Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
E viveram…
Livro 2 – Trilogia Um Conto Quase de Fadas
Widjane Albuquerque
Copyright © Widjane Albuquerque
1ª edição 2017
Todos os direitos reservados
Revisão Evelyn Santana
Capa Dri K. K.
Dados Internacionais De Catalogação Da Publicação
Albuquerque, Widjane;
Trilogia um Conto Quase de Fadas – E viveram…
1. Literatura Brasileira. 2. Romance I. Título
Aviso
Inverno, 2004
Londres – Inglaterra
Aos vinte e quatro anos, eu, Rocco Masari, decidi que já estava mais do que
na hora de me casar. Susan, a minha linda noiva, iria se formar este ano, assim,
finalmente poderíamos começar nossa vida independente. Eu não queria ajuda do
meu pai, a única coisa que aceitei dele foi um apartamento e, lógico, levei Susan
para morar comigo.
Minha mãe protestava, mas era melhor assim. Eu queria conforto para minha
futura esposa. Mesmo que isso me fizesse brigar com todos eles! Apesar dos
pesares, e mesmo com a desaprovação da minha família, Susan estava radiante
com o apartamento e com as coisas que eu lhe proporcionava, entretanto ela
parecia um pouco distante.
Eu achava que era pelo fato de eu ter que trabalhar, estudar e passar minhas
férias longe dela. Para minha ira, eu ficava incomunicável. Isso por causa do
acampamento para treinamento de segurança. Na cabeça do meu pai, eu poderia, a
qualquer momento, ser sequestrado, torturado e morto. Até cogitei a possibilidade
de encerrar meu treinamento, mas logo em seguida desisti.
Eu estava gostando, ficando cada vez melhor e o treinamento mais intenso.
Além do mais, descobri que eu poderia aprender outras coisas, então insisti muito
e meu instrutor me colocou para treinar em outro lugar. Lá era infinitamente pior.
Descobri-me fissurado em luta corpo a corpo, tanto que incentivei meus amigos a
fazerem luta também. E mais uma vez, depois de uma temporada de férias e
treinamento duro, eu estava voltando para casa, esta foi uma das mais difíceis,
foram mais três meses de treino pesado, aquela temporada foi foda e eu conheci
novos membros da equipe: Red, os gêmeos Drake e Dom e, por fim, Cyper.
Este último era um louco, não suportava ser tocado, na verdade, ele não
gostava de gente. Nós o apelidamos de Intocável.
Sorri de lado.
Eu não tinha apelido nenhum e preferia assim.
Cheguei ao meu prédio, mas antes de entrar, eu tive que me acalmar. Devo
confessar que fazer esse treinamento me deixou um tanto mais selvagem, mais
bruto e tal. Eu estava ansioso por uma foda dura com minha mulher, mas ela era
tão delicada, que eu temia machucá-la, para minha infelicidade, ela não gostava de
sexo forte.
— Foda-se — rosnei, sentindo meus músculos tensos. — Acalme-se… —
comandei meu corpo a relaxar. Estava complicado, mas eu iria conseguir. Com
carinho, mostraria a Susan que eu era o mesmo Rocco.
O que fodia com força e a amava lento.
Um tanto calmo, subi para meu apartamento, e lá encontrei Susan dormindo.
Ela estava linda, delicada, aquilo me animou ainda mais, deixando-me duro e
pronto quase instantaneamente.
Cheguei junto, acordando-a apenas para ganhar um sorriso que me deixava
com o coração acelerado. Porém, quando abriu os olhos seu sorriso sumiu, todavia
ela logo colocou um outro no rosto.
Senti-me decepcionado por ela parecer triste.
— Não está feliz em me ver? — sussurrei, fungando em seu pescoço. Minha
mão subindo por sua coxa, buscando-a lentamente.
— Eu… claro… — Notei sua voz estranha, mas logo também foi disfarçada.
— Eu pensei que estava sonhando…
— Não é sonho — ronronei, rasgando sua camisola —, eu estou aqui e… —
Peguei sua mão, levando-a até o meio das minhas pernas. — … sou muito real.
Eu tomei o corpo de Susan lenta e suavemente, apesar de querer muito de
outra forma.
***
Fazia três dias que eu tinha voltado do acampamento, estava almoçando com
meus amigos quando recebi uma mensagem.
“Amor, venha aqui em casa… preciso de você.”
Respirei fundo, colocando o celular de lado.
Eu estava sem vontade, Susan estava estranha e nada do que eu fizesse
mudava esse fato. O foda era que agora a nossa empresa estava subindo muito
rápido, e meu pai, o Sr. Bertolho, exigia muito de mim. Então meu tempo estava
escasso, isso incomodava Susan, e ontem, brigamos feio.
Ela queria se casar logo, mas eu estava segurando a onda. Não tinha mais
tanta certeza se me casar era a coisa certa. Digo, claro que eu quero Susan, mas
apesar de estarmos juntos há dois anos e de eu amá-la, nós não convivíamos muito.
Quero dizer, na época que nós iniciamos nosso relacionamento eu estudava
muito, e nem sempre poderíamos nos ver, depois, quando eu a levei para morar
comigo, parece que ficou pior. Eu saio, ela está dormindo, eu volto, ela está
dormindo, eu a procuro, ela diz ter sono. Estava decidido a me casar, mas essa
idéia parece querer muito ser adiada.
Eu não tinha tempo para fazer coisas de casal, havia apenas uma meta que
era, estudar muito para conseguir ter as minhas coisas com méritos próprios, mas
então, quando eu pensei que existiria algum tempo, meu pai me colocou no
treinamento, e, agora, nas férias, eu estou nele.
— Acho que vou parar de treinar com o Dark… — falei baixo, remexendo
minha comida. Comentar com meus amigos poderia me ajudar.
— Por que isso? — Dimitri questionou. — Você gosta e aquilo te fez um bem
danado, até com mais carne em cima dos ossos você está!
Eu ri sem humor.
— Você deveria continuar… você gosta de lutar, alias seu pai não permitiria
que você desistisse do “acampamento”, esqueceu que são cinco anos de contrato?
— William falou, arqueando uma sobrancelha.
— Vocês têm razão… — concordei
— Outra coisa, a sua Suka deveria agradecer, ela não faz nada, só gasta o seu
dinheiro e você ainda a coloca em um pedestal…
— Susan é minha futura esposa… — grunhi, me levantando. — Antes que
esqueça, me diga logo o que significa Suka?! Não quero você chamando minha
mulher de nomes que não conheço.
— Vai na paz, meu amigo — Dimitri debochou — um dia eu te conto o que
é…
Peguei minha bolsa executiva e fui pra casa ver o que Susan queria. Até me
repreendi por estar sendo um idiota e não entendê-la. Que mulher gosta de ser
deixada de lado? O fato é que eu morro por isso, eu sou muito apaixonado por ela
e gostaria de poder oferecer mais, entretanto, o rico aqui é meu pai, e eu sou, para
todos os efeitos, um empregado que trabalha feito burro de carga, porque minha
educação é assim: como vai saber instruir alguém a fazer algo, se não souber fazê-
lo ou, no mínimo, do que se trata?
Eu não era tratado com regalias, muito pelo contrário, se eu errasse, era feito
comigo o mesmo que com os outros. No fim, isso é bom.
Durante o trajeto para casa, decidi que já estava de bom tamanho esse
noivado, não havia ansiedade por minha parte, dava para esperar mais um tempo.
Entretanto, não queria magoar Susan, ela era a mulher da minha vida, então não
iria mais esperar coisa nenhuma.
— Hoje irei surpreendê-la. — Sorri acelerando meu carro velho, iria para
casa ver o que ela queria, depois voltaria correndo para a empresa e à noite eu
faltaria à aula de mestrado para poder levar Susan a um lugar especial e pedi-la
em casamento, ali mesmo marcaríamos a data.
Se meu pai me desse uma folga, eu poderia ficar a tarde toda com Susan,
como falei, o velho me tratava como um funcionário qualquer, eu era um assistente
do setor administrativo e para subir teria que merecer. Antes que me esqueça: meu
salário é condizente com meu cargo. Eu ganho pouco, sim, mas consigo para Susan
tudo que ela quer, ou pelo menos tento fazer isso, na grande maioria das vezes.
— Hoje eu vou dizer que te amo, Susan, desculpe, mas estava entalado. —
Suspirei, ansioso para mostrar que nos casaríamos em breve, por isso entrei no
elevador e contei os segundos para que chegasse logo ao meu andar.
Quando cheguei em frente ao meu apartamento, notei que a porta estava
entreaberta.
Estranhei e, por isso, retirei minha bolsa sem fazer barulho, caminhei com
cuidado até a sala, temeroso de algo ter acontecido a Susan. Quando ouvi o
primeiro gemido alto, eu entrei em estado de alerta, preparado para brigar feio. Ou
melhor, brigar não, aniquilar mesmo.
Não contei outra, corri para o meu quarto, mas nem cheguei perto o suficiente
estanquei.
O que vi fez o homem romântico em mim morrer instantaneamente e, no lugar
dele, surgir uma besta bruta e fora de controle, viciosa em sua maldade e cinismo.
— Me fala, gostosa, como você gosta que eu te coma…
— Ahhhh, Damon… eu gosto bruto… selvagem… ohhh… uhmmm…
Tremi de ódio, o sangue bombeando mais rápido, parecia que a realidade
estava desbotada e eu só conseguia ver aqueles dois transando como dois animais
na minha fodida cama.
— Filha da puta — rosnei bem baixinho, meus dentes trincados de puro ódio.
— Oh, Damon! — Ouvi seu lamento e quase tive vontade de entrar no quarto
e matar a ambos, ver o que minha noiva, supostamente fiel e doce, estava fazendo
matou de vez o idiota, romântico e apaixonado que existia em mim.
O estranho de tudo é o fato de que, apesar de estar sendo traído dessa
maneira, meu coração não estava quebrado. Na verdade, eu estou puto pela
situação, surpreendentemente, eu não sinto desespero por perder Susan, na
verdade, sinto um misto de ódio e desprezo e, lá no fundo, um estranho alívio.
Todavia, algo se quebrou, sim, mas foi mais em relação à forma como eu via
as mulheres.
— Fala para mim — Damon rosnou, e Susan gemeu alto, cavalgando ainda
mais freneticamente no colo dele. — Quem é seu homem? Quem te come com
força e você gosta?
— Oh, Damon, é você… — ofegou a maldita puta. — Só você!
O bastardo ria enquanto dava tapas que marcavam sua pele branca, tapas que
eu nunca dei por achá-la muito delicada. Muito suave para um tratamento mais
rude.
Foda-se!
Outra coisa que me deixou puto, foi que eu sempre me continha com Susan, eu
necessitava transar com mais força, mais brutalidade, mas não, para ela eu tinha
que ser um fodido de um principezinho suave.
Caralho!
— Rocco é o quê, Susan? — Damon debochou, e acho que o infeliz sabia que
eu estava ouvindo.
— Rocco é um fraco… — suspirou em meio a um gemido prazeroso — que
acredita que… Ohh, Damon!
— Responda! — ele rosnou, estapeando sua bunda de novo, eu travei o
maxilar ainda mais apertado. Ondas de ira correndo pelo meu corpo.
Dentro de mim, nuvens de tempestade estavam se formando, tudo escurecia,
minha resolução em nunca mais cair nas garras de uma puta fingida tomando forma
e fixando-se como algo imutável e permanente.
— Rocco é um idiota, Damon! — berrou, quando o bastardo impulsionou
para cima com força, algo que nunca fiz e que nunca faria com ela. — Ele pensa
que eu o amo, mas eu apenas o suporto…
— Isso, boa menina. — Damon a estava bajulando para que ela falasse tudo.
— Continue, vá falando enquanto eu te fodo, gosto da sensação de comer você na
cama daquele otário. — Susan soltou uma risadinha. Ela estava delirante naquele
momento.
— Oh, Damon… ahhh, siiim… assim — gemeu rebolando.
Ver aquela desgraçada fazendo aquilo era muito bom, porque só assim para
eu deixar de ser um trouxa, só assim para eu virar um homem esperto que não cai
no conto do rosto lindo e inocente.
Na verdade, não existe mulher inocente, e se houver, eu quero distância a
partir de hoje.
Vou comer só devassas, foder com força e gozar muito.
Chega de me conter, agora quem quiser ir para minha cama, já vai sabendo
que provavelmente não andará no dia seguinte!
— Fala, Susan! — Damon incentivou a vadia que só gemia e gemia feito uma
atriz pornô fingida.
— Rocco é um bobo apaixonado, eu o quero porque sei que ele será muito
rico — gritou, enquanto trocavam de posição, agora o escroto socava por trás. —
Rocco vai dar a vida de rainha que eu mereço, mas na cama, oh, na cama, você,
Damon, será o que me faz ser a puta que eu gosto…
Fechei os olhos durante um momento, tentando buscar forças para não matar
os dois.
Damon gargalhou, contente, e incentivou Susan a falar mais. Ele estava
usando bastante força em suas investidas e ela estava adorando.
Fiquei ali uns cinco minutos, ouvindo as maiores putarias sobre minha
personalidade, o quanto eu era idiota, chato, simples e controlado. Até aí eu
consegui segurar boa parte da vontade de matar ambos, mas quando ela falou, com
aparente nojo, que usaria meu sobrenome porque ele vinha carregado de cifrões,
eu soltei um pouco as rédeas que me mantinham ali apenas como um espectador
enojado, diante daquilo tudo.
— Sim, sua vadia gostosa! O nome Masari é uma merda… — Damon
rosnou, puxando os cabelos dela.
Eu enlouqueci, mandando o controle para a puta que o pariu.
Escancarei a porta do quarto com um estrondo, meu rosto deveria estar
retorcido em uma careta de ódio tenebrosa, porém eu não estava dando uma merda
para essa puta de olhos arregalados de pavor.
— Ninguém mexe com o poderoso Masari! — rosnei irado, e naquele
momento, o controle que eu achava tão necessário quebrou definitivamente, para
sempre.
Eu não tenho que controlar caralho nenhum, e, a partir de hoje, se bater, leva
muita porrada. Se me provocar leva porrada, se me olhar por mais de dois
segundos, ganhará um questionamento e uma conta no hospital.
Não pensei em mais nada.
Empurrei Susan da minha frente e ataquei Damon, segurei-o pelo pescoço e
lhe bati, acertando o primeiro murro bem no meio da sua cara de bastardo infeliz.
— Comi sua mulher por seis meses, seu otário — debochou, e eu esmurrei
sua boca até que ele perdeu alguns dentes.
Eu nem ouvia os gritos de Susan, uma nevoa vermelha cobria minha visão e
eu estava pouco me fodendo se iria matá-lo ou não.
Bati em Damon sem dó e nem piedade, eu sentia minhas mãos arrebentadas,
mas estava possesso, cada murro eu berrava para ele fazer bom proveito da puta
sem sal que ele escolheu, para ele colocar uma corrente no pescoço dela, porque
ela era uma cadela no cio.
Insanidade me dominava e eu não me importava.
Senti braços me puxando para trás e me virei na hora, esmurrando a cara de
quem tentou me pegar.
— Filho da puta! — Dimitri rosnou agressivo, mas não revidou. Ele
simplesmente olhou para cama e viu o banho de sangue que estava lá, mas, ainda
assim, Damon, o bastardo, sorria.
— Comi sua mulher por seis meses, da forma que você nunca comeu, porque
ela só dava desse jeito para mim!
Em passos silenciosos, o Conde caminhou em direção a cama.
— Por que você não o deixou inconsciente assim que deu o primeiro murro?
— William perguntou com voz uniforme, enquanto aproximava-se de Damon.
— Vocês chegaram, me tirando desse objetivo, eventualmente, iria apagá-lo.
— Dei de ombros. — Mas antes eu queria que ele sentisse muita dor…
De fato, no treinamento, eu aprendi a bater nos lugares exatos para prolongar
a dor, todavia de quebra mantendo a consciência para o sofrimento mais forte e
intenso.
— Não se perde tempo com escória, Rocco — William me olhou, sua postura
sempre inabalável. — Você simplesmente a chuta para fora do seu caminho e
pronto.
Olhei para a cama e, apesar de ter arrebentado a boca de Damon, quebrado
seu nariz e ter aberto várias feridas em seu rosto, e por isso transformando minha
cama em um banho de sangue, ele ainda assim estava consciente.
— Vocês são uns três idiotas que… — Damon ergueu-se falando, mas
William agiu rápido, fechando o punho em sua cabeça. O impacto da pancada foi
tão forte, que Damon desabou e ficou por lá, inconsciente.
Então William virou-se para Susan e caminhou até ela, pegando-a pelo
pescoço, erguendo-a do chão.
— Por favor… por favor… — choramingava, mas William não sorria, ele
mantinha sua expressão tranquila, dava até nervoso só de ver o quando ele era
frio, controlado. Malvado.
Assim como eu também seria.
— Ninguém mexe com a tríade — murmurou, batendo-a contra a parede. —
Ninguém.
Susan gritou e ele a largou.
— Vista-se — comandou indiferente. — Você irá sair daqui agora. —
William parecia muito calmo, de fato, ele parecia estar tratando de algo
corriqueiro e banal.
— Mas eu… — Susan tentou argumentar, mas William decretou duramente:
— Vista-se. Agora!
Não era muito perceptível, mas eu pude ouvir um grunhido ressoando do
peito do meu amigo.
Susan começou a se vestir, apressada.
— Minhas coisas? — Ela chorava muito, mas não me afetava, por mim, ela
poderia morrer. — Rocco, por favor, em nome de tudo que…
E então eu ri.
Gargalhei alto de deboche, porque eu estava livre de uma puta safada antes
que fosse muito tarde.
— Você vai embora com o que trouxe, ou seja, nada! — grunhi, sorrindo
perversamente. — E, ah, obrigado, confesso que eu estava perdendo o interesse,
não gosto de trepar com suavidade, eu gosto de foder duro! Outra coisa: um
homem como eu e do meu tamanho precisa de uma mulher mais resistente, você é
muito inferior…
— Você é fraca demais! — O Dinka riu com escárnio
Eu sabia que os dois eram meus amigos, mas não sabia que estávamos em um
nível tão profundo de irmandade.
William puxou Susan pelo braço, levando-a embora.
— Me solta, seu monstro! — ela berrava alto e, quando tentou dar-lhe um
tapa no rosto, o futuro conde de Ravembrock se transformou.
Ele a pegou pelos ombros e a sacudiu.
— Você tenta outra merda dessas e fica sem a mão! — murmurou, calmo,
fazendo-a perder a cor do rosto. — Agora bata!— comandou e esperou. Susan
soluçou, encolhendo-se.
— Muito bem, não sou alguém que você queira irritar!
Assim desapareceu, arrastando aquela que passaria a ser encarada como
vadia chefe.
— Agora me diga o que Suka significa?!
Dimitri me olhou e sorriu
— Vadia, puta, cadela. — Deu de ombros. — Você escolhe!
Naquela noite, nos divertimos muito, e para meu alívio, eu transei com duas
garotas, finalmente pude tomar as rédeas das minhas vontades.
Fodi com força e com perversão. Não precisei me conter e foi muito bom.
Eu gostei daquele novo Rocco, ele era o que deveria ser. O idiota simplório
não combinava mais com o homem que me tornei.
E assim foi, a cada ano, eu me tornava cada vez mais frio e distante. O
cinismo foi tornando-se algo muito natural em mim. Acho que foi melhor, pois
quando meu pai morreu, eu assumi tudo, me tornando o renomado chefe da família
Masari. Um dos homens mais implacáveis, frios e calculistas da Europa, ao longo
do tempo, meu nome passou a ser sinônimo de poder e influência, até de medo.
Eu nunca me apaixonaria, eu nunca me casaria, eu nunca permitira outra
mulher chegar tão perto.
E esse foi o início de tudo!
Capítulo 1
Victória
Eu estava tão grudada em Rocco que parecia uma gêmea parasita. Estávamos
em alta velocidade e ele passava ziguezagueando entre os carros, recebendo
buzinadas e gritos em italiano. A cada instante o motor da moto rugia mais alto e
eu tremia um pouco, lógico que eu confiava em meu homem, mas, bom, era tudo
meio assustador e excitante.
Eu estava com um nó nervoso em meu estômago, que só piorava a cada
quilômetro que percorríamos. Eu não conseguia reconhecer os lugares, há muito já
nos afastamos dos pontos turísticos, agora seguíamos pela rodovia. Em um
determinado momento, entramos em uma estrada vazia. Não havia luzes vindas do
sentido contrário e, olhando para trás, também não havia.
Rocco diminuiu a velocidade e começou a seguir em linha reta, aos poucos eu
relaxei, pois a diminuição drástica de velocidade ajudou a amainar meu receio.
Quando senti uma de suas mãos em minha coxa, eu me senti segura, soltei
minhas mãos da cintura dele e comecei a abrir os braços bem devagar. E quando
me vi com os braços abertos, eu me senti plena em alegria.
Era como voar.
Eu ri, erguendo a cabeça para o céu, observando as estrelas que eram as
únicas testemunhas da minha felicidade, em seguida, fechei meus olhos e deixei
que a sensação de liberdade me dominasse.
O vento acariciava meus braços e rosto, e antes que pudesse me controlar, eu
gargalhava feliz.
Fiquei assim até perceber que a moto fazia uma curva e aumentava a
velocidade. Voltei a abraçar a cintura do homem que estava me ensinando a viver
e literalmente voamos para o hotel.
Chegamos ao La Riviera Roma saltando da moto assim que ela parou. Rocco
não se importou com nada, ele jogou a chave para alguém e corremos para dentro
do hotel. Meu homem estava muito apressado, e eu, nem se fala. Era engraçado de
se ver, ele na frente me puxando enquanto eu tentava acompanhar seus passos. A
todo instante ele olhava para mim e sorria.
Daquele jeito que todo mundo já sabe. O jeito que faz a calcinha molhar e
você ofegar, ou seja, o sorriso arranca calcinha marca registrada de Rocco
Gostoso Masari.
Eu estava radiante, pois no começo vivemos difíceis percalços, mas estes não
nos abalaram, pelo contrário eles apenas solidificaram nosso amor, e muito em
breve estaríamos fundidos.
Seriamos um só… Uma perfeita sintonia…
Quando chegamos ao elevador, entramos e Rocco tirou uma pequenina chave
do bolso, inserido-a no painel do elevador e, em seguida, apertando um botão. Eu
estava curiosa para perguntar, mas não tive tempo, assim que ele terminou essa
pequena tarefa, eu me vi sendo empurrada contra a parede de metal e sua boca
caindo sobre a minha, devorando-me sem pudor algum.
Nosso beijo continuava e continuava, até um momento em que eu senti que
fraquejava, e foi nesse instante que Rocco decidiu que nós precisávamos respirar.
Meu Deus, eu esqueci até como respirar! Contudo, só consegui formar esse
pensamento pois, mais uma vez Rocco me atacou, sendo que agora ele estava
mordendo minha orelha, arrepiando-me ainda mais… Enlouquecendo-me ainda
mais.
Em seguida, ele começou a brincar com meu pescoço e para isso, puxou meus
cabelos com um pouco mais de força e inclinou minha cabeça de lado.
Abri a boca, puxando o ar, e logo gemi quando ele lambeu meu pescoço,
desde o encontro com o ombro até a minha orelha, depois desceu novamente,
sendo que, desta vez, ele me mordeu forte.
Marcando minha pele, eu tinha certeza.
— Roccooo — gemi alto, sentindo minha calcinha ficar ainda mais acessa.
Essa mordida me fez lembrar como ele tem uma língua talentosa e pervertida, meu
sexo pulsava cada vez mais e já podia constatar uma leve dor em meu clitóris. Só
de pensar no que ele poderia fazer, eu sentia minhas pernas bambas.
Eu estava fora de controle, cheia de excitação e precisava de mais contato,
por isso agarrei sua bunda, puxando-o para mim.
Senti sua ereção em minha barriga e comecei a me esfregar desavergonhada.
Eu já havia passado do ponto de ter frescura, se brincar, Rocco me conhece
melhor que eu mesma e, verdade seja dita, eu estava mesmo era pronta para
implorar.
— O que faz comigo? — perguntei, me esfregando nele, que grunhiu,
aumentando o agarre em meu cabelo.
Doeu um pouco, mas me excitou ainda mais. Eu me sentia uma safada,
despudorada, e estava gostando, muito. Nesse momento, eu sofria com o desejo de
gozar, e ele nem sequer havia me tocado mais intimamente. Na verdade nem
precisava, bastava que me olhasse com aquela cara de safado e me desse o sorriso
devastador, que logo eu me transformava em uma massa pulsante e desesperada.
— Eu estou te preparando para mim, amore mio — sussurrou, soltando meu
cabelo, para poder usar as duas mãos em meu corpo.
Ele me apertava, me apalpava, me cheirava, sempre fazendo sons de prazer,
entretanto, meus lugares mais necessitados, ele não tocava, e isso só aumentava
minha expectativa e desejo.
E loucura também, porque já, já eu estava indo para atacá-lo.
Não quero nem saber!
Eu estava me sentindo presa em uma teia de sedução e poder, desejo e
luxúria. Meus sentidos estavam em pleno estado de alerta, até o hálito dele que
fazia cócegas em meu pescoço, aumentava o palpitar em meu sexo e o peso dos
meus seios.
Graças a Deus o elevador parou e as portas abriram. Estávamos na nossa
suíte, dei um passo, porém estava tão fraca de desejo, que minhas pernas não me
sustentaram, por isso Rocco me pegou em seus braços.
— Eu te carrego, amor — murmurou em meus lábios.
Vivia em um misto de medo, anseio, antecipação, expectativa, mas eu sabia,
não, eu tinha certeza de que seria perfeito, e sabe por quê?
Porque era com ele, Rocco, o homem da minha vida, e mesmo quando o
momento da dor fosse inevitável, eu sabia que seria justo nesse instante que eu
deveria explodir de felicidade, pois só então estaríamos fundidos em um só. Meu
corpo menor e suave, abrindo-se para acomodar o dele, que era muito maior e
poderoso, em meu interior.
Meu coração me dizia que seria sublime… E eu tinha essa certeza.
— Feche os olhos, meu amor — murmurou sorrindo, e eu obedeci, logo senti
dois beijos suaves em minhas pálpebras fechadas.
Ouvi o barulho da porta do nosso quarto abrindo, mantive meus olhos
fechados, apesar de querer abri-los. Eu me segurei.
Fui colocada de pé, primeiro Rocco me esperou testar a força das minhas
pernas e, quando constatou que estava tudo bem, afastou-se.
— Fique aqui, não abra os olhos ainda, por favor.
Mordi meu lábio, apertei minhas coxas juntas e torci minhas mãos. Um gesto
nervoso, mas as sensações eram muitas para eu ficar parada.
Sinceramente não sabia como Rocco, em um instante, estava todo safado, me
devorando, e, no outro, ele estava calmo como se nada tivesse acontecido. Em
contrapartida, eu tenho certeza de que estou descabelada, trêmula, ofegante…
Controle nunca me pareceu tão difícil.
Então, uma melodia de uma das minhas bandas favoritas começou a soar.
It must have been love, Roxette.
Não pude evitar o enorme sorriso em meus lábios. Meu coração galopava
freneticamente. Mais uma vez, fui invadida por arrepios prazerosos, meu estômago
estava ao mesmo tempo leve e pesado, meu corpo tenso e relaxado… Eram muitas
sensações contraditórias, mas que juntas poderiam causar um enorme estrago em
quem as experimenta.
Senti a presença de Rocco em minhas costas e suspirei. Logo suas mãos
estavam em meu cabelo, em uma suave carícia que me fez arquear, puxando a
respiração com força. Muito lentamente, suas mãos desceram pelo meu pescoço,
acariciando, me fazendo incliná-lo para o lado, dando-lhe o acesso que Rocco
queria.
— Sim… — Suspirei quando sua boca começou a percorrer meu pescoço,
muito devagar para minha paz de espírito, e estar de olhos fechados só
intensificava as sensações de suas mãos em minha pele. — Amor… — gemi,
trêmula — por favor…
— Abra os olhos — murmurou baixinho, e eu obedeci.
Quando eu vi tudo que ele havia preparado, meus olhos arderam.
Estou completamente fora da realidade!
Havia velas espalhadas pelo quarto, conferindo ao ambiente uma luz
especial, no chão e na cama havia muitas pétalas de rosas vermelhas e brancas.
Era tudo tão surreal e tão maravilhoso.
Não só isso, eu notei que as músicas foram cuidadosamente selecionadas
para esse momento. Pois agora estávamos ao som de Heaven, Bryan Adams.
Então eu soube o porquê do meu iPod ter sumido.
Rocco havia preparado a nossa primeira vez com cuidado e capricho.
— Está tudo perfeito! — exclamei emocionada. Lágrimas de pura felicidade
inundando meus olhos.
— Eu faço tudo por você, meu amor… — falou baixinho em meu ouvido.
Então, sem pressa alguma, suas mãos foram para as alças do meu vestido, fazendo-
o deslizar pelo meu corpo.
Depois suas mãos grandes e quentes seguraram meus seios doloridos,
massageando-os, beliscando meus mamilos com o polegar e o indicador, ele me
tocava tão devagar que me fazia revirar os olhos e curvar os dedos. Meu prazer,
que já estava alto, subiu a níveis estratosféricos, e eu nem queria, ou melhor,
queria saber, sim, o que aconteceria quando ele começasse a usar a língua.
— Por favor — gemi, eu me senti completamente dominada— Por favor… —
implorei de novo.
Rocco riu, deslizando as mãos pelo meu corpo, arrastando minha calcinha
bem devagar pelas minhas pernas. Ele deslizou a língua pela minha coluna, me
fazendo tremer, e quanto tocou meu sexo nu com os dedos, eu quase chorei.
— Molhada… — ronronou, acariciando minhas sensíveis. — Perfeita para
mim…
— Hummm — gemi, quando tiros de prazer dispararam pelo meu corpo,
joguei a cabeça para trás e rebolei, em busca de mais contato. — Eu preciso —
ofeguei quando ele circulou meu clitóris com mais força. O prazer corria por meu
corpo, criando um enorme nó em meu ventre, eu sabia que quando alcançasse
minha liberação seria algo grande, de abalar as estruturas… Nublar a mente…
— Isso, assim — gemi, esfregando minha bunda em sua ereção enorme e
dura, eu já estava tão perto… tão perto, que só mais um segundo e eu…
Quase gritei quando ele diminuiu os movimentos e passou a quase não me
tocar. Meu clitóris pulsou dolorosamente, meu ventre contraiu em protesto pelo
orgasmo perdido. Agora seus movimentos eram demasiado lento, eu estava
queimando — Rocco, por favor, não me torture tanto — ofeguei, apoiando-me
completamente nele.
Sentia-me zonza. Com falta de ar… sem gravidade…
— Eu ainda nem comecei, pequena… — falou, saindo das minhas costas e
parando em minha frente.
O safado sorria com pura malícia.
Mordi meu lábio e ele rosnou, logo quem o mordia era ele, e nós nos
beijávamos lento e gostoso, mas algo o continha… segurava-o, matando-me.
— Tire a roupa! — pedi, ofegante, assim que desgrudamos nossas bocas.
Apertei minhas coxas para tentar aliviar um pouco a dor.
Rocco começou a tirar as roupas bem devagar, a cada peça, eu queria voar
em cima dele e rasgar tudo. Mas eu me segurava, apenas ficava abrindo e fechando
as mãos, em ansiedade.
Prendi a respiração quando Rocco tirou a cueca e ficou gloriosamente nu
diante de mim.
— Veja o que faz comigo! — grunhiu, agarrando seu membro, acariciando em
gestos de vai e vem.
Olhei para ele, devorando-o com os olhos. Seu peitoral musculoso, seu
abdome sarado, seus braços fortes e coxas poderosas, uma festa para meus olhos.
Nunca me cansaria de olhar para ele. Nunca.
— Lindo… — murmurei hipnotizada, espalmando minhas mãos em seu peito
forte.
— Sou todo seu! — gemeu, quando corri minhas unhas pelo seu abdome
sarado, mas como ele fez comigo, eu não fui para seu parque de diversões, apenas
olhei como ele mesmo se dava prazer.
Era… muito… viril. Um espetáculo de pura masculinidade. Um verdadeiro
macho alfa!
Seu membro duro e orgulhoso pedia atenção, eu vi a pérola de umidade
vazando da ponta e lambi os lábios.
— Feiticeira! — rosnou desejoso, respirando fundo.
Então, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele me agarrou em seus
braços e me levou para o banheiro, e lá estava igual ao quarto. Velas aqui e ali,
com muitas pétalas de rosas na banheira e espalhadas pelo chão.
Suspirei quando entramos na água, e lá ele recomeçou a tortura, fazendo meu
corpo agonizar.
Eu estava tão perto…
Suas mãos brincavam com meus seios, apertando-os, ora leve, ora com força,
depois brincavam com meu sexo enquanto eu rebolava e sentia falta de algo…
Desespero, dor, excitação me consumiam em gemidos implorativos, sua boca
mordia e lambia meu pescoço.
Vou morrer!
Meu ventre dava cambalhotas, depois eu sentia a sensação de peso, mas
sempre que eu ficava muito próxima do orgasmo, Rocco retrocedia em suas
carícias, me deixando quase desfalecida de tanta vontade de me aliviar.
Era tudo muito… muito intenso para controlar, eu já não queria, precisava
gozar ou morreria, certamente meu coração não aguentava mais tanta tortura.
— Ohhh… por favor — solucei, à beira das lágrimas. Mas ainda assim ele
não me deixava gozar, sua tortura continuou e continuou. Eu sentia sua respiração
ofegante em meu ouvido, ele parecia quase tão ruim quanto eu, mas, acho que eu
estou pior.
— Tão perfeita! — grunhiu, levando seus dedos até meu clitóris para
massageá-lo com vontade. — Minha…
— Sim, sua! — ofeguei, rebolando cada vez mais rápido, em busca de alívio.
E lá estava, finalmente, meu corpo tencionou, e eu sorri de olhos fechados. —
Amor… vou gozar… continua… continua… — gemi, sentindo que chegava ao
topo, já estava pronta para gritar minha liberação quando Rocco parou, a
maravilhosa sensação retrocedeu, meu fôlego entupiu em minha garganta e agora,
sim, eu chorava em pura descrença dolorosa.
— Amore mio, hoje você só vai gozar no meu pau! — exclamou puxando meu
cabelo com força, virando meu rosto para engolir meu soluço em um beijo
selvagem.
Gemi quando chupou minha língua e gritei de prazer quando seu dedo brincou
com meu sexo ultrassensível. Juro por Deus que eu estava tão próxima da minha
liberação, que só mais um pouco e nem ele conseguiria segurar.
— Gostosa! Minha mulher gostosa! — mordeu meu lábio e sugando-o com
força.
Nós nos beijamos durante muito tempo, e não foi algo suave, éramos como
dois animais devorando-se. Eu não aguentava mais, por isso desgrudei nossas
bocas e me virei, fui para cima dele, pronta para tudo.
Agarrei seu cabelo com força, fazendo-o rir em resposta, então ataquei sua
boca com desespero. Suas mãos vieram para minha bunda, me fazendo montá-lo.
Comecei a me esfregar, rebolando em seu colo, ele gemia em minha boca, e eu, na
dele.
— Foda-se, pequena quente! — murmurou, se levantando comigo em seus
braços.
Rocco me levou para o quarto sem interromper o beijo que dávamos.
Caímos na cama molhados, e quem se importa?
Logo eu me via ainda mais louca quando ele desceu sua boca e sugou meus
mamilos com força.
— Ahh, isso! — arqueei meu corpo em busca de mais contato. Seus beijos
foram descendo pela minha barriga, sua língua esperta circulou meu umbigo,
depois seus dentes morderam minha virilha. — Não pare… não pare…
E como resposta, ele abocanhou meu sexo!
— Ahhhhh, assim! — lamentei, agarrando seus cabelos com força, Rocco
murmurou palavras incompreensíveis e as vibrações fizeram meu sexo apertar,
mais um orgasmo vinha, eu só esperava que ele me permitisse senti-lo. — Me
tome… — ofeguei. — Estou pronta…
— Não está… — falou voltando a me lamber, usando os dedos para me abrir
ainda mais, deixando-me completamente exposta.
— Estou, sim! — Rebolei em sua cara. — Não vê como estou molhada?
De repente, ele pegou minhas pernas e colou em seus ombros, então me olhou
enquanto lambia os lábios.
— Eu não quero você molhada, amore mio. — Ele sorriu perversamente. —
Eu quero você pingando!
Então enterrou a cabeça no meio das minhas pernas de novo.
— Ahh… Isso, me chupe! — gemi alto.
Meu pedido foi atendido. Rocco pincelou meu sexo com a língua e depois me
chupou duramente, eu gritava, lamentava, implorava para gozar, mas ele não
deixava.
Senti um dedo sondar minha entrada e logo invadir meu interior, começando
um lento vai e vem, depois um segundo dedo se juntou ao primeiro. Com maestria,
Rocco sincronizou os movimentos dos dedos dentro de mim, com a boca em meu
clitóris.
— Ohhh, por favor… Não pare, por favor… — solucei, abrindo a boca em
busca de ar, fechei meus olhos, entregue.
Se ele parar novamente, eu juro que me atiro pela janela.
— Não vou parar… — rosnou me fazendo ver estrelas de puro prazer
avassalador.
***
Rocco
***
Rocco
Sorrindo, deixo o sono me levar, sabendo que sou o homem mais feliz da
Terra.
Capítulo 4
Rocco
Aos poucos a consciência vai tomando conta das minhas funções, e quase de
imediato eu soube o que me despertou.
Ainda de olhos fechados, eu estico meu braço e tateio, em busca de Victória,
quando encontro seu lugar vazio e frio, eu abro meus olhos sonolentos, só para
encontrá-la em pé, enrolada em um lençol, de costas para mim e de frente para as
portas de vidro que dão acesso à varanda do quarto.
Observo-a durante algum tempo, tentando entender o porquê de seu
distanciamento. Não consigo encontrar uma resposta, minhas divagações não estão
indo para lugar algum, e por isso levanto-me, sem fazer barulho, vou caminhando
em sua direção.
Abraço-a por trás, fungando seu cabelo e pescoço.
— Não consegue dormir, amor? — perguntei, encostando meu queixo em seu
ombro. — O que foi, hum?
Victória suspirou devagar e, depois de uns dois segundos, ela se afastou me
entregando o lençol. Eu o peguei, passei pelas minhas costas e a abracei de novo,
meu corpo grande e quente abrangendo o seu, menor e suave. Era muito bom sentir
sua pele nua de encontro à minha. Parecia que fios invisíveis nos conectavam ou
de alguma forma faziam com que nossos corpos precisassem de contato. Era muito
gostoso ter Victória em meus braços.
Ela permanecia em silêncio, mas pelo menos estava apoiada em mim, isso me
tranquilizava um pouco.
Muito pouco, na verdade!
“Dio mio, o que há?”, questionei a mim mesmo. Apesar de querer insistir
numa resposta, eu me segurei. O que era muito, ou quase, impossível. Não sou
conhecido por ser paciente.
Fechei meus olhos e comecei a passar meu nariz em sua pele exposta. Eu
amava sentir o cheiro da dela, isso me acalmava e me excitava.
Victória era minha droga, e eu era um viciado feliz e disposto! Entretanto,
ainda permanecíamos calados, eu não sabia onde estava a cabeça dela, e por isso
apenas observamos as luzes da cidade.
Eu ainda esperava uma resposta para minha pergunta. Victória sempre
respondia assim que eu as pronunciava, e essa demora me deixou confuso e aflito.
Abri minha boca para perguntar de novo o que estava acontecendo. Eu podia
sentir que ela estava preocupada com algo. Eu senti isso em meus ossos e podia
jurar que se tratava de nossas conexões trabalhando, para me deixar em sintonia
com suas emoções.
Meu cérebro me despertou porque ela havia se afastado de meus braços
enquanto dormíamos, e agora meu coração me dizia que havia algo a
incomodando.
“Só espero de todo coração que não seja nada relacionado à nossa
primeira noite de amor sem restrições! Será que eu a decepcionei?”, perguntei a
mim mesmo, eu estava começando a me sentir angustiado com seu silêncio.
— Pequena, o que está acontecendo? — Minha voz soou baixa, eu estava
sendo traído pelo medo de ter feito algo de errado.
Victória suspirou baixinho.
— Veja a cidade, meu amor — murmurou, me pegando de surpresa. — Tudo
parece tão calmo… Pacífico… seguro.
Era verdade, a cidade parecia em paz. Amanhecia em Roma, e muitos ainda
dormiam, apenas aqueles que começavam a trabalhar cedo levantavam-se junto
com o sol. Entretanto, eu entendia o ponto vista que ela queria mostrar.
Quem tivesse a vista que nós dois tínhamos, veria que a cidade parecia ainda
descansar em um sono tranquilo
— Sim, amor. — Suspirei, beijando seu ombro. — Todos parecem em paz.
— Eu temo o silêncio, ele é demasiado assustador, eu… — Suspirou,
afundando ainda mais em meu abraço. — Não gosto do silêncio quando ele me traz
inquietação…
— Victória, amor, isso é natural… — comecei, tentando puxá-la para fora
daquela linha de pensamento.
— Observe o horizonte… veja mais adiante…
Fiz como ela mandou e vi a linha negra que marcava o céu azulado da manhã.
— Rocco… — Victória estremeceu levemente em meus braços e eu a apertei
ainda mais. — Uma tempestade se aproxima e ela irá pegar a todos de surpresa.
Senti calafrios, pois nesse instante sua voz estava distante, era quase como se
não fosse ela, para mim era como um aviso, um mau presságio.
— Não se preocupe, Tesoro, eu te protejo! — grunhi sob um fôlego baixo e
feroz. — Ninguém vai te machucar, eu prometo.
Virando-se em meus braços, ela acariciou meu rosto, fazendo-me incliná-lo
em busca de seu toque.
— Eu sei, meu amor — ela falou sorrindo, porém não era o meu sorriso. —
Mas a questão é: quem protege você?
Fiquei mudo com suas palavras. Eu não tinha uma resposta para isso, digo,
essa pergunta me deixou completamente sem reação. Eu não entendo o que Victória
quer dizer. Eu sei me cuidar, na verdade, quem faz minha segurança é Jason, e eu
nunca tive problemas com isso.
— Pequena, não se preocupe comigo. — Sorri de lado. — Eu sou bem grande
e forte, posso me cuidar.
— Meu amor, existem coisas na vida às quais estamos vulneráveis.
— Baby, não vá por esse lado, eu acho que, no mundo, poucas pessoas teriam
coragem de me enfrentar!
— Rocco…
— Não — interrompi sua fala, pois precisava deixar algo claro para que ela
não se preocupasse à toa. — Amor, eu sou um dos homens mais poderosos do
mundo! Quando eu te digo que poucos têm coragem de me atacar, é porque estou
certo.
— Tem certeza? — perguntou duvidosa. — Eu não te vejo como um homem
inatingível, quer dizer, não mais. Agora eu te vejo apenas como um simples
homem.
Fiz uma careta por causa de suas palavras.
— Eu nunca fui inatingível para você!
— Ah, não? — perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Claro que não! — afirmei categórico.
— Meu amor, não vou te explicar o quanto seria impossível a gente se
encontrar nesta vida!
— Prefiro acreditar que estávamos destinados a isso! Então, não adianta ficar
quebrando a cabeça com suposições. Estamos juntos, você é minha, e que o resto
do mundo exploda.
— Tão direto! — Sorriu, erguendo-se para morder meu queixo. — Eu te amo,
Rocco, você é meu homem, e eu te peço que não deixe nosso amor acabar. Eu não
posso te perder…
— Você não vai, pequena! Ninguém vai nos separar, jamais. Eu não sei viver
sem você! Entenda, te perder não está em meus planos, você é o amor que eu
sempre quis, e eu juro te amar.
Victória suspirou, mordendo o lábio, nossos olhares presos, nossos corpos
colados, dividindo calor, amor, companheirismo.
— Para sempre — disse baixinho, esfregando nossos narizes, mordiscando
seu lábio.
— Eu te amo tanto — Victória gemeu de olhos fechados, me fazendo pegar
fogo quando seus mamilos ficaram durinhos e ela começou a esfregá-los em meu
peito.
— Pare, se não quiser que te jogue na cama! — grunhi, sentindo meu pau duro
entre nossos corpos.
— Gosto da ideia! — ronronou como uma gatinha manhosa.
Foda-se!
Soltei o lençol para poder agarrar sua bunda e erguê-la.
— Enrole suas pernas em minha cintura! — comandei, e ela me obedeceu. —
Você não faz ideia de como eu te quero!
— Faço sim — sussurrou, mordendo meu lábio. — Eu te quero em igual
medida, ou mais… me toque e veja como estou pronta para você!
Sua resposta me deixou louco de tesão.
“Porra, como simples palavras pronunciadas por Victória podem me deixar
assim?”, perguntei-me, encarando seu rosto tão próximo ao meu.
Não sei a resposta, o que eu sei é que Victória tem o controle sobre mim, ela
sabe apertar meus botões certos, isso me deixa completamente vulnerável a ela, e,
ainda assim, eu não me importo, pois sei que ela nunca irá me magoar.
— Rocco, faz amor comigo de novo! Afasta o medo que me despertou… Tira
essa angústia de dentro de mim — ela falava fervorosamente, olhando dentro dos
meus olhos. — Me mostra que estamos seguros, que nada nem ninguém pode nos
separar.
Quem se atreveria?
— Minha pequena, ninguém vai nos separar! Eu não permitiria!
Victória deve ter percebido a ferocidade com que me pronunciei, pois um
lindo sorriso surgiu em seus lábios.
— Confio em você! — exclamou feliz. — Mas agora eu preciso senti-lo
dentro de mim!
“Oh, merda!”, gemi, tomando sua boca em um beijo fogoso.
Victória enfiou as mãos em meu cabelo e puxou com um pouco de força.
Rosnei excitado, indo para a cama. Caminhava enquanto chupava sua língua como
o homem sedento que sou, e, para mim, Victória era um manancial de pureza, onde
eu me fartaria até meu último fôlego.
Sem interromper o beijo, eu fui baixando nossos corpos até que Victória
estava deitada e eu por cima. Aproveitei a posição para esfregar meu pau duro e
dolorido em seu sexo molhado.
Gememos juntos, e logo desci minha mão até seu clitóris, bastou eu tocá-lo
para Victória choramingar, tremendo. Eu sabia que ela estava muito sensível,
afinal, fui impiedoso em meu tratamento, então, por isso, apenas a estimulei um
pouco, com cuidado para não machucá-la.
Eu sentia que ela estava inchada, molhada e palpitante, entretanto, fazia
pouco tempo que eu tirara sua virgindade e temia machucá-la de novo.
— Por favor, não me faça sofrer como ontem! — ofegou, quando esfreguei
meu membro em suas dobras, lubrificando-o, — Preciso senti-lo dentro de mim…
Fechei meus olhos em busca de controle. Victória conseguia arruinar anos de
domínio rígido, que impus a mim.
Eu queria uma preliminar, mas do jeito que as coisas estavam, deixaria para
depois.
Respirando fundo e olhando dentro de seus olhos, eu comecei a penetrá-la.
— Isso — falei baixo. — Aceite cada pedacinho meu dentro de você…
— Rocco… — suspirou, abrindo bem as pernas para me receber. —
Uhmm… é tão bom… tão certo.
— Sim, amor, é certo… muito certo! — gemi, puxando o ar.
Ela era tão quente, suave e apertada, que meu pau se sentia estrangulado. Era
incrível sentir como ela me acolhia e sugava como se estivesse ávida por me ter
todo enterrado em seu interior.
Eu já estava perdido há muito tempo, já sabia disso, e a cada momento que
passávamos juntos, essa certeza só se concretizava mais e mais.
— Ohh, Deus! — exclamou, quando me enterrei, levando os últimos
centímetros que faltavam do meu membro para dentro dela com uma poderosa
estocada. — Rocco…
— Você me tem, pequena… — grunhi baixinho, o prazer era intenso.
Eu só me sentia assim com ela.
— Me possua… — clamou, quando mexi meu pau dentro dela.
Eu sabia que ela gostava.
— Tão bom, tão bom — arqueou o corpo, e eu aproveitei para capturar um
mamilo em minha boca e chupá-lo duro. — Ahhh… Roocco — Victória soluçou
meu nome e eu entrei em frenesi.
Peguei seus braços e os prendi acima de sua cabeça.
— Eu vou te tomar duro e rápido, depois profundo e lento — rosnei,
engolindo seu gemido com um beijo que demonstrava um pouco do meu desejo
ardente.
Eu ainda não me movia, e por isso sentia suas paredes massageando meu pau.
Chupei a língua dela e mais tremores assolaram meu membro, fazendo-me
vibrar de prazer dentro dela.
— Porra, estamos fazendo amor sem nos mexer! — grunhi, olhando dentro de
seus olhos nublados de paixão.
— Então se mexa! — implorou, tentando se movimentar.
Retirei meu pau quase todo de dentro dela e sorri perverso quando Victória
prendeu o fôlego.
— Assim que você quer? — perguntei, empurrando com força para frente.
— SIIIIM — gritou, fechando os olhos.
— Então toma! — repeti o movimento, só que desta vez eu não parei,
comecei a bombear com força e ritmo, cada vez mais rápido e forte, até chegar ao
ponto de me descontrolar e foder a minha mulher bem duro.
— Isso, gostosa! Toma o meu pau todinho! — rosnei, mordendo o lóbulo de
sua orelha.
— Ahhh… Rocco!
O aperto em meu pau aumentou, Victória estava delirando de prazer e eu
precisava de mais. Ergui meu corpo e agarrei seus quadris, durante um segundo eu
parei o movimento de estocadas brutas. Eu queria ver, como ainda não tinha visto,
meu pau ser engolido pela boceta dela.
Olhei para o ponto de nossa união e saí grunhindo a cada centímetro meu que
deixava seu calor molhado. Então quando estava apenas a cabeça do meu pau
ainda dentro de Victória, eu comecei a entrar, lentamente, saboreando o prazer
indescritível que era poder fazer isso com ela.
— Porra… tão perfeita! — urrei, quando estava todo enterrado, nenhum
centímetro de fora.
— Por favor… mais rápido… mais forte! — gemeu, arqueando-se para
encontrar minhas estocadas. Eu voltei meus movimentos frenéticos, sabia que
deixaria as marcas da minha posse em seu corpo, mas, porra, eu não estava pronto
para parar.
Saí do seu corpo e a virei, quando tinha Victória na posição que queria, eu
enrolei seu cabelo em meu punho, puxando-o para trás.
— Eu vou te foder assim, amor — grunhi em seu ouvido e logo guiei meu pau
afoito para dentro dela de novo.
Desta vez, eu a tocava mais profundo e com mais força. O volume dos
gemidos e gritos de prazer de Victória aumentou.
— Ai, Deus… — gemeu rebolando. — Estou tão perto… Tão perto…
— Isso, gostosa, rebola no meu pau, ele é todinho seu — rosnei, puxando-a
para colar suas costas em meu peito. Soltei seu cabelo e levei uma das mãos até
seu sexo, comecei a brincar com seu clitóris enquanto meu pau entrava e saía de
seu interior. — Você gosta assim? — perguntei, mordendo sua orelha com um
pouco mais de força.
— Uhmm — foi sua única resposta. Então senti suas paredes internas me
apertando. — AHHH — gritou, rebolando, e eu montei todo o seu orgasmo com
luxúria e força, eu queria segurar um pouco mais meu próprio gozo, entretanto, foi
impossível, minhas bolas endureceram e eu me deixei ir.
— PORRAAA! — rosnei, e na loucura que nos dominava, senti Victória
gritar outro orgasmo, não aguentei, mordi seu ombro enquanto gozava. A sensação
era do caralho!
Eu me senti um animal em acasalamento.
Desabamos na cama, porém, eu me deixei cair mais para o lado. De qualquer
forma, eu permanecia dentro dela e isso era o que importava.
— Se continuar assim, não vou durar um ano! — Victória exclamou ofegante,
tirando o cabelo do rosto.
Ri de suas palavras e ela resmungou alguma coisa, depois enterrou o rosto
nos lençóis.
— Pequena, quem deveria reclamar era eu! — Dei um tapinha em sua bumba
linda. — Afinal, eu sou o coroa aqui!
— Ah, ta você é um coroa muito disposto, estou dizendo, pegue leve, homem,
ou daqui para dezembro eu vou estar uma caveira! Tenho certeza que fazer… isso
que fazemos emagrece! Meu Deus, estou parecendo que corri a meia maratona de
Londres. — Suspirou dramaticamente.
Não demorou dois segundos e estávamos os dois rindo das ideias
maluquinhas da minha garota. Contudo, eu era um provocador e iria aproveitar.
— Então me permita dizer que euzinho aqui posso correr uma maratona
inteira e… — Lentamente, saí de seu interior, fazendo ambos suspirar baixinho. —
Eu quero fazer amor com você no chuveiro! É um desejo meu, desde que te vi, ou
melhor, desde que eu vi o seu contorno tomando banho.
— Eu te disse que, quando acabasse o tratamento da gripe, queria namorar do
jeito que você quisesse… — Suspirou. — E você disse que me daria uma aula
sobre sua anatomia…
Puta merda, desde aquele bendito dia até ontem eu vivi em constante
excitação. Salvo o período de recuperação da minha garota, digo, o período mais
crítico, entretanto, depois eu prometi a mim mesmo que só a teria quando ela
estivesse sem nenhuma marquinha. Foi um inferno, mas esse período serviu para
deixá-la confortável com seu próprio corpo perto de mim. Eu sempre lhe dava
banho, secava, vestia… E mesmo sob muitos protestos, eu sempre fazia o meu
trabalho mais que prazeroso. Depois vivi de me masturbar como um adolescente.
— E você tirou dez. Uma aluna brilhante.
— Rocco… — reclamou, fingindo estar horrorizada.
— Admita, amore mio, você gostou de ter-me vulnerável a você! — ronronei,
subindo em suas costas, meu pau semiduro esfregando em sua bunda.
— Rocco, você é insaciável! — gemeu, rebolando de leve.
— Eu tenho um mês e meio acumulado — respondi, beijando sua coluna até
chegar em sua bunda, onde mordi.
— Ai! — Victória gritou, esfregando onde minha boca a marcou.
— Quem manda ter uma bunda tão linda e tão perfeita?!
— Seu tarado!
— Sou, sim, tarado, pervertido, safado, boca suja e cheio de tesão para
colocar para fora! — Ri saindo da cama. — Vem, quero te dar banho e fazer amor
no chuveiro.
Victória se arrastou até a borda da cama e eu a peguei nos braços. Entrei no
banheiro, depositei-a no chão para poder ligar a ducha, e, quando a temperatura
ficou do jeito que eu queria, entramos.
— Ai, que delícia! — minha garota sorriu satisfeita enquanto fechava os
olhos e jogava a cabeça para trás, deixando a água molhar seu rosto e cabelo.
Peguei uma boa quantidade de sabonete líquido e comecei a passar pelo
corpo dela, cuidadosamente, segurei seus seios, ensaboando-os, esfregando os
mamilos com meus polegares.
Victória suspirava e eu, já louco para estar dentro dela de novo. Nunca me
senti tão bem.
Permiti que a água enxaguasse a espuma de seu corpo e puxei-a para mim.
Era em momentos como este que eu gostava muito da minha força, pois com um
impulso a ergui e mais uma vez eu tinha minha mulher abraçando minha cintura
com suas pernas.
Ela me olhava, ofegante e vermelha, estávamos em um nível tão alto de
desejo que nem precisava de muita coisa para ficarmos prontos. Encostei suas
costas na parede, com uma das mãos apertei sua cintura delicada e com a outra eu
guiei meu membro para sua entrada.
— Minha nossa… — gemeu, erguendo a cabeça para cima. — Você me
preenche tão completamente…
— Sim, você foi feita para mim — grunhi, empurrando devagar. — Eu disse
que nosso encaixe seria perfeito.
Victória não respondeu, só cravou as unhas nas minhas costas enquanto eu a
preenchia. Por fim, não aguentei e arremeti para frente.
Perfeito!
— Ohhhh…
— Agora vou te amar gostoso e lento — murmurei, entrando e saindo de seu
aperto. Torturando a nós dois até que o prazer foi demais para qualquer um de nós
aguentasse. Entregamos-nos um ao outro sem reservas.
E sem proteção.
Julguem-me, mas eu quero Victória grávida! O mais rápido possível.
***
— Pare! Já chega, eu preciso respirar… — Victória reclamou assim que os
últimos espasmos de prazer deixaram o seu corpo.
Após nos amarmos no chuveiro, nós fomos para a cama e estamos aqui há
algumas horas, eu não sei quantas. Mas pela sua cara de saciedade tenho certeza
que ela está muito bem e cansada.
— Desculpe, amor, mas você é irresistível… — falei, deitando-me ao lado
dela e puxando-a para descansar em meu peito.
Ficamos ali em silêncio, até que sua respiração suavizou.
Confesso que eu nunca me senti tão feliz como estou agora. Esse quarto se
tornou nosso ninho de amor, nem acredito que Victória é minha.
Porra! Eu não acredito.
Balancei a cabeça, me sentindo pleno, então me permiti descansar um pouco.
Capítulo 5
Rocco
— Amor, olha ali — Victória apontou eufórica para uma cabine em um canto
do mercado de Roma. — Vamos até lá, por favor.
Olhei para ela e vi seus enormes olhos pidões encarando a tal cabine
fixamente.
Revirei os olhos, sorrindo. Não existe nada que eu não fizesse para ela e por
ela.
— O que diz aí? — Victória perguntou, olhando as instruções que estavam
todas em italiano.
— Aqui diz que as fotos são batidas durante trinta segundos, são cinco
segundos de intervalo entre cada foto, totalizando seis.
— Ahhh, eu sempre quis entrar em uma dessas, mas não tinha tempo… —
Sorriu, me olhando. — Vem comigo?
— Faremos assim, primeiro você vai sozinha, e depois vamos juntos.
Concordou, mas fez um bico.
— Eu quero as suas fotos para mim.
— Você vem depois? — perguntou duvidosa.
— Vou sim!B
— Tudo bem. — Sorrindo, puxou o pano que cobria a entrada da cabine e
entrou. Coloquei a moeda no lugar indicado, e em questão de segundos o som de
fotos soou alto.
Instantes depois, uma tira com seis fotos em preto e branco saiu por uma
fresta. Victória está sorrindo, fazendo careta, soltando beijo de olhos fechados ou
fazendo apenas um bico lindo, para mim, que olhava as pequenas imagens.
— Amor, vem… — ela me chamou e eu fui, mas antes de entrar, coloquei a
moeda.
Sentei-me ao seu lado e logo começamos a fazer poses. Fizemos caretas, cara
de astro de rock, depois ela me beijou na bochecha, eu beijei a dela por fim demos
um selinho.
Saímos assim que a última foto foi tirada.
— Ficou incrível. — Victória sorriu quando puxou a tira com nossas fotos. E
eu tive que concordar.
Saímos do mercado de Roma e fomos andando por ali. Sem destino certo.
Minha moto estava distante, mas sempre havia seguranças nos seguindo, entretanto,
eles eram discretos, assim nós parecíamos apenas um casal apaixonado curtindo a
companhia um do outro.
— Eu nunca pensei que poderia viver um momento como esse! — Suspirou e
paramos de andar, estávamos em uma grande praça. Havia muitos artistas de rua,
dentre eles, cantores,, estátuas vivas, animais adestrados para diversão etc.
Entretanto, mesmo em meio a uma multidão, eu e minha garota conseguíamos
nos desconectar do mundo e ficarmos só nós dois.
— Eu posso te dizer que você é o homem mais incrível do mundo! Sabe, eu
sei que Deus tem Seus desígnios para cada um de nós, e quando em plena sexta-
feira a Madame Blanchet mandou todo mundo ir embora, sem mais nem menos, eu
senti que deveria caminhar um pouco. E foi aí que conheci Antonella e cheguei até
você!
— Amor, eu agradeço todos os dias por isso! Quando eu te vi naquele
casamento nem acreditei, primeiro quis urrar de felicidade, depois queria te
arrastar até um canto e te esconder dos outros. Pequena, seu vestido estava pior
que a pílula azul…
Victória riu e me abraçou. Eu aproveitei para fazer o mesmo e enterrar meu
rosto em seu pescoço.
— Quando te vi, eu me escondi, senti como se meu estômago trocasse de
lugar com meu coração. Fiquei nervosa, emocionada e excitada, então eu fiquei
com medo e decidi que te olharia de vez em quando para limpar minha vista, um
ato puramente inocente, é claro.
— Limpar a vista, é? — perguntei, levantando a cabeça para olhar seu rosto
corado.
— Rocco, você é o homem mais lindo que eu já tive o prazer de ver!
Portanto, não se espante se por acaso me pegar te “secando” de vez em quanto. —
Arqueei minha sobrancelha, e ela corou ainda mais. — Eu costumava ficar
olhando a sua foto por longos minutos e sempre suspirava, pensando em quão
sortuda eram as suas namoradas por ter você…
Fiz uma careta, Victória não sabe que o termo certo para se empregar nessa
frase seria “O quão sortudas eram suas companheiras de foda…”.
De qualquer forma, eu não estou dizendo isso para ela. Na verdade, eu tive
apenas uma namorada, que foi minha noiva por pouquíssimo tempo, lembrando que
isso foi na minha fase idiota. e então, analisando minha vida, eu cheguei à
conclusão de que a única que conta como relacionamento sério é Victória, e a
razão é simples.
Na época dos meus 22 anos, eu era um romântico incurável e tendencioso.
Um verdadeiro fresco apaixonadinho. Entretanto, depois de pegar minha noiva
fodendo com meu desafeto, eu mudei. Sim, eu fui traído e isso me corroeu até o dia
em que encontrei Victória e voltei a confiar nas mulheres. Então, pense comigo,
Victória chegou em minha vida quando eu era um homem maduro, desconfiado,
arrogante, frio, ignorante e bruto.
Entendem? Foi Victória que me moldou, ela me pegou na pior fase, pois era
quando eu pensava que nunca mudaria, e, sim, eu era um solteiro convicto, que já
fez de tudo nessa vida, a única coisa que não fiz foi praticas BDSM, prefiro deixar
isso para meus amigos. Apenas ressaltando que de amarrar e vendar eu gosto, mas
bater, estou fora, isso não me excita nem um pouco. Entretanto, eu já tive duas
mulheres em minha cama, ou várias na mesma noite, e sempre, sempre eu as
chutava para fora, só o pensamento de alguma delas ficando em minha cama para o
“depois” me dava nojo, eu sentia verdadeiros calafrios de pura repulsa.
— Você foi, é e será a única que importa! — sussurrei, dando-lhe um selinho.
— Você será a única com quem irei me casar, você será a única mãe dos meus
filhos, única dona do meu coração e de mim.
— Meu Deus, tem como não te amar? — perguntou, piscando para afastar a
umidade de seus olhos.
Confesso que quando os olhos de Victória se enchiam de lágrimas, eles
ficavam tão lindos que era quase inacreditável. O verde ficava tão brilhante…
— Eu sei, eu sou irresistível — brinquei, ganhando um tapa no ombro, e logo
eu estava erguendo minha mulher e girando-a enquanto ela ria.
Tudo parecia perfeito.
***
— Amor, tudo bem? — Escuto a voz suave da minha garota e seu toque gentil
em meu ombro.
Ergo minha cabeça e olho para ela, meus olhos percorrem cada centímetro do
seu rosto, e sem mas, sou tomado por uma enorme onda de angústia.
— Tudo, pequena — murmuro sem muita confiança.
Mesmo eu sendo um bastardo cínico e cético, as palavras daquela maldita
cigana estão comendo meu juízo desde que as ouvi, e isso só faz poucas horas.
Desde então eu estou pensando, planejando, imaginando possíveis cenários onde
as “cenas” do que aquela mulher disse possam se concretizar.
“Tenho que me preparar! Não importa até onde eu terei que ir, eu irei…”,
pensei fervoroso. “Não vou deixar que nada aconteça a Victória, nada… Mas…
a ciganada disse que minha garota me odiaria…”
Fechei os olhos, aflito com essa possibilidade.
“Que porra eu poderia fazer?”, perguntei-me. “Mas que merda, eu mudei,
não foi? Eu não sou mais o desconfiado de antes, eu acredito em minha garota,
então… O que eu poderia fazer para ela me odiar? Dio mio, Victória é a
criatura mais bondosa que eu conheço, ela é assim e pronto… Então, para
despertar esse sentimento nela, teria que ser algo terrível… Mas o que
poderia…”
Uma única palavra brilha em minha consciência.
Traição!
Encolhi-me em minha cadeira, a mera ideia me causa nojo, eu não me vejo
tocando outra mulher, não… Isso com certeza não é, porque eu jamais trairia
minha garota. Então essa possibilidade é descartável para mim…
— Rocco… — Mais uma vez sou tirado das minhas divagações desesperadas
— O que há com você? Desde que chegamos você está sentando aí, na varanda,
bebendo esse troço vermelho! O que você tem? Me conta…
Sorri e a angústia que eu já sentia aumentou muito.
“Não posso perdê-la, não posso!
— Brandy é o nome desse troço vermelho — respondi, puxando-a para se
sentar em meu colo. — E eu não tenho nada, é só que nossa lua de mel antecipada
está acabando…
— Ai, seu bobo! — exclamou, dando um tapinha em meu ombro. — Você está
aí com essa cara de enterro, eu imaginei que tinha acontecido alguma coisa!
— Não aconteceu nada…
— Eu sei, tudo está perfeito e… — Victória sorriu, me dando um selinho em
seguida. — … qualquer lugar em que estivermos será especial, porque estamos
juntos. Não se preocupe, agora que você me mostrou como é bom fazer amor, eu
não pretendo parar…
Sorri de lado por suas palavras ousadas.
— Você só fará amor comigo! — grunhi baixinho. — Se algum homem ousar
te tocar, eu o mato.
Victória arregalou os olhos, desconfiada, e eu pisquei para ela.
— Nossa, por um momento eu pensei que você estava falando sério, digo, a
parte de matar, é claro. — Suspirou, encostando a cabeça em meu peito desnudo.
— Eu não enxergo os outros homens, só você. Todos os outros são
insignificantes…
Passei um braço em seu corpo, aconchegado-o ainda mais ao meu.
— Eu te amo, Rocco, sem mistérios e sem complicações — murmurou e
beijou meu peito, bem acima do meu coração. — Apenas amor, puro e simples.
— Eu também, amore mio, pode ter certeza! — falei baixinho, beijando seu
cabelo.
Ficamos em silêncio, ali, durante um bom tempo, infelizmente eu não estava
100% aqui, minha cabeça estava concentrada, tentando antecipar as merdas que
viriam por aí.
Não estava conseguindo raciocinar direito.
E sabe por quê?
A resposta é simples, eu isolei Victória do mundo e, como consequência,
Blanchet sumiu, junto com a perseguidora que estava impossibilitada de chegar
perto da minha garota.
— Amor? — escutei sua voz baixinha chamando meu nome.
— Sí…
— Eu queria te perguntar uma coisa.
— O que é? — questionei curioso.
— É sobre o meu trabalho, você sabe que o primeiro atestado de afastamento
que o Dr. Josef solicitou foram de quinze dias e, depois, o segundo, foi de quarenta
e cinco, certo?
— Sim, amor, claro que sei.
— Então, pelas minhas contas, nós só temos mais quinze dias antes que eu
volte a trabalhar, não é isso?
Um sorriso enorme tomou conta do meu rosto.
— Não, amor, você tem ainda mais um mês livre daquela infeliz… E antes
que pergunte, eu respondo: Dimitri revogou a primeira licença, suspendendo-a,
então quando você foi para casa, Josef solicitou outra, junto com a segunda.
Entretanto, elas foram pedidas separadas.
— Mas isso pode? É legal fazer assim? — perguntou, franzindo as
sobrancelhas.
— Claro que não, mas Dimitri sabe que Blanchet deve no cartório e foi ele
que entregou as licenças…
— Dimitri é um bom advogado, não é?
Desta vez eu ri baixinho.
— Se você disser isso para ele, não tenho duvidas, ele corta relações com
você! Dimitri não é apenas bom, ele é o melhor, e quando digo isso, eu falo sério.
Eu nunca, jamais, perdi um centavo, ou não fiz contratos que me assegurassem em
cada aspecto, e tudo graças àquele doido. — Balancei a cabeça. — Dimitri é
implacável em uma corte, quando ele aceita pegar casos de divórcio litigioso, a
outra parte sempre perde.
— Você está me dizendo que Dimitri nunca perdeu em um tribunal?
— Sim, e nem nas discussões na universidade, aquele lá é uma peste! O Dr.
das palavras corretas, se eu e William não conhecêssemos todo o repertorio dele,
acho que nem nós dois conseguiríamos dar uma volta naquele bastardo…
— Vocês são muito amigos, né?
— Não só isso, somos irmãos, sabe como nós éramos conhecidos na
universidade?
— Não, como?
— Tríade. — Dei de ombros. — Levando em conta que a tríade sempre está
associada a coisas “grandes”.
Victória sorriu, balançando a cabeça.
— Você é um pervertido que ama duplo sentido.
— Culpado, amore mio.
Minha garota sorriu, mas aos poucos seu sorriso foi se desfazendo e ela
começou a acariciar meu rosto com a ponta dos dedos. Fechei meus olhos para
saborear seu toque.
Logo seus lábios estavam onde antes me tocou com seus dedos. Respirei
fundo, muitas emoções me devorando, e a maior delas era o medo.
— Rocco, obrigada por existir e por ser exatamente como você é! —
sussurrou e beijou minhas pálpebras fechadas. — Obrigada por ser meu.
Abri meus olhos e tremi pela intensidade do olhar que ela me dispensava.
— Você sabe que eu estou aqui para você, não é? — murmurou, penteando
meus cabelos com os dedos. — Que sempre pode me contar o que te aflige… o
que te tira o sono e o que te faz ficar triste.
— Amore mio…
— Shhh — falou, colocando um dedo em meus lábios. — Não diga nada, eu
sei que existe a hora de falar e a hora de calar, e essa é a hora do meu silêncio.
Não se preocupe, eu te entendo, e quando quiser me contar, estarei aqui para você,
sempre.
Com essas palavras, ela se levantou do meu colo, mas antes de sair, me
beijou.
— Não esqueça que eu te amo.
Respirei fundo e segurei o ar por uns dois segundos. Então, eu fui deixando-o
escapar por entre meus lábios.
Planos… são muitos planos e eu preciso começar a organizá-los para pôr
tudo em prática.
Quem me atacar, ira receber o contrataque quase instantaneamente, só que eu
não vou para dar avisos ou recados, isso eu já fiz. Agora eu vou para destruir e
não deixar nem a poeira como testemunha!
***
— Para com isso! Você não precisa ter ciúmes de mim! — resmunguei,
imitando o gesto dele.
— Eu não tenho ciúmes, eu morro de ciúmes e não gosto que você preste
atenção em outros homens!
Por um momento, eu nem soube o que dizer, então sorri e passei meus braços
por seu pescoço.
— Bobo, para que ciúmes? — perguntei, ficando na ponta dos pés para
morder seu queixo. — Eu te amo e eu já provei isso. Não nos desgaste com ciúme
besta!
— Não posso evitar. — Suspirou, colocando as duas mãos em minha cintura.
Não podíamos encostar nossas testas, porque usávamos boné, mas enfim
estávamos nos entendendo, isso era o mais importante.
— Não confia em mim? — perguntei, fazendo um bico manhoso.
— Confio plenamente… — respondeu sorrindo de leve
— Então não tenha ciúmes, quer dizer, só um pouquinho! — Pisquei um olho.
— Tudo bem, amore mio…
Demos um beijinho para selar nosso acordo e voltamos a seguir as outras
pessoas.
Estávamos na parte mais escura da construção, aqui eram as celas.
— Por favor, mantenham-se todos juntos, aqui existem muitos corredores e
não quero ninguém perdido, apesar da iluminação artificial instalada, ainda é
escuro…
Enquanto o guia narrava os fatos mais marcantes dali, eu me lembrei daquela
cena do filme gladiador, onde o imperador esfaqueia Maximus antes da luta.
— Aqui é o limite das celas, agora iremos seguir pelo corredor, cuidado com
as fissuras nas paredes, elas são apertadas e podem levar vocês para outros
lugares, deixando-os perdidos.
Continuamos nosso caminho, até que um dos turistas perguntou algo sobre o
filme Gladiador, que eu não consegui entender, porque estava mais interessada em
olhar para Rocco e seu rosto de anjo caído.
— O que foi? — perguntei desconfiada. — Por que está me olhando assim?
— Estou te olhando assim porque eu te acho linda e porque eu…
— Por favor, peço ao grupo que me acompanhe, iremos para o lado norte da
construção — o guia turístico chamou alto. para que todos ouvissem.
Sorri, dei um passo para frente, esse era o lado que eu queria conhecer,
contudo não fui longe, Rocco me puxou pelo braço.
— Mas o que você…
— Shhh! — sussurrou, colocando o dedo indicador no lábio, enquanto me
olhava com uma cara perversa e safada.
— O que foi? — perguntei baixinho, e ele ajeitou seu boné azul, baixando-o
para esconder ainda mais seu rosto, assim que terminou, ajeitou o meu também.
Rocco estava lindo usando um boné da mesma cor da blusa, também, se ele
vestisse sacos ainda estaria lindo até dizer chega.
— Eu te quero! — respondeu, deslizando o dedo pelo meu pescoço.
— Mas aqui? Agora? — ofeguei incrédula. — Estamos em público, e ainda
por cima dentro do Coliseu, podemos ser presos.
— O muito safado apenas sorriu e me puxou para uma das fissuras na parede, esta
dava espaço para uma sala ou compartimento, nem sei explicar, só sei que era um
espaço minúsculo e muito escuro.
— Vai ser excitante! Eu nunca fiz isso, mas com você eu quero experimentar
tudo nesse mundo! — respondeu e me beijou, me fazendo esquecer o mundo e o
fato de ter gente bem perto. E talvez, muito provavelmente, houvesse bichos da
idade das trevas circulando por ali.
Com cuidado e sem interromper nosso beijo, ele me ergueu, fazendo-me
enrolar as pernas em sua cintura.
— Adoro que use saias — ronronou, me pressionando contra sua dureza. —
Mas precisamos fazer silêncio! — Ouvi o barulho do zíper da sua calça e,
instantes depois, senti seu membro duro e viril esfregando em minha feminilidade
coberta pela calcinha.
— Rocco — ofeguei baixinho em seu ouvido. Então tive que mordê-lo
quando ele tocou minha intimidade. Para meu total desespero mudo, minha
calcinha foi afastada e ele me penetrava devagar.
Mordi seu ombro coberto pela camisa e ele tremeu.
— Isso, me morde…— sussurrou enquanto me preenchia. — Oh, porra, tão
molhada! Tão perfeita! — rosnou baixinho em meu ouvido. — Eu nunca vou te
deixar, está me ouvindo? Nunca vou permitir que te tirem de mim! Nunca…
Eu senti o fervor em suas palavras sussurradas em meu ouvido.
— Ahhh — gemi baixinho quando senti que se retirava e estocava para frente.
— Meu Deus — ofeguei quando repetiu a doce tortura. Rocco capturou meus
lábios, quando começou a se mover dentro de mim com mais impetuosidade. Então
eu esqueci o mundo… E o fato de que fazíamos amor em público…
Eu só conseguia me concentrar nas sensações que ele estava me
proporcionando, no quanto aquilo era perigoso e excitante. Só de pensar na
loucura que fazíamos, eu sentia minhas paredes contraindo, e ter que me calar
aumentava ainda mais m+eu desespero. Meu corpo estava formigando, eu estava
ficando cada vez mais desesperada em busca de alívio.
Rocco estocava com força dentro de mim e engolia meus gemidos em nosso
beijo ininterrupto.
“Ohh, minha nossa! Como pode ser tão bom, tão incrível?”, pensei
delirante de prazer quando ele fez um movimento muito prazeroso, eu acho até que
meus olhos reviraram. O prazer estava demais, eu me via louca, desesperada,
sentia minha vagina sugando-o, meu ventre contraindo, me preparando para atingir
o ápice, quando o desejo foi demais eu me deixei ir e Rocco foi comigo, gozamos
juntos, eu o segurei em meu interior e ele jorrou sua semente em mim, juro que não
posso explicar, tudo tornou-se inimaginável.
Saímos do nosso esconderijo depois de algum tempo nos recuperando,
estávamos muito atrás, mas logo conseguimos encontrar todo mundo.
Não vou nem dizer que sempre que alguém me olhava eu achava que sabia o
que eu tinha feito. Era como se estivesse estampado na minha cara e por isso acho
que ficarei com um tom escarlate eterno em meu rosto.
Já Rocco estava ostentando um sorrisinho de lado, muito do safado. Tanto é
que eu me afastei um pouco para analisar alguns riscos padronizados nas paredes,
e duas garotas, mais ou menos da minha idade, estavam encarando-o como um
cachorro olha propaganda de salsicha.
Uma até teve a ousadia de parar na frente dele e se abanar.
“Mas é muita ousadia mesmo!”, bufei, estreitando meus olhos. Esperei para
ver o que Rocco faria, mas ele nem ligava, apenas deu um passo para o lado e
deixou a garota lá, plantada. Eu a vi encarando-o enquanto ele chegava até onde eu
estava, e sem mais eu agarrei o pescoço dele e tasquei-lhe um beijo
cinematográfico.
Quando nós nos afastamos, ele me olhava com um sorriso todo bobo, e
quando saímos, as duas garotas me olhavam com cara de raiva.
Rá!
Sorri e pisquei para elas.
Para elas meu Rocco era como uma vitrine:
OLHE, MAS NÃO TOQUE!
***
Rocco
Eu sentia tanto ódio, que meu corpo todo tremia. Não posso acreditar que
meu amor pediu outra mulher em casamento!
Senti lágrimas de puro desgosto lavarem meu rosto, enquanto olhava a foto do
pedido estampando a capa de uma das revistas mais conceituadas em Londres.
Nela, meu Rocco estava ajoelhado, estendendo uma caixinha de veludo azul
para aquela puta safada.
— AHHHH! — gritei de puro ódio. — Era para ser eu ali… eu…
Porra, eu passei meses admirando-o à distância, até criar coragem e ligar,
quando o fiz a primeira vez, ele ficou desconfiado e nem me permitiu falar muito,
mas só em ouvir aquela voz de macho em meu ouvido eu precisei me tocar para
aliviar o tesão que senti.
Depois eu continuei ligando e ele começou a se divertir, ele até ria e brincava
comigo. Eu sabia que ele estava gostando de mim, mas então aquela desgraçada
saiu de algum buraco do inferno e tomou meu homem!
— Isso não vai ficar assim, ah, mas não vai! — rosnei enfurecida. — Eu irei
caçar aquela costureira de merda, então eu vou acabar com a vida dela e eu sei
que ninguém vai suspeitar de mim… ninguém…
Sorri em meio às lágrimas, eu estava com muita raiva guardada desde que vi
a primeira revista com eles dois. Depois Rocco não saía da cola daquela imbecil.
Ele até a levou para morar com ele…
— Era para ser eu, deveria ser eu… maldita!!!
Peguei uma tesoura e cortei a foto da revista, lógico que eu só recortei a parte
do meu homem, o resto joguei fora, depois eu fiz o que para mim já era um hábito.
Colei sua foto do pedido de casamento em meu mural em formato e coração.
Lá eu tinha milhares de fotos do Rocco.
— Você ainda vai me pedir em casamento, meu amor — resmunguei,
acariciando seu rosto lindo. — Então seremos muitos felizes. Eu sei que a culpa
não é sua, eu sei que você jamais me trairia dessa maneira, porque você me ama.
— Respirei fundo, sentindo a raiva sendo substituída pela adoração que eu sentia
por ele. — Eu sei que você vai me amar assim que me conhecer, e eu também sei
que essa vadia te enfeitiçou com alguma macumba. Mas eu vou te livrar dela, meu
amor, eu vou proteger nosso futuro, eu juro.
