Você está na página 1de 41

As estrelas vão guiar-me

Dedicatória

Um dia um amigo disse-me que eu podia escrever um livro, que tenho


capacidades para isso.
-“Mas sobre o que vou escrever.” – Perguntei eu.
-“Sobre as tuas emoções, os teus sentimentos.” – Disse ele.
Acho que o que ele pretendia mesmo, era que eu ao escrever desabafasse e
aliviasse a minha alma, da dor que me atormenta desde o dia em que deixei
de ver o Céu, o meu Céu!
Não sei se ele tem razão mas aqui fica a minha tentativa e, se o resultado é
bom ou não, isso já fica ao vosso critério.

A ti, Franc, dedico esta minha tentativa.


Obrigado por estares sempre do meu lado nas horas em que mais precisei.
Obrigado por me dares teu ombro enquanto lambia as minhas feridas.
Obrigado por insistires e me ensinares a desabafar.
Obrigado por seres meu amigo.

DESEJO MEU

2
Tua musa queria ser
Em teu coração habitar
Teus lábios, em meus prender
Com meu beijo te conquistar

Em teu mundo queria entrar


Para teus sonhos refazer
Minha alma te entregar
E só a ti pertencer

No teu olhar eu queria ver


Um novo brilho despontar
Envolver-te em meu querer
E toda a vida te amar

Teu sorriso queria ver


Cada dia a aumentar
Retirar teu sofrer
E no teu peito descansar

Felicidade queria ser


E ao teu lado ficar
Com meus braços te envolver
E mil carícias te dar

3
I

Tanto quanto me lembro de mim há uns tempos atrás, eu era alegre, animada, amiga do
meu amigo e, vivia apenas para o meu trabalho e para a minha filha. Tinha uma vida
estável e equilibrada, porém havia um vazio que me perseguia. Mesmo tendo a minha
vida organizada sentia sempre uma lacuna, um vazio na alma no final de cada dia.
Acho que sentia falta de um ombro onde encostar a cabeça, a falta de um abraço terno
ao regressar a casa. Sentia-me sozinha. Estava tão sozinha que até esqueci que sou
mulher. Não me esforçava para parecer bonita porque deixei de sentir que o sou, faz já
muito tempo. O meu lado feminino andava sempre descontraído. Contudo, por causa do
lugar que ocupava no meu emprego fazia por ter boa aparência mas não me
aperfeiçoava porque há muito que deixei o papel de mulher para vestir um outro.

Separei-me do pai da Cat, ainda grávida de 4 meses e com uma filha para criar, dediquei
os últimos sete anos ao trabalho recomeçando uma nova vida “a duas”, pois afastei-me
da minha família. O meu dia-a-dia era um corre-corre entre casa e trabalho não ficando
tempo para mais nada. Enfrentava doze horas de trabalho diário, sempre a correr de um
lado para o outro. Ia levar a Cat ao infantário a correr, voltava a correr para o escritório
e, depois á noite voltava a correr para ir buscar a menina á ama e por fim regressar a
casa já tarde da noite, para finalmente poder jantar.
Os cafés com os amigos eram sempre a correr, as saídas eram nunca. Enfim, levava uma
vida completamente absurda. A única razão de voltar para casa ao fim do dia é a minha
filha. A Cat, hoje com seis anos, é a minha única alegria e o meu impulso para continuar
neste inferno diário.
Ao longo destes anos fiz da música a minha alegria, tomei os livros como companheiros
e segui vivendo dia após dia ao lado da minha princesa.

Um dia em tom de brincadeira com uns amigos disse que ia colocar um anúncio para
arranjar um namorado. Ninguém se riu, mas todos contaram histórias de casais amigos
que se conheceram assim e são felizes. Aliás os meus amigos são todos casais felizes e
eu a única que se mantém “desimpedida”. Sinto-me deslocada, fora do meu ambiente.
-“Como pensas que conheci o Miguel?” – perguntou a Sandra ao meu ouvido.
-“A sério!”
Fiquei atónita com a confissão. E se depressa o pensei, mais depressa o coloquei em
prática. Afinal também eu tenho casos na família idênticos.
No dia seguinte passei do plano à acção. Entrei num site específico e ao fim de meia
hora já tinha o perfil criado. Agora era só aguardar.

Depois de um mês passado e de só ter encontrado o que não queria, decido procurar
outro site. Fiz nova pesquisa na net e descobri uma outra página. Repeti os passos ao
preencher o máximo de campos possíveis para ter um perfil, e ao fim de não sei quanto
tempo lá estava ele. Restava-me aguardar de novo.
Todos os dias recebia imensos e-mails de pretensos candidatos, mas nenhum em
especial merecia subir o degrau da amizade.

4
Vejo a minha rotina diária alterada, pois agora tenho imensa gente com quem falar sem
sair de casa. Basta-me ligar o computador e aí estão eles prontos para mais uma noite de
conversa. Tinha dias em que me deitava ás 4 da manhã. Mas embora me divertisse
bastante, o vazio mantinha-se. Apenas era camuflado pelo diálogo diário com os meus
novos amigos virtuais.
Os dias passam com uma nova esperança. Pode ser que no meio desta gente toda
apareça alguém de jeito, dizia eu para os meus botões. Por hábito nunca verificava o
perfil de cada um, deixava-os ir falando e contando o que quisessem, pois a verdade
vem sempre ao de cima.

Era verão e eu estava a despedir-me do meu trabalho, o mesmo que tive durante quatro
anos e meio, para gozar as minhas merecidas férias. No início do mês seguinte iria
entrar para uma nova empresa. O meu despedimento deste trabalho era inevitável
devido a problemas de incompatibilidade com a entidade patronal. Ao fim de seis anos
de relação profissional, o meu patrão achou-se com direito a interferir na minha vida
pessoal, e isso eu não podia permitir de jeito nenhum. Por muito que me custasse a
desperdiçar a estabilidade financeira que aquele emprego me trazia, nada justificava o
sacrifício de perder a minha liberdade pessoal. Acabei os meus dias desse inferno no
início do mês de Agosto.
Uma manhã ao levantar-me, ligo o computador e lá estavas tu no meu ecrã. Ainda me
lembro de quando nos conhecemos, do primeiro dia em que falámos. Apareceste calmo
e tranquilo, tão terno que me espantei com a tua doçura.
-“Olá. Quem és tu?”
-“Sou o Luís, e tu?”
-“Sou a Paula”
-”És casado?” – pergunto.
-“Sim. Não leste o meu perfil?” – dizes tu.
-“Nunca leio. Prefiro que me respondam”.
E tu ias respondendo e também perguntando. A tua sinceridade espantou-me e ao
mesmo tempo cativou a minha atenção.
Recordo-me desses dias calmos em que falávamos horas sem parar. Começámos por
falar de nós, dos nossos gostos e preferências e à medida que nos íamos conhecendo
melhor, criamos laços de amizade.
Constatámos que as nossas vidas são em tudo um pouco semelhantes. A música que
escutamos, os livros que lemos, os altos e baixos da vida, o que esperamos ainda vir a
encontrar. Enfim tanta coisa em comum, que nem parece real haver dois seres tão
semelhantes. Como duas metades da mesma medalha que encaixam na perfeição, assim
estávamos nós.
-“Já reparaste que dou muita importância á música?” – perguntas tu um dia.
-“Eu também. É a minha companhia, o meu refúgio. Tenho uma música para cada
situação que vivi”.
-“Então já somos dois. Eu também associo a música com o meu estado de espírito” –
dizes.

Dou comigo a dar graças aos Céus por te ter conhecido. Finalmente nesta selva, que é a
vida, encontro um ser humano com ideias e sentimentos iguais aos meus.
Os dias passam-se na mais completa alegria. Todos os dias acordo na ânsia de falar
contigo. Sinto que posso confiar em ti e tu confias em mim. Contas-me a tua vida, os
teus problemas, a tua situação infeliz, enfim desabafas. Eu escuto e tento compreender.
Há muito que não me sentia útil para alguém, há muito tempo que ninguém precisava de

5
mim. Tal como eu, também tu precisavas de alguém que te escutasse, precisaste de
atenção e eu deixei-me levar pela minha necessidade de ter alguém com quem falar, de
escutar e ser escutada. Alguém que finalmente me compreende. Sinto que nos
aproximamos cada vez mais e que podemos contar um com o outro.
Enquanto falas dos teus problemas com a tua mulher, tento colocar-me do outro lado e
ajudar-te na reconciliação. Contas então que essa situação persiste há 3 anos, que não há
diálogo possível por parte dela. Mostras-me que adoras o teu filho e que por ele
ponderas se vale a pena continuar o teu casamento. Eu acredito em tudo e lamento o teu
sofrimento. Eu daria tudo para ter do meu lado um homem como tu e dar-lhe todo o
meu carinho.
Como estava de férias, passava os dias entre casa e praia. Mas mesmo na praia pensava
em ti e voltava a correr para casa só para te falar. Fazia por sair o menos possível só
para estar mais tempo contigo na Internet.

À medida que os dias iam passando, tu precisavas ainda mais da atenção que te
dispensava, e eu já estava habituada á tua presença. Já tinhas entrado na minha vida de
uma forma tão intensa que não te queria perder por nada deste mundo. Sentia-me feliz
por te ter desse jeito.
Uma semana antes de supostamente regressar ao novo trabalho confessas que vais ficar
triste por deixar de ter a minha companhia, confessas que sentes algo profundo e que
dificilmente passará. Não negas esse sentimento nem tão pouco lutas contra ele, porque
contra o coração não se pode lutar.
Nesse momento pensei para comigo: “ também eu vou sentir a tua falta”. Admito-o
perante ti e ao mesmo tempo que o admitia fiquei triste. Creio que me senti estranha
nesse dia. Aquele vazio na alma deixou de estar lá. Por fim alguém que me compreende,
que se preocupa comigo, que tem saudades minhas, alguém que me ama?! Mas porque
havia de ser logo por um homem casado.

Nessa altura não sei se estava demasiado carente ou se me mimaste demais. O que sei é
que a tua doçura invadiu o meu ser, apoderou-se da minha alma e deu-me um novo
caminho – uma nova vida. Deste-me paz. Deste-me amor. Eu dei-te o meu amor. Dei-te
o meu carinho. Dei-te a minha alma, dei-te tudo que tinha.

Tenho uma doce lembrança do nosso primeiro encontro. Um dia combinámos ir lanchar.
Comemos croissants quentes. Nunca mais voltei a encontrar o mesmo sabor. Estávamos
os três, eu, tu e a minha filha. Ainda sorrio ao relembrar a confusão do empregado
quando perguntou se afinal tinhas um filho ou uma filha. Estava uma tarde de sol
magnífica. Fazia calor e o dia tornou-se mais bonito com a tua presença. Falámos de
tudo um pouco, coisas banais. Mas o importante era tu e era eu estarmos juntos.
Falámos da importância da música nas nossas vidas. Tal como eu, que atribuo sempre
valor sentimental às letras das músicas que escuto.

No dia seguinte contas-me que gostaste da sensação da Cat te dar a mão enquanto
caminhávamos. E sorrimos os dois mais uma vez por causa da confusão do empregado
ao supor que eu era tua esposa e a menina tua filha.
Recebo então a tua primeira dedicatória e uma das muitas músicas que me havias de
dedicar:

6
Com carinho para um anjo que resolveu descer dos céus e viver junto aos comuns
mortais
Beijinhos

Não consigo ainda hoje encontrar palavras que descrevam a minha surpresa. Tu
pensares que sou um anjo?!
-“Onde escondes as tuas asas?”, perguntas.
-“Eu não tenho asas.”
-“Tens sim e gostava de saber onde as escondes”, voltas a insistir.
-“Deixa-te disso, não tenho nada. Andas a imaginar coisas!”
-“Tu é que não as mostras.”
E crescia assim a nossa admiração um pelo outro. Dia após dia, conversávamos na
Internet, de manhã até á noite, como dois amigos inseparáveis.
Um dia comparaste o nosso encontro com a letra de uma música do James Blunt: “I saw
your face on a crowded place. Moramos tão perto e nunca nos cruzamos e no entanto
encontrámo-nos nesta imensidão, neste mundo virtual. É verdade, concordei contigo.
Confessei que gosto muito dessa música em particular, e tu admites o mesmo.
Mudámos de assunto e continuou a nossa conversa ao longo do dia. Brincávamos
imenso e sobretudo falávamos de nós, do que gostamos, ou simplesmente da nossa vida.

Decorridos alguns dias, tudo corria na maior das harmonias. Vivia num sonho cor-de-
rosa e sempre com alegria por estarmos juntos, mesmo que virtualmente.
Enquanto escuto a música James Blunt absorvo cada palavra e viajo no meu
pensamento até aos teus braços.
“She was with another man” – Tu és o meu anjo e és tu quem está com outra mulher,
não eu. Fazes-me falta e nem calculas quanto.
Mais uma vez associo a música ao meu dia-a-dia á minha vivência. Passo a escutá-la
todos os dias e sempre que a ouço aumento o som e que ninguém se atreva a falar nesses
minutos. Faço de conta que és tu quem me canta esta canção.
Ambos consideramos que o significado desta música é uma grande prova de amor,
alguém que se mata por não ter o amor da sua vida. É bela e ao mesmo tempo triste.

