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Para meu marido

GIRASSOL SEM SOL


parte um
Sebastian

Ela está chorando.

Eu não achei que ela fosse chorar quando essa hora chegasse. Talvez seja
um choro falso… Mas não parece.

Deixo meus olhos — olhos de morto, frios, pesados, não muito diferentes
dos que eu costumava ter quando estava vivo — vagarem por ela por mais
alguns instantes. Não parece falso. Se alguém me contasse que minha mãe
estaria chorando ao lado do meu caixão, eu diria que era fingimento. Mas eu
estou aqui. Não há nada falso na forma como ela segura o terço com força
entre os dedos, ou como não desvia a atenção do meu corpo cada vez mais
gelado.

É como se ela pensasse que eu vou fugir.

Não vou fugir, mãe, mas fugiria se pudesse.

Há poucas pessoas em minha volta. Acho que consigo contar todas sem
me perder, mas não o faço. Não tem porquê.

— Ele era tão jovem. — minha tia Olinda, irmã mais velha de minha
mãe, murmura. É a terceira vez em uma hora que diz isso. Em nenhuma das
vezes ela estava realmente olhando para mim. Será que ainda tem nojo de
mim? Ela olha para as flores que colocaram em minhas mãos. Não a culpo:
são mais bonitas que eu. — Mas Deus sabe o que faz.

Não acho que Deus saiba o que faça. Na verdade, acho que sequer exista
um Deus, mas não digo nada. Nem poderia, também. Estou morto.
Mortíssimo. Possivelmente prestes a dar de cara com anjinhos tocando harpa
ou com um cara vermelho com chifres na cabeça. Pessoalmente, aposto no
segundo, mas vai saber, né.

Se for os anjos, que ao menos eles toquem bem.

Se for o homem vermelho, espero que não faça tanto calor.

Minha mãe soluça. Inferno, está chorando de verdade.

— Tão jovem. — Olinda repete.

Não sei porque ela insiste nisso. Eu tinha vinte e três, podia ser mais
jovem.

Tá, tá, considerando que a média de vida de um brasileiro é de setenta e


sei lá o quê e eu não cheguei nem perto da minha aposentadoria… Eu
realmente era jovem. Fazer o quê.

Não sei porquê estou tão calmo. Eu não costumava ser assim quando
estava vivo. Eu era ansioso pra cacete. É como se tivessem me dopado com
remédios para cavalo. É bom, de certa forma.

Olinda se afasta de mim. Agradeço. Nunca gostei dela mesmo.

Lembro quando ela cuspiu no chão em minha frente e disse qualquer


baboseira genérica sobre Deus que Átila iria rir se ouvisse.

Minha mãe continua a soluçar. É a única perto de mim. Os outros estão


apenas em volta, conversando, sentados.

Se eu forçar um pouco, consigo ouvir ela perguntando: Adiantou alguma


coisa, Sebastian? Adiantou, hein? Adiantou se drogar e se meter com aquela
gente?

Eu queria poder responder: Adiantou, sim, mãe… Adiantou. Muito.


Encontrei a minha família assim.

Mas sei que ela jamais iria ver além da maconha e do tal demônio do
homossexualismo que o padre Geraldo disse pra ela que habitava em mim
desde que eu tinha treze anos.
Eu sinto um toque distante ao lado de meu corpo. Tudo fica cada vez
mais distante…

É meu pai.

Meu pai.

Eu sempre precisava de um instante para me recuperar da imagem dele


quando estava vivo, agora não muda nada. Ele continua a me meter medo
mesmo eu estando morto, pelo amor de Cristo. Eu sou um frangote.

Meu pai não diz nada. Nem precisa, na verdade. Você colheu o que
plantou. Ele iria dizer isso. Sei que sim. Mas eu não plantei nada, pai! Só
torci para colher coisas, não plantei nada. Você me impediu de plantar
qualquer coisa…

Mesmo com meu corpo fedendo a formol, ele ainda consegue olhar com
desprezo para mim. Ah, se eu pudesse dar um soco nesse velho…

Sempre a mesma cara de limão chupado. Que nojo.