Com essas palavras, fui para minha cama, mas antes peguei meu caderno de
sonhos e planos.
Abri em uma folha limpa e escrevi alguns tópicos.
***
Madame Blanchet
Algumas horas antes
Observo do meu carro como meu plano foi por água a baixo.
Eu ainda nem acredito que perdi de novo para aquela pirralha. Não consigo
começar a descrever o tamanho do meu ódio, a vontade que eu tenho de ligar para
o Jean Pierre e dizer que eu tenho uma mina de ouro enorme. O foda é que ele vai
perguntar por que eu demorei tanto em entregá-la para ele, daí o que posso dizer?
Estarei muito ferrada, isso sim.
O homem é um monstro, muito pior do que eu, ele simplesmente é o homem
mais perigoso que eu conheço. E não é para menos, traficar pessoas não é para
qualquer um. E não é só para escravizar em suas fábricas, não, Jean Pierre é um
sádico, a única vez que eu o vi “divertindo-se”, passei semanas sem conseguir
comer, tendo pesadelos e sofrendo de síndrome do pânico. Isso além de vomitar
sempre que lembrava como ele gostava de… Deus me proteja, Jean Pierre é
maníaco e morre de amores pela Santa Inquisição.
Desviei o pensamento, porque meu estômago embrulhou só com a mera
lembrança. Jurei para mim mesma que nunca, jamais eu voltaria a entrar lá.
Eu juro que só entrei nessa porque dava muito dinheiro, e eu fazia do meu
ateliê uma porta de escoamento de “mercadoria”, então eu recebia meu dinheiro e
pronto.
Depois de alguns anos no ramo, eu propus sociedade a Jean Pierre, e eis que
nasce uma filial do meu ateliê, na França, Victória também produz para lá.
Entretanto, eu não procuro muito contato com JP, não mesmo. Só o mínimo, e às
vezes nem isso.
Enfim, aquela idiota me dá muito dinheiro, e eu já perdi milhares de libras e
euros com essa ausência. Vou ter abrir mão de mais capital do meu ateliê em
Londres para pagar credores. E enrolar JP mais um pouco. Não quero que ele
venha, Deus me livre de ficar no mesmo prédio que aquele louco.
— Puta merda! — Bati no volante furiosamente.
Essa ausência da Victória foi sentida por todas as minhas clientes, como é
que aquela fedelha ousa se afastar no melhor momento? Como ela pôde fazer isso
comigo?
Fechei meus olhos e encostei minha testa no volante.
“Estou ficando sem tempo, preciso mandar os desenhos para Paris, ou ele
vai perceber, meu bloqueio artístico está demorando demais e JP é esperto…
Sinistramente esperto
Todavia, eu me recuso a usar meu próprio dinheiro para quitar as dívidas do
Ateliê. São os desenhos da Victória que sustentam aquela porra, então é ela quem
deve pagar, não eu. Não entendo como em apenas um mês 80% do movimento
caiu.
Estou tão, mas tão revoltada, que sou capaz de cometer uma loucura…
Ergo minha cabeça do volante e olho para a casa da Victória. Vejo um homem
grande e careca sair da casa dela, carregando uma pasta volumosa.
— Meus desenhos… — ofeguei chorosa. — São meus… Eu estava tão
perto… tão perto.
Ainda vi os moleques que contratei saindo com várias folhas na mão, mas,
então, mal pude cantar vitória, de repente, vários homens surgiram sei lá de onde e
ferraram com meu plano.
— Isso é culpa de Rocco Masari! — grunhi revoltada
Engolindo meu ódio, observei o homem parar de andar e olhar para onde eu
estava. Eu o encarei de volta. Lógico que eu estou em um carro ruim e com uma
peruca ruiva. Lógico que ele não me reconheceria.
Eu até sorri debochada. Eu estava tão perto e esses otários nem sabiam.
Meu ódio subiu a níveis alarmantes quando o tal homem segurou a pasta de
forma protetora.
— São meus, maldito! — rosnei trincando os dentes.
Mas não adiantou. O homem entrou em um carro enorme e partiu.
Fiquei sozinha ali, naquele bairro seboso, cheio de gente fedorenta, durante
mais alguns minutos. Já estava me preparando para sair quando meu telefone toca.
Olho o visor e a bílis queima em minha garganta. Meu corpo começa a tremer
sem parar, eu sinto medo puro e simples cravando suas garras em mim.
— Bonjour — saudei com minha voz trêmula, era madrugada, então eu já fui
logo dando um bom-dia.
— Sem enrolação, Blanchet, o que você está me escondendo?
Fechei meus olhos e fiz xixi nas calças, a voz de Jean Pierre soava
perigosamente baixa, eu me senti aterrorizada, e o medo que já sentia aumentou
muito mais.
Era como se ele estivesse aqui. E sua voz fria arrastou-se pelo meu corpo
como uma cobra, pronta para me devorar. E isso não era no bom sentido.
Maldita Victória…
Capítulo 9
Rocco
— Podemos sair daqui? — Victória falou baixinho, e eu notei que sua voz
estava embargada. — A gente procura um vestido em outro lugar…
Franzi a testa por causa do seu tom de voz. Eu não conseguia entender o que
houve, desde que eu avisei que nosso “esconderijo” havia sido descoberto, e que
por causa disso iríamos a um jantar chato, com um bando de baba-ovos Victória
estava apreensiva, mas ainda havia aquela aura radiante que sempre a rodeava…
Ela estava feliz.
Em contrapartida, eu estava me segurando para não enlouquecer, e para minha
garota eu tinha que fingir que tudo estava bem, o que era uma mentira, já que
graças àquela vadia perseguidora eu estava quase explodindo de raiva.
Bom, a verdade era que eu simplesmente poderia recusar o convite, mas eu
queria mostrar minha garota para todo mundo. Quer dizer, eu já fiz isso, mas as
vadias precisam ver que eu sou carta fora do baralho.
Eu fui muito bem fisgado… laçado… amarrado, enfim…
— Amore mio, qual o problema? — perguntei, enquanto me levantava da
minha cadeira e ia até onde ela estava. Segurei seu rosto entre minhas mãos,
obrigando-a me olhar.
O que eu vi em sua expressão me desarmou.
Medo, desgosto e principalmente tristeza.
— Minha pequena, o que houve? — tornei a perguntar e uma lágrima
escorreu de seus olhos.
— Não vou comprar um vestido que eu mesma fiz! — chorou baixinho. —
Não vou… comprar um vestido que eu mesma fiz… — repetiu e afastou-se de
mim, ficando de costas enquanto escondia o rosto entre as mãos.
Respirei fundo e agradeci a Deus por essas lojas chiques serem muito bem
preparadas para receber clientes como eu. Neste caso, eu tinha certa privacidade,
já que nós estávamos em um lugar reservado. Ou seja, estávamos em uma sala
redonda, com um único provador e uma poltrona que permitia Victória desfilar
para mim.
Estávamos nos divertindo um pouco, até que a vendedora trouxe “os
exclusivos” e mais caros vestidos da loja. Bastou um olhar e o sorriso que minha
mulher ostentava morreu.
Agora eu sei o motivo.
Suspirei, sentindo minha ira cultivada voltando como uma onda destruidora.
Mesmo que por dentro eu estivesse tremendo pelas minhas emoções
sombrias, eu precisava cuidar para não demonstrar.
Caminhei em sua direção abraçando-a por trás.
— Amor, isso vai acabar, eu te juro, muito em breve você estará longe
daquele ateliê ridículo. — Pigarreei e encostei meu queixo em seu ombro. — Você
tem que concordar comigo que Blanchet não tem o menor senso de decoração, pelo
amor de Deus, eu me senti em um cabaré mal decorado, quando entrei lá. Juro que
pensei que, a qualquer momento, uma dançarina iria aparecer dançando um can
can… ou fazendo um cover de Elvira, a rainha das trevas, sabe, aquela que
balançava uns troços nos peitos e…
— Bobo — soluçou baixinho, mas eu ouvi o sorriso em sua voz. — Eu sei o
que está fazendo!
— E está funcionando?
— Sim, está. — Suspirando, ela se virou em meus braços. — Sempre
funciona.
Sorri satisfeito e beijei a ponta de seu nariz.
— Vamos embora daqui e vamos procurar um vestido para você em outro
lugar.
— Obrigada.
— Eu faço tudo por você! — entoei fervoroso, entretanto, Victória não sabia
que eu dizia essas palavras em sentido extremo, ou seja, últimas consequências…
Nada estaria fora do meu alcance, faria o que fosse preciso para protegê-la, o
que aconteceu com Gordon não foi nada. Sou capaz de fazer muito pior.
— Amor? — Sua voz me tirou dos meus devaneios de psicopata. — Vamos?
— Claro, vamos — murmurei e saímos do lugar reservado. A vendedora nos
olhava ansiosa, a verdade é que se Victória quisesse levar tudo, iríamos levar, mas
ela não quis nada.
— Então, qual dos vestidos escolheram? — a vendedora perguntou, olhando
para Victória.
— Eu, uhnn… Não gostei muito. Quero dizer, são lindos, mas, eu não…
Sorri de leve, Victória estava tentando não desapontar a vendedora.
— Srta. Fontaine, os últimos vestidos são exclusivos D’Blanchet!
Minha garota encolheu-se um pouco, quase como se tivesse sido golpeada
fisicamente, e de fato era quase como se houvesse sido mesmo.
— Eles são lindos, eu sei, e obrigada pelo atendimento incrível — Victória
sussurrou. — Mas eu não os quero…
A vendedora suspirou e sorriu.
— Isso vem acontecendo com os modelos D’Blanchet, parece que a diva da
moda está passando por um bloqueio artístico! Muitas clientes pararam de
comprar, porque querem novidades, e outras não querem mais, creio que estão
esperando a nova fase. Com certeza, quando suas criações voltarem, até esses que
estão emperrados irão vender feito água, sempre foi assim, ou melhor, ficou assim
mais ou menos nos últimos cinco anos… — A vendedora olhou bem para Victória
e sorriu. — Nós estamos com uma peça de demonstração de uma estilista nova.
Você gostaria de vê-lo?
Victória aceitou e eu me afastei um pouco.
Minhas mãos tremiam de raiva.
Bloqueio artístico é o cacete!
Aquela filha da puta está inventando “moda”. Com certeza, essa foi a
desculpa que ela deu para a mídia e para as clientes.
— Muito bem, pode procurar um psiquiatra, Madame Blanchet, porque o seu
bloqueio irar se tornar permanente — bufei contrariado.
Alguns minutos depois e Victória saiu junto com a vendedora. Ambas tinham
um sorriso misterioso nos lábios.
— Então, você vai provar? — perguntei, já querendo um vislumbre de seu
corpo só de lingerie.
— Eu não preciso, ele é perfeito.
Devo ter feito uma cara decepcionada. pois Victória sorriu e veio até onde eu
estava.
— À noite, Sr. Masari — sussurrou em meu ouvido.
Depois de pagar e do vestido ser embalado, fomos para um salão de beleza.
Assim que chegamos lá, Helena, a dona do salão e uma amiga da minha mãe,
veio nos receber.
Conversamos um pouco, e ela sorriu para Victória, que prestava atenção
mesmo não entendendo nada.
— Por favor, Helena, fale em inglês, Victória não fala italiano.
— Oh, perdoe-me! — exclamou e logo puxou assunto — Minha querida,
Pablo vai enlouquecer quando vir esses olhos e esse cabelo.
Pronto, azedou!
Fechei a cara, cruzando os braços. Agora eu não vou sair daqui.
— Você não tem uma mulher para atender minha noiva, Helena? — Minha
voz saiu chateada.
— Tenho, querido, mas Pablo é o melhor, e, se eu não levar essa beleza aqui
para ele, acredito que ele entrará em greve como uma forma de protesto.
Soltei alguns palavrões sob meu fôlego e acompanhei as duas mulheres para
dentro do salão propriamente dito. Assim que entramos, eu ouvi barulhos de
secador e conversa cessarem.
— Pablo, querido, conheça Victória, é ela em quem você ira trabalhar.
Eu quase engasguei aliviado quando vi um… bom, como Dimitri gosta de
dizer mesmo? Ah, sim, “um fugitivo”. Só para esclarecer, sem preconceitos, mas
Dimitri não seria Dimitri se não apelidasse até a mãe dele, então, ele classifica os
gays, como Fugitivos, do filme A gaiola das loucas, ou de Pricila, a Rainha do
Deserto, isso vai depender do humor em que ele se encontrar. Enfim, a verdade é
que isso me deixa tranquilo. E eu não terei que dar uns sopapos em nenhum
cabeleireiro assanhado.
— Querida, solte o cabelo, por favor — o homem falou, e Victória começou
a desfazer o nó de cabelo que enfeitava o topo de sua cabeça.
— Por Da Vinci, é uma obra de arte! — exclamou, enquanto enfiava as duas
mãos nos cabelos de Victória e terminava de desmanchar os cachos. — Ele é
lindo! — quase gritou, dando pulinhos. — Garota, esse cabelo é incrível!
Eu só posso concordar com ele. Seu cabelo da ia até a cintura, era espesso e
brilhoso. E eu adorava enrolá-lo em meu punho enquanto a penetrava por trás. Puta
merda, puxei a sacola para minha frente, na tentativa de esconder meu pau, que
estava começando a ficar todo alegre.
— Obrigada… Pablo — Victória agradeceu ao cabeleireiro, a essas horas
ela já estava toda vermelhinha, minha ereção pulsou, eu bem sabia que o rubor
dela estendia-se pelo seu colo, atingindo seus mamilos e…
“Pare, seu pervertido!”
— Eu vou cortar o seu cabelo na altura dos ombros, você vai ficar linda e
sofisticada, além do mais, esse corte combina com o formato do seu rosto e…
— Você não vai cortar porra nenhum! — grunhi revoltado. — Não ouse
encostar essa sua tesoura assassina no cabelo da minha noiva…
O cabeleireiro engoliu em seco e assentiu. Mas eu sou desconfiado e agora é
que não saio daqui mesmo.
— Vou avisar só uma vez, se você cortar o cabelo da minha noiva, eu vou
quebrar as suas duas mãos….
— Rocco! — Victória exclamou horrorizada. — Para já! Não se preocupe,
Pablo, ele não fará isso! Mas eu prefiro meu cabelo longo, então vamos deixá-lo
assim, okay?
— Si-sim… claro… — respondeu, engolindo nervoso. — Venha, vamos
começar.
Eu fiquei boa parte da tarde de olho no cabeleireiro, vai que ele dá uma de
doido e esquece o meu aviso.
De vez em quando ele me olhava e eu fechava o punho, mostrando a ele, que
eu estava falando sério. Apesar de estar causando constrangimento a algumas
clientes e mantendo o tom escarlate no rosto da minha mulher, eu estava até
confortável.
Eu não via a hora de entrar naquele pomposo salão de baile com ela, era
nosso primeiro evento juntos, e eu estava ansioso. Meu mundo era cruel,
entretanto, eu precisava que Victória se acostumasse a isso. Afinal, ela não só iria
participar de muitas celebrações, como também iria ser anfitriã.
Foi quando lembrei que Victória não tinha joias.
— Ah, porra! — Levantei da minha cadeira e fui até onde ela estava, deitada
em uma maca com uma toalha na cabeça e outra cobrindo seus olhos. Ela sorria
enquanto seu rosto era massageado, fiz um sinal para a massagista parar,
aproveitando a chance para dar um selinho nos lábios da minha noiva. — Vou sair
e volto às 19h30min para buscar você — murmurei muito próximo dela.
— Tudo bem. — Sorriu puxando minha camisa para mais um beijo. Não nos
empolgamos muito, por causa do ambiente, mas à noite… Ah, à noite eu saciaria
minha fome por ela.
Deixei Victória aos cuidados de Helena e sua equipe, entretanto, antes de
sair, dei uma espiada na cor do vestido.
Azul.
Sorri para esse detalhe, Victória gostava dessa cor.
Capítulo 10
Victória
Meu Deus, sabe aquela sensação de prazer quando alguém está mexendo em
seu cabelo? Agora imagine alguém massageando seu couro cabeludo?
É muito bom. Eu quase poderia dormir, de tão prazeroso que é. Juro que
acabei de descobrir um ponto fraco em mim, todos os outros ficam por conta do
Rocco, aquele ali sabe como e onde me tocar.
De vez em quando eu suspirava de contentamento, estava tendo tratamento de
rainha. Cabelos, unhas, pele…
— Querida, eu nem sei se vou cortar seu cabelo! — Pablo murmurou
enquanto mexia em minhas madeixas. — Aquele seu homem é muito ignorante!
Mas que homem, meu Deus! — Suspirou dramático. — Mesmo com toda aquela
ignorância ele é um pedaço enorme de bom caminho! Você está bem servida, viu?
Não pude evitar rir, na verdade, quase todo mundo ria das expressões
exageradas do Pablo.
— Pode cortar, não leve o Rocco a sério — assegurei, para tranquilizá-lo. —
Mas, por favor, não diminua muito o tamanho.
— Não se preocupe, eu vou apenas distribuí-lo em camadas, irá ficar
perfeito!
E assim foi, eu nem acreditei no resultado quando a escova ficou pronta, meu
cabelo estava maravilhoso. Eu parecia uma atriz famosa.
— Pronto, Diva, você já admirou demais seu cabelo, agora vamos adiante.
— Não sou Diva, Pablo! — exclamei envergonhada.
— Minha filha, você fisgou um verdadeiro macho alfa, podre de rico e gato!
Então, sim, você é minha Diva e ponto!
Balancei a cabeça, rindo, e fui tomar banho. Nem acredito no quanto aquele
salão é incrível. Tinha de tudo que uma garota poderia sonhar. Saí do banho
relaxada e fui até a caixa que guardava meu vestido.
Abri e enfiei minha mão no fundo, para pegar a minúscula calcinha sem
costura que o acompanhava.
— Também, com um decote desse! Só tendo uma lingerie especial mesmo. —
Balancei a cabeça, ansiosa. Nem sei o que Rocco vai achar do meu vestido! Nossa
senhora, ou ele me mata ou me ataca. Ainda podia ouvir a voz da vendedora me
dizendo que aquele vestido era ousado e perfeito para mim. Pois combinaria
inocência e pecado.
Quando estava pronta para começar a segunda parte da arrumação, voltei
para a área comum do Studio de beleza, agora eu trajava um roupão e notei que
havia outras mulheres iguais a mim ali. Muito satisfeito por eu não ter demorado,
Pablo começou a enrolar meu cabelo com o baby liss. Depois dessa etapa,
começou minha maquiagem.
— Diva, por favor, me explique como é o seu vestido, preciso fazer o
penteado perfeito. — Revirei os olhos para o “Diva” e expliquei.
— Pablo, o meu vestido é constituído de aplicações em cima de um tule cor
da pele. Ele tem bastante brilho, e minhas costas ficam visíveis, na frente há um
decote até o umbigo. Entretanto, o decote frontal não é aberto, pois é construído
pela aplicação em si. A parte superior tem aplicação nos ombros e o vestido é de
manga comprida com gola canoa.
— Diva, o selvagem do seu noivo vai te trancar! Ele parece ciumento.
— Você não viu nada! — murmurei, e ele começou a trabalhar em minhas
madeixas.
No final eu nem acreditava no que estava vendo.
A mulher diante do espelho não era eu… Não podia ser. Diante de mim, vejo
uma mulher linda, delicada e ao mesmo tempo sexy. E olha que eu nem coloquei o
vestido ainda.
— Nem ouse chorar! — Pablo berrou e eu pulei de susto. — Não desmanche
minha obra prima ou eu corto a amizade com você! — terminou de falar e colocou
as duas mãos na cintura.
— Sim, senhor. — Sorri fungando. — Obrigada, Pablo, pelo milagre que
você fez! — agradeci, apontando para meu rosto e cabelo.
— Olha, eu não fiz nada de mais, você é linda e tem um brilho especial que te
rodeia, eu apenas o deixei mais evidente. Só isso…
Nós nos abraçamos e eu fui para o quarto reservado a mim. Coloquei o
vestido, com cuidado para não bagunçar meu cabelo, e depois coloquei as
sandálias, que comprei na mesma loja que o vestido. Virei para olhar minhas
costas e lá estava o tule cobrindo até quase o meu quadril. Mordi o lábio, com
medo de ter escolhido o vestido errado.
Bom, agora era tarde, pois eu já estava pronta. De repente, Helena chega e
traz uma pequena sacola chique, sorrindo, me entrega. Dentro há o meu perfume
favorito. Amor Amor… e um bilhete.
Fique cheirosa para mim…
RM
Fechei os olhos, respirando fundo por causa do tremor de excitação que
percorreu meu corpo, me perfumei estrategicamente, do jeito que minha mãe me
ensinou. Depois de tudo pronto, juntei minhas coisas dentro da minha bolsa e fui
esperar por Rocco.
***
Rocco
***
A viagem até o Palazzo Ducale foi feito em um silêncio confortável. Juro que
era até melhor assim, pois eu estava correndo o risco de atacar minha garota de
forma indecorosa.
De vez em quanto, eu ajeitava o volume cheio das minhas calças, ainda bem
que meu terno cobria essa região, caso contrário, eu teria que inventar alguma dor
para andar meio torto.
Chegamos ao Palazzo, primeiro eu saí e depois estendi a mão para ajudar
minha bella sposa.
Assim que Victória deixou a proteção do carro, os flashes começaram a
espocar ao nosso redor. Não demoramos, logo eu a guiava para dentro do enorme
Palazzo.
— Rocco, todos estão me olhando! — Victória murmurou, apertando a mão
em meu braço assim que entramos no grande e imponente salão.
— Inveja, amore mio, pura e simples! — Sorri, dando-lhe um selinho. — Os
homens, porque querem você, e as mulheres, porque não são você!
— Ai, seu bobo! Aqui só tem gente linda! Nem vem com essa! — cochichou,
sorrindo.
— Você é de longe a mais linda! Não se importe, todos olham para você para
tentar descobrir o segredo de como conquistar um canalha cínico e mal-humorado!
— Você não é mal-humorado!
— E canalha, eu sou? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.
— Claro que não, né, seu bobo?!
— Tudo bem, agora relaxe, você não precisa fazer nada que não queira, isso
aqui é como assistir a uma corrida de tartaruga aleijada. Enfadonho, dá sono!
Todos ao redor prestaram atenção à risada gostosa que minha garota deu.
— Obrigada….
— Sou seu escravo, agora vamos, pois espero que a “tartaruga de uma perna
só” não demore muito a ganhar, eu necessito estar dentro de você o mais rápido
possível.
— Pervertido safado! — murmurou apenas para eu ouvir.
— Pervertido safado, completamente tarado na minha noiva deliciosa… —
murmurei de volta.
Victória balançou a cabeça, corada, e começamos a circular.
Não vou nem dizer que todos os marmanjos novos e velhos ficavam todo
ouriçados perto da minha garota, tive que abrir minha cauda de pavão e mostrar
que, nesse território, a fêmea já foi reclamada.
Victória era educada, atenciosa e sempre estava com um sorriso sincero. Ela
cativou o Duque e a Duquesa de Ferrara. E olha que a velha Duquesa era osso
duro de roer.
Enfim, a noite estava indo muito bem, até que eu senti os pelos da minha nuca
arrepiando. Olhei para a entrada e vi a criatura mais odiosa do mundo chegando,
acompanhada do famoso assediador de secretárias.
Nem podia acreditar que Susan Weber, a vadia-chefe de todas as vadias do
mundo, minha fodida ex-noiva, estava respirado o mesmo ar que minha Victória…
Isso vai dar em merda!
Victória
Apesar de ter sentido medo no início, agora eu estava relaxada. As pessoas
que eu conheci são educadas e atenciosas, entretanto, a pessoa de que eu mais
gostei foi a Sra. Franchesca, a Duquesa De Ferrara. Ela era uma mulher fina,
elegante e muito espirituosa, conversar com ela era incrível.
Notei que Rocco ficou tenso ao meu lado e olhei para ele. Seu rosto estava
com uma expressão assassina, e por isso segui seu olhar até a entrada, onde
acabava de entrar uma mulher lindíssima.
Ela era alta, loira e estava deslumbrante em um vestido tomara que caia
vermelho. Com certeza era a mulher mais bonita da festa.
— Amor, tudo bem? — perguntei, vendo meu homem grunhir baixinho.
Franzindo a testa, tirei minha mão de seu braço e peguei a dele, apertando-a. —
Tudo bem?
— Sim, meu amor, tudo bem! — murmurou, pegando uma taça de champanha
e virando-a de uma vez.
Depois desse momento estranho, a festa continuou, Rocco não desgrudou do
meu lado, até a hora do jantar, mesmo ajeitando para que a tal loira de vestido
vermelho não se sentasse do meu lado, ele não conseguiu evitar que o
acompanhante dela o fizesse. Agora eu estava de frente para Rocco, e a loira, uma
cadeira depois dele.
Notei que meu lindo estava tenso, sua boca apertada em uma linha fina,
enquanto fuzilava o homem sentado ao meu lado. A expressão de Rocco estava
assustadora.
O jantar começou e eu não tirava os olhos do meu homem, e ele também não
tirava os seus de mim. Estávamos conversando entre olhares.
O olhar dele me dizia que ele iria arrebentar a cara do homem sentado ao
meu lado se ele ultrapassasse a linha. E o meu respondia para ele ter paciência e
não fazer barraco.
Estava tudo indo bem, até que o cara do meu lado inclinou-se e veio falar
alguma no meu ouvido. Afastei-me, e Rocco rosnou baixo. O homem voltou para o
seu lugar. Em seguida, eu senti uma mão na minha coxa, e sem ter o que fazer e
para evitar um provável assassinato, eu levei minha mão até a do homem e
belisquei. Na verdade, eu segurei a pele do atrevido com minha unha feita e
apertei com força, até trinquei os dentes.
O homem tirou a mão e não tentou mais nada. Ainda bem, porque se ele não
tem amor à vida, eu não tenho nada a ver com isso.
Terminamos o jantar mais longo da história e voltamos para o grande salão.
— Rocco, eu vou ao toalete — avisei e perguntei se a senhora Ferrara queria
ir. Ela aceitou e, de braços dados, fomos juntas.
Foi uma verdadeira manobra fazer o que eu precisava, meu vestido era
realmente um empecilho, mas consegui e, quando terminei, lavei minhas mãos e
esperei pela minha anfitriã. Enquanto aguardava, não pude deixar de notar o luxo e
riqueza que todo o lugar ostentava.
Dá para acreditar que as torneiras são de ouro?
Caramba, um ladrão aqui choraria e, iria querer levar o Palazzo inteiro na
cabeça.
— Vamos, minha querida?
— Ah, sim, claro!
Saímos do toalete e a duquesa quis me levar para conhecer um lugar.
Voltamos para o salão, mas em vez de nos juntarmos aos outros, andamos até
enormes portas duplas que se abriam para revelar um lindo jardim iluminado.
— Aqui é lindo! — exclamei sorrindo.
— Eu cuido do jardim, é meu hobby desde sempre.
— A senhora está de parabéns, aqui é incrível e tem uma aura romântica
permeando o lugar. — De fato, havia alguns casais circulando por ali.
Ficamos em silêncio, apenas curtindo o ambiente lindo. Quando, do nada,
surge uma turma de mulheres com cara de raiva.
— Você é a nova companheira de foda do Rocco, não é?
Fui abordada pela única morena do grupo. Quero ressaltar que ela me olhava
com muito desdém.
— Eu não sou companheira de “cama”, sou a noiva dele! — respondi suave,
eu não conseguia levantar a voz. Eu não gostava, pois, para mim, os gritos não
provam nada.
— Noiva? Foi isso em que ele te fez acreditar? — a ruiva se manifestou e,
nessa hora, a duquesa abriu a boca, entretanto, ela era uma mulher de idade e eu
não queria que se exaltasse por minha causa.
— Senhora, pode deixar comigo, sim? — falei baixinho e peguei sua mão. —
Ele fez o pedido na Fontana di Trevi e me deu um enorme diamante rosa, acho que
isso significa algo, não?
Consegui dar alguns passos em direção à porta, quando o silêncio foi
quebrado.
— Meu Deus, você será só mais uma! Rocco Masari coleciona mulheres…
Eu não sei explicar o porquê de elas estarem me insultando. De qualquer
forma, eu devo ser um caso para estudo, eu não me sentia nem um pouco abalada.
— E por acaso era para ele colecionar o quê? Carrinhos? Acho que ele já
passou dessa fase! — respondi, e minha querida duquesa soltou uma risadinha.
— Você é uma idiota, ele já fodeu com quase todas aqui. Nos três,
inclusive…
— E onde está o problema? — Agora eu me virei, ficando de costas para a
porta. Nem prestei atenção quando a duquesa soltou minha mão e afastou-se.
Ainda ficamos mais alguns instantes nos encarando, até que uma daquelas três
doidas resolveu se manifestar.
— Você é uma sonsa que quer dar o golpe do baú. Eu não iria estar tão
tranquila, sabendo que meu noivo já dormiu com quase todas as mulheres na festa
em que estou.
Okay, eu não sou a idiota que todos pesam, apenas sou pacifista. Mas tudo na
vida tem limite, e se elas querem provocar, vamos lá.
— Bom, devo salientar que comigo ele não dorme, ele fica muito acordado,
agora, se vocês aí são enfadonhas ao ponto de fazê-lo dormir, o problema não é
meu — respondi de queixo erguido.
— Você é uma idiota! Qual a parte do “ele já fodeu com todas as mulheres
daqui” que você não entendeu?
Fechei os olhos, pedindo a Deus paciência.
— Sabe, eu só ficaria assustada se ele houvesse “fodido” com todos os
homens! Entretanto, eu não vejo problema de ele ter “fodido” com as mulheres, e
que eu saiba, ele não fez um voto de castidade. — Parei para olhar as unhas. —
Ah, outra coisa, quando você “dá” ou “distribui” algo de graça, a maioria das
pessoas aceita, mesmo não querendo. Sabe como é a natureza humana — respondi
dando ombros
— Sua infeliz! — a ruiva resolveu manifestar-se. — Você não é sofisticada o
suficiente, olhe para você, parece a gata borralheira.
Olhei para elas durante o que pareceu uma eternidade. As três começaram a
se remexer, desconfortáveis com minha encarada. Por fim, resolvi colocar um
basta nessa cena ridícula.
— Eu só consigo sentir uma coisa quando olho para vocês! Tristeza…—
suspirei. — Não vejo anel em seus dedos, não vejo elegância em seus gestos,
podem até se julgar magníficas, mas não foi eu que procurei uma desconhecida e
baixei o nível. Vocês são ignorantes, mal-educadas, descaradas e sem um pingo de
amor próprio. Com essas atitudes, com certeza nenhum homem irá querê-las, quem
quer passar vergonha? São bocas-sujas e estranhas, se Rocco fodeu as três, o
problema é dele, e se ele não as quis, deve ser porque há um motivo. Um muito
óbvio para mim. Homem nenhum gosta de mulher barraqueira, que mais parece
estar no cio. — Pronto, eu nunca desabafei dessa forma na minha vida, o que não
quer dizer que eu não soubesse.
Ninguém mais vai me humilhar. Já basta o que eu tenho que suportar da
Madame Blanchet. E outra coisa, meu sangue brasileiro não permite.
— Ora, sua v….
— Amor… — Rocco falou alto, interrompendo a fala da loira. — Eu te
procurei tanto, já estava com saudade, por favor, venha, eu acho que a duquesa
quer te dar algumas ideias para o nosso casamento!
Ele estava com um sorriso de orelha a orelha, e eu tive que sorrir também,
Rocco parecia radiante.
— Claro, vamos… — concordei, aceitando o braço que ele me dava.
— Dio mio, como eu estou apaixonado por você, bella mia… — falou alto e
eu arqueei uma sobrancelha. — Você me tem nas mãos, sou seu escravo fiel…
Escutei ofegos e murmúrios chocados, olhei para as mulheres e elas estavam
com a maior cara de tacho do mundo. E certo, agora elas me encaravam como se
eu fosse o próprio Alien.
— Vem, amore mio, não percamos tempo.
E com isso saímos do jardim, entretanto, não chegamos até o salão, antes do
casal “loira e mão boba” nos abordarem.
— Rocco, querido, há quanto tempo! — a loira bonitona exclamou e veio dar
dois beijinhos no rosto dele.
— Não encoste em mim, sua vadia! — rosnou furioso, me deixando chocada.
— Uhmmm, vejo que ainda guarda raiva de mim. — Sorriu feliz. — Isso é
porque ainda estou em seu sistema, não é?
Certo, agora eu estava nervosa. O que aquelas três não conseguiram com
todas as provocações, essa mulher conseguiu rapidinho.
— Não, Susan, você não está em canto nenhum! Agora me deixa em paz.
Tentamos sair, mas ela interrompeu.
— Você sabe que nunca vai encontrar outra mulher como eu e nem amar outra
mulher como me amou. Depois de dez anos, você ainda treme perto de mim. Eu
sei, querido, eu sinto o seu desejo.
Tremi inteira e fui tomada, mesmo sem querer, por insegurança.
— Você me faz arquejar de nojo! — Rocco cuspiu raivoso. — Eu tenho nojo
dessa sua cara falsa. Agora suma da minha frente, sua puta.
— Ain, querido, assim que me apaixono de novo! — ronronou.
Eu puxei meu braço de Rocco e dei um passo atrás. Ele me olhou, levemente
pálido, e eu balancei a cabeça, tentando dizer que estava tudo bem, era só que
aquela mulher me causava muita repugnância, e eu não conseguia ficar perto dela
sem me sentir enjoada.
— Isso, querida, vai mesmo, eu e Rocco temos que relembrar a época que
éramos noivos e fazíamos planos…
Arfei baixinho, mas me mantive firme. Francesca chegou ao meu lado, me
dando apoio, não sabia o que fazer. Entretanto, deixar Rocco sozinho é que eu não
iria.
Voltei para perto dele e peguei sua mão. Ele suspirou aliviado e sorriu para
mim.
— Olha, moça, se você prestar atenção no tempo em que sua frase se
classifica, verá que está no passado, e quem vive de passado é museu, portanto,
junte toda essa sua cara esticada e dê o fora, caso contrário, deixarei minhas
impressões digitais muito bem impressas nela — falei calma, fazendo Rocco rir e
vir me abraçar por trás.
— Como ousa, sua…
— Ai, cala a boca! Nunca vi tanta mulher invejosa na minha vida. Minha
filha, esse partido aqui — falei, apontando para Rocco atrás de mim — está fora
do mercado, ele é meu. Portanto, fique com esse grosso de mão boba aí e deixe o
meu homem em paz. Você não quer que eu perca a paciência.
— O que você disse, amore mio? — Rocco grunhiu muito baixo, e logo eu me
bati por ter falado demais. Todavia, eu não mentiria para o meu amor, vai que
depois a história sai distorcida e eu pago o pato.
Não mesmo.
— Esse estranho aí,tentou passar a mão na minha perna, e eu quase arranquei
a pele da mão dele com um beliscão!
Rocco me soltou e parou do meu lado, olhei para ele e tremi. Meu homem
tinha uma cara de psicopata profissional. Segurei sua mão, mas com muita
gentileza, ele a soltou. Depois ele olhou para a mão do dito cujo, e lá estava a
marca vermelha, já ficando roxa.
Então, sem aviso prévio, meu noivo acertou o punho na boca do homem que
se atreveu a me tocar.
— Você não toca o que é meu, seu infeliz, não toca! — rosnou muito furioso e
descontrolado.
Ai, meu Deus, é guerra…
Capítulo 11
Rocco
***
Uma semana!
Faz uma semana que eu estou morrendo de saudade do meu amor, e mesmo
assim, estou me segurando, porque sei que é necessário para nós dois.
Não posso descrever a decepção que eu senti quando vi Rocco batendo sem
parar naquele homem, e, pior, sem dar ao outro uma chance de defesa. Deus me
livre de ver meu amor machucado, mas eu seria omissa se fingisse que não vi que
nada estava acontecendo.
Remoí minha saudade, e cada vez que ele me ligava, sua voz soava cada vez
mais carente e eu me sentia uma cretina perversa. A questão é que eu estava
mostrando para ele que, se ele me amava como dizia me amar, teria que cultivar
nosso amor, porque, sinceramente, mais uma dessas e eu pularia fora. Eu o amo de
demais, mas ciúme doentio pode virar obsessão doentia, e aonde isso nos levará?
— Deus, que ele não demore muito para perceber isso! — implorei
fervorosamente, enquanto olhava sua foto.
Estava pensando em como fazê-lo entender mais depressa que o ciúme não
nos levaria a nada. Eu estava morrendo de saudade de seus beijos, de seu cheiro,
de seu sorriso. Por Deus, eu sentia falta da sua risada. Nem notei e já estava
chorando como uma idiota. Eu que estipulei esse tempo, e ele estava cumprindo,
mesmo insatisfeito.
Suspirando, sentei em minha escrivaninha e peguei uma folha em branco, aos
pouco, os traços foram tomando forma, e quando dei por mim, eu estava criando
um novo vestido. Não sei o que acontece comigo, mas a inspiração surge nas
coisas mais inusitadas, agora a minha tristeza me inspirava a criar um vestido
lindo e esvoaçante, dramático e romântico ao mesmo tempo.
Tirei meus óculos quando já estava com a visão cansada, mas o vestido já
estava pronto no croqui, faltavam apenas alguns detalhes que eu iria acrescentar
quando estivesse descansada.
Olhei para o relógio e já eram oito da noite, com certeza, tia Laura iria
dormir no trabalho, não sei o que estava acontecendo, mas, ultimamente, ela estava
passando mais tempo que o devido lá e, quando voltava, estava toda sorridente.
— Será que o amor pegou tia Laura? — me perguntei sorrindo e fui para
cozinha, ver o que tinha para comer. Não tinha nada, então peguei os ingredientes
para fazer uma macarronada, dei um toque especial colocando queijo por cima,
depois levei alguns minutos ao forno.
Enquanto não ficava pronta, eu coloquei comida, troquei a água do Balofo e
corri para o banho, tomei uma chuveirada rápida, e só tive tempo de me enrolar
em uma toalha antes de a companhia tocar.
Corri para a sala e liguei a TV, conectando o canal que mostrava a câmera na
porta.
Ah, sim, depois do que aconteceu comigo, Rocco colocou um super sistema
de segurança aqui em casa, então, para ver quem estava em frente à minha porta,
era só ligar a TV. E não só isso, Jason estava fazendo minha segurança, e eu acho
que ninguém seria besta de tentar chegar aqui. Quando vi quem era, sorri e corri
para atender, mal tive tempo de abrir quando fui agarrada e beijada com fervor.
Ainda pude ouvir o som da porta batendo, e ao resto eu nem me dei o trabalho de
prestar atenção.
Eu e Rocco nos beijávamos com tanto desespero que provavelmente
estaríamos machucados depois.
— Nunca mais, ouviu? — rosnou, mordendo meu lábio. — Nunca mais me
mantenha afastado de você!
E com isso nós nos beijamos de novo, só que desta vez não paramos apenas
no beijo, nos embolamos no sofá e nos entregamos ao nosso amor.
Dois meses se passaram desde que eu e Rocco estávamos namorando, depois
daquela semana horrorosa, não desgrudamos mais, agora, pasmem, ele não teve
mais nenhum ataque de ciúme.
Voltamos aos nossos dias de muito amor. Eu dormia na cobertura ou Rocco
dormia lá em casa. Confesso que eu adorava, pois minha cama nos obrigava a
ficar agarrados a noite inteira, e era muito bom ter meu homem esquentando
minhas costas.
Bom, mudando de assunto, como hoje faz dois meses de namoro, resolvi fazer
uma surpresa diferente. Fui até uma loja de lingerie e comprei um conjunto de
calcinha e sutiã preto, junto com meias 3/8 com direito a ligas e tudo. Quando
cheguei à cobertura, tomei um banho bem caprichado, hidratei minha pele, fiz tudo
para provocar meu amor. Os meus cabelos eu prendi em um coque frouxo, finalizei
com um batom vermelho.
Olhei-me no espelho, peguei o pequeno chicote de hipismo e sorri atrevida.
— Você nem vai acreditar, meu amor… — Sorri e fui para o quarto, pegar
minha roupa, durante um momento fiquei parada olhando a foto gigante que ele
mandou fazer. Ela ia desde a cabeceira da cama até o teto, pegando toda a parede.
Lembram-se daquelas fotos em tirinhas que fizemos em Roma?
Pronto, ele as pegou, fez com que ampliassem de forma a criar um quatro
gigantesco.
Um ato de amor… que eu adorei.
Com borboletas no estômago, pela minha ousadia, peguei meu sobretudo e
vesti, ele era daqueles que se amarram na cintura, não tinha botão.
— Rocco vai enfartar!— Sorri ansiosa. Respirando fundo, guardei o chicote
em minha bolsa, calcei meus scarpins salto doze e segui em direção ao escritório
do meu homem e à surpresa que eu lhe faria.
Jason estava dirigindo o carro, era assim, além de fazer minha segurança ele
tratava de me levar para todo lado. Lógico que eu não explorava a boa vontade
dele, mas eu não sabia dirigir, e era isso ou Rocco me deixava trancada, por quê?
Pergunte a ele.
Cheguei à empresa e fui muito bem recebida, todos me conheciam e,
ultimamente, eles pareciam haver desenvolvido medo crônico de Rocco.
Cumprimentei todos no meu caminho e fui cumprimentada com gentileza,
cheguei até os elevadores e, muito rápido para minha ansiedade, eu me vi no andar
da presidência.
— Betty, tudo bom?
— Oi, Victória, claro que sim, filha! — respondeu toda sorridente, retribuí o
sorriso, eu gostava da Betty.
— Rocco está ocupado?
— Não, minha filha, a videoconferência das treze horas acabou há vinte
minutos, entretanto, ele está estressado e nervoso, algo não está bem na filial da
China.
— Obrigada pela informação, Betty, Por favor, cancele o resto dos
compromissos dele para hoje, vou cuidar do estresse do meu noivo. Ah, por favor,
não passe ligações. Rocco estará indisponível pelas próximas horas. — Sorri e fui
para a porta da presidência.
Fechei os olhos, pedindo a Deus que ele não estivesse tão nervoso assim.
Abri a porta e entrei.
Rocco estava analisando alguns papéis e não olhou para mim assim que
cheguei. Esperei alguns segundos e passei a tranca na porta, fazendo um barulho
mais alto, e agora, sim, ele me olhou.
— Amore mio?
Sem responder, caminhei até o meio de sua sala, abri minha bolsa e tirei o
chicote de lá. Vi como a respiração de Rocco acelerou e ele lambeu os lábios. Em
seguida, eu puxei os laços do meu sobretudo e permiti que ele escorregasse pelos
meus ombros.
— Puta que pariu! — rosnou, afrouxando a gravata, porque o paletó ele já
havia tirado. — Você veio de casa até aqui usando apenas um sobretudo de laço?
— perguntou caminhando até onde eu estava.
— Para aí mesmo, senhor — ronronei, parando-o com o chicote. — Gostou
do seu presente? — Virei-me para mostrar que eu usava um minúsculo fio dental
com lacinho.
— Porra… hoje não meu aniversário, mas eu aceito, caralho, amor, eu aceito
esse presente sim! — grunhiu, tentando me agarrar.
— Hoje é nosso mesversário de namoro, dois meses! — Sorri, piscando um
olho. — E como você se comportou muito bem, depois daquele probleminha,
então… acho que você merece um sexo quente no escritório.
Não falei mais nada, Rocco me atacou e, quando dei por mim, ele já estava
completamente enterrado em meu interior, enquanto se movia freneticamente, me
levando à loucura, fazendo-me ver estrelas e tocar o céu com a ponta dos meus
dedos.
— Amor, mês que vem também é mesversário, e eu não me importo de
receber outro presente desses! — Rocco murmurou em meu ouvido, nós estávamos
deitados no tapete felpudo de sua sala, após nos entregarmos aos prazeres da carne
vezes sem fim.
— Não sei, quem sabe eu não te surpreenda com uma visita e um strip tease?!
— murmurei de volta, e ele sorriu baixinho. — Fique esperto com minhas visitas,
Sr. Masari, quem sabe, não é?
Passamos a tarde fazendo amor no escritório, depois fomos para o
apartamento acoplado e eu preparei algo para comermos. Enquanto jantávamos,
Rocco atendeu a uma ligação do Dimitri. E pelo que entendi, eles falavam algo
sobre uma boate nova. E qual não foi minha surpresa ao saber que Dimitri era o
dono e estava nos convidando para a inauguração?
***
***
Perseguidora
***
O monstro do ciúme cravou suas garras em mim, mas eu me contive, hoje ele
não tinha poder algum.
— Victória… — Jason apenas pronunciou o nome da minha garota e a voz
dele falhou.
— Ei, não faça essa cara, somos brothers, esqueceu? — Riu baixinho,
estendo a mão para Jason, que aceitou na hora. — Vocês formam um trio e tanto…
— Amore mio… — Engasguei. — Olhe para mim também, estou aqui.
Então ela me olhou, e olhou, e olhou. Depois virou o rosto em silêncio.
Silêncio… essa palavra é muito subestimada, pois, sim, o quarto está em
silêncio total, mas dentro de mim acabou de explodir a terceira guerra mundial.
— Amore mio, olha para mim! — implorei e ela o fez, então chorou e virou o
rosto de novo.
— Vá embora, por favor — sussurrou
Dei alguns passos até ficar ao lado da minha garota. Meus amigos afastaram-
se, e eu pude pegar seu rosto e obrigá-la a me olhar.
— Por favor, olha para mim, amor.
— Não quero olhar para você agora, por favor, me deixe… — respondeu
suavemente, e minhas lágrimas juntaram-se às suas. Não me importei com seus
protestos quase inaudíveis, eu a abracei.
— Perdonani, amore mio, per favore — supliquei em seu ouvido chorando,
seus soluços combinados com os meus. — Tu sei la mia vita, tu sei mia moglie, tu
sei tutto per me…
— Eu te amei, eu ainda te amo, mas quero que vá embora… por favor… —
falou em português, e eu senti um raio de luz em meio à escuridão. Continuei
abraçado a ela, pois minha garota não sabe que eu entendi o que ela disse.
— Sposa, volta para mim… — implorei baixinho. Nossa conversa era
particular ao pé do ouvido. Vivíamos em um casulo de dor, tristeza e amor.
— Vá embora, por favor, deixe-me! — tornou a falar em português.
— Fala para mim, sposa, me diz o que fazer para você me perdoar! —
murmurei baixinho e me ergui apenas o suficiente para beijá-la na face.
— Vá embora, por favor. Amanhã… falamos… — Victória pronunciou a
sentença em nossa língua e virou o rosto. Muito relutante, levantei e fui para o
outro lado do quarto, me sentei no chão, completamente silêncio em silêncio,
minhas costas apoiadas na parede e minha cabeça caída para frente.
Se amanhã conversaremos, então amanhã eu saio daqui. Com você, amore
mio. Só com você.
***
É dia, tenho certeza, porque vejo o céu azul claro, mas duvido um segundo, e
sabe por quê?
O sol não esquenta minha pele. Estou só. Mais uma vez, sozinho, ela se foi.
Sim, ela se foi, em segurança para o conforto de seu lar, e eu fiquei para trás,
vendo a poeira deixada por ela.
— Minha sposa desistiu de mim — murmuro sentindo meus olhos queimando.
Na verdade, eu queimo, meu coração está rachado, e eu tento, apenas não permitir
que ele quebre.
Aperto o anel que foi dela, que é dela, e ergo minha cabeça para o céu. Fecho
meus olhos e não sei. Minha mente se recusa a pensar, eu me recuso a acreditar.
Respiro fundo, mas o ar parece não entrar em meus pulmões, eu me sinto
sufocado, como se estivesse muito tempo embaixo d’agua, entretanto,
provavelmente irei me afogar.
Balanço a cabeça e me encolho dentro do casaco que William me deu, puxo o
capuz e começo a andar sem rumo. Saí de frente ao hospital onde minha garota
estava, eu não sabia para onde ir, então só caminhei. Enfiei minhas mãos nos
bolsos da minha calça, baixei a cabeça e segui meu caminho. Ombros encurvados,
encolhido, uns dez centímetros menor.
Estou em piloto automático. Mecânico… caminhar se tornou necessário…
Um fato.
As pessoas ao meu redor passavam sem que eu prestasse atenção, era como
se eu me movesse em câmera lenta e os outros no compasso certo. Estou perdido.
Com frio. Sozinho.
“Dio Santo, o que vou fazer?”, pensei me surpreendendo, não estou tão
paralisado, afinal. Continuei andando. Tentando juntar uma ideia à outra. Não tive
muito sucesso, apenas essa pequena frase se fez presente no caos da minha mente.
Não consigo conceber a ideia de que acabou. Não dá.
Meus olhos estão secos, eu estou silencioso, mas por dentro grito, bato nas
paredes invisíveis que nós separam, em desespero tento derrubar o muro que
Victória criou entre nós.
Lembro-me da nossa despedida, ou quase despedida. Ela inda estava
chorando em meus braços, enquanto eu também chorava e tentava, de todas as
formas, consertar a merda toda. Tentei falar, transpor o enorme caroço em minha
garganta, mas não pude. Muito gentil, Victória me silêncio u colocando um dedo
em meus lábios. Em seguida, tudo aconteceu muito rápido, e quando dei por mim,
ela já estava dentro do carro indo embora, com Jason e Dimitri. Já William
parecia tão ruim quanto eu, pude notar que meu amigo parecia uma fera enjaulada,
e o pior era que ela implorava por liberdade.
Quando estava muito cansado, eu parei de andar e nem precisei abrir a boca,
Murdoch apareceu e apontou o meu carro.
Olhei ao meu redor e notei que estava em um parque, não era o Hyde park,
entretanto não importava, tudo estava sem cor. O verde nem parece verde, parece
uma mistura malfeita de azul e amarelo. O mundo está descolorindo-se letamente,
voltando aos primórdios das eras bem diante dos meus olhos.
Segui até o carro e pedi que me levassem até minha cobertura. Não notei
nada, apenas mantive meu olhar fixo no anel em minhas mãos.
— Chegamos, senhor.
Saí do carro e segui meu caminho. Silêncio.…
Silêncio.… aparente silêncio, não, não é silêncio mudo, é silêncio
ensurdecedor, doloroso e cruel.
Entrei em meu elevador e fechei os olhos. Lembranças…
Beijos, abraços, juras de amor, promessas…
“Eu sempre serei sua, Rocco, só sua… nunca vou te deixar… Eu te amo,
você é minha outra metade perfeita. Eu te amo… eu te amo… te amo… amo…
a…”
Acabou.
— Derrotado! — murmurei, saindo daquelas paredes frias e sufocantes.
Entrei em minha cobertur… nossa cobert…
Entrei na cobertura e fechei a porta. Recostei minha testa ali por uns
segundos, de olhos fechados.
Inacreditável.
Impensável.
Então o primeiro grito saiu, e depois outro. E mais outro, acompanhado de um
murro na porta. Um chute, outro grito, joguei a cabeça para trás enfiando minhas
mãos em meus cabelos, puxando-os com força.
Por favor, peço…
Não fique triste por mim, não quero pena. Estou apenas desafogando, então,
sim, urros de dor e brados de angustia é o que tem para hoje, por enquanto, é
claro.
Quando minhas cordas vocais já estavam doendo para caralho, parei de
explodir minha dor e fúria utilizando minha voz. Eu precisava de outro método.
Tirei o casaco, a camisa, os sapatos e fiquei confortável.
Coloquei na mesa o anel que eu segurava firmemente em minha mão e fui para
o aparelho de som. Escolhi Linkin Park para começar. Então, em segundos, Numb
explodiu pelos autofalantes, eu coloquei em volume máximo, estava me fodendo
para os vizinhos. E não demorou muito, parece que a calma (de segundos) depois
da minha primeira explosão acabou do mesmo jeito que ela veio.
Fui curtindo a música, quase enlouquecido, uma onda de raiva crescendo, e
quando chegou ao refrão, eu não resisti, peguei um vaso e atirei. A partir daí eu
virei uma onda de destruição, fui envolvido por uma avalanche de ira tão intensa
que mataria alguém com um sorriso nos lábios. Eu quebrei espelhos, cadeiras,
mesas, vasos, estava indo para destruir o maldito apartamento inteiro. E quando
tudo isso não foi suficiente, eu resolvi buscar outro tipo de entorpecimento.
Peguei uma garrafa de Grey Goose e abri, bebi no gargalo mesmo.
— Foda! — rosnei e bebi. Bebi. Bebi.
A cada segundo um calor consumidor me invadia, e eu queria sair e acabar
com tudo e com todos. Trazer minha mulher pelos cabelos e mostrar que ela era
minha.
— Você é minha, amore mio! Minha! E ninguém vai tomar você de mim, não
estou desistindo, estou apenas reagrupando para atacar. Vou te trazer de volta! Ou
não me chamo Rocco Masari — murmurei para ninguém. Voltei para o bar, peguei
mais uma garrafa de Grey Goose e me larguei no chão, recostado no sofá.
Bebi ali até a última gota da primeira garrafa, entretanto ainda estava
consciente demais.
— Hora de entrar no jogo, querida! — murmurei para a segunda Grey, antes
de tomar um generoso gole.
***
Victória
***
— Vai me contar o que houve ou eu vou ter que descobrir sozinha? — tia
Laura perguntou pela milionésima vez.
— Não aconteceu nada, tia!
— Não? — questionou. — Não mesmo? — repetiu.
— Não mesmo — confirmei insegura. Detesto mentir, na verdade posso me
considerar na turma dos péssimos mentirosos.
— Olha para mim, Victória!
Eu o fiz e logo tive que travar meu queixo para evitar tremer. Mas foi
impossível, a imagem da minha tia ficou turva e antes que eu notasse, estava em
um abraço apertado.
— Chore, meu amor…
E eu chorei. Durante muito tempo, chorei e solucei alto, enquanto minha tia
me afagava. Jason andava pela sala nervoso.
— O que houve? — perguntou, limpando minhas lágrimas com carinho.
— Tia, eu amo tanto a senhora! — solucei. — Tanto… Não sei o que faria
sem te ter…
Ela sorriu, um sorriso maternal. Daqueles que nos dizem que tudo ficará bem.
— Tia, eu e Rocco terminamos.
Primeiro, tia Laura puxou o rosto para trás, fazendo uma careta descrente.
Depois ela me olhou como se eu fosse louca.
— O que aconteceu?
— Somos muitos diferentes, tia, não daríamos certo. — Eu falei isso porque
não vou acabar com o carinho que minha tia tem por Rocco, afinal de contas, ele é
muito querido.
— Por que eu acho que isso não explica muita coisa?
— Confia em mim, tia, e não me pergunta mais nada! — implorei, fungando, e
ela concordou.
A hora do café da manhã se arrastou. Eu não tinha fome, não tinha vontade de
desenhar, não tinha vontade nem de ficar em pé. Era como se metade de mim
houvesse morrido enquanto a outra metade estava em estado de coma.
Arrastei-me até o balanço dos fundos, sentei sem jeito, as mãos no joelho, a
cabeça baixa, as lágrimas pingando…
Fiquei ali, me sentindo sem rumo. Sem saber o que fazer e como começar a
tentar algo que me tirasse desse limbo.
— Não pensei que fosse te encontrar chorando desse jeito. Tudo isso é
saudade de mim, Bonequinha?
Ergui minha cabeça e tive que coçar meus olhos. Pisquei várias vezes, mas
ele ainda estava lá. Mais forte, mais bonito e muito descolado.
— Royce… — suspirei e levantei. — Não pode ser… — murmurei
atordoada.
— Venha, minha bonequinha, eu estou com seis anos de saudade, será que não
mereço um abraço? — perguntou abrindo os braços, e, antes que eu pudesse evitar,
eu estava me atirando em seu peito, enquanto era embalada carinhosamente.
“Obrigada, meu pai, por me dar uma coisa boa em meio à desordem em que
me encontro”, agradeci a Deus, apertando meus braços ao redor de Royce, que,
entendendo minha necessidade, me abraçou ainda mais apertado.
***
— Seis anos sem dar notícias, Sr. Dalton, por quê? — tia Laura perguntou e
deu um tapa na nuca do Royce. Eu ainda nem acreditava que ele estava aqui.
— Eu estava travando uma batalha por dia, tia Laura, não foi fácil conseguir
crescer na América, as coisas lá são complicadas, maaaas agora posso dizer que
vocês estão diante de um dos melhores caça talentos da Sony Music.
— Parabéns, meu amigo — felicitei, abraçando-o mais uma vez. Eu sentia
uma felicidade pelo sucesso do meu amigo, mas boa parcela de mim estava
afundada na lama.
— Obrigado, Bonequinha. — Sorriu, mas logo fez uma careta. — Por que o
gigante ali me olha como se fosse me morder?
— Ah… — Pigarreei. — Por favor, me deixe te apresentar. — Levantei,
acenando para meu segurança— Royce, esse é Jason, meu amigo e… segurança…
Jason, esse é Royce, meu amigo e irmão.
— Prazer em conhecer você. — Royce estendeu a mão e Jason a pegou.
— O prazer é meu! — falou calmo, mas encarava Royce como um oponente.
Ele está marcando o território do Rocco! pensei incrédula, mas logo dei de
ombros, isso seria Rocco sendo Rocco. Não adianta lutar contra uma força da
natureza, o jeito é deixar passar o furacão e depois reconstruir o que a destruição
causada por ele deixou.
Eu olhava para Royce conversando com tia Laura, estava calada, apenas
observando-o contar suas aventuras, mostrando de forma engraçada as
dificuldades que passou.
Ele disse que foi uma mudança de perspectiva viver nas ruas, mas uma boa
experiência, no final das contas… Sério isso? Royce é louco… As ruas são tão
perigosas, mas, infelizmente, tem muita gente que sofre com essa realidade.
Royce era assim, ele via o lado bom até das coisas ruins, eu me lembrava
dele dessa forma, e em apenas uma hora de retorno, ele mostrou que não mudou
muita coisa, digo na personalidade, pois, na aparência, ele cresceu, e muito.
— Victória, eu preciso falar com você! — A voz de Jason me trouxe à
realidade.
— Sim, pode falar.
— Preciso que venha comigo — chamou e foi aí que eu prestei a devida
atenção a ele.
Jason estava nervoso e… preocupado.
Levantei do sofá e nem falei com minha tia, eu apenas segui Jason até a frente
de casa. Enquanto íamos, ele falava ao celular.
— Estou com ela… Sim, sim claro… Porra! — ele rosnou e depois escutou,
passando a mão na cabeça. — Farei isso… vou passar para ela.
Jason me entregou o celular, e eu o recebi sentindo um nó no estômago.
Tremendo, o coloquei no meu ouvido.
— O-oi — sussurrei.
— Victoria, você precisa nos ajudar. Ele vai acabar se matando. Por
favor… — Fez-se silêncio do outro lado e logo houve grunhidos furiosos. —
Socorro. — Meu coração parou quando ouvi as palavras do Dimitri.
O celular escorregou da minha mão, eu procurei por Jason e ele me olhava
em expectativa, quase suplicante.
Por Deus Não!
— Me leve até ele!
— Graças a Deus — Jason grunhiu e corremos.
— Não sou tão altruísta, eu vou pegar o que é meu de volta — rosnou,
bebendo outro longo gole. — Meu coração é negro, desconfiado, mas eu não estou
deixando minha mulher escapar…
Eu só fazia encarar aquilo tudo emudecida. Pelo visto, Rocco estava
determinado. Não pude evitar sentir meu coração vibrar de emoção.
Ele ainda não notou sua presença, Victória — William falou, chegando
perto de mim. — Ele está bebendo, quebrando as coisas e lutando conosco desde
que chegamos ontem à noite. Estamos tentando segurá-lo, mas está difícil, meus
ouvidos não aguentam mais tanto Rock pesado em tão pouco tempo, ele está assim
e só não entrou em coma alcoólico porque não deixamos. Estou todo esmurrado e
chutado, Dimitri está do mesmo jeito. Se continuar assim, teremos que ser
drásticos, ele quer apagar, mas a raiva que sente está tão grande que parece
queimar o álcool. — William ficou calado e pensativo. — Eu entendo de raiva,
desgosto e arrependimento — falou distante. — Deixe de lado qualquer coisa, ele
precisa de você!
— Claro que sim. — Engoli. — Vou cuidar dele… sempre…
Com cuidado, caminhei por entre os vidros, desviando de tudo com
cuidado para não escorregar e acabar caindo. Cheguei até onde Rocco estava
sentado, cobrindo os olhos, e me abaixei à sua frente. Acariciei seu rosto e ele se
empertigou, puxando o braço para poder me olhar. Eu olhei dentro de seus olhos
azuis.
Deus, como eu o amo!
Rocco sorriu e piscou os olhos, ergueu a mão para me tocar, mas desistiu.
— Non è reale — sussurrou, voltando a fechar os olhos. — Mia moglie mi
odia… — gemeu e bebeu outro gole.
— Eu jamais te odiaria — murmurei. acariciando seu rosto novamente. —
Eu nunca poderia te odiar.
Rocco abriu os olhos e ficou me encarando, depois ele sorriu, um sorriso
que fazia minha barriga ficar leve. Retribuí, foi inevitável. Ele era tão
incrivelmente lindo.
— Me dá a garrafa? — perguntei, tentando pegá-la, mas ele negou e bebeu
outro gole, limpando a boca com as costas da mão. Respirei fundo e resolvi
apelar. Olhei para os outros e eles apenas deram de ombros, me encarando de
volta.
— A garra-fa… — grunhiu, acariciando-a — é minha, e não vai me deixar.
Engoli em seco. O desgosto na voz do homem diante de mim quase dava
para cortar com uma faca. Tudo bem, hora de me igualar a ele. Afinal, eu aprendi
um truque ou dois com o próprio Rocco.
— Vamos trocar? — ofereci e lambi os lábios. Ele acompanhou o
movimento e estreitou os olhos, logo ele se inclinou para frente, ficamos nariz com
nariz.
— O quanto você quer essa garrafa, pequena? — perguntou,
repentinamente muito sóbrio para quem parecia bêbado até pouco tempo.
— Eu quero muito! — respondi na hora.
— Preciso de um par de mãos extra, no banho… — ronronou, esfregando o
nariz em meu rosto. — Você troca? A garrafa pelas suas mãos? — Agora ele me
olhava com seus olhos magníficos.
— Troco.
Sorrindo, ele largou a garrafa e me puxou em pé.
— Vamos tomar banho agora!
E fomos, afinal, eu prometi. E a cada momento em que minhas mãos
percorriam sua pele, eu fechava os olhos, emocionada. Meu corpo clamava, meu
coração gritava de felicidade, mas meu cérebro lembrava que Rocco estava em
meu programa de controle de temperamento.
Ele me tentou com suas mãos, mas não tirei nem a calcinha nem o sutiã, me
mantive firme, quer dizer, eu aparentava firmeza, mas eu não estava segura. Cada
toque, cada escorregada de suas grandes mãos perigosamente perto dos meus
pontos sensíveis, era muito para minha sanidade.
— Pronto, você está impecável! — exclamei e corri para o closet. Ainda
bem que havia algumas roupas minhas ali.
Estava terminando de me vestir quando me encontrei sendo empurrada
contra a parede, e o corpo grande e quente de Rocco colando em minhas costas.
— Você sabe que eu não vou desistir, não é? — ronronou em meu ouvido. —
Eu vou lutar a cada passo do caminho, cada resistência sua aumentará minha força
de vontade, cada vez que me disser não, eu vou correr atrás do sim. — Rocco
estava completamente colado em minhas costas, eu o sentia expelir calor. —
Então, amore mio, você está preparada?
Capítulo 15
Victória
— Responda, amore mio! — Rocco grunhiu, esfregando-se em minha bunda.
— Diga se você está preparada para me ter jogando duro?
Eu só pude fechar os olhos e gemer. Por Deus, eu não tinha controle sobre
isso. Meu corpo era rebelde e só atendia a um senhor.
Rocco Masari.
— Eu… — Engoli em seco. — Eu acho que…
— Se eu fosse você, eu voltava para mim! — ronronou, esfregando o queixo
em meu ombro. — Você tem noção do quão duro eu estou? — perguntou e imitou o
movimento do sexo. — Sinta como meu pau está doido por você! Eu e ele
estamos…
Gemi longamente. Meu corpo todo acesso.
— Você me quer — sussurrou em minha orelha e me mordeu. Soltei um
gritinho de puro desejo, minha calcinha molhada e uma dor pulsante em meu
clitóris.
Eu já ofegava, meus seios doíam, meu ventre dava cambalhotas e nem vou
dizer a necessidade que eu tinha de ser preenchida por ele.
Estava tão alheia que nem notei quando Rocco rasgou meu vestido ao meio,
só pude ofegar, chocada, antes de ser virada e empurrada de novo contra a parede.
— Você é minha! — rosnou alto e me beijou, um beijo faminto, desesperado,
angustiado e com gosto de vodca.
Nesse ponto eu me perdi, ou melhor, já tinha me perdido desde que ele me
prendeu contra seu corpo e a parede.
Mordi seu lábio com força e ele grunhiu, levando suas mãos até minha
calcinha e rasgando-a com brutalidade, meus líquidos já escorriam, gemi quando
Rocco me ergueu, obrigando-me a enlaçar minhas pernas em sua cintura. Todavia
chorei de desejo quando ele me empalou com um único movimento.
— Gostosaaa! — grunhiu olhando dentro dos meus olhos. — Fodidamente
perfeita para mim! — As palavras dele eram proferidas enquanto seus quadris
batiam com força entre minhas pernas. Rocco parecia um pistão de tão rápido que
se movia. E nunca ele havia me tomado de forma tão primitiva.
— Me beija! — murmurei ofegando, e ele sorriu, fazendo exatamente isso,
iniciamos outro beijo desesperado, ele me mordia, eu mordia de volta, nossas
línguas brigavam pelo controle, nesse momento nem eu era passiva, estava mesmo
era louca de paixão.
Enfiei minhas mãos em seu cabelo e puxei com força, Rocco rosnou
selvagem, eu grunhi de volta. Ele me olhou, estreitando os olhos, e depois me
levou até a cama, onde me deitou na beirada e continuou a bombear duramente
entre minhas pernas.
— Você. É. Minha! — Cada palavra foi pontuada por uma estocada bruta e
um grito meu. Nunca senti tanto prazer, e quando estava prestes a gozar, Rocco
saiu de dentro de mim e me virou, erguendo minha bunda e enfiando-se em mim de
novo.
Gritei quando senti como ele me preenchia. Era incrível, era perfeito.
— Minha mulher! Minha Mulher! — rosnava alto e possesso. Logo senti sua
mão enrolando todo o meu cabelo e ele puxou minha cabeça para trás, me fazendo
arquear. Ficar assim foi… não consigo explicar, mas eu estava vulnerável, a
mercê, e não me importava mais com nada.
— Rocco… por favor… — implorei, sentindo meu corpo pronto para voar,
eu estava quase gozando e ele nem havia dado atenção ao meu clitóris. A forma
como ele me abordou, como falou em meu ouvido e como me pegou, já fez todo o
trabalho, e como se estivesse provando que ele era perfeito para mim, me fez
enlouquecer, pois sabia todas as formas como eu poderia a reagir às suas carícias.
— Você vai gozar apenas com o meu pau te fodendo! — grunhiu e torceu os
quadris, me fazendo revirar os olhos e cravar as unhas no lençol. — Depois que
você gozar e eu sentir meu pau sendo ordenhado, eu vou chupar seu clitóris do
jeito que mais gosto…
— Minha nossa… — gemi entregue, meu corpo era dele, eu era dele. —
Rocco… estou tão perto… Por favor… Por favor…
— Isso, implora, meu amor, implora pro seu homem te fazer gozar bem
duro…
— Estou tão perto — ofeguei, sentindo meu corpo endurecer e um arrepio
tomando conta dele. — Ohhh… Rocco, eu vou… Por favor, isso — eu implorava,
incoerente e sem fôlego.
— Diz que me ama! — comandou fervoroso.
Eu só gemia e gemia, não estava com bom raciocínio. Agora, sim, eu estava
quase gozando, meu corpo se preparou e mais uma estocada forte eu alcançaria
meu alívio.
— Diga que me ama ou eu paro!
Como se para provar suas palavras, ele parou, fazendo meu orgasmo
retroceder e uma dor gostosa se instalar no meu núcleo preenchido por ele.
— Nãoo… — choraminguei — não para, eu estava tão perto! — Pude sentir
lágrimas se formando em meu rosto.
— Diga que me ama, que é minha… e que nunca vai me deixar — ronronou,
lambendo meu ombro, me causando tremores de prazer. — Diga que não me
odeia…
“Como se eu pudesse…”, pensei aturdida, entretanto, dois podem ceder, e
prometer…
— Diga… — Puxei o ar. — … que vai se controlar, que vai…— Engoli. —
… aprender a dominar seu temperamento e agressividade.
— Eu farei isso — murmurou em meu ouvido e calou-se, agora eu sabia que
era minha vez.
— Então saiba que eu te amo. — Ele riu e puxou seu membro de dentro de
mim para logo bater de volta, gritei. — … Eu sou sua. — Mais outra investida
agressiva e deliciosa que me fez ver estrelas. — Nunca mais vou te deixar…
— Isso, amore mio…— ronronou, girando os quadris, provocando-me de
forma tão inescrupulosa que eu quase desmaiei de tanto prazer. — Agora diga que
não me odeia…
Mas de onde ele tirou isso? Por Deus, eu terminei nosso relacionamento,
mas eu nunca seria capaz de odiá-lo… nunca…
— Eu não te odeio… nem nunca seria capaz de odiar, eu te amo… —
Suspirei e para minha total alegria, ele voltou a fazer amor comigo de forma dura e
profunda.
Nem sei quantas posições fizemos, só sei que eu gozei tanto, mas tanto, que
devo ter desidratado, e só para que saibam, Rocco me mostrou uma versão dele
que, minha nossa senhora, eu nem vou compartilhar, só vou dizer que pervertido
nem começa a descrever. Desta vez eu realmente voei alto, muito alto, foi algo
estratosférico, de deixar de pernas bambas.
Caímos exaustos na cama, estávamos suados, entrelaçados, ainda mais
apaixonados.
— Precisamos brigar mais! — Rocco sussurrou enquanto brincava com meu
mamilo.
— Uhnnn — respondi de olhos fechados. O safado só fez rir.
— Voltamos, pequena? — perguntou e esfregou o nariz em meu rosto.
— Uhn-hum…
Desta vez ele gargalhou.
— Eu acabei com você, não é, amore mio?
— Uhnnnnnn — gemi longamente.
— Eu queria que você me sentisse dentro de você mesmo quando eu não
estivesse, eu estava doido, pequena, e me desculpa se eu fui muito bruto, é só
que…
— Shhh — coloquei um dedo na boca dele, enquanto abria um olho para
encará-lo. — Foi perfeito, e eu voto a favor de mais momentos como esse, e para
deixar claro: você conseguiu com méritos o seu objetivo, porque agora mesmo eu
posso fechar o olhos e te sentir dentro de mim.
— Isso, amore mio, eu quero mesmo que você me sinta — murmurou
passando os dedos pela minha bochecha. — Nunca mais diga que vai me deixar,
eu realmente não posso ficar sem você… — Vi a angústia em suas feições e aquilo
me doeu. — Eu me senti apavorado, perdido, pela primeira vez, eu não sabia nem
o que pensar…
— Amor, naquele momento foi a única coisa que eu pude fazer — sussurrei,
virando de lado, imitando a posição dele. — Eu tenho dúvidas… não sei se sou o
que você precisa, talvez, se a gente…
— Ei, pode parar! — grunhiu vindo para cima de mim. — Você quer outra
rodada de sexo selvagem e pervertido para tirar essas besteiras da cabeça?
— Claro, mas antes compre uma cadeira de rodas! — brinquei e ele arqueou
uma sobrancelha, logo estávamos rindo dessa pequena frase que eu falei.
— Então eu sou tão potente assim? — Piscou um olho sorrindo. Agora eu o
via leve, tranquilo, quase o meu Rocco de volta.
— Qual é, você é um garanhão reprodutor… — falei e ele jogou a cabeça
para trás, gargalhando feliz.
— Na verdade, amore mio, eu sou o seu garanhão e só vou me reproduzir
com você!
— Rocco…. — Suspirei sorrindo, toda a angústia e dor que senti ontem já
tinham sumido. — Eu te amo, me perdoa por te fazer sofrer.
— Minha pequena, eu que peço perdão, eu deveria ter visto que você não
estava bem… eu deveria ter prestado atenção, juro que nunca mais vou agir por
impulso! — proclamou sofrido
Puxei-o para mim para poder dar-lhe um beijo carinhoso. Nesse beijo eu pedi
perdão e perdoei. Juro que agradeço a Deus por não haver espaço em meu coração
para rancor, só havia espaço para amor. Muito amor. Era só o que cabia agora em
meu peito. Minha tristeza e insegurança foram deixadas de lado, entretanto, eu não
entendo como Rocco pôde pensar que eu o odiava.
— Agora vamos dormir, eu estou morto de sono — sussurrou, distribuindo
muitos beijos pelo meu rosto, rir, pois sua barba me fez cócegas. Felizes da vida,
ajeitamos nossos corpos e fizemos uma conchinha maravilhosa. O corpo grande de
Rocco abrangendo o meu bem menor. Eu me sentia incrivelmente protegida
— Nunca mais vamos terminar — suspirei fechando os olhos.
— Nem por algumas horas — respondeu, fungando em meu cabelo. — Essas
foram as piores horas da minha vida, posso jurar que durou um ano inteiro…
— Para mim também, meu amor… para mim também…
— Finalmente posso dormir — resmungou, aconchegando-se ainda mais a
meu corpo. — Pensei que teria que fingir mais…
— Mas o quê?
— Amore mio, se eu aparentasse estar louco, eles trariam você até aqui…
bem… era só disso que eu precisava, confesso que fiquei bêbado, mas foi só um
pouco, depois eu apenas controlei a pressão. — Pude notar que ele sorria. — Eu
sabia que você viria por mim.
— Seu… seu… seu… — Nem consegui formar uma frase coerente. Eu tinha
vontade rir e de bater nele.
— Mentiroso, pervertido, manipulador, tarado, apaixonado e completamente
arriado pela minha futura esposa? — perguntou, rindo baixinho. — Sim, amore
mio, eu sou tudo isso aí, e como disse, eu só precisava que você passasse pela
porta.
— Eu tive medo, sabia!?
— Desculpe, mas foi preciso, eu não poderia ficar longe por muito tempo… e
não, não me arrependo. Faria tudo outra vez, para te trazer de volta…
— Ai, seu bobo! — Sorri com raiva pelo susto que eu tive, pois pensei que
ele estava machucado, mas também estava feliz por ele não ter desistido. — Você
é um ator!
— Bobo de amor por você! Só por você… E sim, até me convidaram para
fazer o filme do Super Man, mas não me vejo em uma daquelas roupas coladas.
Ri alto agora.
— Não ria de mim… — reclamou me mordendo. — Eu estou falando sério.
— O Super Man é um gato, e você é a cara dele!
Observei-o estreitar os olhos e logo sorrir.
— Eu sou melhor, porque eu sou real! — ronronou sorrindo.
Obrigada, Deus, por isso!
— Nunca mais iremos terminar… — mudou de assunto enquanto beijava meu
cabelo.
— Nunca mais… — respondi, fechando os olhos mais uma vez.
Entretanto, eu não poderia estar mais errada!
Capítulo 16
Rocco
Acordei e a primeira coisa que senti foi o cheiro da minha garota. Apertei
meus braços ao seu redor, puxando-a ainda mais para mim. Funguei em seu cabelo,
beijei seu ombro, distribuí beijos por onde eu pude sem precisar soltá-la. Não sei
quanto tempo fiquei ali, só sei que o ronco da minha barriga me fez perceber que
eu não comia há muitas horas.
Devagar, levantei da nossa cama, ainda admirei Victória em seu sono.
— Perfeita para mim… — murmurei, puxando o lençol para que ela não
sentisse frio.
Fui para o banheiro, tomei uma ducha, escovei os dentes e vesti apenas uma
calça de moletom. Saí do quarto ostentando um sorriso enorme. Estava pensando
na minha felicidade e em como eu tive sorte, minha ousadia funcionou.
Amém por isso!
Eu não tinha ideia se ser bruto funcionaria, mas funcionou, e agora estou aqui,
feliz, satisfeito, ainda mais apaixonado, perdoado e morrendo de fome.
Balancei a cabeça enquanto ria. Meu plano deu certo. E como deu.
Cheguei à sala e vi que a maior parte da sujeira tinha saído. Franzi a testa e
continuei caminhando, só para mais adiante encontrar, Dimitri, William e Jason
vestidos só de calças, com vassouras, baldes e panos nas mãos.
— Minhas faxineiras! — Explodi em gargalhadas da cara dos três. Então,
antes que me defendesse, um pano acertou meu rosto.
— Vamos limpar e você vai ajudar! — Dimitri grunhiu. — Seu tarado de uma
figa! Será que não dava para ser mais silencioso? Estou com meus ouvidos
entupidos de algodão.
— Vá se ferrar! — rosnei apontando o dedo para ele. — Quando viu que
Victória não saía do quarto, deveria ter ido embora!
— E deixar ela sozinha contigo? Você estava doido de pedra! — falou alto.
— Deus me livre, não mesmo, tia Laura arrancaria minhas lindas bolas e meu
precioso pau.
— Palhaço! — resmunguei, mas estava muito feliz. — Nós voltamos! —
exclamei, voltando a ostentar um enorme sorriso.
— Conte uma novidade, só um surdo, doido e inocente não entenderia que o
que vocês faziam no quarto eram as pazes! — bufou Dimitri,e todos riram, menos
William.
— Vamos, suas preguiçosas, temos muito trabalho pela frente — o conde
proferiu e veio para perto de mim. — Não cometa outro erro… — murmurou
melancólico. — Estou feliz por você, amigo, e espero que tenha aprendido.
— Sim, meu amigo, eu aprendi — respondi e apertamos os antebraços.
Saudação de guerreiro.
— Vou pedir pizzas, estou morrendo de fome! — Dimitri falou alto enquanto
pegava o telefone no bolso. — Tem cerveja aqui?
— Não sei! — respondi dando de ombros.
— Dono de casa fuleira! — P Dinka estalou a língua sorrindo. — Vou
resolver essa parada! Vamos beber cerveja e terminar de limpar a bagunça que
você fez, e isso te inclui, Sr. Masari, pode pegar a vassoura e juntar a terra no hall
de entrada.
— Sim, madame! — respondi rindo.
— Vai se lascar, sua bicha chorona!
— Eu não! — Dei de ombro,s pegando a vassoura. — Peça de frango e
calabresa…
— Eu vou pedir do que eu quiser!
— Viado!
— Boiola…
— Vocês se amam! — Jason caçoou rindo e logo o Dimitri o incluiu na
brincadeira.
— Você entrou na Tríade e por isso viramos O quarteto fodástico, vamos te
iniciar. — O Dinka riu, coçando a barba. — Humpyt Dumpyt será o seu apelido.
— O quê? — Jason perguntou confuso.
— O ovo do gato de botas, seu besta! — exclamou e explodimos em
gargalhadas, mas eu vi a gratidão no olhar de Jason, e, sim, tudo começou pela
insistência de Victória que eu tinha que ser amigo dele.
Mia bella sabe das coisas…
Sorri e fui varrer uma parte da sujeira.
Eu poderia chamar uma equipe de limpeza, sim, claro que eu poderia, mas
não vou perder de jeito nenhum esse sentimento de camaradagem e gratidão que
estou sentindo.
O resto da tarde passou agradável. Limpamos o apartamento bebendo cerveja
e comendo pizza. Depois que estava tudo limpo, eu vi que teria que mobiliar o hall
e a sala, além de ter que trocar alguns outros móveis que ficaram danificados.
Isso não seria um problema para mim.
— Ei, vamos pedir o jantar! — A voz do Dimitri me tirou dos meus
pensamentos. — Estou morrendo de fome.
— E quando você não está? — perguntei, pegando o telefone e ligando para o
restaurante de Marco.
