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Um conto quase de fadas

E viveram…
Livro 2 – Trilogia Um Conto Quase de Fadas
Widjane Albuquerque
Copyright © Widjane Albuquerque
1ª edição 2017
Todos os direitos reservados
Revisão Evelyn Santana
Capa Dri K. K.
Dados Internacionais De Catalogação Da Publicação
Albuquerque, Widjane;
Trilogia um Conto Quase de Fadas – E viveram…
1. Literatura Brasileira. 2. Romance I. Título
Aviso

A trilogia Um Conto Quase de Fadas contém drama, cenas de sexo,


linguagem imprópria e traz um lado mais obscuro do que um conto de fadas
convencional.
Apesar de sermos apresentados a Victória, uma mocinha típica dos contos,
Rocco Massari é um amante quebrado e com problemas de confiança, que precisa
exercer controle sobre tudo e todos.
Prepara-se para surpreender-se.
Sinopse
Uma vez eu disse para um querido amigo que o tamanho de sua vitória seria
reflexo do tamanho da sua fé.
O que eu não sabia era que a minha fé seria testada duramente, vez pós outra.
Eu vivi muitas coisas em pouco tempo, poderia dizer que foi uma montanha
russa emocional, mas nunca deixei de acreditar. Deus sempre esteve ao meu lado,
mesmo quando eu trabalhava para uma mulher abusiva. Quando eu vivi meu
primeiro e único amor, Ele esteve comigo; quando chorei de saudade, Ele esteve
comigo. Quando me decepcionei, Ele estava lá.
Então eu tive meu coração arrancado do meu peito, eu o vi sendo retirado,
esmagado, depois resposto no lugar, e, quando finalmente ele parou, Deus me deu
a prova de Seu amor por mim.
Mas isso ainda não era o fim.
Não posso descrever a dor em minha carne, ele chegou e quebrou-me.
Quebrou meu corpo, minha mente, minha consciência e sanidade… Mas meu
espírito se manteve envolto em um escudo duro e impenetrável, eu sabia que
mesmo em meio à tempestade mais selvagem, Deus estaria comigo. Guiando-me na
escuridão.
Fraquejei por um pequeno momento, não conseguia medir o tamanho da minha
angústia, era algo além desta vida. Era algo descomunal, eu estava morta.
Mas eu vivia…
Eu sofri, chorei, desmoronei, mas, no fim, sobrevivi e vivi plenamente…
Sempre acreditei que Deus tinha um plano para mim, que o fato de tudo ter
acontecido da forma que foi era necessário, eu não entendia, mas sabia que aquele
não era meu fim.
Eu sempre acreditei… acreditei e continuo acreditando.
Mesmo sem luz, sem esperança, sem nada, continuei lutando.
Eu acreditei em salvação.
E você… Acredita?
Prólogo

Inverno, 2004
Londres – Inglaterra

Aos vinte e quatro anos, eu, Rocco Masari, decidi que já estava mais do que
na hora de me casar. Susan, a minha linda noiva, iria se formar este ano, assim,
finalmente poderíamos começar nossa vida independente. Eu não queria ajuda do
meu pai, a única coisa que aceitei dele foi um apartamento e, lógico, levei Susan
para morar comigo.
Minha mãe protestava, mas era melhor assim. Eu queria conforto para minha
futura esposa. Mesmo que isso me fizesse brigar com todos eles! Apesar dos
pesares, e mesmo com a desaprovação da minha família, Susan estava radiante
com o apartamento e com as coisas que eu lhe proporcionava, entretanto ela
parecia um pouco distante.
Eu achava que era pelo fato de eu ter que trabalhar, estudar e passar minhas
férias longe dela. Para minha ira, eu ficava incomunicável. Isso por causa do
acampamento para treinamento de segurança. Na cabeça do meu pai, eu poderia, a
qualquer momento, ser sequestrado, torturado e morto. Até cogitei a possibilidade
de encerrar meu treinamento, mas logo em seguida desisti.
Eu estava gostando, ficando cada vez melhor e o treinamento mais intenso.
Além do mais, descobri que eu poderia aprender outras coisas, então insisti muito
e meu instrutor me colocou para treinar em outro lugar. Lá era infinitamente pior.
Descobri-me fissurado em luta corpo a corpo, tanto que incentivei meus amigos a
fazerem luta também. E mais uma vez, depois de uma temporada de férias e
treinamento duro, eu estava voltando para casa, esta foi uma das mais difíceis,
foram mais três meses de treino pesado, aquela temporada foi foda e eu conheci
novos membros da equipe: Red, os gêmeos Drake e Dom e, por fim, Cyper.
Este último era um louco, não suportava ser tocado, na verdade, ele não
gostava de gente. Nós o apelidamos de Intocável.
Sorri de lado.
Eu não tinha apelido nenhum e preferia assim.
Cheguei ao meu prédio, mas antes de entrar, eu tive que me acalmar. Devo
confessar que fazer esse treinamento me deixou um tanto mais selvagem, mais
bruto e tal. Eu estava ansioso por uma foda dura com minha mulher, mas ela era
tão delicada, que eu temia machucá-la, para minha infelicidade, ela não gostava de
sexo forte.
— Foda-se — rosnei, sentindo meus músculos tensos. — Acalme-se… —
comandei meu corpo a relaxar. Estava complicado, mas eu iria conseguir. Com
carinho, mostraria a Susan que eu era o mesmo Rocco.
O que fodia com força e a amava lento.
Um tanto calmo, subi para meu apartamento, e lá encontrei Susan dormindo.
Ela estava linda, delicada, aquilo me animou ainda mais, deixando-me duro e
pronto quase instantaneamente.
Cheguei junto, acordando-a apenas para ganhar um sorriso que me deixava
com o coração acelerado. Porém, quando abriu os olhos seu sorriso sumiu, todavia
ela logo colocou um outro no rosto.
Senti-me decepcionado por ela parecer triste.
— Não está feliz em me ver? — sussurrei, fungando em seu pescoço. Minha
mão subindo por sua coxa, buscando-a lentamente.
— Eu… claro… — Notei sua voz estranha, mas logo também foi disfarçada.
— Eu pensei que estava sonhando…
— Não é sonho — ronronei, rasgando sua camisola —, eu estou aqui e… —
Peguei sua mão, levando-a até o meio das minhas pernas. — … sou muito real.
Eu tomei o corpo de Susan lenta e suavemente, apesar de querer muito de
outra forma.

***

Fazia três dias que eu tinha voltado do acampamento, estava almoçando com
meus amigos quando recebi uma mensagem.
“Amor, venha aqui em casa… preciso de você.”
Respirei fundo, colocando o celular de lado.
Eu estava sem vontade, Susan estava estranha e nada do que eu fizesse
mudava esse fato. O foda era que agora a nossa empresa estava subindo muito
rápido, e meu pai, o Sr. Bertolho, exigia muito de mim. Então meu tempo estava
escasso, isso incomodava Susan, e ontem, brigamos feio.
Ela queria se casar logo, mas eu estava segurando a onda. Não tinha mais
tanta certeza se me casar era a coisa certa. Digo, claro que eu quero Susan, mas
apesar de estarmos juntos há dois anos e de eu amá-la, nós não convivíamos muito.
Quero dizer, na época que nós iniciamos nosso relacionamento eu estudava
muito, e nem sempre poderíamos nos ver, depois, quando eu a levei para morar
comigo, parece que ficou pior. Eu saio, ela está dormindo, eu volto, ela está
dormindo, eu a procuro, ela diz ter sono. Estava decidido a me casar, mas essa
idéia parece querer muito ser adiada.
Eu não tinha tempo para fazer coisas de casal, havia apenas uma meta que
era, estudar muito para conseguir ter as minhas coisas com méritos próprios, mas
então, quando eu pensei que existiria algum tempo, meu pai me colocou no
treinamento, e, agora, nas férias, eu estou nele.
— Acho que vou parar de treinar com o Dark… — falei baixo, remexendo
minha comida. Comentar com meus amigos poderia me ajudar.
— Por que isso? — Dimitri questionou. — Você gosta e aquilo te fez um bem
danado, até com mais carne em cima dos ossos você está!
Eu ri sem humor.
— Você deveria continuar… você gosta de lutar, alias seu pai não permitiria
que você desistisse do “acampamento”, esqueceu que são cinco anos de contrato?
— William falou, arqueando uma sobrancelha.
— Vocês têm razão… — concordei
— Outra coisa, a sua Suka deveria agradecer, ela não faz nada, só gasta o seu
dinheiro e você ainda a coloca em um pedestal…
— Susan é minha futura esposa… — grunhi, me levantando. — Antes que
esqueça, me diga logo o que significa Suka?! Não quero você chamando minha
mulher de nomes que não conheço.
— Vai na paz, meu amigo — Dimitri debochou — um dia eu te conto o que
é…
Peguei minha bolsa executiva e fui pra casa ver o que Susan queria. Até me
repreendi por estar sendo um idiota e não entendê-la. Que mulher gosta de ser
deixada de lado? O fato é que eu morro por isso, eu sou muito apaixonado por ela
e gostaria de poder oferecer mais, entretanto, o rico aqui é meu pai, e eu sou, para
todos os efeitos, um empregado que trabalha feito burro de carga, porque minha
educação é assim: como vai saber instruir alguém a fazer algo, se não souber fazê-
lo ou, no mínimo, do que se trata?
Eu não era tratado com regalias, muito pelo contrário, se eu errasse, era feito
comigo o mesmo que com os outros. No fim, isso é bom.
Durante o trajeto para casa, decidi que já estava de bom tamanho esse
noivado, não havia ansiedade por minha parte, dava para esperar mais um tempo.
Entretanto, não queria magoar Susan, ela era a mulher da minha vida, então não
iria mais esperar coisa nenhuma.
— Hoje irei surpreendê-la. — Sorri acelerando meu carro velho, iria para
casa ver o que ela queria, depois voltaria correndo para a empresa e à noite eu
faltaria à aula de mestrado para poder levar Susan a um lugar especial e pedi-la
em casamento, ali mesmo marcaríamos a data.
Se meu pai me desse uma folga, eu poderia ficar a tarde toda com Susan,
como falei, o velho me tratava como um funcionário qualquer, eu era um assistente
do setor administrativo e para subir teria que merecer. Antes que me esqueça: meu
salário é condizente com meu cargo. Eu ganho pouco, sim, mas consigo para Susan
tudo que ela quer, ou pelo menos tento fazer isso, na grande maioria das vezes.
— Hoje eu vou dizer que te amo, Susan, desculpe, mas estava entalado. —
Suspirei, ansioso para mostrar que nos casaríamos em breve, por isso entrei no
elevador e contei os segundos para que chegasse logo ao meu andar.
Quando cheguei em frente ao meu apartamento, notei que a porta estava
entreaberta.
Estranhei e, por isso, retirei minha bolsa sem fazer barulho, caminhei com
cuidado até a sala, temeroso de algo ter acontecido a Susan. Quando ouvi o
primeiro gemido alto, eu entrei em estado de alerta, preparado para brigar feio. Ou
melhor, brigar não, aniquilar mesmo.
Não contei outra, corri para o meu quarto, mas nem cheguei perto o suficiente
estanquei.
O que vi fez o homem romântico em mim morrer instantaneamente e, no lugar
dele, surgir uma besta bruta e fora de controle, viciosa em sua maldade e cinismo.
— Me fala, gostosa, como você gosta que eu te coma…
— Ahhhh, Damon… eu gosto bruto… selvagem… ohhh… uhmmm…
Tremi de ódio, o sangue bombeando mais rápido, parecia que a realidade
estava desbotada e eu só conseguia ver aqueles dois transando como dois animais
na minha fodida cama.
— Filha da puta — rosnei bem baixinho, meus dentes trincados de puro ódio.
— Oh, Damon! — Ouvi seu lamento e quase tive vontade de entrar no quarto
e matar a ambos, ver o que minha noiva, supostamente fiel e doce, estava fazendo
matou de vez o idiota, romântico e apaixonado que existia em mim.
O estranho de tudo é o fato de que, apesar de estar sendo traído dessa
maneira, meu coração não estava quebrado. Na verdade, eu estou puto pela
situação, surpreendentemente, eu não sinto desespero por perder Susan, na
verdade, sinto um misto de ódio e desprezo e, lá no fundo, um estranho alívio.
Todavia, algo se quebrou, sim, mas foi mais em relação à forma como eu via
as mulheres.
— Fala para mim — Damon rosnou, e Susan gemeu alto, cavalgando ainda
mais freneticamente no colo dele. — Quem é seu homem? Quem te come com
força e você gosta?
— Oh, Damon, é você… — ofegou a maldita puta. — Só você!
O bastardo ria enquanto dava tapas que marcavam sua pele branca, tapas que
eu nunca dei por achá-la muito delicada. Muito suave para um tratamento mais
rude.
Foda-se!
Outra coisa que me deixou puto, foi que eu sempre me continha com Susan, eu
necessitava transar com mais força, mais brutalidade, mas não, para ela eu tinha
que ser um fodido de um principezinho suave.
Caralho!
— Rocco é o quê, Susan? — Damon debochou, e acho que o infeliz sabia que
eu estava ouvindo.
— Rocco é um fraco… — suspirou em meio a um gemido prazeroso — que
acredita que… Ohh, Damon!
— Responda! — ele rosnou, estapeando sua bunda de novo, eu travei o
maxilar ainda mais apertado. Ondas de ira correndo pelo meu corpo.
Dentro de mim, nuvens de tempestade estavam se formando, tudo escurecia,
minha resolução em nunca mais cair nas garras de uma puta fingida tomando forma
e fixando-se como algo imutável e permanente.
— Rocco é um idiota, Damon! — berrou, quando o bastardo impulsionou
para cima com força, algo que nunca fiz e que nunca faria com ela. — Ele pensa
que eu o amo, mas eu apenas o suporto…
— Isso, boa menina. — Damon a estava bajulando para que ela falasse tudo.
— Continue, vá falando enquanto eu te fodo, gosto da sensação de comer você na
cama daquele otário. — Susan soltou uma risadinha. Ela estava delirante naquele
momento.
— Oh, Damon… ahhh, siiim… assim — gemeu rebolando.
Ver aquela desgraçada fazendo aquilo era muito bom, porque só assim para
eu deixar de ser um trouxa, só assim para eu virar um homem esperto que não cai
no conto do rosto lindo e inocente.
Na verdade, não existe mulher inocente, e se houver, eu quero distância a
partir de hoje.
Vou comer só devassas, foder com força e gozar muito.
Chega de me conter, agora quem quiser ir para minha cama, já vai sabendo
que provavelmente não andará no dia seguinte!
— Fala, Susan! — Damon incentivou a vadia que só gemia e gemia feito uma
atriz pornô fingida.
— Rocco é um bobo apaixonado, eu o quero porque sei que ele será muito
rico — gritou, enquanto trocavam de posição, agora o escroto socava por trás. —
Rocco vai dar a vida de rainha que eu mereço, mas na cama, oh, na cama, você,
Damon, será o que me faz ser a puta que eu gosto…
Fechei os olhos durante um momento, tentando buscar forças para não matar
os dois.
Damon gargalhou, contente, e incentivou Susan a falar mais. Ele estava
usando bastante força em suas investidas e ela estava adorando.
Fiquei ali uns cinco minutos, ouvindo as maiores putarias sobre minha
personalidade, o quanto eu era idiota, chato, simples e controlado. Até aí eu
consegui segurar boa parte da vontade de matar ambos, mas quando ela falou, com
aparente nojo, que usaria meu sobrenome porque ele vinha carregado de cifrões,
eu soltei um pouco as rédeas que me mantinham ali apenas como um espectador
enojado, diante daquilo tudo.
— Sim, sua vadia gostosa! O nome Masari é uma merda… — Damon
rosnou, puxando os cabelos dela.
Eu enlouqueci, mandando o controle para a puta que o pariu.
Escancarei a porta do quarto com um estrondo, meu rosto deveria estar
retorcido em uma careta de ódio tenebrosa, porém eu não estava dando uma merda
para essa puta de olhos arregalados de pavor.
— Ninguém mexe com o poderoso Masari! — rosnei irado, e naquele
momento, o controle que eu achava tão necessário quebrou definitivamente, para
sempre.
Eu não tenho que controlar caralho nenhum, e, a partir de hoje, se bater, leva
muita porrada. Se me provocar leva porrada, se me olhar por mais de dois
segundos, ganhará um questionamento e uma conta no hospital.
Não pensei em mais nada.
Empurrei Susan da minha frente e ataquei Damon, segurei-o pelo pescoço e
lhe bati, acertando o primeiro murro bem no meio da sua cara de bastardo infeliz.
— Comi sua mulher por seis meses, seu otário — debochou, e eu esmurrei
sua boca até que ele perdeu alguns dentes.
Eu nem ouvia os gritos de Susan, uma nevoa vermelha cobria minha visão e
eu estava pouco me fodendo se iria matá-lo ou não.
Bati em Damon sem dó e nem piedade, eu sentia minhas mãos arrebentadas,
mas estava possesso, cada murro eu berrava para ele fazer bom proveito da puta
sem sal que ele escolheu, para ele colocar uma corrente no pescoço dela, porque
ela era uma cadela no cio.
Insanidade me dominava e eu não me importava.
Senti braços me puxando para trás e me virei na hora, esmurrando a cara de
quem tentou me pegar.
— Filho da puta! — Dimitri rosnou agressivo, mas não revidou. Ele
simplesmente olhou para cama e viu o banho de sangue que estava lá, mas, ainda
assim, Damon, o bastardo, sorria.
— Comi sua mulher por seis meses, da forma que você nunca comeu, porque
ela só dava desse jeito para mim!
Em passos silenciosos, o Conde caminhou em direção a cama.
— Por que você não o deixou inconsciente assim que deu o primeiro murro?
— William perguntou com voz uniforme, enquanto aproximava-se de Damon.
— Vocês chegaram, me tirando desse objetivo, eventualmente, iria apagá-lo.
— Dei de ombros. — Mas antes eu queria que ele sentisse muita dor…
De fato, no treinamento, eu aprendi a bater nos lugares exatos para prolongar
a dor, todavia de quebra mantendo a consciência para o sofrimento mais forte e
intenso.
— Não se perde tempo com escória, Rocco — William me olhou, sua postura
sempre inabalável. — Você simplesmente a chuta para fora do seu caminho e
pronto.
Olhei para a cama e, apesar de ter arrebentado a boca de Damon, quebrado
seu nariz e ter aberto várias feridas em seu rosto, e por isso transformando minha
cama em um banho de sangue, ele ainda assim estava consciente.
— Vocês são uns três idiotas que… — Damon ergueu-se falando, mas
William agiu rápido, fechando o punho em sua cabeça. O impacto da pancada foi
tão forte, que Damon desabou e ficou por lá, inconsciente.
Então William virou-se para Susan e caminhou até ela, pegando-a pelo
pescoço, erguendo-a do chão.
— Por favor… por favor… — choramingava, mas William não sorria, ele
mantinha sua expressão tranquila, dava até nervoso só de ver o quando ele era
frio, controlado. Malvado.
Assim como eu também seria.
— Ninguém mexe com a tríade — murmurou, batendo-a contra a parede. —
Ninguém.
Susan gritou e ele a largou.
— Vista-se — comandou indiferente. — Você irá sair daqui agora. —
William parecia muito calmo, de fato, ele parecia estar tratando de algo
corriqueiro e banal.
— Mas eu… — Susan tentou argumentar, mas William decretou duramente:
— Vista-se. Agora!
Não era muito perceptível, mas eu pude ouvir um grunhido ressoando do
peito do meu amigo.
Susan começou a se vestir, apressada.
— Minhas coisas? — Ela chorava muito, mas não me afetava, por mim, ela
poderia morrer. — Rocco, por favor, em nome de tudo que…
E então eu ri.
Gargalhei alto de deboche, porque eu estava livre de uma puta safada antes
que fosse muito tarde.
— Você vai embora com o que trouxe, ou seja, nada! — grunhi, sorrindo
perversamente. — E, ah, obrigado, confesso que eu estava perdendo o interesse,
não gosto de trepar com suavidade, eu gosto de foder duro! Outra coisa: um
homem como eu e do meu tamanho precisa de uma mulher mais resistente, você é
muito inferior…
— Você é fraca demais! — O Dinka riu com escárnio
Eu sabia que os dois eram meus amigos, mas não sabia que estávamos em um
nível tão profundo de irmandade.
William puxou Susan pelo braço, levando-a embora.
— Me solta, seu monstro! — ela berrava alto e, quando tentou dar-lhe um
tapa no rosto, o futuro conde de Ravembrock se transformou.
Ele a pegou pelos ombros e a sacudiu.
— Você tenta outra merda dessas e fica sem a mão! — murmurou, calmo,
fazendo-a perder a cor do rosto. — Agora bata!— comandou e esperou. Susan
soluçou, encolhendo-se.
— Muito bem, não sou alguém que você queira irritar!
Assim desapareceu, arrastando aquela que passaria a ser encarada como
vadia chefe.
— Agora me diga o que Suka significa?!
Dimitri me olhou e sorriu
— Vadia, puta, cadela. — Deu de ombros. — Você escolhe!
Naquela noite, nos divertimos muito, e para meu alívio, eu transei com duas
garotas, finalmente pude tomar as rédeas das minhas vontades.
Fodi com força e com perversão. Não precisei me conter e foi muito bom.
Eu gostei daquele novo Rocco, ele era o que deveria ser. O idiota simplório
não combinava mais com o homem que me tornei.
E assim foi, a cada ano, eu me tornava cada vez mais frio e distante. O
cinismo foi tornando-se algo muito natural em mim. Acho que foi melhor, pois
quando meu pai morreu, eu assumi tudo, me tornando o renomado chefe da família
Masari. Um dos homens mais implacáveis, frios e calculistas da Europa, ao longo
do tempo, meu nome passou a ser sinônimo de poder e influência, até de medo.
Eu nunca me apaixonaria, eu nunca me casaria, eu nunca permitira outra
mulher chegar tão perto.
E esse foi o início de tudo!
Capítulo 1
Victória

De olhos fechados, eu pensei no que poderia pedir.


Minha vida estava tão perfeita que eu não mudaria muita coisa, apenas
gostaria de estar livre da minha dívida e da Madame Blanchet de uma vez por
todas. Entretanto, eu sabia que isso era algo que estava muito próximo de ser
realidade.
Então, por isso mesmo, eu não queria gastar meu pedido nesse lugar tão
incrível com aquela mulher. Eu queria mesmo era poder compartilhar minha
alegria com as pessoas que eu amo. Não sei, talvez dividir um pouco…
Então, de repente, eu soube o que pediria.
Sorrindo, apertei minha mão contra meu peito.
“Senhor, encha as pessoas que eu amo e torcem pela minha felicidade de
bençãos e maravilhas. Permita que essas pessoas possam se sentir como eu me
sinto agora…” Fiz meu pedido e joguei a moeda que segurava.
Esperei ouvir o barulho dela batendo na água para abri os olhos.
— Meu Deus! — exclamei, chocada e maravilhada, tive que levar minhas
duas mãos à boca para tentar segurar meu queixo, que corria o risco de cair.
Todavia, eu não consegui segurar as lágrimas que turvaram minha visão e que logo
escorriam livremente pelo meu rosto.
Eu não podia acreditar na cena diante de mim!
Rocco, o homem que foi meu amor platônico, que eu admirei por muito tempo
e que sempre acreditei ser um sonho impossível, estava ajoelhado diante de mim,
segurando uma caixinha com um lindo anel, sem se importar que houvesse muitas
outras pessoas observando atentamente seu gesto.
“Ainn, meu Deus do Céu, se isso for um sonho, por favor, não me deixe
acordar…”, implorei silenciosamente
Mas não era um sonho, era tudo realidade. E sabe como eu acreditei?
Eu vi isso nos olhos do meu amado, aquelas duas piscinas cristalinas
brilhavam além do normal, ele estava claramente emocionado. Assim como eu.
— Amor da minha vida, você me daria a honra de se tornar minha esposa? A
mãe dos meus filhos, minha eterna companheira… Amante… Amiga e dona
exclusiva do meu coração? — Rocco falou alto e claro, com sua voz extremante
sexy e potente.
Ouvi muitos murmúrios ao redor e muitos ofegos de admiração.
Porém, eu estava muda. Não conseguia fazer meu cérebro funcionar direito.
Na verdade, eu nem acreditava. Eu pensei que sim, mas não!
Essa cena de filme não pode ser real, só pode ser um sonho. Um muito lindo e
maravilhoso.
Meus olhos derramavam sem parar minhas lágrimas de emoção. Eu queria
gritar um categórico SIM, mas minha língua estava morta em minha boca. Meu
corpo congelado, com certeza meus neurônios entraram em choque.
— Amore mio? — murmurou, fazendo-me encará-lo mais atentamente. Era
quase como se eu estivesse fora do meu corpo. — Eu preciso de uma resposta
antes de completar oitenta anos — falou, fazendo uma careta linda, ele parecia
desconfiado e receoso.
Eu forcei minha boca a se abrir para responder, e, quando fui falar, uma
senhora muito idosa, que estava na multidão que nos cercava, adiantou-se.
— Aceita logo, minha filha, um homem desses a gente não deixa escapar!
Agarra ele e corre…
Rocco soltou uma risadinha e várias pessoas o acompanharam, e isso pareceu
me ajudar a encontrar meu equilíbrio.
Pigarreei, testando minha voz, e meu lindo me olhou em plena expectativa.
— E-eu… — Engoli em seco, e Rocco franziu a testa, vi uma ruga se formar
entre seus olhos e temi que ele estivesse pensando besteira.
“Também, com essa demora toda, ele deve pensar que eu não quero…”
Respirei fundo mais uma vez e sorri.
— Sim — falei alto e claro. — Sim, sim, sim… mil vezes sim! — exclamei,
rindo e chorando.
Rocco me deu um sorriso enorme e incrivelmente perfeito. Meu coração
galopava quando ele se levantou e retirou o anel da caixinha. Pegando minha mão,
que tremia terrivelmente, ele colocou a linda pedra rosa em meu dedo.
— Para sempre minha! — sussurrou, beijando minha mão com o anel, e antes
que eu tivesse tempo de dizer alguma coisa, ele me puxou, abraçando meu corpo
pequeno com carinho e paixão.
Sua boca procurou a minha e, sem delongas, iniciamos um beijo cheio de
sentimentos. As pessoas à nossa volta começaram a gritar e aplaudir, fazendo, de
alguma forma, várias explosões de alegria compartilhada possíveis de serem
ouvidas.
Entretanto, eu não estava prestando atenção nas pessoas, eu só conseguia
focar no nosso beijo e na língua de Rocco invadindo minha boca para explorá-la e
no quanto era bom e cada vez mais viciante o sabor dele.
Eu provava o gosto picante e aditivo do meu homem em minha língua e me
sentia cada vez mais bêbada e necessitada, não importava se era apenas um beijo
ou vários, eu sempre me via desesperada por mais e mais…
Gemi, enfiando minha mão em seus cabelos, logo o ângulo de nossas cabeças
mudou e estávamos nos beijando lento e gostoso
Quando ele mordiscou meu lábio inferior, puxando de leve, tive a mesma
sensação em meu sexo. Eu me encontrava muito excitada.
Era incrível como Rocco me beijava com luxúria, cada vez que ele chupava
minha língua, eu sentia uma fisgada em meu interior. Ele sabia meus pontos fracos
e me controlava de forma quase inconsciente. A essas alturas, eu já estava
molhada e desejosa. Louca para tê-lo me chupando, lambendo, mordendo ou
qualquer outra coisa que a mente pervertida dele conseguir pensar.
— Eu vou te fazer a mulher mais feliz do mundo, pequena! — exclamou,
ofegante, assim que separou nossas bocas. — Eu vou te amar até meu último
fôlego…
— Eu também vou te amar, você foi o meu presente de Deus… — proferi,
encostando nossas testas, embriagada de paixão. — Eu te amo, Rocco Masari, só
você… para sempre.
Fechei meus olhos em busca de controle, o momento era alem de especial, e
eu estava uma bagunça. Era alegria, amor, ansiedade, incredulidade e paixão, tudo
duelando pelo controle.
“Obrigada, Deus! Muito obrigada…”, agradeci em silencio enquanto Rocco
acariciava meu rosto. Nossas testas permaneciam juntinhas e por isso estávamos
isolados, não consigo nem descrever o tamanho da emoção que eu vi em seus
olhos assim que abri os meus e o encarei, lá dentro daquelas profundezas azuis, eu
enxergava amor.
Um amor renovador, simples e abnegado. Daqueles que não precisam de
muita coisa, apenas de sua outra metade para se completar e criar algo puro e
transcendental.
— Amore mio, você que foi o meu presente, e eu juro que não pedirei mais
nada! Deus foi generoso em me dar você para amar, proteger e cuidar.
— Rocco…
— Shh, é verdade — murmurou bem baixinho, apenas eu e ele em nosso
mundinho particular. — Amor, eu sempre tive tudo que quis, nunca deixei de
conseguir ou realizar meus objetivos, entretanto, nem sabia que queria amor.
Victória, você foi o que eu não esperava, mas que necessitava no mais profundo do
meu ser. Eu não conhecia meus desejos sinceros, eu apenas tocava os superficiais,
todavia, agora, eu não me vejo sem você…
Não consegui segurar o soluço emocionado. Até pensei que conseguiria me
controlar, mas Rocco parecia determinado em me transformar em uma poça de
lágrimas.
— É verdade, pequena, eu já estava cansado desse meu mundo falso,
mentiroso e interesseiro, eu estava cansado… — suspirou baixinho, me fazendo
receber seu hálito quente e mentolado. — Você chegou como um dia ensolarado,
trazendo tanta coisa boa, que eu não consegui resisti, eu tive que tocar nesse
paraíso e pedir a Deus que fosse meu.
— Eu sou sua… — murmurei, mordendo o lábio.
— Sim, você é minha e será ainda mais quando eu te possuir por inteiro…
Meu corpo todo arrepiou por causa de suas palavras luxuriosas. Ele parecia
ter um interruptor, em um segundo estava falando suave, no outro ele falava de
forma a tocar fogo em meu corpo já sensibilizado.
Os olhos dele me falavam das suas intenções, e eu só queria que ele fizesse
isso.
— Me faça sua, então… — sussurrei, há muito tempo perdida — sem
barreiras.
— Vem… — chamou, e saímos dali sob suspiros, assovios e aplausos
alheios.
Eu e Rocco corríamos, nós precisávamos ficar a sós, nos curtir, nos amar.
Andamos apressados até o outro lado da praça. Eu estranhei, porque, se não
me engano, nosso carro estava do lado oposto.
— Estamos no caminho certo? — perguntei, sem perder o ritmo. — Não era
para estarmos do outro lado?
— Era, se nós fôssemos de carro! — respondeu todo misterioso, logo mais
adiante avistei um dos seguranças, que eu vi hoje mais cedo, ao lado de uma
enorme moto preta e reluzente.
Estanquei na hora, tanto que, pelo fato de Rocco segurar minha mão, eu fui
meio que rebocada para frente, no solavanco, por causa da parada abrupta.
— Amor, i-isso… na-não é para gente, né? — gaguejei, mordendo o lábio.
Percebendo meu desconforto, ele veio parar em minha frente, segurando meu
rosto com as duas mãos.
— Pequena, levaria uma eternidade voltar para o Hotel de carro, e eu preciso
de você com desespero! — exclamou, me dando um selinho demorado. — Confia
em mim, eu nunca vou permitir que você se machuque.
— Eu sei… eu sei, é só que eu nunca andei de moto e essa aí parece ser bem
veloz. — Respirei fundo, receosa. — E-ela parece um monstro — falei, apontando
com a cabeça.
— Um monstro que eu controlo com maestria — Sorriu e me puxou.
Quando chegamos ao lado da moto, o segurança nos entregou dois capacetes,
para Rocco, um todo preto com a viseira espelhada, para mim, um daqueles que
cobriam apenas a cabeça e deixava o rosto de fora, havia um cinto curto que o
prendia em meu queixo.
Rocco fez questão de ele mesmo ajustar meu capacete. Bom, não vou nem
dizer que grunhiu para o coitado do segurança que veio para perto de mim, me
ajudar.
“Eita homem possessivo, meu Deus!”
— Amor, eu estou de vestido. — Ainda fiz uma última tentativa para que
desistisse.
Entretanto, Rocco apenas sorriu e passou uma perna sobre a moto.
Não vou nem dizer o quão sexy, quente e gostoso ele ficou, sentado naquela
moto enorme.
Não era possível que tudo, tudo, nesse homem ficasse perfeito.
Rocco enche os olhos de quem o vê! Ele é muito intenso, lindo, quente, sexy,
possessivo, devasso quando quer… Ou seja, ele é o sonho de qualquer mulher,
desde as adolescentes de 15 até as mais velhas de 98, isso sem falar naquele
furinho no queixo… “Ahhhhh, meu Deus, quanto capricho e cuidado para fazer
esse homem. E sabe o melhor de tudo?”, perguntei em silencio. “Ele é meu,
apenas meu! E isso é ou não é muito incrível?”
— Vem, meu amor — ele me chamou, estendendo uma das mãos.
Saí do meu momento de admiração exagerada, mais conhecida como secada
descarada, e olhei para seu rosto sorridente.
Respirei fundo, colocando minha mão na dele. Rapidamente subi na moto e
ajeitei o meu vestido, prendendo-o entre minhas pernas, de modo que as laterais
ficassem bem seguras e apertadas. Minha bolsa ficou encaixada entre nossos
corpos. Enquanto eu me ajeitava ele ligou para alguém e teve uma rápida conversa
em italiano, que euzinha aqui não entendi nadinha.
— Cole em minhas costas e abrace minha cintura — comandou baixinho,
assim que desligou o telefone. — Cole em meu corpo, pequena — repetiu o
comando com aquela voz profunda e sexy. Respirei devagar para controlar os
arrepios que correram pelo meu corpo, eriçando meus pelos, fazendo meus seios
pesarem e meus mamilos ficarem duros. O latejar no meio das minhas pernas
aumentou muito.
Fiz como ele mandou e fiquei meio empinada, pois minha parte do assento
era mais alta.
Rocco acariciou minha coxa e depois minhas mãos. Instantes depois, o ronco
do motor se fez alto. Apertei meus braços ainda mais em sua cintura e ele riu. Pude
sentir as vibrações em sua barriga. De propósito, ele fez aquele monstro rugir mais
alto.
“Ai, meu Deus!” Tremi.“Não me deixe morrer virgem, por favor…”
Virando a cabeça de lado e ainda com a viseira levantada, ele me olhou, e eu
pude ver a promessa que ele me fazia. Eu sabia que desta vez ele não iria parar,
ele não iria esperar, finalmente ele me tomaria e me faria dele.
Sem reservas, sem condições…
Meu medo da moto empalideceu quando pensei no que me esperava. Mordi
meu lábio quando, ainda me olhando, ele fez o motor da moto rugir mais agressivo,
então piscou para mim, baixando a viseira de seu capacete e arrancou, com o
motor rugindo e meu grito se perdendo na noite.
Capítulo 2
Victória

Eu estava tão grudada em Rocco que parecia uma gêmea parasita. Estávamos
em alta velocidade e ele passava ziguezagueando entre os carros, recebendo
buzinadas e gritos em italiano. A cada instante o motor da moto rugia mais alto e
eu tremia um pouco, lógico que eu confiava em meu homem, mas, bom, era tudo
meio assustador e excitante.
Eu estava com um nó nervoso em meu estômago, que só piorava a cada
quilômetro que percorríamos. Eu não conseguia reconhecer os lugares, há muito já
nos afastamos dos pontos turísticos, agora seguíamos pela rodovia. Em um
determinado momento, entramos em uma estrada vazia. Não havia luzes vindas do
sentido contrário e, olhando para trás, também não havia.
Rocco diminuiu a velocidade e começou a seguir em linha reta, aos poucos eu
relaxei, pois a diminuição drástica de velocidade ajudou a amainar meu receio.
Quando senti uma de suas mãos em minha coxa, eu me senti segura, soltei
minhas mãos da cintura dele e comecei a abrir os braços bem devagar. E quando
me vi com os braços abertos, eu me senti plena em alegria.
Era como voar.
Eu ri, erguendo a cabeça para o céu, observando as estrelas que eram as
únicas testemunhas da minha felicidade, em seguida, fechei meus olhos e deixei
que a sensação de liberdade me dominasse.
O vento acariciava meus braços e rosto, e antes que pudesse me controlar, eu
gargalhava feliz.
Fiquei assim até perceber que a moto fazia uma curva e aumentava a
velocidade. Voltei a abraçar a cintura do homem que estava me ensinando a viver
e literalmente voamos para o hotel.
Chegamos ao La Riviera Roma saltando da moto assim que ela parou. Rocco
não se importou com nada, ele jogou a chave para alguém e corremos para dentro
do hotel. Meu homem estava muito apressado, e eu, nem se fala. Era engraçado de
se ver, ele na frente me puxando enquanto eu tentava acompanhar seus passos. A
todo instante ele olhava para mim e sorria.
Daquele jeito que todo mundo já sabe. O jeito que faz a calcinha molhar e
você ofegar, ou seja, o sorriso arranca calcinha marca registrada de Rocco
Gostoso Masari.
Eu estava radiante, pois no começo vivemos difíceis percalços, mas estes não
nos abalaram, pelo contrário eles apenas solidificaram nosso amor, e muito em
breve estaríamos fundidos.
Seriamos um só… Uma perfeita sintonia…
Quando chegamos ao elevador, entramos e Rocco tirou uma pequenina chave
do bolso, inserido-a no painel do elevador e, em seguida, apertando um botão. Eu
estava curiosa para perguntar, mas não tive tempo, assim que ele terminou essa
pequena tarefa, eu me vi sendo empurrada contra a parede de metal e sua boca
caindo sobre a minha, devorando-me sem pudor algum.
Nosso beijo continuava e continuava, até um momento em que eu senti que
fraquejava, e foi nesse instante que Rocco decidiu que nós precisávamos respirar.
Meu Deus, eu esqueci até como respirar! Contudo, só consegui formar esse
pensamento pois, mais uma vez Rocco me atacou, sendo que agora ele estava
mordendo minha orelha, arrepiando-me ainda mais… Enlouquecendo-me ainda
mais.
Em seguida, ele começou a brincar com meu pescoço e para isso, puxou meus
cabelos com um pouco mais de força e inclinou minha cabeça de lado.
Abri a boca, puxando o ar, e logo gemi quando ele lambeu meu pescoço,
desde o encontro com o ombro até a minha orelha, depois desceu novamente,
sendo que, desta vez, ele me mordeu forte.
Marcando minha pele, eu tinha certeza.
— Roccooo — gemi alto, sentindo minha calcinha ficar ainda mais acessa.
Essa mordida me fez lembrar como ele tem uma língua talentosa e pervertida, meu
sexo pulsava cada vez mais e já podia constatar uma leve dor em meu clitóris. Só
de pensar no que ele poderia fazer, eu sentia minhas pernas bambas.
Eu estava fora de controle, cheia de excitação e precisava de mais contato,
por isso agarrei sua bunda, puxando-o para mim.
Senti sua ereção em minha barriga e comecei a me esfregar desavergonhada.
Eu já havia passado do ponto de ter frescura, se brincar, Rocco me conhece
melhor que eu mesma e, verdade seja dita, eu estava mesmo era pronta para
implorar.
— O que faz comigo? — perguntei, me esfregando nele, que grunhiu,
aumentando o agarre em meu cabelo.
Doeu um pouco, mas me excitou ainda mais. Eu me sentia uma safada,
despudorada, e estava gostando, muito. Nesse momento, eu sofria com o desejo de
gozar, e ele nem sequer havia me tocado mais intimamente. Na verdade nem
precisava, bastava que me olhasse com aquela cara de safado e me desse o sorriso
devastador, que logo eu me transformava em uma massa pulsante e desesperada.
— Eu estou te preparando para mim, amore mio — sussurrou, soltando meu
cabelo, para poder usar as duas mãos em meu corpo.
Ele me apertava, me apalpava, me cheirava, sempre fazendo sons de prazer,
entretanto, meus lugares mais necessitados, ele não tocava, e isso só aumentava
minha expectativa e desejo.
E loucura também, porque já, já eu estava indo para atacá-lo.
Não quero nem saber!
Eu estava me sentindo presa em uma teia de sedução e poder, desejo e
luxúria. Meus sentidos estavam em pleno estado de alerta, até o hálito dele que
fazia cócegas em meu pescoço, aumentava o palpitar em meu sexo e o peso dos
meus seios.
Graças a Deus o elevador parou e as portas abriram. Estávamos na nossa
suíte, dei um passo, porém estava tão fraca de desejo, que minhas pernas não me
sustentaram, por isso Rocco me pegou em seus braços.
— Eu te carrego, amor — murmurou em meus lábios.
Vivia em um misto de medo, anseio, antecipação, expectativa, mas eu sabia,
não, eu tinha certeza de que seria perfeito, e sabe por quê?
Porque era com ele, Rocco, o homem da minha vida, e mesmo quando o
momento da dor fosse inevitável, eu sabia que seria justo nesse instante que eu
deveria explodir de felicidade, pois só então estaríamos fundidos em um só. Meu
corpo menor e suave, abrindo-se para acomodar o dele, que era muito maior e
poderoso, em meu interior.
Meu coração me dizia que seria sublime… E eu tinha essa certeza.
— Feche os olhos, meu amor — murmurou sorrindo, e eu obedeci, logo senti
dois beijos suaves em minhas pálpebras fechadas.
Ouvi o barulho da porta do nosso quarto abrindo, mantive meus olhos
fechados, apesar de querer abri-los. Eu me segurei.
Fui colocada de pé, primeiro Rocco me esperou testar a força das minhas
pernas e, quando constatou que estava tudo bem, afastou-se.
— Fique aqui, não abra os olhos ainda, por favor.
Mordi meu lábio, apertei minhas coxas juntas e torci minhas mãos. Um gesto
nervoso, mas as sensações eram muitas para eu ficar parada.
Sinceramente não sabia como Rocco, em um instante, estava todo safado, me
devorando, e, no outro, ele estava calmo como se nada tivesse acontecido. Em
contrapartida, eu tenho certeza de que estou descabelada, trêmula, ofegante…
Controle nunca me pareceu tão difícil.
Então, uma melodia de uma das minhas bandas favoritas começou a soar.
It must have been love, Roxette.
Não pude evitar o enorme sorriso em meus lábios. Meu coração galopava
freneticamente. Mais uma vez, fui invadida por arrepios prazerosos, meu estômago
estava ao mesmo tempo leve e pesado, meu corpo tenso e relaxado… Eram muitas
sensações contraditórias, mas que juntas poderiam causar um enorme estrago em
quem as experimenta.
Senti a presença de Rocco em minhas costas e suspirei. Logo suas mãos
estavam em meu cabelo, em uma suave carícia que me fez arquear, puxando a
respiração com força. Muito lentamente, suas mãos desceram pelo meu pescoço,
acariciando, me fazendo incliná-lo para o lado, dando-lhe o acesso que Rocco
queria.
— Sim… — Suspirei quando sua boca começou a percorrer meu pescoço,
muito devagar para minha paz de espírito, e estar de olhos fechados só
intensificava as sensações de suas mãos em minha pele. — Amor… — gemi,
trêmula — por favor…
— Abra os olhos — murmurou baixinho, e eu obedeci.
Quando eu vi tudo que ele havia preparado, meus olhos arderam.
Estou completamente fora da realidade!
Havia velas espalhadas pelo quarto, conferindo ao ambiente uma luz
especial, no chão e na cama havia muitas pétalas de rosas vermelhas e brancas.
Era tudo tão surreal e tão maravilhoso.
Não só isso, eu notei que as músicas foram cuidadosamente selecionadas
para esse momento. Pois agora estávamos ao som de Heaven, Bryan Adams.
Então eu soube o porquê do meu iPod ter sumido.
Rocco havia preparado a nossa primeira vez com cuidado e capricho.
— Está tudo perfeito! — exclamei emocionada. Lágrimas de pura felicidade
inundando meus olhos.
— Eu faço tudo por você, meu amor… — falou baixinho em meu ouvido.
Então, sem pressa alguma, suas mãos foram para as alças do meu vestido, fazendo-
o deslizar pelo meu corpo.
Depois suas mãos grandes e quentes seguraram meus seios doloridos,
massageando-os, beliscando meus mamilos com o polegar e o indicador, ele me
tocava tão devagar que me fazia revirar os olhos e curvar os dedos. Meu prazer,
que já estava alto, subiu a níveis estratosféricos, e eu nem queria, ou melhor,
queria saber, sim, o que aconteceria quando ele começasse a usar a língua.
— Por favor — gemi, eu me senti completamente dominada— Por favor… —
implorei de novo.
Rocco riu, deslizando as mãos pelo meu corpo, arrastando minha calcinha
bem devagar pelas minhas pernas. Ele deslizou a língua pela minha coluna, me
fazendo tremer, e quanto tocou meu sexo nu com os dedos, eu quase chorei.
— Molhada… — ronronou, acariciando minhas sensíveis. — Perfeita para
mim…
— Hummm — gemi, quando tiros de prazer dispararam pelo meu corpo,
joguei a cabeça para trás e rebolei, em busca de mais contato. — Eu preciso —
ofeguei quando ele circulou meu clitóris com mais força. O prazer corria por meu
corpo, criando um enorme nó em meu ventre, eu sabia que quando alcançasse
minha liberação seria algo grande, de abalar as estruturas… Nublar a mente…
— Isso, assim — gemi, esfregando minha bunda em sua ereção enorme e
dura, eu já estava tão perto… tão perto, que só mais um segundo e eu…
Quase gritei quando ele diminuiu os movimentos e passou a quase não me
tocar. Meu clitóris pulsou dolorosamente, meu ventre contraiu em protesto pelo
orgasmo perdido. Agora seus movimentos eram demasiado lento, eu estava
queimando — Rocco, por favor, não me torture tanto — ofeguei, apoiando-me
completamente nele.
Sentia-me zonza. Com falta de ar… sem gravidade…
— Eu ainda nem comecei, pequena… — falou, saindo das minhas costas e
parando em minha frente.
O safado sorria com pura malícia.
Mordi meu lábio e ele rosnou, logo quem o mordia era ele, e nós nos
beijávamos lento e gostoso, mas algo o continha… segurava-o, matando-me.
— Tire a roupa! — pedi, ofegante, assim que desgrudamos nossas bocas.
Apertei minhas coxas para tentar aliviar um pouco a dor.
Rocco começou a tirar as roupas bem devagar, a cada peça, eu queria voar
em cima dele e rasgar tudo. Mas eu me segurava, apenas ficava abrindo e fechando
as mãos, em ansiedade.
Prendi a respiração quando Rocco tirou a cueca e ficou gloriosamente nu
diante de mim.
— Veja o que faz comigo! — grunhiu, agarrando seu membro, acariciando em
gestos de vai e vem.
Olhei para ele, devorando-o com os olhos. Seu peitoral musculoso, seu
abdome sarado, seus braços fortes e coxas poderosas, uma festa para meus olhos.
Nunca me cansaria de olhar para ele. Nunca.
— Lindo… — murmurei hipnotizada, espalmando minhas mãos em seu peito
forte.
— Sou todo seu! — gemeu, quando corri minhas unhas pelo seu abdome
sarado, mas como ele fez comigo, eu não fui para seu parque de diversões, apenas
olhei como ele mesmo se dava prazer.
Era… muito… viril. Um espetáculo de pura masculinidade. Um verdadeiro
macho alfa!
Seu membro duro e orgulhoso pedia atenção, eu vi a pérola de umidade
vazando da ponta e lambi os lábios.
— Feiticeira! — rosnou desejoso, respirando fundo.
Então, antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele me agarrou em seus
braços e me levou para o banheiro, e lá estava igual ao quarto. Velas aqui e ali,
com muitas pétalas de rosas na banheira e espalhadas pelo chão.
Suspirei quando entramos na água, e lá ele recomeçou a tortura, fazendo meu
corpo agonizar.
Eu estava tão perto…
Suas mãos brincavam com meus seios, apertando-os, ora leve, ora com força,
depois brincavam com meu sexo enquanto eu rebolava e sentia falta de algo…
Desespero, dor, excitação me consumiam em gemidos implorativos, sua boca
mordia e lambia meu pescoço.
Vou morrer!
Meu ventre dava cambalhotas, depois eu sentia a sensação de peso, mas
sempre que eu ficava muito próxima do orgasmo, Rocco retrocedia em suas
carícias, me deixando quase desfalecida de tanta vontade de me aliviar.
Era tudo muito… muito intenso para controlar, eu já não queria, precisava
gozar ou morreria, certamente meu coração não aguentava mais tanta tortura.
— Ohhh… por favor — solucei, à beira das lágrimas. Mas ainda assim ele
não me deixava gozar, sua tortura continuou e continuou. Eu sentia sua respiração
ofegante em meu ouvido, ele parecia quase tão ruim quanto eu, mas, acho que eu
estou pior.
— Tão perfeita! — grunhiu, levando seus dedos até meu clitóris para
massageá-lo com vontade. — Minha…
— Sim, sua! — ofeguei, rebolando cada vez mais rápido, em busca de alívio.
E lá estava, finalmente, meu corpo tencionou, e eu sorri de olhos fechados. —
Amor… vou gozar… continua… continua… — gemi, sentindo que chegava ao
topo, já estava pronta para gritar minha liberação quando Rocco parou, a
maravilhosa sensação retrocedeu, meu fôlego entupiu em minha garganta e agora,
sim, eu chorava em pura descrença dolorosa.
— Amore mio, hoje você só vai gozar no meu pau! — exclamou puxando meu
cabelo com força, virando meu rosto para engolir meu soluço em um beijo
selvagem.
Gemi quando chupou minha língua e gritei de prazer quando seu dedo brincou
com meu sexo ultrassensível. Juro por Deus que eu estava tão próxima da minha
liberação, que só mais um pouco e nem ele conseguiria segurar.
— Gostosa! Minha mulher gostosa! — mordeu meu lábio e sugando-o com
força.
Nós nos beijamos durante muito tempo, e não foi algo suave, éramos como
dois animais devorando-se. Eu não aguentava mais, por isso desgrudei nossas
bocas e me virei, fui para cima dele, pronta para tudo.
Agarrei seu cabelo com força, fazendo-o rir em resposta, então ataquei sua
boca com desespero. Suas mãos vieram para minha bunda, me fazendo montá-lo.
Comecei a me esfregar, rebolando em seu colo, ele gemia em minha boca, e eu, na
dele.
— Foda-se, pequena quente! — murmurou, se levantando comigo em seus
braços.
Rocco me levou para o quarto sem interromper o beijo que dávamos.
Caímos na cama molhados, e quem se importa?
Logo eu me via ainda mais louca quando ele desceu sua boca e sugou meus
mamilos com força.
— Ahh, isso! — arqueei meu corpo em busca de mais contato. Seus beijos
foram descendo pela minha barriga, sua língua esperta circulou meu umbigo,
depois seus dentes morderam minha virilha. — Não pare… não pare…
E como resposta, ele abocanhou meu sexo!
— Ahhhhh, assim! — lamentei, agarrando seus cabelos com força, Rocco
murmurou palavras incompreensíveis e as vibrações fizeram meu sexo apertar,
mais um orgasmo vinha, eu só esperava que ele me permitisse senti-lo. — Me
tome… — ofeguei. — Estou pronta…
— Não está… — falou voltando a me lamber, usando os dedos para me abrir
ainda mais, deixando-me completamente exposta.
— Estou, sim! — Rebolei em sua cara. — Não vê como estou molhada?
De repente, ele pegou minhas pernas e colou em seus ombros, então me olhou
enquanto lambia os lábios.
— Eu não quero você molhada, amore mio. — Ele sorriu perversamente. —
Eu quero você pingando!
Então enterrou a cabeça no meio das minhas pernas de novo.
— Ahh… Isso, me chupe! — gemi alto.
Meu pedido foi atendido. Rocco pincelou meu sexo com a língua e depois me
chupou duramente, eu gritava, lamentava, implorava para gozar, mas ele não
deixava.
Senti um dedo sondar minha entrada e logo invadir meu interior, começando
um lento vai e vem, depois um segundo dedo se juntou ao primeiro. Com maestria,
Rocco sincronizou os movimentos dos dedos dentro de mim, com a boca em meu
clitóris.
— Ohhh, por favor… Não pare, por favor… — solucei, abrindo a boca em
busca de ar, fechei meus olhos, entregue.
Se ele parar novamente, eu juro que me atiro pela janela.
— Não vou parar… — rosnou me fazendo ver estrelas de puro prazer
avassalador.

***

Rocco

Eu estava louco, insano, embriagado de tanto prazer que corria o risco de


tomar Victória como um animal no cio.
Foi fodidamente duro, para mim, trazê-la tantas vezes à borda do orgasmo e
não permitir que ela gozasse. A verdade era que eu precisava que ela estivesse
louca para gozar, com o prazer construído e reconstruído várias vezes, assim,
talvez, a dor de sua primeira vez diminuísse um pouco.
Eu só poderia esperar, não queria vê-la sentido dor, isso acabava comigo!
Eu acariciava a barreira de sua virgindade com meus dedos, por isso eu era
bem cuidadoso. Não queria machucá-la de jeito nenhum, mesmo sabendo que isso
aconteceria.
— Tão apertada… Tão quente — lambia seu sexo com fome, enquanto
trabalhava meus dedos com cuidado.
Victória estava entregue ao prazer, murmurava palavras incoerentes,
balançava a cabeça de um lado para outro, buscando oxigênio com desespero. A
visão que eu tinha era do caralho, e mais, eu me sentia um bastado orgulhoso,
porque foi eu que a deixei assim.
— Por favor — implorou mais uma vez, e eu vi que já não dava para adiar,
ela sofria, e eu também.
Tive que apertar meu pau com força para aliviar a dor fazia que minhas bolas
se sentirem incendiando.
— Você está pronta para mim, amor? — perguntei, levantando a cabeça
enquanto continuava fodendo-a lentamente com meus dedos.
— Sim… estou mais que pronta! — sussurrou ofegante, arqueando-se para
aprofundar meu toque em seu interior.
— Ah, meu amor, meu pau é muito maior que meus dedos — murmurei,
prendendo seu clitóris entre os dentes. Meu ato fez Victória saltar levemente,
gemendo alto. Vi que minhas palavras e ações fizeram suas paredes internas
contraírem e ainda mais umidade escorreu pelos meus dedos. Eu sabia que agora,
sim, ela estava pronta, mas continuei um pouco mais o trabalho dos meus dedos em
seu interior e voltei a chupar seu clitóris, grande e inchado pelo meu excesso de
atenção.
Comecei a sentir seu corpo ficar tenso mais uma vez, só que agora eu sentiria
todo o seu orgasmo, pois estaria enterrado em seu interior.
— Rocco, estou tão perto… — resfolegou. — Só mais um pouco…
Pronto, chegou o momento perfeito. Retiro os dedos de seu interior,
lambendo-os, e me posiciono no meio de suas pernas
Capítulo 3
Victória

Chegou o grande momento…


Meu corpo está pronto para recebê-lo, não suporto mais esperar, eu já estou
sentindo dor de tanta excitação. Eu preciso tê-lo dentro de mim, eu preciso…
— Amor, me tome, não me deixe assim… — implorei, carente, sentindo
lágrimas deslizarem pelo meu rosto, tamanho meu desespero. Olho para seu grande
corpo, ajoelhado no meio das minhas pernas, nesse momento, Rocco se parece
com um poderoso guerreiro, vaidoso em sua virilidade esplêndida e orgulhosa.
Senti-me uma donzela do século XVIII, vulnerável ao seu senhor.
Suspirei, admirando todo aquele corpo másculo e brilhante de suor, seu rosto
contraído em uma careta dolorida. Abri minhas pernas ainda mais, olhando-o em
expectativa e admiração.
— Possua-me — sussurrei, rendida ao meu poderoso homem.
Rocco fecha os olhos e eu vejo seu corpo estremecer, então ele agarra sua
enorme ereção, esfrega um pouco em minhas dobras úmidas e leva-a até minha
entrada. Sinto a cabeça de seu membro me cutucando e suspiro de alívio.
Logo a cabeça larga de seu pau viola minha entrada e eu gemo, quase
gozando, só mais um pouco eu explodirei. Com lentidão, ele vai se introduzindo
em minha vagina até eu sentir desconforto, essa é a parte de que toda garota tinha
medo! Mas não vou voltar atrás. Eu arqueio meu corpo e ele desliza outra
polegada.
— Porra, está muito apertado — gemeu, notei seu maxilar travado.
— Apenas continue entrando devagar — incentivei, puxando uma respiração
difícil.
Cuidadosamente, Rocco desliza um pouco mais de seu membro para dentro
de mim, devagar, ele começa a se mover para eu me acostumar a seu tamanho.
Minha nossa senhora! Essa pequena invasão me fez tremer inteira.
— Ohhh. — Mordi meu lábio quando comecei a sentir espasmos de prazer.
“Por Deus, estou enlouquecendo e ele ainda nem ultrapassou a barreira da
minha virgindade! Preciso de mais, ainda não é suficiente.”
— Me toque… por favor, estou tão perto… — implorei, agarrando os
lençóis. Eu precisava de algo para me segurar.
Rocco não perde tempo e começa a brincar com meu clitóris.
Sim! Agora eu estou pronta para viajar!
— Ohhh, amor… — ofeguei, meu ventre contraído, meu corpo arrepiando-se,
espalhando calafrios pela minha coluna.
— Vem, goza para mim — urrou, aumentando a pressão em meu botão
pulsando. — Eu quero sentir…
A voz de comando do meu homem foi o meu ponto de ruptura.
— Oh, Deus… eu vou gozar agora! — grito, sentindo os primeiros tremores
tomarem conta de mim. Aproveitando meu abandono, ele dá um impulso poderoso
e se introduz por inteiro dentro do meu corpo. Sinto uma dor terrível e agora eu
grito de dor em meio ao orgasmo mais avassalador que eu tive.
Não sei em que me concentrar, se na dor abrasadora ou no prazer absoluto.
Quando minha boa aflição passa, eu abro meus olhos para me deparar com
um Rocco paralisado e de expressão preocupada.
— Eu te machuquei, amor — falou baixinho, fazendo uma careta. — Sinto
muito…
Seu maxilar estava travado, ele mantinha sua expressão preocupada, mas
também havia dor em seu rosto.
— Doeu muito, mas era inevitável. — Sorri de leve. — Toda garota sente dor
na sua primeira vez, e você não é nenhum anão, portanto, não se preocupe, pois eu
também senti prazer. Agora eu te agradeço por ter me trazido tantas vezes perto do
orgasmo e não me permitir a liberação. Eu… — Suspirei. — Nunca havia sentido
isso.
Ele permanecia sem se mover, mas estava enterrado em meu interior,
fazendo-me sentir preenchida.
— Me beije — sussurrei baixinho.
— Tudo que você quiser, meu amor.
Rocco deita em cima de mim, aliviando o pior de seu peso, ofereço meus
lábios e ele os toma com fome e desejo. Chupo sua língua e sinto-o se sacudir
dentro de mim.
— Uhmmm — gemi surpresa. — Mexa de novo… — pedi, sentindo-o vibrar,
gemi pela nova sensação
— Porra, amor, você é tão apertada, tão perfeita e quente, que me sinto em
um punho envolto em veludo… — grunhiu e começou a se mover.
— Apenas vá com calma, deixa eu me acostumar— gemi, mordendo o lábio.
No começo doeu e ardeu, porém Rocco se movimentou bem devagar. Ele teve
cuidado, foi paciente, mesmo eu vendo o grande esforço que ele fazia para se
controlar.
— Foda… — rosnou baixinho, enterrando o rosto em meu pescoço. Gemi
quando senti sua língua em minha orelha, a cada mordiscada que ele dava, meu
sexo apertava. — Isso, amor, me deixa sentir como é bom estar dentro de você…
— Por favor, mais rápido — pedi, assim que a dor diminuiu e um novo
anseio tomou seu lugar.
Seus movimentos se voltam cada vez mais frenéticos, a dor que sinto é
suportável, mas aos poucos ela está desvanecendo, dando lugar ao prazer.
Nós dois gemíamos cada vez mais alto. E vendo que eu não estava
reclamando de dor, Rocco se impulsionou mais duro, golpeando meu corpo com
força e rapidez. Ele se movia dentro de mim com precisão cruel, atingindo cada
ponto sensível, incessante, com uma força implacável. Ele me tinha à beira do
orgasmo quando falou:
— Me tome… te dou tudo de mim — grunhiu em meu ouvido, impulsionando
com força. — Me leve por inteiro! Cada. Polegada. Minha. É sua… só sua —
pontuou cada palavra com um golpe duro.
— Sim — gemi, encarando seus olhos que brilharam com luxúria selvagem.
— Dê-me tudo! Tudo…
Arranhei suas costas, fazendo-o rosnar.
“Minha nossa, ele é tão primitivo!”, pensei, arqueando meu corpo para
receber cada estocada. Nunca pensei que me sentiria tão bem, Rocco me preenche
completamente. Somos perfeitos juntos.
— Amor… não posso segurar mais — gemeu, bombeando mais rápido, se é
que isso era possível. — Vem comigo… Me deixa te sentir gozar enquanto te dou
tudo de mim — comanda, erguendo-se. — Dio Santo — rosnou alto. — O prazer
está demais para segurar…
— Oh, Deus… — ofeguei por conta de suas palavras. Era incrível como meu
corpo estava sempre pronto para atender às suas demandas. — Rocco, amor, eu
vou… — Não tive tempo de terminar a fala, meu corpo explodiu em um orgasmo
tão grande que vi pontos brilhantes através das minhas pálpebras fechadas.
Flutuei, entretanto, ao longe, ouvi um grunhido animalesco e senti espasmos em
meu interior. Abri meus olhos e vi Rocco gemendo em seu prazer.
Ele estava maravilhoso, com a cabeça jogada para trás, o corpo todo duro e
tenso, enquanto o suor escorria pelo seu peitoral e abdome.
Deslumbrante…
Aos poucos ele diminui o ritmo, entretanto, a cada estocada suave eu gemia
com os calafrios de prazer que ele me proporcionava. Eu estava ultrassensível…
Todavia, deixei meu corpo relaxar, apenas admirando aquele espetáculo
diante de mim. E sim, com Rocco ainda dentro de mim, permiti que uma onda de
paz e saciedade me dominasse.
Ainda ofegante, entrego-me de braços abertos à calmaria, consciente de que
eu nunca poderia ter tido, desejado ou sonhado com algo melhor.
Rocco foi perfeito em tudo.
Seu cuidado comigo me deixou emocionada, porém ele me deu tudo dele,
como eu nem sabia que queria e precisava. Ele foi inenarrável em sua forma de me
amar, tomando meu corpo com posse e amor, luxúria e carinho.
Meu adorado homem selvagem foi transcendental em sua forma de me amar,
de me tornar sua mulher…
Eu estava de olhos fechados quando ele começou a beijar minhas pálpebras,
seu nariz roçando o meu, seus lábios fazendo carinho nos meus.
— Amor da minha vida, agora, sim, você é minha! — sussurrou, esfregando
seu rosto no meu, — E eu nunca vou permitir que fuja de mim…
— Sim, sua… Só sua — murmurei sorrindo, entregando-me ao abraço do
sono.

***

Rocco

Acariciei o rosto exausto da minha mulher, admirando a paz que marcava


suas feições.
Não conseguia pôr em palavras o que eu senti quando rompi a barreira de sua
inocência e me vi enterrado nela. Eu sabia que minha possessividade, ciúmes e
cuidado, que já eram grandes, iriam se tornar piores.
Muito piores.
Eu não usei proteção nenhuma! Recusava-me a ter alguma barreira entre nós,
mesmo que fosse uma tão ínfima quanto uma camisinha, a questão é que eu não me
importava se ela engravidasse, eu até queria.
Só de imaginar um bambino nosso eu me sentia orgulhoso.
Eu sei que temos muitos inimigos, sei que preciso protegê-la. E, não, não
existe uma maldita maneira no inferno de eu permitir que algo de ruim aconteça
com ela.
Cuidadoso, saí de seu interior e vi quando o sangue de sua virgindade, junto
com minha semente, escorreu de seu sexo.
Saí da cama, fui até o banheiro, primeiro tomei uma ducha rápida, depois
peguei uma toalha, deixando-a úmida.
— Hora de cuidar da minha futura esposa — murmurei, sorrindo igual a um
idiota.
Voltei para o quarto e cuidei das suas necessidades com carinho e zelo. Eu
sorria, deslumbrado e estupidamente feliz, toda vez que ela suspirava em seu sono,
cada vez que eu passava o pano úmido em seu sexo.
Quando terminei de limpá-la, me inclinei para depositar um suave beijo em
seu delicado sexo, depois me levantei para descartar a toalha no banheiro,
voltando para a nossa cama. Deitei-me de lado, apoiando minha cabeça na mão,
assim poderia admirá-la em seu sono. Eu não conseguia dormir, apesar de estar me
sentindo incrível como nunca havia sentido antes, eu não conseguia desligar. Eu só
queria ficar ali, velando seu sono e agradecendo a dádiva de tal presente.
Levei minha mão livre até seu rosto e corri a ponta dos dedos pela sua pele
macia. Em seguida peguei uma mecha de seu cabelo, trazendo-a até meu nariz e
respirando seu cheiro doce.
— Eu te amo tanto, minha pequena, valeu a pena esperar uma vida inteira
para poder te ter aqui em meus braços — murmurei baixinho. — Eu serei
implacável com todos aqueles que tentarem te fazer mal. Você é minha para
proteger, e eu o farei, vou cuidar para que nunca te falte amor, carinho e momentos
como esse. E quanto estiver esperando nosso filho, eu irei protegê-los com
ferocidade brutal. Você é meu paraíso particular, minha calma em meio ao caos.
Dou-te meu coração e minha alma e juro te amar hoje, amanhã e sempre, nesta vida
e na próxima. Pois você é o que há de melhor em mim. E, justo por isso, posso
dizer que “tudo que há em mim, ama tudo que existe em você”.
E para sempre serei, seu…
Suspiro feliz, me ajeitando para puxá-la para o círculo dos meus braços.
Fecho os olhos e ouço a letra da música que toca nesse momento.
Inacreditável como ela descreve o que eu sinto agora.
Baixinho canto, enquanto acaricio minha amada.

"Deitado perto de você


Sentindo seu coração bater
E imaginando o que você está sonhando
Imaginando se sou eu quem você está vendo
Então beijo seus olhos e agradeço a Deus por estarmos juntos
Eu só quero ficar com você
Neste momento e para sempre… Todo o sempre.”

Sorrindo, deixo o sono me levar, sabendo que sou o homem mais feliz da
Terra.
Capítulo 4
Rocco

Aos poucos a consciência vai tomando conta das minhas funções, e quase de
imediato eu soube o que me despertou.
Ainda de olhos fechados, eu estico meu braço e tateio, em busca de Victória,
quando encontro seu lugar vazio e frio, eu abro meus olhos sonolentos, só para
encontrá-la em pé, enrolada em um lençol, de costas para mim e de frente para as
portas de vidro que dão acesso à varanda do quarto.
Observo-a durante algum tempo, tentando entender o porquê de seu
distanciamento. Não consigo encontrar uma resposta, minhas divagações não estão
indo para lugar algum, e por isso levanto-me, sem fazer barulho, vou caminhando
em sua direção.
Abraço-a por trás, fungando seu cabelo e pescoço.
— Não consegue dormir, amor? — perguntei, encostando meu queixo em seu
ombro. — O que foi, hum?
Victória suspirou devagar e, depois de uns dois segundos, ela se afastou me
entregando o lençol. Eu o peguei, passei pelas minhas costas e a abracei de novo,
meu corpo grande e quente abrangendo o seu, menor e suave. Era muito bom sentir
sua pele nua de encontro à minha. Parecia que fios invisíveis nos conectavam ou
de alguma forma faziam com que nossos corpos precisassem de contato. Era muito
gostoso ter Victória em meus braços.
Ela permanecia em silêncio, mas pelo menos estava apoiada em mim, isso me
tranquilizava um pouco.
Muito pouco, na verdade!
“Dio mio, o que há?”, questionei a mim mesmo. Apesar de querer insistir
numa resposta, eu me segurei. O que era muito, ou quase, impossível. Não sou
conhecido por ser paciente.
Fechei meus olhos e comecei a passar meu nariz em sua pele exposta. Eu
amava sentir o cheiro da dela, isso me acalmava e me excitava.
Victória era minha droga, e eu era um viciado feliz e disposto! Entretanto,
ainda permanecíamos calados, eu não sabia onde estava a cabeça dela, e por isso
apenas observamos as luzes da cidade.
Eu ainda esperava uma resposta para minha pergunta. Victória sempre
respondia assim que eu as pronunciava, e essa demora me deixou confuso e aflito.
Abri minha boca para perguntar de novo o que estava acontecendo. Eu podia
sentir que ela estava preocupada com algo. Eu senti isso em meus ossos e podia
jurar que se tratava de nossas conexões trabalhando, para me deixar em sintonia
com suas emoções.
Meu cérebro me despertou porque ela havia se afastado de meus braços
enquanto dormíamos, e agora meu coração me dizia que havia algo a
incomodando.
“Só espero de todo coração que não seja nada relacionado à nossa
primeira noite de amor sem restrições! Será que eu a decepcionei?”, perguntei a
mim mesmo, eu estava começando a me sentir angustiado com seu silêncio.
— Pequena, o que está acontecendo? — Minha voz soou baixa, eu estava
sendo traído pelo medo de ter feito algo de errado.
Victória suspirou baixinho.
— Veja a cidade, meu amor — murmurou, me pegando de surpresa. — Tudo
parece tão calmo… Pacífico… seguro.
Era verdade, a cidade parecia em paz. Amanhecia em Roma, e muitos ainda
dormiam, apenas aqueles que começavam a trabalhar cedo levantavam-se junto
com o sol. Entretanto, eu entendia o ponto vista que ela queria mostrar.
Quem tivesse a vista que nós dois tínhamos, veria que a cidade parecia ainda
descansar em um sono tranquilo
— Sim, amor. — Suspirei, beijando seu ombro. — Todos parecem em paz.
— Eu temo o silêncio, ele é demasiado assustador, eu… — Suspirou,
afundando ainda mais em meu abraço. — Não gosto do silêncio quando ele me traz
inquietação…
— Victória, amor, isso é natural… — comecei, tentando puxá-la para fora
daquela linha de pensamento.
— Observe o horizonte… veja mais adiante…
Fiz como ela mandou e vi a linha negra que marcava o céu azulado da manhã.
— Rocco… — Victória estremeceu levemente em meus braços e eu a apertei
ainda mais. — Uma tempestade se aproxima e ela irá pegar a todos de surpresa.
Senti calafrios, pois nesse instante sua voz estava distante, era quase como se
não fosse ela, para mim era como um aviso, um mau presságio.
— Não se preocupe, Tesoro, eu te protejo! — grunhi sob um fôlego baixo e
feroz. — Ninguém vai te machucar, eu prometo.
Virando-se em meus braços, ela acariciou meu rosto, fazendo-me incliná-lo
em busca de seu toque.
— Eu sei, meu amor — ela falou sorrindo, porém não era o meu sorriso. —
Mas a questão é: quem protege você?
Fiquei mudo com suas palavras. Eu não tinha uma resposta para isso, digo,
essa pergunta me deixou completamente sem reação. Eu não entendo o que Victória
quer dizer. Eu sei me cuidar, na verdade, quem faz minha segurança é Jason, e eu
nunca tive problemas com isso.
— Pequena, não se preocupe comigo. — Sorri de lado. — Eu sou bem grande
e forte, posso me cuidar.
— Meu amor, existem coisas na vida às quais estamos vulneráveis.
— Baby, não vá por esse lado, eu acho que, no mundo, poucas pessoas teriam
coragem de me enfrentar!
— Rocco…
— Não — interrompi sua fala, pois precisava deixar algo claro para que ela
não se preocupasse à toa. — Amor, eu sou um dos homens mais poderosos do
mundo! Quando eu te digo que poucos têm coragem de me atacar, é porque estou
certo.
— Tem certeza? — perguntou duvidosa. — Eu não te vejo como um homem
inatingível, quer dizer, não mais. Agora eu te vejo apenas como um simples
homem.
Fiz uma careta por causa de suas palavras.
— Eu nunca fui inatingível para você!
— Ah, não? — perguntou, arqueando uma sobrancelha.
— Claro que não! — afirmei categórico.
— Meu amor, não vou te explicar o quanto seria impossível a gente se
encontrar nesta vida!
— Prefiro acreditar que estávamos destinados a isso! Então, não adianta ficar
quebrando a cabeça com suposições. Estamos juntos, você é minha, e que o resto
do mundo exploda.
— Tão direto! — Sorriu, erguendo-se para morder meu queixo. — Eu te amo,
Rocco, você é meu homem, e eu te peço que não deixe nosso amor acabar. Eu não
posso te perder…
— Você não vai, pequena! Ninguém vai nos separar, jamais. Eu não sei viver
sem você! Entenda, te perder não está em meus planos, você é o amor que eu
sempre quis, e eu juro te amar.
Victória suspirou, mordendo o lábio, nossos olhares presos, nossos corpos
colados, dividindo calor, amor, companheirismo.
— Para sempre — disse baixinho, esfregando nossos narizes, mordiscando
seu lábio.
— Eu te amo tanto — Victória gemeu de olhos fechados, me fazendo pegar
fogo quando seus mamilos ficaram durinhos e ela começou a esfregá-los em meu
peito.
— Pare, se não quiser que te jogue na cama! — grunhi, sentindo meu pau duro
entre nossos corpos.
— Gosto da ideia! — ronronou como uma gatinha manhosa.
Foda-se!
Soltei o lençol para poder agarrar sua bunda e erguê-la.
— Enrole suas pernas em minha cintura! — comandei, e ela me obedeceu. —
Você não faz ideia de como eu te quero!
— Faço sim — sussurrou, mordendo meu lábio. — Eu te quero em igual
medida, ou mais… me toque e veja como estou pronta para você!
Sua resposta me deixou louco de tesão.
“Porra, como simples palavras pronunciadas por Victória podem me deixar
assim?”, perguntei-me, encarando seu rosto tão próximo ao meu.
Não sei a resposta, o que eu sei é que Victória tem o controle sobre mim, ela
sabe apertar meus botões certos, isso me deixa completamente vulnerável a ela, e,
ainda assim, eu não me importo, pois sei que ela nunca irá me magoar.
— Rocco, faz amor comigo de novo! Afasta o medo que me despertou… Tira
essa angústia de dentro de mim — ela falava fervorosamente, olhando dentro dos
meus olhos. — Me mostra que estamos seguros, que nada nem ninguém pode nos
separar.
Quem se atreveria?
— Minha pequena, ninguém vai nos separar! Eu não permitiria!
Victória deve ter percebido a ferocidade com que me pronunciei, pois um
lindo sorriso surgiu em seus lábios.
— Confio em você! — exclamou feliz. — Mas agora eu preciso senti-lo
dentro de mim!
“Oh, merda!”, gemi, tomando sua boca em um beijo fogoso.
Victória enfiou as mãos em meu cabelo e puxou com um pouco de força.
Rosnei excitado, indo para a cama. Caminhava enquanto chupava sua língua como
o homem sedento que sou, e, para mim, Victória era um manancial de pureza, onde
eu me fartaria até meu último fôlego.
Sem interromper o beijo, eu fui baixando nossos corpos até que Victória
estava deitada e eu por cima. Aproveitei a posição para esfregar meu pau duro e
dolorido em seu sexo molhado.
Gememos juntos, e logo desci minha mão até seu clitóris, bastou eu tocá-lo
para Victória choramingar, tremendo. Eu sabia que ela estava muito sensível,
afinal, fui impiedoso em meu tratamento, então, por isso, apenas a estimulei um
pouco, com cuidado para não machucá-la.
Eu sentia que ela estava inchada, molhada e palpitante, entretanto, fazia
pouco tempo que eu tirara sua virgindade e temia machucá-la de novo.
— Por favor, não me faça sofrer como ontem! — ofegou, quando esfreguei
meu membro em suas dobras, lubrificando-o, — Preciso senti-lo dentro de mim…
Fechei meus olhos em busca de controle. Victória conseguia arruinar anos de
domínio rígido, que impus a mim.
Eu queria uma preliminar, mas do jeito que as coisas estavam, deixaria para
depois.
Respirando fundo e olhando dentro de seus olhos, eu comecei a penetrá-la.
— Isso — falei baixo. — Aceite cada pedacinho meu dentro de você…
— Rocco… — suspirou, abrindo bem as pernas para me receber. —
Uhmm… é tão bom… tão certo.
— Sim, amor, é certo… muito certo! — gemi, puxando o ar.
Ela era tão quente, suave e apertada, que meu pau se sentia estrangulado. Era
incrível sentir como ela me acolhia e sugava como se estivesse ávida por me ter
todo enterrado em seu interior.
Eu já estava perdido há muito tempo, já sabia disso, e a cada momento que
passávamos juntos, essa certeza só se concretizava mais e mais.
— Ohh, Deus! — exclamou, quando me enterrei, levando os últimos
centímetros que faltavam do meu membro para dentro dela com uma poderosa
estocada. — Rocco…
— Você me tem, pequena… — grunhi baixinho, o prazer era intenso.
Eu só me sentia assim com ela.
— Me possua… — clamou, quando mexi meu pau dentro dela.
Eu sabia que ela gostava.
— Tão bom, tão bom — arqueou o corpo, e eu aproveitei para capturar um
mamilo em minha boca e chupá-lo duro. — Ahhh… Roocco — Victória soluçou
meu nome e eu entrei em frenesi.
Peguei seus braços e os prendi acima de sua cabeça.
— Eu vou te tomar duro e rápido, depois profundo e lento — rosnei,
engolindo seu gemido com um beijo que demonstrava um pouco do meu desejo
ardente.
Eu ainda não me movia, e por isso sentia suas paredes massageando meu pau.
Chupei a língua dela e mais tremores assolaram meu membro, fazendo-me
vibrar de prazer dentro dela.
— Porra, estamos fazendo amor sem nos mexer! — grunhi, olhando dentro de
seus olhos nublados de paixão.
— Então se mexa! — implorou, tentando se movimentar.
Retirei meu pau quase todo de dentro dela e sorri perverso quando Victória
prendeu o fôlego.
— Assim que você quer? — perguntei, empurrando com força para frente.
— SIIIIM — gritou, fechando os olhos.
— Então toma! — repeti o movimento, só que desta vez eu não parei,
comecei a bombear com força e ritmo, cada vez mais rápido e forte, até chegar ao
ponto de me descontrolar e foder a minha mulher bem duro.
— Isso, gostosa! Toma o meu pau todinho! — rosnei, mordendo o lóbulo de
sua orelha.
— Ahhh… Rocco!
O aperto em meu pau aumentou, Victória estava delirando de prazer e eu
precisava de mais. Ergui meu corpo e agarrei seus quadris, durante um segundo eu
parei o movimento de estocadas brutas. Eu queria ver, como ainda não tinha visto,
meu pau ser engolido pela boceta dela.
Olhei para o ponto de nossa união e saí grunhindo a cada centímetro meu que
deixava seu calor molhado. Então quando estava apenas a cabeça do meu pau
ainda dentro de Victória, eu comecei a entrar, lentamente, saboreando o prazer
indescritível que era poder fazer isso com ela.
— Porra… tão perfeita! — urrei, quando estava todo enterrado, nenhum
centímetro de fora.
— Por favor… mais rápido… mais forte! — gemeu, arqueando-se para
encontrar minhas estocadas. Eu voltei meus movimentos frenéticos, sabia que
deixaria as marcas da minha posse em seu corpo, mas, porra, eu não estava pronto
para parar.
Saí do seu corpo e a virei, quando tinha Victória na posição que queria, eu
enrolei seu cabelo em meu punho, puxando-o para trás.
— Eu vou te foder assim, amor — grunhi em seu ouvido e logo guiei meu pau
afoito para dentro dela de novo.
Desta vez, eu a tocava mais profundo e com mais força. O volume dos
gemidos e gritos de prazer de Victória aumentou.
— Ai, Deus… — gemeu rebolando. — Estou tão perto… Tão perto…
— Isso, gostosa, rebola no meu pau, ele é todinho seu — rosnei, puxando-a
para colar suas costas em meu peito. Soltei seu cabelo e levei uma das mãos até
seu sexo, comecei a brincar com seu clitóris enquanto meu pau entrava e saía de
seu interior. — Você gosta assim? — perguntei, mordendo sua orelha com um
pouco mais de força.
— Uhmm — foi sua única resposta. Então senti suas paredes internas me
apertando. — AHHH — gritou, rebolando, e eu montei todo o seu orgasmo com
luxúria e força, eu queria segurar um pouco mais meu próprio gozo, entretanto, foi
impossível, minhas bolas endureceram e eu me deixei ir.
— PORRAAA! — rosnei, e na loucura que nos dominava, senti Victória
gritar outro orgasmo, não aguentei, mordi seu ombro enquanto gozava. A sensação
era do caralho!
Eu me senti um animal em acasalamento.
Desabamos na cama, porém, eu me deixei cair mais para o lado. De qualquer
forma, eu permanecia dentro dela e isso era o que importava.
— Se continuar assim, não vou durar um ano! — Victória exclamou ofegante,
tirando o cabelo do rosto.
Ri de suas palavras e ela resmungou alguma coisa, depois enterrou o rosto
nos lençóis.
— Pequena, quem deveria reclamar era eu! — Dei um tapinha em sua bumba
linda. — Afinal, eu sou o coroa aqui!
— Ah, ta você é um coroa muito disposto, estou dizendo, pegue leve, homem,
ou daqui para dezembro eu vou estar uma caveira! Tenho certeza que fazer… isso
que fazemos emagrece! Meu Deus, estou parecendo que corri a meia maratona de
Londres. — Suspirou dramaticamente.
Não demorou dois segundos e estávamos os dois rindo das ideias
maluquinhas da minha garota. Contudo, eu era um provocador e iria aproveitar.
— Então me permita dizer que euzinho aqui posso correr uma maratona
inteira e… — Lentamente, saí de seu interior, fazendo ambos suspirar baixinho. —
Eu quero fazer amor com você no chuveiro! É um desejo meu, desde que te vi, ou
melhor, desde que eu vi o seu contorno tomando banho.
— Eu te disse que, quando acabasse o tratamento da gripe, queria namorar do
jeito que você quisesse… — Suspirou. — E você disse que me daria uma aula
sobre sua anatomia…
Puta merda, desde aquele bendito dia até ontem eu vivi em constante
excitação. Salvo o período de recuperação da minha garota, digo, o período mais
crítico, entretanto, depois eu prometi a mim mesmo que só a teria quando ela
estivesse sem nenhuma marquinha. Foi um inferno, mas esse período serviu para
deixá-la confortável com seu próprio corpo perto de mim. Eu sempre lhe dava
banho, secava, vestia… E mesmo sob muitos protestos, eu sempre fazia o meu
trabalho mais que prazeroso. Depois vivi de me masturbar como um adolescente.
— E você tirou dez. Uma aluna brilhante.
— Rocco… — reclamou, fingindo estar horrorizada.
— Admita, amore mio, você gostou de ter-me vulnerável a você! — ronronei,
subindo em suas costas, meu pau semiduro esfregando em sua bunda.
— Rocco, você é insaciável! — gemeu, rebolando de leve.
— Eu tenho um mês e meio acumulado — respondi, beijando sua coluna até
chegar em sua bunda, onde mordi.
— Ai! — Victória gritou, esfregando onde minha boca a marcou.
— Quem manda ter uma bunda tão linda e tão perfeita?!
— Seu tarado!
— Sou, sim, tarado, pervertido, safado, boca suja e cheio de tesão para
colocar para fora! — Ri saindo da cama. — Vem, quero te dar banho e fazer amor
no chuveiro.
Victória se arrastou até a borda da cama e eu a peguei nos braços. Entrei no
banheiro, depositei-a no chão para poder ligar a ducha, e, quando a temperatura
ficou do jeito que eu queria, entramos.
— Ai, que delícia! — minha garota sorriu satisfeita enquanto fechava os
olhos e jogava a cabeça para trás, deixando a água molhar seu rosto e cabelo.
Peguei uma boa quantidade de sabonete líquido e comecei a passar pelo
corpo dela, cuidadosamente, segurei seus seios, ensaboando-os, esfregando os
mamilos com meus polegares.
Victória suspirava e eu, já louco para estar dentro dela de novo. Nunca me
senti tão bem.
Permiti que a água enxaguasse a espuma de seu corpo e puxei-a para mim.
Era em momentos como este que eu gostava muito da minha força, pois com um
impulso a ergui e mais uma vez eu tinha minha mulher abraçando minha cintura
com suas pernas.
Ela me olhava, ofegante e vermelha, estávamos em um nível tão alto de
desejo que nem precisava de muita coisa para ficarmos prontos. Encostei suas
costas na parede, com uma das mãos apertei sua cintura delicada e com a outra eu
guiei meu membro para sua entrada.
— Minha nossa… — gemeu, erguendo a cabeça para cima. — Você me
preenche tão completamente…
— Sim, você foi feita para mim — grunhi, empurrando devagar. — Eu disse
que nosso encaixe seria perfeito.
Victória não respondeu, só cravou as unhas nas minhas costas enquanto eu a
preenchia. Por fim, não aguentei e arremeti para frente.
Perfeito!
— Ohhhh…
— Agora vou te amar gostoso e lento — murmurei, entrando e saindo de seu
aperto. Torturando a nós dois até que o prazer foi demais para qualquer um de nós
aguentasse. Entregamos-nos um ao outro sem reservas.
E sem proteção.
Julguem-me, mas eu quero Victória grávida! O mais rápido possível.

***
— Pare! Já chega, eu preciso respirar… — Victória reclamou assim que os
últimos espasmos de prazer deixaram o seu corpo.
Após nos amarmos no chuveiro, nós fomos para a cama e estamos aqui há
algumas horas, eu não sei quantas. Mas pela sua cara de saciedade tenho certeza
que ela está muito bem e cansada.
— Desculpe, amor, mas você é irresistível… — falei, deitando-me ao lado
dela e puxando-a para descansar em meu peito.
Ficamos ali em silêncio, até que sua respiração suavizou.
Confesso que eu nunca me senti tão feliz como estou agora. Esse quarto se
tornou nosso ninho de amor, nem acredito que Victória é minha.
Porra! Eu não acredito.
Balancei a cabeça, me sentindo pleno, então me permiti descansar um pouco.
Capítulo 5
Rocco

— Amor, olha ali — Victória apontou eufórica para uma cabine em um canto
do mercado de Roma. — Vamos até lá, por favor.
Olhei para ela e vi seus enormes olhos pidões encarando a tal cabine
fixamente.
Revirei os olhos, sorrindo. Não existe nada que eu não fizesse para ela e por
ela.
— O que diz aí? — Victória perguntou, olhando as instruções que estavam
todas em italiano.
— Aqui diz que as fotos são batidas durante trinta segundos, são cinco
segundos de intervalo entre cada foto, totalizando seis.
— Ahhh, eu sempre quis entrar em uma dessas, mas não tinha tempo… —
Sorriu, me olhando. — Vem comigo?
— Faremos assim, primeiro você vai sozinha, e depois vamos juntos.
Concordou, mas fez um bico.
— Eu quero as suas fotos para mim.
— Você vem depois? — perguntou duvidosa.
— Vou sim!B
— Tudo bem. — Sorrindo, puxou o pano que cobria a entrada da cabine e
entrou. Coloquei a moeda no lugar indicado, e em questão de segundos o som de
fotos soou alto.
Instantes depois, uma tira com seis fotos em preto e branco saiu por uma
fresta. Victória está sorrindo, fazendo careta, soltando beijo de olhos fechados ou
fazendo apenas um bico lindo, para mim, que olhava as pequenas imagens.
— Amor, vem… — ela me chamou e eu fui, mas antes de entrar, coloquei a
moeda.
Sentei-me ao seu lado e logo começamos a fazer poses. Fizemos caretas, cara
de astro de rock, depois ela me beijou na bochecha, eu beijei a dela por fim demos
um selinho.
Saímos assim que a última foto foi tirada.
— Ficou incrível. — Victória sorriu quando puxou a tira com nossas fotos. E
eu tive que concordar.
Saímos do mercado de Roma e fomos andando por ali. Sem destino certo.
Minha moto estava distante, mas sempre havia seguranças nos seguindo, entretanto,
eles eram discretos, assim nós parecíamos apenas um casal apaixonado curtindo a
companhia um do outro.
— Eu nunca pensei que poderia viver um momento como esse! — Suspirou e
paramos de andar, estávamos em uma grande praça. Havia muitos artistas de rua,
dentre eles, cantores,, estátuas vivas, animais adestrados para diversão etc.
Entretanto, mesmo em meio a uma multidão, eu e minha garota conseguíamos
nos desconectar do mundo e ficarmos só nós dois.
— Eu posso te dizer que você é o homem mais incrível do mundo! Sabe, eu
sei que Deus tem Seus desígnios para cada um de nós, e quando em plena sexta-
feira a Madame Blanchet mandou todo mundo ir embora, sem mais nem menos, eu
senti que deveria caminhar um pouco. E foi aí que conheci Antonella e cheguei até
você!
— Amor, eu agradeço todos os dias por isso! Quando eu te vi naquele
casamento nem acreditei, primeiro quis urrar de felicidade, depois queria te
arrastar até um canto e te esconder dos outros. Pequena, seu vestido estava pior
que a pílula azul…
Victória riu e me abraçou. Eu aproveitei para fazer o mesmo e enterrar meu
rosto em seu pescoço.
— Quando te vi, eu me escondi, senti como se meu estômago trocasse de
lugar com meu coração. Fiquei nervosa, emocionada e excitada, então eu fiquei
com medo e decidi que te olharia de vez em quando para limpar minha vista, um
ato puramente inocente, é claro.
— Limpar a vista, é? — perguntei, levantando a cabeça para olhar seu rosto
corado.
— Rocco, você é o homem mais lindo que eu já tive o prazer de ver!
Portanto, não se espante se por acaso me pegar te “secando” de vez em quanto. —
Arqueei minha sobrancelha, e ela corou ainda mais. — Eu costumava ficar
olhando a sua foto por longos minutos e sempre suspirava, pensando em quão
sortuda eram as suas namoradas por ter você…
Fiz uma careta, Victória não sabe que o termo certo para se empregar nessa
frase seria “O quão sortudas eram suas companheiras de foda…”.
De qualquer forma, eu não estou dizendo isso para ela. Na verdade, eu tive
apenas uma namorada, que foi minha noiva por pouquíssimo tempo, lembrando que
isso foi na minha fase idiota. e então, analisando minha vida, eu cheguei à
conclusão de que a única que conta como relacionamento sério é Victória, e a
razão é simples.
Na época dos meus 22 anos, eu era um romântico incurável e tendencioso.
Um verdadeiro fresco apaixonadinho. Entretanto, depois de pegar minha noiva
fodendo com meu desafeto, eu mudei. Sim, eu fui traído e isso me corroeu até o dia
em que encontrei Victória e voltei a confiar nas mulheres. Então, pense comigo,
Victória chegou em minha vida quando eu era um homem maduro, desconfiado,
arrogante, frio, ignorante e bruto.
Entendem? Foi Victória que me moldou, ela me pegou na pior fase, pois era
quando eu pensava que nunca mudaria, e, sim, eu era um solteiro convicto, que já
fez de tudo nessa vida, a única coisa que não fiz foi praticas BDSM, prefiro deixar
isso para meus amigos. Apenas ressaltando que de amarrar e vendar eu gosto, mas
bater, estou fora, isso não me excita nem um pouco. Entretanto, eu já tive duas
mulheres em minha cama, ou várias na mesma noite, e sempre, sempre eu as
chutava para fora, só o pensamento de alguma delas ficando em minha cama para o
“depois” me dava nojo, eu sentia verdadeiros calafrios de pura repulsa.
— Você foi, é e será a única que importa! — sussurrei, dando-lhe um selinho.
— Você será a única com quem irei me casar, você será a única mãe dos meus
filhos, única dona do meu coração e de mim.
— Meu Deus, tem como não te amar? — perguntou, piscando para afastar a
umidade de seus olhos.
Confesso que quando os olhos de Victória se enchiam de lágrimas, eles
ficavam tão lindos que era quase inacreditável. O verde ficava tão brilhante…
— Eu sei, eu sou irresistível — brinquei, ganhando um tapa no ombro, e logo
eu estava erguendo minha mulher e girando-a enquanto ela ria.
Tudo parecia perfeito.

***

Nós passamos o tarde e o início da noite passeando, desta vez, eu nem me


importei com os vários paparazzi que tiravam nossas fotos.
Isso serviria a alguns propósitos futuros…
Depois paramos em um restaurante familiar, italiano, jantamos, conversamos
e o melhor, assim que saímos de lá, nos sentamos em um banco ali próximo e
fizemos planos.
Primeiro Victória teve problemas em iniciar o assunto que ela queria, mas
devido à nossa intimidade, eu fiz com que se soltasse, e ela me explicou que o
nosso controle de natalidade teria que ficar a meu encargo, pois devido a
problemas com seu ciclo, na adolescência, ela teve que fazer uso de
anticoncepcionais para controle, mas os efeitos colaterais a deixavam doente, e
mesmo depois de várias trocas dos remédios, os resultados eram os mesmos.
Enjoos, dor de cabeça, tontura, e outras coisas mais. Bom, eu nem precisava dizer
que fui incisivo em proibir que ela os tomasse.
Mas talvez nem precisasse, talvez minha semente já tivesse sido plantada e
ela poderia estar esperando meu bambino. E foi por isso que eu precisei abrir o
jogo.
— Amor, eu não usei nenhuma proteção — falei, encarando seu rosto. —
Você já pode estar esperando um filho meu…
Eu vi várias reações passando pelos seus olhos arregalados.
Surpresa, amor, medo, esperança, medo, ansiedade e medo de novo.
— Pequena, seria tão ruim ter um filho meu?
— Rocco, eu…
— Amore mio, eu anseio por isso! — exclamei nervoso, a incerteza dela
estava me matando.
— Mas, Rocco, nós nem começamos nossa vida juntos, um bebê agora
seria… nem sei como colocar em palavras…
— Minha pequena, confia em mim para cuidar de você, eu nunca vou te
deixar, nunca.
— Tudo bem, mas vamos nos proteger a partir de agora, e se eu estiver
grávida, nós iremos receber nosso bebezinho com o melhor que há em nós dois,
tudo bem?
O que eu poderia responder depois dessa?
Eu puxei Victória para meu colo, apertando-a em meus braços.
— Obrigado, amor… — sussurrei, emocionado. — Obrigado por me fazer
vislumbrar um futuro feliz.
— Sempre — respondeu, me beijando com amor e carinho.
Ficamos durante muito tempo sentados no banco. Eu estava curtindo ficar
com ela em meu colo. Mas, principalmente, eu adorava a sensação de paz que nos
rodeava.
Em pouco tempo Victória me mudou, eu não sou o workaholic de fui, quero
dizer, eu sou o mesmo tirano nas minhas empresas, mas eu não trabalho tanto
quanto antes. Agora eu estou vivendo de verdade e tenho muitos planos.
Casar-me, comprar uma casa, arranjar uma companheira para o Pulguento, ter
meus filhos e viver adorando minha mulher pelo resto dos meus dias.
Eu não poderia querer mais nada.
Suspirei profundamente, muito feliz com as possibilidades que tinha diante de
mim.
— Podemos caminhar naquela praça de artistas? — Victória me perguntou, e
com isso eu saí das minhas divagações, olhei mais adiante e vi as luzes causadas
pelas apresentações dos artistas.
— Claro, amor, vamos, eu notei que você gostou de lá! — Sorri e nos
levantamos. Tranquilamente, fomos andando de mãos dadas até as atrações. Eu me
diverti apenas observando suas reações.
— Minha nossa senhora! — Victória exclamou, levando as duas mãos à boca
enquanto olhava, estupefata, um homem engolindo fogo.
Depois ela ofegou quando outro engoliu uma espada, eu apenas ria e me
divertia com as caretas de assombro chocado que ela fazia.
Eram todas lindas!
Circulamos mais um pouco até que Victória parou e apontou o dedo para mais
adiante.
— Ciganos! Ciganos! Rocco, são ciganos…
Victória pulava, batendo palmas, ela parecia uma criança que descobriu um
tesouro.
— Vamos lá! — exclamou eufórica.
— Tudo bem, vamos… — concordei com um leve sorriso nos lábios.
Caminhamos apressados até o local onde os ciganos estavam, havia muita
gente por ali, circulando entre as tendas.
— Amor, as roupas como são lindas… as cores tão vivas…
Estávamos andando até uma tenda com roupas ciganas quando uma delas nos
abordou.
— Quer que eu leia sua sorte? — a mulher perguntou para Victória, que
sorriu e acenou com a cabeça, bem, eu só pude revirar os olhos.
— Dê-me sua mão, minha criança! —pediu e foi atendida.
Ficamos em silêncio, eu não queria atrapalhar o momento, apesar de
acreditar que tudo não passava de uma lorota de vigarista.
Sim, sou cético e não acredito nessas merdas.
— Eu vejo aqui um amor capaz de superar tudo, ate as maiores decepções. —
Victória escutava tão concentrada que eu cruzei os braços, para não dizer que,
provavelmente essa cigana leitora de mãos dizia o mesmo texto ensaiado para
todas as garotas bobas como a minha. — Vejo aqui muita força de caráter e
bondade, mas, acima de tudo, vejo uma pessoa pura de coração, que não tem medo
de enfrentar seus medos nem de amar… — A cigana sorriu carinhosa, olhando
para Victória. — Você é única, minha criança, e é temente ao Criador, isso é muito
bom. Outra coisa: não desanime quando as coisas parecerem perdidas, você não
deve nada a ninguém… Sua fé é sua força…
Pensei na divida com Blanchet…
“Leitora de mãos caloteira e mentirosa!”, bufei, revirando os olhos.
A mulher ainda olhava a mão de Victória, passando os dedos devagar, até que
ela parou o movimento e perdeu a cor do rosto.
— O que foi? — minha garota perguntou.
— Na-não é nada. — Engoliu em seco e falsificou um sorriso. — É só que eu
lembrei que tenho que resolver umas coisas. — A mulher disfarçou, apontando
para uma tenda mais adiante. — Lá você vai encontrar tecidos lindos…
— Ohh, muito obrigada!
— Agora vá, antes que não sobre nada para você! Seu noivo acerta comigo…
Victória me olhou e eu concordei, então, ela abraçou a cigana e depois andou
apressada para a tenda de tecidos.
Sorri, pegando minha carteira.
— Não precisa pagar! — A cigana me surpreendeu, entretanto, dei de
ombros, retirando algumas notas aleatórias.
Quando estendi o dinheiro, a mulher agarrou meu punho e virou minha mão,
tirando dali as notas que eu segurava, ela começou a analisar minha palma, mas
tão rápido ela começou, me soltou, como se minha mão queimasse.
— Você vai perdê-la muito em breve! — proferiu a queima-roupa.
— Você está louca, mulher! — rosnei com os dentes trincados.
— Sim, você irá perdê-la, mas não é só isso, o coração dela irá silenciar por
duas vezes, e por um vez ela deixara de existir. Então você irá descer ao inferno,
mas não poderá dar um fim ao seu sofrimento, pois um pedaço dela ficara com
você! Aos seus cuidados…
— Você está fora de si! — grunhi baixo, minha voz cortante.
Contudo, a voz da mulher soou estranha e distante, seu olhar não focava em
mim. Ela permanecia inabalável e assombrada.
— Você precisa protegê-la, existem muitos inimigos à espreita, e ela é um
anjo bom e indefeso…Você não poderá descuidar, seja seu guardião, mesmo
quando ela te odiar, não desista, então talvez, e só talvez, ele não a encontre,
porque se ele a encontrar, será o fim.
— O que diz? — Engoli em seco, essa conversa estava estranha.
— Ele não sabe que a procura, mas a encontrará, e quando esse dia chegar, a
areia começará a escorrer até que se esgote, o Criador lhe confiou um dos seus…
Tome cuidado, mas, acima de tudo, não desista, quanto todos acharem que você
está louco, é quando estará mais perto…. Não desista, nunca desista, ou será o
fim.
Dito isto, ela girou nos calcanhares e partiu, mas antes de ir muito longe, ela
se virou e me olhou…
— Tome cuidado com aquela que o persegue. Ela atentará contra a vida do
seu anjo.
Então ela se foi, me deixando plantando e com uma sensação terrível na boca
do estômago.
Capítulo 6
Rocco

— Amor, tudo bem? — Escuto a voz suave da minha garota e seu toque gentil
em meu ombro.
Ergo minha cabeça e olho para ela, meus olhos percorrem cada centímetro do
seu rosto, e sem mas, sou tomado por uma enorme onda de angústia.
— Tudo, pequena — murmuro sem muita confiança.
Mesmo eu sendo um bastardo cínico e cético, as palavras daquela maldita
cigana estão comendo meu juízo desde que as ouvi, e isso só faz poucas horas.
Desde então eu estou pensando, planejando, imaginando possíveis cenários onde
as “cenas” do que aquela mulher disse possam se concretizar.
“Tenho que me preparar! Não importa até onde eu terei que ir, eu irei…”,
pensei fervoroso. “Não vou deixar que nada aconteça a Victória, nada… Mas…
a ciganada disse que minha garota me odiaria…”
Fechei os olhos, aflito com essa possibilidade.
“Que porra eu poderia fazer?”, perguntei-me. “Mas que merda, eu mudei,
não foi? Eu não sou mais o desconfiado de antes, eu acredito em minha garota,
então… O que eu poderia fazer para ela me odiar? Dio mio, Victória é a
criatura mais bondosa que eu conheço, ela é assim e pronto… Então, para
despertar esse sentimento nela, teria que ser algo terrível… Mas o que
poderia…”
Uma única palavra brilha em minha consciência.
Traição!
Encolhi-me em minha cadeira, a mera ideia me causa nojo, eu não me vejo
tocando outra mulher, não… Isso com certeza não é, porque eu jamais trairia
minha garota. Então essa possibilidade é descartável para mim…
— Rocco… — Mais uma vez sou tirado das minhas divagações desesperadas
— O que há com você? Desde que chegamos você está sentando aí, na varanda,
bebendo esse troço vermelho! O que você tem? Me conta…
Sorri e a angústia que eu já sentia aumentou muito.
“Não posso perdê-la, não posso!
— Brandy é o nome desse troço vermelho — respondi, puxando-a para se
sentar em meu colo. — E eu não tenho nada, é só que nossa lua de mel antecipada
está acabando…
— Ai, seu bobo! — exclamou, dando um tapinha em meu ombro. — Você está
aí com essa cara de enterro, eu imaginei que tinha acontecido alguma coisa!
— Não aconteceu nada…
— Eu sei, tudo está perfeito e… — Victória sorriu, me dando um selinho em
seguida. — … qualquer lugar em que estivermos será especial, porque estamos
juntos. Não se preocupe, agora que você me mostrou como é bom fazer amor, eu
não pretendo parar…
Sorri de lado por suas palavras ousadas.
— Você só fará amor comigo! — grunhi baixinho. — Se algum homem ousar
te tocar, eu o mato.
Victória arregalou os olhos, desconfiada, e eu pisquei para ela.
— Nossa, por um momento eu pensei que você estava falando sério, digo, a
parte de matar, é claro. — Suspirou, encostando a cabeça em meu peito desnudo.
— Eu não enxergo os outros homens, só você. Todos os outros são
insignificantes…
Passei um braço em seu corpo, aconchegado-o ainda mais ao meu.
— Eu te amo, Rocco, sem mistérios e sem complicações — murmurou e
beijou meu peito, bem acima do meu coração. — Apenas amor, puro e simples.
— Eu também, amore mio, pode ter certeza! — falei baixinho, beijando seu
cabelo.
Ficamos em silêncio, ali, durante um bom tempo, infelizmente eu não estava
100% aqui, minha cabeça estava concentrada, tentando antecipar as merdas que
viriam por aí.
Não estava conseguindo raciocinar direito.
E sabe por quê?
A resposta é simples, eu isolei Victória do mundo e, como consequência,
Blanchet sumiu, junto com a perseguidora que estava impossibilitada de chegar
perto da minha garota.
— Amor? — escutei sua voz baixinha chamando meu nome.
— Sí…
— Eu queria te perguntar uma coisa.
— O que é? — questionei curioso.
— É sobre o meu trabalho, você sabe que o primeiro atestado de afastamento
que o Dr. Josef solicitou foram de quinze dias e, depois, o segundo, foi de quarenta
e cinco, certo?
— Sim, amor, claro que sei.
— Então, pelas minhas contas, nós só temos mais quinze dias antes que eu
volte a trabalhar, não é isso?
Um sorriso enorme tomou conta do meu rosto.
— Não, amor, você tem ainda mais um mês livre daquela infeliz… E antes
que pergunte, eu respondo: Dimitri revogou a primeira licença, suspendendo-a,
então quando você foi para casa, Josef solicitou outra, junto com a segunda.
Entretanto, elas foram pedidas separadas.
— Mas isso pode? É legal fazer assim? — perguntou, franzindo as
sobrancelhas.
— Claro que não, mas Dimitri sabe que Blanchet deve no cartório e foi ele
que entregou as licenças…
— Dimitri é um bom advogado, não é?
Desta vez eu ri baixinho.
— Se você disser isso para ele, não tenho duvidas, ele corta relações com
você! Dimitri não é apenas bom, ele é o melhor, e quando digo isso, eu falo sério.
Eu nunca, jamais, perdi um centavo, ou não fiz contratos que me assegurassem em
cada aspecto, e tudo graças àquele doido. — Balancei a cabeça. — Dimitri é
implacável em uma corte, quando ele aceita pegar casos de divórcio litigioso, a
outra parte sempre perde.
— Você está me dizendo que Dimitri nunca perdeu em um tribunal?
— Sim, e nem nas discussões na universidade, aquele lá é uma peste! O Dr.
das palavras corretas, se eu e William não conhecêssemos todo o repertorio dele,
acho que nem nós dois conseguiríamos dar uma volta naquele bastardo…
— Vocês são muito amigos, né?
— Não só isso, somos irmãos, sabe como nós éramos conhecidos na
universidade?
— Não, como?
— Tríade. — Dei de ombros. — Levando em conta que a tríade sempre está
associada a coisas “grandes”.
Victória sorriu, balançando a cabeça.
— Você é um pervertido que ama duplo sentido.
— Culpado, amore mio.
Minha garota sorriu, mas aos poucos seu sorriso foi se desfazendo e ela
começou a acariciar meu rosto com a ponta dos dedos. Fechei meus olhos para
saborear seu toque.
Logo seus lábios estavam onde antes me tocou com seus dedos. Respirei
fundo, muitas emoções me devorando, e a maior delas era o medo.
— Rocco, obrigada por existir e por ser exatamente como você é! —
sussurrou e beijou minhas pálpebras fechadas. — Obrigada por ser meu.
Abri meus olhos e tremi pela intensidade do olhar que ela me dispensava.
— Você sabe que eu estou aqui para você, não é? — murmurou, penteando
meus cabelos com os dedos. — Que sempre pode me contar o que te aflige… o
que te tira o sono e o que te faz ficar triste.
— Amore mio…
— Shhh — falou, colocando um dedo em meus lábios. — Não diga nada, eu
sei que existe a hora de falar e a hora de calar, e essa é a hora do meu silêncio.
Não se preocupe, eu te entendo, e quando quiser me contar, estarei aqui para você,
sempre.
Com essas palavras, ela se levantou do meu colo, mas antes de sair, me
beijou.
— Não esqueça que eu te amo.
Respirei fundo e segurei o ar por uns dois segundos. Então, eu fui deixando-o
escapar por entre meus lábios.
Planos… são muitos planos e eu preciso começar a organizá-los para pôr
tudo em prática.
Quem me atacar, ira receber o contrataque quase instantaneamente, só que eu
não vou para dar avisos ou recados, isso eu já fiz. Agora eu vou para destruir e
não deixar nem a poeira como testemunha!
***

Observo a alvorada, sentado em minha cadeira na varanda.


Victória foi dormir há muito tempo, mas eu não conseguia desligar, mesmo
querendo muito abraçá-la e velar seu sono, eu não conseguia.
Depois de pensar e repensar milhares de vezes nas palavras daquela cigana
maldita, eu consegui compreender algumas coisas.
A primeira de todas era que eu e Victória teríamos um filho; a segunda foi que
ela o deixaria comigo; a terceira era que existia alguém que a tomaria de mim (ou
melhor, tentaria tomar, pois antes o infeliz seria um filho da puta morto), em
seguida, a pior ideia e conclusão que eu consegui ter para entender as palavras
daquela louca: minha Victória iria morrer.
Ainda conseguia sentir o suor frio que tomou minha pele e o tremor em
minhas mãos. A mera possibilidade de isso acontecer me deixou louco de pavor e
fodidamente paralisado.
— Você não pode fazer isso comigo, amore mio, não pode! — murmurei,
sentindo meu coração comprimido.
Eu não quero ter um vislumbre do que William suporta há dez anos, eu não
sei se seria forte o suficiente.
— Maledizione! — rosnei, socando a palma da minha mão.
Não consigo sair da paralisia causada pelo medo. Puta que pariu, eu acho que
ainda não demonstrei até onde meu poder alcança, até onde eu posso ir e, o que eu
serei capaz de fazer.
Levantei-me da minha cadeira a muito custo, estava travado, tenso… Fiz isso
quando ouvi meu celular tocando. Caminhei até a mesinha onde eu havia deixado o
aparelho, assim que o peguei, olhei o visor para ver quem estava me ligando.
O nome de Jason me deixou em alerta total.
Atendi sem preâmbulos.
— O que aconteceu?— falei assim que a linha conectou.
— Rocco, temos um problema… — resmungou irritado.
— O que foi? — perguntei, começando a andar ansioso pela sala.
— A casa da Victória foi invadida.
Fechei meus olhos quando uma onda de fúria me tomou por completo.
— Então? — perguntei puto.
— Pegamos os dois ladrões e levamos para as docas… Bom, eu os fiz
cantar igual canários!
Sorri satisfeito.
— Agora me conte tudo! — pedi, não muito educado, estava uma pilha de
nervos.
— Eles revelaram que uma mulher os abordou na rua, oferecendo uma boa
grana por um pequeno trabalho… — contou, me deixando exasperado. — Eles só
precisavam entrar em uma casa e roubar todos os desenhos que encontrassem,
não importava o que fosse, ela queria todos os desenhos que houvesse…
— Filha da puta! — berrei alto. — Isso é obra daquela maldita! Caralho, eu
estou começando a achar que peguei muito leve com aquela cretina…
— Sim, senhor, foi ela, as características batiam, ademais, ambos disseram
que a mulher tinha uma cara de azeda. Enfim, não tem outra suspeita.
— Você acha que deu tempo de eles avisarem a Blanchet sobre os desenhos?
— Não acho que eles tenham tido tempo de ligar, senhor, mas os desenhos,
com certeza, ela sabia que existiam. Todavia, estão seguros, pois pegamos os
dois infelizes quando estavam saindo com eles nas mãos…
— Jason, cuide desses dois e… — Respirei fundo, estava na hora de
aumentar as apostas. — Coloque alguém para seguir Blanchet dia e noite, eu quero
saber cada passo que ela der, e antes que me esqueça, pegue todos os desenhos da
Victória, coloque-os em uma pasta e deixe em minha casa. — Travei a mandíbula,
muito irado com a coragem daquela mulher, agora eu não vou ter mais cuidado,
vou ferrar com essa vadia de uma vez por todas. E não só isso, agora que estou
começando a voltar à minha racionalidade, estava ficando mais confortável, e
prático, não posso cometer erros, preciso eliminar todos aqueles que possam fazer
mal à Victória. — Mais uma coisa, provavelmente, mais tarde estará em todas as
revistas o pedido de casamento que fiz, tenho certeza de que logo, logo a nossa
querida desconhecida entrará em contato, portanto, quero saber se tudo está
pronto.
— Sim, senhor, se ela ligar, conseguiremos encontrá-la! Apenas precisamos
que a ligação seja de um minuto.
— Eu cuido disso, e me mantenha informado de tudo!
— Pode deixar.
Desliguei o telefone e fui tomar banho para tirar o cheiro do meu pavor, agora
estava de volta. Não vou me permitir ser dominado pelo medo. Eu nunca fui assim,
de qualquer forma, preciso estar funcionando em plena capacidade, desse jeito
poderei derrubar quem entrar em meu caminho.
Capítulo 7
Victória
— Rocco, isso aqui é incrível, eu não me canso de ver. — Sorriu, olhando
deslumbrada cada detalhe do Coliseu por dentro. Apesar de já ter visitado, eu
insisti em voltar, e Rocco, fofo como é, não recusou, ele me trouxe de novo.
— Eu sei, você não me deixa esquecer — respondeu, piscando um olho, e eu
retribuí, fazendo uma careta para ele.
— Senhoras e senhores, era aqui que os lutadores aguardavam para entrar na
arena, muitos lutavam ainda feridos de combates anteriores… — Eu prestava
atenção a tudo que o guia falava. Era tão interessante a história, que acho que eu
nem piscava os olhos, tamanha minha concentração.
Quando finalmente o guia terminou de narrar os fatos históricos, eu olhei para
Rocco. Ele estava de braços cruzados e cara fechada.
— O que foi? — perguntei confusa.
— Você dá muita atenção a esse contador de histórias.
Não pude acreditar nas palavras dele. Meu Deus, Rocco parecia ter ciúmes
da própria sombra.

— Para com isso! Você não precisa ter ciúmes de mim! — resmunguei,
imitando o gesto dele.
— Eu não tenho ciúmes, eu morro de ciúmes e não gosto que você preste
atenção em outros homens!
Por um momento, eu nem soube o que dizer, então sorri e passei meus braços
por seu pescoço.
— Bobo, para que ciúmes? — perguntei, ficando na ponta dos pés para
morder seu queixo. — Eu te amo e eu já provei isso. Não nos desgaste com ciúme
besta!
— Não posso evitar. — Suspirou, colocando as duas mãos em minha cintura.
Não podíamos encostar nossas testas, porque usávamos boné, mas enfim
estávamos nos entendendo, isso era o mais importante.
— Não confia em mim? — perguntei, fazendo um bico manhoso.
— Confio plenamente… — respondeu sorrindo de leve
— Então não tenha ciúmes, quer dizer, só um pouquinho! — Pisquei um olho.
— Tudo bem, amore mio…
Demos um beijinho para selar nosso acordo e voltamos a seguir as outras
pessoas.
Estávamos na parte mais escura da construção, aqui eram as celas.
— Por favor, mantenham-se todos juntos, aqui existem muitos corredores e
não quero ninguém perdido, apesar da iluminação artificial instalada, ainda é
escuro…
Enquanto o guia narrava os fatos mais marcantes dali, eu me lembrei daquela
cena do filme gladiador, onde o imperador esfaqueia Maximus antes da luta.
— Aqui é o limite das celas, agora iremos seguir pelo corredor, cuidado com
as fissuras nas paredes, elas são apertadas e podem levar vocês para outros
lugares, deixando-os perdidos.
Continuamos nosso caminho, até que um dos turistas perguntou algo sobre o
filme Gladiador, que eu não consegui entender, porque estava mais interessada em
olhar para Rocco e seu rosto de anjo caído.
— O que foi? — perguntei desconfiada. — Por que está me olhando assim?
— Estou te olhando assim porque eu te acho linda e porque eu…
— Por favor, peço ao grupo que me acompanhe, iremos para o lado norte da
construção — o guia turístico chamou alto. para que todos ouvissem.
Sorri, dei um passo para frente, esse era o lado que eu queria conhecer,
contudo não fui longe, Rocco me puxou pelo braço.
— Mas o que você…
— Shhh! — sussurrou, colocando o dedo indicador no lábio, enquanto me
olhava com uma cara perversa e safada.
— O que foi? — perguntei baixinho, e ele ajeitou seu boné azul, baixando-o
para esconder ainda mais seu rosto, assim que terminou, ajeitou o meu também.
Rocco estava lindo usando um boné da mesma cor da blusa, também, se ele
vestisse sacos ainda estaria lindo até dizer chega.
— Eu te quero! — respondeu, deslizando o dedo pelo meu pescoço.
— Mas aqui? Agora? — ofeguei incrédula. — Estamos em público, e ainda
por cima dentro do Coliseu, podemos ser presos.
— O muito safado apenas sorriu e me puxou para uma das fissuras na parede, esta
dava espaço para uma sala ou compartimento, nem sei explicar, só sei que era um
espaço minúsculo e muito escuro.
— Vai ser excitante! Eu nunca fiz isso, mas com você eu quero experimentar
tudo nesse mundo! — respondeu e me beijou, me fazendo esquecer o mundo e o
fato de ter gente bem perto. E talvez, muito provavelmente, houvesse bichos da
idade das trevas circulando por ali.
Com cuidado e sem interromper nosso beijo, ele me ergueu, fazendo-me
enrolar as pernas em sua cintura.
— Adoro que use saias — ronronou, me pressionando contra sua dureza. —
Mas precisamos fazer silêncio! — Ouvi o barulho do zíper da sua calça e,
instantes depois, senti seu membro duro e viril esfregando em minha feminilidade
coberta pela calcinha.
— Rocco — ofeguei baixinho em seu ouvido. Então tive que mordê-lo
quando ele tocou minha intimidade. Para meu total desespero mudo, minha
calcinha foi afastada e ele me penetrava devagar.
Mordi seu ombro coberto pela camisa e ele tremeu.
— Isso, me morde…— sussurrou enquanto me preenchia. — Oh, porra, tão
molhada! Tão perfeita! — rosnou baixinho em meu ouvido. — Eu nunca vou te
deixar, está me ouvindo? Nunca vou permitir que te tirem de mim! Nunca…
Eu senti o fervor em suas palavras sussurradas em meu ouvido.
— Ahhh — gemi baixinho quando senti que se retirava e estocava para frente.
— Meu Deus — ofeguei quando repetiu a doce tortura. Rocco capturou meus
lábios, quando começou a se mover dentro de mim com mais impetuosidade. Então
eu esqueci o mundo… E o fato de que fazíamos amor em público…
Eu só conseguia me concentrar nas sensações que ele estava me
proporcionando, no quanto aquilo era perigoso e excitante. Só de pensar na
loucura que fazíamos, eu sentia minhas paredes contraindo, e ter que me calar
aumentava ainda mais m+eu desespero. Meu corpo estava formigando, eu estava
ficando cada vez mais desesperada em busca de alívio.
Rocco estocava com força dentro de mim e engolia meus gemidos em nosso
beijo ininterrupto.
“Ohh, minha nossa! Como pode ser tão bom, tão incrível?”, pensei
delirante de prazer quando ele fez um movimento muito prazeroso, eu acho até que
meus olhos reviraram. O prazer estava demais, eu me via louca, desesperada,
sentia minha vagina sugando-o, meu ventre contraindo, me preparando para atingir
o ápice, quando o desejo foi demais eu me deixei ir e Rocco foi comigo, gozamos
juntos, eu o segurei em meu interior e ele jorrou sua semente em mim, juro que não
posso explicar, tudo tornou-se inimaginável.
Saímos do nosso esconderijo depois de algum tempo nos recuperando,
estávamos muito atrás, mas logo conseguimos encontrar todo mundo.
Não vou nem dizer que sempre que alguém me olhava eu achava que sabia o
que eu tinha feito. Era como se estivesse estampado na minha cara e por isso acho
que ficarei com um tom escarlate eterno em meu rosto.
Já Rocco estava ostentando um sorrisinho de lado, muito do safado. Tanto é
que eu me afastei um pouco para analisar alguns riscos padronizados nas paredes,
e duas garotas, mais ou menos da minha idade, estavam encarando-o como um
cachorro olha propaganda de salsicha.
Uma até teve a ousadia de parar na frente dele e se abanar.
“Mas é muita ousadia mesmo!”, bufei, estreitando meus olhos. Esperei para
ver o que Rocco faria, mas ele nem ligava, apenas deu um passo para o lado e
deixou a garota lá, plantada. Eu a vi encarando-o enquanto ele chegava até onde eu
estava, e sem mais eu agarrei o pescoço dele e tasquei-lhe um beijo
cinematográfico.
Quando nós nos afastamos, ele me olhava com um sorriso todo bobo, e
quando saímos, as duas garotas me olhavam com cara de raiva.
Rá!
Sorri e pisquei para elas.
Para elas meu Rocco era como uma vitrine:
OLHE, MAS NÃO TOQUE!

***

Rocco

Acordei escutando a voz da minha garota cantando, senti arrepios de prazer, a


voz dela me acariciava.
Levantei me espreguiçando, eu estava cansado, passei a noite acordado e
quando chegamos do passeio, só fiz almoçar, tomar um banho e cama.
Lembro-me de ter dormido pensado que nunca mais vou ver o Coliseu com os
mesmos olhos…
Bastou pensar nisso que meu pau endureceu, ainda podia sentir o prazer que
eu tive. Dio santo, a adrenalina que o proibido causa me deixou ainda mais
frenético em buscar o prazer da minha garota e o meu.
Porra, meu corpo se sentia tenso enquanto eu bombeava em seu interior, a
cada instante eu ficava mais e mais desesperado, e nosso risco aumentava,
poderíamos ser descobertos, e por isso eu estava insano, descontrolado de puro
tesão. A forma como o sexo da Victória me apertava estava foda, nosso clímax foi
tão intenso que eu precisei travar meus joelhos para poder nos sustentar de pé.
Durante alguns segundos eu me vi sem forças e fora da realidade.
— Dio mio, minha pequena feiticeira gulosa sugou minha força vital — Sorri
baixinho.
Eu faço questão de dar uma dose de Vitamina R todo dia para minha
garota. Sorri para o pensamento pervertido. Entretanto, isso não vai ser tão
corriqueiro, minha Victória disse que foi a última vez que fizemos amor sem
proteção.
Fiquei triste, era muito bom senti-la sem barreiras, mas fazer o quê? Um
homem tem o direito de sonhar, e se meus soldados forem espertos, muito em
breve eu nem vou precisar usar porra de proteção nenhuma, se bem que eu sempre
posso tentar um jogo de sedução, e, quem sabe, uma vez ou outra também ela ceda,
não é?
É como eu disse, um homem tem o direito de sonhar!
Rindo das minhas ideias, caminhei até o banheiro em busca da minha mulher.
Sua voz linda sendo meu guia. Assim que cheguei, fiquei parado na porta, ouvido-
a cantar enquanto tomava banho.
Eu já estava indo me juntar a ela quando meu celular tocou no quarto.
Contrariado, fui atender, afinal, eu estava esperando uma determinada pessoa
ligar. E não deu outra, assim que eu vi número privado, eu atendi.
— Ora, ora…. A que devo a honra? — saudei irônico.
— Eu te avisei para terminar essa palhaçada, e o que você faz? — Não tive
tempo de responder nada, a criatura do outro lado da linha estava descontrolada.
— VOCÊ A PEDE EM CASAMENTO! Maldita… malditaaaa! Eu vou pegar essa
nojenta… EU VOU… — Pronto, ela acendeu meu pavio e eu já explodi.
— Cala a sua fodida boca! — rosnei louco de raiva. — Não ouse chegar
perto da minha mulher, não ouse…
— Eu vou matar essa vadia! — gritou do outro lado da linha. — Agora eu sei
que enquanto ela estiver viva você não irá ser meu. Juro que vou matá-la na
primeira oportunidade que eu tiver… Não vou descansar, não vou desistir, eu vou
matar essa puta safada por ter tomado o que é meu!
Então, antes que eu pudesse cuspir uma resposta adequada, a linha ficou
muda.
Joguei meu celular longe e levei meu punho até minha boca, onde eu mordi
até sentir o gosto de sangue. Era isso ou berrar de puro ódio consumidor.
— Essa desgraçada me paga!
Capítulo 8
Perseguidora

Eu sentia tanto ódio, que meu corpo todo tremia. Não posso acreditar que
meu amor pediu outra mulher em casamento!
Senti lágrimas de puro desgosto lavarem meu rosto, enquanto olhava a foto do
pedido estampando a capa de uma das revistas mais conceituadas em Londres.
Nela, meu Rocco estava ajoelhado, estendendo uma caixinha de veludo azul
para aquela puta safada.
— AHHHH! — gritei de puro ódio. — Era para ser eu ali… eu…
Porra, eu passei meses admirando-o à distância, até criar coragem e ligar,
quando o fiz a primeira vez, ele ficou desconfiado e nem me permitiu falar muito,
mas só em ouvir aquela voz de macho em meu ouvido eu precisei me tocar para
aliviar o tesão que senti.
Depois eu continuei ligando e ele começou a se divertir, ele até ria e brincava
comigo. Eu sabia que ele estava gostando de mim, mas então aquela desgraçada
saiu de algum buraco do inferno e tomou meu homem!
— Isso não vai ficar assim, ah, mas não vai! — rosnei enfurecida. — Eu irei
caçar aquela costureira de merda, então eu vou acabar com a vida dela e eu sei
que ninguém vai suspeitar de mim… ninguém…
Sorri em meio às lágrimas, eu estava com muita raiva guardada desde que vi
a primeira revista com eles dois. Depois Rocco não saía da cola daquela imbecil.
Ele até a levou para morar com ele…
— Era para ser eu, deveria ser eu… maldita!!!
Peguei uma tesoura e cortei a foto da revista, lógico que eu só recortei a parte
do meu homem, o resto joguei fora, depois eu fiz o que para mim já era um hábito.
Colei sua foto do pedido de casamento em meu mural em formato e coração.
Lá eu tinha milhares de fotos do Rocco.
— Você ainda vai me pedir em casamento, meu amor — resmunguei,
acariciando seu rosto lindo. — Então seremos muitos felizes. Eu sei que a culpa
não é sua, eu sei que você jamais me trairia dessa maneira, porque você me ama.
— Respirei fundo, sentindo a raiva sendo substituída pela adoração que eu sentia
por ele. — Eu sei que você vai me amar assim que me conhecer, e eu também sei
que essa vadia te enfeitiçou com alguma macumba. Mas eu vou te livrar dela, meu
amor, eu vou proteger nosso futuro, eu juro.
Com essas palavras, fui para minha cama, mas antes peguei meu caderno de
sonhos e planos.
Abri em uma folha limpa e escrevi alguns tópicos.

Comprar alguns comprimidos de ecstasy;


Começar a vigiar aquela pobretona infeliz;
Drogá-la e depois matá-la;
Apresentar-me para o Rocco;
Ser feliz;

***

Madame Blanchet
Algumas horas antes
Observo do meu carro como meu plano foi por água a baixo.
Eu ainda nem acredito que perdi de novo para aquela pirralha. Não consigo
começar a descrever o tamanho do meu ódio, a vontade que eu tenho de ligar para
o Jean Pierre e dizer que eu tenho uma mina de ouro enorme. O foda é que ele vai
perguntar por que eu demorei tanto em entregá-la para ele, daí o que posso dizer?
Estarei muito ferrada, isso sim.
O homem é um monstro, muito pior do que eu, ele simplesmente é o homem
mais perigoso que eu conheço. E não é para menos, traficar pessoas não é para
qualquer um. E não é só para escravizar em suas fábricas, não, Jean Pierre é um
sádico, a única vez que eu o vi “divertindo-se”, passei semanas sem conseguir
comer, tendo pesadelos e sofrendo de síndrome do pânico. Isso além de vomitar
sempre que lembrava como ele gostava de… Deus me proteja, Jean Pierre é
maníaco e morre de amores pela Santa Inquisição.
Desviei o pensamento, porque meu estômago embrulhou só com a mera
lembrança. Jurei para mim mesma que nunca, jamais eu voltaria a entrar lá.
Eu juro que só entrei nessa porque dava muito dinheiro, e eu fazia do meu
ateliê uma porta de escoamento de “mercadoria”, então eu recebia meu dinheiro e
pronto.
Depois de alguns anos no ramo, eu propus sociedade a Jean Pierre, e eis que
nasce uma filial do meu ateliê, na França, Victória também produz para lá.
Entretanto, eu não procuro muito contato com JP, não mesmo. Só o mínimo, e às
vezes nem isso.
Enfim, aquela idiota me dá muito dinheiro, e eu já perdi milhares de libras e
euros com essa ausência. Vou ter abrir mão de mais capital do meu ateliê em
Londres para pagar credores. E enrolar JP mais um pouco. Não quero que ele
venha, Deus me livre de ficar no mesmo prédio que aquele louco.
— Puta merda! — Bati no volante furiosamente.
Essa ausência da Victória foi sentida por todas as minhas clientes, como é
que aquela fedelha ousa se afastar no melhor momento? Como ela pôde fazer isso
comigo?
Fechei meus olhos e encostei minha testa no volante.
“Estou ficando sem tempo, preciso mandar os desenhos para Paris, ou ele
vai perceber, meu bloqueio artístico está demorando demais e JP é esperto…
Sinistramente esperto
Todavia, eu me recuso a usar meu próprio dinheiro para quitar as dívidas do
Ateliê. São os desenhos da Victória que sustentam aquela porra, então é ela quem
deve pagar, não eu. Não entendo como em apenas um mês 80% do movimento
caiu.
Estou tão, mas tão revoltada, que sou capaz de cometer uma loucura…
Ergo minha cabeça do volante e olho para a casa da Victória. Vejo um homem
grande e careca sair da casa dela, carregando uma pasta volumosa.
— Meus desenhos… — ofeguei chorosa. — São meus… Eu estava tão
perto… tão perto.
Ainda vi os moleques que contratei saindo com várias folhas na mão, mas,
então, mal pude cantar vitória, de repente, vários homens surgiram sei lá de onde e
ferraram com meu plano.
— Isso é culpa de Rocco Masari! — grunhi revoltada
Engolindo meu ódio, observei o homem parar de andar e olhar para onde eu
estava. Eu o encarei de volta. Lógico que eu estou em um carro ruim e com uma
peruca ruiva. Lógico que ele não me reconheceria.
Eu até sorri debochada. Eu estava tão perto e esses otários nem sabiam.
Meu ódio subiu a níveis alarmantes quando o tal homem segurou a pasta de
forma protetora.
— São meus, maldito! — rosnei trincando os dentes.
Mas não adiantou. O homem entrou em um carro enorme e partiu.
Fiquei sozinha ali, naquele bairro seboso, cheio de gente fedorenta, durante
mais alguns minutos. Já estava me preparando para sair quando meu telefone toca.
Olho o visor e a bílis queima em minha garganta. Meu corpo começa a tremer
sem parar, eu sinto medo puro e simples cravando suas garras em mim.
— Bonjour — saudei com minha voz trêmula, era madrugada, então eu já fui
logo dando um bom-dia.
— Sem enrolação, Blanchet, o que você está me escondendo?
Fechei meus olhos e fiz xixi nas calças, a voz de Jean Pierre soava
perigosamente baixa, eu me senti aterrorizada, e o medo que já sentia aumentou
muito mais.
Era como se ele estivesse aqui. E sua voz fria arrastou-se pelo meu corpo
como uma cobra, pronta para me devorar. E isso não era no bom sentido.
Maldita Victória…
Capítulo 9
Rocco

— Podemos sair daqui? — Victória falou baixinho, e eu notei que sua voz
estava embargada. — A gente procura um vestido em outro lugar…
Franzi a testa por causa do seu tom de voz. Eu não conseguia entender o que
houve, desde que eu avisei que nosso “esconderijo” havia sido descoberto, e que
por causa disso iríamos a um jantar chato, com um bando de baba-ovos Victória
estava apreensiva, mas ainda havia aquela aura radiante que sempre a rodeava…
Ela estava feliz.
Em contrapartida, eu estava me segurando para não enlouquecer, e para minha
garota eu tinha que fingir que tudo estava bem, o que era uma mentira, já que
graças àquela vadia perseguidora eu estava quase explodindo de raiva.
Bom, a verdade era que eu simplesmente poderia recusar o convite, mas eu
queria mostrar minha garota para todo mundo. Quer dizer, eu já fiz isso, mas as
vadias precisam ver que eu sou carta fora do baralho.
Eu fui muito bem fisgado… laçado… amarrado, enfim…
— Amore mio, qual o problema? — perguntei, enquanto me levantava da
minha cadeira e ia até onde ela estava. Segurei seu rosto entre minhas mãos,
obrigando-a me olhar.
O que eu vi em sua expressão me desarmou.
Medo, desgosto e principalmente tristeza.
— Minha pequena, o que houve? — tornei a perguntar e uma lágrima
escorreu de seus olhos.
— Não vou comprar um vestido que eu mesma fiz! — chorou baixinho. —
Não vou… comprar um vestido que eu mesma fiz… — repetiu e afastou-se de
mim, ficando de costas enquanto escondia o rosto entre as mãos.
Respirei fundo e agradeci a Deus por essas lojas chiques serem muito bem
preparadas para receber clientes como eu. Neste caso, eu tinha certa privacidade,
já que nós estávamos em um lugar reservado. Ou seja, estávamos em uma sala
redonda, com um único provador e uma poltrona que permitia Victória desfilar
para mim.
Estávamos nos divertindo um pouco, até que a vendedora trouxe “os
exclusivos” e mais caros vestidos da loja. Bastou um olhar e o sorriso que minha
mulher ostentava morreu.
Agora eu sei o motivo.
Suspirei, sentindo minha ira cultivada voltando como uma onda destruidora.
Mesmo que por dentro eu estivesse tremendo pelas minhas emoções
sombrias, eu precisava cuidar para não demonstrar.
Caminhei em sua direção abraçando-a por trás.
— Amor, isso vai acabar, eu te juro, muito em breve você estará longe
daquele ateliê ridículo. — Pigarreei e encostei meu queixo em seu ombro. — Você
tem que concordar comigo que Blanchet não tem o menor senso de decoração, pelo
amor de Deus, eu me senti em um cabaré mal decorado, quando entrei lá. Juro que
pensei que, a qualquer momento, uma dançarina iria aparecer dançando um can
can… ou fazendo um cover de Elvira, a rainha das trevas, sabe, aquela que
balançava uns troços nos peitos e…
— Bobo — soluçou baixinho, mas eu ouvi o sorriso em sua voz. — Eu sei o
que está fazendo!
— E está funcionando?
— Sim, está. — Suspirando, ela se virou em meus braços. — Sempre
funciona.
Sorri satisfeito e beijei a ponta de seu nariz.
— Vamos embora daqui e vamos procurar um vestido para você em outro
lugar.
— Obrigada.
— Eu faço tudo por você! — entoei fervoroso, entretanto, Victória não sabia
que eu dizia essas palavras em sentido extremo, ou seja, últimas consequências…
Nada estaria fora do meu alcance, faria o que fosse preciso para protegê-la, o
que aconteceu com Gordon não foi nada. Sou capaz de fazer muito pior.
— Amor? — Sua voz me tirou dos meus devaneios de psicopata. — Vamos?
— Claro, vamos — murmurei e saímos do lugar reservado. A vendedora nos
olhava ansiosa, a verdade é que se Victória quisesse levar tudo, iríamos levar, mas
ela não quis nada.
— Então, qual dos vestidos escolheram? — a vendedora perguntou, olhando
para Victória.
— Eu, uhnn… Não gostei muito. Quero dizer, são lindos, mas, eu não…
Sorri de leve, Victória estava tentando não desapontar a vendedora.
— Srta. Fontaine, os últimos vestidos são exclusivos D’Blanchet!
Minha garota encolheu-se um pouco, quase como se tivesse sido golpeada
fisicamente, e de fato era quase como se houvesse sido mesmo.
— Eles são lindos, eu sei, e obrigada pelo atendimento incrível — Victória
sussurrou. — Mas eu não os quero…
A vendedora suspirou e sorriu.
— Isso vem acontecendo com os modelos D’Blanchet, parece que a diva da
moda está passando por um bloqueio artístico! Muitas clientes pararam de
comprar, porque querem novidades, e outras não querem mais, creio que estão
esperando a nova fase. Com certeza, quando suas criações voltarem, até esses que
estão emperrados irão vender feito água, sempre foi assim, ou melhor, ficou assim
mais ou menos nos últimos cinco anos… — A vendedora olhou bem para Victória
e sorriu. — Nós estamos com uma peça de demonstração de uma estilista nova.
Você gostaria de vê-lo?
Victória aceitou e eu me afastei um pouco.
Minhas mãos tremiam de raiva.
Bloqueio artístico é o cacete!
Aquela filha da puta está inventando “moda”. Com certeza, essa foi a
desculpa que ela deu para a mídia e para as clientes.
— Muito bem, pode procurar um psiquiatra, Madame Blanchet, porque o seu
bloqueio irar se tornar permanente — bufei contrariado.
Alguns minutos depois e Victória saiu junto com a vendedora. Ambas tinham
um sorriso misterioso nos lábios.
— Então, você vai provar? — perguntei, já querendo um vislumbre de seu
corpo só de lingerie.
— Eu não preciso, ele é perfeito.
Devo ter feito uma cara decepcionada. pois Victória sorriu e veio até onde eu
estava.
— À noite, Sr. Masari — sussurrou em meu ouvido.
Depois de pagar e do vestido ser embalado, fomos para um salão de beleza.
Assim que chegamos lá, Helena, a dona do salão e uma amiga da minha mãe,
veio nos receber.
Conversamos um pouco, e ela sorriu para Victória, que prestava atenção
mesmo não entendendo nada.
— Por favor, Helena, fale em inglês, Victória não fala italiano.
— Oh, perdoe-me! — exclamou e logo puxou assunto — Minha querida,
Pablo vai enlouquecer quando vir esses olhos e esse cabelo.
Pronto, azedou!
Fechei a cara, cruzando os braços. Agora eu não vou sair daqui.
— Você não tem uma mulher para atender minha noiva, Helena? — Minha
voz saiu chateada.
— Tenho, querido, mas Pablo é o melhor, e, se eu não levar essa beleza aqui
para ele, acredito que ele entrará em greve como uma forma de protesto.
Soltei alguns palavrões sob meu fôlego e acompanhei as duas mulheres para
dentro do salão propriamente dito. Assim que entramos, eu ouvi barulhos de
secador e conversa cessarem.
— Pablo, querido, conheça Victória, é ela em quem você ira trabalhar.
Eu quase engasguei aliviado quando vi um… bom, como Dimitri gosta de
dizer mesmo? Ah, sim, “um fugitivo”. Só para esclarecer, sem preconceitos, mas
Dimitri não seria Dimitri se não apelidasse até a mãe dele, então, ele classifica os
gays, como Fugitivos, do filme A gaiola das loucas, ou de Pricila, a Rainha do
Deserto, isso vai depender do humor em que ele se encontrar. Enfim, a verdade é
que isso me deixa tranquilo. E eu não terei que dar uns sopapos em nenhum
cabeleireiro assanhado.
— Querida, solte o cabelo, por favor — o homem falou, e Victória começou
a desfazer o nó de cabelo que enfeitava o topo de sua cabeça.
— Por Da Vinci, é uma obra de arte! — exclamou, enquanto enfiava as duas
mãos nos cabelos de Victória e terminava de desmanchar os cachos. — Ele é
lindo! — quase gritou, dando pulinhos. — Garota, esse cabelo é incrível!
Eu só posso concordar com ele. Seu cabelo da ia até a cintura, era espesso e
brilhoso. E eu adorava enrolá-lo em meu punho enquanto a penetrava por trás. Puta
merda, puxei a sacola para minha frente, na tentativa de esconder meu pau, que
estava começando a ficar todo alegre.
— Obrigada… Pablo — Victória agradeceu ao cabeleireiro, a essas horas
ela já estava toda vermelhinha, minha ereção pulsou, eu bem sabia que o rubor
dela estendia-se pelo seu colo, atingindo seus mamilos e…
“Pare, seu pervertido!”
— Eu vou cortar o seu cabelo na altura dos ombros, você vai ficar linda e
sofisticada, além do mais, esse corte combina com o formato do seu rosto e…
— Você não vai cortar porra nenhum! — grunhi revoltado. — Não ouse
encostar essa sua tesoura assassina no cabelo da minha noiva…
O cabeleireiro engoliu em seco e assentiu. Mas eu sou desconfiado e agora é
que não saio daqui mesmo.
— Vou avisar só uma vez, se você cortar o cabelo da minha noiva, eu vou
quebrar as suas duas mãos….
— Rocco! — Victória exclamou horrorizada. — Para já! Não se preocupe,
Pablo, ele não fará isso! Mas eu prefiro meu cabelo longo, então vamos deixá-lo
assim, okay?
— Si-sim… claro… — respondeu, engolindo nervoso. — Venha, vamos
começar.
Eu fiquei boa parte da tarde de olho no cabeleireiro, vai que ele dá uma de
doido e esquece o meu aviso.
De vez em quando ele me olhava e eu fechava o punho, mostrando a ele, que
eu estava falando sério. Apesar de estar causando constrangimento a algumas
clientes e mantendo o tom escarlate no rosto da minha mulher, eu estava até
confortável.
Eu não via a hora de entrar naquele pomposo salão de baile com ela, era
nosso primeiro evento juntos, e eu estava ansioso. Meu mundo era cruel,
entretanto, eu precisava que Victória se acostumasse a isso. Afinal, ela não só iria
participar de muitas celebrações, como também iria ser anfitriã.
Foi quando lembrei que Victória não tinha joias.
— Ah, porra! — Levantei da minha cadeira e fui até onde ela estava, deitada
em uma maca com uma toalha na cabeça e outra cobrindo seus olhos. Ela sorria
enquanto seu rosto era massageado, fiz um sinal para a massagista parar,
aproveitando a chance para dar um selinho nos lábios da minha noiva. — Vou sair
e volto às 19h30min para buscar você — murmurei muito próximo dela.
— Tudo bem. — Sorriu puxando minha camisa para mais um beijo. Não nos
empolgamos muito, por causa do ambiente, mas à noite… Ah, à noite eu saciaria
minha fome por ela.
Deixei Victória aos cuidados de Helena e sua equipe, entretanto, antes de
sair, dei uma espiada na cor do vestido.
Azul.
Sorri para esse detalhe, Victória gostava dessa cor.
Capítulo 10
Victória

Meu Deus, sabe aquela sensação de prazer quando alguém está mexendo em
seu cabelo? Agora imagine alguém massageando seu couro cabeludo?
É muito bom. Eu quase poderia dormir, de tão prazeroso que é. Juro que
acabei de descobrir um ponto fraco em mim, todos os outros ficam por conta do
Rocco, aquele ali sabe como e onde me tocar.
De vez em quando eu suspirava de contentamento, estava tendo tratamento de
rainha. Cabelos, unhas, pele…
— Querida, eu nem sei se vou cortar seu cabelo! — Pablo murmurou
enquanto mexia em minhas madeixas. — Aquele seu homem é muito ignorante!
Mas que homem, meu Deus! — Suspirou dramático. — Mesmo com toda aquela
ignorância ele é um pedaço enorme de bom caminho! Você está bem servida, viu?
Não pude evitar rir, na verdade, quase todo mundo ria das expressões
exageradas do Pablo.
— Pode cortar, não leve o Rocco a sério — assegurei, para tranquilizá-lo. —
Mas, por favor, não diminua muito o tamanho.
— Não se preocupe, eu vou apenas distribuí-lo em camadas, irá ficar
perfeito!
E assim foi, eu nem acreditei no resultado quando a escova ficou pronta, meu
cabelo estava maravilhoso. Eu parecia uma atriz famosa.
— Pronto, Diva, você já admirou demais seu cabelo, agora vamos adiante.
— Não sou Diva, Pablo! — exclamei envergonhada.
— Minha filha, você fisgou um verdadeiro macho alfa, podre de rico e gato!
Então, sim, você é minha Diva e ponto!
Balancei a cabeça, rindo, e fui tomar banho. Nem acredito no quanto aquele
salão é incrível. Tinha de tudo que uma garota poderia sonhar. Saí do banho
relaxada e fui até a caixa que guardava meu vestido.
Abri e enfiei minha mão no fundo, para pegar a minúscula calcinha sem
costura que o acompanhava.
— Também, com um decote desse! Só tendo uma lingerie especial mesmo. —
Balancei a cabeça, ansiosa. Nem sei o que Rocco vai achar do meu vestido! Nossa
senhora, ou ele me mata ou me ataca. Ainda podia ouvir a voz da vendedora me
dizendo que aquele vestido era ousado e perfeito para mim. Pois combinaria
inocência e pecado.
Quando estava pronta para começar a segunda parte da arrumação, voltei
para a área comum do Studio de beleza, agora eu trajava um roupão e notei que
havia outras mulheres iguais a mim ali. Muito satisfeito por eu não ter demorado,
Pablo começou a enrolar meu cabelo com o baby liss. Depois dessa etapa,
começou minha maquiagem.
— Diva, por favor, me explique como é o seu vestido, preciso fazer o
penteado perfeito. — Revirei os olhos para o “Diva” e expliquei.
— Pablo, o meu vestido é constituído de aplicações em cima de um tule cor
da pele. Ele tem bastante brilho, e minhas costas ficam visíveis, na frente há um
decote até o umbigo. Entretanto, o decote frontal não é aberto, pois é construído
pela aplicação em si. A parte superior tem aplicação nos ombros e o vestido é de
manga comprida com gola canoa.
— Diva, o selvagem do seu noivo vai te trancar! Ele parece ciumento.
— Você não viu nada! — murmurei, e ele começou a trabalhar em minhas
madeixas.
No final eu nem acreditava no que estava vendo.
A mulher diante do espelho não era eu… Não podia ser. Diante de mim, vejo
uma mulher linda, delicada e ao mesmo tempo sexy. E olha que eu nem coloquei o
vestido ainda.
— Nem ouse chorar! — Pablo berrou e eu pulei de susto. — Não desmanche
minha obra prima ou eu corto a amizade com você! — terminou de falar e colocou
as duas mãos na cintura.
— Sim, senhor. — Sorri fungando. — Obrigada, Pablo, pelo milagre que
você fez! — agradeci, apontando para meu rosto e cabelo.
— Olha, eu não fiz nada de mais, você é linda e tem um brilho especial que te
rodeia, eu apenas o deixei mais evidente. Só isso…
Nós nos abraçamos e eu fui para o quarto reservado a mim. Coloquei o
vestido, com cuidado para não bagunçar meu cabelo, e depois coloquei as
sandálias, que comprei na mesma loja que o vestido. Virei para olhar minhas
costas e lá estava o tule cobrindo até quase o meu quadril. Mordi o lábio, com
medo de ter escolhido o vestido errado.
Bom, agora era tarde, pois eu já estava pronta. De repente, Helena chega e
traz uma pequena sacola chique, sorrindo, me entrega. Dentro há o meu perfume
favorito. Amor Amor… e um bilhete.
Fique cheirosa para mim…
RM
Fechei os olhos, respirando fundo por causa do tremor de excitação que
percorreu meu corpo, me perfumei estrategicamente, do jeito que minha mãe me
ensinou. Depois de tudo pronto, juntei minhas coisas dentro da minha bolsa e fui
esperar por Rocco.

***

Rocco

Às sete e meia, eu cheguei em frente ao Studio Luxus. Desci da Limusine e


entrei segurando um presente especial para a futura Sr. Masari.
Assim que entrei na área onde minha garota estava, eu quase tive um enfarte.
Puta que pariu!
Victória estava… ela estava…
Não tenho palavras, estava tão embasbacado que nem pensar direito eu
conseguia.
— Amor… — Minha voz saiu rouca, pigarreei para poder continuar falando:
— Você está… magnífica.
Sorrindo, ela começou a girar.
— Caralho! — ofeguei, chocado, e tive que buscar apoio na cadeira mais
próxima.
Com certeza, naquele momento, eu estava com o tamanho errado de cueca.
— Então você gostou?
Como é que ela me pergunta uma coisa dessas? Eu estou duro, cheio de tesão,
morto de ciúme e sei lá mais o quê… Puta merda, por que eu inventei de aceitar
esse convite?
Se no casamento de Antonella Victória estava perto de me causar um enfarto,
agora ela estava pronta para jogar uma pá de terra no meu caixão!
— Você está maravilhosa, amore mio! — exclamei, encontrando minha voz.
— Mas, porra, esse vestido está… puta merda, eu estou doido para te fo…
— Rocco, não estamos sozinho! — disse, interrompendo minha fala. E foi só
aí que eu me lembrei das outras pessoas.
Sorri de lado. E fui até minha garota, virando-a para frente do enorme
espelho ali.
Para começar, eu cheirei seu pescoço, depositando um beijo em seu ombro.
De perto, eu vi que havia um tecido quase transparente cobrindo suas costas e
o decote frontal.
Esse pano indecoroso não esconde porra nenhuma, rosnei em pensamento,
tremendo, excitado, doido para me enterrar em Victória e estocar duro e profundo
enquanto ela grita meu nome no ápice do prazer.
Respirei fundo para aliviar minha ereção dolorida. Contei até dez e tentei ser
objetivo, partindo para o que interessa, “agora”!
Peguei a sacola que trouxe e de dentro tirei um estojo preto, abrindo-o logo
em seguida, para os suspiros e ofegos das demais.
Dentro do estojo, havia um delicado colar de prata trabalhado com pequenas
folhas enfeitadas com diamantes, o pingente era uma turmalina Paraíba azul,
adornada com pequenas garras de sustentação.
Cuidadosamente, retirei o colar e coloquei no pescoço da minha futura
esposa, em seguida, entreguei-lhe os brincos, concordamos que ela não usaria o
anel, pois eu não queria que ela tirasse o de noivado.
Sorri para a o espelho. Eu sempre ficava doido com essa imagem. Eu, atrás
dela, me lembrava da nossa aula e, tudo que aconteceu depois.
“Vamos, seu tarado pervertido, ou irá chegar atrasado!”, meu
subconsciente debochou.
Saímos do salão depois de algumas despedidas bem fervorosas.
Pablo parecia encantando por minha garota. Sendo sincero? Eu não poderia
culpá-lo.

