirigível, Malcolm ao

notar isso parou de vir em minha direção e foi na direção do

mar, na direção do monstro enquanto berrava:

— Leem essas merdas agora para os navios na outra co

sta, eu cuido da aberração.

Os soldados em uníssono responderam com um sim se

nhor.

Os destroços do dirigível começaram a cair e nisso eu

percebi que Kosish era a distração, mas ele não iria ser derrot

ado, ele iria me ajudar a salvar meus amigos. Malcolm voou c

om o vento ao seu redor e foi pra perto de Kosish, gradativa

mente ele começou a arder em chamas semelhante a um mete

oro, mas logo no meio do caminho um outro tentáculo bateu

nele e aquela bola de fogo sumiu, os soldados tentavam ir em

bora, mas eu me conectei ao polvo gigante, eu finalmente pod


ia fazer algo. O monstro que achei que me mataria me salvou

e a partir dele eu controlei algo muito acima da minha força,

usei isso novamente.

Ao me focar na força da água eu me conecto ainda mai

s com Kosish e me sinto quase que no completo controle, com

eço a gesticular e pensar para que uma enorme onda se forme,

logo após formá-la, sem nem olhar apenas pela força d’água

eu ando na direção dos meus amigos desacordados e Tales. O

menino estava na mão de um dos soldados que ao me ver con

trolando a enorme parede d’água soltou o garoto e veio corre

ndo em minha direção. Nix e Swip também foram soltas e eu

rapidamente notei que todos eles estavam juntos, eu estava n

a frente deles em relação a onda que vinha. O som começou a

ser ouvido, eu me viro, os soldados pareciam querer para o c

urso da água que eu controlava, agora quase como no som de

um rio a onda começou a consumir toda a praia, antes do hori

zonte ficar invisível uma enorme bola de fogo foi arremessad

a por Kosish na montanha ao norte, era Malcolm, ele havia si

do derrotado e agora estava distante.

Respectivamente o horizonte sumiu atrás da enorme o

nda, eu me virei de costas pra ela e abri os braços com a água


engolindo tudo, mas eu e meus amigos estávamos bem. A ág

ua não havia me pego, foi aí que eu vi Swip acordada com a

mão erguida e os ventos nos deixavam numa espécie de cúpu

la dentro da enorme onda, nisso todos os soldados desaparec

eram e Kosish rugiu novamente, aquele som era assustador e

ao mesmo tempo revelador.

Ali dentro da onda, na bolha de ar, enquanto o som do

monstro ressoava as memórias vibraram em mim e eu voltei

a ver as memórias dela, a garota, rapidamente vi como ela ag

ora parecia mais velha, ela andava até a costa de uma praia p

ara ver um pequeno polvo, uma versão em miniatura do enor

me Kosish, esse animal menor urrava, ela o entendia e respect

ivamente eu também, o som era mais baixo mas era exatamen

te o mesmo que eu e todos num raio enorme de distância ouv

íamos agora.

O som do passado, quando Kosish era quase um anim

al normal e o som do presente ecoando ao longe, eram os mes

mos. Consequentemente na memória senti que após ela ouvir

o que Kosish disse, ela sorriu, acariciou o polvo enquanto dizi

a:

— Também senti sua falta Koshi.


E o que ela ouviu eu também ouvi agora e eu poderia j

urar que significava: “Bem vindo de volta mestre”.


Télos conta a Swip quem é Tales > Swip disse aos anciãos sob

re Tales ter salvo Télos, eles imediatamente iria mandar execu

tar o garoto mesmo com Swip tentando ir contra eles > Télos

e Nix dizem a Swip sobre suas visões e Télos diz sua suposiçã

o sobre vidas passadas > No Arquipélago de Ainstorn eles lee

m a notícia de que um velho foragido da União Goldenu foi p

reso em Scar pela União > Swip diz que eles precisam salvar e

le para adquirir respostas > Télos aceita e lê também que um

homem com as características de Tales foi preso na mesma pr

isão por seus crimes contra a União.

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