— Eu tenho 1,92 m de altura, preciso de alimento! — reclamou, rumando
para a cozinha.
— Fique à vontade! — ironizei, dando de ombros. — Quando a chamada foi
atendida, eu pedi para falar com Marco, conversamos um pouco e logo fiz meu
pedido. Lasanha e macarronada, mais duas garrafas do vinho que ele
recomendasse. Dei meu endereço e pronto. Era só esperar.
O restaurante de Marco não fazia entregas, mas eu era um cliente VIP, e sendo
assim, meus desejos eram geralmente atendidos.
Fui para meu closet, peguei quatro calças folgadas e camisas, não quero
Victória vendo marmanjo seminu.
Quando estava saindo, passei pela cama e depositei um beijo na bochecha da
minha garota, ela sorriu em seu sono. Estava acabada, claro, eu fui muito bruto e a
peguei com gosto.
— Eu te amo… — sussurrei bem baixinho e saí do quarto, voltando para
onde estavam meus amigos.
— Tomem — falei, colocando as roupas em uma cadeira da cozinha assim
que entrei no ambiente. — Vocês podem tomar banho, todos os quartos têm suítes.
— Obrigado, Mamma. — Dimitri riu.
— Meu pau! — grunhi, voltando para o quarto. Precisava despertar Victória
para ela jantar conosco.
Com carinho, acordei-a, enquanto ela tomava banho, eu a admirava, e quando
ela me olhava, eu colocava a mão em meu membro duro e piscava um olho.
Victória ofegava, já toda vermelhinha. Eu só sorria e fazia minha melhor cara
de safado. Depois eu quase não consegui deixá-la se vestir, não era culpa minha se
eu tinha uma mão boba com tendências pervertidas. Quer dizer, era “sem querer”
que minha mão roçava seu sexo coberto pela calcinha, ou que meus dedos
apertavam seus mamilos.
Victória gemia, respirava fundo, corava violentamente, e eu adorava.
— Vamos… — me chamou, quando depois de muito tentar se vestir
conseguiu.
O jantar estava divertido, Dimitri, o rei da palhaçada, estava fazendo piada
do meu drama anterior.
— Victória… amore mio… Volte! — falou, fazendo uma careta com uma mão
no coração. — Per favore, sem você vou murchar e fazer puff — terminou a frase
fingindo um gesto de explosão com as duas mãos.
Todos riram, mas eu e minha garota tínhamos um sorrisinho misterioso. Eu e
ela sabíamos que eu menti. Foi tudo encenação.
— Meu Deus, por um momento eu pensei que Rocco iria gritar e dizer!
DESISTO DAS MULHERES, ME TRAGAM UM BOY MAGIA…
Engasguei com o vinho, porque, puta que pariu, Dimitri passou dos limites,
Victória, William e Jason Riam tanto que já limpavam as lágrimas.
— Seu grande filho da puta! — rosnei. — Eu prefiro uma gangrena no pau!
— Me tragam um boy magia, per favore — implorou, afinando a voz,
cruzando as mãos e piscando os cílios enquanto olhava para cima.
— Meu Deus, você é incrível, Dimitri. — Victória sorriu e eu tive que rir.
Meu amigo era um palhaço daqueles.
Continuamos jantando e rindo despreocupadamente, até o William pareceu se
soltar um pouco e ria. Entretanto, na melhor parte, meu telefone tocou, eu precisei
atender.
— Masari falando…
— Senhor, temos problemas nas filiais da China e dos Estados Unidos. —
Ouvi a voz nervosa de um dos meus braços direito.
— O que foi, Wonder? — perguntei calmo. No meu trabalho eu era o
predador, então não precisava de estresse. Eu saberia o que fazer, eu sempre
sabia. Era quase instantâneo, não era à toa que eu sempre contornei crises
mundiais, era quase como uma clarividência, eu sabia o que fazer e pronto.
— Na China mil funcionários entraram em greve — proferiu, apreensivo.
— E nos EUA há suspeita de assédio sexual e moral contra duas funcionarias…
— Mas que porra é essa? — quase gritei, porque com a greve eu sei lidar
facilmente, mas com o assédio, isso me deixou fora do eixo. Todos sabem que eu
não admito essas merdas.
— Senhor, precisamos que venha o mais rápido possível!
— Estou a caminho! — falei, desligando em seguida.
Voltei para a sala de jantar, e pelo meu semblante todos notaram que alguma
coisa havia acontecido.
— Dimitri, prepare as malas, nós vamos para a China e para os Estados
Unidos, viajamos amanhã cedo.
— Problemas? Já sei! — exclamou levantando. — Meus amigos, boa noite
— se despediu, saindo da mesa.
— Eu também vou nessa! — William levantou, seguido por Jason.
Eu e Victória ficamos sozinhos. Mas eu logo tratei de quebrar o silêncio.
— Venha comigo…
— Eu não posso, amor! — murmurou tristonha. — Segunda eu volto para o
ateliê da Madame. Preciso me organizar…
Droga!
— Fique comigo hoje…
— Com certeza!
Antes de irmos para o quarto, eu liguei para meu piloto e mandei que
preparasse meu avião para as seis da manha. Terminado isso, Victória me ajudou a
fazer uma mala básica. Ela sabia a forma de dobrar meus ternos e gravatas,
colocando tudo muito bem organizado. Um silêncio cúmplice nos envolvendo.
Deixei Victória cuidando das minhas roupas e fui guardar alguns papéis em
minha pasta, assim que acabei, voltei para o quarto e a encontrei sentada na
beirada da cama, de cabeça baixa, ombros encurvados… triste.
Deixei-a ali alguns segundos enquanto corri para a sala, fui até o lugar onde
deixei o anel dela e depois voltei para o closet, abri o cofre para pegar as duas
alianças que eu comprei junto com o anel.
Caminhei até minha garota e me ajoelhei na frente dela.
— Amore mio….
Victória me encarou.
— Rocco, é possível sentir saudade de uma pessoa que ainda nem partiu? —
Sua voz soou trêmula e baixa.
— Sim, amor, é! — respondi, pegando sua mão para poder colocar o anel de
volta em seu dedo. — Ele nunca deveria ter saído daqui — murmurei, beijando
sua mão. — Amor, eu desejo uma festa de noivado com nossa família, mas não
quero mais esperar.
— Não importam festas, Rocco…
— Eu sei, e por isso eu quero que você use isso, eu irei usar também — falei,
abrindo a caixinha que continha as duas alianças.
Minha garota sorriu, pegando a maior aliança, para logo deslizar em meu
dedo, depois ela beijou minha mão. Eu fiz o mesmo com ela.
— Agora eu uso uma aliança para mostrar a todas que tenho dona, de
qualquer forma, não importa, meu coração só te reconhece, e meu pau só sobe para
você! — falei, piscando um olho.
— Rocco! — Victória exclamou, dando um tapa em meu ombro, mas tão
rápido ela pulou em meus braços e bolamos no chão, onde começamos a fazer
amor e não paramos mais até quase o dia amanhecer.
Ah, sim, sem proteção! Todas as vezes que eu gozava, enviava uma prece…
Não ligo de estar basicamente dando o golpe da barriga versão masculina,
neste caso, o golpe do pau…
Eu tinha quase certeza que depois de tantas vezes sem cuidado, minha garota
já estava grávida.
Nosso bambino estava a caminho!
Grazie, Dio santo!
***
— Se cuida, pequena. Per amore di Dio! — exclamei, apertando-a em meus
braços.
— Amor… preciso… respirar…
Afrouxei meu aperto e comecei a beijá-la, eu estava meio desesperado,
porque passaria no mínimo uma semana fora, se tudo desse certo. Senão, seriam
duas semanas. Cada vez que eu pensava na saudade que sentiria, eu tinha vontade
bater em algo.
Mas estou no programa da minha garota para o controle do temperamento.
— Rocco, precisamos ir! Caso contrário, só chegaremos à China no final do
ano — Dimitri falou e eu xinguei.
— Cuidado, pequena, não assine nada que aquela filha da puta mandar,
espere por mim, certo?
— Certo.
— Ótimo! — Sorri e voltei a beijá-la. Despedida era foda. Ruim para
caralho.
— Tenho que ir…
— Eu sei… — Estávamos com as mãos em nossos rostos, nos beijando ou
distribuindo beijos pelo rosto do outro.
— Tome cuidado você também, certo?! Por favor.
— Eu terei.
— Volta para mim!
— Sempre.
Mais uma rodada de beijos e eu parti. Nem olhei para trás, porque corria o
sério risco de jogá-la no ombro e levá-la comigo. Eu só não fiz isso porque
Dimitri disse que Victória precisava se organizar para voltar ao trabalho, do jeito
que as coisas iam, Blanchet estava louca.
As vendas da megera caíram, e por isso ela abriu mais capital, agora eu tenho
40% das ações do ateliê, só faltam mais onze e eu ferro com aquela desgraçada. Já
decidi, vou levá-la à falência, ponto final.
Entrei em meu avião e sentei na primeira poltrona que vi.
Olhei pela janela e anda tive uma visão do carro onde minha garota estava se
afastando. É por poucos dias, amore mio… eu juro! Fechei os olhos, afivelando
meu cinto, minutos depois estávamos nos preparando para decolar.
— Até breve, meu amor. — Sentindo meu coração apertado.
Capítulo 17
Victória
Faz sete dias que Rocco viajou. Nunca pensei que sentiria tanta saudade,
mesmo que a gente converse muito por celular ou mensagem, está difícil. A
distância está castigando.
Nem Royce me animou, e olha que ele tentou, até me levou para ver sua
antiga banda de garagem tocar. Foi legal, mas eu queria estar em outro lugar, com
outra pessoa.
E por falar em Royce, eu nem contei para o Rocco, tenho a plena certeza que
ele vai surtar e queria falar pessoalmente, por telefone nem sei o que ele faria.
Bem capaz de largar tudo e voltar.
— Não, não posso fazer isso!
Graças a Deus a crise na China foi resolvida, eu sabia que Rocco
conseguiria, ele é demais, simplesmente incrível, tipo, ele é o super-homem dos
negócios. Invencível… Eu me sinto orgulhosa dele, Rocco é muito centrado e
dedicado no que faz. Agora ele está nos Estados Unidos, eu acho que logo, logo,
ele chega.
— Chegamos! — Jason anunciou e eu me encolhi dentro do grande SUV
preto.
— Parece que faz uma década que não venho aqui! — Jason virou
completamente para me olhar
— Victória, agora as coisas são diferentes, eu vou te trazer e te buscar, você
só vai trabalhar as horas corretas, e qualquer coisa que a louca daí tentar, ela tem
um muro para enfrentar, e isso me inclui.
— Jason, você é um amigo incrível.
— Não, você que é. — Sorriu carinhosamente — Eu não tenho ninguém nesse
mundo, Victória, nada para chamar de meu, e por sua causa eu tenho amigos, que
posso considerar quase uma família, até apelido eu tenho agora.
— Você tem um coração de ouro, Jason, e Deus tem um propósito na sua vida,
não se preocupe, apenas confie.
— Estou começando a creditar, querida, pode apostar! — Balançou a cabeça,
sorridente. — Agora vai lá e mostra para aquela boneca de vodu que você é a
chefona, e não ela.
Dei uma risada e saí do carro. Mas antes de bater a porta, me virei para
Jason.
— Eu largo às quinze horas…
— Estarei esperando aqui na frente.
— Obrigada, Jason! Ah, o Royce disse que você arrebentou na guitarra!
— Nada, eu só toquei uma ou duas notas. — Sorriu dando de ombros.
— Sei, você foi comparado ao Slash, e se não estou enganada, é para o
ensaio da banda que você vai, não é?
— Sim! — respondeu encabulado. — Mas o Murdoch e o Gus irão ficar de
plantão no ateliê hoje, eu vou ficar a partir de amanhã. Daí Blanchet pode morrer
engasgada, mas vou ficar na sua sala com você, ou na porta.
— Jason, que besteira! — exclamei.
— Não é mesmo, vou falar com Rocco sobre isso hoje.
— Tudo bem! — Dei de ombros e saí. — Tchau, Jason, e arrebenta lá no
ensaio.
— Pode deixar.
Esse era o nosso segredo, Jason estava tocando algumas músicas na banda
dos amigos do Royce. Era apenas uma forma de ele relaxar, pois em tensão ele
parece ser especialista.
Tenho que ver o dia do aniversário do Jason, eu já sei o que eu e Rocco
vamos dar de presente para ele.
Uma guitarra.
Entrei no ateliê às seis e cinquenta. Às, sete bati meu ponto e fui para minha
sala. Durante todo o tempo eu ignorei as piadinhas dirigidas a mim. Até porque,
algumas eram pura besteira.
Como alguém pode achar que eu sou a queridinha da Madame?
Humpf! Se soubessem a verdade…
Por fim, cheguei à minha sala e encontrei tudo em seu devido lugar. Logo
peguei uma folha em branco e comecei a desenhar, estava tranquila produzindo um
vestido estilo sereia, quando meu celular apita avisando que chegou mensagem,
imediatamente abri para olhar. Já estava sorrindo.
De: Rocco
Para: Meu amor…
Assunto: Você olhou revistas ou internet hoje?
Data: 12/11/2014 as 09h30min
Pequena, meu amor, meu coração… Você já viu alguma revista ou internet
hoje? Se sim, por favor… PORRA, nem sei o que dizer, apenas quero que…
amor… eu…
Victória, eu estou voltando para casa, por favor, me espera, eu chego em
poucas horas. Só me espera. E não olhe nada, amor, eu imploro, não olhe
nada… me deixa chegar… confia em mim.
De: Victória
Para: Meu amor…
Assunto: Estou assustada…
Data: 12/11/2014 as 09:55 hs
Amor, você assustado. Não fique, eu vou te esperar e não vou olhar nada
até você chegar, pode confiar. Não vou olhar, juro…
Apertei enviar e voltei ao meu trabalho, porém, não vou mentir, eu estava
apreensiva, e muito. Alguns minutos depois, chegou outra mensagem.
De: Rocco
Para: Minha Sposa
Assunto: Você é perfeita…
Data: 12/11/2015 as 10:00 hs
Meu amor, obrigado. Eu… apenas obrigado, estou a caminho do aeroporto,
mas estou preso em um maldito engarrafamento. NY é um inferno… me espera,
estou chegando,. e…
Eu te amo.
Meus olhos quase saltaram quando li as três palavrinhas, eram tão lindas.
Com certeza eu estava com um enorme sorriso no rosto.
— Ele disse eu te amo… — Ri baixinho, apertando meu celular contra o
peito, não foi ao vivo e nem ouvi, mas eu podia fechar os olhos e escutá-lo dizer.
Agora, com fé em Deus, ele diria para eu ouvir, juro que eu queria, queria
muito…
Voltei a desenhar me sentindo feliz, apesar do pequeno friozinho que se
instalou em meu peito. Todavia, esperaria para ver. Farei como Rocco pediu.
Estava tão distraída que tomei o maior susto quando a porta da minha sala foi
escancarada com violência.
— Ave Maria! — Levei a mão ao peito, quando vi Madame Blanchet na
minha frente. Ela estava com um sorriso triunfante e cruel. Segurava algumas
revistas não mão como se fosse uma arma. — Madame…
— Eu sabia que você iria se ferrar! Não sei por que demorou tanto, eu
realmente me surpreendi— sua voz era tão cruel que eu quase me encolhi, quase.
— O que você quer? — ergui o queixo.
— O que eu quero? — perguntou debochada. — Eu quero ver sua desgraça,
olhe! — falou, esticando as revistas. — Vamos, leia as matérias de capa…
— Não quero, e se me der licença, estou ocupada! — recusei com voz
tranquila e sentei na cadeira, voltando a desenhar, — Por favor, não bata a porta
com força quando sair.
Eu aparentava serenidade, os anos vivendo com Blanchet me ensinaram a
camuflar meus sentimentos, e eu poderia me julgar com o controle quase pleno das
minhas reações e emoções. Qualquer vacilo com essa mulher poderia ser fatal.
— Ah, não quer ver? Então deixa que eu leio para você! — Pude ouvir a
maldade em sua voz. — Deixe-me ver a melhor… Ah, essa aqui…
Ouvi o barulho das folhas e logo a voz alta da Madame preencheu o
ambiente.
— Bilionário Rocco Masari foi flagrado aos beijos com Briana Costant, em
um coquetel de boas-vindas ao magnata que acabara de chegar da China…
Fechei os olhos e tentei não ouvir…
— Após uma noite juntos, casal é flagrado abraçado na varanda da suíte
presidencial do La Riviera New York…
Falta de ar era o que eu sentia, meus ouvidos zumbiam, meu coração estava
acelerado…
— A última e a mais incrível… — Gargalhou alegremente.
— Pare! — sussurrei — Não preciso ouvir mais nada… — implorei, mas a
madame era perversa e não se importava.
— Briana Constant declara: “Eu sabia que voltaríamos, essa garota de
Londres não passou de um passatempo, ela é uma sem classe! Estava mais que
óbvio que tudo não passou de uma diversão.” Muito feliz e ostentando um
solitário de diamante, a herdeira Costant já faz planos para um futuro
matrimonio. Afirmou também que depois de fazerem as pazes ontem, muito em
breve teremos notícias de um bambino Masari.
— Agora olhe, sua idiota… — gritou, jogando as revistas na minha cara.
Mesmo sem querer, eu olhei.
A foto da primeira capa era Rocco beijando uma loira linda, vestida
elegantemente, assim como ele.
Na outra Rocco estava em uma varanda, só com uma bermuda, sendo
abraçado pela loira, não dava para ver o rosto dele direito. Mas ele não parecia
surpreso, nem estava afastando-a.
A última era uma foto da tal Briana, sentada de forma superelegante e
ostentando um enorme sorriso, no dedo ela tinha um diamante enorme.
— Pode ir para casa, eu sei que agora você está imprestável. Entretanto,
volte amanhã, às seis, nosso horário volta a ser o que era antes. Você vai
compensar o dia de hoje…
Soltei um soluço seco. Eu ainda não chorava… Ainda não… nem prestei
atenção quando a bruxa saiu, eu só pensava no que li e vi.
Ele me pediu para confiar… Então eu vou… eu vou…
Peguei meu celular e liguei para Rocco, no primeiro toque ele atendeu.
— Amor…
Fiquei em silêncio, tentando organizar minhas ideias. Minha mente e meu
coração prestes a despedaçarem. Era apenas uma fina linha que os mantinha.
— Pequena… Por favor… — Ouvi a angústia em sua voz. — Me ouça…
— É… verdade? — sussurrei.
— Pequena, por favor, me deixa explicar…
— Só me fala que é mentira e eu acredito em você! Por favor, amor, diz que é
mentira… Por favor. — Agora eu não aguentava mais segurar as lágrimas, elas
começaram a escorrer abundantemente. — Diz que é mentira amor, vai, diz…
— Pequena, me ouça…
— Estou ouvindo, eu estou… — murmurei fervorosa. Eu queria me agarrar a
algo.
— Eu vou resolver… Só não me deixa de novo… — implorou, e eu pude
ouvir que ele também chorava. E foi aí que eu percebi que era tudo verdade…
aquela fina linha que me sustentava não foi boa o suficiente, ela rompeu.
— Então é verdade…
— Eu sinto muito, minha pequena, não sei como isso aconteceu. Eu…
Eu já nem ouvia, o celular escorregou das minhas mãos. Meu corpo se partiu
em dois, meu coração despedaçou.
Levantei com tudo da cadeira, só parando para pegar minha bolsa.
Saí da minha sala, trombando nas coisas, cega pelas lágrimas, atormentada
pela dor… enlouquecida pelo gosto amargo da traição. Não liguei de bater o ponto
de saída, passei por tudo rapidamente, sem me importar com meus soluços nem
com minha cegueira. Irrompi na rua e senti duas coisas quase ao mesmo tempo: o
sol tentando derreter o gelo em minha pele e o choque que causou minha batida no
corpo duro de alguém.
.
Podia sentir que caía. Mas antes de me espatifar no chão, braços fortes me
apoiaram.
1
— Belle fleur, regarder où vous allez! Vous êtes-vous blessé? — o homem
que me segurou falava todo suave, só que eu não entendi nadinha. Também não
importava, eu apenas queria ir embora.
— Desculpa, moço. — Solucei, meu corpo tremia muito. — E-eu não… te vi
— gaguejei, tentando me soltar. Eu nem estava vendo o rosto dele direito. Minhas
lágrimas eram grossas.
2
— Mademoiselle, Je vous demande pardon! — falou suavemente, inclinando
meu rosto para cima… muito para cima, e foi aí notei como ele era alto, mais ou
menos da altura de Rocco…
Pensar nele fez ainda mais lágrimas escorrerem de meus olhos. E nesse
momento os dois seguranças que estava tomando conta de mim chegaram.
Entretanto eu disse que estava tudo certo.
Eles permaneceram ali. Muito perto… preparados…
3
— Ma petit. — Senti os dedos dele limpando minhas lágrimas, eu não
queria, mas ele estava tão carinhoso e eu me sentia tão… tão sem chão, quase uma
mendiga de carinho. Pisquei para tentar parar as lágrimas, e vi um homem
lindíssimo diante de mim, apesar de que ele tinha uns olhos frios, mas que estavam
aquecendo enquanto me encarava de maneira fixa. — Est tellement belle, si
4
magnifique… — murmurava enquanto passava os polegares em meu rosto.
“Deus, o que há comigo que não estou conseguindo sair de perto dele…?”,
me perguntei confusa, minha mente um turbilhão frenético, meu corpo se sentia
quase dormente, eu nem sentia meu coração batendo. Era quase como se ele
estivesse morto.
Eu não deveria estar conversando com esse estranho, mas ele me estendeu a
mão, e eu estava me sentindo em meio a uma tempestade, talvez ele fosse meu anjo
salvador…
— Perdoe-me, mas não entendo o que diz! — murmurei, envergonhada,
conseguindo força para sair de perto do desconhecido. Agora estávamos a uma
distância aceitável.
— Oh, pardon. — Sorriu, um sorriso lindo. — Perdão, eu fui indelicado. —
O sotaque Frances era carregado, mas a voz dele era profunda, baixa e rouca.
Esfreguei os olhos e o encarei. Por Deus, como ele era lindo, e tinha
inacreditáveis olhos azuis, lembrei-me de outro par de olhos azuis lindos e
maravilhosos.
Mais lágrimas se juntaram em meus olhos, e o homem diante de mim ficou
borrado.
— Ei, não chore, seja o que for, vai passar! — murmurou, capturando uma
5
lágrima e levando-a em seguida aos lábios. — Délicieux…
Isso estava estranho, pelo menos o esbarrão que dei nesse desconhecido
elegante me deu um choque de realidade, ele foi quase como uma freada em meu
desespero. Eu sabia que iria surtar assim que saísse de perto dele.
Mas eu precisava ficar sozinha e colocar para fora toda minha angústia.
Eu estava começando a me sentir sufocada.
— Mais uma vez, desculpe, senhor, mas eu preciso ir! — falei, dando um
passo em direção aos seguranças que estavam a apenas uns dois metros de
distância.
— Sim, mas, se me permite, responda, você trabalha aqui? E foi sua chefe
que te fez ficar assim? — perguntou de forma tão suave e carinhosa que eu nem
pensei quando respondi:
— Sim, senhor, eu trabalho aqui há anos. E minha chefe tem uma parcela de
culpa em meu estado.
Vi a expressão do homem se fechar sutilmente, ele balançou a cabeça,
aceitando minhas palavras.
— Não se preocupe, gentil dama, eu irei vingá-la. — Sorriu, piscando um
olho. — Só diga o nome da senhorita, para que possa honrá-lo.
— Victória Fontaine — falei estendo a mão.
Sorriu, pegando minha mão e beijando-a suavemente.
— Irei vingá-la, minha dama, é uma promessa! — sussurrou, olhando em
meus olhos, sua boca ainda próxima à minha mão. — Juro que suas lágrimas não
serão em vão… Agora vá e deixe seu cavalheiro trabalhar.
Soltei minha mão dando alguns passos, mas antes de ir muito longe, olhei
para aquele desconhecido que permanecia parado, me encarando com uma
expressão neutra, completamente indecifrável.
— Você não me disse seu nome… — proferi suavemente.
Ele deu um sorriso e fez uma reverência engraçada.
— Jean Pierre Dubois.
***
Madame Blanchet
— Eu sabia que esse romance não iria durar! — exclamei enchendo uma taça
do meu melhor vinho Bourbon. — Victória é muito idiota, mosca morta, sem sal…
Ela é muito pouco para um homem como Rocco Masari.
Bebi um generoso gole, feliz da vida, comemorando minha alegria, finalmente
tudo voltaria a ser como antes.
Até que enfim essa vadiazinha voltou a estar sob meu controle. Com Rocco
fora da jogada, eu tenho o poder… só eu controlo aquela idiota talentosa.
E desta vez vou cuidar para que ela não escape. Eu tenho meu trunfo, e será
com ele que vou ter a idiota da Victória em minhas mãos. Agora só preciso ter
paciência para colocar meu plano em ordem.
Jean Pierre consegue manter milhares de pessoas escondidas trabalhando, eu
devo conseguir esconder apenas uma.
Tenho apenas que fazer tudo muito bem-feito.
— Você consegue, Blanchet, apenas dê um sumiço em Victória e pronto —
murmurei, virando minha cadeira para ficar de costas para a entrada da minha
sala. — Só não se esqueça de montar o álibi perfeito…
Sim, para isso, terei que estar fora do país, nada melhor do que um álibi
desses, mas antes tenho que encontrar a pessoa perfeita para o serviço. Todavia,
sei que vai dar tudo certo, porque não tem pessoa mais manipuladora do que eu.
Sou, sim, a rainha da armação, chantagem e falcatrua.
— Sou ou não sou a melhor? — falei alto, sorvendo mais um longo gole da
minha bebida chique.
— Não, você está longe de ser a melhor!
Engasguei com a bebida do susto que tive. Na verdade, eu comecei a tremer
tanto que derrubei minha taça, logo meu estômago embrulhou e eu pude sentir
calafrios tomando minha pele.
Lentamente, girei minha cadeira e senti como se acabasse de ser sugada para
uma das cenas do filme A Hora do Pesadelo.
— Jean Pierre — murmurei, sentindo vontade de chorar.
Ele estava ali, diante de mim, e isso não era boa coisa.
6
— Le seul — respondeu sorrindo.
— O-o que você faz aqui? — Na hora que falei me arrependi. A expressão de
JP era aterradora.
— Na verdade eu estava apenas de passagem. Resolvi fazer uma visita
cordial, afinal eu sou um cavalheiro. — respondeu com voz enganosamente baixa,
quase sussurrada. Mas a questão é : eu sei que JP está longe de ser um cavalheiro,
então por que ele está aqui?
Por Deus, não quero nem saber!!
— Ah, é isso… — Respirei um pouco, entretanto, meus pulmões pareciam
não funcionar direito.
— Sabe, estou há exatamente cinco minutos tentando compreender por que
você mentiu para mim.
Eu pude sentir como a bílis fez seu caminho pela minha garganta. Estava
difícil não gritar de pavor. JP tinha um rosto pecaminosamente lindo, ninguém diria
que ele tem quarenta e sete anos, e por isso mesmo ninguém imaginaria as coisas
que ele é capaz de fazer.
Eu já o conhecia um pouco, e isso é suficiente para me aterrorizar. Por Deus,
não quero esse homem prestando atenção em mim.
— Eu não menti em nada. — sussurrei, apertando a quina da mesa para me
manter erguida.
Eu soube o exato momento em que cometi o maior erro da minha vida.
— O nome Victória Fontaine te diz alguma coisa?
— Eu… Jean Pierre, não é nada do que…
— Blanchet você realmente não me conhece!— De repente JP sorriu enquanto
tirava do bolso do paletó um par de luvas e um estojo, que ele abriu
cuidadosamente em minha mesa.
Instantes depois, eu entendi o que era aquilo. Sem pensar, tentei correr para a
saída da minha sala, mas ele me pegou pelos cabelos, me batendo contra a parede.
Meu rosto foi imprensado com força e logo a voz de Jean Pierre era algo
assustadoramente terrível. Ele estava muito puto e furioso. Já eu, estava muito,
muito fodida.
Não suportei mais o medo, acabei por fazer xixi.
JP notou e riu no meu ouvido.
— Vou te ensinar a nunca mais mentir para mim, a nunca mais tentar me
enganar e, principalmente, a nunca mais fazer minha flor chorar. — sussurrou em
minha orelha, e eu nem tive tempo de responder, pois ele puxou minha cabeça e
bateu de novo contra a parede.
Dor explodiu em meu crânio e meu fôlego travou na garganta.
Gemi de dor. JP riu feliz.
— Que música linda! Adoro a melodia do sofrimento, e vou adorar ouvir
você cantar para mim, querida.
— Não, Jean Pierre, por favor, eu imploro, — Chorei apavorada, mas ele
apenas riu do meu desespero.
—Ohh, implore querida, implore muito, porque eu não vou parar! Vou cobrar
cada lágrima que eu sequei no rosto da minha bela Flor. Eu prometi vingar minha
Victória e farei. Vou te ensinar a nunca mais mexer com o que me pertence—
Victória é noiva… — ofeguei desesperada. — Ela vai se casar com o Magnata
Italiano Rocco Masari.
Por Deus, acredite em mim e vá embora, por favor!, implorei
silenciosamente, chorando baixinho.
Houve silêncio e depois uma gargalhada aterradora.
7
— Les accidents se produisent! ! — ronronou em meu ouvido, então eu sabia
que não havia escapatória, eu só esperava que ele pegasse “leve” comigo.
Senti sua mão entrando debaixo da minha blusa, arquejei de nojo, calafrios de
pavor… Graças a Deus ele estava de luvas, mas mesmo assim estou quase
vomitando.
Lentamente, seus dedos percorriam minhas costas, deixando-me à beira da
insanidade de tanto medo.
—Você sabia que existem vários pontos do corpo onde a dor é
inexplicavelmente insuportável? - sussurrou muito próximo a mim, e, nesse
momento, eu o senti parar os movimentos de sua mão nas minhas costas… —
Cante para mim, Blanchet. — Riu e apertou minha coluna com força.
Gritei de dor, ele riu, apertando mais forte, gritei mais um pouco.
Molhei ainda mais minhas calças. Revirei meus olhos de dor, queria me
debater, mas ele me prendia com força contra a parede.
— Parece que Victória de mim? — perguntou, aliviando a pressão.
Instantaneamente, a dor intensa sumiu, restando apenas uma dor surda no lugar.
Eu sentia o suor escorrendo por minha pele, mesmo minha sala estando
gelada pelo ar.
— Ela trabalha para mim, mas já está encerrando o contrato, ela vai casar e
eu não podia segurá-la. — Ofeguei quando ele me largou.
— Vou pegá-la para mim! — rosnou, falando inglês. Suspirei quando me
soltou, mas logo o terror voltou, pois ele estava indo até o maldito estojo cheio de
pequenas ferramentas. — Você não deveria ter escondido Victória de mim,
Blanchet, você não deveria.
Afastei-me da parede, indo para o sofá, eu estava andando com cuidado, ficar
ereta doía muito.
— Jean Pierre, eu nunca pensei que você gostaria dela, eu nunca pensei,
Victória é muito boba, ela tem um coração puro…
Ele levou um dedo até o lábio, fazendo um sinal negativo.
Calei-me na hora. Tremi mais ainda.
— Eu a vi… — Sorriu um sorriso terno?
Não acreditei em meus olhos.
— Eu toquei sua pele suave, sequei suas lágrimas, vi o quanto é delicada…
— Agora ele me olhou e estreitou os olhos. — E você não deveria tê-la escondido
de mim.
Muito tranquilamente, ele caminhou até onde eu estava, sentando-se ao meu
lado.
— Dê-me sua mão — pediu com voz neutra.
Senhor, JP não se abala. Ele permanece frio e calculista, um sádico,
divertindo-se com meu desespero.
— Minha secretária, ela…
— Não se preocupe, François está com ela.
— Co-mo?
— Meu filho está tendo um momento com sua secretária. Não se preocupe,
ele é um cavalheiro como o pai. — Piscou um dos olhos e pegou minha mão. —
Sabe, eu odeio que escondam as coisas de mim.
Gritei me sacudindo, quando ele quebrou meu dedo. Dessa vez vomitei, meu
desespero subiu a níveis jamais sentidos antes.
— Não suporto que me façam de besta! — Outro dedo. — Nunca mais faça
minha Belle Fleur chorar, ela será minha. — Outro dedo.
Eu já estava além da realidade, a dor era tremenda, desesperadora, cegante.
Eu sentia meu braço queimando. Estava sentindo falta de ar.
— Adoro o som de ossos quebrados. — Riu de puro deleite. — Ainda faltam
dois, e depois eu vou colocá-los no lugar. Dizem que a dor é quase igual… Será?
— Sorriu, mostrando todos os dentes. — Vamos ver em breve.
Não suportei mais.
Desmaiei.
Capítulo 18
Rocco
Uma semana antes
De: Rocco
Para: Mi amor…
Assunto: saudade…
Data: 09/11/2014 às 21 h (China — Shangai)
Amor, estou contando os dias para te ver, acho que amanhã estou indo para
os Estados Unidos. Espero resolver tudo por lá rápido. Não vejo a hora de ter
seu corpo só para mim, de beijar e lamber cada pedacinho seu. Quero te amar
por horas.
Sempre seu, Rocco Apaixonado Masari S2.
— Não acredito que você enviou um coração! — Dimitri bufou do meu lado.
— Porra, cara, você está perdido! Vai dizer que está limpando o pau com
lencinhos úmidos?
— Não, cara, eu limpo meu pau com suas gravatas e depois coloco de volta
para você usar — respondi e logo ri alto da cara de nojo que Dimitri fez. —
Porra, minha cabeça vai explodir.
— Fica quieto aí, seu violador de gravatas alheias, vou chamar o médico.
Poucos minutos depois o médico chegou, me examinou e me diagnosticou
com uma virose típica da China naquele período. Estava um clima estranho, quente
durante o dia e frio à noite. Pelo menos em Londres eu estava acostumado.
— Tome esse remédio uma vez por dia, de preferência à noite, ele vai te
derrubar. — O médico me entregou a receita e continuou com suas prescrições. —
Vai durar mais uns três ou quatro dias, mas os sintomas irão diminuir muito com o
remédio. Beba bastante líquido e descanse.
— Tudo bem! — respondi, guardando a receita no bolso do meu terno,
enquanto o médico ia embora.
— Sr. Masari, tudo pronto — Wonder falou e eu me ergui, senti-me tonto, mas
foi algo muito rápido. Respirei fundo e fui ter uma conversa definitiva com os
funcionários.
— Dimitri, ligue para meu piloto, peça para preparar o avião, vamos sair
daqui direto para Nova York.
— Porra, cara, sem nenhum dia de descanso.
— Nenhum.
Caminhei apressadamente até o setor de produção, a maior parte da fábrica.
Chegando lá, avistei logo a multidão, mas para que todos pudessem me ver, eu
preferi ficar no primeiro andar, de lá até o último funcionário me enxergaria.
Peguei o microfone e comecei:
— Faz mais de quatro dias que vocês estão parados. — Houve um couro de
vozes que logo silenciaram. — Bom, isso vai afetar o faturamento e, em
consequencia, o bolso de vocês, o que eu perco é muito pouco, não me afeta em
nada. — Dei de ombros para mostrar que eles eram os maiores prejudicados. —
Agora me pergunto, onde está o incentivador dessa greve? Alguém sabe? Não, e
sabem por quê? — Fiz uma pausa dramática. — Ele não se importa com nenhum
de vocês.
Mais uma vez um couro de vozes se fez ouvir e eu apenas esperei parar o
falatório.
— Bom, o negócio é o seguinte. Para os que aceitam trabalhar aqui, nada vai
mudar, mas para quem está insatisfeito, pode procurar o departamento de recursos
humanos.
Dessa vez foi o silêncio que me recebeu. Eles não esperavam por essa.
— A partir de amanhã, Shang Hu irá abrir as vagas daqueles que desistirem.
Ah, não aceitaremos de volta quem sair. Tenham uma boa noite.
Larguei o microfone e saí. Fomos para o hotel e poucas horas depois já
estávamos dentro do avião, rumo a Nova York.
Não vou nem comentar o quão péssimo eu me sentia. Tomei o remédio e
fiquei com o estômago embrulhado. Para se ter uma ideia da minha total
desorientação, eu nem chequei meu celular para ver se Victória respondeu.
Felizmente, ela havia me enviado várias mensagens, e eu fui lendo e rindo.
Minha garota era adorável…
Em determinado ponto do voo, eu apaguei, mas foi um sono intranquilo e
doloroso. Minha garganta estava doendo para cacete e o frio se instalou em meus
ossos.
Nunca uma viagem demorou tanto. De fato houve um tempo de espera maior
em Portugal, porque estava chovendo demais.
Chegamos a Nova York e a única coisa que eu queria era ir para o meu
apartamento dormir, para começar a resolver as coisas no dia seguinte, mas,
infelizmente, meu assistente pessoal daqui me avisou que havia sido feito um
coquetel de boas-vindas para mim.
Eu e Dimitri nos trocamos no avião mesmo e fomos direto para o tal coquetel.
Por precaução, eu coloquei meu remédio no bolso do meu terno. Chegamos
ao Gold Garden às 19 h.
Todos me cercando, me bajulando, me irritando… uma verdadeira merda.
Não sei para que essa porcaria de boas vindas. As primeiras duas horas foram
horrendas. Eu só me sentia mais e mais desconfortável e com vontade de deitar.
Meu corpo não estava colaborando, e eu não podia tomar o remédio, porque eu
simplesmente apagava.
Essa porra parecia sonífero…
Já estava farto de tanta gente em cima de mim, que resolvi ir até o jardim
respirar um pouco de ar puro. Minha paz só durou dois minutos.
— Rocco, querido, há quanto tempo! — Olhei para o lado e vi Briana, a
vadia esnobe que me acordou fazendo boquete há uns meses atrás. Nem me dei o
trabalho de responder. Apenas a ignorei. — Não vai falar comigo?
— Vai ver se eu estou lá na esquina! — grunhi e tossi um pouco.
— Você é muito bruto comigo, e eu não te fiz nada!
— Você ficou me cercando depois que eu te fodi! Mas eu te avisei para me
deixar em paz. Some da minha frente.
— Por que você me odeia?
Fechei os olhos, pedindo a Deus paciência, porque se ele me der força eu
mato. Entretanto, nem tive tempo de reagir, ainda estava de olhos fechados em
busca de paciência quando senti os lábios dela nos meus.
Durou uns dois segundos, mas foi suficiente para eu arrepiar de nojo.
Segurei-a pelos ombros, puxando-a para longe de mim.
— Sua puta… — rosnei furioso — tente outra merda dessa e vai se
arrepender!
Saí de lá, deixando-a sozinha. Voltei para o salão, à procura de Dimitri, andei
por todos os lugares, até que o encontrei escondido, dando uns pegas numa loira.
Pigarreei para chamar atenção, e ele virou para mim, sem tirar as mãos de
dentro do vestido da moça.
Puto safado.
— Vou embora, estou explodindo de dor de cabeça.
— Vai e não me espere, tenho planos para o resto da noite e provavelmente
do dia de amanhã…
Saí de lá rindo.
Dimitri estava sendo apenas Dimitri, espero que essa moça tenha relaxante
muscular. Caminhei para a saída e nem precisei esperar, pois meu motorista estava
de prontidão.
— Para onde, senhor?
Fiquei na dúvida por alguns instantes, mas logo decidi que o meu hotel aqui
era mais perto que meu apartamento.
— Vamos para o La Riviera New York…
O caminho era curto, cerca de quinze minutos, quase não acreditei quando
finalmente cheguei em minha suíte. Essa era umas minhas suítes equipadas, aqui eu
tinha até roupa.
Tomei um banho rápido e, pelo tamanho do frio que sentia, vesti uma bermuda
e uma blusa de manga comprida. Peguei meu celular, enviei uma mensagem curta
de boa noite à minha garota, tomei o remédio e adeus. Apaguei.
Tenho uma sensação que me faz indagar se estou sonhando ou acordado. Meu
corpo pesa, efeito do remédio, eu sei. Mas a sensação de estar sedo mexido não é
agradável. Sinto um frio da porra e posso jurar que estou sem camisa.
Mas eu me lembro de ter vestido uma… ou não? Não consigo conectar meu
cérebro. Abro os olhos levemente e vejo alguém em cima de mim. Está escuro,
então apenas consigo ver a silhueta pequena e feminina. Ela se move, eu agarro
sua cintura, tentando parar seus movimentos.
— Victória? — pergunto, sonolento. Lutar contra o efeito do medicamento
está difícil. — Victória? — torno a perguntar, mas já estou fechando os olhos.
Acabo dormindo de novo.
Acordo me sentindo melhor, hoje a dor de cabeça está leve, meu estômago
não está embrulhado como ontem.
Estico-me na cama e noto que estou nu.
— Mas que porra é essa? — Saltei da cama e vi minhas roupas no chão.
Será que eu tirei minha roupa enquanto dormia? Puta merda, eu, hein!.
Visto minha bermuda, e vou direto para a varanda da minha suíte respirar um
pouco de ar e receber um pouco de calor do sol.
Fico de frente para a rua e fecho os olhos, cabeça erguida. Pouco tempo
depois sinto braços me rodeando. Olho para baixo, vendo uma cabeleira loira.
Primeiro eu fiquei congelado, sem acreditar, depois o choque me invade
quando noto quem está me abraçando.
— MAS QUE CARALHO É ESSE? — gritei, puxando Briana, a puta
sorrateira de perto de mim.
— Ainnn, Rocco, nossa noite foi maravilhosa, ainda melhor do aquela que
tivemos há alguns meses. Adorei fazer amor sem camisinha, você é tão perfeito…
— Noite porra nenhuma!! — vociferei louco. — Eu não lembro de noite
alguma, sua puta. Eu te avisei… eu te avisei para não chegar perto de mim!
Puxo-a pelo braço e a levo, só de roupão, até a porta, empurrando-a em
seguida.
— ROCCO, EU ESTOU NUA! — gritou, batendo na porta. — Eu…
— Vá se foder, sua puta! Te vira…. — rosnei, completamente revoltado.
— NÓS NÃO USAMOS PROTEÇÃO NENHUMA! — gritou, me fazendo
endurecer.
Puta merda… Puta merda… Estou fodido… Porra, eu estou fodido!
Agora, sim, eu sabia o que era o pânico real.
“Vou matar essa vadia!”, pensei, louco de raiva, medo e o caralho mais.
Capítulo 19
Victória
***
Rocco
— Ela não atende, cara — Dimitri falou depois da terceira tentativa de ligar
para Victória do celular dele.
Fechei meus olhos, nervoso.
Puta que pariu… Que merda! Como é que pode? As coisas estavam bem,
agora essa filha da puta retorna do inferno para estragar minha vida. Mas se ela
pensa que essa porra vai ficar assim, está muito enganada.
— Olha, para de rosnar aí, isso não vai resolver — Dimitri chamou minha
atenção. — Você já sabe que Briana subornou uma camareira para entrar em sua
suíte. E, logicamente, para ter aquelas fotos, ela deveria estar preparada, de
alguma forma.
— Sim, e daí? No que isso me ajuda? Ela pagou para entrar em minha suíte
da outra vez, só que eu me lembro de tudo, e agora não… — vociferei estressado.
— Não sei que raio de remédio filho da puta foi esse para me deixar nesse estado.
Equilíbrio entre yin e yang uma ova.
— Você não está raciocinando, seu besta! — Dimitri quase gritou, também
estava nervoso. — Você disse que ela te beijou na festa e você rejeitou, depois, no
quarto, você só lembra de uma silhueta feminina em cima de você.
— Eu pensei que estivesse sonhando com Victória, mas que droga! — rosnei,
passando as mãos no cabelo. — Eu acordei pelado, estranhei, porque quando fui
dormir eu coloquei roupas, por causa do frio que eu sentia. Consegue imaginar
meu pânico quando aquela louca veio me abraçando só de roupão?
— Caralho, é foda! — O Dinka esfregou o rosto.
— O pior não é isso, o pior foi ela dizer que transamos sem camisinha!
— Eu vi a entrevista que ela deu! — Dimitri bufou chateado. — Ela quer um
bambino seu…
— Puta que pariu! Eu nunca transei sem camisinha. Eu só me desprotegi com
Victória, eu rezo por um bambino nosso… — Suspirei. — Você acha que eu seria
louco de traí-la e, ainda por cima, sem proteção? — perguntei enfiando as mãos no
cabelo e jogando a cabeça para trás. — Eu não acredito que isso está acontecendo
comigo.
Certo, eu estou desesperado.
— Vamos nos ater ao fato de que você não lembra exatamente o que
aconteceu, vou trabalhar com a hipótese de não ter acontecido nada.
— Cara, eu juro que estou rezando para, de alguma forma, meu pau não ter
subido…
— Eu só não vou rir da sua cara porque a situação é tensa, mas vou anotar,
para quando essa fase passar eu relembrar dessa sua frase, aí vou rir até 2050.
— Dimitri, eu juro por Deus que um dia ainda vou te ver caindo de amores
por uma mulher!
— Meu pau e meu coração são livres como um pássaro, meu amigo —
debochou fazendo careta.
— Certo, vou rir muito da sua cara de paspalho quando estiver chorando as
pitangas, no dia que a amiga da sua irmã resolver parar de te esperar e arrumar
outro.
Ponto para mim. Conseguem ver a cara do Dinka agora? Não? Então vou
detalhar.
Primeiro ele ficou vermelho com minhas palavras, depois, quando elas
assentaram em seu cérebro, a palidez tomou conta. Agora Dimitri mantinha um
olhar distante como se estivesse vendo alguma cena em sua mente, e pelos olhos
estreitados, boca comprimida, mãos em punhos, eu tenho a ousadia de dizer que
ele não está vendo algo muito agradável.
— Eu mato o desgraçado! — rosnou baixo.
— Então assuma que gosta dela e deixe de ser fresco! — revidei, encarando-
o.
Ficamos nos olhando em silêncio até que Dimitri sorriu, debochado.
— Mas ainda assim meu pau é livre e nós estamos falando dos seus
problemas, e não dos meus…
— Ponto para você! Mas, advirto, perder a nossa garota é pior que levar um
chute de bota ponta fina no saco! Essa dor passa, mas o desespero de imaginar
outro no seu lugar não passa nunca. Eu vivi esse terror por quase um dia inteiro,
por isso o vivo agora. Portanto, deixa de ser idiota e coloque seu pau e coração na
gaiola, vai por mim, não tem coisa melhor. O sexo com a mulher que amamos é
foda, gozar é quase… quase… Ah, porra, é quase levar uma pancada na cabeça, o
atordoamento é simplesmente do caralho…
— Agora você vai me mandar enviar corações nas minhas mensagens
também? — grunhiu, mexendo-se nervoso. — Não vou me igualar ao seu nível de
boiolice!
— Você vai ser pior! — Quase sorri. — Se eu não estivesse tão preocupado,
estaria me divertindo muito.
— Deus me defenda da sua praga! — exclamou, fazendo sinal da cruz.
Balancei a cabeça, dando de ombros.
— Quero só ver você implo… — Nem terminei a frase, quando meu celular
tocou. Olhei o visor e meu coração acelerou, atendi imediatamente.
— Amore mio, eu…
— Me ouça! — Pude ouvir a firmeza em sua voz. Se possível, eu fiquei mais
ansioso, ouvi sua respiração e já estava mais nervoso que antes.
— Pequena, por favor, me diz alguma coisa!
Porra, eu nem estava respirando direito.
— Vou te dizer… — Ouvi sua voz alta e fechei os olhos, muitíssimo
preocupado. — Você é meu, e eu não estou abrindo mão de você!
Durante alguns segundos eu não acreditei em meus ouvidos e depois explodi
em uma gargalhada de pura felicidade e alívio.
Merda! Sinto como se cem quilos fossem retirados das minhas costas.
— Porra, Victória, eu quase morri do coração quando você não atendeu meus
telefonemas.
— Desculpa, amor, eu surtei, mas depois pensei melhor. Confio em você!
Sorri mais um pouco, agora era porque estava emocionado.
— Por favor, me explica o que aconteceu! — pediu gentilmente.
Comecei narrando o que aconteceu na festa, Victória me ouvia em silêncio.
Mas foi só eu dizer que estava doente que ela, pela primeira vez desde que nos
conhecemos, alterou a voz.
— O quê? Como assim, doente? Por que não me disse? Quem está cuidando
de você? Está tomando os remédios na hora certinha?! Ai, meu Deus, eu deveria
estar aí cuidando de você!
Relaxei completamente no banco do carro, um sorriso bobo enfeitando meu
rosto.
— Pois é, amore mio, eu estava péssimo, com febre e dor no corpo, minha
cabeça parecia um tambor, doía terrivelmente… — Fiz uma careta para a cara de
Dimitri.
— Seu mala! — Gesticulou com a boca e eu dei de ombros.
— Rocco, pelo amor de Deus, me diz que você está bem!? — Escutei sua
voz aflita e resolvi tranquilizá-la um pouco
— Eu tomo o remédio uma vez por dia, na hora de dormir, então é aí onde
está o problema. — Respirei fundo, buscando o ar. — Não me lembro de ter
dormido com Briana, ela que diz isso. Não fizemos as pazes, porra! Nunca existiu
nada…
— Certo, mas… Uhn… — Daqui eu ouvi a incerteza da sua voz. — Então
pode ou não ter tido algo entre vocês, e ela diz que em breve teremos notícias de
um… um…
— Amore mio, por favor, me entenda, eu só quero você para ser mãe dos
meus filhos! — grunhi fervoroso. — Essa maledita pagou para entrar em meu
quarto… Me ouve, só não estou dentro do meu avião indo para aí porque estou
preso em um engarrafamento horrível. Estou voltando para casa, nossa casa, e
falaremos com calma, estamos juntos ainda, não é?
Victória ficou calada e depois sua voz me confortou. Tirando meu medo de
ter perdido minha mulher.
— Rocco, eu te amo. E por isso mesmo vou te dizer uma coisa… — Esperei
sem respirar. — Faça meia-volta nesse carro e descubra a verdade! Depois
pensamos no resto, você é meu e eu sou sua, e essa Briana sei lá o que vai
enfrentar uma parada dura, se quiser tirar você de mim.
Fechei meus olhos, soltando um suspiro aliviado.
— Amore mio, gostei muito disso!
— Então certo. Vamos ficar distantes, mas saberemos que você estará
empenhado em resolver esse problema, descubra a verdade e volte para mim,
vou esperar por você o tempo que for. E, sim, estamos muito juntos, super
juntos, colados.
— Minha pequena, você me alegra, mas não vou demorar a voltar! — falei,
rindo de suas palavras. Eu estava adorando cada uma delas.
— Pense em um plano, deixe essa garota na zona de conforto, descubra a
verdade e, por Deus, passe um ferrolho na sua porta.
— Anotado, farei isso, mas… — Ajeitei-me no banco. — Talvez eu precise
fazê-la pensar que estou interessado… Talvez precise sair com ela, para ver se ela
escorrega e me dá alguma pista…
— Mantenha a sua boca e mãos longe daquela loira! E nem pense em ficar
sozinho com ela nem dentro de um carro, muito menos em um quarto…
— Claro que não, amor, relaxe, não sei se conseguirei ficar perto daquela
vadia sem torcer o pescoço dela, imagina tentar intimidade. Não mesmo. Mas
gostei de te sentir ciumenta, gostei muito…— Sorri, mordendo o lábio.
— Você nem imagina! Eu tenho muito ciúme de você, tá bom? Só não perco
a cabeça.
Tremi com a crítica, sei que mereci.
— Tudo bem, amor, vou resolver, Dimitri está comigo e vai me ajudar, vamos
armar e pegar essa cretina.
— Confio em você, e não se preocupe, não vou ligar para as próximas
revistas, que com certeza irão sair, mas não ouse beijar essa mulher de jeito
nenhum, ou não respondo por mim!
— Sim, senhora! — Sorri orgulhoso
— Muito bem, agora me deixa voltar ao trabalho, não vou dar o gostinho a
Blanchet! — resmungou. — Ela pensa que eu sou a idiota chorona e besta que
ela controlou durante anos, eu mudei e ninguém notou, ótimo. Não sou tão
idiota ao ponto de só levar pancada.
— Eu gosto de você feroz! — ronronei baixinho, e Dimitri revirou os olhos
— Eu sou pacifica, mas não tenho medo de enfrentar! E, sim, sou feroz com
você, portanto cuidado…
— Quem é você e o que fez com minha garota? — brinquei sorridente, na
verdade, desde que ela me ligou, eu só faço sorrir feito um bobo apaixonado.
— Essa sou eu, Rocco, a questão é que eu não gosto de confusão, fico na
minha, sou muito sentimental e manteiga derretida, você sabe disso, entretanto,
eu também sei lutar pelo que é meu e pelo que eu quero. Também sei me impor,
agora, só mais uma coisa…
— Tudo que você quiser…
— Se um dia você conhecer alguém que valha realmente a pena, apenas me
diga, não me engane. Isso serve para mim também. Honestidade sempre, e tudo
dará certo. Agora preciso desligar e você precisa desvendar esse mistério aí. Eu
te amo hoje e sempre.
— Eu também, eu também. E eu nunca vou mentir para você, eu prometo,
honestidade sempre. Até breve, um beijo…
Desligamos. Finalmente pude respirar aliviado, mas…
Se aparecer algum bastardo tentando ocupar o meu lugar, eu vou
simplesmente ter uma conversa amigável com ele, e, bem, pode não ser tão
amigável assim!
— Que cara de psicopata profissional é essa, hein? — Dimitri me tirou dos
meus pensamentos nada legais.
— Não é nada, agora vamos ao que interessa, Victória me ligou e, resumindo,
ela quer que eu descubra o que aconteceu de fato!
— Por isso eu gosto dela, é das minhas! — O Dinka riu. — E, cara, eu sou o
rei da armação, vamos pegar essa vadia sorrateira com a boca na botija… Vamos
cair matando, precisamos do William e aquela cara de príncipe dele.
— Mas pensei que eu deveria tentar descobrir…
— Olha só, você vai ficar quieto, apenas se mostrar atencioso e tal, nada de
ser um estúpido ignorante, já o William vai demonstrar interesse, vamos apenas
deixar uma semana de intervalo, porque se essa puta aparecer grávida…
— Não diga uma coisa dessas, pelo amor de Deus! — exclamei nervoso,
minha tranquilidade sendo abalada por causa desse detalhe tão importante.
— Ela vai enlouquecer, porque o William vai mostrar interesse, ele vai surgir
como se não se importasse que ela já ficou com você, mas um filho ele não aceita,
porque tem toda aquela coisa de herança do título de nobreza e tal… — Dimitri
riu. — Briana vai surtar quando notar que pode ser Condessa.
Olhei para Dimitri, entre feliz e agradecido.
— E você planejou isso tudo agora? — perguntei, cruzando os braços.
— Claro, tá na cara que essa vadia é interesseira, e nada melhor do que um
bilionário com título de nobreza, William é perfeito…
— Tudo bem, então vamos começar, e mãos à obra, quero só ver essa vadia
cair do cavalo e, para começar, eu quero que você faça um documento onde corto
todas as relações com a empresa da família dela, quero começar a fazer aquela
puta sorrateira ver que, quando eu der um aviso, é bom seguir.
— E sobre não agir como um estúpido ignorante?
— Foda-se, Briana tem que ver que comigo não se brinca. Vou encerrar a
parceria com o pai dela e começar a ver as coisas ficarem feias, ela vai se
desesperar e, quando eu não demonstrar interesse, apesar da cortesia, ela vai
querer o conde, aí vamos ver a verdade…
— Você quer se vingar de todo jeito, não é?
Dimitri sabia que eu era vingativo, e, bom, eu era vingativo então…
— Sim, eu quero me vingar! — grunhi, torcendo a boca em uma careta de
escárnio, — Ou melhor, eu vou me vingar…
— Então, mãos à obra!
Observei Dimitri cacar o celular e discar um número.
— William, pegue o seu avião e venha para Nova York, precisamos de você,
é importante e urgente.
— Certo… okay, até amanhã, então!
Dimitri encerrou a ligação e sorriu, esfregando as duas mãos.
— Vamos brincar!
Capítulo 20
Victória
Vai ser guerra, eu posso até sentir a cabeça do meu ogrinho fervilhando de
suposições e ciúmes.
— Em que está pensando? — tia Laura perguntou.
— Estou pensando em como vou apresentar Royce ao Rocco!
Jason riu baixinho, e Royce fez careta.
— Muito simples, coloque os dois em um ringue e diga: Rocco esse é
Royce… — tia Laura falou, fazendo o Royce empalidecer um pouco e Jason rir,
concordando.
— Preciso me preocupar em comprar luvas e protetores? — meu amigo
questionou, olhando para mim com cara de assombro.
— Eu acharia melhor você comprar a tal roupa de mulher, assim Rocco
talvez não te parta ao meio! — Jason provocou e eu ri das brincadeiras.
Se bem que, pelo jeito, Rocco não vai levar essa coisa de ter o Royce por
perto muito bem.
Os dias passaram e eu não consegui falar para o Rocco que meu amigo
voltou. Ainda tinha os problemas que ele estava resolvendo lá em NY, e a cada dia
novas revistas apareciam.
Uma, foi deles jantando, e outra, deles passeando lado a lado.
Tive ciúmes demais, entretanto, tudo era um plano e conversávamos toda
noite por horas a fio, sem falar nas mensagens que passávamos o dia trocando. O
interessante era que antes mesmo das revistas aparecerem eu já sabia o que ele
tinha feito. Na verdade, o passeio no parque fui eu que sugeri.
Lugar público, bom para ele ser visto com ela, mas com gente suficiente para
a loira não tentar nenhuma gracinha.
Nesse momento estou esperando os minutos que faltam para eu poder ir
embora.
Ah, antes que me esqueça, Madame Blanchet sumiu. Eu pensei que ela viria
tentar acabar com minha paz de espírito no dia seguinte, mas não, ela nem deu
sinal de vida. Bom, eu não tenho nada a ver com o que a Madame faz da vida.
Às quinze horas eu saí do ateliê e encontrei com Jason me esperando, como
fazia todos os dias.
— Oi… — cumprimentei, entrando no carro, e seguimos viagem. — Jason,
mudança de planos, vamos para o trabalho da minha tia, vou te mostrar meu ateliê
secreto.
— Gostei da ideia! — Sorriu mudando o percurso.
Chegamos à loja de fantasias e o Sr. John veio nos receber.
— Quanto tempo, minha querida, eu já estava com saudades — me saudou,
dando-me um abraço apertado.
— Cadê tia Laura?
Sr. John revirou os olhos e apontou para o escritório. Sorrindo e deixando um
Jason chocado com as riquezas de detalhes das fantasias.
Encontrei a porta entreaberta, dei uma batida suave e abri.
“Ai, meu Deus!”
Arregalei meus olhos quando vi tia Laura no maior beijo com um homem alto
e grisalho. Ele estava em um terno feito sob medida, eu reconhecia isso de longe,
e, sim, era chique de doer. Entretanto, isso era o de menos, o que estava me
constrangendo era o fato de eles estarem tão colados que praticamente faziam
amor de roupas. Senti meu rosto queimando, por estar vendo esse amasso…
“Saindo de fininho!”, pensei sorrindo, mas sabe aqueles momentos em que
só pelo fato de você querer fazer silêncio é que parece que você fica mais
barulhenta e desastrada?
Não vou dizer que eu me atrapalhei com a porta e uma fantasia pendurada. Só
vou dizer que eu tropecei e fiz um barulho alto e terrível de tão constrangedor.
Fiz uma careta de cabeça baixa enquanto desenrolava a fantasia dos meus
pés. Mesmo morta de vergonha, eu ergui minha cabeça.
Gente, o que aconteceu a seguir foi muito… muito estranho.
Primeiro, tia Laura ficou branca como um papel, depois o bonitão grisalho
me olhou e começou a ficar vermelho. Depois eles se olharam e em seguida
voltaram a me olhar. Tudo isso, mudos.
— Tia, desculpa, eu não queria atrapalhar… — Sorri sem graça. — Eu vou
indo… — Dei as costas, quando a voz do homem se fez ouvir.
— Não vá embora, por favor! — exclamou em português, e, pela sua voz, ele
estava emocionado.
Eu me virei e encarei o homem. Então a discussão começou.
— Como você pôde mentir para mim dessa forma, Laura? — indagou
alterado.
— Eu… Ricardo, por favor, eu…
— Você jurou para mim que ela tinha morrido, eu acreditei em você! Pensei
que fosse diferente…
— Ricardo, eu não podia, será que não entende? — Minha tia estava nervosa
e abalada.
E eu muito confusa com essa discussão estranha.
— Quando eu te expliquei o motivo da minha presença, você pareceu sincera
em me dizer que a menina tinha falecido ainda pequena. — Agora o homem fechou
os olhos por um instante e, quando os abriu, ele olhava para tia Laura com puro
desgosto — Você tem ideia do quanto meu sobrinho sofreu? Você tem ideia do
quanto ele chorou? Ele era uma vítima tanto quanto a sua cunhada, e nada,
absolutamente nada do que eu disse te fez me falar a verdade!
— Por favor… Ricardo, me ouça… — tia Laura implorou, chorando. E eu
corri para o seu lado.
— Você fez a mesma coisa que minha irmã, você não deu a Victor nenhuma
chance! E eu pensei que fosse diferente! Mas que porra, passei oito anos amando
uma mulher que mentiu para mim na maior cara de pau!
— Ei, senhor, pega leve! — falei alto — Você não vai tratar minha tia dessa
forma, não importa o que ela fez, já está feito. Agora, se você vai ficar aí com
rancor e despejando essas coisas dessa forma agressiva, está perdendo seu tempo.
— Abracei minha tia apertado. — Vem, tia, vamos…
— Isso não vai ficar assim, Laura, ela é a cara da avó, a cópia mesmo, e o
Victor vai saber disso ainda hoje! Agora eu digo, prepare-se, ele vem buscar o que
é dele.
Tia Laura choramingou, e eu fiz uma cara feia para o homem que me olhava
com um olhar terno e carinhoso.
— A cara da avó! — Sorriu, já sacando o celular. E eu nem me importei,
apesar de sentir que algo grande estava a caminho.
Agora só o que importava era minha tia, que chorava enquanto eu a guiava
para a saída.
— Laura, o que foi? O que aquele engomadinho fez? — o senhor John
perguntou, fazendo uma cara de poucos amigos.
— O senhor poderia, por favor, cuidar do homem lá? — pedi, guiando minha
tia para o sofá.
— Vá para casa, Laura, e deixe que eu cuido das coisas aqui… — senhor
John falou, e eu agradeci, já indo para o carro com Jason.
Sentamos no banco de trás e tia Laura só chorava. Meu Deus, ela estava
arrasada.
— Tudo vai ficar bem, meu amor, eu prometo — sussurrei, alisando seus
cabelos.
— Não vai… Eu menti e ele descobriu. Por Deus, eles são poderosos e vão
tirar… — Tia Laura chorou ainda mais que antes e eu não pude fazer nada, a não
ser abraçar seu corpo e tentar lhe dar o conforto que ela precisava.
Senhor meu Deus, quem é esse Ricardo? E o que ele quis dizer com aquela
frase?
— A cara da avó…
Mas que avó? E, o mais importante, quem é Victor?
As perguntas se amontoavam em minha cabeça, mas meu foco era tia Laura,
pois durante todo o trajeto até em casa, não parou de chorar, a cada instante ela
parecia mais e mais desesperada, eu nunca tinha visto uma coisa dessas.
Tia Laura era durona.
— Chegamos! — Jason anunciou, e com cuidado eu saí do carro, ajudando tia
Laura, que estava muito abatida.
Já dentro de casa, e com a ajuda de Jason, eu preparei um chá e a fiz tomar.
Com amor, sequei suas lágrimas e permiti-lhe o tempo que ela precisava. Fiquei
por ali circulando, observando, roendo as unhas e controlando a minha ansiedade.
Até que finalmente minha tia me olhou.
Pesar e arrependimento eram só o que transpareciam em seu olhar.
— Minha menina… — soluçou. — Você é minha única família… a única
pessoa que eu tenho no mundo.
Ouvir a dor na voz da minha tia dilacerava meu coração, pois desde que meus
pais morreram ela foi meu porto seguro. Meu alicerce.
— E a senhora ainda é e sempre será minha família! — falei firme, me
ajoelhando em sua frente, peguei suas mãos e levei aos meus lábios. — Não
importa o que nem o porquê, nada vai mudar, e não precisa me contar nada. Eu
confio na senhora e em seu julgamento. Portanto, tranquiliza o seu coração, meu
amor, nada vai acontecer.
— Ohhh… — Mais lágrimas e soluços partiam da minha tia.
— Shh — sussurrei, acariciando seus cabelos. — Tudo está bem…
Absolutamente tudo…
Ficamos abraçadas durante um bom tempo, até que tia Laura se acalmou e eu
a coloquei para dormir.
— Dorme bem, minha mãe — murmurei, beijando seu cabelo. — Tudo vai
ficar bem, eu prometo.
Saí do quarto e fui para a sala. Eu estava ansiosa, as palavras daquele homem
martelando em minha cabeça incessantemente.
— Quem são eles? — questionei, indo até o sofá para tentar me acalmar. —
O que eles querem?
Droga! Fechei os olhos, preocupada com a saúde de tia Laura.
Preciso prestar atenção… minha mente vagou mais uma vez para a cena de
ainda há pouco. Concentrei-me, tentando extrair informações, mas não sei se era
porque tudo que eu pensava parecia sem lógica ou porque eu estava preocupada, a
verdade é que eu não chegava a nenhuma conclusão.
O toque do meu celular me fez acordar para a realidade. Puxei o aparelho do
bolso da calça e atendi.
— Alô…
— Amore mio, o que foi? — A voz de Rocco é como um bálsamo.
Suspiro. A saudade é tanta…
— Problemas com o namorado de tia Laura…
— Espera, o quê? — perguntou alto demais. — Desde quando tia Laura tem
namorado? Quem é o sujeito? Ele fez o que para causar problemas? Me diga um
nome e eu resolvo…
— Eu sei, amor, você é o mestre em resolver problemas, não é? — Sorri sem
humor. — Não sei ao certo, tudo foi rápido demais, o cara estava no maior amasso
com tia Laura e eu cheguei, mas quando fui sair de fininho, tropecei em uma
fantasia, acabei chamando a atenção dos dois…
— Você se machucou? — grunhiu, me interrompendo. — Porra, eu deveria
estar aí, essas merdas só acontecem quando estou longe…
— Estou bem, não foi nada, minha trapalhada só serviu para chamar a
atenção deles e foi aí que o problema aconteceu. — Bufei relembrando. — O cara
me olhou e surtou, tia Laura também, ela ficou branca, parecia um fantasma, então
eles entraram em uma espécie de discussão estranha, que envolvia mais três
pessoas.
— Quem são essas três pessoas? — perguntou e, pela sua voz, ele parecia
nervoso.
— Eu, uma outra mulher que se parece comigo e um homem chamado
Victor…
— Quem é esse Victor? — por sua voz eu sabia, esse era o alerta de ciúme
ligado.
— Eu não sei, só sei que parece haver algum tipo de problema que me
envolve. Eles estavam exaltados, digo, tia Laura e o namorado. Entretanto, no
final, ele ainda disse que logo Victor iria vir buscar o que pertence a ele…
— Pertence é o caralho! — rosnou gritando. — Você é minha, foda-se, eu
mato esse desgraçado se ousar chegar perto de você.
Fechei os olhos e resolvi aproveitar a situação, já que Rocco está com raiva,
vou logo dizer que Royce está aqui, porque só assim eu não vou precisar lidar com
um Rocco muito irado por duas vezes.
— Amor, eu tenho outra coisa para te dizer! — resmunguei, mordendo o
lábio.
Ai, meu Deus, é agora. Rocco vai ficar com muita raiva…
— O que foi, amore mio? — perguntou mais brando.
Tenho certeza que não vai durar muito…
— O Royce… voltou — soltei a bomba e só ouvi o silêncio, depois o
barulho de algo quebrando.
— Quando? — perguntou, muito calmo para meu gosto.
— No dia em que nos reconciliamos.
Silêncio. Ou melhor, eu ouvia apenas a respiração forte dele.
Ai, meu Deus, ferrou.
— Amor, olha, eu não queria te atrapalhar, você foi para China resolver
problemas, e eu sei que é muito ciumento, eu não queria problemas para nós,
afinal, tínhamos acabado de voltar…
Silêncio.
— Amor, diz alguma coisa… — murmurei, apertando o celular com força.
— Tem mais alguma coisa que eu deva saber?
Pensei e logo me lembrei do Damon.
Ai, Jesus… socorre aqui.
— Pelo visto tem… Vamos, fale!
— Ontem o Damon me procurou e nós conversamos.
— O QUÊ? — rugiu e eu tive que afastar o celular do meu ouvido.
— Eu queria entender o motivo de tanta rixa e ele me contou tudo que você
deveria ter me contado.
— Eu vou matar aquele bastardo! — vociferou possesso.
Estão vendo? Daqui eu sinto o frio passando, e olha que tem um oceano
inteiro de distância entre nós. Rocco deve estar com o maxilar duro e a cara de
quem vai fazer merda.
— Não! Você vai ficar tranquilo. A conversa foi boa, e eu o fiz perceber que
a rixa de vocês parece coisa de criança que briga pelo mesmo brinquedo, e no fim
nenhum dos dois quer mais. Damon percebeu, com minha ajuda, que é apaixonado
pela secretária dele. Agora ele deve estar sendo muito feliz com e ela. Selamos um
pacto de paz e amizade. Você pode respirar fundo aí e controlar seu temperamento,
não estou a fim de me casar com um lutador de MMA, portanto, acalma-se agora!
Estava respirando acelerado depois desse discurso. Porém Rocco estava
calado.
— Se vai ficar calado, vou desligar… tenho um jantar para preparar, estou
com dor de cabeça, sentindo cólicas monstruosas e não estou a fim de curtir seu
piti de homem das cavernas.
— Estou voltando! — grunhiu mais tranquilo.
— Você já resolveu seu problema com a loira?
— Não, mas estamos com tudo esquematizado…
— Então trate de resolver, porque não a quero batendo em nossa porta nem
causando escândalo, se por acaso as coisas…
— Tudo vai dar certo, amor… Pode parar por aí… — comandou, me
fazendo sorrir e me largar no sofá.
— Eu queria muito você aqui comigo, Rocco, queria de verdade, mas não
quero viver com uma espada sobre nossas cabeças. Resolva esse problema e volte
correndo. — Permiti que um longo suspiro escapasse.
— Eu sei, minha pequena, estou cuidando de tudo… — murmurou. — Uma
coisa, você disse que está sentindo cólicas?
— Sim, estou no meu período, desceu ontem… — respondi, fechando os
olhos.
Rocco soltou o fôlego de forma tão ruidosa que eu pude ouvir claramente.
— Droga! — grunhiu — Eu pensei que… eu queria que você… PORRA…
— Tudo a seu tempo certo, vamos ter nosso bebê, mas primeiro vamos
organizar nossa vida juntos, o que acha?
— Um não, eu quero vários! Vou te manter permanentemente grávida e na
cama… — brincou, mas eu notei que sua voz soava decepcionada. — Deixa só o
primeiro vir…
— Eu estaria mentindo se dissesse que não acredito, você é louco o suficiente
para ter filhos que ficam com a mesma idade…
— Claro, amore mio, no dia que seu resguardo passar, eu vou te pegar de
jeito e te engravidar de novo… — Riu malicioso.
Graças a Deus seu humor foi controlado… e por isso decido entrar na
brincadeira.
— Será possível que eu vou ter que fazer um cinto de castidade para mim?
Homem de Deus, você só pode estar brincando!
— Eu não, estou falando muito sério…
— Vou fugir para as montanhas! — exclamei rindo baixinho.
— Querida, não adianta fugir, eu sinto seu cheiro e poderia te caçar como
um animal faminto… — ronronou com aquela voz grossa e rouca que só ele tem.
— E quando te encontrasse, iria te devorar sem dó e nem piedade…
— Você nunca teve piedade de mim. — Ofeguei baixinho.
— Não mesmo, você é muito gostosa… — Escutei seu gemido. — Ah, meu
amor, pode ir tomando um fortificante, pois quando eu chegar aí, eu vou te
pegar com força…
— Meu Deus, Rocco, esquentou muito! — Suspirei baixinho e ele riu.
— Fique com a imagem na mente… Agora preciso ir, tenho uma vadia para
desmascarar, só assim posso voltar para a MINHA mulher… — enfatizou a
palavra minha, fazendo meu estômago dar cambalhotas.
— Eu te amo — falei, esperando ouvi-lo dizer o mesmo. Mas Rocco se
limitou a dizer “eu também”…
Desligamos a chamada. Eu fui para meu quarto.
Desenhar…
Capítulo 21
Victória
Duas semanas depois
Michael Fontaine
Ainda posso sentir seus cuidados comigo, seu sorriso quando chegava
em casa, a porta que batia quando saía e a derradeira vez que disse que me
amava.
O melhor pai do mundo e marido dedicado. Saudades eternas…
*1970 + 2007
***
Olho para o contrato diante de mim e tremo. Há anos eu espero por este
dia, há anos eu lutei para chegar neste dia e há anos eu prometi à minha mãe que eu
chegaria a este dia.
Desculpem a redundância, mas se prestarem atenção, vocês irão entender o
significado por trás dessas palavras. Elas são fortes para mim, elas contam boa
parte do que vivi e sofri, do que superei e venci.
Eu venci.
— Essa é a sua vitória, minha querida. — Ouvi a voz de Dimitri ao meu
lado, olhei para ele e recebi um sorriso carinhoso. — Confie no seu amigo, eu li
linha por linha e modifiquei pequenos detalhes, você está segura, assine sem medo
de errar.
— Obrigada! — falei com voz embargada.
Sem esperar mais, peguei a caneta e fui assinar, porém, eu tremia tanto que
tive que sacudir a mão e tentar uma segunda vez.
Consegui.
E agora, sim, eu estava livre.
— Agora os desenhos! — Madame Blanchet exclamou estendendo as mãos
avidamente.
Dimitri rosnou algo incompreensível e pegou a pasta, que estava grossa
por conter setenta croquis.
Ah, também ficou a cargo do Dimitri pegar os desenhos na casa do Rocco.
Não me perguntem como, mas os desenhos estavam lá.
Peguei a pasta e olhei para Blanchet, ela mexia os dedos nervosamente em
direção à pasta. Juro que os olhos dela brilhavam, era quase como se ela já
houvesse visto essa pasta antes.
Muito estranho, isso sim, e olha que eu nem parei para analisar como ela
sabia que eu tinha esses desenhos. Bom, não importa, ainda bem que eu os tenho,
ou melhor, tinha.
— Blanchet, antes de te entregar esses croquis, eu quero te dizer que não
desejo seu mal. Espero do fundo do meu coração que você consiga ser feliz, de
alguma forma espero você se torne uma pessoa mais generosa e que ame as
pessoas mais fracas que você — falei baixo e entreguei os desenhos, entretanto
algo me dizia que aquela seria a última vez que eu veria Blanchet dessa forma, por
isso resolvi dar-lhe outro conselho. — A vida é cheia de altos e baixos, o que
fazemos aqui, aqui pagamos, mas apenas aqueles que têm Deus no coração sairão
vitoriosos.
— Eu não preciso de Deus, eu tenho inteligência! — grunhiu e eu apenas
balancei a cabeça.
— Não blasfeme, Blanchet, Jesus Cristo é o único que está do nosso lado
quando choramos lágrimas de sangue. Deus perdoa e ele não difere em seu amor e
preferência, ele aceita você do jeito que é, desde que se arrependa e busque por
Ele despida de suas vestes e com o coração aberto. Espero que você se lembre
disso, algo me diz que precisará.
Dito isso virei, as costas e saí de lá, notando que ela ficou muito pálida.
Não seria exagero meu dizer que Blanchet parecia saber de algo, enfim,
não me interessa, ela é um capitulo encerrado na minha vida. E eu não irei mais
pensar nela, de forma alguma, eu simplesmente me recuso.
Chegamos à frente do ateliê, e eu me despedi de Dimitri, ganhei dele um
abraço apertado e felicitações.
— Em breve será o julgamento do Gordon, e você estará com tudo para
começar seu ateliê — falou sorrindo. — Vou arrancar muito dinheiro daquele
bastardo, e ele irá pagar sem direito a apelação.
— Você é o melhor. — Sorri e ele mexeu nas lapelas do paletó, todo
convencido.
— Eu sei, não é à toa que sou o terror dos tribunais — falou piscando um
olho, em seguida afastou-se, indo em direção ao seu carro. — Até qualquer hora e,
se precisar de mim, pode ligar a qualquer hora.
— Obrigada!
— Disponha! — Sorriu e entrou em seu carro, logo saiu em disparada,
cantando pneu.
Balancei a cabeça e me perguntei: o que há com homens e carros velozes?
Eu, hein…
— Vamos para casa? — Jason perguntou enquanto abria a porta do SUV
enorme que ele dirigia.
— Não, vamos para a loja de fantasia do Sr. John e depois, mais tarde
iremos para o Le Cuisine, tia Laura vai almoçar com o namorado e disse que me
queria junto.
— Tudo bem — respondeu e partimos.
Enquanto Jason dirigia eu pensava que minha felicidade não estava
completa. Eu precisava compartilhar com meu… digo, com Rocco, ele foi um
furacão de mudanças em minha vida, e eu preciso dizer para ele o que acabou de
acontecer.
Pego meu telefone e disco o numero que já sei de cor. Espero e espero até
a voz irritada do Rocco atende. No primeiro momento eu não sei o que dizer, então
ele meio que grunhe perguntando quem é.
Juro que esqueci o que iria dizer, gaguejar foi inevitável.
Será que ele não reconheceu meu numero e…
Não terminei o pensamento quando a voz quase aflita dele soa me pedindo
para não desligar.
Meus olhos encheram de lágrimas e comecei a contar o que eu precisava,
depois a conversa enredou por outro caminho e eu disse que precisávamos nos
manter distante, digo, sem contato direto. Isso só iria nos machucar ainda mais. De
vez em quando eu soltava um soluço, era impossível segurar, ouvir a voz de Rocco
era maravilhoso, sabe, ele tinha um timbre de voz grossa, forte, imponente. Eu
sentia arrepios de prazer irromper em minha pele, meu coração se enchia de amor
e saudade, e era justamente por isso que tínhamos que frear nosso contato.
Juro por Deus que só foi eu dizer isso para que Rocco surtasse, ele gritou e
xingou, mas depois ele pareceu a aceitar, entretanto ele terminou nossa ligação me
deixando chocada e com o rosto quente pelo tamanho da safadeza que ele disse
que faria.
Certo, terei que tomar cuidado com minhas calcinhas.
Ri baixinho, limpando as últimas lágrimas.
Rocco é simplesmente único. Pense em um homem magnífico, pensou?
Pronto. Rocco é melhor.
Capítulo 26
Victória
Eu e Jason saímos do meu atelier, que ainda ficava em uma sala bem
escondida na loja de fantasias, e fomos direto para o restaurante que minha tia
marcou, Antes de entrar, eu e Jason ficamos em uma pequena discussão que ele
venceu. Meu amigo não queria entrar, e muito a contragosto eu aceitei. Assim que
entrei, de cara já avistei o casal, sorri de leve, minha tia e Ricardo estava, fazendo
carinhos um no outro e não estavam nem aí para as pessoas ao redor.
— Ah, o amor… — Suspirei balançando a cabeça, confesso que ainda
estava meio receosa por causa da reação que ele teve quando nos encontramos
pela primeira vez, entretanto, se é para a felicidade da tia Laura, eu estou disposta
a tudo.
Caminhei lentamente em direção ao casal vinte, fazendo um barulhinho
básico para chamar atenção. Assim que me viram ambos sorriram, mas o sorriso
do Ricardo era tipo, gigante, e ele me olhava com admiração, carinho e sei lá mais
o quê.
— Boa tarde… — cumprimentei sentando de frente para Ricardo, que só
agora notei, estava elegante até dizer chega.