***

A viagem até o Palazzo Ducale foi feito em um silêncio confortável. Juro que
era até melhor assim, pois eu estava correndo o risco de atacar minha garota de
forma indecorosa.
De vez em quanto, eu ajeitava o volume cheio das minhas calças, ainda bem
que meu terno cobria essa região, caso contrário, eu teria que inventar alguma dor
para andar meio torto.
Chegamos ao Palazzo, primeiro eu saí e depois estendi a mão para ajudar
minha bella sposa.
Assim que Victória deixou a proteção do carro, os flashes começaram a
espocar ao nosso redor. Não demoramos, logo eu a guiava para dentro do enorme
Palazzo.
— Rocco, todos estão me olhando! — Victória murmurou, apertando a mão
em meu braço assim que entramos no grande e imponente salão.
— Inveja, amore mio, pura e simples! — Sorri, dando-lhe um selinho. — Os
homens, porque querem você, e as mulheres, porque não são você!
— Ai, seu bobo! Aqui só tem gente linda! Nem vem com essa! — cochichou,
sorrindo.
— Você é de longe a mais linda! Não se importe, todos olham para você para
tentar descobrir o segredo de como conquistar um canalha cínico e mal-humorado!
— Você não é mal-humorado!
— E canalha, eu sou? — perguntei, arqueando uma sobrancelha.
— Claro que não, né, seu bobo?!
— Tudo bem, agora relaxe, você não precisa fazer nada que não queira, isso
aqui é como assistir a uma corrida de tartaruga aleijada. Enfadonho, dá sono!
Todos ao redor prestaram atenção à risada gostosa que minha garota deu.
— Obrigada….
— Sou seu escravo, agora vamos, pois espero que a “tartaruga de uma perna
só” não demore muito a ganhar, eu necessito estar dentro de você o mais rápido
possível.
— Pervertido safado! — murmurou apenas para eu ouvir.
— Pervertido safado, completamente tarado na minha noiva deliciosa… —
murmurei de volta.
Victória balançou a cabeça, corada, e começamos a circular.
Não vou nem dizer que todos os marmanjos novos e velhos ficavam todo
ouriçados perto da minha garota, tive que abrir minha cauda de pavão e mostrar
que, nesse território, a fêmea já foi reclamada.
Victória era educada, atenciosa e sempre estava com um sorriso sincero. Ela
cativou o Duque e a Duquesa de Ferrara. E olha que a velha Duquesa era osso
duro de roer.
Enfim, a noite estava indo muito bem, até que eu senti os pelos da minha nuca
arrepiando. Olhei para a entrada e vi a criatura mais odiosa do mundo chegando,
acompanhada do famoso assediador de secretárias.
Nem podia acreditar que Susan Weber, a vadia-chefe de todas as vadias do
mundo, minha fodida ex-noiva, estava respirado o mesmo ar que minha Victória…
Isso vai dar em merda!
Victória
Apesar de ter sentido medo no início, agora eu estava relaxada. As pessoas
que eu conheci são educadas e atenciosas, entretanto, a pessoa de que eu mais
gostei foi a Sra. Franchesca, a Duquesa De Ferrara. Ela era uma mulher fina,
elegante e muito espirituosa, conversar com ela era incrível.
Notei que Rocco ficou tenso ao meu lado e olhei para ele. Seu rosto estava
com uma expressão assassina, e por isso segui seu olhar até a entrada, onde
acabava de entrar uma mulher lindíssima.
Ela era alta, loira e estava deslumbrante em um vestido tomara que caia
vermelho. Com certeza era a mulher mais bonita da festa.
— Amor, tudo bem? — perguntei, vendo meu homem grunhir baixinho.
Franzindo a testa, tirei minha mão de seu braço e peguei a dele, apertando-a. —
Tudo bem?
— Sim, meu amor, tudo bem! — murmurou, pegando uma taça de champanha
e virando-a de uma vez.
Depois desse momento estranho, a festa continuou, Rocco não desgrudou do
meu lado, até a hora do jantar, mesmo ajeitando para que a tal loira de vestido
vermelho não se sentasse do meu lado, ele não conseguiu evitar que o
acompanhante dela o fizesse. Agora eu estava de frente para Rocco, e a loira, uma
cadeira depois dele.
Notei que meu lindo estava tenso, sua boca apertada em uma linha fina,
enquanto fuzilava o homem sentado ao meu lado. A expressão de Rocco estava
assustadora.
O jantar começou e eu não tirava os olhos do meu homem, e ele também não
tirava os seus de mim. Estávamos conversando entre olhares.
O olhar dele me dizia que ele iria arrebentar a cara do homem sentado ao
meu lado se ele ultrapassasse a linha. E o meu respondia para ele ter paciência e
não fazer barraco.
Estava tudo indo bem, até que o cara do meu lado inclinou-se e veio falar
alguma no meu ouvido. Afastei-me, e Rocco rosnou baixo. O homem voltou para o
seu lugar. Em seguida, eu senti uma mão na minha coxa, e sem ter o que fazer e
para evitar um provável assassinato, eu levei minha mão até a do homem e
belisquei. Na verdade, eu segurei a pele do atrevido com minha unha feita e
apertei com força, até trinquei os dentes.
O homem tirou a mão e não tentou mais nada. Ainda bem, porque se ele não
tem amor à vida, eu não tenho nada a ver com isso.
Terminamos o jantar mais longo da história e voltamos para o grande salão.
— Rocco, eu vou ao toalete — avisei e perguntei se a senhora Ferrara queria
ir. Ela aceitou e, de braços dados, fomos juntas.
Foi uma verdadeira manobra fazer o que eu precisava, meu vestido era
realmente um empecilho, mas consegui e, quando terminei, lavei minhas mãos e
esperei pela minha anfitriã. Enquanto aguardava, não pude deixar de notar o luxo e
riqueza que todo o lugar ostentava.
Dá para acreditar que as torneiras são de ouro?
Caramba, um ladrão aqui choraria e, iria querer levar o Palazzo inteiro na
cabeça.
— Vamos, minha querida?
— Ah, sim, claro!
Saímos do toalete e a duquesa quis me levar para conhecer um lugar.
Voltamos para o salão, mas em vez de nos juntarmos aos outros, andamos até
enormes portas duplas que se abriam para revelar um lindo jardim iluminado.
— Aqui é lindo! — exclamei sorrindo.
— Eu cuido do jardim, é meu hobby desde sempre.
— A senhora está de parabéns, aqui é incrível e tem uma aura romântica
permeando o lugar. — De fato, havia alguns casais circulando por ali.
Ficamos em silêncio, apenas curtindo o ambiente lindo. Quando, do nada,
surge uma turma de mulheres com cara de raiva.
— Você é a nova companheira de foda do Rocco, não é?
Fui abordada pela única morena do grupo. Quero ressaltar que ela me olhava
com muito desdém.
— Eu não sou companheira de “cama”, sou a noiva dele! — respondi suave,
eu não conseguia levantar a voz. Eu não gostava, pois, para mim, os gritos não
provam nada.
— Noiva? Foi isso em que ele te fez acreditar? — a ruiva se manifestou e,
nessa hora, a duquesa abriu a boca, entretanto, ela era uma mulher de idade e eu
não queria que se exaltasse por minha causa.
— Senhora, pode deixar comigo, sim? — falei baixinho e peguei sua mão. —
Ele fez o pedido na Fontana di Trevi e me deu um enorme diamante rosa, acho que
isso significa algo, não?
Consegui dar alguns passos em direção à porta, quando o silêncio foi
quebrado.
— Meu Deus, você será só mais uma! Rocco Masari coleciona mulheres…
Eu não sei explicar o porquê de elas estarem me insultando. De qualquer
forma, eu devo ser um caso para estudo, eu não me sentia nem um pouco abalada.
— E por acaso era para ele colecionar o quê? Carrinhos? Acho que ele já
passou dessa fase! — respondi, e minha querida duquesa soltou uma risadinha.
— Você é uma idiota, ele já fodeu com quase todas aqui. Nos três,
inclusive…
— E onde está o problema? — Agora eu me virei, ficando de costas para a
porta. Nem prestei atenção quando a duquesa soltou minha mão e afastou-se.
Ainda ficamos mais alguns instantes nos encarando, até que uma daquelas três
doidas resolveu se manifestar.
— Você é uma sonsa que quer dar o golpe do baú. Eu não iria estar tão
tranquila, sabendo que meu noivo já dormiu com quase todas as mulheres na festa
em que estou.
Okay, eu não sou a idiota que todos pesam, apenas sou pacifista. Mas tudo na
vida tem limite, e se elas querem provocar, vamos lá.
— Bom, devo salientar que comigo ele não dorme, ele fica muito acordado,
agora, se vocês aí são enfadonhas ao ponto de fazê-lo dormir, o problema não é
meu — respondi de queixo erguido.
— Você é uma idiota! Qual a parte do “ele já fodeu com todas as mulheres
daqui” que você não entendeu?
Fechei os olhos, pedindo a Deus paciência.
— Sabe, eu só ficaria assustada se ele houvesse “fodido” com todos os
homens! Entretanto, eu não vejo problema de ele ter “fodido” com as mulheres, e
que eu saiba, ele não fez um voto de castidade. — Parei para olhar as unhas. —
Ah, outra coisa, quando você “dá” ou “distribui” algo de graça, a maioria das
pessoas aceita, mesmo não querendo. Sabe como é a natureza humana — respondi
dando ombros
— Sua infeliz! — a ruiva resolveu manifestar-se. — Você não é sofisticada o
suficiente, olhe para você, parece a gata borralheira.
Olhei para elas durante o que pareceu uma eternidade. As três começaram a
se remexer, desconfortáveis com minha encarada. Por fim, resolvi colocar um
basta nessa cena ridícula.
— Eu só consigo sentir uma coisa quando olho para vocês! Tristeza…—
suspirei. — Não vejo anel em seus dedos, não vejo elegância em seus gestos,
podem até se julgar magníficas, mas não foi eu que procurei uma desconhecida e
baixei o nível. Vocês são ignorantes, mal-educadas, descaradas e sem um pingo de
amor próprio. Com essas atitudes, com certeza nenhum homem irá querê-las, quem
quer passar vergonha? São bocas-sujas e estranhas, se Rocco fodeu as três, o
problema é dele, e se ele não as quis, deve ser porque há um motivo. Um muito
óbvio para mim. Homem nenhum gosta de mulher barraqueira, que mais parece
estar no cio. — Pronto, eu nunca desabafei dessa forma na minha vida, o que não
quer dizer que eu não soubesse.
Ninguém mais vai me humilhar. Já basta o que eu tenho que suportar da
Madame Blanchet. E outra coisa, meu sangue brasileiro não permite.
— Ora, sua v….
— Amor… — Rocco falou alto, interrompendo a fala da loira. — Eu te
procurei tanto, já estava com saudade, por favor, venha, eu acho que a duquesa
quer te dar algumas ideias para o nosso casamento!
Ele estava com um sorriso de orelha a orelha, e eu tive que sorrir também,
Rocco parecia radiante.
— Claro, vamos… — concordei, aceitando o braço que ele me dava.
— Dio mio, como eu estou apaixonado por você, bella mia… — falou alto e
eu arqueei uma sobrancelha. — Você me tem nas mãos, sou seu escravo fiel…
Escutei ofegos e murmúrios chocados, olhei para as mulheres e elas estavam
com a maior cara de tacho do mundo. E certo, agora elas me encaravam como se
eu fosse o próprio Alien.
— Vem, amore mio, não percamos tempo.
E com isso saímos do jardim, entretanto, não chegamos até o salão, antes do
casal “loira e mão boba” nos abordarem.
— Rocco, querido, há quanto tempo! — a loira bonitona exclamou e veio dar
dois beijinhos no rosto dele.
— Não encoste em mim, sua vadia! — rosnou furioso, me deixando chocada.
— Uhmmm, vejo que ainda guarda raiva de mim. — Sorriu feliz. — Isso é
porque ainda estou em seu sistema, não é?
Certo, agora eu estava nervosa. O que aquelas três não conseguiram com
todas as provocações, essa mulher conseguiu rapidinho.
— Não, Susan, você não está em canto nenhum! Agora me deixa em paz.
Tentamos sair, mas ela interrompeu.
— Você sabe que nunca vai encontrar outra mulher como eu e nem amar outra
mulher como me amou. Depois de dez anos, você ainda treme perto de mim. Eu
sei, querido, eu sinto o seu desejo.
Tremi inteira e fui tomada, mesmo sem querer, por insegurança.
— Você me faz arquejar de nojo! — Rocco cuspiu raivoso. — Eu tenho nojo
dessa sua cara falsa. Agora suma da minha frente, sua puta.
— Ain, querido, assim que me apaixono de novo! — ronronou.
Eu puxei meu braço de Rocco e dei um passo atrás. Ele me olhou, levemente
pálido, e eu balancei a cabeça, tentando dizer que estava tudo bem, era só que
aquela mulher me causava muita repugnância, e eu não conseguia ficar perto dela
sem me sentir enjoada.
— Isso, querida, vai mesmo, eu e Rocco temos que relembrar a época que
éramos noivos e fazíamos planos…
Arfei baixinho, mas me mantive firme. Francesca chegou ao meu lado, me
dando apoio, não sabia o que fazer. Entretanto, deixar Rocco sozinho é que eu não
iria.
Voltei para perto dele e peguei sua mão. Ele suspirou aliviado e sorriu para
mim.
— Olha, moça, se você prestar atenção no tempo em que sua frase se
classifica, verá que está no passado, e quem vive de passado é museu, portanto,
junte toda essa sua cara esticada e dê o fora, caso contrário, deixarei minhas
impressões digitais muito bem impressas nela — falei calma, fazendo Rocco rir e
vir me abraçar por trás.
— Como ousa, sua…
— Ai, cala a boca! Nunca vi tanta mulher invejosa na minha vida. Minha
filha, esse partido aqui — falei, apontando para Rocco atrás de mim — está fora
do mercado, ele é meu. Portanto, fique com esse grosso de mão boba aí e deixe o
meu homem em paz. Você não quer que eu perca a paciência.
— O que você disse, amore mio? — Rocco grunhiu muito baixo, e logo eu me
bati por ter falado demais. Todavia, eu não mentiria para o meu amor, vai que
depois a história sai distorcida e eu pago o pato.
Não mesmo.
— Esse estranho aí,tentou passar a mão na minha perna, e eu quase arranquei
a pele da mão dele com um beliscão!
Rocco me soltou e parou do meu lado, olhei para ele e tremi. Meu homem
tinha uma cara de psicopata profissional. Segurei sua mão, mas com muita
gentileza, ele a soltou. Depois ele olhou para a mão do dito cujo, e lá estava a
marca vermelha, já ficando roxa.
Então, sem aviso prévio, meu noivo acertou o punho na boca do homem que
se atreveu a me tocar.
— Você não toca o que é meu, seu infeliz, não toca! — rosnou muito furioso e
descontrolado.
Ai, meu Deus, é guerra…
Capítulo 11
Rocco

Não consigo explicar o que acontece comigo neste instante, ou melhor, eu


acho que consigo, sim. Desde que eu dei o primeiro murro na cara do idiota que
tocou Victória, uma fúria aterradora me consumiu em questão de instantes, era
quase como se toda a raiva que eu sentia houvesse explodido, tornando-me um
animal, ou melhor, um destruidor de rostos.
— Filho da puta! — rosnei, acertando mais um murro e outro, e quando eu
dei por mim, o idiota estava inconsciente, e eu era puxado de cima dele.
— Já chega! — escutei um grito que conseguiu atravessar a névoa de ira em
que me encontrava. — Você está fora de si! PARE….
Pisquei os olhos em busca de foco, e lá estava o estrago que eu fiz. O rosto
de Giácomo (assediador de secretárias) estava ensanguentado, as pessoas ao redor
me olhavam com medo, Susan, a vadia chefe, estava com um sorrisinho cínico que
me deu ainda mais raiva. Respirei fundo em busca de controle.
Inspire, expire, inspire, expire…
Agora meu olhar procurou o da minha sposa.
Quando meus olhos a encontraram, eu senti como se tivesse levado um murro
no estômago. Victória estava pálida, de olhos arregalados, assombrados, tristes, e
o pior de tudo, decepcionados.
Ela me olhava com uma expressão que me aterrorizou, e só por isso pensei
que eu havia passado dos limites por conta do meu ciúme.
Soltei-me dos braços que me seguravam e caminhei até ela. Parei a dois
passos de distância. Precisava que ela desse esses dois passos para mim…
— Amore mio, vem — sussurrei, estendendo uma das mãos. Mesmo sem
querer, eu tremia, e quando Victória olhou para minha mão estendida, seus
enormes olhos verdes se encheram de lágrimas.
Então eu vi que havia sangue entre meus dedos.
Merda! Fodi com tudo… eu fodi com tudo, porra!
— Pequena… — Minha voz saiu grave. — Vem…
Eu permaneci de mão esticada, não adiantava esconder o sangue, na verdade,
não adiantava mais porra nenhuma. Eu só queria que Victória desse esses dois
passos para mim.
Tudo à minha volta perdeu o foco, e quando eu já estava a meio passo de
enlouquecer de vez, minha sposa deu um passo, então ela puxou a manga do
vestido, e mesmo tremendo, colocou sua mão na minha.
— Oh, graças a Deus. — Puxei-a para meus braços, apertando-a com força,
mas com o cuidado de não encostar minhas mãos nela. — Perdonami, amore mio,
per favore — sussurrei em seu ouvido, sentindo seu corpo tremer ainda mais.
— Rocco, é melhor você ir — Francesca falou baixinho, tocando meu ombro.
— Vá, eu cuido de tudo aqui, sua limusine já aguarda.
— Grazie…
Cuidadosamente, guiei Victória até a saída, e como a duquesa falou, minha
limusine já aguardava. Ajudei-a a entrar, e, para minha total decepção, ela sentou
o mais distante possível de mim.
— Pequena, eu…
— Shhh — sussurrou, sua cabeça estava encostada no vidro da janela,
enquanto seu olhar ia perdido na rua. — Não fale nada, por favor, só façamos
silêncio…
Victória falou tão baixo que eu me inclinei um pouco para ouvi-la.
Meu corpo inteiro travou com a tristeza e a decepção que marcavam seu tom
de voz. Apertei minhas mãos em punhos, travei meu maxilar. Eu estava tenso,
nervoso e arrependido.
Não porque eu desci o braço naquele filho da puta, isso jamais, meu
arrependimento consistia em ter feito isso na frente dela.
E foi aí que eu tive absoluta certeza de que, se eu houvesse acabado com a
vida do bastardo do Gordon, Victória nunca me perdoaria.
A viagem até o nosso hotel foi feita no mais absoluto silêncio. Victória, além
de calada, parada, sem mexer nem as mãos. Ela não demonstrava absolutamente
nada, e isso me deixando em estado de pânico Assim que chegamos, eu ajudei-a a
descer do carro, por fim, peguei as bolsas com as compras de hoje cedo e
subimos, ainda em silêncio.
Caralho, eu estou sentindo o frio causado pelo gelo que Victória está me
dando!
Chegamos à nossa suíte no mais completo silêncio, minha garota caminhou
em direção ao quarto e não olhou para trás. Eu a segui, mas fiquei parado na porta,
apenas observando seus atos.
Primeiro ela tirou o colar e os brincos com cuidado, colocando-os em cima
da penteadeira, depois ela me olhou, mas logo desviou o olhar e seguiu para o
banheiro.
— Eu vou só, err… tomar banho — falou ainda sem me olhar. — Você quer ir
primeiro?
Fechei meus olhos, as palavras dela deixaram claro que o banho não seria
acompanhado.
— Vá primeiro, minha pequena, eu espero você. — Obriguei minha voz a
atravessar o bolo em minha garganta.
— Tudo bem — respondeu baixinho e entrou com vestido e tudo no banheiro,
trancando a porta em seguida.
— Eu sempre vou esperar por você, meu amor — sussurrei, caminhando para
outro cômodo, onde lavei minhas mãos e arranquei a parte superior da minha
roupa, ficando só de calça social. Joguei uma água no rosto e voltei para o quarto.
Victória ainda permanecia trancada, mas não havia som de chuveiro ligado,
por isso eu fui até a porta do banheiro e fiquei em silêncio, mas logo deslizei até o
chão, permitindo minha cabeça pender para frente, demonstrando minha tristeza
com aquela situação que eu mesmo causei.
— Por que ele fez isso, meu Deus? Por quê? — Escuto o choro baixo da
minha garota, ela não sabe que eu estou sentado na porta, ouvindo seu pranto. —
Para que tanta violência? Tanto ciúme? Será que não confia em mim? Será que não
confia?
Os soluços da minha garota rasgavam meu coração, mas eu era culpado.
Como eu pude esquecer que Victória era uma pessoa com aversão a violência?
Como eu pude esquecer que na primeira vez que me viu brigando, ela desmaiou?
— “DROGA!” — gritei comigo mesmo, muito puto por ter feito essa merda
na frente dela. Eu poderia ter pegado o Giácomo sozinho, e pronto, estaria tudo
resolvido. Mas foda-se, eu não consigo evitar, só em imaginar algum bastardo
tocando minha mulher, eu vejo tudo vermelho, e meu punho fica quase
incontrolável. E agora eu me arrependo terrivelmente da minha falta de controle,
minha garota está chorando, decepcionada comigo, e eu não sei como contornar
essa situação, porque eu não posso simplesmente dizer que isso não vai mais
acontecer.
— Não sou boa para ele… não sou…
Essa frase me fez minha respiração congelar em meus pulmões, meu coração
parou.
Não, não, não…
Victória não pode pensar um absurdo desses! Ela é perfeita para mim!
Perfeita!
— Amore mio… Abra a porta, por favor… vamos conversar, me deixa
explicar! — implorei, me levantando. Sem poder evitar, encostei minha testa na
porta e uma mão também, enquanto com a outra eu dava leve batidinhas ali. — Por
favor, amor, me deixa te mostrar que tudo vai dar certo, que você é perfeita para
mim! Por favor, abre a porta…
Quando eu pensei que ela não fosse abrir, ouvi o clique e me afastei,
esperando. Victória abriu a porta, mas se recusava a me olhar. Por isso eu peguei
seu queixo, obrigando-a a fazê-lo.
— Nunca mais diga que não é boa para mim — sussurrei, beijando seus olhos
chorosos. — Você é perfeita, mas, principalmente, perfeita mim, e se tem alguém
aqui que não é bom o suficiente, esse sou eu, entretanto, não estou abrindo mão de
você! E sabe por quê? — perguntei, limpando suas lágrimas com os polegares.
Um simples balançar de cabeça foi minha resposta.
— Porque você me faz completo, porque você é minha outra metade, e se
faltar um pedaço de mim, como eu irei seguir em frente, hum? — murmurei dando-
lhe um selinho. — Não ponha em dúvidas a sua importância, você é meu tudo.
— Não suporto demonstrações de violência gratuita, Rocco… — soluçou,
desviando o olhar. — Não é necessário bater em alguém para impor respeito, suas
atitudes concentradas e dignas farão isso por você, não adianta… somos muito
diferentes… talvez fosse melhor se…
Não deixei que terminasse de falar, tomei sua boca em um beijo apaixonado,
de medo, de desculpas. Eu não queria nem saber o rumo daquela frase. Pois pela
primeira vez em minha vida adulta, eu não saberia o que fazer, não estava pronto
para ficar sem minha garota e, sinceramente, jamais estaria.
Interrompi nosso beijo e encostei nossas testas. Nossas respirações
ofegantes, seus olhos fechados, e os meus fixos em seu rosto levemente corado.
— Nunca diga uma coisa dessas, amor, nunca mais… — resmunguei nervoso.
— Você é minha, e não vou permitir que me deixe de jeito nenhum.
— Isso não está em seu poder, Rocco! — exclamou, afastando-se. — Já
ouviu a parábola dos três conselhos? — perguntou com um suspiro cansado,
enquanto sentava-se na beirada da cama, ainda com o vestido de festa.
Essa pergunta me pegou completamente de surpresa. Eu esperava que
Victória pelo menos levantasse a voz para mostrar seu ponto, mas não, na verdade,
eu acho que nunca a vi levantar a voz.
— Uhmm… não me lembro de já ter ouvido — murmurei, passando as mãos
pelos cabelos.
— Era uma vez um casal muito jovem, eles se amavam intensamente, mas
eram muito pobres. Apesar de toda dificuldade, eles conseguiram juntar restos de
madeira, barro e tudo o mais para fazerem a casinha deles, entretanto, o marido,
não aguentava mais ver sua amada esposa passando necessidades e resolveu que
iria embora, desbravar as terras altas…
Caminhei até onde ela estava, sentando-me ao seu lado na cama. A história
me chamou atenção.
— O marido era muito possessivo e tinha em mente que, talvez, demorasse
muitos anos para voltar, e por isso, na sua última noite com a esposa, ele a fez
jurar que esperaria por ele até seu último suspiro neste mundo, a esposa prometeu
e fizeram amor durante a noite toda, como despedida. No dia seguinte, o marido
partiu, deixando para trás seu coração e a promessa de que ela o esperaria por
toda sua vida. O tempo passou, e o marido encontrou uma fazenda muito distante,
lá ele implorou por emprego, o dono perguntou o que ele sabia fazer, o marido
disse que ele faria de tudo, seria seu empregado de mais confiança e que, por
favor, ele juntasse todo o dinheiro do trabalho dele e só pagasse de uma vez,
quando ele fosse embora. “Mas qual o porquê de tudo isso, homem?” — Victória
imitou a voz de um homem e eu sorri. — Então o marido respondeu: “Eu preciso
dar algo bom para minha esposa.”
“O acordo foi selado e o marido se tornou o melhor empregado que o
fazendeiro já teve, ele sabia lidar com os animais, com a terra e com as pessoas.
Era de confiança e nunca deixou de trabalhar, no fim, eles se tornaram amigos, e
vinte anos depois, eis que o marido, morto de saudade, resolveu que já era hora de
voltar. Durante esse tempo todo, nenhuma mulher esquentou sua cama e nenhuma
tocou seus lábios, ele jurava que ainda podia sentir o sabor de sua adorada
esposa…”
— Então ele pediu demissão, pegou o dinheiro e foi para casa — concluí por
mim mesmo.
— Errado! — Victória sorriu suavemente. — No dia em que ele foi pedir
demissão, o patrão e amigo lhe fez uma proposta.
— Amore mio, você está instigando minha curiosidade. — Sorri, me
aproximando mais um pouco, em meu coração, eu sentia que o clima péssimo
estava melhorando.
— Isso é ótimo, pois quero que preste atenção — falou, me empurrando de
leve. — Bom, a proposta era a seguinte: o patrão perguntou se ele queria o
dinheiro de seus vinte anos de trabalho, ou preferiria receber três conselhos que
mudariam sua vida para sempre.
— Lógico que ele pegou o dinheiro! — Bufei, revirando os olhos. — Que
idiota iria trabalhar vinte anos sem receber um centavo e, depois, em vez de pegar
o dinheiro merecido, iria escolher conselhos?
— Fica quieto… — Victória sorriu, balançando a cabeça. — O marido
escolheu o dinheiro. — Sorri, porque eu estava certo. — Mas quando ele foi
dormir, estava com o peso da curiosidade em seu peito, e por isso foi bater na
porta de seu patrão de madrugada, então eles conversaram, mas o patrão falou que
ou os conselhos ou o dinheiro, e mesmo considerando uma loucura, ele escolheu
os conselhos. No dia seguinte, o marido se sentia eufórico e ao mesmo tempo triste
por não ter o dinheiro, mas ele estaria com sua amada esposa, e o resto eles
resolveriam, pois ele sabia que quando explicasse, ela o entenderia.
“Chegada a hora da partida, o patrão trouxe um enorme pão para a viagem,
dizendo para ele que, mesmo se sentisse fome, esperasse para dividir com sua
esposa. Então, em seguida, os três conselhos: primeiro, nunca tome atalhos em sua
vida, siga pelo caminho mais longo, pois ele é o que você conhece; segundo,
jamais seja curioso para aquilo que é mau; terceiro, nunca tome decisões
motivado pela raiva, você pode cometer erros irreparáveis, para os quais nunca
estará preparado para lidar…”
Engoli em seco com esse terceiro conselho, eu sabia que essa história toda
era algo para mim.
— Então o patrão lhe deu mantimentos e o suficiente para ele fazer a viagem.
O marido agradeceu e começou seu caminho. No começo da sua jornada, ele viu
um atalho que iria economizar um dia em sua viagem, e quando estava começando
a seguir por esse caminho, lembrou-se do primeiro conselho e voltou, afinal, ele
desistiu de seu dinheiro pelos conselhos, nada mais justo que segui-los.
“Dois dias mais adiante, ele descobriu que havia bandidos que espreitavam
viajantes logo após aquele atalho, todos os viajantes eram mortos e os bandidos
levavam tudo. Muito feliz por ter escolhido os conselhos, o marido, que já estava
bem adiantado na viagem, não via a hora de chegar em casa e abraçar sua esposa,
cheirar seus cabelos e desfrutar de seu amor, mas ele precisava de descanso, e por
isso resolveu pernoitar em uma pousada que ficava no caminho para casa.
Coitado, o marido estava tão cansado e ansioso, que não conseguiu dormir logo
que se deitou. Quando finalmente o sono o reclamou, ele foi acordado por gritos
horrendos de alguém que pedia socorro. Então ele saltou da cama, quando os
gritos tornaram-se cada vez mais altos e mais desesperados. O marido podia sentir
a maldade permeando o ar, e quando já ia abrir a porta, ele se lembrou do segundo
conselho.
“Então, tremendo de medo, ele voltou para cama e não pregou mais o olho, no
dia seguinte, descobriu que o filho do dono da hospedaria tinha surtos psicóticos e
gritava pedindo ajuda, só para matar aqueles que viessem ao seu socorro.”
— Dio santo, amore mio, isso é uma história de terror! — Fiz careta. — Não
me diga que você ouvia isso quando ia dormir?
— Sim, minha mãe gostava de me contar histórias, agora ouça, estou perto de
acabar. E essa é a parte mais importante.
“Agora que o marido estava a um passo de chegar em casa, e que, com a
ajuda dos conselhos, ele se viu salvo, sabia que sua esposa o entenderia. Nossa, o
marido nem acreditava que logo após as colinas ele iria encontrar o pequeno
bosque onde sua esposa o aguardava, ele estava sujo e faminto, mas nada disso
importava, ele só iria parar quando estivesse em casa e só comeria o pão com a
sua esposa. Enfim, ele chegou ao bosque próximo a sua casa, parou o cavalo e
resolveu seguir a pé os últimos metros. Por Deus, ele sentia suas mãos tremendo,
seus olhos lagrimejando de emoção.
Eram vinte anos, e ele não suportava mais, e lá estava ela, tão linda como
sempre foi, as rugas em seu rosto a deixaram mais encantadora, e ela sorria feliz,
olhando para frente.
O marido deu um passo, as lágrimas já se amontoavam em seus olhos, o bolo
de emoção entupindo sua garganta, mas mesmo assim ele andou, então, quando
estava perto da árvore onde ele gravou seus nomes, um homem apareceu
abraçando sua esposa. Mesmo de longe, ele poderia ver o amor em sua feições,
sua esposa sorria, enquanto o outro a girava, gritando que amava e ela o
correspondia com o mesmo furor.”
Puta que pariu, eu matava o bastardo com requintes de crueldade! Infeliz!
Estreitei meus olhos, travando meu maxilar, não queria falar merda, eu estava era
do lado do marido.
— O homem nunca sentiu tanto ódio na vida dele, no mesmo instante, ele
pegou seu facão e decidiu que iria arrancar o coração daquele maldito, e depois se
entenderia com sua esposa, mas como castigo, ele iria matar seu amante na frente
dela.
“E lá foi ele, dominado pela fúria, as lágrimas escorrendo de seu rosto, o
ódio cravando suas garras em seu coração. Então, mais uma vez, uma luz acende
em sua cabeça, e ele para. Ele se lembra do terceiro e último conselho, por isso
volta, procura pelo seu cavalo e pernoita por ali mesmo, triste, magoado, chorando
sua dor. No meio da noite, ele resolveu que iria voltar para a fazenda de seu
patrão e viver seus dias por lá, mas antes ele iria dividir o pão com sua esposa. E
ele o fez.
“No dia seguinte, ele tomou um banho em uma lagoa ali e foi até a casa onde
viveu o melhor e viveria o pior dia da sua vida. Uma batida na porta, e logo ele
estava diante de sua esposa. As palavras lhe faltaram, mas a emoção foi tão
grande, que ele nem pensou no outro, apenas a puxou para seus braços, entregando,
naquele momento, vinte anos de amor e saudade. Ele chorava e sua esposa
também, mas, inacreditavelmente, ela não o repelia, ela o apertava, beijava seu
rosto, gritava de alegria, e o marido, já calmo, soube que fez certo, ele amava sua
esposa e não queria fazê-la infeliz, por isso iria embora sem fazer mal a ninguém,
já estava decidido.
“Então, juntos, entraram na humilde casa e se sentaram à mesa, sua esposa
não parava de tocá-lo, havia um lindo sorriso em seus lábios. O marido não queria
demorar, ele não queria ver aquele homem que roubou sua amada, e por isso pegou
o pão para repartir, mas justo naquele momento, o outro chegou, ele viu o amor no
olhar de sua esposa, e aquilo o matou, ele não quis chorar, mas chorou, e já ia
fugir, quando sua esposa, muito feliz, falou: ‘Venha meu amor, deixe-me apresentá-
lo ao seu pai! O grande homem da minha vida!’…”
Caralho!
— O marido não podia acreditar que aquele homem diante dele era seu filho,
o rapaz era robusto, tal como ele era, tinha cabelos pretos, tal como ele, e
sustentava um sorriso feliz, como ele sustentava agora. A alegria daquela
descoberta não coube dentro dele, que parecia pequeno demais para suportar
tamanha emoção, ele deveria ter demonstrado sua felicidade, pois seu filho e sua
esposa o abraçaram, juntos, unidos, e ele quase colocara tudo a perder. Em meio
àquele abraço caloroso, sua esposa lhe contou que ele foi embora, mas lhe deixou
um presente de que ela cuidou durante vinte anos, esperando, orando e desejando
todos dias que pudesse ver pai e filho juntos, os únicos e grandes amores de sua
vida.
“Ainda mais feliz por ter preferido os conselhos, o marido os chamou para
repartir o pão, ele explicou rapidamente o que havia acontecido e seu filho e
esposa compreenderam. Mas ao repartir o pão, eles não acreditaram no que estava
diante de seus olhos. Ali dentro estava todo o dinheiro dos vintes anos de trabalho,
e havia ainda mais, além de tudo, tinha uma carta pequena.
‘Caro amigo,
Espero que você tenha prestado atenção aos conselhos desse velho. Nós,
seres humanos, nos apegamos demais aos nossos bens materiais ou
convencionais, enquanto deixamos de lado as coisas que realmente são
importantes. Seguir o nosso caminho e querer pegar atalhos pode nem sempre
ser o melhor, ou em muitos casos, nossa curiosidade pode nos danificar,
entretanto, conviver com nossas próprias ações podem ser a pior coisa que nós,
enquanto homens falhos, poderíamos suportar, e não estar preparado para lidar
com essas consequências pode ser ainda pior.
O dinheiro era seu e sempre foi, não era meu direito tomá-lo, mas como eu
sabia o homem íntegro e curioso que é o amigo, resolvi testá-lo, agora posso
estar sorrindo, pois sei que sua alegria é muito maior do que seria. Divida o pão
com sua esposa, meu amigo.
Viva bem com sua amada, conserve esse amor em seu coração…
Ass: Sabedoria’…”

— Amore mio, eu sinto muito! — murmurei verdadeiramente envergonhado.


— Eu sei que você sente, posso ver, entretanto, você tem que parar com isso,
buscar controle. — Minha garota suspirou. — Você não pode querer brigar com
todo mundo que encostar em mim ou me dirigir um olhar, precisa entender que essa
não é a melhor solução…
— Victória, eu sou possessivo e não escondo isso! — exclamei nervoso, tive
que levantar, porque ficar sentando estava me estressando.
— Você acha que não sou possessiva? Que não tenho ciúmes? — perguntou,
levantando-se também, ficando de frente para mim. — Pois saiba que eu tenho, e
muito, eu te acho lindo, interessante, instigante, por Deus, Rocco, como acha que
eu me senti quando aquela loira linda disse que foi sua noiva?
— Amore mio, aquela mulher é uma vadia inescrupulosa — rosnei, andando
de um lado para o outro.
Droga, e eu pensei que estava tudo bem!
— Não tem nada a ver o que ela é ou deixa de ser, vocês foram noivos, você
com certeza a amou. Mas, mesmo assim, você não me viu, e quero deixar claro que
não vai me ver, brigando ou gritando com ninguém por causa de ciúmes.
— Eu sou homem, não posso evitar! Eu não suporto que te toquem! Porra, eu
não suporto! — exclamei alto, fazendo-a cruzar os braços e me encarar.
— Você vai aprender a se controlar? — perguntou, muito calma para meu
gosto. — Vai aprender a “marcar” território sem seus punhos?
Ficamos em silêncio durante alguns segundos, eu não queria ceder e dizer que
iria fazer isso, pois eu não sabia, se algum bastardo tocar minha Victória, eu mato.
Só terei que me controlar na frente dela. Okay, isso eu posso fazer, ou pelo menos
tentar.
— Amor, eu prometo que vou melhorar! — resmunguei, desviando os olhos.
— Você não quer controlar seus ciúmes, e, sinceramente, isso é algo que
pode nós separar — revelou baixinho, com certeza ela notou minha mentira. —
Será que essa história que eu te contei não serviu para nada? Por Deus, você não
pode viver assim — murmurou triste. — E quando seu ciúme ultrapassar seu
raciocínio e você achar que eu também sou culpada? O que fará? Irá partir para
cima de mim? — perguntou, e as lágrimas estavam de volta, dei um passo para ela,
mas minha garota recuou, abraçando seu pequeno corpo com seus próprios braços.
— Não posso viver com medo de você! — soluçou. — Ninguém de fora tem o
poder de nos separar, mas você tem!
Dito isso, ela virou as costas e voltou para o banheiro. Trancando a porta
mais uma vez.
Eu permaneci ali, parado, absorvendo suas palavras. Recusando-me a
acreditar que Victória disse isso que eu acabei de ouvir.
“Não, amore mio, não vamos nos separar! Não vou permitir que isso
aconteça de jeito nenhum! Você é minha… minha e só minha!” — silencioso
comecei a andar de um lado para outro na suíte. Não sei quanto tempo depois ouvi
o barulho da porta abrindo. Apressado, caminhei em sua direção.
— Por favor, não. — Victória parou meus movimentos, congelei, olhando
para o quanto minha pequena estava abatida. Nem camisola ela vestia, estava com
calças e uma camisa de manga comprida. Observei-a, calado, depositar com
cuidado o vestido dobrado em uma cadeira estofada, em seguida, dirigiu-se para
cama, onde se encolheu o máximo que pôde.
PORRA!
Fui para o banheiro e tomei um banho gelado, minha cabeça em turbilhão,
meu corpo tenso, querendo… desejando…
— Porra! — rosnei, esmurrando a parede. Dor disparou pela minha mão, mas
eu não me importava. Eu estava doido de preocupação.
Fechei meus olhos, jogando a cabeça para trás, deixei que a água lavasse
minha angústia, mas, infelizmente, não foi nada amenizada. Minha dor era crua, e
meu medo era muito pior.
Eu estava ferrando com tudo e não podia, eu tinha que arrumar um jeito de me
controlar! Fodam-se, malditos… todos…
Saí do banho sem me secar, em busca de gelo. Minha mão estava latejando,
fui até o frigobar, peguei gelo, despejando na pia, juntei um pouco de água e
coloquei minha mão dentro.
Suspirei.
— Amanhã eu resolvo isso! — tentei me convencer, estava tudo em silêncio,
até que senti uma toalha seca em minhas costas, fechei meus olhos, não queria
correr o risco de despertar.
Em seguida, senti mãos suaves invadindo a água congelante para pegarem a
minha, machucada. Victória mexeu em meus dedos, fiz careta, mas não proferi som
algum. Em seguida, ela tirou a camisa que vestia, usando as mangas longas para
enfaixar minha mão.
Durante todo esse tempo eu fiquei em silencio, e quando Victória começou a
mexer nas gavetas do minibar, eu não disse nada, então ela veio com uma tesoura
curta, que eu usava para cortar os lacres das minhas bebidas. Esperei para ver o
que ela faria e sorri discretamente quando ela cortou as mangas da camisa,
deixando-as como uma faixa em minha mão. O resto do pano, Victória jogou no
ombro.
— Acho que vai ajudar um pouco… — falou baixinho, depois sorriu, mas
não era um sorriso que alcançasse os olhos. — Então, é… eu vou indo…
Não permiti que isso acontecesse, puxei-a para meus braços e enterrei meu
rosto em seu pescoço.
— Meu amor, não diga que eu estou nos afastando, por favor, não diga isso!
— entoei baixinho, e não me importei de parecer abalado.
E, caralho, eu estava!
— Você não suporta que me toquem, e eu não suporto seu ciúme doente… —
Abraçou-me de volta. — Aquele cara tem uma mãe que vai sofrer com o estado
em que ele se encontra. Não estou defendendo as atitudes dele comigo, pois eu não
deixei barato, você viu que eu o machuquei, mas você… — Ouvi seu suspiro e
apertei ainda mais meus braços ao seu redor. — Você acabou com o rosto dele…
— Eu vou me controlar, eu prometo, mas não diga que estamos nos
afastando…
— Rocco, suas ações falaram por você… apenas seja coerente com o que
está me dizendo agora!
Victória afastou-se um pouco e depois me beijou no queixo.
— Vou me deitar, e lembre-se de que eu te amo.
Permiti que ela fosse, mas não demorei muito, logo eu estava na cama com
minha garota aninhada contra meu peito.

***

Mesmo tendo dormido a noite inteira em meus braços e acordado comigo


falando palavras de amor, eu ainda sinto que ela está com uma parte reservada.
Era como se uma armadura estivesse protegendo-a de mim. Agora mesmo
estávamos no jatinho de volta para a Inglaterra, Victória, sentada em uma poltrona,
não conversava nem olhava para mim, ela estava olhando as nuvens. Perdida em
pensamento.
Eu consegui segurar até onde deu, e quando não suportei mais, fui sentar-me
ao seu lado.
Minha garota suspirou e finalmente puxou assunto, mesmo não sendo o que eu
queria.
— Eu acho que está na hora de eu e tia Laura voltarmos para nossa casa…
— Não! — exclamei sem nem pestanejar. — Você é minha mulher, vai ficar
comigo.
— Correção, eu sou sua noiva. Não insista, estou voltando para minha
própria casa, e eu já falei com tia Laura enquanto você tomava banho, ela já deve
estar levando nossas coisas de volta.
Ficamos em silêncio durante alguns minutos, e durante esse tempo, eu quis
esbravejar.
— Você não vai me perdoar, não é?
— Você não entende, Rocco! Eu não tenho o que perdoar, será que não nota
que se continuar assim as coisas irão piorar?! Ciúme não diminui, ele só aumenta,
e ficar o tempo todo com você não te ajudou em nada, aliás, eu já deveria ter
voltado para casa faz tempo.
— Eu disse que vou mudar! — grunhi, esfregando o rosto. — Eu disse que
vou, me dê tempo…
— Você tem todo o tempo do mundo, Rocco, e só para que saiba, meu amor
não diminuiu nem um por cento. Eu continuo te amando, mas precisamos de tempo
e espaço.
— Não concordo com isso!
— Entretanto é assim que vai ser.
O resto da viagem, passamos em um clima estranho. Quer dizer, estranho no
sentido de que Victória se mostrou firme em sua decisão e assim foi. Quando
desembarcamos, eu a levei para casa, e depois de tentar convencê-la de todas
formas a seguir comigo para nossa cobertura, ela não aceitou.
Passei o resto do dia insuportável, ninguém me aturava, nem os meus amigos.
No dia seguinte, fui para o escritório e só consegui trabalhar até o meio-dia
sem querer matar alguém. Quando liguei para Victória, ela estava desesperada
com o sumiço dos desenhos, então eu expliquei o que tinha acontecido, e parece
que seu medo foi sendo substituído por determinação.
O resto do dia passou, e eu estava uma pilha de nervos, mesmo insistindo,
Victória disse que eu precisava me afastar um pouco para poder trabalhar meu
ciúme. Portanto, naquele dia, nada de encontrá-la.
Praguejei meio mundo e fui para nossa cobertura, lá comecei a beber, puto de
raiva comigo mesmo por ter sido tão idiota. Depois de beber até cair, eu dormi em
nossa cama, com uma camisola dela que tinha ali.
Foda-se, eu estou na merda, passei um dia inteiro sem minha sposa, sem
contar o resto de ontem. Mas não foi só isso, Victória parecia determinada em me
punir, uma semana depois, e eu ainda estava sem vê-la.
Não vou nem dizer como eu estava, as pessoas no escritório corriam de mim,
todas estavam com medo, e não era para menos, eu demiti dois funcionários que já
estavam na agulha para isso, lembra-se dos amigos do Gordon? Pois bem,
rodaram.
Aqui estava na lei da selva, quem me fodesse, eu ferrava e pronto.
Tolerância zero.
Capítulo 12
Victória

Uma semana!
Faz uma semana que eu estou morrendo de saudade do meu amor, e mesmo
assim, estou me segurando, porque sei que é necessário para nós dois.
Não posso descrever a decepção que eu senti quando vi Rocco batendo sem
parar naquele homem, e, pior, sem dar ao outro uma chance de defesa. Deus me
livre de ver meu amor machucado, mas eu seria omissa se fingisse que não vi que
nada estava acontecendo.
Remoí minha saudade, e cada vez que ele me ligava, sua voz soava cada vez
mais carente e eu me sentia uma cretina perversa. A questão é que eu estava
mostrando para ele que, se ele me amava como dizia me amar, teria que cultivar
nosso amor, porque, sinceramente, mais uma dessas e eu pularia fora. Eu o amo de
demais, mas ciúme doentio pode virar obsessão doentia, e aonde isso nos levará?
— Deus, que ele não demore muito para perceber isso! — implorei
fervorosamente, enquanto olhava sua foto.
Estava pensando em como fazê-lo entender mais depressa que o ciúme não
nos levaria a nada. Eu estava morrendo de saudade de seus beijos, de seu cheiro,
de seu sorriso. Por Deus, eu sentia falta da sua risada. Nem notei e já estava
chorando como uma idiota. Eu que estipulei esse tempo, e ele estava cumprindo,
mesmo insatisfeito.
Suspirando, sentei em minha escrivaninha e peguei uma folha em branco, aos
pouco, os traços foram tomando forma, e quando dei por mim, eu estava criando
um novo vestido. Não sei o que acontece comigo, mas a inspiração surge nas
coisas mais inusitadas, agora a minha tristeza me inspirava a criar um vestido
lindo e esvoaçante, dramático e romântico ao mesmo tempo.
Tirei meus óculos quando já estava com a visão cansada, mas o vestido já
estava pronto no croqui, faltavam apenas alguns detalhes que eu iria acrescentar
quando estivesse descansada.
Olhei para o relógio e já eram oito da noite, com certeza, tia Laura iria
dormir no trabalho, não sei o que estava acontecendo, mas, ultimamente, ela estava
passando mais tempo que o devido lá e, quando voltava, estava toda sorridente.
— Será que o amor pegou tia Laura? — me perguntei sorrindo e fui para
cozinha, ver o que tinha para comer. Não tinha nada, então peguei os ingredientes
para fazer uma macarronada, dei um toque especial colocando queijo por cima,
depois levei alguns minutos ao forno.
Enquanto não ficava pronta, eu coloquei comida, troquei a água do Balofo e
corri para o banho, tomei uma chuveirada rápida, e só tive tempo de me enrolar
em uma toalha antes de a companhia tocar.
Corri para a sala e liguei a TV, conectando o canal que mostrava a câmera na
porta.
Ah, sim, depois do que aconteceu comigo, Rocco colocou um super sistema
de segurança aqui em casa, então, para ver quem estava em frente à minha porta,
era só ligar a TV. E não só isso, Jason estava fazendo minha segurança, e eu acho
que ninguém seria besta de tentar chegar aqui. Quando vi quem era, sorri e corri
para atender, mal tive tempo de abrir quando fui agarrada e beijada com fervor.
Ainda pude ouvir o som da porta batendo, e ao resto eu nem me dei o trabalho de
prestar atenção.
Eu e Rocco nos beijávamos com tanto desespero que provavelmente
estaríamos machucados depois.
— Nunca mais, ouviu? — rosnou, mordendo meu lábio. — Nunca mais me
mantenha afastado de você!
E com isso nós nos beijamos de novo, só que desta vez não paramos apenas
no beijo, nos embolamos no sofá e nos entregamos ao nosso amor.
Dois meses se passaram desde que eu e Rocco estávamos namorando, depois
daquela semana horrorosa, não desgrudamos mais, agora, pasmem, ele não teve
mais nenhum ataque de ciúme.
Voltamos aos nossos dias de muito amor. Eu dormia na cobertura ou Rocco
dormia lá em casa. Confesso que eu adorava, pois minha cama nos obrigava a
ficar agarrados a noite inteira, e era muito bom ter meu homem esquentando
minhas costas.
Bom, mudando de assunto, como hoje faz dois meses de namoro, resolvi fazer
uma surpresa diferente. Fui até uma loja de lingerie e comprei um conjunto de
calcinha e sutiã preto, junto com meias 3/8 com direito a ligas e tudo. Quando
cheguei à cobertura, tomei um banho bem caprichado, hidratei minha pele, fiz tudo
para provocar meu amor. Os meus cabelos eu prendi em um coque frouxo, finalizei
com um batom vermelho.
Olhei-me no espelho, peguei o pequeno chicote de hipismo e sorri atrevida.
— Você nem vai acreditar, meu amor… — Sorri e fui para o quarto, pegar
minha roupa, durante um momento fiquei parada olhando a foto gigante que ele
mandou fazer. Ela ia desde a cabeceira da cama até o teto, pegando toda a parede.
Lembram-se daquelas fotos em tirinhas que fizemos em Roma?
Pronto, ele as pegou, fez com que ampliassem de forma a criar um quatro
gigantesco.
Um ato de amor… que eu adorei.
Com borboletas no estômago, pela minha ousadia, peguei meu sobretudo e
vesti, ele era daqueles que se amarram na cintura, não tinha botão.
— Rocco vai enfartar!— Sorri ansiosa. Respirando fundo, guardei o chicote
em minha bolsa, calcei meus scarpins salto doze e segui em direção ao escritório
do meu homem e à surpresa que eu lhe faria.
Jason estava dirigindo o carro, era assim, além de fazer minha segurança ele
tratava de me levar para todo lado. Lógico que eu não explorava a boa vontade
dele, mas eu não sabia dirigir, e era isso ou Rocco me deixava trancada, por quê?
Pergunte a ele.
Cheguei à empresa e fui muito bem recebida, todos me conheciam e,
ultimamente, eles pareciam haver desenvolvido medo crônico de Rocco.
Cumprimentei todos no meu caminho e fui cumprimentada com gentileza,
cheguei até os elevadores e, muito rápido para minha ansiedade, eu me vi no andar
da presidência.
— Betty, tudo bom?
— Oi, Victória, claro que sim, filha! — respondeu toda sorridente, retribuí o
sorriso, eu gostava da Betty.
— Rocco está ocupado?
— Não, minha filha, a videoconferência das treze horas acabou há vinte
minutos, entretanto, ele está estressado e nervoso, algo não está bem na filial da
China.
— Obrigada pela informação, Betty, Por favor, cancele o resto dos
compromissos dele para hoje, vou cuidar do estresse do meu noivo. Ah, por favor,
não passe ligações. Rocco estará indisponível pelas próximas horas. — Sorri e fui
para a porta da presidência.
Fechei os olhos, pedindo a Deus que ele não estivesse tão nervoso assim.
Abri a porta e entrei.
Rocco estava analisando alguns papéis e não olhou para mim assim que
cheguei. Esperei alguns segundos e passei a tranca na porta, fazendo um barulho
mais alto, e agora, sim, ele me olhou.
— Amore mio?
Sem responder, caminhei até o meio de sua sala, abri minha bolsa e tirei o
chicote de lá. Vi como a respiração de Rocco acelerou e ele lambeu os lábios. Em
seguida, eu puxei os laços do meu sobretudo e permiti que ele escorregasse pelos
meus ombros.
— Puta que pariu! — rosnou, afrouxando a gravata, porque o paletó ele já
havia tirado. — Você veio de casa até aqui usando apenas um sobretudo de laço?
— perguntou caminhando até onde eu estava.
— Para aí mesmo, senhor — ronronei, parando-o com o chicote. — Gostou
do seu presente? — Virei-me para mostrar que eu usava um minúsculo fio dental
com lacinho.
— Porra… hoje não meu aniversário, mas eu aceito, caralho, amor, eu aceito
esse presente sim! — grunhiu, tentando me agarrar.
— Hoje é nosso mesversário de namoro, dois meses! — Sorri, piscando um
olho. — E como você se comportou muito bem, depois daquele probleminha,
então… acho que você merece um sexo quente no escritório.
Não falei mais nada, Rocco me atacou e, quando dei por mim, ele já estava
completamente enterrado em meu interior, enquanto se movia freneticamente, me
levando à loucura, fazendo-me ver estrelas e tocar o céu com a ponta dos meus
dedos.
— Amor, mês que vem também é mesversário, e eu não me importo de
receber outro presente desses! — Rocco murmurou em meu ouvido, nós estávamos
deitados no tapete felpudo de sua sala, após nos entregarmos aos prazeres da carne
vezes sem fim.
— Não sei, quem sabe eu não te surpreenda com uma visita e um strip tease?!
— murmurei de volta, e ele sorriu baixinho. — Fique esperto com minhas visitas,
Sr. Masari, quem sabe, não é?
Passamos a tarde fazendo amor no escritório, depois fomos para o
apartamento acoplado e eu preparei algo para comermos. Enquanto jantávamos,
Rocco atendeu a uma ligação do Dimitri. E pelo que entendi, eles falavam algo
sobre uma boate nova. E qual não foi minha surpresa ao saber que Dimitri era o
dono e estava nos convidando para a inauguração?

***

— Amor, aqui é incrível! — exclamei assim que entramos os cinco na boate.


Quero dizer, eu, Rocco, Dimitri, William e Jason.
— Eu sou foda, minha querida! — Dimitri sorriu, mas logo grunhiu quando
William deu um tapa em sua cabeça.
— Deixa de ser amostrado, seu boiola!
— Não sou eu que preciso fazer chapinha no cabelo para sair de casa! —
resmungou e depois gritou: — Rapunzel… Rapunzel, jogue suas tranças…
Foi inevitável, todos ao redor da mesa explodiram em gargalhadas. Estava
tudo tão bom. O lugar, a companhia, até meu refrigerante parecia mais saboroso.
Ficamos ali durante muito tempo, nos divertindo, e com certeza as mulheres
deveriam se perguntar que tipo de feitiço eu fiz para estar em uma mesa com tanto
homem bonito.
— Ei, vamos embebedar o Conde e cortar os cabelos dele, Rocco! — Dimitri
sorriu e olhou para Jason. — Três contra um e ele não aguenta!
— Se você encostar no meu cabelo, eu juro que jogo tinta rosa em você, aí,
com essa tatuagem, você vai parecer um My Little Poney.
Mais uma vez, todos riram, e para mim era óbvio o amor que eles tinham, só
que eu também notei que Jason estava sendo introduzido naquele círculo de
amizade e achei o máximo, pois ele me parecia solitário.
— Amor, que dançar? — Rocco sussurrou em meu ouvido, e eu aceitei.
Saímos da área VIP e fomos para a pista de dança.
Eu e Rocco dançamos colados, ele estava em minhas costas, esfregando-se
em mim lascivamente, e eu, já estava adorando, seus braços nunca deixavam de me
abraçar ou segurar minha cintura com posse e firmeza. Dançamos muito, até que eu
estava exausta e precisando ir ao banheiro.
Voltamos para a mesa e eu pedi licença, estava difícil me segurar. Rocco foi
comigo, mas lá tinha uma fila enorme, e eu disse para ele voltar.
Onde já se viu me esperar na porta do banheiro? Que vergonha…
Fiquei na fila, e de vez enquanto alguém tentava puxar conversa, para eu
convidar a se juntar à mesa que eu estava. Conversei com algumas garotas e com
outras preferi ficar quieta, elas pareciam muito interessadas em ganhar um passe
livre para se juntar à minha mesa e não escondiam isso.
— Que fila enorme. — Olhei para a moça atrás de mim, ela era linda e tinha
os cabelos parecidos com os meus.
— Verdade, acho que já estou esperando há uns dez minutos.
— Pois é, e com toda essa gente aqui, o ar-condicionado nem funciona, com
certeza deve ser porque hoje é a inauguração, entretanto, duvido que isso aqui não
lote todo dia…
— É incrível mesmo — respondi sorrindo, pois essa garota era a primeira a
não querer um ir para a minha mesa.
— A propósito, meu nome é Cami, e o seu? — falou, entendendo uma das
mãos para mim educadamente.
— Eu sou Victória, prazer. — Peguei a mão da garota e senti um arrepio, logo
eu vi uma frieza enorme em seu olhar, mas passou, e eu achei que foi impressão.
Ficamos por ali, e Cami se mostrou bem legal. Conversamos sobre tudo um
pouco, em nenhum momento ela mencionou minha mesa, gostei disso.
— Você quer uma pastilha? — perguntou, pegando uma para si.
— Obrigada, quero uma, por favor! — aceitei e logo ela me deu uma pastilha
que parecia um comprimido, era rosa. Deveria ser morango.
— Ela não tem muito sabor, mas vai matar um pouco da fome — falou,
piscando um olho.
Alguns instantes depois, foi minha vez de usar o banheiro, quanto eu saí, a
Cami não estava mais lá.
Dei de ombros e voltei para a mesa, na metade do caminho, uma onda de
excitação enrolou minha barriga e eu ofeguei, me curvando um pouco para frente.
— Ai, o que é isso? — resmunguei e levantei, já ia dar mais outro passo
quando uma nova onda de excitação me varreu, junto com falta de ar e ansiedade.
Então, de repente, as coisas começaram entrar e sair de foco, eu me sentia confusa,
mas ainda era dona do meu raciocínio.
Andei mais um pouco, só que eu não sabia para onde deveria ir. Fui para a
pista de dança e comecei a andar, sendo empurrada para lá e para cá, estava
prestes a cair quando braços fortes e poderosos me agarraram.
Eu tremi de medo, mas agora eu me sentia salva.
— Tudo bem, eu te protejo, pequena! — ouvi a voz grave e olhei para cima.
Não estava conseguindo conectar meu cérebro, mas o “eu te protejo,
pequena”… Eu me senti segura.
Permiti que o homem grande e loiro me levasse para o bar, lá ele me ofereceu
água e eu aceitei, minha mente confusa, a euforia queimando dentro de mim.
Olhei bem para o homem, que agora afastava uma mecha do meu cabelo. Ele
sorria gentilmente e eu retribuí.
Porque ele parecia me conhecer… Só que eu… Olhei bem para ele e senti
vontade de vomitar, meu coração acelerou e eu recuei.
— Está errado! Errado… — trombei em um peito forte, olhei para cima e vi
um homem de cavanhaque, com expressão sombria.
Eu deveria ter medo dele. Ele parecia assustador.
Soltei-me de seu agarre, e o loiro me puxou.
Gritei, apavorada, onde eu estava?
— Victória, solte esse bastardo! — o cavanhaque rosnou e eu olhei para ele
de novo. Ele sabia meu nome, então, eu deveria atender ao seu pedido, não é?
Sacudi-me nos braços do loiro desconhecido e fiquei olhando de um para o
outro, confusa. Agora meu coração estava acelerado e eu sentia um dedo gelado
descendo pela minha espinha.
— Victória, o que está acontecendo? Você tomou alguma coisa?
— Eu, eu, eu… não, eu… eu só peguei uma pastilha de morango, estava
conversando e a garota me ofereceu, foi… — Engoli em seco. — Estávamos na
fila do banheiro e… — Sacudi a cabeça
— Puta que pariu! — rosnou, me puxando, instantes depois o cavanhaque
pegou o celular e mirou dentro do meu olho, me irritou muito. — Merda, você está
drogada. Vem, querida, seu noivo está louco te procurando.
Demos um passo, mas um homem interrompeu nosso caminho e houve uma
briga, logo o loiro me puxou e me beijou. Eu fiquei dura. Meu corpo queimando,
esse beijo me enjoando, pois meu cérebro, mesmo embolado, gritava ERRADO
repetidamente. Entretanto, eu não tive tempo de empurrar o loiro, ele foi arrancado
de mim e um homem enorme estava montado em cima dele, esmurrando sua cara
sem dó.
Tudo foi um borrão. Eu me vi sendo arrastada até um escritório, e o gigante
que arrancou o loiro de cima de mim me olhava com ódio mal disfarçado. Eu
estava me empurrando contra a parede enquanto o homem quebrava tudo à sua
frente, soltando rugidos e gritos de ira. Por fim, o foco dele voltou para mim.
Choraminguei de medo enquanto me encolhia. Meu coração já doía de tanto
que estava acelerado, e eu não sei por que, mas eu via o homem diante de mim
como um gigante aterrador.
— Você é minha! Só minha! — rosnou na minha cara, esfregando uma das
mãos em minha boca. — Logo ele me beijou. Um beijo punitivo, assustador e
doloroso. Eu comecei a me debater e tentar empurrá-lo. Meu terror fez a névoa da
loucura diminuir em minha mente a ponto de eu poder reconhecer esse homem com
expressão selvagem e olhar febril.
— O que você pretende, hein?— grunhiu, afastando-se de mim. — Quer
manter um bilionário no bolso para o caso do idiota aqui não servir?
— Pare, por favor… pare, eu…
— Cala a boca, eu vi você aceitar o beijo daquele maldito. Porra, Victória,
justo com bastardo do Whintaker! Justo ele, e o pior foi ter a vadia da Susan
apontando o dedo e tripudiando em cima de mim.
— Eu não… — Abri a boca para falar, mas estava confusa demais, minha
mente estava se concentrando em coisas sem sentido e logo meu foco se perdia e o
medo voltava. — Eu não… — Nesse momento, o cavanhaque entrou na sala. Mas
não antes de impedir a explosão de ódio direcionada a mim.
— Maldita! Você é uma vadia! Uma maldita vadia, porra! — berrou alto e
claro.
Eu me encolhi na parede, sentindo meu coração ser partido mesmo sem
conseguir entender. Olhei para frente e vi o homem assustador sibilando em minha
direção, eu estava tonta, me sentindo mal. Mas mesmo sem conseguir falar direito,
eu podia entender algumas coisas.
— Você é um idiota, seu bastardo! — o cavanhaque gritou.
— Eu fui um idiota por achar que ela era diferente, você não viu? Ela estava
aos beijos com aquele filho da puta do Whintaker!
— Victória está drogada, seu bastardo do caralho!
Essa frase fez com que o gigante de olhos azuis cambaleasse para trás, mas eu
estava com medo, eu queria ficar longe dele…
— O que eu fiz? — lamentou, vindo em minha direção, e eu me encolhi de
medo, choramingando em pânico.
— Não me machuque — ofeguei, levando minha mão ao peito. Tudo começou
a rodar, mas eu me mantive erguida, parte da minha consciência voltou novamente,
e eu vi esse mesmo homem assustador me tomando em seus braços, dizendo coisas
bonitas. Foi aí que constatei, em meio ao meu atordoamento, que eu e ele tínhamos
alguma coisa.
Não… não mais…
Fui para a porta, ele tentou me deter, me encolhi e ele afastou-se, quando
cheguei à porta consegui abri-la, mas antes eu precisava acabar com o que eu e o
gigante tínhamos.
— Encerramos… aqui… — murmurei e saí, fechando a porta atrás de mim.
Cambaleei pelo corredor escuro, ouvindo várias pessoas falando ao mesmo
tempo. Algumas vinham para cima de mim e tentavam me pegar, outras pareciam
monstros aterradores. Eu gritava, aterrorizada com as cobras que eu via aqui e ali,
algumas se enroscavam em meus braços, tentando me engolir…
Deus, me tira daqui.

***

Perseguidora

Se eu estivesse em frente ao meu espelho, estaria me perguntando:


“Espelho, espelho meu, existe alguém mais perfeita do que eu?”
Meu plano deu certo. Foi tão fácil fazer aquela costureira infeliz engolir meu
comprimido de ecstasy batizado. Sim, vocês não acharam que eu iria entregar um
reles comprimido, não é?
Não sou idiota.
Eu fui até alguém que conhece o fabricante das fadinhas da alegria. Então
encomendei um lote especial. Eu pedi que os meus comprimidos fossem feitos com
uma dose extra de metanfetamina e uma dose de amor (o alucinógeno mais potente
do mundo), saiu os olhos da cara, mas foi por uma boa causa, e assim eu pude
observar de camarote a costureirazinha se ferrando. Agora estou com um copo na
mão, segurando mais quatro belezinhas para entregar à vadia que roubou meu
homem.
Fiquei observando, atentamente, quando ela saiu sozinha da sala, joguei
metade do conteúdo do copo no chão e os quatro comprimidos dentro. Girei para
diluir, e pronto, estavam perfeitos.
“Desejando uma overdose para essa puta”, grunhi e fui ao seu encontro.
— Ei, por onde andou? — Sorri para ela, que estava me olhando como se eu
fosse louca, meus lábios curvaram ainda mais. — Humm… você não me parece
bem, beba esse refrigerante.
Ofereci e ela rejeitou, então eu tentei de novo.
— Querida, você vai atravessar esse mar de gente, precisa beber alguma
coisa, está calor. — Pronto, ela aceitou e eu quase me beijei por ser tão
inteligente. — Beba tudo — incentivei, e quando ela o fez, eu joguei a cabeça para
trás e gritei de alegria.
Permiti que ela andasse e segui, quando a louca mal conseguia se manter em
pé eu a amparei e comecei a guiá-la para a saída.
Quando chegássemos à rua, iríamos andar um pouco e eu iria empurrá-la para
algum carro em alta velocidade, nos exames atestaria que ela era apenas mais uma
drogada sem sorte.
— Uhuuuuu! Adoro essa música! — comecei a cantar Chandelier, Sia,
enquanto carregava o peso morto da vagabunda, que gritava sobre morcegos,
cobras e sei lá mais o quê. Estávamos na metade do caminho, quando uma parede
em forma de homem nos interrompeu.
Hummm, o delicioso conde de ferro! Ai, que homem gostoso, se eu não
tivesse meus olhos direcionados para Rocco, com certeza poderia tentar algo
com esse gato de cabelo comprido.
— Solte-a agora! — rosnou, puxando a vadia dos meus braços. Eu bufei,
revirando os olhos, não deixando que ele olhasse muito tempo em meu rosto. Antes
de sumir na multidão, tive um vislumbre da idiota tocando o rosto dele e, depois,
caindo, o corpo começando a sofrer espasmos.
— Ownnn, que peninha, será uma overdose de metanfetamina? — Fiz um
biquinho. — Ahh, Victória, a mamãe não te ensinou a nunca aceitar coisas de
estranhos?
Morra, vadia, morra!
Sorri e girei, cantando alto e claro a minha parte preferida da música do
momento.
“One, two, three…
One, two, three… drink…”
Capítulo 13
Rocco

Estou nervoso, alguma coisa está errada! Eu posso sentir.


Estreitando meus olhos, olho para a entrada do banheiro feminino. Mantenho
meu olhar fixo ali. Estou impaciente, eu deveria ter ficado esperando, mas Victória
ficou constrangida com as expressões das outras mulheres na fila.
Foda-se!
Eu não estou nem aí, deveria ter ficado e pronto.
De repente noto uma cabeleira castanha saindo do banheiro e por um
momento vejo-a parar e, inacreditavelmente, me olhar.
Não é minha garota.
Eu sei, porque meu coração tolo e apaixonado não saltou. Entretanto, vejo
que a encarada da desconhecida é firme. Eu encaro de volta, baixando levemente a
cabeça, mantendo meu olhar como o de um predador.
Essa criatura me deixa em completo estado de alerta, é quase como se meu
cérebro enviasse uma ordem de comando: prepare-se!
E eu o fiz.
Inclinei-me para frente, segurando as barras de contenção do primeiro andar,
esse era o lugar onde ficava a área VIP.
De repente, a “desconhecida” acenou e se perdeu na multidão.
Maledizione! Não deu para ver seu rosto direito! Porcaria de luzes.
Fiquei na mesma posição, de pé e em alerta. Agora, eu vi outra cabeleira
castanha saindo do banheiro, meu coração saltou e eu sorri.
— Aquela ali é a minha — ronronei satisfeito e respirei aliviado, agora eu
iria monitorar seu caminho de volta para mim. Não queria parecer um perseguidor,
indo até ela.
Então eu vejo minha garota estancar e se curvar para frente. Franzo a testa,
mas contra todos os meus instintos, eu espero. Victória recua em seu caminho, olha
de um lado para o outro e se vira, entrando na massa de gente dançante.
— PORRA! — rosnei, chamando a atenção dos meus amigos.
— O que foi, seu idiota? — Dimitri falou e logo em seguida sorveu um
generoso gole de sua Grey Goose pura.
— Victória está sumida na multidão. Preciso ir — desci as escadas
apressado, e foi aí que vi que Dinka e Jason me acompanhavam. — Cadê William?
— Foi tirar a água do joelho! — Dimitri deu de ombros.
— Vamos nos espalhar, certo? Victória não pode ficar sozinha.
E assim fizemos, resolvi ir até o bar para ter uma visão melhor do outro lado,
Dimitri foi para a pista de dança e Jason foi para a entrada. Cheguei até uma
extremidade do bar e estiquei meu 1,90 m de altura para ver se eu encontrava
minha garota.
— Não precisa procurar muito, querido! — Congelei na hora quando ouvi a
voz de Susan, a vadia chefe.
— Vai se foder, sua puta! — rosnei alto.
— Ai, delícia, eu fodo sim, mas só se for com você! Seu gostoso — ronronou
maliciosa.
— Eu prefiro que meu pau caia, antes de encostar nessa sua boceta mais
rodada que pneu de caminhão velho.
— Seu pau não é muito seletivo, não é? — questionou furiosa — Vejo que ele
tem os mesmos gostos do Damon, veja só se não é sua vadiazinha caindo nos
encantos daquele outro gostoso… — sorridente, apontou para o outro lado do bar.
Olhei para onde Susan apontava e congelei. Meu coração parou e depois
acelerou, eu senti como se tivesse acabado de levar um murro no estômago muito
bem colocado. Todo o ar foi expulso dos meus pulmões em um único fôlego
atordoante. E sabe por quê?
Damon Maldito Whintaker estava acariciando o rosto da minha garota, e o
pior foi que Victória estava deixando.
Não, amore mio, não faça isso! implorei em silêncio.
— Veja como ela aceita o carinho dele. — Ouvi a voz daquela demônio no
meu ouvido. — Olhe como ela gosta do toque dele. Ela é igual a mim… igual a
mim… — Riu baixinho enquanto eu permanecia congelado.
— Não é… — grasnei rouco.
— É, sim, por que achou que ela fosse diferente? — questionou suavemente.
— Olhe, veja com seus próprios olhos, Seu amigo chegou, mas ela não quer ir com
ele, ela quer ficar nos braços do Damon. O mesmo Damon que pegou sua primeira
noiva, vai pegar a segunda. Não é lindo, isso? — Gargalhou. — Ironia do destino,
querido.
— Você, sua puta, dá o fora daqui antes que eu perca o pouco controle que
tenho! — grunhi, tremendo de raiva e sem desgrudar meus olhos do que acontecia
mais adiante.
— Ela é igual a mim… igual a mim, e você é um trouxa. — Gargalhou,
afastando-se justo na hora que Damon beijou Victória e ela…
Não o afastou…
Nesse momento, algo em mim rugiu e quebrou, eu vi tudo vermelho, um ódio
terrível me engolfou, e eu já não era mais eu.
Eu era Rocco Masari, o fodedor de crânios.
Atropelei quem estava no caminho e cheguei até eles. Em um piscar de olhos,
me vi puxando o bastardo do Whintaker e não tive pena. Acertei o rosto dele, mas
dei preferência à boca. Eu bati, bati, bati com tanta força, que acho que meus
dedos devem ter machucado. E ele deve ter ganhado algumas janelas de ventilação
na boca.
Eu estava consumido de raiva. Cego de ódio. A ira causando tempestade
dentro de mim. Não pensei, puxei Victória pelo braço, esmurrando as pessoas que
entrava na minha frente. Se meu tratamento feria alguém? Eu não estava me
importando.
Eu me sentia machucado em um lugar sensível demais. PORRA! Eu confiei…
eu me entreguei…
Assim que chegamos ao escritório da segurança, que ficava no térreo mesmo,
ao lado da pista de dança, soltei Victória e dei liberdade a uma parte do meu
desgosto. Eu não me reconhecia, em nenhum dos meus ataques de ciúmes eu estava
tão louco, tão possesso.
— PORRAAA! — rugi, minha dor quebrando tudo à minha volta. — COMO
VOCE PÔDE? COMO?
Eu não sei por quanto tempo quebrei coisas, só sei que, quando dei por mim,
estava beijando Victória com violência, queria que ela sentisse um pouco do que
eu sentia. Mas ao contrário do que ela fez com o outro bastardo, comigo ela lutou,
e isso me deixou ainda mais louco.
Então eu a magoei, disse coisas para feri-la mesmo, não queria ser o único a
sentir o coração partido.
Eu tinha certeza que Victória estava ciente do que fez, pois ela choramingava
e gaguejava.
Eu estava louco.
Nesse momento, Dimitri entrou e me olhava com cara de quem acabou de
lutar com a hidra, a mitológica serpente de duas cabeças.
“Dimitri vai me entender! Ele vai…”, pensei antes de explodir mais uma
vez.
— Maldita! Você é uma vadia… Uma maldita vadia, porra! — berrei o mais
alto que pude. Eu estava me sentindo sufocado, meu peito queimava e doía
terrivelmente. Fui em sua direção, mas parei. Victória estava encolhida e com
medo.
— Você é um idiota, seu bastardo! — Dimitri gritou, me deixando chocado.
“Como ele pode não ficar do meu lado?”, questionei decepcionado, mas
logo explodi de novo.
Eu era como um vulcão em plena atividade, e minha lava era meu ódio, que
eu cuspia em grandes doses.
— Fui um idiota por achar que ela era diferente, você não viu? Ela estava aos
beijos com aquele filho da puta do Whintaker!
Mal consegui terminar de falar e Dimitri me interrompeu.
— Victória está drogada, seu idiota do caralho!
Quase caí para trás com essas palavras, eu senti como se um choque
atravessasse meu corpo.
— O que eu fiz? — lamentei, sentindo minha dor multiplicar por mil, eu
machuquei minha garota, meu delicado anjo. Minhas emoções acabaram de fazer
uma virada brusca, e se eu não fosse tão forte, teria desabado por causa de sua
intensidade.
Fui para tocá-la, me ajoelhar a seus pés por perdão, mas ela estava
aterrorizada. Os olhos frenéticos, selvagens.
Tentei me aproximar mais uma vez, mas ela encolhendo-se, colocando a mão
no peito.
Dio mio, o que eu fiz? Desesperei-me a um nível jamais visto pelo homem.
Victória afastou-se da parede e começou a caminhar para a saída, eu fui mais
uma vez para tocá-la. E mais uma vez ela fugiu do meu toque.
Tremi.
Meu corpo e mente estavam perto de ceder ao caos em que eu em encontrava.
Droga, droga, droga!
Victória estava cambaleante, meio encurvada, e agora eu via o quão burro,
cego e idiota fui.
Como pude não perceber?
Vejo-a parando assim que abriu a porta.
O que ela falou me deixou paralisado, nem prestei atenção à porta que se
fechou silenciosamente. Milhares de pensamentos desesperados se amontoam em
minha cabeça, mas logo sou trazido à realidade por um murro bem no meio da
minha cara.
Caio com a bunda no chão, atordoado, mas logo salto em pé.
— Pronto? — Dimitri rosnou. — Agora a porra da ervilha que você tem
como cérebro voltou para o lugar? Está pensando direito, seu idiota?
— Caralho! Estou fodido! — gemi, esfregando o sangue do meu nariz.
— Eu só precisei de dois segundos para notar que ela não estava bem! —
falou, indo para a porta. — E você, que vive com ela, não notou! — Dimitri soltou
uma baforada decepcionada que quase fez com que me encolhesse. — Quero
filmar você implorando, cara, ah, se eu quero…
— Você pode fazer o caralho que quiser, agora precisamos ir, minha garota
está drogada e precisando de mim!
— Ex-garota, ela te deu um fora, ou não notou?! — berrou estapeando minha
nuca.
— Filho da puta! — esfreguei a pancada, correndo da sala e nos
embrenhamos no meio da multidão dançante, à procura de Victória. Graças a Deus
não demorou nem três minutos para que passasse minha letargia paralisante.
Procuramos pelo que pareceu uma eternidade, mas não foi um minuto sequer.
— Porra! Onde ela está? — gesticulei para Dimitri, e ele parecia tão aflito
quanto eu. Não adiantava, era muita gente.
— Veja, ali está William! — Dimitri gritou, apontando para a cabeleira e as
costas do Conde.
Começamos a andar, empurrando as pessoas, e quando estávamos chegando
perto, foi que eu pude ver Victória nos braços dele.
Ela estava tendo espasmos e parecia desmaiada.
— Ohhh, porra! — Usei os cotovelos com violência para empurrar quem
estava em meu caminho, assim que emparelhei junto ao Conde, ele me olhou aflito
para caralho.
— O que está acontecendo com ela? — perguntei puxando-a para mim.
— Não vê? — Dimitri gritou, empurrando a multidão junto com William, eles
eram uma barricada à nossa frente, enquanto íamos todos para a saída. — Ela está
tendo uma overdose!
Jesus Cristo, não! Minha mente se recusou a acreditar no que estava diante
de mim. Minha falha foi grotesca. Eu nunca me perdoarei. Nunca.
Chegamos em frente à boate e logo corremos para o lado direito,onde havia o
estacionamento. A todo momento, o corpo de Victória sacudia em meus braços. Eu
nem me dei ao luxo de segurar as lágrimas, elas escorriam livremente.
— Venha aqui, me entregue ela! — Dimitri pediu enquanto abria as portas do
nosso carro para esconder o que fazíamos ali. — Me entregue ela! — bradou,
nervoso. Muito relutante, eu entreguei, — Talvez você não queira ver isso!
— Foda-se — rosnei —, ajude-a.
Não vou entrar em detalhes do que ocorreu a seguir, foi tenebroso. Dimitri
provocou o vômito dela, e eu o ajudei. Senti-me um bastardo, um desmerecedor de
seu amor, mas eu não sou altruísta ao ponto de sair de sua vida. Infelizmente, meu
sobrenome é egoísmo.
— Desculpem a demora, mas dois dos seguranças do Whintaker deram
trabalho, tive que colocá-los para baixo! — Jason grunhiu chegando perto do SUV
que nos acomodava.
— O que houve aqui? — Jason ofegou quando viu o estado de Victória.
— Ela foi drogada — Dimitri respondeu, ainda com minha garota em seus
braços —, precisamos ir para o hospital, Jason, não sei o que deram a ela, mas é
forte.
Depois tudo aconteceu tão rápido que, quando dei por mim, Victória já estava
sendo levada para atendimento de urgência. Eu fiquei fazendo sua ficha de entrada.
Depois, eu me vi desesperado, revoltado comigo mesmo, e era certo que nem
precisava da cara de raiva do Dimitri para mim, até William saber o que
aconteceu, é claro. Pela expressão do Conde, eu jurei que levaria outro murro.
— Ela estava sendo levada por uma garota, não pude ver o rosto dela, por
causa das luzes, mas ela parecia meio maluca — William começou. — Não dei
muita corda, apenas tomei Victória, fiquei preocupado, ela estava sendo
praticamente rebocada, e não tive dúvidas de que ela estava mal, assim que eu a
peguei, ela começou a sofrer espasmos e logo vocês chegaram. Foi tudo muito
rápido.
— Obrigado, William, obrigado, cara! — murmurei, sentindo mais lágrimas
de desgosto escorrerem. — Você não tem ideia do que fez.
Naquele instante, meu celular tocou, quando vi “número privado”, atendi já
colocando no viva-voz.
— Sua puta! — rosnei com ódio.
— Oi, amor — ronronou. — E aí, a pobretona morreu? Espero que sim,
meus bebês estavam potentes hoje… — Gargalhou como uma louca.
— Foi você, sua desgraçada?… Você!? — urrei, sentindo meu corpo tremer
de fúria mal-contida.
Dio mio, estou querendo matar alguém.
— Claro que foi, o que você acha, eu mesma mandei fazer meus bebês —
debochou. — E, nossa, foi uma coisa linda de se ver, mas infelizmente meu plano
não foi até o fim, sabe? Esse deus nórdico do seu amigo me impediu!
Jason chamou minha atenção, ele estava ao telefone e fez um gesto com o
dedo, mandando-me estender a ligação.
— E o que você pretendia fazer? — perguntei, apertando o celular com tanta
força que não sei como não quebrou.
— Ah, nada de mais, eu só iria levar a vadia para a rua e, depois, muito
acidentalmente, ela iria ter um encontro com um carro em alta velocidade, sabe
como é, esses drogados são muito descuidados.
Fechei meus olhos, e não aguentei.
— Eu vou te encontrar e vou te matar, não me importa se é mulher, você vai
me pagar! Pode procurar uma pedra e se enfiar embaixo, porque eu estarei à sua
caça, colocarei todos os meus esforços em te encontrar, por bem ou por mal, eu
vou te encontrar, e nem adianta rezar, porque eu não vou ter misericórdia nem pena
de você! Você está no topo da minha lista de inimigos, prepare-se. Você libertou
um monstro da jaula e agora não adianta se esconder.
Desliguei a chamada e atirei o celular contra a parede.
— Jason, procure Dark, meu ex-instrutor de guerra! — rosnei enlouquecido.
— Coloque ele e sua equipe nesta merda, eu quero todos, bons e maus, não estou
nem aí. Ache essa vadia e foda com tudo no caminho até encontrá-la.
— Sim, senhor, vou encontrar as equipes.
— Declare guerra a todos esses putos, cansei de ser bonzinho!

***

Esperar notícias da minha garota está sendo angustiante, já cansei de andar de


cá para lá. Ansiedade me corrói por dentro de forma que me sinto como um animal
enjaulado.
Minha cabeça está uma loucura só. São tantas emoções perturbadoras que eu
nem posso começar a colocá-las em ordem, entretanto, eu me apego ao fato de
Victória ser uma pessoa com o coração maior que ela mesma.
— Ela vai me perdoar! — exclamei fervorosamente, me apegando a esse
fato, porque era isso ou pirar de vez.
— Cara, eu não quero ser aquele que vai chutar cachorro morto — Dimitri
falou alto —, mas não vai muito confiante, não, Victória é do tipo de pessoa que,
quando toma uma decisão, lascou…
— Ela vai me perdoar — grunhi, passando as mãos pelos cabelos. — Ela me
ama.
— Sim, ela te ama, mas você notou que ela mal podia ficar na mesma sala
que você?
— Foda-se!
Larguei-me na cadeira ao lado do William, que se mantinha distante, trancado
em seu próprio inferno pessoal. Claro que ele ficou assim depois que Dimitri
contou, palavra por palavra, o que eu disse para minha garota. O que eu fiz afetou
o Conde de alguma forma, e não foi boa.
— E agora? — murmurei. — Não posso ficar sem ela! — Coloquei minha
cabeça entre as mãos.
— Você deveria ter pensando antes de compará-la à vadia-chefe! — Dimitri
bufou revoltado. — Nunca te vi tão idiota…, você praticamente chutou seu próprio
saco.
— Eu errei… por Deus, eu sei!
Eu sei, droga, ninguém mais que eu sabe!
Fechei meus olhos entre pânico congelante e desespero avassalador. Mia
sposa tem que me perdoar, ela tem, porque, senão, o que será de mim? o que vou
fazer sem ela? Dio mio, não posso ir por esse caminho… me sufoca a mera
possibilidade…
— Parentes da Srta. Fontaine? — Um médico baixinho e barrigudo chamou
nossa atenção.
Pulamos os quatro em pé.
— Somos nós! — William respondeu e todos concordamos.
— Irmãos? — questionou o médico.
— Irmãos e noivo! — Dimitri respondeu e mais uma vez concordamos.
— Okay — falou tranquilo, olhando alguns papéis.
— Então, o que houve? Diga-nos… — implorei ansioso.
— A senhorita Fontaine teve uma overdose por metanfetamina, mas não foi
uma grave, graças a Deus, entretanto, encontramos uma forte dose de Amor em seu
sangue.
— Amor? — perguntei intrigado, enquanto Dimitri e Jason grunhiam
revoltados.
— Amor é um potente alucinógeno de efeito imediato, ele causa alucinações
completamente fora de controle. A pessoa pode ver de monstros a dragões, vai
depender do que cada mente produz — explicou, me deixando ainda mais
decepcionado comigo mesmo. — A boa notícia é que vocês foram rápidos e a
trouxeram logo, fizemos uma lavagem total no estômago e aplicamos soro
glicosado, ela já esta na segunda bolsa, ele vai ajudar a queimar o resto dos
narcóticos em seu sangue.
— Posso vê-la? — perguntei ansioso.
— Ela está acordada, mas grogue, ainda um pouco delirante, mas está bem
mais consciente de suas faculdades psíquicas. Por favor, me acompanhem…
Caminhamos por um corredor e logo chegamos ao local onde minha garota
estava.
— Ela ficara em observação até amanhã, e relevem qualquer incoerência que
ela pronunciar, apesar de melhor, ela ainda está sob o efeito das drogas em seu
sangue.
— Tudo bem.
Entramos os quatro no quarto, e dois segundos depois meu coração quebrou
mais uma vez.
Victória estava olhando para o teto do quarto como se ali houvesse algo
incrível. Ela parecia alheia a tudo ao redor. Fazia caretas e sorria, depois franzia a
testa e voltava a sorrir.
Eu queria me aproximar, mas fiquei concretado no chão, na maior
demonstração de covardia da qual eu posso me recordar.
Dimitri e William foram os primeiros a se aproximarem.
— Oi, princesa — o Dinka murmurou, e Victória o olhou piscando lentamente
os olhos.
— Cavanhaqueeee, oi. — Ela sorriu e ergueu a mão para esfregar a barba do
Dinka.
Morri de ciúmes, mas fiquei na minha.
— Oi, querida, como está? — William falou com uma voz bem suave.
— Oi, cabeludo, você é tão bonito, parece um príncipe de contos de fadas…
— Sorriu pegando uma mecha do cabelo de Will, esfregando-a entre os dedos,
depois a levou ao nariz, respirando o cheiro, que por nada a fez sorri. — Você
cheira a sândalo…

O monstro do ciúme cravou suas garras em mim, mas eu me contive, hoje ele
não tinha poder algum.
— Victória… — Jason apenas pronunciou o nome da minha garota e a voz
dele falhou.
— Ei, não faça essa cara, somos brothers, esqueceu? — Riu baixinho,
estendo a mão para Jason, que aceitou na hora. — Vocês formam um trio e tanto…
— Amore mio… — Engasguei. — Olhe para mim também, estou aqui.
Então ela me olhou, e olhou, e olhou. Depois virou o rosto em silêncio.
Silêncio… essa palavra é muito subestimada, pois, sim, o quarto está em
silêncio total, mas dentro de mim acabou de explodir a terceira guerra mundial.
— Amore mio, olha para mim! — implorei e ela o fez, então chorou e virou o
rosto de novo.
— Vá embora, por favor — sussurrou
Dei alguns passos até ficar ao lado da minha garota. Meus amigos afastaram-
se, e eu pude pegar seu rosto e obrigá-la a me olhar.
— Por favor, olha para mim, amor.
— Não quero olhar para você agora, por favor, me deixe… — respondeu
suavemente, e minhas lágrimas juntaram-se às suas. Não me importei com seus
protestos quase inaudíveis, eu a abracei.
— Perdonani, amore mio, per favore — supliquei em seu ouvido chorando,
seus soluços combinados com os meus. — Tu sei la mia vita, tu sei mia moglie, tu
sei tutto per me…
— Eu te amei, eu ainda te amo, mas quero que vá embora… por favor… —
falou em português, e eu senti um raio de luz em meio à escuridão. Continuei
abraçado a ela, pois minha garota não sabe que eu entendi o que ela disse.
— Sposa, volta para mim… — implorei baixinho. Nossa conversa era
particular ao pé do ouvido. Vivíamos em um casulo de dor, tristeza e amor.
— Vá embora, por favor, deixe-me! — tornou a falar em português.
— Fala para mim, sposa, me diz o que fazer para você me perdoar! —
murmurei baixinho e me ergui apenas o suficiente para beijá-la na face.
— Vá embora, por favor. Amanhã… falamos… — Victória pronunciou a
sentença em nossa língua e virou o rosto. Muito relutante, levantei e fui para o
outro lado do quarto, me sentei no chão, completamente silêncio em silêncio,
minhas costas apoiadas na parede e minha cabeça caída para frente.
Se amanhã conversaremos, então amanhã eu saio daqui. Com você, amore
mio. Só com você.

***

— Cara, vai lavar o rosto e levanta daí — Dimitri falou, me incentivando a


levantar de onde eu estava deitado, dormi aqui no chão mesmo. Os outros se
espalharam pelo quarto. Ninguém arredou o pé.
— Eu vou esperar ela acordar, eu preciso conversar com minha garota….
— Então você precisa parecer pelo menos saudável, pelo amor de Deus,
parece que foi atropelado por um caminhão de merda. Você está uma bosta!
— Por que você tem o dom de sempre dizer a coisa certa, hein, Dinka? —
ironizei, indo para o banheiro lavar o rosto.
Fiquei lá por pelo menos uns cinco minutos e, quando voltei, Victória estava
acordada, até parece que ela estava me esperando sair para acordar.
— Amore mio, podemos conversar agora? — perguntei cauteloso.
— Podemos, mas primeiro eu quero te dar uma coisa — murmurou, pegando
minha mão e virando para cima. Cuidadosamente, Victória depositou o anel de
noivado que eu lhe dei em Roma.
Engoli o bolo que se formou em minha garganta, a emoção ameaçando me
sufocar.
— Não tem razão ficar comigo — falou baixinho
— Por favor, amor, nós estamos noivos, esqueceu? Esse anel tem que ficar
com você! — exclamei apavorado.
— Não, Rocco, acabou…— soluçou baixinho — isso é o fim, eu te avisei, eu
te supliquei para que se controlasse. Eu nem posso dizer que me lembro de tudo,
mas infelizmente eu me lembro de você e de suas palavras. Sinto muito, não dá.
— Pequena, me ouça, eu estava fora de mim, por favor, me entenda.
— Eu te entendo, não se martirize, não era para ser… — Sua voz saiu
trêmula.
— Amore mio, me perdoa pelas minhas palavras, eu sei que você é diferente,
mas…
— Rocco, você está errado! — Victória me interrompeu baixinho. — Eu não
sou diferente de ninguém, se você me cortar, eu sangrarei e meu sangue será
vermelho; se eu cair, vou me machucar; mas, principalmente, eu sou igualzinha a
todas as garotas que, após serem chamadas pelas coisas que você me chamou, e
sendo pelo homem que amam, terão nosso coração partido.
— Por favor, amor, perdoa esse homem que é cheio de falhas e defeitos, mas
que te ama acima de tudo — implorei desesperado. — Não acabe comigo, eu
preciso de você! — Nem me importei de chorar, minha alma sangrava, então meus
olhos apenas vertiam o desespero que eu sentia.
— Você prometeu que nunca me machucaria, você prometeu. — Victória
chorava copiosamente, seu corpo era sacudido por soluços. — E eu te disse que
nunca deixaria você me faltar com respeito, te falei no nosso primeiro jantar que
nunca permitiria isso…
— Eu sei, eu sei e juro que nunca mais vou…
— Não prometa o que você não pode cumprir. De qualquer forma, não
adianta, chegamos ao fim. — Se possível, ela chorou ainda mais, agora ela
escondia o rosto entre as mãos, e eu não resisti, abracei seu corpo, que parecia
mais quebrado que o meu.
“Talvez, e apenas talvez, eu possa juntar nossos pedaços nesse abraço”,
pensei enquanto me juntava à dor da minha mulher. A diferença era que meu choro
era completamente silencioso, e talvez fosse o pior e o mais desesperador, pois eu
sabia que a partir de agora teria que lutar para ter minha mulher de volta e viver
todos os dias com medo de ela desistir de mim para sempre.
Sim, eu teria que lutar.
Isso faz parte de quem eu sou.
Capítulo 14
Rocco

É dia, tenho certeza, porque vejo o céu azul claro, mas duvido um segundo, e
sabe por quê?
O sol não esquenta minha pele. Estou só. Mais uma vez, sozinho, ela se foi.
Sim, ela se foi, em segurança para o conforto de seu lar, e eu fiquei para trás,
vendo a poeira deixada por ela.
— Minha sposa desistiu de mim — murmuro sentindo meus olhos queimando.
Na verdade, eu queimo, meu coração está rachado, e eu tento, apenas não permitir
que ele quebre.
Aperto o anel que foi dela, que é dela, e ergo minha cabeça para o céu. Fecho
meus olhos e não sei. Minha mente se recusa a pensar, eu me recuso a acreditar.
Respiro fundo, mas o ar parece não entrar em meus pulmões, eu me sinto
sufocado, como se estivesse muito tempo embaixo d’agua, entretanto,
provavelmente irei me afogar.
Balanço a cabeça e me encolho dentro do casaco que William me deu, puxo o
capuz e começo a andar sem rumo. Saí de frente ao hospital onde minha garota
estava, eu não sabia para onde ir, então só caminhei. Enfiei minhas mãos nos
bolsos da minha calça, baixei a cabeça e segui meu caminho. Ombros encurvados,
encolhido, uns dez centímetros menor.
Estou em piloto automático. Mecânico… caminhar se tornou necessário…
Um fato.
As pessoas ao meu redor passavam sem que eu prestasse atenção, era como
se eu me movesse em câmera lenta e os outros no compasso certo. Estou perdido.
Com frio. Sozinho.
“Dio Santo, o que vou fazer?”, pensei me surpreendendo, não estou tão
paralisado, afinal. Continuei andando. Tentando juntar uma ideia à outra. Não tive
muito sucesso, apenas essa pequena frase se fez presente no caos da minha mente.
Não consigo conceber a ideia de que acabou. Não dá.
Meus olhos estão secos, eu estou silencioso, mas por dentro grito, bato nas
paredes invisíveis que nós separam, em desespero tento derrubar o muro que
Victória criou entre nós.
Lembro-me da nossa despedida, ou quase despedida. Ela inda estava
chorando em meus braços, enquanto eu também chorava e tentava, de todas as
formas, consertar a merda toda. Tentei falar, transpor o enorme caroço em minha
garganta, mas não pude. Muito gentil, Victória me silêncio u colocando um dedo
em meus lábios. Em seguida, tudo aconteceu muito rápido, e quando dei por mim,
ela já estava dentro do carro indo embora, com Jason e Dimitri. Já William
parecia tão ruim quanto eu, pude notar que meu amigo parecia uma fera enjaulada,
e o pior era que ela implorava por liberdade.
Quando estava muito cansado, eu parei de andar e nem precisei abrir a boca,
Murdoch apareceu e apontou o meu carro.
Olhei ao meu redor e notei que estava em um parque, não era o Hyde park,
entretanto não importava, tudo estava sem cor. O verde nem parece verde, parece
uma mistura malfeita de azul e amarelo. O mundo está descolorindo-se letamente,
voltando aos primórdios das eras bem diante dos meus olhos.
Segui até o carro e pedi que me levassem até minha cobertura. Não notei
nada, apenas mantive meu olhar fixo no anel em minhas mãos.
— Chegamos, senhor.
Saí do carro e segui meu caminho. Silêncio.…
Silêncio.… aparente silêncio, não, não é silêncio mudo, é silêncio
ensurdecedor, doloroso e cruel.
Entrei em meu elevador e fechei os olhos. Lembranças…
Beijos, abraços, juras de amor, promessas…
“Eu sempre serei sua, Rocco, só sua… nunca vou te deixar… Eu te amo,
você é minha outra metade perfeita. Eu te amo… eu te amo… te amo… amo…
a…”
Acabou.
— Derrotado! — murmurei, saindo daquelas paredes frias e sufocantes.
Entrei em minha cobertur… nossa cobert…
Entrei na cobertura e fechei a porta. Recostei minha testa ali por uns
segundos, de olhos fechados.
Inacreditável.
Impensável.
Então o primeiro grito saiu, e depois outro. E mais outro, acompanhado de um
murro na porta. Um chute, outro grito, joguei a cabeça para trás enfiando minhas
mãos em meus cabelos, puxando-os com força.
Por favor, peço…
Não fique triste por mim, não quero pena. Estou apenas desafogando, então,
sim, urros de dor e brados de angustia é o que tem para hoje, por enquanto, é
claro.
Quando minhas cordas vocais já estavam doendo para caralho, parei de
explodir minha dor e fúria utilizando minha voz. Eu precisava de outro método.
Tirei o casaco, a camisa, os sapatos e fiquei confortável.
Coloquei na mesa o anel que eu segurava firmemente em minha mão e fui para
o aparelho de som. Escolhi Linkin Park para começar. Então, em segundos, Numb
explodiu pelos autofalantes, eu coloquei em volume máximo, estava me fodendo
para os vizinhos. E não demorou muito, parece que a calma (de segundos) depois
da minha primeira explosão acabou do mesmo jeito que ela veio.
Fui curtindo a música, quase enlouquecido, uma onda de raiva crescendo, e
quando chegou ao refrão, eu não resisti, peguei um vaso e atirei. A partir daí eu
virei uma onda de destruição, fui envolvido por uma avalanche de ira tão intensa
que mataria alguém com um sorriso nos lábios. Eu quebrei espelhos, cadeiras,
mesas, vasos, estava indo para destruir o maldito apartamento inteiro. E quando
tudo isso não foi suficiente, eu resolvi buscar outro tipo de entorpecimento.
Peguei uma garrafa de Grey Goose e abri, bebi no gargalo mesmo.
— Foda! — rosnei e bebi. Bebi. Bebi.
A cada segundo um calor consumidor me invadia, e eu queria sair e acabar
com tudo e com todos. Trazer minha mulher pelos cabelos e mostrar que ela era
minha.
— Você é minha, amore mio! Minha! E ninguém vai tomar você de mim, não
estou desistindo, estou apenas reagrupando para atacar. Vou te trazer de volta! Ou
não me chamo Rocco Masari — murmurei para ninguém. Voltei para o bar, peguei
mais uma garrafa de Grey Goose e me larguei no chão, recostado no sofá.
Bebi ali até a última gota da primeira garrafa, entretanto ainda estava
consciente demais.
— Hora de entrar no jogo, querida! — murmurei para a segunda Grey, antes
de tomar um generoso gole.

***
Victória

— Você vai ficar bem? — Dimitri perguntou, me encarando atentamente.


— Sim — respondi.
Essa foi a maior mentira que eu já disse em minha vida. Não estava bem, tudo
havia sido destruído, um sonho e um amor destruídos.
Cacos, só sobraram cacos…
— Vou entrar, Jason, fique à vontade. — murmurei, dando um tchau para
Dimitri e fui direito para meu quarto.
Joguei-me em minha cama e chorei. Meus soluços rasgando meu peito e
queimando minha garganta. Era muita dor, um mundo de dor, um enorme vazio, um
buraco de desolação.
A culpa foi minha.
Eu o deixei daquela forma, eu fui a idiota. Não fiz bem para ele, nunca farei.
Desde que estamos juntos, Rocco só piora, seus ciúmes e obsessão subiram a
níveis catastróficos, e mais dia menos dia ele iria cometer uma loucura. Não posso
permitir uma coisa dessas. Entretanto, a forma como ele me tratou…
Juro por Deus que um tapa doeria menos.
Eu não sou uma vadia, não sou. Como Rocco pôde ter me chamado disso?
Então eu repensei nossos momentos juntos e tentei lembrar se de alguma forma eu
o provoquei, mas não consigo lembrar-me de nada.
Então uma ideia se infiltrou em minha mente.
Será que, lá no fundo, Rocco pensa que eu sou mesmo uma vadia, e essa
explosão foi apenas uma antecipação do que poderia vir a acontecer? Ou será que,
mesmo me amando como ele dizia me amar, ele ainda não acredita em meu amor, e
por isso, na primeira oportunidade, tudo veio a baixo?
Esses pensamentos me fizeram chorar ainda mais e eu pensava que seria
impossível, pareço ligada a uma represa que foi arrebentada. Simplesmente não
consigo parar de chorar. Era muita tristeza, meu coração estava sobrecarregado de
pesar pelo que poderia ter sido e não foi.
E o pior é que eu não consigo me lembrar de tudo que aconteceu naquela
boate, apenas flashes de momentos e, na maioria deles, eram os olhos azuis e
selvagens de Rocco que eu via, então sua voz grossa e linda me chamando de
coisas horríveis. Por mais que eu force minha mente, apenas vislumbres surgem,
nenhum deles bom o suficiente.
Eu até falei sobre isso com o médico que me atendeu e perguntei por que eu
não me lembrava de tudo, mas de algumas coisas e de forma confusa, ainda por
cima.
— O cérebro, em momentos de confusão, irá tentar se agarrar a algo.
Imagine uma pessoa se afogando, ela está frenética por ajuda e tenta se
segurara qualquer coisa que possa conectá-la com o sentido de segurança,
neste caso, o cérebro grava o que mais marcou, o que mais foi importante, de
forma consciente ou não. Entretanto, talvez, você se lembre de tudo…
Por que eu não consigo me lembrar de tudo? Meu Deus, me ajude, eu sei que
Rocco não é assim, mas ele estava assustador, descontrolado. Completamente fora
de si.
Ele virou outra pessoa, aquele não era de forma alguma o homem que cuidou
de mim quando eu estava fraca demais para fazer isso sozinha. Entretanto, meu
coração o ama do jeito que ele é, cheio de defeitos. Mas, infelizmente, certos
defeitos me fizeram muito mal, e o pior, fazem mais mal a ele, porque obsessão
não e bom. É uma doença. O meu amor ele tem para sempre, todavia, ele precisa
de tempo para se ajudar, Rocco precisa se curar e ser feliz, no fim, a solução
parece simples.
Ele precisa confiar em mim cegamente, como eu confiei nele.
Isso parece tão difícil, para não dizer impossível.
Em meio ao meu choro e mente confusa, eu adormeci.

***

— Vai me contar o que houve ou eu vou ter que descobrir sozinha? — tia
Laura perguntou pela milionésima vez.
— Não aconteceu nada, tia!
— Não? — questionou. — Não mesmo? — repetiu.
— Não mesmo — confirmei insegura. Detesto mentir, na verdade posso me
considerar na turma dos péssimos mentirosos.
— Olha para mim, Victória!
Eu o fiz e logo tive que travar meu queixo para evitar tremer. Mas foi
impossível, a imagem da minha tia ficou turva e antes que eu notasse, estava em
um abraço apertado.
— Chore, meu amor…
E eu chorei. Durante muito tempo, chorei e solucei alto, enquanto minha tia
me afagava. Jason andava pela sala nervoso.
— O que houve? — perguntou, limpando minhas lágrimas com carinho.
— Tia, eu amo tanto a senhora! — solucei. — Tanto… Não sei o que faria
sem te ter…
Ela sorriu, um sorriso maternal. Daqueles que nos dizem que tudo ficará bem.
— Tia, eu e Rocco terminamos.
Primeiro, tia Laura puxou o rosto para trás, fazendo uma careta descrente.
Depois ela me olhou como se eu fosse louca.
— O que aconteceu?
— Somos muitos diferentes, tia, não daríamos certo. — Eu falei isso porque
não vou acabar com o carinho que minha tia tem por Rocco, afinal de contas, ele é
muito querido.
— Por que eu acho que isso não explica muita coisa?
— Confia em mim, tia, e não me pergunta mais nada! — implorei, fungando, e
ela concordou.
A hora do café da manhã se arrastou. Eu não tinha fome, não tinha vontade de
desenhar, não tinha vontade nem de ficar em pé. Era como se metade de mim
houvesse morrido enquanto a outra metade estava em estado de coma.
Arrastei-me até o balanço dos fundos, sentei sem jeito, as mãos no joelho, a
cabeça baixa, as lágrimas pingando…
Fiquei ali, me sentindo sem rumo. Sem saber o que fazer e como começar a
tentar algo que me tirasse desse limbo.
— Não pensei que fosse te encontrar chorando desse jeito. Tudo isso é
saudade de mim, Bonequinha?
Ergui minha cabeça e tive que coçar meus olhos. Pisquei várias vezes, mas
ele ainda estava lá. Mais forte, mais bonito e muito descolado.
— Royce… — suspirei e levantei. — Não pode ser… — murmurei
atordoada.
— Venha, minha bonequinha, eu estou com seis anos de saudade, será que não
mereço um abraço? — perguntou abrindo os braços, e, antes que eu pudesse evitar,
eu estava me atirando em seu peito, enquanto era embalada carinhosamente.
“Obrigada, meu pai, por me dar uma coisa boa em meio à desordem em que
me encontro”, agradeci a Deus, apertando meus braços ao redor de Royce, que,
entendendo minha necessidade, me abraçou ainda mais apertado.

***

— Seis anos sem dar notícias, Sr. Dalton, por quê? — tia Laura perguntou e
deu um tapa na nuca do Royce. Eu ainda nem acreditava que ele estava aqui.
— Eu estava travando uma batalha por dia, tia Laura, não foi fácil conseguir
crescer na América, as coisas lá são complicadas, maaaas agora posso dizer que
vocês estão diante de um dos melhores caça talentos da Sony Music.
— Parabéns, meu amigo — felicitei, abraçando-o mais uma vez. Eu sentia
uma felicidade pelo sucesso do meu amigo, mas boa parcela de mim estava
afundada na lama.
— Obrigado, Bonequinha. — Sorriu, mas logo fez uma careta. — Por que o
gigante ali me olha como se fosse me morder?
— Ah… — Pigarreei. — Por favor, me deixe te apresentar. — Levantei,
acenando para meu segurança— Royce, esse é Jason, meu amigo e… segurança…
Jason, esse é Royce, meu amigo e irmão.
— Prazer em conhecer você. — Royce estendeu a mão e Jason a pegou.
— O prazer é meu! — falou calmo, mas encarava Royce como um oponente.
Ele está marcando o território do Rocco! pensei incrédula, mas logo dei de
ombros, isso seria Rocco sendo Rocco. Não adianta lutar contra uma força da
natureza, o jeito é deixar passar o furacão e depois reconstruir o que a destruição
causada por ele deixou.
Eu olhava para Royce conversando com tia Laura, estava calada, apenas
observando-o contar suas aventuras, mostrando de forma engraçada as
dificuldades que passou.
Ele disse que foi uma mudança de perspectiva viver nas ruas, mas uma boa
experiência, no final das contas… Sério isso? Royce é louco… As ruas são tão
perigosas, mas, infelizmente, tem muita gente que sofre com essa realidade.
Royce era assim, ele via o lado bom até das coisas ruins, eu me lembrava
dele dessa forma, e em apenas uma hora de retorno, ele mostrou que não mudou
muita coisa, digo na personalidade, pois, na aparência, ele cresceu, e muito.
— Victória, eu preciso falar com você! — A voz de Jason me trouxe à
realidade.
— Sim, pode falar.
— Preciso que venha comigo — chamou e foi aí que eu prestei a devida
atenção a ele.
Jason estava nervoso e… preocupado.
Levantei do sofá e nem falei com minha tia, eu apenas segui Jason até a frente
de casa. Enquanto íamos, ele falava ao celular.
— Estou com ela… Sim, sim claro… Porra! — ele rosnou e depois escutou,
passando a mão na cabeça. — Farei isso… vou passar para ela.
Jason me entregou o celular, e eu o recebi sentindo um nó no estômago.
Tremendo, o coloquei no meu ouvido.
— O-oi — sussurrei.
— Victoria, você precisa nos ajudar. Ele vai acabar se matando. Por
favor… — Fez-se silêncio do outro lado e logo houve grunhidos furiosos. —
Socorro. — Meu coração parou quando ouvi as palavras do Dimitri.
O celular escorregou da minha mão, eu procurei por Jason e ele me olhava
em expectativa, quase suplicante.
Por Deus Não!
— Me leve até ele!
— Graças a Deus — Jason grunhiu e corremos.

Cheguei à cobertura com o coração na mão. Assim que saí do elevador, o


barulho de Rock estava ensurdecedor, mas continuei até a porta do apartamento.
— Meu Deus. — Levei a mão até a minha boca para abafar meu choque. O
hall de entrada estava completamente destruído. Cacos de vidro, terra dos vasos,
plantas, jarros, tudo estava quebrado, espalhando caos por todos os lados.
— Seu bastardo, pare de lutar! DO PYZDI. — Escutei um berro vindo da
sala e, quando cheguei lá, nem acreditei em meus olhos, Rocco estava lutando com
Dimitri, enquanto William estava mais ao lado, limpando o sangue que escorria da
sua boca.
— Bastaaaardo, vá em-boraa! Caraaaaalho — Rocco falou meio embolado,
empurrando Dimitri para Longe.
— Você vai parar de beber! E vai se acalmar — Dimitri rosnou enquanto se
defendia de um murro.
— SAIA DA MINHA FODIDA CASA, PORRA!
Meu Deus…
Rocco está completamente fora de si, mas eu sinto tanta tristeza em sua voz…
tanta dor, juro que pode se comparar à minha.
Mude, meu amor, busque controle… fique forte, pois eu sempre estarei
aqui…
Limpei as lágrimas que escorriam, ele não podia notar meu sofrimento vendo-
o assim.
Dimitri parou de lutar, mas ainda levou um murro na boca, que o fez xingar
nomes que eu nem sabia que existiam. Já Rocco estava tão alheio à sua volta que
só se preocupou em pegar uma garrafa que estava próxima e beber direto no
gargalo.
De costas para mim, Rocco se dirigiu até o sofá antes branco, pois agora
estava sujo e cheio de manchas. Sem nenhum cuidado. Ele se largou ali e cobriu o
rosto, enquanto segurava com a outra mão a garrafa.
— Me deixem em paz! — grunhiu, então deu uma risada sem humor. —
Ouçam essa letra, eu deveria fazer isso. Deixá-la, mas eu sou egoísta demais,
nunca irei deixá-la, nunca… — gritou mais alto e começou a cantar, com sua voz
potente, bêbada e, para mim, linda.

“Enterre todos os seus segredos na minha pele.


Desapareça com sua inocência,
E me deixe com os meus pecados.
O ar ao meu redor ainda me parece como uma gaiola.
E o amor é só uma camuflagem
para o que parece ser raiva de novo."

— Não sou tão altruísta, eu vou pegar o que é meu de volta — rosnou,
bebendo outro longo gole. — Meu coração é negro, desconfiado, mas eu não estou
deixando minha mulher escapar…
Eu só fazia encarar aquilo tudo emudecida. Pelo visto, Rocco estava
determinado. Não pude evitar sentir meu coração vibrar de emoção.
Ele ainda não notou sua presença, Victória — William falou, chegando
perto de mim. — Ele está bebendo, quebrando as coisas e lutando conosco desde
que chegamos ontem à noite. Estamos tentando segurá-lo, mas está difícil, meus
ouvidos não aguentam mais tanto Rock pesado em tão pouco tempo, ele está assim
e só não entrou em coma alcoólico porque não deixamos. Estou todo esmurrado e
chutado, Dimitri está do mesmo jeito. Se continuar assim, teremos que ser
drásticos, ele quer apagar, mas a raiva que sente está tão grande que parece
queimar o álcool. — William ficou calado e pensativo. — Eu entendo de raiva,
desgosto e arrependimento — falou distante. — Deixe de lado qualquer coisa, ele
precisa de você!
— Claro que sim. — Engoli. — Vou cuidar dele… sempre…
Com cuidado, caminhei por entre os vidros, desviando de tudo com
cuidado para não escorregar e acabar caindo. Cheguei até onde Rocco estava
sentado, cobrindo os olhos, e me abaixei à sua frente. Acariciei seu rosto e ele se
empertigou, puxando o braço para poder me olhar. Eu olhei dentro de seus olhos
azuis.
Deus, como eu o amo!
Rocco sorriu e piscou os olhos, ergueu a mão para me tocar, mas desistiu.
— Non è reale — sussurrou, voltando a fechar os olhos. — Mia moglie mi
odia… — gemeu e bebeu outro gole.
— Eu jamais te odiaria — murmurei. acariciando seu rosto novamente. —
Eu nunca poderia te odiar.
Rocco abriu os olhos e ficou me encarando, depois ele sorriu, um sorriso
que fazia minha barriga ficar leve. Retribuí, foi inevitável. Ele era tão
incrivelmente lindo.
— Me dá a garrafa? — perguntei, tentando pegá-la, mas ele negou e bebeu
outro gole, limpando a boca com as costas da mão. Respirei fundo e resolvi
apelar. Olhei para os outros e eles apenas deram de ombros, me encarando de
volta.
— A garra-fa… — grunhiu, acariciando-a — é minha, e não vai me deixar.
Engoli em seco. O desgosto na voz do homem diante de mim quase dava
para cortar com uma faca. Tudo bem, hora de me igualar a ele. Afinal, eu aprendi
um truque ou dois com o próprio Rocco.
— Vamos trocar? — ofereci e lambi os lábios. Ele acompanhou o
movimento e estreitou os olhos, logo ele se inclinou para frente, ficamos nariz com
nariz.
— O quanto você quer essa garrafa, pequena? — perguntou,
repentinamente muito sóbrio para quem parecia bêbado até pouco tempo.
— Eu quero muito! — respondi na hora.
— Preciso de um par de mãos extra, no banho… — ronronou, esfregando o
nariz em meu rosto. — Você troca? A garrafa pelas suas mãos? — Agora ele me
olhava com seus olhos magníficos.
— Troco.
Sorrindo, ele largou a garrafa e me puxou em pé.
— Vamos tomar banho agora!
E fomos, afinal, eu prometi. E a cada momento em que minhas mãos
percorriam sua pele, eu fechava os olhos, emocionada. Meu corpo clamava, meu
coração gritava de felicidade, mas meu cérebro lembrava que Rocco estava em
meu programa de controle de temperamento.
Ele me tentou com suas mãos, mas não tirei nem a calcinha nem o sutiã, me
mantive firme, quer dizer, eu aparentava firmeza, mas eu não estava segura. Cada
toque, cada escorregada de suas grandes mãos perigosamente perto dos meus
pontos sensíveis, era muito para minha sanidade.
— Pronto, você está impecável! — exclamei e corri para o closet. Ainda
bem que havia algumas roupas minhas ali.
Estava terminando de me vestir quando me encontrei sendo empurrada
contra a parede, e o corpo grande e quente de Rocco colando em minhas costas.
— Você sabe que eu não vou desistir, não é? — ronronou em meu ouvido. —
Eu vou lutar a cada passo do caminho, cada resistência sua aumentará minha força
de vontade, cada vez que me disser não, eu vou correr atrás do sim. — Rocco
estava completamente colado em minhas costas, eu o sentia expelir calor. —
Então, amore mio, você está preparada?
Capítulo 15
Victória
— Responda, amore mio! — Rocco grunhiu, esfregando-se em minha bunda.
— Diga se você está preparada para me ter jogando duro?
Eu só pude fechar os olhos e gemer. Por Deus, eu não tinha controle sobre
isso. Meu corpo era rebelde e só atendia a um senhor.
Rocco Masari.
— Eu… — Engoli em seco. — Eu acho que…
— Se eu fosse você, eu voltava para mim! — ronronou, esfregando o queixo
em meu ombro. — Você tem noção do quão duro eu estou? — perguntou e imitou o
movimento do sexo. — Sinta como meu pau está doido por você! Eu e ele
estamos…
Gemi longamente. Meu corpo todo acesso.
— Você me quer — sussurrou em minha orelha e me mordeu. Soltei um
gritinho de puro desejo, minha calcinha molhada e uma dor pulsante em meu
clitóris.
Eu já ofegava, meus seios doíam, meu ventre dava cambalhotas e nem vou
dizer a necessidade que eu tinha de ser preenchida por ele.
Estava tão alheia que nem notei quando Rocco rasgou meu vestido ao meio,
só pude ofegar, chocada, antes de ser virada e empurrada de novo contra a parede.
— Você é minha! — rosnou alto e me beijou, um beijo faminto, desesperado,
angustiado e com gosto de vodca.
Nesse ponto eu me perdi, ou melhor, já tinha me perdido desde que ele me
prendeu contra seu corpo e a parede.
Mordi seu lábio com força e ele grunhiu, levando suas mãos até minha
calcinha e rasgando-a com brutalidade, meus líquidos já escorriam, gemi quando
Rocco me ergueu, obrigando-me a enlaçar minhas pernas em sua cintura. Todavia
chorei de desejo quando ele me empalou com um único movimento.
— Gostosaaa! — grunhiu olhando dentro dos meus olhos. — Fodidamente
perfeita para mim! — As palavras dele eram proferidas enquanto seus quadris
batiam com força entre minhas pernas. Rocco parecia um pistão de tão rápido que
se movia. E nunca ele havia me tomado de forma tão primitiva.
— Me beija! — murmurei ofegando, e ele sorriu, fazendo exatamente isso,
iniciamos outro beijo desesperado, ele me mordia, eu mordia de volta, nossas
línguas brigavam pelo controle, nesse momento nem eu era passiva, estava mesmo
era louca de paixão.
Enfiei minhas mãos em seu cabelo e puxei com força, Rocco rosnou
selvagem, eu grunhi de volta. Ele me olhou, estreitando os olhos, e depois me
levou até a cama, onde me deitou na beirada e continuou a bombear duramente
entre minhas pernas.
— Você. É. Minha! — Cada palavra foi pontuada por uma estocada bruta e
um grito meu. Nunca senti tanto prazer, e quando estava prestes a gozar, Rocco
saiu de dentro de mim e me virou, erguendo minha bunda e enfiando-se em mim de
novo.
Gritei quando senti como ele me preenchia. Era incrível, era perfeito.
— Minha mulher! Minha Mulher! — rosnava alto e possesso. Logo senti sua
mão enrolando todo o meu cabelo e ele puxou minha cabeça para trás, me fazendo
arquear. Ficar assim foi… não consigo explicar, mas eu estava vulnerável, a
mercê, e não me importava mais com nada.
— Rocco… por favor… — implorei, sentindo meu corpo pronto para voar,
eu estava quase gozando e ele nem havia dado atenção ao meu clitóris. A forma
como ele me abordou, como falou em meu ouvido e como me pegou, já fez todo o
trabalho, e como se estivesse provando que ele era perfeito para mim, me fez
enlouquecer, pois sabia todas as formas como eu poderia a reagir às suas carícias.
— Você vai gozar apenas com o meu pau te fodendo! — grunhiu e torceu os
quadris, me fazendo revirar os olhos e cravar as unhas no lençol. — Depois que
você gozar e eu sentir meu pau sendo ordenhado, eu vou chupar seu clitóris do
jeito que mais gosto…
— Minha nossa… — gemi entregue, meu corpo era dele, eu era dele. —
Rocco… estou tão perto… Por favor… Por favor…
— Isso, implora, meu amor, implora pro seu homem te fazer gozar bem
duro…
— Estou tão perto — ofeguei, sentindo meu corpo endurecer e um arrepio
tomando conta dele. — Ohhh… Rocco, eu vou… Por favor, isso — eu implorava,
incoerente e sem fôlego.
— Diz que me ama! — comandou fervoroso.
Eu só gemia e gemia, não estava com bom raciocínio. Agora, sim, eu estava
quase gozando, meu corpo se preparou e mais uma estocada forte eu alcançaria
meu alívio.
— Diga que me ama ou eu paro!
Como se para provar suas palavras, ele parou, fazendo meu orgasmo
retroceder e uma dor gostosa se instalar no meu núcleo preenchido por ele.
— Nãoo… — choraminguei — não para, eu estava tão perto! — Pude sentir
lágrimas se formando em meu rosto.
— Diga que me ama, que é minha… e que nunca vai me deixar — ronronou,
lambendo meu ombro, me causando tremores de prazer. — Diga que não me
odeia…
“Como se eu pudesse…”, pensei aturdida, entretanto, dois podem ceder, e
prometer…
— Diga… — Puxei o ar. — … que vai se controlar, que vai…— Engoli. —
… aprender a dominar seu temperamento e agressividade.
— Eu farei isso — murmurou em meu ouvido e calou-se, agora eu sabia que
era minha vez.
— Então saiba que eu te amo. — Ele riu e puxou seu membro de dentro de
mim para logo bater de volta, gritei. — … Eu sou sua. — Mais outra investida
agressiva e deliciosa que me fez ver estrelas. — Nunca mais vou te deixar…
— Isso, amore mio…— ronronou, girando os quadris, provocando-me de
forma tão inescrupulosa que eu quase desmaiei de tanto prazer. — Agora diga que
não me odeia…
Mas de onde ele tirou isso? Por Deus, eu terminei nosso relacionamento,
mas eu nunca seria capaz de odiá-lo… nunca…
— Eu não te odeio… nem nunca seria capaz de odiar, eu te amo… —
Suspirei e para minha total alegria, ele voltou a fazer amor comigo de forma dura e
profunda.
Nem sei quantas posições fizemos, só sei que eu gozei tanto, mas tanto, que
devo ter desidratado, e só para que saibam, Rocco me mostrou uma versão dele
que, minha nossa senhora, eu nem vou compartilhar, só vou dizer que pervertido
nem começa a descrever. Desta vez eu realmente voei alto, muito alto, foi algo
estratosférico, de deixar de pernas bambas.
Caímos exaustos na cama, estávamos suados, entrelaçados, ainda mais
apaixonados.
— Precisamos brigar mais! — Rocco sussurrou enquanto brincava com meu
mamilo.
— Uhnnn — respondi de olhos fechados. O safado só fez rir.
— Voltamos, pequena? — perguntou e esfregou o nariz em meu rosto.
— Uhn-hum…
Desta vez ele gargalhou.
— Eu acabei com você, não é, amore mio?
— Uhnnnnnn — gemi longamente.
— Eu queria que você me sentisse dentro de você mesmo quando eu não
estivesse, eu estava doido, pequena, e me desculpa se eu fui muito bruto, é só
que…
— Shhh — coloquei um dedo na boca dele, enquanto abria um olho para
encará-lo. — Foi perfeito, e eu voto a favor de mais momentos como esse, e para
deixar claro: você conseguiu com méritos o seu objetivo, porque agora mesmo eu
posso fechar o olhos e te sentir dentro de mim.
— Isso, amore mio, eu quero mesmo que você me sinta — murmurou
passando os dedos pela minha bochecha. — Nunca mais diga que vai me deixar,
eu realmente não posso ficar sem você… — Vi a angústia em suas feições e aquilo
me doeu. — Eu me senti apavorado, perdido, pela primeira vez, eu não sabia nem
o que pensar…
— Amor, naquele momento foi a única coisa que eu pude fazer — sussurrei,
virando de lado, imitando a posição dele. — Eu tenho dúvidas… não sei se sou o
que você precisa, talvez, se a gente…
— Ei, pode parar! — grunhiu vindo para cima de mim. — Você quer outra
rodada de sexo selvagem e pervertido para tirar essas besteiras da cabeça?
— Claro, mas antes compre uma cadeira de rodas! — brinquei e ele arqueou
uma sobrancelha, logo estávamos rindo dessa pequena frase que eu falei.
— Então eu sou tão potente assim? — Piscou um olho sorrindo. Agora eu o
via leve, tranquilo, quase o meu Rocco de volta.
— Qual é, você é um garanhão reprodutor… — falei e ele jogou a cabeça
para trás, gargalhando feliz.
— Na verdade, amore mio, eu sou o seu garanhão e só vou me reproduzir
com você!
— Rocco…. — Suspirei sorrindo, toda a angústia e dor que senti ontem já
tinham sumido. — Eu te amo, me perdoa por te fazer sofrer.
— Minha pequena, eu que peço perdão, eu deveria ter visto que você não
estava bem… eu deveria ter prestado atenção, juro que nunca mais vou agir por
impulso! — proclamou sofrido
Puxei-o para mim para poder dar-lhe um beijo carinhoso. Nesse beijo eu pedi
perdão e perdoei. Juro que agradeço a Deus por não haver espaço em meu coração
para rancor, só havia espaço para amor. Muito amor. Era só o que cabia agora em
meu peito. Minha tristeza e insegurança foram deixadas de lado, entretanto, eu não
entendo como Rocco pôde pensar que eu o odiava.
— Agora vamos dormir, eu estou morto de sono — sussurrou, distribuindo
muitos beijos pelo meu rosto, rir, pois sua barba me fez cócegas. Felizes da vida,
ajeitamos nossos corpos e fizemos uma conchinha maravilhosa. O corpo grande de
Rocco abrangendo o meu bem menor. Eu me sentia incrivelmente protegida
— Nunca mais vamos terminar — suspirei fechando os olhos.
— Nem por algumas horas — respondeu, fungando em meu cabelo. — Essas
foram as piores horas da minha vida, posso jurar que durou um ano inteiro…
— Para mim também, meu amor… para mim também…
— Finalmente posso dormir — resmungou, aconchegando-se ainda mais a
meu corpo. — Pensei que teria que fingir mais…
— Mas o quê?
— Amore mio, se eu aparentasse estar louco, eles trariam você até aqui…
bem… era só disso que eu precisava, confesso que fiquei bêbado, mas foi só um
pouco, depois eu apenas controlei a pressão. — Pude notar que ele sorria. — Eu
sabia que você viria por mim.
— Seu… seu… seu… — Nem consegui formar uma frase coerente. Eu tinha
vontade rir e de bater nele.
— Mentiroso, pervertido, manipulador, tarado, apaixonado e completamente
arriado pela minha futura esposa? — perguntou, rindo baixinho. — Sim, amore
mio, eu sou tudo isso aí, e como disse, eu só precisava que você passasse pela
porta.
— Eu tive medo, sabia!?
— Desculpe, mas foi preciso, eu não poderia ficar longe por muito tempo… e
não, não me arrependo. Faria tudo outra vez, para te trazer de volta…
— Ai, seu bobo! — Sorri com raiva pelo susto que eu tive, pois pensei que
ele estava machucado, mas também estava feliz por ele não ter desistido. — Você
é um ator!
— Bobo de amor por você! Só por você… E sim, até me convidaram para
fazer o filme do Super Man, mas não me vejo em uma daquelas roupas coladas.
Ri alto agora.
— Não ria de mim… — reclamou me mordendo. — Eu estou falando sério.
— O Super Man é um gato, e você é a cara dele!
Observei-o estreitar os olhos e logo sorrir.
— Eu sou melhor, porque eu sou real! — ronronou sorrindo.
Obrigada, Deus, por isso!
— Nunca mais iremos terminar… — mudou de assunto enquanto beijava meu
cabelo.
— Nunca mais… — respondi, fechando os olhos mais uma vez.
Entretanto, eu não poderia estar mais errada!
Capítulo 16
Rocco

Acordei e a primeira coisa que senti foi o cheiro da minha garota. Apertei
meus braços ao seu redor, puxando-a ainda mais para mim. Funguei em seu cabelo,
beijei seu ombro, distribuí beijos por onde eu pude sem precisar soltá-la. Não sei
quanto tempo fiquei ali, só sei que o ronco da minha barriga me fez perceber que
eu não comia há muitas horas.
Devagar, levantei da nossa cama, ainda admirei Victória em seu sono.
— Perfeita para mim… — murmurei, puxando o lençol para que ela não
sentisse frio.
Fui para o banheiro, tomei uma ducha, escovei os dentes e vesti apenas uma
calça de moletom. Saí do quarto ostentando um sorriso enorme. Estava pensando
na minha felicidade e em como eu tive sorte, minha ousadia funcionou.
Amém por isso!
Eu não tinha ideia se ser bruto funcionaria, mas funcionou, e agora estou aqui,
feliz, satisfeito, ainda mais apaixonado, perdoado e morrendo de fome.
Balancei a cabeça enquanto ria. Meu plano deu certo. E como deu.
Cheguei à sala e vi que a maior parte da sujeira tinha saído. Franzi a testa e
continuei caminhando, só para mais adiante encontrar, Dimitri, William e Jason
vestidos só de calças, com vassouras, baldes e panos nas mãos.
— Minhas faxineiras! — Explodi em gargalhadas da cara dos três. Então,
antes que me defendesse, um pano acertou meu rosto.
— Vamos limpar e você vai ajudar! — Dimitri grunhiu. — Seu tarado de uma
figa! Será que não dava para ser mais silencioso? Estou com meus ouvidos
entupidos de algodão.
— Vá se ferrar! — rosnei apontando o dedo para ele. — Quando viu que
Victória não saía do quarto, deveria ter ido embora!
— E deixar ela sozinha contigo? Você estava doido de pedra! — falou alto.
— Deus me livre, não mesmo, tia Laura arrancaria minhas lindas bolas e meu
precioso pau.
— Palhaço! — resmunguei, mas estava muito feliz. — Nós voltamos! —
exclamei, voltando a ostentar um enorme sorriso.
— Conte uma novidade, só um surdo, doido e inocente não entenderia que o
que vocês faziam no quarto eram as pazes! — bufou Dimitri,e todos riram, menos
William.
— Vamos, suas preguiçosas, temos muito trabalho pela frente — o conde
proferiu e veio para perto de mim. — Não cometa outro erro… — murmurou
melancólico. — Estou feliz por você, amigo, e espero que tenha aprendido.
— Sim, meu amigo, eu aprendi — respondi e apertamos os antebraços.
Saudação de guerreiro.
— Vou pedir pizzas, estou morrendo de fome! — Dimitri falou alto enquanto
pegava o telefone no bolso. — Tem cerveja aqui?
— Não sei! — respondi dando de ombros.
— Dono de casa fuleira! — P Dinka estalou a língua sorrindo. — Vou
resolver essa parada! Vamos beber cerveja e terminar de limpar a bagunça que
você fez, e isso te inclui, Sr. Masari, pode pegar a vassoura e juntar a terra no hall
de entrada.
— Sim, madame! — respondi rindo.
— Vai se lascar, sua bicha chorona!
— Eu não! — Dei de ombro,s pegando a vassoura. — Peça de frango e
calabresa…
— Eu vou pedir do que eu quiser!
— Viado!
— Boiola…
— Vocês se amam! — Jason caçoou rindo e logo o Dimitri o incluiu na
brincadeira.
— Você entrou na Tríade e por isso viramos O quarteto fodástico, vamos te
iniciar. — O Dinka riu, coçando a barba. — Humpyt Dumpyt será o seu apelido.
— O quê? — Jason perguntou confuso.
— O ovo do gato de botas, seu besta! — exclamou e explodimos em
gargalhadas, mas eu vi a gratidão no olhar de Jason, e, sim, tudo começou pela
insistência de Victória que eu tinha que ser amigo dele.
Mia bella sabe das coisas…
Sorri e fui varrer uma parte da sujeira.
Eu poderia chamar uma equipe de limpeza, sim, claro que eu poderia, mas
não vou perder de jeito nenhum esse sentimento de camaradagem e gratidão que
estou sentindo.
O resto da tarde passou agradável. Limpamos o apartamento bebendo cerveja
e comendo pizza. Depois que estava tudo limpo, eu vi que teria que mobiliar o hall
e a sala, além de ter que trocar alguns outros móveis que ficaram danificados.
Isso não seria um problema para mim.
— Ei, vamos pedir o jantar! — A voz do Dimitri me tirou dos meus
pensamentos. — Estou morrendo de fome.
— E quando você não está? — perguntei, pegando o telefone e ligando para o
restaurante de Marco.
— Eu tenho 1,92 m de altura, preciso de alimento! — reclamou, rumando
para a cozinha.
— Fique à vontade! — ironizei, dando de ombros. — Quando a chamada foi
atendida, eu pedi para falar com Marco, conversamos um pouco e logo fiz meu
pedido. Lasanha e macarronada, mais duas garrafas do vinho que ele
recomendasse. Dei meu endereço e pronto. Era só esperar.
O restaurante de Marco não fazia entregas, mas eu era um cliente VIP, e sendo
assim, meus desejos eram geralmente atendidos.
Fui para meu closet, peguei quatro calças folgadas e camisas, não quero
Victória vendo marmanjo seminu.
Quando estava saindo, passei pela cama e depositei um beijo na bochecha da
minha garota, ela sorriu em seu sono. Estava acabada, claro, eu fui muito bruto e a
peguei com gosto.
— Eu te amo… — sussurrei bem baixinho e saí do quarto, voltando para
onde estavam meus amigos.
— Tomem — falei, colocando as roupas em uma cadeira da cozinha assim
que entrei no ambiente. — Vocês podem tomar banho, todos os quartos têm suítes.
— Obrigado, Mamma. — Dimitri riu.
— Meu pau! — grunhi, voltando para o quarto. Precisava despertar Victória
para ela jantar conosco.
Com carinho, acordei-a, enquanto ela tomava banho, eu a admirava, e quando
ela me olhava, eu colocava a mão em meu membro duro e piscava um olho.
Victória ofegava, já toda vermelhinha. Eu só sorria e fazia minha melhor cara
de safado. Depois eu quase não consegui deixá-la se vestir, não era culpa minha se
eu tinha uma mão boba com tendências pervertidas. Quer dizer, era “sem querer”
que minha mão roçava seu sexo coberto pela calcinha, ou que meus dedos
apertavam seus mamilos.
Victória gemia, respirava fundo, corava violentamente, e eu adorava.
— Vamos… — me chamou, quando depois de muito tentar se vestir
conseguiu.
O jantar estava divertido, Dimitri, o rei da palhaçada, estava fazendo piada
do meu drama anterior.
— Victória… amore mio… Volte! — falou, fazendo uma careta com uma mão
no coração. — Per favore, sem você vou murchar e fazer puff — terminou a frase
fingindo um gesto de explosão com as duas mãos.
Todos riram, mas eu e minha garota tínhamos um sorrisinho misterioso. Eu e
ela sabíamos que eu menti. Foi tudo encenação.
— Meu Deus, por um momento eu pensei que Rocco iria gritar e dizer!
DESISTO DAS MULHERES, ME TRAGAM UM BOY MAGIA…
Engasguei com o vinho, porque, puta que pariu, Dimitri passou dos limites,
Victória, William e Jason Riam tanto que já limpavam as lágrimas.
— Seu grande filho da puta! — rosnei. — Eu prefiro uma gangrena no pau!
— Me tragam um boy magia, per favore — implorou, afinando a voz,
cruzando as mãos e piscando os cílios enquanto olhava para cima.
— Meu Deus, você é incrível, Dimitri. — Victória sorriu e eu tive que rir.
Meu amigo era um palhaço daqueles.
Continuamos jantando e rindo despreocupadamente, até o William pareceu se
soltar um pouco e ria. Entretanto, na melhor parte, meu telefone tocou, eu precisei
atender.
— Masari falando…
— Senhor, temos problemas nas filiais da China e dos Estados Unidos. —
Ouvi a voz nervosa de um dos meus braços direito.
— O que foi, Wonder? — perguntei calmo. No meu trabalho eu era o
predador, então não precisava de estresse. Eu saberia o que fazer, eu sempre
sabia. Era quase instantâneo, não era à toa que eu sempre contornei crises
mundiais, era quase como uma clarividência, eu sabia o que fazer e pronto.
— Na China mil funcionários entraram em greve — proferiu, apreensivo.
— E nos EUA há suspeita de assédio sexual e moral contra duas funcionarias…
— Mas que porra é essa? — quase gritei, porque com a greve eu sei lidar
facilmente, mas com o assédio, isso me deixou fora do eixo. Todos sabem que eu
não admito essas merdas.
— Senhor, precisamos que venha o mais rápido possível!
— Estou a caminho! — falei, desligando em seguida.
Voltei para a sala de jantar, e pelo meu semblante todos notaram que alguma
coisa havia acontecido.
— Dimitri, prepare as malas, nós vamos para a China e para os Estados
Unidos, viajamos amanhã cedo.
— Problemas? Já sei! — exclamou levantando. — Meus amigos, boa noite
— se despediu, saindo da mesa.
— Eu também vou nessa! — William levantou, seguido por Jason.
Eu e Victória ficamos sozinhos. Mas eu logo tratei de quebrar o silêncio.
— Venha comigo…
— Eu não posso, amor! — murmurou tristonha. — Segunda eu volto para o
ateliê da Madame. Preciso me organizar…
Droga!
— Fique comigo hoje…
— Com certeza!
Antes de irmos para o quarto, eu liguei para meu piloto e mandei que
preparasse meu avião para as seis da manha. Terminado isso, Victória me ajudou a
fazer uma mala básica. Ela sabia a forma de dobrar meus ternos e gravatas,
colocando tudo muito bem organizado. Um silêncio cúmplice nos envolvendo.
Deixei Victória cuidando das minhas roupas e fui guardar alguns papéis em
minha pasta, assim que acabei, voltei para o quarto e a encontrei sentada na
beirada da cama, de cabeça baixa, ombros encurvados… triste.
Deixei-a ali alguns segundos enquanto corri para a sala, fui até o lugar onde
deixei o anel dela e depois voltei para o closet, abri o cofre para pegar as duas
alianças que eu comprei junto com o anel.
Caminhei até minha garota e me ajoelhei na frente dela.
— Amore mio….
Victória me encarou.
— Rocco, é possível sentir saudade de uma pessoa que ainda nem partiu? —
Sua voz soou trêmula e baixa.
— Sim, amor, é! — respondi, pegando sua mão para poder colocar o anel de
volta em seu dedo. — Ele nunca deveria ter saído daqui — murmurei, beijando
sua mão. — Amor, eu desejo uma festa de noivado com nossa família, mas não
quero mais esperar.
— Não importam festas, Rocco…
— Eu sei, e por isso eu quero que você use isso, eu irei usar também — falei,
abrindo a caixinha que continha as duas alianças.
Minha garota sorriu, pegando a maior aliança, para logo deslizar em meu
dedo, depois ela beijou minha mão. Eu fiz o mesmo com ela.
— Agora eu uso uma aliança para mostrar a todas que tenho dona, de
qualquer forma, não importa, meu coração só te reconhece, e meu pau só sobe para
você! — falei, piscando um olho.
— Rocco! — Victória exclamou, dando um tapa em meu ombro, mas tão
rápido ela pulou em meus braços e bolamos no chão, onde começamos a fazer
amor e não paramos mais até quase o dia amanhecer.
Ah, sim, sem proteção! Todas as vezes que eu gozava, enviava uma prece…
Não ligo de estar basicamente dando o golpe da barriga versão masculina,
neste caso, o golpe do pau…
Eu tinha quase certeza que depois de tantas vezes sem cuidado, minha garota
já estava grávida.
Nosso bambino estava a caminho!
Grazie, Dio santo!

***
— Se cuida, pequena. Per amore di Dio! — exclamei, apertando-a em meus
braços.
— Amor… preciso… respirar…
Afrouxei meu aperto e comecei a beijá-la, eu estava meio desesperado,
porque passaria no mínimo uma semana fora, se tudo desse certo. Senão, seriam
duas semanas. Cada vez que eu pensava na saudade que sentiria, eu tinha vontade
bater em algo.
Mas estou no programa da minha garota para o controle do temperamento.
— Rocco, precisamos ir! Caso contrário, só chegaremos à China no final do
ano — Dimitri falou e eu xinguei.
— Cuidado, pequena, não assine nada que aquela filha da puta mandar,
espere por mim, certo?
— Certo.
— Ótimo! — Sorri e voltei a beijá-la. Despedida era foda. Ruim para
caralho.
— Tenho que ir…
— Eu sei… — Estávamos com as mãos em nossos rostos, nos beijando ou
distribuindo beijos pelo rosto do outro.
— Tome cuidado você também, certo?! Por favor.
— Eu terei.
— Volta para mim!
— Sempre.
Mais uma rodada de beijos e eu parti. Nem olhei para trás, porque corria o
sério risco de jogá-la no ombro e levá-la comigo. Eu só não fiz isso porque
Dimitri disse que Victória precisava se organizar para voltar ao trabalho, do jeito
que as coisas iam, Blanchet estava louca.
As vendas da megera caíram, e por isso ela abriu mais capital, agora eu tenho
40% das ações do ateliê, só faltam mais onze e eu ferro com aquela desgraçada. Já
decidi, vou levá-la à falência, ponto final.
Entrei em meu avião e sentei na primeira poltrona que vi.
Olhei pela janela e anda tive uma visão do carro onde minha garota estava se
afastando. É por poucos dias, amore mio… eu juro! Fechei os olhos, afivelando
meu cinto, minutos depois estávamos nos preparando para decolar.
— Até breve, meu amor. — Sentindo meu coração apertado.
Capítulo 17
Victória

Faz sete dias que Rocco viajou. Nunca pensei que sentiria tanta saudade,
mesmo que a gente converse muito por celular ou mensagem, está difícil. A
distância está castigando.
Nem Royce me animou, e olha que ele tentou, até me levou para ver sua
antiga banda de garagem tocar. Foi legal, mas eu queria estar em outro lugar, com
outra pessoa.
E por falar em Royce, eu nem contei para o Rocco, tenho a plena certeza que
ele vai surtar e queria falar pessoalmente, por telefone nem sei o que ele faria.
Bem capaz de largar tudo e voltar.
— Não, não posso fazer isso!
Graças a Deus a crise na China foi resolvida, eu sabia que Rocco
conseguiria, ele é demais, simplesmente incrível, tipo, ele é o super-homem dos
negócios. Invencível… Eu me sinto orgulhosa dele, Rocco é muito centrado e
dedicado no que faz. Agora ele está nos Estados Unidos, eu acho que logo, logo,
ele chega.
— Chegamos! — Jason anunciou e eu me encolhi dentro do grande SUV
preto.
— Parece que faz uma década que não venho aqui! — Jason virou
completamente para me olhar
— Victória, agora as coisas são diferentes, eu vou te trazer e te buscar, você
só vai trabalhar as horas corretas, e qualquer coisa que a louca daí tentar, ela tem
um muro para enfrentar, e isso me inclui.
— Jason, você é um amigo incrível.
— Não, você que é. — Sorriu carinhosamente — Eu não tenho ninguém nesse
mundo, Victória, nada para chamar de meu, e por sua causa eu tenho amigos, que
posso considerar quase uma família, até apelido eu tenho agora.
— Você tem um coração de ouro, Jason, e Deus tem um propósito na sua vida,
não se preocupe, apenas confie.
— Estou começando a creditar, querida, pode apostar! — Balançou a cabeça,
sorridente. — Agora vai lá e mostra para aquela boneca de vodu que você é a
chefona, e não ela.
Dei uma risada e saí do carro. Mas antes de bater a porta, me virei para
Jason.
— Eu largo às quinze horas…
— Estarei esperando aqui na frente.
— Obrigada, Jason! Ah, o Royce disse que você arrebentou na guitarra!
— Nada, eu só toquei uma ou duas notas. — Sorriu dando de ombros.
— Sei, você foi comparado ao Slash, e se não estou enganada, é para o
ensaio da banda que você vai, não é?
— Sim! — respondeu encabulado. — Mas o Murdoch e o Gus irão ficar de
plantão no ateliê hoje, eu vou ficar a partir de amanhã. Daí Blanchet pode morrer
engasgada, mas vou ficar na sua sala com você, ou na porta.
— Jason, que besteira! — exclamei.
— Não é mesmo, vou falar com Rocco sobre isso hoje.
— Tudo bem! — Dei de ombros e saí. — Tchau, Jason, e arrebenta lá no
ensaio.
— Pode deixar.
Esse era o nosso segredo, Jason estava tocando algumas músicas na banda
dos amigos do Royce. Era apenas uma forma de ele relaxar, pois em tensão ele
parece ser especialista.
Tenho que ver o dia do aniversário do Jason, eu já sei o que eu e Rocco
vamos dar de presente para ele.
Uma guitarra.
Entrei no ateliê às seis e cinquenta. Às, sete bati meu ponto e fui para minha
sala. Durante todo o tempo eu ignorei as piadinhas dirigidas a mim. Até porque,
algumas eram pura besteira.
Como alguém pode achar que eu sou a queridinha da Madame?
Humpf! Se soubessem a verdade…
Por fim, cheguei à minha sala e encontrei tudo em seu devido lugar. Logo
peguei uma folha em branco e comecei a desenhar, estava tranquila produzindo um
vestido estilo sereia, quando meu celular apita avisando que chegou mensagem,
imediatamente abri para olhar. Já estava sorrindo.

De: Rocco
Para: Meu amor…
Assunto: Você olhou revistas ou internet hoje?
Data: 12/11/2014 as 09h30min
Pequena, meu amor, meu coração… Você já viu alguma revista ou internet
hoje? Se sim, por favor… PORRA, nem sei o que dizer, apenas quero que…
amor… eu…
Victória, eu estou voltando para casa, por favor, me espera, eu chego em
poucas horas. Só me espera. E não olhe nada, amor, eu imploro, não olhe
nada… me deixa chegar… confia em mim.

Li e reli a mensagem várias vezes. Senti uma pontada no coração e um frio na


barriga terrível. Fiquei durante alguns minutos sem saber o que fazer. Eu estava
confusa, e preocupada, mas faria como ele pediu. Não olharia nada.

De: Victória
Para: Meu amor…
Assunto: Estou assustada…
Data: 12/11/2014 as 09:55 hs
Amor, você assustado. Não fique, eu vou te esperar e não vou olhar nada
até você chegar, pode confiar. Não vou olhar, juro…

Apertei enviar e voltei ao meu trabalho, porém, não vou mentir, eu estava
apreensiva, e muito. Alguns minutos depois, chegou outra mensagem.
De: Rocco
Para: Minha Sposa
Assunto: Você é perfeita…
Data: 12/11/2015 as 10:00 hs
Meu amor, obrigado. Eu… apenas obrigado, estou a caminho do aeroporto,
mas estou preso em um maldito engarrafamento. NY é um inferno… me espera,
estou chegando,. e…
Eu te amo.

Meus olhos quase saltaram quando li as três palavrinhas, eram tão lindas.
Com certeza eu estava com um enorme sorriso no rosto.
— Ele disse eu te amo… — Ri baixinho, apertando meu celular contra o
peito, não foi ao vivo e nem ouvi, mas eu podia fechar os olhos e escutá-lo dizer.
Agora, com fé em Deus, ele diria para eu ouvir, juro que eu queria, queria
muito…
Voltei a desenhar me sentindo feliz, apesar do pequeno friozinho que se
instalou em meu peito. Todavia, esperaria para ver. Farei como Rocco pediu.
Estava tão distraída que tomei o maior susto quando a porta da minha sala foi
escancarada com violência.
— Ave Maria! — Levei a mão ao peito, quando vi Madame Blanchet na
minha frente. Ela estava com um sorriso triunfante e cruel. Segurava algumas
revistas não mão como se fosse uma arma. — Madame…
— Eu sabia que você iria se ferrar! Não sei por que demorou tanto, eu
realmente me surpreendi— sua voz era tão cruel que eu quase me encolhi, quase.
— O que você quer? — ergui o queixo.
— O que eu quero? — perguntou debochada. — Eu quero ver sua desgraça,
olhe! — falou, esticando as revistas. — Vamos, leia as matérias de capa…
— Não quero, e se me der licença, estou ocupada! — recusei com voz
tranquila e sentei na cadeira, voltando a desenhar, — Por favor, não bata a porta
com força quando sair.
Eu aparentava serenidade, os anos vivendo com Blanchet me ensinaram a
camuflar meus sentimentos, e eu poderia me julgar com o controle quase pleno das
minhas reações e emoções. Qualquer vacilo com essa mulher poderia ser fatal.
— Ah, não quer ver? Então deixa que eu leio para você! — Pude ouvir a
maldade em sua voz. — Deixe-me ver a melhor… Ah, essa aqui…
Ouvi o barulho das folhas e logo a voz alta da Madame preencheu o
ambiente.
— Bilionário Rocco Masari foi flagrado aos beijos com Briana Costant, em
um coquetel de boas-vindas ao magnata que acabara de chegar da China…
Fechei os olhos e tentei não ouvir…
— Após uma noite juntos, casal é flagrado abraçado na varanda da suíte
presidencial do La Riviera New York…
Falta de ar era o que eu sentia, meus ouvidos zumbiam, meu coração estava
acelerado…
— A última e a mais incrível… — Gargalhou alegremente.
— Pare! — sussurrei — Não preciso ouvir mais nada… — implorei, mas a
madame era perversa e não se importava.
— Briana Constant declara: “Eu sabia que voltaríamos, essa garota de
Londres não passou de um passatempo, ela é uma sem classe! Estava mais que
óbvio que tudo não passou de uma diversão.” Muito feliz e ostentando um
solitário de diamante, a herdeira Costant já faz planos para um futuro
matrimonio. Afirmou também que depois de fazerem as pazes ontem, muito em
breve teremos notícias de um bambino Masari.
— Agora olhe, sua idiota… — gritou, jogando as revistas na minha cara.
Mesmo sem querer, eu olhei.
A foto da primeira capa era Rocco beijando uma loira linda, vestida
elegantemente, assim como ele.
Na outra Rocco estava em uma varanda, só com uma bermuda, sendo
abraçado pela loira, não dava para ver o rosto dele direito. Mas ele não parecia
surpreso, nem estava afastando-a.
A última era uma foto da tal Briana, sentada de forma superelegante e
ostentando um enorme sorriso, no dedo ela tinha um diamante enorme.
— Pode ir para casa, eu sei que agora você está imprestável. Entretanto,
volte amanhã, às seis, nosso horário volta a ser o que era antes. Você vai
compensar o dia de hoje…
Soltei um soluço seco. Eu ainda não chorava… Ainda não… nem prestei
atenção quando a bruxa saiu, eu só pensava no que li e vi.
Ele me pediu para confiar… Então eu vou… eu vou…
Peguei meu celular e liguei para Rocco, no primeiro toque ele atendeu.
— Amor…
Fiquei em silêncio, tentando organizar minhas ideias. Minha mente e meu
coração prestes a despedaçarem. Era apenas uma fina linha que os mantinha.
— Pequena… Por favor… — Ouvi a angústia em sua voz. — Me ouça…
— É… verdade? — sussurrei.
— Pequena, por favor, me deixa explicar…
— Só me fala que é mentira e eu acredito em você! Por favor, amor, diz que é
mentira… Por favor. — Agora eu não aguentava mais segurar as lágrimas, elas
começaram a escorrer abundantemente. — Diz que é mentira amor, vai, diz…
— Pequena, me ouça…
— Estou ouvindo, eu estou… — murmurei fervorosa. Eu queria me agarrar a
algo.
— Eu vou resolver… Só não me deixa de novo… — implorou, e eu pude
ouvir que ele também chorava. E foi aí que eu percebi que era tudo verdade…
aquela fina linha que me sustentava não foi boa o suficiente, ela rompeu.
— Então é verdade…
— Eu sinto muito, minha pequena, não sei como isso aconteceu. Eu…
Eu já nem ouvia, o celular escorregou das minhas mãos. Meu corpo se partiu
em dois, meu coração despedaçou.
Levantei com tudo da cadeira, só parando para pegar minha bolsa.
Saí da minha sala, trombando nas coisas, cega pelas lágrimas, atormentada
pela dor… enlouquecida pelo gosto amargo da traição. Não liguei de bater o ponto
de saída, passei por tudo rapidamente, sem me importar com meus soluços nem
com minha cegueira. Irrompi na rua e senti duas coisas quase ao mesmo tempo: o
sol tentando derreter o gelo em minha pele e o choque que causou minha batida no
corpo duro de alguém.
.
Podia sentir que caía. Mas antes de me espatifar no chão, braços fortes me
apoiaram.
1
— Belle fleur, regarder où vous allez! Vous êtes-vous blessé? — o homem
que me segurou falava todo suave, só que eu não entendi nadinha. Também não
importava, eu apenas queria ir embora.
— Desculpa, moço. — Solucei, meu corpo tremia muito. — E-eu não… te vi
— gaguejei, tentando me soltar. Eu nem estava vendo o rosto dele direito. Minhas
lágrimas eram grossas.
2
— Mademoiselle, Je vous demande pardon! — falou suavemente, inclinando
meu rosto para cima… muito para cima, e foi aí notei como ele era alto, mais ou
menos da altura de Rocco…
Pensar nele fez ainda mais lágrimas escorrerem de meus olhos. E nesse
momento os dois seguranças que estava tomando conta de mim chegaram.
Entretanto eu disse que estava tudo certo.
Eles permaneceram ali. Muito perto… preparados…
3
— Ma petit. — Senti os dedos dele limpando minhas lágrimas, eu não
queria, mas ele estava tão carinhoso e eu me sentia tão… tão sem chão, quase uma
mendiga de carinho. Pisquei para tentar parar as lágrimas, e vi um homem
lindíssimo diante de mim, apesar de que ele tinha uns olhos frios, mas que estavam
aquecendo enquanto me encarava de maneira fixa. — Est tellement belle, si
4
magnifique… — murmurava enquanto passava os polegares em meu rosto.
“Deus, o que há comigo que não estou conseguindo sair de perto dele…?”,
me perguntei confusa, minha mente um turbilhão frenético, meu corpo se sentia
quase dormente, eu nem sentia meu coração batendo. Era quase como se ele
estivesse morto.
Eu não deveria estar conversando com esse estranho, mas ele me estendeu a
mão, e eu estava me sentindo em meio a uma tempestade, talvez ele fosse meu anjo
salvador…
— Perdoe-me, mas não entendo o que diz! — murmurei, envergonhada,
conseguindo força para sair de perto do desconhecido. Agora estávamos a uma
distância aceitável.
— Oh, pardon. — Sorriu, um sorriso lindo. — Perdão, eu fui indelicado. —
O sotaque Frances era carregado, mas a voz dele era profunda, baixa e rouca.
Esfreguei os olhos e o encarei. Por Deus, como ele era lindo, e tinha
inacreditáveis olhos azuis, lembrei-me de outro par de olhos azuis lindos e
maravilhosos.
Mais lágrimas se juntaram em meus olhos, e o homem diante de mim ficou
borrado.
— Ei, não chore, seja o que for, vai passar! — murmurou, capturando uma
5
lágrima e levando-a em seguida aos lábios. — Délicieux…
Isso estava estranho, pelo menos o esbarrão que dei nesse desconhecido
elegante me deu um choque de realidade, ele foi quase como uma freada em meu
desespero. Eu sabia que iria surtar assim que saísse de perto dele.
Mas eu precisava ficar sozinha e colocar para fora toda minha angústia.
Eu estava começando a me sentir sufocada.
— Mais uma vez, desculpe, senhor, mas eu preciso ir! — falei, dando um
passo em direção aos seguranças que estavam a apenas uns dois metros de
distância.
— Sim, mas, se me permite, responda, você trabalha aqui? E foi sua chefe
que te fez ficar assim? — perguntou de forma tão suave e carinhosa que eu nem
pensei quando respondi:
— Sim, senhor, eu trabalho aqui há anos. E minha chefe tem uma parcela de
culpa em meu estado.
Vi a expressão do homem se fechar sutilmente, ele balançou a cabeça,
aceitando minhas palavras.
— Não se preocupe, gentil dama, eu irei vingá-la. — Sorriu, piscando um
olho. — Só diga o nome da senhorita, para que possa honrá-lo.
— Victória Fontaine — falei estendo a mão.
Sorriu, pegando minha mão e beijando-a suavemente.
— Irei vingá-la, minha dama, é uma promessa! — sussurrou, olhando em
meus olhos, sua boca ainda próxima à minha mão. — Juro que suas lágrimas não
serão em vão… Agora vá e deixe seu cavalheiro trabalhar.
Soltei minha mão dando alguns passos, mas antes de ir muito longe, olhei
para aquele desconhecido que permanecia parado, me encarando com uma
expressão neutra, completamente indecifrável.
— Você não me disse seu nome… — proferi suavemente.
Ele deu um sorriso e fez uma reverência engraçada.
— Jean Pierre Dubois.

***

Madame Blanchet

— Eu sabia que esse romance não iria durar! — exclamei enchendo uma taça
do meu melhor vinho Bourbon. — Victória é muito idiota, mosca morta, sem sal…
Ela é muito pouco para um homem como Rocco Masari.
Bebi um generoso gole, feliz da vida, comemorando minha alegria, finalmente
tudo voltaria a ser como antes.
Até que enfim essa vadiazinha voltou a estar sob meu controle. Com Rocco
fora da jogada, eu tenho o poder… só eu controlo aquela idiota talentosa.
E desta vez vou cuidar para que ela não escape. Eu tenho meu trunfo, e será
com ele que vou ter a idiota da Victória em minhas mãos. Agora só preciso ter
paciência para colocar meu plano em ordem.
Jean Pierre consegue manter milhares de pessoas escondidas trabalhando, eu
devo conseguir esconder apenas uma.
Tenho apenas que fazer tudo muito bem-feito.
— Você consegue, Blanchet, apenas dê um sumiço em Victória e pronto —
murmurei, virando minha cadeira para ficar de costas para a entrada da minha
sala. — Só não se esqueça de montar o álibi perfeito…
Sim, para isso, terei que estar fora do país, nada melhor do que um álibi
desses, mas antes tenho que encontrar a pessoa perfeita para o serviço. Todavia,
sei que vai dar tudo certo, porque não tem pessoa mais manipuladora do que eu.
Sou, sim, a rainha da armação, chantagem e falcatrua.
— Sou ou não sou a melhor? — falei alto, sorvendo mais um longo gole da
minha bebida chique.
— Não, você está longe de ser a melhor!
Engasguei com a bebida do susto que tive. Na verdade, eu comecei a tremer
tanto que derrubei minha taça, logo meu estômago embrulhou e eu pude sentir
calafrios tomando minha pele.
Lentamente, girei minha cadeira e senti como se acabasse de ser sugada para
uma das cenas do filme A Hora do Pesadelo.
— Jean Pierre — murmurei, sentindo vontade de chorar.
Ele estava ali, diante de mim, e isso não era boa coisa.
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— Le seul — respondeu sorrindo.
— O-o que você faz aqui? — Na hora que falei me arrependi. A expressão de
JP era aterradora.
— Na verdade eu estava apenas de passagem. Resolvi fazer uma visita
cordial, afinal eu sou um cavalheiro. — respondeu com voz enganosamente baixa,
quase sussurrada. Mas a questão é : eu sei que JP está longe de ser um cavalheiro,
então por que ele está aqui?
Por Deus, não quero nem saber!!
— Ah, é isso… — Respirei um pouco, entretanto, meus pulmões pareciam
não funcionar direito.
— Sabe, estou há exatamente cinco minutos tentando compreender por que
você mentiu para mim.
Eu pude sentir como a bílis fez seu caminho pela minha garganta. Estava
difícil não gritar de pavor. JP tinha um rosto pecaminosamente lindo, ninguém diria
que ele tem quarenta e sete anos, e por isso mesmo ninguém imaginaria as coisas
que ele é capaz de fazer.
Eu já o conhecia um pouco, e isso é suficiente para me aterrorizar. Por Deus,
não quero esse homem prestando atenção em mim.
— Eu não menti em nada. — sussurrei, apertando a quina da mesa para me
manter erguida.
Eu soube o exato momento em que cometi o maior erro da minha vida.
— O nome Victória Fontaine te diz alguma coisa?
— Eu… Jean Pierre, não é nada do que…
— Blanchet você realmente não me conhece!— De repente JP sorriu enquanto
tirava do bolso do paletó um par de luvas e um estojo, que ele abriu
cuidadosamente em minha mesa.
Instantes depois, eu entendi o que era aquilo. Sem pensar, tentei correr para a
saída da minha sala, mas ele me pegou pelos cabelos, me batendo contra a parede.
Meu rosto foi imprensado com força e logo a voz de Jean Pierre era algo
assustadoramente terrível. Ele estava muito puto e furioso. Já eu, estava muito,
muito fodida.
Não suportei mais o medo, acabei por fazer xixi.
JP notou e riu no meu ouvido.
— Vou te ensinar a nunca mais mentir para mim, a nunca mais tentar me
enganar e, principalmente, a nunca mais fazer minha flor chorar. — sussurrou em
minha orelha, e eu nem tive tempo de responder, pois ele puxou minha cabeça e
bateu de novo contra a parede.
Dor explodiu em meu crânio e meu fôlego travou na garganta.
Gemi de dor. JP riu feliz.
— Que música linda! Adoro a melodia do sofrimento, e vou adorar ouvir
você cantar para mim, querida.
— Não, Jean Pierre, por favor, eu imploro, — Chorei apavorada, mas ele
apenas riu do meu desespero.
—Ohh, implore querida, implore muito, porque eu não vou parar! Vou cobrar
cada lágrima que eu sequei no rosto da minha bela Flor. Eu prometi vingar minha
Victória e farei. Vou te ensinar a nunca mais mexer com o que me pertence—
Victória é noiva… — ofeguei desesperada. — Ela vai se casar com o Magnata
Italiano Rocco Masari.
Por Deus, acredite em mim e vá embora, por favor!, implorei
silenciosamente, chorando baixinho.
Houve silêncio e depois uma gargalhada aterradora.
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— Les accidents se produisent! ! — ronronou em meu ouvido, então eu sabia
que não havia escapatória, eu só esperava que ele pegasse “leve” comigo.
Senti sua mão entrando debaixo da minha blusa, arquejei de nojo, calafrios de
pavor… Graças a Deus ele estava de luvas, mas mesmo assim estou quase
vomitando.
Lentamente, seus dedos percorriam minhas costas, deixando-me à beira da
insanidade de tanto medo.
—Você sabia que existem vários pontos do corpo onde a dor é
inexplicavelmente insuportável? - sussurrou muito próximo a mim, e, nesse
momento, eu o senti parar os movimentos de sua mão nas minhas costas… —
Cante para mim, Blanchet. — Riu e apertou minha coluna com força.
Gritei de dor, ele riu, apertando mais forte, gritei mais um pouco.
Molhei ainda mais minhas calças. Revirei meus olhos de dor, queria me
debater, mas ele me prendia com força contra a parede.
— Parece que Victória de mim? — perguntou, aliviando a pressão.
Instantaneamente, a dor intensa sumiu, restando apenas uma dor surda no lugar.
Eu sentia o suor escorrendo por minha pele, mesmo minha sala estando
gelada pelo ar.
— Ela trabalha para mim, mas já está encerrando o contrato, ela vai casar e
eu não podia segurá-la. — Ofeguei quando ele me largou.
— Vou pegá-la para mim! — rosnou, falando inglês. Suspirei quando me
soltou, mas logo o terror voltou, pois ele estava indo até o maldito estojo cheio de
pequenas ferramentas. — Você não deveria ter escondido Victória de mim,
Blanchet, você não deveria.
Afastei-me da parede, indo para o sofá, eu estava andando com cuidado, ficar
ereta doía muito.
— Jean Pierre, eu nunca pensei que você gostaria dela, eu nunca pensei,
Victória é muito boba, ela tem um coração puro…
Ele levou um dedo até o lábio, fazendo um sinal negativo.
Calei-me na hora. Tremi mais ainda.
— Eu a vi… — Sorriu um sorriso terno?
Não acreditei em meus olhos.
— Eu toquei sua pele suave, sequei suas lágrimas, vi o quanto é delicada…
— Agora ele me olhou e estreitou os olhos. — E você não deveria tê-la escondido
de mim.
Muito tranquilamente, ele caminhou até onde eu estava, sentando-se ao meu
lado.
— Dê-me sua mão — pediu com voz neutra.
Senhor, JP não se abala. Ele permanece frio e calculista, um sádico,
divertindo-se com meu desespero.
— Minha secretária, ela…
— Não se preocupe, François está com ela.
— Co-mo?
— Meu filho está tendo um momento com sua secretária. Não se preocupe,
ele é um cavalheiro como o pai. — Piscou um dos olhos e pegou minha mão. —
Sabe, eu odeio que escondam as coisas de mim.
Gritei me sacudindo, quando ele quebrou meu dedo. Dessa vez vomitei, meu
desespero subiu a níveis jamais sentidos antes.
— Não suporto que me façam de besta! — Outro dedo. — Nunca mais faça
minha Belle Fleur chorar, ela será minha. — Outro dedo.
Eu já estava além da realidade, a dor era tremenda, desesperadora, cegante.
Eu sentia meu braço queimando. Estava sentindo falta de ar.
— Adoro o som de ossos quebrados. — Riu de puro deleite. — Ainda faltam
dois, e depois eu vou colocá-los no lugar. Dizem que a dor é quase igual… Será?
— Sorriu, mostrando todos os dentes. — Vamos ver em breve.
Não suportei mais.
Desmaiei.
Capítulo 18
Rocco
Uma semana antes

A viagem até a China, mais especificamente Shangai, foi tranquila. Eu já tinha


uma ideia de quem estava por trás da greve. Posso dizer que quando eu encontrar o
bastardo do Dante, acabarei com a raça dele. Vou dar a lição que o seu pai deveria
ter dado, mas foi frouxo demais para colocar limites no filho rebelde e preguiçoso.
— Rocco, as coisas aqui serão difíceis, eles não dormem, viram noite e dia
em grupos de reclamações… — Wonder falou assim que coloquei os pés fora do
avião.
— Isso não será problema, eu só quero saber quem é o líder, vou tratar
diretamente com ele! — falei, caminhando até o SUV que nos aguardava.
— O líder é Shag Hu!
Parei de andar por alguns segundos e olhei para Wonder sem acreditar.
— Como assim? Shang Hu é o mais dedicado, o chefe dos operários, sempre
esteve de acordo com as regras, na verdade, ele estipulou algumas, falei com ele
há pouco tempo…
— Parece que ele mudou de ideia! — respondeu suspirando.
— Sei! — Dimitri exclamou, torcendo a boca. — Vamos ter uma conversa
com o Sr. Shing ling… — debochou sorrindo.
— Sr. Romanov, é Shang Hu o nome do…
— Eu sei, homem, mas chinês para mim é tudo Shing Ling… — Deu de
ombros.
— Mas isso é um desrespeito! — Wonder realmente não entendia o humor
distorcido do Dinka.
— Tudo bem, Wonder, e, Dimitri, chame-o pelo nome correto.
— Sim, senhor… senhor — falou, batendo continência.
— Boiola! — exclamei só para ele escutar.
— Chorona… — Piscou um olho.
O trajeto até a fábrica de aparelhos eletrônicos durou cerca de 30 minutos.
Primeiro eu precisava ouvir pessoalmente as exigências e, depois, começar a
resolver.
Chegamos à M. Telecon China e, como esperado, todos os mil funcionários
estavam amontoados em frente à fábrica. Uma coisa a favor dos chineses é que são
pessoas organizadas e não fazem baderna. Menos mal.
Segui direto para dentro da Fábrica e lá fui para a sala de reuniões. Assim
que entrei, cumprimentei Shang Hu e mais dois que eram seus conselheiros.
Começamos as discussões a cerca do que estava acontecendo.
Aumento no valor da hora de trabalho…
Mudança de setores…
Carga horária…
Férias…
Planejamento…
E Coparticipação…
Ouvi tudo atentamente, mas percebi que em muitas vezes o Sr. Shang Hu
parecia constrangido. Haviam tópicos que eram muito estranhos, já que foi o
próprio Shang, junto com o conselho de funcionários, que os criou.
E como eu vi que era justo, não hesitei em concordar, na época, mas agora,
estava, sim, muito estranho.
— Tudo que foi pedido aqui são planejamentos que vocês e o conselho
fizeram, Sr. Shang, e agora eu não entendo essa greve. Estou decepcionado, tudo
que você me pediu já é de vocês — falei em mandarim, olhando para ele
— Sim, eu sei, mas a empresa cresceu…
— E vocês cresceram junto. A coparticipação aumenta de acordo com o
faturamento, mas a porcentagem permanece, isso é inegociável! — eu o
interrompi, já deixando um ponto claro.
— Mas nós queremos um aumento de apenas 2%.
— Não negociarei a coparticipação nem com a carga horária — fui firme e
conciso.
— Mas nós…
— Shang, no mundo inteiro a carga horária é quase a mesma, quarenta horas
semanais. Vocês seguem esse parâmetro trabalhando oito horas por dia com uma
de descanso. As escalas são organizadas pelos responsáveis dos setores, os
trabalhadores da madrugada recebem os adicionais noturnos e um dia a mais na
folga em escala retroativa, além do mais, foram organizadas as escalas dos finais
de semana, a rotatividade foi planejada e os funcionários recebem mais pelo
sábado e domingo. Nenhuma fábrica faz isso! Você me disse que estava com
problemas, porque muitos querem vir para o final de semana e receber o
adicional. Se o problema é mais funcionários, podemos contratar, mas baixar a
carga horária apenas porque vocês procuram um motivo para greve é inaceitável.
A minha fábrica tem um horário completamente coerente com o pagamento.
Ninguém trabalha mais que outros, aqui é tudo feito de forma correta.
— Nós só estamos reivindicando nosso direito.
— Sim, vocês têm direito de reivindicar, e eu, de aceitar se quiser! — falei
tranquilo. — Eu tento trazer para meus empreendimentos o máximo de
possibilidades para os funcionários. Por isso faço questão da creche, do
restaurante com chef qualificado, do transporte de boa qualidade, da área de
repouso bem equipada, dos médicos de prontidão na área médica…
— Eu sei, senhor, só que…
— Vocês foram instigados a essa greve, não foram?
Shang baixou a cabeça em sinal de vergonha, e eu sorri, porque tinha
acertado.
— Quem foi? — Dimitri entrou na conversa.
— Sinto muito, mas ele é um homem importante, e eu tenho medo… — Shang
respirou fundo e me olhou com um pedido de desculpas claro no olhar.
Nunca pensei que eu resolveria aqui tão rápido, pensei sorrindo.
— Meu caro, ninguém aqui é mais importante que o Sr. Masari, então só tenha
medo dele e de mais ninguém. — Eu não disse que o Dinka era bom com as
palavras.
— Mas o… o homem que nós incentivou é um Masari também…
— Dante Masari… — rosnei puto. Eu já sabia, mas a confirmação só me
irritou ainda mais.
— Sim, senhor, ele mesmo.
Pronto, os dias que se seguiram foram uma verdadeira guerra, digo, guerra no
sentido figurado. Pois Shang veio para o nosso lado, mas Dante instigou a massa
de funcionários, e isso foi foda. Eu já estava sem dormir direito há dois dias, pois
além de resolver o problema da greve, tinha que achar o bastardo do meu primo,
que deve estar com o rabo entre as pernas, ele sabe que está muito fodido.
Além disso, o fuso horário com Londres era de mais oitohoras, e eu tinha que
estar acordado em horários ruins para falar com Victória.
No terceiro e quarto dias não avançamos nada. Eles estavam irredutíveis, e
eu já estava sem paciência. A proposta inteira fora negada. Eles queriam algo que
nem sabiam direito. Reivindicavam apenas porque foram levados a isso. Shang Hu
e o conselho estavam envergonhados e não sabiam mais o que fazer.
Bom, eu cheguei ao limite, do cansaço e do estresse.
— Convoque todos os funcionários para a área de produção — rosnei
estressado, com sono, dor nas costas e a porra toda. Meu corpo inteiro doía para
caralho.
— Sim, senhor — Wonder respondeu, e eu sentei no sofá do meu escritório.
— Você está uma merda! — Dimitri falou, sentando do meu lado, logo ele
veio colocar a mão na minha testa. — Você está queimando de febre, cara.
— Minha cabeça está explodindo, porra! — grunhi apertando os olhos.
— Você precisa ir ao médico, isso sim!
— Quando resolver essa greve eu vou! — Suspirei pegando meu celular.
Resolvi enviar uma mensagem para Victória.

De: Rocco
Para: Mi amor…
Assunto: saudade…
Data: 09/11/2014 às 21 h (China — Shangai)
Amor, estou contando os dias para te ver, acho que amanhã estou indo para
os Estados Unidos. Espero resolver tudo por lá rápido. Não vejo a hora de ter
seu corpo só para mim, de beijar e lamber cada pedacinho seu. Quero te amar
por horas.
Sempre seu, Rocco Apaixonado Masari S2.

— Não acredito que você enviou um coração! — Dimitri bufou do meu lado.
— Porra, cara, você está perdido! Vai dizer que está limpando o pau com
lencinhos úmidos?
— Não, cara, eu limpo meu pau com suas gravatas e depois coloco de volta
para você usar — respondi e logo ri alto da cara de nojo que Dimitri fez. —
Porra, minha cabeça vai explodir.
— Fica quieto aí, seu violador de gravatas alheias, vou chamar o médico.
Poucos minutos depois o médico chegou, me examinou e me diagnosticou
com uma virose típica da China naquele período. Estava um clima estranho, quente
durante o dia e frio à noite. Pelo menos em Londres eu estava acostumado.
— Tome esse remédio uma vez por dia, de preferência à noite, ele vai te
derrubar. — O médico me entregou a receita e continuou com suas prescrições. —
Vai durar mais uns três ou quatro dias, mas os sintomas irão diminuir muito com o
remédio. Beba bastante líquido e descanse.
— Tudo bem! — respondi, guardando a receita no bolso do meu terno,
enquanto o médico ia embora.
— Sr. Masari, tudo pronto — Wonder falou e eu me ergui, senti-me tonto, mas
foi algo muito rápido. Respirei fundo e fui ter uma conversa definitiva com os
funcionários.
— Dimitri, ligue para meu piloto, peça para preparar o avião, vamos sair
daqui direto para Nova York.
— Porra, cara, sem nenhum dia de descanso.
— Nenhum.
Caminhei apressadamente até o setor de produção, a maior parte da fábrica.
Chegando lá, avistei logo a multidão, mas para que todos pudessem me ver, eu
preferi ficar no primeiro andar, de lá até o último funcionário me enxergaria.
Peguei o microfone e comecei:
— Faz mais de quatro dias que vocês estão parados. — Houve um couro de
vozes que logo silenciaram. — Bom, isso vai afetar o faturamento e, em
consequencia, o bolso de vocês, o que eu perco é muito pouco, não me afeta em
nada. — Dei de ombros para mostrar que eles eram os maiores prejudicados. —
Agora me pergunto, onde está o incentivador dessa greve? Alguém sabe? Não, e
sabem por quê? — Fiz uma pausa dramática. — Ele não se importa com nenhum
de vocês.
Mais uma vez um couro de vozes se fez ouvir e eu apenas esperei parar o
falatório.
— Bom, o negócio é o seguinte. Para os que aceitam trabalhar aqui, nada vai
mudar, mas para quem está insatisfeito, pode procurar o departamento de recursos
humanos.
Dessa vez foi o silêncio que me recebeu. Eles não esperavam por essa.
— A partir de amanhã, Shang Hu irá abrir as vagas daqueles que desistirem.
Ah, não aceitaremos de volta quem sair. Tenham uma boa noite.
Larguei o microfone e saí. Fomos para o hotel e poucas horas depois já
estávamos dentro do avião, rumo a Nova York.
Não vou nem comentar o quão péssimo eu me sentia. Tomei o remédio e
fiquei com o estômago embrulhado. Para se ter uma ideia da minha total
desorientação, eu nem chequei meu celular para ver se Victória respondeu.
Felizmente, ela havia me enviado várias mensagens, e eu fui lendo e rindo.
Minha garota era adorável…
Em determinado ponto do voo, eu apaguei, mas foi um sono intranquilo e
doloroso. Minha garganta estava doendo para cacete e o frio se instalou em meus
ossos.
Nunca uma viagem demorou tanto. De fato houve um tempo de espera maior
em Portugal, porque estava chovendo demais.
Chegamos a Nova York e a única coisa que eu queria era ir para o meu
apartamento dormir, para começar a resolver as coisas no dia seguinte, mas,
infelizmente, meu assistente pessoal daqui me avisou que havia sido feito um
coquetel de boas-vindas para mim.
Eu e Dimitri nos trocamos no avião mesmo e fomos direto para o tal coquetel.
Por precaução, eu coloquei meu remédio no bolso do meu terno. Chegamos
ao Gold Garden às 19 h.
Todos me cercando, me bajulando, me irritando… uma verdadeira merda.
Não sei para que essa porcaria de boas vindas. As primeiras duas horas foram
horrendas. Eu só me sentia mais e mais desconfortável e com vontade de deitar.
Meu corpo não estava colaborando, e eu não podia tomar o remédio, porque eu
simplesmente apagava.
Essa porra parecia sonífero…
Já estava farto de tanta gente em cima de mim, que resolvi ir até o jardim
respirar um pouco de ar puro. Minha paz só durou dois minutos.
— Rocco, querido, há quanto tempo! — Olhei para o lado e vi Briana, a
vadia esnobe que me acordou fazendo boquete há uns meses atrás. Nem me dei o
trabalho de responder. Apenas a ignorei. — Não vai falar comigo?
— Vai ver se eu estou lá na esquina! — grunhi e tossi um pouco.
— Você é muito bruto comigo, e eu não te fiz nada!
— Você ficou me cercando depois que eu te fodi! Mas eu te avisei para me
deixar em paz. Some da minha frente.
— Por que você me odeia?
Fechei os olhos, pedindo a Deus paciência, porque se ele me der força eu
mato. Entretanto, nem tive tempo de reagir, ainda estava de olhos fechados em
busca de paciência quando senti os lábios dela nos meus.
Durou uns dois segundos, mas foi suficiente para eu arrepiar de nojo.
Segurei-a pelos ombros, puxando-a para longe de mim.
— Sua puta… — rosnei furioso — tente outra merda dessa e vai se
arrepender!
Saí de lá, deixando-a sozinha. Voltei para o salão, à procura de Dimitri, andei
por todos os lugares, até que o encontrei escondido, dando uns pegas numa loira.
Pigarreei para chamar atenção, e ele virou para mim, sem tirar as mãos de
dentro do vestido da moça.
Puto safado.
— Vou embora, estou explodindo de dor de cabeça.
— Vai e não me espere, tenho planos para o resto da noite e provavelmente
do dia de amanhã…
Saí de lá rindo.
Dimitri estava sendo apenas Dimitri, espero que essa moça tenha relaxante
muscular. Caminhei para a saída e nem precisei esperar, pois meu motorista estava
de prontidão.
— Para onde, senhor?
Fiquei na dúvida por alguns instantes, mas logo decidi que o meu hotel aqui
era mais perto que meu apartamento.
— Vamos para o La Riviera New York…
O caminho era curto, cerca de quinze minutos, quase não acreditei quando
finalmente cheguei em minha suíte. Essa era umas minhas suítes equipadas, aqui eu
tinha até roupa.
Tomei um banho rápido e, pelo tamanho do frio que sentia, vesti uma bermuda
e uma blusa de manga comprida. Peguei meu celular, enviei uma mensagem curta
de boa noite à minha garota, tomei o remédio e adeus. Apaguei.
Tenho uma sensação que me faz indagar se estou sonhando ou acordado. Meu
corpo pesa, efeito do remédio, eu sei. Mas a sensação de estar sedo mexido não é
agradável. Sinto um frio da porra e posso jurar que estou sem camisa.
Mas eu me lembro de ter vestido uma… ou não? Não consigo conectar meu
cérebro. Abro os olhos levemente e vejo alguém em cima de mim. Está escuro,
então apenas consigo ver a silhueta pequena e feminina. Ela se move, eu agarro
sua cintura, tentando parar seus movimentos.
— Victória? — pergunto, sonolento. Lutar contra o efeito do medicamento
está difícil. — Victória? — torno a perguntar, mas já estou fechando os olhos.
Acabo dormindo de novo.
Acordo me sentindo melhor, hoje a dor de cabeça está leve, meu estômago
não está embrulhado como ontem.
Estico-me na cama e noto que estou nu.
— Mas que porra é essa? — Saltei da cama e vi minhas roupas no chão.
Será que eu tirei minha roupa enquanto dormia? Puta merda, eu, hein!.
Visto minha bermuda, e vou direto para a varanda da minha suíte respirar um
pouco de ar e receber um pouco de calor do sol.
Fico de frente para a rua e fecho os olhos, cabeça erguida. Pouco tempo
depois sinto braços me rodeando. Olho para baixo, vendo uma cabeleira loira.
Primeiro eu fiquei congelado, sem acreditar, depois o choque me invade
quando noto quem está me abraçando.
— MAS QUE CARALHO É ESSE? — gritei, puxando Briana, a puta
sorrateira de perto de mim.
— Ainnn, Rocco, nossa noite foi maravilhosa, ainda melhor do aquela que
tivemos há alguns meses. Adorei fazer amor sem camisinha, você é tão perfeito…
— Noite porra nenhuma!! — vociferei louco. — Eu não lembro de noite
alguma, sua puta. Eu te avisei… eu te avisei para não chegar perto de mim!
Puxo-a pelo braço e a levo, só de roupão, até a porta, empurrando-a em
seguida.
— ROCCO, EU ESTOU NUA! — gritou, batendo na porta. — Eu…
— Vá se foder, sua puta! Te vira…. — rosnei, completamente revoltado.
— NÓS NÃO USAMOS PROTEÇÃO NENHUMA! — gritou, me fazendo
endurecer.
Puta merda… Puta merda… Estou fodido… Porra, eu estou fodido!
Agora, sim, eu sabia o que era o pânico real.
“Vou matar essa vadia!”, pensei, louco de raiva, medo e o caralho mais.
Capítulo 19
Victória

Enquanto caminhava para o estacionamento que ficava nos fundos do ateliê,


eu ia pensando em como fui precipitada em não ouvir o que Rocco tinha a dizer.
“Você pediu para ele desmentir e ele não fez isso!”, meu subconsciente
alertou e eu fiz careta.
Mas também não o deixei terminar de falar.
— Ai… porra! — exclamei alto.
Esse palavrão acabou de entrar para a cota de momentos necessários.
— Por favor, voltem para o lugar de vocês, eu desisti de ir embora, vou
voltar para o ateliê — falei com os dois seguranças que caminhavam ao meu lado
até o nosso carro.
— Tem certeza, senhorita? — o mais alto perguntou, paramos durante uns
segundos e eu me perguntei a mesma coisa. Logo eu sabia a resposta.
— Plena — afirmei convicta.
Em silêncio voltamos para a frente do ateliê. Despedi-me dos rapazes e, pela
segunda vez naquele dia, eu voltei ao trabalho.
— Já chega de ser mole! — resmunguei sob meu fôlego.
Eu estava com vontade de ir para a sala da Blanchet e de certo eu fiz o
percurso até o elevador, cheguei a entrar e apertar o andar da Madame. Esperei os
segundos que eram necessários para subir até o andar correto e durante esse tempo
eu respirei fundo, buscando serenidade.
Conversar com Blanchet nunca era fácil. Era tudo sobre as ordens dela, a
vontade dela, meus desenhos que eram dela, meu talento que era dela, e eu, que
pertencia a ela…
Não mais.
Cansei de ser a chorona. A boba.
Lógico que a minha personalidade é tranquila e eu não gosto de alarde. Se
pudesse, faria minhas coisas caladinha e pronto. Sou do tipo que não me acabo por
coisas que estão fora do meu controle ou poder. Entretanto, hoje me vejo na
obrigação de mostrar uma Victória destemida, daquelas que encaram as coisas
com o peito. E mesmo correndo o risco de levar um tiro, ainda assim, não pode ser
acusada de fugir covardemente.
O elevador parou e as portas se abriram.
Dei um passo para fora e senti um arrepio percorrendo meu corpo. Congelei.
Respirei fundo e dei mais outro passo, entretanto algo me puxava de volta, me
mandava voltar para o elevador e correr para longe.
Estranho…
Olhei ao redor e notei que nem a secretária da Madame estava em seu lugar, o
ambiente estava silencioso, meio pesado. Como se uma densa camada de… uhm,
não sei dizer exatamente o que, mas havia algo pesado permeando o ar.
“Volte…”, escutei um sussurro que parecia como o vento passando.
Pulei de susto, olhando ao redor. Não havia ninguém. Mais arrepios tomaram
minha pele. Na verdade, estava acontecendo uma coisa estranha com meu corpo.
Era como se eu não tivesse força para dar um passo adiante, eu só conseguia
mover minhas pernas para trás.
Forcei meu caminho para frente, mas a cada instante eu aumentava a sensação
de mau agouro. Estava sentindo minhas mãos suarem…
“Volte…”, outra vez o sussurro do vento. E desta vez eu nem questionei.
Girei em meus calcanhares, sentindo aquele medo de olhar para trás.
Voltei para o elevador, indo direto para minha sala.
— Converso com Blanchet depois — murmurei, esfregando meus braços.
A primeira coisa que fiz, quando cheguei em minha sala, foi procurar meu
celular. Revirei minha bolsa e nada, procurei na minha mesa e nada, já estava
pedindo ajuda ao Santo das coisas perdidas quando avistei meu celular no chão.
Peguei o coitado, que deve ter desligado quando caiu no chão, e o liguei de
novo, esperei os minutos impaciente, e quando a tela acendeu, eu vi que havia
treze chamadas perdidas, quatro mensagens de voz e cinco de texto. Resolvi ler
depois, agora precisava acalmar meu homem.
Sim, é isso mesmo. Rocco é meu homem, e agora é hora de mostrar para ele
que estou do seu lado. Vamos ser práticos. Apertei a rediscagem e já no segundo
toque ele atendeu.

