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Copyright © Priscila Veiga, 2020

Todos os direitos reservados. É proibido o armazenamento, cópia e/ou reprodução de qualquer parte desta
obra ― física ou eletrônica ―, sem a prévia autorização do autor.
Esta é uma obra de ficção, qualquer semelhança com nomes, pessoas, factos ou situações da vida real terá
sido mera coincidência.
Revisão: Barbara Pinheiro
Capa: Bianka Jannuzzi
Diagramação digital: Grazi Fontes
Paixão em Duas Rodas – SÉRIE REED ENTERPRISES
© Todos os direitos reservados a Priscila Veiga.
Amanda viu no serviço de Home Care a oportunidade de juntar mais
dinheiro, além das pessoas maravilhosas que conheceu, graças ao seu trabalho
no hospital. Sempre foi uma filha obediente e teve o amor e o apoio dos pais,
porém, nada disso a impediu de fazer escolhas erradas que acarretaram
consequências para a sua vida até hoje. Amanda faz tudo o que pode para fugir,
mas o destino tem outros planos.
Ela nunca esperaria ajuda dessa pessoa, aliás não esperava de ninguém e
tinha a ideia fixa de não se envolver em um relacionamento, mas uma noite de
bebedeira levou os seus planos pelo ralo.

Trevor sempre foi aquele superamigo, sua maior bênção e sua maior
maldição, já que ele está cansado de ficar sempre na friendzone. Infelizmente
algumas escolhas do seu irmão respingam nele, que acaba precisando tirar férias
inesperadas. Mas ele não esperava encontrar com ela e, muito menos, que os
seus destinos estivessem tão ligados.

O destino pode ser cruel, mas pode reservar surpresas maravilhosas. O


que será que está reservado para esses dois?
Preciso dizer que este livro tem muitos gatilhos, até para esta autora aqui.
Em muitos momentos, tive dificuldade para continuar, algumas vezes pensei em
realmente desistir, mas algumas coisas aconteceram e me deram forças para
seguir. Primeiro tive dificuldades com o tema máfia, eita coisa complicada, mas
por mais que não soubesse muitas coisas sobre o assunto, eu me empenhei em
aprender, pesquisar e buscar informações para colocar nos próximos livros. Isso
se deu principalmente pela necessidade de ligar as histórias desta série, eu
precisava de algo que fizesse essa ligação e estava lendo muitos livros sobre o
tema, uma coisa levou a outra e aqui estamos. Aviso que tem momentos tensos,
se você for sensível a temas como violência sexual, eu não recomendo a leitura.
Mais importante: precisava ligar este livro com o próximo, inventei de
escrever os dois juntos, já podem imaginar que esse foi um dos motivos dos
meus bloqueios, porque escrever um livro já é difícil, dois juntos, então, me deu
um nó na cabeça tão grande, que chegou um momento que eu não sabia mais o
que fazer. Tive que arrumar um tempo para me organizar, para organizar a linha
do tempo desta série para que fizessem sentido os meus próximos passos.
Junto com tudo isso, veio a pandemia, tudo ficou muito mais difícil por
não poder ver meus pais, durante uns 3 meses não os vi nenhuma vez e a
saudade chegava a doer. Algumas vezes, tinha crise de ansiedade e um pouco de
pânico que pudesse acontecer alguma coisa com eles, que eu não pudesse ir para
lá, todo esse tempo eu torci para que ficassem bem, saudáveis, na medida do
possível, e morri de saudade deles todos os dias.
No último dia 12 de junho fez 15 anos do falecimento da minha avó
materna, dona Hilda, ela era a vozinha mais linda do mundo, mais querida e eu a
amo muito e sinto falta todos os dias desde que ela se foi. Sei que ela cuida de
mim, sinto que me protege e está ao meu lado. Mas senti que eu precisava
desabafar essa saudade toda de outra forma, além de chorar de vez em quando.
Por esse motivo, a transformei em uma personagem, fofa como só ela, com as
características físicas dela, quando jovem tinha cabelos negros e os olhos azuis
mais lindos que eu já vi.
Ela tinha insuficiência renal e por muitos anos fez hemodiálise, na
esperança de conseguir um transplante de aumentar sua expectativa de vida
ainda mais. Era teimosa, forte, guerreira como só ela, mas ao mesmo tempo era
doce e carinhosa como toda avó. Sempre se preocupou com as netas, sempre nos
amou muito e senti a necessidade de homenageá-la de alguma forma. Sei que ela
falava para fazer o que tivesse que fazer com ela viva, mas tive apenas 15 anos
para amá-la em vida, depois só tive as lembranças.
Esse é mais um motivo porque este livro é um dos mais difíceis que já
escrevi, acho que me emocionei em muitos momentos, tentei passar todos os
sentimentos que eu senti quando escrevi, e espero, sinceramente, que consiga
transmitir todo o sentimento para você que está lendo.
Nada nunca será suficiente, nada vai me fazer não sentir a falta dela e do
meu avô, João, eles foram os melhores avós do mundo e sempre vou amá-los,
lembrá-los e sentir saudade, alguns dias dói mais essa saudade do que outros,
mas tento focar e me lembrar de todos os momentos bons, as risadas, os abraços,
beijos e carinhos.
Espero que gostem, boa leitura!

Dedico esse livro para a


minha avó, Dona Hilda,
que nos deixou há 15
anos. A saudade é sempre
forte, mas sei que estaria
feliz em ver a felicidade
da sua família. Sei que
cuida de nós de onde
estiver e nunca será
esquecida.
Esse livro é pra você!!
Te amo para sempre
vózinha.
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índice
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Epílogo
Agradecimentos
* Amanda *

A minha cabeça pesa, parece que tem uma banda de heavy metal dentro
dela, de tanto que dói, percebo que bebi demais a noite passada, mas a festa
estava tão boa e eu fiquei tão surpresa de a Kate ter me chamado para madrinha,
que quis aproveitar. Ela, junto com a Nathy e a Bia, se tornaram minhas amigas,
tudo porque eu aceitei ajudá-la com o pós-operatório da mãe dela.
Tento me mexer na cama e sinto que alguma coisa está estranha, mas
prefiro não abrir os olhos neste momento e tento novamente me virar, sinto uma
mão na minha barriga e o meu corpo todo gela. O que foi que eu fiz?! Agora eu
estou totalmente desperta e, apesar dos olhos ainda fechados, começo a prestar
atenção ao lugar onde estou, porque pode não ser a minha cama, percebo que
estou nua. Vamos analisar o que entendi até agora: estou nua e tem alguém na
cama comigo. Existe uma conclusão óbvia para essas duas informações, além do
desconforto que estou sentindo entre as pernas. Ok, com certeza eu transei com
alguém, mas quem?!
O único jeito de descobrir isso é abrindo os olhos e é o que eu faço,
mesmo um pouco relutante e fico mais surpresa do que nunca fiquei em toda a
minha vida com os dois fatos que se revelam:
1 — Eu transei com o Trevor!
2 — Esta não é a minha cama, muito menos, o meu quarto, então eu
estou na casa dele.
Ai, meu Deus! Ai meu Deus! Ai, meu Deus!
Desde que eu conheci o Trevor, no apartamento da Kate, evitei ao
máximo ficar perto dele, mesmo ele indo visitá-los sempre. O jeito dele e a
forma como chama todas de “princesa” me irritam profundamente, por isso eu
não faço ideia de como vim parar aqui. Eu admito que me sinto atraída por ele, o
cara luta boxe, tem o corpo todo definido, é uma delícia, mas, ainda assim, não
justifica.
Percebo outro detalhe, estou usando o braço dele como travesseiro, é um
travesseiro bom e dá até vontade de morder, de tão gostoso. Percebendo aonde
vão os meus pensamentos resolvo virar de costas para ele, que me agarra,
encostando o peito nas minhas costas e me cutucando com alguma coisa que não
é sua mão, porque essa está agora segurando firme um dos meus seios, sei que já
estou molhada só de imaginar o que fizemos a noite passada e é uma tentação
repetir, já que eu não lembro o que aconteceu.
Sinto-o beliscando o meu mamilo e, se fosse para dar um palpite, diria
que ele está bem acordado, eu tenho duas opções:
1 — Levantar e ir embora, sem me lembrar de nada do que aconteceu e
não saber o gosto de ter um homem gostoso desse jeito comigo;
2 – Aproveitar o que ele parece disposto a me dar e fingir não me
lembrar disso também.
Não sou nenhuma puritana, tenho os meus momentos de diversão, bem
poucos, mas ainda são existentes e eu ando precisando de um homem que
realmente me satisfaça, mas será que o Trevor é esse homem?
Enquanto me perco em pensamentos contraditórios, sinto a mão que
estava embaixo do meu pescoço se mover para o meu outro mamilo e a mão que
estava no meu seio escorrega para baixo pelo meu corpo, com certeza ele está
acordado e a minha primeira reação é fechar os olhos e fingir que ainda estou
dormindo. Infantil, eu sei. Quase não consigo reprimir um gemido quando a mão
dele chega ao meu clitóris e começa a estimulá-lo, continuo tentando manter a
minha respiração controlada e quase me perco quando ele me penetra com um
dedo.
Sinto o corpo dele se mexendo atrás de mim, se aproximando, até que a
boca dele chega à minha orelha, mordiscando o lóbulo e me fazendo tremer.
— Sei que está acordada, princesa, que tal um café da manhã? — ele
pergunta, próximo ao meu ouvido, e eu tenho certeza de que eu serei o café da
manhã, agora tenho poucas escolhas, porque se eu ficar ele vai saber que, pelo
menos, desta manhã eu não tenho como não me lembrar. Eu quero tanto provar
esse homem delicioso.
Lembram-se da dor de cabeça? Eu até já me esqueci dela, mas ainda não
sei o que fazer com o Trevor, sei o que eu quero, mas não sei se é o melhor e
detesto ficar indecisa. Acho que demorei tanto para tomar uma atitude, que ele
entendeu como um sinal verde, pois sinto seus lábios distribuindo beijos pelo
meu pescoço e meu ombro, além de suas mãos fazendo maravilhas no meu
corpo, ele se afasta um momento e eu continuo imóvel, então ele volta
aproximando o corpo do meu, com as mãos explorando o meu corpo, encaixa a
sua ereção na minha entrada e começa a me penetrar, devagar. Golpe baixo!
Literalmente!
Não tem mais como disfarçar, eu arfo e abro os olhos, sinto-o sorrindo
antes de se aproximar novamente do meu ouvido.
— Eu sabia que estava acordada, princesa — ele diz e não gosto de ser
chamada dessa forma, porque os homens que chamam todas assim têm o
propósito de não se preocuparem em lembrar o nome da mulher com quem estão
transando e, por isso, utilizam o mesmo apelido com todas: para não se
confundirem!
Isso me irrita em um nível que não consigo me segurar, então me levanto
da cama e me afasto da tentação, o meu corpo traidor imediatamente sente falta
do contato com ele, mas não vou voltar.
— O que você pensa que está fazendo? — Pergunta idiota, eu sei, mas
não consigo pensar muito bem no momento.
— Sexo matinal era o que estávamos fazendo, antes de você sair da
cama, do nada — ele responde, deitando de costas na cama e colocando os
braços atrás da cabeça. Minha nossa, quantos músculos, olha esse tanquinho, dá
para me esfregar nele igual uma gata no cio! Credo, que delícia! Acabo me
distraindo, olhando esse corpo maravilhoso até que o escuto rindo. — Pode
encarar o quanto quiser, princesa, mas seria muito mais interessante se você
voltasse para a cama.
— Não vou voltar, você pelo menos sabe o nome da pessoa com quem
estava transando? — eu pergunto, recuperando a razão e a raiva.
— Claro que eu sei, Amanda, qual é o seu problema? — pergunta e eu
me surpreendo que ele se lembre do meu nome, se bem que conversamos tanto
no último mês que seria estranho ele não saber, mas assim a minha teoria e o
maior motivo da minha raiva caem por terra.
— Não posso ficar aqui, isso foi um erro — digo, começando a procurar
a minha roupa. — Foi uma irresponsabilidade sem tamanho ter vindo para cá
com você, ainda mais porque eu não me lembro de nada depois de beber na festa
— finalizo, e estou tão distraída caçando as minhas roupas, que não vejo quando
ele se levanta e se aproxima de mim.
— Como assim? — diz, segurando o meu braço.
— Eu não me lembro de nada, estou com uma amnésia devido à
quantidade de álcool ingerida ontem — respondo.
— Então, você não se lembra de ter me atacado ainda na festa? —
pergunta sério e eu me sinto corando de vergonha imediatamente. — Não se
lembra de ter me beijado na saída da festa, de ter me pedido para te trazer para
cá, de ter jurado que estava bem e de quase não conseguirmos chegar ao meu
apartamento, nos agarrando o caminho todo? — questiona, cada vez mais perto,
e eu sinto o meu corpo esquentando e a minha respiração acelerando.
— Não me lembro de nada — respondo, ainda com a respiração
descompassada.
— Podemos relembrar agora mesmo, se você quiser, talvez repetir os
últimos acontecimentos te ajude a lembrar — ele oferece, colando o corpo no
meu e aproximando o rosto. Ai, meu Deus, preciso sair daqui, agora!
— Eu não posso, talvez seja melhor que eu tenha esquecido e você deva
esquecer isso também, foi um erro de proporções catastróficas — digo, me
soltando dele e começando a me vestir.
— Não seja dramática, nós só transamos e eu não quero esquecer, mas
repetir — ele diz, se aproximando por trás e deixando beijos no meu pescoço,
causando arrepios pelo meu corpo. Esse cara é um perigo para a minha
sanidade mental.
— Trevor, me solta, por favor — peço.
— Você não quer realmente que eu te solte, princesa — ele diz e isso me
dá forças para me soltar.
— Chega, estou indo embora — aviso, decidida, e termino de me vestir,
me encaminhando com pressa para a porta.
— Nós ainda vamos repetir o que aconteceu ontem, e da próxima vez
vou garantir que você estará sóbria para se lembrar de tudo! — promete,
chegando à sala, enquanto eu abro a porta já com a minha bolsa em mãos e saio
do apartamento dele, como se estivesse sendo perseguida pelo próprio demônio.
* Trevor *

Deve ser uma piada dela, não é possível que depois de uma transa de
tremer a terra a mulher acorda sem se lembrar de nenhum beijinho. Seria cômico
eu me sentir ultrajado desse jeito sendo que já aconteceu de acordar com uma
mulher sem me lembrar nem do nome dela, quanto mais da transa, nem sei como
meu pau subiu com tanto álcool no meu organismo, deve ser algum tipo de
carma para que eu sinta o que as mulheres com quem eu transei devem ter
sentido. Isso é uma merda!
Sentindo-me muito frustrado, resolvo ligar para o James, talvez ele
consiga com a Kate o telefone dela e eu possa descobrir por que ela fugiu.
Quando a ligação está quase caindo na caixa postal, ele atende.
— Espero que você esteja morrendo ou algo do tipo, para justificar
interromper a minha lua de mel, senão juro que te mato, quando eu voltar — ele
diz, assim que atende.
— É quase isso, você é a única pessoa que pode me ajudar neste
momento. — Isso o faz prestar atenção.
— Fala logo, minha mulher está me esperando.
Conto tudo o que aconteceu essa manhã, ou quase tudo, porque ele não
precisa saber de todos os detalhes, mas principalmente conto a parte em que ela
fugiu e disse que não se lembrava de ter transado comigo.
— Ok, entendi a sua indignação, mas onde isso é motivo para você
interromper a minha lua de mel? — ele pergunta.
— Você pode conseguir o telefone da Amanda com a Kate — respondo.
— Olha, não sei se ela vai querer te dar, porque a própria Amanda não
quis te dar o telefone e te deu um fora em cada convite para sair, mas vou falar
com ela e qualquer coisa te mando por mensagem, mas não volte a interromper a
minha lua de mel.
— Ok, obrigado por tentar, e aproveite a lua de mel — me despeço e
encerro a ligação bem rápido.
Seria cômico, se eu não me sentisse tão idiota por ela ter fugido de mim e
sem se lembrar de nada, estou muito puto e indignado por seu comportamento.
Eu estou há semanas cercando-a, tentando chamá-la para sair e sem conseguir
nenhuma abertura, quando eu acho que terei alguma chance, ela transa comigo
por estar bêbada e não se lembra da foda que tivemos, mas essa mulher não vai
me esquecer na próxima, porque com toda certeza terá uma próxima.
É melhor ocupar a minha cabeça, então resolvo descer até a garagem do
prédio e dou uma limpada na moto, confiro o motor e se está tudo em seu devido
lugar, enquanto coloco a minha cabeça em ordem e me acalmo. Por volta de
meio-dia, o James me manda uma mensagem com o telefone da Amanda e eu
não consigo evitar um sorriso, porque mesmo contrariado e no meio da lua de
mel, ele me ajudou.
O sorriso satisfeito some quando recebo uma mensagem do meu irmão,
me pedindo para encontrá-lo na casa dele, ou melhor, na mansão onde mora. Eu
não gosto de ir àquele lugar, não me traz boas recordações, mas aquele otário
ainda é meu irmão e eu devo a minha vida a ele, então eu vou.
Subo na minha amada moto e vou até a casa do Daryl, toco o interfone
do portão do condomínio onde ele mora e tenho a minha entrada autorizada,
quando chego em frente à porta, já o vejo me esperando. Deve ser sério, para ele
me esperar do lado de fora da casa.
— Bem-vindo, irmãozinho! — ele diz, sarcástico, enquanto eu desço da
moto e me aproximo para cumprimentá-lo com um aperto de mão, apenas.
— Sem enrolar, cara, me chamou por quê? — pergunto e ele fecha a
cara, olhando para os lados.
— Entra e vamos conversar com privacidade — ele convida, me dando
passagem para entrar.
Deixo o capacete da moto perto da porta e a carteira, chaves e celular na
mesinha ali perto.
— Fala logo, pra que me chamou aqui? — questiono, impaciente.
— Temos um problema — responde e eu rio, sem humor.
— Você sempre tem algum problema e eu sempre dou um jeito de livrar
a sua bunda, mas raramente tenho alguma coisa a ver com eles — digo.
— Você é meu irmão e, para o seu azar, somos gêmeos — ele afirma o
óbvio e eu reviro os olhos, porque eu sou o mais novo por questão de poucos
minutos. — Isso, querido irmãozinho, faz com que você sempre esteja envolvido
com os meus problemas porque se estiverem me caçando, podem te confundir
comigo, comprendes?!
— Entendi, mas o que você fez agora? — pergunto.
— Eu quero sair dessa vida, estou cansado disso — ele desabafa, como
se não fosse nada de mais, mas é.
Vou explicar melhor, há alguns anos nós dois estávamos envolvidos com
uma turma barra pesada, eu namorava a irmã do chefe da gang que fazíamos
parte, no começo foi divertido bancar o bad boy, até descobrir que os caras são
maus de verdade, sabe aquela coisa de mocinhos e bandidos?! Eles são os
bandidos!
Depois de um tempo, eu percebi que nos metemos em uma fria, a pior
encrenca de todas e quis sair, pareceu estar tudo em paz e continuei namorando a
Lana, até acontecer o acidente e o irmão dela jurar me matar. O Daryl tinha saído
também, mas para salvar a minha vida, ele voltou para a gang e prometeu pagar
a minha “dívida” com o chefe prestando serviços a ele, mas para isso eu teria
que permanecer vivo.
Como o meu irmão era o piloto de fuga deles e o melhor piloto dentre
todos da gang, o cara achou um bom negócio me deixar em paz. Ele esqueceu a
morte da irmã rapidinho e continuou o seu negócio de tráfico de drogas e armas,
se associando a pessoas poderosas e muito mais perigosas. E foi assim que o
meu irmão salvou a minha bunda, colocou a dele em risco e continuou no
negócio, mas parece que não quer mais continuar nesse mundo.
— Olha, Daryl, eu tenho as minhas diferenças com você, mas você é meu
irmão e salvou a minha vida mais de uma vez, então, se precisar de mim, vou
estar aqui — digo a ele, porque é verdade, ele pode fazer a merda que for, mas
sempre será o meu irmão e sempre vou matar e morrer por ele.
— Obrigado, Trev, mas eu quero manter você a salvo, preciso que suma
por uns tempos — ele diz, e eu o olho, espantado. — Não posso correr o risco de
que você seja confundido comigo e nem me preocupar em salvar a sua bunda —
continua, andando de um lado para o outro e passando as mãos na cabeça,
preocupado. — Eu preciso estar de cabeça fria para o que vou enfrentar.
— Eu não posso sair da cidade, caro irmão — digo, o assustando ainda
mais por não atender ao seu pedido. — Eu posso tomar mais cuidado, mas tenho
um emprego e preciso mantê-lo, além disso, não faço a menor ideia de quanto
tempo vai levar até resolver o que quer que você tenha se metido, então, nada
feito, irmãozinho — respondo, usando o mesmo apelido que ele usou comigo.
— Sou mais velho que você — ele rosna, se aproximando perigosamente
de mim.
— Por dois minutos, gênio — respondo, o encarando. — Eu não vou sair
da cidade e ponto! Agora, você vai ou não me contar o que, exatamente, está
acontecendo? — pergunto, já esperando uma briga, mas, para a minha surpresa,
ele suspira e se encaminha para o sofá, onde se senta.
— É melhor se sentar, porque a história é longa — ele diz e eu me sento.
Quando estamos os dois no sofá, ele começa a contar: — Você se lembra do
acordo que eu fiz, quando aconteceu aquele acidente com você e a Lana, certo?
— pergunta e eu aceno, concordando. — Então, eu continuei fazendo os serviços
de sempre, basicamente transportava drogas, armas e dinheiro para os “clientes”
do Liam. Era fácil e pouco arriscado, até que o infeliz quis se envolver com a
máfia — ele diz, tenso. — Eu tentei falar com ele, evitar isso, porque você sabe
que pode até ser difícil de entrar, mas é impossível sair com vida e até
recentemente achei que tinha conseguido convencê-lo a desistir dessa ideia. —
Ele se remexe no sofá.
— Não conseguiu? — pergunto e ele me fuzila com os olhos.
— Não, Trev, não consegui — ele responde, com raiva. — Eu sabia que
não conseguiria ficar só com o transporte e comecei a fazer outros serviços,
como cobrar algumas dívidas, entre outras coisas, a parte das vadias fáceis era
boa, mas é perturbador quando tive que começar a matar — ele diz, agora
sombrio, e eu continuo cada vez mais surpreso. — Quando eu descobri que o
Liam estava negociando com alguém de alguma máfia, comecei a investigá-lo e
procurar quem poderia estar incentivando-o a continuar essa negociação. — Ele
para e olha para mim, como se estivesse decidindo se me conta o resto da
história, então continua: — Quando descobri que a negociação estava quase no
fim e vi o Liam comentando, animado, sobre entrar no negócio de tráfico de
mulheres, foi demais para mim e eu resolvi conversar com ele — ele conta,
agora me olhando nos olhos. — Acontece que o maldito acha que é um mafioso
agora e está aplicando na gang a política da máfia, eu sei demais sobre os
negócios dele e sou um risco se estiver vivo. Em resumo, irmãozinho, a minha
cabeça está a prêmio e, por tabela, a sua também está.
Sabe aquela sensação de o mundo ter parado? Estou sentindo isso agora.
O meu irmão está jurado de morte pelo irmão da minha ex, que está morta por
culpa de uma imprudência minha ao pilotar a minha moto e eu também estou
jurado de morte pela mesma pessoa, já que o meu irmão resolveu sair dos
negócios. Infierno!
* Amanda *

Paro, ofegante, em frente a uma lanchonete, não acredito que fugi do


Trevor, mas fiquei tão puta com o apelido, que interrompi o momento e, quando
percebi o que faria novamente, entrei em pânico e saí correndo. Resolvo entrar
na lanchonete e encontro uma mesa vazia para sentar e me recuperar, logo uma
moça chega para me atender e peço um copo de água. Os meus pensamentos são
interrompidos pelo meu celular tocando.
— Alô?! — atendo, ainda um pouco ofegante.
— Amanda? — a pessoa do outro lado pergunta.
— Sim, quem é?
— É a Jane, querida, você ainda não tem o meu número? — a Sra. Jane
pergunta, e eu olho para a tela do meu celular, percebendo que atendi sem sequer
ver quem era.
— Desculpe, Sra. Jane, eu não olhei o identificador antes de atender,
estava distraída — respondo, me desculpando.
— Estava correndo? Você parece ofegante — ela diz, e eu sei que ela não
deixa nada escapar.
— Pode-se dizer que sim — respondo, e não é mentira, eu estava
correndo mesmo, só não preciso dizer o motivo.
— Ah, sim, então é por isso que não chegou ainda — ela comenta, e eu
fico confusa, não cheguei aonde?!
Então o entendimento me bate como um soco, eu me esqueci de que com
o casamento da Kate, eu ficaria cuidando da Sra. Jane. Também consegui alguns
dias de descanso no hospital, devido às muitas horas extras que eu tenho. Então,
o plano era ir para a casa da Sra. Jane no dia seguinte ao casamento e lhe fazer
companhia até a Kate voltar e as minhas temporárias férias acabarem, claro que
a Kate está me pagando para isso, mas é um bônus, porque eu adoro a Sra. Jane.
— Você esqueceu, não foi? — ela pergunta, quando eu fico muda e
perdida em pensamentos.
— As minhas coisas estão prontas na minha casa e eu vou buscá-las para,
em seguida, ir para aí — respondo, sem lhe dizer muita coisa.
— Tudo bem, querida, a festa foi ótima ontem, você precisava se divertir
um pouco — ela responde, me surpreendendo. — Leve o tempo que precisar, eu
acordei muito disposta hoje e vou preparar um almoço para nós duas, o que
acha?
— Eu acho uma ideia maravilhosa, obrigada — agradeço. — Logo mais,
eu estarei aí com a senhora.
— Te espero, menina — ela me diz e logo desligamos.
Suspiro, porque queria ir para casa e me embolar na cama, chorando
como a idiota que sou, mas será melhor fazer companhia à Sra. Jane, pelo
menos, eu ocupo a minha mente com alguma coisa que não seja o Trevor.
Após passar em casa e pegar as minhas coisas, vou para o apartamento da
Sra. Jane, ela abre a porta com um sorriso, depois que eu toco a campainha.
— Entra, menina, vamos sentar e comer alguma coisa — ela diz, se
afastando da porta e indo para a cozinha. Essa mulher definitivamente me
inspira, ela enfrentou um câncer e está aqui, se fortalecendo e se recuperando
rapidamente.
— Dona Jane, eu comi alguma coisa no caminho — eu solto a mentira,
morrendo de vergonha, para logo depois ser dedurada pelo meu estômago, que
ronca em seguida.
— Então, não comeu direito, seu estômago ainda ronca — ela afirma, já
colocando uma travessa com alguns filés de salmão e salada. Após recusar a
minha ajuda, ela busca uma travessa com um pouco de arroz e coloca na mesa.
— Vamos, pode fazer o seu prato e comer! — ela ordena, e eu só posso
obedecer.
— Obrigada, não precisava se preocupar, senh… — não consigo terminar
a frase.
— Nem se atreva a me chamar de senhora outra vez! — ela diz. — Me
chame de Jane, por favor.
— Mas… — o meu protesto fica suspenso, devido ao olhar que ela me
lança, resolvo aceitar.
Comemos em silêncio, e quando estou quase acabando de comer, ela
quase me faz engasgar com a pergunta que me faz:
— Como foi com o Trevor? — ela solta, e eu me controlo para não
engasgar. — Eu vi vocês conversando e, bem, se beijando, pensei que finalmente
tivessem se acertado.
— Como assim, finalmente? — retruco.
— Ele te chama para sair tem um tempo e você recusa, sempre — ela
diz, dando de ombros. — Acho que todos concordam que está mais do que na
hora de vocês se acertarem.
— Não nos acertamos, senh…, digo, Jane — respondo, olhando para o
meu prato quase vazio. — Estamos bem longe disso, ele não faz o meu tipo. —
Ela ri quando eu digo isso.
— Vamos lá, menina, ele é o tipo de qualquer mulher — brinca. — Até
eu, se fosse mais jovem, jogaria charme para ele.
— Ele é um galinha — resmungo.
— Que homem na idade dele e com aquele corpo não seria? — ela
retruca.
— Bem, o James e o Gabriel têm quase a mesma idade que ele e não são
assim — digo.
— Mas eles eram assim, antes de encontrarem as mulheres certas, ou
seja, até a Beatriz e a Kate aparecerem na vida deles e eles perceberem que elas
eram o suficiente — ela responde, e os meus argumentos acabam.
— Mesmo assim, o Trevor e eu não combinamos. — Ela solta uma
risada.
— Combinam, sim, só vocês não perceberam, aliás, só você não
percebeu isso, querida — ela diz e se levanta, eu levanto por impulso para ajudá-
la a tirar a mesa. — Só tome cuidado para não perceber isso tarde demais —
completa, recolhendo os pratos e os levando para a pia, eu recolho os garfos e
sigo atrás dela.
Não permito que ela lave a louça e peço que vá descansar um pouco,
depois que ela sai da cozinha, começo a lavar a louça, pensando no que ela me
disse. Eu não quero nada com o Trevor, não posso querer nada com ele, é um
galinha e, apesar de saber o meu nome, ainda corre atrás de qualquer boceta
disponível. A minha não está disponível para ele, não mais. Começo a rir sozinha
com o pensamento que veio à minha cabeça: “Minha boceta não é 4G para sair
roteando para ele.” Cada pensamento besta.
Termino de lavar a louça e vou procurar a Jane, ver se precisa de alguma
ajuda, já que ela basicamente exige que eu venha sempre e me deixa sozinha no
sofá o dia inteiro, enquanto descansa e, quando eu ofereço ajuda em algo, ela
nega, alegando que pode se virar. Claro que no mais pesado eu a ajudo, mas os
médicos a liberaram para algumas coisas. A ajudo com os remédios e faço
companhia, converso com ela e nem vejo o tempo passar, quando dou por mim
já anoiteceu e preciso arrumar algo para comermos. Faço um jantar simples, já
que a Jane não me deixou cozinhar e preferiu comer as sobras do almoço para
não jogar fora, esquento o restante da comida e comemos em um silêncio
confortável, depois lavo a louça novamente e me despeço dela quando vai se
deitar.
A Jane me disse para ficar no quarto que era da Kate, já que vou passar
esse tempo de folga por aqui cuidando dela, então me encaminho para o quarto
com a minha mochila que estava na sala, retiro uma muda de roupa para dormir
e vou para o banheiro tomar um banho. Depois de tomar banho e me vestir, vou
para a cama e, só então, pego o meu celular, descubro que tem várias mensagens,
algumas de um número que não conheço, então começo pelas conhecidas.
[KATE] Oi, Mandy, tudo bem? Como estão as coisas por aí?
[KATE] Está tudo bem?
[KATE] Já percebi que não está com o celular, falei com a minha mãe e
ela disse que está tudo bem, só que ocupou todo o seu dia. Obrigada por cuidar
dela.
Eu faço questão de responder.
[EU] Eu deixei o celular na bolsa e não vi. Está tudo bem, sua mãe está
superbem e se recuperando rapidamente. E não precisa me agradecer, você está
me pagando para cuidar dela, estou fazendo a minha obrigação.
Em seguida, vem a resposta.
[KATE] Preciso agradecer, sim, porque você cuida muito bem dela. E,
depois, preciso conversar com você sobre uma coisa que fiquei sabendo, não
fique preocupada, porque não é nada sério, só estou muito curiosa.
[EU] Sobre o quê?
[KATE] Trevor.
[EU] Nada a declarar… vou dormir, boa noite.
Corro o risco de ter sido grossa, mas não quero falar dele. Fico indecisa
sobre ver ou não as mensagens do número desconhecido, mas a curiosidade
acaba vencendo.
[DESCONHECIDO] Oi, princesa fujona! Tudo bem? Agora que tenho o
seu número, podemos conversar sempre.
[DESCONHECIDO] Ok, essa foi péssima, mas você poderia ter ficado e
conversado comigo depois da noite passada, nunca imaginei que fosse do tipo
que foge.
[DESCONHECIDO] Nem do tipo que ignora as pessoas, que coisa feia,
senhorita Amanda!
[DESCONHECIDO] Sério? Você me usa, foge e depois ignora??? Me
sinto usado!!! rsrsrsrs...
Só tem uma pessoa que pode ter enviado essas mensagens e, quando
percebo, os meus dedos já digitaram uma mensagem e foi enviada antes que o
meu cérebro registrasse o que aconteceu.
[AMANDA] Como conseguiu o meu número?
[TREVOR] Finalmente a princesa resolveu responder.
[AMANDA] Responda a pergunta.
[TREVOR] Um amigo me deu o seu número, foi de grande ajuda,
mesmo você demorando um século para responder.
[AMANDA] Eu estava trabalhando e não te devo satisfações.
[TREVOR] Me deve uma, sim. O motivo pelo qual você saiu correndo
depois da noite passada, como se estivesse sendo perseguida pelo próprio
demônio, alegando ter esquecido o que aconteceu na noite passada.
[AMANDA] Esqueci mesmo, bebi além da conta e estou com amnésia
por causa do álcool. Vai dizer que nunca aconteceu isso com você?
[TREVOR] De terem esquecido uma foda comigo? Nunca!
[AMANDA] Não. De você ter um branco por causa do álcool.
[TREVOR] Se eu dissesse que não, estaria mentindo.
[AMANDA] Então, você sabe como é, mas o importante é que não vai se
repetir.
[TREVOR] A amnésia?
[AMANDA] Também, mas principalmente a foda. Não vou transar com
você outra vez.
No momento que digo isso, eu sei que é uma mentira, eu bem que quero
aquele corpo sarado em cima de mim, aquele calor novamente, ele dentro de
mim. Ficou quente aqui de repente, né?!
[TREVOR] Veremos.
Ignoro a mensagem e deixo o celular de lado. Eu poderia bloquear o
número dele, mas ele poderia arrumar outro número para me mandar mensagens
e ele não é nenhum tipo de stalker, pelo menos, não parece.
Depois dessa conversa, as lembranças da manhã me assombram, me
causando problemas para dormir. Levo algumas horas até, finalmente, cair no
sono devido ao cansaço.
* Amanda *

Acordo, assustada, com o meu celular tocando, quando vou olhar tomo
outro susto pelo horário tardio. Droga, era para eu ter acordado cedo para
ajudar a Sra. Jane! Ignoro a ligação, sem prestar atenção no identificador, corro
para pegar as minhas roupas e vou para o banheiro tomar um banho e fazer a
minha higiene matinal. Assim que saio do banheiro, corro novamente ao quarto
para arrumar a cama e não deixar bagunçado.
Quando chego à cozinha vejo a mesa posta com um café da manhã
maravilhoso, que enche a minha boca d’água, então me sento e já coloco café em
uma caneca e pego alguns pães, enquanto estou comendo a Sra. Jane vem do
corredor, provavelmente do seu quarto, e sorri quando me vê.
— Bom dia, menina! — ela me cumprimenta, ainda me chamando de
menina e eu, além de gostar, estou me acostumando com o jeito carinhoso que
me chama.
— Bom dia, Jane — devolvo o cumprimento, respeitando a vontade dela
de deixar de lado o senhora.
— Dormiu bem? — ela pergunta.
— Sim, só demorei um pouco para dormir por causa da cama diferente
— respondo, inventando uma desculpa para ter dormido demais. Eu demorei
mesmo para dormir, mas não foi por causa da cama que, por sinal, é maravilhosa
e muito melhor do que a minha.
— Não gostou da cama? — ela pergunta, entendendo errado a minha
desculpa e a culpa foi minha.
— Claro que não, aquela cama é confortável demais, muito melhor do
que a minha, só tenho um problema em dormir em uma cama diferente — eu
tento novamente a desculpa, lembrando que não tive nenhuma dificuldade em
dormir na cama do Trevor.
— Que bom que gostou da cama, menina — ela responde, e se senta em
uma das cadeiras. — O que você pretende fazer hoje? — pergunta, me
surpreendendo.
— Bom, pretendo fazer o que a sen…, digo, o que você quiser —
respondo.
— Que bom, você vai passear no shopping, enquanto eu vou dormir um
pouco — ela diz, sorridente.
— Como assim? — pergunto, surpresa. — Eu estou aqui para cuidar de
você e te fazer companhia, não posso sair e te deixar sozinha, a Kate me mata.
— Deixa disso, menina, está muito nova para ficar presa em casa, além
disso, você trabalha demais e precisa aproveitar essa folga e se divertir um pouco
— ela diz.
— Eu preciso cumprir a minha obrigação, que é ficar aqui, até porque eu
não tenho dinheiro para gastar no shopping, prefiro ficar aqui e assistir a um
filme ou sei lá — respondo.
— Eu estou dizendo que vou ficar bem sozinha, serão somente algumas
horas e você não precisa comprar nada, só precisa sair daqui e passear — ela diz,
já se levantando e quase me arrancando da mesa, mal tenho tempo de terminar o
café e ela está me arrastando para fora.
— Eu preciso da minha bolsa e do meu celular — peço, e ela me deixa
buscar as minhas coisas. Quando eu volto com a bolsa e o meu celular, a
encontro com a porta aberta, me esperando sair. Puxa, ela me quer mesmo fora!
— Vai, menina, se divirta e depois me conte — ela diz, sorrindo,
misteriosa, eu estranho.
— Tudo bem, com certeza não terei muito a contar, mas conto mesmo
assim.
— Veremos, menina, veremos — ela diz, quando eu saio, e fecha a porta
quase na minha cara, acho que para garantir que não vou voltar correndo para
dentro.
Vendo-me sem saída, resolvo realmente passear no shopping, não tenho
muito dinheiro, mas dá para comer alguma coisa e, talvez, tomar um sorvete.
Decidida, caminho para fora do prédio e, distraída em pensamentos, quase caio
ao trombar com uma parede de músculos. Costume chato esse de trombar em
caras musculosos, credo! A tal “parede” me impede cair e eu agradeço
mentalmente por ter essa sorte, senão estaria estabacada no chão. Me seguro nos
braços do desconhecido e tomo consciência do perfume dessa pessoa e, não pode
ser quem eu estou pensando. Eu levanto a cabeça e encontro dois olhos
castanhos e sorridentes me encarando, não consigo me impedir de fazer uma
careta.
— Você demorou, princesa Amanda — Trevor diz, fazendo piada.
— Não me chama disso — eu digo, me soltando dele e recuperando o
equilíbrio.
— Mas é o seu nome, certo? — ele diz, ainda brincando.
— Não me chamo princesa — retruco, e ele sorri ainda mais.
— Então, todo o problema é esse? — ele pergunta, e eu o encaro.
— Como assim? — questiono.
— O problema é que eu te chamo de princesa, por isso, você não quer
nada comigo?
— Não, mas é um dos muitos motivos para não ter nada com você —
respondo, tentando passar por ele.
— Calma, Amanda, precisamos conversar — ele diz, e eu faço outra
careta.
— Não precisamos conversar, você precisa me deixar passar.
— Precisamos, sim — ele diz, me segurando. — Eu quero saber o
motivo verdadeiro de você ter fugido, ontem de manhã.
— Eu precisava vir para cá e estava atrasada.
— Mentira! — ele exclama, e eu me assusto, se aproxima e me puxa,
fazendo o meu corpo se chocar com o dele, agora estamos muito próximos e o
perfume amadeirado de Trevor deixa as minhas pernas bambas. — Fala a
verdade, linda, por favor — ele pede, com a voz calma e passando o nariz no
meu pescoço, em seguida ele morde o lóbulo da minha orelha, fazendo um
arrepio delicioso subir pelo meu corpo.
— Eu preciso fugir de pessoas como você — digo, fracamente, e quase
caio quando ele me solta, de repente.
— Explique-se — ele pede, sério.
— Eu não preciso te explicar nada, a única coisa que você precisa saber é
que o que aconteceu foi um erro e não vai se repetir, nós não somos compatíveis
e ponto final — finalizo e saio rapidamente, o deixando sozinho.
O cara é, sim totalmente o meu tipo, mesmo que eu tente convencer
todos à minha volta de que não é e ninguém, inclusive eu, acredite nisso. Para
tentar esquecer isso, eu pego o meu celular e fones de ouvido e coloco a minha
playlist favorita para tocar, qual não é a minha surpresa quando toca justamente a
música Amnésia da cantora mexicana Anahí.
A melodia romântica sempre me encantou e a voz dela me emociona, o
refrão combina com este momento, só que, no meu caso, sou eu quem estou com
amnésia.
“Como se houvesse me amado
E meu nome houvesse apagado
Como se uma vez me houvesse escrito
E sua caneta me houvesse riscado
Como se seu corpo tivesse
Toda memória vazia
Como se atravessasse a porta
E acabasse com a vida
Quem te curou de mim
E te embriagou de anestesia?
Como se tivesse amnésia
Amnésia”
Assim que eu entro no shopping, o meu celular toca com uma notificação
de mensagem.
[TREVOR] Essa música combina com o dia de ontem, escute.
A mensagem me surpreende, depois do fora que eu dei, não sei o motivo
dele insistir, mas admito que gosto da sua persistência. Abro o link que ele
mandou e fico surpresa quando vejo o título da música: Borro cassete, do
Maluma. Aperto o play no celular e uma batida gostosa enche os meus ouvidos,
mas a letra já é outra coisa. O Trevor me mandou essa música para me provocar,
pior que é bem possível que foi parecido com isso, na noite do casamento e
ontem de manhã.
“Ontem me beijava e não podia parar
E dançou pra mim até o amanhecer
Quando acordei eu quis te chamar
E agora me diz que não se lembra

Que não se lembra dessa noite


Porque queimou a fita
Disse que não me conhece
E quero voltar a vê-la

E que as bebidas fizeram um estrago em sua cabeça


Ela não beija qualquer um
Quero que saiba que me interessa
E não há um dia que não pare de pensar em sua beleza...”
* Amanda *

Escolho uma mesa na praça de alimentação do shopping e me sento, não


acredito que o Trevor teve coragem de me mandar aquela música e, exatamente
por ele ser assim, é que eu não quero nada com ele, isso mesmo. A quem eu
quero enganar mesmo? Todos à minha volta e eu mesma. Exatamente.
Agora, pensando de forma madura, aquele perfume amadeirado
misturado com o cheiro de couro da jaqueta, que ele costuma vestir quando anda
de moto, são de derreter qualquer calcinha. A minha mesmo está em um estado
deplorável depois da cena na porta do prédio, isso porque ele nem me beijou, se
tivesse me beijado eu acho que não conseguiria resistir. Por isso mesmo preciso
me manter afastada, não posso me envolver com ninguém, ainda mais agora. E
como se o universo estivesse conspirando contra mim, começa a tocar nos meus
fones a música Por Besarte da dupla LU, essa música fez muito sucesso em uma
novela mexicana adolescente e a letra é tão linda e romântica, que acaba me
fazendo pensar no Trevor e me irrito porque não me lembro de como é o beijo
dele, mas o meu corpo parece ter uma memória própria e sinto saudade.
“E não me há dado tempo de dissimular
Que eu quero falar
Que por um beijo posso conquistar o céu
E deixar minha vida atrás...”
Deixo escapar um suspiro desanimado e lembro novamente que não
posso me envolver com ninguém. Bufo com raiva e me levanto, decidida a dar
uma volta para tentar me distrair, troco a música para ver se colabora. Percebo
uma sequência dessa dupla, começa outra música e a minha raiva aumenta, tudo
o que não preciso é me lembrar do passado e me lembrar do Trevor, vou
trocando até achar uma música animada, no caso, Soltera, da artista mexicana
Maite Perroni.
Mesmo querendo me afastar, eu mando uma mensagem para o Trevor,
sem pensar muito nas consequências.
[EU] Escuta a música Soltera — Maite Perroni.
Algum tempo depois, sinto o meu celular vibrar e abro a mensagem que
chegou.
[TREVOR] Então você gosta de mim, finalmente admitiu!
[EU] Não acredito que, da música toda, tudo o que você prestou atenção
foi nisso! E, não, eu não gosto de você!
[TREVOR] Mentirosa!
Eu paro de responder, não devia ter mandado a mensagem. Mas que
droga! Você só faz besteira, Amanda!
A intenção era ele entender que o melhor é ficar afastado, mas agora tem
certeza de que eu gosto dele, o que não deixa de ser verdade, mas ele não
precisava saber. Dei muita bandeira. Resolvo fechar o aplicativo de música e
tirar os fones, essa coisa não está funcionando, de qualquer jeito. Meu celular
vibra com uma nova mensagem e eu penso seriamente em não abrir, mas a
curiosidade é maior.
[TREVOR] Picky — Joey Montana.
[EU] O que isso quer dizer?
[TREVOR] Ouça a música.
Eu recoloco os fones e abro o aplicativo, procuro a música e coloco para
tocar quando a encontro.
“...Ela gosta de mim mas nunca me ouve
Ela olha para mim como se eu fosse um palhaço
E mesmo que eu tente no final não há caso
Diga-me o que aconteceu, qual é a sua rejeição
Por quê?
Você me ignora e se vira sem falar comigo
Me diga por quê?
Mas me diga como fazer
Para te convencer
Se eu quisesse falar com você
Diga olá
Conhecê-la bem
Eu queria te dizer
Que me encanta
Mas fica complicado, eu não entendo por que é tão

Exigente, exigente, exigente, exigente, exigente, exigente


Muito exigente, exigente, exigente, exigente, exigente
Se eu sair à esquerda
Ela vai para a direita
Eu não sei o que está errado
Comigo ela não quer dançar…”

Essa doeu! Eu poderia dormir sem essa, mas ok, eu mereci por ter
começado a mandar mensagens, exatamente por isso não vou responder mais. O
ritmo é legal, mas sei que essa música praticamente fala o que eu estou fazendo
com ele. Se ele soubesse da verdade... Balanço a cabeça para tirar essas ideias
bobas e resolvo que esse passeio já deu o que tinha que dar, porque a solidão que
estou sentindo agora não me faz bem, é melhor eu voltar e ficar na companhia da
Sra. Jane.
Retorno ao apartamento dela, abro a porta com a cópia da chave que ela
me deu e a encontro no sofá, assistindo à televisão.
— Mas já voltou, menina? — pergunta.
— Sim, não tinha nada de interessante para fazer, e eu preferi voltar e
aproveitar a sua companhia — digo, sincera.
— Você parece desanimada, o que aconteceu? — ela pergunta.
— Nada de mais — respondo, em um fio de voz e a ponto de explodir,
não posso falar, não posso desabafar e isso está me sufocando, eu quero gritar,
mas sei que não tenho ninguém a quem eu possa recorrer. Eu procurei isso para
mim.
— Você não está bem, menina, venha aqui — ela me chama, eu me
aproximo e sento ao seu lado no sofá.
— Não aconteceu nada — minto.
— Foi o Trevor? — ela pergunta, e eu me surpreendo, não falei nada
sobre o Trevor hoje.
— Como assim? O que você sabe? — questiono, e ela parece
envergonhada.
— Eu sei que vocês se gostam, mas você é muito cabeça dura, então eu
quis aproximar vocês — ela confessa, e eu me levanto.
— Nunca mais faça isso! — exclamo, e ela parece assustada, então me
recomponho e com a voz contida eu continuo. — Por favor, não faça isso, não
tente nos aproximar, eu não quero nada com ele, eu não posso ter nada com ele
— enfatizo.
— Vocês estão solteiros, eu não entendo — ela argumenta.
— É melhor que ninguém saiba de nada, é o melhor para todos, logo
vocês não precisarão mais de mim e eu vou seguir o meu caminho e deixar vocês
em paz e em segurança — digo e vou para o quarto que estou ocupando.
Eu sei que falei demais e sei que ela vai me perguntar mais coisas agora,
só espero que essa lua de mel acabe logo e eu vá embora. Agora é oficial,
preciso ficar longe de todos, para o bem deles.
* Trevor *

Eita, chica confusa! Uma hora ela parece me querer e, na outra, me dá


mais um pé na bunda. Estou ficando bem cansado dessa palhaçada, acho melhor
dar um tempo para ela e parar um pouco de correr atrás, ela vai sentir a minha
falta e vai vir atrás de mim. Com esse pensamento, eu resolvo então voltar para o
meu apartamento e descansar um pouco, afinal, amanhã é segunda-feira e eu
tenho que trabalhar.
Claro que não seria fácil dormir com ela na minha cabeça o tempo inteiro
e o meu corpo fervendo de tesão e, além de alguns banhos frios durante à noite,
também recebi uma mensagem do Daryl dizendo que o Liam está por perto e que
os capangas dele foram vistos perto do meu prédio. Desgraciado! Só me faltava
essa, agora nós dois seremos perseguidos por ele, parece uma espécie de pega-
pega moderno em que ele tenta pegar a nós dois, eu tenho certeza de que ele não
quer só o Daryl.
Depois de mais algum tempo revirando-me, finalmente, consigo um
cochilo e o genial feito de acordar muito atrasado. Levanto correndo para tomar
mais um banho e fazer a minha higiene matinal, nem me preocupo em tomar
café e, depois de pronto, pego a minha mochila, as chaves da moto, carteira e
documentos, olho em volta rapidamente para garantir que não esqueci nada e
corro para a porta, não sem antes bater a canela quando esbarro no sofá.
— Mierda! — xingo, em meu idioma, nativo e saio correndo, trancando a
porta antes de descer as escadas até a garagem e pegar a minha moto para ir
trabalhar.
Tenho plena certeza de que vou ouvir um sermão do Gabriel quando eu
chegar, mas não vou me preocupar com isso agora, porque a prioridade é
conseguir chegar o mais rápido possível na empresa, sem sofrer nenhum
acidente no caminho.
Felizmente, consigo esse feito, mesmo assim chego quarenta minutos
atrasado e ainda preciso estacionar a moto e pegar o elevador, se eu tiver sorte
vou contabilizar um total de uma hora de atraso apenas e um grande sermão do
meu simpático chefe. Como toda desgraça é pouca, o elevador para em quase
todos os andares do prédio, até chegar ao 42º andar. Por sorte, o meu cálculo
estava certo e eu cheguei à minha mesa uma hora depois do meu horário. Olho
para a sala do Gabriel, mas a porta está fechada, então não consigo ter certeza se
ele está lá ou não, portanto, ligo a minha máquina e começo a trabalhar, olhando
algumas vezes para tentar ver algum movimento na sala.
Estou quase fazendo uma pausa para tomar um café e ver se acordo de
vez, porque não consigo me concentrar nesse bendito projeto. Eu nem sei o
motivo do Sr. Reed e do Gabriel terem aceitado esse projeto com a mesma
empresa que tentou nos sabotar, tudo bem que era o tal do Jason que estava
fazendo espionagem junto com a Tânia, mas eu duvido que o CEO da Summer
não tivesse interesse nas informações que o Jason queria roubar.
Mas aquele ditado: “manda quem pode e obedece quem tem juízo”, está
fazendo toda a diferença neste momento e eu estou tentando me concentrar em
mais esse projeto para a Summer Corp. Entre debates internos sobre ir ou não
tomar café, eu tomo um enorme susto quando alguém sussurra no meu ouvido:
— Chegando atrasado, senhor Trevor! Que coisa feia! — Eu olho,
assustado, para a dona da voz e dou de cara com a Beatriz.
— Sua doida! Quer me matar do coração? — pergunto, colocando a mão
no peito e tentando controlar os meus batimentos cardíacos depois do susto.
— Quem não deve, não teme — ela cantarola e senta ao meu lado.
— Eu pensei que não viesse mais trabalhar aqui. — Desvio o assunto.
— O Nick entende que, em alguns momentos, eu precisarei dar atenção
para a Davis SA, mas eu gosto de trabalhar aqui — ela diz, dando de ombros.
— Fala a verdade, você sentiria a minha falta — digo, sorrindo e pisco
um olho.
— Claro que sim, sentiria muita falta do meu idiota favorito — ela diz,
rindo, e eu faço uma falsa cara de ofendido.
— Bem que você gosta — faço graça, mas fico sério com a voz que vem
das minhas costas.
— Mais uma piadinha para cima da minha mulher e eu te demito, Sr.
Clark! — diz Gabriel. — Aliás, o senhor mudou de horário?
— Não, Gabriel, o meu horário continua o mesmo — respondo.
— Então, acho bom começar a chegar no horário certo — ele diz e se
vira, voltando para a sua sala e fechando a porta.
— Você dormiu de calça jeans? — pergunto para a Beatriz, depois de
bufar, impaciente, pelo sermão que eu já tinha previsto.
— A minha vida sexual não te diz respeito, mas para a sua informação,
eu não durmo de calça jeans — ela diz. — São os seus constantes atrasos que o
fizeram te tratar assim.
— Isso e o ciúme que ele tem de nós dois — digo.
— Ele não tem motivos para ter ciúme, já que você e eu sempre fomos só
amigos — ela responde, e se concentra no seu computador em seguida.
Você poderia dormir sem essa, idiota!
Resolvo que o melhor é pegar um café para ver se o dia melhora depois
de um pouco de cafeína, então me levanto e vou até a sala de café. Depois um
copo, eu retorno para a minha mesa e me concentro no trabalho, estou sentindo
que essa semana será terrível.