Um dia conto-te que preciso de um gravador de cd’s para tirar a música que tenho
armazenada no computador. Tu dizes que tens um e que me emprestas.
Convido-te para almoçar e apareces com o gravador. O almoço foi a três, pois para além
de ti estava presente um rapaz que passou uns dias cá em casa. Chama-se Gil. Estava a
fazer um curso aqui no norte e não tinha dinheiro suficiente para pagar um hotel.
Sensibilizada com a situação dele acolhi-o. Tu ficaste perplexo por eu o ter feito.
Apercebeste-te que o acolhi sem o conhecer quando ao despedir-se ele referiu que o
safei de passar umas noites a dormir no carro.
-“És de uma bondade extrema, tens um coração enorme. Cada vez me surpreendes
mais” – disseste!
Mas para mim o que eu fiz por ele é o que eu gostaria que me fizessem, se eu
precisasse. A amizade é uma porta sempre aberta numa morada incerta…

Nesse dia trocamos o “nosso” primeiro beijo. Doce, suave, terno, meigo, fugaz,
tímido… Incrível como um só beijo consegue traduzir isso tudo, mas foi o que senti.
Tocaste-me com a tua ternura e levaste-me ao mundo onde o sol brilha sempre. Nesse
mundo não há noites, só existem dias cheios de luz, com um brilho tão intenso que

7
enchem o meu coração com todas as cores. Foi aí que tive a certeza que te hei-de amar
para sempre.

-“Estou nas nuvens”, disseste tu mais tarde na Internet! E eu agarrada ás tuas asas estava
ao teu lado. Seguraste as minhas mãos e abriste-me as portas do teu coração. Sentia-me
imensamente feliz, ao ponto de pensar que ia explodir tamanha era a minha felicidade.
Mas era apenas amor, o meu amor por ti a aumentar. Um amor tão grande que julguei
não caber em mim.
De um dia para outro passei a ver o mundo de uma maneira diferente, como se toda a
beleza do mundo se materializasse no meu peito e fluísse entre nós.
Na primeira vez que fizemos amor, mudei-me definitivamente para o Céu. O teu Céu.
Foi a melhor sensação em toda a minha vida. Ainda hoje quando fecho os olhos sinto a
ternura e a paixão com que nos amámos. Cada carícia tua ainda acende uma chama
dentro de mim. Cada beijo teu, leva-me ao paraíso. È um arco-íris materializado na
minha alma e eu sinto-me a flutuar, caminhando nas nuvens ao teu lado.

Estávamos todo o dia a falar na Internet, e á noite eram mensagens através do


telemóvel. Almoçávamos juntos todos os dias em minha casa. Era o único tempo que
tínhamos para estarmos juntos e gozarmos de alguns minutos de prazer e amor.
-“Bom dia fofinha”, é assim que passo a acordar todos os dias, e tudo de bom acontece.
O meu coração bate forte a cada palavra tua, e o sol brilha dentro de mim todos os dias.
-“Bom dia meu amor”, respondo!
Prometemos então sermos sempre sinceros e honestos um com o outro, e no dia em que
um de nós quiser parar o outro desaparece.

Esforço-me por ser perfeita para não te desapontar. Esmero-me em cuidados comigo e
com a casa. Não posso correr o risco de ser desleixada. Fazes-me sentir uma mulher a
sério, despertas em mim o meu lado sensual e feminino e preciso de me aprimorar.
Sinto-me amada e desejada, e amo-te e desejo-te também. Mas preciso de me esforçar
ainda mais.
Falávamos todos os dias, de manhã, ao almoço, á tarde…E à noite quando te deitavas
em tua casa era comigo que dormias, pois abraçava-te com o meu pensamento. Vivia
um conto de fadas. Afinal encontrei um anjo na terra e julguei não ser possível.

My life is brilliant.
My love is pure.
I saw an angel.
Of that I'm sure.

Deixaste-me ver a tua alma e mostraste-me o verdadeiro amor. Deste-me uma nova
razão para existir quando através dos teus olhos me mostraste que um amor como o
nosso é bem mais forte do que qualquer lei. Um olhar teu é suficiente para iluminar o
meu dia, tal a intensidade do nosso amor.
Através dos teus olhos descobri uma nova forma de ver: o baloiçar das folhas das
árvores seguem o ritmo da música que trago no coração; o sol brilha mais forte; a terra
acabada de regar tem um cheiro doce, mais doce do que me recordo e o Mundo é tão
bonito e eu nunca tinha reparado…

8
Quando fazíamos amor conseguia perceber o quanto precisavas de mim e eu cada vez
precisava mais de ti. Preciso do teu toque suave na minha face, preciso das tuas carícias
no meu corpo, dos teus beijos, da tua respiração no meu pescoço, preciso da forma
como só tu tocas a minha alma.
Juntos estamos felizes. Estou no Céu e tenho um anjo ao meu lado, o meu anjo.
-“Dorme bem minha deusa”, dizes.
-“Tu também meu anjo”, respondo.

Acabo por não conseguir o tal emprego com que estava a contar, e começo a passar
muito tempo em casa. Fui informada por e-mail que não podia contar com o lugar que
me foi colocado à disposição. Falei disso contigo, mas não aliviou o meu desgosto e
preocupação. Afinal vivo do meu trabalho, e sem trabalho não há dinheiro para cumprir
com os compromissos que entretanto assumi.
No entanto, limito-me nas tarefas e afazeres para estar mais disponível para ti. Passo a
fazer o essencial. Arrumo a casa e preparo o nosso almoço. Temos mais tempo um para
o outro. Para saciamos a nossa sede de amor. Vivo em função desse amor. Esqueço as
responsabilidades e acredito que um golpe de sorte me há-de atingir. Estou embriagada
pelo teu carinho e não penso em mais nada a não ser estar contigo e fazer-te feliz.

As músicas que trocámos transmitiam o nosso estado de espírito, cada uma com mais
juras de amor do que a anterior.
-“ Lembra-te do James Blunt…You’re beautiful!”, dedicaste-me tu.
Essa será sempre a nossa música. Nunca houve ou haverá música mais bonita para mim:
E de facto eu sentia-me bonita. Bonita de todas as maneiras, por fora e por dentro. Algo
em mim se alterou com a tua doçura e meiguice. Também eu, contagiada, me sinto bela,
doce e meiga.

Cada dia te amo mais. Onde irei parar, questiono-me mas não encontro a resposta. Os
dias vão passando e o meu amor cresce de uma forma desmesurada, que me leva à
ansiedade quando não te vejo, quando não estás comigo…quando não sacias a minha
sede do teu amor. E no entanto tenho sempre presente o facto de seres casado.

Estou no Céu e tenho medo de regressar ao mundo onde vivia antes. Encontro-me a teu
lado rodeada de nuvens e anjos e tenho medo de voltar á Terra. E no entanto sei que
nunca estarei contigo na totalidade. Tu tens a tua família, eu só tenho o teu amor e a
minha filha.
Recolho-me no meu pensamento procurando não perder a razão, pois é tão grande a
minha felicidade que julgo ter perdido o juízo e habitar num mundo de fantasia.
Em cada ocasião das nossas vidas houve sempre uma música, houve sempre algo nas
letras com que nos identificámos, tu no teu mundo e eu no meu.
Neste momento, as músicas são algo que partilhámos, algo que usávamos para nos
tocarmos. Tocaste a minha alma e o meu coração, mudaste a minha vida e eu tornei-me
tua por inteiro – corpo e alma em uníssono. E por isso faço das tuas músicas a minha
companhia.

-“Amo-te”, escreveste-me tu numa noite. Acordei e não consegui mais dormir de tanta
felicidade que me deste, só por mandares estas palavras. Eram quatro da manhã e fiquei
toda a noite a olhar para as letras com medo de ter lido mal. No meu pensamento
abracei-te, amei-te, mimei-te e passamos assim a noite, abraçados, no meu pensamento.

9
Unida a ti pelo pensamento viajei ate ao universo, contemplei a beleza das estrelas e no
alto do firmamento gravei o meu amor por ti. Algures lá longe há uma constelação com
o teu nome. Fui eu que a criei com a força do meu amor por ti.
-“Eu também te amo” – respondi eu, e ainda hoje vejo essas estrelas a brilhar no Céu,
mesmo ao lado das outras.
Não sei como vivi até aqui, pois só agora me sinto realmente viva. Sinto a energia que
corre em mim, sinto o meu corpo a precisar de ti, dos teus carinhos. Sinto a minha alma
a precisar de ser alimentada da forma como tu fazes. Sei que também tu precisas de
mim e isso dá-me alento. Sei que te amo e vou amar para sempre.

-“Quem me dera ter-te conhecido há uns anos trás”, dizes.


-”Porquê?”, pergunto.
- “Porque assim não tinhas passado pelo que passaste e eu não estava nesta situação.
Hoje podia ser o pai da tua filha. Teríamos poupado muito sofrimento aos dois e hoje
estávamos juntos”.
Fico sem palavras perante tamanha demonstração de amor e mais uma vez o meu amor
por ti aumentou. Fiquei com um nó no peito ainda hoje não sei porquê. Só tenho a
certeza que o meu amor por ti não vai acabar nunca. Tenho a cabeça a explodir de tanta
felicidade

A cada dia precisávamos mais um do outro. Absorvíamos com sofreguidão cada gesto,
cada palavra e tornamo-nos dependentes um do outro. Amo-te tanto que sinto estar às
portas da loucura. Como posso eu amar tanto?

-“Amas-me?”, perguntas uma vez.


- “Muito”, respondo.
-“Amas-me assim ao ponto de casar comigo se eu não fosse casado?”, voltas a
perguntar.
-“ Se não fosses casado e me pedisses em casamento, eu aceitaria sim sem pensar duas
vezes. Sabes que te amo de verdade” – foi a minha resposta. Embora saiba e adivinhe
que esse dia nunca há-de chegar, pensei para comigo.
E tu respondes com o silêncio.
Afasto a triste sensação de nunca poder assumir este amor, continuando a nossa
conversa, enveredando para outro assunto.

Os dias sucedem-se e eu continuo desempregada, entretanto com já enormes contas por


pagar. Começo a ficar preocupada, diria quase desesperada. Sou obrigada a trocar de
número de telemóvel. E dou-te o novo número. Deves ter tido um vislumbre da minha
situação, o que, aliás, não era imprevisível., pois perguntaste-me se estava com
problemas financeiros.
-“Não” – menti.
A minha primeira mentira, aliás foi só neste aspecto que te menti. Não queria que
soubesses as dificuldades que estava a atravessar, não queria que me mandasses embora
da tua vida. Não te queria perder e também não queria que te preocupasses. Acreditei
que se soubesses a verdade da minha situação não me quererias mais do teu lado. E eu
precisava tanto do teu amor. Mesmo assim não te convenceste, mas eu não quis falar
sobre o assunto. Argumentei que a minha situação económica só a mim diz respeito.
Falar sobre a minha situação financeira sempre foi um problema para mim. E além disso
habituada a lutar sozinha anos a fio como fiz até aqui também contribuiu para esse

10
enclausuramento. Não me agrada a ideia de falar sobre isso com ninguém. A vergonha
de ter contas em atraso é por demais dolorosa para falar dela com quem quer que seja.

Os dias felizes sucedem-se e durante os fins-de-semana como estávamos ausentes


fisicamente, encontrávamo-nos em pensamento, e era através das mensagens de
telemóvel que trocávamos carinhos. Estávamos sempre em contacto. Nunca te esquecias
de mim. E o meu pensamento nunca te abandonava.

-“Bom dia fofinha linda”


-“Bom dia fofinho”
Era o bastante para o meu dia sorrir. A paz e tranquilidade que me davas nunca chegaste
a saber.

-“Queres uma tartaruga?”, perguntaste um dia.


-“Não obrigada. Já me chega o hamster que tenho”.
Como brincávamos! Até parecíamos dois miúdos de tão felizes que estávamos por nos
termos encontrado.
-“Vou deitar-me. Dorme bem amor.”
-“Tu também meu anjo”, respondo.
Já não conseguia adormecer sem o teu beijo de boa noite. Parece ridículo mas precisava
dele tal como uma criança ao adormecer precisa do beijo da mãe. Enquanto não o
mandavas eu não dormia, e aguardava com ansiedade.