***

Rocco

— Ela não atende, cara — Dimitri falou depois da terceira tentativa de ligar
para Victória do celular dele.
Fechei meus olhos, nervoso.
Puta que pariu… Que merda! Como é que pode? As coisas estavam bem,
agora essa filha da puta retorna do inferno para estragar minha vida. Mas se ela
pensa que essa porra vai ficar assim, está muito enganada.
— Olha, para de rosnar aí, isso não vai resolver — Dimitri chamou minha
atenção. — Você já sabe que Briana subornou uma camareira para entrar em sua
suíte. E, logicamente, para ter aquelas fotos, ela deveria estar preparada, de
alguma forma.
— Sim, e daí? No que isso me ajuda? Ela pagou para entrar em minha suíte
da outra vez, só que eu me lembro de tudo, e agora não… — vociferei estressado.
— Não sei que raio de remédio filho da puta foi esse para me deixar nesse estado.
Equilíbrio entre yin e yang uma ova.
— Você não está raciocinando, seu besta! — Dimitri quase gritou, também
estava nervoso. — Você disse que ela te beijou na festa e você rejeitou, depois, no
quarto, você só lembra de uma silhueta feminina em cima de você.
— Eu pensei que estivesse sonhando com Victória, mas que droga! — rosnei,
passando as mãos no cabelo. — Eu acordei pelado, estranhei, porque quando fui
dormir eu coloquei roupas, por causa do frio que eu sentia. Consegue imaginar
meu pânico quando aquela louca veio me abraçando só de roupão?
— Caralho, é foda! — O Dinka esfregou o rosto.
— O pior não é isso, o pior foi ela dizer que transamos sem camisinha!
— Eu vi a entrevista que ela deu! — Dimitri bufou chateado. — Ela quer um
bambino seu…
— Puta que pariu! Eu nunca transei sem camisinha. Eu só me desprotegi com
Victória, eu rezo por um bambino nosso… — Suspirei. — Você acha que eu seria
louco de traí-la e, ainda por cima, sem proteção? — perguntei enfiando as mãos no
cabelo e jogando a cabeça para trás. — Eu não acredito que isso está acontecendo
comigo.
Certo, eu estou desesperado.
— Vamos nos ater ao fato de que você não lembra exatamente o que
aconteceu, vou trabalhar com a hipótese de não ter acontecido nada.
— Cara, eu juro que estou rezando para, de alguma forma, meu pau não ter
subido…
— Eu só não vou rir da sua cara porque a situação é tensa, mas vou anotar,
para quando essa fase passar eu relembrar dessa sua frase, aí vou rir até 2050.
— Dimitri, eu juro por Deus que um dia ainda vou te ver caindo de amores
por uma mulher!
— Meu pau e meu coração são livres como um pássaro, meu amigo —
debochou fazendo careta.
— Certo, vou rir muito da sua cara de paspalho quando estiver chorando as
pitangas, no dia que a amiga da sua irmã resolver parar de te esperar e arrumar
outro.
Ponto para mim. Conseguem ver a cara do Dinka agora? Não? Então vou
detalhar.
Primeiro ele ficou vermelho com minhas palavras, depois, quando elas
assentaram em seu cérebro, a palidez tomou conta. Agora Dimitri mantinha um
olhar distante como se estivesse vendo alguma cena em sua mente, e pelos olhos
estreitados, boca comprimida, mãos em punhos, eu tenho a ousadia de dizer que
ele não está vendo algo muito agradável.
— Eu mato o desgraçado! — rosnou baixo.
— Então assuma que gosta dela e deixe de ser fresco! — revidei, encarando-
o.
Ficamos nos olhando em silêncio até que Dimitri sorriu, debochado.
— Mas ainda assim meu pau é livre e nós estamos falando dos seus
problemas, e não dos meus…
— Ponto para você! Mas, advirto, perder a nossa garota é pior que levar um
chute de bota ponta fina no saco! Essa dor passa, mas o desespero de imaginar
outro no seu lugar não passa nunca. Eu vivi esse terror por quase um dia inteiro,
por isso o vivo agora. Portanto, deixa de ser idiota e coloque seu pau e coração na
gaiola, vai por mim, não tem coisa melhor. O sexo com a mulher que amamos é
foda, gozar é quase… quase… Ah, porra, é quase levar uma pancada na cabeça, o
atordoamento é simplesmente do caralho…
— Agora você vai me mandar enviar corações nas minhas mensagens
também? — grunhiu, mexendo-se nervoso. — Não vou me igualar ao seu nível de
boiolice!
— Você vai ser pior! — Quase sorri. — Se eu não estivesse tão preocupado,
estaria me divertindo muito.
— Deus me defenda da sua praga! — exclamou, fazendo sinal da cruz.
Balancei a cabeça, dando de ombros.
— Quero só ver você implo… — Nem terminei a frase, quando meu celular
tocou. Olhei o visor e meu coração acelerou, atendi imediatamente.
— Amore mio, eu…
— Me ouça! — Pude ouvir a firmeza em sua voz. Se possível, eu fiquei mais
ansioso, ouvi sua respiração e já estava mais nervoso que antes.
— Pequena, por favor, me diz alguma coisa!
Porra, eu nem estava respirando direito.
— Vou te dizer… — Ouvi sua voz alta e fechei os olhos, muitíssimo
preocupado. — Você é meu, e eu não estou abrindo mão de você!
Durante alguns segundos eu não acreditei em meus ouvidos e depois explodi
em uma gargalhada de pura felicidade e alívio.
Merda! Sinto como se cem quilos fossem retirados das minhas costas.
— Porra, Victória, eu quase morri do coração quando você não atendeu meus
telefonemas.
— Desculpa, amor, eu surtei, mas depois pensei melhor. Confio em você!
Sorri mais um pouco, agora era porque estava emocionado.
— Por favor, me explica o que aconteceu! — pediu gentilmente.
Comecei narrando o que aconteceu na festa, Victória me ouvia em silêncio.
Mas foi só eu dizer que estava doente que ela, pela primeira vez desde que nos
conhecemos, alterou a voz.
— O quê? Como assim, doente? Por que não me disse? Quem está cuidando
de você? Está tomando os remédios na hora certinha?! Ai, meu Deus, eu deveria
estar aí cuidando de você!
Relaxei completamente no banco do carro, um sorriso bobo enfeitando meu
rosto.
— Pois é, amore mio, eu estava péssimo, com febre e dor no corpo, minha
cabeça parecia um tambor, doía terrivelmente… — Fiz uma careta para a cara de
Dimitri.
— Seu mala! — Gesticulou com a boca e eu dei de ombros.
— Rocco, pelo amor de Deus, me diz que você está bem!? — Escutei sua
voz aflita e resolvi tranquilizá-la um pouco
— Eu tomo o remédio uma vez por dia, na hora de dormir, então é aí onde
está o problema. — Respirei fundo, buscando o ar. — Não me lembro de ter
dormido com Briana, ela que diz isso. Não fizemos as pazes, porra! Nunca existiu
nada…
— Certo, mas… Uhn… — Daqui eu ouvi a incerteza da sua voz. — Então
pode ou não ter tido algo entre vocês, e ela diz que em breve teremos notícias de
um… um…
— Amore mio, por favor, me entenda, eu só quero você para ser mãe dos
meus filhos! — grunhi fervoroso. — Essa maledita pagou para entrar em meu
quarto… Me ouve, só não estou dentro do meu avião indo para aí porque estou
preso em um engarrafamento horrível. Estou voltando para casa, nossa casa, e
falaremos com calma, estamos juntos ainda, não é?
Victória ficou calada e depois sua voz me confortou. Tirando meu medo de
ter perdido minha mulher.
— Rocco, eu te amo. E por isso mesmo vou te dizer uma coisa… — Esperei
sem respirar. — Faça meia-volta nesse carro e descubra a verdade! Depois
pensamos no resto, você é meu e eu sou sua, e essa Briana sei lá o que vai
enfrentar uma parada dura, se quiser tirar você de mim.
Fechei meus olhos, soltando um suspiro aliviado.
— Amore mio, gostei muito disso!
— Então certo. Vamos ficar distantes, mas saberemos que você estará
empenhado em resolver esse problema, descubra a verdade e volte para mim,
vou esperar por você o tempo que for. E, sim, estamos muito juntos, super
juntos, colados.
— Minha pequena, você me alegra, mas não vou demorar a voltar! — falei,
rindo de suas palavras. Eu estava adorando cada uma delas.
— Pense em um plano, deixe essa garota na zona de conforto, descubra a
verdade e, por Deus, passe um ferrolho na sua porta.
— Anotado, farei isso, mas… — Ajeitei-me no banco. — Talvez eu precise
fazê-la pensar que estou interessado… Talvez precise sair com ela, para ver se ela
escorrega e me dá alguma pista…
— Mantenha a sua boca e mãos longe daquela loira! E nem pense em ficar
sozinho com ela nem dentro de um carro, muito menos em um quarto…
— Claro que não, amor, relaxe, não sei se conseguirei ficar perto daquela
vadia sem torcer o pescoço dela, imagina tentar intimidade. Não mesmo. Mas
gostei de te sentir ciumenta, gostei muito…— Sorri, mordendo o lábio.
— Você nem imagina! Eu tenho muito ciúme de você, tá bom? Só não perco
a cabeça.
Tremi com a crítica, sei que mereci.
— Tudo bem, amor, vou resolver, Dimitri está comigo e vai me ajudar, vamos
armar e pegar essa cretina.
— Confio em você, e não se preocupe, não vou ligar para as próximas
revistas, que com certeza irão sair, mas não ouse beijar essa mulher de jeito
nenhum, ou não respondo por mim!
— Sim, senhora! — Sorri orgulhoso
— Muito bem, agora me deixa voltar ao trabalho, não vou dar o gostinho a
Blanchet! — resmungou. — Ela pensa que eu sou a idiota chorona e besta que
ela controlou durante anos, eu mudei e ninguém notou, ótimo. Não sou tão
idiota ao ponto de só levar pancada.
— Eu gosto de você feroz! — ronronei baixinho, e Dimitri revirou os olhos
— Eu sou pacifica, mas não tenho medo de enfrentar! E, sim, sou feroz com
você, portanto cuidado…
— Quem é você e o que fez com minha garota? — brinquei sorridente, na
verdade, desde que ela me ligou, eu só faço sorrir feito um bobo apaixonado.
— Essa sou eu, Rocco, a questão é que eu não gosto de confusão, fico na
minha, sou muito sentimental e manteiga derretida, você sabe disso, entretanto,
eu também sei lutar pelo que é meu e pelo que eu quero. Também sei me impor,
agora, só mais uma coisa…
— Tudo que você quiser…
— Se um dia você conhecer alguém que valha realmente a pena, apenas me
diga, não me engane. Isso serve para mim também. Honestidade sempre, e tudo
dará certo. Agora preciso desligar e você precisa desvendar esse mistério aí. Eu
te amo hoje e sempre.
— Eu também, eu também. E eu nunca vou mentir para você, eu prometo,
honestidade sempre. Até breve, um beijo…
Desligamos. Finalmente pude respirar aliviado, mas…
Se aparecer algum bastardo tentando ocupar o meu lugar, eu vou
simplesmente ter uma conversa amigável com ele, e, bem, pode não ser tão
amigável assim!
— Que cara de psicopata profissional é essa, hein? — Dimitri me tirou dos
meus pensamentos nada legais.
— Não é nada, agora vamos ao que interessa, Victória me ligou e, resumindo,
ela quer que eu descubra o que aconteceu de fato!
— Por isso eu gosto dela, é das minhas! — O Dinka riu. — E, cara, eu sou o
rei da armação, vamos pegar essa vadia sorrateira com a boca na botija… Vamos
cair matando, precisamos do William e aquela cara de príncipe dele.
— Mas pensei que eu deveria tentar descobrir…
— Olha só, você vai ficar quieto, apenas se mostrar atencioso e tal, nada de
ser um estúpido ignorante, já o William vai demonstrar interesse, vamos apenas
deixar uma semana de intervalo, porque se essa puta aparecer grávida…
— Não diga uma coisa dessas, pelo amor de Deus! — exclamei nervoso,
minha tranquilidade sendo abalada por causa desse detalhe tão importante.
— Ela vai enlouquecer, porque o William vai mostrar interesse, ele vai surgir
como se não se importasse que ela já ficou com você, mas um filho ele não aceita,
porque tem toda aquela coisa de herança do título de nobreza e tal… — Dimitri
riu. — Briana vai surtar quando notar que pode ser Condessa.
Olhei para Dimitri, entre feliz e agradecido.
— E você planejou isso tudo agora? — perguntei, cruzando os braços.
— Claro, tá na cara que essa vadia é interesseira, e nada melhor do que um
bilionário com título de nobreza, William é perfeito…
— Tudo bem, então vamos começar, e mãos à obra, quero só ver essa vadia
cair do cavalo e, para começar, eu quero que você faça um documento onde corto
todas as relações com a empresa da família dela, quero começar a fazer aquela
puta sorrateira ver que, quando eu der um aviso, é bom seguir.
— E sobre não agir como um estúpido ignorante?
— Foda-se, Briana tem que ver que comigo não se brinca. Vou encerrar a
parceria com o pai dela e começar a ver as coisas ficarem feias, ela vai se
desesperar e, quando eu não demonstrar interesse, apesar da cortesia, ela vai
querer o conde, aí vamos ver a verdade…
— Você quer se vingar de todo jeito, não é?
Dimitri sabia que eu era vingativo, e, bom, eu era vingativo então…
— Sim, eu quero me vingar! — grunhi, torcendo a boca em uma careta de
escárnio, — Ou melhor, eu vou me vingar…
— Então, mãos à obra!
Observei Dimitri cacar o celular e discar um número.
— William, pegue o seu avião e venha para Nova York, precisamos de você,
é importante e urgente.
— Certo… okay, até amanhã, então!
Dimitri encerrou a ligação e sorriu, esfregando as duas mãos.
— Vamos brincar!
Capítulo 20
Victória

Depois da conversa que eu tive com Rocco, estou me sentindo muito


tranquila, consegui fazer dois desenhos lindos. Tenho certeza que fará a Blanchet
muito feliz.
Enquanto não dava meu horário, eu estava pensando no tal do Jean Pierre.
“Será que ele é o mesmo Jean Pierre de que minha mãe tanto falava?”, me
questionei duvidosa. Ele estava bem elegante! Não resta dúvidas de que ele ou
tinha um bom personal stylist, ou era ele mesmo que tinha bom gosto. O fato era
que, se ele fosse mesmo o grande estilista Jean Pierre Dubois, seria muita sorte a
minha, porque com certeza pedir alguns conselhos a ele seria incrível. Na minha
lista de grandes mestres da moda, Jean Pierre Dubois vem em terceiro, porque em
primeiro está minha mãe (minha diva inspiradora), em segundo, Antonieta
Andrade. Até suspirei, porque a mulher é simplesmente incrível, considerada a
embaixadora da moda, e, sim, não duvidem, ela lança moda, dita tendências, cria
estilos e o que é melhor: é brasileira…
Quando deu meu horário eu saí do ateliê e encontrei com Jason na frente, me
esperando.
— Ei, brother, e aí, tocou muito? — Sorri para sua cara de contente.
— Ah, sim, hoje eu fiz o solo de guitarra da música Sweet Child O’ Mine,
dos Gun’s…
— Nossa, você está nesse nível? — perguntei, sorrindo para ele.
— Bem, eu estou! — respondeu encabulado, e eu bati nele com meu ombro.
Estávamos distraídos quando uma tosse atrás de nós nos alerta da presença
de alguém.
Olhei para o cara que havia me abordado muito tempo atrás e que acabou por
sair no braço com Rocco.
— Oi… — falou sorrindo.
— Não chegue perto! — Jason vociferou, me puxando para suas costas.
— Eu só quero conversa com ela, sei que Rocco está em outra e agora apenas
quero tentar uma chance! — falou, levantando os braços em sinal de paz.
Eu queria saber que tanta implicância desse homem! Na primeira vez que nos
vimos ele chegou todo arrogante e metido, agora está sendo educado. Muito
estranho isso… muito estranho mesmo.
— Tudo bem, vamos conversar, mas o Jason vai ficar junto! — falei, olhando
para o loiro alto, se não me engano, o nome dele era Damon alguma coisa.
— Tudo bem! — concordou, e, mesmo sob protesto, Jason aceitou.
Caminhamos até um café ali perto e sentamos os três em uma mesa. Jason do meu
lado e Damon de frente para mim.
— Não tem como eu falar o que quero com ele tão perto! — reclamou,
fazendo careta.
— Sinto muito, mas ele fica… — respondi, dando de ombros.
— Bom, então se é assim, eu aceito — resmungou, cruzando as mãos na
mesa. — Eu quero uma chance…
Olhei para o homem diante de mim e me perguntei o que estava acontecendo
com o meu dia.
— Uma chance comigo? Para quê?
— Para te conhecer melhor, eu sei que Rocco se envolveu com Briana
Costant em Nova York, eu vi as revistas e pensei que agora poderia ter minha vez
com você…
— Olha, isso é impossível! — respondi, pegando minha bolsa.
— Por que ele e não eu? Sou tão bom quanto e nunca te trairia, eu te quero
para mim, por que não me dá uma chance?
Olhei bem para o rosto dele e constatei uma coisa.
Ele queria atingir Rocco de alguma forma, porque, convenhamos, não tem
razão desse interesse dele em mim. Não há lógica nenhuma aqui.
— Primeiro, você não gosta de mim a esse ponto, segundo, você quer atingir
Rocco!
Eu estava bem tranquila em minhas palavras. E Damon franziu a testa.
— Como pode ter tanta certeza? — questionou, inclinado-se um pouco para
frente.
— Eu tenho certeza. Agora me diz, o que você tem contra Rocco?
Ficamos em silêncio e ele pareceu ponderar um pouco.
— Mande ele sair de perto que eu conto tudo! — falou, inclinando a cabeça
na direção do Jason.
Estreitei meus olhos e, depois de alguns segundos encarando-o, eu concordei.
— Jason, sente na mesa ao lado, por favor.
— Ele ainda vai ouvir o que eu disser.
— Essa é a distância em que Jason vai ficar, se você quiser, é claro…
— E se eu não quiser?
— O problema não vai ser meu — respondi, aparentando tranquilidade,
mesmo querendo saber o que havia ali de verdade.
— Tudo bem, eu aceito — resmungou, e Jason sentou na mesa ao lado.
— Sou toda ouvidos, pode começar.
— Bom, tudo começou na universidade…
Depois de ouvir em silêncio tudo que ele me disse e de entender o motivo de
tanto ciúmes do Rocco, eu percebi que estava mais do que na hora de esse homem
parar de viver a vida de Rocco. Damon tinha que seguir a vida dele, procurar a
felicidade dele e deixar de viver com esse rancor e ódio bestas.
— Olha, vou te dizer uma coisa com sinceridade — falei baixinho e
suavemente. — Rocco não se importa com sua vida e você deveria parar de se
importar com a dele. Você já parou para pensar na sua vida daqui a vinte anos? Já
parou para pensar que essa sua rixa é uma besteira, porque a vida é curta e,
sinceramente, você não vai ter ânimo para seguir adiante até seu último fôlego?
Vai quere olhar para trás e ver que perdeu tempo odiando uma pessoa que não está
nem aí para você? Por Deus, você vive preso a um passado que já acabou, e
ninguém ficou com a garota. Quer olhar para trás e ver que passou boa parte de sua
vida vivendo em prol de algo infrutífero?
— Não… — murmurou me olhando fixamente. Ele parecia um pouco
abalado. Ótimo.
— Então pense! Veja bem, Rocco é um homem admirável, eu o amo,
independente dessas fofocas, ele me tem, é dono do meu coração. O amor não
muda da noite para o dia, apesar das fofocas, eu amo Rocco incondicionalmente.
— Não preciso saber disso! — grunhiu, inclinando-se para frente. Nesse
momento, Jason apareceu atrás de Damon, apertando seu ombro com força.
Imediatamente ele relaxou. — Eu te expliquei tudo e posso prometer que serei fiel
a…
— Damon, para!
Ele me olhou confuso e achei que estava na hora de lhe dar uma nova
perspectiva.
— Você não quer ter uma pessoa que seja só sua? Uma pessoa que te ame
com seus defeitos e qualidades, manias e chatices? Não quer ter uma pessoa para
quem voltar no fim do dia e envelhecer ao lado, curtindo os momentos que
viveram? Me diz, você não quer ter alguém que te faça tremer? Que te faça se
sentir bobo e ao mesmo tempo feroz? Que dê à luz seus filhos e que esses filhos
sejam frutos de um amor bom e abnegado?
— Eu… eu…
— Você não tem ninguém que te deixe fora da sua zona de conforto? Que te
faça parar para pensar e se questionar se está fazendo as coisas direito? Que faça
seu coração acelerar? Não existe ninguém que te faça ver o mundo de outra forma?
Que te faz querer ser melhor? — despejei tudo e vi que ele me encarava meio
assustado.
— Eu… quer dizer… — engoliu visivelmente agitado. — E-eu não, quero
dizer… — ele gaguejou e depois pigarreou. — Eu tenho alguém que… quer dizer
eu…
— Vamos lá, Damon, coloque para fora, abra os olhos antes que seja tarde…
— Eu não sei… eu nunca olhei para ela com esses olhos, mas ela anda
estranha… triste, e isso me afetou de alguma forma, mas não acho que seja… será?
— Para de tratá-la com esse termo “ela”, diga-me um nome — pedi suave. E
para minha total surpresa, um olhar de nostalgia e, se eu não estiver enganada,
amor passou rapidamente pelo seu rosto.
— Miranda, esse é o nome dela… — respondeu sorrindo, pela primeira vez
um sorriso sincero. — Minha secretária.
— Então o que você está esperando? — perguntei, dando um sorriso largo.
— Você viu que só bastou um pouco de pressão e já está aí, descobrindo a
verdade em seu coração. Não perca tempo, vá atrás dela, se declare, seja feliz.
— Como eu pude ser tão burro esse tempo todo? — questionou, de olhos
arregalados. — Estava tudo tão na cara… mas que porra! — Agora o notei pálido
e ofegante, as mãos que estavam em cima da mesa tremiam um pouco.
— Muitas vezes as pessoas de fora veem nossa situação com olhos práticos.
Agora vai, não perca tempo. Pegue sua garota e seja feliz.
Damon levantou da mesa e eu também, sorri de leve, vendo-o caminhar para
sua, espero, felicidade, mas depois de alguns passos, ele depois voltou e me
abraçou, pegando-me de surpresa.
— Nunca esperei dizer o que vou dizer agora, mas Rocco é um bom homem,
faça ele feliz e peça desculpas por mim. Diga a ele que não quero ter meu nariz
quebrado de novo. E, ah, outra coisa muito importante: obrigado por abrir meus
olhos. Se não fosse por você, eu provavelmente perderia minha garota.
Sorri para as palavras dele e o abracei de volta.
— Amigos? — perguntou assim que nos afastamos
— Amigos — respondi estendendo a mão, e ele aceitou.
— Só mais uma coisa, tome cuidado com Blanchet, aquela mulher é perversa.
— Pode deixar, estou de olho. Agora vai, não perca mais tempo.
Observo Damon correr em direção ao seu carro. Não posso evitar sorrir de
felicidade, graças a Deus que ele acordou para a realidade e vai ser feliz.
É muito triste viver cheio de rancores, mágoas e vinganças. Eu não sei se
teria ânimo para esse tipo de coisa, quer dizer, eu acho que perder tempo com esse
tipo de sentimento é cansativo, não quero dizer que desta água não beberei, mas eu
só acho que alimentar sentimentos negativos traz coisas ruins. É como se fosse a
lei do retorno, mais cedo ou mais tarde, você terá algo batendo em sua porta.
Como já deixei muito claro, e todo mundo sabe, eu sou o tipo que perdoa
fácil.
— Vamos para casa, Cupido? — Jason empurrou meu ombro e eu ri.
— Me chame de cupido quando eu arranjar uma namorada para você! — falei
piscando um olho.
— Me coloque fora dessa lista, não tenho tempo para namoradas! —
reclamou…
— Deixa de bobagem, você arruma tempo! — Sorri e depois gargalhei da
careta de Jason.
Fomos para o carro e rapidamente seguíamos para minha casa.
Enquanto Jason prestava atenção ao trânsito, eu pensei na conversa que tive
com Damon.
Foi muito bom saber do passado de Rocco. O que me entristecia era o fato de
ele não ter me contado. Era como se ele não confiasse em mim o suficiente para
entendê-lo, e olha que ele foi taxativo sobre não termos segredos.
Bom, pelo menos agora eu sabia a fonte do ciúme do Rocco, a verdade é que,
de forma inconsciente, ele espera que todas as mulheres ajam como sua ex-noiva
traidora.
“Deus me defenda…”, pensei balançando a cabeça. “Rocco precisa saber
que eu jamais o trairia…”
Mal terminei o pensamento, senti uma dorzinha chata na pélvis. Eu sabia o
que era, e estava até demorando, mas acho que devido ao estresse de hoje, ela
resolveu dar as caras.
— Jason, por favor, pare em uma farmácia! — pedi, me mexendo
desconfortável na cadeira.
Minhas cólicas eram monstruosas. Elas não eram gentis de jeito nenhum,
começavam brandas e depois de pouquíssimo tempo já estavam para me matar,
doía até chegar ao ponto de eu me encontrar suando frio.
— Tudo bem? Está sentindo alguma coisa? — perguntou preocupado.
— Estou com cólicas e dói demais, preciso comprar meu remédio e… —
Corei, envergonhada. — … outras coisas mais…
— Não quer ir para um médico?
— Não, todo mês é o mesmo dilema, pode acreditar, não tem nada diferente.
— Suspirei fechando os olhos.
Há uns dois dias eu comecei a sentir meu ventre mais duro, meus seios
doloridos e minhas pernas cansadas. Sintomas do que vinha a seguir, e cá estou eu,
pronta para mais uma rodada.
Paramos em uma farmácia e eu fui para a ala de absorventes, escolhi os que
eu mais gostava e depois fui pedir meu remédio para dor. Já tomei um na farmácia
mesmo.
A viagem até minha casa foi feita em um silêncio confortável. Eu e Jason
tínhamos um tipo de camaradagem perfeita. Ele era meu brother, ponto final.
— Jason, você é meu segurança e, sendo assim, eu dou as ordens, né? —
perguntei assim que descemos do carro.
— Mais ou menos! — respondeu dando de ombros.
— Jason, eu gostaria que você trocasse o terno por calça e blusa — falei
mexendo as sobrancelhas. — Você viu a cara das pessoas na farmácia? Aquilo foi
estranho.
Rimos juntos e ele concordou.
Entramos em casa e eu fui direto para meu quarto. Peguei o que era
necessário para tomar banho e finalmente relaxar um pouco. Como esperado, em
meio ao banho eu vi o sangue escorrendo entre minhas pernas.
Balancei a cabeça, entre aliviada e triste.
Não estou grávida, afinal… E talvez não seja o melhor momento. Rocco
precisa saber o que aconteceu com a loira, e eu estou pedindo a Deus para que não
haja consequências, porque se houver…
— Só Jesus na causa! — Suspirei, encostando a testa no azulejo, deixando a
água quente escorrer pelo meu corpo. Após meu banho, deitei um pouco, acabei
apagando.
Acordei sentindo muita dor. Minhas cólicas estavam me castigando sem pena,
era horrível. Não sei como nós, mulheres, aguentamos. Dê ao homem um dia de
cólicas e menstruação e tenho certeza que o encontrará em desespero achando que
está morrendo.
Levantei fazendo careta quando senti que o meu fluxo descia com mais
intensidade, o primeiro dia era sempre o pior. Suspirando, peguei meu remédio e
tomei de novo. Em seguida fui para cozinha, preparar algo para comer. Estava bem
distraída quando sinto mãos me fazendo cócegas.
— Ahh, para, estou com cólicas. — Ri e quase chorei. O Balofo latiu todo
contente, ele adorou o Royce.
— Eita, bonequinha, desculpa! — Royce ergueu as mãos e veio ficar do meu
lado, depois abaixou e fez mimos na barriga do meu cachorro fofo e lindo. — Faz
um sanduíche para mim também.
— E para mim… — Jason completou.
— Abram as carteiras, cobro caro! — Sorri e peguei mais ingredientes para
os sanduíches.
O restante da tarde passou tranquila, eu, Royce e Jason matamos o tempo
assistindo a filmes na sala.
Escolhemos uma comédia para começar, As branquelas. Estávamos
aconchegados no sofá, com o Balofo aos pés do Royce.
Meninas, só posso dizer que era uma experiência divertidíssima assistir a
filmes com Jason, meu Deus, ele ria tanto que eu ria mais dele que do filme, até
parecia que ele nunca tinha assistido, tamanho era sua diversão.
— Deus me defenda de ter um parceiro querendo me vestir de mulher! —
Jason exclamou e eu ri. — Puta merda, viu o negão? Caiu de amores… coitado…
— Meu amigo, deixa eu te contar uma coisa — Royce começou —, no Brasil
tem uma festa chamada parada Gay, cara, é tanto bofe saindo do armário. Quero
dizer, eles se fantasiam de forma tão extravagante, que não tem quem reconheça!
— Quem é que não reconhece um macho? — Jason perguntou, fazendo careta
— E não só isso, quem não reconhece catinga de futum de macho?
Explodi em uma gargalhada estrondosa, Jason está relaxado e por isso
falante.
— Estou falando para você que até a sobrancelha eles apagam e fazem outra,
meu amigo, é a treva.
— Sim, e só sendo cego para não reconhecer um traveco!
— Sim, você reconhece o traveco, mas não sabe que esse traveco é seu
colega de trabalho… — Royce sorriu. — Entendeu aonde quero chegar?
— Você está me fazendo acreditar que mais dia menos dia eu vou te ver
vestido de mulher.
Royce engasgou e eu me contorci no lugar, tentando segurar minha vontade de
rir. A careta do Jason e a cara ultrajada do Royce estavam impagáveis.
— Meu garotos, fiquem aí discutindo quem vai usar a peruca loira enquanto
eu vou preparar o jantar, já, já tia Laura chega. — Fui em direção à cozinha. —
Macarronada está bom?
— Perfeito! — responderam, em uníssono, e logo voltaram a prestar atenção
ao filme.
As coisas estavam tranquilas, eu preparava o jantar enquanto cantarolava
baixinho uma música qualquer. Queria agradar tia Laura e retribuir um pouco do
cuidado que ela sempre teve comigo. Não era fácil, pois além de trabalhar
bastante, tia Laura ainda cuidava da casa e das refeições, isso porque antes eu não
tinha tempo.
Lógico que nos finais de semana eu tirava um tempo para limpar e diminuir a
carga da semana, mas ainda assim era pouco. Agora que estou trabalhando em um
horário flexível, o jantar é por minha conta. Tia Laura vai poder relaxar um pouco,
quando chegar do trabalho.
— Que cheiro delicioso!
Sorri, me virando para a porta da cozinha.
— Tia Laura! — exclamei, indo até ela e abraçando-a com cuidado, para não
sujá-la com minhas mãos.
— Desculpe o atraso, é que eu… — Observei as bochechas da minha tia
corando e senti meu coração acelerar.
“Será que agora ela me conta?”, pensei, olhando para ela em expectativa.
— Minha filha, eu… — Tia Laura pigarreou e depois torceu as mãos de
forma nervosa. — Eu… bem, uhnn, estou namorando…
Arregalei os olhos e dei outro mega abraço em minha amada tia gatona,
depois me afastei e comecei a fazer a dancinha da alegria. Tia Laura dançou
também.
Eu estava muito feliz por ela.
— Aiin, que maravilha, tia! — exclamei contente. — Quando vou poder
conhecê-lo?
Tia Laura se afastou e desviou da minha pergunta, ela até parecia um pouco
desconfortável.
— Ele é muito ocupado, e… bem, não sei…
— Tia, tudo bem?
— Sim, está…
Não senti muita segurança em sua voz, mas em vez de pressionar, eu deixei
minha tia a vontade. Nós sempre contamos tudo uma à outra e quando se sentir
pronta ela vai me dizer o que está acontecendo.
— Tia, a senhora pode ir tomar banho e descansar um pouco, enquanto eu
termino tudo aqui.
— Obrigada, filha! — Sorriu e me beijou a bochecha. — E, ah, eu vi as
revistas, você não acreditou, não é?
— Por um momento, tia, mas depois eu pensei melhor!
— Ótimo, Rocco é um bom rapaz e ele te adora. Relaxe e deixe que eu
mesma dou uma voadora estilo matrix em qualquer periguete que chegar perto do
seu noivo.
— Tia, a senhora anda assistindo muita novela brasileira! — Ri balançando a
cabeça.
— Você sabe que quando eu me espalho, ninguém me junta! Eu rodo a baiana
para defender minha filha.
— Tia, a senhora é demais.
— E também posso desaparecer com as provas.
— Já sei, a senhora assiste CSI e é quase uma profissional! — Soltei uma
risadinha enquanto minha tia balançava a cabeça concordando e ia embora da
cozinha.
O jantar foi muito divertido, Jason e Royce estavam se dando bem, meu único
problema era: como contar para o Rocco que o Royce voltou e está passando uma
temporada na casa ao lado da minha?

Vai ser guerra, eu posso até sentir a cabeça do meu ogrinho fervilhando de
suposições e ciúmes.
— Em que está pensando? — tia Laura perguntou.
— Estou pensando em como vou apresentar Royce ao Rocco!
Jason riu baixinho, e Royce fez careta.
— Muito simples, coloque os dois em um ringue e diga: Rocco esse é
Royce… — tia Laura falou, fazendo o Royce empalidecer um pouco e Jason rir,
concordando.
— Preciso me preocupar em comprar luvas e protetores? — meu amigo
questionou, olhando para mim com cara de assombro.
— Eu acharia melhor você comprar a tal roupa de mulher, assim Rocco
talvez não te parta ao meio! — Jason provocou e eu ri das brincadeiras.
Se bem que, pelo jeito, Rocco não vai levar essa coisa de ter o Royce por
perto muito bem.
Os dias passaram e eu não consegui falar para o Rocco que meu amigo
voltou. Ainda tinha os problemas que ele estava resolvendo lá em NY, e a cada dia
novas revistas apareciam.
Uma, foi deles jantando, e outra, deles passeando lado a lado.
Tive ciúmes demais, entretanto, tudo era um plano e conversávamos toda
noite por horas a fio, sem falar nas mensagens que passávamos o dia trocando. O
interessante era que antes mesmo das revistas aparecerem eu já sabia o que ele
tinha feito. Na verdade, o passeio no parque fui eu que sugeri.
Lugar público, bom para ele ser visto com ela, mas com gente suficiente para
a loira não tentar nenhuma gracinha.
Nesse momento estou esperando os minutos que faltam para eu poder ir
embora.
Ah, antes que me esqueça, Madame Blanchet sumiu. Eu pensei que ela viria
tentar acabar com minha paz de espírito no dia seguinte, mas não, ela nem deu
sinal de vida. Bom, eu não tenho nada a ver com o que a Madame faz da vida.
Às quinze horas eu saí do ateliê e encontrei com Jason me esperando, como
fazia todos os dias.
— Oi… — cumprimentei, entrando no carro, e seguimos viagem. — Jason,
mudança de planos, vamos para o trabalho da minha tia, vou te mostrar meu ateliê
secreto.
— Gostei da ideia! — Sorriu mudando o percurso.
Chegamos à loja de fantasias e o Sr. John veio nos receber.
— Quanto tempo, minha querida, eu já estava com saudades — me saudou,
dando-me um abraço apertado.
— Cadê tia Laura?
Sr. John revirou os olhos e apontou para o escritório. Sorrindo e deixando um
Jason chocado com as riquezas de detalhes das fantasias.
Encontrei a porta entreaberta, dei uma batida suave e abri.
“Ai, meu Deus!”
Arregalei meus olhos quando vi tia Laura no maior beijo com um homem alto
e grisalho. Ele estava em um terno feito sob medida, eu reconhecia isso de longe,
e, sim, era chique de doer. Entretanto, isso era o de menos, o que estava me
constrangendo era o fato de eles estarem tão colados que praticamente faziam
amor de roupas. Senti meu rosto queimando, por estar vendo esse amasso…
“Saindo de fininho!”, pensei sorrindo, mas sabe aqueles momentos em que
só pelo fato de você querer fazer silêncio é que parece que você fica mais
barulhenta e desastrada?
Não vou dizer que eu me atrapalhei com a porta e uma fantasia pendurada. Só
vou dizer que eu tropecei e fiz um barulho alto e terrível de tão constrangedor.
Fiz uma careta de cabeça baixa enquanto desenrolava a fantasia dos meus
pés. Mesmo morta de vergonha, eu ergui minha cabeça.
Gente, o que aconteceu a seguir foi muito… muito estranho.
Primeiro, tia Laura ficou branca como um papel, depois o bonitão grisalho
me olhou e começou a ficar vermelho. Depois eles se olharam e em seguida
voltaram a me olhar. Tudo isso, mudos.
— Tia, desculpa, eu não queria atrapalhar… — Sorri sem graça. — Eu vou
indo… — Dei as costas, quando a voz do homem se fez ouvir.
— Não vá embora, por favor! — exclamou em português, e, pela sua voz, ele
estava emocionado.
Eu me virei e encarei o homem. Então a discussão começou.
— Como você pôde mentir para mim dessa forma, Laura? — indagou
alterado.
— Eu… Ricardo, por favor, eu…
— Você jurou para mim que ela tinha morrido, eu acreditei em você! Pensei
que fosse diferente…
— Ricardo, eu não podia, será que não entende? — Minha tia estava nervosa
e abalada.
E eu muito confusa com essa discussão estranha.
— Quando eu te expliquei o motivo da minha presença, você pareceu sincera
em me dizer que a menina tinha falecido ainda pequena. — Agora o homem fechou
os olhos por um instante e, quando os abriu, ele olhava para tia Laura com puro
desgosto — Você tem ideia do quanto meu sobrinho sofreu? Você tem ideia do
quanto ele chorou? Ele era uma vítima tanto quanto a sua cunhada, e nada,
absolutamente nada do que eu disse te fez me falar a verdade!
— Por favor… Ricardo, me ouça… — tia Laura implorou, chorando. E eu
corri para o seu lado.
— Você fez a mesma coisa que minha irmã, você não deu a Victor nenhuma
chance! E eu pensei que fosse diferente! Mas que porra, passei oito anos amando
uma mulher que mentiu para mim na maior cara de pau!
— Ei, senhor, pega leve! — falei alto — Você não vai tratar minha tia dessa
forma, não importa o que ela fez, já está feito. Agora, se você vai ficar aí com
rancor e despejando essas coisas dessa forma agressiva, está perdendo seu tempo.
— Abracei minha tia apertado. — Vem, tia, vamos…
— Isso não vai ficar assim, Laura, ela é a cara da avó, a cópia mesmo, e o
Victor vai saber disso ainda hoje! Agora eu digo, prepare-se, ele vem buscar o que
é dele.
Tia Laura choramingou, e eu fiz uma cara feia para o homem que me olhava
com um olhar terno e carinhoso.
— A cara da avó! — Sorriu, já sacando o celular. E eu nem me importei,
apesar de sentir que algo grande estava a caminho.
Agora só o que importava era minha tia, que chorava enquanto eu a guiava
para a saída.
— Laura, o que foi? O que aquele engomadinho fez? — o senhor John
perguntou, fazendo uma cara de poucos amigos.
— O senhor poderia, por favor, cuidar do homem lá? — pedi, guiando minha
tia para o sofá.
— Vá para casa, Laura, e deixe que eu cuido das coisas aqui… — senhor
John falou, e eu agradeci, já indo para o carro com Jason.
Sentamos no banco de trás e tia Laura só chorava. Meu Deus, ela estava
arrasada.
— Tudo vai ficar bem, meu amor, eu prometo — sussurrei, alisando seus
cabelos.
— Não vai… Eu menti e ele descobriu. Por Deus, eles são poderosos e vão
tirar… — Tia Laura chorou ainda mais que antes e eu não pude fazer nada, a não
ser abraçar seu corpo e tentar lhe dar o conforto que ela precisava.
Senhor meu Deus, quem é esse Ricardo? E o que ele quis dizer com aquela
frase?
— A cara da avó…
Mas que avó? E, o mais importante, quem é Victor?
As perguntas se amontoavam em minha cabeça, mas meu foco era tia Laura,
pois durante todo o trajeto até em casa, não parou de chorar, a cada instante ela
parecia mais e mais desesperada, eu nunca tinha visto uma coisa dessas.
Tia Laura era durona.
— Chegamos! — Jason anunciou, e com cuidado eu saí do carro, ajudando tia
Laura, que estava muito abatida.
Já dentro de casa, e com a ajuda de Jason, eu preparei um chá e a fiz tomar.
Com amor, sequei suas lágrimas e permiti-lhe o tempo que ela precisava. Fiquei
por ali circulando, observando, roendo as unhas e controlando a minha ansiedade.
Até que finalmente minha tia me olhou.
Pesar e arrependimento eram só o que transpareciam em seu olhar.
— Minha menina… — soluçou. — Você é minha única família… a única
pessoa que eu tenho no mundo.
Ouvir a dor na voz da minha tia dilacerava meu coração, pois desde que meus
pais morreram ela foi meu porto seguro. Meu alicerce.
— E a senhora ainda é e sempre será minha família! — falei firme, me
ajoelhando em sua frente, peguei suas mãos e levei aos meus lábios. — Não
importa o que nem o porquê, nada vai mudar, e não precisa me contar nada. Eu
confio na senhora e em seu julgamento. Portanto, tranquiliza o seu coração, meu
amor, nada vai acontecer.
— Ohhh… — Mais lágrimas e soluços partiam da minha tia.
— Shh — sussurrei, acariciando seus cabelos. — Tudo está bem…
Absolutamente tudo…
Ficamos abraçadas durante um bom tempo, até que tia Laura se acalmou e eu
a coloquei para dormir.
— Dorme bem, minha mãe — murmurei, beijando seu cabelo. — Tudo vai
ficar bem, eu prometo.
Saí do quarto e fui para a sala. Eu estava ansiosa, as palavras daquele homem
martelando em minha cabeça incessantemente.
— Quem são eles? — questionei, indo até o sofá para tentar me acalmar. —
O que eles querem?
Droga! Fechei os olhos, preocupada com a saúde de tia Laura.
Preciso prestar atenção… minha mente vagou mais uma vez para a cena de
ainda há pouco. Concentrei-me, tentando extrair informações, mas não sei se era
porque tudo que eu pensava parecia sem lógica ou porque eu estava preocupada, a
verdade é que eu não chegava a nenhuma conclusão.
O toque do meu celular me fez acordar para a realidade. Puxei o aparelho do
bolso da calça e atendi.
— Alô…
— Amore mio, o que foi? — A voz de Rocco é como um bálsamo.
Suspiro. A saudade é tanta…
— Problemas com o namorado de tia Laura…
— Espera, o quê? — perguntou alto demais. — Desde quando tia Laura tem
namorado? Quem é o sujeito? Ele fez o que para causar problemas? Me diga um
nome e eu resolvo…
— Eu sei, amor, você é o mestre em resolver problemas, não é? — Sorri sem
humor. — Não sei ao certo, tudo foi rápido demais, o cara estava no maior amasso
com tia Laura e eu cheguei, mas quando fui sair de fininho, tropecei em uma
fantasia, acabei chamando a atenção dos dois…
— Você se machucou? — grunhiu, me interrompendo. — Porra, eu deveria
estar aí, essas merdas só acontecem quando estou longe…
— Estou bem, não foi nada, minha trapalhada só serviu para chamar a
atenção deles e foi aí que o problema aconteceu. — Bufei relembrando. — O cara
me olhou e surtou, tia Laura também, ela ficou branca, parecia um fantasma, então
eles entraram em uma espécie de discussão estranha, que envolvia mais três
pessoas.
— Quem são essas três pessoas? — perguntou e, pela sua voz, ele parecia
nervoso.
— Eu, uma outra mulher que se parece comigo e um homem chamado
Victor…
— Quem é esse Victor? — por sua voz eu sabia, esse era o alerta de ciúme
ligado.
— Eu não sei, só sei que parece haver algum tipo de problema que me
envolve. Eles estavam exaltados, digo, tia Laura e o namorado. Entretanto, no
final, ele ainda disse que logo Victor iria vir buscar o que pertence a ele…
— Pertence é o caralho! — rosnou gritando. — Você é minha, foda-se, eu
mato esse desgraçado se ousar chegar perto de você.
Fechei os olhos e resolvi aproveitar a situação, já que Rocco está com raiva,
vou logo dizer que Royce está aqui, porque só assim eu não vou precisar lidar com
um Rocco muito irado por duas vezes.
— Amor, eu tenho outra coisa para te dizer! — resmunguei, mordendo o
lábio.
Ai, meu Deus, é agora. Rocco vai ficar com muita raiva…
— O que foi, amore mio? — perguntou mais brando.
Tenho certeza que não vai durar muito…
— O Royce… voltou — soltei a bomba e só ouvi o silêncio, depois o
barulho de algo quebrando.
— Quando? — perguntou, muito calmo para meu gosto.
— No dia em que nos reconciliamos.
Silêncio. Ou melhor, eu ouvia apenas a respiração forte dele.
Ai, meu Deus, ferrou.
— Amor, olha, eu não queria te atrapalhar, você foi para China resolver
problemas, e eu sei que é muito ciumento, eu não queria problemas para nós,
afinal, tínhamos acabado de voltar…
Silêncio.
— Amor, diz alguma coisa… — murmurei, apertando o celular com força.
— Tem mais alguma coisa que eu deva saber?
Pensei e logo me lembrei do Damon.
Ai, Jesus… socorre aqui.
— Pelo visto tem… Vamos, fale!
— Ontem o Damon me procurou e nós conversamos.
— O QUÊ? — rugiu e eu tive que afastar o celular do meu ouvido.
— Eu queria entender o motivo de tanta rixa e ele me contou tudo que você
deveria ter me contado.
— Eu vou matar aquele bastardo! — vociferou possesso.
Estão vendo? Daqui eu sinto o frio passando, e olha que tem um oceano
inteiro de distância entre nós. Rocco deve estar com o maxilar duro e a cara de
quem vai fazer merda.
— Não! Você vai ficar tranquilo. A conversa foi boa, e eu o fiz perceber que
a rixa de vocês parece coisa de criança que briga pelo mesmo brinquedo, e no fim
nenhum dos dois quer mais. Damon percebeu, com minha ajuda, que é apaixonado
pela secretária dele. Agora ele deve estar sendo muito feliz com e ela. Selamos um
pacto de paz e amizade. Você pode respirar fundo aí e controlar seu temperamento,
não estou a fim de me casar com um lutador de MMA, portanto, acalma-se agora!
Estava respirando acelerado depois desse discurso. Porém Rocco estava
calado.
— Se vai ficar calado, vou desligar… tenho um jantar para preparar, estou
com dor de cabeça, sentindo cólicas monstruosas e não estou a fim de curtir seu
piti de homem das cavernas.
— Estou voltando! — grunhiu mais tranquilo.
— Você já resolveu seu problema com a loira?
— Não, mas estamos com tudo esquematizado…
— Então trate de resolver, porque não a quero batendo em nossa porta nem
causando escândalo, se por acaso as coisas…
— Tudo vai dar certo, amor… Pode parar por aí… — comandou, me
fazendo sorrir e me largar no sofá.
— Eu queria muito você aqui comigo, Rocco, queria de verdade, mas não
quero viver com uma espada sobre nossas cabeças. Resolva esse problema e volte
correndo. — Permiti que um longo suspiro escapasse.
— Eu sei, minha pequena, estou cuidando de tudo… — murmurou. — Uma
coisa, você disse que está sentindo cólicas?
— Sim, estou no meu período, desceu ontem… — respondi, fechando os
olhos.
Rocco soltou o fôlego de forma tão ruidosa que eu pude ouvir claramente.
— Droga! — grunhiu — Eu pensei que… eu queria que você… PORRA…
— Tudo a seu tempo certo, vamos ter nosso bebê, mas primeiro vamos
organizar nossa vida juntos, o que acha?
— Um não, eu quero vários! Vou te manter permanentemente grávida e na
cama… — brincou, mas eu notei que sua voz soava decepcionada. — Deixa só o
primeiro vir…
— Eu estaria mentindo se dissesse que não acredito, você é louco o suficiente
para ter filhos que ficam com a mesma idade…
— Claro, amore mio, no dia que seu resguardo passar, eu vou te pegar de
jeito e te engravidar de novo… — Riu malicioso.
Graças a Deus seu humor foi controlado… e por isso decido entrar na
brincadeira.
— Será possível que eu vou ter que fazer um cinto de castidade para mim?
Homem de Deus, você só pode estar brincando!
— Eu não, estou falando muito sério…
— Vou fugir para as montanhas! — exclamei rindo baixinho.
— Querida, não adianta fugir, eu sinto seu cheiro e poderia te caçar como
um animal faminto… — ronronou com aquela voz grossa e rouca que só ele tem.
— E quando te encontrasse, iria te devorar sem dó e nem piedade…
— Você nunca teve piedade de mim. — Ofeguei baixinho.
— Não mesmo, você é muito gostosa… — Escutei seu gemido. — Ah, meu
amor, pode ir tomando um fortificante, pois quando eu chegar aí, eu vou te
pegar com força…
— Meu Deus, Rocco, esquentou muito! — Suspirei baixinho e ele riu.
— Fique com a imagem na mente… Agora preciso ir, tenho uma vadia para
desmascarar, só assim posso voltar para a MINHA mulher… — enfatizou a
palavra minha, fazendo meu estômago dar cambalhotas.
— Eu te amo — falei, esperando ouvi-lo dizer o mesmo. Mas Rocco se
limitou a dizer “eu também”…
Desligamos a chamada. Eu fui para meu quarto.
Desenhar…
Capítulo 21
Victória
Duas semanas depois

Estou subindo até a sala da Madame Blanchet. Hoje finalmente ela


apareceu depois do sumiço e queria falar comigo. Saí do elevador, mas só dei
alguns passos quando parei e olhei para trás.
Há dias estou com a incômoda sensação de estar sendo observada. Vivo
encabulada e olhando para trás. O tal do Ricardo não deu mais as caras, e eu
realmente estava chegando à conclusão de que estou paranoica.
Depois que contei para Jason ele passou a entrar no atelier e a ficar na
minha sala comigo. Passava o dia dedilhando um violão. Coitado, devia morrer de
tédio.
Ah, antes que eu esqueça, Rocco quase arranca as orelhas do Jason, porque
ele não contou sobre o Royce, eu intervim, e Rocco ficou calmo.
Deixei claro que, se ele não confiava em mim, não adiantava perdermos
tempo.
Bom, ele ficou tranquilo, mas pediu para falar com Royce, e meu amigo,
mesmo sendo um doido de pedra, ficou branco como um papel. Quando fui
questioná-lo sobre o que Rocco falou, ele só me disse que nunca mais queria ver
uma cebola sendo descascada.
Deixei para lá. Rocco nunca machucaria meu amigo depois que o conhecer.
Chegue à sala da madame e sua secretária me anunciou.
Assim que entrei, a porta se fechou atrás de mim. Não avistei Blanchet de
cara, ela estava sentada na cadeira dela de respaldo alto, de costas.
— A senhora mandou me chamar, Madame? — perguntei apenas para
iniciar a conversa.
— Sim, por favor, sente-se…
Durante uns dez segundos meu queixo foi até o chão e eu fique encarando o
vazio. Será que eu ouvi direito? A madame pediu por favor? Foi isso mesmo?
— Sente-se, Victória, o que tenho para falar é importante demais, por
favor, sente-se.
Obedeci e posso dizer que estou com medo. O que ela vai aprontar agora
para o meu lado?
— Victória, eu quero te fazer uma proposta! — falou e virou a cadeira.
Meus olhos arregalaram e eu não pude evitar o ofegar em choque.
Blanchet estava muito machucada. Um olho estava roxo, o lábio partido,
várias escoriações na face, um braço engessado e sabe-se lá mais o quê.
— Eu fui assaltada! — falou desviando o olhar — Agora vamos ao que
interessa.
Com dificuldade, eu a vi pegar uma pasta e retirar duas folhas.
— Dois contratos, um para a dívida e outro para a casa!
Franzi o cenho, isso está errado.
— Madame, a casa não estava anexada ao contrato da dívida? Por que
agora está separado?
— Quando você assinou os últimos documentos do novo contrato eu dei
um jeito de colocar no meio o documento de transferência de domínio. A casa é
minha, e vou vendê-la a você.
Choque, raiva, desgosto e mágoa guerreavam dentro de mim. Senti meus
olhos queimando, mas não iria chorar. Já chega.
— Qual a proposta? — indaguei firme. E foi com satisfação que vi
Blanchet ficar espantada com minha aparente força.
Bom! Melhor assim…
— A proposta é a seguinte: eu quero os desenhos que você tem em casa.
Todos eles… — falou e eu nem acreditei.
“Mas como ela sabe que eles existem?”
— Não, obrigada! Em poucas semanas sairá a sentença do Gordon Maison
e eu serei indenizada. Poderei pagar a dívida e a casa…
— Eu quero os desenhos, caso contrário, ainda hoje consigo uma ordem de
despejo e você vai para a rua com aquela sua tia, mas não pense que irei vender
sua casa, não… eu irei demoli-la, tijolo por tijolo, até não sobrar absolutamente
nada…
Levantei da cadeira e fui até a mesa da madame, me inclinei para frente e
pela primeira vez eu perdi o controle.
— Aceito, mas saiba que eu posso fazer mais desenhos…. dez… cem ou
talvez duzentos… — grunhi e a vi arregalar os olhos. — Já você, não poderá fazer
nada, então eu te aconselho a fazer esses desenhos se multiplicarem, porque eles
serão os últimos que você terá de mim.
— Eu quero sessenta desenhos! — ofegou e tossiu.
— Eu te dou setenta, e sabe por quê? — Sorri com desgosto. — No dia
que eu sair por aquela porta, você estará acabada, Blanchet, e eu estarei
começando! Você ainda vai me ver no topo. Enquanto você estará no fundo do
poço.
— Quem você pensa que é? — rosnou tossindo.
— Eu sou Victória Fontaine Costa, a maior estilista de Londres! — rosnei
na cara dela. — Eu quero esses documentos, meu advogado vai ler linha por linha
e ver se não tem nenhuma armadilha aqui.
— Vejo que está mais forte, só espero que você continue assim depois
que… — Blanchet me olhou e eu juro que pude ver compaixão em seus olhos.
— Eu tenho fé e força de vontade, quanto maior for minha provação, maior
será a graça do Senhor na minha vida, porque eu acredito, Blanchet, que tudo
nessa vida começa e termina aqui…
— Pode ir embora, a partir de agora você não trabalha mais para mim!
Volte em dois dias com os desenhos e o contrato assinado.
Caminhei até a porta, mas pensei melhor, não vou deixar isso inacabado.
Virei-me para Blanchet e disse algo que há muito eu queria dizer.
— Você poderia ter tido em mim alguém em quem se apoiar quando o
cansaço chegasse, mas você optou pelo mais difícil. Você me humilhou, me
roubou, me maltratou como ninguém nunca fez. Eu não te desejo nenhum mal,
Blanchet, mas sinto em meu coração que você vai terminar seus dias sozinha e se
lamentando pela vida que poderia ter tido. Em dois dias eu volto com os desenhos.
Vou trazer os sessenta que você quer e vou te dar mais dez de presente. Faça bom
proveito.
Saí de lá e fui direto para minha sala. Assim que cheguei lá, desabei em um
choro convulsivo.
— Victória, o que foi? — Jason estava em cima de mim em tempo recorde.
— Acabou, Jason… acabou. Eu estou a um passo de ter minha liberdade.
— Solucei feliz. O que eram esses desenhos em vista da minha liberdade? Nada,
quer dizer, vai doer entregá-los, mas será a última vez… a última.
Pegamos nossas coisas fomos para a saída do Atelier. Eu não conseguia
parar de chorar mesmo sentindo o enorme alívio em meu peito, não conseguia
parar. Eu não poderia dizer o tamanho do alívio que eu sentia, era algo
simplesmente inacreditável para um dia só e nem eram dez da manhã.
— Para casa? — Jason perguntou suavemente e eu sorri em meio as
lágrimas.
— Para o cemitério St. James! — Meu sorriso alargou e ele acenou
concordando.
No caminho eu comprei algumas flores, rosas brancas para minha mãe, e
para meu pai, flores silvestres… Esperei ansiosamente até chegar ao cemitério. E
quando chegamos, eu desci do carro e me apressei até o lugar de repouso dos
meus pais. Eles estavam lado a lado.
Jason ficou mais distante e eu notei que ele falava ao telefone. Não me
importei. Dei uma espiada ao redor, havia algumas pessoas colocando flores e,
mais adiante, uma figura solitária me chamou atenção. Era uma mulher, e eu sabia,
por causa do chapéu que usava, de aba longa e chique. Muito bom gosto.
Desviei meu foco da mulher e prestei atenção nas duas lápides diante de
mim.

Michael Fontaine
Ainda posso sentir seus cuidados comigo, seu sorriso quando chegava
em casa, a porta que batia quando saía e a derradeira vez que disse que me
amava.
O melhor pai do mundo e marido dedicado. Saudades eternas…
*1970 + 2007

Passei as mãos para limpar a lápide e depois coloquei as flores silvestres


que eu trouxe lá.
Mais uma vez eu chorava, vir até aqui era como abrir minha caixa de
pandora. Eu não conseguia evitar os milhares de lembranças que me invadiam.
Eram uma profusão de bons e maus momentos, mas, mesmo assim eram todas
incríveis. Meu pai era simplesmente o melhor.
Soltando um profundo suspiro trêmulo eu olhei para a lápide da minha
mãe.

Maria Fontaine Costa


Aos olhos derramo minha saudade, mas ao céu vejo a estrela que
ascendeu. Nos meus dias sem ti, não acredito. Pois comigo estás, aonde quer
que eu vá. A cada batida do meu coração e sopro do meu fôlego eu me lembro de
ti e do meu amor, do meu e do teu… Para sempre, até que estejamos todos
juntos, como éramos antes. Um time completo.
Amada mãe e esposa.
* 1974 + 2007

Era impossível me controlar, meu corpo tremia e eu chorava, um choro de


saudade e felicidade. Cuidadosamente, depositei as rosas da minha mãe e me
estiquei, abrindo meus braços como se pudesse abraçar os dois, coloquei uma das
mãos em cada lápide.
— Acabou… — solucei. — Conseguimos, mamãe, nós conseguimos…
vencemos. — Minhas palavras saíam abafadas e entrecortadas. Eu sorria em meio
às minhas lágrimas — A senhora tinha razão, a felicidade vem mesmo quando não
esperamos, pode ser em plena segunda-feira, às nove e meia da manhã, não
importa, mas ela vem. Mãe e pai, eu sinto tanto alívio por finalmente poder tirar
esse peso dos meus ombros… Eu prometi, mãe, e cumpri, foi difícil, mas eu
consegui, peguei nossa casa de volta… é nossa. — Comecei a rir, mas o choro era
muito grande, incontrolável, ele estava limpando minha alma. — Descansem em
paz, meus amados, a luta chegou ao fim, estamos livres.
Naquele momento e de olhos fechados, eu pude sentir como se eles
estivessem comigo, eu me senti aquecida, o amor deles me rodeava, e eu estava,
pela primeira vez, em oito anos, podendo me despedir dos meus pais do jeito
certo, sem medos, finalmente eu podia permitir que essa preocupação saísse de
mim.
— Eu espero um dia poder dar o abraço que o senhor ficou me devendo,
papai, eu espero poder receber o beijo que não me deu naquela manhã e as
broncas que não vieram. — Sorri — E, mãe, a senhora sabe que quando recitava
aquela poesia, eu ficava confusa por não compreender? Mas hoje eu sei, eu
entendo cada verso.

“O amor é fogo que arde sem se ver,


É ferida que dói e não se sente,
É um contentamento descontente,
É a dor que desatina sem doer…”

— Eu te amo, mãe, incondicionalmente, intensamente, fervorosamente e


para sempre. Eu entendo agora o que não entendia antes. Eu não poderia viver sem
Rocco, a senhora seguiu meu pai porque não aguentava a saudade… Eu entendo
agora, eu juro que entendo.
Fiquei um bom tempo ali ainda, permaneci de joelhos, sem me importar
com o desconforto, aproveitei e fiz minhas orações e preces, porque Deus, em sua
infinita bondade, me deu esta benção hoje.
Minha liberdade…
— Tome, minha criança. — Ouvi uma voz suave ao meu lado e ergui minha
cabeça.
A mulher elegante que eu avistei ao longe segurava um lenço para mim. Eu
sorri e aceitei, secando meu rosto e olhos.
— Levante-se, minha querida — pediu com forte sotaque e eu o fiz.
Observei, em choque perplexo, quando ela retirou os óculos. Meu Deus,
era Antonieta Andrade, minha segunda musa inspiradora.
Então o inesperado aconteceu, e ela me puxou para um abraço, me pegando
totalmente de surpresa.
— Eu perdi minha filha mais velha e meu marido no mesmo dia, sei bem a
dor que você sente… — sussurrou em português, e eu não sei o que era, mas o
cheiro dela, combinado à forma que ela me abraçava, me fizeram chorar
novamente, e eu retribuí o abraço, sentindo os braços dela apertarem mais um
pouco à minha volta.
Era como se eu estivesse, de alguma forma, em casa.
O meu encontro com a Antonieta Andrade foi rápido, depois de me dar
aquele abraço maravilhoso, ela passou o polegar pelo meu rosto. Nesse momento
eu pude observar seu rosto, ela tinha os olhos castanhos combinando perfeitamente
com o que eu podia ver do seu cabelo. Eu não conseguia entender por que a
achava familiar.
Balancei a cabeça, voltando à realidade, eu estava tão eufórica por estar
diante dela que até muda eu fiquei, na verdade, eu estava quase sem reação, e
enquanto me acariciava o rosto, ela sussurrou:
— A mesma cor dos olhos…
Depois ela secou as próprias lágrimas. Foi assim, emocionante demais.
Em seguida ela me deu um cartão de visitas e disse que estava hospedada
no La Riviera.
Então, antes de sair, ela sussurrou:
— O começo de nossas vidas…
Depois me deu um beijo suave no rosto e seguiu caminhando elegantemente
pelo cemitério.
Agora, pensando sobre meu dia, eu chego à conclusão de que Deus
resolveu me mandar as bênçãos todas de vez, e lógico que foi tudo maravilhoso.
Falei com Rocco e, mesmo parecendo estranho, ele disse que tudo estava se
encaminhando para o fim. Amanhã Dimitri chega para revisar os documentos e
participar da assinatura e entrega dos croquis. Em seguida, há o julgamento do
Gordon.
Resolvi vir dormir na cobertura, pedi para Jason ir para a minha casa fazer
companhia à minha tia e contar as novidades. Hoje eu queria ficar aqui, já que
amanhã Rocco chega, com boas notícias, se Deus quiser. Aí, sim, a minha
felicidade será completa… totalmente livre das amarras que me prendiam.
— Eu juro que ainda nem acredito… — Afundei um pouco mais na
banheira perfumada. Era estranho, mas quer ter paz para pensar? Vá para o
banheiro. Parece uma coisa de outro mundo.
Fechei meus olhos, encostando a cabeça na toalha que coloquei na nuca. A
água quentinha e perfumada me deixou super-relaxada, estava correndo o risco até
de cochilar. Quando já não dava mais conta de ficar na banheira sem pegar no
sono, eu saí. Peguei minha toalha e me enrolei, depois fui para o closet, lá eu
escolhi uma das blusas do Rocco, tinha o cheiro dele. Suspirei de olhos fechados,
trazendo o tecido até meu nariz e aspirando com força.
Vesti-me apenas com a camisa e fui para cozinha.
— Hora de cozinhar!
Passei boa parte da tarde preparando cookies, cupcakes e algumas
sobremesas.
— Minha formiga gigante vai adorar! — Sorri enquanto colocava o
chocolate no topo do Cupcake.
Antes que perguntem, eu passei no mercado e fiz as compras para
abastecer a despensa.
A noite já caía quando tia Laura me ligou, gritando de felicidade. Ela só
não gostou dos dez desenhos que eu dei a Blanchet, mas eu a fiz entender que fiz
isso por caridade.
Pague o mal com o bem e mostre que a melhor vingança é o perdão.
Tia Laura Aceitou e me confessou que iria jantar com Ricardo, ele
apareceu lá e pediu para que ela saísse com ele. Eu incentivei, é claro, se ele é a
felicidade dela, então estou feliz e aceito. Mas o Jason ia junto, porque se o tal
Ricardo desse uma de doido hoje, ele aprenderia.
Tia Laura protestou, mas aceitou.
No meio de tanta novidade para as garotas Fontaine, eu me esqueci de
dizer à tia Laura que conheci Antonieta Andrade. Se bem que nem faz mal. Sempre
que eu falava da mulher e do talento dela, tia Laura torcia a boca e dizia que eu era
melhor que a bruxa velha.
Não entendo o porquê disso, depois de um tempo eu acreditei que era
ciúmes. Ponto final.
Preparei um jantar leve, porque era apenas para mim, depois de jantar, eu
lavei e guardei a louça. Depois peguei alguns dos doces que eu fiz e levei-os para
a mesa de jantar, eram só umas boas-vindas para o meu homem.
Peguei o pratinho contendo cinco cookies com gotas de chocolate e levei
para o suporte de decoração que ficava no hall de entrada. Ao lado do vaso com
flores naturais, eu coloquei o pratinho e uma plaquinha com os dizeres:
“Bem-vindo, meu amor! Porque tudo sempre pode ficar mais doce… ”
Saí de lá tranquila de que não teria formiga, eu já tinha feito um teste e tudo
certo. Depois peguei um Cupcake e levei até a mesinha de centro, eu sabia que ele
iria descartar o casaco no sofá e veria o pequeno mimo.
A plaquinha que espetei no topo do Cupcake estava assim:
“Doce como os sonhos que me proporciona… Eu te amo… S2”
O último eu iria colocar na mesinha de cabeceira do lado dele. Esse deu
mais trabalho, porque o bolo teve que ser recortado. Fiz várias camadinhas de
recheio, com os sabores preferidos do Rocco. Prestígio, morango, brigadeiro… e
menta.
Nesse eu escrevi.
“O melhor sempre está guardado para o final…”
Tomei outro banho para tirar o doce e o calor que ficar tirando fornadas de
biscoitos causou. Desta vez eu fui rápida, depois me sequei e peguei outra camisa
de Rocco.
Vesti apenas isso e fui dormir. Suspirando quando os lençóis frios me
receberam. Acho que não durei dois minutos. Literalmente apaguei.
A consciência foi tomando conta de mim ao passo que eu sentia lábios
carinhosos percorrendo minhas pernas.
Abri os olhos, sonolenta, e vi o amor da minha vida me olhando. Seus
olhos brilhavam de forma suspeita, eu só pude ver esse pequeno detalhe porque a
luz do abajur estava ligada.
— Amor… que saudade… — Sorri e ele me retribuiu, mas parecia, de
alguma forma, triste. — O que foi?
Rocco baixou a cabeça e depois voltou a me olhar. Havia tanto sentimento
em sua expressão.
— Amore mio, faça amor comigo como se não houvesse amanhã… —
sussurrou, engatinhando pelo meu corpo.
— Sim… por favor — implorei, sentindo seu corpo despido e quente
sobre o meu.
Rocco apoiou o pior do peso nos braços, agora ele esfregava o nariz em
meu rosto enquanto seus dedos acariciavam meus cabelos.
— Eu quero gravar seu rosto — murmurou torturado —, o seu cheiro… o
sabor da minha mulher… a única que amo, a única que amarei o resto dos meus
dias…
Estranhei as palavras dele e quando abri a boca para perguntar, ele me
tomou em um beijo arrebatador.
E digo mais, esse beijo foi de entrega, de amor puro, grande. Mas estava
com gosto de despedida.
Eu me dei para Rocco, me entreguei completamente, quando senti o sal de
suas lágrimas, eu soube: mesmo que nossos corpos se unissem na mais perfeita
harmonia, que ele fosse meu agora, isso aqui era, de fato, uma despedida.
— Eu pertenço a você, Victória… só a você… — sussurrou em meu
ouvido, quando, juntos, explodimos em um gozo delirante.
— Eu também pertenço apenas a você, Rocco, só você… — murmurei
sentindo meu coração doer e se encher de felicidade. Era quase como se ele
dissesse que me amava.
— Eu te amo… — suspirei as palavras que meu coração queria gritar.
Meu corpo ainda tremia enquanto os últimos espasmos de prazer me
atravessam. O beijo que Rocco me deu era tão cheio de amor… Tão cheio de
paixão, que não pude evitar que meus olhos se enchessem de lágrimas. Ele tremia
em cima de mim… Dentro de mim… Estávamos conectados da forma mais
primitiva que uma mulher e um homem podem estar.
Gostaria de poder acreditar que estava tudo bem, mas o aperto em meu
peito, o medo… com certeza devem ser algo… Um presságio, um aviso. A forma
como ele me ama é quase desesperada…
Algo me diz que agora eu tenho que ser forte. Ou pelo menos tentar!
De alguma forma, eu sinto que ele sofre. Ele me ama… Eu o amo muito e,
por isso, tenho que me manter firme. Por ele… por mim…
Provo suas lágrimas, mas faço o possível para segurar as minhas. Sinto sua
dor, seu desespero, é como se por mais que ele tentasse esconder ou disfarçar, não
pudesse.
Rocco está, nesse momento, despido de tudo.
— Amor… — Puxei seu cabelo para poder respirar, mas, em vez de me
olhar, ele enterrou o rosto em meu pescoço. Sua respiração era ofegante como a
minha, mas a dele estava entrecortada.
— Olha para mim! — acariciei seu cabelo, mas ele apenas balançou a
cabeça, me apertando quase ao ponto de me sufocar. — Rocco, olha para mim,
meu amor… —pedi com voz baixa e trêmula.
A única resposta que ele me deu foi um grunhido de dor, como um animal
ferido de morte.
Não insisti mais, apenas acariciei seus cabelos e suas costas com carinho e
paciência.
— Por que, Victória? — murmurou. — Por que comigo? Por quê? — Sua
voz soava decepcionada, angustiada, mas, principalmente, derrotada.
— O que foi? — perguntei branda. — Me conta… Me deixa te ajudar…
Nesse instante ele tirou o rosto do meu pescoço e encostou nossas testas.
Vi que ele estava com os olhos rasos d’água, mas ele mantinha o maxilar
travado. Como se fizesse muito esforço para se controlar.
Um homem que não chora, ou pouco o faz!
— Eu sempre me orgulhei de ser quem sou… — começou a falar bem
baixinho e suas lágrimas pingaram em meu rosto. — Nunca cometi nenhum ato de
covardia contra pessoas mais fracas que eu, entretanto, no mundo dos negócios, eu
era, ou melhor, eu sou implacável. — Fez uma pausa reflexiva e então continuou:
— Eu nunca fui famoso por ser paciente. Eu era frio, cínico e nunca, jamais
chorava. Na verdade, eu não me lembro de ter chorado depois da morte do meu
pai. Nem quando eu peguei minha noiva me traindo eu derramei uma lágrima. Sabe
o que fiz? — perguntou e, antes que eu pudesse dizer alguma coisa, ele mesmo
respondeu: — Eu apenas dei uma surra no bastardo e nunca mais permiti que a
vadia se aproximasse de mim. E agora me vejo sem conseguir me controlar, por
mais que eu queira não chorar, eu simplesmente não consigo parar… E juro que
não está sendo nenhum alívio, continua doendo do mesmo jeito, só que agora está
ficando pior, porque eu tenho você aqui e… — Rocco interrompeu sua fala e
respirou fundo. — Sabe, pequena, eu estava farto da minha vida, farto de tanta
superficialidade, falsidade… — Fechei meus olhos e suspirei. — Então você
chegou como um sopro de paz. Todavia, não posso negar que lutei contra o que eu
sentia, cada vez que eu me pegava pensando em você, eu me repreendia… Eu
lutei, amore mio, juro… Mas não tive forças, você veio como uma onda
avassaladora e me tomou. Eu me permiti, eu me entreguei… eu me apaixonei. Eu
sonhei. E eu perdi… digo, estou perdendo…
— Não se importe por chorar. — sussurrei, limpando suas lágrimas. —
Isso não te faz menos homem, muito pelo contrário, isso só te faz mais humano e eu
te amo ainda mais por isso… Não se preocupe, tudo vai dar certo… — tentei
acalmá-lo, mesmo quando sentia que o medo cravava suas poderosas garras em
mim.
— Não, não vai! — grunhiu fechando os olhos. — Eu nunca pensei que
viveria um momento como esse! Eu me sinto ferido de morte… dói, amore mio…
dói tanto… — Sua voz saiu rouca e embargada. — Nem todo o meu poder e
influência podem me ajudar…
Eu o vi fazer uma careta de mágoa e tive que engolir o bolo em minha
garganta.
— Rocco… Tudo vai…
— Não diga isso! — rosnou e se afastou, desconectando nossos corpos.
Imediatamente me senti abandonada e fria.
Não pude fazer nada, antes de qualquer palavra minha ou gesto, Rocco
estava me dando as costas.
— Eu fui criado para ser um homem digno, responsável, respeitado… —
murmurou triste. — Meu pai sempre me dizia que a família vinha em primeiro
lugar… E que um homem como eu teria que ser o exemplo para todos. Ele dizia
que eu seria o chefe de uma das mais tradicionais famílias da Itália. Teria que
honrar meu nome… Sempre!
— E ele estava certo… — falei, me ajoelhando atrás dele, assim eu
poderia abraçá-lo. Beijei seu ombro e esfreguei meu nariz, respirei fundo,
trazendo seu cheiro delicioso e inebriante para dentro de mim.
Ficamos em silêncio pelo que pareceu uma eternidade, até que uma frase
cravou um punhal em meu coração.
— Ela está grávida… — sussurrou de cabeça baixa.
Fechei meus olhos, mas não me afastei, pelo contrário, eu o abracei mais
forte, transmitindo força e o que mais eu pudesse. Rocco precisava de mim e eu
queria mostrar que estava ali para ele, independe da minha dor…
Porém não consegui organizar minhas ideias para falar algo que o
confortasse, tudo dentro de mim gritava um categórico não!
Mordi minha bochecha ate sentir o gosto de sangue.
“Preciso ficar firme por Rocco”, entoava silenciosamente uma vez e
outra.
Eu poderia deixar para chorar em casa, mas agora eu tinha que ser o que
meu homem precisava, eu tinha que cuidar dele, como tantas vezes ele cuidou de
mim.
Soltei-o do meu abraço e fui ate a cabeceira da cama, onde me sentei,
apoiando minhas costas. Rocco me olhou confuso, até que eu abri meus braços,
chamando-o. E não demorou muito para eu tê-lo deitado com a cabeça em meu
colo, o rosto enterrado em minha barriga.
Comecei a acariciar seus cabelos suavemente, sem pressa.
— Você tem certeza? — perguntei suavemente. — Ela não poderia estar
mentindo?
— Tenho certeza, eu conversei com a médica, pedi para refazer o exame.
Todos deram positivo… Todos confirmaram… — Observei-o fechar os olhos e
respirar fundo várias vezes. — Não posso permitir que meu filho seja um
bastardo! Não posso permitir que ele cresça sendo apontado como um erro… —
murmurou baixinho. — Eu simplesmente não posso… Mas estou com tanto ódio,
que nem sei se conseguirei segurá-lo em meus braços, amá-lo como eu amaria um
filho nosso — rosnou me apertando, fechei meus olhos, pedindo a Deus sabedoria
nesse momento.
— Amor, a criança não tem nada a ver com o que aconteceu. Ela é um ser
frágil que necessita de amor e cuidado — murmurei, nunca parando de fazer
carinho nele. — Já pensou em como vai ser lindo um bebê parecido com você? —
perguntei, engolindo a dor em meu peito. — Eu imagino um lindo bebezinho de
olhos azuis e cabelos pretos…
— Não, amore mio. — Suspirou e me olhou.
Seus olhos eram tão lindos, se não fosse a tristeza tão claramente
estampada ali, eles estariam límpidos e brilhantes.
— Como não? — perguntei, tentando um sorriso. — Um bebê que seja a
sua cara será a criatura mais fofa do mundo.
— Eu… — Mais uma vez ele virou o rosto para minha barriga e começou
a beijar ali. — Eu sonhei em ter um filho meu crescendo aqui, e com ele
parecendo com você, tendo seus olhos. Eu sonhei em ver sua barriga crescer,
nosso filho mexer, eu tendo que acordar de madrugada para conseguir coisas
impossíveis… — Limpei uma lágrima que escorreu e dei graças a Deus que
Rocco não viu. — Eu desejei tanto… tanto…
— Nem sempre a gente tem o que quer — proferi carinhosamente.
— Amore mio, está tão difícil aceitar. Eu nunca pensei que teria que
escolher entre um filho e a mulher que eu amo.
— Você não tem escolha nenhuma para fazer. — Testei um sorriso
reconfortante quando ele me olhou. — Essa criança vem em primeiro lugar. Você é
um homem incrível, eu vejo que se preocupa em dar seu nome a seu filho para que
ele não sofra preconceitos, sei que você jamais deixaria seu filho abandonado. Eu
me decepcionaria se o fizesse.
Não falei mais nada, ficamos nos encarando durante o que pareceu uma
eternidade.
— Como vou fazer para ficar sem você, hein, meu amor? Como vou fazer
sem seus conselhos? Como vou viver sem seus carinhos? Sem seu amor? —
perguntou erguendo um braço para acariciar meus cabelos. — Eu tinha planos para
nós dois…
— Eu sei — sussurrei, correndo as pontas dos meus dedos suavemente
pelo rosto dele, traçando seus contornos e formas — Olha só, você sempre me
terá, quando precisar de mim, eu estarei aqui para você.
— Victória… — suspirou, fechando os olhos quando tracei seus lábio. —
Você é perfeita para mim, minha outra metade, minha calmaria, meu lar…
Não pude formar nenhuma palavra ou frase, meu cérebro estava
sobrecarregado. A vontade que eu tinha de chorar, negar, gritar era tanta, que eu
me sentia começando a sufocar.
Ergui minha cabeça e fechei meus olhos. Lancei uma prece a Deus, a minha
força não estava boa o bastante. Eu nunca me senti assim, e o pior é que eu não
tinha saída, por isso precisava fazer com que Rocco ficasse calmo. Para isso, eu
tinha que aparentar tranquilidade, porque nada do que fizesse iria mudar os fatos.
E eu jamais me colocaria à frente de uma criança. Jamais pediria ou permitiria que
ele me escolhesse… Eu o amo demais para fazer uma coisa dessas…
Minha felicidade não é mais importante que a vida de um inocente. Penso
que, se a mãe desse bebe teve a capacidade de agir de forma tão vil para
conseguir o que queria, o que garante que ela será um boa mãe?
Eu tive pais maravilhosos, sei como é crescer rodeada de amor e cuidado,
e é isso que eu desejo para essa criança. Amor e cuidado.
Mesmo que seja apenas do pai. Por isso tenho que mostrar para Rocco que
ele deve ser o herói de seu filho. Fazê-lo crescer confiando que sempre terá no pai
um porto seguro, um lugar para voltar, proteção. Mas, principalmente, um amigo,
ao qual poderá confiar absolutamente tudo.
Respirei fundo e comecei.
— Eu vou te amar hoje, amanhã mais que hoje e assim por diante. Eu sei
que você não teve culpa no que aconteceu, mas esse bebê tem menos ainda. Eu
confio em você para dar a essa criança tudo o que ela merece. Você precisa amar
seu filho incondicionalmente, porque independente de tudo, ele é seu, e nada
mudará isso. Eu acredito que Deus permitiu que esse bebê tenha você como pai
para que, assim, ele tenha uma chance de ser verdadeiramente feliz. — Dei um
sorriso suave. — Rocco, aquela mulher não tem escrúpulos, no fim das contas,
você foi abusado, e se fosse o contrário? Teria sido um crime. Na verdade, ainda
é, porque não foi consensual… Você não permitiu. — Segurei suas mãos, trazendo-
as até meus lábios, e beijei sua aliança com tristeza. — Você precisa me prometer
que vai cuidar do seu filho com ferocidade.
— Eu darei meu nome… — falou baixo e firme. — Vou me casar apenas
para que ele tenha meu nome e depois eu vou me divorciar, porque a minha mulher
é você e disso não abro mão… Entretanto, não vou fazer de você minha amante.
Você nunca será meu segredo, amor, nunca. Você será a senhora Masari, nem que
para isso eu precise derrubar meio mundo.
— Seu bobo. — Sorri sem querer. — Não precisa derrubar nada, vou te
esperar. Mas me prometa que, acima de tudo, vai amar seu filho.
Não é possível, meu Deus, mas eu já sinto carinho pelo bebê só pelo fato
de ele ser de Rocco. E juro que esse sentimento não me faz mal. Muito pelo
contrário, ele me faz sentir o coração crescer mesmo doendo como dói…
— Eu tenho um plano, amore mio. — Rocco puxou minha atenção de volta
e sentou de frente para mim. Logo começou a me contar o tal plano. — Aquela
maldita acha que conseguiu o que queria, mas ela não sabe o que vou fazer. Ela vai
implorar para ficar longe de mim — ele falou de forma tão feroz que eu me
assustei.
— Rocco, eu não acho que seja uma boa ideia você fazer algum mal a
ela… — murmurei preocupada. — Você não é assim.
— Victória, eu estava doente, e ela pagou para entrar em meu quarto! Eu
não me lembro de merda nenhuma! Você acha mesmo que eu vou deixar isso
barato? — rosnou, passando as duas mãos pelo cabelo. — Não vou. Eu disse para
ela não se aproximar de mim, eu avisei várias vezes para ficar longe, agora ela vai
ter que lidar com as consequências dos seus atos. E vou tomar meu filho quando
ele nascer. Vamos criá-lo. Eu e… — Agora ele me encarou fixamente. — … você!
Eu estava muda. Há alguns instantes, Rocco estava parecendo um menino
perdido, agora ele parece uma fera pronta para atacar.
— Por pior que a situação seja, você, er… — Baixei a cabeça. — Não
pode tirar um filho da mãe. Não seria justo com a criança.
— Como eu vou suportar olhar na cara daquela maldita? — perguntou
olhando para cima, só agora notei que ele puxava os cabelos em desespero.
— Amor… — Engoli o choro. — Tenha calma.
— Calma? — perguntou dando uma risada irônica. — Eu quase
estrangulava a vadia quando saiu o resultado. Dimitri que me segurou.
Arregalei os olhos.
— Não sou tão civilizado, amore mio! — grunhiu, levantando da cama e
começando a nadar de um lado para o outro. — Você lembra do meu ataque na
boate, eu sei que lembra, ali eu não estava nem perto do que estou agora… Do que
estarei para aquela puta!
Por Deus, ele parece um animal enjaulado. Feroz, agitado, nervoso,
rugindo seu desespero.
— Farei da vida dela um inferno! — rosnou alto. — Cada dia que for
obrigado a passar longe de você, ela pagara caro. Nunca pensei que poderia odiar
tanto uma pessoa…
— Rocco, não adianta fazer nada! — sussurrei, repentinamente cansada. —
Não adianta.
— Amore mio, por que eu? O que eu fiz para merecer uma coisa dessas?
— Rocco falou de forma tão revoltada, que eu só balancei a cabeça, dando de
ombros.
Quem sabe dos desígnios de Deus? Quem sabe o que acontecerá amanhã?
Ninguém.
Por coisas como essa, não adianta gritar nem espernear. São coisas que
não podemos mudar, estão acima de nós. Então é aceitar e bola para frente.
— Por um momento eu pensei em um ab…
Não permiti que ele terminasse a frase.
— Nunca mais ouse dizer uma coisa dessas! — exclamei, levantando e
indo parar na frente dele, não me importei de estarmos ambos nus. — Se você
ousar sugerir um absurdo desses, nunca mais eu olho na sua cara!
— Amore mio…
— Não se tira a vida de uma pessoa, muito menos de uma indefesa que não
tem culpa de nada! — grunhi com raiva.
Olhem para mim, estão vendo? Nunca pensei que eu estaria defendo o
bem-estar do filho do homem que eu amo com outra mulher. Mas, sim, eu estou. E
se depender de mim, nada de mal acontecerá.
— Você vai prometer para mim que a partir de agora o bebê vai ficar em
primeiro lugar sempre! — proferi, olhando dentro dos olhos de Rocco.
Ele me encarava como se buscasse algo em meu rosto. E quando encontrou,
desabou.
Rocco caiu de joelhos e me abraçou. Então ele rugiu de dor. Foi alto e cru.
Intenso e selvagem.
Eu abracei o que pude do grande homem quebrado diante de mim, e mesmo
tendo pedido tanta força a Deus, acabei desabando também.
— Shhh — eu sussurrava chorando. — Tudo vai dar certo… Eu prometo
que vai, acredite que o amor é para nos fazer feliz e não sofrer. Eu te amo, nada
vai mudar isso, acredite. Tudo é vontade de Deus.
Capítulo 22
Victória

A volta para casa foi feita em silêncio. Agora eu pensava na melancolia


que me tomou, quando eu comecei a arrumar as coisas que eu tinha na cobertura.
Não tinha muito o que levar, então foi até rápido.
Em seguida eu tomei um banho e chorei o que pude no chuveiro. Quando
terminei, me vesti no banheiro mesmo, e quando saí, encontrei Rocco sentado na
beirada da cama. Não pensei duas vezes, fui até ele e o abracei fortemente.
Durante longos minutos, nós apenas nos abraçamos em silêncio.
Agora, aqui estamos, indo para minha casa, às cinco horas da manhã. Olho
para o céu através da janela do carro e o vejo com pesadas nuvens de chuva, como
se estivesse querendo chorar comigo.
Suspirei apertando minhas mãos no tecido da minha blusa de frio. Eu me
sentia… Eu não sei descrever, só sei que uma parte essencial faltava. Quero
deixar claro que em momento algum houve briga. Basicamente sofremos de uma
fatalidade. Não é culpa minha e nem dele. O que me resta agora é juntar o que
sobrou e seguir adiante.
Fechei os olhos quando lembrei que, muito tempo atrás, eu pensei que
Rocco passaria na minha vida como um furação destruidor e, no final, só
sobrariam os cacos para eu juntar. É, isso realmente aconteceu. Mas ao contrário
do que eu achava, não sou a única partida ao meio.
Olho para Rocco e o vejo abatido, levemente pálido. Eu só queria poder
puxar o sofrimento dele e absorver em mim. Não queria ter que ver essa expressão
de angústia tão crua em seu rosto. Bem devagar, coloquei minha mão sobre a dele
e apertei. Infelizmente, não consegui nem imitar um sorriso quando ele ergueu a
cabeça e me olhou.
— Vai dar tudo certo — murmurei, tentando acreditar em minhas próprias
palavras. — No final, sempre dá certo, e se não deu, é porque ainda não chegou ao
fim. Agora me dê um sorriso — pedi e ele sorriu de lado. — Viu? Não é tão
difícil.
Mal terminei de falar antes de Rocco soltar os nossos cintos e me puxar
para o seu colo. Ele me abraçou muito apertado e eu me agarrei a ele com força.
Ficamos o resto do caminho até minha casa assim. Estávamos tão agarrados que
nos misturávamos. Era tão bom, porque Rocco era um homem grande e eu
conseguia me encolher toda e ficar basicamente aninhada dentro do círculo de seus
braços.
Ficamos respirando o cheiro um do outro, matando uma saudade que ainda
nem começara, mas que iria castigar sem pena. Também não fizemos promessas.
Não tinha por quê. As coisas eram como eram. Ponto final.
O carro parou e nós dois nos agarramos mais forte. Sabíamos que havia
chegado a hora da despedida permanente, ou melhor dizendo, por um longo tempo.
— Não consigo te deixar ir — sussurrou em meu cabelo. — Porra, eu te
amo! Não consigo te deixar ir.
Sua voz soava apavorada. Eu me sentia assim. Não sei como vai ser daqui
para frente.
“Viver um dia de cada vez, não fazer planos…” pensei, estranhamente
conformada.
— Você precisa me deixar ir — murmurei baixinho. — Você tem que me
soltar.
— Eu não quero te soltar nunca, minha pequena… nunca.
— Eu sei.
Ficamos em silêncio, até que aos poucos eu sinto seu aperto ir diminuindo,
então ele me soltou e eu beijei seu rosto antes de sair do carro. Caminhei sem
olhar para trás.
— Victória! — Ouço sua voz e paro, quando me viro, ele já está com sua
boca na minha.
Nós nos beijamos com amor, paixão, desespero e a saudade que se iniciou.
Foi intenso, demorado, molhado e doloroso. Quando nos afastamos, Rocco
encostou sua testa na minha.
— Nada dura para sempre… — murmurou triste. — Me perdoe, eu não
sou perfeito. Agora, infelizmente, é muito tarde para voltar atrás, mas, por favor,
use meu anel… deixe-me ficar de alguma forma ao seu lado. — Com carinho ele
me dá um selinho demorado e vai embora sem olhar para trás. Mesmo antes de ele
entrar no carro, eu já nem enxergava direito. Estava tudo embaçado.
Mesmo eu vivendo um dos piores momentos da minha vida, sinto que fiz o
certo. Fui justa com Rocco e com o filho dele. Eu estava feliz pela criança ter uma
oportunidade.
Só espero que dê tudo certo para esse bebê.
Virei para a entrada da minha casa e lá estava Jason, parado na porta. Ele
me olhou e veio até onde eu estava.
— Tudo vai dar certo, querida, eu juro que vai! — falou baixinho e eu
solucei, soltei a bolsa com minhas coisas e abracei meu brother.
Eu perdi as forças. Porque apesar de ter dito muitas vezes que tudo daria
certo, não vejo como posso conseguir me recuperar.
Esse golpe foi forte demais.
Capítulo 23
Rocco

Chego à minha cobertura e sou recebido pelo silêncio. Olho de um lado


para outro tentando de alguma forma encontrar um caminho, uma solução, qualquer
coisa. Mas não encontro nada que me ajude. Tudo me sufoca, eu me sinto como se
estivesse com a corda no pescoço…
Vou até o bar pegar uma bebida, mas não tenho vontade de beber, não tenho
vontade nem de brigar, o que eu quero agora é tentar organizar minhas ideias e
começar a trabalhar para fazer da vida daquela puta sorrateira um inferno.
Caminho pela sala e vou até o sofá, quando sento, vejo um Cupcake na
mesinha de centro. Peguei e, mesmo sem sentir vontade, um pequeno sorriso triste
desponta em meus lábios.
“Doce como os sonhos que me proporciona… Eu te amo… S2”
Esse eu não tinha visto e, agora, ao ler essa frase, sinto como se uma
marreta se chocasse contra meu corpo. Nossa despedida me matou, ou melhor.
matou o homem apaixonado que havia surgido depois de tantos anos. Eu estava
muito triste, revoltado e tudo mais, entretanto, agora eu me sentia como se o antigo
Rocco tivesse voltado.
O magnata frio e coração de pedra.
Meu amor eu deixo reservado para Victória, e até eu tê-la de volta, esse
sentimento ficara adormecido. Devo dizer que a forma como ela encarou tudo me
fez amá-la ainda mais. Eu já sabia que Victória era diferenciada, mas a atitude tão
abnegada para com meu filho foi bom para mim. Eu me senti aquecido por dentro.
Mesmo o frio tendo voltado a se instalar agora.
Dei uma pequena mordida no doce que segurava, fechei os olhos. Estava
delicioso, esse era meu preferido, minha garota foi cuidadosa em minha recepção,
pena que eu não tinha boas notícias. Digo, não estou contente com essa gravidez. A
mulher está errada.
— Briana Costant — rosnei o nome com nojo e ódio. Coloquei o Cupcake
meio comido de volta na mesinha e levantei.
A costumeira indignação que eu senti desde que vi o teste de gravidez
voltou com tudo. E uma onda de calor me invadiu. Eu bem sabia o que era essa
sensação, era pura raiva queimando seu caminho através de meu sistema.
Comecei a andar de um lado para o outro, repensando em tudo que
aconteceu desde que Victória me ligou mandando que eu voltasse e resolvesse o
problema.

Dimitri me olhou e sorriu, ele mesmo deu o comando ao motorista para


voltar, claro que quando o engarrafamento quilométrico nos permitisse andar.
Naquele mesmo dia, Dimitri fez o documento que eu pedi. Era um
contrato onde eu cortava as relações de negócios com o pai de Briana, eu sabia
que seria um caos para o velho, mas foda-se, não estou nem aí. A empresa da
família da puta tem setenta por cento dos negócios ligados às minhas empresas,
agora que eu cortei essa linha, bem capaz de o velho quebrar, não tenho nada
contra o homem, mas vou derrubar tudo no meu caminho para fazer aquela
vadia sorrateira pagar por ter invadido meu quarto e quase ter me feito perder
minha garota.
Eu confesso que a convivência com Victória me amoleceu um pouco. Mas
eu era um filho da puta vingativo, nem liguei quando o Sr. Costant viu do que se
tratava o documento, só o esperei entrar em desespero. E assim foi, ele gritou,
implorou e eu só arqueei uma sobrancelha zombadora quando permitia a crise
do velho passar.
— Por quê? — perguntou aflito.
— Muito simples, a sua querida filha invadiu meu quarto, e eu avisei,
muito tempo atrás, que cortaria relações com você e sua empresa se ela não
parasse de me perseguir.
— Mas as revistas… — murmurou confuso. — Eu vi vocês e…
— Ela armou para mim, e agora eu estou apenas devolvendo o favor. Só
que não estou pagando ninguém para entrar escondido em lugar nenhum, estou
fazendo tudo em pratos limpos.
— Rocco, você tinha me dado um prazo maior, você negociou a minha
dívida, mas agora, esse novo contrato. — Eu o vi engolir em seco. — É
impossível para mim.
— Sim, você fez empréstimos em meu banco, não pagou e eu deixei você
à vontade, bom, agora é o seguinte, como você leu aí, eu estou acabando a nossa
parceria na construção de barcos mercantes, e os empréstimos, você tem até o
fim de semana para pagar.
— É IMPOSSIVEL! — gritou nervoso. — É muito dinheiro…
— Culpe sua preciosa filha! — Dei de ombros e o homem ficou vermelho
de raiva.
— Dê-me um prazo maior, eu posso pagar… — implorou em pânico, e eu
ri.
— Vejamos — murmurei, pegando alguns papéis que eu já havia
previamente separado, estava esperando por esse momento. — A sua empresa
vale cem milhões, certo? — perguntei e, como não houve resposta, eu tornei a
perguntar: — Certo?
— Sim.
— Ótimo, agora vamos ver isso. — Peguei duas folhas marcadas e
comecei a ler. — De acordo com esses relatórios, você fez um mau investimento
ano passado e abriu capital, entretanto, o valor das suas ações caiu e você não
recebeu o valor que queria por elas, se endividou mais ainda e veio me pedir um
empréstimo de cinquenta milhões que eu gentilmente cedi e que até agora você
não pagou nada…
— Rocco, me ouça, eu tive problemas, a minha empresa está passando
por uma pequena crise e eu…
— Não estou nem aí se você está passando por uma crise. Você tem até o
final de semana para juntar o dinheiro e me pagar, você tem sorte por eu não
cobrar os juros.
O homem sentado em minha frente suava mesmo a sala estando fria.
Sério que eu não estava dando a mínima.
— E se eu não pagar? — perguntou baixo.
— Aí é muito simples, está escrito o que acontecerá na cláusula 2,
parágrafo oito do contrato. — Peguei minha cópia do documento e pigarreei. —
O não cumprimento do acordo descrito acima e assinado por ambas as partes
acarretará no pedido de transferência de ações em valor similar à dívida de
cinquenta milhões de dólares, sendo que, passada a data limite, haverá juros de
1% ao dia sobre o valor total da divida até o dia do pagamento. Os juros
aplicados a essa soma serão juros compostos como dispõe no contrato de
empréstimo anteriormente assinado. E se mediante as ações acima citadas
ainda não houver o cumprimento por parte do Sr. Anthoni Costant, o banco M.
Internacional, que faz parte da corporação Masari, tendo como CEO Rocco
Masari, poderá solicitar embargo imediato da Marinha Costant, até que seja,
por fim, quitada toda a dívida. — Terminei de ler e sorri. — Alguma dúvida?
— Rocco, releve as atitudes da minha filha… — pediu, afrouxando a
gravata. — Você já prestou atenção nela? Briana é linda, eu tenho certeza que
vocês formariam um casal lindo.
— Obrigado, mas não gosto de vadias… — rosnei encarando-o. — Agora
assine o contrato ou eu vou embargar sua empresa, e ainda essa semana irei
abrir um pedido de falecia…
— Maldição! — grunhiu, assinando as duas vias do contrato. Ele sabia
que não adiantava protestar, Dimitri fez um contrato do caralho.
Depois que um furioso Anthony sai da minha sala, eu ligo para Victória e
conversamos por horas. Ela me acalma, eu adoro ouvir sua voz, a sua risada me
deixa excitado, doido para tê-la em meus braços… Fazer amor até cair
desmaiado…
Conversávamos sobre nossos dias, tudo ia bem até que ela me contou
algumas novidades que me fizeram ver vermelho. Entretanto, eu tenho que
confiar em, mesmo eu querendo correr e atacar o Royce e o Damon como um
maldito cão de briga. Eu me segurei e já deixei Jason de sobreaviso sobre esse
tal Victor…
Aqui não, camarada! Não aceito mais nenhum macho querendo atenção
da minha garota. Bufei contrariado. Mas Victória colocou moral e, porra, eu
fiquei duro…
Continuando, alguns dias depois, Briana me procurou e eu controlei a
vontade que eu tinha de matar a vadia. Como fazia parte do plano, eu a levei
para jantar… Cada vez que ela abria a boca, eu queria mandá-la se calar, foi
uma merda, uma verdadeira tortura, mas com muita força de vontade eu
consegui evitar rosnar de raiva só por estar próximo a ela.
Depois desse jantar ridículo, eu a levei para andar no parque. Toda vez
que ela cacarejava sua felicidade por eu estar aceitando-a, eu queria afogar a
vadia no lago que havia ali. Eu tinha que fazer ouvido de mercador, porque a
criatura só falava bosta, e eu já estava no limite.
Era tanta falsidade que chegava a ser nojento.
Na sexta-feira, o pai da Briana me procurou e ofereceu cinquenta e cinco
por cento das ações da sua empresa. Tal como eu previa, quando a notícia do
fim da nossa parceira correu os mercados internacionais, as ações da marinha
Costant caíram, a empresa passou a valer menos, e ele não tinha como me
pagar.
Pedi sessenta por cento e, apesar de estar roxo de raiva, ele aceitou.
— O mundo dos negócios é cruel… muito cruel… — murmurei dando um
sorrisinho cínico.
Resultado: eu sou o novo acionista majoritário da empresa da família da
Briana e sabe o que é melhor? Ela ainda nem sabe.
Com a primeira parte do plano concluída, agora era vez de William
entrar em cena, e o Conde fez o serviço direito. Ele enredou a vadia direitinho.
Isso só com boa conversa e nada de beijos ou qualquer outra coisa de cunho
sexual. William tinha uma lábia dos infernos, eu nunca o vi em modo
conquistador antes. E, cara, ele era profissional. De longe eu e Dimitri
conseguimos ver a forma atirada com que Briana o tratava. Toda melosa e
derretida, parecia que ia virar uma poça d’agua diante do conde.
— É uma puta mesmo! — Dimitri rosnou e eu ri.
— Preciso que ela seja ainda mais!
Com apenas três encontros o Conde fez o que ele deveria. William nos
contava que ela estava encantada com a atenção que ele estava dispensando a
ela, mas mesmo assim a puta safada não escorregou nenhuma vez, e isso foi
foda. O conde dava de ombros indiferente, dizendo que para tudo havia hora,
agora o tiro havia sido dado.
Eu ainda não sabia com certeza se tínhamos tido relações sexuais. Era a
palavra dela contra minha confusão daquele dia.
No final da segunda semana, eu não aguentei mais esperar. Chamei o
Dinka e o conde, juntos, pesquisamos sobre testes de gravidez e vimos que com
duas semanas já dava para saber se a mulher estava ou não grávida. Eu ainda
rezava por algum milagre.
Liguei para Briana e ela ficou toda feliz porque iríamos sair, mal sabia
ela que era para uma clínica. Apesar de estar com ódio, a vadia não pôde fazer
nada, a não ser aceitar.
Como meu advogado, Dimitri foi junto. Eu queria um respaldo, qualquer
coisa que eu pudesse usar contra a maldita. O trajeto foi feito em silêncio.
Chegando à clínica, eu já notei que a puta estava pálida e nervosa.
— Viemos ver a Dra. Jane Malony — falei para a recepcionista.
— Nome, senhor?
— Briana Costant — respondi seco.
— A Dra. Malony está aguardando vocês — respondeu nos acompanhado
até uma porta.
Não prestei atenção na clínica em si, eu só queria uma coisa dali e era
um sonoro “não está grávida” ou “negativo”… sei lá…
Entramos na sala e uma mulher de meia-idade com expressão serena nos
atendeu.
— Prazer, eu sou a Dra. Malony, quem é o marido da paciente?
— Nenhum! — respondemos juntos eu e o Dinka.
— Ah, então vocês podem, por favor, aguardar do lado de fora?
— Não podemos! — respondi curto e grosso. — Vamos acompanhar todo
o procedimento.
A partir daí começou uma série de perguntas, eu e Dimitri estávamos
encarando Briana como dois falcões, um erro e a gente pegava!
Mas a vadia estava respondendo tudo com calma. Quase como um texto
decorado.
Desgraçada!
— Primeiro vamos fazer o exame de sangue para confirmar a gravidez —
a doutora falou, fazendo algumas anotações.
Briana foi encaminhada para uma sala e logo a doutora voltou.
— Quais as chances de o resultado dar errado? — perguntei assim que
ela sentou.
— No exame de sangue é 99,9% de chance de acerto — respondeu dando
de ombros. — Esse 0,1% é só para dizer que tem uma margem de erro, que a
meu ver é completamente irrelevante.
— E esse exame de sangue mostra de quanto tempo ela está? Digo, se ela
realmente estiver, é claro.
— Sim, o Beta HCG é um exame feito com um soro reagente para o
hormônio chamado Ganadotrofina Cariônica Humana, as mulheres grávidas
liberam esse hormônio. A partir da dosagem sanguínea, saberemos se é positivo
ou negativo. Depois avaliamos a tabela de seguimento. Não se preocupe,
saberemos de quanto tempo ela está, aproximadamente.
— Existe algum exame mais seguro? — perguntei já começando a sentir
ansiedade.
— Sim, a ultrassonografia mostra o feto, mas só a partir de quatro
semanas. Antes, só aparecerá o útero aumentado e o endométrio espesso. — A
doutora me olhou e deve ter compreendido meu problema, porque perguntou: —
Me diga: quanto tempo ela teria que ter se estiver mesmo grávida?
Rapidamente, fiz os cálculos. Cheguei no sábado em Nova York, a safada
entrou em meu quarto no mesmo dia, então, isso até hoje dá…
— Dezesseis dias — falei com firmeza, e Dimitri balançou a cabeça
concordando.
— Isso dá menos de três semanas, mas já dá para ver, porque é pouco
tempo de diferença, a questão é que saberemos se ela estiver com mais, então é
torcer e esperar que não dê nada.
Pouco tempo depois, Briana voltou, e a puta sorria.
Fiquei irado, mas me segurei.
Cerca de meia hora depois, uma moça trouxe o resultado. Ela olha para
mim e para Dimitri, saindo em seguida.
— Bem, vamos ver o que temos aqui… — A doutora fala e abre o exame.
Observo-a passar os olhos e depois de alguns segundo ela me olha e vira o
exame para mim. — Veja aqui, olhe o resultado.
Beta HCG
Quantitativo…………… 52 mUI/ml
— O que isso quer dizer? — perguntei com voz grave. Eu sentia uma mão
apertando meu coração.
— Isso que dizer, querido, que eu estou grávida e você é o pai! — Briana
falou e eu não aguentei, fui na direção dela, pronto para esganá-la, quando
Dimitri apareceu em minha frente.
— Não invente! — grunhiu em russo. — Temos que ser frios e calculistas
como ela foi!
Respirei fundo cruzando os braços.
— Quanto tempo, doutora? — Tentei evitar a forma brusca como minha
voz soou, mas foi impossível.
— Ela está perto de três semanas. Os cálculos são exatos, e a margem é
de poucos dias…
Fechei meus olhos quando senti que tudo desabava em minha cabeça. Eu
estava começando a tremer de ódio.
— Repita o exame! — pedi e foram feitos mais dois testes. Todos deram
positivo. Todos acabaram comigo.
Pedi para Dimitri sair com Briana e fiquei sozinho com a doutora para
conversar.
— Me diga qual exame eu faço para comprovar se esse filho é mesmo
meu antes que ele nasça!? — perguntei nervoso, mesmo sabendo que o filho era
meu. Pois desde aquele fatídico dia, dois seguranças vigiam a puta dia e noite.
— Tem um exame de DNA que pode ser feito no feto, mas ele precisa
estar em idade gestacional segura, e mesmo assim eu não recomendo, porque é
invasivo e podem haver complicações.
— Dra. Malone… — proferi seu nome de forma não muito confiante
quando uma ideia passou pela minha cabeça. Eu teria coragem de tal ato? Era o
que eu estava me perguntando.
— Meu filho, eu sei o que você vai perguntar, e eu digo para você que
essa não é a melhor saída — falou com a calma de anos de prática. — Não
consideraria, você certamente terá isso pesando sobre sua cabeça nos anos
vindouros.
Respirei fundo, assentindo, naquele momento eu soube que meu inferno
estava começando.
Como vou ficar sem minha garota? Se as coisas fossem simples, mas não
são. Eu não posso ter um filho bastardo, eu não sou um homem para isso!
PORRA! — gritei silenciosamente e saí do consultório. O Dinka e a puta
me aguardavam na sala de espera. Passei pelos dois e saí da clínica. Comecei a
andar, pensar, planejar.
Passei o dia assim, caminhando sem rumo.
Já era noite quando voltei para meu apartamento. Os meus amigos me
receberam com expressões carregadas. Entretanto, o mais abalado era o Conde.
Ele estava furioso e ao mesmo tempo abatido.
Então ele me deu um abraço e murmurou baixo:
— Vamos dar um jeito! Vou resolver.
Balancei a cabeça, e nos organizamos para voltar para Londres. Fiz a
viagem toda em silêncio. Nem Dimitri nem William puxaram conversa. Nunca
pensei que me sentiria dessa forma. Eu sempre me orgulhei da minha
perspicácia e agilidade de raciocínio. Mas agora eu nem sei por onde começar.
Escolher entre Victória e meu filho…
Eu quero minha garota com todas as forças do meu coração, mas sei que
se meu filho nascer um bastardo, ele sofrerá sendo apontando, humilhado,
escorraçado como um erro. Sim, a sociedade em que vivo é mesquinha, vil e sem
piedade. Ademais, meu pai me criou para ser um homem que assume suas
responsabilidades. Não posso ser egoísta segurando Victória do meu lado
quando tudo aponta para que esse bebê seja meu. Ainda tem o DNA, mas até ser
seguro para a criança, eu já estarei na merda.
Cheguei à minha cobertura e a primeira coisa que vejo é um pratinho de
cookies. Sorri triste quando vi a pequena frase sustentada por uma pequena
plaquinha. Meu peito comprimiu mais um pouco. Entrei e fui direto para o
quarto. E lá estava ela… Linda em seu sono.
Não pensei que poderia doer mais, entretanto eu estava enganado, agora
eu sentia como se estivesse vivendo meus últimos minutos de vida.

Volto à realidade com um rugido de ódio e negação. A partir de hoje, o


inferno de Briana Costant começa.
Peguei meu telefone e liguei para o diretor administrativo da Marinha
Costant.
— Sr. Masari, a que devo a honra? — perguntou solícito, antes que
esqueça, houve uma reunião sigilosa com os diretores para me apresentar como o
novo CEO da empresa.
— Eu quero que você corte todos os cartões de credito de Briana Costant,
retire o acesso que ela tem às contas. Barre qualquer possibilidade que exista de
ela pegar dinheiro da empresa.
— Sim, senhor — prontificou-se, de cara eu gostei de como ele foi
discreto. Sem perguntas idiotas.
Desliguei e liguei para o meu piloto.
— Senhor?
— Estamos voltando para Nova York em duas horas.
— Vou preparar tudo!
Desliguei e fiquei olhando para a tela do celular. Pensei, repensei, decidi
ligar para Jason. Eu precisava me certificar de que ele cuidaria da minha garota,
agradeci por ele ter se tornado um bom amigo. Não me prolonguei, caso contrário,
eu estaria correndo o risco de jogar tudo para o alto. Por fim liguei para Dimitri,
pedindo para que ele prestasse atenção em Blanchet, fiz o mesmo com William,
porém o conde estava monossilábico, distante.
Duas horas depois eu estava embarcando para NY. Sentei em minha
poltrona e de forma quase inconsciente eu comecei a brincar com minha aliança
que eu havia tirado e colocado em uma corrente. Eu iria usar pendurado em meu
pescoço e não tiraria de jeito nenhum.
Durante a viagem eu relembrei meus melhores momentos com minha
garota. A forma como nos amamos. Eu sei que nossa história foi interrompida, e
que, quando tudo acabar, nós voltaremos. Entretanto não posso negar o medo que
eu sinto de algum outro marmanjo…
Nem concluí o pensamento, a simples ideia me deixa com impulsos
homicidas.
Respirei fundo, pedindo a Deus paciência. Seria uma longa espera.
E eu só queria poder suportar pelo menos metade. Pois, para mim, a
saudade já está sendo dilaceradora.
— Ah, minha pequena, nossa história ainda não terminou.
Cheguei a NY e assim que coloquei meus pés em solo americano eu sorri.
Não era um sorriso cordial, não, quem em olhasse pensaria que estou sorrindo
talvez porque eu esteja feliz. Mas quem me conhecia muito bem, sabia que era
hora de correr, porque esse tipo de sorriso que estou dando agora é o tipo de
sorriso que o leão dá quando crava as garras em sua presa.
Vitória misturada com satisfação. Eu não ganhei nada, mas terei a
satisfação de ver a puta safada da Briana caindo do cavalo.
Respirei fundo e comecei a andar até meu carro. Acabou a expressão
derrotista, o corpo encurvado. Eu estava andando esticado, natural, com a
elegância dada pela arrogância que eu podia ter.
Entrei em meu Audi R8 Spider marrom, eu mesmo queria dirigir, agora era
ostentar, mostrar poder e aterrorizar. Sim, eu iria para dividir e conquistar, nesse
caso, retaliar.
Cansei de ser bonzinho, voltarei a ser o Rocco cínico, frio, calculista e
sem piedade. Eu avisei que não sou um mocinho, e vou mostrar o porquê.
Saí do aeroporto John F. Kennedy cantando pneu, a capota do carro
baixada deixando-o em modelo conversível. O vento açoitava meu cabelo
enquanto eu me dirigia para Manhattan. Levei esse tempo apenas afinando meu
plano, modelando-o. Eu queria tudo perfeito. Tenho recursos ilimitados para
ensinar uma ótima lição à puta safada. Então eu quero ver Briana implorar, porque,
porra, eu só quero ver o que ela fará quando eu colocar as cartas na mesa.
Sorri.
Agora entendem esse tipo de sorriso? Pronto, estamos avançando para a
compreensão do tipo de homem que sou. Só deixando claro que, por mais puto e
louco de raiva que eu esteja, bastaria um estalar de dedos da minha mulher e eu
estaria basicamente rolando e fingindo de morto.
Quase uma copia do pulguento. Na moral, Victória é uma feiticeira, minha
feiticeira.
Pela primeira vez desde que a deixei meu sorriso foi sincero.
Victória sabe quais botões apertar… mesmo estando longe.
— Foco, seu bastardo! — rosnei ajeitando meus óculos escuros. — Você
tem que deixar sua mulher guardada em sua mente e coração, agora seu foco é
transformar a vida da puta sorrateira em um inferno.
Cheguei a Manhattan e fui para o lado onde havia várias igrejas. Dirigi
com calma, para ver se eu conseguia encontrar o que eu precisava. Depois de
vários minutos percorrendo as ruas da cidade, eis que eu encontro o que tanto
preciso. Encostei o carro e várias crianças correram para perto.
— Tio, que carrão… — um garotinho moreno falou de olhos arregalados.
— Posso entrar?
Olhei para ele e vi seus olhos brilhando excitados.
— Você é o maior de todos, então você cuida do carro! — falei
assanhando o cabelo dele. — Você é o guardião, então cuidado com sujeiras no
banco e arranhões — Sorri, mas guardei a chave no bolso. — Posso confiar em
você?
— Sim, sim, tio eu vou cuidar, prometo — respondeu eufórico e eu sorri.
Caminhei entre as pessoas que havia ali, não sei o que estava acontecendo,
mas havia várias barracas com roupas, sapatos, brinquedos, comidas…
— Com certeza eu vou encontrar o que preciso aqui — murmurei baixinho
e parei em uma barraca de roupas.
— Bom dia, meu filho, você veio doar alguma coisa? — perguntou uma
freira, me encarando com um sorriso terno.
— Bom dia, por favor, o que é tudo isso? Vocês estão recebendo doações
ou vendendo as peças? — perguntei, retirando meus óculos, cuidadosamente, os
coloquei na gola da minha camisa.
— Ah, isso aqui é uma feira de produtos usados, temos sapatos, roupas,
brinquedos… — respondeu minha pergunta sorrindo. — Estamos levantando
fundos para reformar a sala de música da nossa igreja. A propósito, me chamo
Maryann — falou, estendendo a mão.
— Rocco Masari. — Aceitei sua mão, fazendo um cumprimento.
Eu juro que nesse momento queria beijar a bochecha da irmã. Nem vou
precisar procurar, aqui eu tenho tudo que preciso.
— Irmã Maryann, eu acho que podemos fechar um ótimo negócio.
— O que você quer, meu filho?
— Eu preciso de uma guarda-roupas completo para uma moça mais ou
menos parecida com… — Olhei ao redor e avistei uma moça na barraca dos
brinquedos, ela estava de jeans e blusa de mangas compridas, mas dava para ver
que tinha o porte físico igual ao que eu precisava.
— Eu gostaria de saias, vestidos e blusas para uma moça com o tipo físico
daquela ali… — falei apontando para a moça que vi, e a irmã sorriu.
— Aquela ali é a sobrinha da Beata Mary Clarence.
— Pronto, eu preciso de roupas que sejam extremamente recatadas. —
Quase não conseguia segurar o riso. — Mangas compridas, gola alta, o
comprimento das saias abaixo do joelho, por favor…
— Venha comigo, tudo que precisa irá encontrar na barraca da Mary
Clarence… — chamou e eu a acompanhei.
Cara… caramba, eu estava começando a me divertir com isso. Claro que
eu sabia que, quando olhasse para a cara daquela pu… daquela safada, eu iria ter
minha raiva batendo na porta.
“Nossa, como é difícil querer soltar um palavrão e não poder… Porr…
eu estou em frente a uma igreja e aqui está cheio de freiras, tenho que controlar
minha língua. Merd… droga”, pensei, revirando os olhos.
— Mary Clarence, minha querida, esse rapaz precisa das roupas da sua
barraca.
Dio mio! Abafei uma exclamação quando a mulher virou para mim. Ela
estava vestida toda de preto, tinha os cabelos presos em um coque com uma trança
atravessando sua cabeça como uma tiara, e não havia um fio de cabelo fora do
lugar. O pior era a cara de bulldog raivoso que ela tinha.
— Do que precisa? — perguntou com voz de velório, e eu me encolhi, a
mulher era assustadora e, se não me engano, eu acho que vi um bigodinho ali.
— Saias… — Pigarreei, clareando a garganta. — Vestidos, blusas. Tudo
muito comportado, o mais comportado possível… Eu quero o mínimo de pele
exposta.
A mulher sorriu como se aprovasse minha atitude e começou a mexer nas
pilhas de roupas cuidadosamente dobradas e separadas.
Nossa, ela era rigorosa.
Então uma ideia surgiu em minha mente.
“Será que ela toparia ser minha governanta? Correção governanta e
carrasca da put…?”, me perguntei quase ansioso para ver a cara da safada
quando ficasse de frente para Mary Clarence.
— Qual seria o tamanho? — perguntou solícita.
— A pessoa que precisa dessas roupas tem o tipo físico da sua sobrinha, a
irmã Maryann disse que são parentes.
— Ah, sim… — falou estreitando os olhos de águia para mim. — Eu sei o
número dela. Agora vamos escolher.
— Tudo que servir irei levar, e pode ficar um pouco folgado também, a
pessoa que vai receber essas roupas está grávida — grunhi no final da frase, foi
inevitável. Juro por Deus que estou parecendo um bipolar, na verdade, eu devo ser
mesmo, porque em um momento eu penso em Victória e me derreto todo, já no
outro, a Vadia safada entra em meus pensamentos, aí eu sinto ódio espumante.
— E você quer evitar que os pecadores olhem para ela, não é, meu filho?
— perguntou chamando minha atenção.
Durante dois segundos eu encarei Mary Clarence e logo eu sabia o que
deveria dizer para ela ficar do meu lado.
— Também, mas acontece que ela estava muito desvirtuada, vivia em
baladas, bebendo, fazendo coisas que Deus não perdoaria…
— Que horror! — exclamou arregalando os olhos, mas tão rápido quando
surgiu sua expressão voltou a de morta-viva. — Faz bem em cuidar da dignidade
dela. Eu tenho as roupas perfeitas — falou balançando a cabeça. — Foram minhas,
todas minhas…
Nossa, não quero nem saber quantos anos essas roupas têm! Mas para mim
elas eram ainda melhor do que eu pensava.
Eu não poderia ter escolhido lugar melhor. As roupas eram… Eu nem
conseguia descrever, só sei que para o que eu queria, elas seriam mais que
perfeitas.
Fiquei bastante tempo conversando com Mary Clarence, ela discursou
sobre como as mulheres estavam perdidas e que os homens não precisavam mais
sair de casa, era só ligar e elas iriam até eles. Ela me falou também que era a
favor do cinto de castidade e da penitência… e que a fornicação é um pecado
capital. Terminou o monólogo dizendo que eu estava certo em fazer isso com
Briana, ela precisava aprender.
Acho que encontrei minha melhor amiga! Quase ri, a verdade é que eu
tive que contar uma parte das coisas para Mary Clarence, lógico que com edições.
E, sim, me lembrar de nunca, jamais deixá-la frente a frente com o Dinka.
Ela me apoiou, disse que eu tinha mesmo que ensinar a Briana como as
coisas são. E, ah, disse também que quanto mais escassa de luxos fosse a nova
vida dela, melhor.
Não me culpem por deixar escapar que Briana é uma riquinha mimada e
esnobe. Que tem tudo a seus pés e acha que todos são seus empregados.
O conselho de Mary Clarence?
Ela disse que eu deveria manter Briana a pão e água, além de rezar durante
o dia inteiro, pedindo perdão dos pecados. Não poderia deixá-la a pão e água,
afinal, a infame está grávida, mas não sou contra ao resto. Bom, meu trabalho aqui
ficou muito mais fácil, agora Mary Clarence escolhia até os sapatos apropriados.
Cara, estava melhor do que eu pensei.
Quando eu já tinha tudo que precisava e mais, fiz a pergunta que martelava
em minha cabeça.
— Mary Clarence, você teria, de algum modo, a possibilidade de se tornar
a governanta e mentora da Briana? — Eu tive que cuspir o nome da cínica. Só
assim para conseguir falar.
— Eu vou poder educá-la da minha maneira? — perguntou duvidosa.
Peguei as duas mãos dela e sorri.
— Você terá carta branca, total autonomia e eu nunca, jamais, irei tirar uma
ordem sua… — falei convicto. — E irei pagar um ótimo salário…
— Se é assim, eu aceito. — Sorriu, e eu mais ainda.
Que soquei o ar de alegria, mas me contive. Mary Clarence era… ela era
muito… rígida…
Ah, cara, achei o general para colocar Briana na linha.
— Mas eu preciso que você venha comigo ainda hoje! — falei ansioso.
— Claro, eu vou avisar a irmã que estou indo atender a um chamado de
Deus… — falou, beijando a cruz no terço.
Enquanto Mary Clarence foi falar com a irmã, eu caminhei até uma barraca
vazia. Precisava fazer um cheque com uma doação para a reforma da sala de
música. Estava terminando de preenchê-lo quando sinto um puxão em meu casaco.
Olhei para baixo e vi uma linda garotinha de cabelos castanhos e olhos
verdes, ela sorriu para mim quando notou que eu prestava atenção, sorri de volta,
percebendo que faltavam alguns dentes em sua boca.
— Oi, moço! — falou sorrindo, e suas bochechas ficaram coradinhas. Ela
era linda. Lembrava-me… respirei fundo, sustentando meu sorriso que já queria
morrer.
Maledetta saudade.
— Oi, princesa, como vai? — falei, estendendo uma das mãos, segurando
meu sorriso no lugar. — Rocco Masari, a quem devo a honra?
— O quê? — perguntou confusa, me fazendo rir baixinho, acabei de ficar
mais leve. — Seu nome…
— Ah, eu me chamo Victoria.
Eu dei um passo atrás quando ouvi seu nome. Foi quase um golpe físico.
Dio santo… Engoli a emoção, fechando os olhos por alguns instantes.
— Moço? — chamou, tornando a puxar minha roupa.
— O-oi, pequena — sussurrei.
— Compra um anel de casamento para mim? — falou toda linda, juntando
as duas mãos enquanto balançava levemente. Ela sorria e piscava os olhinhos de
cílios longos.
“Dio mio, não faça isso comigo”, pedi, sentindo uma rachadura surgir em
minha armadura gelada.
— Qual você quer? — perguntei com um fiapo de voz e ela apontou para a
barraca ao lado da que estávamos.
— Mamãe, o moço vai comprar o anel e vai casar comigo! — falou toda
contente assim que me virei para a outra barraca.
— Me desculpe, senhor mas Victoria assiste muitos contos de fadas e ela
colocou na cabeça que o príncipe dela será o Erik, do filme a Pequena Sereia, ou
seja, cabelos pretos e olhos azuis…
Não pude evitar a pequena gargalhada que soltei. Olhei para a linda
Victoria e ela estava ainda mais coradinha.
“Está aí o motivo pelo qual eu não tenho nervos para ser pai de
menina!”, pensei sentindo um calafrio de medo.
— Olha, princesa, vamos fazer assim: eu compro o anel e você guarda, eu
sou muito, muito velho para você, mas um dia você terá o seu Erik. — Alisei seu
cabelo e ela foi escolher o anel, aproveitei para dizer a sua mãe que não deixasse
a pequena sair de suas vistas. O mundo está perigoso demais, nunca se sabe…
— Eu quero esse aqui. — Ela escolheu um anel pequeno com uma
borboletinha rosa no topo. Comprei e dei para ela, recebi um abraço apertado
junto de um beijo estalado na bochecha.
— Eu vou esperar por você! Então, quando eu crescer, a gente se casa —
falou sorrindo.
— E não prefere ficar solteira? — perguntei divertido, arqueando uma
sobrancelha.
— Ser solteira é melhor para as meninas, mas não para os meninos —
falou pensativa, franzindo a testa de um jeito fofo.
— E por que para os meninos não é bom ficar solteiro? — questionei
dando um sorriso largo.
Ela era muito, muito inteligente e linda. Era quase como uma minicópia da
minha Victória.
Suspirei entre emocionado e triste. A saudade, como eu disse, estava
fazendo estragos.
— Então não vai me responder? — perguntei, e ela me encarou e falou de
forma muito séria.
— Os meninos precisam de alguém para limpá-los! — respondeu e saiu
correndo para se juntar a outras crianças que havia ali.
Fiquei um tempo sem reação. Depois eu gargalhei, porque foi inevitável.
Por um momento eu esqueci o motivo para estar ali.
Entretanto foi um sentimento rápido. Mas algo havia dado uma pequena
reajustada em meu coração. Quando vim para NY eu estava pronto para ser frio e
duro, voltar a ser o mesmo Rocco do início. Mas não, minha garota me mudou
irreversivelmente, eu não tenho como voltar a ser o mesmo cínico desacreditado.
Afinal, eu conheci o amor.
Mas… Briana provocou minha ira e terá uma boa dose dela…
Levantei para ir encontrar Mary Clarence quando algo me chamou atenção.
Em meio a tanta quinquilharia brilhante eu vi um saquinho com vários
anéis coloridos. Peguei dando uma conferida no material e constatei que os anéis
eram de plástico.
Dei um sorriso largo.
— Vou levar isso aqui… — falei e nem acreditei no preço, sorri ainda
mais quando paguei e o guardei dentro do bolso do meu casaco.
Briana não perdia por esperar.
Capítulo 24
Rocco

Estava a caminho da mansão de Anthoni Costant quando resolvi que


deveria contar a verdade para Mary Clarence. Ela era uma mulher muito rígida,
contida e, pelo que notei, autoritária. Eu precisava dela ao meu lado do jeito certo,
já chega de surpresas desagradáveis na minha vida.
— Mary Clarence… — chamei seu nome e ela me olhou, a pobrezinha
estava toda dura no banco do passageiro. E olha que eu nem estava andando
rápido.
— O que foi? — perguntou com voz baixa. Notei que estava amedrontada.
E isso porque eu levantei a capota para diminuir a intensidade do vento.
— Eu preciso falar a verdade sobre o que está acontecendo — falei baixo,
mas não a olhei, eu estava com os olhos fixos na estrada.
— Não gosto de mentiras! — bradou. — Você mentiu para mim? Eu pensei
que fosse sincero.
— Calma, eu não menti, apenas omiti alguns fatos e acho que deve saber,
para poder trabalhar tranquila.
— Conte!
— Na verdade, Briana não é minha noiva ainda, eu estava noivo de outra
mulher, a que eu amo. — Suspirei e continuei. — Eu vim para NY resolver alguns
problemas empresariais, mas eu estava doente e sob efeito de um forte
medicamento chinês, bom, o fato é, Briana pagou uma camareira e invadiu meu
quarto, não me lembro do que aconteceu, agora ela está grávida e diz que sou o
pai, fiz exames e eles confirmaram o tempo aproximado de concepção. — apertei
o volante — Eu simplesmente a odeio! Mas tem o bebê…
— Deus me mandou para purificar essa devassa! — exclamou me pegando
de surpresa. — Meu filho, já parou para pensar que esse bebê pode não ser seu?
Caralho!
— Na verdade, eu concentrei meus esforços em acreditar que ela não
estivesse grávida — proferi em tom reflexivo. — Eu fiquei completamente louco
quando soube, fora da minha zona de conforto. — Suspirei. — Bom, eu sei que
tem o exame de DNA, mas a doutora Malone disse que era mais seguro fazer
quando o bebê estiver em idade gestacional segura. O que ferra é o fato de Briana
gostar de fazer drama, com certeza ela armaria um escândalo. E tenho certeza que
ela iria fazer perfeitamente o papel de vítima.
Ficamos em silêncio, então continuei:
— Eu não quero minha Victória tendo que passar por um escândalo desses.
Eu precisava de uma confirmação e, quando o exame mostrou que a vadia está com
as semanas certinhas ao dia em que ela entrou em meu quarto, não cogitei essa
possibilidade. Seria loucura da parte dela, Briana é uma safada, mas não é
possível que seja tão burra.
— Ela deve ter sido usada pelo inimigo! — falou alto e eu tive que olhar
para ela por um momento. — Confie em mim, vou reeducá-la e ela ira falar a
verdade. E sobre sua Victória, você fez bem, não tem por que envolvê-la nisso.
— Então você vai me ajudar?
— Claro, e estarei mais empenhada que antes! Vou descobrir a verdade,
mas até lá, seja bonzinho e deixa a Victória em paz, porque se por acaso a Briana
estiver falando a verdade, sua moça não vai sofrer duas vezes.
— Eu quero Victória… — rosnei baixo, puto de raiva.
— Você vai tê-la, mas antes precisamos descobrir se Briana fala a verdade
ou mente. Vou fazê-la enxergar a verdade e buscar a salvação. Finalmente poderei
ensinar o caminho correto a alguém.
— Droga! — Bati no volante. — Não quero ter que esperar tanto. Eu me
despedi há algumas horas da minha garota e já estou louco de saudade.
— Vamos ver até quando Briana aguenta meu método de ensino. — Sorriu
misteriosamente.
Concordei, porque não tinha mais o que fazer. Eu precisava descobrir a
verdade, agora que a dúvida foi plantada, eu estaria em alerta total.
“Se Briana estiver feito esse circo todo para me fazer assumir o filho de
outro, eu sou capaz de…”, nem concluí o pensamento, porque eu realmente nem
sei do que sou capaz, só digo uma coisa: Ela vai se arrepender de ter nascido.
— Rocco, posso propor uma coisa? — Mary Clarence chamou minha
atenção quando chegamos ao bairro chique onde a família Costant tinha, uma casa
em NY.
— Claro que pode — respondi.
— Eu quero que você me permita levar Briana para minha casa!
Fiquei em silêncio enquanto ponderava. Logo estava parando o carro nos
grandes portões de ferro da propriedade Costant.
— Eu tenho uma casa em um bairro simples e é bem austera. Lá não tem
luxos nem mordomia, apenas o fundamental para viver seguindo as regras da
abstinência.
Olhei para a mulher sentada ao meu lado e nem acreditei no que ela disse.
Seria ainda mais perfeito do que eu pensei. Ideal, na verdade. Briana terá um
vislumbre do seu futuro. Porque, claro, se o bebê for meu mesmo, vou assumi-lo
com tudo que tem direito! Mesmo a contragosto. Todavia, ao contrário do que ela
pensa, não terá uma vida de esposa de bilionário, cheia de festas e glamour, não, a
vida de Briana ao meu lado será exatamente igual à que Mary Clarence lhe
mostrará.
Sem luxo, sem excessos, sem mordomia, sem dinheiro e sem algo que ela
disse não conseguir viver sem: banho quente.
“Dio Mio, per favore…”, implorei silenciosamente. — “Não permita que
seja meu.”
— Fique a vontade. — ri baixo — Sei que fará o melhor.
— Perfeito! — concordou imediatamente. Então ela sorriu, mas não foi um
sorriso normal, parecia um sorriso de alegria perversa.
Nem liguei.
Os portões abriram com um rangido alto, autorizando nossa entrada.
Arranquei com o carro e parei em frente à casa de Briana.
— Vamos, é hora do show! — saímos do carro, e fomos em direção à porta
de entrada. Uma mulher uniformizada nos recebeu, me anunciei e logo estávamos
sendo encaminhados até a sala.
A primeira visão que tive de Briana me fez ver vermelho. Eu me sentia
soltando fumaça, como um touro bravo. Era tanta raiva queimando dentro de mim
que eu tremia.
— Querido, que maravilha que veio, nem acredito! — exclamou vindo em
minha direção, equilibrando-se em saltos enormes e em um microvestido amarelo,
então, antes que ela pudesse chegar muito perto, Mary Clarence se colocou em
minha frente.
— Uma mulher deve se dar ao respeito! — proferiu com voz uniforme.
Eu sorri com escárnio vendo a cara horrorizada que Briana fez quando
olhou para a mulher diante de si…
“Ah, isso vai ser interessante!”
— Quem você pensa que é, criatura estranha? — a vadia rosnou
grosseiramente. — Você está em minha casa e deve me respeitar… ridícula,
parece uma morta-viva.
Estreitei meus olhos, furioso.
“Essa maldita é muito cretina mesmo!”
Desgraçada! Por um momento me preocupei, mas quando a olhei, sua
expressão permanecia inabalável. Ela encarava Briana fixamente e sem piscar.
— Ela é pior do que pensei! — Mary Clarence falou e olhou para mim,
mas estranhamente ela sorriu. — Isso é ainda melhor.
— Melhor para quê? — Briana interrompeu. — Ah, não importa! Rocco,
querido, eu estava falando com o papai sobre meus cartões e meu acesso às contas
da empresa, ele disse que só você poderia explicar. Então, o que houve?
Cruzei os braços e falei o mais debochado possível.
— Novas regras, você não tem mais acesso às contas nem aos cartões. Ah,
outra coisa, o seu carro vai voltar para a empresa!
— O QUÊ? — gritou, perdendo a cor do rosto, então virou-se para o pai.
— Pai, o que está acontecendo aqui? Que palhaçada é essa? Faça alguma coisa!
— Minha filha, eu sinto te informar, mas eu não posso fazer nada, a nossa
empresa… — O velho engoliu em seco e baixou a cabeça. — Eu perdi a nossa
empresa, ela agora pertence ao Rocco, ele tem sozinho sessenta por cento das
nossas ações e nós apenas dez, os outros trinta estão distribuídos por acionistas
menores e…
Briana olhou para mim com uma cara tão assustada que eu quase gargalhei.
Ela não tinha um pingo de cor no rosto, nem a maquiagem conseguia esconder a
palidez em sua pele.
— Surpresa! — Sorri irônico e ela cambaleou, sacudindo a cabeça
negativamente. — Eu te avisei para não brincar comigo, eu te disse que me
deixasse em paz! — rosnei alto e ela se encolheu. — Sua nova vida começa agora!
— Olhei para minhas unhas displicentemente. — Vamos aos fatos, você diz que
está grávida de um filho meu, ótimo, isso me dá direitos, portanto, você vai me
obedecer!
— Eu não sou obrigada! — exclamou olhando para o pai.
— Vamos lá, Sr. Costant, explique as coisas para sua querida filha
entender!
— Pai, o que está acontecendo?
— Filha, eu fiz um mau investimento, não consegui pagar, as ações da
empresa caíram, Rocco cortou as relações comigo. Perdi clientes e pedido… Tive
que vender seu apartamento e hipotecar essa casa e a de Londres. Os 10% que
tenho da empresa não pagam nem seus luxos nem os da sua mãe. Estamos nas mãos
do Sr. Masari. Ele dita as regras.
Briana virou-se para mim e eu congelei a cena.
Vocês deveriam ver a cara dela agora. Sabe aquela famosa obra de arte
intitulada O Grito?
Ela estava tão apavorada que os olhos quase saltavam, de tão arregalados.
A boca estava aberta em choque e pânico mudo. Ela estava até meio despencada,
quase como se perdesse as forças.
E eu estava saboreando o momento.
Voltando à real. Briana me encarava tremendo e com medo. Mas, nossa, eu
ainda nem comecei direito.
— Pronto, você entendeu que eu dou as cartas agora, não é? — grunhi e ela
sacudiu a cabeça. — Primeiro você ficará sem dinheiro para deixar de ser safada
e não fazer mais a merda que fez comigo. Nunca mais você vai pagar ninguém para
conseguir realizar seus planos sujos.
— Oh, Deus! — ofegou e os olhos se encheram de lágrimas.
Bom.
— Segundo, você vai juntar todas as suas roupas e sapatos de grife, vai
entregá-los a Mary Clarence.
— Você está louco — sussurrou e as primeiras lágrimas escorreram.
— Você ainda não viu nada! — ronronei perversamente. — Suas joias
serão leiloadas e o valor será doado para alguma igreja ou instituição que Mary
Clarence escolher. Nada de maquiagem, nada de salão de beleza, acabaram as
festas e, principalmente, sem celular.
— O que você faz com minha filha é completamente medonho e ilegal! —
A Sra. Costant exclamou, indo abraçar a filha. — Ela está grávida de um filho seu,
você deveria agradecer por ela carregar sua descendência…
— Anthony, a sua esposa sabe que eu cedi o dinheiro para pagar os
empregados e as contas da casa desse mês e do próximo?
A mulher arregalou os olhos e suavemente soltou a filha, deixado-a
sozinha.
— Continuando: você queria ser minha noiva, pois bem, conseguiu, agora
tire esse anel e use o que vou te dar! — rosnei, vendo Mary Clarence indo até ela
e estendendo a mão.
Briana retirou o solitário de diamante com o qual fez todos pensarem que
eu havia lhe presenteado e colocou na palma da mão da beata.
— Vo-você vai me dar um diamante rosa? — perguntou, e eu quase ia para
cima dela lhe dar umas sacudidas.
Filha da puta!
— Um só não, vou te dar vários. Todas as cores, na verdade!
— Ohh! — Abafou o gemido e vi seus olhos brilhando. Ela estava quase
sorrindo.
Não tão rápido, cadela!
Tirei do bolso do meu casaco o saquinho com os anéis de plástico, eles
imitavam um solitário. Sorri do momento, eu queria ter filmado para o Dinka ver.
Porra, ele riria eternamente.
— Toma! — Joguei o saquinho para ela. — Escolhe o que achar melhor, aí
tem todas as cores, e outra coisa, não quero olhar para sua cara sem você estar
usando um desses.
— VOCÊ É BILIONÁRIO! — gritou revoltada. — VAI ME DAR UMA
MERDA DESSAS? — completou, jogando o saquinho em meus pés.
Durante uns dois segundos, o silêncio reinou. Nem os insetos faziam
barulho.
Inflei minhas narinas, puxando uma respiração forte. Meu rosto deve ter se
transformado, porque Briana deu alguns passos para trás, ficando ainda mais
pálida que antes.
— Pegue! — exclamei, apontando para o chão.
— Ro-rocco… por favor, vamos conversar eu te a…
— PEGUE AGORA! — rugi descontrolado e ela correu, abaixando-se a
meus pés para recolher o saquinho com os anéis. — Nunca mais ouse fazer uma
coisa dessas, nunca mais levante a voz para mim. Mas, principalmente, nunca mais
ouse duvidar de um aviso meu — grunhi encarando-a fixamente. — A partir de
agora, quando eu disser pule, você só irá perguntar a que altura, ouviu?
Ela não respondeu e eu dei uma risada perversa.
— Você me ouviu?
— Sim, Rocco. — respondeu apática.
— Para você é Sr. Masari! — grunhi e ela balançou a cabeça.
— Concluindo, Mary Clarence é sua governanta particular, ela irá cuidar
dos interesses do meu filho. — Notei que ela se encolheu quando eu disse “meu
filho”, então eu pensei que aí tem coisa e eu vou descobrir o que é. — Ela irá
ditar as regras e você vai obedecer sem pestanejar, ela é a autoridade, e se ela der
uma ordem nem adianta me procurar, não vou fazer nada!
— Isso é terrível. Por que está fazendo isso?
Nem liguei para o que ela disse, continuei:
— Você irá se mudar para a casa da Mary Clarence, e não vai receber visitas sem
autorização. Fará sempre o que sua governanta achar que não deve! — A vadia
sorrateira estava a ponto de desmaiar, uma cor meio estranha estava tomando conta
de sua pele. — Você não precisa levar nada daqui, como eu disse, tudo será
doado. Seu novo guarda-roupas já esta à sua espera! Adeus mordomia para você,
Briana Costant. — Caminhei até parar muito próximo ao seu ouvido e, com minha
voz o mais gelada possível, sussurrei: — Bem-vinda ao inferno.
Capitulo 12
Rocco

De braços cruzados, recostado na parede da sala da mansão Costant,


aparento estar relaxado. Quer dizer, eu vesti minha capa de indiferença, isso me
deixava com cara de tranquilidade, mas estou fervendo a fogo lento. Estar
respirando o mesmo oxigênio que a puta da Briana está sendo demais para mim,
entretanto, eu não gosto de demonstrar fraqueza. Vou até o fim, e que se foda quem
achar ruim.
— Você está sendo cruel! — a Sra. Costant falou, parando em minha frente.
Ergui minha cabeça e dei uma encarada bem fodona para ela. Deixei que a
minha expressão fosse avaliada, daí, quando vi que ela entendeu que não
adiantava, resolvi jogar mais uma pá de terra em sua miséria.
— Cruel eu seria se cortasse o dinheiro de vocês e a senhora tivesse que
fazer as vezes de empregada da casa. — Sorri sarcástico. — Com certeza suas
unhas e penteado não iriam durar um dia.
A mulher ficou branca como um fantasma, mas ainda tentou mais uma vez.
— Não sei o que minha filha viu em você! — falou com os dentes
trincados, me encarando de igual para igual. Ou melhor, ela tentava, mas a minha
altura já a obrigava a levantar a cabeça, que dirá o resto.
— Com certeza não foi o meu carisma! — debochei. — Mas certamente
foram meus bilhões, que, para sua família, serão igual areia de Marte. Intocáveis.
— Seu…seu…
— Sr. Masari. Já estamos prontas! — Ouço a voz de Mary Clarence e olho
para as escadas.
A vontade que tenho é de explodir em gargalhadas. Briana estava vestida
com um vestido pré-histórico de mangas compridas e até os tornozelos, sem
maquiagem, os cabelos iam presos na nuca, ela calçava uma coisa entranha que
nem era sapatilha nem um sapato social. Parecia um meio termo tosco.
— Todas as coisas dela eu deixei prontas para uma das ajudantes da casa
embalar. As joias estão comigo. O salão da Igreja agradece.
Eu ri e peguei na mão de Mary Clarence, dando um beijo casto no dorso.
— Você é incrível, minha querida. Meu filho não poderia estar em
melhores mãos. — Enfatizei a palavra filho e notei que a vadia encolheu-se quase
imperceptivelmente.
Agora tenho mais certeza que aí tem coisa — pensei, sentindo um frio na
barriga. Algo me diz que em breve estarei livre dessas amarras e com minha
Victória em meus braços
— Vamos então? — chamei, olhando Mary Clarence, e ela concordou, mas
antes virou-se para a moça que estava ajudando-a com as antigas coisas da Briana.
— Eu sei exatamente o que tinha de roupa e sapato, irei conferir tudo
quando chegar amanhã! Portanto, nem ouse sumir com nada! — falou baixo e
firme.
Todos olharam para Mary Clarence como se ela fosse uma criatura
mitológica, já eu, apenas ri.
Ah, isso vai ser interessante, e muito.
— Sr. Masari, eu irei no seu carro? — Briana perguntou e eu a olhei, a
safada estava de cara fechada e maxilar travado. Com certeza estava puta de raiva.
Coitada, ainda não viu nada!
— Nas especificações do meu carro tem dizendo para evitar andar com a
capota levantada na chuva e sob hipótese alguma em companhia de vadias — falei,
dando um sorrisinho cínico. — Portanto, sinto muito, você vai de táxi.
— Então você nunca vai levar aquela costureira pobretona, com certeza
ela deve ser muito mais puta do que eu, deve abrir as pernas para quem pagar mais
— rosnou e o tempo fechou.
Assim que terminou de falar, Briana levou as duas mãos à boca e arregalou
os olhos, com certeza ela ouvia as trovoadas que suas palavras causaram. Eu senti
como se algo em mim quebrasse e explodisse. Nem liguei para o fato de a puta
estar grávida.
Com duas pernadas, eu parei em frente à vaca e agarrei seu queixo,
obrigado-a me olhar.
— Desculpa… Por favor… — implorou, enchendo os olhos de lágrimas.
— Você acaba de aumentar a aposta, querida — rosnei baixo bem na cara
dela. — Você vai se arrepender por ter dito isso, eu vou transformar a sua vida em
um inferno na Terra, você vai chorar todos os dias desejando que esse filho não
seja meu. Eu vou te destruir, cada mísero pedaço seu, sua puta! E mais uma
coisa… — Parei para tomar um fôlego e continuei: — … lave essa sua boca
imunda antes de tocar no nome da minha Victória. Você não chega à sola do sapato
velho dela.
Ouvi os ofegos de choque que minhas palavras causaram, mas eu não ouvia
muito bem, apenas um zumbindo como um sino de destruição à vista soava em
minha cabeça.
— Esteja preparada! — grunhi soltando-a. Eu tinha que sair daquela casa,
estava correndo o risco de cometer uma loucura. Eu tremia de raiva.
Porra!
— Como ela ousa? — grunhi puto. Entrei no meu carro, espumando de
ódio. Minhas mãos fechavam em punho. Merda, eu tinha que me lembrar do
controle de temperamento.
— É isso ou… — grunhi alto, batendo no volante. — Maldita!
Fechei os olhos e comecei a pensar em Mia bella. Ela era meu bálsamo,
minha tranquilidade.
“Rocco, eu sempre vou te amar, não importa o que aconteça…”
— Sí, amore mio — murmurei, encostando a testa no volante. — Eu
sempre vou te amar, não importa o que aconteça.
Está difícil. Para todos naquela sala, eu sou um monstro, mas sei que para
minha Victória eu não passo de um cordeiro inofensivo. Mesmo quando eu estava
louco e ela drogada, minha Victória ainda conseguiu terminar nosso noivado e saiu
com dignidade do escritório. Depois, no meu apartamento, ela me viu brigando
com meus amigos e ainda assim foi para perto de mim, negociar com minha
bebida.
Suspirei nostálgico.
Victória parecia ser a domadora da fera que há em meu interior, mesmo
longe, basta eu pensar em sua calma e amor, que eu vou voltando ao normal.
— Puta merda, o que será de mim? — murmurei, puxando meus cabelos da
nuca. Um gesto desesperado de um homem que se via perdido e com uma saudade
do caralho.
— Tudo bem?
Olho para o lado e vejo Mary Clarence do lado de fora do carro, me
encarando.
Pigarreei para clarear a garganta, eu estava muito instável ainda.
— Sim, tudo pronto? — perguntei com uma falsa calma aparente.
— Estamos prontas, o táxi já chegou e a partir de agora Briana dança
conforme a minha música.
Sorri de lado.
— Então vamos! Entre aqui…— chamei-a com minha mão, mas recebi uma
recusa no lugar.
— Deus me defenda de entrar nessa carruagem de Satã! — exclamou, me
fazendo soltar uma risada. — Eu vou com minha pupila e você nós segue.
Concordei e em poucos minutos estávamos na estrada. A cada quilômetro
percorrido as ruas iam ficando mais em mais cheias, digo, nada de mansões
separadas por longas distâncias, aqui as casas eram perto umas das outras,
separadas apenas por um beco pequeno.
Lembrava-me muito do bairro da minha garota.
Respirei fundo e tranquei minhas lembranças. Eu não posso fraquejar.
Observo que o lugar é tranquilo, mas humilde que Briana ficará, as casas
em sua maioria eram brancas com toques de bege, sem jardim, tudo ali era
concreto pintado. Estaciono e saio. Não é surpresa para mim que a casa de Mary
Clarence seja a única escura. A casa dela tem um muro preto e a fachada
acompanha a cor. O aspecto é o de uma construção gótica.
Dou um sorriso secreto então olho para cima primeira coisa que noto é a
cara horrorizada de Briana, ela parece que acaba de vislumbrar a entrada da
caverna do dragão.
Mantendo meu sorriso, caminhei até ela, parando com minha boca bem
próxima de seu ouvido e sussurrei:
— Quando você se tornar minha esposa, sua vida será pior do que a que
irá viver aqui, portanto aprenda as lições ensinadas por sua governanta, para onde
você vai quando isso aqui terminar é muito… Muito pior. — Eu me afastei um
pouco e deixei que ela visse meu sorriso de Coringa psicótico.
Então dei-lhe as costas e fui falar com minha mais nova amiga.
— Qualquer coisa, me ligue.
— Pode deixar que eu ligarei, mas acho que não terei problemas, essa
garota não dá um caldo grosso!
— Não pegue leve! — murmurei piscando um olho.
— Não irei! — piscou de volta, então apertamos as mãos e eu dei as
costas para sair.
— Rocco, só uma pergunta — me chamou e eu virei. — Quem está
autorizado a levá-la daqui? Ou visitá-la?
Pensei por um momento então mudei meu sorriso de Coringa psicótico para
Coringa perverso. Aquele que ele dá antes de explodir a merda toda.
“Vou deixar essa safada esperando uma visita que nunca irá chegar!”
Cruel? Eu? Por quê? Sou basicamente um mar de gentileza.
— Dimitri Romanov ou William Savage, apenas eles e mais ninguém.
— Combinado!
Agora sim eu me virei para ir embora de vez, passei por Briana e nem lhe
lancei um olhar, entrei em meu carro e fui direto para o meu apartamento.
Cheguei ao meu duplex localizado em frente para o Central Park, fui direto
para o bar pegar uma bebida, descartei um copo, peguei logo a garrafa e me
larguei no sofá. Tomei um grande gole, fechando meus olhos, pensei em tudo que
havia acontecido.
“Eu sei que fiz bem de terminar meu noivado com Victória…”,
angustiado, tentei me convencer. Minha garota não merece passar pelo inferno que
vai ser se o bebê for mesmo meu! Por Deus, eu me sinto como se estivesse em uma
luta desleal com um inimigo frágil. Eu sei que essa criança não tem culpa, mas,
porra, eu simplesmente não consigo conceber a ideia de ter um filho bastardo!
Meu pai com certeza estaria se revirando no tumulo tamanha sua revolta, se me
ouvisse cogitando a hipótese de fazer isso! Às vezes eu odeio meu status e poder.
Não sei quanto tempo fiquei pensando em meus problemas e bebendo,
devo ter adormecido no sofá, porque sei que acordei com o som do meu celular
tocando.
— Porra! — grunhi alto quando me virei.
Eu estava quebrado, dormir aqui não foi um bom negócio. Peguei meu
casaco largado no chão e mexi nos bolsos até encontrar o aparelho.
— Alô! — atendi não muito educadamente. Quem estivesse me ligando iria
ver só uma coisa. Não estava no humor para ligações, às… olhei para o relógio e
vi que eram oito da manha.
Puta que pariu, dormi demais.
— Quem é? — grunhi chateado.
— Ah, oi, Bom dia, er… Você está ocupado agora? — A voz da minha
garota soou hesitante. — Posso ligar outra hora… Quem sabe outro dia, então
eu… tchau…
— Não desligue, pequena, eu estou aqui e não estou ocupado — falei
apressado, sentando na velocidade da luz. Puta merda, ouvir a voz de Victória foi
como receber uma dose de prazer. Eu nem tive muita reação, fiquei igual um idiota
sem acreditar em meus ouvidos.
— Certo. — Notei que sua voz estava baixa, embargada, e não sei qual era
o outro sentimento que eu não estava notando.
— Amore mio, o que foi? — perguntei apertando o telefone em meu
ouvido. — Fala para mim, você sabe que pode contar sempre comigo, não é?
O silêncio me recebeu, então ouvi um soluço e eu tremi de medo.
— O que foi, amor? — Estava quase entrando em surto — Você está bem?
Alguém te machucou? Me diz, porque eu vou encontrar o desgra….
— Acabou, Rocco — a voz mais suave e doce do mundo me interrompeu e
eu franzi as sobrancelhas, eu estava confuso agora.
— O que acabou, meu amor? — murmurei, fechando os olhos enquanto
encostava a cabeça no sofá. Minha confusão sendo substituída por apreensão.
“Será que ela vai me dizer um adeus definitivo?”, me perguntei e
imediatamente um nó de angústia enrolou minhas tripas. –Não pode ser…
simplesmente não pode…
— Blanchet… — Suspirou baixinho. — Eu não te contei porque queria
fazer surpresa, então depois tudo aconteceu e eu acabei esquecendo… Enfim,
Blanchet me fez uma proposta e eu aceitei, mas fiz como você me disse e esperei
por vocês voltarem, Dimitri analisou o contrato e junto comigo… — Um soluço
baixinho. — Eu acabei de conseguir minha liberdade de volta, Rocco, e eu não
iria conseguir me sentir completa se não compartilhasse com você.
Sorri involuntariamente. Apesar de estar muito feliz com a conquista da
minha garota, eu estava triste por não estar ao seu lado. Eu deveria estar lá,
encarar Blanchet e sorrir descaradamente enquanto Victória assinava o documento.
Será possível que eu ainda terei mais motivos para detestar Briana?
Certamente ela está muitas casas acima da minha raiva do Whintaker.
— Mia bella, eu. — Engoli em seco. — Me sinto honrado por você ter
lembrado de mim nesse momento de tamanha felicidade.
— Amore mio… — Fechei os olhos sorrindo, Victória acaba de usar minha
forma carinhosa de tratá-la. — Eu penso em você em cada instante do meu dia…
ao deitar, seu rosto é a última coisa que vejo, e ao levantar, a primeira da qual
me lembro. Eu te amo, você sabe, e mesmo estando separados, distantes, isso
não vai mudar.
— Pequena, estou sentindo tanto sua falta!— murmurei emocionado. —
Nunca pensei que conseguiria viver sem um pedaço de mim.
— Eu sei, eu também me sinto incompleta e por isso eu cheguei à
conclusão de que não é bom para nenhum dos dois ficar mantendo contato.
— O quê? — berrei, levantando do sofá. — Você não pode dizer uma
coisa dessas!
— Eu te amo demais, mas agora sua vida tem prioridades, e você precisa
se concentrar nelas. — Ouvi seu suspiro trêmulo e aquilo me matou. — Mas eu
também preciso seguir em frente. Não digo amar outra vez, isso nunca, mas…
— Victória, o que houve? Você desistiu de mim? De nós? — perguntei
quase gritando, eu já estava suando de nervoso.
— Não houve nada, Rocco, de ontem para hoje nada mudou, mas eu
percebi que você não pode viver uma meia vida, nem eu posso.
— Você não me ama mais, é isso? — perguntei levando a mão ao peito.
Meu coração não estava muito bem, o infeliz estava batendo tão acelerado que
parecia que ia explodir.
Puta que pariu, preciso de um medidor de pressão arterial! Porque eu acho
que a minha deve estar nas alturas, eu estou doido, porque eu não posso estar
ouvindo minha garota dizendo uma coisa dessas… caralho, eu não posso!
Eu te amo, mas agora você tem prioridades, e deve cuidar delas…
— Você é minha prioridade, porra! — berrei alto
— Baby, eu deixei de ser quando você soube que ia ser pai! Por favor,
não se preocupe, um dia, quem sabe, mas agora não era para ser.
— Mas que raios de conversa horrível do caralho é essa, amor? —
questionei esfregando meu rosto. — Não respondo por mim se te vir com outro…
não respondo…
— Rocco, eu não vou procurar ninguém. Eu agora vou me preocupar
com meu próprio ateliê, meu sonho. — A voz da minha garota era suave e calma,
mas ela chorava e isso me deixava louco.
— Você vai entregar seu coração a outro! — exclamei em pânico. —
Caralho, preciso limpar minha arma!
Escutei a risadinha da Victória e sem querer ri também. Mas que diabos!
— Seu bobo, não posso entregar o que não me pertence. — Mais um
suspiro se fez ouvir. — Não vou em busca de outro amor, além do mais, eu não
quero, sabe por quê?
— Não, eu não sei — murmurei e fui até a parede de vidro, onde encostei
minha testa para poder pensar e achar uma solução para essa merda toda.
— Meu corpo, meu coração e meus pensamentos pertencem a você, só a
você, a não ser que exista um outro Rocco Masari por aí, eu acho impossível eu
me interessar. Não vai rolar, pode acreditar, eu não minto, nunca.
— Eu sei, amore mio, eu sei. Mas e agora? O que seremos?
Uma pausa, uma respiração trêmula. Minha respiração entupida em meus
pulmões.
Puta que pariu… Estou a ponto de enfartar ou acabar de vira um psicopata
de vez.
— Grandes amigos, daqueles com quem você pode contar para qualquer
circunstância, que te ligam de madrugada, se estiverem aflitos, que sabem que
não estão sozinhos.
Espalmei minha mão no vidro quando um grande e profundo fôlego deixou
meus lábios.
“O que eu posso fazer?” Sinceramente nada. Não agora, entretanto, não
posso abrir mão completamente da minha garota, eu aceito o que me oferece. E
como todo bom viciado, irei me contentar com pequenas doses.
— Tudo bem, pequena, eu serei seu amigo, mas adianto, eu serei daqueles
amigos ciumentos, que têm sentimentos de posse e não suportam que alguém rele a
mão em sua amiga, sob hipótese alguma. Além do mais, irei de vez enquanto
precisar de ajuda no banho, sabe como é, às vezes meu equipamento precisa de
quatros mãos para manuseá-lo. É foda ter que lidar com algo grande e pesado.
— Pervertido… — fungou baixinho. — Adoro seu humor distorcido. —
Riu fungando. — Mas agora tenho que ir, a tia Laura vai me levar a um almoço
com o namorado.
— O Jason permanece com você! — Suspirei. — Você é minha amiga
mais preciosa, não irei descuidar — enfatizei minha fala para que ela perceba que
de amiga ela não tem porra nenhuma.
— Tudo bem, mas vamos conversar sobre isso depois, certo?
— Nem adianta, mas você pode tentar. — Bufei, revirando os olhos.
Até parece. Essa coisa de amigos só durou dois segundos, e eu já estou
arrependido. Cacete, mudei de ideia, amigo é o caralho, Victória pode pensar
assim, mas eu não sou obrigado.
— Tudo bem, eu tentarei… er, então eu vou indo… beijos.
— Um beijo bem gostoso, demorado e molhado, com pegada e um
esfregada básica, sua delicia — sussurrei sentindo meu membro duro.
Okay, eu preciso resolver essa porra e trazer minha mulher de volta.
— Rocco! — Victória exclamou meu nome em um ofego entrecortado e eu
sorri.
— Assim está melhor, muito melhor, não reclame, mas eu serei um amigo
libertino, safado e com uma mão tendenciosa. Sei não, mas acho que irei procurar
sua calcinha assim que te encontrar. Esteja preparada, doce amiga, você terá que
lidar com minhas mãos incontroláveis e meu equipamento erguido — dito isso, eu
desliguei a chamada, sem dar tempo de ela responder.
Rocco Masari em modo ex-namorado psicótico e perseguidor!
Um fato real?
Estou fodido!