— Victória, minha querida, deixe-me apresentar você ao meu namorado.
— Tia Laura sorriu — O primeiro encontro foi um tanto quanto estranho…
Nossa, olhe para minha tia agora. Sabe aquela mulher articulada, feroz, que
deixou Rocco com os cabelos em pé? Pronto, deixa eu dizer como ela esta agora.
Tia Laura está nervosa, ruborizada, agitada e o melhor, ela parece que
desenvolveu uma compulsão por colocar uma mecha inexistentes de cabelo atrás
da orelha.
Sorri para o jeito de menina apaixonada da minha tia, só esperava que esse
Ricardo fosse bom o suficiente.
— Victória, esse é Ricardo Andrade, meu namorado — murmurou
ruborizando muito na parte do namorado. — Ricardo essa é minha sobrinha e
também filha de coração, Victória.
— É um imenso prazer para mim conhecer você! — Ricardo falou sorrindo
de orelha a orelha, estendendo uma das mãos.
— O prazer é todo meu! — respondi aceitando sua oferta. Demos uma
balançada firme e nos soltamos.
— Podemos passar para Português? — perguntou quase ansioso, me
fazendo sorrir.
— Claro — respondi já em português.
A partir daí engatamos uma boa conversa sobre o Brasil, descobri que ele
morava em São Paulo e sua única família eram seus sobrinhos e sua irmã. Nesse
assunto ele não se aprofundou, mas notei que lançou um olhar rápido para tia
Laura. O importante mesmo era que a conversa estava muito agradável, ele contou
que era advogado, enquanto um sobrinho era um renomado neurocirurgião, e outro
era um importante financista internacional. Não entrou em detalhes sobre a irmã.
Também não perguntei, pois não queria ser invasiva, entretanto, quando eu disse
que era uma estilista autodidata, ele engasgou com o vinho que tomava, tia Laura,
por sua vez, quase faz o pobre cuspir o pulmão com a força da pancada que ela
deu em suas costas…
— Você está bem? — questionei depois que ele pareceu acalmar um
pouco.
— Sim, desculpe, entrou errado — respondeu tossindo um pouco.
Em um momento paramos a conversa para degustar as entradas, e estava
simplesmente delicioso, não é a toa que os melhores chefs são franceses e esse
restaurante era um típico bistrô Francês. Tudo muito elegante, e os pratos?
Verdadeiras obras de arte, dava até pena de comer.
Mentira, dava não.
— Ricardo, eu tenho uma pergunta para fazer, posso?
— Claro, minha querida, fique à vontade.
— Você falou sobre um tal de Victor, eu… er… gostaria de saber quem é.
Desta vez observei atentamente tia Laura, e ela ficou um pouco pálida, até
um suspiro derrotado ela soltou. Não entendi, mas vou entender. Ah, se vou.
— Victor é meu sobrinho, ele é o financista internacional. Bom, ele é um
homem digno, honrado, mas tem uma sombra em seu passado. Ele perdeu uma
filha, na verdade ele nem chegou a conhecê-la, e isso o fechou. Victor é um homem
muito determinado e firme em suas decisões. E por causa disso, ele está há mais
de sete anos sem falar com a própria mãe.
Arregalei meus olhos sem acreditar.
Quem fica sem falar com a mãe esse tempo todo? Deus me livre, se eu
tivesse minha mãe aqui, eu a encheria de beijos todos os dias. Mas a vida é assim,
muitas pessoas só dão valor quando perdem, ainda bem que eu tive tempo de
demonstrar todo o amor que sentia pela minha mãe antes dela me deixar.
— Sinceramente, eu não vejo como uma pessoa que é tudo isso aí pode
ficar sem falar com a própria mãe — falei baixo.
— Foi a mãe dele que o afastou da própria filha e da mulher que ele
amava! — respondeu quase com raiva, só não sei se era de mim e do que eu disse.
— Victor foi uma vitima do orgulho da própria mãe, e por isso ele perdeu a
oportunidade de ver a filha nascer, crescer e se tornar uma linda jovem.
— Você fala de um jeito que me faz pensar que você sabe quem é a filha
dele.
— Sim, e eu sei.
Ficamos em silêncio nos encarando por alguns instantes, e quando eu já ia
perguntar onde essa tal filha estava, uma voz ao meu lado me interrompeu.
— Le Fleur. Que surpresa. — Olhei para cima e Jean Pierre estava em pé
ao meu lado. Ele sorria suavemente.
— Ah, oi, como vai? — perguntei, levantando e estendo uma das mãos,
que ele gentil, recebeu e beijou o dorso de forma lenta e estranha. Sério, ele tem
os modos de um homem da idade média.
— Melhor agora… — respondeu sorrindo.
— Não vai nos apresentar seu amigo, minha filha? — tia Laura me encarou
com uma sobrancelha arqueada.
— Ah, sim, desculpe-me. — Sorri sem jeito. — Tia Laura e Ricardo, esse
é Jean Pierre Dubois. — Fiz as apresentações e todos se cumprimentaram
educadamente.
— Você está sozinho? — Ricardo perguntou enquanto sentava em sua
cadeira.
— Sim, eu vim almoçar, adoro esse restaurante, ele é um pedaço da minha
França em Londres.
— Por favor, nos faça companhia — chamei, ele me deu um sorriso
enorme e sentou agradecendo.
— Tem certeza que não irei atrapalhar?
— Não, nós apenas comemos a entrada, mas se quiser podemos te
esperar?! — tia Laura respondeu e deixou uma pergunta para ele.
— Eu prefiro pular a entrada, por favor, irei seguir com vocês.
Pronto, o assunto anterior foi deixado de lado e logo estávamos
conversando sobre amenidades, a cada instante que passava, eu ficava louca para
perguntar se Jean Pierre era o estilista que minha mãe adorava. Até que eu nem
precisei, Tia Laura e sua língua gigante tomaram a vez.
— Jean Pierre, sem querer ser indelicada, mas você é Jean Pierre, o
estilista fenômeno da década de setenta e oitenta?
JP (decidi chamá-lo assim) deu uma risada e confirmou. Pronto, eu e minha
tia quase endoidamos.
— Ai, meu Deus… Ai, meu Deus não acredito! — exclamei batendo
milhares de palminhas sem muito barulho. — Minha mãe era louca por você, digo,
pelas suas criações, minha nossa, se ela estivesse aqui agora, bem capaz de ela te
sequestrar e te manter preso só para explorar o seu talento — brinquei sorrindo,
mas JP me olhou quase sério e ele tinha um brilho no olhar misterioso, que logo
passou e foi substituído por curiosidade.
— Ah, isso era verdade, — Tia Laura riu e eu a acompanhei.
— Meu Deus, eu era pequena e tinha que ficar horas e mais horas
assistindo aos seus desfiles, tipo, você era um mito lá em casa.
— Sinto-me lisonjeado, Ma petit… — Sorriu piscando um olho e eu virei
o rosto, pois senti-me ruborizar, JP estava me encarando demais. Isso me
envergonhava.
— Então, você resolveu aquele problema com sua chefe? — perguntou
sorrindo de lado.
— Bem, ela não é mais minha chefe! — respondi orgulhosa, juro que até na
China dava para sentir meu orgulho, e sim, inflei o peito.
— Não? — questionou franzindo as sobrancelhas especulativamente.
— Ah, Jean Pierre, esse é um marco na vida da minha filha, aquela mulher
era uma bruxa, colocava minha menina para trabalhar como uma escrava e… —
Eu queria chutar tia Laura por falar demais, mas eu não tinha controle sobre ela,
então…
— E? — JP incentivou-a a continuar, ele até se inclinou um pouco para
frente. Notei que ele estava muito atento às palavras da minha tia.
— E ela roubava os desenhos da Victória! Pronto, falei — tia Laura
resmungou e eu coloquei a mão no rosto, balançando a cabeça negativamente.
— Explique isso melhor, por favor, não queremos esse tipo de gente em
nosso meio. — JP foi suave, mais sua voz tinha um tom de comando impossível de
não obedecer.
— Jean Pierre, minha sobrinha começou a trabalhar para a megera ao 15
anos de idade, e desde então ela passou a reproduzir todos os desenhos para o
ateliê, mas, claro, Blanchet os assinava como se fossem dela.
Ai, meu Deus…Tia Laura está fazendo fofoca.
— Tá bom, gente, deixa para lá! — pedi olhando para os dois. — Já
passou, agora é bola para frente.
— É, passou, mas aquela safada ainda te roubou setenta desenhos… — O
bufo nada feminino da minha tia fez Ricardo soltar uma risadinha. — E não se
esqueça daquele desfile de Paris. Você fez tudo e ela ficou com a glória, estou só
desabafando, pois vivia com essa história entalada, e já que você disse que
Dimitri tirou a cláusula de confidencialidade do contrato, eu posso escancarar
para meio mundo o que aquela nojenta fez com você! E tenho dito.
Ficamos em silêncio depois da micro explosão da Dona Laura Fontaine.
— Olha, Jean Pierre, tudo passou, agora, por favor, não faça essa cara, o
passado deve ficar no passado. — Tive que falar, porque a cara do francês não era
das melhores, ele parecia que tinha acabado de engolir uma pedra, pois estava
com os lábios crispados, e eu notava que ele apertava o maxilar com força.
Mais um justiceiro, não!
— Tudo bem, vamos deixar esse assunto para depois, com certeza um dia
Blanchet pagará por tudo que fez com Você, Ma belle Fleur… — falou e voltou a
sorrir.
Encerramos o assunto Blanchet e Jean Pierre fez os pedidos dele e, para
não sermos mal-educados, solicitamos que nossos pratos fossem servidos todos
juntos.
Comemos em paz, com Ricardo dizendo que iria falar com Victor sobre o
fato de eu ter passado boa parte da minha vida sendo uma escrava. O engraçado
era que não sei por que ele ficava com essa história de contar tudo para esse tal de
Victor, contudo, resolvi calar minhas dúvidas, esse era um assunto de alguma
forma delicado para falar com Jean Pierre presente.
Na hora da sobremesa, músicos franceses muito bem caracterizados
pararam ao lado da nossa mesa. Ricardo levantou e ajoelhou ao lado da minha tia,
quando notamos o que estava acontecendo, soltamos gritinhos de choque e
felicidade.
— Laura, não posso esperar mais oito anos para te tornar verdadeiramente
minha, não suporto imaginar a ideia de te perder uma segunda vez, quero, não,
necessito que você seja minha esposa, minha companheira, minha amiga pelo que
Deus ainda nos permitir. — A essas alturas eu já me debulhava em lágrimas,
porque, né? Caramba, minha tia está sendo pedida em casamento.
PEDIDA EM CASAMENTOOOOOO.
Ai, meu Deus, ela merece, e como merece.
— Laura, me diga que sim e me faça o homem mais feliz do mundo, case-
se comigo e seja a senhora Andrade.
Tia Laura olhou para mim de olhos arregalados e rasos d’água, depois ela
olhou para Ricardo ajoelhado em sua frente, nesse momento, ele abriu a caixinha e
ofegamos.
O diamante era simplesmente gigante, digo, enorme mesmo.
— Vai, tia, diz logo sim! — exclamei alto e as pessoas ao redor riram
junto com o Jean Pierre.
— Sim, meu amor… ai, meu Deus, SIIIIM — gritou o sim e se jogou em
cima do ex-namorado, pois agora era noivo. Ricardo tombou para trás e os dois
caíram, as pessoas explodiram em gargalhadas e aplausos. Eu ria sem acreditar
que minha tia acabou de derrubar o noivo, o podre do Ricardo estava rindo tanto
que ficou vermelho.
Mas no fim foi simplesmente lindo, e quando Ricardo colocou o anel no
dedo da minha tia, eu acariciei o meu, que estava preso em uma corrente em entre
meus seios.
— Vamos sair daqui! — Ricardo falou puxando minha tia.
— Espere, temos que pagar a conta… — tia Laura falou, mas logo JP
ergueu uma das mãos.
— Deixem comigo, vão comemorar a sós, eu e Victória iremos terminar
nossa sobremesa.
— Tudo bem, Vic?— tia Laura perguntou ansiosa, eu sabia que ela queria
ir comemorar seu pedido de casamento. Se bem me lembro, eu comemorei o meu,
e como comemorei.
Suspirei fechando os olhos brevemente.
“Bem-vinda, dor…”, pensei triste, mesmo sabendo que eu deveria fingir e
fazer isso bem, então sorri, enquanto engolia o caroço em minha garganta.
— Por mim tudo bem! — respondi, forçando meu sorriso a ficar no lugar.
E lá se foi o casal de pombinhos.
Tia Laura noiva. Quem diria? Por isso que eu digo, ninguém sabe dos
desígnios de Deus, e a melhor coisa a fazer é acreditar em sua promessa. Agora eu
já estava imaginando como eu faria o vestido dela, pois, pelo visto, Ricardo quer
se casar para ontem.
— Um vestido exclusivo pelos seus pensamentos — JP me chamou a
atenção e eu voltei à realidade, agora ele estava levantando para sentar de frente
para mim.
— Eu estava pensando que eu tenho que criar um vestido digno de uma
rainha para minha tia, ele terá que ser lindo, único, porém singelo.
— Tenho certeza que ficará perfeito, Ma fleur. — Sorriu e me encarou
fixamente, eu desviei o olhar, porque não estava gostando dessa encarada
demorada, até que o senti pegar meu queixo e virar meu rosto um pouco para o
outro lado.
— Você tem uma pequena cicatriz no olho, o que houve?
Suspirei sentindo um calafrio. Eu sempre procurava não pensar naquele dia
e no que eu passei nos dias seguintes. Eram muitas lembranças boas e horríveis
que se cruzavam.
Minha dor… Meu sofrimento… Meu amado… seus cuidados… Nossa
felicidade esplêndida…
Divaguei pelos nossos momentos, principalmente por aqueles em que
Rocco ficou ao meu lado, cuidou de mim com tanto carinho. Amor. Meu Deus, eu
queria tanto poder estar com ele… eu queria tanto poder olhar para ele e matar a
saudade de seu rosto lindo, de seus olhos azuis.
— Victória… — JP toca meu rosto e eu pulo de susto, depois dou um
sorriso sem graça.
— Desculpa.
— Sem problema, mas, por favor, me fale sobre o que te aconteceu. Eu só
quero te conhecer melhor, você é tão forte, intrigante, você é simplesmente
fascinante, Victória.
Fiquei calada e ele suavemente insistiu. Dei de ombros, não iria mudar em
nada ele saber.
“Afinal, o que um homem refinado como JP poderia fazer?”
— Há alguns meses eu fui espancada por um desconhecido. Nesse lugar
aqui eu sofri um corte que precisou de um ponto — falei baixinho, e de forma
inconsciente, toquei o lugar outrora machucado. — Eu não entendia o porquê de
estar sendo tão machucada, eu não tive tempo de reação, fui pega de surpresa e,
quando dei por mim, meu corpo era uma massa de dor abrasadora. — Suspirei,
tremendo levemente. — Fiquei vários dias hospitalizada e sob efeito de morfina.
— Chega, não fale mais nada, apenas me diga o nome de quem fez isso! —
Eu pude sentir a nota perigosa em sua voz.
— Olha, Jean Pierre, não faz muita diferença, sabe? O culpado está preso e
será julgado por esses dias. No fim, a justiça foi feita.
— Belle Fleur, o nome — murmurou suave. — Só o que peço…
— Para quê?
— Para quando eu não estiver em sua maravilhosa presença, poder xingar
o quanto quiser. — Riu e eu o acompanhei.
— Se é assim. — Pigarreei. — O homem que me agrediu se chama…
— Senhores, aceitam mais alguma coisa? O vinho pode ser trocado? — o
maître perguntou e JP respirou fundo, ensaiando um sorriso.
— Obrigado. Você quer alguma coisa? — olhou para mim.
— Não, estou satisfeita, obrigada.
— Pode ir, estamos bem… — JP falou e o maître afastou-se, abordando a
mesa vizinha. Logo a atenção dele voltou para mim. — Onde estávamos? Ah, sim,
o nome…
— Então, o nome do meu agressor é Gordon Maison — falei fazendo uma
careta, eu morria de medo desse nome, ele passou a ser o monstro dos meus
pesadelos.
— Devidamente anotado. — JP sorriu e mudou de assunto.
Falamos muito sobre moda, tendências, cores e tal. Era incrível. Eu ainda
nem acredito que estou recebendo conselhos de Jean Pierre Dubois. Era tipo,
quase como ter Rey Charles te ensinando a cantar e tocar, ou a própria rainha
Elizabeth te ensinando etiqueta.
— Victória, eu tenho uma proposta para você. — Ergui minha cabeça, e
pelo sorriso do JP, eu deveria estar com cara de interrogação. — Venha comigo
para a França, deixe-me apresentá-la ao mundo da moda em grande estilo, você
merece, depois de tudo que passou. Me deixe ser seu padrinho.
Não acreditei nos meus ouvidos, tipo, eu não acreditoooo. Meu Deus, uma
mudança me fará bem, e ainda irei realizar meu sonho. Ter um Padrinho como JP
seria magnífico, eu já chegaria com peso no mundo da moda. Todavia, como tudo
na vida tem um mas, comigo não seria diferente.
— Eu posso pensar? — perguntei receosa, eu realmente tinha muita coisa
para pesar antes de aceitar.
“Tenho que falar com Rocco…” Mal terminei o pensamento e já desisti,
eu não posso continuar colocando-o à frente de tudo. Eu mesma disse que ele tinha
prioridades, eu mesma pedi que parássemos de manter contato direto. Como ele
vai fazer o certo, se eu mesma quebro o acordo que propus?
— Deixe-me adiantar que você terá todo o lucro por suas criações,
pretendo encaixar dois ou três vestidos seus no Paris fashion Week, e talvez já no
NY Fashion, você poderá participar como umas das estilistas mais cotadas.
Eu devo estar com meu queixo no chão. Isso é o sonho de todo estilista
desconhecido. Ter um padrinho famoso e disposto a ajudar, te dando cem por cento
de tudo que produzir.
— Eu quero realmente que aceite. — Ele era fervoroso em suas palavras.
— Seremos perfeitos juntos, imbatíveis, não haverá ninguém que consiga usurpar
seu lugar no topo.
— A proposta é incrível, mas eu preciso conversar com minha tia antes e
ver os prós e contras de uma mudança de pais.
— Um mês para você pensar! — exclamou meio ansioso, quando a ansiosa
aqui deveria ser eu.
— Perfeito. — Sorri. — E se eu decidir antes, te aviso.
Trocamos nossos números e conversamos mais um pouco. Em seguida
rumamos para fora do restaurante, onde Jason me esperava e ficou do meu lado
assim que coloquei a cara na rua.
— Jean Pierre, esse é meu brother, Jason — apresentei os dois e notei que
o aperto de mão demorou um pouco mais que o normal. Ambos pareciam medir-se
mutuamente.
— Vamos, bonequinha? — Jason chamou e eu ri, ele acabou adotando o
apelido do Royce.
— Claro, vamos sim, direto para casa. Até mais, Jean Pierre.
— Até, Belle Fleur…
***
Fingir, é assim que eu venho me mantendo nesses últimos dias. Por fora
pareço bem, mas por dentro estou quebrada, entretanto, ninguém precisa saber, não
quero ver as pessoas que amo sofrendo comigo.
Então por isso mesmo eu dou um sorriso quando quero chorar, digo que
está tudo bem quando não está, digo que vou superar quando não estou nem perto
disso.
E pela primeira vez em minha vida, eu não consigo desenhar.
Nada, absolutamente nada sai. Minha separação de Rocco me afetou de
uma forma muito mais primitiva. Deixei de lado a proposta de Jean Pierre, apesar
de ser um sonho, eu não a via assim, a euforia do momento passou, até a alegria
pelo casamento da minha tia passou. Nem vontade de brincar com o enorme
Balofo eu tinha.
Fui tomada por uma estranha apatia, era algum tipo de tristeza tão
profundamente enraizada que às vezes até puxar um fôlego mais profundo era
difícil. Não sei se você já passou por isso, mas eu posso dizer que é muito ruim.
Imagine sentir como se a cada dia um pedaço seu fosse morrendo sem que pudesse
fazer nada para evitar, e depois a sua vontade também começa a morrer e você não
consegue entender o porquê de não se importar.
Sim, eu não me importo… se chove, se faz sol, se o dia está lindo. Eu
passo pelos dias, sem notá-los, eles são como borrões indiferentes. Sem causa,
sem propósito.
E sabe quando isso começou?
Assim que pus os pés em casa depois de me despedir de JP. Mantive meu
celular desligado e não saí de casa. Fiquei apenas pelas dependências vagando.
Como eu disse, eu fingi, busquei não sentir. E acho que consegui, porque tia Laura
ainda não parou para me questionar, e eu agradeço a Deus por isso. Jason me
encara de vez em quando e balança a cabeça negativamente, eu sempre digo que
está tudo bem, depois eu peço licença, vou para meu quarto e choro.
Sabe, durante muito tempo eu pensei que fosse forte, agora vejo que não
sou. E sim, agora mais que nunca eu entendo minha mãe.
Saí de dentro de casa e rumei para o balanço no quintal. Sentei nele de
cabeça baixa e comecei a balançar lentamente.
Ai, Senhor, eu preciso da sua ajuda, não consigo fazer o vestido da minha
tia. O Ricardo já está louco para casar, tanto é que já convenceu minha tia a
sair da loja. O senhor sabe que tia Laura é mais prevenida que três pessoas
juntas e já arrumou uma substituta, agora ela faz o treinamento da Alice dia e
noite… Para poder estar livre e viver seu amor plenamente!!!
Sorri levemente, eu converso com Deus, já falei. Pode parecer estranha a
forma, mas Ele me entende, então isso é o que verdadeiramente importa.
Continuando, o maior de todos os problemas consistia na insegurança de
tia Laura em ir embora quando se casasse. Ricardo tinha sua vida no Brasil, tudo
que ele construiu estava lá, então era lógico que minha tia iria para o outro lado do
oceano. E por isso também eu teria que me mostrar ainda mais forte, trancar minha
dor sob camadas e mais camadas de fingimento bem ensaiado.
Eu tenho que mostrar que sou uma mulher de quase vinte e quatro anos,
com consciência dos meus direitos e deveres. Não permitirei que minha tia fique a
vida toda ao meu redor, como se eu fosse a qualquer momento quebrar. Não sou
tão frágil assim.
— Já chega! — Ergui minha cabeça, espantada com a voz do meu amigo.
— Você pode enganar quem quiser, mas a mim não engana!
— Royce, para com isso, me deixa, estou ótima! — E lá estava meu
sorriso ensaiado.
— Faça o sorriso chegar aos olhos, bonequinha! — exclamou com raiva, e
eu alarguei meu sorriso, mas a verdade era que eu mentia. E eu era uma péssima
mentirosa.
— Tudo ficará bem, meu querido, dê-me tempo e verá.
— Você engana tia Laura descaradamente, ela jura que você está bem, não
é para menos, você fica tão eufórica com ela em casa que até eu noto que você
interpreta. Mas tia Laura está tão cheia de coisa na cabeça que nem percebe. Eu
juro que vou contar para ela se você não levantar essa bunda magra e me seguir.
— Ei, pare com isso! Tia Laura não precisa interromper a felicidade dela
porque eu tive um fracasso amoroso.
— Pare com isso, a época de mártir acabou, seja forte, levante e cabeça e
siga em frente — rosnou cruzando os braços. — Levanta sozinha ou eu faço isso?
— Levanto sozinha! — resmunguei e ouvi a risada do Jason.
Ele estava meio escondido e saiu do beco junto com um Balofo enorme
tomado banho e fofo.
— Antes, quando você estava triste ou o quer que fosse, você cantava!
Vamos, venha extravasar sua dor na música! — Royce me chamou e eu fiz careta
que foi devidamente ignorada. — Você ainda tem o violão do seu pai?
— Eu tenho, mas ele está guardado há séculos, deve estar desafinado, e eu
não toco mais, nem lembro as notas — murmurei acompanhando Jason, Royce e o
Balofo para dentro e casa.
— Onde está o violão? — Jason perguntou e eu o levei para meu quarto,
apontando, assim que chegamos, para cima do guarda-roupa.
Fazendo uma careta para o lugar onde eu o guardei, Jason esticou-se e
começou a puxar o instrumento que estava guardado dentro de uma capa protetora
preta.
Quando ele abriu o saco notei que seus olhos brilhavam. O violão do meu
pai era negro, com algumas gravuras entalhadas nas laterais da madeira, era sem
sombra de dúvida uma verdadeira beleza.
— É lindo, não é? — perguntei dando um sorriso verdadeiro.
— É maravilhoso, incrível! — exclamou encantado e eu suspirei.
Meu pai tocava divinamente. Ele era mágico com um violão na mão. Seus
dedos acariciavam as notas de tal forma que hipnotizavam as pessoas ao redor.
Eu me lembrava de como era tê-lo aqui tocando para mim e para mamãe.
Agora eu me pergunto, por que eu parei de tocar? Meu pai me ensinou desde nova,
e depois de sua morte eu não consegui mais… era muita saudade.
— Vamos, o ensaio da minha antiga banda vai começar — Royce chamou.
— Eles irão fazer uma apresentação em alguns dias, precisam ensaiar mais que
antes, entretanto, eu pedi uma ajuda e vamos fazer um cover da música que você
escolher. Hoje, Victória, você vai cantar e tocar.
Mesmo sob protestos, eu fui para o ensaio da banda Corporius. Chegando
lá fui cumprimentada e Jason já tinha entrosamento com todos. Fiquei por ali,
observando abismada como eles eram bons. A banda era simples, composta por
um guitarrista sarado (que tocava sem camisa), uma cantora linda de viver, um
baterista cabeludo e um remixador meio chinês.
Eles tinham músicas autorais, mas estava tocando algumas composições de
sucesso. Vibrei com a nova roupagem que eles deram para Radioactive —
Imagine Dragons eu amava essa música e ouvi-la ao som da guitarra e da voz
feminina de Alana era tipo de outro mundo. Depois eles cantaram Always — Bon
Jovi… E isso foi só o começo. Na metade do ensaio eu me sentia um pouco mais
leve, e foi aí que Kadeon, o guitarrista, fez um solo monstruoso da banda Guns N’
Roses.
Eu estava tipo abobalhada quando Royce parou na minha frente e me
entregou o violão do meu pai.
— Está afinado e limpo, escolha a música e vamos tocar.
Pensei um pouco e logo eu já sabia qual eu iria tocar e cantar. A melodia
não era difícil, e a letra dizia muito do que eu sentia. Na verdade a música parecia
que havia sido feita para esse momento.
— I Never Told You. — Suspirei fechando os olhos. — Colbie Caillat
— Sabemos a música e a letra, vamos nos preparar — a cantora falou indo
para um teclado, Kadeon trocou sua guitarra preta por outra vermelha, o baterista
ficou em sua bateria mesmo, o remixador, que se chamava Sakashi, sentou em uma
espécie de caixa de madeira que servia de tambor percussionista, já eu me
posicionei em um banquinho com o violão no colo, acabei por ficar no meio do
ambiente, rodeada pelos outros membros da banda. Royce ajeitou algumas coisas
como baixar a luz, ajustar o microfone para minha altura, etc. Depois ele acendeu
algumas velas aqui e ali enquanto nós entrávamos em sintonia.
— Vou ligar a câmera e no três começamos — Royce falou e eu acenei.
1… 2… 3…
E como se fôssemos uma banda que há muito tempo tocava junta, iniciamos
perfeitamente. E com o prazer e amor que meu pai me passou pela canção, eu
dedilhei perfeitamente enquanto derramava nas palavras da música minha
declaração de sentimento. Era assim, exatamente assim que eu me sentia.
Meus lábios iriam cantar as palavras da minha alma. Então eu comecei e,
sem querer, ou talvez quisessem mesmo, eu olhei diretamente para a câmera que
Royce trabalhava para captar os melhores ângulos.
Consciente ou inconscientemente, quero que ele veja e entenda. Muito
emocionada, abri a boca e cantei.
8
"I miss those blue eyes…”
Capítulo 27
Rocco
Cansei dessa merda. Todo mundo quer um pedaço da minha mulher. Eu,
hein. Vão se foder todos.
— Se é para ser bom, eu sou, mas se for para ser ruim, eu serei melhor
ainda! — Estreitei os olhos apertando os dentes, — Ninguém sequer chegou perto
de ver o tamanho da minha capacidade de ruindade! E digo mais, se for preciso, eu
vou…
Respirei fundo e apertei o play no vídeo da minha garota pela milionésima
vez. Eu tinha que me manter focado, eu nunca fui um banana bundão, e não é agora
que vou ser.
Assisti ao vídeo com um sorriso idiota no rosto. Já disse e repito, Victória
me acalma e sinceramente não vejo a hora de chegar perto dela, sentir seu cheiro,
beijar sua boca suculenta e aproveitar para dar umas mordidas naqueles lábios
deliciosos.
— Ai, caralho! — grunhi ajeitando minhas calças, que ficaram bem mais
apertadas agora. Confesso que estou excitado desde que a vi cantando e a
expectativa de ver minha garota está fazendo um trabalho infernal com minha
libido. É uma semana, porra, uma maldita semana! Estou a perigo, não tem jeito. Já
me vejo tendo que me aliviar usando minhas próprias mãos.
Mas que inferno!
Ah, outra coisa, não fiquem chocadas, voltei à era dos palavrões.
— Quem se importa? — Dei de ombros, faz parte. Não sou nenhum garoto,
e se eu quiser extravasar minha raiva usando repertório de caminhoneiro, eu
usarei. Meu único conselho é: tampem os ouvidos ou, sei lá, não leia.
Até parece que vou falar: Ah, que desgosto por não estar ao lado da minha
querida Victória, meu coração dói de saudade. Oh, mundo cruel.
Credo, eu, hein. Completamente gay.
Continuando, como eu ia dizendo, eu assisti tantas vezes ao vídeo que já
decorei a música e as caras e bocas da minha garota, que, diga-se de passagem,
são todas lindas e tentadoras.
Agora um momento útil.
Mulheres, uma dica: se você quer deixar seu homem doido, tipo um besta
dominado e apaixonado, seja sutil. Dê dicas, faça-o querer degustar o seu
mistério. Seja aquilo que ele nem sabe que procura, e, quando conseguir, torne-se
indispensável. Victória de alguma forma fez isso comigo.
Não aja como uma jamanta sem freio carregada de tijolo enquanto desce
uma ladeira, você vai assustar seu homem e fazer o pobre coitado correr o mais
longe que suas pernas puderem. Deixe essa coisa de DNA neanderthal para nós,
homens, é melhor, vão por mim… Seja a bonequinha, deixe os homens vestirem as
calças, mas saiba que, no fim, é o sim, senhora, que vocês ouvirão.
Olhem para mim, no começo eu nem acreditava nessas porras do coração,
eu até disse que ninguém morre de amor, digo o mesmo, a pessoa não morre, mas
sofre para caralho. Meu amigo, eu estou assim, vivendo pela metade. Sabe aquela
saudade de olhar para a pessoa de que você gosta? Pronto, estou assim, e digo,
estou a meio caminho da loucura, penso que essa semana eu me mantive muito
ocupado para não pensar na saudade, mas daí foi esse vídeo aparecer e cá estou
eu.
FODIDO.
Suspirei esfregando minha barba, nem liguei para minha aparência. Estou
barbudo, mal-encarado, estressado e briguento. É, não me encare muito.
Sem querer, minha mão bateu no teclado e a página rolou. Os próximos
dois segundos, eu diria para tampar os ouvidos, pois meus palavrões não foram
nada bonitos.
Eu estava vendo os comentários sobre o vídeo, e não estava gostando
nadinha.
*Que gata! Porra, uma beleza dessas dando sopa por Londres e eu aqui
solteiro…
*Que olhos… que boca e, principalmente, que voz! Nossa, imagino essa
mulher cantando no meu ouvido, ai, delícia… vem aqui na minha casa, eu tenho
olhos azuis.
…
— Um morto e outro cego! — rosnei, sentindo meu estômago dando uma
volta de tanta raiva. Mesmo assim, continuei lendo, gosto de apertar a ferida, digo,
a minha ferida.
*Participa do Britain’s Got Talentm gostosa, eu quero te assistir lá ao
vivo.
*Adoro essa música, e na sua voz ficou linda. Parabéns, e, por favor,
posta mais… bjosss.
— Só um comentário agradável! — bufei e vi que o comentário que eu
aprovei foi feito por uma mulher.
Merda.
Bando de infelizes de olho na mulher dos outros.
Parei de ler os comentários, porque eu estava ficando cada vez mais irado.
Voltei a assistir ao vídeo como um groupie louco que ataca o replay violentamente
quando seu artista favorito publica uma novidade. Faz parte, eu sou um homem
apaixonado, ver minha garota mesmo que seja através do Youtube me acalma.
Relaxei na cadeira, expulsando tudo da minha mente, era melhor assistir
que ficar pensando igual a um psicopata.
— Amore mio, quando eu te pegar… — Não terminei a frase, meu membro
vibrou na calça, e acho que minha boxer não é do tamanho certo. Coloquei a mão
novamente e dei uma mexida para aliviar a tensão, é tão foda estar excitado e só
querer alcançar o êxtase de uma forma.
“Ah, Victória, se prepare! Essa história de amigos não cola, porra, se for
assim, eu quero direitos e vantagens…”, pensei puxando minha polo azul de
dentro da calça, só assim para esconder meu terceiro braço.
Ei, não ria, eu sei que sou pauzudo! E para um homem, nada melhor do que
ter um pau grande e potente. Claro, levando em consideração que tem que saber
usar, porque não adianta o tamanho da vara se você não sabe pescar.
***
Cheguei a Londres e fui recebido pelo Dinka, e pela cara do meu amigo, eu
sabia que tinha problemas.
— Ainda bem que você chegou! — resmungou esfregando o rosto cansado.
— William sumiu e eu não consigo encontrá-lo. — Fez uma pausa. — E acho bom
você conversar com Jason, ele tem algumas coisas para contar.
— Vamos para a casa da Victória — resmunguei e o Dinka fez careta. — O
que é?
— Meu amigo, eu sei que você quer vê-la, até eu não vejo a hora de tudo
se resolver… — resmungou. — Mas o Conde precisa de nós, confie em mim, esse
ano está pior, eu temo que ele cometa alguma loucura.
Pensei durante algum tempo, eu estava remoendo a saudade mas Victória
está segura, e eu terei a chance de vê-la, assim que eu encontrar o conde eu vou
vê-la…
— Vamos encontrar aquele bastardo loiro! — grunhi e o Dinka acenou
concordando.
Nesse primeiro momento, nós rodamos em vários bares, hospitais,
hotéis… enfim, amanhecemos o dia procurando o paradeiro do conde. Agora que
eu sabia o motivo de ele enlouquecer nesta semana específica do ano, eu estava
realmente preocupado com a saúde mental do meu amigo.
“Como ele aguenta conviver com a saudade? Sabendo que nunca mais
vai vê-la nem que seja de longe? Ou pelo menos saber que ela vive e respira em
algum lugar?”, me questionei, ainda chocado com essa história desde que ele nos
revelou o motivo de seu sofrimento e retraimento.
— Dimitri, o aniversário de morte da Isabela é daqui a 3 dias — falei,
entrando nesse assunto delicado. — Will já está louco agora, e quando chegar o
dia?
— Não sei — respondeu mordendo um sanduíche, estávamos tomando café
da manhã na rua. — Sinceramente, eu espero poder estar com meu amigo nesse
momento! Na moral, Rocco, de nos três, William é o mais resistente, eu não sei se
seria tão duro como ele é. Se alguma acontecer com a minha pirralha, eu acho que
destruo meio mundo! — resmungou olhando para além de mim, era quase como se
falasse consigo mesmo.
Tive que concordar, pois de fato era a mais pura verdade. Precisávamos
encontrar William antes que fosse tarde, não iríamos permitir que ele passasse por
isso sozinho. Daremos apoio e levaremos porrada se ele quiser extravasar. Mas
sozinho ele não pode ficar.
— Você já olhou o apartamento do Will? — perguntei porque ainda não
fomos lá. E isso é uma idiotice, esse era para ser o primeiro lugar que deveríamos
procurar. O problema era que Will fazia o maior mistério sobre o lugar, nem o
número do apê nós sabíamos, apenas a localização do prédio.
— Fui, o porteiro e a turma da recepção não avistaram o conde desde a
semana passada.
— Você subiu? Verificou dentro do apê?
— Não, seu boiola! Eu não tenho a chave dessa porra! Eu nem sei qual apê
é, e mesmo se soubesse, como eu iria passar pelo porteiro, pelos três
recepcionistas?
Bufei e acabei por dar uma tapa na nuca do Dinka, fazendo a cabeça dele
chicotear para frente.
— Endoidou, seu viado? — rosnou, limpando o suco de laranja que
molhou seu rosto.
Ri baixinho, porque as pessoas ao redor do café que paramos para comer
estavam olhando.
— Vamos lá e vamos entrar nesse apartamento! Não ligo se é proibido, o
conde que se morda depois.
— Vamos, você vai entrar primeiro, a ideia foi sua, e espero que receba a
primeira paulada por invasão!
— Bicha! — grunhi
— Moça chorona! — retrucou e logo estávamos nos organizando para sair
dali.
Chegamos ao imenso prédio onde o conde mantinha seu apartamento
proibido. Era uma coisa de louco, mas nem eu nem o Dinka tínhamos autorização
para entrar, e por mais que nós tirássemos o sarro com a cara um do outro, a
preocupação era grande. Olhei o Dimitri e o vi abrindo os três primeiros botões
da camisa, depois ele enrolou as mangas e pediu meus óculos escuros.
Entreguei cruzando os braços.
— Que viadagem é essa? — perguntei, me ajeitando um pouco, estava
amarrotado, cansado e precisando dormir um pouco.
— Você já viu que na recepção tem só uma mulher? — perguntou e deu
uma mexida no cabelo, em seguida enfiou a mão na calça.
— Que porra é essa, seu tarado? — grunhi estressado. — Não me diga que
você vai assediar a pobre coitada? — Franzi a testa para o tamanho da cara de pau
do Dinka.
— Estou só dando uma ajeitada no meu bebê — falou tirando a mão de
dentro da calça. — Vou assediar só um pouquinho, espero que ela não resista! —
Sorriu e ergueu o punho esperando que eu tocasse.
— Vai sonhando, você mexeu no saco! Deus me defenda de tocar sua mão
agora, seu viado, eu curto boceta, e não rola.
Dando de ombros, o Dinka sai do carro. Na moral, esse meu amigo é um
escroto.
Observem.
Assim que entramos, seguimos direto para a recepção, o Dinka ia um
pouco mais à frente. Assim que chegamos perto, a moça da recepção arregalou os
olhos e deu uma conferida no meu amigo. Camisa meio aberta, cabelos
bagunçados, jeito descolado e o principal, as tatuagens à mostra. Notei que ela deu
uma encarada a mais no meio das pernas do safado.
Tadinha, até lambeu os lábios, nem sabe que está prestes a ser atacada.
— Olá… — o Dinka falou e olhou para o crachá da moça, enquanto
aproximava-se o suficiente para encostar-se no balcão. Claro, ele fez isso depois
que a ela deu uma boa olhada no material. — … Michelle… — Eu quase ri, pois
meu amigo baixou a voz e usou um tom meio sussurrado quando falou o nome dela,
a pobrezinha ruborizou toda. — Uhnn, eu… — Agora o tarado inclinou-se para
frente, fazendo a Michelle ofegar baixinho. — Você poderia, por favor, indicar
qual é o número do apartamento do William Savage?
— Si-sim… digo… — gaguejou e eu revirei os olhos, parece que o
cérebro dela falhou, Dimitri é um miserável. — Não po-posso é…
— Querida, somos os amigos dele, libere nossa entrada. Por favor, uhn…
— ronronou, esticando-se ainda mais sobre a recepção. — Faça isso por mim e eu
posso, quem sabe, fazer algo por você…
— Cobertura! — exclamou e o Dinka mordeu o lábio, aproximando-se o
suficiente para dar um selinho nela.
— Obrigado, Michelle — sussurrou e eu notei que a garota prendeu a
respiração.
Logo estávamos caminhando apressados para o elevador.
— Filho da mãe! — grunhi
— Fica na sua! — revidou devolvendo meus óculos. — Precisávamos
entrar, e eu consegui. Deixa de reclamar. Parece que está ficando velho! Eu, hein!
— E se ela pedisse uma foda? — questionei de braços cruzados.
— Com certeza deve ter algum quartinho por aqui!
Fiquei calado porque, não adianta, o Dinka é um doido tarado e escroto.
Mas mesmo assim é um dos meus irmãos.
Eu amo esse idiota… Ou melhor, eu não amo, não, eu o considero. Eu não
amo homens, não, de jeito nenhum.
Finalmente chegamos à cobertura e já saímos no hall. O andar era inteiro
do William.
Paramos em frente à porta e, depois de respirar fundo umas duas vezes,
começamos a chamar. Chamamos pelo William durante alguns minutos, e já
estávamos desistindo quando um barulho nos alerta de que ele está em casa e não
quer abrir a porta.
— Arromba! — Dimitri rosnou e nos afastamos.
— Essa porta é de madeira maciça, precisamos bater juntos — grunhi, já
sentindo o sangue quente.
— No três então… — Dimitri grunhiu e tomamos distância. — 1… 2… 3!
Impulsionamos e batemos juntos, a porta rangeu alto, mas não quebrou,
meu ombro doeu para cacete, mas nos afastamos e, tentando novamente, na terceira
tentativa a porta cedeu e entramos com tudo só para congelar com a cena diante de
nós.
William estava ajoelhado, sem camisa, diante de um quadro enorme
enquanto chorava copiosamente, balançando-se para frente e para trás. Nós nos
aproximamos, e notei que ele estava com os braços em forma de X, era como se
ele estivesse se abraçando, para, de alguma forma, manter-se inteiro, e não só
isso, meus olhos foram atraídos para a grande tatuagem em arco em suas costas,
que ia de ombro a ombro.
Essa tatuagem não estava aí no dia que dormimos na casa da minha garota!,
pensei mas logo deixei de lado, não era importante. O que dizia a tatuagem, sim…
Isabela, amica meã, mea vita, cor meum aeterna dolor…
A frase foi feita com letras bem-desenhadas, cheias de arabescos e
detalhes. Minuciosamente “entalhada” na pele.
— O que diz a tatuagem? — Dimitri sussurra baixinho, pois o Conde
parece em transe. Claro, fizemos um barulho horrível derrubando a porta e ele nem
pareceu notar. Prestando mais atenção ao lugar, é que notamos que a verdade era
que nosso amigo estava cultuando a pintura gigante, o ambiente só era iluminado
por velas, pesadas cortinas cobriam as paredes, que eu achava serem de vidro. A
situação estava ruim… muito ruim.
— Está em latim e diz: Isabela, meu amor, minha vida, meu coração, minha
eterna dor — respondi sussurrando.
Estando tão perto pude ouvir que ele declarava palavras de desespero e
saudade para a garota no retrato. Ali, em suas palavras, havia muita negação e
arrependimento, desejo e decepção por não haver tido a oportunidade de viver
esse amor.
Senti meu coração quebrar pelo meu amigo. Eu nunca o vi dessa forma e
jamais pensei que pudesse chegar a ver um homem tão duro e frio como William
quebrado a esse ponto.
Prestei atenção no quadro que ia quase do chão ao teto e vi que, com
certeza, essa deveria ser a Isabela, realmente ela era linda e tinha um sorriso
enorme, aparentemente feliz. No chão, ao pé do quadro, havia, um diário, uma flor
murcha, uma fita e uma pequena foto, que julgo ser a que foi reproduzida no
quadro. Há uma vela em frente de cada um desses objetos.
— Puta que pariu! — Dimitri exclamou e eu o olhei, provavelmente minha
cara deve estar igual à dele, completamente angustiada, chocada, triste e… porra,
nem sei mais o que dizer. Nós sabíamos que Will surtava uma vez ao ano, mas
nunca presenciamos. Na verdade, o Conde sempre foi duro, frio, retraído e com
humor negro. Às vezes em que ele se soltava um pouco era quando estávamos o
três juntos ou bêbados.
Então, como se percebesse nossa presença ali, o William parou seu
balançar, abriu os olhos e… Enlouqueceu. Não tivemos tempo de revidar, o conde
parecia uma besta enfurecida. O primeiro a levar o murro fui eu, cambaleei para
trás atordoado, mas ainda pude ver o Dinka levar dois murros em seguida. O
William me encarou.
Seus olhos azuis estavam em brasa, ele parecia realmente possuído.
— Como ousam invadir esse lugar? — berrou alto, enfatizando a palavra
que denotava sua possessão a essa cobertura. — Me deixem em paz, PORRA! —
urrou enfiando as mãos nos longos cabelos bagunçados. Ele olhava para mim e
para o Dinka, na real, o Will parecia febril, e eu acho que só havia uma forma de
acalmá-lo.
— Venha. — Abri os braços — Descarregue sua dor.
— Estamos aqui para você — Dimitri completou, limpando o sangue da
boca. — Aguentamos o tranco.
Com um rugido de animal ferido, William voou em cima de mim, e nos
atracamos, pernas e braços para todo lado.
É, amore mio, espero que aceite o Frankenstein quando eu bater em sua
porta… Suspirei, protegendo de um murro na cara, levando outro no estômago.
Logo em seguida, o Dinka entrou pelo meio e saímos destruindo tudo pelo
caminho.
— Caralho, isso vai ser foda! — rosnei, me defendendo de uma joelhada.
— E o dia ainda nem começou direito… — Dinka completou, fazendo
William rosnar puto de ódio, por havermos “invadido” o santuário dele.
Capítulo 29
Rocco
Eu olhava para Rocco com tanta expectativa que sentia minha respiração
entupida e minha barriga dando nós. Eu joguei tudo para cima, realmente queria
ficar e enfrentar o mundo ao lado dele, só bastava ele me dizer um sim e eu nunca
mais o soltaria.
Esperei e esperei, com agonia crescente, Rocco sorrir e me dizer que queria
ficar comigo, eu sei que disse que ele tinha prioridades, mas, por Deus, ele estava
sofrendo e eu também, então por que não poderíamos ficar juntos? Eu o amava
com loucura e desespero, essa semana separados, pensando que passaríamos
muito tempo sem nos ver, foi o suficiente para eu descobrir a egoísta que existe em
mim.
Rocco ainda estava de joelhos, suas mãos em minha tatuagem, me encarando
mudo e emocionado enquanto eu acariciava seu rosto lindo, amado.
— Pequena, eu— meu grandalhão começou, mas logo calou-se. Isso foi o que
eu precisava. Abaixei-me, enlaçando seu pescoço, e comecei a beijá-lo com
desespero. Entendi que seu silêncio era um sim.
Ele queria que eu ficasse, e eu queria ficar. Pronto, seria tudo perfeito.
A alegria correu pelas minhas veias e eu mordi seu lábio, puxando-o um
pouco, em seguida, chupei devagarzinho, arrancando um gemido do meu
grandalhão, era incrível vê-lo assim, eu me sentia poderosa. Invadi sua boca com
minha língua, sendo recebida pelo toque da sua, logo Rocco dominava nosso
beijo, imitando o movimento de vai e vem com sua língua, acabando com minha
sanidade, me tirando do eixo.
— Ficaremos juntos — falei apressadamente enquanto quebrava nosso beijo
para fazer carinho em seu rosto. — Nunca mais vamos nos separar, vou ficar do
seu lado e vamos enfrentar o que vier. Seremos nós dois contra o mundo. — Ri
feliz mas, ele não me acompanhou, entretanto, eu não dei importância, acho que
ele, meu lindo italiano, não esperava por essa.
— Tesoro mio — murmurou, segurando meu rosto.
Sorri, sentindo a queimadura das lágrimas, todavia, eu sabia que eram de
felicidade.
— Adoro quando me chama assim, mas agora necessito te sentir mais —
gemi. — Seu sabor, seu calor. Por favor, me beija — implorei, e ele fez uma
expressão de dor, mas me beijou, e foi lento, exploratório, angustiado. Cheio de
promessas e um sem fim de coisas. Quando dei por mim, estávamos embolados no
chão.
Rocco me beijava muito lentamente, a cada vez que ele mordia meu lábio, eu
sentia meu corpo respondendo. Nossas línguas tocavam-se, fazendo carinho uma
na outra. Havia luxúria, amor, possessividade.a forma como ele segurava meu
rosto era carinhosa e, ao mesmo tempo, dominante… simplesmente perfeita.
E, nossa, como eu senti saudade.
— Il mio paradiso, la mia redenzione… ti amo più di quanto immaginassi
possibile. Mia moglie.
Gemi baixinho quando sua voz rouca e grossa sussurrou palavras em italiano
no meu ouvido.
— Preciso de você, por favor — implorei. — Meu corpo queima de
necessidade para senti-lo dentro de mim. — Nem acredtei que essa voz chorosa
era a minha, nem acreditei que essa mulher lasciva, deitada no chão de uma sala
destruída, era eu. Mas sabe de uma coisa, não me importo, com amore mio eu
esqueço quem sou.
Rocco fez uma cara sofrida, soltando um grunhido necessitado e doloroso,
aproximou o rosto, deixando que meros centímetros nos separassem, seus lábios
espremidos em uma linha. A testa franzida. Então ele me encarava de uma form tão
ardente que me fez suspirar e imaginar o que me esperava quando ele me
possuisse.
— Preciso de você — gemi fechando os olhos e indo para beijá-lo, mas não
consegui, quando abri os olhos, Rocco afastou-se, me deixando confusa e solitária.
Ele ergueu-se e começou a andar de um lado para outro, passando as mãos no
cabelo de forma nervosa, depois, ele abria e fechava os mãos. Parecia um animal
enjaulado necessitanto de liberdade.
Fuja comigo! Permita-me ser sua liberdade!, pensei assustada com sua
reação.
Eu me levantei com cuidado, estava me sentindo fria e rejeitada. E agora a
dor em minha pele tatuada estava se tornando real. Por um momento eu esqueci
que ela estava ali, realmente esqueci.
Rocco estava cada vez mais e mais agitado, eu nem sabia que atitude tomar.
Fique perdida e parada, olhando de um lado para outro, como se em busca de
alguma resposta.
— Danazione. Maledita. Maledita — rosnou dando um murro na parede.
Pulei de susto me encolhendo, eu sentia sua agonia como um farol e precisava
deixá-lo tranquilo.
Rocco espalmou a mão na parede e encostou a testa lá. Eu vi que ele estava
tenso, os músculos de suas costas destacados, várias contusões marcando sua pele.
Respirei fundo e fui para perto dele.
— O que foi? — murmurei tocando suas costas, engoli minha tristeza pela sua
recusa e tentei mais uma vez. — Vem, meu amor, vamos ficar juntos, eu prometo
que nunca mais irei sair de perto de você. — Agora ele virou-se para mim e seu
rosto estava cansado, mais uma vez notei a angústia ali. — Vamos controlar seus
ciúmes juntos, vamos contruir nossa felicidade juntos, e eu juro que vou amar seu
filho com todo meu coração, mas… — Nesse momento minha voz embargou e eu
engoli o choro. — Vamos ser felizes. Não quero ficar sem você, eu sei que… —
Engoli o choro mais uma vez e continuei: — Eu sei que juntos somos perfeitos.
Com um grunhido ele me puxou para seus braços e enterrou o rosto em meu
pescoço. Ele me abraçava com força e eu apertei os dentes para evitar gritar de
dor, minha lateral estava queimando. Entretanto, eu não vou recusar esse abraço
maravilhoso.
— Perdona-me, amore mio — murmurou baixinho. — Per favore, cara mia,
perdona-me — implorou, me fazendo gritar em negação. — Não poderemos ficar
juntos agora. Eu não terei um bastardo; juro que desejo ardentemente que esse
bebê não seja meu, mas só ficaremos juntos se ele realmente não for, porque se for
meu… — Uma pausa e agora sua voz soava desesperada. — Ele será um legítimo
Masari, meu primogênito e herdeiro, com todos os direitos.
Fechei os olhos e apertei meus braços ao seu redor.
— Tud…— Engoli minha tristeza e o nó em minha garganta. — Tudo Bem.
Desculpe por pressionar você. Eu pensei que, talvez… — Não consegui falar.
Fechei os olhos e comecei a acariciar suas costas suavemente.
Ficamos em silêncio, mas juro que era como se uma guerra explodisse dentro
de mim, era tão igual ou pior que nossa primeira despedida.
Nesse instante decido que preciso seguir com minha vida. Não dá para viver
desse jeito, não dá para sonhar com algo que está cada vez mais e mais distante de
mim. Não posso culpar Rocco por querer cuidar de seu bebê. Eu realmente não
posso culpá-lo. E eu não o culpo, o amor não é isso? Esconder nossa dor e ajudar
aqueles que amamos mesmo quando somos nós que precisamos de ajuda? Sendo
assim, eu ergui meus escudos firmemente criados em minha época no ateliêateliê e
apertei meus braços ainda mais ao seu redor, intensificando minhas carícias em
suas costas e cabelo.
— Você será um pai maravilhoso — murmurei. — O melhor de todos na
realidade, e eu acredito que seu gesto será recompesando por Deus.
— Amore mio…
— Hei, baby, não tema, o futuro só a Deus pertece. — Suspirei, continuando a
acariciar seus cabelos. — Eu que me precipitei. Não se culpe por nada viu, tudo a
seu tempo.
“Ou não.”, pensei, mas não falei. Rocco não precisava de uma ex-namorada
pegajosa e exigente, que joga ainda mais problema para cima dele.
Ficamos abraçados durante muito tempo até que o toque do meu celular soa
alto, nos fazendo despertar. Juro que foi quase como uma intervenção divina.
Soltei do abraço de Rocco e fui para minha bolsa. Não olhei para ele, juro
que corria o risco de virar uma bagunça emocional. E não era disso que ele
precisava.
Procuro dentro da bolsa meu aparelho que toca insistentemente e atendo sem
nem olhar quem é.
— Oi. — Pigarreei, clareando minha voz, fiz isso para esconder a vontade de
chorar e minha voz falha.
— Victória, por favor não desligue. — Ouvi a voz de um homem do outro
lado da linha e franzi o cenho. — Eu preciso de ajuda.
Fechei os olhos e respirei fundo.
“E eu espero poder ajudar”, pensei suspirando
— Quem é? — perguntei, pois não reconheci a voz, e a pessoa parecia me
conhecer, então…
— Sou eu, Damon.
Surpresa me golpeou, eu pensei que nunca mais iria ter notícias dele. Não
depois que ele finalmente abriu os olhos para o amor.
— Damon, como você conseguiu meu numero? — perguntei e um grunhido
alto soou às minhas costas. Virei-me e vi Rocco com cara de poucos amigos. Na
verdade ele estava vermelho e sua expressão era feroz. Um senhor da guerra
pronto para atacar.
Arrepiei toda.
— Eu tenho meus meios — resmungou e logo suspirou — Victória, você foi a
única que me abriu os olhos para a realidade, e eu realmente preciso de ajuda
agora, eu… eu estou desesperado. Por favor, me ajuda, eu imploro.
— Claro, o que houve? — perguntei preocupada com ele. Pois para um
homem orgulhoso como Damon, ligar para mim pedindo ajuda era porque o
negócio estava sério.
— Miranda. — Prestei bem atenção em sua voz e notei que estava
embargada. — Eu a perdi, Victória, estou há semanas procurando minha garota e
não… — Damon pausou e eu ouvi uma espécie de tosse/soluço, o que me deixou
ainda mais alerta. — Eu não consigo encontrá-la, ela parece ter sumido. Eu… —
Ouvi o barulho de algo batendo e logo a voz dele voltou: — Ela deixou uma
carta. Por Deus, ela me ama também, mas eu fui um filho da puta egoista. Eu
estou tão apavorado, não tenho amigos, nem alguém da minha família em quem
eu confie. Não tenho ninguém, só você. Por favor, me ajuda.
— Claro, Damon, onde você está? — questionei pegando minha jaqueta e
vestindo-a às pressas, fiz várias caretas de dor por causa das minhas costelas. Eu
precisava fugir de Rocco, e essa era minha chance. Estava correndo o risco de
desabar e acabar piorando a situação.
— Me diz onde você está, eu vou te encontrar, já passei na sua casa, mas
você não estava, e aquele seu cão de guarda quase me bateu — bufou
desgostoso. — Eu não fiz nada. Foi sua Tia que me deu seu telefone, depois que
eu esperneei em sua porta por meia hora. Ela veio com uma vassoura e eu
expliquei tudo enquanto ela me batia, mas enfim consegui seu número e uma
vassourada nas costas.
Quase ri da situação. Entretanto Damon parecia tão desesperado que acho
sim que ele deve ter feito um barraco em minha porta. O amor modificou-o, e se
ele quer ajuda eu vou ajudar. Não vou deixar que mais um casal que se ama fique
separado. Passei o endereço do Will para e depois de agradecer muito ele
desligou, avisando que chegaria correndo.
— Não sabia que você era amiga do meu pior desafeto! — Rocco grunhiu de
braços cruzados. — Você e ele estão mantendo contato? Por acaso você lembrou
que foi ele que te beijou na boate e por isso eu…
Não acredito que eu ouvi isso!
Fechei os olhos, dando-lhe as costas. Eu não me lembrava completamente
daquele dia horrível, de vez em quando flashes de memória voltavam, e era muito
ruim. Agora que eu sei que Damon me beijou, acho que entendo um pouco a reação
visceral de Rocco. Quero deixar claro que nunca aceitarei que ele nem ninguém
me acuse de algo que eu não fiz.
— Não vai falar nada? — rosnou e eu me virei, agora sua expressão se
tornou ainda pior. O ciúme gotejava. Era quase palpável.
— Pode parar! — falei firme, porém suavemente. — Cuidado com suas
palavras. Você não tem por que duvidar do meu caráter, e sim, eu sou amiga do
Damon, e não, nunca tive nem terei nada com ele. Mesmo eu estando livre para
fazer o que eu quiser — alfinetei-o, mas logo me arrependi. Eu não sou assim. —
Desculpa, eu não quero te magoar, mas você precisa medir suas palavras. Eu só
não te contei sobre Damon porque esqueci, foi muita coisa ao mesmo tempo —
falei alto enquanto juntava minhas coisas. — Damon veio até mim, e conversamos,
eu abri os olhos dele, resumindo, ele ama a secretária, que, pelo que entendi, foi
embora, ele está desesperado e quer ajuda. E eu vou ajudar, você querendo ou não.
Peguei minha boina, coloquei na cabeça, junto com meus óculos, estava indo
para a porta quando mais uma vez sou arrastada para o círculo dos braços de
Rocco.
Não o abracei de volta.
— Scusi, amore mio— resmungou em meu pescoço. — Morro de ciúmes.
Você é minha, entenda que nada do que acontecer vai mudar, não vou permitir que
você fique com ninguém. Não vou! — exclamou fervorosamente. — Vou caçar
qualquer bastardo que chegar perto de você, vou infernizar todos que tentarem te
tomar de mim.
Meu Deus, ele diz que não pode ficar comigo, mas não quer que eu fique
com ninguém! Que loucura, meu Deus, que loucura, a cada instante que passa
eu tenho mais e mais certeza que Rocco é o terremoto que eu sempre pensei que
fosse.
— Não vou ficar com ninguém. Você está sob minha pele, e eu preciso me
acostumar a viver sem você! — tranquilizei-o com a verdade.
— Amore mio…
— Por favor, vamos parar! — pedi empurrando-o levemente. — Eu não sei
como vai ser, Rocco, mas parece que as coisas só pioram e pioram. Você está
cansando, machucado e precisando dormir. Faça isso, eu vou conversar com
Damon e ir para casa.
— Só no dia que eu morrer você vai falar com aquele filho da puta estando
sozinha! — rosnou colocando as mãos em meu cabelo, puxando minha cabeça para
trás, doeu e eu gemi com a dor gostosa e excitante. — Você é minha… minha e só
minha — grunhiu baixo com o rosto muito próximo ao meu. Não tive nem tempo
para revidar, ele atacou minha boca com um beijo duro, como se fosse uma
punição por desobediência.
Fui engolida por uma onda de excitação Tão grande que minhas pernas
fraquejaram.
Revidei seu beijo com mesmo ardor, esse seria o último, pois não o terei. Ele
não é e nem será meu. Pensando nisso, desespero misturou-se com o desejo que eu
sentia e eu me vi quase queimando de luxúria e medo.
Enfiei minhas mãos em seu cabelo e puxei com força, arrancando um rosnado
de sua boca, logo eu me vi empurrada contra a parede e Rocco me erguendo,
enlacei minhas pernas em sua cintura e ele alinhou nossos sexos.
Contato.
Tremi e um longo gemido deixou meus lábios. Não tenho controle sobre meu
corpo, ele me tem, e eu sou, sim, uma fraca apaixonada, massinha de modelar nas
mãos desse homem.
— Você é minha… minha! — Seus olhos azuis pareciam duas brasas me
queimando
— Sou sim, sou completamente sua, mas você não é meu.
Ficamos nos encarando até que ele suspirou e fechou os olhos, encostando
nossas testas.
— Eu sou e sempre serei seu. Não importa — resmungou e me soltou com
cuidado.
Nós nos separamos e pela primeira vez o clima ficou entranho entre nós. Era
muito confuso, em um momento estávamos nos agarrando e no outro agindo como
dois estranhos.
“Preciso me afastar.”, pensei, sentindo uma crescente angústia em meu peito.
Rocco foi até a varanda da cobertura e lá ele apoiou-se na parede de
contenção, instantes depois, eu saltei de susto, pois o brado que ele soltou foi
realmente assustador.
Caminhei até ele, mas não o toquei, apenas observei as veias de seu pescoço
ficarem destacadas a cada vez que ele urrava de pura raiva.
— O que foi? — William apareceu correndo com os cabelos molhados. —
Vocês estão bem?
Calada estava e assim permaneci. William olhava de um para outro sem
entender, nesse momento, Dimitri chegou esfregando os olhos.
— Mas que diabos — reclamou —, hoje é o dia de “vamos ver quem grita
mais alto?”. Eu estava dormindo, seu bastardo.
— Foda-se — Rocco grunhiu e eu saí de mansinho, voltei para o sofá e sentei
ali, de cabeça baixa. Eu estava cansada.
Mental e fisicamente cansada, o dia foi longo, e o que eu pensei que
aconteceria não aconteceu.
Suspirei esfregando as têmporas, uma dor de cabeça estava começando a dar
sinal de vida.
— Você está bem? — Nem me dei ao trabalho de levantar a cabeça para
saber que era William. — Precisa de alguma coisa?
— Estou bem — murmurei dando de ombros
— Victória, olha para mim — pediu com carinho e eu o fiz.
Era incrível como os olhos dele eram azuis. E combinados aos cabelos
loiros, você tinha um príncipe Nórdico.
— Tudo vai se resolver, confie em mim, tudo bem? — falou piscando um
olho. — Eu vou buscar respostas.
— As coisas sempre se resolvem, o problema é apenas o tempo que a
solução demora para chegar. Mas sei que tudo é desígnio de Deus, Ele tem seus
propósitos em nossa vida, temos que aceitar e esperar nEle com paciência — falei
e um sorriso se desenhou em meus lábios.
Eu acreditava em Deus, e esperava nEle com paciência. Ele nunca me
desapontou, nunca.
— Esperar pode ser difícil — murmurou baixinho, William era um cúmplice
que eu encontrei nesse dia tão emocionalmente desgastante.
— E desde quando as coisas realmente boas são fáceis? — questionei. —
Quanto mais difícil, maior será o sabor da conquista!
— Isso pode ser encarado como um aprimoramento da paciência. — Deu de
ombros. — Se perguntarmos para um sábio o caminho, ele provavelmente irá dizer
que a resposta está dentro de nós — filosofou tranquilo. — Quem sabe, não é?
— Tem razão, meu amigo. Tem razão! — concordei e ouvi meu celular
tocando. Atendi rapidamente, queria uma escapatória daqui e Graças a Deus ela
apresentou-se para mim.
— Já chegou? — perguntei assim que a linha conectou.
— Estou aqui embaixo, vou te esperar — Damon falou e eu assenti.
— Estou descendo.
Desliguei e guardei meu celular na bolsa. Levantei e iria sair de fininho
quando um grunhido muito irado explodiu da varanda.
— Você não vai encontrar aquele bastardo! — Rocco berrou alto e veio com
tudo para cima de mim. — Você não vai — falou tentando me agarrar, entretanto,
William fez um paredão em minha frente.
— Vai com calma, irmão.
— Calma é o meu pau! — rugiu empurrando William. — Você não vai descer
e se encontrar com o bastardo do Whitaker! — grunhiu pairando acima de mim.
Para olhá-lo eu tinha que jogar a cabeça para trás.
— Eu vou, mas se você quiser ir comigo, fique à vontade! — falei dando de
ombros.
A apatia estava voltando. Camuflando meu desgosto, criando uma camada
protetora ao meu redor, todavia, eu bem sabia da fragilidade dessa proteção. Tal
qual aconteceu hoje, eu saltei da alegria para a tristeza. O que me lembra de uma
citação de Shakespeare, que se encaixa perfeitamente a esse momento:
“Estas alegrias violentas têm fins violentos, falecendo no triunfo como
fogo e pólvora, que num beijo se consomem.”
Tão rápido como a chama que queima em uma linha de pólvora foi a
felicidade que eu senti quando estive nos braços do meu amor. Por um momento eu
pensei que ficaríamos juntos, mas enfim. É o fim.
Vou seguir meu caminho e pausar essa parte da minha vida. Irei querer viver e
mesmo sem querer vou viver esperando.
— Bom, eu já vou. — Suspirei dando as costas. — Se quiser vir, fique à
vontade.
Dei as costas para os rapazes e abri a porta. Não iria esperar.
— Me dá sua camisa. — Escutei Rocco grunhir e suspirei me virando
novamente.
— Escroto, quer me ver sem roupa é só falar, eu sei que você tem uma tara
nesse meu corpo sexy! — Dimitri resmungou enquanto tirava a camisa e entregava
a Rocco, que a vestiu às pressas.
Eu ri porque foi inevitável, Dimitri era demais, ele era um bendito
linguarudo, sempre fazendo piadinhas para aliviar o clima.
— Só nos seus sonhos, seu troncho! — Rocco rosnou e saímos.
Caminhamos em silêncio até o elevador e lá permanecemos assim. Vou até
confessar uma coisa realmente sem sentido. Eu estava me sentindo tímida perto
dele, era quase como se estivéssemos voltando para o início de tudo que vivemos.
Eu não sabia o que dizer, não conseguia puxar assunto.
Não queria admitir, mas eu estava desconfortável.
Era muito, muito estranha toda essa situação, mas uma coisa é certa, os
perdedores só serão classificados como perdedores se não aprenderem com a
derrota, todavia, se eles tirarem experiência com os erros, então mais cedo ou
mais tarde eles se tornarão vencedores. Eu espero que isso aconteça comigo.
Descemos na grande recepção e logo eu avistei Damon sentado com os
cotovelos apoiados nos joelhos, ele estava com os cabelos bagunçados, a barba
grande, e quando me aproximei vi que ele estava com os olhos vermelhos e a
expressão muito cansada.
Parece que ele não dorme há dias.
— Olá, Damon — falei suavemente estendendo uma das mãos para ele.
— Oi, Victória — anuiu estendo a mão para pegar a minha, contudo ele não
conseguiu, pois Rocco surgiu pelo meio usando toda a truculência que só ele era
capaz.
Revirei os olhos. Eu estava cada vez mais e mais cansada.
— Você não vai tocar nela — grunhiu cruzando os braços, bloqueando
parcialmente minha visão. — Pode acreditar que eu estou procurando um motivo
para não arrebentar sua cara de novo, e por isso sugiro que aproveite esse tempo,
dê meia-volta e suma.
Fechei os olhos e contei até dez, depois respirei fundo e senti a calma me
invadindo, junto com o cansaço que eu já sentia, meu peso estava se tornando
muito pesado para minhas pernas.
— Primeiro, sente-se, Rocco, e você também, Damon! — minha voz saiu
uniforme, mas levemente em tom de comando.
Ambos me olharam como se eu fosse alguma louca, e eu revidei a posição
deles, cruzei os braços e bati o pé levemente.
— Sentem-se agora!
Resmungando maldições, ambos fizeram isso. Mas não paravam de se
encarar como lutadores.
Na verdade esse momento me lembrou de um filme onde Jet Li era tratado
como um animal, só bastava seu “dono” tirar sua coleira e sussurrar “pega”,
pronto a pancadaria rolava solta.
Pela forma como Rocco encarava Damon, bastava um sinal e ele atacava. Na
verdade nem sei como ele ainda não fez isso.
O grande corpo do bronzeado do meu lindo italiano está tenso, os músculos
dos braços e ombros destacados pela regata que usava, os cabelos alvoroçados, a
barba grande. A expressão de parecida a de um lobo selvagem e feroz.
— Primeiro eu vou começar. — Pigarreei chamando atenção de ambos para
mim. — No passado uma ex fez vocês brigarem, agora, no presente, outra irá
acabar com essa guerra — falei deixando a palavra ex de fora, contudo a
conotação foi essa e sei que Rocco percebeu, pois ele fez uma leve careta. —
Vamos lá, deixem o passado de lado e recomecem!
— Nem morto! — Rocco bufou soltando uma risadinha sarcástica. — Prefiro
usar um taser nas bolas que ser amigo desse filho da puta!
Ah, okay, ele foi bem claro, mas eu sei que um lado tem que ceder. E se eles
não quiserem, bom, eu posso aplicar um pouco de pressão e ver o que acontece.
— Damon? — Arqueei uma sobrancelha para ele que assentiu e endireitou-se
na cadeira.
Graças a Deus não foi tão difícil!
— Rocco — começou e pigarreou —, eu não quero ser seu amigo nem nada
parecido, mas eu quero deixar meu passado mesquinho e invejoso de lado, quero
esquecer que vivi uma década da minha vida querendo ter o que você tinha,
esquecer que fui movido por motivos fúteis e egoístas, recomeçar minha vida do
zero com a mulher que eu amo. Para isso, preciso deixar tudo para trás, quero
estar limpo e inteiro para ela, sem brechas. Preciso aparar todas as arestas.
Vi que Rocco se mexeu desconfortável na cadeira. Sorri de leve, meu lindo
de coração bom.
— Por favor, me perdoe por tudo que eu fiz e causei a você! — Damon
insistiu e entendeu uma das mãos solicitamente. — Eu sou um novo homem,
conheci o amor, eu o vivi.
— Maledito! — Rocco grunhiu e estendeu a mão, deram um aperto rápido e
logo se separavam, notei que meu lindo, esfregou a mão na calça disfarçadamente.
— Nem pense que eu vou baixar a guarda, dê uma de doido e eu te parto a cara!
— Não o reconheceria se não o fizesse! — Damon concordou e logo seu foco
estava em mim. — Victória, eu preciso de ajuda, Miranda sumiu, eu não consigo
encontrá-la e estou a meio caminho da loucura.
— Damon, você tem certeza que procurou direito? — perguntei me
inclinando para frente. — Você não deixou nenhuma ponta solta?
— Não, eu não deixei! — exclamou passando as suas mãos pelo cabelo e
rosto. — Eu contratei detetives, e eles não conseguem encontrá-la. Veja — falou e
me estendeu uma carta, que logo notei estar marcada, com certeza foi lida e relida
várias vezes, por isso os sulcos nas dobras. Assim que abri, vi várias letras
borradas, e quando li eu segurei minhas lágrimas.
Um amor tão lindo e tão cheio de desencontros poderia até estar fadado ao
fracasso, mas não se depender de mim.
— Damon, aqui ela diz que a prima queria vingança dos dois homens que
destruíram sua vida! — eu disse juntando as peças em minha cabeça. — Eu acho
que Miranda talvez não tenha dado as informações corretas quando começou a
trabalhar para você, já parou para pensar que talvez esse nem seja o nome dela?
— Então deve ser por isso que ela simplesmente sumiu! — exclamou
arregalando os olhos, havia um pingo de esperança que logo foi engolido por
tristeza, sua expressão caiu mais uma vez. — Ela vai se casar, e eu vou perdê-la se
não chegar a tempo! Por Deus, eu tenho que chegar a tempo.
Era muito horrível ver uma pessoa sofrendo por amor, é justamente por isso
que eu sofro em silêncio, minha dor é só minha para vivenciá-la, neste caso já
bastam minhas lágrimas, não preciso de acréscimos.
— Damon, calma aí, você não vai desistir dela, certo!? — perguntei e ele
negou. — Então, agora pense, quem é a prima que queria vingança? E onde
Miranda poderia estar?
Cerca de dois segundos depois, ele e Rocco pronunciaram juntos:
— Susan
Não entendi como Rocco chegou a esse entendimento, mas vamos adiante,
isso não importa realmente.
— Filha da puta! — Rocco grunhiu e eu olhei para ele, então como se
estivesse tendo uma revelação, ele arregalou os olhos e socou a mão no punho. —
Te peguei, safada! Você está por trás daquela puta perseguidora — grasnou não
falando com ninguém diretamente, logo ele levantou.
Não entendi nadinha, as coisas estão seguindo um fluxo inesperado hoje, e
mais um pouco de loucura e coisa sem sentindo não faz muita diferença ou faz?
— Como eu não pensei nisso antes? — Damon perguntou incrédulo. — Eu
estava tão desesperado para encontrar Miranda que não liguei os pontos. Mas que
droga! — Ele também levantou e começou a andar de um lado para o outro,
fazendo o mesmo que Rocco.
Ambos pareciam conversar sozinhos, e eu fiquei apenas de expectadora. Eles
davam alguns passos conversando baixinho, com eles mesmos, em seguida,
erguiam a cabeça como se lembrando de algo e voltavam a caminhar de novo, os
dedos servindo de base para contagem.
Algum tempo depois eles param e mais uma vez juntos pronunciaram.
— Castle Combe!
— Você consegue lembrar que a vadia-chefe vivia falando que odiava a
cidade porque era muito velha? — Damon perguntou e Rocco concordou.
— Ela era uma cavadora de ouro, maldita alpinista social, mas tem razão, ela
falava com nojo de Castle Combe! — Rocco riu. — Dizia que a família toda iria
morrer enterrada naquele lugar pré-histórico.
— Vadia! — ambos falaram em uníssono e agora Damon riu e veio até onde
eu estava.
— Obrigado, Já sei onde procurar! — exclamou feliz e eu fiquei muito
contente também. A expressão de Damon era outra. Agora ele estava bem mais
parecido com o homem que conheci. Arrogante e imponente. — Seja feliz, eu
desejo o melhor para você, e se um dia precisar de um amigo, pode contar comigo!
— Sorriu pegando minhas mãos e beijando cada uma. — Obrigado de novo.
— De nada! — Sorri. — É para isso que servem os amigos.
— Sim, você é minha única amiga! — Com isso ele deu as costas e começou
a andar, mas parou e virou-se para Rocco, que o encarava com olhos estreitados.
— Eu desejo que você seja muito feliz, Rocco, deixo claro que não me arrependo
de ter mostrado quem era a vadia da Susan, só me arrependo de não ter feito isso
de outra forma, hoje talvez nós dois fôssemos amigos.
Rocco bufou cruzando os braços e eu revirei os olhos.
— Se manda, seu bastardo, pelo que entendi, você corre o risco de encontrar
sua garota casada! — Damon perdeu a cor do rosto e praticamente correu para a
saída. Já eu, olhei para Rocco balançando a cabeça.
— Você não precisava dizer isso.
— E perder a chance de fazer ele viajar se cagando de medo? — questionou
dando de ombros. — Não mesmo.
Ri baixinho, mas logo suspirei.
— Bom, eu vou indo — falei mexendo na alça da minha bolsa. — Er… então,
depois nos falamos, vê se descansa e come alguma coisa. Uhnn… tchau. — Virei
as costas para ir embora sem esperá-lo dizer qualquer coisa que fosse, mas não
cheguei a dar três passos.
Nossa, hoje é o dia em que eu terei que ganhar o Oscar por atuação. Eu só
quero poder ficar na minha e chorar ou não, mas eu só queria ficar sozinha,
entretanto, sei, que se eu disser isso para Rocco, ele vai ficar magoado. Ele não
precisa disso.
— Durma aqui, me deixe te ter por perto! — grunhiu baixinho em meu
ouvido, enviando impulsos elétricos pelo meu corpo, como se sentisse minha
reação, ele colou minhas costas em seu peito forte, o que me fez tremer e engolir
um suspiro rendido.
“Deus, como eu amo esse homem!”, pensei quase desesperada com o
tamanho do sentimento que pedia passagem. Meu peito parecia crescer para
suportar o que eu sinto por ele.
— Me deixe apenas te olhar — murmurou covardemente.
Eu fiquei calada, mas na verdade eu travava uma batalha interna, não queria
ficar porque isso me fazia querer coisas que não podia ter.
— Fica comigo hoje, me deixa matar a saudade da sua presença, da sua voz,
do seu cheiro — desta vez ele ronronou, fungando em meu pescoço.
— Rocco, se não podemos ficar juntos, seremos amigos, mas… — Suspirei
me aconchegando em seu abraço. — Teremos que manter o mínimo de distância,
não me sinto muito forte para manter minhas mãos longe de você!
— Eu aceito qualquer coisa! — resmungou e voltamos para a cobertura do
William.
De mãos dadas. O máximo que conseguimos nos afastar, o máximo que
permitiríamos.
Nossos corpos se atraíam como dois potentes imãs. Era simplesmente
inevitável.
Por isso, as próximas horas começaram simplesmente torturantes, eu sorria,
brincava e fingia, tudo isso enquanto limpávamos a bagunça causada pelos três. De
vez em quando Dimitri me olhava com uma cara séria. Às vezes ele arqueava a
sobrancelha como se me perguntasse algo, então eu balançava a cabeça e ele não
dava voz a suas perguntas.
Ele era observador e entendia as coisas muito rápido! William também, mas
ambos sabiam ficar quietos. Rocco estava a todo momento me tocando, às vezes
passava a mão no meu cabelo, às vezes tocava minha bochecha ou simplesmente
vinha ficar do meu lado. Mesmo assim, eu só queria ir embora e não conseguia
ficar muito empolgada quando Rocco puxava assunto. Eu até tentava, mas, no fim,
eu sorria e fingia.
Desviei o foco do clima que volta e meia ficava estranho, usei minha tatoo
como via de escape, William não acreditou e Dimitri estendeu o punho para me
tocar.
— É isso aí! — Sorriu quando choquei meu punho no dele. — Você agora faz
parte da minha turma, vou te conseguir uma jaqueta de couro e uma moto, vamos
dar umas voltas por aí.
Eu sorri da ideia absurda, me senti mais leve e um pouco menos atriz
também, o que era um alívio imenso.
William balançou a cabeça e Rocco deu um forte tapa na nuca do amigo.
— Vai sonhando, pode tirar o olho, essa já tem dono! — Rocco bufou
cruzando os braços.
— Deus me livre de virar um pau mandado! — Dimitri fez o sinal da cruz,
arrancando uma risada alta do William. — O Big Dinka gosta de voar e
experimentar várias flores.
Agora sim eu ri de verdade pela primeira vez, enquanto Rocco estreitava os
olhos e cuspia um:
— Você será pior que eu, e espero que a amiga da sua irmã te dê um trabalho
dos infernos.
Opa, esse deve ser algum ponto fraco, pois Dimitri fez uma careta e coçou a
cabeça.
— Deixa de me rogar praga, seu grande maricas! Eu, hein.
Quando terminamos a limpeza, eu cuidei dos machucados de Rocco, cuidei
dele com muito carinho, depois foi a vez dos outros. Coloquei band-aid onde foi
preciso e dividi meus analgésicos, claro que houve uma discussão deles comigo.
Os três afirmavam de forma categórica que estavam bem e não precisavam de
remédios.
Homens e suas manias de quererem sempre se mostrarem fortes.
No fim eu ganhei, claro que foi com jeitinho. Em seguida pedimos comida e
ficamos por ali. Comendo e conversando, surpreendentemente William nos contou
um pouco sobre a garota do quadro, e pelo menos agora não havia tanta mágoa, ele
tinha um sorriso lindo nos lábios quando contava uma das histórias de sua pequena
“ferinha”.