Recordo o dia em que disseste ter um sonho: comprar uma casa no Alentejo e mudares-
te para lá.
Nesse dia e por momentos senti-me a cair sem amparo. Depois disseste que eu fazia
parte desse teu sonho e viajei de novo ate ao teu Céu.Imaginei-nos aos dois e aos nossos
filhos, num cenário repleto de felicidade e harmonia.
O mundo perfeito onde apenas a serenidade e alegria têm lugar. Esse foi o mundo que
me mostraste através dos teus olhos e do teu coração.
Visualizei-nos aos quatro numa colina, num cenário perfeito. Os miúdos a brincar e a
gritar de contentes e nós os dois a contemplar o pôr-do-sol, abraçados enquanto a calma
da paisagem nos acolhia.
Esse sonho vou alimentando dia após dia, na expectativa de um dia te ter só para mim.
Aguardo com ansiedade o dia em que me possas dizer: Sou todo teu!

11
A semente

A semente que cultivaste


Dentro do meu coração
Era frágil e ficou forte
Indestrutível pela mão

Sem ela não há oceano


Nem gaivotas a voar
Não há flores a crescer
Nem há noites de luar

Da semente cultivada
Veio uma estrela reluzente
Tal como o que sinto por ti
Vai brilhar eternamente

12
II

-“Não tens macaquinhos na cabeça quando ficas sozinha”, perguntas vezes sem conta.
Não tinha, mas deste-mos de tanto que perguntaste. Começo a sentir que também tens
medo mas não dizes de quê.
-“ Não te sentes sozinha á noite? Afinal eu tenho a minha família e tu vives sozinha com
a tua filha, é só por isso.”
Não sei se tens medo de me perder ou se já não me queres. Sinto-te angustiado mas
dizes que não se passa nada…Começo a ter medo de te perder.
-“Meu amor, sempre vivi sozinha com a minha filha, já estou habituada”.
-“Sim eu sei, mas mesmo assim não sentes a falta de estar com alguém?” - Voltas a
insistir.
-“Meu amor, quando nos envolvemos eu já sabia que ia ser assim, e depois tenho a
menina que também precisa de mim, e me ocupa”.
Ainda hoje me pergunto se esta tua dúvida era porque me querias e testavas o meu amor
ou se pelo contrário, já não me querias e procuravas cativar a minha atenção para esse
pormenor – a solidão das minhas noites!

Disseste que há uma musica que quando a escutas te lembras sempre de mim:
-“Nothing compares to you”, outra dedicatória tua.
Enalteces a minha alma. Viajo para o teu céu porque quero estar ao teu lado. A tua
ternura enche-me de amor. Não sei o que fazer. Amo-te como nunca amei ninguém e sei
que nunca te vou ter embora te traga no meu coração e sinta o teu amor. Tenho medo de
te perder quando souberes que estou completamente falida e escondo o que sinto, não
quero magoar-te.
Preocupo-me connosco e começo a dormir mal. Tu notas que ando triste e eu desculpo-
me dizendo que já não tomo os medicamentos para o coração há dois dias. Tu dizes:
-“Com a saúde não se brinca!” e mandas-me tomá-los.

Então começam os medos, os segredos, as palavras por dizer… Começa a angustia e o


receio que descubras a verdade.
A minha situação económica atingiu um ponto demasiado crítico. O que tu não soubeste
foi que eu não tomava a medicação porque nem sequer tinha dinheiro para os comprar.
E com vergonha de te dizer, disse que não me tinha lembrado de os comprar quando
acabaram. Acabei por comprá-los uns dias depois, quando recebi o abono da minha
filha.

13
Sei que algo te preocupava. Sentia como se me estivesses a esconder algo e ao mesmo
tempo sentia que me amavas. Não sabia mesmo o que pensar. A única certeza que tinha
e tenho é que preciso de ti.
-” Tens medo que eu te ame?”, perguntei um dia.
-“Não é isso, sabes bem que não é isso”, respondeste.

Um dia, o teu chefe chamou-te à atenção das horas a que chegas a seguir ao almoço e
então deixámos de almoçar para termos mais tempo para nos entregarmos ao prazer. E
assim não chegarias tão atrasado ao trabalho.
Bem sei que foi uma desculpa. A verdade nunca a disseste, mas sei que te apercebeste
do encargo adicional de fazer almoço para dois todos os dias e deste essa desculpa.

Começaste a questionar o dia de amanhã. Começaste a andar mal disposto e não dizias
porquê. Deixaste-me exasperada por não poder fazer nada. Tentei animar-te mas não
consegui, já não me deixavas entrar no teu mundo.
Um dia disseste estar triste por não temos um passado “nosso”. Fiquei pensativa mas
nunca to disse. Porque haveríamos de ter um passado “nosso”? Já temos algum passado
“nosso”, afinal não acabamos de nos conhecer! Mas se vivermos um dia de cada vez
caminhamos para o nosso futuro e uma vez chegados lá teremos o nosso passado.
Vivemos um dia de cada vez, digo eu. Mas por mais que me esforce nesse sentido, por
mais que lute para o fazer, estou já prisioneira desse teu alimento que me sustenta a
alma. Preciso de ti como do ar que respiro, e custa muito esperar pelo dia de amanha…
Tento convencer-me de que não se passa nada, apesar de tudo sei que desejas e queres
estar comigo, isso quer dizer alguma coisa, acho eu!
Sempre pensei que me amavas e que por amor ao teu filho estavas preso a um
casamento fracassado. Nunca haveríamos de estar verdadeiramente juntos. Podíamos
estar apaixonados, podíamos fazer amor todos os dias, podíamos estar em sintonia mas
nunca haverias de ser meu por causa desse amor maior – O teu filho.

Entretanto arranjo um part-time que ocupa precisamente as únicas horas do dia que
tínhamos para nós, para estarmos unidos em corpo e saciarmos o nosso desejo – as
horas de almoço. Custa-me fazê-lo, porque vou deixar de estar contigo todos os dias,
mas preciso urgentemente do dinheiro que vou ganhar. Mesmo assim não é suficiente e
decido alugar um quarto em casa…a um amigo, ou seja, a um homem.

A partir dessa altura sinto que caminho numa corda fina que a todo o momento pode
quebrar. Já nem gostas de me ouvir dizer que te amo, já não me respondes quando to
digo. As nuvens do meu céu começam a dissipar-se e eu agarro-me ao meu sonho para
não cair.
Onde andas meu anjo, estás comigo e não te sinto perto? Fazemos amor e sinto cada vez
mais a tua falta.
Estando privados dos nossos momentos de ternura e amor arranjas desculpas á noite em
casa para vires ter comigo mas embora fique feliz sinto-te triste e distante. Dói-me a
alma ver-te assim. Afinal eu não te faço feliz, magoo-te com o meu amor, magoo-te por
ser quem sou, por estar como estou… perdidamente apaixonada por ti.

Cada vez nos vemos menos vezes e a minha ansiedade aumenta. O meu coração anda
agora sobressaltado e agitado e as tuas mensagens que não chegam…
Tu sabes, porque te disse, que no meu trabalho não podemos usar o telemóvel, mas isso
não é motivo para não mandares mensagens depois do meu expediente. Afinal que se

14
passa connosco? Entro em conflito; a razão com a emoção. Já não sei que pensar: se por
um lado te amo mais do que tudo nesta vida por outro sinto que não te faço feliz. Sinto
que já não me queres, mas procuras estar comigo? Sinto que não te mereço mas não te
quero perder? Não sei o que fazer, não sei o que pensar, não sei como agir. Não consigo
ser perfeita e encher-te de felicidade. Começo a achar que não mereço o teu amor, mas
também sei que não passo sem ele?!

Escrevo-te uma carta que não chego a enviar e tento pôr as ideias em ordem.

Sábado, 1 de Outubro de 2005

Meu amor,

Encontro-me perante um dos maiores dilemas da minha vida: vejo a tua preocupação
por nós e isso coloca-me numa situação difícil e até embaraçosa.

Sabes, hoje dei conta da intensidade do meu amor por ti. Pela primeira vez desde que
nos conhecemos, acordei mal disposta por não ter recebido o teu beijo de boa noite…
Sei que não tens culpa e compreendo que nem sempre te é possível. Mas não consigo
evitar que este amor, este ressurgir para a vida que me deste, aumente a cada dia que
passa.

Creio que me tens um carinho muito grande, mas também acredito, que tu, por um
amor maior do que o meu, nada podes fazer. Eu sei que da maneira que te amo e com o
passar do tempo acabaremos por nos magoar mutuamente, não por palavras ou gestos,
apenas pela ausência…Amo-te como nunca amei ninguém e esta sim é a última vez que
o digo! Preciso tanto de ti como do ar que respiro.
Eu sei que com o passar do tempo acabarei por te colocar numa situação bem mais
desconfortável para ti, pois tenho tendência a querer mais e mais do teu amor, desse
teu carinho, dos teus beijos, dos teus abraços, de ouvir a tua voz, de te sentir perto de
mim…E tu nada podes fazer.

Enfim, já percebeste que estou a morrer de saudades e por muito que diga que devemos
viver um dia de cada vez, noto que com o passar dos dias, eu em nada contribuo para a
tua felicidade. E isso sim magoa-me, porque também te magoa a ti. Vejo-te triste e
entristeço-me, sinto que quanto mais te amo, mais te distancias de mim. Calculo que sei
os teus motivos e juro pelo amor que te tenho, que não te quero magoar nem quero o
teu mal, não quero provocar-te nenhum desconforto nem tão pouco colocar-te perante
um dilema. Eu deveria fazer-te feliz e com toda a minha situação apenas contribuo para
a tua infelicidade. Perdoa-me!

Reli estas linhas vezes sem conta e ainda não sei se te vou enviar esta carta, mas
acredita, as lágrimas escorrem-me pela cara porque te sinto infeliz neste momento, e eu
nada posso fazer para o evitar. Quem me dera poder fazer brilhar um sorriso no teu
rosto todos os dias.

Perdoa-me por te amar tanto!

15
Após escrever esta carta, senti um alívio, como se um peso saísse de cima de mim.
Tinha acabado de escrever palavras que te queria dizer, que deveria dizer, mas que, por
vergonha não conseguia proferir. Eu nunca fui boa a dar explicações sobre a minha vida
a ninguém. Antes pelo contrário, tudo o que já vivi até agora, todo o meu sofrimento foi
ocultado e despejado num lado escuro da minha memória. Só a mim diz respeito, a mais
ninguém. Sinto-me sozinha e abandonada. O coração está prestes a explodir de tanto
amor que sinto por ti. Onde andas meu querido, porque não estás aqui para receber este
amor? Tropeço nos meus pensamentos, tenho um nó cego nos meus sentidos, a cabeça
dormente e o corpo reage apenas porque ainda me lembro que tenho uma filha para
cuidar.
Tenho uma terapia sempre que estou “adormecida” nos meus sentidos – limpar e
arrumar a casa. E assim, deito mãos à obra com o intuito de organizar também a minha
cabeça e colocar as ideias em ordem.
Limpei, aspirei, arrumei, tratei da roupa e não parei sequer para dar ouvidos aos
protestos da minha filha, quando afirmou que agora nem íamos brincar para o jardim. O
meu objectivo era cansar-me o mais possível, para não escutar os meus pensamentos.
Eram uma multidão de frases soltas a atormentar-me, a sufocar-me. E antes que elas me
derrotassem eu tinha de as vencer.
Ao fim do dia estava mais tranquila. Tomámos um duche, bem merecido, arranjamo-nos
o melhor possível, as duas, e fomos sair.
A calma da noite envolveu-nos e trouxe consigo um pouco de paz. Consegui dominar o
espírito e controlar um pouco a angustia que me assaltou de surpresa. Nessa noite dormi
mais relaxada, mas uma pequena agitação ainda teimava em me moer.
Estava inquieta por ti, com medo de te perder. Já não me chamaste “fofinha” …

Domingo, 2 de Outubro de 2005.

Meu Querido,

Cada vez te sinto mais distante de mim, não sei se por me amares e quereres evitar um
envolvimento profundo, ou se, por não me amares…Há algo que me intriga em ti.
A música e a solidão provocaram a nossa proximidade, criámos laços de amizade e daí
até ao nosso envolvimento foi um passo. Sabes aquela do James Blunt? Ainda hoje
quando a oiço fico melancólica e triste, penso em ti e em todo a significado da letra
aplicada ás nossas vidas. É sem dúvida a “nossa música”!
Tento compreender-te, mas confesso que está cada vez mais difícil. Se por um lado,
quando fazemos amor, sinto que me amas de verdade e que me desejas, por outro, acho
que a urgência que tinhas para me falares e me veres, desaparece a cada dia que passa.
Não sei que se passa contigo – nada – dizes tu! Tentas convencer-me de que se trata de
adaptação mas não me convences! A minha ausência é só corporal, não sentimental,
enquanto a tua…não sei definir.
Ontem e hoje estiveste mais ausente do que nunca, e no entanto quando já estava a
desesperar-me com o teu silêncio, eis que surgem notícias tuas mas que mesmo assim
não me acalmam o espírito. Hoje chamas-me, mas sabes que não posso ir. Chamo-te e

16
apenas responde o silêncio…Já não te sinto por perto, trago-te no pensamento mas já
não sei se estamos em sintonia, não te sinto lá!
De que adianta a música nos unir se nada fazemos para evitar estar longe um do
outro?
Sabes o que o James fala na “nossa música”? “It’s time to face the truth; I will never
be with you!”
Será? Espero bem que não. Desejo que esta ânsia de estar contigo, de me sentir nos
teus braços e ocupar um lugar no teu coração se torne realidade.