***

Fui para a sede da minha empresa em NY e de cara marquei uma reunião


de diretoria. As coisas aqui estavam na linha, eu e Dimitri resolvemos a questão
da denúncia de assédio sexual, mas, sinceramente, como fiz em Londres, eu teria
que fazer aqui.
Colocar as coisas no lugar.
O ruim para os diretores daqui era o fato de eu estar muito puto com minha
vida, na verdade eu estava muito puto com tudo, até com o vento, e iria sobrar
para eles.
Dei de ombros.
Aos poucos a sala de reunião lotou, aqui seguia o esquema de Londres,
diretor e secretária respectivamente.
— Sr. Masari, a pauta da reunião não foi divulgada — um dos diretores
falou e como eu não estava com paciência para lenga, lenga fui direto ao assunto.
— O motivo da reunião é o seguinte, vou falar só uma vez, portanto
prestem atenção. — Fiz uma pausa circunstancial e de peso, enquanto isso eu olhei
um a um demoradamente. — Quando eu vim para NY pela primeira vez eu nem
acreditava que o motivo era uma denúncia de assédio sexual. Eu fiquei muito puto,
porque já deixei claro que isso é inadmissível, mas ainda assim aconteceu. Então,
depois de punir o culpado, eu parei para pensar em outras coisas, como o fato de
mesmo sob esclarecimentos de conduta e regras disciplinares um dos meus mais
altos executivos teve a ousadia de cometer tal atrocidade. Será que eu não fui
muito óbvio sobre o que é e não é permitido?
— Senhor, as regras são muito claras, não tem como por em dúvida o
código de ética da empresa! — Brian O’Nell diretor de financeiro foi o primeiro a
falar.
Todos os presentes concordaram e eu balancei a cabeça.
— Ótimo, então creio que para nenhum de vocês será problema a
instauração de uma investigação de passado e presente. Adianto que é melhor
pedir demissão do que ser pego. Eu não irei pegar leve, não quero abusadores
dentro da minha corporação, já deixei claro que ninguém, absolutamente ninguém,
é insubstituível, até eu terei meu sucessor, e acredito que ele será ainda mais
implacável e intolerável que eu. Pois irei prepará-lo para isso. Acho que devo ter
dado brecha demais.
— Não senhor, o problema foi falta de caráter mesmo! — Laila, diretora de
RH, se pronunciou.
— Você acha? — Cruzei meus braços, recostando em minha cadeira. —
Continue…
— Senhor, a rotatividade que havia com as secretária do Rendy era algo
muito esquisito, eu já suspeitava que algo estava estranho, eu cheguei a questioná-
lo o motivo de três pedidos de demissões em um único mês, e sua resposta sempre
foi a mesma. Elas não davam conta do serviço. Deixei passar, mas quando vi que
uma das candidatas mais bem-preparadas havia saído daqui praticamente fugindo,
eu percebi que era questão de tempo o surgimento de problemas.
— E por que você não fez nada, se suspeitava que alguma coisa estava
acontecendo? — perguntei arqueando uma sobrancelha, mas longe de ficar nervosa
ou se intimidar, Laila respirou fundo e continuou.
— Eu não queria ser injusta com ninguém. Todos sabem que o vice
presidente fica com toda a carga quando o Sr. está afastado, e Rendy era
terrivelmente exigente. Bom, eu estava tentando entrar em contato com a última
secretária quando a bomba explodiu…
— Ótimo, Laila, entretanto você deveria ter me comunicado assim que
notou que havia algo errado!
— Desculpe, senhor — falou baixando a cabeça.
— Que isso sirva de lição para que não se repita, em caso de dúvidas,
procurem-me ou procurem meu advogado, o Sr. Romanov. Dá próxima vez, irei
reformular a diretoria inteira, não quero outra palhaçada dessas. Ah, e sobre o
caso, eu coloquei minha equipe de advogados liderada pelo Sr. Romanov à
disposição da Srta. Soares.
Houve um couro de ofegos chocados. Todos sabiam que a fama de Dimitri
era de carrasco dos tribunais. Ele nunca perdeu uma causa. E Rendy estava muito
fodido.
— Que fiquem atentos, eu acho que, depois que Dimitri terminar, não
sobrará muita coisa do Rendy. — Dei um sorriso malvado e me levantei. —
Reunião encerrada.
Os dias foram passando e já fazia uma semana que eu estava nessa merda,
e o pior, sem falar com minha garota, estava dando espaço. Em contrapartida,
relaxei comigo mesmo, deixei minha barba crescer, me transformei no pior chefe
de todos os tempos. Foi foda, eu vi minha secretária tomando um calmante em
pleno expediente. As pessoas se encolhiam quando eu passava, a maioria batia em
retirada assim que eu entrava. Todos com medo.
Infelizmente, eu não estava na minha melhor fase. Nem liguei para Mary
Clarence em busca de informações, acredito que se a vadia houvesse dito algo
importante, ela me ligaria na mesma hora.
Eu estou intragável, eu sei. A única que me suportaria agora seria minha
pequena… mais ninguém.
Cheguei à minha sala na empresa e de lá liguei para Dimitri. Esperei
chamar até cair e na terceira tentativa, cheguei à conclusão de que o Dinka estava
provavelmente com as calças arriadas. Fodendo alguma podre coitada desavisada.
Fiquei por ali, ansioso demais, andando de lá para cá como um animal
enjaulado. Nervoso, acuado, entretanto não havia muito que eu pudesse fazer.
A tarde passou lenta e chata. Os investigadores já estavam aqui e o clima
era de tensão, eu acreditava que ainda teria uma ou duas surpresas.
Ouço meu telefone tocando e olho para o visor. Atendo ansioso.
— Mary Clarence, me diga que a vadia soltou a língua? — perguntei
afobado.
— Não, mas acho que ela fala logo, logo. — Riu baixinho e eu suspirei
derrotado. — Liguei para dizer como está sendo nosso dia a dia…
— Me conte os detalhes — pedi, esticando as pernas confortavelmente.
— Essa Briana é uma cria do mundo, mas ela está no ritmo que estou
impondo. Veja bem, assim que entramos aqui em casa, ela veio toda arrogante
mandando eu levar as coisas dela até o quarto. — Pude ouvir bufar de raiva. —
Essa menina é uma malcriada, mas tudo bem, eu deixei as coisas dela na sala, e
no dia seguinte, quando viu que eu não iria pegar, ela mesma pegou. Com muita
raiva, mas pegou mesmo assim… Agora, ouça sobre isso. Você acredita que ela
achou que o mundo estava acabando quando eu a acordei às cinco horas da
manhã?
— O que houve? — perguntei já rindo.
— Briana gritou e gritou quando eu puxei seu lençol e abri as janelas.
Depois, quando percebeu que era hora de levantar, ela soltou um “Pode
preparar meu banho quente”. Eu tive que rir dessa, Rocco, você nem imagina
que a água da minha casa é do reservatório que fiz, eu gosto de água gelada e
pronto.
— Deixe-me adivinhar: Briana fez um escândalo?
— Escândalo? Meu garoto, você nem imagina, parecia que ela estava
apanhando, era tanto “ai, ai, ai, está doendo, ai, ai, ai, que frio… Misericórdia,
essa água vem do Pólo Norte só pode” que eu tive que checar, daí a situação,
ela estava há meia hora com o chuveiro ligado e nem tinha molhado metade do
corpo.
A essas alturas, eu já estava rindo, porque a situação deveria estar sendo
cascuda para a vadia.
— Na hora do café da manha, ela fez uma careta de nojo para o nosso
pão com manteiga e água! Disse que isso não era suficiente para uma mulher
grávida, eu concordei e fiz um mingau ralo de aveia, ela disse que parecia
lavagem. — ouve um silêncio e eu esperei. — Agora é ela quem cozinha sua
própria comida, e posso garantir que minha lavagem é melhor que comer
queimado.
— E agora como ela está?— perguntei rindo de leve
— Está bem, mas odiando, eu a levei para todas as missas, e em casa
seguimos as regras de três estudos diários. Lemos a liturgia, rezamos o terço e
fazemos boas ações. Desculpe por não te ligar, mas é que nossos dias foram
preenchidos por trabalho voluntário, ficamos em um asilo, e Briana adorou
lavar os milhares de pratos. Mas o que a deixou vermelha de raiva foi que
alguns adolescentes a chamaram de Carie – a estranha…
Gargalhei alto, foi inevitável, Briana deveria está entalada e espumando de
raiva.
— Isso é muito bom de ouvir! — exclamei contente. — Espero que ela
conte logo o que esconde.
— Meu filho, essa foi a parte tranquila, a parte ruim foi fazê-la vender
as próprias roupas, você precisava ver a cara que ela fez quando eu a coloquei
em uma barraquinha de feira. — Riu feliz. — Mas foi por uma boa causa, a irmã
Maryann pediu para agradecer a sua generosa oferta, dará para reformar a
sala de música e ainda o pátio traseiro, iremos comprar brinquedos para as
crianças e montar uma brinquedoteca para a comunidade. As joias da minha
pupila irão para a reforma do salão e a revitalização dos arabescos.
— Fico feliz em saber.
— Bom, deixa eu ir, está na hora da liturgia, e Briana ainda está um
pouco resistente.
— Segure a onda, talvez ela tente algo para fugir e…
— E ela é doida? Eu a coloco de joelho no milho. Deus me deu essa
menina para consertar, e eu vou. A sorte dela é por estar grávida, caso
contrário, já estaria na penitência.
— Eu confio em você para fazer o melhor, apenas cuidado com a criança.
— Pode deixar.
Desligamos e eu ri mais um pouco, eu sabia que Mary Clarence era osso
duro de roer, mas não sabia que ela estava nesse nível de dureza.
— Ninguém pode me culpar por não ter avisado, eu disse o que iria fazer
— resmunguei abrindo meu e-mail para procurar a foto que eu e Victória tiramos
no casamento da minha irmã.
Fiquei olhando para a foto durante muito tempo e depois eu a deixei como
protetor de tela.
Assim está melhor…
Estava distraído, analisando uma extensa papelada, quando ouço um toque
em meu celular. Característico de mensagem.
Largo tudo pegando meu celular para olhar a mensagem. Entretanto, vi tudo
vermelho e por pouco não atiro o aparelho contra a parede.

De: Dante Masari


Para: Rocco Masari
Assunto: Eu sabia…
Data: 03/12/2014 às 18h30
Rocco, querido primo, eu sabia que você iria ferrar com o seu
relacionamento. Parabéns pelo filho, agora Victória está livre e eu estou
voltando. Vou experimentar o que você me privou meses atrás. Ah, não surte,
mas estou observando Victória agora, e ela está… uma verdadeira delicia.
Bom, é isso, não vou perder tempo… hahaha
Estou de voltaaaa .
P.S: Você é muito velho para Vic, portanto cuide de sua vida e se
acomode, deixe que da jovem cuido eu…
Seu querido primo, Dante Masari.

— CARALHO! PUTA QUE PARIU! PORRAAAAA! — berrei a plenos


pulmões. — Eu te mato, Dante, eu te mato seu filho da puta!
Eu estava louco, surtado mesmo. E que Deus me ajude, se esse filho da
puta encostar em um único fio de cabelo da minha garota, eu vou descer o braço,
vou quebrar o miserável osso por osso.
Meu telefone toca e eu rosno frustrado.
— O que é? — rosno furioso.
— Não quero nem saber o que te fez ficar assim, mas preciso te dizer
algumas coisas — a voz de Dimitri soa preocupada do outro lado da linha.
— Fala!
— A primeira é que por aqui está tudo bem e você, quando tiver um
tempo, veja aí no youtube o nome Vick F. — resmungou, porém sua voz soava
grave.
— O que é, homem, fale de uma vez?! — urrei passando a mão pelos
cabelos.
— Você sabe que daqui a quatro dias é o aniversário da garota do
William — começou e eu fechei os olhos. Eu havia esquecido. Nós sabíamos que
havia algo importante nesse dia, mas não sabíamos o que era, até aquele dia no bar
onde o Will nos revelou seu segredo
— Sim eu sei… — menti
— Bom, desde ontem que eu estou na cola do Conde, ele está pior que
das outras vezes, anteontem precisei levá-lo até o hospital, o idiota bebeu
demais e quase entrou em coma alcoólico. A questão é que aconteceu um
problema e eu precisei resolver… então…
— O que é? Fala, porra!
— O William desapareceu e o Jean Pierre Dubois está na cidade, justo
uma semana depois que Victória se desligou do ateliê da Blanchet…
Fiquei uns segundos em silêncio. E depois entrei em ação.
— Estou voltando.
Capítulo 25
Victória

“Deus, dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso


mudar, coragem para mudar as coisas que eu posso e sabedoria para que eu
saiba a diferença…”

Permiti que mais lágrimas escorressem enquanto eu orava. Rocco me


deixou há poucas horas, mas eu sinto como se fossem séculos. A saudade dói
demais, e o pior é que esta é sem prazo de validade. Eu sei que demorará muito.
— Não sei se será bom ficarmos mantendo contato! — Suspirei. — Isso só
irá piorar minha situação e a dele. Pois ambos sabemos que agora não há muito o
que se fazer.
Deitei em minha cama abraçando meu travesseiro. Precisava de algo para
me agarrar, ou correria o risco de me desmanchar, a verdade era que eu estava sem
chão. E justo agora que eu tinha que estar comemorando, pois amanhã eu assino
meu contrato de encerramento com Blanchet.
Para vocês verem, eu nem saí para falar com Dimitri quando ele veio
buscar o contrato. O Jason fez isso por mim, a verdade é que eu estou trancada no
meu quarto depois que soltei daquele abraço reconfortante que Jason me deu. Eu
falei que iria chorar muito, mas em casa, e estou fazendo isso desde então.
Não tomei café da manha, não almocei e provavelmente não irei jantar.
Hoje é meu dia de luto, e irei passar por ele. Só assim, talvez, eu possa erguer
minha cabeça e seguir em frente, dizendo para Rocco o que preciso.
— Bonequinha? — Ouço a voz de Royce seguida de batidas na minha
porta. — Você está aí o dia todo, abra a porta…
Nem me dei ao trabalho de erguer a cabeça, eu só agarrei ainda mais meu
travesseiro como se ele fosse a resposta para tudo o que me aflige.
— Victória, é tia Laura, vamos, amor, abra a porta!
— Pessoal, estou bem, só preciso desse tempo para me reorganizar, por
favor, entendam e me deixem.
Houve silêncio e depois a voz da minha tia.
— Você fez a mesma coisa quando seu pai e sua mãe morreram, darei a
você esse tempo, mas amanhã, você estará fora desse quarto.
— Aceito — respondi alto e fechei os olhos.
Senhor, eu sei que tu fará o correto desde que eu me submeta à sua
vontade, mesmo com a revolta batendo na porta, meu coração luta pela
serenidade para viver e aceitar, tu conhecesses o meu íntimo e sabe da verdade,
mesmo que para mim ela seja tão difícil de aceitar. Eu clamo a ti, meu pai, que
me dê a força necessária para seguir, vivendo em paz e não fazendo sofrer
minha família, meus amigos e aquele que mais amo.
Inacreditavelmente meu coração se sentia uma gotinha mais leve, mesmo
que minhas lágrimas continuassem a escorrer, eu abrandei minha dor com meu
clamor. Eu sabia que Deus me ouviria, Ele sempre me ouvia, a verdade era que
sempre o Senhor dava a minha resposta, ele era a minha resposta, sempre e para
todo sempre.
Pulei da minha cama e me pus de joelhos, ergui a cabeça e os braços para
céu. E quase cantei as palavras que derramavam da minha alma, alto o suficiente
para que meus ouvidos ouvissem, para que minha pele sentisse e para que meu
coração acalmasse ainda mais.
— Jesus Cristo é meu Deus e meu senhor, meu refúgio e minha fortaleza,
nEle confiarei. Todo o meu sofrimento, toda a minha dor, mas, principalmente,
toda a minha esperança. Peço, oh, Pai, que me guie pelas tuas palavras. Não
aceite a minha vontade, faça a tua, apenas a tua. Não temerei o futuro, nem a
escuridão. Viverei coberta sob tuas asas, e mesmo em meio à tempestade sei que
o senhor estará ao meu lado.
Chorando muito, solucei um amém.
***

Olho para o contrato diante de mim e tremo. Há anos eu espero por este
dia, há anos eu lutei para chegar neste dia e há anos eu prometi à minha mãe que eu
chegaria a este dia.
Desculpem a redundância, mas se prestarem atenção, vocês irão entender o
significado por trás dessas palavras. Elas são fortes para mim, elas contam boa
parte do que vivi e sofri, do que superei e venci.
Eu venci.
— Essa é a sua vitória, minha querida. — Ouvi a voz de Dimitri ao meu
lado, olhei para ele e recebi um sorriso carinhoso. — Confie no seu amigo, eu li
linha por linha e modifiquei pequenos detalhes, você está segura, assine sem medo
de errar.
— Obrigada! — falei com voz embargada.
Sem esperar mais, peguei a caneta e fui assinar, porém, eu tremia tanto que
tive que sacudir a mão e tentar uma segunda vez.
Consegui.
E agora, sim, eu estava livre.
— Agora os desenhos! — Madame Blanchet exclamou estendendo as mãos
avidamente.
Dimitri rosnou algo incompreensível e pegou a pasta, que estava grossa
por conter setenta croquis.
Ah, também ficou a cargo do Dimitri pegar os desenhos na casa do Rocco.
Não me perguntem como, mas os desenhos estavam lá.
Peguei a pasta e olhei para Blanchet, ela mexia os dedos nervosamente em
direção à pasta. Juro que os olhos dela brilhavam, era quase como se ela já
houvesse visto essa pasta antes.
Muito estranho, isso sim, e olha que eu nem parei para analisar como ela
sabia que eu tinha esses desenhos. Bom, não importa, ainda bem que eu os tenho,
ou melhor, tinha.
— Blanchet, antes de te entregar esses croquis, eu quero te dizer que não
desejo seu mal. Espero do fundo do meu coração que você consiga ser feliz, de
alguma forma espero você se torne uma pessoa mais generosa e que ame as
pessoas mais fracas que você — falei baixo e entreguei os desenhos, entretanto
algo me dizia que aquela seria a última vez que eu veria Blanchet dessa forma, por
isso resolvi dar-lhe outro conselho. — A vida é cheia de altos e baixos, o que
fazemos aqui, aqui pagamos, mas apenas aqueles que têm Deus no coração sairão
vitoriosos.
— Eu não preciso de Deus, eu tenho inteligência! — grunhiu e eu apenas
balancei a cabeça.
— Não blasfeme, Blanchet, Jesus Cristo é o único que está do nosso lado
quando choramos lágrimas de sangue. Deus perdoa e ele não difere em seu amor e
preferência, ele aceita você do jeito que é, desde que se arrependa e busque por
Ele despida de suas vestes e com o coração aberto. Espero que você se lembre
disso, algo me diz que precisará.
Dito isso virei, as costas e saí de lá, notando que ela ficou muito pálida.
Não seria exagero meu dizer que Blanchet parecia saber de algo, enfim,
não me interessa, ela é um capitulo encerrado na minha vida. E eu não irei mais
pensar nela, de forma alguma, eu simplesmente me recuso.
Chegamos à frente do ateliê, e eu me despedi de Dimitri, ganhei dele um
abraço apertado e felicitações.
— Em breve será o julgamento do Gordon, e você estará com tudo para
começar seu ateliê — falou sorrindo. — Vou arrancar muito dinheiro daquele
bastardo, e ele irá pagar sem direito a apelação.
— Você é o melhor. — Sorri e ele mexeu nas lapelas do paletó, todo
convencido.
— Eu sei, não é à toa que sou o terror dos tribunais — falou piscando um
olho, em seguida afastou-se, indo em direção ao seu carro. — Até qualquer hora e,
se precisar de mim, pode ligar a qualquer hora.
— Obrigada!
— Disponha! — Sorriu e entrou em seu carro, logo saiu em disparada,
cantando pneu.
Balancei a cabeça e me perguntei: o que há com homens e carros velozes?
Eu, hein…
— Vamos para casa? — Jason perguntou enquanto abria a porta do SUV
enorme que ele dirigia.
— Não, vamos para a loja de fantasia do Sr. John e depois, mais tarde
iremos para o Le Cuisine, tia Laura vai almoçar com o namorado e disse que me
queria junto.
— Tudo bem — respondeu e partimos.
Enquanto Jason dirigia eu pensava que minha felicidade não estava
completa. Eu precisava compartilhar com meu… digo, com Rocco, ele foi um
furacão de mudanças em minha vida, e eu preciso dizer para ele o que acabou de
acontecer.
Pego meu telefone e disco o numero que já sei de cor. Espero e espero até
a voz irritada do Rocco atende. No primeiro momento eu não sei o que dizer, então
ele meio que grunhe perguntando quem é.
Juro que esqueci o que iria dizer, gaguejar foi inevitável.
Será que ele não reconheceu meu numero e…
Não terminei o pensamento quando a voz quase aflita dele soa me pedindo
para não desligar.
Meus olhos encheram de lágrimas e comecei a contar o que eu precisava,
depois a conversa enredou por outro caminho e eu disse que precisávamos nos
manter distante, digo, sem contato direto. Isso só iria nos machucar ainda mais. De
vez em quando eu soltava um soluço, era impossível segurar, ouvir a voz de Rocco
era maravilhoso, sabe, ele tinha um timbre de voz grossa, forte, imponente. Eu
sentia arrepios de prazer irromper em minha pele, meu coração se enchia de amor
e saudade, e era justamente por isso que tínhamos que frear nosso contato.
Juro por Deus que só foi eu dizer isso para que Rocco surtasse, ele gritou e
xingou, mas depois ele pareceu a aceitar, entretanto ele terminou nossa ligação me
deixando chocada e com o rosto quente pelo tamanho da safadeza que ele disse
que faria.
Certo, terei que tomar cuidado com minhas calcinhas.
Ri baixinho, limpando as últimas lágrimas.
Rocco é simplesmente único. Pense em um homem magnífico, pensou?
Pronto. Rocco é melhor.
Capítulo 26
Victória

Eu e Jason saímos do meu atelier, que ainda ficava em uma sala bem
escondida na loja de fantasias, e fomos direto para o restaurante que minha tia
marcou, Antes de entrar, eu e Jason ficamos em uma pequena discussão que ele
venceu. Meu amigo não queria entrar, e muito a contragosto eu aceitei. Assim que
entrei, de cara já avistei o casal, sorri de leve, minha tia e Ricardo estava, fazendo
carinhos um no outro e não estavam nem aí para as pessoas ao redor.
— Ah, o amor… — Suspirei balançando a cabeça, confesso que ainda
estava meio receosa por causa da reação que ele teve quando nos encontramos
pela primeira vez, entretanto, se é para a felicidade da tia Laura, eu estou disposta
a tudo.
Caminhei lentamente em direção ao casal vinte, fazendo um barulhinho
básico para chamar atenção. Assim que me viram ambos sorriram, mas o sorriso
do Ricardo era tipo, gigante, e ele me olhava com admiração, carinho e sei lá mais
o quê.
— Boa tarde… — cumprimentei sentando de frente para Ricardo, que só
agora notei, estava elegante até dizer chega.
— Victória, minha querida, deixe-me apresentar você ao meu namorado.
— Tia Laura sorriu — O primeiro encontro foi um tanto quanto estranho…
Nossa, olhe para minha tia agora. Sabe aquela mulher articulada, feroz, que
deixou Rocco com os cabelos em pé? Pronto, deixa eu dizer como ela esta agora.
Tia Laura está nervosa, ruborizada, agitada e o melhor, ela parece que
desenvolveu uma compulsão por colocar uma mecha inexistentes de cabelo atrás
da orelha.
Sorri para o jeito de menina apaixonada da minha tia, só esperava que esse
Ricardo fosse bom o suficiente.
— Victória, esse é Ricardo Andrade, meu namorado — murmurou
ruborizando muito na parte do namorado. — Ricardo essa é minha sobrinha e
também filha de coração, Victória.
— É um imenso prazer para mim conhecer você! — Ricardo falou sorrindo
de orelha a orelha, estendendo uma das mãos.
— O prazer é todo meu! — respondi aceitando sua oferta. Demos uma
balançada firme e nos soltamos.
— Podemos passar para Português? — perguntou quase ansioso, me
fazendo sorrir.
— Claro — respondi já em português.
A partir daí engatamos uma boa conversa sobre o Brasil, descobri que ele
morava em São Paulo e sua única família eram seus sobrinhos e sua irmã. Nesse
assunto ele não se aprofundou, mas notei que lançou um olhar rápido para tia
Laura. O importante mesmo era que a conversa estava muito agradável, ele contou
que era advogado, enquanto um sobrinho era um renomado neurocirurgião, e outro
era um importante financista internacional. Não entrou em detalhes sobre a irmã.
Também não perguntei, pois não queria ser invasiva, entretanto, quando eu disse
que era uma estilista autodidata, ele engasgou com o vinho que tomava, tia Laura,
por sua vez, quase faz o pobre cuspir o pulmão com a força da pancada que ela
deu em suas costas…
— Você está bem? — questionei depois que ele pareceu acalmar um
pouco.
— Sim, desculpe, entrou errado — respondeu tossindo um pouco.
Em um momento paramos a conversa para degustar as entradas, e estava
simplesmente delicioso, não é a toa que os melhores chefs são franceses e esse
restaurante era um típico bistrô Francês. Tudo muito elegante, e os pratos?
Verdadeiras obras de arte, dava até pena de comer.
Mentira, dava não.
— Ricardo, eu tenho uma pergunta para fazer, posso?
— Claro, minha querida, fique à vontade.
— Você falou sobre um tal de Victor, eu… er… gostaria de saber quem é.
Desta vez observei atentamente tia Laura, e ela ficou um pouco pálida, até
um suspiro derrotado ela soltou. Não entendi, mas vou entender. Ah, se vou.
— Victor é meu sobrinho, ele é o financista internacional. Bom, ele é um
homem digno, honrado, mas tem uma sombra em seu passado. Ele perdeu uma
filha, na verdade ele nem chegou a conhecê-la, e isso o fechou. Victor é um homem
muito determinado e firme em suas decisões. E por causa disso, ele está há mais
de sete anos sem falar com a própria mãe.
Arregalei meus olhos sem acreditar.
Quem fica sem falar com a mãe esse tempo todo? Deus me livre, se eu
tivesse minha mãe aqui, eu a encheria de beijos todos os dias. Mas a vida é assim,
muitas pessoas só dão valor quando perdem, ainda bem que eu tive tempo de
demonstrar todo o amor que sentia pela minha mãe antes dela me deixar.
— Sinceramente, eu não vejo como uma pessoa que é tudo isso aí pode
ficar sem falar com a própria mãe — falei baixo.
— Foi a mãe dele que o afastou da própria filha e da mulher que ele
amava! — respondeu quase com raiva, só não sei se era de mim e do que eu disse.
— Victor foi uma vitima do orgulho da própria mãe, e por isso ele perdeu a
oportunidade de ver a filha nascer, crescer e se tornar uma linda jovem.
— Você fala de um jeito que me faz pensar que você sabe quem é a filha
dele.
— Sim, e eu sei.
Ficamos em silêncio nos encarando por alguns instantes, e quando eu já ia
perguntar onde essa tal filha estava, uma voz ao meu lado me interrompeu.
— Le Fleur. Que surpresa. — Olhei para cima e Jean Pierre estava em pé
ao meu lado. Ele sorria suavemente.
— Ah, oi, como vai? — perguntei, levantando e estendo uma das mãos,
que ele gentil, recebeu e beijou o dorso de forma lenta e estranha. Sério, ele tem
os modos de um homem da idade média.
— Melhor agora… — respondeu sorrindo.
— Não vai nos apresentar seu amigo, minha filha? — tia Laura me encarou
com uma sobrancelha arqueada.
— Ah, sim, desculpe-me. — Sorri sem jeito. — Tia Laura e Ricardo, esse
é Jean Pierre Dubois. — Fiz as apresentações e todos se cumprimentaram
educadamente.
— Você está sozinho? — Ricardo perguntou enquanto sentava em sua
cadeira.
— Sim, eu vim almoçar, adoro esse restaurante, ele é um pedaço da minha
França em Londres.
— Por favor, nos faça companhia — chamei, ele me deu um sorriso
enorme e sentou agradecendo.
— Tem certeza que não irei atrapalhar?
— Não, nós apenas comemos a entrada, mas se quiser podemos te
esperar?! — tia Laura respondeu e deixou uma pergunta para ele.
— Eu prefiro pular a entrada, por favor, irei seguir com vocês.
Pronto, o assunto anterior foi deixado de lado e logo estávamos
conversando sobre amenidades, a cada instante que passava, eu ficava louca para
perguntar se Jean Pierre era o estilista que minha mãe adorava. Até que eu nem
precisei, Tia Laura e sua língua gigante tomaram a vez.
— Jean Pierre, sem querer ser indelicada, mas você é Jean Pierre, o
estilista fenômeno da década de setenta e oitenta?
JP (decidi chamá-lo assim) deu uma risada e confirmou. Pronto, eu e minha
tia quase endoidamos.
— Ai, meu Deus… Ai, meu Deus não acredito! — exclamei batendo
milhares de palminhas sem muito barulho. — Minha mãe era louca por você, digo,
pelas suas criações, minha nossa, se ela estivesse aqui agora, bem capaz de ela te
sequestrar e te manter preso só para explorar o seu talento — brinquei sorrindo,
mas JP me olhou quase sério e ele tinha um brilho no olhar misterioso, que logo
passou e foi substituído por curiosidade.
— Ah, isso era verdade, — Tia Laura riu e eu a acompanhei.
— Meu Deus, eu era pequena e tinha que ficar horas e mais horas
assistindo aos seus desfiles, tipo, você era um mito lá em casa.
— Sinto-me lisonjeado, Ma petit… — Sorriu piscando um olho e eu virei
o rosto, pois senti-me ruborizar, JP estava me encarando demais. Isso me
envergonhava.
— Então, você resolveu aquele problema com sua chefe? — perguntou
sorrindo de lado.
— Bem, ela não é mais minha chefe! — respondi orgulhosa, juro que até na
China dava para sentir meu orgulho, e sim, inflei o peito.
— Não? — questionou franzindo as sobrancelhas especulativamente.
— Ah, Jean Pierre, esse é um marco na vida da minha filha, aquela mulher
era uma bruxa, colocava minha menina para trabalhar como uma escrava e… —
Eu queria chutar tia Laura por falar demais, mas eu não tinha controle sobre ela,
então…
— E? — JP incentivou-a a continuar, ele até se inclinou um pouco para
frente. Notei que ele estava muito atento às palavras da minha tia.
— E ela roubava os desenhos da Victória! Pronto, falei — tia Laura
resmungou e eu coloquei a mão no rosto, balançando a cabeça negativamente.
— Explique isso melhor, por favor, não queremos esse tipo de gente em
nosso meio. — JP foi suave, mais sua voz tinha um tom de comando impossível de
não obedecer.
— Jean Pierre, minha sobrinha começou a trabalhar para a megera ao 15
anos de idade, e desde então ela passou a reproduzir todos os desenhos para o
ateliê, mas, claro, Blanchet os assinava como se fossem dela.
Ai, meu Deus…Tia Laura está fazendo fofoca.
— Tá bom, gente, deixa para lá! — pedi olhando para os dois. — Já
passou, agora é bola para frente.
— É, passou, mas aquela safada ainda te roubou setenta desenhos… — O
bufo nada feminino da minha tia fez Ricardo soltar uma risadinha. — E não se
esqueça daquele desfile de Paris. Você fez tudo e ela ficou com a glória, estou só
desabafando, pois vivia com essa história entalada, e já que você disse que
Dimitri tirou a cláusula de confidencialidade do contrato, eu posso escancarar
para meio mundo o que aquela nojenta fez com você! E tenho dito.
Ficamos em silêncio depois da micro explosão da Dona Laura Fontaine.
— Olha, Jean Pierre, tudo passou, agora, por favor, não faça essa cara, o
passado deve ficar no passado. — Tive que falar, porque a cara do francês não era
das melhores, ele parecia que tinha acabado de engolir uma pedra, pois estava
com os lábios crispados, e eu notava que ele apertava o maxilar com força.
Mais um justiceiro, não!
— Tudo bem, vamos deixar esse assunto para depois, com certeza um dia
Blanchet pagará por tudo que fez com Você, Ma belle Fleur… — falou e voltou a
sorrir.
Encerramos o assunto Blanchet e Jean Pierre fez os pedidos dele e, para
não sermos mal-educados, solicitamos que nossos pratos fossem servidos todos
juntos.
Comemos em paz, com Ricardo dizendo que iria falar com Victor sobre o
fato de eu ter passado boa parte da minha vida sendo uma escrava. O engraçado
era que não sei por que ele ficava com essa história de contar tudo para esse tal de
Victor, contudo, resolvi calar minhas dúvidas, esse era um assunto de alguma
forma delicado para falar com Jean Pierre presente.
Na hora da sobremesa, músicos franceses muito bem caracterizados
pararam ao lado da nossa mesa. Ricardo levantou e ajoelhou ao lado da minha tia,
quando notamos o que estava acontecendo, soltamos gritinhos de choque e
felicidade.
— Laura, não posso esperar mais oito anos para te tornar verdadeiramente
minha, não suporto imaginar a ideia de te perder uma segunda vez, quero, não,
necessito que você seja minha esposa, minha companheira, minha amiga pelo que
Deus ainda nos permitir. — A essas alturas eu já me debulhava em lágrimas,
porque, né? Caramba, minha tia está sendo pedida em casamento.
PEDIDA EM CASAMENTOOOOOO.
Ai, meu Deus, ela merece, e como merece.
— Laura, me diga que sim e me faça o homem mais feliz do mundo, case-
se comigo e seja a senhora Andrade.
Tia Laura olhou para mim de olhos arregalados e rasos d’água, depois ela
olhou para Ricardo ajoelhado em sua frente, nesse momento, ele abriu a caixinha e
ofegamos.
O diamante era simplesmente gigante, digo, enorme mesmo.
— Vai, tia, diz logo sim! — exclamei alto e as pessoas ao redor riram
junto com o Jean Pierre.
— Sim, meu amor… ai, meu Deus, SIIIIM — gritou o sim e se jogou em
cima do ex-namorado, pois agora era noivo. Ricardo tombou para trás e os dois
caíram, as pessoas explodiram em gargalhadas e aplausos. Eu ria sem acreditar
que minha tia acabou de derrubar o noivo, o podre do Ricardo estava rindo tanto
que ficou vermelho.
Mas no fim foi simplesmente lindo, e quando Ricardo colocou o anel no
dedo da minha tia, eu acariciei o meu, que estava preso em uma corrente em entre
meus seios.
— Vamos sair daqui! — Ricardo falou puxando minha tia.
— Espere, temos que pagar a conta… — tia Laura falou, mas logo JP
ergueu uma das mãos.
— Deixem comigo, vão comemorar a sós, eu e Victória iremos terminar
nossa sobremesa.
— Tudo bem, Vic?— tia Laura perguntou ansiosa, eu sabia que ela queria
ir comemorar seu pedido de casamento. Se bem me lembro, eu comemorei o meu,
e como comemorei.
Suspirei fechando os olhos brevemente.
“Bem-vinda, dor…”, pensei triste, mesmo sabendo que eu deveria fingir e
fazer isso bem, então sorri, enquanto engolia o caroço em minha garganta.
— Por mim tudo bem! — respondi, forçando meu sorriso a ficar no lugar.
E lá se foi o casal de pombinhos.
Tia Laura noiva. Quem diria? Por isso que eu digo, ninguém sabe dos
desígnios de Deus, e a melhor coisa a fazer é acreditar em sua promessa. Agora eu
já estava imaginando como eu faria o vestido dela, pois, pelo visto, Ricardo quer
se casar para ontem.
— Um vestido exclusivo pelos seus pensamentos — JP me chamou a
atenção e eu voltei à realidade, agora ele estava levantando para sentar de frente
para mim.
— Eu estava pensando que eu tenho que criar um vestido digno de uma
rainha para minha tia, ele terá que ser lindo, único, porém singelo.
— Tenho certeza que ficará perfeito, Ma fleur. — Sorriu e me encarou
fixamente, eu desviei o olhar, porque não estava gostando dessa encarada
demorada, até que o senti pegar meu queixo e virar meu rosto um pouco para o
outro lado.
— Você tem uma pequena cicatriz no olho, o que houve?
Suspirei sentindo um calafrio. Eu sempre procurava não pensar naquele dia
e no que eu passei nos dias seguintes. Eram muitas lembranças boas e horríveis
que se cruzavam.
Minha dor… Meu sofrimento… Meu amado… seus cuidados… Nossa
felicidade esplêndida…
Divaguei pelos nossos momentos, principalmente por aqueles em que
Rocco ficou ao meu lado, cuidou de mim com tanto carinho. Amor. Meu Deus, eu
queria tanto poder estar com ele… eu queria tanto poder olhar para ele e matar a
saudade de seu rosto lindo, de seus olhos azuis.
— Victória… — JP toca meu rosto e eu pulo de susto, depois dou um
sorriso sem graça.
— Desculpa.
— Sem problema, mas, por favor, me fale sobre o que te aconteceu. Eu só
quero te conhecer melhor, você é tão forte, intrigante, você é simplesmente
fascinante, Victória.
Fiquei calada e ele suavemente insistiu. Dei de ombros, não iria mudar em
nada ele saber.
“Afinal, o que um homem refinado como JP poderia fazer?”
— Há alguns meses eu fui espancada por um desconhecido. Nesse lugar
aqui eu sofri um corte que precisou de um ponto — falei baixinho, e de forma
inconsciente, toquei o lugar outrora machucado. — Eu não entendia o porquê de
estar sendo tão machucada, eu não tive tempo de reação, fui pega de surpresa e,
quando dei por mim, meu corpo era uma massa de dor abrasadora. — Suspirei,
tremendo levemente. — Fiquei vários dias hospitalizada e sob efeito de morfina.
— Chega, não fale mais nada, apenas me diga o nome de quem fez isso! —
Eu pude sentir a nota perigosa em sua voz.
— Olha, Jean Pierre, não faz muita diferença, sabe? O culpado está preso e
será julgado por esses dias. No fim, a justiça foi feita.
— Belle Fleur, o nome — murmurou suave. — Só o que peço…
— Para quê?
— Para quando eu não estiver em sua maravilhosa presença, poder xingar
o quanto quiser. — Riu e eu o acompanhei.
— Se é assim. — Pigarreei. — O homem que me agrediu se chama…
— Senhores, aceitam mais alguma coisa? O vinho pode ser trocado? — o
maître perguntou e JP respirou fundo, ensaiando um sorriso.
— Obrigado. Você quer alguma coisa? — olhou para mim.
— Não, estou satisfeita, obrigada.
— Pode ir, estamos bem… — JP falou e o maître afastou-se, abordando a
mesa vizinha. Logo a atenção dele voltou para mim. — Onde estávamos? Ah, sim,
o nome…
— Então, o nome do meu agressor é Gordon Maison — falei fazendo uma
careta, eu morria de medo desse nome, ele passou a ser o monstro dos meus
pesadelos.
— Devidamente anotado. — JP sorriu e mudou de assunto.
Falamos muito sobre moda, tendências, cores e tal. Era incrível. Eu ainda
nem acredito que estou recebendo conselhos de Jean Pierre Dubois. Era tipo,
quase como ter Rey Charles te ensinando a cantar e tocar, ou a própria rainha
Elizabeth te ensinando etiqueta.
— Victória, eu tenho uma proposta para você. — Ergui minha cabeça, e
pelo sorriso do JP, eu deveria estar com cara de interrogação. — Venha comigo
para a França, deixe-me apresentá-la ao mundo da moda em grande estilo, você
merece, depois de tudo que passou. Me deixe ser seu padrinho.
Não acreditei nos meus ouvidos, tipo, eu não acreditoooo. Meu Deus, uma
mudança me fará bem, e ainda irei realizar meu sonho. Ter um Padrinho como JP
seria magnífico, eu já chegaria com peso no mundo da moda. Todavia, como tudo
na vida tem um mas, comigo não seria diferente.
— Eu posso pensar? — perguntei receosa, eu realmente tinha muita coisa
para pesar antes de aceitar.
“Tenho que falar com Rocco…” Mal terminei o pensamento e já desisti,
eu não posso continuar colocando-o à frente de tudo. Eu mesma disse que ele tinha
prioridades, eu mesma pedi que parássemos de manter contato direto. Como ele
vai fazer o certo, se eu mesma quebro o acordo que propus?
— Deixe-me adiantar que você terá todo o lucro por suas criações,
pretendo encaixar dois ou três vestidos seus no Paris fashion Week, e talvez já no
NY Fashion, você poderá participar como umas das estilistas mais cotadas.
Eu devo estar com meu queixo no chão. Isso é o sonho de todo estilista
desconhecido. Ter um padrinho famoso e disposto a ajudar, te dando cem por cento
de tudo que produzir.
— Eu quero realmente que aceite. — Ele era fervoroso em suas palavras.
— Seremos perfeitos juntos, imbatíveis, não haverá ninguém que consiga usurpar
seu lugar no topo.
— A proposta é incrível, mas eu preciso conversar com minha tia antes e
ver os prós e contras de uma mudança de pais.
— Um mês para você pensar! — exclamou meio ansioso, quando a ansiosa
aqui deveria ser eu.
— Perfeito. — Sorri. — E se eu decidir antes, te aviso.
Trocamos nossos números e conversamos mais um pouco. Em seguida
rumamos para fora do restaurante, onde Jason me esperava e ficou do meu lado
assim que coloquei a cara na rua.
— Jean Pierre, esse é meu brother, Jason — apresentei os dois e notei que
o aperto de mão demorou um pouco mais que o normal. Ambos pareciam medir-se
mutuamente.
— Vamos, bonequinha? — Jason chamou e eu ri, ele acabou adotando o
apelido do Royce.
— Claro, vamos sim, direto para casa. Até mais, Jean Pierre.
— Até, Belle Fleur…

***

Fingir, é assim que eu venho me mantendo nesses últimos dias. Por fora
pareço bem, mas por dentro estou quebrada, entretanto, ninguém precisa saber, não
quero ver as pessoas que amo sofrendo comigo.
Então por isso mesmo eu dou um sorriso quando quero chorar, digo que
está tudo bem quando não está, digo que vou superar quando não estou nem perto
disso.
E pela primeira vez em minha vida, eu não consigo desenhar.
Nada, absolutamente nada sai. Minha separação de Rocco me afetou de
uma forma muito mais primitiva. Deixei de lado a proposta de Jean Pierre, apesar
de ser um sonho, eu não a via assim, a euforia do momento passou, até a alegria
pelo casamento da minha tia passou. Nem vontade de brincar com o enorme
Balofo eu tinha.
Fui tomada por uma estranha apatia, era algum tipo de tristeza tão
profundamente enraizada que às vezes até puxar um fôlego mais profundo era
difícil. Não sei se você já passou por isso, mas eu posso dizer que é muito ruim.
Imagine sentir como se a cada dia um pedaço seu fosse morrendo sem que pudesse
fazer nada para evitar, e depois a sua vontade também começa a morrer e você não
consegue entender o porquê de não se importar.
Sim, eu não me importo… se chove, se faz sol, se o dia está lindo. Eu
passo pelos dias, sem notá-los, eles são como borrões indiferentes. Sem causa,
sem propósito.
E sabe quando isso começou?
Assim que pus os pés em casa depois de me despedir de JP. Mantive meu
celular desligado e não saí de casa. Fiquei apenas pelas dependências vagando.
Como eu disse, eu fingi, busquei não sentir. E acho que consegui, porque tia Laura
ainda não parou para me questionar, e eu agradeço a Deus por isso. Jason me
encara de vez em quando e balança a cabeça negativamente, eu sempre digo que
está tudo bem, depois eu peço licença, vou para meu quarto e choro.
Sabe, durante muito tempo eu pensei que fosse forte, agora vejo que não
sou. E sim, agora mais que nunca eu entendo minha mãe.
Saí de dentro de casa e rumei para o balanço no quintal. Sentei nele de
cabeça baixa e comecei a balançar lentamente.
Ai, Senhor, eu preciso da sua ajuda, não consigo fazer o vestido da minha
tia. O Ricardo já está louco para casar, tanto é que já convenceu minha tia a
sair da loja. O senhor sabe que tia Laura é mais prevenida que três pessoas
juntas e já arrumou uma substituta, agora ela faz o treinamento da Alice dia e
noite… Para poder estar livre e viver seu amor plenamente!!!
Sorri levemente, eu converso com Deus, já falei. Pode parecer estranha a
forma, mas Ele me entende, então isso é o que verdadeiramente importa.
Continuando, o maior de todos os problemas consistia na insegurança de
tia Laura em ir embora quando se casasse. Ricardo tinha sua vida no Brasil, tudo
que ele construiu estava lá, então era lógico que minha tia iria para o outro lado do
oceano. E por isso também eu teria que me mostrar ainda mais forte, trancar minha
dor sob camadas e mais camadas de fingimento bem ensaiado.
Eu tenho que mostrar que sou uma mulher de quase vinte e quatro anos,
com consciência dos meus direitos e deveres. Não permitirei que minha tia fique a
vida toda ao meu redor, como se eu fosse a qualquer momento quebrar. Não sou
tão frágil assim.
— Já chega! — Ergui minha cabeça, espantada com a voz do meu amigo.
— Você pode enganar quem quiser, mas a mim não engana!
— Royce, para com isso, me deixa, estou ótima! — E lá estava meu
sorriso ensaiado.
— Faça o sorriso chegar aos olhos, bonequinha! — exclamou com raiva, e
eu alarguei meu sorriso, mas a verdade era que eu mentia. E eu era uma péssima
mentirosa.
— Tudo ficará bem, meu querido, dê-me tempo e verá.
— Você engana tia Laura descaradamente, ela jura que você está bem, não
é para menos, você fica tão eufórica com ela em casa que até eu noto que você
interpreta. Mas tia Laura está tão cheia de coisa na cabeça que nem percebe. Eu
juro que vou contar para ela se você não levantar essa bunda magra e me seguir.
— Ei, pare com isso! Tia Laura não precisa interromper a felicidade dela
porque eu tive um fracasso amoroso.
— Pare com isso, a época de mártir acabou, seja forte, levante e cabeça e
siga em frente — rosnou cruzando os braços. — Levanta sozinha ou eu faço isso?
— Levanto sozinha! — resmunguei e ouvi a risada do Jason.
Ele estava meio escondido e saiu do beco junto com um Balofo enorme
tomado banho e fofo.
— Antes, quando você estava triste ou o quer que fosse, você cantava!
Vamos, venha extravasar sua dor na música! — Royce me chamou e eu fiz careta
que foi devidamente ignorada. — Você ainda tem o violão do seu pai?
— Eu tenho, mas ele está guardado há séculos, deve estar desafinado, e eu
não toco mais, nem lembro as notas — murmurei acompanhando Jason, Royce e o
Balofo para dentro e casa.
— Onde está o violão? — Jason perguntou e eu o levei para meu quarto,
apontando, assim que chegamos, para cima do guarda-roupa.
Fazendo uma careta para o lugar onde eu o guardei, Jason esticou-se e
começou a puxar o instrumento que estava guardado dentro de uma capa protetora
preta.
Quando ele abriu o saco notei que seus olhos brilhavam. O violão do meu
pai era negro, com algumas gravuras entalhadas nas laterais da madeira, era sem
sombra de dúvida uma verdadeira beleza.
— É lindo, não é? — perguntei dando um sorriso verdadeiro.
— É maravilhoso, incrível! — exclamou encantado e eu suspirei.
Meu pai tocava divinamente. Ele era mágico com um violão na mão. Seus
dedos acariciavam as notas de tal forma que hipnotizavam as pessoas ao redor.
Eu me lembrava de como era tê-lo aqui tocando para mim e para mamãe.
Agora eu me pergunto, por que eu parei de tocar? Meu pai me ensinou desde nova,
e depois de sua morte eu não consegui mais… era muita saudade.
— Vamos, o ensaio da minha antiga banda vai começar — Royce chamou.
— Eles irão fazer uma apresentação em alguns dias, precisam ensaiar mais que
antes, entretanto, eu pedi uma ajuda e vamos fazer um cover da música que você
escolher. Hoje, Victória, você vai cantar e tocar.
Mesmo sob protestos, eu fui para o ensaio da banda Corporius. Chegando
lá fui cumprimentada e Jason já tinha entrosamento com todos. Fiquei por ali,
observando abismada como eles eram bons. A banda era simples, composta por
um guitarrista sarado (que tocava sem camisa), uma cantora linda de viver, um
baterista cabeludo e um remixador meio chinês.
Eles tinham músicas autorais, mas estava tocando algumas composições de
sucesso. Vibrei com a nova roupagem que eles deram para Radioactive —
Imagine Dragons eu amava essa música e ouvi-la ao som da guitarra e da voz
feminina de Alana era tipo de outro mundo. Depois eles cantaram Always — Bon
Jovi… E isso foi só o começo. Na metade do ensaio eu me sentia um pouco mais
leve, e foi aí que Kadeon, o guitarrista, fez um solo monstruoso da banda Guns N’
Roses.
Eu estava tipo abobalhada quando Royce parou na minha frente e me
entregou o violão do meu pai.
— Está afinado e limpo, escolha a música e vamos tocar.
Pensei um pouco e logo eu já sabia qual eu iria tocar e cantar. A melodia
não era difícil, e a letra dizia muito do que eu sentia. Na verdade a música parecia
que havia sido feita para esse momento.
— I Never Told You. — Suspirei fechando os olhos. — Colbie Caillat
— Sabemos a música e a letra, vamos nos preparar — a cantora falou indo
para um teclado, Kadeon trocou sua guitarra preta por outra vermelha, o baterista
ficou em sua bateria mesmo, o remixador, que se chamava Sakashi, sentou em uma
espécie de caixa de madeira que servia de tambor percussionista, já eu me
posicionei em um banquinho com o violão no colo, acabei por ficar no meio do
ambiente, rodeada pelos outros membros da banda. Royce ajeitou algumas coisas
como baixar a luz, ajustar o microfone para minha altura, etc. Depois ele acendeu
algumas velas aqui e ali enquanto nós entrávamos em sintonia.
— Vou ligar a câmera e no três começamos — Royce falou e eu acenei.
1… 2… 3…
E como se fôssemos uma banda que há muito tempo tocava junta, iniciamos
perfeitamente. E com o prazer e amor que meu pai me passou pela canção, eu
dedilhei perfeitamente enquanto derramava nas palavras da música minha
declaração de sentimento. Era assim, exatamente assim que eu me sentia.
Meus lábios iriam cantar as palavras da minha alma. Então eu comecei e,
sem querer, ou talvez quisessem mesmo, eu olhei diretamente para a câmera que
Royce trabalhava para captar os melhores ângulos.
Consciente ou inconscientemente, quero que ele veja e entenda. Muito
emocionada, abri a boca e cantei.
8
"I miss those blue eyes…”
Capítulo 27
Rocco

Acabei de encerrar a ligação com Dimitri e já estou providenciando tudo


para minha viagem de volta para Londres.
Já chega, não vou me afastar da minha garota, apenas irei com calma, vou
rondar, me aproximar como esse maldito amigo que ela falou. Vou marcar
território sutilmente. E descobrir o que aquele infeliz do Jean Pierre quer
rondando minha garota. Meu pai me mataria se estivesse vivo, mas não posso
evitar. Não vou me casar com aquela puta enquanto não tiver certeza que o filho é
meu. Também não vou fazer minha garota sofrer, dando-lhe esperanças para depois
ter que ferrar com tudo. Entretanto, irei ficar por perto, não quero nem saber.
Depois de deixar tudo pronto para minha viagem de volta, eu vou para meu
computador e entro no Youtube.
Digito Vick F. como o Dinka instruiu e quase caio para trás quando vejo o
perfil da minha garota e um vídeo que foi postado um dia atrás.
Colbie Caillat — I Never Told You (Vick F. feat Corporius - Cover) — on
iTunes e Spotify -500 mil visualizações.
Sentei na cadeira puxando o computador para muito perto de mim. Engoli
em seco, porque agora fodeu, milhares de marmanjos iriam ficar vendo-a na
internet.
— Porra… caralho… e… e… puta que pariu… — rosnei, mas eu tinha
que admitir, mesmo sem dar o play, eu vi que ela estava linda. E por isso eu
precisei respirar fundo, só depois mandei ver.
Até afrouxei a gravata um pouco. Enquanto arregalava os olhos e não
acreditava no que estava vendo Victória estava cantando… para mim. Porra. E ela
olhava para câmera, eu poderia jurar que ela olhava para mim. Não ousei fechar
os olhos. Eu encarei a tela e ouvi a música, prestando atenção na letra, em
segundos eu já estava sorrindo muito. Meu coração se sentia muito mais leve… ou
não, digo, eu estava em uma verdadeira zona de guerra, dependendo de uma
notícia, era quase uma mina terrestre, uma pisada em falso e tudo iria voar pelos
ares.
Sacudi a cabeça, não iria por esse lado. As coisas estavam indo para o
caminho certo. Agora eu só queria ouvir a música.

"I miss those blue eyes


How you kiss me at night
9
I miss the way we sleep…”
— Porra, amore mi,o eu também — murmurei encantado, ela estava tão
linda, e tocava. Cacete, minha garota tocava violão e eu não sabia.
Será possível eu me apaixonar mais? Claro que sim, eu acabei de fazê-lo.
Meu sorriso aumentou e eu voltei minha atenção para a letra, não deixando passar
despercebido o brilho intenso dos lindos olhos verdes na tela.
— Cara mia, eu não tenho palavras para descrever o tamanho da minha
saudade… nada seria bom o suficiente. Absolutamente nada. — Suspirei baixo,
arriado com essa declaração, com a forma como Victória cantava, com a emoção
que ela transmitia.
A mulher que eu amo sofre. Essa era a verdade pura e simples.
Eu não sabia mais o que dizer nem o que pensar, eu só poderia agradecer
por ter entregado meu coração a uma menina-mulher incrível. Victória soube me
dizer de forma sutil como se sente, entretanto foi de forma tão impactante. Para
quem sabe da nossa história entende que cada palavra dita nessa música é
carregada de significado. Ela falava de saudade, solidão.
— Não mais, amor, estou chegando! — exclamei angustiado, eu estava com
muito mais pressa. Precisava tomá-la em meus braços, passar meu calor, mostrar
que ainda estou aqui para o que ela precisasse.
Victória termina a música olhando para a câmera, com os olhos cheios de
lágrimas, eu posso sentir o vulcão de sentimentos explodindo dentro de mim, mas,
principalmente, nesse momento, eu me sinto…
Nocauteado.
Capítulo 28
Rocco

Graças a Dio que eu já estou a caminho de Londres, a partida de NY teve


alguns contratempos, mas já resolvi. Saí sem data para voltar, decidi que só volto
quando eu estiver com tudo arrumado. E isso consiste em:
Deixar Victória muito ciente de que pertence a mim.
Deixar Briana tão desesperada com meu sumiço que ela vai pensar que
passará o resto da vida morando com Mary Clarence.
Surrar Dante assim que eu colocar meus olhos nele.
Dar uma prensa nesse tal de Jean Pierre, quero ver se esse francês de meia
tigela ainda vai chegar perto da minha garota depois que a fera de 1,91 m
chegar junto e de forma nada mansa.
E… bem, vou deixar esse tópico em branco. Caso apareça algum
desventurado querendo mexer com o que é meu.

Cansei dessa merda. Todo mundo quer um pedaço da minha mulher. Eu,
hein. Vão se foder todos.
— Se é para ser bom, eu sou, mas se for para ser ruim, eu serei melhor
ainda! — Estreitei os olhos apertando os dentes, — Ninguém sequer chegou perto
de ver o tamanho da minha capacidade de ruindade! E digo mais, se for preciso, eu
vou…
Respirei fundo e apertei o play no vídeo da minha garota pela milionésima
vez. Eu tinha que me manter focado, eu nunca fui um banana bundão, e não é agora
que vou ser.
Assisti ao vídeo com um sorriso idiota no rosto. Já disse e repito, Victória
me acalma e sinceramente não vejo a hora de chegar perto dela, sentir seu cheiro,
beijar sua boca suculenta e aproveitar para dar umas mordidas naqueles lábios
deliciosos.
— Ai, caralho! — grunhi ajeitando minhas calças, que ficaram bem mais
apertadas agora. Confesso que estou excitado desde que a vi cantando e a
expectativa de ver minha garota está fazendo um trabalho infernal com minha
libido. É uma semana, porra, uma maldita semana! Estou a perigo, não tem jeito. Já
me vejo tendo que me aliviar usando minhas próprias mãos.
Mas que inferno!
Ah, outra coisa, não fiquem chocadas, voltei à era dos palavrões.
— Quem se importa? — Dei de ombros, faz parte. Não sou nenhum garoto,
e se eu quiser extravasar minha raiva usando repertório de caminhoneiro, eu
usarei. Meu único conselho é: tampem os ouvidos ou, sei lá, não leia.
Até parece que vou falar: Ah, que desgosto por não estar ao lado da minha
querida Victória, meu coração dói de saudade. Oh, mundo cruel.
Credo, eu, hein. Completamente gay.
Continuando, como eu ia dizendo, eu assisti tantas vezes ao vídeo que já
decorei a música e as caras e bocas da minha garota, que, diga-se de passagem,
são todas lindas e tentadoras.
Agora um momento útil.
Mulheres, uma dica: se você quer deixar seu homem doido, tipo um besta
dominado e apaixonado, seja sutil. Dê dicas, faça-o querer degustar o seu
mistério. Seja aquilo que ele nem sabe que procura, e, quando conseguir, torne-se
indispensável. Victória de alguma forma fez isso comigo.
Não aja como uma jamanta sem freio carregada de tijolo enquanto desce
uma ladeira, você vai assustar seu homem e fazer o pobre coitado correr o mais
longe que suas pernas puderem. Deixe essa coisa de DNA neanderthal para nós,
homens, é melhor, vão por mim… Seja a bonequinha, deixe os homens vestirem as
calças, mas saiba que, no fim, é o sim, senhora, que vocês ouvirão.
Olhem para mim, no começo eu nem acreditava nessas porras do coração,
eu até disse que ninguém morre de amor, digo o mesmo, a pessoa não morre, mas
sofre para caralho. Meu amigo, eu estou assim, vivendo pela metade. Sabe aquela
saudade de olhar para a pessoa de que você gosta? Pronto, estou assim, e digo,
estou a meio caminho da loucura, penso que essa semana eu me mantive muito
ocupado para não pensar na saudade, mas daí foi esse vídeo aparecer e cá estou
eu.
FODIDO.
Suspirei esfregando minha barba, nem liguei para minha aparência. Estou
barbudo, mal-encarado, estressado e briguento. É, não me encare muito.
Sem querer, minha mão bateu no teclado e a página rolou. Os próximos
dois segundos, eu diria para tampar os ouvidos, pois meus palavrões não foram
nada bonitos.
Eu estava vendo os comentários sobre o vídeo, e não estava gostando
nadinha.
*Que gata! Porra, uma beleza dessas dando sopa por Londres e eu aqui
solteiro…
*Que olhos… que boca e, principalmente, que voz! Nossa, imagino essa
mulher cantando no meu ouvido, ai, delícia… vem aqui na minha casa, eu tenho
olhos azuis.

— Um morto e outro cego! — rosnei, sentindo meu estômago dando uma
volta de tanta raiva. Mesmo assim, continuei lendo, gosto de apertar a ferida, digo,
a minha ferida.
*Participa do Britain’s Got Talentm gostosa, eu quero te assistir lá ao
vivo.
*Adoro essa música, e na sua voz ficou linda. Parabéns, e, por favor,
posta mais… bjosss.
— Só um comentário agradável! — bufei e vi que o comentário que eu
aprovei foi feito por uma mulher.
Merda.
Bando de infelizes de olho na mulher dos outros.
Parei de ler os comentários, porque eu estava ficando cada vez mais irado.
Voltei a assistir ao vídeo como um groupie louco que ataca o replay violentamente
quando seu artista favorito publica uma novidade. Faz parte, eu sou um homem
apaixonado, ver minha garota mesmo que seja através do Youtube me acalma.
Relaxei na cadeira, expulsando tudo da minha mente, era melhor assistir
que ficar pensando igual a um psicopata.
— Amore mio, quando eu te pegar… — Não terminei a frase, meu membro
vibrou na calça, e acho que minha boxer não é do tamanho certo. Coloquei a mão
novamente e dei uma mexida para aliviar a tensão, é tão foda estar excitado e só
querer alcançar o êxtase de uma forma.
“Ah, Victória, se prepare! Essa história de amigos não cola, porra, se for
assim, eu quero direitos e vantagens…”, pensei puxando minha polo azul de
dentro da calça, só assim para esconder meu terceiro braço.
Ei, não ria, eu sei que sou pauzudo! E para um homem, nada melhor do que
ter um pau grande e potente. Claro, levando em consideração que tem que saber
usar, porque não adianta o tamanho da vara se você não sabe pescar.
***

Cheguei a Londres e fui recebido pelo Dinka, e pela cara do meu amigo, eu
sabia que tinha problemas.
— Ainda bem que você chegou! — resmungou esfregando o rosto cansado.
— William sumiu e eu não consigo encontrá-lo. — Fez uma pausa. — E acho bom
você conversar com Jason, ele tem algumas coisas para contar.
— Vamos para a casa da Victória — resmunguei e o Dinka fez careta. — O
que é?
— Meu amigo, eu sei que você quer vê-la, até eu não vejo a hora de tudo
se resolver… — resmungou. — Mas o Conde precisa de nós, confie em mim, esse
ano está pior, eu temo que ele cometa alguma loucura.
Pensei durante algum tempo, eu estava remoendo a saudade mas Victória
está segura, e eu terei a chance de vê-la, assim que eu encontrar o conde eu vou
vê-la…
— Vamos encontrar aquele bastardo loiro! — grunhi e o Dinka acenou
concordando.
Nesse primeiro momento, nós rodamos em vários bares, hospitais,
hotéis… enfim, amanhecemos o dia procurando o paradeiro do conde. Agora que
eu sabia o motivo de ele enlouquecer nesta semana específica do ano, eu estava
realmente preocupado com a saúde mental do meu amigo.
“Como ele aguenta conviver com a saudade? Sabendo que nunca mais
vai vê-la nem que seja de longe? Ou pelo menos saber que ela vive e respira em
algum lugar?”, me questionei, ainda chocado com essa história desde que ele nos
revelou o motivo de seu sofrimento e retraimento.
— Dimitri, o aniversário de morte da Isabela é daqui a 3 dias — falei,
entrando nesse assunto delicado. — Will já está louco agora, e quando chegar o
dia?
— Não sei — respondeu mordendo um sanduíche, estávamos tomando café
da manhã na rua. — Sinceramente, eu espero poder estar com meu amigo nesse
momento! Na moral, Rocco, de nos três, William é o mais resistente, eu não sei se
seria tão duro como ele é. Se alguma acontecer com a minha pirralha, eu acho que
destruo meio mundo! — resmungou olhando para além de mim, era quase como se
falasse consigo mesmo.
Tive que concordar, pois de fato era a mais pura verdade. Precisávamos
encontrar William antes que fosse tarde, não iríamos permitir que ele passasse por
isso sozinho. Daremos apoio e levaremos porrada se ele quiser extravasar. Mas
sozinho ele não pode ficar.
— Você já olhou o apartamento do Will? — perguntei porque ainda não
fomos lá. E isso é uma idiotice, esse era para ser o primeiro lugar que deveríamos
procurar. O problema era que Will fazia o maior mistério sobre o lugar, nem o
número do apê nós sabíamos, apenas a localização do prédio.
— Fui, o porteiro e a turma da recepção não avistaram o conde desde a
semana passada.
— Você subiu? Verificou dentro do apê?
— Não, seu boiola! Eu não tenho a chave dessa porra! Eu nem sei qual apê
é, e mesmo se soubesse, como eu iria passar pelo porteiro, pelos três
recepcionistas?
Bufei e acabei por dar uma tapa na nuca do Dinka, fazendo a cabeça dele
chicotear para frente.
— Endoidou, seu viado? — rosnou, limpando o suco de laranja que
molhou seu rosto.
Ri baixinho, porque as pessoas ao redor do café que paramos para comer
estavam olhando.
— Vamos lá e vamos entrar nesse apartamento! Não ligo se é proibido, o
conde que se morda depois.
— Vamos, você vai entrar primeiro, a ideia foi sua, e espero que receba a
primeira paulada por invasão!
— Bicha! — grunhi
— Moça chorona! — retrucou e logo estávamos nos organizando para sair
dali.
Chegamos ao imenso prédio onde o conde mantinha seu apartamento
proibido. Era uma coisa de louco, mas nem eu nem o Dinka tínhamos autorização
para entrar, e por mais que nós tirássemos o sarro com a cara um do outro, a
preocupação era grande. Olhei o Dimitri e o vi abrindo os três primeiros botões
da camisa, depois ele enrolou as mangas e pediu meus óculos escuros.
Entreguei cruzando os braços.
— Que viadagem é essa? — perguntei, me ajeitando um pouco, estava
amarrotado, cansado e precisando dormir um pouco.
— Você já viu que na recepção tem só uma mulher? — perguntou e deu
uma mexida no cabelo, em seguida enfiou a mão na calça.
— Que porra é essa, seu tarado? — grunhi estressado. — Não me diga que
você vai assediar a pobre coitada? — Franzi a testa para o tamanho da cara de pau
do Dinka.
— Estou só dando uma ajeitada no meu bebê — falou tirando a mão de
dentro da calça. — Vou assediar só um pouquinho, espero que ela não resista! —
Sorriu e ergueu o punho esperando que eu tocasse.
— Vai sonhando, você mexeu no saco! Deus me defenda de tocar sua mão
agora, seu viado, eu curto boceta, e não rola.
Dando de ombros, o Dinka sai do carro. Na moral, esse meu amigo é um
escroto.
Observem.
Assim que entramos, seguimos direto para a recepção, o Dinka ia um
pouco mais à frente. Assim que chegamos perto, a moça da recepção arregalou os
olhos e deu uma conferida no meu amigo. Camisa meio aberta, cabelos
bagunçados, jeito descolado e o principal, as tatuagens à mostra. Notei que ela deu
uma encarada a mais no meio das pernas do safado.
Tadinha, até lambeu os lábios, nem sabe que está prestes a ser atacada.
— Olá… — o Dinka falou e olhou para o crachá da moça, enquanto
aproximava-se o suficiente para encostar-se no balcão. Claro, ele fez isso depois
que a ela deu uma boa olhada no material. — … Michelle… — Eu quase ri, pois
meu amigo baixou a voz e usou um tom meio sussurrado quando falou o nome dela,
a pobrezinha ruborizou toda. — Uhnn, eu… — Agora o tarado inclinou-se para
frente, fazendo a Michelle ofegar baixinho. — Você poderia, por favor, indicar
qual é o número do apartamento do William Savage?
— Si-sim… digo… — gaguejou e eu revirei os olhos, parece que o
cérebro dela falhou, Dimitri é um miserável. — Não po-posso é…
— Querida, somos os amigos dele, libere nossa entrada. Por favor, uhn…
— ronronou, esticando-se ainda mais sobre a recepção. — Faça isso por mim e eu
posso, quem sabe, fazer algo por você…
— Cobertura! — exclamou e o Dinka mordeu o lábio, aproximando-se o
suficiente para dar um selinho nela.
— Obrigado, Michelle — sussurrou e eu notei que a garota prendeu a
respiração.
Logo estávamos caminhando apressados para o elevador.
— Filho da mãe! — grunhi
— Fica na sua! — revidou devolvendo meus óculos. — Precisávamos
entrar, e eu consegui. Deixa de reclamar. Parece que está ficando velho! Eu, hein!
— E se ela pedisse uma foda? — questionei de braços cruzados.
— Com certeza deve ter algum quartinho por aqui!
Fiquei calado porque, não adianta, o Dinka é um doido tarado e escroto.
Mas mesmo assim é um dos meus irmãos.
Eu amo esse idiota… Ou melhor, eu não amo, não, eu o considero. Eu não
amo homens, não, de jeito nenhum.
Finalmente chegamos à cobertura e já saímos no hall. O andar era inteiro
do William.
Paramos em frente à porta e, depois de respirar fundo umas duas vezes,
começamos a chamar. Chamamos pelo William durante alguns minutos, e já
estávamos desistindo quando um barulho nos alerta de que ele está em casa e não
quer abrir a porta.
— Arromba! — Dimitri rosnou e nos afastamos.
— Essa porta é de madeira maciça, precisamos bater juntos — grunhi, já
sentindo o sangue quente.
— No três então… — Dimitri grunhiu e tomamos distância. — 1… 2… 3!
Impulsionamos e batemos juntos, a porta rangeu alto, mas não quebrou,
meu ombro doeu para cacete, mas nos afastamos e, tentando novamente, na terceira
tentativa a porta cedeu e entramos com tudo só para congelar com a cena diante de
nós.
William estava ajoelhado, sem camisa, diante de um quadro enorme
enquanto chorava copiosamente, balançando-se para frente e para trás. Nós nos
aproximamos, e notei que ele estava com os braços em forma de X, era como se
ele estivesse se abraçando, para, de alguma forma, manter-se inteiro, e não só
isso, meus olhos foram atraídos para a grande tatuagem em arco em suas costas,
que ia de ombro a ombro.
Essa tatuagem não estava aí no dia que dormimos na casa da minha garota!,
pensei mas logo deixei de lado, não era importante. O que dizia a tatuagem, sim…
Isabela, amica meã, mea vita, cor meum aeterna dolor…
A frase foi feita com letras bem-desenhadas, cheias de arabescos e
detalhes. Minuciosamente “entalhada” na pele.
— O que diz a tatuagem? — Dimitri sussurra baixinho, pois o Conde
parece em transe. Claro, fizemos um barulho horrível derrubando a porta e ele nem
pareceu notar. Prestando mais atenção ao lugar, é que notamos que a verdade era
que nosso amigo estava cultuando a pintura gigante, o ambiente só era iluminado
por velas, pesadas cortinas cobriam as paredes, que eu achava serem de vidro. A
situação estava ruim… muito ruim.
— Está em latim e diz: Isabela, meu amor, minha vida, meu coração, minha
eterna dor — respondi sussurrando.
Estando tão perto pude ouvir que ele declarava palavras de desespero e
saudade para a garota no retrato. Ali, em suas palavras, havia muita negação e
arrependimento, desejo e decepção por não haver tido a oportunidade de viver
esse amor.
Senti meu coração quebrar pelo meu amigo. Eu nunca o vi dessa forma e
jamais pensei que pudesse chegar a ver um homem tão duro e frio como William
quebrado a esse ponto.
Prestei atenção no quadro que ia quase do chão ao teto e vi que, com
certeza, essa deveria ser a Isabela, realmente ela era linda e tinha um sorriso
enorme, aparentemente feliz. No chão, ao pé do quadro, havia, um diário, uma flor
murcha, uma fita e uma pequena foto, que julgo ser a que foi reproduzida no
quadro. Há uma vela em frente de cada um desses objetos.
— Puta que pariu! — Dimitri exclamou e eu o olhei, provavelmente minha
cara deve estar igual à dele, completamente angustiada, chocada, triste e… porra,
nem sei mais o que dizer. Nós sabíamos que Will surtava uma vez ao ano, mas
nunca presenciamos. Na verdade, o Conde sempre foi duro, frio, retraído e com
humor negro. Às vezes em que ele se soltava um pouco era quando estávamos o
três juntos ou bêbados.
Então, como se percebesse nossa presença ali, o William parou seu
balançar, abriu os olhos e… Enlouqueceu. Não tivemos tempo de revidar, o conde
parecia uma besta enfurecida. O primeiro a levar o murro fui eu, cambaleei para
trás atordoado, mas ainda pude ver o Dinka levar dois murros em seguida. O
William me encarou.
Seus olhos azuis estavam em brasa, ele parecia realmente possuído.
— Como ousam invadir esse lugar? — berrou alto, enfatizando a palavra
que denotava sua possessão a essa cobertura. — Me deixem em paz, PORRA! —
urrou enfiando as mãos nos longos cabelos bagunçados. Ele olhava para mim e
para o Dinka, na real, o Will parecia febril, e eu acho que só havia uma forma de
acalmá-lo.
— Venha. — Abri os braços — Descarregue sua dor.
— Estamos aqui para você — Dimitri completou, limpando o sangue da
boca. — Aguentamos o tranco.
Com um rugido de animal ferido, William voou em cima de mim, e nos
atracamos, pernas e braços para todo lado.
É, amore mio, espero que aceite o Frankenstein quando eu bater em sua
porta… Suspirei, protegendo de um murro na cara, levando outro no estômago.
Logo em seguida, o Dinka entrou pelo meio e saímos destruindo tudo pelo
caminho.
— Caralho, isso vai ser foda! — rosnei, me defendendo de uma joelhada.
— E o dia ainda nem começou direito… — Dinka completou, fazendo
William rosnar puto de ódio, por havermos “invadido” o santuário dele.
Capítulo 29
Rocco

— O que faremos, Dimitri? — perguntei nervoso, cansado, estressado e


mais um sem fim de coisas. O dia passou terrivelmente lento e entre apanhar e ver
William sem me sentir pior que um lixo, eu cheguei à conclusão de que
precisávamos de algo mais.
— Eu… hum… — O Dinka desviou o olhar de mim e esfregou o rosto. —
Já pedi ajuda, eu percebi faz tempo que as coisas aqui só tendem a piorar.
— E você pediu ajuda a quem?
— Eu chamei a única pessoa que pensei que conseguiria acalmar essa fera!
— resmungou. — Só te peço que não me mate, por favor. — Ergueu as duas mãos,
afastando-se de mim. — Meu corpo precisa de descanso, não tem canto para levar
mais porrada! O Thor já deu conta de tudo.
— Me diga por que eu vou querer te bater, seu fresco? — rosnei, fechando
as mãos em punhos e indo para perto dele.
— Eu chamei…
Nesse momento a campainha tocou e William surtou novamente, ele saiu de
onde estava “escondido” e entrou na sala parecendo um furacão, arremessando a
garrafa de uísque que segurava contra a porta.
— Filhos da puta, fora daqui! FOOOORA, PORRA! — berrou alto, vindo
para cima de mim, dessa vez eu revidei, fechei o punho na cara do conde e a
pancada foi tão forte que sua cabeça chicoteou para trás.
Puta merda, eu e o Dinka chegamos aqui de manhã, e já eram quase onze da
noite, ou seja, passamos o dia, entre berros alucinados, garrafas vazias de bebida
jogadas contra parede, surtos psicóticos do Conde, momentos de choro
desesperado, adoração à garota no quadro e muita… mas muita pancadaria.
Esse tempo todo eu e Dinka levamos porrada, defendendo, é claro, o
máximo que podíamos do rosto, mas, mesmo assim, o Will nos acertou. Entretanto,
meu tórax parece que foi feito de saco de pancada, estou ficando todo roxo, o
Dinka também. O foda é que pensávamos que deixar nosso amigo descarregar a
raiva iria funcionar, mas não funcionou, ele está mais e mais violento.
O momento em que mandamos trocar a porta arrombada foi a mais terrível,
eu e Dimitri usamos muita força para levar o maldito touro bravo para dentro do
quarto. E lá foi uma verdadeira confusão. Ganhei um olho roxo, o Dinka um lábio
partido e o conde alguns hematomas.
Eu estava quase no limite, não sabia quanto mais aguentaria antes de
colocar o Conde na camisa de força.
— NÃO OUSE ABRIR ESSA PORTA! — Will gritou saindo de perto de
mim e correndo para a porta. Mas já era tarde demais, o Dinka escancarou a porta
e eu congelei.
Victória…
Senti a pancada da saudade abalar minhas estruturas. Eu estava tendo um
momento de encantamento. Eu era, sim, um louco apaixonado e tarado compulsivo
por essa mulher.
“Dio Santo, não sei o que será de mim… Eu me sinto um masoquista por
querer ficar perto dela, sem ter certeza do próximo passo!”, nesse momento
minha linda garota ergueu a cabeça, justo na hora em que William ia para cima.
Eu gritei, e o Dinka deu uma de jogador de futebol americano, ele
interceptou o conde com uma batida forte, fazendo-o cair no chão. Entretanto, não
sei o que movia esse bastardo, ele levantou e mesmo com a boca sangrando do
meu murro e da ombrada violenta do Dinka, ele parecia não se importar.
Já eu, estava pensando nas formas que mataria o Dimitri, o que esse
bastardo estava pensando quando resolveu trazer Victória para essa zona de
guerra? Não sabia a resposta, e sinceramente não fazia diferença. Eu tinha que
tirar minha garota daqui.
Olhei para Victória e ela estava muda, ainda parada na porta. Ela olhava
para a sala destruída, depois seu rosto virou para mim e seus olhos correram meu
corpo. Vi o momento em que seus olhos arregalaram, e ela levou uma das mãos à
boca.
Ela me avaliou com olhos amorosos e fez muitas caretas de dor enquanto
olhava meus machucados, em seguida, sua atenção estava no Dinka, e ele estava
tão ruim quanto eu. Nossos machucados expostos porque estávamos apenas com
calças, eu e o Dinka de jeans e o Conde com uma de moletom.
O silêncio reinava. Oprimia de alguma forma… Deixando-nos ainda mais
tensos, era como se ninguém ousasse dar o primeiro passo.
“Eu não sei quem vou matar primeiro!”, pensei estreitando os olhos. “O
Dinka ou o Conde. A dúvida é fodidamente cruel!”
Mas justo nesse momento o William caminhou até o meio da sala, ele olhou
para o quadro e depois para Victória, parada como uma estátua horrorizada.
Então, com um berro de dor, ele caiu de joelhos, escondendo o rosto nas
mãos esfoladas.
Eu fiz menção de ir em direção à minha garota, mas ela parecia que só
tinha olhos para o Conde, o Dinka afastou-se e com cuidado, Victória começou a
caminhar até onde meu amigo havia desmoronado. Eu grunhi alguma coisa, mas ela
não parou, dei um passo, mas o Dinka entrou na minha frente.
— Só a delicadeza dela pode nos ajudar! — sussurrou. — William não iria
parar nunca, então eu pensei nela… eu sabia que Victória viria em nosso auxílio.
— Você não deveria — rosnei travando o maxilar. — Você colocou
Victória em risco, depois seremos eu e você! Essa não irei deixar passar.
— Com luvas ou sem? — perguntou dando de ombros
— Sem.
— Ótimo! — grunhiu saindo da minha frente. Instantaneamente, meus olhos
foram para a aproximação que Victória fazia do conde. Meu corpo tremeu,
preparado para atacar se ele ousasse fazer qualquer movimento idiota.
— William… — Victória sussurrou — Querido…
Fechei os olhos durante alguns instantes, eu senti tanta falta de sua voz…
Mesmo assistindo àquele vídeo como um louco, ouvir a voz da minha garota ao
vivo era incrível. Era como se ela estivesse fazendo carinho em minha pele sem
me tocar, ou melhor, ela me tocava de forma primitiva. Eu era um marujo que foi
enfeitiçado pela voz de uma sereia.
— Olha para mim… — pediu com carinho e isso fez o conde tremer um
pouco mais, os ombros despencando, piorando sua pose de derrota. Ele deve ter
percebido que por causa de sua loucura esteve prestes a ferir Victória, agora a
realidade bateu… E era, ou poderia ter sido, muito dolorosa, para ele, para mim,
mas, principalmente, para a mulher na sala.
Sem fazer barulho, Victória tirou a boina escura que usava, os óculos de
grau e a bolsa, colocando tudo no chão com cuidado. Em seguida ela deu os
últimos passos em direção ao conde. Inclinei-me para frente erguendo um braço,
foi instintivo, eu bem sei do que o conde é capaz, nesse momento, ele era um
animal raivoso lambendo as feridas, ele não queria ajuda, e eu temia que William
surtasse novamente e atacasse minha garota de novo, estando tão perto como
Victória estava, eu não teria tempo de evitar o pior.
— William… Por favor, me deixa te ajudar — ela sussurrava baixinho,
com suavidade. Mesmo estando a uns dois metros de distância, notei que ela
ergueu uma mão trêmula para acariciar a cabeleira assanhada do Conde. Apesar
de estar tentando se aproximar, ela tem medo.
Então, sem que esperássemos, o Conde abraçou sua cintura. Victória soltou
um ofego e fez uma careta de dor, eu rosnei, o Dinka me segurou, mas não teve
jeito. Eu o reboquei junto comigo.
Estava quase em cima quando Victória ergueu uma das mãos e balançou a
cabeça negativamente.
Eu notei que gotas de suor pontilhavam sua testa. Imediatamente meu alerta
gritou mais alto, a sala estava fria, ela não deveria estar suando, aliás, Londres
está frio… então…?
— Tudo bem! — falou para mim sem fazer som, logo sua atenção voltou
para o meu amigo. — Não sei o que te causou tanta dor… — murmurou
acariciando os cabelos do Will, que agora descontrolou no choro mais uma vez.
Era estranho eu dizer, mas não estava com ciúmes, digo, o ciúme não era
algo que pudesse ser controlado e eu tinha de sobra, todos sabem. Entretanto,
agora eu não sentia, e mesmo vendo que William estava abraçado à cintura de
Victória como se isso fosse sua tábua de salvação, eu não senti nenhuma fagulha de
ciúmes.
Desajeitadamente o conde enterrou o rosto na barriga dela, e, porra, ele
chorava alto, com grandes e sofridos soluços que faziam seus ombros sacudirem.
— William, acalma o seu coração. — Victória falava com uma voz tão
suave e doce que eu me senti acalmar. Não sei como era possível. — Alivia esse
sofrimento, meu querido, abre a sua alma. Deixa essa dor ir embora…
Ficamos em silêncio, Victória nunca deixava de fazer carinho no cabelo do
conde, que, depois de alguns minutos, ergueu a cabeça e olho para ela. Nesse
instante, algo aconteceu.
Senti minha pele arrepiando, era quase como se houvesse uma energia
crepitando no ar.
— Eu odeio minha vida… — desabafou fervoroso. — Nada do que eu
tenho irá trazê-la de volta para mim! Minha imensa fortuna não me proporcionará
um único dia com ela, nada posso fazer… absolutamente nada. — Will soluçou e
engoliu em seco, seu olhar fixo. Eu me aproximei mais um pouco e vi que Victória
olhava para meu amigo de forma carinhosa, mas era um tipo de carinho diferente
— Deus te deu a vida, você deve amá-la. — Parou um segundo e acariciou
o rosto dele, limpando suas lágrimas devagar. — Não dê graças apenas na alegria,
dê graças na falta dela também — falou suavemente. — Você deve agradecer por
poder acordar todos os dias, por poder respirar, por simplesmente viver… Isso é
uma dádiva.
— Ele me odeia… — soluçou e Victória sorriu, enquanto passava os
polegares pelas lágrimas do meu amigo que escorriam em um fluxo constante. Era
como se William nem notasse seu choro.
— Como é possível odiar um filho? — Victória sussurrou baixo, tranquila
como a brisa, carinhosa como só ela poderia ser.
— Acredite, Ele me odeia! — William insistiu. — Ele me tirou a mulher
que amo, nunca acalmou minha dor… nunca me deu uma oportunidade, Ele nunca
me deu felicidade. Ele me odeia, tirou meu coração do peito. Não pude fazer nada,
nem pedir perdão. Ela morreu e não pude pedir perdão — Will quase gritou o
final, seu corpo sacudiu. Victória fechou os olhos.
— Ele sempre viu a sua dor e sofreu mais que você! Como um pai que ama
seus filhos de forma tão intensa, cada lágrima sua era como um açoite em sua pele.
Exatamente iguais às chicotadas que dilacerarão sua carne no dia do cumprimento
da promessa, suas lágrimas o ferem de tal forma. — Victória falou arrepiando-me
muito. — Mas, William,você nunca o permitiu entrar, Deus bate todos os dias em
sua porta, mas você não abre. Ele nunca entrará sem permissão, meu querido,
depende apenas de você abrir a porta e convidá-lo. — Houve silêncio, nem o
vento fazia barulho. — Deus mandou te dizer que ele tem uma promessa com você,
mas você terá que ter fé, pois a palavra diz que todo aquele que nele crê, não
perecerá, mas terá a vida eterna! — Victória sorriu largamente segurando o rosto
do William com as duas mãos. — Você crê? — perguntou, e o conde engoliu em
seco. — Você acredita que Deus tem uma promessa para você? Você acredita que
Ele conhece o seu sofrimento e só precisa que você permita para que Ele te dê a
resposta que há muito você busca?
William arregalou os olhos de forma chocada. As palavras da Victória
pareceram tocar algum ponto oculto.
— Como é possível? — sussurrou baixinho sem acreditar. — Nunca falei
com ninguém sobre meu desejo mais intenso e profundo…
— Deus te conhece desde o ventre da sua mãe, Ele sabe quantos fios de
cabelo tem em sua cabeça, para Deus nada é impossível, pois ele é Cristo, o
senhor dos exércitos. O Rei, acredite, William, que tudo é possível para todo
aquele que nele crê, então eu volto a perguntar, você acredita que Deus te dará a
sua resposta? — sussurrou, inclinando-se um pouco até estar a alguns centímetros
de distância do rosto do conde, e mesmo assim eu ainda não tinha ciúmes.
E eu me perguntava por que… por que… por que. Era como se esse
sentimento houvesse sido desligado.
— E-eu…— William gaguejou baixo, parecia um garoto perdido.
Então Victória começou a sussurrar palavras tão bonitas e tão fortes que eu
senti um nó no estômago.
— Confie em mim todo o teu sofrimento, entrega em minhas mãos suas
angústias, me deixa te cobrir com meu manto… Afastarei de ti toda dor, acalma-
tem filho meu. Pois sempre estive ao seu lado, mesmo quando gritava e me
odiava, eu nunca te deixei e nem desisti, pois sei que você precisa de mim, e eu
estarei aqui… sempre estive aqui, nunca te abandonei… Eu sempre te amei.
William fechou os olhos, e eu vi os rastros que suas lágrimas silenciosas
deixavam.
— Não sei o caminho… — sussurrou — Eu me sinto tão perdido e
sozinho. Mesmo em meio a uma multidão, eu me sinto só, sem motivação, sem
alegria. Eu estou há muito tempo quebrado, sem amor… seco por dentro. Eu
apenas respiro, mas estou morto, completamente frio. Esperando a minha hora com
expectativa ansiosa.
— Vem assim mesmo, querido…
Foi só o que Victória disse, antes de abraçá-lo de forma muito apertada,
deitando o rosto no topo da cabeça do conde, enquanto ele a abraçava com igual
força e…
Desespero.
Houve um silêncio tranquilizador, como a calmaria depois da tempestade.
Olhei para Dimitri e ele estava com os olhos pregados na cena que se desenrolava
no meio da sala. Meu amigo nem piscava.
— Me ouça, querido… — Victoria começou a falar, sua voz agora mais
calma e mais simples, antes parecia que havia uma força imensa em cada palavra
dita. — A fé é como um tijolo, você precisa que seja forte para poder usá-lo, mas
não só isso, para construir algo grande, como um edifício, você precisará de
muitos tijolos, depois de pronto, os tijolos não serão mais visíveis, entretanto, lá
estarão eles, firmes e fortes. Você precisa se fortalecer em sua angústia, o barro
faz o tijolo, a fé faz o homem, ambos começam como algo insondável, mas se
moldado podem fazer maravilhas.
— Não sei como pode acreditar nisso! Eu não tenho provas… — William
murmurou com voz abafada.
Victória fez silêncio, então, mais uma vez, ela começou a falar. Minha
garota tinha uma fé inabalável, e isso a tornava alguém especial, muito diferente
do mundo mesquinho e cínico no qual eu vivo e faço parte.
Minha Victória era única, tal qual a cigana falou:
“Um anjo bom, que Deus lhe entregou para cuidar…” Eu acredito
nisso… absolutamente.
— William, por acaso você consegue compreender o porquê da vida? Você
já se perguntou o porquê de nós, seres humanos, passarmos por milhares de
mudanças físicas, emocionais e intelectuais ao longo da vida? Do porquê somos
quem somos? Ou o porquê de mesmo os gêmeos sendo exatamente iguais, suas
digitais não são? Já parou para pensar que existem bilhões de pessoas em um
planeta, e todas elas são distintas umas das outras? Únicas em suas formas e
características…
— Não, nunca.
— Justamente. Existem coisas que não precisam ser compreendidas, elas
apenas precisam ser aceitas. Aceite que a única forma de conseguir a paz que tanto
precisa é acreditando que Deus é o único caminho. Você será feliz, mas antes
precisa acreditar nisso. E como uma prova de fé, acredite que sua vida será outra
a partir de hoje. Depende de você… apenas de você!
Victória afastou-se de William e estendeu a mão.
— Levante-se e comece agora
— Mas…
— Não deixe para amanhã o que pode ser feito hoje!— Sorriu. — Sua
garota vive em você, agora viva e não a decepcione, tenho certeza que onde quer
que esteja, ela não iria querer te ver assim. Erga a cabeça e lembre-se do passado
como algo bom e imutável. — Victória olhou para mim rapidamente e eu vi as
emoções passando ali. — Há coisas que, por mais que desejemos, não são para
ser. Aceite a verdade, Deus tem um propósito na vida de cada um de nós.
Durante alguns instantes, William encarou Victória e depois ele desviou o
olhar para a foto.
— Como irei ser feliz sem tê-la? — murmurou baixo.
— Deus fará o melhor para você, acredite. Mas dê o chute inicial, o
tamanho da sua vitória será um reflexo do tamanho da sua fé. Então, se você quer
abalar uma montanha, eu sugiro que comece a acreditar que é possível, e digo para
começar agora mesmo. Declare guerra aos sentimentos pessimistas… Deixe os “e
se” e “os porquês” para Deus tomar conta.
— Não sei como começar, é difícil, eu estou basicamente programado para
ser assim.
— Primeiro, aceite o que não pode mudar, e depois… Comece pelo
começo, oras! — Victória sorriu, colocando as duas mãos na cintura. — Tome um
banho, coma alguma coisa, peça desculpa para seus amigos e limpe sua casa! A
partir de amanhã, deixe o sol entrar, e quando houver dúvidas, feche os olhos e
ore.
William ficou um bom tempo em silêncio. Na verdade, todos estávamos
esperando o desfecho desse cansativo dia. Meu amigo parecia estar fazendo um
balanço dos acontecimentos, então, inesperadamente, ele sorriu e foi até Victória,
dando-lhe um abraço que a fez fazer outra careta de dor.
“Mas que raios, ela está machucada?”, me perguntei, querendo empurrar
William do caminho para verificar eu mesmo.
— Obrigado, Victória, eu realmente precisava de ajuda… — o conde falou
e a soltou e ela apenas balançou a cabeça, batendo em seu ombro, em seguida,
William virou para mim e para o Dinka.
— Nem vem, não quero abraço de macho! — Dimitri exclamou brincando,
até tentou fugir, mas não teve tempo de correr antes de William dar-lhe um abraço
apertado.
— Obrigado, irmão, eu não sei o que seria de mim!
— Me sirva de saco de pancadas e estaremos quites — o Dinka brincou e
deu um soco no ombro no Will. Em seguida foi minha vez. Demos um abraço com
batidas compreensivas nas costas.
— Eu posso dizer que tenho irmãos — resmungou pigarreando —,
obrigado!
— Dá próxima vez, irei trazer uma arma com um dardo tranquilizante. —
Sorri batendo-lhe no ombro igual o Dinka.
— Não haverá uma próxima vez, eu irei mudar, não digo que não sofrerei,
pois isso seria mentira, mas vou aprender a conviver com essa perda… Com o
tempo, talvez meu coração cure e eu possa amar outra vez. Ou pelo menos viver
em paz com minhas lembranças.
Com isso, o conde afastou-se, indo para o quarto.
— Porra, se eu soubesse que Victória seria a dose de maracujá do conde,
eu teria chamado-a antes! — Dimitri riu, mas eu grunhi e acertei um murro em seu
estômago — AAAI, seu fresco! — gritou perdendo o fôlego e esfregando o lugar
machucado.
— Nunca mais… — grunhi tremendo. — Nunca mais coloque minha garota
em risco! Eu te mato, seu bastardo… Eu te mato!
— Deixa de ser estressado, seu louco, vai morrer antes dos quarenta… —
resmungou, indo para um dos quartos.
Agora eu e Victória estávamos a sós. Ela olhava para todos os lados,
menos para mim, e a julgar pela forma como ela mexia nas mãos, podia jurar que
estava nervosa. Já eu, estava louco para tê-la em meus braços, e por isso não
contei outra.
— Amor — chamei e, quando ela me olhou, eu abri os braços. Não disse
mais nada, apenas esperei. Cerca de um segundo depois, Victória corria para mim,
e quando eu a tinha colada a meu peito, eu a apertei, erguendo-a para poder enfiar
meu rosto em seu pescoço e aspirar seu cheiro maravilhoso.
O cheiro da minha mulher.
— Que saudade, Rocco — murmurou baixo. — Eu pensei que não iria
conseguir suportar.
— Eu também, e você nem imagina o quanto eu enlouqueci de saudade…
— rosnei emocionado. — Obrigado por ter vindo e por ter cuidado do meu irmão.
— Eu sempre estarei aqui para você e para eles. Eu te amo demais, Rocco,
e também os considero meus irmãos, devo essa família incrível a você. —
Suspirou baixinho.
Ficamos em silêncio. Eu mantive meu rosto enterrado no pescoço dela, me
deliciando com seu cheiro gostoso, já minha garota acariciava meus cabelos e
depois me apertava, era quase como se ela estivesse comprovando que eu estava
realmente ali.
— Amore mio, eu… — Não tive tempo de responder Victória me beijou e
eu retribuí com paixão. Nosso beijo era sôfrego, necessitado, saudoso, carimbado
de emoção. Era como se depois de muito tempo em abstinência, nós estivéssemos
recebendo uma dose grande o suficiente para ter uma overdose.
— Eu te amo, Rocco… — minha garota sussurrou distribuindo beijos pelo
meu rosto. — Eu te amo muito, nada vai mudar esse sentimento que só cresce a
cada dia…
— Eu sei… eu sinto o mesmo! — rosnei, apertando-a ainda mais.
— Ahhh — Victória gemeu de dor e eu a coloquei no chão.
— O que foi? — perguntei preocupado, já indo para tocá-la em busca de
machucados.
— Não foi nada… — respondeu, não permitindo que eu tirasse sua jaqueta
nem tocasse suas costelas.
— Como não foi nada? — perguntei, já sentindo a raiva subindo. — Você
está fazendo caretas de dor desde que recebeu o primeiro abraço! Alguém te
machucou? — grunhi alto. — Alguém ousou te tocar?
Pronto, adeus, calma! Eu já estava a ponto de cometer assassinato.
— Me conte o que foi ou eu vou descobrir de outra forma! — bufei,
cruzando os braços. Minha cara barbuda nada amigável.
Minha garota fechou os olhos e depois suspirou.
Em seguida, ela me olhou e corou. Estreitei meus olhos.
— Amore mio, o que você aprontou?
Capítulo 30
Victória
Algum tempo antes

Sabe aqueles momentos em que você não sabe se sai à francesa ou se


inventa alguma desculpa para evitar o conflito? Pronto, eu estou assim. Não quero
ficar de vela para minha tia e para o namorado dela. São lindos juntos, mas isso
me dá saudade de…
Não vou por esse caminho, com certeza não será uma boa ideia.
— Boa noite para vocês — falei, levantando do sofá, tia Laura resolveu
fazer um programa família e assistir a um filme.
— Já vai, querida?
— Ah, sim, eu estou com sono e… vou deixá-los a sós. — Sorri sentindo
meu rosto esquentando. Beijei minha tia na bochecha e dei um tchau para Ricardo.
Logo eu voltava para meu cantinho.
Gostaria de compartilhar com vocês uma coisa:
Meus dias estão se passando como um replay chato. O único ponto de
mudança foi o vídeo que fiz. Não esperava que fizesse tanto sucesso, eu me
surpreendi, agora algumas pessoas até me reconheceram na rua, mas nada me fez
sentir aquela centelha de alegria tão natural em mim. Entretanto, não fiquei mais
tão escondida dentro de casa, Jason e Royce não permitiram, e resolvi que amanhã
iria passear pelo centro cultural de Londres. Afinal, o que eu mais tinha agora era
tempo… tempo de sobra, na verdade. Sem inspiração para desenhar, eu não tenho
mais nada para fazer.
Deitei em minha cama e fiz minha oração, pedi a Deus força para ser forte,
vejam a diferença, às vezes você tem a força e não precisa, mas às vezes você
precisa e não tem. E como Deus sempre age de forma perfeita, eu sei que ele me
dará a chance de mostrar que sou forte. Porque muito melhor do que ganhar as
coisas de repente, é você conquistá-las.
Dormir acreditando que amanhã seria diferente.
Meus amigos foram comigo para o Centro cultural de Londres e o dia foi
legal, rimos, brincamos, bagunçamos muito, comemos comida feita em um trailer
e, em parceria com Jason, matamos o Royce de medo quando resolvemos assustá-
lo com aquelas pegadinhas de Zoobie.
Foi muito bom, eu até consegui colocar aquela angústia opressora em uma
caixa, o problema foi que não deu para fechar, pois ela era maior que as tampas, e
deixei assim, aberta, para escapar quando eu menos esperasse.
Estava no início da tarde quando Royce entrou em um magnífico Studio de
tatuagens. O lugar era chique de doer e, se não me engano, eu vi um ou dois
artistas famosos e camuflados por ali. Esperamos algum tempo para poder ser
recebidos pelo tatuador requisitado por Royce. Diz meu amigo que Slak é o
melhor tatuador de Londres, ele ganhou vários prêmios por técnica, realidade e
perfeição. Bom, se Royce diz deve ser verdade mesmo.
Quando Slak apareceu, eu nem acreditei, minha nossa, o homem era
enorme e careca, tinha tatuagens até no rosto. Muito rápido eu parei de encarar,
para não correr o risco de ele vir tirar satisfação. Desviei minha atenção para
quadros gigantes alinhados às paredes. Eles mostravam fotos de tatuagens
magníficas e ricas em detalhes…
Deixei Royce conversar em paz com o tatuador sobre qual seria a melhor
forma de cobrir uma tatoo antiga. Enquanto eles conversavam, eu fiquei por ali
ouvindo e olhando tudo que podia, desde os piercings expostos em vitrines até o
portfólio com os desenhos. Nos quadros eu já babei demais.
Eu estava realmente encantada com a beleza e a riqueza de detalhes
mostradas nos desenhos, eram, sim, verdadeiras obras de arte. Meus olhos não
paravam de percorrer as linhas firmemente traçadas em cada desenho, as nuances
de cor… até mesmo ousei pensar que havia cores tão impossivelmente lindas e
reais que nem pareciam tatuagens. Estava muito concentrada olhando as fotos das
tatuagens 3D, eu olhava como a técnica era incrível, juro que a aranha que eu
estava olhando parecia saltar da pele. Passei mais algumas folhas e uma me
chamou atenção. Foi amor à primeira vista.
A foto era a de uma tatuagem nas costelas. Ela era uma inscrição de quatro
linhas, feita com letra cursiva e bem-desenhada, era impressionante como, de
alguma forma, as letras pareciam saltar da pele! Eu confesso, simplesmente
adorei. E na hora decidi que queria aquele modelo, só que com um detalhe
diferente.
A minha seria bem maior.
Depois que Royce tirou todas as suas dúvidas, eu quase enfartei Jason
quando chamei a atenção do tatuador e perguntei como seria, e se ele poderia fazer
uma em mim.
— Sim, podemos começar agora! — exclamou com a sobrancelha
arqueada, era quase como se ele duvidasse da veracidade das minhas palavras.
— Perfeito, vamos então! — Sorri e Jason engasgou, já Royce começou a
falar besteiras tentando me impedir.
É sério, eu devo ter o nome pau-mandado escrito na testa.
— Eu vou fazer, Royce, já sou maior de idade! — Bufei de braços
cruzados.
— Já escolheu? — o tatuador, que mais parecia um tapete persa,
perguntou. — É sua primeira Tatoo?
— Sim, é a primeira e já escolhi qual eu quero. Será uma tatuagem 3D…
— O que vai ser? Uma borboletinha? Uma flor minúscula? Ou um pequeno
coração?
Fiquei calada por causa da forma debochada com que ele falava, acho que
todas as meninas que fazem a primeira tatuagem devem começar com pequenos
desenhos. Bom, eu não respondi ao tatuador, simplesmente mostrei no portfólio o
que eu queria.
— Você vai fazer essa mesma inscrição? — perguntou com mais respeito
— Não, eu apenas quero as mesmas letras e padrão, mas a inscrição é essa
aqui… — Mostrei a ele o meu celular e o homem deu um sorriso largo de
satisfação. — Eu a quero em Português…
— Se você aguentar fazer essa tatuagem sem chorar e sem desistir, não vou
cobrar! — Piscou um olho e nos levou para o local onde faríamos o procedimento.
Enquanto ele preparava as coisas necessárias, ia falando mais ou menos o
resultado final. — Pelo fato de sua inscrição ser muito grande, irei diminuir o
tamanho da letra, mas mesmo assim sua tatuagem irá cobrir toda a sua lateral.
— Sem problema! — Dei de ombros, retirando minha jaqueta e a minha
blusa, graças a Deus estava de top. Respirei fundo e deitei onde ele mandou. Eu
escolhi o lado esquerdo para tatuar.
— Vamos começar. — Ouvi a voz do tatuador muito próxima a mim e neste
instante Jason balançou a cabeça jogando os braços para cima. — Primeiro vou
fazer a inscrição com uma caneta, depois vou cobrir, tudo bem?
— Claro, ouvi dizer que você é um dos melhores de Londres! — respondi
e ele riu.
— É o que dizem as más línguas.
A primeira meia hora passou com ele fazendo a inscrição, as letras, como
eu disse, eram bem-desenhadas e, por serem pequenas, requeriam um pouco mais
de cuidado e capricho.
— Olhe como ficou — falou me mandou olhar no espelho. — Será esse
mais ou menos o resultado final, irei acrescentar a realidade 3D e ficara magnífica
e um pouco maior, ainda vai querer fazer?
— Sim — murmurei. — Ficará perfeito.
Voltei para a mesa e deitei. Alguns instantes depois, um som que me fez
tremer levemente se fez ouvir.
— Agora é para valer, sua última chance de fugir!
— Pode fazer! — resmunguei fechando os olhos.
— Bonequinha, que tal pensar mais um pouco?! — Abri os olhos e Jason
estava na altura do meu rosto. — Vai doer para caralho, é melhor você ficar com a
tatoo de caneta e pronto.
— Brother, relaxa — tranquilizei-o, passando a mão em seu rosto. — Eu
não sou tão mole quanto aparento, realmente quero fazer, sempre achei lindo. Há
muito tempo pensei em fazer uma, mas não havia tempo, nem dinheiro. — Sorri
piscando um olho. — E essa sairá de graça!
— Se você não chorar e nem desistir dessa sessão, princesa — o tatuador
falou —, daqui a várias horas você terá sua tatuagem pronta. Farei toda hoje, se
você aguentar, é claro.
Instantes depois o barulhinho voltou e eu fechei os olhos.
— Ah, sim, tatuagem 3D leva o dobro do tempo — Slak falou e deu uma
risadinha.
O primeiro contato da agulha com minha pele foi… digamos, nem sei
explicar, doeu, e me assustou um pouco. Era quase como uma picada de formiga,
entretanto aos poucos a dor começou a ser algo mais chato e muito mais incômodo.
Mantive meus olhos fechados e quando a dor foi demais, eu apertei meus lábios,
mas não dei um pio. Engraçado como havia lugares que doíam muito mais que
outros, e por causa disso eu entrei em um ciclo de preparação. Quando eu sentia
que estávamos chegando nas piores áreas, eu me concentrava para administrar a
dor e depois eu meio que aliviava, porque em outras áreas doía menos.
Sim, pasmem, eu estava suportando. Sem chorar e sem desistir ( apesar de
querer muito, as vezes).
— Você sangra com facilidade — o tatuador falou e eu balancei a cabeça.
— Não se preocupe, é assim mesmo.
— Não estou preocupada! — falei com um fôlego só. — Estou querendo
que acabe logo, isso sim!
Slak riu e continuou sua tortura. A tarde passou se arrastando e quando
notaram que eu não daria uma de chorona e sairia correndo, Jason e Royce
acalmaram. Agora eu sentia uma queimação horrível, e as picadas se confundiam.
Nem parecia agulha, parecia que estava sendo estalada com uma borracha
pequena. Doía demais, só que eu já cheguei até aqui, estou longe de desistir.
— Vou dar uma pausa para você comer — Slak falou. — Já são sete da
noite, estamos nessa há várias horas, e ainda nem comecei a tridimensionar a
tatoo.
— Não ouse parar! — grunhi. — Vamos logo, se parar, danou-se tudo!
— Vai desistir? — perguntou rindo.
— Eu tenho cara de quem vai?— perguntei mal-humorada. — Já senti
dores muito piores, pode acreditar, na verdade, essa dor me fez esquecer outra,
então continue, a não ser, é claro, que você precise de um descanso.
— Eu posso continuar por horas e horas…
— Então adiante! — exclamei e voltamos ao trabalho.
A segunda parte da tatuagem começou e eu nem notei que suava igual
chaleira, Jason que me chamou atenção quando veio secar meu rosto. Lógico que
estranhei, porque a sala estava gelada.
— Bonequinha, você não parece bem — Royce falou e colocou um
canudinho em minha boca. — É água, vai ajudar…
Tomei a água e depois sorri.
— Eu estou bem, talvez se estivesse berrando não estivesse suando. — Ri,
fazendo careta. — Controlar a dor cansa.
— É verdade — Jason concordou secando meu rosto.
— Falta pouco agora! — Slak falou e concordamos.
Eram umas 21h30 quando meu celular tocou. Graças a Deus a inscrição já
estava pronta há tempo, agora ele estava tridimensionando as letras. E para isso
Slak não precisava do meu celular.
— Atenda, Jason, por favor! — murmurei e ele o fez, depois de conversar
um pouco ele trouxe o celular para mim.
— É Dimitri — falou dando um leve sorriso.
— Oi… — disse essas palavras para disfarçar a minha voz.
— Victória, eu realmente não queria te incomodar… — começou e fez
uma pausa, pude ouvir sua respiração e barulhos de coisas caindo. — Você
poderia, por favor, vir me encontrar? Preciso da sua ajuda.
Na mesma hora eu senti medo de que algo houvesse acontecido com
Rocco. Lembro muito bem do estado (mesmo fingido) em que eu o encontrei na
cobertura. Foi uma ligação como esta. Podia sentir meu coração acelerado… Até
me esqueci da minha dor física.
— Rocco. — Engoli em seco. — Aconteceu alguma…
— Rocco está ótimo! — resmungou. — Por favor, venha aqui, eu te
explico quando chegar. Depois te levo para casa, pode dizer para Jason que
talvez você durma por aqui…
— Me manda uma mensagem com o endereço, irei assim que terminar o
que estou fazendo, não demoro… — falei torcendo para que estivesse perto de
terminar mesmo.
— Obrigado, fico te devendo uma.
— Bobagem, estou indo! — falei e desligamos.
Alguns minutos depois o Slak desligou a máquina de tatuar e não tornou a
ligá-la. Nem acreditei que finalmente acabou. Em seguida ele me pediu tirar uma
foto da tatoo e eu deixei.
— Olha, devo confessar que eu não esperava que você fosse aguentar,
parabéns! — falou passando uma pomada em minha pele super irritada e ardida.
— Vou te dar uma lista do que deve ou não comer e fazer, essa pomada você irá
usar duas vezes por dia. — Agora ele colocou um plástico filme cobrindo toda a
tatoo. — Mais tarde você pode tirar o plástico e tomar o seu anti-inflamatório de
preferência. E um analgésico, se quiser.
— Certo — concordei e, com ajuda, consegui levantar, confesso que tudo
girou, mas, enfim, eu estava tatuada e acabou para sempre… nunca mais faço
outra.
— Parabéns, moça, você é forte, mesmo parecendo que iria correr a
qualquer momento, não desistiu! — Riu estendendo a mão. — Tem muito
marmanjo que chora feito um bebê.
Ri apertando sua mão.
— A lateral irá incomodar durante alguns dias, cuidado com abraços, se
apertar vai doer muito. Você sangra com facilidade, e a agressão a sua pele deixou
as terminações nervosas de toda a área tatuada muito sensíveis.
— Obrigado, Slak, ficou simplesmente perfeita! — exclamei olhando no
grande espelho, mesmo brilhando por causa da pomada e do plástico, ao ficar bem
próxima ao espelho, eu vi direitinho o resultado. — Melhor do que pensei, na
verdade.
— Eu fiz com excesso de capricho, queria que ficasse magnífico! Apenas
peço desculpas pelo longo tempo, infelizmente, não dava para fazer rápido… sou
muito perfeccionista.
— Estou vendo, agora quanto eu te devo? — perguntei, fazendo uma careta
quando me mexi mais bruscamente.
— Você não me deve nada, trato é trato… Mas se você me permitir colocar
a foto que tirei de sua tatoo em um dos quadros gigantes no hall de entrada, eu
aceito. Essa foi uma das melhores que já fiz.
— Negócio fechado — concordei e nos aprontamos para sair.
A primeira parada que fizemos foi em uma farmácia. Comprei um remédio
composto. Ele era anti-inflamatório e analgésico, tomei um comprimido lá mesmo,
já a pomada não precisei comprar, Slak me deu uma novinha.
Agora eu estava indo em direção ao endereço que Dimitri me deu.
— Aqui é o apartamento do William — Jason falou e eu desci.
— Dimitri disse que você pode ir, mas se você quiser ficar…
— Não, você está segura! — Jason riu de forma misteriosa e me incentivou
a ir até a recepção.
— Oi, boa noite. — Olhei no crachá de identificação e vi o nome do rapaz.
— Brian, estou procurando o apartamento de William Savage.
— Boa noite, seu nome, por favor?
— Victória Fontaine.
— Sua entrada foi liberada há algum tempo. Cobertura, elevador privativo.
— Obrigada.
Fui para o elevador e apertei o botão.
Não estava apreensiva porque Dimitri me tranquilizou quando disse que
Rocco estava bem, depois Jason estava muito calmo. Com certeza deve ser algo
relacionado ao julgamento do Gordon, que ocorrerá em poucos dias.
Cheguei à cobertura e toquei a campainha.
Bom, o que aconteceu a seguir vocês já sabem. Só posso dizer que houve
momentos em que eu não conseguia segurar as palavras, elas basicamente se
derramavam da minha boca antes mesmo de meu cérebro registrá-las. Era estranho
como eu sentia em mim a dor de William, era quase como se fosse minha, o que
me fez despertar um pouco foi a dor em minha lateral tatuada.
Realmente foi um momento muito sublime, e eu sinto no fundo do meu
coração que a partir de hoje a vida do meu querido amigo recomeçará.
Eu acredito e tenho fé.
Agora depois de matar um pouco da saudade do meu amor, que está mais
lindo do que nunca, eu estou querendo sair de fininho.
— Me mostre as suas costelas! — bradou, me fazendo dar um pulo, por um
momento eu me perdi em meus pensamentos.
— Rocco… — Engoli. — Eu estou bem, acredite.
— Me mostre!
— Tudo bem! — Comecei a tirar minha jaqueta e foi inevitável não fazer
caretas, e justamente por causa delas Rocco grunhiu um palavrão. — Calma aí —
murmurei me livrando da peça.
— Vamos lá, me deixe ver o que você esconde.
— Tudo bem, irei erguer meu braço e você olha — falei e em um piscar de
olhos, Rocco Nervoso Masari estava do meu lado. Ergui o braço e fechei os olhos.
— Pode olhar.
Senti seus dedos erguendo com cuidado minha blusa. Depois ouvi um
ofego chocado.
— Madonna Mia — sussurrou, tocando em cima do plástico com a ponta
dos dedos.
Não senti seu toque da forma que queria e por causa disso eu decidi
adiantar a retirada do emplastro.
— Pode tirar o plástico — murmurei olhando para Rocco. Meu lindo
italiano ajoelhou-se ali, e, muito gentilmente, começou a puxar as pontas.
— Tem certeza? — perguntou com voz baixa e admirada. — Não quero te
machucar.
Eu notei sua hesitação assim que ele puxou as pontas do plástico e viu
algumas gotículas minúsculas de sangue salpicando minha pele.
“Os apertos que levei desde que cheguei devem ser os culpados por esse
sangue”, pensei dando de ombros.
— Não vai machucar. — Sorri de leve quando ele me olhou com olhos
brilhantes. Rocco parecia admirado.
Novamente, senti seus dedos trabalhando para retirar o plástico, por Deus,
ele era tão cuidadoso, até parecia que o que ele retirava era aquela fita adesiva de
cor cinza que os sequestradores usam nos reféns.
— Pode puxar, não vai doer…
— É que parece muito doloroso… — resmungou e continuou sua tarefa.
Quando finalmente ele retirou tudo, eu suspirei, pois agora sim seus dedos
tocavam em minha pele e, nossa, como era bom.
— Você gostou? — perguntei sussurrando.
— Eu… — Sorri quando vi que ele engolia em seco. — Adorei —
resmungou rouco. — Eu nunca pensei que você teria coragem de fazer uma
tatuagem, mas confesso que ficou muito sexy e eu… Porra, amore mio, estou
duro… excitado para caralho… você ficou muito quente.
Soltei uma risadinha e permiti que ele continuasse sua lenta exploração. As
pontas dos seus dedos percorriam as letras com carinho e amor, era engraçado,
mas eu sentia a emoção que ele estava sentindo.
— Consegue ler? — perguntei, e ele balançou a cabeça concordando. —
Então leia, por favor.
— Sim, amor, o que você quiser. — Pigarreou e logo sua voz grossa e
marcante se fazia alta e clara. Arrepiando-me dos pés a cabeça.
“Deus,
Dai-me a serenidade para aceitar as coisas que eu não posso mudar…
Coragem para mudar as coisas que eu posso,
E sabedoria para que eu saiba a diferença!
Vivendo um dia a cada vez, aproveitando um momento de cada vez…
Aceitando as dificuldades como um caminho para a paz…
Indagando, como fez Jesus, a este mundo pecador, não como eu teria
feito;
Aceitando que o Senhor tornaria tudo correto se eu me submetesse à sua
vontade,
Para que eu seja razoavelmente feliz nesta vida e extremamente feliz com
o Senhor…
Para sempre no futuro.
Amém.”

Dissemos as últimas palavras juntos, nesse instante, Rocco olhou em meus


olhos, e eu vi, não poderíamos viver um sem o outro.
Só que…
Ainda existiam fatos de grande importância que nos afastavam. Entretanto,
por amor a ele, eu iria ser egoísta uma vez na minha vida. Eu iria pensar em nossa
felicidade, lembrando, claro, que eu amarei seu filho com todo meu coração. Eu
tenho muito amor para mim, para Rocco e para esse bebezinho, e por isso mesmo
olhei dentro de seus amados olhos e sussurrei:
— Me peça para ficar, que eu fico — sussurrei, acariciando seu rosto
machucado. — Eu te amo demais.
Capítulo 31
Victória

Eu olhava para Rocco com tanta expectativa que sentia minha respiração
entupida e minha barriga dando nós. Eu joguei tudo para cima, realmente queria
ficar e enfrentar o mundo ao lado dele, só bastava ele me dizer um sim e eu nunca
mais o soltaria.
Esperei e esperei, com agonia crescente, Rocco sorrir e me dizer que queria
ficar comigo, eu sei que disse que ele tinha prioridades, mas, por Deus, ele estava
sofrendo e eu também, então por que não poderíamos ficar juntos? Eu o amava
com loucura e desespero, essa semana separados, pensando que passaríamos
muito tempo sem nos ver, foi o suficiente para eu descobrir a egoísta que existe em
mim.
Rocco ainda estava de joelhos, suas mãos em minha tatuagem, me encarando
mudo e emocionado enquanto eu acariciava seu rosto lindo, amado.
— Pequena, eu— meu grandalhão começou, mas logo calou-se. Isso foi o que
eu precisava. Abaixei-me, enlaçando seu pescoço, e comecei a beijá-lo com
desespero. Entendi que seu silêncio era um sim.
Ele queria que eu ficasse, e eu queria ficar. Pronto, seria tudo perfeito.
A alegria correu pelas minhas veias e eu mordi seu lábio, puxando-o um
pouco, em seguida, chupei devagarzinho, arrancando um gemido do meu
grandalhão, era incrível vê-lo assim, eu me sentia poderosa. Invadi sua boca com
minha língua, sendo recebida pelo toque da sua, logo Rocco dominava nosso
beijo, imitando o movimento de vai e vem com sua língua, acabando com minha
sanidade, me tirando do eixo.
— Ficaremos juntos — falei apressadamente enquanto quebrava nosso beijo
para fazer carinho em seu rosto. — Nunca mais vamos nos separar, vou ficar do
seu lado e vamos enfrentar o que vier. Seremos nós dois contra o mundo. — Ri
feliz mas, ele não me acompanhou, entretanto, eu não dei importância, acho que
ele, meu lindo italiano, não esperava por essa.
— Tesoro mio — murmurou, segurando meu rosto.
Sorri, sentindo a queimadura das lágrimas, todavia, eu sabia que eram de
felicidade.
— Adoro quando me chama assim, mas agora necessito te sentir mais —
gemi. — Seu sabor, seu calor. Por favor, me beija — implorei, e ele fez uma
expressão de dor, mas me beijou, e foi lento, exploratório, angustiado. Cheio de
promessas e um sem fim de coisas. Quando dei por mim, estávamos embolados no
chão.
Rocco me beijava muito lentamente, a cada vez que ele mordia meu lábio, eu
sentia meu corpo respondendo. Nossas línguas tocavam-se, fazendo carinho uma
na outra. Havia luxúria, amor, possessividade.a forma como ele segurava meu
rosto era carinhosa e, ao mesmo tempo, dominante… simplesmente perfeita.
E, nossa, como eu senti saudade.
— Il mio paradiso, la mia redenzione… ti amo più di quanto immaginassi
possibile. Mia moglie.
Gemi baixinho quando sua voz rouca e grossa sussurrou palavras em italiano
no meu ouvido.
— Preciso de você, por favor — implorei. — Meu corpo queima de
necessidade para senti-lo dentro de mim. — Nem acredtei que essa voz chorosa
era a minha, nem acreditei que essa mulher lasciva, deitada no chão de uma sala
destruída, era eu. Mas sabe de uma coisa, não me importo, com amore mio eu
esqueço quem sou.
Rocco fez uma cara sofrida, soltando um grunhido necessitado e doloroso,
aproximou o rosto, deixando que meros centímetros nos separassem, seus lábios
espremidos em uma linha. A testa franzida. Então ele me encarava de uma form tão
ardente que me fez suspirar e imaginar o que me esperava quando ele me
possuisse.
— Preciso de você — gemi fechando os olhos e indo para beijá-lo, mas não
consegui, quando abri os olhos, Rocco afastou-se, me deixando confusa e solitária.
Ele ergueu-se e começou a andar de um lado para outro, passando as mãos no
cabelo de forma nervosa, depois, ele abria e fechava os mãos. Parecia um animal
enjaulado necessitanto de liberdade.
Fuja comigo! Permita-me ser sua liberdade!, pensei assustada com sua
reação.
Eu me levantei com cuidado, estava me sentindo fria e rejeitada. E agora a
dor em minha pele tatuada estava se tornando real. Por um momento eu esqueci
que ela estava ali, realmente esqueci.
Rocco estava cada vez mais e mais agitado, eu nem sabia que atitude tomar.
Fique perdida e parada, olhando de um lado para outro, como se em busca de
alguma resposta.
— Danazione. Maledita. Maledita — rosnou dando um murro na parede.
Pulei de susto me encolhendo, eu sentia sua agonia como um farol e precisava
deixá-lo tranquilo.
Rocco espalmou a mão na parede e encostou a testa lá. Eu vi que ele estava
tenso, os músculos de suas costas destacados, várias contusões marcando sua pele.
Respirei fundo e fui para perto dele.
— O que foi? — murmurei tocando suas costas, engoli minha tristeza pela sua
recusa e tentei mais uma vez. — Vem, meu amor, vamos ficar juntos, eu prometo
que nunca mais irei sair de perto de você. — Agora ele virou-se para mim e seu
rosto estava cansado, mais uma vez notei a angústia ali. — Vamos controlar seus
ciúmes juntos, vamos contruir nossa felicidade juntos, e eu juro que vou amar seu
filho com todo meu coração, mas… — Nesse momento minha voz embargou e eu
engoli o choro. — Vamos ser felizes. Não quero ficar sem você, eu sei que… —
Engoli o choro mais uma vez e continuei: — Eu sei que juntos somos perfeitos.
Com um grunhido ele me puxou para seus braços e enterrou o rosto em meu
pescoço. Ele me abraçava com força e eu apertei os dentes para evitar gritar de
dor, minha lateral estava queimando. Entretanto, eu não vou recusar esse abraço
maravilhoso.
— Perdona-me, amore mio — murmurou baixinho. — Per favore, cara mia,
perdona-me — implorou, me fazendo gritar em negação. — Não poderemos ficar
juntos agora. Eu não terei um bastardo; juro que desejo ardentemente que esse
bebê não seja meu, mas só ficaremos juntos se ele realmente não for, porque se for
meu… — Uma pausa e agora sua voz soava desesperada. — Ele será um legítimo
Masari, meu primogênito e herdeiro, com todos os direitos.
Fechei os olhos e apertei meus braços ao seu redor.
— Tud…— Engoli minha tristeza e o nó em minha garganta. — Tudo Bem.
Desculpe por pressionar você. Eu pensei que, talvez… — Não consegui falar.
Fechei os olhos e comecei a acariciar suas costas suavemente.
Ficamos em silêncio, mas juro que era como se uma guerra explodisse dentro
de mim, era tão igual ou pior que nossa primeira despedida.
Nesse instante decido que preciso seguir com minha vida. Não dá para viver
desse jeito, não dá para sonhar com algo que está cada vez mais e mais distante de
mim. Não posso culpar Rocco por querer cuidar de seu bebê. Eu realmente não
posso culpá-lo. E eu não o culpo, o amor não é isso? Esconder nossa dor e ajudar
aqueles que amamos mesmo quando somos nós que precisamos de ajuda? Sendo
assim, eu ergui meus escudos firmemente criados em minha época no ateliêateliê e
apertei meus braços ainda mais ao seu redor, intensificando minhas carícias em
suas costas e cabelo.
— Você será um pai maravilhoso — murmurei. — O melhor de todos na
realidade, e eu acredito que seu gesto será recompesando por Deus.
— Amore mio…
— Hei, baby, não tema, o futuro só a Deus pertece. — Suspirei, continuando a
acariciar seus cabelos. — Eu que me precipitei. Não se culpe por nada viu, tudo a
seu tempo.
“Ou não.”, pensei, mas não falei. Rocco não precisava de uma ex-namorada
pegajosa e exigente, que joga ainda mais problema para cima dele.
Ficamos abraçados durante muito tempo até que o toque do meu celular soa
alto, nos fazendo despertar. Juro que foi quase como uma intervenção divina.
Soltei do abraço de Rocco e fui para minha bolsa. Não olhei para ele, juro
que corria o risco de virar uma bagunça emocional. E não era disso que ele
precisava.
Procuro dentro da bolsa meu aparelho que toca insistentemente e atendo sem
nem olhar quem é.
— Oi. — Pigarreei, clareando minha voz, fiz isso para esconder a vontade de
chorar e minha voz falha.
— Victória, por favor não desligue. — Ouvi a voz de um homem do outro
lado da linha e franzi o cenho. — Eu preciso de ajuda.
Fechei os olhos e respirei fundo.
“E eu espero poder ajudar”, pensei suspirando
— Quem é? — perguntei, pois não reconheci a voz, e a pessoa parecia me
conhecer, então…
— Sou eu, Damon.
Surpresa me golpeou, eu pensei que nunca mais iria ter notícias dele. Não
depois que ele finalmente abriu os olhos para o amor.
— Damon, como você conseguiu meu numero? — perguntei e um grunhido
alto soou às minhas costas. Virei-me e vi Rocco com cara de poucos amigos. Na
verdade ele estava vermelho e sua expressão era feroz. Um senhor da guerra
pronto para atacar.
Arrepiei toda.
— Eu tenho meus meios — resmungou e logo suspirou — Victória, você foi a
única que me abriu os olhos para a realidade, e eu realmente preciso de ajuda
agora, eu… eu estou desesperado. Por favor, me ajuda, eu imploro.
— Claro, o que houve? — perguntei preocupada com ele. Pois para um
homem orgulhoso como Damon, ligar para mim pedindo ajuda era porque o
negócio estava sério.
— Miranda. — Prestei bem atenção em sua voz e notei que estava
embargada. — Eu a perdi, Victória, estou há semanas procurando minha garota e
não… — Damon pausou e eu ouvi uma espécie de tosse/soluço, o que me deixou
ainda mais alerta. — Eu não consigo encontrá-la, ela parece ter sumido. Eu… —
Ouvi o barulho de algo batendo e logo a voz dele voltou: — Ela deixou uma
carta. Por Deus, ela me ama também, mas eu fui um filho da puta egoista. Eu
estou tão apavorado, não tenho amigos, nem alguém da minha família em quem
eu confie. Não tenho ninguém, só você. Por favor, me ajuda.
— Claro, Damon, onde você está? — questionei pegando minha jaqueta e
vestindo-a às pressas, fiz várias caretas de dor por causa das minhas costelas. Eu
precisava fugir de Rocco, e essa era minha chance. Estava correndo o risco de
desabar e acabar piorando a situação.
— Me diz onde você está, eu vou te encontrar, já passei na sua casa, mas
você não estava, e aquele seu cão de guarda quase me bateu — bufou
desgostoso. — Eu não fiz nada. Foi sua Tia que me deu seu telefone, depois que
eu esperneei em sua porta por meia hora. Ela veio com uma vassoura e eu
expliquei tudo enquanto ela me batia, mas enfim consegui seu número e uma
vassourada nas costas.
Quase ri da situação. Entretanto Damon parecia tão desesperado que acho
sim que ele deve ter feito um barraco em minha porta. O amor modificou-o, e se
ele quer ajuda eu vou ajudar. Não vou deixar que mais um casal que se ama fique
separado. Passei o endereço do Will para e depois de agradecer muito ele
desligou, avisando que chegaria correndo.
— Não sabia que você era amiga do meu pior desafeto! — Rocco grunhiu de
braços cruzados. — Você e ele estão mantendo contato? Por acaso você lembrou
que foi ele que te beijou na boate e por isso eu…
Não acredito que eu ouvi isso!
Fechei os olhos, dando-lhe as costas. Eu não me lembrava completamente
daquele dia horrível, de vez em quando flashes de memória voltavam, e era muito
ruim. Agora que eu sei que Damon me beijou, acho que entendo um pouco a reação
visceral de Rocco. Quero deixar claro que nunca aceitarei que ele nem ninguém
me acuse de algo que eu não fiz.
— Não vai falar nada? — rosnou e eu me virei, agora sua expressão se
tornou ainda pior. O ciúme gotejava. Era quase palpável.
— Pode parar! — falei firme, porém suavemente. — Cuidado com suas
palavras. Você não tem por que duvidar do meu caráter, e sim, eu sou amiga do
Damon, e não, nunca tive nem terei nada com ele. Mesmo eu estando livre para
fazer o que eu quiser — alfinetei-o, mas logo me arrependi. Eu não sou assim. —
Desculpa, eu não quero te magoar, mas você precisa medir suas palavras. Eu só
não te contei sobre Damon porque esqueci, foi muita coisa ao mesmo tempo —
falei alto enquanto juntava minhas coisas. — Damon veio até mim, e conversamos,
eu abri os olhos dele, resumindo, ele ama a secretária, que, pelo que entendi, foi
embora, ele está desesperado e quer ajuda. E eu vou ajudar, você querendo ou não.
Peguei minha boina, coloquei na cabeça, junto com meus óculos, estava indo
para a porta quando mais uma vez sou arrastada para o círculo dos braços de
Rocco.
Não o abracei de volta.
— Scusi, amore mio— resmungou em meu pescoço. — Morro de ciúmes.
Você é minha, entenda que nada do que acontecer vai mudar, não vou permitir que
você fique com ninguém. Não vou! — exclamou fervorosamente. — Vou caçar
qualquer bastardo que chegar perto de você, vou infernizar todos que tentarem te
tomar de mim.
Meu Deus, ele diz que não pode ficar comigo, mas não quer que eu fique
com ninguém! Que loucura, meu Deus, que loucura, a cada instante que passa
eu tenho mais e mais certeza que Rocco é o terremoto que eu sempre pensei que
fosse.
— Não vou ficar com ninguém. Você está sob minha pele, e eu preciso me
acostumar a viver sem você! — tranquilizei-o com a verdade.
— Amore mio…
— Por favor, vamos parar! — pedi empurrando-o levemente. — Eu não sei
como vai ser, Rocco, mas parece que as coisas só pioram e pioram. Você está
cansando, machucado e precisando dormir. Faça isso, eu vou conversar com
Damon e ir para casa.
— Só no dia que eu morrer você vai falar com aquele filho da puta estando
sozinha! — rosnou colocando as mãos em meu cabelo, puxando minha cabeça para
trás, doeu e eu gemi com a dor gostosa e excitante. — Você é minha… minha e só
minha — grunhiu baixo com o rosto muito próximo ao meu. Não tive nem tempo
para revidar, ele atacou minha boca com um beijo duro, como se fosse uma
punição por desobediência.
Fui engolida por uma onda de excitação Tão grande que minhas pernas
fraquejaram.
Revidei seu beijo com mesmo ardor, esse seria o último, pois não o terei. Ele
não é e nem será meu. Pensando nisso, desespero misturou-se com o desejo que eu
sentia e eu me vi quase queimando de luxúria e medo.
Enfiei minhas mãos em seu cabelo e puxei com força, arrancando um rosnado
de sua boca, logo eu me vi empurrada contra a parede e Rocco me erguendo,
enlacei minhas pernas em sua cintura e ele alinhou nossos sexos.
Contato.
Tremi e um longo gemido deixou meus lábios. Não tenho controle sobre meu
corpo, ele me tem, e eu sou, sim, uma fraca apaixonada, massinha de modelar nas
mãos desse homem.
— Você é minha… minha! — Seus olhos azuis pareciam duas brasas me
queimando
— Sou sim, sou completamente sua, mas você não é meu.
Ficamos nos encarando até que ele suspirou e fechou os olhos, encostando
nossas testas.
— Eu sou e sempre serei seu. Não importa — resmungou e me soltou com
cuidado.
Nós nos separamos e pela primeira vez o clima ficou entranho entre nós. Era
muito confuso, em um momento estávamos nos agarrando e no outro agindo como
dois estranhos.
“Preciso me afastar.”, pensei, sentindo uma crescente angústia em meu peito.
Rocco foi até a varanda da cobertura e lá ele apoiou-se na parede de
contenção, instantes depois, eu saltei de susto, pois o brado que ele soltou foi
realmente assustador.
Caminhei até ele, mas não o toquei, apenas observei as veias de seu pescoço
ficarem destacadas a cada vez que ele urrava de pura raiva.
— O que foi? — William apareceu correndo com os cabelos molhados. —
Vocês estão bem?
Calada estava e assim permaneci. William olhava de um para outro sem
entender, nesse momento, Dimitri chegou esfregando os olhos.
— Mas que diabos — reclamou —, hoje é o dia de “vamos ver quem grita
mais alto?”. Eu estava dormindo, seu bastardo.
— Foda-se — Rocco grunhiu e eu saí de mansinho, voltei para o sofá e sentei
ali, de cabeça baixa. Eu estava cansada.
Mental e fisicamente cansada, o dia foi longo, e o que eu pensei que
aconteceria não aconteceu.
Suspirei esfregando as têmporas, uma dor de cabeça estava começando a dar
sinal de vida.
— Você está bem? — Nem me dei ao trabalho de levantar a cabeça para
saber que era William. — Precisa de alguma coisa?
— Estou bem — murmurei dando de ombros
— Victória, olha para mim — pediu com carinho e eu o fiz.
Era incrível como os olhos dele eram azuis. E combinados aos cabelos
loiros, você tinha um príncipe Nórdico.
— Tudo vai se resolver, confie em mim, tudo bem? — falou piscando um
olho. — Eu vou buscar respostas.
— As coisas sempre se resolvem, o problema é apenas o tempo que a
solução demora para chegar. Mas sei que tudo é desígnio de Deus, Ele tem seus
propósitos em nossa vida, temos que aceitar e esperar nEle com paciência — falei
e um sorriso se desenhou em meus lábios.
Eu acreditava em Deus, e esperava nEle com paciência. Ele nunca me
desapontou, nunca.
— Esperar pode ser difícil — murmurou baixinho, William era um cúmplice
que eu encontrei nesse dia tão emocionalmente desgastante.
— E desde quando as coisas realmente boas são fáceis? — questionei. —
Quanto mais difícil, maior será o sabor da conquista!
— Isso pode ser encarado como um aprimoramento da paciência. — Deu de
ombros. — Se perguntarmos para um sábio o caminho, ele provavelmente irá dizer
que a resposta está dentro de nós — filosofou tranquilo. — Quem sabe, não é?
— Tem razão, meu amigo. Tem razão! — concordei e ouvi meu celular
tocando. Atendi rapidamente, queria uma escapatória daqui e Graças a Deus ela
apresentou-se para mim.
— Já chegou? — perguntei assim que a linha conectou.
— Estou aqui embaixo, vou te esperar — Damon falou e eu assenti.
— Estou descendo.
Desliguei e guardei meu celular na bolsa. Levantei e iria sair de fininho
quando um grunhido muito irado explodiu da varanda.
— Você não vai encontrar aquele bastardo! — Rocco berrou alto e veio com
tudo para cima de mim. — Você não vai — falou tentando me agarrar, entretanto,
William fez um paredão em minha frente.
— Vai com calma, irmão.
— Calma é o meu pau! — rugiu empurrando William. — Você não vai descer
e se encontrar com o bastardo do Whitaker! — grunhiu pairando acima de mim.
Para olhá-lo eu tinha que jogar a cabeça para trás.
— Eu vou, mas se você quiser ir comigo, fique à vontade! — falei dando de
ombros.
A apatia estava voltando. Camuflando meu desgosto, criando uma camada
protetora ao meu redor, todavia, eu bem sabia da fragilidade dessa proteção. Tal
qual aconteceu hoje, eu saltei da alegria para a tristeza. O que me lembra de uma
citação de Shakespeare, que se encaixa perfeitamente a esse momento:
“Estas alegrias violentas têm fins violentos, falecendo no triunfo como
fogo e pólvora, que num beijo se consomem.”
Tão rápido como a chama que queima em uma linha de pólvora foi a
felicidade que eu senti quando estive nos braços do meu amor. Por um momento eu
pensei que ficaríamos juntos, mas enfim. É o fim.
Vou seguir meu caminho e pausar essa parte da minha vida. Irei querer viver e
mesmo sem querer vou viver esperando.
— Bom, eu já vou. — Suspirei dando as costas. — Se quiser vir, fique à
vontade.
Dei as costas para os rapazes e abri a porta. Não iria esperar.
— Me dá sua camisa. — Escutei Rocco grunhir e suspirei me virando
novamente.
— Escroto, quer me ver sem roupa é só falar, eu sei que você tem uma tara
nesse meu corpo sexy! — Dimitri resmungou enquanto tirava a camisa e entregava
a Rocco, que a vestiu às pressas.
Eu ri porque foi inevitável, Dimitri era demais, ele era um bendito
linguarudo, sempre fazendo piadinhas para aliviar o clima.
— Só nos seus sonhos, seu troncho! — Rocco rosnou e saímos.
Caminhamos em silêncio até o elevador e lá permanecemos assim. Vou até
confessar uma coisa realmente sem sentido. Eu estava me sentindo tímida perto
dele, era quase como se estivéssemos voltando para o início de tudo que vivemos.
Eu não sabia o que dizer, não conseguia puxar assunto.
Não queria admitir, mas eu estava desconfortável.
Era muito, muito estranha toda essa situação, mas uma coisa é certa, os
perdedores só serão classificados como perdedores se não aprenderem com a
derrota, todavia, se eles tirarem experiência com os erros, então mais cedo ou
mais tarde eles se tornarão vencedores. Eu espero que isso aconteça comigo.
Descemos na grande recepção e logo eu avistei Damon sentado com os
cotovelos apoiados nos joelhos, ele estava com os cabelos bagunçados, a barba
grande, e quando me aproximei vi que ele estava com os olhos vermelhos e a
expressão muito cansada.
Parece que ele não dorme há dias.
— Olá, Damon — falei suavemente estendendo uma das mãos para ele.
— Oi, Victória — anuiu estendo a mão para pegar a minha, contudo ele não
conseguiu, pois Rocco surgiu pelo meio usando toda a truculência que só ele era
capaz.
Revirei os olhos. Eu estava cada vez mais e mais cansada.
— Você não vai tocar nela — grunhiu cruzando os braços, bloqueando
parcialmente minha visão. — Pode acreditar que eu estou procurando um motivo
para não arrebentar sua cara de novo, e por isso sugiro que aproveite esse tempo,
dê meia-volta e suma.
Fechei os olhos e contei até dez, depois respirei fundo e senti a calma me
invadindo, junto com o cansaço que eu já sentia, meu peso estava se tornando
muito pesado para minhas pernas.
— Primeiro, sente-se, Rocco, e você também, Damon! — minha voz saiu
uniforme, mas levemente em tom de comando.
Ambos me olharam como se eu fosse alguma louca, e eu revidei a posição
deles, cruzei os braços e bati o pé levemente.
— Sentem-se agora!
Resmungando maldições, ambos fizeram isso. Mas não paravam de se
encarar como lutadores.
Na verdade esse momento me lembrou de um filme onde Jet Li era tratado
como um animal, só bastava seu “dono” tirar sua coleira e sussurrar “pega”,
pronto a pancadaria rolava solta.
Pela forma como Rocco encarava Damon, bastava um sinal e ele atacava. Na
verdade nem sei como ele ainda não fez isso.
O grande corpo do bronzeado do meu lindo italiano está tenso, os músculos
dos braços e ombros destacados pela regata que usava, os cabelos alvoroçados, a
barba grande. A expressão de parecida a de um lobo selvagem e feroz.
— Primeiro eu vou começar. — Pigarreei chamando atenção de ambos para
mim. — No passado uma ex fez vocês brigarem, agora, no presente, outra irá
acabar com essa guerra — falei deixando a palavra ex de fora, contudo a
conotação foi essa e sei que Rocco percebeu, pois ele fez uma leve careta. —
Vamos lá, deixem o passado de lado e recomecem!
— Nem morto! — Rocco bufou soltando uma risadinha sarcástica. — Prefiro
usar um taser nas bolas que ser amigo desse filho da puta!
Ah, okay, ele foi bem claro, mas eu sei que um lado tem que ceder. E se eles
não quiserem, bom, eu posso aplicar um pouco de pressão e ver o que acontece.
— Damon? — Arqueei uma sobrancelha para ele que assentiu e endireitou-se
na cadeira.
Graças a Deus não foi tão difícil!
— Rocco — começou e pigarreou —, eu não quero ser seu amigo nem nada
parecido, mas eu quero deixar meu passado mesquinho e invejoso de lado, quero
esquecer que vivi uma década da minha vida querendo ter o que você tinha,
esquecer que fui movido por motivos fúteis e egoístas, recomeçar minha vida do
zero com a mulher que eu amo. Para isso, preciso deixar tudo para trás, quero
estar limpo e inteiro para ela, sem brechas. Preciso aparar todas as arestas.
Vi que Rocco se mexeu desconfortável na cadeira. Sorri de leve, meu lindo
de coração bom.
— Por favor, me perdoe por tudo que eu fiz e causei a você! — Damon
insistiu e entendeu uma das mãos solicitamente. — Eu sou um novo homem,
conheci o amor, eu o vivi.
— Maledito! — Rocco grunhiu e estendeu a mão, deram um aperto rápido e
logo se separavam, notei que meu lindo, esfregou a mão na calça disfarçadamente.
— Nem pense que eu vou baixar a guarda, dê uma de doido e eu te parto a cara!
— Não o reconheceria se não o fizesse! — Damon concordou e logo seu foco
estava em mim. — Victória, eu preciso de ajuda, Miranda sumiu, eu não consigo
encontrá-la e estou a meio caminho da loucura.
— Damon, você tem certeza que procurou direito? — perguntei me
inclinando para frente. — Você não deixou nenhuma ponta solta?
— Não, eu não deixei! — exclamou passando as suas mãos pelo cabelo e
rosto. — Eu contratei detetives, e eles não conseguem encontrá-la. Veja — falou e
me estendeu uma carta, que logo notei estar marcada, com certeza foi lida e relida
várias vezes, por isso os sulcos nas dobras. Assim que abri, vi várias letras
borradas, e quando li eu segurei minhas lágrimas.
Um amor tão lindo e tão cheio de desencontros poderia até estar fadado ao
fracasso, mas não se depender de mim.
— Damon, aqui ela diz que a prima queria vingança dos dois homens que
destruíram sua vida! — eu disse juntando as peças em minha cabeça. — Eu acho
que Miranda talvez não tenha dado as informações corretas quando começou a
trabalhar para você, já parou para pensar que talvez esse nem seja o nome dela?
— Então deve ser por isso que ela simplesmente sumiu! — exclamou
arregalando os olhos, havia um pingo de esperança que logo foi engolido por
tristeza, sua expressão caiu mais uma vez. — Ela vai se casar, e eu vou perdê-la se
não chegar a tempo! Por Deus, eu tenho que chegar a tempo.
Era muito horrível ver uma pessoa sofrendo por amor, é justamente por isso
que eu sofro em silêncio, minha dor é só minha para vivenciá-la, neste caso já
bastam minhas lágrimas, não preciso de acréscimos.
— Damon, calma aí, você não vai desistir dela, certo!? — perguntei e ele
negou. — Então, agora pense, quem é a prima que queria vingança? E onde
Miranda poderia estar?
Cerca de dois segundos depois, ele e Rocco pronunciaram juntos:
— Susan
Não entendi como Rocco chegou a esse entendimento, mas vamos adiante,
isso não importa realmente.
— Filha da puta! — Rocco grunhiu e eu olhei para ele, então como se
estivesse tendo uma revelação, ele arregalou os olhos e socou a mão no punho. —
Te peguei, safada! Você está por trás daquela puta perseguidora — grasnou não
falando com ninguém diretamente, logo ele levantou.
Não entendi nadinha, as coisas estão seguindo um fluxo inesperado hoje, e
mais um pouco de loucura e coisa sem sentindo não faz muita diferença ou faz?
— Como eu não pensei nisso antes? — Damon perguntou incrédulo. — Eu
estava tão desesperado para encontrar Miranda que não liguei os pontos. Mas que
droga! — Ele também levantou e começou a andar de um lado para o outro,
fazendo o mesmo que Rocco.
Ambos pareciam conversar sozinhos, e eu fiquei apenas de expectadora. Eles
davam alguns passos conversando baixinho, com eles mesmos, em seguida,
erguiam a cabeça como se lembrando de algo e voltavam a caminhar de novo, os
dedos servindo de base para contagem.
Algum tempo depois eles param e mais uma vez juntos pronunciaram.
— Castle Combe!
— Você consegue lembrar que a vadia-chefe vivia falando que odiava a
cidade porque era muito velha? — Damon perguntou e Rocco concordou.
— Ela era uma cavadora de ouro, maldita alpinista social, mas tem razão, ela
falava com nojo de Castle Combe! — Rocco riu. — Dizia que a família toda iria
morrer enterrada naquele lugar pré-histórico.
— Vadia! — ambos falaram em uníssono e agora Damon riu e veio até onde
eu estava.
— Obrigado, Já sei onde procurar! — exclamou feliz e eu fiquei muito
contente também. A expressão de Damon era outra. Agora ele estava bem mais
parecido com o homem que conheci. Arrogante e imponente. — Seja feliz, eu
desejo o melhor para você, e se um dia precisar de um amigo, pode contar comigo!
— Sorriu pegando minhas mãos e beijando cada uma. — Obrigado de novo.
— De nada! — Sorri. — É para isso que servem os amigos.
— Sim, você é minha única amiga! — Com isso ele deu as costas e começou
a andar, mas parou e virou-se para Rocco, que o encarava com olhos estreitados.
— Eu desejo que você seja muito feliz, Rocco, deixo claro que não me arrependo
de ter mostrado quem era a vadia da Susan, só me arrependo de não ter feito isso
de outra forma, hoje talvez nós dois fôssemos amigos.
Rocco bufou cruzando os braços e eu revirei os olhos.
— Se manda, seu bastardo, pelo que entendi, você corre o risco de encontrar
sua garota casada! — Damon perdeu a cor do rosto e praticamente correu para a
saída. Já eu, olhei para Rocco balançando a cabeça.
— Você não precisava dizer isso.
— E perder a chance de fazer ele viajar se cagando de medo? — questionou
dando de ombros. — Não mesmo.
Ri baixinho, mas logo suspirei.
— Bom, eu vou indo — falei mexendo na alça da minha bolsa. — Er… então,
depois nos falamos, vê se descansa e come alguma coisa. Uhnn… tchau. — Virei
as costas para ir embora sem esperá-lo dizer qualquer coisa que fosse, mas não
cheguei a dar três passos.
Nossa, hoje é o dia em que eu terei que ganhar o Oscar por atuação. Eu só
quero poder ficar na minha e chorar ou não, mas eu só queria ficar sozinha,
entretanto, sei, que se eu disser isso para Rocco, ele vai ficar magoado. Ele não
precisa disso.
— Durma aqui, me deixe te ter por perto! — grunhiu baixinho em meu
ouvido, enviando impulsos elétricos pelo meu corpo, como se sentisse minha
reação, ele colou minhas costas em seu peito forte, o que me fez tremer e engolir
um suspiro rendido.
“Deus, como eu amo esse homem!”, pensei quase desesperada com o
tamanho do sentimento que pedia passagem. Meu peito parecia crescer para
suportar o que eu sinto por ele.
— Me deixe apenas te olhar — murmurou covardemente.
Eu fiquei calada, mas na verdade eu travava uma batalha interna, não queria
ficar porque isso me fazia querer coisas que não podia ter.
— Fica comigo hoje, me deixa matar a saudade da sua presença, da sua voz,
do seu cheiro — desta vez ele ronronou, fungando em meu pescoço.
— Rocco, se não podemos ficar juntos, seremos amigos, mas… — Suspirei
me aconchegando em seu abraço. — Teremos que manter o mínimo de distância,
não me sinto muito forte para manter minhas mãos longe de você!
— Eu aceito qualquer coisa! — resmungou e voltamos para a cobertura do
William.
De mãos dadas. O máximo que conseguimos nos afastar, o máximo que
permitiríamos.
Nossos corpos se atraíam como dois potentes imãs. Era simplesmente
inevitável.
Por isso, as próximas horas começaram simplesmente torturantes, eu sorria,
brincava e fingia, tudo isso enquanto limpávamos a bagunça causada pelos três. De
vez em quando Dimitri me olhava com uma cara séria. Às vezes ele arqueava a
sobrancelha como se me perguntasse algo, então eu balançava a cabeça e ele não
dava voz a suas perguntas.
Ele era observador e entendia as coisas muito rápido! William também, mas
ambos sabiam ficar quietos. Rocco estava a todo momento me tocando, às vezes
passava a mão no meu cabelo, às vezes tocava minha bochecha ou simplesmente
vinha ficar do meu lado. Mesmo assim, eu só queria ir embora e não conseguia
ficar muito empolgada quando Rocco puxava assunto. Eu até tentava, mas, no fim,
eu sorria e fingia.
Desviei o foco do clima que volta e meia ficava estranho, usei minha tatoo
como via de escape, William não acreditou e Dimitri estendeu o punho para me
tocar.
— É isso aí! — Sorriu quando choquei meu punho no dele. — Você agora faz
parte da minha turma, vou te conseguir uma jaqueta de couro e uma moto, vamos
dar umas voltas por aí.
Eu sorri da ideia absurda, me senti mais leve e um pouco menos atriz
também, o que era um alívio imenso.
William balançou a cabeça e Rocco deu um forte tapa na nuca do amigo.
— Vai sonhando, pode tirar o olho, essa já tem dono! — Rocco bufou
cruzando os braços.
— Deus me livre de virar um pau mandado! — Dimitri fez o sinal da cruz,
arrancando uma risada alta do William. — O Big Dinka gosta de voar e
experimentar várias flores.
Agora sim eu ri de verdade pela primeira vez, enquanto Rocco estreitava os
olhos e cuspia um:
— Você será pior que eu, e espero que a amiga da sua irmã te dê um trabalho
dos infernos.
Opa, esse deve ser algum ponto fraco, pois Dimitri fez uma careta e coçou a
cabeça.
— Deixa de me rogar praga, seu grande maricas! Eu, hein.
Quando terminamos a limpeza, eu cuidei dos machucados de Rocco, cuidei
dele com muito carinho, depois foi a vez dos outros. Coloquei band-aid onde foi
preciso e dividi meus analgésicos, claro que houve uma discussão deles comigo.
Os três afirmavam de forma categórica que estavam bem e não precisavam de
remédios.
Homens e suas manias de quererem sempre se mostrarem fortes.
No fim eu ganhei, claro que foi com jeitinho. Em seguida pedimos comida e
ficamos por ali. Comendo e conversando, surpreendentemente William nos contou
um pouco sobre a garota do quadro, e pelo menos agora não havia tanta mágoa, ele
tinha um sorriso lindo nos lábios quando contava uma das histórias de sua pequena
“ferinha”.
— Então tomamos um banho de chuva, eu a chamei de peste malcriada e
teimosa, ela me chamou de baleia encalhada! — Riu baixinho enquanto Dimitri
gargalhava com a mão na barriga, Rocco ria também, só que mais controlado. —
Isabela nunca ficou quieta quando eu a provocava, se eu dissesse que ela era muito
baixinha, ela me chamava de bola de festa. — Dimitri estava descontrolado na
risada e agora Rocco também, eles nem ligavam para a cara feia de William.
— Não ligue para eles, continue — pedi incentivando, e ele o fez.
— Teve uma vez que eu quase morri de vergonha, estávamos em uma das
festas da cidade, e lá estava a garota de quem eu gostava, Isabela sabia do meu
amor platônico pela outra e foi lá tentar me ajudar, ou piorar, nem sei. — Suspirou
balançando a cabeça negativamente, — Eu ainda me lembro das palavras dela. —
Pigarreou, mas o sorriso estava lá, e isso era bom… muito bom. — Ei, você, sua
feiosa, por que não dá atenção para o Will? Ele é lindo, viu? Só não sei o que
ele tanto admira em você, olha, toda estranha e com cara de azeda, parece uma
bruxa velha. Ela falou mais ou menos assim, então a partir daí foi declarada a
guerra entre as duas. — William coçou o queixo, depois cruzou os braços,
sentando de forma mais largada na cadeira, seu olhar era perdido e nostálgico,
mas de um jeito bom. — Eu até fiquei chateado e sem falar com ela uns dois dias,
mas então, no terceiro dia do meu gelo, à noite, Isabela invadiu meu quarto depois
de escalar uma àrvore. Nem acreditei, por Deus, ela era tão nova e maluca, nesse
dia ela me chamou de besta quadrada, baleia burra, cego idiota e Romeu falido.
Ainda disse que se eu não queria mais falar com ela, era eu quem perdia, no fim de
seu ataque, me chutou na canela e foi embora, quase me causando um infarto de
medo. Ela saiu por onde veio.
— Puta que pariu, essa garota era uma peste mesmo! — Dimitri riu limpando
os olhos. — Baleia burra e Romeu falido. — Gargalhou mais um pouco. —
Adorei.
— Ela era minha peste, minha garota, meu pequeno anjo — resmungou rindo
levemente. — Mas que ela dava um trabalho dos infernos, ah, isso ela dava,
acredita que eu tive que defender um garoto dela? Vi uma briga de moleques e
corri para ver se conseguia resolver, no fim, fiquei chocado ao ver Isabela batendo
em um garoto. Ela era incontrolável. Meu Deus, que saudade do meu anjo. —
Suspirou fechando os olhos durante alguns segundos.
Sorri para a forma carinhosa como ele a chamava, eu estava contente por ver
William conseguindo falar sobre esse grande amor de juventude, agora eu sentia
que havia amor e saudade, mas também conformismo em suas palavras.
— Agora nos conte um pouco sobre suas trapaças, Dimitri — Rocco pediu.
— Eu bem sei da sua enorme lábia e cara de pau!
Nós nos divertimos muito com as história de Dimitri, o imigrante Russo que
fez das tripas coração para vencer na Inglaterra. Era fato, Dimitri era o rei das
palavras, pense que lábia. Fez um agiota se enrolar todo e ainda conseguiu o
dinheiro que precisava. Dimitri era sem dúvida muito corajoso e destemido.
Sinceramente, eu confesso que fiquei orgulhosa por todos eles e chocada
quando descobri que dois dos cinco homens mais poderosos e ricos do mundo
estavam na sala comigo. Não quis nem saber o alcance do poder que Rocco e
William tinham.
Graças a Deus eu consegui segurar a onda até a hora do sono se sobrepor à
minha vontade.
Não preciso dizer que foi uma briga enorme entre mim e Rocco. Ele queria
que eu dormisse com ele no mesmo quarto, já eu queria ficar sozinha para me
encolher. Ele cortou minhas asas, mas ainda quer voar. No fim, acabei ganhando
um quarto para mim e, tão rápido quando deitei, adormeci.
Ressaltando que eu tranquei minha porta.
Acordei me sentindo péssima, minha lateral queimava e eu estava mais
cansada do que quando fui dormir. Olhei ao redor e vi que estava escuro ainda,
levantei indo direto para o banheiro, lá escovei os dentes e tomei o remédio para
aliviar a ardência na pele, com certeza as extravagâncias que fiz eram as culpadas.
Depois, recolhi minhas coisas, vesti minha roupa e me preparei para sair.
Com cuidado, abri a porta do quarto e nem acredito quando vejo Rocco, ele
estava todo encolhido e só tinha um travesseiro para protegê-lo do chão duro.
— Tão lindo — murmurei dando vazão a minhas lágrimas, segurei até onde
deu, agora não dava mais. Travei uma batalha interna entre acordá-lo ou não. Se
acordasse com certeza ele não me permitiria ir embora e eu precisava, todavia,
deixá-lo no chão duro, e ainda estando machucado, não era uma opção para mim.
Por isso peguei o meu celular e liguei para Dimitri, tocou e tocou até cair na caixa
postal. Eu sei que era uma judiação acordá-lo, mas não havia outra solução. Liguei
de novo e mais duas vezes, nada.
Mexi na agenda e procurei por William, liguei e já no terceiro toque ele
atendeu.
— Victória? — perguntou com voz sonolenta.
— Desculpa te ligar — cochichei. — Eu estou saindo, mas Rocco está
dormindo no chão aqui do corredor, em frente à minha porta, poderia, por favor,
vir aqui?
— Claro.
Instantes depois um William completamente despenteado aparece.
— Eu sabia que ele não iria conseguir dormir no quarto — sussurrou. — Ele
diminuiu a distância como pôde. Victória, ele não está bem com sua decisão.
Confie em mim, eu conheço meu amigo. Mas devo dizer que ele está sendo um
idiota dos grandes. — Sorriu. — Nesses dias ele vai enxergar a verdade e vai se
arrastar as seus pés. Acredite.
— Uhum. — Balancei a cabeça e me abaixei, fiquei bem perto de Rocco. O
máximo que consegui.
— O amor é paciente, é bondoso, tudo suporta, tudo crê — sussurrei
passando os dedos suavemente pelo seu cabelo. — O amor não se alegra com a
injustiça, pois sua felicidade está na verdade. Eu te amo, Rocco, e espero que seja
muito feliz em suas decisões. Adeus, amore mio, que Deus guie os seus caminhos.
— Beijei carinhosamente seu rosto e me levantei.
— Cuide dele, por favor — pedi a William, que me olhava com uma
expressão muito misteriosa e solene.
— Pode deixar, eu vou resolver as coisas para esse louco aqui. — Piscou um
olho.
— Vou sair, quando passar pela porta, vou bater de leve, acho que você
escuta, então tire ele do chão, sim?
— Sim, senhora — concordou fazendo uma continência. Sorri e olhei para
Rocco. Minha mão coçou para tocá-lo, mas resisti.
Saí do apartamento de William sem fazer muito barulho.
Cheguei à recepção do prédio e pedi um táxi, ainda eram quatro e trinta da
manhã, não sei o que me acordou, mas eu agradeço por finalmente poder ir para
casa. A viagem até lá passou como um borrão, uma leve chuva molhava minha
janela, enquanto as luzes tentavam acolher as ruas frias. Fechei olhos e revivi
alguns momentos maravilhosos com Rocco.
Foi tudo incrível, e mesmo não estando mais juntos, eu o amo ainda mais por
sua decisão.
Rocco Masari é tão honrado, digno e maravilhoso como eu pensei que fosse.
Muito bravo, ignorante, truculento e ciumento, mas ainda assim perfeito em sua
imperfeição.
Sorri. Um sorriso sincero, sem precisar me esforçar.
Quando cheguei em casa me sentia super cansada, graças a Deus todos
dormiam, sendo assim, pude ir direto para minha cama. Meus lençóis frios me
abraçaram e eu suspirei, deixando a exaustão tomar conta.
Capítulo 32
Madame Blanchet

Não acredito que minha vida mudou tanto. Em um dia eu estava bem, com
Victória presa ao meu contrato falso, e no outro eu tinha um monstro tirado dos
meus piores pesadelos colado em mim.
Um monstro que me machucava, me torturava, me humilhava e ria enquanto
minhas lágrimas de sofrimento banhavam meu rosto.
Não pensem que aquele episódio aqui no meu ateliê foi o único, Jean Pierre
me espancou em minha própria casa e eu não pude fazer nada. Durante todo o
tempo em que ele assolava meu corpo com chicotadas, golpes de palmatória e
outras coisas, eu só lutava para ser forte e não abrir a boca e acabar revelando
meu segredo.
Se ele souber que eu mantive Victória escondida e que menti dizendo que eu
criava para o ateliê da França, com certeza eu iria no mínimo perder minha pele.
Morrer seria sorte, Jean Pierre consegue puxar até a última gota de dor que o
corpo humano pode produzir, ele sabe onde está cada músculo, cada osso, cada
minúsculo ponto de tensão. Ele sabe quanto tempo leva para um corpo desligar por
falta de oxigênio, consegue adaptar a falta de água e comida para diferentes tipos
físicos e assim enfraquecer e deixar o corpo à beira do colapso, e quando isso
acontece, ele o traz de volta, permite a recuperação e depois volta tudo de novo.
Eu soube disso enquanto ele me torturava, a cada dedo quebrado ou resposto
no lugar ele me contava como fazia as coisas, como o corpo implorava por
misericórdia. Ele me contou da doce melodia do choro angustiado, do chamado
majestoso do sangue.
Eu vomitei dias a fio, pois as lembranças que eu tinha do que vi na França se
misturavam com o que eu vivi. E foi de forma consciente e acertada que eu resolvi
me desligar da Victória. Essa foi a melhor coisa que eu poderia ter feito, agora, eu
tenho 70 desenhos exclusivos e magníficos, só tenho um pequeno problema…
Eu preciso fazê-los durar.
Estava distraída admirando os croquis que eu tanto quis pegar quando o
telefone da minha sala toca. Instantaneamente, eu sinto um calafrio, fiquei assim
desde a primeira visita daquele monstro. Só em pensar que possa ser Jean Pierre
eu sinto meu estômago apertando em um duro nó e o suor irromper em minha pele.
— Sim — atendo receosa e minha secretária quase me faz enfartar quando diz
quem está esperando para entrar.
Imediatamente autorizo a entrada da minha visitante e já tento melhorar minha
aparência. Deixo o medo ir embora e dou o meu melhor sorriso.
A porta abre e eu vejo umas das mais influentes estilistas do mundo entrando.
Essa mulher tinha o poder do sim e do não no mundo da moda. Ela era a elegância
em pessoa, a melhor dos melhores. Era um sonho tê-la aqui. Meu sonho, na
verdade, ainda não acreditava que era ela mesma. Mas sim, era e eu estava
começando a acreditar que minha sorte estava de volta.
“Um dia eu queria ser como ela, ou melhor. eu queria ser ela”, pensei
ansiosa.
Antonieta Andrade.
A melhor de todas, a rainha da alta costura, a embaixadora da moda clássica.
Saí de trás da minha mesa e meu sorriso aumentou, com certeza ela deve
querer alguma sociedade, e eu aceitaria. Qualquer coisa com Antonieta Andrade
seria um sonho para qualquer estilista, mesmo sendo uma famosa como eu. Notei
que ela olhava minha sala, fiquei ansiosa, pois sua expressão era neutra, não dava
para adivinhar nada.
Respirei fundo e estendi minha mão de forma educada, tentando quebrar o
silêncio da mulher incrível diante de mim.
— Que honra tê-la aqui em meu ateliê, devo dizer que não esperava e fico
muito… — Minhas palavras foram cortadas pelo forte tapa que eu levei. Meu
rosto queimou, e lágrimas salpicaram meus olhos. — Mas o que…
— Você é uma maldita, por que mentiu quando eu te liguei, oito anos atrás,
perguntando se a moça que eu pedi para você empregar, continuava aqui? —
Antonieta falou, apenas sua voz demonstrou sua raiva, pois seu rosto permanecia
inalterado.
— Mas eu recebi Maria aqui depois de sua surpreendente ligação, eu permiti
que ela trabalhasse mesmo grávida, porque eu não queria te desapontar, afinal, seu
nome é muito influente e eu queria mostrar que faria qualquer coisa por você! —
exclamei enquanto recebia um olhar de desdém. — Maria trabalhou aqui até o dia
em que morreu, há oito anos — proferi o mais tranquilamente possível, não
entendi o que estava acontecendo.
— Eu perguntei se ela havia tido o filho, e você disse que a criança tinha
morrido! — esbravejou estreitando os olhos. — Eu te perguntei, e você mentiu
para mim!
Escutei sua acusação e fiquei durante alguns segundos sem saber aonde ela
queria chegar. Logo resolvi atacar, eu estava na merda mesmo, então por que não
afundar mais um pouco?
— Sim, eu menti, e daí? — grunhi, deixando a raiva pelo tapa tomar conta. —
Eu peguei a filha dela para ser minha empregada! Fiz a idiota produzir um vestido
atrás do outro e fiquei muito rica a explorando. — Gargalhei histericamente. — E
agora o que você vai fazer? — Ergui o queixo e não consegui evitar o outro tapa
que me atingiu.
— Lave a sua boca, estamos falando da minha neta! — rosnou, me fazendo
cambalear para trás.
— Você está louca, a única filha que Maria teve foi Victória e ela… —
Arregalei meus olhos quando a verdade me golpeou. — Você mandou a mãe da sua
neta para cá…
— Eu fiz o que tinha que fazer! — exclamou altiva. — Agora eu vim aqui
apenas para te dar um aviso, desista do mundo da moda, você está acabada! Eu
vou te destruir e não sobrará nem a lembrança de quem um dia foi Blanchet! Ah,
fique com os desenhos que roubou da minha neta, eles irão te servir de lembrança
quando estiver na sarjeta!
Com isso ela saiu da minha sala, me deixando paralisada de choque.
— Mas o que está acontecendo comigo? — questionei nervosa parada no
tempo, caminhei até a parede de vidro e fiquei olhando as nuvens cinzentas. — O
que é tudo isso? — murmurei para ninguém.
Fiquei ali muito tempo, com o olhar perdido. Minha mente um caos. Eu só
conseguia pensar que se Antonieta cumprisse sua promessa tudo estaria acabado,
nada do que fiz e arrisquei vai ter valido a pena.
Pulo de susto quando minha porta fecha com estrondo.
Nem olhei para trás, o arrepio de pavor que irrompeu em minha pele foi o
aviso de que era ele. Meu pior pesadelo encarnado.
— Vire-se, Blanchet!
Fechei os olhos e me virei. Quase morri quando vi Jean Pierre me olhando
com cara de puro ódio! Eu estava perdida, meu corpo estava querendo desfalecer,
eu juro que se minha consciência pudesse fugir com certeza o faria. Nada de mim
queria ficar perto desse homem.
— O-o que você… — gaguejei tentando segurar a vontade de vomitar, só de
olhar para ele eu tremia inteira.
— Vim aqui te dar algumas informações e instruções — falou me chamando.
— Primeiro eu já sei de tudo que você fez com Victória. — Sorriu de forma
aterradora e a bílis queimou em minha garganta. — Segundo, você irá escrever
uma carta com um pedido de desculpas e de despedida para Minha Belle fleur, ah,
sim, não esqueça de devolver os desenhos que você pediu quando encerrou o
contrato.
— Eu encerrei o contrato há dias. — Obriguei minha voz a sair, minha
garganta parecia entupida e ressecada.
— Eu encontrei com minha belle Fleur no mesmo dia em que vocês se
desligaram, mas eu tinha outra pessoa para caçar antes de vir até você! — falou de
forma displicente, já virando-se para ir embora. — Ah, sim, eu ia me
esquecendo… — Sorriu e veio até onde eu estava, me deu um murro nos estômago
tão forte que eu me curvei caindo no chão, minha cabeça rodou, mal conseguia
respirar. Mas mesmo assim comecei a chorar e soluçar.
“Meu Deus!”, pensei em completo desespero.
— Você teve sorte por eu vir só agora, se eu tivesse vindo no dia em que
soube de suas mentiras, provavelmente estaria no mínimo sem seus dentes,
Blanchet, agora faça o que eu mandei, estou só esperando um certo julgamento e
depois iremos para a França.
— Não, Jean Pierre, eu não quero ir para a França, por favor — Juntando
forças para ficar de joelhos, cruzei minhas mãos e sem um pingo de vergonha
implorei — Por favor, me deixa aqui, eu não quero ir, por favor, me deixa em paz,
eu te dou o ateliê inteiro, por favor. Eu não quero ir.
— Não estou nem aí para o que você quer! — rosnou inclinado-se. — Você
me subestimou, me fez de idiota, você sabe do que sou capaz e mesmo assim
colocou sua conta em risco, foda-se você e sua idiotice, você irá para a França e
irá trabalhar no Inquisition.
— NÃOOO, NÃO. NÃO, POR FAVOR, NÃO — gritei apavorada, eu fui lá
uma vez e passei semanas sem conseguir comer nem dormir, o que acontece lá é…
— Não grite! — rosnou. — Você irá, e lá eu vou te castigar por toda a merda
que fez, aliás, adorarei ver o quanto aguenta. — Riu feliz. — Não tente fugir, você
estará sendo vigiada, faça o que mandei e prepare-se para sua nova vida. Algo me
diz que você não vai gostar.
Piscou um olho e saiu, me deixando engolida pelo pavor que rastejava em
minha pele como milhares de cobras venenosas, levando minha paz, meus planos,
minha vida. Eu sabia que não adiantava fugir, ele me encontraria e seria pior.
Algo me diz que você não vai gostar!
Nesse momento eu percebi que sem querer eu abri as portas do inferno e,
antes que pudesse escapar, o pior de todo os demônios cravou suas garras em mim,
puxando-me para dentro das chamas e dos gritos agonizantes.
Eu teria sorte se morresse logo.
Capítulo 33
Victória