Quem eu quero enganar… Eu jamais seria capaz de agredir qualquer


pessoa. Um frangote, dos piores.

Eu realmente sou uma bicha.

Começa um burburinho em algum lugar. Meu pai se mexe.

— Você aqui, não! — ele grita, meus ouvidos zumbem. — Velório do


meu filho não é lugar de… De um vagabundo.

Está um silêncio. Eu consigo ver ele.

Eu consigo ver ele.

Eu consigo ver ele.

Eu consigo ver ele.


!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Átila caminha até mim, devagar. Sim, meu amor! Eu sempre gostei de
como ele caminha devagar. Um foda-se na cara de todo mundo. Foda-se esse
seu tempo, foda-se essas suas regras, foda-se tudo. O mundo é meu!

Meus pais viram Átila apenas uma vez na vida. Uma noite que terminou
com minha mãe gritando versos aleatórios e sem nexo da bíblia e meu pai
com um nariz sangrando porque Átila nunca deixou ninguém apontar o dedo
para mim e me chamar de perdedor.

Eu sempre fui um frangote, ele não.

Nós dois somos bichas, mas Átila sempre foi uma bicha muito mais forte
e corajosa do que eu.

Por um momento penso que meu pai vai tentar pular em cima de Átila,
mas ele apenas fica parado. Quem é o frangote agora, hein, hein, hein?

Minha mãe apenas aperta ainda mais a merda do terço. Não sei o que a
velha acha que está fazendo.

Átila se aproxima de mim e, pateticamente, me sinto vivo novamente. Me


sinto quente. Ele não diz nada, apenas toca em mim, em minha mão. Sinto
que desliza alguma coisa até a minha palma. É pequena, uma semente. Uma
semente de girassol.

Nós plantamos girassóis na primeira vez em que nos vimos, então na


primeira vez em que eu disse que o amava, na primeira vez em que eu
consegui ficar uma semana inteira sem ter uma crise de ansiedade, na
primeira vez em que nós ficamos bêbados juntos e em tantas outras primeiras
vezes. Ele é bom com plantas.

Ele me tratou como uma planta.

Um girassol.

Um de seus mais preciosos girassóis. Eu lembro dele me dizer isso.


— Arrivederci. — Átila diz, para mim. Apenas eu escuto. Ele usa aquele
mesmo tom de italiano gentil que costumava usar pra me contar histórias
infantis quando eu acordava assustado de um pesadelo no meio da noite. —
Luce mia. Il vero amore non muore mai. Sarai sempre vivo nel mio giardino.

Goodbye, my love eu penso. Eu nunca fui bom em italiano, mas em inglês


sim I miss you. Touch me again, just one more time, please. Don’t go. Don’t
go. Don’t go. Don’t leave me here. I need you. I need you so much. Touch me
like you touch your sunflowers. Please. Please. Please.

Átila se afasta. Quero gritar para que fique, mas não posso. Minha
garganta não funciona, meus pulmões não funcionam, nada em mim
funciona. Sou um saco de carne e ossos inútil, semelhante a quando eu era
vivo, mas agora mais inútil ainda, incapacitado de sequer me levantar e dar
um último adeus.

Imagéticamente, aperto a semente entre meus dedos.

Penso que há pelo menos uma coisa boa em tudo isso: serei enterrado,
servirei de adubo para o girassol que irá nascer e crescer bem na carcaça de
meu peito, onde costumava bater um coração.

Eu vou virar um lindo girassol. Eu vou renascer. Átila irá me visitar


novamente? Ele irá me regar, eu tenho certeza. Ele já fez isso tantas vezes.
Ele sabe bem de quanta água cada flor precisa, não será diferente agora. Ele
fará isso.

Não, ele não irá.

Porque meu pai arranca a semente de minha mão, então eu morro


permanentemente.
parte dois
Átila

Acordo com as costas doendo.

Dormi no sofá mais uma vez.