Eternamente tua.
Não consegui continuar a escrever mais. Sempre que tentava colocar as ideias em ordem
através deste processo, as lágrimas brotavam-me dos olhos, qual fonte sempre a jorrar
água.
Sofro imenso, não por te amar mas por sentir que te perco a cada dia que passa.
Se por um lado fico feliz com o nosso amor, por outro fico ansiosa por não te ter sempre
ao meu lado. Eu sinto necessidade de estar contigo. Era o que eu sentia, meu querido,
sentia a tua falta, mas tu não tens, nem tinhas culpa. Só eu sou a culpada por te amar
tanto. Sofro porque sinto que te afasto de mim a cada dia que passa, e a explicação para
isso é o facto de eu te amar. Se eu não te amasse, no verdadeiro sentido da palavra, a
nossa relação seria mais descontraída, talvez fosse melhor... Eu queria ser perfeita, em
todos os sentidos. Queria que te orgulhasses de mim, e que também tu quisesses ficar do
meu lado. Mas o estado financeiro da minha vida estava caótico e os problemas que daí
advêm são inevitáveis. Estou muito longe da perfeição e acho que não te mereço.
Preciso de encontrar uma solução. Tenho necessidade de aliviar os meus tormentos, de
acalmar esta dor, de te entregar o meu amor. Mas algo no interior me diz que tu meu
anjo, mereces uma mulher que te faça feliz e eu neste momento não me sinto capaz
disso.
Amo-te verdadeiramente, mas eu não sou nada nem ninguém. Não estou á altura dos
teus sentimentos. Ainda não atingi a perfeição. Não te mereço. Ainda não ganhei as
minhas asas.

No dia seguinte falámos através da Internet e mais uma vez não tive coragem de te dizer
o que verdadeiramente me atormentava.
- Bom dia - disse eu quando te vi on-line.
- Bons, como estas? - Respondeste tu.
- Mais ou menos. E tu estás melhor?
- Não, até tenho arrepios de calor
- Provavelmente tens febre. Tomaste alguma coisa?
- Não. Estive a ver e não tenho. Tomo um xarope.
- Devias tomar um analgésico pelo menos
- Tenho aqui martelo.
- Isso não resolve nada.
- Ao menos fico anestesiado.
- É. Assim não sentes dores nenhumas...de nada!
- Sempre conseguiste entrar em casa?
- Consegui...pela garagem.
- E a Cat como esta, agora que tem a mãe a trabalhar no fim-de-semana?
- Está contente porque gosta muito da ama que lhe arranjei, tem chegado bem
disposta e quer voltar para a ama.
- Estou a ver........

17
- Preciso de instalar novamente o Windows, tenho aqui o CD de instalação e acho
que vou fazer isso hoje de tarde, se não te falar é porque estou a tratar disso...Isto é,
se me vires off-line, estou a tratar de instalar o Windows para depois gravar o que
tenho a gravar.
- Estou a ver que me estas a abandonar.
- Não te abandono, choro em silêncio por ti, e sabes porquê! Olha hoje não é um bom
dia para esta conversa, desculpa
- Porquê fofinha, estava a brincar contigo. Que tens?
- O que tenho? Sinto que te estou a perder e tenho que me habituar, não é? É isso que
tenho, tenho que aprender a lidar com esta situação, e hoje não estou muito bem
disposta, desculpa.
- E porque me estas a perder?
- Deixa.
- Não percebi? Não confias em mim amor? Que te fiz?
- Desculpa amor, o que sinto por ti aumenta a cada dia que passa, nem eu pensei que
seria capaz de voltar a sentir-me assim, tu por outro lado, não podes fazer nada. Sinto
que cada vez te afastas mais. Por isso deixa estar que isto passa, há-de passar!
- Só não sei porque é que eu me estou a afastar. Vamos ter duas manhas inteiras só
para nós.....Sentes a minha falta, sentes a falta de eu não estar contigo todos os dias.
-Provavelmente isto é um ataque de saudades, deixa.
- Mas inclusive fui aí duas noites.
- Eu sei amor, deixa estar que isto passa. São saudades, e muitas, ansiedade por não
te ter todos os dias, como estava habituada. Desculpa, não te estou a cobrar nada.
Apenas te peço que tenhas paciência comigo, por favor.
- Tenho tido amor, sabes que eu sou um pouco brincalhão, e desculpa se as vezes
para pegar contigo te disse algo que te colocou assim.
- Trabalha, não te distraias senão tens o teu chefe á perna outra vez. A culpa não é
tua, é minha. Eu estou assim hoje por culpa minha não tua.
- Hoje e amanha o chefe esta de ferias.
- Ainda bem, assim tens descanso. E eu também não te vou atrapalhar porque tenho
umas coisas para arrumar.
- Não me atrapalhas, deixaste-me com vontade de sair daqui agora e ir para a tua
beira, dar-te miminhos.
- Amor, isto passa. Dormi mal de noite o que também não ajuda nada, mas esta
saudade passa, deixa. Trabalha. Eu faço por ficar bem, não te preocupes.
- Tenho de deixar de te enviar mensagens de madrugada senão não dormes
- Eu não durmo enquanto não as mandas. Sabes como fica um toxicodependente
numa fase de abstinência? Pois assim estou eu de noite á espera das tuas mensagens,
ansiosa e preocupada. Não consigo pregar olho sem ter noticias tuas, mimaste-me
demais, mas tenho que me habituar.
- Ontem adormeci na sala, e só vi as tuas mensagens quando fui para a cama.
- Amor não me deves explicações, nem justificações. Tu tens a tua família, eu sei
disso muito bem e nem sempre podes responder. Não te preocupes que estou ciente
do teu lado.
- Acho que te estou a fazer mais mal do que bem.
- Amor hoje não é bom dia para esta conversa por favor.
- Pronto...já não esta aqui quem falou...isso quer dizer que na quinta-feira vais me
devorar...
- Quando estiveres do meu lado, seja 5ª ou não, vou abraçar-te e fazer amor contigo
até ao último minuto livre que tiver. Preciso de sentir os teus braços ao meu redor,

18
preciso de sentir o teu coração a bater encostado a mim, preciso dos teus beijos, dos
teus carinhos, dos teus mimos, enfim preciso de ti como do ar para respirar
- Viagra, vou precisar...????????????
- Não.
- Psiuuuu.
- Que foi?
- Estou a ver se te animo.
- Isto passa. O lado racional discute com o emocional e no fim as coisas resolvem-se.
- Já foste levar a Cat?
- Não te preocupes, a Cat hoje entrava ás 8 da manha, tem natação e inglês hoje, no
ATL, por isso estou de rastos, sinto-me cansada e desgastada. Não dormi bem nestas
últimas noites e começo a ressentir-me. Vou arrumar a casa e tomar o pequeno-
almoço. Até já.
- Vai lá para ver se levantas essa moral, vai fazer a tua cura que é limpar e arrumar.
- Já alguma vez te sentiste inseguro em relação a alguém?
- Sim, mas eu não mudei nada a minha conduta em relação a ti. Só estamos mais
afastados fisicamente.
- Fico feliz por saber que é assim.
- Tira os macaquinhos da tua cabeça.
- Eles acabam por sair, isto passa. São a PDI e as saudades a atacar em conjunto.
Ataques de parvoíce, desculpa. Desculpa mesmo, não volta a acontecer.
- Vai lá fazer o teu tratamento.

Durante a tarde a conversa continuou, mas o meu espírito estava mais alarmado do que
nunca. O meu inquilino ia chegar ao fim da tarde, e eu não sabia como reagirias. Além
disso, como já não tínhamos as horas de almoço para estarmos juntos, agora também
ficávamos sem local para nos encontramos. Mas o que fui eu fazer? Estou a ir de mal a
pior nesta nossa relação. Estou a perder o meu anjo e o meu céu começa a desvanecer-
se. Estou mais insegura e envergonhada, do que alguma vez estive na vida. A única
certeza que tenho é que te amo e não quero perder-te por nada deste mundo. Apesar de
toda a minha insegurança, eu gostava quando te sentia perto dos meus sentidos, mesmo
que estivesses em casa com a tua família. Ansiava pelas tuas mensagens da noite, e na
beleza das tuas palavras adormecia confortada, porque me sentia amada.

- Conta-me como estas? - Perguntaste tu nesse dia depois do almoço.


- Sinto-me tonta e com os olhos inchados.
- Vem aí uma gripe.
- Deve ser, mas também pode ser só da tensão.
- E emocionalmente? Corro o risco de levar com o rolo da massa?
- Não amor, nunca! Tu sabes o que sinto, e quando se sente o que eu sinto não se
bate...faz-se outra coisa.
- Desde que me dês tempo para entrar em casa não há problemas...
- Deixo sim, e depois ainda tenho de ver se a casa ta livre ou não.
- Oops.
- É, o Jorge disse que hoje chegava por volta das 17.00H mais ou menos. Ainda não
sei o horário dele.
- Já vais ter companhia. Não te vais sentir tão só.
- Querido, não é disso que se trata.
- Eu sei, estou a falar de companhia.

19
- Companhia? Tenho a da Cat. E também sabes que a companhia de quem quer que
seja é diferente, certo?
- Certo, não estou a queixar-me nem a insinuar nada, só a constatar.
- Eu sei amor, compreendo-te perfeitamente. Mas a companhia de A ou de B é
diferente da TUA companhia, era isso que eu queria dizer.
-Eu sei, mas ter alguém para falar é bom, nem que seja de coisas banais.
- Pois deve ser, não sei.
- Estarás com stress devido a ires ter ai gente e não saberes como eu vou reagir?
- Querido, não sei bem como vais reagir ao facto de eu ter um homem, (que nada me
diz), cá em casa, e também estou com stress por estar tantos dias sem te ver, sem te
sentir, sem ter o teu abraço o teu carinho e depois também já não me chamas fofinha,
por isso te dizia que sinto que te estou a perder. Confesso que posso parecer chata,
mas não tenho culpa de te querer tanto. Tenho que me habituar.
- Estás infeliz e eu sou culpado.
- Não estou infeliz, estou insegura em relação a ti, só isso. Vou dizer pela ULTIMA
VEZ, amo-te como nunca amei ninguém e tu não tens culpa, a culpada sou eu.
Quando EU AMO, eu sinto necessidade de estar com essa pessoa e é isso que eu
tenho, meu querido. Sinto a tua falta, mas tu não tens culpa. Só eu sou a culpada por
te amar tanto. Sossega que isto passa, eu acabo por controlar o que sinto e deixo de
parecer uma parva, ok?
- Uma vez perguntaste se eu tinha medo que tu me passasses a amar, e aí está o meu
medo concretizado, pois o amor é bom quando nos faz bem e tu hoje não estas bem
pipoquinha.
- Eu passei a manha toda a dizer-te que não estou bem amor…E volto a dizer já que
insistes, que tens medo do meu amor e foges, por muito que digas que não. Descansa
que não te cobro nada, nada mesmo. Tens a tua família e deves lutar para se
manterem unidos, o resto é paisagem.
- Estás enganada... eu não fujo, aliás sinto cada vez mais a tua falta, apesar de dizeres
o contrario. Fui à noite ver se te via, acho que isso é sentir a falta de alguém ou não?
- Eu sei amor.
- Então não digas asneiras.
-Perdoa-me amor, não te quero magoar.
- Só fico magoado vendo-te assim paixão.
- São saudades amor, com um abraço ficava melhor, teu claro! Nunca ouviste dizer
que uma mulher apaixonada é pior que um homem bêbado?
- Se não estivesse assim doentinho, passava ai logo a noite quando fosse ao Ginásio.
- Passa amor, eu só quero dar-te um abraço e um beijo.
- Sim, mas eu assim não devo sair de casa, o nariz já me pinga
- Xiii, tas mesmo mal.

A campainha da porta tocou e eu tive de me ausentar por breves minutos. Quando


voltei á Internet, continuámos a nossa conversa no ponto onde a deixámos.

- Desculpa amor, chegou o Jorge e eu fui abrir a porta.


