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TUDO O QUE EU NÃO POSSO TER

Copyright© 2024 – Fernanda Santana


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qualquer forma e/ou qualquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo
fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados
sem permissão escrita da autora.

Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com nomes, datas e


acontecimentos reais é mera coincidência.

Design de capa: Bruna Silva


Diagramação: Autora Jack A. F.
Ilustração: Little Pink Design – Rosa Aguiar
Revisão: Deborah A. A. Ratton
Leitura sensível: Luana Dias
Leitura crítica: Liz Stein
SINOPSE

O delegado federal Augusto Ferraz não possui muitas ambições na


vida, a não ser dar à sua filha tudo o que ela merece. Viúvo, nem sequer tem
a intenção de se apaixonar novamente.
Bárbara Deodato perdeu a mãe recentemente e pensou que já estava
no fundo do poço, até uma forte tempestade levar embora o pouco que
ainda lhe restava.
Augusto só queria ajudar a melhor amiga de sua filha quando
decidiu acolhê-la em sua casa. O que ele não previa era que a garota de
sorriso tímido despertaria não apenas seu instinto protetor, como também
um desejo incontrolável.
Agora vivendo sob o mesmo teto, resta saber se eles conseguirão
lutar contra o próprio desejo e ignorar a diferença de quase vinte anos de
idade para se entregarem a uma paixão avassaladora e deliciosamente
proibida.
SINOPSE
NOTA DA AUTORA
PRÓLOGO - Augusto
CAPÍTULO 1 - Augusto
CAPÍTULO 2 - Bárbara
CAPÍTULO 3 - Bárbara
CAPÍTULO 4 - Augusto
CAPÍTULO 5 - Bárbara
CAPÍTULO 6 - Augusto
CAPÍTULO 7 - Bárbara
CAPÍTULO 8 - Bárbara
CAPÍTULO 9 - Bárbara
CAPÍTULO 10 - Augusto
CAPÍTULO 11 - Bárbara
CAPÍTULO 12 - Bárbara
CAPÍTULO 13 - Bárbara
CAPÍTULO 14 - Augusto
CAPÍTULO 15 - Augusto
CAPÍTULO 16 - Bárbara
CAPÍTULO 17 - Augusto
CAPÍTULO 18 - Bárbara
CAPÍTULO 19 - Bárbara
CAPÍTULO 20 - Bárbara
CAPÍTULO 21 - Augusto
CAPÍTULO 22 - Augusto
CAPÍTULO 23 - Bárbara
CAPÍTULO 24 - Bárbara
CAPÍTULO 25 - Augusto
CAPÍTULO 26 - Bárbara
CAPÍTULO 27 - Bárbara
CAPÍTULO 28 - Augusto
CAPÍTULO 29 - Bárbara
CAPÍTULO 30 - Bárbara
CAPÍTULO 31 - Bárbara
CAPÍTULO 32 - Augusto
CAPÍTULO 33 - Bárbara
CAPÍTULO 34 - Augusto
CAPÍTULO 35 - Bárbara
CAPÍTULO 36 - Augusto
CAPÍTULO 37 - Bárbara
CAPÍTULO 38 - Augusto
CAPÍTULO 39 - Bárbara
CAPÍTULO 40 - Augusto
CAPÍTULO 41 - Bárbara
CAPÍTULO 42 - Augusto
CAPÍTULO 43 - Bárbara
CAPÍTULO 44 - Augusto
CAPÍTULO 45 - Bárbara
CAPÍTULO 46 - Augusto
EPÍLOGO 1 - Bárbara
EPÍLOGO 2 - Bárbara
AGRADECIMENTOS
BIOGRAFIA
REDES SOCIAIS
A todas vocês que, por algum momento, não se sentiram dignas de ser
amadas.
Não sejam tão cruéis consigo mesmas.
Vocês merecem o mundo.
NOTA DA AUTORA

Olá, leitor (a)!


Se você chegou até aqui, obrigada.
Significa muito para mim que tenha se interessado em meu trabalho.
Antes de começar a leitura, quero reforçar alguns pontos que considero
importantes.
Aqui vamos conhecer a rotina de uma protagonista diabética e foi feita a
leitura sensível por uma pessoa também diabética para que a história ficasse
o mais fiel possível à essa realidade.
Então, se você também tem DM1 preciso alertar para um possível gatilho
durante a história. Em um momento do livro, Babi tem uma crise por
hiperglicemia e, embora seja retratada com sensibilidade, caso seja um tema
delicado para você, peço que não prossiga com a leitura.
O seu bem-estar vem em primeiro lugar.
No mais, espero que goste dessa aventura e se apaixone por #Auba tanto
quanto eu.
Um beijo,
Fê Santana
PRÓLOGO - Augusto

Quatorze anos antes

— Papai, pode pegar o Pluto?


— Claro, girassol.
Levanto-me da cama e busco seu cãozinho de pelúcia no móvel,
acomodando-o ao seu lado.
— Tudo certo agora, princesa?
Confiro seu cobertor, apalpo o travesseiro, e minha filha me olha
com o semblante triste.
E isso esmaga o meu coração.
Já não basta a dor que eu carrego no peito por ter perdido alguém
que eu amava por minha culpa, ainda preciso ver a tristeza nos olhos de
uma criança de quatro anos de idade por ter perdido a mãe.
Toco os cabelos macios de Giovana e faço um cafuné, vendo a
pequena soltar um suspiro baixo.
— Posso pedir só mais uma coisinha? — a sua voz baixa apunhala o
meu peito.
— Pode o que você quiser, meu amor.
— Papai, dorme comigo hoje? Eu não quero ficar sozinha.
E aquele medo em seu olhar me golpeia mais uma vez, porque ele
não deveria estar ali.
Ela deveria estar sorrindo, se divertindo, e não vivendo o luto de
uma forma tão precoce.
— Mas vai ter que dormir abraçadinha comigo, senão o papai não
vai caber na sua cama — sugiro, tentando aliviar um pouco a tensão.
Ela concorda de pronto e isso faz o meu coração bater um pouco
mais calmo.
— Eu prometo ficar quietinha.
Tiro os chinelos e apago a luz do quarto, deixando apenas o seu
abajur aceso.
Acomodo-me ao seu lado na cama e entro nos cobertores, vendo
minha pequena se aconchegar em meus braços, agarrada ao Pluto, seu fiel
companheiro.
— Pode dormir, Gio. O papai vai ficar aqui com você.
Beijo seus cabelos e encosto a cabeça na dela, acariciando os fios
macios e cheirosos.
Só o cheirinho da minha filha para me trazer um pouco de conforto
agora.
— Papai… — sua voz infantil surge, após um longo silêncio. — Por
que o Papai do Céu levou a mamãe?
E essa pergunta estilhaça o meu coração.
Em milhares de pedacinhos.
— Filha… — Beijo seus cabelos mais uma vez e penso numa forma
de responder isso para uma criança de apenas quatro anos. — Eu não sei…
Dói muito, não é? — pergunto e ela acena, balançando a cabeça devagar. —
O papai também está sentindo muita falta dela. Está doendo muito…
Fecho os olhos e luto contra a vontade de chorar, porque não quero
fraquejar perto dela.
Eu não posso fraquejar perto dela.
Preciso engolir a dor e ser forte pela minha filha.
Ela precisa de mim.
— E um dia ele vai devolver ela pra gente?
Comprimo os lábios e sinto um bolo se formar em minha garganta.
— Infelizmente não, girassol. A mamãe não vai voltar… Mas nós
vamos encontrá-la um dia, sabia?
— Nós vamos?
— Sim… — Continuo acariciando os seus cabelos e, mesmo com a
iluminação baixa, vejo o quanto ela me observa atenta. — Quando chegar a
nossa hora, nos encontraremos todos lá em cima.
— Ah… E será que demora muito?
— Não sei, filha. Mas ainda temos muitas coisas incríveis para
fazermos juntos antes disso.
A pequena assente, aconchegando-se mais em meu peito.
— Eu tô com saudade dela.
Ah, filha…
Eu também estou…
Você não faz ideia do quanto.
Porra…
São só três dias desde que o meu mundo desabou e parece que foi
uma eternidade.
É uma dor sufocante, uma sensação de impotência…
Caralho!
— Eu também, princesa. O papai sente muita falta dela. Mas olha,
de onde ela estiver, ela vai sempre cuidar da gente.
— É mesmo? — pergunta, erguendo os olhos azuis para mim.
— Claro que sim, girassol. A mamãe vai cuidar de você lá de cima.
E o papai vai cuidar de você por aqui, combinado? Eu nunca vou sair do
seu lado.
Afasto-me dela um pouquinho e toco seu rosto lindo, vendo-a
assentir um pouco mais relaxada. Sei que está devastada, sei que ainda
sente uma dor dilacerante, assim como eu, mas estou tentando dar o meu
melhor para que ela não se sinta sozinha.
Temos um longo caminho pela frente, mas farei de tudo para
preencher um pouco do vazio em seu coração que a ausência de sua mãe
trouxe.
— O papai vai cuidar de você, Gio — prometo, acolhendo-a em
meus braços mais uma vez.
— E eu posso pedir só mais uma coisinha?
— Claro que pode.
— Não quero que o Papai do Céu te leve com ele. Não quero ficar
sozinha.
O seu pedido, ainda que inocente, apunhala a minha alma.
Porra…
— Eu sei que não, meu amor. Mas o papai está aqui com você, não
está? — pergunto e ela faz que sim. — Então pronto. Eu sempre farei o
impossível para não sair de perto de você, combinado?
Não sei se ela parece convencida, mas Gio assente e puxa o
cachorro de pelúcia para mais perto dela, fechando os olhos em meu colo.
— Boa noite, princesa. O papai ama você.
A garotinha permanece em silêncio em meus braços e eu acaricio
seus cabelos macios, sentindo o calor do seu corpinho contra o meu, em
uma tentativa de acalmar meu coração.
Nunca pensei que fosse passar por algo tão doloroso na vida aos
vinte e nove anos de idade.
Eu nem sei como vou viver daqui para a frente, sem a minha esposa.
Mas de uma coisa eu tenho certeza:
Pela minha filha farei de tudo, de tudo mesmo.
Giovana nunca estará sozinha.
CAPÍTULO 1 - Augusto

Saio do vestiário no prédio anexo ao da Polícia Federal e sigo para o


meu gabinete, encontrando Murilo pelos corredores.
— Nem me esperou para malhar hoje, delegado — ele reclama,
acompanhando meus passos pelo prédio da Superintendência Regional.
— Cabeça cheia, Murilo — solto. — Correr sempre clareia a minha
mente, por isso fui direto para a academia.
Uma hora do nosso dia de trabalho deve ser destinada a atividades
físicas e eu costumo esperar meu agente e parceiro de longa data para ir
comigo. Mas hoje já cheguei agitado a este lugar, principalmente depois do
material que recebi ontem.
— É algum caso novo? — pergunta e eu confirmo, abrindo a porta
do meu gabinete.
— Sabe aquele caso da carga de cocaína vindo da Tríplice
Fronteira? — indago me referindo à divisão de fronteiras entre Brasil,
Paraguai e Argentina, que fica próximo a Foz do Iguaçu.
— Sei… Não conseguimos chegar ao mandante.
— Ainda — retruco. — Teve uma operação no Mato Grosso onde
foram apreendidas duas toneladas de coca vindas da Bolívia e eu acho que
tem ligação com esse caso.
— É mesmo?
— Meu faro não erra, Murilo. — Jogo-me na minha cadeira e ligo o
notebook para acessar os e-mails que recebi ontem. — Estive em contato
com o delegado da fronteira de lá e colhi algumas informações. Vou
encabeçar esse projeto e conseguir provas suficientes para instaurar um
inquérito.
Os olhos do agente brilham e ele se inclina sobre a minha mesa.
— Me dê trabalho, delegado.
Coço a barba e assinto.
Passo os próximos minutos explicando a ele tudo o que temos e
direciono sobre como agir daqui para a frente. Se meu instinto estiver certo,
vamos conseguir desarmar uma quadrilha não só da fronteira sul do Brasil,
como em toda a América Latina. Porque duvido muito que a atuação desses
caras se limite apenas a essas duas fronteiras.
Aproveitando o embalo, chamo Julia e Felipe Braga, outros dois
agentes da minha equipe.
E aqui, vendo-os reunidos comigo debatendo nosso plano de ação,
eu penso no quanto eu amo esse trabalho.
Entrei para a Polícia Federal com apenas vinte e quatro anos de
idade, onde eu era só um garoto novo cheio de sonhos. Agora já são
dezenove anos de polícia e dez como delegado da DRE[1], aqui em Curitiba.
Já sou um veterano por aqui, um tanto calejado pelas porradas que
tomei pelo caminho, mas adquirindo cada vez mais experiência ao longo
dos anos para dar o meu melhor.
Eu sei que nasci para esse trabalho.
Depois de deixar minha equipe a par de tudo e passar as
coordenadas, saio do gabinete e sigo pelo corredor para buscar um copo de
café.
Estou virando um pouco de açúcar na bebida quente, quando sinto
um perfume feminino me invadir.
Viro-me e vejo Elisa, a delegada da DELEFAZ[2] se aproximar com
um sorriso no rosto.
— Estressado hoje, doutor? — ela pergunta, apontando para o copo
em minhas mãos, que mexo com uma força além do normal.
— E quando é que não estamos? — retruco.
A delegada é uma mulher muito bonita, morena de um corpo
invejável, e Murilo já me falou mais de uma vez que ela dá um mole
absurdo para mim. Eu finjo que não percebo, porque nunca gostei de
misturar as coisas.
Me envolver com alguém do trabalho é sinônimo de dor de cabeça e
a última coisa que eu preciso agora é de mais uma na minha vida.
Percebo que a morena vai falar mais alguma coisa, mas eu a corto,
seguindo pelo corredor de volta para o meu gabinete, com o copo de café
nas mãos.
Adentrar a sala vazia me dá uma tranquilidade para trabalhar por
mais algumas horas até o horário de almoço.
Estou prestes a sair da sala quando sinto meu celular vibrar dentro
do bolso.
— Oi, Gio — atendo à ligação da minha filha.
— Pai, consegue passar no restaurante antes de vir para casa? O
pessoal está sem entregador hoje — diz e eu esfrego o rosto, fazendo uma
careta.
— Foda que eu estou de moto hoje — reclamo.
— Vou pedir para eles deixarem a embalagem bem fechadinha —
explica e eu suspiro.
— Tudo bem. Em dez minutos eu chego lá.
— Beleza.
Saio do prédio da polícia e sigo até o estacionamento de motos.
Destravo o capacete da corrente e o visto, montando na minha companheira
de todos os dias.
Uma BMW R18 preta.
Mil e oitocentas cilindradas.
Uma moto do caralho.
Quando o ronco do motor me atinge, eu sorrio antes de pegar as ruas
da cidade, pilotando com calma em direção ao restaurante.
Andar sobre duas rodas é algo que sempre me acalmou, que sempre
foi a minha terapia.
Em meus dias de merda, eu rodo a cidade inteira, sem direção
alguma, pelo simples prazer de pilotar.
Pela sensação de liberdade que esta moto me traz.
Quando chego ao restaurante do bairro, busco os pedidos que
Giovana deixou prontos e acomodo com cuidado no baú, torcendo para
ficarem inteiros até chegar em casa.
Minha filha faz faculdade de manhã e eu faço intervalo de duas
horas para o almoço, então consigo fazer essa refeição em casa com ela
todos os dias. Mas, como nenhum dos dois tem tempo para preparar o
almoço, já é de costume pedir no restaurante próximo à nossa casa.
Em menos de cinco minutos, estou abrindo o controle da garagem
para entrar, vendo Giovana segurar o Pluto pela coleira. Quando o portão se
fecha, ela solta o cachorro, que vem em minha direção com seu costumeiro
cumprimento.
— E aí, carinha?
Afago o pelo preto do pitbull, que abana o rabinho eufórico, como
todas as vezes que me vê chegar.
Chega a ser engraçado chamar um cão dessa raça de Pluto, mas eu
não tive muita chance de escolha. Não quando ele foi nomeado por uma
criança de onze anos de idade.
— Será que chegou inteiro? — Gio pergunta ao me ver abrindo o
baú da moto.
— Bom, na pior das hipóteses comeremos um mexido.
A careta da minha filha é impagável e eu rio.
Inclino-me para beijar o seu rosto, como todas as vezes que a vejo.
— Como foi a prova hoje, Gio? — pergunto, seguindo ao seu lado
para dentro de casa, de onde vamos até a cozinha.
— Acho que eu fui bem! — responde, soltando um suspiro. — O
professor de Direito Civil não é lá muito amigável, mas acho que me saí
bem.
— Tenho certeza de que sim.
Assim como eu, minha filha escolheu estudar Direito, mas seu
sonho sempre foi ser juíza. De mim, ela tem todo apoio e suporte de que
precisa.
Abro as embalagens e vejo que nosso almoço está intacto, então
deixo-o sobre a mesa, antes de seguir até os armários para pegar pratos e
talheres. Giovana abre a geladeira a fim de pegar refrigerante e nos
sentamos para almoçar.
— Hoje devo sair com a Babi — ela fala antes de dar a primeira
garfada.
— E aonde vocês vão? — pergunto.
Não por querer controlar aonde ela vai, mas para me certificar de
que é um lugar seguro.
— É um barzinho novo no bairro São Francisco — explica. — Vai
ter música ao vivo lá.
Assinto e dou mais uma garfada em meu prato de comida.
— Vai de Uber, né? — sugiro e ela assente.
— Vou sim, devo tomar uns drinques.
Confirmo, mais tranquilo.
Assim como eu, Giovana tem sua própria moto e pilota com
bastante cuidado pela cidade, indo para a aula todos os dias. Mas, para seus
programas noturnos, eu prefiro que ela não se arrisque.
— Certo. Sua bolsa está abastecida? — pergunto e ela sorri de boca
cheia.
O olhar que me lança é aquele que tem todo o meu coração.
— Sim, senhor delegado. — Reviro os olhos para ela, que ri. —
Spray de pimenta dentro da validade e camisinhas — repete, como de
costume, e eu assinto satisfeito.
— Perfeito.
Não sou um cara alienado que acha que os filhos nunca crescem. Na
verdade, eles crescem rápido demais e é preciso prepará-los para o mundo.
E, por isso, sempre conversei com Giovana e a orientei sobre os perigos,
ensinando-a a se defender quando preciso. Além do mais, não sou um pai
careta que não conversa sobre sexo. Sempre conversamos sobre tudo nesta
casa e a relação de confiança que nós dois temos sempre foi a base de tudo.
— Você não vai sair também? — ela pergunta e eu nego de pronto.
— Devo ficar até mais tarde na delegacia hoje.
— Mas hoje é sexta-feira, pai…
— Sabe que para mim isso não faz a menor diferença, não é? —
solto e ela bufa.
— Hoje não tem um happy hour depois do trabalho?
— Sempre tem, mas dessa vez eu não vou.
É bem verdade que toda sexta-feira o pessoal do trabalho para em
algum bar para beber uma cerveja antes de ir para casa. Eu até vou com eles
algumas vezes, mas hoje não estou a fim.
Minha cabeça está fervilhando demais para pensar em diversão.
— Eu tentei, né? — Gio suspira, terminando o almoço, e eu me
levanto junto com ela para lavar a louça.
— Não se preocupe comigo, filha — falo. — Vá se divertir.
— Quando eu chegar, você estará acordado? — indaga e eu assinto.
— Como todas as vezes.
Giovana é jovem, tem só dezoito anos e está na fase de curtir festas
e baladas com os amigos. Eu não a impeço de ir a nenhum lugar, apenas
dou todas as recomendações de sempre e a espero chegar.
Eu não prego os olhos até ouvir o som do portão se abrindo me
mostrando que minha filha chegou em casa em segurança.
Essa morena de olhos azuis é o que eu tenho de mais precioso no
mundo.
— Amanhã você estará de folga, ou tem plantão? — pergunta,
guardando o último talher na gaveta.
— Ao que tudo indica, estarei em casa.
— Se importa que eu chame a Babi para almoçar aqui?
— De forma alguma.
— Ela ainda está muito abalada com a perda da mãe e eu sei como
se sente — diz me encarando com compaixão. — Fico com pena de deixá-
la almoçar sozinha.
— Claro, Gio. Amanhã pensamos no que podemos fazer para o
almoço, ok?
— Beleza. Obrigada, pai.
Saímos da cozinha e eu me jogo no sofá, ligando a TV no jornal
diário para ver as notícias antes de voltar para o segundo turno de trabalho.
Giovana prefere ir para o quarto, tirar um de seus habituais cochilos antes
de pegar nos estudos mais tarde.
Esparramado no estofado, vejo o momento em que Pluto para no
tapete ao meu lado e estico a mão para fazer-lhe um afago.
E neste momento, aqui sozinho, eu penso um pouco na minha vida.
Em como hoje ela gira em torno de trabalho, projeto social e minha
filha.
O Augusto de vinte anos atrás jamais imaginaria que a uma altura
dessas estaria sozinho.
Eu, que sempre fui sonhador, sempre tive vários planos para o
futuro, me peguei tendo que recalcular a rota de uma forma um tanto
brusca.
Mas nem por isso sou menos feliz ou não me sinto orgulhoso da
vida que levo.
Pelo contrário.
Olhar para Giovana, essa mulher forte e independente que divide a
casa comigo, me dá um orgulho tremendo.
Por ela, sigo dando o meu melhor todos os dias.
CAPÍTULO 2 - Bárbara

— Amiga, você não vai comer nada mesmo? — Giovana me


pergunta logo que fechamos nossos pedidos com o garçom.
Eu pedi apenas um drinque com suco de frutas e ela, uma porção de
petiscos, além de sua bebida.
— Eu já comi antes de sair de casa, Gio — explico a ela, um pouco
alto demais devido ao som do barzinho onde estamos. — Prefiro apenas
beber uns drinques com você.
— Então, se você já está alimentada, tudo certo!
Minha amiga sorri para mim e eu penso na sorte de ter alguém tão
incrível na minha vida. Quando perdi a minha mãe, meu mundo desabou e
foi essa garota aqui que esteve ao meu lado segurando as pontas para mim,
não me permitindo desistir.
Enquanto eu crescia, éramos apenas eu e minha mãe no mundo e
perdê-la foi algo muito difícil para mim. Continua sendo, na verdade, mas
tenho vivido um dia de cada vez. Tem sido um pouco menos difícil a cada
dia.
— Babi, você já tem planos para amanhã? — ela me pergunta logo
que nossos drinques chegam, e tomamos um gole pelo canudinho.
— Ver seriados o dia todo. — Dou de ombros e ela ri.
— E você poderia mudar esses planos caso surgisse uma ideia
melhor? — Sua sobrancelha arqueia e ela me dá uma piscadinha.
— O que tem em mente, dona Giovana?
— Amanhã meu pai vai estar de folga e eu pedi para ele fazer um
churrasco pra gente. Você topa?
— Claro que eu topo! A que horas eu posso ir?
— Ah… Como vamos chegar em casa tarde hoje, não precisaremos
acordar cedo amanhã. Pensei em meio-dia, pode ser?
— Perfeito, Gio. Assim dá tempo de eu me organizar para ir.
Minha amiga bate palmas de empolgação e eu sorrio.
Sei o quanto ela tem se esforçado para me distrair nesses últimos
meses e só consigo me sentir grata por tudo isso.
— Meu pai ia adorar essa música — diz quando a banda começa a
tocar “Epitáfio”, de Titãs.
— Ele gosta? — pergunto, bebendo mais um pouco do meu drinque.
— Da banda não muito, mas dessa música sim.
— Ele não quis vir hoje? — indago e ela faz uma careta.
Embora sejamos amigas de longa data, conheço mais de seu pai pelo
que ela fala, já que convivo muito pouco com ele.
Augusto Ferraz é um cara de poucas palavras e eu sempre me senti
um meio intimidada em sua presença.
— Tirar meu pai de casa é quase um fenômeno da natureza, Bá —
ela solta e eu rio baixo. — Às vezes ele sai com a turma do trabalho para
um happy hour depois do serviço, mas hoje não é um desses dias.
— É o jeito dele, Gio. Não pode forçá-lo a algo que não queira.
— Eu sei. — Ela faz um biquinho fofo. — É só que me preocupo
com ele, sabe? Meu pai é muito novo para ser tão sozinho.
A porção de petiscos dela chega e minha amiga começa a beliscar,
enquanto ouvimos a música ao vivo.
— Ele só tem quarenta e três anos — retoma o assunto e eu me
inclino para ouvi-la melhor. — E quase não se diverte, não sai com os
amigos… Nem sei se meu pai se encontra com mulheres — ela fala mais
baixo agora.
— Pode ser que ele faça e não deixe que você fique sabendo. —
Dou de ombros.
— É… Pode ser. Mas ainda assim… Não namorar ninguém? Nunca
mais? Ele é viúvo há quatorze anos, Babi. Já deu tempo de encontrar uma
nova pessoa.
— Talvez não seja o que ele quer, amiga. Pode ser que esteja bem
sozinho.
Gio me analisa com o cenho franzido.
— Eu só me preocupo com ele, entende? Eu sou sua única
companhia e não vou morar com meu pai para sempre. Um dia vou precisar
sair de casa…
— E ele vai ficar bem, tenho certeza. Ele criou uma garotinha
sozinho e deu o seu melhor, não foi? Então vai se sair bem de novo.
— É, mas…
— Além do mais — interrompo-a. — Como você disse, seu pai
ainda está novo. Então pode ser que, daqui para a frente, encontre alguém.
— Espero muito que sim. Meu pai é um partidão, sabe? Além de ser
um gato, é esforçado, dedicado, excelente pessoa.
— Imagino que sim… Por isso pode ficar tranquila, que,
independentemente de encontrar alguém ou não, ele vai ficar bem — afirmo
e ela me encara antes de assentir.
Acho muito bonita a relação de cumplicidade dos dois, me lembra
muito o que eu vivi com minha mãe. Assim como eu, Gio vive sozinha com
o pai e sempre foram os dois por toda a vida. E o que mais me impressiona
no relacionamento deles é o quanto Augusto prepara Giovana para o
mundo.
Minha amiga só tem dezoito anos e já sabe pilotar uma moto, lutar
para defesa pessoal e até mesmo atirar. Lembro-me de quando ela me
contou da primeira conversa deles sobre sexo e camisinhas e do quanto o
seu pai tratou tudo com naturalidade, sem gerar um clima desconfortável.
E por ver minha amiga sendo uma pessoa tão incrível é que eu
admiro o Augusto. Ele é mesmo um pai exemplar.
— Ai, meu Deus! Eu amo essa música! — Gio bate palmas de
empolgação quando a banda começa a tocar “Meu erro”, de Paralamas do
sucesso.
E logo nos distraímos pelo resto da noite, acompanhando as músicas
que a banda toca. Cantando, rindo e nos divertindo.
Ter esses momentos ao lado de Giovana me faz esquecer um pouco
o quão complicada é a minha vida, me faz viver um pouco mais leve.
Minha amiga tem esse dom natural de deixar tudo mais alegre.
Depois de tomar dois drinques relativamente doces, passo a pedir
uma água com gás e limão, mas não sem antes ir ao banheiro medir a minha
glicemia.
— Amiga, vou no banheiro rapidinho, tá? — anuncio e ela assente,
ainda embalada no ritmo das músicas.
Sigo até o banheiro feminino e agradeço por estar vazio, assim
posso ficar mais tranquila. Abro a minha bolsa e retiro de lá a bolsinha de
insumos, minha fiel companheira de todos os dias.
Lavo bem as mãos antes de perfurar a ponta do dedo indicador e
encosto a gota de sangue na fita que acabei de encaixar no glicosímetro.
Quando o número noventa e dois aparece na tela eu respiro aliviada por
estar tudo sob controle.
Descarto a fita e a agulha. Guardo tudo de volta na bolsinha,
aproveitando o embalo para usar o banheiro antes de voltar ao encontro de
minha amiga.
Logo que me sento à mesa, minha água gelada me espera e sorrio
para Gio, que já está bebendo mais um drinque.
— Tudo certo, Bá? — pergunta logo que me ajeito ao seu lado.
Ela bem sabe como é a minha rotina.
— Graças a Deus. Tudo sob controle.
Giovana assente sorrindo.
— Pedi uma Piña Colada — diz mostrando a taça em suas mãos. —
Não quer experimentar?
— Chega de álcool por hoje, amiga. — Faço uma careta e ela ri.
— Estamos de Uber, Barbarazinha — fala e eu rio.
Quando Giovana começa a me chamar assim é porque o álcool já
está mesmo fazendo efeito.
— Eu estou bem, Gigi — respondo e ela ri.
E assim a nossa noite continua.
Regada de boas músicas, conversa gostosa e bebidas.
E em momentos como esses eu me sinto feliz, me sinto leve.
Quase me sinto uma garota normal, sem toda a carga que carrego
comigo.
CAPÍTULO 3 - Bárbara

Logo que adentro a casa de Giovana, sou recebida por Pluto, seu
pitbull de estimação.
— Eu sempre vou achar uma graça esse cachorro se chamar Pluto
— comento com ela, abaixando-me para afagar o cãozinho.
É bem verdade que quando conheci minha amiga, há cerca de dois
anos, eu tinha verdadeiro pavor dele. Principalmente porque nunca convivi
com um pitbull “manso” assim. Mas esse carinha aqui é um poço de
carinho quando não está assustando quem passa na calçada da rua.
— Eu tinha onze anos na época, Bá — ela justifica, como sempre.
— E Pluto era meu cãozinho de pelúcia.
— É fofo — respondo, levantando-me para abraçá-la. — Mas talvez
para um poodle?
— O Pluto é fofo, amiga. As pessoas que se assustam à toa.
— Ah, claro. Porque um pitbull não assusta ninguém — brinco e ela
ri, puxando-me para um abraço.
— Vem cá. Meu pai já acendeu a churrasqueira.
Minha amiga me guia até os fundos, onde há uma área gourmet
muito bonita. Eu já estive em sua casa várias vezes, mas quase não ficamos
por aqui.
E agora, durante o dia, com o sol tímido de Curitiba, vejo o quanto
tudo é bonito.
— E qual foi a mandinga que você fez para dar sol hoje, hein? —
brinco e ela ri. — Curitiba sempre está debaixo de chuva.
— Eu sou uma pessoa que traz sol, Babi. Não é à toa que meu pai
me chama de girassol — comenta sorrindo e é a minha vez de rir.
— Está certo.
Chegamos perto da churrasqueira e, quando Augusto se vira, eu
aproveito para olhá-lo melhor.
Ele é mesmo muito bonito, como minha amiga disse…
Bonito não, lindo.
Com os cabelos loiro-escuros, levemente raspados na nuca, e um
pouco bagunçados em cima, ele tem um ar sério e descontraído. Os olhos
são de um tom de azul intenso e os lábios grossos são ornados por uma
barba bem feita.
Sinto-o me encarar de volta e notar que eu o estava analisando,
então engulo em seco, baixando o olhar.
— Oi, Bárbara — ele me cumprimenta e a voz grossa arrepia até o
último pelinho da minha nuca.
— Oi, Augusto — cumprimento-o de volta e estendo a mão, que
aperta firme.
Sua mão é tão grande que a minha se perde ali dentro.
E tão quente…
Raspo a garganta e tento afastar esses pensamentos, porque ele é
simplesmente o pai da minha amiga.
Mas podia ser mais feio? Podia!
Mas, ignorando tudo isso, o homem à minha frente veste bermuda e
camiseta branca mostrando os braços fortes e as tatuagens presentes neles.
Eu disse que Augusto Ferraz me intimida.
Desde a primeira vez que o vi.
— Amiga, eu fiz arroz integral pensando em você — Giovana fala,
tirando-me do transe, e eu dou um pulo involuntário para trás.
— Oh, Gi… Não precisava, obrigada!
— Não me custava nada. — Ela dá de ombros. — E meu pai
também está de dieta.
— Eu estou o quê? — a voz grossa me atinge de novo.
Oh, meu pai…
Que voz…
— O senhor bem andou ganhando uns quilinhos, viu? — Giovana
diz e eu penso que ela não poderia estar mais enganada.
Que quilinhos, se o corpo desse homem é um monumento?
— Não viaja, Giovana. — Ele balança a cabeça sério e minha amiga
solta uma risada, divertida.
Logo ela se inclina para beijar o seu rosto e ele ainda resmunga
umas palavras.
— Estou brincando, pai! Você poderia rir um pouquinho, não é?
Temos visita — a forma divertida com que ela diz tira um sorriso dele de
lado.
E mais uma vez me pego pensando no quanto os dois são lindos
juntos.
— Você come qualquer coisa, Bárbara? — Augusto se vira para
mim e eu assinto, afetada.
É incrível como todas as vezes que ele fala o meu nome eu fico
mexida.
— Não precisam se preocupar comigo, eu não dou muito trabalho.
— Ela ama carne de boi, pai — Gio passa na frente, ele me
questiona apenas com um arquear de sobrancelhas e eu assinto depressa.
Vejo Augusto colocar carne bovina no espeto e minha amiga pede
licença para buscar uma caixinha de som dentro de casa, deixando-nos
sozinhos.
— Quer beber alguma coisa? — oferece-me. — Pode abrir o freezer
e ficar à vontade. Acho que a Gio comprou água com gás para você.
— A Gio é maravilhosa — murmuro e passo por ele, indo até o
freezer buscar uma garrafinha para beber.
Viro no copo e ofereço a ele, que nega, apontando para a long neck
de cerveja.
E esse pouco tempo aqui, perto dele, já começa a me deixar meio
nervosa.
Augusto sempre foi intimidante para mim e agora, depois da
conversa de ontem com sua filha, estou por reparar outros detalhes dele que
até então me passavam despercebidos.
Balanço a cabeça e sinto um alívio por ver minha amiga voltar ao
nosso encontro, principalmente porque acabei de sentir o perfume de
Augusto.
E juro que queria que não fosse um cheiro tão gostoso…
— Um pouquinho de música não faz mal, né? — ela diz animada e
liga a caixinha em um som ambiente.
— Você gosta de qual ponto da carne, Bárbara? — Augusto me
pergunta, erguendo os olhos para mim.
— Ao ponto para mal — respondo e ele abre um sorriso de lado.
— Está vendo, Giovana? É assim que se come carne bovina e não
esses pedaços de carvão de que você gosta.
A garota mostra a língua para o pai e eu caio na risada.
Eles são tão divertidos juntos.
— Pois faça essa carne crua para vocês dois, que eu gosto de uma
bem passadinha.
— Amiga, não é crua — defendo.
— Dezoito anos que eu tento falar isso para ela, Bárbara. Mas Gio
simplesmente não me escuta.
Giovana faz uma careta fofa antes de pegar sua bebida.
Logo começamos uma conversa tranquila sobre amenidades e eu
fico um pouco mais relaxada na presença de Augusto. Vê-lo em casa de
folga, com roupas casuais e chinelos, é bem menos intimidante do que
vestido com roupas de trabalho.
Porque não basta o pai da minha amiga ter uma presença tão
imponente, ele ainda é delegado da Polícia Federal.
Um “A” que esse homem fala estremece qualquer um.
Quando a carne fica pronta, ajudo Giovana a montar a mesa e vejo
que ela preparou uma salada bem variada para acompanhar, além do arroz
integral.
Faço a contagem mental de carboidratos que vou ingerir e peço
licença a eles para ir até a minha bolsinha. Preciso medir a glicemia e
injetar a insulina necessária antes de começar a refeição.
Noto que Augusto me analisa em silêncio fazer todo meu ritual e
fico esperando pela pergunta curiosa, a que já estou acostumada, mas esta
não vem. Sei que tem conhecimento do meu diabetes, porque Giovana já
comentou com ele em outras vezes que estive aqui. Mas seu pai sempre foi
muito discreto e nunca fez nenhuma pergunta sobre isso, o que aprecio
bastante.
Quinze minutos depois, começamos a comer tranquilos. Giovana
conta para o pai como nossa saída foi divertida ontem e percebo que ela
tenta convencê-lo a sair mais.
Mas Augusto é bem reticente e seu semblante fechado mostra que
não tem muito tempo para isso. E nem quer, na verdade.
O homem já passa seu tempo se dedicando ao trabalho, à filha e a
um projeto em que é voluntário, para ele isso é suficiente.
Consigo enxergar toda a preocupação de Giovana, mas, ao mesmo
tempo, percebo o quanto ele está tranquilo com tudo isso.
Augusto Ferraz parece querer uma vida tranquila, sem grandes
emoções. E, por mais que a filha tente, ele está confortável com o que tem.
E aqui, observando a interação dos dois, consigo entendê-lo um
pouco mais.
Às vezes, tudo o que queremos na vida é um pouco de tranquilidade
e estabilidade.
E isso Augusto parece ter de sobra.
O delegado tem uma vida confortável, um emprego estável, um
trabalho que ama e uma filha que tem todo o seu amor.
Para ele, isso basta.
E eu me pego pensando que essa estabilidade é exatamente o que eu
queria ter.
Assim como Augusto, eu também quero uma vida tranquila.
Por isso, sou capaz de entendê-lo.
Mesmo.
CAPÍTULO 4 - Augusto

— Hoje eu quero falar com vocês sobre alguns erros básicos que
percebi que estão cometendo nas posições. Por causa disso, acabam
entrando na guarda, tomando raspagem ou até mesmo finalizados.
Olho para o time de crianças à minha frente, que me encara atento.
Duas vezes por semana eu separo um momento do meu dia para vir
ao projeto Acolher, que ensina vários esportes e artes a crianças da
periferia. Como faixa preta em jiu-jitsu, sou o mestre desses pequenos. Eu e
Murilo, meu parceiro.
Já são mais de cinco anos sendo voluntário nesse projeto que só tem
crescido a cada dia. Dá um orgulho imenso saber que estamos ocupando o
tempo desses pequenos com coisas construtivas e os deixando cada vez
mais distantes do mundo do crime.
— Então vou passar para vocês algumas dicas importantes para
usarem, principalmente quando estiverem dentro da guarda do adversário.
Observo as doze crianças vestidas de quimono e todas sinalizam
para mim em concordância. Elas me respeitam e ouvem com bastante
atenção tudo o que estou disposto a ensinar.
— Murilo! — chamo meu amigo em um gesto e ele se coloca ao
meu lado.
Nos ajoelhamos no tatame e eu sinalizo para que ele se posicione
abaixo de mim.
— Observem com atenção, porque tudo isso é muito importante
para quem estiver passando a guarda, ok?
Todos assentem e eu continuo.
Ajoelhado, abro as pernas e me posiciono acima de Murilo,
segurando a lapela de seu quimono.
— Quando o Murilo está com a guarda fechada aqui. — Neste
momento, meu amigo cruza as pernas em minhas costas e me puxa pela
lapela do quimono. — A intenção dele é me puxar para ele, onde meu
quadril fica leve. — Para exemplo, Murilo me puxa e eu caio em cima de
seu corpo. — Mas, se eu resisto muito para trás, ele sobe e usa a minha
própria força, me derrubando. Então aqui nós já temos dois erros.
Repetimos novamente os movimentos diante das crianças, para que
elas absorvam todas as dicas.
— Um outro erro muito comum é colocar a mão acima do peito, na
lapela do adversário. — Replico o movimento. — Aqui o meu braço está
muito vulnerável. — Aponto para o membro esticado. — Então o Murilo
pode atacar os meus braços e fica muito difícil para que eu volte.
Fazemos todos os movimentos mais de uma vez para que elas
consigam entender.
— Conseguem perceber? — indago e recebo um coro em
confirmação. — Certo. Outro detalhe importante é a posição dos meus pés.
Os dois polegares estão encostados no chão, conseguem ver? Dessa forma
eu consigo me levantar com facilidade quando necessário. E os joelhos
sempre abertos — reforço. — Eles não podem ficar fechados.
Explico com todo o cuidado e da forma mais didática possível a
eles.
— Então aqui, pessoal, eu estou na postura ideal. Nem muito para a
frente, nem muito para trás. Ok? Então, se o Murilo me puxar pela lapela e
a minha mão estiver abaixo de seu peito, eu impeço a raspagem.
Conseguem entender?
Quando todos assentem, eu repasso mais uma vez esses erros
básicos e me levanto do tatame.
— Ótimo. Agora eu quero vocês treinando e evitando esses erros
antes de prosseguirmos, ok?
Com a ajuda de Murilo, acompanhamos as duplas e damos todo o
suporte para essa turma que é iniciante na luta. Já temos outras avançadas,
mas essas crianças de hoje estão tendo contato com o esporte há pouco
tempo.
O treino corre de forma tranquila, só percebo meu amigo calado
demais. E isso não é algo de seu feitio.
— Certo, pessoal. Por hoje é só — anuncio o término do treino. —
Na semana que vem já vou passar para vocês algumas raspagens básicas,
ok?
As crianças assentem animadas e eu recebo abraços calorosos de
alguns. É sempre um momento muito gratificante que eu passo com cada
um deles.
Quando deixamos o salão e seguimos para o vestiário, noto Murilo
seguir direto para o chuveiro ainda em silêncio. Espero para ver se vai me
dizer qualquer coisa, mas, quando nos trocamos e nos preparamos para sair,
eu o abordo.
— Está tudo bem, cara? Você mal trocou uma palavra hoje.
Ele me encara e balança a cabeça negando.
— Foi mal, hoje não estou uma boa companhia.
— Quer conversar? Somos parceiros, sabe disso.
Murilo acena e joga a mochila nas costas, seguindo-me até o
estacionamento.
Quando paramos ao lado da minha moto, ele me encara parecendo
um pouco constrangido.
— O que está pegando?
— Acho que a Laura está me traindo… — solta e eu arregalo os
olhos.
— Como é que é? — Minha reação é de puro espanto, já que os dois
estão juntos há mais de quinze anos e sempre se deram muito bem.
— Ela está muito esquisita, Augusto — diz com a voz baixa. — Mal
tem conversado comigo, olhado na minha cara… E agora deu para rejeitar
qualquer contato físico.
— Caralho… — Esfrego as mãos na barba, negando-me a acreditar.
— E isso foi do nada?
— Já faz uns dias que tenho notado seu distanciamento. Mas hoje
vê-la se estremecer e recuar quando toquei nela acabou comigo.
— Que estranho isso, Murilo…
— Porra, Augusto. Eu faço de tudo por aquela mulher! Juro que não
sei onde falhei para ter merecido isso.
— Calma, cara — falo, tocando o seu ombro. — Talvez não tenha
sido isso. Talvez seja algum problema que ela está enfrentando…
— Problema nenhum nunca distanciou a minha mulher de mim,
Augusto. Ela só pode ter encontrado outra pessoa…
E a tristeza em seu semblante por falar isso em voz alta acerta o meu
peito.
— Já tentou conversar com ela? — indago e ele nega.
— Laura não está nem falando comigo…
— Mas ela tem alguma amiga com que deve se abrir, não? Investiga
isso, porra. Vê o que está acontecendo. Quem trai costuma agir na cara de
pau mesmo e essa história está muito esquisita.
Murilo corre as mãos pela barba e balança a cabeça, soltando um
suspiro.
— Vou ver o que consigo descobrir.
— Pode ser que ela esteja tendo problemas, não se precipite. Vamos
descobrir o que é.
— Está certo. — Dá de ombros. — Valeu, Augusto.
— Você esteve comigo na pior, Murilo — relembro e meu amigo
assente. — Isso aí não é nada.
Ele balança a cabeça e se vira para sair.
— Vai ficar tudo bem, cara. Vamos resolver isso — garanto e
Murilo assente, virando-se para me deixar sozinho.
E aqui, parado, minha mente fervilha.
Meu faro não costuma errar e isso que meu amigo está me contando
não me cheira a traição.
Não sei…
Alguma coisa está acontecendo e precisamos descobrir o que é.
Não vou descansar até que isso aconteça.
CAPÍTULO 5 - Bárbara

— Já fechei o cronograma mensal da churrascaria, Babi — é


Lorena, a responsável pelo planejamento de conteúdos, que me avisa.
— Certo. O cliente já aprovou? — indago e minha colega de
trabalho confirma. — Ok, eu vou só acabar o material da papelaria e já os
pego na sequência.
— Fechou!
Balanço a cabeça e me concentro cem por cento neste trabalho.
Estou desenvolvendo um design lindo para uma papelaria fofa que é cliente
da agência onde trabalho. Delicado, em tons pastéis, exatamente como
pediram. Embora eu trabalhe muito e seja um tanto cansativo, eu amo o que
faço. Passo horas dos meus dias mergulhada no Photoshop entregando
sempre o meu melhor.
E, durante esse tempo, acabo esquecendo um pouco como minha
vida é completamente sozinha.
Trabalhar é a melhor distração que eu poderia ter.
Quando finalizo o trabalho e salvo todos os arquivos, decido tomar
um café antes de seguir para o próximo cliente.
Faço a minha rotineira medição de glicemia e sinto um alívio por
saber que está tudo bem. Sirvo-me de uma caneca de café preto sem açúcar
e dou um gole quando vejo Lorena adentrar a cozinha.
— Ai, Babi, está armando um chuvão lá fora…
— Em Curitiba? Jura? — ironizo e ela faz uma careta antes de se
servir de um pouco de café também.
— Mas agora parece que é bem forte.
— O que também não me surpreende — rebato e ela suspira,
despejando um pouco de açúcar em sua bebida.
— Eu só queria viver em uma cidade onde fizesse sol o ano inteiro,
é pedir muito?
— Mude-se daqui então — sugiro, dando de ombros.
— Quem dera se fosse fácil…
— Eu gosto daqui — falo, indo até a janela para ver o tempo
fechado. — Gosto da chuva, apesar de tudo.
— Você não se imagina morando em outro lugar? — Lorena me
pergunta e eu penso por um instante antes de responder.
— Acho que não… Eu posso não ter ninguém aqui mais, Lore —
falo, sentindo meu peito se apertar. — Mas nasci aqui. Curitiba é o meu lar.
— Pois eu, no seu lugar, já estaria a quilômetros daqui. — Suspira e
eu rio baixo.
É bem verdade que eu não tenho nada que me segure em uma das
cidades mais chuvosas do Brasil, mas ainda assim…
Esta cidade é linda, aconchegante, é o meu lar…
Para onde mais eu iria?
— Quer rosquinha? — oferece, despertando-me de meus
pensamentos.
— Não, Lore. Obrigada!
Ela assente e enfia a mão no pote de vidro, pegando algumas para
comer.
Logo adentramos no assunto de trabalho, distraindo um pouco a
minha mente até que outros colegas chegam à sala.
Aqui trabalhamos em oito pessoas no total. Cada um com sua
responsabilidade aqui dentro. Eu sou do setor de desenvolvimento de artes
e, além de mim, temos mais dois designers. Embora a agência não seja a
maior da cidade, temos uma boa cartela de clientes e atendemos não só na
capital, mas em cidades do interior do Paraná.
Consegui esse emprego quando ainda cursava Publicidade e
Propaganda e só eu sei o quanto me ajudou. Ainda que eu tivesse minha
mãe comigo, não era uma missão fácil para ela manter a casa e arcar com o
meu tratamento de diabetes.
E pensar nela traz novamente aquela dor no peito…
Só eu sei o quanto é difícil chegar em casa todos os dias sabendo
que ela não está lá.
Nós sempre fomos sozinhas, sempre uma pela outra, mas jamais
imaginei que a vida a levaria tão cedo de mim…
Abaixo a cabeça e volto para a minha mesa de trabalho, tentando
ignorar essa dor que se forma aqui dentro todas as vezes que me lembro
dela.
Está sendo muito difícil viver sem a sua companhia, sem o seu
auxílio…
Ah, mãe…
Que falta a senhora me faz.
Ligo a tela do computador à minha frente e mergulho em mais um
trabalho, esquecendo-me momentaneamente de meus problemas.
Vivendo mais um dia.
Um dia de cada vez.
Augusto

A chuva torrencial cai lá fora e os limpadores de para-brisa


funcionam em velocidade máxima.
Dirigir com essa tempestade requer atenção redobrada e eu tomo
todo o cuidado ao andar pelas ruas da cidade em direção à minha casa.
Agradeço mentalmente por hoje não ser um dos dias em que vou ao projeto,
assim não tenho problemas em chegar em casa mais tarde.
Estou concentrado no trânsito quando uma imagem me chama
atenção.
Será…?
Jogo o carro para a pista da direita e reduzo a velocidade,
aproximando-me do ponto de ônibus. E quando paro o carro é que tenho
certeza.
Encolhida debaixo da cobertura do ponto, abraçando sua bolsa, está
Bárbara, a melhor amiga de minha filha.
Abaixo o vidro do carro e chamo por ela, que olha um pouco
desconfiada antes de se aproximar do veículo.
— Oi, Bárbara. Entra aí.
Vejo que nem tem tempo de contestar, porque a chuva engrossa
neste momento e ela abre a porta rapidamente, acomodando-se no banco ao
meu lado.
E, quando entra, seu perfume doce preenche todo o ambiente.
— Você está indo para casa? — pergunto, ao vê-la colocar o cinto
de segurança enquanto dou seta e olho pelo retrovisor, preparando-me para
arrancar.
— É… Estou, sim. Mas é longe, Augusto. Não precisa me levar lá.
Quando a chuva abaixar um pouco, pode me deixar em um ponto mais
próximo.
Viro-me para encará-la, negando veemente.
— Capaz. Não me custa nada te deixar em casa.
Pego as ruas com cuidado e percebo que ela pensa em resistir, mas
desiste. Bárbara parece ficar um pouco tímida em minha presença.
— Pode me falar o caminho? — pergunto e ela assente, dando
coordenadas rápidas sobre o melhor trajeto para chegar ao seu bairro.
— Espero que não esteja com pressa — falo, apontando para o
engarrafamento à nossa frente.
Horário de pico com tempestade é certeza de trânsito extremamente
lento.
— De ônibus eu demoraria muito mais para chegar, então não se
preocupe.
Aquiesço e volto a atenção ao trânsito, olhando de lado para a garota
que se encolhe um pouco no assento do passageiro.
— Você também saiu do trabalho agora? — pergunta depois de
ficarmos alguns minutos em silêncio.
Vejo que me encara e observa minha vestimenta de trabalho. Como
de costume, visto camisa preta da Polícia Federal, calça da mesma cor e
coturno.
— Sim! Eu não costumo fazer esse trajeto para casa, mas precisei
parar no pet shop para comprar a ração do Pluto. E, como choveu o dia
inteiro, a Gio não conseguiu sair de moto para buscar.
— Ah… Então preciso agradecer ao seu cachorro por ter me
ajudado na carona — brinca e eu sorrio de lado.
— Da próxima vez que for lá em casa, você pode brincar com ele.
Pluto vai adorar.
— Eu nunca vi um pitbull dócil até conhecer vocês — constata. —
Na verdade, nem sabia que isso era possível.
— Tudo vai da criação que você dá ao animal. Desde filhote, ele foi
criado convivendo com uma criança dentro de casa, recebendo muito
carinho. Não tinha como ser um cão agressivo.
— Ele é muito fofo. Embora seja um tanto assustador — solta e eu
rio baixo.
— A intenção é exatamente essa. Em casa ele é extremamente dócil,
mas, para quem não o conhece, Pluto impõe bastante respeito.
— Isso é. Desde que não descubram o seu nome.
Ela solta uma risadinha baixa e eu reviro os olhos.
— Coisas a que pais de meninas são submetidos — defendo e, de
canto de olho, a vejo sorrir.
— Giovana te adora — fala, arrancando-me um sorriso. — Tenho
certeza de que esses sacrifícios valeram a pena.
— Com toda certeza — respondo, sem nem precisar pensar.
Se há algo de que eu mais me orgulho nessa vida, é da mulher
incrível que minha filha se tornou.
Ainda que o trajeto até a casa de Bárbara demore mais do que o
habitual, o tempo não demora a passar. Engatamos em uma conversa
tranquila, em que a garota me conta sobre o trabalho e sua rotina.
Descubro que, além de publicitária, ela faz freelance em festas
infantis com pintura artística, e me pego surpreendido com seu talento. Pelo
visto é uma artista tanto no trabalho digital quanto no manual.
Quando meu carro para diante de uma casa pequena e modesta,
noto-a se virar um pouco desconcertada para mim.
— Então… É aqui que eu moro — fala tímida e eu assinto.
— Você mora sozinha? — pergunto com cuidado e ela confirma.
— Atualmente sim.
Vejo tristeza passar pelo seu semblante e me lembro de quando Gio
me contou que tem sido difícil para sua amiga viver com a perda da mãe.
E isso faz com que eu sinta empatia por ela.
Minha filha perdeu a mãe ainda criança, mas pelo menos teve a
mim. Sei que nunca supri a ausência materna em sua vida, mas ela sabe que
pode contar comigo. Somos nós dois, um pelo outro, sempre.
Já essa garota ao meu lado, de olhar doce, parece completamente
sozinha…
É um tanto triste para uma mulher de vinte e poucos anos.
— É seguro? — pergunto e ela assente confiante.
— É um bairro tranquilo e, quando estou em casa, tranco tudo, fico
quietinha lá dentro.
— Ótimo. Se algum dia precisar de ajuda, pode me falar. Se
perceber alguém estranho rondando por aqui…
— Pode deixar. Obrigada.
— Pega o meu telefone com a Giovana — instruo e ela me encara
surpresa. — Em caso de emergência, pode ligar direto para mim.
O sorriso sincero que ela me abre me diz que há muito tempo não
sabe o que é ser protegida por alguém.
E isso me causa um sentimento estranho aqui dentro.
— Está certo. Obrigada mesmo, Augusto. Por se importar.
E isso apunhala o meu peito.
Não deveria ser o mínimo?
— Não é nada. Você é alguém importante para minha filha, então é
importante para mim também.
A garota assente e coloca a mão na maçaneta. Aqui, olhando
diretamente para mim, vejo o quanto é bonita.
A pele clara destaca algumas sardinhas ao redor do nariz e os olhos
acinzentados são bem expressivos, apesar de um pouco tristes. As
sobrancelhas grossas destacam o olhar doce e o que me chama atenção é a
covinha no queixo. Os cabelos castanhos estão presos em um rabo de
cavalo, mas noto alguns fios lhe escaparem.
É uma mulher muito bonita e me entristece saber que é tão sozinha,
ainda mais sendo tão nova.
— Obrigada pela carona, Augusto. Até mais.
Ela acena para mim e eu retribuo, vendo o momento em que deixa o
carro correndo e luta contra as chaves para entrar em sua casa.
E só quando já está acomodada lá dentro, quando vejo uma luz se
acender através da janela, é que arranco o veículo e pego novamente as ruas
da cidade.
Durante todo o trajeto de volta para casa, não consigo deixar de
pensar na garota de olhos tão tristes.
Algo me diz que, além da morte da mãe, há mais alguma coisa que a
atormenta.
O mais estranho é que isso não deveria me incomodar, mas
incomoda.
E muito.
CAPÍTULO 6 - Augusto

— Chefe, você não vai acreditar no que eu tenho aqui — Felipe


Braga, um dos meus agentes, adentra o meu gabinete e eu apenas arqueio a
sobrancelha para ele.
Detesto que me chamem assim, mas vou relevar porque seu
semblante empolgado me diz que vem coisa boa.
— O que é que você tem aí?
— Abre o seu e-mail — o jovem policial pede e dá a volta na minha
mesa, parando ao meu lado para mostrar o que me enviou há pouco.
Faço o download das imagens e, quando abro, estreito os olhos para
analisar o que está diante de mim.
— Quem são esses? — pergunto ao ver imagens de três homens
conversando diante de um galpão.
— O de boné é um federal lá do Mato Grosso, à paisana — diz e eu
aumento a imagem para conseguir ver melhor. — E os outros dois são
bolivianos. O de camisa branca é um empresário dono da maior rede
hoteleira do país e o de terno é um deputado.
— Porra…
— Ainda estamos investigando, mas parece que eles têm ligação
com aquela carga apreendida na fronteira.
— Então estamos lidando com bandidos da pior espécie: políticos
— constato e Braga assente.
— Assim que eu tiver mais notícias, te aviso.
— Certo. E vamos agir com cautela, ok? — peço a ele. — Se houver
mesmo políticos envolvidos no esquema, é ainda pior do que pensamos.
— Deixa comigo, delegado.
— E me consiga o endereço desse galpão. — Aponto para a tela
diante de mim. — Quero dar uma olhada nisso.
— Vou ver isso agora.
Felipe acena e se retira da minha sala, deixando-me pensativo.
Embora seja muito novo, não tenha nem trinta anos, é um dos
melhores agentes desta Superintendência. Centrado, dedicado e observador,
o cara manda muito bem desde que colocou os pés aqui e, por sorte, veio
para a minha equipe.
Ainda estou analisando todas as fotos quando Murilo passa pela
minha porta e eu apenas ergo os olhos para ele.
— Está sabendo das fotos que o Braga conseguiu? — falo e ele nega
de pronto.
— Não.
Aponto para a tela do computador diante de mim e apresento tudo
ao meu agente, que fica tão surpreso quanto eu.
— Porra, Augusto…
— Nem me fale, Murilo. Pelo visto é um esquema dos grandes.
Os olhos do meu amigo brilham.
— Do jeito que a gente gosta.
Balanço a cabeça rindo.
— Pedi a ele que me conseguisse o endereço do galpão para
investigarmos mais a fundo.
— Vou seguir por esse caminho também — diz e eu nego.
— Continua trabalhando na Tríplice Fronteira junto com a Julia.
Deixa o Braga com a Bolívia.
Ele assente, esfregando a barba.
Repassamos juntos mais algumas informações que descobrimos e
isso abre muito a minha mente para a investigação. Me faz pensar em novas
possibilidades.
Quando me dou por satisfeito, decido tocar em outro assunto com
ele.
— E como estão as coisas com a Laura? — pergunto e ele dá de
ombros.
— Na mesma.
Meu amigo é um excelente policial e nunca deixou que problemas
pessoais afetassem seu desempenho aqui dentro, mas é visível o quanto
seus olhos estão cansados.
Murilo nitidamente não está bem.
— Não conseguiu avançar em nada? — pergunto e ele nega.
— Pelo contrário, regredimos. Ela agora pediu para dormir no
quarto de hóspedes — revela e eu solto um assobio.
— Que loucura… E ela não comentou nada sobre sair de casa? —
indago e ele nega.
— Na verdade, tem saído só para trabalhar e depois volta para casa.
Mas fica trancada e não quer falar comigo.
— Que estranho, cara. Tem alguma coisa acontecendo…
— Mas ela não quer falar comigo, Augusto. Não sei mesmo o que
fazer.
— Conseguiu falar com alguma amiga dela?
Ele balança a cabeça.
— A única mais próxima é a Gisele, e esta se esquiva de mim tanto
quanto Laura.
Esfrego a barba, confuso.
Isso me cheira a algo muito sério…
— Você já considerou um abuso? — pergunto e ele arregala os
olhos para mim.
— Caralho, Augusto. Nem brinca…
— Estou falando sério, Murilo. Está muito esquisita essa história.
Essa mudança de comportamento da Laura não está me cheirando a traição.
Fica na cola dessa amiga, liga, insiste, vai ao trabalho dela, sei lá. Arranca
essa informação dela. Você é policial, porra.
Murilo me encara ainda assustado antes de assentir.
— Cara, que você esteja errado — diz e eu franzo o cenho. —
Prefiro mil vezes que ela tenha me colocado o maior dos chifres a saber que
minha esposa foi violentada.
A sua voz dolorosa me golpeia o peito.
Eu nem imagino como deve ser foda viver isso, mas não está me
parecendo outra coisa.
Quando uma mulher muda bruscamente de comportamento assim, é
sempre um sinal de alerta. Alguma coisa está acontecendo.
Murilo balança a cabeça e sai da minha sala, deixando-me bastante
pensativo.
Meu cérebro fervilha com tantas informações recebidas hoje eu me
sinto à beira de sufocar. Levanto-me de pronto da cadeira e atravesso os
corredores da delegacia, indo até o estacionamento.
Paro perto da minha moto e olho para o céu nublado, pensando que,
se eu tiver um pouco de sorte, consigo voltar para casa sem me molhar. Não
falta muito para o fim do expediente, por isso torço para que dê tempo.
Busco com os olhos os arredores até avistar um bar do outro lado da
rua e sinto aquela vontade repentina me tomar.
Não é sempre que acontece, mas em dias agitados como esse meu
corpo simplesmente implora por isso.
Atravesso os portões da polícia e sigo até o bar, indo direto para o
senhor que está no caixa.
— Me vê um cigarro — peço, tirando a carteira do bolso.
— Só um? — pergunta e eu assinto.
— E um chiclete de menta.
O velho careca me entrega tudo e, logo que eu pago, ele me
empresta um isqueiro, com o qual acendo rapidamente o cigarro.
— Obrigado.
Dou um trago forte antes de jogar a fumaça para cima e sair do bar,
voltando para a polícia.
Ainda no estacionamento, fumo todo o cigarro, dando tragadas
lentas enquanto fito o céu cinzento e tento organizar a mente.
São muitas camadas, muitas linhas nessa investigação e eu preciso
dar trezentos por cento de mim para conseguir. Não é uma missão fácil, mas
sempre gostei de um desafio.
Quando termino de fumar, atiro a bituca ao chão e esmago-a com o
coturno, apagando a chama.
Jogo o chiclete na boca e o mastigo, enquanto volto para o prédio da
delegacia, indo diretamente para o meu gabinete.
Quando me sento de volta à mesa, estou muito mais tranquilo e
focado para terminar o meu dia.
Às vezes, tudo que eu preciso é de uma dose de anormalidade na
minha vida.
CAPÍTULO 7 - Bárbara

A tempestade cai lá fora e eu a acompanho pela janela do meu


quarto, vendo a correnteza se formar na rua. Houve um tempo da minha
vida em que eu tinha medo de chuvas fortes, mas hoje simplesmente me
acostumei com elas. Aprendi a lidar com meus próprios fantasmas desde
que passei a morar sozinha.
Não tive outra escolha, afinal.
Quando o nível da água sobe na rua e começa a entrar pelo portão,
me sobe um sinal de alerta.
Será que vai entrar dentro de casa?
Dou um pulo da cama e calço os chinelos, seguindo pela minha casa
até a porta principal. Já é noite e os raios que estalam o céu fazem um
enorme clarão. A chuva cai cada vez mais forte, intensa, sem dar nenhuma
trégua.
Estou abraçada ao meu corpo, vendo o nível da água subir de uma
maneira assustadoramente rápida, até tocar meus pés.
Ai, meu Deus…
Será mesmo que isso vai acontecer logo comigo?
Quando começa a subir na altura dos calcanhares, eu desperto do
transe e começo a agir.
Eu preciso sair daqui.
Atravesso a casa correndo e vou direto para o meu quarto. Troco o
pijama e chinelos por calça jeans, camiseta, jaqueta e galocha nos pés.
Abro o guarda-roupa e puxo uma mala lá de cima, abrindo sobre a
cama para pegar o que consigo de mais importante. Roupas, calçados,
cosméticos e meus itens de dia a dia. Busco meu estoque de insumos para
diabetes e a pasta onde guardo meus laudos e exames médicos.
A água já está chegando ao meu quarto quando atravesso os
corredores e vou até a sala, pegar todos os porta-retratos que encontro sobre
o rack. A sensação que eu tenho é de que vou perder tudo neste lugar, então
tento salvar o máximo de coisas que são importantes para mim.
A casa está inundada até a altura da minha panturrilha quando me
lembro dos gavetões da estante onde havia vários álbuns antigos da minha
infância. Recordações lindas com a minha mãe, que estão simplesmente
ensopadas.
Tento pegar o que consigo, a água batendo na perna, e a sensação de
desespero começa a tomar conta de mim.
O nível da enchente está cada vez mais alto e eu preciso sair daqui.
Sigo para a cozinha, pego algumas sacolas para colocar os álbuns
molhados e procuro por uma caixa térmica. Subo em um banquinho para
buscar no alto do armário e encontro lá exatamente o que preciso.
Quando piso no chão, sinto a água quase chegando na altura do meu
joelho e corro para abrir a geladeira a fim de pegar minhas canetas de
insulina. O movimento enche o eletrodoméstico de água e eu lamento por
perder os alimentos guardados ali.
Dentro do freezer, busco bolsas de gelo e acomodo na caixa térmica
para proteger e conservar as insulinas.
Estou voltando para o quarto, quando ouço o meu celular tocar em
cima da cama, e o nome da minha amiga surgindo na tela é um alívio para
mim.
Em toda essa correria para juntar o que preciso, acabei me
esquecendo de ligar para pedir ajuda.
— Amiga, você está bem? — ela me pergunta logo que atendo sua
ligação.
— Estou, Gio. Mas minha casa está toda alagada.
— Meu Deus, Babi! Já estamos indo te buscar!
— Obrigada, amiga. Já tem água no meu joelho.
— Não vamos demorar, eu prometo!
Ela me conta que está vindo com seu pai para me ajudar e isso me
traz um pouco de alívio.
Sei que moro um tanto longe dos dois, mas espero muito que eles
consigam chegar aqui.
Pior que eu nem sei como vão conseguir entrar, se a casa já está
inundada, imagina lá fora…
Olho para a água subindo na altura da cama e penso que preciso
mais uma vez agir para que nada se molhe. Encaro meu quarto aflita até ter
uma ideia.
Busco a minha mala e, mesmo que esteja pesada, consigo erguê-la e
colocá-la sobre a cômoda do quarto, que é um ponto mais alto do que a
minha cama. Faço o mesmo com o restante das minhas coisas, até ouvir
uma voz me chamar lá da rua.
Atravesso a casa no meio da enchente e sigo até o portão, onde
encontro dois bombeiros sobre um bote.
— Senhorita Bárbara? — perguntam quando me veem e eu aceno
concordando. — Tem mais alguém em casa?
— Não, sou só eu — respondo alto para que possam me ouvir tanto
pela distância como pelo som da chuva, que ainda cai forte por aqui.
— Então vem, vamos tirá-la daqui.
— Eu preciso pegar as minhas coisas — aviso, sentindo um aperto
por ter que deixar tudo para trás.
— Senhorita, não dá tempo…
Olho para o bote pequeno e para a água subindo. Penso que não vou
conseguir mesmo levar tudo o que separei e, só de pensar nisso, uma dor
me toma.
— Eu sou diabética — falo, sentindo uma aflição tomar conta de
mim. — Preciso buscar minhas insulinas, não posso ficar sem elas.
— Então vá depressa!
Assinto e disparo pela casa, já sentindo a água subir pelas coxas.
Vou até o meu quarto pegar a minha caixa térmica. Rapidamente, abro a
mala que fechei e tiro de lá os insumos, meus documentos médicos,
pessoais e um único porta-retratos com minha mãe. Não quero sair daqui
sem pelo menos uma recordação sua. Coloco tudo dentro da caixa, nem me
preocupando se vai umedecer pela temperatura, e saio da casa.
Com a ajuda dos bombeiros, sou acomodada no bote e, abraçada à
caixa térmica, tudo o que eu sinto é vontade de chorar.
Saí de casa deixando tudo para trás, tudo o que eu e minha mãe
construímos… Todas as lembranças, todas as minhas coisas, tudo…
Um nó se forma na minha garganta e eu luto contra as lágrimas,
agarrada a tudo o que tenho.
Toda a minha vida resumida nesta caixa que carrego nos braços.
Ainda que esteja debaixo de um guarda-chuva segurado por um dos
bombeiros, eu estou ensopada. E talvez molhar não seja de todo ruim, assim
posso chorar sem que ninguém me veja.
Outras pessoas são acomodadas no bote enquanto somos levados a
um local seguro e aqui, sozinha, encolhida em meio a chuva, eu me permito
chorar.
Augusto

Da janela do terraço, vejo a chuva cair forte lá fora, formando


pequenas correntezas pelo asfalto. Por sorte, onde moramos é um local
seguro em épocas de chuvas fortes, então sei que não passará disso.
Mas em outros bairros da cidade, principalmente os que são
próximos do rio, o estrago é muito maior.
E pensar nisso me faz ter um estalo.
Bárbara…
Desço as escadas correndo e encontro Giovana sentada no sofá da
sala, com um livro na mão enquanto acaricia o nosso cachorro.
— Gio, liga para a Bárbara! — peço e a garota estranha a minha
expressão. — Ela mora perto do rio, com toda essa chuva, pode estar
precisando de ajuda.
— Nosso Deus, é verdade!
Minha filha saca o celular do bolso para ligar e neste momento eu já
vou até o meu quarto para calçar um tênis, colocar um boné na cabeça e
pegar as chaves do carro.
Retorno para a sala no momento em que Gio desliga o telefone.
— Conseguiu falar?
— Consegui. Ela está bem, mas a água entrou em casa e já está na
altura dos joelhos.
— Mas que porra.
— Falei que estamos indo para lá.
Aceno e minha filha me acompanha. Entramos no carro e saímos
pela garagem de casa. O estrondo no céu a faz se encolher ao meu lado e eu
tiro o celular do bolso para fazer uma ligação em viva-voz.
— Anda, Joel… Atende…
Disco mais de uma vez para um colega do corpo de bombeiros, mas
ele não me atende.
— Porra!
Soco o volante e Gio se vira para mim.
— Com quem está tentando falar?
— Com um amigo que é bombeiro — explico. — Nós não vamos
conseguir entrar na rua de Bárbara, a esta altura carro nenhum deve estar
passando lá.
— Nossa… Como vamos fazer, pai?
— Vou dar um jeito.
Ligo para o pelotão do corpo de bombeiros e, para nenhuma
surpresa, o telefone só dá ocupado. A cidade inteira deve estar ligando para
eles.
Fico agitado enquanto dirijo e insisto na ligação, até finalmente
conseguir.
Quando reconheço a voz feminina, sinto um alívio dentro de mim.
— Soldado Dias, boa noite. Aqui é o delegado Ferraz — eu me
identifico para ela, que me reconhece imediatamente.
Eu já a vi em algumas vezes que precisei ir ao pelotão encontrar o
Joel ou colher alguma informação.
— Pois não, delegado?
— A amiga da minha filha precisa de resgate, sua casa está sendo
dominada pela água.
— Qual o endereço?
— Consegue olhar para mim, Gio?
Giovana busca o celular para procurar na conversa delas e logo me
recita o endereço da garota, que passo para a soldado. Quando esta me
garante que vai passar para os bombeiros da área por rádio, eu fico um
pouco mais tranquilo. Friso a urgência devido ao diabetes e espero muito
que consigam chegar até Bárbara depressa.
Meu coração parece esmurrar o peito em adrenalina enquanto dirijo
pela cidade atingindo o máximo de velocidade que consigo com todo este
temporal.
E durante todo o trajeto a imagem de Bárbara me apunhala, com
aquele olhar tristonho, do dia em que me mostrou a sua casa e me disse que
era sozinha.
Faz pouco mais de um mês desde esse episódio, mas a imagem
ainda é vívida em minha cabeça.
E é exatamente por isso que fico tão aflito em consegui-la ajudar. Só
vou sossegar quando essa garota estiver conosco em segurança.
Como eu previa, não conseguimos ir até a rua de Bárbara, por isso
paro o carro no último local seco do bairro. Desço do veículo e abro o
guarda-chuva, acomodando Giovana comigo, então vamos até a tenda
armada pela equipe de resgate.
— Joel — chamo aliviado ao encontrar meu amigo em trabalho.
— Augusto — responde, apertando a minha mão. — Foi você quem
ligou para o pelotão e pediu resgate para uma mulher, não é?
— Isso. É amiga da minha filha.
— Vocês conseguiram encontrá-la? — é Giovana quem pergunta ao
meu lado.
— Sim, ela já foi resgatada e estão vindo de bote para cá.
— Ah, caralho. — Solto um suspiro de alívio e Giovana me
acompanha.
Perguntamos mais algumas coisas a respeito da operação e logo meu
amigo é chamado pelo rádio, deixando-nos sozinhos.
— Ela vai ficar bem, girassol — murmuro, abraçando a minha filha
e beijando a sua testa ao ver uma lágrima lhe escorrer.
— Ela já perdeu tanto na vida, pai… — a voz baixa de Giovana
rasga a minha alma. — Por que perder mais agora?
Eu queria ter respostas para a sua pergunta, mas simplesmente não
tenho.
Nunca vou entender como a vida pode ser tão cruel assim…
— Nós também já perdemos nessa vida, Gio — digo a ela, secando
mais uma lágrima. — E vencemos, não foi?
— Mas nós temos um ao outro, pai… A Babi não tem mais
ninguém.
E essa afirmação apunhala o meu peito.
— Ela tem a você, filha. Tem a nós… Não está sozinha — afirmo e
Gio balança a cabeça, fungando baixinho.
— Ela pode ficar uns dias lá em casa? Bárbara não tem mais para
onde ir…
— Não precisa nem me pedir uma coisa dessas, Gio. Ela pode ficar
o tempo que precisar — digo firme e um sorriso se abre no rosto dela.
— Obrigada, pai. Você é o melhor do mundo.
Beijo sua testa mais uma vez e a acolho em meus braços, enquanto
esperamos por Bárbara.
O tempo parece demorar uma eternidade, mas, quando vemos a
garota encolhida, toda ensopada, surgir em nosso campo de visão, eu solto
Giovana, que corre para os braços da amiga.
— Babi, você está bem? — Gio pergunta e a garota apenas assente,
em silêncio.
Noto que seus olhos estão fundos, a ponta do nariz vermelha, e que
ela abraça uma caixa térmica como se toda a sua vida estivesse ali.
— Vamos para casa? — pergunto.
A garota ergue os olhos para me encarar e, desse olhar, acho que eu
nunca vou me esquecer.
Ali, em seus olhos, vejo o quanto está perdida, sem rumo, e ao
mesmo tempo grata por lhe estendermos a mão.
— Vem — chamo e a garota assente, sendo abraçada por Giovana
enquanto seguimos até o carro.
Quando estamos os três acomodados dentro do veículo, longe dos
perigos da chuva, eu solto o ar dos pulmões.
Porra, deu certo…
E foi por tão pouco…
CAPÍTULO 8 - Bárbara