Antes de cair no sono eu menti para mim mesmo que estava planejando ir
para o quarto e dormir na cama como um ser humano funcional, mas o sofá
tem sido muito mais confortável, emocionalmente falando.

Tropeço na garrafa térmica quase cheia de chá de hortelã antes de


conseguir chegar no banheiro e tomar um banho quente.

Eu odeio cada passo que dou até ali. Odeio que em cada passo meu
cérebro traga uma memória diferente que vivi com ele naquele espaço. Eu
odeio sentir a falta dele tão desesperadamente. Eu odeio sentir que cada
pedaço de minha pele parece sentir falta da pele dele. Mesmo assim, me
obrigo a me vestir adequadamente e a não colocar a mesma camiseta pelo
quarto dia seguido. Me obrigo a ir até a cozinha e a comer uma maçã inteira
antes de parar na frente da porta do nos— do meu quarto.

Meu. Só meu. Agora, ao menos.

Há anos eu não chamava esse quarto de meu.

Eu seguro o trinco e o empurro lentamente.

Parte de mim sabe que o quarto vai estar vazio, mas parte de mim espera
encontrar Sebastian dormindo embaixo das cobertas.

Eu queria que alguém tivesse me dito que a pior parte de perder alguém é
os momentos que se tornam absurdamente surreais não ver a pessoa ali,
mesmo que não exista nada de mais real nisso.

Solto o trinco e me forço a não pensar que é totalmente estranho não


encontrar Sebastian no quarto.

Ele está morto. Estranho seria o encontrar ali.

Pego o cigarro e o isqueiro e saio do quarto. Totalmente normal.

Exceto que nada está normal.

Estou vivendo o que mais detesto. A porra do estereótipo de um viado


que perdeu o namorado por culpa da violência e agora não sabe mais o que
fazer da vida.

Eu sempre disse que odiava quando casais homossexuais são retratados


em novelas e um deles ou os dois morrem e a lição que fica é: gays não
podem ser felizes. Que merda. Eu estou dentro de uma novela mal escrita.

Tudo bem que na situação política atual está difícil ser gay e feliz ao
mesmo tempo, mas isso é possível, inferno. Essa é a lição que precisa ficar.

Prendo o meu cabelo com um elástico antes de acender um cigarro e


pegar a garrafa térmica na sala. Sebastian sempre odiou que eu fumasse
dentro de casa mas non importa ora.

Por um momento, me pergunto se eu deveria lavar a louça da pia. A


resposta é: não, no, non ora, nicht jetzt, inte nu.

Eu pego uma xícara meio suja na pia e, no exato momento em que


descubro que o chá está morno, alguém bate na porta.

Uma voz em minha mente diz para não responder. Posso ficar ali e
simplesmente esperar a pessoa ir embora, mas então ouço o som novamente,
apago o cigarro e meus pés simplesmente me guiam até quem quer que esteja
ali.

Assim que abro a porta, vejo o mesmo tom de cabelo de Sebastian, quase
o mesmo tom de pele, porém mais bronzeado, o mesmo tom de olhos e quase
a mesma expressão de quem está absurdamente perdido que Sebastian tinha
anos atrás.

Ele sempre foi tão parecido com a mãe, mas tão diferente do pai.

A mãe de Sebastian me encara. Eu, com uma xícara na mão direita e ela
segurando uma sacola preta com as duas mãos.

— Átila, não é? — Olinda pergunta, com a voz fraca.

Eu apenas confirmo com um aceno, me perguntando até onde isso pode


ir.

Eu namorei o filho dela por três anos e ela mal sabe o meu nome.

Na última vez (e única) em que nos vimos, acabei deixando o marido dela
com o nariz sangrando.

Não me importo em tentar ser gentil:

— Como você sabe onde eu moro?

Ela parece um pouco surpresa com a pergunta. Aperta mais o plástico da


sacola entre os dedos, parecendo um pouco assustada.

Então me ocorre que talvez eu a assuste um pouco. Minha aparência, ao


menos.