- Estou mesmo, pensei que estava a melhor.
- Toma qualquer coisa sem ser xarope.
- Vou ver o que tenho em casa.
- Olha amor, já te posso dar o comando.
- Eu tomava-te era a ti
- Queres que te compre qualquer coisa na farmácia? Eu também te tomava a ti e

20
curávamo-nos, respondi entre risos. Se quiseres eu passo na farmácia e quando fores
para casa vens cá que eu desço e passo-te os comprimidos. Dou-te também o
comando da garagem, já não preciso dele.
- Eu devo ter algo lá, tenho um armário cheio de medicamentos.
- Está bem.
- Vou deixar-te, deves ter que fazer. Explicar as coisas como são em tua casa, ao
Jorge.
- Já está explicado, e já falei que tenho um namorado.
- Quem? A mim não me disseste nada acerca desse teu namorado...
- Ai não? Achas que devo dizer que tenho um caso contigo, assim tudo explicado???
Preferias que dissesse que tenho um caso com um homem casado?
- Comigo? Não estou a perceber...afinal quem é esse teu namorado?
Qualquer dia esse teu namorado vai apanhar-nos em flagrante...
- Brincalhão!
- Ele é alto? Corre muito? Diz-me, tenho de estar preparado?
- Conseguiste fazer-me rir.
- Até que enfim, estava quase a desistir. Tu agora vais ficar melhor...
- Amor fico melhor ao pé de ti, isso sim.
- Hum
- A sério, não acreditas?
- Hum…
- O que foi?
- Lembrei-me que agora tens aí um “jorginho”...Estou a brincar...
- Mas prefiro um “luizinho”, sem margem para dúvidas.
Enviaste-me um “emoticon” a chorar
- Que foi tristinho? Perguntei, já nervosa por ter aqui o Jorge em casa. Porque
choras?
- Porque dizes que preferes o luizinho, sem dúvidas...É sinal que já experimentaste o
jorginho...
- Ai que coisa. Prefiro o luizinho porque te amo seu tonto e nem quero saber de outro
para nada.

Voltaste a mandar o mesmo “emoticon”, e sem te aperceberes esses desenhos


avisaram-me que alguma coisa de errado se estava a passar contigo também.

- O que foi meu amor? - Perguntei.


- Nada. - Respondeste.
- Mas estás a chorar. Fala comigo.
- Está tudo bem, fofinha....estou a meter-me contigo.
- Fofinha? Não percebi essa!!! Só o meu namorado me chama assim, Quem és tu?
- Bem, sou um extra terrestre que possuiu o corpo do teu namorado.
- Ai sim? E que queres tu, ó ET?
- Phone home...phone home…
- O quê? (Por momentos não percebi onde querias chegar.)
- Eu estou aqui para estudar a reprodução humana, continuavas tu. Não te lembras do
filme?
- Mais ou menos, retorqui. Tenho de o ver outra vez.
- Já sabes se mexeres na orelha esquerda ele cresce, na orelha direita ele decresce.
- Ai sim? Essa não sabia.
- Agora que possuí este corpo não o vou deixar mais.....Diz adeus ao teu namorado.

21
Parei para reflectir nas tuas palavras. Confesso que por mais que me esforçasse o
meu estado emocional não estava na maior das perfeições, e algumas coisas faziam-
me confusão.

- Já nem falas para mim... Disseste.


- Dizer adeus porquê? O que lhe aconteceu, onde está ele?
- Pensando melhor acho que vou possuir o corpo do Jorge...
- Amor, estou triste.
- Porquê?
- Está na hora de te deixar para ir buscar a Cat, e quinta-feira ainda está longe.
- O que tem de ser tem de ser.
- Eu sei que tem de ser! Passas aqui só para te dar o comando? E um beijo claro!
- Não sei, não estou muito bem.
- Está bem amor, as melhoras e ate logo. Quero o meu beijo de boa noite, senão nem
durmo direito.
- Está bem fofinha...E não fiques assim.......eu não fujo e agora tens companhia para
dizeres mal de mim...
- Amor, desculpa mas desde sábado que estou assim com medo de te perder e hoje
estou mesmo com muitas saudades, mas nem queria demonstrar para não te magoar.
Desculpas-me por ter tido esta atitude?
- Tudo bem fofinha, quero que sejas sempre sincera, isso é o mais importante. E tu
sabes que eu não fujo, acho que já sentiste o que eu sinto por ti.
- Mas para alem da sinceridade temos que nos sentir bem um com o outro e eu tive
muito medo de te perder. Achei que a ausência da "fofinha" durante o fim-de-semana
queria dizer que estás a ficar cansado de mim.
- Tontinha!
- Apesar de também me lembrar que vieste cá a casa duas noites durante a semana.
Eu sei que sou tonta, mas ainda não disseste se me perdoas pelo dia de hoje, e pelos
outros que te magoei. Perdoas-me?
- Sabes que sim meu amor
- Obrigado meu querido, não volta a acontecer. Não me deixo levar mais por
pensamentos tolos. Agora tenho de ir meu amor, vou buscar a Cat e depois venho
fazer o jantar.
- Sempre que precisares desabafa comigo, por favor.
- É mais fácil dizer do que fazer, mas vou tentar. Na semana passada jurei que nunca
mais dizia que te amo, porque percebi que de certa forma ficas triste, e olha lá as
vezes que já o disse depois dessa promessa. Por isso fica difícil desabafar e dizer o
que sinto. Tenho de aprender a lidar com as minhas emoções.
- Mas sabes que eu, além de tudo, sou teu amigo.
- Eu sei disso meu anjo.
- E como amigo podes contar comigo, mesmo que seja para dizeres mal desse teu
namorado.
Fizeste-me rir, mas respondi:
- Ele não sabe mas eu amo-o muito, (ao meu "namorado"), preciso dele como do ar
para respirar, e penso que ele sofre por o amar desta forma. Achas complicado
demais entender esta situação? Bomboquinha tenho de ir. Está a ficar tarde para ir
buscar a Cat, fofinho. Ela já conta as horas.
- Não. Eu sei que ele entende, melhor do que tu pensas. Vai fofinha linda. Ate logo.
- Inté* meu amor, beijo e até logo. Espero pelo meu beijo de boa noite fofinho e não
venhas para casa a 200 por favor. Beijo. Fui.

22
Ainda esperei por resposta tua, mas apenas o silêncio veio na minha direcção. Deixei a
Internet ligada, com a janela da nossa conversa activa, e fui buscar a minha filha.
Quando voltei, fui espreitar o computador. Já tinhas saído…

* Calão utilizado frequentemente, que significa “xau, até depois”

Eis-me aqui

Eis-me aqui
Gritando a minha dor
Sentindo-me só
Despida do teu amor

Eis-me aqui
Expondo meus sentimentos
Tornando-me prisioneira
Dos meus pensamentos

Eis-me aqui
Vivendo nossos momentos
Sentindo tuas carícias
Que são meus tormentos

Eis-me aqui
Presa ao passado
Sentindo-me ainda
Em teus braços, meu amado

23
Eis-me aqui
Perdida nesta imensidão
Revivendo meu sofrer
Aumentando a solidão

Eis-me aqui
Sem a tua companhia
Fazendo do nosso amor
A minha estrela guia

III

Há já cerca de 3 semanas que estava a trabalhar á hora do almoço e continuava a correr


de um lado para o outro. A correr para ir levar a Cat ao ATL. A correr para casa para te
dar um beijo de bom dia através da Internet, a correr para ir trabalhar as miseráveis 3
horas por dia que havia conseguido, e mais uma vez a correr para por fim poder estar
contigo virtualmente, até a hora de terminares o teu expediente.
Os dias em que me atrasei ao nosso encontro na Net por causa do trabalho, foram uma
tortura para mim. Não podíamos utilizar o telemóvel em serviço, e não tinha como te
avisar que ainda estava ao serviço.
A minha situação, o meu medo de saberes em que condição me encontrava e a
ansiedade de não te ter ao meu lado todos os dias foi-se apoderando de mim, bem
devagar. Eu nem me apercebia mas andava bastante inquieta. Contudo, tentava não
deixar passar para ti esses meus medos. Procurava dentro do meu coração o meu amor
por ti e isso dava-me alento.
Na primeira semana de Outubro, andava demasiado agitada e excitada, pois avizinhava-
se o dia do primeiro aniversário do nosso beijo. Esperava conseguir estar contigo nesse
mesmo dia, (pelo menos), para te dar mais uma vez prazer, e ao mesmo tempo dar-te
algo que simbolizasse e marcasse o meu amor por ti. Na falta de melhor, tencionava
proporcionar-te um dia diferente dos últimos que vínhamos a ter. Um dia perfeito.
Como eu estava carente! Sedenta dos teus beijos e dilacerada pela tua ausência.

24
Marcaste dois dias de férias para essa semana, e decidimos passar o que pudéssemos
deles, só nós os dois.
A ansiedade de te ter nos meus abraços e beber dos teus carinhos, aumentava a cada dia
que passava. Começo a sentir que o tempo não passa, só voa quando estou contigo. E o
dia de nos vermos que nunca mais chega… O dinheiro que não entra e as cartas sempre
a chegar, reclamando pagamentos há muito atrasados. Bom, esse assunto terá de esperar
por dias melhores, até eu ter como liquidar – pensei.

Bem ou mal, os dias passaram e finalmente chegaram os teus dias de férias. Foram duas
manhãs de sonho. Ter-te deitado ao meu lado, abraçado a mim. O teu corpo encostado
ao meu. Sentir o cheiro da tua pele. O toque suave da tua mão a percorrer o meu corpo.
Fazes-me sentir completa, e mais uma vez, totalmente inebriada pelo amor, viajo para lá
do meu horizonte.
Unidos por um abraço alcançamos as portas do céu. Olho para ti e vejo o brilho do teu
sorriso. O teu olhar amoroso. Vejo as asas que teimas em esconder e mais uma vez,
confirmo as minhas suspeitas: és um anjo. És o meu anjo!
Como pude eu estar insegura em relação a ti? Se não me quisesses do teu lado não terias
marcado as férias, ou melhor ainda, não terias passado esses dias comigo. Não terias
vindo ter comigo à noite procurando acalmar o meu espírito. Se não me amasses não
serias carinhoso comigo. Se não sentisses nada por mim conseguirias desejar-me?

Mas, e se só estiveres à procura de satisfazer as tuas necessidades? Se apenas te


preocupa o facto de perderes o que temos fisicamente? Porque dizes que o nosso amor
me faz mal? Porque tens medo que eu verbalize o meu amor por ti? Porquê? Porquê?
Porque não me dizes o que pensas acerca de eu ter aqui um homem a viver connosco?
Falaste da companhia que passarei a ter mas não deste a tua opinião, porquê? O que
pensas meu anjo? Começo a não te compreender. Achas que eu estou infeliz e sentes-te
culpado? Mas não és culpado de nada, nem eu estou infeliz. Estou carente do teu
contacto, da tua presença. Estou entre a espada e a parede. Vacilo em te contar a
verdade das minhas finanças – que me vai roendo a paciência – e inteirar-te dos meus
problemas.
A vergonha de estar nesta situação começa a apoderar-se de mim. A todo o custo tenho
de evitar que te apercebas.
Mas como vou fazer não sei. Nem quero pensar no dia em que te inteires da verdade que
te tenho ocultado.

Começo a racionar ainda mais as coisas cá em casa. Tento encontrar uma solução.
Alguém a quem pedir ajuda. Mas não me ocorre ninguém…
Ou melhor, ocorreu-me sim, mas a resposta ao meu pedido foi nula. E agora, o que vou
fazer? A quem vou recorrer?
Comecei a recordar os tempos difíceis que passei, em criança e na adolescência. A luta
que tive de travar para conseguir levar a vida sempre de cabeça erguida. E neste
momento não a consigo manter sequer de pé, quanto mais erguida…
Envergonhada com tudo isto, sinto-me a desanimar e afundar numa onda de sensações
que me martirizam. Estou dividida entre dois mundos: O teu céu e o meu inferno.
Sempre tive a força necessária para seguir em frente, e recomeçar a minha vida todas as
vezes que foi necessário. Mas neste momento não tenho essa clareza de espírito, falta-
me a vontade e a coragem para continuar a nadar neste vazio. Tenho a cabeça cheia de
pensamentos contraditórios, que não me levam a lado nenhum.