— Então tomamos um banho de chuva, eu a chamei de peste malcriada e
teimosa, ela me chamou de baleia encalhada! — Riu baixinho enquanto Dimitri
gargalhava com a mão na barriga, Rocco ria também, só que mais controlado. —
Isabela nunca ficou quieta quando eu a provocava, se eu dissesse que ela era muito
baixinha, ela me chamava de bola de festa. — Dimitri estava descontrolado na
risada e agora Rocco também, eles nem ligavam para a cara feia de William.
— Não ligue para eles, continue — pedi incentivando, e ele o fez.
— Teve uma vez que eu quase morri de vergonha, estávamos em uma das
festas da cidade, e lá estava a garota de quem eu gostava, Isabela sabia do meu
amor platônico pela outra e foi lá tentar me ajudar, ou piorar, nem sei. — Suspirou
balançando a cabeça negativamente, — Eu ainda me lembro das palavras dela. —
Pigarreou, mas o sorriso estava lá, e isso era bom… muito bom. — Ei, você, sua
feiosa, por que não dá atenção para o Will? Ele é lindo, viu? Só não sei o que
ele tanto admira em você, olha, toda estranha e com cara de azeda, parece uma
bruxa velha. Ela falou mais ou menos assim, então a partir daí foi declarada a
guerra entre as duas. — William coçou o queixo, depois cruzou os braços,
sentando de forma mais largada na cadeira, seu olhar era perdido e nostálgico,
mas de um jeito bom. — Eu até fiquei chateado e sem falar com ela uns dois dias,
mas então, no terceiro dia do meu gelo, à noite, Isabela invadiu meu quarto depois
de escalar uma àrvore. Nem acreditei, por Deus, ela era tão nova e maluca, nesse
dia ela me chamou de besta quadrada, baleia burra, cego idiota e Romeu falido.
Ainda disse que se eu não queria mais falar com ela, era eu quem perdia, no fim de
seu ataque, me chutou na canela e foi embora, quase me causando um infarto de
medo. Ela saiu por onde veio.
— Puta que pariu, essa garota era uma peste mesmo! — Dimitri riu limpando
os olhos. — Baleia burra e Romeu falido. — Gargalhou mais um pouco. —
Adorei.
— Ela era minha peste, minha garota, meu pequeno anjo — resmungou rindo
levemente. — Mas que ela dava um trabalho dos infernos, ah, isso ela dava,
acredita que eu tive que defender um garoto dela? Vi uma briga de moleques e
corri para ver se conseguia resolver, no fim, fiquei chocado ao ver Isabela batendo
em um garoto. Ela era incontrolável. Meu Deus, que saudade do meu anjo. —
Suspirou fechando os olhos durante alguns segundos.
Sorri para a forma carinhosa como ele a chamava, eu estava contente por ver
William conseguindo falar sobre esse grande amor de juventude, agora eu sentia
que havia amor e saudade, mas também conformismo em suas palavras.
— Agora nos conte um pouco sobre suas trapaças, Dimitri — Rocco pediu.
— Eu bem sei da sua enorme lábia e cara de pau!
Nós nos divertimos muito com as história de Dimitri, o imigrante Russo que
fez das tripas coração para vencer na Inglaterra. Era fato, Dimitri era o rei das
palavras, pense que lábia. Fez um agiota se enrolar todo e ainda conseguiu o
dinheiro que precisava. Dimitri era sem dúvida muito corajoso e destemido.
Sinceramente, eu confesso que fiquei orgulhosa por todos eles e chocada
quando descobri que dois dos cinco homens mais poderosos e ricos do mundo
estavam na sala comigo. Não quis nem saber o alcance do poder que Rocco e
William tinham.
Graças a Deus eu consegui segurar a onda até a hora do sono se sobrepor à
minha vontade.
Não preciso dizer que foi uma briga enorme entre mim e Rocco. Ele queria
que eu dormisse com ele no mesmo quarto, já eu queria ficar sozinha para me
encolher. Ele cortou minhas asas, mas ainda quer voar. No fim, acabei ganhando
um quarto para mim e, tão rápido quando deitei, adormeci.
Ressaltando que eu tranquei minha porta.
Acordei me sentindo péssima, minha lateral queimava e eu estava mais
cansada do que quando fui dormir. Olhei ao redor e vi que estava escuro ainda,
levantei indo direto para o banheiro, lá escovei os dentes e tomei o remédio para
aliviar a ardência na pele, com certeza as extravagâncias que fiz eram as culpadas.
Depois, recolhi minhas coisas, vesti minha roupa e me preparei para sair.
Com cuidado, abri a porta do quarto e nem acredito quando vejo Rocco, ele
estava todo encolhido e só tinha um travesseiro para protegê-lo do chão duro.
— Tão lindo — murmurei dando vazão a minhas lágrimas, segurei até onde
deu, agora não dava mais. Travei uma batalha interna entre acordá-lo ou não. Se
acordasse com certeza ele não me permitiria ir embora e eu precisava, todavia,
deixá-lo no chão duro, e ainda estando machucado, não era uma opção para mim.
Por isso peguei o meu celular e liguei para Dimitri, tocou e tocou até cair na caixa
postal. Eu sei que era uma judiação acordá-lo, mas não havia outra solução. Liguei
de novo e mais duas vezes, nada.
Mexi na agenda e procurei por William, liguei e já no terceiro toque ele
atendeu.
— Victória? — perguntou com voz sonolenta.
— Desculpa te ligar — cochichei. — Eu estou saindo, mas Rocco está
dormindo no chão aqui do corredor, em frente à minha porta, poderia, por favor,
vir aqui?
— Claro.
Instantes depois um William completamente despenteado aparece.
— Eu sabia que ele não iria conseguir dormir no quarto — sussurrou. — Ele
diminuiu a distância como pôde. Victória, ele não está bem com sua decisão.
Confie em mim, eu conheço meu amigo. Mas devo dizer que ele está sendo um
idiota dos grandes. — Sorriu. — Nesses dias ele vai enxergar a verdade e vai se
arrastar as seus pés. Acredite.
— Uhum. — Balancei a cabeça e me abaixei, fiquei bem perto de Rocco. O
máximo que consegui.
— O amor é paciente, é bondoso, tudo suporta, tudo crê — sussurrei
passando os dedos suavemente pelo seu cabelo. — O amor não se alegra com a
injustiça, pois sua felicidade está na verdade. Eu te amo, Rocco, e espero que seja
muito feliz em suas decisões. Adeus, amore mio, que Deus guie os seus caminhos.
— Beijei carinhosamente seu rosto e me levantei.
— Cuide dele, por favor — pedi a William, que me olhava com uma
expressão muito misteriosa e solene.
— Pode deixar, eu vou resolver as coisas para esse louco aqui. — Piscou um
olho.
— Vou sair, quando passar pela porta, vou bater de leve, acho que você
escuta, então tire ele do chão, sim?
— Sim, senhora — concordou fazendo uma continência. Sorri e olhei para
Rocco. Minha mão coçou para tocá-lo, mas resisti.
Saí do apartamento de William sem fazer muito barulho.
Cheguei à recepção do prédio e pedi um táxi, ainda eram quatro e trinta da
manhã, não sei o que me acordou, mas eu agradeço por finalmente poder ir para
casa. A viagem até lá passou como um borrão, uma leve chuva molhava minha
janela, enquanto as luzes tentavam acolher as ruas frias. Fechei olhos e revivi
alguns momentos maravilhosos com Rocco.
Foi tudo incrível, e mesmo não estando mais juntos, eu o amo ainda mais por
sua decisão.
Rocco Masari é tão honrado, digno e maravilhoso como eu pensei que fosse.
Muito bravo, ignorante, truculento e ciumento, mas ainda assim perfeito em sua
imperfeição.
Sorri. Um sorriso sincero, sem precisar me esforçar.
Quando cheguei em casa me sentia super cansada, graças a Deus todos
dormiam, sendo assim, pude ir direto para minha cama. Meus lençóis frios me
abraçaram e eu suspirei, deixando a exaustão tomar conta.
Capítulo 32
Madame Blanchet
Não acredito que minha vida mudou tanto. Em um dia eu estava bem, com
Victória presa ao meu contrato falso, e no outro eu tinha um monstro tirado dos
meus piores pesadelos colado em mim.
Um monstro que me machucava, me torturava, me humilhava e ria enquanto
minhas lágrimas de sofrimento banhavam meu rosto.
Não pensem que aquele episódio aqui no meu ateliê foi o único, Jean Pierre
me espancou em minha própria casa e eu não pude fazer nada. Durante todo o
tempo em que ele assolava meu corpo com chicotadas, golpes de palmatória e
outras coisas, eu só lutava para ser forte e não abrir a boca e acabar revelando
meu segredo.
Se ele souber que eu mantive Victória escondida e que menti dizendo que eu
criava para o ateliê da França, com certeza eu iria no mínimo perder minha pele.
Morrer seria sorte, Jean Pierre consegue puxar até a última gota de dor que o
corpo humano pode produzir, ele sabe onde está cada músculo, cada osso, cada
minúsculo ponto de tensão. Ele sabe quanto tempo leva para um corpo desligar por
falta de oxigênio, consegue adaptar a falta de água e comida para diferentes tipos
físicos e assim enfraquecer e deixar o corpo à beira do colapso, e quando isso
acontece, ele o traz de volta, permite a recuperação e depois volta tudo de novo.
Eu soube disso enquanto ele me torturava, a cada dedo quebrado ou resposto
no lugar ele me contava como fazia as coisas, como o corpo implorava por
misericórdia. Ele me contou da doce melodia do choro angustiado, do chamado
majestoso do sangue.
Eu vomitei dias a fio, pois as lembranças que eu tinha do que vi na França se
misturavam com o que eu vivi. E foi de forma consciente e acertada que eu resolvi
me desligar da Victória. Essa foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, agora, eu
tenho 70 desenhos exclusivos e magníficos, só tenho um pequeno problema…
Eu preciso fazê-los durar.
Estava distraída admirando os croquis que eu tanto quis pegar quando o
telefone da minha sala toca. Instantaneamente, eu sinto um calafrio, fiquei assim
desde a primeira visita daquele monstro. Só em pensar que possa ser Jean Pierre
eu sinto meu estômago apertando em um duro nó e o suor irromper em minha pele.
— Sim — atendo receosa e minha secretária quase me faz enfartar quando diz
quem está esperando para entrar.
Imediatamente autorizo a entrada da minha visitante e já tento melhorar minha
aparência. Deixo o medo ir embora e dou o meu melhor sorriso.
A porta abre e eu vejo umas das mais influentes estilistas do mundo entrando.
Essa mulher tinha o poder do sim e do não no mundo da moda. Ela era a elegância
em pessoa, a melhor dos melhores. Era um sonho tê-la aqui. Meu sonho, na
verdade, ainda não acreditava que era ela mesma. Mas sim, era e eu estava
começando a acreditar que minha sorte estava de volta.
“Um dia eu queria ser como ela, ou melhor. eu queria ser ela”, pensei
ansiosa.
Antonieta Andrade.
A melhor de todas, a rainha da alta costura, a embaixadora da moda clássica.
Saí de trás da minha mesa e meu sorriso aumentou, com certeza ela deve
querer alguma sociedade, e eu aceitaria. Qualquer coisa com Antonieta Andrade
seria um sonho para qualquer estilista, mesmo sendo uma famosa como eu. Notei
que ela olhava minha sala, fiquei ansiosa, pois sua expressão era neutra, não dava
para adivinhar nada.
Respirei fundo e estendi minha mão de forma educada, tentando quebrar o
silêncio da mulher incrível diante de mim.
— Que honra tê-la aqui em meu ateliê, devo dizer que não esperava e fico
muito… — Minhas palavras foram cortadas pelo forte tapa que eu levei. Meu
rosto queimou, e lágrimas salpicaram meus olhos. — Mas o que…
— Você é uma maldita, por que mentiu quando eu te liguei, oito anos atrás,
perguntando se a moça que eu pedi para você empregar, continuava aqui? —
Antonieta falou, apenas sua voz demonstrou sua raiva, pois seu rosto permanecia
inalterado.
— Mas eu recebi Maria aqui depois de sua surpreendente ligação, eu permiti
que ela trabalhasse mesmo grávida, porque eu não queria te desapontar, afinal, seu
nome é muito influente e eu queria mostrar que faria qualquer coisa por você! —
exclamei enquanto recebia um olhar de desdém. — Maria trabalhou aqui até o dia
em que morreu, há oito anos — proferi o mais tranquilamente possível, não
entendi o que estava acontecendo.
— Eu perguntei se ela havia tido o filho, e você disse que a criança tinha
morrido! — esbravejou estreitando os olhos. — Eu te perguntei, e você mentiu
para mim!
Escutei sua acusação e fiquei durante alguns segundos sem saber aonde ela
queria chegar. Logo resolvi atacar, eu estava na merda mesmo, então por que não
afundar mais um pouco?
— Sim, eu menti, e daí? — grunhi, deixando a raiva pelo tapa tomar conta. —
Eu peguei a filha dela para ser minha empregada! Fiz a idiota produzir um vestido
atrás do outro e fiquei muito rica a explorando. — Gargalhei histericamente. — E
agora o que você vai fazer? — Ergui o queixo e não consegui evitar o outro tapa
que me atingiu.
— Lave a sua boca, estamos falando da minha neta! — rosnou, me fazendo
cambalear para trás.
— Você está louca, a única filha que Maria teve foi Victória e ela… —
Arregalei meus olhos quando a verdade me golpeou. — Você mandou a mãe da sua
neta para cá…
— Eu fiz o que tinha que fazer! — exclamou altiva. — Agora eu vim aqui
apenas para te dar um aviso, desista do mundo da moda, você está acabada! Eu
vou te destruir e não sobrará nem a lembrança de quem um dia foi Blanchet! Ah,
fique com os desenhos que roubou da minha neta, eles irão te servir de lembrança
quando estiver na sarjeta!
Com isso ela saiu da minha sala, me deixando paralisada de choque.
— Mas o que está acontecendo comigo? — questionei nervosa parada no
tempo, caminhei até a parede de vidro e fiquei olhando as nuvens cinzentas. — O
que é tudo isso? — murmurei para ninguém.
Fiquei ali muito tempo, com o olhar perdido. Minha mente um caos. Eu só
conseguia pensar que se Antonieta cumprisse sua promessa tudo estaria acabado,
nada do que fiz e arrisquei vai ter valido a pena.
Pulo de susto quando minha porta fecha com estrondo.
Nem olhei para trás, o arrepio de pavor que irrompeu em minha pele foi o
aviso de que era ele. Meu pior pesadelo encarnado.
— Vire-se, Blanchet!
Fechei os olhos e me virei. Quase morri quando vi Jean Pierre me olhando
com cara de puro ódio! Eu estava perdida, meu corpo estava querendo desfalecer,
eu juro que se minha consciência pudesse fugir com certeza o faria. Nada de mim
queria ficar perto desse homem.
— O-o que você… — gaguejei tentando segurar a vontade de vomitar, só de
olhar para ele eu tremia inteira.
— Vim aqui te dar algumas informações e instruções — falou me chamando.
— Primeiro eu já sei de tudo que você fez com Victória. — Sorriu de forma
aterradora e a bílis queimou em minha garganta. — Segundo, você irá escrever
uma carta com um pedido de desculpas e de despedida para Minha Belle fleur, ah,
sim, não esqueça de devolver os desenhos que você pediu quando encerrou o
contrato.
— Eu encerrei o contrato há dias. — Obriguei minha voz a sair, minha
garganta parecia entupida e ressecada.
— Eu encontrei com minha belle Fleur no mesmo dia em que vocês se
desligaram, mas eu tinha outra pessoa para caçar antes de vir até você! — falou de
forma displicente, já virando-se para ir embora. — Ah, sim, eu ia me
esquecendo… — Sorriu e veio até onde eu estava, me deu um murro nos estômago
tão forte que eu me curvei caindo no chão, minha cabeça rodou, mal conseguia
respirar. Mas mesmo assim comecei a chorar e soluçar.
“Meu Deus!”, pensei em completo desespero.
— Você teve sorte por eu vir só agora, se eu tivesse vindo no dia em que
soube de suas mentiras, provavelmente estaria no mínimo sem seus dentes,
Blanchet, agora faça o que eu mandei, estou só esperando um certo julgamento e
depois iremos para a França.
— Não, Jean Pierre, eu não quero ir para a França, por favor — Juntando
forças para ficar de joelhos, cruzei minhas mãos e sem um pingo de vergonha
implorei — Por favor, me deixa aqui, eu não quero ir, por favor, me deixa em paz,
eu te dou o ateliê inteiro, por favor. Eu não quero ir.
— Não estou nem aí para o que você quer! — rosnou inclinado-se. — Você
me subestimou, me fez de idiota, você sabe do que sou capaz e mesmo assim
colocou sua conta em risco, foda-se você e sua idiotice, você irá para a França e
irá trabalhar no Inquisition.
— NÃOOO, NÃO. NÃO, POR FAVOR, NÃO — gritei apavorada, eu fui lá
uma vez e passei semanas sem conseguir comer nem dormir, o que acontece lá é…
— Não grite! — rosnou. — Você irá, e lá eu vou te castigar por toda a merda
que fez, aliás, adorarei ver o quanto aguenta. — Riu feliz. — Não tente fugir, você
estará sendo vigiada, faça o que mandei e prepare-se para sua nova vida. Algo me
diz que você não vai gostar.
Piscou um olho e saiu, me deixando engolida pelo pavor que rastejava em
minha pele como milhares de cobras venenosas, levando minha paz, meus planos,
minha vida. Eu sabia que não adiantava fugir, ele me encontraria e seria pior.
Algo me diz que você não vai gostar!
Nesse momento eu percebi que sem querer eu abri as portas do inferno e,
antes que pudesse escapar, o pior de todo os demônios cravou suas garras em mim,
puxando-me para dentro das chamas e dos gritos agonizantes.
Eu teria sorte se morresse logo.
Capítulo 33
Victória
Não posso acreditar que finalmente eu tirei esse peso das minhas costas.
Todos esses anos eu vivi com medo e arrependimento. Eu abri mão de uma paixão
para ficar com minha Victória, eu só não sabia que o futuro seria tão difícil.
Depois o tempo foi passando, e a verdade esmaecendo, até que o confronto se
tornou inevitável, graças a Deus Ricardo e Victória me perdoaram, não sei o que
faria se fosse diferente.
— Amor, chegamos — meu noivo falou me tirando dos meus pensamentos,
sorri para ele e rapidamente saí do carro.
Tudo rodou, e eu me senti terrivelmente enjoada.
— O que foi, você está se sentindo bem? — Ouvi a voz preocupada do meu
amado e testei um sorriso.
— Sim, eu acho que comi algo que não caiu bem.
— Claro, vamos entrar, o dia foi cheio de emoções.
Entrei em casa e a primeira coisa que estranhei foi o fato de tudo estar
escuro.
— Victória? — gritei e não obtive respostas. — Minha filha?
Nada.
Coloquei as mãos na cintura e chamei de novo, depois acendi as luzes e fui
até o quarto dela, nada. E o Balofo também tinha sumido.
— Para onde foram? — questionei pegando meu celular e ligando para
Victória.
Caixa postal.
— Victória disse que vinha para casa — resmunguei ligando para Victor.
Caixa postal também.
Eu não sei o que estava acontecendo comigo ultimamente, mas eu estava
muito emocional, já estava imaginando mil coisas e querendo chorar.
Parecia uma chorona e eu nunca fui.
— Onde estão?
— Amor, provavelmente estão passeando, relaxe.
— Não consigo — suspirei me sentindo à beira das lágrimas, eu queria
encontrar Victória em casa e conversar, saber se ela estava bem mesmo, afinal,
antes de sua saída teve toda aquela cena com a bruxa velha.
Antonieta… eca!
— Vem comigo, Laura, você está ficando pálida e eu não estou gostando.
Fomos para a sala e naquele momento a campainha toca. Deixo Ricardo ir
atender e vou em direção ao sofá, passo meus olhos pelo ambiente e
automaticamente eles voltam para a mesinha de centro.
Vejo uma folha e o celular da Vic.
Franzindo testa pego o papel e começo a ler. Não aguento e já me debulho em
lágrimas, nem pareço eu, mas estou descontrolada.
— Amor, o que foi? — Ricardo pergunta sentando ao meu lado.
— Ela viajou e nem me falou. — Solucei. — Victória não me falou…
— Tia, o que Victória não falou?
Olhei para cima e vi Rocco parado ao lado do sofá, ele estava com uma
aparência bem bruta. Barbudo e vestido de preto. Parecia um caçador de
recompensas.
— Victória se mandou com Royce e não me avisou — falei tentando controlar
o choro.
— O-o quê? — Rocco perguntou ficando pálido na mesma hora. — Para
onde ela foi?
— Não sei, ela disse que iria explorar o mundo e não tinha data para voltar.
— Mas isso é… não… — Rocco abriu e fechou a boca, depois sua expressão
fechou.
Deu até medo.
— O que ela disse?
Resolvi resumir para encerrar.
— Ela disse que iria curtir a juventude como qualquer jovem normal. Beber,
amar, viver…
— Isso não vai acontecer! — grunhiu sacando o celular — Vou buscá-la onde
quer que esteja.
— Ela deixou o telefone! — falei engolindo diversas vezes, meu estômago
estava rebelde.
— Besteira, isso é mero detalhe, vou encontrá-la e trazê-la de volta! —
rosnou fazendo cara de mau.
— Você não ia casar?
— Ainda vou, mas com Victória! — exclamou tenso. — Um homem tem o
direito de errar, e eu permaneci muito tempo no erro. Já chega, vou pegar minha
mulher de volta, e não tem conversa.
— Finalmente — exclamei. — Você estava me decepcionando.
— A situação me pegou de guarda baixa. Enfim, estou de volta! Agora me
deixe ver essa carta.
Entreguei a ele e observei a raiva crescente enquanto ele lia.
— Beber e amar — bufou. — Só se for comigo!
Até que fim!
— Tenho que ir, em breve eu trarei notícias.
— Faça isso.
Neste instante o celular de Rocco tocou e ele atendeu. A expressão de Rocco
demonstrava raiva, isso seria um eufemismo da minha parte. Ele olhava para o
celular com uma expressão muito parecida à do dia em que Victória foi atacada.
Eu até tive pena do causador dessa ira toda, e sabe por quê?
Porque Rocco é do tipo de ataca por baixo, igual um tubarão, sem chance de
defesa.
— Eu não acredito nisso! — rosnou muito puto. — Eu vou acabar com tudo,
não vou deixar nem o pó!
Com isso ele saiu sem olhar para trás.
Eu tenho até pena da pessoa que causou essa reação. Eu acho que não vai
sobrar muita coisa.
É, parece que o antigo Rocco finalmente está de volta…
Capítulo 35
Rocco
Naquela manhã
***
Irmão,
Fui acordado às 4:h0 da manhã por uma Victória preocupada com seu bem-
estar. Ela estava indo embora e não queria te acordar, ela tem os motivos dela, o
fato é que antes de ir, Vick me pediu para que, assim que ela saísse, te
acordasse, não gostou de te ver no chão.
Irônico, não?
Bom, eu achei que o chão estava bom, você é um cabeça dura, e antes que
diga qualquer coisa, eu vou me adiantar. Eu tenho uma família infernalmente
tradicional, mas entre meu nome, meu título, minha fortuna e a porra toda, eu
iria ficar com minha mulher. O preconceito a gente vence com inteligência, seja
ela associada com gentileza (ou com brutalidade mesmo), o fato é que sempre
dar-se um jeito. Rocco, você sabe que acima de tudo tem a mi, e a Dimitri,
ninguém seria doido de mexer com seu filho. Não com a tríade por trás do
garoto.
Concluindo, eu vou tomar a frente… planos isolados, em breve terei
notícias para você.
P.S.: Eu vi a forma como Victória te tocou e olhou antes de ir embora, ela
estava se despedindo. Sinto muito, meu amigo, mas acho que você está mais
perto do que nunca de perder sua mulher.
Ass: William.
— Não mesmo! — rosnei ainda mais agitado. Está explicado o motivo de não
termos encontrado o William, ele já tinha saído antes de eu acordar.
Provavelmente assim Victória saiu, ele foi também.
— O que diz o papel?
— Leia você mesmo. — Entreguei para Dimitri e ele leu. No fim, assoviou e
ficou calado. Quando já não aguentei mais, explodi em um rugido de fúria. — Vai
ficar calado? Não tem nada a dizer?
— O que quer que eu diga? — gritou apontando o dedo para mim, perdendo o
controle totalmente, pronto, ferrou. — Você fez alguma coisa, Victória mal te
olhava na cara, ela estava fingindo, ouviu? Fingindo para não te magoar, e você aí,
todo idiota vai se foder, seu otário!
— Eu sei que eu fiz merda! — berrei de volta. — Mas eu estava em pânico!
Do nada aquela vadia aparece grávida de mim, e então eu estava vendo meu futuro
firmemente traçado ao lado da Victória ruindo, eu pirei, tá bom? Não sou a porra
do cara perfeito, nessa história eu sou tudo. De mocinho a vilão, eu falo merda,
digo palavrão, eu acerto… enfim, eu não sou um bundão programado para ser o
sonho de consumo das mulheres. Sou um cara falho, mas, principalmente, eu sou
um ser humano — quase gritei minha ira, — E não só isso, eu perdi o rumo e,
quando dei por mim, estava cometendo um dos piores erros da minha vida.
Entretanto, eu sou um homem e não correria das minhas responsabilidades. Ser um
bastardo na nossa sociedade pode ser cruel, desde a infância à fase adulta, você
será apontado como um pária… um erro… um maldito obstáculo…
— E eu não sei!? — exclamou fechando a cara. — Eu sou um maldito
bastardo de um fodido homem rico que enganou minha mãe, eu sei o que é ser
maltratado, apontado, ignorado, expulso dos lugares por ser quem sou! Eu nunca
tive ninguém por mim, a não ser minha mãe, é claro, todavia aqui estou eu, forte,
implacável, uma maldita besta com força bruta e ignorância. Manda esses filhos da
puta virem, quebro todos eles ao meio!
Ficamos nos encarando durante alguns segundos, não pensei, saí do carro e
ele também, nós nos atracamos na rua mesmo.
— Eu tive que lutar a cada passo do caminho! — o Dinka grunhiu esmurrando
meu queixo. — Eu vim para a Inglaterra de carona, passando fome, frio… —
Outro murro, meu amigo parecia transtornado. — Eu vivi nas ruas, menti,
manipulei, e sobrevivi.
— O que eu poderia fazer? — Ataquei meu amigo onde deu, e foi no
estômago. — Eu fui criado com convicções firmemente arraigadas. Cada brecha
que eu arrumava, outra coisa pior surgia.
Brigávamos mais para extravasar mesmo. Grunhíamos, rosnávamos,
esmurrávamos, enfim, estávamos como dois cães de rua. Brigando feio e com
violência. E, porra, ainda nem eram nove da manhã. As pessoas já se juntavam ao
nosso redor, entretanto, ninguém tentava separar, de qualquer forma, não seria um
bom negócio, eu e Dimitri nos entendíamos, éramos quase do mesmo tamanho,
tínhamos força e ignorância em medidas iguais… éramos páreo um para o outro.
— Você pode proteger seu filho o quanto quiser, mas se ele tiver que ser um
maricas chorão… aí, cara, fodeu, porque nem todo o sobrenome poderoso do
mundo vai ajudá-lo, ele sempre vai ser apontado como o banana pau no rabo, e
outra coisa, casado ou não, você será o pai, e sendo assim, quem vai se meter com
você?
Separamos-nos e ambos respirávamos ofegantes. Sangue escorrendo pela
lateral da bocas, as roupas amassadas, os cabelos alvoroçados. Dois loucos.
— Você e o William, dois bastardos escrotos! — resmunguei passando o
dorso da mão na boca.
— Pronto, o casal já parou de brigar? — perguntou uma mulher idosa que
estava atrás de Dimitri. Eu olhei para meu amigo e ele deu um sorriso quase cruel.
Nesse momento, Dimitri estava em modo fodedor, mesmo que seja do jeito louco
dele, meu amigo é tão irritantemente agressivo quanto eu.
Lentamente ele virou-se para a mulher e atuou.
— Que nada, querida — falou mexendo o punho de forma bem estranha. —
Essa foi uma briguinha boba, eu e meu marido estávamos apenas discutindo sobre
o fato de ele ter engravidado a nossa vizinha.
Vários ofegos e exclamações de choque se ouviram. Algumas pessoas
apontavam o dedo em claro sinal de preconceito, ninguém ousava se aproximar, é
claro, mas em seus rostos estava óbvia a reprovação.
“Mas que porra esse escroto está fazendo?”, me perguntei estreitando
levemente os olhos.
— Vocês estavam se matando no meio da rua porque ele engravidou uma
mulher? — outra velhinha perguntou chocada. — Talvez não sejam realmente ga…
— Minha senhora — Dimitri interrompeu a mulher e veio até onde eu estava.
Colocou o braço em meu ombro e suspirou —, a senhora precisa ver quando
estávamos indecisos para ver quem vai… uhmm… a senhora sabe… — Riu e mais
exclamações de choque se ouviram. — A gente briga como dois animais, ficamos
como viemos ao mundo e lutamos, somos brutais, ficamos suados, ensanguentados
e, no fim, quem perde dá… — Riu e em olhou. — Não é amor?
Eu estava mudo. A vontade que eu tinha era de arrebentar a cara do meu
amigo e seu humor negro. Não falei nada, apenas me afastei e dei-lhe um soco na
cara.
— Para o carro, agora! — rosnei indo para o carro, antes de entrar, ainda
ouvi algumas pessoas gritarem.
— Que desperdício, meu Deus, dois gatos desses. Vou virar é homem, nessa
porra. Quem é o marido? E quem é a esposa?.
Entrei em meu carro bufando, e logo Dimitri estava fazendo o mesmo.
Não demorou dois segundos estávamos gargalhando.
— Que porra foi essa? — perguntei rindo alto.
Estou me sentindo um maldito bipolar. Dio santo, preciso do mio tesoro, só
ela para me manter na linha.
— Vencendo o preconceito,como o William disse, inteligência… e falta de
importância, ninguém paga minhas contas, eu faço o que caralho quiser, a vida é
minha. Lógico que eu não curto cueca, meu negócio é boceta, mas enfim, você
entendeu o ponto? — perguntou me encarando. — Não importa se a sociedade
estipula suas regras e quer que vocês as siga, você só faz se quiser. Foda-se o
sistema, eu sou um rebelde.
Balancei a cabeça estendendo o punho.
— Obrigado — falei solene —, mas você é um homens das leis, não é um
rebelde — debochei
— Sou apenas um manipulador das circunstâncias, e eu vou cobrar de você e
do conde todas as porradas que estou levando quando chegar minha vez de
enlouquecer por causa de uma mulher! — Fez careta. — Se bem que eu não vou
ser esse fresco indeciso, que nem trepa nem deixa os outros treparem.
— Filho da puta! — bufei.
— Da puta não, do puto. O vadio era meu pai.
— Claro, meu amigo… claro.
***
— Cara, ela não está em casa! Você está é doido ou está se fazendo? —
Dimitri reclamou, faz mais ou menos uma hora que estou plantado em frente à casa
da Victória
Depois de conseguir sair do engarrafamento eu voei para cá, cheguei às dez
da manhã e estou aqui esperando. De vez em quando eu vou lá e bato na porta.
Ei, não ria de mim. Eu só achei que minha garota pode não querer abrir a
porta então eu estava só me certificando de que ela sabia (se tivesse em casa) de
que eu não estava desistindo. Ontem eu fiz uma merda enorme quando disse não à
Victória, e agora eu temo que ela pense que eu não valho a pena.
Vou apenas fazer o que me resta, que é insistir. Se Victória não me quiser, eu
vou continuar insistindo… até ela me perdoar e voltar para mim. Pode levar o
tempo que for, e, ah, sim, me chamem de egoísta, mas nesse meio tempo vou
espantar todos os gaviões de perto dela.
Serei uma sombra silenciosa em sua vida.
Quero dizer, silenciosa no quesito de descer o braço em quem tentar se
aproximar demais, vou segurar meu ciúme em sua frente, não vou mais brigar na
frente dela, vou ser esperto e pegar os bastardos na saída… entretanto, meu punho
não será silencioso, na hora que se chocar na cara de qualquer filho da puta, sem
amor à própria vida.
Dei uma risadinha meio louca, eu estava parecendo um espreitador, sentado
no meu carro, olhando a rua e a casa da minha garota fixamente.
Para que saibam. Homens que são doentes de ciúmes como eu acham que
todos os outros homens do mundo, até os que já morreram, estão de olho em sua
mulher. Acrescente aí a possessividade (entenda, se o homem for louco de ciúme
ele será automaticamente possessivo, não existe essa de, ah, eu tenho ciúme, mas
não possessividade. Corra atrás, pois essa história fede.).
Para os homens no meu naipe ou é oito ou é oitenta, não existe essa coisa de
colocar só a cabecinha, nós atolamos o pau todo até as bolas, enfim. O problema é
que ciúme não passa, a gente só se acostuma a morrer de raiva e sentir a coceira
irritante em nossos punhos toda vez que um homem olhar mais de dois segundos
para nossa mulher. Eu sou doente de ciúme e não vou mudar, mas o que eu posso
fazer é fingir que estou levando na esportiva, mesmo que em minha mente eu esteja
atirando o sujeito em um rio infestado de piranhas esfomeadas e rindo enquanto
ele grita. Mente de psicopata, eu sei, mas todo homem tem ou já teve pensamentos
homicidas, portanto releve, é normal. Ah, outra coisa, os homens às vezes podem
dizer que está tudo bem, e você irá acreditar, todavia observe os detalhes, se
estivermos com o maxilar travado, os olhos estreitados em algum ponto fixo e os
punhos agitados, é sinal de que vem merda por aí. Meu conselho é, peça licença e
vá ao banheiro. Espere algum tempo e volte, pronto, você encontrará seu homem
sorridente e tranquilo. Depois observe ao redor, você notará que existe um lugar
vago no ambiente.
Voltando, eu realmente passei uma semana em plena letargia, mas cá estou eu,
de volta, igual um cavalo de corrida furioso que fez merda e teve que voltar para o
início. Estou atento, batendo os cascos, pronto para correr, só falta o sinal.
— Eu estou com fome! — Dimitri exclamou com raiva, me tirando os meus
pensamentos agressivos.
— Vai ali naquela barraca de cachorro-quente! — Abanei a mão, sem tirar os
olhos da cara da minha mulher. Ah, sim, eu não estou fazendo questão de me
esconder, é claro. Eu só parei meu carro do outro lado da rua, mas estou bem em
frente à casa dela. Muito visível, será impossível não me notar, claro que, se levar
em consideração a minha Ferrari preta, então, sim eu estou chamando atenção, e
sim, eu necessito que Victória me veja de longe.
— Você é um amigo muito ruim! Você sabe que eu não posso comer certas
comidas!
Droga, eu esqueci que meu amigo tem certas restrições depois que fez o
transplante. Senti o familiar arrepio me percorrer, estivemos muito, muito perto de
perder o Dinka definitivamente.
— Desculpa, vamos almoçar, deve ter algum restaurante aqui perto.
— Até que fim, eu pensei que teria que começar a comer meus dedos —
reclamou e eu ri.
Por ali não havia nenhum restaurante, o jeito foi procurar mais para o centro.
Encontramos um lugar que o Dinka aprovou para almoçarmos. Eu praticamente
aspirei minha comida para acabar logo, queria voltar a fazer plantão em frente à
casa da Victória, se tivesse que esperar o dia inteiro, eu iria.
— Deixa de ser fresco e termina logo isso! — reclamei de Dimitri que comia
metodicamente.
— Vou comer do jeito que eu quiser — revidou dando de ombros.
Ficamos mais agonizantes trinta minutos ali, Dimitri deveria estar mastigando
duzentas vezes cada garfada, eu já estava desistindo quando ele resolveu comer
rápido.
— Você está me sabotando? — grunhi enquanto saíamos do restaurante.
— Não estou, eu só queria te ver alguns minutos parecendo um cachorro
abandonado. — Deu de ombros. — Lembrando que o cachorro não escolhe a
situação, você escolheu a sua.
Não me dei ao trabalho de responder, eu entrei em meu carro e dirigi rumo à
casa de Victória. Ligar não adiantava, todas as chamadas iam para caixa postal.
Liguei para Jason e nada também. Na moral, eu já estava a ponto de rastrear o
celular dela.
Estava na metade do caminho quando meu telefone tocou, atendi no bluetooth
do carro.
— Filho…
— Oi, mama.
— Sua irmã chegou e tem uma surpresa, venha para casa, pois eu queria
matar a saudade de ter meus bebês juntos.
Fiz careta, às vezes minha mãe esquece que eu sou adulto e que estou mais
perto dos quarenta que dos vinte.
— Mama, per favore, non parlarlo! — exclamei desgostos.o — Io sono um
uomo e non un bambino.
— Homem ou criança eu quero você aqui, estou com saudade do meu filho
— fungou e eu sabia que não tinha conversa.
— Sí, mama — resmunguei —, estou indo.
Desliguei e Dimitri riu.
— Mãe eu sou um homem e não uma criança — repetiu minha frase e depois
gargalhou
— Fica na sua, a Dona Anastacia deve ser pior que minha mãe.
Dimitri fez careta e concordou.
— Minha mãe é mesmo, ela é possessiva com o garoto dela.
— Sei…
***
Cheguei em minha casa e mal dei dois passos antes de Antonella, linda e
redonda, pular em meus braços. Não acreditei quando vi o tamanho da barriga da
minha irmã.
— Gêmeos, três meses! — Sorriu satisfeita. — Eu queria vir antes, mas tive
complicações e precisei de repouso.
— E por que não me falou? — bufei tocando sua barriga. — Por que não me
disse que estava grávida? Eu teria mandando te buscar.
— Não podia andar de avião, eu estava com problemas no ouvido. Meu
médico achou melhor prevenir.
— Tem o iate, você poderia ter vindo nele — murmurei admirando sua
barriga redonda.
— Rocco, eu enjoei até a cara do Connor, andar de barco estava fora de
cogitação, de qualquer forma, estou bem, vou continuar meu pré-natal aqui.
— Precisarei reforçar sua segurança, você não vai morar em um prédio,
precisa de uma casa, vou comprar uma, escolha. E também temos que ver as coisas
dos bebês e…
— Ei, meu irmão, fica calmo. Já basta o Connor preocupado com cada vez
que eu faço careta. Vou para minha cobertura e vou comprar as coisas dos bebês
depois.
— Não quero você em um prédio, e se faltar energia? Você terá que subir
escadas. E se ficar presa no elevador? E se você…
— Rocco, para! — reclamou saindo de perto de mim e indo abraçar Dimitri.
O dia passou lento, eu estava ansioso para ir encontrar minha garota, eu não
via a hora de colocá-la junto com Antonella de novo, eu não tive a oportunidade
de vê-las e juro que queria.
Depois das cinco eu comecei a sentir que precisava correr para a casa da
Victória, eu já nem conseguia disfarçar minha vontade de correr até ela. O foda foi
que mia mama queria que eu jantasse, aí foi só depois das oito que eu estava quase
livre.
— Preciso ir! — falei baixo me erguendo
— Mas filho… — minha mãe começou, mas eu interrompi.
— Eu estou indo — falei com mais firmeza e ela concordou. Minha mama
sabia como eu era, a diferença foi que depois que Victória entrou em minha vida
ela me mostrou o significado da palavra zelo. Eu já não era tão obtuso, eu
realmente amoleci um grama.
— Dê um beijo na Victória por mim e diga que eu estou esperando uma
visita!
Sorri de lado.
— Claro, mama! — exclamei sorrindo, com certeza ela entendeu meu
desespero.
Saí da minha casa em alta velocidade. Agora eu estava sozinho, pois Dimitri
só deu um oi e foi embora assim que chegamos. Costurei no trânsito, dirigi na
velocidade máxima permitida e, às vezes, até mais. Nem liguei para multas.
Finalmente estava na casa da minha garota, assim que cheguei vi as luzes
acessas. Imediatamente um frio na barriga me assolou, eu me sentia como um
adolescente inexperiente. Nesse instante, Jason chega e eu vou cumprimentá-lo.
— Precisamos conversar, tem coisas que eu preciso que saiba — Jason falou
e eu concordei, mas agora eu precisava ver minha Victória.
Caminhei a passos largos e, assim que cheguei perto, vi a porta aberta. Não
contei outra, entrei na casa só para encontrar tia Laura chorando
desesperadamente.
— Victória não me falou! — fungou e chorou mais um pouco.
A primeira coisa que fiz foi perguntar o que minha garota não falou e, quando
eu soube, juro que não acreditei. Victória e Royce… Royce e Victória… juntos em
uma viagem sem data para voltar.
Gaguejei aturdido demais para acreditar em uma história dessas, senti o
sangue escorrer do meu rosto, sim, era verdade. E aí, meu amigo, instantes depois,
quando a ficha caiu, eu senti o monstro do ciúme cravando suas garras tão
profundamente em mim, que vi tudo desfocado, depois eu quase poderia ouvir
minha ira sussurrar em meu ouvido que Victória estava sozinha com Royce.
Sozinha… com Royce…
Vou matar esse filho da puta e esconder as evidências….
Respirei fundo e continuei conversando com tia Laura, eu precisava de mais
informações. Perguntei o que Victória disse na carta que ela deixou e quase caí
para trás quando ouvi as palavras saindo da boca da mulher chorosa.
— Ela disse que iria beber e amar, que o mundo está perto de acabar!
Grunhi minha negação enquanto tirava o celular do bolso. Não vou permitir
uma coisa dessas.
— Ela deixou o telefone.
Nem liguei, e falei isso para tia Laura, se eu quisesse achar Victória, eu iria.
Conversamos mais um pouco e tia Laura me alfinetou, falando sobre meu
casamento com outra.
Bufei, como se eu fosse doido. Agora que as minhas ideias estão no lugar, eu
vejo as coisas com clareza. Eu vou me casar com Victória e ter uns quatros
filhos… ressaltando que serão todos homens, eu não tenho nervos para ser pai de
menina. Onde já se viu! Pedi para ler a carta e tia Laura me entregou.
Querida Tia,
Estou indo viajar, por favor, não se preocupe, eu estou indo com Royce,
tudo vai dar certo, é seguro. Estou indo fazer um mochilão aventura, sem
celular, sem dinheiro, pedindo carona e dormindo onde der. Não fique
preocupada, a turma é grande. Sinceramente eu estava precisando sair de
Londres um pouco, e como diz o Sr. John, a vida é curta demais, então vou
aproveitar. Mandarei notícias quando puder.
Arranquei com minha moto a toda velocidade. Eu tinha tudo que precisava
para ir nessa aventura com minha garota. Todavia eu duvidava que ela tivesse
facas e armas dentro da bagagem.
Saímos de Londres e entramos na rodovia, havia uma rota que era quase uma
linha reta, e nós iríamos por ela. Graças a Dio a estrada estava pouco
movimentada, então eu pisquei minhas luzes e acelerei a mais de cento e quarenta
quilômetros por hora sendo seguido pelas duas motos iguais à minha.
Com certeza parecíamos cinco motoqueiros loucos (há dois caronas), nossas
motos muito potentes e exclusivas, Jason as comprou em meu nome, o fato é que
não paguei ainda, afinal tem os trâmites e tal, mas ele conseguiu três autorizações
especiais de retirada.
As motos são minhas, com documento e tudo, mas só serão pagas amanhã.
Em momentos de emergência como esse é fodidamente bom ser tão influente.
A cada minuto mais e mais chão era percorrido, às vezes avistávamos longas
retas, aí eu estourava o velocímetro, eu bem sabia que se um acidente acontece eu
viraria polpa de morango, mas enfim, eu tenho de chegar para encontrar e amar
minha Sposa. Aperto no acelerador, é como se a velocidade diminuísse em
medidas a minha dor.
Eu estou com medo de chegar tarde. Eu estou com medo do que vou
encontrar. E sabe, admitir isso me deixa ainda mais preocupado, é como se eu
soubesse inconscientemente que perdi minha garota.
Sacudo minha cabeça e a moto bambeia, mas consigo controlá-la
rapidamente. Eu tenho que chegar inteiro, não em pedaços. Devido à alta
velocidade com que viajamos, chegamos em tempo recorde a Liverpool,
conseguimos economizar uma hora de viagem.
Guio minha moto direto para o lugar do festival, lógico que eu pesquisei
antes de vir, não queria perder tempo, e não iria.
Pouco tempo depois de entrar na cidade, já conseguia ouvir o gigantesco
barulho da música e da multidão.
Respirei fundo.
Será como procurar uma agulha em um palheiro, mas qual o problema? Jogue
o palheiro na água e pronto. Problema resolvido. Agora só tenho que achar uma
piscina gigante.
Chegamos ao local exato do festival e ali havia mais ou menos umas dez mil
pessoas. O lugar parecia um campo de golfe de tão largo, em frente ao palco, você
veria as pessoas, do outro lado você encontraria fogueiras e barracas de dormir.
Continuei andando com a moto em velocidade quase andante, as pessoas
olhavam para nós, outras apontavam, mas eu nem ligava, estava escaneando o
lugar onde havia as barracas e fogueiras.
Parei minha moto em um local um pouco mais tranquilo, desci, retirei o
capacete e mais uma vez olhei ao redor.
— O festival dura dois dias, nesse caso, hoje e amanhã — Jason falou,
parando ao meu lado. — Todos os campistas ficam aqui, então é só esperar
voltarem, todos virão por aquele lado — concluiu apontando para a parte aberta
onde havia uma faixa com a frase:
The Beatles in festival.
— Não quero esperar! — falei cruzando os braços, algumas garotas passaram
e estancaram quando deram uma segunda olhada nos cinco brutamontes com roupa
de motoqueiro, parados ao lado de três super motos.
Saco!
— Fiquem aqui, vocês três — falei apontando para os três seguranças,
incluindo Murdoch, — Jason, você vem comigo.
Comecei a ir em direção à multidão, e nesse momento, uma música começou
a tocar. Eu estava por fora, mas a letra dizia :
“.Você atira em mim, mas eu não caio.
Sou feito de titânio.”
Sorri de lado, um fato sobre mim: eu sou sim feito desse material. E minha
determinação é pior.Titânio puro, forte, resistente.
Muito bom.
Adentrei a multidão dançante, agora a música parou, mas as pessoas
continuavam a cantar, era interessante. Mas não me contagiava, eu estava em plena
caçada, concentrado.
Comecei procurando pelo lado esquerdo, esse era o mais distante, procurei
durante muito tempo, eram muito altas as chances de não encontrar Victória,
entretanto pelo menos eu estava andando e não parado como um sete de paus.
Ficar parado é irritante, eu preciso me movimentar, pelo menos assim a hora
passa rápido.
***
Minha primeira reação quando sou agarrada por trás é gritar e lutar. Sei que
com meus amigos por perto quem quer que esteja fazendo isso irá parar. Deus me
proteja de um assediador, eu…
Sinto o grande corpo me apertar e logo a voz que eu mais adorava no mundo
me causa arrepios.
Baby, serei seu predador hoje à noite…
Abri a boca em um ofego mudo, fechei meus olhos e paralisei.
Não acredito que era ele. Rocco… aqui… AI, MEU DEUS!
Segurei-me para não derreter. Ninguém sabe o que é a voz desse homem, por
Deus, a voz dele é rouca, grossa e potente, agora associe isso ao fato de ele estar
cantando em meu ouvido, ele quase sussurra e há momentos em que quase geme.
Eu quero gemer.
Meu sexo palpita, minha calcinha molha.
Estou arruinada!
Puxo um fôlego profundo e, então, quando penso que ele vai me soltar, eu
ouço:
— Eu sinto seu cheiro… e como um animal selvagem eu te cacei.
Preciso nem dizer que meu coração acelerou a uma corrida frenética. Eu nem
posso acreditar.
— Meu corpo clama, implora, a fera em mim estremece, eu quero minha
fêmea, minha companheira de volta.
Minha nossa senhora das mocinhas mortas. Eu acho que estou tendo
alucinações. Não pode ser. Rocco aumenta seu agarre em meu corpo, ele me aperta
ainda mais forte, e agora eu sinto algo duro como rocha cutucando minhas costas.
“Ai, minha nossa, eu sei o que é… Ô, se sei!”, pensei aturdida e
completamente fora do eixo, meu corpo tremia mais e mais, eu estava mordendo o
lábio para evitar gemer, e minha força fraquejou muitíssimo quando ele me mordeu
com força entre o ombro e o pescoço.
Fechei os olhos quando a descarga de prazer me engolfou. Minhas pernas
amoleceram ainda mais, eu já nem ouvia mais Adan Levine cantando, eu nem
notava mais a multidão, eu só conseguia sentir o cheiro de Rocco, ouvir a voz
dele, sentir a presença dele.
Eu estava perdida.
E para piorar meu estado lastimável, ele continuou cantando, e no final ele
uivou.
Ele simplesmente uivou.
Para tudo.
Meninas, todo mundo sabe o quanto eu sofri e sofro por esse amor. Eu quero
ser forte, eu juro que eu quero, mas como resistir? Meu Deus, eu estou com meus
pensamentos confusos e desesperados. Ninguém faz ideia do que eu estou sentindo
nesse momento, é simplesmente surreal, para dizer o mínimo.
Entretanto eu tenho medo de me magoar de novo, só que Rocco em modo
perverso e sedutor é muita covardia. Ai, meu Deus, me dê forças para resistir. Por
favor, me mandem forças, meninas, eu preciso, e muito…
— Amore mio — ronronou em meu ouvido. — Eu nem acredito que te
encontrei.
Soltei um suspiro fraco. Até respirar era uma tarefa árdua, não estava fácil
controlar os arrepios, os tremores e a incessante palpitação no meio das minhas
pernas, estou completamente molhada.
— Rocco, eu… — tentei falar, mas nada saía, eu não estava em condições de
formar uma frase que prestasse.
— Não diga nada, só me permita ficar perto. Quando acabar isso aqui,
iremos ter nosso momento juntos. Vamos para casa, eu vou te pedir perdão da
forma correta — murmurou esfregando-se levemente em mim. — Eu vou te amar,
consegue sentir? Uhm? Consegue sentir meu desespero por você?
— Rocco — murmurei seu nome como uma prece. Fechei meus olhos e não
permitir que toda a tristeza dos últimos acontecimentos voltasse. Eu fiz essa
viagem no intuito de me permitir viver um pouco e esquecer o que aconteceu.
Recomeçar.
Mas agora meus planos pareciam tão bobos.
— Amore mio — ele sussurrou em meu ouvido e beijou meu pescoço, depois
deu uma longa cheirada e em seguida lambeu.
Gemi baixinho e tive que apertar minhas coxas juntas. A dor em meu centro
aumentou. Aconcheguei-me ainda mais em seu aperto, eu o quero e ele me quer…
Meu coração gritou em felicidade. Meu cérebro, a voz da razão, gritou em
protesto.
Um dizia para eu mergulhar de cabeça e ser feliz, o outro dizia “ele vai te
magoar”.
Soltei um lamento, aflita, eu nunca tive dúvidas, eu deixei claro que ficaria
com ele, mas agora já não sei. Eu tenho medo.
Quantas decepções mais meu coração aguenta?
— Tesoro mio — suspirou mordiscando minha orelha, arrepiei até os
pensamentos com isso. — Eu sou seu homem, o único que vai ter. Volta para mim,
me deixa te mostrar que juntos somos perfeitos.
Minha frase… ele usou minha frase.
Uma lágrima solitária escorreu. Eu não a limpei, a fragilidade do meu
emocional era algo de que eu precisava cuidar. Por mais forte que eu queira
parecer ou demonstrar para os outros que está tudo bem, só Deus sabe do que se
passa em meu coração.
Só Ele sabe o que eu senti quando Rocco me recusou. Eu sei que ele tinha
motivos justos e honrados, não o culpo por isso. Entretanto, eu preciso ser cuidada
também, afinal sou um ser humano e mereço ser feliz.
— Rocco, por favor — pedi de olhos fechados. — Não faz isso comigo. Não
faz.
— Amore mio… — Ouvi a dor em sua voz, senti a tensão em seu corpo, ele
estava preparado para lutar com minha resistência.
Quem venceria?
— Eu só não… e-eu acho que… — gaguejei tristemente, como eu disse, estou
um trapo velho.
— Victória… Tu sei tutto per me — grunhiu em meu ouvido, apertando-me
com ainda mais ferocidade. — Tu sei la mia vita, la mia razione, perdonarmi,
amore mio.
Fiquei calada absorvendo suas palavras, apesar de não saber italiano, eu
consegui entender essas palavras, elas são claras em sentido e emoção. Mas enfim,
eu tenho que ter certeza se é isso que ele quer, não preciso de outro não e mais
uma rachadura em meu coração.
Ficamos nos braços um do outro, o engraçado era que muito provavelmente
ainda não se passaram nem dois minutos desde que ele me agarrou, mas nossa
bolha não mede tempo nem espaço. Ela só se concentra nas nossas emoções
afloradas.
— Solta ela, seu grande filho da puta! — Royce gritou e eu congelei.
Minha barriga deu um nó tão grande que tive medo. Meu coração pulou uma
batida, e agora eu sentia o medo tomando uma forma gigantesca.
“Royce está com grandes problemas!”, pensei tremendo, e tremi ainda mais
quando Rocco respirou fundo e soltou o fôlego em uma baforada raivosa.
Abri a boca para falar, mas ele já me soltava; virei-me bruscamente para
olhar e quase em câmera lenta Rocco virou-se para ver quem falou aquilo com ele.
Ai, meu Deus, eu sinto o gelo das calotas polares permeando o lugar.
— Quem você pensa que é? — Rocco rosnou baixo, mas com intensidade,
autoridade, sua voz era fria e perigosamente letal. Comecei a suar.
— Eu estou com ela e não vai ser nenhum bastardo saído de algum buraco
que vai chegar e tomá-la — Royce berrou e eu arregalei os olhos mortinha de
medo. — Ela não está sozinha.
Rocco sorriu.
— É, tem razão, ela não está sozinha, ela está comigo — rosnou apontando o
polegar para o próprio peito.
Meu Deus, é impressão minha ou os músculos dele estão aumentando?,
questionei a mim mesma quando vi os músculos de seu peito maciço tremendo.
Royce olhou ao redor e viu que tinha reforço, eu olhei ao redor também e vi
que Rocco estava sozinho.
Ai, meu Deus. Por que eu estou muda aqui? Por que eu não consigo me
mexer?.Eu temia esse encontro, eu temia. Mas aí, eu planejava que seria em um
dia tranquilo e sem pretensões, não em uma festa, com Rocco seminu e com cara
de lobo mau.
— Vamos, cara, se junte ao seu bando de motoqueiros e vá embora, deixe
minha bonequinha em paz.
A reação de Rocco me surpreendeu. Em vez de partir para cima de Royce,
ele jogou a cabeça para trás e gargalhou.
Mas o quê?
Eu estava até mais aliviada, até consegui dar um sorriso sem graça. Já ia
apresentá-los, quando Rocco provoca.
— E se eu não sair? — Cruzou os braços dando destaque ao enorme peitoral
e aos braços. — Você e mais quem irá impedir?
— Eu vou te partir a cara! — Royce exclamou furioso, mas coitado, não teve
tempo de reagir antes que Rocco o agarrasse pela gola da camisa. Vi a fúria
estampada na cara do meu grandalhão, ele estava muito, muito, chateado.
— Que tal uma reforma no rosto? — perguntou e levantou o punho para bater.
Não pensei direito, eu interrompi. Quando Rocco desceu o punho eu coloquei
minha mão no meio. Gritei de dor e me encolhi. Rocco rugiu jogando Royce para
lá (quem nem era tão pequeno) como um saco de batatas.
— Amore mio — disse aflito, pegando minha mão machucada com cuidado,
no centro havia uma grande mancha vermelha. Lágrimas salpicaram meus olhos. E
Rocco estava lívido em choque.
— Tudo bem — suspirei puxando minha mão e embalando-a contra meu
peito. — Tudo bem…
— Não, eu… — Rocco gaguejava nervoso, ele olhava para mim com tanto
desgosto que deu até dó. — Por favor pequena… — A forma como ele falava e
olhava para mim mostrava claramente que ele não acreditava no que tinha acabado
de acontecer. — Baby…
— Vem, Victória. — Royce chegou perto. — Vamos embora daqui, esse cara
é louco.
Por que Royce tem que provocar tanto? Será que ele não percebe que esse
cara aqui é Rocco? Meu ex que é doente de ciúmes e que pode fazer dele massa
de modelar.
— Vou arrebentar sua cara! — Rocco rosnou indo para cima de Royce. —
Você vai ter que trocar o nariz, seu imbecil.
— Já chega! — exclamei desgostosa com os dois. Será possível!?
— Mas, bonequinha — Royce falou isso e Rocco rosnou irado.
Revirei os olhos.
— Royce, me deixe te apresentar Rocco — falei e quase ri da cara do meu
amigo, ele estava chocado e sem um pingo de sangue no rosto, também, Rocco está
quase irreconhecível. Digo, agora ele não é nada daquele CEO elegante e tal, ele
agora parece um motoqueiro briguento, pois a barba grande, o cabelo alvoroçado
e o peito desnudo o deixam com uma cara de homem selvagem, nada parecido ao
Rocco executivo.
— Rocco, este é Royce! — Fiquei mais para o lado, mais ainda assim ao
meio. Esperei para ver quem daria o primeiro passo. Eu vi que Royce engolia em
seco várias vezes.
Ele estava com medo.
— Rocco? — incentivei-o com a cabeça e ele estreitou os olhos, depois
sorriu de leve.
Esse sorriso não é muito convincente.
— Prazer, Royce, até que fim o amigo desaparecido deu as caras —
provocou estendendo a mão que Royce aceitou prontamente.
— Desculpa aí, cara, eu não te reconheci e… ai — reclamou encolhendo-se
um pouco.
— O que foi? — Rocco perguntou com a cara mais inocente do mundo, ele
até inclinou-se um pouco como se estivesse querendo ouvir Royce falando. —
Está se sentindo mal?
Royce parecia que estava sendo espremido, ele fazia careta e estava ficando
meio troncho. Balancei a cabeça sem acreditar, mas lá estava Rocco, apertando a
mão do meu amigo como se fosse esmagá-la, acho que estava conseguindo, pois
Royce estava ficando vermelho e tentando puxar a mão a toco custo, porém sem
sucesso.
— Rocco Masari, solta ele! — pedi cruzando os braços.
Rocco soltou a mão e Royce suspirou aliviado.
— Foi um prazer conhecer você. — A voz de Rocco gotejava raiva. —
Espero que fique atrás da linha, meu amigo, não tente se meter a besta, você não
vai querer me ver com raiva.
Royce concordou e Rocco ergueu o punho e apertou bem em frente ao rosto
do meu amigo, que já deveria estar rezando para que Rocco sumisse.
— Lembre-se disso!
Toda essa situação me fez despertar da minha emoção em tê-lo aqui. Rocco
não sabe controlar o ciúme, ele simplesmente não sabe. Ele ia arrebentar a cara de
Royce e seria com muita força, minha mão latejante é a prova disso.
Como é que vamos viver desse jeito? Cheios de problemas, ciúmes abusivo,
medo.
Sim, porque só quem tem um namorado assim sabe que faz medo sair com
ele. Rocco é briguento, ele não sabe conversar e eu estou chegando ao meu limite.
Ou melhor, eu acho que já cheguei.
Fechei os olhos dando as costas, comecei a andar deixando-os para trás. Eu
só queria me deitar e dormir.
Cansada de tudo.
Nesse momento a proposta do meu pai de me mudar para o Brasil me parece
bem tentadora. Rocco é muito descontrolado, muito mesmo, nós nem voltamos e
ele age como se eu fosse dele. Mas que coisa!
Na vida nem tudo se resolve na pancadaria, as pessoas têm que conversar
civilizadamente.
— Ei, vai aonde? — Fui parada por Kadeon o guitarrista da banda de amigos
do Royce, onde fiz o cover. Era incrível como ele não gostava de camisa.
— Só vou tomar um ar — respondi desviando do caminho, eu só queria dar o
fora do meio dessa multidão.
— Ei, Vic, que tal nos divertimos um pouco, eu e você? — perguntou
aproximando-se e me afastei rápido. — Não fuja, por favor — falou pegando
minha mão machucada.
— Ai, Kadeon, minha mão — reclamei e ele me soltou.
— Me desculpa, por favor, mas é que eu quero você! — exclamou e eu notei
que ele estava um pouco bêbado. — Eu te quero desde a primeira vez que te vi,
mais ainda quando cantou.
— Olha, procura por outra, eu não estou disponível — falei e ele sorriu,
pegando uma mecha do meu cabelo.
Se Rocco vir uma coisa dessas, pensei puxando meu cabelo de volta.
— Por favor, não me toque! — pedi com gentileza, ele fez uma cara de
tristeza, em seguida colocou a mão em meu ombro, quando abriu a boca para falar,
foi interrompido.
— Vou te dar três segundos para você correr. — Ouvi a voz cortante Rocco
às minhas costas. — Quando eu terminar de contar, você estará fodido.
Ai, meu Deus.
— Um.
— Ei, cara, eu estou só conversando! — Kadeon exclamou ficando ainda
mais perto de mim. — Eu não fiz nada.
Ai, meu Deus, de novo… Quer ver?
— Três.
E o dois?
A próxima coisa que vi foi Rocco empurrando Kadeon e depois o guitarrista
indo para trás com muita força.
— Chegue perto e você estará ocupando uma cama no hospital mais próximo!
— Quem é você? — Kadeon se incorporou e veio enfrentar Rocco, que
parecia inchado de raiva.
— Eu sou o marido dela! — rosnou e eu arregalei meus olhos em choque.
— Ah, desculpa. — Kadeon levantou as duas mãos e Rocco balançou a
cabeça aceitando, mas então, hoje parecia o dia de surpresas chocantes,pois
Kadeon falou: — Tome conta da sua mulher direito, deixar uma garota dessa solta
por aí é muito perigoso, sabe como é, tem muito gavião que gostaria de ter um
momento com…
Não houve tempo para terminar a frase, Rocco acertou o murro na boca de
Kadeon, que caiu e ficou por lá.
— Um momento com uma médica no hospital! — Rocco rosnou e me encarou.
— Vamos embora!
Eu estava sem reação. Rocco me puxou até um lugar onde tinha três motos
enormes, havia três homens, também enormes, lá, e logo Jason chegou. Todos
estavam vestidos igualmente, com roupas apropriadas para motoqueiros.
— Arrumem tudo, vamos embora! — Rocco ladrou as ordens e foi aí que eu
acordei.
Bati o pé. Essa era uma das poucas vezes que eu não iria simplesmente baixar
a cabeça.
— Eu vou ficar, mas se quiser, pode ir! — falei tranquilamente. Se você
quiser quebrar a ignorância de alguém seja educado, a pessoa perde a razão e para
de ser truculento.
— Você vai voltar comigo agora! — Cruzou os braços e eu cruzei os meus.
— Quer obediência, compre um cachorro! — Fiz uma caretinha e Rocco me
olhou chocado.
— Você não pode ficar aqui, eu vim te buscar, vamos para Londres resolver
as coisas lá! — Dessa vez ele falou mais suave. — Vamos, pequena, se sairmos
agora, chegamos antes das seis da manhã.
Minha nossa, eu acabei de chegar, só tive tempo de ver o Show de David
Guetta e o início do Maroon 5. Não vou embora, eu tenho direito de viver esse
momento e curtir essa viagem até o fim.
— Rocco, você não é nada meu — suspirei desviando o olhar. — Você disse
que iria…
— Victória, eu vim por você! — exclamou fervoroso. — Vamos voltar,
vamos ficar juntos.
— Até você decidir que não pode ficar comigo? — perguntei agoniada. —
Até você parar para pensar e ver que não pode ter um filho fora do casamento?
Olha… — Esfreguei meu rosto. — Eu não vou voltar para você, sinto muito, mas
não vou! Eu já te disse que entendo sua decisão, mas não vou viver sendo
magoada, mesmo não te culpando por escolher, eu me culpo por ser difícil de
aceitar.
— Victória, eu estou aqui por você!— grunhiu aproximando-se
— Até quando, Rocco? — murmurei e ele segurou meu rosto. — Até quando
voltamos para Londres? Até quando o bebê estiver perto de nascer? Não posso
viver com uma espada pairando sobre minha cabeça, eu mereço ser feliz também,
não vou viver com medo de você chegar e dizer que não pode ficar comigo, sinto
muito, mas eu mereço mais.
— Seja feliz ao meu lado! Vamos ficar juntos!
— Eu te perguntei isso ontem, e você disse não! O que mudou nesse espaço
de tempo? Não te entendo! Sinceramente? Não quero entender.
Tirei suas mãos do meu rosto, deixei meus braços caírem ao lado do meu
corpo. Ultimamente era sempre uma batalha emocional estar perto dele.
— Desculpa, Rocco, mas eu não confio que vamos ficar bem, o que te fez
mudar de ideia? Seu filho anda continua sendo seu, e se ficar comigo ele será um
bastardo. Eu te disse que não te condeno pela sua escolha, mas não vou ficar
vivendo à margem da sua vida, eu preciso ter a minha e eu terei, mesmo que seja
sem você!
— Você vai ficar comigo! — grasnou agitado, ele passava as mãos pelo
cabelo de forma nervosa. Eu queria ficar com ele, é claro que queria, mas eu
preciso de certeza de que ele não vai mudar de ideia.
— Não vou ficar com ninguém! Eu vou ficar comigo, com minha vida. Agora
eu vou voltar para o show, eu esperei muitos anos para ter momentos como esse.
— Você não me quer, é isso? — perguntou e eu vi a aflição em seu rosto. —
O que te fez mudar?
— Nada mudou, eu apenas vi que também mereço ser feliz! Eu te falei uma
vez que o seu ciúme doente poderia nos separar, mas eu te amei tanto que
sinceramente iria ficar com você e trabalhar em uma forma de controlá-lo, iríamos
enfrentar tudo juntos, iríamos ser uma unidade. — Dei de ombros, eu estava sendo
dura, mas era necessário. — Mas agora eu quero que você lute pelos seu ideais, se
achar que deve ser assim, pois bem, seja, se achar que não, enfim, é uma decisão
sua.
Virei as costas e ele me agarrou, colando-se a mim.
Covardia.
— Se você quer que eu não seja ciumento, teremos um problema, porque eu
sou! — grunhiu em minha orelha.
Arrepios, olá.
— Se quiser que eu finja que não vejo outros homens dando em cima de você,
teremos outro problema, porque eu verei. — Ele me mordeu e eu tive que travar os
joelhos e morder a bochecha para conseguir ficar quieta. — Entretanto, acima de
tudo, se disser que não me quer, que não vamos voltar e que não será minha…
teremos um problema ainda maior, porque eu não vou desistir de te ter de volta, e
se eu tenho que provar isso, eu vou. Agora… — Ele me virou bruscamente, me
fazendo ofegar quando tudo girou. — Se insistir nisso, teremos o maior de todos
os problemas, sabe por quê? — perguntou me encarando com seus olhos azuis em
brasa.
— Não — sussurrei morta de desejo, eu queria mesmo era agarrá-lo aqui e
agora, todavia, preciso me proteger também, estou sim, sendo egoísta e pensando
só em mim.
Julguem-me, mas só sabe quem já passou e sofreu como eu sofri e ainda
sofro. Quero Rocco por completo e não pela metade.
— Porque não sou completo sem você, porque eu não posso viver sem minha
parte boa — sussurrou aproximando-se para esfregar nossos narizes. — Porque
minha vida sem você não tem graça, porque minha loucura só acalma com você
por perto. — Beijou meus olhos e continuou sussurrando: — Porque respirar
sabendo que você não é minha é difícil, mas principalmente não consigo imaginar
como será minha vida sem te amar, e por causa desse amor eu sou um homem
moldado, ainda bruto e primitivo, não nego, porém suavizado para ser seu.
— Meu Deus — suspirei mordendo o lábio. — Não diga isso, colabore
comigo.
— Não posso colaborar se isso nos mantém afastados, e, amore mio? Eu
nunca disse que iria ficar quieto! — Sorriu para mim fazendo meu estômago dar
cambalhotas. — Quer curtir o show? Vamos. Quer fazer esse maldito mochilão
aventura? Vamos. Mas não me peça para te deixar ir, isso eu não farei — falou
fazendo uma careta que, para mim, era linda, ele era lindo. Ai, meu Deus, estou
fraquejando. — Amore mio, eu sou bom quando estou com você, me ajude a
permanecer assim, eu preciso de você… só de você.
— Não vou facilitar para o seu lado! — Sorri e ele acompanhou.
— Desde quando eu gosto de coisas fáceis? — Piscou um olho e depois
sussurrou em meu ouvido: — Eu também não irei facilitar, amore mio, e meu único
conselho para você é, seja bem resistente, porque esse macho aqui está louco de
tesão, louco para te ter, me afundar em seu sexo apertado e estocar duro e
profundo. Ouvindo seus gemidos desesperados, me implorando para gozar e eu…
— Agora o sorriso que ele me deu era simplesmente de matar, levei até uma das
mãos ao peito. — Eu irei te levar à loucura, te negando o que tanto quer uma vez e
outra e, no fim, quando já estiver fora de controle, quero te ver chorando em meu
pau enquanto ordenha minha semente.
Perdi a força nas pernas e ele me segurou dando uma risadinha feliz.
— Resista o quanto puder, minha pequena, porque quando eu te pegar, você
irá ter uma besta viciosa em cima de você — murmurou baixinho me fazendo
imaginar a cena.
E era simplesmente… inacreditável.
— Rocco, você é… você é… — Eu não tinha palavras para descrevê-lo
nesse momento. Meu rosto estava queimando, na verdade meu corpo inteiro
queimava.
— Você é… — ele me ajudou e sorriu sedutor — tarado? Safado?
Pervertido? Bom fodedor? — Piscou um olho quando ofeguei, quando ele fica
assim, é quase impossível resistir. — Uhmm, eu acho que posso me considerar um
ex-namorado safado que está louco para voltar com a garota dele, entretanto ela
parece querer resistir. — Agora ele coçou o queixo. — O que para mim é ótimo,
porque eu adoro um desafio! — exclamou me deixando sem reação. — Mas para
mostrar minha boa fé e empenho nesse mochilão maluco, eu farei isso…
Esperei alguns segundos, depois não acreditei no que ele fez.
— Você ficou doido? — perguntei balançando a cabeça, rindo
incredulamente.
— Doido por você.isso com toda a certeza do mundo. — murmurou passando
por mim, eu estava chocada demais para reagir, mas então um tapa em minha
bunda me faz pular e despertar. — Já disse que adoro sua bunda? —Rriu baixo. —
Pois é, eu adoro sua bunda e… — Aproximou-se de novo, fazendo-me aspirar seu
cheiro de macho. — Um dia você irá me receber aqui… — Alisou meu traseiro
com carinho. — Duro e profundo…
Morta e enterrada.
Foi o único pensamento consciente que capturei, o resto deu curto circuito.
E agora?
Capítulo 39
Victória
10
“She Will be loved… She Will be loved…”
***
— Amore mio, você está tremendo de frio! — Rocco reclamou pela décima
vez e eu me aconcheguei ainda mais em seus braços.
— Eu sei. — Respirei fundo. — Mas quero curtir… até o fim.
Rocco me apertou muito e eu fiquei ali roubando seu calor. Maroon 5 já havia
terminado o show fazia tempo, agora uma banda desconhecida tocava, todavia as
músicas eram conhecidas.
Só sucesso dos anos oitenta, e, nossa, isso era meu ponto fraco.
Ficamos ali por mais algumas horas e quando estava amanhecendo, o
primeiro dia de festival acabou. Toda a turma se encaminhou para a área de
acampamento, e lá começaram as montagens das barracas.
Meninas, querem ver a guerra? Vamos provocar o Rocco um pouco?
Esperei a barraca de Royce ficar pronta e dei uma de louca.
— Vamos dormir, amore mio? Estou cansado e você precisa trocar essa
roupa molhada — Rocco falou puxando meus cabelos para cima para dar um nó
neles.
— Eu vou dividir a barraca com o Royce — falei esperado a reação dele.
Quer ver? 1… 2… 3 e…
— Nem pensar! Você fica comigo! — grunhiu, eu quis rir.
Era fácil provocar Rocco, e eu me encontrei querendo ver se essa
tranquilidade dele era real ou fingida.
— Foi o combinado, vou ficar na barraca do Royce!
— Dio mio, de onde saiu essa provocadora? — perguntou erguendo as mãos.
— Vou ficar cheio de cabelos brancos, tenho idade para isso não! — reclamou
cheio de drama.
Ri baixinho.
O clima estava leve. Rocco parecia tranquilo. E isso era muito bom.
Só espero que dure e que ele note que essa paz é melhor que qualquer outra
coisa.
— Bonequinha, olha só — Royce começou e meu grandalhão deu uma
risadinha —, minha barraca está cheia… eu uhmm… tenho companhia.
Olhei para Royce de sobrancelha arqueada.
Royce morre de medo de Rocco, meu grandalhão deve estar adorando.
— É, amore mio, eu acho que você está sem teto! — Rocco riu e eu ri
também.
— Rocco, é tão bom quando você fica assim, tranquilo, encarando as coisas
numa boa. — Acariciei seu rosto. — Você não precisa brigar nem ser violento,
basta encarar na esportiva e tudo se resolve.
— Eu nunca mais vou te decepcionar baby, vou controlar meu ciúme,
prometo. Agora implore por um lugar em minha barraca, caso contrário você vai
dormir ao relento, moça!
Dei uma risadinha e juntei minhas mãos.
— Gentil senhor, por favor, seja bondoso e me dê abrigo por essa noite —
pedi batendo meus cílios, meu frio esquecido. Estava tão bom esse momento,
Rocco de bom humor, divertindo-se junto comigo. Era um sonho.
— Não sei, minha senhora! — Deu de ombros, coçando o queixo. — Eu
tenho certas manias, e acho que pode se assustar.
— Por favor, senhor, eu farei o que quiser — suspirei colocando a mãos na
testa, bem dramática. — Não me deixe na rua.
Gargalhei quando Rocco me puxou em seus braços, enlacei seu pescoço e ele
enterrou o rosto no meu.
— Senti saudades de estar assim com você! — resmungou. — Que fase, hein,
amor? Que fase. Ainda bem que acabou.
— Vamos em frente, baby. — Acariciei seus cabelos com carinho. — Vamos
reconstruir o que perdemos, dia após dia. Estou aqui para você.
— Eu sei, pequena, e é por isso que eu preferi te dizer não. — Rocco
suspirou apertando seu abraço. — Eu não queria apenas postergar o que iria
acontecer, de tudo o que eu não queria era te fazer sofrer, mas foi justamente isso
que fiz. Juro que entendo seu medo, mas vou provar que pode se entregar. Eu sou
seu e não sairei do seu lado.
Sorri feliz deitando minha cabeça em seu peito.
— Rocco, me diz uma coisa.
— Sí, amore. O que você quiser.
— Você falou que nunca mais vai ser violento em seu ciúme, isso é verdade?
— Sim, amor, é verdade — resmungou. — Não irei mais resolver nada em
sua frente.
— Então ainda vai resolver do seu jeito mesmo assim?
— Essa é minha natureza, mas prometo que você não verá nada.
— O que os olhos não veem o coração não sente? — questionei ouvindo as
batidas de seu coração.
— Exatamente, cara mia — murmurou mexendo em meu pescoço. — Estou te
achando quente demais. Vem, vamos para nossa barraca.
Andamos até a linha de árvores que dividia o campo de acampamento e
adentramos. Alguns metros depois eu avistei uma círculo com duas barracas
pequenas e dois sacos de dormir, no meio havia uma fogueira.
— Bom dia, gente — saudei os dois seguranças que estavam ali, em seguida
fui até Jason e dei-lhe um abraço. — Bom dia, brother.
— Bom dia, querida — respondeu franzindo a testa. — Ei, você está quente.
— Efeito Rocco — meu grandalhão falou atrás de mim e Jason riu, me
fazendo corar até a raiz dos cabelos. — Agora vem, tesoro, você precisa trocar de
roupa.
Entramos na barraca e Rocco largou minha mochila em um canto, depois ele
puxou o zíper de dentro e colocou uma espécie de cadeado com senha.
Revirei os olhos.
— Não quero nenhum espertinho tentando abrir essa barraca, se isso
acontecer, será declarada a Terceira Guerra Mundial.
— Bobo. — Sorri tirando minha blusa e short, fiquei só de lingerie.
— Pode provocar, eu vou dormir nu mesmo!
Sorri e continuei mexendo em minha mochila, entretanto não achei nenhuma
roupa confortável.
— Algum problema? — Rocco perguntou do meu lado.
— Não acho nada que preste para dormir!
— Dorme sem roupa então, não vai me incomodar de jeito nenhum.
— Safado.
— Sou mesmo — resmungou e foi para a outra mochila que havia ali. Depois
de mexer um pouco, ele tira de dentro uma camisa sua e me entrega.
Vesti e descartei minha roupa íntima, depois me enfiei debaixo do lençol.
Estava frio, mas a emoção de finalmente estar com Rocco era tanta que eu nem
estava reparando. Meu estômago estava embrulhado de ansiedade.
— Chega para lá, baby, preciso de espaço — resmungou e eu afastei um
pouco, em seguida, Rocco fez um malabarismo e se livrou da sua roupa, juntando a
minha e a dele em um monte no cantinho da barraca.
Suspirei admirando tanta beleza reunida.
Oh, homem lindo, meu Deus, Rocco Delícia Masari.
— Admirando a paisagem? — perguntou sorrindo.
— A paisagem é esplêndida.
— Mas pode melhorar!
Dito isso, ele arrancou a boxer e eu ofeguei.
Inevitável.
Rocco era simplesmente… muito… uhm… Ignorante nesse lugar específico.
— Vinte e um centímetros de puro deleite! — grunhiu agarrando seu enorme
membro, e, nossa, ele estava muito duro, vermelho, parecia inchado e, se não me
engano, até palpitava. — Amore mio, eu só te digo uma coisa, nós estamos
perdendo! — resmungou começando a subir e descer a mão.
Controle-se, Victória. Faça-o mostrar que agora é definitivo e que não irão se
separar mais.
— Perdendo o quê? — sussurrei sem desviar os olhos daquele movimento
hipnotizante. Não preciso dizer que no meio das minhas pernas o latejar já
começou em um nível alarmante e que sinto meus líquidos escorrendo pelas
minhas pernas.
— Orgasmos! — grunhiu aumentando o ritmo de sua mão. — Pelas minhas
contas, já foram uns dez! Se tivéssemos começado quando cheguei, estaríamos
dormindo saciados, ou não. — Sorriu perverso e depois gemeu.
Lambi os o lábios e ele rosnou um xingamento.
— Puta que pariu, quero foder sua boca!
— Homem pervertido! — Engoli em seco, a tensão sexual estava grande,
quase palpável.
— Homem pervertido, boca pervertida, pau pervertido — grunhiu agitado, eu
ri nervosa. — Meu pau vai entrar em depressão! — reclamou e eu gargalhei, ele
era tão dramático.
— Você é exagerado.
— Você sabe o que é isso aqui, amore mio? — falou apontando para a pérola
de umidade que vazou da ponta de seu membro, eu encarava, muda, aquele
espetáculo diante de mim, por isso nem me dei ao trabalho de responder. — Isso
aqui é uma lágrima de saudade.
Balancei a cabeça sem acreditar no que ouvi.
— Meu Deus, Rocco, o que eu faço com você? — questionei meio ofegante,
meu corpo todo trêmulo, meus seios doendo para ter sua boca chupando meus
mamilos com força.
— Fode comigo, baby — respondeu e deitou, sua mão ainda trabalhando
cada vez mais freneticament.e — Vem, me monte. Cavalga no meu pau. Essa porra
dói. Minhas bolas irão cair se eu não gozar nos próximos minutos.