Sento-me na cama e corro as mãos pelo lençol branco, sentindo


mais uma vez aquela vontade de chorar me tomar.
Ainda não acredito que perdi tudo…
Que fui mesmo embora, deixando tudo para trás.
Olho para o quarto de hóspedes da casa da minha amiga e sinto um
nó na garganta.
É um cômodo muito bonito e limpo, onde fui acomodada. Aqui há
uma cama, mesinha de cabeceira, uma cômoda de madeira e um banheiro
anexo a ele.
Quando minha amiga me acomodou aqui, ela trouxe consigo
algumas coisas suas que eu pudesse usar e me disse mais de uma vez que eu
ficasse à vontade em sua casa.
Que essa seria a minha agora…
Só de pensar nisso, uma lágrima solitária me escorre.
Ainda bem que tenho Giovana comigo, senão eu estaria perdida…
A uma hora dessas, certamente estaria em algum abrigo público,
passando a noite com inúmeras pessoas desabrigadas.
Desabrigada…
Só de pensar nessa palavra, já sinto aquela dor no peito mais uma
vez me invadir.
Estico a mão e toco o porta-retratos na mesinha de cabeceira com a
única foto que consegui trazer de lá.
Dentre todas as recordações, de todas as lembranças, só ela…
Ah, mãe…
Me perdoa por não ter conseguido salvar a nossa casa, salvar as
nossas memórias.
Me perdoa…
Quando a chuva passar e escoar toda a água do bairro, quero voltar
lá para ver se há algo mais que eu consiga recuperar ou se realmente perdi
tudo.
Solto um suspiro e encaro tudo ao meu redor mais uma vez.
Deus…
Ainda não acredito que isso tenha acontecido comigo.
Logo comigo…
Como vou recomeçar?
Como vou reconstruir uma casa? Se meu salário cobre apenas as
minhas despesas mensais?
Pensar em tudo isso me sufoca, me traz mais uma vez aquela
vontade de chorar.
Chorar de soluçar.
Decido não pensar mais nisso por hoje, caso contrário ficarei
maluca.
Levanto-me da cama e começo a me preparar para dormir. Busco
um pijama na pilha de roupas que Giovana me emprestou. Visto-me e vou
até o banheiro da suíte para fazer a minha higiene noturna. Quando volto,
sento-me na cama para a última medição de glicemia do dia e vejo que está
estável.
Estou terminando de fechar a bolsinha, quando ouço uma batida
leve à porta.
— Pode entrar — falo e a imagem do pai da minha amiga surge à
minha frente.
Seu semblante sério e olhar intenso me faz engolir em seco.
Augusto…
Eu ainda nem sei como lhe agradecer por tudo o que me fez hoje.
Quando Gio me contou que foi ele que se lembrou da minha casa e
movimentou tudo para o meu resgate, eu fiquei com o coração agitado aqui
dentro.
Ele não é nada meu, mas ainda assim fez tudo…
— Oi… — a voz grossa me arrepia inteira.
— Oi… — respondo, baixando o olhar por um momento.
— Você está bem acomodada? — pergunta e eu assinto de pronto.
Isto aqui é muito além do que eu mereço.
— Precisa de alguma coisa? — indaga e eu nego.
— Está tudo perfeito, Augusto — digo, erguendo o olhar para
desviar em seguida.
O delegado tem o hábito de me encarar de forma tão intensa que
sempre me intimida.
— Obrigada. Não precisa se preocupar mais comigo.
Ele assente e cruza os braços, olhando tudo ao seu redor. E esse
movimento evidencia os bíceps fortes e tatuados, fazendo-me engolir em
seco mais uma vez.
Ele é tão bonito…
E, mais do que isso, é uma pessoa tão incrível.
Eu sempre ouvi elogios a ele vindos de sua filha, mas, nos últimos
tempos, ver todo o cuidado e preocupação que teve comigo me mostrou
muito dele. Mostrou muito de seu caráter.
— Se sentir fome durante a noite, pode ir até a cozinha pegar
alguma coisa. Pode ficar à vontade, ok? — afirma e eu assinto.
Logo que chegamos em casa, eu fiz uma ponta de dedo para
medição da glicemia. Com toda a adrenalina desta noite, acabei me
esquecendo de me cuidar e isso interferiu diretamente nela. Então, eu
apliquei uma dose de insulina, tomei um banho e me livrei das roupas
molhadas. Quando fui até a cozinha, Gio e seu pai estavam preparando algo
para comermos, e todo esse cuidado comigo aqueceu o meu peito. Agora,
voltando para o quarto, medi novamente a glicemia e ainda estava alta, por
isso apliquei uma nova dose de insulina para tentar controlar.
Espero muito que amanhã se normalize, pois hoje foi um dia
totalmente atípico para mim.
Mas, ainda assim, eu não sei o que seria de mim se não tivesse o
suporte de Giovana e Augusto.
Eu nunca vou me esquecer de tudo o que fizeram para mim hoje.
— Tudo bem, obrigada.
Augusto assente mais uma vez e toca a soleira da porta, preparando-
se para sair, mas se detém.
— Eu vim aqui te falar longe da presença da minha filha, para que
você não pense que estou fazendo isso só por ela. Esta casa é minha e sou
eu que estou te convidando para ficar aqui. Pode ficar o tempo que precisar
até conseguir se reestruturar, ok?
Balanço a cabeça concordando e mais uma lágrima me escorre.
— Obrigada, Augusto. Eu não sei nem por onde começar e…
— Não se preocupe com isso agora — interrompe-me. — Não
precisa ter pressa para ir embora. A casa é grande e somos só eu e Giovana,
tem espaço de sobra para você aqui.
Assinto e o vejo comprimir os lábios devagar.
— Aqui você está bem e segura conosco.
— Obrigada — digo, fixando meu olhar no dele. — De verdade. Por
tudo.
Augusto aquiesce em silêncio.
— Amanhã a Gio vai te levar no shopping para comprar algumas
coisas para você — avisa e eu concordo.
Ficamos um instante em silêncio apenas nos encarando quando ele
finalmente reage, esfregando a barba antes de sair.
— Bom, se precisar de alguma coisa é só me chamar — diz,
correndo o dedo pelos lábios. — Boa noite, Bárbara.
— Boa noite, Augusto.
Despeço-me e ele acena, fechando a porta ao sair do quarto.
Solto um suspiro quando finalmente estou sozinha.
Penso em tudo que Augusto me disse e em tudo o que ele fez por
mim hoje. É inevitável que meu coração reaja aqui dentro.
Penso na sorte que minha amiga tem por ser amada por alguém tão
incrível como ele, por ser cuidada…
Ergo os lençóis da cama e me acomodo debaixo deles para começar
a dormir. Apago a luz do quarto e a escuridão e silêncio da noite me trazem
uma sensação de paz.
Ainda que eu esteja agitada, com a mente bagunçada, estou tão
exausta, que não demoro a pegar no sono.
E aqui, com todo o conforto da casa dos Ferraz, eu faço uma prece a
Deus, agradecendo por tê-los comigo.
Se não fosse por minha amiga e seu pai, eu estaria completamente
perdida.
CAPÍTULO 9 - Bárbara

— Giovana, eu não vou aceitar que vocês paguem pelas minhas


coisas — protesto quando chegamos ao caixa.
— Mas, Babi…
— Amiga, ficou louca? Vocês me acolheram em casa, me deram
abrigo e ainda vão pagar pelas minhas coisas? Não mesmo!
Entrego meu cartão de crédito à funcionária da loja, ignorando o
olhar pidão da minha amiga.
— É que vai te fazer falta, Bá… Para o meu pai, isto aqui nem faz
cócegas.
— Mas é o dinheiro dele, Gio. Ele não tem que gastar comigo. Seu
pai já vai ter despesas extras com uma hóspede em casa.
— Mas…
— Fica tranquila, amiga. Vocês já estão fazendo muito por mim,
sério mesmo.
Giovana me olha receosa antes de assentir. Sei que seu pai deu
carta-branca para que comprasse o que precisasse para mim, mas realmente
não posso aceitar.
A compra não ficou mesmo barata, mas consegui dividir em mais
vezes no cartão e, apertando um pouquinho, consigo pagar. Seria muito pior
para mim se eu não tivesse um lugar para morar esses dias.
Minha amiga me ajuda a carregar as sacolas e vamos a mais uma
loja antes de decidirmos parar. Consegui comprar itens básicos para que eu
possa pelo menos recomeçar. Roupas, calçados, lingerie, bijuterias,
cosméticos e itens de higiene.
— Acho que agora está bom — digo, logo que nos sentamos em um
banco de madeira nos corredores do shopping.
— Está ótimo, amiga. E eu também posso te emprestar algumas
coisas minhas quando você precisar.
Olho para Gio e sorrio agradecida.
— Vão se passar duzentos anos e eu nunca vou conseguir agradecer
o suficiente tudo o que você e seu pai fazem por mim — digo e ela sorri,
puxando-me para um abraço.
— Eu te amo, Babi. E sempre vou estar do seu lado, sempre.
— Eu também te amo, Gigi.
Beijo seu rosto e ela me abre um sorriso lindo.
E pensar que conheci essa garota quando ela era só uma adolescente
que precisava de aulas de reforço de matemática. Minha mãe era amiga de
uma professora dela e acabou me indicando para dar as aulas.
Foi um período muito gostoso e eu me divertia muito com ela. E
daquelas aulas surgiu uma amizade bonita entre nós duas, que perpetua até
hoje.
Sou muito grata por Giovana ter aparecido em minha vida. Nos
demos bem desde sempre e, mesmo que ela seja seis anos mais nova que
eu, isso nunca foi um empecilho. Minha amiga sempre foi muito madura
para a sua idade e eu devo muito disso à forma como seu pai a criou,
sempre para ser independente e forte.
Ela é simplesmente incrível e eu só posso mesmo agradecer por tê-la
comigo.
— Pelo menos um sorvete de casquinha eu posso te pagar? —
pergunta ao se afastar e eu rio, balançando a cabeça.
— Me deixa só conferir a minha glicemia — peço.
Afasto-me dela e pego a minha bolsinha de insumos, buscando o
glicosímetro para fazer a medição. Faço um cálculo mental de quantos
carboidratos vou ingerir e pego a caneta de insulina para fazer a aplicação.
Minha amiga me observa com atenção e, logo que termino, dou a
carta-branca para que ela possa ir até a fila da sorveteria buscar o nosso
sorvete enquanto a insulina age em meu organismo.
Fico sentada vigiando as sacolas até vê-la voltar, minutos depois,
com um sorriso lindo no rosto.
— Meu pai já me mandou mensagem para saber se deu tudo certo
por aqui — ela comenta, sentando-se ao meu lado e me entregando uma
casquinha com sorvete.
— Seu pai é muito atencioso, Gio. Confesso que, na primeira vez
que o vi, fiquei com medo de sua cara fechada, mas agora entendo que é só
o jeito dele mesmo — revelo e ela gargalha.
— Amiga, eu falo que meu pai espanta mais as pessoas do que o
nosso pitbull e ele não acredita! — solta e é a minha vez de rir. — Mas é
assim mesmo. Não costuma dar muita abertura para as pessoas, mas,
quando gosta, ele cuida de verdade. E ele gostou de você.
Suas palavras me causam um frio na barriga…
Principalmente porque a imagem de um Augusto todo lindo me vem
à mente.
Eu nunca tinha parado para perceber o pai da minha amiga como o
homem incrível que ele é.
Íntegro, de caráter…
E lindo.
A beleza de Augusto Ferraz é tão imponente que deveria ser
considerada um crime.
Para a minha sorte, Gio desvia o assunto e começa a falar de outras
coisas, fazendo-me agradecer a ela mentalmente por desviar os
pensamentos de seu pai.
Eu não quero pensar no pai da minha amiga da forma como tenho
pensado ultimamente…
Quando terminamos o sorvete, seguimos para o estacionamento e
adentramos o seu carro. Minha amiga ainda só tem carteira de moto, então
eu fiquei de motorista. Não vou negar o quanto fiquei aflita de dirigir o
carro importado de Augusto, mas ele passou tanta confiança em mim
quando ofereceu o veículo, que aqueceu o meu peito.
E agora, fazendo o trajeto de volta, conversamos sobre várias coisas
aleatórias até finalmente chegarmos em casa.
Logo que Giovana abre o portão, vemos Augusto nos esperando ao
lado de Pluto.
E, mais uma vez, vê-lo de camiseta e bermuda me deixa
desconcertada…
Não há uma versão desse homem em que não fique absurdo de
bonito.
Logo que saltamos do carro, ele nos ajuda com as sacolas e leva até
o meu quarto.
— Conseguiu comprar tudo de que precisava? — pergunta com
cuidado ao acomodar o último pacote sobre a minha cama.
— Não tudo, mas o principal para começar. Pelo menos agora tenho
minhas próprias roupas — digo e ele assente.
— Ótimo.
Quando saímos do quarto, ouço Giovana atender ao celular e sumir
pelo corredor até o seu quarto. Neste momento, Augusto sinaliza para que
eu o acompanhe até a cozinha.
— Está com fome? — pergunta e eu nego.
— Tomei um sorvete com a Gio no shopping antes de vir.
Ele estreita os olhos antes de assentir.
— Eu fiz umas compras no supermercado e quero que me diga do
que gosta. — Augusto aponta para a bancada da cozinha.
Vejo diversas frutas, verduras e legumes sobre ela.
— Andei pesquisando e vi que você precisa ingerir alimentos ricos
em fibras, então comprei tudo o que pensei que pudesse te ajudar. Acertei
em alguma coisa?
Encaro o homem ao meu lado e meu coração erra uma batida.
Ele…
Ele pesquisou o que eu posso comer?
Ah, Augusto…
— Eu gosto de tudo o que está aí — revelo e ele suspira aliviado. —
Mas não precisava se preocupar comigo, Augusto.
— Não me custava nada. — Ele dá de ombros. — Eu costumo fazer
comida em casa aos finais de semana mesmo, então não é nada muito fora
da minha rotina.
— Obrigada — é tudo o que consigo dizer sem que entregue a
forma como seu gesto mexeu comigo.
— Você tem os horários certos para comer? — pergunta com
cuidado. — Porque eu e a Gio somos uma bagunça, mas podemos nos
adequar a você.
E isso, mais uma vez, me balança.
Bagunça tudo aqui dentro.
— Eu geralmente como de quatro em quatro horas — explico. —
Mas podem continuar a rotina de vocês. Sou eu quem deve se adequar aqui
— falo, mas ele balança a cabeça negando.
— De jeito nenhum. Eu e Giovana podemos ficar mais tempo sem
comer, você não. Fica tranquila, Bárbara, não é incômodo algum.
Assinto, engolindo em seco.
Todas as vezes que esse homem fala o meu nome, causa um estrago
dentro de mim.
— Obrigada, Augusto — é tudo o que consigo dizer e ele apenas
assente.
— Voltei! — Giovana se anuncia e eu dou um passo para trás,
sentindo meu rosto corar ao estar tão perto de seu pai. — Fez a feira, pai?
— ela pergunta, apontando para tudo na bancada.
— Eu comprei algumas coisas de que a Bárbara pudesse gostar —
ele diz e ela se vira para me olhar, com o semblante iluminado.
— É até bom, que vamos comer mais saudável, não é, velho? —
Gio brinca e ele a fuzila com os olhos.
— Velho é o caralho — responde e eu não resisto em soltar uma
risada diante da interação dos dois.
— É velhinho, sim, pai. Tem uns fios brancos aqui, olha! — minha
amiga debruça no pai e começa a catar alguns fios de seus cabelos, fazendo-
o resmungar mais. — Mas é um velhinho lindo!
Ela beija o rosto dele, que balança a cabeça antes de retribuir.
Giovana olha a bancada da cozinha repleta de vegetais e me lança
um olhar cúmplice.
— Eu não disse que ele é incrível? — diz e meu coração erra uma
batida.
Lembro-me bem de sua fala há algumas horas ao relatar que,
quando seu pai gosta de alguém, ele cuida.
E perceber isso faz o meu coração dar um salto aqui dentro.
Ah, Augusto…
Você é uma verdadeira caixinha de surpresas.
CAPÍTULO 10 - Augusto

Termino de tomar meu café e me levanto da mesa, vendo Bárbara


me olhar um pouco tímida. Ela está introvertida desde que chegou a esta
casa há dois dias. E, mesmo que minha filha se esforce para tentar deixá-la
à vontade conosco, a garota se fechou um pouco. Eu nem mesmo a julgo,
porque não consigo imaginar como deve ser horrível perder sua casa.
Bárbara perdeu realmente tudo, já que recebemos fotos de vizinhos
da situação, um barranco cedeu e acabou por derrubar a estrutura.
A garota que chegou um pouco animada ontem do shopping acabou
de piorar quando recebeu essa notícia.
Meu coração se aperta ao saber que alguém tão novo quanto ela tem
sofrido tanto, tem perdido tanto nessa vida.
— Você tem medo de andar de moto? — pergunto a ela, que ergue
os olhos acinzentados para mim.
— Não… Eu já andei algumas vezes com a Giovana — responde e
eu assinto.
— Quer uma carona para o trabalho? — ofereço e ela me encara
pensativa.
Como as aulas de Giovana começam uma hora mais cedo que nosso
horário de trabalho, ela já saiu de casa e nos deixou sozinhos tomando o
café da manhã. E, mesmo que não tenhamos dito uma palavra durante toda
a refeição, foi interessante ter a sua companhia.
Agora, olho para o relógio e vejo que está quase na hora de ir.
— Mas não é seu caminho — argumenta.
— Foge muito pouco — rebato. — De moto é rápido.
Busco as chaves no aparador, junto à minha carteira e encaixo o
coldre na cintura com minha arma. Noto que Bárbara me encara pensativa
até finalmente assentir.
— Tem certeza de que não vou te atrapalhar?
— Se isso fosse uma possibilidade, eu não teria te oferecido —
explico e ela concorda, ainda tímida.
Busco o capacete preto reserva e estendo a ela, que pega da minha
mão em silêncio.
Quando saímos de casa, solto um assobio para chamar Pluto, que na
mesma hora vem correndo.
— Tchau, carinha. Até mais tarde.
Faço um carinho em meu cachorro e vejo Bárbara se abaixar à sua
frente para lhe dar um afago também.
— Logo a Gio chega para ficar com você, lindinho — ela conversa
com ele e esfrega sua orelha antes de se levantar.
— Pronta? — pergunto e ela assente.
Puxo o capacete do retrovisor e o visto. Em seguida, monto na moto
e sinalizo com a cabeça para que Bárbara se acomode atrás de mim.
Quando ela sobe um tanto sem jeito, pelo espelho retrovisor consigo
ver que fica um pouco perdida sobre onde deve se segurar.
— Tem uma alça atrás de você em que pode se segurar. Se não te
der segurança, pode abraçar a minha cintura — instruo e logo sinto seus
braços me envolverem delicadamente.
Aceno para ela e ligo a motocicleta, sentindo o ronco do motor
ganhar vida.
Deixo a garagem de casa e piloto pela cidade tomando todo o
cuidado, principalmente em lombadas, para que não fique desconfortável
para ela.
— Tudo bem aí? — pergunto logo que paramos em um semáforo.
Abro a viseira do capacete e me viro para encará-la, está bem
próxima de mim.
— Tranquilo — responde e eu aquiesço.
Quando o sinal abre, volto a atenção para o trânsito e, já no bairro
de seu trabalho, ela me instrui até chegar ao prédio comercial.
Paro a moto rente à calçada e Bárbara desce um pouco desajeitada
do veículo. Quando retira o capacete e balança os cabelos devagar,
ajeitando os fios, eu me pego pensando em como um movimento natural
pode ser tão sexy.
Cacete, Augusto…
Balanço a cabeça e a garota estende o capacete para mim, mas eu
nego de pronto.
— Fica com ele, que eu te busco mais tarde.
— Não precisa, Augusto. Eu posso muito bem voltar de ônibus, já
estou acostumada.
— É que eu pensei em te levar para ver sua casa depois do trabalho
— ofereço com cuidado e seu semblante se ilumina de leve.
— Não vou mesmo te atrapalhar? — indaga e eu nego.
— Não vai, não. Te pego as cinco? — pergunto e ela confirma.
— Obrigada, Augusto. Bom trabalho.
Aceno para ela e fecho a viseira, olhando por cima do ombro antes
de arrancar a moto e pegar as ruas da cidade rumo ao prédio da
Superintendência.
Durante o trajeto, não consigo deixar de pensar nela.
Ainda que eu tente evitar, a garota tem dominado meus pensamentos
nos últimos dias, e, mais do que isso, tem despertado em mim um instinto
de proteção.
Sei que não posso fazer de tudo pela amiga da minha filha, mas
quero que saiba pelo menos como é ter alguém que se importe com ela.
Alguém com que ela saiba que pode contar.

— Espero que tenha alguma coisa boa para mim, Braga — falo,
logo que meu agente adentra o meu gabinete.
Todas as vezes que o rapaz cruza a minha porta com um sorriso no
rosto, eu sei que tem coisa boa. O garoto está respirando essa investigação e
conseguindo muita informação importante para nós.
— Abre seu e-mail — pede e eu o faço, vendo-o parar ao meu lado
para encarar a tela do monitor.
Vejo a mensagem que acabou de me enviar e faço o download das
imagens, recebendo mais fotografias de nosso agente infiltrado com
homens de terno.
— Quem são esses? — pergunto, dando zoom nas imagens.
— O de terno azul é aquele empresário das fotos anteriores e o de
terno preto é ninguém menos que Eduardo Bastos.
Viro-me para ele, tentando ver de onde conheço esse nome.
— Eu deveria conhecer esse cara?
— Segundo deputado federal mais votado da história do Mato
Grosso — declara e eu solto um assobio.
— Eita, porra.
— Um figurão, acima de qualquer suspeita.
— O pior tipo, na verdade — digo, enquanto repasso as fotos diante
de mim. — Já tem uma relação concreta entre ele e os bolivianos?
— Ainda não, delegado. Mas sei que está envolvido.
— Consegue essa prova, Braga — digo, virando-me para ele. —
Quero pedir ao juiz Leandro autorização para grampear o telefone desse
deputado, mas, para isso, preciso de algo mais concreto.
Os olhos do garoto brilham e ele assente, afastando-se de mim.
— Aproveita e chama o Murilo para mim — peço e ele acena, antes
de sair de minha sala.
Repasso todas as fotos e vejo cada passo do deputado, cada
detalhe…
— Me chamou, delegado?
Murilo passa pela porta e eu ergo os olhos para ele.
— O Braga conseguiu uma informação muito importante.
Gesticulo para que ele venha até mim e mostro as fotografias abertas
na tela, revelando quem são os envolvidos.
— Se na fronteira do Mato Grosso há político envolvido, pode ter
certeza de que aqui também há — falo e Murilo nem pisca para mim. —
Quero que você e a Julia investiguem os deputados aqui do Paraná. Todos
eles, desde os envolvidos em algum escândalo até os que têm a ficha mais
limpa que existe.
— Deixa comigo, Augusto.
— Se envolve políticos de fora e daqui de dentro, a coisa é ainda
mais fedida, Murilo. Nem que a gente demore anos nessa investigação, nós
vamos resolver essa porra.
— Com toda certeza, delegado. Estava demorando a cair um caso
grande desses em nossas mãos.
Olho para ele e sorrio.
Se estivermos indo para o rumo certo, esse poderá ser o maior caso
da minha vida.
— Temos que nos aposentar com honras, né? — brinco e ele ri.
Ainda que seu semblante esteja cansado, é notável o quanto fica à
vontade no trabalho.
— E como estão as coisas em casa? — pergunto e ele dá de ombros.
— Do mesmo jeito. Mas consegui convencer a Gisele a conversar
comigo. Marcamos para esse final de semana.
— Isso é ótimo. Logo você terá todas as respostas de que precisa.
Murilo assente fraco.
— Espero muito que sim. Agora vou voltar para o trabalho, tenho
alguns políticos para perseguir.
— Não se esqueça dos senadores — reforço e ele confirma,
preparando-se para sair.
— Vou atrás de todo o Congresso.
Ele dá uma piscada e sai de minha sala, deixando-me sozinho.
Volto a atenção para as fotos abertas diante de mim e minha mente
viaja longe.
Esse caso vai ser ainda melhor do que eu imaginava.

Estaciono a moto na calçada no momento em que Bárbara sai do


prédio comercial carregando o capacete nas mãos.
Logo que ela me vê, sorri antes de vestir o acessório e chegar bem
perto de mim.
— Oi… — cumprimenta e eu aceno, indicando para que se
acomode atrás de mim.
— Deu tudo certo no trabalho? — pergunto logo que ela se senta e
me abraça pela cintura.
A primeiro momento esse seu movimento foi um pouco estranho,
mas agora percebo que ela tem ficado um pouco mais à vontade comigo.
— Deu, sim… E no seu?
Balanço a cabeça e olho pelo retrovisor antes de seguir pela cidade
até o bairro de Bárbara.
Noto que, à medida que vamos avançando, seu corpo fica tenso
contra o meu e eu fico tentando imaginar no que ela está pensando.
Diminuo a velocidade quando adentramos a sua rua e há barro por
todo lado, o asfalto está simplesmente imundo. Quando chegamos à sua
casa, sinto meu peito se apertar.
Desligo o motor e estaciono a motocicleta, vendo Bárbara pular da
garupa e retirar o capacete para olhar tudo ao redor.
Faço o mesmo e sinto um nó na garganta diante da imagem à nossa
frente.
Demarcada com uma fita amarela e preta, vemos os escombros da
sua casa parcialmente destruída.
Lama seca por todo lado, galhos de árvores e uma parte da moradia
desmoronada.
É uma imagem triste demais de se ver.
— Eu… — Bárbara começa a falar e se cala, deixando-lhe escapar
um soluço.
Olho para a garota, que está tão perdida, tão triste, e sinto uma dor
apunhalar o meu peito.
— Não sobrou nada… — sua voz é um sussurro e eu apenas engulo
em seco.
Bárbara dá um passo para a frente e procura enxergar algo além dos
escombros, mas infelizmente não tem sucesso.
— Minhas coisas… Meus móveis… Minhas fotos… Minha casa,
Augusto. — Seu olhar é desolado quando ela se vira para mim e a voz é
embargada. — Não sobrou nada… Eu não tenho mais nada…
Quando seu choro se torna mais forte, sinto uma sensação de
sufocamento dentro de mim e faço o impensável, tomando-a em meus
braços.
A garota se agarra a mim como se eu fosse salvá-la de toda essa
crueldade, e eu simplesmente permito.
Permito que chore em meus braços.
Permito que desabe aqui.
Permito que ela fraqueje.
Encosto a cabeça na sua e acaricio seus cabelos devagar enquanto
ela chora de soluçar, derramando suas lágrimas para encharcar a minha
camisa.
E, neste momento, eu não me importo.
Não me importo com mais nada.
Ela pode me sujar inteiro se quiser, desde que isso a alivie.
Desde que isso tire um pouco a sua dor.
— Sinto muito… — murmuro e ouço seu soluço alto.
Aqui, embalando-a, tento transmitir todo o conforto que eu consigo.
Ah, Bárbara…
Eu sinto tanto, garota…
Sinto tanto…
CAPÍTULO 11 - Bárbara

— Amiga, você vai ficar bem mesmo? — Giovana me pergunta


logo que termina de passar seu batom.
— Claro que vou, Gio. Não é como se você estivesse saindo do país
— brinco, mas ela me olha avaliativa.
A realidade é que, desde que perdi a minha casa, fiquei sem chão.
Não tenho feito nada além de trabalhar e ficar em casa e isso tem
preocupado a minha amiga. Durante esses quinze dias desde o desastre,
Giovana não sai de perto de mim, sempre procurando me distrair e alegrar
um pouco o meu dia.
Porém, hoje ela tem um simpósio na faculdade e precisa ficar fora
durante a noite, pela primeira vez desde que cheguei aqui. E é por isso que
está tão preocupada em me deixar sozinha, principalmente porque seu pai
ainda não chegou em casa.
Hoje é um daqueles dias em que Augusto trabalha em um projeto
social dando aulas de jiu-jitsu e por isso ele chega mais tarde.
— Qualquer coisa que precisar, você liga para mim ou para o meu
pai, ok?
— Não se preocupe, amiga. Eu vou ficar bem — garanto e ela
assente, inclinando-se para dar um beijo em meu rosto.
— Devo comer na faculdade mesmo, então você pode jantar com o
meu pai, ok? — diz e eu concordo, sentindo um frio na barriga.
Nos últimos dias, tenho pensado em Augusto de mais formas do que
eu deveria, e dividir uma refeição sozinha com ele não deixa de me causar
expectativa.
— Certo. Pode deixar. Boa sorte, Gio!
Giovana joga a alça da mochila nas costas e sai de seu quarto, de
onde a sigo pelo corredor. Logo ela se despede de mim, pega a moto para
sair de casa e me deixa sozinha em todo esse casarão.
Sozinha não, pelo menos Pluto está comigo.
— Quem diria que eu ficaria sozinha com um pitbull? — murmuro
para o cachorro, que apenas resmunga para mim.
Ele é tão fofo…
Faço um afago no cachorro e decido assistir a alguma coisa na TV.
Eu me jogo no sofá e busco o controle, zapeando pela tela do
streaming até encontrar uma comédia romântica.
Estou quase na metade do filme, quando ouço o som do portão da
garagem sendo aberto e meu coração dá um salto aqui dentro. Em poucos
minutos, Augusto adentra a sala e o seu cheiro de sabonete preenche todo o
ambiente. Sei que, logo que as aulas terminam, ele toma banho no vestiário
mesmo e chega em casa sempre muito cheiroso.
— Oi… — cumprimento-o e ele abre um pequeno sorriso para mim.
— Oi, Bárbara. Gio já foi?
— Já sim — respondo, vendo-o passar por mim em direção ao
corredor.
Com uma mochila nas mãos, Augusto veste uma calça preta e regata
branca, que evidencia os músculos e as tatuagens.
Sempre tive curiosidade de saber mais sobre elas, se ele tem em
mais partes do corpo além dos braços.
Se elas têm significados…
— Você já comeu? — pergunta e eu nego.
— Ainda não. Preciso comer daqui a mais ou menos uma hora —
falo e ele assente parecendo aliviado.
— Certo. Vou só guardar as minhas coisas.
Augusto aponta para o corredor e some por ele, deixando-me
sozinha e com o coração acelerado.
Sua presença tem mexido comigo um pouco mais a cada dia e, ainda
que ele seja tão fechado, tem se aproximado de mim.
E eu tenho adorado a sua companhia, bem mais do que deveria
gostar.
Perco totalmente a concentração no filme que eu estava vendo,
quando ele retorna para a sala vestindo uma bermuda desta vez.
— Alguma coisa interessante? — Aponta para a TV e eu nego.
— Eu comecei a assistir a uma comédia romântica, mas não é nada
muito empolgante.
Augusto me analisa antes de aquiescer.
— Acho que vou começar a preparar o jantar.
— Posso te ajudar? — ofereço e ele acena fraco.
Sigo-o até a cozinha, sentindo o coração disparado mais uma vez
por tê-lo tão perto de mim e, mais ainda, por estarmos sozinhos.
— Gio não vem para o jantar — explico, logo que adentramos o
cômodo. — Então seremos só nós dois.
Só nós dois…
No mesmo instante em que essa frase escapa de meus lábios, eu me
sinto corar. Principalmente pela encarada firme que Augusto me dá.
Aqueles olhos azuis de uma intensidade absurda, que fazem com
que eu sinta como se estivesse completamente despida diante dele.
— Ótimo. Então fica ainda mais fácil de montar um cardápio. O que
você quer comer? — pergunta, virando-se para ir até a geladeira.
E essa preocupação dele comigo nunca vai deixar de me
surpreender.
— O que você quiser, Augusto — argumento e ele se vira para me
encarar firme.
Nesse pouco tempo em que moro aqui, percebi que ele detesta que
eu tenha vergonha de escolher o que comer.
Por isso, sempre me fuzila com o olhar.
Todas as vezes.
Como agora.
— Peixe… Frango… — sugere e eu dou um passo em sua direção.
— Pode ser peixe — respondo tímida e o vejo assentir.
— Gosta de salmão? — indaga sem olhar para mim.
— Muito!
Augusto balança a cabeça e busca várias coisas na geladeira,
levando até a bancada.
— Vou fazer só uma salada variada, pode ser?
— Claro! Está perfeito. No que posso te ajudar?
Aproximo-me mais dele e aquele cheiro tão gostoso me invade,
fazendo com que eu feche os olhos por um instante.
— Pode ir picando os legumes? Vou colocar para cozinhar no vapor.
Aquiesço e prendo os cabelos no alto antes de pegar a faca na gaveta
para começar a picar os legumes na tábua. De canto de olho, vejo Augusto
colocar uma panela com água no fogão enquanto começa a temperar o
peixe.
— Como foi no projeto hoje? Tudo bem? — puxo assunto para
quebrar um pouco o silêncio que se formou aqui.
— Sim, tudo tranquilo. Estamos avançando com uma turma
iniciante e os garotos têm muita vontade de aprender. Eles são muito
disciplinados.
— Deve ser incrível — digo sincera e ele balança a cabeça.
— Gosto de pensar que estou contribuindo um pouco para manter
essas crianças longe das ruas.
— Tenho certeza de que sim. É muito bonito de sua parte.
— Obrigado.
— Eu também gosto de trabalhar com crianças — digo, enquanto
pego mais uma cenoura para picar. — Não é um trabalho voluntário e tão
nobre quanto o seu, mas eu fico feliz em arrancar um sorriso delas.
Augusto ergue os olhos e me encara antes de abandonar os peixes
para me ajudar com a salada.
— Isso também é muito nobre de sua parte e não deixa de ter seu
valor por você receber por isso — diz e eu sinto meu coração errar uma
batida.
Nunca parei para pensar dessa forma…
— Obrigada, Augusto.
Volto a atenção para a tábua e estou terminando de picar uma batata
quando a faca escorrega da minha mão, cortando o meu dedo.
— Ai… — resmungo e ele larga tudo, vindo em minha direção.
— Se cortou? — pergunta e eu confirmo, fazendo uma careta ao ver
o filete de sangue escorrer.
Augusto pede licença e abre a torneira, pegando a minha mão e
levando direto para o jato d’água. Seus dedos friccionam o meu em uma
tentativa de estancar o sangue e, por mais que ele esteja simplesmente me
ajudando, não consigo deixar de pensar no quanto essa proximidade mexe
comigo.
Aqui, tão próxima dele, sentindo o seu cheiro, sua mão acariciando
a minha…
— Está doendo? — pergunta quando finalmente fecha a torneira e
noto que conseguiu conter um sangramento.
— Só arde um pouco — respondo e ele assente.
— Já volto.
Augusto some pelo corredor e me deixa sozinha, zonza pela sua
presença.
Eu não deveria ficar tão afetada com sua proximidade assim…
Não deveria.
Ele é pai da sua melhor amiga, Bárbara, tenha juízo!
Quando o delegado volta para a cozinha, vejo uma pequena maleta
plástica em sua mão.
— Eu posso aplicar spray antisséptico em você? — indaga,
erguendo aqueles olhos lindos para mim. — Ou você tem alguma restrição?
— Não tem problema — falo, tentando disfarçar o quanto seu zelo
mexe comigo.
Augusto assente e pega o meu dedo mais uma vez, borrifando um
pouco de spray. Com todo cuidado, ele cobre a ferida com um band-aid e
finaliza, olhando satisfeito.
— Obrigada, Augusto.
Ele balança a cabeça e devolve tudo para a maleta, colocando-a no
canto da cozinha.
— Essas facas são muito afiadas. Deixa essa parte comigo e lave só
as verduras — instrui e eu acato.
Longe de mim arriscar me cortar outra vez.
Se bem que se for para ele cuidar de mim de novo…
Balanço a cabeça.
Eu devo estar mesmo ficando maluca.
Terminamos de preparar o jantar e, ainda que iniciemos um ou outro
assunto, é palpável a tensão que se formou aqui.
Antes de começarmos a comer, faço a medição da glicemia e aplico
a dose certa de insulina, voltando em seguida para a cozinha.
Quando retorno, Augusto já colocou a mesa e eu me acomodo de
frente para ele.
— Tudo certo com a glicemia? — pergunta antes de comer um
pedaço do salmão.
— Graças a Deus, sim. Tudo sob controle. Na minha rotina normal é
mais fácil controlar.
Augusto meneia a cabeça parecendo gostar da resposta e eu começo
a comer, agradecendo a comida deliciosa que ele preparou para nós dois.
É simples, mas tão apetitoso…
E o melhor, foi feito com tanto carinho…
Eu consigo sentir neste prato todo o carinho e cuidado que Augusto
depositou aqui.
Terminamos a refeição sem entrar em muitos assuntos e eu o ajudo a
limpar a bagunça.
— Acho que vou me recolher agora — anuncio e ele assente,
cruzando os braços e encostando o quadril na bancada. — Você vai esperar
a Giovana chegar? — indago e ele confirma de pronto.
— Eu nunca durmo antes dela — explica. — Não importa o dia.
E esse cuidado me faz pensar no quanto Giovana tem sorte de ter
Augusto em sua vida…
— Certo, então… Boa noite — murmuro e noto seu semblante
relaxar um pouco.
— Boa noite, Bárbara. Quer uma carona amanhã para o trabalho? —
oferece e meu coração dá um salto.
Não é sempre que ele me dá carona, mas, todas as vezes que me
oferece, eu tenho aceitado.
— Eu vou aceitar, sim, obrigada, Augusto.
O pai da minha amiga assente e eu aceno, passando por ele em
direção ao meu quarto.
Com o coração disparado e a mente terrivelmente bagunçada.
Por que tão perfeito assim, delegado?
CAPÍTULO 12 - Bárbara

— Bu!
Uma voz feminina chega ao meu ouvido e eu dou um pulo
involuntário, colocando a mão no peito.
— Ficou maluca, Lorena? — pergunto à minha colega de trabalho,
que gargalha ao ver a minha reação.
Meu coração chegou a se acelerar um pouco com o susto que ela me
deu.
— Desculpa, Babi. Não resisti! Mas você estava aí viajando longe
com essa caneca de café na mão, tenho certeza de que até esfriou.
— Não esfriou nada, não — reclamo, dando um gole na bebida, e
faço uma careta ao constatar que está certa.
— Viu só? — Ela ri e eu balanço a cabeça.
Sigo para a pia, onde jogo o restante do café fora, e me sirvo de
mais um pouco, direto da garrafa. Lorena faz o mesmo e se senta ao meu
lado à mesa pequena da cozinha da agência.
— Tem algum motivo para estar tão pensativa hoje, Babi?
Ela me pergunta com cuidado e eu engulo em seco.
Se tenho? Com toda certeza, tenho…
Mas será que eu devo falar?
A verdade é que preciso desabafar com alguém, já que
definitivamente não posso fazer isso com a minha melhor amiga.
— Eu sou uma amiga muito ruim — declaro e ela estreita os olhos
para mim.
— De onde você tirou isso, Bárbara? A gente te adora aqui na
agência, e também fora dela e…
— Não, não aqui — interrompo-a, suspirando. — Com a minha
melhor amiga, que inclusive me hospedou quando fiquei desabrigada.
— Aconteceu alguma coisa entre vocês duas?
— Não…
— Então não entendi. Quer me contar o que está acontecendo? —
pede baixinho e eu encaro a caneca de café em minhas mãos antes de dar
um gole.
— Eu estou pensando demais no pai dela — confesso, sentindo meu
rosto corar imediatamente. — De um jeito que eu não deveria pensar…
Os olhos de Lorena se arregalam e então ela arrasta a cadeira para
ficar mais perto de mim.
— Como assim? O pai dela? Da sua amiga? Ele está dando mole
para você?
— Não necessariamente — respondo, sentindo-me corar de novo.
— Ele só está sendo muito atencioso comigo e eu certamente estou
interpretando tudo errado…
Faço uma careta, mas ela só estreita os olhos para mim.
— Me conta isso direito e eu te falo se você está mesmo
interpretando isso errado.
Olho para minha amiga e solto um suspiro.
— Não sei nem por onde começar…
— Comece me falando como ele é.
— Lindo — solto e ela abre um sorriso de lado. — Mas não é só
lindo, é um lindo diferente — tento explicar. — Augusto tem uma
imponência tão grande que te faz sentir pequena perto dele, entende? —
falo e ela assente. — Mas não te assusta, pelo contrário, te protege. Ele é
muito protetor. Além de lindo — repito e ela ri.
— E não é muito velho? Por ser pai da sua amiga?
— Lore, ele tem quarenta e três anos — revelo e ela solta um
assobio. — Mas o homem, além de delegado federal, é lutador de jiu-jitsu
— reclamo e ela gargalha. — Tudo seria tão mais fácil se ele fosse feio.
Faço um biquinho e tiro mais uma risada dela.
— Ok… Aposto que ele é um gostoso — constata e eu mordo a
pontinha do indicador, assentindo.
Não tem outra forma de definir Augusto que não seja essa. Isso
porque eu nem o vi sem camisa ainda…
— E, além disso, ele se preocupa comigo. Cuida de mim.
Agora eu relato a ela sobre as caronas que ele me deu, a forma como
se preocupou na primeira vez que me levou em casa. O dia do resgate da
enchente, e todos os dias morando na casa dele. Cada gentileza, cada gesto
de cuidado…
— Ai, Babi. Você está tão ferrada… — constata e eu rio baixo.
— Eu sei… Mas vou tirar isso da minha cabeça. Não faz o menor
sentido ficar pensando no Augusto desse jeito, sem condições.
— Como se a gente mandasse em alguma coisa, né?
— Mas eu preciso, Lore! — falo, virando o resto de café. —
Augusto nunca vai olhar para mim desse jeito, mesmo se não fosse quem é.
— Por que, Babi? Por que ele nunca vai te olhar assim?
— Por quê? — devolvo a pergunta e ela assente.
Essa não é difícil de responder.
Principalmente se eu fizer uma autoanálise e perceber tudo o que
sou, tudo o que eu tenho, e tudo o que Augusto é.
— Porque ele é tudo o que eu não posso ter. Augusto tem uma vida
construída, uma carreira sólida, uma família. É cuidadoso e protetor com
quem ama, além de ser extremamente leal. Ele é tudo e eu não teria
absolutamente nada para oferecer em troca. Porque perto desse homem, eu
não sou ninguém…
— Não fala assim…
Aceno, abrindo um sorriso fraco.
— E além do mais, ele é pai da minha melhor amiga. Alguém que
me estendeu a mão quando estive em meus piores momentos da vida. Isso
já é motivo suficiente para que Augusto Ferraz seja inalcançável para mim
— concluo.
Lorena me analisa por um momento antes de assentir.
— Entendo o seu dilema… Só não quero que pense que você não é
merecedora de alguém como ele, porque é.
Encaro-a e nego baixinho.
Não, não sou.
Ninguém quer alguém tão ferrada quanto eu…
Tão quebrada, tão…
— Cada um tem o que merece, Lore. E eu não mereço alguém como
ele.
Os olhos dela se estreitam e eu trato de me levantar.
— Agora preciso voltar ao trabalho.
Aponto para a porta e ela ainda está me olhando com aquele
semblante que eu simplesmente odeio.
Pena…
— Babi… — chama e simplesmente nego, acenando e saindo da
cozinha.
Volto para a minha mesa de trabalho e trato de me focar no projeto
de uma pizzaria, que comecei pela manhã.
E aqui, mergulhada em criações, levo a mente por caminhos mais
seguros.
Ainda que por pouco tempo.

— Tem certeza de que você está bem, amiga? — Giovana pergunta


e eu saio do transe.
Olho para ela e balanço a cabeça assentindo.
Estamos nós duas sentadas no sofá de sua casa, com Pluto deitado
no tapete ao nosso lado, enquanto assistimos a um filme de comédia
romântica na TV.
Bom, que ela assiste…
Porque eu não estou prestando atenção alguma.
— Estou, Gio — respondo, olhando-a e me sentindo péssima por
mentir. — Não é como se eu estivesse na melhor fase da minha vida, mas
estou sobrevivendo.
Ela me encara antes de aquiescer.
Sei que está fazendo de tudo por mim, para me ajudar. Ela e seu pai.
E é exatamente por isso que me sinto tão mal por pensar em Augusto assim.
A conversa hoje com Lorena, no trabalho, só me deixou pensativa o resto
do dia.
E por mais que eu me esforce, por mais que tente desviar o foco dos
meus pensamentos, não tenho tido muito sucesso.
Não quando continuo morando debaixo do mesmo teto que a razão
deles.
— Eu sinto muito pelo que você está passando, Bá — sua voz
compreensiva corta a minha alma. — E se eu puder te ajudar de alguma
forma…
— Mais do que já ajuda? — rebato e ela engole em seco. — Amiga,
você me deu abrigo, me deu um lugar para morar. Você e seu pai me
acolheram no pior momento da minha vida. Nunca terei palavras suficientes
para te agradecer por isso.
— Sabe que eu faço de coração.
— Eu sei… E é por isso que eu te amo tanto.
A garota sorri, pegando a minha mão.
— Eu só queria aliviar um pouco a sua dor — diz, com carinho.
— Isso é só o tempo, tá? Não temos muito o que fazer agora… Uma
hora vai doer menos — falo, mesmo que nem eu acredite muito nisso.
Eu realmente não sei se um dia vai parar de doer.
É tanta perda, tanta decepção, tanta dor…
Quando é que vão chegar os meus dias de sol?
— Você vai ficar bem, amiga — ela diz, entrelaçando nossos dedos.
— Ainda vai ser muito feliz e realizar todos os seus sonhos… Você é muito
nova e tem muito chão pela frente. É só uma fase, tá? Vai passar.
Seus olhos são tão amorosos que eu simplesmente aceno, sentindo
um nó se formar na minha garganta.
Sentindo o meu coração doer mais um pouquinho por sequer pensar
em seu pai…
— Obrigada, Gio. Por tudo.
Ela balança a cabeça antes de me soltar.
— Agora vamos procurar por um filme que finalmente vai te
distrair?
— Amiga, desculpa — solto e ela gargalha.
— Não esquenta! Ele estava meio chato mesmo… Vamos procurar
outro!
Procuramos pelo streaming até encontrar um que parece ótimo pela
sinopse.
Quando ele começa, nos deitamos no sofá e nos embolamos para
assistir ao filme. Percebo que, o tempo todo, Gio faz comentários para me
distrair e fixar a atenção na TV, tirando-me até algumas risadas.
Agradeço mentalmente por estarmos sozinhas em casa e por
desfrutar deste momento tão leve com ela.
Relaxo um pouco e me permito viver isso, deixando de lado as
preocupações.
Eu não fiz nada de errado.
Pensar em Augusto não quer dizer nada, afinal de contas. Então não
tenho por que me sentir culpada por algo que nunca vai acontecer de fato.
E isso me faz respirar tranquila.
No fim, tudo vai ficar bem.
Logo tudo isso vai passar.
CAPÍTULO 13 - Bárbara

Saio do banheiro da suíte e sigo até a minha cama, pegando a roupa


que separei para vestir. Como regra da empresa organizadora de festas
infantis a que eu presto serviço, preciso sempre me vestir de preto. Já que
perdi todo o meu guarda-roupa na enchente, comprei uma calça e blusa
pretas mais cedo no shopping com Giovana.
E agora, como ela saiu para um compromisso, estou me arrumando
para um outro trabalho que eu também amo.
Visto a lingerie, a calça e a camiseta que abotoa em um botão único
na nuca. Mesmo com os cabelos presos em um coque, eu luto com o botão,
a casa é estreita demais. Minha mão escorrega e puxa de uma vez,
arrancando-o.
Ah, não…
Não, não, não.
Que merda…
Olho para o botão solto na mão e suspiro.
Acho que vou procurar por uma agulha pela casa ou pegar uma
blusa emprestada de Giovana. Mas antes vou tentar a primeira opção, já que
minha amiga está em um compromisso da faculdade e não deve atender ao
telefone rápido.
Ai, que saco…
Segurando a gola da camiseta nas mãos, saio de meu quarto e sigo
pelo corredor, pensando em onde pode haver uma agulha nesta casa.
— Está tudo bem, Bárbara? — a voz grossa de Augusto surge e eu
dou um pulo de susto.
O movimento faz com que eu solte o tecido e a gola da camisa desça
parcialmente, fazendo-o baixar o olhar para mim. Sinto-me corar até a raiz
do cabelo, quando junto mais uma vez o tecido nas mãos.
— Eu arranquei o botão da minha blusa sem querer — explico,
sentindo a barriga gelar quando ele dá um passo em minha direção. — Sabe
onde encontro linha e agulha?
Minha voz sai um pouco mais trêmula do que eu gostaria e Augusto
apenas franze o cenho se aproximando ainda mais de mim.
Aqui, tão perto, consigo sentir o cheiro de seu perfume marcante.
— Posso ver? — pergunta, com aquela voz rouca que me faz
arrepiar todinha.
Apenas assinto e me viro de costas para ele, revelando a nuca e
soltando a gola para que ele veja o estrago.
Augusto toca o tecido e seus dedos resvalam a minha pele, fazendo-
me estremecer.
Eu coro instantaneamente por pensar que ele sequer percebeu que
um toque inocente como esse causou um efeito absurdo em mim.
— Hummm… Acho que é fácil de consertar — a voz baixa,
próximo ao meu ouvido, me arrepia mais uma vez.
Ah, meu Deus…
— Tira a blusa para mim — pede e meu coração para de bater por
uma fração de segundos.
Como é que é?
Eu fico paralisada, sem reação, quando ele trata de explicar.
— Tira a blusa para que eu possa ajustar para você — completa e eu
solto o ar dos pulmões.
Nossa, Augusto…
Você não pode me falar uma coisa dessas assim.
— Não precisa se preocupar — digo, virando-me para ele e dando
um passo para trás.
— Imagine. Eu faço isso rápido enquanto você termina de se
arrumar.
— E você sabe costurar? — pergunto, tentando despistar o quanto
estou afetada pelo seu gesto.
Pelo seu cuidado…
Augusto me lança aquele olhar intenso e sorri de lado.
— Sou pai de menina, Bárbara. Tive que aprender a me virar com
muita coisa — explica. — Eu vou pegar a agulha enquanto você se troca.
Ele some pelo corredor e eu fico parada por um momento até
finalmente reagir. Volto para o quarto e tiro a blusa, procurando um top para
vestir enquanto isso.
Volto para o corredor e o encontro me esperando, com uma caixinha
de madeira nas mãos.
Quando o delegado ergue os olhos para mim e vê o top que estou
usando, seus olhos caem sobre o meu decote e se demoram ali. Eu me sinto
corar por seu escrutínio, mas não me encolho.
Pelo contrário, gosto de saber que ele também repara assim em
mim…
— Aqui a blusa — falo, vendo-o balançar a cabeça e voltar a
encarar os meus olhos.
— Certo.
— E o botão.
Coloco a peça de plástico em sua mão e meus dedos roçam a sua
pele devagar, dando quase um choque elétrico.
Ele é tão quente…
— Ok, já vou consertar isso.
Aceno e ele some de vista, então volto para o quarto a fim de
terminar de me arrumar. Prendo os cabelos em um rabo de cavalo alto e
faço uma maquiagem leve enquanto isso.
Ouço uma batida à porta e, quando abro, encontro o Augusto me
esperando com um sorriso orgulhoso no rosto.
— Prontinho, senhorita — diz e eu pego a blusa de suas mãos,
sorrindo ao ver que ficou perfeito.
— Obrigada, Augusto. Me salvou!
Ele assente e corre a mão pela barba devagar.
— Quer que eu abotoe para você? Para não correr o risco de
arrebentar de novo?
— Não é possível que eu vá fazer isso — reclamo e ele ri baixo.
— Você que sabe…
— Mas acho melhor não correr esse risco. Me espera aqui!
Ainda parado à porta, Augusto aquiesce; eu vou até o banheiro tirar
o top e vestir a blusa que ele ajustou para mim.
Quando volto, sigo em sua direção e viro-me de costas para ele em
um pedido silencioso.
Sinto os dedos de Augusto roçarem a minha pele e mais uma vez eu
me arrepio, enquanto ele prende o botão.
— Pronto.
— Muito obrigada — respondo, virando-me e dando um passo para
trás.
É mais seguro me manter um pouco mais distante dele.
Um pouco mais longe de sua voz, de seu cheiro…
— Você já vai sair agora? — pergunta ao me ver começar a juntar as
minhas coisas.
— Vou. — Olho para o relógio e vejo que está quase na hora. —
Vou só preparar um lanche para levar.
Augusto acena e, logo que saio do quarto, ele me acompanha até a
cozinha.
— Pode me passar o endereço do salão de festas? — pergunta com
cuidado e eu sinto o coração errar uma batida.
Eu poderia estranhar sua reação, mas já me acostumei com seu jeito.
Sempre que Giovana vai a lugares desconhecidos, ele pede o
endereço para caso de emergência e agora está fazendo o mesmo comigo.
Ah, Augusto…
— Eu te mando por mensagem, pode ser? — sugiro e ele concorda.
— O que vai levar? — pergunta e eu abro a geladeira, pegando
ingredientes para montar um sanduíche.
Antes de começar a me arrumar, já fiz um lanche reforçado e
apliquei a insulina. Agora, estou preparando algo para levar, já que vou
chegar em casa bem mais tarde que meu horário de comer.
— Um sanduíche e frutas — explico. — Lá no buffet eles sempre
nos deixam comer alguma coisa, mas prefiro levar de casa.
— É mais seguro mesmo. E quando está trabalhando, você se
lembra de comer nos horários certos?
— Eu costumo me distrair — confesso. — Mas sempre encontro
uma folga para fazer um intervalo.
— Está certo. Eu devo ficar em casa mesmo, então, se precisar de
alguma coisa, basta me chamar, ok?
Eu acho que nunca vou me acostumar com o fato de ter alguém se
preocupando comigo assim…
— Pode deixar.
Fecho a minha bolsa, colocando tudo lá dentro. Chamo o Uber e,
enquanto o carro não chega, envio para o Augusto o endereço do salão de
festas por mensagem. Na mesma hora ele me agradece.
— Bom, acho que vou indo. O carro está chegando — aviso e ele
acena para mim.
— Bom trabalho, Bárbara.
— Obrigada, Augusto.
Despeço-me dele e faço um cafuné em Pluto, antes de sair de casa.
Quando chego à calçada, noto que o sol está começando a se pôr, dando um
efeito muito lindo ao céu.
Entro no carro do Uber e, durante o trajeto, não consigo deixar de
pensar em Augusto.
Em como sua proximidade me afeta, sua voz me arrepia, seu cheiro
me consome…
Não sei se ele fica tão afetado assim quanto eu, mas a verdade é que
ele tem abalado as minhas estruturas.
É difícil seguir imune a um homem como ele.
Simplesmente não dá…
Chego ao salão de festas e logo na portaria me identifico, seguindo
pelo local até encontrar Patrícia, a organizadora.
— Oi, Bárbara! Como está, querida? — Ela me recebe em um
abraço rápido.
Mesmo que não sejamos amigas, Patrícia sempre foi alguém muito
querida, que sempre me tratou com muito carinho.
— Eu estou ótima, e você?
— Cheia de serviço! — Balança a mão na frente do rosto e eu rio.
— Vem, que vou te mostrar onde você vai ficar hoje.
Sigo-a pelo local até encontrar uma mesa de madeira com a maleta
de materiais de que eu preciso. Tinta, pincéis, glitter e um pote com água.
— Ótimo. Será que os convidados vão demorar a chegar?
Olho para o relógio e vejo que falta só meia hora para o horário
marcado da festa.
— Acho que não. De toda forma, já está tudo pronto. Se precisar
usar o banheiro, é ali. — Aponta para duas portas de madeira do outro lado
do salão. — E a cozinha, daquele lado. Qualquer coisa, pode me procurar
pela festa.
— Certo. Pode ficar tranquila, Patrícia. Vai dar tudo certo.
A loira acena para mim e some pelo corredor. Olho ao redor e vejo
os monitores dos brinquedos ficando a postos, se organizando para começar.
Sento-me na cadeira, que é sempre mais baixa, e confiro todos os
materiais. Enquanto nenhuma criança chega, pego o celular na bolsa e
confiro as mensagens.
Não há nada de muito interessante e penso se deveria avisar ao
Augusto que cheguei bem, mas me contenho. Ele me pediu apenas o
endereço, e eu forneci. Não é como se não soubesse onde estou.
Minha mente viaja longe quando os convidados começam a adentrar
o salão e logo uma garotinha loira surge na minha frente.
— Oi, mocinha — cumprimento-a e ela abre um sorriso banguela
para mim.
— É você que é a tia das pinturas? — sua pergunta inocente me tira
um sorriso.
— Sou eu, sim! Quer pintar o rosto hoje? — ofereço e seus olhos
brilham ao assentir. — Como você se chama?
— Lavínia.
— Que nome lindo, Lavínia! — elogio e seu sorriso se amplia ainda
mais. — O que quer que a tia pinte em você?
A garotinha coloca a mão no queixinho para pensar um pouco antes
de responder.
— Uma borboleta cor-de-rosa! — responde empolgada e eu esfrego
as mãos, tirando-lhe uma risada.
— É para já!
Aponto para a cadeira à minha frente e a pequena se senta, virando o
rosto para mim.
Pego o pincel e a tinta preta para começar a fazer o contorno da
borboleta, logo peço licença para tocar em seu rosto.
— Quantos anos você tem, borboleta? — pergunto e ela me olha de
lado antes de sorrir.
— Eu tenho seis, e você?
— Vinte e quatro.
— Ah, da idade da mamãe.
— Jura? — indago, sentindo o meu peito se apertar.
— Sim! E ela é bonita assim como você.
Seu elogio aquece o meu peito e, quando termino o contorno da
borboleta, lavo o pincel antes de mergulhar na tinta rosa.
— Você poderia ser amiga da mamãe, para sempre ir lá em casa
pintar o meu rostinho — constata e isso me arranca um sorriso.
— Seria muito legal, não é?
— Muuito!
Uma das coisas que mais amo neste trabalho é o momento que passo
com as crianças. Além de ser uma distração, me deixa mais leve…
É a única forma de ter crianças assim tão perto de mim.
— Você quer um pouco de glitter? — ofereço quando estou
terminando o desenho em sua bochecha.
— Eu quero!
Polvilho um pouquinho em seu rosto e pego o espelho de mão no
canto, mostrando a ela, que me surpreende me puxando para um abraço. A
garotinha agarra o meu pescoço e eu sorrio, recebendo esse carinho tão
gostoso dela.
— Obrigada, tia.
— Por nada, borboleta. Agora você pode ir aproveitar sua festinha.
Ela assente e eu jogo um beijo para ela, antes de receber o próximo
da fila.
Um garotinho negro de cabelo cacheado, que é a coisa mais linda.
— E você, campeão? O que vai querer hoje?
— Pode fazer o Homem-Aranha? — indaga e eu confirmo de
pronto.
— Claro! Posso fazer o que você quiser.
Aponto para a cadeira a minha frente e ele se acomoda. Busco as
tintas preta, vermelha e branca e começo a trabalhar delicadamente em seu
desenho, mantendo uma conversa leve assim como foi com Lavínia.
Descubro que esse Peter Parker à minha frente se chama Bernardo,
tem sete anos de idade e adora andar de bicicleta. Para a minha sorte, é
ainda mais tagarela que Lavínia, então me rende um bom bate-papo.
Ao terminar, mostro-lhe o espelho e ele fica simplesmente
deslumbrado, falando repetidas vezes o quanto eu “mandei bem” em seu
desenho. E todo esse carinho enche o meu peito.
O garotinho também me dá um abraço e logo vejo uma fila se
formar por aqui.
Sorrio ao pensar que a noite será longa, mas sei que vou amar cada
segundo vivido aqui.
Chamo pela próxima criança e logo engato em uma pintura de
margarida. Sigo fazendo meu trabalho e só quando a fila se esvazia é que eu
consigo uma folga.
Atravesso o salão de festas e vou ao banheiro, aproveitando para
medir a glicemia. Logo que o faço, aplico a insulina necessária para o meu
lanche. Enquanto espero fazer efeito, pego o celular e me surpreendo com a
mensagem recebida há vinte minutos.
Augusto: Conseguiu parar um pouco para comer? Já deu o seu
horário.
As suas palavras fazem o meu coração errar uma batida.
Ele é tão cuidadoso…
Eu: Consegui parar agora! Já apliquei a insulina e daqui a
pouco vou comer para voltar ao trabalho.
Augusto: Ótimo. Fico mais tranquilo.
Esse homem devia ser proibido de agir assim…
Eu: Obrigada por se preocupar, Augusto.
Augusto: Não é nada. Eu só quero que você fique bem.
E é por uma dessas que ele me confunde e povoa a minha mente
demais…
Além da minha mãe e da minha amiga, eu nunca recebi tanto
carinho de alguém.
Nunca fui tão cuidada…
Encaro a tela do celular e clico na imagem de perfil dele, ampliando
a sua foto.
O rosto de Augusto me surge tão lindo, que eu não resisto em tocá-
lo, ainda que sobre a tela.
Ah, Augusto…
O que eu faço com você?

Augusto

Deitado em minha cama com um livro na mão, encaro o relógio de


tempo em tempo.
Giovana já chegou da faculdade, jantou junto comigo e tomou um
banho para dormir.
Bárbara, ainda não.
Já são onze horas da noite e nem sinal dela. Pelo que me disse, as
festas costumam durar quatro horas, mas em algumas pode acontecer algum
atraso.
Eu sei que só vou conseguir pregar o olho quando ela estiver em
casa e em segurança.
Folheio o livro em minhas mãos e acabo desistindo, porque não
consigo mais prestar atenção na leitura. Coloco o marca-páginas e o deixo
sobre a mesinha de cabeceira, dando um pulo da cama.
Acho que vou ver um pouco de TV até ela chegar.
Saio do quarto e encontro Pluto no tapete da sala, todo esparramado.
— Ê, vida boa, hein? — brinco com ele, que apenas resmunga
recebendo meu carinho.
Jogo-me no sofá e ligo a TV. Procuro por alguns canais e, quando
encontro uma luta da UFC rolando, eu paro para assistir. Está acabando o
segundo round quando ouço o som do portão sendo aberto e uma onda de
alívio me invade.
Encaro a porta principal de casa e, quando Bárbara passa por ela, se
surpreende ao me ver.
— Ah, oi… Ainda acordado? — murmura caminhando em minha
direção.
A garota, mesmo com o semblante cansado, me parece muito mais
leve.
— Eu estava te esperando chegar — aviso logo que ela se senta ao
meu lado e seu semblante se torna surpreso.
— Ah, Augusto. Não precisava…
— Eu nunca durmo antes de Giovana chegar em casa — explico. —
Com você não seria diferente.
Encaro-a firme e ela desce os olhos, um pouco tímida.
E aqui, tão próximo dela, consigo sentir seu cheiro doce.
Que é tão gostoso…
— Como foi o trabalho? Deu tudo certo?
— Foi ótimo! As crianças estavam animadas hoje e não me deram
folga — fala, sorrindo de lado. — Mas eu estou exausta!
— Imagino.
— Morta de cansaço, porém feliz.
— Agora você pode tomar um banho quente e relaxar — sugiro e
ela sorri, assentindo para mim.
E aqui, estando tão próximo dela, apenas nós dois, eu penso no
quanto gosto de sua companhia.
De como gostaria de passar mais um tempo com ela, se não
estivesse tão cansada…
Não sei o que essa garota tem, mas ela desperta algo diferente em
mim. Uma vontade de me manter por perto, mesmo que seja uma tremenda
loucura.
— Acho que vou dormir agora — anuncia, colocando-se de pé. — E
você também está liberado para fazer isso.
Sorrio de lado e balanço a cabeça, levantando-me e desligando a TV.
Apago as luzes da sala e a acompanho pelo corredor, parando ao
chegar em seu quarto.
— Boa noite, Augusto. Obrigada por ser sempre tão gentil comigo.
Estou prestes a responder, quando ela me surpreende, ficando na
ponta dos pés para beijar o meu rosto.
E logo que seus lábios tocam a minha pele, ainda que de forma
breve, eu me sinto queimar.
Fecho os olhos por um instante e absorvo esse contato que é
complemente diferente do que eu já vivi.
— Boa noite, Bárbara.
Eu os reabro e encaro-a. Ela sorri de lado antes de abrir a porta e
adentrar o quarto deixando-me sozinho.
Fico parado, confuso, tentando entender o que foi que aconteceu
aqui.
E desisto, quando vejo que não chego à conclusão alguma.
CAPÍTULO 14 - Augusto

Encho meus agentes de trabalho para o resto da tarde e aviso que


vou me ausentar. Procuro Murilo pelos corredores da delegacia e o encontro
tomando um café. Aproveito para me servir de um copo também.
— Quando acabarmos aqui, vamos para a rua — anuncio e seu
semblante se ilumina.
— Trabalho de campo, delegado? — pergunta e eu tombo a cabeça.
— Está mais para um desvio de função. — Sorrio de lado.
— O que está aprontando?
— No caminho eu te conto.
Terminamos o café e seguimos até o pátio, onde eu pego uma
viatura e me sento no banco do motorista, com Murilo ao meu lado.
— Agora você pode me contar, Augusto? — indaga logo que
estamos sozinhos.
— Preciso ir ver o que restou da casa da Bárbara — falo, sem tirar
os olhos do trânsito. — O pedido de demolição já está correndo na
prefeitura e eu quero ver se consigo resgatar alguma coisa antes.
— Mas tem alguma coisa que acha que dá para salvar? — pergunta,
curioso.
— Móveis e roupas, não. Mas talvez alguma fotografia… A garota
sofre por ter saído de casa com apenas um porta-retratos na mão.
Observo Murilo de canto de olho e noto que ele apenas me analisa
por um instante.
— E ela sabe que você vai lá?
— Não. Eu não quis dar esperanças, caso não dê certo. Mas se
conseguir resgatar uma foto que seja, farei uma surpresa.
Murilo assente por um momento.
— Você gosta dela, né?
A pergunta causa um formigamento aqui dentro.
— Se eu não gostasse, não a levaria para minha casa. Ela é a melhor
amiga da Giovana.
— Não é disso que estou falando — rebate e eu me viro para
encará-lo, seu semblante está diferente.
— Então não sei do que está falando.
— Você gosta dela como mulher, não como amiga da sua filha.
— Não viaja, Murilo — respondo firme, mesmo que eu não tenha
muita convicção do que estou dizendo.
— Se fosse só pela Giovana, você teria apenas abrigado a menina.
Mas agora está saindo em horário de serviço para procurar por algo que
pode ser importante para ela.
— Está me criticando, agente? — desvio o assunto, negando-me a
assumir que ele está certo.
— De forma alguma, delegado. Só constatando um fato — diz com
a voz leve.
Já eu, não tenho muito o que acrescentar, porque, pela primeira vez
em muitos anos da minha vida, não tenho controle sobre o que estou
sentindo.
— E isso não é algo ruim, cara — diz, depois de um longo tempo
em silêncio. — Pelo contrário.
Balanço a cabeça e sinto um alívio quando finalmente chegamos à
rua de Bárbara. Estaciono a viatura da polícia em frente ao que resta da sua
casa e, quando descemos, Murilo solta um assobio.
— Que merda, hein, Augusto? — comenta e eu assinto.
Consigo me lembrar do dia em que a trouxe para ver a casa depois
de tudo e ela ficou tão arrasada, que não fiz mais nada além de acolhê-la em
um abraço.
Bárbara ficou simplesmente desolada e, desde então, não consigo
parar de pensar nisso.
— Ela perdeu tudo, Murilo. Por isso eu quero ver se conseguimos
resgatar alguma coisa.
Passamos por baixo da fita amarela e preta, adentrando o portão da
casa.
— E você sabe onde poderia estar?
— Andei puxando algumas informações dela e descobri que
guardava alguns álbuns de foto na estante da sala.
— E onde era a sala?
— Não sei, vamos descobrir.
Adentramos a porta da casa e vemos um ambiente onde o teto cedeu
derrubando vários tijolos por todo lado. Agora, com tudo seco, é mais fácil
visualizar o local, mas está tudo uma completa bagunça.
— Cacete…
Murilo murmura andando pelos escombros e eu sigo por um
caminho oposto ao dele. Encontro um corredor que está tomado por
pedaços de concreto e subo por eles, dando um pulo para atravessar.
Encontro uma porta aberta, também interditada, e me agarro à ela
para atravessar e dar um pulo dentro.
Está tudo um completo caos, mas, ao ver o que restou de uma cama
de solteiro, imagino que seja o quarto de Bárbara. Ao lado, uma mesinha de
cabeceira parcialmente destruída. Forço a gaveta e abro, encontrando alguns
papéis soltos e canetas. Reviro o móvel até encontrar uma caixinha, que me
chama atenção.
Sopro a poeira do objeto de madeira e a abro, encontrando um colar
lá dentro com um pingente de coração. Não me lembro de Bárbara ter
comentado sobre ele, mas imagino que seja importante, então coloco dentro
da mochila vazia que eu trouxe da delegacia.
Reviro o móvel e encontro outra gaveta, puxando-a com força para
abri-la. Dentro, encontro uma espécie de diário ou agenda e apenas bato a
mão espantando a poeira antes de guardá-lo também na mochila.
Como não encontro mais nada no móvel, sigo até uma cômoda,
onde encontro um pedaço de mala sobre ela, e roupas espalhadas. Então me
lembro de como ela contou que tentou juntar algumas roupas para sair,
quando a água ainda não tinha tomado a casa.
Pensar nessa imagem me traz um aperto no peito ao imaginar como
foi difícil para essa garota ver tudo ruir. Abro as cômodas e gavetas, mas
não encontro nada além de roupas e calçados destruídos.
Acho que não vou ter mais sorte por aqui.
Dou uma última conferida no quarto antes de sair e ouço a voz de
Murilo me chamando lá de fora. Escalo as paredes de pedaço de concreto
pelo caminho e encontro meu amigo no que acreditamos ser a sala,
empurrando alguns tijolos e pedaços de concreto.
— Parece que há algo aqui — explica e eu o ajudo a remover as
pedras que encontramos pelo caminho.
Debaixo de tudo, um móvel quebrado surge em meu campo de visão
e um puxador chama a minha atenção.
— Isto aqui devia ser uma gaveta — falo, fazendo força para puxar.
Quando o faço, a imagem de alguns álbuns de foto completamente
molhados e sujos me aparece.
— Acho que encontramos.
Com a ajuda de Murilo, pegamos tudo o que conseguimos pelo
caminho. Algumas fotos estão protegidas pelo plástico, outras foram
completamente destruídas, mas me sinto aliviado por conseguir alguma
coisa.
— Acho que dá para aproveitar muita coisa — Murilo diz e eu
assinto. — Conheço uma empresa que faz restauração de coisas antigas,
podemos olhar com eles.
— Você sabe o endereço de lá? — pergunto, enquanto enfio tudo o
que encontro na mochila.
Se eu conseguir salvar nem que sejam cinco fotos de Bárbara com
sua mãe, já ficarei feliz.
— Sei, sim.
— Ótimo, vamos para lá agora — anuncio, quando termino de
fechar a mochila.
— Agora? — pergunta, apontando para nossos uniformes todos
sujos de poeira e barro seco.
— E desde quando eu ligo para essa porra? — solto e ele balança a
cabeça, rindo.
— Está certo. Sei que não vai sossegar até resolver isso.
Nego de pronto.
Não vou mesmo.
— Quando voltarmos para a delegacia, passamos no vestiário para
tomar um banho — oferto e ele aceita.
— Mais alguma coisa que acha que devemos procurar? — pergunta
e eu corro os olhos rapidamente pelo local.
— Acho que não. O principal eram as fotografias mesmo, que ela
mais lamenta ter perdido.
Murilo assente e deixamos a casa de Bárbara, voltando para a
viatura.
E, quando me sento ao volante, olho pela janela uma última vez. Sei
que em pouco tempo o lugar será demolido e Bárbara poderá decidir o que
fazer com o terreno. Se vai construir uma nova casa ou se vai colocá-lo a
venda. Eu a tranquilizei de que não precisa decidir nada por agora e a tenho
ajudado na parte burocrática.
A garota ainda está um tanto perdida e processando sua perda,
lidando com a dor, então, o que eu posso fazer para ajudar nesse processo,
tenho feito.
Não me custa nada, afinal de contas.
Dirijo pela cidade, seguindo o caminho instruído por Murilo e,
quando chegamos à empresa, apenas limpo a sola do coturno no tapete
antes de entrar.
Quando uma atendente nos olha de uma forma curiosa, eu trato de
me apresentar.
— Boa tarde. Eu sou delegado federal e esse é meu agente Murilo
— identifico-me, mostrando o distintivo e a mulher me encara assustada.
É incrível como só mencionar as palavras “Polícia Federal” e as
pessoas tremem as bases, mesmo as que não têm nada a temer.
— Mas não se preocupe, não estamos aqui a trabalho — trato de
tranquilizá-la. — Só estou justificando porque estamos sujos de terra.
— Imundos. — Murilo faz uma careta e eu rio baixo.
— Imagina, está tudo bem. Em que posso ajudá-los hoje? — a
garota ainda está um pouco tensa diante de nossa presença.
Se há algo a que me acostumei nessa minha longa carreira na Polícia
Federal, é que a nossa presença é intimidante. Onde quer que estejamos.
— Preciso restaurar algumas fotografias que foram comprometidas
por uma enchente. Pode dar uma olhada?
— Claro! Venham comigo.
Seguimos pela loja até o balcão. Quando abro a mochila, retiro tudo
de dentro dela, que está ainda mais sujo do que eu e meu amigo.
— Você acha que dá para aproveitar alguma coisa? — pergunto,
vendo-a calçar uma luva para tocar nos álbuns parcialmente destruídos.
— A maioria, sim. As que não conseguirmos, devolveremos para
você.
— Ótimo.
Solto um suspiro de alívio só de pensar na possibilidade.
— Precisa com muita urgência?
— Não muita, mas são para uma mulher que ficou órfã há menos de
um ano e perdeu tudo na última enchente. Essas são as únicas recordações
que ela tem da mãe — falo e ela me olha compreensiva.
— Faremos o mais rápido que conseguirmos.
— Perfeito.
Preencho uma ficha com meus dados, faço o pagamento e pego o
cartão da loja para contato.
Se tudo der certo, em algumas semanas vou surpreender Bárbara lhe
devolvendo algumas lembranças.
— Resolvido, delegado? — Murilo pergunta logo que adentramos a
viatura, e dirijo de volta para o prédio da Superintendência.
— Espero mesmo que dê certo — revelo.
— Vai dar, sim. O pior nós já fizemos, que foi revirar aqueles
escombros.
— Valeu pela ajuda, Murilo — agradeço. — E você, já conseguiu
encontrar a Gisele? — pergunto, mudando de assunto.
— Ela tinha marcado comigo e cancelou. Remarcamos para hoje
depois do trabalho.
— Se precisar de qualquer coisa, sabe que pode contar comigo —
afirmo.
— Eu sei. Eu te conto quando descobrir.
Seguimos pelo trajeto, mudando de assunto mais uma vez e
seguindo para a investigação na qual estamos trabalhando. Logo que
adentramos o pátio da polícia, devolvo a viatura e seguimos até o vestiário
para tomar um banho e nos livrarmos das roupas sujas.
Já está quase no final do expediente, mas retorno para a minha sala a
fim de conferir alguns documentos antes de sair.
E, neste momento sozinho, não consigo deixar de pensar no quanto
torço para que a restauração das fotografias dê certo.
Bárbara merece isso.