25
Tentei ser perfeita em todos os sentidos. Queria que te orgulhasses de mim. Procurei
dar-te o que de melhor tinha para dar, e até nisso falhei.
Toda a minha vida ambicionei encontrar a minha metade, a chama da minha alma. E
quando a encontro não estou à altura dela!
A beleza do sonho que me confiaste pesa-me no coração e esmaga-me contra a
realidade daquilo que estou vivendo. Como posso eu dar-te felicidade e ajudar-te a
realizar o teu lindo sonho se eu nada mereço?
A minha filha precisa que eu volte a ser a mãe que outrora fui – alegre e disponível.
Sempre atenta e pronta a satisfazer as carências dela. Mas eu também preciso de ter um
pouco da vida só para mim. E a minha vida está um côas…

A forma como aparecias atrás de mim e me envolvias num abraço, enquanto me


beijavas o pescoço sempre despertou em mim uma sensação indescritível. Ainda hoje
fecho os olhos e sinto o teu corpo colado ao meu. Experimento o calor que emanas e
noto o prazer que te dá a minha forma de te acolher. Imagino que te recebo num abraço
apaixonado, todos os dias, ate ao fim dos nossos dias. E neste sonho quero viver para
sempre porque só assim sei que realmente estou viva. Não quero ser acordada deste
sonho porque neste mundo as cores brilham mais, e o arco-íris está sempre presente.
Juntos passeamos com os nossos filhos, por um campo coberto de mil flores de todas as
cores. O sol brilha no alto do seu esplendor e o céu é sempre azul. A nossa música paira
no ar. Temos como vizinhos as nuvens e uma suave brisa que teima em brincar com o
cabelo dos meninos. Á noite temos as nossas estrelas, que nos aconchegam para
dormirmos.
Criei este sonho, tomei-o como certo e ao assumi-lo não poderia imaginar o quanto
estava errada. Imaginei que a felicidade me bateu à porta…

Chuang Tzu uma vez sonhou que se tinha tornado uma borboleta. De manhã ele estava
muito deprimido. Os amigos perguntaram-lhe:
- O que aconteceu? Nunca te vimos tão deprimido.
Chuang Tzu disse:
- Eu estou baralhado, estou perdido, não consigo compreender. À noite enquanto
estava a dormir, sonhei que me tinha tornado uma borboleta.
Então os amigos riram-se:
- Ninguém fica perturbado pelos sonhos. Quando acordas o sonho desaparece,
portanto, porque é que estás perturbado?
Chuang Tzu disse:
- A questão não é essa. Agora eu estou confuso: se Chuang Tzu se pode transformar
uma borboleta no sonho, será que a borboleta foi dormir e está a sonhar que é Chuang
Tzu?

Encontrei esta pequena história num livro que li. Nela consigo reconhecer todo o meu
estado mental. Toda a confusão que atravessou os meus sentidos.
Por te querer tanto, andava cansada, exausta, gasta – alegremente cansada, felizmente
cansada. Mas constantemente a criar necessidade em ser amada. Permanentemente a
necessitar de me encontrar e sempre que estava sozinha, ansiava em ser amada.
Ao amar-te deixei de ser eu. Perdi o contacto comigo mesma. Embriaguei-me e afoguei-
me nas minhas emoções. Passei de uma solidão medonha para um estado de amor
transbordante. E a passagem foi tão repentina e tão intensa que sufoquei. Andei dias a

26
fio a nadar numa onda gigantesca, até que por fim esta se desfez numa costa qualquer e
me esmagou contra uma realidade assustadora.

Quando me apaixonei por ti, fi-lo em consciência. Mas quando duvidei do teu amor foi
inconscientemente que o fiz. Estava a atravessar duas realidades completamente
diferentes uma da outra e a certa altura fiquei indecisa sobre qual das duas era a
verdadeira realidade: Se o teu amor ou se as minhas duvidas.
Tal como Chuang Tzu, também eu comecei a ficar preocupada por não conseguir
separar a verdade de entre os sonhos. Ao ter tomado os teus sonhos como meus, assumi-
os como uma verdade criando um outro sonho ainda maior. Ao amar-te deixei de ser eu,
para me fundir em ti. E ao ser a tua pessoa já não sabia quem era quem... Já não
distinguia nem apartava a certeza do insidioso. Sofria porque te via sofrer, e sofria mais
ainda por achar que era eu a causa do teu sofrimento. Sofria por crer que não te merecia,
por não ser perfeita. Por achar que te perderia se soubesses como andavam as minhas
finanças. Encaminhei-me para um mundo de falsas realidades. E este turbilhão de
realidades e falsas realidades foram a minha tristeza. E a minha tristeza, o teu
sofrimento.

Cada vez mais me convenci de que nunca haverias de te separar da tua mulher. A cada
dia me martirizava por teres de te dividir, por te veres obrigado a partilhar o teu tempo
connosco. Durante este tempo todo, achei que o meu passado não se encaixa contigo.
Sempre vivi com dificuldades e quando finalmente levanto a cabeça e endireito a vida,
tu surges vindo do nada e presenteias-me com o amor. Brindas-me com a felicidade.
Torturei-me misturando o passado com o presente. Foi crescendo na minha alma, a
necessidade de ser perfeita para ti como tu eras para mim, com o intuito de superar as
tristezas sofridas. Tanto as tuas como as minhas.
Em silêncio, escuto ecos das nossas conversas. Trocam-se as frases, baralham-se os
contextos. Misturo a realidade com a fantasia. Vivo de novo o meu sonho, o sonho que
criei para apagar a dor que te provoco.

As duas manhãs que passamos juntos foram o meu sonho tornado realidade. A
sensualidade e o deleite com que nos entregamos um ao outro fizeram-me esquecer as
duvidas. Logo de manhã ter-te ao meu lado na minha cama, era um sonho bom demais.
Pela primeira vez não precisávamos de ter pressa. Pela primeira vez podíamos amarmo-
nos com calma. Explorar cada milímetro do nosso corpo, beber cada beijo como se o
tempo estivesse parado. Saborear cada carícia como se estivéssemos suspensos. Permitir
que me guiasses no caminho para o céu, mais uma vez, com muita calma e muito amor.
Aceito a tua mão na minha e recebo o teu corpo no meu, enquanto unidos pelo prazer e
num ritmo ávido nos deixámos guiar para lá da razão, apenas comandados pelos
instintos.
Provocas em mim um amor tão grande que creio estar embrulhada no meu sonho,
aquele que eu criei para nós. Aquele do qual não quero acordar.

Acordo com o alarme do despertador. Já está na hora de ir trabalhar. Chamo por ti.
Levanto-me com pesar do meu leito de amor. E agora quando te voltarei a ter nos meus
braços? Quando voltarei a ver de novo o céu? Durante quanto tempo vou ter de falar
contigo por mensagens de telemóvel?
Aproxima-se mais um fim-de-semana e espero sinceramente que este seja melhor do
que o outro. Vou ter de trabalhar sábado e domingo mas espero que ao menos me vás
dando notícias.

27
Ainda não saíste do meu lado e estou já morta de saudades, meu amor.

Alma
Coração que chora
Alma que dói

28
Pensamento tolhido
Dor que destrói

Olhar suspenso
Vazio constante
Essência perdida
Num só instante

Eco surdo
Palavras soltas
Lágrimas escorrem
Ideias ocas

Choro sufocado
Coração ferido
Saudade cravada
Rumo perdido

Mundo de sombras
Escuro infinito
Dor lancinante
Desespero num grito

Triste pesar
Longo lamento
Agonia profunda
Mente em tormento

Estrada sem fim


Destino incerto
Fardo pesado
Mundo deserto

29
IV

Recordo ainda, com bastante clareza, o dia 10 de Outubro de 2005. Como poderia
esquecer o dia em que deitei tudo a perder, o dia em que perdi as estribeiras. O dia em
que te perdi! Ou será o dia em que tomei verdadeiramente consciência? O dia em que
despertei!

Acordei bastante irritada. Estava magoada não sei se contigo, se comigo. Durante o fim-
de-semana não me deste notícias. No fim-de-semana anterior também mal me falaste.
Durante a semana mal nos vimos ou falámos…
No último domingo recebi uma tentativa de chamada tua, afinal ligaste e desligaste logo
a seguir. Liguei-te de seguida e não atendeste, nem sequer mandaste uma mensagem.
Silêncio absoluto durante um fim-de-semana inteiro, pela segunda vez. Calculas como
me senti? Consegues imaginar o que me passou pela cabeça? Se te colocasses um pouco
na minha posição como reagirias? Nem imaginas como sofri, por muito que possas ter
sofrido depois com a minha atitude. Conseguiste, apenas com o silêncio, destabilizar o
pouco da capacidade de raciocínio que ainda me restava nessa altura.
Achaste que o teu “bom dia fofinha linda” de segunda-feira me faria esquecer a dor que
tomou conta de mim? Pois não fez!
Depois de passar uma semana a sofrer com saudades tuas, ao mesmo tempo que me
tentava convencer que não podia amar-te tanto, o emudecimento com que me
presenteaste nesse fim-de-semana foi um arranco para o conflito interior que se
avizinhava.
Passei dias a convencer-me que sou uma burra nas questões afectivas, que tinha de pôr
um ponto final nesta nossa relação. Amo-te demasiado para te perder a cada dia que
passa. Perder, sim. Era como me sentia em relação a ti. Estava a perder-te e não sabia
porquê. Mas será que se pode perder o que nunca se teve?
Tudo o que fiz foi por amor, embora admita que jamais me compreenderás.
Entreguei-me de corpo e alma … E enquanto o meu corpo reclamava por ti a minha
alma dizia-me que já não estavas por perto!

Recordo os meus movimentos como se fosse uma espectadora apenas. Fui testemunha
de um desatino meu, juíza dos meus actos e carrasco de mim própria.
Fazia já uns dias que te sentia distante e, contudo, ao mesmo tempo tão perto.
Quando os nossos corpos se tornavam um só, as nossas almas juntavam-se, e em
uníssono dançávamos a doce melodia do amor enquanto nos deixávamos transportar
para o paraíso. A ternura com que me abraçavas transportava-me para o teu mundo
doce. A sede com que bebias dos meus lábios fazia aumentar o bater do meu coração. A
afabilidade com que me despias e a delicadeza com que me possuías abriam-me as
portas do céu e convidavam-me a entrar.
Como era bom fazer parte desse teu mundo. Como era bom estar nos teus braços.
Deliciava-me com a tua ternura e encantava-me com o teu jeito de me amar. Envolta
pelos teus beijos e carícias, viajava para um mundo repleto de brilho e de cor. Um céu

30
bem azul num cenário lindo de morrer. Um jardim cheio de flores de todas as cores,
onde os aromas se misturam formando um perfume doce e suave, convidando as
borboletas a entrar. Estava no Céu com medo de regressar ao mundo onde vivia antes.
Encontrava-me a teu lado rodeada de nuvens e anjos com medo de voltar á Terra.

Por outro lado, já não querias ouvir-me a dizer que te amo. Sempre que o afirmava
ficavas triste. Mas porquê? Quando se ama de verdade nunca é demais dizê-lo. Antes
pelo contrário, gosta-se de o ouvir. Eu gosto!
Obrigas-me a pensar. Forças-me a tentar entender-te, ao mesmo tempo que te fechas na
tua concha e evitas falar dos teus sentimentos. Mas se prometemos ser sempre sinceros
um com o outro, porque ages desta maneira comigo? Porque me obrigas a caminhar
descalça sobre um tapete de espinhos? Porque me tiraste o meu tapete de pétalas e as
trocaste por brasas incandescentes? Porque insistes em mudar o azul do meu céu? Tens
medo de me dizer o quê?
Dou comigo a imaginar que já não me amas como amavas no início. Se me amasses
gostarias de me ouvir dizer que te amo, todos os dias. Ou então amas-me
verdadeiramente e não me queres magoar, pois sei que nunca te divorciarás por causa de
um amor maior – o teu filho. Preferes sacrificar-te e continuar a viver um casamento
estagnado, (segundo os teus comentários), do que viver um amor sincero e verdadeiro.
Mas e se esse sofrimento espelhado na tua cara se alastrar até ao teu filho? Achas que
será bom para ele crescer num ambiente de discórdia?
Mas, e se tudo o que me contaste do teu casamento for mentira? Em que papel entro eu
nesta novela?
Vêm-me à memória palavras tuas – “a única coisa que não gostas em mim é o facto de
ser casado”. Porque fazes questão de mo recordar ultimamente? Porque me perguntas,
em simultâneo, se te amo ao ponto de casar contigo? Porquê? Porquê?!
Porque me tomas e fazes amor comigo e ao mesmo tempo rejeitas o que sinto por ti?
Serei, por acaso, apenas um objecto de satisfação pessoal? Será que te sentes prisioneiro
numa relação sem futuro? Será que vês que eu tenho sentimentos e por isso foges deles?
Será que me amas? Ou será que me usas? Aqui começam as minhas dúvidas.

Era segunda-feira de manhã, cerca das 8.30h. E para mim o dia não estava nada bom.
Acordei irada por falta de notícias tuas e mais ainda por não ter possibilidades de pagar
a renda. Dou comigo a ter de dar resolução a problemas que se arrastam já há algum
tempo: o meu desemprego e as dividas acumuladas. A minha vontade é fugir!
Desaparecer deste tempo, voltar atrás e apagar as minhas dificuldades económicas. Mas
como hei-de agir contigo? Sei que pensas estar a par das minhas dificuldades, mas não
sabes. Se souberes a verdade que vais pensar de mim? De certeza que me vais
abandonar! Amo-te e não te quero perder. Mas também não sei como fazer para não te
perder. Convenço-me de que se me falares hoje, tenho de ser meiga e não deixar
transparecer a minha fúria. Afinal tu és casado e se não comunicaste comigo no fim-de-
semana foi porque não pudeste. Mas então porque tentaste ligar e depois desligaste?
Será que a tua mulher descobriu? Será que te aconteceu alguma coisa?