* Amanda *

Acordo, me sentindo horrível depois dos acontecimentos de ontem,


parece que carrego uma tonelada nas minhas costas. Me viro na cama e pego o
meu celular, notando algumas mensagens, algumas da Kate, outras da Nathy e
uma que me faz sentar na cama, de imediato.
[LIAM] Te achei…
Merda! Um arrepio gelado sobe pela minha coluna, eu tinha esperança de
que ele não me encontraria, eu achei que tingindo o meu cabelo de loiro seria
mais difícil de ele me reconhecer. Burra! Burra! Burra! O pior é que não é só
essa a mensagem.
[LIAM] Você é minha!
[LIAM] Vou te trazer de volta!
[LIAM] Vou matar aquele cara que estava com você!
Eu já sabia que não podia ficar com o Trevor, agora ele está com a
cabeça a prêmio por minha culpa! Não posso evitar o sentimento de ódio que me
invade, aquele desgraçado do Liam tinha que me encontrar, se bem que eu fui
burra o suficiente em achar que me envolver com um criminoso seria uma boa
ideia. Tudo bem que eu não sabia que ele era um criminoso quando começamos
a sair, mas não demorei a descobrir e, mesmo assim, mantive o relacionamento.
Só não esperava que ele fosse tão cruel e doente como se revelou, isso e aquela
irmã dele se fazendo de amiga e o ajudando e me prender mais e mais a ele.
A Lana fingia ser minha amiga e confidente, mas pelas minhas costas
envenenou o irmão contra mim, até que ele começou com as agressões verbais e,
inclusive, chegou a me violentar. Nesse momento eu resolvi fugir deles e da
gang que comandavam, mas eu não tinha conhecimento dos negócios do Liam,
portanto, não sabia que ele tinha sociedade com a máfia e começou a me caçar.
Como eu disse, os meus pais ficariam muito orgulhosos da filha que eles
criaram com tanto amor e carinho, só que não. Juntou ingenuidade e burrice,
então eu me envolvi com essas pessoas cruéis e doentes. Eu poderia ter mudado
de nome para despistar, mas pensei que mudar o cabelo bastaria. Inocente e
burra, eu sei.
Agora, eu não sei o que fazer, Liam me encontrou e eu não posso deixar
de cuidar da Sra. Jane, me sinto encurralada, sufocada. Não respondo as
mensagens dele, sei que não preciso, porque ele sabe que vai conseguir me
desestabilizar. Por enquanto, eu não vou fazer nada, vou esfriar a cabeça e pensar
com calma qual é o melhor caminho, agora que ele me localizou, isso se em
algum momento ele deixou de saber exatamente onde me encontrar e agora eu
tenho sérias dúvidas de ter conseguido despistá-lo no passado.
E assim eu passei uma semana no apartamento da Sra. Jane, tanto o Liam
quanto o Trevor não deram sinais de vida e eu fico cada vez mais preocupada. A
Sra. Jane pergunta de vez em quando se está acontecendo alguma coisa e eu
sempre mudo de assunto e disfarço, mas fico mais e mais tensa e sei que ela
percebe que algo não está certo.
Hoje é domingo e, também, é o dia que a Kate e o James voltam da lua
de mel e eu volto para a minha realidade. Andei fazendo as contas e, juntando as
minhas economias e o dinheiro extra que ganhei como home care da Sra. Jane,
dá para fugir novamente. Mas, desta vez, pretendo fazer as coisas direito e
desaparecer definitivamente do radar do Liam, só sinto muita tristeza em deixar
para trás todas essas pessoas boas que conheci nos últimos tempos. Acho que
chegou a hora de visitar alguns parentes em Porto Rico.
* Amanda *

Sim, eu estou tensa com a expectativa da chegada da Kate e do James,


que já ligaram avisando que estão perto e eu sinto que posso surtar a qualquer
momento. Claro que a Sra. Jane percebeu o meu nervosismo, não seria muito
difícil, porque não consigo disfarçar e não sobrou nenhuma unha intacta nas
minhas mãos. A sinto me olhando de esguelha, alternando entre mim e a
televisão, enquanto estou roendo os restos das minhas unhas.
— Chegam, menina! — ela exclama, me fazendo dar um pulo de susto.
— Você está me deixando nervosa e só falta comer os dedos.
— Eu não estou nervosa — resmungo a mentira e ela bufa.
— Claro que não — ela diz, irônica. — E eu me chamo Minerva
Mcgonagall — completa, com um sorriso sarcástico no rosto.
[1]

— Se a senhora se transfigurar em um gato, eu vou acreditar nisso —


respondo, sorrindo, e ela bufa novamente.
— Você está impossível hoje, Amanda — ela reclama, como uma mãe
reclamaria de um filho fazendo birra, e o meu coração se aperta com isso.
— Estou nervosa de ter que voltar para a vida real — murmuro.
— E, por acaso, essa aqui não é a vida real? — ela pergunta.
— Essa não é a minha realidade — respondo, e me levanto para ir até a
cozinha pegar um copo de água, mas claro que ela vem atrás de mim.
— E qual é a sua realidade? — ela insiste.
— Um apartamento vazio, um trabalho que eu amo, mas que é cansativo
e a solidão — resmungo e suspiro em seguida, sem contar que terei que
abandonar tudo isso, logo.
— Você sabe que sempre será bem-vinda aqui, a Kate e as meninas te
acolheram, como parte da família — ela me diz, e sinto os olhos arderem com as
lágrimas que estou segurando. Merda de escolhas erradas!
— Eu sei, mas preciso continuar a minha vida — digo, e ela bufa outra
vez.
— Já te disseram o quanto é teimosa? — a Sra. Jane pergunta, e eu rio.
— Algumas vezes — respondo, e pisco um olho para ela, antes de me
virar e voltar para o sofá.
Assim que nos acomodamos novamente, ouço o barulho de uma chave e,
em seguida, a porta abre, dando passagem para uma Kate e um James felizes.
— Boa tarde! — cumprimenta a Kate, com um enorme sorriso no rosto.
Levanto-me para cumprimentá-los e, assim que se sentam e começam a
conversar, me sinto um pouco deslocada, como se estivesse me intrometendo na
família deles, e resolvo ir para o quarto. Claro que não fico por muito tempo
sozinha, pois assim que alcanço a minha mochila para começar a arrumar as
minhas coisas, a Kate entra, após uma breve batida na porta. Pensa pelo lado
positivo, Amanda, ela teve a consideração de bater na porta do próprio quarto
antes de entrar.
— Mas já vai fugir?! — ela diz, assim que abre a porta e me vê
organizando as coisas.
— Acabei bagunçando um pouco o seu quarto, me desculpe — digo, sem
responder à sua pergunta.
— Então, vai mesmo fugir? — ela insiste.
— Não estou fugindo — respondo. — O tempo todo, eu sabia que ficaria
aqui somente pelo tempo da sua lua de mel, além do mais, a sua mãe já está
recuperada. Os próximos exames, com certeza, irão apontar um aumento na
imunidade e a alta definitiva em seguida.
— Deus te ouça — ela diz.
— Não se preocupe, Kate — a tranquilizo, e continuo arrumando as
minhas coisas. — Ela está bem e vai ficar melhor ainda.
— Então, sobre isso — ela começa e eu paro o que estou fazendo e a
encaro. — Ela me contou que você estava triste por ter que voltar para o seu
apartamento e ficar sozinha.
— Eu adoro a sua mãe, mas ela não deveria ter te contado isso.
— Eu queria realmente que você ficasse aqui com ela, não para cuidar
dela, mas para uma fazer companhia para a outra — ela diz, e eu pondero,
descartando em seguida por considerar o fator Liam.
— Eu não posso, Kate — respondo, após um suspiro triste. — Eu
realmente gostaria de poder, mas não posso.
— Por quê? — ela questiona.
— Tenho alguns assuntos de família para resolver, vou somente passar no
meu apartamento para fazer uma mala maior e parto em seguida — respondo,
me chutando mentalmente por não ter contido a minha enorme língua.
— Para aonde você vai? — ela quer saber.
— Para a casa de alguns parentes — digo, tentando fugir do assunto e
não dizer para aonde eu vou. — Prometo que mando notícias de lá e volto logo,
afinal, tenho que voltar para o hospital — eu solto a mentira e sinto uma nova
dor no peito.
— E o Trevor? — ela diz, e eu a encaro novamente.
— Foram vocês que deram o meu número para ele, certo? — indago, e
ela morde o lábio, com cara de culpada. Balanço a cabeça e suspiro novamente.
— Nunca daria certo entre nós dois — afirmo e realmente tento me convencer de
que, em circunstâncias normais, não daríamos certo de jeito nenhum.
— Eu acho que vocês combinam — ela me contraria e eu dou de ombros.
— Combinamos tanto, que ele desistiu de vir atrás de mim — respondo,
e ela se surpreende, então eu dou de ombros novamente. — Não era para ser.
— Sei… Sei… — ela diz, sorrindo.
Infelizmente o meu passado veio me assombrar, então eu vou deixar o
que me atormenta para trás, junto com pessoas que eu aprendi a gostar tanto.
Vou sentir falta de tudo isso.

* Trevor *
Trabalhei igual a um condenado esta semana e não dormi direito em
nenhum dia. Andei recebendo algumas mensagens e resolvi que o melhor é
passar algumas semanas fora de circulação, claro que o meu simpático chefe não
gostou muito, mas eu tenho direito à férias e, mesmo de última hora, consegui
uma exceção e me liberaram. Então, antes de visitar a minha abuela que voltou a
morar em Porto Rico, preciso me despedir da Kate e do James, que estão
voltando hoje da lua de mel, mas primeiro estou ligando para o Daryl.
— Fala, irmãozinho! — ele atende.
— Daryl, o negócio é sério — eu rosno, já irritado. — Você trouxe o
Liam até mim e, consequentemente, até as pessoas próximas a mim.
— Não banque o santo, porque você tem tanta culpa quanto eu, no que se
refere ao Liam — ele responde, também irritado.
— Há pessoas inocentes em risco, por nossa culpa — digo, e ele bufa.
— Eu te avisei para se afastar, mas você foi burro o suficiente para achar
que é invisível — ele diz.
— Estou indo para Porto Rico, espero que duas semanas sejam o
suficiente para você resolver todos os problemas com ele — aviso.
— Se não o que, ó poderoso Trevor? — ele pergunta, irônico.
— Não quero me envolver nisso, mas se tiver que me envolver, não vai
ser bonito — respondo.
— Falou o machão. — Ele bufa. — Quando você precisou, foi o meu
rabo que coloquei em jogo para te salvar, obrigado por fazer o mesmo por mim,
querido irmãozinho — ele diz, e encerra a chamada.
Bem, não foi desse jeito que eu imaginei que seria essa ligação, mas, pelo
menos, ele está ciente de que o Liam está mais perto. O grande problema é que
acho que ele já sabia disso e só não me contou. Eu sei que o Daryl tem vigilância
e um bom sistema de segurança em sua casa, assim como também tenho certeza
de que ele não colocou a cara para fora de casa todos esses dias, bolando alguma
coisa para se livrar do Liam. Muito mais esperto do que eu, confesso.
Vou de táxi até o apartamento da Kate e do James, já com a mala de
viagem junto comigo. É uma visita rápida, a qual eu, não muito disfarçadamente,
tento conseguir alguma informação da Amanda. Claro que eu sei que deveria me
manter afastado, ainda mais considerando que o Liam está na minha cola, mas
eu não consigo parar de pensar nela, então preciso de informações.
Saio de lá muito irritado por não conseguir nenhuma informação
concreta, tudo o que eu sei é que ela vai viajar durante o restante da sua licença
do hospital. O que me deixa com a pulga atrás da orelha é ela não ter dito para
aonde está indo, parece até que está fugindo de alguma coisa.
* Amanda *

Estou no aeroporto, aguardando o meu voo, não consigo evitar de olhar à


minha volta a todo momento e os minutos parecem demorar séculos para passar.
Suspiro, aliviada, quando o meu voo é anunciado como próximo e eu passo para
a sala de espera para o embarque, depois de despachar a minha mala.
Continuo tensa pela demora no embarque e me desespero quando
anunciam um atraso para o embarque dos passageiros no avião.
— Posso me sentar ao seu lado, princesa? — ouço alguém falar ao meu
lado e dou um pulo, olhando assustada para o dono da voz. — Credo, parece que
viu um fantasma — diz Trevor, sorrindo.
— Seu babaca, idiota! — eu o xingo e dou alguns tapas no seu braço,
enquanto ele se encolhe, tentando se defender.
— Calma! — ele exclama e segura o meu pulso, impedindo o próximo
tapa. — Desculpa, eu não pensei que você reagiria assim.
— E como você esperava que eu reagisse? — pergunto, nervosa. —
Sorrindo e te abraçado, feliz da vida, depois de quase morrer de susto? —
insisto.
— Um cara pode ter esperanças — ele diz, dando de ombros.
Olho novamente pelo aeroporto e percebo que chamamos a atenção de
algumas pessoas.
— Está indo para aonde? — ele pergunta.
— Para longe — respondo, no momento que chamam o meu voo para
embarque, e continuo varrendo os olhos pelo aeroporto, meu corpo todo gela
quando avisto o Liam distante de nós, mas com certeza está me procurando.
— Hijo de puta! — ouço o Trevor reclamar ao meu lado, enquanto sinto
o pânico tomar conta do meu corpo.
— Preciso ir — digo, me levantando e o Trevor levanta junto.
— Eu também, chamaram o meu voo — ele diz e passa pela minha
cabeça a ideia, ridícula, de que ele esteja no mesmo voo que eu.
Olho novamente para trás e percebo o exato momento em que o Liam me
encontra.
— Droga, ele me viu! — digo e percebo que falei a mesma coisa que o
Trevor. Nós nos olhamos e a percepção passa por nossos olhos.
— Mas de onde você… — eu começo, mas sou interrompida pelo
Trevor, que me interrompe e pega o meu braço, me puxando para o embarque.
— Não temos tempo agora — ele diz e continua me puxando, até que eu
puxo o braço e me solto dele.
— E se o meu embarque não for no mesmo lugar que o seu?
— Me dá a sua passagem — ele pede, estendendo a mão e eu a entrego,
contrariada. Ele olha um momento, sorri e me devolve. — Como eu pensei,
vamos — ele diz, e continua me puxando.
Desta vez, eu permito que ele me leve até o embarque, um funcionário
confere as passagens e nos permite a entrada no avião, como se não bastasse
tudo o que está acontecendo, a poltrona do Trevor é junto com a minha, lado a
lado.
Depois que eu guardo a minha bolsa no bagageiro acima da poltrona, nos
acomodamos a apertamos os cintos.
— É coincidência demais — murmuro.
— Pode ser, mas já que estamos aqui, podemos aproveitar — ele diz, me
olhando.
— De onde conhece o Liam? — pergunto.
— Primeiro as damas — ele diz, para que eu comece a responder.
— Ex-namorado — respondo, e ele faz uma careta.
— Qual o problema de vocês, para escolher um ex que não seja maluco?
— ele pergunta, debochado, e eu o olho, confusa. — A Bia tem um ex que está
preso, depois de tentar nos matar; o ex da Kate morreu, após de sequestrá-la; e o
seu é um psicopata doente.
— Eu não sabia como ele era de verdade — resmungo e ele bufa.
— É sempre assim.
— E você? Conhece o Liam de onde? — insisto.
— Meu irmão e eu fazíamos parte da gangue dele, e a irmã do Liam era
minha namorada — ele conta, com o semblante sombrio, e é a minha vez de
fazer uma careta.
— O que aconteceu? — pergunto, curiosa.
— Ela morreu e o Liam me culpa — ele responde. — Eu também me
culpo.
— Por que eu nunca vi você ou o seu irmão por lá?
— Porque nós não íamos muito lá, fazíamos mais serviços externos e só
comparecíamos quando tinha alguma reunião importante — esclarece.
— Você está fugindo — afirmo, o encarando e ele me olha intensamente.
— Você também — ele diz.
Quando o piloto anuncia a decolagem, eu seguro forte no braço da
poltrona e um choque passa pelo meu corpo quando o Trevor coloca a mão dele
por cima da minha, acho que ele percebeu que eu tenho um pouco de medo.
— Se quiser, pode segurar a minha mão — ele oferece, virando a palma
para cima e aguardando. Neste, momento só importa que ele está aqui, me
ajudando com esse medo, então, eu solto o meu aperto de morte do braço da
poltrona e seguro firme a mão dele.
O momento da decolagem e antes do avião estabilizar a uma determinada
altitude é o mais crítico, então, eu aperto a mão do Trevor, forte. Quando,
finalmente, o avião estabiliza, eu ainda não me sinto pronta para soltar sua mão.
— Amanda, princesa — ele me chama, e eu abro os olhos, que mantinha
fechados, bem apertados, enquanto o avião decola. Ele me olha, sorrindo. —
Você é forte, garota! — diz, sorrindo, e faz uma careta em seguida, com isso eu
solto a sua mão e ele tenta disfarçar um gemido de dor.
— Desculpe — digo, envergonhada.
— Relaxa, eu fico feliz em ter te ajudado — ele responde, olhando nos
meus olhos e eu não consigo separar o meu olhar do seu. Parece que tem um ímã
entre nós, nos puxando um para o outro. É isso ou uma enorme tensão sexual. É
claro que é a segunda opção, sua estúpida!
Trevor parece me dar a opção de me afastar, mas isso não acontece, então
ele passa uma mão pela minha nuca e me puxa para mais perto, até que os
nossos lábios encostam e eu sinto o meu corpo reconhecer o dele.
As nossas línguas dançam sensualmente em nossas bocas e eu desisto de
resistir a ele, essa sensação é gostosa demais e estou me sentindo muito estúpida
por fugir disso. Aos poucos, o beijo diminui de intensidade, até finalizarmos
com um selinho.
— Por que resiste? — ele pergunta.
— Sentiu alguma resistência agora? — devolvo, com outra pergunta.
— Você ainda está sob efeito da adrenalina causada pela decolagem, eu
tenho certeza de que daqui a pouco citará todos os motivos pelos quais não
devemos continuar nos beijando — ele responde. — E eu terei que calar a sua
boca com outro beijo.
— Engraçadinho — ironizo, e ele me beija novamente.
— Mudando de assunto — ele começa, ficando sério. — Precisamos
resolver o nosso próximo destino — ele diz e eu fico surpresa. Como assim,
cara, que destino é esse?
* Trevor *

Quando vi o Liam no aeroporto, eu tinha certeza de que teria que mudar


os meus planos, ele descobriria o meu destino e poderia vir atrás de mim, mas ao
saber que a Amanda também o conhece, o negócio fica ainda mais sério. Ainda
bem que antes de sair, eu providenciei para guardar comigo alguns documentos
falsos que eu tirei há alguns anos, quando fazia parte da gangue do desgraçado.
Agora preciso providenciar outra identidade para a Amanda, para irmos para
outro lugar. Para todos os efeitos, estamos indo para Porto Rico e ele vai perder a
nossa pista por lá.
— A essa altura, o Liam deve saber para aonde estamos indo e está
providenciando para seguir o nosso rastro, precisamos ir para um local diferente
de onde ele espera — digo para a Amanda.
— E como você supõe que isso vai ajudar em alguma coisa? Afinal, ele
pode rastrear as nossas movimentações bancárias e descobrir a compra de outras
passagens — ela responde, irônica.
— Não se ele estiver procurando por Trevor e for outra pessoa a comprar
essas passagens — respondo e ela me olha, surpresa.
— Como assim? — ela pergunta.
— Simples, por garantia eu fiz uma identidade falsa e um cartão de
crédito com essa identidade, guardei por muitos anos, mantendo o cartão ativo
se, por acaso, eu precisasse sumir — esclareço. — Você tem uma identidade
falsa ou preciso providenciar uma para você? — Ela me olha envergonhada e
cora.
— Eu tenho uma identidade falsa, tinha providenciado quando terminei
com o Liam, mas acabei não utilizando — responde.
— E qual é o nome que está nessa identidade? — pergunto, curioso.
— Linda Evans — ela responde. — E o seu?
— Matt Andrews.
— E para aonde pretende ir, Sr. Andrews? — ela me pergunta e a forma
como diz o meu sobrenome falso causa uma reação imediata no meu pau. Eu
remexo na poltrona, incomodado.
— Estou pensando em passarmos a noite em um hotel, próximo ao
aeroporto, quando chegarmos a Porto Rico e amanhã partimos para o México.
— Por que o México? — ela pergunta, me encarando.
— Porque ele não vai esperar que nós iremos ficar tão perto — respondo.
— Isso, e podemos ir para Acapulco, aproveitar e pegar uma praia.
— Acapulco? — ela pergunta e eu reviro os olhos.
— Você nunca assistiu ao Chaves ? — pergunto, como se fosse uma
[2]

grande ofensa uma pessoa não assistir Chaves.


— Claro que eu assisti — ela responde. — Mas o que isso tem a ver com
Acapulco?
— Tem um episódio que os personagens vão a Acapulco e eu sempre
quis visitar o mesmo hotel que eles se hospedaram — respondo, dando de
ombros e ela ri.
— É uma criança no corpo de um homem — ela diz e eu dou risada.
— Te gusta que eu sei — digo, rindo.
Na aterrisagem, eu pego a sua mão e coloco entre as minhas, apertando
levemente, depois do avião pousar ela me olha intensamente e murmura um
agradecimento.
Após desembarcarmos no Aeroporto Internacional Luis Muñoz Marín,
em San Juan, capital de Porto Rico, passamos pela segurança e pegamos as
nossas malas. Eu pergunto para um guarda onde fica o hotel para passarmos à
noite e, em seguida, vamos para o San Juan Airport Hotel, que fica dentro do
aeroporto.
Chegamos ao hotel e eu apresento os nossos documentos verdadeiros,
pedindo um quarto para nós dois. Pego a chave e volto para o sofá na entrada do
hotel, onde a Amanda sentou, cansada.
— Consegui apenas um quarto — solto a mentira. — Não tem mais
nenhum disponível — completo.
— Tudo bem, eu só quero tomar um banho e dormir — ela responde e
suspira, cansada.
Um funcionário vem nos ajudar a levar as malas até o quarto e, ao
entrarmos nos deparamos com uma linda suíte, e um detalhe, com apenas uma
cama de king size.
— Eu durmo no chão — digo, assim que o funcionário sai do quarto,
com cara de cansado.
— Não seja idiota! — ela exclama, me assustando, enquanto abre a mala
para pegar uma muda de roupa. — Já dormimos juntos e estamos cansados,
dividir uma cama não vai fazer diferença — ela diz, e eu seguro o riso que teima
em querer se abrir no meu rosto.
Quando ela se vira e vai para o banheiro, fechando a porta em seguida, eu
aproveito o momento para comemorar silenciosamente essa pequena vitória.
Enquanto a Amanda toma um banho, eu peço alguns lanches para
trazerem no quarto. A comida chega e ela ainda não saiu do banheiro, resolvo
verificar se está tudo bem, então bato à porta.
— Amanda? — chamo. — Está tudo bem?
— Estou bem, já vou sair — ela responde e eu suspiro, aliviado.
— Eu pedi alguma coisa para comermos — aviso.
— Já estou saindo, obrigada.
Solto um suspiro e sento na cama, esperando que ela saia do banheiro,
mas nada me prepara para a visão dela abrindo a porta, vestida com uma
camisola mínima. Deliciosa é a palavra que vem à minha cabeça quando eu a
vejo sair do banheiro daquele jeito, chego a salivar, conforme ela caminha pelo
quarto e, quando se abaixa para guardar as roupas que tirou na mala, sinto o meu
pau endurecer dentro da calça.
— Assim você não facilita o meu lado — eu gemo, torturado.
— Vamos comer, estou morrendo de fome — ela diz, me olhando
inocentemente e eu passo as mãos no rosto para tentar pensar racionalmente,
cansado e confuso, antes de responder.
— Espera só eu tomar um banho rápido — digo, me levantando e
correndo para o banheiro.
Minha vontade é de agarrá-la e transar com ela até que a sua memória
volte e ela se lembre de toda a noite que passamos juntos. Mas ela manda sinais
contraditórios, primeiro me rejeita e, depois, parece querer me comer de
sobremesa, isso é torturante. Essa chica quer me matar.
Depois de tomar um banho gelado, percebo que me esqueci de pegar
roupa antes de entrar no banheiro, nem uma cueca eu peguei. Praguejo, irritado,
e enrolo uma toalha na cintura, antes de sair.
* Amanda *

Ai, meu Deus! Credo, que delícia!


O Trevor sai do banheiro só com uma toalha na cintura e ainda dá para
ver algumas gotas d’água escorrendo pelo seu corpo, chego a salivar com
vontade de lamber essas gotas. Aham, as gotas, isso nada tem a ver com o
peitoral delicioso e a barriga tanquinho que estão bem na sua frente,
certo?!?!?!
Não consigo segurar um resmungo decepcionado quando ele veste a
cueca boxer e eu não consigo nem ver direito o que tinha embaixo da toalha, em
seguida ele veste um moletom e me olha.
— Algum problema? — ele pergunta e eu coro. Tem problema, sim, você
se cobriu seu idiota!
— Não, nenhum problema — respondo, em vez de soltar o que passou
pela minha cabeça.
Como ele está sem camisa, resolvo ir até a mesa onde está a comida, ele
me segue.
— Melhor comermos e irmos dormir — ele diz e nos sentamos para
comer os lanches que pediu.
Terminamos de comer e juntamos a louça, deixando no carrinho onde ela
veio. Vamos para a cama e, antes de deitar, o Trevor tira o moletom, ficando
somente de boxer. Vendo-o puxar as cobertas e se deitar, se cobrindo em seguida,
eu tiro a minha camisola em um impulso e fico apenas de roupas íntimas e me
deito ao lado dele. Eu o olho e vejo-o me encarando, surpreso.
— Você não pretende facilitar para mim, certo? — ele pergunta.
— Não sei do que você está falando — respondo, com fingida inocência.
Surpreendendo-me totalmente quando ele me puxa em sua direção e
gruda os lábios nos meus, não me permitindo fugir. Nem eu quero fugir agora!
As suas mãos passeiam pelo meu corpo e sinto queimar por onde passam, minha
temperatura está subindo rapidamente e o meu corpo está implorando pelo dele.
Rapidamente ele está em cima de mim e o calor do seu corpo no meu é
delicioso, o contato dos nossos corpos me causam pequenos e deliciosos
choques, levando diretamente para o meu centro.
As minhas mãos criam vida e resolvem explorar o corpo dele também,
passo-as pelas suas costas e arranho levemente, causando um gemido dele na
minha boca. Ele pressiona a sua ereção no meu centro, fazendo-me soltar um
gemido.
— Desta vez, você vai se lembrar de cada segundo — ele diz, após nos
afastarmos um pouco e distribuir beijos pela minha mandíbula, pescoço,
seguindo para a minha orelha, mordendo levemente o lóbulo, me causando um
arrepio de prazer.
Ele segue descendo os beijos, chegando ao meu colo, beija entre os meus
seios e as suas mãos vão para as minhas costas, soltando o fecho e libertando-os.
Trevor me olha e sorri maliciosamente, antes de abocanhar um mamilo, fazendo
meu corpo arquear em sua direção, enquanto ele usa uma mão para estimular o
outro seio. Minha intimidade está encharcada, a minha calcinha já está
inutilizada neste momento e eu sinto que poderia gozar somente com ele
brincando com os meus seios.
Depois de me torturar um pouco, ele dá atenção ao outro seio e desce as
mãos pelo meu corpo, encontrando a minha calcinha pequena que, com um
puxão, vira um trapo.
— Eu gostava dessa calcinha — reclamo, manhosa.
— Eu vou te recompensar pela perda dela — ele diz e abocanha o meu
sexo, me fazendo gritar de surpresa e tesão.
Ele lambe a minha boceta encharcada, soltando um grunhido de
aprovação, em seguida chupa o meu clitóris com força, tendo que segurar o meu
quadril, devido aos espasmos de prazer que estão acontecendo no meu corpo.
Não satisfeito, Trevor me penetra com a sua língua e depois volta a
chupar o meu clitóris, utilizando os dedos para me penetrar.
— Ai, meu Deus! — eu gemo.
— Não, princesa, sou Trevor — ele diz, ainda me chupando com
vontade.
Os movimentos da sua língua talentosa juntamente com os dedos me
enlouquecem e não demora muito para que eu sinta o orgasmo chegar forte,
convulsionando o meu corpo.
— Deliciosa — ele diz, passando a língua pelos lábios, enquanto sobe
pelo meu corpo e cola os nossos lábios em um beijo profundo.
Empurro a sua cueca, utilizando mãos e pés, com pressa de tê-lo dentro
de mim, mas primeiro eu inverto as nossas posições e fico em cima dele. Não
perco tempo e seguro a sua ereção, passo a língua pela sua glande e o ouço
sibilar. Querendo devolver o prazer que ele me deu, eu abocanho o seu pênis
com gosto, colocando o máximo possível na boca. Faço movimentos de vai e
vem, enquanto massageio as suas bolas com as mãos e, pelos gemidos dele, acho
que estou agradando.
Redobro os meus esforços, aumento a velocidade dos movimentos e a
intensidade com que eu o chupo, uso uma mão para me ajudar a masturbá-lo e
com a outra continuo massageando as suas bolas. Ele coloca uma mão na minha
cabeça e me ajuda nos movimentos.
— Princesa, é melhor parar, se não quiser que eu… — ele diz e se
interrompe quando eu o chupo com mais força e ele revira os olhos com prazer.
— Ah, carajo! — ele geme alto e logo goza na minha boca. Eu, como sou um
amorzinho, engulo tudo, não desperdiçando nenhuma gota.
Sem me dar tempo de pensar, o Trevor me puxa para cima e o vejo pegar
algo na cômoda. O preservativo, sua burra! Ele rasga a embalagem e coloca a
camisinha, depois cobre novamente o meu corpo com o dele.
Fecho os olhos quando o sinto em minha entrada e ele para.
— Eu quero você de olhos bem abertos, quero que se lembre de cada
segundo em que eu estiver dentro de você — ele diz, e eu abro os meus olhos
encarando os dele, com as pupilas dilatadas de prazer.
Sem esperar mais, me penetra com uma estocada profunda e eu gemo
alto, revirando os olhos, ele tira a sua ereção de dentro de mim e eu abro os
olhos, o encarando, confusa.
— Eu disse olhos abertos — ele diz e eu aceno positivamente, pois não
consigo formular nada coerente no momento, acho que nem sim ou não consigo
dizer.
Sinto-o me invadindo, centímetro a centímetro, diferente da primeira
estocada, essa é torturantemente, lenta. Eu tento elevar o meu quadril de
encontro ao dele, mas sou impedida por uma das suas mãos. Ele sorri,
maliciosamente, e me penetra com força, novamente me fazendo gemer alto,
mas desta vez mantenho os olhos abertos.
Trevor começa a se movimentar em estocadas fortes e profundas, meu
corpo está febril de prazer, ambos estamos suados e as nossas respirações
descompassadas. A velocidade das suas estocadas aumenta e, todo o tempo, os
seus olhos estão grudados nos meus. Eu sinto quando uma das suas mãos
massageia um dos meus seios, beliscando levemente um mamilo e sinto o
choque de prazer no meu sexo, que se contrai em volta dele, fazendo nós dois
gemermos.
Eu envolto a sua cintura com as minhas pernas, o fazendo me penetrar
mais profundamente e arrancando gemidos de nós, o fazendo perder o controle.
Ele me beija intensamente e depois volta a abocanha um dos meus seios, ainda
me penetrando com força, para em seguida colocar uma mão entre nós dois e
massagear o meu clitóris inchado e sensível. Eu não duro muito tempo e sinto as
minhas paredes internas se contraírem ao redor do seu pau delicioso, com isso eu
gozo forte e gritando o nome dele, que me acompanha em seguida, gozando com
um urro de prazer.
Trevor cai exausto ao meu lado, com a respiração descompassada, assim
como a minha, e me olha, sorrindo.
— Quero ver você se esquecer disso, princesa — ele diz, irônico, e eu
fecho a cara.
— Você tem o dom de quebrar o clima, seu pateta! — digo e me levanto,
caminhando rapidamente para o banheiro, preciso tomar outro banho, mas sou
impedida por ele, que me alcança rápido como um raio.
— O que eu fiz dessa vez? — ele pergunta.
— Essa mania ridícula de chamar qualquer mulher de princesa, fora essa
prepotência de se achar inesquecível — solto e tento me desvencilhar dele.
— Me desculpa, mas não vejo qual o problema de te chamar de princesa
e eu fiquei chateado que tenha esquecido aquela noite — ele diz e eu me viro
para encará-lo, ele permite.
— É sério isso? — pergunto desconfiada.
— Qual parte? — ele retruca.
— Que você ficou chateado.
— Sim, eu passei mais de um mês correndo atrás de você igual um idiota
e sempre fui rejeitado, no único dia que você me dá uma chance, descubro que
estava tão chapada que teve amnésia alcoólica. É frustrante! — ele diz e eu estou
totalmente surpresa.
— Você sabe por que eu não aceitei as suas investidas — digo e ele bufa.
— Sim, porque não somos compatíveis, o que eu discordo totalmente,
também porque eu não sou o seu tipo, entre outras baboseiras — ele responde.
— Não — nego e ele estreita os olhos. — Foi por causa do Liam, mas
agora ele já descobriu onde eu estava e sabe onde eu estou e com quem, não
importa mais — completo, dando de ombros e sigo para o banheiro.
— Eita mulher complicada — o ouço reclamando do lado de fora.
Deixo a porta destrancada, como um sinal de que ele pode entrar, se
quiser. Sou confusa mesmo!
Música: Cuando te besé — Becky G feat. Paulo Londra

* Trevor *

Essa mulher vai me matar, não é possível, ela quer e está conseguindo
tirar o meu juízo. Não que juízo seja um assunto que você domine, não é,
Trevor?!
Coloco as mãos na cabeça, pensando no que fazer e reparo a porta do
banheiro providencialmente aberta, claro que vocês imaginam qual a cabeça que
pensou mais rápido nesse momento. Errou quem pensou que foi a de cima, essa
nem associou direito a informação.
Caminho a passos decididos e abro silenciosamente a porta do banheiro,
percebendo-a nua e distraída de costas para a entrada. Entro, me aproximo e abro
a porta do box, entrando atrás dela. As minhas mãos parecem ter vida própria e
começam a explorar seu corpo, ela não parece surpresa com a invasão. O gemido
que ela deixa escapar, quando alcanço os seus seios e belisco os mamilos
levemente, causa uma reação direta no meu pau.
Amanda apoia as costas no meu peito e eu aproveito a proximidade para
sugar o lóbulo da sua orelha e distribuir beijos molhados pelo seu pescoço.
— Você queria que eu fizesse isso, né? — pergunto próximo ao seu
ouvido.
— Se eu não quisesse, a porta estaria trancada — ela responde e eu
aperto a sua cintura, fazendo-a sentir o meu pau nas suas costas.
— Isso vai ser bem interessante, gostosa — digo, sorrindo e, sem perder
mais tempo, a viro de frente para mim, pegando-a no colo, enquanto grudo a
minha boca na dela, em um beijo profundo.
As nossas línguas duelam em nossas bocas, eu a seguro pela bunda e
encaixo o meu pau em sua entrada encharcada, me lembrando da camisinha
quando começo a penetrá-la e a sensação de pele com pele faz a minha cabeça
dar voltas. Esse negócio está gostoso demais.
— Merda! —resmungo, separando as nossas bocas e a colocando no
chão. — Eu esqueci a porcaria da camisinha, já volto — digo e me viro para ir
buscar o preservativo, mas sou impedido por mãos pequenas que me puxam de
volta.
— Não vai a lugar algum, gostosão — ela diz e eu não contenho a risada
que me escapa com a forma dela falar comigo. — Primeiro, eu tomo injeção,
estou dentro do controle de natalidade e, segundo, eu trouxe um preservativo
para o box — ela diz e pega o preservativo perto do sabonete.
Eu tento pegá-lo das mãos dela, mas novamente sou surpreendido
quando ela rasga a embalagem e desenrola o preservativo no meu pau, me
masturbando no processo. Sigo um impulso e a viro de costas para mim.
— Se inclina e segura firme no registro — a instruo e ela faz exatamente
o que eu digo.
Passo a mão pela sua boceta molhada e espalho a sua lubrificação nela,
em seguida brinco um pouco com o seu clitóris inchado e ela inclina a cabeça
para trás, gemendo. Seguro a sua cintura, enquanto a penetro lenta e
profundamente, mantendo essa tortura deliciosa para provocá-la.
— Mais rápido — ela geme e respondo com um tapa na sua bunda, a
fazendo arfar, mas aumento a velocidade das estocadas.
Os seus gemidos ficam mais altos e logo a sinto se contraindo em volta
do meu pau, me fazendo revirar os olhos de prazer, acabamos gozando juntos em
seguida.
Sinto o seu corpo amolecendo e a seguro, novamente lavo o seu corpo,
enquanto ela se apoia em mim, sonolenta, não resisto e deposito um beijo suave
em seus lábios.
— Cansada? — pergunto, ainda abraçado a ela.
— Você acabou comigo — ela responde, rindo —, no melhor sentido.
Nós dois sorrimos e eu desligo o chuveiro, a ajudo a se secar e me seco
rapidamente depois. Exaustos e completamente saciados, nos deitamos na cama
e dormimos abraçados.
Acordo primeiro que ela e pego o telefone ao lado da cama para pedir o
nosso café da manhã, feito isso eu pego o meu celular para verificar as
mensagens. Não me surpreendo ao ver uma mensagem do Liam e duas do meu
irmão. Leio primeiro a do Liam.
[LIAM] Não pense que conseguiram fugir, eu sei onde vocês estão e
vamos acertar as nossas contas, em breve.
Em vez de ficar quieto e usar o elemento surpresa, ele anuncia que vem
atrás de nós. Tudo bem que ele sempre foi arrogante, mas não me lembrava de
ele ser tão burro. Abro as mensagens do Daryl.
[DARYL] Você vai mudar o seu destino final, certo?
[DARYL] Conhece alguma loirinha, baixinha, nervosinha e que parece
uma patricinha metida?
Fico confuso com a última mensagem e penso que é melhor ligar para
ele. Me desvencilho da Amanda para me levantar e visto uma cueca limpa antes
de seguir para a varanda da nossa suíte. O meu irmão atende ao telefone no
primeiro toque.
— Fala, idiota — ele me cumprimenta.
— Vejo que acordou de bom humor — ironizo e ouço a sua risada seca.
— O que você quer? — ele pergunta.
— Que história é aquela de loira baixinha? — questiono.
— Atropelei uma maluca ontem e ela me confundiu com você — ele diz
e eu gargalho.
— Se sentiu ofendido, querido irmão? — pergunto, rindo.
— Claro que sim — ele responde e eu rio novamente. — Se ela achou
que eu fosse você, é porque me achou com cara de pateta.
— Como se você não fosse um babaca — resmungo.
— E aí, conhece ou não a mulher? — ele pergunta.
— Eu não sei, preciso de uma descrição melhor.
— Eu vou tentar desenhar para você, mesmo à distância — ele diz e eu
bufo antes de ele começar a descrição. — Ela tem cabelos longos, são tingidos
de loiro, ela bate no meu ombro, é distraída e tem um corpo magro, seios
deliciosos e pernas no tamanho perfeito para se enrolarem em meu corpo.
— Você é um tarado — digo. — Atropelou uma mulher e nem pegou o
telefone dela para saber se está bem?
— Eu dei o meu cartão onde está o meu telefone e ela saiu correndo, sem
me dar tempo de pedir o dela, disse alguma coisa sobre estar atrasada — ele se
justifica.
— Pelas características que você falou, parece ser a Nathy, pelo menos, é
a única pessoa que lembrei — respondo. — E de patricinha ela não tem nada.
— Tanto faz, mas preciso do número dela para saber se está bem — ele
diz.
— Desde quando você se importa com alguém que não seja você
mesmo? — pergunto.
— Deixa de ser pateta e me manda o telefone dela — ele resmunga.
— Te mando o telefone por mensagem, mas depois de saber como ela
está, você vai deixá-la em paz.
— Não se mete com o que não é da sua conta — ele responde.
— Ela é minha amiga, então é da minha conta, sim — retruco. — E então
o que vai ser?
— Tanto faz, babaca, eu só quero saber se ela está bem mesmo — ele
resmunga.
— Já te mando por mensagem, então, e quanto à outra mensagem, não se
preocupe que não vou ficar aqui nenhum dia a mais — digo, antes de encerrar a
chamada.
Depois que a Amanda acorda, nós tomamos o café e arrumamos as
nossas coisas para voltar ao terminal de embarque, fazemos o check-out no hotel
e eu nos encaminho para um guichê para a compra das passagens, já de posse
dos documentos falsos. A partir de agora somos Matt Andrews e Linda Evans.
Claro que tenho medo de descobrirem que os documentos são falsos,
sempre existe essa possibilidade, mas para a nossa sorte não somos descobertos
e conseguimos o próximo voo para o Aeroporto Internacional de Acapulco, no
México. Pela internet, eu reservo com o cartão de crédito de Matt Andrews um
quarto no Hotel Emporio Acapulco. Despachamos as malas e seguimos para o
portão de embarque, eu sinto um alívio por termos passado por toda a segurança
do aeroporto e conseguirmos entrar no avião. Agora, sim, começamos as nossas
férias em paz, não vou mais chamar essa viagem de fuga.
* Amanda *

Às vezes, eu me sinto em um sonho, às vezes em um pesadelo. Claro que


com o Trevor... digo, Matt ao meu lado, me sinto como em um sonho, na maior
parte das vezes. Nossos celulares foram descartados pouco antes de entrarmos no
avião, anotei em um papel alguns números importantes e ele também o fez.
Chegando a Acapulco procuramos uma loja para comprarmos novos celulares e
chips, após a compra pegamos um táxi para o hotel.
Ele toma à frente quando chegamos ao hotel, me ajuda a sair do carro e
seguimos para a recepção, onde ele confirma a nossa reserva e pega o cartão
para o nosso quarto. Um funcionário nos ajuda com as malas, pegamos o
elevador e, logo, chegamos à nossa suíte.
Tem uma cama de casal enorme, uma cômoda com uma TV em cima, a
sacada tem vista para o mar e às áreas de piscina do hotel, o banheiro é enorme,
tem uma escrivaninha com uma cadeira e mais uma poltrona ao lado da cama.
Simplesmente amei este quarto e a vista é de tirar o fôlego, deixo o Trevor
conversando com o funcionário do hotel e vou até a sacada.
— Um doce pelos seus pensamentos — diz Trevor, me abraçando por
trás.
— Só estava pensando em como este lugar é lindo — respondo.
— Sim, é incrível, né?!
— De tirar o fôlego — digo e me viro para ficar de frente para ele. —
Obrigada por ter a ideia de virmos para cá, eu, provavelmente, ficaria em Porto
Rico, amedrontada, esperando o próximo passo do Liam.
— Ele está tão arrogante, que disse o seu próximo passo — ele me conta.
— Eu não sei se era um blefe ou o que, mas não quis pagar para ver, assim que o
vi no aeroporto.
— Você é mais esperto do que eu — digo e suspiro.
— Você também é esperta, ou não teria conseguido se esconder dele —
ele responde e eu bufo.
— Eu não me escondi exatamente, porque não cheguei a sair da cidade
nem mudei de nome, ainda não entendo o motivo de ele não ter vindo atrás de
mim antes.
— Vai ver, achou que você voltaria para ele, ou que ficaria solteira,
sozinha e disponível para quando ele quisesse ter você de volta — ele diz e eu
dou de ombros.
— Tanto faz, eu não voltaria para ele, mesmo se virasse uma solteirona
cheia de gatos — digo e ele puxa meu corpo de encontro ao dele.
— Se fosse, seria uma bem gostosa — ele diz, com cara de safado, e eu
dou risada.
— Você é uma figura, Trevor, ops, Matt — brinco, ainda rindo.
— Enquanto estamos sozinhos, pode me chamar de Trevor — ele diz,
rindo, e beija os meus lábios rapidamente. — Que tal trocarmos de roupa e
descer para ficarmos nas piscinas?
— Acho uma ótima ideia — respondo e vou até a minha mala ver se
trouxe alguma roupa de banho.
Após encontrar um biquíni e uma saída de banho, vou para o banheiro
me trocar, quando retorno para o quarto, ele já está pronto e descemos. Por sorte,
tem algumas lojas no hotel e conseguimos comprar protetor solar. Vamos até
uma das piscinas e eu me ajeito em uma espreguiçadeira, passando o protetor
solar no meu corpo. Percebo o olhar do Trevor enquanto faço isso e tenho um
pensamento malicioso, não evito um sorriso.
— O que você tanto olha? — pergunto, divertida.
— Estou me perguntando em qual momento você vai me pedir para
passar protetor nas suas costas — ele responde, com um sorriso safado no rosto.
— Acho que hoje é o seu dia de sorte, então, bonitão — respondo,
estendendo o protetor solar para que ele pegue. — Você poderia passar o protetor
nas minhas costas? — pergunto, com fingida inocência.
— Com todo o prazer, madame — ele responde, sorrindo, e se senta atrás
de mim na espreguiçadeira, com uma perna de cada lado do meu corpo. Não
consigo evitar o arrepio que passa por mim, quando ele se aproxima.
Trevor coloca um pouco de protetor em uma mão e começa a espalhar
pelas minhas costas, o calor das suas mãos junto com movimentos teoricamente
inocentes aquecem o meu corpo, olho para os lados, observando se tem alguém
reparando no que está acontecendo aqui. O meu corpo está pegando fogo e nem
está fazendo tanto calor assim aqui, despretensiosamente ele massageia as
minhas costas e eu suprimo um gemido de prazer. Aqui não é o lugar mais
apropriado para essas coisas.
— Não faz assim, princesa — ele diz no meu ouvido, escorregando as
mãos para a minha cintura e me puxando para mais perto dele, conseguindo
sentir a sua ereção pressionando a minha bunda. Sinto uma vontade enorme de
sair correndo com ele de volta para o quarto, mas ainda quero aproveitar a
piscina, então me levanto sem aviso e pulo na piscina.
— Você não vem? — pergunto, após emergir e encará-lo me olhando
com os olhos escuros de desejo.
Quando penso que ele vai se juntar comigo na piscina, ele olha para o
outro lado e parece ver um fantasma. O choque em seu rosto é tão grande, que eu
acho que ele vai desmaiar, não olho para o que quer que o tenha deixado desse
jeito, apenas saio da água e me aproximo do Trevor, preocupada.
— Trevor, está tudo bem? — pergunto.
— Não sei, não é possível, não pode ser — ele balbucia, parecendo
perdido.
Totalmente confusa, eu resolvo olhar para o ponto que ele ainda encara
totalmente em choque, ainda bem que estou perto da espreguiçadeira e consigo
me sentar, pois eu tenho um choque enorme ao ver quem está do outro lado da
piscina.
Não é possível, será?!?! Bem, colega, com a sorte que você tem, é capaz
de acontecer qualquer coisa.
— Não pode ser, não é ela — murmuro, tentando me convencer.
— Você também a conheceu? — ele me pergunta, mas acaba
respondendo. — Claro que conhece, foi cunhada dela — resmunga.
— O problema não é esse, Matt — digo, o chamando pelo nome falso.
— Sim, imagino que o problema é que a Lana deveria estar morta, certo?
— ele pergunta, entre confuso, surpreso e irritado. — Eu fugi do Liam e sofri
por ser acusado pela morte dela, se ela não morreu, então o que diabos
aconteceu?
— Eu não faço ideia, sério, só fiquei sabendo por terceiros que ela tinha
morrido em um acidente de moto — respondo.
Mais inesperado do que esse diálogo é quando a suposta defunta resolve
caminhar até onde estamos. Eu não acredito em alma penada, nem nada disso,
mas essa parece muito viva.
— Quanto tempo, querido — ela diz quando está mais perto, dando um
beijo na boca do Trevor. O meu sangue sobe na hora, não rotulamos nada do que
aconteceu conosco, nem sei se temos um relacionamento, mas ver a defunta
agarrando o homem com quem eu passei a noite transando e que só tinha olhos
para mim, até cinco minutos atrás, é irritante. Sabe o que é pior? Ele não reage,
se deixa ser beijado por ela e sequer tenta impedir ou qualquer coisa parecida
com um tipo de reação, o cara está em estado catatônico e eu tenho vontade de
afogá-lo nessa piscina, só para testar se ele está esperto.
* Trevor *