Meu celular toca e o nome de meu amigo surge na tela, fazendo-me


sentir um frio na barriga.
— Fala, Murilo — atendo, logo que piso no quintal de casa.
Preferi sair lá de dentro, porque sinto que essa conversa não vai ser
nada tranquila.
— Eu odeio você, sabia? — fala com a voz chorosa e eu sinto meu
coração esmurrar o peito.
— O que…
— Eu odeio que você esteja sempre certo sobre tudo — completa,
antes que eu termine a minha frase.
E então sua afirmação me golpeia forte.
Ah, caralho…
Eu estava mesmo certo sobre isso.
— Você conversou com ela?
— Ainda não, só com a Gisele. Acabei de entrar no carro. Eu… Eu
não estou sabendo pensar, Augusto. Eu… — a voz perdida esmaga o meu
peito.
Ele está desolado.
— Onde você está? Me fala, que eu estou indo para aí.
— Não precisa…
— Eu não estou te pedindo permissão, Murilo. Me fala onde você
está.
— Naquela cafeteria perto da Superintendência.
— Certo. Me espera aí, que eu estou chegando. Não ouse sair desse
lugar, Murilo. Você não está em condições de dirigir.
— Tudo bem.
Desligo o telefone e voo para dentro de casa, a fim de pegar as
chaves da moto.
— Está tudo bem, pai? — Gio pergunta ao me ver agitado.
Ao seu lado, Bárbara me encara com o mesmo semblante
preocupado.
— Murilo está com problemas. Estou indo até ele.
— Certo, vai me dando notícias.
Assinto e pego tudo, preparando-me para sair.
— Só toma cuidado, Augusto — a voz doce de Bárbara me atinge e
eu aceno, olhando em seus olhos bonitos.
Despeço-me das duas e sigo para a minha moto, montando e
seguindo pela cidade até o local onde Murilo está.
Não demoro a reconhecer o sedã prata no estacionamento da
cafeteria. Estaciono ao seu lado e tiro o capacete, dando uma batidinha no
vidro para anunciar a minha chegada. Meu amigo me encara perdido antes
de destravar a porta e liberar a minha entrada.
— Gisele já foi? — pergunto, sentando-me ao seu lado, e ele
concorda.
Em todos esses anos de amizade, nunca vi meu amigo tão desolado
assim, tão perdido.
Seus olhos estão vermelhos, fundos, molhados, e os cabelos,
bagunçados. Murilo parece ter sido atropelado por alguém.
— Por que ela não me contou, Augusto? — pergunta com a voz
embargada.
Lágrimas descem desenfreadas e ele não faz questão alguma de
secá-las.
— Deve ter sido um trauma muito grande, Murilo. Não é fácil para
uma vítima falar sobre isso. A Gisele te contou alguma coisa a respeito?
Ele balança a cabeça e um soluço lhe escapa.
— Ela estava saindo do trabalho quando foi abordada por um cara,
que a levou de moto para um lugar afastado e… — meu amigo não
consegue completar a frase e nem precisa, eu já entendi tudo.
— Que merda, Murilo — é tudo o que eu consigo dizer e ele
balança a cabeça.
— Se eu soubesse… Não teria ficado essas semanas longe dela.
Cacete, Augusto…
— Não fica pensando no que passou, Murilo. Foca no daqui para a
frente e o que você vai fazer por ela. Sua esposa precisa de suporte, de
ajuda, e você precisa ser forte agora.
— Ainda não consigo entender o que estou sentindo, sabe? Se é
tristeza, se é raiva, se é…
— É normal isso. Você acabou de receber uma notícia muito forte.
Precisa de um tempo para assimilar tudo isso.
— Eu só consigo pensar que não a protegi, Augusto… Eu não…
— Não foi sua culpa, porra — corto-o, para que ele afaste esse tipo
de pensamento. — A culpa é desse filho da puta que nós vamos descobrir
quem é.
A minha sugestão traz um pouco de vida para o semblante de
Murilo.
— Nós vamos, né?
— Você é um policial, ou o quê? — falo encorajando-o. — Deve
haver câmeras de segurança na rua, vamos pegar a placa da moto, vamos
revirar o caralho desta cidade, Murilo. Mas vamos encontrar esse
desgraçado e colocar atrás das grades.
Minha voz é firme e parece dar uma injeção de ânimo no meu
amigo, que endireita a postura e seca as lágrimas rapidamente.
— Nós vamos. Nós vamos encontrar esse filho da puta, desgraçado,
Augusto. E eu vou fazer questão de acabar com a raça dele.
— Amanhã vamos até a Civil conversar com o Gomes, ok? — digo
referindo-me ao delegado da Polícia Civil da cidade. — Ele me deve uns
favores e vou cobrar prioridade nesse caso.
Murilo assente determinado.
— Mas hoje, você vai para casa conversar com sua esposa e acolhê-
la, ok? Vai cuidar dela e dar todo o suporte de que ela precisa.
Meu amigo me olha e percebo que seu semblante está um pouco
mais tranquilo.
— E ela precisa de ajuda profissional, Murilo. É um trauma muito
sério, precisa cuidar disso. Leve-a ao hospital, faça exames. Faça tudo o que
puder e o que não puder, por ela.
Murilo me encara e balança a cabeça convicto.
Imagino o quanto sua mente deve estar perdida, por isso trato de
guiá-lo neste momento e pensar por ele.
— Vou fazer isso.
— Ótimo. Se sente melhor para voltar para casa? — pergunto e ele
confirma. — Vou te seguir de moto até lá, ok?
— Obrigado, Augusto. Eu estava completamente perdido até você
chegar aqui.
— Amigo é para isso, Murilo. Você também esteve comigo quando
eu perdi a Helena. Foi a fase mais difícil da minha vida, fiquei viúvo com
uma filha de quatro anos para cuidar e você estava lá.
— Porra… Você é meu exemplo, sabia? Se conseguiu superar algo
tão difícil, eu também vou. Não consigo nem me imaginar sem a Laura.
— Você também é forte, cara. Usa essa força para cuidar da sua
mulher.
Murilo aquiesce e eu destravo a maçaneta da porta para sair.
— Pode dirigir com calma para casa que eu vou te seguindo.
Aceno e saio do veículo, sentindo-me mais leve por ver meu amigo
bem e agitado por toda essa merda que aconteceu.
Mulher nenhuma merece ter o corpo violado por alguém.
Na verdade, cidadão nenhum merece isso.
Enquanto encaixo o capacete na cabeça e ligo a minha moto, só
consigo pensar no trabalho que temos pela frente.
Eu não vou sossegar até encontrar o desgraçado que fez isso com a
esposa do meu amigo.
Laura merece isso.
Todas as mulheres merecem.
Que esse verme apodreça na cadeia e se arrependa de ter nascido.
CAPÍTULO 15 - Augusto

— Já está tudo pronto, Gio? — pergunto à minha filha, logo que


surjo na porta de seu quarto.
— Quase.
Ela segue para o banheiro de sua suíte e volta de lá com um
nécessaire nas mãos. Esse é um daqueles finais de semana que ela passa
com a avó materna em uma cidade próxima, a pouco mais de três horas de
distância.
— Agora sim — anuncia, terminando de fechar a mala e colocando-
a no chão.
— Seu ônibus sai a que horas mesmo? — indago, enquanto pego a
mala no chão e puxo pelas rodinhas em direção ao corredor.
— Daqui a uma hora.
— Perfeito.
Seguimos pela casa em direção à garagem e, no caminho, Giovana
para, fazendo um carinho de despedida em Pluto.
— Cuida bem desses dois aqui, viu? — murmura para o nosso
cachorro.
— Vamos? — chamo e ela assente, colocando-se de pé.
Acomodo sua bagagem no porta-malas e logo entramos juntos no
carro.
Como hoje é sexta-feira, Giovana chegou da aula e almoçamos
juntos, então ela começou a arrumar suas coisas. Agora estou indo levá-la
para a rodoviária antes de voltar para o trabalho.
Logo que paro o carro no estacionamento e desligo o veículo, minha
filha se vira para mim.
— Sei que você quase não sai de casa, pai. Mas tenta não deixar a
Babi muito sozinha, tá?
Seu pedido inocente me apunhala o peito.
Principalmente porque tenho pensado na garota de outras formas…
— Pode deixar — respondo apenas e ela acena.
— Vou sentir saudade — declara e eu sorrio, tocando seus cabelos
com carinho antes de beijar a sua testa.
— Eu também, girassol — murmuro e ela sorri, manhosa.
Somos muito parceiros e quase não ficamos um dia inteiro
separados. Então, sempre que ela precisa se ausentar, sentimos muita falta
um do outro.
— Comporte-se direitinho, viu, delegado? — brinca e eu reviro os
olhos para ela.
— Quando foi que eu não me comportei, Giovana?
Ela empina o queixo e sorri, divertida.
— Me avise quando chegar lá, ok? Vou ficar esperando sua
mensagem — peço e ela confirma.
— Pode deixar, pai.
Gio abre a porta do carro e eu desço junto com ela. Pegando sua
bagagem, sigo até a plataforma.
— Não precisa esperar comigo — avisa quando nos sentamos em
um banco de concreto.
— Meu horário de almoço ainda não acabou. Prefiro ficar aqui com
você.
Observamos as pessoas transitando pela rodoviária e noto alguns
olhares furtivos sobre nós dois. Principalmente porque estou com minhas
vestimentas de trabalho.
— Aposto que estão comentando como você é um policial bonitão
— Giovana cochicha e eu rio baixo.
— Você acha mesmo? — pergunto e é a sua vez de revirar os olhos.
— Já se olhou no espelho, delegado Ferraz? — brinca e eu balanço
a cabeça, ajeitando nela o boné preto.
— Se você diz…
— Falando nisso, como estão as coisas no trabalho?
— Muito trabalho, como sempre. Estamos avançando em uma
investigação.
— Aquela que você mencionou outro dia? — Assinto e ela não pede
mais detalhes, porque sabe que estamos em local público.
— Estou bastante confiante.
— Vai dar tudo certo. Você arrasa. — Ela dá uma piscadinha para
mim e eu sorrio.
Quando o motorista liga o ônibus e começa a chamar pelos
passageiros, nós nos levantamos e seguimos até a fila para a entrega da
bagagem.
— Boa viagem, filha — murmuro, beijando sua testa antes de a
envolver em um abraço gostoso.
— Obrigada, pai. Bom final de semana.
Assinto e me afasto para tocar seus cabelos castanhos.
— Eu te amo, girassol. Não se esqueça de me avisar quando chegar.
— Pode deixar. Eu também te amo, pai.
Ganho um beijo no rosto e afago seus cabelos antes de soltá-la e
acenar para ela, vendo-a entrar no ônibus.
Aqui, parado, acompanho-a se acomodar em sua poltrona e coloco
as mãos no bolso enquanto observo todos os passageiros se acomodarem.
Eu só me movo quando o ônibus ganha vida e leva um pedaço do meu
coração consigo por um final de semana.
Sei que no domingo ela estará de volta, mas não deixo de sentir
aquela pontada por saber que não a terei comigo em casa.
Quando o veículo some de vista, eu sigo para o estacionamento e
entro no meu carro, dirigindo até o prédio da Superintendência. Quando
pego os corredores, encontro Murilo e sinalizo para que ele me acompanhe
até a minha sala.
Quando entramos, fecho a porta para termos um pouco de
privacidade.
— Como a Laura está? — pergunto logo que me jogo na minha
cadeira e meu amigo faz o mesmo à minha frente.
— Um pouco melhor.
Já faz duas semanas desde que o mundo do meu amigo desabou e eu
tenho acompanhado tudo de perto. Com muito cuidado, Murilo conseguiu
fazer com que sua esposa se abrisse e procurou ajuda para ela. O cara está
tendo muita paciência e amor neste momento tão difícil e eu estou dando
todo o suporte que posso.
Conseguimos descobrir que um bandido passou de moto e a
ameaçou com uma arma para que ela montasse atrás dele; acabou levando-a
para um canto da cidade, onde a violentou. Levando isso para o Gomes,
ficamos sabendo de outra ocorrência com caso semelhante ao de Laura e
então o delegado começou a investigação. Já fui ao juiz, que é um velho
conhecido, para agilizar um mandato com o intuito de ter acesso às câmeras
de segurança da região, e a placa que conseguimos é fria. De toda forma,
ainda que não seja de nossa alçada, temos auxiliado como podemos nesse
caso, principalmente Murilo.
Meu amigo não vai descansar até ter essas respostas.
Nem eu.
— Ela já começou a terapia? — pergunto e ele nega.
— Consegui marcar para semana que vem, mas ela ainda está
relutante em falar sobre isso. Nem a mim deu muitos detalhes…
— É um trauma do cacete, Murilo. Não force a barra, aos poucos ela
vai se abrindo com você.
— Eu sei… Só de estar me deixando cuidar dela, já vale tudo.
— Eu imagino. Vai ficar tudo bem, ok? Logo vocês vão superar
isso.
— Com certeza — garante, soltando um suspiro. — Obrigado.
Balanço a cabeça.
— Agora vamos voltar ao trabalho. Alguma novidade sobre o caso?
— Ainda estamos rastreando os deputados para entender a ligação
entre eles.
— Certo. Assim que descobrirem alguma coisa, me avisem.
Murilo assente e pede licença para sair de meu gabinete. Aproveito
o tempo sozinho e confiro alguns arquivos de um outro caso que
trabalhamos há um tempo e ainda não tivemos solução.
Mergulho de cabeça por algumas horas até sentir meu celular apitar
sobre a mesa.
Gio: Cheguei, pai. Tudo certo por aqui. Já estou na casa da vó.
Respiro aliviado por saber que está tudo bem.
Eu: Certo. Aproveita bastante e dê um abraço em dona Leda
por mim.
Minha filha envia alguns emojis de coração e eu travo a tela do
celular, voltando ao trabalho.
Mas, cinco minutos depois, o aparelho toca e eu atendo a um
número desconhecido.
— Pronto.
— Sr. Augusto? — uma voz feminina me chama.
— Pois não?
— Aqui é Janete, da empresa de restauração. Estou ligando para
avisar que as fotografias estão prontas.
Meu coração dá um salto aqui dentro e um sorriso involuntário me
surge.
Porra, que boa notícia!
— Ah, ótimo. Eu posso passar aí depois do trabalho para buscá-las?
— Claro. Nós ficamos abertos até as dezoito.
— Perfeito. Eu passo aí antes disso. Obrigado!
Encerro a ligação com o coração disparado por saber que deu certo.
Porra, a Bárbara vai surtar de felicidade.
Não vejo a hora de chegar em casa e surpreendê-la com isso.
Pelo visto o resto do dia hoje vai demorar a passar…
Preciso fumar um cigarro.

Ouço o som da porta se abrindo e logo ergo os olhos do sofá, vendo


Bárbara adentrar a sala com um sorriso tímido no rosto.
— Oi… — ela me cumprimenta e eu aceno, levantando-me de
pronto.
— Oi, Bárbara. Como foi o trabalho hoje? — pergunto, tentando
controlar um pouco a ansiedade pelo que está por vir.
— Foi cansativo, mas muito bom. E o seu?
— Tranquilo. — Dou de ombros.
— Vou só tomar um banho rapidinho e volto, ok? — avisa e eu
assinto, voltando a me sentar.
Cheguei um pouco antes dela e fui direto para o banho, preparando-
me para esse momento. Agora, estou vendo um pouco de TV enquanto a
espero voltar.
Decido me levantar e procurar por algo na cozinha para beliscar.
Aproveito para pensar no que podemos fazer para o jantar, já que seremos
só nós dois.
E pensar que estaremos sozinhos até o domingo me causa um certo
frio na barriga.
Nunca ficamos tanto tempo assim juntos e a sós.
Eu realmente não sei o que esperar desses dias, mas pretendo deixá-
la o mais confortável possível em minha presença.
Começo a lavar alguns morangos, quando um cheiro doce invade o
ambiente e eu me viro para olhá-la.
Com os cabelos presos ao alto, vestindo camiseta branca e short
jeans, Bárbara está divina.
A garota não precisa de um mísero esforço para ser bonita.
— Aceita morango? — ofereço e ela assente, pegando algumas
frutas do bowl.
E o movimento de morder a fruta e mastigar lentamente não deveria
ser tão sexy…
Tão…
Ah, caralho.
Acompanho o movimento de seus lábios, que umedecem a cada
mordida, e minha mente viaja longe por caminhos nada seguros.
Não resisto a dar uma bela de uma encarada e, quando meus olhos
descem pelo seu decote, acabo me demorando por tempo demais ali.
Tenho reparado mais em seu corpo, bem mais do que deveria, e a
cada dia só constato que essa mulher deve ser uma delícia…
— Tenho uma surpresa para você — anuncio querendo desviar os
pensamentos nada inocentes.
— Uma surpresa? — pergunta, erguendo levemente a sobrancelha.
— Me espera aqui.
Saio da cozinha e sigo até a sala, onde deixei a caixa de presente.
Quando volto, encontro Bárbara encostada na bancada, olhando-me curiosa.
— É para você. — Estendo a caixa e ela termina de engolir o
morango.
— Quanto suspense, delegado… — murmura ao pegar a caixa de
minhas mãos e desfazer o laço de fita com cuidado.
Quando Bárbara a destampa, seu semblante paralisa por um instante.
— O que…
Sua primeira reação é pegar o álbum de fotografias lá de dentro e
colocar a caixa sobre a bancada.
Seus olhos brilham enquanto ela o folheia e, quando finalmente
entende o que está diante dela, uma lágrima lhe escorre.
— Como… Como você conseguiu isso? — pergunta, emocionada.
— Eu voltei a sua casa há algumas semanas com o Murilo e
reviramos os escombros para ver se conseguíamos recuperar alguma coisa
— explico, vendo-a olhar admirada a coleção de fotografias. — Algumas
foram totalmente destruídas, mas essas eu consegui restaurar para você.
Bárbara ainda está emocionada quando folheia todas as páginas
mais uma vez, correndo o dedo por cada lembrança resgatada, por cada
momento ali registrado.
— Eu também encontrei uma outra coisa — aviso, apontando para a
caixa sobre a bancada.
A morena me olha curiosa antes de encontrar a caixinha de madeira
e finalmente perceber o seu conteúdo.
— Augusto…
— Essa eu encontrei no que restava de sua mesinha de cabeceira —
explico. — Pensei que pudesse ser importante.
Bárbara alterna o olhar de mim para a caixa em suas mãos, com
tudo o que consegui resgatar, e me surpreende se atirando em meus braços.
Eu a seguro pela cintura e sorrio de seu rompante, sentindo-a me
agarrar forte pela nuca.
— Meu Deus, Augusto! Isso é… É perfeito, é… Eu não tenho
palavras para descrever o que estou sentindo agora. Eu… Obrigada! Não sei
como vou poder te agradecer.
Seus dedos acariciam a minha nuca e se embrenham em meus
cabelos, arrepiando a minha pele.
— Não precisa, Bárbara — digo, descendo o olhar para o seu. —
Saber que você está feliz já é o bastante para mim.
— Ainda assim… — insiste, os dedos ainda me acariciando e me
deixando louco. — Se houver uma forma…
Quando a garota umedece os lábios devagar com a língua, eu paro
de pensar.
Meus olhos descem sobre a sua boca vermelhinha e tão molhada,
tão convidativa…
Minha respiração está mais forte e eu estou tão perto, que consigo
notar seu peito subir e descer descompassado.
Próximo demais…
Inclino o rosto e sei que estou a milímetros dela, posso sentir sua
respiração resvalar a minha.
— Augusto… — a voz sussurrada é um combustível para que eu
avance e cole meus lábios nos dela.
Fico uma fração de segundos parado, absorvendo esse seu contato
até finalmente avançar.
Lambo seus lábios pedindo passagem e Bárbara não demora a
conceder, soltando um gemido.
Agarro sua cintura com força enquanto minha língua invade a sua
boca em um beijo surreal. O calor que emana dela, a sintonia com que nos
movemos.
Porra…
Que beijo bom do caralho.
Ainda sem separar nossa boca, giro Bárbara pela cozinha e a coloco
sentada sobre a bancada, onde me encaixo entre suas pernas e a devoro.
A garota agarra os meus cabelos, puxando os fios com força e me
levando para ainda mais perto dela.
Afasto-me para recobrar a respiração e desço os lábios por seu
pescoço, beijando, lambendo e chupando, antes de voltar a atacar a sua
boca.
Engulo o seu gemido quando empurro meu corpo contra o dela,
esfregando o quadril ao seu, vendo-a rebolar em minha ereção.
Porra, Bárbara…
Que mulher gostosa do caralho.
Solto a sua boca e corro os lábios pelo seu rosto, mordendo o queixo
ao final.
— Augusto… — chama, ofegante, e eu apenas ergo os olhos para
ela. — Isso… Isso é errado? — indaga e eu sugo o seu lábio inferior,
chupando a sua pele.
— Não se você for capaz de guardar segredo — murmuro e vejo
seus olhos faiscarem de desejo.
— Eu… Eu posso querer você? — a voz afetada só me faz morder a
sua pele, arrancando-lhe mais um gemido.
— Você pode o que quiser, Bárbara… — Subo as mãos pelo seu
corpo e a toco por baixo do tecido. — E o que quer agora?
A garota me olha desejosa antes de lamber os lábios devagar.
— Eu quero você — diz, com todas as letras.
E isso é tudo para que eu avance sobre ela e devore a sua boca.
Mais uma vez.
CAPÍTULO 16 - Bárbara

Augusto me beija com tanta fome, com tanto desejo, que eu me


esqueço de como respirar.
Suas mãos passeiam pelo meu corpo por baixo do tecido e eu sinto
minha pele queimar.
A cada toque, uma chama parece tomar conta de mim.
É gostoso, é…
— Augusto… — gemo quando ele abandona meus lábios inchados
para percorrer o caminho até a minha orelha, onde morde devagar.
— Gostosa demais, Bárbara — a voz grossa ao pé do meu ouvido
me arrepia inteira e o seu cheiro me inebria.
Não sinto mais nada, a não ser o aroma marcante de seu perfume
masculino.
Intenso, forte e gostoso, como ele.
Quando suas mãos passeiam próximo à barra do meu sutiã, eu perco
a sanidade.
Uma onda de calor se apossa do meu corpo e não penso em mais
nada, eu quero ser cem por cento dele.
Em um lapso de ousadia, agarro a barra da blusa e a puxo pela
cabeça, atirando-a longe.
Os olhos de Augusto cintilam ao me verem apenas de sutiã preto de
renda à sua frente. Os lábios grossos estão inchados quando ele se aproxima
ainda mais de mim, lambendo-os devagar.
— Você é ainda mais gostosa do que eu pensei, garota… —
murmura e eu sinto aquela pontinha de ego inflar.
— Você me imaginou, é? — pergunto, tomando coragem para
desabotoar o sutiã devagar.
Faço um gesto dramático ao me livrar da peça e a forma predatória
como Augusto me encara me faz arfar.
— Eu te imaginei de vários jeitos, Bárbara — murmura umedecendo
os lábios mais uma vez. — Mas não tão gostosa assim.
É tudo o que ele diz antes de abocanhar meu seio e me arrancar um
gemido.
Nossa, que gostoso…
Agarro a bancada com força enquanto o delegado mama com tanta
fome, tanto desespero, que só me faz gemer mais. Enquanto sua língua
chupa um mamilo e o suga, a sua mão tortura o outro, apertando e torcendo
de um jeito que chega a ser insano.
— Ai, Augusto… — choramingo, jogando a cabeça para trás
enquanto ele me chupa com vontade.
Augusto alterna de um seio ao outro, lambendo, chupando, me
degustando e devorando como se eu fosse uma fruta gostosa.
E é assim que eu me sinto agora, uma gostosa.
Não há como me sentir diferente com um homem desses me
devorando assim.
— Porra, que gostosa — murmura caindo de boca neles mais uma
vez, mamando com vontade.
Enquanto me chupa, Augusto empurra o quadril para a frente,
esfregando a ereção em minha virilha e eu sei que, se continuar assim, eu
vou gozar só com uma chupada nos peitos.
— Se você continuar assim — digo, ofegante. — Vou acabar
gozando…
— Mas eu nem comecei ainda, Bárbara — murmura e eu sinto meu
corpo se arrepiar mais uma vez.
Quando sua boca abandona meus seios e desce pelo meu abdômen,
Augusto faz questão de raspar a barba em minha pele, causando um ardor
tão gostoso que me faz gemer.
Um mísero toque deste homem causa um estrago em mim.
Quando se inclina e para na altura do meu short, ele ergue os olhos
azuis para mim.
— Abre logo, delegado — peço e ele ri, desabotoando a peça jeans e
abrindo o zíper.
Com uma delicadeza calculada, Augusto arranca a peça de meu
corpo e me deixa apenas de calcinha sobre a sua bancada.
Minhas pernas se abrem bem mais agora, bem convidativas, e ele
lambe os lábios antes de se abaixar e ficar na altura de minha virilha.
— Será que você está molhada para mim, Bárbara? — murmura
esfregando o dedão sobre o tecido.
— Molhadinha, delegado — solto e os olhos de Augusto faíscam.
— Hummm… Preciso conferir isso de perto.
É tudo o que ele diz antes de afastar a minha calcinha e correr a
língua por toda a minha boceta.
— Cacete, Augusto — gemo e o safado ri, correndo a língua mais
uma vez pela minha pele.
— Você tem razão — diz, lambendo-me bem devagar. —
Completamente molhada.
Quando Augusto afunda o rosto em minha carne e me chupa com
gosto, eu me sinto à beira de colapsar.
Puta que pariu.
Isso não é gostoso.
Transcendeu qualquer conceito de gostoso.
— Caralho — gemo e ele acelera o ritmo em minha boceta,
lambendo, chupando e sugando a minha carne.
Puta que pariu.
Não vou demorar a gozar com esse homem me comendo assim.
— Gostosa pra caralho — murmura enquanto continua a me chupar,
esfregando o rosto em minha carne.
A sua barba roça a minha boceta e me arranha, fazendo-me gemer
mais.
O ardor é tão gostoso, unido ao calor de sua língua…
Quando Augusto mordisca o meu clitóris e o suga, eu agarro os seus
cabelos com força e o afundo ainda mais em minha carne, mantendo-o
cativo.
Estou desesperada, alucinada, louca para gozar quando o safado
simplesmente se afasta me olhando malicioso.
— Volta aqui, Augusto — peço e ele nega, levantando-se e dando
um passo para trás. — Me deixa gozar — choramingo e ele ri, divertido.
— Quem vai te fazer gozar é o meu pau, Bárbara, não a minha
língua. Embora esteja uma delícia chupar você.
Ai, caramba…
Esse homem…
Falando essas coisas para mim…
Deveria ser proibido.
Augusto dá uma piscadinha antes de se afastar e eu não me movo
daqui, vendo-o ir até a sala buscar a sua carteira. Daqui consigo vê-lo voltar
com uma embalagem de camisinha nas mãos, e constatar o que está prestes
a acontecer faz o meu corpo arder em excitação.
Quando o delegado se aproxima de mim, eu toco a barra de sua
camisa e o ajudo a retirar a peça, livrando-se dela.
Puxo-o pelo cós da calça e o mantenho entre as minhas pernas,
enquanto corro os dedos por todo o seu peitoral firme. As tatuagens no
abdômen, subindo até o peito e ombro.
São lindas e o deixam ainda mais gostoso do que já é.
— Você é lindo, delegado — elogio e ele sorri de lado. — E gostoso
também — completo e Augusto solta uma risada gostosa.
— Me acha gostoso, é? — indaga e eu assinto, mordendo o lábio
devagar.
Desabotoo a sua calça e ele me ajuda a tirá-la, juntamente com sua
cueca, chutando tudo para o lado.
E a imagem deste homem nu à minha frente, com o membro ereto
nas mãos, deveria ser emoldurada.
Principalmente por ter um pau tão bonito.
E bem grosso.
Quando termina de vestir o preservativo, eu o chamo com o
indicador.
— Vem aqui, delegado.
Percebi que ele adora ser chamado assim, porque me abre um
sorriso malicioso todas as vezes.
— Já quer que eu te coma, Bárbara? — pergunta, roçando o pau em
minha entrada, e eu só consigo gemer.
— Augusto… — chamo e ele ri antes de me penetrar, metendo até o
talo.
— Porra… — geme junto comigo quando finalmente nos tornamos
um só.
Agarrada à bancada da cozinha, desço o olhar para o ponto que nos
une e seu pau entrando e saindo devagar da minha boceta é a cena mais
deliciosa que já vi.
Sinto como se fosse a coisa mais certa que já fiz em toda a minha
vida.
— Inferno de boceta gostosa — murmura antes de arremeter, um
pouco mais forte agora.
— É o melhor que você pode fazer, delegado? — provoco-o vendo
que ele está estocando devagar.
— Estou só te desfrutando, Bárbara — explica, metendo um pouco
mais forte agora.
Augusto agarra a minha cintura e estoca mais rápido, chocando seu
quadril ao meu. Eu só consigo gemer no ritmo das estocadas e ele sorri
daquele jeito safado.
— Mas posso te foder com força, garota — murmura, acelerando
um pouco mais. — É só você me pedir.
Lambo os lábios e choramingo ao ver que ele sai por completo de
dentro de mim.
— Vem aqui, delegado — peço e seu pau roça a minha entrada. —
Vem me foder com força.
Os olhos dele faíscam quando mete de uma vez, arrancando-me um
gemido.
Eu pareço ter despertado um leão da jaula, pois Augusto não só
mete duro e forte, ele me esfola inteira. Estoca em um ritmo tão louco, tão
bruto, que a sensação que eu tenho é de que vamos quebrar esta bancada da
cozinha.
Agarro um seio com uma mão e Augusto sorri diante disso,
apertando o outro mamilo e me beliscando.
— Ai, Augusto… — gemo alto quando ele estoca e me fode feito
um louco, de um jeito que beira a insanidade.
Quando ele agarra meus cabelos na mão e me puxa por eles para me
beijar, eu sinto que vou sucumbir.
O aperto forte nos cabelos, o beijo bruto e sedento e as estocadas
violentas…
É tudo demais para mim.
É insano, é gostoso, é…
Solto um gemido ainda mais alto quando ele morde o meu lábio e o
suga, batendo seu quadril tão forte ao meu, que podemos ser ouvidos por
toda a vizinhança.
— É assim que você gosta, Bárbara? — indaga, dando um tranco
em meus cabelos e eu só sei gemer. — Que eu te foda forte assim?
Balanço a cabeça assentindo, porque sou incapaz de formular uma
frase coerente com esse homem me comendo desse jeito.
— Augusto… — chamo e seus olhos azuis brilham para mim. —
Me chupa — peço, empinando o peito para ele.
O safado apenas sorri, antes de cair de boca neles e mamar tão
gostoso, que eu começo a sucumbir.
Rebolo em seu quadril, desesperada, gemendo feito uma louca,
doida para gozar, e Augusto não tira as mãos de mim.
Ele me chupa, agarrando a minha cintura agora, enquanto suas
estocadas se tornam frenéticas.
— Eu vou gozar, eu vou… — anuncio e sinto meu corpo inteiro
tremer.
Meu quadril chega a se erguer da bancada e até o último pelo do
meu corpo se arrepia quando o orgasmo me atinge intenso, louco,
arrebatador.
Eu desabo na bancada e ainda estou ofegante quando Augusto me
solta e estoca rápido demais, afundando os dedos em minha carne ao gozar
em seguida.
O urro que sai de dentro dele quando seu corpo treme é uma das
coisas mais sensuais que eu já vi.
— Porra, Bárbara — murmura, ofegante, enquanto sai de dentro de
mim.
— Nossa…
Eu ainda não consigo me mexer.
Estou acabada, suada, descabelada e acabei de ser fodida em uma
bancada de cozinha.
Pelo pai da minha melhor amiga.
Meu peito se acelera só por pensar nisso e, por mais que eu devesse,
não sinto culpa.
Não me arrependo.
Pelo contrário, se eu pudesse daria de novo para ele.
Quando consigo me recuperar, Augusto me ajuda a descer da
bancada e minhas pernas estão bambas quando tocam o chão.
— Acho que vou tomar um banho agora — anuncio e ele assente,
puxando-me pelo queixo para me dar um selinho.
O que era para ser só um encostar de lábios se torna um beijo tão
gostoso, com tanta entrega, que eu sinto o meu coração se acelerar aqui
dentro.
— Pode ir agora — ele diz, piscando para mim ao se afastar.
Balanço a cabeça e cato minhas roupas no chão, seguindo para o
meu quarto ainda de calcinha. Quando chego nele, eu fecho os olhos ao me
encostar na parede.
Sorrio sozinha e solto um suspiro alto.
Caramba…
O que foi isso?
Prendo o cabelo em um coque alto e sigo para o banheiro, tirando a
calcinha antes de entrar no chuveiro.
A água quente cai pelo meu corpo e eu fecho os olhos por um
momento, pensando no que acabou de acontecer.
Ainda consigo sentir o toque de Augusto em minha pele, o gosto do
seu beijo em meus lábios, o cheiro do seu perfume em meu nariz…
Abro os olhos e toco a virilha, sentindo a pele sensível pelo sexo
gostoso que acabamos de fazer.
Esse, com certeza, foi o melhor sexo de toda a minha vida…
Pego o sabonete e começo a me ensaboar, quando o som da porta se
abrindo me assusta.
Ainda nu, Augusto caminha até mim e, quando ele adentra o boxe,
eu noto o seu pau ereto, já vestido com camisinha.
Ah, caramba…
— Eu estava cogitando tomar um banho também, mas pensei: por
que não tomar com você? — diz se aproximando de mim e entrando na
água junto comigo. — E só de pensar em tomar um banho com você,
Bárbara, eu já fiquei duro de novo…
Sua mão segura o meu queixo quando ele me beija de um jeito lento
e completamente sensual.
A língua quente percorre a minha e eu me derreto em seus braços, já
sentindo meu sexo pulsar por ele novamente.
Só por ele…
Quando Augusto abandona os meus lábios e sobe até a minha
orelha, ele mordisca devagar.
— Você vai me dar essa boceta de novo, Bárbara? — pede, ao pé do
ouvido, e eu me arrepio inteira.
Quando sua mão desce até o meu sexo e os dedos correm pela
minha lubrificação, eu gemo alto.
Ainda estou sensível pelo orgasmo, mas só de pensar em ter esse
homem de novo…
— Augusto… — gemo ao senti-lo me penetrar com um dedo e
bombear devagar.
— Vai? — pede, com aquela voz grossa que me desmancha.
Qualquer coisa que este homem me pedir com essa voz, eu sei que
ele vai ter.
— Vai me dar essa sua boceta gostosa? — pede mais uma vez e eu
arfo, sentindo seu dedo me penetrar.
— Vou… — gaguejo e o safado sorri, agarrando a minha perna.
Circulo o seu quadril quando ele me penetra de uma vez só,
arrancando gemidos de nós dois.
Embora eu ainda esteja sensível do orgasmo, sinto-me
imediatamente pronta para ele.
Pronta para mais.
Enquanto a água quente cai sobre o nosso corpo, Augusto se inclina
para beijar a minha boca de um jeito absurdo de gostoso. Segurando-me
pela perna, eu agarro o seu pescoço e intensifico nosso contato, sentindo-o
entrar e sair de mim de um jeito delicioso.
Desta vez não é tão urgente, nem tão sedento, mas é igualmente
gostoso.
Eu me entrego a Augusto e ele toma de mim o que quer.
Não solta a minha boca enquanto continua me comendo debaixo da
água, o som dos nossos quadris se chocando ecoam por todo o cômodo.
— Eu não sei o que você tem, Bárbara — murmura ao se
afastar. Os olhos azuis estão escurecidos de tesão. — Mas, agora
que provei dessa sua boceta gostosa, não quero saber de outra coisa mais.
Augusto sai de dentro de mim e gira o meu corpo, levando-me até o
azulejo, prensando-me na parede fria.
— Eu nunca vou estar saciado o bastante — diz, enfiando seu pau
mais uma vez.
Eu gemo, abrindo bem as pernas e empinando a bunda para recebê-
lo.
Olhando-o de lado, vejo todo o desejo refletido em seus olhos e sei
que também vou querer mais dele.
Vou querer muito mais.
— Vou dar um jeito de te foder todos os dias — diz, estocando-me
com mais força agora.
Quando aperta o meu pescoço, prendendo-me ali, eu solto gemido.
Ai, que delícia…
— Nem que eu arrume uma desculpa para te tirar desta casa por
algumas horas, Bárbara, mas eu vou te foder — promete, entre estocadas.
— Todos os dias.
Ai, caralho…
Empino mais a bunda e intensifico o nosso contato, sentindo-o
estocar cada vez mais rápido, cada vez mais forte.
Agarro o azulejo a minha frente e gemo feito uma cachorra
enquanto Augusto me fode nessa parede de banheiro.
Nunca pensei que fosse gozar duas vezes seguidas em tão pouco
tempo. Mas é exatamente isso que vai acontecer se ele continuar me
comendo gostoso assim.
— Ai, Augusto… — gemo ao senti-lo entrar e sair de mim de um
jeito mais lento agora, quase torturante.
Quando desacelera o ritmo até parar, eu chego a ficar desesperada.
— Não para — peço e o safado lambe os lábios devagar. —
Continua me comendo, delegado.
O safado ri antes de voltar a estocar, começando devagar e
acelerando o ritmo agora, metendo rápido demais.
— Está gostoso, é? — pergunta e eu solto um gemido. — Você
geme de um jeito muito safado, sabia?
Ai, cacete.
Não fala uma coisa dessas para mim, Augusto…
Quando ele cola o corpo ao meu e sua boca toca o meu pescoço,
mais uma vez sou arrebatada por aquele perfume gostoso.
— Nós ainda temos mais um dia e meio sozinhos, Bárbara — diz,
antes de cravar os dentes em minha pele. — E eu vou acabar com você.
— Oh…
Quando ele morde mais uma vez a minha pele, eu gemo alto e sei
que estou à beira de gozar.
Porque ter esse homem ao pé do meu ouvido, falando essas coisas
enquanto me come, chega a ser absurdo.
— Augusto…
— Já quer gozar de novo, Bárbara? — indaga e eu apenas balanço a
cabeça, sentindo-o meter mais fundo. — Então goza no meu pau, vai.
Ele nem precisa me pedir uma coisa dessas.
Enquanto arremete forte, agarro os azulejos com força e sinto o
orgasmo me atingir de um jeito tão intenso, que eu grito alto.
Meu corpo convulsiona na parede e Augusto continua metendo até
gozar também, apertando-me ao encher a camisinha.
Quando o delegado sai de dentro de mim e cambaleia para trás, eu
preciso de um minuto para me recuperar.
— Desse jeito você acaba comigo, delegado — murmuro e o safado
ri, ofegante.
— A intenção é essa mesmo.
Viro-me na parede e ele dá uma piscadinha para mim.
Ainda estou recuperando o fôlego quando me leva para debaixo do
chuveiro e termina de dar um banho em mim.
— Eu não estava brincando, Bárbara — diz, malicioso, enquanto
corre o sabonete pela minha pele. — Você vai ficar toda assada de tanto dar
essa boceta para mim.
Um arrepio percorre a minha espinha diante de sua promessa.
E o mais curioso disso é que não me assusta.
Pelo contrário, eu anseio por isso.
CAPÍTULO 17 - Augusto

— Ainda não acredito que você fez isso por mim…


Sentada no sofá da sala, com as pernas esticadas sobre o meu colo,
Bárbara analisa o álbum de fotografias em sua mão.
— Não me custava nada, Bárbara — declaro, enquanto acaricio suas
coxas descobertas.
Depois de duas rodadas de sexo intenso, preparamos um jantar para
nós dois e agora estamos aqui sentados no sofá enquanto Bárbara me conta
um pouco sobre cada fotografia restaurada.
O sorriso no rosto desta garota me diz que eu definitivamente fiz a
coisa certa ao tentar resgatar algumas de suas lembranças.
— Aqui foi quando eu fui ao zoológico pela primeira vez — diz me
mostrando uma foto sua com a mãe, ao lado de um jardim com aves.
— Você lembra quantos anos tinha? — pergunto, ainda deslizando
os dedos pela sua pele.
— Acho que uns seis — ela arrisca um palpite.
— Pensei que tivesse uma foto perto de um leão — brinco e ela me
abre um largo sorriso.
— Deus me livre! — Sua reação espontânea me tira uma risada. —
Eu morria de medo, delegado.
— Não julgo. Nunca fui muito fã de zoológicos.
— Por medo? — indaga curiosa e eu nego de pronto.
— Capaz — solto e é a sua vez de rir. — Só por não gostar de ver os
animais enjaulados.
Os olhos de Bárbara brilham para mim.
— Isso é muito bonito, Augusto.
Assinto e continuo a carícia lenta por sua pele, adorando a sensação
de seu calor junto ao meu.
Incrível como esta garota me atraía como ímã e, agora que eu a
tenho, não quero tirar as mãos dela mais.
— Me conte alguma lembrança boa de sua infância — peço e vejo
seus olhos brilharem.
Sei que ela teve um relacionamento muito bonito com a mãe e que,
por mais que tenham sido só as duas, foram muito felizes juntas.
— Eu adorava brincar de salão de beleza com as minhas amigas da
escola — fala e eu consigo perceber seu sorriso orgulhoso. — Era um
sábado chuvoso, então elas não conseguiram ir até a nossa casa. Nós só
brincávamos em dia de sol. Minha mãe percebeu que eu estava triste e se
ofereceu para ser minha cliente.
Os olhos de Bárbara vão longe e eu consigo ver em seu semblante o
quanto essa lembrança lhe aquece o peito.
— Eu peguei um vidro de condicionador e passei em seus cabelos
para fazer hidratação — diz, com um sorriso travesso. — Coloquei a touca
térmica e, enquanto isso, fiz as suas unhas. Eu não era muito habilidosa e
aposto que o esmalte ficou todo borrado, mas a lembrança que tenho é de
que minha mãe elogiou muito o meu trabalho. Nós nos divertimos muito e
no final ainda recebi um pagamento.
— É mesmo? — pergunto curioso. — Ela te pagou pelos seus
serviços?
— Não com dinheiro, mas com bolo de chocolate.
A sua revelação me faz sorrir de lado.
— Muito justo.
— Na época eu ainda não tinha o diagnóstico de diabetes, então eu
comia doces com mais frequência.
Esse assunto me chama a atenção.
— Com quantos anos você descobriu?
— Com nove — explica e eu faço uma conta mental. São quinze
anos convivendo com o diabetes.
— Imagino que não deve ter sido fácil para uma criança.
— Não foi mesmo. Eram várias pontas de dedo por dia, injeções de
insulina, controles de glicemia… Minha mãe me monitorava o tempo todo,
preocupada com uma hipo ou hiperglicemia.
Olho para ela e assinto, pensando em tudo o que sua mãe enfrentou
sozinha. Lembro de quando fiquei viúvo com Giovana e o quanto foi
desafiador para mim. Para a mãe de Bárbara, sei que foi ainda mais.
— Como ela se chamava? Acho que nunca te perguntei isso.
— Ana Maria — diz e uma nostalgia a toma.
— Quer falar mais sobre ela? — pergunto com cuidado e Bárbara
sorri, assentindo.
— Ela era enfermeira no hospital público de Maringá — explica. —
Acabou se envolvendo com um médico renomado e engravidou de mim.
Foi um escândalo na época, porque ela era jovem e ele não me assumiu.
— Como é que é?
— A família dela a rechaçou por ter engravidado ainda solteira e
rolaram boatos muito ruins sobre ela na cidade. Minha mãe só tinha vinte e
cinco anos de idade quando tudo aconteceu e se sentiu completamente
perdida. Até descobrir uma vaga de emprego em Curitiba e se mudar para
cá. Era para o trabalho de cuidadora de uma idosa que já estava no fim da
vida, então a família não se importou com a gravidez. Então ela reconstruiu
sua vida aqui, sozinha, e por isso sempre fomos nós duas no mundo.
— Nossa… Eu não sabia — digo, sincero.
Giovana é mesmo uma boa amiga, já que nunca me contou nada
disso.
— Ela era meu exemplo, sabe? Sempre lutou por mim e deu o seu
melhor. Por isso me doeu tanto perdê-la.
— Sinto muito — murmuro, subindo a mão até a altura de seus
joelhos. Esse toque despretensioso arrepia a sua pele. — Mães não
deveriam ir embora sendo tão novas…
E pensar nisso me traz um aperto no peito, por me lembrar de
Helena. Giovana ainda era muito nova quando teve que lidar com a perda
da mãe.
— Nunca pensei que uma pessoa tão nova pudesse ter uma parada
cardíaca — diz, com os olhos marejados. — Nós íamos fazer uma viagem
juntas para comemorar os seus cinquenta anos, sabia?
Estreito os olhos para ela e sinto um nó no peito.
— Era seu sonho conhecer Machu Picchu e estávamos as duas
juntando dinheiro para isso… — Bárbara solta um suspiro triste. — Mas
infelizmente não deu tempo.
Sinto um aperto no peito, abro os braços em um convite silencioso e
Bárbara entende, aconchegando-se em mim.
— Sinto muito pela sua perda — murmuro, acariciando seus cabelos
macios. — E, como pai de uma garota em idade similar à sua, te digo com
convicção que, onde quer que esteja, ela se sente muito orgulhosa de você.
Bárbara faz pequenos círculos em meu peito com os dedos ao
assentir.
— Obrigada, Augusto.
Não digo nada, apenas beijo o topo de sua cabeça com carinho.
— E, mais uma vez, obrigada por resgatar algumas lembranças,
significou muito para mim.
— O que estiver ao meu alcance para te deixar feliz, eu vou fazer —
afirmo.
— Aquele colar… — começa, percorrendo todo o meu peito com os
dedos em uma carícia preguiçosa. — Foi um presente dela em meu
aniversário de doze anos. E o diário foi o primeiro que ela me deu quando
eu já conseguia escrever sozinha.
Sinto um golpe no peito e ao mesmo tempo um alívio tremendo por
ter conseguido resgatar essas lembranças.
— Eu nunca vou me esquecer do que você fez por mim, Augusto —
murmura, erguendo os olhos para me encarar.
Toco o seu rosto e me inclino sobre ela, colando nossos lábios.
É um beijo lento, calmo, cheio de sentimentos.
Um beijo que demonstra que sempre poderá contar comigo, para o
que precisar.
Ao me afastar, acaricio seu rosto bem devagar e ela me abre um
sorriso delicado.
— Não sabia que você fazia o tipo carinhoso, delegado — brinca e
eu rio baixo.
— Não com qualquer pessoa.
Pisco para ela e vejo suas bochechas corarem.
— Você foi uma grata surpresa na minha vida — diz e eu percorro
os dedos pelos seus lábios. — Fico feliz por ter te conhecido.
Sorrio antes de colar meus lábios nos seus mais uma vez, mostrando
à minha maneira o quanto eu sou grato por ela ter cruzado o meu caminho.
Não sei o que essa garota tem, mas ela desperta tanta coisa em
mim…
Desperta um lado que há muitos anos estava adormecido.
E o mais intrigante é que eu estou adorando tudo isso.
Deitado em minha cama, encaro o teto do quarto, tentando pregar os
olhos, mas é uma missão praticamente impossível.
Simplesmente não consigo dormir. Não sabendo que Bárbara está a
algumas portas de distância e que estamos completamente sozinhos em
casa.
Eu tentei relutar contra a atração que sentia por ela, contra a vontade
de estar por perto…
Mas desde que a toquei, desde que a beijei, desde que a fiz minha…
Algo aqui dentro mudou.
Estar com ela se tornou uma necessidade genuína, quase que um
instinto de sobrevivência.
E saber que nada nos impede de estarmos juntos agora me deixa
louco por sequer estar em cômodos distintos.
Inferno.
Levanto-me da cama e sigo pelo corredor até o seu quarto, torcendo
para encontrá-la acordada.
E a luz do abajur acesa faz o meu coração dar um salto.
Bato à porta entreaberta e a morena ergue os olhos para mim, com
um sorriso gostoso no rosto.
— Não consegue dormir, delegado?
— E você, consegue? — devolvo a pergunta e ela balança a cabeça,
dando uma batidinha na cama.
Abandonando um livro na mesinha de cabeceira, Bárbara se senta e
o movimento faz subir a sua camisola, revelando ainda mais suas pernas
gostosas.
Só essa visão já me faz salivar e, quando me acomodo ao seu lado,
toco sua coxa e subo pelo tecido, notando algo estranho.
— Sem calcinha? — Arqueio a sobrancelha e ela me abre um
sorriso travesso.
— Eu não durmo com uma, Augusto — murmura e eu engulo em
seco.
Porra.
— Nunca? — indago e ela nega, mordendo o lábio devagar.
— Minha ginecologista me ensinou que é melhor assim.
Esfrego a mão livre pela barba e solto um suspiro alto.
É sério que esta mulher tem dormido todos os dias na minha casa
sem calcinha?
— Você só pode estar de brincadeira comigo, Bárbara — murmuro,
puxando-a pela cintura, e a garota gargalha pela brusquidão.
Engulo sua risada com um beijo que começa lento e rapidamente se
torna mais afoito, mais sedento.
Enquanto seguro sua cintura, adentro sua camisola com a mão livre
e sigo direto para a virilha, encontrando sua boceta umedecendo por mim.
Ê, caralho…
Meu pau fica ainda mais duro e eu devoro a boca de Bárbara,
esfregando seu clitóris com os dedos.
— Ai, Augusto… — seu gemido safado é tudo para mim.
Abandono seus lábios e corro a língua por sua pele, chegando ao
pescoço. Subo até a orelha e mordisco o lóbulo devagar.
— Sua boceta aguenta o meu pau de novo, Bárbara? — indago,
metendo um dedo dentro dela agora. — Porque eu preciso muito te foder…
O gemido que ela solta é gostoso demais e eu apenas me afasto para
olhar em seus olhos.
— Sei que você aguenta, safada — murmuro, sugando seu lábio
devagar.
— Você já me fez gozar duas vezes, Augusto… — sussurra,
gemendo a cada arremetida de meus dedos.
— E daí? Eu te faço gozar de novo — digo, metendo mais um dedo,
e ela geme mais.
Desço uma alça de sua camisola e liberto um seio seu, lambendo os
lábios antes de sugar seu biquinho de um jeito extremamente lento e
calculado.
A garota geme desesperada e começa a rebolar em minha mão,
fazendo-me sorrir em sua pele.
Abocanho seu seio e mamo gostoso neles, chupando e sugando o
mamilo, esfregando a boca em toda a sua carne.
A forma como Bárbara se entrega e geme sem um pingo de pudor só
me deixa ainda mais duro por ela. Ainda mais louco para me enterrar fundo
em sua boceta.
Eu me afasto em um rompante e ela me olha desconfiada me vendo
levantar da cama.
— Vou buscar camisinha — aviso e saio do quarto, disparando pelo
corredor em direção à minha gaveta.
Pego uma embalagem e arranco as roupas, vestindo o preservativo
enquanto volto para o seu quarto.
E, logo que passo pela porta, encontro Bárbara deitada na cama,
completamente nua, com as pernas escancaradas para mim.
— Ah, sua safada…
Avanço sobre ela e colo minha boca na sua, abraçando a sua cintura
enquanto posiciono meu pau e meto de uma vez só.
Engulo seu gemido com um beijo e a garota circula meu quadril
com as pernas para intensificar o contato.
E a sensação do meu pau entrando e saindo de sua boceta apertada,
escorregando pela sua excitação, me deixa louco.
Só faz com que eu acelere ainda mais.
Puta que pariu.
Que boceta gostosa da porra.
Abandono sua boca e desço os lábios até o pescoço, onde cravo os
dentes e a ouço gemer mais alto.
— Já foi fodida três vezes seguidas, Bárbara? — indago, erguendo
os olhos para encarar sua imensidão azul.
O rosto corado e os lábios entreabertos de tesão só me deixam ainda
mais louco, ainda mais insano por ela.
— Na-não… — responde entre gemidos e eu sorrio orgulhoso.
Posso não ter sido o seu primeiro, mas sou aquele que vai te dar os
melhores orgasmos.
Sou aquele que vai deixá-la de pernas bambas de tanto gozar.
— Boceta gostosa demais — murmuro antes de devorar sua boca
mais uma vez.
Meu quadril bate tão forte no dela, que o som ecoa em todo o
ambiente. Meu pau entra tão fundo, tão forte, que eu não ficaria nada
surpreso se essa camisinha estourasse.
E pensar nisso não me faz recuar, pelo contrário, me faz meter ainda
mais forte nela. Ainda mais bruto.
— Augusto… — geme quando solto seus lábios e eu giro nosso
corpo, deixando-a por cima de mim.
— Quer gozar, Bárbara? — pergunto e ela balança a cabeça,
agarrando o meu peito com força. — Então tome o meu pau para você —
digo, olhando dentro de seus olhos. — Ele é todo seu.
A garota arfa enquanto rebola sobre mim, subindo e descendo
devagar e, desta vez, quem geme sou eu.
Caralho.
Agarro sua cintura e a ajudo a ditar o ritmo, vendo a safada me
cavalgar de um jeito que chega a ser absurdo de tão gostoso.
Quando a morena joga a cabeça para trás, montando e quicando em
mim, eu tenho a porra da visão mais bonita.
O rosto corado, os cabelos revoltos, os seios pulando pelo atrito.
Porra…
— Ai, que delícia, Augusto… — murmura, fechando os olhos e
sentindo esse momento.
A forma como seu corpo fricciona sobre o meu, a boceta engolindo
o meu pau, é absurda de gostosa.
— Vai, safada — digo, ainda agarrado à sua cintura. — Senta
gostoso no seu pau.
Bárbara abre os olhos e se ergue quase saindo por inteiro para sentar
de uma vez, engolindo-me.
Ah, caralho…
Que porra de foda gostosa.
A forma como meu corpo e o seu se unem, se completam, é uma
sintonia que eu nunca vi igual.
Impulsiono o quadril para cima, estocando-a enquanto ela se remexe
sobre mim, rebolando, quicando…
Porra, que delícia.
Eu nunca vou me contentar, nunca será o bastante…
Sempre vou querer mais, muito mais…
As unhas de Bárbara arranham o meu peito enquanto ela cavalga em
mim, gemendo e buscando seu prazer a todo custo.
Ergo o corpo e fico sentado, ainda sentindo-a subir e descer sobre
mim, o movimento se tornando um pouco mais intenso agora.
Segurando sua cintura e guiando-a, estocando-a devagar, eu toco seu
rosto com a mão livre e a faço olhar em meus olhos antes de beijar a sua
boca.
E aqui, perdido em seus lábios, sinto os corpos se unirem ainda
mais, sinto como se eu me fundisse a ela.
Meus lábios estão sedentos pelos seus e, quando me afasto para
morder seu queixo, desço a mão para o ponto que nos une.
— Ai, Augusto…
— Está gostoso? — murmuro, esfregando seu clitóris com o dedão.
— Ai, delegado…
Sorrio sacana ao ouvi-la me chamar assim.
Nunca pensei que pudesse ser tão sexy até ouvir essa palavra saindo
de seus lábios.
Acelero o ritmo dos dedos em sua carne enquanto a garota quica
mais rápido sobre mim, mais desesperada, e eu sei que o terceiro orgasmo
da noite está para chegar.
— Goza, safada — peço, esfregando os dedos ainda mais. — Goza
gostoso pra mim.
Bárbara rebola descontrolada e em poucos segundos aquela onda de
tremores a arrebata.
— Augusto! — grita me chamando, tremendo, gozando, e logo deita
a cabeça em meu ombro.
Solto sua boceta e agarro a cintura com as duas mãos, estocando
forte até gozar também, enchendo a camisinha de porra.
Envolvo seu corpo com os braços, e sinto seu coração bater
acelerado contra o meu, até que se recupere por completo.
Meus dedos percorrem toda a sua coluna em uma carícia gostosa e,
mesmo que tenha acabado de gozar, eu a sinto se arrepiar.
— Aguenta mais uma, safada? — brinco e ela se afasta para me
encarar com os olhos arregalados.
Solto uma risada e a ajudo a sair de cima de mim, desabando os dois
sobre o colchão.
— Você nunca se cansa? — pergunta ofegante e eu gargalho.
— Como me cansar de uma boceta tão gostosa assim? — indago,
descendo a mão para tocar sua carne já inchada.
— É… Você tem razão. Eu já estou toda assada — solta entre
respirações e eu rio.
— Se há uma coisa que eu faço, Bárbara, é cumprir as minhas
promessas. Você já deve saber que eu sou um homem de palavra.
O sorriso preguiçoso me faz ter vontade de beijá-la de novo.
E eu faço, inebriando-me de seu sabor.
— Eu nunca vou me cansar de você — sussurro sobre os seus
lábios.
Nem dou a ela tempo de resposta e estou devorando a sua boca.
Perdendo-me em seu calor.
Mais uma vez.
CAPÍTULO 18 - Bárbara

É um tanto inusitado em minha vida acordar com um homem ao


meu lado em minha cama.
Principalmente se esse homem for Augusto Ferraz.
Eu poderia achar que é um sonho…
Mas aqui está ele, ressonando baixinho, dormindo tão relaxado que
me faz sorrir sozinha.
Contenho o impulso de tocá-lo, de tatear todo o seu rosto, pois não
quero acordá-lo. Não sabendo que está em um sono tão gostoso aqui ao
meu lado.
O lençol o cobre apenas até a cintura, e o peito nu revela as
tatuagens espalhadas pelo seu corpo. Consigo identificar alguns desenhos,
como um corvo, uma ampulheta e o nome de Giovana. Os outros são
confusos, ou terminam em suas costas, onde eu não consigo ver daqui.
Queria passar a manhã inteira assim, deitada, admirando esse
monumento à minha frente, mas infelizmente não posso. Preciso conferir
minha glicemia.
Com todo cuidado, arrasto o meu corpo e me afasto de Augusto,
conseguindo sair da cama sem acordá-lo. Sigo para o banheiro na ponta dos
pés e lá encontro minha bolsinha de insumos.
Faço a ponta de dedo e confiro a glicemia, sentindo um alívio por
saber que está sob controle. Busco a caneta da insulina basal e injeto em
meu braço, como faço em todas as manhãs.
Ao encerrar, lavo o rosto e escovo os dentes, olhando-me no espelho
e gostando do meu reflexo.
Não me lembro de quando me senti tão leve, tão viva, desde que
minha mãe partiu.
Pego a bolsinha novamente e volto para o quarto, sorrindo ao ver
que Augusto continua dormindo. Eu poderia voltar para a cama e me
embrenhar em seus braços, mas tenho uma ideia melhor.
Quero fazer algo por ele.
Pé por pé, saio do quarto e logo encontro Pluto no corredor,
olhando-me e balançando o rabinho.
— Bom dia, moço bonito. — Abaixo-me para afagá-lo e ganho
várias lambidas. — Tão bonzinho…
Faço mais um cafuné e me levanto, indo em direção à cozinha.
Bom…
Vamos ver o que temos aqui.
Aciono a cafeteira de imediato e sigo para a geladeira, procurando
alguma coisa para montar um café.
Encontro ovos na porta e sorrio, porque sei que Augusto gosta deles
mexidos pela manhã. Busco uma fatia de queijo, pego frutas e geleias
também.
Abro os armários e alcanço torradas e biscoitos, colocando tudo na
mesa. Lembro-me da louça e busco um jogo de lindas xícaras coloridas que
vai cair bem hoje.
Monto uma mesa muito delicada para o café e, quando estou
satisfeita, sigo até o fogão para começar a preparar os ovos mexidos. Estou
trabalhando na frigideira quando ouço passos arrastados vindo até mim.
Quando Augusto me vê, um sorriso preguiçoso se abre em seu rosto
e ele vem em minha direção, abraçando-me pela cintura.
— Bom dia, Bárbara — sussurra antes de afundar o rosto em meu
pescoço e depositar um beijo nele.
Esse mísero toque dele me arrepia inteira.
— Bom dia, Augusto. Dormiu bem?
Olho-o de lado e ele sorri ao se afastar.
— Nossa… Como um anjo. Acordou há muito tempo? — pergunta e
eu nego.
— Foi por agora. Levantei e vim fazer o seu café.
O olhar carinhoso dele me tira um sorriso.
— Pronto. Ovos mexidos para o meu delegado — brinco, virando
no pratinho, e, ao lhe entregar, ganho um selinho.
— Obrigado, Bárbara. Não precisava se incomodar.
— Você faz tanto por mim, Augusto, me deixe fazer algo por você
também — argumento e ele sorri, carinhoso.
Senta-se a mesa e, antes que eu me acomode ao seu lado, faço um
cálculo mental dos carboidratos a ingerir para mensurar a insulina. Faço a
medição da glicemia e injeto a insulina necessária para o meu café da
manhã.
— Posso te fazer uma pergunta? — Augusto diz logo que eu acabo e
me sento à sua frente.
— Claro.
— Você precisa injetar insulina todas as vezes que vai fazer uma
refeição?
— Sim, é justamente para controle da minha glicemia. Eu faço a
contagem dos carboidratos que eu vou ingerir e já preparo meu organismo
para isso.
— Hummm… Eu sempre te vejo usando as canetas, mas nunca tive
a oportunidade de perguntar como é.
— Vou resumir um pouco enquanto espero para começar a refeição.
— Por favor — ele pede e eu me remexo na cadeira.
Não costumo sair contando para as pessoas sobre a minha rotina
com o diabetes, mas com Augusto é diferente. Sinto uma necessidade
genuína de dividir tudo com ele.
— Eu tenho diabetes mellitus tipo 1, a DM1. É um tipo de diabetes
em que o pâncreas produz pouca ou nenhuma insulina. Daí o que acontece
— olho para Augusto, que sequer pisca os olhos ao prestar atenção em
mim. — A insulina é um hormônio que age permitindo a entrada de açúcar
nas células, gerando energia para o corpo. Sem ela, a glicose não consegue
entrar nessas células e fica acumulada no sangue, causando a hiperglicemia,
que é extremamente perigosa.
— Então você precisa injetar a insulina constantemente no seu
organismo, já que não produz nenhuma?
— Exatamente — confirmo. — Todos os dias eu tomo a insulina
basal pela manhã, é ela que mantém os níveis de glicose em jejum dentro da
normalidade. Daí eu faço o controle de glicemia durante todo o dia, e faço o
ajuste pela insulina ultrarrápida, que corrige quando a glicemia sai da meta
e para os bolus de alimentação, que são esses cálculos que eu faço antes das
refeições.
— Interessante…
— Mas pode acontecer de eu passar por algum estresse, ou
ansiedade muito grande no dia e precisar corrigir. Eu tenho que sempre
manter sob controle para evitar uma hipo ou hiperglicemia.
— Deve ser um tanto cansativo — constata.
— Já me adaptei a essa rotina, mas é bem puxado, sim.
Principalmente porque minha mente não descansa. Eu tenho que estar
sempre alerta, sempre de olho para manter os níveis certos de glicemia.
— E você tem desde criança, né?
Balanço a cabeça assentindo.
— Minha mãe cuidava de mim e sempre me ensinou a fazer a ponta
de dedo, a calcular a dose de insulina… Ela acompanhava tudo, mas sempre
me incentivou a fazer sozinha.
— Ela foi uma ótima mãe…
— Foi, sim — respondo, sorrindo. — E me dava segurança tê-la em
casa comigo, sabe? Em momentos de hipoglicemia nos sentimos muito
fracos e às vezes não conseguimos corrigir sozinhos. Minha mãe conhecia
cada um de meus sintomas e sabia exatamente como agir.
— Caramba… Então deve ser perigoso morar sozinha — diz e eu
abaixo o olhar, tímida.
— Um pouco — confesso. — Mas eu me cuido da melhor forma
para evitar essas alterações e me monitoro o dia inteiro. Por isso você me vê
fazer tantas pontas de dedo ao longo do dia.
— E não tem uma forma de automatizar isso? — pergunta,
genuinamente interessado.
— Até tem… Mas ainda não tenho condições — suspiro. — A
bomba de insulina é o sonho de todo diabético, pois ela tem o sensor que
monitora a nossa glicemia e distribui a insulina de forma automática.
Augusto corre as mãos pela barba e se inclina sobre a mesa.
— Isso deve poupar um enorme trabalho — constata.
— Demais. O que precisamos fazer é calibrar o sensor, conferindo a
glicemia três vezes ao dia, e informar a contagem de carboidratos, o resto
ele faz sozinho.
— Caramba.
— Claro que precisa trocar a cânula, reservatório e cateter
periodicamente, mas ainda assim é perfeito.
Vejo que deu o tempo e começo a me servir de café, vendo Augusto
me acompanhar. Acho um tanto fofo que ele tenha esperado para começar
essa refeição comigo.
— E é muito difícil de conseguir essa bomba? — pergunta, depois
de tomar um gole de café.
— É muito cara, acaba sendo inviável. Só o aparelho custa quase
vinte mil reais. Fora os insumos…
Augusto solta um assobio.
— O governo não fornece?
— Fornece, mas é preciso acionar a Justiça. E eu não tenho
condições, Augusto — revelo e sinto seus olhos intensos me perfurarem. —
Desde que perdi a minha mãe, preciso me manter sozinha. O
acompanhamento médico não é barato e eu gasto muitos insumos por mês.
Não é sempre que tem no estoque do governo e, como não posso ficar nem
um minuto sem insulina, acabo arcando com muita coisa sozinha.
O homem à minha frente me analisa por um tempo em silêncio.
— A propósito, os ovos estão maravilhosos — elogia apontando
para o prato e eu sorrio.
— Fico feliz que tenha gostado.
Como uma torrada integral com geleia enquanto sinto seus olhos me
perfurarem.
— Então com um advogado você pode conseguir essa bomba? —
questiona, voltando ao assunto.
— Um bom advogado especialista nessa área, sim. Precisa entrar
mesmo em uma briga judicial, porque o governo não quer nos fornecer com
facilidade.
— Interessante…
— É um sonho distante, mas tenho fé de que um dia vou conseguir.
Vai me trazer um alívio imenso, sabe? Um pouco de tranquilidade para a
minha vida.
— Acho que posso entender, sim. Espero muito que você consiga.
Balanço a cabeça e dou um gole no café.
— Eu também.
Terminamos de tomar o café e nos levantamos, arrumando a cozinha
ao final.
Sentamo-nos no sofá para bater um papo e, quando dá a minha hora
de conferir a glicemia, eu me levanto para pegar a bolsinha de insumos.
— Esta é a minha fiel companheira. — Mostro a ele, abrindo todo o
zíper da bolsa. — Aqui eu carrego tudo de que preciso. O glicosímetro, as
fitas, canetas de insulina, sachê de álcool líquido e barrinhas de rapadura
para alguma emergência.
Mostro tudo a ele, que observa com bastante atenção.
— Agora eu preciso fazer uma ponta de dedo para conferir se o
cálculo que fiz mais cedo estava certo ou se preciso fazer alguma correção.
— Eu posso? — Aponta para o meu dedo e eu sinto o meu coração
errar uma batida.
Ah, Augusto…
— Claro — respondo, tentando manter a voz firme e não
demonstrar o quanto seu gesto mexeu comigo.
Entrego a ele o sachê de álcool para que esterilize a sua mão e o
meu dedo. Ensino-o a colocar a agulha descartável na ponta da caneta e
encaixar a fita medidora no glicosímetro.
Augusto segura o meu indicador com tanto carinho, que eu sinto um
nó na garganta.
— Agora é só dar uma picada na pontinha do dedo — oriento e ele o
faz, com bastante cuidado.
Quando a pontinha de sangue surge, Augusto leva à ponta da fita e
logo a tela revela a minha glicemia.
— Cento e um — ele lê o número indicado. — É bom?
— É, sim. O ideal é entre setenta e cento e vinte e cinco — explico e
um sorriso lindo desponta o seu rosto.
— Então você acertou no cálculo — constata, orgulhoso.
— São anos de prática.
Augusto balança a cabeça e eu me levanto para descartar o material
utilizado.
Quando volto, ele me olha daquele jeito enigmático que é só seu.
— Sei que você teve momentos muito difíceis este ano, de perdas
dolorosas — a voz grossa acelera o meu coração. — Mas quero que saiba
que é uma vencedora, Bárbara. Você é muito mais forte do que imagina.
Suas palavras adentram os meus ouvidos e atingem a minha alma.
Fico sem palavras diante disso e Augusto apenas sorri de lado,
abrindo os braços para mim.
Aquela forma que é só sua de dizer em silêncio que eu tenho com
quem contar.
Que eu posso contar com ele.
Aceito seu abraço e repouso em seu peito, sendo envolvida pelo seu
calor.
Augusto me toca com tanto carinho, com tanto cuidado, que meu
coração bate em paz aqui dentro do peito.
Aqui, em seus braços, eu me sinto em casa, me sinto em paz.
Como há muito não sentia.
CAPÍTULO 19 - Bárbara

