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Monólogos

Opção 1:

Achei que você não chegaria a tempo... Ele tá no quarto, não quer dormir... Acha que
se fechar os olhos a morte vem e leva ele embora... Que cachecol é esse no pescoço?
Por acaso a Espanha te deixou mais viado do que quando você foi? Você passou
maquiagem? Meu Deus!... Não vai reconhecer ele, tá acabado, magro, fraco, amargo,
a dor tirou dele a pouca ternura que tinha, se irrita com qualquer coisa... Mas
pergunta sempre por você. Eu achei que você não ia chegar a tempo, você "nunca"
tem tempo. Quem você acha que é porra? Sete anos, Paulo! E olha pra você: Tá
ótimo! Parece até mais novo que eu! Daí cê chega nos 45 do segundo tempo como se
fosse a... (suspiro) Passei as últimas noites rezando, pedindo a Deus pra que você
viesse. Não por você, mas por ele... Como ele sente sua falta, quanto te ama, te
admira, o jeito que fala de você... Você chega na boa hora, né? Vai dar um
"tchauzinho" pra ele e levar as boas lembranças. E eu, hã? Cansei, Paulo. A parte
amarga, a parte foda é sempre comigo. Quem cuida dele, quem dá banho, quem o
acompanha na dor, quem o vê morrer um pouco a cada dia sou eu porra, sou eu! E
jogo na tua cara mesmo! Com muito prazer! Porque foi a minha vida que parou no
último ano em função da doença dele. E nem pensa em encostar a mão em mim! Vai
pro quarto, vai... Vou fumar um cigarro e já vou.

Opção 2

Olha só Eduardo… Amanhã você vai embora. Talvez eu não tenha outra ocasião pra te
dizer a verdade, e é uma coisa que já devia ter feito há muito tempo, pro seu próprio
bem. Eu quero que você fique bem longe de mim. Eu sempre tive ciúmes de você, o
filhinho da mamãe, o predileto do papai. E foi no seu parto que a mãe quase morreu.
Eu sei que a culpa não foi sua, mas eu não posso deixar de te odiar, eu não posso
evitar. Nossa mãe partiu, nosso pai tá longe. E eu fiquei aqui com você, segurando
essa onda toda! Mas agora eu tenho que me vingar do mundo, eu tenho ódio de tudo e
de todos e especialmente de você. Pense bem nisso quando você tiver longe de mim,
onde quer que esteja. E presta atenção, porque se por acaso você voltar pra cá, eu
vou tá aqui, com aquela cara de bom irmão, fingindo que tudo tá bem. Mas na
primeira oportunidade que eu tiver eu vou te pôr longe da minha vida de novo. Pode
acreditar: não há amor maior do que este aquele que livra um irmão de si mesmo.

Opção 3:

Eu não acredito que eu estou ouvindo isso do meu pai (risos). Sabe qual é a verdade?
Tudo é bem mais complicado do que você pensa. Você pode passar o resto da sua
vida tentando fazer parte disso aqui, mas talvez você nunca, jamais encontre alguma
coisa porque você não enxerga nada pra fora desse seu mundinho. E não é por falta
de uma chance pra sacar o que é que rola aqui nessa casa... Basta tentar entender
seu próprio divórcio, pai. Basta tentar entender como eu e as minhas irmãs te
tratamos depois de tudo que você fez com a nossa mãe. Sabe o que é engraçado? É
que maior parte do seu tempo, você gasta dizendo que faz tudo por uma vida melhor,
pra você, pra nós, enquanto você está vivo, aqui, agora, desperdiçando anos, por um
telefonema ou uma carta ou um olhar de alguém ou alguma coisa para fazer tudo
voltar ao que já passou. E isso nunca vem, ou parece vir mas não vem de verdade.
Então você passa outra parte do seu tempo em um arrependimento que é tão vago...
Buscando qualquer merda que faça você se sentir conectado, se sentir inteiro, se
sentir amado... E a verdade é eu sinto tanta raiva, tanta tristeza. E a verdade é que...
Eu tenho me sentido tão magoado por muito tempo. E por muito tempo eu venho
fingindo que estou bem, apenas para seguir adiante, apenas para... Eu não sei por
quê. Talvez porque ninguém queira ouvir sobre meu sofrimento porque eles tenham os
seus próprios. Pai, eu não consigo mais. Eu não aguento mais fingir que te perdoei.