— Querida, acorde! — Escutei a voz da minha tia me chamar carinhosamente


e me virei, ainda estava caindo de sono, mas queria saber o que ela queria.
— Bom dia. — Bocejei. — Bênção? E que horas são?
— Deus te abençoe, meu amor, são nove e meia da manhã — respondeu e eu
notei que a voz dela estava baixa e preocupada.
Sentei-me imediatamente.
— O que foi? — perguntei coçando os olhos. — A senhora está com algum
problema?
Sorrindo de leve, tia Laura sentou em meu lado, pegando minhas duas mãos.
— Você sabe que é a pessoa mais importante da minha vida e minha única
família, não é? — perguntou me encarando fixamente.
— Sim, tia, claro que sei.
— Então eu peço que abra sua mente e se arrume, tem coisas sobre sua vida
que você precisa saber, já está na hora! — Suspirou não muito confiante. — Só
peço que, no fim, continue me amando como a filha que eu nunca tive.
— Tia, não tem nada nesse mundo que me faça te amar menos — murmurei
soltando uma das mãos para acariciar seu rosto. — A senhora esteve do meu lado
no pior momento da minha vida, está do meu lado agora. Não sei o que teria sido
de mim, sinceramente não sei…
Ficamos nos encarando e várias lágrimas salpicaram os olhos da minha tia.
— Então se arrume, fique linda e vamos, tem uma pessoa que está morrendo
de ansiedade para te conhecer.
— Quem? — perguntei curiosa.
— Se arrume e vamos, hoje o dia será cheio de novidades — dito isso ela
beijou minha testa e saiu.
Achei estranha essa situação. Quem queria me conhecer? Tentei puxar na
mente, mas não tive sucesso, resolvi que a melhor solução era me arrumar logo
para descobrir.
Fui para o banheiro e tomei um bom banho, não molhei os cabelos, depois, já
seca, escolhi uma blusa simples preta e um jeans velho, peguei meus tênis e
pronto. Estava sem ânimo para me enfeitar.
Conferi minha bolsa e peguei meus óculos, olhei para meu celular e resolvi
desligá-lo.
Saí do meu quarto e já na sala encontrei minha tia, Jason e Ricardo.
— Vamos? — perguntei e Ricardo sorriu abertamente.
— Claro, vamos — o namorado da minha tia falou e eu dei de ombros.
— Jason, meu querido, iremos com meu noivo, vamos passar o dia no hotel.
Aproveite para descansar — tia Laura falou e Jason aceitou.
Claro, quem é doido de desobedecer Laura Fontaine?
Saímos de casa e fomos para o hotel onde Ricardo estava hospedado. Apesar
de dormir lá em casa várias vezes, ele sempre mantinha o quarto no hotel, o que
para mim era desnecessário.
— Victória — tia Laura me chamou e eu olhei para ela. — Lembra aquilo que
te falei certo?
— Certo, tia, mente aberta. — Pisquei um olho e nem me surpreendi quando
me vi parando em frente ao La Riviera. O hotel de Rocco.
Ri da ironia do destino e desci do carro. Esperei o casal se juntar a mim e
logo estávamos entrando no luxuoso hotel, de que eu me lembrava perfeitamente.
Seguimos até uma suíte executiva enorme. Se não me engano ela tinha dois
ambientes, eram quase dois pequenos apartamentos acoplados. A suíte era muito
chique.
— Sente aqui, querida. — Ricardo indicou o grande sofá e eu sentei, meio
desconfiada, entretanto não fiz perguntas, preferi deixar as coisas fluírem. Esperei
cerca de dois minutos antes de tia Laura sentar perto de mim e Ricardo puxar uma
cadeira para ficar bem perto também.
— Minha filha — tia Laura começou a falar e já no inicio ela torcia as mãos.
— Quando eu cheguei em Londres, o estado de sua mãe já estava péssimo. Mesmo
com meu irmão tendo morrido há pouco tempo, a depressão engoliu Maria de tal
forma que eu não pude fazer muita coisa. — Suspirou e eu assenti, porque foi
exatamente assim. — Victória, sua mãe me contou tudo sobre a vida dela, passado
e presente, às vezes ela chorava horas a fio enquanto eu a abraçava, depois ela
desabafava.
— Sim, tia, eu sei, eu vivi isso também — murmurei de cabeça baixa. — Não
foi fácil.
— Então, agora eu quero que você me ouça com atenção e me deixe falar
tudo, okay?
— Claro, tia.
— Poucos dias depois que sua mãe faleceu o Ricardo apareceu, nessa época
você ainda estudava, então não estava em casa, o que naquele momento foi pura
sorte. — Tia Laura fechou os olhos e engoliu várias vezes, notei Ricardo
apertando sua mão, como se incentivando ou passando conforto, eu não sei. —
Minha filha, sua mãe havia me contado que…
— O que, tia? — questionei ainda mais curiosa.
— Sua mãe havia me revelado que Michael, meu irmão, não era seu pai,
apesar de ele saber de tudo e te amar sem distinções — tia Laura ressaltou e
continuou: — Seu pai verdadeiro é Victor Andrade, primeiro amor de Maria, sua
mãe.
Eu olhei para minha tia sem acreditar. Esperei-a gritar “te peguei” e dizer que
aquilo era uma brincadeira de mau gosto, mas os segundos passavam e nada. Então
eu já comecei a sentir as paredes do meu controle ruindo.
— Me conte tudo! — pedi um pouco mais alto do que gostaria.
Tia Laura encolheu-se com meu tom, mas começou a falar. Fiz uma nota
mental para moderar o tom de voz da próxima vez.
— Sua mãe me contou que ela era uma simples ajudante no ateliê da sua avó,
e foi lá que um dia ela conheceu seu pai, ambos se apaixonaram e viveram um
romance secreto. Victor temia o que a mãe dele faria se soubesse do
relacionamento, pois ele era muito novo e faltava algum tempo para ele receber a
herança, de acordo com o testamento do pai. — Tia Laura estava mais e mais
nervosa. — Maria me falou que amou Victor com desespero, não conseguia
imaginar viver sem ele, ela acreditava que seu pai sentia o mesmo, pois ele
desistiu de esperar pela herança, resolveu sair de casa e trabalhar, inclusive iria
desistir de estudar em Harvard também para ficar com sua mãe, esses eram os
planos, mas, infelizmente, sua avo descobriu e interferiu.
Eu nem sei o que dizer, sinceramente, tudo parece surreal demais para mim.
— O que ela fez? — perguntei mantendo minha voz neutra, mesmo quando a
realidade do passado estava se chocando pesadamente com meu presente, com
tudo que vivi e acreditei durante toda a minha vida.
— Minha irmã— Ricardo adiantou-se — era contra e infernizou o casal o
quanto pôde, até que ela fez seu pai acreditar que iria apoiá-lo em sua decisão de
casar com Maria, mas primeiro ela queria que ele estudasse, ambos, Maria e
Victor acharam justo, afinal era o futuro deles. O problema foi que sua mãe não
sabia que estava grávida e, quando soube, contou para sua avó. — Ricardo
suspirou. — Naquela época telefonemas internacionais custavam uma fortuna,
principalmente para uma garota simples como sua mãe, entretanto, ela engoliu o
orgulho e pediu ajuda para entrar em contato com Victor, e foi aí que minha irmã
agiu. Ela fez parecer que seu pai sabia de tudo e não se importava. Minha irmã
escondeu todas as milhares de cartas que seu pai mandou para sua mãe, ela até deu
o endereço errado para que sua mãe também não conseguisse mandar cartas.
— Como ela fez isso? — questionei chocada com tamanha maldade.
— Sua avó fez seu pai acreditar que daria toda assistência a Maria enquanto
ele estivesse fora, o combinado era que, quando ele se estabilizasse na rotina da
universidade, sua mãe iria ficar junto dele lá. Sua avó até comprou um
apartamento ao lado do campus para seu pai, e por isso, quando ele viajou, não
tinha endereço fixo, e para sua mãe obtê-lo precisaria da boa vontade sua avó, que
simplesmente deu o endereço errado!
— Mas eles não se falavam? Como não mantiveram contato? — Eu estava
cada vez mais e mais aflita com essa história.
— Não durou muita coisa, minha irmã já tinha tudo planejado, ela só
precisava afastar Victor e pronto. Tudo foi muito bem feito, minha irmã fez parecer
que seu pai não se importava, disse que ele havia descoberto que não amava
Maria, que não queria uma pobretona, e sim uma garota da mesma classe social, e
que também pagaria por um aborto. Então como sua mãe estava sem notícias dele,
pois nenhuma de suas cartas obteve resposta, acreditou, devo salientar que minha
irmã fez tudo muito bem feito.
— Mas então por que você não os ajudou? — questionei sentindo uma leve
falta de ar. — Por que ninguém ajudou?
— Eu não sabia de nada, minha querida, e eu morava nos EUA nesse período
— respondeu triste. — Com tudo dando certo, minha irmã só precisava tirar Maria
do país, e foi aí que ela resolveu “ajudar” sua mãe, ela pagou um curso de moda
aqui e pessoalmente contatou Blanchet, solicitando como favor pessoal a
contratação da sua mãe. Maria não pensou duas vezes.
— Então minha avó sabia de mim e, mesmo assim, mandou minha mãe para
longe?
Em que mundo uma avó faz isso?, eu me perguntei, aflita com tudo que minha
mãe sofreu. Como minha querida mãe lutou por mim, com certeza não deve ter
sido facil.
— Sua avó acreditava que sua mãe estava dando o golpe, em nenhum
momento ela pensou que estava mandando sua própria neta para longe,
principalmente depois de chorar por anos a morte da única filha no mesmo
acidente que levou seu marido. Você seria o sonho da sua avó, pois Andressa, sua
tia, morreu e deixou apenas um filho. Carlos, meu outro sobrinho.
Meu Deus, é muita coisa para assimilar, é muita coisa. Rocco, sua decisão,
saber que meu pai não é meu pai e que o verdadeiro foi uma vítima. Deus… fechei
os olhos apertando-os com força.
— Há oito anos, sem querer, eu descobri as cartas de seu pai para sua mãe,
não sei por que sua avó as guardava, mas agradeço por isso. Eu confrontei minha
irmã, foi uma briga horrenda entre nós dois, e, nessa confusão, ela revelou que fez
o melhor para Victor, pois o salvou de um golpe. Sem sabermos, seu pai ouviu
tudo, descobrindo o porquê do sumiço de Maria. Entenda, Victória, seu pai nunca
se recuperou dessa separação, ele amou sua mãe de tal forma que, depois de
pouco mais de um mês sem notícias, ele largou a universidade e voltou escondido,
mas quando chegou em casa, Maria já tinha ido, e não havia nada que ele pudesse
fazer. Então mesmo com o coração partido, e achando que foi trocado por uma
chance de sucesso na Inglaterra, ele voltou para EUA e estudou muito. Seu pai
descobriu da pior forma que sua própria mãe foi culpada por ele ter perdido a
mulher que amava.
— E é por isso que eu cortei relações com minha mãe há oito anos! —
Escutei uma voz vinda da porta que conectava as duas salas, lá havia um homem
alto, elegante, muito bonito e jovem. Ele caminhou em minha direção e a cada
passo que dava seus olhos iam se enchendo de lágrimas, que instantes depois
escorriam pelo seu rosto livremente. Com cuidado ele sentou do meu outro lado,
tomando minha atenção total…
O mundo perdeu o sentindo.
Eu estava diante do meu verdadeiro pai e seus olhos eram os mesmos para os
quais eu olhava todos os dias diante do espelho.
Os mesmos olhos…
— Eu chorei de desgosto dia e noite durante muitos anos, me enterrei nos
estudos, sofri amargamente — falou limpando as lágrimas teimosas. Mole como
sou, eu já chorava junto. — Tantos anos depois, o conformismo era o que eu
sentia, não havia mais amor em mim. Eu me tornei um homem de sucesso,
influente, poderoso, eu me tornei um homem da vida! — Tentou um sorriso. —
Mas eu obtive uma segunda chance, quando ouvi toda a briga e a revelação de
minha mãe. Eu queria correr para buscar você e Maria, na hora eu soube que você
era minha, eu não tinha dúvidas, nunca tive. — Solucei e ele limpou minhas
lágrimas. — Eu estava eufórico, era muita felicidade, eu iria ter minha mulher e
minha filha, ou no mínimo minha filha. Eu pedi ajuda a meu tio, pedi que ele viesse
na frente e logo eu viria. Precisava preparar as coisas, você era uma adolescente e
eu não sabia como agir, então procurei psicólogos, visitei escolas secundárias,
tentei absorver o máximo de informação sobre jovens da sua idade. Foram apenas
três dias de diferença, entra a vinda de Ricardo e a data do meu embarque.
Victor baixou a cabeça e seus ombros caíram, eu não consegui vê-lo assim e
segurei sua mão, passando o restante de força que eu tinha.
— Eu estava pronto para viajar quando meu tio mandou que eu não fosse, ele
disse que estava chegando, eu não entendi. Por Deus, eu estava aflito demais,
louco para te ver, te tocar. Finalmente poder preencher o buraco em meu coração.
— O que aconteceu? — perguntei baixinho. — Por que não veio me buscar?
— Eu menti, minha filha! — tia Laura falou e a olhei de olhos arregalados. —
Eu afirmei que você tinha morrido quando era pequena, eu jurei para Ricardo, e
ele acreditou em mim.
— Eu me apaixonei por Laura à primeira vista, e nunca imaginei que ela
poderia mentir para mim. Eu fui para o Brasil, contei para Victor e ele desabou
com as notícias, então eu tentei outra vez e voltei a entrar em contato com sua tia,
passamos algumas semanas juntos, eu havia contado como meu sobrinho sofreu e
nunca pensei que ela mentiria. Do nada sua tia me mandou embora, disse que não
me queria e eu fui. Me mantive afastado até agora — Ricardo disse tudo isso
olhando tia Laura, que estava mais e mais pálida a cada segundo.
Gelei por alguns instantes. Minha respiração travou, a revolta ferveu dentro
de mim, mas eu pedi a Deus força para continuar ouvindo.
— Eu não tinha mais ninguém, minha filha, e sua mãe me falou o quão egoísta
a família Andrade poderia ser, ela disse que se sua avó soubesse de você,
certamente te levaria, e seu pai também. — Tia Laura chorava, eu chorava, o
mundo chorava.
Que desgosto enorme.
— Quando meu tio chegou eu mal me continha. — Victor chamou minha
atenção. — Eu estava com medo de não ser um bom pai, eu estava com medo de
encontrar com sua mãe, eu tinha medo de ter que brigar por você. Eu ainda amava
Maria, na verdade ainda amo.
Solucei cobrindo meu rosto com as duas mãos.
“Minha filha, eu amei dois homens em minha vida, não sei como isso foi
capaz de acontecer, pois dizem que só amamos uma vez, entretanto se eu colocar
em uma balança eu acho que daria igual, todavia, hoje não tenho nenhum”,
lembrei-me de uma conversa que tive com minha mãe logo após a morte do meu
pai, Michael. Muitas peças e mistérios encaixado-se em minha mente, como o fato
de a minha mãe sempre dizer que, às vezes, quando estamos no fundo do poço é
que estamos nos preparando para recomeçar.
Eu não entendia, mas agora eu entendo, minha mãe, quando saiu do Brasil,
grávida de mim, estava realmente no fundo do poço, foi justamente meu pai
Michael quem a resgatou.
— Filha… — Balancei a cabeça desconsolada e chorei ainda mais quando
ouvi essa palavra, há muito tempo eu não a ouvia dita dessa maneira, tia Laura me
chamava, mas era diferente, na voz do homem diante de mim havia muitas coisas
escondidas nessa única palavra, mas recomeço era a primeira delas. — Olha para
mim — pediu e eu o fiz, vi o tamanho do amor com que ele me olhava, senti em
minha pele quando ele secava minhas lágrimas. — Eu quis morrer quando Ricardo
me falou que você não estava viva, eu me afundei na depressão, no álcool e quase
nas drogas. — Suspirou esfregando o rosto. — Eu cogitei o suicídio, mas algo
sempre me puxava da beira do abismo.
Ficamos todos em silêncio, digo, não falamos palavras, mas os soluções e as
fungadas estavam presentes.
— Quando voltou de sua segunda viagem a Londres, tio Ricardo me
encontrou pior do que me deixou! Ele foi como um pai para mim, ele me resgatou,
e eu sobrevivi, porque viver eu já não conseguia.
— Eu fiz o que tinha que fazer, meu garoto, você e Carlos são os filhos que
não tive — Ricardo se pronunciou apertando o ombro do meu pai. Digo, do
Victor.Ai, Deus. — No dia em que eu te vi, Victória, não tive dúvidas, por isso a
minha reação, eu estava basicamente diante da minha irmã quando jovem, vocês
são iguais. Desculpe, mas eu fiquei revoltado e sobretudo magoado, eu não
esperava que Laura tivesse feito isso comigo.
Eu me encolhi, não queria ser igual à minha avó. De jeito nenhum.
— Eu quase não acreditei quando soube, só não entendo por que não me
contou imediatamente, tio Ricardo — Victor falou e eu também fiquei muito
curiosa.
— Bom, eu primeiramente fui esfregar a verdade na cara da minha irmã, e ela
acreditou, realmente acreditou, então pediu a chance de consertar as coisas, ela
queria se aproximar de você e Victória. Fazer o reencontro entre pai e filha, ela
queria se redimir pelos erros cometidos! Ela queria ter você de volta, Victor, e
agora ela quer a neta também, mas eu não achei justo fazê-lo esperar mais.
— Quem é minha avó? — perguntei com voz chorosa, era muita informação,
minha cabeça estava dando um nó.
— Não importa — Victor falou chamando minha atenção, logo ele levantou e
deu um passo para trás, em seguida abriu os braços. — Me permita poder te dar o
abraço que chega com vinte e três anos de atraso. — Pronto, se antes eu já
chorava, agora eu estava derretendo. Eu soluçava tanto que tremia, estava
praticamente cega pelas lágrimas. Mas fiz o que ele pediu, eu realmente precisava
de um pai agora.
E verdade seja dita, Victor sofreu muito mais que eu. Pois eu tive Michael, o
pai mais incrível, já Victor não teve nada.
Praticamente me joguei nos braços do meu pai de sangue, ele chorava tanto
quanto eu e me apertava, murmurando palavras de conforto e saudade como se eu
fosse uma garotinha, então talvez eu fosse mesmo. Estar nos braços dele me fazia
sentir frágil e agora eu quebrei, meu pranto derramado pela dor de ter perdido meu
primeiro amor. Eu não consegui segurar, Victor tinha o botão do pai, aquele que
basta um olhar mais demorado, uma palavra suave e você desabafava todas as
suas dores.
— Calma, meu amor, tudo vai ficar bem. — Chorou acariciando meus
cabelos enquanto meu rosto estava enterrando em seu peito. — Demorei tanto para
viver esse momento, eu tenho tantas coisas para dizer, tantas outras para viver com
você. Filha minha… — Soluçou apertando seu abraço. — Finalmente eu posso te
chamar de minha filha. Minha filha… meu amor.
— Victor, pai — murmurei e ele tremeu, meu coração abriu para aceitá-lo.
Nós merecíamos essa chance, e eu daria.
— Minha garotinha — sussurrou. — Seu pai nunca mais vai te deixar, vou
viver meus dias aproveitando e curtindo o futuro ao seu lado. Eu te amo desde o
momento em que soube da sua existência e, mesmo achando que você estava
morta, eu continuei te amando muito.
— Obriga-gada por vir — gaguejei. — Obrigada por não desistir, eu preciso
de alguém lutando por mim.
— Seu pai está aqui e nunca mais vai te deixar — sussurrou ferozmente. —
Eu vou te proteger de tudo e de todos. Gostaria muito de poder agradecer a
Michael Fontaine e à sua mãe por terem criado você, eles fizeram um ótimo
trabalho, você é maravilhosa.
— Eu amo meu pai Michael, ele foi incrível — sussurrei e Victor me afastou
um pouco, ele me encarava.
— Me permita ser seu pai, meu amor, me permita, por favor. Eu nunca irei
querer substituir o Michael, mas peço que me deixe entrar e recuperar os anos que
me foram roubados, para mim você é um recomeço cheio de possibilidades.
Sorri largamente mesmo sem impedir as lágrimas de escorrerem.
— Sim, eu tenho um grande espaço em meu coração para você!
Escutei o choro convulsivo de tia Laura e me soltei do meu pai (precisava me
acostumar a chamá-lo assim, mesmo parecendo um pouco fora da realidade, ele
merece).
— Tia Laura, pare de chorar — murmurei tocando suas costas. — No fim
tudo acabou bem, agora não somos só nós duas e o Balofo.
— Você não me odeia? — Chorou e eu quase ri.
— Como eu vou odiar minha super tia Laura? Minha tia ferozmente protetora
que foi a mãe que eu precisei durante muito tempo? — falei e logo tia Laura se
virava me agarrando. — Eu te amo, tia, e nada vai mudar, eu já te falei isso, para
me fazer odiar o troço tem que ser grave, agora veja, nem a Blanchet eu odeio. —
Ela sorriu. — Viu como é difícil? Ódio não tem vez aqui.
— Ohhh, minha filha, eu tive tanto medo, eu protelei o máximo que pude, eu
conversava tanto com Victor para esperar mais um pouco, coitado, ele estava
louco de vontade de te conhecer.
— Tudo no tempo do Senhor, esqueceu, Dona Laura Fontaine?
— Muito brevemente, Andrade — Ricardo falou, fazendo todos rirem.
Não acredito que Deus colocou essa oportunidade diante de mim. Vou poder
recomeçar minha vida e ainda ganhei um pai.
— Filha, quero que você venha comigo para o Brasil — Victor falou assim
que controlamos o choro. — Quero construir seu Ateliê lá, eu já troquei meu
apartamento por outro com o dobro do tamanho, já deixei tudo pronto para recebê-
la.
— Eu… não sei… digo, é muita coisa acontecendo — gaguejei
envergonhada. — Tem minha casa aqui, minhas lembranças, eu não sei, digo,é tudo
novo e.
— Não se preocupe, meu amor, tudo vai dar certo, eu posso me mudar para
Londres, sem problema, eu só não quero me afastar de você.
— Eu adoraria, será incrível poder te ter aqui, eu adoraria conhecer o Brasil
também, seria demais, sempre quis ir, mas nunca pude. — Sorri quando fui
abraçada.
— Perfeito, só tenho que resolver alguns problemas de mudança, quero
resolver tudo para ontem. — Riu e juro que ele ficou ainda mais jovem e bonito.
— Quantos anos você tem? — perguntei e ele sorriu, um sorriso lindo que o
deixava tipo galã de cinema.
— Eu tenho vinte anos a mais que você!
— Não acredito! — exclamei e rimos, poxa vida, meu pai era bem novo, dez
anos mais velho que Rocco. Fiz uma careta.
Rocco é passado, ele escolheu… então eu estou seguindo em frente
Ficamos ali nos conhecendo, almoçamos juntos e era incrível como eu e ele
tínhamos muito em comum. Eu contei sobre algumas coisas da minha juventude e
ele apenas falou de sua carreira, disse que não era um homem feliz e que não
tinhas boas histórias, apenas da época em que viveu com minha mãe, mas em
respeito a Michael, não iríamos comentar, pelo menos agora.
Preciso dizer que adorei Victor? Não, né?
— Então é isso, princesa. — Sorriu — Além de cuidar da vasta herança que
seu avó me deixou, eu tiro empresas e até pequenos países do buraco com meus
conselhos sobre finanças. — Então seu semblante ficou sério. — Infelizmente, meu
país caminha para o colapso, mesmo tentando argumentar com chefes do nosso
governo, eles não me ouvem, não posso fazer nada, eu tentei o quanto pude.
— Espero que dê certo de alguma forma.
— Dará, se houver muito planejamento, contenção de gastos e menos
corrupção. Mas chega, vamos parar de falar da economia Brasileira, vamos falar
sobre como vamos viver aqui, eu queria você morando comigo, já que Laura irá se
mudar para o Brasil, não quero você sozinha!
— Você já está em modo pai, não é?!
— Estou em modo pai há muitos anos!— Sorriu. — Aceita morar comigo?
Ou eu me mudo para sua casa? — perguntou arqueando uma sobrancelha. Tia
Laura gargalhou e eu ri também.
— Eu aceito morar com você!
A tarde passou muito rápido, era tanta coisa que Victor queria saber, e vice–
versa, que nem ligamos para a hora, devo dizer que ele quase morre quando
mostrei minha tatuagem, até ficou vermelho e eu meio encolhida, coisa de pai e
filha. Não sei explicar, mas parece que sempre vivemos assim. Ele tinha
autoridade comigo, me sentia não querendo desapontá-lo.
Meu coração estava tranquilo, cada vez que ele dizia que estava ali para
mim, eu sentia a dor de perder Rocco mais suportável, eu sabia que não teria como
esconder meu antigo relacionamento. Não sei se pelo fato de ele ter chegado só
agora em minha vida, mas ele me olhava e prestava muita, muita atenção em mim.
Quando franzi levemente a testa por causa do desconforto causado pela
tatuagem, ele perguntou onde doía! Mas como assim? Ele é vidente?
Sei não, eu estou mesmo é adorando.
— Eu e sua mãe conversamos muito sobre quais nomes teriam nossos muitos
filhos. — Sorriu nostálgico. — Se tivéssemos um menino, ele se chamaria Gianne,
e se tivéssemos uma menina, seria Victória, sua mãe gostava do meu nome.
— Por que o nome Gianne, Victor? Digo, pai — perguntei me corrigindo, só
assim para acostumar. Foi bonito vê-lo fechar os olhos como se saboreasse o fato
de tê-lo chamado de pai.
— Esse era o nome do meu do meu pai. Gianne Mantovane Andrade.
— Uau, que nome. — Ri e ele concordou
— A família da minha avó por parte de pai era toda italiana. Você tem sangue
italiano.
Ai, meu Deus, não é possível. Nunca vi uma ironia do destino pior que essa.
Eu tenho sangue italiano, vê se pode.
Victor estava muito curioso sobre minha vida, e por isso tia Laura estava
contando as minhas palhaçadas de criança, claro que ela só poderia falar do que
minha mãe ou o pai Michael contavam.
— Victória espalhou farinha pela casa inteira, meu irmão contou que Maria
chorava e ria tentando tirar a massa grudenta do cabelo dela. — Rimos, mesmo
minhas bochechas quentes de vergonha. — Depois Maria estava desconsolada por
ter que limpar até os buracos de rato! Victória jogou farinha inclusive no tubo da
televisão.
Meu pai e Ricardo riam muito e era bom ver a felicidade estampada no rosto
tão jovem de Victor. Enquanto minha infância esta explorada eu me afastei
pegando meu celular, liguei e não demorou quando as mensagens no WhatsApp
biparam. Revirei os olhos, quando vi, as mais de mil mensagens no grupo do
Royce, li algumas, e quando chegou na parte onde meu amigo e o pessoal da banda
estavam marcando o horário para ir viajar, eu comecei a prestar atenção, lá estava.
Eles combinando um mochilão pela Europa.
Senti um frio na barriga e o desejo insano de ir. Comecei a bater o pé, lendo
as mensagens. Eles iriam sair às seis da noite, ainda eram quatro. Tuuudo bem.
Sem problemas. Não é como se eu fosse, ou tivesse coragem. É, tudo certo…
uhum.
— O que foi?
— Ai, que susto! — Levei a mão ao peito quando Victor chegou do meu lado.
— Não é nada — murmurei, sentindo meus olhos brilhando quando eles disseram
que a primeira parada seria em Liverpool, para o festival de música em
homenagem aos Beatles.
— Filha, seus olhos estão brilhando. — Victor sorriu colocando a mão no
meu rosto. — Me conta o que é?
Dei um sorriso sem graça, mas comecei a falar.
— Eu sempre quis conhecer outros países, simplesmente poder viajar, mas eu
não podia. — Baixei a cabeça dando de ombros.
— Eu soube de tudo que você passou, Ricardo me manteve por dentro. Eu
sinto muito, realmente sinto.
— Não se preocupe, já passou. — Sorri e ele me incentivou a continuar. —
Bom, quando eu era mais nova, eu e meu melhor amigo sonhávamos em fazer um
mochilão pela Europa, sabe? Daqueles que a pessoa anda a pé, pede carona, faz
acampamento ou dorme em albergue.
— Sim, eu fiz alguns em meus anos de rebeldia — comentou —, é muito bom.
— Pois é, meu melhor amigo, Royce, está indo fazer um e eu nem sabia.
— Você quer ir? — perguntou na lata, me deixando chocada e com cara de
idiota.
Sério isso? Não pode ser, já, já ele ri, dizendo que é pegadinha!
— Eu quero sim, eu gostaria de espairecer um pouco, curtir, ser
irresponsável pelo menos uma vez, eu não fiz muito isso em minha vida. — Dei de
ombros, entrando na onda, nem estava colocando fé nisso.
— Então o que está esperando? — falou em tom confidente. — Eu te dou
cobertura, mas adianto, não se acostume, eu ainda sou o pai aqui, e outra coisa…
— falou tirando o celular — leve o meu telefone para eu te ligar sempre que
quiser.
— Não acredito! — murmurei pegando seu aparelho. Devo parecer o emoji
do espanto, olhos e bocas esbugalhadas. Sério isso?
— Eu confio que você não fará nenhuma bobagem, Laura me deixou muito
orgulhoso e consciente do seu caráter.
— Você não vai ficar magoado? — cochichei sem acreditar. — Acabamos de
nos conhecer, e meu aniversário é daqui a poucos dias.
Victor sorriu e piscou o olho.
— Teremos muitos aniversários para passarmos juntos, e não ficarei
magoado, afinal, eu sou seu cúmplice, certo? E já quero ficar bem na fita, oras.
— Certo. — Sorri, sentindo a euforia tomando de conta.
— Ligue para o seu amigo, diga que vai, deixe um recado para sua tia não
ficar preocupada e curta muito. Contudo, não faça nada que me decepcione.
— Pode deixar! —demos um abraço. — Vou ficar com o seu celular para
mantermos contato, mas preferia que não dissesse à tia Laura, ela vai tipo me ligar
a cada dois segundos.
— Vou te ligar todos os dias apenas uma vez, para saber se está tudo bem,
irei acompanhar o seu trajeto, meu celular tem GPS, ficarei mais tranquilo, será
nosso segredo, para todos os efeitos, você está incomunicável.
— Aiin, caramba, valeu! — exclamei beijando sua bochecha. Não havia
formalidades nem constrangimento, nossa união foi única. Perfeita, o sangue
chamou. Feliz da vida, observei Victor ir em direção aos quartos e liguei para
Royce, dizendo que iria junto. Ele não acreditou e ainda pediu desculpas por não
ter falado nada comigo, o problema foi que eu estava tão para baixo que ele não
queria pressionar.
— Vem logo, vamos sair em duas horas e você precisa arrumar sua
mochila, coloque coisas básicas e deixe o celular, será um mochilão aventura,
iremos com pouco dinheiro e muita coragem.
— Certo, mas o celular vai, prefiro prevenir, entretanto não vou ligar para
ninguém — falei sorrindo, quem me ligaria seria meu pai, então…
Perfeito.
— Passo em sua casa às sete da noite em ponto.
— Combinado. — Desligamos o telefone e eu procurei Victor com o olhar,
ele acenou fazendo o sinal positivo.
Eu fui bem tranquila em direção à minha tia, dei-lhe um abraço e avisei que
iria para casa.
— Eu vou com você — falou sorridente.
— Pode deixar que eu a levo — Victor, digo, meu pai falou, e já íamos
saindo quando alguém bateu na porta.
— Quem será? — exclamou Ricardo indo atender.
Os momentos a seguir foram muito, muuuuito intensos.
— O que faz aqui? — meu pai grunhiu para a mulher parada na porta, que, só
para saberem, não era ninguém mais ninguém menos que Antonieta Andrade.
— Meu filho, eu soube… — ela falou e eu quase caí para trás. Era ela, era
ela a minha avó.
— Meu filho nada, por favor, saia!
— Pai — chamei baixinho, e ela fechou a boca em uma linha fina —, calma.
— Meu filho, me deixe conhecer minha neta direito — implorou e sua
expressão era bem cansada. — Por favor, permita-me aproximar.
— Não. Você não vai fazer isso! Não quero que minha filha seja contaminada
com sua maldade! — ela soluçou abalada Foi horrível.
— Por favor — tentou novamente, mas meu pai estava irredutível, ele
simplesmente me puxou e me tirou dali, não olhamos para trás. Quando dei por
mim, estávamos metidos no trânsito de Londres.
Ficamos em silêncio, eu podia sentir a mágoa que desprendia dele em ondas,
mas já chega disso, está na hora de parar. Se não fosse pela atitude mesquinha e
maldosa da minha avó, minha mãe não teria conhecido meu pai e eu não teria tido
a chance de ser filha de Michael Fontaine.
— Aqui vão um conselho e um fato sobre mim — murmurei baixinho e notei
que, mesmo dirigindo, ele prestava atenção. — O conselho, não viva sua vida
cultivando ódio e, principalmente, não faça isso com sua própria mãe, por favor,
reconsidere, fale com ela. — Limpei a lágrima que escorreu pelo canto do rosto
dele. — Agora, o fato sobre mim, eu não consigo guardar esses sentimentos
negativos, não sei o futuro, mas, por exemplo, mesmo depois de tudo que eu passei
na mão de Blanchet, eu não desejo o mal dela, quero que ela encontre ao menos
paz.
A expressão dele estava contraída, mas de vez em quando uma lágrima
escorria, eu estava ali para limpar.
— Perdoe sua mãe, dê-lhe uma chance, porque eu vi o quanto ela te ama e se
arrependeu do que fez. Faça isso, eu garanto que sua felicidade será plena, depois
você me ajuda a fazer tia Laura não querer escalpelar minha avó.
Rimos e ele suspirou.
— Não sei, minha querida, eu ainda tenho muita mágoa, a decepção foi
grande demais.
— Uma chance, hum? — Fiz uma caretinha mexendo um dedo. — Só uma.
— Só uma… e se ela aprontar, eu não vou perdoar.
— Combinado, aproveite a minha viagem e converse com ela, quando eu
chegar, irei acatar sua decisão, farei o que o senhor quiser.
— Obrigado, minha filha. — Sorriu emocionado. — Eu realmente gostaria de
poder abraçar Michael pelo grande trabalho que ele fez, posso dizer que eu não
poderia ter escolhido outra pessoa para criar minha filha, salvo eu, é claro.
Rimos e eu indiquei o caminho certinho para minha casa.
Cheguei em casa e o Balofo, que agora mais parecia um Balofão, de tão
grande que estava, veio nos atender. Meu pai fez a maior festa com meu cachorro,
e o Balofo, nem falo nada, caiu de amores pelo novo membro da família.
— O senhor pode ficar com ele? — perguntei, pegando minha mochila e
começando a encher.
— Claro, vou adorar cuidar desse rapaz aqui!
— Perfeito, eu ia pedir para Jason, mas é melhor o senhor cuidar do seu neto.
— Ri da careta que meu pai fez e, enquanto arrumava tudo, eu ia falando das
manias do Balofo.
Meu pai ria e de vez em quando pegava algo que eu não alcançava.
— Coloque remédios para dor de ouvido, febre, relaxante muscular, cólicas e
repelente dentro de uma bolsa, você precisa estar preparada para qualquer coisa.
— Certo, farei isso.
Foi a maior correria, as duas horas que eu tinha voaram e quando dei por
mim Royce batia na porta.
— Royce, esse é Victor, meu pai biológico; pai, esse é Royce, meu melhor
amigo.
— Pai… como assim pai? — Royce questionou, apertando a mão do outro.
— É uma longa história que eu conto depois — falei correndo para meu
quarto, peguei uma folha e escrevi um bilhete para tia Laura.
Terminado, eu o trouxe para a sala e deixei em cima da mesinha de centro
junto com meu celular.
— Tudo pronto? — Royce chamou assim que ouvimos os gritos e buzinadas
na rua.
— Tudo! — falei, sentindo um frio na barriga. Eu iria fazer coisas de jovens
despreocupados. Sinceramente eu estava precisando disso.
— Vai na frente, Royce, e não esqueça o que eu disse para você — meu pai
falou e Royce fez uma careta enquanto saía. — Filha, eu sei que é um mochilão
aventura, mas não quero você desprevenida, juro que estou quase desistindo.
— Não desista! — exclamei, esfregando as mãos, eu estava louca para ir.
— Então toma. — Victor pegou a carteira e tirou um bolo de notas. — Aqui
tem libra, euro e dólar. Eu peguei no hotel antes de vir. — Fiz uma careta e ele riu.
— Tudo que é meu é seu, pode se acostumar, você é minha única herdeira, então…
— Empurrou as notas minha mão e eu aceitei guardando no fundo da minha bolsa.
— Pelo amor de Deus, se cuida e atenda ao telefone quando eu ligar, não me faça
ir atrás de você!
— Ta certo.
— Vou te ligar sempre às dezoito do seu horário local, antes irei olhar pelo
GPS.
— E se o GPS falhar? — perguntei só para ter certeza.
— Não vai, meu celular é conectado via satélite.
Agora foi o momento da despedida, meu pai me abraçou tão apertado que eu
quase senti alguns ossos estalando.
— Ai, ai, ai… — reclamei e ele afrouxou.
— Se cuida,meu amor, e atenda o telefone, não fale com estranhos, durma
com meias e tranque a sua porta… — falou me apertando de novo. — Não
acredito que estou fazendo isso, eu devo estar louco, só pode.
— Você está sendo maravilhoso! — Beijei sua bochecha e corri.
Saí de casa deixando meu mais recende e descoberto pai. Entrei no táxi que
Royce chamou e soltei um longo suspiro.
Vou viver como uma jovem despreocupada, dormir tarde, beber um pouco e
me divertir muito.
— Liverpool, aí vou eu.
— Se prepara, Bonequinha, vai ser inesquecível — Royce falou e eu apenas
assenti.
Eu realmente espero que seja.
Capítulo 34
Tia Laura

Não posso acreditar que finalmente eu tirei esse peso das minhas costas.
Todos esses anos eu vivi com medo e arrependimento. Eu abri mão de uma paixão
para ficar com minha Victória, eu só não sabia que o futuro seria tão difícil.
Depois o tempo foi passando, e a verdade esmaecendo, até que o confronto se
tornou inevitável, graças a Deus Ricardo e Victória me perdoaram, não sei o que
faria se fosse diferente.
— Amor, chegamos — meu noivo falou me tirando dos meus pensamentos,
sorri para ele e rapidamente saí do carro.
Tudo rodou, e eu me senti terrivelmente enjoada.
— O que foi, você está se sentindo bem? — Ouvi a voz preocupada do meu
amado e testei um sorriso.
— Sim, eu acho que comi algo que não caiu bem.
— Claro, vamos entrar, o dia foi cheio de emoções.
Entrei em casa e a primeira coisa que estranhei foi o fato de tudo estar
escuro.
— Victória? — gritei e não obtive respostas. — Minha filha?
Nada.
Coloquei as mãos na cintura e chamei de novo, depois acendi as luzes e fui
até o quarto dela, nada. E o Balofo também tinha sumido.
— Para onde foram? — questionei pegando meu celular e ligando para
Victória.
Caixa postal.
— Victória disse que vinha para casa — resmunguei ligando para Victor.
Caixa postal também.
Eu não sei o que estava acontecendo comigo ultimamente, mas eu estava
muito emocional, já estava imaginando mil coisas e querendo chorar.
Parecia uma chorona e eu nunca fui.
— Onde estão?
— Amor, provavelmente estão passeando, relaxe.
— Não consigo — suspirei me sentindo à beira das lágrimas, eu queria
encontrar Victória em casa e conversar, saber se ela estava bem mesmo, afinal,
antes de sua saída teve toda aquela cena com a bruxa velha.
Antonieta… eca!
— Vem comigo, Laura, você está ficando pálida e eu não estou gostando.
Fomos para a sala e naquele momento a campainha toca. Deixo Ricardo ir
atender e vou em direção ao sofá, passo meus olhos pelo ambiente e
automaticamente eles voltam para a mesinha de centro.
Vejo uma folha e o celular da Vic.
Franzindo testa pego o papel e começo a ler. Não aguento e já me debulho em
lágrimas, nem pareço eu, mas estou descontrolada.
— Amor, o que foi? — Ricardo pergunta sentando ao meu lado.
— Ela viajou e nem me falou. — Solucei. — Victória não me falou…
— Tia, o que Victória não falou?
Olhei para cima e vi Rocco parado ao lado do sofá, ele estava com uma
aparência bem bruta. Barbudo e vestido de preto. Parecia um caçador de
recompensas.
— Victória se mandou com Royce e não me avisou — falei tentando controlar
o choro.
— O-o quê? — Rocco perguntou ficando pálido na mesma hora. — Para
onde ela foi?
— Não sei, ela disse que iria explorar o mundo e não tinha data para voltar.
— Mas isso é… não… — Rocco abriu e fechou a boca, depois sua expressão
fechou.
Deu até medo.
— O que ela disse?
Resolvi resumir para encerrar.
— Ela disse que iria curtir a juventude como qualquer jovem normal. Beber,
amar, viver…
— Isso não vai acontecer! — grunhiu sacando o celular — Vou buscá-la onde
quer que esteja.
— Ela deixou o telefone! — falei engolindo diversas vezes, meu estômago
estava rebelde.
— Besteira, isso é mero detalhe, vou encontrá-la e trazê-la de volta! —
rosnou fazendo cara de mau.
— Você não ia casar?
— Ainda vou, mas com Victória! — exclamou tenso. — Um homem tem o
direito de errar, e eu permaneci muito tempo no erro. Já chega, vou pegar minha
mulher de volta, e não tem conversa.
— Finalmente — exclamei. — Você estava me decepcionando.
— A situação me pegou de guarda baixa. Enfim, estou de volta! Agora me
deixe ver essa carta.
Entreguei a ele e observei a raiva crescente enquanto ele lia.
— Beber e amar — bufou. — Só se for comigo!
Até que fim!
— Tenho que ir, em breve eu trarei notícias.
— Faça isso.
Neste instante o celular de Rocco tocou e ele atendeu. A expressão de Rocco
demonstrava raiva, isso seria um eufemismo da minha parte. Ele olhava para o
celular com uma expressão muito parecida à do dia em que Victória foi atacada.
Eu até tive pena do causador dessa ira toda, e sabe por quê?
Porque Rocco é do tipo de ataca por baixo, igual um tubarão, sem chance de
defesa.
— Eu não acredito nisso! — rosnou muito puto. — Eu vou acabar com tudo,
não vou deixar nem o pó!
Com isso ele saiu sem olhar para trás.
Eu tenho até pena da pessoa que causou essa reação. Eu acho que não vai
sobrar muita coisa.
É, parece que o antigo Rocco finalmente está de volta…
Capítulo 35
Rocco
Naquela manhã

“— A mamãe é só minha, minha, minha! — meu filho berra de braços


cruzados. Toda a pose do meu pequeno é possessiva e agressiva, um verdadeiro
Masari.
Exatamente igual a mim.
Sorri orgulhoso, mas teria que consertar um pequeno detalhe nessa
história.
— A mamãe é do papai também! — murmurei indo para perto da minha
mulher, entretanto, mal dei dois passos antes de ter um pequeno homezinho que
mal chegava ao meu umbigo me empurrando.
— A mamãe. É. Minha! — grunhiu ficando vermelho, os olhos já estavam
cheios de lágrimas.
Cruzei meus braços, encarando meu filho, ele me encarou de volta.
Sem medo.
Sem pestanejar!
“Caralho, que orgulho!”, suspirei estufando o peito, meu filho seria um
demolidor quando crescesse, entretanto agora eu precisava mostrar quem
manda. Olhei para minha esposa, que sorria sentada no sofá, enquanto
observava o duelo entre pai e filho.
— Uma ajuda aqui, amore mio! — pedi suavemente.
— Eu não vou me meter, ele é possessivo, ciumento, manipulador
exatamente igual a você! — resmungou dando de ombros. — A diferença é que
ele tem meus olhos verdes, o resto é sua copia fiel, ele é tão cabeça dura,
insistente e teimoso quanto! Resolva aí, eu vou ficar aqui e assistir ao seu
desempenho! — Sorriu piscando um olho.
Madona mia, é um complô!
Olhei para meu filho, que formava uma minúscula barricada entre mim e
sua mãe. Encarei sua expressão feroz, eu me via em seus gestos, ele era tão
possessivo com sua mãe quando eu sempre fui e sempre serei. Abaixei-me para
nivelar nossas alturas, olhos verdes contra olhos azuis. Filho e pai. Contra?
Jamais.
— A mamãe também é do papai! — falei tranquilamente e vi como ele
espremia os lábios. Estava com raiva! Olha só, estou ferrado.
— A mamãe é só minha! Minha! — resmungou fazendo um biquinho fofo.
— Filho, seja assim quando vocês saírem, rosne, morda e chute a canela de
qualquer marmanjo que chegar perto, mas quando eu estiver perto, você só
observa, porque como eu já avisei para o pulguento, esse território aqui… —
Fiz um gesto circular, englobando tudo à nossa volta. — … é todo meu! Eu sou o
macho alfa, o mais velho, o mais forte e o mais poderoso, você é o filhote, você
obedece!
Eu vi a determinação no estreitar de olhos do meu garoto.
Esse vai ser pior que eu! Eu queria rir, mas não poderia.
— Eu também sou um alfa! — resmungou, cruzando os braços. Eu estava
concentrado no meu filho e tinha que segurar o riso a todo custo, já minha
esposa, minha linda Victória, soltou uma risadinha feliz. Lancei-lhe um olhar
atravessado, para fazê-la se calar, e ela imitou um gesto de fechar o zíper na
boca.
Muito bem.
— Errado! O grande macho alfa aqui sou eu, o meu território eu
conquistei, sua mãe e você são meu território — falei deixando minha voz o
mais imponente possível. — Cresça e conquiste seu próprio território! E depois,
você poderá dominar!
Meu filho me encarou durante uns dez segundos, antes de sorrir e me
abraçar.
— Eu te amo papa! — falou papai em italiano, bem alto e feliz, me beijando
no rosto enquanto me apertava o máximo que seus bracinhos conseguiam — Eu
divido a mamãe com você… mas só com você.
Depois ele correu, me deixando estupefato, morto de orgulho, emocionado
e levemente tonto.
Porra, meu filho é minha cópia, minha Xerox, e veja se eu não gosto.
Maldição, eu adoro!
Meu filho… meu filho com a mulher que amo.
Caminhei para onde Victória estava sentada, ela agora já não sorria,
olhava para mim. Eu vi amor, saudade…
Ah, claro, passei uns dias viajando.
— Vem aqui, minha delícia, seu macho chegou! — ronronei, sentando do
seu lado, puxando-a para mim. Fui para beijá-la e ela não deixou. Eu ri. —
Uhmm, quer brincar? Então vamos brincar, o grande lobo aqui vai te comer.
— Rocco, pare. — Victória me empurrou, mas eu continuei tentando beijá-
la. — Rocco, pare!
— Parar por quê? — perguntei sem entender, desta vez eu olhei para seu
rost, e senti na mesma hora um pesado nó se formando em meu estômago. — O
que houve, amore mio? O que aconteceu? — perguntei preocupado.
Victória ficou em silêncio. Depois ela suspirou baixinho.
— Você não me quis — sussurrou afastando-se um pouco. — Você me disse
não, e eu… — Desta vez ela abaixou a cabeça, os ombros caindo, derrotada. —
Eu segui em frente.
— Mas que conversa é essa? — rosnei, tentando segurá-la, mas ela
levantou e caminhou para a saída.
— Me perdoe — murmurou —, eu te amei muito, mas eu precisei seguir meu
caminho e curar meu coração. — Um sorriso lindo desenhando-se em seus
lábios — Você é muito especial para mim, e sempre será, você foi meu primeiro
homem, meu primeiro amor. Eu me sinto orgulhosa pelo quão incrível que você
é, mas eu não pude esperar a vida toda. Sinto muito.
Eu tentei me impulsionar para levantar, mas estava preso ao sofá, não
conseguia sair por mais que tentasse. Comecei a lutar contra a força invisível
que me segurava, eu estava preso em meu corpo, paralisado… aterrorizado.
Mesmo querendo levantar e correr até Victória para poder segurá-la em
meus braços, dizer que a escolhi, eu não conseguia, então para meu total horror,
um homem surge, não consigo ver seu rosto, mas Victória olha para ele com
emoção.
Meu coração falha uma batida, eu tento com mais ímpeto levantar, redobro
meus esforços, triplico a força usada. Começo a suar, mas ainda assim, não saio
do lugar.
— Vamos para casa, amor? — o homem falou para Victória e eu quis
berrar maldições. Eu queria levantar e matar o desgraçado, eu estava furioso,
louco, mas, acima de tudo, apavorado.
“Que raios de confusão é essa?”, pensei rosnando, não sabia por que eu
não conseguia me levantar.
— Claro, querido, preciso chamar nosso filho, ele correu. — Victória sorriu
para ele, acariciando seu rosto, como outrora fazia comigo.
— Eu te amo tanto — o desconhecido murmurou e começou a se aproximar
do rosto da minha garota, ela fechou os olhos e eu berrei, mas parecia que eu
não existia, eles não me viam nem ouviam.
— Amore mio, não faz assim! — implorei alto. — Por favor, amor, não
permita isso. Não o beije… não o beije…
Meus gritos de protesto não serviam de nada, a força que eu colocava para
me levantar era inútil. Eu não podia fazer nada a não ser assistir com horror
crescente Victória beijar o outro homem diante de mim.
O beijo deles era cheio de amor e carinho, as mãos do maldito acariciavam
os cabelos longos e castanhos.
— Solta ela, seu filho da puta! — gritei alto. — Solta minha mulher!
Nenhuma dos dois deu a mínima. Eu me debati, gritei, implorei, mas eles
não ligavam. Até que meu filho chega. Senti um pequeno alívio, porque alívio
grande mesmo, eu só iria sentir quando partisse ao meio o bastardo que tocou
minha mulher.
— Filho, vem aqui no pai! — chamei ofegante, cansado.
Inexplicável.
Meu filho me olhou sem me reconhecer, ele me olhava como se eu fosse um
estranho.
NÃO…
— Você não é meu pai! — Meu garoto fez careta e depois deu as costas a
mim. — Me coloca no braço, papai! — pediu para o desconhecido que acabara
de beijar minha mulher.
— Claro, filho, vem aqui!
Então o mesmo homem que roubou minha mulher, também roubou meu
filho!
Eu senti as lágrimas queimando meus olhos, a dor era tanta que me
sufocava. Por mais que eu implorasse, Victória não olhava para mim, ela só
tinha olhos para ele… O estranho.
— Amore mio… — Engasguei com o nó em minha garganta. — Por favor,
não faz isso. Fica comigo. Fica do meu lado. Por favor, não me deixa. Não me
deixa…
Os três começaram a se afastar, mas antes de sumir completamente,
Victória virou-se e me olhou. Agora ela me notou novamente e talvez eu pudesse
fazê-la entender o quanto eu preciso que ela fique comigo.
— Adeus. — Ergueu uma das mãos e se despediu. Depois foi embora sem
olhar para trás.
— Victória! Victória — berrei alto, gritei e gritei, mas estava preso,
continuei gritando, mas não saía do canto.
Perdi as forças e fechei os olhos, a angústia e a dor da perda eram tão
grandes que eu não conseguia compreender como meu corpo ainda continuava
funcionado. Eu sentia meu coração sendo arrancado com um ferro quente, ele
perfurava meu peito sem dó nem piedade, arrancando minha alma, minha
motivação, minha razão de viver, de levantar todos os dias…
Joguei a cabeça para trás e ainda de olhos fechados abri a boca para
gritar.

— Victória! — Acordei sentando imediatamente, toquei meu rosto e senti-o


molhado, meu coração galopava em meu peito com tanta fúria que por segundo me
senti tonto. Respirei fundo, sentindo vários tremores viajando pelos meus braços e
mãos. Olhei ao redor aturdido e fiquei tão aliviado que, se não tivesse sentado,
cairia. — Porra! — grunhi esfregando o rosto. — Foi um pesadelo! Um maldito e
horrível pesadelo sem nexo, completamente sem lógica.
O medo, o pavor e a dor estavam lá ainda. Não conseguia esconder, pois meu
corpo tremia, e eu estava suado. Até ousaria dizer que estou cansado. Estalei o
pescoço enquanto fazia uma careta de dor, mexi o ombro e a careta piorou, dormir
no chão não foi uma boa ideia. Sinto-me moído, mas não me importo.
Levantei do chão usando a parede como um pequeno apoio, minhas costas
estavam uma merda. Estiquei-me tentando estalar os ossos para voltar a funcionar,
meu corpo está semimorto, mas minha mente… ah, minha mente está em pane
geral. Posso dizer que a explosão de pavor que senti quando acordei foi tão grande
que talvez posso compará-lo a um alerta de evacuação.
Tudo dentro de mim está enlouquecido com esse pesadelo. A ideia da minha
garota com outro é inconcebível para mim, e eu? Bom, eu acordei.
Eu sou Rocco Masari, poderoso, influente, vingativo. Minha fama é essa, e eu
usarei o que estiver ao meu alcance para proteger meu filho, mas só isso, não
posso me casar com a mãe dele. Isso não… isso nunca.
O pânico causado pela gravidez inesperada daquela puta embotou meu
raciocínio, me deixou em estado letárgico, e a primeira reação que tive foi fazer
aquilo que passei a vida ouvindo do mio papa.
— O chefe da família dá o exemplo… o chefe da família é o modelo a ser
seguido… Honre o nome da sua família, cuide da família. E nunca, jamais,
tenha um filho bastardo! Os herdeiros Masari terão que ser legítimos, sempre.
Eu não posso fazer isso, sinto muito, mas não dá! Victória é minha, e eu sou
dela. Esse amor que sinto por ela é algo que me domina, me ofusca, me fez ficar
viciado. Não posso negá-lo, não posso perdê-lo, mas principalmente não posso
deixar de vivê-lo.
Esse pesadelo foi o pior que eu já tive, imaginar minha garota com outro,
tendo um filho com outro, me deixou louco, ontem mesmo, quando fomos dormir,
eu não demorei muito para perceber que estava fazendo as coisas sem pensar
direito. Meu papa que me perdoe, mas não vou fazer como fui ensinado durante
tantos anos, não vou me casar com outra mulher que não seja Victória.
Ontem eu tentei ficar com ela, mas Victória não deixou. Foi só chegar ao meu
quarto e já comecei a andar de lá para cá, nervoso, agitado, querendo matar um.
Talvez devesse começar comigo mesmo!
— Como eu pude negar o que minha garota queria? — murmurei encostando a
cabeça em sua porta trancada. Ainda não acreditava que fiz isso! Infelizmente não
deu para conversar ontem, e por isso eu dormi na porta do quarto dela, para que,
se ela saísse, eu acordasse, assim eu iria me ajoelhar, implorar perdão pela minha
atitude e a partir de então, aí, sim, enfrentaríamos o mundo juntos.
Fiz menção de bater na porta, mas desisti, o melhor era eu tentar parecer mais
decente para poder conversar com ela. Esse pesadelo me sobrecarregou
emocional e fisicamente, me sinto com cem anos.
Vou para a sala, tranco a porta colocando a chave no meu bolso.
— Para sair terá que me pedir, amore mio — murmurei olhando o relógio.
5h30 da manhã!
Ótimo!
Satisfeito com a atitude de segurança que tomei, vou para meu quarto e tomo
um banho apressado. Não faço a barba, vou deixar para depois agora não quero
perder tempo. Voltei para a sala, mas segui direto para a cozinha.
Decidi preparar o café da manhã de Victória e esperar por ela com tudo
pronto. Vou tentar me redimir.
Começo a procurar as coisas para fazer uma boa refeição, mas não sei onde
tem nada.
— Calma, não deve ser tão difícil fazer um café da manhã! — resmunguei
coçando a cabeça enquanto olhava de um lado para o outro. — Claro, se eu souber
por onde começar.

***

— Que cheiro pavoroso de queimado é esse, hein? — Dimitri grunhiu


entrando na cozinha.
Eu nem respondi, estava ocupado tentando tirar as cascas de ovos de dentro
da panela, que eu nem sei por que escolhi uma tão grande.
— Ai, porra! — rosnei quando bati meu braço na lateral da panela quente.
— O que você está fazendo? — meu amigo perguntou rindo. — Você está
querendo disparar o alarme de incêndio?
— Fica na sua! — grunhi conseguindo pegar duas cascas dos ovos que
haviam caído, mas aí o tempo foi demais. Queimou tudo… de novo. — Merda de
coisa para queimar! — reclamei alto
— Não queima se fizer do jeito certo! — o Dinka revidou me fazendo virar
para encará-lo.
Não preciso desse humor irônico tão cedo.
— Vai. Se. Foder — rosnei pegando o pano de prato do meu ombro. — Esses
ovos que não prestam, a casca deve ser muito fina, eu bato a colher e a porra
estoura na minha mão!
— Você é imprestável na cozinha! — falou vindo ficar do meu lado. —
ninguém consegue queimar tantas torradas de uma vez! — Riu alto, com certeza
olhando a quantidade que eu consegui queimar. Dois pacotes. Merda de novo. —
Tem ovo na sua cara! — Agora o infeliz gargalhava e eu só cruzei os braços,
deixando a hiena cacarejar até se afogar e morrer!
— Quem você pretende envenenar?
— Eu vou preparar o café da manhã da minha garota! — grunhi pegando a
panela com o ovo queimado e jogando-a na pia. Mais uma no meio de todas as
outras.
Foda-se!
— Desse jeito ela vai correr! — zombou e eu rosnei. — Calma, seu doido!
Porque não pede ajuda? E o que é isso em sua mão?
— Eu queria fazer sozinho, e isso é um corte! — falei a contragosto,
infelizmente a faca estava possuída, em vez de cortar as frutas da salada que eu
tentei fazer, a infeliz cortou minha mão.
— E daí que você até agora só conseguiu queimar tudo e ainda se cortar.
Aliás, Victória não é nada sua, o que me lembra um fato.
— Qual? — perguntei arqueando uma sobrancelha. Eu estava a um fio de
acertar o punho na cara do Dinka, se ele soubesse do meu humor, não estaria tão
risonho!
Fresco safado!
— Agora ela está livre para voar!
Eu não quis nem saber o dano que eu iria causar, peguei a primeira coisa que
vi e calhou de ser uma garrafa d’água, joguei no Dinka e ele berrou saltando da
frente.
— Enlouqueceu?
— Sim, e vou arrancar todos os seus dentes na porrada se não fechar a porra
da boca! — grasnei voltando ao meu trabalho.
Depois de queimar mais uma rodada de ovos e outras cinco torradas eu pedi
ajuda ao Dinka, o infeliz fez tudo rapidinho e ainda arrumou no prato.
Desgraçado.
— Eu assisto master chef, às vezes! — gabou-se. — E eu sou um ótimo
cozinheiro.
— Fica na sua!
— Fico, mas ainda assim sou melhor cozinheiro que você! — Riu, mas logo
reclamou quando passei ao seu lado dando-lhe um esbarrão.
Vou acordar Victória com jeitinho, iremos passar o dia juntos na cama da
nossa cobertura, vou amar cada pedacinho do seu corpo, com minha boca, meus
dedos e meu pau. Vou adorá-la, e fazer o que venho negligenciando há algum
tempo. Entupi-la de amor.
— Bastardo imprestável — Dinka grunhiu às minhas costas.
— Sua hiena! — bufei
— Melhor cozinheiro! — gabou-se.
— Moleque! Vê se cresce!
— Sou o moleque com o maior pau da história!
Virei-me e olhei para o Dinka. O escroto tinha um sorrisinho irônico.
— Me lembre de nunca mais ficar no mesmo banheiro que você! — falei
fazendo uma careta. — Eu sabia que você comparava os paus… nojento.
— Não preciso comparar pau nenhum, eu tenho vinte centímetros de pura
gostosura e potência… meu taco bate fundo e forte. Incomparável.
— Meus ouvidos estão sangrando! — grunhi dando-lhe as costas. Ainda ouvi
a gargalhada do meu amigo pervertido.
Antes de sair da sala. vi que já eram sete da manhã.
— Okay — murmurei esfregando as mãos. — Hora de agir.
Parei em frente à porta do quarto onde minha garota ainda dormia e bati de
leve.
— Amore mio — chamei suavemente e esperei. — Victória? Amor, abra a
porta — chamei novamente e nada.
Com cuidado girei o trinco e a porta abriu.
— Amor, estou entrando — falei alto, imaginando que ela deveria ter aberto
a porta em algum momento depois que acordei
O silêncio que me recebeu pesava. Na mesma hora eu senti a frieza do quarto
penetrar meus ossos.
Victória não estava aqui. Mexi em meu bolso e a chave do apê estava ali.
Tirei-a do meu bolso e fiquei encarando-a como se a pequena peça de metal
tivesse respostas para me dar.
Não tinha.
Passei as mãos em meu cabelo, esfreguei minha barba, soltei um longo
suspiro.
A realidade bateu.
Victória foi embora, e não só isso, ela me viu dormindo no chão em frente à
sua porta e não me acordou para se despedir, era como se ela soubesse que eu não
permitiria. Esfreguei meu peito, o lugar exato onde meu coração bate, não sei
explicar, mas nesse exato momento eu sinto como se um peso houvesse se
instalado no lugar. Eu neguei minha garota, ela me pediu para fazer amor, e eu
neguei. Eu disse que não ficaria com ela, mas também disse que não permitiria que
ela ficasse com ninguém. Victória, apesar de não dizer nada que me parasse de
agir como um troglodita, notei que ela estava menos sorridente, que às vezes
sorria, mas o sorriso não alcançava os olhos. Em outros momentos, quando eu ia
tocá-la, ela se afastava sutilmente
Mais uma vez, fechei meus olhos. Respirei de novo, soltei o ar lentamente…
respirei outra vez… soltei o ar lentamente. Então abri meus olhos e senti como se
algo clicasse dentro de mim.
Modo ex-namorado arrependido, possessivo e louco para voltar ligado!
Prepara-se, amor, o animal está solto.
Capítulo 36
Rocco

— Mas que raios de engarrafamento é esse? — bufei batendo a mão no


volante — Puta que pariu, só vou conseguir chegar ao East End daqui a dez anos!
— Deixa de ser estressado! — Dimitri exclamou tirando um papel do bolso.
— Eu achei isso aqui no quarto do conde quando fui procurá-lo, está endereçado a
você, esqueci de entregar.
Peguei o papel desdobrando-o. A primeira linha escrita já me fez estreitar os
olhos, ao longo da carta eu já estava agoniado, e o final? Bom, só digo uma coisa.
Não vai acontecer.

Irmão,
Fui acordado às 4:h0 da manhã por uma Victória preocupada com seu bem-
estar. Ela estava indo embora e não queria te acordar, ela tem os motivos dela, o
fato é que antes de ir, Vick me pediu para que, assim que ela saísse, te
acordasse, não gostou de te ver no chão.
Irônico, não?
Bom, eu achei que o chão estava bom, você é um cabeça dura, e antes que
diga qualquer coisa, eu vou me adiantar. Eu tenho uma família infernalmente
tradicional, mas entre meu nome, meu título, minha fortuna e a porra toda, eu
iria ficar com minha mulher. O preconceito a gente vence com inteligência, seja
ela associada com gentileza (ou com brutalidade mesmo), o fato é que sempre
dar-se um jeito. Rocco, você sabe que acima de tudo tem a mi, e a Dimitri,
ninguém seria doido de mexer com seu filho. Não com a tríade por trás do
garoto.
Concluindo, eu vou tomar a frente… planos isolados, em breve terei
notícias para você.
P.S.: Eu vi a forma como Victória te tocou e olhou antes de ir embora, ela
estava se despedindo. Sinto muito, meu amigo, mas acho que você está mais
perto do que nunca de perder sua mulher.
Ass: William.

— Não mesmo! — rosnei ainda mais agitado. Está explicado o motivo de não
termos encontrado o William, ele já tinha saído antes de eu acordar.
Provavelmente assim Victória saiu, ele foi também.
— O que diz o papel?
— Leia você mesmo. — Entreguei para Dimitri e ele leu. No fim, assoviou e
ficou calado. Quando já não aguentei mais, explodi em um rugido de fúria. — Vai
ficar calado? Não tem nada a dizer?
— O que quer que eu diga? — gritou apontando o dedo para mim, perdendo o
controle totalmente, pronto, ferrou. — Você fez alguma coisa, Victória mal te
olhava na cara, ela estava fingindo, ouviu? Fingindo para não te magoar, e você aí,
todo idiota vai se foder, seu otário!
— Eu sei que eu fiz merda! — berrei de volta. — Mas eu estava em pânico!
Do nada aquela vadia aparece grávida de mim, e então eu estava vendo meu futuro
firmemente traçado ao lado da Victória ruindo, eu pirei, tá bom? Não sou a porra
do cara perfeito, nessa história eu sou tudo. De mocinho a vilão, eu falo merda,
digo palavrão, eu acerto… enfim, eu não sou um bundão programado para ser o
sonho de consumo das mulheres. Sou um cara falho, mas, principalmente, eu sou
um ser humano — quase gritei minha ira, — E não só isso, eu perdi o rumo e,
quando dei por mim, estava cometendo um dos piores erros da minha vida.
Entretanto, eu sou um homem e não correria das minhas responsabilidades. Ser um
bastardo na nossa sociedade pode ser cruel, desde a infância à fase adulta, você
será apontado como um pária… um erro… um maldito obstáculo…
— E eu não sei!? — exclamou fechando a cara. — Eu sou um maldito
bastardo de um fodido homem rico que enganou minha mãe, eu sei o que é ser
maltratado, apontado, ignorado, expulso dos lugares por ser quem sou! Eu nunca
tive ninguém por mim, a não ser minha mãe, é claro, todavia aqui estou eu, forte,
implacável, uma maldita besta com força bruta e ignorância. Manda esses filhos da
puta virem, quebro todos eles ao meio!
Ficamos nos encarando durante alguns segundos, não pensei, saí do carro e
ele também, nós nos atracamos na rua mesmo.
— Eu tive que lutar a cada passo do caminho! — o Dinka grunhiu esmurrando
meu queixo. — Eu vim para a Inglaterra de carona, passando fome, frio… —
Outro murro, meu amigo parecia transtornado. — Eu vivi nas ruas, menti,
manipulei, e sobrevivi.
— O que eu poderia fazer? — Ataquei meu amigo onde deu, e foi no
estômago. — Eu fui criado com convicções firmemente arraigadas. Cada brecha
que eu arrumava, outra coisa pior surgia.
Brigávamos mais para extravasar mesmo. Grunhíamos, rosnávamos,
esmurrávamos, enfim, estávamos como dois cães de rua. Brigando feio e com
violência. E, porra, ainda nem eram nove da manhã. As pessoas já se juntavam ao
nosso redor, entretanto, ninguém tentava separar, de qualquer forma, não seria um
bom negócio, eu e Dimitri nos entendíamos, éramos quase do mesmo tamanho,
tínhamos força e ignorância em medidas iguais… éramos páreo um para o outro.
— Você pode proteger seu filho o quanto quiser, mas se ele tiver que ser um
maricas chorão… aí, cara, fodeu, porque nem todo o sobrenome poderoso do
mundo vai ajudá-lo, ele sempre vai ser apontado como o banana pau no rabo, e
outra coisa, casado ou não, você será o pai, e sendo assim, quem vai se meter com
você?
Separamos-nos e ambos respirávamos ofegantes. Sangue escorrendo pela
lateral da bocas, as roupas amassadas, os cabelos alvoroçados. Dois loucos.
— Você e o William, dois bastardos escrotos! — resmunguei passando o
dorso da mão na boca.
— Pronto, o casal já parou de brigar? — perguntou uma mulher idosa que
estava atrás de Dimitri. Eu olhei para meu amigo e ele deu um sorriso quase cruel.
Nesse momento, Dimitri estava em modo fodedor, mesmo que seja do jeito louco
dele, meu amigo é tão irritantemente agressivo quanto eu.
Lentamente ele virou-se para a mulher e atuou.
— Que nada, querida — falou mexendo o punho de forma bem estranha. —
Essa foi uma briguinha boba, eu e meu marido estávamos apenas discutindo sobre
o fato de ele ter engravidado a nossa vizinha.
Vários ofegos e exclamações de choque se ouviram. Algumas pessoas
apontavam o dedo em claro sinal de preconceito, ninguém ousava se aproximar, é
claro, mas em seus rostos estava óbvia a reprovação.
“Mas que porra esse escroto está fazendo?”, me perguntei estreitando
levemente os olhos.
— Vocês estavam se matando no meio da rua porque ele engravidou uma
mulher? — outra velhinha perguntou chocada. — Talvez não sejam realmente ga…
— Minha senhora — Dimitri interrompeu a mulher e veio até onde eu estava.
Colocou o braço em meu ombro e suspirou —, a senhora precisa ver quando
estávamos indecisos para ver quem vai… uhmm… a senhora sabe… — Riu e mais
exclamações de choque se ouviram. — A gente briga como dois animais, ficamos
como viemos ao mundo e lutamos, somos brutais, ficamos suados, ensanguentados
e, no fim, quem perde dá… — Riu e em olhou. — Não é amor?
Eu estava mudo. A vontade que eu tinha era de arrebentar a cara do meu
amigo e seu humor negro. Não falei nada, apenas me afastei e dei-lhe um soco na
cara.
— Para o carro, agora! — rosnei indo para o carro, antes de entrar, ainda
ouvi algumas pessoas gritarem.
— Que desperdício, meu Deus, dois gatos desses. Vou virar é homem, nessa
porra. Quem é o marido? E quem é a esposa?.
Entrei em meu carro bufando, e logo Dimitri estava fazendo o mesmo.
Não demorou dois segundos estávamos gargalhando.
— Que porra foi essa? — perguntei rindo alto.
Estou me sentindo um maldito bipolar. Dio santo, preciso do mio tesoro, só
ela para me manter na linha.
— Vencendo o preconceito,como o William disse, inteligência… e falta de
importância, ninguém paga minhas contas, eu faço o que caralho quiser, a vida é
minha. Lógico que eu não curto cueca, meu negócio é boceta, mas enfim, você
entendeu o ponto? — perguntou me encarando. — Não importa se a sociedade
estipula suas regras e quer que vocês as siga, você só faz se quiser. Foda-se o
sistema, eu sou um rebelde.
Balancei a cabeça estendendo o punho.
— Obrigado — falei solene —, mas você é um homens das leis, não é um
rebelde — debochei
— Sou apenas um manipulador das circunstâncias, e eu vou cobrar de você e
do conde todas as porradas que estou levando quando chegar minha vez de
enlouquecer por causa de uma mulher! — Fez careta. — Se bem que eu não vou
ser esse fresco indeciso, que nem trepa nem deixa os outros treparem.
— Filho da puta! — bufei.
— Da puta não, do puto. O vadio era meu pai.
— Claro, meu amigo… claro.

***

— Cara, ela não está em casa! Você está é doido ou está se fazendo? —
Dimitri reclamou, faz mais ou menos uma hora que estou plantado em frente à casa
da Victória
Depois de conseguir sair do engarrafamento eu voei para cá, cheguei às dez
da manhã e estou aqui esperando. De vez em quando eu vou lá e bato na porta.
Ei, não ria de mim. Eu só achei que minha garota pode não querer abrir a
porta então eu estava só me certificando de que ela sabia (se tivesse em casa) de
que eu não estava desistindo. Ontem eu fiz uma merda enorme quando disse não à
Victória, e agora eu temo que ela pense que eu não valho a pena.
Vou apenas fazer o que me resta, que é insistir. Se Victória não me quiser, eu
vou continuar insistindo… até ela me perdoar e voltar para mim. Pode levar o
tempo que for, e, ah, sim, me chamem de egoísta, mas nesse meio tempo vou
espantar todos os gaviões de perto dela.
Serei uma sombra silenciosa em sua vida.
Quero dizer, silenciosa no quesito de descer o braço em quem tentar se
aproximar demais, vou segurar meu ciúme em sua frente, não vou mais brigar na
frente dela, vou ser esperto e pegar os bastardos na saída… entretanto, meu punho
não será silencioso, na hora que se chocar na cara de qualquer filho da puta, sem
amor à própria vida.
Dei uma risadinha meio louca, eu estava parecendo um espreitador, sentado
no meu carro, olhando a rua e a casa da minha garota fixamente.
Para que saibam. Homens que são doentes de ciúmes como eu acham que
todos os outros homens do mundo, até os que já morreram, estão de olho em sua
mulher. Acrescente aí a possessividade (entenda, se o homem for louco de ciúme
ele será automaticamente possessivo, não existe essa de, ah, eu tenho ciúme, mas
não possessividade. Corra atrás, pois essa história fede.).
Para os homens no meu naipe ou é oito ou é oitenta, não existe essa coisa de
colocar só a cabecinha, nós atolamos o pau todo até as bolas, enfim. O problema é
que ciúme não passa, a gente só se acostuma a morrer de raiva e sentir a coceira
irritante em nossos punhos toda vez que um homem olhar mais de dois segundos
para nossa mulher. Eu sou doente de ciúme e não vou mudar, mas o que eu posso
fazer é fingir que estou levando na esportiva, mesmo que em minha mente eu esteja
atirando o sujeito em um rio infestado de piranhas esfomeadas e rindo enquanto
ele grita. Mente de psicopata, eu sei, mas todo homem tem ou já teve pensamentos
homicidas, portanto releve, é normal. Ah, outra coisa, os homens às vezes podem
dizer que está tudo bem, e você irá acreditar, todavia observe os detalhes, se
estivermos com o maxilar travado, os olhos estreitados em algum ponto fixo e os
punhos agitados, é sinal de que vem merda por aí. Meu conselho é, peça licença e
vá ao banheiro. Espere algum tempo e volte, pronto, você encontrará seu homem
sorridente e tranquilo. Depois observe ao redor, você notará que existe um lugar
vago no ambiente.
Voltando, eu realmente passei uma semana em plena letargia, mas cá estou eu,
de volta, igual um cavalo de corrida furioso que fez merda e teve que voltar para o
início. Estou atento, batendo os cascos, pronto para correr, só falta o sinal.
— Eu estou com fome! — Dimitri exclamou com raiva, me tirando os meus
pensamentos agressivos.
— Vai ali naquela barraca de cachorro-quente! — Abanei a mão, sem tirar os
olhos da cara da minha mulher. Ah, sim, eu não estou fazendo questão de me
esconder, é claro. Eu só parei meu carro do outro lado da rua, mas estou bem em
frente à casa dela. Muito visível, será impossível não me notar, claro que, se levar
em consideração a minha Ferrari preta, então, sim eu estou chamando atenção, e
sim, eu necessito que Victória me veja de longe.
— Você é um amigo muito ruim! Você sabe que eu não posso comer certas
comidas!
Droga, eu esqueci que meu amigo tem certas restrições depois que fez o
transplante. Senti o familiar arrepio me percorrer, estivemos muito, muito perto de
perder o Dinka definitivamente.
— Desculpa, vamos almoçar, deve ter algum restaurante aqui perto.
— Até que fim, eu pensei que teria que começar a comer meus dedos —
reclamou e eu ri.
Por ali não havia nenhum restaurante, o jeito foi procurar mais para o centro.
Encontramos um lugar que o Dinka aprovou para almoçarmos. Eu praticamente
aspirei minha comida para acabar logo, queria voltar a fazer plantão em frente à
casa da Victória, se tivesse que esperar o dia inteiro, eu iria.
— Deixa de ser fresco e termina logo isso! — reclamei de Dimitri que comia
metodicamente.
— Vou comer do jeito que eu quiser — revidou dando de ombros.
Ficamos mais agonizantes trinta minutos ali, Dimitri deveria estar mastigando
duzentas vezes cada garfada, eu já estava desistindo quando ele resolveu comer
rápido.
— Você está me sabotando? — grunhi enquanto saíamos do restaurante.
— Não estou, eu só queria te ver alguns minutos parecendo um cachorro
abandonado. — Deu de ombros. — Lembrando que o cachorro não escolhe a
situação, você escolheu a sua.
Não me dei ao trabalho de responder, eu entrei em meu carro e dirigi rumo à
casa de Victória. Ligar não adiantava, todas as chamadas iam para caixa postal.
Liguei para Jason e nada também. Na moral, eu já estava a ponto de rastrear o
celular dela.
Estava na metade do caminho quando meu telefone tocou, atendi no bluetooth
do carro.
— Filho…
— Oi, mama.
— Sua irmã chegou e tem uma surpresa, venha para casa, pois eu queria
matar a saudade de ter meus bebês juntos.
Fiz careta, às vezes minha mãe esquece que eu sou adulto e que estou mais
perto dos quarenta que dos vinte.
— Mama, per favore, non parlarlo! — exclamei desgostos.o — Io sono um
uomo e non un bambino.
— Homem ou criança eu quero você aqui, estou com saudade do meu filho
— fungou e eu sabia que não tinha conversa.
— Sí, mama — resmunguei —, estou indo.
Desliguei e Dimitri riu.
— Mãe eu sou um homem e não uma criança — repetiu minha frase e depois
gargalhou
— Fica na sua, a Dona Anastacia deve ser pior que minha mãe.
Dimitri fez careta e concordou.
— Minha mãe é mesmo, ela é possessiva com o garoto dela.
— Sei…

***

Cheguei em minha casa e mal dei dois passos antes de Antonella, linda e
redonda, pular em meus braços. Não acreditei quando vi o tamanho da barriga da
minha irmã.
— Gêmeos, três meses! — Sorriu satisfeita. — Eu queria vir antes, mas tive
complicações e precisei de repouso.
— E por que não me falou? — bufei tocando sua barriga. — Por que não me
disse que estava grávida? Eu teria mandando te buscar.
— Não podia andar de avião, eu estava com problemas no ouvido. Meu
médico achou melhor prevenir.
— Tem o iate, você poderia ter vindo nele — murmurei admirando sua
barriga redonda.
— Rocco, eu enjoei até a cara do Connor, andar de barco estava fora de
cogitação, de qualquer forma, estou bem, vou continuar meu pré-natal aqui.
— Precisarei reforçar sua segurança, você não vai morar em um prédio,
precisa de uma casa, vou comprar uma, escolha. E também temos que ver as coisas
dos bebês e…
— Ei, meu irmão, fica calmo. Já basta o Connor preocupado com cada vez
que eu faço careta. Vou para minha cobertura e vou comprar as coisas dos bebês
depois.
— Não quero você em um prédio, e se faltar energia? Você terá que subir
escadas. E se ficar presa no elevador? E se você…
— Rocco, para! — reclamou saindo de perto de mim e indo abraçar Dimitri.
O dia passou lento, eu estava ansioso para ir encontrar minha garota, eu não
via a hora de colocá-la junto com Antonella de novo, eu não tive a oportunidade
de vê-las e juro que queria.
Depois das cinco eu comecei a sentir que precisava correr para a casa da
Victória, eu já nem conseguia disfarçar minha vontade de correr até ela. O foda foi
que mia mama queria que eu jantasse, aí foi só depois das oito que eu estava quase
livre.
— Preciso ir! — falei baixo me erguendo
— Mas filho… — minha mãe começou, mas eu interrompi.
— Eu estou indo — falei com mais firmeza e ela concordou. Minha mama
sabia como eu era, a diferença foi que depois que Victória entrou em minha vida
ela me mostrou o significado da palavra zelo. Eu já não era tão obtuso, eu
realmente amoleci um grama.
— Dê um beijo na Victória por mim e diga que eu estou esperando uma
visita!
Sorri de lado.
— Claro, mama! — exclamei sorrindo, com certeza ela entendeu meu
desespero.
Saí da minha casa em alta velocidade. Agora eu estava sozinho, pois Dimitri
só deu um oi e foi embora assim que chegamos. Costurei no trânsito, dirigi na
velocidade máxima permitida e, às vezes, até mais. Nem liguei para multas.
Finalmente estava na casa da minha garota, assim que cheguei vi as luzes
acessas. Imediatamente um frio na barriga me assolou, eu me sentia como um
adolescente inexperiente. Nesse instante, Jason chega e eu vou cumprimentá-lo.
— Precisamos conversar, tem coisas que eu preciso que saiba — Jason falou
e eu concordei, mas agora eu precisava ver minha Victória.
Caminhei a passos largos e, assim que cheguei perto, vi a porta aberta. Não
contei outra, entrei na casa só para encontrar tia Laura chorando
desesperadamente.
— Victória não me falou! — fungou e chorou mais um pouco.
A primeira coisa que fiz foi perguntar o que minha garota não falou e, quando
eu soube, juro que não acreditei. Victória e Royce… Royce e Victória… juntos em
uma viagem sem data para voltar.
Gaguejei aturdido demais para acreditar em uma história dessas, senti o
sangue escorrer do meu rosto, sim, era verdade. E aí, meu amigo, instantes depois,
quando a ficha caiu, eu senti o monstro do ciúme cravando suas garras tão
profundamente em mim, que vi tudo desfocado, depois eu quase poderia ouvir
minha ira sussurrar em meu ouvido que Victória estava sozinha com Royce.
Sozinha… com Royce…
Vou matar esse filho da puta e esconder as evidências….
Respirei fundo e continuei conversando com tia Laura, eu precisava de mais
informações. Perguntei o que Victória disse na carta que ela deixou e quase caí
para trás quando ouvi as palavras saindo da boca da mulher chorosa.
— Ela disse que iria beber e amar, que o mundo está perto de acabar!
Grunhi minha negação enquanto tirava o celular do bolso. Não vou permitir
uma coisa dessas.
— Ela deixou o telefone.
Nem liguei, e falei isso para tia Laura, se eu quisesse achar Victória, eu iria.
Conversamos mais um pouco e tia Laura me alfinetou, falando sobre meu
casamento com outra.
Bufei, como se eu fosse doido. Agora que as minhas ideias estão no lugar, eu
vejo as coisas com clareza. Eu vou me casar com Victória e ter uns quatros
filhos… ressaltando que serão todos homens, eu não tenho nervos para ser pai de
menina. Onde já se viu! Pedi para ler a carta e tia Laura me entregou.

Querida Tia,
Estou indo viajar, por favor, não se preocupe, eu estou indo com Royce,
tudo vai dar certo, é seguro. Estou indo fazer um mochilão aventura, sem
celular, sem dinheiro, pedindo carona e dormindo onde der. Não fique
preocupada, a turma é grande. Sinceramente eu estava precisando sair de
Londres um pouco, e como diz o Sr. John, a vida é curta demais, então vou
aproveitar. Mandarei notícias quando puder.

O que eu li até agora me deixou louco, e sim, eu estava fervendo de raiva de


mim mesmo e da minha demora, eu sabia que deveria ter feito plantão aqui. Puta
que pariu!

Vou viver sem preocupação durante essa viagem, esquecerei meus


problemas e aflições, vou me jogar e serei irresponsável uma vez na vida.
P.S.: Não tenho data para voltar, entãooo a lei é curtir a juventude como
qualquer jovem normal. Beber, amar, viver… Não me espere acordada! Eu te
amo muuuito.
Ass: Victória… A sua sobrinha que acredita nas maravilhosas surpresas da
vida…

— Beber e amar! — reclamei — Só se for comigo.


Claro, comigo Victória pode tudo, se ela beber eu cuido dela, se ela quiser
amar ofereço meu corpo. Mas sim. Só comigo, então de onde ela tirou isso? Beber
e amar?
Caralho, eu tenho que correr….e rápido.
Despedi-me de Tia Laura. Eu tinha muitas coisas para organizar. Estava
saindo quando meu celular toca.
— Masari — atendi bruscamente.
— Sr. Masari, aqui é o detetive Bucker, estou ligando para avisar que acabou
de ser expedida o habeas corpus de Gordon Meison. Pelo que descobri, um
advogado francês assumiu o caso e conseguiu soltá-lo.
Fechei os olhos e contei até dez. Fui mentalizando o controle de
temperamento que minha garota queria que eu fizesse, mas, porra, não deu.
Eu surtei, esse bastardo do Gordon solto? Gozando de liberdade?
Ah, não… não mesmo! A vontade que eu tinha era de surrar o infeliz de novo,
ouvir seus gritos e suas lamentações. E se antes eu estava um caos, agora eu acabei
de explodir.
O psicopata que há em mim acabou de se espreguiçar. Estreitei meus olhos e
quase pude rir.
Plano numero um: Encontrar Victória, fazer com que ela me aceite e trazê-la
de volta.
Plano numero dois: Deixar Gordon ser julgado, depois deixá-lo se sentindo
confortável, em seguida caçar o bastardo e aterrorizá-lo.
Saí da casa da minha garota sem nem me despedir.
— Jason, chame Murdoch e peça para ele escolher dois homens — fui
falando enquanto íamos rumo ao meu carro. — Quero três motos de turbo e as
equipes prontas em duas horas.
— Terei que pedir favores em seu nome para conseguir as motos.
— Faça o que for preciso, mas consiga, agora vou descobrir para onde
Victória foi.
— Eu acho que posso ajudar!
— Você tem minha total atenção — falei entrando no carro.
— Há alguns dias Royce e a banda estavam falando sobre o festival de
música de Liverpool, não lembro do assunto mochilão, mas acho que a primeira
parada deve ser esse festival.
— Quando ele começa?
— Hoje!
Olhei para meu relógio e vi que eram nove da noite, daqui para Liverpool são
quatro horas, então, saindo daqui às onze… não, sairei às dez.
Vou chegar lá às duas da manhã.
— Mudança de planos, sairemos em uma hora — falei sorrindo.
É, amore mio, com as coordenadas certas, eu acabei de me tornar seu
míssil teleguiado.
Capítulo 37
Rocco

— Tudo pronto, senhor — Murdoch falou chamando minha atenção. A última


hora foi uma correria, mas agora finalmente estamos prontos para partir, rumo a
Liverpool.
— Sim, preciso que alguém fique de olho em Gordon, não quero ele muito
solto! — grunhi com raiva. — Quero relatórios diários, eles serão entregues a
Dimitri.
— Sim, senhor — Murdoch anuiu e começou a fazer ligações.
— Rocco, antes de irmos, eu preciso falar com você! — Olhei para Jason e
assenti.
— O que é?
— No dia em que encerrou o contrato com Blanchet, Victória, por alguma
coincidência, almoçou com Jean Pierre.
— O quê? — perguntei, sentindo um nervo saltando em meu olho. — Que
merda é essa?
— Ouça, eu não entrei no restaurante, porque não me senti confortável,
preferi ficar do lado de fora e foi o que fiz. Confesso que estranhei quando tia
Laura saiu do restaurante sem Victória, todavia não descuidei, eu esperei, e
imagine minha surpresa ser apresentado pela Vic ao Jean Pierre.
Eu não disse nada.
Primeiro minha memória viajou até o dia em que eu e Dimitri fizemos
suposições sobre esse bastardo, nada era animador. Agora ele está perto de
Victória. O que isso me causa?
Analisei durante meio segundo meus sentimentos.
Todos eram intensos, obscuros e profundos. Arrepiei, quando imaginei as
intenções daquele francês filho da puta, eu ainda nem o conheço, mas irei, e
quando o fizer, o negócio não vai ser muito agradável.
Para ele, é claro! Eu já estou tento espasmos de loucura causados pelo
pesadelo e pela viagem da minha garota. Não acrescente mais merda, ou realmente
a coisa vai ficar feia.
— Não quero jogar sal na ferida, mas… — Jason calou-se e depois desviou
o olhar, coçou a cabeça, um gesto nervoso.
— O que é? — perguntei com voz baixa, enganosamente sedosa.
— Eu notei o interesse dele, a forma como ele olhava para Victória foi…
uhm… Sinistra.
Sorri.
Achou estranho? Sim, mas você não está me vendo agora, entretanto irei te
contar meus pensamentos.
Eu trucidando esse Jean Pierre. Meus punhos se chocando com cada vez mais
brutalidade em qualquer parte que eu possa alcançar. Lembra-se do que fiz com
Gordon?
Então, ali eu ainda era um anjo de candura.
— Deixa ele se meter a besta Jason, no mínimo o que vai acontecer é ele sair
com as duas pernas quebradas! — rosnei indo para minha moto Kawasaki ninja
turbo na cor preta, eu estava com uma roupa preta apropriada para viajar com essa
moto, iríamos em alta velocidade, e à noite esfria para caralho.
Sentei na máquina poderosa e coloquei o motor para roncar.
— As mochilas estão abastecidas, senhor — Murdoch falou entregando uma
para seu carona e outra para o carona do Jason. Eu iria sozinho na minha.
— Perfeito! Vamos agora!
Meu motor rugiu, e eu dei um tapa em minha viseira baixando-a. Não me
preocupei com mais nada, larguei tudo que me carcomeu essas semanas.
Estou indo para encontrar Victória e trazê-la de volta. Já deixei Dimitri
responsável pelas minhas coisas, e isso inclui meus negócios, depois quando
William chegar ele ajuda. Sobre Briana, não quero nem saber, ela está com Mary
Clarence, e aquela ali é um guarda celestial, tem olhos nas costas.
Concluindo, estou deixando meus problemas e indo apenas com uma missão.
Encontrar e recuperar minha mulher.
Ergui dois dedos e fiz gestos para frente, ambas as motos que me
flanqueavam deram pequenas buzinadas. Acelerei a moto parada, fazendo aquele
som tão assustador para algumas pessoas. Sorri.
“É agora!”, pensei ansioso. “Amore mio, estou chegando.”

Arranquei com minha moto a toda velocidade. Eu tinha tudo que precisava
para ir nessa aventura com minha garota. Todavia eu duvidava que ela tivesse
facas e armas dentro da bagagem.
Saímos de Londres e entramos na rodovia, havia uma rota que era quase uma
linha reta, e nós iríamos por ela. Graças a Dio a estrada estava pouco
movimentada, então eu pisquei minhas luzes e acelerei a mais de cento e quarenta
quilômetros por hora sendo seguido pelas duas motos iguais à minha.
Com certeza parecíamos cinco motoqueiros loucos (há dois caronas), nossas
motos muito potentes e exclusivas, Jason as comprou em meu nome, o fato é que
não paguei ainda, afinal tem os trâmites e tal, mas ele conseguiu três autorizações
especiais de retirada.
As motos são minhas, com documento e tudo, mas só serão pagas amanhã.
Em momentos de emergência como esse é fodidamente bom ser tão influente.
A cada minuto mais e mais chão era percorrido, às vezes avistávamos longas
retas, aí eu estourava o velocímetro, eu bem sabia que se um acidente acontece eu
viraria polpa de morango, mas enfim, eu tenho de chegar para encontrar e amar
minha Sposa. Aperto no acelerador, é como se a velocidade diminuísse em
medidas a minha dor.
Eu estou com medo de chegar tarde. Eu estou com medo do que vou
encontrar. E sabe, admitir isso me deixa ainda mais preocupado, é como se eu
soubesse inconscientemente que perdi minha garota.
Sacudo minha cabeça e a moto bambeia, mas consigo controlá-la
rapidamente. Eu tenho que chegar inteiro, não em pedaços. Devido à alta
velocidade com que viajamos, chegamos em tempo recorde a Liverpool,
conseguimos economizar uma hora de viagem.
Guio minha moto direto para o lugar do festival, lógico que eu pesquisei
antes de vir, não queria perder tempo, e não iria.
Pouco tempo depois de entrar na cidade, já conseguia ouvir o gigantesco
barulho da música e da multidão.
Respirei fundo.
Será como procurar uma agulha em um palheiro, mas qual o problema? Jogue
o palheiro na água e pronto. Problema resolvido. Agora só tenho que achar uma
piscina gigante.
Chegamos ao local exato do festival e ali havia mais ou menos umas dez mil
pessoas. O lugar parecia um campo de golfe de tão largo, em frente ao palco, você
veria as pessoas, do outro lado você encontraria fogueiras e barracas de dormir.
Continuei andando com a moto em velocidade quase andante, as pessoas
olhavam para nós, outras apontavam, mas eu nem ligava, estava escaneando o
lugar onde havia as barracas e fogueiras.
Parei minha moto em um local um pouco mais tranquilo, desci, retirei o
capacete e mais uma vez olhei ao redor.
— O festival dura dois dias, nesse caso, hoje e amanhã — Jason falou,
parando ao meu lado. — Todos os campistas ficam aqui, então é só esperar
voltarem, todos virão por aquele lado — concluiu apontando para a parte aberta
onde havia uma faixa com a frase:
The Beatles in festival.
— Não quero esperar! — falei cruzando os braços, algumas garotas passaram
e estancaram quando deram uma segunda olhada nos cinco brutamontes com roupa
de motoqueiro, parados ao lado de três super motos.
Saco!
— Fiquem aqui, vocês três — falei apontando para os três seguranças,
incluindo Murdoch, — Jason, você vem comigo.
Comecei a ir em direção à multidão, e nesse momento, uma música começou
a tocar. Eu estava por fora, mas a letra dizia :
“.Você atira em mim, mas eu não caio.
Sou feito de titânio.”
Sorri de lado, um fato sobre mim: eu sou sim feito desse material. E minha
determinação é pior.Titânio puro, forte, resistente.
Muito bom.
Adentrei a multidão dançante, agora a música parou, mas as pessoas
continuavam a cantar, era interessante. Mas não me contagiava, eu estava em plena
caçada, concentrado.
Comecei procurando pelo lado esquerdo, esse era o mais distante, procurei
durante muito tempo, eram muito altas as chances de não encontrar Victória,
entretanto pelo menos eu estava andando e não parado como um sete de paus.
Ficar parado é irritante, eu preciso me movimentar, pelo menos assim a hora
passa rápido.

***

— Ladies and Gentlemen — a voz do apresentador do festival soou ao


microfone —, é com muito prazer e orgulho que o festival em homenagem aos
Beatles chama ao palco a banda de grande sucesso que arrasta milhões de fãs
ao redor do mundo. — O homem mal terminou de falar e a gritaria já rolava solta.
— Eu quero ouvir vocês chamando por eles…
A multidão gritava, tinha garotas chorando e outras parecendo que iriam
morrer.
Dio mio, parece uma debandada de animais selvagens.
— Vamos chamá-los — o homem falou ao microfone e a loucura começou,
— James Valentine… — A multidão ovacionou, uma luz acendeu no palco e um
cara começou a tocar guitarra. — Matt Flynn… — Outra luz no palco e um cara
arrebentando na percussão, a multidão gritando ainda mais, o apresentador do
festival chamou mais nomes de integrantes da banda e o mesmo aconteceu, então o
inferno realmente começou.
Agora tinha o dobro de gritaria, o dobro de mulheres chorando e muitos
marmanjos olhando de cara feia. Com certeza não estavam gostando de ver suas
mulheres enlouquecendo por outros caras na frente deles.
— Agora, chegou o grande momento, coloquem as mãos para cima e
chamem, vamos trazê-lo aqui… — O homem fez suspense, uma bateria fez som
então o apresentador gritou, a multidão gritou tão alto que acho que ficarei surdo:
— Aaaaaadam Levine, o palco é todo seu!
Balancei a cabeça e continue meu caminho. A banda tocava e o povo não
parava de dançar, em um dado momento eu já estava torrando de calor, por isso
abri o zíper da jaqueta e a tirei, amarrando-a na cintura.
Passei as mãos no cabelo para tirá-lo do rosto, esse era o máximo que eu
podia fazer.
Parei um momento e olhei para cima.
Dio mio, uma ajuda aqui!
— Eu vi Royce! — Jason falou e eu até me espantei com a velocidade com
que meu pedido foi ouvido. Não evitei um sorrisinho. — Vamos, não podemos
perdê-lo.
Eu concordei e só segui Jason, era ruim demais andar no aperto, tinha gente
louca gritando e chorando com as duas mãos erguidas para o palco, outras suavam,
fediam tanto que meu estômago embrulhou.
— Ali, veja!
Meu olhar seguiu o dedo que Jason apontava. E lá estava ela.
Toda linda, dançando, rindo, cantando…
Sorri tranquilo, mas logo fechei a cara, um filho da puta sem camisa e
marombado estava perto demais para meu gosto. Caminhei até estar próximo o
suficiente.
Estreitei meus olhos, baixando um pouco a cabeça, as luzes colocadas no
palco piscavam, mas eu não. Eu estava com meu olhar fixo em minha presa. Várias
emoções guerreando dentro de mim, a maior de todas era alívio, mas a segunda era
raiva e ciúme… muito ciúme. Victória dançava com os olhos fechados, e eu não
poderia ficar longe. Soltei meus braços agitando-os, preparando-os. Senti meu
corpo tensionando, meus músculos crescendo, como se preparando-se para o que
viria a seguir. Nesse momento, me sinto como um lobo selvagem no momento antes
do ataque.
Agora, a música que começou a tocar descrevia muito bem a situação e a
forma como eu vim que nem um louco para cá. A banda tocava o que eu sentia, o
que queria e o que eu iria fazer. Eu era o predador e Victória era a presa inocente,
o objetivo da minha caçada finalmente ao meu alcance.
Aproximei-me lentamente, pelo fato de estar distraída, Victória não me notou,
então, sem mais, eu a puxei por trás, colando seu corpo junto ao meu, suas costas
em meu peito suado e desnudo.
Ouvi seu grito e ela começou a se debater. Sorri colocando minha boca em seu
ouvido.

"Talvez você pense que pode se esconder


Mas consigo sentir seu cheiro de longe
Como animais, animais, animais
Baby."
Ronronei lentamente a letra da música, imediatamente ela paralisou ao
primeiro sopro da minha respiração em seu pescoço. Então eu esqueci a música e
continuei.
— Eu sinto seu cheiro e como um animal selvagem eu te cacei. Meu corpo
clama, implora, a fera em mim estremece, eu quero minha fêmea, minha
companheira de volta. — murmurei sedutor, balançando para lá e para cá,
prendendo-a com mais força no círculo dos meus braços, mesmo não vendo seu
rosto, eu sabia que ela estava afetada, seu corpo conversava com o meu. Era
primitivo. Era carnal, era transcendental… sobrenatural. — Ah, pequena… Não
vou me afastar, eu sou seu animal, sua besta faminta. Por favor, me alimente.
Victória tremia e eu mordi a junção de seu ombro e pescoço com um pouco
de força, eu queria marcá-la. Eu estava meio louco nesse momento, eufórico e
cheio de ciúmes, mistura nada boa. Então, para não despertá-la da nossa bolha,
voltei a cantar as últimas palavras da música, tendo a certeza que o jogo
recomeçava agora.

"Como animais, animais, animais…


Aah… ooooh!"
Capítulo 38
Victória

Minha primeira reação quando sou agarrada por trás é gritar e lutar. Sei que
com meus amigos por perto quem quer que esteja fazendo isso irá parar. Deus me
proteja de um assediador, eu…
Sinto o grande corpo me apertar e logo a voz que eu mais adorava no mundo
me causa arrepios.
Baby, serei seu predador hoje à noite…
Abri a boca em um ofego mudo, fechei meus olhos e paralisei.
Não acredito que era ele. Rocco… aqui… AI, MEU DEUS!
Segurei-me para não derreter. Ninguém sabe o que é a voz desse homem, por
Deus, a voz dele é rouca, grossa e potente, agora associe isso ao fato de ele estar
cantando em meu ouvido, ele quase sussurra e há momentos em que quase geme.
Eu quero gemer.
Meu sexo palpita, minha calcinha molha.
Estou arruinada!
Puxo um fôlego profundo e, então, quando penso que ele vai me soltar, eu
ouço:
— Eu sinto seu cheiro… e como um animal selvagem eu te cacei.
Preciso nem dizer que meu coração acelerou a uma corrida frenética. Eu nem
posso acreditar.
— Meu corpo clama, implora, a fera em mim estremece, eu quero minha
fêmea, minha companheira de volta.
Minha nossa senhora das mocinhas mortas. Eu acho que estou tendo
alucinações. Não pode ser. Rocco aumenta seu agarre em meu corpo, ele me aperta
ainda mais forte, e agora eu sinto algo duro como rocha cutucando minhas costas.
“Ai, minha nossa, eu sei o que é… Ô, se sei!”, pensei aturdida e
completamente fora do eixo, meu corpo tremia mais e mais, eu estava mordendo o
lábio para evitar gemer, e minha força fraquejou muitíssimo quando ele me mordeu
com força entre o ombro e o pescoço.
Fechei os olhos quando a descarga de prazer me engolfou. Minhas pernas
amoleceram ainda mais, eu já nem ouvia mais Adan Levine cantando, eu nem
notava mais a multidão, eu só conseguia sentir o cheiro de Rocco, ouvir a voz
dele, sentir a presença dele.
Eu estava perdida.
E para piorar meu estado lastimável, ele continuou cantando, e no final ele
uivou.
Ele simplesmente uivou.
Para tudo.
Meninas, todo mundo sabe o quanto eu sofri e sofro por esse amor. Eu quero
ser forte, eu juro que eu quero, mas como resistir? Meu Deus, eu estou com meus
pensamentos confusos e desesperados. Ninguém faz ideia do que eu estou sentindo
nesse momento, é simplesmente surreal, para dizer o mínimo.
Entretanto eu tenho medo de me magoar de novo, só que Rocco em modo
perverso e sedutor é muita covardia. Ai, meu Deus, me dê forças para resistir. Por
favor, me mandem forças, meninas, eu preciso, e muito…
— Amore mio — ronronou em meu ouvido. — Eu nem acredito que te
encontrei.
Soltei um suspiro fraco. Até respirar era uma tarefa árdua, não estava fácil
controlar os arrepios, os tremores e a incessante palpitação no meio das minhas
pernas, estou completamente molhada.
— Rocco, eu… — tentei falar, mas nada saía, eu não estava em condições de
formar uma frase que prestasse.
— Não diga nada, só me permita ficar perto. Quando acabar isso aqui,
iremos ter nosso momento juntos. Vamos para casa, eu vou te pedir perdão da
forma correta — murmurou esfregando-se levemente em mim. — Eu vou te amar,
consegue sentir? Uhm? Consegue sentir meu desespero por você?
— Rocco — murmurei seu nome como uma prece. Fechei meus olhos e não
permitir que toda a tristeza dos últimos acontecimentos voltasse. Eu fiz essa
viagem no intuito de me permitir viver um pouco e esquecer o que aconteceu.
Recomeçar.
Mas agora meus planos pareciam tão bobos.
— Amore mio — ele sussurrou em meu ouvido e beijou meu pescoço, depois
deu uma longa cheirada e em seguida lambeu.
Gemi baixinho e tive que apertar minhas coxas juntas. A dor em meu centro
aumentou. Aconcheguei-me ainda mais em seu aperto, eu o quero e ele me quer…
Meu coração gritou em felicidade. Meu cérebro, a voz da razão, gritou em
protesto.
Um dizia para eu mergulhar de cabeça e ser feliz, o outro dizia “ele vai te
magoar”.
Soltei um lamento, aflita, eu nunca tive dúvidas, eu deixei claro que ficaria
com ele, mas agora já não sei. Eu tenho medo.
Quantas decepções mais meu coração aguenta?
— Tesoro mio — suspirou mordiscando minha orelha, arrepiei até os
pensamentos com isso. — Eu sou seu homem, o único que vai ter. Volta para mim,
me deixa te mostrar que juntos somos perfeitos.
Minha frase… ele usou minha frase.
Uma lágrima solitária escorreu. Eu não a limpei, a fragilidade do meu
emocional era algo de que eu precisava cuidar. Por mais forte que eu queira
parecer ou demonstrar para os outros que está tudo bem, só Deus sabe do que se
passa em meu coração.
Só Ele sabe o que eu senti quando Rocco me recusou. Eu sei que ele tinha
motivos justos e honrados, não o culpo por isso. Entretanto, eu preciso ser cuidada
também, afinal sou um ser humano e mereço ser feliz.
— Rocco, por favor — pedi de olhos fechados. — Não faz isso comigo. Não
faz.
— Amore mio… — Ouvi a dor em sua voz, senti a tensão em seu corpo, ele
estava preparado para lutar com minha resistência.
Quem venceria?
— Eu só não… e-eu acho que… — gaguejei tristemente, como eu disse, estou
um trapo velho.
— Victória… Tu sei tutto per me — grunhiu em meu ouvido, apertando-me
com ainda mais ferocidade. — Tu sei la mia vita, la mia razione, perdonarmi,
amore mio.
Fiquei calada absorvendo suas palavras, apesar de não saber italiano, eu
consegui entender essas palavras, elas são claras em sentido e emoção. Mas enfim,
eu tenho que ter certeza se é isso que ele quer, não preciso de outro não e mais
uma rachadura em meu coração.
Ficamos nos braços um do outro, o engraçado era que muito provavelmente
ainda não se passaram nem dois minutos desde que ele me agarrou, mas nossa
bolha não mede tempo nem espaço. Ela só se concentra nas nossas emoções
afloradas.
— Solta ela, seu grande filho da puta! — Royce gritou e eu congelei.
Minha barriga deu um nó tão grande que tive medo. Meu coração pulou uma
batida, e agora eu sentia o medo tomando uma forma gigantesca.
“Royce está com grandes problemas!”, pensei tremendo, e tremi ainda mais
quando Rocco respirou fundo e soltou o fôlego em uma baforada raivosa.
Abri a boca para falar, mas ele já me soltava; virei-me bruscamente para
olhar e quase em câmera lenta Rocco virou-se para ver quem falou aquilo com ele.
Ai, meu Deus, eu sinto o gelo das calotas polares permeando o lugar.
— Quem você pensa que é? — Rocco rosnou baixo, mas com intensidade,
autoridade, sua voz era fria e perigosamente letal. Comecei a suar.
— Eu estou com ela e não vai ser nenhum bastardo saído de algum buraco
que vai chegar e tomá-la — Royce berrou e eu arregalei os olhos mortinha de
medo. — Ela não está sozinha.
Rocco sorriu.
— É, tem razão, ela não está sozinha, ela está comigo — rosnou apontando o
polegar para o próprio peito.
Meu Deus, é impressão minha ou os músculos dele estão aumentando?,
questionei a mim mesma quando vi os músculos de seu peito maciço tremendo.
Royce olhou ao redor e viu que tinha reforço, eu olhei ao redor também e vi
que Rocco estava sozinho.
Ai, meu Deus. Por que eu estou muda aqui? Por que eu não consigo me
mexer?.Eu temia esse encontro, eu temia. Mas aí, eu planejava que seria em um
dia tranquilo e sem pretensões, não em uma festa, com Rocco seminu e com cara
de lobo mau.
— Vamos, cara, se junte ao seu bando de motoqueiros e vá embora, deixe
minha bonequinha em paz.
A reação de Rocco me surpreendeu. Em vez de partir para cima de Royce,
ele jogou a cabeça para trás e gargalhou.
Mas o quê?
Eu estava até mais aliviada, até consegui dar um sorriso sem graça. Já ia
apresentá-los, quando Rocco provoca.
— E se eu não sair? — Cruzou os braços dando destaque ao enorme peitoral
e aos braços. — Você e mais quem irá impedir?
— Eu vou te partir a cara! — Royce exclamou furioso, mas coitado, não teve
tempo de reagir antes que Rocco o agarrasse pela gola da camisa. Vi a fúria
estampada na cara do meu grandalhão, ele estava muito, muito, chateado.
— Que tal uma reforma no rosto? — perguntou e levantou o punho para bater.
Não pensei direito, eu interrompi. Quando Rocco desceu o punho eu coloquei
minha mão no meio. Gritei de dor e me encolhi. Rocco rugiu jogando Royce para
lá (quem nem era tão pequeno) como um saco de batatas.
— Amore mio — disse aflito, pegando minha mão machucada com cuidado,
no centro havia uma grande mancha vermelha. Lágrimas salpicaram meus olhos. E
Rocco estava lívido em choque.
— Tudo bem — suspirei puxando minha mão e embalando-a contra meu
peito. — Tudo bem…
— Não, eu… — Rocco gaguejava nervoso, ele olhava para mim com tanto
desgosto que deu até dó. — Por favor pequena… — A forma como ele falava e
olhava para mim mostrava claramente que ele não acreditava no que tinha acabado
de acontecer. — Baby…
— Vem, Victória. — Royce chegou perto. — Vamos embora daqui, esse cara
é louco.
Por que Royce tem que provocar tanto? Será que ele não percebe que esse
cara aqui é Rocco? Meu ex que é doente de ciúmes e que pode fazer dele massa
de modelar.
— Vou arrebentar sua cara! — Rocco rosnou indo para cima de Royce. —
Você vai ter que trocar o nariz, seu imbecil.
— Já chega! — exclamei desgostosa com os dois. Será possível!?
— Mas, bonequinha — Royce falou isso e Rocco rosnou irado.
Revirei os olhos.
— Royce, me deixe te apresentar Rocco — falei e quase ri da cara do meu
amigo, ele estava chocado e sem um pingo de sangue no rosto, também, Rocco está
quase irreconhecível. Digo, agora ele não é nada daquele CEO elegante e tal, ele
agora parece um motoqueiro briguento, pois a barba grande, o cabelo alvoroçado
e o peito desnudo o deixam com uma cara de homem selvagem, nada parecido ao
Rocco executivo.
— Rocco, este é Royce! — Fiquei mais para o lado, mais ainda assim ao
meio. Esperei para ver quem daria o primeiro passo. Eu vi que Royce engolia em
seco várias vezes.
Ele estava com medo.
— Rocco? — incentivei-o com a cabeça e ele estreitou os olhos, depois
sorriu de leve.
Esse sorriso não é muito convincente.
— Prazer, Royce, até que fim o amigo desaparecido deu as caras —
provocou estendendo a mão que Royce aceitou prontamente.
— Desculpa aí, cara, eu não te reconheci e… ai — reclamou encolhendo-se
um pouco.
— O que foi? — Rocco perguntou com a cara mais inocente do mundo, ele
até inclinou-se um pouco como se estivesse querendo ouvir Royce falando. —
Está se sentindo mal?
Royce parecia que estava sendo espremido, ele fazia careta e estava ficando
meio troncho. Balancei a cabeça sem acreditar, mas lá estava Rocco, apertando a
mão do meu amigo como se fosse esmagá-la, acho que estava conseguindo, pois
Royce estava ficando vermelho e tentando puxar a mão a toco custo, porém sem
sucesso.
— Rocco Masari, solta ele! — pedi cruzando os braços.
Rocco soltou a mão e Royce suspirou aliviado.
— Foi um prazer conhecer você. — A voz de Rocco gotejava raiva. —
Espero que fique atrás da linha, meu amigo, não tente se meter a besta, você não
vai querer me ver com raiva.
Royce concordou e Rocco ergueu o punho e apertou bem em frente ao rosto
do meu amigo, que já deveria estar rezando para que Rocco sumisse.
— Lembre-se disso!
Toda essa situação me fez despertar da minha emoção em tê-lo aqui. Rocco
não sabe controlar o ciúme, ele simplesmente não sabe. Ele ia arrebentar a cara de
Royce e seria com muita força, minha mão latejante é a prova disso.
Como é que vamos viver desse jeito? Cheios de problemas, ciúmes abusivo,
medo.
Sim, porque só quem tem um namorado assim sabe que faz medo sair com
ele. Rocco é briguento, ele não sabe conversar e eu estou chegando ao meu limite.
Ou melhor, eu acho que já cheguei.
Fechei os olhos dando as costas, comecei a andar deixando-os para trás. Eu
só queria me deitar e dormir.
Cansada de tudo.
Nesse momento a proposta do meu pai de me mudar para o Brasil me parece
bem tentadora. Rocco é muito descontrolado, muito mesmo, nós nem voltamos e
ele age como se eu fosse dele. Mas que coisa!
Na vida nem tudo se resolve na pancadaria, as pessoas têm que conversar
civilizadamente.
— Ei, vai aonde? — Fui parada por Kadeon o guitarrista da banda de amigos
do Royce, onde fiz o cover. Era incrível como ele não gostava de camisa.
— Só vou tomar um ar — respondi desviando do caminho, eu só queria dar o
fora do meio dessa multidão.
— Ei, Vic, que tal nos divertimos um pouco, eu e você? — perguntou
aproximando-se e me afastei rápido. — Não fuja, por favor — falou pegando
minha mão machucada.
— Ai, Kadeon, minha mão — reclamei e ele me soltou.
— Me desculpa, por favor, mas é que eu quero você! — exclamou e eu notei
que ele estava um pouco bêbado. — Eu te quero desde a primeira vez que te vi,
mais ainda quando cantou.
— Olha, procura por outra, eu não estou disponível — falei e ele sorriu,
pegando uma mecha do meu cabelo.
Se Rocco vir uma coisa dessas, pensei puxando meu cabelo de volta.
— Por favor, não me toque! — pedi com gentileza, ele fez uma cara de
tristeza, em seguida colocou a mão em meu ombro, quando abriu a boca para falar,
foi interrompido.
— Vou te dar três segundos para você correr. — Ouvi a voz cortante Rocco
às minhas costas. — Quando eu terminar de contar, você estará fodido.
Ai, meu Deus.
— Um.
— Ei, cara, eu estou só conversando! — Kadeon exclamou ficando ainda
mais perto de mim. — Eu não fiz nada.
Ai, meu Deus, de novo… Quer ver?
— Três.
E o dois?
A próxima coisa que vi foi Rocco empurrando Kadeon e depois o guitarrista
indo para trás com muita força.
— Chegue perto e você estará ocupando uma cama no hospital mais próximo!
— Quem é você? — Kadeon se incorporou e veio enfrentar Rocco, que
parecia inchado de raiva.
— Eu sou o marido dela! — rosnou e eu arregalei meus olhos em choque.
— Ah, desculpa. — Kadeon levantou as duas mãos e Rocco balançou a
cabeça aceitando, mas então, hoje parecia o dia de surpresas chocantes,pois
Kadeon falou: — Tome conta da sua mulher direito, deixar uma garota dessa solta
por aí é muito perigoso, sabe como é, tem muito gavião que gostaria de ter um
momento com…
Não houve tempo para terminar a frase, Rocco acertou o murro na boca de
Kadeon, que caiu e ficou por lá.
— Um momento com uma médica no hospital! — Rocco rosnou e me encarou.
— Vamos embora!
Eu estava sem reação. Rocco me puxou até um lugar onde tinha três motos
enormes, havia três homens, também enormes, lá, e logo Jason chegou. Todos
estavam vestidos igualmente, com roupas apropriadas para motoqueiros.
— Arrumem tudo, vamos embora! — Rocco ladrou as ordens e foi aí que eu
acordei.
Bati o pé. Essa era uma das poucas vezes que eu não iria simplesmente baixar
a cabeça.
— Eu vou ficar, mas se quiser, pode ir! — falei tranquilamente. Se você
quiser quebrar a ignorância de alguém seja educado, a pessoa perde a razão e para
de ser truculento.
— Você vai voltar comigo agora! — Cruzou os braços e eu cruzei os meus.
— Quer obediência, compre um cachorro! — Fiz uma caretinha e Rocco me
olhou chocado.
— Você não pode ficar aqui, eu vim te buscar, vamos para Londres resolver
as coisas lá! — Dessa vez ele falou mais suave. — Vamos, pequena, se sairmos
agora, chegamos antes das seis da manhã.
Minha nossa, eu acabei de chegar, só tive tempo de ver o Show de David
Guetta e o início do Maroon 5. Não vou embora, eu tenho direito de viver esse
momento e curtir essa viagem até o fim.
— Rocco, você não é nada meu — suspirei desviando o olhar. — Você disse
que iria…
— Victória, eu vim por você! — exclamou fervoroso. — Vamos voltar,
vamos ficar juntos.
— Até você decidir que não pode ficar comigo? — perguntei agoniada. —
Até você parar para pensar e ver que não pode ter um filho fora do casamento?
Olha… — Esfreguei meu rosto. — Eu não vou voltar para você, sinto muito, mas
não vou! Eu já te disse que entendo sua decisão, mas não vou viver sendo
magoada, mesmo não te culpando por escolher, eu me culpo por ser difícil de
aceitar.
— Victória, eu estou aqui por você!— grunhiu aproximando-se
— Até quando, Rocco? — murmurei e ele segurou meu rosto. — Até quando
voltamos para Londres? Até quando o bebê estiver perto de nascer? Não posso
viver com uma espada pairando sobre minha cabeça, eu mereço ser feliz também,
não vou viver com medo de você chegar e dizer que não pode ficar comigo, sinto
muito, mas eu mereço mais.
— Seja feliz ao meu lado! Vamos ficar juntos!
— Eu te perguntei isso ontem, e você disse não! O que mudou nesse espaço
de tempo? Não te entendo! Sinceramente? Não quero entender.
Tirei suas mãos do meu rosto, deixei meus braços caírem ao lado do meu
corpo. Ultimamente era sempre uma batalha emocional estar perto dele.
— Desculpa, Rocco, mas eu não confio que vamos ficar bem, o que te fez
mudar de ideia? Seu filho anda continua sendo seu, e se ficar comigo ele será um
bastardo. Eu te disse que não te condeno pela sua escolha, mas não vou ficar
vivendo à margem da sua vida, eu preciso ter a minha e eu terei, mesmo que seja
sem você!
— Você vai ficar comigo! — grasnou agitado, ele passava as mãos pelo
cabelo de forma nervosa. Eu queria ficar com ele, é claro que queria, mas eu
preciso de certeza de que ele não vai mudar de ideia.
— Não vou ficar com ninguém! Eu vou ficar comigo, com minha vida. Agora
eu vou voltar para o show, eu esperei muitos anos para ter momentos como esse.
— Você não me quer, é isso? — perguntou e eu vi a aflição em seu rosto. —
O que te fez mudar?
— Nada mudou, eu apenas vi que também mereço ser feliz! Eu te falei uma
vez que o seu ciúme doente poderia nos separar, mas eu te amei tanto que
sinceramente iria ficar com você e trabalhar em uma forma de controlá-lo, iríamos
enfrentar tudo juntos, iríamos ser uma unidade. — Dei de ombros, eu estava sendo
dura, mas era necessário. — Mas agora eu quero que você lute pelos seu ideais, se
achar que deve ser assim, pois bem, seja, se achar que não, enfim, é uma decisão
sua.
Virei as costas e ele me agarrou, colando-se a mim.
Covardia.
— Se você quer que eu não seja ciumento, teremos um problema, porque eu
sou! — grunhiu em minha orelha.
Arrepios, olá.
— Se quiser que eu finja que não vejo outros homens dando em cima de você,
teremos outro problema, porque eu verei. — Ele me mordeu e eu tive que travar os
joelhos e morder a bochecha para conseguir ficar quieta. — Entretanto, acima de
tudo, se disser que não me quer, que não vamos voltar e que não será minha…
teremos um problema ainda maior, porque eu não vou desistir de te ter de volta, e
se eu tenho que provar isso, eu vou. Agora… — Ele me virou bruscamente, me
fazendo ofegar quando tudo girou. — Se insistir nisso, teremos o maior de todos
os problemas, sabe por quê? — perguntou me encarando com seus olhos azuis em
brasa.
— Não — sussurrei morta de desejo, eu queria mesmo era agarrá-lo aqui e
agora, todavia, preciso me proteger também, estou sim, sendo egoísta e pensando
só em mim.
Julguem-me, mas só sabe quem já passou e sofreu como eu sofri e ainda
sofro. Quero Rocco por completo e não pela metade.
— Porque não sou completo sem você, porque eu não posso viver sem minha
parte boa — sussurrou aproximando-se para esfregar nossos narizes. — Porque
minha vida sem você não tem graça, porque minha loucura só acalma com você
por perto. — Beijou meus olhos e continuou sussurrando: — Porque respirar
sabendo que você não é minha é difícil, mas principalmente não consigo imaginar
como será minha vida sem te amar, e por causa desse amor eu sou um homem
moldado, ainda bruto e primitivo, não nego, porém suavizado para ser seu.
— Meu Deus — suspirei mordendo o lábio. — Não diga isso, colabore
comigo.
— Não posso colaborar se isso nos mantém afastados, e, amore mio? Eu
nunca disse que iria ficar quieto! — Sorriu para mim fazendo meu estômago dar
cambalhotas. — Quer curtir o show? Vamos. Quer fazer esse maldito mochilão
aventura? Vamos. Mas não me peça para te deixar ir, isso eu não farei — falou
fazendo uma careta que, para mim, era linda, ele era lindo. Ai, meu Deus, estou
fraquejando. — Amore mio, eu sou bom quando estou com você, me ajude a
permanecer assim, eu preciso de você… só de você.
— Não vou facilitar para o seu lado! — Sorri e ele acompanhou.
— Desde quando eu gosto de coisas fáceis? — Piscou um olho e depois
sussurrou em meu ouvido: — Eu também não irei facilitar, amore mio, e meu único
conselho para você é, seja bem resistente, porque esse macho aqui está louco de
tesão, louco para te ter, me afundar em seu sexo apertado e estocar duro e
profundo. Ouvindo seus gemidos desesperados, me implorando para gozar e eu…
— Agora o sorriso que ele me deu era simplesmente de matar, levei até uma das
mãos ao peito. — Eu irei te levar à loucura, te negando o que tanto quer uma vez e
outra e, no fim, quando já estiver fora de controle, quero te ver chorando em meu
pau enquanto ordenha minha semente.
Perdi a força nas pernas e ele me segurou dando uma risadinha feliz.
— Resista o quanto puder, minha pequena, porque quando eu te pegar, você
irá ter uma besta viciosa em cima de você — murmurou baixinho me fazendo
imaginar a cena.
E era simplesmente… inacreditável.
— Rocco, você é… você é… — Eu não tinha palavras para descrevê-lo
nesse momento. Meu rosto estava queimando, na verdade meu corpo inteiro
queimava.
— Você é… — ele me ajudou e sorriu sedutor — tarado? Safado?
Pervertido? Bom fodedor? — Piscou um olho quando ofeguei, quando ele fica
assim, é quase impossível resistir. — Uhmm, eu acho que posso me considerar um
ex-namorado safado que está louco para voltar com a garota dele, entretanto ela
parece querer resistir. — Agora ele coçou o queixo. — O que para mim é ótimo,
porque eu adoro um desafio! — exclamou me deixando sem reação. — Mas para
mostrar minha boa fé e empenho nesse mochilão maluco, eu farei isso…
Esperei alguns segundos, depois não acreditei no que ele fez.
— Você ficou doido? — perguntei balançando a cabeça, rindo
incredulamente.
— Doido por você.isso com toda a certeza do mundo. — murmurou passando
por mim, eu estava chocada demais para reagir, mas então um tapa em minha
bunda me faz pular e despertar. — Já disse que adoro sua bunda? —Rriu baixo. —
Pois é, eu adoro sua bunda e… — Aproximou-se de novo, fazendo-me aspirar seu
cheiro de macho. — Um dia você irá me receber aqui… — Alisou meu traseiro
com carinho. — Duro e profundo…
Morta e enterrada.
Foi o único pensamento consciente que capturei, o resto deu curto circuito.
E agora?
Capítulo 39
Victória

10
“She Will be loved… She Will be loved…”

Eu cantava de olhos fechados e com os braços para cima, meu corpo


balançando para lá e para cá, eu estava leve, me sentindo muito bem, e não era só
pelo fato de estar curtindo uma das minhas bandas favoritas, era por causa da
companhia.
Rocco estava atrás de mim e com as mãos em minha cintura, ele parecia um
namorado.
Na verdade ele voltará a ser meu namorado, mas antes ele terá que me
mostrar que será permanente, sem recaídas nem desistências.
— Amore mio — sussurrou em meu ouvido e meus lábios se desenharam em
um sorriso feliz.
Minhas ressalvas ficando sem sentido a cada hora que passava e ele se
mostrava mais e mais carinhoso. Depois que voltamos da nossa conversa, nos
enturmamos com o grupo, Rocco e Jason estavam meio assustadores com as
roupas de motoqueiro e os peitorais de fora, eles deixavam os homens de cara feia
e as mulheres se abanando.
Kadeon, coitado, nem olhava para o lado em que estávamos, e agora ele
vestia uma camisa. Royce chamou Rocco em um canto e conversam por uns dois
minutos, Rocco sorriu, concordou e agora pareciam melhores amigos.
Só eu achei isso muito suspeito? Acho que não!
Enfim, só sei que essas horas em que estou curtindo o show com Rocco ao
meu lado me fizeram sentir que por um momento o mundo deixou de existir, e que
somos apenas eu e ele, em nossa bolha particular, e talvez fosse isso mesmo.
Estava realmente incrível.
— Vocês estão com calor? — Adam Levine perguntou e a multidão gritou um
sonoro e arrepiante sim, eu também gritei e sorri olhando para Rocco, por cima do
ombro, então do nada somos surpreendidos por jatos de água fria, ou melhor,
gelada.
A multidão estava sendo regada como plantas.
Rocco me virou em seus braços e eu coloquei minhas mãos em seu pescoço.
Encostamos nossas testas e a água continuava nos ensopando, enquanto Adam
continuou com o refrão de sua incrível música.
“She Will be loved… She will be loved…”
— Ela será amada — Rocco sussurrava a letra e eu fechei meus olhos, então
troquei o termo e sussurrei de volta.
“He will be loved… He will be loved…”
— Ele será amado — murmurei com um sorriso nos lábios. A cada segundo
eu me sentia mais e mais tranquila, como disse, meu medo de ser magoada ficando
para trás.
— Você promete, tesoro?
— Prometo… — respondi sua pergunta e ele esfregou nossos narizes.
— Perfeita para mim… sposa mia.
Sorri de lado, ainda de olhos fechados.
— Perfeito para mim, meu primeiro e único amor, meu príncipe ogro… —
terminei em Português, depois de sem querer eu ter perguntado se ele conseguia ler
minha tatuagem e ele dizer que sim, eu descobri que meu italiano maravilhoso
falava minha língua materna com perfeição. E como para concretizar esse
conhecimento ainda mais, ele jogou a cabeça para trás e gargalhou.
“Meu Deus, que visão”, suspirei. “Ele é tão lindo.”
— Você desistiu de se fazer de difícil? — perguntou brincando com meu
pescoço. — Vai voltar para mim?
— Eu disse que iria dificultar sua vida, sabe, não é todo dia que se tem o
homem mais sexy do mundo empenhado em te conquistar. — Pisquei um olho. —
Eu vou aproveitar e ver até onde sua resistência pode perfurar!
— Amore mio, eu posso ir bem fundo — resmungou em minha orelha. —
Forte… — Puxou uma respiração afiada. — Rápido — gemeu provocador. —
Posso ir e voltar várias vezes, sem parar, por horas.
Mordi o lábio inferior e apertei minhas coxas automaticamente.
— Boca pervertida — resmunguei. — Não, mente pervertida, ou melhor,
homem pervertido!
— Dificulte minha vida, que eu vou dificultar a sua — ronronou esfregando-
se em mim bem suavemente. — E não me culpe se minha mão e minha língua
procurarem por calor e umidade.
Arregalei os olhos sem acreditar.
— Não me culpe se por acaso você acordar com minha língua fazendo festa
em sua bocetinha rosadinha e apertada, sabe, eu estou precisando de um gosto seu,
pois minha memória precisa ser refrescada. Não só isso, eu quero beber todo o
seu gozo, vou fazer isso na primeira oportunidade.
Eu por acaso tinha resposta para isso? Obviamente que não, mas eu poderia
jogar, com Rocco eu não preciso ter pudores, ele me conhece melhor que eu, esse
homem já me viu nua e já me tomou de todas as formas possíveis, então…
Respirei fundo e mandei brasa.
Meu rosto queimando, mas fiz minha melhor cara de “dois podem jogar”.
Puxei-o pela nuca e trouxe seu ouvido até minha boca, soprei lá bem
devagarzinho e o senti apertando minha cintura, o volume enorme em minha
barriga sacudindo.
“É isso!”, pensei dando um sorriso mental, não que eu soubesse como ser
sedutora, todas sabem que tudo que sei aprendi com Rocco, e neste caso, eu farei
nele o que ele faz comigo.
Preste atenção e copie. Rá.
Baixei minha voz a um mero sussurro e quase gemi em seu ouvido.
— Ahhh, meu grandalhão, faz tempo que não te tenho em minha boca também.
— Puta que pariu! — rosnou alto e eu quase ri, pude jurar que ele até se
aproximou mais.
— Sim, eu quero provar seu gosto de novo, te levar em minha boca, o
máximo que puder — sussurrei e ele quase parte minha cintura ao meio tamanho
era seu agarre. — Aiin, Rocco, você é tão grande, e tão poderoso, fica parecendo
um Deus da guerra quando goza.
— Amore mio não, faz isso! — gemeu num rosnado. — Não faz isso!
— Eu disse que não iria facilitar! — Sorri e pisquei o olho, virando-me para
poder curtir o show novamente.
— Você acabou de declarar guerra, amore mio, e na guerra tudo é valido! —
grunhiu em meu ouvido. — Você elevou a aposta, agora pague!
Sim, eu elevei a aposta e só esperava poder não sair da quebrada da banca.

***

— Amore mio, você está tremendo de frio! — Rocco reclamou pela décima
vez e eu me aconcheguei ainda mais em seus braços.
— Eu sei. — Respirei fundo. — Mas quero curtir… até o fim.
Rocco me apertou muito e eu fiquei ali roubando seu calor. Maroon 5 já havia
terminado o show fazia tempo, agora uma banda desconhecida tocava, todavia as
músicas eram conhecidas.
Só sucesso dos anos oitenta, e, nossa, isso era meu ponto fraco.
Ficamos ali por mais algumas horas e quando estava amanhecendo, o
primeiro dia de festival acabou. Toda a turma se encaminhou para a área de
acampamento, e lá começaram as montagens das barracas.
Meninas, querem ver a guerra? Vamos provocar o Rocco um pouco?
Esperei a barraca de Royce ficar pronta e dei uma de louca.
— Vamos dormir, amore mio? Estou cansado e você precisa trocar essa
roupa molhada — Rocco falou puxando meus cabelos para cima para dar um nó
neles.
— Eu vou dividir a barraca com o Royce — falei esperado a reação dele.
Quer ver? 1… 2… 3 e…
— Nem pensar! Você fica comigo! — grunhiu, eu quis rir.
Era fácil provocar Rocco, e eu me encontrei querendo ver se essa
tranquilidade dele era real ou fingida.
— Foi o combinado, vou ficar na barraca do Royce!
— Dio mio, de onde saiu essa provocadora? — perguntou erguendo as mãos.
— Vou ficar cheio de cabelos brancos, tenho idade para isso não! — reclamou
cheio de drama.
Ri baixinho.
O clima estava leve. Rocco parecia tranquilo. E isso era muito bom.
Só espero que dure e que ele note que essa paz é melhor que qualquer outra
coisa.
— Bonequinha, olha só — Royce começou e meu grandalhão deu uma
risadinha —, minha barraca está cheia… eu uhmm… tenho companhia.
Olhei para Royce de sobrancelha arqueada.
Royce morre de medo de Rocco, meu grandalhão deve estar adorando.
— É, amore mio, eu acho que você está sem teto! — Rocco riu e eu ri
também.
— Rocco, é tão bom quando você fica assim, tranquilo, encarando as coisas
numa boa. — Acariciei seu rosto. — Você não precisa brigar nem ser violento,
basta encarar na esportiva e tudo se resolve.
— Eu nunca mais vou te decepcionar baby, vou controlar meu ciúme,
prometo. Agora implore por um lugar em minha barraca, caso contrário você vai
dormir ao relento, moça!
Dei uma risadinha e juntei minhas mãos.
— Gentil senhor, por favor, seja bondoso e me dê abrigo por essa noite —
pedi batendo meus cílios, meu frio esquecido. Estava tão bom esse momento,
Rocco de bom humor, divertindo-se junto comigo. Era um sonho.
— Não sei, minha senhora! — Deu de ombros, coçando o queixo. — Eu
tenho certas manias, e acho que pode se assustar.
— Por favor, senhor, eu farei o que quiser — suspirei colocando a mãos na
testa, bem dramática. — Não me deixe na rua.
Gargalhei quando Rocco me puxou em seus braços, enlacei seu pescoço e ele
enterrou o rosto no meu.
— Senti saudades de estar assim com você! — resmungou. — Que fase, hein,
amor? Que fase. Ainda bem que acabou.
— Vamos em frente, baby. — Acariciei seus cabelos com carinho. — Vamos
reconstruir o que perdemos, dia após dia. Estou aqui para você.
— Eu sei, pequena, e é por isso que eu preferi te dizer não. — Rocco
suspirou apertando seu abraço. — Eu não queria apenas postergar o que iria
acontecer, de tudo o que eu não queria era te fazer sofrer, mas foi justamente isso
que fiz. Juro que entendo seu medo, mas vou provar que pode se entregar. Eu sou
seu e não sairei do seu lado.
Sorri feliz deitando minha cabeça em seu peito.
— Rocco, me diz uma coisa.
— Sí, amore. O que você quiser.
— Você falou que nunca mais vai ser violento em seu ciúme, isso é verdade?
— Sim, amor, é verdade — resmungou. — Não irei mais resolver nada em
sua frente.
— Então ainda vai resolver do seu jeito mesmo assim?
— Essa é minha natureza, mas prometo que você não verá nada.
— O que os olhos não veem o coração não sente? — questionei ouvindo as
batidas de seu coração.
— Exatamente, cara mia — murmurou mexendo em meu pescoço. — Estou te
achando quente demais. Vem, vamos para nossa barraca.
Andamos até a linha de árvores que dividia o campo de acampamento e
adentramos. Alguns metros depois eu avistei uma círculo com duas barracas
pequenas e dois sacos de dormir, no meio havia uma fogueira.
— Bom dia, gente — saudei os dois seguranças que estavam ali, em seguida
fui até Jason e dei-lhe um abraço. — Bom dia, brother.
— Bom dia, querida — respondeu franzindo a testa. — Ei, você está quente.
— Efeito Rocco — meu grandalhão falou atrás de mim e Jason riu, me
fazendo corar até a raiz dos cabelos. — Agora vem, tesoro, você precisa trocar de
roupa.
Entramos na barraca e Rocco largou minha mochila em um canto, depois ele
puxou o zíper de dentro e colocou uma espécie de cadeado com senha.
Revirei os olhos.
— Não quero nenhum espertinho tentando abrir essa barraca, se isso
acontecer, será declarada a Terceira Guerra Mundial.
— Bobo. — Sorri tirando minha blusa e short, fiquei só de lingerie.
— Pode provocar, eu vou dormir nu mesmo!
Sorri e continuei mexendo em minha mochila, entretanto não achei nenhuma
roupa confortável.
— Algum problema? — Rocco perguntou do meu lado.
— Não acho nada que preste para dormir!
— Dorme sem roupa então, não vai me incomodar de jeito nenhum.
— Safado.
— Sou mesmo — resmungou e foi para a outra mochila que havia ali. Depois
de mexer um pouco, ele tira de dentro uma camisa sua e me entrega.
Vesti e descartei minha roupa íntima, depois me enfiei debaixo do lençol.
Estava frio, mas a emoção de finalmente estar com Rocco era tanta que eu nem
estava reparando. Meu estômago estava embrulhado de ansiedade.
— Chega para lá, baby, preciso de espaço — resmungou e eu afastei um
pouco, em seguida, Rocco fez um malabarismo e se livrou da sua roupa, juntando a
minha e a dele em um monte no cantinho da barraca.
Suspirei admirando tanta beleza reunida.
Oh, homem lindo, meu Deus, Rocco Delícia Masari.
— Admirando a paisagem? — perguntou sorrindo.
— A paisagem é esplêndida.
— Mas pode melhorar!
Dito isso, ele arrancou a boxer e eu ofeguei.
Inevitável.
Rocco era simplesmente… muito… uhm… Ignorante nesse lugar específico.
— Vinte e um centímetros de puro deleite! — grunhiu agarrando seu enorme
membro, e, nossa, ele estava muito duro, vermelho, parecia inchado e, se não me
engano, até palpitava. — Amore mio, eu só te digo uma coisa, nós estamos
perdendo! — resmungou começando a subir e descer a mão.
Controle-se, Victória. Faça-o mostrar que agora é definitivo e que não irão se
separar mais.
— Perdendo o quê? — sussurrei sem desviar os olhos daquele movimento
hipnotizante. Não preciso dizer que no meio das minhas pernas o latejar já
começou em um nível alarmante e que sinto meus líquidos escorrendo pelas
minhas pernas.
— Orgasmos! — grunhiu aumentando o ritmo de sua mão. — Pelas minhas
contas, já foram uns dez! Se tivéssemos começado quando cheguei, estaríamos
dormindo saciados, ou não. — Sorriu perverso e depois gemeu.
Lambi os o lábios e ele rosnou um xingamento.
— Puta que pariu, quero foder sua boca!
— Homem pervertido! — Engoli em seco, a tensão sexual estava grande,
quase palpável.
— Homem pervertido, boca pervertida, pau pervertido — grunhiu agitado, eu
ri nervosa. — Meu pau vai entrar em depressão! — reclamou e eu gargalhei, ele
era tão dramático.
— Você é exagerado.
— Você sabe o que é isso aqui, amore mio? — falou apontando para a pérola
de umidade que vazou da ponta de seu membro, eu encarava, muda, aquele
espetáculo diante de mim, por isso nem me dei ao trabalho de responder. — Isso
aqui é uma lágrima de saudade.
Balancei a cabeça sem acreditar no que ouvi.
— Meu Deus, Rocco, o que eu faço com você? — questionei meio ofegante,
meu corpo todo trêmulo, meus seios doendo para ter sua boca chupando meus
mamilos com força.
— Fode comigo, baby — respondeu e deitou, sua mão ainda trabalhando
cada vez mais freneticament.e — Vem, me monte. Cavalga no meu pau. Essa porra
dói. Minhas bolas irão cair se eu não gozar nos próximos minutos.
Para completar meu estado de atordoamento sexual, ele começou a me
chamar com a mão desocupada.
— Vem… vem logo.
— Ah, desisto! — Arranquei minha blusa e subi em cima dele. — Vem, chupa
meus mamilos, eles doem por você.
Rosnando como um animal, ele sentou e tomou um seio com ferocidade, eu
mordi o lábio para evitar gritar, ainda restava consciência e não estávamos
sozinhos.
— Isso, delícia. Que saudade! — gemi me esfregando nele, respirando fundo,
para sentir mais.
— Gostosa! — grunhiu atacando meu outro seio, enquanto mamava com
força, ele beliscava o outro me levando à loucura, nem sei como eu pensei que iria
resistir.
Meu corpo é comandado por ele. Nunca pensei que pudesse existir alguém
tão apelativo para mim.
— Se toca, quero ver você se tocar! — grunhiu e se afastou, apoiando-se nos
cotovelos, encarando minha intimidade, olhei para onde ele olhava, e lá estava,
seu membro bem no meio do meu sexo, me dividindo, mais pré-gozo escorrendo
da ponta.
Lindo.
Eu sentia tanto calor, que estava ficando difícil respirar, mas com Rocco eu
não precisava e nem queria ser tímida, por isso eu levei meu polegar até a cabeça
larga e vermelha de seu pau e esfreguei, em seguida levei até meus lábios e
chupei.
— Delicioso, como eu sabia que seria.
— Puta que pariu… — rosnou baixinho — safada, minha safada.
Sorri para ele e comecei a me mexer e a me tocar, Rocco assistia e eu me
sentia mais e mais fora de controle.
— Ainn, Rocco — gemi ansiosa pelo orgasmo e ele grunhiu beliscando meu
mamilo. — Uhmm… — Fiz movimentos circulares e rebolei mais, só que eu o
queria dentro de mim. Entretanto, agora seria com proteção.
— Camisinha— ofeguei olhando para seu rosto, os olhos dele estavam em
brasas, a expressão era totalmente decadente. — Preciso de você dentro de mim.
— Amore mio — gemeu fazendo careta —, eu não tenho. Foda-se — grunhiu
quando fiz um movimento mais firme.
— Sem proteção — ofeguei perdida em sensações, a cada beliscada forte em
meus mamilos eu sentia meu íntimo contraindo em resposta. — Sem, amor…
baby…
— Porra, Victória — grunhiu baixo e ergueu-se invertendo nossas posições.
— Vou te fazer gozar e depois vou marcar sua pele com minha semente, amanhã eu
vou atrás dessas porras. — Tão logo terminou de falar seus dedos começaram a
me masturbar.
— Aii, Rocco, você fazendo é bem melhor… muito melhor — gemi
balançando a cabeça, instantes depois ele abocanhou um mamilo e chupou com
força. — Gostoso…ahhh… meu gostoso.
Sua resposta foi um rosnado abafado.
Eu estava muito perto, e como se soubesse, ele me penetrou com seus dedos e
me fez ver estrelas, Rocco sabia onde me tocar por dentro e por fora.
— Goza na minha mão — comandou e eu obedeci, quando abri a boca para
expressar meu desespero, ele me beijou, e engoliu cada gemido de alívio que dei.
Rocco continuou a me acariciar até meu último espasmo passar, e quase foi
demais, eu estava mole e desorientada.
— Minha vez! — grunhiu e ficou de joelhos, eu abri meus olhos e o observei
fascinada se aliviando.
Músculos saltados, corpo suado, expressão selvagem, entretanto o que mais
chamava atenção era o seu equipamento.
Não é como se eu conhecesse outro, mas o de Rocco era… demais! Como eu
disse antes, ele era grande, grosso, as veias saltadas, a cabeça se sobressaindo
como um cogumelo perfeito.
Divino, lindo e maravilhoso.
— Ah, porra! — gemeu intensificando seus movimentos, dava para ver a
força que ele usava.
Ai, nossa, me sinto tão indefesa, e essa diferença entre mkim e Rocco me faz
sentir segura. Ainn, nossa… que homem, meu homem.
— Vou gozar — grunhiu e instantes depois senti o primeiro jato de sua
semente em meu ventre, Rocco gemia baixinho enquanto gozava, me melando com
seu prazer. Fiquei ali, embevecida, admirando o espetáculo exclusivo.
Então, sem dizer uma palavra, ele segurou seu membro semiereto e começou
a espalhar seu prazer ainda mais sobre minha barriga e entre meus seios.
— Quero meu cheiro em você! — grunhiu continuando com sua tarefa. —
Quero que todos saibam que é minha mulher, quero saibam quem vai atrás se
ousarem chegar muito perto.
“Completamente primitivo!”, pensei atordoada, meu corpo ainda tremendo
pela intensidade do que fizemos.
— Você não é desse mundo, homem! — murmurei olhando em seus olhos,
Rocco parecia mais calmo, entretanto seus olhos ainda ardiam ao me fitarem
intensamente.
— Sou um bárbaro, nasci na época errada! — grunhiu e desceu o corpo,
aliviando o pior de seu peso, não encostando completamente, apenas o suficiente
para estarmos nariz com nariz. — Eu fui basicamente programado pelo meu pai
para assumir minhas responsabilidades, desculpe por fazê-la sofrer.
— Rocco… — comecei, mas ele me deu um beijo rápido, para me fazer
calar.
— Eu agi como fui criado para agir, entretanto meu instinto estava
desesperado, eu precisava de você, eu desejava você. O homem louco e feroz que
há em mim não conseguia imaginar viver sem sua fêmea, eu demorei uma semana
para voltar e, depois que te vi, demorei algumas horas para mandar tudo se foder.
Eu quero você e eu vou ter…
— Rocco… uma semana que pareceu duzentos anos.
— Para mim pareceu mais… muito mais… entretanto, agora eu não vou te
largar. Você é minha, e eu vou mostrar que pode confiar em minhas palavras.
Sorri me permiti que mais algumas ressalvas se dissolvessem.
— Rocco, antes de contratar uma pessoa que vai ocupar um cargo de grande
importância em sua empresa, você faz período de experiência?
Notei-o franzindo a testa com a mudança súbita de assunto.
— Sim, não quero incompetentes na minha corporação.
Soltei uma risadinha quando tive uma ideia.
— Então você está em período de experiência, Senhor Masari!
— O quê? — questionou fazendo careta.
Lindo.
— Vou te colocar em experiência para assumir meu bem mais precioso —
sussurrei escovando seus cabelos para trás com meus dedos.
— E o que seria?
— Meu coração, é claro.
— Pensei que já fosse meu! — falou fazendo uma careta emburrada.
— Você está em teste, senhor, e eu estarei anotando tudo. Rum.
— O que terei que fazer para começar? Preciso das regras da “empresa”.
— Você terá que me dar uns cinco orgasmos por dia — falei arqueando uma
sobrancelha. Rocco ficou mudo, depois riu, e logo seus lábios pairavam sobre os
meus.
— Dobre esse valor e teremos um acordo — ronronou e me deu um beijo
para selar o negócio.
Depois nos aconchegamos nos braços um do outro.
— Oito malditos dias sem dormir com você e eu quase fiquei louco! —
resmungou em minha orelha, em seguida me mordeu.
— Aiii — reclamei e ele riu. — Você gosta de ser mordido, Sr. Masari?
— Você gosta, amore mio? — revidou e eu ri.
— Depende. Eu poderia te morder.
— Pense bem, tudo que fizer comigo irei fazer pior!
— Me ameaçando?
— Não, estou prometendo.
Ficamos em silêncio, a todo o momento Rocco beijava meu cabelo, esfregava
seu rosto em mim, já eu só fazia suspirar e aos poucos o sono chegou.
— Eu te amo, Rocco — murmurei.
— Eu também, pequena, muito. Mais do que possa imaginar… é algo além
desta vida e muito provavelmente da próxima também.
— Para sempre? — suspirei de olhos fechados.
— Para todo o sempre.
Capítulo 40
Rocco

Corpos suados, gemidos, desespero pelo clímax, palavras obscenas


sussurradas no calor do momento, sangue queimando nas veias…
Essa é a dança que eu e Victória fazemos.
Seguro a cintura da minha garota e estoco com força por trás, ela grita, e
eu tapo sua boca.
— Shhh — gemo em seu ouvido e continuo batendo por trás, meu pau a
preenche completamente, não restando nada de fora. Victória tenta fugir, mas
estou descontrolado, eu quero senti-la gozando, me apertando, me ordenhando.
— Rocco — gemeu e eu rosnei, se possível estoquei mais forte.
— Me tome. Leve tudo — grunhi, sentindo o suor escorrendo pelas minhas
costas, estava quente, o ar parecia pesado, a busca por oxigênio estava difícil,
nossas respirações aceleradas. Nossos corpos queimando, incendiando…
estávamos vivendo nosso desespero conjunto.
Estávamos loucos e parecíamos dois animais.Eu e minha fêmea.
— Rocco… uhnnn… Por favor.
— Por favor nada. Você não vai gozar agora! — rosnei soltando sua
cintura para poder enrolar seu cabelo em meu punho, em seguida puxei,
fazendo-a ficar meio sentada, mas completamente empalada por mim. — Quero
te foder muito antes de isso acontecer — ronronei em seu ouvido e senti-a
contrair seus músculos internos. — Quero matar a saudade, quero me acabar,
então você começará a gozar e não vai mais parar. — Sorri e dei uma mordida
em sua orelha. — Agora resista, minha pequena, resista muito, porque se você
me desobedecer, eu vou te castigar.
— Rocco… amor — levei seu corpo ao limite, deixando-a arqueada e muito
vulnerável ao meu ataque.
Eu estava sendo um bruto, mas nós precisávamos disso.
— Deliciosa — ronronei voltado a bombear —, se toque — comandei e
Victória tremeu, mas não obedeceu. — Se. Toque — grunhi puxando seus cabelos
com mais força.
— Ahhh — gemeu quando começou a estimular seu ponto pulsante, eu ri.
A brincadeira vai recomeçar.
Nesta posição eu só precisava movimentar o quadril e ainda teria um bom
impulso e pressão, então minhas mãos estavam livres, uma já ia ocupada com
seu cabelo e a outra iria trabalhar também.
— Ai, Rocco. — Victória arqueou o corpo ainda mais quando eu belisquei
seus mamilos com força. Sorri perverso.
— Hoje vou te deixar toda marcada. — Lambi sua orelha e ela tremeu, logo
voltei ao meu ataque, meus quadris batendo freneticamente com cada vez mais
força, notei que Victória perdeu o controle e só fazia gemer e puxar meus
cabelos, não dei a mínima, queria mais era que ela os arrancasse mesmo.
Gosto assim, ver minha mulher tão perdida de paixão quando eu.
Soltei seu cabelo e colei meu peito em suas costas, guiei minha mão até seu
ponto de prazer e comecei a trabalhar, em seguida usei minha mão livre para
virar seu rosto, assim poderia beijá-la.
Ficamos parados, digo, não estava fodendo-a, mas estava de outra forma,
ela me acariciava sutilmente com suas paredes internas, e eu sacudia meu pau
em seu interior. Aumentei a pressão dos meus dedos em seu clitóris, engolindo
seus gemidos com minha boca. Nosso beijo era frenético, mas não era aquele
beijo estranho, não, nossas bocas estavam coladas, e eu fazia festa com sua
língua, mordendo, chupando, acariciando… sorvendo seu sabor, levando-o para
dentro de mim.
Estava doido de prazer quando senti o delicado corpo da minha Sposa
tensionando levemente. Eu sabia que ela iria gozar.
Eu também iria. Mas antes…
Separei nossas bocas e saí de dentro dela. Victória choramingou e eu ri
baixinho, virei seu corpo, segurei seus quadris puxando-a para mim, abri bem
suas pernas e mandei ver.
— Rocco — choramingou, arranhando meu peito, eu rosnei e levei uma
mordida no queixo, rosnei de novo e Victória cravou as unhas em meus ombros,
revirando os olhos quando eu me retirei e bati tudo de volta com força. — Ahhh!
Suas unhas afundaram com mais força em meus ombros, eu grunhi
desvairado de tesão.
— Porra. — Inflei as narinas, puxando uma respiração afiada. —
Selvagem. — Sorri e tirei suas mãos dos meus ombros, levando-as acima da sua
cabeça, enlacei nossos dedos e Victória sorriu.
Eu devolvi o sorriso e pisquei um olho.
— Hora de gozar, baby! — murmurei e perdi o controle. Voltei com tudo e
desta vez não parei. Nossos gemidos cresciam à medida que minhas estocadas se
tornavam mais e mais frenéticas, Victória enlaçou minha cintura com as pernas
e isso foi nossa perdição.
Eu conseguia e ir mais fundo, com mais perfeição, e era simplesmente…
porra!
Era do caralho!
Meus quadris eram dois pistões trabalhando para alcançar o êxtase mútuo.
— Goza para mim, amore mio, goza para seu homem. Estou com saudade
de te sentir — ordenei e quando senti as paredes internas da minha garota
apertando meu pau, eu rosnei, pois minhas bolas queimaram e endureceram
ainda mais, eu sabia que iria gozar, dois segundos depois eu sorri, pois Victória
gritou o ponto alto de seu clímax, eu ia segui-la, mas em vez de prazer, eu senti
dor e foi muita dor.
Abri meus olhos soltando um grito de dor. Imediatamente, levei minhas mãos
até meu saco, que acabou de ser apresentado ao joelho de Victória.
— Puta que pariu! — berrei, me contorcendo, empurrando-a para o lado,
fazendo-a resmungar e se encolher para longe de mim.
“Como é possível Victória ainda dormir enquanto eu estou aqui quase
morrendo de dor?”, me perguntei, sentindo que com certeza eu perdi minha fábrica
de soldadinhos
Dio santo, eu estou morrendo aqui! Acho que as mulheres sentem isso quando
estão tendo filhos… merda, que dor da porra!
Eu me contorcia de um lado para o outro com as mãos formando uma concha
no meio das pernas. Nunca mais eu deixo Victória e o joelho assassino dela
chegarem perto do meu pau. Se ela vier com a história de me abraçar, eu vou dizer
que prefiro abraçá-la.
Puta merda, uma conchinha é muito mais segura e recomendável.
Depois do que pareceu uma eternidade sentindo minhas bolas queimando,
suando feito um maratonista e achando que minha vida estava por um fio, a dor
diminuiu e eu consegui me sentar.
Cuidadosamente eu avaliei meu saco.
Duas bolas? Ok.
Saco escrotal? Perfeito, sem deformações.
Pau gigante no meio? Mais que okay.
Suspirei aliviado. Meu equipamento estava completo e aparentemente sem
defeitos.
Esfreguei meus olhos e olhei para o lado. Victória dormia tranquilamente e o
melhor era que ela estava nua… linda para demais.
Toquei seus cabelos tirando-os do caminho, as madeixas castanhas estavam
cobrindo seu rosto e espalhando-se ao redor. Com cuidado, e sob reclamações
incompreensíveis, eu fiz um nó na lateral, permitindo assim que minha garota
dormisse em paz.
— Esmagadora de paus! — bufei beijando seu ombro, em seguida esfregando
minha barba. — Você terá que pedir perdão ao meu amigão, bella, o coitado ficou
magoado com seu tratamento. A única agressão que ele aceita é estar preso em um
lugar quente, úmido e sendo puxando para dentro e para fora bruscamente, surra só
se for de boceta, porque de joelho, amore mio, enfraquece o relacionamento.
— Uhmmmm… certo. Vou… uhnnn — Victória resmungou e eu ri, me deitei
colado às costas da minha garota, todavia não consegui dormir. Algum tempo
depois meu pau endureceu de novo, porque eu estava pensando no sonho que tive e
no quanto farei tudo que quiser com minha Sposa quando ela acordar. Entretanto,
eu não tenho os preservativos e terei que comprar, mas antes, eu preciso me
aliviar, não vou sair por aí com uma tenda no meio das pernas.
Seria desagradável e certamente poderia assustar algumas pessoas.
Com a experiência de quem já fez muito isso, eu agarrei meu pau e fechei
meus olhos, não iria acordar Victória pois da próxima vez que eu a tiver nua, eu
vou comê-la de todas as formas.
— Isso. — gemi baixinho, travando os músculos do meu abdome, bastava eu
pensar que estava com ela nua e ao meu lado que eu já tinha combustível
suficiente, mas adicione aí minha mente pervertida, os planos que tenho para
Victória e pronto: já estou à beira de gozar feito um bicho. Ainda de olhos
fechados eu aumentei a pressão que meu punho exercia, estava quase lá… muito
perto.
— Oh, Deus!
Abri os olhos e a vi me observando, ela estava com os olhos sonolentos e o
rosto cotadinho, seus seios estavam bicudinhos, descendo meus olhos, vi que ela
apertava as coxas.
— Quer trocar? — me masturbei na frente dela.
— O quê? — perguntou olhando para minha mão e meu companheiro de vida.
Sorri descarado e parei de trabalhar com minha mão.
— Por favor, continue.
— Uhnnn, safadinha! — minha garota gemeu. — Gosta do que vê? Gosta de
me ter assim? Implorando por atenção?
— Você é incrível, muito bonito Rocco.
Dei uma risada, mas logo gemi, estava bom ter Victória de voyeur.
— Então vai trocar comigo?
— Você não disse o que quer? — questionou sem desviar o olhar.
“Isso é o que dá ter um pau bonito”, pensei orgulhoso,Sim, eu tinha uma
beleza aqui embaixo. Fui muito abençoado em ter um equipamento bem-
desenvolvido, lógico que não preciso de alarde, não quero humilhar os menos
favorecidos. Mas fazer o quê? Meu pau é potente… em todos os sentidos.
— Você vai dizer o que trocar ou não?
— Minha mão pela sua boceta! É pegar ou largar! — gemi, sentindo um
calafrio de prazer.
— Eu pego. — Vi Victória mordendo o lábio inferior e aquilo foi foda.
— Sobe aqui — chamei, parando de mexer minha mão, eu usei-a para deixar
meu pênis erguido e pronto para ser engolido.
— Cadê o preservativo?
Ai, que merda dos infernos! Bufei, travando o maxilar.
— Eu não tenho aqui, vou comprar ainda, mas só essa vez! Não vai fazer mal
— adulei-a com carinho.
— Querido, eu estou no meu período fértil, nem vem. — Victória se
aproximou. — Você já tem um filho, não precisa de outro agora, mas eu posso
ajudar de outra forma.
Sem preâmbulos, ela trocou nossas mãos e começou a fazer o que eu fazia.
Larguei-me todo feliz, só fechei os olhos e deixei Victória ficar à vontade.
— Mais rápido — gemi — mais forte.
Victória era muito obediente, pouco tempo depois eu estava tendo minha
ereção matinal apaziguada com uma boa gozada.
“Sensação boa do caralho”, pensei estalando os dedos dos pé. É uma
sensação única, não sei se as mulheres sentem o mesmo, mas nós, homens, quando
gozamos de verdade, sentimos a porra vindo lá do saco, e quando ela jorra, o
corpo arrepia, fica tenso, treme e depois só relaxa…
— Rocco, você é tão primitivo. — Ouvi o murmúrio e concordei ainda de
olhos fechados.
Lentamente Victória soltou meu pau e foi mexer em sua bolsa. Eu a vi tirando
um pacotinho de lá, em seguida limpou meu sêmen do meu abdome, quando ela
chegou perto do meu pau, eu barrei suas mãos.
— O que foi? — perguntou tentando pegar pênis semi duro.
— Você não vai limpar meu pau com lenço umedecido! — grunhi franzindo a
testa. — Não vai mesmo!
— Que bobagem… vem cá.
— Amore mio, você pode limpar com sua língua, mas com essa porra que
cheira a bebê, você não vai! Isso enfraquece o relacionamento!
Victória demorou dois segundos me encarando depois ela explodiu em
risadas, então, com a maior tranquilidade do mundo, ela usou aquelas porras para
se limpar.
— Agora você não chega perto de mim, já que seu pau mágico tem pavor de
lenço umedecido! — Riu procurando uma calcinha. — Do outro lado do campo
tem um hotel onde poderemos tomar banho, vou direto para lá quando sair daqui.
— Vou com você, poderemos economizar água, tomaremos banho juntos —
falei me vestindo apenas com uma calça.
— Não vai colocar uma cueca?
— Não.
— Por quê? — questionou levantando uma sobrancelha
— Ninguém vai prestar atenção, homem pode ficar sem cueca.
Victória me encarou então fez algo que eu jamais pensei, ela retirou a
calcinha e colocou o vestido.
— Você não vai ficar sem calcinha andando por aí! — rosnei cruzando os
braços.
— Ninguém vai prestar atenção, aliás, diferente de você, eu não tenho nada
pendurado no meio das pernas, então…
Ficamos nos encarando e eu lancei o desafio.
Sinceramente, eu não achava que Victória fosse seguir adiante, mas,
infelizmente, ela me surpreendeu. Saindo com o vestido na altura dos joelhos e a
mochila nas costas, eu peguei a bolsa dela e carreguei junto com a minha.
Eu andava olhando ao redor, se alguém estivesse prestando atenção nela o
tempo iria fechar.
Chegamos ao hotel e pagamos apenas pelo banho, sob meus protestos,
Victória tomou banho sozinha, depois fui eu. Antes de sair eu conferi se ela havia
colocado uma calcinha.
Sim.
Essa brincadeira foi péssima, fiquei de mau humor.
Estávamos já na saída quando achei que deveríamos tomar café da manhã no
hotel mesmo. Paguei apenas pelo café e nos servimos, as comidas eram deliciosas,
estávamos quase revivendo nosso primeiro momento juntos.
Quando tomamos café, na manhã após o casamento de Antonella.
— Amore mio, sempre fizemos amor sem proteção, por que agora? — entrei
no assunto que estava martelando em minha cabeça.
Victória parou de comer, olhou de um lado depois para outro, em seguida
suspirou baixinho.
— Eu não quero ficar grávida — murmurou. — Você tem um bebê a caminho,
não precisa de outro, e se você ainda… uhn… — Ela desviou o olhar e eu bufei.
Já tinha entendido o que ela queria dizer.
— Você não acredita quando digo que não vou mais te deixar, não é?! —
perguntei meio que afirmando. — Pois me deixe te atualizar das novidades. Eu não
vou te deixar, com ou sem bebê, você é minha mulher, pode colocar isso em sua
cabeça.
— Eu acredito em você, mas mesmo assim prefiro esperar.
— Suponhamos que você estivesse grávida de mim, você iria ficar com
raiva? — perguntei muito serio. A resposta dela seria muito importante, para
alguns dos meus planos.
— Rocco, eu lá tenho cara de quem vai ficar com raiva porque estarei
esperando um bebê?! — bufou fazendo uma caretinha linda. — Eu só quero
esperar, para que não existam problemas depois.
— Então você não ficaria chateada nem nada?
— Claro que não, bobo. — Sorriu voltando a comer. — Eu só prefiro
esperar, quem sabe daqui a alguns anos.
Nem pensar, amore mio, daqui a nove meses eu já quero ter nosso bambino
nos braços, e por isso…
— Você falou de período fértil, como é isso? — indaguei tranquilo, não
deixando transparecer minhas ideias traiçoeiras. — Pergunto porque quero saber
quando poderemos fazer amor sem proteção.
— Vou começar a tomar anticoncepcionais no próximo ciclo.
— Mas você ficará doente! — grunhi um pouco alto. — Você disse que se
sente mal quando toma,.não quero te ver ruim, amore mio.
— Mas será mais seguro! — murmurou dando de ombros. — E sobre o
período fértil, é quando a mulher corre mais risco de engravidar, pelas minhas
contas começou ontem e daqui a três dias estarei no dia crítico, portanto, não
poderemos vacilar.
— Ah, daqui a três dias é também seu aniversário — falei sem deixar
transparecer meu sorriso de quem está armando.
“Daqui a três dias eu vou plantar minha semente em seu ventre, amore mio,
aí você não escapa mais.”

***

— Você vai para onde? — Victória perguntou enquanto eu a deixava com


Jason e com o idiota medroso do amigo dela.
— Vou ali. — Eu me inclinei até alcançar seu ouvido. — Comprar uma caixa
de preservativos, tenho muita porra para colocar para fora, pretendo esfolar meu
pau, e sua boceta será muito bem usada.
— Rocco! — Levei um tapa no ombro e ri da cara chocada da minha garota,
as pessoas olhavam para nós, entretanto eu nem ligava.
— Você já deveria estar acostumada com minhas safadezas — murmurei
puxando-a para meus braços, logo enterrei meu rosto em seu pescoço. — Você
sabe que eu gosto de falar sujo em seu ouvido, gostaria de uma descrição do que
vou fazer com você?
— Prefiro a surpresa! — ofegou me abraçando.
— Não seja uma estraga prazeres — murmurei mordendo seu ombro. — Vou
te penetrar por trás, invadir sua boceta com meu pau sem dó nem piedade, vou
estocar com força, incessantemente e por um longo tempo. Vou enrolar seu cabelo
em meu punho e puxar, vou te marcar, vou te comer, amore mio, e digo isso no
sentido real da palavra.
— Vai logo comprar esses preservativos, porque agora eu estou ansiosa! —
exclamou e eu ri.
— Minha garota está ficando pervertida.
— Eu tenho um ótimo professor!
— Tem mesmo, e olha que eu ainda tenho algumas cartas na manga! — Sorri
levando minhas mãos até sua bunda. — Você vai delirar com o que farei com você,
amore mio, acredite em mim.
— Pervertido!
— Culpado. — Ri e tomei seus lábios em um beijo lento e exploratório.
Finalmente depois de procurar por uma loja decente eu encontro uma que me
agrada. Entro e vou direto para a seção de preservativos. Escolho uma caixa e
olho as especificações, descarto logo em seguida, eu preciso de camisinhas
maiores.
Continuo procurando entre as caixas até que acho uma de sabores, e com o
tamanho certo, saí da seção e fui para o outro lado, onde havia alguns itens de
primeiros-socorros.
Fiquei meio escondido enquanto procurava por tudo que precisava, eu queria
estar preparado para qualquer eventualidade, não queria correr o risco de minha
garota não ter o que precisa em caso de emergência.
— Lua, você vai mesmo fazer isso? — Ouvi a voz de uma garota na seção
em que eu estava anteriormente.
— Claro que vou, tenho certeza que hoje Brian vai beber muito e nem vai
notar a camisinha que eu irei colocar — outra respondeu. — Será perfeito.
— Mas e se ele descobrir?
— Como? É impossível! Vai dar certo, agora pega a agulha que eu preciso
furar isso aqui, vou deixar muito bem pronto, e ele nem vai notar, hoje eu fico
grávida dele.
— Isso é golpe, Lua, o Brian vai te matar!
— Eu vou fazer, e o resto resolvo depois! — Houve silêncio durante alguns
segundos, — Pronto, veja se vem alguém, eu vou furar o pacotinho de camisinha,
porque caso o Brian queira colocar, ele vai pegar o pacote fechado.
— Você é louca!
— Sou louca por ele! E sem pressão o Brian não casa comigo!
Fiquei alguns minutos ali parado. Eu pensei no quanto minha vida estaria
mais fácil se Victória resolvesse me dar o golpe da barriga, mas sei que minha
garota nunca, jamais faria isso. Então eu tenho que tomar a frente e dar o golpe
nela.
Ei, não me olhe assim, se as mulheres podem fazer, nós, homens, também.
Direitos iguais, lembram? Então, eu tenho direitos também.
Fui até o lado onde tinha seringas e peguei uma com a agulha bem fina.
Coloquei tudo no meio das minhas compras e, satisfeito com o que escolhi, passei
no caixa para pagar.
No caminho de volta eu vi um antiquário, entrei lá apenas por entrar.
Comecei a passar os olhos pelas coisas até que uma específica me chama atenção.
Era uma máquina de costura em miniatura, ela estava em cima de uma
mesinha de madeira, e era tão ricamente trabalhada que até linha tinha.
— É uma caixinha de música. — Uma senhora muito simpática se aproximou
e me mostrou como funcionava. — Você dá corda aqui e abre a gavetinha.
Fiquei encantando com o que vi. Era simplesmente a cara da minha garota.
— Vou levar. — Sorri, expliquei que era para presente e que precisava ser
bem embalado para não quebrar.
A senhora deu várias voltas de plástico bolha na caixinha de música, depois
ela fez um lindo embrulho.
Foi no momento em que eu a vi fazer o laço no embrulho que tive uma ideia.
Era muito pervertida, mas seria muito divertida.
— Senhora, eu preciso de um pouco dessa fita — falei o mais tranquilo
possível, não podia deixar a velha senhora notar minha ideia depravada.
— Claro, meu filho, quarenta centímetros dá?
— Sim, está perfeito! — respondi ficando muito satisfeitos com as ideias,
para a o presente e fabricação do meu bambino querido.
Saí do antiquário muito feliz, agora era passar dois dias deixando minha
garota na mão, daí, quando for no dia do seu aniversário, eu vou dar dois presentes
a ela.
Voltei para o acampamento e fui direto para minha barraca, lá eu guardei a
fita e o presente dentro da minha bolsa, depois separei seis, em seguida desisti e
peguei dez camisinhas e furei muito bem todas elas. Guardei-as separadas.
As outras eu não usaria, só depois, para que o plano saísse perfeito, é claro.
Com tudo pronto, fui para o lado onde Royce estava, com certeza era lá que
eu encontraria Victória. Assim que ultrapassei a linha das árvores, eu vi uma
enorme roda e uma pequena multidão de pessoas observando.
Aproximei-me e o que fiz fez meu coração saltar de orgulho e meu o ciúme
rosnar em meus ouvidos.
Victória terminando de cantar uma música, ela estava sentada ao lado de
Royce que tocava um violão preto. Ainda não tinha me visto, e por isso eu não me
fiz notar, caminhei até pode ficar de frente a ela, mas fora do círculo e atrás de
algumas pessoas.
— Vou cantar agora Nobody’s perfect, Jessie J, essa é uma versão acústica e
espero que gostem, mas antes eu peço que reflitam sobre as ações de cada um até
hoje, sobre os momentos em que perdemos o controle e falamos coisas das quais
nos arrependemos — Victória falou e pessoas assoviaram, outras aplaudiram mas
a maioria apenas concordou com o que ela falava. — Nós somos seres humanos…
— Nesse momento Royce começou a dedilhar uma melodia no violão, enquanto
Victória continuava falando, parecia até ensaiado. — Todo mundo erra, mas temos
que aprender com os erros, precisamos nos enxergar, saber entender e
principalmente aprender e não repeti-los. Somos falhos, não somos perfeitos,
ninguém é perfeito.
Então Royce engatou na melodia, e a voz dela se fez alta e clara. Deixando-
me chocado com sua beleza e perfeição. A interpretação dela era magnífica, ou
melhor, ela era magnífica.
Victória cantava basicamente declamando a música, era incrível e muito
emocionante, vê-la mostrando outra face, e eu me questionava se tudo que ela fazia
era com tanta perfeição. Eu não quero nem saber como nossos filhos irão parecer,
porque, porra, me bate um orgulho precipitado, eu sei que irão ser melhores que
eu. Outra coisa é a letra da música, ela é para pensar. Refletir. Eu sei, eu sei, eu
falo muita merda quando estou com raiva, mas estou trabalhando nisso, não estou?
Então, preciso de um desconto aí. Só que, posso jurar que essa música é um alerta
para mim, Victória não canta parada, ela sofre cantando, é algo fora do comum.
Eu devo estar babando agora, mas quem se importa? Eu não.
No fim da música minha garota apenas falou ninguém é perfeito! E eu tenho
que concordar. Na verdade eu concordo, mas tiro Victória dessa lista, para mim
ela é perfeita, sim, irretocável.
Por isso ela tem meu coração. Meu amor… Minha paixão e minha obsessão.
Victória Fontaine conseguiu me pegar pelas bolas, ela conseguiu o que poucas
mulheres conseguem, deixar um homem duplamente apaixonado.
O homem em si… E o pau dele.
Constatando isso eu solto uma risadinha.
— Victória é a domadora do pau de Rocco Masari — murmurei indo em sua
direção.
Hora de marcar território, ou mais popularmente conhecido como mijar no
poste.
Capítulo 41
Rocco

Depois de ver Victória cantando lindamente, eu me aproximei e fiz parte da


roda, passamos boa parte do dia ali, e confesso que foi ótimo. Não havia os
problemas que sempre existiam nas festas da alta sociedade. Aqui as pessoas não
se importavam com a classe social de ninguém, a palavra de ordem era curtir.
Confesso que ter vindo atrás de Victória foi a melhor decisão que eu poderia
ter tomado, eu me sinto leve, tranquilo e ainda mais apaixonado. Vou viver
focando só nesses dias e nada mais importa.
A simplicidade dela me deixava ainda mais encantado e excitado. Victória
não tinha frescuras, não era cheia de não me toques, ela aceitava o que estava
disponível, prova disso foi que almoçamos em uma espécie de piquenique gigante,
apesar de ter comprado tudo que precisávamos, ela fez questão de distribuir e
aceitar o que lhe foi ofertado.
E ainda nos brindou com sua voz incrível, de todos que cantaram, ela foi a
melhor. Era diferenciada, estupenda, e, quando pegou o violão e cantou um solo de
Roxette, eu pensei que meu coração fosse explodir de orgulho.
As mulheres queriam ser iguais a ela, os homens queria tê-la. Bom, nem
preciso dizer que minha cara e porte de lenhador está assustando todos os
marmanjos, inclusive o tal que a agarrou ontem nem olha mais para ela, ele sempre
muda de lado quando Victória passa.
Gosto assim.
O dia foi muito bom e ao entardecer começaram os shows.
Estava tudo fluindo com tranquilidade, até Victória se afastar e passar cerca
de dez minutos sumida. Eu realmente me segurei para não ir atrás dela, eu havia
prometido que iria me controlar e vou. Eu confio em minha garota, me esforço
para isso, não quero ser nenhum bárbaro e afastá-la com minhas atitudes.
Agora estávamos quase em frente ao palco ouvindo uma banda chamada
Passenger.
— Adoro essa música, Rocco. — Sorriu — Letr her go…ainnnn, amo.
Confesso que não estava gostando muito da letra dessa música, já Victória
cantava de olhos fechados e com um enorme sorriso nos lábios.