— E como estão as coisas por aí, amiga? Tudo bem? — Gio me


pergunta e eu sinto uma pontada no peito.
Odeio ter que mentir para a minha melhor amiga, mas como falar
sobre ontem? Como contar que o pai dela me deu a melhor noite da minha
vida? Que me fez sentir o que eu nunca havia sentido antes?
Ah, Augusto…
Se eu fechar os olhos, consigo sentir cada um de seus toques, seus
beijos, seu cheiro, seu calor…
Eu nunca vou superar isso.
Nunca vou viver algo tão intenso senão com ele.
— Está tudo tranquilo, Gio — respondo, tentando afastar esses
pensamentos. — Cheguei ontem do trabalho e seu pai tinha uma surpresa
para mim.
— Ah, meu Deus! Então deu certo?
— Você sabia, dona Giovana? — finjo reprimenda e ela solta uma
gargalhada do outro lado da linha.
— Babi, eu e meu pai não temos segredos — diz, fazendo o meu
estômago dar uma cambalhota. — E eu achei muito bonito ele ter vindo
conversar comigo antes para saber se você ia gostar.
E ouvir isso dela faz o meu coração errar uma batida.
Sempre tão cuidadoso…
— Ele conseguiu resgatar muitas fotos, Gio. Fiquei mesmo
emocionada — revelo.
Tão emocionada que transei com ele três vezes, mas ela não precisa
saber disso.
— Ah, amiga! Você merece muito! Quando eu chegar, quero ver o
álbum como ficou.
— Com toda certeza! E você já sabe a que horas chega?
— Eu queria ir embora amanhã cedo, mas a minha avó não aceita
que eu saia daqui antes do almoço. Então vou pegar o ônibus de duas
horas.
— Está certa, Gio. Aproveite, você fica tão pouco com ela, curta
muito sua avó.
Sei que Augusto não tem mais os pais vivos, mas a mãe de Giovana,
sim. Embora more em outra cidade, de tempo em tempo minha amiga viaja
até lá para passar um final de semana com a avó materna.
— Sim, eu não reclamo mesmo. E vó Leda me mima muito quando
venho para cá. Faz todos os meus pratos favoritos. Hoje mesmo ela fez um
pudim que eu amo.
E sua fala me dá um estalo.
— Amiga, seu pai também gosta de pudim, não é? — pergunto me
lembrando de um comentário assim.
— Ele ama! Come um inteiro se deixar — comenta rindo.
— Ah, então você me deu uma boa ideia! Vou aproveitar que ele
saiu para o projeto e fazer um. Estava pensando em uma forma de agradecer
a ele por resgatar as fotografias.
Uma que não só envolvesse um sexo bem selvagem…
— Nossa, ele vai adorar!
— Perfeito, Gio. Obrigada!
— Agora eu preciso ir, prometi à minha avó que a acompanharia
em um chá da tarde.
— Está certa. Aproveita muito, amiga! Até amanhã!
Despeço-me dela e encerro a ligação, já sabendo exatamente o que
fazer.
Dou um pulo do sofá e sigo para a cozinha, procurando pelos
ingredientes nos armários. Quando vejo que tenho tudo de que preciso, abro
um sorriso de satisfação.
Vai dar certo!
Olho para o relógio e vejo que já são quase quatro horas da tarde,
mas, se eu fizer agora, ficará geladinho para o jantar.
Pego os ovos, leite e leite condensado; bato tudo no liquidificador.
Preparo a calda de açúcar e despejo na forma, colocando a massa do pudim.
Levo ao forno em banho-maria e marco o tempo de espera no relógio.
Aproveito para tomar um banho e ver um filme enquanto espero por
Augusto.
Deito-me no sofá e Pluto vem me fazer companhia.
— Será que seu dono vai demorar muito? — pergunto ao cachorro,
enquanto faço um carinho e ganho lambidas em resposta. — Estou com
saudade dele.
É estranho pensar que estou sentindo falta de alguém que saiu logo
após o almoço, já que não faz tanto tempo assim.
Mas esta casa sem Augusto é tão vazia, tão sem graça…
Estou na metade do filme quando ouço o som do portão se abrir e o
ronco da moto adentrar a garagem. Sento-me de imediato e é impossível
esconder um sorriso quando Augusto passa pela porta, correndo a mão
pelos cabelos quando vem até mim.
— Oi… — cumprimento-o e recebo um selinho gostoso.
E esse gesto, ainda que pequeno, é tão íntimo…
— Oi, Bárbara. Demorei muito? — pergunta e eu nego.
— Imagina. Deu tudo certo lá?
— Deu, sim. As crianças estavam bem empolgadas hoje. Não são
todos os sábados que preciso ir, mas, quando acontece, sempre as encontro
agitadas.
— Deve ser muito bonito — constato.
— É sim. Se quiser, posso te levar a um treino para conhecer o
projeto — oferece e meu sorriso se expande.
— Eu vou adorar, Augusto!
Ele balança a cabeça sorrindo.
— Vou só me trocar e já volto para ficar com você — diz e eu
assinto.
Fico sozinha no ambiente, mas ainda consigo sentir o seu cheiro, a
sua presença…
Pego uma almofada ao meu lado e a abraço, pensando em como vou
sobreviver se um dia tudo isso acabar.
Não quero ter que abrir mão dele, mas não sei para onde a nossa
relação vai caminhar…
Pensar na possibilidade de não ter mais Augusto comigo me causa
um aperto grande no peito, mas decido afastar por agora.
Prefiro curtir mais um pouquinho enquanto o tenho comigo.
— O que está cheirando nesta casa? — ele pergunta, voltando ao
meu encontro.
Agora veste apenas uma bermuda, camiseta azul-clara e chinelos
nos pés.
— Estou assando um pudim para você — falo e os olhos do
delegado brilham.
— Um pudim? — indaga, sentando-se ao meu lado.
— Sei que você adora e me lembrei da receita da minha mãe —
revelo e ele me abre um sorriso lindo.
— E você pode comer comigo? — pergunta com cuidado,
acariciando o meu rosto.
— Posso, sim. É só equilibrar o jantar para ingerir poucos
carboidratos e fazer o cálculo certinho da insulina antes — explico. — É
claro que não vou comer o pudim inteiro, essa parte eu deixo para você. —
Pisco e ele solta uma risada baixa. — Mas um pedaço generoso não vai me
fazer mal.
Augusto não diz nada, apenas me surpreende colocando-me em seu
colo para me beijar. Enquanto me abraça pela cintura, eu toco seus cabelos
umedecidos e puxo os fios de leve, sentindo-o se arrepiar.
— Obrigado, Babi — murmura, ao afastar os lábios, e eu sinto o
meu coração errar uma batida.
Ele nunca me chamou assim…
— Com exceção da minha filha, ninguém cozinha para mim. — Ele
toca o meu rosto com tanto carinho que meu coração dá um salto aqui
dentro.
Pela forma como Augusto me olha, eu posso imaginar o quanto esse
gesto mexeu com ele e fico feliz por isso.
— É só uma forma de retribuir tudo o que você faz por mim —
sussurro e ele sorri, beijando-me mais uma vez.
Solto sua boca e corro os dedos por todo o seu rosto, arranhando-me
em sua barba, vendo-o sorrir ao sentir esse carinho.
Eu nunca imaginei que o delegado durão fosse tão carinhoso…
Que gostasse de tanto carinho…
E, mesmo que ele não me diga nada, eu sinto.
Augusto adora receber um carinho.
Sigo acariciando a sua pele até tocar os seus cabelos e me
embrenhar ali.
— Você é tão lindo… — sussurro e vejo seus olhos brilharem ainda
mais.
E isso não poderia ser mais verdade.
Inclino-me e beijo seus lábios de novo, de um jeito muito mais
calmo agora, mais lento, mas igualmente sensual.
Eu desfruto dos lábios de Augusto, aprecio sua língua quente,
absorvo o seu sabor…
— Sei que não sou tão experiente quanto você — digo, sentindo
meu rosto corar. — Mas nunca vivi nada igual — confesso e ele abre um
sorriso de lado. — Nunca tive um beijo tão gostoso, um sexo tão intenso…
Essa sintonia… — Inclino-me e beijo-o mais uma vez. — Isso é totalmente
novo para mim.
Um sorriso orgulhoso desponta nos lábios do delegado.
— Você é única, Bárbara — a voz rouca chega a tocar a minha alma.
— Sua boca, seu corpo, seu cheiro… — Ele toca o meu pescoço agora para
me beijar e inspirar o meu aroma. — É uma delícia — declara, mordiscando
minha pele devagar. — E eu nunca conheci alguém como você.
Sinto meu coração dar um salto aqui dentro, como em todas as vezes
que estou perto dele.
Pego sua mão e coloco sobre o meu coração, que está disparado no
peito.
— Isto aqui… — Augusto sente, acariciando minha pele por cima
da blusa. — Só com você… — declaro e ele me solta para segurar meu
rosto em suas mãos e me beijar.
Um beijo tão forte, tão intenso, tão carregado de sentimentos…
É quase palpável o que temos aqui.
A conexão que criamos…
Não quero que isso se acabe.
— Preciso tirar o pudim do forno — digo, depois de ficarmos um
longo tempo só nos beijando, nos curtindo, nos sentindo.
— Preciso mesmo te deixar ir? — brinca e eu solto uma risada em
sua pele.
— Eu já volto, delegado.
Dou-lhe um selinho e me levanto de seu colo, seguindo até a
cozinha. Busco a luva térmica e confiro o ponto do pudim antes de tirá-lo
do forno e deixá-lo esfriar um pouco antes de levar à geladeira.
— Acho que já podemos pensar no jantar, né? Se precisa ser mais
equilibrado. — Augusto surge, abrindo a geladeira.
— Carne e salada já são suficientes — explico.
— Vou fazer um peixe grelhado na churrasqueira e uma salada bem
fresca — conclui, fechando a geladeira.
— Não precisa acender a churrasqueira só para nós dois — falo,
totalmente mexida com seu gesto.
— Você fez pudim para mim, Babi — constata. — Não vou fazer
um jantar qualquer para você.
E aquelas borboletas que sempre povoam o meu estômago ganham
vida e disparam aqui dentro.
Como todas as vezes que Augusto faz algo tão carinhoso por mim.
— Podemos aproveitar a churrasqueira e fazer alguns legumes
grelhados também — conclui e eu sorrio, abraçando-o pela cintura.
— Desse jeito eu fico mal-acostumada, delegado — brinco e ele
sorri, beijando a minha boca daquele jeito gostoso demais.
— Pode se acostumar, Bárbara. Eu sempre vou cuidar de você.
Eu sempre vou cuidar de você…
Ah, Augusto…
Não me fala uma coisa dessas.
E, quando ele vê que estou sem palavras, apenas me beija.
Meu coração ainda está disparado quando seus lábios se perdem nos
meus.
E aqui, em meu íntimo, eu tenho a absoluta certeza:
Estou completamente apaixonada.
Pelo pai da minha melhor amiga.

— Esse é o melhor pudim que eu já comi na minha vida — Augusto


elogia, servindo-se de mais um pedaço.
Bem que Giovana me disse que, se deixar, ele come um pudim
inteiro, porque a metade da forma já foi embora.
— Que bom que você gostou — digo, sincera, e ele sorri antes de
levar mais uma colherada à boca.
— Isto aqui é perfeito.
A carinha de satisfação no rosto do meu delegado chega a ser
indecente.
— Vou fazer mais vezes para você — aviso e seus olhos brilham.
— Não vou mesmo reclamar se fizer isso.
Rio baixo ao observá-lo comer com tanta vontade e meu peito se
aquece por fazer algo tão especial por ele. Por mimá-lo um pouquinho,
assim como me mima.
Mais cedo, ele acendeu a churrasqueira e me preparou um jantar
delicioso, que comemos acompanhados de um vinho.
Foi uma delícia dividir esse momento com ele e agora viemos para a
cozinha comer a sobremesa. Eu me servi de um pedaço, como esperado, e
Augusto está se acabando ali.
— Agora chega — anuncia, empurrando a vasilha para a frente. —
Vou deixar para amanhã, senão acabo com tudo hoje.
Rio baixo de tudo isso, porque acho realmente muito fofo.
— Falando em amanhã, Gio vai pegar o ônibus de duas horas.
— Sim, ela me falou mesmo. No finalzinho da tarde, ela estará aqui.
Vou passar na padaria logo cedo para buscar algumas coisas para recebê-la
em um café da tarde.
E esse gesto dele, mais uma vez, aquece o meu peito. É tão Augusto
fazer algo pelas pessoas… Ele é sempre tão cuidadoso, tão carinhoso.
— Certo. Então ainda temos algumas horas sozinhos — constato e
ele assente, sorrindo de lado.
Nos levantamos da mesa e juntamos toda a louça do jantar para
lavar. Nesse processo, Augusto me conta um pouco de sua rotina do
trabalho, de como é ser um dos delegados da Superintendência e eu me
surpreendo ao saber que são nove delegacias. Apenas em cidades do
interior é que há uma delegacia só para todos os casos, como ele me
explica.
Eu fico impressionada com seus relatos, e ele me resume um pouco
da forma como eles agem para combater o tráfico, principalmente nas
fronteiras do Brasil.
Eu mergulho nesse universo, genuinamente interessada em tudo o
que ele diz, e sinto um enorme pesar quando terminamos.
Saímos da cozinha e, quando chegamos à sala, fico sem saber se já
devo ir para o meu quarto.
Queria tanto passar mais um tempo com ele…
Dou um passo em direção ao corredor e Augusto me surpreende,
enlaçando-me pela cintura.
— Achou que eu ia te deixar dormir agora? — murmura antes de
atacar a minha boca daquele jeito faminto.
— Não vai? — pergunto, com a voz afetada ao sentir suas mãos
subirem pelo meu corpo.
— Não vou dormir sem te comer de novo — avisa e eu já sinto o
meu corpo em chamas.
Pelos beijos afoitos, a voz rouca em meu ouvido e as mãos por toda
parte.
Ai, Augusto…
— Mas você já me comeu três vezes ontem — provoco, e ele ri em
minha pele.
— Exato. Ontem… Não hoje. Eu avisei que ia acabar com você,
Bárbara.
Quando Augusto me carrega pela sala e me joga no sofá, eu sinto o
meu corpo arder em excitação.
— Posso te foder agora, Bárbara? — pergunta, arrancando a camisa
e atirando-a longe.
— Pode — respondo, sentindo minha respiração pesar. — Pode
fazer comigo o que você quiser.
Os olhos do delegado brilham quando ele avança sobre mim,
calando-me com um beijo feroz.
CAPÍTULO 20 - Bárbara

Com a mão agarrada à minha cintura, Augusto toma a minha boca


de um jeito quase animal.
Ele me devora.
Estou ofegante quando seus lábios descem pelo meu pescoço e ele
crava os dentes ali, mordendo e me arrancando um gemido.
Minhas mãos passeiam pelo seu corpo e se demoram em seu peitoral
definido. Puxo os pelos baixos em meus dedos e o movimento faz Augusto
se erguer para me encarar.
— Doeu, delegado? — brinco e ele ri, balançando a cabeça
enquanto lambe os lábios devagar.
— Vai precisar se esforçar mais para me causar alguma dor, Bárbara
— provoca e eu cravo as unhas em seu peito, arranhando sua pele.
E o movimento faz seus olhos faiscarem.
— Isso aí só me deixa ainda mais duro, sabia? — murmura,
inclinando-se para beijar o meu pescoço.
Seus lábios descem para a altura do meu decote e eu continuo
arranhando sua pele, seguindo até a sua nuca.
Acho que vou deixar Augusto todo marcado amanhã, mas não me
preocupo.
Ele também não parece se importar com isso, pois se esfrega de um
jeito ainda mais feroz em mim.
Quando sua boca alcança a gola da minha camisa, ele ergue o rosto
mais uma vez. Apoiado sobre os cotovelos, o delegado desabotoa cada
botão lentamente.
— Sabe que eu sempre achei isso sexy?
— O quê? — pergunto, ofegante, ao ver que ele faz todo o
movimento devagar enquanto roça os dedos pela minha pele.
— Abrir uma blusa assim, botão por botão.
Quando Augusto diz isso, ele solta o último, abrindo a peça e
correndo a mão por toda a minha barriga.
A mão quente deste homem em minha pele chega a me queimar.
— Não sabia que você tinha uma fantasia, delegado — provoco e
ele sorri de lado, antes de se inclinar e correr a língua por todo o meu
abdômen.
— Você não?
Eu mal consigo raciocinar com este homem correndo a língua pela
minha pele e subindo até a altura do meu sutiã. Quando ele alcança a peça,
apenas a puxa para cima, libertando meus seios, que estão empinados e
endurecidos por ele.
— Eu tenho uma… — murmuro, gemendo ao sentir sua língua tocar
o meu mamilo.
— Ah, é?
Augusto corre a língua de um lado para o outro por todo o meu seio
e o movimento delicadamente calculado me faz gemer alto.
Que homem absurdo de gostoso.
— Você realizaria? — pergunto e seus olhos brilham ao me encarar.
— Depende… — Sua boca suga o meu mamilo agora, fazendo-me
arfar. — O que a minha safada quer?
Ainda não sei como estou conseguindo raciocinar com este homem
lambendo meus peitos assim.
— Você… — começo a falar e paro, engolindo em seco ao senti-lo
me abocanhar.
Augusto chupa com tanta vontade agora, mamando com tanto gosto
que eu me esqueço de respirar.
Caramba, isso é muito bom.
Muito, muito bom.
— O que dizia, Bárbara? — insiste, correndo a língua pelo meu
colo, em direção ao outro seio.
Logo que ele suga o mamilo, eu gemo mais.
— Você vestiria a sua farda? — pergunto entre gemidos e o safado
ri.
— Quer que eu te coma fardado, Bárbara?
A pergunta vem seguida de uma lambida certeira e eu só sei gemer.
— Não tenho culpa se você fica um gostoso vestido para o trabalho
— digo e ele solta uma gargalhada safada.
— Hummmm… Vou pensar no seu caso — provoca, apertando um
mamilo em suas mãos.
— Eu ficaria completamente pelada — ofereço. — E você, vestido
para mim.
— É uma proposta tentadora — conclui, descendo a mão até a altura
do meu short. — Mas posso pedir algo em troca?
Augusto abre o zíper e desce a peça jeans, deixando-me apenas de
calcinha para ele.
Aproveito e ergo o corpo, livrando-me do restante da blusa e do
sutiã.
A forma como esse homem me olha quando estou nua diante dele, é
algo que sempre vai mexer comigo. Seu olhar sempre faz com que eu me
sinta tão desejada, tão venerada…
— E o que você quer? — pergunto, sentindo a minha respiração
pesada ao vê-lo se erguer para se livrar de suas coisas e buscar a camisinha.
— Fica de quatro — pede e na mesma hora eu atendo, virando-me
contra ele e agarrando o estofado ao empinar a bunda.
— Essa sua bunda branquinha com a calcinha atolada dentro dela
me pede um tapa…
Com a cabeça de lado, vejo-o vir em minha direção com a sua
ereção nas mãos, já vestido com o preservativo.
— Então bate — encorajo-o e consigo ver seus olhos brilharem
ainda mais.
A mão pesada de Augusto me desfere um tapa tão forte que eu solto
um gritinho ao sentir a ardência na pele.
— Aposto que amanhã ficará a marca — diz e eu sorrio, empinando
ainda mais para ele.
— Bate de novo — peço, gemendo ao sentir a sua mão forte acertar
a outra nádega.
— Gostou, safada?
Balanço a cabeça e o sinto agarrar a minha cintura. Ele afasta a
calcinha apenas para me penetrar de uma vez só, metendo até o fundo.
— Ai, Augusto… — choramingo ao sentir um tapa estalado junto
de uma estocada funda.
Abro mais as pernas e aumento o atrito de seu corpo contra o meu.
Augusto mete rápido, firme, e eu apenas me agarro ainda mais ao
sofá, gemendo como louca ao sentir seu pau entrando cada vez mais rápido,
parecendo me rasgar.
— Chupa meu dedo — ele pede, colocando o indicador em minha
boca e eu o sugo por inteiro.
Enquanto me fode de quatro, chupo o dedo de Augusto e o
movimento chega a ser indecente.
Quando ele tira da minha boca e coloca na entrada do meu ânus, eu
sinto uma coisa diferente em mim.
Eu nunca fui tocada ali, nunca senti prazer, mas, à medida que
Augusto entra com o dedo, eu só sei gemer.
— Ai, Augusto…
— Gosta disso? — pergunta e eu respondo em um gemido.
Seu pau metendo fundo e forte em mim enquanto o dedo faz um vai
e vem delicioso chega a ser coisa de outro mundo.
— Quero comer o seu rabo — diz e eu sinto o meu corpo inteiro se
estremecer. — Não agora, nem hoje. Mas eu quero te foder bem aqui…
O dedo de Augusto entra mais fundo e eu só consigo gemer alto,
sentindo um prazer absurdo tomar conta de mim.
— É isso que eu quero de você, safada. Vai me dar o seu cuzinho?
— pergunta e eu gemo mais.
Um tapa estalado em minha bunda e este homem metendo com
força enquanto seu dedo trabalha cada vez mais rápido é insano.
— Vai me dar, Bárbara? — indaga e eu balanço a cabeça assentindo.
Não há nada que este homem me peça me comendo desse jeito que
eu não vá ceder.
— Então posso te comer fardado.
Um tapa mais forte em minha bunda e eu gemo mais.
A imagem dele todo vestido para o trabalho me fodendo chega a me
causar um arrepio na espinha e me deixar ainda mais molhada. Ainda mais
excitada por ele.
Desço uma mão até o clitóris e me toco, enquanto Augusto não
alivia nas estocadas, deixando-me até zonza.
Eu gemo feito uma louca, desesperada, por sentir tanto.
Nunca senti tanto assim…
Seu pau em minha boceta, seu dedo em meu cu, meus dedos em
meu sexo…
Ah, caralho.
— Que delícia, Augusto…
— Você que é uma delícia aqui, Bárbara. Porra…
O seu movimento se torna ainda mais rápido, mais bruto, mais
violento e eu sou puro gemidos.
Meu prazer é tanto que beira o desespero.
Sinto uma gota de suor escorrer pela minha coluna e deito a cabeça
no sofá, gemendo, gritando, enquanto ele me fode feito um animal.
— Eu vou gozar, Augusto — digo, já começando a sentir os
primeiros tremores.
Acelero os movimentos em minha boceta e Augusto não alivia,
metendo ainda mais duro, agarrando o meu quadril com tanta força que
chega a me marcar.
— Goza pra mim, safada — pede.
E, cacete, se isso não é o que eu precisava ouvir para me
desmanchar.
Meu corpo inteiro se convulsiona e eu grito alto, enterrando o rosto
no estofado e gozando como uma louca.
Augusto tira o dedo e agarra meu quadril com as duas mãos,
metendo com muito mais força agora.
— Posso esporrar na sua bunda? — pede e eu imediatamente cedo,
balançando a cabeça.
De lado, vejo-o tirar o seu pau e arrancar a camisinha para se
masturbar até gozar também, derramando-se em mim.
Sinto o jato quente em minha pele, e Augusto geme, tremendo até
jorrar a última gota.
— Caralho… — murmura e eu me derrubo no sofá.
Estou suada, ofegante e com o corpo trêmulo.
— Acho que sujei o seu sofá — digo, apontando para o meu corpo
deitado ainda lambuzado de porra.
— Quem liga para isso?
Abro um sorriso fraco e o vejo puxar o sofá, abrindo-o por completo
para se aninhar ao meu lado.
Augusto abre os braços e eu me aconchego em seu peito,
acariciando os pelos e recebendo um cafuné gostoso.
— Vou sentir falta disso — sussurro e ele beija os meus cabelos.
— Nós vamos dar um jeito de nos vermos — diz.
Seus dedos fazem uma carícia gostosa em meu braço, arrepiando-
me por onde passam.
— Você ainda vai querer ficar comigo? — pergunto, sentindo o meu
coração disparar aqui dentro.
— E por que não?
Engulo em seco e ergo a cabeça, encontrando seus olhos azuis me
encarando firmes.
— Não sei… Tem a Gio e…
— Pode aguentar um pouco? — pede com carinho. — Vamos ver
primeiro aonde tudo isso vai levar e então conversamos com ela, ok?
Saber que ele não só quer ficar comigo mais vezes, como também
cogita contar para a filha, enche o meu coração de esperança.
Será que…
Será que eu posso tê-lo mesmo em minha vida?
Será que eu o mereço para mim?
— Tudo bem — respondo, sorrindo, baixando a cabeça mais uma
vez.
Augusto me beija e sua carícia lenta enche o meu peito de carinho.
— Até lá, vou dar um jeito de te comer escondido, nem que seja
uma rapidinha…
E, só de pensar nessa adrenalina, meu corpo já se acende em
excitação.
— Despertei o leão adormecido, delegado? — brinco e sinto seu
peito chacoalhar em uma risada.
— Ah, safada… Você não tem ideia.
— Gosto quando me chama assim — declaro.
— De safada? — pergunta e eu balanço a cabeça.
— Ah, mas é isso que você é. Uma gostosa de uma safada — diz,
descendo a mão para apertar a minha bunda. — A minha safada.
Minha safada…
Esse pronome possessivo nunca soou tão gostoso quanto agora.
CAPÍTULO 21 - Augusto

— Como foi de viagem, girassol? — pergunto, logo que abraço bem


forte a minha filha.
— Tudo certo, pai! E como foram as coisas por aqui? Tudo bem?
Balanço a cabeça e pego a sua mala no chão, levando até o
estacionamento. Não quero dar maiores detalhes sobre o final de semana,
para não deixar transparecer que rolou algo a mais com sua amiga.
Tenho plena convicção de que nossa relação não ficará só em um
fim de semana de sexo, mas preciso ter certeza do que eu quero antes de
conversar com Giovana. Preciso saber se estou pronto para dar um passo
tão grande na minha vida, principalmente porque nunca me relacionei com
alguém desde a morte de sua mãe.
Quero curtir um pouco a Bárbara, aproveitar o que temos juntos, e
não nos precipitar. Um passo de cada vez e quando estivermos prontos,
avançaremos um pouco mais.
— Sua avó está bem? — pergunto logo que nos acomodamos no
carro.
— Está melhor a cada dia! Acho que vó Leda não vai morrer nunca
— brinca e eu solto uma risada.
— Imagino…
— Ela me perguntou de você — sua voz abaixa um tom agora. —
Como todas as vezes…
Sinto uma dor no peito ao ouvir isso, mas só eu sei o quanto é difícil
para mim olhar para a mãe de Helena depois de tanto tempo. Eu nunca
impedi minha filha de manter contato com a avó, mas, depois que ela teve
idade o suficiente para ir sozinha, simplesmente parei de ir.
— Eles gostam de você, pai — declara e eu aperto os olhos devagar,
antes de girar a chave na ignição.
— Também gosto deles, Giovana — digo, mais seco. — Só… É
melhor assim.
Pego as ruas da cidade e noto que minha filha fica calada ao meu
lado, provavelmente me analisando.
Ela não sabe de todos os detalhes, não sabe toda a minha parcela de
culpa.
Então é melhor deixar como está.
— E a Babi? — pergunta, e meu coração dá um salto aqui dentro. —
Passou bem o final de semana? Ela tem se soltado mais com você?
Ah, filha.
Se você soubesse…
— Foi tudo tranquilo — respondo de pronto.
— Soube que você ganhou até pudim — diz me olhando divertida e
eu balanço a cabeça.
— Então tem seu dedo nessa, Giovana? — brinco tentando aliviar a
tensão que se formou dentro de mim.
— Conversamos por telefone e ela me contou sobre o álbum de
fotografias. E então teve a ideia de fazer um pudim em agradecimento. Eu
disse que é sua sobremesa favorita.
Olho para minha filha e sinto um incômodo no peito por esconder
algo tão importante dela, principalmente porque sempre fomos tão abertos
um com o outro. Mas preciso esperar mais um pouco para abrir o jogo, sei
que ainda não é o momento para isso.
— O pudim ficou maravilhoso e eu não deixei nenhum pedaço para
você — solto e ela dá uma risada.
— Só não vou te recriminar, senhor delegado, porque a minha avó
também fez pudim para mim. Caso contrário, você estaria ferrado.
Balanço a cabeça rindo e logo Giovana me conta com detalhes sobre
os dias em que esteve fora. Sobre o que comeu, onde passeou, os parentes
que visitou. Sei que, todas as vezes que a minha filha vai, é quase um
evento na cidade e me sinto muito bem por saber que ela é sempre muito
bem recebida por lá.
Logo que chegamos em casa, Giovana é recebida por Pluto em
latidos, lambidas e uma festa sem fim. Ele é o fiel companheiro da minha
menina, por isso fica tão eufórico com sua chegada.
— Babi! — Minha filha abraça a amiga e eu sinto mais uma vez um
incômodo no peito ao ver o carinho tão grande entre as duas. — Como foi
tudo por aqui? Meu pai te tratou bem? Ou foi muito rabugento com você?
— Eu estou ouvindo… — murmuro enquanto abro o porta-malas do
carro para pegar a sua bagagem.
— Foi tudo certo, Gio. Seu pai foi muito legal comigo.
Arqueio a sobrancelha para ela, que cora imediatamente baixando o
olhar.
Vai ser um tanto difícil fingir indiferença na frente da minha filha,
principalmente porque passei todos esses dias com a mão nessa garota.
A minha mão, a minha boca, o meu pau…
Esfrego a barba de forma inquieta.
Como vou fazer para escapar de Giovana e comer essa garota?
— Nós montamos uma mesa de café para você, Gio — anuncio logo
que adentramos a casa e o semblante dela se ilumina.
— Ótimo. Só me esperem tomar um banho rapidinho?
— Claro! Vou terminando de organizar tudo.
Giovana assente e dispara pelo corredor, fechando a porta do quarto
ao entrar.
Arrasto Bárbara pela mão até a cozinha e, quando estamos fora do
ponto de visão, eu a agarro pela cintura e tomo sua boca em um beijo
faminto.
— Deixa eu aproveitar essa sua boca gostosa por alguns minutos —
sussurro, antes de beijá-la mais uma vez.
Meus lábios se perdem nos dela, as línguas se enroscam e eu a
devoro e saboreio cada cantinho dela. Mas a onda de calor que me invade
causa outros efeitos e preciso me afastar quando sinto a ereção se formar
em minha calça.
— Caralho, Bárbara — murmuro e a garota ri baixo ao notar. —
Não posso nem te beijar que já fico de pau duro?
— Não tenho culpa se sou irresistível, delegado — ela brinca,
provocadora, e eu solto um grunhido.
— A sua sorte é que a Gio está em casa, senão eu ia te foder agora,
bem nessa mesa da cozinha.
— E isso é sorte por que, mesmo?
Esfrego a mão na barba e percebo que o rumo dessa conversa só está
deixando meu pau ainda mais duro.
— Vou tomar um banho gelado — aviso. — Sem condições da Gio
me encontrar nesse estado.
Aponto para minha bermuda de tecido leve e Bárbara morde o lábio
devagar. A ereção está ainda mais evidente e eu saio de perto dela,
resmungando, indo direto para o meu quarto.
Fecho a porta e solto um suspiro de alívio por não ter sido pego em
flagrante no corredor.
Cacete, isso foi só o primeiro dia.
Não tem nem uma hora que minha filha chegou em casa e eu já
estou assim. Como vou fazer nos próximos dias?
Sigo até o meu banheiro e, logo que me dispo, praguejo ao ver que
eu não amoleço nem a pau.
Caralho, se essa garota saísse da minha mente por uns minutos…
Derrotado, entro debaixo do chuveiro e, ao invés de desviar os
pensamentos dela, eu faço o contrário.
Encosto a cabeça na parede de azulejos e fecho os olhos ao segurar
o meu pau nas mãos. Bombeio devagar e a visão que surge na minha mente
é de Bárbara.
Completamente nua, com as pernas escancaradas para mim, a boceta
lisinha brilhando pela lubrificação.
Ai, cacete…
Bombeio mais forte ao imaginá-la se tocando para mim agora. Os
dedos fazendo um vai e vem gostoso em sua carne, o sexo inchado, os
gemidos desconexos…
Aquela carinha safada, a forma como ela adora ser fodida por mim.
A forma como essa garota geme, tão safada, tão entregue, me causa
um arrepio.
Acelero o movimento da mão e consigo vê-la gozar, daquele jeito
que é só dela, seu corpo inteiro tremendo de prazer.
Quando ela grita o meu nome, fechando os olhos e apertando seus
seios, eu acelero ainda mais e atinjo o ápice, lambuzando toda a minha mão.
Caralho…
Abro os olhos e encaro a parede branca à minha frente, respirando
ofegante.
Recupero o fôlego e busco o sabonete para terminar o meu banho e
torcer para não transparecer nada quando voltar para lá.
Termino o banho e visto-me depressa, pensando na loucura que foi
bater uma pensando na melhor amiga da minha filha.
E, para piorar, com as duas em casa.
Por Deus, eu vou ficar maluco.
Bárbara

— Meu pai saiu? — Giovana pergunta logo que adentra a cozinha e


eu dou um pulo involuntário de susto.
Coloco a mão no peito pela sua brusquidão e minha amiga solta uma
risadinha.
— Não, ele foi tomar banho — solto e ela estreita os olhos para
mim. — Parece que gostou da sua ideia e foi aproveitar também — minto
me sentindo péssima.
— Ah, certo.
Aponto para a mesa e minha amiga se senta, sorrindo ao ver o que
está diante de si.
— Já tomou a sua insulina, Bá? — pergunta e eu confirmo.
— Só esperando mais cinco minutinhos para começar a comer.
Ela assente e belisca uns pãezinhos à sua frente.
— Me conta como foi seu fim de semana! — peço, evitando a todo
custo que ela queira detalhes sobre o meu.
— Ah, amiga. Eu fico exausta, né? Mas vale muito a pena. Minha
avó faz a maior festa sempre que eu vou e meus tios são uma figura! Eu me
divirto muito com eles.
— Eu imagino… Que bom que você pode aproveitar com eles.
Balança a cabeça assentindo.
— E você não pegou nenhuma balada a noite? Nenhum cara gato na
cidade? — emendo o assunto.
— Eu saí um dia com minha prima, sim — diz, baixando a voz um
pouco. — No sábado à noite…
— Hummmm… E como foi? Conheceu alguém?
O sorriso malicioso da minha amiga me diz que eu terei muito
assunto até seu pai voltar para a mesa.
— Nossa, se você visse o cara gostoso que eu peguei…
— Dona Giovana, quero detalhes agora!
— Ele é personal trainer, amiga. O homem tem um pique…
Solto uma gargalhada ao ouvir o seu relato.
— Mas também dei uma canseira nele — conta, orgulhosa.
— Está certíssima — comento, servindo-me de um copo de suco.
— E você, Bá? Não quis sair um pouquinho esses dias? — nego,
bebendo um gole de suco agora. — Pois fique tranquila, que, agora que eu
voltei e você está melhor, vamos voltar a nossas noitadas! Curitiba vai ficar
pequena para nós duas!
Finjo empolgação, mas na verdade sinto meu peito se apertar.
Não quero sair, não quero noitadas, eu quero o Augusto…
Quero ficar em seus braços no sofá para assistir a um filme, ou
simplesmente dormir com o seu nariz enterrado em meu pescoço. Quero
que ele me pegue daquele jeito que é só seu, que me deixa de pernas
bambas…
Eu quero ele.
— O que vocês tanto estão rindo?
Como se me ouvisse, o delegado ressurge, ainda mais lindo do que
saiu daqui.
Cabelos molhados, perfume envolvente, camiseta justa ao peitoral…
Ai, Augusto.
Facilita para mim, vai?
— Estava contando para Bárbara sobre o meu final de semana —
Gio responde e seu pai se senta entre nós duas na mesa.
— Hummmm…
Um clima de tensão se forma aqui e eu apenas pego uma torrada
integral para comer.
De boca cheia, não preciso falar nada.
Pego meu celular na mesa e aproveito para mandar mensagem para
Augusto, pois o noto calado demais. Ainda que Gio esteja tagarelando sem
parar, seu pai responde apenas com acenos de cabeça.
Eu: Está tudo bem? Você demorou um pouco lá dentro…
Sinto um frio na barriga por tentar pensar no que ele estava fazendo
lá dentro, e por que voltou tão calado assim.
Será que eu fiz algo de errado?
Não demora e meu celular vibra na mesa.
Augusto: Eu estava batendo uma no chuveiro, com a imagem da
sua boceta na minha cabeça.
Engasgo na mesma hora com o suco que estou bebendo e tenho uma
crise de tosse tão grande, que até Giovana se levanta para me acudir.
Os dois tocam as minhas costas e eu respiro fundo várias vezes até
finalmente me acalmar.
— Dei um gole maior do que podia — justifico, tentando despistar.
— Bebe mais devagar agora, amiga — Gio aconselha e eu assinto.
Encaro Augusto de lado e o fuzilo com o olhar, ele apenas abaixa a
cabeça sorrindo.
Ordinário!
Terminamos de tomar o café e desta vez Augusto se solta mais, eu
acabo interagindo também. Logo o clima está muito mais leve por aqui,
para o meu alívio.
— Vou deitar um pouquinho agora, gente. A viagem não foi tão
cansativa, mas os meus parentes, sim — Gio diz, tirando-nos uma risada. —
Mais tarde eu acordo e aí pensamos no jantar.
Aceno para minha amiga e ela some pelo corredor, fechando a sua
porta ao sair.
Fico sozinha com Augusto na sala e sinto um frio na barriga.
— Quer assistir a um filme enquanto isso? — pergunta e eu
confirmo.
Nem a pau que vou perder a chance de ficar sozinha com ele.
Eu me jogo no sofá e ele pega o controle, logo Pluto vem ao nosso
encontro e se deita próximo aos nossos pés.
— Vamos ver o que temos aqui… — ele procura pelo streaming e
eu mal presto atenção.
Só consigo pensar em seu cheiro, sua presença; que eu arrancaria as
minhas roupas e me sentaria em seu colo agora mesmo se pudesse.
E pensar que ele foi se masturbar no chuveiro, pensando em mim,
enquanto estávamos na cozinha faz meu coração ficar ainda mais acelerado
aqui dentro.
Olho pelo corredor e sei que não temos a visão da porta do quarto de
Giovana. Então arrasto-me pelo sofá e fico mais próxima dele.
— Já decidiu? — pergunto.
— Pode ser um de ação?
— Pode ser qualquer coisa — respondo e ele ri baixo.
Augusto dá play no filme e logo a introdução aparece na tela. Ele
descruza os braços, descendo a mão até a minha coxa.
O toque é despretensioso, mas me arrepia inteira.
Sua mão em mim me deixa em chamas.
O volume da TV não está muito alto, então, se alguém abrir a porta
nesta casa, seremos capazes de ouvir.
Eu sei que não dá para transar, mas talvez…
— Não acho justo que só você tenha gozado — sussurro e ele sorri
de lado para mim.
— Ficou com vontade, safada? — pergunta, subindo os dedos pela
minha perna e alcançando o short jeans.
Balanço a cabeça bem devagar e o delegado entende o recado,
adentrando a mão pelo meu short.
Endireito a postura, erguendo o quadril e dando facilidade para que
ele entre.
Augusto brinca sobre a minha calcinha e eu sinto o meu corpo pegar
fogo em expectativa.
Ainda mais com a adrenalina de podermos ser pegos…
Ele não pode demorar, ele…
Quando Augusto afasta a calcinha e seu dedo toca a minha boceta
molhada, eu agarro a almofada e a mordo para não gemer.
— Mas já está molhada assim? — murmura e eu balanço a cabeça.
— Eu mal toquei em você…
Ai, Augusto…
Abafo o gemido quando ele começa a friccionar os dedos devagar
em minha carne, esfregando-me com uma delicadeza que chega a ser
torturante.
— Sabe que não pode gemer, né? — diz e eu balanço a cabeça
frenética. — Tem que ficar caladinha…
Fecho os olhos com força e aperto a almofada em minhas mãos
enquanto sinto Augusto esfregar o meu clitóris, em um movimento absurdo
de gostoso.
Penso que não há como ficar melhor, mas ele me surpreende me
penetrando com um dedo bem devagar.
Sinto uma gota de suor percorrer as minhas costas enquanto
Augusto me bombeia com o dedo, metendo o segundo agora.
— Caralho… — sussurro, baixinho e ele não facilita, fodendo-me
com três dedos agora.
Eu estou à beira do desespero, um calor descomunal me tomando;
uma vontade louca de arrancar a roupa e ser chupada inteira por ele.
Sua língua em meus peitos, na minha boca, na minha boceta…
Meu corpo inteiro se estremece e Augusto não alivia, estocando um
pouco mais rápido agora enquanto seu dedão massacra o meu clitóris.
Eu vou sucumbir, eu sei que vou…
— Ai… — murmuro quando ele fricciona mais forte e sua voz cola-
se ao meu ouvido.
— Goza bem caladinha, safada — murmura, mordendo a minha
orelha.
Empurro o quadril para cima e o sinto acelerar o movimento das
mãos quando o orgasmo me atinge de um jeito louco.
Mordo a almofada com força, sentindo meu corpo inteiro se
convulsionar e explodir de prazer.
Cacete…
Ainda estou tremendo, quando Augusto retira os dedos
delicadamente de meu short e, olhando-o de lado, vejo-o chupá-los, um a
um, tomando todo o meu gozo.
E se isso não é absurdo de tão indecente…
— Deliciosa — murmura, correndo os dedos pelos lábios de um
jeito extremamente sensual. — Satisfeita agora, Bárbara?
— Muito… — respondo, com a voz relaxada e ele sorri de lado.
— Agora vou precisar voltar o filme, perdemos a melhor parte. —
Aponta para a TV e eu rio.
— Não perdemos, não — respondo, maliciosa.
— É. Tem razão, não perdemos mesmo.
A voz rouca de Augusto causa arrepios em minha pele.
É, delegado…
Nós vamos simplesmente perder o juízo.
CAPÍTULO 22 - Augusto

— Trago boas notícias, delegado — Murilo anuncia, entrando em


meu gabinete.
Ergo os olhos da tela do computador e gosto do semblante
empolgado do meu amigo.
— Manda.
— Recebi o relatório do grampo que fizemos no telefone do
deputado aqui do Paraná. E você não vai acreditar. — Faz uma pausa e eu
gesticulo para que prossiga. — Ele tem várias ligações com o deputado que
Braga está investigando.
Ah, caralho!
— Porra, Murilo. É sério isso? — meu amigo abre um enorme
sorriso para mim.
— Olha isto aqui, Augusto.
O agente atira uma pilha de papéis a minha frente e meu coração
chega a acelerar em expectativa.
— Tem acesso ao teor das ligações?
— Vão chegar ainda as gravações — declara e eu corro as mãos
pelos cabelos, eufórico.
— Ache o Braga nos corredores para mim, junto com a Julia. Eu
quero vocês três aqui.
Murilo assente e some de vista.
Eu me levanto da cadeira e ando em círculos pela minha sala, a
mente fervilhando. O que era uma possibilidade está se materializando e
estamos lidando com algo muito grande.
Esfrego a mão pela barba nervoso e me sinto tão agitado, que sei
que, ao sair desta sala, vou direto para a rua fumar um cigarro. Caso
contrário, entrarei em colapso.
— Pronto, delegado.
Olho para a minha equipe diante de mim e estalo o pescoço.
— Temos muito trabalho, pessoal…

— Ainda com esse hábito ruim, Augusto? — ouço a voz de Murilo


surgir atrás de mim.
Estou parado ao lado da minha moto, fumando um cigarro enquanto
minha mente vai longe.
— Não tenho culpa se você taca uma bomba dessas na minha mesa
— ralho. — Preciso espairecer.
Meu amigo ri, parando ao meu lado.
— Quer um?
Tiro o maço do bolso e estendo a ele, oferecendo.
— Um maço, Augusto? Não é você quem me fala que só compra
um por vez para fumar?
— Vai querer, ou não, porra? — pergunto impaciente.
Murilo ri, balançando a cabeça e tirando um cigarro do pacote.
Entrego o isqueiro a ele, que acende, dando uma tragada forte.
— Você é uma péssima influência, sabia? — murmura, jogando a
fumaça para o alto.
Solto uma risada baixa.
— Não te obriguei a ser meu amigo. — Dou de ombros.
— Ordinário!
— E como estão as coisas em casa? — pergunto, dando mais um
trago no cigarro.
— Estão caminhando para ficar bem — explica. — Um dia de cada
vez, sabe? Mas estou feliz por estar conseguindo ajudar a Laura, eu me
sinto mais um marido de verdade.
— Você é um excelente marido, Murilo — digo, firme. — Ninguém
nunca duvidou disso, nem mesmo a Laura.
Meu amigo balança a cabeça, dando mais um trago.
— Ainda sem novidades quanto à investigação? — pergunto e ele
nega.
Tivemos acesso às câmeras e vimos a filmagem do cara que abordou
a Laura e a ameaçou para subir na moto. Porém, o filho da puta usou placa
fria, o que não nos ajudou muito. Mas a investigação está correndo, pois
ficamos sabendo de mais duas vítimas que fizeram o mesmo relato.
— Vamos pegar o desgraçado, não se preocupe.
Murilo balança a cabeça assentindo.
— E você? Como está? — pergunta e eu já fico agitado.
— Estou bem, como sempre.
Meu amigo estreita os olhos para mim e eu desvio o olhar do seu.
— E por que eu tenho a sensação de que tem alguma coisa rolando?
— Porque você viaja demais — rebato.
— Nem vem, Augusto. Eu te conheço há muito tempo para saber
que está diferente.
— E o que está diferente em mim, Murilo? — pergunto, jogando a
bituca no chão e esmagando com o coturno.
— Menos rabugento? — solta e eu faço uma careta. — Sorrindo à
toa?
Reviro os olhos e ele ri baixo.
— Te peguei essa semana sorrindo para a tela do celular, cara.
— Não poderia ser uma mensagem da Giovana? — indago e ele
nega.
— Era um sorriso bobo demais para ser para a sua filha.
Esfrego a mão na barba impaciente com sua insistência, mas sei que
meu amigo não vai me dar sossego.
— Você não vai me deixar voltar para a minha sala sem que eu fale,
não é?
— Óbvio que não.
Praguejo baixo e Murilo ri.
Decido acender mais um cigarro, porque essa conversa não vai
acabar por aqui.
Dou a primeira tragada e jogo a fumaça para o alto, ganhando
tempo, mas meu amigo simplesmente me encara, com toda a paciência do
mundo.
— Estou ficando com a Bárbara — solto de uma vez e ele estreita os
olhos para mim.
— Bárbara é quem mesmo?
— A amiga da Giovana, dona da casa em que fomos resgatar as
fotografias — e é só terminar de falar que o semblante do meu amigo se
ilumina.
— Ah, mas eu sabia! Naquele dia eu tive certeza que estava rolando
alguma coisa…
— Mas não estava — rebato. — Rolou depois.
— Mas já tinha interesse, não é? — pergunta e eu não o respondo de
pronto.
Isso já lhe tira uma risada.
— Caramba, Augusto. Quem diria, hein?
Balanço a cabeça, porque por essa nem eu esperava.
— Ela é uma boa garota, Murilo — começo a falar e ele foca toda a
atenção em mim. — Já perdeu muito nessa vida e ainda luta com o diabetes
todos os dias. Bárbara teria todo o motivo do mundo para se revoltar ou
sucumbir, mas não. Continua sendo uma garota doce e carinhosa.
— Isso é fala de alguém apaixonado, hein?
Simplesmente dou de ombros.
— Só estou sendo realista. Gosto de cuidar dela, isso tem me feito
muito bem.
Meu amigo solta um assobio diante disso.
— É a primeira vez que você fica com alguém desde a Helena? —
pergunta com cuidado.
— Não fiquei quatorze anos sem comer ninguém, Murilo — ralho e
ele ri. — Mas nunca passou de sexo. Agora é um pouco diferente.
Coço a nuca em um gesto inquieto.
— Espero que dê certo — diz, sincero. — Você sempre cuida de
todo mundo, cara. Merece alguém para cuidar de você.
Não digo nada, apenas continuo fumando o meu cigarro, perdido em
pensamentos.
Olho para o nada e a imagem que me vem é dela.
Seu sorriso doce, a sua entrega, a forma como nos damos bem…
— E a Giovana já sabe? — pergunta, tirando-me do transe, e eu
nego. — Mas você vai contar, né?
— Vou, mas não agora — explico, fumando um pouco mais. —
Primeiro quero ter certeza do que eu quero, do que a Bárbara quer, para não
alarmar minha filha à toa.
Murilo me analisa por um momento antes de assentir.
— Parece justo. Só tome cuidado para ela não descobrir primeiro.
Giovana vai ficar arrasada se não souber isso de você.
Balanço a cabeça concordando, porque tenho plena convicção disso.
Mas não posso dar um salto tão grande agora, sinto que ainda não é o
momento. Por isso é melhor esperar. Até lá, vou tomando o máximo de
cuidado possível.
De agora para a frente, preciso pensar em formas de escapar da
minha filha, para ficar com Babi.
Noite passada, que dormi sem poder ir até a sua cama, sem sentir o
seu cheiro junto comigo já foi uma merda. Acordar hoje e não poder dar um
beijo de bom-dia me quebrou também. Por que Giovana tinha que ficar em
casa, logo hoje?
É uma dinâmica que eu preciso pensar para os próximos dias, e
adequar a nossa nova rotina.
Mas sempre que eu puder, sempre que surgir uma brecha, vou pegar
essa garota de jeito. Nem que seja uma rapidinha ou um orgasmo no sofá,
como ontem à noite.
Decido afastar o rumo dos pensamentos, caso contrário, ficarei
maluco.
— Aproveitando — jogo a segunda bituca no chão e a apago. —
Conhece algum advogado na área de saúde?
— Hummmm… Acho que a esposa do Lopes, não? — Murilo
sugere e eu tenho o estalo.
— Porra, verdade! Tinha me esquecido disso. Vou lá agora mesmo
conversar com ele.
— Mas por que está precisando? — pergunta enquanto voltamos
para o prédio da delegacia.
Conto a ele sobre a possibilidade de conseguir uma bomba de
insulina para minha garota e como melhoraria sua qualidade de vida.
Porém, preciso encontrar um bom advogado para pegar esse caso.
E não vou contratar ninguém menos do que o melhor para ela.
Sigo pelos corredores em direção ao gabinete do Lopes, delegado da
DELEPREV[3]. Bato em sua porta e recebo sua autorização.
— A que devo a honra, delegado? — ele brinca e eu balanço a
cabeça, seguindo até a sua mesa.
— Sua esposa atua na área do direito de saúde? — pergunto e ele
assente, trazendo-me alívio.
— E ela é mesmo boa, né?
O delegado estreita os olhos para mim.
— Está brincando? Ela pega os maiores casos de todo o estado do
Paraná! Não é só porque é minha esposa, mas Janaína é a melhor nessa
área.
— Perfeito. Estou precisando para uma amiga da minha filha. Pode
me passar o contato dela?
Tiro o celular do bolso e anoto o telefone que ele dita para mim,
salvando o seu número.
— Vou usar o seu nome para conseguir prioridade — aviso e ele
confirma.
— Com toda certeza, Ferraz. Hoje mesmo vou falar com ela e pedir
para te atender com mais urgência.
— Ótimo. Valeu mesmo.
Converso mais um pouco com ele sobre trabalho e, quando saio,
sinto o meu coração disparado em adrenalina.
Podia tanto dar certo…
Ligo para o número mencionado por Lopes e é a secretária quem
atende, me pedindo para agendar um horário. Fico de retornar depois e,
logo que entro em minha sala, mando uma mensagem para Babi.
Eu: Consegue almoçar comigo algum dia desta semana?
Sei que almoço em casa todos os dias com Giovana e que Bárbara
não consegue nos encontrar. Mas, se eu mudar essa logística pelo menos
por um dia, sei que minha filha vai entender. Ainda mais quando souber o
motivo.
Bárbara: Consigo, sim… Alguma ocasião especial, delegado?
Consigo ouvir a sua voz me dizendo isso e acabo sorrindo sozinho.
Eu: A esposa de um dos delegados daqui é advogada na área de
saúde. Quero marcar um horário com ela, pode ser?
A resposta demora um pouco a vir e eu começo a ficar ansioso.
Bárbara: Mas, Augusto… Eu ainda não tenho condições…
Eu: É um presente, Babi. Eu quero fazer isso por você, posso?
A resposta não vem e eu sinto meu coração esmurrar o peito. Será
que fiz alguma coisa de errado?
Fico nervoso e me levanto da mesa, andando em círculos, enquanto
disco o seu número.
Se eu não souber o que está acontecendo, ficarei maluco.
— Bárbara? — chamo, logo que ela atende à ligação.
E a respiração forte do outro lado me deixa preocupado.
— Está tudo bem?
— Como você pode fazer uma coisa dessas comigo, Augusto? —
pergunta, com a voz chorosa, e eu sinto o meu peito se apunhalar.
— Eu me excedi? Desculpa, eu só quis ajudar…
— Por que você tem que ser tão perfeito? — murmura e eu sinto o
meu coração errar uma batida.
— Como é?
— Você faz tanto por mim, Augusto. Tanto… E o que eu faço por
você? Às vezes sinto que não te mereço…
Encosto o quadril na mesa e sinto um aperto no peito pela
fragilidade de sua voz.
— Eu gosto de você, Babi, e costumo querer ajudar as pessoas que
valem a pena. É meu jeito de ser…
A fungada baixinha do outro lado da linha me comove, porque eu
faria tudo para ir até ela agora e envolver em meus braços.
— E você faz muito por mim — explico. — Ninguém me deixa tão
leve e tão bem em muitos anos.
Mais uma fungada.
— Não me lembro da última vez que sorri tanto — justifico. —
Pode perguntar para o meu melhor amigo, se quiser. Ele estava hoje mesmo
me falando que estou diferente desde que te conheci.
Sinto uma risadinha baixa do outro lado e isso me conforta.
— Eu faço mesmo?
— Claro que faz, minha linda… — Meu coração já está batendo
como louco a esta altura. — Só de você existir, já faz muito por mim.
E essa declaração a desarma, porque consigo ouvir seu choro
baixinho.
— Você é uma mulher muito foda e merece só o melhor, Bárbara —
afirmo. — E que bom que eu posso te dar um pouco disso.
— Ah, Augusto…
— Eu posso marcar com a advogada então?
— Pode — murmura e eu sinto um alívio tremendo me percorrer. —
Mas vou te pagar um dia, ok?
— Não precisa…
— Por favor, Augusto, eu me sentiria melhor assim. Você já faz
muito por mim. Sério mesmo, eu nunca saberei como te agradecer o
suficiente.
— Não precisa, mesmo. Mas se te deixa mais confortável, aceito
que seja um empréstimo. Para você me pagar daqui a uns vinte anos —
aviso e ela solta uma risada baixa.
— Obrigada, Augusto. De verdade.
— Não precisa agradecer, Babi. Vamos nos falando para agendar
então, ok? Agora vou voltar ao trabalho.
— Certo, combinado. Um beijo, delegado.
Despeço-me dela e encerro a ligação, ainda sorrindo.
Eu que fiquei apavorado achando que ela não tinha gostado da
notícia e fui surpreendido com sua emoção…
Olho para o celular, e fico um longo tempo sorrindo sozinho.
Quando ergo os olhos, vejo Murilo em minha porta, balançando a cabeça,
rindo, antes de sair.
E só então eu percebo o quanto ele estava certo.
Caramba…
Acho que estou mesmo apaixonado por ela.
Pela melhor amiga da minha filha.
CAPÍTULO 23 - Bárbara

O relógio marca oito horas da noite e eu já estou ficando


preocupada. Logo na noite em que Giovana precisa ir para um
compromisso na faculdade, e que eu poderia aproveitar esse momento com
ele, Augusto não chega em casa.
Logo que cheguei do trabalho e notei a casa vazia, mandei uma
mensagem para ele avisando que já estava aqui. Tudo que me disse é que se
atrasaria um pouco, devido a alguma demanda do serviço, mas depois não
deu mais notícias.
Fico pensando se devo ou não mandar uma mensagem de novo. Não
quero incomodá-lo no trabalho. Se ele precisou ficar até mais tarde, é
porque deve ser importante. Mas, ainda assim, meu coração não fica
tranquilo.
Olho para Pluto sentado ao meu lado no sofá e ergo a mão para lhe
fazer um cafuné.
— É, amiguinho… Será que vamos ser só nós dois hoje?
O cachorro resmunga e eu fico um tempinho fazendo mais um
carinho nele, quando o som do portão se abrindo me faz soltar um suspiro
de alívio.
Graças a Deus.
Levanto-me do sofá e logo que Augusto pisa dentro de casa, eu
estreito os olhos para ele.
— Oi… — chamo, seguindo em sua direção.
O semblante cansado e o olhar duro me fazem sentir um aperto no
peito.
— Está tudo bem, Augusto? — pergunto, tocando seu braço com
carinho.
E, mesmo que ele esteja com cara de poucos amigos, não hesita ao
meu toque.
— Eu só tive um dia péssimo no serviço — diz, e eu engulo em
seco. — A Gio ainda não chegou?
— Não. Ela me disse que só chega mais tarde.
Ele assente e eu sinto um aperto no peito por vê-lo assim.
— Está com fome? — pergunto. — Posso ver o que preparo para
você enquanto toma um banho.
— Não precisa, Bárbara. Eu me viro com qualquer coisa e…
— Você comeu na delegacia? — interrompo-o e ele nega.
— Ótimo. Então vá tomar um banho bem gostoso, que eu te espero
na cozinha.
Augusto me encara e percebo que está mesmo exausto, então
simplesmente acena.
Quando ele some pelo corredor, eu vou direto para a cozinha,
pensando no que posso preparar para ele. Como demorou a chegar, acabei
tendo que comer sozinha mais cedo, mas vou pensar em algo prático.
Uma pena que não dá tempo de fazer um pudim, que sei que ele
tanto ama. Pelo menos não para hoje.
Abro a geladeira enquanto penso no que posso fazer, que seja rápido
e o sustente. Vejo os ovos na porta e alguns ingredientes me fazendo ter
uma boa ideia.
Pego tudo que preciso para fazer uma omelete bem caprichada. Pico
tomate, cebola, junto com presunto, queijo, e outros complementos que
encontro pelo caminho.
Estou virando os ovos batidos na frigideira, quando sinto aquele
cheiro familiar invadir o ambiente.
Viro-me e encontro Augusto vestindo camiseta, calça de moletom, e
os cabelos umedecidos estão um pouco bagunçados.
Lindo, como sempre.
— Estou fazendo uma omelete, gosta? — pergunto e ele assente,
vindo até mim.
— Eu gosto de qualquer coisa que você fizer — murmura, beijando
meu ombro com carinho.
Augusto sobe os lábios em direção à minha orelha e eu me arrepio
inteira.
— Como foi o seu dia? — pergunta me abraçando pela cintura
agora.
— Foi bom… — respondo, com a voz afetada e o sinto beijar o meu
pescoço antes de se afastar.
— Me desculpe por não ser uma boa companhia hoje — diz e eu o
encaro de lado.
— Imagina, Augusto. Está tudo bem. Não vou demorar muito aqui,
ok? — alerto e ele assente.
— Você já comeu?
— Já… Não consegui te esperar, desculpa — digo com pesar.
— Capaz. Você tem o horário certo de comer, não se preocupe.
Balanço a cabeça, apontando para a mesa da cozinha, e Augusto se
senta para me esperar. Finalizo o seu prato e entrego a ele, abrindo a
geladeira para pegar um copo de suco.
— Espero que tenha ficado gostoso — digo e ele abre um sorriso
logo que dá a primeira garfada.
— Está delicioso, Babi. Obrigado.
Augusto come com tanta satisfação que sinto meu peito se aquecer.
Me dói o coração saber que não está bem, mas me conforta saber que estou
fazendo pelo menos um pouquinho por ele.
— Quer conversar sobre o seu dia? — pergunto com cuidado.
Augusto ergue os olhos para mim e dá um longo gole de suco.
— Hoje o superintendente ficou na minha cola — solta, partindo
mais um pedaço da omelete. — Eu faço o meu trabalho da melhor forma,
Bárbara. Eu sou bom no que faço.
— Não tenho dúvidas disso.
— Mas este país é uma burocracia do cacete, e, se às vezes não
seguimos a porra do protocolo, enchem o nosso saco. E hoje me pegaram
para Cristo.
Sinto meu peito se apertar ao ouvir o seu relato. Ele é tão dedicado
no trabalho, que nem consigo pensar em como deve ter sido ruim.
— Sinto muito — digo sincera. — Acima de qualquer burocracia,
sei que você trabalha arduamente nas investigações. Não é à toa que tem
tanto sucesso nos casos que pega.
Ele me analisa e assente, voltando a comer.
— Você é mesmo muito bom, Augusto. O melhor no que faz. Nunca
se esqueça disso.
O delegado balança a cabeça, olhando-me por um instante.
— Obrigado. Sei que amanhã vai ser um dia melhor e vou pedir a
ajuda dos meus agentes para lidar com toda papelada, mas hoje só estou
cansado mesmo.
— Consigo imaginar… Mas não se preocupe, agora você está em
casa e só vai descansar.
Augusto termina de comer e eu recolho o seu prato, levando tudo
para a pia. Eu o impeço de me ajudar e, quando termino de limpar, levo-o
até o sofá, onde se senta ao meu lado.
— Quer ver um filme ou algum programa na TV? — ofereço e ele
nega.
— Acho que estou cansado demais para isso.
— Quer ir para a cama então?
Ele nega mais uma vez.
— Quero ficar com você — diz e meu coração erra uma batida.
— Então vem aqui.
Arrasto meu corpo no sofá e coloco uma almofada sobre o colo,
dando uma batidinha leve.
Augusto entende o recado e se deita no sofá, acomodando-se em
meu colo, onde imediatamente começo a fazer cafuné. Logo que meus
dedos acariciam seus cabelos, meu delegado solta um suspiro relaxado e
isso me faz sorrir.
— Não sei fazer massagem, então espero que o cafuné ajude…
— Isso está perfeito, Bárbara. Por favor, continue.
Enrosco os dedos em seus fios, fazendo um carinho tão gostoso, que
Augusto se vira para ficar de frente para mim.
Agora, olhando seu rosto, desço os dedos por toda a sua face,
demorando-me em cada detalhe, arranhando-me em sua barba.
— Não me lembro da última vez que fizeram isso por mim —
confessa baixinho, e eu sinto o meu coração dar um salto aqui dentro.
— Posso fazer sempre que quiser — garanto e ele me abre um
sorriso relaxado.
O primeiro da noite, o que tranquiliza bastante o meu coração.
— Seria muito feio se eu quisesse que a Gio chegasse mais tarde
hoje só para eu não ter que sair daqui? — murmura e eu solto uma risada.
— Bom… Pelo que ela me falou, deve demorar mais de uma hora
ainda para chegar.
Ele sorri de lado, parecendo satisfeito.
— Pode fechar os olhos e relaxar, Augusto. Eu vou ficar aqui,
cuidando de você.
Augusto ergue sua mão e entrelaça nossos dedos, depositando um
beijo delicado no dorso da minha. Com a mão livre, continuo fazendo
carinho em seus cabelos e, ainda que esteja de olhos fechados, noto seu
semblante mais leve.
Esse homem deitado em meu colo, sorrindo ao receber um carinho,
nada se parece com o que chegou há pouco exausto pelo trabalho.
Acho que tudo o que ele precisava era de um pouco de carinho, de
cuidado… Augusto está sempre cuidando de todo mundo, principalmente
de mim. Por isso, farei tudo o que estiver ao meu alcance para retribuir.
E cuidar dele neste momento tem feito meu coração bater mais
calmo.
Tem me feito apaixonar um pouco mais por ele…
Eu mal percebo a hora passar, quando ele começa a ressonar em
meu colo e, olhando para o relógio, vejo que está quase na hora de Giovana
chegar.
Com todo cuidado do mundo, tiro Augusto de meu colo e acomodo
a almofada diretamente no sofá. Por sorte, ele não acorda. Então eu me
sento no tapete ao seu lado e fico acariciando seus cabelos, tocando seu
rosto com todo meu carinho.
Quando ouço o portão de casa se abrir, meu coração dá um salto e
eu me inclino rapidamente para lhe dar um beijo no rosto.
— Boa noite, Augusto — murmuro, tocando seus cabelos uma
última vez.
Levanto-me em um pulo e sigo para a cozinha, no instante em que
Giovana passa pela porta, com o capacete na mão.
— Ah, oi, Babi — ela me cumprimenta e eu aponto para o sofá.
Minha amiga estreita os olhos para mim e se surpreende ao ver o pai
dormindo tranquilo por ali.
— Meu pai dormiu no sofá? — indaga e eu faço que sim. — Que foi
que aconteceu?
— Ele chegou cansado do trabalho, já era mais de oito horas da
noite — explico, falando baixo. — Jantou e deitou no sofá para ver TV —
minto, sentindo o meu coração bater mais forte. — Quando pegou no sono,
eu desliguei tudo.
— Nossa… Ele devia estar exausto para dormir antes de mim.
— E estava mesmo. Parece que o superintendente passou o dia com
ele, algo assim — falo e minha amiga faz uma careta.
— Ah, esses dias acabam mesmo com o meu pai, coitado. Sei bem
como é.
— Acho que vou me deitar então — anuncio. — Vou evitar fazer
barulho para não o acordar.
— Está certo. Eu também vou fazer isso.
Apago a luz da sala e sinto um aperto no peito por deixá-lo ali
sozinho, mas sei que ainda não posso ficar com ele.
— Não precisa acordá-lo? — pergunto a Gio, logo que chegamos ao
corredor.
— Não, ele vai acordar sozinho e voltar para a cama. Não se
preocupe.
Assinto e sigo até a porta do meu quarto.
— Deu tudo certo na faculdade? — pergunto e ela confirma,
acenando.
— Uma palestra chata, mas necessária. — A careta dela me faz
segurar uma risada. — Mas foi bom, apesar de tudo. E por aqui, tudo bem?
— Fiquei a maior parte da noite sozinha com o Pluto, e seu pai,
quando chegou, desmaiou no sofá. — Dou de ombros.
— Que bom que tem o Pluto de companhia.
— Seu cachorro é a coisa mais fofa do mundo.
— E você bem tinha medo dele…
— Amiga, ele é um pitbull! O que você queria? — reclamo e é a sua
vez de segurar uma risada.
— Está certo… Boa noite, Babi.
— Boa noite, Gio.
Aceno para ela, que segue até o seu quarto.
Adentro o meu e faço minha última medição de glicemia antes de
me preparar para dormir.
Já vestida de pijama, estou prestes a me acomodar na cama, quando
me detenho.
Quero saber se ele está confortável, se ainda dorme bem…
Pé por pé, saio do quarto e, quando chego à entrada da sala, paro
para ver Augusto na mesma posição em que o deixei, dormindo relaxado.
Sei que dormir no sofá não é o ideal, mas seu sono está tão
gostoso…
Espero que ele tenha uma excelente noite.
Fico mais uns minutos velando por seu sono, até finalmente decidir
voltar. Jogo um beijo para o ar e volto ao meu quarto, acomodando-me
debaixo das cobertas.
Pego o celular na mesinha de cabeceira e programo o despertador
para um horário um pouco mais cedo que o habitual. Caso Augusto não
acorde a tempo de voltar para a cama, eu o impeço de perder o horário para
o trabalho.
Programo tudo e fecho os olhos, sentindo-me extremamente bem
por tê-lo ajudado um pouco esta noite.
Fazer algo por Augusto se tornou uma das coisas favoritas da minha
vida.
CAPÍTULO 24 - Bárbara