Eu estou sendo beijado por uma pessoa que, até alguns minutos atrás, eu
julguei estar morta, o quão surreal é isso? Quando, finalmente, a Lana me solta,
eu reajo.
— Acho que me confundiu com alguém, moça — digo, entrando no
personagem, afinal, ela é irmã do cara que quer me matar, acho que não seria
inteligente sair do meu fraco disfarce tão cedo.
— Daryl? — ela questiona, talvez achando que me confundiu com o meu
irmão.
— Matt, moça, não conheço nenhum Daryl e essa… — digo, olhando
para onde está a Amanda nos encarando, como se pudesse nos matar com um
olhar, depois eu preciso conversar com ela. — Essa é Linda, minha namorada.
— Interessante — diz Lana, apertando os olhos. — Você lembra alguém
que eu conheço.
— Jura?! — retruca Amanda, sem fazer questão de disfarçar a irritação.
— Pois você não lembra absolutamente ninguém, agora, se nos der licença,
esquecemos algumas coisas no quarto — ela diz, juntando o protetor e o meus
óculos de sol, me puxando para longe da Lana, que solta:
— Foi bom rever vocês, Trevor e Amanda. — Eu gelo, claro que ela nos
reconheceria.
Sem saber como reagir nem o que pensar, me permito ser conduzido até o
elevador e depois até o nosso quarto.
— Que porra foi aquela? — ela pergunta, assim que fecha e tranca a
porta, após entrarmos.
— Não faço ideia — respondo, sem entender, ainda estou confuso.
— Você demorou muito para ter uma reação e ela nos descobriu — me
acusa Amanda.
— Calma, até uns minutos atrás, eu achava que a Lana tinha morrido e
que a culpa era minha, estou perdido aqui — me defendo.
— Então, me conta exatamente o que aconteceu no dia do acidente, quem
sabe assim, nós possamos entender juntos o que está acontecendo.
— É melhor nos sentarmos — digo, me sentando na cama, encostando na
cabeceira, ela senta ao meu lado. — Eu a conheci quando o meu irmão e eu
começamos a andar com o Liam. Lana sempre foi bonita e eu me interessei por
ela. Depois de um tempo, percebi os seus olhares em minha direção e arrisquei
convidá-la para sair, foi aí que começamos e, depois de um tempo saindo, eu a
pedi em namoro.
— Pula os detalhes melosos e vai direto para o dia do acidente — diz
Amanda, impaciente.
— Bom, acontece que o meu irmão era piloto de fuga deles e eu fazia
rachas de moto, entre outros serviços, para ganhar uma grana. Eu achava
divertido e gostava da adrenalina de correr. Um dia, ela me pediu para ir à
garupa da moto e para que eu corresse como se estivesse competindo — digo,
puxando uma respiração profunda, pela lembrança dolorosa. — Eu relutei, não
queria correr esse risco com ela, mas ela insistiu, chegamos até a brigar e eu
acabei cedendo. Estava tudo indo bem, Lana estava curtindo e eu acabei
relaxando, ela me pedia para acelerar e eu atendia, até que pela visão periférica
enxerguei um carro vindo em nossa direção, eu tentei desviar, mas estava rápido
demais e a moto acabou tombando — conto e faço uma pausa, antes de terminar
o relato. — Eu apaguei e quando acordei, estava no hospital com o meu irmão ao
meu lado, a primeira coisa que eu perguntei foi sobre a Lana e ele me respondeu
que quando a moto tombou, eu fui para um lado e bati a cabeça, apagando,
enquanto ela foi parar embaixo do carro e o motorista não conseguiu evitar de
passar por cima dela, que acabou morrendo a caminho do hospital.
— Muito providencial você ter apagado, mas, pelo que você me contou,
a possibilidade de vocês dois morrerem naquele acidente era grande.
— Sim, mas não entendo por que ela mentiria sobre isso — digo,
colocando as mãos na cabeça, totalmente perdido. — Será que com ela aqui, nós
corremos algum risco?
— Eu não confio naquela cobra — ela diz emburrada e eu sorrio.
— Nunca pensei que você fosse ciumenta — solto, brincando, mas me
arrependo pelo olhar fulminante que ela me dá.
— Eu sempre soube que você é um pateta! — ela retruca e, depois de
vestir um short e uma camiseta rapidamente, sai do quarto, batendo a porta. Eu
faço uma careta. Parabéns, idiota!
Não sei se ligo para o Daryl, não sei se vou atrás da Amanda e, enquanto
decido o que fazer, alguém bate à porta. Eu estranho, porque não pedi nada no
serviço de quarto, me dou um chute mental quando abro a porta e dou de cara
com a Lana.
— Oi, Trevor, posso entrar? — ela diz, sorrindo.
— Moça, já disse que não sou Trevor e, só por curiosidade, como
descobriu o meu quarto? — respondo, com outra pergunta.
— Vamos lá, querido, achou que eu não descobriria o quarto onde o meu
namorado está hospedado? — ela diz, ironicamente. — E para com essa
palhaçada de “não sou Trevor”, eu conheço esse rosto e esse corpo como a
palma da minha mão, apesar de que você está ainda mais gostoso do que me
lembro — ela diz, passando a mão no meu peito, mas seguro a sua mão, a
afastando de mim.
— O que você quer? — pergunto, já sem paciência.
— Finalmente você parou de fingir. — Ela bufa e eu levanto uma
sobrancelha. — O que você faz com aquele projeto de vadia?
— Não é da sua conta — respondo e ela faz cara de magoada.
— Depois de tudo o que passamos, você me trai com ela? — ela diz e
chega ao ponto de enxugar uma lágrima.
— Eu achei que você tinha morrido, porra! — explodo. — Queria que eu
fizesse o quê? Me jogasse na sua sepultura e morresse junto?
— Credo, você está vendo que não morri, então podemos continuar de
onde paramos — ela diz, voltando a se aproximar, como se eu não tivesse dito
nada.
— Você ficou louca? Bateu a cabeça com muita força quando sofremos o
acidente ou o quê? — pergunto, a segurando pelos pulsos para mantê-la afastada.
— Mas eu fui forçada a ficar longe de você, meu amor — ela diz e eu
paro.
— Como assim? — indago, ainda mais confuso.
— O Liam ameaçou te matar, se eu não me afastasse, forjar a minha
morte foi a única forma que encontrei de sumir por uns tempos, sem levantar
suspeitas e que fosse menos doloroso — ela responde.
— Você achou que doeria menos saber que você morreu, é isso? —
pergunto indignado. — Isso é totalmente insano!
— Eu não podia correr o risco de o Liam cumprir a promessa e te matar
— ela diz e começa a chorar.
— Por que ele te disse para se afastar de mim? — pergunto, com a voz
controlada.
— Porque ele não confiava em você e, pelo que pude ver hoje, ele tinha
razão, já que você roubou a namorada dele — ela diz, me olhando de forma
acusadora.
— Não roubei a namorada de ninguém, eles não estão mais juntos desde
antes de você sumir e sabe bem disso, não se faça de besta — me defendo.
— Isso não importa, ele sempre manteve um olho nela, mantendo todos
os caras afastados do amorzinho dele — ela diz, revirando os olhos. — Ele não
deve ter ficado nada satisfeito em descobrir vocês dois juntos.
— Como você sabe? — pergunto, atônito, e ela revira os olhos
novamente.
— Dãã. Ele sempre a vigiou, não tenho nenhuma dúvida de que ele sabe
que você está com ela e, com certeza, não está nada feliz com isso — ela
responde.
— Tanto faz — digo e a encaro. — Vou perguntar outra vez: o que você
quer?
— Você — ela diz, me olhando com desejo.
— Sinto muito, mas necrofilia não é a minha praia, então, por favor, saia
do meu quarto — digo, abrindo a porta e dou de cara com a Amanda, colocando
o cartão para liberar a abertura.
Eu faço outra careta quando vejo a cara dela de ódio e o sorriso cínico na
cara da Lana.
— Foi um prazer conversar com você, meu amor — diz Lana, antes de
me dar um selinho nos lábios e sair calmamente, rebolando por todo o caminho
até o elevador. Quando eu volto os meus olhos para a Amanda, chego a ver a
fumaça que sai da sua cabeça, tamanho o ódio que está no olhar dela e, devo
frisar, esse olhar é direcionado para mim.
— Está mais calma, princesa? — pergunto, e ela me acerta um tapa no
rosto, eu chego a virá-lo para o lado e sinto a parte atingida ardendo, devido à
força que ela usou.
— Nunca mais me chame de “princesa” e nunca mais toque em mim! —
ela diz e entra no quarto como um furacão, colocando as roupas em outra mala.
— O que você está fazendo? — pergunto e, claro, não obtenho uma
resposta. — Aonde você vai?
— Não interessa, seu pateta, babaca, idiota! — ela responde, me
xingando.
— Me escuta, Amanda — eu tento falar, mas sou interrompido.
— Não, me escuta você, seu otário! — ela exclama e eu me calo. —
Você colocou tudo a perder, certeza de que ela sabe exatamente quem somos e
vai contar para o querido irmão onde estamos.
— Ela não pareceu ter contato com o Liam, aliás, ela me contou que se
afastou dele e, por isso, fingiu a morte — conto o que a Lana acabou de me falar.
— Mas é um otário mesmo de acreditar naquela cobra! — ela acusa.
— Se acalma — eu tento novamente —, como você pode ter tanta
certeza de que ela não é inocente? — pergunto, e me arrependo assim que ela me
olha.
* Amanda *

Como pode um cara ser tão tapado? Pelo amor de Deus!!


— Vou explicar para você com maçãs, para ver se entende — respondo,
sarcástica. — Ela ajudava o Liam, ela fazia a cabeça dele contra mim, ela causou
a nossa separação e o fez me tratar daquele jeito horrível, ela o incentivou a fazer
aquelas coisas comigo e você ainda a defende? Sério, Trevor?!
— Faz sentido o que ela disse — ele me responde e eu sinto a minha
cabeça explodir. Era por isso que eu não queria me envolver com ninguém. Ai
que ódio!
— Quer saber? — digo. — Fica com a sua defunta, eu vou sumir daqui o
mais rápido possível — termino de falar e me viro para pegar a minha mala.
Será cansativo voltar para o aeroporto hoje, depois de já ter viajado, mas
aqui e do lado dessa cobra, eu não fico nenhum minuto a mais.
— Olha só, você deve estar cansada da viagem, chegamos e já fomos
para a piscina, por que você não descansa um pouco e, depois, se ainda quiser ir
embora, eu compro uma passagem para onde quiser — ele diz e eu acabo
cedendo, porque realmente estou exausta, tanto física quanto emocionalmente.
Sem dizer mais nada nem o olhar nos olhos, coloco a minha mala em um
canto e, depois de pegar uma muda de roupa, vou para o banheiro, que faço
questão de deixar trancado, para poder tomar um banho. A descarga emocional
que tive foi tão forte que não aguento mais segurar o choro, as lágrimas descem
livres pelo meu rosto e eu chego a soluçar, tamanha a força do pranto. Choro de
saudade dos meus pais, saudade da minha vida, choro de raiva e decepção com o
Trevor.
Saio do banheiro, ainda com raiva, percebo o Trevor sentado na cama e,
depois de guardar a roupa suja na mala, me deito e me viro, ficando de costas
para ele.
— Não vai falar comigo? — ele pergunta e tem como resposta o meu
silêncio. — Não vai nem me olhar?
— Não — rosno. — Me deixe em paz.
— Me escuta, por favor — ele diz e eu bufo. — Eu queria que você me
entendesse — ele continua e eu explodo novamente.
— Agora você é que vai me escutar, seu pateta! — digo, me sentando e
olhando para ele. — Vou te contar exatamente o que ela fez comigo, para odiá-la
tanto.
— Mas você não precisa... — ele começa e eu o interrompo.
— Cala a boca e escuta! — digo, irritada. — É para você entender do que
aquela cobra é capaz, depois disso, você vai me deixar dormir em paz.
— Ok — ele responde.
— Quando eu namorava com o Liam, a Lana se fez de minha amiga por
um tempo, afinal, eu estava morando longe dos meus pais e o Liam e ela eram as
únicas companhias que eu tinha. — Respiro fundo, antes de reviver o meu
pesadelo. — Eu não sei exatamente o motivo dela querer me fazer mal,
sinceramente, eu nunca fiz nada que justificasse isso, mas ela ainda achou justo
induzir o irmão a fazer aquilo comigo.
— Acho melhor você não continuar — ele diz, mas eu o olho feio.
— É melhor você calar a boca e não me interromper mais — eu respondo
e ele se cala. Então eu tomo fôlego para continuar. — A sua querida Lana vivia
falando de mim para o irmão dela, não me elogiando ou qualquer coisa que
deixasse as coisas tranquilas entre nós, mas mentindo para ele sobre o que eu
fazia quando não estava com eles. Ela dizia que eu dava em cima de todos os
caras da gangue na frente dela, mas que quando ele estava perto, eu me fazia de
santa e, eu só sei disso porque um dia estava indo para o escritório dele avisar
que precisaria sair para comprar algo, e acabei ouvindo. O problema é que a
burra aqui ficou em choque e resolveu não interromper a conversa, em vez disso
preferi sair para pensar e quando cheguei, a merda já estava para acontecer.
“Assim que entrei no galpão, que você conhece, senti que algo estava
errado, mas cometi o erro de ignorar a minha intuição. A Lana me chamou para
ir com ela até a cozinha e eu estranhei, porque não entendia o motivo de ela ser
simpática e amigável comigo, se não gostava de mim. Quando chegamos lá, ela
pegou um suco na geladeira e me ofereceu um copo, outro dos meus inúmeros
erros foi aceitar aquele suco, eu não faço ideia do que ela colocou na bebida,
mas sei que foi algum tipo de droga paralisante, porque em pouco tempo
comecei a me sentir mal. Claro que ela fingiu me ajudar e me levou para um
lugar que parecia com um quarto, me deitou na cama e saiu. Em pouco tempo,
eu senti que os meus braços e pernas não respondiam a comandos enviados pelo
meu cérebro, ou seja, eu estava totalmente consciente, mas não conseguia mexer
nenhuma parte do meu corpo. Aí entrou o primeiro cara, sei que era um dos
caras que fazia ou faz parte da gangue, não sei quem ainda está lá, ele começou a
passar as mãos pelo meu corpo, me falando coisas obscenas. Tenho certeza de
que o meu olhar transparecia todo o terror que eu estava sentindo, mas não
conseguia sequer gritar, porque estava presa dentro do meu corpo sem controle
algum dele. As minhas roupas foram rasgadas brutalmente e ele começou a me
estuprar.”
— Para, por favor, eu não aguento mais ouvir isso — Trevor pede, mas
eu não recuo.
— Não vou parar, você precisa saber — respondo, e continuo o relato: —
Aquele foi o primeiro, depois todos os outros caras fizeram a mesma coisa, mas
com a facilidade de que eu já estava nua. Eu não faço ideia de quanto tempo se
passou, pois parecia que estavam abusando de mim há dias, mas poderiam ser
minutos ou horas, porque era terrível do mesmo jeito. O Liam foi o último e o
pior, depois que os homens dele abusaram do meu corpo da forma que bem
entenderam, desde quase me fazerem sufocar e morrer de asco ao enfiarem seus
membros na minha boca, até penetrarem o meu ânus, sem nenhum cuidado, isso
e o fato de nenhum deles se preocupar em usar camisinha. Bem, quando o Liam
entrou no quarto, eu já estava em um estado deplorável, mas isso não o impediu
de me espancar até quase a inconsciência e, claro, me estuprar, xingando-me de
tudo o que você possa imaginar.
— Aquele desgraçado — ele rosna e eu reviro os olhos.
— Para de ser babaca e presta atenção — continuo. — Quando ele já
estava satisfeito com o que fez comigo, entrou a Lana no quarto me falando que
eu, finalmente, tive o que merecia por ser uma vadia e por tentar trair o irmão
dela em todas as oportunidades disponíveis. Cada palavra que ela dizia não tinha
sentido algum para mim, porque nunca sequer olhei para nenhum daqueles caras,
mas ela insistia que eu era a vadia que queria controlar o irmãozinho dela e que
eu merecia ser colocada no meu lugar de puta.
— Ela não faria isso — ele murmura.
— Ela se fingiu de morta, ela fez o irmão dela e todos os caras da gangue
me estuprarem e me espancarem, eu teria morrido se não tivesse tirado forças,
nem sei de onde, para sair de lá, cobrir o meu corpo com qualquer coisa e correr
para o hospital onde trabalho. Por sorte, não precisei dos documentos porque
eles já tinham cópias no meu registro de admissão, o Dr. Jenkins pagou o taxista
que me levou e eu fiquei internada por alguns dias — digo e percebo lágrimas
escorrendo pelo meu rosto, quando o Trevor tenta me tocar, eu afasto a sua mão
com um tapa. — Eu não sei o que ela está planejando, Trevor, mas ela não é essa
pessoa santa e inocente que pinta para você. E como você parece não acreditar
em mim, vou embora na primeira hora de amanhã e sumir por uns tempos.
— Como assim? — ele pergunta, espantado.
— Simples, desta vez eu vou fazer as coisas direito, vou comprar outro
chip quando sair daqui, arrumar outra identidade e desaparecer da vida de todos
— respondo, decidida.
— Vai me dizer para aonde vai? — ele pergunta.
— Não, você não precisa saber, o que aconteceu conosco foi um enorme
erro desde o começo e nunca teve futuro — digo. — Você não precisa se
preocupar comigo, nunca mais terá notícias minhas.
* Trevor *

Quase não consegui pregar o olho à noite e, graças ao meu sono leve,
consegui perceber o movimento da cama enquanto a Amanda tentava sair, sem
que eu percebesse.
— Se está tentando fugir, de novo, saiba que não está funcionando —
digo e abro os olhos, em seguida, para comprovar que estava certo ao vê-la
seguir para a mala pegar uma troca de roupa.
— Não estou fugindo, eu avisei ontem que vou embora — ela responde e
segue para o banheiro, fechando a porta após entrar.
Preciso pensar em uma forma de convencê-la a não ir embora, mas
como?! Decido ligar para o meu irmão e saber como estão as coisas em Nova
York, felizmente, não demora muito para que ele atenda.
— Fala, babaca — ele cumprimenta e eu reviro os olhos.
— Oi, como estão as coisas por aí? — pergunto.
— Quase resolvidas, preciso que você e a princesinha fiquem fora de
vista mais alguns dias, mas, graças à arrogância do Liam, eu consegui um jeito
de tirá-lo de combate — ele responde e eu me preocupo.
— Como? — quero saber.
— Ele não escondeu os seus negócios como deveria e acabou colocando
em risco uma transação muito importante para uns caras muito malvados — ele
responde, em tom de deboche.
— Você está falando da máfia? — questiono.
— Sim, eu te disse que ele estava procurando a morte quando se
envolveu com a máfia e eu, obviamente, estava certo — ele responde. — Em
breve, se a polícia não o pegar, a máfia o matará.
— Preciso contar uma coisa — digo.
— Fala logo, estou ocupado agora, preciso me planejar para pegar o
Liam — ele responde e eu bufo.
— Talvez, o que eu vou contar possa ajudar — digo, em tom de deboche.
— Como? — ele pergunta.
— Primeiro, preciso saber, quando aconteceu o acidente anos atrás, você
chegou a ver o corpo da Lana? — questiono.
— Não, o Liam simplesmente disse que estava irreconhecível e que
nenhum de nós dois tinha o direito de ver o corpo dela, já que, segundo ele, você
matou a irmã — ele responde.
— Interessante, porque conversei com a Lana ontem — conto.
— Tá vendo fantasma agora, pateta? — ele pergunta e ri.
— Não, a Amanda também falou com ela e está bem viva, em Acapulco
—respondo.
— Espera um pouco — ele diz, parecendo assustado. — Explica isso
direito, ela não está morta, é isso?
— Exatamente, ela fingiu estar morta e, segundo me falou ontem, foi
obrigada pelo irmão a se afastar de mim, senão ele me mataria — explico. —
Isso faz algum sentido para você?
— Nenhum, porque depois que ela se fingiu de morta, ele te jurou de
morte — ele responde. — Se eu não tivesse negociado com ele, talvez nós dois
estivéssemos mortos agora.
— Isso que você falou faz sentido, mesmo — digo. — Então, se ela
fingiu a morte todo esse tempo, por que resolveu aparecer agora? — pergunto,
no momento que a porta do banheiro abre e a Amanda sai de lá, pronta para ir
embora. Preciso impedi-la. — Espera um minuto Daryl.
— Seja breve — ele responde.
— Amanda, por favor, espera só eu terminar de falar com o meu irmão,
não é seguro você sair sozinha — digo e ela me olha, irritada.
— E por que você se importa? — ela pergunta.
— Senta um pouco, por favor — peço e ela aceita, contrariada.
— Pronto, Daryl — eu digo, voltando a colocar o celular na orelha. — O
que você acha?
— Eu acho que vocês precisam ficar aí, juntos, por dois motivos — ele
diz e faz uma pausa antes de continuar: — O primeiro é que você precisa
descobrir exatamente o que aconteceu e, meu irmão, tome cuidado, porque a
Lana não é inocente nessa sujeira toda, nenhum pouco.
— E o segundo motivo? — pergunto.
— Você precisa ficar perto da princesinha, porque ela corre muito mais
perigo com a Lana viva do que você imagina — ele diz e eu me surpreendo.
— Por que diz isso?
— A não ser que eu esteja errado, ela era a tal namorada que o Liam e a
Lana mantinham fora das nossas vistas a todo custo, sempre nos mandando para
serviços externos quando ela estava por perto — ele comenta e eu percebo a
ligação, porque nós tivemos contato com o Liam, basicamente, no mesmo
período, mas eu nunca a vi no galpão. — Você se lembra de quando o Liam deu
um piti, porque a tal namorada tinha sumido?
— Lembro — respondo e já tenho medo do que ele vai falar em seguida.
— Bom, pouco depois do seu acidente e da suposta morte da Lana, eu
fiquei por lá, como você sabe, e conversando com os caras acabei descobrindo
algumas coisas que a Lana convenceu o Liam a fazer com a namorada. Ela fez a
cabeça dele para obrigar todos os caras que estavam no galpão e em serviço
externo, menos nós dois, a abusarem e espancarem a garota e depois a largarem
no quarto, sem cuidado algum.
— Espera, você está dizendo daquela viagem que o Liam nos mandou
fazer, para recebermos um pagamento que ele disse ser muito importante e
urgente? — pergunto, me lembrando da época.
— Exatamente e, adivinha, quem deu a ideia de mandar nós irmos
juntos? — ele pergunta, irônico.
— A Lana?!
— Exatamente — ele diz. — Lembro que o tal de Jason ficou bem
assustado quando nos viu juntos para cobrar a dívida dele, mas qualquer um de
nós dois daríamos conta dele, sem precisar de ajuda.
— Espera, qual era o nome do cara? — pergunto.
— Porra, Trevor, que memória de merda é a sua! — ele exclama,
irritado. — Jason Stevens, um babaca engomadinho que se achava o pica das
galáxias, mas devia até as calças para o Liam, tivemos que ir até a Califórnia
atrás dele.
— Mano, esse cara quase me matou, faz pouco mais de um ano, se
lembra da mulher do Gabriel? — pergunto.
— O idiota do seu chefe? — ele questiona, parecendo surpreso.
— Esse mesmo. A Beatriz, esposa dele, namorou com esse Jason e, na
época, eu não liguei o nome à pessoa, talvez por querer esquecer essa parte da
minha vida — digo.
— Pois a vida te pregou uma peça e colocou aquele escroto no seu
caminho.
— Agora ele está preso, pelo que eu soube.
— Bom para ele, mas o que importa é que você precisa descobrir o que a
Lana pretende, e proteger a princesinha — ele diz.
— Pare de chamá-la assim — rosno.
— Mas você não a chama de princesa? — ele pergunta, rindo.
— Sim, mas ela não gosta — digo. — Bom, te informei o que precisava
que soubesse e já sei o que precisava saber, agora preciso resolver alguns
assuntos urgentes.
— Eu também, irmãozinho — ele diz, em um tom sombrio. — Eu
também. — E encerra a chamada.
Eu olho para a Amanda, que parece confusa.
— O que aconteceu enquanto eu estava no banheiro? — ela pergunta.
— Tive uma conversa esclarecedora com o meu irmão e descobri
algumas peças a mais do quebra-cabeça — respondo.
— E que peças seriam?
— Bem, para começar, o que eu achei que fosse uma coincidência, na
realidade, era a vida me pregando a porra de uma peça — digo.
— Explica melhor isso, porque estou boiando aqui — ela diz e eu não
consigo evitar de rir.
— Descobri que, de alguma forma, a Lana e o Liam impediam que meu
irmão e eu estivéssemos no galpão quando você estava lá e, quando aconteceu
aquilo que me contou ontem... — eu digo e sou interrompido por ela.
— Você diz quando fui estuprada? — ela pergunta, sarcástica.
— Isso — respondo, incomodado, porque não gosto de pensar nisso, só
de imaginar o que ela passou, me dá vontade de vomitar.
— Pode falar, foi o que aconteceu — ela diz, dando de ombros.
— Mas não deixa de ser monstruoso e me incomodar da mesma forma —
respondo, irritado. — Continuando, quando o Liam mandou os caras te
estuprarem e te espancarem, eles mandaram meu irmão e eu para um serviço na
Califórnia.
— Por isso, nem você nem o seu irmão foram chamados no dia — ela
diz. — Porque eu sei que o Liam chamou até quem estava fora.
— Mas não meu irmão e eu, ele nos mandou para longe, provavelmente,
porque sabia que não gostávamos desse tipo de coisas — digo. — Sabe,
Amanda, eu estou longe de ser um santo ou um príncipe encantado, mas uma
coisa que eu não faria nem se tivesse uma arma na minha cabeça, seria violentar
ou bater em uma mulher. E saber o que o Liam fez com a própria namorada, me
deixou extremamente puto, mais ainda por saber que foi incitado a isso pela
própria irmã, que também é uma mulher.
— Trevor, eu não preciso da sua pena, eu só quero ir para longe dela —
ela diz e eu corro para ficar na frente da porta quando ela se levanta e pega a
mala. — Me deixa ir embora.
— Não posso, você precisa ficar, nós dois precisamos — digo e ela me
olha, irritada. Não seja mentiroso, Trevor. Se um olhar matasse, você já estaria
morto com o olhar que ela está te lançando.
— E por quê? — ela pergunta, irônica.
— Porque é mais seguro para você, pensa comigo, se a Lana foi capaz de
fazer aquilo com você, um tempo atrás, o que a impediria de te matar, já que
você sabe que ela não está morta como a maioria das pessoas em Nova York
imagina?! — respondo e ela me olha, assustada.
— Mas ela não saberia que eu fui embora — ela diz e eu sorrio.
— Claro, assim como ela está morta e foi um delírio das nossas cabeças
neuróticas com complexo de perseguição — ironizo e ela me dá um tapa no
braço. Pelo menos não foi na cara, pensa pelo lado positivo!
— Pateta! — ela exclama.
— Você precisa concordar comigo que faz sentido, se ela quis te fazer
mal antes, o que impede de fazer novamente agora?
— E o que te convenceu que aquela defunta é culpada? — ela pergunta,
com sarcasmo.
— Faltavam algumas peças que se encaixaram, depois de conversar com
o meu irmão — respondo e ela revira os olhos.
* Amanda *

Odeio quando a pessoa enrola para contar alguma coisa, o Trevor parece
que está pisando em ovos comigo e não consegue nem falar sobre o que a Lana e
o Liam fizeram, e agora não para de enrolar para contar o que o irmão dele disse.
— Fala logo que peças são essas! — eu exclamo, irritada.
— Vamos lá, na época que você foi estuprada, o Liam mandou meu
irmão e eu cobrarmos uma dívida do ex-namorado da Bia — conforme ele vai
falando os meus olhos aumentam de tamanho, de tão espantada —, o Jason. Eu
nunca cheguei a ligar o nome à pessoa, porque fiz questão de esquecer tudo o
que me ligava à época em que trabalhava para o Liam.
— Como o ex da Bia entra nesse rolo? — pergunto, confusa.
— Ele devia uma grana alta para o Liam, não sei exatamente o motivo ou
em que estava envolvido, mas agora sei que ele conseguiu o dinheiro
chantageando a Bia — ele diz e eu continuo sem entender nada.
— E o que eu tenho a ver com isso? — pergunto.
— Tem que, por algum motivo, que eu ainda não sei qual é, o Liam e a
Lana sempre fizeram de tudo para impedir que o meu irmão e eu víssemos você,
assim como, também impediram que estivéssemos por perto quando eles fizeram
aquela monstruosidade com você — ele continua. — Agora entenda, a história
da Lana com a que o Liam contou ao meu irmão quando ela, teoricamente,
morreu não se conectam.
— Claro que não, você acha que o Liam diria a verdade para o seu
irmão? — pergunto. — Assim como a Lana não diria a verdade para você.
— Exatamente é esse o ponto, eu preciso descobrir o que a Lana pretende
e, enquanto isso, te proteger dela — ele responde.
— Como você pretende me proteger, se eu estou indo embora? —
pergunto.
— Simples, você vai ficar aqui — ele responde, abrindo um sorriso
sacana e cruzando os braços.
— Você vai me obrigar a ficar?
— Sim, nem que para isso eu tenha que te trancar aqui e te prender na
cama — ele responde.
— E quando você não estiver comigo? — questiono, irritada, porque o
plano era não ter que ver a cara dele, só para evitar de cair em tentação, e porque
ainda estou com muita raiva, mas ele não facilita.
— Vamos ficar o tempo todo juntos, princesa, vou garantir que você
sempre estará por perto e evitar que fuja — ele responde e eu explodo, partindo
para cima dele, o atacando com tapas e socos que ele tenta conter. Quando ele,
finalmente, consegue me conter, segurando-me pelos pulsos, me puxa para perto
do seu corpo. — Não dificulte as coisas, estou fazendo isso pela sua segurança e
porque precisamos ficar longe de Nova York, por mais alguns dias.
— Ok — respondo, bufando irritada, e me afasto, rapidamente, quando
ele me solta. — Vou ficar aqui, mas se mantenha longe de mim — digo e me
afasto dele o máximo que consigo. De repente, este quarto parece pequeno
demais para ficar presa com o Trevor.
— Tudo bem, vou me manter afastado de você, até isso acabar — ele
responde e eu o encaro.
— Como assim? — questiono.
— Eu entendo que está irritada e entendo o motivo, eu fui um completo
babaca, mas, em minha defesa, dar de cara com alguém que você achou que
tivesse morrido por sua culpa não é fácil de encarar — ele diz. — Mas depois de
tudo o que você contou, juntando com o que o meu irmão contou, eu não tenho
como duvidar de que a Lana esconde alguma coisa e que não é inocente como
diz.
— Puxa, finalmente você percebeu — digo. — Te entendo, mas não
muda o fato que não quero mais nada com você, não tínhamos nada além de
sexo e agora nem isso teremos, seremos apenas colegas de quarto e nada mais.
— Vou te mostrar que não temos só sexo, mas vou respeitar a sua
vontade e não vou encostar em você, a não ser que me peça — ele diz e eu, não
sei o motivo, sinto que está planejando alguma coisa.
— Como não quero encontrar com a defunta, vou aproveitar e dormir
mais um pouco — digo e me deito na cama, fechando os olhos e dando a
conversa por encerrada.

* Lana *

— Eu encontrei os dois, no meu retiro de férias — conto ao Liam.


— Não os perca de vista, chegarei aí, assim que resolver alguns
problemas por aqui — ele responde.
— O que está acontecendo? — pergunto, irritada.
— Nada que seja da sua conta, maninha — ele responde, me deixando
ainda mais irritada.
— Será da minha conta, se eu tiver que perguntar diretamente ao Capo [3]

— digo e ele bufa.


— Deixe o Capo fora disso — ele responde.
— O seu problema é com ele, não é? — pergunto, agora preocupada com
os nossos negócios.
— Não é nada importante, ele nem vai saber se eu conseguir resolver a
tempo — ele diz.
— Você é um incompetente, Liam — rosno. — Será possível que eu não
posso me afastar nenhum segundo, sem que você faça alguma merda?
— Quem você pensa que é, falsa defunta? — ele responde, irritado. —
Você nem viva está para mandar em alguma coisa, deixa que dos meus negócios
eu sei cuidar — ele diz e encerra a chamada, me deixando profundamente
irritada.
Desde quando a vadia da Amanda fugiu do galpão, ele ficou
descontrolado, claro que eu a queria fora dali e bem longe dos negócios, mas não
imaginei que o meu irmão fosse ficar desse jeito. Cada vez mais o cerco se fecha
e eu não vejo muitas saídas, apenas uma, eliminar o problema raiz, ou seja, a
Amanda. Vou aproveitar que ela está perto e terminar o que eu deveria ter feito
no dia que mandei o meu irmão castigá-la por dar em cima de todos os caras da
gangue, infelizmente quando eu voltei para o quarto para terminar o serviço, ela
já tinha fugido.
Talvez eu consiga a ajuda do Trevor, se convencê-lo de que ela está
vigiando-o a mando do Liam, se bem que o Liam nunca mandaria a própria
namorada passar tanto tempo perto de um cara. Ele é burro, mas acho que nem
tanto. Bom, por enquanto, não vou interferir nos nossos negócios, mas preciso
de um plano para matar a mosca morta, logo.

* Amanda *

Nós não saímos do quarto o dia inteiro, a comida nós pedimos aqui, não
aguento mais ficar neste quarto, mas o Trevor parece uma criança que não quer
sair. O meu corpo está doendo de tanto ficar deitada, mas só de pensar no espaço
minúsculo que eu tenho para andar, já desanimo em levantar.
Na tv não tem nada para ajudar a passar o tédio e eu não tenho vontade
nem de contar carneirinhos, quando o Trevor levanta, eu o olho, esperançosa.
— Nem me olha com essa cara, eu só vou tomar um banho — ele diz,
quando me vê o olhando e segue para o banheiro.
Estou na milésima tentativa de matar o tédio, quando ele sai do banheiro
só com uma toalha enrolada na cintura, ele nem se deu ao trabalho de se enxugar
direito, porque vejo algumas gotas escorrendo pelo pescoço e percorrendo
aquele peitoral sarado e gostoso dele, descendo pela barriga tanquinho até sumir
na toalha. Acho que estou babando. Acha, colega?! Desse jeito vai alagar o
quarto com tanta baba! Pega um balde, porque está escorrendo muitoooooooo!
Eu não vou dar o braço a torcer, estou molhada só de olhar para ele, mas
não vou cair em tentação. Fecho os olhos.
— Desistiu de olhar — o ouço falando, debochado.
— Não sei do que está falando — digo, fingindo inocência.
— O meu pau ficou duro só de ver o seu olhar me secando e você me diz
que não sabe de nada?! — ele diz, rindo.
— Eu não estava te secando — me defendo.
— Claro, eu também não fico quando te vejo só de lingerie — ele
responde e eu abro os olhos, me arrependendo ao vê-lo nu.
— Cadê a toalha? — consigo perguntar, mas não consigo fechar os olhos,
vendo-o como veio ao mundo e, para piorar o meu estado, excitado.
— Eu tirei para dormir, não vou dormir de toalha molhada, porque posso
pegar um resfriado — ele responde, chegando perto da cama.
— Sai daqui! — eu exclamo e ele ri.
— Princesa, só tem uma cama no quarto e é nela que eu vou dormir —
ele diz e se deita embaixo das cobertas.
Mesmo a cama sendo grande, eu consigo sentir o calor do corpo dele
perto do meu, a minha imaginação está a mil por hora com várias formas que ele
poderia me pegar nesta cama, no chão, no banheiro, até na mesa onde acabamos
de comer. A porcaria do meu corpo está todo quente e eu gemo de frustração,
porque é muita tentação e muito perto. O Trevor é um pateta, mas é gostoso
demais. O meu corpo estremece de desejo por ele, que percebe as minhas
reações à sua proximidade.
— Está com frio? — ele pergunta.
— Não — respondo, irritada, porque não quero olhá-lo para não cair em
tentação, mas se eu fechar os olhos, com certeza, verei o seu corpo nu e excitado
na minha frente. Merda!
— Se quiser, eu te esquento — ele fala e eu o encaro, irritada.
— Não, obrigada — respondo e me viro de costas para ele, fecho os
olhos para tentar dormir e me amaldiçoo mentalmente, porque imagino
exatamente o corpo dele nu atrás de mim.
Eu aguardo um tempo esperando algum movimento, mas quando ouço a
sua respiração ritmada, sei que ele caiu no sono e não vai fazer nada. O que você
esperava?! Você disse para ele não te tocar e ele não tocou! Burra! Eu
realmente ainda estou com raiva dele, mas foi golpe baixo ter dormido nu,
prevejo que essa será uma longa noite.
* Amanda *

Sinto-me incomodada durante o sono, com muito calor e o meu


travesseiro parece diferente, tem um cheiro bom demais, esfrego o nariz nele e
me aconchego, passando braço e perna por cima dele durante o sono. No meu
sonho, o travesseiro tem braços e mãos que me apertam deliciosamente, cara
que sonho bom. Eu estranho quando o travesseiro aperta a minha bunda e
quando sinto com a minha coxa o que parece um pênis, o travesseiro geme.
— Isso é maldade, princesa. Eu não posso te tocar, mas você pode me
provocar? — diz ele.
Espera aí, travesseiro não fala, não tem mãos e, muito menos, pênis, sua
tonta! Eu abro os olhos, assustada, e pulo para longe do Trevor na cama.
— Eu disse para você não me tocar! — reclamo.
— Claro, mas você pode me usar de travesseiro, se esfregar em mim e eu
não posso nem tirar uma casquinha? — ele pergunta, rindo abertamente.
— Eu estava dormindo — me defendo.
— E parecia estar gostando do sonho — ele comenta e eu bufo, me
levantando.
— Eu não vou aguentar outro dia trancada aqui com você! — reclamo e
vou para o banheiro tomar um banho.
Só depois que eu estou embaixo do chuveiro, é que me lembro de não ter
pegado nenhuma roupa antes de entrar aqui. Burra! Depois de sair do chuveiro e
me enxugar, respiro fundo várias vezes, antes de me enrolar na toalha e sair do
banheiro.
— Está se vingando? — ouço o Trevor perguntar.
— Eu não sei do que está falando — respondo e sigo para a minha mala,
pego uma muda de roupa e volto para o banheiro.
Finalmente vestida, eu saio para dar de cara com o Trevor na porta do
banheiro.
— Eu disse para ficar longe — reclamo.
— Não, você disse para não te tocar e eu não estou te tocando, foi você
que trombou em mim — ele diz, divertido.
— Você estava na porta do banheiro — rosno, o empurrando para poder
sair, mas ele segura o meu braço.
— Vamos fazer o seguinte, você fica ao meu lado o tempo todo, não
importa o que aconteça, você não vai sair do meu campo de visão — ele diz e eu
me irrito.
— Quem você pensa que é? — pergunto, nervosa.
— Não dificulte as coisas, assim fica mais fácil te proteger — ele
responde e me solta.
— Acho que eu gostava mais de você quando estávamos em Nova York
— comento.
— Sim e eu ficava correndo atrás de você igual um idiota — ele retruca.
— Não foi isso que eu quis dizer — digo, abaixando o tom de voz. — É
só que você não era mandão assim.
— Só estou sendo assim, porque você está dificultando. Amanda, você
precisa me ajudar a te proteger — ele diz e se aproxima, mas para quando eu me
afasto. — Olha só, quando tudo isso acabar, se você não quiser nunca mais olhar
na minha cara, eu vou entender e me afastar de você o máximo que eu puder, ok?
— ele diz e eu sinto um incômodo no peito, porque sei que é sério.
— Tudo bem, agora vamos descer, porque não aguento mais ficar neste
quarto — respondo.
Acho que ele já entendeu o meu ponto, mas simplesmente não sei como
dar o primeiro passo e nem sei se eu realmente quero. Eu admito que gosto dele,
também, o cara é lindo, gostoso, fofo e tem uma pegada que é uma delícia, me
dá calor só de pensar. E tem também o meu coração que acelera sempre que ele
se aproxima, as borboletas que parecem fazer uma revolução no meu estômago
quando ele me toca. Dedinho podre esse seu para escolher homem, hein,
querida?!?! Podia escolher um que não tivesse uma ex-namorada defunta e
venenosa e um ex-cunhado malvado. Tudo bem que o ex-cunhado dele é seu ex-
namorado, né, sua tonta!
Decidida a fazê-lo sofrer mais um pouco, desço com ele até o térreo e
vamos para as piscinas, o mesmo lugar onde encontramos a defunta ontem, mas,
desta vez, eu o puxo para o outro lado, para sairmos do hotel e ficarmos na praia,
porque quero evitar de encontrar com ela, ao máximo. Estendo na areia uma
toalha que trouxe e me deito, não falo nenhuma palavra com o Trevor e nem
peço para passar protetor nas minhas costas, aproveitando que passei protetor no
banheiro, quando me troquei. Ele apenas me olha um segundo antes de sentar ao
meu lado, logo um funcionário do hotel aparece carregando um guarda-sol e
pergunta se queremos que ele coloque na areia, o que eu aceito.
Estou deitada embaixo do guarda-sol, quando sinto alguém me pegar no
colo, abro os olhos, gritando, e vejo o Trevor.
— O que está fazendo? — pergunto, irritada.
— Você vai ver — ele diz, sorridente, e a minha vontade é socá-lo,
porque antes disse que iria se manter afastado e, agora, está me carregando.
— Me solta agora, Trevor! — digo, baixo.
— Não solto — ele diz e me segura mais forte, então eu começo a me
debater e ele para de andar, me colocando no chão.
— Obrigada por me soltar — digo e tento voltar para o guarda-sol, mas
sou impedida quando ele me coloca debruçada sobre o seu ombro, voltando a me
tirar do chão. — Seu babaca, idiota!
— Já me chamaram de coisas piores, agora só aproveita o passeio,
princesa — ele responde e eu fico ainda mais irritada. Começo a socar suas
costas, dar tapas na sua bunda e, o problema, é que cada tapa meu, ele devolve
com um tapa na minha bunda. — Chegamos — ele diz e, antes que eu pergunte
onde, me solta dentro da água. Eu caio, me molhando toda e quando retorno,
tossindo um pouco, o olho, com ódio.
— Eu te mato! — digo, antes de pular em cima dele, que me pega com
irritante facilidade e rindo. Ele me segura, me prendendo junto ao seu corpo e eu
sinto o choque da água gelada com o seu corpo quente, o meu corpo idiota reage
sem que eu possa impedir.
— Agora, sim, você está onde eu quero — ele diz e eu o olho, confusa, o
idiota está sorrindo e eu não entendo, porque estamos brigando. Quer dizer, você
está brigando com ele, certo?! Bem, eu estou mesmo brigando com ele para não
cair em tentação, porque ele merece sofrer um pouco por ter acreditado na
defunta.
— Eu não te entendo — digo, baixo, enquanto sinto as ondas passando
por nós, parece que não estamos na arrebentação, porque só sinto o movimento
do mar em nós e o Trevor nos puxando sempre para mais perto da praia.
— Não precisa entender, eu entendo que tenha ficado brava, porque eu
fui um idiota contigo, mas estamos juntos aqui e eu estou tentando te proteger do
Liam e da Lana, não só porque eles querem te machucar, mas também porque eu
gosto de você — ele diz e eu vejo sinceridade em seus olhos.
Suspiro baixo, antes de responder:
— Você me magoou por acreditar na história daquela bandida.
— Eu sei — ele diz, baixo, e se aproxima mais. — Eu não posso
prometer não te magoar mais, mas prometo sempre confiar na sua palavra e
acreditar em você.
— O que você quer dizer com isso? — pergunto.
— Que eu te quero, princesa — ele diz e o meu coração dá um salto. —
E eu te quero comigo, junto comigo.
— Hum, não sei se você merece outra chance — digo já com os muros
em pedaços.
— Vamos ver se consigo te convencer — ele responde e cola os seus
lábios nos meus, em um beijo faminto.
Eu passo as minhas pernas pela sua cintura e ele me segura com uma
mão na minha bunda e a outra na minha nuca, enquanto eu coloco as minhas
mãos na sua nuca e me aperto mais contra o seu corpo. As nossas línguas
brincam em nossas bocas e eu sinto o calor aumentar, me esfrego contra a sua
ereção, enquanto ele aprofunda ainda mais o beijo, devorando a minha boca.
Rápido demais, ele diminui a intensidade e o aperto em meu corpo.
— Calma, princesa, estamos dando um show agora — ele diz e eu
percebo que estamos em uma praia lotada de pessoas, que podem estar nos
vendo nos agarrando agora mesmo. Sinto o meu rosto esquentar de vergonha,
enquanto o Trevor me coloca de pé.
— Melhor voltarmos para a areia — digo, sem graça, tentando voltar,
mas ele me impede.
— Acho que seria melhor voltarmos para o quarto — ele responde,
levantando uma sobrancelha sugestivamente.
— Eu ainda quero aproveitar a praia, então, você vai ter que esperar mais
algumas horas — respondo, sorrindo, para provocá-lo.
— Mulher má — ele reclama, mas volta comigo.
Por sorte, ele está de bermuda, o que disfarça um pouco a sua ereção e eu
sei que ele só não ficou no mar para acalmar esse pequeno problema, porque não
quer me deixar sozinha.
* Trevor *

O dia que passamos na praia foi muito calmo e divertido, por sorte, a
Lana não apareceu e eu não sei se fico aliviado ou preocupado. Agora estamos
voltando para o quarto e sinto uma enorme vontade de agarrar a minha princesa,
mas assim que abrimos a porta do quarto, ouço o meu celular tocando e percebo
que o deixei aqui no quarto. Corro para pegá-lo antes que a ligação caia, o
número é desconhecido, mas resolvo atender.
— Alô?! — atendo.
— Por gentileza, o senhor Trevor Clark — a voz feminina do outro lado
diz.
— Quem gostaria? — questiono, pensando que talvez a Lana tenha
descoberto esse número.
— Aqui é do NY Hospital, esse é o número de emergência dado por
Daryl Clark — ela responde e eu sinto como se o chão se abrisse debaixo dos
meus pés. Por sorte, eu estou perto da cama e me sento.
— Sou Trevor, o que aconteceu com o meu irmão? — pergunto.
— Ele sofreu um ferimento e está internado — ela diz e eu nem me dou
ao trabalho de responder, desligo o telefone, decidido a retornar a Nova York
hoje mesmo. Eu sei que o Daryl disse para ficarmos por aqui mais alguns dias,
mas ele está ferido no hospital e eu quero saber o que aconteceu.
— Arrume as malas, estamos voltando para Nova York, assim que eu
localizar o próximo voo com lugares disponíveis — digo, já procurando no meu
celular por passagens.
— Mas você disse que temos que ficar aqui mais uns dias — ela
responde, confusa, e eu respiro fundo para não ser grosseiro, afinal, ela não tem
culpa do que quer que tenha acontecido com o meu irmão.
— Isso foi antes do meu irmão ir parar em um hospital — respondo e
vejo a surpresa em seu rosto.
Por sorte, consigo passagens para daqui a duas horas, então temos tempo
de arrumar as malas e correr para o aeroporto despachar a bagagem. Faço o
check-out no hotel e pegamos um táxi para o aeroporto, com a Amanda sempre
calada ao meu lado.
Chegando lá, pegamos a bagagem e vamos fazer o check-in e despachar a
bagagem, logo corremos para o portão de embarque e aguardamos a chamada
para o nosso voo.
— Calma, Trevor, o seu irmão vai ficar bem — diz Amanda ao meu lado
e eu respiro fundo, tentando me acalmar.
Não faço ideia do que aconteceu para que ele tenha ido parar em um
hospital, mas tenho certeza de que tem relação com o que ia fazer contra o Liam
e que não saiu como ele esperava.
Chamam o nosso voo e levantamos para embarcar, depois que passamos
pela segurança e entramos no avião, nos acomodamos nas poltronas e apertamos
o cinto, conforme pede o piloto e as comissárias de bordo. Olho pela janela e
vejo que já está anoitecendo e devemos chegar de madrugada no aeroporto John
F. Kennedy, por sorte, consegui um voo direto então, pelo menos, não teremos
que fazer escalas.
Logo o piloto anuncia o início do procedimento de decolagem e eu tento
pensar positivo e espero que essas sete horas de voo passem rápido, não tento
puxar assunto com a Amanda, com medo de ser grosseiro.
— Quer tomar alguma coisa? — ela pergunta.
— Não, obrigado, eu estou muito preocupado e não quero ser grosseiro
contigo nem te magoar. — Sou sincero com ela.
— Agradeço a consideração, mas estou preocupada com você — ela diz,
virando o rosto em minha direção. — Eu sei que está preocupado com o seu
irmão, mas ele pode até já estar fora de perigo e apenas em observação, você não
esperou a moça do hospital terminar de falar.
— Eu sei que não a deixei falar, sei que desliguei na cara dela e que estou
me remoendo sem saber de nada por minha culpa, mas você faria o que, na
minha situação? — pergunto.
— Provavelmente, a mesma coisa que você — ela responde e sorri em
seguida, não tenho como evitar sorrir para ela também e nem do meu coração
dar um salto perto dessa loira.
— Obrigado por me entender — digo, um pouco mais calmo.
— Não tem de quê, mas quero que me faça um favor — ela diz.
— Pode falar, qualquer coisa — respondo.
— Cuidado com o que me oferece, eu posso pedir qualquer coisa e você
terá que fazer — ela diz e eu levanto uma sobrancelha, curioso. — Mas agora eu
só quero que você segure a minha mão, enquanto o avião decola — ela pede e eu
sorrio novamente, segurando a sua mão em seguida.
Assim que pego a mão dela, o avião entra na pista de decolagem e o sinto
acelerar até decolar. Bem, Nova York, aqui vamos nós novamente. Apoio a
cabeça no encosto da poltrona e fecho os olhos para tentar dormir, depois que o
piloto avisa que estamos em altitude de cruzeiro, eu pego no sono.
— Trevor — ouço Amanda me chamando. — Trevor, acorda!
— Humm — eu respondo, sonolento, e ainda de olhos fechados.
— Acorda, que já vamos pousar — ela diz e isso me faz abrir os olhos.
— Mas já? — pergunto.
— Já é madrugada — ela responde e eu olho pela janela, conferindo que
o céu está escuro.
Levamos mais algum tempo para pousar e, logo que o avião está no local
correto, somos autorizados a desembarcar. Todo o processo de sair do avião e
pegar a bagagem na esteira, depois passar pela segurança do aeroporto levou
mais uns 40 minutos e, como ainda é de madrugada, resolvemos ir para o meu
apartamento. Pegamos um táxi e chegando lá, fazemos todo o processo de tirar a
bagagem do carro e entrar no prédio, percebo que a Amanda parece exausta ao
meu lado.
— Cansada? — pergunto, enquanto abro a porta do prédio, dando
passagem para ela entrar primeiro.
— Você não tem ideia do quanto — ela responde, logo estamos subindo
as escadas e, chegando à porta do meu apartamento, eu paro um momento,
olhando para ela.
— Obrigado por ter vindo comigo — digo.
— Não me agradeça, eu preciso de um banho quente, uma cama e o meu
apartamento deve estar com cheiro de mofo — ela responde e eu sorrio.
— Posso te oferecer banho, cama e uma massagem relaxante — ofereço.
— Serei eternamente grata — ela diz e eu abro a porta do apartamento.
Nós entramos e eu indico a ela o caminho para o banheiro, logo ela entra
para tomar banho e eu vou para a cozinha beber um pouco de água.
* Amanda *

Estou aproveitando o banho quente, não ligo de não ter pegado sequer
uma calcinha para vestir antes de sair do banheiro, porque o ato de tomar banho
era mais importante do que qualquer coisa no momento. Nunca um chuveiro
pareceu tão atraente ou um banho pareceu tão prazeroso, se considerar o fato de
que não consegui sequer tomar um banho antes de começar a arrumar as malas
correndo para voltar a Nova York, eu acho que é compreensível o meu desespero
por um banho quente e relaxante.
Distraída, começo a cantarolar uma música romântica da Karol Sevilla
chamada Vuelveme a mirar así:
“Por que você está me olhando?
Se eu não tenho nada para lhe oferecer agora
Se a distância
Entre você e eu, ele se virou daqui para Roma
Não não

Se eu nunca fui alguém interessante, o que você me vê?