“Bem, você só precisa da luz quando está escurecendo,


Só sente falta do sol, quando começa a nevar,
Só sabe que a ama quando a deixou ir,
Só sabe que estava bem, quando está se sentido para baixo,
Só odeia a estrada quando esta com saudade de casa,
Só sabe que a ama quando a deixou ir,
E você a deixou ir…”

— Vem aqui, mulher — grunhi puxando Victória para meus braços. — Vamos
curtir esse Show assim, agarrados igual gêmeos siameses — resmunguei em seu
ouvido e logo mordi.
Victória tremeu toda e ficou ali, aconchegada a mim. Não posso nem começar
a dizer que tudo está as mil maravilhas, não estou tendo contato com o mundo
exterior, quero dizer, eu quebrei meu celular para mostrar a Victória que eu estou
comprometido e totalmente focado nela, só nela e em mais nada. Quando
voltarmos iremos resolver tudo, mas agora eu não quero nem saber.
— Rocco, isso é tão incrível, eu estou amando tudo — suspirou e eu a apertei
mais forte.
— Eu também, estamos tendo nosso momento — concordei e depois baixei
minha voz a um mero sussurro. — Acho que vou te levar para minha ilha e te
manter lá como uma escrava sexual, vou me alimentar em seu corpo nu, irei ter sua
bocetinha ao meu alcance para foder ou chupar — murmurei safado. — Claro que
vou viver nu também, porque aí não iremos precisar perder tempo com roupas no
caminho.
Eu ia falando e Victória sorria mais e mais. Apesar de estar levemente
ofegante e corada ela estava aceitando minha safadeza numa boa.
— Eu adoraria, desde que você seja meu escravo também. — Virando em
meus braços ela começou a beijar meu queixo mesmo sobre a barba. — Sabe, eu
estava pensando no quanto sua barba me faz cócegas, será que lá… ela também…
digo… — Victória corou tanto que eu senti o calor de sua pele. Entretanto ela nem
precisava falar nada, eu já sabia o que ela queria.
— Você quer que eu te dê uma chupada bem dada, não é, amore mio? —
ronronei esfregando minha barba em seu pescoço. — Você quer que saber como
será, não é?
— Rocco — suspirou amolecendo em meus braços.
— Já está escurecendo, a primeira banda está na metade. — Arqueei uma
sobrancelha olhando dentro de seus olhos. — Quer passar as próximas horas
comigo te comendo, ou quer ficar aqui e…
— Vamos embora. — Ela me puxou pela mão e eu saí gargalhando cheio de
felicidade.
Praticamente corríamos, e quando chegamos às linhas das árvores, já estava
bem mais escuro, não pensei, eu agi. Puxei Victória empurrando-a contra um
tronco envelhecido.
— Preciso te beijar agora! — grunhi segurando seu queixo, forçando-o para
cima. Victória fez menção de tocar meu rosto, mas eu grunhi, estava meio
selvagem.
Era a necessidade, e eu ainda teria que me segurar… planos, malditos planos!
— Quero te tocar — reclamou lambendo os lábios e eu estreitei meus olhos
cheios de desejo.
Aproximei-me e capturei seu lábio inferior, puxei um pouco e depois chupei,
Victória me puxou pela cintura e eu colei nela.
— Vou te devorar, baby — murmurei me esfregando nela despudoradamente.
Sem aviso capturei seus lábios, engolindo seu suspiro rendido.
Essa é minha mulher.
Nossas bocas estavam coladas, nossas línguas duelando, entretanto ambos
estávamos tomando, eu chupava, ela retribuía, eu mordia e era mordido. Esse era o
tipo de beijo que me deixa fora do eixo, me deixa duro, doido para arrancar as
roupas e aumentar o contato e a fricção dos corpos, deixando claro que eu só sinto
isso com Victória, ela e apenas ela faz um beijo me deixar a ponto de estalar.
Eu estava saboreando seus lábios, nosso beijo é delicioso. Estou cada vez
mais louco de tesão e ele só aumenta quando Victória morde meu lábio com mais
força, em seguida sua língua vem e acaricia o lugar mordido.
— Uhhn — não seguro o gemido, isso é tão fodidamente bom.
Caralho… Estou perdido!
— Rocco, eu te quero — gemeu separando nossas bocas e enfiando as mãos
em meus cabelos, puxando-os com força, logo suas unhas me deixaram todo
arrepiado quando ela as passeou pelo meu couro cabeludo.
— Porra! — gemi me esfregando nela. — Quero tanto te foder, baby, tanto…
que me dói.
— Vamos logo — suspirou mordendo o lábio —, você tem o que
precisamos?
— Não comprei… Não tinha o meu tamanho — menti na maior cara de pau,
eu estava mesmo era cheio de camisinhas batizadas, o foda era que Victória
precisava estar louca de prazer e tesão para eu poder usar e ela nem notar que
ficou mais molhada que o normal.
Vou carimbá-la com força e desta vez vai dar certo, não é possível que minha
porra esteja tão rala assim.
— Para de pensar, homem! — Victória me puxou pela nuca e me beijou novo,
esse beijo mais desesperador que o anterior.
Gemi em sua boca e ela gemeu de volta. Ela gostava de segurar meu cabelo e
puxar com força, isso era bom, porque eu gosto meio bruto também. Ajeitei o
ângulo de nossas cabeças e aprofundei o beijo, invadi sua boca com minha língua
e brinquei ali, provando de sua umidade, engolindo seus gemidos, tragando seu
sabor para dentro de mim.
— Gostosa… gostosa — rosnei baixinho, me afastando, pegando sua mão e
começando a andar apressado para nossa barraca. Chegando lá, vejo uma garota
saindo da barraca de Jason, a coitada nem anda direito, está toda torta.
“Eita que a festa foi boa”, pensei soltado uma risadinha de camaradagem
masculina.
— Entra, amore mio. — Abri o zíper e Victória entrou, logo eu a segui,
fechando a barraca e travando o cadeado. Virei-me só para avistar Victória
deitada, apoiando-se nos cotovelos.
Sorri de lado, ficando de joelhos, puxei suas pernas e ela soltou uma
risadinha.
— Esteja preparada! — Pisquei um olho enquanto abria seus shorts e o
puxava junto com a calcinha.
Victória já estava molhadinha. Toda coradinha e ofegante.
Coloquei meu polegar na boca para molhá-lo, fiz isso olhando nos dela, que
agora brilhavam mais que duas esmeraldas.
Desci minha mão até seu sexo e lá dei um aperto suave, em um gesto
meramente simbólico.
— Esta boceta é minha! — rosnei baixinho e logo meu polegar úmido
encontrou seu clitóris.
— Ahhh, isso mesmo! — gemeu ao primeiro contado.
— Tire a blusa e abra mais as pernas, quero te ver completamente —
comandei e ela obedeceu.
Fiz movimentos suaves com meu polegar, aos poucos fui aplicando pressão e
Victória arqueou-se de olhos fechados, sorri vendo a forma como ela puxava o ar
com força e como suas mãos se fechavam em punhos agarrando qualquer coisa que
estivesse ali.
— Estamos no estágio um, amore mio — murmurei olhando aquela beleza
diante de mim —, respire fundo que ainda tem muita coisa vindo por aí.
— Ahhh, Rocco — ofegou abrindo os olhos —, eu vivo na corda bamba,
basta te olhar e eu sinto tudo dentro de mim contraindo, meu centro pulsa por você.
Meu peito inflou de orgulho pelas suas palavras.
— Não se preocupe, minha boca logo estará aqui ocupando o lugar da minha
mão. — Minha voz saiu grave de tesão. — Eu posso sentir o cheiro de sua
excitação, ela molha meus dedos, e sim, eu terei minha boca aqui! Quero lamber,
chupar e morder cada pedacinho da sua bocetinha cheirosa. Você vai me deixar
fazer isso, vai? — Eu me inclinei para frente, mantendo minha mão ainda no meio
de suas pernas. — Você vai me deixar fazer o que quiser com você? Vai me deixar
te lamber todinha? — Enfatizei o lugar desejado pressionando seu clitóris com
mais força.
— Ahhhh — gemeu, arqueando-se.
— Responda! — exigi. — Você vai me deixar fazer o que quiser? Uhn? Vai?
— provoquei, dando-lhe um beliscão em seu pontinho pulsante e inchado.
— Sim… eu vou — resfolegou agitada.
— Então me diga se vai deixar eu fazer isso com minha língua… — Sondei
sua entrada molhada e a penetrei com um dedo. Victória gemeu e eu grunhi quando
seu sexo guloso me sugou, puxando meus dedos com ganância. — Você vai?
— Siiim — gemeu, mordendo o lábio.
— E isso? — Introduzi outro dedo e comecei a fodê-la com eles, bem
devagar. — Você vai deixar eu te foder com minha língua?
— Ohhhh… uhnnn… — Victória abriu ainda mais as pernas, aumentando meu
livre acesso
— Você vai deixar eu te foder bem duro com meu pau durante horas se eu
quiser? — Mordi seu queixo e ela só abriu a boca, puxando o ar.
Aproveitei para beijá-la, enfiando minha língua em sua boca e imitando os
movimentos que eu fazia lá embaixo com meus dedos. Era fodidamente excitante,
nossos beijos eram cheios de carinho, mas tinha aquela pegada boa, de beijo bom,
bem dado. Descolei nossas bocas e rosnei algumas safadezas em seu ouvido, isso
fez suas paredes internas vibrarem em meus dedos.
Porra de mulher gostosa!
Voltei a beijá-la com paixão, minha língua varrendo todos os cantos de sua
boca deliciosa, mordendo, chupando, lambendo e acariciando sem dar trégua. E a
cada segundo ela gemendo mais e mais.
Victória parecia descontrolada quando prendeu minha língua, chupando
devagar, quase perdi o pouco do controle que ainda restava.
Estávamos ardendo de paixão, chegando a doer em mim fisicamente, quero
dizer, minhas bolas estavam pegando fogo, meu pau, duro feito pedra, meu coração
parecia bater aqui em baixo. O pior era que eu tinha um plano que precisava ser
seguido. Não abro mão dele, todavia, vamos nos aliviar, porque, puta merda, já, já
meu pau vai rachar de tão duro e depois cair.
Excesso de excitação e falta de uso, ele precisa ser hidratado, e só Victória
tem a fórmula certa para me manter em pleno funcionamento!
— Foda-se, pequena quente! — rosnei afastando nossos lábios, agora o
cheiro de sexo pesava dentro da nossa barraca.
— Rocco… aiiin… preciso tanto. — Victória balançava a cabeça de um lado
para o outro, completamente fora de controle, toda entregue, corada, à minha
mercê. E meus dedos estavam bem ocupados, entretanto eles não chegavam nem
perto do meu equipamento de perfuração.
Não disse mais nada, palavras não eram necessárias, nossos gemidos eram
mais que suficientes, iríamos nos comunicar com nossos corpos. Ajeitei-me entre
suas pernas de modo que minha mão pudesse continuar seu trabalho, então capturei
um mamilo em minha boca, suguei o biquinho duro com força e depois mordi.
— Aiii, Deus. — Victória cravou as unhas em minha cabeça e eu rugi
mamando faminto os seus mamilos, fiquei bastante tempo ali, apenas trocava de
um para o outro, até que eles estavam sensíveis, notei porque estavam vermelhos e
com certeza amanhã estariam doloridos.
Fui descendo minha boca pelo seu corpo, circulei minha língua em seu
umbigo, mordi levemente a pele de seu ventre.
“Meu filho estará aqui em breve!”, pensei determinado esfregando meu
rosto com carinho, logo continuei meu caminho, cheguei em seu sexo e esfreguei
meu rosto em seu monte. Aspirei seu cheiro de mulher e tive que abrir minhas
calças para poder dar liberdade a meu pau, minhas calças estavam sem espaço
para comportar meu equipamento todo armado, agarrei a cabeça inchada e apertei.
A dor aliviou um pouco, e eu voltei à minha atividade favorita.
Mais uma vez, esfreguei meu rosto em seu sexo, eu iria comê-la com minha
cara toda enfiada, nada de ponta de língua, isso é coisa de fresco. Eu vou cair de
boca, e ela vai ver o que minha barba é capaz de fazer.
— Rocco, por favor…
Ajeitei suas pernas em meus ombros, eu tinha que aproveitar o pouco espaço,
mesmo que minha barraca fosse maior que as demais, eu sou um homem grande,
então era isso, Victória teria que ficar com a boceta na minha cara. Toda aberta e
exposta para a minha perversão.
Aí, eu só fiz a festa, usei minhas duas mãos para deixá-la ainda mais exposta,
abri aquela flor rosadinha bem diante dos meus olhos, ela era tão linda e delicada
aqui embaixo. E o melhor?
“Tudo é meu! Ela é só minha, MINHA!”, — pensei possessivo olhando para
seu clitóris todo inchadinho e brilhoso. Tudo isso por mim e para mim.
Eu sou um maldito bastardo sortudo.
Muito deliberadamente e sabendo o efeito que eu causaria, coloquei minha
língua para fora e dei a primeira lambida, pegando seu sexo inteiro. E não fui
rápido! Não, eu degustei muito lentamente, minha língua quase em câmera lenta,
subindo todo o caminho molhado com gosto e prazer.
— Uhnnnnn — Victória gemeu longamente acariciando meus cabelos, eu
aproveitei e dei mais uma duas lambidas preguiçosas, claro, estava preparando-a
para o que viria.
Ri perverso. E olhei para cima. Esperei até ela me olhar e quando ela o fez,
eu dei meu melhor sorriso de tarado pervertido.
“Ah, amore mio, você não sabe no que se meteu”, — pensei enquanto
atacava seu sexo com selvageria. Victória gritou e tentou fechar as pernas, eu
rosnei e ela se rendeu.
Minha fêmea.
Voltei minha atenção para seu sexo encharcado. Eu queria que ela gozasse,
então coloquei seu clitóris em minha boca e chupei com força. Ela gritou de prazer
e eu rosnei em resposta. Estava louco de desejo, minha cabeça enterrada entre
suas pernas é a melhor coisa do mundo.
Poderia ficar aqui para sempre, fazer um banquete com seus sucos.
— OH, DEUS! — Victória saltou, mas eu a mantive segura no lugar, isso
aconteceu porque eu mostrei a ela o que minha barba faz, dei uma esfregada básica
em sua bocetinha, e a julgar pela excitação que escorreu, eu acho que ela gostou.
— Faz de novo.
Fiz de novo e ganhei outro gemido destruidor de paus.
Eu estava com um sorriso puramente safado em meu rosto, mas minha garota
não poderia me ver, então era algo particular, entre mim e essa delícia diante de
mim, eu era louco por ela, e como meu pau se apaixonou pela Victória, eu quero
essa bocetinha apaixonada por mim também.
— Vem com o papai, delícia.
E feliz da vida caí de boca de novo, chupando com gosto e sem muita
gentileza. Não consigo evitar rosnar feito um animal.
Cara, foram muitos dias sem a minha droga, não dá, eu vou me esbaldar.
É quase como um morto de fome que, quando encontra comida, fica tão
desesperado que vai com tudo. Eu estou assim, até meu nariz está sento usado, isso
é, quando esfrego meu rosto, acabou dando trabalho para ele também, e assim eu
vejo, como eu estou no meu paraíso. Posso ficar aqui por muito tempo, eu adquiri
um gosto impressionante por fazer sexo oral em Victória e, como morro dizendo,
sou um homem grande, preciso me manter bem alimentado.
Eu havia dito que iria segurá-la na mão para ela se entregar, mas vou fazer o
contrário, só hoje, Victória vai gozar até implorar para eu parar, aí quem sabe eu
pare.
— Estou perto… aiiin… Deus — grunhiu puxando meus cabelos com força.
Prendi seu clitóris com meus dentes e mordi de leve, Victória quase arranca
meus cabelos.
Caralho, isso me excita muito!
— Rocco… eu vou… Uhmmm… — Victória não termina a frase, eu sei do
que ela precisa, pego seu pontinho entre meus lábios e chupo duro, instantes
depois sinto o corpo dela enrijecer e ela prender a respiração.
Então o melhor acontece.
Victória goza violentamente em minha boca, e eu bebo tudo, até a última gota.
— Sensííível — gemeu enquanto eu continuava limpando-a com minha língua,
não dei a mínima, eu continuei lambendo e sugando até que não havia mais nada. E
depois, bom, eu lambi mais um pouco.
Um homem tem que fazer as coisas direito.
Agora Victória está saciada, ela até sorri de olhos fechados, já eu estava com
problemas.
Meu pau estava duro, dolorido, sensível, inchado e já todo molhado de pré-
gozo. Não tinha como eu guardar essa mala dentro das calças, eu precisava aliviar.
— Amore mio, me deixa cuidar de você?! — Victória chamou minha atenção
tocando meu braço, muito suavemente ela nos trocou de lugar, agora eu estava
deitado e ela por cima.
— Vamos nos livrar dessas calças — murmurou e eu a ajudei a tirar minhas
calças, a cueca foi junto e logo eu arrancava minha camisa.
Sorri devasso enquanto agarrava meu pau e dava algumas bombeadas. Todo
peladão, era um macho e tanto para minha garota dar conta.
— Gosta do que vê? — perguntei rouco. — Imagina ele atolado em sua
boceta? Vai ser épico, amore mio. Vou te deixar sem andar.
— Rocco! — exclamou corada e ofegante.
— Você sabe que eu sou boca suja! — Ri passando o polegar na cabeça
sensível do meu pau. — Vem cá — chamei, oferecendo meu polegar molhado com
minha excitação e, sem pestanejar, ela o tomou, gemendo baixinho enquanto
rodava a língua saboreando meu gosto.
— Rocco Gostoso Masari. — Sorriu tirando minha mão. — Sabe, eu pensei
muito e acho que você merece um castigo.
— Castigo? — Sorri, mas logo meu sorriso morreu quando Victória pegou
minhas bolas e apertou. — Ei, amor, cuidado aí — pedi, me apoiando nos
cotovelos. — Aí, amore mio. — Arregalei os olhos assustado. Não era bom
quando uma mulher envolvia a palavra castigo e segurava suas bolas em
sequência.
Porra, o homem vê a vida passando diante de seus olhos quando seu bem
mais precioso está sendo ameaçado. Não é bom ter uma mulher segurando seus
documentos e te olhando com cara de quem vai aprontar. Se Victória fizesse igual
à garota do exorcista e girasse a cabeça, eu não me assustaria tanto. Entretanto,
agora, nesse momento eu estou realmente ficando nervoso.
— Você me fez sofrer, Rocco — murmurou tranquilamente e apertou mais um
pouco. — E você deve pagar por me dizer não.
— Vamos negociar, amore mio? — ofeguei quando ela movimentou uma mão
em meu comprimento enquanto a outra apertava meu pescoço, digo, meu pau. Mas
era isso mesmo, a sensação era de sufocamento.
— Não vou negociar nada, você vai me ouvir e vai me obedecer! — Piscou
um olho e se ajeitou melhor. — Primeiro me diga a quem você pertence.
Quando ouvi isso, meu cérebro deu curto. Minha doce Victória estava dando
uma de Dominatrix?
Puta que pariu, caralho… porra!
— A você. — Respirei fundo. — Pertenço a você, amore mio.
— E de quem é este pau mágico? — P)ara enfatizar, ela mexeu nos meus
bens.
— É seu!
Ah, cara. Minha gatinha está querendo ser uma tigresa, ela está tão deliciosa,
tão fodidamente quente.
— Ótimo, agora as regras do seu castigo. — Sorriu e eu fiz um bico pidão. —
Você não pode gozar, não pode gemer, não pode fazer nenhum barulho, ah, sim,
você não pode me tocar.
Meu queixo escancarou em completo estado de choque, e quando fui debater
com ela, Victória abriu a boca e me chupou duro.
— Ahhh, porra! — gemi duramente e ela parou. — Continue… não pare.
— Eu disse não fale.
— Certo, certo — falei e ela arqueou uma sobrancelha. Eu entendi o que ela
quis dizer e só balancei a cabeça.
Eu posso aceitar isso, não vou perder essa chupada nem morto. Eu estava
morrendo de saudade de ter minha garota me engolindo.
Victória voltou a me chupar e eu travei todo. Engoli meus gemidos, estava
sendo difícil, porque o tesão estava foda, eu não sou do tipo mudo. Isso é tão
maricas, eu gosto de expressar meu prazer. Não sou do tipo que se estica, faz um
som engasgado e depois vira e dorme.
Isso deve ser frustrante para as mulheres, ter um homem que mais parece um
bonecão de posto.
Senti a vontade de gozar esquentando minhas bolas, o friozinho na barriga
estava lá. Meu corpo endureceu, e eu prendi a respiração, então, quando estava
prestes a gozar, Victória parou.
— Caralhoooo! — berrei ensandecido. Quando a vontade passou, Victória
voltou a me chupar.
Os minutos seguintes foram os piores e melhores da minha vida, eu estava
recebendo o oral mais fodidamente perverso, cruel e enlouquecedor da minha
existência. Quando estava demais para suportar, eu agarrava o cabelo da minha
garota, aí ela parava… outra vez. Eu gemi, e ela parou, minha última tentativa foi
berrar, exigindo que ela me fizesse gozar.
Ela parou de novo.
Então aqui estou eu, de olhos fechados, suado, todo tenso, louco para gozar e
sem poder. Não vou nem explicar como minhas bolas estão doendo, eu devo estar
com sêmen até a tampa, coitadas, não suportam mais. Meu abdome queima, meus
músculos estão ficando doloridos por causa das contrações involuntárias, e para
finalizar, a cabeça do meu pau está tão inchada e sensível que até a respiração da
minha garota está me causando arrepios que vão desde meu saco até minha nuca.
“Ai, droga!”, xinguei mentalmente. “Aí vem outro. Per favore, amore mio,
vamos lá, seu homem precisa gozar!”, pensei desesperado enquanto apertava os
olhos, não proferi uma palavra, eu esperei.
A ansiedade surgiu em forma de um calafrio que viajou meu corpo inteiro, era
quase um sopro subindo pela minha espinha, minha respiração travou, meus
músculos amarraram em duros nós. Eu estava prevendo o maior orgasmo da minha
vida, e, porra, eu o queria e muito.
Senti minhas bolas endurecendo, e a sensação mais gostosa do mundo
começou a crescer e crescer. Desta vez eu ri, finalmente eu iria gozar e…
Victória parou.
Eu rosnei e mandei meus planos ao inferno. Eu queria um lugar bonito, com
muita preparação e tal. Um presente de aniversário perfeito, entretanto, não se
brinca com fogo sem sair queimado.
Troquei nossas posições e coloquei Victória de quatro. Enrolei seus cabelos
em meu punho e rosnei em sua orelha.
— Eu queria algo perfeito, mas você me empurrou até o limite. — Peguei
meu pau e esfreguei em suas dobras. — Vou te foder muito, vou atolar meu pau até
o talo, e vai ser sem proteção.
Coloquei meu membro em sua entrada e forcei para dentro.
Victória gemeu quando a cabeça inchada violou sua entrada. Parei respirando
fundo, meus músculos tensos, querendo entrar tudo de vez, mas tendo que ir com
calma, devagar, invadi mais algumas polegadas. Respirei fundo, buscando
controle, ainda tinha muito pau para socar.
Victória parecia tão desesperada quanto eu, pois remexeu-se gemendo, dei-
lhe um tapa na bunda, eu queria obediência, agora quem manda sou eu.
— Aaai! — gritou, rebolando, e eu empurrei mais um pouco. — Você é muito
grande e grosso.
— Delícia. Você aguenta. Você foi feita sob medida para mim — rosnei alto,
graças a Deus o barulho era ensurdecedor e as pessoas estavam próximas ao
palco. — Minha boceta… minha, só minha. — Enlouquecido, bati os últimos
centímetros que faltavam.
Ambos gememos com a sensação de prazer sublime.
Retirei-me deixando apenas a cabeça dentro. Respirei fundo, uma vez, duas, e
logo soquei tudo, recebendo outro gemido desesperado.
— Rocco, você é tão gostoso, eu adoro seu sabor — Victória falou gemendo
e eu arrepiei, ele deve estar me provocando só pode. — Eu gosto do seu sabor
salgado e levemente picante, você me viciou, seu grande pedaço sexy.
Eu até queria me segurar, entretanto, depois de ouvir uma coisa dessas,
simplesmente não dava, por isso eu comecei a me movimentar cada vez mais e
mais forte, não tive dó. Soquei meu pau com força, com velocidade, com maestria.
Atingindo os lugares que eu sabia serem os mais apelativos, Victória gemia louca,
e eu, descontrolado, rosnando, puxando seu cabelo.
Parecíamos dois animais no cio.
— Você gosta assim, gosta? — rosnei dando-lhe outra tapa na bunda e depois
acariciando.
— Ahhh, sim… gosto — gemeu de volta, rebolando. Victória era puro fogo,
totalmente perfeita para mim.
— Isso, tome tudo — grunhi chocando meu quadril contra o dela. — Me leve
por inteiro, cada polegada minha é sua. — Puxei seu cabelo e mordi seu ombro,
agora eu fodia minha mulher com mais e mais desespero. Meu pau saindo rápido
só para enterrar-se em seu calor. Eu me sentia como se um punho envolto em
veludo me estrangulasse, as paredes internas dela me acariciavam e isso me
deixava selvagemente insano.
— Ahhh, Rocco — gritou encontrando minhas investidas brutas. — Mais
forte, mais rápido… eu adoro te ter profundamente enterrado dentro de mim.
Sorri enquanto soltava seu cabelo, parei de me mover e abri ainda mais suas
pernas, coloquei minhas mãos em sua cintura, me preparando para recomeçar.
— Resista, amore mio.
— Me tome logo, me faça sua. — Ri de sua ousadia, resolvi torturá-la um
pouco.
Dei uma mexida com o quadril e meu pau fez sua mágica. Victória ofegou
depois gemeu, seus braços bambearam, mas ela se manteve firme.
Eu ri mais.
Ela nem sabe o que ainda vem por aí.
— Dê-me tudo, amore mio — Victória falou me surpreendendo. — Eu quero
tudo. Você me completa, me preenche tão bem. Por favor…
Respirei fundo, absorvendo suas palavras, e dei o que ela queria, o que eu
queria, mas, principalmente, o que nos precisávamos.
Meus movimentos eram frenéticos, eu não consigo me controlar. Eu me perdi
em seu calor, nossos gemidos eram misturados, ensandecidos, eu rosnava, Victória
choramingava, a perfeita sinfonia de nosso amor, louco, e animal.
Olhei para baixo e vi meu pau saindo e entrando, indo cada vez mais forte,
batendo bem profundo.
— Vou gozar — mal terminou de falar e o corpo de Victória ficou tenso,
depois ela começou a gemer coisas incoerentes, uma das mãos arranhando minha
coxa, e seu corpo tremendo investindo contra mim. Eu parei de me mexer, permiti
que meu pau fosse massageado pelo seu orgasmo.
Não esperei muito, saí de dentro dela para poder virá-la.
— Quero assim agora — grunhi voltando a entrar em seu calor, se possível,
Victória estava ainda mais apertada. Ela soluçou e o libertino que habita em mim
sorriu de prazer.
— Chora no meu pau, tesoro — grunhi levando minhas duas mão até sua
cabeça para ajustar nossas posições, agarrei seus cabelos, mantendo sua cabeça
imóvel, prendi seu corpo com o meu e mandei ver.
Ficamos gemendo assim, cara a cara, nossos lábios muito próximos,
compartilhando respirações. Deixei que meu instinto me guiasse, perdi o controle
dos meus quadris, bombeava com força, velocidade e brutalidade. Victória
ofegava e, quando as sensações foram demais para ela, ela arqueou-se, me
permitindo ir mais fundo em seu interior. Eu estava como dois pistões frenéticos e
incansáveis.
— Sinta como eu te tomo — rosnei a um fôlego de distância. — Sinta meu
corpo buscando o seu, sinta a minha necessidade, sinta a minha paixão.
— Eu sinto… — suspirou e eu larguei seus cabelos, para poder sentar,
agarrei sua cintura e me perdi na visão magnífica diante de mim.
Puta merda!
Minhas investidas frenéticas só mostram o meu total abandono. Victória faz
com que eu me perca, mas também faz com que eu me encontre.
É simplesmente foda.
Nunca é igual, com Victória sempre é uma novidade, cada vez é mais intenso,
mais selvagem, mais entregue e mais surreal.
Desta vez, quando o orgasmo se formou, eu o deixei correr livre por meu
sistema. Investi mais freneticamente, gemendo feito louco, ouvindo os gemidos da
minha mulher.
Foi demais.
Eu soquei com muita força, enterrando tudo, atingindo o fundo e gozei.
Jorrando minha semente na boca do útero da minha garota e desta vez eu rezava
para que funcionasse. Eu queria frutos, queria minha semente plantada e
germinando…
Sem mais, beijei sua boca, enquanto meu pau sacudia aliviando meu tormento
de tantos dias.
***

— Rocco… por favor… eu não aguento mais — Victória implorou quando o


último orgasmo sacudiu seu corpo.
Logo eu a estava seguindo também.
— Amore mio — gemi tomando seus lábios enquanto gozava.
Beijar, gemer e gozar com a mulher que amamos não tem preço.
Desabei ao seu lado, puxando-a para mim. Ficamos ofegantes durante um
tempo, e por isso apenas curtimos o momento até nossas respirações e corações se
normalizarem.
— Eu estava com muita saudade. — Sorri de sua resposta incompreensível.
— Vou te dar alguns minutos de descanso, então vamos para o quinto round.
— Vai com calma, eu já estou dormente das pernas — aconchegou-se a mim.
— Eu preciso ser alimentada e preciso de descanso. Corro o risco de não chegar
aos trinta desse jeito, homem, você é insaciável.
Gargalhei de suas palavras, completamente orgulhoso.
— Dorme, amor, você precisa descansar, eu realmente fui um bruto.
— Uhnnn — beijei sua testa com carinho. — O bruto que eu amo e adoro,
mas também você foi suave e fofo, mesmo que tenha sido apenas uma vez. —
Bocejou colocando uma perna em cima de mim.
— Folgada! — Acariciei sua bunda e ela riu baixinho.
— Quem manda aqui sou eu! — ronronou suspirando.
— Sim, senhora — falei beijando seus cabelos.
Fiquei ali acariciando suas costas enquanto a apertava em meus braços.
Mais uma vez Victória se entregou a mim sem reservas, as camisinhas nem
foram usadas, mas estarão a postos, se precisar. O fato é que minha garota não se
guarda, ela não tem ressalvas. Victória se doou completamente para mim, e eu
estou fazendo isso por ela, mas sei que uma pequena parte minha ainda não
acredita em tamanha felicidade.
— Só espero nunca me decepcionar, nem decepcioná-la — murmurei
fechando os olhos.
Eu sei que muito provavelmente eu que irei foder com tudo, porque eu sou um
bastardo desconfiado que morre de ciúmes da sua garota.Não sei como vai ser
quando voltarmos, mas uma coisa é certa eu vou ficar com Victória de qualquer
jeito. Vou me casar com ela e não tem conversa.
Não tem como eu ficar sem minha garota, apesar de ser muito possessivo e
ciumento, e saber que Victória não gosta disso eu vou me controlar, não é uma
opção para mim perdê-la de novo. Sei que quando voltarmos ainda teremos que
enfrentar muita coisa, entretanto, tenho uma leve esperança de que as coisas não
sejam tão complicadas.
Só queria poder entrar em contato com William para saber o que ele está
fazendo, apesar de ser calado, o Conde é um inferno de persuasivo, um verdadeiro
bastardo manipulador, do tipo que observa em silêncio. Ele deixa as tropas irem à
frente e analisa o primeiro combate, na volta, ele já tem um plano de vitória
traçado.
Ele nunca falha.
William é preciso, milimetricamente consciente das coisas, e o melhor, ele
nunca desiste. A verdade era que não é aconselhável tê-lo como inimigo. O Conde
de Ravembrock pode ser cruel, e ele é.
— Só espero que tudo dê certo! — suspirei me aconchegando melhor em
minha garota. — Agora eu não tenho tempo para pensar em outra coisa que não
seja nessa preciosidade em meus braços.
Puxo uma respiração longa, e aos poucos deixo o ar escapar. Isso me acalma,
lentamente deixo o sono me levar.
Capítulo 42
William
Nova York — EUA

Olho-me no espelho e vejo o que eu não queria.


Atrás do rosto bonito vive um homem frio, seco, calculista.
Apesar de ainda ter conseguido desenvolver afeto por um pequeno número de
pessoas, eu sei que boa parte de mim não é mais que uma terra seca e estéril.
Não quero mudar isso!
Apenas quero aprender a suportar a saudade que me queima a cada dia, que
me sufoca a cada segundo. Nunca vivi período pior que esse, e ver meu irmão
sofrendo por erros tão absurdos me deixa fora do eixo.
Por isso resolvi intervir.
Observei a situação e sei como agir.
— Hoje isso se resolve! — murmuro e saio do meu apartamento. Sei bem por
onde começar, preciso chegar até a casa do Cão de guarda, ou também conhecida
como Mary Clarence.
Na estrada, eu penso em como o mundo dá voltas.
Eu sempre achei que Rocco nunca iria arrumar alguém, apesar de amar
aquele bastardo, eu tenho que admitir que sua personalidade é terrível. Só uma
mulher doce e delicada para dominar um gigante mal-humorado e cínico.
Pensar n isso me faz pensar se existe essa possibilidade para mim também.
“Será mesmo?”, me questionei apertando o volante com força.
Analiso durante alguns segundos como vivi nos últimos dez anos e chego à
conclusão de que não, mulher nenhum tem sangue frio para aturar um homem que
ama um fantasma, e pior, que não está disposto a se entregar.
Balanço a cabeça e me recosto completamente no banco do carro.
O silêncio me envolve, eu gosto dele.
Pelo menos no mundo exterior, porque no meu interior, eu vivi em uma eterna
batalha contra meus sentimentos e minhas necessidades. Há momentos em que eu
simplesmente acho que tudo é muito para suportar, então eu resisto, e quando
percebo volto a achar tudo insuportável. Eu vivo em uma roda, onde passo pelo
mesmo lugar.
Eu sofro em silêncio.
Eu choro em silêncio.
Faço minhas maldades em silêncio.
Às vezes eu preciso extravasar minha dor, ela se torna demais para suportar,
e lá estou eu, tentando colar nem que seja superficialmente minha alma dilacerada
pela falta de oportunidade. Acho que nunca irei me recuperar desse golpe.
Dez anos depois… Eu ainda acho pouco.
Uma parte de mim vive em luto, e é essa parte que não suporta ver o
sofrimento dos que ainda amo. Não tenho tanto escrúpulo quando aparento,
realmente? Não dou a mínima.
Chego em frente à casa onde Briana está. Minhas mãos tremem, porque eu
sinto raiva. Há anos eu controlo a raiva, hoje eu sou um especialista nela.
Fecho os olhos, respiro fundo e saio do carro.
Caminho tranquilamente até a porta e dou duas batidas. Ouço passos e logo
uma mulher toda de preto me atende.
Dou um sorriso torto, abaixo um pouco a cabeça.
A mulher cora, respira fundo.
Ela não é imune, na verdade, poucas mulheres são.
Tão tedioso… mortalmente enfadonho, tão calculado.
— Por favor — falei com voz baixa, rouca, levemente cadenciada para
seduzir. — Estou procurando por Briana Costant.
A mulher fica ainda mais vermelha, depois leva a mão ao peito e respira
fundo.
Seguro a vontade que tenho de revirar os olhos.
— Quem é? — Engole em seco. — Quem é você.
— Eu sou… — Estendi uma das mãos e ela aceitou. — … William Savage.
— Inclinei-me depositando um beijo suave no dorso da mão trêmula que estava na
minha.
— Você… é… você é…
— Seu nome, minha dama — murmurei e ela ofegou baixinho.
— Per-pétua. — Riu sem graça e alisou o vestido preto e sem forma.
— É um prazer. — Sorri de lado. — Eu sou amigo de Rocco e vim aqui para
conversa com Briana e ver como ela está. — Sorri de lado, um sorriso falso sem a
menor vontade. — Você poderia chamá-la para mim, por favor?
— O que você quiser! — exclamou, mas logo corrigiu-se. — Digo, eu vou
chamar por ela. Entre.
Eu entrei e fui levado até uma salinha pequena. Tudo era austero, o ambiente
completamente escuro.
Ouço passos, me viro para olhar.
A mulher que se aproxima de mim não se parece em nada com a que eu
conheci.
Não existe glamour, nada de roupas reveladoras, nada de sofisticação.
A Briana diante de mim parece uma criatura transformada. Ela usa um vestido
marrom largo, de mangas e golas compridas, os cabelos estão presos em um coque
apertado e não usa nem um pingo de maquiagem.
Olho em seu rosto, ela me encara.
Então de modo instantâneo, o predador que há em mim ativa, não digo isso no
sentido sexual, isso nunca, mas me refiro à sedução, à atuação e ao cinismo bem
aplicado que fazem um bom predador, pois ele tem que atrair apresa até sua teia,
ela tem que ir por vontade própria e, quando menos esperar, não haverá
escapatória.
— William — Briana soluça e se joga em meus braços. Eu a recebo, obrigo
meu corpo a relaxar, não suporto tê-la tão perto de mim.
Todavia é necessário.
Calculadamente eu acaricio seus cabelos, aperto meus braços, e ela chora.
Torço meus lábios.
— William, me tira daqui — implorou agarrando-se a minha camisa. — Por
favor, me leva embora.
— Shhh, eu vim por você — sussurro e quase posso rir.
Coitada.
Olho para o lado e vejo Mary Clarence, ela me olha corada, e eu peço para
levar Briana para jantar. Imediatamente ela concorda.
Doce veneno. Eu posso ser uma dose letal.
— Venha comigo. Vamos conversa e resolver. — Minha boca torceu com
raiva. — Senti sua falta.
Fingir… atuar… descobrir e fazê-la enxergar que com a tríade não se brinca.
— Obrigado — falei e pisquei um olho para a mulher parada na porta.
Ela fez o sinal da cruz e fechou as mãos juntas, ainda a ouvi dizer:
— Isso é pura tentação do mal. Deus me proteja.
Sim, querida, eu sou do mal, não acredite em meu rosto bonito, nem em
minhas palavras bonitas, eu não tenho sentimentos nenhum, de fato, pouco me
importo. Muito pouco mesmo!
Entramos no carro e eu dirigi até um restaurante bem conhecido. Eu já havia
preparado tudo.
— Não posso entrar aí vestida assim — Briana chorou colocando o rosto
entre as mãos.
Eu pedi a Deus paciência.
— Eu reservei o restaurante inteiro, você é especial. — Sorri torto e ela
respirou fundo, dando um sorriso enorme.
Saímos do carro e entramos no restaurante. Tudo estava milimetricamente
planejado.
As luzes suaves, a música ao fundo, a mesa estrategicamente colocada. Tudo
para fazê-la se sentir confortável e especial.
Sentamos e o garçom chegou. Fizemos os pedidos das entradas e quando ele
saiu eu comecei a sondá-la, puxando-a para minha teia.
— Não consegui me manter afastado de você — murmurei permitindo que
minha mão procurasse a sua.
— William, eu acho que… — começou e logo lambeu os lábios.
Ela estava ansiosa.
— Briana, eu pensei sobre nós dois.
Os olho dela saltaram levemente e agora ela sorriu.
— Mas você é amigo de Rocco, não me odeia?
— Bobagem! — Abanei minha mão, não dando importância à sua fala. — Por
que eu te odiaria? Você só escolheu errado.
— Mas como eu iria saber? — perguntou ansiosa. Parecia falar consigo
mesma.
— Sabe, eu posso ver como você ficaria linda usando as joias da Condessa
de Ravembrock, existe um espólio que é herdado só pela condessa. — Bebi um
gole do vinho que me foi servido. — Esmeraldas, rubis, safiras, diamante… joias
raras, da era imperial. — Balancei a cabeça. — Todas precisando de alguém
digna de usá-las.
— Eu posso ser essa mulher, eu juro que posso! — exclamou quase com
desespero.
Eu tive vontade de rir. Ela estava caindo direitinho.
— Eu até pensei nisso. — Permiti meus ombros caírem. — Eu tinha uma
esperança de que você não estivesse grávida de Rocco, ele é um homem influente
e não tem como esconder isso. Neste caso, se o bebê não fosse dele, eu te
mandaria para um solar que eu tenho, e lá você daria à luz, depois nos casaríamos
e assim você seria minha esposa, a condessa de Ravembrock, e teríamos outro
filho para herdar meu título e minha fortuna.
Briana ficou calada, absorvendo minhas palavras.
— Você criaria meu filho? — questionou
— Claro que não, você iria deixá-lo com o verdadeiro pai e nós iríamos
pagar para ele se manter calado. Eu sou da realeza inglesa, baby, tenho os meios
para conseguir o que eu quero.
Ficamos em silêncio, e aproveitei para tirar a caixinha com o anel que eu
trouxe, isso era para deixá-la mais inclinada a revelar a verdade, aproveitei para
pegar meu celular e colocar em modo gravação.
O áudio iria ser muito útil.
— Só um segundo, princesa — murmurei mexendo no celular. — Alguém me
ligou e eu preciso olhar, estou esperando uma ligação da minha mina de diamantes.
Não olhei para ela, mexi em meu celular e fingi uma careta de raiva.
A realidade era que eu estava ativando o gravador. Com tudo pronto, apaguei
a luz do visor e deixei o celular em cima da mesa.
— Você tem uma mina de diamantes? — perguntou com os olhos brilhantes.
Sorri mais uma vez, estava tão facil.
— Sim, e você já ouviu falar em diamantes de fogo?
— Meu Deus! — exclamou levando as mãos até a boca. — Já ouvi falar, mas
nunca vi… eu nunca vi.
— Veja o que eu tenho aqui… — Peguei a caixinha vermelha e abri. — Um
legítimo diamante de fogo. Raro e com preço incalculável, esse é o anel de
noivado destinado às condessas de Ravem.
Ela tentou tocar, mas eu não deixei, puxei o anel de volta e guardei.
— Poderia ser seu, se…
— Não é de Rocco! — exclamou e eu sorri largamente.
— O que não é de Rocco?
— Meu bebê! — Engoliu em seco. — Ele não é de Rocco.
— E de quem é, Briana?
Ela ficou calada, olhou de um lado para outro, depois olhou para mim e me
encarou fixamente.
Eu sustentei seu olhar. Deixei-a ver o que queria. Suspirando aliviada ela
sorriu.
— É do meu motorista!
Recostei-me na cadeira, apoiando um braço no outro enquanto mexia na
barba.
— Você pode estar mentindo para mim! — Arqueei uma sobrancelha. —
Afinal, no exame que você fez as datas eram exatas à provável concepção, além do
fato de você ainda jurar que dormiu com Rocco, então, quem me garante que,
depois de casados, um escândalo não vai explodir em minha porta? Rocco não é
do tipo que fica calado. Ele é do tipo que ferra com tudo.
— Rocco sequer teve uma ereção — falou baixo.
— Fale mais alto, eu quero ouvir com clareza.
— Rocco não ficou excitado, ele não ficou duro, entendeu? Eu tentei, mas ele
não reagiu, então eu simplesmente dormi ao lado dele e fiz parecer que havíamos
transado.
— Por favor, continue — incentivei gentilmente.
— Ele estava meio dopado, eu até achei que estava drogado, porque não
reagia de jeito nenhum.
— Você está me dizendo que Rocco Masari brochou? — perguntei me
inclinando para frente, em tom de intimidade, Briana entendeu a dica e se
aproximou também. O celular muito próximo de nós.
— Sim, Rocco brochou, não subiu de jeito nenhum. E depois, quando fomos
fazer o exame, eu paguei para a enfermeira de plantão. Digo, eu não paguei, eu
prometi que iria pagar, mas Rocco cortou meus cartões e meu acesso às contas da
empresa do meu pai. — Briana estava vermelha de raiva. — Quase que eu me
ferrava, minha sorte foi que minha mãe vendeu uma de suas joias e pagou o
dinheiro à moça, ela foi me procurar na minha casa, e minha mãe a atendeu.
Sorri concordando.
— Viu, esse bebê não é do Rocco, é do meu motorista e posso dar a criança a
ele assim que nascer. Então estarei livre para ficar com você.
— De quanto tempo você está, querida? — murmurei baixinho. — Não posso
esperar muito. — Passei o polegar pela lateral de seu rosto, ela suspirou fechando
os olhos.
Ela pensa que vou beijá-la.
Quase gargalhei pelo tamanho absurdo.
— Quanto tempo?
— Estou com três semanas a mais do que Rocco pensa.
— O que me garante a veracidade de suas palavras? Briana, desculpe, mas
não gosto de mentiras. — Recostei em minha cadeira. — Você mentiu uma vez,
pode estar mentido de novo.
— Não estou! — exclamou fervorosa. — Eu tenho o exame real, o que mostra
de quantas semanas estou.
— Onde está?
— Está comigo — murmurou e mexeu nas roupas, então, de dentro de uma
pequena carteira, ela retirou um papel muito bem dobrado.
Ela me entregou e eu o abri. Procurei pela data.
Foi antes de Rocco vir a NY.
Sorri largamente. Mas então uma pergunta surgiu. Porque ela manteria esse
exame?
— Me responda por que mantém o exame com você?
— Não sei, talvez uma forma de estar com o que me condena próximo, assim
o mantenho protegido.
— Muito bem. — Voltei a sorrir
Meu trabalho aqui acabou! Nem acredito em como foi fácil. Uma das coisas
boas da vida é pegar pessoas gananciosas. É só colocar a trilha de pão e elas vêm
sem nem pestanejar… dá até pena. Mentira, eu não tenho pena de ninguém.
— Perfeito — murmurei guardando o papel dentro do bolso do meu casaco.
Só tenho que suportar essa vadia por mais algum tempo, depois eu a deixo no
mesmo lugar em que a encontrei, junto com a promessa de retorno, promessa essa
que nunca se cumprirá. Cruel? Só um pouco, não me importo, eu tinha um
propósito e ele foi concluído. O resto é resto.
Assim que chegar à Inglaterra eu entrego as provas a Rocco. Ele irá decidir o
que fazer para se vingar. Porque uma coisa é certa, meu amigo é vingativo até a
medula.
Então agora eu pergunto: sou ou não sou demais?, pensei enquanto
observava Briana revirando os olhos de prazer enquanto saboreava seu jantar.
Coitada, nem sabe o que vem por aí.
Capítulo 43
Rocco

Acordo com um calor daqueles, meu corpo está suado e quente, para ajudar,
Victória está parcialmente em cima de mim.
Mexo-me um pouco, na tentativa de melhorar a posição, mas o que eu consigo
é fazer minha garota resmungar e rolar para o outro lado, dando-me as costas.
Sorri torto com a visão de seu corpo nu. A tatuagem toda à mostra.
— Delizia mia — murmurei esfregando meu nariz em sua nuca. — Uhmm…
cheiro de mulher… da minha mulher…
— Uhmmmm… Rocco… Uhmm — Victória gemeu baixinho e eu fiquei em
alerta, vi o exato momento em que ela abriu levemente as pernas.
Sem nenhum pingo de vergonha na cara, eu desci minha mão até sua
feminilidade e quase gozei quando a encontrei toda molhada.
— Danazzione — rosnei baixinho quando meu pau bateu continência. Bom
dia, ereção matinal.
“Dio Santo, quanto mais eu a tenho, mais eu quero ter”, pensei me
esfregando levemente em seu corpo.
— Rocco — suspirou me procurando e eu não pude fazer mais nada.
Peguei meu membro e esfreguei em seu sexo para molhá-lo, aos poucos a
penetrei.
Travei o maxilar para evitar rosnar alto. Meu corpo todo tremia de desejo, e
Victória já estava ofegando baixinho.
— Amore mio — ronronei enquanto ainda permanecia parado, mas
profundamente enterrando em seu interior.
— Rocco — gemeu esfregando-se. — Tão bom…
— Acordada, baby? — Sorri ajeitando para ela deitar a cabeça em meu
braço e assim eu poder abraçá-la enquanto fazíamos amor.
— Siim — sussurrou e eu ri, puxando um pouco e penetrando-a de novo. —
Uhmmm…
— É bom, não é? — gemi em seu ouvido começando a me mover lentamente,
sem nem um pingo de pressa. — É gostoso acordar com meu pau enterrado em sua
bocetinha, não é?
— Uhum — colou ainda mais nossos corpos, se é que isso é possível.
— Quero acordar assim todos os dias — murmurei mordiscando sua orelha.
— Victória?
— Oi, amore mio — respondeu me chamando como eu a chamo.
Isso fazia meu coração crescer… meu peito comprimia de alguma emoção
forte demais para eu conseguir expressar.
Era algo além de amor.
— Não quero mais ficar longe de você — sussurrei apertando meus braços
ao seu redor. — Não quero nem uma casa nos separando. Amore mio, vem morar
comigo, seja minha esposa, minha companheira.
— Eu já sou sua companheira, bobo. Vamos apenas oficializar isso tudo. Mas
antes me faça gozar, porque agora mesmo não estou pensando em casamento, mas
no que você está fazendo comigo.
Ri baixinho enquanto empurrava Victória para ficar de quatro.
Mal saí de seu corpo e já estou entrando de novo.
— Assim é melhor, não é, amore mio? — perguntei me movendo lentamente,
— Ou você prefere assim? — Retirei e estoquei com força.
— Os dois. Mas agora eu quero duro e rápido… depois… ahhhh! — gemeu
baixinho quando eu dei uma mexida no quadril que a deixava louca. — Depois é
depois.
— Seu desejo é uma ordem — grunhi e comecei a estocar com força.
Nossos gemidos eram baixos e sofridos, porque todos já poderiam estar
acordados, entretanto era difícil segurar o prazer. Meu corpo buscava o de
Victória, exigia que ela entregasse tudo. Eu me segurava também para poder
prolongar as sensações maravilhosas, porque aqui não era apenas o ato sexual
prazeroso, era algo maior. Nossas mentes, nossos sentimentos, nossas paixões,
tudo conectado, contribuindo para que sempre houvesse uma união não só carnal,
mas emocional também.
E em momentos como esse eu me despia das minhas restrições, nessas horas
de entrega total, eu era apenas um homem que ama sua mulher independente de
passado, ciúmes, possessões. Em que eu me perguntava se era realmente
merecedor de uma criatura tão doce como Victória, porque é certo, eu sou egoísta
até minha medula, e dela não abrirei mão.
— Oh, Deus — ronronou e eu senti suas paredes internas começarem a me
ordenhar, não demorei e a segui. Derramando meu prazer em seu interior.
Torcendo mais uma vez que minha semente fincasse raízes.

***
— Vamos pedir carona, Rocco! — Victória cruzou os braços e bateu o pé. O
nariz empinado, o rosto corado… toda linda e excitante.
— Amore mio, poderemos alugar um carro e fazer a viagem tranquilos. —
Arqueei uma sobrancelha e ela estreitou os olhos.
Linda.
— Mas, Rocco, o mochilão implica pedir carona, dormir em albergue ou em
barracas, se virar para poder chegar aos lugares.
— Eu sei, mas poderemos fazer um mochilão luxuoso, em vez de albergues,
ficaremos em hotéis, em vez de carona teremos nosso próprio carro…
— E onde fica a aventura? — reclamou fazendo um beicinho. — Veja ao
redor, as pessoas estão indo embora, se não formos logo, só sobrará nossa turma.
Isso era verdade, depois que saímos da nossa barraca, fomos para o hotel que
ficava pertinho, ali tomamos banho e café da manhã. A questão foi que quando
voltamos, as pessoas estavam desmontando o “acampamento”, algumas apenas iam
embora com suas mochilas, outras estavam tirando as barracas e organizando os
grupos.
Eu e Victória estávamos prontos para seguir nosso caminho, Jason e Murdoch
já haviam desmontado as nossas barracas. O problema era que Victória queria
continuar com essa de mochilão aventura. Eu até tentei convencê-la para
continuarmos o mochilão, mas sem a parte aventura.
Estamos nesse impasse há vários minutos.
— Rocco. — Fez beicinho e eu balancei a cabeça negando.
— Nem vem com essa carinha, amore mio — murmurei franzindo a testa.
Longe de me atender, Victória piscou seus lindos olhos várias vezes, e ainda
juntou as duas mãos implorando.
— Por favor, por favor… vamos,vamos, vamooos…
— Per l’amor di Dio! — exclamei jogando as duas mãos para cima. — Si
tratta de una feiticeira.
— Ahhhhhh!! — gargalhou se jogando em meus braços. — Eu te amo, te amo,
te. amooooo!— gritou me enchendo de beijos por todo o rosto.
Ri todo bobo.
Essa mulher tem o dom de me deixar uma massa de modelar em suas
pequenas mãos.
— Murdoch, siga o roteiro dessa viagem!
— Sim, senhor, nós iremos nas três motos atrás de vocês — falou referindo-
se aos outros seguranças da equipe.
— Perfeito! — murmurei acenando para Jason, que estava dando instruções
aos outros. — Sairemos agora, a próxima cidade será Manchester, em seguida
York. Vou tentar convencer esses loucos a pegarem um ônibus.
— Não se preocupe, senhor, estaremos na cola, mas iremos disfarçar.
— Quando estivermos próximos, você se adiante e procure um albergue ou
pousada e faça as nossas reservas. Eu, Victória, Jason e vocês.
— E quanto ao resto do pessoal?
— O problema não é meu! — Dei de ombros pegando minha bolsa, tendo
sempre o cuidado de não sacudi-la muito, afinal, a caixinha de música era frágil.
— Mais alguma coisa, senhor? — Murdoch perguntou enquanto afivelava as
correias da mochila que continha a minha barraca.
— Eu estou sem celular, portanto, se precisar falar comigo, procure Jason e
resolvemos.
— Ok.
Saímos de Liverpool depois do almoço.
No começo da viagem pegaríamos um trem até Manchester e de lá começava
o estressante mochilão.
Não é como se eu não quisesse ir, claro que eu queria, mas só acho que seria
muito melhor se Victória montasse na garupa da minha moto e sumíssemos no
mundo só eu e ela. O melhor de tudo é que eu tenho um novo plano em mente,
depois de ficar louco com tanta provocação da minha garota e mudar a ideia de só
fazer amor de verdade em um lugar bonito e cheio de detalhes, eu tive que
repensar. Então agora eu tenho dois dias para fazer esse bando de sem ter o que
fazer chegar até North York Moors, lá eu sei o que farei.
Darei meus dois presentes, porque o terceiro já deve estar se formando no
ventre da minha garota.
Na verdade, esse último aí citado é mais meu que dela, digo, sei que Victória
será uma mãe perfeita, mas ela não sabe que eu estou indo com força e
determinação para engravidá-la, e depois de muito pensar, vou jogar fora as
camisinhas batizadas, porque eu sou macho e vou engravidar minha mulher como
manda o figurino.
Meu pau profundamente enterrado e gozando até desmaiar.
Assim é bem melhor.
— Rocco, você tem certeza que quer continuar? — perguntou enquanto
brincava com nossas mãos cruzadas. — Você tem coisas para fazer… uhm….tipo,
você é bem ocupado.
— Claro que sou ocupado, mas até parece que tenho cara de quem desiste de
alguma coisa! — bufei. — E agora mesmo minha empreitada é outra, eu preciso
ter minha mulher de volta definitivamente, com garantias e seguro de permanência.
Olha aí o duplo sentido.
— Vamos andar a pé também, você sabe! — Sorriu e depois franziu o cenho.
— Garantias e seguro de permanência? — perguntou e eu ri.
— Sim, baby, quero algo que me faça estar sempre em sua vida! — Sorri
torto e continuei. — Aliás, amore mio — desviei o foco da conversa —, eu não
sou sedentário, então poderemos caminhar por vários quilômetros e ainda terei
energia para te pegar de jeito. — Olhei ao redor e vi que tinha uma velhinha
sentada na fila ao lado prestando atenção na minha conversa com Victória.
Tadinha, estava com os olhos arregalados e se abanava.
Dei de ombros.
"A curiosidade matou o gato", pensei me aproximado até ter minha boca
quase no ouvido na minha garota
— Você sabe que eu sou bem resistente, não é, amore mio? — ronronei
baixinho. — Quem foi que implorou para parar? Quem foi que disse que precisava
de descanso? — Sorri perverso. — Depois de te foder cinco vezes eu ainda
aguentava mais. Não olhe agora, mas, estou com as calças apertadas, meu pau está
duro e dolorido e só não vou te mostrar agora mesmo o quanto estamos dispostos
porque isso aqui é um trem que está lotado. Se estivesse mais vazio… aí…
— Seu… Rocco pervertido Masari — dissebaixinho e ofegando.
— Só pervertido? — Fiz um bico e ganhei um beijo rápido.
— Pervertido sim, mas também é lindo. Gostoso. Tudo de bom. Safado do
Pau mágico…
Ouvir isso me fez gargalhar, e por mais que eu tentasse me controlar, estava
impossível.
— Safado do pau mágico? — murmurei em seu ouvido. — Eu prefiro safado
do pau gigante… ou do pau foderoso… ou…
— Pare — cochichou e eu apertei seu nariz.
Ficamos juntinhos até a chegada em Manchester. Lá fomos conhecer vários
pontos turísticos. Victória se divertia muito, ela tinha uma alegria natural e
fascinante, tudo, absolutamente tudo a deixava encantada.
Não quero nem pensar quando eu levá-la para conhecer o mundo… O
pensamento era muito agradável.
Nesse primeiro dia de mochilão, iríamos passar a noite em um albergue, a
sorte foi que Murdoch chegou na frente e reservou os quartos, caso contrário
estaríamos fodidos. Eu e Victória ficaríamos em um, Jason e a equipe ficariam em
outro e Royce… bom, isso eu não sei, ele deve dormir na "cocheira".
Depois de tomar um bom banho, eu me arrumei e esperei Victória se arrumar
também. Iríamos a um pub, a turma toda estava animada, e eu estava até entrando
no clima.
Um fato que anda me deixando curioso é que Victória sempre pede licença
por uns dez minutos e se afasta. Ela faz isso sempre às dezoito horas da noite.
Bom, eu já disse que confio na minha garota, e não vou fazer nada a respeito
disso.
— Cheirosoooo — murmurou me abraçado por trás e fungando em minha
camisa. — Adoro seu perfume… adoro seu cheiro natural.
— Gosta do meu cheiro natural? — perguntei me virando para abraçá-la.
— Sim, senhor, posso garantir que, se conseguíssemos engarrafar,
ganharíamos muito dinheiro. Essencial Rocco Masari… uhmmm — ronronou. —
Deliciante.
— Deliciante? — Ri de sua palavra estranha.
— Sim, muito deliciante — murmurou afastando-se até a cama onde deitou e
levou a mão até o meio das pernas.
Fiquei paralisado no lugar, vendo aquela cena ousada. Victória de vestido e
sem calcinha… se tocando.
Puta merda.
Caminhei para ela sem tirar os olhos daquela cena magnífica. Ajoelhei-me
entre suas pernas e fiquei olhando como ela brilhava.
— Está pronta, amore mio. — Minha voz saindo rouca e grossa.
— Prove como estou! — murmurou tirando os dedos de seu núcleo e
oferecendo-os para mim.
Capturei suas mãos e chupei seus dedos, provando seu sabor delicioso.
— Não é suficiente — rosnei abrindo suas pernas, então passei a língua do
jeito que eu gostava, degustando. — Assim é melhor.
Sua resposta foi cair para trás e gemer longamente.
Capítulo 44
Rocco

— Amor, aqui é incrível! — Victória sorriu para mim e eu retribuí, puxando-


a com cuidado. Notamos que, devido às atividades físicas recentes, sua tatuagem
estava um pouco irritada.
Eu até reclamei com o fato de ela não ter me dito. Desde que sofreu aquela
agressão, eu notei que Victória gosta de guardar as coisas para ela. Mesmo
sentindo dor ela sorri. Esconde na maior cara de pau, diz ela que é para evitar ver
seus amados sofrendo.
Na moral, isso me mata.
Saber que ela é do tipo que sofre em silêncio! Então agora eu estou com meus
olhos ainda mais focados nela.
— Certo, baby, mas não se afaste de mim — falei, puxando-a pela cintura,
colando suas costas em meu peito, mas sempre mantendo cuidado com sua lateral
tatuada.
— E para onde eu iria? Tenho tudo que quero bem aqui.
Encostei meu queixo em seu ombro e suspirei muito satisfeito.
— E o que seria?
— O homem mais lindo, orgulhoso, imponente e carinhoso do mundo! Eu sou
sortuda, meu filho!
— E ele é todo seu, amore mio — sussurrei mordiscando sua orelha. — Todo
seu.
— E eu adoro saber disso. — Riu e eu apertei ainda mais meus braços à sua
volta.
— Eu tenho uma proposta para te fazer. — Esfreguei minha barba em seu
pescoço e ganhei um suspirou bem feminino.
— O que é?
— Larga esse mochilão, sobe na garupa da minha moto e vamos nos enfiar em
uma cabana no meio do mato. Vamos passar alguns dias assim, eu trago a comida e
você prepara… — Victória riu baixinho e eu continuei: — Claro que você estaria
proibida de usar calcinha, na verdade, elas nem iriam sair da sua bolsa! Assim
poderia chegar e te comer à vontade.
— Essa é uma proposta indecente! — exclamou virando o rosto de lado.
Mordi sua bochecha.
— Indecente vai ser eu te acordar todo dia com minha boca em sua boceta —
rosnei dando-lhe um aperto suave no quadril. — Imagina, amore mio, acordar
gozando com minha língua te fodendo? Deve ser muito bom…
— Rocco…
— Pense bem, quero uma resposta ainda hoje.

***

— Amore mio, vou ao banheiro — falei me levantando. — Fique aqui com


Jason e Royce. — Olhei para os dois, deixando clara a minha ordem. — Volto
logo.
— Certo — respondeu e eu me afastei.
Beber cerveja dá isso, você precisar aliviar de vez em quando. Mesmo não
querendo sair de perto de Victória, eu não posso lutar contra minhas necessidades
fisiológicas, a questão era que eu ainda estava meio receoso de deixar minha
garota sozinha, o episódio da boate ainda estava muito fresco em minha memória.
Fui ao banheiro e fiz o que tinha que fazer. Quando na porta, pronto para
voltar para nossa mesa, o inferno começou. Cadeiras voavam, gritos soavam,
barulho de garrafas quebrando… e briga, muita briga…
Olhei a confusão durante um segundo e depois saí empurrando quem estava
no meu caminho. Esmurrei um, chutei outro e, quando cheguei ao lugar onde
estávamos, só encontro Royce com o nariz sangrando e nada de Jason e Victória.
— Onde estão? — gritei e o Royce gemeu. — FALA, PORRA!
— Um cara agarrou Victória e Jason bateu nele, mas o cara estava com uma
turma e fodeu com tudo. Entramos na briga e o inferno começou.
Foda-se!
Corri de um lado para o outro dentro daquele inferno e não avistei nada.
Resolvi sair do Pub e procurar do lado de fora. Mesmo assim, nenhum sinal deles.
Já estava surtando e completamente aflito.
"Por que foi mesmo que dispensei Murdoch e os outros?", me perguntei em
um momento de raiva autodirigida. Caralho!
— JASON! — gritei nervoso e nesse instante Murdoch, junto dos outros dois
seguranças, apareceu.
— Achamos melhor vir, senhor. Hoje teve jogo e os bandos estão soltos —
Murdoch falou e eu acenei.
Passei as mãos no cabelo, sem saber para qual lado ir, até que ouvi um grito
que eu reconheceria até se eu estivesse morto.
Apressei-me para o estacionamento do Pub, que por idiotice ficava nos
fundos, longe dos olhos dos transeuntes. Chegando lá, vi quatro homens grandes
brigando com Jason, Victória estava mais afastada. Sua expressão congelada, seu
corpo paralisado, sem reação nenhuma, ela só olhava enquanto Jason brigava feio.
Notei que sua posição era de guarda, ele usava o corpo para bloquear o acesso a
Victória, dessa forma seu corpo protegia o dela.
Filhos da puta!
Senti a adrenalina bombeando em minhas veias, e uma ira tão profundamente
enraizada dentro de mim rugiu para a vida.
Entretanto eu quase fiquei louco quando um quinto homem surgiu pelo outro
lado e agarrou minha garota. Victória gritou de novo, e eu perdi o controle.
Capítulo 45
Victória

Tudo estava incrível. Não acredito que Rocco está tão tranquilo, e olha que
vários homens estão sempre conosco. Nesse grupo, mulheres só existimos eu e
uma outra.
Não posso dimensionar o tamanho da minha felicidade nesse momento, eu
juro que…
— Me solta — reclamei quando alguém puxou meu braço
Olhei para cima e vi um homem grande, não tanto quando Rocco, mas mesmo
assim grande. Ele usava boné de algum time e estava meio bêbado, seu agarre em
meu braço era firme.
— Venha dançar, querida, vamos aproveitar que aquele brutamontes descolou
de você!
— Me solta! — falei mais alto e puxei meu braço com força.
— Você vai vir comigo! — grunhiu em meu rosto e me puxou mais forte.
Pronto, de repente o homem estava caindo feito um saco de batatas. Jason
acaba de dar-lhe um murro que o nocauteou. Aí o pandemônio começou. Os
amigos do estranho surgiram do nada e começou a pancadaria. Royce começou a
brigar com um cara, e depois coisas começaram a voar. O empurra-empurra estava
me deixando sufocada, eu estava me desesperando.
Mais uma vez alguém agarra meu braço e começa a me puxar.
As pessoas continuam brigando, coisas voavam e vários gritos soavam mais e
mais altos.
Estou morta de medo, a cada puxão eu tento recolher meu braço de volta, mas
não consigo. De repente uma porta abre e estamos em um estacionamento.
Nesse momento meu desespero toma proporções gigantescas.
— Me solta! — Puxei o braço de novo e o homem que me segurava deu um
solavanco que doeu meu ombro.
— Sua puta, você vai pagar pelo murro que meu irmão levou! — berrou me
empurrando contra a parede. — Gosto das ariscas.
Congelei quando entendi o que ele faria.
Não conseguia mexer um músculo sequer.
— Não toque nela! — Ouvi a voz de Jason e o alívio foi tanto que quase caí
no chão. Minhas pernas viraram borracha quente.
Outra briga começou e Jason facilmente lidaria com esse cara se outros não
surgissem. Gritei alto, o medo dificultando minha respiração.
De repente eu estava nas mãos do Gordon novamente. E ele me batia.
A dor da memória me golpeando, o estresse por tudo que passei voltando.
O medo cravando as garras em mim. Eu me sentia gelada, arrepiada e com
muito frio.
Respirar era difícil, meus olhos viam a briga de Jason e a surra que eu levei.
Algo apertava minha garganta, comprimia meu peito. Meus olhos pregados na cena
diante de mim, nem fechá-los eu conseguia.
Jason vai morrer… E eles irão me pegar.
Meu Deus!
"Corre, vai pedir ajuda, procura por Rocco, ele pode ajudar… ele resolve",
eu ouvia os pensamentos frenéticos, mas meu corpo não reagia. Eu era uma vítima
presa ao pânico.
Jason vai morrer…. E eles irão me pegar.
Foi o só que pensei, mas ainda assim não conseguia me mover para pedir
ajuda.
Minha vista turvou, as lágrimas de pavor escorriam, mas eu não me movia.
Por que eu não conseguia?
Eu ainda era refém do medo, mas algo em mim reagiu um pouco quando mais
uma vez senti mãos asquerosas me agarrando.
Gritei, paralisei de novo. O fôlego preso em meus pulmões.
E o homem colocou a mãos na minha garganta, cortando meu ar.
Medo puro disparou por minhas veias, me tirando o resto do que sobrou de
força.
Fechei meus olhos, apertando-os firmemente. Não queria olhar. Eu não
queria, era culpa minha, eu não deveria ter ficado, mas eu não fiz nada, eu não saí
do meu lugar.
Então ouvi um rugido animalesco e abri meus olhos.
Rocco corria em minha direção com expressão assassina, suas pernas
cobriam a distância que nos separava com velocidade. Ele estava transformado no
Rocco perigoso e implacável que eu temia.
Todavia a presença dele me deu ânimo, pois gritei de novo quando o homem
agarrou meus cabelos. Rocco rosnou e não parou, ele atacou.
Tudo aconteceu muito rápido, quando dei por mim, eu estava sendo puxada
bruscamente, logo me vi solta e Rocco parecia uma fera, ele esmurrava o homem
com precisão cruel, o outro nem conseguia revidar, eu estava muda… Chocada.
Não acreditava no que estava vendo, eu já vi Rocco batendo em um homem,
mas agora ele estava além, parecia louco. E, pela primeira vez, eu agradecia o
cuidado dele comigo.
— NINGUÉM TOCA NA MINHA MULHER! — berrou esmurrando o rosto
do homem que me agarrou, e olha que ele já estava caído. E só gemia de dor.
Rocco não ouvia, ele queria mais, ele parecia sedento de sangue.
Aterrorizante, cruel e indestrutível.
Então como se percebesse que aquele ali não faria mais nada, ele atacou um
que brigava com Jason. Rocco rosnava, blasfemava, mas continuava desferindo
socos incessantemente, os amigo dos dois que Rocco derrubou estavam ocupados
com os seguranças, e Jason que já estava machucado ficou do meu lado, me
segurando, porque minhas pernas tremiam terrivelmente.
Eu não falei nada, digo, o que eu poderia falar?
— SOLTEM ESSES FILHOS DA PUTA! — rugiu violento e os seguranças
deixaram os outros três homens livres. — VENHAM! — chamou batendo no peito.
— VENHAM BRIGAR COM ALGUÉM DO TAMANHO DE VOCÊS!
Dei um passo para perto de Rocco de forma instintiva e Jason me segurou.
— Não precisa, deixa ele extravasar! — murmurou cuspindo sangue
— Mas são três — choraminguei
— Besteira, ele tem muita raiva, vai ser moleza. — Dei de ombros e cruzou
os braços.
Não consigo explicar o que aconteceu a seguir, Rocco não parecia meu
Rocco, ele estava ainda mais louco que quando começou. Derrubou os homens
golpeando-os em lugares certeiros. A todo momento, Rocco gritava sobre não
tocar na mulher dele, sobre ele matar qualquer bastardo que olhasse para sua
mulher, que quebraria inteiro qualquer “filho da outra” que se atrevesse a desafiá-
lo. E o pior, o que o deixou mais transtornado, foi saber a intenção deles.
Violar-me…
Não houve chances para os outros. Eles pareciam palitos sendo quebrados.
Ouvi os gritos horripilantes dos homens quando seus ossos rompiam e mais
gritos quando Rocco os acertava nos lugares quebrados.
Não aguentei ver por muito tempo.
Curvei-me e acabei vomitando tudo que jantei. Minha cabeça começou a
latejar… e meu nariz sangrou.
— Querida? — Jason me chamou acariciando minhas costas, enquanto eu
vomitava. — Victória, você está bem?— Ergui a cabeça, ele arregalou os olhos.
— Não se preocupe — murmurei me curvando para vomitar mais.
— Amore mio. — Ouvi a voz de Rocco e suas mãos em meus ombros, eu
havia virado as costas para não ter que ver. — Me deixa te olhar.
Virei-me e ergui a cabeça, Rocco ficou branco quando viu meu nariz
sangrando.
— Pequena?
— Estou bem. — Tremi aceitando a camisa que me ofertou. — Foi a
situação… não se preocupe, por favor.
Quando o sangramento parou, eu olhei bem ao redor e vi os homens caídos e
gemendo de dor, depois prestei atenção em Rocco e ele tinha um filete de sangue
no canto da boca, mais nada.
Entretanto ele estava agitado, ansioso, suas mãos fechadas em punhos e soltas
logo em seguida. Notei também que ele estava tenso e levemente afastado. Parecia
apreensivo com minha reação.
Mas agora não havia reação, só ação.
Joguei-me em seus braços e ele me apertou.
— Obrigada por me salvar — murmurei contra seu peito nu. — Obrigada por
me defender.
Ele não disse nada apenas, me abraçou, apertando enterrando o rosto em meu
ombro, aspirando meu cheiro profundamente.
— Sempre, amore mio — murmurou. — Sempre estarei aqui para te
defender, essa é minha honra e meu privilégio.
— Eu te amo — sussurrei apertando meus braços em sua cintura.
— Eu também — respondeu me apertando ainda mais.

***

— Vamos embora só nos dois! — Rocco falou ansioso, andando de um lado


para outro no nosso quarto. — Poderemos fazer alguma coisa que você queira, que
compense esse mochilão, por favor, amore mio, eu…
— Vamos.
— Você tem que confiar em mim e… — Parou de falar e me olhou. — O que
disse?
— Vamos embora, mas adianto, eu ainda quero minha viagem.
— Obrigado, amor — resmungou e começou a arrumar as coisas. — Saímos
cedo, vamos para os Moors.
— Eu confio em você. — Sorri e ele sentou na cama perto de mim.
— Vai ser inesquecível, vou fazer ser perfeito — murmurou pegando meu
rosto. — Irei compensar todo sofrimento que te causei.
— Bobo. — Acariciei sua bochecha. — Eu te amo, e agora estamos juntos,
isso é o que importa.
Rocco deu um sorriso perfeito, eu até suspirei, porque, minha nossa senhora,
que homem lindo, ele era muito apelativo, era sim viciante olhar para ele.
— Sairemos cedinho, temos que chegar nos Moors até o dia do seu
aniversário.
— O que você vai fazer?
— Surpresa… garanto que vai gostar — falou todo feliz e enigmático, mas
vindo de Rocco eu sei que deve ser algo enorme, porque ele não sabe fazer nada
com simplicidade, prova disso é o anel que eu deixei em casa, eu morri de medo
de andar com ele, então o juntei com meu medalhão precioso e os guardei com
muito cuidado.
— Agora deita, amore mio, amanhã começamos nossa viagem rumo à nossa
aventura particular.
Eu realmente estava relaxada, quando chegamos aqui, Rocco fez questão de
me dar banho, ele esfregou meu corpo todo, e depois eu retribuí, não fizemos
amor, mas nos adoramos com as mãos.
Em seguida ele me secou e vestiu com uma de suas camisas, depois fui
trazida para a cama como se fosse quebrar.
Sorri.
Rocco me tratava com tanto cuidado, que era impossível não achá-lo um fofo.
Como foi combinado, na manhã seguinte saímos bem cedinho, me despedi de
Royce e da turma, em seguida subi na moto preta e fomos junto de mais duas
motos.
Eu carregava uma mochila enorme, mas como ela estava apoiada na moto,
não havia peso real. Confesso que no início eu senti um medinho, porque, se não
me engano, essa moto era ainda mais veloz que a outra.
E Rocco não colaborava, quando era pista reta, ele pisava tão fundo no
acelerador que eu sentia minha barriga colando nas costas… incrível.
Mais rápido do que eu esperava chegamos a York, o lugar era simplesmente
lindo, eu implorei muito e acabamos por fazer turismo, eu me aproximei ainda
mais de Jason e poderia dizer, com toda certeza, que sim, ele tomou o lugar de
Royce, ainda amo meu amigo de infância, mas Jason fez seu caminho e está
morando em meu coração.
Ele é um querido irmão… o que eu não tive, e talvez com sorte e um jeitinho
eu ainda poderei ter.
A vida é uma caixinha de surpresas, não?
Enfim, foi maravilhoso, almoçamos, turistamos em grupo, ou eu e Rocco
sozinhos. Independente de como, tudo foi simplesmente perfeito.
À tarde partimos para os Moors, eu agarrei na cintura de Rocco como duas
bandas de aço. Ele estava voando, e os outros seguiam seu líder sem pestanejar.
"Oh homem louco meu Deus!"
Essa viagem foi a mais rapida da história, Rocco simplesmente comeu a
distancia, as únicas vezes que paramos foi para abastecer, mas fora isso, não
paramos mais.
Rocco tinha uma meta e estava focado nela. A minha primeira impressão dos
Moors foi… eu… acho que conto de fadas começa a dar uma ideia, esse lugar
parece cenário dos clássicos Disney.
Posso ver claramente a bruxa entregando a maçã à Branca de Neve, a
Cinderela na floresta com sua fada madrinha. A princesa Aurora conhecendo seu
belo príncipe… esse lugar era magnífico, especial e continha uma aura mística
inexplicável.
Paramos em um hotel rústico e muito bonito, eu só queria tomar um banho e
sair para explorar, eu não estava cansada, estava mesmo era louca para conhecer e
absorver tudo que eu pudesse.
— Vamos ficar aqui mesmo? — perguntei para Rocco e ele apenas continuou
me dando aquele sorriso enigmático.
— Calma, espere que você vai ver.
Ansiedade é meu nome, Rocco passou cerca de uns vinte minutos
conversando com o dono do hotel, que, após saber de quem se tratava, fez questão
de atender pessoalmente.
Ambos conversavam baixo e eu não fui espiar. Fiquei na minha. Esperando.
— Pronto, tesoro, tudo resolvido. — Sorriu e balançou uma chave dourada.
Vou só dizer para vocês que o sorriso que meu homem ostenta é algo extremamente
pervertido. — Vamos jantar aqui e depois seguimos.
— Vamos para onde? — perguntei ansiosa. — Vamos todos? Será para onde?
— Só vou dizer que vamos ficar nos Moors e que apenas eu e você iremos.
A ansiedade enrolou na minha barriga que eu nem consegui jantar direito.
Rocco me incentivou, ele disse que eu precisava estar forte para receber minha
surpresa. Praticamente devorei minha janta sob os risos do meu lindo. Então
quando eu terminei, parecia uma criança que fez tudo certinho e esperava o seu
presente.
— Então vamos? — chamou e eu pulei da cadeira completamente ansiosa. —
Vejo que sim.
— Claro… vamos, vamos.
Subimos na moto, e quando pensei que iríamos seguir pela cidade, Rocco
enveredou por uma trilha que subia a montanha. Não sei como ele conseguia
controlar a moto no cascalho, mas ele era um exímio piloto.
Íamos devagar, para não derrapar nem nos acidentar, então já estávamos bem
no alto quando finalmente chegamos ao nosso destino.
— Minha nossa senhora! — exclamei retirando meu capacete. — Rocco,
você encontrou uma cabana de luxo no meio da floresta dos Moors.
— Tudo por você, baby, isso aqui faz parte do seu presente — falou me
ajudando a descer, cuidadosamente retirei a bolsa, pousando-a no chão.
— Isso aqui é… simplesmente… Não tenho palavras!
Meus olhos varriam a estrutura de vidro e madeira, a cabana era imponente, e
eu ousaria chamá-la de casa, porque era grande demais. Por fora ela já era linda e
por dentro, então, nossa!
Meu queixo caiu.
Imagino o trabalho para mobiliar tudo, pois o acesso não é fácil. A trilha é
fina.
— Vem, vamos tomar banho, amanhã você pode explorar à vontade.
Subimos as escadas e fomos para um grande quarto, lá tinha uma lareira de
pedra imensa e uma cama gigante, não prestei muita atenção, eu queria mesmo era
aproveitar.
— Vai tomando banho na frente, baby, vou tirar nossas coisas da bolsa.
Aceitei a sugestão e fui para a outra porta que eu supus ser o banheiro.
Acertei.
A primeira coisa que me convidou a experimentar foi a banheira, mas eu
queria mesmo era ter Rocco naquela cama, por isso tomei banho e usei uma
escova de dentes nova que tinha ali, pronto, me enrolei em um roupão e saí.
Rocco estava mexendo na lareira, acendendo um fogo para nos deixar mais
aconchegantes.
— Sua vez — murmurei beijando suas costas nuas —, vai logo.
— Vou agora e não vista roupa, muito menos calcinha — sussurrou
massageando minha bunda. — Volto já.
Rocco saiu e eu me sentei confortável nas almofadas que havia no tapete em
frente à lareira. Um calor gostoso irradiava e eu me vi lânguida, meu corpo em
expectativa.
Rocco estava aprontando eu sabia… sentia.
Olhei para o relógio que ficava acima da lareira e ele marcava meia-noite.
— Parabéns para mim. — Sorri, pois hoje é meu aniversário.
— Parabéns para você, amore mio.
Virei-me e quase morri do coração, eu não estava acreditando em meus olhos.
Era simplesmente… Rocco era…
— OMG! — Abafei meu choque com minhas duas mãos, meus olhos seguiam
arregalados.
— Então gostou do presente? — Rocco perguntou sorrindo, sua expressão era
deliciosamente erótica e perversa.
— Se eu gostei? — Sorri balançando a cabeça ainda sem acreditar na ousadia
do meu grandalhão. — Eu amei. Agora me diga, você está dando para mim de
verdade?
— Sim, estou.
— Então vem aqui, baby, me deixe desembrulhar meu presente.
Rocco sorria e eu também.
Éramos dois pervertidos, mas, principalmente, éramos perfeitos.
Capítulo 46
Victória

Ainda estou muito chocada encarando Rocco. Nunca pensei que ele tivesse
esse nível de ousadia, mesmo tendo ficado ousada, a timidez ainda me deixa
nervosa.
— Vamos lá, amore mio, seu presente quer ser desembrulhado. — Sorriu e
veio ficar na minha frente.
Meu coração estava acelerado, minhas mãos coçavam para tocá-lo. Minha
boca seca de ansiedade, sem contar no constante latejar no meu sexo.
— Claro que vou — falei me ajoelhando e tocando na fita de cetim que dava
o laço em seu pau, ou melhor, meu pau, porque, né? Eu ganhei de presente.
Imaginem a visão.
Rocco era um homem muito bem dotado, como todas já sabem, então lá vem
ele com seu equipamento muito bem erguido e com um laço de fita em sua base. A
visão era estarrecedora, pois não era só vê-lo nu, mas era o corpo todo, braços e
coxas poderosas, abdome sarado, uma trilha de pelos.
Era muito homem para admirar, 1,91 m, para ser exata.
Suavemente, puxei as pontas da fita desfazendo o laço, olhei para cima e
Rocco sorriu malicioso.
— Quero que brinque com seu presente — grunhiu agarrando meus cabelos e
segurando seu membro. — Abre a boca.
Passei a língua pelos lábios e ele rosnou, logo eu abri a boca, mas Rocco
Perverso Masari não me deu o que eu queria. Ele bateu levemente em minha boca
com a cabeça de seu membro e eu gemi desejosa, só conseguindo passar a língua.
— Delicioso — murmurei dando um sorrisinho, encarando seu rosto, lambi
de novo e Rocco puxou uma respiração afiada, a visão que eu tinha era a de seu
abdome tanquinho ficando ainda mais destacado, por causa da tensão que invadia
seu corpo.
— Me dá! — pedi lambendo a ponta que estava ao meu alcance, mas colocá-
lo na boca eu não conseguia, Rocco não deixava. Ele nos torturava aumentando
nosso prazer.
— Implora! — grunhiu aumentando o agarre em meu cabelo.
Gemi de dor e prazer, meu centro contraindo, pulsando de desejo, implorando
para ser preenchido completamente, até o limite.
— Por favor, Rocco.
— Boa menina. — Sorriu e finalmente me deu o que eu queria.
Abri bem minha boca e suguei seu comprimento, Rocco gemeu alto e eu
gostei de ouvir esse som.
— Porra! — rosnou e eu passei a língua por toda sua largura bem lentamente,
depois o tomei em minha boca de novo. — Isso, me leve mais fundo.
Eu o fiz e o gemido que Rocco soltou fez meu sexo pulsar ainda mais, não era
como se eu pudesse segurar, perto desse homem eu virava uma pervertida, igual a
ele, mas, sinceramente, quem se importa?
Continuei adorando meu homem com minha boca e, me lembrando da reação
dele, eu apertei um pouco suas bolas. Como eu esperava, seu membro pulsou em
minha boca, e eu aumentei a velocidade, levando o máximo que eu conseguia e às
vezes tentando ir mais fundo, quando eu fazia isso, eu o sentia em minha garganta e
era nesse momento que Rocco berrava de prazer, rosnando obscenidades que
estavam me deixando louca.
— Se toque, amore mio! — grunhiu ofegante. — Quero que você se toque
enquanto eu fodo sua boca.
Fiz como ele mandou e gemi duramente, Rocco rosnou quando sentiu a
vibração do meu gemido, depois enlouquecemos. Ele aumentou o agarre em meu
cabelo e começou a se mover, eu o recebia gemendo enquanto meus dedos
acariciam meu clitóris com força.
— Isso… deliciosa — grunhiu alto. — Porra, que gostoso.
Eu gemia ensandecida, meu corpo todo arrepiado, minha barriga dando
cambalhotas de antecipação.
— Vou gozar, baby — gemeu e eu também, pois meu corpo preparou-se para
acompanhar o dele, Rocco ainda deu uma leve parada, mas eu continuei, e quando
ele entendeu que eu não tinha restrições, jogou a cabeça para trás e rugiu. —
Ohh… Porra!
Rocco parou seus movimentos quando gozou, entretanto, ele agarrou meu
cabelo com ainda mais força, seu corpo todo tenso como cordas de violão, então
jatos quentes preencheram minha boca, engoli tudo enquanto gozava também. Foi a
sensação mais decadente que já tive, meu corpo estava louco, descontrolado,
quente até dizer chega.
Suavemente, Rocco soltou meus cabelos e começou a acariciar meu rosto. A
forma como ele me olhava era de adoração e amor.
Eu o olhava também, mas ainda não estava saciada, por isso agarrei a base de
seu pau e dei uma chupada longa e lenta, aumentando a força da sucção na cabeça
avantajada.
Rocco gemeu desesperado, fazendo uma careta sofrida, seu corpo
tensionando novamente, até pude ouvir seus dedos dos pés estalando, e logo ele
me puxava suavemente, tirando meu brinquedo do meu alcance.
— Sensível demais, pequena — ronronou. — Muito sensível para aguentar
sua língua malvada. — Fiz beicinho e ele riu, me beijando em seguida.
Entreguei-me ao beijo, nossas línguas duelando, ele provando seu sabor em
minha boca… foi tão intenso que me vi de pernas bambas, entretanto, longe de
terminar, Rocco me pegou no colo e, em vez de nos levar para cama, ele nos
deitou nas almofadas.
— Vou te amar aqui mesmo, nessas almofadas — murmurou deitando-se
comigo, nem sei em que momento meu roupão sumiu, só sei que estava nua e ele
me admirava, as pontas de seus dedos percorriam o vale entre meus seios, às
vezes ele puxava meus mamilos o que fazia com que eu arqueasse meu corpo em
busca de mais contato.
— Por favor — suspirei, me abrindo ainda mais para ele, o ambiente estava
tão romântico, o fogo da lareira emprestava ao ambiente uma meia-luz sensual,
meu fôlego já estava entrecortado de novo, agora eu ansiava por senti-lo dentro de
mim, me fazendo dele. — Amor, eu sofro, preciso de você dentro de mim.
Sem demora, Rocco se posicionou no meio das minhas pernas e me penetrou.
Então eu estava no céu, no sublime e doce céu.
Fizemos amor até cairmos largados nas almofadas, não saímos daqui em
nenhum momento, matamos nossa fome um do outro, primeiro de forma primitiva,
depois lenta e romântica, então perversa e safada e, no fim… No fim, ele fez amor
de forma quase contemplativa, a cada estocada lenta, Rocco murmurava o quanto
me amava, ele não falava eu te amo, mas, nossa, era tão lindo que eu acabei
chorando, e, quando gozei, ele me acompanhou, apertando-me em seus braços,
jurando nunca me deixar ir.
Fiquei em seus braços, minha cabeça repousando em seu peito, ouvindo as
batidas de seu coração acelerado, esperando que meu próprio corpo voltasse ao
normal.
Nunca me senti tão bem, e era aqui que eu queria ficar, Rocco era meu lar,
meu porto seguro. Ele era meu lado forte, enquanto eu era sua suavidade.
Éramos perfeitos em com todas as nossas diferenças.
Eu o amava tanto.
— Rocco, como vai ser quando voltarmos para casa? — perguntei
acariciando os pelos de seu peito másculo.
— Não importa — respondeu aumentando seu agarre em mim —, vamos ficar
juntos, o resto resolvemos depois.
— Ficaremos juntos. — Sorri e me ergui um pouco para olhar em seus olhos
— Prometo que vou amar seu filho como se fosse meu, e nossa casa será sua casa
também, onde ele se sentirá seguro e amado. Não permitirei que ele se sinta
preterido, ele saberá que tem uma segunda mãe.
Rocco ergueu-se e eu deitei, então ele apoiou-se em um cotovelo para poder
me encarar.
— Não há palavras em minha boca que sejam dignas de você! — sorriu
emocionado. — Eu sou sortudo por tê-la em minha vida e farei o possível para
merecê-la…
"Diga que me ama", entoei silenciosamente. "Diga que me ama, quero
ouvir."
— Io te voglio molto bene — começou a distribuir pequenos beijos em meu
rosto. — Mia sposa — sussurrou esfregando nossos narizes. — Mia moglie. —
Beijou meus olhos. — Il mio cuore. — Beijou meus lábios e sorriu. — Madre de
mio bambino. Compagno previsto, sempre Amato e adorato.
Rocco falou em italiano e eu não entendi basicamente nada, mas fiquei
emocionada e lágrimas felizes escorreram pelos meus olhos.
— Eu te amo tanto — solucei e sorri quando ele limpou minhas lágrimas com
seus lábios.
Ficamos muito tempo trocando carícias, até que adormecermos, seu corpo
servindo de travesseiro e cobertor.
Acordei me sentindo muito aquecida, lentamente abri os olhos e constatei que
as paredes de vidro permitiam os raios solares entrarem na cabana. Sorrindo, logo
percebi que estava na cama e que Rocco, não.
Estiquei-me, mas logo parei, meu corpo inteiro protestou, eu estava bastante
dolorida, meu sexo supersensível depois de toda a atividade da noite passada.
— Pense em um homem quente — murmurei levantando. A primeira coisa que
fiz foi tomar um banho rápido, depois procurei uma calcinha, mas logo desisti,
Rocco disse que não era para usar, então…
Dei de ombros, só havia nós dois aqui então eu tinha liberdade, todavia mexi
em sua bolsa e peguei uma camisa de mangas compridas, que ia até minhas coxas.
Vesti-a e aproveitei para prender meus cabelos em um coque no alto da cabeça.
Saí do quarto cantarolando, e qual não foi minha surpresa ao encontrar uma
mesa pronta com o café da manhã? Aproximei-me e vi um recadinho.

Bom dia, amore mio. Tome seu café, fui eu que fiz, espero que não esteja um
verdadeiro purgante.
Hoje o dia promete… Feliz aniversário.
Do seu homem.

Sorri feito boba, levando o bilhete até meu coração.


Depois reli e suspirei, meu estômago cheio de borboletas.
Tomei o café todo. Na verdade estava muito bom, digo, não estava, mas
Rocco fez com tanto carinho que eu comi tudo. Só separei as bordas queimadas
das torradas e a parte crua dos ovos, ademais, estava tudo perfeito.
Depois de comer, lavei a louça e comecei a procurar por Rocco. Saí pela
porta da frente e perdi o fôlego, a visão era incrível, só floresta verde, altas
árvores, um lago ao lado da casa e o melhor era a visão que os raios solares
causavam nas copas das árvores.
Esplêndido nem começa a descrever.
Parecia um paraíso particular. Fiquei alguns minutinhos ali, até que resolvi
continuar procurando por Rocco. Refiz meu caminho pela sala e fui em direção ao
que parecia ser uma porta dos fundos, enquanto me aproximava, fui ouvindo
barulho de machadadas, apressei o passo e quando chego à porta, eu quase gemo
de excitação.
Rocco está vestido só de calças jeans enquanto parte ao meio pequenas toras
de madeira, usadas para acender o fogo na lareira.
O suor escorre pelo seu corpo, os músculos destacados, a expressão
concentrada.
Minha nossa, ele estava simplesmente… caramba, Rocco estava apetitoso!
— Admirando a vista? — falou alto para eu ouvir e acabei rindo.
— Sim, seu grande pedaço sexy! — Mordi o lábio enquanto dava uma secada
em seu corpo.
Rocco apenas riu e apoiou-se displicente no cabo do machado.
— Por que está fazendo isso? — perguntei já que nós tínhamos bastante lenha
cortada.
— Exercícios, pequena. — Piscou um olho e voltou a fazer seu trabalho de
cortar. — Essa foi a forma que encontrei de malhar.
Arqueei uma sobrancelha admirando seu corpo.
Uma verdadeira delícia…
Já era noite e estávamos mais uma vez em frente à lareira, degustando um
vinho quando Rocco pediu licença e sumiu, logo ele voltava com um embrulho.
— Feliz aniversário, amore mio. — Sorriu largamente, me entregando o
pacote.
Abri com cuidado e realmente não pude evitar as lágrimas quando notei o que
era.
— Se você fizer isso… — falou, dando corda e abrindo uma pequena gaveta
— a música começa a tocar.
Então, muito emocionada, eu vi como minha pequena caixinha de música em
forma de máquina de costura mexia a mesinha e a bobina de linha como se
houvesse realmente alguém costurando.
Olhei para Rocco através das lágrimas, entretanto eu ostentava um sorriso
enorme.
— Suponho que tenha gostado? — perguntou colocando as mãos nos bolsos
da calça. — É bem simples, nada de mais — falou um pouco tímido.
— Eu… — Engoli o choro. — Eu simplesmente amei, ela é… perfeita. —
Sorri encantada. — Tão linda.
Rocco sorriu e quando a música parou de tocar, ele deu corda de novo e me
chamou para dançar. Fui para seus braços, não antes de deixar minha caixinha
segura em cima da lareira, logo eu estava nos braços do meu amor, e dançávamos
tão lentamente que quase nãos nos movíamos.
A música da caixinha parou e quando pensei que continuaríamos a dançar
sem ela, a voz de Rocco soou.
Arrepiei toda, pois ele tinha uma linda voz, era celestial, realmente divina, e
eu nunca esperei que ele pudesse cantar de forma tão inacreditável.
Ele poderia fazer sucesso como um dos cantores do Il Divo, Rocco me
desarmou, me despiu mesmo eu ainda estando vestida, conseguiu me deixar
exposta de forma tão profunda que eu sentia que não havia mais nada que eu
pudesse reservar para mim.
Tudo era dele.
Mordi meu lábio segurando a emoção, Rocco cantava ao meu pé do ouvido,
me causando estragos irreparáveis. E a música era simplesmente linda. Pela
melodia, eu sabia, era Vivo per lei, do Andrea Bocelli.
Rocco cantava em italiano, com sua voz divina e perfeita.
O fogo na lareira trepidava, o vento cantava lá fora, mas aqui dentro eu
estava sendo embalada pelo amor da minha vida, esse era meu verdadeiro
presente de aniversário.
Suavemente, Rocco pegou meu queixo com carinho e completou a estrofe da
música, olhando em meus olhos. Desta vez, em inglês, para que eu entendesse.
— Mais que por mim, por ela eu vivo também…
Fechei meus olhos suspirando, deixei que sua voz me levasse para outra
dimensão e que seus braços me protegessem.
"É a musa que te convida…
A tocá-la suavemente…"
Sorri ainda de olhos fechados. Nesse instante eu estava verdadeiramente em
casa.
Os dias passaram e tudo era simplesmente perfeito. Eu e Rocco nos
entregávamos sem reservas ao nosso amor, eu era dele e quando me tomava ele
sempre fazia questão de me marcar.
Não me refiro às marcas em meu corpo, devido ao nosso amor que ora era
selvagem, ora muito lento e emocionante.
Eu me refiro à marca em meu coração. Esse Rocco aqui é maravilhoso, um
homem irretocável em sua forma de amar.
Agora estou deitada no sofá, quero dizer, estou com a cabeça no colo do meu
amor, enquanto ele toma sua taça de vinho. Chove lá fora, e nós estávamos
desfrutando de um silêncio confortável.
Eu fechei os olhos e aproveitei aquele momento.
Estávamos assim há vários minutos, Rocco brincava com meu cabelo, e eu só
suspirava feliz demais. Timidamente senti a mão de Rocco acariciar minha
barriga, e muito suavemente ele ficou por ali, como se além de me fazer carinho,
fizesse carinho em outra coisa.
Havia possibilidades, muitas, na verdade…
Nunca nos protegemos, minha resistência não foi lá essas coisas, e agora eu
vejo que não adiantaria mesmo. Rocco não vai me deixar, eu sei que não.
— Minha barriga se tornou seu lugar favorito ultimamente — murmurei
sorrindo.
Rocco parou seus movimentos e olhou para baixo. Vi seus olhos brilhando.
Então ele balançou a cabeça.
— Quero meu tão sonhado e esperado filho crescendo aqui. — Piscou um
olho. — Sonho com isso dia e noite, amore mio, eu até iria te sabotar.
— Me sabotar? — questionei arqueando uma sobrancelha. — Como assim?
Rocco sorriu fazendo uma careta, e eu prestei bem atenção ao que ele iria me
falar.
— Eu… uhmm. — Coçou a nuca, desviando o olhar. — Eu estraguei as
camisinhas — murmurou baixo demais, entretanto eu ouvi. — Amore mio, eu só…
— pigarreou, notei que ele estava ficando nervoso. — Eu iria te dar o golpe da
barriga.
Sentei-me apressadamente encarando seu rosto vermelho.
Rocco estava ruborizado de vergonha.
Bom mesmo!
— E se eu estivesse planejado fazer isso com você? — perguntei cruzando os
braços. — Para onde iria a confiança?
Mais uma vez ele coçou a nuca, e depois fez careta.
— Sinceramente? — perguntou e eu concordei. — Se você me desse o golpe
da barriga, metade de todos os meus problemas estariam resolvidos.
Meu queixo deve estar no chão agora.
— Mas o que você está dizendo? — Balancei a cabeça, incrédula. — Rocco,
que… você é louco, só pode.
Dando de ombros, ele pareceu não se importar.
— Não usamos as camisinhas, foi tudo feito de forma natural e, sabe, amore
mio, desta vez eu sinto que funcionou! — Piscou um olho e veio para cima de mim.
— Meu filho cresce em seu ventre.
— Gianne — murmurei enquanto ele ficava em cima de mim.
Rocco parou e sorriu. Depois experimentou o nome. Pronunciou uma porção
de vezes e a cada vez eu sentia a alegria irradiando dele.
— Gianne Masari. Meu filho… gostei.
— Você sabe que pode ser uma menina, não é? — Arqueei uma sobrancelha e
ele parou suas brincadeiras.
— Não vai ser! — exclamou categórico. — Eu não posso ser pai de menina.
Deus não seria tão injusto comigo.
— E se forem duas meninas?…
Rocco pulou de cima de mim e começou a andar de um lado para outro.
Tadinho, de repente ele parecia muito… muito nervoso.
— Não, eu não tenho nervos para lidar com meninas, imagina? — Então ele
parou e pensou em algo que o fez pegar a garrafa de vinho e beber direto do
gargalo. — Eu mato. Puta que pariu, eu mato.
— Rocco Estressado Masari — chamei batendo em meu colo, desta vez ele
sentou no chão com sua cabeça apoiada em minhas pernas. — Se, por acaso, e
quando eu tiver certeza de que estou mesmo grávida…
— Você está! — reclamou, eu ri. — Trabalhei muito duro para isso, me
esforcei muito, você sabe…
— Safado! — Bati em seu ombro e ele riu.
— Assumido.
— Rocco, você tem que estar preparado para tudo, e não só o meu, se eu
estiver mesmo, o da Briana pode ser menina também.
— Amore mio, não me deixe aflito — resmungou e se ajeitou, me empurrando
para ficar meio deitada/sentada no sofá, logo ele ergueu sua camisa, que eu vestia,
e enterrou o rosto em minha barriga.
Esse homem quer me matar, só pode.
— Eu sei que você já está aí, agora me ouça, seja um menino, per favore.
Eu ri alto, e Rocco me olhou de cara feia.
— Será que dá para respeitar o momento de pai e filho?
Calei minha boca, mas logo eu tive que morder o lábio para evitar rir. Rocco
estava falando as vantagens de ser homem. Nunca imaginei que ele pudesse ser tão
engraçado, foi demais.
— Então, meu pequeno, viu como ser macho é melhor? — murmurou
beijando meu ventre. — Você não terá que lidar com bipolaridade mensal.
— Por acaso isso seria a TPM? — perguntei rindo e ele concordou de cara
feia.
— Eu poderia falar das vantagens de ser mulher, posso ser convincente e…
— Não dê ideias — reclamou levantando. — Amore mio, eu não tenho idade
para me estressar tanto. —Passou as mãos nos cabelos. — Eu já fiz as contas, na
minha velhice, quero paz, e não enlouquecer pensando se minhas meninas estão
dormindo mesmo! Já basta você para me deixar de cabelos brancos.
— Como você viveu com Antonella? Por Deus, sua irmã é linda e você
pareceu aceitar numa boa o relacionamento dela com o Connor.
— Aceitei nada! — resmungou fazendo careta. — Eu dei uma surra nele
quando soube que tirou a virgindade dela, depois eu ameacei cortar as bolas do
infeliz se ele magoasse minha irmã. O Dinka e o Conde estavam lá só para fazer
volume no esquema — falou sem olhar para mim.
Não pude evitar a gargalhada que me tomou, eu ri sem conseguir parar.
— Rocco, o justiceiro!
Continuei gargalhando e ele me olhando de cara feia.
— Corra! — exclamou, eu parei de rir na hora. — Corra, porque quando eu
te pegar, irei te colocar nos meus joelhos e avermelhar essa sua bunda gostosa.
Como ousa rir de mim?
Pulei do sofá já rindo.
— Vou contar até três! — falou alto e eu fui para o outro lado da mesa.
Um…
Corri mais rápido, pelos cômodos, ficar na sala acabaria a brincadeira logo.
Três…
— Eeeei, você roubou! — reclamei quando senti que ele me perseguia.
— Eu disse que iria contar até três, você ouviu, eu falei três!
Meu Deus, a adrenalina enrolava em minhas veias, era muito bom.
Sobre o assunto do golpe da barriga que ele me daria, eu só posso deixar isso
para pensar depois. Sinceramente, que homem faz isso? Não era para ser o
contrário?
Rocco é maluco e imprevisível, não adianta tentar compreender a cabeça
dele, seria complicado demais.
— Vou te pegar.
— Ahhhhh — gritei desviando de seu agarre, prestei mais atenção em minha
fuga.
Logo avistei a porta dos fundos, corri para lá, abri e rapidamente a chuva me
engoliu.
— VICTÓRIA! — Rocco gritou parado na soleira da porta. — Volte aqui,
está frio.
— Vem me esquentar! — provoquei subindo a barra da camisa dele. — Vem,
amore mio.
— Victória Fontaine!
Sorri e resolvi provocar mais. Tirei a blusa molhada, ficando completamente
nua, abri os braços e deixei a chuva me molhar.
— PORRA! — rosnou e eu o olhei, Rocco estava tirando as roupas, quando
estava nu, ele agarrou seu membro duro e começou a se masturbar.
Mordi meu lábio colocando uma das mãos no pescoço, outra desci para meu
centro.
Gemi e Rocco rosnou alto.
Então eu corri. E ele veio atrás de mim.
Quando ele me capturou, não me permitiu nem gritar, seus lábios capturaram
os meus, e ali mesmo, sob a chuva, ele me tomou, em pé, usando um tronco de
árvore como apoio.
Nunca voei tão alto.
Capítulo 47
Rocco

Há duas semanas que eu e Victória estamos isolados do mundo. Passamos o


dia inteiro juntos, e quando digo juntos, é juntos mesmo. Preparamos nossas
refeições, lavamos a louça, limpamos a cabana… Tomamos banho.
Claro que, depois de subornar o dono do hotel, pagando quatro vezes mais
pela Cabana de vidro, eu consegui roubar esses dias para nós. Nós dois
precisávamos disso, para reafirmar nosso amor e nos fortalecer contra o que ainda
viria, porque uma coisa é certa, tem muita história para contar ainda, só quero
deixar claro que esses dias aqui comprovaram o que eu já sabia! Eu e Victória
somos uma dupla perfeita, funcionamos quase com telepatia. Eu adivinho o que ela
quer e vice-versa. Nunca fui tão feliz. Victória está sendo minha mulher de
verdade.
Durante esses dias, eu vivi de forma simples, mas muito boa, até em árvores
eu subi. Imagine só. Eu, Rocco Masari, o CEO de uma das maiores corporações
empresariais do mundo, subindo em árvores para pegar frutas, porque a minha
mulher quer…
Era realmente inacreditável, estava me sentindo um verdadeiro selvagem,
mas não me importo. O interessante é que se alguém me dissesse que eu estaria
nessa situação alguns meses atrás, provavelmente eu daria alguns murros para
colocar o cérebro do idiota no lugar, se fosse mulher, eu acharia que era porque
estava doida mesmo.
Enfim, de uma coisa eu tenho certeza, nunca me senti tão bem. Victória é
perfeita para mim. Minha outra metade.
Minha alma gêmea.
— Vamos? — Ouvi sua voz e acenei, concordando. Hoje seria a primeira vez
que iríamos descer a montanha, precisávamos comprar algumas coisas.
Com cuidado, ajudei minha mulher a subir em Godzilla, nome carinhoso que
ela colocou em minha moto.
Só mesmo Victória…
A descida sempre é mais fácil, era tudo questão de habilidade e controle,
rodar no cascalho era bem chato, mas, enfim, rapidamente chegamos ao pé da
montanha e logo começamos a comprar nossas coisas.
Não precisávamos de muito, era apenas o básico perecível, o resto já tinha,
pois a cabana estava muito bem abastecida, havia um casal que iria passar a lua de
mel lá.
Sorri dando de ombros.
Suborno bem pago e a lua de mel acabou sendo a minha.
Depois de passarmos por alguns lugares, e Victória resolver que estava bom
de turistar e comprar o que precisávamos, eu resolvi que precisava saber como
tudo estava funcionando em Londres.
— Amore mio, eu vou fazer uma ligação naquele telefone público ali — falei
com Victória e mostrei onde eu estaria, não era longe, mas eu queria que ela
soubesse exatamente onde eu estava.
— Claro, vai sim, vou só comprar algumas coisas e já termino. Toma essas
moedas. — Despejando várias moedinhas em minha mão. — Esse telefone só
funciona assim.
Dei-lhe um beijo rápido nos lábios em agradecimento e fui em direção ao
telefone.
Tirei-o do gancho, esperei conectar e com calma fiz minha ligação.
O Dinka atendeu e começou uma enxurrada de berros, me chamando de
irresponsável por sumir, infeliz das costas ocas, empresário fuleiro e blá–blá-blá.
— Jason está comigo, por que não ligou para ele? — perguntei e ele calou-
se.
— O que eu tinha para contar era privado, seu besta — grunhiu e depois
riu.
Meu amigo deve estar com problemas mentais.
— Você parece um pato se afogando! — brinquei e ele gargalhou mais.
Deve ser alguma piada particular, só pode. Bom, eu só queria saber como
estavam as coisas, quando eu chegar me atualizo de tudo, agora preciso só de um
resumo dos fatos mais importantes.
— Dimitri, como andam as coisas por aí? — perguntei curioso sobre o que
andavam fazendo, sobre as empresas não me preocupava, eu sabia que meus
amigos eram ótimos para assumir meus negócios. — Alguma novidade do
William?
O Dinka fez silêncio então disse algo que fez fogos de artifícios explodirem
dentro de mim.
— Parabéns, você não é pai, mas é o rei dos homens brocha. — Ouvi a
gargalhada do meu amigo e quase ri também.
— Repete aí. — Eu precisava ouvir de novo, porque era bom demais para
ser verdade.
— A vadia sorrateira não está grávida de você, o bebê é do motorista, mas
o bom de tudo foi saber que você é um pau mole. — Gargalhou de novo, mas eu
não acompanhei, estava tão chocado que só fazia abrir e fechar a boca sem parar.
— Disfunção erétil — grasnou como uma hiena velha.
— Puta que pariu, então aquela filha da puta tentou me dar o golpe? — rosnei
indignado. — Como ela ousa? Por acaso é alguma burra? Eu iria fazer um DNA,
só estava esperando o bebê maturar.
— Cara, o conde conseguiu gravar a confissão dela e ainda a fez revelar
que seu pau estava mais morto que defunto em geladeira. Não subiu, meu amigo,
e te digo nunca, vi um pau fiel…
— Puta merda! — Ri alto, pura felicidade me golpeava. Ainda dei um murro
no ar, era muita sorte, porra. — Meu pau é fiel mesmo.
— Deus me livre de uma macumba dessas! — grunhiu. — Eu gosto de estar
livre para voar, já falei.
— Seu besta, o negócio é qualidade, e não quantidade, você ainda vai
encontrar alguém e seu pau irá se apaixonar.
— Deus me defenda de encontrar uma boceta mística, eu corro, meu amigo,
corro mesmo.
— O melhor de tudo é quando seu pau encontrar a boceta mística, mas a tal
boceta já tiver um pau por quem é apaixonada.
O Dinka fez silêncio, então berrou alguma coisa sobre pirralha do mal.
— Preciso ligar para minha irmã urgente — falou e eu ri.
Esse idiota já encontrou a boceta mística dele e fica se fazendo de difícil.
Esse Dinka vai penar, algo me diz que a mocinha dele é osso duro de roer.
— Antes faça uma coisa para mim — falei alto para o bastardo ouvir.
— O que é?
— Ache o motorista, sonde-o e descubra sobre a vida dele — grunhi dando
um sorriso cruel —, essa vadia vai ver como a banda toca.
— Vingança?
— Doce e fria. Com toda certeza, meu amigo. Pode acreditar.
— Quando você voltar de tão, tão distante, vamos comemorar o grande
sucesso do seu pau mole.
— Claro, e só para deixar claro, isso não me afeta.
Gargalhou e eu ri também. Conversamos sobre o andamento das minhas
empresas e tudo estava nos conformes, como eu disse, meus amigos são muito
bons no que fazem.
— Ah, antes que esqueça, tenho outras coisa para contar!! — exclamou. —
Blanchet foi embora, e ontem tia Laura recebeu um pacote com os croquis que
Victória pagou pela liberdade, além de tudo havia uma carta com um pedido de
desculpas e felicitações.
— Muito estranho! — foi a única coisa que consegui dizer. — Blanchet é
muito egoísta para abrir mão dos desenhos.
— Sim, concordo, e graças aos vigias que você mandou colocar na cola
dela, descobrimos que hoje ela embarcou para a França com o tal Jean Pierre.
Franzi o cenho, apertando o telefone. Essa história estava muito mal
contada…
— Isso não é mais problema nosso, só mantenha um olho neles, se pisarem na
Inglaterra quero saber, esse Jean Pierre está entalado em minha garganta — bufei
esfregando o rosto. — Ainda tem mais alguma coisa?
— Bom, a audiência do Gordon foi um sucesso e eu consegui uma
indenização de seis milhões para Victória, com depósito imediato, eu mesmo
fiscalizei a transferência.
— Puta merda! — exclamei rindo. — Você foi duro, hein?
— Claro, aquele filho da puta mexeu com um dos meus. O ruim foi que
como Victória não ficou com nenhuma sequela e o Gordon concordou com a
indenização sem recorrer, ele acabou por fim sendo solto, vai pagar trabalho
comunitário, mas ficará em liberdade. — O Dinka bufou revoltado. — Não acho
que o bastardo tenha coragem de chegar perto da Victória de novo, aliás, no
julgamento todas as vezes que o nome dela era citado, ele meio que se mijava de
medo, você acredita que ele chorou? — riu. — Sinceramente eu quero mais é
que ele se fod… — Dimitri calou-se de repente. Seu silêncio só era quebrado pelo
som de sua respiração, então a voz do meu amigo soava alta e nervosa.
Eu sem querer fiquei tenso.
— Acaba de ser noticiado que Gordon Maison foi encontrado morto em sua
própria casa — falou. — Ele foi torturado com requintes de crueldade…
caralho… puta que pariu.
— Como foi isso? — grunhi passando a mão no cabelo.
— Aqui está dizendo que o assassino deveria conhecer muito bem os
terrores da Santa Inquisição, pois a forma como ele foi encontrado indicava que
o pêndulo e o berço de Judas foram usados!
— Caralho!
Eu sabia quais tipos de torturas eram essas, naquela época os carrascos da
Santa Inquisição colocavam as mãos do acusado para trás, amarrando-as, depois o
corpo era suspendido fazendo puro desespero viajar pelo sistema nervoso. Não
vou nem pensar no que acontece depois. Essa com toda a certeza do mundo foi
uma morte lenta e dolorosa, terrivelmente angustiante para aqueles que são
forçados a ela.
Sacudi meus ombros, as últimas horas de vida de Gordon devem ter sido um
verdadeiro inferno de dor e desespero.
— Dimitri, o que você acha? — questionei chocado com essas notícias.
Algo muito ruim estava rondando, e eu tinha que estar atento. Muito, na
realidade…
— Meu amigo, eu não sei, nunca tinha ouvido falar nessas técnicas sendo
usadas dessa forma, digo, aqui diz que antes de passar por ambas as torturas,
as unhas dele foram arrancadas e os pulsos quebrados, nada convencional.
Tudo foi feito com instrumento de tortura inspirada na Santa Inquisição. —
Houve uma pausa. — Vou tentar descobrir alguma coisa.
Fechei os olhos durante um momento, pois de repente uma mão de ferro
agarrou meu coração. Algo não ia bem.
— Outra coisa, Dark entrou em contato e descobriu quem é a sua
perseguidora.
— Eu já sei quem é! — rosnei trincando os dentes. Raiva e preocupação se
misturando em meu sistema.
— Susan, a vadia chefe! — Dimitri grunhiu com raiva. — Dark disse que foi
difícil de seguir a pista, mas ele conseguiu, está esperando seu sinal para agir.
Pensei por um momento e resolvi jogar com a mesma moeda.
— Peça para o Dark fazer algumas ligações ameaçando, diga para ele fazer
como ela fez. Sem se identificar, aterrorize a vadia um pouco e depois deixe para
lá.
Dimitri soltou uma risada cruel, eu sabia muito bem que ele estava gostando.
Meu amigo era um homem fiel àqueles que ele ama, igual ao conde, entretanto ele
também tem uma personalidade forte, resumindo, somos três alfas que convivem
bem.
Dimitri usa a lábia dele para descobrir os segredos até de uma freira,
todavia, não vacile, pois ali se esconde uma fera pronta para atacar.
— Preciso ir, Victória está terminando as compras dela — falei enquanto
observava minha garota pagar as coisas que ela escolheu.
— Ah, só mais uma coisa — me chamou atenção
— Estou ouvindo.
— Depois de saber que Blanchet foi embora e que Victória estava
finalmente livre do contrato, Antonella chamou uma coletiva de imprensa e
bateu com a língua nos dentes, ela revelou o nome da estilista que fez seu
vestido de casamento, e não só isso, ela revelou o esquema da Blanchet. A alta
sociedade está em polvorosa querendo conhecer Victória, até fã clube de novos
estilistas ela já tem; e outra coisa, o ateliê Blanchet caiu.
Eu ouvia tudo sem acreditar, mas inevitavelmente um sorriso surgiu em meus
lábios…
Finalmente minha garota iria ter o reconhecimento pelo seu magnífico
trabalho.
— Victória está sendo considerada uma Cinderela moderna, e você é o
Príncipe que a resgatou das garras da bruxa malvada. — Dimitri ria muito
agora. — Tive que colocar sua equipe de relações publicas nisso, todos os dias
milhares de revistas do mundo entram em contato para marcar entrevista com
Victória. Cara, sua garota é uma celebridade instantânea. Agora, outro fato
muito importante, Sr. príncipe Masari…
— Vai se foder, seu fresco — debochei, mas ainda tinha um sorriso nos
lábios —, príncipe é o meu pau gigante.
Coloque mais moedas ou sua ligação será encerrada…
Ouvi a voz eletrônica vinda do telefone ao mesmo tempo em que Dimitri
falava alguma coisa sobre uma tal de família Andrade.
Mas o quê?
— Porra, Dimitri, espera. — Procurei em meu bolso, mas não tinha moeda,
só cédulas.
Droga.
— Antonieta Andrade, a famosa estilista, ela é…
A linha ficou muda.
— Merda! — grunhi colocando o telefone no gancho. Rapidamente saí do
telefone público e fui para perto da minha garota, quando cheguei lá, ouvi que ela
falava com a dona da barraca de frutas sobre os diferentes tipos de costuras na
máquina reta.
Não entendi nada, mas era lindo ver Victória falando com autoridade sobre o
assunto. Não só isso, ela ainda explicou pacientemente como deve ser a
lubrificação das engrenagens.
Era muito linda e gostosa, minha mulher.
Agora que pensei nisso, senti um frio na barriga.
Quando chegarmos a Londres, as coisas estarão mudadas, pois Victória
passou de anônima a estrela, e não sei como ela vai lidar com isso, e pior, não sei
como isso irá afetá-la.
Consequentemente, como isso irá nos afetar.
Capítulo 48
Rocco

Eu e Victória passamos mais uma semana entregues ao nosso amor, todavia,


agora precisávamos voltar para casa.
A realidade nos chamava, as responsabilidades também.
Agora estávamos voltando para Manchester de moto, eu, ela e a equipe que
Jason escolheu. Eu já havia deixado tudo preparado para voarmos direto para NY,
passaríamos um dia lá, logo em seguida, voltaríamos para Londres.
A essas alturas, o Dinka e o Conde já devem estar lá me esperando. Não falei
para eles nada sobre minhas ideias, apenas pedi que fossem para lá, e eles foram.
Dessa vez eu irei fazer com a puta sorrateira pense muito bem antes de fazer
qualquer coisa contra um homem poderoso como eu.
Já era noite quando chegamos a Manchester, fomos direto para o aeroporto,
meu jato estava esperando lá. Rapidamente resolvi todas as burocracias para a
viagem e, antes que percebesse, Victória estava muito bem acomodada em uma
poltrona ao lado da minha. Só que ela estava calada, cabisbaixa.
Eu achei que ela estava com medo, pois quando o avião decolou, Victória
apertou minha mão, mas depois, quando o avião estabilizou, ela continuou
apertando.
Havia algo errado. Eu senti isso. Tão conectado como eu estava com ela, foi
fácil, para mim, perceber.
— Tudo bem? — perguntei notando que Victória estava encolhida e um pouco
pálida.
— Não sei — murmurou me fazendo ficar em estado de alerta —, estou
sentindo cólicas.
Franzi o cenho quando Victória pediu licença e foi para o banheiro. Fui atrás
e esperei ao lado da porta.
Poucos minutos depois, ouço a porta abrir e Victória surgir.
Sinto meu coração cair quando vejo seus olhos vermelhos.
— Amore mio — murmurei puxando-a para mim.
Eu nem precisava que ela me dissesse, eu já sabia o que era.
— Não… estou… — soluçou me abraçando de volta. — Minha menstruação
desceu… eu devo ter algum problema…
— Shhh, pare com isso! — Segurei seu rosto, obrigando-a me encarar. —
Vamos continuar tentando, certo?
Victória fez um bico e seu queixo tremeu, apertei meus lábios quando seus
olhos alagaram de lágrimas.
— Certo, amore mio? — insisti e ela balançou a cabeça. — Agora vem
comigo, vamos deitar, você está cansada. — Cuidadosamente a guiei para o quarto
que havia ali. Assim que chegamos lá, tirei seus sapatos, e quando fui para tirar
suas roupas, ela não permitiu, entretanto eu tirei as minhas e nos deitamos, puxei
seu corpo da para mim e fiz uma concha protetora sobre ela.
— Tudo bem, não é? Amore mio — sussurrei beijando seus cabelos. —
Vamos ter nosso bambino quando for à hora.
Victória não respondeu, ela apenas buscou mais do meu calor. E eu dei.
Respirei fundo e deixei o fôlego sair lentamente, junto com ele, uma lágrima
solitária rolou.
Eu acreditava verdadeiramente que tudo daria certo desta vez, mas enfim, em
breve estaremos tentando de novo. E de novo… e de novo até que funcione e
estejamos grávidos do meu primogênito.
A felicidade que sentimos ao saber que o filho da vadia não é meu está sendo
manchada por essa decepção, todavia, eu tenho Victória, e isso é o que importa.

***

Pousamos em NY de madrugada, Victória ainda dormia, e eu fiquei com pena


de acordá-la, por isso eu me levantei com cuidado e me vesti, em seguida peguei
minha mulher em meus braços e saí de lá.
Jason me olhou preocupado e eu apenas balancei a cabeça.
Tudo ficaria bem.
Pelo menos eu esperava.
O trajeto do aeroporto até meu apartamento estava sendo feito em silêncio.
Eu estava ficando preocupado, Victória parecia estar dormindo para não encarar o
mundo.
— Chegamos, senhor — meu motorista falou e antes que eu pudesse abrir a
porta, Jason já fazia isso por mim. Desci com cuidado, carregando meu precioso
fardo. A todo o momento eu beijava sua testa ou cabelo, queria mostrar que
tínhamos muito tempo. E com calma, quando menos esperássemos, teríamos nosso
precioso bebê.
Entrei em meu apartamento e encontrei meus amigos ali. Ambos me olharam
com expectativa e preocupação.
— Tudo está bem. — murmurei baixinho. — Amanhã falamos.
Os dois concordaram e eu rumei para meu quarto, fechando a porta em
seguida.
Com cuidado deitei Victória na cama e ela suspirou, então eu me apressei a
me despir e puxá-la para mim.
Minha noite seria muito longa.

***

Acordei com beijos em meu rosto que me faziam sentir muito bem.
— Acorda, amore mio — Victória me chamou e eu sorri. — Vem, o café da
manhã está pronto.
— Meu café da manhã está bem aqui.
— Ahhhh — Victória gritou quando eu troquei nossas posições.
— Bom dia — murmurei esfregando minha barba em seu pescoço. — Você
está bem?
— Uhmm… bom dia. E sim, estou bem, não sou do tipo que atenta contra a
vontade de Deus — murmurou baixinho. — Agora já para a mesa, vem tomar café
da manhã.
Levantei e fui direto tomar banho, logo eu estava indo para a sala.
A mesa estava farta, só notei que estava morto de fome depois que comecei a
comer.
— Meu Deus, vocês estavam em uma caverna? — Dimitri perguntou e
Victória engasgou. — Minha nossa, Rocco, eu compro um barbeador para você, a
moda é barba cultivada, e não um matagal na cara.
William jogou a cabeça para trás e riu. Pegando todos nós de surpresa. O
conde não era muito de rir, e como se estivesse notando que hoje era um bom dia,
o Dinka continuou:
— Na moral, o cara some por duas semanas, e aí depois me liga na maior
cara de pau! — O Dinka grunhiu. — Viado, eu estava agoniado para debochar do
seu pau mole.
— O quê? — Victória perguntou de olhos arregalados.
Quando falei para ela que não era pai do filho da vadia, eu não entrei em
detalhes, só disse que William a fez confessar e pronto.
— Victória, minha querida, esse seu namorado é tão apaixonado por você que
nem o equipamento dele funciona sem ser com você, e olha que Rocco estava sob
efeito de medicamentos.
Victória estava tão vermelha que eu nunca a vi assim. Ela estava até
brilhando.
— Rocco encontrou a boc.…— Não o deixei terminar de falar, joguei uma
bolinha de guardanapo na cara do Dinka.
— Respeita minha mulher, seu escroto! — grunhi e ele deu de ombros. —
Folgado dos infernos. E sim, meu pau pertence à Victória, é dela.
Falei olhando para ela, que corou violentamente. Na verdade já estava muito
vermelha desde que Dimitri perdeu o controle da língua.
— Estou sentindo que tem mensagem subliminar nessa história — o Dinka
murmurou e todos nós rimos, e assim terminamos de tomar café da manhã, sob
muitas risadas, bagunça e bolinhas de guardanapos voadoras.
Agora fomos para a sala, eu queria ouvir essa gravação. E confirmar sem
sombra de dúvidas que eu estava livre do encosto chamado Briana Costant.
— Cara, essa gravação é valiosa, porque ela mostra que o Todo Poderoso
Masari não é muito potente. — O Dinka riu e o William deu de ombros.
— Eu confesso que entendo as reações do Rocco — o conde começou —,
comigo certamente aconteceria o mesmo.
Todos nós olhamos para William e ele não deu a mínima.
— Existem conexões que a distância e nem a morte conseguem quebrar —
proferiu alto, fazendo Victória suspirar e concordar com um aceno de cabeça. —
Nesta vida pertencemos a uma única pessoa, até encontrá-la, vivemos cegos e em
uma busca incessante, o problema é que quando encontramos temos que rezar para
que ela esteja livre para nós.
— E se não estiver? — o Dinka perguntou de braços cruzados. A cara do meu
amigo tentava demonstrar indiferença, mas quem o conhecia notava que ele estava
muito bem atento.
William não respondeu, mas pela sua expressão, ele deixou muito claro que
para ele o céu é o limite.
E isso se aplica a mim também. E se os anos que conheço o Dinka significam
alguma coisa, eu diria que ele não está muito fora desse contexto.
— Vamos parar com o momento nostalgia — Dimitri grunhiu. — Quero ouvir
a gravação de novo.
William pegou o celular dele e mexeu por alguns segundos. Em seguida a
grande revelação estava sendo feita, só que, desta vez, para eu ouvir, e confirmar
sem sombra de dúvidas que tudo não passou de um golpe.
— O que não é de Rocco?
— Meu bebê! —Houve uma pausa. — Ele não é de Rocco.
— E de quem é, Briana? — A voz do conde parecia muito tranquila, mas eu
conseguia entender a manipulação na conversa.
Houve um momento de silêncio na gravação, no qual eu olhei para Victória e
vi que ela estava com um sorriso lindo. Na verdade era radiante, pois uma coisa
era eu e ela sabermos da novidade através de Dimitri, outra coisa era ouvir a
prova.
— É do meu motorista! — mais uma vez a voz da vadia se faz ouvir e eu
sinto um peso enorme sair das minhas costas.
Recostei-me no sofá, permitindo que um sorriso enorme se desenhasse em
meus lábios.
— Você pode estar mentindo para mim!
A voz do conde soou firme na gravação, e eu ri, bastardo manipulador.
— Afinal, o exame que você fez as datas eram exatas, e você ainda jura que
dormiu com Rocco, então quem me garante que, depois de casados, um
escândalo não vai explodir em minha porta? Rocco não é do tipo que fica
calado. Ele é do tipo que explode com tudo.
— Essa é a minha parte favorita! — o Dinka falou alto chamando nossa
atenção
— Rocco sequer teve uma ereção — a puta falou, sua voz soava um pouco
distante, era como se ela houvesse dito isso em voz baixa.
O Dinka já estava rindo alto e batendo nas coxas. Infeliz.
— Fale mais alto, eu quero ouvir com clareza — o conde pediu na gravação,
e o olhei, o bastardo só deu de ombros, mas ria também.
— Rocco não ficou excitado, ele não ficou duro, entendeu? Eu tentei, mas
ele não reagiu, então eu simplesmente dormi ao lado dele e fiz parecer que
havíamos transado.
Victória encolheu-se um pouco e eu a puxei para sentar em meu colo. Enterrei
meu rosto em seu pescoço e respirei fundo.
— Tudo bem, amore mio?
— Tudo ótimo — respondeu virando o rosto um pouco de lado. Beijei sua
bochecha e ela riu baixinho. — Eu te amo.
— Ei, prestem atenção na gravação! — Dimitri ralhou e eu estirei um dedo
para ele. — Vamos, ouçam.
Voltamos nossa atenção para a conversa que havia no celular.
— Você está me dizendo que Rocco Masari brochou?
— Sim, Rocco brochou, não subiu de jeito nenhum. E depois, quando fomos
fazer o exame, eu paguei para a enfermeira de plantão. Digo, eu não paguei, eu
prometi que iria pagar, mas Rocco cortou meus cartões e meu acesso às contas
da empresa do meu pai. Quase que eu me ferrava, minha sorte foi que minha
mãe vendeu uma de suas joias e pagou o dinheiro à moça, ela foi me procurar na
minha casa, e minha mãe a atendeu.
— Rocco do pau morto! — o Dinka quase gritou, mas todos nós riamos
muito. — Eu disse que você estava morto, cara, mortinho da silva.
— Ótimo, melhor um pau morto do que uma puta como mãe do meu filho! —
grunhi já querendo colocar meus planos em prática. — Você encontrou o motorista,
Dimitri?
— Sim, e conversamos. — Riu cruzando os braços. — Ele está se formando
e trabalhava para ajudar em casa.
— O que você tem a dizer sobre o rapaz? — questionei.
— Ele é novo, tem apenas vinte e quatro anos, e é honesto. Deve ter caído na
lábia daquela vadia.
— Parem de chamar a moça de vadia — Victória murmurou desconfortável
—, ela está grávida, respeitem.
Não dissemos nada, mas começamos a chamar a vadia pelo nome.
Continuamos nossa conversa e no fim eu já sabia o que fazer.
— Vou fazê-la pagar por tentar me dar um golpe da barriga! — exclamei
dando um sorriso cruel.
— Rocco, pare! Você quer mesmo falar sobre golpe da barriga? — Victória
perguntou arqueando a sobrancelha. — Além do mais, a moça está grávida, e você
já descobriu a verdade — minha garota mais uma vez chamou minha atenção. — O
bebê não merece ser maltratado, por favor, esqueça isso.
Olhei para ela e na mesma hora as engrenagens do meu cérebro remodelaram
meu plano, eu precisava fazer algo que assegurasse o bebê, mas que deixasse a
puta em maus lençóis.
Em poucos minutos eu sorri.
— Não se preocupe, amore mio, o bebê estará seguro.
Capítulo 49
Rocco

— Tem certeza que vai fazer isso? — Dimitri perguntou e eu concordei. —


Cara, você vai ganhar o prêmio de maior cretino da face da Terra.
— Quem se importa?— Dei de ombros. — Estou só fazendo como Victória
pediu, que foi assegurar o bebê.
Isso era verdade, eu estava fazendo exatamente isso, assegurando bebê e de
quebra ainda estarei dando uma chance para Briana se sair bem.
— Por que eu acho que você só vai fazer isso porque sabe que a vadia não
presta?
— Porque você me conhece bem e porque a vadia realmente não presta. —
Sorri arqueando uma sobrancelha. — E, no fim, ninguém poderá me acusar de não
ter dado uma chance a ela.
William deu uma risada fria, e o Dinka suspirou.
— Deus me livre ser inimigo de vocês.
Deus livre mesmo.
Chegamos ao restaurante onde haveria o encontro que eu planejei, depois do
almoço, encontrei com o ex-motorista e fiz a proposta, já, já, saberão o que é.
A essa hora Briana e David já devem estar conversando. Entramos no
restaurante e logo fomos até a mesa, que foi estrategicamente colocada, daria para
ouvir a conversa de Briana, mas ela não nos veria.
Eu e Dimitri nos acomodamos, o Conde preferiu não ficar conosco.
— Fica comigo, Briana, eu sei que posso te fazer feliz! — David pediu e eu
revirei os olhos, coitado, foi inventar de se apaixonar por uma puta interesseira.
— Eu não vou ficar com um motorista, Deus me livre, eu vou me casar com
um homem muito rico.
— Briana, me ouça, vamos criar nosso filho juntos.
— Eu vou te dar a criança para você fazer o que quiser, eu não vou criar o
filho de um motorista, alias como você soube que o bebê é seu?
Como planejado, David não titubeou, ele falou com segurança e a puta
acreditou.
Ótimo.
— Fique comigo, por favor, eu te amo.
Caralho, eu já estou ficando com raiva.
— Não mesmo! — debochou rindo. — Não sei como você conseguiu pagar
esse restaurante, e aliás, nem me importa, eu só aceitei jantar com você, porque
quero que você fique com o seu filho, só não faço um aborto porque o meu futuro
marido não me perdoaria.
Olhei para o Dinka e ele estava com expressão furiosa, Briana foi longe
demais.
— Você iria abortar o bebê porque eu sou pobre? — Daqui eu pude ouvir a
decepção e a raiva na pergunta do David.
— Olha, você é gostoso, é um gato, mas é pobre! Então não rola, eu sou uma
mulher criada para viver no luxo e não esquentando a barriga em um fogão.
— Você não deveria ter dito isso! — David grunhiu e eu resolvi que era hora
de agir.
Levantei da cadeira para acabar logo com aquilo, virar essa página e seguir
em frente. O coitado do motorista já teve o orgulho pisado demais, e além de tudo,
a chance foi dada, Briana perdeu porque quis.
— Você acaba de perder uma ótima chance, Briana — falo calmo, parando ao
lado da mesa deles.
— Rocco! — exclamou ficando pálida. — O que faz… o que faz… —
gaguejou e eu ri
— O que eu faço aqui? — perguntei e ela concordou. — Bom, eu estou
trazendo minha namorada para conhecer NY, além de terminar de cortar uma ponta
solta. — Sorri puxando a cadeira ao lado da deles, Dimitri fez o mesmo.
— David? — Briana olhou para o seu antigo motorista, e até eu poderia notar
a raiva gravada no rosto do rapaz.
— Briana, você sabia que sua ganância te tirou uma ótima oportunidade? —
questionei balançando a cabeça, fingindo pena.
— Do que você está falando? — perguntou baixinho, eu tive que rir, a forma
como ela agia mostrava o medo que sentia de mim.
Eu nem sou malvado! Sorri calado, Ah, sou sim.
— Bom, por onde começar? — Dei de ombros. — Pelo começo é claro,
então, deixe-me te apresentar ao novo presidente da marinha Costant. — Sorri de
forma cruel. — David Braser, o motorista.
— Não! — Briana ofegou de olhos arregalados. — Isso é mentira, ele não
tem onde cair morto!
— Ele não tinha — rosnei e ela fez uma careta de raiva, depois empinou o
nariz.
— Você vai perder seu precioso dinheiro, David só sabe dirigir carros, ele é
um idiota que nunca vai deixar de ser pobre.
— Errado! — interferi. — Ele está se formando com honra em administração,
o melhor aluno, o mais recomendado também. — Sorri. — Sabendo disso, eu
pensei que nada melhor do que a herança do herdeiro Constant ser administrado
pelo pai. Por isso eu fiz um acordo com o David, ele fica com minhas ações e paga
o que seu pai me deve.
Houve um silêncio pesado que foi quebrado pela voz do Dinka.
— Você se fodeu, cretina olhuda!
David e eu rimos, notei que o sentimento dele por Briana virou pó em questão
de segundos.
— Não importa! — A vadia deu de ombros. — Eu tenho William e ele me
ama. Vamos nos casar e…
— Na verdade… — a voz do conde se fez ouvir. — Tudo não passou de um
plano. — Sorriu ficando atrás da cadeira de David. — Nunca mexa com a Tríade,
isso poder fazer mal a saúde. — Piscou um olho. — Sinto muito, mas você não
tem material para ser condessa.
Olhamos para o conde e ele só deu de ombros.
— Gosto do drama — murmurou — e preferi uma entrada triunfal, eu sabia
que ela iria fazer isso. Muito previsível.
Briana estava sem cor, ela parecia uma boneca que foi entregue a uma criança
cruel.
— Bom, nosso trabalho aqui terminou. — Levantei e o Dinka me seguiu, logo
David fazia o mesmo. — Espero que obtenha sucesso, garoto.
— Não se preocupe, será moleza. — Sorriu apertando minha mão. — O
dinheiro será pago nas datas combinadas.
— Assim espero! — concordei e saí, meus amigos me flanqueando.
A tríade…
Unida.
Perigosa…
Imbatível.

***

— Vamos para o Central Park, Victória me ligou avisando que iria para lá.
— Jason está com ela, e o central Park fica em frente ao seu apartamento —
Dimitri murmurou enquanto mexia no celular. — Filha da mãe. Mas… quê?
Safada! — exclamou e eu ri.
— Problemas?
— Vai se foder — Ri ainda mais, sendo acompanhando pelo conde. Logo ele
ligou para alguém, o Dinka parecia ansioso demais.
— Annya, me conta essa porra direito! — entendi na hora do que se tratava.
A garota do Dinka.
— Como assim um ano? — gritou alto. — Ela é louca? A safada!
Olhei para o conde e ele sorriu debochado.
E começava o martírio do Dinka e sua boceta mística.
— Eu não gosto dela — esfregou o rosto. — Não tem nada haverá ver… o
quê? Eu sou homem, porra!. Me respeita! Não, eu não a quero. Ciúmes? Quem está
com ciúmes? Aquela patricinha não sabe de nada.
A cada instante o Dinka ficava mais e mais vermelho. A raiva estava muito
grande, até eu notei.
— Não quero saber, ou melhor, quero sim, fala logo.
Não sei o que a irmã do Dinka estava falando, só sei que meu amigo foi
ficando de todas as cores possíveis, no fim ele ficou meio roxo, e seus olhos
queimavam de puro ódio.
— Se esse escroto pedir a minha… se ele pedi-la em casamento e ela aceitar,
pode comprar dois caixões.
Sem mais ele desligou e ficou calado.
Contei até dois e sua explosão soou.
— Acreditam que aquela safada foi para a África? — perguntou puto de
raiva. — Minha irmã falou que ela foi a trabalho, não entrou em detalhes, só me
disse que foi por um ano e que ficará incomunicável. — Esfregou o rosto e
suspirou. — Um ano, acredita nisso? E ainda tive que ouvir Annya dizendo que o
colega de trabalho da pirralha vai pedi-la em casamento. — O Dinka estreitou os
olhos, comprimindo os lábios. — Eu mato aquela safada e o marido dela.
— Você está se ouvindo? — William cutucou. — Você diz que não sente nada
pela garota, aí quando ela está construindo a vida dela, você surta dando uma de
psicopata querendo matar a tudo e a todos.
O Dinka estalou os dedos e depois sorriu.
— Tem razão, eu não posso matá-la, mas posso matar o bastardo que está
colocando o olho grande nela. — Agora o Dinka sorria satisfeito consigo mesmo.
— Ela vai ficar solteira, e quando eu estiver pronto, vou tomá-la…
— Você assume que gosta dela então? — perguntei debochado
— Gosto não. Ela é uma patricinha, cheia de frescura, vive isolada —
resmungou. — Acho que isso me deixa excitado, o fato de ela não se misturar. Ela
é muito quieta, tímida. Prefiro as safadas que sabem o que querem.
— Cara, você está todo incoerente — reclamei recostando no banco do
carro.
— Porra nenhuma! — bufou. — Eu sei o que quero e, depois de pegar aquela
pirralha de jeito, eu deixo para lá.
— Vou assistir à sua queda de camarote. — William concordou comigo
— Veremos — reclamou me fazendo rir ainda mais.
— É, veremos. — William soltou uma risadinha debochada e seguimos
tirando sarro do Dinka até chegarmos ao Central Park.
Desci do carro e olhei ao redor. Meu apartamento em NY ficava de frente ao
parque, então não creio que Victória tenha ido muito longe. Graças a Deus era
muito bem iluminado também.
Caminhei por uns dez minutos até que vejo Victória com o…
Balofo? Digo, pulguento.
Mas como aquele cachorro veio parar aqui? E, puta merda, como ele
estava enorme.
Caminhei em direção aos dois e, quando fui chegando perto, um homem alto
surgiu e segurou o rosto de Victória entre as mãos.
Corri.
— Meu amor, que saudade, eu estava preocupado e, quando você não foi para
Londres, eu preparei meu avião e corri para cá.
Ainda vislumbrei Victória sorrir meio sem jeito. Mas então o ciúme já me
cegava.
— Solta minha mulher! — grunhi esmurrando a cara do bastardo que ousou
tocar no que é meu.
O homem cambaleou, e eu fui para cima de novo, Jason me segurou e Dimitri
chegou para ajudar a me manter no lugar. Eu estava com muita raiva e a adrenalina
bombeava em meu sistema, me emprestando ainda mais força, então William
chegou e serviu de apoio.
Foda-se.
Quase tive um ataque do coração quando Victória, em vez de vir para perto
de mim, foi para perto do bastardo, e quando se aproximou o suficiente tocou em
seu rosto. No lugar onde bati.
— Saia de perto dele! — grunhi tentando me livrar do agarre de Jason e
Dimitri.
— Cara, fica quieto, não piora a situação — Dimitri murmurou e eu grunhi
ainda mais furioso.
— Victória, venha aqui! — chamei, mas ela não me deu ouvidos, só queria
saber do outro.
A raiva e a decepção que eu sentia eram tão grandes que quase não me
contive. Eu queria matar o filho da puta que abalou o coração da minha garota.
E eu pensado que estávamos bem…Senti meu peito comprimindo quando
imaginei Victória com outro.
Então uma mulher surgiu, ela era bem mais velha, mas muito elegante, e me
olhou com uma cara que quase me fez encolher.
— Meu filho, você está bem? — perguntou para o tal que eu bati.
— Sim, mãe, estou — murmurou mexendo no maxilar. Então a mulher virou-
se para mim.
— Você não é bom o suficiente para Victória! — falou me encarando, claro
que agora eu devo estar com cara de psicopata.
— Quem você pensa que é? — grunhi tentando em soltar.
A mulher me olhou, mas não respondeu. Ignorou-me completamente.
— Venha, minha querida, estou louca para ter um momento com você!
Victória virou-se para a mulher e sorriu sem graça.
— Eu fico feliz que fizeram as pazes —murmurou me deixando ainda mais
confuso.
— Graças a você, nunca poderei agradecer o suficiente por ter me devolvido
meu filho.
Mas o que diabos está acontecendo aqui?
— Agora vamos, preciso organizar sua apresentação à sociedade brasileira.
— Mas que merda está acontecendo aqui? — perguntei alto, fazendo todos
olharem para mim, e mais uma vez tive que lidar com a expressão de raiva
daquela desconhecida.
— Eu sou Antonieta Andrade, a avó da Victória! — exclamou me olhando
com superioridade. — E você não é bom o suficiente para minha neta. Seu
ignorante — falou empinando o nariz.
Arregalei meus olhos quando a realidade bateu, se Victória era neta daquela
mulher e o homem em que eu bati era seu filho, então…
Caralho!
— Prazer, Sr. Masari — O homem sorriu para mim e eu fui solto.
— Victória, o que está acontecendo?
Eu estava confuso, o pai dela não tinha morrido? E se esse cara tinha um
avião particular, como ele pôde deixar sua filha sofrendo nas mãos da Blanchet?
— Rocco, você bateu no meu pai — Victória murmurou, confirmando minha
suspeita. — Victor Andrade é meu pai —falou mais firme, logo em seguida
suspirou.
"Puta que pariu, eu bati no meu sogro?!", pensei nervoso, sentindo uma
pedra afundando em meu estômago. Ah, cara, estou tão fodido!
E agora?
Ferrou de vez.
Capítulo 50
Victória

Sinceramente eu não sei por que não contei para Rocco a grande novidade da
minha vida. Juro que não foi por medo, nem por maldade, Deus sabe que eu não
sou assim, a questão é que estávamos vivendo um momento idílico, e o assunto
simplesmente não surgia.
Depois do que passei naquele estacionamento, fiquei mais dura em relação à
violência. Claro que prezo a paz onde quer que eu vá, mas o que iriam fazer
comigo.
O que iriam fazer comigo mudaria minha vida para sempre, e se não fosse por
Rocco e toda sua obsessão, talvez eu já não fosse à mesma.
— Por favor, me perdoe! — Ouvi sua voz aflita chamando por mim. — Se eu
soubesse…
— Rocco. — Ergui uma das mãos e ele se calou. — Vamos todos para casa,
precisamos conversar, tenho muita coisa para te contar.
— Fica calmo, cara! — Dimitri falou sério.
— Não me peça para ter calma! — Rocco exclamou, passando a mão no
cabelo.
Minha avó olhava para Rocco meio de lado, ela estava com a boca meio
torna, e notei que aquele era um sinal muito claro de reprovação.
Ela não gostou dele.
Fechei os olhos suspirando.
Eu já fiz minha escolha.
O clima estava tenso, até meu Balofo estava agitado, ele choramingava e
ficava sempre se esfregando em minhas pernas.
Ainda em silêncio, seguimos todos para o apartamento de Rocco. Minha
cabeça fervilhava, mas no fim eu sei que Rocco agiu mais por proteção a mim que
outra coisa.
Não preciso dizer que minha avó estava ao meu lado, ela não desgrudou de
mim. E a todo momento dizia que Rocco era muito bruto e selvagem para um
princesa delicada como eu.
Se ela soubesse que eu o amo assim mesmo, pararia de falar mal dele!
— Por favor, pare — falei baixo só para ela ouvir. — Eu o amo e não gosto
que fale assim. E a culpa foi minha, eu deveria ter contado.
— Minha querida, esse Rocco é um selvagem. Não é bom para você! —
reclamou ofendida.
E começamos com o pé esquerdo!
— Ele é perfeito para mim! — proferi tranquila e ouvi uma risadinha feliz, eu
sabia a quem pertencia.
Minha avó andou mais adiante, e o Dimitri emparelhou comigo.
— Rocco pensa que você está furiosa, mate ele na unha — Dimitri falou bem
baixinho em meu ouvido. — Ele precisa de alguns fios de cabelos brancos.
— Ele iria ficar ainda mais lindo! — sussurrei de volta e olhei para trás,
Rocco estava de com expressão tensa e nervosa.
Calma, amore mio, tudo está bem.
— Não mais que eu — murmurou. — Sou um poço de elegância, charme e
beleza.
— Desculpe, meu amigo, mas Rocco ganha de você tipo de mil a dez.
— O amor é cego. E quando casa, volta a enxergar — reclamou bufando e eu
concordei discordando.
Rimos e a primeira parte do grupo entrou no elevador, eu fui na frente com
meu pai, minha avó e Jason.
Antes de as portas fecharem eu vi o rosto ansioso de Rocco. A aflição estava
gravada em cada traço de seu rosto perfeito. Engoli um suspiro, ele era tão lindo.
Vamos dar um desconto, ele não sabia de nada, e ainda estamos
traumatizados com aquele episodio no estacionamento do Pub, só espero que
meu pai não resolva colocar pedra. Pois pelo que vi, terei um momento difícil
com minha avó.
Juro que um elevador nunca pareceu tão pequeno, eu sentia que meu pai
estava tranquilo, mas minha avó, essa estava soltando faíscas. Graças a Deus que a
chave do apartamento estava no meu bolso, então fui logo abrindo a porta e
soltando o Balofo, deixei-o à vontade.
— Eu sinceramente não acho que esse relacionamento vai dar certo! — minha
avó declarou assim que sentamos no sofá. Ela de frente para mim e meu pai ao
meu lado.
Eu só ouvi, me escolhendo o sofá que ficava de costas para a porta.
— Por favor, não fale assim — pedi baixinho.
Não sei o que há, não consigo me impor usando de ignorância. Mesmo
precisando, às vezes.
— Ele bateu no seu pai! — insistiu com voz firme, eu me encolhi de novo.
Ela tinha muita autoridade. — Como ficará? Ele sempre é impulsivo assim?
— Rocco é um homem muito bom e digno.
— Ele não é bom para você! Diga-me, ele alguma vez já se controlou?
Fiquei em silêncio. Eu não iria mentir.
— Está vendo? — sorriu satisfeita.
Baixei a cabeça.
Não queria começar nosso relacionamento assim, eu sempre quis ter uma avó
comigo, mas se tiver que escolher… eu escolherei Rocco. O amor da minha vida.
— Eu gostei de ele ter me batido! — meu pai falou me surpreendendo, quase
chorei quando o vi sorrir de forma compreensiva para mim. — Isso só mostra que
ele sabe cuidar da minha garotinha, aliás, Laura me contou tudo sobre seu
relacionamento.
— Obrigada, pai, é muito importante que fique do meu lado e entenda que
Rocco é o homem que amo e sempre vou amar — murmurei feliz e recebi um
abraço, já minha avó olhou mais adiante de mim, ela estava chateada.
— Um dia esse homem ainda irá se virar contra você, e eu vou estar aqui
para te segurar quando cair.
— Não adianta tentar insistir nisso, vó! — falei segura de mim. — Eu amo
Rocco, e ele está se controlando por mim. Não importa, não vou deixá-lo, então
sugiro que se a senhora me quer em sua vida, aceite meu namorado e o respeite
também.
Minha avó era uma mulher extremamente elegante, ela estava toda altiva no
sofá, irradiando glamour. Já eu estava sentada toda desengonçada, meio corcunda
e cabisbaixa.
— Você vai ficar contra sua família? — perguntou ofendida e eu me encolhi
ainda mais, entretanto…
— Rocco é minha família também — falei encarando-a.
Ficamos nos medindo, eu e minha avó. Ela estreitou os olhos e eu mantive o
meu firme. Mesmo querendo me esconder, ela tinha, como falei, muita autoridade,
imponência e orgulho.
— Você está defendendo aquele selvagem?
Realmente não tem muito jeito. Vou bater o pé, e seja o que Deus quiser.
— Por favor, eu sempre quis ter uma avó presente em minha vida, sempre
quis compartilhar coisas sobre mim, eu tive tia Laura e agradeço por isso, mas
tenho muito espaço em meu coração para a senhora também, entretanto não me faça
escolher. — A cada palavra que eu falava os olhos dela enchiam de lágrimas. —
Rocco é uma parte de mim, não posso viver sem ele, sendo um selvagem ou não,
eu ao aceito tal como é.
Eu acabei chorando, porque além de já ser muito emotiva, esses dias estou
ainda pior.
Se minha menstruação não houvesse descido, eu poderia jurar que estava
grávida.
— Tudo bem, me desculpe. — murmurou. — Aceito seu namorado, mesmo
não o achando bom para você.
Aceitei balançando a cabeça, mas não sei por que a vontade de chorar
piorou, então coloquei meu rosto entre as mãos e chorei.
— Amore mio… — escutei a voz de Rocco e logo ele estava ajoelhado em
minha frente. — Grazie por me defender. Grazie por suas palavras.
— Sempre ficarei do seu lado. Eu te amo — solucei e ele me abraçou,
permitindo que meu rosto pudesse se esconder em seu pescoço. — Você escutou a
conversa toda, não foi?
— Sí. — Pigarreou. — Eu estava tão preocupado — suspirou. —
Perdonami, amore mio.
— Eu deveria ter te contado, me desculpe — sussurrei e ele acariciou meus
cabelos. — Faltou comunicação da minha parte.
— Eu prometo que tudo vai ficar bem. Nunca mais… — murmurou— nunca
mais irei fazer outra coisa dessas. Vou controlar meu ciúme e agir racionalmente.
— Obrigada, amore mio. — Ele me apertou mais.
— E agora, baby? Será que seu pai vai me dar sua mão? — perguntou
apreensivo e eu ri baixinho.
— Claro que sim, ou então iremos fugir. — Acariciei seus cabelos
carinhosamente.
Estávamos na nossa bolha.
— Las Vegas?
— Com um padre vestido de Elvis — sussurrei ouvindo a risadinha do meu
pai, que estava ao nosso lado.
— Perfeito.
Escutamos alguém coçando a garganta e voltamos à realidade.
Afastamo-nos meio sem jeito, logo Rocco ergueu-se, esticando toda sua
estatura.
Engoli um suspiro de admiração.
"Para de babar, o momento não é oportuno", me chutei mentalmente.
— Senhor, perdoe-me. — Sorri de leve, Rocco estava nervoso. — Eu agi por
impulso e…
— Meu garoto, fique tranquilo, confesso que estou enciumado de ter que
dividir minha garotinha com você, justo agora que a encontrei — meu pai falou,
surpreendendo a todos. — Mas vi que você tem colhões para defendê-la, e dá para
ver que você a ama.
— Sim, muito — falou apressado.
— Então estamos resolvidos, mas ela vai morar comigo até que se casem.
— Eu entendo, senhor — Rocco murmurou mas olhou para mim e deu uma
piscadela.
Meu coração estava quase saltando. Ele estava armando.
— Agora, se não for muito inconveniente, gostaria de entender melhor essa
história.
— Claro, será um prazer — meu pai falou e minha avó levantou, dizendo que
estava indisposta e que iria para o apartamento do meu pai, que por coincidência
ficava do outro lado do Central Park.
Ela estava fugindo. Isso era muito claro.
Sem questionar a decisão de minha avó em partir, meu pai sentou-se ao meu
lado novamente e começou a narrar para Rocco e os rapazes tudo que aconteceu
em sua juventude.
De vez em quando eu notava como Rocco espremia os lábios, esse era o sinal
de raiva, em seguida ele passava as mãos pelo cabelo. Isso era seu gesto de
nervosismo. E por fim, ele soltava leves baforadas. Isso era incredulidade.
Eu o conhecia tão bem.
Às vezes se reconhecer pode demorar, mas quando você faz isso, você talvez
consiga começar a reconhecer as pessoas. Eu abri minha mente e meus olhos.
Rocco é ciumento, possessivo e um sem-fim de coisas, entretanto sei que
bater de frente não funciona, esse homem precisa de gentileza para compreender, e
eu irei fazer isso. Quando ele notar que eu não tenho olhos para outro homem, e os
outros homens também não têm olhos só para mim, sei que vamos evoluir.
Eu sei que ele me ama, mas infelizmente ainda existem bloqueios nele, prova
disso é a forma como ele age, primeiro ele surta e depois se arrepende e fica com
medo. Claro que eu disse que seu ciúme doente poderia nos separar, mas quando
eu disse isso, eu não me referia a mim, mas, sim, a ele mesmo. Digo, se uma
pessoa fica cega de raiva, ela provavelmente não irá conseguir enxergar a verdade
mesmo estando em sua própria cara.
Errado é aquele que pensa que eu não tenho ciúmes de Rocco. Pelo amor de
Deus, eu tenho, e muito, mas é só que eu não me vejo fazendo um escândalo. Eu
sou mais do tipo que fala manso e bate o martelo.
— Que história! — Rocco exclamou quando meu pai terminou de contar tudo.
— Eu realmente sinto muito por você, não sei o que faria se pensasse que estava
sendo trocado e depois de anos que tenho um filho perdido no mundo e que minha
garota era inocente.
— Primeiro você se vingaria! E depois iria se arrastar feito um cachorro
quando descobrisse a verdade. — Dimitri estapeou Rocco na nuca e meu pai riu.
— Vocês têm boas amizades, gosto disso e acho muito importante — sorriu
satisfeiti. — Eu só tenho meu sobrinho Carlos e meu tio Ricardo, meus melhores
amigos.
O clima estava suave graças à interrupção do Dinka.
Todavia, o fato de ele ter dito que Rocco se vingaria se soubesse que estava
sendo trocado me fez pensar que talvez eu deva começar a conversar com meu
homem sobre essa sede de vingança. Eu acho que consegui convencê-lo a deixar
Briana em paz, então, se eu tiver paciência e muito amor, talvez consiga mostrar
que a vingança não leva ninguém a lugar algum.
— Gente, estamos em NY, por favor, vamos dar uma volta? — pedi
levantando, mas a sala rodou e eu perdi o equilíbrio.
Não cheguei a cair, porque braços fortes me seguraram.
— Filha? — Ouvi a voz preocupada do meu pai e notei que foi ele que me
segurou, — Você está bem?
— Me dê ela aqui — Rocco pediu de braços esticados —, me entregue ela.
— Estou bem, gente! — falei, mas foi só tentar andar que minhas pernas
falharam.
— AMORE MIO! — Rocco gritou e quando dei por mim eu estava sendo
apertada nos braços dele e logo era levada para o quarto. — O que foi? Onde dói?
— Estou bem, foi só uma tontura — murmurei e ele não pareceu convencido,
meu pai era outro que me olhava com olhos de gavião. — Eu só esqueci de comer.
— Você esqueceu de… — Rocco estreitou os olhos, mas foi meu pai que
falou.
— Nada de sair para conhecer a noite de NY! Você vai comer, e eu vou
chamar um médico, onde já se viu pular refeições?
— Pai, eu estou bem! — Minha barriga roncou e eu corei, morta de vergonha.
— Você está com fome! — Rocco exclamou me olhando de cara feia. — Eu
deveria te dar palm… — Calou-se. — Palmitos para comer — emendou
apressado.
Não pude evitar a gargalhada que soltei. Eu sei bem o que ele iria dizer e por
isso provoquei.
Puxei-o pela camisa e falei em seu ouvido. Bem baixinho para ser pura
provocação:
— Umas palmadas? Era isso que iria dizer, não era? — Mordi sua orelha e
ele tremeu, mas não fez nada a respeito. Também não podia, pois meu pai estava
no quarto e falava em um inglês rápido com alguém.
— Feiticeira provocadora — murmurou me dando um selinho. — Sua avó
não vai com minha cara! — Acariciou meu rosto, suspirei.
— Não importa, meu pai está do nosso lado, e eu escolho você, sempre.
— Caralho, amor, você realmente sabe como me pegar pelas bolas.
— Eu sou inocente de qualquer acusação — ri e ele me beijou de novo.
Não teve jeito, meu pai chamou um médico e pediu muita comida.
Então agora eu estava aqui, respondendo perguntas sobre minha saúde.
— Você pode estar grávida? — o médico perguntou e eu me encolhi.
Infelizmente não.
— Não tem perigo, estou em pleno período — respondi a pergunta do
médico, sentindo meu rosto aquecer, os dois homens da minha vida estavam no
quarto — Apesar de ser irregular, eu não estou atrasada nem nada.
— Certo — aceitou minha resposta enquanto anotava tudo. — Você tem
hipoglicemia?
— Sim.
Foi só responder isso e Rocco grunhiu algo, em italiano, e meu pai concordou
na mesma língua.
Peraí, a única que não entende o que meu namorado diz sou eu? Aff, quanta
injustiça.
— Você não pode ficar sem se alimentar, corre o risco de desmaiar em
qualquer lugar, isso é perigoso, senhorita. Andrade.
“Senhorita Andrade?” — pensei, dando uma olhada para meu pai. Ele me
encarou, sorriu e gesticulou com a boca.
— Meu sonho.
Sorri e ele acenou levemente com a cabeça.
— Bom, clinicamente você teve uma queda de glicose. Você precisa se
alimentar em pequenos intervalos, porque há casos em que a hipoglicemia pode
ser mais perigosa que a hiperglicemia.
— Pode deixar, vou cuidar disso — Rocco falou e meu pai concordou, então
fizeram algo que fez meu queixo cair.
Tocaram os punhos.
Balanceia a cabeça feliz.
Parece que houve camaradagem instantânea.
— Vocês parecem que estão se dando bem!? — falei enquanto o médico
verificava minha pressão
— Interesses em comum — falaram em uníssono, e eu? Bom, eu explodi
fogos de artifício dentro do meu coração.
Depois de terminar de me consultar, o médico foi embora dizendo que se eu
me mantivesse alimentada tudo ficaria bem.
Eu concordo, o problema foi que mesmo tempo hipoglicemia eu nunca senti o
que senti hoje, era sempre uma leve indisposição, fadiga suave, nada comparada a
quase desmaios.
Eu, hein.
— Vamos jantar — meu pai chamou — e depois vamos para a Times Square.
Praticamente pulei da cama, movimento errado de novo.
Desta vez Rocco me segurou. Misericórdia, pareço uma boneca de pano.
— Jantar agora! — meu homem comandou e eu bati continência.
O jantar estava muito divertido, meu pai estava dando aula sobre finanças, e
os rapazes estavam de olhos atentos.
Eu comia sorrindo, estava muito satisfeita, meus amigos, meu pai e meu amor,
todos reunidos e se dando bem.
Só faltava minha avó, mas ela fez a escolha dela, e eu respeito.
— Pai, o Jason é mais que um segurança, ele é meu brother — falei piscando
um olho para Jason. O assunto surgiu porque estavam falando sobre o início das
amizades, e Jason era uma incógnita, ele foi indicado pelo instrutor de
sobrevivência de Rocco, ele foi tido como o melhor e o mais bem-treinando em
quê? Eu não sei, mas Jason deveria ser mesmo bom, já que Rocco o classifica
como o melhor.
— Quando estamos nós três, somos a tríade — Dimitri falou apontando para
si próprio, para Rocco e William. — Mas quando o Jason entra na parada,
viramos o quarteto fodástico.
— Como eu disse, ter bons amigos é importante — meu pai concordou e
Dimitri continuou.
— Veja, ele se tornou tão querido que até apelido tem.
— E qual seria? — perguntei observando Jason se encolher um pouco, mas
ele sorria feliz.
— Ele é o ovo de gato de botas! — Dimitri apontou. — Veja essa cabeça,
parece mesmo um ovo e até brilha.
Rimos enquanto Jason fazia careta.
— E os outros? — meu pai perguntou e Dimitri se incorporou, ele estava
gostando da brincadeira.
— O loirinho aqui tem dois — apontou para William. — Quando ele acorda
pode ser comparado ao Thor, mas quando se emboneca todo vira a própria
Rapunzel.
William grunhiu dando um soco no braço do Dimitri, que reclamou, mas
continuou.
— Rocco era O Todo Foderoso Masari, mas depois de algumas informações
altamente confidenciais, ele virou o Rocco do pau morto, mas fiel.
Meu rosto queimava, mas nós riamos tanto, até Rocco estava rindo muito. E,
gente, que sorriso lindo, meu Deus do céu, que homem lindo.
E ele é meu… fiel a mim, Tem coisa melhor?
— E o seu apelido, senhor Romanov — meu pai perguntou e Dimitri quase
estufou o peito.
— Pau não cessa!
Eu demorei alguns segundos para entender, mas depois eu comecei a rir.
Minha nossa. Dimitri é louco.
— Isso é bullying — brinquei e todos concordaram.
— O apelido verdadeiro dele é Dinka My Little Poney, mas ele não gosta,
fica todo irritadinho — William falou e a guerra começou.
Recostei-me na cadeira só observando os cinco juntos.
Meu pai no meio daquela turma ficava ainda mais jovem, garanto que não tem
quem diga que ele já tem uma filha de vinte e quatro anos.
O momento de família reunida foi incrível, em seguida nos arrumamos e
saímos. Eu passei pela Times Square, juro que queria subir no teto solar do carro
para olhar aqui tudo, mas Rocco não deixou, ele tinha medo de acidentes, então o
jeito foi olhar pela janela e, caramba, que coisa magnífica.
O lugar era muito visado pelas grandes produções Holywoodianas, e não era
para menos, aquilo parecia vivo. O lugar pulsava energia, crepitava força vital.
Não parava.
Os letreiros digitais gigantes, os arranha-céus… era tudo muito incrível e eu
estava adorando. Rocco e meu pai só faziam sorrir das minhas idiotices, mas quem
liga?
Eu não.
Esgotei minhas energias já era muito tarde. E foi só aí que resolvemos ir
embora.
Chegamos já era quase de madrugada, eu turistei à vontade, conheci tudo que
deu em poucas horas e estava morta, queria dormir e pronto. Tanto é que cochilei
no carro mesmo.
— Vamos para casa, filha. — Ouço meu pai chamando e desperto, entretanto
sinto o aperto de Rocco se intensificando ao meu redor.
Momento constrangedor. Em 3… 2… 1…
— Rocco, eu sei que vocês… uhm… — Meu pai suspirou. — Nunca pensei
que encontraria minha filha em um dia e no outro já teria que lidar com isso… é
complicado.
— Compreendo o senhor, Mas quero que me entenda também, somos adultos
e íntimos — Rocco murmurou e eu me mantive quieta, deixarei que eles resolvam.
— Para mim é difícil ficar longe de Victória. Ela é minha paz, minha
tranquilidade. — Senti um beijo em minha cabeça e sorri. — Ela é a mulher da
minha vida.
Ouvi o suspiro do meu pai.
— Eu entendo essa necessidade desesperada de estar perto — murmurou
triste. — Eu vivi isso com a mãe de Victória, foi intenso, real.…avassalador.
Houve silêncio.
— Eu te entendo — meu pai reafirmou e eu engoli o nó de emoção que se
formou em minha garganta. — Só não a faça sofrer, você não terá um bom
momento tendo a mim como inimigo.
— Não se preocupe, eu o quero do meu lado, e não contra, já basta sua mãe.
— Rocco bufou. — Aquela vai me dar trabalho.
— Pode apostar que vai, e você terá que lidar com ela, não seja fraco, caso
contrário, Dona Antonieta Andrade vai te comer e cuspir os ossos — meu pai
falou e Rocco riu
— Estou preparado. Pode apostar.
Rocco e meu pai entraram em uma acordo mútuo, o resto do caminho fizemos
em silêncio.
E eu estava muito bem, aspirando o cheiro delicioso do meu homem.
Chegamos ao apartamento de Rocco e encontramos os rapazes na sala,
assistindo a uma série.
— Puta que pariu! — Dimitri grunhiu e Jason rosnou alguma coisa. — Como
ele pôde faz isso? Revoltante. Autor filho da puta!
Olhei para a tela e fiz careta.
— Odeio essa série! — resmunguei e fui vaiada. — Khal Drogo lindo e
perfeito morreu. — Dei de ombros. — Baixaria.
William riu e o Dimitri gritou:
— ROCCO, FICA CALMO!
— Não me peça para ter calma! — meu homem grunhiu e eu me encolhi. Logo
fui meio que rebocada para o quarto e lá ele trancou a porta.
— Amore mio… Eu… — murmurei, mas fui interrompida
— Fica quieta! — grunhiu agressivo. — Você gosta de bárbaros, não é?
Então você terá um!
— Vo-você assiste à série?
— Eu sou dono de uma parte das ações, então, sim, eu conheço e sei do que
está falando, Khaleesi.
Ofeguei sentindo minhas pernas bambas, então Rocco começou a falar em um
idioma difícil enquanto arrancava as próprias roupas.
A postura dele era relaxada, porém denotava poder e agressividade oculta.
Pirei.
— Você está brincando comigo — murmurei quando ele, nu, veio para cima
de mim e começou a me circular, tocando meu cabelo, meu rosto.
Um guerreiro. Ai, meu Deus.
A essas alturas eu já ofegava e tremia, meu sexo pulsando de excitação.
Rocco continuava me circulando enquanto murmurava coisas nesse idioma
desconhecido, então ele parou atrás de mim e sussurrou, para eu entender:
— "Lua da minha vida…"
Essa era a forma como o bárbaro chamava sua amada e delicada rainha. Logo
em seguida, Rocco rasgou meu vestido, me deixando apenas de calcinha e sutiã.
— Rocco… uhm… Eu não acho que — tentei falar, mas ele só rosnou mais
palavras incompreensíveis. Tremi ainda mais. — Amor, estou no meu período e…
Gritei quando ele me jogou sobre os ombros.
— Espera, O que está…
Um forte tapa em minha bunda me fez calar. Choraminguei, gemendo,
excitação sendo despejada em meu sistema.
Podia sentir a vergonha esquentando minha pele, e isso piorou tanto que tive
que fechar os olhos. Rocco tirou minha calcinha levando junto o absorvente.
Nunca senti tanta vergonha em toda minha vida.
Rocco rosnou, eu abanei meu rosto para diminuir o calor. Estava quase
rezando para um buraco se abrir e me engolir. Fui colocada no box do banheiro e
logo o chuveiro foi ligado.
Depois Rocco colocou minhas duas mãos na parede, afastando minhas pernas
com um de seus joelhos.
Ouvi sua voz sussurrando em meu ouvido, ele ainda estava usando o idioma
estranho, mas a cada instante meu corpo esquentava mais e mais, nessa hora eu
estava uma verdadeira fornalha.
Fui para o céu quando ele me tomou.
— Meu doce homem selvagem — gemi de olhos fechados.
Foi tão intenso. Forte e… Oh, meu Deus, não foi vergonhoso. Pelo contrário,
foi magnífico.
Sim, ele também foi um bárbaro, meu bárbaro.
E eu adorei!
Capítulo 51
Victória

Meu pai e Rocco estavam se dando muito bem, entretanto, Rocco e minha
avó… isso eram outros quinhentos.
Não tinha jeito, minha avó nem lhe dirigia a palavra, e isso para mim era o
cúmulo do absurdo.
Detalhe, estávamos todos no avião de Rocco. Eu estava sentada ao lado dele,
meu pai ao lado de Dimitri e William ao lado de Jason, minha avó sentou de frente
para todos nós e ficava com cara de falcão imperial… Olhos que não piscam, nos
encarando, intimidando…
Dava até calafrio.
— Quero que você venha ao Brasil comigo, Victória, tenho muito o que te
mostrar, nossa marca e nosso ateliê serão seus, você precisa começar a lidar com
tudo.
Rocco apertou minha mão e eu o olhei, notei que ele estava tenso.
— Vó, eu tenho muitas coisas para resolver, não posso ir para o Brasil agora,
e Rocco precisa se organizar também, quando eu for ele vai junto — falei
tranquila e até ensaiei um sorriso.
Ficamos em silêncio.
Minha avó não parecia muito satisfeita. Mas o pior foi que estava escrito na
cara dela que ela não iria desistir.
Rocco também não.
Então eu pergunto, quem vai cair primeiro?
Tremi levemente. Isso seria um duelo de titãs, mas como meu pai disse,
Rocco teria que lidar com ela sozinho, ele teria que ganhar o respeito da minha
avó, e eu queria ver como seria para ele lidar com sua versão feminina.
A chegada a Londres foi tranquila, até o momento em que nosso carro saiu da
área reservada do aeroporto.
Havia muitas pessoas aglomeradas em frente, muitas delas com cartazes
com… meu nome?
Eu acho que alguma famosa com nome igual estava chegando, porque não
tinha lógica.
Continuei quietinha na minha até que a multidão cercou o nosso carro e as
pessoas gritavam por mim.
Arregalei meus olhos sem entender! Será alguma piada de televisão?
Minha avó riu, Rocco rosnou e meu pai reclamou.
— A senhora avisou à imprensa da nossa chegada, mãe?
— Não pude evitar, já passou da hora de a minha neta reclamar seu lugar de
direito.
Eu estava olhando para eles sem entender. Eu? Famosa?
Mas desde quando?
Não precisei pensar muito sobre isso. Os dias que se seguiram mostraram que
sim, eu estava famosa. E muito, na realidade.
E foi Antonella quem fez isso. Não posso descrever a minha felicidade
quando encontrei com minha querida amiga, matamos a saudade de forma
emocionante, nem acreditava que ela estava grávida de gêmeos, juro que ela ficou
ainda mais linda, se é que isso é possível.
— Pensei que você não voltava mais! — murmurei tocando sua barriga
redonda.
— Eu disse que passaria alguns meses fora, todavia eu deveria ter vindo
antes, o problema foi que tive contratempos e não pude vir.
Engatamos uma conversa muito agradável, rimos bastante das trapalhadas do
Connor, Antonella disse que ele era um marido sensível e um pai medroso.
— Viado!— Rocco brincou e rimos ainda mais.
No dia seguinte eu tinha minha primeira entrevista, era uma coletiva. Minha
primeira coletiva de imprensa.
Dá para acreditar? Mal pisei em Londres e já tenho uma agenda lotada.
Longe de me sentir excitada, eu estava mesmo era enjoada, ansiosa, tremendo
mais que vara verde.
— Rocco, eu não quero ir! — choraminguei me agarrando a ele, a verdade
era que eu estava morrendo de medo.
Havia muitos repórteres, muita gente querendo conhecer A herdeira da Moda.
— Vai dar tudo certo, fica calma, responda só o que quiser.
— Vai ser transmitida pela TV? — perguntei escondendo meu rosto em seu
pescoço
— É ao vivo — murmurou acariciando meus cabelos.
— Eu vou vomitar. — Levantei do colo de Rocco e corri para o banheiro do
camarim. Só tive tempo de levantar a tampa do vaso antes de despejar meu café da
manhã.
— Amore mio, calma — Rocco sussurrava enquanto segurava meus cabelos.
—Tudo vai dar certo, você vai tirar de letra.
— Não quero que me veja assim — grasnei, minha voz rouca por causa do
que acabei de fazer —, saia daqui, por favor… eu preciso me recompor.
— Você é minha mulher — respondeu paciente. — Eu te protejo e eu te
cuido.
Mais ânsias me dominaram e eu vomitei até meus pulmões, no fim desse
martírio eu me sentia tão fraca que mal consegui me manter em pé.
— Rocco, vamos embora daqui — pedi depois que limpei a boca. — Por
favor, vamos embora.
Longe de me incentivar a ir embora, Rocco segurou minhas duas mãos e
beijou aquela que estava o nosso anel de noivado, pois é, na primeira
oportunidade, depois que chegamos ele foi comigo buscar o anel. Eu o coloquei de
volta, junto com meu medalhão, que, além de conter uma foto dos meus pais,
continha uma foto do meu amado.
— Pequena, esse é o seu momento — murmurou me abraçando. — Eu estou
tão orgulhoso de você, só te peço que fique tranquila, vai dar tudo certo.
— Se eles me perguntarem algo difícil e eu não conseguir responder?
— Solte uma risadinha e diga alguma piada sem graça. Eles estão aqui por
você, então você manda. — Sorri e ele beijou o topo da minha cabeça. — Confia
em mim?
— Confio.
Então vamos.
— Dez minutos — um cara com um ponto de áudio falou da porta. Logo em
seguida, tia Laura entrou.
— Oh, meu Deus, tia — desabafei batucando os pés.
— Minha filha, fique calma, vai dar tudo certo, todos os seus amigos estão aí
para te dar força, o único que não veio foi o Gio, mas ele mandou dizer que te
deseja tudo de bom.
— Quem é esse tal de Gio, amore mio? — Rocco perguntou com cara de
poucos amigos. — Ele sempre é citado, mas ainda não o conheço.
— O Gio foi mais uma vítima da madame, eu o ajudei — comecei e então
contei tudo, desde a conversa que eu ouvi, até os tecidos que fizeram o vestido da
Antonella.
Rocco não disse nada, mas pela cara dele eu poderia dizer que a raiva que
ele nutria pela Blanchet aumentou consideravelmente.
— Está na hora! — o mesmo contra regras me chamou novamente.
Olhei ao redor, as pessoas que eu amo estavam ali, mas foi o olhar azul com
sinalzinho castanho que eu procurei.
— Você merece esse momento — murmurou me abraçando. — Você é um
exemplo para muita gente, apenas não perca sua essência.
— Isso jamais. — Sorri ganhando um selinho e um beijo na testa.
Caminhei por um corredor de mãos dadas com Rocco, e no limite entre as
câmeras e o anonimato, ele soltou minha mão.
Fechei os olhos um momento.
Em tudo dai graças ao Senhor. Obrigada, meu pai, esse momento de vitória
é nosso!
Fiz o sinal da cruz e entrei.
Vários flashes espocaram ao meu redor. Pisquei algumas vezes e respirei
fundo.
Minha avó já estava sentada em um lugar reservado para ela.
Sentei no meio da bancada e em segundos começaram a enxurrada de
perguntas.
— Srta. Fontaine, é verdade que você trabalhava dezesseis horas por dia?
— Sim, eu tinha uma cota que precisava cumprir.
Muitos murmúrios de indignação se ouviram e mais flashes dominaram o
recinto.
Vários dos jornalistas ergueram a mãos e um homem que eu não reconhecia
escolhia quem poderia perguntar.
— Em algum momento você se revoltou?
— Eu me revoltava internamente, mas não poderia verbalizar meu desespero.
Eu não tinha controle sobre a situação e esperava que mais dia menos dia Deus
iria me tirar de lá.
Sorrisos de simpatia tomaram o rosto de várias pessoas sentadas na primeira
fila.
— Victória, você está sendo considerada um ícone de força por vários jovens
— uma loira falou. — Você se considera um mártir?
— De forma alguma! Eu não sou mártir, eu não lutei contra o que me era
imposto, eu apenas baixei a cabeça e acatei ordens. Todavia, eu digo para esses
jovens que me têm como exemplo, que por maior que seja a provação, a vitória
sempre vem, mas para isso é necessário acreditar e ter muita fé.
— Você é uma pessoa religiosa?
— Eu acredito em Deus acima de todas as coisas.
Algumas pessoas bateram palmas e outras aclamaram.
— Em sua entrevista coletiva, Antonella Masari Kingston disse que você foi
a fada madrinha dela. Isso é verdade?
— Sim, mas ela também foi a minha. Nosso encontro mudou nossas vidas.
E as perguntas continuaram por mais uns vinte minutos, até que o responsável
por escolher quem perguntava apontou para uma mulher muito bonita e elegante.
Ela iria fazer a última pergunta.
— Victória, sobre o seu relacionamento com o magnata italiano Rocco
Masari, poderíamos considerar isso um conto quase de fadas? — perguntou, todos
fizeram silêncio. — Digo, essa sua ascensão é culpa de seu envolvimento com um
homem tão poderoso?
Fiquei em silêncio durante alguns segundos, então sorri.
— Eu vivo um conto da vida real. Não posso controlar as adversidades, nem
o que o destino nos reserva. Eu amei Rocco antes de conhecê-lo, e quando o
conheci tive medo. Afinal, Rocco Masari é… — Calei-me e deixei que cada
pessoa pensasse em algo. — Enfim, as surpresas da vida estão aí, como eu
poderia imaginar que um passeio em um parque iria me fazer encontrar com uma
garota desesperada por um vestido de noiva? E mais ainda, como eu iria saber que
o vestido que eu estava fazendo em segredo era justamente o que Antonella
precisava? A irmã do meu príncipe real. — Sorri nostálgica. — Eu nunca busquei
um romance, eu só queria minha liberdade, mas confesso que estava cansada de
tudo que eu passava em minha rotina e Rocco chegou em minha vida, abalando
todas as minhas estruturas. Ele é meu par, e eu agradeço a Deus todos os dias por
isso.
O burburinho se fez ouvir, e a mesma mulher erguia o braços freneticamente,
entretanto o homem que organizava tudo estava dando por encerrado.
— Victória, só mais uma pergunta… Só mais uma pergunta, por favor?
Pensei um segundo e assenti.
— Você acredita no seu relacionamento com Rocco Masari mesmo sabendo
da sua fama de solteiro mais cobiçado e escorregadio de Londres? E de destruidor
de corações?
Eu fiquei calada e, quando abri a boca para contar alguma piadinha sem
graça, Rocco saiu dos bastidores e entrou em frente as câmeras para responder ele
mesmo a pergunta.
— Victória é a mulher da minha vida. — Sorriu fazendo várias mulheres
suspirarem. — Aliás, eu era o solteiro mais cobiçado e escorregadio de Londres,
agora eu sou o noivo mais louco e grudento do mundo. Às vezes Victória precisa
me chutar para fora de sua casa. Como diz meu amigo Dimitri, eu encontrei minha
tampa de panela e não estou deixando ela ir.
Dito isso, subiu no pequeno elevado onde estava a bancada, veio até meu
lado, me levantou e me beijou na frente de todos.
Os flashes estavam desesperados ao nosso redor, palmas se espalharam pelo
ambiente, mas eu só conseguia me concentrar no calor de seus lábios e no seu
perfume delicioso.
Capítulo 52
Victória

A minha primeira semana de volta a Londres foi simplesmente exaustiva,


minha primeira coletiva foi um sucesso, as revistas voaram das bancas, mais e
mais ligações de emissoras de TV e sites pedindo entrevistas foram recebidas pela
equipe de relações públicas de Rocco.
Eu estava em uma bagunça, comendo fora de hora, dormindo tarde e
acordando cedo, resultado, enjoos e tonturas constantemente.
Não falei para Rocco para ele não ficar preocupado, claro que eu conseguia
disfarçar, porque eu estava morando em uma cobertura com meu pai. Era no
mesmo bairro chique em que Rocco tinha a dele.
Devo confessar que sinto saudades da minha casa, mas tia Laura falou que
seria impossível morar lá, e sabe por quê?
Agora eu tenho um imenso fã clube.
Hoje eu tinha que tirar algumas fotos com minha avó. Era para uma revista de
moda mundialmente famosa.
Depois eu tinha um almoço com todas as socialites que fizeram vestidos com
Blanchet.
Correção, elas faziam comigo.
Então meu dia começou assim, fotos e mais fotos com minha avó, e depois um
almoço incrível com várias mulheres da alta sociedade.
Não preciso dizer que elas estavam revoltadas, pois muitas delas se
lembravam da empregada que entrava cabisbaixa para tirar medidas e em seguida
ia embora sem dizer uma palavra. Aquelas eram as clientes mais ricas e influentes
do Ateliêr da Madame, agora elas eram clientes do "Emporium la Fontaine".
E com orgulho queimando em meu peito eu digo: Eu tenho a melhor cartela de
clientes de Londres. E as surpresas não acabavam por aí, dois dias depois desse
almoço especial, várias realezas ao redor do mundo entraram em contado.
Eu estava com trabalho até morrer e estaria louca se não fosse o fato de
Blanchet ter me devolvido os croquis que paguei pela minha liberdade.
Estranho, não?
Pois é, ainda não consigo entender o que houve. Tia Laura me entregou uma
carta num envelope contendo os desenhos.
Nele Blanchet só pedia desculpas e me desejava boa sorte… nada mais.
Pedi que Deus a abençoasse onde quer que ela estivesse, apesar de tudo, eu
não quero o mal dela, e foi duro de ver o Ateliê onde trabalhei fechar.
Blanchet sonegava impostos e tudo caiu em cima dela de vez.
Um triste fim.
Agora, eu estou tendo um momento de folga e estou indo visitar Rocco em seu
trabalho.
Chego lá e vou direto para a sala dele, mas infelizmente não posso entrar,
pois Betty avisou que ele está recebendo um empresário de fora, porém ela
telefonou para ele avisando da minha chegada.
— Certo, Betty, vou esperar, tudo bem?
— Claro, querida, e, a propósito: Eu fico muito feliz por tudo que Deus está
te proporcionando, você é uma boa garota, e eu desejo tudo de maravilhoso em sua
vida.
— Obrigada, Betty. — Sorri já sentindo as lágrimas queimando em meus
olhos.
Ultimamente estou assim, você diz que sou bonita e sorri que eu já quero
chorar.
Betty voltou ao trabalho dela e eu sentei no sofá confortável para esperar.
Peguei uma revista e sorri.
Eu era capa.
“A herdeira da moda.
Saiba tudo sobre Victória Fontaine, a nova Cinderela.”
Comecei a ler e de vez em quando eu sorria, eles colocaram as coisas
certinhas, sem alterar nada, Rocco falou que em muitas vezes isso acontecia.
No meio das fotos tinha uma minha com minha avó.
Nessa, Antonieta estava sentada em uma imponente cadeira e eu estava em pé
ao lado dela. A frase que dava legenda estava assim:
"Talento passado de geração em geração: O poder na alta costura tem o
mesmo sangue."
— Claro que sim, eles não fazem ideia do que minha mãe era capaz —
murmurei.
Sobre o assunto relacionado ao meu "surgimento misterioso", chegamos à
conclusão de que isso seria mantido em família. Era para poupar minha avó, mas,
acima de tudo, meu pai. Ele não merece ter a vida escavada para satisfazer a
curiosidade de ninguém.
— OMG, Victória?
Quase morri do coração quando ouvi o breve grito. Olhei para cima e me
surpreendi quando avistei uma linda moça do meu lado. Ela tinha longos cabelos
castanhos e olhos escuros, enfeitando um belo rosto.
Eu a achei conhecida, mas acho que se deve ao fato de ela ser parecida com
alguém que eu deva conhecer.
— Camille, não seja mal-educada! — Betty reclamou saindo de sua mesa.
— Desculpa, mãe, mas a senhora sabe que sou fã da Victória! — a moça
respondeu para Betty, e agora eu notei que elas eram parecidas.
"Ai, por isso eu a achei conhecida, ela é a cara da mãe."
— Me dá um autografo! — pediu e começou a mexer na bolsa. — Ai, Jesus,
eu não tenho uma revista sua aqui. Mãe. me ajuda!
Sorrindo entreguei a revista que eu segurava.
— Ahhhh! — gritou batendo palminhas, pegou uma caneta e virou de costas.
— Pode usar de apoio.
Balancei a cabeça e autografei.
— Prontinho — falei e entreguei a revista, então, antes que eu pudesse fazer
alguma coisa, ela me abraçou, e, nossa, foi muito apertado, tanto que estava me
sufocando.
— Camille, solta ela — Betty reclamou e tirou a filha de perto de mim. —
Desculpa, Victória, mas desde que sua história se tornou conhecida, minha filha
não para de falar em você, ela coleciona suas revistas e vivia me pedindo para
falar com você.
— Ela nunca me ajudou! — Camille fez biquinho e sorrimos.
— Amore mio. — Ouvi a voz de Rocco e me virei, ele estava parado na porta
de seu escritório e nos olhava. — Vem aqui, pequena.
Caminhei até ele e fui puxada para seus braços, logo ele me dava um selinho.
— Saudade de você — murmurou e o empresário que estava com ele sorriu.
— A gente se viu ontem de noite. — Sorri e ele fez careta, quando foi me
beijar, a filha da Betty soltou um gritinho.
— Aiiin, são tão lindos juntos, mamãe!
Rocco olhou para sua secretária e para a linda moça ao lado dela.
— Desculpe, Senhor Masari, mas minha filha resolveu fazer uma visita —
falou sem graça.
— Não sabia que você tinha uma filha adulta, Betty.
— Ela estava estudando fora, chegou há pouco tempo.
— Ah, tudo bem. — Deu de ombros — Por favor, cancele meus
compromissos para o resto do dia.
— Sim, senhor — respondeu e entramos na sala dele.
Rocco conversou mais um pouco com o empresário visitante, e, pelo que
entendi, ele teria que viajar.
Esperei em silêncio até que o homem foi embora e ficamos apenas meu amor
e eu.
— Amore mio, quando Betty falou que você estava aqui, eu quase chutei o
Antonio para fora.
Sorri e ele me puxou para o apartamento acoplado à sua sala.
— Você vai viajar? — perguntei ajudando-o a retirar sua gravata.
— Sim, terei que viajar por uma semana — murmurou beijando meu pescoço.
— Uhmm… cheirosa.
— Me leva junto! — pedi e ele me olhou.
— Tem certeza? — questionou duvidoso. — Eu não vou poder te dar muita
atenção, pois passarei o dia entre reuniões.
— Mas as noites serão minhas, certo? — sussurrei mordiscando seu queixo
com barba cerrada, eu adorava sua barba assim, mas a outra também, pois fazia
mágicas quando ele… digo… quando… enfim, vocês sabem.
— Sim, as noites serão só suas — murmurou colocando suas mãos em minha
bunda, assim ele me ergueu, obrigando-me a enrolar minhas pernas em sua cintura.
— Trato feito — falei mordendo meu lábio, esse pequeno gesto o fez rosnar,
e logo eu era beijada com paixão e tudo que se tem direito.