Opção 4:

Eu sempre fui muito dorminhoco e de repente eu passei 3 noites sem dormir. Foi tipo
um pesadelo, só que acordado, né? Eu estava trabalhando num projeto daqueles na
época, sabe? E pra piorar, eu terminei um relacionamento de 4 anos. Tava tudo fudido
mesmo, pouco descanso, uma rotina filha da mãe e uma vidinha bem mais ou menos.
Na época meus pais estavam fazendo bodas de casamento. Minha mãe me ligava
cobrando minha presença, me falando do crepeiro que ela tinha contratado. Puta que
o pariu, sabe? Eu queria lá saber de crepe? Daí eu surtei. Eu não dormia, não
conseguia descansar e praticamente bebi café até surtar. Eu lembro que liguei pra
uma amiga no meu dia de folga, eu já estava debaixo da minha cama quando liguei
pra ela. Ela correu pra minha casa, me tirou dali e me levou pro médico. Era o médico
dela quando ela teve crise de ansiedade, todo mundo tem crise de ansiedade hoje em
dia, né? É tipo Iphone: quem não tem, vai ter ainda. Daí eu lembro que eu não sabia o
que dizer pro médico, tinha um vaso com dente de leão na mesa dele, eu só queria
pegar aquele vaso e dar uma surra de dente de leão nele. Mas não era com ele, né?
Era eu, no caso, minha vida. Coitado, o doutor Marcos me ajudou muito, me
recuperou, eu diria. Daí ele faleceu depois de um ano e meio. E olha só que coisa: a
ex-mulher dele dividia o consultório com ele e foi ela quem assumiu minhas sessões.
Uma flor de pessoa, uma psiquiatra muito sensata. Só que depois de 6 meses, ela
faleceu também. Morreu da mesma forma que ele, acredita? Coração. Bom, depois de
tudo isso, acabou que eu vim parar aqui, doutor, por indicação. O senhor consegue
me encaixar?

Opção 5:

Meu pai era uma boa pessoa, mas, ele bebia. Quando ele ficava um tempo sem beber,
ficava bom, mas ai quando bebia, bebia tudo de uma vez só. Foi um domingo; Ele tava
no sofá bêbado, discutindo com a minha mãe. Até então eu tava achando até graça,
dois adultos discutindo feito crianças. Só que a criança ali era eu. O negócio foi
ficando pior e meu pai ficando furioso... Eu nunca tinha visto ele daquele jeito, ele
parecia um bicho. Ele deu um soco no rosto da minha mãe, ela caiu e ficou pedindo
desculpa, “desculpa, desculpa”... Isso irritava muito mais meu pai e ele batia muito
mais nela, xingava ela de vagabunda, prostituta... A cada tapa, empurrão, pontapé,
meu pai ia dizendo nomes e nomes de homens, que segundo ele, minha mãe tinha
trepado. Eu ali, pequeno, não podia ouvir isso. Mas meu pai nem me notava... Então
eu sai, fui pra rua, fui tentar achar ajuda. Mas a rua tava vazia, não tinha ninguém, eu
não pude fazer nada. Quando voltei, minha mãe tava lá, segurando uma faca de
cozinha, cheia de sangue, e meu pai caído no chão, morto. Minha mãe me olhou, bem
nos olhos, não dizia nada, apenas um olhar profundamente triste. Eu queria ter feito
algo, eu realmente queria ter feito alguma coisa

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