E o que você está fazendo comigo?
Mmm, mm
Se nunca houve alguém aqui tão perto da minha pele
Por que você não foi embora?
Uh uh

Você acabou de me dizer que se apaixonou por mim


Que há um mistério em meus olhos que você quer descobrir
E estou feliz que você me veja assim

Você acabou de me dizer que se apaixonou por mim


Porque há um sentimento sincero no meu coração
E estou feliz que você me veja assim

Olhe para mim assim novamente(4x)”

Sinto braços envolvendo o meu corpo e mãos me tocando


carinhosamente, não contenho um gemido.
— Você podia continuar cantando, estava linda, nua e cantando uma
música romântica — diz o Trevor no meu ouvido e, em seguida, morde o lóbulo
da minha orelha.
— Pensei que você não fosse me fazer companhia — respondo.
— Eu ia te deixar ter um pouco de privacidade, mas a cada gemido seu
durante o banho, a minha resistência enfraquecia um pouco mais e, quando você
começou a cantar, eu desisti de tentar resistir — ele diz, passando as mãos pelos
meus seios e apertando os meus mamilos, me causando outro gemido.
— E o que você pretende fazer? — pergunto, sentindo o meu corpo
queimar de tesão.
— O que você me pedir — ele responde ao meu ouvido e distribui beijos
e mordidas pelo meu pescoço, enquanto as suas mãos continuam brincando com
o meu corpo.
Uma mão massageia o meu seio e, algumas vezes, belisca o mamilo,
enquanto a outra desce pela minha barriga, alcançando a minha intimidade
molhada e desejosa.
— Eu quero você dentro de mim — peço, em um gemido. — Agora! —
exijo e ele para os movimentos que estava fazendo no meu clitóris.
— Seu desejo é uma ordem — ele responde e me vira para ficarmos
frente a frente.
A sua boca devora a minha em um beijo apaixonado, sinto as suas mãos
descendo pelo meu corpo e encontrando a minha bunda, me levantando do chão
e encostando as minhas costas na parede. Em seguida, o sinto me penetrar forte e
profundamente, me causando um gemido alto, os movimentos que ele faz são
brutos e intensos. Eu sinto o meu interior se contraindo em volta dele, mas, em
vez de sentir aquele orgasmo intenso me alcançar, me fazendo desfalecer no colo
dele, ele sai de dentro de mim e me faz soltar um gemido alto, em protesto.
— Está louco? — pergunto, indignada e insatisfeita.
— Calma, você vai gostar — ele diz e desliga o chuveiro, abre o box e
me leva para o quarto, onde me coloca na cama de barriga para baixo. Depois
sinto o seu corpo cobrir o meu, me causando um arrepio. — Está pronta?
— Já estava antes de você interr… AH! — grito, quando ele levanta a
minha bunda e me penetra com força e ainda mais profundamente do que
quando estávamos no banheiro.
— Eu disse que ia gostar — ele grunhe e continua estocando dentro de
mim, cada vez mais rápido e mais profundamente.
Ele se debruça sobre mim e passa a mão direita pelo meu corpo, parando
nos seios e apertando os meus mamilos, me fazendo revirar os olhos e gemer
alto, enquanto segura o meu quadril com força com a outra mão e eu tenho
certeza de que vou ficar marcada, mas neste momento eu só ligo para o prazer
que ele está me proporcionando.
A mão direita deixa os meus seios e desce pelo meu corpo, eu seguro
com força o colchão sem controlar os meu gritos de prazer, sinto quando a mão
chega ao meu clitóris e começa a estimulá-lo com movimentos circulares,
enquanto continua me penetrando com força. Ele rebola e volta a me penetrar,
alcançando o ponto G e é aí que eu começo a me perder.
— Goza pra mim, princesa! — ele ordena, beliscando o meu clitóris com
força e me penetra, atingindo o meu ponto G novamente. O meu corpo obedece
ao seu comando e eu gozo violentamente, gritando o seu nome, em seguida o
sinto se retirar e os jatos quentes do seu gozo nas minhas costas, enquanto urra
de prazer chamando o meu nome.
O meu corpo está tão mole que não tenho coragem de levantar para
tomar outro banho ou ajudar a trocar o lençol da cama, que está todo molhado,
sinto Trevor jogar o corpo ao meu lado, mas não tenho forças para sequer
levantar um dedo quanto mais a cabeça.
— Você me fez passar vontade na praia — ele comenta e eu bufo. —
Sério.
— Trevor, nós voltamos para o quarto para fazer exatamente o que
fizemos agora — respondo, depois de virar a cabeça para encará-lo, bateu a
coragem depois desse comentário irritante.
— Mas não seria bem assim — ele diz e eu bufo de novo, resolvendo me
levantar para não bater nele.
— Do jeito que você estava animado quando estávamos na água, eu não
duvido que fosse parecido com o que aconteceu agora — debocho, seguindo
para o banheiro tropeçando um pouco, porque não me recuperei ainda do
orgasmo.
Ouço a sua risada até entrar no banheiro, volto para o box e ligo o
chuveiro novamente para tirar o suor e o gozo dele do meu corpo. Depois de
tomar outro banho, eu me enxugo e volto para o quarto, enrolada em uma toalha.
Noto que enquanto eu tomava banho, ele trocou a roupa de cama molhada por
uma seca. Vou até a minha mala e pego uma lingerie e um pijama de shortinho
para usar, vejo quando ele entra no banheiro e ouço o chuveiro ligado.
Já estou deitada quando ele sai do banheiro, vestido com uma cueca
boxer e se deita na cama ao meu lado, me puxando para deitar a cabeça no seu
peito.
— Era pra ter sido assim, desde o primeiro dia — ele diz e eu levanto a
cabeça para olhá-lo nos olhos.
— Você me chamou de princesa, então a culpa é sua — respondo.
— Não sei se percebeu, mas eu te chamei de princesa quando você gozou
e não ficou brava daquele jeito — ele diz e concordo com ele, mas não vou
admitir.
— Eu estava confusa e não me lembrava da noite anterior — me
defendo.
— Já se lembrou? — ele questiona.
— Não, aquela noite ainda é um grande ponto de interrogação na minha
cabeça — sou sincera e volto a deitar a cabeça no seu peito.
* Trevor *

Depois das notícias que eu tive do meu irmão e o nosso retorno


relâmpago a Nova York, não esperava ter a noite que tive com a Amanda. Sei
que ela ficou brava comigo por causa da Lana, mas também sei que me perdoou,
porque não teria transado comigo ontem, se ainda estivesse brava, na verdade,
ela nem teria me deixado beijá-la na praia, se ainda estivesse com raiva. O meu
coração se aperta cada vez que olho para ela e sinto coisas estranhas no meu
estômago, e, com toda certeza, esse é o pior momento possível para descobrir
que estou apaixonado pela loira gostosa que está com o corpo deliciosamente
enroscado ao meu.
O pior em assumir o que eu sinto por ela, é que tudo parece ficar ainda
mais intenso, não inesperado, mas muito mais intenso. A sinto se mexer ao meu
lado e aperto o meu abraço ao redor dela que geme de satisfação como uma
gatinha manhosa, cheiro os seus cabelos e vem o seu delicioso aroma do seu
shampoo de rosas.
— Hum, você não pretende comer o meu cabelo, certo? — a ouço dizer
com a voz sonolenta e começo a rir.
— Por que eu comeria o seu cabelo? — pergunto, ainda rindo e
continuando a cheirar o cabelo dela, porque tem um cheiro muito bom.
— Eu não sei, mas você começou a cheirar muito o meu cabelo, então eu
achei melhor confirmar se precisaria protegê-lo — ela responde e ri um pouco.
— Não se preocupe com isso, não curto comer cabelo — respondo, não
querendo me levantar.
— Preparado para o dia? — ela pergunta e eu suspiro, desanimado.
— Não, mas precisamos enfrentá-lo da mesma forma — respondo e
relaxo o aperto nela, que levanta a cabeça e me olha nos olhos, com carinho.
— Eu vou com você, se quiser — ela diz. — Conheço todo mundo lá,
então consigo informações com mais facilidade.
— Obrigado por ficar ao meu lado — agradeço e a beijo nos lábios
delicadamente.
Levantamo-nos calmamente e, depois de tomarmos banho juntos com
direito a muito carinho e beijos, nos trocamos e descemos para a garagem do
prédio.
— Hum, finalmente vou andar na sua moto? — Amanda pergunta,
enquanto descemos.
— Sim, você vai andar na minha moto — respondo e a olho, sorrindo,
ela sorri para mim também.
Chegamos à garagem e eu olho para a minha belezura abandonada.
— Me desculpa, princesa, não queria te abandonar, mas precisei ficar uns
dias fora e nem foram tantos assim — eu falo com a minha moto para provocar a
Amanda.
— Você chama a sua moto de princesa também? — Amanda pergunta.
— Só quando a deixo muito tempo sem ligar, ela é sentimental e não
gosta de ser abandonada — respondo, segurando o riso.
— Inacreditável! — ela exclama.
— Você também quer ser chamada de princesa, minha gostosa? —
pergunto e ela me olha, confusa.
— É sério, não dá para te entender — ela reclama, de braços cruzados, e
eu explodo em uma gargalhada.
— Não acredito que você ficou com ciúme de uma moto — digo, entre
risadas.
— Você é tão babaca! — ela reclama, mas começa a rir também.
— Vamos, princesa — eu digo para a Amanda.
— Droga! Agora vou ficar na dúvida se você está falando comigo ou
com a moto — ela reclama, rindo.
— Desta vez, foi com você — digo e pego um capacete extra, colocando
com delicadeza na cabeça dela e prendendo para que não saia. — Agora você
está pronta para andar comigo — afirmo e coloco o meu capacete, subindo na
moto em seguida e dando a partida. Dou a mão para ajudar a Amanda a subir
também, ela se acomoda na garupa e me abraça por trás, segurando em mim. —
Está firme? — pergunto, olhando para trás e ela acena positivamente.
Manobro a moto, devagar, saindo da vaga, aumentando um pouco a
velocidade para poder sair da garagem. Logo saímos e andamos pelas ruas de
Nova York de moto, eu senti falta da sensação de liberdade que é montar em
uma moto e sentir o vento batendo no corpo, então aumento um pouco mais a
velocidade e ouço um gritinho atrás de mim, abafado pelo capacete. Quando
paramos em um sinal vermelho, eu falo com ela:
— Estou indo muito rápido? — pergunto, preocupado.
— Não, é que é uma delícia andar de moto — ela diz e ri. — Eu nunca
tinha andado antes.
— Então aproveita o passeio — digo e continuamos o caminho até o
hospital quando o sinal abre.
Chegando lá, encontro uma vaga para motos e estaciono a minha, desligo
e desço da moto para ajudar a Amanda, que, por sorte, está de calça jeans, a
descer e ela me abraça.
— Obrigada pelo passeio — ela diz no meu ouvido, me causando um
arrepio.
Eu aceno com a cabeça e sorrio para ela também e, depois de travar a
moto, entramos no hospital de mãos dadas. Eu percebo alguns funcionários nos
olhando de forma estranha, mas ignoro, chegando à recepção eu peço
informações do meu irmão:
— Bom dia, eu gostaria de informações sobre Daryl Clark — peço.
— Qual o parentesco? — a recepcionista pergunta, sem me olhar.
— Sou irmão dele, vocês me ligaram ontem — respondo.
— Só um momento — ela diz, concentrada na tela do computador, assim
que localiza alguma informação, ela me olha. — Ele está no terceiro andar,
quarto 358.
— Ele está acordado? — pergunto.
— Eu não sei dizer, senhor, somente no posto de enfermagem do andar
poderão te informar — ela responde e eu agradeço.
Seguimos para os elevadores depois que eu pego um crachá de
identificação, entramos no elevador e eu olho para a Amanda, que esfrega uma
das mãos na calça, como se estivesse suando.
— Você está bem? — pergunto.
— Estou sim, só não esperava voltar aqui, porque eu realmente esperava
não voltar mais para Nova York — ela responde.
— Você pretendia sumir para sempre?
— Essa era a ideia para fugir do Liam — ela responde, mas antes que eu
possa dizer mais alguma coisa, as portas do elevador se abrem e nós saímos para
o corredor.
Procuro o posto de enfermagem e, quando encontro, sigo até lá, ainda de
mãos dadas com a Amanda.
— Bom dia, eu gostaria de informações sobre o meu irmão, Daryl Clark
— peço, mas antes que a enfermeira possa me responder, ouço alguém chamar a
Amanda.
— Meu Deus, Amanda? — chama a pessoa e eu me viro para ver,
enquanto a Amanda se encolhe ao meu lado. — Pensei que estivesse de licença
ainda.
— Estou de licença, Dr. Jenkins — ela responde, tensa, e eu fico confuso.
— Amanda, querida, pode me chamar de Richard, nós trabalhamos
juntos, então não precisa dessa formalidade — diz o cara e eu me lembro desse
nome de algum lugar, mas fico olhando para a cara dele tentando me lembrar, aí
eu me recordo de um comentário do James.
— Você é o Dr. Richard Jenkins? — pergunto.
— Sim, por quê? — ele questiona, intrigado.
— Então era você o médico que o meu amigo James comentou — digo, o
olhando nos olhos e ele fica confuso. — O meu amigo, James, esteve no seu
consultório com a esposa dele, Kate, por causa da gravidez.
— Sim? — ele diz, ainda confuso.
— Sim, ele comentou sobre o médico que ficou comendo a mulher dele
com os olhos, mesmo ele estando ao lado dela — digo e seguro a mão da
Amanda na minha quando ela tenta se soltar, vejo também o rosto dele ficar
vermelho.
— Mas que absurdo! — ele responde.
— Foi o que ele me disse, também disse que se você não fosse um
médico tão bom, ele teria socado a sua cara — digo, o desafiando.
— Senhor? — chama a enfermeira atrás de mim.
— Sim?
— O seu irmão está no quarto 358, mas ainda não acordou — ela diz.
— Faz quantas horas que ele está assim? — pergunto.
— Pela ficha dele, parece que ele chegou aqui inconsciente, e, depois, de
passar pela emergência, está em observação e estão diminuindo a sedação para
ele acordar, mas faz 24 horas que está desacordado.
— Obrigado pelas informações — agradeço.
— Amanda, você volta a trabalhar na próxima semana, certo? —
pergunta o idiota, digo, o médico.
— Provavelmente — ela responde e, dessa vez, eu a olho, confuso, mas
não digo nada, depois eu pergunto sobre isso.
— Então podemos marcar de sair quando você voltar — ele diz, se
aproximando dela e eu percebo por que o James queria bater nele.
— Amigo, eu estou com ela, então teria como não dar em cima da
mulher alheia? — eu pergunto e ele me olha como se tivesse nascido um terceiro
olho na minha testa.
— Como? — ele pergunta e eu reviro os olhos, irritado, então levanto as
nossas mãos unidas.
— Estamos juntos, cara, então ela não vai sair com você — respondo por
ela, sei que isso pode me trazer problemas, mas que se foda! Nem fodendo que
eu vou deixar esse cara chamar a minha mulher para sair e na minha frente.
Ele fica sem reação, se despede e sai quase correndo, com a desculpa de
ter pacientes esperando, e eu dou graças a Deus que esse mala saiu de perto. Me
viro para a enfermeira que me permite entrar no quarto do meu irmão para vê-lo.
* Amanda *

O que raios aconteceu aqui?! Eu acho que acabei de presenciar um


campeonato de mijo, onde dois machões estavam disputando para ver quem mija
mais longe e, seria hilário, se eu não estivesse para voltar a trabalhar com um
dos machões em questão. E vamos falar sobre a possessividade do Trevor por
um minuto, porque aquilo foi sexy pra caralho e eu quis pular no colo dele,
assim que ele falou que estava comigo, que estamos juntos. Acho que o meu
coração pulou, meu corpo derreteu e as borboletas no meu estômago fizeram
uma baita revolução.
— Entra você, eu fico esperando aqui fora — digo para ele, assim que
chegamos à porta do quarto do seu irmão.
— Se quiser, pode entrar, ele está dormindo, então não vai estranhar —
ele responde, sem soltar a minha mão.
Percebendo que não me deixa muita escolha, eu entro com ele no quarto
e me assusto ao encontrar um clone do Trevor desacordado, em uma cama de
hospital.
— Cara, vocês são realmente parecidos — digo, impressionada, mas
percebendo algumas diferenças entre eles ao olhar de um para outro. — Ao
mesmo tempo vocês parecem muito diferentes — solto e o Trevor ri.
— Você nem tem ideia, mas gostaria de saber como ele veio parar aqui
— ele me responde, tenso.
— Teremos que esperá-lo acordar para saber — digo e, antes que eu
possa falar mais alguma coisa, ouço uma voz feminina do lado de fora do quarto.
“Eu sou a namorada dele, é claro que posso ver o Daryl!”
Olho para o Trevor, assustada.
— Seu irmão tem namorada? — pergunto.
— Não que eu saiba, mas essa voz não é estranha — ele diz e caminha
novamente para a porta e abre para ver quem está do lado de fora. — Nathy? O
que faz aqui?
— Trevor? Já voltou? — ela pergunta, assim que o vê, ficando corada em
seguida.
— Você e o meu irmão estão namorando? — ele rebate, confuso.
— Bem — ela começa, enrolando uma mecha de cabelo no dedo.
— Entra logo, aí você nos conta — digo e passo na frente dele para puxá-
la para dentro, fechando a porta em seguida. — Bom, agora você pode nos
contar tudo.
— Ok, eu conheci o Daryl quando ele me atropelou, depois saímos para
jantar e eu o vi, anteontem, em um evento beneficente onde eu fui com o Nick
— ela começa a contar, mas o Trevor a interrompe.
— Nick Reed? — ele pergunta.
— Conhece algum outro? — ela rebate.
— Bem, não — ele diz, confuso.
— Respondida a sua pergunta, então eu encontrei o Daryl lá e
aconteceram alguns tiros, o primeiro foi direcionado ao Nick e os outros foram
ouvidos do lado de fora do local do evento e eu já não sabia mais onde estava o
Daryl — ela continua contando. — Ontem, eu fiquei mandando mensagem para
ele, mas ele não respondeu, depois eu liguei para o celular e acho que um
médico atendeu e me disse que ele estava aqui, eu menti dizendo que era
namorada dele para conseguir informações e isso deu certo até a recepção,
porque quando cheguei neste andar, a enfermeira não quis me deixar entrar,
dizendo que eu não era namorada dele, o que é verdade, mas ninguém precisa
saber disso agora e, foi isso — ela diz e respira profundamente.
— Você estava lá quando tudo isso aconteceu? — pergunta o Trevor,
espantado.
— Ela acabou de dizer que estava lá com o Nick Reed, acho que quis
dizer exatamente isso — respondo por ela, revirando os olhos.
— Bem, foi isso mesmo, eu só queria saber como ele estava e, agora que
vi, vou embora — diz a Nathy, parecendo envergonhada.
— Espera um pouco — diz o Trevor rapidamente e eu fico esperando o
que ele pode dizer. — Se quiser, pode ficar com ele, parece que vai demorar para
acordar e nós chegamos ontem de viagem, ainda estou cansado.
— Claro que sim, nós passamos a semana toda andando de um lado para
outro de avião, confesso que também estou bem cansada — digo, passando a
mão na minha nuca.
— Não acho que ele vá querer me ver — responde a Nathy.
— Bem, isso nós saberemos quando ele acordar, se você puder e quiser
ficar com ele, claro — diz o Trevor e eu já sei o que ele está fazendo.
— Tudo bem, eu fico aqui, quando ele acordar, ligo para você para avisar
— responde a Nathy.
Ficamos mais um tempo no quarto do Daryl, antes de a enfermeira entrar
e mandar todos para o corredor.
— O paciente precisa descansar — diz ela.
O Trevor falou com a enfermeira para permitir a visita da Nathy e a
permanência dela no corredor, claro que ela concordou a contragosto, mas o
Trevor como irmão tem autoridade para permitir a visita da Nathy. Depois de
sairmos do hospital, seguimos para o apartamento do Trevor, a viagem é bem
desanimada se comparada com a viagem de ida, mas ainda sinto uma intensa
satisfação com o vento batendo no capacete. Chegamos ao apartamento dele e eu
o sinto tenso.
— O que você tem? — pergunto.
— Só estou preocupado com tudo isso, pelo que eu percebi no hospital, o
Daryl não levou nenhum tiro, mas a Nathy disse que foram dois do lado de fora
— ele diz, trancando a porta depois de entrarmos.
— Ainda não entendi — questiono, confusa.
— Se não foi ele que foi baleado, quem foi? — ele retruca.
— Bem, só tem um jeito de descobrir — respondo, e ele me olha,
confuso. — Temos que aguardar o Daryl acordar para perguntar a ele.
— O pior é que não tenho ideia de quando ele vai acordar — ele diz e
bufa, mal-humorado.
— Você não quis esperar para falar com o médico, então vai ter que
esperar — respondo e sigo para o quarto.
Às vezes cansa ser a mais madura por perto, melhor me afastar um pouco
para não falar nenhuma grosseria. É em momentos como este que queria ter o
meu apartamento de volta, para poder ir à minha casa e não precisar aguentar
algumas coisas, há momentos que o Trevor me irrita profundamente e nós não
estamos preparados para ficarmos juntos 24 horas por dia. É muito cedo, mas eu
não tenho para aonde ir e ele me ofereceu um teto, comida e uma cama
quentinha, com direito a dormir de conchinha, não dá para recusar isso.
* Trevor *

A semana seguinte passou como um borrão, com o Daryl já acordado,


mas ainda internado em observação, a Nathy visitando-o todos os dias e
brigando com ele dia sim e outro também. Esses dois teriam tudo para ficarem
juntos, se o meu irmão não fosse quem ele é.
Também tem o detalhe que, quando descobriram que eu estava
novamente em Nova York, fui avisado que terei que retornar ao trabalho na
próxima semana. Eu não vejo problema nenhum nisso, mas ainda estou receoso
quanto ao Liam e a Lana, já que o Liam foi preso e a Lana sumiu. Esse sumiço
dela não pode ser bom, não mesmo.
A Amanda? Bem, ela não estava muito segura de voltar a trabalhar no
hospital, mas, como não tinha pedido demissão, teve que voltar. Além disso, ela
não consegue ficar parada em casa, todos os dias que ficamos em casa, ela
arrumou alguma coisa para fazer, até as janelas do meu apartamento ela inventou
de limpar. Claro que eu agradeço, mas insisti por mais de uma hora que não
precisava limpar as janelas e fui ignorado com sucesso. Outro dia, ela quis lavar
a cozinha, isso mesmo, do verbo jogar água e sair lavando tudo, do chão ao teto.
Eu quase enlouqueci para tirar toda aquela água da minha cozinha, porque
parecia que tinha passado um tsunami e deixado toda a água concentrada só
naquele cômodo. Depois de horas, conseguimos tirar a água, claro que eu tinha
que tirar vantagem e molhei a Amanda, porque já que era para ter minha casa
molhada, que eu pudesse ter alguma vantagem nisso.
Eu não contava com a blusa branca dela ficar transparente, descobrindo
que ela não usava sutiã e me deixando totalmente duro na hora. Resultado: sexo
molhado na cozinha, claro!
Acho que nunca transei tanto em toda a minha vida e olha que eu nunca
fui nenhum santo, mas transamos quase todos os dias e cada vez é melhor que a
anterior. Só tem um problema, eu não me vejo transando com outra pessoa que
não seja a Amanda e isso é perigoso demais, eu meio que me apaixonei por ela,
mas ela não fala absolutamente nada sobre relacionamento e, muito menos,
sobre amor. Eu nunca pensei que fosse sentir uma coisa dessas, mas ela me deixa
inseguro pra caralho. Isso porque você é o cara mais aberto do mundo e já
declarou todo o seu amor uma dúzia de vezes, certo?! Bem, não me declarei
ainda, mas, em minha defesa, eu estou esperando ela dizer primeiro.
Agora falando do Daryl, depois que ele acordou, consegui descobrir
exatamente o que aconteceu e, bem, ele conseguiu imobilizar o Liam até o
agente Rodrigues chegar e prendê-lo, mas não sem antes tomar uma facada. O
Liam chegou a ir para o hospital, mas ficou todo o tempo com policiais na porta
e não pode receber nenhuma visita. Ele recebeu alta hoje e foi encaminhado para
a prisão, onde irá aguardar o seu julgamento.
E o meu irmão terá alta hoje, eu preciso buscá-lo no hospital e levá-lo
para a casa dele. Pensei em contratar uma enfermeira para cuidar dele, enquanto
está se recuperando, mas quando dei a ideia, só faltou a Nathy pular em cima de
mim e me bater, isso porque aqueles dois insistem que nunca tiveram nada.
Imagina se tivessem?!
A Amanda está comigo, porque teremos que ir até a casa dele buscar um
carro, pois eu só tenho a moto, depois ir de carro para o hospital pegá-lo e levar
para casa, pegar de novo a minha moto e voltar para cá. Já estou cansado só de
pensar.
Os seguranças dele me deixam entrar, pego o carro dele que parece ser
mais confortável e sigo com a Amanda para o hospital. O caminho é feito
silenciosamente, o único som no veículo é o rádio que a Amanda ligou em uma
estação qualquer. Chegamos ao hospital e seguimos para o quarto do Daryl.
— Bom dia, sou irmão de Daryl Clark, quero saber se ele já teve alta? —
pergunto para a enfermeira que está no andar dele.
— Sim, ele está aguardando no quarto com a namorada — ela responde e
eu levanto uma sobrancelha.
— Essa história de namorada ainda vai dar problema — sussurra
Amanda ao meu lado e eu concordo com a cabeça.
Seguimos para o quarto dele e nada poderia me preparar para o que eu
encontro quando abro a porta.
— Porra, isso aqui é um hospital cara! — reclamo, quando vejo a cena
dele com a Nathy.
— Vira de costas, palhaço! — ele responde, irritado, e eu viro para não
ter que ver isso novamente.
— Então, vocês estão mesmo juntos? — pergunto, de costas.
— NÃO! — respondem juntos e eu gargalho.
— Claro, e essa cena que eu vi foi só um lapso temporário — digo,
irônico.
— Cala a boca, Trevor! — diz a Nathy, irritada.
— Está irritada porque eu atrapalhei vocês dois — insisto em provocá-
los.
— Continua assim, que o meu sapato vai parar na sua cabeça! — ela diz
e eu vejo que é a hora de ficar quieto.
— Pode virar, babaca — diz o Daryl e eu me viro, encontrando os dois
me olhando, irritados.
— Era para você estar pronto para ir para casa — digo a ele, levantando
uma sobrancelha ao perceber que ainda está com a camisola do hospital e não
com as roupas que eu trouxe ontem.
— Eu me distraí — ele responde, olhando para a Nathy. — Você poderia
me ajudar a chegar ao banheiro, docinho?
— Docinho? — pergunto, rindo. — Isso é ridículo até para você.
— Vai se ferrar — ele responde e eu deixo quieto, por enquanto. Nunca
que eu perderia uma oportunidade de zoar com a cara do meu querido irmão.
Vejo a Nathy se aproximando dele e, ainda com o batom borrado, o
ajudando a levantar e caminhar até o banheiro.
— Daqui eu consigo me virar, docinho — ele diz para ela, que fica
vermelha.
Em todo esse tempo que trabalhamos na Reed, eu nunca vi a Nathy corar
com quase nada, a não ser quando está com raiva, mas nunca a vi corar por
homem nenhum, mas perto do meu irmão, ela cora como uma adolescente perto
do crush.
* Amanda *

Depois de muitas piadas e gracinhas, conseguimos sair do hospital e


chegamos à casa do Daryl. Eu não faço ideia de como a Nathy está fazendo com
o seu trabalho na Reed, mas ela não sai de perto do Daryl.
— Nathy, você está de folga? — pergunto, curiosa.
— Não — ela responde e eu fico confusa.
— Férias? — insisto.
— Também não — ela responde e eu olho para trás, onde ela está ao lado
do Daryl, a olhando ainda curiosa e confusa.
— Como você está fazendo para ficar tantas horas fora da empresa? —
questiono e ouço o Trevor bufar ao meu lado.
— Conta, Nathy, como você está fazendo? — ele pergunta, divertido, e
eu fico sem entender nada.
— Bem — ela começa e fica cada vez mais vermelha —, eu pedi para o
Nick me deixar ficar um tempo com o Daryl, eu achava que o Trevor ainda não
tinha voltado, contei que o irmão dele estava hospitalizado e não poderia ficar
sozinho.
— Nós voltamos há uma semana — digo.
— Então, eu estava indo trabalhar fora do horário de visitas, saía mais
cedo e depois ia para casa — ela diz e eu a continuo encarando, o que a faz
revirar os olhos. — Eu dramatizei quando soube que ele teria alta e precisaria de
cuidados, disse que o Trevor ia voltar de férias e não teria quem ficasse com o
irmão, o Nick entendeu e me deu uma semana de folga, já que eu ainda não tirei
férias — ela responde.
— Entendi, então você será a enfermeira dele? — pergunto, divertida.
— Sim, vou cuidar desse babaca grosso — ela diz, rindo.
— Mas você nem me viu nu ainda, para saber se sou grosso — diz o
Daryl, fazendo a Nathy ficar totalmente vermelha e o Trevor e eu darmos
gargalhadas.
Eu ri tanto que estava lágrimas nos olhos, enquanto a Nathy cruzou os
braços e fingiu não rir. Depois de tirarmos tudo do carro e acomodarmos o Daryl
no seu quarto — gigante, por sinal — voltamos de moto para o apartamento do
Trevor. Eu juro que a sensação de andar de moto com ele é maravilhosa, meu
corpo grudado ao dele e a vibração da moto embaixo de mim, tudo isso me deixa
muito molhada. Sua tarada!
De volta ao prédio onde o Trevor mora, quando ele desliga a moto, eu
não resisto em perguntar:
— Você já transou em cima da moto? — solto, depois de já ter descido, o
fazendo perder o equilíbrio quando está descendo, deixando-a cair.
— Merda — ele resmunga, enquanto levanta a moto e abaixa o apoio
para mantê-la em pé. — Princesa, você não pode soltar uma coisa dessas quando
eu ainda estou descendo — ele diz, me olhando, e eu não seguro a gargalhada.
— Me desculpa — peço, ainda rindo. — Não queria que você derrubasse
a sua moto, mas responde aí, fez ou não? — insisto e ele passa as mãos no rosto,
respirando fundo, antes de me responder:
— Não, já comecei, mas fui interrompido — ele diz e eu me aproximo.
— Que tal tentar novamente? — pergunto, passando a mão pelo seu
peito, depois de retirar o meu capacete.
— Acho uma ótima ideia — ele responde, retirando o dele e colocando
os dois capacetes no chão, em seguida ele puxa com firmeza o meu corpo em
direção ao seu e me beija com força.
Eu adoro o jeito dele, às vezes ele me pega com delicadeza e às vezes
parece um homem das cavernas com uma pegada mais bruta. Credo, que delícia!
Trevor pega a minha bunda e me levanta, encaixando as nossas
intimidades e me causando um gemido durante o beijo, ele morde o meu lábio
inferior antes de enfiar a língua na minha boca a invadindo, nossas línguas
dançam sensualmente em nossas bocas, causando ainda mais prazer. Ele distribui
beijos pelo meu queixo e pescoço, é nesse momento que eu o sinto me colocar
sentada em cima da moto.
— Vou precisar de toda a minha concentração para manter a moto
equilibrada enquanto te como, preciso que não se mexa, pode fazer isso? — ele
diz e morde o meu pescoço com um pouco de força, lambendo em seguida e me
causando um gemido alto.
— Sim — respondo, em um suspiro.
Se ele te pedisse em casamento neste momento, você responderia sim só
para ele não parar o que está fazendo.
Estou novamente montada na moto, mas estou de costas para o guidão,
Trevor me inclina de forma que eu fique um pouco apoiada nele e eu não tenho
ideia do que vai fazer a seguir. Com a minha ajuda, ele consegue levantar a
minha blusa e o meu sutiã para abocanhar um mamilo, enquanto aperta o outro
com um pouco de força, causando uma picada de dor, que logo se transforma em
prazer e me deixa ainda mais molhada.
Ele troca de mamilo, dá total atenção ao outro seio com a boca, sugando-
o com força, mordendo e dando lambidas. Quando ele chupa com força o meu
seio, eu tenho certeza de que vai deixar uma marca e não me importo. Depois ele
desce beijos e eu fico esperando-o beijar a minha intimidade, mas ele tira a
minha calça seguida da calcinha e vira a chave na ignição da moto, ligando o
motor e causando uma vibração direto no meu clitóris. Eu o olho espantada e ele
tem um sorriso safado no rosto.
— Vire-se — ele ordena e eu levanto a sobrancelha. — Eu preciso que
você fique de frente para o guidão e se incline para ele — ele explica, enquanto
passa a mão de cima a baixo pelo meu corpo, me causando arrepios deliciosos.
Com a sua ajuda, eu mudo de posição, agora estou montada na moto,
como se fosse pilotar e apoiada no guidão. Logo eu o sinto atrás de mim e
alcança o guidão colocando a sua mão por cima da minha, quando ele mexe no
acelerador eu sinto a moto vibrar forte embaixo de mim e diretamente no meu
clitóris, me fazendo revirar os olhos. Sinto o seu pau na minha entrada
encharcada e empino mais a minha bunda para ele.
— Não se mexa — ele diz no meu ouvido, enquanto me penetra, com
força.
Eu grito de surpresa e ele começa a se movimentar rápido e forte, sinto a
sua pélvis batendo na minha bunda e, em alguns momentos, reviro os olhos
quando mexe no acelerador. Mudando um pouco o ângulo, ele alcança o meu
ponto G e eu grito para que ele não pare. Por seguidas vezes, ele me penetra,
acertando o ponto G e fazendo a moto vibrar diretamente no meu clitóris, todos
esses estímulos me fazem vir rápido e forte com um orgasmo que me deixa
mole.
Algumas estocadas depois, Trevor goza dentro de mim e desliga a moto
em seguida. O sinto sair de dentro de mim e se afastar para, logo depois, me
ajudar a descer. Ele me ajuda a vestir novamente a roupa, mas quando olho para
a moto, reparo que ficou um pouco molhado no banco.
— Acho que depois que você gozou, escorreu para o banco — digo, o
olhando, e ele olha para o banco.
— Não, você que estava sentada onde está molhado, acho que você
ejaculou — ele diz e sorri, me dando um selinho em seguida. Eu o olho,
espantada.
— Mulheres não ejaculam! — eu exclamo, ofendida por ele querer
colocar a culpa em mim.
— Princesa, pesquise no Google, se não acredita em mim, mulheres
ejaculam sim e eu estou muito orgulhoso do meu desempenho por ter te feito
ejacular — ele diz, com um enorme sorriso no rosto.
— Impossível, isso foi você — digo, não tão confiante.
— Relaxa, eu não ligo que tenha ejaculado na minha moto, acho,
inclusive, que eu deveria pendurar esse banco na parede como um troféu do meu
incrível feito — ele diz e eu bato no seu braço, depois que termino de ajeitar a
minha roupa.
— Convencido — resmungo.
— Realista — ele responde e, depois de travar a moto, subimos para o
seu apartamento onde, assim que entramos, ele tira a minha roupa, dizendo que
precisa provar que consegue me fazer ejacular novamente. Ele tenta isso
novamente a noite inteira e consegue por, pelo menos, três vezes, me deixando
totalmente esgotada.
* Trevor *

Você já teve aquela sensação de algo estar muito calmo? Pois eu tenho
muito medo de todo esse silêncio, não tivemos notícia nenhuma do Liam nem da
Lana. Parece que o encontro com ela foi fruto da minha imaginação e, se a
Amanda não estivesse comigo naquele momento, eu até poderia acreditar que
fosse um delírio.
Esta semana começamos uma rotina diferente, voltamos aos nossos
respectivos empregos e nos vemos de manhã, antes de sairmos, mas à noite que é
o problema, porque tem alguns dias em que ela precisa ficar até mais tarde e
sempre chega um pouco estranha. Eu sempre pergunto o motivo do
comportamento dela e ora sou ignorado, ora ela me responde que são coisas do
trabalho, mas eu tenho certeza de que tem algo mais acontecendo e vou
descobrir exatamente o motivo disso.
Acabo de chegar à Reed e, para variar, encontro a menina nova na
recepção em vez de encontrar a Nathy, como eu estava acostumado. Aquela ali é
capaz de desmaiar de exaustão qualquer dia desses, parece um furacão correndo
de um lado para o outro, porque quando não está com o meu irmão, ela está aqui,
na Reed, trabalhando como louca, para compensar o serviço que fica acumulado.
Claro que o meu irmão disponibilizou um dos carros dele com direito a um dos
seguranças para trazê-la e buscá-la no trabalho, isso rendeu uma bela discussão
pelo que ele me contou, mas ela foi vencida quando ele disse que, se não
aceitasse, contrataria uma enfermeira gostosa para cuidar dele. Acho que a
Nathy só não bateu nele, porque ainda está se recuperando, mas, pelo que ele me
contou, vontade não faltou.
Chego ao meu andar e olho para a estação de trabalho que divido com a
Bia, desde que ela começou a trabalhar aqui, claro que ela já chegou e está
concentrada no seu trabalho.
— Bom dia, princesa — eu a cumprimento, como sempre fiz, mas
estranho pela forma que ela me encara.
— Bom dia, senhor fugitivo — ela diz, me encarando duramente.
— Ok, o que eu fiz de errado? — pergunto, sentando na minha cadeira e
largando o meu capacete embaixo da mesa.
— Essa história de férias de última hora não me convence,
principalmente porque você sumiu no dia seguinte e ninguém sabe para aonde
você foi, então desembucha logo o que aconteceu — ela diz, parecendo bastante
irritada.
— Bia, com todo respeito, eu tinha alguns problemas pessoais e não dava
para resolver se eu ainda estivesse trabalhando, por isso eu pedi as férias em
cima da hora, eu não esperava que esses problemas aparecessem — respondo,
sem realmente dizer nada comprometedor para ela, não posso arriscar colocá-la
em risco novamente.
— E por que você está morando com a Amanda? — ela pergunta e eu a
olho, confuso.
— Como você sabe que a Amanda está morando no meu apartamento?
— rebato.
— Porque a Nathy me contou que vocês apareceram juntos para buscar o
seu irmão no hospital e pareciam bem íntimos — ela responde.
— Olha, o que a Amanda e eu temos é muito confuso ainda, porque
nenhum de nós nunca se declarou e só deixamos acontecer — eu começo a falar.
— E ela só está no meu apartamento porque, quando ela viajou, o contrato de
aluguel acabou e o dono do apartamento onde ela morava acabou alugando para
outra pessoa — conto e percebo a sobrancelha levantada da Bia.
— E vocês viajaram para onde? — ela pergunta.
— Para Porto Rico e, depois, para Acapulco, mas não ficamos muito
tempo, porque recebi a ligação do hospital para informar o que aconteceu com o
Daryl — respondo, no automático e, quando olho para a Bia, ela está com um
enorme sorriso no rosto.
— Então, o assunto pessoal se chama Amanda? — ela pergunta, irônica.
— Não, nós descobrimos no aeroporto que estávamos no mesmo voo —
eu respondo a verdade, pelo menos, isso eu posso falar para ela.
— Acho que o Gabriel vai gostar de saber que você e a Amanda estão
juntos, pelo menos, vai reduzir o ciúme que ele sente de você — ela diz e eu
sorrio.
— Gata, ele nunca vai deixar de sentir ciúme do galã aqui, sou muito
gostoso e totalmente irresistível — digo, mexendo as sobrancelhas e fazendo a
Bia gargalhar. — E como estão os bebês?
— Aprontando muito, já estão andando apoiados nas paredes e nos sofás,
quando inventam de correr é um terror — ela diz, sorrindo amorosa ao falar dos
filhos. — Eles estão tentando falar algumas coisas, sei que estão um pouco
atrasados e me sinto um pouco culpada por não conseguir estar tão presente por
causa do trabalho, sinto que estou perdendo muitas coisas deles por causa disso.
— Não sinta isso, você tem dois trabalhos, não que precise, mas você
gosta de trabalhar e acho que se sentiria sufocada se precisasse ficar em casa o
tempo todo — digo para animá-la e porque é a minha opinião. — Fora que a
creche onde você os deixa também ajuda no desenvolvimento, eles irão falar no
momento certo e tenho certeza de que a primeira palavra será “mamãe” —
garanto e ela sorri.
— Obrigada por me animar, Trevor, agora vamos trabalhar, porque quase
fiquei louca durante as suas férias — ela diz, já me colocando a par dos projetos
que temos para apresentar nos próximos dias.
— Você não podia ter me passado esses projetos antes? — pergunto,
cansado só de pensar nos prazos curtos que temos.
— Podia, mas que graça teria se eu não pudesse te atormentar um pouco?
— ela diz e nós dois rimos.
Trabalhamos o resto do dia em um clima leve e descontraído, até o
Gabriel que veio ver o andamento dos projetos estava mais simpático comigo e
eu imagino que ele já saiba sobre a Amanda. Bia, sua fofoqueira! No fim do dia,
eu já estou morto de cansaço, mas resolvo fazer uma surpresa para a Amanda e
buscá-la no trabalho, só espero que hoje ela saia no horário.
Chegando ao NY Hospital, pergunto para a recepcionista onde posso
encontrar Amanda Baker e sou informado de que ela está no andar do neonatal.
Depois que sou autorizado a entrar, eu sigo para o andar onde ela está.
Ao chegar ao andar, começo a procurar por ela, vou andando pelo
corredor e olhando para os dois lados procurando, mas não a encontro.
— Com licença, onde eu posso encontrar Amanda Baker? Ela trabalha
aqui — eu pergunto para a enfermeira que está no balcão de enfermagem do
andar.
— Ela foi até o depósito, no fim do corredor, buscar alguns materiais que
estão acabando por aqui — responde a moça, com simpatia, e eu sigo para onde
ela aponta.
Conforme vou me aproximando, posso escutar algumas vozes e sei que
uma delas é da Amanda, antes de entrar no depósito, eu congelo no lugar,
quando consigo entender uma parte da conversa.
— Você bem que poderia nos dar uma chance, Amanda — diz uma voz
masculina e eu a acho conhecida, mas não sei ainda de onde conheço essa voz.
— Eu já disse que não podemos ter nada, Dr. Jenkins — responde
Amanda e eu amaldiçoo, entredentes.
— Nós podemos nos dar muito bem, eu posso conseguir uma promoção
para você — ele diz e eu sinto nojo dele. Esse é o cara que vai fazer o parto da
Kate?!
— É sério, se o senhor não parar de me assediar, vou denunciá-lo —
responde a Amanda, com a voz alterada.
— E quem acreditaria em uma simples auxiliar? — ele responde, com
sarcasmo. — Não tem câmeras aqui nem nos vestiários, você não tem nenhuma
prova de que eu te assediei algum dia.
— Isso não é certo, você é o obstetra da Kate, um médico conceituado e
está me assediando constantemente, eu estou cansada disso — ela diz, indignada.
Eu poderia muito bem entrar ali e acabar com isso, mas permaneço congelado no
lugar.
— Vamos, meu bem, você vai gostar — diz ele.
— Me larga, doutor, por favor, me solta — ela pede e eu já não aguento.
Abro a porta do depósito em um rompante e sei que estou fora de mim.
— Larga ela agora ou eu chamo a polícia! — digo alto, para chamar o
máximo de atenção possível.
— E para quê? — ele responde, com um sorriso irônico, e tudo o que eu
mais quero é arrebentar a cara dele.
— Olha só, podem não ter câmeras neste lugar, o que eu acho uma
burrice sem tamanho não ter câmeras em um depósito como este, mas eu ouvi
tudo o que você disse e posso testemunhar a favor dela, pense no que um
processo por assédio pode fazer com a sua carreira — digo e o vejo vacilar. —
Eu poderia muito bem arrebentar a sua cara e você ficar como vítima e eu o
agressor descontrolado, mas também posso fazer um escândalo para o hospital
todo ouvir que o Dr. Jenkins estava assediando a auxiliar no depósito, mesmo
que não tenha nenhuma prova ou consiga prosseguir com o processo, só a
acusação já seria o suficiente para que fosse suspenso e para sujar a sua
reputação de médico sério — continuo e, sem nenhuma palavra, ele larga a
Amanda e sai rapidamente do depósito.
— O que você está fazendo aqui? — ela pergunta, assim que o Dr. Otário
sai.
— Oi para você também, princesa — eu respondo, irônico. — Era por
causa dele que você chegava em casa estranha, quando trabalhava até mais
tarde?
— Você não respondeu a minha pergunta — ela diz, cruzando os braços,
e eu suspiro, passando as mãos no rosto para me acalmar.
— Eu vim te buscar para irmos para casa juntos — respondo. — Sua vez
de responder a minha pergunta.
— Ele vem tentando alguma coisa comigo desde que comecei a trabalhar
aqui, mas eu nunca permiti — ela diz, de cabeça baixa. — O problema é que ele
ficou um pouco mais insistente depois que nos viu juntos, ele tentou desde
ofertas de promoção se eu transasse com ele até me demitir, se eu não aceitasse
as suas investidas.
— Você deveria ter me contado — digo, chateado.
— Você não teria como fazer nada — ela responde e eu levanto uma
sobrancelha.
— Claramente você está errada, porque eu acabei de impedir que ele
continuasse te assediando aqui, mas não vou insistir — digo, ainda mais
chateado. — Vamos embora?
— Eu só vou levar os materiais para o balcão de enfermagem e já posso
ir embora — ela responde e suspira, desanimada.
* Trevor *
Eu a ajudo com os materiais e levamos para o balcão de enfermagem, a
moça que me disse onde encontrar a Amanda nos olha e levanta uma
sobrancelha ao perceber o clima tenso, mas não falamos nada. Seguimos até a
minha moto e depois para o meu apartamento, no mais absoluto silêncio, eu só
volto a falar depois de estarmos dentro do apartamento.
— O que nós somos para você? — pergunto, sem conseguir segurar mais
o que eu sinto.
— Eu não sei — ela responde e isso me machuca muito mais do que eu
pensei que fosse possível.
— O que você sente por mim? — indago, me aproximando e colocando
as minhas mãos em cada lado do seu rosto.
— Eu estou confusa, Trevor — ela diz e eu bufo, irritado.
— Bom, já que você não sabe o que sente, eu vou dizer o que sinto —
começo e coloco um dedo na sua boca, delicadamente, impedindo-a de me
interromper. — Não faz muito tempo que eu admiti para mim que te amo —
confesso e a vejo ofegar. — Eu me apaixonei por você sem sequer perceber. Não
pretendia me apaixonar por ninguém, porque toda vez que eu pensei gostar de
uma garota, ela me deixava na friendzone e eu estou cansado de ser só o amigo
engraçado. Eu me encantei por você quando a vi pela primeira vez na casa da
Sra. Jane e, cada fora que você me dava, eu queria mais e mais ficar com você.
No dia do casamento do James com a Kate, percebi que estava um pouco
bêbada, mas não imaginava que estivesse tão bêbada a ponto de esquecer tudo o
que aconteceu desde que saímos da festa e viemos para o meu apartamento — eu
continuo abrindo o meu coração. — Você me deixa confuso e inseguro, eu nunca
imaginei que ficaria tão chateado por uma garota ir embora correndo depois de
uma foda, mas o que acabou comigo é que não foi uma foda qualquer e sim a
melhor foda. Eu me senti insultado por você ter esquecido aquela noite
maravilhosa, claro que eu não ia te pedir em casamento no dia seguinte nem
nada, mas eu queria que repetíssemos durante o dia inteiro e, quem sabe, o fim
de semana inteiro.
— Trevor, eu... — ela começa, mas eu nego com a cabeça, a fazendo
parar de falar.
— Me deixa terminar, por favor — eu digo e ela acena, com os olhos
arregalados. — Eu não esperava te encontrar no aeroporto, eu não esperava que
transássemos de novo e, principalmente, não esperava que cada vez que eu
entrasse em você, fosse melhor que a anterior. Eu estou viciado em você, no seu
cheiro, no seu gosto, no seu olhar, no seu corpo, estou viciado em tudo. Porra,
Amanda, eu estou apaixonado por você, estou louco por você e não saber se
sente o mesmo por mim, está me enlouquecendo — digo e vejo uma lágrima
escorrer do seu olho, eu limpo com o polegar. — Eu te amo com todo o meu
coração, sei que estamos juntos há pouco tempo, mas eu quero passar por todas
as etapas com você, todas as etapas que eu não quis com mais ninguém.
— Lana — ela diz e eu fico tenso.
— Namoramos por um tempo, mas eu nunca tive a intenção de me casar
com ela, eu estava me deixando levar e ela era legal naquela época, eu não
conhecia a mulher com quem eu namorava e achava que ela era diferente das
pessoas que estavam na gangue, assim como o Daryl e eu éramos — respondo.
— Mas com você é diferente, eu quero namorar, quero continuar morando com
você, quero me casar com você, quando se sentir pronta, e quero ter uma vida
inteira ao seu lado.
— Trevor, eu não sei o que dizer… — ela diz, com a voz embargada, e
eu me sinto um merda por não ser correspondido.
— Não precisa dizer nada, eu quis ser sincero e dizer o que estou
sentindo, nunca esperei que você se sentisse obrigada a dizer algo que não sente,
só porque disse que te amo — digo e deixo as minhas mãos caírem ao lado do
meu corpo, me sentindo derrotado e sufocado. — Bem, eu preciso ver como o
meu irmão está, volto mais tarde — informo e corro para fora do apartamento,
deixando a Amanda lá dentro, juntamente com o meu coração que está aos
pedaços neste momento.