Estou terminando um design de uma rede de joalherias, concentrada


em meu trabalho, quando sinto o celular vibrar sobre a mesa.
O nome que pisca na tela me tira um sorriso.
Augusto: Está saindo do trabalho por agora?
Olho para o relógio, vendo que está terminando o turno do meu
expediente e que consigo finalizar amanhã o que estou fazendo.
Eu: Saio em uns dez minutos. Por quê?
Augusto: Vou te pegar aí.
Vou te pegar aí…
Só a forma como ele fala já me estremece toda.
Eu: Certo, vou me preparar para sair.
Não é todo dia que Augusto consegue me dar uma carona para casa,
mas sempre que pode me manda uma mensagem avisando. E só de pensar
em subir em sua moto de novo, abraçada a ele, já sinto um frio na barriga.
Desde que Giovana chegou, há pouco mais de uma semana, têm
sido cada vez mais difíceis nossas escapadas. Quando estamos sozinhos,
aproveitamos para nos curtir um pouquinho, mas nunca deu tempo de ir
além.
Porém, só de sentir seus abraços, seus beijos, já vale tudo para mim.
— Sorrindo aí para o celular, Babi? — Lorena para ao meu lado e eu
me sinto corar, por ter sido pega no flagra.
— Um pouco — assumo e seus olhos brilham.
Quando ela se senta na cadeira e inclina o corpo em minha direção,
eu solto uma risada.
— Pois pode ir me contando tudo!
Olho para a minha colega de trabalho e penso que vai me fazer bem
dividir mais um pouco, já que obviamente ainda não posso contar para a
minha melhor amiga.
— Lembra que eu comentei com você sobre o pai da minha amiga?
— pergunto com a voz mais baixa.
— Lembro! O delegado bonitão, né?
— O próprio! Então… — Abaixo o olhar e me sinto corar mais. —
Estamos ficando…
O gritinho de empolgação que ela solta faz com que eu dê uma
reprimenda.
— Shiiiu! Sua maluca!
— Ai, Babi… Desculpa. Mas não resisti! Caramba, hein? E sua
amiga já sabe?
— Ainda não — digo, sentindo uma pontada no peito. — Estamos
esperando o momento certo.
— E até lá vão se pegando às escondidas?
— É…
— Ai, que emoção! Que adrenalina! — exclama e eu rio baixo.
— Queria ficar mais tempo com ele, mas é o que temos no
momento. Não queremos precipitar as coisas por agora, sabe?
— Está certo… Enquanto isso, vá aproveitando o chá do coroa —
cochicha e eu solto uma risada.
— E que chá…
Só de pensar na pegada de Augusto, eu já me arrepio inteira.
— Ai, Babi! Espero tanto que dê certo. Você merece mesmo alguém
legal.
— Obrigada.
Meu celular vibra na mesa e eu sorrio ao ver sua mensagem.
Augusto: Cheguei.
— Agora me deixa ir, que meu “delegato” chegou — anuncio, já
salvando o arquivo para desligar o computador.
— Eu posso descer atrás de você só para ver como ele é de longe?
— Pode! Mas só olhar, tá? Porque ele é meu — afirmo e ela ri,
balançando a cabeça.
— Pode deixar, dona Bárbara!
Junto minhas coisas e descemos pelo elevador. Logo que eu chego
ao térreo, despeço-me dela e saio na frente, atravessando a portaria do
prédio e sentindo meu coração dar um salto com a imagem que surge diante
de mim.
Vestido com seu habitual traje da Polícia Federal, todo de preto, com
óculos escuros no rosto e capacete nas mãos, Augusto me espera encostado
na moto.
E, logo que me vê, um sorriso lindo se abre em seus lábios.
— Babi — cumprimenta-me, logo que me aproximo dele,
estendendo o capacete preto para mim.
Eu o pego, mas não o visto de imediato.
— Augusto… Eu posso beijar você? — pergunto, sentindo meu
coração disparar.
Sei que há muita gente ao nosso redor, mas a única pessoa que não
poderia nos ver não está aqui.
O sorriso de lado que ele me abre me derrete inteira.
— Pode o que você quiser.
Dou um passo em sua direção e agarro a sua nuca, colando meus
lábios nos seus. Beijo Augusto devagar, bem gostoso, enquanto meus dedos
acariciam seus cabelos macios.
— Sinto falta de beijar você — murmuro, afastando nossos lábios.
— Nem me fale… — a sua voz é rouca, antes de atacar minha boca
mais uma vez.
É tão gostoso, é tão bom…
Como estamos no meio da rua, não nos aprofundamos muito, mas
ainda assim não deixa de ser um beijo absurdo de gostoso.
Ao me afastar, toco seu rosto com carinho.
— Precisamos ir para casa — anuncia e eu concordo.
— Não podemos ir a um motel antes? — brinco e ele gargalha,
vestindo o capacete.
— Não me tente, safada — murmura e eu balanço a cabeça,
encaixando o capacete e montando na moto.
Há dois dias, quando ele marcou um horário com a Dra. Janaína
para vermos sobre o meu processo a fim de conseguir a bomba de insulina,
acabamos almoçando juntos. Mas não resisti e o arrastei até o motel mais
próximo, Augusto fez questão de pegar o quarto mais chique. Nosso tempo
era curto, mas ali pudemos desfrutar um do outro, sem nos preocuparmos
com mais nada. E foi tão gostoso, que não vejo a hora de repetir.
— Como foi no trabalho hoje? — pergunto, enquanto acaricio sua
cintura, abraçada a ele.
— Foi bem produtivo — diz, um pouco alto, para que eu possa
ouvi-lo além do trânsito. — Avançamos mais um pouco na investigação e
estamos ligando vários pontos.
— Que ótimo, Augusto! Não se esqueça de seguir os protocolos,
viu?
Daqui consigo ver a sua careta pelo retrovisor e eu rio.
— Nem me lembre dessa merda — murmura. — Mas sim, estou me
lembrando de todos eles.
— Ótimo.
— E seu dia, foi tranquilo também?
— Nossa, e como! Passei o dia todo desenvolvendo os designs de
uma joalheria…
Então sigo o percurso lhe contando sobre o trabalho que desenvolvi
e ele faz várias perguntas pessoais. Ainda que o trânsito esteja lotado, não
percebemos o tempo passar. Quando nos damos conta, estamos adentrando
o portão de casa.
Salto da moto no instante em que Pluto vem até nós e eu me abaixo
para acarinhá-lo, enquanto tiro o capacete.
— Oi, mocinho.
Esfrego sua orelha do jeito que ele gosta e ganho várias lambidas de
carinho.
Levanto-me e vejo Augusto também brincar com o cachorro.
Quando adentramos a casa juntos, encontramos Giovana surgindo do
corredor.
— Ai, eu não aguento mais estudar — reclama.
— Oi para você também, Gio — brinco e ela solta uma risada.
— Oi, girassol. — Augusto vai até a filha e beija seu rosto com
carinho, ganhando um abraço apertado dela.
A relação dos dois é tão bonita, que dá gosto de ver.
— Semana de prova? — ele pergunta e ela confirma com um gesto.
— Amanhã eu tenho uma prova terrível de Direito Penal —
reclama. — E o professor é um carrasco.
— Eita — falo, passando por ela para guardar o capacete na estante.
— Parei só para abastecer minha garrafinha de água. — Ela sacode
o utensílio nas mãos. — E vou me trancar naquele quarto. Só me chamem
para o jantar, ok?
— Pode ficar tranquila, Gio. Foca na sua prova que não vamos te
atrapalhar — é seu pai quem diz.
A garota assente e segue para a cozinha. Aproveito a deixa e vou
para o meu quarto, tirar essa roupa de trabalho e tomar um banho.
Entro debaixo do chuveiro e penso na tentação que será ficar com
Augusto pela casa sabendo que Giovana está trancada em seu quarto.
Será…
Termino meu banho e puxo a toalha para me secar. Já dentro do
quarto, busco uma camiseta para vestir e uma saia jeans.
Caso surja uma oportunidade, de saia é muito mais fácil…
Um arrepio me percorre só de pensar nessa possibilidade, ainda
mais que estou sedenta por ele. O fato de não poder tê-lo todos os dias para
mim faz com que a expectativa seja muito maior.
Borrifo perfume, penteio os cabelos e saio do quarto com minha
bolsinha de insumos na mão.
Sigo pelo corredor e encontro apenas Pluto pelo caminho, então
penso que Augusto deve ter ido fazer o mesmo que eu.
O cachorro resmunga e eu penso que está na hora de sua ração.
— Já quer comer, Plutinho?
Sigo até a lavanderia anexa à cozinha e busco pelo saco de ração,
despejando um pouco de comida no comedouro.
O cachorro come com tanta vontade que dá gosto de ver.
Deixo-o imerso ali e volto para a cozinha. Abro minha bolsinha e
faço a habitual medição de glicemia.
Abro a geladeira e penso no que eu poderia fazer para um lanche
rápido; encontro pão integral, peito de peru, queijo e salada. Levo tudo para
a bancada e sinto um cheiro familiar me invadir.
Mal tenho tempo de me virar, quando sinto braços quentes
envolverem o meu corpo e fecho os olhos por um instante, absorvendo o
seu calor.
— Será que temos alguns minutos de privacidade? — sussurra, ao
pé do meu ouvido, raspando a barba em minha pele.
Engulo em seco e contenho um gemido, ao sentir as suas mãos
grandes descerem pelo meu corpo e acariciarem a minha coxa.
— Ai, Augusto — murmuro baixinho, e ele mordisca o meu
pescoço.
— Sabe aquela máquina de lavar ali? — Aponta e eu acompanho o
seu olhar. — Ao lado dela, tem um espaço em que nós dois cabemos
exatamente…
Um arrepio percorre a minha espinha e a adrenalina me toma.
— Será…
— Eu consigo te foder rapidinho, mas você não pode dar um pio.
Meu sexo arde em expectativa e eu simplesmente puxo Augusto
pela mão, levando-o ao local indicado por ele, longe de qualquer campo de
visão.
O delegado me gira e me coloca de costas para ele, encosto a cabeça
de lado na parede fria.
— Assume que você vestiu essa saia justamente para eu te comer,
safada — sussurra, erguendo o tecido na altura da cintura.
Eu nem sou capaz de negar isso.
— Pensei que fosse mais fácil… — murmuro e ele sorri, abrindo o
zíper da bermuda.
— Não dê um pio, Babi — instrui e eu assinto, engolindo a saliva.
Seu pau está duro em suas mãos e quando ele posiciona entre a
minha bunda, Augusto mordisca a minha orelha.
— Confia em mim? — pergunta, e eu já entendo o motivo.
Não temos camisinha e não podemos correr o risco de sair para
procurar por uma agora.
Balanço a cabeça e empino a bunda para ele.
— Me fode logo, delegado.
Seus olhos brilham quando ele agarra a minha cintura e mete seu
pau inteiro, de uma só vez.
E, caralho…
Se ter esse homem dentro de mim sempre foi gostoso, recebê-lo sem
camisinha chega a ser falta de respeito.
O calor da sua pele contra a minha é simplesmente uma delícia e
Augusto parece sentir o mesmo que eu, pois demora uma fração de
segundos para se mover.
E quando se move…
Espalmo as mãos na parede enquanto sinto suas estocadas e seu
movimento é tão preciso, que me tira um gemido baixo.
Minha barriga gela e eu arregalo os olhos para ele, que balança a
cabeça a contragosto.
— Caladinha, Bárbara.
Meu corpo se estremece ainda mais quando sua mão pesada cobre a
minha boca, impedindo-me de emitir qualquer ruído.
E aqui, agarrada a esta parede, com a saia levantada, a bunda
empinada, enlouqueço enquanto Augusto me fode de um jeito louco e
silencioso.
Nossos quadris não podem se chocar muito forte, então ele contém o
atrito. Mas seu pau esfola a minha boceta, entrando duro e fundo, daquele
jeito que me desmonta inteira.
— Porra de boceta gostosa, Bárbara — sussurra antes de morder a
minha orelha.
Ele está se contendo para não avançar mais, e a adrenalina por haver
mais alguém em casa e podermos ser pegos deixa tudo mais excitante.
Mais louco…
— Já pensou, Bárbara? Se sua amiga aparece aqui agora e te
encontra fodendo com o pai dela?
Ai, Augusto…
Não me fala uma coisa dessas.
Eu quero gemer, quero gritar, de tão gostoso que está, mas a mão de
Augusto não solta a minha boca. E ele continua falando obscenidades em
meu ouvido, fazendo-me estremecer inteira.
É tão gostoso…
Empino mais a bunda e rebolo em seu pau, desesperada, louca de
tesão.
Eu arrancaria minha roupa inteira e gemeria feito a safada que ele
diz que eu sou, se pudesse.
Mas, ao contrário disso, fico quietinha, agarrada à parede, recebendo
seu pau de bom grado.
Quando Augusto desce a mão livre e toca a minha boceta por dentro
da calcinha, eu mordo o seu dedo para não gemer.
Ai, cacete…
— Continua caladinha, minha safada.
A mordida que ele dá em minha orelha só me faz querer gemer
mais.
Jogo a cabeça para trás e deito em seu ombro, enquanto ele continua
comendo a minha boceta e esfregando meu clitóris de um jeito animal.
Sei que vou gozar, estou tão perto…
Rebolo nele desesperada e, quando o orgasmo me atinge, estremeço
inteira, engolindo um gemido. Esfrego-me toda em Augusto e logo ele solta
a minha boca para agarrar a minha cintura e meter com força, até gozar
também, derramando-se em mim.
A sensação de Augusto gozando dentro de mim deveria me
preocupar, mas não preocupa.
Pelo contrário, é uma sensação de pertencimento que me toma.
Estamos ofegantes quando a onda de prazer passa e meu delegado
sai de dentro de mim, dando um passo para trás.
— Caramba, Augusto… — murmuro, endireitando a postura e
ajeitando a saia. — E se ela chegasse? — desta vez eu pergunto séria.
Não é a primeira vez que fazemos alguma estripulia com Giovana
em casa, mas nunca tínhamos ido tão longe.
— Isso não ia acontecer — diz, convicto. — Quando Gio se tranca
no quarto para estudar, nem um terremoto a tira lá de dentro.
Respiro um pouco mais aliviada, mas corro as mãos pelos cabelos,
ajeitando-os enquanto Augusto termina de fechar a bermuda.
Sinto um calor na perna e sorrio maliciosa para ele.
— Está escorrendo aqui, delegado — murmuro, tocando a minha
virilha e mostro para ele o dedo lambuzado.
Ele me abre um sorriso orgulhoso quando eu chupo o dedo,
provocadora.
— Não tira — diz, inclinando-se para beijar a minha boca. — Vou
adorar te ter ao meu lado essa noite, toda lambuzada pela minha porra.
Seus olhos brilham e ele me beija mais uma vez.
— Agora vamos voltar? Minha safada precisa comer.
Solto um risinho e, quando voltamos para a cozinha, está tudo no
mais completo silêncio.
Pluto nos recebe e logo conversamos com ele, enquanto sigo para a
bancada a fim de voltar a preparar os sanduíches. Meço a glicemia mais
uma vez e calculo os carboidratos para injetar a insulina necessária.
Nesse período, Augusto conversa sobre coisas banais comigo, todo
relaxado, como se não tivesse acabado de me foder no cômodo ao lado.
E pensar nisso me traz um frio na barriga, principalmente porque
estou com a virilha toda melada de seu sêmen.
— Augusto — chamo-o, e ele vem para mais perto de mim. — Você
não quer saber se eu tomo pílula? — pergunto em um sussurro.
Eu confio plenamente que ele não tem nenhuma IST, assim como eu
sei que não tenho, mas não é só isso que camisinha previne.
— Ah, não me preocupo com isso, porque sei que é impossível.
Sinto uma punhalada no peito e em câmera lenta me viro para ele.
Como…
Como ele sabe?
Será que a Giovana contou para ele?
— Como…
— Não tem esse risco comigo, Bárbara — diz, de forma que só eu o
escute. — Já faz quase dez anos que eu fiz vasectomia.
Eu pisco os olhos para ele, em choque, enquanto processo essa
informação.
Por que a Gio nunca me contou isso?
— Giovana não sabe — diz. — E espero que você guarde mais um
segredo dela — murmura e eu aquiesço.
— Então… — Raspo a garganta ao finalizar os sanduíches. — Você
não pretende ter mais filhos?
Augusto nega com convicção e eu solto um suspiro.
Não sei bem dizer se sinto alívio, mas não sinto medo, sinto…
É estranho.
— Então pode ficar tranquila. Posso te comer todos os dias sem
camisinha, que não corremos risco algum.
Engulo em seco, assentindo devagar.
É perfeito, não é?
Que eu me relacione logo com ele, que não quer algo que eu não
posso dar…
Minha mente está um pouco confusa diante dessa informação, mas
saber que Augusto não me rejeitaria pela minha infertilidade me traz um
alívio.
Me traz um pouco de paz.
Eu ainda não tive coragem de contar a ele sobre isso, mas agora me
sinto mais segura para fazê-lo.
Me sinto mais tranquila…
— Quer suco de laranja? — pergunta ao pegar um jarro da geladeira
e eu agradeço a mudança de assunto.
Confirmo e ele nos serve de dois copos, entregando-me um ao final.
Sento-me à mesa à sua frente e sorrio ao vê-lo comer com tanta vontade
algo que preparei para nós dois.
— Está sabendo do Congresso da Giovana? — pergunta e eu
confirmo.
— É em São Paulo, não é?
— Sim. O maior Congresso de Direito do país. Essa viagem está
marcada há meses e ela vai ficar cinco dias fora de casa.
O sorriso malicioso de Augusto faz com que eu sinta um frio na
barriga.
— Cinco dias? — indago e ele faz que sim, lambendo os lábios
devagar.
Um gesto que deveria ser crime de tão sexy.
— É daqui a duas semanas — explica, sem tirar os olhos de mim. —
Sabe aquele final de semana em que ficamos sozinhos, Bárbara?
Seus olhos faíscam e eu assinto.
— Não foi nada perto do que está por vir.
Apoio os cotovelos na mesa e abro um sorriso safado, devolvendo a
provocação.
— Jura, delegado?
Augusto acena propositadamente devagar.
— Eu vou acabar com você, safada — promete e eu nem mesmo
vacilo.
Na verdade, mal posso esperar por isso.
CAPÍTULO 25 - Augusto

— Por hoje é só, pessoal! — anuncio o término da aula de hoje e


ouço vários suspiros altos.
Alguns aliviados por chegarmos ao fim e outros não querendo que o
treino acabasse.
Eu adoro esse momento, essa energia.
Ainda vestido de quimono, despeço-me de cada criança da turma e
seco uma gota de suor da testa quando Murilo se aproxima de mim com o
semblante tão cansado quanto o meu.
Temos trabalhado duro nas últimas semanas.
A investigação tem exigido muito de nós e acabo chegando em casa
exausto. Nos dias em que temos o projeto, é ainda mais cansativo, pois
vimos direto do trabalho para cá.
Mas ainda assim não reclamo.
Esse trabalho voluntário é como uma terapia.
Além do mais, quando chego em casa, tenho encontrado sempre
Bárbara me esperando. Mesmo com a presença de Giovana, temos ficado
uma boa parte da noite juntos, nem que seja batendo um papo no sofá. E
passar esses momentos com ela tem sido tudo.
Tem sido uma boa válvula de escape.
Ela traz aquela dose de leveza para equilibrar a agitação que é a
minha vida.
— Já vai para casa? — meu amigo pergunta logo que seguimos para
o vestiário do ginásio.
— Não vejo a hora de chegar em casa e cair no sofá — confesso e
ele ri baixo.
— Está doido para ganhar um carinho da sua novinha? — brinca e
eu faço uma careta.
— Bárbara não é tão novinha assim — contraponho.
— Mas é quase vinte anos mais nova que você — constata e eu dou
de ombros.
— Isso pouco me importa, Murilo.
Já dentro do vestiário, abro o meu armário e pego a mochila,
retirando de lá um par de roupas limpas.
— Você gosta mesmo dela, né?
— Já disse que sim.
Desamarro a faixa preta e retiro o quimono todo suado, guardando-o
na parte vazia da mochila.
— É que é diferente isso — explica. — Nunca te vi interessado em
ninguém desde a Helena, então é um tanto curioso te ver apaixonado de
novo.
Balanço a cabeça e sigo para o chuveiro, deixando a água quente
cair sobre mim.
Na cabine ao meu lado, ouço o chuveiro também ser ligado e logo
meu amigo entra em seu banho.
— Eu sei, Murilo — explico, correndo sabão pelo corpo. — É
diferente para mim também.
Enfio a cabeça no jato de água e fecho os olhos por um instante,
pensando no quanto minha vida mudou nos últimos meses.
No quanto me sinto diferente desde que Bárbara chegou a minha
vida…
— E a Laura, como está? — pergunto, terminando de me ensaboar e
me lavando por completo.
— Melhorando um pouco a cada dia — diz com a voz mais calma.
É bem verdade que o tenho visto bem mais tranquilo do que antes. —
Quando ela se sentir pronta, quero marcar um jantar lá em casa para te
receber. Você e a sua garota.
Ouvir meu amigo falar assim me tira um sorriso de lado.
— Será um prazer.
É só questão de tempo até finalmente assumir meu relacionamento
com Bárbara, por isso não vejo problema algum no convite do meu amigo.
Termino o banho e puxo a toalha para me secar, enrolando-a na
cintura ao sair da cabine do chuveiro. Sinto algumas gotas de água
escorrerem pelo meu corpo enquanto caminho até a minha mochila e
começo a me vestir.
A vantagem de haver o vestiário é que já consigo sair limpo daqui,
chegando em casa muito mais confortável.
De frente para o espelho, corro as mãos pelos cabelos em um
movimento rápido para arrumá-los da melhor forma que posso. Fecho a
mochila, jogando-a sobre os ombros.
— Nos vemos amanhã? — pergunto ao meu amigo logo que saímos
do vestiário e seguimos até o estacionamento.
Pelo caminho, cumprimentamos algumas crianças e outros
voluntários do projeto. Sei que daqui a pouco começa uma turma de balé e
acho um tanto fofo as pequenas vestidas com meia-calça e tutu.
Observá-las me traz uma nostalgia boa da época em que eu levava
Giovana para as aulas de balé e de como era difícil prender os seus cabelos
em um coque perfeito. Eu sofria, mas sempre conseguia fazer um bom
trabalho. Minha filha podia não ter a mãe em casa, mas eu não permitia que
andasse nada menos que impecável. Sempre fiz questão disso.
Despeço-me de Murilo e busco o capacete na moto, montando e
ligando o motor em seguida. Ainda parado, acelero-a e o ronco alto ganha
vida, fazendo-me sorrir.
Eu amo esse som.
Com tranquilidade, sigo pelas ruas de Curitiba e sinto o vento
gelado bater contra o meu corpo. Pelo horário, o trânsito não está muito
cheio, então consigo apreciar bem o trajeto.
Aproveito este momento sozinho, imerso em pensamentos, e reflito
um pouco sobre a minha vida. Penso nas últimas semanas e em como tenho
vivido um pouco mais leve a cada dia.
Gosto disso.
Gosto dessa sensação.
Piloto bem mais devagar que o habitual, porque, mesmo que eu
esteja louco para chegar em casa, gosto deste momento sozinho.
Gosto de me conectar comigo.
Chego à minha rua e, quando abro o portão da garagem, vejo Pluto
ao longe me esperando com um enorme sorriso.
Desço da moto e retiro o capacete, abaixando-me para
cumprimentar o cãozinho.
— E aí, carinha?
Esfrego o seu focinho e ele fica todo eufórico, balançando o rabinho
e brincando comigo. Estou entretido com ele, quando sinto um cheiro doce
familiar e ergo os olhos para vê-la.
De pé, encostada no batente da porta, está Bárbara.
Tão linda que chega a ser crime.
Vestindo uma regata preta, short jeans e chinelos coloridos nos pés,
ela está simplesmente perfeita.
— Oi… — cumprimento, ao me levantar, e seguir em sua direção.
— A Gio chegou? — pergunto e ela balança a cabeça devagar.
Sei que hoje minha filha tinha um compromisso, à noite, na
faculdade e por isso teremos algumas horas sozinhos.
Dou um passo e encurto nossa distância, envolvendo-a pela cintura e
puxando-a para mais perto de mim.
Afundo o rosto em seu pescoço e roço os lábios por sua pele bem
devagar, sentindo-a se arrepiar pelo contato.
— Cheirosa demais — murmuro, antes de me afastar para atacar os
seus lábios.
E o beijo é tão gostoso, que Bárbara se entrega, agarrando-me pelo
pescoço e acariciando minha nuca daquele jeito que é tão dela.
— Senti saudade — sussurro, entre lábios, antes de beijá-la mais
uma vez.
Sem desgrudar a minha boca da sua, caminho para dentro de casa,
quase tropeçando, mas não querendo me afastar.
Ela é tão gostosa, é tão…
— Também senti saudade, delegato — murmura e eu arqueio a
sobrancelha para ela.
— Delegato? — indago, abrindo um sorriso de lado.
— É… É assim que eu te chamo para as pessoas.
— Para quem? — pergunto curioso, correndo as mãos pelas suas
costas, em um vaivém gostoso.
Bárbara se estremece pelo toque e eu sorrio orgulhoso.
Adoro causar isso nela.
— Minhas colegas do trabalho — diz e eu franzo o cenho para ela.
— Você falou de mim para elas?
Desço a boca ao seu pescoço e deixo uma trilha de beijos ali,
seguindo até a sua orelha, onde puxo o lóbulo devagar com os dentes.
— E-eu… — ela gagueja e mordo um pouco mais. — Eu te beijei
na frente do prédio, esqueceu? Não dá para fingir que não tenho você.
— Hummmm…
Corro a língua em sua pele e chego ao pé do seu ouvido.
— E você contou para elas o que eu faço com você, Bárbara? —
indago, mordendo-a mais uma vez.
— Na-não… — gagueja novamente e eu rio baixo.
— Que pena. Poderia dizer que eu adoro te foder — murmuro,
afastando-me, e vejo-a piscar os olhos devagar.
Toco seu queixo com carinho e trago seu rosto para depositar um
selinho em seus lábios.
— A propósito, como foi seu dia hoje? — pergunto com
tranquilidade e ela demora um pouco para processar a minha pergunta.
E ver o quanto eu a desestruturo faz um bem danado ao meu ego.
— Eu… Foi… Foi muito bom, Augusto. E o seu?
Bárbara ajeita os cabelos e eu sorrio, lambendo os lábios devagar.
— Foi puxado, mas deu tudo certo. Não via a hora de chegar em
casa e ficar com você — declaro e noto seu rosto corar um pouquinho. —
Você já comeu? — indago e ela assente.
— Nos dias em que você tem o projeto, não consigo te esperar —
justifica, com a voz um pouco pesarosa.
— Não precisa se preocupar comigo. A sua saúde sempre é
prioridade. E falando nisso, sua glicemia está ok?
Bárbara sorri mais relaxada ao confirmar.
— Sim, está tudo sob controle.
— Fico feliz. Vou só levar essas roupas para a lavanderia, ok?
— Vou te preparar algo para comer enquanto isso.
Eu nem mesmo penso em discutir, e apenas aquiesço, por dois
motivos.
Primeiro, sei que não tenho chance. Quando Bárbara se propõe a
fazer algo por mim, não consigo convencê-la do contrário.
E segundo, eu amo ser cuidado por ela.
Então me permito esse capricho.
Sigo até a lavanderia onde abro a mochila e retiro toda a roupa suja
e coloco no cesto para a próxima lavagem. Quando retorno, encontro a
minha garota com a porta da geladeira aberta, pensativa.
— O que você quer comer?
— Qualquer coisa — respondo e ela faz uma careta.
— Não temos qualquer coisa no cardápio.
— Jura? Pensei que tivesse… — ironizo e ela gargalha, dando-me
um tapinha no braço.
— É sério, Augusto. Não quer nada em especial?
— Não, Babi. Qualquer coisa que fizer está ótimo. Até um pão com
manteiga.
— Não vou te preparar um pão com manteiga — repreende e eu rio.
— Mas, como é só para mim, pode ser só um sanduíche — explico.
— Não preciso de nada muito elaborado. Não estou com muita fome.
— Tem certeza? — certifica-se e eu assinto. — Está bem. Acho que
consigo preparar um bem caprichado para você.
Observo-a retirar vários ingredientes da geladeira, juntamente com
fatias de pão. Quando me sento, ela termina de montar e me entrega um
sanduíche bastante apetitoso com um copo de suco de laranja.
— Obrigado, Babi.
— Espero que goste — diz sorridente.
Dou a primeira mordida e faço um sinal positivo para ela.
— Está uma delícia.
Sentada à minha frente, Babi me observa comer enquanto jogamos
conversa fora sobre trivialidades.
— Ah, eu consegui adiantar a consulta com a minha
endocrinologista — comenta e eu a olho, surpreso.
— Jura?
— Sim! Teve uma desistência e conseguiram me encaixar para
semana que vem. Será ótimo que poderemos adiantar o laudo para passar
para a Dra. Janaína.
Depois de termos uma reunião com a advogada e esposa do Lopes,
Bárbara saiu de lá com uma lista de documentos para providenciar. E o
laudo médico é crucial nesse processo.
— Isso é ótimo, Bárbara — afirmo, sorrindo.
Estou mesmo feliz por ela. Espero muito que dê tudo certo e
consigamos a tão sonhada bomba de insulina.
Minha garota merece tanto.
— Nossa… Estou tão feliz, Augusto. É um sonho se tornando
realidade, entende? Não sei nem explicar…
— Posso imaginar. — Estico a minha mão sobre a mesa e toco a
sua, entrelaçando nossos dedos por um instante. — E estou muito feliz por
você. O que estiver ao meu alcance para te ajudar, eu vou fazer.
A garota sorri para mim e consigo ver seus olhos brilharem.
— Obrigada, Augusto.
Pisco para ela e solto nossas mãos, voltando para o meu sanduíche.
Ao terminar, recolho tudo e levo-a até o sofá, onde nos aconchegamos.
— Ainda temos algumas horas sozinhos antes de Giovana chegar —
anuncio ligando a TV e a garota assente, engatinhando pelo estofado.
— Se eu te disser que quero só deitar um pouquinho no seu colo,
você ficará desapontado?
Arqueio a sobrancelha para ela.
— E por que eu ficaria?
— Ah… Você sabe.
Balanço a cabeça de pronto.
— Eu amo te comer, Bárbara — declaro e seu semblante cora,
daquele jeito fofo. — Mas também adoro te fazer um carinho.
Coloco a almofada em meu colo e dou um tapinha.
— Vem cá.
Bárbara me abre um sorriso lindo antes de se acomodar em meu
colo e eu não resisto em tocar o seu cabelo.
— Minha garota está manhosa hoje? — pergunto, acariciando seus
fios macios.
— Um pouco — confessa, soltando um suspiro.
— Quer conversar? — indago e ela se remexe preguiçosa em meu
colo.
— É só saudade de casa mesmo — diz e eu sinto meu peito se
apertar. — Saudade de ter as minhas coisas. De ter o meu cantinho.
— Eu posso entender…
— Não me leve a mal, Augusto. Eu adoro ficar aqui. Você e a Gio
são maravilhosos comigo e me acolheram quando eu mais precisei.
Ela se vira agora, deitando de barriga para cima e olhando fixamente
para mim. Não paro o carinho e, pelo seu olhar, consigo ver o quanto está
gostando.
— Mas não é a minha casa. — Ela me abre um sorriso triste. — Eu
preciso recomeçar, preciso reconstruir e não sei nem como farei isso.
— Não se preocupe com isso agora, minha linda — murmuro,
descendo os dedos até o seu rosto agora. — Uma coisa de cada vez e você
não tem pressa para sair daqui. Eu gosto de ter você aqui.
Minhas palavras parecem tranquilizá-la e ela me abre um sorriso
contido.
— Eu não incomodo mesmo você?
Franzo o cenho, negando.
— Você me faz companhia, Babi. Cuida de mim sem que eu precise
pedir. Por que me incomodaria?
A garota parece um pouco mais relaxada por isso.
— Obrigada, Augusto. Por tudo.
Nego, descendo os dedos até os seus lábios, que se entreabrem ao
meu contato.
— Não precisa me agradecer. Tudo o que eu faço é porque eu gosto
e me importo com você.
Meus dedos sobem agora e roçam de leve sua pele, seguindo o
caminho até o cafuné que ela adora.
E neste momento a vejo fechar os olhos por um instante absorvendo
o contato.
— Você é um sonho, Augusto… — sussurra, ainda de olhos
fechados, e eu sinto meu coração errar uma batida.
Não digo mais nada. Mesmo com o coração acelerado, continuo
fazendo carinho em seus cabelos e lhe mostrando não só em palavras o
quanto ela é importante para mim.
Mostro, em cada gesto meu, que sempre estarei aqui por ela.
Sempre mesmo.
CAPÍTULO 26 - Bárbara

Sinto meu corpo suar frio quando mais uma onda de dor me invade
e acabo de perder o resto da concentração que eu estava lutando para ter no
trabalho hoje.
A cólica começou a dar indícios logo de manhã, e pensei que não
fosse perdurar. Mas, logo que passou o horário do almoço, ela veio com
tudo, tirando todo o meu ar.
Toco o meu ventre e respiro fundo, mas sei que é um caso perdido.
Detesto tomar remédios, mas não tenho como escapar hoje.
Levanto-me da minha mesa de trabalho e sigo até a cozinha, onde
busco um analgésico na bolsa; tomo um comprimido com um copo cheio de
água. Bebo mais um em seguida e a sensação que eu tenho é de que minha
sede não sacia.
Aproveito que estou aqui e meço a glicemia, que estava um pouco
mais alta na última conferência.
Essas alterações hormonais acabam comigo.
Não basta estar menstruada, com uma cólica do cão, ainda preciso
lidar com uma hiperglicemia.
Abro a bolsinha de insumos e pego tudo o que preciso para fazer a
ponta de dedo, conferindo minha glicemia.
Duzentos e quarenta e dois.
Solto um suspiro e a fisgada na minha cabeça vem forte.
É, hoje realmente não é o meu dia…
Junto tudo na minha bolsa e sigo para a sala de Paula, minha
gerente. Ela sempre foi muito compreensiva comigo e sabe como a minha
saúde é delicada. Sempre que eu tenho uma alteração na glicemia, faço de
tudo para contornar aqui mesmo no trabalho, mas em algumas vezes
simplesmente não consigo.
— Paula? — chamo, batendo a sua porta, e ela sinaliza para mim.
— Está tudo bem, Bárbara? — Ela franze o cenho ao notar o meu
semblante e eu nego.
— Estou com uma cólica terrível — digo, pausando para respirar
fundo. — E com a glicemia em duzentos e quarenta e dois.
— Meu Deus!
— Realmente não tenho condições de ficar aqui hoje. Pode me
liberar mais cedo? Prometo que compenso essas horas depois…
— Imagina, Bárbara. Eu entendo! Pode ir para casa se cuidar. São só
duas horas mais cedo. Depois nós resolvemos isso.
Assinto, já sentindo um alívio.
— Muito obrigada mesmo, Paula!
Aceno para ela e sigo até o meu computador para desligá-lo,
deixando Lorena a par de onde eu parei. Ainda estou respirando cansada
quando desço pelo elevador em direção à saída do prédio.
Chamo um Uber pelo aplicativo e sinto um alívio por saber que já
há um na mesma avenida chegando. Em menos de dois minutos, estou
dentro do carro e aproveito para ligar para minha amiga.
— Babi?
— Gio, você está em casa? — pergunto, apertando os olhos ao sentir
uma fisgada.
— Estou, sim… Por quê? Aconteceu alguma coisa?
— Amiga, estou com uma cólica terrível e com a glicemia bem alta
— falo e faço uma pausa para respirar. — Estou indo para casa mais cedo,
ok?
— Nossa, Babi! Quer que eu te busque?
— Não, eu já estou no Uber. Daqui a pouco eu chego aí.
— Está certo. Pode vir, que eu fico com você.
Despeço-me dela e encerro a ligação, sentindo uma náusea forte.
Fecho os olhos e encosto a cabeça no vidro, respirando fundo várias vezes e
torcendo para que o trajeto seja mais rápido.
Quando o motorista adentra a nossa rua, sinto um alívio
momentâneo e salto do carro imediatamente ao parar.
Busco as chaves na bolsa com os dedos trêmulos e, ao destrancar,
percebo Pluto me receber com seu carinho costumeiro.
— Ah, Pluto… Hoje não estou muito bem.
Não consigo me abaixar para afagá-lo, então coço a sua orelhinha
com o pé e ele parece ficar feliz com esse pouquinho de atenção que recebe.
— Babi? — Minha amiga surge em meu campo de visão e eu vou
até ela, respirando com dificuldade. — Você já tomou alguma coisa?
Giovana toma a bolsa de minhas mãos e me guia para dentro de
casa. Ela me leva até a cozinha, onde me sento à mesa e faço uma careta ao
sentir aquela onda forte de cólica.
— Tomei um analgésico lá na agência, mas ainda não fez efeito —
digo, ao pegar o copo de água de suas mãos.
Bebo um copo inteiro de uma vez e ela rapidamente o enche mais
uma vez.
Sempre que tenho esses episódios de hiperglicemia tenho uma sede
absurda, uma sensação de que nunca estarei saciada o bastante.
— É a alteração hormonal, né? — pergunta com cuidado e eu
confirmo.
Giovana me conhece bem e sabe que, em determinadas fases de meu
ciclo, eu fico mais resistente à insulina, como hoje.
— O que eu posso fazer por você, Bá?
— Vou só fazer uma ponta de dedo antes de tomar um banho quente
— explico. — Quem sabe ajuda a glicemia e a cólica…
Minha amiga assente e se levanta, trazendo a minha bolsinha de
insumos na mão.
Quando pego, faço a medição e sinto um aperto no peito ao conferir
o glicosímetro.
Duzentos e setenta e seis.
— Ah, amiga…
Pego a caneta de insulina e aplico em meu braço, respirando
cansada.
— Eu vou só tomar um banho e torcer para a insulina fazer efeito
mais rápido.
— Eu vou ficar atenta aqui, ok? Qualquer coisa, você me grita lá de
dentro. E não precisa trancar a porta, meu pai não vai chegar por agora.
Aquiesço e me levanto com dificuldade, indo até o meu quarto. Tiro
as roupas bem mais devagar do que o normal e prendo os cabelos em um
coque, indo até o boxe.
Abro o chuveiro em temperatura quente e entro debaixo do jato de
água, fechando os olhos por um instante.
Encosto a cabeça no azulejo e sinto um lampejo de náusea, aquela
sensação ruim tomar conta de mim.
É tanta dor, tanto cansaço…
Respiro fundo e o esforço faz meu peito doer.
Luto contra a vontade de chorar, porque sei que vai fazer minha
cabeça doer ainda mais. Mas é inevitável.
Não consigo controlar quando tudo está tão desorganizado em
mim…
Eu só queria um pouco de paz.
Depois de ficar um bom tempo no banho e ver que pelo menos a
cólica deu uma aliviada, fecho o chuveiro e me seco, buscando uma roupa
leve para me vestir.
Ouço uma batida à porta e logo Gio coloca a cabeça para dentro,
com o semblante preocupado.
— O banho ajudou?
— Um pouco — respondo, sentando-me na cama, e ela me
acompanha.
— Liguei para o meu pai e avisei sobre você — diz e eu sinto um
aperto no peito.
— Não precisava, Gio. Eu já estou acostumada…
— Eu sei, amiga. Mas e se você piorar? Eu me sinto mais segura
tendo o apoio dele.
Não estou nem em condições de discutir, então apenas assinto,
deitando-me na cama e tentando relaxar um pouco, mesmo sabendo que é
tão difícil.
— Você precisa beber muita água, né? — pergunta e eu faço que
sim. — Vou trazer para você.
Giovana me deixa sozinha. Volta minutos depois com uma garrafa
de água gelada e um copo nas mãos.
— Vou deixar aqui na sua mesinha, para quando precisar.
Sento-me na cama e encho um copo de água, bebendo em uma
golada só.
— Obrigada, Gio — agradeço, sentindo-me um pouco menos
cansada.
— Pode descansar, amiga. Vou trazer o meu livro e estudar aqui te
fazendo companhia, ok?
Meneio a cabeça, vendo-a sair do meu quarto. Ela volta pouco
depois com um enorme livro de Direito nas mãos e canetas marca-texto
coloridas.
Giovana se acomoda na mesinha ao meu lado e eu fecho os olhos
por um instante, tentando relaxar a mente.
Faço uma prece mental para que a minha glicemia abaixe, é só disso
que eu preciso agora.

Augusto

— Oi, Gio — atendo a ligação da minha filha enquanto termino um


relatório em que estou trabalhando.
— Pai, a Babi precisou vir para casa mais cedo — fala e eu já sinto
o meu coração se acelerar.
— Por quê? Aconteceu alguma coisa? — pergunto, levantando-me
da cadeira, ansioso.
— Ela está com uma cólica terrível e a glicemia subiu. É bem
comum que ela tenha essas oscilações em período menstrual.
— E como ela está?
— Foi tomar um banho quente para ver se aliviava, já tomou mais
uma dose de insulina quando chegou. Ela já sabe como agir nessas
situações, mas eu fico preocupada…
Meu peito se aperta ao pensar na minha garota sentindo qualquer
dor.
Olho para a tela do computador e praguejo baixinho por não poder
largar tudo e ir até lá agora.
— Estou terminando um relatório que preciso entregar ainda hoje
para o superintendente — explico, sentindo um gosto amargo na garganta.
— Mas, logo que eu acabar, vou para casa. Fique de olho nela por mim e
qualquer coisa me avise, ok?
— Pode deixar, pai.
Despeço-me de Giovana e jogo o celular na mesa, voltando a
atenção à página do Word à minha frente. Preciso acabar o quanto antes este
relatório para sair desta delegacia.
Eu nem mesmo pisco, dedicando-me totalmente a este trabalho.
Pouco mais de meia hora depois, faço uma última conferência e envio para
o e-mail do superintendente.
Desligo o computador e pego as minhas coisas, saindo de meu
gabinete e procurando Murilo pelos corredores. Não demoro a encontrá-lo
batendo um papo com Braga.
— Está tudo bem, delegado? — o garoto pergunta, notando minha
agitação.
— Emergência familiar — explico e sinalizo para Murilo, que me
segue a sós. — Bárbara teve uma alteração na glicemia e eu estou indo para
casa, ok? Qualquer coisa, me liga.
— Pode deixar, Augusto. Vai lá cuidar da sua garota.
Aceno e disparo pelos corredores, seguindo até o estacionamento.
Visto o capacete e monto na moto, pegando rapidamente as ruas da
cidade. Logo que saio do bairro da Superintendência, sinto as primeiras
gotas de chuva caírem e acelero ainda mais, tentando evitá-las, mas não
tenho muito sucesso.
A chuva cai mais forte agora e acaba me molhando bastante, mas
não me importo. Eu só quero chegar em casa logo.
Estou todo ensopado quando adentro o portão da garagem e
estaciono a moto, saltando dela e correndo para dentro de casa.
— Gio? — chamo pela minha filha logo que adentro o corredor e,
pela sua voz, sei que está no quarto de Bárbara.
— Como ela está? — pergunto com a voz baixa ao ver minha garota
toda encolhida na cama, abraçando o corpo.
E essa imagem dilacera o meu coração.
Ah, Bárbara…
— Daqui a pouco eu vou chamá-la para repetir a medição. Mas está
bem sonolenta, pai. Acabou cochilando.
Meu peito dói ao vê-la tão frágil, tão vulnerável na cama, e a minha
vontade é tomá-la nos braços.
Mas sei que não posso.
Pelo menos não ainda.
— Vou tomar um banho. — Aponto para as minhas roupas de
trabalho e Gio concorda.
Vejo Pluto deitado aos pés da cama de Bárbara e, por mais que
reconheça a minha voz, ele não se move.
Meu cão está velando por ela e saber que não só Giovana está
cuidando de Bárbara me deixa mais tranquilo.
Solto um suspiro e sigo até o meu quarto, onde retiro toda a roupa
molhada e o coldre. Chuto as botinas para o lado e entro no chuveiro,
buscando um banho quente. Eu não me demoro lá dentro e logo estou
vestindo uma bermuda e camiseta para voltar a encontrar as meninas.
— Ela comeu alguma coisa?
Adentro o quarto e sigo até a cama de Bárbara, onde toco os seus
cabelos com carinho. Ela pisca os olhos sonolenta, mas não desperta por
completo, o que faz com que meu peito se aperte mais um pouco.
Não gosto de vê-la assim.
Dói lá no fundo.
— Acho que não, pai. Se tiver comido, foi só no trabalho.
Dou um passo para trás e me viro para Gio antes de sair.
— Me avise quando der o horário de conferir a glicemia dela. Vou
preparar algo para comermos enquanto isso.
Minha filha assente e eu disparo até a cozinha, tirando o celular do
bolso para abrir o comando de voz.
— O que comer quando se tem hiperglicemia? — pergunto ao
aplicativo e logo aparecem vários sites de saúde.
Sigo pelas buscas e consigo chegar a uma conclusão: Nada de
gorduras e carboidratos por hoje. Vou apostar em uma salada bem fresca e
filé de frango grelhado, porque sei que tenho isso na geladeira.
Começo a montar a salada e deixo os filés temperados à parte para
apenas grelhar quando formos jantar. Estou terminando de preparar tudo
quando ouço a voz de minha filha me chamar.
Lavo as mãos e vou até o quarto de Bárbara, encontrando-a sentada
com o semblante cansado.
— Oi… — cumprimento-a e ela sorri fraco para mim.
Puxo uma cadeira e me sento à sua frente enquanto a observo medir
a sua glicemia.
Bato os pés no chão ansioso e estico os olhos para tentar ler a tela do
aparelho.
— Duzentos e um — revela.
— Abaixou? — pergunto e ela assente.
Solto um suspiro de alívio.
— Bastante. Mas ainda não está ideal — explica e eu aceno.
— Você está com fome? Deixei uma salada pronta, quando for
comer, vou grelhar um filé de frango.
— Ainda não…
— Mas sabe que não pode demorar a comer, né? — reforço e ela faz
que sim, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha.
Olho para Giovana e consigo ver em seu semblante que está tão
preocupada quanto eu.
— A cólica melhorou? — pergunto com cuidado.
— Está bem mais fraca agora… Só estou com um pouco de dor de
cabeça, mas isso é da hiperglicemia.
Apoio os cotovelos nas coxas e me inclino um pouco para mais
perto dela.
— E qual é o próximo passo agora?
— Preciso monitorar a glicemia de hora em hora — explica, falando
pausadamente. — E a insulina eu só posso tomar a cada três horas.
— E costuma demorar a regularizar?
Bárbara me olha e acena fraquinho.
— Quando o descontrole é hormonal, sim. Meu organismo fica mais
resistente à insulina, então é mais penoso para abaixar o índice.
— Entendi… Mas se conseguiu abaixar agora já é um bom sinal,
certo? — indago.
— Se não subir de novo, sim.
Sinto um aperto no peito só de pensar nisso.
Não sei qual é o caso mais extremo, mas sei que, se precisar, eu a
levarei para o hospital, ou aonde for preciso.
Não vou descansar até que sua glicemia esteja sob controle.
Bárbara encosta a cabeça na cabeceira da cama e fecha os olhos por
um instante. Eu só não fico mais preocupado porque vi que sonolência e
cansaço excessivo são alguns sintomas da hiperglicemia, enquanto eu
pesquisava sobre o seu cardápio. Mas estarei atento a qualquer sintoma
diferente que lhe surgir.
— Bebe mais água, Babi — é Giovana quem pede e a garota abre os
olhos devagar.
Sirvo um copo para ela e lhe entrego, vendo que recebe com os
dedos trêmulos.
Bárbara dá pequenas goladas e eu fico o tempo todo atento,
observando cada comportamento seu.
Não sei muito mais o que fazer para ajudar, eu só preciso que ela
melhore.

Em silêncio, acendo a luz do abajur e busco a bolsinha de insumos


de Babi.
Ela ainda está dormindo quando pego o seu dedo com cuidado e o
higienizo para fazer o pequeno furo. Trago a ponta ao glicosímetro e sinto
um alívio ao ver o número cento e oitenta e cinco surgir na tela.
Porra…
Está abaixando de novo.
Descarto tudo na lixeira e dou um beijo na ponta de seu dedo, antes
de colocar sua mão de volta à cama.
Bárbara está tão cansada que nem mesmo acorda com as medições
que tenho feito. Eu apenas a desperto se precisa injetar mais uma dose de
insulina.
Desde que cheguei do trabalho, estou de olho nela. Monitorando e
atento a cada atualização de sua glicemia. Consegui fazê-la jantar e
Giovana nos acompanhou. Mas, quando ficou tarde, minha filha foi dormir
e eu fiquei aqui olhando por Bárbara.
Já são três e quinze da manhã e não preguei os olhos.
Não vou dormir enquanto sua glicemia não estiver regularizada, não
há chance alguma de que isso aconteça.
Giovana trouxe uma almofada para que eu fique mais confortável na
cadeira onde me sento e até ofereceu um colchonete, mas recusei. Não
quero correr o risco de pegar no sono. E se a glicemia cair tanto a ponto de
causar uma hipo?
Estive lendo várias matérias a respeito disso, justamente para afastar
o sono, e vi relatos que me deixaram em alerta. É bem comum diabéticos
terem hipoglicemia durante o sono e eu não gosto nem de pensar nisso.
Se eu perceber algo diferente nela, vou correndo ajudar.
Ajoelho-me ao pé da cama e toco seus cabelos com carinho, de uma
maneira muito suave para não a acordar. Seu semblante está bem mais
relaxado agora e isso me deixa muito tranquilo. A cólica pelo visto deu
trégua e ficou somente o cansaço da hiperglicemia.
— Você vai ficar bem, amor — murmuro, tocando seus cabelos com
carinho. — Eu te prometo.
Fico mais um tempo acariciando-a, quando sinto meus olhos
arderem pelo cansaço. Já faz muito tempo que passei uma noite em claro e
sei que não estou acostumado com isso. A última vez foi quando Giovana
adoeceu e ardeu em febre. Fiquei apavorado e não dormi enquanto sua
temperatura não estabilizou.
Inclino-me para beijar a sua bochecha e me levanto, fazendo o
mínimo de barulho para sair do quarto.
Encontro Pluto no corredor; logo que me vê, levanta a orelha e eu
sinalizo para que faça silêncio.
— Shhh… — Coloco o dedo nos lábios e meu cão entende,
resmungando e voltando a se deitar no tapete.
Sigo até a cozinha e bebo um copo d’água enquanto coloco a
cafeteira para funcionar. Preparo um café bem forte para me dar a energia
de que eu preciso para suportar.
Encho uma garrafa térmica e pego uma caneca, voltando para o
quarto de Bárbara. Logo que me acomodo na cadeira, eu me sirvo de um
pouco da bebida quente, fechando os olhos por um instante, ao sorver o
líquido.
Estalo o pescoço e me remexo, preparando-me para mais uma hora
de espera.

Já são cinco horas da manhã e eu confiro mais uma vez a glicemia


de Bárbara. Perfuro seu dedo com cuidado para não a acordar e sinto um
puta alívio ao ver que está em cento e setenta e nove.
Ainda está alta, mas não tivemos mais subidas bruscas ao longo da
madrugada.
Por sorte, oscilou bem pouco e tem se estabilizado.
— Babi… — sussurro, tocando seus cabelos com carinho e ela não
acorda.
Chamo-a mais algumas vezes e chacoalho um pouco mais forte até
finalmente seus olhos me encararem sonolentos.
— Que horas são? — pergunta em um bocejo.
— Cinco e dez — respondo, olhando para a tela do celular. — Hora
de tomar mais uma dose de insulina.
A garota assente e eu entrego a ela sua bolsinha, ela pega tudo de
que precisa para aplicar.
— Sua glicemia está em cento e setenta e nove agora — aviso. —
Será que vai abaixar mais?
— Acho que sim. Vou reforçar a dose da insulina basal — explica e
eu acompanho todo o seu processo.
— Se sente bem? — indago e ela balança a cabeça devagar.
— A cabeça ainda dói um pouco, o corpo está pesado e a boca,
seca… Mas me sinto melhor do que antes.
— Isso é ótimo. Conseguiu dormir um pouco, né?
— Sim… E isso também ajuda a regular — afirma. — Você
dormiu?
Nego e ela estreita os olhos para mim.
— Nada?
Apenas dou de ombros.
— Está tudo bem, Babi. Estava monitorando você.
— Mas, Augusto… Você trabalha daqui a pouco.
— Não faz mal — rebato. — Já perdi noites de sono, é normal —
minto.
— Não precisava ficar acordado comigo… Poderia ter pelo menos
cochilado entre os intervalos.
— Eu sei, mas simplesmente não consegui.
Ela franze o cenho para mim.
— Ei… Está tudo bem, ok? — Aproximo-me e toco o seu rosto com
carinho. — Eu gosto de cuidar de você.
Inclino-me e deposito um selinho em seus lábios.
É um beijo curto, leve, mas tão gostoso.
— Não sei nem o que te dizer… — sussurra e eu umedeço os lábios
devagar.
— Não precisa dizer nada, Bá. Só vamos cuidar de você, ok?
Pego a sua mão e deixo um beijo delicado.
— Consegue dormir mais um pouco? — indago e ela nega.
— Acho que já deu por hoje…
Acomodo-me ao seu lado na cama e abro os braços para ela, que
aceita o meu convite.
Envolvo Bárbara com o meu calor e acaricio seus cabelos,
embalando-a com todo carinho.
Não dizemos mais nada, mas aqui, neste contato, palavras não nos
cabem mais.
Bárbara sabe que, acima de tudo, eu sempre estarei aqui por ela.
Sempre cuidarei dela.
CAPÍTULO 27 - Bárbara

Ouço uma batida à porta e vejo minha amiga colocar a cabeça para
dentro, enquanto estou me arrumando para trabalhar.
— Amiga, já está na minha hora — Giovana diz, olhando para o
relógio. — Mas queria saber como você está antes de ir.
— Ainda sinto aquela ressaca — comento, enquanto abotoo a
sandália nos pés. — Mas estou bem melhor. Pelo menos a glicemia está
normalizando.
Minha amiga sorri e vem até mim para me dar um abraço gostoso.
— Fiquei muito preocupada com você, Bá — diz ao se afastar. —
Sempre soube dos seus episódios de hiperglicemia, mas nunca vivenciei um
assim de perto.
Aceno, abrindo um sorriso fraco.
— É algo um tanto rotineiro na minha vida, Gio.
— E como você conseguia lidar quando estava sozinha? — pergunta
com cuidado.
— Colocando o despertador para tocar de hora em hora a
madrugada inteira, acordando para conferir a glicemia e injetando mais
insulina quando necessário.
Giovana franze o cenho para mim e imagino o que ela deve estar
pensando agora.
Nunca foi fácil, mas sempre busquei forças de onde fosse necessário
para sobreviver.
— Você é muito forte, Babi — diz e eu sinto o meu coração errar
uma batida. — Muito mesmo, amiga. Sempre te admirei, mas, ontem, ver o
que você enfrenta dia após dia para viver só me fez te admirar ainda mais.
Suas palavras me acertam em cheio e sinto meus olhos marejarem.
— Não é fácil, amiga. Mas faz parte da minha vida e todos os dias,
quando acordo, escolho viver.
Giovana sorri e me puxa para mais um abraço.
— Eu amo você, viu? E estarei sempre aqui por você.
— Obrigada, Gi. Eu também te amo e não sei o que seria de mim
sem você e o seu pai.
E falar dele faz com que ela abra um sorriso diferente.
— Meu pai ficou muito preocupado também.
— Passou a noite em claro — constato, sentindo um aperto no peito.
— Ele não precisava fazer isso por mim.
— Augusto Ferraz é assim mesmo — diz dando de ombros. — Ele
não ajuda ninguém pela metade, Bá. Todas as pessoas que precisam do meu
pai o têm por inteiro. É uma das qualidades dele que eu mais amo.
Fico sem saber como responder sem entregar o que eu realmente
penso de tudo isso. O que realmente sinto. Não consigo colocar ainda em
palavras o que Augusto significa para mim.
— Bom, amiga. Eu já vou indo, que deu a minha hora. Vai me
dando notícias durante o dia, ok?
— Combinado. Boa aula, Gio!
Despeço-me da minha amiga em mais um abraço e logo ela sai do
meu quarto, deixando-me sozinha. Aproveito para terminar de me arrumar
e, quando ouço o som de sua moto, saio do cômodo, procurando por
Augusto.
— Oi, Pluto — murmuro, abaixando-me para acariciar o cãozinho,
que foi meu companheiro essa noite.
O peludo recebe o afago todo manhoso, tirando-me um sorriso.
Brinco um pouquinho com ele até seguir pela casa e encontrar o delegado
de pé, na cozinha, mexendo em seu café.
Observo as costas largas, bem justas à camisa preta, a calça escura
marcando a bunda e o coldre na cintura.
É tão lindo e sexy…
— Oi… — anuncio e ele se vira para me olhar.
Ainda que esteja com o olhar cansado, ele continua lindo.
Sinto o meu coração dar um salto aqui dentro com a intensidade
com que me encara e penso que ficou comigo ali, até o fim. Augusto só saiu
do meu quarto quando já eram seis horas da manhã e percebeu a minha
glicemia mais estável.
Ainda nem acredito que ele passou a noite inteira acordado, só para
cuidar de mim. E, para completar, fez as pontas de dedo sozinho,
acordando-me apenas quando eu precisava de mais insulina.
Ele é…
Inexplicável.
— Quer um pouco de café? — oferece e eu assinto, mas, antes que
me sirva, eu me aproximo dele, circulando o seu pescoço.
O delegado fecha os olhos por um instante ao sentir meus dedos
fazendo carinho em sua nuca e solta um suspiro cansado.
— Tem certeza de que está bem para trabalhar? — pergunto,
correndo os dedos pelos seus cabelos, daquele jeito que ele adora.
— Estou. Hoje é só trabalho interno, então consigo dar conta — diz,
reabrindo os olhos.
— Não precisava ter ficado acordado a noite toda…
— Precisava, sim — interrompe-me e eu sorrio.
— Você é impossível, delegado — brinco e ele dá um sorriso fraco.
Ainda que esteja exausto, sinto-me feliz por fazê-lo sorrir.
— E você, está mesmo melhor? — indaga, descendo os braços para
a minha cintura e me acariciando de leve. — Consegue trabalhar?
— Consigo, sim! Agora pela manhã ainda vou monitorando e
ficando atenta. Ainda estou um pouco cansada, mas me sinto bem melhor.
No fim do dia estarei cem por cento, tenho certeza.
— Ótimo.
Consigo ver o quanto meu delegado está cansado, porque está de
poucas palavras essa manhã.
E, mesmo que eu esteja emocionada por ele ter cuidado tanto de
mim, sinto um aperto no peito por vê-lo assim.
— Hoje à noite eu vou cuidar de você, está bem? — aviso e ele
franze o cenho para mim. — Não vou poder te dar um colo, porque a Gio
estará em casa, mas vou ficar com você.
Augusto balança a cabeça assentindo.
— E, por favor, me dê notícias suas ao longo do dia, ok? Você
perdeu uma noite inteira de sono, preciso saber se ficará bem.
— Pode deixar.
Ainda acariciando seus cabelos, fico na ponta do pé e me inclino
sobre ele. Augusto entende o recado e sorri de lado antes de se abaixar um
pouco e colar os lábios sobre os meus.
E aqui, em seus braços, eu o beijo com todo o meu carinho e amor.
Enquanto minha boca se perde na sua em um beijo delicado, eu lhe
agradeço sem palavras por ter ficado ao meu lado em um momento tão
difícil. Prometo que sempre cuidarei dele e retribuirei tudo o que faz por
mim.
O beijo é calmo, tranquilo e suave, é como um bálsamo para a
minha alma.
Este é, sem dúvidas, um dos mais gostosos que trocamos, senão o de
mais significado.
— Obrigada, Augusto — murmuro, roçando os lábios aos seus bem
devagar.
Meu delegado respira relaxado e me dá um selinho gostoso antes de
se afastar.
— Não precisa agradecer, Babi. Mesmo — afirma. — Eu não tinha
ideia de como era tão difícil controlar uma glicemia nesses casos. E agora,
tendo acompanhado mais de perto, ficarei muito mais atento a você.
Seus dedos tocam o meu rosto e eu sorrio diante deste carinho
gostoso.
— Ainda assim, vou agradecer por estar ao meu lado — afirmo.
Ganho mais um selinho e um afago.
— Vamos tomar café? Você precisa comer.
Afasto-me de seus braços com relutância e me sento à mesa com
ele. Tomo um café livre de carboidratos e sinto mais uma vez meu peito se
aquecer por todo o seu cuidado.
Nunca vou deixar de me surpreender com ele.
— Você consegue pilotar normalmente hoje? — pergunto,
preocupada com seu cansaço.
— Acho que não. Vou de Uber, é mais seguro — diz, calmo. —
Estou bem agora, mas tenho receio de estar muito cansado ao final do dia.
— Não quer que eu te leve? — ofereço.
Não é a primeira vez que dirijo o carro de Augusto e, a não ser que
ele não queira, prefiro fazer isso por ele.
— Não vou te atrapalhar?
— Claro que não! Se você permitir, eu fico com o carro no
estacionamento do trabalho e te busco no final do expediente.
Augusto balança a cabeça concordando e sinto um alívio. Sinto-me
bem por fazer algo por ele, ainda que mínimo.
Terminamos de organizar tudo e logo saímos de casa, entrando em
seu SUV.
Logo que adentro o veículo, vejo Augusto se acomodar ao meu lado
e afivelar o cinto de segurança. E só então percebo que é a primeira vez que
dirijo para ele assim. Em todas as outras, sempre andei com Giovana.
— Está de motorista particular hoje, delegado? — brinco ao pegar
as ruas da cidade e ele ri baixo. — Lembre-se de me dar cinco estrelas ao
final.
Pisco para ele e ganho um sorriso de lado.
— Pode deixar.
Percebo que Augusto não está muito aberto a conversar, por isso
sigo o trajeto em silêncio, comentando coisas bastante pontuais. Eu nem
mesmo consigo imaginar o tamanho de seu cansaço e me preocupo com
isso.
Quando paro o carro na porta do prédio da Superintendência, o
delegado solta o cinto e se inclina para me dar um selinho.
— Obrigado, Bárbara.
— Vamos nos falando durante o dia, ok?
— Combinado.
Quando Augusto sai do carro e acena para mim, sinto o vazio pela
sua ausência, mas fico feliz por estar cuidando dele, ainda que um
pouquinho.
Dirigindo com todo cuidado, sigo o trajeto até a agência, pensando
no quanto sou sortuda.
No quanto ter Augusto Ferraz em minha vida mudou tudo.
Tudo mesmo.
Encerro meu expediente e envio uma mensagem para Augusto,
avisando que já estou indo buscá-lo. Saio depressa do prédio comercial e
sigo até o seu carro, destravando o veículo ao entrar.
Ao longo do dia, trocamos mensagens nos atualizando sobre o
estado de cada um. E, como eu previa, já me sinto muito melhor.
Mas, de Augusto, já não posso dizer o mesmo…
De pouquíssimas palavras, meu delegado conseguiu sobreviver ao
dia de hoje, mas sei que está extremamente cansado.
Em conversa com Giovana, decidimos fazer o mínimo de barulho
possível essa noite para que ele possa descansar. Uma pena que eu não
possa colocá-lo em meu colo para um carinho, mas só de deixá-lo dormir
tranquilo já ficarei feliz.
Minha amiga já deixou um sanduíche pronto para ele, para que
possa apenas chegar em casa, tomar um banho, comer e dormir.
É só disso que ele precisa.
Coloco um som baixinho no carro e uma música pop ganha vida,
enquanto dirijo pela cidade em um trânsito carregado. A chuva começa a
cair quando estou na metade do caminho e agradeço por termos vindo de
carro hoje.
Se Augusto estivesse de moto, chegaria todo ensopado, como
ontem.
Eu não vi quando chegou, mas minha amiga disse que ele tomou
uma boa chuva no caminho de volta.
E pensar em tudo o que ele fez por mim ontem, o quanto se arriscou
só para cuidar de mim…
Ah, Augusto…
Como superar você?
Como não me apaixonar ainda mais a cada dia?
Sigo dirigindo com cuidado até chegar ao prédio do trabalho de
Augusto. Quando ele me vê parar, segue correndo fugindo da chuva e eu
destravo a porta para que possa entrar.
— Demorei muito? — pergunto e ele nega, inclinando-se para me
dar um selinho.
Um gesto tão delicado, mas que tem sido tão rotineiro…
Todas as vezes que ele faz isso, meu peito se aquece.
— Conseguiu trabalhar certinho? — indago e ele cruza os braços,
encostando a cabeça no assento do carro.
— Deu para o gasto — comenta e eu rio baixo.
— Tapeando no trabalho, delegado?
Augusto solta uma risada fraca e, de canto de olho, noto-o virar o
rosto para me encarar.
— Não via a hora de ir embora. Parece que o dia demorou setenta e
duas horas para passar.
— Imagino.
Solto a mão do volante e repouso em sua coxa, tocando-o ali, em um
gesto de carinho.
— Já estamos quase chegando, tudo bem?
Augusto assente, fecha os olhos por um momento e eu lhe permito
relaxar.
A chuva não está muito forte lá fora, então o som das gotas caindo
na rua dão um ar muito aconchegante aqui dentro. E espero muito que ela
não piore esta noite, para que ele possa descansar.
Abaixo mais o som do carro e deixo bem baixinho, vendo que
Augusto cochila ao meu lado.
Dirijo com muito mais cuidado, evitando freadas bruscas e atritos
em lombadas para não o acordar. E é só quando finalmente estamos em casa
que toco o seu braço com carinho.
— Chegamos.
Augusto desperta e me olha assustado ao perceber que cochilou no
trânsito.
— Já? Nossa… Eu nem percebi.
— Você está muito cansado, Augusto. Vem, você pode descansar
agora.
Descemos juntos do carro e entramos em casa, onde Gio nos espera
já na cozinha.
— Oi, pai. — Eles se cumprimentam com um beijo no rosto. — Seu
sanduíche de frango está pronto.
Augusto puxa a cadeira para se sentar e desaba nela, aceitando o
lanche da filha. Abro a geladeira e o sirvo de um copo de suco bem
geladinho, entregando-o também.
Nós o observamos comer em silêncio e, quando ele finalmente
termina, segue para o seu quarto.
Sinto uma pontada no peito por não poder dar-lhe um beijo de boa-
noite, então apenas envio uma mensagem.
Eu: Descansa, delegado. Você merece. Espero que durma muito
bem.
Sua resposta demora um pouco a vir e eu penso que é porque ele
está saindo do banho.
Augusto: Obrigado, Bárbara. Me acorde se precisar de mim.
E gestos como esse me desestruturam, porque são tão Augusto.
Ele está exausto por ter passado uma noite inteira em claro cuidando
de mim e ainda assim está ali, à disposição para o que eu precisar.
Ele é mesmo um sonho.
Um sonho que eu nunca pensei que fosse real.
CAPÍTULO 28 - Augusto

— Delegado, temos novidades! — Braga anuncia adentrando a


minha sala ao lado de Julia e Murilo.
E o brilho nos olhos deles me faz até levantar da cadeira.
— O que descobriram?
— Vamos ter um encontro entre os deputados aqui — é Murilo
quem responde e meu sorriso se abre.
— Porra!
— Eduardo Bastos vem do Mato Grosso se encontrar com Lourenço
Oliveira, deputado aqui do Paraná — Julia completa, sorrindo.
— Quando?
— Mês que vem — Braga responde.
Esfrego a mão pelo meu rosto ansioso e pego da mão deles os
relatórios do grampo dos dois telefones.
Porra.
Meus olhos correm por todas as páginas e o coração acelera em um
ritmo insano.
— Isto aqui é ouro — solto, voltando o olhar para eles, que
assentem.
— Só por isso aí, já dá voz de prisão — Murilo pontua.
E dá mesmo.
Porém não vou fazer isso.
Se eles estão armando um esquema de transporte de cocaína para as
nossas fronteiras, vamos desarmá-los em flagrante.
— Quem mais está com saudade de uma boa operação? — falo,
olhando para os três, e o sorriso no rosto deles já diz tudo.
— Braga, chama o superintendente e o chefe da Interpol — oriento
o meu agente.
Ele aquiesce e some pelos corredores.
Com Murilo e Julia, já começamos a discutir um plano de ação e eu
passo todas as instruções que me vêm à mente para montar essa operação.
Vamos precisar de reforços e de uma equipe de peso, por isso
solicitei a presença do superintendente e do chefe da Interpol, já que esse
caso vai além de nossas fronteiras.
Meu coração chega a acelerar pela adrenalina.
Porra, vamos conseguir derrubar um esquema gigante e a partir de
agora nosso foco estará cem por cento nesse caso.
Corro as mãos mais uma vez pela barba e sorrio sozinho.
Como eu amo o meu trabalho.
— Pai, já cheguei ao hotel — ouço a voz de Giovana pelo viva-voz
logo que atendo sua ligação.
Hoje caiu mais uma chuva do cão, que está durando o dia todo, por
isso fui trabalhar de carro e agora dirijo tranquilo até o trabalho de Bárbara
para buscá-la.
— Deu tudo certo, girassol?
Antes de voltar para o trabalho do almoço, levei Giovana ao
aeroporto, para fazer o check-in e despachar sua bagagem. Lá ela se
encontrou com duas colegas de faculdade para fazerem juntas essa viagem.
Fiquei bem mais tranquilo em saber que ela tem essa companhia, mesmo
confiando plenamente em minha filha. O voo para São Paulo era no meio
da tarde e agora está me dando notícias de que chegou ao hotel.
— Tudo tranquilo. Pegamos um trânsito bem agitado, mas deu tudo
certo. Agora vamos aproveitar para descansar para o congresso amanhã.
— Está certo. Vocês vão sair hoje?
— Hummm… Acho que sim. Mas devemos procurar um barzinho
aqui perto do hotel mesmo.
— Certo. Não se esqueça de tomar todos os cuidados, ok? São Paulo
não é como Curitiba.
— Pode deixar, pai. Vou seguir as orientações do melhor.
Ouvi-la falar assim me faz abrir um sorriso de lado, sozinho.
Desde que ela era pequena, ensino a minha filha a fugir de situações
de possíveis abusos, a identificar pessoas mal-intencionadas e como se
defender caso precise.
O mundo está cheio de gente ruim, eu bem sei disso, e toda mulher
precisa saber se defender.
Não estarei aqui a vida inteira para ajudá-la, então ensinei desde
sempre a minha filha a se virar sozinha.
Ela tem que viver com suas próprias asas, sendo cem por cento
independente. E saber que tenho conseguido me deixa bastante orgulhoso.
— Vai me dando notícias, ok? Deixe sempre o rastreador ligado.
Por segurança, instalei um aplicativo em seu celular que mostra a
sua localização em tempo real. Espero nunca precisar usá-lo, mas é melhor
precaver.
— Pode deixar. Eu te aviso quando sair e chegar ao hotel.
— Obrigado.
— Agora vou tomar um banho e descansar, ok? Nos falamos mais
tarde.
— Divirta-se, Gio. Já estou com saudades.
E isso é uma verdade absoluta. Por mais que eu vá adorar passar um
tempo maior a sós com Bárbara, vou sentir muita saudade da minha
pequena. Eu me acostumei a ter a sua companhia em todos os dias da minha
vida.
— Eu também, pai. Logo volto cheia de novidades para você e a
Babi. Um beijo.
— Beijo, filha. Te amo!
— Também te amo, pai.
Encerro a ligação com um leve pesar no peito por tê-la tão longe de
mim. Mas sei que é por pouco tempo.
Serão cinco dias de congresso contados a partir de amanhã e logo
ela volta para casa.
Sigo dirigindo tranquilo até o prédio da agência onde Bárbara
trabalha. Ligo o pisca-alerta logo que estaciono o carro e vejo-a vindo em
minha direção com a sombrinha aberta.
O vento da chuva balança seus cabelos negros à medida que ela
caminha, o que lhe dá um ar muito sexy.
Ela é mesmo um mulherão.
Vestindo calça jeans, tênis e camiseta clara debaixo da jaqueta, é
simplesmente a mulher mais linda deste lugar.
Destravo a porta quando ela se aproxima e a garota se embola um
pouco ao fechar a sombrinha para entrar.
— Oi, delegato — cumprimenta-me e eu rio ao me inclinar para lhe
dar um selinho.
— Como foi o trabalho hoje, Bá? — pergunto, olhando pelo
retrovisor para arrancar o veículo.
— Foi muito bom! E eu tenho uma novidade! — diz, girando o
corpo no assento para ficar de frente para mim.
— Novidade? — indago e ela confirma, abrindo um enorme sorriso.
— E qual é?
— Eu trabalhei em um projeto muito legal de uma rede de joalherias
— explica, mal contendo a euforia. — E foi um sucesso, Augusto!
Lançaram a coleção nova no site deles e todas as artes foram feitas por
mim, inclusive das redes sociais. Venderam tão bem que me renderam um
aumento!
— Jura? Isso é maravilhoso, Bárbara!
— Eu estou tão feliz, Augusto! Nossa! Eu amo o meu trabalho, faço
tudo com muito carinho e ser reconhecida não tem preço.
Solto a mão direita do volante e pego a sua, trazendo aos lábios para
um beijo gostoso.
— Parabéns, minha linda! Estou muito feliz e orgulhoso de você.
Minhas palavras parecem tocá-la, e ela sorri com os olhos brilhando
agora.
— Você merece muito — completo, baixando a mão e repousando
sobre a sua coxa, acariciando-a enquanto dirijo.
— Obrigada, Augusto. Mesmo. Sinto que minha vida começou a
entrar nos trilhos agora.
— E esse é só o começo. — Pisco para ela, que sorri mais. — Então
merecemos uma comemoração à altura, não?
A garota me olha maliciosa enquanto lambe os lábios devagar.
— Hummm… Podemos pensar no jantar, né? O que você quer
comer hoje?
— Você — respondo, sem nem precisar pensar e os olhos da garota
faíscam.
— Estou falando sério, delegado…
— E eu não?
Subo a mão por sua coxa e chego à altura da virilha, roçando os
dedos por cima do tecido.
Ainda que o jeans seja grosso, Bárbara solta um gemido ao meu
contato e eu adoro isso.
— Eu te falei que ia te comer todos os dias da viagem de Giovana,
Bárbara — afirmo, sorrindo de lado. — Eu não estava brincando.
Belisco seu sexo por cima do tecido e a garota arfa pelo contato.
— Só mais um pouquinho, safada — murmuro, provocando-a mais.
— Estamos quase chegando.
— Mal vejo a hora.
Sorrio de lado ao vê-la sorrir tão safada.
Ela que não sabe o que a aguarda…

Confiro meu visual no espelho e vejo se está tudo em ordem.