Para completar meu estado de atordoamento sexual, ele começou a me
chamar com a mão desocupada.
— Vem… vem logo.
— Ah, desisto! — Arranquei minha blusa e subi em cima dele. — Vem, chupa
meus mamilos, eles doem por você.
Rosnando como um animal, ele sentou e tomou um seio com ferocidade, eu
mordi o lábio para evitar gritar, ainda restava consciência e não estávamos
sozinhos.
— Isso, delícia. Que saudade! — gemi me esfregando nele, respirando fundo,
para sentir mais.
— Gostosa! — grunhiu atacando meu outro seio, enquanto mamava com
força, ele beliscava o outro me levando à loucura, nem sei como eu pensei que iria
resistir.
Meu corpo é comandado por ele. Nunca pensei que pudesse existir alguém
tão apelativo para mim.
— Se toca, quero ver você se tocar! — grunhiu e se afastou, apoiando-se nos
cotovelos, encarando minha intimidade, olhei para onde ele olhava, e lá estava,
seu membro bem no meio do meu sexo, me dividindo, mais pré-gozo escorrendo
da ponta.
Lindo.
Eu sentia tanto calor, que estava ficando difícil respirar, mas com Rocco eu
não precisava e nem queria ser tímida, por isso eu levei meu polegar até a cabeça
larga e vermelha de seu pau e esfreguei, em seguida levei até meus lábios e
chupei.
— Delicioso, como eu sabia que seria.
— Puta que pariu… — rosnou baixinho — safada, minha safada.
Sorri para ele e comecei a me mexer e a me tocar, Rocco assistia e eu me
sentia mais e mais fora de controle.
— Ainn, Rocco — gemi ansiosa pelo orgasmo e ele grunhiu beliscando meu
mamilo. — Uhmm… — Fiz movimentos circulares e rebolei mais, só que eu o
queria dentro de mim. Entretanto, agora seria com proteção.
— Camisinha— ofeguei olhando para seu rosto, os olhos dele estavam em
brasas, a expressão era totalmente decadente. — Preciso de você dentro de mim.
— Amore mio — gemeu fazendo careta —, eu não tenho. Foda-se — grunhiu
quando fiz um movimento mais firme.
— Sem proteção — ofeguei perdida em sensações, a cada beliscada forte em
meus mamilos eu sentia meu íntimo contraindo em resposta. — Sem, amor…
baby…
— Porra, Victória — grunhiu baixo e ergueu-se invertendo nossas posições.
— Vou te fazer gozar e depois vou marcar sua pele com minha semente, amanhã eu
vou atrás dessas porras. — Tão logo terminou de falar seus dedos começaram a
me masturbar.
— Aii, Rocco, você fazendo é bem melhor… muito melhor — gemi
balançando a cabeça, instantes depois ele abocanhou um mamilo e chupou com
força. — Gostoso…ahhh… meu gostoso.
Sua resposta foi um rosnado abafado.
Eu estava muito perto, e como se soubesse, ele me penetrou com seus dedos e
me fez ver estrelas, Rocco sabia onde me tocar por dentro e por fora.
— Goza na minha mão — comandou e eu obedeci, quando abri a boca para
expressar meu desespero, ele me beijou, e engoliu cada gemido de alívio que dei.
Rocco continuou a me acariciar até meu último espasmo passar, e quase foi
demais, eu estava mole e desorientada.
— Minha vez! — grunhiu e ficou de joelhos, eu abri meus olhos e o observei
fascinada se aliviando.
Músculos saltados, corpo suado, expressão selvagem, entretanto o que mais
chamava atenção era o seu equipamento.
Não é como se eu conhecesse outro, mas o de Rocco era… demais! Como eu
disse antes, ele era grande, grosso, as veias saltadas, a cabeça se sobressaindo
como um cogumelo perfeito.
Divino, lindo e maravilhoso.
— Ah, porra! — gemeu intensificando seus movimentos, dava para ver a
força que ele usava.
Ai, nossa, me sinto tão indefesa, e essa diferença entre mkim e Rocco me faz
sentir segura. Ainn, nossa… que homem, meu homem.
— Vou gozar — grunhiu e instantes depois senti o primeiro jato de sua
semente em meu ventre, Rocco gemia baixinho enquanto gozava, me melando com
seu prazer. Fiquei ali, embevecida, admirando o espetáculo exclusivo.
Então, sem dizer uma palavra, ele segurou seu membro semiereto e começou
a espalhar seu prazer ainda mais sobre minha barriga e entre meus seios.
— Quero meu cheiro em você! — grunhiu continuando com sua tarefa. —
Quero que todos saibam que é minha mulher, quero saibam quem vai atrás se
ousarem chegar muito perto.
“Completamente primitivo!”, pensei atordoada, meu corpo ainda tremendo
pela intensidade do que fizemos.
— Você não é desse mundo, homem! — murmurei olhando em seus olhos,
Rocco parecia mais calmo, entretanto seus olhos ainda ardiam ao me fitarem
intensamente.
— Sou um bárbaro, nasci na época errada! — grunhiu e desceu o corpo,
aliviando o pior de seu peso, não encostando completamente, apenas o suficiente
para estarmos nariz com nariz. — Eu fui basicamente programado pelo meu pai
para assumir minhas responsabilidades, desculpe por fazê-la sofrer.
— Rocco… — comecei, mas ele me deu um beijo rápido, para me fazer
calar.
— Eu agi como fui criado para agir, entretanto meu instinto estava
desesperado, eu precisava de você, eu desejava você. O homem louco e feroz que
há em mim não conseguia imaginar viver sem sua fêmea, eu demorei uma semana
para voltar e, depois que te vi, demorei algumas horas para mandar tudo se foder.
Eu quero você e eu vou ter…
— Rocco… uma semana que pareceu duzentos anos.
— Para mim pareceu mais… muito mais… entretanto, agora eu não vou te
largar. Você é minha, e eu vou mostrar que pode confiar em minhas palavras.
Sorri me permiti que mais algumas ressalvas se dissolvessem.
— Rocco, antes de contratar uma pessoa que vai ocupar um cargo de grande
importância em sua empresa, você faz período de experiência?
Notei-o franzindo a testa com a mudança súbita de assunto.
— Sim, não quero incompetentes na minha corporação.
Soltei uma risadinha quando tive uma ideia.
— Então você está em período de experiência, Senhor Masari!
— O quê? — questionou fazendo careta.
Lindo.
— Vou te colocar em experiência para assumir meu bem mais precioso —
sussurrei escovando seus cabelos para trás com meus dedos.
— E o que seria?
— Meu coração, é claro.
— Pensei que já fosse meu! — falou fazendo uma careta emburrada.
— Você está em teste, senhor, e eu estarei anotando tudo. Rum.
— O que terei que fazer para começar? Preciso das regras da “empresa”.
— Você terá que me dar uns cinco orgasmos por dia — falei arqueando uma
sobrancelha. Rocco ficou mudo, depois riu, e logo seus lábios pairavam sobre os
meus.
— Dobre esse valor e teremos um acordo — ronronou e me deu um beijo
para selar o negócio.
Depois nos aconchegamos nos braços um do outro.
— Oito malditos dias sem dormir com você e eu quase fiquei louco! —
resmungou em minha orelha, em seguida me mordeu.
— Aiii — reclamei e ele riu. — Você gosta de ser mordido, Sr. Masari?
— Você gosta, amore mio? — revidou e eu ri.
— Depende. Eu poderia te morder.
— Pense bem, tudo que fizer comigo irei fazer pior!
— Me ameaçando?
— Não, estou prometendo.
Ficamos em silêncio, a todo o momento Rocco beijava meu cabelo, esfregava
seu rosto em mim, já eu só fazia suspirar e aos poucos o sono chegou.
— Eu te amo, Rocco — murmurei.
— Eu também, pequena, muito. Mais do que possa imaginar… é algo além
desta vida e muito provavelmente da próxima também.
— Para sempre? — suspirei de olhos fechados.
— Para todo o sempre.
Capítulo 40
Rocco
***
— Vem aqui, mulher — grunhi puxando Victória para meus braços. — Vamos
curtir esse Show assim, agarrados igual gêmeos siameses — resmunguei em seu
ouvido e logo mordi.
Victória tremeu toda e ficou ali, aconchegada a mim. Não posso nem começar
a dizer que tudo está as mil maravilhas, não estou tendo contato com o mundo
exterior, quero dizer, eu quebrei meu celular para mostrar a Victória que eu estou
comprometido e totalmente focado nela, só nela e em mais nada. Quando
voltarmos iremos resolver tudo, mas agora eu não quero nem saber.
— Rocco, isso é tão incrível, eu estou amando tudo — suspirou e eu a apertei
mais forte.
— Eu também, estamos tendo nosso momento — concordei e depois baixei
minha voz a um mero sussurro. — Acho que vou te levar para minha ilha e te
manter lá como uma escrava sexual, vou me alimentar em seu corpo nu, irei ter sua
bocetinha ao meu alcance para foder ou chupar — murmurei safado. — Claro que
vou viver nu também, porque aí não iremos precisar perder tempo com roupas no
caminho.
Eu ia falando e Victória sorria mais e mais. Apesar de estar levemente
ofegante e corada ela estava aceitando minha safadeza numa boa.
— Eu adoraria, desde que você seja meu escravo também. — Virando em
meus braços ela começou a beijar meu queixo mesmo sobre a barba. — Sabe, eu
estava pensando no quanto sua barba me faz cócegas, será que lá… ela também…
digo… — Victória corou tanto que eu senti o calor de sua pele. Entretanto ela nem
precisava falar nada, eu já sabia o que ela queria.
— Você quer que eu te dê uma chupada bem dada, não é, amore mio? —
ronronei esfregando minha barba em seu pescoço. — Você quer que saber como
será, não é?
— Rocco — suspirou amolecendo em meus braços.
— Já está escurecendo, a primeira banda está na metade. — Arqueei uma
sobrancelha olhando dentro de seus olhos. — Quer passar as próximas horas
comigo te comendo, ou quer ficar aqui e…
— Vamos embora. — Ela me puxou pela mão e eu saí gargalhando cheio de
felicidade.
Praticamente corríamos, e quando chegamos às linhas das árvores, já estava
bem mais escuro, não pensei, eu agi. Puxei Victória empurrando-a contra um
tronco envelhecido.
— Preciso te beijar agora! — grunhi segurando seu queixo, forçando-o para
cima. Victória fez menção de tocar meu rosto, mas eu grunhi, estava meio
selvagem.
Era a necessidade, e eu ainda teria que me segurar… planos, malditos planos!
— Quero te tocar — reclamou lambendo os lábios e eu estreitei meus olhos
cheios de desejo.
Aproximei-me e capturei seu lábio inferior, puxei um pouco e depois chupei,
Victória me puxou pela cintura e eu colei nela.
— Vou te devorar, baby — murmurei me esfregando nela despudoradamente.
Sem aviso capturei seus lábios, engolindo seu suspiro rendido.
Essa é minha mulher.
Nossas bocas estavam coladas, nossas línguas duelando, entretanto ambos
estávamos tomando, eu chupava, ela retribuía, eu mordia e era mordido. Esse era o
tipo de beijo que me deixa fora do eixo, me deixa duro, doido para arrancar as
roupas e aumentar o contato e a fricção dos corpos, deixando claro que eu só sinto
isso com Victória, ela e apenas ela faz um beijo me deixar a ponto de estalar.
Eu estava saboreando seus lábios, nosso beijo é delicioso. Estou cada vez
mais louco de tesão e ele só aumenta quando Victória morde meu lábio com mais
força, em seguida sua língua vem e acaricia o lugar mordido.
— Uhhn — não seguro o gemido, isso é tão fodidamente bom.
Caralho… Estou perdido!
— Rocco, eu te quero — gemeu separando nossas bocas e enfiando as mãos
em meus cabelos, puxando-os com força, logo suas unhas me deixaram todo
arrepiado quando ela as passeou pelo meu couro cabeludo.
— Porra! — gemi me esfregando nela. — Quero tanto te foder, baby, tanto…
que me dói.
— Vamos logo — suspirou mordendo o lábio —, você tem o que
precisamos?
— Não comprei… Não tinha o meu tamanho — menti na maior cara de pau,
eu estava mesmo era cheio de camisinhas batizadas, o foda era que Victória
precisava estar louca de prazer e tesão para eu poder usar e ela nem notar que
ficou mais molhada que o normal.
Vou carimbá-la com força e desta vez vai dar certo, não é possível que minha
porra esteja tão rala assim.
— Para de pensar, homem! — Victória me puxou pela nuca e me beijou novo,
esse beijo mais desesperador que o anterior.
Gemi em sua boca e ela gemeu de volta. Ela gostava de segurar meu cabelo e
puxar com força, isso era bom, porque eu gosto meio bruto também. Ajeitei o
ângulo de nossas cabeças e aprofundei o beijo, invadi sua boca com minha língua
e brinquei ali, provando de sua umidade, engolindo seus gemidos, tragando seu
sabor para dentro de mim.
— Gostosa… gostosa — rosnei baixinho, me afastando, pegando sua mão e
começando a andar apressado para nossa barraca. Chegando lá, vejo uma garota
saindo da barraca de Jason, a coitada nem anda direito, está toda torta.
“Eita que a festa foi boa”, pensei soltado uma risadinha de camaradagem
masculina.
— Entra, amore mio. — Abri o zíper e Victória entrou, logo eu a segui,
fechando a barraca e travando o cadeado. Virei-me só para avistar Victória
deitada, apoiando-se nos cotovelos.
Sorri de lado, ficando de joelhos, puxei suas pernas e ela soltou uma
risadinha.
— Esteja preparada! — Pisquei um olho enquanto abria seus shorts e o
puxava junto com a calcinha.
Victória já estava molhadinha. Toda coradinha e ofegante.
Coloquei meu polegar na boca para molhá-lo, fiz isso olhando nos dela, que
agora brilhavam mais que duas esmeraldas.
Desci minha mão até seu sexo e lá dei um aperto suave, em um gesto
meramente simbólico.
— Esta boceta é minha! — rosnei baixinho e logo meu polegar úmido
encontrou seu clitóris.
— Ahhh, isso mesmo! — gemeu ao primeiro contado.
— Tire a blusa e abra mais as pernas, quero te ver completamente —
comandei e ela obedeceu.
Fiz movimentos suaves com meu polegar, aos poucos fui aplicando pressão e
Victória arqueou-se de olhos fechados, sorri vendo a forma como ela puxava o ar
com força e como suas mãos se fechavam em punhos agarrando qualquer coisa que
estivesse ali.
— Estamos no estágio um, amore mio — murmurei olhando aquela beleza
diante de mim —, respire fundo que ainda tem muita coisa vindo por aí.
— Ahhh, Rocco — ofegou abrindo os olhos —, eu vivo na corda bamba,
basta te olhar e eu sinto tudo dentro de mim contraindo, meu centro pulsa por você.
Meu peito inflou de orgulho pelas suas palavras.
— Não se preocupe, minha boca logo estará aqui ocupando o lugar da minha
mão. — Minha voz saiu grave de tesão. — Eu posso sentir o cheiro de sua
excitação, ela molha meus dedos, e sim, eu terei minha boca aqui! Quero lamber,
chupar e morder cada pedacinho da sua bocetinha cheirosa. Você vai me deixar
fazer isso, vai? — Eu me inclinei para frente, mantendo minha mão ainda no meio
de suas pernas. — Você vai me deixar fazer o que quiser com você? Vai me deixar
te lamber todinha? — Enfatizei o lugar desejado pressionando seu clitóris com
mais força.
— Ahhhh — gemeu, arqueando-se.
— Responda! — exigi. — Você vai me deixar fazer o que quiser? Uhn? Vai?
— provoquei, dando-lhe um beliscão em seu pontinho pulsante e inchado.
— Sim… eu vou — resfolegou agitada.
— Então me diga se vai deixar eu fazer isso com minha língua… — Sondei
sua entrada molhada e a penetrei com um dedo. Victória gemeu e eu grunhi quando
seu sexo guloso me sugou, puxando meus dedos com ganância. — Você vai?
— Siiim — gemeu, mordendo o lábio.
— E isso? — Introduzi outro dedo e comecei a fodê-la com eles, bem
devagar. — Você vai deixar eu te foder com minha língua?
— Ohhhh… uhnnn… — Victória abriu ainda mais as pernas, aumentando meu
livre acesso
— Você vai deixar eu te foder bem duro com meu pau durante horas se eu
quiser? — Mordi seu queixo e ela só abriu a boca, puxando o ar.
Aproveitei para beijá-la, enfiando minha língua em sua boca e imitando os
movimentos que eu fazia lá embaixo com meus dedos. Era fodidamente excitante,
nossos beijos eram cheios de carinho, mas tinha aquela pegada boa, de beijo bom,
bem dado. Descolei nossas bocas e rosnei algumas safadezas em seu ouvido, isso
fez suas paredes internas vibrarem em meus dedos.
Porra de mulher gostosa!
Voltei a beijá-la com paixão, minha língua varrendo todos os cantos de sua
boca deliciosa, mordendo, chupando, lambendo e acariciando sem dar trégua. E a
cada segundo ela gemendo mais e mais.
Victória parecia descontrolada quando prendeu minha língua, chupando
devagar, quase perdi o pouco do controle que ainda restava.
Estávamos ardendo de paixão, chegando a doer em mim fisicamente, quero
dizer, minhas bolas estavam pegando fogo, meu pau, duro feito pedra, meu coração
parecia bater aqui em baixo. O pior era que eu tinha um plano que precisava ser
seguido. Não abro mão dele, todavia, vamos nos aliviar, porque, puta merda, já, já
meu pau vai rachar de tão duro e depois cair.
Excesso de excitação e falta de uso, ele precisa ser hidratado, e só Victória
tem a fórmula certa para me manter em pleno funcionamento!
— Foda-se, pequena quente! — rosnei afastando nossos lábios, agora o
cheiro de sexo pesava dentro da nossa barraca.
— Rocco… aiiin… preciso tanto. — Victória balançava a cabeça de um lado
para o outro, completamente fora de controle, toda entregue, corada, à minha
mercê. E meus dedos estavam bem ocupados, entretanto eles não chegavam nem
perto do meu equipamento de perfuração.
Não disse mais nada, palavras não eram necessárias, nossos gemidos eram
mais que suficientes, iríamos nos comunicar com nossos corpos. Ajeitei-me entre
suas pernas de modo que minha mão pudesse continuar seu trabalho, então capturei
um mamilo em minha boca, suguei o biquinho duro com força e depois mordi.
— Aiii, Deus. — Victória cravou as unhas em minha cabeça e eu rugi
mamando faminto os seus mamilos, fiquei bastante tempo ali, apenas trocava de
um para o outro, até que eles estavam sensíveis, notei porque estavam vermelhos e
com certeza amanhã estariam doloridos.
Fui descendo minha boca pelo seu corpo, circulei minha língua em seu
umbigo, mordi levemente a pele de seu ventre.
“Meu filho estará aqui em breve!”, pensei determinado esfregando meu
rosto com carinho, logo continuei meu caminho, cheguei em seu sexo e esfreguei
meu rosto em seu monte. Aspirei seu cheiro de mulher e tive que abrir minhas
calças para poder dar liberdade a meu pau, minhas calças estavam sem espaço
para comportar meu equipamento todo armado, agarrei a cabeça inchada e apertei.
A dor aliviou um pouco, e eu voltei à minha atividade favorita.
Mais uma vez, esfreguei meu rosto em seu sexo, eu iria comê-la com minha
cara toda enfiada, nada de ponta de língua, isso é coisa de fresco. Eu vou cair de
boca, e ela vai ver o que minha barba é capaz de fazer.
— Rocco, por favor…
Ajeitei suas pernas em meus ombros, eu tinha que aproveitar o pouco espaço,
mesmo que minha barraca fosse maior que as demais, eu sou um homem grande,
então era isso, Victória teria que ficar com a boceta na minha cara. Toda aberta e
exposta para a minha perversão.
Aí, eu só fiz a festa, usei minhas duas mãos para deixá-la ainda mais exposta,
abri aquela flor rosadinha bem diante dos meus olhos, ela era tão linda e delicada
aqui embaixo. E o melhor?
“Tudo é meu! Ela é só minha, MINHA!”, — pensei possessivo olhando para
seu clitóris todo inchadinho e brilhoso. Tudo isso por mim e para mim.
Eu sou um maldito bastardo sortudo.
Muito deliberadamente e sabendo o efeito que eu causaria, coloquei minha
língua para fora e dei a primeira lambida, pegando seu sexo inteiro. E não fui
rápido! Não, eu degustei muito lentamente, minha língua quase em câmera lenta,
subindo todo o caminho molhado com gosto e prazer.
— Uhnnnnn — Victória gemeu longamente acariciando meus cabelos, eu
aproveitei e dei mais uma duas lambidas preguiçosas, claro, estava preparando-a
para o que viria.
Ri perverso. E olhei para cima. Esperei até ela me olhar e quando ela o fez,
eu dei meu melhor sorriso de tarado pervertido.
“Ah, amore mio, você não sabe no que se meteu”, — pensei enquanto
atacava seu sexo com selvageria. Victória gritou e tentou fechar as pernas, eu
rosnei e ela se rendeu.
Minha fêmea.
Voltei minha atenção para seu sexo encharcado. Eu queria que ela gozasse,
então coloquei seu clitóris em minha boca e chupei com força. Ela gritou de prazer
e eu rosnei em resposta. Estava louco de desejo, minha cabeça enterrada entre
suas pernas é a melhor coisa do mundo.
Poderia ficar aqui para sempre, fazer um banquete com seus sucos.
— OH, DEUS! — Victória saltou, mas eu a mantive segura no lugar, isso
aconteceu porque eu mostrei a ela o que minha barba faz, dei uma esfregada básica
em sua bocetinha, e a julgar pela excitação que escorreu, eu acho que ela gostou.
— Faz de novo.
Fiz de novo e ganhei outro gemido destruidor de paus.
Eu estava com um sorriso puramente safado em meu rosto, mas minha garota
não poderia me ver, então era algo particular, entre mim e essa delícia diante de
mim, eu era louco por ela, e como meu pau se apaixonou pela Victória, eu quero
essa bocetinha apaixonada por mim também.
— Vem com o papai, delícia.
E feliz da vida caí de boca de novo, chupando com gosto e sem muita
gentileza. Não consigo evitar rosnar feito um animal.
Cara, foram muitos dias sem a minha droga, não dá, eu vou me esbaldar.
É quase como um morto de fome que, quando encontra comida, fica tão
desesperado que vai com tudo. Eu estou assim, até meu nariz está sento usado, isso
é, quando esfrego meu rosto, acabou dando trabalho para ele também, e assim eu
vejo, como eu estou no meu paraíso. Posso ficar aqui por muito tempo, eu adquiri
um gosto impressionante por fazer sexo oral em Victória e, como morro dizendo,
sou um homem grande, preciso me manter bem alimentado.
Eu havia dito que iria segurá-la na mão para ela se entregar, mas vou fazer o
contrário, só hoje, Victória vai gozar até implorar para eu parar, aí quem sabe eu
pare.
— Estou perto… aiiin… Deus — grunhiu puxando meus cabelos com força.
Prendi seu clitóris com meus dentes e mordi de leve, Victória quase arranca
meus cabelos.
Caralho, isso me excita muito!
— Rocco… eu vou… Uhmmm… — Victória não termina a frase, eu sei do
que ela precisa, pego seu pontinho entre meus lábios e chupo duro, instantes
depois sinto o corpo dela enrijecer e ela prender a respiração.
Então o melhor acontece.
Victória goza violentamente em minha boca, e eu bebo tudo, até a última gota.
— Sensííível — gemeu enquanto eu continuava limpando-a com minha língua,
não dei a mínima, eu continuei lambendo e sugando até que não havia mais nada. E
depois, bom, eu lambi mais um pouco.
Um homem tem que fazer as coisas direito.
Agora Victória está saciada, ela até sorri de olhos fechados, já eu estava com
problemas.
Meu pau estava duro, dolorido, sensível, inchado e já todo molhado de pré-
gozo. Não tinha como eu guardar essa mala dentro das calças, eu precisava aliviar.
— Amore mio, me deixa cuidar de você?! — Victória chamou minha atenção
tocando meu braço, muito suavemente ela nos trocou de lugar, agora eu estava
deitado e ela por cima.
— Vamos nos livrar dessas calças — murmurou e eu a ajudei a tirar minhas
calças, a cueca foi junto e logo eu arrancava minha camisa.
Sorri devasso enquanto agarrava meu pau e dava algumas bombeadas. Todo
peladão, era um macho e tanto para minha garota dar conta.
— Gosta do que vê? — perguntei rouco. — Imagina ele atolado em sua
boceta? Vai ser épico, amore mio. Vou te deixar sem andar.
— Rocco! — exclamou corada e ofegante.
— Você sabe que eu sou boca suja! — Ri passando o polegar na cabeça
sensível do meu pau. — Vem cá — chamei, oferecendo meu polegar molhado com
minha excitação e, sem pestanejar, ela o tomou, gemendo baixinho enquanto
rodava a língua saboreando meu gosto.
— Rocco Gostoso Masari. — Sorriu tirando minha mão. — Sabe, eu pensei
muito e acho que você merece um castigo.
— Castigo? — Sorri, mas logo meu sorriso morreu quando Victória pegou
minhas bolas e apertou. — Ei, amor, cuidado aí — pedi, me apoiando nos
cotovelos. — Aí, amore mio. — Arregalei os olhos assustado. Não era bom
quando uma mulher envolvia a palavra castigo e segurava suas bolas em
sequência.
Porra, o homem vê a vida passando diante de seus olhos quando seu bem
mais precioso está sendo ameaçado. Não é bom ter uma mulher segurando seus
documentos e te olhando com cara de quem vai aprontar. Se Victória fizesse igual
à garota do exorcista e girasse a cabeça, eu não me assustaria tanto. Entretanto,
agora, nesse momento eu estou realmente ficando nervoso.
— Você me fez sofrer, Rocco — murmurou tranquilamente e apertou mais um
pouco. — E você deve pagar por me dizer não.
— Vamos negociar, amore mio? — ofeguei quando ela movimentou uma mão
em meu comprimento enquanto a outra apertava meu pescoço, digo, meu pau. Mas
era isso mesmo, a sensação era de sufocamento.
— Não vou negociar nada, você vai me ouvir e vai me obedecer! — Piscou
um olho e se ajeitou melhor. — Primeiro me diga a quem você pertence.
Quando ouvi isso, meu cérebro deu curto. Minha doce Victória estava dando
uma de Dominatrix?
Puta que pariu, caralho… porra!
— A você. — Respirei fundo. — Pertenço a você, amore mio.
— E de quem é este pau mágico? — P)ara enfatizar, ela mexeu nos meus
bens.
— É seu!
Ah, cara. Minha gatinha está querendo ser uma tigresa, ela está tão deliciosa,
tão fodidamente quente.
— Ótimo, agora as regras do seu castigo. — Sorriu e eu fiz um bico pidão. —
Você não pode gozar, não pode gemer, não pode fazer nenhum barulho, ah, sim,
você não pode me tocar.
Meu queixo escancarou em completo estado de choque, e quando fui debater
com ela, Victória abriu a boca e me chupou duro.
— Ahhh, porra! — gemi duramente e ela parou. — Continue… não pare.
— Eu disse não fale.
— Certo, certo — falei e ela arqueou uma sobrancelha. Eu entendi o que ela
quis dizer e só balancei a cabeça.
Eu posso aceitar isso, não vou perder essa chupada nem morto. Eu estava
morrendo de saudade de ter minha garota me engolindo.
Victória voltou a me chupar e eu travei todo. Engoli meus gemidos, estava
sendo difícil, porque o tesão estava foda, eu não sou do tipo mudo. Isso é tão
maricas, eu gosto de expressar meu prazer. Não sou do tipo que se estica, faz um
som engasgado e depois vira e dorme.
Isso deve ser frustrante para as mulheres, ter um homem que mais parece um
bonecão de posto.
Senti a vontade de gozar esquentando minhas bolas, o friozinho na barriga
estava lá. Meu corpo endureceu, e eu prendi a respiração, então, quando estava
prestes a gozar, Victória parou.
— Caralhoooo! — berrei ensandecido. Quando a vontade passou, Victória
voltou a me chupar.
Os minutos seguintes foram os piores e melhores da minha vida, eu estava
recebendo o oral mais fodidamente perverso, cruel e enlouquecedor da minha
existência. Quando estava demais para suportar, eu agarrava o cabelo da minha
garota, aí ela parava… outra vez. Eu gemi, e ela parou, minha última tentativa foi
berrar, exigindo que ela me fizesse gozar.
Ela parou de novo.
Então aqui estou eu, de olhos fechados, suado, todo tenso, louco para gozar e
sem poder. Não vou nem explicar como minhas bolas estão doendo, eu devo estar
com sêmen até a tampa, coitadas, não suportam mais. Meu abdome queima, meus
músculos estão ficando doloridos por causa das contrações involuntárias, e para
finalizar, a cabeça do meu pau está tão inchada e sensível que até a respiração da
minha garota está me causando arrepios que vão desde meu saco até minha nuca.
“Ai, droga!”, xinguei mentalmente. “Aí vem outro. Per favore, amore mio,
vamos lá, seu homem precisa gozar!”, pensei desesperado enquanto apertava os
olhos, não proferi uma palavra, eu esperei.
A ansiedade surgiu em forma de um calafrio que viajou meu corpo inteiro, era
quase um sopro subindo pela minha espinha, minha respiração travou, meus
músculos amarraram em duros nós. Eu estava prevendo o maior orgasmo da minha
vida, e, porra, eu o queria e muito.
Senti minhas bolas endurecendo, e a sensação mais gostosa do mundo
começou a crescer e crescer. Desta vez eu ri, finalmente eu iria gozar e…
Victória parou.
Eu rosnei e mandei meus planos ao inferno. Eu queria um lugar bonito, com
muita preparação e tal. Um presente de aniversário perfeito, entretanto, não se
brinca com fogo sem sair queimado.
Troquei nossas posições e coloquei Victória de quatro. Enrolei seus cabelos
em meu punho e rosnei em sua orelha.
— Eu queria algo perfeito, mas você me empurrou até o limite. — Peguei
meu pau e esfreguei em suas dobras. — Vou te foder muito, vou atolar meu pau até
o talo, e vai ser sem proteção.
Coloquei meu membro em sua entrada e forcei para dentro.
Victória gemeu quando a cabeça inchada violou sua entrada. Parei respirando
fundo, meus músculos tensos, querendo entrar tudo de vez, mas tendo que ir com
calma, devagar, invadi mais algumas polegadas. Respirei fundo, buscando
controle, ainda tinha muito pau para socar.
Victória parecia tão desesperada quanto eu, pois remexeu-se gemendo, dei-
lhe um tapa na bunda, eu queria obediência, agora quem manda sou eu.
— Aaai! — gritou, rebolando, e eu empurrei mais um pouco. — Você é muito
grande e grosso.
— Delícia. Você aguenta. Você foi feita sob medida para mim — rosnei alto,
graças a Deus o barulho era ensurdecedor e as pessoas estavam próximas ao
palco. — Minha boceta… minha, só minha. — Enlouquecido, bati os últimos
centímetros que faltavam.
Ambos gememos com a sensação de prazer sublime.
Retirei-me deixando apenas a cabeça dentro. Respirei fundo, uma vez, duas, e
logo soquei tudo, recebendo outro gemido desesperado.
— Rocco, você é tão gostoso, eu adoro seu sabor — Victória falou gemendo
e eu arrepiei, ele deve estar me provocando só pode. — Eu gosto do seu sabor
salgado e levemente picante, você me viciou, seu grande pedaço sexy.
Eu até queria me segurar, entretanto, depois de ouvir uma coisa dessas,
simplesmente não dava, por isso eu comecei a me movimentar cada vez mais e
mais forte, não tive dó. Soquei meu pau com força, com velocidade, com maestria.
Atingindo os lugares que eu sabia serem os mais apelativos, Victória gemia louca,
e eu, descontrolado, rosnando, puxando seu cabelo.
Parecíamos dois animais no cio.
— Você gosta assim, gosta? — rosnei dando-lhe outra tapa na bunda e depois
acariciando.
— Ahhh, sim… gosto — gemeu de volta, rebolando. Victória era puro fogo,
totalmente perfeita para mim.
— Isso, tome tudo — grunhi chocando meu quadril contra o dela. — Me leve
por inteiro, cada polegada minha é sua. — Puxei seu cabelo e mordi seu ombro,
agora eu fodia minha mulher com mais e mais desespero. Meu pau saindo rápido
só para enterrar-se em seu calor. Eu me sentia como se um punho envolto em
veludo me estrangulasse, as paredes internas dela me acariciavam e isso me
deixava selvagemente insano.
— Ahhh, Rocco — gritou encontrando minhas investidas brutas. — Mais
forte, mais rápido… eu adoro te ter profundamente enterrado dentro de mim.
Sorri enquanto soltava seu cabelo, parei de me mover e abri ainda mais suas
pernas, coloquei minhas mãos em sua cintura, me preparando para recomeçar.
— Resista, amore mio.
— Me tome logo, me faça sua. — Ri de sua ousadia, resolvi torturá-la um
pouco.
Dei uma mexida com o quadril e meu pau fez sua mágica. Victória ofegou
depois gemeu, seus braços bambearam, mas ela se manteve firme.
Eu ri mais.
Ela nem sabe o que ainda vem por aí.
— Dê-me tudo, amore mio — Victória falou me surpreendendo. — Eu quero
tudo. Você me completa, me preenche tão bem. Por favor…
Respirei fundo, absorvendo suas palavras, e dei o que ela queria, o que eu
queria, mas, principalmente, o que nos precisávamos.
Meus movimentos eram frenéticos, eu não consigo me controlar. Eu me perdi
em seu calor, nossos gemidos eram misturados, ensandecidos, eu rosnava, Victória
choramingava, a perfeita sinfonia de nosso amor, louco, e animal.
Olhei para baixo e vi meu pau saindo e entrando, indo cada vez mais forte,
batendo bem profundo.
— Vou gozar — mal terminou de falar e o corpo de Victória ficou tenso,
depois ela começou a gemer coisas incoerentes, uma das mãos arranhando minha
coxa, e seu corpo tremendo investindo contra mim. Eu parei de me mexer, permiti
que meu pau fosse massageado pelo seu orgasmo.
Não esperei muito, saí de dentro dela para poder virá-la.
— Quero assim agora — grunhi voltando a entrar em seu calor, se possível,
Victória estava ainda mais apertada. Ela soluçou e o libertino que habita em mim
sorriu de prazer.
— Chora no meu pau, tesoro — grunhi levando minhas duas mão até sua
cabeça para ajustar nossas posições, agarrei seus cabelos, mantendo sua cabeça
imóvel, prendi seu corpo com o meu e mandei ver.
Ficamos gemendo assim, cara a cara, nossos lábios muito próximos,
compartilhando respirações. Deixei que meu instinto me guiasse, perdi o controle
dos meus quadris, bombeava com força, velocidade e brutalidade. Victória
ofegava e, quando as sensações foram demais para ela, ela arqueou-se, me
permitindo ir mais fundo em seu interior. Eu estava como dois pistões frenéticos e
incansáveis.
— Sinta como eu te tomo — rosnei a um fôlego de distância. — Sinta meu
corpo buscando o seu, sinta a minha necessidade, sinta a minha paixão.
— Eu sinto… — suspirou e eu larguei seus cabelos, para poder sentar,
agarrei sua cintura e me perdi na visão magnífica diante de mim.
Puta merda!
Minhas investidas frenéticas só mostram o meu total abandono. Victória faz
com que eu me perca, mas também faz com que eu me encontre.
É simplesmente foda.
Nunca é igual, com Victória sempre é uma novidade, cada vez é mais intenso,
mais selvagem, mais entregue e mais surreal.
Desta vez, quando o orgasmo se formou, eu o deixei correr livre por meu
sistema. Investi mais freneticamente, gemendo feito louco, ouvindo os gemidos da
minha mulher.
Foi demais.
Eu soquei com muita força, enterrando tudo, atingindo o fundo e gozei.
Jorrando minha semente na boca do útero da minha garota e desta vez eu rezava
para que funcionasse. Eu queria frutos, queria minha semente plantada e
germinando…
Sem mais, beijei sua boca, enquanto meu pau sacudia aliviando meu tormento
de tantos dias.
***
Acordo com um calor daqueles, meu corpo está suado e quente, para ajudar,
Victória está parcialmente em cima de mim.
Mexo-me um pouco, na tentativa de melhorar a posição, mas o que eu consigo
é fazer minha garota resmungar e rolar para o outro lado, dando-me as costas.
Sorri torto com a visão de seu corpo nu. A tatuagem toda à mostra.
— Delizia mia — murmurei esfregando meu nariz em sua nuca. — Uhmm…
cheiro de mulher… da minha mulher…
— Uhmmmm… Rocco… Uhmm — Victória gemeu baixinho e eu fiquei em
alerta, vi o exato momento em que ela abriu levemente as pernas.
Sem nenhum pingo de vergonha na cara, eu desci minha mão até sua
feminilidade e quase gozei quando a encontrei toda molhada.
— Danazzione — rosnei baixinho quando meu pau bateu continência. Bom
dia, ereção matinal.
“Dio Santo, quanto mais eu a tenho, mais eu quero ter”, pensei me
esfregando levemente em seu corpo.
— Rocco — suspirou me procurando e eu não pude fazer mais nada.
Peguei meu membro e esfreguei em seu sexo para molhá-lo, aos poucos a
penetrei.
Travei o maxilar para evitar rosnar alto. Meu corpo todo tremia de desejo, e
Victória já estava ofegando baixinho.
— Amore mio — ronronei enquanto ainda permanecia parado, mas
profundamente enterrando em seu interior.
— Rocco — gemeu esfregando-se. — Tão bom…
— Acordada, baby? — Sorri ajeitando para ela deitar a cabeça em meu
braço e assim eu poder abraçá-la enquanto fazíamos amor.
— Siim — sussurrou e eu ri, puxando um pouco e penetrando-a de novo. —
Uhmmm…
— É bom, não é? — gemi em seu ouvido começando a me mover lentamente,
sem nem um pingo de pressa. — É gostoso acordar com meu pau enterrado em sua
bocetinha, não é?
— Uhum — colou ainda mais nossos corpos, se é que isso é possível.
— Quero acordar assim todos os dias — murmurei mordiscando sua orelha.
— Victória?
— Oi, amore mio — respondeu me chamando como eu a chamo.
Isso fazia meu coração crescer… meu peito comprimia de alguma emoção
forte demais para eu conseguir expressar.
Era algo além de amor.
— Não quero mais ficar longe de você — sussurrei apertando meus braços
ao seu redor. — Não quero nem uma casa nos separando. Amore mio, vem morar
comigo, seja minha esposa, minha companheira.
— Eu já sou sua companheira, bobo. Vamos apenas oficializar isso tudo. Mas
antes me faça gozar, porque agora mesmo não estou pensando em casamento, mas
no que você está fazendo comigo.
Ri baixinho enquanto empurrava Victória para ficar de quatro.
Mal saí de seu corpo e já estou entrando de novo.
— Assim é melhor, não é, amore mio? — perguntei me movendo lentamente,
— Ou você prefere assim? — Retirei e estoquei com força.
— Os dois. Mas agora eu quero duro e rápido… depois… ahhhh! — gemeu
baixinho quando eu dei uma mexida no quadril que a deixava louca. — Depois é
depois.
— Seu desejo é uma ordem — grunhi e comecei a estocar com força.
Nossos gemidos eram baixos e sofridos, porque todos já poderiam estar
acordados, entretanto era difícil segurar o prazer. Meu corpo buscava o de
Victória, exigia que ela entregasse tudo. Eu me segurava também para poder
prolongar as sensações maravilhosas, porque aqui não era apenas o ato sexual
prazeroso, era algo maior. Nossas mentes, nossos sentimentos, nossas paixões,
tudo conectado, contribuindo para que sempre houvesse uma união não só carnal,
mas emocional também.
E em momentos como esse eu me despia das minhas restrições, nessas horas
de entrega total, eu era apenas um homem que ama sua mulher independente de
passado, ciúmes, possessões. Em que eu me perguntava se era realmente
merecedor de uma criatura tão doce como Victória, porque é certo, eu sou egoísta
até minha medula, e dela não abrirei mão.
— Oh, Deus — ronronou e eu senti suas paredes internas começarem a me
ordenhar, não demorei e a segui. Derramando meu prazer em seu interior.
Torcendo mais uma vez que minha semente fincasse raízes.
***
— Vamos pedir carona, Rocco! — Victória cruzou os braços e bateu o pé. O
nariz empinado, o rosto corado… toda linda e excitante.
— Amore mio, poderemos alugar um carro e fazer a viagem tranquilos. —
Arqueei uma sobrancelha e ela estreitou os olhos.
Linda.
— Mas, Rocco, o mochilão implica pedir carona, dormir em albergue ou em
barracas, se virar para poder chegar aos lugares.
— Eu sei, mas poderemos fazer um mochilão luxuoso, em vez de albergues,
ficaremos em hotéis, em vez de carona teremos nosso próprio carro…
— E onde fica a aventura? — reclamou fazendo um beicinho. — Veja ao
redor, as pessoas estão indo embora, se não formos logo, só sobrará nossa turma.
Isso era verdade, depois que saímos da nossa barraca, fomos para o hotel que
ficava pertinho, ali tomamos banho e café da manhã. A questão foi que quando
voltamos, as pessoas estavam desmontando o “acampamento”, algumas apenas iam
embora com suas mochilas, outras estavam tirando as barracas e organizando os
grupos.
Eu e Victória estávamos prontos para seguir nosso caminho, Jason e Murdoch
já haviam desmontado as nossas barracas. O problema era que Victória queria
continuar com essa de mochilão aventura. Eu até tentei convencê-la para
continuarmos o mochilão, mas sem a parte aventura.
Estamos nesse impasse há vários minutos.
— Rocco. — Fez beicinho e eu balancei a cabeça negando.
— Nem vem com essa carinha, amore mio — murmurei franzindo a testa.
Longe de me atender, Victória piscou seus lindos olhos várias vezes, e ainda
juntou as duas mãos implorando.
— Por favor, por favor… vamos,vamos, vamooos…
— Per l’amor di Dio! — exclamei jogando as duas mãos para cima. — Si
tratta de una feiticeira.
— Ahhhhhh!! — gargalhou se jogando em meus braços. — Eu te amo, te amo,
te. amooooo!— gritou me enchendo de beijos por todo o rosto.
Ri todo bobo.
Essa mulher tem o dom de me deixar uma massa de modelar em suas
pequenas mãos.
— Murdoch, siga o roteiro dessa viagem!
— Sim, senhor, nós iremos nas três motos atrás de vocês — falou referindo-
se aos outros seguranças da equipe.
— Perfeito! — murmurei acenando para Jason, que estava dando instruções
aos outros. — Sairemos agora, a próxima cidade será Manchester, em seguida
York. Vou tentar convencer esses loucos a pegarem um ônibus.
— Não se preocupe, senhor, estaremos na cola, mas iremos disfarçar.
— Quando estivermos próximos, você se adiante e procure um albergue ou
pousada e faça as nossas reservas. Eu, Victória, Jason e vocês.
— E quanto ao resto do pessoal?
— O problema não é meu! — Dei de ombros pegando minha bolsa, tendo
sempre o cuidado de não sacudi-la muito, afinal, a caixinha de música era frágil.
— Mais alguma coisa, senhor? — Murdoch perguntou enquanto afivelava as
correias da mochila que continha a minha barraca.
— Eu estou sem celular, portanto, se precisar falar comigo, procure Jason e
resolvemos.
— Ok.
Saímos de Liverpool depois do almoço.
No começo da viagem pegaríamos um trem até Manchester e de lá começava
o estressante mochilão.
Não é como se eu não quisesse ir, claro que eu queria, mas só acho que seria
muito melhor se Victória montasse na garupa da minha moto e sumíssemos no
mundo só eu e ela. O melhor de tudo é que eu tenho um novo plano em mente,
depois de ficar louco com tanta provocação da minha garota e mudar a ideia de só
fazer amor de verdade em um lugar bonito e cheio de detalhes, eu tive que
repensar. Então agora eu tenho dois dias para fazer esse bando de sem ter o que
fazer chegar até North York Moors, lá eu sei o que farei.
Darei meus dois presentes, porque o terceiro já deve estar se formando no
ventre da minha garota.
Na verdade, esse último aí citado é mais meu que dela, digo, sei que Victória
será uma mãe perfeita, mas ela não sabe que eu estou indo com força e
determinação para engravidá-la, e depois de muito pensar, vou jogar fora as
camisinhas batizadas, porque eu sou macho e vou engravidar minha mulher como
manda o figurino.
Meu pau profundamente enterrado e gozando até desmaiar.
Assim é bem melhor.
— Rocco, você tem certeza que quer continuar? — perguntou enquanto
brincava com nossas mãos cruzadas. — Você tem coisas para fazer… uhm….tipo,
você é bem ocupado.
— Claro que sou ocupado, mas até parece que tenho cara de quem desiste de
alguma coisa! — bufei. — E agora mesmo minha empreitada é outra, eu preciso
ter minha mulher de volta definitivamente, com garantias e seguro de permanência.
Olha aí o duplo sentido.
— Vamos andar a pé também, você sabe! — Sorriu e depois franziu o cenho.
— Garantias e seguro de permanência? — perguntou e eu ri.
— Sim, baby, quero algo que me faça estar sempre em sua vida! — Sorri
torto e continuei. — Aliás, amore mio — desviei o foco da conversa —, eu não
sou sedentário, então poderemos caminhar por vários quilômetros e ainda terei
energia para te pegar de jeito. — Olhei ao redor e vi que tinha uma velhinha
sentada na fila ao lado prestando atenção na minha conversa com Victória.
Tadinha, estava com os olhos arregalados e se abanava.
Dei de ombros.
"A curiosidade matou o gato", pensei me aproximado até ter minha boca
quase no ouvido na minha garota
— Você sabe que eu sou bem resistente, não é, amore mio? — ronronei
baixinho. — Quem foi que implorou para parar? Quem foi que disse que precisava
de descanso? — Sorri perverso. — Depois de te foder cinco vezes eu ainda
aguentava mais. Não olhe agora, mas, estou com as calças apertadas, meu pau está
duro e dolorido e só não vou te mostrar agora mesmo o quanto estamos dispostos
porque isso aqui é um trem que está lotado. Se estivesse mais vazio… aí…
— Seu… Rocco pervertido Masari — dissebaixinho e ofegando.
— Só pervertido? — Fiz um bico e ganhei um beijo rápido.
— Pervertido sim, mas também é lindo. Gostoso. Tudo de bom. Safado do
Pau mágico…
Ouvir isso me fez gargalhar, e por mais que eu tentasse me controlar, estava
impossível.
— Safado do pau mágico? — murmurei em seu ouvido. — Eu prefiro safado
do pau gigante… ou do pau foderoso… ou…
— Pare — cochichou e eu apertei seu nariz.
Ficamos juntinhos até a chegada em Manchester. Lá fomos conhecer vários
pontos turísticos. Victória se divertia muito, ela tinha uma alegria natural e
fascinante, tudo, absolutamente tudo a deixava encantada.
Não quero nem pensar quando eu levá-la para conhecer o mundo… O
pensamento era muito agradável.
Nesse primeiro dia de mochilão, iríamos passar a noite em um albergue, a
sorte foi que Murdoch chegou na frente e reservou os quartos, caso contrário
estaríamos fodidos. Eu e Victória ficaríamos em um, Jason e a equipe ficariam em
outro e Royce… bom, isso eu não sei, ele deve dormir na "cocheira".
Depois de tomar um bom banho, eu me arrumei e esperei Victória se arrumar
também. Iríamos a um pub, a turma toda estava animada, e eu estava até entrando
no clima.
Um fato que anda me deixando curioso é que Victória sempre pede licença
por uns dez minutos e se afasta. Ela faz isso sempre às dezoito horas da noite.
Bom, eu já disse que confio na minha garota, e não vou fazer nada a respeito
disso.
— Cheirosoooo — murmurou me abraçado por trás e fungando em minha
camisa. — Adoro seu perfume… adoro seu cheiro natural.
— Gosta do meu cheiro natural? — perguntei me virando para abraçá-la.
— Sim, senhor, posso garantir que, se conseguíssemos engarrafar,
ganharíamos muito dinheiro. Essencial Rocco Masari… uhmmm — ronronou. —
Deliciante.
— Deliciante? — Ri de sua palavra estranha.
— Sim, muito deliciante — murmurou afastando-se até a cama onde deitou e
levou a mão até o meio das pernas.
Fiquei paralisado no lugar, vendo aquela cena ousada. Victória de vestido e
sem calcinha… se tocando.
Puta merda.
Caminhei para ela sem tirar os olhos daquela cena magnífica. Ajoelhei-me
entre suas pernas e fiquei olhando como ela brilhava.
— Está pronta, amore mio. — Minha voz saindo rouca e grossa.
— Prove como estou! — murmurou tirando os dedos de seu núcleo e
oferecendo-os para mim.
Capturei suas mãos e chupei seus dedos, provando seu sabor delicioso.
— Não é suficiente — rosnei abrindo suas pernas, então passei a língua do
jeito que eu gostava, degustando. — Assim é melhor.
Sua resposta foi cair para trás e gemer longamente.
Capítulo 44
Rocco
***
Tudo estava incrível. Não acredito que Rocco está tão tranquilo, e olha que
vários homens estão sempre conosco. Nesse grupo, mulheres só existimos eu e
uma outra.
Não posso dimensionar o tamanho da minha felicidade nesse momento, eu
juro que…
— Me solta — reclamei quando alguém puxou meu braço
Olhei para cima e vi um homem grande, não tanto quando Rocco, mas mesmo
assim grande. Ele usava boné de algum time e estava meio bêbado, seu agarre em
meu braço era firme.
— Venha dançar, querida, vamos aproveitar que aquele brutamontes descolou
de você!
— Me solta! — falei mais alto e puxei meu braço com força.
— Você vai vir comigo! — grunhiu em meu rosto e me puxou mais forte.
Pronto, de repente o homem estava caindo feito um saco de batatas. Jason
acaba de dar-lhe um murro que o nocauteou. Aí o pandemônio começou. Os
amigos do estranho surgiram do nada e começou a pancadaria. Royce começou a
brigar com um cara, e depois coisas começaram a voar. O empurra-empurra estava
me deixando sufocada, eu estava me desesperando.
Mais uma vez alguém agarra meu braço e começa a me puxar.
As pessoas continuam brigando, coisas voavam e vários gritos soavam mais e
mais altos.
Estou morta de medo, a cada puxão eu tento recolher meu braço de volta, mas
não consigo. De repente uma porta abre e estamos em um estacionamento.
Nesse momento meu desespero toma proporções gigantescas.
— Me solta! — Puxei o braço de novo e o homem que me segurava deu um
solavanco que doeu meu ombro.
— Sua puta, você vai pagar pelo murro que meu irmão levou! — berrou me
empurrando contra a parede. — Gosto das ariscas.
Congelei quando entendi o que ele faria.
Não conseguia mexer um músculo sequer.
— Não toque nela! — Ouvi a voz de Jason e o alívio foi tanto que quase caí
no chão. Minhas pernas viraram borracha quente.
Outra briga começou e Jason facilmente lidaria com esse cara se outros não
surgissem. Gritei alto, o medo dificultando minha respiração.
De repente eu estava nas mãos do Gordon novamente. E ele me batia.
A dor da memória me golpeando, o estresse por tudo que passei voltando.
O medo cravando as garras em mim. Eu me sentia gelada, arrepiada e com
muito frio.
Respirar era difícil, meus olhos viam a briga de Jason e a surra que eu levei.
Algo apertava minha garganta, comprimia meu peito. Meus olhos pregados na cena
diante de mim, nem fechá-los eu conseguia.
Jason vai morrer… E eles irão me pegar.
Meu Deus!
"Corre, vai pedir ajuda, procura por Rocco, ele pode ajudar… ele resolve",
eu ouvia os pensamentos frenéticos, mas meu corpo não reagia. Eu era uma vítima
presa ao pânico.
Jason vai morrer…. E eles irão me pegar.
Foi o só que pensei, mas ainda assim não conseguia me mover para pedir
ajuda.
Minha vista turvou, as lágrimas de pavor escorriam, mas eu não me movia.
Por que eu não conseguia?
Eu ainda era refém do medo, mas algo em mim reagiu um pouco quando mais
uma vez senti mãos asquerosas me agarrando.
Gritei, paralisei de novo. O fôlego preso em meus pulmões.
E o homem colocou a mãos na minha garganta, cortando meu ar.
Medo puro disparou por minhas veias, me tirando o resto do que sobrou de
força.
Fechei meus olhos, apertando-os firmemente. Não queria olhar. Eu não
queria, era culpa minha, eu não deveria ter ficado, mas eu não fiz nada, eu não saí
do meu lugar.
Então ouvi um rugido animalesco e abri meus olhos.
Rocco corria em minha direção com expressão assassina, suas pernas
cobriam a distância que nos separava com velocidade. Ele estava transformado no
Rocco perigoso e implacável que eu temia.
Todavia a presença dele me deu ânimo, pois gritei de novo quando o homem
agarrou meus cabelos. Rocco rosnou e não parou, ele atacou.
Tudo aconteceu muito rápido, quando dei por mim, eu estava sendo puxada
bruscamente, logo me vi solta e Rocco parecia uma fera, ele esmurrava o homem
com precisão cruel, o outro nem conseguia revidar, eu estava muda… Chocada.
Não acreditava no que estava vendo, eu já vi Rocco batendo em um homem,
mas agora ele estava além, parecia louco. E, pela primeira vez, eu agradecia o
cuidado dele comigo.
— NINGUÉM TOCA NA MINHA MULHER! — berrou esmurrando o rosto
do homem que me agarrou, e olha que ele já estava caído. E só gemia de dor.
Rocco não ouvia, ele queria mais, ele parecia sedento de sangue.
Aterrorizante, cruel e indestrutível.
Então como se percebesse que aquele ali não faria mais nada, ele atacou um
que brigava com Jason. Rocco rosnava, blasfemava, mas continuava desferindo
socos incessantemente, os amigo dos dois que Rocco derrubou estavam ocupados
com os seguranças, e Jason que já estava machucado ficou do meu lado, me
segurando, porque minhas pernas tremiam terrivelmente.
Eu não falei nada, digo, o que eu poderia falar?
— SOLTEM ESSES FILHOS DA PUTA! — rugiu violento e os seguranças
deixaram os outros três homens livres. — VENHAM! — chamou batendo no peito.
— VENHAM BRIGAR COM ALGUÉM DO TAMANHO DE VOCÊS!
Dei um passo para perto de Rocco de forma instintiva e Jason me segurou.
— Não precisa, deixa ele extravasar! — murmurou cuspindo sangue
— Mas são três — choraminguei
— Besteira, ele tem muita raiva, vai ser moleza. — Dei de ombros e cruzou
os braços.
Não consigo explicar o que aconteceu a seguir, Rocco não parecia meu
Rocco, ele estava ainda mais louco que quando começou. Derrubou os homens
golpeando-os em lugares certeiros. A todo momento, Rocco gritava sobre não
tocar na mulher dele, sobre ele matar qualquer bastardo que olhasse para sua
mulher, que quebraria inteiro qualquer “filho da outra” que se atrevesse a desafiá-
lo. E o pior, o que o deixou mais transtornado, foi saber a intenção deles.
Violar-me…
Não houve chances para os outros. Eles pareciam palitos sendo quebrados.
Ouvi os gritos horripilantes dos homens quando seus ossos rompiam e mais
gritos quando Rocco os acertava nos lugares quebrados.
Não aguentei ver por muito tempo.
Curvei-me e acabei vomitando tudo que jantei. Minha cabeça começou a
latejar… e meu nariz sangrou.
— Querida? — Jason me chamou acariciando minhas costas, enquanto eu
vomitava. — Victória, você está bem?— Ergui a cabeça, ele arregalou os olhos.
— Não se preocupe — murmurei me curvando para vomitar mais.
— Amore mio. — Ouvi a voz de Rocco e suas mãos em meus ombros, eu
havia virado as costas para não ter que ver. — Me deixa te olhar.
Virei-me e ergui a cabeça, Rocco ficou branco quando viu meu nariz
sangrando.
— Pequena?
— Estou bem. — Tremi aceitando a camisa que me ofertou. — Foi a
situação… não se preocupe, por favor.
Quando o sangramento parou, eu olhei bem ao redor e vi os homens caídos e
gemendo de dor, depois prestei atenção em Rocco e ele tinha um filete de sangue
no canto da boca, mais nada.
Entretanto ele estava agitado, ansioso, suas mãos fechadas em punhos e soltas
logo em seguida. Notei também que ele estava tenso e levemente afastado. Parecia
apreensivo com minha reação.
Mas agora não havia reação, só ação.
Joguei-me em seus braços e ele me apertou.
— Obrigada por me salvar — murmurei contra seu peito nu. — Obrigada por
me defender.
Ele não disse nada apenas, me abraçou, apertando enterrando o rosto em meu
ombro, aspirando meu cheiro profundamente.
— Sempre, amore mio — murmurou. — Sempre estarei aqui para te
defender, essa é minha honra e meu privilégio.
— Eu te amo — sussurrei apertando meus braços em sua cintura.
— Eu também — respondeu me apertando ainda mais.
***
Ainda estou muito chocada encarando Rocco. Nunca pensei que ele tivesse
esse nível de ousadia, mesmo tendo ficado ousada, a timidez ainda me deixa
nervosa.
— Vamos lá, amore mio, seu presente quer ser desembrulhado. — Sorriu e
veio ficar na minha frente.
Meu coração estava acelerado, minhas mãos coçavam para tocá-lo. Minha
boca seca de ansiedade, sem contar no constante latejar no meu sexo.
— Claro que vou — falei me ajoelhando e tocando na fita de cetim que dava
o laço em seu pau, ou melhor, meu pau, porque, né? Eu ganhei de presente.
Imaginem a visão.
Rocco era um homem muito bem dotado, como todas já sabem, então lá vem
ele com seu equipamento muito bem erguido e com um laço de fita em sua base. A
visão era estarrecedora, pois não era só vê-lo nu, mas era o corpo todo, braços e
coxas poderosas, abdome sarado, uma trilha de pelos.
Era muito homem para admirar, 1,91 m, para ser exata.
Suavemente, puxei as pontas da fita desfazendo o laço, olhei para cima e
Rocco sorriu malicioso.
— Quero que brinque com seu presente — grunhiu agarrando meus cabelos e
segurando seu membro. — Abre a boca.
Passei a língua pelos lábios e ele rosnou, logo eu abri a boca, mas Rocco
Perverso Masari não me deu o que eu queria. Ele bateu levemente em minha boca
com a cabeça de seu membro e eu gemi desejosa, só conseguindo passar a língua.
— Delicioso — murmurei dando um sorrisinho, encarando seu rosto, lambi
de novo e Rocco puxou uma respiração afiada, a visão que eu tinha era a de seu
abdome tanquinho ficando ainda mais destacado, por causa da tensão que invadia
seu corpo.
— Me dá! — pedi lambendo a ponta que estava ao meu alcance, mas colocá-
lo na boca eu não conseguia, Rocco não deixava. Ele nos torturava aumentando
nosso prazer.
— Implora! — grunhiu aumentando o agarre em meu cabelo.
Gemi de dor e prazer, meu centro contraindo, pulsando de desejo, implorando
para ser preenchido completamente, até o limite.
— Por favor, Rocco.
— Boa menina. — Sorriu e finalmente me deu o que eu queria.
Abri bem minha boca e suguei seu comprimento, Rocco gemeu alto e eu
gostei de ouvir esse som.
— Porra! — rosnou e eu passei a língua por toda sua largura bem lentamente,
depois o tomei em minha boca de novo. — Isso, me leve mais fundo.
Eu o fiz e o gemido que Rocco soltou fez meu sexo pulsar ainda mais, não era
como se eu pudesse segurar, perto desse homem eu virava uma pervertida, igual a
ele, mas, sinceramente, quem se importa?
Continuei adorando meu homem com minha boca e, me lembrando da reação
dele, eu apertei um pouco suas bolas. Como eu esperava, seu membro pulsou em
minha boca, e eu aumentei a velocidade, levando o máximo que eu conseguia e às
vezes tentando ir mais fundo, quando eu fazia isso, eu o sentia em minha garganta e
era nesse momento que Rocco berrava de prazer, rosnando obscenidades que
estavam me deixando louca.
— Se toque, amore mio! — grunhiu ofegante. — Quero que você se toque
enquanto eu fodo sua boca.
Fiz como ele mandou e gemi duramente, Rocco rosnou quando sentiu a
vibração do meu gemido, depois enlouquecemos. Ele aumentou o agarre em meu
cabelo e começou a se mover, eu o recebia gemendo enquanto meus dedos
acariciam meu clitóris com força.
— Isso… deliciosa — grunhiu alto. — Porra, que gostoso.
Eu gemia ensandecida, meu corpo todo arrepiado, minha barriga dando
cambalhotas de antecipação.
— Vou gozar, baby — gemeu e eu também, pois meu corpo preparou-se para
acompanhar o dele, Rocco ainda deu uma leve parada, mas eu continuei, e quando
ele entendeu que eu não tinha restrições, jogou a cabeça para trás e rugiu. —
Ohh… Porra!
Rocco parou seus movimentos quando gozou, entretanto, ele agarrou meu
cabelo com ainda mais força, seu corpo todo tenso como cordas de violão, então
jatos quentes preencheram minha boca, engoli tudo enquanto gozava também. Foi a
sensação mais decadente que já tive, meu corpo estava louco, descontrolado,
quente até dizer chega.
Suavemente, Rocco soltou meus cabelos e começou a acariciar meu rosto. A
forma como ele me olhava era de adoração e amor.
Eu o olhava também, mas ainda não estava saciada, por isso agarrei a base de
seu pau e dei uma chupada longa e lenta, aumentando a força da sucção na cabeça
avantajada.
Rocco gemeu desesperado, fazendo uma careta sofrida, seu corpo
tensionando novamente, até pude ouvir seus dedos dos pés estalando, e logo ele
me puxava suavemente, tirando meu brinquedo do meu alcance.
— Sensível demais, pequena — ronronou. — Muito sensível para aguentar
sua língua malvada. — Fiz beicinho e ele riu, me beijando em seguida.
Entreguei-me ao beijo, nossas línguas duelando, ele provando seu sabor em
minha boca… foi tão intenso que me vi de pernas bambas, entretanto, longe de
terminar, Rocco me pegou no colo e, em vez de nos levar para cama, ele nos
deitou nas almofadas.
— Vou te amar aqui mesmo, nessas almofadas — murmurou deitando-se
comigo, nem sei em que momento meu roupão sumiu, só sei que estava nua e ele
me admirava, as pontas de seus dedos percorriam o vale entre meus seios, às
vezes ele puxava meus mamilos o que fazia com que eu arqueasse meu corpo em
busca de mais contato.
— Por favor — suspirei, me abrindo ainda mais para ele, o ambiente estava
tão romântico, o fogo da lareira emprestava ao ambiente uma meia-luz sensual,
meu fôlego já estava entrecortado de novo, agora eu ansiava por senti-lo dentro de
mim, me fazendo dele. — Amor, eu sofro, preciso de você dentro de mim.
Sem demora, Rocco se posicionou no meio das minhas pernas e me penetrou.
Então eu estava no céu, no sublime e doce céu.
Fizemos amor até cairmos largados nas almofadas, não saímos daqui em
nenhum momento, matamos nossa fome um do outro, primeiro de forma primitiva,
depois lenta e romântica, então perversa e safada e, no fim… No fim, ele fez amor
de forma quase contemplativa, a cada estocada lenta, Rocco murmurava o quanto
me amava, ele não falava eu te amo, mas, nossa, era tão lindo que eu acabei
chorando, e, quando gozei, ele me acompanhou, apertando-me em seus braços,
jurando nunca me deixar ir.
Fiquei em seus braços, minha cabeça repousando em seu peito, ouvindo as
batidas de seu coração acelerado, esperando que meu próprio corpo voltasse ao
normal.
Nunca me senti tão bem, e era aqui que eu queria ficar, Rocco era meu lar,
meu porto seguro. Ele era meu lado forte, enquanto eu era sua suavidade.
Éramos perfeitos em com todas as nossas diferenças.
Eu o amava tanto.
— Rocco, como vai ser quando voltarmos para casa? — perguntei
acariciando os pelos de seu peito másculo.
— Não importa — respondeu aumentando seu agarre em mim —, vamos ficar
juntos, o resto resolvemos depois.
— Ficaremos juntos. — Sorri e me ergui um pouco para olhar em seus olhos
— Prometo que vou amar seu filho como se fosse meu, e nossa casa será sua casa
também, onde ele se sentirá seguro e amado. Não permitirei que ele se sinta
preterido, ele saberá que tem uma segunda mãe.
Rocco ergueu-se e eu deitei, então ele apoiou-se em um cotovelo para poder
me encarar.
— Não há palavras em minha boca que sejam dignas de você! — sorriu
emocionado. — Eu sou sortudo por tê-la em minha vida e farei o possível para
merecê-la…
"Diga que me ama", entoei silenciosamente. "Diga que me ama, quero
ouvir."
— Io te voglio molto bene — começou a distribuir pequenos beijos em meu
rosto. — Mia sposa — sussurrou esfregando nossos narizes. — Mia moglie. —
Beijou meus olhos. — Il mio cuore. — Beijou meus lábios e sorriu. — Madre de
mio bambino. Compagno previsto, sempre Amato e adorato.
Rocco falou em italiano e eu não entendi basicamente nada, mas fiquei
emocionada e lágrimas felizes escorreram pelos meus olhos.
— Eu te amo tanto — solucei e sorri quando ele limpou minhas lágrimas com
seus lábios.
Ficamos muito tempo trocando carícias, até que adormecermos, seu corpo
servindo de travesseiro e cobertor.
Acordei me sentindo muito aquecida, lentamente abri os olhos e constatei que
as paredes de vidro permitiam os raios solares entrarem na cabana. Sorrindo, logo
percebi que estava na cama e que Rocco, não.
Estiquei-me, mas logo parei, meu corpo inteiro protestou, eu estava bastante
dolorida, meu sexo supersensível depois de toda a atividade da noite passada.
— Pense em um homem quente — murmurei levantando. A primeira coisa que
fiz foi tomar um banho rápido, depois procurei uma calcinha, mas logo desisti,
Rocco disse que não era para usar, então…
Dei de ombros, só havia nós dois aqui então eu tinha liberdade, todavia mexi
em sua bolsa e peguei uma camisa de mangas compridas, que ia até minhas coxas.
Vesti-a e aproveitei para prender meus cabelos em um coque no alto da cabeça.
Saí do quarto cantarolando, e qual não foi minha surpresa ao encontrar uma
mesa pronta com o café da manhã? Aproximei-me e vi um recadinho.
Bom dia, amore mio. Tome seu café, fui eu que fiz, espero que não esteja um
verdadeiro purgante.
Hoje o dia promete… Feliz aniversário.
Do seu homem.
***
***
Acordei com beijos em meu rosto que me faziam sentir muito bem.
— Acorda, amore mio — Victória me chamou e eu sorri. — Vem, o café da
manhã está pronto.
— Meu café da manhã está bem aqui.
— Ahhhh — Victória gritou quando eu troquei nossas posições.
— Bom dia — murmurei esfregando minha barba em seu pescoço. — Você
está bem?
— Uhmm… bom dia. E sim, estou bem, não sou do tipo que atenta contra a
vontade de Deus — murmurou baixinho. — Agora já para a mesa, vem tomar café
da manhã.
Levantei e fui direto tomar banho, logo eu estava indo para a sala.
A mesa estava farta, só notei que estava morto de fome depois que comecei a
comer.
— Meu Deus, vocês estavam em uma caverna? — Dimitri perguntou e
Victória engasgou. — Minha nossa, Rocco, eu compro um barbeador para você, a
moda é barba cultivada, e não um matagal na cara.
William jogou a cabeça para trás e riu. Pegando todos nós de surpresa. O
conde não era muito de rir, e como se estivesse notando que hoje era um bom dia,
o Dinka continuou:
— Na moral, o cara some por duas semanas, e aí depois me liga na maior
cara de pau! — O Dinka grunhiu. — Viado, eu estava agoniado para debochar do
seu pau mole.
— O quê? — Victória perguntou de olhos arregalados.
Quando falei para ela que não era pai do filho da vadia, eu não entrei em
detalhes, só disse que William a fez confessar e pronto.
— Victória, minha querida, esse seu namorado é tão apaixonado por você que
nem o equipamento dele funciona sem ser com você, e olha que Rocco estava sob
efeito de medicamentos.
Victória estava tão vermelha que eu nunca a vi assim. Ela estava até
brilhando.
— Rocco encontrou a boc.…— Não o deixei terminar de falar, joguei uma
bolinha de guardanapo na cara do Dinka.
— Respeita minha mulher, seu escroto! — grunhi e ele deu de ombros. —
Folgado dos infernos. E sim, meu pau pertence à Victória, é dela.
Falei olhando para ela, que corou violentamente. Na verdade já estava muito
vermelha desde que Dimitri perdeu o controle da língua.
— Estou sentindo que tem mensagem subliminar nessa história — o Dinka
murmurou e todos nós rimos, e assim terminamos de tomar café da manhã, sob
muitas risadas, bagunça e bolinhas de guardanapos voadoras.
Agora fomos para a sala, eu queria ouvir essa gravação. E confirmar sem
sombra de dúvidas que eu estava livre do encosto chamado Briana Costant.
— Cara, essa gravação é valiosa, porque ela mostra que o Todo Poderoso
Masari não é muito potente. — O Dinka riu e o William deu de ombros.
— Eu confesso que entendo as reações do Rocco — o conde começou —,
comigo certamente aconteceria o mesmo.
Todos nós olhamos para William e ele não deu a mínima.
— Existem conexões que a distância e nem a morte conseguem quebrar —
proferiu alto, fazendo Victória suspirar e concordar com um aceno de cabeça. —
Nesta vida pertencemos a uma única pessoa, até encontrá-la, vivemos cegos e em
uma busca incessante, o problema é que quando encontramos temos que rezar para
que ela esteja livre para nós.
— E se não estiver? — o Dinka perguntou de braços cruzados. A cara do meu
amigo tentava demonstrar indiferença, mas quem o conhecia notava que ele estava
muito bem atento.
William não respondeu, mas pela sua expressão, ele deixou muito claro que
para ele o céu é o limite.
E isso se aplica a mim também. E se os anos que conheço o Dinka significam
alguma coisa, eu diria que ele não está muito fora desse contexto.
— Vamos parar com o momento nostalgia — Dimitri grunhiu. — Quero ouvir
a gravação de novo.
William pegou o celular dele e mexeu por alguns segundos. Em seguida a
grande revelação estava sendo feita, só que, desta vez, para eu ouvir, e confirmar
sem sombra de dúvidas que tudo não passou de um golpe.
— O que não é de Rocco?
— Meu bebê! —Houve uma pausa. — Ele não é de Rocco.
— E de quem é, Briana? — A voz do conde parecia muito tranquila, mas eu
conseguia entender a manipulação na conversa.
Houve um momento de silêncio na gravação, no qual eu olhei para Victória e
vi que ela estava com um sorriso lindo. Na verdade era radiante, pois uma coisa
era eu e ela sabermos da novidade através de Dimitri, outra coisa era ouvir a
prova.
— É do meu motorista! — mais uma vez a voz da vadia se faz ouvir e eu
sinto um peso enorme sair das minhas costas.
Recostei-me no sofá, permitindo que um sorriso enorme se desenhasse em
meus lábios.
— Você pode estar mentindo para mim!
A voz do conde soou firme na gravação, e eu ri, bastardo manipulador.
— Afinal, o exame que você fez as datas eram exatas, e você ainda jura que
dormiu com Rocco, então quem me garante que, depois de casados, um
escândalo não vai explodir em minha porta? Rocco não é do tipo que fica
calado. Ele é do tipo que explode com tudo.
— Essa é a minha parte favorita! — o Dinka falou alto chamando nossa
atenção
— Rocco sequer teve uma ereção — a puta falou, sua voz soava um pouco
distante, era como se ela houvesse dito isso em voz baixa.
O Dinka já estava rindo alto e batendo nas coxas. Infeliz.
— Fale mais alto, eu quero ouvir com clareza — o conde pediu na gravação,
e o olhei, o bastardo só deu de ombros, mas ria também.
— Rocco não ficou excitado, ele não ficou duro, entendeu? Eu tentei, mas
ele não reagiu, então eu simplesmente dormi ao lado dele e fiz parecer que
havíamos transado.
Victória encolheu-se um pouco e eu a puxei para sentar em meu colo. Enterrei
meu rosto em seu pescoço e respirei fundo.
— Tudo bem, amore mio?
— Tudo ótimo — respondeu virando o rosto um pouco de lado. Beijei sua
bochecha e ela riu baixinho. — Eu te amo.
— Ei, prestem atenção na gravação! — Dimitri ralhou e eu estirei um dedo
para ele. — Vamos, ouçam.
Voltamos nossa atenção para a conversa que havia no celular.
— Você está me dizendo que Rocco Masari brochou?
— Sim, Rocco brochou, não subiu de jeito nenhum. E depois, quando fomos
fazer o exame, eu paguei para a enfermeira de plantão. Digo, eu não paguei, eu
prometi que iria pagar, mas Rocco cortou meus cartões e meu acesso às contas
da empresa do meu pai. Quase que eu me ferrava, minha sorte foi que minha
mãe vendeu uma de suas joias e pagou o dinheiro à moça, ela foi me procurar na
minha casa, e minha mãe a atendeu.
— Rocco do pau morto! — o Dinka quase gritou, mas todos nós riamos
muito. — Eu disse que você estava morto, cara, mortinho da silva.
— Ótimo, melhor um pau morto do que uma puta como mãe do meu filho! —
grunhi já querendo colocar meus planos em prática. — Você encontrou o motorista,
Dimitri?
— Sim, e conversamos. — Riu cruzando os braços. — Ele está se formando
e trabalhava para ajudar em casa.
— O que você tem a dizer sobre o rapaz? — questionei.
— Ele é novo, tem apenas vinte e quatro anos, e é honesto. Deve ter caído na
lábia daquela vadia.
— Parem de chamar a moça de vadia — Victória murmurou desconfortável
—, ela está grávida, respeitem.
Não dissemos nada, mas começamos a chamar a vadia pelo nome.
Continuamos nossa conversa e no fim eu já sabia o que fazer.
— Vou fazê-la pagar por tentar me dar um golpe da barriga! — exclamei
dando um sorriso cruel.
— Rocco, pare! Você quer mesmo falar sobre golpe da barriga? — Victória
perguntou arqueando a sobrancelha. — Além do mais, a moça está grávida, e você
já descobriu a verdade — minha garota mais uma vez chamou minha atenção. — O
bebê não merece ser maltratado, por favor, esqueça isso.
Olhei para ela e na mesma hora as engrenagens do meu cérebro remodelaram
meu plano, eu precisava fazer algo que assegurasse o bebê, mas que deixasse a
puta em maus lençóis.
Em poucos minutos eu sorri.
— Não se preocupe, amore mio, o bebê estará seguro.
Capítulo 49
Rocco
***
— Vamos para o Central Park, Victória me ligou avisando que iria para lá.
— Jason está com ela, e o central Park fica em frente ao seu apartamento —
Dimitri murmurou enquanto mexia no celular. — Filha da mãe. Mas… quê?
Safada! — exclamou e eu ri.
— Problemas?
— Vai se foder — Ri ainda mais, sendo acompanhando pelo conde. Logo ele
ligou para alguém, o Dinka parecia ansioso demais.
— Annya, me conta essa porra direito! — entendi na hora do que se tratava.
A garota do Dinka.
— Como assim um ano? — gritou alto. — Ela é louca? A safada!
Olhei para o conde e ele sorriu debochado.
E começava o martírio do Dinka e sua boceta mística.
— Eu não gosto dela — esfregou o rosto. — Não tem nada haverá ver… o
quê? Eu sou homem, porra!. Me respeita! Não, eu não a quero. Ciúmes? Quem está
com ciúmes? Aquela patricinha não sabe de nada.
A cada instante o Dinka ficava mais e mais vermelho. A raiva estava muito
grande, até eu notei.
— Não quero saber, ou melhor, quero sim, fala logo.
Não sei o que a irmã do Dinka estava falando, só sei que meu amigo foi
ficando de todas as cores possíveis, no fim ele ficou meio roxo, e seus olhos
queimavam de puro ódio.
— Se esse escroto pedir a minha… se ele pedi-la em casamento e ela aceitar,
pode comprar dois caixões.
Sem mais ele desligou e ficou calado.
Contei até dois e sua explosão soou.
— Acreditam que aquela safada foi para a África? — perguntou puto de
raiva. — Minha irmã falou que ela foi a trabalho, não entrou em detalhes, só me
disse que foi por um ano e que ficará incomunicável. — Esfregou o rosto e
suspirou. — Um ano, acredita nisso? E ainda tive que ouvir Annya dizendo que o
colega de trabalho da pirralha vai pedi-la em casamento. — O Dinka estreitou os
olhos, comprimindo os lábios. — Eu mato aquela safada e o marido dela.
— Você está se ouvindo? — William cutucou. — Você diz que não sente nada
pela garota, aí quando ela está construindo a vida dela, você surta dando uma de
psicopata querendo matar a tudo e a todos.
O Dinka estalou os dedos e depois sorriu.
— Tem razão, eu não posso matá-la, mas posso matar o bastardo que está
colocando o olho grande nela. — Agora o Dinka sorria satisfeito consigo mesmo.
— Ela vai ficar solteira, e quando eu estiver pronto, vou tomá-la…
— Você assume que gosta dela então? — perguntei debochado
— Gosto não. Ela é uma patricinha, cheia de frescura, vive isolada —
resmungou. — Acho que isso me deixa excitado, o fato de ela não se misturar. Ela
é muito quieta, tímida. Prefiro as safadas que sabem o que querem.
— Cara, você está todo incoerente — reclamei recostando no banco do
carro.
— Porra nenhuma! — bufou. — Eu sei o que quero e, depois de pegar aquela
pirralha de jeito, eu deixo para lá.
— Vou assistir à sua queda de camarote. — William concordou comigo
— Veremos — reclamou me fazendo rir ainda mais.
— É, veremos. — William soltou uma risadinha debochada e seguimos
tirando sarro do Dinka até chegarmos ao Central Park.
Desci do carro e olhei ao redor. Meu apartamento em NY ficava de frente ao
parque, então não creio que Victória tenha ido muito longe. Graças a Deus era
muito bem iluminado também.
Caminhei por uns dez minutos até que vejo Victória com o…
Balofo? Digo, pulguento.
Mas como aquele cachorro veio parar aqui? E, puta merda, como ele
estava enorme.
Caminhei em direção aos dois e, quando fui chegando perto, um homem alto
surgiu e segurou o rosto de Victória entre as mãos.
Corri.
— Meu amor, que saudade, eu estava preocupado e, quando você não foi para
Londres, eu preparei meu avião e corri para cá.
Ainda vislumbrei Victória sorrir meio sem jeito. Mas então o ciúme já me
cegava.
— Solta minha mulher! — grunhi esmurrando a cara do bastardo que ousou
tocar no que é meu.
O homem cambaleou, e eu fui para cima de novo, Jason me segurou e Dimitri
chegou para ajudar a me manter no lugar. Eu estava com muita raiva e a adrenalina
bombeava em meu sistema, me emprestando ainda mais força, então William
chegou e serviu de apoio.
Foda-se.
Quase tive um ataque do coração quando Victória, em vez de vir para perto
de mim, foi para perto do bastardo, e quando se aproximou o suficiente tocou em
seu rosto. No lugar onde bati.
— Saia de perto dele! — grunhi tentando me livrar do agarre de Jason e
Dimitri.
— Cara, fica quieto, não piora a situação — Dimitri murmurou e eu grunhi
ainda mais furioso.
— Victória, venha aqui! — chamei, mas ela não me deu ouvidos, só queria
saber do outro.