* Amanda *

O que foi aquilo? Por favor, alguém me explica o que acabou de


acontecer aqui, porque eu estou totalmente perdida. O Trevor acabou de declarar
o seu amor por mim ou eu estou tão apaixonada que comecei a delirar? Sua
idiota, tonta e burra! Por que não disse o que sente?!
Eu me sinto tonta e caio sentada no sofá, totalmente em choque. Merda!
Eu deveria ter dito o que eu sinto por ele em vez de ficar em choque feito uma
idiota. Tento ligar para o celular dele, para dizer que eu também o amo muito,
mas chama até cair na caixa-postal, então ligo para quem possa me ajudar.
— Amanda? — atende a Kate.
— Kate, me desculpa te ligar agora, não quero incomodar, mas queria
saber se você tem o telefone do Daryl — pergunto, afobada.
— Calma, o que está acontecendo? — ela pergunta, confusa.
— Eu preciso falar com o Trevor, urgente, mas ele não me atende —
digo, levantando e andando de um lado para o outro da sala, totalmente nervosa.
— Primeiro, se acalma — ela pede e eu respiro fundo, para tentar me
acalmar. — Eu não tenho o telefone do Daryl, mas tenho o telefone da Nathy e
ela está lá na casa dele — ela diz e eu suspiro, um pouco aliviada.
— Pode me falar o número dela, por favor? — peço.
— Claro, vou te mandar por mensagem — ela diz e, depois de nos
despedirmos, encerramos a ligação.
Logo chega uma mensagem dela com o número da Nathy e eu ligo
imediatamente para ela.
— Alô? — ela atende.
— Nathy?
— Quem é? — ela rebate.
— É a Amanda, você está na casa do Daryl ainda? — pergunto.
— Sim, por quê?
— O Trevor está aí? — questiono, mas depois me bato mentalmente por
perceber que, provavelmente, não deu tempo de ele chegar lá ainda.
— Não, o Trevor não está aqui — ela responde, devagar. — O que está
acontecendo?
— Você pode me avisar quando ele chegar aí, por favor? — peço, sem
responder a sua pergunta.
— Posso, se você me disser o que aconteceu — ela rebate, eu suspiro,
desanimada.
— Nós brigamos — digo uma meia verdade, porque, na realidade, não
brigamos, eu só fui uma tonta.
— Só isso? — ela insiste.
— Ok, ele pode ter se declarado para mim e eu posso ter ficado
paralisada, o que o deixou chateado e o fez sair daqui correndo para aí — conto,
desanimada, e a ouço bater palmas. Como ela pode bater palmas de animação,
enquanto está segurando o celular?!
— Ai, que lindo! Finalmente o pateta do Trevor se apaixonou — ela diz,
animada, e eu suspiro novamente. — Fica calma, assim que ele chegar, eu te
mando uma mensagem avisando, mas preciso saber de uma coisa antes.
— Pode perguntar — eu digo, já imaginando o que seja.
— O que você sente por ele? — ela faz a pergunta de um milhão de
dólares.
— Eu o amo com todo o meu coração — respondo, sinceramente,
sentindo o meu coração bater mais rápido ao assumir em voz alta o que sinto
pelo Trevor.
— Então vocês vão conseguir ficar juntos, tenha fé — ela responde e nos
despedimos, encerrando a ligação.
* Amanda *

Assim que a Nathy manda mensagem, avisando que o Trevor chegou lá


parecendo muito perdido, um plano se forma na minha mente e eu corro para o
banheiro tomar um banho e me arrumar. Já está anoitecendo, mas eu preciso
resolver isso agora, então tomo o meu banho, coloco um vestido frente única
preto e justo ao corpo que chega até o meio das minhas coxas. Finalizo com um
peep toe preto também e uma maquiagem marcando bem os meus olhos e a
minha boca. Peço um Uber e dou o endereço da casa do Daryl, chegando lá eu
peço para os seguranças me anunciarem e, em seguida, liberam a minha entrada.
Acho que nunca vou me acostumar com a casa onde o Daryl mora, é
enorme, quando entro pela porta da frente, já encontro o Trevor no sofá com uma
garrafa em uma das mãos, quando ele levanta a cabeça e me vê, percebo surpresa
e depois ele ri sozinho.
— Porra, eu achei que fosse mais forte para beber, mas já estou
alucinando — ele diz para si mesmo e ri alto.
— Não acho que bebeu tanto — respondo, me aproximando.
— Agora a alucinação parece bem real, será que tem alguma droga nessa
coisa aqui? — ele diz, ainda falando sozinho e eu sorrio.
— Trevor, olha para mim — eu peço e ele me olha. — Não sei quanto a
estar bêbado, mas sei que não sou uma alucinação.
— Você é a mulher que eu amo e que me rejeitou, então — ele diz,
visivelmente magoado e, sim, um pouco bêbado.
— Acho melhor ter essa conversa com você sóbrio — digo e ele ri.
— Nós funcionamos melhor quando estamos bêbados, nossa primeira
vez foi quando você estava chapada — ele responde e isso me magoa.
— Trevor, é melhor não falar nada de que você possa se arrepender
quando passar o efeito da bebida.
— Mas é verdade, Amanda — ele diz e eu fico chateada, porque ele não
me chamou de princesa, como sempre faz. — Se você não estivesse bêbada
daquele jeito, provavelmente nunca teria trepado comigo e, talvez, fosse melhor
que aquilo nunca tivesse acontecido, porque eu não estaria apaixonado por você
— ele solta e me magoa ainda mais.
— Bom, já que te faço tão mal, vou te deixar curtindo a sua bebida e vou
embora — declaro, me afastando. — Sabe, Trevor, eu queria conversar com
você, mas agora não faz sentido nenhum tentar me aproximar, porque talvez seja
melhor que fiquemos separados — eu digo e sinto uma lágrima escapar do meu
olho, mas eu não fico mais nenhum minuto aqui nem no apartamento dele.
Eu saio da sala, tentando andar rápido, mas falhando miseravelmente por
causa dos saltos e, para a minha desgraça, dou de cara com o Daryl, assim que
passo pela porta de entrada.
— Que susto! — eu exclamo.
— Está fugindo? — ele pergunta e eu levanto uma sobrancelha.
— Isso não é da sua conta — respondo e agora ele levanta a sobrancelha
e sorri de lado.
— Eu estava para entrar depois da minha pequena caminhada e escutei o
fim da conversa, sem querer — ele diz, ficando sério. — Eu não quero me
intrometer, mas aquele pateta é meu irmão e ele está magoado com o que você
fez.
— Eu não fiz nada, fiquei em choque quando se declarou, mas ele não
esperou a minha resposta e veio correndo para cá — respondo, irritada. — Mas,
quer saber? Foi melhor assim, depois do que ele me falou lá dentro, vou fazer
tudo o que eu puder para fingir que nunca nos conhecemos — digo e ele me
olha, espantado.
— O que ele disse? — ele me pergunta e eu o encaro, irônica.
— Você não disse que ouviu a conversa? — pergunto e ele fica me
encarando, o que me faz revirar os olhos. — Ele disse que se eu não estivesse
bêbada, no dia que transamos pela primeira vez, não teríamos transado e que
talvez fosse até melhor, porque ele não teria se apaixonado por alguém que não
retribui o sentimento — conto e bufo, irritada. — O grande problema é que eu
amo aquele panaca, mas não se preocupe, porque vou esquecê-lo nem que para
isso eu precise fazer um transplante de coração — completo, quase gritando e o
sorriso satisfeito no rosto do Daryl me irrita ao ponto de querer bater nele, claro
que ele se aproveita, porque sabe que só não apanha por ainda estar se
recuperando.
— Ouviu o que precisava? — ele pergunta e eu o olho, como se tivesse
três cabeças.
— Oi? — pergunto.
— Não você, ele — responde o Daryl, apontando para algum lugar atrás
de mim e, quando olho para trás, vejo Trevor parado na porta com um sorriso
idiota no rosto.
Eu vejo vermelho neste momento, avanço para ele e acerto um forte tapa
na sua cara.
— SEU BABACA, IDIOTA! — grito com ele, que tenta se proteger
como pode dos meus tapas e socos, depois da surpresa do primeiro tapa.
— Calma — ele diz e eu me irrito ainda mais.
— Calma? Calma? — digo, fora de mim. — Você armou essa palhaçada
para me ouvir dizer que te amo? Foi isso?
— Bem, o Daryl disse que tinha certeza de que você me amava e que
viria aqui — ele diz, sem jeito, e eu olho para o seu irmão, que levanta os braços
em sinal de rendição.
— Não me olhe assim, eu só disse que você era louca por ele — ele diz
simplesmente. — Agora, se resolvam vocês dois, eu vou voltar para a minha
cama — ele avisa e o vejo seguir para dentro da casa.
— Você é um completo imbecil — reclamo, cruzando os braços.
— E você está linda — ele diz, sorrindo, como se não tivesse acabado de
levar um tapa na cara.
— Então, não está bêbado? — pergunto e ele parece ficar um pouco
envergonhado. Finalmente sentiu vergonha da besteira que fez.
— Eu bebi um pouco, sim, e pretendia ficar bêbado, mas não estou tão
tonto assim — ele responde.
— O que deixa ainda pior o que você falou, porque é o que sente — eu
digo, ainda mais magoada.
— A parte de não ter me apaixonado por você era mentira, com certeza
eu teria me apaixonado mesmo que não tivéssemos transado aquele dia, eu já
estava interessado por você e queria que fosse minha. Era só uma questão de
tempo — ele diz.
— Você está tentando consertar as coisas que me falou — digo, cruzando
os braços no peito.
— Eu fiquei magoado quando você não respondeu, depois de dizer que
eu te amo, aquilo foi uma defesa para não me machucar mais — ele responde e
eu abaixo a cabeça, olhando para o chão.
— Você se defendeu me magoando, porque eu vim aqui justamente pedir
desculpas por ficar paralisada de surpresa e não ter dito o quanto eu também te
amo, mas agora não faz mais sentido — respondo, sentindo as lágrimas caírem
dos meus olhos.
— Claro que faz sentido, você me ama e eu te amo — ele diz, se
aproximando e me abraçando, mas eu o empurro.
— Não depois do que você falou, você não quer me amar e eu vou te
esquecer, estou voltando para o seu apartamento, arrumar as minhas coisas, hoje
mesmo eu saio de lá — digo e ele me olha, espantado.
— E você vai para onde? Já é noite, como vai achar um lugar para
dormir? — ele pergunta, preocupado.
— Não se preocupe, eu não sou sua responsabilidade — digo e me viro
para ir embora, mas sou impedida pela mão dele, que puxa o meu braço. O salto
me atrapalha e eu me desequilibro, fazendo o meu corpo colidir com o dele, que
me segura para que eu não caia.
— Mas eu quero que seja, quero cuidar de você — ele diz e suspira em
seguida. — Me desculpa, por favor, vamos começar novamente, seja minha
namorada — ele diz e eu levanto a cabeça para olhar nos seus olhos.
— Não dá para você fazer ou falar merda e depois pedir desculpas, como
se assim fosse ficar tudo lindo — respondo e o vejo soltar um suspiro
desanimado. — Eu não vou aceitar namorar com você e, apesar de precisar
dormir no seu apartamento hoje, por não ter para aonde ir, eu vou procurar outro
apartamento para alugar.
— Mas não precisa — ele argumenta. — Você pode ficar lá o tempo que
precisar, pode ficar para sempre.
— Eu não posso, isso está indo rápido demais e eu entendo que tenha
ficado magoado quando não te respondi, mas isso não é motivo suficiente para
me machucar daquela forma — desabafo. — As suas palavras doeram mais do
que se tivesse me agredido fisicamente.
* Amanda *

Ficamos nos encarando em silêncio e percebo pela sua linguagem


corporal que ele quer se aproximar, só não o faz porque a minha diz “se afaste”.
— Me perdoa, Amanda — ele pede.
— É a segunda vez que você me magoa — respondo e ele me olha,
confuso. — Em Acapulco, quando acreditou naquela cobra da Lana, e agora,
será que o sentimento que temos é suficiente?
— Só saberemos se tentarmos — ele responde, me olhando nos olhos e
eu suspiro, ainda mais confusa.
— Bom, eu preciso esfriar a minha cabeça, antes de responder sobre nós
dois, neste momento a minha resposta seria um não bem grande, porque estou
magoada — respondo e o vejo desanimar. — Eu preciso ficar sozinha — digo e
me afasto dele.
As lágrimas descem pelo meu rosto e eu me arrependo imediatamente de
ter saído de perto dele. Sua burra! Eu poderia ficar mais um pouco, poderíamos
conversar como dois adultos e resolver tudo, mas ouvi-lo dizer que queria me
esquecer, doeu muito. E agora que sabe que também o amo, resolveu que quer
tentar um relacionamento comigo. Esse cara é mais confuso que mulher na
TPM.
Como toda desgraça para pobre é bobagem, bem quando estou passando
pelos portões da casa do Daryl, começa a chover forte, me deixando ensopada
imediatamente.
— Só pode ser brincadeira — falo sozinha.
Eu realmente acho que não era necessário chover, mas continuo andando
na chuva, mas quando chego a uma cobertura, resolvo parar e chamar um Uber.
Por sorte, tinha um por perto e não demorou muito a chegar, assim que para, eu
já me apresso para entrar no carro.
— Pega de surpresa pela chuva, moça? — ele pergunta, puxando assunto.
— Tipo isso — respondo, sem querer ser grossa, mas também sem querer
estender o assunto.
Encosto a cabeça no banco e fico olhando pela janela, até que na rádio
começa a tocar uma música e eu acabo me atentando por falar na chuva.
“...Te amé más de lo que crees
No lo dudes ni un momento
Me arrepiento cada vez
De no haberlo hecho a tiempo
Me perdí y te perdí

Al otro lado de la lluvia


Donde sale el sol
Llevo siempre tu recuerdo
Y la mitad de un adiós
Tatuado en mi corazón…” [4]

Acho que era isso que faltava para que eu desabasse de vez, eu tinha
tentado segurar quando entrei no carro, mas essa música acabou comigo. O pior
é a continuação:
“...Y me duele, la verdade
Que no pude darte todo
Me perdí y te perdí…”

Por que eu tinha que ser tão confusa e estar tão quebrada? Mesmo depois
de tudo o que aconteceu, surpreendentemente, não fiquei com medo de homens
nem com ataques de pânico. Claro que eu tinha um pesadelo ou outro, mas
sempre me mantive equilibrada e foi só o Trevor entrar na minha vida que o
equilíbrio e a calma se foram e, neste momento, eu estou em pânico.
Sim, eu disse que precisava esfriar a cabeça, mas a cada minuto que
passa, eu me sinto mais e mais confusa, não sei se consigo me relacionar, não sei
se consigo namorar de novo. O Liam queria me controlar em tudo, desde o que
eu vestia até as amigas que eu tinha, conseguiu me afastar de todas as pessoas
com quem eu tinha contato na época, até que eu tivesse somente ele ao meu
lado. Ele e a irmã acabavam me controlando, a Lana dizia as maquiagens que eu
podia ou não usar e o Liam as roupas que eu tinha que vestir, sempre era vigiada
quando saía para qualquer lugar e, mesmo sem morar com ele, tinha todos os
meus passos controlados, era só eu desviar do caminho meio centímetro para ele
vir atrás de mim, totalmente furioso e descontrolado.
No começo, ele era muito carinhoso, não sei em qual momento começou
a mudar tanto e ficar tão controlador e violento; de princípio, eu achava que era
cuidado, mas depois da atrocidade que ele fez comigo, eu tive certeza que era
doença, pura crueldade incentivada pela sua irmã, que também é uma louca.
Estou sendo uma tonta por comparar o Trevor com o Liam, mas não posso
evitar, porque foi o único relacionamento que eu tive.
Coloco as mãos na cabeça, totalmente perdida, e percebo que estamos
parados e o motorista está me encarando.
— Está tudo bem, moça? — ele pergunta, parecendo preocupado, e eu
olho em volta, percebendo que estamos na porta do prédio do Trevor.
— Vai ficar, obrigada — respondo e desço rapidamente do carro,
seguindo para dentro do prédio.
Ao chegar ao apartamento, jogo as chaves que o Trevor me deu no móvel
que fica ao lado da porta e corro para o quarto, tirar essa roupa molhada e tomar
outro banho para evitar um resfriado. Depois de tomar banho, me sinto um
pouco mais humana, tiro com um lenço humedecido o restante maquiagem que
sobrou no meu rosto e coloco um pijama, abro o armário no quarto do Trevor,
pego uma manta e um travesseiro e sigo para a sala, onde me deito no sofá, me
cubro e ligo a televisão para tentar me distrair.
Depois do que aconteceu, eu me nego a dormir na mesma cama que ele,
estou confusa demais e sei que ele poderia tentar alguma coisa, o pior é que eu
cederia facilmente à sua sedução. Você espera que ele te seduza, essa é a
verdade!
Espero, sim, que ele tente me seduzir, mas a minha cabeça está uma
confusão só, eu amo aquele pateta, mas ele me magoou com o que disse. Sei que
ele me pediu perdão, mas e se ele fizer isso de novo? E se a cada briga, ele disser
que não quer mais nada comigo, que não quer me amar, que preferia nunca ter se
apaixonado? Não foi isso que ele disse. Eu sei que ele não disse isso, mas não
quer dizer que não pensou. Louca! Devo estar ficando realmente louca.
Assistindo a um filme antigo, tento me distrair, para não pensar tanto no
Trevor e em como ele está demorando para voltar para casa. Com esse
pensamento, eu acabo pegando no sono, no sofá dele.
* Amanda *

Acordo sentindo que estou sendo carregada, é isso ou estou voando. Nem
se você fosse uma bruxa e tivesse uma vassoura! Meus olhos estão pesados,
depois de tanto chorar então simplesmente me acomodo no que parece um
travesseiro macio e quase ronrono ao ser acomodada em algo mais macio ainda,
parece um colchão, mas não estou com nenhuma vontade de abrir os olhos. Eu
me embolo, me encolhendo com um pouco de frio.
— Merda! — ouço alguém reclamar, mas estou com muito frio para
sequer pensar na possibilidade de alguém ter invadido o apartamento do Trevor.
— Amanda, princesa, acorda — ouço essa pessoa me chamando, mas não quero
acordar ,então resmungo e tento me virar, mas choramingo um pouco, porque o
meu corpo está doendo.
Sinto o colchão sair de baixo de mim, depois do que poderiam ser
minutos ou horas, o meu corpo é mergulhado na água fria, me fazendo abrir os
olhos imediatamente, batendo os dentes de frio. Dou de cara com os olhos tristes
do Trevor e tenho vontade de chorar novamente. Droga de cabeça confusa.
— Eu estava procurando por você — ele diz e eu o olho como se tivesse
três cabeças, ele só pode estar brincando comigo. — Você saiu correndo da casa
do Daryl e eu tentei ir atrás de você, mas começou a chover muito forte e eu não
enxergava nada.
— Hum — eu balbucio, sem realmente conseguir pronunciar qualquer
palavra, parece que sou eu que estou bêbada e não ele. Mas ele não está bêbado,
não realmente.
— Eu tive que esperar um pouco, tomar refrigerante e comer alguns
doces que tinham lá para passar o efeito da bebida, pelo menos um pouco — ele
explica, suspirando e eu reclamo quando joga água fria na minha cabeça.
— Está muito fria essa água, te odeio — eu consigo dizer e ele me
encara, espantado.
— Entendo que deve estar mesmo me odiando agora, mas você estava
queimando de febre quando te coloquei na cama e eu não podia deixar você
assim, precisava fazer alguma coisa para abaixar a temperatura do seu corpo —
ele diz, me ajudando a levantar e passando uma toalha pelas minhas costas.
— Você arruinou o meu vestido — comento e ele bufa.
— Eu te dou outro, o mais importante é que você fique bem — ele diz,
enquanto me ajuda a tirar o vestido, ainda estou meio dormindo e meio
acordada, então não reajo quando ele tira totalmente a minha roupa, me deixando
apenas coberta pela toalha. — Vem, eu te ajudo a colocar outra roupa.
— Eu tomei banho quando cheguei — informo.
— Acho que não adiantou, já que você estava claramente febril quando
te coloquei na cama — ele responde.
— Eu estava sonhando com você — digo e nem sei o motivo, mas já não
me importo mais.
— Não faz isso, princesa, você me deu um pé na bunda na casa do meu
irmão e agora fala que estava sonhando comigo? — ele diz, me ajudando a
colocar um conjunto de sutiã e calcinha e, depois, um pijama quentinho.
— Eu já sonhava de vez em quando com você, desde a primeira vez que
me chamou para sair — respondo e ele solta um grunhido.
— A sua sorte é que está doente, porque a minha vontade é te jogar na
cama e te foder até entender que fomos feitos um para o outro, mas vou esperar
até estar recuperada para fazer entender isso — ele diz, me olhando
intensamente, enquanto me coloca cuidadosamente na cama.
— Você é confuso — digo, já com os olhos pesados e ele bufa.
— Não vou discutir isso com você agora, vou deixar para quando
acordar, se estiver melhor — ele diz, me dando um beijo na testa e me cobrindo.
Imediatamente eu durmo, caindo em um sono sem sonhos e talvez seja
melhor assim.
Acordo sentindo raios de sol no meu rosto, depois que a cortina do quarto
foi bruscamente aperta. Sempre tão delicado para me acordar.
— Hora de acordar, Bela Adormecida — diz o Trevor, se aproximando
de mim e pegando um copo com água e um comprimido, que estavam na
cômoda ao lado da cama, me entregando.
— Obrigada — digo, me sentando na cama e pegando o copo e o
comprimido das suas mãos, depois de tomar o comprimido, eu entrego o copo
para ele.
— É uma aspirina, para ajudar, caso ainda tenha um pouco de febre —
ele diz e eu aceno, concordando. — Acho melhor avisar no trabalho que está
doente, é melhor descansar hoje e ir trabalhar amanhã, eu já liguei na Reed e
avisei para a Bia que ficaria com você hoje para não ficar sozinha.
— Não precisa se incomodar — digo, envergonhada.
— Preciso, sim, você não pode ficar sozinha aqui, porque pode passar
mal ou sei lá o quê — ele diz e eu volto a deitar, me sentindo ainda cansada. —
Você não devia ter saído daquele jeito.
— Esperava que eu fizesse o quê? — pergunto, de olhos fechados, não
querendo encará-lo. — Queria que eu ficasse lá para que exatamente?
— Tem razão, precisamos esfriar a cabeça para conversar direito — ele
diz, dando a volta e sentando no seu lado da cama, com os pés esticados. —
Podemos conversar?
— Sim — digo, voltando a me sentar e encostando na cabeceira da cama.
— Me desculpe por ontem, eu estava magoado por ter confessado o que
sinto por você e você não ter dito nada, fiquei muito puto e me achando o maior
babaca por ter me apaixonado e não ser correspondido — ele diz, me olhando
nos olhos. — Eu não sou nenhum príncipe encantado, apesar de você ser a
minha princesa — ele brinca, e eu não consigo evitar de sorrir. — Acontece que
eu fui para a casa do meu irmão, esperando encher a casa para esquecer que você
não correspondia aos meus sentimentos, acordar só hoje pela manhã e ter que
lidar com a ressaca na casa dele, mas não contava que você apareceria por lá,
toda carinhosa — ele finaliza.
— Eu percebi a besteira que fiz quando o vi saindo daqui, bravo comigo,
mas não me deu tempo de digerir toda a informação que você despejou na minha
cara — respondo e ele suspira, desanimado. — Você não me deixou processar
tudo o que me disse e depois de tudo o que aconteceu, no pouco tempo que
estamos juntos, eu fiquei muito confusa. — Respiro fundo. — Eu liguei para a
Kate, para tentar te encontrar e ela me deu o telefone da Nathy, liguei para ela,
que me disse que você não estava lá, mas avisaria caso aparecesse. Ela me
mandou mensagem, me arrumei e fui correndo, a intenção era esclarecer o que
eu sinto por você e nos reconciliarmos, mas você começou a falar todas aquelas
coisas e aquilo me machucou, para valer — digo e sinto uma lágrima escorrer
pelo meu rosto, o que ele rapidamente limpa com o polegar e aproveita para
acariciar o meu rosto, que se inclina na direção da sua mão, aceitando a carícia
gentil.
— Sou um pateta mesmo, como o meu irmão diz — ele diz, ainda
acariciando o meu rosto e eu suspiro. — Olha, me perdoa, por favor, eu não
posso prometer que não vou fazer mais nenhuma burrada, mas prometo que não
vou tirar conclusões sem conversar seriamente com você, prometo que vou me
esforçar para ser merecedor do seu amor, só me dá uma chance — ele me pede,
agora com as mãos emoldurando o meu rosto.
— Mais uma chance, você quer dizer — respondo, levantando uma
sobrancelha.
— Mais uma chance, eu te amo, Amanda, fica comigo — ele quase
implora e as lágrimas que eu estava segurando com muito esforço já não ficam
mais presas, elas descem pelo meu rosto e eu não sei se vou conseguir parar de
chorar em algum momento. — Não chora, meu amor, por favor, não chora — ele
me pede, dando um beijo delicado nos meus lábios. — Eu te amo — ele repete,
com os lábios grudados nos meus.
— Eu também te amo, Trevor — respondo, sentindo o meu coração mais
leve por ter dito que eu o amo.
Depois da minha simples declaração, Trevor toma os meus lábios com
força, aprofundando o beijo e invadindo a minha boca com a sua língua.
Ele se vira, ficando com o corpo de frente para o meu, segura a minha
nuca com uma mão, enquanto continua a acariciar o meu rosto com a outra, as
nossas línguas se enroscam deliciosamente em nossas bocas, mas infelizmente o
beijo termina rápido demais, me fazendo gemer em desaprovação.
— Calma, você pode estar com um resfriado e não pode fazer esforço,
por enquanto — ele diz e eu o olho entre anestesiada, depois do delicioso beijo,
e irritada pelo motivo da interrupção. O quê? Eu estou muito bem, obrigada e te
mostro isso.
Sem que ele espere, eu subo em cima dele, posicionando as minhas
pernas de cada lado do seu corpo, de modo que fico montada nele.
— Estou ótima, como pode ver — digo no seu ouvido e mordisco o
lóbulo da sua orelha, o sentindo estremecer próximo ao meu corpo.
* Trevor *

Eu preciso resistir. Eu preciso resistir. Ela está doente.


Eu fico repetindo esse mantra mentalmente para conseguir parar o beijo
que está ficando quente demais e o meu pau está dando sinais de vida. Consigo
me afastar com um custo quase doloroso, porque saber que essa mulher linda,
inteligente e maravilhosa me ama, é um afrodisíaco monumental. Ela reclama
quando me afasto e não consigo deixar de sorrir.
— Calma, você pode estar com um resfriado e não pode fazer esforço,
por enquanto — digo e a percebo entregue e, provavelmente, querendo mais.
Rápido demais para alguém que estava queimando de febre essa
madrugada, ela senta no meu colo de frente para mim e a proximidade da sua
intimidade com o meu pau, o calor que estou sentindo dessa região específica da
sua anatomia é o suficiente para quase me fazer perder o controle. Você diz isso
porque está ignorando o pau duro bem embaixo desse corpo delicioso.
— Estou ótima, como pode ver — ela diz no meu ouvido e a infeliz ainda
morde a minha orelha, causando um arrepio generalizado no meu corpo.
Ouviram esse sino?! Pois é, esse foi o juiz apitando o fim da luta e o meu
nocaute.
As minhas mãos resolvem reagir e eu agarro o seu corpo em um abraço
apertado, enquanto beijo os seus lábios profundamente. Não é isso que ela quer?
Então, é o que vai ter! Passo as mãos pelo seu corpo, espalmando em sua bunda,
esfregando-a contra a minha ereção.
— Serei cuidadoso — digo no seu ouvido.
Com cuidado, eu a deito de costas na cama e me coloco em cima dela,
espalho beijos pelo seu pescoço e em um determinado ponto atrás da orelha, que
lhe causam um arrepio. As minhas mãos seguem passeando pelo seu corpo e eu
as coloco por baixo da camiseta do seu pijama, enquanto subo as mãos e a levo
junto, me afasto um pouco para retirar a camiseta e passo uma mão pelas suas
costas, para retirar o sutiã.
Beijo a sua clavícula, enquanto ela remexe o corpo, ansioso pelo meu
toque abaixo de mim, chego a um dos seios e espalho beijos em volta do seu
mamilo, enquanto faço carinho e estimulo o outro seio, sem tocar nos seus
mamilos. Sinto que ela está me olhando e levanto a cabeça para encontrá-la me
encarando, confusa, eu sorrio e sugo o seu mamilo, a fazendo deitar a cabeça no
travesseiro e soltar um gemido alto. Beijo o espaço entre os seios e alcanço o
outro mamilo, sugando devagar e passando a língua por ele, até estar
entumecido. Os dois mamilos estão rijos pela atenção que estou dando, continuo
revezando entre eles até que Amanda esteja esfregando as coxas uma na outra,
procurando algum atrito.
Desço os meus beijos pela sua barriga, passando a língua pelo seu
umbigo e chegando até o cós do seu pijama, que eu retiro juntamente com a
calcinha. Subindo pelas suas pernas com beijos desde os pés até as coxas
torneadas. Mordo o interior da sua coxa perto da virilha e ela geme alto, tenho
que apertar o meu pau na cueca para não acabar gozando feito um adolescente
cheio de hormônios. Encosto a minha língua no seu clitóris inchado e, porra, ela
está muito molhada. Sem conseguir controlar mais os meus impulsos, eu sugo
forte o seu clitóris e a ouço gritar, enquanto se esfrega na minha cara. Se
controla, se controla, se controla.
Mantenho as suas pernas afastadas, enquanto me delicio com a sua
boceta doce, eu a penetro com a língua, lambendo toda a extensão da sua
intimidade e sugo o seu clitóris, passo a língua por ele e sugo novamente com
um pouco mais de força. A penetro de novo com a língua, enquanto continuo
estimulando o seu clitóris com os meus dedos. Quando a sinto se contorcer mais
e se contrair internamente, paro todos os meus movimentos e me levanto para
retirar a minha cueca, que está apertada pra caralho. Alcanço um preservativo
na gaveta da cômoda ao lado da cama e o coloco sem olhá-la, porque sei que
está me olhando como se quisesse me matar por tê-la impedido de gozar, mas ela
não diz nada, então eu retorno para perto dela, posicionando o meu corpo por
cima do seu e o meu pau em sua entrada.
Preciso fazer isso durar e mantenho em mente que não posso deixar
escapar a corrente na primeira pedalada. Coloco apenas a ponta dentro dela, que
geme alto e revira os olhos, trinco o maxilar para me segurar, porque a sinto se
apertar ao redor do meu pau, conforme entro mais nela. Respiro fundo para me
controlar e a penetro profundamente, ficando todo dentro dela e nos fazendo
gemer juntos, eu reviro os olhos de tesão e começo a me movimentar, lembrando
mentalmente para ter cuidado com ela.
Estoco dentro dela, lenta e profundamente, rebolando para procurar um
ponto específico, como não estou conseguindo encontrar nessa posição, eu me
retiro, causando um gemido de frustração da parte dela. A viro, colocando-a de
quatro na cama, para que a penetração fique ainda mais profunda, me posiciono
atrás dela e inclino o seu corpo na direção do colchão, para que fique empinada
para mim. Dou um tapa na sua bunda, fazendo carinho em seguida, para penetrá-
la profundamente. Ela solta um grito e eu um grunhido pela profundidade da
penetração, começo a estocar um pouco mais forte nela, que rebola e movimenta
o corpo de encontro ao meu. Finalmente encontro o seu ponto G e ela grita de
prazer, se agarrando na cama com força, aperto a sua cintura e sei que não vou
durar mais do que isso. Avanço uma das minhas mãos até o seu clitóris e,
enquanto bato repetidas vezes no seu ponto G, a estimulo no seu botão inchado e
desejoso. Em pouco tempo, a sinto gozando, ordenhando o meu pau e me
fazendo gozar forte, com um gemido alto.
Saio de dentro dela e retiro a camisinha, fazendo um nó e sigo para o
banheiro para descartá-la. Quando retorno ao quarto, a vejo deitada de bruços,
totalmente largada na cama, me deito ao seu lado e a puxo para que coloque a
cabeça no meu peito. Dou um beijo na sua cabeça e cheiro o seu cabelo, ela
levanta a cabeça e beija a minha boca, lentamente colocando a língua para fora e
brincando com a minha língua. Eu sinto o beijo começar a ficar mais profundo e
me surpreendo quando ela vem para cima de mim e senta em cima do meu pau
semiereto.
— Já? — pergunto, surpreso, porque pensei que ela fosse ficar mole por
mais algum tempo.
— Sempre — ela responde e desce beijando o meu pescoço, meu peito,
mordisca um mamilo e o meu pau fica totalmente alerta. Essa mulher vai me
matar!
Conforme os beijos dela vão descendo pelo meu corpo, juntamente com
as mãos macias, o meu pau vai ficando cada vez mais duro. Quando ela chega
até ele, me olha, travessa, e eu preciso me segurar muito quando ela o abocanha,
me surpreendendo totalmente e me fazendo grunhir e revirar os olhos.
Ela usa uma mão para me masturbar e tenta colocar o máximo do meu
pau na boca, a outra mão massageia as minhas bolas e eu as sinto cada vez mais
pesadas. Não é possível que eu consiga gozar de novo tão rápido. Continuo
olhando-a me chupar, porque é a coisa mais erótica que eu já vi, o olhar que ela
me lança quando coloca a língua para fora e lambe a cabeça do meu pau quase
me enlouquece. Ela começa a chupar com mais vontade e faz movimentos de vai
e vem, engolindo o máximo possível e sinto que estou muito perto.
— Princesa, estou perto, se não quiser que eu goze na sua boca, essa é a
hora de parar — aviso e ela me olha com diversão, aperta o meu pau com uma
mão e me chupa mais forte, enquanto a outra massageia ainda mais as minhas
bolas. Eu gozo em jatos fortes na sua boca e, para a minha surpresa, ela engole
tudo, continuando a me chupar, até que estou acabado na cama e ela ainda lambe
a minha glande, fazendo o meu pau se contrair, permanecendo semiereto. —
Ainda vai me matar desse jeito, era para você estar descansando e não transando.
— Sexo faz bem à saúde e eu estou bem, não tenho mais febre e só sinto
a minha garganta arranhar um pouco, nada sério — ela responde, sorrindo,
satisfeita, antes de voltar a se deitar comigo, apoiando a cabeça no meu peito,
passando a mão pelo meu abdome.
* Amanda *

Naquela manhã, depois da briga e da chuva, meu corpo ficou dolorido


em todos os lugares certos e, apesar da minha garganta continuar me
incomodando, eu estou muito feliz e satisfeita com os últimos acontecimentos.
Eu estava pronta para procurar outro lugar para morar, mas depois de uma
deliciosa foda de reconciliação, não quero mais sair de perto do meu moreno
gostoso. Sei que precisamos continuar nossas rotinas, mas sei que com o tempo
vamos nos acostumar e espero que tudo dê certo.
A Nathy me ligou aquele dia para perguntar se estávamos bem e, depois
da minha risada, ela teve certeza de que estávamos mais do que bem. Queria
perguntar sobre o Daryl, mas não sinto que tenho essa intimidade de sair
perguntando da vida pessoal dela, então preferi me calar. Ela me disse que o
Daryl quer comemorar o aniversário dele — que também é o aniversário do
Trevor — e eu fiquei ainda mais feliz quando ela disse que ele quer dar uma
grande festa e chamar os seus amigos e os do irmão. Claro que passou pela
minha cabeça que talvez não seja o melhor momento para uma festa, mas se o
dono da casa quer comemorar, quem sou eu para ir contra. Falei para o Trevor
sobre a ideia do seu irmão, sendo surpreendida quando ele disse que já sabia,
mas que não concorda muito. Apesar disso, ele resolveu chamar os seus amigos
para essa festa, que prometeu uma comemoração de família, devido à presença
dos filhos da Beatriz, que cada vez estão mais lindos.
Voltamos às nossas rotinas e, depois do aviso do Trevor, o Dr. Jenkins
não se aproximou mais e espero que continue assim. Eu pedi para me colocarem
em outro andar, para evitar ter que me encontrar com ele a todo instante e me
deixaram na ala infantil do hospital, que está quase vazia e me deixa com muito
tempo vago. Fiquei pensando o que eu posso dar de presente para o Trevor, mas
ele já tem de tudo, então continuo sem saber o que fazer.
Aproveitando que pude sair mais cedo, devido a todas as horas extras que
fiz, para fazer uma surpresa ao Trevor. Ele comentou que depois do trabalho,
passaria na academia, onde costuma se exercitar, para praticar um pouco de
boxe, só de pensar nele suado e fazendo exercícios, colocando aqueles músculos
deliciosos para trabalhar, já me deixa muito animada. Chego à academia antes
dele e converso com a recepcionista, que me conta um pouco de lá e eu até me
animo, pensando em começar a me exercitar para manter o meu corpo em forma.
Quando comento sobre boxe, ela me fala de uma turma para iniciantes, que não
ocorre realmente uma luta na aula, são mais os exercícios e que não corro risco
de me machucar. Ela também me fala que a academia oferece uma aula grátis e
eu peço para entrar nessa aula, por sorte, eu fui para o trabalho com uma roupa
bem confortável e que funciona bem para fazer exercícios, uma legging e uma
camiseta básica. Isso, porque tenho o costume de ir para o trabalho com uma
roupa e trocar por uma branca, depois que chego lá, não gosto de correr o risco
de me sujar e o branco é difícil de esconder a sujeira.
Depois de guardar a minha bolsa em um dos armários, me encaminho
para a sala onde será realizada a aula de boxe. Nada no mundo me preparou para
o que eu encontrei quando abri aquela porta: o Trevor, sem camisa, com um
calção de boxe e bandagens nas mãos, está deliciosamente gostoso com todos os
músculos visíveis. Acho que eu fiz algum barulho, pode ter sido a falta de ar que
senti por vê-lo dessa forma, porque ele virou a cabeça na direção da porta e
arregalou os olhos quando me viu, mas logo se recupera e dá um enorme sorriso
para mim. Acho que ouvi um suspiro coletivo, porque a sala tem muitas
mulheres, claro que tem alguns homens, mas as mulheres são as que não tiram os
olhos do Trevor.
— Princesa, o que faz aqui? — pergunta ele, vindo até mim, me puxando
pela cintura em direção ao seu corpo e me dando um beijo na boca. Eu não
esperava que ele fizesse isso, portanto, demoro a reagir, mas quando o faço,
enlaço o seu pescoço, o puxando para mais perto.
— Hum, acho que vou fazer surpresa mais vezes, se for recebida sempre
dessa forma — respondo e ele sorri.
— Veio me fazer uma surpresa? — ele pergunta e eu o olho, divertida.
— Não está surpreso? — retruco.
— Bem, sim — ele responde.
— Então, aí está a sua resposta — digo e ele solta uma gargalhada
deliciosa, ouço um muxoxo de decepção das mulheres da sala e me sinto melhor
ainda.
— Adorei a surpresa — ele diz ao me soltar, ainda sorrindo. — Vai fazer
a aula?
— Sim, a recepcionista me convenceu de que o professor é bom e que a
aula vale a pena — respondo e o encaro. — Você vai fazer também?
— Bem, eu sou o professor, princesa — ele responde e é a minha vez de
ficar surpresa.
— Por que não me disse que dava aulas? — pergunto, confusa.
— Porque quando eu resolvi viajar, avisei que precisaria ficar fora por
um tempo e poderia não voltar, achei que já tivessem me substituído, mas como
não ficamos tanto tempo longe, acabaram não fazendo isso — ele responde. —
Eu liguei para cá hoje cedo, perguntando se já tinham aulas de boxe e me
disseram que estavam sem professor, passei aqui no meu almoço e falei com o
gerente, que me aceitou novamente. Eu ganho por aula e só faço porque gosto de
boxe — ele completa, dando de ombros.
— Quando vai começar a aula, professor? — pergunta uma das alunas,
me olhando, azeda, e eu a encaro, com a sobrancelha levantada.
— Já vamos começar, formem duplas — ele diz, já pegando a minha mão
e me puxando para a frente da sala.
— Posso fazer dupla com você, professor? — pergunta a mesma aluna.
— Já tenho dupla, tem mais pessoas para escolher — ele responde e se
vira para mim, a deixando falando sozinha e eu sorrio para ele.
— Você está indo muito bem, meu amor, se continuar assim, vai ganhar
um prêmio quando chegar em casa — eu digo baixo, de forma que só ele ouça.
— Hum, tudo isso porque quis fazer a aula com você? — ele pergunta e
eu aceno, o fazendo sorrir ainda mais.
A aula transcorre bem, com o Trevor nos ensinando alguns aquecimentos
e exercícios básicos, precisamos das duplas apenas para os alongamentos, já que
nessa primeira aula não faremos os exercícios de luta. Em um dos alongamentos
temos que afastar as pernas e a nossa dupla fica no meio delas e nos ajuda a
afastar ainda mais. Porém o Trevor se levantou de modo a ficar atrás de mim e
segurou as minhas pernas com as mãos, puxando para trás, de forma a afastar
mais ainda, o que eu não esperava era que ele aproximasse as suas mãos da parte
interna das minhas coxas, fazendo pressão perto da virilha e me
desconcentrando.
— Para — peço, em um sussurro.
— Já? — ele pergunta. — Sei que consegue abrir mais — ele diz e eu
entendo o duplo sentido.
— Você está me desconcentrando — respondo, com a respiração já
pesada e sentindo a minha intimidade úmida.
O safado apenas sorri ainda mais e aperta um pouco as minhas coxas, me
fazendo morder o lábio inferior para segurar um gemido. Quando fica satisfeito
com a minha abertura, ele segura as mãos na mesma posição, apertando em
alguns momentos e, cedo demais, solta as minhas pernas, me orientando a fechá-
las devagar.
Ele encerra a aula e se despede dos alunos, depois me ajuda a levantar do
chão e eu o encaro por um segundo, antes de murmurar:
— Preciso ir ao vestiário, você me espera? — pergunto.
— Sim, vou ao vestiário tomar uma ducha — ele responde e saímos
juntos da sala.
Eu vou para os armários pegar a minha bolsa e, mesmo não tendo outra
troca de roupa, eu resolvo tomar um banho, mas não lembro o caminho para o
vestiário feminino. Ando pelos corredores e abro uma porta onde diz “vestiário”,
mas não diz se é feminino ou masculino, deve ter caído a placa. Entro e o
encontro vazio, então sigo para os chuveiros, ouvindo apenas um ligado, entro
em um dos boxes e, deixando a roupa pendurada na porta, tomo uma ducha
rápida. Quando termino, pego uma blusa que estava na minha bolsa e uso para
me enxugar um pouco, quando chegar em casa posso lavá-la. Visto a regata
branca que usei no trabalho e coloco a legging que estava usando, sem calcinha.
Ao sair do boxe, eu dou de cara com um obstáculo e, teria caído, se esse
obstáculo não tivesse me segurado. Levanto os olhos e encaro o Trevor olhando,
com o cenho franzido.
— O que faz aqui? — ele pergunta, parecendo irritado.
— Eu poderia perguntar a mesma coisa — digo, sem entender.
— Você não ia para o vestiário feminino? — ele retruca e eu o olho como
se fosse louco.
— Mas eu estou no vestiário feminino, é você que não devia estar aqui
— respondo, irritada, e abaixo o olhar, me arrependendo ao encontrá-lo, total e
deliciosamente, nu.
— Você está no vestiário errado, não te mostraram onde fica o feminino?
— ele pergunta e eu fico um pouco perdida, encarando aqueles músculos que eu
tanto gosto de lamber e, mais embaixo, aquele pau delicioso. — Princesa, os
meus olhos ficam um pouco mais para cima — ele diz e eu levanto o olhar para
encarar os seus olhos, que agora me olham com diversão.
— Não resisti, desculpe — digo, sentindo o meu rosto ficar corado. —
Não me mostraram o vestiário feminino e, como não tinha nenhuma placa
indicando, entrei aqui.
— Vamos, é melhor sairmos daqui, antes que entre algum outro homem e
eu não estou com vontade de arrumar problemas hoje — ele diz, andando
comigo até a saída.
— Trevor, você não vai se vestir? — pergunto e ele para imediatamente,
xingando entredentes.
— Espera lá fora, eu já te encontro — ele diz, voltando para pegar a
roupa que ele deixou em um dos bancos do vestiário.
Sigo para a saída, felizmente, não encontrando mais ninguém.
Rapidamente o Trevor sai e seguimos para os armários pegar nossas coisas para
irmos embora.
* Amanda *