Camisa preta da Polícia Federal, colete à prova de balas, calça preta,
coldre na cintura e coturno.
Encaixo a arma descarregada no coldre e pego um par de algemas.
Sorrio ao ver tudo pronto.
Minha garota me pediu para comê-la de farda e é exatamente isso
que eu vou fazer.
Logo que chegamos do trabalho, fizemos um lanche e nos
separamos para tomar um banho. Marquei de encontrá-la na sala e ela acha
que vai me ver apenas de bermuda e camiseta.
Borrifo o perfume e saio do quarto, seguindo pelo corredor a passos
firmes, até encontrá-la sentada no sofá. Bárbara está relaxada procurando
algo na TV e, logo que me vê, paralisa.
— Augusto…
— Está louca para foder com esse delegado, Bárbara? — provoco e
os olhos da morena brilham.
— Caramba… Você está tão gostoso.
Ela dá um pulo do sofá e vem em minha direção, agarrando-me pelo
pescoço. Sua boca cola na minha enquanto abraço-a pela cintura e a tomo
para mim.
A safada se esfrega toda em mim e meu pau vai ficando cada vez
mais duro aqui dentro.
Minhas mãos descem pelo seu corpo e a tocam inteira enquanto
minha boca não solta a sua.
Toco sua bunda, seu sexo, seus peitos…
Bárbara arfa ao sentir minhas mãos em seu corpo e o nosso beijo,
que começou mais lento, se torna muito mais quente.
Minha língua percorre cada canto de sua boca e logo eu saio,
roçando-a em seus lábios, antes de atacá-la novamente. Bárbara ronrona,
toda fogosa, se esfregando em mim. Os cabelos me puxam forte pela nuca e
eu mordo seu lábio antes de me afastar.
— Eu cumpri a minha promessa, safada — sussurro e noto sua pele
corar. — Agora cumpra a sua e fica peladinha para mim.
A danada sorri, afastando-se devagar.
— Já quer me ver nua, delegado?
Dando mais um passo para trás, Bárbara toca a barra da camisa e faz
um gesto dramático, puxando-a e arrancando do corpo.
Cruzo os braços sobre o peito e indico com a cabeça para que ela
continue esse show que só me deixa mais duro por ela.
Mais louco de tesão.
Ela leva as mãos às costas e desabotoa o sutiã, libertando os seios,
que já estão com os bicos endurecidos.
Ah, cacete…
— Mas é gostosa… — murmuro e ela sorri, lambendo os lábios
devagar.
Bárbara esfrega as mãos nos peitos, fechando os olhos devagar,
fazendo-me ter um autocontrole absurdo para não avançar e meter o pau
dentro dela.
Mas me contenho, porque está sendo uma delícia observá-la.
Quando ela chupa um dedo e toca a ponta do mamilo, circulando
toda a auréola com sua própria saliva, eu suspiro alto.
— Porra, Bárbara.
— Está difícil aí, delegado? Mas eu nem acabei…
A safada me dá uma piscadinha antes de descer a mão por todo o
abdômen e tocar o zíper do short, abrindo-o de forma lenta e provocativa.
Quando a peça cai ao chão e ela fica apenas de calcinha, meu pau
pulsa na calça. Com o olhar fixo ao meu, vejo-a encaixar os dedos no
elástico da renda e o descer, bem devagar.
Percorrendo o corpo lentamente, Bárbara me revela aquela boceta
que é a porra da coisa mais gostosa que já vi e, ao chegar aos pés, ela chuta
para um lado.
— Vem cá, safada — chamo e ela nega.
Bárbara entreabre as pernas e chupa um dedo mais uma vez, antes
de correr por toda a sua carne, fechando os olhos ao gemer.
E, porra, se essa não é a visão do paraíso.
Por estarmos sozinhos, ela não se contém, gemendo alto e gostoso
daquele jeito que é só dela.
— Tem certeza de que não quer que eu foda essa sua boceta? —
indago, ainda de braços cruzados, e ela gargalha.
— É claro que eu quero, delegado. Mas antes…
Bárbara se coloca de joelhos e engatinha em minha direção. Quando
chega mais perto, toca a minha cintura. Suas mãos alcançam o zíper da
minha calça e, quando percebo sua intenção, eu suspiro alto.
Porra…
Descruzo os braços e vejo Bárbara completamente nua, ajoelhada, e
olhando para cima, dentro de meus olhos, libertar o meu pau sem me despir.
Quando ela o toca ali, eu solto um grunhido.
Puta que pariu.
Bárbara circula a glande com a língua, em um gesto demorado, e
corre por todo o meu membro, fazendo-me arfar.
Quando ela sobe e para na cabecinha, seu sorriso safado lhe surge.
— Quer foder essa boquinha, Augusto? — murmura antes de sugar
a pontinha, fazendo-me gemer.
— Porra, Bárbara…
— Então fode, delegado.
Empurro o quadril para a frente e chego ao fundo da garganta da
morena, fazendo-a engasgar pelo impulso. Mas ela não reclama, pelo
contrário, continua me chupando enquanto me masturba, levando-me cada
vez mais para dentro.
E, porra, que delícia…
Eu vou ficar maluco com essa boca no meu pau.
Agarro seus cabelos e dito o seu ritmo, projetando o quadril para a
frente e estocando a sua boca, enquanto ela me recebe de bom grado.
Bárbara mama tão gostoso em meu cacete que eu preciso de um
esforço sobrenatural para não gozar rápido, porque eu me recuso.
Quero desfrutar mais dela.
Muito mais.
— Que pau gostoso, delegado — murmura ao sair e percorrer cada
cantinho com sua língua, em um gesto calculado e absurdo de gostoso.
— Está gostando, safada? — pergunto, empurrando mais para a
frente.
Meu corpo inteiro pega fogo e sinto que estou à beira da combustão.
Não só porque a boca desta mulher é deliciosa, mas porque ela me chupa
como se meu pau fosse todo seu.
Bárbara me degusta, me desfruta, me devora…
E em momento algum desvia o seu olhar do meu. Mostrando que
está aproveitando isso tanto quanto eu. Mostrando que está disposta a me
dar tudo o que eu quiser, assim como darei tudo a ela.
Tudo mesmo.
Eu sou inteiro desta mulher e ela pode ter de mim o que quiser.
— Sua boca é muito gostosa, Bárbara — falo, sentindo a respiração
ofegante e um arrepio percorrer a minha espinha.
O calor é tanto, que a minha vontade é de arrancar essa farda e ficar
completamente nu, mas não posso. Eu prometi a ela que a comeria desse
jeito e vou até o fim.
Com os seus cabelos embolados na mão, observo-a assumindo o
controle do meu prazer, se acabando com o meu pau em sua boca.
E, porra, que delícia.
Quando ela acelera o ritmo das estocadas e eu impulsiono o quadril
forte para a frente, sei que não vou demorar a gozar.
Bárbara também sabe, porque seus olhos me dizem para continuar.
Seus olhos me dizem que sou todo seu.
O som do atrito do meu pau esfolando a sua boca e a saliva se
espalhando enquanto Bárbara me engole inteiro é absurdo.
É surreal…
É…
— Porra, safada!
Aperto sua cabeça e empurro o quadril para a frente tão forte,
gozando tão fundo que a sensação que eu tenho é de que ela vai engasgar.
Solto seus cabelos e sinto meu corpo todo tremer ao esporrar em sua
boca.
Bárbara continua mamando até chupar tudo, engolindo de bom
grado, e sorrindo ao final.
— Sua porra é uma delícia— diz, enquanto corre a língua pelos
lábios, lambendo até a última gota.
Ainda estou ofegante, recuperando-me, quando ela se levanta e me
toma em um beijo delicioso.
Bárbara se esfrega, se entrega, e toca o meu pau já amolecido.
— Precisa de ajuda para ficar duro de novo, delegado?
O sorriso malicioso dela me faz soltar uma risada baixa.
Eu que pensei que fosse acabar com essa safada…
No fim das contas, é ela quem vai acabar comigo.
CAPÍTULO 29 - Bárbara

Ver Augusto completamente ofegante, depois de gozar de forma tão


intensa, faz um bem danado ao meu ego.
Pelo visto, eu não sou mesmo a única que sairá ilesa daqui…
— Acho que vou te chupar de novo… — murmuro e ele me lança
um olhar atrevido.
— Não vai me deixar recuperar um pouco, safada?
Nego, me ajoelhando de novo a sua frente. Tomo seu pau em minha
boca, e ele já começa a dar sinais de vida.
Não vou até o fim nesta chupada, quero apenas que ele fique duro o
suficiente para que possa me foder.
— Se na nossa primeira vez você não me deu tempo de respirar,
delegado, não vou fazer diferente com você.
Dou uma piscadinha e corro a língua por toda a sua extensão,
masturbando-o devagar e sentindo-o se endurecer na minha mão.
Sorrio orgulhosa por isso.
— Não resiste a minha boca, não é? — murmuro, rodeando a
cabecinha com a língua antes de sugá-la e ouvi-lo soltar um gemido.
Quando seu pau já está duro feito um porrete, Augusto me segura
pelo pescoço e me puxa para cima, colando seus lábios aos meus.
E pela fúria com que me beija, sei que despertei aquele seu lado
faminto.
Aquele seu lado que eu amo.
— Está louca para eu te foder, não é? — rosna, arrastando os lábios
pelo meu rosto e mordendo minha pele pelo caminho.
E sua mão me segura tão forte que eu já fico ainda mais sedenta por
ele, ainda mais desejosa.
— De quatro no sofá — pede, ao se afastar. — Com as pernas bem
abertas para mim.
— É você quem manda aqui.
Pisco para ele e obedeço, abrindo bem as pernas e empinando a
bunda, rebolando em provocação. Segurando o estofado, eu o olho de lado e
vejo o momento em que tira um par de algemas da cintura.
E não são essas algemas bobas de sexy shop, são as verdadeiras, que
ele usa no trabalho.
Meus olhos brilham ao vê-lo destravá-las e vir em minha direção.
Estico os braços e sinto-o prender os meus pulsos, conferindo ao
final.
Com as mãos presas e repousadas sobre o estofado, eu continuo de
quatro como ele pediu, quando o sinto me puxar pelos cabelos e me beijar
daquele jeito afoito, faminto.
Sinto uma vontade súbita de tocá-lo, mas não posso, porque estou
presa. E isso deixa tudo muito mais excitante.
— Não vai me comer, delegado? — provoco-o, rebolando bem a
bunda para ele.
Mas Augusto apenas sorri, dando um tapa estalado em uma nádega.
— Peça, safada.
Em uma tortura gostosa, pincela a minha entrada e eu gemo alto ao
senti-lo ali, tão perto, tão…
— Por favor… — peço e ele me provoca um pouco mais. — Me dá
aqui esse pau gostoso.
Mais um tapa e eu gemo alto.
— Ai, Augusto…
Ele me provoca, me batendo mais uma vez.
— Me fode — peço fazendo minha melhor voz manhosa e ele sorri
malicioso antes de meter o pau dentro de mim.
Estou tão molhada que ele não tem nenhuma dificuldade,
escorregando e indo até o fundo.
— Porra, Bárbara. Sua boceta é tão molhada…
— Só pra você, delegado — digo e seus olhos brilham, ao estocar
um pouco mais forte agora.
— É mesmo, safada?
Augusto me puxa pelos cabelos e ergue levemente meu corpo,
enquanto me estoca bruto, o quadril chocando-se ao meu gerando um atrito
delicioso.
— A-hã… — respondo entre gemidos.
Augusto não facilita e me come com muito mais força agora, com
mais intensidade, daquele jeito que nós dois amamos.
O fato de estarmos sozinhos, sem nos preocuparmos com nada, me
deixa muito mais à vontade para gemer feito uma puta, alto e
descontrolado. E a cada gemido, Augusto aumenta a pressão sobre mim,
fazendo-me gritar ainda mais.
É gostoso.
É absurdo.
É…
— Eu sou sua — afirmo, sentindo-o puxar meus cabelos com mais
força.
O movimento só me faz gemer mais.
Quando tira seu pau e brinca ali na pontinha, estocando bem
devagar, eu gemo enlouquecida. Rebolo nele, circulando a bunda e dando
tudo de mim, me doando para ele.
— Só minha, Bárbara? — indaga, dando um tranco em meus
cabelos.
— Só sua, Augusto — respondo, rebolando ainda mais, sentindo-o
deslizar cada vez mais gostoso para dentro de mim.
Abençoada seja a vasectomia deste homem, porque tê-lo dentro de
mim sem camisinha é simplesmente a coisa mais gostosa dessa vida.
Seu pau é absurdo de tão delicioso.
— Ai, Augusto — murmuro quando ele estapeia mais uma vez, a
mão pesada causando uma ardência gostosa em minha pele.
— Sua boceta também é minha, Bárbara? — murmura, tirando seu
membro por completo.
Eu empino a bunda desejosa, chamando por ele, clamando por ele.
— Sua, delegado — respondo, desesperada para tê-lo de novo. —
Só sua. Minha boceta é toda sua.
Ele parece gostar da resposta e mete seu pau de novo, de uma só
vez, preenchendo-me até o fundo.
— Porra, Bárbara, você é uma deliciosa… Uma safada deliciosa.
Sorrio de lado ao vê-lo se descontrolar sobre mim, metendo de um
jeito muito mais insano.
E a visão deste homem todo de preto, com o colete da Polícia
Federal, me fodendo neste sofá é absurda de gostosa.
E então eu me lembro de seu pedido, naquele dia.
Um arrepio percorre a minha espinha e uma gota de suor me escorre
só de cogitar a possibilidade.
Mas eu quero.
Eu quero tudo dele.
Quero ser toda dele.
De corpo, alma, e tudo o que Augusto quiser.
Tudo o que ele quiser de mim.
— Meu rabo também é seu, delegado — anuncio e vejo seus olhos
faiscarem.
As duas mãos agarram meu quadril agora enquanto Augusto me
fode de quatro no sofá da sala e eu sinto meu coração se acelerar dentro do
peito em expectativa.
— É mesmo, Bárbara? — pergunta e eu assinto, lambendo os lábios
devagar.
— Quer comer o meu cuzinho, Augusto? — ofereço e vejo o
homem se descontrolar.
Augusto mete como um louco, desesperado, e eu estico os braços,
deitando a cabeça no sofá, sentindo-o me foder de um jeito animal.
O estofado abafa meus gemidos e ele não alivia, continuando a me
comer como um louco, quando sua mão desce e toca o meu clitóris,
massageando devagar.
— Assim — incentivo, rebolando em sua mão.
— Quer me dar o seu cu, safada? — pergunta, aumentando a
pressão dos dedos em minha carne.
— Que-quero — gaguejo, gemendo, enlouquecida.
Porque o que esse homem causa em mim é absurdo.
A forma como me toca, como seu pau me rasga, a sintonia de nosso
corpo…
A nossa química…
Eu nunca senti nada igual.
— Eu vou comer o seu rabo, Bárbara — avisa, aumentando ainda
mais a pressão. — Mas vou te fazer gozar primeiro.
— Oh…
Augusto belisca o meu clitóris e fricciona tão forte, tão gostoso, que
eu sei que não estou longe de gozar.
— Isso, delegado — incentivo, e ele acelera um pouco mais. — Me
come gostoso assim…
A mão livre estapeia a minha bunda e eu gemo mais.
— Safada gostosa da porra — grunhe, afundando os dedos em
minha carne.
Quando seus dedos encontram o ponto certeiro, eu sinto que vou
sucumbir.
— Augusto…
— Vai gozar com meu pau na sua boceta, Bárbara — anuncia
quando a primeira onda de tremores me invade. — E depois vai gozar de
novo com o meu pau atolado no seu rabo.
E, cacete…
Assim ele joga baixo.
Solto um grito quando o orgasmo me atinge forte, alto,
enlouquecedor.
Meu corpo inteiro treme enquanto gozo gemendo.
Augusto tira seu pau de mim e eu caio no sofá, deitando-me de
barriga para cima.
— Cansou? — diz e eu apenas assinto, ainda ofegante. — Mas não
acabei com você ainda.
Sem que eu tenha tempo de reagir, Augusto mete seu pau dentro de
mim, arrancando-me um gemido.
Ainda estou sensível pelo orgasmo, ainda estou ofegante e acabada,
mas estou pronta para ele.
Eu sempre estou pronta para ele.
— Vai mesmo me dar esse cuzinho, Bá? — indaga, dando-me o
dedo para que eu possa chupar.
Lambuzo todo o indicador de Augusto e o sinto colocar na minha
outra entrada, fazendo-me estremecer.
— Vai me deixar te comer bem aqui, amor?
Esse homem me chamando desse jeito…
Eu vou deixá-lo comer o que quiser.
— Vou — respondo firme e ele abre um sorriso lindo para mim.
— Eu vou te soltar para que você possa relaxar — explica,
destravando as algemas e libertando os meus pulsos. — E para que possa
tocar a sua boceta enquanto eu te como por trás.
Sinto uma onda de excitação percorrer todo o meu corpo e apenas
aquiesço, vendo-o sair da sala e me deixando sozinha.
Não sei o que ele foi fazer e nem quanto tempo vai demorar, mas
aproveito o momento para tocar meu sexo ainda sensível, estimulando-o
mais um pouco, preparando-me para ele.
E, nossa, como eu ainda estou molhada…
Como ainda estou pronta para ele…
— Se divertindo sozinha, safada? — murmura ao voltar e eu rio
baixo.
— Estava só me preparando para você — declaro e seus olhos
brilham.
Quando vejo a embalagem de lubrificante em suas mãos, eu sinto
um frio na barriga.
Está mesmo acontecendo…
Respiro fundo e, por mais que eu esteja ansiosa por nunca ter sido
tocada lá, não sinto medo.
Pelo contrário, estou louca para senti-lo.
— Senta de frente para mim — pede e eu me posiciono no sofá. —
Com as pernas bem abertas.
Apoio os calcanhares no sofá e flexiono as pernas, escancarando-as
para ele.
— Vai doer um pouquinho, Bárbara, e eu vou no seu ritmo, ok? —
diz e eu assinto. — Se quiser que eu pare, só dizer.
— Certo.
— Mas prometo que será uma delícia — garante e umedeço os
lábios devagar.
— Vem me comer, delegado.
Chamo-o pelos dedos e ele se aproxima de mim, espalhando o gel
por toda a sua extensão.
Quando sinto o geladinho tocar o meu ânus, eu olho para Augusto,
que não tira os olhos de mim.
Balanço a cabeça para ele, permitindo que continue e ele o faz,
enfiando um pouco mais agora.
Seu pau é grosso e alarga a minha entrada, causando uma ardência,
mas ainda assim é gostoso.
Solto um gemido quando ele mete um pouco mais e Augusto toca a
minha boceta, esfregando-se ali.
— Relaxa, amor. Relaxa o corpo para mim.
Eu obedeço e vejo Augusto adentrar um pouco mais agora, abrindo
passagem a cada estocada.
Gemo alto ao sentir um ardor e ele continua tocando o meu sexo,
causando uma sensação deliciosa ali.
— Relaxa, safada…
Solto o ar dos pulmões e relaxo o corpo, sentindo-o meter mais,
finalmente chegando até o fundo.
— Porra, Bárbara… Que cu apertadinho.
Mordo o lábio e jogo a cabeça no sofá, permitindo-me sentir.
Uma sensação de posse me toma, de pertencimento…
É como se eu estivesse dando mais um pouco de mim para Augusto,
doando mais um pedaço da minha alma.
Permitindo que ele tome mais um pouco de mim.
— Pode… — falo, engolindo em seco ao senti-lo se mexer de leve.
— Pode me comer, delegado.
Seus olhos brilham e, quando ele dá uma estocada um pouco mais
forte, nós dois gememos.
Desço a mão para o clitóris e o deixo agarrar as minhas pernas ao
me penetrar de forma calculada para não me machucar.
Eu sei que ele está fazendo um esforço tremendo para se conter e eu
valorizo isso.
— Mais forte, Augusto — autorizo e ele rosna, metendo um pouco
mais.
— Caralho, Bárbara… Seu cu é uma delícia.
Gemo ao senti-lo estocar um pouco mais rápido agora e aproveito o
embalo, metendo um dedo dentro de mim, gemendo por ser tão gostoso.
Não arde mais, é só prazer, um prazer que eu nunca imaginei
sentir…
— É gostoso — afirmo e seus olhos brilham.
— Está gostando, safada? — indaga e eu confirmo em um gemido.
Quando suas estocadas se tornam mais firmes, eu acelero o
movimento de meus dedos, metendo mais um em minha boceta.
— Me fode — peço, vendo que ele ainda está se controlando por
mim. — Quero sentir o seu pau rasgando o meu cu.
E isso parece despertar o seu instinto animal.
Aquele que é o meu favorito.
Apertando-me forte, Augusto intensifica as estocadas, entrando e
saindo de um jeito tão rápido, tão bruto que só me faz gemer.
Eu acompanho o ritmo com os dedos e rebolo em seu pau,
desesperada, louca por mais.
É gostoso.
É insano.
É absurdo.
Ter este homem comendo o meu cu enquanto meus dedos fodem a
minha boceta é a coisa mais gostosa que já experimentei até hoje.
— Que delícia, delegado… — murmuro, vendo-o tirar o pau e
escorregar para dentro de novo.
Estou completamente entregue, molhada, excitada, eu…
— Que cuzinho gostoso, Bárbara. Caralho…
Agarrado a minha perna, Augusto me come com uma fome louca e
eu amo isso.
Amo como ele se descontrola em busca de seu prazer.
Do nosso prazer.
— Ai, Augusto — choramingo quando ele tira novamente para
entrar de novo, metendo até o talo.
— Esse cuzinho também é meu, amor? — pergunta e eu balanço a
cabeça, desesperada.
— Todo seu.
Meus dedos bombeiam mais forte agora enquanto esse homem me
come tão gostoso que sei que não vou demorar a gozar.
— Meu corpo — falo, olhando dentro de seus olhos, para que não
haja dúvidas. — Minha boceta… Meu cu… Tudo é seu — gemo, sentindo-
o aumentar ainda mais a pressão. — Eu sou toda sua, amor.
Augusto sorri acelerando as estocadas e eu aperto o meu seio agora,
esfregando o mamilo enquanto a outra mão não solta a minha boceta.
Sei que vou sucumbir, eu sei que vou…
Eu me remexo descontrolada no sofá, as mãos trabalhando
avidamente para me levar ao ápice junto a ele.
— Augusto… — chamo, rebolando desesperada em seu pau.
— Goza comigo, safada. Eu vou encher seu cu de porra.
Ai, cacete…
Grito quando a primeira onda me atinge e o segundo orgasmo da
noite me toma, muito mais intenso que o primeiro.
Eu gemo, eu grito, e minha boca saliva em um orgasmo tão
insano…
Tão gostoso…
Augusto aperta a minha perna e estoca muito mais rápido, bruto,
gemendo ao gozar também, se derramando dentro de mim.
— Porra, caralho, puta que pariu…
Ele desfere uma sequência de palavrões e eu apenas rio baixo,
soltando o meu corpo e desabando sobre o sofá.
Augusto tira seu pau com cuidado e joga o corpo sobre o meu,
tocando meu rosto com carinho.
— Eu também sou seu, Bárbara — afirma, acariciando os meus
cabelos úmidos de suor. — Eu também sou todo seu.
E aqui, olhando em meus olhos, sei que não está falando apenas de
sexo.
Não está falando apenas de corpo.
É de alma…
Sinto como se Augusto estivesse me entregando a sua alma, o seu
coração…
E o meu peito arde, queima e clama por ele.
Nossa…
Eu nunca senti nada assim, em toda a minha vida.
— Eu amo você, Augusto — as palavras me escapam e eu sinto o
meu coração se acelerar aqui dentro.
Eu nunca disse algo tão verdadeiro antes, tão forte…
Meu delegado sorri, dando-me um selinho cheio de carinho.
— Meu coração é todo seu, Bárbara.
E aqui, mergulhada em seus olhos azuis, eu me esqueço de como
respirar.
Eu me esqueço de quem eu sou, de onde estamos, eu só…
Puxo-o para mais um beijo e deposito todo o meu amor.
Todo o meu coração, toda a minha alma…
Eu me entrego.
Ah, Augusto.
Como eu amo você.
CAPÍTULO 30 - Bárbara

Desço do veículo e sigo até o ginásio, que é sede do projeto Acolher,


onde Augusto é voluntário. Ele sempre falou comigo de suas aulas e em
suas palavras eu sempre percebi o quanto se orgulha deste trabalho.
E, como prometido, ele me convidou a assistir uma delas.
Como ele sempre vai direto do trabalho, peguei um Uber para
encontrá-lo aqui e depois voltarmos juntos para casa.
Adentro o ambiente e já sinto uma energia boa tomar conta de mim.
Mesmo de longe, consigo ver várias crianças reunidas em alguma
atividade, e isso enche o meu peito. Pelo que Augusto me contou, são
diversas formas de entretê-las e ensiná-las.
Aulas de esportes, pintura, artes, uma infinidade de coisas. E ele e
seu amigo Murilo são os responsáveis por ensinar jiu-jitsu a esses
pequenos.
Peço informação a um guarda e logo sigo pelos corredores até
encontrar uma área com tatame. Meu coração se enche ao ver Augusto de
pé, ao lado de seu amigo, vestindo um quimono azul, diante de uma dúzia
de crianças com a mesma vestimenta.
Nossa, é tão lindo…
A forma como olham para ele, como ouvem atentamente suas
instruções e o respeitam.
E ver esse lado tão gentil de Augusto só me faz apaixonar por ele
ainda mais.
Procuro fazer o mínimo de barulho até chegar à arquibancada, mas
Augusto me procura com os olhos até me encontrar.
E quando ele me vê…
Um sorriso de lado desponta e eu aceno para ele ao me sentar.
Noto que seu amigo me observa curioso e aceno também para ele,
que balança a cabeça para mim.
Ainda não o conheço pessoalmente, mas ouço muito falar dele, sei
que é alguém muito especial para o delegado.
Coloco a bolsa sobre o colo e observo atentamente todas as
instruções que Augusto dá. Como um líder nato, ele coordena todo o treino,
sendo auxiliado por Murilo.
Percebo que ele ensina alguns golpes novos para as crianças e, como
eu não entendo nada da luta, apenas acompanho-os trabalhar em pares. Vejo
que auxilia cada dupla dando sugestões e corrigindo quando preciso.
É lindo ver o carinho que tem por esses pequenos e o respeito que
recebe de cada um deles. Eu fico imersa na aula e nem percebo o tempo
passar.
Quando dou por mim, eles já estão finalizando e se despedindo de
seus instrutores, seguindo todos para o vestiário.
Aproveito a deixa e sigo para o tatame, encontrar Murilo e Augusto,
que me esperam ali sozinhos.
— Nossa, a aula de vocês é incrível — elogio e ganho um sorriso
deles.
— Oi, Bá — Augusto me cumprimenta, se inclinando para me dar
um selinho.
E esse homem me beijando assim na frente de seu amigo faz meu
coração errar uma batida.
— Murilo, essa é a Bárbara — ele me apresenta e o homem à minha
frente me estende a mão, sorrindo.
— Muito prazer. Augusto fala muito de você.
E instantaneamente eu me sinto corar.
— Digo o mesmo.
O moreno balança a cabeça e eu reparo no quanto é bonito.
Mais baixo que Augusto e parecendo ser mais novo, o seu amigo
tem os cabelos ondulados e uma barba baixa. A primeira impressão é de
que ele é muito simpático e por isso aprecio.
— Finalmente conheci a garota que deixa o meu amigo maluco —
completa e eu coro ainda mais.
— Como assim?
— Não dê confiança, Bárbara — Augusto corta e ele ri.
Seguimos pelo ginásio e eles vão me apresentando todo o projeto, as
aulas que são ministradas e outros professores do local.
Eu fico simplesmente encantada com tudo o que vejo.
Quando estamos perto do vestiário, eles me pedem para esperar e eu
confirmo. Mas, antes que virem as costas, tenho um estalo.
— Ah, Murilo — chamo e ele se vira. — Obrigada por ter ajudado
Augusto a visitar os escombros aquele dia. — Lembro-me de que o
delegado me contou que o amigo topou essa aventura com ele, em pleno
horário de serviço. — Você não tem ideia do quanto isso foi importante para
mim.
O moreno sorri ao assentir.
— Fico feliz por ajudar. Augusto sabe que, sempre que precisarem
de mim, estou por aqui.
Eu sorrio e ele acena, adentrando o vestiário ao lado do amigo.
Augusto me dá uma última encarada antes de sumir de vista.
Enquanto espero, caminho pelo corredor e sigo até a quadra de
vôlei, onde vejo várias crianças se dedicando ao esporte.
Isso é lindo de ver.
Me traz uma nostalgia boa da minha infância e me faz sentir falta
desses momentos próximos a elas. Ainda bem que em breve terei outra festa
para trabalhar e logo aproveitar um momento com esses pequenos.
Fico entretida assistindo ao treino, até sentir um cheiro familiar me
invadir.
Viro-me e encontro o meu delegado sorrindo para mim.
— Vamos? — chama e eu assinto, seguindo-o para a saída do
ginásio.
No estacionamento, nos despedimos de Murilo antes de entrar no
carro.
— Eu adorei conhecer o projeto, Augusto — falo, logo que ele
arranca o veículo. — É lindo ver o quanto se dedica e a forma como as
crianças respeitam vocês.
— É uma parte da minha vida de que eu gosto muito — diz. —
Sempre fez muito bem para mim.
— Essas crianças têm muita sorte de ter vocês — comento e ele
sorri de lado, daquele jeito que eu amo.
Aqui, com o carro abafado, consigo sentir o seu cheiro gostoso. É
um misto de sabonete masculino e seu perfume marcante. Augusto tem os
cabelos úmidos pelo banho, veste uma camiseta azul e calça preta de
corrida.
As tatuagens despontam de seu braço e o deixam ainda mais bonito.
Se é que é possível.
— Está muito cansada? — pergunta e eu nego.
— Não, por quê?
— Quero te levar para um passeio antes de ir para casa. Topa?
— Claro!
Abro um sorriso, sentindo meu coração se aquecer.
Quero aproveitar cada segundo ao lado de Augusto. Hoje é só o
segundo dia sem Giovana em casa e, embora eu sinta falta da minha amiga,
estou adorando passar esse tempo a sós com o seu pai.
— Mas você precisa comer por agora, não é? — pergunta me
olhando de lado e eu assinto. — Certo. Vamos parar em uma lanchonete
então.
Augusto dirige até o bairro São Lourenço e lá encontramos um local
bem agradável que vende sanduíches mais saudáveis. Meu delegado me
acompanha em um de frango com salada e, ao terminarmos, sigo até o
carro, mas ele me detém.
— Vem comigo — diz, oferecendo-me a mão.
Eu aceito de bom grado e sinto borboletas darem cambalhota aqui
dentro por caminhar de mãos dadas com ele.
— Já veio aqui à noite? — pergunta logo que chegamos à entrada do
Parque São Lourenço.
— Não… Só durante o dia mesmo.
— Então vai ver como é lindo.
Adentramos os portões e a primeira imagem que eu tenho é de todo
o local iluminado, refletindo no lago à nossa frente.
— Nossa…
— É bem tranquilo para fazer uma caminhada aqui à noite — ele
diz, andando ao meu lado, sem soltar a minha mão.
As árvores balançam suas folhas com um vento gostoso e eu sorrio,
fechando os olhos por um instante.
É uma energia tão leve, uma sensação de paz…
Encontramos algumas famílias caminhando pelo parque, mas, no
geral, ele está bem vazio.
— Quando Giovana era mais nova, eu gostava de trazê-la para andar
de bicicleta por aqui, ou brincar na pista de rolimã.
Consigo imaginar exatamente essa imagem e isso me faz sorrir.
— A Gio tem muita sorte de ter um pai como você — declaro e ele
apenas dá de ombros.
— Eu só procuro dar o meu melhor, Bárbara. E, na verdade, quem
teve sorte fui eu… — Augusto se perde um pouco em pensamentos antes de
continuar. — Se eu não tivesse a minha filha, não sei se conseguiria me
reerguer. Por ela, juntei forças de onde não tinha para viver e tentar ocupar
um pouco o buraco que a ausência de sua mãe deixou.
Sinto um aperto no peito por ouvi-lo falar assim.
É a primeira vez que toca nesse assunto desde que nos envolvemos.
— Você era muito novo quando ficou viúvo, né? — indago e ele
confirma.
— Eu tinha só vinte e nove anos quando tudo aconteceu.
— Sinto muito… — digo, sentindo meu peito se apertar.
Não consigo nem imaginar como deve ter sido difícil para ele ficar
sozinho no mundo com uma filha pequena para cuidar.
— Helena foi a minha primeira namorada — começa e eu o ouço
com atenção. — Nos conhecemos no último ano da escola, prestes a
ingressar na faculdade. Eu me casei aos vinte e três e, dois anos depois, veio
Giovana. Um acidente de percurso — diz, sorrindo de lado.
— Jura?
Ele balança a cabeça assentindo.
— Não estava em nossos planos sermos pais tão novos, mas minha
pequena girassol decidiu que era seu momento de vir ao mundo.
Ouvi-lo falar de minha amiga com tanto amor enche o meu peito.
— Que danadinha — brinco e ele ri baixo.
— Mas hoje eu percebo o quanto ela veio no momento certo. Se
tivéssemos esperado mais, talvez eu tivesse ficado viúvo sozinho, e não
consigo imaginar uma vida onde Giovana não exista.
Augusto abaixa a cabeça e, quando ergue, seu olhar vai ao longe.
Estamos caminhando de mãos dadas no parque, ao redor do lago,
sendo iluminados pelos postes e pela luz da lua.
— Eu a perdi de uma forma muito cruel, Bárbara. E realmente não
sei se suportaria sozinho.
Engulo em seco ao me lembrar de quando Giovana me contou sobre
a morte da mãe.
Ela tocou apenas uma vez no assunto e eu respeitei, porque foi
doloroso demais.
— A mãe de Giovana era uma mulher muito doce e adorava passar
seu tempo com as crianças. Na sala de aula, ela se dedicava muito a ensinar
aos pequenos e prepará-los para o futuro. Helena sempre me falava para
cuidar de nossas crianças, era o nosso pequeno passo para um mundo
melhor.
E ouvi-lo falar com tanto carinho aquece o meu peito.
Eu não conheci a mãe de minha amiga, mas posso imaginar o
quanto era extraordinária só pelo relato dos dois. Uma pena que tenha
morrido de forma tão covarde.
— E ela morreu fazendo aquilo que mais amava — conclui,
correndo a mão livre pela barba.
O silêncio nos toma e eu sinto um aperto no peito.
Lembro que minha amiga me contou que uma mulher entrou na
escola em um atentado e saiu atirando em algumas pessoas. Entrou na sala
de aula onde Helena lecionava e atirou à queima-roupa, assim, sem motivo
algum. Por puro prazer de matar alguém.
E é por isso que ouvindo o relato de Augusto eu sinto o coração se
apertar pelo que ele enfrentou sendo tão novo.
— Eu sinto muito mesmo, Augusto — sussurro.
— Eu poderia ter evitado… Eu poderia tê-la protegido… — sua voz
baixa me mostra uma fragilidade que não é costumeira dele e isso faz com
que meu peito se aperte ainda mais.
— Não foi sua culpa, amor — murmuro, desacelerando o passo e
fazendo-o olhar para mim.
E mesmo que ele não diga nada, em seus olhos consigo ver que é
assim que se sente.
Culpado.
— Você não é culpado pela crueldade dos outros, Augusto. Não
somos responsáveis pelas atitudes de ninguém, apenas pelas nossas —
afirmo e ele me olha vacilante. — Infelizmente a vida é um tanto injusta e
nos deixa marcas que carregamos para sempre. Mas não leve isso ao seu
coração. Tenho certeza de que você foi um bom marido e, olhando para a
Giovana agora, só consigo ver que você fez um bom trabalho.
Ele me abre um sorriso discreto.
— Obrigado, Bárbara.
Suas palavras são firmes e eu me sinto feliz por fazer algo por ele.
Retomamos o passo e, quando vejo alguns patos nadando no lago, decido
mudar de assunto.
— Olha que fofinhos. — Aponto para a ave e o vejo sorrir de lado.
— Gio adorava jogar miolo de pães para eles.
— Imagino que vocês devam ter se divertido muito juntos.
— Bastante. Tenho uma coleção de memórias com minha filha.
Isso me faz sorrir, acariciando sua mão junto à minha.
— Isso é lindo, Augusto. É algo que ninguém pode te tirar.
Ele balança a cabeça e seguimos caminhando até encontrar um
banco para nos sentarmos.
Augusto abre o braço e eu me aconchego nele, enquanto olhamos
para o lago à nossa frente, iluminado pela lua.
— Obrigada por me trazer aqui — murmuro, sentindo-o se inclinar
para beijar os meus cabelos. — Eu me sinto realmente em paz.
— Fico feliz que tenha gostado — diz, acariciando meu braço de
uma forma gostosa. — Quero te proporcionar essas pequenas coisas,
Bárbara.
E a sua declaração faz o meu coração errar uma batida.
— Eu tenho muita sorte de ter te encontrado, Augusto — confesso,
virando-me para olhar em seus olhos. — Seria muita ousadia minha te
querer sempre comigo?
Sinto meu coração se acelerar ao tocar nesse assunto, já que nunca
conversamos abertamente sobre isso.
Não sei quais são os seus planos sobre nós dois…
— Lógico que não — responde de pronto. — Eu não tenho nada na
minha vida pela metade, Bárbara — murmura, tocando meu rosto com
carinho.
Seus dedos descem até meus lábios e eu fecho os olhos ao entreabri-
los.
O toque de Augusto em minha pele sempre me causa uma onda de
arrepio, sempre.
E quando ele se inclina para encostar seus lábios aos meus em um
beijo casto, eu me sinto desmanchar.
O beijo é tão cuidadoso, tão carinhoso, que meu coração se amolece
aqui dentro.
— Eu também quero você — sussurra em meus lábios e eu sinto o
coração dar um salto aqui dentro. — Vamos fazer isso dar certo, ok? Pode
confiar em mim.
— Eu confio — respondo sem nem precisar pensar e ele sorri,
beijando-me mais uma vez.
Não sei como faremos, ou quando contaremos à sua filha.
Mas isso não me preocupa mais.
Porque eu confio em Augusto.
Confio plenamente.
CAPÍTULO 31 - Bárbara

— Ai, amiga! Eu estou muito cansada, mas tão feliz! — Giovana


suspira ao telefone e eu sorrio sozinha diante disso.
— Imagino, Gio. É puxado, né?
— Nossa! Nem me fale. É um dia inteiro de programações. Temos a
abertura oficial do evento e depois uma série de palestras correndo ao
mesmo tempo, que duram toda a tarde…
Estou deitada na cama, de bruços, ouvindo minha amiga pelo
telefone, quando sinto uma mão tocar a minha bunda por baixo do vestido e
me viro, arregalando os olhos para Augusto.
Aponto para o telefone e ele apenas sorri de lado fazendo um sinal
nos lábios para que eu fique calada.
Sinto um arrepio percorrer a minha espinha ao pensar no que está
prestes a fazer.
Ele é maluco?
— Ah… E você conseguiu assistir a todas que queria? — pergunto,
apertando as pernas ao sentir a mão pesada adentrar a minha carne e me
tocar por cima da calcinha.
Volto a encarar a parede à minha frente, porque, se eu continuar
olhando Augusto me tocar desse jeito, não vou conseguir prestar atenção
em minha amiga e nem mesmo segurar um gemido.
E não posso fazer isso.
Não temos nos falado durante o dia por causa do evento e agora à
noite Giovana me ligou toda empolgada para contar as novidades.
Além do mais, sinto falta de sua companhia.
— Todas não, Babi… Mas as principais. Imagine só… Quatro
palestras rolando ao mesmo tempo… Teria que ser várias Giovanas para
dar conta de tudo.
— Ah… — solto um gemido abafado ao sentir os dedos de Augusto
adentrarem a minha carne e percorrerem toda a minha boceta.
Só de sentir este homem, eu já fico molhada para ele.
Caralho…
— E de qual você mais gostou? — pergunto, incentivando-a falar.
Quanto mais a minha amiga tagarelar no telefone, menos eu falo e
consigo despistar que seu pai está me atacando agora mesmo.
— São todas muito boas, mas a que mais me chamou a atenção foi
a de Mídias Sociais e Liberdade de expressão…
Olho de lado e vejo Augusto sorrir safado enquanto ergue a barra do
meu vestido, embolando-o na cintura e eu aproveito para rebolar a bunda,
girando de um lado para o outro.
Percebo que ele está louco para me dar um tapa, mas eu franzo o
cenho o impedindo. Sem chance de ele fazer alguma coisa assim.
Enquanto Giovana me conta ao telefone os detalhes da palestra a
que assistiu, Augusto desce a calcinha pelo meu corpo bem devagar e me
deixa nua para ele, da cintura para baixo.
Sinto meu sexo pulsar ao notar seu olhar predatório sobre mim.
E quando ele lambe os lábios devagar eu sei exatamente o que vai
fazer.
Puta que pariu.
O delegado vai mesmo me chupar enquanto eu converso com a sua
filha?
Ah, ele vai…
Augusto agarra as minhas pernas e se ajoelha ao pé da cama,
correndo a língua bem devagar por toda a minha boceta. Eu aperto os lábios
com força, suprimindo um gemido.
Ah, caralho…
Que delícia.
O safado ri e corre a língua mais uma vez antes de cair de boca,
esfregando-se inteiro em minha carne.
Respiro fundo e sinto um arrepio percorrer a minha pele ao ter
Augusto com a boca afundada em minha boceta, devorando-me como se eu
fosse uma fruta saborosa.
E, meu Deus…
Como é que eu estou conseguindo não gemer?
A cada “A-hã” que eu respondo à minha amiga, é um gemidinho
abafado que me escapa e eu espero muito que ela não esteja percebendo
nada disso.
— Daí, quando as palestras acabaram, foi o momento das sessões
de autógrafos…
— Jura? — pergunto, tentando manter a minha melhor voz firme. —
E tinha algum livro legal?
Quando Augusto mete dois dedos dentro de mim enquanto me
chupa, eu aperto os olhos com força e estremeço inteira de prazer.
Cacete…
Parece que ele me chupar desse jeito deixa tudo ainda mais gostoso
e excitante por aqui.
Eu penso em pedir a ele que pare ou em simplesmente desligar o
telefone, mas não consigo.
Essa experiência está gostosa demais para eu querer colocar um fim.
— Está brincando? Encontrei os advogados mais fodas do país…
Aproveito a tagarelice da minha amiga e peço perdão mentalmente
por não estar prestando atenção alguma no que ela diz.
Não com seu pai afundando o rosto em minha boceta.
Quando Augusto gira o meu corpo de uma vez na cama, colocando-
me de frente para ele, eu solto um gritinho involuntário.
— O que foi, Babi? Está tudo bem aí? — Giovana pergunta e eu
sinto a barriga gelar.
Olho para Augusto, que simplesmente dá de ombros e começa a
abrir o zíper da bermuda.
— Bati o dedinho do pé na quina da porta — digo a primeira coisa
que me vem à mente e parece funcionar.
— Nossa, isso é uma merda, né? Dói pra cacete.
— Nem me fale…
Suspiro baixo ao ver o delegado tirar o pau e massageá-lo na mão
enquanto vem em minha direção.
— Mas continue a falar das sessões de autógrafos — peço. —
Comprou muitos livros?
— Nossa, um pouco. Só hoje foram três e é só o segundo dia do
Congresso…
— E foram livros de quê?
Cravo os dentes em meu pulso quando Augusto me agarra pelo
quadril e me penetra de uma vez só indo até o fundo.
Porra… Que delícia.
Fecho os olhos enquanto sinto seu pau entrar e sair de mim bem
devagar, de forma a conter os rangidos da cama.
E é tão gostoso, tão quente, que eu me admiro muito por não estar
gemendo alto.
Hora ou outra me escapa um gemido baixo e eu despisto,
emendando um comentário na conversa com Giovana.
E, caramba, que concentração dos infernos estou tendo que ter aqui
agora.
Augusto me olha sorrindo safado ao perceber o quanto estou
enlouquecendo e adorando ver o que ele está fazendo comigo.
— Daí, depois dos autógrafos, veio o show de encerramento. Todo
dia é uma banda, amiga! Ontem foi Paralamas do Sucesso, hoje foi Titãs…
— Caralho, Gio! — falo, empolgada demais, aproveitando a deixa
para gemer. — E como foi o show? Me conta tudo!
Deixo minha amiga empolgada do outro lado me contando todos os
detalhes do show enquanto seu pai me fode bem gostoso nesta cama.
Meu Deus.
Que delícia.
Com a mão livre, desço e toco o meu clitóris, vendo os olhos de
Augusto brilharem pela visão.
Meu lábio já está todo machucado de tanto morder e segurar um
gemido, mas não me importo.
Ter esse homem comendo a minha boceta escondido enquanto eu
converso por telefone com sua filha é surreal.
É uma experiência simplesmente deliciosa.
Mas essa tortura está se estendendo muito e eu o quero mais. Quero-
o me fodendo mais forte, me batendo, puxando os meus cabelos.
Quero muito mais…
Quando Giovana termina seu relato, eu decido interromper a
ligação.
— Amiga, vou ter que desligar… Vou fazer alguma coisa para eu
comer agora — explico.
Neste momento Augusto tira seu pau inteiro e mete de novo,
fazendo-me apertar os olhos com força.
— Ah, claro, Babi. Já te contei tudo também. Estou com saudades,
amiga. Amanhã te ligo de novo, ok?
Quando Augusto esfrega a cabecinha em minha boceta antes de
meter de novo, eu sinto um arrepio me percorrer.
— Também estou com saudades, Gio. Até amanhã.
Despeço-me dela rapidamente e, quando encerro a ligação, jogo o
telefone na cama, gemendo alto.
— Você perdeu o juízo, delegado? — brinco e ele gargalha daquele
jeito safado.
— Eu passo na sua porta e te vejo de vestido com a bunda para
cima. Queria que eu fizesse o quê? Aquilo era um convite para te comer.
Abro um sorriso malicioso e quase respondo, quando sua mão
belisca o meu clitóris e me arranca um gemido.
Puxo o vestido para cima e o arranco do corpo, ficando apenas de
sutiã. Mas a encarada que Augusto me dá me faz tirar a peça imediatamente
e ficar completamente nua para ele.
Esfrego as mãos pelos seios, juntando-os, e essa visão faz o
delegado me olhar daquele jeito vidrado.
— Vem me chupar, delegado — chamo e ele sorri, antes de inclinar
o corpo sobre o meu e cair de boca em meus seios.
Jogo o corpo no colchão ao sentir sua língua nos mamilos,
abocanhando-me, chupando e lambendo meus peitos.
— Porra, que delícia…
— Você é uma safada — diz antes de morder um biquinho. — Tão
safada que, enquanto conversava com a amiga pelo telefone, estava dando a
boceta para o pai dela.
Augusto arremete tão fundo em mim que eu gemo alto.
— Ai, Augusto… — choramingo ao senti-lo me estocar mais bruto
agora e o delegado ri.
— Mas não é safada? — indaga e eu assinto, vendo-o correr a
língua lentamente de um seio ao outro.
Esse homem me chupando assim me tira qualquer pensamento
lógico.
— Eu sou — respondo ofegante e ele abre um sorriso satisfeito. —
Sou a sua safada, delegado.
Inclino o meu corpo para cima, pedindo mais dele, que atende me
chupando com mais força agora, mamando gostoso em cada peito.
— Porra, que delícia… — gemo e ele apenas me olha sem tirar a
boca de mim.
— Minha safada — murmura, torcendo o biquinho em sua mão.
— Sua, delegado — confirmo, sentindo seu pau meter mais forte
agora. — Todinha sua.
Quando Augusto me agarra pelo pescoço e me faz olhar em seus
olhos, eu sinto um arrepio me percorrer.
— Essa boquinha atrevida também é minha — anuncia, atacando
meus lábios daquele jeito afoito.
Daquele jeito sedento que eu amo.
Minhas mãos descem à altura da sua camisa e ele se afasta para tirá-
la, revelando-me seu peitoral nu.
Cravo as unhas nele o arranho todo, Augusto me abre um sorriso
safado.
Ele adora que eu faça isso.
— Acha que é só você que me deixa marcada?
Antes que volte a se inclinar, eu o empurro para trás e ele entende a
minha intenção, girando nosso corpo para trocarmos de posição.
Montada em cima de Augusto, eu seguro seu membro na mão e
posiciono em minha entrada, descendo devagar e engolindo-o por inteiro.
— Porra, safada…
— Gosta que eu te cavalgue? — pergunto, correndo as mãos pelo
seu corpo e arranhando seu peito enquanto subo e desço nele, quicando em
seu pau grosso.
Augusto geme ao agarrar o meu quadril e desferir um tapa forte em
minha bunda. Logo o delegado ajuda a me guiar, ditando o nosso ritmo
enquanto eu monto nele.
Subo e desço, ora rápido, ora devagar, rebolando e me esfregando
nele quando chego ao fundo.
— Que pau gostoso, delegado — murmuro e sorrio orgulhosa ao ver
o quanto ele adora e se entrega.
Arranho a sua pele, meus peitos pulam pelo atrito e Augusto geme
gostoso ao me guiar em seu colo.
— Isso, amor… — sua voz é rouca e é minha vez de gemer. —
Senta gostoso no seu pau.
E a sua voz afetada faz loucuras em mim, levando-me a fazer
exatamente o que ele pede.
Delicioso.
Augusto derruba o meu corpo sobre o seu e, ainda agarrado ao meu
quadril, ele me estoca forte enquanto se inclina para me beijar.
Agarrada aos seus cabelos, recebo seu beijo, que deixa de ser afoito
e se torna quente.
Terrivelmente quente e gostoso.
A língua de Augusto percorre cada cantinho meu e eu me entrego a
esse beijo que tem gosto de tudo, principalmente de nós dois.
Ele continua me estocando de um jeito absurdo de gostoso, quando
me afasto e toco o seu rosto com carinho, percorrendo toda a sua pele com
os dedos.
Seus olhos não desviam dos meus e ali eu vejo o reflexo de tudo o
que eu sinto.
— Sou sua, Augusto — murmuro, entregue, reafirmando o que ele
já sabe.
Mas que não vou me cansar de dizer, todos os dias.
O delegado sorri antes de me beijar mais uma vez.
Quando suas estocadas se tornam mais rápidas, eu me entrego a este
beijo, rebolando em seu pau, esfregando-me e recebendo tudo dele.
Entregando-me de corpo e alma para Augusto.
Quando sinto os primeiros sinais do orgasmo, eu o deixo vir, forte,
intenso, avassalador.
Estremeço-me inteira sob Augusto e ele me agarra firme, metendo
rápido até gozar também, derramando-se dentro de mim.
Ainda estamos trêmulos quando o nosso beijo cessa e Augusto solta
o meu quadril para tocar o meu rosto e retribuir a carícia.
— Eu também te amo, Bárbara — diz, olhando em meus olhos, e
suas palavras atravessam a minha alma.
Eu não contenho a emoção e, quando uma lágrima me escorre, meu
delegado toca o meu rosto, secando-a com carinho.
— Sou seu… Sou todo seu.
Não consigo disfarçar um sorriso que me toma ao ouvir essas
palavras vindas de Augusto.
De um homem forte, íntegro e simplesmente incrível.
Do homem mais perfeito que já conheci.
E que hoje tenho a sorte de ser meu.
De me amar…
Assim como eu o amo.
— Ah, Augusto… Eu amo tanto você.
O sorriso que ele me abre é aberto, lindo, completo.
Ele não só sorri com os lábios, mas com os olhos, com a alma.
Acho que é a primeira vez que o vejo sorrindo tão lindo assim…
— Você é lindo… — murmuro, tocando seu rosto, e ele sorri mais,
enquanto toca as minhas costas em uma carícia lenta e gostosa.
Nós ainda não nos separamos e nem queremos.
Os corpos ainda se unem daquele jeito só nosso e a sensação que me
toma é de que eu nunca vou querer sair daqui.
Quero que este homem seja meu para sempre.
— Não vai sair de cima de mim, amor? — brinca, como se estivesse
ouvindo meus pensamentos.
— Não… Você é o meu lugar.
Ele parece satisfeito com a resposta e sorri um pouco mais.
Deito a cabeça em seu peito e Augusto me envolve em seus braços,
acolhendo-me com todo seu calor e seu amor.
E aqui eu sinto toda a veracidade de minhas palavras.
De fato, Augusto é o meu lugar.
CAPÍTULO 32 - Augusto

— Nossa, Augusto, que lindo… — Babi, murmura, maravilhada ao


olhar a vista abaixo de nós.
Como estou decidido a lhe dar boas memórias, hoje escolhi trazê-la
a um restaurante de alta gastronomia, localizado na parte nobre da cidade.
O bistrô fica no último andar do maior prédio do bairro, dando uma visão
noturna linda de toda a Curitiba.
— Não é?
Bárbara assente, sorrindo ao olhar pela grande vidraça ao nosso
lado.
— Escolhi pensando em você — revelo e ela se vira para sorrir para
mim.
Aquele sorriso lindo que não deixa mais os seus lábios.
Essa garota diante de mim é bem diferente daquela que eu acolhi em
minha casa, meses atrás.
Aquela Bárbara que vivia encolhida pelos cantos, cabisbaixa, com o
olhar triste…
Em nada se parece com essa mulher à minha frente.
— Então o delegado Ferraz é do tipo romântico? — brinca,
apontando para o ambiente ao nosso redor.
A iluminação baixa, a vela acesa na mesa e a decoração em flores
foram mesmo o fator decisivo para que eu decidisse trazê-la para cá.
— Não com qualquer pessoa — respondo e a vejo corar daquele
jeito lindo que é só dela.
— Você é uma caixinha de surpresas, sabia? — murmura e eu sorrio
de lado.
— Que bom — digo, pegando o cardápio na mesa. — Gosto de
surpreender você.
Corro os olhos pelo menu e sugiro uma garrafa de vinho, que ela
rapidamente aceita, antes de escolhermos os pratos e pedirmos ao garçom.
— Pode nos avisar quando faltar uns quinze minutos para os pratos
ficarem prontos? — peço a ele, que na mesma hora confirma, sem pedir
maiores detalhes.
Bárbara fica me olhando daquele jeito, como se eu tivesse feito
muito, mas na verdade não fiz nada…
— Não me custa pedir para avisar antes, assim você não fica
esperando a insulina fazer efeito e correr o risco de o prato esfriar —
explico.
A garota apenas sorri e estica sua mão na mesa para tocar a minha.
— Você é inexplicável, Augusto — diz, levemente emocionada, e eu
afago seus dedos, sorrindo de lado.
— Não sou nada… Sou apenas um homem vivido, Bárbara. Alguém
que já enfrentou muita coisa nessa vida.
Ela acaricia minha mão em resposta, quando o garçom chega com
nossa garrafa de vinho.
Quando as duas taças são servidas, ergo-a e brindamos juntos antes
de degustar a bebida.
— Nossa… É delicioso — elogia e eu sorrio por ter aceitado a
escolha.
— Não é? É um dos meus favoritos.
Bárbara fica, por um momento, imersa em pensamentos, alternando
o olhar do vinho entre mim e o ambiente ao nosso redor.
E percebo-a um pouco calada demais.
— Está tudo bem? — indago e ela assente, soltando um suspiro.
— Só estou pensando em como minha vida parece estar entrando
nos trilhos, sabe? — constata e eu balanço a cabeça, atento a ela. — Hoje
eu consigo ver aquela luz no fim do túnel…
Penso que ela tem mais a falar, então apenas a escuto em silêncio,
incentivando-a com o olhar a continuar.
— Assim como você, eu também já enfrentei muita coisa nessa
vida, Augusto — diz, e os seus olhos vão longe. — Um diagnóstico de
DM1 ainda na infância, um abandono de um ex-namorado em um período
delicado e a perda da minha mãe…
E, quando ela menciona esse ex, minha sobrancelha se arqueia
sozinha.
Eu nunca a ouvi falar disso e nem me lembro de Giovana ter
comentado algo desse tipo.
Bárbara parece perceber a minha confusão, quando pausa e dá um
gole em seu vinho.
— Não gosto de comentar sobre isso, porque foi muito doloroso na
época. Porém, agora vejo que foi melhor assim.
— Quer me contar? — indago, erguendo a mão livre para tocar a
sua, em um gesto de conforto.
Ela olha ao longe antes de voltar seu olhar para mim.
— Quando eu tinha dezoito anos, recebi meu diagnóstico de
infertilidade — sussurra e eu sinto um golpe no peito.
Como…
Como assim?
O sorriso triste que ela me abre me diz que é algo que ainda a
machuca.
Caramba…
Não sabia disso.
Em vez de fazer mais perguntas, apenas acaricio sua pele, deixando
que me conte o que se sentir confortável para falar.
— Eu tenho uma obstrução nas trompas — explica. — Isso impede
que os óvulos passem para o útero e também a passagem dos
espermatozoides para encontrar o óvulo. Ou seja, naturalmente, não consigo
engravidar.
Engulo em seco e sinto o meu peito se apertar diante de sua
revelação.
Não sabia disso e, mais ainda, que a machucava tanto…
Ah, Bárbara…
— Sinto muito, amor — digo sincero e ela assente devagar.
— Está tudo bem… Eu acho.
— Não existe um tratamento? — pergunto com cuidado.
— No meu caso em específico, a cirurgia não é indicada. E como as
duas trompas são obstruídas, só me resta a Fertilização In Vitro.
Balanço a cabeça, pegando a minha taça para beber mais um gole de
vinho.
— Receber essa notícia não foi fácil. Nenhuma mulher quer ouvir
dos médicos que não pode engravidar. Bom, pelo menos não uma que sonha
em ser mãe…
E a sua voz morre, fazendo-me ser golpeado aqui dentro.
Ela tem esse sonho.
E ela nunca me disse isso…
De repente, a imagem do dia em que contei a ela da vasectomia me
atinge e eu sinto meu coração doer.
Naquele dia, não estávamos tão envolvidos emocionalmente, e ela
não pareceu se importar com isso.
Mas, agora, sinto que se importa…
Ah, caralho…
— Eu tinha um namorado na época — continua, depois de um longo
silêncio. — Conheci o Diego quando eu tinha dezesseis anos e achava que
ele era bom para mim. Até receber essa notícia e ficar um tanto
deprimida… — Ela nem precisa terminar a conversa para eu saber que já
vou odiar esse covarde. — Eu fiquei muito mal, Augusto, foi uma época
muito delicada para mim. E, quando eu mais precisava de carinho, ele me
abandonou… Disse que tinha muita coisa com que lidar. Além do diabetes,
a infertilidade e agora uma namorada deprimida… Não era isso que ele
queria para a própria vida.
— Mas que filho da puta — solto e ela sorri fraco.
— Eu gostava dele, tínhamos um relacionamento legal e, no
momento em que eu mais precisei, foi embora. Isso só me deixou ainda
pior.
Franzo o cenho para ela e me sinto mal por tudo o que passou.
Bárbara é tão nova…
— E quando eu me reergui e me conformei com isso, pouco depois
perdi a minha mãe. E depois a minha casa… E, bom… O resto você já sabe.
Sinto mais um golpe no peito ao conhecer toda a sua história.
Bárbara só tem vinte e quatro anos e enfrentou perdas demais…
Porra…
E saber de tudo isso me faz repensar sobre muita coisa da minha
vida.
— Não quero te deprimir com a minha história, Augusto — diz ao
final. — Só quis te contar que também já enfrentei muita coisa nessa vida
— conclui.
— Você é uma vitoriosa, sabe disso, não é?
Ela me abre um sorriso meigo antes de assentir.
— Eu estou aqui hoje, com você — diz me encarando firme. — Isso
sim, é uma verdadeira vitória.
E lá, no fundo de seus olhos, consigo ver que algo ainda a
assombra…
Bárbara não pode ser mãe e acabo de descobrir que esse é um sonho
seu.
Ah, Bárbara…
— Eu sempre vou fazer de tudo por você — afirmo, trazendo sua
mão aos meus lábios.
E a garota entende a veracidade de minhas palavras, abrindo um
sorriso muito mais leve.
— Eu sei, Augusto. É por isso que eu amo tanto você.
Beijo sua mão mais uma vez, quando o garçom chega e nos
interrompe.
— Com licença. Em quinze minutos venho servi-los, ok?
— Certo. Muito obrigado!
Ele se afasta e eu solto a mão de Bárbara para que ela possa abrir a
sua bolsa e pegar seus insumos. Ajudo-a no cálculo de carboidratos em seu
prato e ela pede licença para ir ao banheiro tomar a insulina.
Nesses poucos minutos sozinho, minha mente vai longe, pensando
em toda a nossa conversa de hoje.
Bárbara Deodato é uma caixinha de surpresas e conhecer um pouco
mais dela a cada dia só me faz admirá-la ainda mais.
— Tudo certinho? — pergunto logo que ela volta para a mesa e sorri
assentindo.
— Tudo sob controle.
— Perfeito.
— Estou ansiosa para experimentar o prato que escolhi… Tudo no
cardápio parece muito apetitoso.
A leveza em sua voz faz o meu coração bater um pouco mais
tranquilo. Pelo visto está mesmo determinada a deixar o assunto de lado e a
minha função é fazer o melhor por ela, sempre.
— Eu nunca vim aqui antes, mas recebi ótimas recomendações de
Murilo.
— E, falando nele, como está tudo por lá?
Há alguns dias contei a ela sobre o ocorrido com sua esposa e como
tenho tentado dar um suporte para eles como posso nesse momento.
Bárbara ficou muito tocada com tudo e me disse que fará questão de
comparecer ao jantar proposto por Murilo, logo que Laura se sentir bem
para isso.
E agora, quando nossos pratos chegam, conto um pouco como estão
as coisas por lá e como a esposa do meu amigo tem melhorado um
pouquinho a cada dia.
O assunto leva ao meu trabalho e logo passamos ao seu, entrando
em uma espiral de conversa que não acaba mais.
Gosto disso.
Gosto de como ficamos tão à vontade um com o outro.
E, ao final da noite, quando decidimos sair, Bárbara está muito mais
alegre e falante do que quando chegou.
Isso sim, acalma o meu coração.
Não gosto de vê-la triste.
Dói no fundo da minha alma vê-la assim.
— Já quer ir para casa ou quer dar uma volta por aí? — pergunto, ao
estender o capacete para ela.
Como a noite estava tranquila e sem sinal de chuva, convidei-a para
virmos de moto justamente pensando em darmos uma volta pela cidade.
Bárbara é uma ótima garupa, porque adora andar de moto, assim
como eu.
— Mas é claro que eu quero!
Monto na moto e me acomodo. Tirando o descanso, vejo a garota
subir e se abraçar a mim.
— Pronta? — pergunto e, pelo retrovisor, a vejo assentir.
Pego as ruas de Curitiba e piloto com cuidado adorando sentir seus
braços envolverem a minha cintura.
É uma sensação tão boa, de pertencimento, de plenitude…
Eu nunca imaginei que pilotar a minha BMW fosse adquirir um
novo significado depois que Bárbara entrou em minha vida.
Pelo caminho, vamos comentando de alguns lugares em que
passamos, pontos turísticos famosos da cidade ou algumas curiosidades que
conhecemos.
E esse passeio com Bárbara em minha garupa se torna mais um na
lista de momentos favoritos que passei ao seu lado.
Depois de um tour pela cidade, piloto até um lugar que sei que é
ótimo para um passeio noturno.
Penso que Bárbara pode gostar disso.
Levo-a até o Parque Tanguá e o encontramos quase fechando. Por
isso, temos sorte de pegarmos os últimos minutos no lugar, para encerrar a
noite sozinhos.
— Mais um lugar que eu não conhecia à noite — Bárbara comenta
ao reconhecer a entrada do parque.
— A vista ali de cima é linda.
Segurando sua mão, eu a guio até o mirante do belvedere, uma
construção em semicírculo sobre um paredão de pedra.
— Nossa… — Ela suspira, me olhando maravilhada ao chegarmos
ao lugar. — Aqui é tão lindo…
— Gosto bastante dessa vista — explico, juntando-me a ela.
— Traz uma paz, né? — sussurra e eu a abraço, tendo a visão da
queda d’água e uma Curitiba iluminada.
— É bom ter um pouco de contato com a natureza.
Bárbara assente e encara o horizonte, sonhadora.
Os parques de Curitiba são lindos, cada um à sua maneira e, à noite,
eles têm um charme especial. Como percebi que Bárbara gostou do último
passeio, farei o possível para levá-la mais vezes a cenários assim.
— Obrigada por me trazer aqui, Augusto — diz depois de um longo
momento em silêncio. — Obrigada por fazer tanto por mim.
— Eu te amo, Bárbara. Sempre farei o que estiver ao meu alcance
para ajudar você.
Toco seu rosto e a garota se estremece ao meu toque, sorrindo.
— Estou amando viver esses dias com você, só nós dois —
murmura, sem tirar os olhos dos meus. — Queria que fosse sempre assim…
— Eu também — confesso e ela sorri mais, deitando o rosto em
minha mão. — Posso te pedir só mais um tempinho?
Bárbara me encara fixamente, esperando que eu continue.
— Quero eu mesmo contar a Giovana, diante do relacionamento que
temos. Mas quero esperar pelo momento mais tranquilo para isso, tudo
bem?
— Claro, Augusto.
— Prometo não demorar…
Arrasto o dedo por seu rosto e toco seus lábios, que se entreabrem
pelo contato.
Inclino-me para a frente e a beijo bem devagar, sentindo seus lábios
estremecerem.
Tão gostoso…
Minha mão se embrenha em seus cabelos quando a trago para mais
perto de mim, intensificando esse beijo que é saboroso demais.
Corro a língua por todo seu lábio inferior e o sugo devagar antes de
atacar a sua boca novamente, beijando-a com todo meu amor.
— Eu, você, e essa paisagem linda… — sussurra sobre meus lábios
e eu sorrio, dando-lhe mais um selinho. — O que poderia ser mais perfeito,
delegado?
— Hummm… Não sei.
Volto a beijar seus lábios e só paro para encarar seus olhos lindos.
— Tendo você, eu não preciso de mais nada.
A garota me abre um sorriso lindo antes de colar seus lábios aos
meus.
E eu a beijo.
Com todo o meu amor.
Mais uma vez.
CAPÍTULO 33 - Bárbara