A raiva e a decepção que eu sentia eram tão grandes que quase não me
contive. Eu queria matar o filho da puta que abalou o coração da minha garota.
E eu pensado que estávamos bem…Senti meu peito comprimindo quando
imaginei Victória com outro.
Então uma mulher surgiu, ela era bem mais velha, mas muito elegante, e me
olhou com uma cara que quase me fez encolher.
— Meu filho, você está bem? — perguntou para o tal que eu bati.
— Sim, mãe, estou — murmurou mexendo no maxilar. Então a mulher virou-
se para mim.
— Você não é bom o suficiente para Victória! — falou me encarando, claro
que agora eu devo estar com cara de psicopata.
— Quem você pensa que é? — grunhi tentando em soltar.
A mulher me olhou, mas não respondeu. Ignorou-me completamente.
— Venha, minha querida, estou louca para ter um momento com você!
Victória virou-se para a mulher e sorriu sem graça.
— Eu fico feliz que fizeram as pazes —murmurou me deixando ainda mais
confuso.
— Graças a você, nunca poderei agradecer o suficiente por ter me devolvido
meu filho.
Mas o que diabos está acontecendo aqui?
— Agora vamos, preciso organizar sua apresentação à sociedade brasileira.
— Mas que merda está acontecendo aqui? — perguntei alto, fazendo todos
olharem para mim, e mais uma vez tive que lidar com a expressão de raiva
daquela desconhecida.
— Eu sou Antonieta Andrade, a avó da Victória! — exclamou me olhando
com superioridade. — E você não é bom o suficiente para minha neta. Seu
ignorante — falou empinando o nariz.
Arregalei meus olhos quando a realidade bateu, se Victória era neta daquela
mulher e o homem em que eu bati era seu filho, então…
Caralho!
— Prazer, Sr. Masari — O homem sorriu para mim e eu fui solto.
— Victória, o que está acontecendo?
Eu estava confuso, o pai dela não tinha morrido? E se esse cara tinha um
avião particular, como ele pôde deixar sua filha sofrendo nas mãos da Blanchet?
— Rocco, você bateu no meu pai — Victória murmurou, confirmando minha
suspeita. — Victor Andrade é meu pai —falou mais firme, logo em seguida
suspirou.
"Puta que pariu, eu bati no meu sogro?!", pensei nervoso, sentindo uma
pedra afundando em meu estômago. Ah, cara, estou tão fodido!
E agora?
Ferrou de vez.
Capítulo 50
Victória
Sinceramente eu não sei por que não contei para Rocco a grande novidade da
minha vida. Juro que não foi por medo, nem por maldade, Deus sabe que eu não
sou assim, a questão é que estávamos vivendo um momento idílico, e o assunto
simplesmente não surgia.
Depois do que passei naquele estacionamento, fiquei mais dura em relação à
violência. Claro que prezo a paz onde quer que eu vá, mas o que iriam fazer
comigo.
O que iriam fazer comigo mudaria minha vida para sempre, e se não fosse por
Rocco e toda sua obsessão, talvez eu já não fosse à mesma.
— Por favor, me perdoe! — Ouvi sua voz aflita chamando por mim. — Se eu
soubesse…
— Rocco. — Ergui uma das mãos e ele se calou. — Vamos todos para casa,
precisamos conversar, tenho muita coisa para te contar.
— Fica calmo, cara! — Dimitri falou sério.
— Não me peça para ter calma! — Rocco exclamou, passando a mão no
cabelo.
Minha avó olhava para Rocco meio de lado, ela estava com a boca meio
torna, e notei que aquele era um sinal muito claro de reprovação.
Ela não gostou dele.
Fechei os olhos suspirando.
Eu já fiz minha escolha.
O clima estava tenso, até meu Balofo estava agitado, ele choramingava e
ficava sempre se esfregando em minhas pernas.
Ainda em silêncio, seguimos todos para o apartamento de Rocco. Minha
cabeça fervilhava, mas no fim eu sei que Rocco agiu mais por proteção a mim que
outra coisa.
Não preciso dizer que minha avó estava ao meu lado, ela não desgrudou de
mim. E a todo momento dizia que Rocco era muito bruto e selvagem para um
princesa delicada como eu.
Se ela soubesse que eu o amo assim mesmo, pararia de falar mal dele!
— Por favor, pare — falei baixo só para ela ouvir. — Eu o amo e não gosto
que fale assim. E a culpa foi minha, eu deveria ter contado.
— Minha querida, esse Rocco é um selvagem. Não é bom para você! —
reclamou ofendida.
E começamos com o pé esquerdo!
— Ele é perfeito para mim! — proferi tranquila e ouvi uma risadinha feliz, eu
sabia a quem pertencia.
Minha avó andou mais adiante, e o Dimitri emparelhou comigo.
— Rocco pensa que você está furiosa, mate ele na unha — Dimitri falou bem
baixinho em meu ouvido. — Ele precisa de alguns fios de cabelos brancos.
— Ele iria ficar ainda mais lindo! — sussurrei de volta e olhei para trás,
Rocco estava de com expressão tensa e nervosa.
Calma, amore mio, tudo está bem.
— Não mais que eu — murmurou. — Sou um poço de elegância, charme e
beleza.
— Desculpe, meu amigo, mas Rocco ganha de você tipo de mil a dez.
— O amor é cego. E quando casa, volta a enxergar — reclamou bufando e eu
concordei discordando.
Rimos e a primeira parte do grupo entrou no elevador, eu fui na frente com
meu pai, minha avó e Jason.
Antes de as portas fecharem eu vi o rosto ansioso de Rocco. A aflição estava
gravada em cada traço de seu rosto perfeito. Engoli um suspiro, ele era tão lindo.
Vamos dar um desconto, ele não sabia de nada, e ainda estamos
traumatizados com aquele episodio no estacionamento do Pub, só espero que
meu pai não resolva colocar pedra. Pois pelo que vi, terei um momento difícil
com minha avó.
Juro que um elevador nunca pareceu tão pequeno, eu sentia que meu pai
estava tranquilo, mas minha avó, essa estava soltando faíscas. Graças a Deus que a
chave do apartamento estava no meu bolso, então fui logo abrindo a porta e
soltando o Balofo, deixei-o à vontade.
— Eu sinceramente não acho que esse relacionamento vai dar certo! — minha
avó declarou assim que sentamos no sofá. Ela de frente para mim e meu pai ao
meu lado.
Eu só ouvi, me escolhendo o sofá que ficava de costas para a porta.
— Por favor, não fale assim — pedi baixinho.
Não sei o que há, não consigo me impor usando de ignorância. Mesmo
precisando, às vezes.
— Ele bateu no seu pai! — insistiu com voz firme, eu me encolhi de novo.
Ela tinha muita autoridade. — Como ficará? Ele sempre é impulsivo assim?
— Rocco é um homem muito bom e digno.
— Ele não é bom para você! Diga-me, ele alguma vez já se controlou?
Fiquei em silêncio. Eu não iria mentir.
— Está vendo? — sorriu satisfeita.
Baixei a cabeça.
Não queria começar nosso relacionamento assim, eu sempre quis ter uma avó
comigo, mas se tiver que escolher… eu escolherei Rocco. O amor da minha vida.
— Eu gostei de ele ter me batido! — meu pai falou me surpreendendo, quase
chorei quando o vi sorrir de forma compreensiva para mim. — Isso só mostra que
ele sabe cuidar da minha garotinha, aliás, Laura me contou tudo sobre seu
relacionamento.
— Obrigada, pai, é muito importante que fique do meu lado e entenda que
Rocco é o homem que amo e sempre vou amar — murmurei feliz e recebi um
abraço, já minha avó olhou mais adiante de mim, ela estava chateada.
— Um dia esse homem ainda irá se virar contra você, e eu vou estar aqui
para te segurar quando cair.
— Não adianta tentar insistir nisso, vó! — falei segura de mim. — Eu amo
Rocco, e ele está se controlando por mim. Não importa, não vou deixá-lo, então
sugiro que se a senhora me quer em sua vida, aceite meu namorado e o respeite
também.
Minha avó era uma mulher extremamente elegante, ela estava toda altiva no
sofá, irradiando glamour. Já eu estava sentada toda desengonçada, meio corcunda
e cabisbaixa.
— Você vai ficar contra sua família? — perguntou ofendida e eu me encolhi
ainda mais, entretanto…
— Rocco é minha família também — falei encarando-a.
Ficamos nos medindo, eu e minha avó. Ela estreitou os olhos e eu mantive o
meu firme. Mesmo querendo me esconder, ela tinha, como falei, muita autoridade,
imponência e orgulho.
— Você está defendendo aquele selvagem?
Realmente não tem muito jeito. Vou bater o pé, e seja o que Deus quiser.
— Por favor, eu sempre quis ter uma avó presente em minha vida, sempre
quis compartilhar coisas sobre mim, eu tive tia Laura e agradeço por isso, mas
tenho muito espaço em meu coração para a senhora também, entretanto não me faça
escolher. — A cada palavra que eu falava os olhos dela enchiam de lágrimas. —
Rocco é uma parte de mim, não posso viver sem ele, sendo um selvagem ou não,
eu ao aceito tal como é.
Eu acabei chorando, porque além de já ser muito emotiva, esses dias estou
ainda pior.
Se minha menstruação não houvesse descido, eu poderia jurar que estava
grávida.
— Tudo bem, me desculpe. — murmurou. — Aceito seu namorado, mesmo
não o achando bom para você.
Aceitei balançando a cabeça, mas não sei por que a vontade de chorar
piorou, então coloquei meu rosto entre as mãos e chorei.
— Amore mio… — escutei a voz de Rocco e logo ele estava ajoelhado em
minha frente. — Grazie por me defender. Grazie por suas palavras.
— Sempre ficarei do seu lado. Eu te amo — solucei e ele me abraçou,
permitindo que meu rosto pudesse se esconder em seu pescoço. — Você escutou a
conversa toda, não foi?
— Sí. — Pigarreou. — Eu estava tão preocupado — suspirou. —
Perdonami, amore mio.
— Eu deveria ter te contado, me desculpe — sussurrei e ele acariciou meus
cabelos. — Faltou comunicação da minha parte.
— Eu prometo que tudo vai ficar bem. Nunca mais… — murmurou— nunca
mais irei fazer outra coisa dessas. Vou controlar meu ciúme e agir racionalmente.
— Obrigada, amore mio. — Ele me apertou mais.
— E agora, baby? Será que seu pai vai me dar sua mão? — perguntou
apreensivo e eu ri baixinho.
— Claro que sim, ou então iremos fugir. — Acariciei seus cabelos
carinhosamente.
Estávamos na nossa bolha.
— Las Vegas?
— Com um padre vestido de Elvis — sussurrei ouvindo a risadinha do meu
pai, que estava ao nosso lado.
— Perfeito.
Escutamos alguém coçando a garganta e voltamos à realidade.
Afastamo-nos meio sem jeito, logo Rocco ergueu-se, esticando toda sua
estatura.
Engoli um suspiro de admiração.
"Para de babar, o momento não é oportuno", me chutei mentalmente.
— Senhor, perdoe-me. — Sorri de leve, Rocco estava nervoso. — Eu agi por
impulso e…
— Meu garoto, fique tranquilo, confesso que estou enciumado de ter que
dividir minha garotinha com você, justo agora que a encontrei — meu pai falou,
surpreendendo a todos. — Mas vi que você tem colhões para defendê-la, e dá para
ver que você a ama.
— Sim, muito — falou apressado.
— Então estamos resolvidos, mas ela vai morar comigo até que se casem.
— Eu entendo, senhor — Rocco murmurou mas olhou para mim e deu uma
piscadela.
Meu coração estava quase saltando. Ele estava armando.
— Agora, se não for muito inconveniente, gostaria de entender melhor essa
história.
— Claro, será um prazer — meu pai falou e minha avó levantou, dizendo que
estava indisposta e que iria para o apartamento do meu pai, que por coincidência
ficava do outro lado do Central Park.
Ela estava fugindo. Isso era muito claro.
Sem questionar a decisão de minha avó em partir, meu pai sentou-se ao meu
lado novamente e começou a narrar para Rocco e os rapazes tudo que aconteceu
em sua juventude.
De vez em quando eu notava como Rocco espremia os lábios, esse era o sinal
de raiva, em seguida ele passava as mãos pelo cabelo. Isso era seu gesto de
nervosismo. E por fim, ele soltava leves baforadas. Isso era incredulidade.
Eu o conhecia tão bem.
Às vezes se reconhecer pode demorar, mas quando você faz isso, você talvez
consiga começar a reconhecer as pessoas. Eu abri minha mente e meus olhos.
Rocco é ciumento, possessivo e um sem-fim de coisas, entretanto sei que
bater de frente não funciona, esse homem precisa de gentileza para compreender, e
eu irei fazer isso. Quando ele notar que eu não tenho olhos para outro homem, e os
outros homens também não têm olhos só para mim, sei que vamos evoluir.
Eu sei que ele me ama, mas infelizmente ainda existem bloqueios nele, prova
disso é a forma como ele age, primeiro ele surta e depois se arrepende e fica com
medo. Claro que eu disse que seu ciúme doente poderia nos separar, mas quando
eu disse isso, eu não me referia a mim, mas, sim, a ele mesmo. Digo, se uma
pessoa fica cega de raiva, ela provavelmente não irá conseguir enxergar a verdade
mesmo estando em sua própria cara.
Errado é aquele que pensa que eu não tenho ciúmes de Rocco. Pelo amor de
Deus, eu tenho, e muito, mas é só que eu não me vejo fazendo um escândalo. Eu
sou mais do tipo que fala manso e bate o martelo.
— Que história! — Rocco exclamou quando meu pai terminou de contar tudo.
— Eu realmente sinto muito por você, não sei o que faria se pensasse que estava
sendo trocado e depois de anos que tenho um filho perdido no mundo e que minha
garota era inocente.
— Primeiro você se vingaria! E depois iria se arrastar feito um cachorro
quando descobrisse a verdade. — Dimitri estapeou Rocco na nuca e meu pai riu.
— Vocês têm boas amizades, gosto disso e acho muito importante — sorriu
satisfeiti. — Eu só tenho meu sobrinho Carlos e meu tio Ricardo, meus melhores
amigos.
O clima estava suave graças à interrupção do Dinka.
Todavia, o fato de ele ter dito que Rocco se vingaria se soubesse que estava
sendo trocado me fez pensar que talvez eu deva começar a conversar com meu
homem sobre essa sede de vingança. Eu acho que consegui convencê-lo a deixar
Briana em paz, então, se eu tiver paciência e muito amor, talvez consiga mostrar
que a vingança não leva ninguém a lugar algum.
— Gente, estamos em NY, por favor, vamos dar uma volta? — pedi
levantando, mas a sala rodou e eu perdi o equilíbrio.
Não cheguei a cair, porque braços fortes me seguraram.
— Filha? — Ouvi a voz preocupada do meu pai e notei que foi ele que me
segurou, — Você está bem?
— Me dê ela aqui — Rocco pediu de braços esticados —, me entregue ela.
— Estou bem, gente! — falei, mas foi só tentar andar que minhas pernas
falharam.
— AMORE MIO! — Rocco gritou e quando dei por mim eu estava sendo
apertada nos braços dele e logo era levada para o quarto. — O que foi? Onde dói?
— Estou bem, foi só uma tontura — murmurei e ele não pareceu convencido,
meu pai era outro que me olhava com olhos de gavião. — Eu só esqueci de comer.
— Você esqueceu de… — Rocco estreitou os olhos, mas foi meu pai que
falou.
— Nada de sair para conhecer a noite de NY! Você vai comer, e eu vou
chamar um médico, onde já se viu pular refeições?
— Pai, eu estou bem! — Minha barriga roncou e eu corei, morta de vergonha.
— Você está com fome! — Rocco exclamou me olhando de cara feia. — Eu
deveria te dar palm… — Calou-se. — Palmitos para comer — emendou
apressado.
Não pude evitar a gargalhada que soltei. Eu sei bem o que ele iria dizer e por
isso provoquei.
Puxei-o pela camisa e falei em seu ouvido. Bem baixinho para ser pura
provocação:
— Umas palmadas? Era isso que iria dizer, não era? — Mordi sua orelha e
ele tremeu, mas não fez nada a respeito. Também não podia, pois meu pai estava
no quarto e falava em um inglês rápido com alguém.
— Feiticeira provocadora — murmurou me dando um selinho. — Sua avó
não vai com minha cara! — Acariciou meu rosto, suspirei.
— Não importa, meu pai está do nosso lado, e eu escolho você, sempre.
— Caralho, amor, você realmente sabe como me pegar pelas bolas.
— Eu sou inocente de qualquer acusação — ri e ele me beijou de novo.
Não teve jeito, meu pai chamou um médico e pediu muita comida.
Então agora eu estava aqui, respondendo perguntas sobre minha saúde.
— Você pode estar grávida? — o médico perguntou e eu me encolhi.
Infelizmente não.
— Não tem perigo, estou em pleno período — respondi a pergunta do
médico, sentindo meu rosto aquecer, os dois homens da minha vida estavam no
quarto — Apesar de ser irregular, eu não estou atrasada nem nada.
— Certo — aceitou minha resposta enquanto anotava tudo. — Você tem
hipoglicemia?
— Sim.
Foi só responder isso e Rocco grunhiu algo, em italiano, e meu pai concordou
na mesma língua.
Peraí, a única que não entende o que meu namorado diz sou eu? Aff, quanta
injustiça.
— Você não pode ficar sem se alimentar, corre o risco de desmaiar em
qualquer lugar, isso é perigoso, senhorita. Andrade.
“Senhorita Andrade?” — pensei, dando uma olhada para meu pai. Ele me
encarou, sorriu e gesticulou com a boca.
— Meu sonho.
Sorri e ele acenou levemente com a cabeça.
— Bom, clinicamente você teve uma queda de glicose. Você precisa se
alimentar em pequenos intervalos, porque há casos em que a hipoglicemia pode
ser mais perigosa que a hiperglicemia.
— Pode deixar, vou cuidar disso — Rocco falou e meu pai concordou, então
fizeram algo que fez meu queixo cair.
Tocaram os punhos.
Balanceia a cabeça feliz.
Parece que houve camaradagem instantânea.
— Vocês parecem que estão se dando bem!? — falei enquanto o médico
verificava minha pressão
— Interesses em comum — falaram em uníssono, e eu? Bom, eu explodi
fogos de artifício dentro do meu coração.
Depois de terminar de me consultar, o médico foi embora dizendo que se eu
me mantivesse alimentada tudo ficaria bem.
Eu concordo, o problema foi que mesmo tempo hipoglicemia eu nunca senti o
que senti hoje, era sempre uma leve indisposição, fadiga suave, nada comparada a
quase desmaios.
Eu, hein.
— Vamos jantar — meu pai chamou — e depois vamos para a Times Square.
Praticamente pulei da cama, movimento errado de novo.
Desta vez Rocco me segurou. Misericórdia, pareço uma boneca de pano.
— Jantar agora! — meu homem comandou e eu bati continência.
O jantar estava muito divertido, meu pai estava dando aula sobre finanças, e
os rapazes estavam de olhos atentos.
Eu comia sorrindo, estava muito satisfeita, meus amigos, meu pai e meu amor,
todos reunidos e se dando bem.
Só faltava minha avó, mas ela fez a escolha dela, e eu respeito.
— Pai, o Jason é mais que um segurança, ele é meu brother — falei piscando
um olho para Jason. O assunto surgiu porque estavam falando sobre o início das
amizades, e Jason era uma incógnita, ele foi indicado pelo instrutor de
sobrevivência de Rocco, ele foi tido como o melhor e o mais bem-treinando em
quê? Eu não sei, mas Jason deveria ser mesmo bom, já que Rocco o classifica
como o melhor.
— Quando estamos nós três, somos a tríade — Dimitri falou apontando para
si próprio, para Rocco e William. — Mas quando o Jason entra na parada,
viramos o quarteto fodástico.
— Como eu disse, ter bons amigos é importante — meu pai concordou e
Dimitri continuou.
— Veja, ele se tornou tão querido que até apelido tem.
— E qual seria? — perguntei observando Jason se encolher um pouco, mas
ele sorria feliz.
— Ele é o ovo de gato de botas! — Dimitri apontou. — Veja essa cabeça,
parece mesmo um ovo e até brilha.
Rimos enquanto Jason fazia careta.
— E os outros? — meu pai perguntou e Dimitri se incorporou, ele estava
gostando da brincadeira.
— O loirinho aqui tem dois — apontou para William. — Quando ele acorda
pode ser comparado ao Thor, mas quando se emboneca todo vira a própria
Rapunzel.
William grunhiu dando um soco no braço do Dimitri, que reclamou, mas
continuou.
— Rocco era O Todo Foderoso Masari, mas depois de algumas informações
altamente confidenciais, ele virou o Rocco do pau morto, mas fiel.
Meu rosto queimava, mas nós riamos tanto, até Rocco estava rindo muito. E,
gente, que sorriso lindo, meu Deus do céu, que homem lindo.
E ele é meu… fiel a mim, Tem coisa melhor?
— E o seu apelido, senhor Romanov — meu pai perguntou e Dimitri quase
estufou o peito.
— Pau não cessa!
Eu demorei alguns segundos para entender, mas depois eu comecei a rir.
Minha nossa. Dimitri é louco.
— Isso é bullying — brinquei e todos concordaram.
— O apelido verdadeiro dele é Dinka My Little Poney, mas ele não gosta,
fica todo irritadinho — William falou e a guerra começou.
Recostei-me na cadeira só observando os cinco juntos.
Meu pai no meio daquela turma ficava ainda mais jovem, garanto que não tem
quem diga que ele já tem uma filha de vinte e quatro anos.
O momento de família reunida foi incrível, em seguida nos arrumamos e
saímos. Eu passei pela Times Square, juro que queria subir no teto solar do carro
para olhar aqui tudo, mas Rocco não deixou, ele tinha medo de acidentes, então o
jeito foi olhar pela janela e, caramba, que coisa magnífica.
O lugar era muito visado pelas grandes produções Holywoodianas, e não era
para menos, aquilo parecia vivo. O lugar pulsava energia, crepitava força vital.
Não parava.
Os letreiros digitais gigantes, os arranha-céus… era tudo muito incrível e eu
estava adorando. Rocco e meu pai só faziam sorrir das minhas idiotices, mas quem
liga?
Eu não.
Esgotei minhas energias já era muito tarde. E foi só aí que resolvemos ir
embora.
Chegamos já era quase de madrugada, eu turistei à vontade, conheci tudo que
deu em poucas horas e estava morta, queria dormir e pronto. Tanto é que cochilei
no carro mesmo.
— Vamos para casa, filha. — Ouço meu pai chamando e desperto, entretanto
sinto o aperto de Rocco se intensificando ao meu redor.
Momento constrangedor. Em 3… 2… 1…
— Rocco, eu sei que vocês… uhm… — Meu pai suspirou. — Nunca pensei
que encontraria minha filha em um dia e no outro já teria que lidar com isso… é
complicado.
— Compreendo o senhor, Mas quero que me entenda também, somos adultos
e íntimos — Rocco murmurou e eu me mantive quieta, deixarei que eles resolvam.
— Para mim é difícil ficar longe de Victória. Ela é minha paz, minha
tranquilidade. — Senti um beijo em minha cabeça e sorri. — Ela é a mulher da
minha vida.
Ouvi o suspiro do meu pai.
— Eu entendo essa necessidade desesperada de estar perto — murmurou
triste. — Eu vivi isso com a mãe de Victória, foi intenso, real.…avassalador.
Houve silêncio.
— Eu te entendo — meu pai reafirmou e eu engoli o nó de emoção que se
formou em minha garganta. — Só não a faça sofrer, você não terá um bom
momento tendo a mim como inimigo.
— Não se preocupe, eu o quero do meu lado, e não contra, já basta sua mãe.
— Rocco bufou. — Aquela vai me dar trabalho.
— Pode apostar que vai, e você terá que lidar com ela, não seja fraco, caso
contrário, Dona Antonieta Andrade vai te comer e cuspir os ossos — meu pai
falou e Rocco riu
— Estou preparado. Pode apostar.
Rocco e meu pai entraram em uma acordo mútuo, o resto do caminho fizemos
em silêncio.
E eu estava muito bem, aspirando o cheiro delicioso do meu homem.
Chegamos ao apartamento de Rocco e encontramos os rapazes na sala,
assistindo a uma série.
— Puta que pariu! — Dimitri grunhiu e Jason rosnou alguma coisa. — Como
ele pôde faz isso? Revoltante. Autor filho da puta!
Olhei para a tela e fiz careta.
— Odeio essa série! — resmunguei e fui vaiada. — Khal Drogo lindo e
perfeito morreu. — Dei de ombros. — Baixaria.
William riu e o Dimitri gritou:
— ROCCO, FICA CALMO!
— Não me peça para ter calma! — meu homem grunhiu e eu me encolhi. Logo
fui meio que rebocada para o quarto e lá ele trancou a porta.
— Amore mio… Eu… — murmurei, mas fui interrompida
— Fica quieta! — grunhiu agressivo. — Você gosta de bárbaros, não é?
Então você terá um!
— Vo-você assiste à série?
— Eu sou dono de uma parte das ações, então, sim, eu conheço e sei do que
está falando, Khaleesi.
Ofeguei sentindo minhas pernas bambas, então Rocco começou a falar em um
idioma difícil enquanto arrancava as próprias roupas.
A postura dele era relaxada, porém denotava poder e agressividade oculta.
Pirei.
— Você está brincando comigo — murmurei quando ele, nu, veio para cima
de mim e começou a me circular, tocando meu cabelo, meu rosto.
Um guerreiro. Ai, meu Deus.
A essas alturas eu já ofegava e tremia, meu sexo pulsando de excitação.
Rocco continuava me circulando enquanto murmurava coisas nesse idioma
desconhecido, então ele parou atrás de mim e sussurrou, para eu entender:
— "Lua da minha vida…"
Essa era a forma como o bárbaro chamava sua amada e delicada rainha. Logo
em seguida, Rocco rasgou meu vestido, me deixando apenas de calcinha e sutiã.
— Rocco… uhm… Eu não acho que — tentei falar, mas ele só rosnou mais
palavras incompreensíveis. Tremi ainda mais. — Amor, estou no meu período e…
Gritei quando ele me jogou sobre os ombros.
— Espera, O que está…
Um forte tapa em minha bunda me fez calar. Choraminguei, gemendo,
excitação sendo despejada em meu sistema.
Podia sentir a vergonha esquentando minha pele, e isso piorou tanto que tive
que fechar os olhos. Rocco tirou minha calcinha levando junto o absorvente.
Nunca senti tanta vergonha em toda minha vida.
Rocco rosnou, eu abanei meu rosto para diminuir o calor. Estava quase
rezando para um buraco se abrir e me engolir. Fui colocada no box do banheiro e
logo o chuveiro foi ligado.
Depois Rocco colocou minhas duas mãos na parede, afastando minhas pernas
com um de seus joelhos.
Ouvi sua voz sussurrando em meu ouvido, ele ainda estava usando o idioma
estranho, mas a cada instante meu corpo esquentava mais e mais, nessa hora eu
estava uma verdadeira fornalha.
Fui para o céu quando ele me tomou.
— Meu doce homem selvagem — gemi de olhos fechados.
Foi tão intenso. Forte e… Oh, meu Deus, não foi vergonhoso. Pelo contrário,
foi magnífico.
Sim, ele também foi um bárbaro, meu bárbaro.
E eu adorei!
Capítulo 51
Victória
Meu pai e Rocco estavam se dando muito bem, entretanto, Rocco e minha
avó… isso eram outros quinhentos.
Não tinha jeito, minha avó nem lhe dirigia a palavra, e isso para mim era o
cúmulo do absurdo.
Detalhe, estávamos todos no avião de Rocco. Eu estava sentada ao lado dele,
meu pai ao lado de Dimitri e William ao lado de Jason, minha avó sentou de frente
para todos nós e ficava com cara de falcão imperial… Olhos que não piscam, nos
encarando, intimidando…
Dava até calafrio.
— Quero que você venha ao Brasil comigo, Victória, tenho muito o que te
mostrar, nossa marca e nosso ateliê serão seus, você precisa começar a lidar com
tudo.
Rocco apertou minha mão e eu o olhei, notei que ele estava tenso.
— Vó, eu tenho muitas coisas para resolver, não posso ir para o Brasil agora,
e Rocco precisa se organizar também, quando eu for ele vai junto — falei
tranquila e até ensaiei um sorriso.
Ficamos em silêncio.
Minha avó não parecia muito satisfeita. Mas o pior foi que estava escrito na
cara dela que ela não iria desistir.
Rocco também não.
Então eu pergunto, quem vai cair primeiro?
Tremi levemente. Isso seria um duelo de titãs, mas como meu pai disse,
Rocco teria que lidar com ela sozinho, ele teria que ganhar o respeito da minha
avó, e eu queria ver como seria para ele lidar com sua versão feminina.
A chegada a Londres foi tranquila, até o momento em que nosso carro saiu da
área reservada do aeroporto.
Havia muitas pessoas aglomeradas em frente, muitas delas com cartazes
com… meu nome?
Eu acho que alguma famosa com nome igual estava chegando, porque não
tinha lógica.
Continuei quietinha na minha até que a multidão cercou o nosso carro e as
pessoas gritavam por mim.
Arregalei meus olhos sem entender! Será alguma piada de televisão?
Minha avó riu, Rocco rosnou e meu pai reclamou.
— A senhora avisou à imprensa da nossa chegada, mãe?
— Não pude evitar, já passou da hora de a minha neta reclamar seu lugar de
direito.
Eu estava olhando para eles sem entender. Eu? Famosa?
Mas desde quando?
Não precisei pensar muito sobre isso. Os dias que se seguiram mostraram que
sim, eu estava famosa. E muito, na realidade.
E foi Antonella quem fez isso. Não posso descrever a minha felicidade
quando encontrei com minha querida amiga, matamos a saudade de forma
emocionante, nem acreditava que ela estava grávida de gêmeos, juro que ela ficou
ainda mais linda, se é que isso é possível.
— Pensei que você não voltava mais! — murmurei tocando sua barriga
redonda.
— Eu disse que passaria alguns meses fora, todavia eu deveria ter vindo
antes, o problema foi que tive contratempos e não pude vir.
Engatamos uma conversa muito agradável, rimos bastante das trapalhadas do
Connor, Antonella disse que ele era um marido sensível e um pai medroso.
— Viado!— Rocco brincou e rimos ainda mais.
No dia seguinte eu tinha minha primeira entrevista, era uma coletiva. Minha
primeira coletiva de imprensa.
Dá para acreditar? Mal pisei em Londres e já tenho uma agenda lotada.
Longe de me sentir excitada, eu estava mesmo era enjoada, ansiosa, tremendo
mais que vara verde.
— Rocco, eu não quero ir! — choraminguei me agarrando a ele, a verdade
era que eu estava morrendo de medo.
Havia muitos repórteres, muita gente querendo conhecer A herdeira da Moda.
— Vai dar tudo certo, fica calma, responda só o que quiser.
— Vai ser transmitida pela TV? — perguntei escondendo meu rosto em seu
pescoço
— É ao vivo — murmurou acariciando meus cabelos.
— Eu vou vomitar. — Levantei do colo de Rocco e corri para o banheiro do
camarim. Só tive tempo de levantar a tampa do vaso antes de despejar meu café da
manhã.
— Amore mio, calma — Rocco sussurrava enquanto segurava meus cabelos.
—Tudo vai dar certo, você vai tirar de letra.
— Não quero que me veja assim — grasnei, minha voz rouca por causa do
que acabei de fazer —, saia daqui, por favor… eu preciso me recompor.
— Você é minha mulher — respondeu paciente. — Eu te protejo e eu te
cuido.
Mais ânsias me dominaram e eu vomitei até meus pulmões, no fim desse
martírio eu me sentia tão fraca que mal consegui me manter em pé.
— Rocco, vamos embora daqui — pedi depois que limpei a boca. — Por
favor, vamos embora.
Longe de me incentivar a ir embora, Rocco segurou minhas duas mãos e
beijou aquela que estava o nosso anel de noivado, pois é, na primeira
oportunidade, depois que chegamos ele foi comigo buscar o anel. Eu o coloquei de
volta, junto com meu medalhão, que, além de conter uma foto dos meus pais,
continha uma foto do meu amado.
— Pequena, esse é o seu momento — murmurou me abraçando. — Eu estou
tão orgulhoso de você, só te peço que fique tranquila, vai dar tudo certo.
— Se eles me perguntarem algo difícil e eu não conseguir responder?
— Solte uma risadinha e diga alguma piada sem graça. Eles estão aqui por
você, então você manda. — Sorri e ele beijou o topo da minha cabeça. — Confia
em mim?
— Confio.
Então vamos.
— Dez minutos — um cara com um ponto de áudio falou da porta. Logo em
seguida, tia Laura entrou.
— Oh, meu Deus, tia — desabafei batucando os pés.
— Minha filha, fique calma, vai dar tudo certo, todos os seus amigos estão aí
para te dar força, o único que não veio foi o Gio, mas ele mandou dizer que te
deseja tudo de bom.
— Quem é esse tal de Gio, amore mio? — Rocco perguntou com cara de
poucos amigos. — Ele sempre é citado, mas ainda não o conheço.
— O Gio foi mais uma vítima da madame, eu o ajudei — comecei e então
contei tudo, desde a conversa que eu ouvi, até os tecidos que fizeram o vestido da
Antonella.
Rocco não disse nada, mas pela cara dele eu poderia dizer que a raiva que
ele nutria pela Blanchet aumentou consideravelmente.
— Está na hora! — o mesmo contra regras me chamou novamente.
Olhei ao redor, as pessoas que eu amo estavam ali, mas foi o olhar azul com
sinalzinho castanho que eu procurei.
— Você merece esse momento — murmurou me abraçando. — Você é um
exemplo para muita gente, apenas não perca sua essência.
— Isso jamais. — Sorri ganhando um selinho e um beijo na testa.
Caminhei por um corredor de mãos dadas com Rocco, e no limite entre as
câmeras e o anonimato, ele soltou minha mão.
Fechei os olhos um momento.
Em tudo dai graças ao Senhor. Obrigada, meu pai, esse momento de vitória
é nosso!
Fiz o sinal da cruz e entrei.
Vários flashes espocaram ao meu redor. Pisquei algumas vezes e respirei
fundo.
Minha avó já estava sentada em um lugar reservado para ela.
Sentei no meio da bancada e em segundos começaram a enxurrada de
perguntas.
— Srta. Fontaine, é verdade que você trabalhava dezesseis horas por dia?
— Sim, eu tinha uma cota que precisava cumprir.
Muitos murmúrios de indignação se ouviram e mais flashes dominaram o
recinto.
Vários dos jornalistas ergueram a mãos e um homem que eu não reconhecia
escolhia quem poderia perguntar.
— Em algum momento você se revoltou?
— Eu me revoltava internamente, mas não poderia verbalizar meu desespero.
Eu não tinha controle sobre a situação e esperava que mais dia menos dia Deus
iria me tirar de lá.
Sorrisos de simpatia tomaram o rosto de várias pessoas sentadas na primeira
fila.
— Victória, você está sendo considerada um ícone de força por vários jovens
— uma loira falou. — Você se considera um mártir?
— De forma alguma! Eu não sou mártir, eu não lutei contra o que me era
imposto, eu apenas baixei a cabeça e acatei ordens. Todavia, eu digo para esses
jovens que me têm como exemplo, que por maior que seja a provação, a vitória
sempre vem, mas para isso é necessário acreditar e ter muita fé.
— Você é uma pessoa religiosa?
— Eu acredito em Deus acima de todas as coisas.
Algumas pessoas bateram palmas e outras aclamaram.
— Em sua entrevista coletiva, Antonella Masari Kingston disse que você foi
a fada madrinha dela. Isso é verdade?
— Sim, mas ela também foi a minha. Nosso encontro mudou nossas vidas.
E as perguntas continuaram por mais uns vinte minutos, até que o responsável
por escolher quem perguntava apontou para uma mulher muito bonita e elegante.
Ela iria fazer a última pergunta.
— Victória, sobre o seu relacionamento com o magnata italiano Rocco
Masari, poderíamos considerar isso um conto quase de fadas? — perguntou, todos
fizeram silêncio. — Digo, essa sua ascensão é culpa de seu envolvimento com um
homem tão poderoso?
Fiquei em silêncio durante alguns segundos, então sorri.
— Eu vivo um conto da vida real. Não posso controlar as adversidades, nem
o que o destino nos reserva. Eu amei Rocco antes de conhecê-lo, e quando o
conheci tive medo. Afinal, Rocco Masari é… — Calei-me e deixei que cada
pessoa pensasse em algo. — Enfim, as surpresas da vida estão aí, como eu
poderia imaginar que um passeio em um parque iria me fazer encontrar com uma
garota desesperada por um vestido de noiva? E mais ainda, como eu iria saber que
o vestido que eu estava fazendo em segredo era justamente o que Antonella
precisava? A irmã do meu príncipe real. — Sorri nostálgica. — Eu nunca busquei
um romance, eu só queria minha liberdade, mas confesso que estava cansada de
tudo que eu passava em minha rotina e Rocco chegou em minha vida, abalando
todas as minhas estruturas. Ele é meu par, e eu agradeço a Deus todos os dias por
isso.
O burburinho se fez ouvir, e a mesma mulher erguia o braços freneticamente,
entretanto o homem que organizava tudo estava dando por encerrado.
— Victória, só mais uma pergunta… Só mais uma pergunta, por favor?
Pensei um segundo e assenti.
— Você acredita no seu relacionamento com Rocco Masari mesmo sabendo
da sua fama de solteiro mais cobiçado e escorregadio de Londres? E de destruidor
de corações?
Eu fiquei calada e, quando abri a boca para contar alguma piadinha sem
graça, Rocco saiu dos bastidores e entrou em frente as câmeras para responder ele
mesmo a pergunta.
— Victória é a mulher da minha vida. — Sorriu fazendo várias mulheres
suspirarem. — Aliás, eu era o solteiro mais cobiçado e escorregadio de Londres,
agora eu sou o noivo mais louco e grudento do mundo. Às vezes Victória precisa
me chutar para fora de sua casa. Como diz meu amigo Dimitri, eu encontrei minha
tampa de panela e não estou deixando ela ir.
Dito isso, subiu no pequeno elevado onde estava a bancada, veio até meu
lado, me levantou e me beijou na frente de todos.
Os flashes estavam desesperados ao nosso redor, palmas se espalharam pelo
ambiente, mas eu só conseguia me concentrar no calor de seus lábios e no seu
perfume delicioso.
Capítulo 52
Victória
***
***
No terceiro dia de viagem, meus enjoos pioraram, com certeza devo estar
com alguma intoxicação alimentar, pois a comida espanhola é bem temperada.
Quando fomos para a França, minha indisposição aumentou, tanto que o cheiro do
perfume de Rocco, que eu tanto amava, estava sendo meu pior pesadelo.
Com jeitinho, eu fazia com que ele tomasse banho para poder tirar o pior do
cheiro. Passamos apenas um dia e meio na França, entretanto, mesmo trabalhando
muito e super cansado, Rocco me levou para conhecer a Torre Eiffel, e foi só aí
que me lembrei de um detalhe.
Minha resposta acerca da proposta de Jean Pierre.
Deixei para fazer isso depois, pois agora mesmo eu só consigo pensar nesse
momento que estou tendo com Rocco.
Encerramos a semana na Itália no mesmo hotel e suíte onde eu tive minha
primeira vez. Rocco me surpreendeu preparando o quarto, ele reproduziu nossa
primeira noite de amor, e foi tão perfeito quanto.
Mais uma lembrança feliz para minha enorme caixa da alegria.
Voltamos para Londres depois de uma semana, apesar de Rocco ter passado
as manhãs trabalhando, à noite, como prometido ele era meu, e eu amava isso. Não
tive como passear pela Espanha, mas só o fato de estar lá e cuidar de Rocco como
se ele fosse meu marido era algo que me fazia ansiar oficializar logo nossa união.
Fomos direto para sua cobertura e dormimos por lá.
Meu pai estava tranquilo sobre isso, mas minha avó vivia implicando,
dizendo que isso não era bom para minha imagem.
Rocco quase brigava com ela, e olha que ele estava um poço de
tranquilidade, engoliu numa boa meus ditos fãs masculinos. Eu o achei muito
mudado, e me apaixonei ainda mais.
Ah, sim, sobre minha imagem, eu não estava nem aí. Ficar sem Rocco eu não
iria, e quando disse isso a ele, fui girada no ar, tamanha era sua felicidade. Isso me
rendeu algum tempo no banheiro vomitando as tripas.
E estava ficando difícil esconder que estava passando mal, Rocco me
avaliava, só que eu tinha certeza de ser apenas um mal passageiro. Não queria
preocupá-lo à toa. Acho que isso também era culpa da minha vida, que estava tão
corrida, que mal havia chegado da viagem que fiz com Rocco e já tinha uma festa
de gala para ir.
Então, o dia seguinte, eu passei em um salão de beleza. e ao contrário do que
foi a primeira vez, essa foi simplesmente péssima.
Os cheiros de lá estavam me matando, e eu tinha que respirar pela boca, o
que no fim das contas não ajudava em quase nada.
À noite eu ficava bem melhor, parece que meus enjoos eram mais fortes
durante o dia, e às vezes eles nem davam sinal de vida, o que me fazia descartar a
hipótese de gravidez, porque pelo tempo não tinha como eu estar tão enjoada, já
que eu menstruei esse mês, então deve ser a mudança drástica na minha rotina, eu
realmente nunca fui muito forte, nem mesmo na adolescência, bastava um estresse
e eu estava com minha cara enfiada em um vaso.
Terminado o dia penoso, eu estava pronta esperando por Rocco. E quando ele
surgiu, eu tive que lembrar como respirar… ele já era lindo, mas de smoking ele
era algo de outro mundo.
— Amore mio — sussurrou aproximando-se. — Você está linda.
Sorri girando para ele me ver completamente. Eu usava um vestido longo
azul, esvoaçante, de frente única. Não usava colares, mas estava com os brincos
azuis que com que Rocco me presenteou, meu cabelo estava preso em um coque
elegante, alguns fios caíam em meu rosto, para completar, eu usava uma
maquiagem que marcava meus olhos, mas na boca eu preferi um suave batom cor-
de-rosa.
— Você também. homem selvagem — murmurei aspirando seu cheiro.
Esperei o enjoo vir, mas não veio, graças a Deus, meu estômago voltou ao normal.
Sorri feliz e puxei seu rosto para um beijo.
O caminho até a festa foi feito em paz, Rocco estava usando a aliança de
noivado e eu estava adorando isso, apesar de não ser uma tradição, ele fez isso
porque queria algum símbolo que representasse nosso relacionamento, eu também
usava uma, além é claro, do meu diamante rosa.
— Victória, eu estava pensando… — Rocco começou e eu prestei atenção.
— Baby, não quero esperar, vamos marcar a data do nosso casamento.
Fiquei calada e ele franziu as sobrancelhas
— Eu quero me casar logo, não vejo a hora de te ver carregando meu
sobrenome — murmurou acariciando meu rosto, — Vamos, baby, vamos marcar a
data?
— Quando? — respondi e ele ficou ali, piscando os lindos olhos azuis como
se não acreditasse.
— Um mês! — exclamou sorrindo e eu fiz careta. — Duas semanas então, eu
também achei que um mês era muito tempo.
— Rocco, em duas semanas eu não consigo fazer meu vestido. — Sorri e ele
fez um bico que eu tive que beijar. — E meu pai vai para o Brasil depois de
amanhã e só volta em vinte dias. Aliás, você está esquecendo que também vai
viajar e passar duas semanas fora?
Rocco fez uma careta decepcionada e eu ri baixinho.
As reuniões nos três países que fomos renderam frutos quase que
imediatamente, Rocco teria que viajar depois de amanhã, e desta vez eu não
poderia ir, estava cheia de responsabilidades para cumprir.
— Eu me esqueci dos meus compromissos— resmungou passando as mãos
nos cabelos. — Droga! Eu poderia muito bem mandar essas fusões se foderem e
pronto.
— Homem selvagem, você é demais. — Balancei a cabeça. — Você estava
esperando por essa fusão, então deixe de querer se casar às pressas.
— Civil! — exclamou e eu joguei a cabeça para trás gargalhando. — Quando
eu voltar vamos nos casar no civil e depois fazemos o religioso, com um
casamento mega pomposo, como você tem direito, faremos algo digno de um conto
de fadas.
— Você sabe que eu não me importo com isso! — Suspirei e ele concordou.
— Eu sei, mas faço questão, você merece ter o mundo a seus pés.
— Então iremos nos casar em segredo quando você voltar e…— Eu me
aproximei dele. — Só quero uma pessoa a meus pés. — Mordi seu lábio e ele
rosnou baixinho. — E esse alguém é você. Roccostoso, meu homem selvagem.
— Olha aqui quem é Roccostoso — grunhiu pegando minha mão e levando
até o seu grande volume entre as pernas.
Gemi baixinho e ele me agarrou.
Só esperava chegar não muito amassada à festa.
***
Confesso que ainda não estava acostumada a tantas pessoas gritando meu
nome.
Assim que saí da limusine de Rocco, os flashes começaram, graças a Deus
que eu tinha aquele homem tão seguro de si ao meu lado.
Vários seguranças evitavam que as pessoas se aproximassem… era tudo tão
diferente.
Paramos para algumas fotos, entretanto eu não queria dar entrevista, estava
ansiosa e queria sentar logo, estava começando a sentir vertigem.
Rocco pareceu me entender, e quando demos as costas para sair, ouvi meu
nome ser gritado em uníssono por um grupo de pessoas.
Parei e olhei para trás, então mais uma vez meu nome foi chamado, olhei para
o lugar onde tinha um pequeno grupo de pessoas com cartazes erguidos.
"Victória, seja minha fada madrinha também!"
Olhei para uma moça que chorava enquanto segurava um dos cartazes.
Automaticamente caminhei até ela e, a cada passo que eu dava, ela gritava mais e
mais, e chorava também.
Parei em sua frente.
— Olá. — Sorri para a moça e ela fechou os olhos enquanto as lágrimas
escorriam pelo seu rosto. — Você estava me chamando, não foi? –perguntei e ela
balançou a cabeça concordando.
— Amore mio, vamos? — Rocco estava ao meu lado e tentou me puxar.
— Espera — pedi e ele aceitou, as câmeras focadas em nós, os microfones
também.
A moça era linda, de pele negra e olhos cor de mel, uma beleza exótica, e
estava muito emocionada.
— Victória — soluçou —, por favor… — ela começou a falar, mas os
seguranças começaram a empurrar e eu pedi que parassem.
— Continue, ninguém vai atrapalhar — falei e ela estendeu as mãos, eu
entreguei as minhas.
Ela suava e estava gelada.
Rocco parecia nervoso e agitado.
Eu estava tranquila e curiosa.
— Eu passei dez anos da minha vida juntando dinheiro para me casar —
soluçou e eu franzi o cenho. — Eu estava com tudo organizado, escolhi tudo,
absolutamente tudo, mas minha mãe adoeceu e eu usei todo o dinheiro do meu
casamento tão sonhado em seu tratamento. — As lágrimas escorriam pelo seu belo
rosto, e eu estava tendo um trabalho difícil em segurar as minhas também.
— Sua mãe? Ela está… — Engoli em seco, e a garota de quem eu ainda nem
conhecia o nome pareceu entender minha pergunta, pois sorriu e olhou para trás,
logo uma mulher muito bonita, mas com expressão cansada, emparelhou ali.
— Minha mãe está curada, graças a Deus. — Sorriu entre lágrimas. — É só
que você falou sobre ter fé, eu tive e tenho muita, então quando eu soube que
estaria aqui, minha família toda se reuniu, e talvez…
— Victória, seja a fada madrinha da minha filha, ela merece — a mãe da
garota falou. — Nenhuma mãe teve filha mais amorosa, cuidadosa e dedicada que
eu, peço que nos ajude.
— Eu só peço um vestido para eu poder me casar… por favor. — A moça
voltou a chorar e eu sorri.
— Qual o seu nome? — perguntei e ela fungou.
— Mariah.
Sorri e não segurei as lágrimas, elas escorreram, basicamente aquele era o
nome da minha mãe.
— Mariah, esse nome é lindo. — Sorri e olhei para Rocco, ele sorria
singelo.
— Victória, eu nunca pensei que iria conseguir! — Sorriu e balancei a
cabeça.
— Mas você conseguiu. — Pisquei um olho e ela arregalou os dela. — Serei
sua fada madrinha.
Houve gritos e mais gritos de felicidade, as pessoas que vieram com ela
enlouqueceram e eu ri feliz também.
— Obrigada, obrigada. — Mariah beijou minhas mãos, me deixando sem
jeito. — Deus ouviu minhas preces, Ele ouviu.
— Ele sempre ouve, querida, sempre ouve. — Sorri e chamei Jason.
— Jason, por favor, pegue os contados de Mariah — falei e ela sorria de
forma linda, pura felicidade marcava seus traços. — Amanhã eu entro em contato,
você confia?
— Sim! — falou e eu sorri satisfeita.
— Perfeito. Sua fé te trouxe até aqui, agora continue acreditando, Deus está
no controle e tudo vai dar certo, eu prometo — eu me despedi e entrei na festa.
Minhas forças renovadas, o sucesso servindo para alguma coisa.
— Amore mio, eu acho que não posso me apaixonar ainda mais por você! —
Rocco murmurou assim que chegamos em casa, depois de passar a noite entre um
monte de gente que não me deixou sentar um minuto.
Eu estava morta e foi Rocco que me despiu. Limpou minha maquiagem e me
vestiu.
Ele fez tudo isso e depois deitou comigo. Abraçando-me e me protegendo.
Sua mão repousando em minha barriga.
E eu só queria poder dar para Rocco essa alegria.
Capítulo 53
Victória
***
Enquanto voltava para casa eu mexia em meu celular e, quase sem querer,
passei pelo contato de Jean Pierre.
— Ai, meu Deus, me esqueci dele — murmurei discando seu número. Alguns
toques depois ele atendeu.
— Ma belle fleur! — saudou assim que atendeu.
Suspirei. Acho melhor resolver logo isso.
— Oi, Jean Pierre, estou ligando para agradecer sua proposta. Obrigada pela
oportunidade que me ofereceu, mas eu terei que recusar.
— Eu supus, vi que sua vida teve uma reviravolta, mas ainda nutria
esperanças de que aceitasse.
— Bom, ainda bem que entende. Agora mesmo eu tenho minha avó fazendo
boa parte dos contatos no meio e, além do mais, vou me casar, então, ficaria ainda
mais impossível morar na França.
Houve silêncio, então ouvi o barulho de algo quebrando.
— Tudo bem? — perguntei preocupada.
— Sim, está, eu só derrubei uma garrafa. — Riu baixinho. — Te desejo boa
sorte em sua nova vida, ma belle Fleur, digo para aproveitar, nunca se sabe o
dia de amanhã.
— Er… uhm… obrigada… — murmurei estranhando o tom de voz que ele
usou. — QAgora preciso desligar.
— Fique à vontade, um dia estaremos sob a mesma lua. Confie em mim. Au
revoir, mon amour…
Em seguida desligou, me deixando com uma resposta morta na ponta de
língua.
Com os dois homens da minha vida viajando, eu caí de cabeça no trabalho.
Chamei Antonella e juntas formamos uma equipe para organizar o casamento
de Maria. Contratei a mãe de Gio para costurar e tia Laura, antes de viajar para o
Brasil com Ricardo, me ajudou com mais duas meninas.
Eu estava sem meu povo. Até minha avó precisou viajar para tomar conta de
alguns detalhes de seu próprio ateliêr.
Os desfiles de moda estavam chegando, e eu iria apresentar três modelos em
parceria com a Luxury's, a marca da minha avó.
Vários costureiros mandavam currículos para minha equipe de contratação.
Era tia Laura que fazia a filtragem e escolhia quem iria trabalhar. A imprensa
estava cobrindo esse trabalho. Eu queria tudo perfeito. Tive até que alugar um
galpão para fazer de ateliêr improvisado. Ainda bem que eu tinha Jason e Dimitri
para me ajudar, caso contrário eu estaria louca.
Maria merecia algo esplêndido, pois uma história linda merece um final lindo
e digno, e eu estava empenhada nisso.
O vestido de Maria seria estilo esvoaçante, de gola alta e ombros nus. Ela
iria ficar uma verdadeira princesa.
A primeira semana passou voando, todo mundo trabalhando feito louco para
deixar tudo em ordem.
Minhas outras encomendas estavam paradas, esse casamento estava no topo
da minha lista e não era só vestido de noiva, tinha madrinhas, damas de honra e
tudo mais. Eu estava com as mãos cheias. Graças a Deus minhas clientes estavam
aceitando numa boa, caso contrário teríamos problemas. Já era quase fim de tarde
da primeira semana quando do nada eu simplesmente desmaiei.
Acordei em um hospital com Antonella sorridente.
— Parabéns, cunhada, você está grávida — gritou e começou a pular.
— Mas eu estava menstruando e… — Olhei para Antonella sem acreditar, ela
negou, calando minhas palavras.
Puro choque me fazendo tremer levemente.
— Não importa, a médica disse que você está com mais de quatro semanas,
então parece que você e meu irmão fizeram esse bambino quando estavam nos
Moors.
Primeiro eu fiquei quieta, e depois eu pensei em todos os enjoos que senti. A
sensibilidade
Era meu filho. Meu e de Rocco, causando mudanças em meu corpo.
Toquei minha barriga ainda plana fazendo carinho. Nem credito.
— Rocco vai pirar! — exclamei sem conseguir segurar as lágrimas.
Eu chorei. Chorei tanto que deveria estar com a cara toda inchada.
— Ai, meu Deus, Rocco precisa saber, mas não quero contar por telefone, eu
preciso fazer algo lindo, ele merece. — Sorri fungando.
— Claro, eu já tentei ligar, mas só chama, e agora que você falou, eu devo
concordar. Vamos preparar uma surpresa para contar que ele vai ser pai. —
Antonella bateu palmas e foi para a porta. — Todos querem te ver.
Assim que ela abriu a porta, Jason praticamente correu para dentro, seguido
por Dimitri, William, Gio, Alice e minha sogra, Elisabeth.
— Minha filha — minha sogra chorou e riu. — Nem acredito. Finalmente
meu filho vai me dar um neto. Eu achava isso impossível.
Sorri entre as lágrimas de felicidade.
Todos me abraçaram e concordaram que eu deveria, sim, fazer uma surpresa
para Rocco.
Por enquanto iríamos manter sigilo.
***
O único problema de fazer essa surpresa era o fato de que eu não estava me
segurando de ansiedade, então liguei para Rocco várias vezes, dois dias depois
que soube estar esperando um filho dele. Mas o telefone só chamava e chamava.
No terceiro dia após sua viagem, ele me ligou, dizendo que estava no Oriente
Médio, houve mudanças de planos e um grupo de Sheik's estava querendo fechar
um grande negócio. Rocco me falou que passava o dia todo em reuniões e que não
poderia atender o telefone, pois os árabes não toleravam.
Ele disse também que estava concentrado em fechar esse negócio.
Resolvi esperar. Faltava apenas quatro dias para ele chegar e eu iria preparar
a grande surpresa.
Era uma quinta-feira quando Gio me procurou no meu apartamento. Eu estava
sozinha, Jason havia ido comprar sorvete para completar o estoque de guloseimas.
Essa noite Dimitri e William viriam para assistirmos a séries ou filmes.
Faríamos um programa cafona, como diz o Dimitri.
— Vic, eu preciso de ajuda — Gio pediu baixinho.
— O que você quer? — perguntei olhando em seus olhos, notei que ele estava
aflito.
— Eu estou apaixonado pela Alice, mas não sei como faço para pedi-la em
namoro! Eu queria algo especial, sabe? Mas que não custasse muito.
Sorri feliz da vida. Finalmente Gio estava dando o braço a torcer, desde a
primeira vez que vi a forma como ele olhava para Alice, eu notei que ali havia
algo mais.
— Gio, por que demorou tanto? — perguntei arqueando uma sobrancelha. —
Está tão na cara que vocês se gostam!
— Vic, eu não tenho onde cair morto, digo, se não fosse por você e tia Laura
terem conseguido o emprego para mim, eu acho que já estaria morando na rua com
minha mãe e meus irmãos.
— Gio, o dinheiro não importa para o amor. Alice suspira quando você
passa, meu Deus, os olhos dela fazem aquele emoji de coração quando te olha.
Rimos e ele corou levemente.
— Você olha do mesmo jeito para Rocco.
— Errado, eu olho para ele como o máscara quando vira cachorro. Meus
olhos saltam e minha língua desdobra um metro.
Rimos novamente, logo em seguida ele suspirou.
— O que eu faço?
— Primeiro compre um anel simples, flores ou chocolate, leve ela para
passear no Hyde Park ao entardecer, e quando achar um lugar bem bonito, fique de
joelhos e faça o pedido.
Gio coçou a cabeça e pigarreou nervoso.
— Acha que isso vai funcionar? — perguntou duvidoso
— Querido, você já tem o não, corra atrás do sim… vai dar certo.
— Obrigado, Vic, você é uma amiga incrível. — Sorriu e foi embora, pouco
tempo depois, Jason e os garotos chegaram.
Assistimos a filmes até não querermos mais, rimos muito e brigamos também.
Dimitri era um fofoqueiro, ele falava o filme todo.
Assistir a Cinquenta Tons com ele foi a treva.
— Do Pisdy, que garota sem sal — reclamou. — O cara parece um boneco,
não tem expressão. Eu no lugar dele estaria grunhido obscenidades no ouvido
dessa safada.
— Cala a boca, seu fresco — William xingou. — Deixa o cara!
— Você fala assim, mas eu sei como você é um libertino de uma figa! —
devolveu e eu ri da cara de raiva do William, mas logo eu tive que correr para o
banheiro.
Os enjoos voltaram com força total.
— Calma, mana — Jason segurou meu cabelo enquanto eu vomitava até pelo
nariz.
— Essa é a pior parte, brother! — reclamei tremendo. — É a pior, mas até
isso vale a pena, eu sei que é meu bebê que está fazendo isso. — Sorri
— Tem razão — concordou. — Ah, tudo está pronto para amanhã. Vamos
arrumar o apartamento de Rocco, no sábado ele terá uma grande surpresa.
— Com certeza.
No dia seguinte eu acordei mais enjoada, mas fiz o que minha médica falou,
bolacha de sal e chá de gengibre. Alivia muito.
O tempo correu e logo faltava um dia para a chegada de Rocco.
— Nem acredito que ele chega amanhã! — exclamei feliz, porém estava
ainda mais ansiosa, eu tenho que arrumar a surpresa ainda hoje. Por isso conversei
com Maria e expliquei que precisaria me ausentar dois dias dos preparativos para
o casamento. Graças a Deus resolvi tudo sem problemas. As coisas estavam bem
encaminhadas.
Então eu fui primeiro para um shopping e comprei sapatinhos rosa e azul.
Jason olhava para as coisas de bebês e sorria com a maior cara de besta do
mundo.
— Você será um tio e tanto, vai aprender a trocar fralda cagada! — Bati em
seu ombro com o meu e ele concordou, fazendo careta.
Na volta para a cobertura de Rocco, Jason parecia ansioso, alguma coisa o
estava deixando agitado.
— O que foi, brother? — perguntei e ele me olhou brevemente
— Eu preciso desabafar com você! — murmurou e eu prestei bastante
atenção. — Victória, eu não tenho ninguém na minha vida, eu vivi durante muito
tempo sendo o segurança de Rocco, e nada mais, então você chegou e me fez feliz.
Você me acolheu como um ente querido, eu jamais irei conseguir retribuir a
felicidade que você me proporciona. Obrigado por me aceitar sem questionar meu
passado, obrigado por me chamar de irmão, mas, principalmente, obrigado por me
dar carinho e uma família — suspirou, — Me desculpe por despejar isso tudo em
cima de você, é só que eu achei necessário… eu tinha que te dizer.
— Jason. — Chorei emocionada.
Os hormônios da gravidez me deixando descontrolada.
— Você é meu irmão de coração, e eu amo você como se fosse do meu
próprio sangue.
— Eu também amo você como minha irmã, Victória, pode acreditar.
— Eu acredito, meu querido brother, eu acredito…
***
— Dimitri, levante essa faixa mais um pouco! — pedi e mesmo sob protestos
ele colocou.
— Deus me defenda de ser voluntário para ajudar nos aniversários do seu
moleque. — Bufou levantando mais alguns centímetros.
A faixa era uma frase simples.
Parabéns, papai.
Iria ficar no quarto, acima da nossa foto gigante. Muito bem visível, seria um
"Pahh" que o deixaria eufórico.
Eu resolvi fazer toda a decoração no nosso cantinho especial, então lá tinha
bolas azuis e rosas, no meio da cama tinha um coração com as duas roupinhas no
meio.
Meu coração estava explodindo de alegria, pois amanhã Rocco vai ter uma
grande surpresa. Eu já estava que não me aguentava de saudade, nossas ligações
estavam esporádicas e muito curtas, porque ele estava muito focado nas reuniões,
e também o fuso-horário. Eu bem sabia o quando ele chegava cansado dessas
reuniões.
Depois de deixar a decoração pronta e o apartamento limpo, eu organizei as
coisas para o jantar que eu iria preparar amanhã.
Pedi para Jason comprar alguns ingredientes que eu tinha esquecido, enquanto
isso, Dimitri estava em um dos quartos, tomando banho, Alice em outro e Gio
sentado no sofá comigo.
— Tudo pronto para amanhã! — Gio falou nervoso. — Comprei o anel.
Sorri e baguncei seu cabelo.
— Seu bobo, vai dar tudo certo, confia em mim. — Sorri apoiando a cabeça
no encosto, nos havíamos mudado a posição de alguns móveis para melhorar o
ambiente, então como era no apartamento de NY, colocamos o grande sofá de
costas para a entrada do hall.
— Sabe, eu estou com medo! — murmurou imitando minha posição. — E se
não der certo?
— Vai dar, amanhã é o dia da verdade, não tem por que dar errado.
Ficamos em silêncio durante alguns segundo até que Gio puxou conversa. Ele
parecia apreensivo, mas, acima de tudo, muito nervoso. Sabia que ele era um poço
de timidez, entendia muito bem a mudança de assunto. Pensa que isso ajuda em
algo. Não estaria mais enganado.
— Como você acha que Rocco vai lidar com essa situação?
— Eu acho que ele vai tirar de letra. — Sorri feliz.
Eu tinha certeza que meu amor iria surtar de felicidade.
— E se ele ficar com raiva por que você demorou para contar?
— Não vai ficar, eu até tentei, mas ele estava muito ocupado, e, certamente,
se eu dissesse que agora não éramos só nos dois, ele iria voltar correndo.
— Tem razão, ele é bem possessivo com você! — falou e suspirou
profundamente.
— Sim, ele é, mas acho que terei um desconto. Afinal não é uma notícia
simples.
— Tem razão, eu só acho que ele vai ficar louco quando você disser!
— Vai mesmo. — Ri tocando minha barriga
Mais um pouco de silêncio se fez e Gio retirou uma caixinha do bolso.
— OMG! — Levei minhas duas mãos até a boca.
— Não é nenhum diamante Rosa, mas é com amor — Gio murmurou e abriu a
caixinha.
Olhei para o anel simples e sorri feliz.
Alice iria amar.
— Não importa o valor, eu já disse que dinheiro não compra felicidade, ele é
lindo, e eu amei. — Sorri dando um abraço em Gio. — Agora guarda, ele é para
ser entregue amanhã.
— Amanhã nunca esteve tão longe — murmurou e eu tive que concordar.
— Não vejo a hora de tê-la em meus braços — suspirou guardando a
caixinha no casaco. — Alice é a mulher da minha vida, eu sei que muitos podem
pensar que sou novo, mas, por Deus, eu sinto na alma que ela foi feita para mim.
— Vai dar tudo certo. — Sorri piscando um olho. — Alice também te ama.
— Eu realmente espero. Esse pedido de namoro está me deixando de cabelos
em pé.
Gargalhei baixinho, mas logo me controlei, Dimitri apareceu dizendo que
estava morto de fome, e eu fui preparar sanduíches para o lanche, em seguida
iríamos todos embora.
Amanhã eu voltaria para terminar de preparar as coisas para a chegada de
Rocco.
— Ansiedade me define, quero só ver a cara dele!
Acariciei minha barriga com carinho.
— Amanhã vamos fazer uma surpresa para o papai.
Só não esperava a ligação de Rocco dizendo que era para eu esperar por ele
no apartamento do meu pai. Bom, isso seria apenas uma pequena mudança nos
planos, quando ele chegasse, iríamos para o seu apartamento, e lá ele teria uma
grande surpresa.
Capítulo 54
Victória
De: Victória
Para: Rocco Masari.
Assunto: Morrendo de fome.
Data: 08/02/2015 as 20: 50 hrs
Dor.
Esse era o único sentimento que eu conseguia ter nesse instante.
Meus olhos não estavam me traindo. Eu estava vendo. Eu estava sentindo.
Em um canto da sala, Rocco estava sentado no maior beijo com uma ruiva,
enquanto a loira que eu vi agora entrar há pouco passava a mão pelo peito dele,
exposto pela camisa semiaberta.
O peito que eu acariciei com adoração há poucas semanas estava sendo
tocado por outra, a boca que eu beijei com amor agora estava sendo beijada por
outra. As mãos que puxavam meu cabelo com desejo estavam enterradas nos
cabelos de outra.
Fechei meus olhos bem apertados, enquanto segurava um grito de dor. Eu me
sentia como se estivesse sendo partida ao meio… revirada ao avesso.
— Dói tanto, meu Deus — falei baixinho enquanto minhas lágrimas escorriam
abundantemente. — Senhor, me dê forças, estou sentindo que as minhas estão
falhando! — pedi, pois nesse momento só Ele em toda a Sua bondade
misericordiosa teria condições de me sustentar.
“Deus, não me abandone agora! Preciso tanto de ti”, implorei
fervorosamente de olhos fechados.
Eu queria que tudo não passasse de um terrível pesadelo.
— Meu Deus — choraminguei engasgada, sabe aqueles momentos em que
você tem um pesadelo e acorda achando que ainda está presa ao sonho terrível, e
não consegue fazer nada para fugir?
Bom, neste caso eu estou em uma situação inversa. Pelo menos no pesadelo
você acorda e quando constata que foi apenas um sonho, pode rir aliviada.
Contudo agora eu estou acordada e vivendo um pesadelo real e tenebroso. Nunca,
em toda a minha existência, eu pensei que viveria para ver meu coração ser
arrancado do meu peito e esmagado bem na minha frente, para depois ser
recolocado de volta completamente danificado.
Rocco ainda não me viu por causa da pouca luz onde estou, na verdade a sala
é meio escura e eu só o vejo direito porque a mesa dele, apesar de ficar em um
canto, tem uma luz que vem de cima, quase como um holofote estrategicamente
colocado. Eu ainda não conseguia me mexer nem um centímetro, estou paralisada,
congelada, concretada no lugar.
Eu estava como uma expectadora, assistindo a um filme de terror caseiro e
barato, mas não menos assustador. Não, esse era o mais bem-feito. Pois era real e
todas as minhas reações eram condizentes com os que grandes mestres querem
quando produzem essas tramas.
Coração acelerado? Confere.
Medo? Confere.
Suor frio? Confere.
Pânico? Confere.
Tremor? Confere mesmo.
— Meu Deus, como ele pôde fazer isso comigo? — sussurrei horrorizada,
enquanto levava uma das mãos à boca para tentar conter meus soluços
desesperados.
Durante todo o tempo que eu estava esperando lá fora, ele estava aqui,
fazendo… coisas que não consigo narrar, com essa ruiva, e esperando pela loira.
Olhei para trás só para ter certeza e constatei que eu tinha razão, daquela sala
se tem uma visão perfeita do bar.
“Meu Deus! Ele me viu esse tempo todo e não fez nada!”, pensei colocando
as duas mãos na minha boca para abafar meus soluços incontroláveis.Eu estava
tão preocupada com ele, mas na realidade ele estava muito bem, e eu sou a
perfeita idiota apaixonada!
Eu não sabia por que ainda estava parada naquela pose patética de estátua
viva, mas minhas pernas não me obedeciam, e se para sair daquele lugar eu corria
o risco de cair feito um saco de batatas no chão, eu preferia ficar ali mesmo,
parada, vendo minha vida acabando bem diante dos meus olhos.
Uma expectadora passiva da ruína da minha própria vida. O que fazer quando
a vontade que tenho é de gritar e gritar, ou de alguma forma ter força suficiente
para escavar meu coração? Porque, oh, Deus… como dói.
A vontade de vomitar estava enorme, mas eu não tinha nada no estômago,
então só a bílis que ficava subindo e descendo como uma onda, cada vez que eu o
via trocando beijos com as mulheres, sim, mulheres, porque agora ele estava com
as mãos enfiadas na cabeleira da loira enquanto fazia uma verificação nas
amídalas dela.
O que eu não entendia era o porquê das poucas pessoas ali não se importarem
com aquela…
Do que eu poderia chamar aquilo?
Sacanagem pública? Promiscuidade exacerbada? Pornografia explícita?
Show de sacanagem?
Sinceramente não sou santa, eu e… recuso-me a dizer o nome daquele
homem.
Então, eu e aquela “criatura” fazíamos o diabo a quatro no quarto. E agora
sim, só em me lembrar disso eu tive que tropeçar até o vaso com uma enorme
planta que tinha do meu lado e jogar meu suco gástrico nela. Foi horrível, mas,
bom, pelo menos eu me senti menos…
O quê??
Seria feio eu dizer que me sinto suja? Não, suja é pouco, na realidade eu me
sinto imunda. Como se vermes estivessem andando pelo meu corpo bem
lentamente. Só em lembrar-me das mãos dele sobre minha pele, eu tenho vontade
de me escalpelar. Sim, é isso mesmo. Estou com vontade de arrancar minha pele e
depois tomar um banho com álcool e alvejante.
Esse homem é nojento e eu me sinto nojenta por ter feito sexo com ele. Por tê-
lo deixado me tocar e ter feito tantas coisas escandalosas.
Fechei meus olhos e levei uma das mãos à minha barriga. Solucei, derrotada.
Eu me sentia sufocada e por isso abri minha boca enquanto jogava minha
cabeça para trás e soltava um grito silencioso. Minhas lágrimas escorrendo
livremente pelo meu rosto.
— Como eu pude pensar que fazíamos amor? — falei ainda de olhos
fechados. — Eu fui uma iludida idiota, que achava que tinha o príncipe encantado
quando, na realidade, eu tinha o maldito vilão inescrupuloso.
Eu o odeio! Minha avó tinha razão, esse homem não é bom o suficiente. Por
Deus, eu o odeio… odeio, odeio!
E essa poderia ser a pior coisa a acontecer na vida de ser um humano. Ver
seu amor se transformar em puro ódio e rancor!. Eu nunca senti isso por ninguém,
mas sinto agora, e justo pela pessoa que mais amei.
De perto do vaso de plantas agora vomitado, eu ainda tinha uma visão parcial
deles.
Balancei a cabeça enquanto mais lágrimas de desgosto escorriam pelo meu
rosto. Eu não me preocupei em esconder. Mais me vale deixar meu coração
sangrar livremente do que trancar minha dor e nunca conseguir viver direito
novamente.
Por isso, depois de agir como uma boa sádica e ficar olhando aquela cena
horrorosa, eu senti um frio invadir meus ossos. Foi como uma avalanche
devastando tudo em seu caminho. Congelando tudo a seu passo. Entorpecendo-me.
Aliviando-me. Salvando-me.
Minhas lágrimas ainda escorriam cada vez mais, eu não tinha controle sobre
elas. Mas pelo menos agora eu estava com meu emocional dormente. De quebra
um tantinho mais forte.
— Já chega, Victória, de ficar chorando e se escondendo! — rosnei para mim
mesma, limpando o rio de lágrimas que escorria do meu rosto e pingava do meu
queixo. — Você passou por dores e perdas maiores e sobreviveu. Vamos lá, erga a
cabeça e siga em frente — eu me incentivei.
Fazendo isso, eu resolvi ligar para ele. Vi o celular tocar em cima da mesa e
ele pegá-lo depois de conferir a tela, colocou-o de volta na mesa e deixou tocar.
Senti-me uma idiota ainda maior.
“Eu estava tão preocupada com ele!”, pensei, sentindo mais uma nova onda
de lágrimas banharem meu rosto, eu sabia que eram os hormônios da gravidez
ajudando, e muito, meu estado. Agora eu pensava se ele não me viu entrando na
sala. Não interessa, realmente, na verdade ele pode até ter me visto e agarrou a
ruiva para que eu visse mesmo, assim só consigo pensar em uma coisa:
E o premio de maior imbecil vai para…? Victória Fontaine, por cair no conto
do felizes para sempre. Um maldito conto da carochinha. E eu pensando que meu
romance era um conto quase de fadas. Rá! Não poderia estar mais enganada!
Era sim, um QUASE, que não foi absolutamente nada.
Respirando fundo decidi acertar minhas contas e resolver isso logo de uma
vez, não quero deixar ponta solta. Isso acaba aqui e agora! Fecharei esse capítulo
da minha vida. Sem volta, sem chance, sem segundas oportunidades…
A mocinha boba e apaixonada foi brutalmente assassinada, e o que sobrou
foram cacos de uma antiga idiota. Agora eu sou uma nova mulher, uma que acabou
de morrer, mas que precisar se reerguer.
A nova Victória Fontaine acabou de ser forjada no calor do desespero, da
dor, da decepção e da mágoa. E como uma fênix, terei que renascer e viver, sendo
mais resistente, dura, destemida, forte, mas, principalmente, implacável.
Essa Victória feroz é real, ela nasceu no momento em que soube que
carregava outra vida, que seu sangue alimentava outro coração, todavia, a Victória
que enfrenta um gigante de cabeça erguida nasceu agora, e essa será imortal!
Serei como uma leoa feroz que protege seu filhote. Irei viver pelo meu filho.
O resto virou resto, passou a ser insignificante. E Rocco está no topo dessa lista.
Não será nada. Não é nada além desta para a próxima. Ele morreu para mim.
Fechei meus olhos sentindo um arrepio de pura determinação me invadir.
É agora!
Caminhei até onde eles estavam na maior pegação e, sem pensar direito,
peguei dois copos com bebidas e arremessei o conteúdo em cima dos três.
Foi instantâneo, parecia briga de cachorro quando se joga água para separar.
As meninas gritaram se afastando e eu… Bem, não tinha por que culpá-las.
— Uhm, me desculpem pela mira errada! Vocês não eram meu alvo! — falei
baixinho, um pouco envergonhada. Não queria molhar as garotas, eu queria atingi-
lo.
Julguem-me, mas eu não sou de sair por aí descontando minha raiva em
pessoas alheias. Ele é o culpado, ele deve pagar.
E irá!
Resisti à vontade de colocar a mão em minha barriga, esse homem não
merece meu filho. Ele não merece saber por mim, e, se souber, que seja alguém a
contar.
Travei meus joelhos para me manter firme, tive até que fechar as minhas mãos
em punhos. Nesse instante minha coragem está me abandonando e eu estou muito
apavorada para correr. Portanto só me resta ficar de cabeça erguida e encarar a
situação.
“Força, resistência, dignidade, orgulho de ser quem sou!”, eu cantei
silenciosamente como um mantra.
— Como você teve coragem de fazer isso? — fiz a primeira pergunta que
martelava em minha cabeça. Era melhor assim, começar pelo princípio, e os
tijolinhos que erguiam o muro do meu amor estavam caindo um por um. Quero
dizer, meu muro recebeu o golpe de uma bola demolidora, o que sobrou continuava
a cair. Simples assim.
— Fazer o que, amore mio? — respondeu cinicamente, contorcendo a forma
carinhosa com que me chamava, enquanto limpava o rosto. — Pensei que gostaria
da surpresa!
Essa era a surpresa?,– me pergunto chocada. Que sórdido!
— Realmente, Rocco, você não é nenhum idiota! Mas agora está se passando
por um! Vamos lá, cartas na mesa, sem essa de desviar a conversa. Afinal você é
inteligente e eu também sou — falei levantando o queixo, ignorando minha voz
embargada e minhas lágrimas teimosas.
— Tudo bem, se você quer assim! — ele falou e abriu os braços, puxando as
duas mulheres para junto dele, em seguida fungou no cabelo de uma enquanto
acariciava o braço da outra. — Isso parece o que para você? — perguntou me
olhando atravessado.
Ofeguei baixinho por sua maldade. Mas tudo bem, eu já havia visto o show
deles por tempo suficiente. Estava batizada e o couro ficou duro quase que
instantaneamente.
Dei de ombros, tentando passar indiferença, vi o exato momento em que ele
estreitou os olhos e travou o maxilar. Eu sabia que ele estava furioso e se
controlava.
“Não estou dando a mínima!”, pensei revoltada. Por mim ele pode explodir
de raiva. Todavia, vamos esticar essa corda e ver se ela aguenta.
— Bella mia… — Sorriu cinicamente, mexendo no cabelo da ruiva. — Tesoro
mio… — Agora foi a vez da loira.
“Força, resistência, dignidade, orgulho de ser quem sou!”, continuei
cantando, e isso foi me fortalecendo mais e mais, apesar de achar que essa força
iria ruir a qualquer momento.
Eu nunca pensei que diria isso, mas os anos sendo tratada como lixo pela
Blanchet estão me ajudando agora, e, inesperadamente, eu agradeço a ela, onde
quer que esteja.
— Eu nunca imaginei que você pudesse fazer uma coisa dessas! — Respirei
fundo, buscando forças para continuar. — Você é falso, mentiroso, fanfarrão de
uma figa, que usa as pessoas para seu próprio benefício.
As meninas se mexeram desconfortáveis, mas ele apertou os braços, não
deixando-as escapar.
— Eu sou tudo isso e você gostava muito! — rosnou e eu vi seus olhos
inflamados.
Estreitei meus próprios olhos e o enfrentei. Estiquei meu corpo ao máximo
que pude, mas não era de altura que eu estava falando, era de dignidade. Eu me
sentia um gigante pela força de Deus, mesmo sendo pequena, se comparada a ele.
Éramos Davi e Golias.
— Era para mim que você dizia palavras de amor, esqueceu? Você gostava e
muito — debochou. — E sim, esse sou eu, em toda sua glória — cuspiu raivoso
enquanto me encarava com seus olhos em chamas.
— Esse homem que está diante de mim pode até ser o seu eu verdadeiro. Mas
o que eu conheci era outro muito melhor, e eu agradeço a Deus por isso! — Pausei
alguns segundos, eu não conseguia falar sem minha voz falhar e eu precisava dizer
tudo. — Eu conheci um homem maravilhoso e fui feliz com ele. Já você não passa
de uma imitação barata do Rocco com quem eu convivi e amei. Eu nunca, jamais
me envolveria com essa criatura inescrupulosa e desrespeitosa que vejo diante de
mim, Sr. Masari. Você é nojento. E eu nunca menti para você. Nem uma vez sequer.
Desta vez ele rosnou furioso e as meninas se afastaram. Mas estávamos só
começando. Se ele esperava que eu gritasse e fingisse que não estou partida ao
meio, ele está muito enganado. Vou colocar para fora minha dor e ele que aguente.
Estávamos nos digladiando, ele era o leão feroz e eu era sua oponente desarmada.
Porém eu entrei nessa arena com uma gladiadora, pronta para lutar, e eu não vou
desistir.
— Como você ousa, sua va…
— Cale a boca e me respeite! — dessa vez eu gritei, apontando o dedo para
ele, e as pessoas ao redor pararam o que estavam fazendo pra prestar atenção. —
Eu não dou o direito a você e a nenhuma outra pessoa de me desrespeitar. Eu sou
uma mulher digna! Eu sempre agi de forma justa e honrosa, então cale sua boca
suja antes de proferir alguma merda.
Ele estava vermelho de raiva. Mas também chocado com minha explosão! Eu
sempre fui tranquila. Não mais…
Ótimo, não estou dando a mínima de novo.
