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Até uns dias atrás eu estava me sentindo muito culpado por não ter te escrito ainda.

Um pouco de vergonha por te considerar minha maior amiga e não ter entregue nem um
bilhetinho pra tua tia Amabile, nem ido tomar um café com ela pra conversar sobre as
chatisses da vida. Acho que a culpa que me impedia de te escrever, porque nesse momento
sinto meu corpo e o ambiente muito bem, voltando aos poucos em sincronia e me
relacionando como devia com o meio. Então hoje acordei 8 da manhã e levantei da cama
sem esforço, sem esperar nada do dia, e fiz uma por uma as minhas necessidades, e por
isso escrever pra você aconteceu sem muito esforço.
Não devo ter te contado, mas voltei a estudar. Tô fazendo uma graduação em
Gastronomia e um técnico em ADM. Ficava imaginando meu futuro como promissor, cheio
de frutos à colher desse solo que mais me esforcei em pensar qual escolher do que provar
a delícia e o delírio que tinha nele. Então, sem nenhuma novidade, comecei a atrasar meus
estudos, a me sentir um lixo, e me arrepender por gastar com a graduação (sim, eu to
pagando pelos meus estudos D:).
Então não sei se é algo astrológico ou só um momento de bem estar, mas estou
colocando meus estudos em dia, de pouco a pouco, sem fazer muito esforço, mas também
com paciente empenho. Até um pouco antes disso, você estava à todo momento na minha
mente, te via como exemplo a seguir, queria levar um dia de cada vez, e não sofrer hoje por
esperar ser bem sucedido ano que vem. Assumi meu vício no cigarro e parei de filar cigarro
dos outros, esse sim, costume feio e chato. Mas também estou apreciando melhor a
fumaça, não só a pressão que baixa e me deixa relaxado, mas também a forma que uso
dele pra fugir de algumas convenções, ou como ponte para o futuro, quando quero que 5
minutos passem mais rápido. Acho que se tem algo que um dia vai me levar a largar o
cigarro, é isso; enquanto, ficar me cobrando que eu pare era o que me fazia continuar
fumando.
Também tenho apreciado melhor uma transa. Na verdade, esse é o mais recente.
Você sabe, sexo é algo confuso pra mim, eu quero mas não sei como quero, e isso me
frustra profundamente; então, sexta saí com essa menina que é pisciana (ultimamente virei
imã de piscianos), e ela rapidamente se tornou uma grande amiga, e eu ficava pensando:
que bela amizade. Não pensei nem em transar ou em não transar com ela, só aproveitei
aquele momento. Teve um momento que, seis da manhã, a gente tava recém alimentado,
abraçados em baixo de um cobertor, vendo o sol nascer, e eu perguntei pra ela se
estávamos flertando, com medo que ela dissesse que sim. Ela disse que não, que não
pensava nisso, e foi assim que acabamos ficando. Engraçado como quando esperamos que
algo aconteça faz com que o oposto se dê. Resumindo, fiquei 3 dias na casa dela, só
cozinhando e lavando, da melhor maneira que eu gosto de fugir das coisas. Mas, voltando,
o sexo: Quando deitamos e dormimos, pedi pra que a gente não transasse, eu estava com
medo de broxar ou de não gozar, e assim como a bruta flor do querer, acabamos transando,
e foi muito gostoso.
Não sei no que vai se dar essa carta, se ela tem um propósito. Queria te contar que
estou me espiritualizando, que estou ciente da minha vida e de como me relaciono com
meu meio, mas isso não é 100% verdade. Porém, tem muita coisa nova acontecendo. Se
antes eu me frustrava por nada acontecer, hoje estou deixando as coisas acontecerem e,
se necessário, deixar que me frustrem.
Aliás, aconteceu uma coisa muito triste esses dias. Não queria ser eu quem te
contasse isso, mas não queria que você ficasse o tempo todo aí sem saber disso. Nosso
ídolo e amor, o Belchior, morreu. Ele se foi Domingo, dia 30, no sofá que usava pra compor
(sim, ele ainda escrevia canções!!). Estava morando no Rio Grande do Sul, na cidade de
Santa Cruz do Sul, parece que ele tava meio escondido lá também. Me desculpa se essa
notícia está te chegando nessa carta, mas você precisava saber. A gente renasce todos os
dias e dessa vez vamos renascer sabendo que nosso Belchior se foi.

No mais, estou com muitas saudades. Te amo e te admiro.

Vitor Abreu, 02 de Maio de 2017.

P.S.: Estou te mandando esse livro. Ele é gostoso de ler e me inspirou uma sensação muito
boa, espero que te inspire também.

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