Talvez meu piercing no nariz. Ou meu cabelo longo. Ou meu braço


esquerdo coberto de tatuagens. Ou o fato de que ela deve achar até hoje que
eu corrompi o filho dela.

Tento não ficar com a cara emburrada — Sebastian dizia que eu vivia
com a cara emburrada e isso assustava as pessoas.

‘Você deveria tentar parecer mais amigável.’

‘Eu não quero parecer mais amigável.’


‘A sua cara emburrada afasta as pessoas.’

‘Não te afastou.’

‘Verdade, mas mesmo assim é um traço horrível da sua personalidade.’

‘Todo traço da minha personalidade é horrível.’

‘Não fale assim…. Alguns traços são suportáveis.’

‘Viu? É por isso que não te afastou.’

‘Porque a minha personalidade é tão terrível quanto a sua?’

‘Não, porque você não tem bom filtro para nada.’

Com a ponta do dedão, eu toco o anel no meu dedo anelar.

A nossa aliança de compromisso.

Talvez eu devesse tirar ela.

— Meu filho… — Olga tenta me responder. Respira fundo e finalmente


consegue dizer: — Sebastian me contou. Ele queria que eu viesse….
Visitar… Vocês… Mas eu nunca… Achei possível.

Isso era novidade. Sebastian nunca me contou nada disso, mas talvez ele
simplesmente não quisesse que eu soubesse que tinha fracassado em mais
uma tentativa de fazer as pazes com a mãe.

Com o pai eu sei que ele jamais nem ao menos tentaria.

— Eu posso entrar?

A pergunta me pega de surpresa. Acho que demoro um pouco para


responder que sim.

Nós dois ficamos ali, no meio da sala, como se fossemos móveis novos
decorando a casa.
Eu não me movo.

É tudo surreal.

Vejo Olga analisar o lugar.

O maço de cigarros largado no sofá. A mancha suspeita no sofá. A


mancha mais suspeita ainda no tapete. O quadro dos Beatles na parede. O
quadro de um artista anônimo ao lado, uma paisagem genérica da praia. A
pixação um pouco mais ao lado — Il vero amore non muore mai, eu tinha
soletrado, bêbado, para que Sebastian, mais bêbado ainda, escrevesse. A
estante cheia de livros e alguns quadrinhos de super heróis de Sebastian. Os
livros em alemão empilhados ao lado da estante. Os poucos livros em sueco
largados ao lado da TV. As velas aromáticas espalhadas no outro lado da TV.
A TV antiga com a tela rachada bem no meio por culpa de Sebastian — ele
tinha tropeçado, em uma noite, enquanto fingia fugir de mim, e nós dois
acabamos juntos no chão encarando o mais novo estrago. Os saquinhos de
sementes de girassóis. O saquinho solitário de semente de lírio — a flor
favorita dele. Minha máquina de escrever em cima da mesinha de centro. Uns
papéis largados de poesias que escrevi à mão.

Tudo parece estar ali esperando para que Sebastian me mande organizar
tudo ou para que eu peça para ele ler alguma poesia que escrevi.

— Sebastian me disse que você quer ser professor.

Me pergunto em que momento exato Sebastian disse isso, porque, até


onde eu sabia, nos dois anos em que morou comigo, ele não falou com os
pais um dia sequer.

Ou, na verdade, ele só queria evitar o assunto.

Será que Sebastian ficava triste todas às vezes em que nós íamos visitar
meu pai e ele recebia nós dois com um abraço e não com um monte de
palavras sujas igual ao pai dele?

— Estou cursando letras. — é o que digo. — Português e italiano.


Olga aperta novamente o plástico da sacola entre os dedos.

— É uma profissão justa.

Eu comprimo os lábios em uma linha reta. Toda profissão é justa, mas


não posso simplesmente entrar em uma discussão sobre direitos trabalhistas
das prostitutas assim do nada.

Coloco a xícara de chá na mesinha de centro, sem querer segurar aquilo.

Que merda, tudo o que me sobrou foi chá morno e uma visita estranha.