— Distraída aí, Babi? — Lorena me pergunta logo que adentra a


cozinha da agência e eu dou um pulo involuntário.
— Ai, que susto, Lore…
— Estava mesmo viajando, né? — indaga e eu não consigo disfarçar
um sorriso.
— Mente ocupada…
— Ah, sei… Ocupada com um certo delegado, né? — brinca e eu
abro um sorriso malicioso.
— Ah, ele é tão perfeito… — Suspiro e ela ri.
— Vocês ainda estão namorando às escondidas? — questiona e eu
apenas confirmo. — E vão contar à sua amiga?
— Vamos — respondo, sentindo meu coração acelerar no peito. —
Mas Augusto me pediu para fazer isso, pelo relacionamento que ele sempre
teve com a filha.
— Hummm… E você acha que ela vai reagir bem?
— Não faço ideia.
Por mais que eu esteja amando tudo o que tenho vivido com
Augusto, não deixo de ficar ansiosa pelo que está por vir. Não faço a
mínima ideia de como Giovana reagirá à notícia de meu envolvimento com
seu pai, e isso me preocupa.
Não quero perder Augusto, mas também não quero magoar
Giovana…
Solto um suspiro alto e Lorena estreita os olhos para mim.
— Bom, se vocês têm a intenção de contar, acho que ela vai
entender — diz, por fim. — Muito pior seria se ela descobrisse pela boca de
outras pessoas.
— Nossa, Deus me livre.
Sinto um arrepio só de pensar na possibilidade.
Giovana ficaria arrasada se soubesse de outra forma, senão por um
de nós dois.
— Acho que ela vai ficar um pouco assustada, mas depois deve
aceitar bem — minha amiga conclui. — Ela ama vocês dois, não tem por
que não querer que fiquem juntos.
— Deus lhe ouça — murmuro, já sentindo um aperto no peito.
Eu realmente não consigo nem pensar na hipótese de Giovana não
nos aceitar bem.
— Bom, vou voltar ao trabalho agora — anuncio antes de virar o
restante da minha xícara de café.
Despeço-me dela e sigo até a minha mesa de trabalho, onde volto a
minha concentração ao que estava fazendo. A campanha da joalheria fez
tanto sucesso que eles decidiram intensificar o trabalho publicitário e, com
isso, mais trabalho para mim. Mas nem mesmo reclamo, porque estou
amando me dedicar a esse projeto, principalmente por todo o
reconhecimento que me trouxe.
Entretenho-me nas edições pelas próximas horas, até sentir o celular
vibrar sobre a mesa e o nome do meu delegado surgir.
Augusto: Estou aqui embaixo.
Sorrio sozinha ao digitar a resposta para ele, salvando o trabalho em
backup para continuar amanhã.
Desligo o computador e me despeço de meus colegas, descendo pelo
elevador em direção à saída do prédio.
Logo que alcanço a calçada, a imagem de Augusto me tira um
sorriso.
Com o capacete nas mãos, ele me espera, parcialmente sentado na
motocicleta. Seus cabelos estão levemente bagunçados e os óculos escuros
lhe dão um ar muito charmoso.
Fora que esse homem vestido de preto da cabeça aos pés, com o
emblema da Polícia Federal estampado no peito, deveria ser crime.
Delegado Augusto Ferraz é indiscutivelmente lindo.
— Oi, delegato — brinco ao me aproximar e ele sorri de lado,
estendendo-me o capacete.
— Como foi o trabalho, Bá?
Eu me inclino para lhe dar um selinho e pego o acessório de suas
mãos, colocando sobre a cabeça.
— Tudo tranquilo. E o seu? — pergunto, logo que me acomodo na
garupa.
Augusto confere se estou segura e olha pelo retrovisor antes de
arrancar o veículo. E o ronco da moto chama a atenção de todos pela
avenida.
— Bastante agitado — finalmente me responde. — Mas estamos
avançando bem naquele caso.
— Isso é ótimo.
Pilotando sobre o trânsito pesado, Augusto conversa comigo falando
um pouco mais alto pelo capacete e eu nem vejo o tempo passando.
Abraçada à sua cintura, fecho os olhos por um instante e sinto o
vento contra o corpo, aquela sensação de liberdade todas as vezes que ando
em sua garupa.
— Precisa ir para casa agora? — pergunta, depois de um momento
em silêncio.
— Não, por quê?
— Quero te levar para um lugar.
Sinto meu coração errar uma batida e minha barriga gelar em
expectativa.
Todas as vezes que Augusto me leva para algum lugar, é especial.
Sempre é inesquecível.
Na verdade, não há nada que esse homem faça por mim que não seja
minimamente incrível.
Sigo curiosa observando todo o trajeto, até ele me levar para um
lugar afastado.
Augusto desliga a moto e eu salto dela, retirando o capacete e
ajeitando os meus cabelos com as mãos.
— Já viu o pôr do sol daqui de cima? — pergunta e eu nego.
Eu não conhecia este lugar e, pelo que percebi no trajeto, é um
pouco afastado de Curitiba.
Estamos em um amplo gramado, com algumas árvores ao redor, à
beira de um precipício.
Lá embaixo um rio corta, dando uma paisagem muito bonita.
— Ainda vai demorar um pouco a escurecer — diz, abrindo o baú
da moto. — Trouxe um lanche pra gente enquanto esperamos.
Vejo Augusto retirar de lá duas embalagens de uma lanchonete e
estender para mim.
— Vem.
Sigo-o e nos sentamos bem próximo à beirada. Olho tudo ao meu
redor e sinto uma paz absurda tomar conta de mim.
O lugar é lindo, calmo, bem no meio da natureza e tem um aroma
muito gostoso.
Tem uma energia muito leve.
Estamos completamente sozinhos aqui e, ao mesmo tempo, sinto
como se o mundo inteiro fôssemos apenas nós dois.
— É tão lindo… — murmuro, mais uma vez admirando a paisagem
ao nosso redor. — E tão calmo…
— Gosto de vir para cá às vezes — explica. — É bom ficar um
tempo sozinho.
— E o que você faz quando vem? — pergunto curiosa, abrindo a
embalagem.
Sinto meu peito se aquecer ao sentir todo o carinho de Augusto ao
escolher um sanduíche de frango para mim, o meu favorito. E um suco de
laranja sem açúcar.
O cuidado e o carinho de Augusto sempre estão nos detalhes.
— Penso na vida — responde, dando de ombros, enquanto me
observa fazer a medição de glicemia para aplicação da insulina. — Fumo
um cigarro.
E essa informação me intriga.
— Você fuma? — pergunto, arqueando a sobrancelha.
— Não sempre. Só quando preciso.
Estreito os olhos para ele, que balança a cabeça, rindo baixo.
— Não chega a ser um vício, mas, sempre que estou agitado ou
muito pensativo, gosto de fumar um cigarro. Me ajuda a colocar a mente em
ordem.
— Você sabe que isso te faz mal, né?
Augusto dá de ombros mais uma vez.
— Sei, mas, como te disse, não é um vício. Às vezes passo semanas
sem fumar. Não precisa se preocupar comigo.
Balanço a cabeça assentindo.
Eu sempre me preocuparei com Augusto, porém ele é bem
grandinho para saber o que faz mal ou não em sua vida. E espero muito que
um dia esse hábito ruim se acabe.
Depois de esperar o efeito da insulina, começamos a comer
tranquilamente, observando a paisagem ao nosso redor.
— Estão acabando os nossos dias sozinhos — murmuro, soltando
um suspiro.
— Eu sei. Por isso tenho te trazido para alguns programas
diferentes. Logo nos veremos apenas dentro de casa.
— E com tempo contado — concluo e ele ri baixo.
— Sinto saudade da Gio — confessa.
— Eu também. Ela é como uma irmã para mim.
A minha declaração tira uma careta de Augusto.
— Ainda bem que ela não é sua irmã — constata e eu solto uma
risada.
— Ainda bem mesmo — reforço e ele sorri de lado.
— Acha que ela vai reagir bem? — pergunto me lembrando da
conversa com Lorena mais cedo.
— Se formos sinceros com ela e abrirmos o coração, não tem como
reagir mal. Eu conheço a minha filha.
A convicção de Augusto deixa o meu coração mais tranquilo.
— Eu realmente não sei o que faria caso ela não aceitasse —
confesso, em um fio de voz.
— Não se preocupe, Bá. Isso não vai acontecer.
A segurança que ele transmite em suas palavras acalma o meu peito.
— Olhe ali! — Ele aponta para o sol começando a se pôr. — Vai
começar.
Deixando as embalagens de lado, eu me acomodo entre as pernas
abertas de Augusto e sou abraçada pelo seu calor.
Repouso a cabeça em seu peito e sinto aquela sensação gostosa de
pertencimento, enquanto o espetáculo se conduz à nossa frente.
Pouco a pouco, o sol vai se pondo e dando lugar à escuridão da
noite, em um momento mágico.
— É lindo… — murmuro e Augusto se inclina para beijar meu
ombro com carinho.
— Sabia que ia gostar — comenta, orgulhoso.
Seus braços envolvem a minha cintura em uma carícia gostosa e eu
relaxo ainda mais em seu corpo.
— Você sabe bem como agradar uma mulher, delegado — brinco e
sinto seu corpo tremer de leve junto ao meu, em uma risada baixa.
— Que bom… Confesso que achei que estava um pouco enferrujado
para isso.
E sua revelação sincera me faz virar de lado para encará-lo.
Toco seu rosto e corro os dedos por sua barba, sentindo aquele ardor
em minha pele.
Ele é tão lindo…
Os traços, os olhos, tudo…
Augusto é todo perfeito.
Perfeito para mim.
Em um movimento, giro o corpo e fico de frente para ele, ainda
sentada em seu colo.
Abraço-o pelo pescoço e acaricio seus cabelos enquanto encosto
meus lábios aos seus, tomando um beijo gostoso.
As mãos de Augusto apertam a minha cintura agora, enquanto nos
perdemos nesse contato delicioso.
Seu sabor, o calor que emana dele, é simplesmente tudo…
O beijo que começa delicado se torna um pouco mais urgente agora
e suas mãos me apertam com mais força enquanto eu o puxo pelos cabelos.
Sinto o meu corpo entrar em combustão enquanto rebolo em seu
colo e esfrego a virilha em sua ereção, adorando a sensação que me causa, a
fricção gostosa que faço.
— Porra, Bárbara… — murmura, afastando-se para morder o meu
queixo. — Precisamos ir embora daqui.
A urgência em sua voz me tira uma risada e em um pulo me coloco
de pé, vendo Augusto se levantar rapidamente em direção à moto.
E, antes que ele me entregue o capacete, eu tenho uma ideia melhor.
Muito melhor…
— Alguém… — Paro e olho para os dois lados, vendo o céu
parcialmente escuro e o ambiente completamente deserto. — Alguém pode
chegar aqui?
Mordo o lábio inferior e Augusto me encara com luxúria.
— No que está pensando, safada? — a voz rouca me arrepia inteira
e só me encoraja nessa aventura.
— Essa moto nos aguenta?
Encosto o quadril na BMW e puxo Augusto pela camiseta, colando
os lábios nos seus.
Ele entende a minha intenção e rosna ao me colocar sentada sobre o
banco, enquanto me beija de um jeito muito mais intenso, insano, sedento.
Daquele jeito faminto que é só dele.
Daquele jeito que eu amo.
Suas mãos passeiam pelo meu corpo e sobem pela minha camiseta,
apertando meus peitos por cima do tecido, enquanto sua boca não solta a
minha.
Eu gemo pelo aperto que ele dá e abro bem as pernas sobre a moto,
recebendo Augusto entre elas, sentindo toda a sua ereção.
— Quer que eu te coma aqui, Bárbara? — murmura, a voz rouca de
tesão. — Na minha moto? Correndo o risco de alguém nos ver?
Sua sugestão só me faz gemer mais tamanha é a minha adrenalina.
Um fogo se apodera do meu corpo e eu ergo a barra da minha
camiseta, colocando-a acima do sutiã e brincando com os dedos sobre os
seios.
— Quero que você me coma bem gostoso, delegado.
Puxo o sutiã para baixo com força e meus peitos pulam, vendo o
safado me olhar ensandecido.
— Caralho de mulher gostosa — rosna, antes de me atacar.
Eu solto um gemido mais alto ao sentir a língua quente de Augusto
nos mamilos, alternando de um a outro, chupando, lambendo e sugando o
biquinho.
— Ai, Augusto — choramingo e ele não para, mamando com tanto
gosto que só me deixa ainda mais louca de tesão.
Ainda mais molhada por ele.
Se é que é possível.
Enquanto me chupa, desço a mão até o zíper da minha calça e o
abro, descendo a peça com dificuldade pelo corpo. Augusto se afasta para
me ajudar e logo a peça jeans está largada ao chão.
Meu delegado me olha com desejo e luxúria enquanto estou apenas
de calcinha em sua BMW, a camiseta erguida e os seios à mostra.
— Deliciosa — murmura e eu o puxo pelo cós da calça. — Está
louca para me dar essa boceta, Bárbara?
— Ai, Augusto… Eu vou ficar maluca se você não me comer agora.
Ajudo-o a abrir a calça e descer a cueca apenas o bastante para me
revelar aquele pau maravilhoso.
Augusto está tão excitado que consigo ver a cabecinha de seu pau
brilhando.
Quando ele me agarra pela cintura, apenas afasta a calcinha e me
penetra tão forte que nós dois gememos.
— Porra de boceta apertadinha — rosna enquanto me estoca
daquele jeito bruto, gostoso.
A moto balança pelo atrito de nosso corpo, mas sei que ela não vai
cair.
Eu me agarro ao estofado enquanto sinto Augusto me estocar com
rapidez, seu pau entrando e saindo de mim de um jeito tão gostoso que meu
corpo chega a estremecer de prazer.
— Ai, Augusto… — gemo ao senti-lo beliscar um mamilo.
— Não aguentou me esperar chegar em casa, não é, safada? —
murmura, tirando o pau inteiro de mim para meter de novo, de uma vez só,
indo até o fundo.
O movimento é tão certeiro que me arranca um gemido alto.
Se algum ser vivo estiver a um quilômetro de distância, é capaz de
nos ouvir.
— Seu pau é gostoso demais — murmuro entre gemidos e ele me
sorri daquele jeito safado.
— Ele é seu, Bárbara. Todinho seu.
E esse homem me falando uma coisa dessas sempre vai causar um
rebuliço em mim.
Desço o olhar até o ponto que nos une e acompanho o movimento
de seu membro entrando e saindo de dentro de mim.
Ora mais rápido.
Ora mais devagar.
É uma visão tão deliciosa que eu só sei gemer.
Aperto um seio meu, entregando-me a esse prazer delicioso, e só sei
sentir.
Essa potência de homem.
Me penetrando desse jeito.
Tão gostoso, tão intenso, tão meu…
— Que delícia, Augusto — murmuro, apertando ainda mais o seio,
e, pela onda de adrenalina que percorre o meu corpo, sei que não vou
demorar a sucumbir.
Qualquer pessoa poderia chegar aqui e me ver fodendo com
Augusto sobre a moto dele, sob o céu escurecido.
— Desse jeito, eu vou gozar… — choramingo, sentindo a primeira
onda de tremores me invadir.
Ele sorri orgulhoso e aumenta a pressão, me fodendo com muito
mais força agora. Seu pau entra tão forte, tão fundo, que a sensação que eu
tenho é de que vai me rasgar inteira.
E eu adoro isso.
Porra, é uma delícia.
— Já quer gozar, minha safada? — pergunta ao notar os sons
desconexos que eu emito.
É simplesmente delicioso.
Quando sua boca toma a minha em um beijo afoito, eu puxo
Augusto pelos cabelos e o trago para ainda mais perto de mim, fundindo-
nos ainda mais.
Ele mete de um jeito muito mais intenso agora, enquanto sua boca
não solta a minha.
E assim, com os corpos unidos de todas as formas, eu gozo.
Forte, intenso, daquele jeito que só ele é capaz de fazer comigo.
Sinto Augusto gozar na sequência, apertando-me forte ao se
derramar inteiro dentro de mim.
— Porra… — murmura ao se afastar, o corpo ainda trêmulo perto
do orgasmo. — Você me enlouquece, Bárbara.
Abro um sorriso malicioso.
— Que bom saber que estamos quites, delegado.
Ele ri baixo e acende o farol da moto, iluminando o ambiente ao
nosso redor.
Dou um salto da moto e pego a calça jeans de sua mão, que me
entrega ao recolher do chão.
Beijando a minha boca, Augusto ergue meu sutiã para cima e desce
a blusa, ajudando-me a vestir.
— Gostou da aventura? — provoco e ele ri, ao me ver vestir a calça.
— Só com você mesmo que eu faço umas loucuras assim…
Sorrio orgulhosa e me inclino para beijar a sua boca, daquele jeito
que eu amo.
— Um pouco de emoção faz parte da vida. Quando foi que você
pensou que ia me comer ao ar livre em cima da sua moto?
— Nunca — responde, rindo.
— E se arrepende?
— Só se você estiver ficando maluca.
Eu gargalho e pego o capacete de suas mãos.
— Agora vamos para casa, amor. E, durante todo o trajeto, lembre-
se de que estarei toda melada pela sua porra.
O rosnado de Augusto é delicioso e eu só rio mais.
— É, Bárbara… Você me aguarde quando chegarmos em casa.
Subo na garupa atrás dele e dou o sinal afirmativo para que possa ir.
— Vai fazer o que comigo? — provoco ao ouvir o ronco do motor
ecoar todo o ambiente.
— Vou te foder tanto, Bárbara, que vai ficar sem andar por dias.
A sua ameaça me traz uma onda de calor.
— Que delícia, Augusto — digo, logo que ele arranca o veículo.
Mal posso esperar por isso.
CAPÍTULO 34 - Augusto

— Já recebeu a confirmação do hotel? — pergunto a Murilo, que


está sentado à minha frente.
— Recebi. Em quinze dias eles estarão aqui em Curitiba —
responde e eu aceno.
— Certo. Então vamos preparar tudo para essa data.
Com todo o apoio da equipe, conseguimos preparar tudo para
abordar os dois políticos que vão se encontrar aqui em nossa jurisdição.
Além disso, recebemos a informação de que os bolivianos também estão
vindo. Só de pensar nisso, eu já sinto a adrenalina correr em meu sangue.
Vamos abordá-los ainda no aeroporto e desarmar esse esquema.
Eu estou vivendo pelo dia em que vamos pegar todos eles e saber
tudo o que têm a nos dizer.
— Vou fumar um cigarro — anuncio, indo até a janela da minha
sala.
O clima hoje está fresco, então nem mesmo precisei ligar o ar-
condicionado.
Enfio a mão no bolso, tirando um cigarro e um isqueiro. Acendo e
dou uma tragada forte. Encaro Murilo e ele apenas resmunga antes de se
levantar.
— Esse seu hábito ruim não acaba, não? — indaga e eu balanço a
cabeça.
— Eu só fumo quando preciso.
— É, mas nas últimas semanas você tem fumado quase todos os dias
— repreende e eu faço uma careta.
— Tem noção da dimensão do caso em que estamos trabalhando? —
indago antes de puxar e soltar a fumaça para o lado da janela.
Eu tenho ficado muito mais agitado do que de costume, pelo menos
aqui no trabalho. Em casa tenho Bárbara para me acalmar e distrair a minha
mente, mas aqui é ao cigarro mesmo que eu recorro nos momentos de
nervosismo.
— Eu vou te perdoar só por isso — Murilo responde e eu rio baixo.
— Mas, quando aqueles infelizes estiverem na cadeia, você vai desacelerar
esse ritmo, delegado. Isso é indiscutível.
Assinto, soltando a fumaça pela boca.
Sei que esse policial à minha frente é tão determinado quanto eu.
— Vamos falar de coisa boa agora. Como está Laura?
Semana passada o estuprador de merda foi preso. Conseguimos
mais denúncias de casos semelhantes ao da esposa de meu amigo e um
passo em falso do ordinário o colocou atrás das grades.
Quero ver quanto tempo ele vai durar lá dentro, já que está tendo
aquela recepção calorosa digna de um bom abusador.
Uma pena que não podemos cortar o pau dele fora, mas só de saber
que está tomando cabo de vassoura no cu todos os dias já me deixa feliz.
Esse filho da puta ainda vai se arrepender do dia em que nasceu.
— Bem melhor. Eu consegui ver o quanto ela está mais tranquila
por saber que o filho da puta está preso. Ela vivia com medo de sair na rua e
dar de cara com o sujeito.
— Porra, eu imagino…
— Ainda é um longo processo até que esteja curada, mas estamos
caminhando para isso.
— Vai dar tudo certo, Murilo. Ela tem o melhor ao lado dela.
Aperto seu ombro e ele me abre um sorriso grato.
— O jantar está de pé, viu? Logo que ela se sentir pronta, vamos
marcar esse momento.
— Já está combinado. Já avisei a Bárbara inclusive. — Aperto a
bituca do cigarro no cinzeiro enquanto solto a última fumaça do peito.
— E falando nela, quando pretende contar para a Gio?
— Logo que ela voltar — solto. — Não tem por que ficar adiando
algo sobre o que já estou decidido.
Eu só não contei ainda porque não é um assunto que possa ser
tocado pelo telefone. Mas, logo que minha filha pisar no solo paranaense, já
vai saber o que eu sinto por sua amiga.
Meu amigo solta um assobio e sorri de lado.
— Quem diria, hein? Delegado Ferraz se apaixonando de novo…
Quase na terceira idade — debocha.
— Terceira idade é o seu cu — devolvo e Murilo gargalha.
— Ainda me pergunto como você conseguiu conquistar uma mulher
tão doce, sendo tão rabugento. — Ele ri se divertindo à minha custa e eu
balanço a cabeça, sorrindo de lado.
— Isso, meu caro, eu nunca vou contar.
Pisco para ele, que gargalha mais.
Ele que não sabe que para aquela mulher eu faço de tudo, tudo
mesmo.
— Agora vá trabalhar, que temos muita coisa pela frente.
Quando fico sozinho, eu me jogo na cadeira e mergulho no trabalho
pelas próximas horas.
Dou o meu melhor, porque não quero que nada dê errado.
Um passo em falso e eu posso perder o maior caso da minha vida.

— Pronta? — Bato na porta do quarto de Bárbara antes de entrar.


Diante do espelho, está minha mulher terminando de se arrumar.
E, mesmo de costas, consigo ver o quanto ela está linda.
O vestido preto justo desce até a metade das coxas e o decote nas
costas é um verdadeiro convite.
Difícil vai ser conseguir me controlar e cumprir tudo o que planejei
hoje.
— Agora sim — diz ao terminar de passar o batom e se virar para
mim.
Aqueles lábios gostosos estão pintados em um tom de vermelho-
fogo e a deixam sexy pra caramba.
Porra, que mulher gostosa.
— Você está perfeita — digo, aproximando-me dela e enterrando o
nariz em seu pescoço. — Agora vamos logo, senão vou te atacar aqui
mesmo e não te deixar sair de casa.
— Não é bem uma má ideia, delegado.
Balanço a cabeça e me afasto dela, dando-lhe um selinho.
— Eu já te como nesta casa todos os dias, Bárbara — digo,
ajeitando a manga da camisa social. — Hoje merece que seja especial.
Pego a garota pela mão e a conduzo para fora de casa. Paramos
apenas para nos despedirmos de Pluto e eu abro a porta do SUV para
Bárbara entrar.
Ela sorri se aconchegando no carona e eu me coloco ao seu lado,
arrancando o veículo para sair da garagem.
— O que está tramando, Augusto? — pergunta e eu desvio os olhos
do trânsito para olhá-la de lado.
— Uma noite inesquecível — prometo e a vejo sorrir.
— Vindo de você, não imagino menos do que isso.
Balanço a cabeça sorrindo e volto a atenção ao trânsito. Enquanto
percorro as ruas da cidade, pouso a mão direita em sua coxa, fazendo uma
carícia lenta.
É a nossa última noite juntos antes do retorno de Giovana e eu
preparei algo lindo para nós dois. Quero que Bárbara saiba que falo a sério
quando digo que a quero em minha vida e que não vou desistir de nós dois.
Não sei qual será a reação de minha filha quando souber do nosso
relacionamento, mas sei que não vou descansar até que as coisas fiquem
bem entre nós. Eu não aceito nada diferente disso.
Não existe a ínfima possibilidade de viver em um mundo onde eu
não tenha essas duas mulheres na minha vida, por isso vou até o fim.
E quero que Bárbara saiba disso.
Quero tirar qualquer sombra de dúvida que tiver em seu coração.
— Não vai mesmo me falar para onde estamos indo? — pergunta ao
me ver pegar a rodovia para sair da capital paranaense.
— Confia em mim? — pergunto, apertando sua perna em minha
mão, e a sinto estremecer.
— Ainda me pergunta uma coisa dessas? — devolve e eu rio baixo.
— Aguenta só mais um pouquinho que você já vai saber.
A garota assente e se recosta na poltrona, olhando-me relaxada.
Se eu não tivesse que prestar atenção no trânsito noturno em uma
rodovia federal, ficaria apenas olhando para ela.
Seu sorriso doce, seu semblante sereno…
Essa mulher tranquila ao meu lado em nada se parece com a garota
assustada que eu recebi há alguns meses em minha casa.
Bárbara parece ter nascido de novo e eu só consigo ter orgulho dela.
A cada vitória sua, cada conquista, cada sorriso…
Meu peito se enche de orgulho dela.
E de amor.
Porra…
O tanto que eu amo essa mulher não está escrito.
E é por isso que a estou levando para longe da capital, para uma
noite muito marcante para nós dois.
Bárbara Deodato precisa saber o tamanho do meu amor por ela.
Cerca de uma hora e meia depois, estou adentrando uma
propriedade privada e, logo que Bárbara reconhece o local, seu sorriso se
amplia.
— Augusto… Isso… Isso é o mar? — indaga, maravilhada ao ver o
oceano ao nosso redor.
— Eu te disse que seria inesquecível, amor.
O gritinho de euforia dela me tira um largo sorriso.
Eu sabia que ela ia gostar.
Dirigir por mais de cem quilômetros depois de um dia puxado no
trabalho rumo à praia não foi nada.
O sorriso estampado em seus lábios faz tudo valer a pena.
CAPÍTULO 35 - Bárbara

Estou em completo êxtase ao descer do carro de Augusto e ver a


imagem linda que está ao nosso redor.
O mar quebra em ondas fortes sendo iluminado pela luz da lua.
É lindo…
Não acredito que ele dirigiu por tantas horas para me trazer até aqui.
Meus olhos marejam quando sinto a sua mão quente tocar as minhas
costas desnudas pelo decote do vestido.
— Isso… É tão lindo, Augusto — minha voz sai um sussurro e eu o
sinto beijar meu ombro com delicadeza.
— Vem, tem uma noite linda nos esperando.
Aceito sua mão e ele me conduz por um caminho de madeira até
chegarmos a um chalé também de madeira, à beira-mar.
Subo os degraus do deque e me debruço no parapeito, sentindo seu
corpo atrás de mim me envolver.
— É uma visão tão linda… Traz uma paz… — digo, voltando o
olhar à imensidão azul escura à nossa frente.
É incrível como o simples fato de encarar o mar traz um
relaxamento instantâneo, uma paz de espírito.
— Eu te trouxe aqui justamente por isso — a voz grossa quebra o
meu torpor e eu me viro para encará-lo.
Augusto me abraça pela cintura e encurta ainda mais a nossa
distância, ficando a milímetros de mim.
— Queria um momento a sós com você — diz e meu coração
instintivamente acelera por ele.
Sempre por ele.
— Longe de casa, da cidade, de tudo… Apenas eu e você.
Ainda estou emocionada quando abro um largo sorriso e ele retribui,
tocando o meu rosto com carinho.
— Aceita um vinho? — oferece e eu aceno.
— Claro.
Augusto me dá um selinho antes de me soltar e se afastar de mim,
indo para o interior do chalé. E aqui, parada, observo o quanto está lindo.
Vestindo uma calça jeans escura, sapatos nos pés e uma camisa preta
de botão dobrada até a altura dos cotovelos, ele está muito charmoso.
A barba bem-feita, os cabelos umedecidos e arrumados com gel…
O cheiro inconfundível.
Augusto Ferraz é tão lindo que chega a doer.
Quando ele volta com uma garrafa já aberta nas mãos e duas taças,
eu rapidamente pego a minha da mão dele, aceitando quando me serve de
vinho tinto.
A bebida tem um aroma delicioso e eu fecho os olhos para senti-la
antes de desfrutá-la, logo depois de um delicado brinde.
— Nossa… É perfeito — elogio e Augusto sorri de lado, acenando
antes de bebericar também.
— Tem um jantar nos esperando lá dentro. — Aponta para o chalé
atrás de nós dois. — Mas, antes, quero ficar um pouquinho com você aqui
fora…
Assinto e deposito a taça no parapeito, encostando-me novamente
para admirar o mar.
Ficamos por um momento em silêncio, apenas desfrutando dessa
vista incrível.
Eu, Augusto, um vinho e o mar.
Eu não preciso de mais nada.
Nada mesmo.
— Bárbara… — ele me chama depois de um tempo e eu apenas me
viro para encarar aqueles olhos azuis tão intensos. — Amanhã Giovana
volta para casa e a nossa rotina volta ao normal.
Eu apenas assinto, engolindo em seco.
Eu estou morrendo de saudades da minha amiga, mas estava tão
bom passar esses dias a sós com ele…
— E, como te falei, eu vou contar a ela sobre nós dois — diz me
encarando tão fundo que parece atravessar a minha alma. — Não me
importaria se você o fizesse, mas quero abrir o meu coração com a minha
filha.
Balanço a cabeça, sentindo o meu coração errar uma batida.
— E quero que você tenha a certeza de uma coisa — diz,
aproximando-se um pouco para tocar o meu queixo.
O roçar de seus dedos em minha pele me faz estremecer e eu fecho
os olhos por um segundo.
— Nada na minha vida é pela metade, Bárbara. E você não tem
apenas uma parte do meu coração, você o tem por inteiro.
Suas palavras são tão verdadeiras, que me arrancam uma lágrima.
Augusto apenas sorri ao secá-la com todo carinho.
Aquele carinho que é todo dele.
— Eu nunca me imaginei me apaixonando de novo a esta altura da
vida — diz e eu fico em silêncio, olhando em seus olhos, recebendo tudo o
que ele tem para mim. — Já tinha me conformado com a vida que eu
levava. Uma casa confortável, um emprego que eu amo e uma família.
Giovana é meu tudo e pensei que só ela fosse o suficiente para mim, até te
encontrar.
Meu coração bate tão forte no peito que acho que Augusto é capaz
de ouvi-lo por estar tão próximo a mim.
— Eu nunca fui um cara de muitas ambições. Não desejei muito
além do que eu tenho hoje. Minha meta de vida sempre foi dar o meu
melhor. No trabalho, no projeto social, com Giovana… Você não tem noção
do orgulho imenso que eu tenho por ver a minha filha se tornando uma
mulher tão incrível.
— Você fez um excelente trabalho, Augusto — elogio e ele me sorri
com gratidão. — Mesmo sozinho, nunca deixou que nada faltasse a Gio. E
não digo só de material, mas de amor, de carinho. Minha amiga sempre foi
grata por ter um pai como você. Ela é um ser humano ímpar e isso é fruto
de tudo o que você fez por ela.
Aquele sorriso orgulhoso de lado se abre.
Augusto não é só um bom delegado, um homem incrível, ele é um
pai excepcional.
E Giovana tem mesmo uma sorte absurda por tê-lo em sua vida.
— Minha meta de vida sempre foi dar o meu melhor por ela. E eu
sei que ela não estará comigo para sempre e nem quero isso. Giovana
merece voar com as próprias asas para onde bem quiser. Quero que ela
realize todos os seus sonhos e que seja feliz nesse processo. E isso me
bastava, até você entrar na minha vida.
Quando seus dedos tocam os meus lábios agora, eu estremeço,
entreabrindo-os devagar.
— Agora só isso não me basta — diz e meu coração dá um salto
aqui dentro. — Eu serei extremamente feliz por ver minha filha realizando
os sonhos dela, mas não é o bastante para mim. Eu também quero realizar
os meus. Quero realizar os seus.
A última palavra vem com tanta ênfase que se aloja em meu
coração.
— Ter você comigo me fez ter mais um propósito, Bárbara. Quero te
levar para viajar e conhecer o mundo ou apenas te trazer para a praia no
final de um dia — diz e meu sorriso se abre. — Quero construir uma vida
ao seu lado, construir a nossa família. Quero te dar filhos…
E essa afirmação me desarma.
Lágrimas descem desenfreadas em meu rosto e eu apenas balanço a
cabeça.
— Mas nós não… — ele nem me deixa terminar a frase e me cala,
colocando um dedo sobre meus lábios.
Não podemos ter filhos, ele sabe disso.
Mesmo que seja um sonho meu.
— Filhos nem sempre são biológicos, minha linda. Eles também
podem ser do coração.
Suas palavras me atingem tão forte que eu apenas o puxo para um
abraço apertado, depositando todo o meu amor.
Eu me estremeço em seus braços e sinto todo o seu calor me
envolver.
Ele…
Ele está mesmo vendo possibilidades de me dar tudo aquilo que eu
não posso ter.
Ah, Augusto…
O que eu faço com você?
— Eu te amo tanto — digo, afastando-me de seu contato e secando
as lágrimas que não param de descer. — Tanto, Augusto, que não cabe em
meu peito.
Pego sua mão e coloco sobre o meu coração, que bate em um ritmo
tão louco aqui dentro. Augusto sente e me abre um sorriso lindo.
— Às vezes eu sinto que ele vai explodir de tanto amor…
— Não vai, não — a voz firme é acompanhada de um sorriso
delicado. — Não posso viver em um mundo onde você não exista, Bárbara.
Nada de explodir o seu coração.
Solto uma risada baixa acompanhada de uma lágrima.
— O que eu faço com você? — Fungo baixinho e ele ri. — Eu
nunca pensei que um dia fosse encontrar alguém que me aceitasse como eu
sou — agora é a minha vez de abrir o coração para ele. — Com toda a
minha saúde delicada, com minha bagagem, com minha carga pesada…
Agora é ele que seca as minhas lágrimas em um gesto cheio de
carinho.
— Eu não tinha nada a te oferecer, Augusto, e ainda assim você me
quis. Você olhou para mim. — Um soluço me escapa agora. — Você me
enxergou. Você enxergou a mulher que eu sou por trás do diabetes, da
infertilidade, por trás da dor que eu carrego… Você olhou para mim,
Augusto.
— E encontrei a mulher mais doce e perfeita que eu já conheci — a
voz rouca perfura a minha alma.
— Eu não tinha o direito de te querer, mas mesmo assim eu quis —
confesso e ele estreita os olhos para mim. — Eu me entreguei a você,
Augusto, e em troca recebi o homem mais íntegro, leal e cuidadoso do
mundo. Você me acolheu, amor. Não só em sua casa, em sua vida, mas em
seu coração. Você abraçou a minha causa como sua. Cuidou de mim e me
permitiu que eu te cuidasse também. Porque você merece, Augusto. A vida
inteira se doou por todo mundo, chegou a hora de receber também. E eu
vou passar a vida toda te amando e retribuindo tudo o que faz por mim.
Os olhos do delegado brilham quando ele toca o meu queixo e me
puxa com uma delicadeza ímpar para o encontro de seus lábios.
E o beijo é tão puro, tão carregado de sentimentos que eu sinto todo
o seu amor adentrar meus poros.
— Eu quero uma vida inteira ao seu lado, Bárbara. Nunca duvide
disso — diz, ao se afastar. — Eu te trouxe aqui para ter essa certeza. Não
sei o que enfrentaremos pela frente, mas saiba que eu estou disposto a tudo
e que não vou desistir de nós dois.
Abro um sorriso e ergo a mão para tocar os seus cabelos, vendo-o
fechar os olhos por um instante.
— Tendo você comigo, Augusto, eu vou até o fim.
Ele sorri e me beija mais uma vez.
— Eu te amo — afirma, olhando no fundo dos meus olhos. — Amo
de uma forma que nunca imaginei que fosse possível.
Colo minha boca na sua mais uma vez e recebo todo o seu amor.
O calor deste contato, o roçar de nossa língua, a forma como nos
conectamos, como nos fundimos, nos diz mais do que qualquer palavra.
Augusto não precisa dizer que me ama, porque eu sinto.
Eu sinto em cada gesto seu, cada cuidado, cada beijo, cada toque…
Sinto todo o seu amor por mim em tudo o que ele faz e isso é muito
além do que eu sonhei.
Muito além do que imaginei para mim.
— Você me permitiu sonhar de novo — digo, ao nos separar. — Me
permitiu pensar em um futuro, Augusto.
— Meu futuro é com você — diz com todas as letras e me cala com
um beijo.
E aqui, não me restam mais dúvidas.
Não importa o que aconteça, Augusto sempre será meu.
— Já podemos jantar? — pergunta, ao se afastar.
Seus lábios grossos estão úmidos e inchados e me convidam para
mais um beijo, me convidam para me perder neles mais uma vez…
— Você precisa comer, amor — a voz carinhosa aquece o meu
peito. — Preciso cuidar de você para viver muitos anos comigo.
Os dedos roçam a minha pele e ele sorri com tanto amor que eu
retribuo.
— E eu vou — respondo firme. — Não vai mais se livrar de mim,
delegado.
— Que bom.
Ele dá uma piscada e me puxa pela mão.
Augusto me guia até a mesa de madeira delicadamente decorada
com velas e rosas vermelhas, de frente para o mar. Trazendo o jantar, vejo
que mais uma vez se preocupou com o cardápio me oferecendo exatamente
o que preciso comer.
Eu não preciso nem dizer o quanto me sinto tocada com a forma
como Augusto acolheu o diabetes, fazendo tudo se tornar mais leve para
mim. Sua preocupação, seu carinho são algo que sempre vai encher o meu
peito.
Quando acabamos, desfrutamos de uma sobremesa leve e a
paisagem ao nosso redor faz tudo se tornar ainda mais perfeito.
Augusto não poderia me dar uma noite melhor.
Ele tem toda razão, eu nunca vou me esquecer deste dia.
Ao finalizarmos, nos sentamos no deque, com os pés na areia para
bebermos mais um pouco de vinho.
— Não podemos dormir por aqui e acordar mais cedo amanhã para
trabalhar? — sugiro, não querendo ir embora deste lugar.
Pelo menos, não hoje.
— Mas quem disse vamos ir embora hoje? — Ele arqueia a
sobrancelha para mim. — Tomei a liberdade de mexer nas suas coisas e
trazer uma mochila com nossas roupas de trabalho.
Olho para ele e penso que esse homem realmente não existe.
Augusto pensa em tudo.
— Andou mexendo nas minhas coisas sem autorização do juiz,
delegado? Que coisa feia… — brinco e ele gargalha.
— Se eu te pedisse, ia estragar a surpresa. — Dá de ombros.
— Pegou até calcinha? — pergunto, abrindo um sorriso travesso, e
ele ri mais.
— Claro! Confesso que fiquei duro te imaginando usando aquelas
peças de renda, mas sobrevivi.
E então é a minha vez de gargalhar.
— Isso é por mexer nas minhas coisas, mocinho.
— Não estou perdoado? — indaga, lançando-me aquele olhar de
cachorro pidão.
Inclino-me e toco o seu rosto antes de beijar os lábios grossos que
eu amo.
— Isso é indiscutível, amor. Eu sempre vou te perdoar por fazer
algo por mim.
Ele me abre um sorriso e eu o impeço de falar mais alguma coisa,
colando meus lábios nos seus.
E o nosso beijo, que começa lento e sensual, vai se tornando mais
quente, mais sedento, mais cheio de desejo.
As mãos quentes de Augusto adentram a minha coxa, subindo
através do vestido, e eu o puxo pelos cabelos, trazendo-o cada vez para
mais perto de mim.
De repente, eu me esqueço de que estamos em uma praia privativa,
de frente para o mar.
Eu me esqueço que dia é, que horas são…
Só consigo pensar nele.
Em nós dois.
Em como meu corpo reage ao dele.
Em como o reconhece como sendo seu.
— Bárbara… — ele murmura ao se afastar e descer os lábios em
direção ao meu pescoço.
Eu solto um gemido ao senti-lo cravar os dentes nele, arrepiando-me
inteira.
Quero subir em seu colo, mas Augusto me impede, fazendo-me
estreitar os olhos para ele.
— Eu adoraria te foder diante do mar, safada — diz com os olhos
faiscantes. — Mas tenho planos melhores para nós dois…
Meus olhos brilham quando o vejo se colocar de pé e estender a mão
para mim. Aceito de bom grado e o acompanho para o interior do chalé.
Em silêncio, Augusto me guia até a suíte e, chegando nela, meu
queixo cai.
— Augusto…
Iluminado apenas pela luz amarela das velas, o quarto está
simplesmente lindo e todo decorado com rosas vermelhas, as mesmas que
adornaram o nosso jantar.
A enorme cama de casal está repleta de pétalas de rosa e algumas
estão salpicadas pelo chão.
Ele solta a minha mão e vai até a janela do quarto, abrindo-a e
revelando a imagem do mar ao nosso redor, iluminado pela lua.
— Ainda vamos ter a visão do mar, Bárbara… Mas hoje eu não vou
te foder.
Estreito os olhos para ele e olho para tudo ao nosso redor.
— Ah, não?
Augusto balança a cabeça em silêncio e vem até mim, tocando o
meu queixo e me fazendo olhar em seus olhos lindos.
— Hoje eu vou fazer amor com você — diz e eu me sinto inteira
arrepiar.
Fecho os olhos quando seus lábios percorrem o meu rosto, de uma
maneira tão sensual, que eu gemo baixo.
Sinto-o rir em minha pele por constatar o que ele já sabe:
Não importa a forma como me toque, eu sempre vou estremecer por
ele.
Augusto se afasta e seus olhos estão fixos aos meus. Enquanto não
diz nada, apenas desce as mãos pelo meu corpo e alcança o zíper lateral do
vestido.
Com maestria, meu delegado desliza a peça pelo meu corpo e me
deixa à sua frente, parcialmente nua.
— Tão linda… — murmura antes de segurar o meu rosto em suas
mãos e me beijar daquele jeito que me deixa de pernas bambas.
Sua língua toma a minha em um beijo tão quente, tão gostoso que eu
gemo baixo ao senti-lo.
Augusto ainda não fez nada e eu sinto meu corpo inteiro pegar fogo
por ele.
Pronto por ele.
Ansioso por tudo o que ele estiver disposto a me dar.
E, mesmo que eu esteja louca de tesão, não apresso nada.
Eu permito que Augusto me saboreie, desfrute de mim, faça tudo o
que quiser comigo.
Porque sou toda dele.
Toda, indiscutivelmente.
Completamente dele.
De corpo, alma e coração.
Quando sua boca abandona a minha, sinto-o percorrer o caminho
com os lábios e ir em direção ao meu ouvido.
— Hoje eu vou desfrutar de você, Bárbara… Saborear cada
cantinho, cada pedacinho seu… — a voz grossa é tão sexy e carregada de
desejo, que me faz arfar.
— Eu sou toda sua…
Ele se afasta para me conduzir até a cama e, quando me deito, vejo-
o começar a se despir para mim.
Lentamente, Augusto se livra de todas as peças e fica apenas de
cueca boxer antes de avançar sobre mim, seu corpo quente se colando ao
meu.
Mais uma vez, seus lábios tomam os meus e eu fecho os olhos,
permitindo-me sentir.
Permito que sua boca explore a minha, que seu calor encontre o
meu, que seu amor me preencha…
Quando minhas mãos são erguidas acima da cabeça, eu sinto seus
dedos se entrelaçarem aos meus em um gesto silencioso de união.
Ainda me beijando, Augusto aperta a minha mão e funde seu corpo
ao meu me envolvendo em uma dança lenta e gostosa. Sinto a sua ereção
esfregar a minha virilha e isso me faz gemer em sua boca.
Seu corpo parece buscar pelo meu, assim como o meu clama pelo
dele e Augusto também sente isso.
Ele ainda me beija quando solta uma de nossas mãos e desce pelo
meu corpo, percorrendo a minha pele com uma delicadeza sem igual.
Eu, que sempre conheci o lado bruto de Augusto, me pego ainda
mais apaixonada por esse romântico e gentil.
E de fato consigo sentir o que ele disse.
Hoje não é só sexo.
Estamos fazendo amor, da forma mais linda e plena que existe.
Quando sinto uma textura leve em minha pele, eu abro os olhos para
ver Augusto deslizar uma pétala de rosa por todo o meu corpo.
E esse gesto sensual chega a ser absurdo de tão gostoso.
— O cheiro da rosa — fala, percorrendo a pétala sobre o meu
mamilo agora. — Em seu corpo… — Augusto roça ali devagar e eu gemo
baixo. — É simplesmente delicioso.
O delegado inclina o corpo e inspira o meu aroma, fechando os
olhos devagar e causando um arrepio em minha pele.
— Perfeita…
Soltando minha mão, Augusto desce pelo meu corpo, me adorando,
me venerando, deslizando pétalas de rosa por toda a minha pele.
Seu movimento é tão calculado, tão delicado que eu só consigo
sentir todo seu amor por mim.
— Você é perfeita, Bárbara… — murmura, beijando o meu
abdômen e descendo os lábios por toda a minha carne. — Não faz ideia do
quanto eu te amo.
Entre beijos, carícias e pétalas de rosa, Augusto desce pelo meu
corpo e desfruta de mim.
Ele me venera.
Quando chega à altura da calcinha, eu ergo o quadril para ajudá-lo a
se livrar da peça e logo estou completamente despida para ele.
Não só de corpo, como também de alma.
Ele sorri diante de sua visão e se inclina para inspirar o meu aroma,
correndo as pétalas pela minha virilha, fazendo-me arfar.
— Augusto… — gemo e ele sorri, sem pressa.
Quero que ele avance, que me tome, mas não peço.
Estou adorando o que tem para mim hoje.
Beijando-me e tocando em um carinho inexplicável, Augusto se
livra da cueca e se inclina de novo sobre mim, finalmente nos tornando um
só.
Um gemido alto brota da minha garganta quando ele começa a me
estocar devagar, entrando e saindo de mim de um jeito absurdo de tão
gostoso.
Eu amo quando ele me come com força, com urgência, mas hoje…
Ter este homem fazendo amor comigo desse jeito é a minha ruína.
Quando se inclina para beijar a minha boca, eu aproveito para
abraçá-lo e envolver o seu pescoço.
— Eu amo você… — murmuro em seus lábios e ele sorri de lado
antes de me tomar de novo para si.
Com sua boca na minha, as mãos em minha cintura, estocando de
um jeito lento e gostoso, eu cruzo as pernas ao redor de sua cintura,
fundindo-nos ainda mais.
— Augusto… — murmuro quando ele se afasta e continuo
acariciando seus cabelos.
— Eu amo tanto você — diz, olhando em meus olhos quando suas
estocadas se aceleram um pouco mais.
E o atrito de seu corpo contra o meu.
A forma como ele desliza dentro de mim.
E como meu corpo reage ao seu, acolhendo-o, recebendo-o, me faz
gemer mais.
Uma satisfação genuína toma conta de mim e arrepia o meu corpo
inteiro.
Sentir Augusto dentro de mim, fazendo-me dele, enquanto seus
olhos me encaram cheios de amor, é surreal para mim.
É um encontro de almas.
Toco seu rosto e sinto uma lágrima me escorrer.
Augusto sorri por entender o motivo.
Ele sabe.
Porque sente exatamente o mesmo que eu.
— Eu te amo, Bárbara…
Mergulhada em seus olhos, inebriada de prazer, eu permito que
Augusto me faça sua, me tome para si.
Sem pressa, sem desespero…
Permito que me desfrute.
Quando suas estocadas se aceleram um pouco mais e eu sinto a
primeira onda de tremores me invadir, toco o seu rosto e o beijo mais uma
vez.
— Eu te amo, Augusto — murmuro antes de sentir o ápice me
invadir.
Meu corpo inteiro se estremece em um orgasmo intenso e logo ele
me acompanha, gemendo ao se derramar dentro de mim.
— Porra, Bárbara… — murmura, trêmulo, rouco, inebriado. —
Como eu amo você.
Quando o corpo de Augusto desaba sobre o meu, eu o abraço.
Envolvo-o com o meu calor e sinto mais uma lágrima me escorrer.
Eu que nunca me imaginei digna de ser amada assim.
Eu que pensei que não fosse merecedora de tanto amor.
Encontro-me em completo êxtase…
Sinto-me completa, me sinto inteira.
Sinto-me amada.
Pela melhor pessoa deste mundo.
CAPÍTULO 36 - Augusto

Parado no portão de desembarque, de braços cruzados, procuro


minha filha pela fileira de pessoas que saem dos voos, carregando suas
bagagens.
Noto alguns olhares furtivos em minha direção, mas mantenho a
indiferença. Já estou acostumado a receber esses olhares quando estou
vestido a trabalho, principalmente em aeroportos. As pessoas sempre
esperam o pior quando veem um funcionário da Polícia Federal.
Mas hoje não estou aqui para isso.
Avisto os cabelos castanhos esvoaçantes e automaticamente meu
sorriso se abre.
Vestindo jeans, camiseta preta e tênis nos pés, está o meu coração
que bate fora do peito, vindo em minha direção.
Aceno para ela logo que me vê no corredor e Giovana encurta a
nossa distância, correndo até mim.
— Pai!
Alcanço minha filha em meus braços e a tomo em um abraço
apertado, sentindo seu perfume gostoso.
— Oi, girassol — murmuro, afagando seus cabelos e depositando
um beijo ali. — Senti saudade.
E isso não é mesmo mentira.
Não é a primeira vez que minha filha viaja, mas sempre fico com
saudades dela.
— Eu também, pai. Como foram as coisas por aqui?
Afasto-me e pego a mala de sua mão para deslizar pelo aeroporto,
em direção ao estacionamento.
— Tudo tranquilo, Gio. Trabalhando pra caramba naquele caso
novo.
— Jura? Teve evolução então?
Assinto e olho para ela, que sabe que não posso dar maiores detalhes
em local público.
— E a Babi? Como está? Não teve nenhuma alteração de glicemia
esses dias?
Sua preocupação é genuína e eu sinto meu peito se apertar.
Realmente espero que ela aceite bem o nosso relacionamento,
porque não quero nenhum mal-estar com minha filha.
— Teve só um episódio de hipoglicemia essa semana, mas foi fácil
de corrigir. Já estou aprendendo a ajudá-la nessas situações.
Poupo maiores detalhes, principalmente porque estávamos nos
pegando quando isso aconteceu. Eu tomei um susto do caralho ao vê-la
amolecendo em meus braços, mas, com sua instrução, busquei uma lata de
Coca-Cola na geladeira e lhe dei. Em poucos minutos, a glicemia foi se
estabilizando e ela ficou bem de novo.
É incrível como tenho aprendido muito com Bárbara e, a cada dia,
fico ainda mais atento a ela. Aos seus sintomas, aos comportamentos. Estou
sempre em alerta para ajudá-la quando as coisas saírem do controle.
— Que bom que ela tinha você, pai — diz e eu sinto meu peito se
apertar. — Fiquei preocupada desde que a Bárbara ficou sozinha em casa,
sem a mãe. Sabendo que está conosco, eu fico bem mais tranquila.
— Nem consigo imaginar algo pior acontecendo quando não
estivermos por perto para ajudá-la…
Um arrepio percorre a minha espinha só de pensar nisso.
Não consigo estar com ela vinte e quatro horas por dia, monitorando
a sua glicemia, mas, quando estamos em casa, estou sempre atento.
Todas as noites passo em seu quarto de madrugada para saber como
ela está. Nesses últimos dias sozinhos em casa, quando dormimos juntos,
foi mais fácil zelar pelo seu bem-estar. Mas, quando Giovana está em casa e
fica em seu quarto, eu sempre acordo no meio da noite para saber se está
tudo bem.
Em algumas vezes, confiro sua glicemia para ela. Bárbara me deu
liberdade para perfurar seu dedo sempre que eu julgar necessário. E eu o
faço, com todo cuidado para não a acordar. Na maioria das vezes está
dentro do normal, mas, quando vejo alguma alteração, acordo-a para comer
um doce ou tomar mais uma dose de insulina.
E saber que está debaixo do meu teto, permitindo-me cuidar dela,
me faz um bem enorme. Não quero nunca que Bárbara saia dali.
Já no estacionamento, abro a porta traseira da viatura e acomodo a
mala de minha filha ali.
— Escapando em horário de trabalho, delegado? — Giovana brinca
e eu caio na risada ao entrar no carro da Polícia Federal ao seu lado.
— Eu fui trabalhar de moto mesmo — explico, logo que arranco o
veículo. — Como hoje o dia está tranquilo, peguei uma viatura no pátio e
vim te buscar. Vou só te deixar em casa e volto para a delegacia.
— Qualquer pessoa teria medo de receber carona em uma viatura —
ela fala, divertida. — Mas não a filha do delegado mais foda da PF de
Curitiba.
Sorrio de lado e vejo o quanto senti falta da sua presença nesses
dias.
— E o Congresso, como foi? Algum detalhe que esqueceu de me
passar por telefone?
Embora ela estivesse fora, conversamos todos os dias por telefone
para saber das novidades. E, mesmo que mantivéssemos contato, as
ligações não eram muito longas, pois minha filha chegava exausta ao hotel
no fim do dia.
— Nossa, pai. Foi ótimo! A cada dia só tenho certeza do que quero.
Eu vou mesmo ser uma juíza.
— Claro que vai. A melhor de todas, inclusive.
Olho-a de lado e vejo seu sorriso se ampliar.
Pelos próximos minutos, Giovana conta empolgada sobre as
palestras a que assistiu, os grandes nomes do Direito que conheceu, e os
shows ao final. Vê-la tão feliz faz um bem absurdo ao meu coração.
Essa garota é a minha vida.
Ainda nem acredito que aquele pacotinho que eu peguei nos braços
pela primeira vez se tornou esse mulherão.
Giovana Ferraz só me dá orgulho.
Quando estamos quase chegando em casa, o silêncio nos abraça e eu
sinto o meu coração se acelerar aqui dentro.
Sei que tenho alguns minutos antes de voltar ao trabalho e pedi a
Murilo que me ligasse em caso de alguma emergência.
Como Bárbara só chega no fim do dia, eu tenho um tempo sozinho
com minha filha e quero aproveitar para tocar nesse assunto.
Não quero adiar mais, não existe motivo para que eu faça isso.
— Gio… — chamo e seu olhar se volta para mim. — Tem uma
coisa que eu preciso te contar.
Esfrego a mão pela barba ansioso e sei que, se eu não estivesse
dirigindo agora, certamente acenderia um cigarro.
— Claro, pai. Pode falar — sua voz tranquila me encoraja.
Balanço a cabeça e respiro fundo, soltando o ar dos pulmões.
— Filha, eu me… — começo a falar e sinto o meu celular vibrar
dentro do bolso. — Só um instante.
Pego o telefone e o nome de Murilo surgindo na tela me traz um
sinal de alerta.
— Fala, Murilo.
— Delegado, mudança de planos. Descobrimos que nossos políticos
estão chegando hoje a Curitiba.
— Hoje? — pergunto, com o coração acelerado.
— Parece que a data marcada era só para nos despistar.
Descobrimos um jatinho particular chegando hoje ao aeroporto e as
informações batem.
— Puta que pariu. Vou só deixar Giovana em casa e estou indo para
aí. Chama a equipe que está trabalhando no caso. Quero todos na sala de
operações quando eu chegar.
— Considere feito, delegado.
Desligo o telefone e esfrego a mão na barba, ainda mais agitado.
— Aconteceu alguma coisa, pai? — Gio pergunta e eu aceno.
— A operação que estávamos montando para o fim do mês, pelo
visto, vai acontecer hoje.
— Nossa, sério?
Balanço a cabeça, dirigindo muito mais rápido agora.
— Vou só te deixar em casa e volto para a delegacia. Depois
continuamos nosso assunto, ok?
— Claro, pai. Sem problemas.
Sinto uma pontada no peito por ter que adiar esse assunto, mas não
dá para conversar assim de qualquer jeito. Tem algo maior acontecendo
agora e a resolução da minha vida amorosa pode esperar mais um dia.
Estaciono a viatura na porta de casa e ajudo Giovana a descer com
suas coisas. Pluto a recebe com euforia e deixo os dois entretidos ali para
sair.
— Não tenho hora para chegar em casa, ok? Avise a Bárbara sobre
isso.
Minha filha se levanta e vem em minha direção, para me dar um
abraço gostoso.
— Boa sorte, pai. Volte inteiro para mim, delegado — diz, como
todas as vezes que saio de casa para alguma operação policial.
— Pode deixar, girassol. Eu sempre volto para você.
Beijo sua testa e me despeço dela, saindo de casa e voltando para a
viatura.
Piso o pé no acelerador e, no caminho, lembro-me de mandar uma
mensagem de áudio para Bárbara.
— Amor, eu já deixei Giovana em casa e estou voltando para o
trabalho. Aquela operação adiantou e provavelmente vamos agir hoje
mesmo. Não tenho hora de chegar em casa, mas Gio estará com você. Pode
ficar tranquila, que vai ficar tudo bem.
Como é a primeira operação de que eu participo desde que estamos
juntos, não sei como ela vai reagir ao me ver por horas ou até dias fora de
casa. Mas, como Giovana já presenciou isso outras vezes e está
acostumada, sei que minha filha vai tranquilizar a amiga.
Estou chegando ao pátio quando abro o celular e vejo sua mensagem
de texto.
Bárbara: Boa sorte, meu amor. Vai dar tudo certo, porque você é o
melhor. Estarei em casa te esperando. Eu amo você.
Eu: Também te amo, Bá. Logo estarei de volta com vocês.
Jogo o celular no bolso e subo pelo prédio em direção à sala de
operações, vendo que já está ocupada com toda a nossa equipe. Meus
agentes, a Interpol, o superintendente e todos os reforços que acionamos
para esse caso.
— Boa tarde — cumprimento-os e sou respondido por todos. —
Qual é a do jatinho, Murilo?
Pelos próximos minutos, meu amigo apresenta as informações que
vieram do aeroporto. Dois jatinhos particulares, fretados sem identificação
dos passageiros, pousam em algumas horas na capital paranaense. A
localização de destino bate com o que estamos monitorando nos últimos
dias. Daqui, eles vão se encontrar e seguir para Foz do Iguaçu com o intuito
de receptar a carga vinda da fronteira.
— Se estão chegando aqui hoje de avião, é porque tem carga vindo
de caminhão — afirmo me lembrando da conversa que tiveram por
telefone.
— Mas eles devem ir para Foz só amanhã — Braga intervém.
— Duvido muito que vão chegar junto com eles. Vou ligar para o
delegado de Foz e avisar sobre isso. — Olho para o superintendente, que
acompanha todas as minhas instruções. — Bauer, preciso da liberação de
um helicóptero. Estou indo para Foz do Iguaçu.
O superintendente assente e segue pelo corredor para providenciar
em caráter de urgência.
— Murilo, você e Julia ficam — instruo e ele faz uma cara feia para
mim. Sei que quer ir junto comigo, mas preciso de alguém da minha
confiança para conduzir a equipe por aqui. — Quando aqueles figurões
pisarem no aeroporto, vocês já estarão esperando por eles.
— Certo, delegado — é Julia quem responde e Murilo confirma em
um aceno.
Passo as próximas instruções para toda a equipe e montamos juntos
um plano de ação rápido, porque não temos tempo a perder.
— Ferraz, helicóptero liberado — Bauer anuncia e eu sorrio de lado.
Chamo Felipe em um aceno e ele rapidamente entende, vindo até
mim.
Já entrei em contato com o delegado da fronteira e o deixei a par de
tudo. Sei que está montando tudo por lá para nos receber em algumas horas.
As fronteiras já estão sendo interceptadas, inclusive.
Mandei parar tudo, até bicicleta.
Não importa o que passe por aquelas rodovias, tudo será
investigado, absolutamente tudo.
Junto com a minha equipe, seguimos para o vestiário e começamos
a nos preparar para a operação. Visto o colete à prova de balas da PF e
recarrego a minha arma, conferindo tudo no coldre.
— Vai me mantendo informado de tudo por aqui, Murilo — aviso,
vendo meu amigo se preparar junto comigo.
— Pode deixar, delegado.
— Na minha ausência, é você quem conduz, ok? Está tão por dentro
deste caso quanto eu.
— Entendido.
— Certo. Vamos nos falando.
— Boa viagem, Augusto.
Aceno para ele e chamo Felipe, que me segue pelos corredores.
— Já andou de helicóptero antes, Braga? — pergunto ao rapaz.
Sei que é novo aqui na PF e, pelo menos em minha equipe, nunca
teve essa oportunidade.
— Não, senhor.
— Então você vai adorar isso.
Seguimos até o heliponto, onde dois pilotos nos esperam ao lado do
helicóptero da Polícia Federal.
Mas, antes de subir na aeronave, pego o celular e mando uma
mensagem para Giovana e Bárbara. Aviso a elas que estou indo para Foz do
Iguaçu e que meu retorno para casa pode demorar um pouco mais. Depois
de me certificar de que receberam a mensagem, subo no helicóptero e, após
todos os procedimentos de segurança, começamos a sobrevoar a pista.
Meu coração se acelera pela adrenalina do que está por vir e mais
uma vez aquela vontade de fumar me toma, chegando a ser quase sufocante.
Enquanto estou voando, desprendo o colete para aliviar um pouco a
falta de ar e me ajudar a respirar melhor, enquanto fecho os olhos.
Tento organizar os pensamentos, manter a mente focada e faço um
exercício de respiração para tentar acalmar meu corpo de todo esse
turbilhão.
Felipe permanece ao meu lado e encarando tudo ao redor, vejo o
quanto está empolgado por viajar assim pela primeira vez. Percebo que
comenta algumas coisas comigo, mas não lhe dou muita atenção. Estou
tentando controlar a ansiedade que se forma aqui dentro.
Cerca de duas horas e meia depois, estamos aterrissando no
heliponto de Foz do Iguaçu, sendo recebidos pela equipe da cidade.
Antes de seguir ao encontro do delegado, pego o celular no bolso e
leio a mensagem das meninas me desejando boa sorte. Respondo a elas
avisando que cheguei bem e que não devo mexer no celular pelas próximas
horas.
Giovana já está acostumada e sabe que, se algo acontecer comigo,
ela será a primeira a receber a notícia. No mais, estarei em trabalho, ainda
que suma por muito tempo.
Encontro o delegado Matias, responsável pela DRE de Foz, e recebo
a atualização do bloqueio nas rodovias. Tiro um cigarro do bolso e acendo,
trazendo um alívio imenso para o meu corpo enquanto ouço tudo o que ele
tem a nos dizer. Sou apresentado a sua equipe e ligo para Murilo a fim de
ter atualizações de Curitiba. Pelo radar, em menos de uma hora o primeiro
avião pousa e eles já estão todos a postos no aeroporto.
Estamos cercando de todos os lados, então vai dar certo.
Precisa dar certo.
Meu peito se aperta em expectativa e eu acendo mais um cigarro,
pouco me fodendo se vou consumir esse maço de uma só vez.
— A NEPOM já está monitorando todo o rio Paraná — Matias
explica, sobre o Departamento de Polícia Marítima.
Todos os transportes do estado do Paraná estão sendo monitorados
agora. Aéreos, terrestres e marítimos.
Nós vamos pegar esses caras e desarmar esse esquema
internacional.
— A PF do Paraguai e Argentina também foram acionadas? —
confiro me referindo aos outros países da Tríplice Fronteira.
— Todos a postos, Ferraz.
Assinto e esfrego a mão pela barba mais uma vez.
— Certo. Vamos pegar esses filhos da puta.
Passo as próximas horas pulando de um canto a outro, inquieto, com
Braga em meu encalço. Já visitei vários pontos da PF, bloqueios, pontes e
agora seguimos para a equipe instalada às beiras do rio Paraná.
Eu não fico um minuto parado e já devo ter fumado mais cigarros do
que sou capaz de contar nessas últimas horas.
Toda a PF acionada e trabalhando em prol desse caso, com todos os
recursos tecnológicos que temos e os cães treinados fazendo seu trabalho de
farejar os caminhões que são parados pela rodovia.
É noite e em Curitiba já pegaram dois políticos envolvidos. Estão
monitorando o segundo jatinho, que está prestes a chegar, para confrontá-
los. Os homens ainda não falaram nada e sei que é questão de tempo até
finalmente soltarem tudo. Principalmente quando conseguirmos interceptar
a carga. Aí sim, teremos muito a arrancar deles.
— Boa noite — identifico-me para o chefe da NEPOM logo que
chegamos ao ponto à beira do rio. — Sou o delegado Ferraz e esse é o
agente Braga.
Nos apresentamos e recebemos atualizações detalhadas do que
acontece por aqui. Tudo está sendo monitorado e ainda não temos
movimentação suspeita pelas margens do rio.
Porra, eu vou ficar maluco.
Agradeço e tiro o cigarro do bolso, afastando-me um pouco para
fumar. Estou à beira do rio e nem toda essa proximidade com a natureza me
faz acalmar.
Eu só vou ficar tranquilo mesmo quando tudo estiver solucionado.
Logo que acendo o cigarro, dou uma puxada forte e fecho os olhos
ao soltar a fumaça.
Aquela sensação de alívio momentâneo me toma e, mesmo que não
seja definitivo, basta para que eu acalme os ânimos por alguns minutos.
Estou atento a todas as movimentações pelo rádio e sigo me
afastando cada vez mais do posto da NEPOM, olhando para a imensidão
das águas à minha frente.
Estou acabando um cigarro e, quando atiro a bituca ao chão, ouço o
som de passos vindo em minha direção.
Coloco a mão na cintura e me viro, ficando em estado de alerta,
quando a imagem de Braga me faz relaxar.
— Porra, que susto.
Volto a me virar para o rio, mas Felipe não diz nada e a sua
movimentação estranha me faz encará-lo de novo.
— Mas que…
Um tiro acerta a minha coxa e eu caio ao chão, sentindo uma dor
absurda na perna.
— Que porra é essa? — tento encontrar as palavras, urrando de dor.
A minha visão nubla e eu toco a cintura com as mãos trêmulas, mas
ele é mais rápido do que eu e arranca a minha arma, atirando ao rio.
Toco a perna tentando estancar o sangramento, mas só dói ainda
mais.
Porra…
Faço uma careta de dor e o vejo rir da minha situação.
Olho para o garoto cujo mentor fui eu e uma confusão me toma.
— Está surpreso, delegado? — Felipe debocha e mantém a arma
erguida em minha direção.
Penso em todas as minhas opções, mas constato que não estou em
muita vantagem por aqui.
Esse filho da puta pode acabar de fazer o serviço e me atirar ao rio,
que ninguém me encontraria.
Porra.
Eu não posso acabar assim.
— Vamos voltar no tempo, Ferraz? — diz e eu volto o olhar para
ele. Ainda que esteja em uma confusão mental, eu me forço a prestar
atenção no que diz e tento ser alheio à minha dor. — Quatorze anos atrás,
quando sua esposa foi morta no atentado à escola.
E ouvi-lo falar de Helena traz um gosto amargo a minha garganta.
— Sabe que ela morreu por sua culpa, não é?
Suas palavras estapeiam a minha face e eu luto para não demonstrar
nenhuma reação.
Ainda que eu esteja caído ao chão e com a perna ensanguentada, não
vou dar esse gostinho ao filho da puta.
— Você se lembra do recadinho que aquela mulher deixou para
você, delegado?
Como se eu fosse me esquecer disso.
Sou assombrado por esse fantasma há quatorze anos.
Quando uma mulher desequilibrada invadiu a sala de aula de Helena
com uma arma na mão, não era um atentado aleatório.
Era um recado para mim.
Uma vingança pessoal.
E uma pessoa inocente morreu por causa disso.
Não há um mísero dia em que eu não me culpe pela morte de
Helena.
“Avise ao agente Ferraz que estou fazendo-o sentir a mesma dor que
eu senti.” Foi o recado deixado a uma professora refém antes de atirar em
minha esposa e cometer suicídio.
Ninguém soube disso, não foi divulgado na mídia e eu consegui
controlar tudo para que não chegasse aos ouvidos da minha filha.
Esse assunto tinha sido esquecido.
Até agora.
— Como você sabe disso? — pergunto, tentando forçar a mente.
Braga deveria ser uma criança quando tudo aconteceu.
A sua risada é amarga e eu aperto a coxa mais uma vez, tentando
aliviar a dor, mas é inútil.
Porra, isso dói pra caralho.
— Aquela mulher foi vingar a morte do marido, delegado. Um cara
que morreu nas suas mãos.
— Não vou me arrepender de ter atirado em um bandido — falo
entredentes.
Eu jamais vou me esquecer desse caso.
Era um esquema grande que investigávamos na época, de tráfico de
drogas internacional, e eu era apenas um agente. Estava empolgado com o
primeiro caso importante que eu trabalhava e na operação acabou rolando
uma troca de tiros. Eu atirei no líder do esquema para salvar a vida de um
companheiro de trabalho e isso é algo de que jamais vou me arrepender.
— Aquele bandido, Ferraz, era o meu pai! — Felipe solta e eu
arregalo os olhos para ele.
— Inácio Lima não tinha filhos… — revelo e ele ri amargo.
Pouco depois de sua morte, a sua viúva ficou maluca e acabou
invadindo a escola de Helena por vingança, suicidando em seguida.
Procuramos por uma possível família deles, mas encontramos apenas
parentes distantes.
Sem filhos, sem herdeiros.
Ainda que não tivesse um familiar direto, tomei todas as medidas
para proteger Giovana de um possível atentado. Mas, por sorte, nunca mais
tive notícias de nenhum Lima.
Bom, até agora.
— Eu fui adotado por eles — explica e eu pisco os olhos tentando
entender essa merda. — Não legalmente, mas eram eles que cuidavam de
mim, eram os meus pais. Você tirou tudo de mim, Ferraz. Depois que meus
pais morreram, eu fiquei na merda. Fui parar em orfanatos, sendo tratado
como um lixo.
— Sinto muito, mas não é minha culpa.
E de fato não é. As pessoas entram na vida do crime por pura opção
e a minha missão é apenas acabar com isso.
Ele solta uma risada ainda mais amarga. Seu semblante é revoltado e
ele não abaixa a arma em minha direção.
— O caralho que não é! Você fodeu com a minha vida, delegado! Eu
fiquei na merda. Só estudei para esse concurso feito um louco porque queria
uma oportunidade de ficar perto de você. E acabar com você eu mesmo…
Por todos esses anos de polícia, procurei a oportunidade perfeita e olha o
que você me deu de presente hoje. Uma viagem para Foz do Iguaçu.
Sozinho com você.
Engulo em seco e sinto o meu corpo estremecer.
Já estou tremendo, sentindo-me fraco por estar perdendo sangue,
mas não me deixo abater.
Eu posso morrer agora, mas não vou fraquejar perante esse covarde.
— Quer me matar, Braga? Vá em frente! Mas isso não vai mudar o
que aconteceu. Seu pai atentou contra a vida de um policial, e você sabe
que eu nunca vou escolher a vida de um bandido em vez de um agente da
lei.
Um tiro acerta o meu ombro e eu grito de dor, caindo deitado.
Porra, sinto meu corpo todo tremer e suar de tanta dor. Eu tento me
erguer, mas não consigo. A dor é tamanha que me paralisa, me imobiliza
aqui.
Caralho…
— Você fodeu com a minha vida, delegado — a sua voz é
desesperada quando ele se aproxima e mira a arma no topo da minha
cabeça.
O semblante transtornado, as mãos trêmulas, eu nunca o vi dessa
forma antes. O garoto está completamente fora de si.
— Vou foder com a sua também.
O som do estrondo do tiro me faz fechar os olhos por um instante e
tudo que eu consigo ver é seu corpo cair contra o meu.
Mas que…
— Delegado? O senhor está bem?
Ouço uma voz surgir e apenas balanço a cabeça, sem conseguir
reagir.
Porra…
O corpo de Felipe é tirado de cima do meu e a imagem de outros
policiais me surge. São várias perguntas e eu mal consigo processar o som
de suas vozes.
Quando a adrenalina baixa e o alívio me toma, eu fecho os olhos…
Solto um suspiro e então tudo se apaga.
CAPÍTULO 37 - Bárbara