— Eu tenho pena de você, pena da pessoa que você é. Como eu pude ser tão
idiota e cair nesse seu teatro? Meu Deus, nunca vi tanta dissimulação na minha
vida! — gemi de desgosto, esfregando rosto. — Eu amei uma fraude, um
mentiroso… eu engr… — Calei-me.
— Você me enganou — gritou levantando. Dava para ver claramente que ele
tremia de raiva.
— Eu o quê? — Ri, incrédula, por incrível que pareça eu estava até me
controlando, já ele era quem estava perdendo o controle. — Você vai colocar a
culpa do seu mau-caratismo em mim? Vai me culpar pelas suas atitudes de
moleque? Vai querer arrumar alguma justificativa que possa explicar essa
palhaçada? Sinceramente, você pode fazer o que quiser, não ligo, nunca te enganei,
nunca menti para você. E sabe o que é melhor? Isso pode ser facilmente
comprovado, e claro que eventualmente você irá descobrir se eu estou falando a
verdade.
Eu ri, e ri, muito porque foi inevitável. Era um riso junto com choro, meio
histérico e louco. Meu Deus… que amor doente.
— Eu — começou, mas não o deixei terminar de falar.
— Eu só tenho que bater palmas pelo seu belo show de cretinagem! — Bati
algumas palmas e escutei algumas risadas das pessoas ao redor, que eram em sua
maioria homens. — Você não foi homem suficiente para terminar comigo, não,
você me traiu de forma vil e nojenta e ainda tem a cara de pau de dizer que eu te
enganei — cuspi com raiva. — E agora, por sua culpa, eu estou com nojo de mim
mesma, por ter deixado você me tocar, por ter me entregado a você de corpo e
alma, por… — Minha voz falhou miseravelmente. Respirei fundo e mandei ver. —
Por ter acreditado nessa sua mentira de eu sou seu.
Balancei a cabeça.
— Uma vez você me chamou de vadia, e depois pensou que eu te odiava. —
Suspirei esfregando os olhos. — Eu nunca fui uma vadia, nunca dei motivos para
você desconfiar de mim, eu fui só sua, nunca dei um beijo sequer em outro homem
depois que coloquei meus olhos na sua maldita revista, no fim, eu deveria ter sido
uma vadia mesmo, e agora sim eu te odeio.
Ele estava um pouco pálido com minhas palavras. Mas calma aí, querido, eu
não terminei ainda
— Você é frio como um iceberg e é por isso que ficará sozinho. Já eu tenho
sangue quente, não sou um parasita. — Eu o chamei com uma das mãos, batendo no
peito. — Então venha, querido, bata mais, meu corpo aguenta.
Assobios foram ouvidos por todos os lados, o que deixou o homem diante de
mim ainda mais irado e pálido. Rocco parecia não conseguir se concentrar em uma
única emoção.
— Você matou algo muito bom em mim hoje! Mas eu não perdi, porque saio
daqui com a cabeça erguida e a minha consciência tranquila. Se tem alguém aqui
que perdeu, foi você! E graças a você mesmo eu não tenho problemas com
autoestima. Pensa que me senti menor ou humilhada porque você estava com essas
duas mulheres? — perguntei e ele apenas balançou a cabeça, negando como um
boneco de carro cabeça-mole e idiota. — Eu não me senti, o único que estava aqui
tentando provar alguma coisa não era eu, esse alguém era você! — falei fazendo
um gesto com a mão em sua direção. — Você é muito imaturo, é desconfiado, não
se entrega, acha que o mundo gira à sua volta, pois bem, me deixe te atualizar, o
mundo não é seu. Não importa você e seus bilhões, no fim, você irá terminar em
um buraco levarando um terno sob medida, nada mais.
Mais assobios e gritos foram ouvidos. Entretanto eu estava mais e mais
cansada, enjoada, tonta. Eu quero mesmo é acabar aqui. Deixar claro para Rocco
que ele e eu não temos a menor possibilidade, não depois dessa palhaçada. Deus
me defenda de ser uma idiota por duas vezes.
Meu Deus querido! Obrigado pela força, porque sem ti eu não conseguiria.
E juro que está sendo maravilhoso falar tudo isso.
— Eu nunca quis o seu maldito dinheiro, se quer saber! Na verdade eu nem
preciso dele, porque meu pai e minha família têm muito mais do que eu poderia
gastar — resmunguei dando de ombros. — Eu sempre quis você e agora nem isso
eu quero mais. Eu perdi totalmente o interesse em você, criatura horrorosa. Não
sei como pode ser tão bonito por fora e tão podre por dentro. Sinto muito se você
é assim, ainda bem que eu vi isso antes que fosse tarde demais. No fim das contas,
eu ainda tenho que te agradecer — murmurei o suficiente só para ele ouvir. —
Muito obrigada! — desta vez, falei mais alto. — Obrigada por me fazer acordar,
por me mostrar que príncipes não existem. Mas, principalmente, obrigada por
mostrar quem você verdadeiramente é. E obrigada por me dar algo inestimável.
— Victória, eu… — Ergui uma das mãos fazendo-o calar.
— Graças a você, esta Cinderela aqui não acredita mais em contos de fadas.
Virei as costas e andei alguns passos. Mas decido devolver algo para ele.
Voltei até onde ele estava congelado e coloquei as chaves do carro que ele me deu
na mesa, depois arranquei o anel e abri meu medalhão querido, tirando a pequena
foto dele e colocando em cima da mesa junto com as demais coisas.
— Você perdeu alguém que te amava incondicionalmente e sem reservas.
Enquanto você estava aqui, eu estava lá fora pensando o pior, preocupada com
você. Graças a Deus que eu tive companhia para conversar e passar o tempo. Ah,
outra coisa, dê para quem quiser, não quero mais esse anel, quando for me casar,
receberei outro.
Ele estreitou os olhos, fazendo a careta típica de quando estava com ciúmes.
Foda-se, pode morrer e secar de ciúmes, não estou nem aí!
— Eu vi o tempo todo — rosnou baixinho
Eu sorri tristemente.
— Obrigada, Rocco. Sua máscara caiu e eu vi o homem real por trás dela. —
Eu me afastei alguns passos. — Você nunca mais vai viver um amor como viveu
comigo, e quando a realidade bater e você ver a grande merda que fez, estará
sozinho. Por favor, não me procure mais, não pense em mim, finja que eu morri.
Afinal, se a sua intenção era fazer com que eu te odiasse, realmente conseguiu! Eu.
Te. Odeio. — Engasguei com meus soluços, mas continuei passando por cima da
minha vontade de fugir para bem longe.
Ele arregalou os olhos como se acabasse de ser atingindo por um golpe
físico.
Não mais do que eu fui… não mais que eu.
— Adeus, Rocco, viva bem e seja feliz. Só não faça com outras pessoas o
que fez comigo. Ninguém merece ser magoado desse jeito — sussurrei só para ele
ouvir.
Virei as costas e caminhei para a saída, quando estava chegando na porta, as
duas mulheres que estavam com ele me pararam.
— Desculpa, eu pensei que vocês tinham terminado! — a ruiva falou
envergonhada.
— Tudo bem! — murmurei querendo sair dali o mais rápido possível, eu
estava me sentindo sufocada, beirando um ataque de pânico. E estava com medo
de todo o estresse afetar meu bebê.
— Você vai ficar bem? — a loira perguntou baixinho. Eu vi que elas estavam
genuinamente preocupadas comigo. — Eu nunca faria isso se soubesse que era de
propósito… por favor, me perdoe — murmurou acariciando minha bochecha.
— Nenhuma mulher deveria passar por isso. Sinto muito por ter feito parte.
Eu sinto muito — a ruiva disse enxugando uma lágrima que rolou em sua face.
Sorri triste e chorei, vendo as duas chorarem também.
Deus faz suas obras e age misteriosamente. As meninas que ajudaram a partir
meu coração estavam tentando me consolar. Seria cômico, se não fosse trágico!
Não era irônico? Eu acho que sim, mas está aí mais uma prova de que Deus
não me abandona nunca. Ele mandou consolo, mesmo de um lugar improvável.
— Estou bem, meninas, e desculpa por ter jogado a bebida em vocês! — falei
baixinho e quase saltei de susto quando a ruiva passou uma das mãos pelo meu
cabelo.
— Você é linda, educada, bem-sucedida, de boa família, com certeza vai
encontrar alguém que te mereça e te faça feliz — sussurrou sorrindo decepcionada,
não sei se com ela mesma ou com toda a situação. Provavelmente com os dois.
— Concordo plenamente! Eu estou com vergonha de mim mesma por fazer o
que fiz, mas orgulhosa por ainda existir mulheres como você, você é boa, digna e
tem classe. O idiota olhando para cá com cara de paspalho perdeu um tesouro, e
eu vou torcer para que outro homem a encontre e te valorize.
Dito isso ela foi até um Rocco abismado e deu-lhe um tapa bem forte na cara.
— Esse é o tapa que ela deveria ter te dado — rosnou e bateu-lhe do outro
lado. — E isso é por você ser um cretino arrogante!
Eu levei minha mão à boca para abafar o som de meu choque, agora eu estava
olhando para ele de olhos arregalados. Depois a ruiva foi até onde ele estava e fez
diferente, no caminho, ela parou em uma mesa onde tinha três homens e pegou os
copos cheios de dois deles.
Rocco estava tão chocado que não teve reação nenhuma quando a ruiva jogou
o líquido dos dois copos bem no meio da sua cara.
— Puta que pariu! — um homem exclamou. — As mulheres estão do lado
dela! Inacreditável.
— Que idiota do caralho! — outro exclamou para Rocco e, virando para
mim, disse: — Minha linda, eu sou candidato ao seu coração, serei seu escravo
feliz. — terminou a frase colocando uma das mãos no coração e sorrindo com
charme.
Engoli o choro, porque eu estava muito chocada e me sentindo vingada pelos
mais improváveis defensores.
— Obrigada, senhor, mas eu estou fechada para balanço — falei secando
meus olhos. — E, meninas, valeu a defesa. Eu nunca esperaria por isso. De
qualquer forma, muito em breve terei alguém muito importante em minha vida.
— Deixe para lá e não chore mais, ele não merece. Só porque é rico acha que
pode tudo. Babaca — a loira bufou arrancando mais risadas dos homens.
— Eu estou disponível, coisa linda! Posso cuidar do seu coraçãozinho ferido,
prometo muito amor se me quiser! — um moreno lindíssimo falou fazendo várias
tossidas se seguirem. Eu olhei para ele ficando chocada com o que vi. Ele era um
moreno (quase negro) de olhos verdes. Um verdadeiro gato.
Como estou vendo isso? Alguém acendeu a luz e a sala estava bem iluminada.
Só posso dizer que o desconhecido moreno era… Bom, ele era bem chamativo. E
a forma como me olhava me deixou constrangida. Senti meu rosto ficar vermelho
até a raiz dos cabelos.
— Uhm, obrigada? — Franzi o cenho achando aquilo tudo muito estranho.
Nossa senhora das mocinhas que são ferozmente defendidas, estão fazendo
bullying com o Rocco! Eu não estava feliz com isso, mas também não estava triste.
Eu estava mesmo era indiferente e ele bem que estava merecendo.
— Apaga o meu número do celular, seu idiota — a ruiva gritou bem alto.
— E o meu também — a loira completou
As duas meninas me chamaram para ir embora e concordei, virando mais uma
vez sem olhar para trás.
— VICTÓRIA — Rocco berrou meu nome e eu me virei. Olhei em seus olhos
e vi que ele estava magoado. Não me importei, o tiro saiu pela culatra. Isso é o
que dá fazer maldade com os outros.
Ficamos nos encarando durante o que pareceu uma eternidade, mesmo de
longe e com cara furiosa, ele era muito lindo. Mas agora toda aquela beleza não
era mais apelativa para mim. Eu o via e só enxergava o cretino, mau-caráter e
traidor que ele era.
É estranho o que vou dizer agora, mas eu me sinto quase curada de uma
doença. Eu era louca por esse homem, poderia ficar horas olhando a foto dele e
sentir meu coração acelerar. Agora eu apenas olhava para ele e…
Não sei, ele não me atraía mais. Pelo menos não agora, a mágoa era muito
grande, a dor também. Eu me sentia golpeada fisicamente. Olhar para ele doía.
— Você me amou de verdade? — indagou bem alto.
“Mas que raios de pergunta sem pé nem cabeça é essa?”, me perguntei
cruzando os braços.
Eu nunca escondi o que sentia por ele, eu sempre disse que o amava, sempre
demonstrei. Como ele pode ter dúvida?
Se hoje minha decepção for só um pouco maior, eu certamente morro!
Caminhei até ele novamente. Com certeza Deus estava me dando forças,
porque era para eu estar bem longe dali, nesse momento Deus estava sendo minha
fortaleza.
Parei em sua frente, apenas a mesa nos separando.
— Eu te amei além do que possa imaginar — falei bem alto, eu iria colocar
para fora os últimos resquícios de um sentimento puro e verdadeiro, eu iria zerar
meu amor por Rocco e deixar esse sentimento só para meu filho. — Eu te amei
com cada parte de mim, com cada respiração, com cada batida do meu coração eu
te amei. A cada vez que eu acordava, te amava mais, e quando ia dormir, eu não
acreditava que meu amor poderia ter aumentado ainda mais. — Suspirei.
Meus olhos encheram de lágrimas, meu grande amor ficou por um momento
indistinto, fiz uma careta, contorci meu rosto, era impossível esconder minha dor,
meu corpo gritava, implorava por cura, por se esconder e lamber as feridas. Meu
corpo… o corpo que está fraco, mas que precisa se fortalecer, porque agora outro
ser depende dele… meu filho depende.
Meu filho.
— Eu te entreguei meu coração para você cuidar — desabafei baixinho,
chorando novamente. Agora muito mais que antes, falar sobre amor doía demais
nesse momento. — Você foi meu primeiro amor e eu pensei que seria o último —
solucei tristemente. — Eu te via como meu herói, o homem dos meus sonhos.
Meu… — Precisei respirar, meu peito estava comprimido de dor e desilusão. —
Meu príncipe encantado. Eu te amei como nunca pensei que poderia amar alguém,
você foi preenchendo todos os espaços do meu coração, deixando minha vida tão
mais emo-mocionante — gaguejei abatida. — Você me tornou mulher, a sua
mulher, e eu me senti plena. — Olhei em seus olhos e dei um sorriso fraco. —
Você… foi… irretocável, Rocco, inacreditavelmente perfeito. O mais incrivel e
esplêndido homem que uma mulher poderia sonhar em ter em sua vida.
— Victória…
— Não diga nada! — pedi levantando uma das mãos, fazendo-o parar, minha
voz cansada, perdida em meio aos meus sentimentos agonizantes. — O que eu vi
aqui já basta. Eu estou com essa imagem gravada em meu cérebro como tatuagem.
Rocco, você… — chorei, me curvando um pouco para frente, eu o vi se inclinar,
estendendo o braço, mas dei um passo para trás, não quero ser tocada. — Você
arrancou um pedaço fundamental de mim hoje, eu não sei quando vou voltar a ficar
inteira novamente! Na verdade, eu sei que irei me curar, eu só tenho vinte e quatro
anos, inevitavelmente irei abrir meu coração para alguém. Só não saberei me
entregar sem reservas, e justo por isso eu posso entender o que você sentiu quando
Susan te traiu, você fez o mesmo comigo.
Ele levantou uma das mãos novamente. Seu rosto era uma máscara de
arrependimento. Eu sabia que ele queria me tocar, mas eu não suportava pensar na
ideia. E por isso me afastei ainda mais e me abracei.
— Não me toque nunca mais. Fique longe de mim. Não… — Engoli sem
conseguir terminar. — Hoje eu tinha uma surpresa para você também. Eu juntei
todos os nossos amigos e preparei algo para você. — Sorri triste. — Você iria ser
muito feliz, Sr. Masari, Mas nada foi como deveria ter sido. Eu sinto muito… por
mim, por você e por… — Calei-me antes de revelar meu segredo.
— O que você fez para mim? — perguntou franzindo as sobrancelhas. Sua
voz meio afogada, meio engasgada… embargada.
Nesse momento eu agi quase que automaticamente.
Devagar eu levei uma das mãos até minha barriga e fiz um carinho, como se
fosse em meu amado bebezinho. Baixei minha cabeça olhando para onde minha
mão repousava.
Aos poucos minha cabeça ergueu. Não falei nada, deixei que ele
compreendesse sozinho.
Vi os olhos que tanto amei se encherem de lágrimas também. Eu o vi abrir a
boca em choque. Uma cor totalmente doentia cobriu suas feições. Então uma
expressão de dor crua e aterradora o marcou.
Rocco balançou a cabeça de maneira desesperada, como se não acreditasse
no que estava acontecendo.
— O que eu fiz? — questionou, me olhando com agonia. — Por favor… —
Esticou o braço de novo e rodeou a mesa, eu dei um passo atrás.
Fugi de seu toque. Eu não o queria perto de mim. Não agora. Nem amanhã,
talvez nunca.
— Eu vou embora — sussurrei. — Depois de hoje eu espero que você, de
alguma forma, consiga encontrar alguém e ser feliz. Sei que ainda teremos contato,
mas será só o estritamente necessário.
— Victória. Me ouça — implorou erguendo os braços em minha direção, ele
vinha para mim e eu ia recuando. — Me deixa te dizer, amore mio…
Gemi me encolhendo. Ele me chamar disso estava me ferindo.
— Nunca mais me chame assim. Nunca mais… Você mente. Você sempre
mentiu! Me enganou, e tenho certeza que não esperava esse desfecho — murmurei
me abraçando. — Você não me conhece… não me merece.
— Me deixa falar, me deixa te dizer — sua voz soava desesperada,
esganiçada, trêmula.
— Não quero saber de nada. Eu não quero! Suas atitudes só provam que nada
do que vivemos significou alguma coisa para você!
— Significa. Você sabe.
— Eu não sei de nada. O que eu vi aqui fez tudo o que a gente viveu virar pó.
— Eu me afastei mais rápido. — Sei que você irá me procurar, mas quando vier,
traga Dimitri, e não digo como amigo.
Seus olhos arregalaram e ele congelou no lugar, parou seu avanço. Eu
aproveitei esse momento para escapar, consegui ir embora e, quando cheguei ao
saguão do hotel, chorei. Meu corpo inteiro começou a tremer e sacudir com
soluços que vinham direto da minha alma dilacerada. Olhei ao redor, me sentindo
perdida, e me lembrei da primeira vez que esbarrei nele aqui mesmo. Naquele dia
minha vida mudou, como mudou hoje.
Saí correndo até a frente do hotel, mas quando saí na rua só consegui dar
alguns passos quando precisei parar para respirar. Meus pulmões estavam
comprimidos, eu estava com minha cabeça rodando, imagens do nosso
relacionamento passando sem parar, até chegar ao momento em que eu o vi aos
beijos com as mulheres.
Fechei meus olhos pela enésima vez hoje e levantei minha cabeça para o céu.
“Deus, em sua infinita bondade e sabedoria, me diga, por que ele fez isso
comigo? Nunca pensei que iria sofrer tanto depois da morte dos meus pais. Juro
para ti, senhor, que sinto como se algo muito querido para mim tivesse morrido.
Sinto-me de luto, sem vontade. Por favor, me ajude… por favor, me guie, me
console. Senhor, meu Deus, me tome em seus braços, me tome sob suas asas,
porque, OH, MEU PAI… DÓI TANTO!”, solucei, minha garganta e meu peito
doíam muito. “Eu estou sozinha agora, sem ninguém para me abraçar e dizer
que tudo ficará bem. Estou longe da minha tia, do meu pai, da minha avó, de
todos que amo… meu querido Deus, o que vou fazer? Não tenho ninguém para
me tirar desse mar de dor e tristeza, sem ninguém para eu me apoiar. Preciso
ser consolada, preciso me sentir amada! preciso reafirmar que alguém se
importa comigo.”
Abri a boca como se fosse soltar um grito, porém minha dor era tão grande
que som algum saiu. Mas por dentro eu gritava e gritava, e em minha alma meus
gritos de lamento reverberavam, fazendo eco em minhas entranhas esfaceladas
pela desilusão de tão grande traição.
— VICTÓRIA, CUIDADO!… — Escutei o grito de Jason, meu brother de
coração, e chefe de segurança do Rocco, o homem… comprimi os lábios, não iria
pensar nele, não iria… Com o grito de Jason, abri os olhos, por um momento eu
me perdi, olhando as estrelas, então baixei a cabeça procurando-o. Eu o vi do
outro lado da rua, acenando sem parar. Eu estava tão atormentada que não entendi
o que ele estava tentando me dizer.
Então tudo aconteceu em câmera lenta.
Eu vi os lábios do Jason se movendo e ele balançando o braço. Deu para ver
que ele estava pálido. Desesperado. Não entendi o que ele falava, até captar pela
minha visão periférica uma forte luz quase em cima de mim.
Virei minha cabeça para o lado e vi um carro vindo em minha direção. Não
deu tempo de correr, o tempo parou. Os sons se perderam… as pessoas
congelaram. Mas eu estava em tempo real… normal!
E eu conseguia compreender o que estava prestes a acontecer.
Todo esse momento não durou mais que segundos, minha vida mudando para
sempre, a sombra de morte se abatendo sobre mim. Eu quase podia vê-la
estendendo uma gananciosa mão em minha direção. Seu rosto invisível. Era tudo
assustador. Muito tentador.
“Vem.”
Não havia tempo. Não havia o que fazer. Tudo estava perdido.
Fechei meus olhos, erguendo o rosto ao céu.
“Entrego minha vida em Tuas mãos, Senhor…”
Dor explodiu pelo meu corpo.
Então houve gritos e… caos.
Capítulo 56
Rocco
A foto da capa era eu com as duas mulheres e Victória de frente para mim.
Ergui minha cabeça e olhei para Victor, não tive tempo de reagir.
Ele fechou o punho na minha cara.
— Você não chega mais perto da minha filha. Você não chega! — berrou e
chamou os seus próprios seguranças. — Agora saia daqui…
Ergui-me do chão e olhei em seus olhos.
— Só Victória pode me expulsar — murmurei e vi as chamas em seus olhos.
Então o inacreditável aconteceu. Jason caminhou até onde eu estava, pegou a
revista e olhou. Em seguida, ele estendeu a revista sem olhar para quem iria pegar.
— Primeiro, eu me demito, e segundo… — Jason me deu um murro tão forte
que tudo rodou. — Você vai sair daqui, agora escolha se é por bem ou por mal.
Capítulo 59
Rocco
— Perdonami, amore mio — murmurei mais uma vez e ergui minha cabeça,
senti que lágrimas escorriam pelos meus olhos, e eu sorri tristemente, pois
Victória também chorava.
Aproximei-me o suficiente para encostar nossas testas, carinhosamente limpei
suas lágrimas com meus polegares.
— Não chore por mim, meu amor, minha dor é culpa minha, sua dor também é
minha e meu sofrimento é apenas o que mereço — murmurei com amor. — Suas
lágrimas são preciosas, guarde-as para a felicidade, pois de mim é só o que terá.
— Beijei seus lábios suavemente. — Eu te amo. Mais do que pensei ser possível,
três metros acima da linha das estrelas, consegue entender? Isso seria o sétimo
céu. O nunca alcançado, o sempre inatingível. É lá que está meu amor. Volta para
mim, me permita te reconquistar. Per favore.
Minhas lágrimas. Nossas lágrimas se confundiam, e bem baixinho, com minha
voz falha, e completamente embargada terminei de cantar.
Saí do hospital me sentindo péssimo, eu não sei o que fazer e nem por onde
começar.
Eu me sinto preso, encurralado. Terrivelmente sufocado. Por mais que eu
busque uma solução, não encontro, está difícil até de respirar, sinto como se uma
banda de aço comprimisse meu peito.
Há uma dor instalada ali, e, às vezes, eu me pego esfregando como se
pudesse aliviar, mas não alivia, só aumenta e aumenta. A cada dia que passa. Ela
só… malditamente aumenta.
Minha cabeça parecia não funcionar direito, e sem querer me vi dirigindo até
a casa da minha mãe.
Eu não sei, mas… talvez e só talvez, eu não precisasse ser o chefe da família
Masari, agora eu só precisava ser o filho. Só isso.
Entrei sem nem ao menos cumprimentar alguém. Eu não sabia o que fazer ou
dizer, mas foi só encontrar minha mãe que eu soube.
— Mamma — engasguei levemente. — Eu não sei… eu só queria… —
Engoli em seco e ela abriu os braços.
Desabei.
— Meu filho — sussurrou acariciando meus cabelos enquanto me apertava
em seu abraço, me fazendo sentir acolhido. Estava me sentindo muito sozinho.
— Mamma. — Minha voz saiu abafada porque eu enterrei meu rosto em seu
pescoço e ela me apertou mais. — Dói tanto, dói tanto.
— Shh, eu sei que dói, meu menino — chorou enquanto me embalava.
Apertei meus olhos inalando seu cheiro calmante. Eu havia me esquecido de
como era bom.
— Não sei o que fazer — desabafei. — Eu a amo tanto, mãe, mas eu demorei
demais para entender… eu…
— Rocco, às vezes precisamos errar para poder conseguirmos olhar para nós
mesmos, nem sempre o amor é suficiente, meu querido, às vezes precisamos do
sofrimento para que possamos atingir um ponto máximo do que podemos sentir.
Puxar o nosso limite, expandir nossa percepção. Conseguir enxergar melhor!
Minha mãe me puxou de seu abraço e colocou as duas mãos em meu rosto.
— Me responda uma coisa, mas preciso que seja sincero — proferiu me
encarando fixamente. — O quanto você amava Victória antes de tudo isso
acontecer?
Durante dois segundos, eu avaliei meus sentimentos e vi que, por mais que eu
fosse louco por Victória, eu não me entreguei completamente. Ainda tinha medos e
receios, meu ciúme era cego por achar que eu me decepcionaria.
— Eu a amava, mãe, mas eu me preservava — murmurei envergonhado, meus
ombros caindo levemente.
Minha mãe assentiu.
— E agora, como se sente? — questionou arqueando uma sobrancelha
De novo, avaliei meus sentimentos, e desta vez a resposta foi quase
instantânea.
— Eu me sinto caído. — Fechei os olhos, me afastando, passei as duas mãos
no cabelo e fiz uma careta angustiada, aproveitei para dar as costas à minha mãe,
eu estava despido da minha armadura. — Eu a amo incondicionalmente, sem
reservas, sem bloqueios, sem cuidado. — Abri a boca, querendo gritar. — Eu a
amo com todas as minhas partes, as boas e as ruins, a carinhosa, a possessiva, a
ciumenta, enfim… eu a amo com tudo de mim. — Então eu olhei de lado e quase
rugi. — Eu amo Victória com a força de um furação destruidor, só em pensar…—
Fechei os olhos. — Eu juro, mãe, que me desespero só em pensar em viver num
mundo sem ela. Eu não vou prosseguir aqui, não sem ela, se Victória for, eu vou
também. A qualquer lugar, aqui ou não. Nesta vida ou em outra.
Minha mãe sorriu e me deu outro forte abraço, que eu retribuí com fervor.
— É assim que se fala — saudou. — Eu sei que ainda vem chumbo grosso,
mas você é filho do seu pai, e Bertolho Masari era a determinação em pessoa, só
para que saiba, seu pai desafiou seu avó para ficar comigo, ele lutou por mim, e
como você, ele também agiu como um idiota. Ele quase me perdeu, mas graças a
Deus ele era uma mula de teimoso e nunca desistiu.
— Mamma? — questionei me afastando um pouco para encará-la.
— Meu filho, você é a copia fiel do seu pai, tirando apenas os olhos azuis. —
Sorriu acariciando meus cabelos com amor. — Seu pai te criou para ser melhor
que ele, você é mais intenso, ciumento e possessivo do que ele jamais imaginou
ser, então, se Deus permitiu isso acontecer com você, é porque pode suportar a
carga, então nada de abaixar a cabeça. — Sorrindo, ela me deu um tapa no ombro.
— Honre suas calças e recupere sua garota!
Sorri alisando o local onde minha mamma me acertou.
Ela tem razão… eu tenho que honrar quem sou!
Saí da casa da minha mãe e fui para minha empresa, passei o dia trabalhando.
Isso aliviava o turbilhão de preocupações que circulava em meu cérebro. Eu tinha
que fazer minha garota acordar, ou então teria que transferir a matriz da
corporação Masari para o Brasil.
Seria um trabalho tremendo, mas eu faria. Na verdade, vou deixar algumas
coisas prontas e em expectativa. Se precisar ir, eu vou sem nem pensar.
Analisei tudo que foi preciso e, por isso, passei o dia entre reuniões e
videoconferências. Graças a Deus tudo estava em perfeita ordem. Até parece que
meu estado de humor se espalhou, ninguém está cometendo erros. Todos os meus
milhares de funcionários estavam trabalhando com perfeição, eles não queriam
mexer com a fera.
Sim, ouvi uma conversa entre algumas funcionárias, elas disseram que eu
estava uma besta fera, só faltava um garfo e os chifres. E, nesse momento, cabeças
rolariam, então…
Era verdade. Enfim.
O dia para mim não passava rápido o suficiente, eu me enchia de trabalho, e
mesmo assim as horas se arrastavam.
Ainda eram dezessete horas, o que me deixava aflito e ansioso, porque
faltavam cinco horas para eu ver Victória. Esse era o combinado, Carlos afastava
a família, e eu iria vê-la. Dormir com ela… e tentar acordá-la.
Largo os papéis que estava lendo e dou um giro em minha cadeira, levanto-
me e caminho até a parede de vidro, meus olhos atraídos para a cidade abaixo de
mim.
Os pensamentos girando e girando em meu cérebro sobrecarregado. Milhares
de suposições, ideias e vontades surgindo e depois se perdendo. Eu estava um
caos.
Como acordá-la? O que faria Victória me ouvir onde quer que estivesse?
Fecho meus olhos e vasculho minha mente, não consigo encontrar nada, digo,
a única vez que Victória tomou uma atitude drástica foi quando Damon ia me bater
covardemente.
— Droga! — rosnei esfregando meu rosto. — O que fazer?
Ouço o toque do meu celular e corro para atender. Ultimamente, meu celular
tocava e eu sentia um calafrio. Isso era medo de más notícias. Quando meus
amigos, que estão afastados porque estão decepcionados comigo, me ligam com
notícias eu atendo morto de medo. Mesmo tendo visto Victória à noite, eu temo
quando não estou com ela.
— Rocco falando! — atendi ansioso, nem olhei a tela para ver quem era.
— Ora, ora, querido! — saudou uma voz que eu reconhecia muito bem
— Sua… Puta! — berrei alto.
— Roquito, meu amor, você é um menino mau, mas é tão perfeito para mim!
— riu me deixando insano de raiva. — Sabe, eu não esperava que tudo fosse
acontecer de forma tão perfeita, nossa, amor, você é cruel, e eu adoro isso.
Fiquei calado. Eu queria entender isso, porque alguma coisa estava errada,
essa puta foi descoberta, então? Droga! Não era Susan?
— Eu acompanhei tudo, sabe? Eu vi a vadia costureira lá, te esperando
feito uma idiota enquanto você estava bem perto, e só para que saiba, ela ia
embora e perderia seu show, então eu liguei e disse para ela ir te encontrar. —
Ouvi sua risada alta. — Nossa, meu bem, você foi esplêndido, nunca pensei que
você mesmo iria fazer meu trabalho, depois aquele carro foi mandado por Deus.
Nossa, eu nem estava lá na hora para ver, estava mais ocupada tirando fotos
suas — suspirou. — Gostou da matéria? Foi eu que mandei em primeira mão
para as revistas mais badaladas de Londres.
Fiz silêncio, pela primeira vez, minha mente estava em branco.
— Devo supor que eu peguei a vadia errada? — perguntei tranquilamente.
— Sua ex é uma idiota, eu sou esperta e… — Ouvi o barulho de uma porta
abrindo e fechando. — Vim terminar o que o carro não fez, agora diga adeus à
sua vadia costureira.
Meu coração falhou uma batida.
— Você está blefando! — grunhi paralisado.
— Não, querido, e sabe como eu vou provar? — perguntou e eu permaneci
em silêncio. — A vadia está com um monitor fetal e… ora, mas como o coração
dessa coisa bate rápido! — resmungou e eu surtei.
Peguei o telefone do meu escritório e liguei para Jason, chamou, chamou e ele
não atendeu.
Desesperei-me.
Tentei uma segunda vez e ele atendeu.
— O que você quer?
— A minha perseguidora está no quarto de Victória! — gritei e Jason fez
silêncio. No qual eu me vi quase tendo um AVC, puta merda, meu coração é feito
de aço, porque só sendo para suportar tanta coisa. — Você está louco, eu estou
com Victória!
Fechei os olhos, desabando em minha cadeira. Fiquei sem força.
Caralho! Respirei fundo. Puta que pariu, vou matar essa infeliz.
— Obrigado… obrigado, Jason! — ofeguei trêmulo, meu coração acelerado.
— O que houve? — perguntou e só agora notei que larguei meu celular no
susto.
Peguei o aparelho e olhei a tela, estava apagado. Fechei os olhos respirando
fundo. Eu estava fora de controle. Minhas mãos estavam tremendo demais.
— Não é Susan Jason, não é ela! — grunhi levando a mão ao meu peito.
Esfreguei. Meu mais novo vício e foda-se, estava doendo para caralho.
— Droga! — rosnou alto. — Dark vai ficar puto, ele detesta erros!
— Sim, e agora as coisas complicaram, porque… — Engoli sem seco, senti
um peso caindo em cima de mim. — Jason, Victória está com algum monitor fetal?
Aconteceu alguma coisa com meu filho?
— Não, ela está bem, não há monitor fetal, e o bebê está firme e forte. Essa
louca blefou! — rosnou e eu ouvi alguns barulhos, logo Jason desligou o telefone
sem dizer mais nada.
Fiquei mais alguns minutos sentado na minha cadeira trabalhando em minha
mente e corpo, eu precisava me controlar, reassumir o controle.
— O que eu seria se colocasse uma recompensa para quem pegar essa vadia?
— eu me perguntei baixinho, logo em seguida dei de ombros. — Dark tem os
melhores, ou melhor, os piores homens para fazer esse trabalho. — Esfreguei
minhas têmporas latejantes.
Respirei fundo uma última vez e liguei para Dark.
Chamou e já no segundo toque ele atendeu.
— Ice, como vai? — Estreitei meus olhos para o meu apelido no centro de
treinamento.
— Dark, eu vou ser direto! — grunhi sob meu fôlego. — Você pegou a garota
errada, a minha perseguidora não é Susan, eu acabei de receber uma ligação e a
infeliz debochou de todos nós.
— A sua ex está em uma clínica de tratamento Psiquiátrico, eu acho que
peguei pesado — bufou. — Eu só dei uns sustos nela. Mas, voltando ao assunto,
então a sua admiradora ainda está solta por aí?
— Sim! — rosnei batendo uma das mãos em minha mesa. — E ela ameaçou a
vida da minha mulher e do meu filho! — Tremi de ódio e mandei à merda meu bom
senso. — Coloque todos no esquema, chame Cyper, quero ele rastreando essa
vadia, vou te entregar meu celular, resolva essa merda!
— Ice, você sabe que Cyper só sai da toca quando a coisa é séria! Deixa o
cara, ele é um intocável.
— Meu nome é Rocco, e não Ice, e chame Cyper, estou pouco me fodendo
para as manias dele! — rosnei. — Ache essa puta e mande a conta para mim.
— Qualquer método?
— O que for preciso! Encontre-a e neutralize, faça o que achar melhor!
— Espere contato, vou colocar as equipes para rodar! Colocarei os
gêmeos, Red e Cyper juntos. A equipe cinco estrelas — grunhiu e desligamos
Encarei algum ponto qualquer em minha sala. Agora eu estava dando meu
melhor sorriso psicótico.
É hora de colocar as garras de fora, vamos ver até quando essa vadia
perseguidora vai me querer. De fato, depois que os Gêmeos a encontrarem e ela
tiver um momento com eles, acho que as coisas ficarã interessantes.
***
Mais uma vez meu dia fora do hospital foi péssimo, eu estava pronto para
enfrentar Victor ontem, mas Carlos me aconselhou a não ir por esse caminho. Eu
realmente estava tentando manter o controle, eu estava trabalhando duramente para
isso.
Confesso que os argumentos de Carlos eram válidos, mas o pior era o pavor
de saber que ele tinha razão. Eu já estou fodido, não quero piorar minha situação,
todavia, estou me preparando para o pior e, se isso chegar acontecer, eu terei sim
que declarar guerra, pois longe de Victória e do meu filho eu não fico.
Meu dia, como todos os outros desde que me despedi de Victória pela última
vez, quando ainda estávamos juntos, foi uma merda. Eu não dormia, não conseguia
comer direito, minha cabeça vivia doendo e, para foder ainda mais, eu tinha essa
espada pairando sobre mim.
Eu só tinha hoje a noite e amanhã para fazer minha garota voltar.
— Victória, onde quer que esteja, por favor, volta! — murmurei apertando
sua mão, sem querer, balancei a cabeça. — Eu só queria poder te ver bem,
recuperada, de volta em pé. Mesmo que você não me queira nem pintado de ouro,
eu só queria saber que você voltou e está bem. Por favor, amore mio, volta para
mim, volta para nosso filho. — Eu a chamava como todas as vezes chamei, era
estranho como mesmo sentindo que ela não iria me responder eu parava e
esperava.
Era um ciclo.
Eu conversava com Victória, fazia perguntas e esperava respostas, então elas
não vinham, mas aí eu continuava conversando. Depois eu estava implorando e
esperando. Em seguida voltava à conversa e às perguntas.
Eu mesmo respondia, era tudo unilateral, mas eu sabia que ela me ouvia, por
duas vezes, quando eu estava muito aflito e desesperado, quando minhas lágrimas
eram muitas para segurar, Victória compadecia-se da minha dor e chorava comigo.
Então eu entendi que minha dor a machucava e eu barrei meu desespero engolindo
meu pranto.
Eu não poderia deixá-la triste por mim.
Tudo era um fardo para eu carregar sozinho.
— Rocco, preciso que venha comigo! — Carlos entrou no quarto de Victória
já me chamando, eu estranhei a forma como soou sua voz.
— Ainda são quatro da manhã — murmurei. — Não vou sair daqui agora.
Ainda tenho tempo para acordá-la.
— Rocco, eu fiz tudo para roubar essas horas para você, eu menti para minha
família, disse que era melhor Victória dormir sozinha, que isso a ajudaria a se
recuperar com tranquilidade — falou ansioso. — Eu usei a confiança que minha
família tem em mim para poder te ajudar, por favor, me ajude agora.
Essas palavras me deixaram balançado.
— O que foi?
— Meu tio está vindo e ele vai trazer o último médico de avaliação, é uma
terceira opinião, porque eu disse que achava melhor Victória ficar aqui.
— Mas então há uma chance de ela ficar? — perguntei quase sorrindo, meu
estômago dando uma cambalhota estranha.
— Não é isso — grunhiu passando as mãos no cabelo nervosamente. —
Agora meu tio quer que Victória fique em casa e já solicitou todo aparato
necessário do hospital residência.
— O que você disse é o que estou pensando? — questionei apertando minhas
mãos em punhos.
— Victória está indo para a mansão da minha avó, ela irá ter os cuidados
médicos lá! — Carlos esfregou o rosto. — Victória vai embora hoje, mais
precisamente agora.
Não falei nada. Dois segundos depois a loucura me dominou. E com ela o
descontrole
— Se isso acontecer, tão cedo não poderei vê-la novamente! — vociferei
furioso, logo comecei a andar de um lado para o outro. — Isso é intolerável. Não
vou permitir.
— Por favor, não faça nenhuma bobagem, venha comigo, deixe meu tio e eu te
ajudo lá no Brasil, prometo.
— Não sairei daqui! — esfreguei os cabelos, agitado.
Logo ouvimos o som de vozes e a porta sendo aberta.
O primeiro a surgir foi Victor, ele me olhou e começou a ficar vermelho.
— O que você faz aqui? — perguntou invadindo o quarto bruscamente,
seguido por Jason, um médico e mais dois seguranças.
— Eu estou aqui por Victória! — exclamei mantendo uma postura ereta e
orgulhosa.
Não posso demonstrar fraqueza!
— Você está proibido, não deveria estar aqui, agora saia! — exigiu furioso.
— Não sairei!
Victor começou a respirar cada vez mais rápido, ele me encarava fixamente,
seus olhos em chamas. Pura raiva marcando suas feições.
— Eu vou levar minha filha embora agora! — esbravejou, caminhando até
ficarmos nariz com nariz. — Vou levá-la agora! E você não irá vê-la. Você não a
merece.
Fiquei em silêncio, mas então eu já estava na merda, e não mudaria muita
coisa se eu jogasse mais no ventilador.
— Você está fazendo com sua filha o mesmo que sua mãe fez com você! — o
enfrentei. — Você não sabe o que Victória quer, está se precipitando, e no fim vai
fazer comigo o mesmo que fizeram com você. Não ouse tentar tirar meu filho de
perto de mim! — rosnei —, porque eu não estou indo para ser pacífico, não vou
permitir que os tire de mim. Eu vou lutar com tudo que tenho — cuspi as palavras
furiosamente, meu maxilar travado, meu corpo tremendo de raiva e medo.
Ninguém dizia uma palavra.
Todos em silêncio, até que o médico se pronunciou.
— Sr. Andrade, olhei os exames e estou de acordo, Victória está em plenas
condições de viajar, vou autorizar a equipe. Estamos prontos.
Victor sorriu para mim e eu vi que era um sorriso de vitória.
— Eu quero a equipe aqui em dez minutos! — exclamou e apontou para mim.
— Você a perdeu! E a culpa é toda sua. — Olhando para os seguranças ele falou:
— Tirem ele daqui!
Louco… e destemido.
Eu estava assim. Não me importei com mais nada. Corri para a cama de
Victória e agarrei seu rosto.
— ACORDA, AMORE MIO! — implorei beijando seus lábios, eu nem
ligava para os comando de Victor, não sabia por que aqueles brutamontes ainda
não estavam em cima de mim. — Vamos, acorda! Volta para mim! Volta para mim!
— Esperei e nada. — VICTÓRIA! ACORDA! — Sacudi levemente seus ombros
— TIREM ELE DAQUI AGORA! — Victor gritou e bradei ainda mais alto,
implorando para Victória acordar, falando aos gritos em seu rosto.
— AMORE MIO, PER FAVORE. SOLO AMO A TI! ACORDA!
Fui arrancado bruscamente para longe dadela, mais dois seguranças estavam
ali, não os percebi entrando, mas eles estavam contendo Jason.
Jason me olhou e acenou levemente.
Se era para me ajudar ou atrapalhar eu não sei e nem me importava. Agora
mesmo eu só precisava escapar desse fodido agarre.
Porra!
Comecei a lutar, grunhidos rosnados e xingamentos foram o som
predominante no grande quarto.
Eu estava dando um trabalho infernal para os seguranças, e cada vez que eles
me afastavam de Victória, eu parecia ganhar mais força. Eu ficava mais e mais
insano e violento… a briga seria feia se conseguisse escapar.
— NÃO. VOU. SAIR! — berrei e não sei como consegui acertar uma
cabeçada em um dos que me seguravam. O homem gritou e eu rosnei.
Eu estava em ponto de ruptura, e me esticaram demais… foi inevitável.
Briguei com o outro que sobrou, derrubando-o facilmente. Virei-me ofegante
para a cama de Victória e comecei a caminhar para lá, Victor estava na minha
frente e eu via tudo vermelho.
Eu estava cego, consumido por tudo que aconteceu nesses malditos vinte e
sete dias de sofrimento.
Estava cada vez mais próximo da cama, quando fui atacado, cambaleei, mas
não caí, porém antes de poder revidar outros seguranças chegaram, eram muitos e
estavam me segurando com força.
Eles irão me tirar daqui e vão levar minha família… minha mulher, meu
filho… não… não… não…
Engoli meu pânico e tentei a todo custo lutar, mas agora estava difícil demais.
— ME SOLTA! — grunhi sacudindo os ombros, lutando, resistindo. —
VICTÓRIA, POR FAVOR.
Mais e mais distante eu ficava de sua cama, e mais desespero eu sentia.
Agora esse sentimento parecia ser expelido dos meus poros, não me importei com
nada. Eu estava louco.
— VICTÓRIA. VICTÓRIA.
Arrastaram-me até a porta.
— NÃOOO! NÃOOO. — Continuei lutando, mas foi em vão. Eu estava em
desvantagem.
Dio santo! Não.
Olhei para Jason e ele me encarava culpado, eu sabia que ele iria ficar do
lado de Victória… eu sabia.
— Cuida dela enquanto eu não puder — implorei encarando-o. — Por favor,
cuida dela para mim.
Olhei para a cama dela e Victor estava ao seu lado.
Minha vista embaçou. O desespero me engoliu.
Eu respirei.
Então explodi.
— VICTÓRIAAA!
Minha voz saiu carregada de dor, angústia, medo e receio.
Minhas lágrimas escorreram, meu coração parecia gaguejar suas batidas.
Meu mundo desabando só para ser reerguido, pois, desta vez, finalmente houve
uma reação.
O tempo parou. Eu arregalei meus olhos quando a emoção foi tomando de
conta… pura felicidade misturada à esperança foi despejadas em meu sangue.
Victória abriu a boca e.
— Rocco…
Ela… chamou por mim.
Capítulo 64
Victória
***
— É serio?
Eu ainda não acredito em tudo que eu acabei de ouvir. Depois de um dia
inteiro de muitos exames e visitas médicas, eu estava tendo um momento de paz.
Parecia surreal, eu fiquei quase um mês em um estranho estado de sono profundo,
estive às portas da morte, e não só isso, eu realmente morri por um minuto, juro
que nesse momento só pude pensar: Deus é tremendo.
— Minha filha, por favor, já chega de conversa, você tem que descansar! —
meu pai falou, apenas me encolhi.
— Obrigada, pai, mas eu acho que dormi demais e preciso acertar muitas
coisas.
Eu não me sentia muito bem, apesar de estar viva e respirando, digo, eu
deveria estar meio zumbi agora, pelo menos a parte que envolve minha mente está
legal. O problema é que eu ainda não fiz o teste drive com minhas pernas,
portanto, não sei se estou realmente tão bem quanto dizem os exames.
— Victória, você estava em um estado de pré-coma, foi assim que
classifiquei esse sono profundo — Carlos. que para minha total surpresa era meu
primo, falou casualmente. — Como já expliquei, você foi um caso raro.
Concordei levemente.
Eu queria que todos saíssem para que eu pudesse ficar sozinha, só isso, mas
sei que não é possível, o que se provou um fato verídico nas próximas horas. Eu
recebi minha família toda, e isso incluía Antonella e Elisabeth, a mãe de…
— Vic, por favor, não me afaste — Antonella chorou —, por favor, eu sei que
meu irmão foi um asno, mas não me tire de sua vida.
Senti-me pequena em relação à intensidade da minha angústia. No momento
em que pude tomar banho, pedi para que tia Laura me deixasse um momento
sozinha, eu estava em uma cadeira de rodas apropriada para banho, então não
precisava de preocupação quanto a isso.
Nesses instantes de solidão, eu pensei no que aconteceu comigo e com
Rocco. Foi terrivelmente doloroso reviver, mas foi preciso, para eu saber que
minha essência permanece intocável. Eu não mudei como pensei que mudaria.
O amor habita em mim, e o perdão também. Só que infelizmente eu não estou
conseguindo apagar a imagem dele com as mulheres, e isso me faz tão mal, porque
é uma agonia física, eu sinto como se coisas andassem em minha pele, e eu não
suporto a ideia de ele me tocando.
Por Deus, eu não queria sentir isso, e enquanto estava fraca, eu pedia a Deus
para esquecer e perdoar. Sei que não existe mais futuro para nós dois, mas eu
queria tanto poder perdoar para poder seguir em frente e ser feliz com meu filho.
— Antonella, você é muito querida para mim, e isso não vai mudar. — Forcei
um sorriso. Estava difícil, eu não sentia muita vontade.
— Ohhh. — Levou as duas mãos à boca e eu estiquei os braços, acolhendo-a,
como fui acolhida.
— Não mude, nem vou — sussurrei fechando os olhos.
Eu ainda o amo. mas isso não me faz bem. Na verdade pouco fez!
— Obrigada… — Ouvi a voz da mãe de Antonella e estiquei um braço, ela
veio até a beirada da minha cama e entrou no abraço. Não chorei, mas embalei as
duas.
Eu me sentia seca!
— Eu sei que ele errou, mas ele está sofrendo tanto, tanto.
Mordi meu lábio.
Não tinha o que fazer, muito menos dizer.
Os momentos das visitas serviram para comprovar que eu teria que ser forte.
Eu tenho que atravessar esse momento sem arrastar minha família junto. Preciso
resistir, não demonstrar, não sentir, ou todos irão sofrer comigo.
— Ele não vai sofrer para sempre — sussurrei sem acreditar. — Rocco é
forte e vai se sair bem.
Elisabeth me olhou fixamente, logo ela balançou a cabeça e afastou-se para
um cantinho do quarto.
Aproveitei que todos estavam juntos, mudei de assunto.
— Como está o casamento de Mariah? — perguntei e Antonella fez careta.
— Está tudo parado, não deu para continuar, não sem você. — Ela mexeu na
blusa. — Não conseguimos, e nem a Mariah quis.
Nesse momento eu vi minha oportunidade me empenhar em algo que não seja
apenas viver um dia de cada vez. Eu iria me jogar de cabeça nos preparativos e
não pensar em mais nada.
— Tia Laura, por favor, recomece amanhã mesmo a confecção das roupas.
Antonella, volte a organizar tudo, e, vovó… — Olhei para ela e vi que estava
fazendo uma careta, provavelmente sabia o que eu iria pedir. — … termine o
vestido de Mariah.
— Eu não posso, minha filha, sou renomada e…
— Por favor — interrompi seu protesto —, faça isso por mim, eu peço do
fundo do meu coração, quero que seja perfeito, a senhora sabe que temos o mesmo
padrão e simetria, será como se eu tivesse feito.
Minha avó entortou a boca como se tivesse nojo, mas concordou. E ela era
tão perfeccionista quanto eu.
Mesmo com raiva e sem querer fazer, o vestido ficaria perfeito. E isso era o
importante.
Meus visitantes não queriam sair, mas eu precisava que todos fossem. A
necessidade de ficar sozinha estava me consumindo, eu sei, devo parecer egoísta,
mas não consigo evitar.
— Eu gostaria de ficar sozinha, por favor — falei baixo, mas fui ouvida.
Os protestos começaram. Eu me recolhi. Dissociei.
— Eu ficarei calado, mas não quero sair! — meu pai falou e eu o encarei.
Talvez através daquele olhar ele compreendesse. Mas não foi assim, e por
isso resolvi que aquele era um bom momento para conversar. E eu deveria
começar por aquela que eu conhecia tão bem.
— Tia Laura — murmurei chamando sua atenção, quando ela me olhou
respirei fundo. — Quero pedir para a senhora não fazer nada contra Rocco.
Observei-a Laura atentamente e ela ficou logo vermelha, em seguida deu de
ombros, não se importando realmente.
— Nós tínhamos um acordo, e ele esqueceu. — Sorriu misteriosamente. —
Então eu o lembrei. — A forma como minha tia falou demonstrava que ela
aprontou alguma coisa.
Eu não estava entendendo o que ouvi, até hoje, e não sei o conteúdo daquela
primeira conversa, muito menos que acordo eles fecharam, juro que fiquei
preocupada, primeiro porque a condição da minha tia exige cuidado, segundo, ela
era meio feroz, então, realmente, algo doloroso deve ter acontecido. De fato, era
estranho para mim, meus sentimentos estavam uma bagunça, mas o pior era a
dormência que prevalecia.
Eu não queria que ninguém fizesse alguma coisa com Rocco, eu queria o bem
dele, que ele fosse feliz, que seguisse em frente, principalmente, gostaria que ele
soubesse conviver com as consequências de suas escolhas e atitudes, todavia, eu
simplesmente não o queria perto de mim.
Apesar de ter se passado quase um mês que tudo aconteceu, para mim é como
se tivesse sido ontem.
O sangue ainda está fresco e essa ferida parece que vai demorar a sarar.
— Tia, o que a senhora fez? — questionei duvidosa
— Digamos que ele tem sorte por já estar com um filho a caminho.
Arregalei os olhos e meu pai tossiu uma risada, já Jason, fez uma careta e
agora sim eu fiquei apreensiva.
— Ele conseguiu escapar por muito tempo, mas hoje eu o peguei de jeito. —
Deu de ombros. — Eu sempre cumpro com minha palavra, mesmo que me cause
arrependimento depois.
— Victória, minha querida, eu vou indo — a mãe de Rocco se despediu e
logo saiu apressada, levando Antonella junto.
Um pesado silêncio constrangedor instalou-se no ambiente. Era tão óbvia a
animosidade em relação a Rocco, que para Elisabeth deveria ser péssimo estar no
meio de nós. Contudo eu precisava colocar as coisas nos devidos lugares, na
minha família sempre haverá respeito, pois, snão, as coisas desandam e acabam
virando bagunça.
Rocco é da família, afinal, ele é o pai do meu filho. Suspirei, pois sabia que
seria teria um árduo caminho a percorrer.
Eu sei que meu surto quando acordei foi horrível, mas o dia já ia longe, e eu
tive tempo de pensar e decidir.
— Não quero e nem vou permitir que destratem Rocco! Ele é o pai do meu
filho, e por isso merece respeito, essa criança merece o melhor de mim e terá!
Meu pai grunhiu algo, mas senti orgulho emanando dele, minha avó fez uma
cara de raiva e ficou muito chateada, Jason sorriu levemente enquanto concordava
e tia Laura apenas falou:
— Essa é minha garota.
— Você está aqui por culpa dele, aceitar esse homem é ultrajante! — minha
avó grunhiu asperamente.
Sinto muito, mas é assim que vai ser.
— Rocco é o pai do meu filho e por isso ele estará para sempre em minha
vida, não quero má convivência — falei acariciando minha barriga. — Não sei
como as coisas irão seguir, mas ele irá fazer parte da vida do bebê, claro, assim
que ele nascer. Não quero que o tratem mal.
— Acho um absurdo! — vociferou. — Vamos levar essa questão para os
tribunais, vamos proibi-lo de ver a criança, vamos…
— A senhora está se ouvindo? — interrompi, elevando a voz também. —
Acha mesmo que vou privá-lo de ver o filho? Acha que vou privar meu próprio
filho de ter o pai por perto? Acha que vou negar a Rocco a chance de ver nosso
filho crescer? De lhe dar conselhos ou apenas, sei lá, saber que pode contar com
aquele ombro amigo?
Todos estavam calados, mas tia Laura sorria largamente.
— Sinto muito, vó, mas não sou egoísta ao ponto de pensar apenas nos meus
desejos!
Apertei meus lábios quando minha avó ficou pálida. Mas sinceramente eu
estava meio descontrolada.
— Eu e Rocco não demos certo. — Engoli em seco. — Tudo bem! Mas isso
não quer dizer que irei afastá-lo do meu bebê quando ele nascer. Rocco fará sim
parte de tudo, ressaltando que será apenas depois do nascimento.
— Eu acho isso muito justo! — meu pai se pronunciou e eu agradeci o apoio.
— Eu estava muito magoado e iria sim te levar para o Brasil, a verdade é que
estava querendo descontar meu sofrimento e o fiz em Rocco. Eu sei como é ser
afastado de um filho. Eu te apoio em sua decisão. Ele e meu neto merecem essa
chance que você está dando.
Sim, ambos mereciam. A verdade é que eu sei que Rocco será um pai
maravilhoso, tenho certeza absoluta disso, ele será incrível com o filho, e como já
deixei claro, não vou privá-los de conviverem, doa a quem doer, e isso me inclui.
— Eu deixei subtendido para Rocco que iríamos aos tribunais. — Fechei os
olhos e baixei a cabeça. Relembrar a cena era fácil, pois ela estava ali, pronta
para invadir meus pensamentos. Era incrível como tudo estava nítido em minha
memória, cada detalhe, cada olhar, cada toque das mulheres nele, ou o inverso. Os
beijos que trocaram.
Tudo perfeitamente registrado, tatuado em minha memória e em meu coração.
Tremi levemente, senti a queimadura das lágrimas, mas elas não se formavam.
É possível um coração destroçado despedaçar-se de novo? E de novo?
Parece que sim, sinto isso agora.
— Não vou brigar com Rocco nem com ninguém — murmurei virando o rosto
para o lado oposto a todos eles. — Eu só quero paz e cuidar da minha gravidez, só
isso.
Mais uma vez o fez-se silêncio no quarto. E eu queria todos fora dali, eu
quero a solidão de volta. A paz enganosa, porém satisfatória.
E quero mesmo é fugir.
— Vão embora.
— Minha filha, eu não acho que seria uma boa ideia, na verdade eu…
— Por favor, pai — implorei sem olhá-los —, eu quero ficar sozinha.
Os sentimentos misturavam-se dentro de mim, era tudo tão intenso, tão forte,
que chegava e me causar falta de ar.
Em silêncio, todos se retiraram, porém, antes de sair completamente, Jason
me encarou.
— Sei como é sentir que nada tem sentido, sei como é sofrer com o
sufocamento causado por aquilo que não pode ser desfeito, sei como é ver aonde a
vida te levou. — Respirou fundo e continuou: — Eu garanto para você que passa,
por maior que seja seu sofrimento, garanto que a cura um dia chega…
Então ele se foi, fechando a porta silenciosamente.
Soltei um soluço seco, que mais parecia um espasmo, meus ombros tremiam,
mas não havia lágrimas. Apenas o choro silencioso em minha alma.
“Eu não quero odiar, mas eu o odeio, terei que fingir que tudo está bem,
mas não está! Como vou suportar? Não me parece fácil!”, pensei, permitindo
meu corpo ceder. “Como vou superar e esquecer essa mágoa profunda, que foi
causada pelo homem que amei com tudo de mim?”
— Preciso de uma saída! — sussurrei levando minhas duas mãos ao meu
ventre.
“Senhor querido, me mostre o caminho!”
Capítulo 65
Victória
2 dias depois
***
***
Houve outra confusão assim que apareci, mais repórteres, mais perguntas,
mais humilhação. Desta vez não me encolhi, ergui a cabeça e segui meu caminho,
não estava disposta a deixar-me abater.
Fomos jantar em um restaurante fino, e quando fui ao banheiro ouvi uma
conversa que me fez chorar muito em meu reservado.
— Você viu?
— Ela está aqui! Meu Deus, tadinha, dá pena, viu?!
— Sinceramente, era de se esperar, Rocco Masari sempre foi um destruidor
de corações, o problema dessas garotas novinhas é que elas não enxergam o que
está na cara. Meu Deus, que idiota, aquele homem é uma força da natureza, não
tem quem segure.
— Eu acho Victória linda, mas ela é muito simples, não tem glamour. Deve
ser sem sal e morta na cama, certamente Rocco precisou recorrer a outras para
satisfazê-lo.
— Pois é, concordo, mas que dá pena, dá, eu, no lugar dela, não sairia
mais de casa. Todos irão apontá-la na rua como a pobre coitada que foi traída e
deixada grávida, um escândalo desses ninguém esquece.
— Por que você acha que ela sumiu? Querida, não tem quem aguente,
todos olham para ela com pena, aff. Deus me livre! Além de tudo ainda está
aleijada.
— Deve ser horrendo andar com aquelas coisas.
Perdi a fome, ganhei um enjoo enorme e acabei vomitando. Assim que pude,
saí do banheiro e a primeira coisa que fiz foi pedir para ir embora. Em casa me
tranquei no meu quarto. E fiquei por lá.
Ia recebendo as atualizações sobre o casamento de Mariah por telefone, as
notícias eram ótimas e tal, mas me faltava ânimo, o pior era que eu me sentia como
se estivesse traindo a confiança dela. Por isso, alguns dias depois, eu resolvi
voltar à ativa.
Acordei cedo, tomei banho e depois tomei café da manhã, saí de casa direto
para o galpão e, quando cheguei lá, foi a maior festa. Entreguei-me totalmente a
esse casamento, me esqueci das minhas aflições e vivi em piloto automático, me
alimentando da alegria de Mariah e da sua família.
Não pensem vocês que Rocco sumiu, não mesmo, ele está por perto, e foi lá
em casa depois que mandei Jason entregar o DVD para ele. Não o recebi, mas
ouvi felicidade em sua voz enquanto ele falava através da porta do meu quarto.
Chorei muito nesse dia, mas para minha família eu estava me saindo bem.
Eles ainda não tinham me visto desabar, e nem iriam.
Os dias passaram e finalmente chegara o grande dia de Mariah.
Eu estava satisfeita com o resultado do trabalho, porém sabia que meus
sentimentos estavam congelados.
— Filha, você vai ficar linda… e veja essa barriguinha! — Tia Laura
apontou para minha barriga de três meses e meio.
— A senhora está linda demais também.
Eu agradecia todos os dias a Deus pela saúde da minha tia, a gravidez dela
estava indo muito bem.
Fomos para o casamento que seria ao ar livre.
O vestido de noiva estava esplêndido, minha avó realmente era incrível. Na
verdade, tudo estava perfeito, e a família de Mariah era uma coisa linda de se ver.
A cerimônia foi linda, mas lá estávamos eu e minha pedra de gelo.
O casamento estava lindo, perfeito e digno sim de um conto de fadas.
Quase sorri, lá no fundo eu poderia sentir a felicidade, porém era um
sentimento que estava enferrujando, e para lembrar-me dele, eu precisava estar
sempre em contato com Deus e com meu pequeno Milagre.
Eu sei que não estou sozinha, mesmo em minha solidão Deus me acalentou,
me fazendo lembrar Seu amor por mim e que temos que passar por nossas
provações dando Glória a Ele.
Olhei ao redor e soltei um longo suspiro, a cada dia que passava estava
difícil de esconder da minha família o quanto eu estava frágil emocionalmente, me
fazer de forte estava sendo muito duro.
— Eu gostaria de fazer um agradecimento à pessoa que tornou esse sonho
possível. — Todos aplaudiram e Mariah pegou um microfone. — Minha vida toda
eu batalhei para ter as coisas, éramos apenas eu e minha mãe, e juntas lutamos dia
após dia. Eu lembro que uma vez perguntei à ela se os anjos existiam, e minha mãe
me disse que sim, que eles viviam ao nosso redor e que nos protegiam, nos
guardavam. — Meus olhos alagaram de lágrimas e um sorriso singelo se desenhou
em meus lábios. — Eu encontrei meu anjo, e ela era tão linda e especial quanto eu
imaginei minha vida toda. Sinto dentro do meu coração que todo o amor que ela
dedica às pessoas será recompensado. Eu agradeço a você, Victória, por me ouvir,
por me ajudar e, principalmente, por proporcionar que este sonho fosse ainda mais
perfeito do que eu poderia imaginar.
As pessoas começaram a aplaudir e Mariah veio até onde eu estava, levantei
e ela me puxou para um abraço apertado.
— Deus mandou te dizer que o choro pode durar uma noite, mas a alegria
vem pela manhã. Mantenha sua fé, você não está e nunca estará sozinha. — Mariah
me afastou um pouco e sorriu. — Você é amada, nunca duvide disso.
— Eu não duvido. — Sorri, um sorriso largo e verdadeiro, daqueles que
aliviam a alma. — Obrigada pelo abraço, eu estava precisando.
— Sempre estarei aqui para você, quando precisar, é só chamar. Eu ouvirei.
Eu sabia que sim, e essa frase que Mariah me disse antes de ir, era o que eu
precisava ouvir.
Quando eu chamei por Deus, Ele me ouviu, quando eu entreguei minha vida
nas mãos dele, Ele me salvou, sempre me deu inúmeras provas de amor, salvando
meu filho, salvando meu espírito. Dando-me outra chance.
E mesmo estando com essas lembranças que me matam, eu sei que tudo é para
meu amadurecimento e fortalecimento. Minha fé permanece intacta, não existe e
se…
É sim, Deus é meu refúgio e minha fortaleza, nele entregarei meus
sofrimentos e minha dor, acreditando e esperando pacientemente que eu seja salva,
por seu amor por mim e por minha fé nele.
Baixei a cabeça fechando os olhos.
***
Rocco
Horas antes
Eu estava lutando para não acabar com aquelas três filhas da puta agora
mesmo. O ódio queimava em meu sangue.
Eu ouvi o que elas estavam dizendo, eu ouvi.
Infernos.
Eu não conseguia parar minha ira. A forma como encontrei Victória. Minhas
narinas inflaram, um fogo aterrado queimando meu sistema. Despertando o homem
perverso que há em mim.
— Rocco, solta ela! — Escutei a voz de tia Laura. — Solta, meu filho, não
vale a pena.
— Elas… — rosnei. — Victória. — Travei meu maxilar olhando para as três
vadias juntas espremidas em um canto. Elas estavam com medo de mim.
— Pode deixar que isso não vai ficar barato! — Mariah falou entrando no
banheiro. — Você vai ver uma coisa só! — Ela pegou a ruiva pelo cabelo e
arrastou, a vadia gritava e Mariah estava vestida de noiva e incontrolável.
Assisti três mulheres que fizeram mal a Victória levar uma surra da família da
noiva. Foi algo muito agressivo, e eu não fiz nada, apenas olhei como elas
apanhavam.
Agora eu estava, além de tudo, fora de controle.
Ver Victória encolhida no chão foi demais para mim. Eu me mantive como
uma sombra vigilante, respeitando seu espaço, sofrendo por não participar da
consulta, decepcionado por não estar lá quando souberam que meu filho era
realmente um garoto.
Victória estava reclusa, mas eu estava sendo aceito pela família, eles estão
muito próximos de me perdoar. Eles me deixavam entrar na casa e falar com
Victória através da porta ou da janela, e isso não era exclusividade minha, ela
estava distante de todos.
Eu estava começando a acreditar, até minhas mensagens mia bella respondia,
no começo curtas e simples, depois foi aumentando, e até mesmo pude sentir um
pouco de carinho.
E posso estar enganado, foda-se, eu sou um homem completamente
apaixonado. Então qualquer gesto por parte dela, por menor que seja, para mim, é
muita coisa. Eu estava sendo sutil, controlando minha dor, respeitando os desejos
de Victória, digo, não completamente, pois nunca me mantive distante.
Eu era seu vigia, mas hoje eu cheguei tarde demais, não pude evitar que mais
uma vez minha pequena fosse ferida.
— Dio santo! — Esfreguei meu rosto, Victória parecia destruída.
Nem na nossa conversa no hospital, onde ela quase me matou, foi dessa
forma.
Saí do casamento apressado, precisava vê-la, falar com ela, e desta vez eu
não iria esperar, tinha que tocá-la. Eu precisava.
Aumentei a velocidade da minha moto e corri até sua casa, lá não havia
ninguém, então corri para a cobertura, também vazia. Fiquei feito um louco,
andando sem rumo e em alta velocidade. Depois eu pensei que ela pudesse ter ido
ao médico, afinal, ela…
— Dio mio! — Acelerei minha moto rumo
à clínica onde Victória fazia o acompanhamento do nosso filho. Já que eu não fui
junto, depois, quando Victória saiu, começou a minha consulta.
E infernizei a médica em busca de informações. E ela me deu, muito relutante.
Eu nem precisava ter feito isso, Victória em sua bondade, mandou me
entregar o DVD da ultrassom.
Porra!
Ela não estava na clínica.
Saí de lá desnorteado, pirado mesmo, e voltei para a casa dela
Cheguei lá e esperei. Esperei… esperei…
Até que finalmente eu vejo carro de Victor chegando. Levanto-me e esfrego
minhas mãos nas pernas da calça.
Sinto-me terrivelmente decepcionado quando tia Laura sai do veículo.
— Onde está Victória? — perguntei e ela me olhou, logo começou a chorar.
— Minha menina não suportou toda essa merda em cima dela! — grunhiu
limpando as lágrimas que escorriam. — Ela foi embora… ela está a caminho do
Brasil.
Primeiro eu achei que não tinha ouvido direito. Depois, eu surtei.
Grunhi maldições até minha décima geração, fui até minha moto estacionada e
em um momento de pura raiva coloquei meu pé nela e empurrei.
— Porra! — berrei descontrolado. — Foda-se!
Eu também estava me segurando, sempre buscando controle, mas agora…
agora…
Saquei meu celular e liguei para meu piloto.
— Senhor?
— Prepare o meu avião, estamos indo para o Brasil.
Prévia do último livro da trilogia
Um Conto Quase de Fadas
Victória
Bem-vinda ao Brasil!
Há quantos dias ouvi essa frase? Um? Dois? Ou seria uma semana? Quem se
importa? O tempo parece congelado, eu estou sendo levada, me deixando levar.
Não me importo, não durmo, ou, se durmo, tenho pesadelos, agora não consigo
esconder como me sinto. Perdi as forças, não quero lutar…
Às vezes eu penso no porquê disso tudo, no porquê de eu me sentir assim,
mas principalmente no porquê de eu não conseguir me levantar. Se fecho os olhos
vejo a humilhação, se os abro, penso nela, se dormir eu tenho pesadelos que
acrescentam as cenas descritas pelas mulheres que me confrontaram no casamento
de Mariah. É ainda pior.
Pensei que iria superar, mas não consigo. Parece que eu não tenho tanta fé
assim…
Larguei uma muleta e coloquei a mão na minha janela, se bem que nem era
preciso abri-la para enxergar lá fora, as paredes eram de vidro. Eu estava a muitos
metros de altura, era quase como se eu fosse intocável e estivesse separada do
mundo. Aqui estou isolada desde o dia em que cheguei. Não assisto à TV, não
acesso à internet, não vejo revistas, não saio do quarto. Meu mundo se fechou em
dor e solidão. Agora não me importo com o sofrimento alheio. Estou tão
profundamente enterrada em autopiedade que só penso em mim.
— Não me importo. — Observei o mundo lá fora.
Acho que deveria sentir um pouco de alegria por estar aqui, eu sempre sonhei
em conhecer o Brasil, mas não acho esse sentimento dentro de mim. Minha
gravidez é o único ponto de conexão com a realidade, ainda assim, a alegria que
sinto com meu bebê, para mim, ainda parece pouco. É como se eu não fosse
merecedora desse milagre.
— Victória. — Ouço a voz do meu pai e sua batida suave na porta.
Não respondi.
— Filha, sua médica chegou, hoje é dia de cuidar do Gianne.
Fechei os olhos e uma lágrima escorreu. Devagar comecei a caminhar, não
fazia mais fisioterapia, não me importava em ficar livre das muletas, eu só cuidava
do meu bebê, o resto não interessava.
Meu pai sorriu, mas eu passei por ele sem dizer nada, em seguida passei por
Jason, não o olhei, eu tinha vergonha de mim, de como estava e de não conseguir
sair dessa situação. Ele não sai da minha cabeça. Meus olhos estavam
embaçados, meu corpo cansado, enjoado. Andava meio perdida quando uma mão
suave me tocou o ombro, senti-me encolher, mas então fui puxada para um abraço
que não retribuí.
— Minha filha, eu sei que dói agora, e provavelmente amanhã também vai
doer, mas, por favor, reaja.
O abraço apertou, mas não havia calor. Só frio.
— Olha para mim. — Senti o toque no meu rosto e logo tia Laura entrou em
foco. — Erga a cabeça, siga em frente, está me matando te ver assim.
— Não importa onde eu esteja… — Minha voz soou arranhada, ela foi pouco
usada ultimamente. — Ele não sai da minha cabeça.
Os olhos de tia Laura encheram de lágrimas, e ela me abraçou de novo.
Não retribuí. Sem calor. Estava frio demais.
— Filha, você está gelada, minha menina.
— Eu o sinto à minha volta — falei distante. — Não consigo esconder. Meu
coração sofre.
— Senta ela aqui, por favor… — Ouvi uma voz estranha e fui guiada,
cambaleei, e alguém me amparou.
Antes que pudesse reagir, estava sendo carregada até um sofá.
— O que você está sentindo? — Não respondi, era como se não fosse comigo
que falava. — Victória, olha para mim.
Ergui minha cabeça e vi uma médica diferente da outra, ou era a mesma? Não
importa realmente.
— O que você está sentindo? — torna a perguntar, eu só a encarei durante
muito tempo.
A mulher me devolveu o olhar de maneira firme e decidida.
— Não sinto nada. — Fechei os olhos. — Durante um tempo eu estava bem,
agora não.
— Você deve sentir alguma coisa — insistiu.
— Nada… — respondi apática.
— Se esforce, procure algum sentimento, o que esteja mais aflorado.
Olhei para a mulher de forma mais atenta. Ela tinha um caderninho apoiado
nas mãos, estávamos sozinhas. Não percebi as pessoas saindo. Gostaria de poder
sair sem ser notada também.
— Vamos lá, abra seu coração comigo, se continuar assim vai acabar
prejudicando seu bebê.
Procurei algo ao qual agarrar, mas não encontrei nada, é como se um buraco
negro houvesse me sugado, estou presa em um caos confuso onde o nada parece
ser tudo.
— Quem é você? — perguntei desviando o foco de mim.
A mulher largou o caderninho e veio sentar do meu lado, sem minha
permissão, ela pegou minhas mãos.
— Meu nome é Rosana Silva, sou psiquiatra e amiga do seu pai. Estou aqui
para te ajudar, eu desejo que me permita isso.
Inclinei minha cabeça um pouco de lado. Meu pai?
— Você gosta dele?
Ela arregalou os olhos, mas logo pigarreou, parecendo assumir o controle de
seu pequeno susto.
— Estou aqui por você, vamos lá, faça um esforço — insistiu —, tudo que
você sente é transmitido para o bebê.
Encolhi-me, sim, eu realmente estava sendo uma péssima mãe.
— Faça um esforço. — Apertou minhas mãos e eu as retirei.
Esfreguei meu rosto.
— Cansaço. — Olhei ao redor, querendo fugir. — Dormir não me faz bem.
— Por quê?
— Pesadelos.
— Com o que? — perguntou interessada.
— Não vou dizer.
Ficamos em silêncio. E eu estava bem assim.
— Você é uma pessoa religiosa?
— Já respondi isso antes. Em algum lugar.
— Mas não falou para mim, então vamos lá.
— Acredito em Deus acima de todas as coisas. Ele está me sustentando,
mesmo que agora eu não esteja com o juízo no lugar.
— Como assim?
— Não estou conseguindo superar — desabafei. — A corda envolta em meu
pescoço aperta mais e mais. — Olhei para ela atenta. — Me sinto sufocar, você
consegue entender?
— Você nunca passou por algo assim — falou suave, escolhendo com
cuidado as palavras usadas. — E sua decepção foi grande, você não está
conseguindo reagir, porque não sabe como lidar, mas agora estou aqui para te
ajudar a sair dessa e recomeçar.
Impossível!
— Você pode me fazer esquecê-lo? Pode tirá-lo da minha cabeça e dos meus
pensamentos constantes? — Respirei fundo. — Você pode trocar meu coração?
Preciso de outro que seja tão bom quanto o antigo que eu tinha. Não gosto dessa
Victória, gosto da antiga, mas não consigo encontrá-la em parte alguma…
— Vamos com calma, tudo bem? — Doutora Rosana tentou sorrir. — Vamos
subir um degrau de cada vez, vamos com paciência. Apenas confie em mim, eu vou
estar aqui para você.
Concordei porque era o que deveria fazer. Talvez eu precisasse mesmo de
ajuda, e de tanto que pedi a Deus em meus piores momentos de angústia
silenciosa, Ele me atendeu, enviando alguém.
— Doutora…
— Me chame apenas de Rosana. — Sorriu e eu concordei, não retribuindo
seu gesto.
— Eu gostaria de dormir, pode me ajudar com isso? — Ela me olhou um
momento, mas logo negou.
— Por enquanto faremos assim, quando estiver próximo das nove da noite
você vai diminuindo o ritmo, leia alguma coisa, prepare-se para dormir e, se
mesmo assim não conseguir, me ligue que venho correndo.
— Tudo bem. — Conversamos mais um pouco, eu queria mesmo era voltar
para o meu quarto.
Quando aquela visita inesperada acabou, logo outra chegou, e esta era outra
médica. A nova obstetra. Pedi que fôssemos para o meu quarto, e lá fizemos nossa
consulta clínica. Eu estava abaixo do peso e com treze semanas mais ou menos,
logo ela pegou uma caixinha e me pediu para deitar em minha cama.
— Esse é o aparelho sonar — falou sorrindo de leve, depois ela colocou um
gel e ficou mexendo com o aparelho em minha barriga.
Quando o som do coração do meu filho se fez ouvir, senti que um pouco do
gelo que me envolvia rachava. Minhas emoções eram como um elástico de
pressão. Em momentos como esse eu me sentia melhor, mas depois toda melhora
começava a retroceder, encolhendo-se até não sobrar nada.
— Estamos no início de março, pelos meus cálculos, o bebê vai nascer em
meados de agosto, vamos cuidar para que você chegue com tranquilidade até as
quarenta semanas, seu bebê vai nascer saudável, tenho certeza. — Acenei,
esperava que assim fosse, jamais me perdoaria por prejudicar meu filho, mesmo
sem querer. — Você precisa tomar vitaminas para se fortalecer, pois está pálida,
abaixo do peso, temo complicações. O que me deixa tranquila é que sua pressão
está ótima, então vamos lá, mocinha, vamos engordar e ajudar esse bebê a ficar
forte.
Assenti quase ansiosa.
— Vou passar exames de acompanhamento, quero ver como anda sua anemia,
devido ao seu acidente, você perdeu muito sangue, preciso ver como está.
Desviei o olhar, e meu pai a chamou.
Fiquei olhando a parede cor-de-rosa do meu quarto, até que Jason entrou em
meu campo de visão, sua expressão parecia cansada. Em seus olhos existia muita
angústia.
— Brother… — Estiquei um braço, aproveitei e deitei de lado, para poder
alcançá-lo, lentamente comecei a fazer carinho em seu rosto. — Eu adoro você. —
Ele fechou os olhos.
— Victória, me sinto péssimo — proferiu baixinho. — Não suporto te ver
assim. Acaba comigo, sabe? Quero você de volta, como antes.
— Eu também quero. — Olhei em seu rosto. — Mas está complicado. Não
vejo saída agora, me sinto afogando.
— Você é a única pessoa que eu tenho, digo, você e o bebê. — Apreensão
marcava cada palavra dita. — Todo dia te vejo mais e mais distante, antes você
pareceu melhorar um pouco. Depois daquele episódio no casamento você ficou
pior. Nem música escuta mais.
Em silêncio, continuei acariciando seu rosto, não havia o que dizer. Eu nem
saberia por onde começar.
— Eu te amo, Victória, como se você fosse meu próprio sangue, sinto em meu
coração essa conexão. — Uma lágrima rolou em seu rosto e eu a colhi com meu
polegar. — O que você me ofereceu é o que cheguei mais perto de ter na minha
vida. Por favor, não me tire isso.
Neste instante eu chorei. A dor de Jason deu passagem à minha, e quando vi,
já era tarde.
— Você é meu irmão e nunca vai deixar de ser. — Tentei sorrir, não
funcionou e ele percebeu. — Tudo passa, e isso que me oprime também irá passar.
Um dia, quem sabe?
Ficamos em silêncio durante bastante tempo, nossos olhares fixos, era quase
como se conversássemos, nos compreendíamos mutuamente. Desenvolvemos esse
laço fraternal e, para mim, ele era inquebrável.
Notas
[←1]
Linda flor, cuidado por onde anda! Você se machucou?
[←2]
Senhorita, eu que peço perdão!
[←3]
Minha pequena.
[←4]
É tão bela, tão magnífica.
[←5]
Delícia.
[←6]
O único.
[←7]
Acidentes acontecem.
[←8]
Eu sinto falta daqueles olhos azuis.
[←9]
Eu sinto falta dos seus olhos azuis…/ E do jeito que me beijava a noite/ Eu sinto saudade da
maneira que dormíamos…
[←10]
Era será amada… ela será amada…
Table of Contents
Notas