Quero saber que horas são. Preciso estar na biblioteca cedo e, se me


atrasar mais uma vez, vou perder o estágio. Eu gosto de passar o dia cuidando
dos livros, não quero perder isso.

Olinda pigarreia e tenta dizer:

— Eu… Eu...

— Você? — acabo soando mais irritado do que realmente estou. Que


traço horroroso de personalidade. Mal consigo ser gentil com a mãe do meu
namorado morto.

— Eu limpei o quarto dele ontem à noite. As coisas que ele deixou para
trás quando… Veio para cá. Entende? Achei que talvez gostasse de ficar com
isso.

Figlia di puttana.

Meu braço praticamente se move sozinho, pegando a sacola das mãos


dela.

Eu não sei o que fazer, então fico parado.

Olga é mais baixa do que Sebastian era. Uns dez centímetros,


provavelmente. Isso me lembra dele indignado em ser mais baixo que eu
mesmo sendo quase um ano mais velho.
Surreal é a palavra aqui.

Simplesmente surreal.

— Sebastian também me contou que você o ajudou a passar na faculdade.

Eu confirmo. Isso foi um pouco antes de a gente começar a namorar.


Antes dos pais dele descobrirem que eu existo e nós dois nos encontrávamos
em qualquer lugar fechado que ninguém pudesse nos ver.

— Obrigado. Acho que você foi… Foi muito bom pra ele.

Não tenho muita certeza disso.

— Sinto muito por… Tudo.

A voz dela está pesada, a garganta falhando. Acho que entendo como
deve ser difícil para ela dizer isso. Talvez seja tão difícil quanto é para eu
dizer qualquer coisa no momento.

Dessa vez, quem aperta os dedos na sacola de plástico é eu.

— Eu… — Olga não está olhando para mim, mas para meus pés
enquanto fala. — Eu gostaria de que nós pudéssemos ter alguma relação.
Sebastian queria isso.

Eu pisco.

Só isso. Essa é a minha reação.

— Ele sempre dizia que gostaria que nós dois fôssemos próximos.

Surreal.

Eu aceno.

Sei disso.

Sebastian nunca conseguiu superar que os pais o arrancaram de casa por


um motivo tão besta.

Forço a minha voz:

— Não sei se… Se isso pode dar certo.

Poderia dar certo, se Sebastian ainda estivesse ali. Eu poderia me forçar a


tentar ser gentil com ela se Sebastian estivesse ao meu lado.

Mas duvido que ela irá me suportar sem o filho por perto. Da mesma
forma que duvido que eu possa suportar ela se não for para fazer Sebastian
feliz.

Olga olha para mim e leva uma das mãos até o próprio pescoço, para o
pingente de Jesus Cristo sendo crucificado. Ela assente.

— Eu entendo. — é tudo o que diz antes de começar a dar passos


hesitantes até a porta. Enquanto estou a seguindo com meus olhos, ela diz: —
Coloquei um papel com o número do meu telefone, junto com as coisas dele.
Você pode me ligar se quiser.

O primeiro pensamento que tenho é: nunca vou ligar para ela.

O segundo é: talvez eu devesse.

O terceiro é: fottiti.

Olga encosta a porta antes de sair.

Eu permaneço perdido no meio da sala por um momento.

Me sinto em um filme muito esquisito.

Olho para a sacola.

Devagar, me sento no sofá.

Sinto o cheiro de Sebastian. O mesmo perfume doce demais que ele


costumava usar. Eu odiava. Agora amo.
Eu fecho a sacola novamente, com medo de tudo. Com medo do que está
ali dentro, com medo de que nunca mais terei uma memória nova dele, com
medo do que ele está esperando de mim, se a sua consciência ainda vive, com
medo do que eu mesmo estou esperando de mim mesmo.

Com medo desse monte de sentimento de merda.

Esse sentimento de estar esperando na frente de uma porta que nunca


mais vai abrir.

Abraço a sacola.

Preciso ir para a biblioteca, mas prefiro estar ali com Sebastian.

Il vero amore non muore mai.

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