***

— Nossa primeira parada será na Espanha! — Rocco falou assim que


entramos no seu avião. — Depois iremos para a França e para Itália.
— Que tudo! — Sorri e ele fez careta.
— Amore mio, não vou poder passear com você — murmurou enquanto
prendia meu cinto. — Você disse que iria ficar no hotel, e por isso eu não trouxe
Jason.
— Tudo bem, eu irei ficar desenhando o dia todo, e depois, à noite… —
Calei-me dando um sorriso, pude sentir meu rosto esquentando.
— À noite eu irei desenhar minha língua pelo seu corpo.
Ofeguei, fechando os olhos.
Essa semana seria perfeita… e de fato foi.
Eu passava os dias tranquila em uma suíte de luxo enquanto Rocco
trabalhava, nos dois primeiros dias ele chegou muito tarde e morto de cansado,
então eu fiz massagens nos pés dele e em seus ombros, depois eu preparei um
banho de banheira e o ajudei a relaxar.
Gostava de me sentar e ele vir e se apoiar em mim, assim, eu poderia
acariciar seu peito másculo, enquanto ele relaxa e por vezes até cochilava.
— Rocco, você não pode dormir aqui na banheira — murmurei esfregando
seu peito suavemente. — Não existe possibilidade nesta vida de eu conseguir te
tirar daqui.
Ele soltou uma risadinha cansada e logo suspirou.
— Amore mio, eu estou pensando de olhos fechados, agora peço que me
responda uma coisa — falou baixo, notei que ele estava levemente nervoso. — Eu
sei que você é diferente, é especial, mas… eu sou um homem que sofreu uma
grande decepção, e às vezes é impossível não ter medo, o que sinto por você vai
muito além do que já senti em minha vida por alguém.
— Rocco, eu não sou diferente de ninguém, já te disse isso — murmurei
entendendo seu lado. — Mas, por favor, faça sua pergunta e eu te responderei com
sinceridade. Nunca menti para você e não vou começar agora.
— Amore mio, você teria coragem de me trair? — perguntou e fez silêncio,
eu fiz silêncio.
Acho que a Espanha inteira fez silêncio…
— Rocco, olha só, quando Damon me contou como as coisas aconteceram, eu
juro que te entendi. Eu te entendo agora, você vivia um momento bom e do nada
flagrou sua noiva na cama com outro. — Suspirei levando água até seu peito e
acariciando, eu gostava de ficar com ele assim, suas costas em meu peito. — Eu
entendo seu receio, mas ele é infundado, não faz parte da minha personalidade
enganar as pessoas. Então saiba que, se eu encontrar alguém que abale minhas
estruturas, que me faça perder a cabeça e queira realmente me envolver, você será
o primeiro a saber.
Mais silêncio se fez e logo Rocco se virava para me encarar.
— Victória, eu não posso pensar nessa possibilidade — grunhiu baixo,
levemente assustado, eu sabia disso porque seus olhos me encaravam como um
animal acuado. — Você não pode… eu.
— Homem selvagem, eu já falei para você que te amo muito. — Acariciei
seu rosto. — Não vou encontrar outro homem que me faça sentir o que você faz,
mas como eu te disse, se isso acontecer comigo, e também pode acontecer com
você, precisaremos ser sinceros e abrir nossos corações. — Sorri para seu rosto
aflito e revoltado. — Eu nunca irei te trair, eu acabaria nosso relacionamento
primeiro e espero o mesmo de você.
— Eu nunca vou te deixar — grasnou ansioso. — Maldita conversa sem
graça — reclamou erguendo-se da banheira, eu só fiz rir. Até parece que existe a
possibilidade de eu encontrar alguém que me deixe tão louca como Rocco.
Levantei da banheira quando ele abriu uma toalha, com cuidado, me secou, e,
quando tocou meus seios, eu choraminguei.
— O que foi? — murmurou em meu ouvido. — Está sensível?
— Sim… muito… — gemi quando Rocco apertou meus mamilos levemente,
eu juro que senti meu núcleo contraindo em resposta.
— Vem, pequena. — Logo eu era erguida nos braços dele e Rocco me
carregava para a cama. — Você não está cansado?
— Nós temos energia para satisfazer a nossa mulher — falou segurando seu
membro duro e orgulhoso.
— Deita aqui — chamei e ele praticamente pulou na cama, deitando-se todo
esparramado.
Ri baixinho.
— Hoje eu vou te montar, apenas desfrute — Mordi o lábio e subi nele.
— Coloque-se em meu rosto, quero te chupar — comandou com voz grossa e
eu obedeci.
Durante muito tempo Rocco me lambeu e chupou de forma lenta e
provocativa, às vezes ele murmurava palavras carinhosas olhando para minha
amiga lá de baixo, e então ele dava uma passada de língua que era mortal.
Ele me degustava. O barulho de seu beijo misturava-se com meus gemidos, eu
estava com os braços apoiados na parede e olhando para baixo, observando
Rocco me comendo de olhos fechados. Ele parecia estar em seu lugar favorito.
Meu Deus…
O prazer era sublime, mas eu queria mais… muito mais.
— Preciso tê-lo dentro de mim — ofeguei e ele deu um último e sonoro beijo
em meu sexo. Desci pelo seu corpo e, com cuidado, o coloquei em meu centro, aos
poucos desci gemendo de prazer ao senti-lo me abrindo e preenchendo.
— Isso! — Rocco rosnou segurando meu quadril e eu comecei a rebolar
devagar, fazendo-o mexer dentro de mim, eu gemia e ele também, suas mãos
acariciavam meu corpo, brincavam com meus mamilos, puxando-os, beliscando-
os.
— Rocco… amor… — Joguei a cabeça para trás, fechando os olhos, não
havia pressa, não havia o mundo lá fora.
Continuei assim, até que ele se sentou e intensificou nossa dança, levando
uma das mãos até minha bunda para aplicar pressão e controlar meus movimentos.
— Gosta assim? — murmurou com o rosto quase colado ao meu. — Gosta de
me ter tão profundo que não sabemos quem é quem?
— Sim, eu adoro — murmurei e ele me beijou.
Tomando-me de duas formas.
Marcando-me de várias maneiras.

***

No terceiro dia de viagem, meus enjoos pioraram, com certeza devo estar
com alguma intoxicação alimentar, pois a comida espanhola é bem temperada.
Quando fomos para a França, minha indisposição aumentou, tanto que o cheiro do
perfume de Rocco, que eu tanto amava, estava sendo meu pior pesadelo.
Com jeitinho, eu fazia com que ele tomasse banho para poder tirar o pior do
cheiro. Passamos apenas um dia e meio na França, entretanto, mesmo trabalhando
muito e super cansado, Rocco me levou para conhecer a Torre Eiffel, e foi só aí
que me lembrei de um detalhe.
Minha resposta acerca da proposta de Jean Pierre.
Deixei para fazer isso depois, pois agora mesmo eu só consigo pensar nesse
momento que estou tendo com Rocco.
Encerramos a semana na Itália no mesmo hotel e suíte onde eu tive minha
primeira vez. Rocco me surpreendeu preparando o quarto, ele reproduziu nossa
primeira noite de amor, e foi tão perfeito quanto.
Mais uma lembrança feliz para minha enorme caixa da alegria.
Voltamos para Londres depois de uma semana, apesar de Rocco ter passado
as manhãs trabalhando, à noite, como prometido ele era meu, e eu amava isso. Não
tive como passear pela Espanha, mas só o fato de estar lá e cuidar de Rocco como
se ele fosse meu marido era algo que me fazia ansiar oficializar logo nossa união.
Fomos direto para sua cobertura e dormimos por lá.
Meu pai estava tranquilo sobre isso, mas minha avó vivia implicando,
dizendo que isso não era bom para minha imagem.
Rocco quase brigava com ela, e olha que ele estava um poço de
tranquilidade, engoliu numa boa meus ditos fãs masculinos. Eu o achei muito
mudado, e me apaixonei ainda mais.
Ah, sim, sobre minha imagem, eu não estava nem aí. Ficar sem Rocco eu não
iria, e quando disse isso a ele, fui girada no ar, tamanha era sua felicidade. Isso me
rendeu algum tempo no banheiro vomitando as tripas.
E estava ficando difícil esconder que estava passando mal, Rocco me
avaliava, só que eu tinha certeza de ser apenas um mal passageiro. Não queria
preocupá-lo à toa. Acho que isso também era culpa da minha vida, que estava tão
corrida, que mal havia chegado da viagem que fiz com Rocco e já tinha uma festa
de gala para ir.
Então, o dia seguinte, eu passei em um salão de beleza. e ao contrário do que
foi a primeira vez, essa foi simplesmente péssima.
Os cheiros de lá estavam me matando, e eu tinha que respirar pela boca, o
que no fim das contas não ajudava em quase nada.
À noite eu ficava bem melhor, parece que meus enjoos eram mais fortes
durante o dia, e às vezes eles nem davam sinal de vida, o que me fazia descartar a
hipótese de gravidez, porque pelo tempo não tinha como eu estar tão enjoada, já
que eu menstruei esse mês, então deve ser a mudança drástica na minha rotina, eu
realmente nunca fui muito forte, nem mesmo na adolescência, bastava um estresse
e eu estava com minha cara enfiada em um vaso.
Terminado o dia penoso, eu estava pronta esperando por Rocco. E quando ele
surgiu, eu tive que lembrar como respirar… ele já era lindo, mas de smoking ele
era algo de outro mundo.
— Amore mio — sussurrou aproximando-se. — Você está linda.
Sorri girando para ele me ver completamente. Eu usava um vestido longo
azul, esvoaçante, de frente única. Não usava colares, mas estava com os brincos
azuis que com que Rocco me presenteou, meu cabelo estava preso em um coque
elegante, alguns fios caíam em meu rosto, para completar, eu usava uma
maquiagem que marcava meus olhos, mas na boca eu preferi um suave batom cor-
de-rosa.
— Você também. homem selvagem — murmurei aspirando seu cheiro.
Esperei o enjoo vir, mas não veio, graças a Deus, meu estômago voltou ao normal.
Sorri feliz e puxei seu rosto para um beijo.
O caminho até a festa foi feito em paz, Rocco estava usando a aliança de
noivado e eu estava adorando isso, apesar de não ser uma tradição, ele fez isso
porque queria algum símbolo que representasse nosso relacionamento, eu também
usava uma, além é claro, do meu diamante rosa.
— Victória, eu estava pensando… — Rocco começou e eu prestei atenção.
— Baby, não quero esperar, vamos marcar a data do nosso casamento.
Fiquei calada e ele franziu as sobrancelhas
— Eu quero me casar logo, não vejo a hora de te ver carregando meu
sobrenome — murmurou acariciando meu rosto, — Vamos, baby, vamos marcar a
data?
— Quando? — respondi e ele ficou ali, piscando os lindos olhos azuis como
se não acreditasse.
— Um mês! — exclamou sorrindo e eu fiz careta. — Duas semanas então, eu
também achei que um mês era muito tempo.
— Rocco, em duas semanas eu não consigo fazer meu vestido. — Sorri e ele
fez um bico que eu tive que beijar. — E meu pai vai para o Brasil depois de
amanhã e só volta em vinte dias. Aliás, você está esquecendo que também vai
viajar e passar duas semanas fora?
Rocco fez uma careta decepcionada e eu ri baixinho.
As reuniões nos três países que fomos renderam frutos quase que
imediatamente, Rocco teria que viajar depois de amanhã, e desta vez eu não
poderia ir, estava cheia de responsabilidades para cumprir.
— Eu me esqueci dos meus compromissos— resmungou passando as mãos
nos cabelos. — Droga! Eu poderia muito bem mandar essas fusões se foderem e
pronto.
— Homem selvagem, você é demais. — Balancei a cabeça. — Você estava
esperando por essa fusão, então deixe de querer se casar às pressas.
— Civil! — exclamou e eu joguei a cabeça para trás gargalhando. — Quando
eu voltar vamos nos casar no civil e depois fazemos o religioso, com um
casamento mega pomposo, como você tem direito, faremos algo digno de um conto
de fadas.
— Você sabe que eu não me importo com isso! — Suspirei e ele concordou.
— Eu sei, mas faço questão, você merece ter o mundo a seus pés.
— Então iremos nos casar em segredo quando você voltar e…— Eu me
aproximei dele. — Só quero uma pessoa a meus pés. — Mordi seu lábio e ele
rosnou baixinho. — E esse alguém é você. Roccostoso, meu homem selvagem.
— Olha aqui quem é Roccostoso — grunhiu pegando minha mão e levando
até o seu grande volume entre as pernas.
Gemi baixinho e ele me agarrou.
Só esperava chegar não muito amassada à festa.

***

Confesso que ainda não estava acostumada a tantas pessoas gritando meu
nome.
Assim que saí da limusine de Rocco, os flashes começaram, graças a Deus
que eu tinha aquele homem tão seguro de si ao meu lado.
Vários seguranças evitavam que as pessoas se aproximassem… era tudo tão
diferente.
Paramos para algumas fotos, entretanto eu não queria dar entrevista, estava
ansiosa e queria sentar logo, estava começando a sentir vertigem.
Rocco pareceu me entender, e quando demos as costas para sair, ouvi meu
nome ser gritado em uníssono por um grupo de pessoas.
Parei e olhei para trás, então mais uma vez meu nome foi chamado, olhei para
o lugar onde tinha um pequeno grupo de pessoas com cartazes erguidos.
"Victória, seja minha fada madrinha também!"
Olhei para uma moça que chorava enquanto segurava um dos cartazes.
Automaticamente caminhei até ela e, a cada passo que eu dava, ela gritava mais e
mais, e chorava também.
Parei em sua frente.
— Olá. — Sorri para a moça e ela fechou os olhos enquanto as lágrimas
escorriam pelo seu rosto. — Você estava me chamando, não foi? –perguntei e ela
balançou a cabeça concordando.
— Amore mio, vamos? — Rocco estava ao meu lado e tentou me puxar.
— Espera — pedi e ele aceitou, as câmeras focadas em nós, os microfones
também.
A moça era linda, de pele negra e olhos cor de mel, uma beleza exótica, e
estava muito emocionada.
— Victória — soluçou —, por favor… — ela começou a falar, mas os
seguranças começaram a empurrar e eu pedi que parassem.
— Continue, ninguém vai atrapalhar — falei e ela estendeu as mãos, eu
entreguei as minhas.
Ela suava e estava gelada.
Rocco parecia nervoso e agitado.
Eu estava tranquila e curiosa.
— Eu passei dez anos da minha vida juntando dinheiro para me casar —
soluçou e eu franzi o cenho. — Eu estava com tudo organizado, escolhi tudo,
absolutamente tudo, mas minha mãe adoeceu e eu usei todo o dinheiro do meu
casamento tão sonhado em seu tratamento. — As lágrimas escorriam pelo seu belo
rosto, e eu estava tendo um trabalho difícil em segurar as minhas também.
— Sua mãe? Ela está… — Engoli em seco, e a garota de quem eu ainda nem
conhecia o nome pareceu entender minha pergunta, pois sorriu e olhou para trás,
logo uma mulher muito bonita, mas com expressão cansada, emparelhou ali.
— Minha mãe está curada, graças a Deus. — Sorriu entre lágrimas. — É só
que você falou sobre ter fé, eu tive e tenho muita, então quando eu soube que
estaria aqui, minha família toda se reuniu, e talvez…
— Victória, seja a fada madrinha da minha filha, ela merece — a mãe da
garota falou. — Nenhuma mãe teve filha mais amorosa, cuidadosa e dedicada que
eu, peço que nos ajude.
— Eu só peço um vestido para eu poder me casar… por favor. — A moça
voltou a chorar e eu sorri.
— Qual o seu nome? — perguntei e ela fungou.
— Mariah.
Sorri e não segurei as lágrimas, elas escorreram, basicamente aquele era o
nome da minha mãe.
— Mariah, esse nome é lindo. — Sorri e olhei para Rocco, ele sorria
singelo.
— Victória, eu nunca pensei que iria conseguir! — Sorriu e balancei a
cabeça.
— Mas você conseguiu. — Pisquei um olho e ela arregalou os dela. — Serei
sua fada madrinha.
Houve gritos e mais gritos de felicidade, as pessoas que vieram com ela
enlouqueceram e eu ri feliz também.
— Obrigada, obrigada. — Mariah beijou minhas mãos, me deixando sem
jeito. — Deus ouviu minhas preces, Ele ouviu.
— Ele sempre ouve, querida, sempre ouve. — Sorri e chamei Jason.
— Jason, por favor, pegue os contados de Mariah — falei e ela sorria de
forma linda, pura felicidade marcava seus traços. — Amanhã eu entro em contato,
você confia?
— Sim! — falou e eu sorri satisfeita.
— Perfeito. Sua fé te trouxe até aqui, agora continue acreditando, Deus está
no controle e tudo vai dar certo, eu prometo — eu me despedi e entrei na festa.
Minhas forças renovadas, o sucesso servindo para alguma coisa.
— Amore mio, eu acho que não posso me apaixonar ainda mais por você! —
Rocco murmurou assim que chegamos em casa, depois de passar a noite entre um
monte de gente que não me deixou sentar um minuto.
Eu estava morta e foi Rocco que me despiu. Limpou minha maquiagem e me
vestiu.
Ele fez tudo isso e depois deitou comigo. Abraçando-me e me protegendo.
Sua mão repousando em minha barriga.
E eu só queria poder dar para Rocco essa alegria.
Capítulo 53
Victória

Em dois dias eu estava me despedindo do meu amor, pois ele estava de


partida para duas semanas de trabalho. Dentro do carro, a caminho do aeroporto,
ele me falava que tentaria escapar um dia para me ver. Não sei como ele vai fazer
isso, mas eu realmente quero.
— Victória, não saia sem o Jason, ouviu?
— Sim, senhor. — Sorri fungando seu pescoço. — Aiin, cheirosooo.
— Você gosta do meu perfume, não é? — Riu acariciando meu cabelo, e eu
balancei a cabeça concordando.
Eu adorava e graças a Deus meus enjoos diminuíram muito.
— Amor, vou sentir saudade — murmurou me apertando. — Do seu cheiro…
do seu beijo, do seu gosto — Rocco ronronava em meu ouvido e eu já estava
tremendo. — Tenho certeza que agora mesmo você deve estar toda molhadinha.
Suspirei.
Estava dentro de uma limusine e graças a isso estávamos isolados.
— Deixe-me ver — grunhiu baixinho enquanto desceu a mão pelo meu corpo,
eu usava uma saia, e isso facilitou seu acesso, antes que eu pudesse dizer qualquer
coisa, os dedos dele me tocavam intimamente. — Molhada.
Gemi quando seus dedos começaram a me tocar, estimulando meu clitóris
sensível.
— Vou te fazer gozar em meus dedos — rosnou me penetrando, abri a boca
para gemer, mas ele me beijou e engoliu qualquer som que eu ousasse proferir.
Seus dedos e sua língua pareciam sintonizados, pois os movimentos eram
ritmados e sincronizados. Eu estava muito sensível ultimamente, se antes, só em
estar perto de Rocco eu ficava excitada, agora eu ficava à beira do orgasmo.
— Uhmm — gemi baixinho quando as sensações me dominaram, mais um
pouco e eu gozaria.
Como se soubesse disso, ele puxou minha blusa e abocanhou um mamilo,
sugando com força, eu quase enfartei. Meus seios estavam terrivelmente sensíveis.
— Rocco. — Arqueei, sentindo o orgasmo começando a viajar pelo meu
corpo. Tremi, convulsionei e ele cuidou de mim.
No fim, quando eu estava arfante e mole, ainda tive que observá-lo lamber os
dedos como se provasse um manjar.
"Esse homem ainda me mata."
— Vou viajar com seu gosto em minha boca e meu pau implorando por alívio
— rosnou em meu ouvido. — Ele será um aviso de que preciso voltar correndo,
não vou me aliviar, vou ficar assim, desesperado para estocar duro em sua boceta
gostosa.
Ofeguei trêmula, mas juntei forças e puxei seu rosto para mim, fazendo uma
casinha com minha mão, cobrindo as laterais de nossos rostos unidos.
— Me conte um segredo — pedi baixinho e Rocco fez silêncio, ele sabia a
brincadeira, era para contar algo inédito, como ele não dizia nada, eu tomei a
frente. — Meu segredo é: Eu desistiria de tudo por você. Até da minha avó, se ela
não te aceitasse.
Rocco arregalou os olhos em choque e eu sorri.
— Agora sua vez.
Respirando fundo ele soltou:
— Não vivo sem você.
Essa foi nossa despedida.
Rocco viajou me deixando de pernas bambas e o coração explodindo de tanta
felicidade.
Eu tinha certeza que o eu te amo estava prestes a sair de seus lábios. Era só
eu esperar mais um pouco, e eu esperaria o tempo que fosse preciso.

***

Enquanto voltava para casa eu mexia em meu celular e, quase sem querer,
passei pelo contato de Jean Pierre.
— Ai, meu Deus, me esqueci dele — murmurei discando seu número. Alguns
toques depois ele atendeu.
— Ma belle fleur! — saudou assim que atendeu.
Suspirei. Acho melhor resolver logo isso.
— Oi, Jean Pierre, estou ligando para agradecer sua proposta. Obrigada pela
oportunidade que me ofereceu, mas eu terei que recusar.
— Eu supus, vi que sua vida teve uma reviravolta, mas ainda nutria
esperanças de que aceitasse.
— Bom, ainda bem que entende. Agora mesmo eu tenho minha avó fazendo
boa parte dos contatos no meio e, além do mais, vou me casar, então, ficaria ainda
mais impossível morar na França.
Houve silêncio, então ouvi o barulho de algo quebrando.
— Tudo bem? — perguntei preocupada.
— Sim, está, eu só derrubei uma garrafa. — Riu baixinho. — Te desejo boa
sorte em sua nova vida, ma belle Fleur, digo para aproveitar, nunca se sabe o
dia de amanhã.
— Er… uhm… obrigada… — murmurei estranhando o tom de voz que ele
usou. — QAgora preciso desligar.
— Fique à vontade, um dia estaremos sob a mesma lua. Confie em mim. Au
revoir, mon amour…
Em seguida desligou, me deixando com uma resposta morta na ponta de
língua.
Com os dois homens da minha vida viajando, eu caí de cabeça no trabalho.
Chamei Antonella e juntas formamos uma equipe para organizar o casamento
de Maria. Contratei a mãe de Gio para costurar e tia Laura, antes de viajar para o
Brasil com Ricardo, me ajudou com mais duas meninas.
Eu estava sem meu povo. Até minha avó precisou viajar para tomar conta de
alguns detalhes de seu próprio ateliêr.
Os desfiles de moda estavam chegando, e eu iria apresentar três modelos em
parceria com a Luxury's, a marca da minha avó.
Vários costureiros mandavam currículos para minha equipe de contratação.
Era tia Laura que fazia a filtragem e escolhia quem iria trabalhar. A imprensa
estava cobrindo esse trabalho. Eu queria tudo perfeito. Tive até que alugar um
galpão para fazer de ateliêr improvisado. Ainda bem que eu tinha Jason e Dimitri
para me ajudar, caso contrário eu estaria louca.
Maria merecia algo esplêndido, pois uma história linda merece um final lindo
e digno, e eu estava empenhada nisso.
O vestido de Maria seria estilo esvoaçante, de gola alta e ombros nus. Ela
iria ficar uma verdadeira princesa.
A primeira semana passou voando, todo mundo trabalhando feito louco para
deixar tudo em ordem.
Minhas outras encomendas estavam paradas, esse casamento estava no topo
da minha lista e não era só vestido de noiva, tinha madrinhas, damas de honra e
tudo mais. Eu estava com as mãos cheias. Graças a Deus minhas clientes estavam
aceitando numa boa, caso contrário teríamos problemas. Já era quase fim de tarde
da primeira semana quando do nada eu simplesmente desmaiei.
Acordei em um hospital com Antonella sorridente.
— Parabéns, cunhada, você está grávida — gritou e começou a pular.
— Mas eu estava menstruando e… — Olhei para Antonella sem acreditar, ela
negou, calando minhas palavras.
Puro choque me fazendo tremer levemente.
— Não importa, a médica disse que você está com mais de quatro semanas,
então parece que você e meu irmão fizeram esse bambino quando estavam nos
Moors.
Primeiro eu fiquei quieta, e depois eu pensei em todos os enjoos que senti. A
sensibilidade
Era meu filho. Meu e de Rocco, causando mudanças em meu corpo.
Toquei minha barriga ainda plana fazendo carinho. Nem credito.
— Rocco vai pirar! — exclamei sem conseguir segurar as lágrimas.
Eu chorei. Chorei tanto que deveria estar com a cara toda inchada.
— Ai, meu Deus, Rocco precisa saber, mas não quero contar por telefone, eu
preciso fazer algo lindo, ele merece. — Sorri fungando.
— Claro, eu já tentei ligar, mas só chama, e agora que você falou, eu devo
concordar. Vamos preparar uma surpresa para contar que ele vai ser pai. —
Antonella bateu palmas e foi para a porta. — Todos querem te ver.
Assim que ela abriu a porta, Jason praticamente correu para dentro, seguido
por Dimitri, William, Gio, Alice e minha sogra, Elisabeth.
— Minha filha — minha sogra chorou e riu. — Nem acredito. Finalmente
meu filho vai me dar um neto. Eu achava isso impossível.
Sorri entre as lágrimas de felicidade.
Todos me abraçaram e concordaram que eu deveria, sim, fazer uma surpresa
para Rocco.
Por enquanto iríamos manter sigilo.

***

O único problema de fazer essa surpresa era o fato de que eu não estava me
segurando de ansiedade, então liguei para Rocco várias vezes, dois dias depois
que soube estar esperando um filho dele. Mas o telefone só chamava e chamava.
No terceiro dia após sua viagem, ele me ligou, dizendo que estava no Oriente
Médio, houve mudanças de planos e um grupo de Sheik's estava querendo fechar
um grande negócio. Rocco me falou que passava o dia todo em reuniões e que não
poderia atender o telefone, pois os árabes não toleravam.
Ele disse também que estava concentrado em fechar esse negócio.
Resolvi esperar. Faltava apenas quatro dias para ele chegar e eu iria preparar
a grande surpresa.
Era uma quinta-feira quando Gio me procurou no meu apartamento. Eu estava
sozinha, Jason havia ido comprar sorvete para completar o estoque de guloseimas.
Essa noite Dimitri e William viriam para assistirmos a séries ou filmes.
Faríamos um programa cafona, como diz o Dimitri.
— Vic, eu preciso de ajuda — Gio pediu baixinho.
— O que você quer? — perguntei olhando em seus olhos, notei que ele estava
aflito.
— Eu estou apaixonado pela Alice, mas não sei como faço para pedi-la em
namoro! Eu queria algo especial, sabe? Mas que não custasse muito.
Sorri feliz da vida. Finalmente Gio estava dando o braço a torcer, desde a
primeira vez que vi a forma como ele olhava para Alice, eu notei que ali havia
algo mais.
— Gio, por que demorou tanto? — perguntei arqueando uma sobrancelha. —
Está tão na cara que vocês se gostam!
— Vic, eu não tenho onde cair morto, digo, se não fosse por você e tia Laura
terem conseguido o emprego para mim, eu acho que já estaria morando na rua com
minha mãe e meus irmãos.
— Gio, o dinheiro não importa para o amor. Alice suspira quando você
passa, meu Deus, os olhos dela fazem aquele emoji de coração quando te olha.
Rimos e ele corou levemente.
— Você olha do mesmo jeito para Rocco.
— Errado, eu olho para ele como o máscara quando vira cachorro. Meus
olhos saltam e minha língua desdobra um metro.
Rimos novamente, logo em seguida ele suspirou.
— O que eu faço?
— Primeiro compre um anel simples, flores ou chocolate, leve ela para
passear no Hyde Park ao entardecer, e quando achar um lugar bem bonito, fique de
joelhos e faça o pedido.
Gio coçou a cabeça e pigarreou nervoso.
— Acha que isso vai funcionar? — perguntou duvidoso
— Querido, você já tem o não, corra atrás do sim… vai dar certo.
— Obrigado, Vic, você é uma amiga incrível. — Sorriu e foi embora, pouco
tempo depois, Jason e os garotos chegaram.
Assistimos a filmes até não querermos mais, rimos muito e brigamos também.
Dimitri era um fofoqueiro, ele falava o filme todo.
Assistir a Cinquenta Tons com ele foi a treva.
— Do Pisdy, que garota sem sal — reclamou. — O cara parece um boneco,
não tem expressão. Eu no lugar dele estaria grunhido obscenidades no ouvido
dessa safada.
— Cala a boca, seu fresco — William xingou. — Deixa o cara!
— Você fala assim, mas eu sei como você é um libertino de uma figa! —
devolveu e eu ri da cara de raiva do William, mas logo eu tive que correr para o
banheiro.
Os enjoos voltaram com força total.
— Calma, mana — Jason segurou meu cabelo enquanto eu vomitava até pelo
nariz.
— Essa é a pior parte, brother! — reclamei tremendo. — É a pior, mas até
isso vale a pena, eu sei que é meu bebê que está fazendo isso. — Sorri
— Tem razão — concordou. — Ah, tudo está pronto para amanhã. Vamos
arrumar o apartamento de Rocco, no sábado ele terá uma grande surpresa.
— Com certeza.
No dia seguinte eu acordei mais enjoada, mas fiz o que minha médica falou,
bolacha de sal e chá de gengibre. Alivia muito.
O tempo correu e logo faltava um dia para a chegada de Rocco.
— Nem acredito que ele chega amanhã! — exclamei feliz, porém estava
ainda mais ansiosa, eu tenho que arrumar a surpresa ainda hoje. Por isso conversei
com Maria e expliquei que precisaria me ausentar dois dias dos preparativos para
o casamento. Graças a Deus resolvi tudo sem problemas. As coisas estavam bem
encaminhadas.
Então eu fui primeiro para um shopping e comprei sapatinhos rosa e azul.
Jason olhava para as coisas de bebês e sorria com a maior cara de besta do
mundo.
— Você será um tio e tanto, vai aprender a trocar fralda cagada! — Bati em
seu ombro com o meu e ele concordou, fazendo careta.
Na volta para a cobertura de Rocco, Jason parecia ansioso, alguma coisa o
estava deixando agitado.
— O que foi, brother? — perguntei e ele me olhou brevemente
— Eu preciso desabafar com você! — murmurou e eu prestei bastante
atenção. — Victória, eu não tenho ninguém na minha vida, eu vivi durante muito
tempo sendo o segurança de Rocco, e nada mais, então você chegou e me fez feliz.
Você me acolheu como um ente querido, eu jamais irei conseguir retribuir a
felicidade que você me proporciona. Obrigado por me aceitar sem questionar meu
passado, obrigado por me chamar de irmão, mas, principalmente, obrigado por me
dar carinho e uma família — suspirou, — Me desculpe por despejar isso tudo em
cima de você, é só que eu achei necessário… eu tinha que te dizer.
— Jason. — Chorei emocionada.
Os hormônios da gravidez me deixando descontrolada.
— Você é meu irmão de coração, e eu amo você como se fosse do meu
próprio sangue.
— Eu também amo você como minha irmã, Victória, pode acreditar.
— Eu acredito, meu querido brother, eu acredito…

***

— Dimitri, levante essa faixa mais um pouco! — pedi e mesmo sob protestos
ele colocou.
— Deus me defenda de ser voluntário para ajudar nos aniversários do seu
moleque. — Bufou levantando mais alguns centímetros.
A faixa era uma frase simples.
Parabéns, papai.
Iria ficar no quarto, acima da nossa foto gigante. Muito bem visível, seria um
"Pahh" que o deixaria eufórico.
Eu resolvi fazer toda a decoração no nosso cantinho especial, então lá tinha
bolas azuis e rosas, no meio da cama tinha um coração com as duas roupinhas no
meio.
Meu coração estava explodindo de alegria, pois amanhã Rocco vai ter uma
grande surpresa. Eu já estava que não me aguentava de saudade, nossas ligações
estavam esporádicas e muito curtas, porque ele estava muito focado nas reuniões,
e também o fuso-horário. Eu bem sabia o quando ele chegava cansado dessas
reuniões.
Depois de deixar a decoração pronta e o apartamento limpo, eu organizei as
coisas para o jantar que eu iria preparar amanhã.
Pedi para Jason comprar alguns ingredientes que eu tinha esquecido, enquanto
isso, Dimitri estava em um dos quartos, tomando banho, Alice em outro e Gio
sentado no sofá comigo.
— Tudo pronto para amanhã! — Gio falou nervoso. — Comprei o anel.
Sorri e baguncei seu cabelo.
— Seu bobo, vai dar tudo certo, confia em mim. — Sorri apoiando a cabeça
no encosto, nos havíamos mudado a posição de alguns móveis para melhorar o
ambiente, então como era no apartamento de NY, colocamos o grande sofá de
costas para a entrada do hall.
— Sabe, eu estou com medo! — murmurou imitando minha posição. — E se
não der certo?
— Vai dar, amanhã é o dia da verdade, não tem por que dar errado.
Ficamos em silêncio durante alguns segundo até que Gio puxou conversa. Ele
parecia apreensivo, mas, acima de tudo, muito nervoso. Sabia que ele era um poço
de timidez, entendia muito bem a mudança de assunto. Pensa que isso ajuda em
algo. Não estaria mais enganado.
— Como você acha que Rocco vai lidar com essa situação?
— Eu acho que ele vai tirar de letra. — Sorri feliz.
Eu tinha certeza que meu amor iria surtar de felicidade.
— E se ele ficar com raiva por que você demorou para contar?
— Não vai ficar, eu até tentei, mas ele estava muito ocupado, e, certamente,
se eu dissesse que agora não éramos só nos dois, ele iria voltar correndo.
— Tem razão, ele é bem possessivo com você! — falou e suspirou
profundamente.
— Sim, ele é, mas acho que terei um desconto. Afinal não é uma notícia
simples.
— Tem razão, eu só acho que ele vai ficar louco quando você disser!
— Vai mesmo. — Ri tocando minha barriga
Mais um pouco de silêncio se fez e Gio retirou uma caixinha do bolso.
— OMG! — Levei minhas duas mãos até a boca.
— Não é nenhum diamante Rosa, mas é com amor — Gio murmurou e abriu a
caixinha.
Olhei para o anel simples e sorri feliz.
Alice iria amar.
— Não importa o valor, eu já disse que dinheiro não compra felicidade, ele é
lindo, e eu amei. — Sorri dando um abraço em Gio. — Agora guarda, ele é para
ser entregue amanhã.
— Amanhã nunca esteve tão longe — murmurou e eu tive que concordar.
— Não vejo a hora de tê-la em meus braços — suspirou guardando a
caixinha no casaco. — Alice é a mulher da minha vida, eu sei que muitos podem
pensar que sou novo, mas, por Deus, eu sinto na alma que ela foi feita para mim.
— Vai dar tudo certo. — Sorri piscando um olho. — Alice também te ama.
— Eu realmente espero. Esse pedido de namoro está me deixando de cabelos
em pé.
Gargalhei baixinho, mas logo me controlei, Dimitri apareceu dizendo que
estava morto de fome, e eu fui preparar sanduíches para o lanche, em seguida
iríamos todos embora.
Amanhã eu voltaria para terminar de preparar as coisas para a chegada de
Rocco.
— Ansiedade me define, quero só ver a cara dele!
Acariciei minha barriga com carinho.
— Amanhã vamos fazer uma surpresa para o papai.
Só não esperava a ligação de Rocco dizendo que era para eu esperar por ele
no apartamento do meu pai. Bom, isso seria apenas uma pequena mudança nos
planos, quando ele chegasse, iríamos para o seu apartamento, e lá ele teria uma
grande surpresa.
Capítulo 54
Victória

Finalmente hoje era o grande dia.


Dormi no apartamento de Rocco e já preparei a nossa janta, deixando na
geladeira, pronta para ir ao forno.
Meu enjoo estava terrível. Mas como tudo nessa vida, eu estava meio que
acostumada, sobre isso não tinha controle, então o jeito era sempre andar com
minhas bolachinhas de sal.
O dia passou e minha ansiedade aumentava mais e mais.
Rocco estava programado para chegar às sete da noite. Às cinco, com ajuda
de Jason, eu deixei tudo pronto e fui para o apartamento do meu pai.
Lá eu tomei um banho demorado, hidratei bem minha pele, me perfumei e já
estava uma pilha. Graças a Deus meu pai me ligou, ele fazia isso o dia inteiro, me
ligava de instante em instante para saber de seu neto.
Ah, tia Laura também está grávida, então era felicidade dobrada. A família
Andrade estava crescendo.
— A surpresa do meu genro está pronta? — meu pai me perguntou rindo. —
Acho que ele vai te infernizar, minha filha, esse homem é superprotetor demais,
assim como eu…
— Sim, eu coloquei balões, faixas e sapatinhos de bebê. Acho que ele vai
enlouquecer de felicidade.
— Claro que vai — riu. — Filha, tenho que ir, vou entrar em uma reunião
com o governador do Rio.
— Vai lá, pai. Sua benção — pedi e ele fez silêncio.
— Filha, que quero te dizer que você é a melhor coisa que aconteceu em
minha vida, eu te amo com todo o meu coração e já estou que não me aguento de
saudade. — Notei que ele ficou triste. — Por favor, se cuide, ouviu? O papai
chega em dois dias, vou adiantar, quero logo te dar uma abraço e conversar com
meu netinho.
— Pode deixar, vou me cuidar — sorri, mas senti o coração apertado.
— Victória?
— Sim, pai.
— Você é minha razão de viver.
— Ahh, pai. — Chorei. — borrei toda a minha maquiagem.
— Então vá, esse pai babão vai te deixar em paz.
— Eu te amo.
— Eu te amo mais.
Desliguei o telefone e logo uma mensagem apita. Olho e vejo que é Rocco.
— Me encontre no bar do La Riviera as 19h, estou chegando — li a
mensagem e terminei de me vestir às pressas.
Eu não queria deixá-lo me esperando.
— Jason, vamos para o Riviera, Rocco está me esperando lá.
— Claro.
Fomos para lá, mas no caminho pegamos um transito, então eu cheguei um
pouco atrasada.
— Jason, pode ir, a essas alturas Rocco já deve estar me esperando.
— Tudo bem, estou no celular, qualquer coisa me ligue.
— Certo.
Entrei no Riviera e fui direto para o bar esperar por Rocco. Ainda não
entendi o porquê de ele ter mudado nosso segundo plano, era eu ficar pronta e
esperar por ele na casa do meu pai. Onde ele me encontraria, então eu daria um
jeitinho de depois irmos para o “nosso” apartamento para matar a saudade. O bom
era que Rocco nem imagina o tamanho da surpresa que preparei para ele.
Ri baixinho, a ansiedade estava me causando um frio tremendo na barriga.
Esse momento foi tão aguardado, mas posso jurar que Rocco desejou ainda mais
que eu. E agora finalmente…
A surpresa que tenho para Rocco vai deixá-lo exultante, louco mesmo.
Nem acredito que Rocco está chegando, meu Deus estou sentindo tanta falta
daquele grandalhão marrentinho e lindo! Meu corpo está cantando de expectativa,
e meu coração explodindo, porque, finalmente, depois de duas longas e
angustiantes semanas, ele graças a Deus está de volta para ficar. Não quero nem
imaginar o que ele vai fazer comigo quando estivermos sozinhos.
Fechei meus olhos tentando me controlar, meu corpo já estava meio mole,
excitação fazendo meu clitóris pulsar e meus seios pesarem.
— Duas semanas é muito tempo! — suspirei arrepiada, eu quase podia sentir
suas mãos em minha pele, me explorando, me amando. Fazendo-me a mulher mais
feliz e completa do mundo.
Não vejo a hora, eu e Rocco somos inseparáveis, e ficar longe mesmo que
seja por obrigação, devido ao trabalho dele, é muito ruim.
Enfim, só não entendi ainda o porquê de ele não ter ido direto lá para casa ou
eu mesma ir para nossa cobertura! Quando nós passamos muito tempo longe ele
vai me encontrar onde eu estiver, e ele sabia que eu iria estar no apartamento na
hora que chegasse de viagem. Esse era o combinado. De qualquer forma, ele
mudou os planos e agora estou aqui. Esperando por ele.
De qualquer forma, não importa se é aqui, no apartamento do meu pai ou no
nosso. O que importa é que vamos nos encontrar e vou poder matar a saudade que
estou do meu homem selvagem.
Essa noite promete.
Estou sentindo coisas demais, minhas emoções estão em alerta, porque hoje
será um dos mais felizes dias da minha vida. Vamos fazer amor até o dia
amanhecer, lógico que vou provocá-lo um pouco, talvez iniciar uma perseguição
pelo apartamento, onde no final ele me pegaria e me mataria de tanto prazer.
Pensando nisso, eu resolvi me arrumar diferente. Nada de vestidos.
“Hoje ele vai suar a camisa para ter a mim.” Dei uma risadinha de
excitação. Por isso coloquei um jeans branco apertado e uma blusinha de seda
azul, finalizei com uma jaquetinha curta branca. Sei bem que minha roupa não vai
durar nem uma fração de segundo. Rocco sabe como me controlar. Ele me tem na
palma da mão e sabe disso.
— Só espero que minha blusa fique inteira! Afinal, essa cor é exatamente
igual aos olhos do Rocco. Tão lindo — suspirei feliz da vida.
Eu adoro o jeito como ele é mandão, possessivo, carinhoso e principalmente
o jeito como ele me faz amor, sempre me tocando como se eu fosseaà mulher mais
maravilhosa do mundo. Eu amo tudo nele, aquele homem é especial até em sua
forma de me olhar.
Eu consigo ver em seus olhos o amor que sente por mim, apesar de ele se
fazer de durão e não dizer “claramente” as três palavrinhas que eu tanto queria
ouvir. Ele só me disse uma vez, por mensagem de texto, e outra rapidamente
quando pensávamos que iríamos ficar separados, depois nunca mais. Eu sentia
muita vontade de o ouvir dizendo: “Eu te amo.”
Mordi o lábio sorrindo, aquela voz. OH, meu Deus, seria tão perfeito!
Contudo ele sempre me chama de amore mio, quase nunca de Victória, então
eu acho que é falta de costume mesmo. Espero que ele compreenda. um dia, como
é bom ouvir essas três palavrinhas, porque vamos combinar, é bom se sentir
amada por gestos e ações, mas ouvir não tem preço.
É melhor ainda!
Não é bobagem quando eu digo que o amo com loucura. Não sei viver sem
ele. Apesar de um começo estranho, conturbado, onde eu quase desistia e ele me
perseguiu, insistiu até eu dobrar e ver que sem ele não sei viver. Simples assim.
Estava tão distraída pensando no que o futuro prometia que não percebi o
tempo passar. O que me fez acordar foi o fato de que a essa hora eu já deveria
estar nos braços do meu homem. Geralmente o Rocco nunca se atrasava, a
pontualidade britânica nele era algo quase exagerado, então agora eu realmente me
preocupei.
E se tiver acontecido alguma coisa? E se ele tiver sofrido um acidente?
Meia hora é muito tempo para ele que sempre foi pontual!
— Meu Deus — murmurei entrando em pânico, nervosa; procurei
freneticamente o meu celular para ligar. — Por que não pensei nisso antes? — eu
me repreendi.
Assim que encontrei o aparelho eu disquei o número dele e, quando só
chamou, eu quase morri de tanto medo.
Tentei mais três vezes, já ia sair correndo para saber notícias quando meu
celular apita avisando que chegou mensagem.
Abri as mensagens e minha mão tremia horrivelmente, o enjoo que anda me
atormentando voltou com toda. Graças a Deus era de Rocco, senti tanto alívio que
quase desfaleci na cadeira.

De: Rocco Masari


Para: Victória
Assunto: Espere!!!
Hora: 19h30
Data: 27/03/2015

"Espere por mim! Tenho uma surpresa.


Rocco Masari."

Olhei a mensagem durante alguns segundos e uma sensação de mal-estar


tomou conta de mim. Rocco nunca foi curto e incisivo comigo e nunca assinou o
próprio nome dessa forma nas mensagens que me enviava. Sempre trocamos
mensagens românticas, até para dizer tchau tinha corações e carinhas felizes ou
alguma piadinha legal.
E como agora, depois de uma eternidade separados, ele está sendo… frio e
distante!?
— Não entendo!
Mandei uma mensagem de volta dizendo que estava tudo bem e que
continuaria esperando por ele. Todavia, quando enviei, me senti ainda pior, o mal-
estar me fez começar a suar frio.
Fechei os olhos respirando fundo algumas vezes. Tremores se espalhando
pelo meu corpo, um medo desconhecido me dominando, era quase como se alguma
coisa ruim fosse acontecer.
— Não deve ser nada! — falei baixinho. — Ele deve ter tido algum problema
e não pôde avisar!. É, deve ter sido isso! —convenci-me e voltei a ficar um
pouquinho melhor.
Todavia, aquela sensação de frio na barriga não passava, eu estava
começando a colocar a culpa na minha expectativa em vê-lo, mas eu sabia bem no
fundo da minha alma que não era isso realmente. Pedi uma água gelada e peguei
dentro da bolsa meu saquinho de bolacha de sal, esses eram meus aliados contra o
enjoo, estou há dois dias nessa, não saio sem meu pacotinho da felicidade.
— Sozinha?
Quase pulei da cadeira do susto que tive! Eu estava tão distraída mastigando
e pensando em Rocco, que não notei ninguém se aproximando. Levantei a cabeça e
vi um homem muito lindo do meu lado. Ele era alto, loiro e tinha uns olhos que
achei parecidos com os meus, a diferença era que ele tinha cílios impossivelmente
longos.
“Bonito demais.”
Sacudi-me interiormente por ficar olhando para um desconhecido com cara
de abestalhada. Mas na real ele era lindíssimo, eu até acho que ele deve ser algum
modelo que está na cidade. De qualquer forma, não importa, eu só tenho olhos,
coração e atenção para meu marrentinho fofo.
— Desculpe, eu não estou sozinha! Quer dizer, estou esperando meu
namorado chegar.
— Tudo bem! — sorriu.
Nossa, que homem bonito, meu Deus!
— Posso pelo menos te fazer companhia enquanto ele não chega? —
perguntou educadamente.
— Fique à vontade!— foi o só o que pude dizer, afinal o bar era para os
hóspedes do hotel e para quem gostava de relaxar ali, então eu não podia proibi-lo
de ficar, se ele quisesse.
— Prazer, meu nome é Carlos — falou estendendo a mão educadamente.
— Victória — respondi apertando sua mão.
Ficamos em silêncio durante alguns segundos e ele logo foi quebrando o gelo.
— Desculpe, mas eu acabei de chegar do Brasil e estava apenas querendo
companhia para conversar um pouco. Sempre que viajo eu fico meio ligado e
preciso relaxar para poder dormir. Eu viajei depois de um plantão no hospital que
trabalho, então estou morto de cansado, mas não consigo desligar — tagarelou
apressado, mas eu parei de prestar atenção quando ele disse Brasil.
— Eu também sou brasileira — falei português fluentemente. — Quer dizer,
tenho cidadania inglesa, mas sou totalmente brasileira, descobri há pouco tempo
que meu pai biológico é brasileiro — atropelei as palavras e depois me calei,
senti meu rosto esquentando.
— Não acredito! — falou surpreso, depois rimos.
Engatamos uma conversa agradável em português. Ele me falou sobre as
maravilhas do Brasil, o que me deixou ainda mais desejosa de conhecer aquele
lugar incrível, depois falamos sobre nossas profissões e descobri que ele era um
neurocirurgião e estava em Londres para um conferência e para conhecer a filha de
seu tio.
— Então, Dr. Carlos, você é palestrante ou ouvinte? — perguntei enquanto eu
olhava meu celular em expectativa, apesar de ele não estar no silencioso. Se
tocasse eu saberia, o problema era que não tocava.
— Palestrante! — respondeu sorrindo. — Eu criei uma nova técnica de
cirurgia intracraniana, vou apresentá-la.
— Caramba! — exclamei surpresa.
— Eu sou muito bom no que faço, Victória, na verdade o melhor na minha
área — falou sorrindo, mas em nenhum momento ele pareceu arrogante, muito pelo
contrário, ele era simples. E isso o tornava diferente.
Não sei explicar, mas eu senti bastante afinidade com o Carlos. O que era
incrível, porque eu nunca o vi na vida, mas por algum motivo eu sentia que o
conhecia, era quase como um encontro sobrenatural. E tinha alguns detalhes como
ele ser médico, ser brasileiro e estar aqui para conhecer a filha do tio…
— Eu vou ficar umas duas semanas aqui — começou — Vou encontrar meu
tio e minha prima, depois começam minhas duas semanas no Hospital St. Mary’s.
— Parabéns, Carlos, sua profissão é belíssima. — Sorri e ele pegou minha
mão, me fazendo endurecer na cadeira.
— Eu amo o que faço, salvar vidas é minha paixão. Eu luto até o fim,
enquanto houver esperanças, eu estarei lá. Não sou de desistir, quando quero algo,
eu vou até o fim.
Puxei minha mão desviando o olhar, meu rosto queimando terrivelmente.
“Ele falou essas coisas sobre a profissão, não foi?”, eu me perguntei. “Mas
por que eu acho que está com um sentido além desse?” Balancei a cabeça para
clarear as ideias.
— Isso é ótimo, deveria haver mais médicos assim. — Minha barriga roncou
e eu corei até não querer mais.
— Eu acho que a fome bateu. — Riu e eu acompanhei.
— Com certeza é meu bebê, ele deve estar exigindo alimento!
Dr. Carlos se empertigou na cadeira e me olhou fixamente, então ele sorriu.
— Meus parabéns. — Piscou um olho. — Eu sinceramente acho que você
deve alimentar seu bebê, e por isso eu acho melhor você jantar comigo.
— Desculpa, mas fica para outra hora — murmurei sem graça. — Eu vou
esperar pelo meu namorado.
— Olha, você não deve ficar sem se alimentar… — Abri a boca para falar,
mas ele me interrompeu. — Eu falo como médico, você precisa se alimentar em
pequenos intervalos para evitar uma crise de enjoos, tonturas, queda de pressão e
até mesmo desmaios — falou todo seguro de si. — Você não pode arriscar a sua
saúde nem a do seu filho. Primeiro vocês dois, depois o resto.
Fiquei calada pensando nisso, eu estava com fome, já estava começando a
sentir um pequeno desconforto e fraqueza. Realmente eu tenho que pensar no meu
bebê agora.
— Só um segundo, me deixa tentar falar com Rocco — disse enquanto
discava seu número, só chamou, tentei de novo, só chamou outra vez. — Vou
mandar uma mensagem.

De: Victória
Para: Rocco Masari.
Assunto: Morrendo de fome.
Data: 08/02/2015 as 20: 50 hrs

Amore mio, cadê você? Estou preocupada e ansiosa, mas principalmente


estou com fome. Olha só, estou te esperando no restaurante do hotel, vou jantar.
Por favor, me ligue assim que receber essa mensagem. Não vi nenhum dos
seus seguranças, o que houve? Você está com problemas? Não me deixe aflita
aqui, por favor.
Eu te amo S2

— Vamos jantar — falei me levantando, só tive tempo de guardar meu celular


e fechar o zíper quando ele toca avisando que chegou mensagem.
Não saia daí, espere mais uma pouco!
Li a mensagem e não acreditei, desta vez ele nem se deu ao trabalho de
colocar um assunto, nem de assinar… foi mais curto e grosso.
“Ai, meu Deus! Aconteceu alguma coisa, foi isso!”, concluí erguendo minha
cabeça rapidamente. Tudo rodou e logo eu me vi amparada por Carlos.
— Ei, vem, senta aqui. — Ele me ajudou a sentar. — Você está pálida, o que
houve?
— Rocco, ele está me deixando preocupada!
— Olha, com certeza ele vai explicar, relaxa, deve ter sido algum imprevisto.
Ri sem graça, eu realmente devo estar paranoica, é isso. E como Rocco pediu
para eu não sair daqui, eu não vou sair. Dá para segurar a fome mais um pouco.
— Carlos, me desculpe, mas não vou jantar, Rocco pediu para esperar ele
aqui, e eu vou.
— Sem problema, quem sabe outra hora? Deixa eu conhecer minha prima
primeiro, aí marcamos de sair nós quatro.
— Perfeito — concordei me sentindo melhor.
Nós nos entrosamos e continuamos conversando, desta vez combinando um
almoço para eu apresentá-lo ao meu namorado. Já prevejo o ciúme com que terei
que lidar, Rocco melhorou muito, mas continua sendo Rocco, então já viu, né?
Nuvens de tempestade se aproximam, até que ele note que não tem nada a ver, e
que Carlos não me deseja, já estarei com meu bebê nos braços. Eu gostei do
doutor. Ele não é atirado nem mal-educado, o cara me fez companhia mantendo
uma conversa agradável sobre o Brasil e sobre sua profissão. Fiquei ainda mais
admirada quando ele disse que fazia parte dos Médicos sem Fronteiras e que
passava seis meses viajando pelo mundo, oferecendo seus serviços aos que mais
precisam. Detalhe, os recursos eram escassos.
“Realmente eu o quero como um amigo”, pensei sorrindo.
— Então, senhorita meio inglesa-brasileira, obrigado pela companhia, agora
vou jantar, porque graças a uma certa conversa muito agradável, eu relaxei o
suficiente para conseguir dormir — falou levantando da cadeira. — Depois
combinamos. — Pegou um guardanapo e anotou seu celular. — Como vamos
marcar o encontro de casais sem contato?— Riu e eu acompanhei, mas logo olhei
mais uma vez o meu celular.
Cadê você, Rocco?
— Ele está muito atrasado, não é? — perguntou atencioso.
— Sim, e ele nunca se atrasa! Não tem jeito, estou com medo — respondi
apreensiva.
— Olha, como já te falei, com certeza deve ter sido um imprevisto, já, já ele
chega por aí! Fica tranquila, pois o trânsito daqui é louco. Se quiser eu fico com
você até ele chegar.
— Tem razão! — concordei. — Não precisa esperar comigo. — Sorri me
levantando. — Foi um prazer conversar com você, Dr. Carlos, e bem-vindo a
Londres!
— Obrigado pela companhia! — respondeu sorrindo. — Londres nunca foi
tão acolhedora. — Piscou um olho e, antes que eu pudesse reagir, ele beijou minha
testa durante alguns segundos, senti meu rosto corando muito. — Se cuida, viu? E
vamos marcar, quero conhecer seu namorado — falou e rumou para a saída do bar.
Sentei-me novamente.
Mais uma vez sozinha eu divago sobre o enorme atraso do meu amado, olhei
meu celular e constatei que já eram quase dez da noite.
— Mais de duas horas! — murmurei chocada, eu fiquei conversando esse
tempo todo com o Carlos?
Caramba!
Pelo menos ele me fez companhia enquanto eu estava esperando. No fim
das contas, eu precisei mais dele do que ele de mim.
Virei meu corpo na cadeira e fiquei de frente para a entrada do bar. Tentei
ligar novamente e nada, mandei mensagem, sem resposta. A essas alturas eu já
estava segurando as lágrimas.
— Com certeza aconteceu alguma coisa com ele. Ele nunca me deixaria
esperando esse tempo todo.
“Talvez eu deva ligar para o Jason, mas…”, interrompi minha linha de
pensamento, se houvesse acontecido alguma coisa, ele já teria me avisado. Afinal,
Jason era meu brother, meu querido amigo. Ouso dizer que ele se tornou um dos
melhores, mesmo sem querer, Jason ocupou o espaço que era do Royce.
Nesse instante vi uma loira linda entrar no bar, não procurou por ninguém (o
que era estranho), apenas seguiu o caminho dela sem nem prestar atenção em nós,
reles mortais. Em seguida entrou por uma porta de vidro espelhado e sumiu de
vista.
“Ela sabia exatamente para onde ir”, pensei estreitando os olhos, agora, o
porquê de isso ter chamando minha atenção é um mistério para mim.
Fiquei mais uns vinte minutos ali encarando a entrada, esperando Rocco
aparecer são e salvo. Mas não, ele não veio. Desisti de esperar.
O meu receio era de sair e ele chegar e nós acabarmos por nos desencontrar.
— Merda! — gemi com desgosto. Não sou dada a palavrão, mas tem hora
que fico imoral. Acaba escapando assim mesmo.
Saltei do banco recolhendo minha bolsa. Estava com o celular na mão, se
Rocco ligasse, eu nem deixaria tocar duas vezes. Já estava quase na saída quando
meu celular tocou. Olhei com esperança que fosse meu amado, mas logo meu
coração deu um tombo decepcionado. Não era ele.
— Alô? — perguntei, porque vi era um número privado.
— Querida, eu só vou fazer isso porque eu acho que dessa vez ele
exagerou! Volte um pouco e entre na salinha reservada para os fumantes!
— Quem é você?
— Não interessa! — respondeu bruscamente. — Mas estou fazendo isso
porque fiquei com peninha. Agora vá!
A linha ficou muda. Olhei para o tal reservado lugar onde a loira estonteante
entrou, como eu disse antes, era espelhado. Caminhei até a porta de entrada e parei
com a mão no puxador.
— Por que eu sinto que não deveria entrar aí? — falei apreensiva. Mas
respirei fundo e empurrei a porta. Meu coração estava encolhido a uma mera
ervilha e uma pedra de gelo estava alojada em meu estômago. Mesmo assim eu fui
encarar o que havia ali.
Só precisei dar dois passos para quase morrer do coração. Dessa vez minhas
lágrimas explodiram dos meus olhos. Minhas pernas tremeram, meu coração
falhou várias batidas. Eu juro que minha vista escureceu e tudo rodou. Só não sei
como consegui me manter firme.
— Eu devo estar vendo coisas! Isso não é possível! Não é real. Não é ele.
Não é— eu disse baixinho, sentindo uma dor insuportavelmente grande que roubou
minhas forças e minha capacidade de respirar. Cocei meus olhos, pisquei várias
vezes, mas a imagem não mudava.
Eu não estava errada! Por Deus, eu não estava vendo coisas. Era real. Era
tudo real. E terrível. Catastrófico. Inexplicável.
Capítulo 55
Victória

Dor.
Esse era o único sentimento que eu conseguia ter nesse instante.
Meus olhos não estavam me traindo. Eu estava vendo. Eu estava sentindo.
Em um canto da sala, Rocco estava sentado no maior beijo com uma ruiva,
enquanto a loira que eu vi agora entrar há pouco passava a mão pelo peito dele,
exposto pela camisa semiaberta.
O peito que eu acariciei com adoração há poucas semanas estava sendo
tocado por outra, a boca que eu beijei com amor agora estava sendo beijada por
outra. As mãos que puxavam meu cabelo com desejo estavam enterradas nos
cabelos de outra.
Fechei meus olhos bem apertados, enquanto segurava um grito de dor. Eu me
sentia como se estivesse sendo partida ao meio… revirada ao avesso.
— Dói tanto, meu Deus — falei baixinho enquanto minhas lágrimas escorriam
abundantemente. — Senhor, me dê forças, estou sentindo que as minhas estão
falhando! — pedi, pois nesse momento só Ele em toda a Sua bondade
misericordiosa teria condições de me sustentar.
“Deus, não me abandone agora! Preciso tanto de ti”, implorei
fervorosamente de olhos fechados.
Eu queria que tudo não passasse de um terrível pesadelo.
— Meu Deus — choraminguei engasgada, sabe aqueles momentos em que
você tem um pesadelo e acorda achando que ainda está presa ao sonho terrível, e
não consegue fazer nada para fugir?
Bom, neste caso eu estou em uma situação inversa. Pelo menos no pesadelo
você acorda e quando constata que foi apenas um sonho, pode rir aliviada.
Contudo agora eu estou acordada e vivendo um pesadelo real e tenebroso. Nunca,
em toda a minha existência, eu pensei que viveria para ver meu coração ser
arrancado do meu peito e esmagado bem na minha frente, para depois ser
recolocado de volta completamente danificado.
Rocco ainda não me viu por causa da pouca luz onde estou, na verdade a sala
é meio escura e eu só o vejo direito porque a mesa dele, apesar de ficar em um
canto, tem uma luz que vem de cima, quase como um holofote estrategicamente
colocado. Eu ainda não conseguia me mexer nem um centímetro, estou paralisada,
congelada, concretada no lugar.
Eu estava como uma expectadora, assistindo a um filme de terror caseiro e
barato, mas não menos assustador. Não, esse era o mais bem-feito. Pois era real e
todas as minhas reações eram condizentes com os que grandes mestres querem
quando produzem essas tramas.
Coração acelerado? Confere.
Medo? Confere.
Suor frio? Confere.
Pânico? Confere.
Tremor? Confere mesmo.
— Meu Deus, como ele pôde fazer isso comigo? — sussurrei horrorizada,
enquanto levava uma das mãos à boca para tentar conter meus soluços
desesperados.
Durante todo o tempo que eu estava esperando lá fora, ele estava aqui,
fazendo… coisas que não consigo narrar, com essa ruiva, e esperando pela loira.
Olhei para trás só para ter certeza e constatei que eu tinha razão, daquela sala
se tem uma visão perfeita do bar.
“Meu Deus! Ele me viu esse tempo todo e não fez nada!”, pensei colocando
as duas mãos na minha boca para abafar meus soluços incontroláveis.Eu estava
tão preocupada com ele, mas na realidade ele estava muito bem, e eu sou a
perfeita idiota apaixonada!
Eu não sabia por que ainda estava parada naquela pose patética de estátua
viva, mas minhas pernas não me obedeciam, e se para sair daquele lugar eu corria
o risco de cair feito um saco de batatas no chão, eu preferia ficar ali mesmo,
parada, vendo minha vida acabando bem diante dos meus olhos.
Uma expectadora passiva da ruína da minha própria vida. O que fazer quando
a vontade que tenho é de gritar e gritar, ou de alguma forma ter força suficiente
para escavar meu coração? Porque, oh, Deus… como dói.
A vontade de vomitar estava enorme, mas eu não tinha nada no estômago,
então só a bílis que ficava subindo e descendo como uma onda, cada vez que eu o
via trocando beijos com as mulheres, sim, mulheres, porque agora ele estava com
as mãos enfiadas na cabeleira da loira enquanto fazia uma verificação nas
amídalas dela.
O que eu não entendia era o porquê das poucas pessoas ali não se importarem
com aquela…
Do que eu poderia chamar aquilo?
Sacanagem pública? Promiscuidade exacerbada? Pornografia explícita?
Show de sacanagem?
Sinceramente não sou santa, eu e… recuso-me a dizer o nome daquele
homem.
Então, eu e aquela “criatura” fazíamos o diabo a quatro no quarto. E agora
sim, só em me lembrar disso eu tive que tropeçar até o vaso com uma enorme
planta que tinha do meu lado e jogar meu suco gástrico nela. Foi horrível, mas,
bom, pelo menos eu me senti menos…
O quê??
Seria feio eu dizer que me sinto suja? Não, suja é pouco, na realidade eu me
sinto imunda. Como se vermes estivessem andando pelo meu corpo bem
lentamente. Só em lembrar-me das mãos dele sobre minha pele, eu tenho vontade
de me escalpelar. Sim, é isso mesmo. Estou com vontade de arrancar minha pele e
depois tomar um banho com álcool e alvejante.
Esse homem é nojento e eu me sinto nojenta por ter feito sexo com ele. Por tê-
lo deixado me tocar e ter feito tantas coisas escandalosas.
Fechei meus olhos e levei uma das mãos à minha barriga. Solucei, derrotada.
Eu me sentia sufocada e por isso abri minha boca enquanto jogava minha
cabeça para trás e soltava um grito silencioso. Minhas lágrimas escorrendo
livremente pelo meu rosto.
— Como eu pude pensar que fazíamos amor? — falei ainda de olhos
fechados. — Eu fui uma iludida idiota, que achava que tinha o príncipe encantado
quando, na realidade, eu tinha o maldito vilão inescrupuloso.
Eu o odeio! Minha avó tinha razão, esse homem não é bom o suficiente. Por
Deus, eu o odeio… odeio, odeio!
E essa poderia ser a pior coisa a acontecer na vida de ser um humano. Ver
seu amor se transformar em puro ódio e rancor!. Eu nunca senti isso por ninguém,
mas sinto agora, e justo pela pessoa que mais amei.
De perto do vaso de plantas agora vomitado, eu ainda tinha uma visão parcial
deles.
Balancei a cabeça enquanto mais lágrimas de desgosto escorriam pelo meu
rosto. Eu não me preocupei em esconder. Mais me vale deixar meu coração
sangrar livremente do que trancar minha dor e nunca conseguir viver direito
novamente.
Por isso, depois de agir como uma boa sádica e ficar olhando aquela cena
horrorosa, eu senti um frio invadir meus ossos. Foi como uma avalanche
devastando tudo em seu caminho. Congelando tudo a seu passo. Entorpecendo-me.
Aliviando-me. Salvando-me.
Minhas lágrimas ainda escorriam cada vez mais, eu não tinha controle sobre
elas. Mas pelo menos agora eu estava com meu emocional dormente. De quebra
um tantinho mais forte.
— Já chega, Victória, de ficar chorando e se escondendo! — rosnei para mim
mesma, limpando o rio de lágrimas que escorria do meu rosto e pingava do meu
queixo. — Você passou por dores e perdas maiores e sobreviveu. Vamos lá, erga a
cabeça e siga em frente — eu me incentivei.
Fazendo isso, eu resolvi ligar para ele. Vi o celular tocar em cima da mesa e
ele pegá-lo depois de conferir a tela, colocou-o de volta na mesa e deixou tocar.
Senti-me uma idiota ainda maior.
“Eu estava tão preocupada com ele!”, pensei, sentindo mais uma nova onda
de lágrimas banharem meu rosto, eu sabia que eram os hormônios da gravidez
ajudando, e muito, meu estado. Agora eu pensava se ele não me viu entrando na
sala. Não interessa, realmente, na verdade ele pode até ter me visto e agarrou a
ruiva para que eu visse mesmo, assim só consigo pensar em uma coisa:
E o premio de maior imbecil vai para…? Victória Fontaine, por cair no conto
do felizes para sempre. Um maldito conto da carochinha. E eu pensando que meu
romance era um conto quase de fadas. Rá! Não poderia estar mais enganada!
Era sim, um QUASE, que não foi absolutamente nada.
Respirando fundo decidi acertar minhas contas e resolver isso logo de uma
vez, não quero deixar ponta solta. Isso acaba aqui e agora! Fecharei esse capítulo
da minha vida. Sem volta, sem chance, sem segundas oportunidades…
A mocinha boba e apaixonada foi brutalmente assassinada, e o que sobrou
foram cacos de uma antiga idiota. Agora eu sou uma nova mulher, uma que acabou
de morrer, mas que precisar se reerguer.
A nova Victória Fontaine acabou de ser forjada no calor do desespero, da
dor, da decepção e da mágoa. E como uma fênix, terei que renascer e viver, sendo
mais resistente, dura, destemida, forte, mas, principalmente, implacável.
Essa Victória feroz é real, ela nasceu no momento em que soube que
carregava outra vida, que seu sangue alimentava outro coração, todavia, a Victória
que enfrenta um gigante de cabeça erguida nasceu agora, e essa será imortal!
Serei como uma leoa feroz que protege seu filhote. Irei viver pelo meu filho.
O resto virou resto, passou a ser insignificante. E Rocco está no topo dessa lista.
Não será nada. Não é nada além desta para a próxima. Ele morreu para mim.
Fechei meus olhos sentindo um arrepio de pura determinação me invadir.
É agora!
Caminhei até onde eles estavam na maior pegação e, sem pensar direito,
peguei dois copos com bebidas e arremessei o conteúdo em cima dos três.
Foi instantâneo, parecia briga de cachorro quando se joga água para separar.
As meninas gritaram se afastando e eu… Bem, não tinha por que culpá-las.
— Uhm, me desculpem pela mira errada! Vocês não eram meu alvo! — falei
baixinho, um pouco envergonhada. Não queria molhar as garotas, eu queria atingi-
lo.
Julguem-me, mas eu não sou de sair por aí descontando minha raiva em
pessoas alheias. Ele é o culpado, ele deve pagar.
E irá!
Resisti à vontade de colocar a mão em minha barriga, esse homem não
merece meu filho. Ele não merece saber por mim, e, se souber, que seja alguém a
contar.
Travei meus joelhos para me manter firme, tive até que fechar as minhas mãos
em punhos. Nesse instante minha coragem está me abandonando e eu estou muito
apavorada para correr. Portanto só me resta ficar de cabeça erguida e encarar a
situação.
“Força, resistência, dignidade, orgulho de ser quem sou!”, eu cantei
silenciosamente como um mantra.
— Como você teve coragem de fazer isso? — fiz a primeira pergunta que
martelava em minha cabeça. Era melhor assim, começar pelo princípio, e os
tijolinhos que erguiam o muro do meu amor estavam caindo um por um. Quero
dizer, meu muro recebeu o golpe de uma bola demolidora, o que sobrou continuava
a cair. Simples assim.
— Fazer o que, amore mio? — respondeu cinicamente, contorcendo a forma
carinhosa com que me chamava, enquanto limpava o rosto. — Pensei que gostaria
da surpresa!
Essa era a surpresa?,– me pergunto chocada. Que sórdido!
— Realmente, Rocco, você não é nenhum idiota! Mas agora está se passando
por um! Vamos lá, cartas na mesa, sem essa de desviar a conversa. Afinal você é
inteligente e eu também sou — falei levantando o queixo, ignorando minha voz
embargada e minhas lágrimas teimosas.
— Tudo bem, se você quer assim! — ele falou e abriu os braços, puxando as
duas mulheres para junto dele, em seguida fungou no cabelo de uma enquanto
acariciava o braço da outra. — Isso parece o que para você? — perguntou me
olhando atravessado.
Ofeguei baixinho por sua maldade. Mas tudo bem, eu já havia visto o show
deles por tempo suficiente. Estava batizada e o couro ficou duro quase que
instantaneamente.
Dei de ombros, tentando passar indiferença, vi o exato momento em que ele
estreitou os olhos e travou o maxilar. Eu sabia que ele estava furioso e se
controlava.
“Não estou dando a mínima!”, pensei revoltada. Por mim ele pode explodir
de raiva. Todavia, vamos esticar essa corda e ver se ela aguenta.
— Bella mia… — Sorriu cinicamente, mexendo no cabelo da ruiva. — Tesoro
mio… — Agora foi a vez da loira.
“Força, resistência, dignidade, orgulho de ser quem sou!”, continuei
cantando, e isso foi me fortalecendo mais e mais, apesar de achar que essa força
iria ruir a qualquer momento.
Eu nunca pensei que diria isso, mas os anos sendo tratada como lixo pela
Blanchet estão me ajudando agora, e, inesperadamente, eu agradeço a ela, onde
quer que esteja.
— Eu nunca imaginei que você pudesse fazer uma coisa dessas! — Respirei
fundo, buscando forças para continuar. — Você é falso, mentiroso, fanfarrão de
uma figa, que usa as pessoas para seu próprio benefício.
As meninas se mexeram desconfortáveis, mas ele apertou os braços, não
deixando-as escapar.
— Eu sou tudo isso e você gostava muito! — rosnou e eu vi seus olhos
inflamados.
Estreitei meus próprios olhos e o enfrentei. Estiquei meu corpo ao máximo
que pude, mas não era de altura que eu estava falando, era de dignidade. Eu me
sentia um gigante pela força de Deus, mesmo sendo pequena, se comparada a ele.
Éramos Davi e Golias.
— Era para mim que você dizia palavras de amor, esqueceu? Você gostava e
muito — debochou. — E sim, esse sou eu, em toda sua glória — cuspiu raivoso
enquanto me encarava com seus olhos em chamas.
— Esse homem que está diante de mim pode até ser o seu eu verdadeiro. Mas
o que eu conheci era outro muito melhor, e eu agradeço a Deus por isso! — Pausei
alguns segundos, eu não conseguia falar sem minha voz falhar e eu precisava dizer
tudo. — Eu conheci um homem maravilhoso e fui feliz com ele. Já você não passa
de uma imitação barata do Rocco com quem eu convivi e amei. Eu nunca, jamais
me envolveria com essa criatura inescrupulosa e desrespeitosa que vejo diante de
mim, Sr. Masari. Você é nojento. E eu nunca menti para você. Nem uma vez sequer.
Desta vez ele rosnou furioso e as meninas se afastaram. Mas estávamos só
começando. Se ele esperava que eu gritasse e fingisse que não estou partida ao
meio, ele está muito enganado. Vou colocar para fora minha dor e ele que aguente.
Estávamos nos digladiando, ele era o leão feroz e eu era sua oponente desarmada.
Porém eu entrei nessa arena com uma gladiadora, pronta para lutar, e eu não vou
desistir.
— Como você ousa, sua va…
— Cale a boca e me respeite! — dessa vez eu gritei, apontando o dedo para
ele, e as pessoas ao redor pararam o que estavam fazendo pra prestar atenção. —
Eu não dou o direito a você e a nenhuma outra pessoa de me desrespeitar. Eu sou
uma mulher digna! Eu sempre agi de forma justa e honrosa, então cale sua boca
suja antes de proferir alguma merda.
Ele estava vermelho de raiva. Mas também chocado com minha explosão! Eu
sempre fui tranquila. Não mais…
Ótimo, não estou dando a mínima de novo.
— Eu tenho pena de você, pena da pessoa que você é. Como eu pude ser tão
idiota e cair nesse seu teatro? Meu Deus, nunca vi tanta dissimulação na minha
vida! — gemi de desgosto, esfregando rosto. — Eu amei uma fraude, um
mentiroso… eu engr… — Calei-me.
— Você me enganou — gritou levantando. Dava para ver claramente que ele
tremia de raiva.
— Eu o quê? — Ri, incrédula, por incrível que pareça eu estava até me
controlando, já ele era quem estava perdendo o controle. — Você vai colocar a
culpa do seu mau-caratismo em mim? Vai me culpar pelas suas atitudes de
moleque? Vai querer arrumar alguma justificativa que possa explicar essa
palhaçada? Sinceramente, você pode fazer o que quiser, não ligo, nunca te enganei,
nunca menti para você. E sabe o que é melhor? Isso pode ser facilmente
comprovado, e claro que eventualmente você irá descobrir se eu estou falando a
verdade.
Eu ri, e ri, muito porque foi inevitável. Era um riso junto com choro, meio
histérico e louco. Meu Deus… que amor doente.
— Eu — começou, mas não o deixei terminar de falar.
— Eu só tenho que bater palmas pelo seu belo show de cretinagem! — Bati
algumas palmas e escutei algumas risadas das pessoas ao redor, que eram em sua
maioria homens. — Você não foi homem suficiente para terminar comigo, não,
você me traiu de forma vil e nojenta e ainda tem a cara de pau de dizer que eu te
enganei — cuspi com raiva. — E agora, por sua culpa, eu estou com nojo de mim
mesma, por ter deixado você me tocar, por ter me entregado a você de corpo e
alma, por… — Minha voz falhou miseravelmente. Respirei fundo e mandei ver. —
Por ter acreditado nessa sua mentira de eu sou seu.
Balancei a cabeça.
— Uma vez você me chamou de vadia, e depois pensou que eu te odiava. —
Suspirei esfregando os olhos. — Eu nunca fui uma vadia, nunca dei motivos para
você desconfiar de mim, eu fui só sua, nunca dei um beijo sequer em outro homem
depois que coloquei meus olhos na sua maldita revista, no fim, eu deveria ter sido
uma vadia mesmo, e agora sim eu te odeio.
Ele estava um pouco pálido com minhas palavras. Mas calma aí, querido, eu
não terminei ainda
— Você é frio como um iceberg e é por isso que ficará sozinho. Já eu tenho
sangue quente, não sou um parasita. — Eu o chamei com uma das mãos, batendo no
peito. — Então venha, querido, bata mais, meu corpo aguenta.
Assobios foram ouvidos por todos os lados, o que deixou o homem diante de
mim ainda mais irado e pálido. Rocco parecia não conseguir se concentrar em uma
única emoção.
— Você matou algo muito bom em mim hoje! Mas eu não perdi, porque saio
daqui com a cabeça erguida e a minha consciência tranquila. Se tem alguém aqui
que perdeu, foi você! E graças a você mesmo eu não tenho problemas com
autoestima. Pensa que me senti menor ou humilhada porque você estava com essas
duas mulheres? — perguntei e ele apenas balançou a cabeça, negando como um
boneco de carro cabeça-mole e idiota. — Eu não me senti, o único que estava aqui
tentando provar alguma coisa não era eu, esse alguém era você! — falei fazendo
um gesto com a mão em sua direção. — Você é muito imaturo, é desconfiado, não
se entrega, acha que o mundo gira à sua volta, pois bem, me deixe te atualizar, o
mundo não é seu. Não importa você e seus bilhões, no fim, você irá terminar em
um buraco levarando um terno sob medida, nada mais.
Mais assobios e gritos foram ouvidos. Entretanto eu estava mais e mais
cansada, enjoada, tonta. Eu quero mesmo é acabar aqui. Deixar claro para Rocco
que ele e eu não temos a menor possibilidade, não depois dessa palhaçada. Deus
me defenda de ser uma idiota por duas vezes.
Meu Deus querido! Obrigado pela força, porque sem ti eu não conseguiria.
E juro que está sendo maravilhoso falar tudo isso.
— Eu nunca quis o seu maldito dinheiro, se quer saber! Na verdade eu nem
preciso dele, porque meu pai e minha família têm muito mais do que eu poderia
gastar — resmunguei dando de ombros. — Eu sempre quis você e agora nem isso
eu quero mais. Eu perdi totalmente o interesse em você, criatura horrorosa. Não
sei como pode ser tão bonito por fora e tão podre por dentro. Sinto muito se você
é assim, ainda bem que eu vi isso antes que fosse tarde demais. No fim das contas,
eu ainda tenho que te agradecer — murmurei o suficiente só para ele ouvir. —
Muito obrigada! — desta vez, falei mais alto. — Obrigada por me fazer acordar,
por me mostrar que príncipes não existem. Mas, principalmente, obrigada por
mostrar quem você verdadeiramente é. E obrigada por me dar algo inestimável.
— Victória, eu… — Ergui uma das mãos fazendo-o calar.
— Graças a você, esta Cinderela aqui não acredita mais em contos de fadas.
Virei as costas e andei alguns passos. Mas decido devolver algo para ele.
Voltei até onde ele estava congelado e coloquei as chaves do carro que ele me deu
na mesa, depois arranquei o anel e abri meu medalhão querido, tirando a pequena
foto dele e colocando em cima da mesa junto com as demais coisas.
— Você perdeu alguém que te amava incondicionalmente e sem reservas.
Enquanto você estava aqui, eu estava lá fora pensando o pior, preocupada com
você. Graças a Deus que eu tive companhia para conversar e passar o tempo. Ah,
outra coisa, dê para quem quiser, não quero mais esse anel, quando for me casar,
receberei outro.
Ele estreitou os olhos, fazendo a careta típica de quando estava com ciúmes.
Foda-se, pode morrer e secar de ciúmes, não estou nem aí!
— Eu vi o tempo todo — rosnou baixinho
Eu sorri tristemente.
— Obrigada, Rocco. Sua máscara caiu e eu vi o homem real por trás dela. —
Eu me afastei alguns passos. — Você nunca mais vai viver um amor como viveu
comigo, e quando a realidade bater e você ver a grande merda que fez, estará
sozinho. Por favor, não me procure mais, não pense em mim, finja que eu morri.
Afinal, se a sua intenção era fazer com que eu te odiasse, realmente conseguiu! Eu.
Te. Odeio. — Engasguei com meus soluços, mas continuei passando por cima da
minha vontade de fugir para bem longe.
Ele arregalou os olhos como se acabasse de ser atingindo por um golpe
físico.
Não mais do que eu fui… não mais que eu.
— Adeus, Rocco, viva bem e seja feliz. Só não faça com outras pessoas o
que fez comigo. Ninguém merece ser magoado desse jeito — sussurrei só para ele
ouvir.
Virei as costas e caminhei para a saída, quando estava chegando na porta, as
duas mulheres que estavam com ele me pararam.
— Desculpa, eu pensei que vocês tinham terminado! — a ruiva falou
envergonhada.
— Tudo bem! — murmurei querendo sair dali o mais rápido possível, eu
estava me sentindo sufocada, beirando um ataque de pânico. E estava com medo
de todo o estresse afetar meu bebê.
— Você vai ficar bem? — a loira perguntou baixinho. Eu vi que elas estavam
genuinamente preocupadas comigo. — Eu nunca faria isso se soubesse que era de
propósito… por favor, me perdoe — murmurou acariciando minha bochecha.
— Nenhuma mulher deveria passar por isso. Sinto muito por ter feito parte.
Eu sinto muito — a ruiva disse enxugando uma lágrima que rolou em sua face.
Sorri triste e chorei, vendo as duas chorarem também.
Deus faz suas obras e age misteriosamente. As meninas que ajudaram a partir
meu coração estavam tentando me consolar. Seria cômico, se não fosse trágico!
Não era irônico? Eu acho que sim, mas está aí mais uma prova de que Deus
não me abandona nunca. Ele mandou consolo, mesmo de um lugar improvável.
— Estou bem, meninas, e desculpa por ter jogado a bebida em vocês! — falei
baixinho e quase saltei de susto quando a ruiva passou uma das mãos pelo meu
cabelo.
— Você é linda, educada, bem-sucedida, de boa família, com certeza vai
encontrar alguém que te mereça e te faça feliz — sussurrou sorrindo decepcionada,
não sei se com ela mesma ou com toda a situação. Provavelmente com os dois.
— Concordo plenamente! Eu estou com vergonha de mim mesma por fazer o
que fiz, mas orgulhosa por ainda existir mulheres como você, você é boa, digna e
tem classe. O idiota olhando para cá com cara de paspalho perdeu um tesouro, e
eu vou torcer para que outro homem a encontre e te valorize.
Dito isso ela foi até um Rocco abismado e deu-lhe um tapa bem forte na cara.
— Esse é o tapa que ela deveria ter te dado — rosnou e bateu-lhe do outro
lado. — E isso é por você ser um cretino arrogante!
Eu levei minha mão à boca para abafar o som de meu choque, agora eu estava
olhando para ele de olhos arregalados. Depois a ruiva foi até onde ele estava e fez
diferente, no caminho, ela parou em uma mesa onde tinha três homens e pegou os
copos cheios de dois deles.
Rocco estava tão chocado que não teve reação nenhuma quando a ruiva jogou
o líquido dos dois copos bem no meio da sua cara.
— Puta que pariu! — um homem exclamou. — As mulheres estão do lado
dela! Inacreditável.
— Que idiota do caralho! — outro exclamou para Rocco e, virando para
mim, disse: — Minha linda, eu sou candidato ao seu coração, serei seu escravo
feliz. — terminou a frase colocando uma das mãos no coração e sorrindo com
charme.
Engoli o choro, porque eu estava muito chocada e me sentindo vingada pelos
mais improváveis defensores.
— Obrigada, senhor, mas eu estou fechada para balanço — falei secando
meus olhos. — E, meninas, valeu a defesa. Eu nunca esperaria por isso. De
qualquer forma, muito em breve terei alguém muito importante em minha vida.
— Deixe para lá e não chore mais, ele não merece. Só porque é rico acha que
pode tudo. Babaca — a loira bufou arrancando mais risadas dos homens.
— Eu estou disponível, coisa linda! Posso cuidar do seu coraçãozinho ferido,
prometo muito amor se me quiser! — um moreno lindíssimo falou fazendo várias
tossidas se seguirem. Eu olhei para ele ficando chocada com o que vi. Ele era um
moreno (quase negro) de olhos verdes. Um verdadeiro gato.
Como estou vendo isso? Alguém acendeu a luz e a sala estava bem iluminada.
Só posso dizer que o desconhecido moreno era… Bom, ele era bem chamativo. E
a forma como me olhava me deixou constrangida. Senti meu rosto ficar vermelho
até a raiz dos cabelos.
— Uhm, obrigada? — Franzi o cenho achando aquilo tudo muito estranho.
Nossa senhora das mocinhas que são ferozmente defendidas, estão fazendo
bullying com o Rocco! Eu não estava feliz com isso, mas também não estava triste.
Eu estava mesmo era indiferente e ele bem que estava merecendo.
— Apaga o meu número do celular, seu idiota — a ruiva gritou bem alto.
— E o meu também — a loira completou
As duas meninas me chamaram para ir embora e concordei, virando mais uma
vez sem olhar para trás.
— VICTÓRIA — Rocco berrou meu nome e eu me virei. Olhei em seus olhos
e vi que ele estava magoado. Não me importei, o tiro saiu pela culatra. Isso é o
que dá fazer maldade com os outros.
Ficamos nos encarando durante o que pareceu uma eternidade, mesmo de
longe e com cara furiosa, ele era muito lindo. Mas agora toda aquela beleza não
era mais apelativa para mim. Eu o via e só enxergava o cretino, mau-caráter e
traidor que ele era.
É estranho o que vou dizer agora, mas eu me sinto quase curada de uma
doença. Eu era louca por esse homem, poderia ficar horas olhando a foto dele e
sentir meu coração acelerar. Agora eu apenas olhava para ele e…
Não sei, ele não me atraía mais. Pelo menos não agora, a mágoa era muito
grande, a dor também. Eu me sentia golpeada fisicamente. Olhar para ele doía.
— Você me amou de verdade? — indagou bem alto.
“Mas que raios de pergunta sem pé nem cabeça é essa?”, me perguntei
cruzando os braços.
Eu nunca escondi o que sentia por ele, eu sempre disse que o amava, sempre
demonstrei. Como ele pode ter dúvida?
Se hoje minha decepção for só um pouco maior, eu certamente morro!
Caminhei até ele novamente. Com certeza Deus estava me dando forças,
porque era para eu estar bem longe dali, nesse momento Deus estava sendo minha
fortaleza.
Parei em sua frente, apenas a mesa nos separando.
— Eu te amei além do que possa imaginar — falei bem alto, eu iria colocar
para fora os últimos resquícios de um sentimento puro e verdadeiro, eu iria zerar
meu amor por Rocco e deixar esse sentimento só para meu filho. — Eu te amei
com cada parte de mim, com cada respiração, com cada batida do meu coração eu
te amei. A cada vez que eu acordava, te amava mais, e quando ia dormir, eu não
acreditava que meu amor poderia ter aumentado ainda mais. — Suspirei.
Meus olhos encheram de lágrimas, meu grande amor ficou por um momento
indistinto, fiz uma careta, contorci meu rosto, era impossível esconder minha dor,
meu corpo gritava, implorava por cura, por se esconder e lamber as feridas. Meu
corpo… o corpo que está fraco, mas que precisa se fortalecer, porque agora outro
ser depende dele… meu filho depende.
Meu filho.
— Eu te entreguei meu coração para você cuidar — desabafei baixinho,
chorando novamente. Agora muito mais que antes, falar sobre amor doía demais
nesse momento. — Você foi meu primeiro amor e eu pensei que seria o último —
solucei tristemente. — Eu te via como meu herói, o homem dos meus sonhos.
Meu… — Precisei respirar, meu peito estava comprimido de dor e desilusão. —
Meu príncipe encantado. Eu te amei como nunca pensei que poderia amar alguém,
você foi preenchendo todos os espaços do meu coração, deixando minha vida tão
mais emo-mocionante — gaguejei abatida. — Você me tornou mulher, a sua
mulher, e eu me senti plena. — Olhei em seus olhos e dei um sorriso fraco. —
Você… foi… irretocável, Rocco, inacreditavelmente perfeito. O mais incrivel e
esplêndido homem que uma mulher poderia sonhar em ter em sua vida.
— Victória…
— Não diga nada! — pedi levantando uma das mãos, fazendo-o parar, minha
voz cansada, perdida em meio aos meus sentimentos agonizantes. — O que eu vi
aqui já basta. Eu estou com essa imagem gravada em meu cérebro como tatuagem.
Rocco, você… — chorei, me curvando um pouco para frente, eu o vi se inclinar,
estendendo o braço, mas dei um passo para trás, não quero ser tocada. — Você
arrancou um pedaço fundamental de mim hoje, eu não sei quando vou voltar a ficar
inteira novamente! Na verdade, eu sei que irei me curar, eu só tenho vinte e quatro
anos, inevitavelmente irei abrir meu coração para alguém. Só não saberei me
entregar sem reservas, e justo por isso eu posso entender o que você sentiu quando
Susan te traiu, você fez o mesmo comigo.
Ele levantou uma das mãos novamente. Seu rosto era uma máscara de
arrependimento. Eu sabia que ele queria me tocar, mas eu não suportava pensar na
ideia. E por isso me afastei ainda mais e me abracei.
— Não me toque nunca mais. Fique longe de mim. Não… — Engoli sem
conseguir terminar. — Hoje eu tinha uma surpresa para você também. Eu juntei
todos os nossos amigos e preparei algo para você. — Sorri triste. — Você iria ser
muito feliz, Sr. Masari, Mas nada foi como deveria ter sido. Eu sinto muito… por
mim, por você e por… — Calei-me antes de revelar meu segredo.
— O que você fez para mim? — perguntou franzindo as sobrancelhas. Sua
voz meio afogada, meio engasgada… embargada.
Nesse momento eu agi quase que automaticamente.
Devagar eu levei uma das mãos até minha barriga e fiz um carinho, como se
fosse em meu amado bebezinho. Baixei minha cabeça olhando para onde minha
mão repousava.
Aos poucos minha cabeça ergueu. Não falei nada, deixei que ele
compreendesse sozinho.
Vi os olhos que tanto amei se encherem de lágrimas também. Eu o vi abrir a
boca em choque. Uma cor totalmente doentia cobriu suas feições. Então uma
expressão de dor crua e aterradora o marcou.
Rocco balançou a cabeça de maneira desesperada, como se não acreditasse
no que estava acontecendo.
— O que eu fiz? — questionou, me olhando com agonia. — Por favor… —
Esticou o braço de novo e rodeou a mesa, eu dei um passo atrás.
Fugi de seu toque. Eu não o queria perto de mim. Não agora. Nem amanhã,
talvez nunca.
— Eu vou embora — sussurrei. — Depois de hoje eu espero que você, de
alguma forma, consiga encontrar alguém e ser feliz. Sei que ainda teremos contato,
mas será só o estritamente necessário.
— Victória. Me ouça — implorou erguendo os braços em minha direção, ele
vinha para mim e eu ia recuando. — Me deixa te dizer, amore mio…
Gemi me encolhendo. Ele me chamar disso estava me ferindo.
— Nunca mais me chame assim. Nunca mais… Você mente. Você sempre
mentiu! Me enganou, e tenho certeza que não esperava esse desfecho — murmurei
me abraçando. — Você não me conhece… não me merece.
— Me deixa falar, me deixa te dizer — sua voz soava desesperada,
esganiçada, trêmula.
— Não quero saber de nada. Eu não quero! Suas atitudes só provam que nada
do que vivemos significou alguma coisa para você!
— Significa. Você sabe.
— Eu não sei de nada. O que eu vi aqui fez tudo o que a gente viveu virar pó.
— Eu me afastei mais rápido. — Sei que você irá me procurar, mas quando vier,
traga Dimitri, e não digo como amigo.
Seus olhos arregalaram e ele congelou no lugar, parou seu avanço. Eu
aproveitei esse momento para escapar, consegui ir embora e, quando cheguei ao
saguão do hotel, chorei. Meu corpo inteiro começou a tremer e sacudir com
soluços que vinham direto da minha alma dilacerada. Olhei ao redor, me sentindo
perdida, e me lembrei da primeira vez que esbarrei nele aqui mesmo. Naquele dia
minha vida mudou, como mudou hoje.
Saí correndo até a frente do hotel, mas quando saí na rua só consegui dar
alguns passos quando precisei parar para respirar. Meus pulmões estavam
comprimidos, eu estava com minha cabeça rodando, imagens do nosso
relacionamento passando sem parar, até chegar ao momento em que eu o vi aos
beijos com as mulheres.
Fechei meus olhos pela enésima vez hoje e levantei minha cabeça para o céu.
“Deus, em sua infinita bondade e sabedoria, me diga, por que ele fez isso
comigo? Nunca pensei que iria sofrer tanto depois da morte dos meus pais. Juro
para ti, senhor, que sinto como se algo muito querido para mim tivesse morrido.
Sinto-me de luto, sem vontade. Por favor, me ajude… por favor, me guie, me
console. Senhor, meu Deus, me tome em seus braços, me tome sob suas asas,
porque, OH, MEU PAI… DÓI TANTO!”, solucei, minha garganta e meu peito
doíam muito. “Eu estou sozinha agora, sem ninguém para me abraçar e dizer
que tudo ficará bem. Estou longe da minha tia, do meu pai, da minha avó, de
todos que amo… meu querido Deus, o que vou fazer? Não tenho ninguém para
me tirar desse mar de dor e tristeza, sem ninguém para eu me apoiar. Preciso
ser consolada, preciso me sentir amada! preciso reafirmar que alguém se
importa comigo.”
Abri a boca como se fosse soltar um grito, porém minha dor era tão grande
que som algum saiu. Mas por dentro eu gritava e gritava, e em minha alma meus
gritos de lamento reverberavam, fazendo eco em minhas entranhas esfaceladas
pela desilusão de tão grande traição.
— VICTÓRIA, CUIDADO!… — Escutei o grito de Jason, meu brother de
coração, e chefe de segurança do Rocco, o homem… comprimi os lábios, não iria
pensar nele, não iria… Com o grito de Jason, abri os olhos, por um momento eu
me perdi, olhando as estrelas, então baixei a cabeça procurando-o. Eu o vi do
outro lado da rua, acenando sem parar. Eu estava tão atormentada que não entendi
o que ele estava tentando me dizer.
Então tudo aconteceu em câmera lenta.
Eu vi os lábios do Jason se movendo e ele balançando o braço. Deu para ver
que ele estava pálido. Desesperado. Não entendi o que ele falava, até captar pela
minha visão periférica uma forte luz quase em cima de mim.
Virei minha cabeça para o lado e vi um carro vindo em minha direção. Não
deu tempo de correr, o tempo parou. Os sons se perderam… as pessoas
congelaram. Mas eu estava em tempo real… normal!
E eu conseguia compreender o que estava prestes a acontecer.
Todo esse momento não durou mais que segundos, minha vida mudando para
sempre, a sombra de morte se abatendo sobre mim. Eu quase podia vê-la
estendendo uma gananciosa mão em minha direção. Seu rosto invisível. Era tudo
assustador. Muito tentador.
“Vem.”
Não havia tempo. Não havia o que fazer. Tudo estava perdido.
Fechei meus olhos, erguendo o rosto ao céu.
“Entrego minha vida em Tuas mãos, Senhor…”
Dor explodiu pelo meu corpo.
Então houve gritos e… caos.
Capítulo 56
Rocco

Estou em pé, congelado, sentindo as chicotadas que foram as palavras da


Victória ainda batendo em mim. Meus olhos permanecendo fixos no lugar onde ela
estava segundos atrás. Durante várias horas eu planejei uma forme de mostrar a ela
que eu não ligava para porra nenhuma. Eu queria sair por cima! Fazê-la sofrer
como eu sofri, quando pensei que ela me deixaria.
E minha pequena estava… preparando uma surpresa para me contar que…
Dio mio. Um bambino.
Eu pedi tanto por um bambino com il mio amore.
— Dio santo! — falei esfregando meu rosto. — Dói tanto! Por que parece que
meu peito está aberto e uma mão de ferro aperta meu coração?
Como eu pude ter sido tão idiota? Eu não consegui dizer nada do que
planejava, pois eu esperava uma reação. Por Deus, eu esperava que ela gritasse,
esperneasse, sinceramente, eu esperava um escândalo. Mas não, ela foi uma dama,
orgulhosa em sua dignidade, enquanto acabava comigo, pisando em meu orgulho,
me levando ao chão. E no fim, fazendo a revelação que me deixou destroçado por
causa do que fiz.
Agora que consigo raciocinar direito, eu estou enxergando claramente que
Mia bella nunca gritou comigo! Nas vezes que ela queria me mostrar um ponto, era
sempre com paciência e carinho. Sempre tão delicada. Tão Victória.
Eu cometi o maior erro da minha vida!
— Merda fodida! — grunhi esfregando meu peito. Havia uma dor instalada
ali que estava me consumindo aos poucos.
Eu fiz o que fiz de propósito, queria mostrar que eu não me importava, queria
deixar meu orgulho intacto. Eu fiquei esse tempo todo olhando para ela sentada no
bar, quase desisti de fazer o que pretendia quando vi aquele cara se aproximar
dela. Senti um ciúme medonho me invadir, mas me mantive firme, durante as duas
horas em que ela me esperou, eu mantive a ruiva distante, e, depois, quando a loira
chegou, eu fiz o mesmo. Havia perdido a coragem. Então Victória veio até a porta
de vidro que dava entrada a esta sala e parou. Sem pensar direito e agindo por
impulso, eu agarrei a ruiva, esperando que Victória fosse, a qualquer momento,
gritar, e quando não aconteceu nada, eu olhei para onde ela deveria estar e não a vi
mais! Senti fúria e tive certeza de que ela não me amava como dizia. Senti-me o
idiota apaixonado, que entregou o coração só para ele ser pisoteado! Mais uma
vez agindo por impulso, só que desta vez com o dobro de raiva, eu agarrei a loira.
Estava consumido de raiva e desgosto, mas ainda assim enjoado por beijar outra
mulher. Meu estômago revirado. O sabor era errado. O cheiro era errado. Tudo
estava errado.
E foi nesse momento que senti algo gelado em cima de mim, e o resto vocês
já sabem.
Nesse momento estou pior do que nunca imaginei ficar. A mulher que eu amo
me odeia e a culpa é toda minha. A cigana tinha razão. Victória iria me odiar. E eu
iria descer ao inferno, ou já devo estar nele.
Eu ainda não acredito que deixei a raiva do passado me cegar, como eu pude
confundir minha Doce Victória com aquela cretina que me enganou há tantos anos?
Não tem justificativa para o que eu fiz, e a cada segundo que passa o terror que
sinto aumenta tanto, mas tanto, que não estou conseguindo me mover do lugar.
“Rocco, você não pode tomar atitudes movido pela raiva. Nunca faça com
alguém aquilo que você não quer que façam com você. Ei, baby, quando a gente
ama alguém, a gente quer o melhor para essa pessoa…”, pensei em algumas
coisas que Victória costumava me dizer.
— Dio mio, como vou consertar tudo? — resmunguei baixinho apertando
minhas têmporas. — Como eu pude deixar o ciúme me cegar dessa forma? Como
eu pude me esquecer da pessoa maravilhosa que ela é? Não tenho desculpa para o
que eu fiz.
Eu fui atropelado por minha garota.
Toda a raiva que senti a tarde toda, os planos de vingança, vieram abaixo
quando eu vi toda a dor e tristeza em seu rosto, mas eu ainda provoquei, ainda
insisti.
Dio santo.
Victória ainda disse o quanto me amava. Se eu fechar os olhos, ainda posso
senti-la aqui, é quase como se pudesse tocá-la. E suas lindas palavras ecoam em
meu coração, que agora sangra por uma ferida profunda e dolorosa.
Dio santo, a dor em sua voz, a tristeza em seu olhar. Eu quebrei meu Tesoro.
E mesmo assim suas palavras foram tão lindas. Elas contavam a história de um
amor lindo e puro. O amor que eu perdi.
“Eu te amei além do que possa imaginar. Você foi meu primeiro amor e eu
pensei que seria o último. Eu te via como meu herói, o homem dos meus sonhos.
Meu príncipe encantando. Eu te amei como nunca pensei que poderia amar
alguém, você foi preenchendo todos os espaços do meu coração, deixando minha
vida tão mais emocionante. Você me tornou mulher, a sua mulher, e eu me senti
plena. Você… foi… Irretocável, Rocco, inacreditavelmente perfeito.”
“Dio mio! A dor em sua voz. O desgosto explícito em seu olhar. Como vou
consertar?”, eu me perguntei novamente, angustiado, passando minhas duas mãos
pelos cabelos e puxando-os com força no processo. Eu devo ir atrás da minha
garota, sei que devo, mas estou fora do eixo. Preciso reagrupar. Minhas defesas
vieram abaixo.
— Ei, seu idiota. — Procurei o dono da voz e vi ser o moreno que deu em
cima da Victória. — Você perdeu, playboy, e agora eu vou atrás daquela beleza e
pegá-la para mim! — debochou sorrindo. — Afinal, A herdeira da moda é famosa,
linda, doce e está solteira.
O ódio que senti foi tão grande, que fiquei “cego de raiva”, eu era expert em
ficar assim quando o assunto era Victória. Rugi alto, mandando todos ao inferno, e
não pensei nas consequências, eu apenas voei em cima daquele armário. Eu
precisava extravasar minha ira e ele iria aguentar todo o ódio que eu estava
sentindo de mim mesmo e das minhas malditas atitudes e escolhas.
— VOCÊ! — rosnei. — Seu filho da puta. Não vai chegar perto dela, ela é
minha!
— Sua? Ela te odeia e você foi um bastardo por fazer o que fez! — grunhiu e
nos atracamos no meio da sala. Dei-lhe um murro na cara e ele me deu outro.
Rapidamente a confusão estava instalada e a pancadaria rolou solta. Bati muito e
levei porrada também. Mas eu estava consumido por toda a merda que aconteceu
naquele dia, eu caí na real, as consequências das minhas atitudes (baseadas em
fatos não muito consistentes, que só agora consegui ver claramente) estão me
machucando mais do que os punhos daquele bastardo olhudo.
— ROCCO! — Sinto o Jason me puxar de cima do idiota de quem estou
operando o rosto. Olho para o lado, vendo muitos seguranças do hotel invadindo o
lugar e segurando a onda.
— O QUE FOI? — gritei descontrolado. Meu corpo estava sendo golpeado
por muita adrenalina. — Como me encontrou?
— Eu vim para o bar e… — Parou. — Vi as pessoas correndo dessa sala,
então…
Eu sentia muita raiva de mim mesmo, ódio daquele bastardo no chão. Mas o
pior era o medo, desespero, dor, angústia e arrependimento por ter feito o que fiz e
ter perdido minha mulher no processo. A única que amei e amo.
Incondicionalmente.
Por Deus, como vou consertar?
— E-eu preciso que venha comigo agora! — Franzi a testa olhando para o
Jason, ele estava inseguro e completamente pálido. Pelo tom de sua voz, era algo
muito ruim. O Jason nunca, jamais mostrava fraqueza nenhuma. Pude notar que ele
já chorara, a julgar pelos rastros de lágrimas em seu rosto.
De repente meu coração começa a bater descompassado em meu peito. A cara
do Jason era trágica e simbólica. Quase de pêsames. A dor da perda estava
estampada ali tão claramente.
— O que foi? — murmurei de novo, olhando dentro dos olhos do meu chefe
de segurança, que por anos foi um homem duro e frio, que nunca demonstrou
muitas emoções. Nesse momento eu vi os olhos dele marejarem e eu quase não
conseguia mais respirar. Antes de ele dizer o que era, eu já sabia, eu sentia.
Só uma coisa poderia deixar Jason tão destruído assim.
Victória!
— Por favor, me diga que está tudo bem — implorei vendo as lágrimas
caírem pelo rosto do meu segurança, que graças a Victória se tornou um grande
amigo.
— Sinto muito — começou. — O carro estava desgovernado e ela não viu.
Eu estava longe e não tive tempo de… Eu falhei — falou derrotado, os ombros
tremendo muito. — Eu… Não pude evitar que… a pancada foi forte.
Eu paralisei ouvindo suas palavras, com certeza teria caído no chão, se já
não estivesse nele. Meu cérebro se recusava a processar essa informação. Eu não
aceitava, eu não queria aceitar. E tão logo meu peito doeu como se eu houvesse
acabado de levar um pancada, e, de fato… Eu acabei de levar.
Lágrimas incontroláveis começaram a escorrer pelo meu rosto, entretanto eu
não estava dando a mínima para isso.
Eu acabei de foder com minha vida! Eu acabei de destruir minha maldita
vida.
— Onde ela está? — grunhi me levantando, estava momentaneamente cego
pelas lágrimas.
— Victória está em frente ao hotel, eu deixei um médico a atendendo e corri
para chamar você, é melhor… — Ele parou e engoliu várias vezes. — … vir logo
antes que…
— Ela vai ficar bem! — exclamei, não deixando que ele terminasse de falar.
Eu me recusava a acreditar em qualquer coisa que não fosse nela ficando bem,
para pelo menos me odiar. — Minha Victória é forte! Ela é blindada… é feita do
mais resistente material. Ela vai ficar bem para me odiar. Ela vai ficar — grunhi
atravessando o bolo em minha garganta. — Vamos logo.
Corri para fora daquela sala, nem prestei atenção em como tudo estava, ainda
percebi que vários seguranças meus estavam controlando as coisas lá dentro.
Deixei tudo para que eles cuidassem e corri para a frente do hotel. Logo na saída
eu já vi um aglomerado de pessoas.
Corri abrindo caminho até o centro e foi quando eu vi onde estava minha
garota.
Não… não… não… não…
Victória estava deitada em uma poça de seu próprio sangue, quebrada…
parecendo uma boneca congelada.
— Dio santo! — murmurei em estado de choque. Só consegui chegar perto
dela, antes de os meus joelhos cederem e eu cair, meu peso corporal se tornando
algo impossível para eu sustentar.
Meu corpo todo tremia, mas minhas mãos eram as piores. Eu não conseguia
parar de vibrar.
Eu sentia desespero em estado cru e primitivo.
Suavemente, coloquei minhas mãos em seu rosto pálido e ensanguentado.
— Amore mio — falei engasgado, se antes eu estava chorando, agora eu
estava pior. Eu queria arrancar meu coração do peito para diminuir o que estava
sentindo. Eu não estava preparado para ver aquilo.
Eu não estava. Eu nunca estaria. Não para aquilo.
— Pequena? — chamei bem perto de seu rosto, por impulso, me aproximei o
suficiente para fazer um casulo com minhas grandes mãos e nos separar do mundo,
fiz como ela fazia às vezes, como fez em nossa despedida. — Amore mi,o me conte
um segredo. Me diga que isso é um pesadelo e que quando acordarmos você estará
em meus braços. Me dizendo o quanto me ama e que sou um bobo por ser tão
impulsivo — pedi soluçando bem baixinho enquanto minhas lágrimas escorriam e
pingavam no rosto dela, onde se misturavam com o sangue.
Victória olhava fixamente para o céu, suas lágrimas escorrendo, mas sua
expressão era serena, paralisada. Quase sem vida.
— Amore mio — supliquei —, por favor, resista para me odiar. Por favor, eu
imploro por isso, nesse momento. Eu desejo que você me odeie, pois saberei que
está viva. Por favor, me odeie. Viva para me recusar quando rastejar atrás de
você. Você sabe que eu sou louco e, mesmo levando patadas, eu vou continuar
insistindo. Por favor, me odeie. Viva para me odiar.
Victória piscou lentamente, seus olhos fixos no céu. Ela parecia alheia a tudo
à sua volta.
Eu a encarava, mas ela não me olhava, ela se recusava, ou não conseguia. O
tempo estava escorrendo… a vida da minha garota espalhando-se pelo chão.
Apesar de me matar, eu me obriguei a olhar melhor seu estado, e o que vi me
deixou ainda mais aterrorizado, completamente morto de medo. Havia um pedaço
de ferro incrustado em sua coxa, o que fazia com que muito sangue escorresse. A
calça branca estava tingida de vermelho e continuava a ficar mais ainda. Fui
subindo meu olhar pelo seu corpo e não dava para ver mais machucados, pois
tinha a blusa e a jaqueta que também estavam ensanguentadas, presumi que havia
machucados escondidos. Agora cheguei a seu lindo rosto, que estava ficando
inchado e distorcido, prestando atenção detalhadamente, só pude crer que era um
verdadeiro milagre ela estar de olhos abertos.
Limpei várias vezes minhas lágrimas, para poder enxergar. Sangue escorria
de sua boca, nariz… cabeça.
Gritei por socorro o mais alto que pude. Implorei por ajuda. Eu a estava
perdendo.
Por que demoravam tanto?
Olhei para o homem sujo de sangue que trabalhava freneticamente tentando
parar o sangramento na coxa dela. Percebi ser o mesmo que passou muito tempo
conversando com ela no bar. Não me importei com isso agora, eu só queria que ele
ajudasse.
— Por favor, salve a minha mulher! — implorei e ele balançou a cabeça
concordando. Vi que sua expressão era de tristeza conformada.
Peguei a mão de Victória, ela estava fria e, mesmo assim, levei até meus
lábios, beijando seus dedos um por um. Tentando esquentá-la.
Em vão.
— Tesoro, pode me ouvir? — sussurrei encarando seus olhos, que ainda
fitavam o céu. Fiquei quase deitado no chão bem perto de seu rosto. — Por favor,
amor, lute — solucei desesperado. — Viva para nosso bebê poder viver também.
Ele precisa de você — pedi chorando. — Faça isso, baby, lute por vocês dois. —
Funguei e com cuidado passei o polegar pelas laterais de seus olhos, limpando
suas lágrimas. — Deixe-me rastejar a seus pés, viva para me expulsar da sua vida
todas as vezes que eu for atrás de você. Por favor, viva. Viva para eu poder viver
também.
Chorei ali ao lado dela igual a um condenado. Se eu pelo menos tivesse
conversado com ela sobre o que eu vi e ouvi, se ao menos eu tivesse sido menos
idiota, menos egoísta. Se eu houvesse pensado menos em mim, em como eu ficaria.
Ela não estaria aqui agora. Victória me alertou tanto sobre meu ciúme doentio, ela
conversou tanto comigo, e, mesmo assim, eu agi por puro egoísmo. Eu pensei só
em mim.
Por Deus, eu trocaria de lugar com ela sem pensar duas vezes!
— Amore mio, olha para mim com esses lindos olhos mais uma vez. Deixe-
me te adorar — eu implorava baixinho e fervorosamente. Meu desespero já estava
em proporções catastróficas.
Se ela morrer. Não, não vou pensar nisso! Recuso-me a pensar em qualquer
outra coisa, ela vai ficar bem. Victória ainda vai me dar muito trabalho quando
eu for para reconquistar seu coração.
— Eu errei, Ma petit. Mas não vou desistir de você, nunca. Jamais — falei
em seu ouvido. — Eu nunca te disse isso da forma certa e nem tão claramente
como agora, mas ouça, por favor. Esse homem aqui te ama, ouviu? Te ama muito.
Incondicionalmente, e agora eu vejo que eu te amo mais que a mim mesmo. Por
favor, olha para mi. — fiquei ali murmurando em seu ouvido palavras de amor e
adoração pelo que pareceu uma eternidade.
— Ela está tentando falar! — alguém gritou e eu ergui minha cabeça, sorrindo
igual um idiota esperançoso. Mas logo fui empurrado para o lado enquanto o
médico que a estava atendendo veio para tomar meu lugar. Não me importei, fui
para seu outro lado.
— Brasileira, você me entende? — perguntou o homem, sorrindo para ela. —
Por favor, pisque os olhos.
Victória não respondeu, apenas piscou, seu olhar era vago, embaçado e
totalmente desfocado.
— Amor, olha para mim! — pedi, e ela muito lentamente virou o rosto.
O mundo congelou.
Lágrimas escorriam pelo seu rosto cada vez mais abundante. Eu chorava
enlouquecido.
— Eu te amo. Eu te amo demais — grunhi, minha voz tendo que atravessar o
mar de desespero em que eu me encontrava. — Por favor, viva para me odiar, eu
imploro.
As lágrimas de seus olhos ficaram mais grossas, ela me olhava e chorava
junto comigo.
— Eu prometo que tudo vai ficar bem. Confia em mim? — implorei
fervorosamente.
— Eu… Am… — ela tentou falar, engasgou e mais sangue escorreu de sua
boca.
— Não fala. Por favor, não fala nada, apenas continue me olhando, tudo bem?
— Engoli o soluço porque as coisas pareciam piorar, ouvi o médico xingando em
português, ele estava nervoso e eu estava… Nem sei mais.
— A… de… us — Victória resfolegou piscando cada vez mais lento, depois
fechou os olhos novamente. Logo seu corpo começou a sofrer pequenos espasmos,
e para meu estado de loucura piorar, mais sangue começou a sair pela sua boca.
Eu gritei desesperado com aquela visão tenebrosa.
— Saia da frente, eu preciso desobstruir as vias aéreas! — exclamou o
médico loiro. O desespero corria por meu sistema, mas o doutor estava tranquilo.
Completamente no controle de seu trabalho, e isso era o que importava.
Virando o rosto dela para o lado, ele colocou um dedo em sua boca, e depois
verificou a respiração pelo nariz. Enquanto ele fazia isso, eu chamava por ela
incessantemente, mas não houve respostas, depois a ambulância chegou e tudo
aconteceu como se passasse um filme.
Um horrível, diga-se de passagem.
Alguém me entregou a bolsa dela e o celular, que estava inteiro.
— Essa merda que deveria ter quebrado! — rosnei passando a manga da
minha camisa pelos olhos. Não adiantou muito, pois meus dutos lacrimais estavam
descontrolados. Chorar estava sendo para mim o mesmo que respirar. Natural.
Depois que todos os procedimentos necessários para a locomoção segura
foram feitos, eles a colocaram na ambulância. Eu me recusei a ficar de fora e
menti na maior cara de pau, dizendo que era o noivo dela.
Um paramédico me perguntou se eu estava em condições de acompanhar e eu
quase dei um murro na cara do bastardo. Eu estou com cara de quem está em
condições? Eu pareço com condições? Bando de filhos da puta cegos, é claro que
eu estou apavorado, morrendo de medo e sangrando por uma maldita ferida aberta.
Mas mesmo assim eu me obriguei a falar, trincando os dentes, que estava em
perfeitas condições.
Entrei na ambulância e fiquei perto da cabeça dela. Os paramédicos entraram
e então verdadeiramente começou a minha angústia expectante.
Eles cortaram as suas roupas, dando atenção especial principalmente à área
da perna onde o pedaço de ferro ainda estava incrustado. Não sei como isso foi
parar ali, mas vou saber de todos os detalhes e fazer o culpado pagar muito caro.
Os paramédicos deixaram-na apenas de calcinha e sutiã, vários aparelhos
foram conectados em seu peito e uma máscara de oxigênio foi colocada em seu
rosto. Um dos membros da equipe ficou apenas inflando o balão, dando-lhe
suporte, outro começou a examiná-la junto com o loiro que ainda não sei o nome,
sobrando um para anotar os dados.
O corte em sua coxa era algo monstruoso e horrendo, eu não queria nem
pensar nas consequências daquela que eu tinha quase certeza ser a pior ferida.
— Hemorragia por laceração na coxa com objeto alojado, procedimento de
contenção de fluxo sanguíneo local. Pancada na cabeça com corte de oito
centímetros, inchaço com infiltração de quatro centímetros circular, sangramento
nasal e bucal…
— Esses foram os diagnósticos clínicos e visíveis do estado dela!
Precisamos continuar, agora que estamos com as roupas fora do caminho — o
paramédico da ambulância falou e o médico loiro concordou.
Sem que eu tirasse os olhos da minha garota, o médico loiro começou a
apalpar com gentileza seu abdome e analisar as costelas.
— Inchaço na região abdominal, o lado direito está rígido e posso detectar
duas costelas quebradas.
De repente o paramédico que estava inflando o balão de oxigênio gritou algo
que fez meu sangue gelar nas veias.
— A pressão está caindo. O corpo está entrando em choque pela perda de
sangue.
— MERDA! INICIAR PROCEDIMENTO DE RCP! Preparem as cargas
rápido! — o loiro gritou e ergueu-se, começando a pressionar o peito da minha
garota.
Eu surtei e comecei a gritar.
— VICTÓRIA. AMOR. NÃO FAZ ISSO COMIGO. NÃO FAZ ISSO,
PORRA!— eu gritava enlouquecido e chorava descontrolado enquanto eles
trabalhavam apressados tentando concertar o que estava acontecendo de errado —
EU TE PROIBO, OUVIU? EU TE PROIBO DE ME DEIXAR SOZINHO. NÃO
FAÇA ISSO. NÃO FAÇA. — Meu desespero era imensurável, era como se eu
estivesse sendo revirado do avesso, nunca senti tanta dor em toda a minha
existência. Eu me via destruído, quebrado por dentro e por fora.
Então o aparelho que marcava o ritmo de seu coração fez um som corrente e
uma linha reta se via onde antes havia ondulações que marcavam seus batimentos
cardíacos.
Coração este que agora estava parado.
— Minha razão de viver… se foi… — murmurei tomado por um sentimento
de encerramento.
Minha vida acabou para sempre.
Eu assistia a tudo em completo estado de pânico paralisante. O médico loiro
continuava a comprimir o peito da Victória, depois ele soprava em sua boca, todas
as vezes que ele fazia isso, olhava para a linha reta no monitor cardíaco.
— Cargas prontas! — o paramédico da ambulância gritou. — Afastem-se.
Eu vi o aparelho ser colocado no peito de Victória, ouvi o barulho da carga
sendo solta, vi o corpo da minha amada saltando e caindo mole.
— Aumentar para duzentos.
Mais uma vez, a carga foi solta, e o corpo dela saltou… nada.
Linha reta.
— Aumentar para duzentos e cinquenta!
Em vão.
— Trezentos.
Olhei para o monitor.
Só havia uma linha reta, juntamente com o zumbido corrente da paralisia.
Os paramédicos balançaram a cabeça
— Nós a perdemos.
Eu acho que durou pouco mais de um minuto todo o procedimento de
reanimação,
Durante os sessenta mais longos segundos da minha vida, eu sentia mais e
mais pavor congelante, meus olhos alternando entre o monitor cardíaco e o peito
imóvel de Victória…
Agora eu desci ainda mais profundo dentro do inferno e, lá, lancei o maior
grito de negação do qual eu nunca pensei ser capaz.
— NÃO ME DEIXE, VICTÓRIA! — Meu grito rasgou minha garganta. —
NÃO ME DEIXE!
Tum…
— FICA COMIGO. — Meu coração acompanhou o ritmo imposto.
Tum… tum…
— VIVA PARA EU VIVER TAMBÉM! — gritei olhando para ela, levemente
inclinado perto de sua cabeça.
Tum, tum…Tum, tum…
— Eu te amo — sussurrei em seu ouvido.
Tum… tum… tum… Tum… tum… tum…
Esse era o som mais lindo que eu já ouvi em toda a minha maldita existência.
O som da vida fluindo por minha garota. O som que me permitiria viver também.
Eu não acreditava no que estava vendo. Todos estavam congelados e olhavam
para ela assombrados.
Já eu, quase tive um infarto de tanto alívio que senti.
Eu revivi nesse momento. Ainda era o mesmo Rocco Masari, porém livre de
antigas algemas.
Eu fui despertado, renascido.
Libertado.
Capítulo 57
Rocco

Espero congelado, completamente em pânico, mudo, a cirurgia de Victória


terminar. Eu juro por Deus que nunca vou conseguir me recuperar do susto que eu
tive dentro daquela ambulância. O medo foi tão cru e intenso que no percurso até o
hospital eu acho que envelheci uns vinte anos.
Nunca me senti tão exausto em toda a minha vida. Nunca realmente.
Nesse tempo várias enfermeiras vieram até onde estou, tentando saber se eu
estava bem e perguntando se eu queria cuidar dos meus ferimentos.
Rosnei para todas elas! Não me importei em ser civilizado, nesse instante eu
estava como um animal raivoso, lambendo as feridas. Estava pouco me fodendo
para meus machucados.
Todos aqui devem ser um bando de imbecis. Como eles têm a coragem de
perguntar se eu estava bem?
Eu devo estar ótimo sabendo que minha mulher (que eu havia acabado de
maltratar além do que é possível) estava em uma sala de cirurgia lutando pela sua
vida. E pela vida do meu filho.
Meu pequeno bambino… Dio mio.
Senti o celular da Victória tocar e vi no visor o nome do Gio. Atendo sem
preâmbulos, eu devo pelo menos isso a ela.
Nem tive tempo de falar nada e já escutei os gritos de alegria do outro lado
da linha.
— Viiiiiiiic, obrigadoooooooo! Nem acredito que você e o Gio prepararam
essa surpresa para mim. — Risos e mais risos. — Estamos oficialmente
namorando, não sei o que você fez, mas o ele me pediu direitinho e foi
lindoooooo. Meu pedido de namoro perfeito. A propósito, eu adorei o anel.
Eu sorri imaginando a alegria do casal. Eu não conhecia o Gio pessoalmente,
apenas o Sr. John, mas a Victória me contou como o conheceu, eu me compadeci
pelo garoto e fiquei com mais raiva de Blanchet, aquela megera fodida e egoísta.
— Vic? Você está aí?
— Desculpe, aqui é o Rocco, eu sou o noivo da Victória e ela… — Engoli o
nó na minha garganta. — … ela sofreu um acidente.
— Onde ela está? Ela está bem? Meu Deus, foi grave? E o bebê?
— Não sei, ela está em cirurgia — respondi fechando os olhos.
Meu bebê… Nosso bebê… Oh Deus meu filho!
Eram tantas perdas, tantos erros irreparáveis. Mais uma vez eu me questiono.
Como vou consertar tudo isso?
— Onde fica o hospital?
Eu passei as informações e a garota agradeceu, desligando em seguida.
Em frente ao hospital, já estava uma zona de guerra, repórteres estavam
acampados, pessoas chegavam e não iam embora.
Todos querendo saber da Victória. Todos preocupados.
Estava repensando tudo que fiz, quando vi o Sr. John chegar acompanhado de
dois jovens.
Espere, aquele rapaz é o mesmo que eu vi ontem em meu apartamento. Era ele
que estava com Victória.
Toda essa merda aconteceu depois e por causa do que eu ouvi. Não acreditei
quando ele chegou perto de mim e me cumprimentou. Finalmente eu estava
conhecendo o Gio e… a namorada dele.
Eu estava em completo estado de atordoamento. Não é possível que eu tenha
sido tão imbecil do jeito que eu fui.
Caralho! Eu podia jurar que…
Tentei organizar meus pensamentos, mas logo cheguei à conclusão que eu
estava um merda descontrolada e chorona. Resolvi que é melhor parar.
“Eu sei que errei. Então, não tem por que eu ficar tentando arranjar
justificativas para meu erro.”
Ouvi um Gio choroso contar como ele e Victória planejaram, um dia antes, os
detalhes do pedido de namoro que ele faria. Depois eu me mordi enquanto eles
falavam que a turma foi até a minha cobertura preparar minha surpresa lá.
— Como é possível? — fungou. — Ontem mesmo ela estava comigo,
combinando tudo… quando eu mostrei o anel para ela… — Chorou sendo
amparado pela namorada. — Eu mostrei o anel para ela e Vic adorou.
— E o que a Vic fez? — a moça que veio com eles murmurou.
— Ela ficou tão feliz! Ela estava tão feliz por nós, Alice — soluçou
— Eu sei, querido! E ela acertou, pois eu adorei.
Logo os dois se abraçaram chorando. E eu? Estava me sentindo um
miserável, filho da puta, perdedor e arrogante dos infernos.
Rebaixei-me à categoria de verme, ou melhor, eu sou o verme que come o
verme. Estou completamente afundado na merda.
Levantei dali e saí andando pelos corredores agarrado à bolsa dela. Quando
já estava sozinho, eu apenas me encostei à parede, deslizando até o chão.
— Ah, Dio santo, como eu fui um estúpido! — Novamente eu chorei. Só que
desta vez foi com outro tipo de desespero, além do que eu sentia por ela estar
naquela situação, eu estava sentindo uma dor terrível causada pela injustiça que eu
cometi com a pessoa que eu mais amava, minha alma gêmea.
— Por Deus, como vou consertar tanta burrada? Ela nunca vai me perdoar.
Fechei meus olhos deslizando até o chão. Eu não sei o que fazer… não sei
por onde começar. Sinceramente, não sei.
Sem querer, minha mente viajou até um dia atrás. Quando eu cheguei em meu
apartamento e ouvi algo que iria desencadear minhas ações.
Eu estava cansado demais, trabalhei dias sem dormir direito para poder
voltar logo para casa.
Estava tão ansioso que nem na volta consegui dormir no avião. Eu sentia
que algo estava acontecendo, minha irmã estava misteriosa, minha mamma
também, as nossas raras ligações eram muito esquisitas, pois minha mamma só
chorava e nada falava.
Pensei que fosse algo relacionado à gravidez de Antonella, e por isso mais
preocupação foi despejada em meu sistema.
Até pensei em ir direto para a casa da minha mãe, mas queria ver Victória
antes e matar a saudade. Eu realmente precisava vê-la, pois algo me
incomodava, depois que tivemos aquela conversa sobre traição, eu não estava
cem por cento, sei que foi eu que puxei o assunto, mas nunca pensei que Victória
seria tão honesta dizendo que terminaria comigo antes. Eu morria de medo.
Essa era a verdade pura e simples.
Cheguei à minha cobertura e resolvi ir direto pela recepção. Murdoch iria
levar o carro para a garagem e retirar minha mala.
Passei pelas pessoas sem nem prestar atenção, não dediquei um boa-noite
a ninguém. Eu estava agitado, só precisava tomar um banho, ficar cheiroso e ir
atrás da minha garota.
Os segundos no elevador serviram para piorar meu estado de estresse,
estava sem dormir, agoniado sem saber por que e morto de saudade.
Sabia que só iria me sentir mais eu mesmo quando estivesse com Victória
em meus braços.
As portas do elevador abriram e eu entrei no hall, não fiz barulho.
— Tudo pronto para amanhã! — Ouvi uma voz nervosa e desconhecida. —
Comprei o anel.
Franzi o cenho e entrei mais.
Vi Victória de costas para mim, ao lado de outro rapaz com cabelo grande.
— Seu bobo, vai dar tudo certo, confia em mim — Victória falou e eu pude
sentir a felicidade e o riso em sua voz. Ela até bagunçou o cabelo dele.
Meu peito doeu inexplicavelmente. Havia carinho explícito no gesto.
— Sabe, eu estou com medo — o rapaz falou e deitou a cabeça no encosto.
— E se não der certo?
O rapaz parecia ter medo de algo, mas eu não sabia do quê… ainda.
— Vai dar, amanhã é o dia da verdade, não tem por que não dar certo —
Victória o tranquilizou e logo fizeram silêncio.
Já eu decidi que estava mais que na hora de mostrar que estava ali.
— Como você acha que Rocco vai lidar com essa situação?
Congelei.
— Eu acho que ele vai tirar de letra.
O que eu vou tirar de letra?, pensei estreitando os olhos mais uma vez.
— E se ele ficar com raiva porque você demorou para contar?
"Contar o quê? Mas que caralho está acontecendo aqui?", eu me
questionava, todavia, não iria entrar e mostrar que estava ouvindo, eles poderia
mudar a conversa, já eu ficando em sigilo, eles iriam continuar, e eu quero ver
até onde isso vai dar.
— Não vai ficar, eu até tentei, mas ele estava muito ocupado, e, certamente,
se eu dissesse que agora não éramos só nos dois, ele iria voltar correndo.
— Tem razão, ele é bem possessivo com você!
Filho da puta, fala como se entendesse algo.
Apertei meus punhos. A vontade de matar aquele intruso aumentando
muito.
— Sim, ele é, mas acho que terei um desconto. Afinal, não é uma notícia
simples.
— Tem razão, eu só acho que ele vai ficar louco quando você disser!
— Vai mesmo. — Victória riu e uma pedra caiu em meu estômago.
Observei atento, o silêncio se estendia, mas logo o infeliz mostrou algo
para Victória e ela parecia muito, muito feliz.
— OMG!
— Não é nenhum diamante rosa, mas é com amor.
Então eu tive certeza que era eles estavam juntos… e senti como se algo
cobrisse minha visão, arrancando meu raciocínio. Eu poderia sentir o gosto da
ira em minha boca.
— Não importa o valor, eu já disse que dinheiro não compra felicidade, ele
é lindo, e eu amei — Victória falou e abraçou o tal.
Morri mil mortes.
— Agora guarda, ele é para ser entregue amanhã.
— Amanhã nunca esteve tão longe. Não vejo a hora de tê-la em meus
braços.
Então tudo desmoronou…
Raiva e ódio queimaram seu caminho através do meu corpo quando eu
notei a intenção deles.
Eu iria ser fodidamente dispensado amanhã!
Toda aquela conversa de terminar comigo antes para poder ficar com outro
vindo à tona de uma vez.
Esse era o plano, amanhã Victória iria terminar comigo para ficar com
outro. E ainda trouxe o filho da puta para o meu apartamento.
Maldita!
Fechei minhas mãos em punhos e dei um passo para dentro da sala.
Eu iria matar o bastardinho e depois expulsá-la da minha casa e da minha
vida.
Traidora! Maldita traidora.
Eu sabia que ela era muito boa para ser verdade. Ninguém pode ser tão
perfeito.
Tudo uma fodida mentira.
Fúria me consumia ainda, mas aí, pela primeira vez desde que conheci
Victória, eu resolvi agir friamente.
Girei nos calcanhares e sai de lá.
Eu não serei um bastardo traído pela segunda vez. Dessa vez eu irei
mostrar que comigo não se brinca. Vou mostrar como as coisas funcionam.
Nunca escondi o quão perverso posso ser.
Vou mostrar que posso ser pior… muito pior.
Agora, sentado aqui no chão desse hospital, pensando em tudo, eu vejo que
essa conversa foi muito mal interpretada por mim. Quando eu deveria chegar
chegando e arrebentando com tudo, eu agi com frieza.
De fato eu havia prometido para Victória que nunca mais ela iria me ver
agindo feito um louco descontrolado.
Então eu fiz pior.
E agi como um cretino frio e perverso.
Juro que agora eu odeio a mim mesmo. Está difícil de aceitar o que eu fiz.
Então novamente eu me pergunto.
— Como diabos eu vou consertar tudo isso?
Capítulo 58
Rocco

As horas estavam se arrastando, já faz mais de seis horas que esperamos e


nada de notícias. Victória ainda estava lá na sala de cirurgia.
Há cerca de uma hora a família dela chegou do Brasil. Tia Laura passou mal
e estava sedada. A megera da avó da Victória estava acabada, a mulher nem
parecia aquela criatura elegante e imponente, e sim que estava morrendo. E de fato
estava mesmo.
Todavia Victor estava pior. Ele estava louco. O homem tranquilo que eu
conheci parece uma fera transtornada, ele chegou e nós quase brigamos. Eu
entendia muito bem o que estava acontecendo, ele me culpava por não protegê-la.
Ele tinha razão. Eu também me culpava, e olha que ninguém sabe como as
coisas aconteceram.
Foda-se.
Não sei como estou conseguindo me manter são. Jason está em um canto
completamente isolado, ele se recusa a falar comigo, com certeza suspeita de algo,
mas ainda não se manifestou. Ele está acabado também.
Dimitri e William chegaram juntos e estão nervosos, andando de lá para cá. O
conde está com expressão assombrada, ele murmura coisas para si mesmo e, de
vez em quando, some, quando volta seus olhos estão vermelhos.
O Dinka, por sua vez, está parecendo que perdeu um braço. Ele pensa,
pensa… depois balança a cabeça e rosna, muito puto com algo.
O pior de tudo é que ninguém sabe o que eu fiz. Ninguém sabe.
Só Victória!
A segurança no hospital teve que ser reforçava, fãs lotavam a frente do
hospital e a mídia em peso caiu em cima.
Estava no limite entre a razão e a loucura quando ele chegou.
— Jean Pierre Dubois.
Antonieta e ele pareciam se conhecer, pois foi para ela que ele foi.
Ele perguntou o que aconteceu e a avó da Victória explicou. Observei
atentamente suas feições.
Ele variava de ódio contido a frieza exasperante.
Então ele caminhou em direção a Victor, mas eu levantei e fiquei no caminho.
Ficamos cara a cara.
— Não fique no meu caminho — falou baixo em francês. — Você não
gostará.
— Eu posso dizer o mesmo! — rosnei na mesma língua. — Posso garantir
que o seu pior não chega nem perto do meu.
— Eu até tentei deixá-la. Por um mísero momento eu pensei nisso, mas você
não a merece. Então aqui estou eu de volta.
— Você não vai conseguir o que quer — grunhi tremendo de raiva contida.
— Será que não? — Sorriu friamente, logo aproximou o rosto do meu ouvido.
— Eu sempre consigo o que quero.
— Não desta vez! — exclamei, minha mandíbula travada.
— Veremos.
Então ele se afastou até um canto e ficou lá. Esperando como todos.
Pouco tempo depois, Victor foi chamado pelo seu assistente pessoal. Fiquei
curioso.
Mas não demorou, essa curiosidade foi logo suprida.
Victor voltou com uma revista, que ele jogou em cima de mim.

Traição causou acidente de Victória? A nova queridinha da alta costura


sobreviverá?

A foto da capa era eu com as duas mulheres e Victória de frente para mim.
Ergui minha cabeça e olhei para Victor, não tive tempo de reagir.
Ele fechou o punho na minha cara.
— Você não chega mais perto da minha filha. Você não chega! — berrou e
chamou os seus próprios seguranças. — Agora saia daqui…
Ergui-me do chão e olhei em seus olhos.
— Só Victória pode me expulsar — murmurei e vi as chamas em seus olhos.
Então o inacreditável aconteceu. Jason caminhou até onde eu estava, pegou a
revista e olhou. Em seguida, ele estendeu a revista sem olhar para quem iria pegar.
— Primeiro, eu me demito, e segundo… — Jason me deu um murro tão forte
que tudo rodou. — Você vai sair daqui, agora escolha se é por bem ou por mal.
Capítulo 59
Rocco

Duro de raiva, encaro Jason fixamente.