Primeiro fim de semana, após o episódio da academia, acabei me


matriculando e faço aula de boxe com o meu namorado gostosão e estou amando
tudo, principalmente as expressões azedas das alunas tentando dar em cima do
Trevor, enquanto ele ignora e finge demência.
Chegamos à casa do Daryl, onde será a comemoração de aniversário
deles. O Trevor convidou os seus amigos e o Daryl convidou basicamente a
Nathy, que está tecnicamente morando aqui para cuidar dele. Seguimos para a
área da piscina e churrasqueira, não deixo de me surpreender com o tamanho
deste lugar, sério, essa casa é enorme. Descobri que ele tem dois cachorros da
raça labrador, são grandes e fofos e eu sei disso porque todos já estão lá quando
chegamos e os cachorros estão servindo de pôneis para os gêmeos, eles estão
literalmente montados nos cachorros e agarrados aos pescoços deles, dando
vários beijinhos nas cabeças dos animais. Fofurômetro explodindo: sim ou com
certeza?!
Nos aproximamos e cumprimentamos todos, eles felicitam o Trevor pelo
aniversário, assim como o Daryl.
— Parece que não consegue mais esconder o seu irmão de nós —
comenta a Bia, divertida.
— Não o escondia — se defende o Trevor e todos levantam uma
sobrancelha, em total descrença. — Quando alguém pergunta, eu falo que tenho
um irmão.
— Sim, claro — responde a Bia, irônica.
— Sério, trabalhamos há um bom tempo na Reed e eu nunca o ouvi
mencionar sobre o seu irmão — diz a Nathy. — Inclusive, quando ele me
atropelou, eu achei que fosse você, mas você só anda de moto.
— Credo, me confundiu com esse cara? — ele pergunta, apontando para
o Daryl, que o olha, divertido.
— Já se olhou no espelho hoje, irmãozinho? — pergunta o Daryl.
— Sim, me olho todos os dias e sempre me acho mais bonito que você —
responde o Trevor.
— Há quem discorde, certo, Nathy? — retruca Daryl e a vejo ficar
vermelha e abaixar a cabeça.
— Grosseirão — ela diz, fazendo todos rirem e o Daryl resmungar.
— Acho que ela não concorda com você, mano — diz o Trevor, com a
mão na barriga de tanto rir.
Percebo que a Nathy ficou muito nervosa e também que a Bia percebeu o
incômodo da amiga, com um sinal silencioso as duas somem dentro da casa e eu
sinto uma ponta de inveja dessa amizade, porque gostaria muito de ter uma
amizade assim. Pouco depois que as duas entram na casa, a Kate se aproxima.
— Como vai a gravidez? — pergunto.
— Sinta você mesma — ela diz e pega a minha mão, colocando-a na sua
barriga, pouco depois eu sinto um forte chute, me fazendo pular.
— Nossa! Como chuta forte — digo, surpresa.
— Sim, imagina se no lugar da sua mão fosse sua costela — ela comenta,
irônica, passando a mão na barriga. — Parece que cada dia que passa, ele fica
mais incomodado de ficar aqui dentro e não me deixa em paz. Tinha que ser
filho do James.
— Agora a culpa é minha? — ele pergunta, se aproximando da esposa
por trás, colocando as mãos na sua barriga e dando um beijo na sua bochecha.
— Claro que sim, nosso filho puxou você, porque é um mini ogro e não
me deixa em paz um minuto — ela diz, em tom de brincadeira.
— Mas bem que você gosta quando… — ele continua falando no ouvido
dela, de forma que eu não consiga ouvir e ela vai ficando cada vez mais
vermelha, até que dá um tapa no braço dele.
— Se controla! — ela exclama, sorrindo.
— Gostosa — ele diz e, desta vez, eu escuto e dou uma risada. Ele sorri
para mim e segue para onde o Trevor está conversando com o irmão, levando o
Gabriel, que estava no caminho olhando as crianças, junto.
— E como está a Sra. Jane? — pergunto.
— Por que não vai visitá-la e pergunta você mesma? — ela retruca,
levantando uma sobrancelha.
— Bem, eu ia ligar para ela — digo, encabulada.
— Ela vive perguntando de você, porque tentou te ligar várias vezes, mas
parece que o número não existe — ela comenta.
— Eu tive que trocar de número — conto e ela me encara, surpresa.
— Eu percebi, porque não conhecia o número quando me ligou outro dia
— ela diz. — E parece que o Trevor também teve que trocar de número.
— Sim, nós dois trocamos os números quando saímos de Porto Rico —
eu respondo e tapo a boca em seguida, percebendo que falei demais.
— Viajaram juntos? — ela pergunta e bufa. — E toda aquela ladainha de
que ele não te interessava?
— Bem, não viajamos juntos, simplesmente estávamos no mesmo voo,
mas quando saí da sua casa, eu não sabia que ele ia viajar também — respondo,
dando de ombros em seguida.
— Se resolveram? — ela pergunta.
— Bem, estamos tentando um relacionamento — conto, olhando para
baixo,
— Olha para mim, Amanda — ela pede e eu olho nos seus olhos. —
Você está feliz? — ela pergunta e um sorriso se abre no meu rosto.
— Muito — digo e suspiro, apaixonada.
— Ótimo, era tudo o que eu queria saber — ela diz. — Aliás, a minha
mãe vai ficar muito feliz também, depois de te dar um belo puxão de orelha, por
sumir daquela forma.
— Prometo que vou ligar para ela esta semana e a visito na minha volta
para casa — respondo.
Divirto-me olhando os gêmeos brincarem com os cachorros, me
surpreendo por vê-los andando ao lado dos cachorros com os seus passos de
bebês e balbuciando. A Mel perde o equilíbrio e cai sentada na grama, um dos
cães se aproxima dela e lambe o seu rosto, a fazendo soltar gritinhos felizes e
todos rirem.
— Au au — ela fala e o Gabriel a olha, surpreso, corre para a filha e a
pega no colo.
— Repete meu bem — ele diz, manso, para ela, que grita novamente e
agarra o pescoço do pai. Claramente essa garota o tem nas suas mãos, ou melhor,
no seu dedo mindinho.
Claro que ela não repete a palavra que tinha dito e logo o Daryl chama
todos para cortarem o bolo, aí a festa passa de feliz para tensa, porque antes do
parabéns nós ouvimos palmas e uma voz que eu gostaria de nunca mais ter de
escutar.
— Que tocante, uma festinha em família e ninguém pensou em me
convidar — diz Lana, brotando, talvez, do inferno.
— Como você entrou? — pergunta Daryl, totalmente alerta e tenso.
— Você deveria verificar melhor os seus seguranças, querido — ela diz,
sorrindo. — Pode ter algum espião — completa, imitando um sussurro.
— Como assim? — ele questiona, a encarando com ódio, eu olho para o
Trevor e ele parece apavorado.
— Você checou todos os caras que trabalham para você? — ela pergunta,
divertida, e ele acena positivamente, totalmente pasmo. — Inclusive, os
contratados depois do incidente com o Liam? — ela insiste e um brilho de
reconhecimento atravessa o rosto dele.
— Você os mandou aqui — ele afirma e ela concorda.
— Você ficou descuidado, cunhadinho — ela ironiza e, quando ele dá um
passo em sua direção, ela saca uma arma, apontando para ele.
Todos arfamos de surpresa, com medo do pior. Essa defunta tinha que
estragar a festa?!
*Amanda *

Essa defunta louca está me irritando, primeiro aparece do nada, beijando


o meu homem, depois some no ar para brotar do inferno à nossa frente, portando
uma arma. Sinto um grande medo por todos que estão presentes, sei que ela tem
total intenção de causar um grande estrago. Olho para o lado e percebo o Daryl
estático, olhando um ponto atrás da Lana, que está distraída encarando o Trevor
com ódio, acenando disfarçadamente com a cabeça em negação. Ela não podia
voltar para o inferno de onde saiu?!
— Você estragou tudo, agora o meu irmão foi condenado à morte pela
máfia — ela diz, voltando a sua atenção para o Daryl. — A culpa disso é sua!
— Eu o avisei para não se meter com eles, entregar mercadoria uma ou
outra vez e fazer alguns serviços é uma coisa, mas entrar para a máfia é outra
totalmente diferente — diz Daryl, passando a mão na cabeça, em um gesto
nervoso. — O Liam nunca foi bom em escutar outras pessoas nem em apagar os
próprios rastros, depois que se associou com a máfia, ficou mais arrogante e isso
foi a causa da sua sentença de morte. Ele faria isso com ou sem a minha ajuda.
— Bom, uma vida por outra, então, o meu irmão vai morrer, eu tenho
direito de matar alguém importante para você — ela diz, olhando atentamente
para todas as pessoas. Enquanto isso, percebo o Daryl se posicionar
estrategicamente na frente da Nathy, quando a Lana está olhando para longe
deles.
— Olha, você pode recomeçar a sua vida, sem o Liam, sem a gangue,
sem tudo isso — diz Trevor e eu tenho que revirar os olhos para a ingenuidade
dele.
— A minha vida já está mudando, eu estou no controle total da gangue,
tenho todos os homens sob o meu comando — ela diz e eu lamento internamente
que ela tenha esse poder.
— Você tem o poder de acabar com isso tudo — insiste Trevor.
— Eu não quero acabar com isso, fui eu que insisti para que o meu irmão
se aliasse com a máfia, para tentarmos de todas as formas entrar, até que ele
conseguiu — ela declara e eu acho estranho, não conheço muito a máfia, mas
imaginava que não fosse fácil de entrar e impossível de sair. — Não sei como ele
conseguiu ou em troca do que, mas sei que não quero sair.
— Mesmo que eles matem o seu irmão, que é a única família que você
tem? — pergunta Trevor e ela parece pensar por um momento.
— Eu quero comandar a máfia, não preciso do meu irmão para isso —
ela responde e eu fico confusa. Ela está apontando uma arma para o Trevor e o
Daryl por causa do irmão, mas diz que não precisa dele? Só pode ser louca!
— Pense bem no que vai fazer, porque, se você atirar em qualquer pessoa
aqui, será presa em flagrante e, com certeza, você não servirá de nada para a
máfia, se estiver presa — diz um homem que eu não conheço e eu ouço o Daryl
amaldiçoando. — O que sei sobre a máfia me diz que, se você não é útil para
eles, você é descartável.
— Você agora é amiguinho de tiras? — pergunta Lana ao Daryl
parecendo um pouco mais descontrolada.
— Pelo menos, ele não vai me matar se eu for preso — responde Daryl,
dando de ombros.
— Ele não, mas já que tem um policial aqui, eu já não tenho nada a
perder, posso te matar agora mesmo — ela diz, levantando a arma que havia
abaixado brevemente e apontando novamente para o Daryl, que levanta as mãos
em rendição.
— Se eu vir o seu dedo se mexer, eu atiro — diz o homem atrás dela,
com uma arma em punho também.
— Desgraçado — ela xinga e eu vejo o seu dedo no gatilho, fecho os
olhos com medo, ouço dois disparos e grito junto com todas as pessoas que estão
nesta festa.
Abaixo-me, colocando as mãos para proteger os ouvidos e permaneço
com os olhos fechados, sentindo uma dor terrível na perna.
— Malditos! Malditos! — Ouço-a gritando, mas não me mexo com
medo. — Eu volto para acabar com vocês, eu juro que volto.
Ouço a gritaria à minha volta, mas permaneço onde estou, totalmente em
choque e sem controle sobre o meu corpo. Eu não quero ver o estrago que essa
louca causou, mas imagino que não seja muito, visto que, foram dois disparos e
ela deve ter fugido.
— Amanda — alguém chama, mas eu permaneço encolhida. — Amanda!
— Ouço me chamarem novamente.
— Alguém a ajude! — outra pessoa grita. — Chamem uma ambulância!
— Meu amor, você está bem? — Reconheço a voz do Trevor e abro os
olhos para vê-lo agachado à minha frente, me olhando, preocupado, mas inteiro.
Eu tento me levantar, mas a dor se torna insuportável e eu grito, sendo amparada
por ele.
Quando olho para a perna que está doendo, entro em pânico. Eu trabalho
em um hospital, mas nada neste mundo prepara uma pessoa para levar um tiro e,
neste momento, o meu mundo se apaga e eu não vejo mais nada.

* Trevor *

Porra! A Lana, além de louca, tem uma mira péssima. Eu não sei se
agradeço por ninguém ter se ferido de forma mais grave ou se entro em
desespero, porque é a minha namorada sendo socorrida, depois de levar um tiro
da Lana. O agente Rodrigues conseguiu atirar nela e a levou presa, o grande
problema é que tinha alguém esperando por ela do lado de fora e a maldita
conseguiu fugir.
A Amanda desmaiou nos meus braços, devido ao choque e,
milagrosamente, a ambulância não demorou muito para chegar. Estou indo com
ela na ambulância para o hospital, enquanto o Daryl nos segue com a Nathy, em
seu carro. Eu pedi para que os demais fossem para as suas casas, que darei
notícias quando tudo estiver resolvido.
Os momentos mais angustiantes são aqueles em que permanecemos na
sala de espera, depois do paciente entrar na emergência e ficamos sem nenhuma
notícia, por horas. E assim eu fiquei, junto com o Daryl e a Nathy, aguardando o
médico voltar e me dar alguma notícia.
* Amanda *

Esses momentos flutuando entre a inconsciência e a consciência são


bizarros, mas sinto a minha cabeça e corpo pesados, então prefiro voltar a
dormir.
Não sei se passaram minutos, horas ou dias, mas sinto a minha boca um
pouco seca. Um pouco? Parece que o deserto do Saara está na sua garganta!
Acho que depois disso, não vou querer ver um hospital tão cedo, o pior é ter que
trabalhar em um. Por fim, resolvo tentar abrir os olhos e qual não é a minha
surpresa quando dou de cara com a minha avó, dona Hilda, me encarando
atentamente.
— Até que enfim abriu esses olhos, pensei que teria que jogar água nessa
sua cara para acordar — ela diz e eu desacredito que estou realmente a vendo.
— O que faz aqui? — pergunto e ela parece irritada.
— Isso lá é jeito de falar com a sua avó, garota? — ela diz, indignada. —
Eu tentei ligar para o seu número novo e um rapaz atendeu, eu liguei para avisar
que resolvi vir te visitar e me surpreendi ao descobri que estava hospitalizada.
— Não era para a senhora saber dessa forma — respondo, com
dificuldade e tusso um pouco, surpreendentemente rápido ela aparece com um
copo d’água com um canudo dentro.
— Beba devagar, minha filha — ela diz, enquanto eu bebo água.
— Estava com saudade — digo e uma lágrima solitária escapa do meu
olho, ela limpa e faz carinho no meu rosto.
— Eu também estava e por isso resolvi vir até aqui te visitar, já que você
não aparece em casa — ela reclama e eu levanto uma sobrancelha, porque ela
mora em outro país, não é como se eu pudesse ir todo final de semana para lá. —
Eu sei que não é perto, mas uma vez por ano você deveria ver a sua velha avó,
nunca se sabe quando não estarei mais aqui.
— Vira essa boca para lá, você vai virar semente — brinco, sentindo a
garganta melhor depois de tomar água.
— Não sou eterna, criança, vim para ficar com você — ela diz e eu fico
sem jeito.
— Eu não tenho onde morar, estou no apartamento do meu namorado,
porque o meu contrato de aluguel venceu e eu não arrumei outro — conto a ela,
que me olha, surpresa.
— Está morando com ele antes do casamento? — ela pergunta e eu rio.
— Digamos que era isso ou viver na rua, mas ele me faz feliz, vozinha,
muito feliz — digo e a vejo se derreter.
— Tudo bem, mas onde eu vou ficar, então? — ela pergunta e eu sorrio.
— Por sorte, tem um quarto de hóspedes no apartamento dele, acho que ele não
vai reclamar se a senhora for para lá.
— Ele me pareceu um bom rapaz, foi me buscar no aeroporto, me
explicou tudo o que aconteceu e, cada vez que falava de você, eu via os olhos
dele brilhando — ela diz, fazendo carinho na minha cabeça. Então, algo passa
pela minha cabeça, se ela está aqui, como vai fazer o tratamento?!
— Vó, e o seu tratamento? — pergunto e ela olha para a janela do quarto
onde estou.
— A situação ficou muito complicada por lá, pedi para o médico uma
carta para poder continuar o tratamento aqui, na esperança de você me ajudar,
por trabalhar em um hospital — ela desabafa e eu fico preocupada.
— Não conseguiu o transplante? — pergunto, preocupada.
— Os médicos não querem arriscar, dizem que pela minha idade é muito
perigoso e que poderiam perder a paciente e o órgão, fora a dificuldade de
encontrar alguém compatível — ela diz e eu sinto vontade de chorar.
— Vamos resolver isso, eu posso doar para a senhora — eu digo
querendo resolver a situação.
— Melhor não, minha filha, você pode precisar e eu não quero que passe
pelo mesmo que eu, dependendo de uma máquina de hemodiálise para fazer o
trabalho dos meus rins — ela diz e enxuga uma lágrima que eu não percebi ter
escapado.
— Eu sou saudável, posso doar e sei que o nosso tipo sanguíneo é o
mesmo, O positivo — digo. — Inclusive, eu devia ter doado antes.
— Eu não quero, só preciso continuar o tratamento e vou viver bem.
— Mas e esses dias sem hemodiálise? É perigoso — digo, preocupada
com a saúde dela.
— Tudo vai dar certo, tenho fé.
Logo entra o Trevor no quarto e a nossa conversa é encerrada, eu
imagino que esteja no hospital onde trabalho, mas quero tirar a dúvida.
— Em qual hospital eu estou?
— No NY Hospital, por quê? — pergunta Trevor, depois de me dar um
beijo na testa e cumprimentar a minha avó, com um beijo na bochecha.
— Chama o Dr. Sanders, por favor — peço, já querendo resolver o
assunto.
— O que está acontecendo? — ele pergunta, preocupado, porque sabe
que o Dr. Sanders é oncologista.
— Nada, só preciso falar com ele — respondo e o Trevor sai do quarto,
voltando pouco depois com o Dr. Sanders.
— Bom dia, Amanda, o que precisa falar comigo? — ele quer saber.
— Dr. Sanders, o hospital ainda tem aquela ala de hemodiálise? —
pergunto e ele me olha, espantado.
— Menina, você está com algum problema? — ele pergunta e eu nego
com a cabeça, o que parece o deixar aliviado. — Temos essa ala, sim.
— Como faço para que a minha avó possa fazer hemodiálise?
— Bem, se ela tiver o encaminhamento de um nefrologista, podemos
fazer a ficha e logo ela pode começar, o mais rápido possível, lembro-me de ter
conversado com um colega esses dias e ele disse que tem algumas vagas.
— Vó, pode entregar os documentos para o doutor, e deixe o pagamento
comigo — digo para a minha avó.
— Sim, filha, deve estar na minha mala toda a documentação que o
hospital precisar — ela responde.
— Essa é sua avó, Amanda? — pergunta o Dr. Sanders.
— Sim, essa é dona Hilda, minha avó — respondo e ele a cumprimenta.
— Vou ver se consigo fazer alguma coisa para que não tenha que pagar o
tratamento, sei que é caro — ele diz.
— Pode deixar, tenho dinheiro guardado e o que ela não puder pagar, eu
o faço — diz Trevor, que estava quieto todo esse tempo.
— Não precisa se preocupar, meu jovem — diz a minha avó, mas ele faz
um sinal com a mão, como se não fosse nada de mais.
— Preciso, sim, a senhora é avó da mulher da minha vida e eu quero
ajudar — ele responde.
— Obrigada, agora tenho certeza de que você é o homem certo para a
minha neta — ela diz, o abraçando, e eu reviro os olhos.
— Ele é um pateta presunçoso, mas eu o amo — digo, dando de ombros.
— O que posso fazer?!
— Eu também te amo, princesa — se declara Trevor.
— O que aconteceu com a Lana? — pergunto.
— Ela fugiu, tinha um pessoal esperando por ela na saída da casa e
emboscaram o agente Rodrigues, que conseguiu se defender, mas não conseguiu
impedir que ela fugisse — ele responde e eu fico tensa.
— Calma, ela não vai aparecer tão cedo, porque agora é procurada por
fingir a própria morte, invasão e tentativa de homicídio — ele diz, mas não tenho
como ficar calma com essa doida livre.
* Amanda *

Fico alguns dias no hospital, em observação, o Trevor acompanha a


minha avó na hemodiálise e ela parece bem. Claro que ela faz um elogio atrás do
outro para o namorado da sua neta que lhe dá tanta atenção e carinho, eu tenho
medo desse momento de nova calma, mas tento não pensar muito nisso.
Por causa do tiro que levei, a minha perna precisará ficar imobilizada por
mais alguns dias e eu não poderei voltar ao trabalho tão cedo. O médico me disse
que estou me recuperando muito bem, mas que é bom tomar cuidado para que
não volte a sangrar nem nada do tipo. O Trevor agora me trata como se eu fosse
de vidro e isso me irrita grandemente, além disso, os amigos dele, agora meus
amigos também, vieram me visitar. Eles garantiram que mais ninguém se
machucou e que, além de terem que acalmar as crianças e a Kate, tudo está bem.
Assim que tenho alta o Trevor me leva para o seu apartamento, onde sou
recebida com uma animada festa de boas-vindas. Estou usando muletas para me
ajudar a andar e o Trevor também me auxilia durante todo o caminho. Claro que
ajuda, como você esperava subir as escadas sem o Sr. Músculos para te
carregar?!
A primeira pessoa que registro na sala é a minha avó e, ao lado dela, a
Sra. Jane, chego o mais rápido possível perto dela e a abraço, um pouco
desajeitada, mas com toda a saudade que eu senti nesse tempo que fiquei longe
dela.
— Vozinha — sussurro no seu ouvido e ouço a risada dela.
— Minha filha, você vai acabar me sufocando — ela diz, em tom de
brincadeira e eu a solto, devagar.
— Acho que não fiquei perto da senhora o suficiente, então, agora que
estou em casa, não desgrudo mais — digo, dando de ombros, e todos riem.
— Vejo que perdi a namorada — comenta Trevor, divertido.
— Talvez, ela é muito importante para mim — respondo para ele.
Depois que todos me abraçam e perguntam como estou, nos espalhamos
pela sala, eu fico em uma poltrona bem confortável, com a perna esticada.
Fico feliz por ter essas pessoas perto de mim, todos eles ganharam um
espaço no meu coração, olho para a Sra. Jane, que está olhando os gêmeos com
carinho de avó, cuidando para que não se machuquem.
— Filha, você tem um alicate de cutícula? — minha avó pergunta,
sentada no sofá, e eu a olho, confusa.
— Para quê? — questiono.
— Tem uma pelinha sem graça me incomodando, não consigo tirar sem o
alicate — ela responde, me olhando com aqueles lindos olhos azuis. Ai que
inveja que eu tenho desses olhos cor de céu.
— Não pode, vó, a senhora pode se machucar e tem diabetes, é perigoso
— digo e ela me olha, brava.
— Como se eu nunca tivesse feito a minha unha na vida — ela responde.
— Calma, vó, só estou cuidando da senhora, vai que essa cutícula acaba
sendo grande e te machuca, pode infeccionar — digo e a impeço de argumentar.
— Eu vou procurar uma manicure para tirar essa pele com cuidado para não te
machucar, sua cicatrização é lenta por causa da diabetes e se um machucado
ficar aberto, pode pegar alguma bactéria.
— Tudo bem, vou esperar um pouco, aguentei até agora — ela diz,
dando de ombros, e não posso deixar de sorrir, ela está sendo teimosa e sei que
se não tomar cuidado, pode acabar arrancando essa pelinha que a está
incomodando e se machucar. Não quero nem pensar no que pode acontecer, caso
ela pegue alguma bactéria.
— Eu mesma posso te ajudar também — digo e ela me olha, animada. Eu
balanço a cabeça, sorrindo para ela.
Depois de conversar com todos, acariciar a barriga da Kate e brincar com
os gêmeos, ficamos somente Trevor, minha avó e eu no apartamento, e já me
sinto cansada. Trevor me ajuda a ir para a cama, me dá os remédios que o
médico receitou, me ajuda com o banho e me deixa na cama, avisando que vai
verificar se a minha avó precisa de alguma coisa. Quando volta, se deita ao meu
lado e me abraça apertado.
— Senti sua falta, princesa — ele diz no meu ouvido, causando arrepios
pelo meu corpo.
— Também senti a sua falta, mas não fiquei fora por tanto tempo assim
— digo, o olhando.
— Para mim, pareceu uma eternidade — ele diz e eu sorrio.
— Dramático — brinco.
— Eu fiquei apavorado quando vi que a Lana tinha te atingido, sei que
aquela bala era para mim — ele diz, sério.
— Ela é louca, não é culpa sua — digo.
— Ela está totalmente fora de controle, tenho medo dos seus próximos
passos.
— Uma coisa de cada vez, alguém a localizou? — pergunto.
— Não, o agente Rodrigues disse que, por sorte, estava usando um colete
à prova de balas e não sofreu nenhum ferimento grave — ele responde.
— Quem vai a um aniversário usando um colete à prova de balas? —
pergunto, confusa.
— Aparentemente, ele vai, por isso que não teve problemas e conseguiu
se defender, infelizmente não conseguiu impedir que ela fugisse — ele diz e me
encara, preocupado. — Mas eu te disse isso quando você estava no hospital, não
lembra?
— Você não contou esse detalhe do colete.
— Bem, continuam procurando por ela, agora que sabem da sua ligação
com a máfia, o jogo fica um pouco mais perigoso — ele diz, tenso. — Essas
pessoas não estão para brincadeira e não custa nada tirar do caminho quem pode
atrapalhar.
— Vamos viver um dia de cada vez, pensar em um problema de cada vez
— digo, tentando disfarçar o medo que estou sentindo.
— Sim, vamos — ele diz e beija os meus lábios, com carinho. Depois me
aconchego em seu corpo e caio no sono, devido ao efeito dos remédios.

* Trevor *

Eu durmo, abraçando forte a Amanda, quase morri de preocupação


depois que ela levou um tiro. Sei que tiro na perna não mata, na maioria das
vezes, mas ela poderia ter uma hemorragia, podia ter acertado uma artéria e ela
sangrar até a morte. Vários cenários horríveis passaram pela minha cabeça.
Quando os médicos avisaram que a cirurgia correu bem e que ela logo iria para o
quarto, eu quase desmaiei de alívio. Também quase desmaiei quando atendi ao
celular dela e, para a minha surpresa, era a sua avó, perguntando onde estava a
neta.
Como eu iria dizer que a neta tinha levado um tiro, uma notícia dessas
por telefone poderia causar um ataque cardíaco nela, então, contei apenas que a
Amanda estava no hospital, porque tinha passado mal. Ela não engoliu bem a
mentira e me avisou que estava vindo para cá visitá-la, eu me prontifiquei a
buscá-la no aeroporto e quando a encontrei, acho que foi amor à primeira vista.
Uma senhora bonita como a neta, mas com cabelos brancos curtos e olhos tão
azuis quanto o céu no verão.
Fui buscá-la com um dos carros do Daryl, um que não chamasse muita
atenção e logo seguimos para o hospital. Lá ela ficou até a Amanda acordar, não
demorou muito, mas ela falava que se ela não acordasse, jogaria água nela. A
mulher era um doce de pessoa e me apaixonei pela avó da minha namorada,
como se fosse minha própria avó.
Depois que a Amanda acordou e teve alta, voltamos para o meu
apartamento, onde os nossos amigos nos esperavam para dar as boas-vindas para
ela. Conversamos, comemos e nos divertimos, até que todos fossem embora.
Ajudei a Amanda e fui ver a sua avó, para ter certeza de que estava bem, depois
de deitar ao lado dela, posso pensar em tudo o que passou e não posso deixar de
ficar preocupado. O que será que a Lana vai aprontar agora?
* Trevor *

No dia seguinte, acordo cedo para levar a dona Hilda à hemodiálise, já


conversei com o novo nefrologista dela para ver a possibilidade de um
transplante e a maior preocupação dele é que a diabetes dela precisa estar
controlada para que a cirurgia seja bem-sucedida. A Amanda não sabe, mas pedi
para fazerem exames, ver se posso ser compatível, depois que soube pelo que a
sua avó passa, mas infelizmente o meu tipo sanguíneo é diferente e eu não posso
ser doador dela. Fiquei triste em saber disso e resolvi nem contar para a Amanda
que eu tentei.
Estou com o mesmo carro que usei para buscá-la no aeroporto, o Daryl
me disse para ficar com ele, enquanto ela estiver aqui, porque uma senhora não
andaria em uma moto. Acho que eu nem tentaria fazê-la andar na moto.
Chegamos ao hospital e percebo que ela manca um pouco ao andar.
— Está tudo bem? — pergunto.
— Sim, só aquela pelinha no meu pé, está incomodando e começou a
doer um pouco — ela responde.
— Será que está machucado?
— Não se preocupe, estou bem, quando arrancar essa cutícula, vou ficar
muito melhor — ela responde e entra na ala de hemodiálise.
Dentro da sala onde ficam os pacientes não são permitidos
acompanhantes, então eu espero do lado de fora pelas quatro horas que ela fica
lá.
Quando o médico sai, comento da dor que ela está sentindo no pé.
— Infelizmente, pelos exames que ela fez, a diabetes está um pouco alta,
então ela está proibida de retirar essa cutícula, pode causar um ferimento que não
vai cicatrizar e contrair uma infecção — ele diz.
— Mas ela está reclamando de dor, está até mancando — digo.
— É melhor deixar do jeito que está, pelo menos até a diabetes dela
abaixar — ele diz e segue para ver os pacientes do andar.
Pouco depois, ela sai, parecendo cansada.
— Está bem? — pergunto e ela me olha, atravessado.
— Se me perguntar de novo, será você que não se sentirá bem, rapaz —
ela ameaça.
— Vejo que está realmente bem, quer ajuda? — pergunto e ela ameaça
me bater, mas eu fujo.
— Tem medo, mas não tem vergonha — ela resmunga.
Seguimos para casa em um clima tranquilo, ao chegar encontro a
Amanda na cozinha, pulando de um lado para outro, tentando cozinhar.
— Vocês duas vão me deixar de cabelos brancos — resmungo, revirando
os olhos.
— O que foi? — pergunta Amanda.
— Primeiro, a sua avó com a tal cutícula, vou cuidar dela; e quando
chego, encontro você de pé — respondo e é a sua vez de revirar os olhos.
— Eu não aguentava mais ficar deitada, estava com fome — ela diz,
dando de ombros e o meu estômago escolhe este momento para roncar alto.
— Estômago traidor — digo.
— Vai trabalhar hoje? — ela pergunta.
— Sim, vou depois do almoço — respondo. — Desde que a sua avó
chegou, eu combinei com o Gabriel que nos dias em que ela fizer hemodiálise,
eu entro após às 12h, para poder levá-la e trazê-la para casa — completo e vejo
seu olhos se encherem de lágrimas.
— Obrigada por cuidar dela — ela diz, eu me aproximo e deixo um beijo
em sua testa, enquanto ela me abraça, apertado.
— Eu adoro a sua avó, não é esforço algum, e o Gabriel entende que
vocês precisam de mim — respondo, antes de pegá-la no colo, a fazendo soltar
um gritinho de surpresa. — Agora, já para a cama, enquanto eu termino o
almoço.
— Me deixa terminar, Trevor — ela pede.
— Não — respondo, antes de entrar no quarto e deixá-la na cama. —
Agora, fica quietinha, enquanto o papai aqui cozinha.
— Estou até com medo — ela diz, antes de rir.
— Não gosta da minha comida? — pergunto.
— Não experimentei muita coisa, além de café da manhã — ela diz,
dando de ombros.
— Então, se prepare para uma refeição deliciosa — digo, antes de deixar
o quarto e seguir para a cozinha.
Depois de ter o almoço pronto, nós todos comemos e eu sigo para o
trabalho, essas últimas semanas muitos projetos têm ficado acumulados. E assim
foram os dias que se passaram, quando não tinha que levar a dona Hilda à
hemodiálise, eu entrava cedo no trabalho e, quando tinha que levá-la, entrava
depois do meio-dia. Chegar em casa e encontrar as duas sentadas no sofá, por
vezes, abraçadas ou, então, com a cabeça da Amanda no colo da sua avó e
recebendo um gostoso cafuné, me faz sorrir sempre que me lembro delas.
Hoje eu vim cedo para a empresa, por causa de um projeto urgente, estou
tão concentrado no trabalho, que dou um pulo de susto quando o celular toca,
fazendo a Bia parar o que está fazendo e me olhar, com uma sobrancelha
levantada.
— Alô?! — atendo, sem olhar o identificador.
— Trevor, vem para casa, agora. — Reconheço a voz da Amanda ao
telefone.
— O que aconteceu? — pergunto, já me levantando e fazendo a Bia se
levantar junto, me olhando, preocupada.
— A minha avó, ela não está bem — ela diz, com a voz embargada.
— Calma, estou saindo da empresa, logo chego em casa — digo. —
Mantenha a calma e cuida dela. — Tento acalmá-la e encerro a chamada.
— O que aconteceu? — pergunta Bia. — Alguma coisa com a dona
Hilda? — ela quer saber, pois em pouco tempo aquela avozinha linda roubou o
coração de todos, sempre me perguntavam dela e ela tratava todos com respeito
e carinho. Conquistou o amor dos meus amigos.
— A Amanda me disse que ela não está bem, vou para casa — aviso e
volto a olhar para ela, antes de sair. — Avisa ao Gabriel, por favor — peço e ela
acena positivamente com a cabeça. — Obrigado.
Corro para o estacionamento e saio na minha moto, indo para casa,
tomando cuidado para não correr muito e, ainda assim, chegar o mais rápido
possível. Entro no meu apartamento e encontro a Amanda no sofá, chorando, já
imagino o pior.
— O que aconteceu? — pergunto.
— Lembra aquela tal cutícula, que a minha avó vivia reclamando? — ela
retruca e eu aceno, me recordando das frequentes reclamações de dor por causa
de uma cutícula. — Na verdade, ela acabou arrancando a pelinha, enquanto eu
ainda estava no hospital — ela diz e eu a olho, confuso.
— E como ela ainda sentia dor? — indago.
— Ela acabou se machucando, como eu tinha medo de que acontecesse,
mas não contou para ninguém que estava com o pé machucado — ela responde,
antes de um soluço escapar. — Ela é diabética, o ferimento não cicatrizou e ela
estava tentando tapar para não infeccionar, mas acho que não adiantou.
— Vamos levá-la ao hospital, vão cuidar dela e ela vai voltar para casa
bem e saudável — digo para ela, já procurando as chaves do carro.
— Trevor, por causa da hemodiálise, ela tem a imunidade baixa, qualquer
infecção pode matá-la — ela diz e me abraça, chorando. — Eu não quero perdê-
la.
— Calma, onde ela está agora? — pergunto.
— Ela está deitada, não aguenta nem andar direito — ela responde,
respirando fundo para tentar conter as lágrimas.
— Vamos ajudá-la a descer para o estacionamento e vamos para o
hospital — digo para ela, que acena.
Depois de muito tempo, devido a termos que descer devagar, chegamos
ao estacionamento e saímos em direção ao hospital. Ao chegar, já chamo os
enfermeiros que correm com uma cadeira de rodas para levá-la para dentro e,
acabo ficando sozinho com a Amanda em uma sala de espera, que a cada minuto
que passa parece mais fria.
* Amanda *

A minha avó não, não vou aguentar perdê-la.


Eu rezo em silêncio para que tudo dê certo, por mais que meus
conhecimentos na área da saúde me digam que as chances são poucas, preciso
me apegar em qualquer mínima esperança de ter a minha avó mais um pouco
comigo. Não seria justo se, depois de tanto tempo sem vê-la, não pudesse
aproveitar mais algum tempo da sua presença na minha vida.
Pelo que parecem horas, não sinto nenhuma dor no meu corpo, só o meu
coração que dói de expectativa e medo. Quase vou até o posto de enfermagem
procurar por notícias, mas o Trevor me abraça e me conforta. Tempo demais se
passa, até que o médico vem até a sala de espera.
— Familiares de Hilda Baker — ele chama e eu levanto, em um pulo.
— Eu sou neta dela — respondo e ele me olha por um momento, antes de
soltar um suspiro, enquanto eu seguro a respiração.
— Nós a medicamos para que não sinta tanta dor, mas devido à sua saúde
o estado dela é grave e inspira atenção — ele diz e eu solto o ar que estava
prendendo, em nenhum momento aliviando a dor que eu sinto.
— Ela vai ficar bem? — pergunto e ele me encara, sério.
— Nós dois sabemos que uma infecção desse porte é um risco para o
organismo dela que, por causa da hemodiálise, tem a imunidade baixa, mas
faremos o possível por ela — ele diz e eu aceno positivamente, mas em choque.
— Posso vê-la? — pergunto.
— Sim, vocês dois podem vê-la — ele responde e nos leva até o quarto
onde ela está. — Vamos mantê-la em observação por alguns dias, para tratar a
infecção, faremos a hemodiálise no quarto para que não corra risco de pegar
nenhuma outra bactéria, enquanto tentamos conter a infecção no pé.
— Está muito ruim? — pergunto, antes de entrar no quarto.
— Bem, a bactéria basicamente tomou o pé dela, causando uma bolha de
pus que ela conseguiu esconder, porque ainda conseguia usar sapatos, mas a
demora em cuidar do ferimento foi o que fez a bactéria se desenvolver.
— Entendo — digo, para encerrar o assunto.
Nós entramos no quarto e ela me encara, sorrindo, e eu quase desabo na
sua frente, mas procuro me manter forte.
— Que susto me deu, vó — digo e me aproximo para dar um beijo na sua
testa.
— Calma, minha filha, não vai se livrar de mim assim, tão fácil — ela
diz, em tom de brincadeira e eu a encaro, séria.
— Não brinca com uma coisa dessas, devia ter avisado que estava com o
pé machucado, assim que chegou — digo, em tom de reprimenda e ela revira os
olhos.
— Aí, seríamos duas no hospital e quem ia cuidar de você? — ela
retruca.
— Bem, podíamos cuidar uma da outra — digo, mexendo as
sobrancelhas e a fazendo sorrir, isso acalma um pouco e aquece o meu coração.
— Vão cuidar bem de você aqui e eu não vou sair do seu lado.
— E a sua perna? — ela pergunta, preocupada.
— Não se preocupe comigo, o importante é você se livrar dessa infecção
e voltar logo para casa, sim? — digo e ela acena concordando.
— Vou me esforçar — ela diz e pouco depois adormece, por causa dos
remédios.
— Ela vai sair dessa — diz Trevor.
— Sim, ela vai — afirmo, mas tendo plena consciência de que seu estado
é grave.
Os próximos dias se passam em um borrão, eu passo dias e noites ao lado
da minha avó, cuidando dela e a ajudando no que eu posso, mesmo com a perna
ainda imobilizada. Chega a ser engraçado quando a ajudo a ir ao banheiro, fica
difícil saber quem ajuda quem a se equilibrar e, todas as vezes, ela quase acaba
fazendo xixi, antes de chegar ao banheiro, de tanto rir.
Por causa das dores que ficaram mais fortes, o médico resolveu dar
morfina para tentar aliviar a dor. O problema é que ela era medicada antes da
hemodiálise e, assim que dialisava, a dor voltava com força. Teve dias em que
ela só conseguia ficar sentada e com os pés pendurados na lateral da cama, eu
pegava as minhas muletas para me apoiar e a fazia se apoiar em mim, para que
tentasse dormir um pouco.
As enfermeiras me obrigavam a comer, eram minhas colegas de trabalho
e sempre me davam bronca por estar emagrecendo demais, por me esquecer de
comer para cuidar da minha avó. Estou agora mesmo esperando-a terminar de
comer para ir até o refeitório comer um lanche, quando a vejo largar o talher no
prato.
— Filha, não estou me sentindo bem — ela diz e eu levanto, em um pulo,
quase caindo por causa da perna e me lembrando de pegar e muleta para me
aproximar mais da cama.
— O que está sentindo? — pergunto.
— Não consigo respirar — ela diz, tentando puxar o ar e parecendo não
conseguir. Eu aperto a campainha ao lado da cama, diversas vezes, em total
desespero e, quando estou a caminho da porta para gritar por ajuda no corredor,
entram algumas enfermeiras juntamente com o médico de plantão.
— Como está, dona Hilda? — pergunta o médico.
— Ela não consegue respirar, doutor — informo, percebendo que a
coloração no rosto dela está mudando.
— Por favor, senhorita, precisamos de espaço para cuidar dela, pode
aguardar no corredor — diz uma enfermeira, enquanto vejo o médico se
aproximar, afastando a mesinha de refeição dela e colocando um balão para
tentar fazê-la respirar.
— Vamos precisar entubar — o ouço gritar, antes de fecharem a porta na
minha cara.
Ligo imediatamente para o Trevor, que eu mandei voltar para casa, por
ter que trabalhar no dia seguinte.
— Princesa? — ele atende, sonolento.
— Vem para cá, por favor, preciso de você — digo, já sentindo lágrimas
deixarem os meus olhos, em total desespero.
Vejo pessoas entrando e saindo do quarto dela e, correndo, quando um
desfibrilador é levado para o quarto, eu desabo no chão, chorando
descontroladamente. Eu estou perdendo-a.
Pouco depois, entram mais pessoas com uma maca e saem de lá
rapidamente, levando a minha avó.
— Para aonde estão levando-a? — pergunto.
— Para a UTI — responde o médico, correndo atrás dos enfermeiros e eu
nem tento alcançá-los, preferindo esperar o Trevor onde estou.
* Amanda *

O Trevor chega e me carrega no colo até a UTI, ficamos na sala de


espera, aguardando notícias e se, em algum momento, vou poder vê-la. Mais
horas se passam, sem que ninguém saia para me dizer como ela está e a angústia
só aumenta. Qualquer pessoa que sai, eu já olho com esperança de ter alguma
boa notícia. Acabo desmaiando de exaustão no ombro do Trevor, enquanto ele
cochila com a cabeça encostada na parede.
— Familiares de Hilda Baker — chama o médico e eu levanto a cabeça,
acordando, assustada.
— Sou neta dela — respondo, sem me levantar e ele se aproxima.
— Ela teve uma parada cardiorrespiratória e tivemos que ressuscitá-la,
conseguimos fazê-la voltar, mas o estado dela é muito preocupante — ele diz e
eu me seguro para não chorar descontroladamente. — A infecção avançou
muito, por mais que tentássemos contê-la e, mesmo conseguindo drenar a bolha
de pus que se formou no pé dela, o ferimento continuou aberto por causa da
diabetes e o pé dela pode acabar necrosando.
— Se o pé dela for amputado, tem alguma chance de salvá-la? —
pergunto, tentando me agarrar a qualquer mínima possibilidade.
— Não com a infecção tão forte, já não está mais localizada apenas no
pé, está generalizada — ele responde e eu ofego. Não pode ser.
— Ela não tem chance? — pergunto, com as lágrimas já escapando.
— Vamos fazer todo o possível para que tenha essa chance, mas não
posso dar muitas esperanças — ele diz e eu respiro fundo.
— Posso vê-la?
— Pode, precisa colocar uma roupa própria, mas isso, você já sabe — ele
diz e nos indica o caminho para que eu possa colocar a roupa adequada, com a
ajuda do Trevor.
Entro no quarto onde está a minha avó na UTI e me seguro firme para
não cair, ver a mulher guerreira que eu tanto admiro inconsciente e respirando
por aparelhos acaba comigo, mas tenho que ser forte por ela. Ela tem que viver.
— Vó, por favor, resista, por mim, seja forte — digo para ela, com
lágrimas escapando dos meus olhos.
Pego a sua mão, parece gelada demais, então eu esfrego, tentando
aquecê-la, sem querer pensar na possibilidade de que sua alma já não esteja mais
ligada ao seu corpo.
— Você tem que acordar — peço.
Fico mais alguns minutos e sou avisada de que terei que ir embora.
— Nós vamos cuidar dela, vai dialisar aqui, a partir de agora — diz a
enfermeira. — Não se preocupe, vai para casa e, qualquer coisa, nós te avisamos.
Eu retorno para perto da minha avó e beijo a sua testa e, depois, sua
bochecha, com carinho.
— Eu te amo muito, sempre vou te amar — digo para ela e, antes de sair,
penso ter visto uma lágrima escorrer do seu olho, antes do medidor de
batimentos se alterar e fazer um único ruído constante, que me destrói por
dentro.
— Se afaste, Amanda — diz a enfermeira, antes que outro enfermeiro me
guiasse para fora e eu percebesse a movimentação para tentar reanimá-la.
Choro desconsoladamente, meu coração está em pedaços e eu me sinto
destruída. Percebo o Trevor ao meu lado, me abraçando e chorando junto
comigo, mas sem realmente registrar conscientemente qualquer coisa que não
seja que eu a perdi. Eu a perdi definitivamente.
O Trevor, juntamente com o Gabriel e o James cuidam de tudo para o
velório e o enterro. Eu não consegui nem ligar para os meus pais para dar a
notícia, foi o Trevor que cuidou disso e providenciou passagens para que eles
viessem para cá. Todo o tempo após chorar no ombro dele, eu permaneci
anestesiada, olhando para o nada.
Quando meus pais chegaram, me abraçaram e a minha mãe chorou a
morte da sua mãe, enquanto eu a consolava em silêncio e sem mais chorar, meu
pai chorou a sua morte também, mas eu não conseguia registrar mais nada. Não
conseguia absorver nada que acontecia à minha volta.
O pior momento foi quando a enterraram, porque ali, debaixo daquele
monte de terra estava a melhor avó do mundo inteiro e foi ali que eu desabei
novamente, me ajoelhando ao lado da cova, enquanto continuavam a enterrá-la,
e chorando alto. Os soluços faziam o meu corpo tremer inteiro, todas as minhas
forças se foram naquele momento e eu já não segurava mais todo o sofrimento
que sentia. Trevor se ajoelhou ao meu lado, me abraçando forte, enquanto eu me
agarrava a ele, como se a minha vida dependesse disso, e talvez dependesse
mesmo.
Jogamos várias violetas para a minha avó, uma única coroa de flores, que
eu exigi que fossem violetas, ficou em cima da cova, agora fechada. Em sua
lápide, está gravado: “Melhor avó do mundo, mãe e companheira, te amamos
para sempre.”
Sinto como se uma parte de mim tivesse morrido junto. Depois que a
minha avó foi enterrada, eu passei os meus dias deitada no quarto que ela
ocupou, enquanto esteve aqui, sentindo o seu cheiro na cama, no seu travesseiro
e dormindo abraçada a ele. Eu não falava com ninguém, quase não comia e
chorava muitas vezes, eu estava me afundando e não tinha nenhuma vontade de
me salvar.