O meu telemóvel dá sinal de que entrou uma mensagem. Era o teu “bom dia fofinha
linda”. Meu Deus! Como eu fiquei indignada. Senti-me humilhada por estar tão presa a
ti e tão sedenta do teu amor. Senti-me revoltada pela minha humilhação e ao mesmo
tempo aliviada por saber que estás bem.

31
Respondi com um simples “bom dia” à tua mensagem. O “fofinho” e o “amor” ficaram
por dizer. Não sei como agir. Os meus sentimentos estão em controvérsia. A
consciência diz-me que tu mereces saber que me sinto magoada contigo, mas o coração
diz-me que te amo profundamente e não tenho o direito de te exigir nada. O coração
manda que te ame e que te mime, mas a consciência diz-me que precisas saber como me
transtornas com o teu silêncio. E apenas te digo um “bom dia” …frio!
Tenho vergonha de estar a passar por uma crise económica grave. E tenho muito medo
que me deixes, que rejeites de vez o meu amor. Apavoro-me com a ideia de me
expulsares do teu mundo e de me exilares do teu céu.
Se ao menos eu pudesse tornar-me invisível e deixar o tempo resolver estas questões. Se
eu pudesse adormecer e acordar numa outra dimensão em que não tivesse problemas. Se
eu pudesse escolher a minha vida. Se eu pudesse viver sempre no céu. Se…

E a minha filha? Ela nem merece a mãe que tem. Pobre alma inocente que apenas pede
um pouco de amor e vê a mãe a preteri-la em prol de um amor masculino.
Tomo consciência que estou completamente falida. O frigorífico e a despensa estão
vazios. O dinheiro acabou-se de vez e nem um tostão sobrou para dar testemunho de tal
situação. Como vou eu alimentar a minha filha? Como vou eu olhar nos doces olhitos
dela, dizer que não tenho dinheiro e não posso dar-lhe de comer? Como posso eu olhar
o rosto inocente dela e pedir-lhe perdão? Como pude eu permitir que isso acontecesse?
Como pude eu deixar chegar as coisas a este ponto? Como pude eu amar cegamente um
homem e fazer dele o meu dia-a-dia enquanto ia adiando a resolução dos meus
problemas? Como pude eu esquecer que sou responsável pela minha filha? Como pude
eu ser tão burra e negligente?! Porque me deixei eu levar pelo meu amor por ti
esquecendo as minhas obrigações de mãe? Porque me condenei eu ao fracasso e á
humilhação? Nem sequer me sinto digna do nome “mãe”.
Sinto-me a cair. O mundo de felicidade que me deste a conhecer torna-se uma flecha
cravada no meu coração. Amo-te, mas falhei em todos os sentidos. Falhei como mãe,
falhei como amante, falhei como mulher. Sou um fracasso total!

Levada pelos meus fantasmas, antevejo-me a ter de deixar a casa onde moro, a perder
todas as minhas coisas e a ser abandonada por ti. Imagino-me numa prisão privada da
minha filha. Sinto no peito o sofrimento que os meus actos provocaram naqueles que eu
mais amo – uma dor lancinante que me desfaz o peito em mil pedaços.
Derrotada pelos meus devaneios, sentindo-me totalmente humilhada pela minha
situação deixo o desespero apoderar-se da minha alma. Não quero sofrer mais, nem
tenho o direito de fazer sofrer quem me rodeia. Rendo-me ao desespero. Estou
enclausurada entre quatro paredes e não vejo uma única saída. Falta-me o ar, o peito
prestes a explodir de tanta dor. Vejo-me a pentear o cabelo da minha filha mas era como
se eu já não estivesse lá.

Digo-te que preciso de um tempo, que tenho assuntos a resolver. Tu apenas perguntas
de quanto preciso. De quanto preciso?? Estás a falar de dinheiro e tudo o que preciso é
um ombro amigo, de uma mão que me puxe de volta á realidade. Estou já num mundo
de sombras onde tudo é escuro e sombrio e tudo o que preciso é ouvir-te dizer que me
amas e posso confiar em ti. Mas não! Apenas perguntas de quanto preciso… frio e seco.
Como se eu fosse uma prostituta a quem se pergunta o preço por uns minutos de prazer.
Mas o que eu preciso não podes oferecer-me. Porque o que eu preciso não se compra,
não se vê, não se possui. E aí tomo consciência de que tenho vivido numa ilusão. E

32
levada por essa doce ilusão deixei de agir para ficar sentada á espera que saciasses a
minha sede de amor. Permiti que a resolução dos meus problemas fosse suplantada pela
minha necessidade de ser amada. Deixei que a minha vida se tornasse numa anedota.
Vejo rostos desconhecidos a rirem-se de mim. Vejo dedos apontando na minha direcção
em tom ameaçador. Sinto-me a sufocar. Estou fora de mim, a minha mente já não me
obedece. O corpo age sem permissão e a consciência dominou-me por completo.
Alguma coisa me empurra para o escuro, para lá da razão e tu não me estendes a tua
mão. Já não vejo nada em meu redor, já não sinto nada. Estou fora do meu corpo e
lembro-me que tenho uma prioridade – deixar a minha filha em segurança! Longe do
frio e da fome. Agarro-me com força aos resquícios da minha sanidade e vou levá-la
para um lugar seguro.
Pelo caminho tento dominar-me, obter o controlo da razão. Tento achar um ponto onde
me segurar. Procuro no meu coração a tua mão, o teu afago carinhoso, as tuas palavras
de amor e apenas encontro a minha própria vergonha. Soube nessa altura que por te
amar demais te afastava de mim a cada dia que passávamos juntos. Entendi porque as
minhas declarações de amor te entristeciam. Compreendi porque te estava a perder.
Assumi que nunca te poderias entregar ao nosso amor porque ias fazer ao teu filho o que
eu estava a fazer á minha filha. Provoquei sofrimento e sofri ainda mais por me ter
inteirado desse facto.

Sou assaltada por pensamentos soltos que em vez de me acalmarem, torturam ainda
mais.
-“Amo-te”, escreveste-me tu numa noite. Acordei e não consegui mais dormir de tanta
felicidade que me deste só por mandares estas palavras. Eram quatro da manhã e fiquei
toda a noite a olhar para as letras com medo de ter lido mal. No meu pensamento
abracei-te, amei-te, mimei-te e passamos assim a noite abraçados. Contigo no
pensamento viajei ate ao universo, contemplei a beleza das estrelas e no alto do
firmamento gravei o meu amor por ti. Algures lá longe há uma constelação com o teu
nome. Fui eu que a criei com a chama do amor que sinto por ti.
-“Eu também te amo” – respondi eu, e ainda hoje vejo essas estrelas a brilhar no Céu,
mesmo ao lado das outras. Amo-te mais do que qualquer coisa neste mundo e tudo que
eu preciso é de te ouvir dizer que também me amas e precisas de mim, mas os ecos só
me devolvem palavras sem sentido – Quanto precisas? Quanto preciso???? Preciso de
todo o teu amor e não do teu dinheiro. Preciso de sentir a tua mão a afagar-me a cara,
preciso de encostar a minha cabeça no teu ombro e sentir uma vez mais o teu calor.
Preciso do que nunca me poderás dar. Sabes, o essencial nunca foi visível para os olhos.
Tu pensaste que os meus problemas eram resolvidos com dinheiro, mas os meus
problemas primordiais eram emocionais e não materiais. Estava a morrer por dentro
sufocando com a ausência do teu calor, dos teus afagos. Tantas vezes me disseste que
não fugias de mim e quando eu mais preciso de ti, trocas os teus carinhos pelos cifrões.
Não vês que apenas preciso que acalmes os meus sentidos? Não entendeste o que me
atormentava e retirava a razão. Nunca entendeste que apenas bastava dizeres-me mais
uma vez –“Amo-te”!

-“Não tens macaquinhos na cabeça quando ficas sozinha”, perguntaste vezes sem conta.
Não tinha, mas deste-mos de tanto que perguntaste. Afinal porque fazias tantas vezes a
mesma pergunta? Estavas a tentar dizer-me o quê? A que tipo de macaquinhos te
referias? À tua mulher? Achas que ficava com ciúmes se te imaginasse a fazer amor
com ela? Entre marido e mulher é suposto isso acontecer.

33
-“ Não te sentes sozinha á noite? Afinal eu tenho a minha família e tu vives sozinha com
a tua filha, é só por isso.”
Ainda hoje me pergunto se esta tua dúvida era porque me querias e punhas à prova o
meu amor ou se pelo contrário, já não me querias e procuravas desviar a minha atenção
para esse pormenor – a solidão das minhas noites!
O que tu não podias calcular era que á noite nunca me sentia sozinha. Tinha-te no meu
pensamento e embora estivesses em casa com a tua mulher, era dentro do meu coração
que dormias. Era assim que eu sabia que seria. Dia após dia repartido entre duas
mulheres, duas casas, duas famílias, mas era no meu coração que tu permanecias.
Fechava os olhos na escuridão do meu quarto, e mesmo sem estares lá, fazia amor
contigo vezes sem conta. Deixava-me transportar para o nosso mundo e aí dizia-te bem
alto e sem receio – “amo-te”, “preciso de ti”.
- “Quero sentir o teu sabor”, dizias-me tu.
Neste mundo de paz e amor adormecíamos sempre abraçados, estivesses onde
estivesses. Não era a distância que nos separava.

Recordei o dia em que disseste estar triste porque não temos um passado “nosso”.
Fiquei pensativa mas nunca to disse. Porque haveríamos de ter um passado “nosso”? Já
temos algum passado “nosso”, afinal não acabamos de nos conhecer! Mas se vivermos
um dia de cada vez caminhamos para o nosso futuro e uma vez chegados lá teremos o
nosso passado. O importante é não esquecermos de viver um dia de cada vez. O meu
erro aqui foi precisamente esse. Devotei um dia de cada vez ao nosso amor e esqueci-
me de tudo o resto. Esqueci-me que acima de tudo eu tenho uma filha que me ama de
verdade e precisa de mim. Mais uma vez a culpa e a vergonha tomam conta de mim.
Um aperto no peito corta-me a alma e tolhe-me os sentidos. Sinto-me a fugir mais uma
vez. Pesa-me o corpo mas a cabeça flutua. Já não sei como comecei a pensar assim,
afinal que se passa comigo? Será que estive adormecida todo este tempo e vivi uma
ilusão? Mas então porque acordei agora para enfrentar o caos daquilo que eu mesma
originei? Mas afinal porque me fui apaixonar por ti? Eu não te mereço nem nunca
mereci. Tu és um anjo e mereces alguém que te faça feliz e não te crie problemas. Eu só
atraio desgraças e, em desgraça já eu estou! Tens uma mulher que não quer falar contigo
e resolver os assuntos da família pendentes, e outra que apenas te traz mais problemas –
EU!

Dou comigo já em casa a despedir-me de ti e a pedir-te que encaminhes a menina para a


minha irmã, mas tu recusas-te. Digo-te que vou partir, que já chega. Que toda a minha
vida foi uma anedota e tu pensas que falo de ti. Recordo vagamente de teres perguntado
se achava que o teu amor por mim era uma anedota. Tu nunca foste uma anedota. És o
meu amor, o meu grande amor. Nunca me disseste o que precisava de ouvir. Sei que
falaste, que tentaste dizer-me que as coisas não se resolvem assim, mas as palavras
mágicas nunca as soltaste. Sabes, creio que nunca me amaste como eu te amo a ti.
Recordas-te do sábado em que me disseste que o teu vizinho se suicidou e que estavas
perturbado com essa imagem? Foi isso que usaste como desculpa para não me teres
falado nesse fim-de-semana.
Lembras-te de eu ter dito para manteres a calma porque eu precisava de ti? Eu falava
sério só que tu nunca acreditaste. E foi esta a conclusão a que cheguei nesse dia.
Precisava de ti como nunca precisei de ninguém. Precisava de ti como do ar que respiro.
Mas ao mesmo tempo queria que te orgulhasses de mim, que me amasses e também tu
precisasses de mim do mesmo jeito. Precisava de te ouvir dizer mais uma vez – amo-te!
E tu nunca mais o disseste. Bastava dizeres-me que precisavas de mim e esquecer todas

34
as outras balelas que disseste. Bastava sentir a tua mão a amparar-me os pensamentos,
mas não a estendeste. Retiraste-me o ombro com que me apoiavas e afastaste a tua mão
da minha quando me perguntaste “quanto precisas?”