O clima está tenso, terrivelmente pesado, nessa hora eu me sinto ainda mais
sozinho. Todos estão contra mim.
— Você vai sair por bem ou por mal? — Jason falou sob um fôlego curto.
Vi seu corpo tenso, preparado para lutar, entretanto não era sua expressão
corporal que me deixou em alerta, e sim sua expressão facial.
Então, muito rapidamente, eu me lembrei de uma conversa com Dark.
"Jason é o melhor, ele é rápido, silencioso. Letal."
Agora me pergunto, o que Jason era? Nunca me importei em saber, até agora.
Na verdade o que importava era que sempre foi de confiança e leal.
— Não me faça perguntar de novo! — Travou a mandíbula e seus olhos
incendiaram.
Eu me ericei, estiquei-me em toda minha estatura, e o enfrentei.
— Você precisa ser muito bom — grunhi e ele riu de lado.
— Você não faz ideia.
Ficamos cara a cara. Nunca pensei que chegaria a isso, por fim, eu sabia, que
Jason seria um bom oponente. Pelo menos não cairia tão fácil.
Eu quase queria uma boa briga, talvez descarregar essa angústia de alguma
forma fosse bom.
— Tirem esse homem daqui! — Ouvi Victor mandando três seguranças para
cima de mim.
Jason estreitou os olhos fechando as mãos em punhos.
Preparei-me para brigar, eu não iria sair daqui nem amarrado.
— Ei, amigos, devagar com a queda! — Dimitri grunhiu emparelhando
comigo. — O buraco aqui é mais embaixo. — Olhei para ele chocado
— Obrigado — me emocionei —, eu…
— Fica quieto, ainda vou arrebentar sua cara — murmurou só para eu ouvir.
— Vamos colocá-lo para fora! — um dos seguranças falou e William também
chegou junto.
Eu estava flanqueado pelos meus amigos. A tríade unida, até nos piores
momentos.
Caralho!
— Vamos ser civilizados, mas se querem confusão, também podemos
arranjar! — William murmurou, sua voz rouca e baixa. — Todavia, aconselho, não
estou em um bom momento, então posso causar grandes estragos.
Os seguranças duvidaram, todos éramos marmanjos com boa constituição
física, e além do mais, a tríade lutava desde os tempos da universidade, então… a
pancadaria poderia ser bem violenta.
Jason era o que estava mais próximo de mim, ele estava parado,
aparentemente largado. Sua aparente tranquilidade na expressão corporal me fez
desviar o foco dele e, por isso, Jason teve a oportunidade de fazer um movimento
tão rápido que eu nem vi, quando dei por mim, eu estava preso em um mata-leão
apertado. Que me sufocava.
Foda-se.
— Você é o causador dessa desgraça — grunhiu baixo em meu ouvido. —
Por sua culpa eu corro o risco de perder minha única família.
— Jason — ofeguei tentando me soltar.
Eu estava com falta de ar, ficando zonzo, e por isso o corpo começava a
entrar em desespero. Entretanto eu já passei por isso. Eu só precisava de controle.
Fechei meus olhos durante um segundo, me concentrando em minhas aulas de
sobrevivência, comandei meu corpo a se desligar da falta de ar, obriguei meus
músculos a relaxarem, por um segundo senti o aperto de Jason abrandar, e
continuei largado. Escutei Dimitri rosnando bruscamente e William o
acompanhando.
Jason afrouxou mais um pouco.
Eu me concentrei mais ainda, minha mente comandando meu corpo.
Manipulando-o.
Eu estava usando a técnica de mente sobre a mente. Eu comando, eu me
privo… eu sobrevivo.
Jason afrouxou mais, então eu dei-lhe uma cotovelada forte.
Ele grunhiu perdendo a força do seu agarre, consegui por uma fração de
segundo enfiar meu braço na pequena brecha entre meu pescoço e o aperto de
Jason, e, assim, sugar o ar com força. Entretanto, estava puto de raiva, e por isso
me curvei para frente, puxando Jason sobre minhas costas, desequilibrando-o, em
seguida derrubando nós dois no chão.
— Não vou sair, porra! — berrei me livrando do seu agarre e me defendendo
de uma cotovelada.
— Você vai! — rosnou e eu acertei um murro em sua cara.
— PAREM! — Dimitri berrou e logo éramos afastados.
Foi preciso meus dois amigos para me segurar, e os seguranças para
segurarem Jason.
Ambos rosnávamos, ofegávamos e tentávamos avançar um em cima do outro.
Nossos detentores estavam tendo um duro trabalho para nos manter afastados.
Éramos nesse momento dois animais selvagens querendo briga. Tentando
provar quem era mais forte. Quem era supremo. Quem era o macho dominante.
O poderoso alfa!
Rosnei mais forte, os sons saindo do fundo do meu peito. A dor e a mágoa se
juntando à fúria que eu sentia de mim mesmo. Só de mim.
— Fica quieto! — Dimitri rosnou no meu ouvido. — Melhor sair daqui por
bem, Jason está louco, ele é perigoso, você sabe!
— Foda-se, mandem um exército! Mas eu não saio daqui nem morto! —
rosnei de volta. — E, só para que saiba, perigoso sou eu, neste momento — cuspi
as palavras, eu parecia um cão raivoso.
— Você não tem esse direito! — Victor grunhiu furioso e veio para cima de
mim.
Dimitri me soltou e eu deixei meu sogro me dar dois murros. Apesar de estar
pronto, meus músculos preparados para briga, eu não revidei, nem queria. Às
vezes era automático, mas agora eu estava dominando meu corpo. E, além de tudo.
eu merecia, mas ainda assim, e mesmo sabendo disso, eu não iria sair daqui.
— Pode bater — falei cuspindo sangue. — Mas não vou sair daqui de jeito
nenhum.
— Você vai pagar pelo que fez! — rosnou na minha cara, estávamos nariz
com nariz. — Você vai pagar! Minha filha não é cão sem dono! Ela tem um pai, e
eu vou cuidar para que ela nunca mais seja ferida dessa forma.
Não havia resposta para dar. Eu não tinha o que dizer.
— Eu avisei que você não iria me querer como inimigo! — murmurou baixo,
o rosto tenso, os olhos inflamados de puro ódio. — Você não vai vê-la, não vai
chegar perto dela e nem do meu neto.
Abri a boca para falar, mas, do nada, ouvi a voz suave da minha garota dentro
da minha cabeça…
"Deus nós dá o momento de falar e o momento de calar! Saiba o momento
certo de cada um."
Mordi minha bochecha com força. Fiquei calado.
Victor ainda me encarou fixamente, esperando minha explosão, mas não
revidei. Eu abrandei.
— Se quiser me bater, fique à vontade. Eu não vou revidar, não farei nada —
proferi baixo, minha voz trêmula. — Nenhuma agressão física se comparar à dor
que eu sinto em minha alma. Então se quer bater… — Dei de ombros e meus dois
amigos ofegaram de puro choque.
Levei outro murro na cara e cambaleei. Minha cabeça rodando.
— Maldito seja você! — Victor grunhiu e veio para cima, mas naquele
instante uma enfermeira apareceu.
— Peço que se comportem, ou todos serão retirados, agora preciso saber
quem são os parentes de Victória Fontaine.
Victor praticamente correu para perto da enfermeira, já eu fiquei paralisado.
Com um braço na parede, para poder me apoiar, minha mente turva. Entretanto, o
medo que cravava suas garras em mim era pior, muito pior.
— Eu sou o pai dela, por favor, me diga como minha filha está! — A voz de
Victor estava aflita e desesperada
— Senhor, eu vim a pedido do médico responsável, o barulho estava grande,
mas ele já está vindo. Peço que façam silêncio. Estamos em um hospital.
— Perdoe-nos — Victor murmurou limpando os olhos.
Mal a enfermeira foi embora e o médico loiro que prestou os primeiros
socorros apareceu.
O que aconteceu a seguir foi muito estranho.
— Meu neto! — Antonieta gritou se jogando nos braços do homem.
— Vovó? — questionou confuso. — Mas o que…
Ele olhou para Victor e voltou seu olhar para Antonieta, sua expressão
ficando chocada quando a realidade bateu.
— Carlos, me diga como está minha garotinha! — Victor implorou e eu me
encolhi. Porém cheguei mais perto. Eu precisava de notícias.
— Tio, eu… — Engoliu sem eco, ficando totalmente pálido. — Não acredito
que… — Então ele esfregou o rosto que aparentava muito cansaço. — Não
imaginava que a Victória com quem eu conversei no bar do hotel fosse a nossa
Victória… mas que terrível coincidência — suspirou chocado.
Eu fechei os olhos quando ele disse "nossa Victória", mas agora não era
hora, eu já estava me afogando em um mar de desgosto e medo, não precisava
acrescentar o ciúme.
— Vamos, filho — Victor insistiu e o silêncio reinou.
— Por onde começar?… — murmurou respirando fundo. — As cirurgias
foram bem sucedidas.
— As cirurgias? — Antonieta quase gritou. — Como assim?
— Peço que me ouçam com atenção. — Ergueu uma das mãos e qualquer
pergunta morreu na ponta de língua. — Victória sofreu uma pancada na cabeça e
foi necessário fazer uma punção do sangue infiltrado, graças a Deus ela não teve
nenhum trauma grave no crânio, foi superficial, mas, bom, traumas na cabeça
sempre são complicados. Continuando… — Eu o vi engolir e em seguida
pigarrear. — Ela teve uma forte hemorragia abdominal e duas costelas quebradas,
uma delas ficou muito próxima de perfurar o pulmão, foi por questão de
milímetros, mesmo assim, o pulmão esquerdo está sendo comprimido pelo inchaço
abdominal.
A cada palavra que Carlos, o primo médico falava, eu recebia como um
golpe físico, e era infinitamente mais forte e intenso que os golpes de Jason e
Victor juntos.
— Na ambulância para cá, Victória teve uma parada cardíaca, o coração dela
parou por um minuto, então, por isso, nós tivemos a presença de um cirurgião
cardiologista na sala, apenas por precaução, é claro, em comum acordo, a equipe
médica decidiu levar Victória a um estado de Hipotermia clínica. Precisávamos
fazer com que o coração trabalhasse com uma quantidade de sangue menor.
Geralmente o coração se esforça mais que o dobro quando há perda de fluxo
sanguíneo, por isso ele falha, outra parada cardíaca e ela não iria resistir.
— Meu Deus! — Victor engasgou enquanto puxava os cabelos, ele estava
mais e mais desesperado.
Talvez ele estivesse sentindo metade do que eu estou sentindo agora, pois
além de ser o amor da minha vida que está nesse estado, eu também sou o culpado
por ela está assim.
— Colocá-la em estado hipotérmico fez com que o sangue circulasse mais
lentamente, e, assim, conseguimos fazer a cirurgia de remoção do objeto alojado
na coxa. — Notei que o médico tremia sutilmente, já eu…
Devem imaginar. Ou melhor, não imagina, não. Não há palavras boas o
bastante para descrever o que se passa em meu íntimo.
— Os músculos da coxa foram rasgados até quase atingir o osso, tivemos que
reconstruir toda a área, unimos os tecidos um por um, aproveitamos para reforçar
a região do fêmur, que devido à pancada não quebrou. mas trincou, calculamos que
Victória tenha perdido cinco centímetros de circunferência muscular. Ademais foi
um grande sucesso a cirurgia de reconstrução, porém todo o processo foi muito
lento. — Suspirou. — Com certeza, fazendo bastante fisioterapia e exercícios de
fortalecimento, ela ficará apenas com uma cicatriz, que pode, no futuro, ser
amenizada com uma cirurgia corretiva.
— Então ela está fora de risco? — Jason questionou e eu o olhei, ele estava
aflito, pálido, seus olhos assombrados.
— Apesar de conseguir passar pelas cirurgias, temos outro grande problema
— falou e sua boca fechou em uma linha fina.
— Qual é? — Desta vez eu não me segurei.
Eu estava além de aterrorizado. Eu estava… eu…
Não consigo me expressar.
— Victória precisa de sangue — Dr. Carlos murmurou. — Ela precisa de
vários doadores com tipo sanguíneo raro. O negativo. — O médico olhou para
Victor e para Antonieta, ambos balançaram a cabeça, eu não compreendi aquele
entendimento mudo, mas estava atento. — Esse tipo de sangue é conhecido como
"sangue dourado", pois pode doar para todos, mas só recebe doação do mesmo
tipo.
Ofeguei em pânico. Victor comprimiu os lábios e Antonieta chorou ainda
mais.
— Calma, vovó, a senhora não pode se descontrolar, por ora eu estou indo
fazer a primeira doação, eu e Victória somos compatíveis, temos a mesma tipagem
sanguínea, entretanto ainda precisaremos de mais. — O médico respirou fundo. —
Victória ainda está em perigo de morte, nós a induzimos ao coma e optamos por
intubar. — Os ombros do médico caíram. — Infelizmente ela decaiu, não
queremos correr riscos. Uma parada cardíaca ou respiratória não será nada boa.
Por isso também nós a colocamos em um ambiente mais estéril, queremos evitar
qualquer possibilidade de infecção.
Houve vários grunhidos de pavor, o meu foi o mais alto, o mais sofrido e
provavelmente o mais terrível. Eu estava sem acreditar.
— As próximas vinte e quatro horas serão decisivas para Victória e para o
bebê, foi um milagre e eu não sei como explicar, nunca tinha visto nada igual,
ambos estão agarrados à vida.
Devo ter dado algum sinal de que iria cair, pois William surgiu em minha
frente e me abraçou.
Eu chorei.
— Dio santo — engasguei trêmulo. Eu não era nada do Poderoso Masari,
agora eu estava mais para um homem louco, desestruturado, fraco e morto de medo
que se agarra a migalhas de esperança.
— Calma, você precisa ser forte — o conde murmurou baixinho, notei
claramente o embargo em sua voz. Aquilo me destruiu ainda mais, pois eu sabia
como William deveria estar sofrendo agora, e justo por isso eu sabia ele estava
sendo forte por mim, pois se não fosse meu amigo me sustentando, eu estaria no
chão.
Eu me apoiei nele completamente, retribuindo o abraço…
Eu estava a ponto de perder as forças. Nunca me senti tão desolado em minha
vida.
— Victória está na UTI, só duas pessoas podem entrar por dia, durante cinco
minutos.
Ouvir isso me fez criar forças. Praticamente empurrei William e me ajeitei
um pouco. Esfreguei as mãos em minha calça e respirei fundo.
Eu queria tanto vê-la!
— Eu e minha mãe! — Victor falou e esse soco doeu. Ou melhor, essas
palavras doeram.
Eu os olhei indo junto com o médico, então encostei à parede e me larguei,
escorregando até o chão, apoiando meus cotovelos nos joelhos e me afundando ali.
Sofrendo.
Eu me sentia tão péssimo, nada, absolutamente nada no mundo me faria ficar
melhor. Eu me culpava, e me martirizava. Aquela cena de Victória sendo dada
como morta vai me assombrar pelo resto da vida. Aquela cena está gravada a ferro
em meu cérebro e talvez eu jamais me recupere disso.
Fiquei congelado naquela posição, mas não demorou muito e Victor volta em
estado lastimável, ele apoiava Antonieta, que chorava enlouquecida.
"O que eles viram?", eu me perguntei sentindo um dedo gelado percorrendo
minha espinha.
Saltei em pé, mas Victor me ignorou, entretanto, antes de sentar e esconder o
rosto entre as mãos, ele olhou para mim.
Prendi meu fôlego.
A decepção era tão grande em suas feições que me senti diminuindo alguns
centímetros.
— Eu só pedi que você cuidasse dela até eu voltar, eu só pedi isso! —
murmurou, negando com a cabeça. — Eu confiei em você! — exclamou e seu rosto
se contorceu em uma careta dolorosa. — Ela não merecia. Minha filha não
merecia estar lá agora do jeito que está. — Soluçou e suas lágrimas escorreram.
— Você está proibido de vê-la.
— E agora? — Antonieta perguntou para não sei quem. — Ela precisa de
sangue, e só Carlos tem o mesmo tipo. Victor, meu filho, faça alguma coisa —
implorou fora de si.
Eu olhei de um lado para outro, esfreguei meu peito, doía muito, mas agora eu
precisava pensar.
Onde conseguir sangue O negativo?
Não precisei pensar muito, saí dali correndo até um banheiro próximo,
procurei por uma pia e lavei o sangue do meu rosto. Tudo ardia e queimava, mas
pelo menos eu estaria com o rosto limpo…
— O que você vai fazer? — Dimitri perguntou
— Preciso arrumar sangue O negativo! — exclamei tirando minha camisa
suja de sangue, coloquei-a debaixo d'água e comecei a esfregar freneticamente.
Minhas lágrimas escorriam, mas eu continuava.
— Para com isso! — William puxou minhas mãos da água e começou a
desabotoar a própria camisa. — Fica com a minha! — Entregou-me sua camisa e
eu vesti, ele ficou apenas com o seu casaco.
Penteei meus cabelos com os dedos, colocando-os para trás, a água escorria
nas minhas costas, mas eu não me importava.
— Cara, você está uma merda — Dimitri suspirou. — E eu sinto em te dizer
isso, mas eu ainda vou piorar o estado do seu rosto bonito, porém não será agora,
então seja lá o que você está pensando em fazer, vá logo.
— Eu vou! — murmurei e William barrou minha saída.
Olhei em seus olhos.
E inacreditavelmente ali conversamos.
Eu entendia que, se Victória não escapasse dessa, eu provavelmente não
demoraria muito tempo para ir atrás dela.
— Eu não vou te dar nem um um murro, porque eu sei que você deve estar
sofrendo mais que todos juntos. Eu te disse, e você sabe. Eu sofro há anos e não
tive metade do que você teve, neste caso, meu amigo, eu só desejo que Deus tenha
piedade de você. Porque a família de Victória e, até ouso dizer, ela mesma não
irão ter. Desta vez você foi longe… longe demais.
Saí do banheiro momentaneamente cego pelas lágrimas. Eu tinha pressa e
precisava me controlar. Quando estava próximo à saída, eu parei. Respirei fundo
várias vezes e limpei meus olhos.
"Controle-se!", comandei a mim mesmo. "Você precisa se controlar e fazer o
que precisa ser feito!"
Respirei algumas vezes para tentar equilibrar minhas emoções e fui.
Dei um passo para fora do hospital e vários repórteres focaram suas câmeras
em mim. Os muitos fãs da minha garota estavam lá também.
— Preciso saber quem está ao vivo! — entoei alto, minha voz firme. Dois
repórteres gritaram e eu me aproximei, permiti que suas câmeras estivessem
enfiadas na minha cara.
— Sr. Masari, é verdade que uma possível traição foi o…
— Não irei responder perguntas, estou aqui para fazer um pedido. — Fechei
os olhos um segundo e mandei ver. — Cidadãos de Londres… — Minha voz saiu
clara e sem falhas. — Estou aqui para dizer que Victória precisa de sangue O
negativo, aos que vierem e estiverem aptos para doação, farei qualquer coisa para
compensar. Todavia, preciso que seja agora, é uma questão de suma importância.
Por favor, venham para o Complexo hospitalar Saint Mary's.
Afastei-me e já naquele momento uma pessoa começou a gritar, era uma moça
e ela estava segurando um cartaz com um coração com o nome Victória dentro.
— Você! — Apontei e ela bateu no peito, pedindo passagem, fui até ela e a
ajudei a passar pelo bloqueio de seguranças. Lembrava dela de algum lugar, só
não sabia de onde.
— Eu sou saudável e tenho sangue O negativo — falou ofegante e
praticamente corremos para dentro do hospital.
Houve um rebuliço a seguir, cerca de uma hora depois já tinham mais dois
doadores, e foram chegando mais.
Dimitri estava cuidando de acertar tudo e realizar os possíveis desejos,
prometi qualquer coisa pela ajuda e não estava mentindo.
Agora estava em busca de uma forma de ver Victória. Eu precisava de alguma
brecha, alguma forma de entrar naquele quarto. Entretanto, juntando cansaço físico
e mental eu não estava raciocinando direito.
Saí um momento da sala de espera para tomar um café, desde que eu
interpretei errado aquela conversa. que eu não durmo, e agora preciso de algo para
me manter acordado.
“Eu preciso entrar de qualquer jeito naquele quarto!”, pensei encarando o
copo. “Talvez se eu subornar alguém eu consiga, ou não! Droga, então se eu
roubar a roupa de algum médico ou enfermeiro, posso conseguir, e aí eu vou vê-
la… Lógico que Talvez eu precise de ajuda, será que Joseph me ajuda? Afinal,
ele é o dono desse hospital, ele deve ter influência nessa porra! Sim, é, vou fazer
isso, aí. Espera, Rocco, e se você for pego?”, eu me questionei, mas logo dei de
ombros. “Foda-se, eu vou arriscar, depois, se algo acontecer, eu dou um jeito,
eu sempre dou!”
— Você deve ser Rocco, não é? — Estava muito distraído, pensado em um
plano, e não vi ninguém se aproximando.
— Sim, sou eu — respondi erguendo a cabeça. Dei de cara com o Dr. Carlos,
o primo de Victória.
Quem diria? Eu nunca imaginaria que o homem que conversou com Victória
no bar e que fez os primeiros-socorros fosse justamente ser primo dela.
— Olha, o que eu vou fazer é errado, porque vai contra as ordens da família
— murmurou sentando na cadeira de frente à minha. — Durante minha conversa
com Victória pude notar claramente que ela estava preocupada, mas também pude
ver o quanto ela te amava, e por isso eu vou te ajudar.
— O quê? —senti meu coração acelerar. — O que disse?
— Eu assumi o caso, sou o médico da família, eu tenho autoridade, afinal eu
também sou da família. — Esboçou um sorriso. — A equipe que cuida dela é
liderada por mim, então…
— Você vai me ajudar a vê-la? — perguntei sem acreditar
— Sim, mas faremos da seguinte forma… — falou, inclinando-se para frente,
em estilo conspiratório, eu me inclinei também, atento a suas palavras. —
Primeiro, você vai para casa, tome um bom banho, descanse. Tente dormir e, lá
pelas dez da noite, você volta. Vou fazer meu tio e minha avó irem embora, e aí
você entra.
Sorri pela primeira vez na noite. A emoção dando um nó em meu estômago.
— Obrigado! — Estendi minha mão e ele aceitou. — Obrigado por salvá-la.
Por tudo.
— Não, cara, quem a trouxe de volta foi você, seu desespero a segurou aqui.
— Suspirou, balançando a cabeça. — Então não me agradeça. O que se seguiu foi
procedimento. Agora vai para casa e volte mais tarde. — Logo ele retirou um
cartão do bolso. — Me ligue e combinamos.
Saí da lanchonete do hospital com as esperanças renovadas, agora eu tinha
uma promessa.
Eu iria ver minha garota…
— Caralho! — murmurei esfregando meu rosto, logo grunhi de dor, eu devo
estar todo arrebentado.
Sendo o Saint Mary's um complexo, ele tem várias saídas, e eu fui por uma
que estava vazia, digo, livre de repórteres e fãs. Logo em seguida, peguei um táxi e
fui para meu apartamento. Eu estava ansioso para voltar, mas tinha que esperar.
Nem notei quando cheguei, estava em piloto automático.
Abri a porta com minha chave reserva, adentrando logo em seguida.
Liguei a luz e senti um arrepio angustiado. Olhei ao redor, esperando ver
alguma coisa diferente, mas estava tudo em ordem. Respirei fundo e fui direito
para meu quarto tomar banho. Assim que entrei no ambiente, liguei a luz e
congelei.
"Parabéns, papai,"
Meu corpo travou, meu coração parou, mas meus olhos seguiram olhando. Vi
as bolas rosa e azuis enfeitando todo o quarto, em seguida minha visão focou na
cama.
Havia um enorme coração com flores coloridas e duas roupinhas, uma azul e
outra rosa.
Dei um passo, continuei tentado manter-me erguido.
Senti a primeira lança de dor atravessando meu corpo.
Minha vista embaçou, dei outro passo… e mais outro, cheguei à cama e
peguei as duas roupinhas.
Retrocedi um passo… e…
Meu corpo cedeu.
Caí de joelhos, então, diante da enorme foto minha e de Victória e da faixa,
eu enterrei meu rosto nas duas roupinhas e gritei.
Minha dor muito forte para eu controlar, não era chorar, era algo mais, algo
maior e mais destrutivo.
Gritei de novo, abracei-me.
Eu sentia como se me partisse ao meio, meu corpo fragmentando-se em
milhares de pedaços que seriam impossíveis juntar novamente.
Eu quebrei minha garota com atitudes perversas, porém Victória me quebrou
com seu amor, e agora eu estou aqui.
Gritei de novo. E de novo… e de novo.
Não era um grito comum, mas, sim, um brado agonizante de pura dor e
arrependimento.
Cada rugido reverberava em meu apartamento vazio, em meu coração
destroçado… em minha alma perdida.
Já não sei quando minha voz não se fazia ouvir, ela morreu, como eu estava
morto agora.
Minha culpa… minha resolução.
Eu… eu… eu… maldito seja eu.
Maldito seja eu.
Então houve silêncio. A voz que gritava dentro de mim calou-se. Minha voz
exterior já havia calado. O apartamento também estava mudo.
Não sobrou nada.
Os sons se perderam. Agora enterro-me no estrondoso silêncio.
O silêncio.
Meus olhos perdidos no vazio, minhas mãos segurando duas roupas de bebê,
meu joelhos não chão. Meu corpo balançando-se sem música.
Não há música.
Só silêncio. O silêncio. O não silencioso gritante silêncio.
Olho para a grande foto acima da cama e que está diante de mim, fixo meus
olhos lá…
Amore mio… perdonami?
Perdão?
Uma simples palavra, mas que marca minha alma, minhas atitudes, mas
principalmente, meu egoísmo.
Capítulo 60
Rocco

Horas… minutos… segundos…


Eu não sei em que ciclo de tempo me encontro, desperto para a realidade
porque sinto braços me puxando do chão. Mãos que agarram o que seguro com
tanta força.
— Não! — rosno, porém minha voz sai baixa e arranhada.
Encolho-me longe. Rosno mais ferozmente.
Sou um animal agora.
— Meu amigo.
Ouço, mas não quero atender.
Luto quando me agarram, sinto um forte tapa no rosto. Pisco os olhos.
Vejo William entrando em foco, ele me olha aflito.
Meu coração encolhe.
— Victória? — grasno em pânico.
— Ela está na mesma — murmurou e eu assenti. Esfreguei meu rosto, olhei ao
redor e o Dinka estava atrás de mim.
Meus amigos estavam muito próximos. Ambos me olhavam com cuidado,
como se eu fosse, a qualquer momento, cometer uma loucura. É, talvez eu fosse
mesmo.
— Saiam daqui, quero ficar sozinho! — grunhi e caminhei cambaleante até o
banheiro, lá eu liguei o chuveiro e entrei debaixo d'água.
Ainda vestido. Ainda segurando as duas roupinhas com força.
Não me permiti pensar em tudo que eu poderia estar perdendo agora.
Era insuportável demais.
A água batia em meu corpo, eu tentava sentir, mas não sentia. Tudo se resumia
ao inferno em meu interior, à fúria que explodia dentro de mim, ao ódio dirigido a
mim mesmo.
— Seu idiota, quer morrer de frio? — Dimitri grunhiu furiosamente. —
Vamos, sair daí!
O que aconteceu a seguir foi uma verdadeira confusão, William e Dimitri me
arrastaram para fora do banheiro, e já no quarto os dois começaram a berrar o
quanto eu era um filho da puta egoísta.
— Explique essa merda! — Dimitri rosnou jogando a revista no meu rosto.
Os ânimos estavam exaltados e eu praticamente rosnei as palavras, contando
tudo que houve.
Quando terminei, Dimitri chegou perto de mim e desceu o murro, voei em
cima dele e esmurrei-o também, depois William entrou pelo meio e brigamos.
Foi algo tenebroso, estilo luta de MMA, todavia, depois de vários minutos,
eu estava um pouco mais no controle das minhas funções.
— Se isso virar briga judicial, eu vou defender Victória! — Dimitri grunhiu
limpando a boca com as costas da mão. — Eu sou seu amigo, mas não vou aceitar
essa palhaçada! Do pisdy! — xingou em russo. — Só faltava aquela menina ter seu
nome tatuado na cara dela! Pelo amor de Deus, como você pôde pensar que ela
iria te deixar? Só para ficar claro, eu estava aqui, okay? Eu estava tomando banho,
porque trabalhei feito um servente enquanto Victória mandava eu pendurar essas
coisas todas. — Abriu os braços, abrangendo toda a decoração. — Eu sabia que
você era um idiota, mas não sabia que estava em um nível tão elevado!
Fiquei calado, não havia réplica.
— Eu disse que não iria te bater, mas, cara, às vezes é necessário. —
William bufou soltando o cabelo assanhado e tornando a prendê-lo. — Juro que se
eu conseguisse me apaixonar ao ponto de saber que não vivo sem ter aquela
pessoa, colocaria minhas ressalvas no rabo, porque, cara, você está fodido. Não é
só com Victória, porque eu ainda desconfio que ela possa te dar outra chance,
claro que se você correr muito atrás, eu vejo que a família dela irá barrar cada
avanço que você conseguir, e, lembre-se, ainda tem tia Laura, se eu fosse você,
passaria a usar um protetor de genitálias, iguais aos usadas nas lutas. Você está
muito fodido.
— Eu sei de tudo isso! — grunhi respirando com dificuldade. — Eu errei, eu
vivi errando, não posso evitar, não é como se eu pudesse controlar, vocês acham
que eu gostaria de estar sentindo o que sinto agora? — perguntei para ambos. —
Eu havia prometido a Victória que nunca mais iria chegar com brutalidade, e eu
realmente fiz isso, entretanto, sim, se eu houvesse arrebentado a cara do Gio,
talvez agora tudo estivesse mais fácil.
— O seu problema é que você promete coisas que não está pronto para
cumprir! — Dimitri falou de cara feia — Se você diz que não vai fazer uma coisa,
então seja a porra de um homem e não faça! Mas você pensou só no seu umbigo, só
na sua dor, e, que porra, se Victória quisesse te deixar, onde está o problema?
Ninguém é obrigado a ficar com outra pessoa.
— Existem várias formas de contornar a situação, por que você não pegou
Victória e levou para sua ilha? — William questionou. — Por que não seduzi-la e,
sei lá, tentar fazer com que ela mudasse de ideia, se fosse isso mesmo? Rocco,
você tem um arsenal fodidamente diversificado e simplesmente não usa! Você é
muito idiota!
Ficamos em silêncio, as palavras dos meus amigos martelando em minha
cabeça.
Para começar eles têm razão. Eu deveria ter agido com mais inteligência. E
foi só depois de levar esse golpe da vida que eu realmente acordei para o fato de
que existem coisas que estão muito acima de dinheiro e poder.
— Eu concordo com tudo! — murmurei me erguendo. — Entretanto, vou
reconquistar Victória, vou insistir muito, até ela me aceitar de volta.
— Pelo menos você tem cara de pau, só te digo para levar um osso, aquela
avó da Victória parece o Cérbero, ela me causa arrepios! — Dimitri sorriu de
lado. — E, bom, eu vou te ajudar, mas quero filmar sua cara de bunda quando
levar milhares de porta na cara. Você vai virar o rei o Youtube!
— Não é hora para brincadeira! — William exclamou agoniado. — Victória
ainda não saiu de risco, então, vamos nos manter focados nela. Apenas nela.
As palavras de William me fizeram correr feito um louco. Arrumei-me em
velocidade recorde, nem quis me olhar no espelho, eu com certeza devo estar tão
ruim quanto me sinto.
— Para onde você vai? — Dimitri perguntou tentando arrumar sua roupa.
— Vou voltar para o hospital, o primo da Victória vai me ajudar a entrar
escondido.
— Prevejo concorrência a caminho!
Parei o que estava fazendo e olhei para meu amigo.
— Dimitri, vou te dar um conselho — murmurei baixo, mas por dentro só
Deus sabe como eu estava — Não adicione mais merda no meu prato, não estou no
meu melhor momento.
Saí da minha cobertura e fui direto para o hospital, não comi nada, na
verdade eu notei que passei quase o dia todo mergulhado em autodesprezo e
sofrimento.
Dirigi quase em piloto automático, muita preocupação comendo meu juízo.
Victória.
Meu filho.
Como essa notícia vazou? Como aquelas fotos foram parar lá?
Droga, era como se um repórter houvesse presenciado toda a cena.
O pior é que não adianta tentar fazer nada, só Victória importa agora, e é nela
que vou concentrar toda a minha atenção.
Entrei no hospital pelo mesmo lado que saí mais cedo. Era a área geriátrica,
então estava tranquilo. Caminhei entre as clínicas e fui passando pelos diferentes
blocos.
Depois de alguns minutos, cheguei ao meu destino.
O aterrorizante bloco de Traumatologia. A infernal área vermelha.
Não fui para as salas de espera, eu fiquei em um corredor de acesso lateral,
agora eu precisava ligar para Carlos e acertar minha entrada.
Esperei a chamada conectar, entretanto não falei nada.
— Rocco?
— Sim, sou eu. — Respirei aliviado, sinceramente eu não sei o que temi.
— Você chegou na hora certa, por favor, me espere na entrada do bloco de
trauma.
— Estou indo! — Desligamos. Voltei pelo mesmo caminho e esperei.
Pouco tempo depois eu estava entrando em um consultório médico.
— Este consultório foi cedido para mim — falou e pegou uma maleta. —
Vista esse jaleco, você é um congressista amigo meu.
— Okay! — ansioso vesti o jaleco.
— Segure essa prancheta e, se alguém te abordar…
— Eu falo em português e dou uma de louco desentendido — respondi antes
de ele terminar.
— Perfeito, agora vamos.
Refizemos o caminho, mas em vez de entrarmos pela sala de espera, entramos
por outra porta.
— Vamos nos higienizar primeiro — falou e fomos até uma grande pia —,
lave bem as mãos.
Fiz isso automaticamente.
A ansiedade me deixando trêmulo.
— Olha, você precisa ser forte, não será fácil — Carlos murmurou. — Por
favor, não se lamente, não exponha seus sentimentos perto dela, pois no estado em
que ela se encontra, há teorias de que o cérebro mantém alguma função básica
cognitiva. Ou seja, ela pode te ouvir. Se supõe, é claro, mas por via das dúvidas…
— É melhor prevenir — completei respirando fundo.
— Exatamente!
Terminamos de lavar as mãos e colocamos luvas, toucas, sapatos
descartáveis e mais outra roupa por cima da nossa, além, é claro, de máscaras.
— Vamos entrar na UTI, se vestir assim é procedimento, tudo isso é
descartável e para evitar contaminação.
Balancei a cabeça, concordando, e entramos.
A visão que me saudou foi ela…
— Dio mio. — Meus olhos queimaram, mas eu respirei fundo para me
controlar. Eu tinha que demonstrar força e transmitir confiança para ela. Cheguei
ao lado de sua cama e com cuidado peguei sua mão.
— Oi, amore mio — murmurei baixinho, controlando a todo custo minha voz
embargada. — Você sabia que nosso bebê está protegido dentro de você?
Respirei fundo novamente. Olhei os aparelhos que estavam conectados a ela,
sua cabeça estava enfaixada também, mas o pior foi ver aquele tubo em sua boca.
Nunca imaginei que teria uma visão dessas. Era tão triste, e por isso eu me sentia
ainda mais decepcionado comigo mesmo.
— Converse com ela — Carlos instigou. — Fale coisas boas, incentive-a
lutar.
Balancei a cabeça concordando.
A partir daí começou minha luta.
Todo santo dia eu entrava no quarto da minha garota escondido da família.
Meu nome estava vetado, eu estava proibido de entrar, então eles esperavam por
mim, mas o que eles não esperavam era um médico especialista em obstetrícia de
alto risco, no caso, eu.
Como Carlos fazia para driblar a curiosidade, eu não sabia, o que importava,
para mim, era que estava dando certo. Então todos os dias eu estava ali e
conversava com Victória, ia contando como as coisas do dia a dia estavam, como
eu estava no trabalho, como minha mãe quase me batia por eu ter agido como um
moleque, falei com palavras doces que Antonella estava com saudade e que estava
sem falar comigo.
Ri, brincando sobre o fato de que, quando eu contrabandeasse as coisas que
ela queria, Antonella certamente voltaria a falar comigo. Entretanto a parte boa era
quando conversava com ela sobre nosso bebê.
Dez dias após o acidente a sedação foi retirada, e a qualquer momento ela
poderia acordar, infelizmente, dois dias livre da medicação e Victória ainda não
havia acordado. Durante esses dias eu evitei encontrar com a família da minha
garota, então eu recebia as notícias sempre à noite, mas, para meu total desespero,
no décimo quinto dia Victória foi para um quarto de TI e eu não pude vê-la.
Victor estava com ela. E dormiu lá.
No dia seguinte foi Jason, e, em seguida, Antonieta, eu já estava louco quando
chegou a vez de tia Laura ficar com Victória, depois foi a vez de Dimitri, William,
Antonella, minha mãe…
Louco, era assim que eu estava, Victória estava mais forte a cada dia e eu não
tinha brecha para vê-la. Tinha que me contentar com as notícias que Carlos,
William e o Dinka me davam, todavia piorei significativamente quando Jean
Pierre teve sua vez.
Quando completaram os vinte e quatro dias que ela estava ali, eu consegui
entrar em seu quarto, após oito dias impossibilitado de vê-la. A saudade estava me
matando, eu queria poder tocá-la, cheirá-la, olhá-la. Ver que graças a Deus seu
quadro geral melhorou. Na verdade eu só queria estar no mesmo ambiente que ela.
Apenas isso.
— Oi, meu amor — falei pegando sua mão e beijando seus lábios.
Ah, me esqueci de dizer. Victória estava se recuperando com louvor, então os
tubos foram retirados, agora ela estava livre daquela coisa horrorosa. Juro que
agora ela parecia apenas dormir.
Seu rosto sereno, os machucados em sua face também estavam quase curados.
O pouco de cabelo que precisou ser raspado na lateral estava crescendo. E o mais
belo de tudo era que o nosso bebê estava firme e forte em sua barriga.
Meu milagre.
Nosso Milagre.
Nessa primeira conversa depois de dias longe, eu não queria passar para ela
a angústia que foi ter sido obrigado a ficar longe. Eu só queria passar alegria e eu
iria.
— Amore mio, eu ouvi o coração do nosso bebê. — Sorri encantado enquanto
distribuía muitos beijos pelo seu rosto. — Ele bate tão rápido que por um
momento eu tive medo, mas o seu primo, Carlos, me tranquilizou, ele falou que
nosso bebê é forte e está saudável. Não se preocupe, nosso Gianne está muito bem.
— Ri baixinho. — Ainda não dá para saber o sexo, porque você está com apenas
oito semanas, mas eu juro que sinto nos meus ossos que teremos um garoto e eu
vou curtir muito sua gravidez, mas preciso que você acorde, me ouça, você está
melhorando e pode acordar — murmurei beijando seus dedos. — Vamos lá, amore
mio, acorda, vem curtir nosso bebê, sua barriga ainda está plana, mas logo, logo
ela se mostrará. Então você ficará ainda mais linda do que já é. Você ficará
perfeita e eu irei fazer todas as suas vontades, juro não reclamar se você me
acordar de madrugada! — Balancei a cabeça. — Juro que não vou.
Estava distraído contando o que fiz nos dias em que não pude vir, contei que
morri de saudade e que não via a hora de poder tocá-la de novo. Em seguida
prometi que nunca mais iríamos ficar separados. Eu já amansei demais, agora não.
Respeito Victor, mas sinto muito, não vou me afastar de Victória enquanto ela
estiver indefesa, essa foi a primeira e única vez.
Estava muito distraído, compartilhando meus planos com ela, quando alguém
entrou.
— Quem é você? — ouvi uma voz desconhecida de mulher perguntar.
— Eu sou o Dr. Massai — modifiquei última silaba do meu sobrenome e logo
acrescentei em português. — Sou da equipe médica e…
— Ah, entendi, você faz parte da equipe de remoção, não é?
Equipe de remoção?
Quando abri a boca para questionar, Carlos entrou e muito educadamente
pediu para a mulher que estava ali sair.
Mal consegui esperar a porta fechar antes de questionar?
— O que significa equipe de remoção? Victória vai para outra ala? Ela vai
sair deste hospital? Mas aqui é o melhor e… — atropelei as palavras.
— Rocco, eu sinto muito, mas…
— O que é? — interrompi nervoso, caminhei até ficar frente a frente com
Carlos. Olhei dentro de seus olhos. — O que você não está me contando?
Carlos suspirou e fechou os olhos.
— Rocco, meu tio solicitou e eu não pude evitar, Victória está reagindo bem
e por isso ele decidiu levá-la para o Brasil.
— O quê? — quase berrei, puro pânico me agarrando. — Quando isso vai
acontecer? Ele não pode fazer isso!
— Infelizmente, ele pode, durante esses dias em que você não pôde entrar,
meu tio solicitou uma autorização a Laura e ela concedeu, para todos os efeitos,
ela é a responsável por Victória, estando minha prima incapaz.
— Mas… puta merda! Ele não pode fazer isso!
— Rocco, eu sinto, mas a viagem não é um risco para Victória, ela está bem,
apesar de não entender o porquê de ela não acordar, as tomografias comprovam
que ela não está em coma. Então, é algo de natureza emocional. Tio Victor vai
levá-la — murmurou esfregando o rosto. — Ele, sem meu conhecimento, solicitou
a vinda de um médico para avaliar a situação de Victória, e de acordo com todos
os exames que eu já fiz, ela está completamente fora de risco. Então, a viagem é
inevitável.
— O que poderia barrar essa loucura? — perguntei completamente
angustiado.
— Victória acordar — murmurou olhando para ela.
— E se ela não acordar? Quantos dias eu tenho?
— Sinceramente? — perguntou. — Devo ressaltar que meu tio pediu favores
e está muito empenhado nisso, ainda assim quer saber?
— Sim! — exclamei ansioso.
Suspirando, Carlos soltou.
— Três dias.
Capítulo 61
Rocco
1º dia

Encarava o rosto sereno de Victória enquanto implorava para que ela


acordasse.
Depois de conversar com Carlos, ele me deixou sozinho com minha angústia
e sofrimento.
— Dio, mio Amore, per favore, desperta-te! — implorei acariciando seu
rosto, beijando. — Eu te suplico. Volta para mim, me odeie, me ame, mas, por
favor, acorda! Eu preciso de você!
A cada segundo que passava meu desespero aumentava, além daquela noite
eu ainda teria mais três dias, eu precisava acreditar que tudo daria certo, já não sei
como seria no Brasil, como eu faria para vê-la lá.
Dio santo!
Eu estava me afogando em angústia, o medo me corroendo, deixando-me fora
do eixo, acrescente aí o fato de eu estar totalmente abalado por tudo que Victória
passou, os sustos que tomei, e verá um homem às portas de um ataque do coração.
— Amore mio, me ouça, eu vou enlouquecer — rosnei desesperado. —
Acorda. Per favore… acorda.
Os minutos se transformaram em horas e assim o dia amanheceu. Passei a
noite e a madrugada inteiras em meio àquela tenebrosa desesperança. Eu conversei
com Victória até minha garganta doer e minha voz falhar. Falei até que minha
garganta queimou, e mesmo assim continuei chamando por ela.
Implorei cada vez mais enlouquecidamente para que ela me ouvisse e
atendesse meu pedido. Ora eu tinha esperança, ora ela morria, então havia
momentos em que eu me animava e voltava a acreditar.
Mas então, nesse instante, eu precisava ir embora, mas não queria. Eu não
poderia.
Eu temia.
— Uma vez você disse que o tamanho da nossa vitória seria um reflexo do
tamanho da nossa fé — murmurei, minha voz falhando. — Amore mio, eu sempre
fui pragmático, para mim o que parece feito, feito está. — Sorri triste. — Confesso
que minha fé foi renovada, a forma como te vi naquele chão, coberta de sangue…
— Fechei meus olhos e baixei minha cabeça até encostar na cama. — Eu…
Não consegui falar… a imagem voltou com força total.
A cena se repetiu com perfeição, a dor que senti, o medo cru e sufocante, a
paralisia seguida da loucura predominante. O momento em que eu disse as três
palavrinhas que para mim eram difíceis, e, no fim, o choro triste e conformado
dela, em seguida, a frase perdida em meio a seu desfalecimento.
— Eu amo você — disse baixinho. — Era isso que você queria me dizer, não
é, amore mio? Eu senti seu amor por mim naquele momento final, você me quebrou
com ele, já eu? O que fiz?
Suspirei profundamente.
Eu acho que ali, naquele exato momento, senti que minha força fraquejava. A
todos que acham que os homens temidos, influentes e poderosos não erram…
Olhem, eis-me aqui.
Sou falho, tenho sentimentos e grito: cometi erros quase irreparáveis, sofro
por eles, e agora?
Não sei, não busco admiração nem pena. O que busco é uma última chance.
Por quê? Sou feito de carne e osso, meu coração bate, meu sangue é quente e
quando sou ferido eu sinto dor, lembram-se dessas palavras? Elas foram ditas por
Victória.
E eu devo concordar, minha garota sabe das coisas.
No começo dessa história, eu fui um cínico desacreditado, mas acho que me
permiti um pouco, não me entreguei completamente.
Esse foi meu erro. Esse foi meu medo. Essa foi minha maior traição!
A Victória, a mim, a nosso futuro, mas, principalmente, a todas às minhas
juras de amor, cuidado e proteção, então, sim, minha atitude egoísta de
autopreservação foi um ato de traição contra meu amor.
Eu mesmo me bati… e eu não tive defesas.
— Victória… — sussurrei, mantendo a mesma posição. — Por favor, acorda.
Meus ombros caíram levemente. A apatia estava começando a se infiltrar em
meu sistema, e por mais que eu tentasse lutar contra, parecia impossível.
Não me importo em parecer fraco, nem o Super-homem é invencível, então
por que eu seria?
Fechei meus olhos e baixinho cantei. Era a única coisa que eu poderia fazer
agora. O resto… bom, era o resto.
— Amore mio — murmurei sob meu fôlego. — Perdonami.
Sinceramente não sabia mais quais palavras ou frases usar para que Victória
voltasse para mim, tudo que eu falava parecia ser bobagem, não era forte ou bom o
suficiente para que ela sentisse vontade de acordar. Então, por isso, eu só cantei,
ela gostava, dizia que minha voz era bonita.
Sorri tristemente. Essa era uma pequena forma de me acalmar. Mesmo eu
sabendo que no momento em que saísse daqui, eu estaria afundando lentamente.
Como pode um homem entrar por livre e espontânea vontade em uma poça de
areia movediça? Eu estou sozinho e, olhando para os lados, não vejo ninguém, e
talvez, sim, a única que, apesar do que fiz, poderia ter compaixão e me salvar,
precisa primeiro ser salva.
— Dimmi un segreto, amore mio?
Esperei… e nada, o silêncio, ou melhor, o barulho do monitor cardíaco era o
único som, ele me causava alegria, mas enfim continuei cantando. Era minha saída
para não surtar nesse exato momento.

Olhe dentro do seu coração, você vai encontrar.


Não existe nada lá para esconder,
Me aceite como sou, fique com minha vida…

— Perdonami, amore mio — murmurei mais uma vez e ergui minha cabeça,
senti que lágrimas escorriam pelos meus olhos, e eu sorri tristemente, pois
Victória também chorava.
Aproximei-me o suficiente para encostar nossas testas, carinhosamente limpei
suas lágrimas com meus polegares.
— Não chore por mim, meu amor, minha dor é culpa minha, sua dor também é
minha e meu sofrimento é apenas o que mereço — murmurei com amor. — Suas
lágrimas são preciosas, guarde-as para a felicidade, pois de mim é só o que terá.
— Beijei seus lábios suavemente. — Eu te amo. Mais do que pensei ser possível,
três metros acima da linha das estrelas, consegue entender? Isso seria o sétimo
céu. O nunca alcançado, o sempre inatingível. É lá que está meu amor. Volta para
mim, me permita te reconquistar. Per favore.
Minhas lágrimas. Nossas lágrimas se confundiam, e bem baixinho, com minha
voz falha, e completamente embargada terminei de cantar.

Não existe amor igual ao seu amor.


E nenhuma outra poderia oferecer mais amor,
Não existe lugar, a não ser que você esteja lá.
O tempo todo, até o fim…
— Eu te amo, você é minha vida, minha razão e sentido — falei baixinho. —
Nunca vou desistir, sei que o pior ainda vem, mas vale a pena. Por você eu vou até
o fim, confie em mim, chegou minha vez de lutar, e eu não vou te desapontar.
Também não vou permitir que nos afastem.
Beijei seus lábios mais uma vez.
— Isso é uma promessa, amore mio — sussurrei esfregando nossos narizes.
— E, desta vez, eu vou cumprir.
Eu tenho dois dias para tentar.
Capítulo 62
Rocco
2º dia

Saí do hospital me sentindo péssimo, eu não sei o que fazer e nem por onde
começar.
Eu me sinto preso, encurralado. Terrivelmente sufocado. Por mais que eu
busque uma solução, não encontro, está difícil até de respirar, sinto como se uma
banda de aço comprimisse meu peito.
Há uma dor instalada ali, e, às vezes, eu me pego esfregando como se
pudesse aliviar, mas não alivia, só aumenta e aumenta. A cada dia que passa. Ela
só… malditamente aumenta.
Minha cabeça parecia não funcionar direito, e sem querer me vi dirigindo até
a casa da minha mãe.
Eu não sei, mas… talvez e só talvez, eu não precisasse ser o chefe da família
Masari, agora eu só precisava ser o filho. Só isso.
Entrei sem nem ao menos cumprimentar alguém. Eu não sabia o que fazer ou
dizer, mas foi só encontrar minha mãe que eu soube.
— Mamma — engasguei levemente. — Eu não sei… eu só queria… —
Engoli em seco e ela abriu os braços.
Desabei.
— Meu filho — sussurrou acariciando meus cabelos enquanto me apertava
em seu abraço, me fazendo sentir acolhido. Estava me sentindo muito sozinho.
— Mamma. — Minha voz saiu abafada porque eu enterrei meu rosto em seu
pescoço e ela me apertou mais. — Dói tanto, dói tanto.
— Shh, eu sei que dói, meu menino — chorou enquanto me embalava.
Apertei meus olhos inalando seu cheiro calmante. Eu havia me esquecido de
como era bom.
— Não sei o que fazer — desabafei. — Eu a amo tanto, mãe, mas eu demorei
demais para entender… eu…
— Rocco, às vezes precisamos errar para poder conseguirmos olhar para nós
mesmos, nem sempre o amor é suficiente, meu querido, às vezes precisamos do
sofrimento para que possamos atingir um ponto máximo do que podemos sentir.
Puxar o nosso limite, expandir nossa percepção. Conseguir enxergar melhor!
Minha mãe me puxou de seu abraço e colocou as duas mãos em meu rosto.
— Me responda uma coisa, mas preciso que seja sincero — proferiu me
encarando fixamente. — O quanto você amava Victória antes de tudo isso
acontecer?
Durante dois segundos, eu avaliei meus sentimentos e vi que, por mais que eu
fosse louco por Victória, eu não me entreguei completamente. Ainda tinha medos e
receios, meu ciúme era cego por achar que eu me decepcionaria.
— Eu a amava, mãe, mas eu me preservava — murmurei envergonhado, meus
ombros caindo levemente.
Minha mãe assentiu.
— E agora, como se sente? — questionou arqueando uma sobrancelha
De novo, avaliei meus sentimentos, e desta vez a resposta foi quase
instantânea.
— Eu me sinto caído. — Fechei os olhos, me afastando, passei as duas mãos
no cabelo e fiz uma careta angustiada, aproveitei para dar as costas à minha mãe,
eu estava despido da minha armadura. — Eu a amo incondicionalmente, sem
reservas, sem bloqueios, sem cuidado. — Abri a boca, querendo gritar. — Eu a
amo com todas as minhas partes, as boas e as ruins, a carinhosa, a possessiva, a
ciumenta, enfim… eu a amo com tudo de mim. — Então eu olhei de lado e quase
rugi. — Eu amo Victória com a força de um furação destruidor, só em pensar…—
Fechei os olhos. — Eu juro, mãe, que me desespero só em pensar em viver num
mundo sem ela. Eu não vou prosseguir aqui, não sem ela, se Victória for, eu vou
também. A qualquer lugar, aqui ou não. Nesta vida ou em outra.
Minha mãe sorriu e me deu outro forte abraço, que eu retribuí com fervor.
— É assim que se fala — saudou. — Eu sei que ainda vem chumbo grosso,
mas você é filho do seu pai, e Bertolho Masari era a determinação em pessoa, só
para que saiba, seu pai desafiou seu avó para ficar comigo, ele lutou por mim, e
como você, ele também agiu como um idiota. Ele quase me perdeu, mas graças a
Deus ele era uma mula de teimoso e nunca desistiu.
— Mamma? — questionei me afastando um pouco para encará-la.
— Meu filho, você é a copia fiel do seu pai, tirando apenas os olhos azuis. —
Sorriu acariciando meus cabelos com amor. — Seu pai te criou para ser melhor
que ele, você é mais intenso, ciumento e possessivo do que ele jamais imaginou
ser, então, se Deus permitiu isso acontecer com você, é porque pode suportar a
carga, então nada de abaixar a cabeça. — Sorrindo, ela me deu um tapa no ombro.
— Honre suas calças e recupere sua garota!
Sorri alisando o local onde minha mamma me acertou.
Ela tem razão… eu tenho que honrar quem sou!
Saí da casa da minha mãe e fui para minha empresa, passei o dia trabalhando.
Isso aliviava o turbilhão de preocupações que circulava em meu cérebro. Eu tinha
que fazer minha garota acordar, ou então teria que transferir a matriz da
corporação Masari para o Brasil.
Seria um trabalho tremendo, mas eu faria. Na verdade, vou deixar algumas
coisas prontas e em expectativa. Se precisar ir, eu vou sem nem pensar.
Analisei tudo que foi preciso e, por isso, passei o dia entre reuniões e
videoconferências. Graças a Deus tudo estava em perfeita ordem. Até parece que
meu estado de humor se espalhou, ninguém está cometendo erros. Todos os meus
milhares de funcionários estavam trabalhando com perfeição, eles não queriam
mexer com a fera.
Sim, ouvi uma conversa entre algumas funcionárias, elas disseram que eu
estava uma besta fera, só faltava um garfo e os chifres. E, nesse momento, cabeças
rolariam, então…
Era verdade. Enfim.
O dia para mim não passava rápido o suficiente, eu me enchia de trabalho, e
mesmo assim as horas se arrastavam.
Ainda eram dezessete horas, o que me deixava aflito e ansioso, porque
faltavam cinco horas para eu ver Victória. Esse era o combinado, Carlos afastava
a família, e eu iria vê-la. Dormir com ela… e tentar acordá-la.
Largo os papéis que estava lendo e dou um giro em minha cadeira, levanto-
me e caminho até a parede de vidro, meus olhos atraídos para a cidade abaixo de
mim.
Os pensamentos girando e girando em meu cérebro sobrecarregado. Milhares
de suposições, ideias e vontades surgindo e depois se perdendo. Eu estava um
caos.
Como acordá-la? O que faria Victória me ouvir onde quer que estivesse?
Fecho meus olhos e vasculho minha mente, não consigo encontrar nada, digo,
a única vez que Victória tomou uma atitude drástica foi quando Damon ia me bater
covardemente.
— Droga! — rosnei esfregando meu rosto. — O que fazer?
Ouço o toque do meu celular e corro para atender. Ultimamente, meu celular
tocava e eu sentia um calafrio. Isso era medo de más notícias. Quando meus
amigos, que estão afastados porque estão decepcionados comigo, me ligam com
notícias eu atendo morto de medo. Mesmo tendo visto Victória à noite, eu temo
quando não estou com ela.
— Rocco falando! — atendi ansioso, nem olhei a tela para ver quem era.
— Ora, ora, querido! — saudou uma voz que eu reconhecia muito bem
— Sua… Puta! — berrei alto.
— Roquito, meu amor, você é um menino mau, mas é tão perfeito para mim!
— riu me deixando insano de raiva. — Sabe, eu não esperava que tudo fosse
acontecer de forma tão perfeita, nossa, amor, você é cruel, e eu adoro isso.
Fiquei calado. Eu queria entender isso, porque alguma coisa estava errada,
essa puta foi descoberta, então? Droga! Não era Susan?
— Eu acompanhei tudo, sabe? Eu vi a vadia costureira lá, te esperando
feito uma idiota enquanto você estava bem perto, e só para que saiba, ela ia
embora e perderia seu show, então eu liguei e disse para ela ir te encontrar. —
Ouvi sua risada alta. — Nossa, meu bem, você foi esplêndido, nunca pensei que
você mesmo iria fazer meu trabalho, depois aquele carro foi mandado por Deus.
Nossa, eu nem estava lá na hora para ver, estava mais ocupada tirando fotos
suas — suspirou. — Gostou da matéria? Foi eu que mandei em primeira mão
para as revistas mais badaladas de Londres.
Fiz silêncio, pela primeira vez, minha mente estava em branco.
— Devo supor que eu peguei a vadia errada? — perguntei tranquilamente.
— Sua ex é uma idiota, eu sou esperta e… — Ouvi o barulho de uma porta
abrindo e fechando. — Vim terminar o que o carro não fez, agora diga adeus à
sua vadia costureira.
Meu coração falhou uma batida.
— Você está blefando! — grunhi paralisado.
— Não, querido, e sabe como eu vou provar? — perguntou e eu permaneci
em silêncio. — A vadia está com um monitor fetal e… ora, mas como o coração
dessa coisa bate rápido! — resmungou e eu surtei.
Peguei o telefone do meu escritório e liguei para Jason, chamou, chamou e ele
não atendeu.
Desesperei-me.
Tentei uma segunda vez e ele atendeu.
— O que você quer?
— A minha perseguidora está no quarto de Victória! — gritei e Jason fez
silêncio. No qual eu me vi quase tendo um AVC, puta merda, meu coração é feito
de aço, porque só sendo para suportar tanta coisa. — Você está louco, eu estou
com Victória!
Fechei os olhos, desabando em minha cadeira. Fiquei sem força.
Caralho! Respirei fundo. Puta que pariu, vou matar essa infeliz.
— Obrigado… obrigado, Jason! — ofeguei trêmulo, meu coração acelerado.
— O que houve? — perguntou e só agora notei que larguei meu celular no
susto.
Peguei o aparelho e olhei a tela, estava apagado. Fechei os olhos respirando
fundo. Eu estava fora de controle. Minhas mãos estavam tremendo demais.
— Não é Susan Jason, não é ela! — grunhi levando a mão ao meu peito.
Esfreguei. Meu mais novo vício e foda-se, estava doendo para caralho.
— Droga! — rosnou alto. — Dark vai ficar puto, ele detesta erros!
— Sim, e agora as coisas complicaram, porque… — Engoli sem seco, senti
um peso caindo em cima de mim. — Jason, Victória está com algum monitor fetal?
Aconteceu alguma coisa com meu filho?
— Não, ela está bem, não há monitor fetal, e o bebê está firme e forte. Essa
louca blefou! — rosnou e eu ouvi alguns barulhos, logo Jason desligou o telefone
sem dizer mais nada.
Fiquei mais alguns minutos sentado na minha cadeira trabalhando em minha
mente e corpo, eu precisava me controlar, reassumir o controle.
— O que eu seria se colocasse uma recompensa para quem pegar essa vadia?
— eu me perguntei baixinho, logo em seguida dei de ombros. — Dark tem os
melhores, ou melhor, os piores homens para fazer esse trabalho. — Esfreguei
minhas têmporas latejantes.
Respirei fundo uma última vez e liguei para Dark.
Chamou e já no segundo toque ele atendeu.
— Ice, como vai? — Estreitei meus olhos para o meu apelido no centro de
treinamento.
— Dark, eu vou ser direto! — grunhi sob meu fôlego. — Você pegou a garota
errada, a minha perseguidora não é Susan, eu acabei de receber uma ligação e a
infeliz debochou de todos nós.
— A sua ex está em uma clínica de tratamento Psiquiátrico, eu acho que
peguei pesado — bufou. — Eu só dei uns sustos nela. Mas, voltando ao assunto,
então a sua admiradora ainda está solta por aí?
— Sim! — rosnei batendo uma das mãos em minha mesa. — E ela ameaçou a
vida da minha mulher e do meu filho! — Tremi de ódio e mandei à merda meu bom
senso. — Coloque todos no esquema, chame Cyper, quero ele rastreando essa
vadia, vou te entregar meu celular, resolva essa merda!
— Ice, você sabe que Cyper só sai da toca quando a coisa é séria! Deixa o
cara, ele é um intocável.
— Meu nome é Rocco, e não Ice, e chame Cyper, estou pouco me fodendo
para as manias dele! — rosnei. — Ache essa puta e mande a conta para mim.
— Qualquer método?
— O que for preciso! Encontre-a e neutralize, faça o que achar melhor!
— Espere contato, vou colocar as equipes para rodar! Colocarei os
gêmeos, Red e Cyper juntos. A equipe cinco estrelas — grunhiu e desligamos
Encarei algum ponto qualquer em minha sala. Agora eu estava dando meu
melhor sorriso psicótico.
É hora de colocar as garras de fora, vamos ver até quando essa vadia
perseguidora vai me querer. De fato, depois que os Gêmeos a encontrarem e ela
tiver um momento com eles, acho que as coisas ficarã interessantes.

***

Devido à ansiedade que me consumia, eu decidi me arriscar e ir ver minha


garota mais cedo. Cheguei ao hospital e logo vesti minha roupa de médico. O risco
era grande, mas eu estava pouco me fodendo. Caminhei apressado até o quarto
dela e logo dei de cara com Antonieta saindo de lá, imediatamente virei as costas
e comecei a ler os papéis que eu segurava.
— Não admito erros, tudo tem que estar impecável para receber minha neta!
— vociferou ao telefone. — Ótimo. Convenci meu filho a ir morar em minha casa.
Perfeito. Arrume o quarto do meu neto. Todos ficaremos juntos. — Ouvi a
felicidade em sua voz, enquanto isso eu estava explodindo de raiva e apreensão.
— Victória ficará em casa, eu irei cuidar dela, a equipe daí já foi selecionada e
meu filho estará terminando de acertar os trâmites legais. Perfeito, estamos
prontos, a qualquer momento. Sim. — Riu feliz de algo que ouviu.
Já eu senti como se uma pedra afundasse em meu estômago. Meu tempo
escorria muito rápido. Rápido demais.
Antonieta ainda conversou parada em frente à porta do quarto por mais alguns
instantes, em seguida começou a se afastar. Essa era minha oportunidade.
Entrei no quarto de Victória e Carlos estava lá.
— O que está fazendo? — perguntei me aproximando rapidamente da cama.
— Estou mudando a posição de Victória, geralmente faço isso durante o dia,
mas hoje pela manhã fizemos uma bateria de exames — falou e eu imediatamente
me dispus a ajudá-lo. Com cuidado e delicadeza, conseguimos deixá-la em uma
posição confortável. — Antes que pergunte, ela está bem, digo, não há mais
inchaço abdominal, as costelas estão alinhadas, a cirurgia na coxa está
cicatrizando corretamente, o bebê está perfeito e o cérebro também, mas, bom…
não sei por que ela não acorda, Victória é uma incógnita para a medicina, garanto
que ela não está em coma. Então…
Aceitei suas palavras mesmo que elas me causassem sofrimento. Eu tinha uma
ideia do porquê de Victória não acordar, com certeza o trauma do que fiz foi tão
grande para ela que provavelmente ficar no mundo dos sonhos seja mais seguro e
fácil.
— Por que você precisa trocá-la de posição? — perguntei tirando os cabelos
de Victória do seu rosto.
— É importante para não criar feridas em suas costas, pacientes no estado de
da minha prima desenvolvem úlceras de pressão, temos que evitar isso. Mesmo
sendo pouco tempo, eu prefiro pecar por excesso de cuidado que por falta.
— Claro — concordei puxando um lençol para cobri-la, minha garota usava
apenas uma camisola de hospital. Além do que, ainda tinha outras coisas ligadas a
seu corpo que não vou citar.
— Vou chamar uma enfermeira para pentear os cabelos dela e cuidar das
costas, eu volto logo.
— Pode deixar que eu faço! — eu o interrompi já indo para o banheiro, lá
peguei tudo que era preciso para banhar as costas de Victória e ajeitar seus
cabelos.
— Vou deixá-los, não se preocupe, meu tio não está aqui, ele… — Carlos
desviou o olhar. — Ele está tratando da viagem e, apesar de ter sido uma guerra
para afastá-lo daqui, Jason foi com meu tio. Uhmm… Soube que Jason vai conosco
para o Brasil.
— Victória não vai para o Brasil! — falei tranquilo pegando uma mecha do
cabelo dela para começar a pentear. — Minha garota não vai me deixar, ela vai
acordar — Acariciei seu couro cabeludo. — E vamos ficar juntos.
Nem prestei atenção quando Carlos saiu, era meu hábito de assim que chegar
começar a conversar com Victória, todos os dias eu implorava para que ela
acordasse, na verdade era só o que eu poderia fazer, eu sentia uma centelha de
esperança, e era nela que eu iria me apegar.
Não me permitiria ser dominado pela apatia. Eu tinha que ser duro, sempre
fui, entretanto, agora preciso ser ainda mais.
Depois de terminar de pentear os cabelos de Victória, eu comecei a cuidar de
suas costas, puxei o lençol, em seguida abri a camisola do hospital, senti uma
tristeza tremenda quando vi que ela perdeu peso. Seus ossos estavam destacados e
a pele parecia mais fina.
Doeu tanto.
— Oh, amore mio, per favore, regressa-me — supliquei baixinho enquanto
minhas mãos iam percorrendo sua pele delicada. — Me escuta amore, regressa-
me.
Por mais que eu tentasse me segurar a essa pequena chama de esperança,
estava cada vez mais difícil, infelizmente eu a via como vela que tremeluzia em
meio à uma ventania.
Difícil de manter aceso e o pior, difícil de capturá-la.
Agora eu só tinha mais um dia.
Dio santo… o que vou fazer?
Capítulo 63
Rocco
3º dia

Mais uma vez meu dia fora do hospital foi péssimo, eu estava pronto para
enfrentar Victor ontem, mas Carlos me aconselhou a não ir por esse caminho. Eu
realmente estava tentando manter o controle, eu estava trabalhando duramente para
isso.
Confesso que os argumentos de Carlos eram válidos, mas o pior era o pavor
de saber que ele tinha razão. Eu já estou fodido, não quero piorar minha situação,
todavia, estou me preparando para o pior e, se isso chegar acontecer, eu terei sim
que declarar guerra, pois longe de Victória e do meu filho eu não fico.
Meu dia, como todos os outros desde que me despedi de Victória pela última
vez, quando ainda estávamos juntos, foi uma merda. Eu não dormia, não conseguia
comer direito, minha cabeça vivia doendo e, para foder ainda mais, eu tinha essa
espada pairando sobre mim.
Eu só tinha hoje a noite e amanhã para fazer minha garota voltar.
— Victória, onde quer que esteja, por favor, volta! — murmurei apertando
sua mão, sem querer, balancei a cabeça. — Eu só queria poder te ver bem,
recuperada, de volta em pé. Mesmo que você não me queira nem pintado de ouro,
eu só queria saber que você voltou e está bem. Por favor, amore mio, volta para
mim, volta para nosso filho. — Eu a chamava como todas as vezes chamei, era
estranho como mesmo sentindo que ela não iria me responder eu parava e
esperava.
Era um ciclo.
Eu conversava com Victória, fazia perguntas e esperava respostas, então elas
não vinham, mas aí eu continuava conversando. Depois eu estava implorando e
esperando. Em seguida voltava à conversa e às perguntas.
Eu mesmo respondia, era tudo unilateral, mas eu sabia que ela me ouvia, por
duas vezes, quando eu estava muito aflito e desesperado, quando minhas lágrimas
eram muitas para segurar, Victória compadecia-se da minha dor e chorava comigo.
Então eu entendi que minha dor a machucava e eu barrei meu desespero engolindo
meu pranto.
Eu não poderia deixá-la triste por mim.
Tudo era um fardo para eu carregar sozinho.
— Rocco, preciso que venha comigo! — Carlos entrou no quarto de Victória
já me chamando, eu estranhei a forma como soou sua voz.
— Ainda são quatro da manhã — murmurei. — Não vou sair daqui agora.
Ainda tenho tempo para acordá-la.
— Rocco, eu fiz tudo para roubar essas horas para você, eu menti para minha
família, disse que era melhor Victória dormir sozinha, que isso a ajudaria a se
recuperar com tranquilidade — falou ansioso. — Eu usei a confiança que minha
família tem em mim para poder te ajudar, por favor, me ajude agora.
Essas palavras me deixaram balançado.
— O que foi?
— Meu tio está vindo e ele vai trazer o último médico de avaliação, é uma
terceira opinião, porque eu disse que achava melhor Victória ficar aqui.
— Mas então há uma chance de ela ficar? — perguntei quase sorrindo, meu
estômago dando uma cambalhota estranha.
— Não é isso — grunhiu passando as mãos no cabelo nervosamente. —
Agora meu tio quer que Victória fique em casa e já solicitou todo aparato
necessário do hospital residência.
— O que você disse é o que estou pensando? — questionei apertando minhas
mãos em punhos.
— Victória está indo para a mansão da minha avó, ela irá ter os cuidados
médicos lá! — Carlos esfregou o rosto. — Victória vai embora hoje, mais
precisamente agora.
Não falei nada. Dois segundos depois a loucura me dominou. E com ela o
descontrole
— Se isso acontecer, tão cedo não poderei vê-la novamente! — vociferei
furioso, logo comecei a andar de um lado para o outro. — Isso é intolerável. Não
vou permitir.
— Por favor, não faça nenhuma bobagem, venha comigo, deixe meu tio e eu te
ajudo lá no Brasil, prometo.
— Não sairei daqui! — esfreguei os cabelos, agitado.
Logo ouvimos o som de vozes e a porta sendo aberta.
O primeiro a surgir foi Victor, ele me olhou e começou a ficar vermelho.
— O que você faz aqui? — perguntou invadindo o quarto bruscamente,
seguido por Jason, um médico e mais dois seguranças.
— Eu estou aqui por Victória! — exclamei mantendo uma postura ereta e
orgulhosa.
Não posso demonstrar fraqueza!
— Você está proibido, não deveria estar aqui, agora saia! — exigiu furioso.
— Não sairei!
Victor começou a respirar cada vez mais rápido, ele me encarava fixamente,
seus olhos em chamas. Pura raiva marcando suas feições.
— Eu vou levar minha filha embora agora! — esbravejou, caminhando até
ficarmos nariz com nariz. — Vou levá-la agora! E você não irá vê-la. Você não a
merece.
Fiquei em silêncio, mas então eu já estava na merda, e não mudaria muita
coisa se eu jogasse mais no ventilador.
— Você está fazendo com sua filha o mesmo que sua mãe fez com você! — o
enfrentei. — Você não sabe o que Victória quer, está se precipitando, e no fim vai
fazer comigo o mesmo que fizeram com você. Não ouse tentar tirar meu filho de
perto de mim! — rosnei —, porque eu não estou indo para ser pacífico, não vou
permitir que os tire de mim. Eu vou lutar com tudo que tenho — cuspi as palavras
furiosamente, meu maxilar travado, meu corpo tremendo de raiva e medo.
Ninguém dizia uma palavra.
Todos em silêncio, até que o médico se pronunciou.
— Sr. Andrade, olhei os exames e estou de acordo, Victória está em plenas
condições de viajar, vou autorizar a equipe. Estamos prontos.
Victor sorriu para mim e eu vi que era um sorriso de vitória.
— Eu quero a equipe aqui em dez minutos! — exclamou e apontou para mim.
— Você a perdeu! E a culpa é toda sua. — Olhando para os seguranças ele falou:
— Tirem ele daqui!
Louco… e destemido.
Eu estava assim. Não me importei com mais nada. Corri para a cama de
Victória e agarrei seu rosto.
— ACORDA, AMORE MIO! — implorei beijando seus lábios, eu nem
ligava para os comando de Victor, não sabia por que aqueles brutamontes ainda
não estavam em cima de mim. — Vamos, acorda! Volta para mim! Volta para mim!
— Esperei e nada. — VICTÓRIA! ACORDA! — Sacudi levemente seus ombros
— TIREM ELE DAQUI AGORA! — Victor gritou e bradei ainda mais alto,
implorando para Victória acordar, falando aos gritos em seu rosto.
— AMORE MIO, PER FAVORE. SOLO AMO A TI! ACORDA!
Fui arrancado bruscamente para longe dadela, mais dois seguranças estavam
ali, não os percebi entrando, mas eles estavam contendo Jason.
Jason me olhou e acenou levemente.
Se era para me ajudar ou atrapalhar eu não sei e nem me importava. Agora
mesmo eu só precisava escapar desse fodido agarre.
Porra!
Comecei a lutar, grunhidos rosnados e xingamentos foram o som
predominante no grande quarto.
Eu estava dando um trabalho infernal para os seguranças, e cada vez que eles
me afastavam de Victória, eu parecia ganhar mais força. Eu ficava mais e mais
insano e violento… a briga seria feia se conseguisse escapar.
— NÃO. VOU. SAIR! — berrei e não sei como consegui acertar uma
cabeçada em um dos que me seguravam. O homem gritou e eu rosnei.
Eu estava em ponto de ruptura, e me esticaram demais… foi inevitável.
Briguei com o outro que sobrou, derrubando-o facilmente. Virei-me ofegante
para a cama de Victória e comecei a caminhar para lá, Victor estava na minha
frente e eu via tudo vermelho.
Eu estava cego, consumido por tudo que aconteceu nesses malditos vinte e
sete dias de sofrimento.
Estava cada vez mais próximo da cama, quando fui atacado, cambaleei, mas
não caí, porém antes de poder revidar outros seguranças chegaram, eram muitos e
estavam me segurando com força.
Eles irão me tirar daqui e vão levar minha família… minha mulher, meu
filho… não… não… não…
Engoli meu pânico e tentei a todo custo lutar, mas agora estava difícil demais.
— ME SOLTA! — grunhi sacudindo os ombros, lutando, resistindo. —
VICTÓRIA, POR FAVOR.
Mais e mais distante eu ficava de sua cama, e mais desespero eu sentia.
Agora esse sentimento parecia ser expelido dos meus poros, não me importei com
nada. Eu estava louco.
— VICTÓRIA. VICTÓRIA.
Arrastaram-me até a porta.
— NÃOOO! NÃOOO. — Continuei lutando, mas foi em vão. Eu estava em
desvantagem.
Dio santo! Não.
Olhei para Jason e ele me encarava culpado, eu sabia que ele iria ficar do
lado de Victória… eu sabia.
— Cuida dela enquanto eu não puder — implorei encarando-o. — Por favor,
cuida dela para mim.
Olhei para a cama dela e Victor estava ao seu lado.
Minha vista embaçou. O desespero me engoliu.
Eu respirei.
Então explodi.
— VICTÓRIAAA!
Minha voz saiu carregada de dor, angústia, medo e receio.
Minhas lágrimas escorreram, meu coração parecia gaguejar suas batidas.
Meu mundo desabando só para ser reerguido, pois, desta vez, finalmente houve
uma reação.
O tempo parou. Eu arregalei meus olhos quando a emoção foi tomando de
conta… pura felicidade misturada à esperança foi despejadas em meu sangue.
Victória abriu a boca e.
— Rocco…
Ela… chamou por mim.
Capítulo 64
Victória

Uma centelha de luz me alcança.


Eu havia desistido? Estava viva ou não? Por que isso agora?
Tristeza, ansiedade, necessidade. Às vezes eu conseguia diferenciar as
sensações ou emoções. Eu só fazia isso, devorava essas emoções, necessitava
delas, me alimentava delas como uma parasita. Eu vivia por causa delas.
Assim permanecia segura… assim permaneceria viva.
Existe uma enorme aflição que não é minha, ela incomoda-me em meu descanso, a
dor volta, a angústia também. Não diferencio, elas me assolam, mas não pertencem
a mim.
Ou sim?
Algo me puxa. De repente, um sentimento muito intenso me invade. É difícil
lidar com ele… me desespera, me faz querer obedecer… resistir é impossível!
Nunca senti tanto desespero. Tanto fervor em um chamado.
— Acorda, Amore mio.
Essa voz?
Não.
Encolhi-me. Mas senti além do emocional, havia sito tocada, meus lábios
foram tocados. Houve um clique de consciência real e as paredes do meu casulo
racharam.
— Vamos acorda. Volta para mim… volta para mim.
Tanta dor me assustou, encolhi-me dentro de mim mesma, não me movi, meu
físico morto. Porém a consciência das coisas parecia tornar-se real, todavia queria
ficar ali. Escondida.
— VICTÓRIA, ACORDA.
Fui puxada bruscamente da minha prisão escolhida, entretanto eu não quis
ouvir, eu me sentia pressionada.
Sendo impulsionada, e não queria, eu temia… era algo que eu não suportaria.
Mais rachaduras tremem minha proteção.
NÃO!
Tive medo, ouvi mais gritos. Eu estava em uma linha, entre a paz e o
sofrimento e sabia que seria muito para suportar.
Minha consciência voltava, moldava-se, tomava forma… e eu lutava contra
isso covardemente.
Era demais para mim! Eu não queria ir.
— AMORE MIO, PER FAVORE, SOLO AMO A TI! ACORDA!
Estava difícil resistir.
Essa voz… é a voz perfeita… meu coração dói e se emociona, por quê?
Era tentador, era como uma compulsão. Estava tentada a obedecer, mas não
queria sair da minha segurança.
Minha tentação… única tentação… ela penetrou a escuridão e está me
incentivando, implorando desesperadamente.
"Volta para mim", a voz diz assim, eu quero ir! Mas…
Sensações e emoções se misturavam em mim, agora eu ouvia, mas não
conseguia desconectar do entorpecimento que me puxava de volta, havia gritos,
rosnados, sofrimento, pânico. Não conseguiria administrar tudo isso, eu tinha
medo! Minha tranquilidade e silêncio estavam sendo derrubados. Mas não era só o
meu medo que eu sentia, havia algo mais, era incontrolável e completamente
devastador… era simplesmente avassalador!
Tentei me erguer, me libertar, romper a barreira entre a luz e a escuridão, mas
eu estava há tanto tempo aqui, estava presa. Precisava ir, eu tinha que ir, por isso
eu forcei minha consciência, forcei o entorpecimento a me deixar ir… Fugi do
esquecimento. Ele precisa de mim.
Quem é ele?Não sei!
Mas sinto que ele precisa de mim.
Lutei contra as amarras invisíveis que até então me satisfaziam, entretanto eu
não tinha força.
Estava sufocando. Buscando liberdade…
"Ele precisa de mim…", essa foi minha consciência, eu ouvi minha voz
silenciosa.
Ele clamava por mim, implorava desesperadamente… eu só tinha que ir.
Porque eu o am… Eu o quê?
Confusão.
Mais desespero e gritos, mais amarras me prendem.
Por que é tão tentador? Eu achava tentador. Eu podia ouvi-lo! Ele
implorava, seu desespero era meu desespero, sua dor era minha dor.
Por quê?
Ele negava algo, implorava com fervor e desespero, sua voz estava ficando
distante. Ele estava desistindo.
Não desista de mim.
Tive medo, mas houve silêncio.
— VICTÓRIAAA. — Desespero, angústia, pânico. Uma verdadeira
avalanche de sentimentos intensos e poderosos me invade, fazendo meu mundo
desabar, seu desespero tornou-se minha dor absoluta. Lutei por algo que estava
ficando distante, era tão difícil, mas não impossível. Por ele eu quebrei minhas
amarras.
Por fim, quando dei por mim, eu respirava e sentia meu próprio corpo, eu
igualmente ouvia. Esqueci o que me prendia, minha mente enevoada, desconectada
e totalmente confusa. Todavia o desespero dele estava ali, de alguma forma, me
chamando, ele me acordou, sua insistência me trouxe de volta, rompendo as
barreiras, me fez viver.
Então, instintivamente, e mesmo antes de conectar lembranças com a
realidade, eu chamei por ele. Minha voz não parecia minha, mas era realidade,
meu corpo não parece meu. Mas eu estava ali, sentindo-me. Minha mente confusa,
memórias confusas, misturadas… não há nada para agarrar.
— Rocco. — Tentei esticar um braço, buscar minha âncora, seu nome em
minha boca. Parecia irreal, era um sonho! Meus olhos fechados. — Rocco… —
chamei novamente, quase angustiada.
Ele era minha realidade. Onde estava?
Dedos suaves tocam meu rosto, um riso de pura alegria substituiu a tristeza de
outrora.
— Abra os olhos, amore mio. — Fui incentivada a fazer isso com muita
suavidade, muito carinho. Os lábios nos meus, o grande amor.
Lentamente obriguei meus olhos a obedecer
— Isso, minha pequena, continue.
— Difícil… — suspirei, minha garganta doía, estava seca — água.
Ouvi sua risada de alegria.
— Só mais um pouco, meu amor, abra os olhos para mim, me deixe crer que é
real!
Meus olhos pareciam pregados, como se estivesse com muito sono.
— Isso — incentivou —, mais um pouco.
Obedeci.
— Finalmente — sua voz soou, embargada de emoção.
Eu pisquei, estava tudo desfocado, mas eu queria ver. Minha mente ainda
confusa, mas aos poucos ela estava começando a se ajustar. Foquei minha visão e
o vi.
— Lindos… olhos… Azuis… — murmurei e suas lágrimas caíram lentamente
em meu rosto, um sorriso lindo estava ali.
Eu quase sorri, mas um lampejo de lembrança surgiu.
Meu peito doeu, ofeguei. Mais imagens voltaram com tudo, mulheres lindas
sendo abraçadas, beijadas por ele. Lembrei-me da dor, ela voltou, agora olhar
para ele magoava meu coração, pois esses mesmos olhos me olharam com
cinismo, raiva e vingança.
Perdi o compasso da respiração, a dor me engoliu. Minha mente limpou, eu
revivia aquele pesadelo. Seus olhos, suas palavras de raiva, seus gestos, mulheres,
minha decepção, a desilusão, meu sonhos destruídos. Minha vida acabada!
Engoli minha angústia, permitindo que um lamento escapasse dos meus lábios
selados, mordidos por mim. Pude sentir o gosto do sangue em minha boca, a dor
lacerante em meu corpo, minha cabeça latejando intensamente, o mundo girando, a
frieza me tomando.
— Não… — Engasguei procurando oxigênio, não encontrando de forma
alguma, senti-me desesperada por ar.
— Victória. — Ouvi o pânico em sua voz, mas só pude fechar os olhos e
tentar arrancar as coisas presas a mim, eu queria fugir. — Amore mio.
— Não — Minha cabeça girou, a minha respiração estava acelerada, mas eu
não conseguia puxar ar suficiente, sufocava. Aos poucos desconectava, até ouvir
uma voz muito suave me chamando.
— Querida, olha para mim. — Resisti. — Olhe para mim — comandou firme
e eu obedeci. Abri os olhos e encarei um par de olhos verdes. — Confia em mim,
só se concentra em mim.
— Brother — sussurrei sentindo meus olhos queimando, minha garganta
fechar. Tentei virar a cabeça para o lado, mas Jason não deixou.
— Se concentra em mim, respira comigo — comandou com voz suave, eu
obedeci.
Meu peito desafogou.
— Isso, minha querida, esquece tudo, só respira comigo — pediu respirando
tranquilamente. — Isso, continue!
Fiz como ele mandou e ele se aproximou mais, ficamos nos encarando.
— Você me deu um susto. — Sorriu. — Agora minha irmã de coração voltou,
por favor, não me mate de novo. Eu juro que pensei não sobreviver. Você é minha
única família, eu já te disse, não tenho mais ninguém.
— Eu te… Amo, brother. — Respirei fechando os olhos. — Meu irmão… e
amigo.
— Eu também te amo, você é minha única família.
Ficamos ali durante uns minutos. Eu me concentrava em Jason, e ele em mim.
Não ousei olhar para o lado.
— Tira ele daqui, por favor.
Jason fez uma cara de sofrimento, mas não foi preciso sair de perto de mim.
Portas bateram, então houve gritos e rugidos do lado de fora.
— Tudo vai ficar bem, eu prometo.
Solucei, um som seco, sem lágrimas. Tudo voltou, mas o pior foi o medo que
senti, meu coração estava em minha mão.
— Ja-jason… — Apertei meus lábios, perguntar estava me matando. —
Meu… bebê… — Fechei os olhos. — Ele sobreviveu?
— Sim, meu sobrinho está muito bem, graças a Deus. — Respirou aliviada e
senti verdadeiramente que tudo daria certo.
Falsa ilusão. Eu não estava bem.

***

— É serio?
Eu ainda não acredito em tudo que eu acabei de ouvir. Depois de um dia
inteiro de muitos exames e visitas médicas, eu estava tendo um momento de paz.
Parecia surreal, eu fiquei quase um mês em um estranho estado de sono profundo,
estive às portas da morte, e não só isso, eu realmente morri por um minuto, juro
que nesse momento só pude pensar: Deus é tremendo.
— Minha filha, por favor, já chega de conversa, você tem que descansar! —
meu pai falou, apenas me encolhi.
— Obrigada, pai, mas eu acho que dormi demais e preciso acertar muitas
coisas.
Eu não me sentia muito bem, apesar de estar viva e respirando, digo, eu
deveria estar meio zumbi agora, pelo menos a parte que envolve minha mente está
legal. O problema é que eu ainda não fiz o teste drive com minhas pernas,
portanto, não sei se estou realmente tão bem quanto dizem os exames.
— Victória, você estava em um estado de pré-coma, foi assim que
classifiquei esse sono profundo — Carlos. que para minha total surpresa era meu
primo, falou casualmente. — Como já expliquei, você foi um caso raro.
Concordei levemente.
Eu queria que todos saíssem para que eu pudesse ficar sozinha, só isso, mas
sei que não é possível, o que se provou um fato verídico nas próximas horas. Eu
recebi minha família toda, e isso incluía Antonella e Elisabeth, a mãe de…
— Vic, por favor, não me afaste — Antonella chorou —, por favor, eu sei que
meu irmão foi um asno, mas não me tire de sua vida.
Senti-me pequena em relação à intensidade da minha angústia. No momento
em que pude tomar banho, pedi para que tia Laura me deixasse um momento
sozinha, eu estava em uma cadeira de rodas apropriada para banho, então não
precisava de preocupação quanto a isso.
Nesses instantes de solidão, eu pensei no que aconteceu comigo e com
Rocco. Foi terrivelmente doloroso reviver, mas foi preciso, para eu saber que
minha essência permanece intocável. Eu não mudei como pensei que mudaria.
O amor habita em mim, e o perdão também. Só que infelizmente eu não estou
conseguindo apagar a imagem dele com as mulheres, e isso me faz tão mal, porque
é uma agonia física, eu sinto como se coisas andassem em minha pele, e eu não
suporto a ideia de ele me tocando.
Por Deus, eu não queria sentir isso, e enquanto estava fraca, eu pedia a Deus
para esquecer e perdoar. Sei que não existe mais futuro para nós dois, mas eu
queria tanto poder perdoar para poder seguir em frente e ser feliz com meu filho.
— Antonella, você é muito querida para mim, e isso não vai mudar. — Forcei
um sorriso. Estava difícil, eu não sentia muita vontade.
— Ohhh. — Levou as duas mãos à boca e eu estiquei os braços, acolhendo-a,
como fui acolhida.
— Não mude, nem vou — sussurrei fechando os olhos.
Eu ainda o amo. mas isso não me faz bem. Na verdade pouco fez!
— Obrigada… — Ouvi a voz da mãe de Antonella e estiquei um braço, ela
veio até a beirada da minha cama e entrou no abraço. Não chorei, mas embalei as
duas.
Eu me sentia seca!
— Eu sei que ele errou, mas ele está sofrendo tanto, tanto.
Mordi meu lábio.
Não tinha o que fazer, muito menos dizer.
Os momentos das visitas serviram para comprovar que eu teria que ser forte.
Eu tenho que atravessar esse momento sem arrastar minha família junto. Preciso
resistir, não demonstrar, não sentir, ou todos irão sofrer comigo.
— Ele não vai sofrer para sempre — sussurrei sem acreditar. — Rocco é
forte e vai se sair bem.
Elisabeth me olhou fixamente, logo ela balançou a cabeça e afastou-se para
um cantinho do quarto.
Aproveitei que todos estavam juntos, mudei de assunto.
— Como está o casamento de Mariah? — perguntei e Antonella fez careta.
— Está tudo parado, não deu para continuar, não sem você. — Ela mexeu na
blusa. — Não conseguimos, e nem a Mariah quis.
Nesse momento eu vi minha oportunidade me empenhar em algo que não seja
apenas viver um dia de cada vez. Eu iria me jogar de cabeça nos preparativos e
não pensar em mais nada.
— Tia Laura, por favor, recomece amanhã mesmo a confecção das roupas.
Antonella, volte a organizar tudo, e, vovó… — Olhei para ela e vi que estava
fazendo uma careta, provavelmente sabia o que eu iria pedir. — … termine o
vestido de Mariah.
— Eu não posso, minha filha, sou renomada e…
— Por favor — interrompi seu protesto —, faça isso por mim, eu peço do
fundo do meu coração, quero que seja perfeito, a senhora sabe que temos o mesmo
padrão e simetria, será como se eu tivesse feito.
Minha avó entortou a boca como se tivesse nojo, mas concordou. E ela era
tão perfeccionista quanto eu.
Mesmo com raiva e sem querer fazer, o vestido ficaria perfeito. E isso era o
importante.
Meus visitantes não queriam sair, mas eu precisava que todos fossem. A
necessidade de ficar sozinha estava me consumindo, eu sei, devo parecer egoísta,
mas não consigo evitar.
— Eu gostaria de ficar sozinha, por favor — falei baixo, mas fui ouvida.
Os protestos começaram. Eu me recolhi. Dissociei.
— Eu ficarei calado, mas não quero sair! — meu pai falou e eu o encarei.
Talvez através daquele olhar ele compreendesse. Mas não foi assim, e por
isso resolvi que aquele era um bom momento para conversar. E eu deveria
começar por aquela que eu conhecia tão bem.
— Tia Laura — murmurei chamando sua atenção, quando ela me olhou
respirei fundo. — Quero pedir para a senhora não fazer nada contra Rocco.
Observei-a Laura atentamente e ela ficou logo vermelha, em seguida deu de
ombros, não se importando realmente.
— Nós tínhamos um acordo, e ele esqueceu. — Sorriu misteriosamente. —
Então eu o lembrei. — A forma como minha tia falou demonstrava que ela
aprontou alguma coisa.
Eu não estava entendendo o que ouvi, até hoje, e não sei o conteúdo daquela
primeira conversa, muito menos que acordo eles fecharam, juro que fiquei
preocupada, primeiro porque a condição da minha tia exige cuidado, segundo, ela
era meio feroz, então, realmente, algo doloroso deve ter acontecido. De fato, era
estranho para mim, meus sentimentos estavam uma bagunça, mas o pior era a
dormência que prevalecia.
Eu não queria que ninguém fizesse alguma coisa com Rocco, eu queria o bem
dele, que ele fosse feliz, que seguisse em frente, principalmente, gostaria que ele
soubesse conviver com as consequências de suas escolhas e atitudes, todavia, eu
simplesmente não o queria perto de mim.
Apesar de ter se passado quase um mês que tudo aconteceu, para mim é como
se tivesse sido ontem.
O sangue ainda está fresco e essa ferida parece que vai demorar a sarar.
— Tia, o que a senhora fez? — questionei duvidosa
— Digamos que ele tem sorte por já estar com um filho a caminho.
Arregalei os olhos e meu pai tossiu uma risada, já Jason, fez uma careta e
agora sim eu fiquei apreensiva.
— Ele conseguiu escapar por muito tempo, mas hoje eu o peguei de jeito. —
Deu de ombros. — Eu sempre cumpro com minha palavra, mesmo que me cause
arrependimento depois.
— Victória, minha querida, eu vou indo — a mãe de Rocco se despediu e
logo saiu apressada, levando Antonella junto.
Um pesado silêncio constrangedor instalou-se no ambiente. Era tão óbvia a
animosidade em relação a Rocco, que para Elisabeth deveria ser péssimo estar no
meio de nós. Contudo eu precisava colocar as coisas nos devidos lugares, na
minha família sempre haverá respeito, pois, snão, as coisas desandam e acabam
virando bagunça.
Rocco é da família, afinal, ele é o pai do meu filho. Suspirei, pois sabia que
seria teria um árduo caminho a percorrer.
Eu sei que meu surto quando acordei foi horrível, mas o dia já ia longe, e eu
tive tempo de pensar e decidir.
— Não quero e nem vou permitir que destratem Rocco! Ele é o pai do meu
filho, e por isso merece respeito, essa criança merece o melhor de mim e terá!
Meu pai grunhiu algo, mas senti orgulho emanando dele, minha avó fez uma
cara de raiva e ficou muito chateada, Jason sorriu levemente enquanto concordava
e tia Laura apenas falou:
— Essa é minha garota.
— Você está aqui por culpa dele, aceitar esse homem é ultrajante! — minha
avó grunhiu asperamente.
Sinto muito, mas é assim que vai ser.
— Rocco é o pai do meu filho e por isso ele estará para sempre em minha
vida, não quero má convivência — falei acariciando minha barriga. — Não sei
como as coisas irão seguir, mas ele irá fazer parte da vida do bebê, claro, assim
que ele nascer. Não quero que o tratem mal.
— Acho um absurdo! — vociferou. — Vamos levar essa questão para os
tribunais, vamos proibi-lo de ver a criança, vamos…
— A senhora está se ouvindo? — interrompi, elevando a voz também. —
Acha mesmo que vou privá-lo de ver o filho? Acha que vou privar meu próprio
filho de ter o pai por perto? Acha que vou negar a Rocco a chance de ver nosso
filho crescer? De lhe dar conselhos ou apenas, sei lá, saber que pode contar com
aquele ombro amigo?
Todos estavam calados, mas tia Laura sorria largamente.
— Sinto muito, vó, mas não sou egoísta ao ponto de pensar apenas nos meus
desejos!
Apertei meus lábios quando minha avó ficou pálida. Mas sinceramente eu
estava meio descontrolada.
— Eu e Rocco não demos certo. — Engoli em seco. — Tudo bem! Mas isso
não quer dizer que irei afastá-lo do meu bebê quando ele nascer. Rocco fará sim
parte de tudo, ressaltando que será apenas depois do nascimento.
— Eu acho isso muito justo! — meu pai se pronunciou e eu agradeci o apoio.
— Eu estava muito magoado e iria sim te levar para o Brasil, a verdade é que
estava querendo descontar meu sofrimento e o fiz em Rocco. Eu sei como é ser
afastado de um filho. Eu te apoio em sua decisão. Ele e meu neto merecem essa
chance que você está dando.
Sim, ambos mereciam. A verdade é que eu sei que Rocco será um pai
maravilhoso, tenho certeza absoluta disso, ele será incrível com o filho, e como já
deixei claro, não vou privá-los de conviverem, doa a quem doer, e isso me inclui.
— Eu deixei subtendido para Rocco que iríamos aos tribunais. — Fechei os
olhos e baixei a cabeça. Relembrar a cena era fácil, pois ela estava ali, pronta
para invadir meus pensamentos. Era incrível como tudo estava nítido em minha
memória, cada detalhe, cada olhar, cada toque das mulheres nele, ou o inverso. Os
beijos que trocaram.
Tudo perfeitamente registrado, tatuado em minha memória e em meu coração.
Tremi levemente, senti a queimadura das lágrimas, mas elas não se formavam.
É possível um coração destroçado despedaçar-se de novo? E de novo?
Parece que sim, sinto isso agora.
— Não vou brigar com Rocco nem com ninguém — murmurei virando o rosto
para o lado oposto a todos eles. — Eu só quero paz e cuidar da minha gravidez, só
isso.
Mais uma vez o fez-se silêncio no quarto. E eu queria todos fora dali, eu
quero a solidão de volta. A paz enganosa, porém satisfatória.
E quero mesmo é fugir.
— Vão embora.
— Minha filha, eu não acho que seria uma boa ideia, na verdade eu…
— Por favor, pai — implorei sem olhá-los —, eu quero ficar sozinha.
Os sentimentos misturavam-se dentro de mim, era tudo tão intenso, tão forte,
que chegava e me causar falta de ar.
Em silêncio, todos se retiraram, porém, antes de sair completamente, Jason
me encarou.
— Sei como é sentir que nada tem sentido, sei como é sofrer com o
sufocamento causado por aquilo que não pode ser desfeito, sei como é ver aonde a
vida te levou. — Respirou fundo e continuou: — Eu garanto para você que passa,
por maior que seja seu sofrimento, garanto que a cura um dia chega…
Então ele se foi, fechando a porta silenciosamente.
Soltei um soluço seco, que mais parecia um espasmo, meus ombros tremiam,
mas não havia lágrimas. Apenas o choro silencioso em minha alma.
“Eu não quero odiar, mas eu o odeio, terei que fingir que tudo está bem,
mas não está! Como vou suportar? Não me parece fácil!”, pensei, permitindo
meu corpo ceder. “Como vou superar e esquecer essa mágoa profunda, que foi
causada pelo homem que amei com tudo de mim?”
— Preciso de uma saída! — sussurrei levando minhas duas mãos ao meu
ventre.
“Senhor querido, me mostre o caminho!”
Capítulo 65
Victória
2 dias depois

Mesmo querendo ficar sozinha, eu recebi todas as pessoas que vieram me


visitar.
William, Dimitri, Betty e a filha Camille, Royce (que surtou legal com tudo
que aconteceu e por não estar aqui) e mais alguns poucos amigos próximos. Minha
ideia era deixar transparecer tranquilidade, e eu forçava meu limite, porém, Rocco
eu ainda não tive coragem de ver, mesmo sabendo que ele estava do outro lado da
porta, dia e noite, noite e dia.
Dentro de mim eu estava um caco, completamente carente, mas ainda assim
eu estava disfarçando, Graças a Deus, eu fui salva pela indiferença, e nesses dois
dias ela, junto com a ausência de sentimentos, me fez mais forte.
Agora estou diante de Damon e sua futura esposa, Miranda. Eu os admirava,
eram lindos juntos.
Alguém será verdadeiramente feliz… Quase pude sorrir, eu tinha a sensação
esquecida de felicidade. Eu desejava tudo de bom para eles.
— Victória, obrigado por me fazer enxergar — Damon falou, pegando minhas
mãos e beijando-as.
Eu acenei positivamente, mas não sorri, não tinha vontade e não estava a fim
de forçar a barra agora. Até a leve sensação que capturei segundos atrás escapou.
Voltei a ficar indiferente.
— Você só precisava de um pequeno empurrão e eu o dei! — Mexi os
ombros. — Estava na sua frente, tudo diante de você.
— Não posso agradecer o suficiente, eu devo minha felicidade a você. —
Miranda pegou minhas mãos das de Damon e apertou. — Eu nem sei como
começar a agradecer.
— Seja feliz, ame incondicionalmente, não se reserve, confie em seu
companheiro, isso me basta.
Miranda sorriu e Damon a abraçou por trás, notei que as mãos deles foram
para a barriga dela, e lá fizeram carinho lentamente, quase inconsciente.
— Miranda fugiu porque descobriu que estava grávida do meu filho. —
Damon colocou o queixo no ombro de sua amada. — Seremos uma família por
causa da sua interferência.
— Eu fugi porque pensei que ele me mandaria tirar o bebê — Miranda
murmurou e Damon fez careta. — Nunca senti tanto medo e felicidade juntos, eu
teria um pedaço do homem que amava comigo, eu fui embora, mas deixei meu
coração para trás. — Miranda chorou, porém, havia um lindo sorriso em seus
lábios.
Era felicidade… a felicidade deles, e eu deveria me sentir feliz também, mas
não senti nada.
— Victória, eu cheguei em cima da hora. — Damon fechou os olhos e fingiu
tremer. — E agi feito um louco, foi realmente uma maluquice, mas eu não mediria
esforços.
Miranda sorriu feliz, como se lembrasse de algo.
— Eu ainda nem acredito! Eu estava lá, prestes a dizer sim, e Damon surge
todo de preto e sombrio, não como um príncipe, mas, sim, como um vilão, ele me
arrebatou, esmurrou meu primo e me levou como um perfeito homem das cavernas
faria. — Miranda estava corada e meio ofegante. — Eu simplesmente amei.
— Claro que você amou, eu sou perfeito, oras!
Eu olhei para eles em silêncio, podia sentir o grande amor que os rodeava,
era como um manto.
— Essa felicidade que sentimos é porque você enxergou em mim o que eu
não conseguia, e é por isso que queremos pedir que você seja madrinha do nosso
filho.
Prendi a respiração. E senti uma pequena fagulha de felicidade.
— Eu me sinto honrada — murmurei engolindo o nó em minha garganta, a
emoção me ameaçando, todavia respirei fundo. Sei que quando desabar, talvez
nunca me recupere.
— Agora precisamos ir, temos que organizar muitas coisas em nossa casa
nova. — Miranda sorriu e olhou para Damon, ele retribuiu seu olhar.
Era lindo de ver a forma como eles interagiam, Damon era protetor com
Miranda, já ela tinha os olhos brilhantes, a felicidade e a gravidez deixando-a
ainda mais linda. Ela parecia uma pequena Barbie.
— Eu desejo que vocês sejam muito felizes, cuidem para que esse amor tão
bonito não se perca. — Balancei a cabeça soltando um longo suspiro.
— Victória… — Senti Damon pegar meu queixo, obrigando-me olhá-lo. —
Sei que vindo de mim parece loucura, o que vou te dizer, mas só com você Rocco
pode ser feliz…
— Damon. — Balancei a cabeça. — Não, por favor.
— Me ouça — continuou —, eu estava lá, eu vi, eu participei. Rocco se
transformou diante de mim, e não foi algo bonito, foi terrível. Você é a cura dele, o
que ele precisava e precisa.
— Você está errado, eu não sou nada, eu pensei que era, mas não.
Livrei-me de seu toque. Virei o rosto. Eu estava fazendo isso sempre que
queria encerrar o assunto ou escapar.
— Victória, pense….
Naquele momento a porta se abriu e meu primo, Carlos, entrou. Agradeci
pela sua chegada.
— Acabou a moleza, mocinha. — Piscou um olho para mim e eu fiz careta.
— Já revisei todos os seus exames e tudo está dentro dos conformes, iremos
começar sua reabilitação agora mesmo.
— Pense bem, estamos indo! — Damon falou e Miranda me deu um beijo na
bochecha. — Nos vemos qualquer dia desses.
— O horário de visitas acabou, vocês precisam sair — uma enfermeira
sentenciou e Jason, que estava ali o tempo todo, ficou em pé, cruzando os braços.
— Não vou sair.
— Você que sabe! — A mulher deu de ombros e Carlos riu.
— Ela é a chefe de enfermagem. Muitos têm medo dela.
— Também, a mulher é uma harpia venenosa — Jason resmungou e Carlos
sorriu.
Não achei graça.
A minha primeira sessão de fisioterapia foi estranha e muito ruim. Eu não
tinha nem um pingo de força ou apoio na perna que foi operada, a cicatriz era
horrível, digo, ela era longa, sinuosa, e a perna estava mais fina e fraca. Às vezes
que tentei apenas me manter erguida foi impossível, era como se minha perna não
recebesse meus comandos. No fim, eu tentei forçar e ver se dava para aguentar.
Segurei a barra de ferro e apoiei, em seguida, tentei manter minha perna firme.
Dor disparou instantaneamente e eu desisti.
Juro que pensei que essa sessão não fosse acabar nunca. Eu estava exausta.
Com ajuda tomei banho, me vesti e tive durante muito tempo tia Laura penteado
meus cabelos. No fim, como ocorreu nas duas últimas noites, eles me deixaram
sozinha, como eu pedi.
Já era bem tarde e fora do horário quando um visitante inesperado chegou.
Confesso que essas horas em que a porta abre eu sinto medo, porque apesar dos
pesares eu não sei se dou conta de encarar Rocco, na verdade eu até evito pensar
nele, muitas vezes eu converso com meu bebê, ou simplesmente não penso em
nada.
Eu sei que se for começar a enveredar por esse caminho as coisas ficarão
feias.
— Ma belle. — Jean Pierre entrou no quarto e veio direto para perto de mim,
eu estava em uma cadeira de rodas, sentada perto da janela. Encarando o jardim
do hospital sem enxergá-lo realmente. A essas alturas do campeonato, eu não
estava suportando ficar deitada, então evitava isso a todo custo.
— Oi — saudei polidamente, ele puxou uma cadeira para sentar de frente
para mim, em seguida pegou minhas mãos.
— Ma belle fleur — murmurou colocando uma das minhas mãos em meu
rosto, acariciando-se sutilmente.
Ele era tão gentil, tão carinhoso, que me vi inclinando a cabeça para receber
seu toque também.
— Tive tanto medo, eu nunca sinto. Me vi vulnerável, apavorado — suspirou,
aproximando-se. — Meu coração quase foi arrancado do meu peito.
Seus dedos percorriam meu rosto com suavidade.
Fechei os olhos e me concentrei, eu só queria sentir algo… só um pouco.
— Ma belle — ouvi seu sussurro muito próximo. Seu fôlego acariciava meu
rosto. — Ma belle perfaite. — Tomando meu rosto para um beijo, neste instante
senti algo.
Medo.
Abri meus olhos e vi que ele estava a um fôlego de distância. Afastei-me
bruscamente.
— Desculpe-me. — Engoli em seco. — Não sei o que deu em mim, por
favor, saia.
Jean Pierre respirou fundo, comprimindo os lábios.
— Eu quero você! — exclamou segurando meu rosto com as duas mãos. —
Eu farei tudo, absolutamente tudo para que você seja minha, não haverá limites,
não medirei esforços.
Calafrios de repúdio me dominaram. Eu estava com pavor de tê-lo tão perto.
Mais uma vez não sei como classificar o que sinto, eu permiti que ele se
aproximasse, agora desejo fervorosamente que ele vá para bem longe.
— Estou danificada, Jean Pierre — proferi, tirando suas mãos do meu rosto.
— Procure por outra, você não me terá, nem hoje e nem nunca.
Vi o exato momento que a chama do desafio acendeu em seus olhos claros.
— Ma belle — ronronou suavemente. — Eu não estava te procurando, mas o
destino te ofertou a mim. — Sorriu misteriosamente, piorando meus calafrios. —
Doce, delicada, suave e inocente. — A voz dele soava desejosa, já eu tremi de
agonia quando ele aspirou meu cheiro ruidosamente.
Nojo.
— Você é perfeita para mim, para meus propósitos.
— Jean Pierre, eu não vou me envolver com você! — exclamei empurrando-
o. — Eu não vou me envolver com ninguém, eu já estourei minha cota de
relacionamentos para uma vida toda, agora eu quero só o meu filho.
— Seremos felizes juntos quando chegar a hora. — Sorriu. — Eu saberei ser
paciente, pois a recompensa será muito valiosa, teremos tudo — falou ignorando
completamente o que eu havia dito.
— Não serei sua.
Minhas palavras não o afetaram, ele nem ligou, apenas sorriu e piscou um
olho. Então ergueu-se e caminhou até a porta, abrindo-a em seguida.
— Só mais uma coisa, Ma belle — chamou minha atenção e eu o encarei
fixamente, senti-me afundar sob o peso do seu olhar.
Era uma sensação terrível de pavor sufocante.
— Os mortos não têm querer. — Saiu e fechou a porta silenciosamente.
Eu fiquei paralisada.
O terror me golpeando duramente, paralisei uns instantes, mas assim que Jean
Pierre saiu do quarto, eu peguei minhas muletas, colocando-as em me colo,
totalmente desajeitada, fui empurrando minha cadeira até o banheiro.
— Vamos lá, Victória — eu me incentivei, pegando as muletas. Agora passei
um momento realmente difícil, minha perna imprestável não colaborava, tive que
apoiar o peso todo na outra, e, como fiquei muito de cama, ela também estava
fraca.
Mesmo assim eu não desisti, continuei insistindo até que consegui ligar o
chuveiro, entrei com tudo. Evitei a cadeira de banho, eu queria sentir a água
escorrendo pelo meu corpo livremente, apesar das roupas.
Depois dessa visita de Jean Pierre eu estava sentindo como se milhares de
pequenos insetos rastejassem em minha pele. A sensação de nojo era tanta que eu
comecei a me esfregar com força, não dando a mínima se machucava meus braços.
Fiquei ali debaixo d’água por muito tempo, o repúdio rastejando em minha pele.
Instintivamente eu levei minhas duas mãos à barriga, como se pudesse proteger
meu bebê.
— Tudo vai se ajeitar, prometo que vou tentar — murmurei fechando os
olhos. — A mamãe te ama além de tudo, e por você eu vou tentar.
Por mim eu ficaria ali durante horas, mas meu pai chegou e desligou o
chuveiro, me tirando, nos braços, de lá
— O que foi, meu amor? — perguntou me colocando em uma cadeira, já
começando a me ajudar.
— Pai, por favor. — Peguei suas mãos, interrompendo seu intento de secar
meus cabelos. — Não permita que Jean Pierre chegue perto de mim e nem do meu
filho.
Meu pai me olhou e logo estreitou os olhos.
— O que ele fez? — rosnou baixinho e eu balancei a cabeça.
— Ele quer algo que não terá — respondi e meu pai acenou. — Só não
permita que ele chegue perto de mim.
Meu pai respirou fundo e logo grunhiu.
— Ele não vai!
Respirei mais aliviada, porém algo me dizia que isso ainda não acabou.
No dia seguinte eu pude sair pela primeira vez. Esse seria meu primeiro
banho de sol, apesar de ter insistido para sair e passear, os médicos ainda temiam
pela minha saúde, e não houve discussão. Não sei por que isso, meus exames estão
ótimos.
— Quando poderei ir embora para casa, Carlos? — questionei enquanto ele
empurrava minha cadeira pelos corredores do hospital. No caminho quase todas as
mulheres suspiravam ao vê-lo passar.
— Amanhã ou depois.
— Certo — murmurei de cabeça baixa, eu estava mais conformada com
minha vida que outra coisa. Não havia vontade de resgatar nada, iria viver cada
dia devagar, vendo como as coisas se acomodariam.
Agora mesmo, eu desejava voltar para o meu lar, minha cama, meu quarto. Eu
queria minha antiga casa e todas as boas lembranças que eu construí ali.
— Carlos, onde está todo mundo?— perguntei, porque depois do horário do
almoço ninguém veio ainda, geralmente sou eu que tenho que pedir para que saiam.
— Como você pediu, todos estão empenhados no casamento de Mariah, até
seu pai está envolvido, ele está agindo como relações públicas e hoje tem um
encontro com suas clientes mais influentes. — Riu baixinho. — Essas mulheres
ligam várias vezes por dia, seu pai resolveu apaziguar o desespero delas.
— Uhum — concordei. Era verdade que várias das minhas clientes estavam
preocupadas, prova disso era o meu quarto, que mais parecia uma floricultura,
cada buquê que chegava era acompanhado de cartas escritas de próprio punho.
Saímos por uma porta dupla e chegamos a um imenso jardim com gramado
perfeito. Carlos guiou minha cadeira até um banco que ficava um pouco escondido,
era quase como um pequeno lugar secreto.
Era simplesmente lindo, mas ainda assim eu não me importava.
— Victória, você não sorri, não vejo mais o brilho em seus olhos, aquele que
eu vi e pelo qual me encantei — Carlos falou suavemente assim que sentou no
banco. — Eu só consigo ver um brilho especial em seus olhos quando falamos
dobebê, e seu único sorriso desde que acordou foi na sala da ultrassom.
Ficamos em silêncio. Meu olhar perdido nas flores daquele jardim.
— Meu filho é tudo que resta do meu sonho de amor — murmurei, fazendo
carinho em minha barriga. — Meu pequeno é o que me mantém, se não fosse por
ele… — Não completei, apenas dei de ombros. — As coisas que para mim eram
certas perderam totalmente o sentido, e não sinto vontade de nada, nem de chorar,
nem de sorrir. Às vezes eu fico com a mente vazia, então eu toco minha barriga e
sinto como se meu coração pesasse menos.
Fechei os olhos e me senti diminuindo um pouco.
— Na maior parte do tempo eu não consigo extrair sentimentos de dentro de
mim, eu sempre fui alegre, mesmo quando estava sujeita aos mandos e desmandos
da Blanchet, entretanto agora eu não consigo achar o caminho de volta — suspirei.
— Agora mesmo, eu sinto um vazio enorme, e deveria querer chorar ou sentir
raiva, mas não sinto absolutamente nada. A dor se foi. — Fiz uma pausa. — Eu
pedi muito a Deus para tirá-la de mim, mas infelizmente ela se foi e levou tudo, ou
quase, o pouco que sobrou pertence ao meu filho, só a ele.
Procurei algo em que prestar atenção, mas ali não havia nada que me
interessasse.
— Eu sinto coisas relacionadas ao meu corpo, como fome, frio, sono… —
refleti. — É só isso, sinceramente não sei se eu estou onde deveria estar.
Fizemos silêncio.
— Olha para mim — Carlos chamou e colocou a mão em meu rosto,
puxando-o devagar para que eu pudesse olhá-lo. — Um dia, o seu coração vai se
acostumar — murmurou acariciando minha bochecha com o polegar. — Um dia ele
irá permitir-se e muito sutilmente… — Ele sorriu levando minha mão até seus
lábios, onde depositou um beijo suave, então ergueu a cabeça e piscou um olho. —
Seu coração acolherá outro.
Estávamos com nossos olhares presos, ao contrário do nojo que senti de Jean
Pierre, de Carlos e só senti conforto e paz. Eu gostava de estar perto dele, gostava
de falar com ele.
Era como se ele fosse a minha segurança. E eu precisava disso agora. Havia
uma conexão que eu senti desde o primeiro momento, e ali, olhando dentro de seus
olhos, eu entendi seu pedido silencioso, para o qual eu não tinha resposta.
— Deixe seu coração abrir, deseje com fervor que ele se cure, não permita
que sua essência evapore — suplicou baixinho, então recitou: — O amor é fogo…
— Que arde sem se ver — completei e ele começou a acariciar meus
cabelos.
— É ferida que dói… — sussurrou e me olhou em expectativa.
— E não se sente — minha voz soou, triste.
Algo mudava levemente.
— É um contentamento… — Vi seus lábios repuxarem em um sorriso terno.
— Descontente. — Fechei meus olhos quando eles arderam.
— É a dor… — Abri meu olhos quando tudo em mim tremeu. — … que
desatina sem doer.
Essa voz…
Ergui minha cabeça e olhei de lado, Rocco estava poucos passos de
distância.
Meu coração palpitou, foi quase doloroso. Abri a boca para falar, mas ele
adiantou-se.
— Por favor, não me mande ir embora.
Baixei a cabeça. imagens dançando em minha mente sem que eu as quisesse.
Meu coração acalmou, a dor retrocedeu, a indiferença quase de volta em seu
lugar.
— Cuide dela — Carlos falou e ergueu-se. — Essa é a última vez. Agora
você está por conta própria. — Com um suspiro concluiu: — Algo mudou. —
Então foi embora.
Apertei meus olhos bem forte, eu não conseguia olhar para Rocco, ele causou
a destruição do que havia de mais frágil e inocente em mim.
— Amore mio.
Encolhi-me como se houvesse sido golpeada.
— Não me chame disso — murmurei apertando minhas mãos nos braços da
cadeira de rodas. Não falei mais nada, nem ele, mas não demorou e eu ouvi seus
passos. Ergui minha cabeça e o vi chegando perto, com uma das mãos entendida
como se fosse me tocar.
— Victória. — Sua voz falhou. — Pequena.
— Não me toque. — Minha voz saiu quase inaudível. Eu estava querendo
fugir, mas não poderia, eu tinha que tentar conversar, porque mais dia menos dia
esse momento chegaria, e não sei se mesmo assim eu estaria pronta. Respirei
fundo, melhor que seja agora.
— Por favor, sente aqui no banco — eu o chamei suavemente e ele respirou
fundo, vi seu peito expandir e depois encolher. — Só não fique muito perto.
A tristeza marcava suas feições, eu não queria magoá-lo, mas eu estava indo
até o meu limite, e só o fato de saber que estou no mesmo ambiente que ele parecia
ser o máximo que eu poderia alcançar.
Desviei meu rosto para o lado oposto. Ouvi seus passos próximos e, quando
ele sentou, solto um longo e profundo suspiro.
Não sabia o que dizer, eu, na verdade, estava me sentindo deslocada perto
dele.
— Vamos conversar? — perguntou baixinho.
Virei meu rosto lentamente, mas antes de olhá-lo, seu cheiro viajou até onde
eu estava, meu estômago embrulhou na mesma hora. Respirei fundo, apertei meus
olhos. Fiz tudo isso de cabeça baixa.
“Você precisa tentar”, ordenei a mim mesma e só então o olhei.
Rocco estava barbudo, seu rosto cansado, abatido, triste.
— Vamos conversar? — perguntou novamente. — Me deixa explicar tudo
para você. — Sua voz, mesmo sendo potente como sempre, estava mais branda,
mais suave.
— Por favor — concordei — eu agradeço se o fizer.
Assentindo levemente ele soltou uma longa respiração e começou a contar o
que o levou a fazer aquilo.
As lembranças daquele dia voltando de novo, e elas me alfinetavam
incessantemente, massacrando-me mais uma vez, e ainda assim não havia nada de
emoção real em mim, digo, havia sim, eu não o queria tão perto.
— Eu pensei que você fosse me deixar, então eu fiz aquilo — Engoliu em
seco, depois passou as duas mãos no cabelo e no rosto.
— Pode falar, fica tranquilo, vou te ouvir até o final — falei desviando meu
rosto, mais uma vez baixei a cabeça, porém estava atenta a tudo que ele estava me
falando.
Desde o momento em que ele escutou a conversa, até seus planos rancorosos
de vingança.
Para mim, as emoções de Rocco estavam muito claras, havia muita dor,
tristeza, culpa, arrependimento.
Então ele terminou de falar e ficamos em silêncio. Eu não sabia o que dizer,
na verdade não tinha o que dizer.
Ele nunca se entregou completamente, nunca confiou em mim de verdade.
Nunca houve esperança.
— Victória, olha para mim. — Eu o fiz, olhei para ele e nada.
Continuei olhando e não senti nada.
— Diga que me perdoa! — grunhiu ansioso, o desespero tão claro. — Diga
que me dará outra chance, a última!
Fiz silêncio.
A apatia invadiu meu corpo, junto com ela, a depressão. Eu não queria me
sentir assim, esses sentimentos não eram bons, entretanto, por mais que eu lutasse
e lutasse, eles sempre estavam ali muito próximos de mim. Mas eu tenho que
tentar, como havia dito, não vou deixar que minha família e nem ninguém perceba
como de fato, me sinto. Vou lutar para isso, ou pelo menos eu posso tentar.
— Eu pensei esses dias — proferi baixinho. — Eu pedi muito a Deus para
ele me dar força para perdoar. — Desviei minha atenção e olhei para o nada. —
Eu pedi muito, sabe? E Deus me atendeu, não da forma como geralmente as
pessoas querem, mas, sim, da forma correta. Eu não tive força para te perdoar, eu
tive, ou melhor, estou tendo a oportunidade. — Respirei fundo e o olhei. — Então
sim, eu te perdoo.
Vi quando Rocco fechou os olhos e suspirou aliviado. Vi quando ele se
pareceu mais com o antigo Rocco. A diferença é que ele não era mais apelativo
para mim.
— Pequena, eu nem sei o que dizer. — Sorriu. — Eu juro que desta vez será
diferente.
Concordei, ele tinha razão. Seria diferente.
— Olha só, Rocco, eu ainda tenho muito chão a percorrer, perdoar não
significa esquecer — comecei a falar ele comprimiu os lábios. — Eu te perdoei
porque acho que esse é o primeiro passo que devo dar para poder seguir em
frente, não estou falando da boca para fora, acredite, mas eu não tenho controle
das minhas recordações. Eu desejo de todo coração que possamos viver em paz, e
quero que você recomece sua vida. Prometo que as coisas irão se ajeitar, e você
terá tudo que desejar em relação ao nosso filho.
Calei-me porque já disse o que queria.
Todavia Rocco estava pronto para briga.
— Você tem que me ouvir! — exclamou nervoso, logo em seguida pegou
minhas mãos.
Imediatamente eu as retirei das dele, notando que ele ficou magoado.
Sinto muito.
— Eu te ouvi — falei tranquila— eu fiz silêncio enquanto você falou tudo
que tinha para falar. Agora peço que me ouça também.
Ele concordou e eu comecei:
— Eu era uma sonhadora, do tipo que acreditava em finais felizes, contos de
fadas, príncipes encantados… — Balancei a cabeça. — Eu sempre acreditei na
bondade das pessoas, eu não acreditava que alguém tinha a capacidade de fazer
mal a outra pessoa sem conhecê-la, ate eu ser drogada na boate. Mesmo assim é
minha natureza ser crédula. Relembrando várias coisas, eu percebo que eu estava
em desigualdade com você, e isso chegou a um ponto de ruptura. — Eu me ajeitei
na cadeira. — Não houve amor real, não houve confiança verdadeira, e, talvez, se
tiver mesmo existido amor, ele não foi forte o suficiente, no fim, se tornou algo
indigno, sujo, vil. Entretanto, eu penso que grande parte de tudo isso é culpa
minha.
— Não diga isso! — grunhiu desgostoso. — Per favore, não diga.
— Sim, é minha culpa, e sabe por quê?
Ele apenas negou com a cabeça.
— Porque você vivia sua vida pacificamente, mas foi só me conhecer e
começou a se tornar agressivo, descontrolado. Nunca ouvi dizer que você tenha
feito nada que sujasse sua imagem, mas então… — Dei de ombros. — Não fui boa
para você, e você também não foi bom para mim. Na verdade, Rocco, eu exigi de
você muito mais do que estava disposto a dar, e achava que com paciência e muito
amor você enxergaria que eu estaria sempre do seu lado, eu pensei que poderia te
fazer feliz, mas não foi assim, no fim, o amor nem sempre é suficiente.
Ele abriu aboca para falar, um tom de pele doentio marcava seus traços.
— Só me escute, faça o que fiz por você! — pedi e desviei o olhar, eu não me
permiti olhar para ele. — Nossa história começou como um conto quase de fadas,
foi lindo, intenso, verdadeiramente perfeito. Além do que eu poderia imaginar,
então tudo se perdeu, não conseguimos segurar, houve percalços que eu achei que
superaríamos, a felicidade foi ilusória, nunca durou o suficiente, eu achava que
daria tudo certo, só você me fazia sentir como uma mulher, e agora nem isso você
consegue mais.
— Eu preciso de você! —sua aflição estava gravada em seu belo rosto.
— Não precisa, não. — Eu o olhei por um instante. — Na verdade você não
precisa de ninguém. Você é o todo poderoso Masari, você é autossuficiente.
Dei de ombros e voltei a olhar para o nada.
— Não diz isso! — Sua voz tremeu. — Eu preciso de você mais do que
possa imaginar.
— Sinto muito, Rocco, mas eu desisti! — suspirei cansada. — Eu sempre
soube que você era demais para mim. Muito intenso, muito possessivo, muito
ciumento, muito fogoso, muito sexy… — Engoli em seco. — Você sempre foi
muito, mas mesmo assim eu insisti, e agora eu nem posso dizer para você que me
arrependo, porque isso seria negar a criança que carrego em meu ventre, ele é o
último fragmento do meu sonho, ele é o último pedaço do que restou do meu
coração. Vamos apenas conviver em paz pelo bem do nosso bebê, tudo bem? É só
o que peço.
— Victória, olha para mim!
Eu o fiz e ele ignorou meu pedido anterior, colocando as duas mãos em meu
rosto.
— Me solta — sussurrei, colocando minhas mãos nas dele, naquele exato
instante um pequeno choque me fez suspirar.
Meu corpo amoleceu um pouco.
— Olha dentro dos meus olhos e diga que não me ama!
Eu olhei, olhei… e olhei.
Vi sua pele empalidecer ainda mais, seus impressionantes olhos azuis
perderam o brilho. O rosto inacreditável de tão belo rosto deixou transparecer sua
dor.
Eu o havia quebrado também.
Então eu senti. Tudo foi voltando.
— Eu te amo demais — sussurrei sentindo meu peito doer. — Mas eu não
queria, eu sofro por te amar. Não me faz bem, me transformou em algo que não
sou. Uma casca.
— Volta pra mim — sussurrou acariciando meu rosto com seus polegares,
seus olhos tão lindos estavam marejados. — Uma última chance… a última.
Tentei desviar o rosto, mas ele não deixou.
— Olha para mim — voltou a sussurrar, aproximando-se. — Olha dentro dos
meus olhos e escuta o que vou te dizer.
Eu obedeci, ele ainda tinha uma gota de poder sobre mim.
— Eu te amo.
Meu fôlego foi expulso de maneira brusca. As lágrimas que eu não derramei
nesses dias escorreram agora.
— Eu te amo, Victória, com tudo de mim — rosnou fervoroso, segurando meu
rosto. — Eu te amo… eu te amo.
Ele dizia e parecia ficar aliviado por isso, mas algo pesava em mim, e eu
chorei ainda mais. Desabei, meus soluços longos e doloridos.
O que eu sentia era tristeza.
— Sinto muito. — Minhas palavras saíram rasgadas. — Sinto muito por tudo
o que não vamos viver. Seu medo antigo agora é o meu, e não consigo me
desprender dele, eu não quero tentar, eu não quero me iludir, eu não quero voltar.
Agora só quero me preservar, não me decepcionar. — Fechei os olhos. — Eu não
quero mais, por favor, me deixa em paz.
— Nunca — rosnou
— Você pode ser feliz — chorei. — Agora mesmo eu estou tão quebrada, tão
sem vontade. Rocco, eu perdi a minha fé nas pessoas. — Isso era o que mais me
doía.
Ele ficou calado, e eu aproveitei para tirar suas mãos do me rosto. Ele
permitiu, e agora eu só queria sair dali o mais rápido possível. Tentei mover
minha cadeira, mas eu estava desorientada, minha cabeça doía, estava enjoada…
desesperançada.
Só queria poder voltar para casa.
— Não vou desistir de você, meu amor! — exclamou ajoelhando em frente à
minha cadeira. — Vou te mostrar que nossa história ainda está longe de terminar.
— Rocco, siga em frente. não afunde comigo… — Chorei ainda mais.
— Aonde você for eu vou, você é meu recomeço e também será o meu fim,
não importa, nesta vida ou em qualquer outra, eu te seguirei, só a você — rugiu,
cheio de angústia, e antes que eu pudesse fazer qualquer coisa, ele me puxou para
seus braços. — Aqui é o seu lugar, onde você deve ficar— murmurou em meu
ouvido e eu me desesperei.
Arrepios tomaram meu corpo e não foi algo bom, a bílis subiu sem que eu
pudesse evitar.
— Me solta — implorei, respirando pela boca. — Por favor, me solta. — Eu
estava suando frio, sentindo o gosto salgado na boca, meu estômago começando a
contrair.
Graças a Deus Rocco deve ter entendido meu desespero, pois rapidamente
me colocou sentada no chão, só fiz virar de lado e acabei vomitando. Senti sua
aproximação e mais vomito saiu, mais de seu cheiro invadiu meu nariz.
— Não… não… — pedi, minha voz rasgada e eu ofegante pelo esforço que
fiz. Eu ainda estava muito enjoada.
— O que foi? — perguntou preocupado. — Você está passando mal? É o
nosso bebê? Eu vou te levar.
— Por favor, não chegue mais perto. Não…. — Olhei para ele, só não tive
coragem de terminar de falar.
— Não o quê?— questionou tentando se aproximar.
— Deixa para lá.
— Diga! — grunhiu ansioso.
— Eu não suporto seu cheiro — grasnei. — Não chegue mais perto de mim!
Rocco recuou como se tivesse sido golpeado. Então ele levantou, sem dizer
nada, anuiu e silenciosamente retirou-se.
Coloquei as mãos no rosto e chorei. Chorei como não pensei ser possível.
Abri as comportas e minha represa arrebentou. O alívio que senti foi ínfimo.
Pouco tempo depois uma enfermeira chega e logo atrás dela está Rocco. Ele
vem até onde estou, me pega e me coloca na cadeira, depois se afasta. Mas não sai
de perto, mas não chega próximo o suficiente, e isso estranhamente me deixou
aliviada.

***

— Quero ir para minha antiga casa — proferi baixo. Em sem seguida


encostei minha cabeça na janela. — Quero voltar para lá.
— Tudo que você quiser, minha querida, o que você quiser — meu pai falou
e eu balancei a cabeça.
O carro se pôs em movimento e permanecemos em silêncio. Tivemos que sair
pelo outro lado do hospital, pois havia muitos repórteres esperando para cair em
cima assim que eu colocasse os pés para fora.
Durante o trajeto até minha casa, eu pensei na minha última conversa com
Rocco. Ali eu soube que não tinha jeito, eu ainda o amava bastante. Mas eu tenho
medo, medo de tudo ser da mesma forma. Sinceramente eu não estou com ânimo
para me arriscar, no fundo eu acho que ele permanece do mesmo jeito e na
primeira oportunidade eu serei ferida novamente.
Não há intenção da minha parte para correr o risco e no fim ver que nem vale
a pena.
Suspirei.
Por fim, eu só não queria magoá-lo, mas foi inevitável, nem sempre temos o
que queremos, e o que sinto é um reflexo do que aconteceu, não tenho controle,
caso contrário não estaria sofrendo ainda.
Soube que mesmo depois de nossa conversa amargurada Rocco fez plantão
em minha porta, agora ninguém dizia nada, todos mantinham um silêncio mútuo e
respeitoso. Ele não entra em meu quarto, como não entrou depois que acordei, ele
disse que não é por falta de vontade, e sim por respeito à minha decisão.
Baixei o vidro do carro e permiti que o vento açoitasse meu rosto. Fechei os
olhos, até que o carro parou em um sinal. Tive a sensação de estar sendo
observada, imediatamente procurei ver, e lá estava ele. No carro ao lado, me
olhando triste e intensamente.
— Eu vou aonde você for — gesticulou com a boca, e uma lágrima rolou.
Desviei meu olhar e subi meu vidro.
Esse seria um longo caminho, até Rocco entender que eu não quero tentar.
Talvez meu amor ainda seja amor, eu acho que é, mas ele não é puro. O ódio ainda
está misturado, e eu preciso retirá-lo.
“Estou um caos emocional, e a cada instante e me sinto ainda pior”, pensei
desejando que esse sentimento sumisse da minha vida. E sim, ele irá, porque
minha fé vai me ajudar como sempre me ajudou.
Cheguei em minha casa e com ajuda do Jason saí do carro, ele mesmo me
carregou.
— Tudo vai ficar bem — sussurrou beijando meu cabelo. Eu assenti
encostando minha cabeça em seu peito.
Antes de entrar em casa, vi Rocco ao longe, recostado em seu carro, as mãos
nos bolsos da calça.
— O que quer fazer agora? — Jason perguntou assim que me colocou onde
pedi. Meu quarto.
— Pode ir — pedi dando uma olhada ao redor. — Eu quero…
— Ficar sozinha — completou e eu concordei.
Em seguida Jason beijou o topo daminha cabeça e saiu fechando a porta
silenciosamente.
Passei vários minutos sentada em minha cama olhando para as paredes do me
quarto, ali estavam minhas lembranças, tanto os momentos de alegria quanto
momentos de tristeza, praticamente minha vida inteira estava ali, e agora eu
precisava me desfazer de uma parte dela.
Levantei com ajuda das muletas, estava ruim demais andar com aquilo, mas
consegui, completamente desajeitada fui até meu guarda-roupa e abri a porta. Tirei
de lá uma caixa pequena e abri.
Meus olhos queimaram, mas eu não chorei.
A primeira coisa que fiz foi arrancar sem cuidado algum a foto de Rocco que
ainda estava no meu guarda-roupa, depois eu mexi nas minhas roupas e tirei duas
camisas suas que ele me deu para dormir sentindo seu cheiro, dobrei e coloquei
dentro da caixa. Em seguida peguei a tirinha de fotos que tiramos em Roma e
adicionei à caixa também, junto com a venda que ele usou em mim, quando eu tive
minha aula de anatomia.
Com cuidado fui para a cama e lá conferi se tudo estava ali dentro. As joias
estavam no cofre da cobertura dele, o anel já foi devolvido. Então pronto.
Dentro daquela caixa estavam as lembranças desse relacionamento. Papéis de
bombons, ingressos do Coliseu de Roma, o panfleto da feira de ciganos, um terço
da catedral de Roma, pequenos detalhes do mochilão, até uma das camisinhas
batizadas que eu encontrei no chão do nosso quarto lá na cabana do Moors eu
guardei. Tudo estava ali, no lugar onde eu preferi guardar.
Aquele romance acabou.
Essas pequenas lembranças de felicidade não significam nada. Apenas um
serzinho é forte bastante, intenso e perfeito o bastante para durar a vida toda.
— Meu filho. — Acariciei minha barriga e comecei a sair com dificuldade
do quarto.
Carregar a caixa estava sendo quase impossível. Mas só cheguei até a sala, lá
Jason praticamente correu em meu auxílio.
Meus olhos arregalaram quando vi Jason sem camisa.
— Brother? — Meus olhos encheram de lágrimas, eu nunca o tinha visto sem
camisa.
— Não ligue, isso aqui nem doeu! — Sorriu e vestiu sua camisa às pressas.
Jason tinha muitas cicatrizes pelo corpo, e a pior era uma marca enorme de
queimadura na lateral, além das várias tatuagens esquisitas, elas pareciam feitas
por criança.
— Para onde você vai levar isso? — perguntou chamando minha atenção.
— Me ajuda a sair? — respondi perguntando
Jason me ajudou e depois eu fui sozinha e com dificuldade até o lugar onde
colocava o lixo.
Depositei a caixa lá e nem olhei o para os lados, apenas voltei para dentro de
casa.
Depois do jantar a campainha tocou, e Jason foi atender. Ele voltou com uma
gigante caixa de chocolates, daqueles tipo gourmet, que você pode montar de
acordo com sua preferência.
Minha boca encheu de água.
— São para você.
Entregou-me a caixa e a primeira coisa que fiz foi pegar o envelope preso na
tampa. Abri e dentro estava a tirinha com minhas fotos e de Rocco juntamente com
um bilhete, nele estava escrito assim:

“Nossas lembranças estão seguras. Desfrute o chocolate, eu mesmo escolhi


cada sabor.
Eu te amo.
Sempre seu.
RM.”

Meus lábios quase curvaram, entretanto, confesso, aqueles chocolates foram os


melhores que já comi.

***

Minha vida se tornou um caos.


Tudo relacionado a esse acidente estava sendo escavado pela mídia, eu já
não aguentava mais tanta gente com pena de mim. Vários programas de TV
estavam levando psicólogos e psiquiatras para darem suas opiniões acerca de
como eu estaria lidando com isso.
Vários deles achavam que eu provavelmente nunca mais voltaria a confiar e
que ficaria amargurada. O pior de tudo foi ver as mulheres que estavam com
Rocco usando aquele momento para terem fama.
Elas diziam que eu era muito ingênua, boba e que nunca conseguiria lidar com
um homem como Rocco.
— Nisso elas têm razão — tive que concordar.
Mas mesmo assim foi duro de ver, depois houve comparações com as antigas
companhias de Rocco. Todas mulheres que esbanjavam glamour e tal.
Eu era tida como uma bonequinha delicada, que deveria se casar com alguém
que me tratasse como porcelana. Ou seja, um homem que fosse "suave".
Fiquei na minha. Não está em meus planos conhecer ninguém, além do mais,
Rocco está em cima, ele me manda mensagem o tempo todo e eu respondo. É muito
mais fácil, para mim, me comunicar com ele, assim é como manter um braço de
distância, e eu me sinto confortável. Como não estou saindo de casa, Dimitri criou
um grupo da família no WhatsApp, então é quase como se estivéssemos juntos. Eu
até conversava, porque eu sei que Rocco não está ali, ele detesta o aplicativo.
Eu até me sentia mais como eu mesma quando estava invisível através das
redes sociais. Mas a verdade é que eu não quero muito papo com as pessoas.
Estou me isolando cada vez mais.
Mal saía do quarto. Aqui era meu refúgio.
Depois da primeira semana em casa, cartas e mais cartas chegaram. Eu
pensei em ler para passar o tempo, já que preferi me enclausurar. Estou há duas
semanas assim. Mas não foi uma boa ideia. A grande maioria eram mensagens de
pena.
Geralmente as cartas terminavam assim:
“Eu tenho muita pena de você, coitadinha, não merecia isso…”
A outra parte eu nem sei como classificar, essas eram de mulheres que me
consideravam burra. As cartas delas também tinham uma espécie de mensagem
conjunta.
“Vai perder um bilionário? Minha filha, case-se com ele e use os cartões
de crédito, deixe-o ter outras, o importante são as senhas bancárias.”
Classifiquei essas como “as que não têm amor próprio” e mandei minha tia
jogar tudo no lixo. Não posso mudar a opinião das pessoas, e nem quero, todavia,
a vida é minha, e se eu não quero voltar para Rocco, eu não vou. Ponto.
No final das contas parei de ler todas, não estava me fazendo bem. As únicas
que eu lia eram as do meu Fã clube, elas eram incríveis, e descobri que Camille, a
filha da secretária de Rocco é a presidente. Confesso que foi uma surpresa boa, de
vez em quando ela vem aqui, e eu até que aceito, Camille não força a barra.
Apenas no começo ela era mais efusiva em dizer que Rocco não me merece e,
quando viu que realmente não voltaríamos, passou a me incentivar a olhar para
Carlos.
Impossível. Não quero ninguém, muito menos meu primo, que adiou todos os
compromissos para ficar aqui em Londres e acompanhar-me aos médicos.
— Vamos? — minha tia me chamou da porta e eu pedi um minuto.
Hoje eu vou sair. Tenho uma consulta de pré-natal e não posso deixar de ir.
Até consegui que meu pai trouxesse a fisioterapeuta aqui em casa, mas para o meu
bebê eu faço o que for preciso.
Saí do meu quarto e fui ao encontro dos meus familiares, meu pai e Jason
estavam ali, junto com tia Laura e o tio Ricardo. Minha avó só vinha de visita, ela
achava que minha casa era um "choupana".
Revirei os olhos.
A saída de casa foi horrível, tinha muito repórter de plantão, e foi só colocar
o rosto na rua que eles me atacaram.
"Como você está depois de ter sido trocada? Victória, você se acha tão
bonita quanto as modelos que estavam com Rocco? Poderia nos dizer o que você
sentiu exatamente?"
Essas perguntas foram gritadas a plenos pulmões, e eu me encolhi, Jason
servindo de proteção. O ruim era que meus ouvidos estavam perfeitos.
Senti um desgosto profundo, mas me mantive firme e fui para a minha
consulta.
— Está tudo bem com seu peso — a minha obstetra falou —, mas a
circunferência gestacional está alguns centímetros acima da média. Porém não se
preocupe, o bebê está bem. Vamos fazer a ultra.
Eu, Jason e meu pai fomos para a salinha específica.
Quando estava tudo pronto, a médica passou um gel e iniciamos.
— Quem é o pai? — a doutora perguntou e eu respondi.
— Nenhum dos dois, eles são meu pai e irmão.
Fizemos silêncio e logo ela ia falando as coisas e congelando algumas
imagens.
— Você está com doze semanas, o que configura tres meses em idade
gestacional e… mas o quê? — A médica estava sorrindo.
— Tudo bem com meu neto?
— Sim — respondeu. — Inacreditável, espere… isso… — Ouvi mais um
clique e ela congelou a imagem, depois se virou para nós três. — É muito raro,
mas vejam aqui. — Mostrou a tela e circulou alguma coisa. — Estão vendo?
— Eu não vejo nada — respondi e os rapazes concordaram, a médica riu e
explicou.
— Isso aqui mostra que é um menino. Posso estar enganada, mas é tão claro,
olhem aqui. — Apontou e eu estreitei meus olhos para ver. — Ele está com as
pernas bem abertas, como se quisesse mostrar que é macho.
Gianne.
Pela primeira vez depois que acordei eu soltei uma gargalhada.
Era sim pura felicidade.
Eu teria um garoto… um lindo garoto.
O sorriso que estampava meu rosto não se desfez, e antes de sair eu ainda
ouvi o coração do meu Gianne, ele estava forte, saudável e era grande.
— Leve o DVD, aí mostra o sexo e todos os detalhes do exame.
— Obrigada — agradeci e saímos
Capítulo 66
Victória

Houve outra confusão assim que apareci, mais repórteres, mais perguntas,
mais humilhação. Desta vez não me encolhi, ergui a cabeça e segui meu caminho,
não estava disposta a deixar-me abater.
Fomos jantar em um restaurante fino, e quando fui ao banheiro ouvi uma
conversa que me fez chorar muito em meu reservado.
— Você viu?
— Ela está aqui! Meu Deus, tadinha, dá pena, viu?!
— Sinceramente, era de se esperar, Rocco Masari sempre foi um destruidor
de corações, o problema dessas garotas novinhas é que elas não enxergam o que
está na cara. Meu Deus, que idiota, aquele homem é uma força da natureza, não
tem quem segure.
— Eu acho Victória linda, mas ela é muito simples, não tem glamour. Deve
ser sem sal e morta na cama, certamente Rocco precisou recorrer a outras para
satisfazê-lo.
— Pois é, concordo, mas que dá pena, dá, eu, no lugar dela, não sairia
mais de casa. Todos irão apontá-la na rua como a pobre coitada que foi traída e
deixada grávida, um escândalo desses ninguém esquece.
— Por que você acha que ela sumiu? Querida, não tem quem aguente,
todos olham para ela com pena, aff. Deus me livre! Além de tudo ainda está
aleijada.
— Deve ser horrendo andar com aquelas coisas.
Perdi a fome, ganhei um enjoo enorme e acabei vomitando. Assim que pude,
saí do banheiro e a primeira coisa que fiz foi pedir para ir embora. Em casa me
tranquei no meu quarto. E fiquei por lá.
Ia recebendo as atualizações sobre o casamento de Mariah por telefone, as
notícias eram ótimas e tal, mas me faltava ânimo, o pior era que eu me sentia como
se estivesse traindo a confiança dela. Por isso, alguns dias depois, eu resolvi
voltar à ativa.
Acordei cedo, tomei banho e depois tomei café da manhã, saí de casa direto
para o galpão e, quando cheguei lá, foi a maior festa. Entreguei-me totalmente a
esse casamento, me esqueci das minhas aflições e vivi em piloto automático, me
alimentando da alegria de Mariah e da sua família.
Não pensem vocês que Rocco sumiu, não mesmo, ele está por perto, e foi lá
em casa depois que mandei Jason entregar o DVD para ele. Não o recebi, mas
ouvi felicidade em sua voz enquanto ele falava através da porta do meu quarto.
Chorei muito nesse dia, mas para minha família eu estava me saindo bem.
Eles ainda não tinham me visto desabar, e nem iriam.
Os dias passaram e finalmente chegara o grande dia de Mariah.
Eu estava satisfeita com o resultado do trabalho, porém sabia que meus
sentimentos estavam congelados.
— Filha, você vai ficar linda… e veja essa barriguinha! — Tia Laura
apontou para minha barriga de três meses e meio.
— A senhora está linda demais também.
Eu agradecia todos os dias a Deus pela saúde da minha tia, a gravidez dela
estava indo muito bem.
Fomos para o casamento que seria ao ar livre.
O vestido de noiva estava esplêndido, minha avó realmente era incrível. Na
verdade, tudo estava perfeito, e a família de Mariah era uma coisa linda de se ver.
A cerimônia foi linda, mas lá estávamos eu e minha pedra de gelo.
O casamento estava lindo, perfeito e digno sim de um conto de fadas.
Quase sorri, lá no fundo eu poderia sentir a felicidade, porém era um
sentimento que estava enferrujando, e para lembrar-me dele, eu precisava estar
sempre em contato com Deus e com meu pequeno Milagre.
Eu sei que não estou sozinha, mesmo em minha solidão Deus me acalentou,
me fazendo lembrar Seu amor por mim e que temos que passar por nossas
provações dando Glória a Ele.
Olhei ao redor e soltei um longo suspiro, a cada dia que passava estava
difícil de esconder da minha família o quanto eu estava frágil emocionalmente, me
fazer de forte estava sendo muito duro.
— Eu gostaria de fazer um agradecimento à pessoa que tornou esse sonho
possível. — Todos aplaudiram e Mariah pegou um microfone. — Minha vida toda
eu batalhei para ter as coisas, éramos apenas eu e minha mãe, e juntas lutamos dia
após dia. Eu lembro que uma vez perguntei à ela se os anjos existiam, e minha mãe
me disse que sim, que eles viviam ao nosso redor e que nos protegiam, nos
guardavam. — Meus olhos alagaram de lágrimas e um sorriso singelo se desenhou
em meus lábios. — Eu encontrei meu anjo, e ela era tão linda e especial quanto eu
imaginei minha vida toda. Sinto dentro do meu coração que todo o amor que ela
dedica às pessoas será recompensado. Eu agradeço a você, Victória, por me ouvir,
por me ajudar e, principalmente, por proporcionar que este sonho fosse ainda mais
perfeito do que eu poderia imaginar.
As pessoas começaram a aplaudir e Mariah veio até onde eu estava, levantei
e ela me puxou para um abraço apertado.
— Deus mandou te dizer que o choro pode durar uma noite, mas a alegria
vem pela manhã. Mantenha sua fé, você não está e nunca estará sozinha. — Mariah
me afastou um pouco e sorriu. — Você é amada, nunca duvide disso.
— Eu não duvido. — Sorri, um sorriso largo e verdadeiro, daqueles que
aliviam a alma. — Obrigada pelo abraço, eu estava precisando.
— Sempre estarei aqui para você, quando precisar, é só chamar. Eu ouvirei.
Eu sabia que sim, e essa frase que Mariah me disse antes de ir, era o que eu
precisava ouvir.
Quando eu chamei por Deus, Ele me ouviu, quando eu entreguei minha vida
nas mãos dele, Ele me salvou, sempre me deu inúmeras provas de amor, salvando
meu filho, salvando meu espírito. Dando-me outra chance.
E mesmo estando com essas lembranças que me matam, eu sei que tudo é para
meu amadurecimento e fortalecimento. Minha fé permanece intacta, não existe e
se…
É sim, Deus é meu refúgio e minha fortaleza, nele entregarei meus
sofrimentos e minha dor, acreditando e esperando pacientemente que eu seja salva,
por seu amor por mim e por minha fé nele.
Baixei a cabeça fechando os olhos.

Meu corpo é fraco e suscetível às amarguras do mundo, sujeito a doenças,


a sofrimentos, decepções e ilusões, mas meu íntimo, quem eu sou, o que me faz e
o que me move, permanece intacto. Eu só tenho que me libertar do que me faz
mal, e vou. Vou expurgar essas recordações perversas e me agarrar ao que me
faz feliz.
Minha família.
Mas, principalmente, meu filho.
— Brother, e vou ao banheiro, estou que não me aguento. — Fiz uma careta e
levantei, pegando minhas muletas, a cada dia as sessões de fisioterapia estavam
ficando intensas, eu já recuperei um centímetro de massa muscular, adquiri força,
ademais, estou uma piloto de muletas.
— Meu sobrinho está crescendo e está arrumando espaço, não reclame! —
Sorriu e eu revirei os olhos, me afastando. O salão coberto, onde estava o Buffet,
ficava a uns cinco metros de distância, tranquilamente fui para lá.
— Eu poderia te carregar, você sabe não, é?
— Jason, nem vem, não sou inválida! — Apontei uma muleta para ele.
— Deixa de besteira, eu sou seu irmão, para de frescura!
Estreitei meus olhos para ele, mas longe de se intimidar, ele apenas arqueou
uma sobrancelha.
— Coisa de irmão mais velho? — questionei e ele sorriu largamente.
— Coisa de irmão mais velho super protetor e chato — respondeu e me
pegou no colo.
— Aff, que horror! — reclamei. — Eu posso andar, além do mais estou
expert nessas belezas. — Mexi as muletas e ele riu, me carregando como se eu não
pesasse nada.
Rapidinho chegamos ao salão e Jason me soltou em frente ao banheiro
feminino.
— Fica com minha bolsa. — Entreguei a ele. — Cuidado aí, meu iPod está
ligado.
— Quem traz isso para um casamento, Victória? — perguntou curioso e eu só
dei de ombros.
— Nesses dias eu não desgrudei dele, meio que se tornou algo indispensável.
Entrei no banheiro deixando Jason sorrindo e me chamando de compulsiva
por música.
Se ele soubesse que escuto o dia todo só para tentar não deixar que
pensamentos errôneos façam seu caminho para superfície, deixando-me tranquila,
mesmo que a qualquer momento o vulcão dentro de mim possa explodir.
Entrei em um reservado e fiz o que tinha que fazer. Era engraçado como a
gravidez estava me deixando frouxa, minha bexiga estava encolhendo, mas, enfim,
era por uma causa muito boa, a melhor, na verdade.
Estava lavando minhas mãos quando duas mulheres entram, as reconheci
imediatamente.
As mulheres que eu enfrentei no Palazzo Ducale, em Roma, a mesma festa em
que eu conheci a ex de Rocco e que ele deixou o homem inconsciente. Respirei
fundo e terminei logo o que fazia.
O que elas querem? Como vieram até aqui? Por que estavam aqui? E como
entraram? Era lógico que nenhuma das duas tinha nada a ver com Mariah, na
verdade ela até excluiu uma prima por achar que ela seria muito inconveniente.
Fui para pegar minhas muletas e a morena do trio as pegou primeiro e jogou-
as para longe.
— Por favor, eu preciso delas. — Apontei para as muletas e comecei a ir até
ela, usando a bancada da pia como apoio.
— Eu disse que você seria só mais uma puta na cama dele! — gargalhou a
ruiva e eu me encolhi. — Você foi tão insignificante que ele nem te chutou, apenas
ficou com outras e você é uma idiota, pensou mesmo que seria diferente?
— E não penso nada! — murmurei chegando perto das muletas, mas então
mais uma vez elas foram retiradas do meu alcance.
— Sabe, Rocco gosta de variar, ele gosta de intensidade, como sabemos? —
A morena riu de escárnio. — Ele ficou com nós duas simultaneamente, e sabe
como ele fez para nos dar prazer ao mesmo tempo? — perguntou e gemeu.
Tapei meus ouvidos enquanto ela falava coisas que me feriam profundamente
e das quais tinha uma ideia, então lá estava as imagens que eu cuidadosamente
estava limpando da minha memória.
E enquanto elas falavam eu poderia visualizar tudo. Meu peito doeu, meus
olhos alagando.
— Me deixem ir! — tentei passar, mas fui empurrada, automaticamente
coloquei minha perna ruim no chão, e meu peso corporal recaiu sobre ela.
A dor que senti foi tanta que fiquei tonta, a bílis subiu, e eu gritei, engolindo
meu choro.
— Você é uma coitada, sua puta, Rocco precisa de mulheres, e não de idiotas
que se fazem de boazinha.
Estava apoiada na parede, e elas chegaram perto, neste momento a maçaneta
da porta começou a mexer.
Elas nos trancaram aqui! Comecei a respirar acelerado, estava ficando em
pânico, tudo que guardei durante várias semanas ameaçando sair.
— Você passou de querida a coitada, pobrezinha traída — a ruiva rosnou na
minha cara. — Você é insignificante, não é uma mulher boa o bastante para um
homem como Rocco.
— E alguma de vocês é? — revidei. — Bando de mulheres problemáticas e
invejosas.
Gritei alto quando uma delas apertou minha perna e a outra me deu um tapa
no rosto.
— Somos putas, mas pelo menos não fomos traídas publicamente e nem tidas
como coitadas. Você virou a piada de Londres. Não tem nada que segure um
homem, sua sem sal, burra, infeliz.
Tudo misturava em mim, a dor, o desgosto de concordar com elas. Não pude
me segurar. Quando elas se afastaram, eu escorreguei até o chão.
A dor em engolindo, me quebrando mais uma vez.
A porta foi arrombada e, quando olhei para cima, vi Rocco e Jason junto com
meu pai.
Rocco caminhou até onde eu estava e abaixou-se diante de mim, eu me
encolhi. Mas ele insistiu, e eu permiti, ele olhou dentro dos meus olhos e eu dos
dele. Logo um fogo acendeu em suas íris.
E eu só queria sair dali.
Jason me pegou e antes de sair eu vi Rocco pegando uma das mulheres pelo
pescoço.
— Você vai pagar! — rosnou na cara da mulher que choramingava, eu me
encolhi fechando os olhos. As lágrimas escorriam, meu corpo tremia muito.
— Minha filha, vem com o pai. — Passei dos braços de Jason para os do
meu pai, logo estávamos saindo da festa em alta velocidade, quase nem percebi,
eu só queria uma coisa. Sair dali o mais rápido possível.
— Eu tentei entrar — Jason vociferou batendo em alguma coisa. — Eu tive
que arrombar. Maldição! Quero matá-las… quero matá-las, porra! — ele
continuou dirigindo e blasfemando.
Eu chorava e a cada instante parecia que mais coisa era adicionada à pilha.
— Não ligue para o que elas disseram, sinto muito, filha, pelo que você teve
que ouvir, mas não é verdade, nada daquilo é verdade. Por favor, não se feche de
novo, não faça.
— Me tira daqui, pai — implorei agarrando a sua camisa, meu choro
compulsivo ensopando o tecido. — Me leva embora, não quero ficar aqui, todos
me olham com pena, apontam para mim, não me enxergam como gente, apenas
como uma mulher traída…me tira daqui.
Chorei escondendo meu rosto em seu pescoço e ele me apertou.
— Jason, vamos para o aeroporto.
Não ergui minha cabeça para olhar ao redor, eu só chorava e chorava,
finalmente, e estava colocando tudo para fora.
O resto passou como um borrão, quando dei por mim, estava em um jatinho
com destino ao Brasil. O tempo que esperamos foi apenas para minha tia trazer
meu passaporte, eu queria ir embora logo…
E não estava aguentando.
Não parei de chorar, Jason sentou do me lado e me abraço, depois ele mesmo
pegou meus fones de ouvido e colocou em mim.
— Esqueça o que aconteceu — sussurrou e apertou o play, mas isso foi o
pior, a música que soou descrevia o que e estava sentindo, porém tentando
esconder, e agora já era impossível, eu não conseguia fechar essa porta.
Encolhi-me ainda ais nos braços de Jason e chorei, naquele momento o avião
começou a se mover.
Soltei um pequeno grito de dor, que foi abafado pelo abraço de Jason, doía,
queimava, me destruía… e agora, talvez, e conseguisse respirar e viver, porque
antes eu não estava vivendo.
Porém minha vida antiga ficava para trás.
Longe de esquecer tudo que vivi, cada momento, cada toque… cada palavra
de amor era fresca em minha mente e corpo. Eu revivia todos os dias minha
história de amor com Rocco, porém a dor em meu coração me fez lembrar que ela
acabou.
Doía no mais profundo do meu ser, estou sentindo tudo agora. Tudo e
absolutamente tudo, esse instante foi despejado em mim como uma avalanche…
tudo.
Minhas dores e meus amores.
Agarrei-me ainda mais à camisa de Jason, e ele suportou meus soluços
quebrados, rasgados da minha alma dilacerada.
— Meu Deus — gemi dolorosamente. — Como meu peito dói. — Senti o
aperto de Jason aumentar. — Todos os meus pedaços estão destruídos, eu não
preciso esconder, eu me sinto tão machucada. — Me ajuda, Brother… — implorei
sufocada — por favor, não me deixa sozinha sentindo tudo isso.
Era tão entristecedor saber que todo meu amor não serviu de nada.
— Tudo acabou, Jason. — Finalmente aceitei o fim, minha humilhante
derrota. — Tudo acabou.
A viagem passou de forma indistinta para mim, eu alternava entre momentos
de choro profundo, agonia desesperadora e depressão paralisante.
Não medi horas, meu olhar fixo no nada. Apenas meu pai e Jason ali, para me
abraçarem, para serem minhas âncoras.
— Chegamos, meu amor — meu pai sussurrou e eu o olhei. Meus olhos
alagaram, e meu pai fez carinho em meu rosto. — Eu te amo, vou estar do seu lado,
te ajudando a recomeçar, sei exatamente como se sente. Confie em seu pai, não vou
te decepcionar. — Assenti.
O avião pousou. As portas abriram. Eu me levantei com ajuda e olhei o
pequeno corredor.
No final uma comissária sorria, com um braço de lado, apontando para a
saída.
Fui andando com auxílio de Jason, e quando cheguei à porta do avião, um
calor me saudou, junto com o cheiro de terra nova.
— Bem-vinda ao Brasil.
E aquele seria o meu recomeço.
Eu sinceramente esperava que fosse, pois minha história acabou e eu me sinto
morta.

***

Rocco
Horas antes

Eu estava lutando para não acabar com aquelas três filhas da puta agora
mesmo. O ódio queimava em meu sangue.
Eu ouvi o que elas estavam dizendo, eu ouvi.
Infernos.
Eu não conseguia parar minha ira. A forma como encontrei Victória. Minhas
narinas inflaram, um fogo aterrado queimando meu sistema. Despertando o homem
perverso que há em mim.
— Rocco, solta ela! — Escutei a voz de tia Laura. — Solta, meu filho, não
vale a pena.
— Elas… — rosnei. — Victória. — Travei meu maxilar olhando para as três
vadias juntas espremidas em um canto. Elas estavam com medo de mim.
— Pode deixar que isso não vai ficar barato! — Mariah falou entrando no
banheiro. — Você vai ver uma coisa só! — Ela pegou a ruiva pelo cabelo e
arrastou, a vadia gritava e Mariah estava vestida de noiva e incontrolável.
Assisti três mulheres que fizeram mal a Victória levar uma surra da família da
noiva. Foi algo muito agressivo, e eu não fiz nada, apenas olhei como elas
apanhavam.
Agora eu estava, além de tudo, fora de controle.
Ver Victória encolhida no chão foi demais para mim. Eu me mantive como
uma sombra vigilante, respeitando seu espaço, sofrendo por não participar da
consulta, decepcionado por não estar lá quando souberam que meu filho era
realmente um garoto.
Victória estava reclusa, mas eu estava sendo aceito pela família, eles estão
muito próximos de me perdoar. Eles me deixavam entrar na casa e falar com
Victória através da porta ou da janela, e isso não era exclusividade minha, ela
estava distante de todos.
Eu estava começando a acreditar, até minhas mensagens mia bella respondia,
no começo curtas e simples, depois foi aumentando, e até mesmo pude sentir um
pouco de carinho.
E posso estar enganado, foda-se, eu sou um homem completamente
apaixonado. Então qualquer gesto por parte dela, por menor que seja, para mim, é
muita coisa. Eu estava sendo sutil, controlando minha dor, respeitando os desejos
de Victória, digo, não completamente, pois nunca me mantive distante.
Eu era seu vigia, mas hoje eu cheguei tarde demais, não pude evitar que mais
uma vez minha pequena fosse ferida.
— Dio santo! — Esfreguei meu rosto, Victória parecia destruída.
Nem na nossa conversa no hospital, onde ela quase me matou, foi dessa
forma.
Saí do casamento apressado, precisava vê-la, falar com ela, e desta vez eu
não iria esperar, tinha que tocá-la. Eu precisava.
Aumentei a velocidade da minha moto e corri até sua casa, lá não havia
ninguém, então corri para a cobertura, também vazia. Fiquei feito um louco,
andando sem rumo e em alta velocidade. Depois eu pensei que ela pudesse ter ido
ao médico, afinal, ela…
— Dio mio! — Acelerei minha moto rumo
à clínica onde Victória fazia o acompanhamento do nosso filho. Já que eu não fui
junto, depois, quando Victória saiu, começou a minha consulta.
E infernizei a médica em busca de informações. E ela me deu, muito relutante.
Eu nem precisava ter feito isso, Victória em sua bondade, mandou me
entregar o DVD da ultrassom.
Porra!
Ela não estava na clínica.
Saí de lá desnorteado, pirado mesmo, e voltei para a casa dela
Cheguei lá e esperei. Esperei… esperei…
Até que finalmente eu vejo carro de Victor chegando. Levanto-me e esfrego
minhas mãos nas pernas da calça.
Sinto-me terrivelmente decepcionado quando tia Laura sai do veículo.
— Onde está Victória? — perguntei e ela me olhou, logo começou a chorar.
— Minha menina não suportou toda essa merda em cima dela! — grunhiu
limpando as lágrimas que escorriam. — Ela foi embora… ela está a caminho do
Brasil.
Primeiro eu achei que não tinha ouvido direito. Depois, eu surtei.
Grunhi maldições até minha décima geração, fui até minha moto estacionada e
em um momento de pura raiva coloquei meu pé nela e empurrei.
— Porra! — berrei descontrolado. — Foda-se!
Eu também estava me segurando, sempre buscando controle, mas agora…
agora…
Saquei meu celular e liguei para meu piloto.
— Senhor?
— Prepare o meu avião, estamos indo para o Brasil.
Prévia do último livro da trilogia
Um Conto Quase de Fadas
Victória

Bem-vinda ao Brasil!
Há quantos dias ouvi essa frase? Um? Dois? Ou seria uma semana? Quem se
importa? O tempo parece congelado, eu estou sendo levada, me deixando levar.
Não me importo, não durmo, ou, se durmo, tenho pesadelos, agora não consigo
esconder como me sinto. Perdi as forças, não quero lutar…
Às vezes eu penso no porquê disso tudo, no porquê de eu me sentir assim,
mas principalmente no porquê de eu não conseguir me levantar. Se fecho os olhos
vejo a humilhação, se os abro, penso nela, se dormir eu tenho pesadelos que
acrescentam as cenas descritas pelas mulheres que me confrontaram no casamento
de Mariah. É ainda pior.
Pensei que iria superar, mas não consigo. Parece que eu não tenho tanta fé
assim…
Larguei uma muleta e coloquei a mão na minha janela, se bem que nem era
preciso abri-la para enxergar lá fora, as paredes eram de vidro. Eu estava a muitos
metros de altura, era quase como se eu fosse intocável e estivesse separada do
mundo. Aqui estou isolada desde o dia em que cheguei. Não assisto à TV, não
acesso à internet, não vejo revistas, não saio do quarto. Meu mundo se fechou em
dor e solidão. Agora não me importo com o sofrimento alheio. Estou tão
profundamente enterrada em autopiedade que só penso em mim.
— Não me importo. — Observei o mundo lá fora.
Acho que deveria sentir um pouco de alegria por estar aqui, eu sempre sonhei
em conhecer o Brasil, mas não acho esse sentimento dentro de mim. Minha
gravidez é o único ponto de conexão com a realidade, ainda assim, a alegria que
sinto com meu bebê, para mim, ainda parece pouco. É como se eu não fosse
merecedora desse milagre.
— Victória. — Ouço a voz do meu pai e sua batida suave na porta.
Não respondi.
— Filha, sua médica chegou, hoje é dia de cuidar do Gianne.
Fechei os olhos e uma lágrima escorreu. Devagar comecei a caminhar, não
fazia mais fisioterapia, não me importava em ficar livre das muletas, eu só cuidava
do meu bebê, o resto não interessava.
Meu pai sorriu, mas eu passei por ele sem dizer nada, em seguida passei por
Jason, não o olhei, eu tinha vergonha de mim, de como estava e de não conseguir
sair dessa situação. Ele não sai da minha cabeça. Meus olhos estavam
embaçados, meu corpo cansado, enjoado. Andava meio perdida quando uma mão
suave me tocou o ombro, senti-me encolher, mas então fui puxada para um abraço
que não retribuí.
— Minha filha, eu sei que dói agora, e provavelmente amanhã também vai
doer, mas, por favor, reaja.
O abraço apertou, mas não havia calor. Só frio.
— Olha para mim. — Senti o toque no meu rosto e logo tia Laura entrou em
foco. — Erga a cabeça, siga em frente, está me matando te ver assim.
— Não importa onde eu esteja… — Minha voz soou arranhada, ela foi pouco
usada ultimamente. — Ele não sai da minha cabeça.
Os olhos de tia Laura encheram de lágrimas, e ela me abraçou de novo.
Não retribuí. Sem calor. Estava frio demais.
— Filha, você está gelada, minha menina.
— Eu o sinto à minha volta — falei distante. — Não consigo esconder. Meu
coração sofre.
— Senta ela aqui, por favor… — Ouvi uma voz estranha e fui guiada,
cambaleei, e alguém me amparou.
Antes que pudesse reagir, estava sendo carregada até um sofá.
— O que você está sentindo? — Não respondi, era como se não fosse comigo
que falava. — Victória, olha para mim.
Ergui minha cabeça e vi uma médica diferente da outra, ou era a mesma? Não
importa realmente.
— O que você está sentindo? — torna a perguntar, eu só a encarei durante
muito tempo.
A mulher me devolveu o olhar de maneira firme e decidida.
— Não sinto nada. — Fechei os olhos. — Durante um tempo eu estava bem,
agora não.
— Você deve sentir alguma coisa — insistiu.
— Nada… — respondi apática.
— Se esforce, procure algum sentimento, o que esteja mais aflorado.
Olhei para a mulher de forma mais atenta. Ela tinha um caderninho apoiado
nas mãos, estávamos sozinhas. Não percebi as pessoas saindo. Gostaria de poder
sair sem ser notada também.
— Vamos lá, abra seu coração comigo, se continuar assim vai acabar
prejudicando seu bebê.
Procurei algo ao qual agarrar, mas não encontrei nada, é como se um buraco
negro houvesse me sugado, estou presa em um caos confuso onde o nada parece
ser tudo.
— Quem é você? — perguntei desviando o foco de mim.
A mulher largou o caderninho e veio sentar do meu lado, sem minha
permissão, ela pegou minhas mãos.
— Meu nome é Rosana Silva, sou psiquiatra e amiga do seu pai. Estou aqui
para te ajudar, eu desejo que me permita isso.
Inclinei minha cabeça um pouco de lado. Meu pai?
— Você gosta dele?
Ela arregalou os olhos, mas logo pigarreou, parecendo assumir o controle de
seu pequeno susto.
— Estou aqui por você, vamos lá, faça um esforço — insistiu —, tudo que
você sente é transmitido para o bebê.
Encolhi-me, sim, eu realmente estava sendo uma péssima mãe.
— Faça um esforço. — Apertou minhas mãos e eu as retirei.
Esfreguei meu rosto.
— Cansaço. — Olhei ao redor, querendo fugir. — Dormir não me faz bem.
— Por quê?
— Pesadelos.
— Com o que? — perguntou interessada.
— Não vou dizer.
Ficamos em silêncio. E eu estava bem assim.
— Você é uma pessoa religiosa?
— Já respondi isso antes. Em algum lugar.
— Mas não falou para mim, então vamos lá.
— Acredito em Deus acima de todas as coisas. Ele está me sustentando,
mesmo que agora eu não esteja com o juízo no lugar.
— Como assim?
— Não estou conseguindo superar — desabafei. — A corda envolta em meu
pescoço aperta mais e mais. — Olhei para ela atenta. — Me sinto sufocar, você
consegue entender?
— Você nunca passou por algo assim — falou suave, escolhendo com
cuidado as palavras usadas. — E sua decepção foi grande, você não está
conseguindo reagir, porque não sabe como lidar, mas agora estou aqui para te
ajudar a sair dessa e recomeçar.
Impossível!
— Você pode me fazer esquecê-lo? Pode tirá-lo da minha cabeça e dos meus
pensamentos constantes? — Respirei fundo. — Você pode trocar meu coração?
Preciso de outro que seja tão bom quanto o antigo que eu tinha. Não gosto dessa
Victória, gosto da antiga, mas não consigo encontrá-la em parte alguma…
— Vamos com calma, tudo bem? — Doutora Rosana tentou sorrir. — Vamos
subir um degrau de cada vez, vamos com paciência. Apenas confie em mim, eu vou
estar aqui para você.
Concordei porque era o que deveria fazer. Talvez eu precisasse mesmo de
ajuda, e de tanto que pedi a Deus em meus piores momentos de angústia
silenciosa, Ele me atendeu, enviando alguém.
— Doutora…
— Me chame apenas de Rosana. — Sorriu e eu concordei, não retribuindo
seu gesto.
— Eu gostaria de dormir, pode me ajudar com isso? — Ela me olhou um
momento, mas logo negou.
— Por enquanto faremos assim, quando estiver próximo das nove da noite
você vai diminuindo o ritmo, leia alguma coisa, prepare-se para dormir e, se
mesmo assim não conseguir, me ligue que venho correndo.
— Tudo bem. — Conversamos mais um pouco, eu queria mesmo era voltar
para o meu quarto.
Quando aquela visita inesperada acabou, logo outra chegou, e esta era outra
médica. A nova obstetra. Pedi que fôssemos para o meu quarto, e lá fizemos nossa
consulta clínica. Eu estava abaixo do peso e com treze semanas mais ou menos,
logo ela pegou uma caixinha e me pediu para deitar em minha cama.
— Esse é o aparelho sonar — falou sorrindo de leve, depois ela colocou um
gel e ficou mexendo com o aparelho em minha barriga.
Quando o som do coração do meu filho se fez ouvir, senti que um pouco do
gelo que me envolvia rachava. Minhas emoções eram como um elástico de
pressão. Em momentos como esse eu me sentia melhor, mas depois toda melhora
começava a retroceder, encolhendo-se até não sobrar nada.
— Estamos no início de março, pelos meus cálculos, o bebê vai nascer em
meados de agosto, vamos cuidar para que você chegue com tranquilidade até as
quarenta semanas, seu bebê vai nascer saudável, tenho certeza. — Acenei,
esperava que assim fosse, jamais me perdoaria por prejudicar meu filho, mesmo
sem querer. — Você precisa tomar vitaminas para se fortalecer, pois está pálida,
abaixo do peso, temo complicações. O que me deixa tranquila é que sua pressão
está ótima, então vamos lá, mocinha, vamos engordar e ajudar esse bebê a ficar
forte.
Assenti quase ansiosa.
— Vou passar exames de acompanhamento, quero ver como anda sua anemia,
devido ao seu acidente, você perdeu muito sangue, preciso ver como está.
Desviei o olhar, e meu pai a chamou.
Fiquei olhando a parede cor-de-rosa do meu quarto, até que Jason entrou em
meu campo de visão, sua expressão parecia cansada. Em seus olhos existia muita
angústia.
— Brother… — Estiquei um braço, aproveitei e deitei de lado, para poder
alcançá-lo, lentamente comecei a fazer carinho em seu rosto. — Eu adoro você. —
Ele fechou os olhos.
— Victória, me sinto péssimo — proferiu baixinho. — Não suporto te ver
assim. Acaba comigo, sabe? Quero você de volta, como antes.
— Eu também quero. — Olhei em seu rosto. — Mas está complicado. Não
vejo saída agora, me sinto afogando.
— Você é a única pessoa que eu tenho, digo, você e o bebê. — Apreensão
marcava cada palavra dita. — Todo dia te vejo mais e mais distante, antes você
pareceu melhorar um pouco. Depois daquele episódio no casamento você ficou
pior. Nem música escuta mais.
Em silêncio, continuei acariciando seu rosto, não havia o que dizer. Eu nem
saberia por onde começar.
— Eu te amo, Victória, como se você fosse meu próprio sangue, sinto em meu
coração essa conexão. — Uma lágrima rolou em seu rosto e eu a colhi com meu
polegar. — O que você me ofereceu é o que cheguei mais perto de ter na minha
vida. Por favor, não me tire isso.
Neste instante eu chorei. A dor de Jason deu passagem à minha, e quando vi,
já era tarde.
— Você é meu irmão e nunca vai deixar de ser. — Tentei sorrir, não
funcionou e ele percebeu. — Tudo passa, e isso que me oprime também irá passar.
Um dia, quem sabe?
Ficamos em silêncio durante bastante tempo, nossos olhares fixos, era quase
como se conversássemos, nos compreendíamos mutuamente. Desenvolvemos esse
laço fraternal e, para mim, ele era inquebrável.
Notas
[←1]
Linda flor, cuidado por onde anda! Você se machucou?
[←2]
Senhorita, eu que peço perdão!
[←3]
Minha pequena.
[←4]
É tão bela, tão magnífica.
[←5]
Delícia.
[←6]
O único.
[←7]
Acidentes acontecem.
[←8]
Eu sinto falta daqueles olhos azuis.
[←9]
Eu sinto falta dos seus olhos azuis…/ E do jeito que me beijava a noite/ Eu sinto saudade da
maneira que dormíamos…
[←10]
Era será amada… ela será amada…
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Notas

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