* Trevor *

Ver a minha garota se afundando, sem deixar ninguém se aproximar, me


entristece profundamente. Eu tentei todos os dias, desde que a avó dela se foi,
me aproximar e tentar fazê-la voltar a viver, mas nada funcionou. Os pais dela
foram embora logo após o enterro e a Amanda ficou enfiada nesse quarto, desde
então, deitada, sem comer, sem levantar, sem fazer nada e sem deixar ninguém
chegar perto. Tentei chamar as meninas, pedi ajuda, mas nada de ela sair desse
estado e eu estou ficando realmente desesperado, então resolvo tomar uma
medida drástica. Espero, sinceramente, que funcione.
Da última vez que a Bia veio, ela estava com a Kate e a Nathy e
nenhuma delas fez muito mais do que tentar falar com a Amanda. Mas eu sei que
a Bia quis falar mais coisas e se segurou, porque ainda estava recente, agora se
passou uma semana e a Amanda precisa voltar a viver. A Bia chega ao meu
apartamento e me olha, preocupada.
— Você está horrível — ela diz, ao passar por mim.
— Continuo com a mesma cara de sempre — respondo.
— Não, você está abatido, triste, está se afogando junto com a Amanda e
não está nem percebendo — ela diz e me encara profundamente, parece enxergar
a minha alma e isso me deixa envergonhado. — Você realmente a ama de
verdade, não é?
— Se não amasse, eu não estaria desesperado para que ela saia desse
estado, se ela não se levantar, vai ficar doente — respondo, ela acena
brevemente.
— O que quer que eu faça? — ela pergunta.
— Use a sua total sinceridade e um pouco de falta de tato, para ver se ela
acorda — respondo e ela levanta uma sobrancelha. — Se eu fizer isso, ela vai
me bater e me deixar, melhor que seja alguém que não mora com ela — digo e
dou de ombros, a fazendo soltar uma risada.
— Continua o mesmo idiota de sempre — ela diz. — Mas eu vou te
ajudar, vamos ver se essa minha sinceridade funciona do jeito que você quer —
ela finaliza e se vira para ir em direção ao quarto onde Amanda está, desde que
voltou do enterro.
* Amanda *

Faz uma semana que eu a perdi e me perdi junto, acho que essa foi a gota
d’água que transbordou o copo da minha sanidade. Perdi totalmente a vontade de
viver e sei que estou definhando, o meu corpo pede por comida, pede por
movimento, por carinho, mas eu me afasto de tudo isso. O Trevor está
desesperado para me fazer sair da cama, mas eu não o permito uma
aproximação. Sei que estou levando o meu recente relacionamento a um fim
precoce, mas não sinto vontade de nada, sinto apenas uma profunda tristeza.
Ouço uma música, parece distante, mas consigo distinguir a voz da
cantora Anahí. A música fica mais próxima, até que a porta do quarto se abre e
eu escuto perfeitamente Te Puedo Escuchar.
“Se que tus alas se quedan conmigo
Que desde el cielo tu abrazo es mi abrigo
Ángel divino me cuidas del mal
Se que camino con tu compañía
Que con tu voz se me encienden los días
Aunque tu puerta hoy este mas allá
Te puedo escuchar
Te puedo escuchar…” [5]

Olho para a pessoa que segura o celular de onde sai a melodia e não
seguro as lágrimas que descem pelo meu rosto ao ouvir a música triste.
— Amanda — chama a Bia, se aproximando com o celular ainda
tocando.
— Por favor, vá embora — peço, deitando novamente na cama em
posição fetal, o que tenho feito muito nos últimos dias.
— Não — ela responde e eu me viro para encará-la.
— Como? — questiono, pensando ter escutado errado.
— Não vou embora, você me ouviu — ela nega, com a expressão dura.
— Veio aqui para me fazer sofrer mais? — pergunto, irritada.
— Não, eu vim aqui ver se reage — ela diz e eu a olho, confusa, ela bufa,
revirando os olhos. — Você está tempo demais enterrada neste quarto, até parece
que quem morreu foi você.
— Como ousa? — digo, com raiva.
— Pelo amor, você fala como se ninguém nunca tivesse perdido alguém
importante na vida — ela diz e eu a encaro, abismada.
— Respeite a minha dor — murmuro.
— Eu respeito a sua dor, não respeito é esse comportamento infantil,
porque parece que você quer realmente morrer — ela diz, sem nenhum tato, e
mais lágrimas caem do meu rosto.
— Acho que não gosto muito de você agora — resmungo.
— Olha só, não estou aqui para que goste de mim, estou aqui porque o
meu amigo está desesperado, vendo a mulher que ama definhando na sua frente
e nada do que ele fez funcionou para que saísse desse estado — ela diz.
— Eu sei que ele está chateado, mas… — eu tento me defender, mas sou
interrompida.
— Mas nada, você quer que ele se afogue junto com você? — ela
questiona, elevando a voz e eu nego com a cabeça. — Você se importa, pelo
menos, um pouco com aquele cara que está na sala, desesperado por não
conseguir te ajudar?
— Claro que me importo! — respondo. — Mas estou sofrendo também.
— Olha só, eu sei melhor do que ninguém o que você está passando —
ela diz e eu bufo em deboche, a fazendo me encarar, irada. — Quem não respeita
a dor alheia agora?
— De que dor você acha que está falando? — retruco. — Não perdi
nenhum bichinho de estimação, perdi a minha avó!
— Mas é uma idiota mesmo — ela diz, levantando as mãos, como se
pedisse paciência. — Eu daria três tapas na sua cara agora, se não fosse pelo
Trevor, mas vou demonstrar uma paciência que não possuo e explicar porque eu
disse que entendo a sua dor.
— Vamos ver se entende mesmo — digo, ainda em tom de deboche e
nada me prepara para o que ela me revela.
— Eu perdi os meus pais e a minha irmã caçula, de uma vez, em um
acidente de avião, está bom para você ou quer mais? — ela diz, irônica, e o meu
queixo cai em choque. — Onde está o deboche agora?
— Me desculpe, eu não sabia — digo, sincera, e ela bufa.
— Claro, está muito preocupada, sentindo pena de si mesma, para
perceber que outras pessoas podem ter sofrido perdas, assim como você. Não
existe um medidor de melhor ou pior perda ou quem perdeu mais. O fato é que
sempre perderemos alguém importante em algum momento da vida, nunca
estaremos preparados para essas perdas, mas temos que saber superá-las e seguir
adiante. Tenho certeza de que a sua avó não estaria feliz se te visse desse jeito,
desistindo de viver depois de perdê-la, ela viveu a vida dela e tenho certeza de
que esperaria que você vivesse a sua — ela diz e isso me arrebenta.
— Como faço isso? — pergunto, totalmente perdida.
— Primeiro, entenda que você sempre vai sentir falta dela, ninguém
nunca vai substituir a sua avó — ela diz, limpando as minhas lágrimas, com
carinho. — Segundo, que tudo bem você sentir dor, é normal doer a perda, mas
aos poucos vai ficando suportável e mais fácil de levar — ela continua, me
puxando para um abraço, onde acabo derramando mais lágrimas. — Você ainda
vai chorar muitas vezes, terão dias em que a saudade será muito mais forte que
em outros, mas você tem pessoas ao seu lado que te amam, para te ajudarem a
levantar — ela diz e eu me afasto um pouco, a olhando confusa, ela revira os
olhos. — O Trevor é doido por você, garota. Além disso, todos nós gostamos
muito de você. Você cuidou muito bem e com muito carinho da Sra. Jane,
conquistou os nossos corações e tem a nossa amizade e o nosso carinho.
— Vai me fazer chorar de novo — digo, em tom de brincadeira, e ela ri.
— Aos poucos, vai ficar mais fácil, o tempo cura todas as feridas — ela
garante e eu a abraço novamente.
As palavras da Bia penetram as barreiras que eu não tinha percebido que
construí em torno do meu coração, são tão profundas e verdadeiras, que eu sinto
os cacos do meu coração se juntando aos poucos. Essa dor vai levar um tempo
para aliviar e, como ela disse, a saudade será eterna, mas ela tem razão em dizer
que a minha avó gostaria que eu seguisse a minha vida e mantivesse comigo
apenas os momentos felizes que passamos juntas.
Preciso continuar a minha vida, preciso levantar e seguir em frente. E é
exatamente isso que eu vou fazer.
* Amanda *

Depois de um, quase literal, tapa na cara da Beatriz, nós ficamos


conversando por um tempo, até que o Trevor entra no quarto.
— Oi, tudo bem com vocês? — ele pergunta, receoso. — Eu escutei
umas vozes alteradas e, depois, silêncio, fiquei com medo de que tivessem se
matado — ele completa e reviramos os olhos juntas.
— Bem, não nos matamos, nos entendemos — responde Beatriz.
— Na verdade, a Bia me ajudou a ver algumas coisas — digo e ele cruza
os braços, se encostando no batente da porta.
— E o que ela te ajudou a ver? — ele pergunta.
— Que a minha avó não gostaria de me ver desse jeito, provavelmente
ela me daria um belo sermão agora mesmo, e que ela gostaria que eu vivesse a
minha vida, que seguisse em frente — respondo. — Um dia, vou conseguir
aguentar a saudade, a dor vai ficar mais suportável, eu espero — digo, dando de
ombros, e um sorriso se desenha em seu rosto bonito.
— Fico aliviado em saber disso — ele diz.
— Sim, queridinho, agora você me deve uma — diz Beatriz, se
levantando e passando por ele. — Vou deixá-los sozinhos, para se entenderem, já
fiz a minha parte de fazer aquela ali desenterrar a cabeça da própria bunda, agora
faça a sua e vá fazer carinho na sua garota, já a deixei acessível! — ela diz e eu
dou risada.
— Sensível como sempre — ele ironiza.
— Idiota como sempre — ela responde, antes de ir embora, pouco depois
ouço a porta do apartamento abrir e fechar, deixando Trevor e eu sozinhos
novamente.
— Então funcionou mesmo ou você estava fingindo para que ela te
deixasse em paz? — ele pergunta, se aproximando e sentando na cama, perto de
mim.
— Eu fiquei com um pouco de medo de que ela me batesse — confesso e
ele solta uma gargalhada.
— Eu fiquei com medo de que isso acontecesse também — ele diz, ainda
rindo, e eu sorrio para ele.
— Bem, ela me contou algumas coisas e eu percebi que a minha dor não
é maior ou pior do que a de ninguém — digo. — A minha avó gostaria que eu
seguisse em frente e já faz uma semana que ela se foi, está na hora de seguir a
minha vida, apesar de ainda doer muito — completo e ele me abraça.
— Sempre vai sentir falta dela, mas precisa seguir em frente, está certa
em dizer que a sua avó gostaria disso — ele diz, beijando a minha cabeça. —
Você vai conseguir, tenho certeza, e eu estarei ao seu lado.
— Obrigada por não desistir de mim, sei que fui um pé no saco esses dias
— digo e ele solta uma risada.
— Você vale a pena, é uma em um milhão — ele diz e deitamos, ainda
abraçados, acabamos dormindo assim.
Acordo com uma música de batida gostosa, tocando em um volume
relativamente baixo, Trevor já não está na cama e eu imagino que esteja na sala
ou na cozinha. Me levanto e vou ao banheiro fazer a minha higiene matinal,
aproveito para tomar um banho e já me sinto um pouco mais humana. Percebo a
camiseta do Trevor jogada na cama e a visto, percebendo que bate no meu
joelho. Me aproximo da sala e presto mais atenção na música, relembrando o
que ele me falou ontem, antes de dormirmos. “Você vale a pena, é uma em um
milhão.” E a música fala exatamente isso, um em um milhão é esse amor que eu
sinto por ele e pensar que eu quase desisti dele, perdida na minha própria dor.
Cega como sempre, né, minha filha?!
“... Seu amor é um em um milhão
Sempre e sempre
Você realmente me dá um bom sentimento
O dia todo
Seu amor é um em um milhão
Sempre e sempre
Você realmente me dá um bom sentimento
O dia todo…”[6]

— Tá romântico hoje — digo, sorrindo, e ele me olha com um enorme


sorriso no rosto.
— Tenho motivos para sorrir, tenho a minha garota comigo — ele
responde e eu me aproximo para dar um selinho em seus lábios.
— Eu te amo — digo e ele me dá outro beijo, antes de responder:
— Também te amo, princesa.
Nós tomamos café da manhã e percebo que o meu estômago sentiu falta
de comida, ele parece bem agradecido, enquanto eu como as panquecas que o
Trevor fez para mim e tomo o suco de laranja que ele também fez. Depois de
tomarmos café, o Trevor me leva de carro ao hospital para vermos como está a
recuperação da minha perna. Por sorte, está cicatrizando bem e eu não preciso
mais da faixa, além disso, consigo dobrar um pouco o joelho.
— Talvez, você não precise de fisioterapia — diz o ortopedista e eu
sorrio animada.
— O que eu puder fazer para me recuperar mais rápido, eu faço — digo.
— Esse tempo que esteve de repouso, ajudou a sua perna a se recuperar,
principalmente por se movimentar pouco — ele diz e eu vejo que pelo menos
uma coisa boa aconteceu quando me isolei do mundo. — Você volta semana que
vem, para que eu veja se já pode retornar para o trabalho, preciso ter certeza de
que não vai prejudicar a sua perna, antes de te liberar.
— Tudo bem — digo e olho para o Trevor, sorrindo.
— Pode parar com o antibiótico, porque não corre mais risco de uma
infecção — ele informa e eu fico feliz por não ter que tomar mais remédio.
— Tudo bem, semana que vem eu volto, então — digo, me despedindo
dele e voltamos para casa.
Depois de toda essa turbulência, acho que finalmente as coisas vão
começar a voltar aos eixos e espero que continue assim. Não aguento mais levar
pancada. Tem como dar um tempo, produção?!
Chegamos em casa em um clima leve e eu volto para o nosso quarto, em
vez de dormir no quarto que a minha avó ocupou, não posso ficar remoendo isso
a vida inteira. Depois de jantarmos, nos deitamos, conversamos um pouco e
dormimos novamente abraçados. Só peço que cuide de mim de onde estiver,
vozinha.
* Amanda *

Uma semana depois, eu retorno ao trabalho, ainda me sinto cansada e vez


ou outra a minha perna dói um pouco, mas estou feliz por poder ocupar a minha
mente e cuidar dos pacientes, estou pensando em fazer a faculdade de
enfermagem, para tentar uma promoção aqui no hospital. Eu estava feliz com o
meu cargo de auxiliar, mas ando sentindo a necessidade de novos desafios e acho
que um cargo de enfermeira chefe me daria esses desafios, além de ganhar um
pouco mais e ser mais independente do Trevor.
Por sorte, não encontro o Dr. Jenkins durante o meu turno, que acaba
rápido e posso voltar para casa.
— Sabe, eu estava pensando em voltar a estudar — digo ao Trevor,
enquanto estamos jantando.
— Isso é ótimo, pretende fazer o quê? — ele pergunta.
— Enfermagem, já conheço e trabalho na área, além disso, eu gosto do
que faço — respondo e um enorme sorriso se estende no seu rosto.
— Fico muito feliz com isso, se precisar de ajuda, pode contar comigo —
ele diz e eu me animo ainda mais.
Os dias passam e o clima entre o Trevor e eu melhora cada dia mais,
estamos cada vez mais apaixonados e planejamos passar a sexta-feira juntos,
assistindo a um filme, abraçados no sofá. Infelizmente, nossos planos foram
frustrados, quando dois casais resolveram ter uma noite romântica e eu fui
escalada para ficar de babá, junto com a Sra. Jane, enquanto o Trevor teve que
fazer hora extra no trabalho, para terminar um projeto urgente. Do que adianta
planejar, se dá tudo errado.
Como se não bastasse, um novo integrante da família resolveu nascer
antes do tempo, claro que a Sra. Jane quis ir correndo ver a filha e o neto, assim
como eu não poderia ficar sozinha com os filhos da Beatriz. Esses dois são
lindos demais, mas também são muito arteiros, não é à toa que todos os chamam
de pequenos terroristas. Para a minha surpresa, um homem alto, moreno, de
olhos azuis e um corpo de dar água na boca — que o Trevor nunca descubra isso
— toca a campainha e eu fico com o queixo caído, olhando para ele.
— Boa noite, este apartamento é da Sra. Jane? — ele pergunta e eu fico
ainda mais surpresa. Será que é namorado dela? Mulher sortuda!
— Sim, é aqui, quer falar com ela? — respondo.
— Bem, eu vim buscar a Mel e o Max para passarem a noite comigo,
enquanto a Sra. Jane vai visitar a filha e o neto — ele diz, ainda sério, e eu juro
que gostaria de ser uma mosquinha para vê-lo cuidando desses dois pestinhas.
— Claro, entre, que eu vou ajudar a Sra. Jane a terminar de arrumá-los
— respondo e dou passagem para que ele entre. — Fique à vontade, pode se
sentar, que já voltamos com as crianças — digo e saio quase correndo em
direção ao quarto, onde a Jane está com os dois, me esperando.
— Jane, os Long mandaram um cara para buscar os gêmeos — informo,
quase sem fôlego, após entrar no quarto correndo e fechar a porta, me
encostando nela.
— Calma, menina, deve ser o Nick — ela diz.
— Esse deus grego tem nome, então — digo e ela ri.
— Claro que tem e parece que é o dono da Reed, pelo que os meninos
comentam dele, é viciado em trabalho — ela diz, dando de ombros e me olha,
intrigada. — Você não está namorando o Trevor?
— Estou, sim, senhora, mas não sou cega e o cara é lindo — respondo e
ela ri alto.
— Você não tem jeito mesmo — ela diz, balançando a cabeça, e eu
sorrio.
Terminamos de arrumar os gêmeos, arrumamos a malinha deles e
voltamos para a sala, com cada um acomodado em seu bebê conforto.
— Aqui estão eles, eu te ajudo a colocá-los no carro e, se precisar de
ajuda para cuidar deles, pode me falar, que posso ajudar — digo e vejo a Sra.
Jane balançando a cabeça, divertida.
— Pode deixar que eu dou conta — ele responde, parecendo um pouco
incomodado e eu o encaro, intrigada.
— Você, por acaso, já cuidou de crianças antes? — pergunto.
— Não, mas para tudo tem uma primeira vez, né? — ele responde, dando
de ombros, e eu acho melhor deixar quieto.
— Ok, eles já jantaram, então só precisam de uma mamadeira antes de
dormirem — informo, quando chegamos à portaria do prédio, mesmo ele
dizendo que não precisava de ajuda e carregando os dois sozinho, eu preferi vir
junto para, pelo menos, abrir as portas, já que ele estava com as mãos ocupadas.
— Boa sorte com eles — digo, quando ele termina de ajeitar os bebês no banco
traseiro do carro e se prepara para sair.
Despeço-me da Sra. Jane, que entra no banco do passageiro, porque ele
vai deixá-la no hospital, quando estou sozinha peço um Uber e volto para casa.
Acho que não foram só os meus planos que não deram certo hoje, os planos de
todos foram alterados por causa do nascimento do filho da Kate. Fico realmente
feliz por eles, merecem toda a felicidade do mundo, depois do que eu soube que
eles passaram para ficarem juntos, até proposta de carreira solo o James rejeitou
para ficar com a Kate.
Quando chego, encontro o apartamento apagado e vazio, tomo um banho
e pego um copo para tomar um pouco de leite, feito isso, volto para o quarto e
pego o meu celular para mandar uma mensagem para o Trevor.
[AMANDA] Ainda no trabalho?
Aperto em enviar e aguardo a resposta, que geralmente é rápida, mas
parece que a mensagem nem chegou para ele e sinto um aperto estranho no
peito, um pressentimento que algo ruim aconteceu e eu espero estar errada.
Resolvo ligar para o celular dele, em vez de esperar uma resposta, se ele estiver
com o celular, vai atender. Tento várias vezes, mas todas caem direto na caixa-
postal e eu fico ainda mais preocupada.
Ligo para a Nathy, que ainda está na casa do Daryl, ele já está
recuperado, mas ele não saiu de lá ainda e não fala para ninguém o motivo.
— Alô? — ela atende.
— Nathy, sou eu, Amanda — digo.
— Está tudo bem? — ela pergunta.
— Eu não sei — respondo, com a voz embargada.
— O que aconteceu?
— O Trevor disse que ia trabalhar até mais tarde hoje, para entregar um
projeto urgente, mas não responde as minhas mensagens e quando eu ligo, cai
direto na caixa-postal — eu digo.
— O pateta deve ter se esquecido de carregar o celular, se acalma, que eu
vou tentar descobrir se ele saiu da Reed, ok? — ela diz.
— Ok, vou tentar me acalmar, me liga se tiver alguma notícia — peço.
— Sim e você faça o mesmo, vou avisar ao Daryl para ver se ele
consegue descobrir alguma coisa também — ela diz e nos despedimos em
seguida.
Não vou ligar para a Beatriz e atrapalhar o encontro romântico dela com
o marido, então resolvo preparar um chá de camomila para me acalmar. Prefiro
não tomar nada para dormir, para evitar estar capotada se alguém tiver uma
notícia ou se o Trevor chegar, quero ter certeza de que ele está bem.
* Trevor *

Estou muito irritado, não, na verdade, estou muito puto. Trabalhei até
mais tarde para terminar um projeto urgente, quando gostaria de passar a noite
com a minha garota, mas o universo conspirou contra nós e ela ficou de babá,
enquanto eu cobri o meu trabalho e o da Bia, para que ela tivesse uma noite
romântica com o marido. Qual é o problema nisso? Absolutamente nenhum,
mesmo, até eu sair da Reed estava tudo certo, o grande problema é que
acertaram a minha cabeça e me apagaram, só me lembro do impacto e agora da
grande dor que sinto na cabeça, me lembrando do quanto fui imprudente de não
prestar atenção quando saí da empresa. Claro, saiu feito um pateta feliz e sem
olhar para os lados ou para trás. Aliás, pouco antes de ser atingido, lembrei que
tinha ido à empresa de moto e ia voltar para pegá-la, acho que trabalhei demais e
esqueci que tinha ido trabalhar com ela, bem quando parei e ia voltar para a
Reed, fui nocauteado. O pior? Eu não tenho ideia de onde estou.
Ouço uma porta abrindo e não posso dizer que estou surpreso ao ver
quem entra no local, com mãos e pés amarrados em uma cadeira.
— Ora, ora, finalmente o belo adormecido resolveu acordar — diz Lana,
chegando perto, vestida toda em couro, com óculos escuros e o cabelo preto
comprido preso em uma trança estilo Lara Croft.
— Por que não estou surpreso que você tenha me sequestrado? —
retruco.
— Provavelmente, porque você esperava que eu fizesse isso para não ter
mais que ver aquela mosca morta da sua namorada — ela responde, com uma
careta de desgosto.
— Não exatamente, você estava quieta demais para quem saiu tão puta
do meu aniversário, esperava um movimento seu bem antes — digo e ela me
olha, surpresa.
— Como assim? — ela pergunta, agora irritada.
— Você não conseguiu atingir nem a mim nem o Daryl com aquele tiro,
atingiu a perna da Amanda e foi tão leve, que ela levou pouco tempo para se
recuperar, ou seja, o que quer que tenha ido fazer na casa do meu irmão, você
falhou — respondo e ela me olha, ainda mais irada.
— Eu ia propor de fugirmos juntos, para bem longe daqui, o Daryl é um
homem morto por atrapalhar os planos da máfia e não tem chance de escapar,
então, realmente pretendia te salvar, mas acho que é melhor te matar mesmo —
ela diz, pegando uma arma que estava escondida na sua calça e apontando para
mim. — Porém, primeiro eu quero me divertir um pouco com você, já faz muito
tempo desde a última vez que transamos.
— Sério, se quer me matar, faça logo, porque não há nenhuma chance no
inferno que o meu pau vá subir por você — digo e ela me dá um tapa, com tanta
força, que viro o rosto com o impacto e sinto a ardência na minha bochecha.
Esse tapa deve ter deixado a marca da mão dela.
— Idiota! Você sempre estraga tudo — ela diz, com o rosto bem perto do
meu.
— Da última vez que conferi, não fui eu que me fingi de morto e fui
embora, deixando a pessoa que supostamente amava para ser ameaçado de morte
pelo irmão querido — digo, sarcástico.
— Tome muito cuidado com as suas palavras, quem está no comando
aqui sou eu, posso te dar uma morte rápida ou fazê-lo implorar para morrer —
ela ameaça, com um sorriso doente no rosto. — São as suas ações que dirão
como devo prosseguir, mas com certeza você não sai vivo daqui, uma peninha
não poder se despedir da sua amada — ela diz e vai embora, me deixando
sozinho novamente.
Como não tenho nada para fazer aqui, começo a reparar no lugar onde
estou preso e, pelo tamanho, parece um dos quartos da sede da gangue, ou seja,
não estou muito longe. Começo a testar as cordas que amarram as minhas mãos,
para ver se consigo escapar de alguma forma, mas está muito apertado e, as
minhas mãos estão para trás, não consigo ver qual o nó usado e se tem alguma
forma de conseguir fugir.
A produção deve estar de sacanagem comigo, para colocar uma ex-
defunta no meu caminho toda santa vez. Eu penso que tudo vai dar certo, aí a
Lana aparece e o mundo desaba na minha cabeça. Será que não dá para ter um
minuto de paz?!
Muito tempo depois de desistir de desamarrar essa corda, sem cortar a
circulação das minhas mãos, entra um dos caras da gangue, com uma bandeja de
comida.
— Come aí — ele diz, colocando a bandeja na cama, considerando que
eu estou amarrado, sentado em uma cadeira, vai ser difícil de conseguir comer.
— Será que poderia desamarrar as minhas mãos, para que eu possa
comer? — pergunto e ele me olha, desconfiado. — Cara, eu estou amarrado em
uma cadeira, se você deixar a bandeja na cama, eu vou morrer de fome e a
comida vai esfriar, porque não vou conseguir chegar até a cama e, muito menos,
comer.
— Ok, mas não diga a ninguém que te soltei, vou esperar você comer
para te amarrar novamente — ele diz, antes de tirar a bandeja da cama, colocar
em uma mesa que está no canto do quarto e empurrar a minha cadeira até lá.
Eu até penso em nocauteá-lo quando me desamarrar, mas primeiro
preciso de um plano de fuga e algo me diz que a Lana ainda vai me manter aqui
por mais alguns dias, provavelmente até conseguirem pegar o meu irmão.
Depois de ter as mãos desamarradas, eu como o que está no prato,
inclusive, bebo a água, sem medo de ser envenenado, seria muito fácil. Quando
termino de comer, tento convencer o cara a não me amarrar na cadeira
novamente.
— Posso, pelo menos, ir para a cama? — pergunto e ele me olha ainda
mais desconfiado. — Não vou conseguir dormir, se estiver sentado nesta cadeira
e é capaz de cair com cadeira e tudo, se pegar no sono — explico, mas antes que
ele diga alguma coisa, a Lana entra novamente no quarto.
— Está pensando que aqui é o quê? — ela pergunta. — Isso é um
sequestro, não está hospedado em um hotel e vai ficar na cadeira, sim, se cair,
problema seu! — ela diz e olha para o outro cara em seguida. — E você vai vir
conversar comigo depois, o que eu falei sobre desobedecer às minhas ordens?
— Sim, Lana, vou amarrá-lo e já vou para o escritório — ele responde,
de cabeça baixa, enquanto eu encaro os dois, totalmente pasmo.
— Quem dá as ordens aqui sou eu, te espero no escritório em dois
minutos — ela diz e sai do quarto, batendo a porta.
— Acho que ela ficou irritada — comento e ele bufa.
— Ela tem feito isso desde que o irmão foi preso e ela passou a
comandar a gangue — ele reclama e me amarra. — Olha, você sempre foi legal
comigo, mas não posso correr o risco de ser castigado — ele diz e eu o
reconheço.
— Sérgio, certo? — pergunto.
— Sim — ele confirma e eu lembro que ele entrou para a gangue muito
mais novo do que eu quando entrei. Sempre o tratei como um tipo de irmão
caçula e não esperava que ainda estivesse aqui.
— Olha, não quero que tenha problemas por minha causa, mas tenho a
impressão de que ela tem muito mais chances de levar todos vocês para o buraco
do que o irmão dela — digo e ele acena.
— Eu sei, mas com a máfia envolvida, as coisas ficaram mais perigosas
— ele comenta, antes de conferir a hora no relógio. — É melhor eu ir, se ela
tiver que vir me buscar, não vai ser bonito — ele diz, antes de sair e fechar a
porta.
E aqui estou eu, novamente com mãos e pés amarrados e sem nenhum
plano de fuga em mente.
* Amanda *

Tive que vir trabalhar de ônibus, porque o Trevor não apareceu ainda e
hoje pego o turno do dia. Eu gostaria muito de ter conseguido falar com ele, uma
mensagem, qualquer coisa, mas ninguém sabe nada dele, parece que evaporou,
sumiu. A única notícia que eu tive foi da Nathy, que contou que o segurança que
estava no turno da noite viu o Trevor saindo do prédio a pé pelas câmeras, ele
nunca voltou para o prédio e a moto dele continua no estacionamento. O que
será que ele foi fazer fora da Reed e sem a moto?!
Milhares de possibilidades flutuam pela minha mente e não quero pensar
muito tempo em nenhuma delas, junto a isso, a Nathy me contou que naquela
mesma noite tentaram invadir a casa do Daryl, mas não conseguiram, porque ele
reforçou a segurança depois do incidente no aniversário.
Mal consigo me concentrar no trabalho com a preocupação aumentando a
cada minuto, sem notícias do Trevor. Não queria incomodar os Long nem os
Taylor, mas acho que será necessário, porque o Trevor é amigo deles e, pelo que
fiquei sabendo, James pode tentar rastrear o celular do Trevor. Se o tal celular
estivesse ligado, seria uma possibilidade, né, querida?!
Mesmo com poucas chances de sucesso, tento ligar para a Bia.
— Amanda? — ela atende.
— Sim, como está? — a cumprimento.
— Ótima, depois da noite de ontem, e agora aproveitando o momento
família com o Gabriel e as crianças — ela diz e suspira. — Mas e você?
— Eu nem sei como dizer isso, mas preciso da sua ajuda — digo, sem
responder a sua pergunta.
— O que precisa? — ela pergunta.
— Preciso de ajuda para encontrar o Trevor, ele sumiu ontem e ninguém
sabe onde está — respondo.
— Vocês brigaram?
— Não, nem nos falamos depois que eu fui para o apartamento da Sra.
Jane, ajudar a cuidar dos gêmeos.
— Estranho, tentou ligar para ele? Às vezes, ele pode não ver as
mensagens — ela diz.
— Várias vezes, cai direto na caixa-postal — respondo.
— Isso é preocupante, agora te entendo — ela diz. — Vou ver com os
seguranças se o viram ontem.
— A Nathy já fez isso, ele saiu da Reed a pé e sumiu — conto e ela
ofega.
— Ele saiu sem a moto? — ela questiona, espantada.
— Sim, isso é o mais estranho, estou com um mau pressentimento —
digo, passando a mão no peito, em cima do coração, para tentar aliviar o aperto
que estou sentindo.
— Vou ver se o James pode ajudar — ela diz.
— Mas o filho dele nasceu ontem — digo, não querendo atrapalhá-lo,
enquanto curte o filho recém-nascido, e ela bufa.
— O Trevor é amigo dele, com certeza ele vai ficar bravo se não
pedirmos a sua ajuda — ela diz. — E, Amanda?
— Sim.
— Avise a polícia, também não estou com um bom pressentimento desse
desaparecimento — ela diz e eu concordo.
Antes de ligar para a polícia, eu prefiro pedir ajuda da Nathy novamente
e ela diz que o agente Rodrigues já foi avisado e está cuidando de tudo, não me
sinto mais tranquila, mas, pelo menos, estão todos se esforçando para encontrá-
lo.
Chego em casa à noite, emocionalmente cansada e lutando para não me
entregar ao desespero, não posso perder o Trevor, ele também não! Peço a Deus
que o mantenha a salvo, para que eu possa encontrá-lo e poder ficar junto dele
para sempre. Não vejo mais a minha vida sem ele, não mesmo.

* Trevor *

Juro que estou quase implorando para me matarem, mas parece que a
Lana quer me destruir aos poucos. Todos os dias sou alimentado, claro que eu
como desesperado, porque estou morrendo de fome. O que acontece depois?
Aparece alguém, me espanca até que eu acabe vomitando tudo o que está no
meu estômago e mais um pouco. Neste momento, está quase insuportável ficar
dentro deste quarto e eu me sinto fraco o suficiente para saber que será bem
difícil fugir. O quão doente tem que ser uma pessoa para alimentar a outra e
fazê-la colocar tudo para fora logo depois?!
Eu sei que estou bem arrebentado, pelas dores que sinto parece que tem
alguma costela quebrada, meu ombro está deslocado e em algum momento o
meu tornozelo foi torcido. É claro que eu não posso me esquecer dos meus
olhos, que quase não abrem e o nariz que eu tenho certeza de que está quebrado
também, meus lábios estão cortados e acho que também tenho um corte no
supercílio. Ou seja, não devo parecer nenhuma estrela de Hollywood neste
momento.
Enquanto eu estou distraído, tentando sentir no meu corpo se tenho mais
algum ferimento, a porta se abre novamente e, pelo que ouço, são duas pessoas
que entram. Dá um desconto, não consigo enxergar muita coisa, além de vultos
no momento.
— Ora, ora, se não é o intrometido do Trevor — diz uma voz feminina,
que eu tenho a impressão de conhecer. — Como se sente agora? — ela pergunta
e eu bufo, sem responder.
— É falta de educação não responder às visitas, meu amor — diz a outra
pessoa, que eu sei ser a Lana.
— Não sabe quem eu sou? — pergunta a outra voz e eu não consigo me
lembrar de quem é, então simplesmente nego com a cabeça. — Bom, menos
mal, melhor assim mesmo — diz a voz e ouço os passos se afastarem.
— Sorte a sua que o seu irmão é bem escorregadio, mas temos outros
meios de fazê-lo sair do esconderijo — diz Lana e eu descubro o motivo de ser
mantido vivo.
A desgraçada vai me manter vivo até conseguir pegar o meu irmão, se ao
menos eu conseguisse falar com ele, avisá-lo para se manter afastado, mas tudo
o que posso fazer é esperar. E essa espera é desesperadora.
Tem um momento quando se está preso que o tempo passa a ser relativo,
já não sei se faz horas ou dias que eu estou neste lugar, mas cada dia que passo
aqui, desejo que seja o último. Desejo que eu seja resgatado ou que me matem
de uma vez e eu não sei qual dessas possibilidades eu gostaria mais agora,
porque a cada minuto que passa eu quebro mais e mais. Não quebro só
fisicamente, mas quebro interna e emocionalmente. Pedaços de mim são
destruídos, se tornam mais e mais sombrios, até que um ódio latente começa a se
apoderar de mim.
Não sei quanto tempo mais sou capaz de aguentar, até que esse Trevor
morra e no seu lugar apareça um que ninguém gostaria de conhecer.
* Trevor *

Sabe aqueles momentos em que você já não tem mais nada a perder?
Pois bem, estou em um desses momentos. Não faço a menor ideia de quanto
tempo faz que estou aqui, mas espero que o meu irmão não tenha desistido de
me procurar, porque quando eu sair daqui, a primeira coisa que vou fazer é
chutar a sua bunda por demorar tanto. Eu espero que ele esteja planejando
minuciosamente como me libertar, em vez de desistir. Já estou fodido o
suficiente para saber que o meu irmão deve ter sacado que um descuido seu pode
custar a sua vida e a minha, ele sempre foi mais esperto do que eu e tenho inveja
dele neste momento por isso.
Mas uma coisa boa eu posso tirar deste inferno, tive muito tempo para
pensar, tirando os momentos em que estava apanhando e não conseguia pensar
em nada que não fosse a maldita dor que estava sentindo e o quanto gostaria de
matar cada um que estava me batendo covardemente, enquanto eu estava
amarrado. Aprendi muito sobre mim, refleti sobre o meu passado e em como
sempre deixei todo o peso sobre as costas do Daryl, como fui cego para muitas
coisas e como fui extremamente otário em não perceber outras. Por exemplo,
como me deixei ser descoberto tão facilmente em Acapulco, como pude supor,
por um minuto que seja, que a Lana fosse inocente e, principalmente, como pude
subestimar a capacidade dessa defunta maldita de fazer algum movimento em
tão pouco tempo.
Depois do que eu acredito que seja a última sessão de espancamento do
dia, porque eles descansam durante a madrugada e começam novamente no café
da manhã, com a diferença de que agora estão proibidos de baterem no meu
rosto, por algum motivo que só a cabeça doente da Lana entende, mas estou
tentando me concentrar em qualquer coisa que não seja a dor e o cansaço que
estou sentindo neste momento, quando escuto o que parece uma explosão. Será?
Bem, um cara pode sonhar, certo?!
Alguns minutos depois, ouço o que com certeza é uma explosão, em
seguida uma movimentação grande fora do quarto e muitos gritos que parecem
instruções. Tenho certeza de que alguma coisa está errada, porque ninguém
aparece no quarto pelos intermináveis minutos que espero e este lugar está
começando a ficar um pouco quente. Isso é estranho, porque eu estava com um
pouco de frio, depois que a cadeira tombou no chão, então sentir calor agora não
é normal.
Para o meu total desespero, começo a sentir cheiro de queimado e sei que
esse lugar está em chamas. Onde caralhos está o Daryl, que não chegou ainda?!
A fumaça começa a invadir o quarto e fica difícil de respirar. Começo a
tossir, minha garganta arranha e eu sinto a minha consciência se esvaindo. Tenho
quase certeza de que estou morrendo, porque penso ter ouvido a porta ser
arrombada e alguém gritar:
— Trevor? Porra, Trevor! — Ouço a voz que eu suponho ser do Daryl.
— Tinha que entrar quebrando tudo? — pergunto e começo a tossir
incontrolavelmente.
— Vamos, você precisa me ajudar a te levar, não pode apagar agora —
diz Daryl.
— Não sei se percebeu, cof cof, mas estou, cof cof, amarrado — digo.
— Vou te desamarrar — ele diz, antes de levantar a cadeira onde estou e
me desamarrar. — Se tiver alguém vivo aqui ainda, eu juro que mato.
Logo saímos do quarto com o Daryl me ajudando a andar, acho que estou
mais arrebentado do que havia imaginado. Este lugar parece ainda maior do que
eu me lembrava, parece que não chegamos logo à saída. Quanto mais tempo
passamos aqui dentro, mais nós dois começamos a tossir e mais me sinto fraco.
— Estamos, cof cof, perto — diz o Daryl e fico preocupado com ele.
— Vai acabar, cof cof, intoxicado, cof cof, com a, cof cof, fumaça —
digo, já com dificuldade e ele somente bufa ao meu lado.
Quando vejo a porta de saída, aparece alguém à nossa frente. Porra,
produção, está de sacanagem, né?!
— Aonde pensam que vão? — pergunta a Lana e eu reviro os olhos
mentalmente, porque não consigo mexê-los direito ainda.
— Aonde acha que vamos, puta? — retruca Daryl, que, pelo que percebi,
está para lá de irritado com ela.
— Acham que vou perder a chance de matar vocês dois? — ela pergunta.
— Acha que estou, cof cof, com paciência, cof cof, para sua lenga-lenga?
— retruca Daryl, e eu percebo o rosto irritado dela, quando levanta a arma,
apontando para mim, percebo também um movimento do meu irmão ao meu
lado.
— Adeus aos dois, chegou a hora de… — ela é interrompida por um tiro
e nos encara, visivelmente surpresa.
— Cala a boca — diz Daryl e voltamos a andar, enquanto eu vejo a Lana
desabando, morta. — Essa realmente, cof cof, vai queimar no inferno, cof cof,
acho que não vai dar nem, cof cof, para reconhecer o corpo, cof cof, da megera.
Finalmente saímos e consigo ver que toda a estrutura do galpão está em
chamas. Sinto-me aliviado e frustrado ao mesmo tempo, aliviado por esse
pesadelo ter finalmente acabado e frustrado por não poder me vingar de todos
que me torturaram todo o tempo que fiquei preso.
— Todos estão mortos? — pergunto, antes de ter outro acesso de tosse.
— Poucos escaparam — responde Daryl, logo ouvimos sirenes e eu
deixo o meu corpo relaxar, sentando no chão.
Chegam carros de bombeiros, ambulância e polícia, ou seja, a cavalaria
toda. Somos socorridos pela equipe médica, enquanto os bombeiros tentam
conter as chamas, depois de nos colocarem no oxigênio, somos levados para o
hospital, mas ainda dentro da ambulância, eu pergunto:
— Por que demorou tanto?
— Porque eu precisava estar vivo para te resgatar, irmãozinho.
Chegamos ao hospital e somos levados para cuidar das queimaduras que
acabamos tendo e ficamos mais um pouco no oxigênio, para que os nossos
pulmões não fiquem comprometidos. Me permito relaxar e deixo o meu corpo
descansar.
Infelizmente, ao fechar os olhos as lembranças das torturas voltam para
me atormentarem e o medo de nunca mais ser o mesmo ressurge, com força.
* Amanda *

O alívio que eu sinto quando me avisam que chegou uma ambulância


com o Trevor e o Daryl é tão grande, que quase desmaio, eu corro em direção ao
local para aonde eles foram levados, mas infelizmente não me deixam entrar,
enquanto fazem todo o procedimento. Olho em volta no corredor e vejo o agente
Rodrigues no local.
— Sabe o que aconteceu? — pergunto e ele acena positivamente. —
Pode me falar?
— Trevor foi sequestrado — ele responde e eu reviro os olhos.
— Jura? Não tinha percebido! — respondo, sarcástica. — Quis dizer o
que fizeram com ele, para que tenha que ficar no hospital.
— Parece que ele foi muito torturado, tem algumas costelas quebradas,
ombro deslocado, entre outras coisas, por sorte, o irmão é louco e entrou no
lugar, explodindo tudo o que tinha pela frente — ele diz, dando de ombros, e eu
tenho que me escorar na parede para não cair.
— Será que eles vão ficar bem? — pergunto.
— Isso você tem que perguntar para o médico, mas se eu tiver que dar
uma opinião, então eu acho que sim, eles vão ficar bem — ele responde, antes
sair, avisando que vai buscar um pouco de café.
Ligo para a Nathy, avisando que o Daryl está no hospital, acho que ela
gostaria de saber, não sei o que esses dois têm, mas não desgrudam. Mais rápido
do que eu esperava, ela chega e, assim que me vê, corre em minha direção, me
abraçando.
— Como eles estão? — ela pergunta.
— Não sei, o médico não veio aqui ainda e eu não posso entrar lá —
digo, cruzando os braços, irritada.
— Calma, eles devem estar bem, pelo menos o Daryl estava, quando saiu
de casa hoje mais cedo, disse que não tinha hora para voltar, mas eu não
imaginava que ia encontrá-lo em um hospital, de novo — ela diz.
— Estou calma, o Trevor está lá dentro todo arrebentado, depois de
quatro dias preso e só Deus sabe o tipo de coisa que fizeram com ele — digo,
colocando as mãos no rosto e tentando não pensar nisso.
— Ele vai ficar bem — ela diz.
— Espero mesmo que sim — respondo.
— Familiares de Trevor Clark — chama o médico, assim que volto a
encostar na parede.
— Sou namorada dele e moro com ele — digo. — E trabalho aqui no
hospital — completo.
— Bem, ele teve o ombro esquerdo deslocado, o punho direito lesionado,
duas costelas quebradas, o nariz quebrado, lesão no tornozelo direito, diversas
lesões e cortes pelo tórax e pernas, supercílio com um corte já cicatrizando e o
lábio machucado — ele diz e eu ofego. — Além disso, sofreu algumas
queimaduras leves e inalou muita fumaça durante o incêndio.
— Incêndio? — pergunto e ele me olha, como se eu fosse doida, mas eu
não sabia de incêndio nenhum.
— Sim, incêndio, então ele ficará em observação por alguns dias, para
ajudar o seu corpo a se recuperar do trauma, agora ele está no quarto, recebendo
oxigênio e descansando, posso te levar lá daqui a pouco — ele diz e eu aceno,
concordando. — A Srta. é parente de Daryl Clark?
— Namorada também e moro com ele — a Nathy responde, ficando
vermelha.
— Bem, ele teve queimaduras leves, inalou um pouco de fumaça e tem
algumas escoriações nas mãos, mas em pouco tempo estará bem — ele diz. —
Ele deve ficar em observação por três dias, enquanto o Trevor deve ficar por
cinco dias — ele completa e nós duas concordamos. — Vou acompanhá-las até
os quartos deles.
Nós seguimos o médico até os quartos dos dois, Nathy entra no quarto do
Daryl e eu no do Trevor. Quando fecho a porta e me permito observar
minuciosamente o seu corpo, levo um choque maior ainda, porque vê-lo no
oxigênio é uma imagem um pouco chocante. Me aproximo da cama e pego a
mão do braço que não está enfaixado, segurando-a e fazendo carinho.
— Seu pateta, por que tinha que me deixar tão preocupada? — converso
com ele, mesmo com ele dormindo. — Quase me mata de preocupação e o que
você acha que eu faria da minha vida, se acontecesse alguma coisa com você?
Acho que eu não sobreviveria, se te perdesse — digo e lágrimas descem pelo
meu rosto.
Estou ficando muito incomodada por chorar tanto, mas só de imaginar
em nunca mais ver o sorriso do Trevor, o meu coração se aperta e chego a me
sentir sufocando.
Acabo caindo no sono com a cabeça encostada na cama onde o Trevor
está ou, pelo menos, eu estava dormindo, até senti-lo se mexer e gemer de dor.
Levanto a cabeça, assustada, e começo a prestar atenção ao que está acontecendo
com ele, parece que está tendo um pesadelo. Ele começa a balbuciar frases que
não fazem nenhum sentido para mim, até que parece se acalmar, então eu volto a
abaixar a cabeça para tentar voltar a dormir. Até conseguiria, porque estou muito
cansada e acho que corro sérios riscos de ser demitida, porque ando pulando
meus plantões para ficar com ele, mas sou surpreendida pela sua mão, que pega
a minha garganta e aperta, ao ponto de quase sufocar. Eu levanto os olhos e
encaro os dele, que parecem vazios e perdidos.
— Tre... vor — Eu tento dizer, enquanto sinto o meu corpo sofrendo pela
privação de oxigênio. — Sou... eu… A… man… da — continuo tentando falar,
enquanto seguro a sua mão, para impedi-lo de apertar mais, com a outra mão eu
tento alcançar a campainha para chamar uma enfermeira.
— Me deixe em paz — ele diz, me olhando com ódio e eu sinto o meu
coração se quebrar.
— Me sol… ta! — eu peço, mas ele aperta um pouco mais e eu sei que
tenho pouco tempo. Agora, alguém me explica como que ele tem essa força toda,
se me disseram que está todo arrebentado?!?!
— Lana, sua vadia! — Opa, ele está me confundindo com a defunta, mas
ainda não justifica tentar me matar.
— Tre… vor... não sou a La… na — eu ainda consigo dizer. — A...
cor… da, por fa... vor! — eu peço, enquanto, finalmente, consigo apertar a
campainha e, rapidamente, entram algumas enfermeiras, me afastando do Trevor.
Quando o meu pescoço é libertado do aperto, eu engasgo e sinto a
garganta arranhando, machucada. O encaro, assustada, porque ele teria me
matado, se eu não tivesse conseguido pedir socorro, e o pior é que nem se daria
conta do que estava fazendo. Os enfermeiros o amarram na cama para impedi-lo
de se machucar e me machucar, enquanto eu tento me aproximar dele
novamente.
— Tem certeza? — pergunta uma enfermeira e eu aceno positivamente.
Quando chego perto dele, olho nos seus olhos e quase não consigo
enxergar o homem que eu amo, mas não vou desistir. Aproximo a minha mão do
seu rosto e o sinto ficar tenso.
— Por favor, meu amor, acorda — peço, com os olhos cheios de
lágrimas. — Sou eu, a sua princesa, Amanda — digo, enquanto faço carinho no
seu rosto, agora com as duas mãos. Aos poucos, ele para de se debater na cama e
me encara fixamente. Eu percebo o momento em que a consciência chega aos
seus olhos, porque ele os arregala, visivelmente assustado com o que acaba de
acontecer, mas agora ele parece me reconhecer.
* Trevor *

O que foi que eu fiz?


Eu encaro a mulher da minha vida totalmente sem reação ao me dar
conta de que quase a matei. A culpa me atinge com uma força inimaginável e eu
desvio os olhos, com vergonha. Com certeza, eu a teria matado, se os
enfermeiros não tivessem entrado no quarto, agora eu estou novamente preso,
mas, desta vez, a culpa é totalmente minha.
A sua mão, que ainda está no meu rosto, me direciona para que eu seja
obrigado a encará-la, não posso deixar de perceber a marca da minha mão no seu
pescoço, então desvio os olhos novamente.
— Olha para mim, por favor — ela pede.
— Não posso — respondo.
Não consigo encará-la, depois do que acabei de fazer. No pesadelo em
que eu estava preso, a Lana estava viva e vinha tentar me matar, então eu fiz o
que não pude fazer no galpão, tentei matá-la. Para a minha desgraça, era só um
pesadelo e, na verdade, eu quase matei a Amanda, que é totalmente inocente
nisso tudo.
Acho que me tornei um monstro, me sinto péssimo por causa do que
acabei de fazer.
— Acho melhor você se afastar — digo, ainda sem encará-la.
— Acho melhor você calar a boca — ela diz e eu não consigo evitar de
olhar nos seus olhos novamente, que me encaram com carinho. Um carinho que
eu não mereço. — Você teve um pesadelo, terror noturno ou o que quiser
chamar, não estava consciente e não tem culpa do que aconteceu, está me
ouvindo?
— Estou — respondo.
— Então, nem tente me afastar de você, porque eu não vou a lugar
nenhum! — ela diz e se aproxima, deixando um beijo delicado nos meus lábios.
— O seu corpo precisa se recuperar primeiro, depois cuidamos da sua cabeça,
uma coisa de cada vez, ok?
— Tudo bem — respondo, porque não acho que seja ideal discordar dela
neste momento.
Os enfermeiros aplicam um medicamento no meu soro e, rapidamente, eu
caio no sono novamente. Desta vez, felizmente, é um sono sem sonhos.
Nos dias que seguem, eu evito olhar para ela, falar com qualquer pessoa
que seja e me mantenho fechado em meus pensamentos. Eu gostaria de ter mais
informações sobre o galpão, imagino que tinham muitos documentos
importantes lá e não posso acreditar que perdemos tudo ao queimar o lugar.
Tive que conversar com o agente Rodrigues para contar como fui
sequestrado e o que aconteceu enquanto fiquei preso naquele lugar, tudo o que
fizeram comigo e os nomes de quem participou, claro que contei sobre a mulher
que eu não sei quem era, mas que sei que conhecia de algum lugar.
Hoje o meu irmão teve alta e, antes de voltar para casa, resolveu me
visitar, assim que ele entrou no quarto, a Amanda disse que ia pegar um lanche
na lanchonete e chamou a Nathy para ir junto, me deixando sozinho com ele.
— E então, como se sente? — ele pergunta.
— Como você acha? — retruco.
— Como o idiota de sempre — ele responde e eu bufo, sentindo um
pouco de dor no peito ao fazer isso.
— E, por isso, está maltratando a sua garota? — ele pergunta, como
sempre, sendo direto.
— Ela não é a minha garota — respondo.
— Se eu quiser pegá-la para mim, sem problemas? — ele questiona e o
meu corpo tensiona.
— Não ouse — rosno e ele sorri.
— Então, deixe de ser otário e trate a sua mulher como ela merece, ou
vai aparecer algum babaca e roubá-la de você, comprende ?
[7]

— Eu não a mereço — digo.