Estou completamente sozinha e desamparada. Caio num precipício e não há nada onde
me possa agarrar. Apenas vislumbro cicatrizes do passado que me estilhaçam o espírito
e embargam os sentidos.
Vejo-me a cometer os mesmos erros da minha mãe, quando desamparou os filhos para
viver a vida dela de uma forma destrutiva. Vejo a miséria e a vida de medo e
insegurança de que sempre fugi. Finalmente sinto culpa por tudo aquilo que fiz e por
tudo o que me tornei. Tanto fugi e tanto fiz para evitar uma situação idêntica que acabei
fazendo exactamente a mesma coisa que eu condenei na atitude da minha mãe. Foi este
o dote que ela me deu? È este o seu legado? Em que espécie de ser humano me tornei?
Perdoa-me mãe, eu assim não sei viver.
Agora é o meu pai quem me acusa “eu avisei-te, bem te disse que estavas com
problemas porque assumiste a tua filha”. Aquele olhar sério dele penetrou nos meus
olhos e obrigou-me a chorar. Desculpe-me pai por não ser a filha que queria que eu
fosse. Eu não consigo! Eu sou apenas eu!
E mesmo assim, com os olhos marejados de lágrimas, vejo aquele que foi meu patrão
durante seis anos a rir-se do meu infortúnio. Aquele que durante seis anos eu pensei que
fosse meu amigo mas que se revelou apenas mais um aproveitador da classe operária.
Apenas mais um manipulador.
Preciso de fugir deles, mas não vejo o caminho. Continuo a cair e não vejo onde me
agarrar. Não há nenhuma mão amiga para me segurar. Estou mais sozinha do que um
cão deixado ao abandono.
E o mais engraçado é que eu acho que mereço!

Não recordo com clareza o que se passou a seguir. Sei que me vejo deitada na cama, a
flutuar. Vejo, num sonho meu, o teu sonho – a tua casa no Alentejo e os nossos filhos a
brincar juntos. Como parecem contentes os dois. Vejo-nos abraçados a contemplar a
alegria deles. A paz rodeia-nos e o amor acolhe-nos. As árvores baloiçam ao sabor da
suave brisa que nos afaga a cara. O sol brilha lá no alto parecendo dar-nos as boas
vindas ao nosso novo lar. Era, um sonho perfeito demais para ser verdade.
O que outrora foi brilho nos meus olhos, hoje queima e não posso impedi-los de chorar.
Mas por mais lágrimas que verta não me lavam as dividas nem a vergonha. E muito
menos o sofrimento que causei.

Aquela voz dentro de mim continua a dizer-me que não te mereço. As contas por pagar
voltam-me ao pensamento. E a memória da miséria que já vivi, toma conta de mim
novamente. Não quero que a minha filha passe pela vergonha que passei, nem passe
fome como já passei. Se ela ficar onde está pelo menos não passará fome nem frio.
Alguém tomará conta dela, melhor do eu fui capaz.

Afasto todos os pensamentos e abro o coração á escuridão. Preparo a etapa seguinte.


Estou á espera que o repouso eterno tome conta de mim. Espero por ti ó morte!

35
Highest mountain

From the highest mountain


On the biggest tree
I try to find
And I try to see

Turned your back


And went way
Left me alone
And took my way

Cried out loud


Screaming your name
But lost I was

36
Still the same

The sky is up above


And me down below
Bleeding too much
To let it go

From the highest mountain


On the biggest tree
I look at the stars
And I know they’ll guide me

Quarta-feira, 12 de Outubro de 2005

Bom dia,

Não consegui dormir um minuto sequer esta noite. Sabes porquê? Pelo
facto de TU pensares que estou desequilibrada e que poderia fazer qualquer
coisa que te prejudicasse a ti ou ao teu filho. E também por me teres dito
que não sou a pessoa decidida que pensavas que eu era. E outras coisas
mais...
No entanto, deixa que te diga que foi o meu amor por ti que me tornou
insegura, eu sabia que nunca te teria por completo, sempre soube que
adoras o teu filho. Contudo, o meu amor por ti aumentava a cada dia.
Não lamento o que se passou entre nós, nem lamento o meu amor por ti.
Quanto a ti, lá saberás...

37
Deitei-me a chorar e levanto-me a chorar, mas não tenhas pena porque esta
doença cura-se, ou pelo menos tem nome – chama-se AMOR. Mas choro
porque bastava apenas uma palavra carinhosa, um afago, um gesto de amor
teu e eu sossegava. Não percebeste que estava em agonia pelo domingo
passado, nem percebeste o meu desespero pela minha situação, e como agi
da forma que agi, tomaste a tua decisão. Não compreendeste que acima de
tudo o que eu mais precisava era de um carinho teu. Bastava isso para eu
"cair na real". Afinal de contas tu nunca me percebeste e por isso choro...
Ainda te vou amar durante muito tempo, pois o que sinto é real e
verdadeiro. Não SOU nem ESTOU desequilibrada, apenas me sinto ferida.
Diria até mesmo magoada...mas a vida continua! E o amor está lá. Porém,
ou bem ou mal o caminho é para a frente.

Desejo-te as maiores felicidades do mundo.

Decidi partilhar estes pensamentos contigo para que talvez, ao menos no


fim da nossa relação, me pudesses compreender. Espero que tenhas
percebido o meu desespero, que não passou de um desatino infeliz ao
contrário daquilo que possas supor.

Espero do fundo do meu coração que a felicidade te bata á porta. Afinal


amar é um sem fim de bem-querer...

Paula

Quinta-feira, 13 de Outubro de 2005

No início fizeste uma pergunta – " parece que tens medo que eu te ame". A
resposta esta nos acontecimentos dos últimos dias.......

Poderíamos ter sido excelentes amigos, mas não, quisemos aproximarmo-


nos e o resultado foi este...não foste só tu que ficaste a amar alguém....eu
também fiquei a amar-te, és uma pessoa com muitas qualidades e eu se não
me afasto agora sei que depois vai ser tarde demais....e tenho medo de não
ter forças para tomar esta decisão ou outra qualquer mais tarde.

Sei que tens força dentro de ti para superares esta fase da tua vida, sei que
tens qualidades para poderes vencer.
Espero que as coisas tomem outro rumo e a felicidade e a abundância te
batam a porta.

Por favor, vai dando noticias tuas, quanto mais não seja por e-mail.

38
Tu e a tua filha foram e são importantes para mim, mas tenho de me
afastar agora pois sei que depois não iria conseguir…

Beijinhos e que tudo de bom te possa acontecer

Luís

O meu amor por ti é a coisa mais bonita que algum dia me aconteceu... Como uma
estrela reluzente vou amar-te eternamente! Parece mentira amar assim, mas não é. Tu
ensinaste-me o que é o amor verdadeiro, o prazer de amar e estar em sintonia perfeita,
como duas metades que se completam e se unem na perfeição. Eis como me sentia!
Completa, em sintonia. O meu amor por ti dá-me alento para continuar a lutar. E sei que
sem ti nada faz sentido.
Mesmo quando não estas sinto-te do meu lado, durmo a teu lado segurando a tua mão
entrelaçada no meu corpo. Vivo contigo no meu pensamento e no meu coração. Para
sempre estarás a meu lado, pois nunca te deixarei morrer dentro do meu pensamento.
Gravei-te na minha alma. Tu és aquela parte de mim que andava perdida, és quem me
ilumina. És a razão do meu sorriso, a razão porque o meu coração bate. Sem ti não há
oceano, não há pássaros a chilrear, não há sol, não há vento, não há nada. Nem as flores
sorriem!!!
O meu amor por ti é...eterno!
Enquanto houver céu eu vou te amar, enquanto houver sol eu vou te amar, enquanto
houver chuva eu vou te amar, enquanto eu viver “eu vou te amar”r!

Novembro de 2005

Aos meus amigos:

Durante os últimos seis anos refugiei-me no trabalho. Isolei-me de tudo e de todos.


Durante esse tempo concentrei-me exclusivamente no trabalho e na minha filha.
Afastei-me da minha família, isolei-me da minha mãe (alcoólica) e irmão
(toxicodependente) pois só me traziam complicações. Procurei reconstruir a minha
vida ao lado da minha filha. Caminhei ao lado de uma multidão sempre com a solidão e
a musica como companhia. Até ao dia em que disse basta. Entrei então no mundo
virtual para tentar fazer amigos, e quem sabe, encontrar alguém muito especial que
pudesse preencher o vazio da solidão.
Algumas pessoas sabem que deixei o meu emprego estável precisamente no mês de
férias, Agosto, e em Setembro iria começar a trabalhar numa outra empresa. Pois, mas
tal não aconteceu e essa foi a minha desgraça.
Durante o tempo que reservei para as minhas férias conheci uma pessoa muito
especial, uma pessoa que me fez feliz, alguém que me fez olhar para mim mesma e
descobrir que afinal sou mulher...

39
Setembro chegou e o novo emprego não apareceu, mas não fazia mal. Eu estava
amando e sendo amada. Tinha perdido por um lado mas estava a ganhar por outro e
era maior do que o que estava a perder. Comecei a cortar nas despesas e a racionar o
que tinha. Fui respondendo a anúncios e enviando currículos, mas admito que sempre
achei que um golpe de sorte me havia de atingir.

Por outro lado eu nunca me senti tão feliz ao lado de alguém e na ânsia de estar o
máximo de tempo possível com essa pessoa, descuidei-me e afastei-me do meu caminho.
Já não vivia só para a minha filha e o meu trabalho, o sustento das nossas vidas, foi-se.
Contudo estava a ficar agitada e inquieta por causa do desemprego.

Aos dias de desemprego sucederam-se os meses e as minhas dívidas aumentaram


consideravelmente. Em Outubro, mais precisamente no dia 10, estava totalmente falida.
Meses de renda em atraso, cartões de crédito estourados, contas atrasadas e pior que
tudo, não tinha sequer comida em casa para dar a minha filha.
Não quis de jeito algum que esse anjo que entrou na minha vida soubesse da minha
situação. Se ele souber vai-me deixar.
E a minha filha?? Porque deixei eu que isto acontecesse com ela? O meu maior medo
sempre foi o de não conseguir ter que dar de comer á minha filha e esse dia tinha
chegado – por burrice minha. Falhei como mãe. E nessa mistura de emoções comecei a
sentir-me uma falhada. Sinto que falhei em tudo e acho que a minha vida sempre foi
uma anedota. Será que não consigo fazer nada de jeito??? Desesperada e influenciada
por esse sentimento e pela vergonha da minha situação, deixei e menina no ATL e vim
para casa para me matar.
Tomei todos os comprimidos que encontrei, pedi ao meu anjo que entregasse a minha
filha á minha irmã que mora em França, desliguei os meios de contacto e esperei pela
morte.

Nesse dia não morri, descubro apenas que deixei de viver. O que eu matei foi a minha
alma e carrego agora a minha culpa. Matei o meu espírito e afastei de mim aquele que
eu sempre procurei e que quero amar para sempre. Feri o meu anjo e mandei-o
embora da minha vida com a minha atitude. Hoje não consigo superar esta dor de o ter
perdido e nem todos aqueles que me dão apoio e carinho, que me ajudam a lamber as
minhas feridas, conseguem apagar esta dor.

Preciso de tempo para acalmar os meus sentimentos. Preciso de encontrar paz dentro
de mim. Preciso de colocar as ideias em ordem. Preciso de voltar a dormir e a comer
direito. Preciso de voltar a ver em mim um ser humano... E a minha filha também
precisa de mim!

Descobri que a musica me atormenta a alma e aumenta a minha dor. Descobri que já
não aguento mais ouvir uma nota que seja daquela que foi a minha fiel companheira
durante estes últimos anos. Descobri que o barulho do silêncio fere os meus tímpanos.
Descobri que a minha dor magoa também alguns de vocês, e descobri que estar sozinha
afinal não é assim tão mau!

Esta explicação não pretende ser uma despedida. É apenas um até sempre. Voltarei
com notícias, não sei quando, mas para já preciso mesmo de me encontrar de novo pois
sinto que ando á deriva num turbilhão de emoções e tenho de encontrar o meu rumo.
A minha dor não pode ser apagada mas preciso de a acalmar.

40
O meu amor não pode ser curado, contudo tem de ser domado.
Reclamo a paz a que tenho direito e isso só obterei estando de novo sozinha.

Aqueles que me conhecem, sabem que estas linhas são a verdade da minha vida e
sabem também que um dia voltarei, não como era, mas um pouco mais alegre.
Até sempre meus amigos.

Cinco meses se passaram desde que terminou esta nossa história, este nosso passado
que agora não podes apagar.
Continuo a acordar de manhã carente dos teus carinhos, e a sonhar com os teus mimos.
Todos os dias, ao abrir os olhos, pego no telemóvel na esperança de ver o teu tão
precisado “bom dia fofinha”. Embora saiba que não está lá, eu ainda procuro…
Ainda sinto o abraço terno com que me envolvias. Ainda faço amor contigo todas as
noites, debaixo das estrelas. Ainda durmo com a minha mão na tua Ainda… e assim
será, porque te trago agarrado à minha alma. Esta doce lembrança e o amor que sinto
por ti são o meu alicerce para a vida.
Todas as noites, viajo até ao meu sonho para te ter ao meu lado. Todas as noites,
contemplo de novo o meu céu. E aí sei, que as estrelas vão guiar-me…

FIM

41

Você também pode gostar