— Claro que não merece, a mulher não saiu um dia sequer do seu lado e
você a trata como se fosse a pior pessoa do mundo, na verdade, não, você a trata
como se ela não existisse — ele diz e eu sei que é verdade, mas ela não pode
querer ficar perto de alguém que tentou matá-la.
— Eu quase a matei.
— Sim, mas você estava tendo um pesadelo e não a matou — ele diz, se
aproximando. — Então, vê se tira a cabeça da sua bunda e valoriza a mulher que
está ao seu lado ou eu vou, com todo prazer, chutar a sua bunda!
— Você não faria isso — digo, irritado.
— Paga para ver, irmãozinho — ele diz, irônico, e, antes que eu possa
dizer mais alguma coisa, elas voltam para o quarto. — Foi bom te ver,
irmãozinho, mas preciso ir para a minha casa, não aguento mais este hospital.
Até mais — ele se despede e sai junto com a Nathy, que dá um breve aceno para
mim e um abraço na Amanda.
— Se sente melhor? — pergunta Amanda, se sentando na poltrona onde
tem ficado esses dias, próxima da minha cama.
— Sim, um pouco — respondo, em um tom suave, e ela arregala os
olhos, surpresa, porque as minhas respostas se resumiram a monossílabos depois
do pesadelo, três dias atrás.
— Que bom, fico feliz — ela diz e se recosta na cadeira.
— Por que não vai dormir em casa? — pergunto e a expressão de mágoa
quando me olha já faz com que me arrependa da pergunta.
— Se quiser que eu vá, eu vou — ela responde.
— Não foi isso o que eu quis dizer, é que essa poltrona parece
desconfortável — justifico e um pequeno sorriso aparece no seu rosto.
— Eu prefiro ficar aqui — ela diz simplesmente, como se isso
respondesse tudo.
— Olha, me desculpa pela outra noite — peço.
— Você não teve culpa — ela responde, olhando para baixo.
— Mesmo assim, eu quase te matei, ainda consigo ver a marca da minha
mão no seu pescoço e, como se não fosse suficiente, ainda te trato mal, mesmo
você ficando ao meu lado — digo. — Eu não te mereço, mas acabo de perceber
que não consigo abrir mão de você.
— E por que você abriria mão de mim? — ela pergunta.
— Para que você possa ser feliz longe de um cara traumatizado e
problemático como eu — respondo. — Eu não sei se o Trevor por quem você se
apaixonou ainda existe.
— Deixa de ser besta! — ela diz, se levantando e se aproximando. — É
claro que ele existe, está aí dentro, em algum lugar, só está esperando o
momento certo para aparecer.
— Eu não tenho certeza disso — digo. — Eu estou quebrado, literal e
figuradamente.
— Então, vamos te consertar — ela diz e se aproxima mais. —
Começando agora — completa, antes de se inclinar e selar os lábios nos meus,
em um beijo doce que acelera o meu coração.
Nossas línguas se acariciam vagarosamente e, rápido demais para o meu
gosto, ela encerra o beijo com um selinho breve.
— Hum, ainda parece o beijo do Trevor que eu amo — ela diz e eu
sorrio.
— Eu não sabia que podia amar alguém tanto quanto eu te amo, mas
você me provou que é possível — digo e o sorriso dela se alarga, antes que
retorne para a poltrona e volte a ficar sentada, agora com um enorme sorriso no
rosto e, esse sorriso, aquece o meu coração.
* Amanda *

Está difícil de acompanhar as mudanças de humor do Trevor, um dia ele


está todo carinhoso e, no outro, parece que está de TPM. Sério, não sei se
aguento muito tempo essa situação, mas estou relevando muitas coisas pelo
trauma que ele sofreu, o problema é que não vou servir de capacho para ele
descontar cada frustração em mim.
Hoje, finalmente, ele sai do hospital, os ferimentos estão cicatrizando
bem, e as costelas, ele vai terminar a recuperação em casa, não pode fazer
movimentos bruscos e precisa de muito repouso. Não que ele vá precisar se
preocupar com os movimentos bruscos, já que quase não te tocou, desde que
conversaram.
O Daryl prometeu vir nos buscar e ficaremos hospedados na casa dele,
por alguns dias, já que ele tem um quarto de hóspedes no térreo e o Trevor não
vai precisar se preocupar em subir escadas. Infelizmente, para mim, o meu
querido cunhado está atrasado e estou aguentando o Trevor bufando a cada meio
minuto. Ele está parecendo uma criança mimada e birrenta, isso está me dando
nos nervos. Eu já contei até cem, já rezei todas as orações que conheço, já pedi
paciência, mas estou por um fio, se ele bufar mais uma vez, acho que vou
explodir. E ele bufa.
— Porra, será que dá para parar de bufar feito uma criança birrenta? —
explodo.
— Eu quero ir para casa — ele diz, como se não estivesse fazendo nada
de mais.
— Eu também quero ir para casa, mas não estou fazendo batuque em
lugar nenhum, não estou bufando nem tentando te enlouquecer, mudando de
humor — desabafo e ele me encara, surpreso. — Eu pensei que depois da nossa
conversa, você melhoraria, mas parece que piorou, porque agora está bipolar.
Uma hora parece que sou o amor da sua vida e, na outra, parece que me odeia,
está difícil de acompanhar.
— Eu não sabia que se sentia assim — ele diz e eu reviro os olhos.
— Não precisa ser muito inteligente para saber que uma hora isso iria me
levar ao limite — eu digo.
— Por que não disse antes?
— Porque você é adulto, Trevor, não é uma criança que eu tenho que
ensinar o que é certo e o que é errado, poxa, não sou saco de pancadas para ser
tratada dessa forma — digo, me levantando da poltrona e caminhando até a
janela, ficando de costas para ele. — Eu pensei que você me amasse, mas parece
que me enganei.
— Mas eu te amo — ele contesta e eu me viro.
— Então, prove, se esforce, senão é possível que você me perca — digo,
bem no momento que o Daryl entra no quarto.
— Pronto para sair daqui? — diz o Daryl e eu encaro a janela. —
Cheguei em um mau momento?
— Não, vamos logo embora daqui — responde Trevor.
Em pouco tempo, pegamos as nossas coisas e, enquanto eu levo uma
bolsa com uma muda de roupas minhas, o Daryl ajuda o Trevor a andar.
Daryl veio com uma SUV bem confortável e, após estarmos
acomodados, seguimos para a casa dele, em silêncio.
— O que você fez? — pergunta Daryl ao Trevor, quebrando o silêncio.
— Nada — ele responde e eu bufo.
— Sim, então, por que a Amanda está irritada? — ele pergunta.
— Não estou irritada — digo.
— Ok, vocês não querem falar, então, não vou me meter, mas, Amanda,
se o meu irmão foi um idiota com você, não tem problema dar um chute na
bunda dele, é até capaz de ele conseguir pensar melhor depois disso — ele diz e
eu deixo escapar uma risada, enquanto o Trevor bufa.
Com o clima um pouco menos tenso, chegamos à casa do Daryl e ele nos
leva até o quarto de hóspedes. Assim que ele sai, eu vou para o banheiro e tranco
a porta, preciso de um banho para tirar o cheiro de hospital que está impregnado
em mim. Lavo os cabelos, passo um óleo perfumado no corpo e levo o meu
tempo para me limpar. Me enxugo com uma toalha macia ao sair do banho e saio
do banheiro, enrolada nela, vou direto para a bolsa com algumas roupas e me
visto na frente do Trevor, que já está deitado na cama.
— Sabia que é feio ficar encarando? — digo, quando percebo que ele não
para de me olhar.
— Você entra no quarto, enrolada em uma toalha, se veste na minha
frente e quer que eu fique olhando para onde? — ele devolve, ainda me
encarando, mas agora com expressão faminta. Ah, meu querido, pois agora vai
ficar com fome!
— Olhe para onde quiser, mas é tudo o que poderá fazer — digo, antes
de me deitar ao seu lado na cama.
— Você sabe que está na mesma cama que eu, certo? — ele diz, sorrindo,
e eu aceno positivamente. — É fácil te alcançar — ele ameaça e estica o braço,
mas deve ter sentido dor e faz uma careta, levando o braço para perto do seu
corpo. — Droga — ele resmunga.
— Bom, vou descansar um pouco, porque aquela poltrona não é muito
confortável para dormir — digo, antes de fechar os olhos.
— Trevor, seu idiota, você vai perdê-la, se não fizer alguma coisa logo
— ouço-o murmurar, antes de pegar no sono e não ouvir mais nada.
Começo a despertar escutando vozes abafadas, abro os olhos e imagino
que devem estar fora do quarto. Percebo que o Trevor não está na cama e me
levanto para fazer a minha higiene matinal, mas o que eu ouço em seguida me
para.
— Porra, Trevor, eu sabia que você era um pateta idiota, mas não
imaginei que fosse tão babaca! — Essa voz é o Daryl, tenho certeza.
Eu tento não ouvir o restante da conversa, mas a curiosidade acaba
vencendo e eu puxo a minha bolsa para perto da porta, para poder disfarçar, caso
alguém entre no quarto.
— Eu sei que vacilei, mas preciso da sua ajuda, pode ser? — responde
Trevor. Ajuda para quê?
— Não sei se você merece, meu irmão — responde Daryl e ouço um
suspiro, antes de ele continuar: — Eu avisei que poderia perdê-la, se continuasse
sendo um babaca e o que você faz? Continua sendo um babaca! — Opa, eles
estão falando de mim?!
— Eu sei que estou merecendo o gelo dela, mas estou confuso pra
caralho — responde Trevor. — Cara, eu continuo tendo pesadelos cada vez
piores e eu tenho medo de machucá-la, se ela se aproximar muito, enquanto
estou dormindo. Eu não dormi a noite inteira com medo de ter um pesadelo e
machucar a Amanda, isso está me enlouquecendo, porra!
— Você precisa de terapia, eu não sou nenhum especialista, mas acho
que você está com estresse pós-traumático ou algo parecido e o melhor a fazer é
procurar ajuda, antes que seja tarde — responde Daryl e eu fico ainda mais
magoada, porque disse para o Trevor que ele precisava de ajuda para lidar com
os pesadelos.
— Tem algum para me indicar? — pergunta Trevor.
— Tenho, vou mandar uma mensagem no seu celular com o telefone dele
e você liga hoje mesmo e marca uma consulta — responde Daryl.
— Ok, então vai me ajudar com a Amanda? — pergunta Trevor e eu fico
ainda mais interessada.
— Não que você mereça, mas aquela garota parece que realmente te ama,
então vou te ajudar por ela — responde Daryl.
— Então, vamos logo, que precisamos preparar tudo — diz Trevor e
ouço os passos deles se afastando e as vozes sumindo, agora fiquei curiosa para
saber o que o Trevor está planejando. E com isso na cabeça, eu pego uma muda
de roupa e vou para o banheiro fazer a minha higiene.
* Trevor *

Estou há alguns dias na casa do Daryl, na verdade, estamos porque, por


incrível que pareça, a Amanda ainda está aqui comigo. Eu liguei para o
psiquiatra que o meu irmão indicou e iniciei a terapia, ele me passou um
medicamento que me ajudará com os pesadelos, até que eu supere o trauma e me
disse que, provavelmente, eu terei algumas recaídas e poderei ter pesadelos com
o que aconteceu pela vida inteira, mas com a terapia esses pesadelos serão
esporádicos.
Não fiz nenhum movimento com a Amanda, além de ser mais gentil e
atencioso com ela. Há alguns dias, o médico disse que as minhas costelas estão
bem melhores e que posso iniciar exercícios físicos, então, estou usando a
academia da casa do meu irmão para fortalecer os músculos e isso também me
ajuda a gastar energia, já que a Amanda não deu uma chance para que eu me
aproximasse, além de alguns beijinhos rápidos.
Eu tenho consciência de que ela está me castigando e que eu mereço isso,
mas ela não vai resistir depois da surpresa que estou preparando para ela. Daryl
concordou em manter a Nathy lá em cima, distraída, não sei com o que, para que
eu possa ter privacidade com a Amanda aqui embaixo. Ela já voltou a trabalhar e
estou agora na porta da casa do meu irmão, esperando-a chegar com o motorista
dele. Sim, o meu irmão colocou um motorista para levá-la e buscá-la no
trabalho, porque ainda temos a possibilidade de uma retaliação por parte da
máfia e, talvez, do Liam, que já deve saber da morte, agora verdadeira, da irmã.
Quando o carro se aproxima, o meu coração acelera, assim que para, a
Amanda abre a porta e desce, sem esperar pelo motorista, ela me encara, com
estranheza.
— Está tudo bem? — ela pergunta, se aproximando de mim.
— Agora vai ficar, princesa — respondo e percebo a surpresa no seu
olhar, mas ela não diz nada. — Vem, tenho uma surpresa para você — digo e
pego em sua mão, para puxá-la para dentro.
Seguimos direto para a sala de TV, que tem uma tela gigante, coloquei
um cobertor no chão em frente à TV e um jantar/piquenique, uma garrafa de
vinho ao lado de duas taças na mesinha de centro. A ouço ofegar ao meu lado
quando percebe tudo o que eu preparei para ela.
— Fez isso para mim? — ela pergunta, ainda absorvendo o restante da
decoração que eu fiz, com pétalas de rosa espalhadas pela sala inteira, algumas
velas aromáticas para dar um clima romântico e muitos corações de pelúcia em
vários lugares com coisas como “Eu te amo, Amanda”, “Desculpe por ser um
babaca” e “Me dá mais uma chance” escritas. Só consegui esses bordados nas
pelúcias, porque o meu irmão tem alguns contatos que conseguiram fazer isso
bem rápido.
— Sim, o Daryl me ajudou bastante, mas eu precisava me desculpar por
todas as babaquices que eu fiz desde que nos conhecemos e eu sei que não foram
poucas — digo e ela ri. — Eu sei que a lista é extensa e que eu tenho um longo
caminho para te reconquistar, mas, princesa, eu te amo e você vale o esforço —
finalizo e vejo seus olhos marejados. — Está com fome? — pergunto.
— Sim — ela diz, com a voz embargada.
— Então vamos ao nosso jantar/piquenique — anuncio e nos
acomodamos no cobertor que ajeitei no chão.
— Por que jantar/piquenique? — ela pergunta e eu sorrio.
— Porque eu queria fazer um jantar romântico para você, mas pensei que
você talvez gostasse mais de alguma coisa diferente, então pensei em um
piquenique — respondo. — O problema é que eu não queria comida de
piquenique, então pedi para a cozinheira do Daryl fazer um jantar para duas
pessoas, que eu pudesse trazer para cá em uma cesta de piquenique e ela fez isso,
por isso, é um jantar/piquenique — eu completo e ela ri.
Pego os pratos e talheres e coloco na mesinha de centro onde está o
vinho, pego o cordeiro e o molho que estão na cesta e sirvo um pedaço para ela e
outro para mim, em seguida coloco aspargos e cenouras, jogando um pouco de
molho por cima. Nos sirvo de vinho e estendo a taça para ela.
— Aos recomeços — digo, ao brindar com ela.
— Aos recomeços — ela responde, antes de beber um gole do vinho,
fechando os olhos ao apreciar o sabor.
Comemos o prato que a cozinheira preparou, percebo que ela gosta,
porque fecha os olhos e geme baixinho a cada mordida. O jantar está agradável,
mas a cada gemido dela, o meu pau reage e a minha calça parece cada vez mais
apertada. Eu termino de comer e fico apenas observando-a apreciar o cordeiro.
No último pedaço, ela geme novamente e eu acompanho o seu gemido, ela abre
os olhos, me encarando, espantada, enquanto eu dou de ombros.
— Ficar te vendo gemer, enquanto come, tem um efeito erótico em mim,
sinto muito — digo e ela solta uma gargalhada, divertida.
— Te deixa excitado me ver comendo? — ela pergunta, ainda tentando
controlar a risada.
— Não, te ver gemendo me deixa excitado, independente do que motivou
o gemido — respondo e ela ri novamente.
Retiro os pratos, guardando-os novamente na cesta e pego as taças de
sobremesa, servindo creme de papaya e pegando o licor de cassis para jogar por
cima.
Novamente tenho que aguentar os gemidos dela, enquanto se delicia com
o creme.
— Você está me torturando de propósito, princesa? — pergunto,
divertido.
— Talvez — ela diz e, em seguida, lambe a colher, me causando um
gemido baixo.
— Isso é maldade — reclamo.
— Talvez — ela responde, sorrindo.
— Tem alguma chance de, depois de tudo isso, você me perdoar? —
pergunto e ela me encara intensamente.
— Talvez — ela responde novamente.
Aproximo-me lentamente dela, que se afasta da mesinha. Engatinho até
ela, aproximando o meu corpo do seu, vejo os seus olhos brilharem e um sorriso
brincar em seu rosto. Conforme o meu corpo se aproxima do seu, ela se inclina
para trás. Coloco uma mão na sua nuca e a puxo, delicadamente, para um beijo.
Quando unimos nossas bocas, eu a beijo, transmitindo toda a saudade que sinto
de nós dois juntos. Nossas línguas se enroscam em nossas bocas e eu desço a
mão que estava em sua nuca para o ombro, seguindo pelo torso e parando na
cintura, para apertá-la, enquanto Amanda solta gemidos com a boca grudada na
minha.
Abaixo o meu corpo para colar no seu, a sensação dos seus seios colados
ao meu peito, mesmo com as roupas por cima, é como se nossos corpos fossem
peças de um quebra-cabeça que se completam, se encaixam perfeitamente.
Encaixo-me entre as suas pernas e, com as mãos livres, começo a
explorar o seu corpo vagarosamente. Separo a minha boca da sua e distribuo
beijos pelo pescoço e colo, enquanto as minhas mãos passeiam agora pela barra
da sua blusa, a levantando, enquanto continuo explorando-a, ela me ajuda a tirá-
la e eu desço beijos pelo seu ombro e colo. Abaixo a alça do sutiã, deixando
beijos molhados na curva do seu seio, abaixando a outra alça e repetindo o
processo no outro seio. Ela se remexe embaixo de mim, procurando algum atrito,
esfregando a sua intimidade na minha ereção por cima das roupas.
Controlo-me, retardando ainda mais as minhas próximas ações, porque
quero que ela aproveite ao máximo, quero fazer amor com ela, quero demonstrar
com o meu corpo o quanto amo essa mulher. Alcanço o fecho do sutiã e o abro,
libertando os seus seios para poder saboreá-los, sem perder tempo eu sugo um
mamilo, ouvindo um gemido alto. Passo a língua pela sua auréola e sugo
suavemente, passando a língua pelo bico e o sentindo enrijecer dentro da minha
boca. Enquanto isso, faço o mesmo movimento com a mão no outro seio,
passando o dedo em volta da auréola e estimulando o bico do seio, sentindo-o
enrijecendo na minha mão. distribuo beijos entre os seus seios e alcanço o outro,
para dar a mesma atenção.
— Por favor, Trevor — ela murmura, contorcendo o corpo embaixo do
meu.
Eu tomo o meu tempo nos seus seios e sinto a sua intimidade cada vez
mais quente, desço uma mão para alcançar a sua calça e afasto o meu corpo um
pouco para conseguir abri-la.
Desço o zíper e faço carinho na sua barriga, antes de descer a mão,
colocando-a por baixo da calcinha, de forma a alcançar a sua intimidade
encharcada. Esfrego um dedo em seu clitóris inchado e, se não estivesse
segurando o seu corpo, ela teria levantado o tronco. Continuo estimulando seios
e clitóris, enquanto ela continua implorando, me levanto brevemente para
terminar de despi-la e levo um minuto admirando o seu corpo maravilhoso. Volto
a me aproximar, olho em seus olhos, que estão dilatados de prazer e os seus
lábios inchados dos meus beijos estão separados, não resisto e colo novamente
as nossas bocas, enquanto a minha mão encontra a sua intimidade e continuo
dando prazer a ela.
Separo as nossas bocas e desço os meus beijos, recomeçando a deliciosa
tortura pelo seu corpo, enquanto volto a beijar os seus seios, intercalando entre
um e outro, para dar a mesma atenção aos dois.
— Preciso de você, Trevor, por favor — ela diz, ofegante.
Não respondo, apenas desço, distribuindo beijos pela sua barriga e
alcanço a sua intimidade encharcada. Passo a língua por toda a sua extensão,
pressiono a língua em seu clitóris, a fazendo gemer alto, sugo delicadamente e
deixo beijos e lambidas em toda a sua intimidade. Penetro-a com dois dedos,
sugando o seu clitóris com um pouco mais de força, giro os meus dedos e
sincronizo os movimentos com a minha língua, trocando algumas vezes para
penetrá-la com a língua e pressionar o seu clitóris com os dedos. Assim que a
sinto se contraindo internamente, acelero os movimentos e logo estou lambendo
e sugando o seu clitóris, enquanto ela grita o meu nome, gozando forte na minha
boca.
* Amanda *

Mais alguém sentiu o mundo tremer? Porque o meu mundo realmente


pareceu explodir depois desse orgasmo deliciosamente forte e o meu cérebro
parece gelatina. Estou ofegante ainda, enquanto sinto o corpo do Trevor cobrir o
meu novamente, ele beija os meus lábios e sentir o meu gosto na sua boca é tão
erótico, que logo começo a reagir novamente.
O seu peito pressiona os meus seios e eu percebo que ele tirou a camisa,
mas quem se importa com isso, neste momento? Percebo também as suas pernas
desnudas encostadas nas minhas e a ansiedade de senti-lo dentro de mim acende
o meu corpo como fósforo em um pavio de dinamite.
Sinto a sua ereção pressionando a minha entrada e mexo o meu corpo,
desejando tê-lo dentro de mim, mas ele se afasta e eu solto um gemido frustrado.
— Calma, princesa — ele diz no meu ouvido e volta a pressionar a
minha entrada, desta vez me penetrando um pouco.
Quase enlouqueço o tendo dentro de mim, mas desejando mais, o quero
mais dentro, mais profundo, mais forte, mas ele segura o meu corpo no lugar e
não consigo me mexer.
— Vamos devagar — ele diz e se afasta um pouco para olhar nos meus
olhos, vejo o seu rosto tenso e sei que ele está se segurando, isso aumenta o meu
tesão e a minha vontade ao vê-lo decidido a fazer amor comigo, me dizendo com
o corpo o quanto me ama, consigo sentir isso.
Ele me penetra mais e mais, devagar, centímetro a centímetro, até estar
todo dentro de mim e eu gemo alto. Após um tempo parado no lugar, Trevor
começa a se movimentar dentro de mim em estocadas lentas e profundas,
aumentando pouco a pouco o meu prazer. Ele inclina a cabeça, sugando um seio,
enquanto eu agarro os seus cabelos com uma mão e arranho as suas costas com a
outra. Nos movimentamos em sincronia, ele se movimenta de uma forma que
friccione o meu clitóris a cada estocada e aumenta ainda mais o meu prazer.
Sinto o meu corpo subindo cada vez mais alto, até se desfazer em mil pedaços
com um orgasmo tão intenso quanto o anterior, enquanto grito o seu nome como
uma súplica.
Trevor aumenta a velocidade e a força das suas estocadas e, quando ele
goza, se derramando dentro de mim, eu gozo novamente. Eu gemo uma
reclamação quando ele sai de dentro de mim, mas ele beija a minha testa com
carinho e deita ao meu lado.
— Isso foi… — eu começo, mas olho em seus olhos e perco a fala com a
intensidade que ele me encara.
— Uau — ele completa, sorrindo. — Eu te amo, quero que nunca se
esqueça disso, Amanda, você é a mulher da minha vida! — ele diz e eu sinto os
meus olhos marejados novamente.
— Eu também te amo, seu pateta — digo e ele solta uma risada, antes de
dar um beijo delicado nos meus lábios.
— Acho melhor levantarmos e continuarmos a nossa noite romântica lá
no quarto, antes que o Daryl resolva aparecer e eu não quero ter que matar o meu
irmão por ver a minha mulher nua — diz Trevor e eu dou um tapa no seu braço,
rindo.
Em um clima leve, nós levantamos e nos vestimos, pegamos a cesta com
os pratos sujos e o vinho, levando para a cozinha. Vamos para o quarto que
estamos ocupando e, após trancarmos a porta, continuamos nos amando a noite
inteira.
Eu acordo com beijos no meu rosto e mãos passeando pelo meu corpo e
gemo, cansada.
— Você não me deixou dormir a noite inteira — reclamo, sem abrir os
olhos.
— Não gostou? — ele pergunta e reparo que há diversão em sua voz.
— Não disse isso, mas acho que não consigo ter outro orgasmo — digo e
me arrependo em seguida.
— Hum, isso me parece um desafio — ele diz, antes de me virar de
barriga para cima e me dar mais três orgasmos, me deixando exausta novamente
e, após ele levantar, eu volto a dormir.
Quando acordo novamente, sinto cheiro de comida e me lembro de que
não como desde o jantar, agora já deve ser hora do almoço, então me levanto e
vou para o banheiro tomar um banho. Depois de limpa e vestida com um short e
uma regata, vou seguindo o cheiro da comida, chegando à área da piscina e
dando de cara com todos os amigos do Trevor, onde o Daryl está na
churrasqueira, assando algumas carnes.
— A Bela Adormecida acordou? — pergunta a Nathy, divertida.
— Sim, acho que fui dormir tarde ontem — eu respondo e ela ri.
— Pelos barulhos que eu ouvi, parece que não dormiu a noite toda — ela
comenta e eu sinto o meu rosto queimando de vergonha, fazendo todos rirem.
— Engraçadinha — resmungo e cumprimento todos que estão lá,
aproveito para agarrar os gêmeos e pegar o pequeno Noah no colo.
O filho da Kate e do James é um bebê muito calmo e fica no meu colo
tranquilo, enquanto eu belisco algumas coisas no meu prato, na hora de se
alimentar a Kate o pega no colo e segue para dentro, com o marido em seu
encalço, para amamentar o filho.
— Seu útero também parece contrair quando vê um bebê? — diz a
Nathy, sentando ao meu lado.
— Sim e não — respondo e ela me olha, confusa. — Eu tenho vontade
de ter filhos, mas acho que ainda não está na hora.
— É capaz de ter um agora na sua barriga, depois de todo o treino que
vocês fizeram ontem — ela diz e eu caio na gargalhada.
— Você não existe — comento, ainda rindo. — Mas não tem como ter
um bebê aqui, porque eu tomo injeção e, mesmo com tudo o que aconteceu,
tomei as minhas regularmente.
— Nunca se sabe, a Bia achou que estivesse protegida, mas acabou
grávida de gêmeos e a Kate também — ela comenta.
— Elas tomavam anticoncepcional? — pergunto.
— A Bia comentou que não estava tomando, porque não tinha relações
há algum tempo, quando conheceu o Gabriel, a Kate achou que fosse estéril —
ela diz e eu sorrio.
— Bem, aí está a explicação, mas eu me previno e, mesmo quando não
usamos camisinha, a injeção previne uma gravidez. Pelo menos, por enquanto,
eu não acho que seja o momento para ter um filho — digo a ela. — Acabei de
me resolver com o Trevor, quero primeiro ver como serão os próximos meses,
antes de pensar nessa possibilidade.
— Você está certa, eu também gostaria de poder fazer isso — ela diz e eu
a olho, espantada.
— Você está…? — eu pergunto e ela me olha, enquanto um sorriso triste
se estende no seu rosto.
— Eu não sei, mas não se preocupe, porque eu estou bem — ela diz e se
levanta.
Passamos o dia comendo hambúrgueres e linguiças feitos pelo Daryl,
bebendo suco e refrigerante. Estou conversando animadamente com a Bia,
quando a vejo olhar para a porta e congelar, eu logo me lembro de quando a
Lana apareceu aqui, mas me tranquilizo, percebendo que ela não pode mais nos
fazer mal. Olho para onde a Bia está olhando, reparando que todos estão em
silêncio, as conversas pararam e todos estão olhando para a porta, onde a Nathy
está com uma mala ao seu lado.
— O que significa isso? — pergunta Daryl, ao perceber o silêncio
espantado de todos.
— Eu vim me despedir de vocês — responde Nathy, e o Daryl tensiona a
mandíbula.
— Uma porra que vai — ele rosna, irado.
— Bem, você já está recuperado, muito bem recuperado e não precisa
mais de mim, como você mesmo disse ontem, então eu estou saindo da sua casa
e da sua vida — ela diz, com a voz embargada e os olhos marejados. Eu me
aproximo dela.
— Nathy, você tem um lugar para ficar? — pergunto, tentando ajudar.
— Ela não vai a lugar nenhum, porra! — grita, irado.
* Amanda *

Vejo o corpo da Nathy tensionar, mas em nenhum momento ela olha na


direção dele.
— Não importa o que ele diga, se precisar de um lugar para ficar,
podemos ir para o apartamento do Trevor, tenho certeza de que ele não vai se
importar e tem um quarto de hóspedes — digo baixo, para que apenas ela escute.
— Me ouviu? Você não vai embora! — diz Daryl, totalmente fora de si.
— Escuta aqui, seu idiota, quem você pensa que é para falar assim com a
minha amiga? — intervém Bia, consigo ver uma tempestade chegando, porque o
seu rosto está ficando vermelho de raiva, tanto que o Gabriel coloca a mão no
seu ombro, para tentar acalmá-la.
— Acho melhor não intervir, meu amor — ele diz, controlado.
— O caralho que não vou intervir, ela é a minha amiga e, se ela quer sair
daqui, vai sair e ponto — diz Bia, elevando a voz.
Trevor se aproxima do Daryl para tentar acalmá-lo.
— Mano, é melhor se acalmar, deixe-a ir embora, se é o que ela quer —
diz ele ao irmão.
— Ela não pode ir embora — diz Daryl, olhando para Nathy, com o que
eu acho que seja fogo nos olhos, tamanha a intensidade do seu olhar para ela.
— Às vezes, é melhor se afastarem, para que os dois esfriem a cabeça e
pensem melhor — diz Trevor.
— Eu não tenho o que pensar e não vou deixá-la ir embora — responde
Daryl, com a voz mais baixa, mas ainda tenso.
— Por favor — ouço a Nathy pedindo baixo ao meu lado.
— Chega disso, eu vou levá-la para o apartamento do Trevor, se ela
quiser falar com você, é o que vai fazer, no tempo dela — digo e seguro a Nathy
com uma mão e a mala com a outra, seguindo com ela para dentro da casa.
Ouço uma comoção atrás de nós e vejo a Bia nos alcançando.
— Não vou deixar a minha amiga sozinha, mas vou levar os meus filhos
comigo, tudo bem? — ela questiona, me olhando, e eu sorrio.
— Nenhum problema, adoro seus filhos — respondo.
— Ok, vou seguindo vocês no carro com o Gabriel e os gêmeos — ela
diz e se volta para o marido. — Vamos, antes que eu enfie a minha mão nesse
irmão do Trevor, babaca grosseiro — resmunga ela sobre o Daryl.
— Princesa, vai me deixar aqui com a fera? — diz Trevor, vindo
correndo até mim.
— A Nathy precisa de nós, não sei o que aconteceu, mas alguma coisa o
seu irmão fez — digo a ele.
— Não tem como dizer que não é meu irmão — ele diz, brincando.
— São dois idiotas, com certeza — diz Bia, chegando ao meu lado com o
Max no colo.
— Antes que vá embora com a Nathy, eu preciso falar com você — diz
Trevor.
— Vão vocês na frente, aqui está a chave do apartamento, podem entrar e
ficar à vontade, que logo eu chego e fico com vocês, vamos fazer uma noite de
meninas e bebês — digo, entregando a chave do apartamento que peguei no
móvel perto da porta de entrada. Os vejo saindo e me viro para encarar o Trevor.
— Pronto, pode falar.
— Eu ia falar na frente de todo mundo, mas preciso me acostumar a ter
os meus planos frustrados por alguém, então vou falar aqui mesmo e sem
ninguém do lado, porque o mais importante é que você saiba — ele diz e eu fico
ansiosa e curiosa.
— Fala logo! — eu exclamo e ele ri, enquanto pega as minhas mãos,
envolvendo-as nas suas.
— Quero te agradecer — ele diz e eu o encaro, confusa.
— Oi? — pergunto.
— Quero te agradecer por não sair do meu lado, te agradecer por me
ensinar como superar os meus medos, os meus traumas, por não desistir de mim
— ele diz e os meus olhos marejam, de novo.
— Você também ficou ao meu lado e não desistiu quando eu precisei de
você, quando me isolei de todos — respondo.
— Sim, mas eu quase te matei, eu te tratei como um babaca e me
arrependo disso todos os dias. Por causa do meu comportamento, eu quase te
perdi, mas eu prometo passar o resto da minha vida me esforçando para te fazer
a mulher mais feliz deste mundo — ele declara e eu sorrio.
— Só de ter você novamente ao meu lado já estou feliz — respondo.
— Não é o suficiente, preciso te provar todos os dias que eu te amo, que
você é importante para mim, que é a mulher da minha vida e eu prometo fazer
isso de hoje em diante — ele diz e eu quase engasgo, pensando que ele vai me
pedir em casamento, não quero que ele faça isso, porque acabamos de voltar,
seria muito precipitado e eu não quero magoá-lo.
— Trevor, eu também te amo — eu digo.
— Eu não vou te pedir em casamento agora — ele diz e eu solto o ar que
nem percebi que estava prendendo, ele sorri. — Calma, sei que você não
aceitaria agora, mas isso não quer dizer que eu não queira casar com você, muito
pelo contrário. Mas eu vou esperar o seu tempo, te provar que mereço o seu
amor e que mereço a chance de formar uma família ao seu lado.
— Obrigada por isso, meu amor — digo a ele.
— Não tem o que agradecer, eu te amo e quero te fazer feliz — ele diz e
respira fundo. — Desde que te conheci, você não saiu da minha cabeça, primeiro
eu achei que fosse apenas atração, mas com o tempo, percebi que era
simplesmente você — ele me diz e eu o olho, confusa. — O seu jeito decidido,
as suas negativas, o seu carinho com as pessoas à sua volta, a sua dedicação com
o trabalho e agora com a faculdade que vai fazer — ele continua, me lembrando
da faculdade de enfermagem que eu vou começar no próximo semestre. —
Quando ficamos juntos no casamento da Kate e do James, eu achei que fosse
conseguir te tirar da minha cabeça depois de uma noite, mas foi totalmente o
contrário, foi o melhor sexo da minha vida e eu só pensava em como eu queria
mais e você fugiu, como se eu fosse próprio demônio — ele relembra e eu dou
risada.
— Eu fiquei assustada, não era para ter transado com você e eu não sabia
o que me deixava mais brava, se era o fato de ter transado com um homem
gostoso como você e não lembrar ou o fato de você me chamar de princesa,
como chamava todas as mulheres à sua volta — digo, rindo.
— Quando fugimos juntos, eu vi uma oportunidade de te conquistar, mas
o tiro saiu pela culatra e eu me apaixonei por você, me desculpe por acreditar na
Lana, aquele dia em Acapulco — ele diz e eu somente continuo olhando em seus
olhos, em silêncio. — Eu fiquei confuso por descobrir que ela estava viva, o que
ela contou acabou fazendo sentido, porque eu não queria acreditar que fui
enganado, mas depois do que você contou e do que o Daryl me disse, eu percebi
que estava errado, depois fiquei inseguro quando me declarei para você e não te
dei tempo de responder — confessa. — Eu fiquei com medo de que você não me
amasse, que só estivesse comigo por sexo e, meu Deus, o quanto isso é irônico,
vindo justamente de mim? — ele diz, rindo, incrédulo. — Quando a Lana
apareceu com uma arma, eu fiquei com medo de te perder, quando você perdeu a
sua avó, eu fiquei com medo de te perder, quando eu fui sequestrado, fiquei com
medo de nunca mais poder ver o seu rosto e de não poder dizer o quanto eu sou
louco por você — ele finaliza, com os olhos marejados, segurando o meu rosto
com ambas as mãos e limpando lágrimas que eu não percebi escaparem dos
meus olhos.
— Eu te amo, seu pateta — declaro, com a voz embargada, e ele ri.
— Eu te amo, minha princesa, para sempre — ele diz e me beija
profundamente.
Agora eu tenho certeza de que tudo vai dar certo, tudo vai acontecer
quando tiver que acontecer e nós seremos muito felizes. Hoje eu sei o que é o
amor de verdade, aquele amor de tremer as pernas e de sentir borboletas no
estômago. O Trevor é o meu felizes para sempre.
* Amanda *

Chego ao apartamento do Trevor e encontro a Nathy com a Bia e os


gêmeos no chão da sala, me despedi da Kate e do James antes de vir para cá, e a
Kate prometeu vir logo ver como a Nathy está, mas primeiro vai para casa com o
bebê.
— Queridas, cheguei! — brinco e elas me olham.
— Obrigada, Amanda, por me deixar ficar aqui — diz a Nathy, me
abraçando.
— Não tem de que, o apartamento não é meu e mesmo que fosse, eu faria
o mesmo — digo, dando de ombros. — Mas, afinal, o que aconteceu?
— É isso o que eu estou tentando fazê-la falar, desde que saímos da casa
daquele grosseirão do Daryl — diz Bia.
— Nathy, pode nos contar, o que houve? — pergunto, preocupada.
— Eu fui uma burra outra vez, só isso — ela diz e eu troco um olhar com
a Bia.
— Desculpe, não entendi — digo.
— O que o Daryl fez? — pergunta Bia.
— Eu não tiro a razão dele, mas não precisava falar comigo daquela
forma e depois me tratar como se eu fosse propriedade dele — ela começa a
contar.
— O que foi que ele falou, afinal? — pergunto.
— Bem, vocês sabem que eu fui para lá cuidar dele, certo? — ela diz e
nós concordamos. — Bem, aconteceram algumas coisas e acabei me envolvendo
com ele.
— Jura?! — diz Bia, revirando os olhos.
— Como assim? — Nathy pergunta, confusa.
— Minha querida amiga, todo mundo percebeu que tinha alguma coisa
rolando entre vocês, mas, como você não falou nada, todo mundo ignorou e
fingiu demência — comenta Bia e a Nathy a encara, de queixo caído.
— Sua vaca! — ela exclama, rindo. — Por que nunca me disse que
percebeu?
— Por que nunca me contou o que estava acontecendo? — Bia retruca.
— Touché — diz Nathy, rindo. — Bem, acontece que o Trevor pediu a
nossa ajuda para fazer uma noite romântica para você, Amanda — ela diz.
— Foi lindo, estava tudo lindo, obrigada — digo, lembrando a noite
maravilhosa, com um sorriso no rosto.
— Então, eu estava com o Daryl lá em cima e eu comentei que era lindo
o que Trevor estava fazendo, que ele estava tentando te reconquistar e que eu
queria um amor desse para mim — ela diz.
— E o que ele disse? — pergunto.
— Que se eu queria flores, piqueniques e romantismo, estava olhando
para o cara errado — ela conta, com os olhos marejados. — Depois, eu disse que
estava ali para cuidar dele, para ajudar por causa dos ferimentos que ele sofreu.
— Por que eu acho que isso piora? — pergunta Bia, ficando vermelha de
raiva.
— Porque piora, amiga — diz Nathy e respira fundo. — Ele disse que
não precisava de enfermeira, que já estava curado da facada e, inclusive, das
queimaduras, ou seja, não precisava de mim.
— Aquele idiota! — reclama Bia, levantando. — Eu mato aquele
desgraçado!
— Espera, tem mais — Nathy interrompe.
— O que foi agora? — pergunto.
— Bem, eu perguntei para ele o que éramos — ela diz e eu coloco as
mãos no rosto, já imaginando a resposta do meu cunhado, realmente é idiota
igual ao irmão. Eu amo o Trevor, mas ele consegue ser bem babaca às vezes. —
Ele disse que não éramos nada, além de uma gostosa e incrível transa casual,
então, eu dei um tapa na cara dele e socos em qualquer lugar que alcançasse.
— Certíssima, eu faria igual — digo.
— Sim, mas ele me segurou e me beijou, eu não resisti e transamos —
ela diz e a Bia e eu soltamos um gemido de frustração juntas.
— Nathy, não — diz Bia, enquanto a Nathy começa a chorar.
— Eu fiquei com raiva de mim e corri para o quarto de hóspedes que
ocupei desde que fui cuidar dele, aí arrumei a minha mala e esperei chegar de
manhã para sair, mas quando desci, estavam todos lá e eu não tive coragem na
hora — ela diz, chorando.
— O que te deu coragem de sair? — pergunto.
— Uma conversa que eu ouvi do Daryl, quando entrei para ir ao
banheiro.
— Não que eu vá gostar do que você vai falar, mas o que ele disse? —
pergunta Bia.
— Ele estava ao telefone, marcando um encontro com uma tal de Tiffany,
ou seja, já está com outra e eu nem tinha saído de lá ainda, não sou obrigada a
passar por isso e, se eu não tivesse perdido o meu apartamento, já teria saído de
lá antes — diz ela e eu me levanto junto com a Bia.
— Eu mato aquele desgraçado — dizemos juntas.
— Não podem — diz Nathy, voltando a chorar.
— Como assim, não podemos? — pergunta Bia.
— Não podem matar o pai do possível filho que eu posso estar esperando
— ela responde e eu caio sentada no sofá, totalmente boquiaberta.
— Não tem certeza? — questiona Bia.
— Eu só sei que a minha menstruação está um pouco atrasada, mas pode
ser pelo estresse dos últimos dias e estou com medo de fazer o teste, prefiro
esperar para ver se a menstruação desce — ela responde.
— Bom, o que quiser fazer, saiba que estarei ao seu lado — diz Bia e eu
concordo.
— Eu também estarei ao seu lado e sei que a Kate também, se estiver
grávida você terá três tias babonas para te ajudar com o seu bebê e, se não
estiver, terá três amigas para ajudar a castrar o meu cunhado — digo e ela ri.
— Vocês são as melhores amigas do mundo — ela diz, rindo, entre o
choro, e nos abraçamos.
Logo sentimos pequenos bracinhos rodeando as nossas pernas e pegamos
os gêmeos no colo, para completar o nosso abraço coletivo.
Hoje eu me sinto muito sortuda, perdi muito nesta vida, mas ganhei
amigos que considero a minha família. Estou rodeada de pessoas que eu amo e
me amam, pessoas que me dão apoio incondicional, que me sacodem quando
necessário e me consolam quando é preciso.
Sei que, independente do que aconteça daqui para frente, estaremos
juntos e nos apoiando como a grande família que formamos. Graças à Kate, que
me chamou para trabalhar cuidando da sua mãe, eu conheci o Trevor e os amigos
deles, que são pessoas maravilhosas e que eu aprendi a amar.
Sinto que agora tudo vai dar certo e, com o apoio uns dos outros, seremos
felizes e superaremos todo e qualquer obstáculo que apareça, juntos.

FIM
Bem, a lista de pessoas que preciso agradecer aumenta a cada livro e isso
é ótimo, porque tenho pessoas maravilhosas ao meu lado, me dando apoio. Este
livro foi especialmente difícil de terminar e me sinto um pouco triste em não ter
Amanda e Trevor mais para atazanar a minha cabeça, ao mesmo tempo que eu
fico aliviada em terminar o livro deles e poder me concentrar no próximo da
série, que é tão complexo quanto este para escrever, então, eu que lute! (risos).
Vamos lá, primeiramente quero agradecer à minha família, que está ao
meu lado, me apoiando sempre e em tudo o que eu faço, esse período difícil de
distanciamento social nos fez ficar muito tempo sem contato físico e isso é
extremamente doloroso, sinto falta deles todos os dias e não posso vê-los quando
quero, mas agradeço a eles por tudo que fizeram e fazem por mim, eles são a
minha base e a minha razão, são a minha vida, eu os amo com todo o meu
coração.
Meu noivo, que me aguenta falando todos os dias que eu estou com livro
atrasado, que preciso escrever, que tenho que terminar logo. Ele aguenta os meus
surtos, neuras, ansiedade, estresse e sempre tem alguma palavra para me
acalmar. Morar com ele durante esse período turbulento de distanciamento é a
melhor coisa, porque o tenho ao meu lado todo o tempo para me apoiar. Eu te
amo, meu amor.
Agradeço também à família do meu noivo que me adotou, me apoia e
comemora junto comigo as minhas conquistas, ganhei outra família e isso
diminui um pouco a dor da saudade que sinto da minha, graças ao carinho que
vocês me dão. Muito obrigada, amo vocês.
Minha revisora, Bah Pinheiro, que sempre me apoia desde o primeiro
livro, que conheço há mais de 10 anos e que sempre será a minha bruxinha,
muito obrigada por todo o seu apoio.
Minhas betas, Maah e Nathy (sim, a inspiração da personagem), obrigada
por aturarem meus surtos e minhas cobranças, por apoiarem e aceitarem ser
minhas betas.
Minhas assessoras, Grazi e Carla, obrigada por aguentarem minhas
doideras, surtos e crise de loucuras e esquecimentos, obrigada pelo apoio, pela
divulgação e todo o suporte que me dão para escrever os meus livros.
A Wall da editora The Books por me ajudar a realizar o sonho de ter um
livro físico lançado e a Grazi Fontes por aquela diagramação arrasadora,
obrigada de coração.
Agradeço todas as autoras que me ajudaram nesse tempo, não vou citar
nomes para não deixar ninguém de lado e alguém ficar chateada. Todos os
autores que de, alguma forma, me ajudaram, os autores que eu conheci saibam
que agradeço a vocês porque os livros de muitas autoras e autores nacionais me
inspiram a continuar escrevendo os meus livros.
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SOBRE A AUTORA

Priscila Veiga tem 30 anos, nasceu e cresceu em Guarulhos na Grande


São Paulo, está noiva e atualmente trabalha na área de logística além de escrever.
Ela começou a escrever com 18 anos, mas nunca achava satisfatório o que
escrevia até que começou a jogar no celular um jogo que conta uma história de
romance onde o jogador escolhe o que acontece ao longo da história e se
apaixonou pelo jogo que mais parecia um livro interativo, começou a participar
de grupos e páginas relacionados a ele até que chegou em um grupo de
fanfictions sobre os personagens do jogo e muitas das meninas não gostavam do
personagem Gabriel. Ela resolveu que faria com que as meninas do grupo
gostassem do personagem e começou a escrever uma fanfiction do jogo, quando
se deu conta, escreveu mais de 50 capítulos e muitas páginas.
Na escrita ela descobriu a sua válvula de escape dos problemas da vida, onde ela
senta em frente ao computador e escreve histórias que aparecem na sua cabeça.
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[1]
Personagem da saga de livros de Harry Potter, criada pela escritora britânica J. K. Rowling.
[2]
El Chavo del Ocho (Chaves no Brasil e O Xavier em Portugal), ou simplesmente El Chavo, é um seriado
de televisão mexicano criado e dirigido por Roberto Gómez Bolaños (conhecido como Chespirito),
produzido pela Televisa e exibida pelo então Canal 5.
[3]
Abreviado de Caporegime (ou capodecina) é um cargo de importância elevada na hierarquia de uma
família da máfia italiana. O capo é o subchefe, esta abaixo apenas do Don (o padrinho) e do Consigliere (o
conselheiro).
[4]
Música Al otro lado de la lluvia da cantora Dulce Maria
[5]
“Sei que as suas asas ficaram comigo
Que desde o céu seu abraço é meu abrigo
Anjo divino, me proteja do mal
Sei que caminho com sua companhia
Que com sua voz meus dias acendem
Ainda que sua porta hoje esteja mais além
Posso te escutar

Posso te escutar
[6]
“...Your love is one in a million
It goes on and on and on
You give me a really good feeling
All day long
Your love is one in a million
It goes on and on and on
You give me a really good feeling
All day long…” - One In a Million - Aaliyah
[7]
Compreende em espanhol.

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