— É normal demorar a ter notícias do seu pai assim? — pergunto a


Gio, tentando parecer despreocupada.
Mas a verdade é que eu estou apreensiva desde que recebi a
mensagem de Augusto mais cedo, avisando de sua viagem repentina para
Foz do Iguaçu. Já é tarde da noite e nós não tivemos mais notícias dele.
Recebemos uma mensagem sua informando que está tudo bem, mas isso já
faz horas.
— É, sim. Geralmente ele fica muito envolvido no trabalho e não
pega no celular. Mas não se preocupe, amiga, se ninguém me ligou ainda é
porque está tudo bem.
Balanço a cabeça assentindo, agarrando-me a isso.
Sei que, se algo acontecer a Augusto, Giovana será a primeira a
saber, então me conforta por enquanto.
— Vou pegar uma água, você quer? — ofereço e ela nega.
Levanto-me do sofá e vou até a cozinha, aproveitando a brecha para
mandar uma mensagem de texto para ele.
Eu: Amor, está tudo bem aí? Sei que está ocupado trabalhando,
mas, se puder me mandar pelo menos um emoji, eu vou ficar muito
feliz. Eu te amo, tá? Não se esqueça disso. Volta para mim.
Envio a mensagem e vejo que não deu nem os dois tracinhos
acusando o recebimento. Pelo visto, ele deve estar em uma área sem sinal
de internet.
Solto um suspiro.
Preciso confiar que está tudo bem, caso contrário ficarei maluca.
Encho meu copo de água e bebo com calma até voltar ao encontro
de Giovana no sofá.
Estamos assistindo a um filme romântico na TV, mas sei que
nenhuma de nós duas está prestando atenção na tela.
Então estico a mão para fazer um afago em Pluto, que está muito
mais quieto que de costume. Pelo visto, ele também está preocupado com
seu dono.
Estou entretida com o cãozinho, quando o celular de Giovana toca e
meu coração dispara de imediato.
Minha amiga franze o cenho para a tela antes de atender à ligação.
— Murilo?
Ah, meu Deus.
O melhor amigo de Augusto e parceiro nessa operação ligando a
esta hora da noite não deve ser boa coisa.
— O quê? Como? Como ele está? — a voz preocupada de minha
amiga me faz levantar de pronto com o coração disparado no peito.
Olho para Giovana tentando entender o que aconteceu, mas ela
apenas balança a mão para que eu espere e coleta todas as informações de
que precisa.
Quando suas lágrimas descem, eu já fico ainda mais nervosa, à beira
de colapsar.
— Gio, ele está bem? O que aconteceu? — pergunto e ela apenas
balança a cabeça para mim.
Isso é um sim? É um não? É o quê?
Quando desliga o telefone, o pranto vem forte e meu coração aperta
tanto que chega a doer.
— Me fala, amiga… — peço, já chorando em desespero.
— Meu pai foi levado para o hospital de Foz do Iguaçu — diz e eu
sinto o chão girar.
Meu corpo inteiro treme quando ela dispara as informações para
mim, uma bofetada a cada palavra sua.
Augusto foi baleado. Parece que o tiro só atingiu o ombro e a perna,
mas ainda assim perdeu muito sangue. Ele foi socorrido e levado às pressas
para o hospital onde está em processo de cirurgia para retirada das balas.
Murilo está em contato constante com a equipe de Foz, mas tudo o que sabe
é que só depois que estiver estável é que será transferido para Curitiba.
Caio sentada no sofá e abraço meu corpo, desatando a chorar.
Aperto os olhos com força e faço uma prece a Deus para que cuide
do meu delegado, para que o proteja.
Ele não pode morrer, não pode.
Ele precisa ficar bem.
Ele precisa viver.
Meu corpo balança tanto, estou tão nervosa, que a minha cabeça dói.
— Gio… Ele vai ficar bem, não vai? — pergunto em um fio de voz.
Minha amiga parece estar um pouco mais calma do que eu, então se
senta ao meu lado e segura a minha mão.
— Você conhece o meu pai? Ele é o homem mais forte do mundo —
diz, mais para si mesma do que para mim. — Não é um tiro que vai parar
Augusto Ferraz.
Balanço a cabeça e penso no quanto ela está certa.
Meu delegado é a pessoa mais forte que já conheci e sei que ele vai
vencer. Eu sei que vai. Só de ter conseguido resistir e chegado a tempo de
ser socorrido, já vale tudo.
Força, amor, você consegue.
— E não há nada que possamos fazer? — pergunto e ela nega.
— Murilo me disse que ele está no bloco cirúrgico agora. Essas
cirurgias de retirada de bala costumam demorar, porque são bastante
delicadas. Mas eu vou esperar uns minutos e ligar para o hospital em busca
de mais notícias. Eles vão cansar de mim, mas eu vou ligar para lá de hora
em hora até ele ser transferido.
E nessas horas eu sinto um alívio por ter a Gio ao meu lado, sendo
sua filha. Porque duvido muito que dariam maiores informações para uma
namorada.
E, só de pensar nisso, sinto o meu peito se acelerar aqui dentro.
— Por que Foz é tão longe? — reclamo e ela franze o cenho para
mim.
— Nem me fale… Se fosse um pouco mais perto, eu te colocaria
naquele carro e te faria nos levar para lá. Mas, pela distância, é provável
que ele tenha sido transferido antes mesmo de chegarmos lá.
Balanço a cabeça rendida.
É tão ruim…
Eu me sinto tão impotente, tão…
Minha cabeça dói de novo e luto contra a vontade de chorar.
Não vou ter sossego até ter notícias de Augusto, até saber como ele
está, e que está fora de perigo.
Ele precisa voltar para casa.
Ele precisa voltar para mim.
— Vou ligar para o hospital — Gio anuncia, procurando pelo
telefone do estabelecimento no Google.
Depois de passar por várias atendentes e se identificar com todas
elas, finalmente consegue notícias da ala onde Augusto está.
— Ele ainda está em cirurgia — diz ao desligar. — Não conseguem
dar mais detalhes até que finalize, mas por enquanto ele está estável.
— Ai, graças a Deus.
Solto um suspiro de alívio.
— Parece que vai demorar mais umas duas horas — explica e eu
balanço a cabeça.
— Certo. Ele vai ficar bem.
— Claro que vai, eu não aceito que não fique!
E nessas horas eu vejo a vulnerabilidade de minha amiga. Ela tem se
mantido forte desde que recebeu a ligação, se mantido otimista, mas eu a
conheço muito bem para saber o que está sentindo.
Apenas abro os braços e recebo Giovana, que desaba em meu peito.
É o seu pai, sua única família e eu sei o que é perder tudo o que
temos. Sei o medo que ela está sentindo agora.
— Estou com tanto medo, Babi… — diz entre soluços e eu a aperto
contra mim, incapaz de segurar minhas lágrimas. — Meu pai não pode me
deixar, ele não pode…
E eu sinto uma falta de ar, uma dor tão forte que me sufoca.
— Ele não vai, Gio. Seu pai vai voltar para casa. Vai voltar pra
gente…
Digo isso incontáveis vezes em uma tentativa inútil de me acalmar.
Preciso que essas palavras adentrem o meu peito. Não consigo nem
pensar na possibilidade contrária.
Não posso existir em um mundo onde Augusto não faça parte dele.
Ficamos um longo momento assim, abraçadas, nos acolhendo,
tentando aliviar essa dor. Sei que só ficaremos tranquilas quando a cirurgia
acabar e soubermos que ele está bem e venceu essa batalha.
Minha cabeça ainda dói e sinto uma sede muito forte. O corpo
apresenta sinais de que está cansado e só então eu me lembro da minha
glicemia. Com toda essa adrenalina, acabei me esquecendo completamente
disso.
Afasto-me de Giovana e sigo até o meu quarto para pegar a minha
bolsinha de insumos. Meço a glicemia e solto um gemido ao constatar que
está em duzentos e oitenta e cinco.
Já não basta toda aflição por Augusto, ainda tenho que lidar com
uma hiperglicemia. Aplico uma dose de insulina e volto para a sala,
encontrando minha amiga me olhando um pouco mais calma.
— A glicemia subiu? — pergunta e eu assinto.
Ela sabe o quanto essas situações me desestabilizam.
— Já tomei uma dose de insulina — explico com a voz cansada e
me sento ao seu lado. — Vou monitorar e logo ela volta ao normal.
Giovana aquiesce sem muita convicção e aperta a minha mão.
— Quando seu pai estiver bem, eu sei que ela vai abaixar —
constato e ela balança a cabeça.
Olho para a minha amiga desolada e me sinto péssima por mentir
para ela. Por esconder algo tão importante que está acontecendo entre mim
e seu pai.
Sei que ele preferia ter contado, mas algo dentro de mim me pede
para fazê-lo antes que seja tarde demais.
Não sei o que nos espera, e o peso da omissão me assombra. Pesa
uma tonelada em meus ombros.
Aqui, sendo só nós duas, vivendo o mesmo temor, sinto vontade de
abrir meu coração para ela.
E que Augusto me perdoe por isso.
— Gio… — começo a falar e sinto minha boca secar.
Busco mais um copo de água e entrego um a ela, sentando-me ao
seu lado.
Sinto meu corpo pesar e a sonolência bater, mas luto contra isso.
Preciso me abrir para ela, preciso ser sincera com a minha melhor amiga.
— Eu sei que não é o melhor momento, mas… — começo e paro,
bebendo mais um pouco de água. — Eu preciso abrir o meu coração, Gio.
Eu preciso te contar que…
— Você se apaixonou pelo meu pai — solta e eu arregalo os olhos
para Gio.
Ela sabia?
Como…
Como assim?
O sorriso que minha amiga me abre não é acusatório, pelo contrário,
é cúmplice, é…
— Vocês escondem muito mal, sabia? — diz e eu pisco os olhos
perplexa.
— Como… Como você sabe disso? Ele te contou?
Giovana nega e me abre um sorriso divertido.
— Dá para ver nos olhos de vocês, Babi. Você e o meu pai se olham
como se fossem o mundo inteiro de cada um. É lindo de ver.
Eu ainda estou em absoluto choque com essa informação, quando
Gio pega a minha mão e aperta com carinho.
— Já faz um tempo que eu percebi isso e estava esperando pelo
momento em que iam me contar. Por acaso a minha viagem para o
Congresso foi o que fez vocês terem certeza do que querem? Porque meu
pai começou a me contar sobre isso no carro, logo que me buscou no
aeroporto e foi interrompido pela ligação do Murilo.
E isso faz o meu coração se apertar por um instante.
Ele estava mesmo disposto a contar a ela logo que chegou aqui.
Ah, Augusto…
— Eu não planejei nada disso, Gio. Quando cheguei à sua casa, tudo
o que eu queria era um teto para morar.
— Eu sei, amiga…
— Mas como resistir a ele? — Solto um suspiro e minha amiga
sorri. — Desde o primeiro dia, Augusto se preocupou comigo, cuidou de
mim… Ele se importou quando ninguém mais fez isso. Gio, ele revirou os
escombros da minha casa para me devolver lembranças da minha mãe!
Quem mais faz isso?
— Meu pai — responde, rindo baixo. — Eu não te culpo, ele é
mesmo incrível.
— Ele é… — Suspiro me lembrando de tudo o que eu já vivi com
Augusto. — E foi quando você viajou para a casa da sua avó que as coisas
rolaram entre nós dois…
Sinto meu rosto pegar fogo e baixo o olhar, constrangida. Minha
amiga não precisa de tantos detalhes sobre aquele final de semana
inesquecível.
— Augusto me tratou com tanto carinho, com tanto cuidado, que…
— Difícil não se apaixonar por ele, né? — constata e eu balanço a
cabeça concordando. — Eu sei. Soube que as coisas mudaram entre vocês
desde que eu voltei para casa naquele domingo. Meu pai tinha o semblante
mais leve, mais vivo. Eu não me lembro de quando o vi tão bem.
E essa informação aquece o meu peito.
Tira um mundo das minhas costas.
— Então você… Você não se importa? — pergunto com cuidado e
ela nega de pronto, fazendo-me respirar aliviada.
— Na verdade eu meio que torci para isso — diz, mordendo o lábio,
e eu estreito os olhos para ela.
— Como é?
Giovana solta uma risadinha e eu vejo o quanto nos fez bem a
decisão de abrir meu coração para ela. Ainda estamos preocupadas com
Augusto, mas, até que ele saia do bloco cirúrgico, estamos um pouco mais
leves.
— Aquele dia no bar onde eu te falei que queria alguém legal para
ele — comenta e eu puxo esse dia na memória. — Foi te falando sobre ele
que eu pensei que vocês poderiam dar certo. E então houve o churrasco no
dia seguinte e você o olhou com tanta admiração, que aquela faísca se
acendeu aqui dentro.
— Caramba, Gio… — solto e ela ri.
— Mas só me dei conta de que poderia ser algo concreto quando
você veio morar aqui. Meu pai te acolheu e se tornou todo protetor com
você, eu achei tão lindo… Ele tinha mais um propósito, sabe? Um que não
fosse eu.
Eu fico sem palavras e minha amiga sorri, apertando nossas mãos.
— Meu pai vivia sozinho, Bá. Sempre muito fechado e de poucos
sorrisos. É nítido o quanto ele mudou, o quanto está mais leve e feliz. Não
tem como eu não ficar bem por isso. Você fez o delegado Ferraz sorrir de
novo, amiga.
Um soluço me escapa e uma lágrima me escorre, quando sou
envolvida em seus braços, por todo seu amor.
— Desculpa ter te escondido, Gio. Estávamos apenas esperando ter
certeza para poder te contar.
— Imagina, amiga. Eu entendo — diz se afastando para secar
minhas lágrimas. — Não é como se eu não soubesse mesmo.
Ela solta uma risadinha e eu a acompanho.
— Quem diria, hein, dona Giovana? E nós bem achando que
estávamos te tapeando…
A sua gargalhada é mais alta agora, tanto que chama até atenção de
Pluto.
— Amiga, eu sou filha de um delegado federal e pretendo um dia
ser juíza! Acha mesmo que eu não ia perceber o clima de vocês dois
morando debaixo do mesmo teto que eu?
Faço uma careta para ela, que ri mais.
— Obrigada, Gio. Sua aprovação significa muito para mim. Não
tem ideia do quanto estou aliviada.
Ela sorri, acariciando-me a mão.
— Vocês são as pessoas que mais amo, Babi. E meu coração fica em
paz por saber que você tem meu pai para cuidar de você, assim como ele te
tem para cuidar dele. Vocês mereciam isso.
Não resisto a puxá-la em mais um abraço, sentindo meu coração
bater muito mais calmo no peito.
Agora só preciso receber a notícia da cirurgia de Augusto, para o
meu dia ficar mais feliz.
E quando ela vem, algumas horas depois, nos traz um alívio
tremendo.
Meu delegado venceu.
A cirurgia foi um sucesso e ele se manteve estável em todo o
processo. As balas não atingiram nenhum órgão vital e passaram de raspão
nos ossos, então foi fácil a remoção.
Como ele perdeu muito sangue, vai ficar em observação por mais
algumas horas até poder ser liberado.
Mas não corre mais nenhum perigo.
Ah, Augusto…
Eu morreria se você não voltasse para mim.
CAPÍTULO 38 - Augusto

Pisco os olhos devagar e vejo que estou em um enorme gramado,


cercado de inúmeros girassóis.
O sol está tímido, com seus raios iluminando tudo ao meu redor.
Não sei onde estou, nem como vim parar aqui, mas sou guiado pelo
perfume das flores.
Caminho devagar pelo campo, até ver uma imagem que faz meu
coração errar uma batida.
Usando um vestido branco e uma coroa de flores no cabelo, com
pequenos girassóis, está ninguém menos que a mãe de Giovana, a primeira
mulher que amei na vida.
— Helena? — chamo em um sussurro e ela se vira para me olhar.
Ela está tão bonita, e mais ainda, parece feliz…
Isso aquece o meu peito de maneira absurda.
— Oi, Augusto — a voz doce me faz fechar os olhos por um
instante.
Nossa…
Há quanto tempo não ouvia esse som?
Acho que havia me esquecido de como era…
Helena caminha até mim, o vestido longo rastejando pelo gramado,
e a sua presença aqui, diante de mim, me causa algo estranho no peito.
— Se eu estou te vendo aqui — começo e engulo em seco. — É
porque eu…
— Não — ela me interrompe, abrindo um sorriso terno. — Ainda
não chegou a sua hora, Augusto. Você só está aqui porque está em um sono
profundo…
Estreito os olhos para ela e então toco o meu ombro, sentindo uma
pontada de dor. Faço uma careta e me lembro do motivo de eu estar aqui.
Os tiros…
A revelação de Felipe…
Tudo isso me golpeia e eu solto um gemido, apoiando as mãos nos
joelhos, rendido.
— Não foi sua culpa, Augusto — diz com a voz suave e eu ergo o
corpo diante dela. — Você fez o seu trabalho, deu o seu melhor.
— Mas não te protegi…
— Mas protegeu o nosso girassol — a voz baixa adentra o meu
peito. — Você cuidou do nosso bem maior.
— Mas eu falhei… Falhei com vocês.
Desço o olhar para a sua barriga e Helena sorri, acariciando-a
devagar sobre o vestido.
— Você me permitiu partir com um pedacinho seu dentro de mim,
Augusto. Não estou sozinha aqui, o nosso anjinho sempre estará comigo.
Suas palavras são tão doces que me arrancam uma lágrima.
— Me perdoa, Helena — peço, do fundo do meu coração, e ela
apenas sorri terna.
— Eu não tenho o que te perdoar, Augusto. Você sempre deu o seu
melhor pela nossa família. E, mesmo que a minha hora tenha chegado,
continuou honrando a sua promessa e cuidando do nosso girassol.
Abro um sorriso ao pensar em Giovana e na mulher incrível que ela
se tornou.
— Eu tenho muito orgulho da nossa filha e de tudo o que você fez
por ela, mesmo sozinho. Vê-la tão bem é o que me deixa tão feliz, tão em
paz…
E olhar para essa mulher sabendo que ela não me culpa pelo que
houve me tira um peso enorme das minhas costas.
Caramba…
— Você ainda vai viver muito, Augusto. E vai viver sendo feliz em
cada minuto. Não faz ideia do quanto me fez bem te ver sorrindo depois de
tantos anos sozinho…
O sorriso amoroso que ela me abre, aquece o meu peito.
E me faz lembrar de Bárbara.
Ela é o motivo para que eu ainda esteja lutando, por eu ainda
querer viver.
— Não viva com essa culpa, Augusto, porque ela não te pertence —
Helena diz e eu encaro seus olhos castanhos. — Viva leve, feliz e com a
consciência tranquila de que está tudo bem. Nós estamos bem.
Quando ela acaricia a barriga mais uma vez, uma lágrima me
escorre.
— Obrigado, Helena — digo apenas, olhando em seus olhos.
E não preciso dizer mais nada, porque ela sabe.
Ela sabe o quanto eu precisava disso para seguir a minha vida.
O quanto eu precisava para viver bem, leve e sem culpa.
Ainda não estou pronto para ir embora, não ainda.
Tenho muito a viver.
E seguirei muito mais leve agora.
Com o coração finalmente em paz.
CAPÍTULO 39 - Bárbara

Adentro a porta do quarto do hospital ao lado de Giovana e a


imagem de Augusto deitado na cama com o ombro enfaixado me arranca
uma lágrima.
Ainda que me doa saber que sofreu um atentado contra a sua vida,
ele está bem…
Está vivo.
E isso já é motivo mais que suficiente para comemorar.
Juntas, corremos em sua direção e ele solta uma risada baixa.
— Oi, meninas — diz com a voz rouca e eu sinto o meu peito se
aquecer.
Giovana se inclina para beijar o rosto do seu pai e eu toco seu braço
com carinho, vendo o quanto seu semblante está cansado.
Os olhos fundos, a expressão exausta aperta o meu peito. Mas saber
que ele está bem é meu maior alívio. Depois que acordou no hospital de Foz
do Iguaçu, hoje de manhã, tudo foi providenciado para a sua transferência.
E agora à tarde acabou de chegar a Curitiba, sendo transportado de
helicóptero. Pelas notícias que tivemos dos médicos, ele não deve demorar
a receber alta, só precisa passar por uma bateria de exames antes de sua
liberação.
— Você está bem? — pergunto, tocando seu rosto com carinho, e
ele fecha os olhos por um instante.
— Cansado, mas bem.
— Não sente dor? — é Gio quem pergunta agora.
— Um pouco, mas só piora quando me mexo — explica. — Ou
quando passa o efeito dos remédios.
Assinto e olho para Giovana, que me lança um olhar cúmplice.
— Pai… — ela começa e o delegado se vira para ela. — Eu já sei de
você e da Babi — fala e ele franze o cenho, curioso.
— Me desculpa, Augusto — digo e ele se volta para mim. — Não
consegui segurar quando recebemos a notícia de que foi baleado.
— E eu já sabia, então não foi uma revelação tão grande assim. —
Giovana dá de ombros e eu rio baixo.
— Você já sabia? — ele indaga curioso.
— Ai, pai… Vocês escondem muito mal, fala sério.
Solto uma risada e Augusto tenta rir, mas faz uma careta de dor.
— Desculpa. — Toco seu ombro com carinho e ele nega.
— Não faz mal, amor. — Ouvi-lo me chamando assim na frente de
sua filha faz com que borboletas deem cambalhotas em meu estômago. —
No seu lugar eu teria feito o mesmo, o importante é que está tudo bem
agora.
— E eu fico feliz que vocês tenham um ao outro, porque eu amo
muito vocês — ela diz e mais uma lágrima me escorre.
Ainda estou processando a ideia de que minha amiga não só nos
aceita, como estava torcendo para que ficássemos juntos.
Eu estou vivendo um sonho, só pode…
Depois de uma longa conversa, em que Augusto nos conta como
tudo aconteceu e a história por trás do agente Felipe, nós duas entramos em
choque. Giovana não sabia que a morte da mãe foi fruto de uma vingança e
ver nos olhos de Augusto o quanto ficou aliviado por não ter sido culpado
por ela encheu o meu peito de amor.
Não foi culpa dele, nunca foi. E só agora, conhecendo melhor a
história, eu consigo entender por que Augusto se sentiu assim. Consigo me
lembrar do olhar triste naquele dia no parque e o quanto aquilo o
atormentava. Mas agora, curiosamente, não parece o atormentar mais.
Augusto parece ter se libertado disso, o que me deixa extremamente
feliz.
Ele merecia isso.
Merecia se libertar da culpa.
Depois de tudo esclarecido, Giovana decide procurar algo para
comer e nos deixar um pouco sozinhos. E, quando a porta do quarto se
fecha, eu toco o rosto de Augusto, inclinando-me para depositar um selinho
em seus lábios.
— Como você está, Bá? — ele pergunta, segurando a minha mão.
— A sua glicemia descontrolou com tudo isso?
E a sua preocupação comigo, mesmo estando ele em uma cama de
hospital, aquece o meu peito.
Ah, Augusto…
— Ela subiu um pouco — confesso, correndo os dedos por sua
barba macia. — Mas consegui corrigir. Gio me ajudou e saber que você
estava bem fez com ela caísse mais rápido.
Augusto me encara parecendo satisfeito.
— Sinto muito por tudo que você passou, Augusto — murmuro. —
Você não merecia isso.
— Obrigado, amor. Está tudo bem agora. O que importa é que a
operação deu certo.
Ficamos sabendo que Murilo conseguiu conduzir a operação e
apreenderam toneladas de cocaína vindas de transporte terrestre e aéreo,
além da prisão dos políticos e empresários envolvidos. No noticiário não se
fala de outra coisa e, mesmo que Augusto não tenha participado até o fim, a
sua contribuição foi imprescindível para esse sucesso.
— Estou tranquilo por termos conseguido.
— Mas eu não tinha dúvidas disso. Você é o melhor, Augusto.
Nunca se esqueça disso.
Ele balança a cabeça em um aceno.
— Obrigado por ter ficado com a Gio — diz me olhando sereno. —
Ela sempre ficava sozinha em casa em minhas operações, e saber que vocês
tinham uma à outra me deixou bastante tranquilo.
Eu sorrio e continuo acariciando seu rosto lindo.
— Somos melhores amigas, Augusto. Eu sempre estarei por ela,
assim como ela estará por mim.
— Não faz ideia do quanto isso me faz feliz.
— Já sabe como será o seu tratamento? — pergunto, apontando para
o braço enfaixado.
— Medicação e fisioterapia — explica. — E alguns dias afastado do
trabalho.
— Dias? — indago e ele faz uma careta.
— Semanas — corrige-se. — Não sei como vou conseguir ficar
tanto tempo em casa à toa… — ele bufa e eu solto uma risadinha.
— É por uma boa causa. Inclusive, vamos cuidar de você. Vou te
mimar todos os dias — aviso e ele abre um sorriso satisfeito.
— Posso dormir ao seu lado todas as noites? — seu pedido faz o
meu coração errar uma batida.
— A casa é sua, amor. Você pode o que quiser.
O sorriso lindo que ele me abre faz com que eu esqueça tudo o que
passei nas últimas horas.
— Você merece um momento de cuidado. Permita que façamos por
você o que sempre faz por todo mundo.
Augusto sorri, assentindo de leve.
— Não vou nem rejeitar isso. Tudo o que eu mais quero é descansar,
sabe? As últimas semanas foram exaustivas pela operação. E agora que
tudo acabou, eu senti o cansaço me cobrar.
— Eu imagino… Mas deu tudo certo, viu? Seu descanso é merecido
agora.
Ele assente mais uma vez.
— Obrigado, Bárbara. Por tudo. Não tem ideia do quanto eu sou
sortudo por ter você.
Suas palavras são tão sinceras, que meus olhos marejam.
— A sortuda sou eu, Augusto.
Inclino-me para beijá-lo mais um pouco, quando a porta do quarto
se abre e eu me afasto, em um pulo.
— Atrapalhei os pombinhos? — a voz relaxada de Murilo me faz
sorrir constrangida.
Olho para ele e vejo que segue ao lado de uma mulher muito bonita.
Com os cabelos escuros e cacheados, ela me encara com um semblante
curioso.
— Laura, esta é a Bárbara, a nova namorada do Augusto — ele nos
apresenta e só então eu tenho um estalo.
É a esposa de Murilo, que sofreu o abuso há alguns meses…
Nossa.
Olho para ela e vejo que está com o semblante calmo, fazendo-me
relaxar por ela. Augusto me contou que enfrentou uma fase delicada, por
isso fico feliz de vê-la bem.
— Muito prazer, Bárbara. Já ouvi falar muito de você.
Ela me estende a mão e eu aceito, em um cumprimento caloroso.
— O prazer é todo meu, Laura.
— Viemos visitar esse delegado duro de derrubar — Murilo diz, e
eles passam por mim, indo até Augusto.
— Como você está, Augusto? — a voz suave da morena o faz sorrir
relaxado.
— Cansado, com um pouco de dor, mas vivo.
— Graças a Deus por isso. Eu te mataria se você não sobrevivesse
— Murilo diz e nos arranca uma risada.
— Uma bala não me para, Murilo.
— E nem duas — completa e eu sorrio de lado.
É bom vê-lo em um ambiente tão leve, mesmo depois de tudo ter
acontecido.
— Meus parabéns pela operação, Murilo — digo e ganho a atenção
de todos. — Sei o quanto vocês trabalharam arduamente nela.
— Se não fosse por esse cara aqui. — Ele aponta para o amigo
deitado na cama de hospital. — Nada disso teria acontecido.
— Nós formamos uma boa dupla — Augusto constata e me faz
sorrir.
— Com toda certeza, sim.
Observo os três conversando e não deixo de reparar em como Laura
olha Augusto com gratidão. Sei que foi o faro do meu delegado que fez com
que seu marido olhasse de outra maneira para ela e a ajudasse a descobrir
pelo que estava passando.
Eu consigo ver isso em seus olhos. Em como fez toda a diferença
em sua vida.
Isso enche meu peito de orgulho e de amor por esse delegado.
Ele sai de casa para fazer o seu melhor todos os dias.
E faz a diferença na vida de inúmeras pessoas.
Às vezes, Augusto não tem noção da dimensão do quanto ele muda
vidas.
Do quanto faz a diferença no mundo.
Mas eu estarei aqui ao seu lado para lembrá-lo disso.
CAPÍTULO 40 - Augusto

— Vocês sabem que eu não estou inválido, né? — resmungo,


quando Bárbara e Giovana me ajudam a me acomodar no sofá, colocando
várias almofadas nas minhas costas e debaixo da perna machucada.
Recebi alta hoje do hospital e as meninas foram me buscar de carro.
Eu quase fui carregado por essas duas até o SUV e acomodado com todo
cuidado do mundo.
Ainda que eu esteja reclamando por incomodar as duas, sinto-me
lisonjeado por tanto cuidado comigo.
— Deixa de ser reclamão, pai — Giovana solta e eu rio baixo.
— Você não está inválido, Augusto, mas está machucado. Não nos
custa te ajudar um pouquinho — a voz doce e o semblante sereno de
Bárbara desarmam a minha armadura.
Solto um suspiro em rendição, pois sei que não vou ter chance com
essas duas.
— Tudo bem, mas não precisam parar a vida de vocês por minha
causa. Eu consigo me virar sozinho.
Minha namorada olha para a minha filha e as duas reviram os olhos,
fazendo-me rir baixo.
Eu estou mesmo perdido com as duas.
— Marquei no seu despertador os horários dos remédios — Bárbara
explica. — Vamos deixar sempre de fácil acesso para você.
— Certo.
— E já vou marcar sua fisioterapia, pai. Vou escolher um horário à
noite para a Babi te levar de carro, até você conseguir ir sozinho.
— Tudo bem. Obrigado.
Bárbara se abaixa à minha frente no tapete e toca meu braço com
carinho. Em seus olhos eu enxergo tanto amor, que aquece o meu peito.
— Se você sentir qualquer coisa, Augusto, chama a gente, tá? — diz
e eu aceno para ela. — Você não nos incomoda, amor. De jeito nenhum.
Estamos aqui para cuidar de você.
Olho para ela e ergo os olhos para ver minha filha de pé na ponta do
sofá acenando em concordância.
Não posso mesmo reclamar, na verdade eu tenho muita sorte de tê-
las comigo.
— Tudo bem. Mas o que eu puder fazer sozinho, eu prefiro, ok?
— Desde que não te machuque, tudo bem.
Balanço a cabeça e rio baixo.
— Vocês vão ficar como generais atrás de mim? — brinco e soltam
uma risada.
— Relaxa, delegado — é Gio quem diz. — Aproveita a folga e
descansa um pouco.
— E eu — Bárbara se levanta em um pulo — vou te fazer um
pudim.
Isso me tira um enorme sorriso.
— Vou me machucar mais vezes então.
— NEM BRINCA! — as duas gritam e eu solto uma risada.
Na mesma hora seguro o ombro, fazendo uma careta, e elas
estreitam os olhos para mim.
— Já passou, está tudo bem. Não se preocupem.
Bárbara acena e vai para a cozinha começar a preparar a sobremesa;
enquanto isso, Gio se senta no tapete à minha frente, ficando na minha
altura.
— Você está bem mesmo, pai? Não sente nenhuma dor?
— Agora não, filha. Pode ficar tranquila. Só um incômodo mesmo.
Aponto para minha perna enfaixada e ela assente. Mesmo sem
nenhuma fratura, a região está bem dolorida e os ferimentos precisaram de
pontos. Sei que é questão de tempo até que tudo se cicatrize.
— Você quase me matou de susto — declara e eu franzo o cenho
para ela.
No hospital, quase não tivemos uma oportunidade sozinhos e, agora
que todo o susto passou, vejo o quanto essa situação mexeu com ela.
— Eu sei, girassol. Mas mantive a minha promessa e voltei para
você, não foi?
Ergo a mão e toco seu rosto com carinho, vendo-a sorrir em meu
contato.
— Eu te amo, pai. E não suportaria perder você.
A vulnerabilidade que encontro em seus olhos aperta o meu peito.
— Eu também te amo, Gio. E você não vai me perder ainda, não se
preocupe. — Dou uma piscada para ela, que sorri aliviada. — Sonhei com
sua mãe — falo e ganho sua atenção.
— Jura?
— Sim… Acho que foi quando eu estava em cirurgia, ou quando
desmaiei de dor. Não sei direito…
— E como foi?
Seu semblante se ilumina ao ouvir sobre ela. Sei o quanto minha
filha tem verdadeira admiração pela mãe e sempre gosto de falar sobre ela,
para que Helena nunca seja esquecida.
— Ela estava linda, usava um vestido branco e tinha girassóis nos
cabelos — revelo e seu sorriso se amplia. — Helena me agradeceu por
cuidar de você e disse que está muito orgulhosa, filha.
Os olhos de Giovana marejam quando ela sorri mais.
— Eu queria me lembrar mais dela…
— Você tem muito dela, Gio — digo e ela sorri orgulhosa. — É
doce e amorosa como sua mãe.
Ela acena, sorrindo mais.
— Obrigada, pai.
— De onde ela estiver, estará sempre cuidando de você.
— Eu sei…
Encaro minha filha por um tempo e penso em como fui sortudo de
tê-la comigo. Não sei o que seria da minha vida caso Giovana não tivesse
ficado aqui. Foi por ela que eu consegui viver todos esses anos, por ela eu
tive forças para lutar e continuar vivendo.
— Você está mesmo bem com o meu relacionamento com a Babi?
— confirmo, aproveitando que ainda estamos sozinhos.
— Estou, pai. De verdade — responde, abrindo um sorriso sincero.
— Eu sempre quis que você encontrasse alguém, porque não vou viver com
você para sempre. Não gostava de te ver tão sozinho…
— Eu estava bem, Gio — explico e ela estreita os olhos para mim.
— Mas confessa que agora você está melhor.
— Isso é incontestável. Bárbara chegou para mudar a minha vida.
O sorriso que minha filha me abre é gigante.
— Então, pai… Por que eu não estaria bem com isso? Não te querer
feliz por puro capricho seria o meu maior ato de egoísmo — suas palavras
aquecem o meu peito de maneira absurda.
Que mulher foda essa que eu criei.
— Além do mais, ela também merece alguém que a cuide e a ame
como você. Além da minha avó, vocês dois são as pessoas que eu mais amo
no mundo, pai. Não tem como eu não querer que fiquem juntos.
Ergo a minha mão e pego a dela, trazendo-a para um beijo
carinhoso.
— Obrigado, filha. Isso significa muito para mim.
Giovana sorri e se inclina para beijar o meu rosto com carinho.
— E, por favor, me deem irmãos! Não quero mais ser filha única —
solta e eu gargalho alto, fazendo uma careta em seguida.
— Ai, desculpa…
Na mesma hora Babi aparece na sala em alerta, com um pano de
prato nas mãos.
— Desculpa, Bá. Fiz o meu pai rir porque pedi a vocês irmãos —
Gio dá de ombros e Bárbara vira um pimentão.
— Ai, Giovana…
A carinha de vergonha de Bárbara me faz abrir um sorriso de lado.
— Não precisa de muitos! Só uns dois já está ótimo! — explica e eu
só rio mais.
— Para de fazer o seu pai rir! — ela repreende e Gio cobre a mão
rindo.
— Desculpa — pede e eu balanço a cabeça.
— Não tem dor nenhuma que não valha a pena por ver vocês duas
tão bem aqui comigo, como uma família.
— Nós somos a sua família, delegado — ela diz, piscando para
mim.
— Eu sei, filha… E não tem ideia do quanto eu esperei por esse dia.
Aquele alívio, aquela sensação de paz, me toma.
Não precisar me esconder, nem preocupar com a reação de minha
filha…
Simplesmente viver da forma que eu tanto esperei.
Porra…
Isso é mesmo um sonho.

Sentada ao meu lado na cama, observo em silêncio enquanto


Bárbara perfura o dedo, conferindo a glicemia.
— Tudo certo? — indago e ela confirma me mostrando a tela do
medidor.
— Cento e doze.
— Perfeito — respondo, aliviado.
Com o olhar, acompanho minha namorada descartar tudo e fechar a
bolsinha, acomodando-se ao meu lado entre os lençóis. Antes de trazê-la
para dormir comigo, perguntei à Giovana se estava tudo bem dormirmos
juntos em sua presença e ela concordou de pronto. Disse, inclusive, que
ficaria mais tranquila ao saber que vou ter alguém por perto caso precise de
algo durante a noite.
Não preciso nem dizer o quanto fiquei tocado com isso. Minha filha
é mesmo incrível.
E agora, depois de termos jantado e eu me acabado no pudim
delicioso que Bárbara fez, nos recolhemos para dormir.
— A posição está boa? — ela pergunta, apontando para o
travesseiro acomodado em minha perna.
— Eu preferia não ter que dormir feito múmia — brinco e ela ri
baixo. — Mas está perfeito, amor. Obrigado.
Bárbara toca o meu cabelo com carinho, correndo os dedos pelo
meu rosto, se demorando em minha barba daquele jeito todo dela.
— Você não tem ideia do quanto estou feliz por te ter aqui de
volta… — diz em um sussurro. — Esses últimos dias foram muito difíceis.
Eu não posso conceber a ideia de ficar sem você.
Inclino o rosto e Bárbara entende o meu pedido, dando-me um beijo
gostoso nos lábios.
Ah…
Que saudade eu senti de beijar essa boca, de sentir os seus
carinhos… O calor do seu corpo contra o meu.
— Você não vai se livrar tão fácil de mim, Babi — digo e ela abre
um sorriso gostoso. — Não agora, que nada mais nos impede de ficarmos
juntos…
Toco seus cabelos e ganho um selinho carinhoso.
— Às vezes acho que estou vivendo um sonho… Ter você comigo é
meu sonho mais lindo, Augusto.
— Não é um sonho, amor. É real… E eu sou seu. Sou todo seu.
A garota sorri e me beija mais uma vez.
— Eu amo você, Augusto. — Seus olhos brilham tanto que é lindo
de ver. — E eu vou cuidar de você, assim como você cuida de mim.
Beijo seus dedos que tocam o meu rosto em um gesto de carinho.
— Posso inclusive tocar em um assunto que você não gosta muito?
— pergunta e eu estreito os olhos para ela.
— E qual seria?
— Cigarro — diz, com o semblante preocupado. — Eu ouvi o que
Murilo disse no hospital sobre você ter fumado compulsivamente nas
vésperas da operação.
— Murilo é exagerado…
— Houve algum dia em que você não fumou no trabalho? —
pergunta e eu engulo em seco, baixando o olhar.
Pensando bem, não houve.
Nessa reta final eu fumei todo santo dia.
— E era só um por dia? — questiona e eu faço uma careta.
Quem dera…
— Eu estava agitado pela operação. Agora já passou…
Bárbara comprime os lábios, não parecendo satisfeita.
— Essa operação, Augusto. Mas e as próximas? Vão ser sempre
assim?
Fico em silêncio, porque sei que está certa.
— Se fumar não é um hábito para você, é sua válvula de escape. E
isso não te faz bem.
Encaro-a ainda sem dizer nada e ela continua acariciando o meu
rosto.
— Minha mãe era como você — diz, chamando minha atenção. —
Porém ela descontava na comida, quando ficava ansiosa. E não era legal…
Ainda estou em silêncio quando seus dedos tocam os meus cabelos,
fazendo-me suspirar.
— Não sou especialista no assunto, Augusto, mas a sua ansiedade
me preocupou. E, quando as coisas fogem do controle, é um sinal de que
precisamos de ajuda.
Seu semblante sério me faz acenar devagar.
— Você consegue perceber que a situação fugiu do seu controle? —
pergunta com cuidado e eu aceno fraco.
— Durante a viagem de helicóptero, senti falta de ar por não poder
fumar — confesso, um pouco envergonhado. — Precisei desprender o
colete para conseguir respirar.
Bárbara franze o cenho para mim, mas seu semblante não é
acusatório, pelo contrário, ele é acolhedor.
— Um transtorno de ansiedade não tratado pode desencadear uma
série de coisas, inclusive síndrome do pânico — diz, com a voz calma. —
Me deixa te ajudar, amor?
Seu pedido é tão amoroso que eu sou incapaz de negar, então apenas
assinto.
— Vou marcar uma consulta e vamos juntos, ok? Vamos cuidar
disso para que você fique melhor.
Balanço a cabeça, porque sei que ela está certa.
Nunca parei para pensar nisso, mas as coisas saíram do controle nos
últimos dias e o episódio do helicóptero me deixou incomodado.
Não quero passar por aquilo de novo.
— Obrigado, Bárbara — agradeço e ela sorri, dando-me um selinho.
— Obrigada a você por me deixar te ajudar um pouquinho. Está na
hora de permitir que as pessoas façam por você o que faz por todo mundo,
Augusto. E sempre vou cuidar de você, sempre.
Abro o braço bom para que ela se acomode em meu peito.
— Eu te amo, Bá — murmuro em seus cabelos logo que sou
envolvido por seu calor. — Obrigado por existir na minha vida.
A garota deposita um beijo em meu peito e eu fecho os olhos,
sentindo o contato.
Acaricio seus cabelos enquanto penso na sorte absurda que tenho
por tê-la ao meu lado.
Depois de tantos anos vagando sozinho, encontrei o meu lugar.
Encontrei meu motivo para continuar sorrindo.
CAPÍTULO 41 - Bárbara

Ajudo Augusto a se acomodar no carro após sair da fisioterapia, que


ele começou há alguns dias. Até que seja liberado para dirigir, combinamos
que vou trazê-lo a cada uma de suas sessões. Eu me sinto muito feliz por
ajudá-lo nesse processo e por retribuir um pouco tudo o que ele faz por
mim. Fico ainda mais feliz por me permitir ajudá-lo de todas as formas.
Logo que esse período de recuperação passar, vamos marcar sua
consulta com um psiquiatra para ver a questão da ansiedade. Fiquei
extremamente aliviada por ele não ter rejeitado a minha ajuda, porque
percebi que realmente precisa. A situação que me contou me preocupou
bastante. Mas agora vamos caminhar aos poucos rumo à sua melhora.
— Já quer ir para casa, amor? Ou quer ir para algum outro lugar? —
pergunto a ele logo que me acomodo ao seu lado e aciono o veículo.
— Hummm… Hoje é dia de projeto, podemos passar lá?
— Claro!
Sei o quanto Augusto sente por não poder dar as aulas de luta
juntamente com seu amigo. Murilo assumiu essa parte sozinho no período
em que meu namorado está afastado de suas atividades.
Com sua instrução, dirijo até o ginásio do projeto e, logo que
chegamos, eu o ajudo a descer do veículo. Usando a muleta para não forçar
a perna, apenas debaixo do braço que não foi machucado, Augusto caminha
ao meu lado até o interior do estabelecimento, abrindo um sorriso ao
reconhecer o lugar.
Meu delegado é parado por todos os voluntários no caminho, que
não só perguntam sobre sua recuperação, como o elogiam pelo trabalho. A
operação, além de ter sido um sucesso, foi noticiada em todo o país e
Augusto e Murilo saíram como verdadeiros heróis nessa jornada. Noto que
ele não se acanha com as perguntas, pelo contrário, responde com toda
paciência do mundo e eu sinto um orgulho imensurável dele.
Meu namorado é incrível.
Seguimos pelo ginásio e logo somos avistados pela sua turma de
pequenos lutadores de jiu-jitsu. Quando percebem a presença de Augusto,
param o que estão fazendo e correm em nossa direção, enchendo o
professor de perguntas.
O sorriso no rosto de Augusto e o brilho no olhar por dar atenção a
essas crianças é lindo de ver.
— Quando eu crescer, quero ser policial igual a vocês — um
garotinho comenta, olhando de Augusto para Murilo. — Só não quero levar
um tiro.
Não há um ser aqui que não cai na risada junto com o pequeno.
— Mas nem sempre somos baleados — Augusto explica com a voz
suave. — Murilo mesmo nunca levou um.
— Mas eu não sou delegado — Murilo justifica e o garoto ainda os
olha fascinados.
— Isso deve ser muito legal!
— É bastante… Agora vamos voltar ao treino? Hoje eu só vim
assistir a vocês.
Murilo conduz a garotada de volta ao centro do tatame e eu ajudo
meu namorado a se sentar na arquibancada junto comigo.
— É tão diferente estar aqui como um espectador — comenta logo
que nos sentamos.
— Considere isso como umas férias que você nunca tirou. — Pego
sua mão e entrelaço os nossos dedos. — Logo toda a sua rotina volta ao
normal, você vai ver.
Augusto me encara firme e assente, antes de voltar os olhos para as
crianças.
Sei que, para quem sempre teve uma rotina agitada, não deve estar
sendo fácil ficar todos esses dias parado. Mas a determinação de Augusto
durante a sua reabilitação é digna de orgulho e sei que não vai demorar até
que volte a assumir suas tarefas.
Assistimos a todo o treino e, quando chega ao fim, nos levantamos
para que Augusto se despeça das crianças.
— Me esperem tomar um banho? — Murilo pede e assentimos,
seguindo para a saída do ginásio.
— Este lugar me faz um bem que você nem imagina — Augusto
murmura quando estamos sozinhos no estacionamento.
— Eu consigo imaginar… Seus olhos brilham quando está com
essas crianças.
— Eu gosto de tê-los por perto.
Balanço a cabeça e abro a porta do carro, para que Augusto possa
esperar por Murilo sentado. Sua perna ainda não está boa o bastante para
ficar tanto tempo de pé.
— Demorei muito? — Murilo chega minutos depois para nos
encontrar.
— Imagina — respondo e ele me recebe em um abraço fraterno.
— E você, cara? Como está essa perna e esse ombro aí?
— Melhorando um pouco a cada dia. Não vejo a hora de voltar a
minha rotina. Não aguento mais ficar em casa…
— Ah, mas, quando fica sentado no sofá comendo um pudim, você
bem gosta, né? — brinco e os dois soltam uma risada.
— Esse seu pudim é famoso, viu? — Murilo comenta e eu encaro
Augusto, que apenas dá de ombros para mim.
Meu sorriso se amplia ao pensar que ele fala tanto de mim para o
amigo.
— Pode deixar que eu farei para vocês em breve.
— Deixa só esse delegado melhorar, que vamos marcar aquele
jantar que estou devendo.
— Combinado! Faço questão de levar a sobremesa.
— Faça dois pudins — Augusto pede. — Não estou a fim de dividir
um com ele — revela e eu solto uma risada baixa.
— Guloso!
— Bom, não vou prender muito vocês, porque Laura está me
esperando em casa. Mas foi bom te ver, Augusto. Os moleques adoram
quando você vem.
O sorriso que meu delegado abre é lindo.
— Não digo que virei todas as vezes, mas vou tentar sempre que
estiver tranquilo, até poder retornar às aulas.
— É sempre bem-vindo. Nos vemos então. Boa noite, gente!
Murilo se despede de nós dois e, quando estamos sozinhos, adentro
o veículo, acionando o motor.
— Para casa agora? — pergunto e ele confirma.
— Agora, sim!
Dirijo tranquila enquanto conversamos sobre assuntos aleatórios e,
pelo caminho, penso no quanto é natural estarmos juntos. Em como é
gostoso ter Augusto comigo.
Ao chegar em casa, somos recebidos por um Pluto muito eufórico,
que está bastante dengoso desde que Augusto chegou em casa do hospital.
O pitbull tem sido um fiel companheiro durante todo o dia, principalmente
quando meu namorado fica sozinho em casa.
— Gio, chegamos! — anuncio, ouvindo a resposta de seu quarto.
Pelo que me disse, tirou o dia para estudar para uma prova bem
difícil que tem essa semana.
— Vou pegar uma fruta, você quer? — ofereço a Augusto, que
aceita, seguindo-me até a cozinha.
— Quando melhorar, vou voltar a cozinhar para você, ok? —
comenta ao se sentar na cadeira.
— Não precisa se preocupar. Eu não me incomodo em fazer o jantar.
— Sei que não, mas gosto de mimar a minha mulher. Não posso?
Suas palavras me derretem inteira, e eu apenas pego um pote de
frutas picadas na geladeira antes de me sentar à sua frente.
— Claro que pode. — Toco a sua coxa e me inclino para beijar seus
lábios com carinho. — Mas também gosto de mimar você.
Augusto sorri, dando-me um selinho gostoso antes de tocar os meus
cabelos.
— Logo eu vou ficar bem de novo para voltar a cuidar de você —
diz com tanto carinho e meu peito se enche.
— E desde quando deixou de cuidar de mim?
O sorriso de lado que ele abre é tão lindo…
— Eu te amo — murmura, se inclinando para me beijar mais uma
vez. — Sei que já deve estar cansada de ouvir isso, mas…
— Jamais, delegado — interrompo-o. — Pode me dizer todos os
dias, que não vou me importar. Vai que eu esqueço. — Dou de ombros e ele
solta uma risada.
— Será mesmo, Bárbara? Será que um dia você vai esquecer o
quanto eu te amo?
Seus lábios resvalam nos meus de leve em uma carícia tão gostosa
que eu estremeço.
Fecho os olhos e sinto seus dedos mergulharem em meus cabelos
enquanto ele aprofunda este beijo carregado de sentimentos.
Eu me entrego a este contato e absorvo todo seu amor.
Augusto não precisa me dizer todos os dias que me ama, porque eu
posso sentir.
Em cada gesto, em cada toque, em cada beijo.
Ainda que eu ame ouvir isso dele.
É como bálsamo para a minha alma.
É como se me reafirmasse todos os dias que eu sou merecedora de
alguém tão incrível assim.
— Hummm… Não sei — murmuro, ao nos afastar. — Acho bom
você me dizer para garantir.
A risada gostosa de Augusto me faz sorrir.
— Ah, Bárbara… Eu amo, amo muito você.
Toco seu rosto e roço os dedos em sua barba.
— Eu também te amo, Augusto. Amo tanto, que nem sei…
O sorriso dele é tão lindo, tão amoroso…
Que eu não resisto em beijá-lo mais uma vez e mostrar não só em
palavras que ele é meu mundo inteiro.
Ele é minha nova razão de viver.
CAPÍTULO 42 - Augusto

Alguns meses depois

Reunindo toda a minha concentração, desfiro uma sequência de


golpes no saco à minha frente. Com o punho direito eu faço um jab, com o
esquerdo, o direto e finalizo um gancho com o direito.
Repito essa sequência inúmeras vezes, sem perder a concentração.
Posicionando o corpo da forma correta e, seguindo todas as instruções do
meu professor de boxe, repito o treino em casa, no saco que instalei nos
fundos.
Essa foi apenas uma das mudanças que ocorreu na minha vida nos
últimos meses.
Incrível como, depois daquela operação, tudo mudou por aqui.
Meu relacionamento com Bárbara tem ficado melhor a cada dia e ter
a aprovação de Giovana fez realmente toda a diferença. O clima ficou muito
mais leve nesta casa desde que assumimos a nossa relação. E agora minha
namorada não cogita mais sair daqui, ela já entendeu que o lar dos Ferraz é
também o seu lar.
Além do mais, deixei claro que a quero aqui comigo sempre. Eu
jamais permitiria que essa mulher fosse embora daqui. O que quer que
decida fazer com a venda do terreno de sua antiga casa é decisão sua, mas a
sua casa é aqui. Comigo, Giovana e o Pluto.
O relacionamento das duas também se fortaleceu desde o incidente
da operação. Percebo como têm ficado ainda mais unidas, mais fortes, e
isso é lindo de ver. Saber que as mulheres que eu mais amo na vida têm
uma à outra para tudo me deixa tranquilo pra caramba. Isso me faz um bem
absurdo.
Como prometi à Bárbara, logo que terminei a parte mais intensiva
de fisioterapia, aceitei sua ajuda e marcamos um psiquiatra. Como ela já
havia desconfiado, eu desenvolvi mesmo um transtorno de ansiedade. E,
ainda que meu caso seja mais leve, o tratamento adequado é primordial.
Fui encaminhado para a terapia para controlar esses gatilhos e isso
encorajou minha namorada a procurar ajuda também, para lidar com tantas
cicatrizes que já teve em sua vida. Percebi que isso nos fez viver muito mais
leves, mais tranquilos. Eu não tinha ideia do quanto me faria bem, até
começar uma sessão.
O cigarro foi mesmo abandonado por aqui e eu tenho buscado outras
formas de canalizar a minha energia. Foi assim que comecei o boxe. No
início, devido à lesão no ombro, precisei começar com atividades menos
agressivas, mas não estavam surtindo tanto efeito. Eu sou um cara que
precisa de adrenalina nas veias e por isso não me dou muito bem com
exercícios tão pacíficos.
Mas até estar liberado para o boxe e voltar ao jiu-jitsu, Bárbara se
manteve empenhada em distrair a minha mente. Ela me levou para passeios,
sessões de cinema, caminhadas, uma infinidade de coisas que mantivessem
minha mente ocupada para que eu não descontasse no cigarro. Nem consigo
mensurar o tanto que essa mulher faz bem para mim.
Voltar a trabalhar também me ajudou bastante. Foi muito estranho
pisar na delegacia depois de tanto tempo fora e com mudanças na equipe.
Com a morte de Felipe, um novo agente ocupou o seu cargo e, dessa vez,
não recebi um novato. Um policial de outra delegacia foi designado para a
minha equipe, por indicação do superintendente, e eu fiquei aliviado por já
conhecer o sujeito há muitos anos.
Não posso fingir que o atentado de Felipe não me afetou. Treinar
um agente por anos, tê-lo ali ao meu lado todos os dias, ensinando o
melhor, para no fim das contas ser tudo uma mentira, mexeu comigo. Mas
esse foi só mais um tópico para levar às minhas sessões de terapia.
Há muita coisa a ser trabalhada por aqui, muita coisa para se
organizar na minha mente, mas não estou com pressa. Sei que preciso dar
um passo de cada vez e que estou longe de ficar cem por cento, mas o
importante é que estou seguindo pelo caminho certo e tendo pequenos
progressos.
Isso sim, já vale tudo.
Seguro o saco de boxe, parando-o e decidindo encerrar por hoje.
Tenho ido com calma, para não forçar o ombro além do permitido. Retiro as
luvas das mãos e jogo no banquinho ao lado, secando uma gota de suor que
escorre em minha testa.
A camisa também está encharcada e eu já sei que vou direto para o
banho.
Faço um carinho com os pés em Pluto quando o encontro no
corredor e sigo pela casa, indo em direção ao meu quarto. Por ser sábado à
tarde, Giovana não está em casa e isso me rende algumas horas sozinho
com Babi. Como se ouvisse meus pensamentos, ouço o som do chuveiro
ligado e isso me faz sorrir sozinho.
Arranco a roupa suada e atiro ao chão, seguindo até o banheiro,
onde abro o boxe e encontro a minha mulher mergulhada na água, com
espuma escorrendo pelo corpo.
Meu pau fica imediatamente duro com a visão.
— Mas é gostosa… — elogio e ela abre os olhos para me encarar,
sorrindo.
— Vai só ficar me olhando, delegado?
Nego com sua provocação e a puxo pela cintura, colocando a minha
boca na sua enquanto mergulho no jato de água quente. Sinto o corpo de
Bárbara se arrepiar em meus toques e não alivio, adorando essa sensação.
Eu nunca vou me cansar dela.
De seu corpo.
De seu cheiro.
De seu gosto.
Eu nunca estarei saciado o bastante.
— Já aliviou bastante a tensão, amor? — Bárbara diz, afastando-se
de meus lábios por um instante. — Ou precisa de mais uma ajudinha?
Seus olhos brilham e eu rio de seu sorriso safado, tomando sua boca
em mais um beijo quente.
— Eu nunca vou rejeitar nada que venha de você — digo, ao pé do
seu ouvido, e mordisco sua orelha ao final.
O gemido que minha mulher solta só me faz ficar ainda mais duro
por ela. Aproveito para roçar a ereção em sua virilha, vendo seus gemidos
ficarem cada vez mais altos.
E porra se não é o meu som favorito de todo o mundo.
Afasto-me para chupar os seus peitos, enquanto a empurro até a
parede mais próxima e colo suas costas no azulejo.
Enquanto a água cai em meu tronco, abraço-a pela cintura e corro a
língua por toda a sua pele, arrancando-lhe mais um gemido.
— Ai, Augusto… — murmura quando eu sugo um mamilo e o
prendo entre os dentes.
Sorrio de sua expressão entregue e massacro-os um pouco mais,
chupando, mordendo e esfregando a barba em cada um dos biquinhos.
— Estão mais sensíveis porque estou perto de menstruar… —
explica entre gemidos, enquanto lambo e me delicio em cada um deles.
— Quer que eu pare? — sugiro, mesmo já sabendo sua resposta.
— Só se você for maluco! — solta e eu gargalho em sua pele.
— Você é quem manda, safada…
Aperto sua bunda e trago-a mais para perto de mim, mamando
gostoso, mas tendo o cuidado de não morder muito forte para não a
machucar.
Bárbara joga a cabeça para trás e fecha os olhos, enquanto desço a
mão pelo seu corpo e toco sua boceta, que já está pronta para mim.
— Eu amo que você está sempre tão molhada, tão pronta para
mim…
Deslizo os dedos por seu clitóris e ela geme mais.
— É só você me beijar, Augusto, e eu fico toda melada para você.
— Ah, porra…
Meus dedos se tornam mais intensos agora, em um movimento
ritmado. Percebo-a rebolar em minha mão, desesperada por mais, e a solto
de pronto.
— Vai gozar no meu pau, safada — anuncio e seus olhos brilham.
Erguendo uma perna, Bárbara me envolve pela cintura e facilita a
minha entrada, onde meto nela de uma vez só.
— Porra… — gemo junto com ela ao ser envolvido com todo o seu
calor.
Não importa quantas vezes eu tenha essa boceta me engolindo,
sempre vai ser absurdo de gostoso.
Sempre vai me tirar do rumo.
— Deliciosa — murmuro, tirando o meu pau e entrando de novo,
em um ritmo gostoso do caralho.
Bárbara geme e eu tomo sua boca mais uma vez, enquanto estoco-a
contra a parede, o eco de nosso corpo se chocando fazendo-se ouvir por
todo o banheiro.
— Augusto… — choraminga quando solto a sua boca para morder
seu lábio inferior.
— Eu amo quando você geme o meu nome — murmuro, descendo a
boca por seu pescoço. — Assim… Com meu pau enterrado em você.
Estoco com mais força agora, mais bruto, metendo até o fundo e
vendo a garota gemer descontrolada.
Porra, gostosa demais.
— E eu amo que você me fode assim, tão gostoso — diz entre
gemidos e eu sorrio, afundando os dedos em sua cintura.
— Safada!
Dou um tapa em sua carne e seus olhos brilham para mim.
— Gosta de bater em mulher, delegado? — provoca e eu rio,
inclinando-me para chupar o seu pescoço.
— Só na minha — murmuro entre estocadas e a garota geme mais.
— Porque ela é uma safada e merece.
Mais um tapa e Bárbara solta um gritinho, fazendo-me sorrir.
— Augusto… — chama e eu mordo seu ombro, desacelerando um
pouco o ritmo das estocadas.
— Hummmm…
Meto bem devagar agora, vendo-a arfar toda manhosa.
— Quero… Quero sair daqui.
Estico a mão e desligo o chuveiro, sem sair de dentro dela.
O banheiro se torna silencioso e o único som audível é do meu
quadril chocando-se ao dela em uma dança lenta e gostosa.
Abaixo o olhar e tiro o meu pau demoradamente, vendo Bárbara
resmungar.
— Foi você que pediu, amor.
— Te pedi para sair do chuveiro e não para parar de me comer —
solta e eu rio baixo.
— Onde você quer que eu te coma agora? — pergunto, abrindo a
porta do boxe para sair.
Penso que ela vai me levar para a cama, mas Bárbara me surpreende
se debruçando na pia do banheiro, de frente para o espelho.
Lambo os lábios devagar ao me aproximar dela e quando a vejo
colocar a perna direita sobre o vaso e empinar a bunda me dando uma bela
visão de sua boceta, meu pau fica ainda mais duro.
— Quer que eu te foda de frente para o espelho? — pergunto,
estapeando a sua bunda.
Roço meu pau em sua entrada e a ouço gemer, empinando a bunda,
pedindo por mim.
— Quer? — pergunto, descendo a mãos para tocar a sua boceta
melada.
— Ai, Augusto… Me fode logo.
Eu rio ao meter meu pau dentro dela, arrancando-lhe um gemido.
O movimento brusco lança seu corpo para a frente e a visão desta
mulher refletida no espelho, com o semblante safado enquanto eu fodo a
sua boceta, é a porra da coisa mais gostosa deste mundo.
— Por que escolheu o espelho, Bárbara? — pergunto, estapeando a
sua bunda.
Pelo movimento, os cabelos escuros se soltam do coque e caem
livres pelo corpo, cobrindo a visão de seus seios.
Decido mudar isso, tomando os cabelos nas mãos e embolando-os.
Aproveito para dar um puxão forte, vendo Bárbara gemer ainda mais
safada.
O reflexo desta mulher debruçada sobre a pia, os seios balançando
pelo atrito, a carinha de satisfação…
Porra…
— Hein? — insisto, dando mais um tranco em seus cabelos.
— Eu queria te ver me fodendo assim — as palavras saem entre
gemidos e eu aperto a pressão, metendo mais forte nela.
Meu quadril bate tão forte contra o seu, que eu penso que vamos
quebrar esse móvel.
— Você é uma safada mesmo — murmuro, vendo-a rebolar a bunda
contra o meu pau.
— Não tenho culpa se tem um pau tão gostoso… — diz manhosa e
eu gargalho, metendo mais forte nela.
— Porra…
Puxando seus cabelos, meto mais bruto nela, mais forte, até ouvir
seus gemidos se tornando cada vez mais altos e desconexos.
Sei que está perto de gozar, por isso não alivio e aumento a pressão,
vendo-a rebolar desesperada contra mim.
— Augusto! — grita, descontrolada, gozando em um ritmo insano.
Bárbara projeta o corpo para a frente, tremendo inteira, e desaba
sobre a bancada.
Eu continuo estocando forte até gozar também, derramando-me
dentro dela.
Jogo o corpo contra ela, sentindo todo o seu suor.
Sentindo-a queimar.
— Acho que vamos ter que voltar para o banho — constato e ela ri,
ofegante.
— Você sempre acaba comigo, delegado — murmura e eu sorrio,
dando um beijo em suas costas.
Com cuidado, tiro meu pau de dentro dela e vejo algumas gotas de
sêmen caírem pelo chão.
Com relutância, minha mulher desgruda o corpo da bancada e me
olha cansada.
— Ou você quer ir para cama deitar um pouquinho? — ofereço,
tocando seu rosto com carinho.
Os cabelos estão umedecidos pelo suor e ela tem uma carinha tão
linda…
Tão relaxada…
— Acho melhor só tirar esse suor antes.
Concordo e a levo até o chuveiro. Depois de tomarmos um banho
rápido, seguimos para a cama, onde nos deitamos ainda nus.
— Posso ficar o resto da vida aqui? — Bárbara murmura aninhada
em meu peito e eu sorrio.
— E você já não vai fazer isso?
Quando ela ergue os olhos para me encarar, abre um sorriso lindo.
— Verdade. Este colo é meu.
— Este colo, este corpo, este pau… — completo e ela solta uma
risada.
— Tão safado…
— E este coração — digo, beijando o topo dos seus cabelos. — Sou
todo seu.
— Ah, Augusto…
— Eu te amo. — Beijo-a mais uma vez e a envolvo com o meu
calor.
— Eu também te amo, amor — responde, beijando meu peito em
retribuição. — Amo para sempre.
Fecho os olhos por um instante e me permito viver este momento.
Aqui, relaxado em seus braços, mais uma vez eu encontro a paz.
CAPÍTULO 43 - Bárbara

— A carne já está quase pronta, amor. Se quiser, já pode tomar sua


insulina — Augusto diz da churrasqueira e, ao lado dele, assinto, dando um
beijo em seu ombro.
— Perfeito.
Afasto-me dele, seguindo até a mesa onde está minha bolsinha de
insumos, e vejo Giovana olhando para o celular com o cenho franzido.
— Está tudo bem, Gio? — pergunto e ela continua em silêncio,
encarando o celular. — Giovana?
Quando minha amiga ergue os olhos e pisca para mim, sei que
alguma coisa está acontecendo.
— Tem alguma coisa estranha, Bá… — diz e eu puxo a cadeira para
me sentar à sua frente, enquanto abro a bolsinha e pego o que preciso para
medir a glicemia.
— Sobre o quê?
— Lembra do Henrique? — indaga e eu estreito os olhos para ela.
— O cara com que eu fiquei lá no Congresso… — diz com a voz mais
baixa para que seu pai não a ouça e eu tenho um estalo, assentindo.
Quando voltou de viagem há alguns meses, Giovana me contou que
conheceu um rapaz em um dia do evento e rolou uma química legal entre os
dois. Ficaram juntos e decidiram repetir a dose enquanto ela estivesse em
São Paulo. Pelo que minha amiga me contou, eles tiveram noites incríveis
juntos e ela sentiu um pesar no coração por morar tão longe dele.
— Lembro… O que tem ele?
— Sumiu — diz e eu franzo o cenho enquanto aplico a dose de
insulina no braço.
— Como assim sumiu?
— A gente se seguia no Instagram, né? Então sempre rolava um
comentário em alguma foto, um papo no direct… Agora parece que deletou
a conta dele, sem nenhum aviso.
— Que estranho, Gio…
— Pois é! Procurei o contato dele no WhatsApp e as mensagens não
são mais entregues. Parece que mudou de número. Ou me bloqueou…
— E por que ele te bloquearia?
— Não sei…
— Me dá o número dele, se tiver bloqueado você, vai aparecer para
mim.
Giovana cita o telefone do rapaz e eu testo em minha conta, tendo o
mesmo resultado. Confiro o Instagram e também não aparece mais para
mim.
— Bom, pelo menos o problema não é com você — afirmo e ela
assente, engolindo em seco.
— Será que aconteceu alguma coisa com ele? — Gio pergunta,
preocupada.
— Não acho que tenha morrido nem nada do tipo, senão a conta
dele estaria lá ativa para a família se comunicar — arrisco um palpite. —
Ele pode ter precisado de um tempo fora das redes sociais. Às vezes
precisamos disso.
Minha amiga fica pensativa diante da minha sugestão e anui, com o
semblante mais relaxado.
— É… Pode ser isso. Ficarei atenta caso ele apareça. De toda forma,
espero que não demore a voltar, porque faz falta. Gosto de conversar com
ele.
Analiso Giovana por um instante e procuro algum vestígio de
paixão em seus olhos, mas não encontro. É só uma pessoa por quem ela
desenvolveu um carinho, o que me deixa mais tranquila. Minha amiga é
especial demais e não merece um coração partido.
Logo ela muda de assunto e fala de outras coisas, deixando a
conversa de lado. Quando Augusto chega com a carne pronta, ele se junta à
nós duas à mesa para uma refeição em família.
Momentos como este se tornaram rotineiros por aqui e são algo pelo
que eu sou grata todos os dias.
Só consigo pensar em como o meu caminho cruzou com o de
Giovana há alguns anos e em como aquele encontro mudou tudo.
Eu jamais imaginei que estaria aqui, anos depois, fazendo não só
parte de sua vida como de sua família.
Olho para essa garota à minha frente de sorriso doce e olhos
expressivos como os de seu pai e só consigo sentir gratidão.
Não sei o que seria da minha vida se não tivesse Giovana Ferraz
comigo.
Quando terminamos o almoço, recolhemos tudo e minha amiga pega
a moto para dar uma volta pela cidade.
— Tem certeza de que está tudo bem? — pergunto baixinho, ao
parar ao seu lado enquanto ela coloca o capacete.
— Tenho, Bá. Fica tranquila. Só vou dar uma volta mesmo para
respirar um pouco. — Estreito os olhos e ela me tranquiliza. — É sério,
estou bem, amiga. Eu gosto de pilotar, sabe disso. Aproveite as horas
sozinha com meu pai.
Dá uma piscadinha e eu reviro os olhos para ela.
— Só toma cuidado, ok?
— Pode ficar tranquila, amiga. Daqui a pouco estarei de volta.
Aceno e logo ela fecha a viseira do capacete, dando-me um tchau
antes de arrancar a moto e sair da garagem, deixando-nos sozinhos.
Vejo quando Augusto vem em minha direção e envolve a minha
cintura com seus braços fortes.
— Está tudo bem com a Gio? — pergunta e eu assinto, sentindo um
aperto no peito.
Uma desvantagem de namorar o pai da sua melhor amiga é essa, ter
que esconder os segredos da filha.
Mas, se Giovana ainda não quer contar sobre Henrique para
Augusto, eu que não tenho o direito de fazê-lo por ela.
— Está, sim. Ela me disse que só vai dar uma volta por aí porque
gosta de andar de moto. Se parece com alguém que eu conheço, será?
Viro-me em seu abraço e ele me abre um largo sorriso.
Consigo sentir suas mãos tocando minha cintura quando subo com
as minhas e o puxo pela nuca. Acariciando seus cabelos, tomo Augusto em
um beijo tão gostoso, tão nosso.
— Hummm… Bom que eu aproveito uns momentos sozinhos com a
minha mulher — Augusto sussurra, descendo a boca pela minha pele e
mordendo o meu pescoço de leve.
— Como se quase não ficássemos sozinhos, né? — indago e ele ri
baixo.
Se há uma coisa que minha amiga adora fazer é nos deixar sozinhos,
sempre que pode. Mesmo que ela passe a maior parte do tempo conosco,
Gio entende a importância de nos permitir alguns momentos a dois.
— Posso te chamar para ver um filme comigo? — ofereço e
Augusto faz uma cara engraçada para mim.
— Esse filme tem algo como eu e você pelados no sofá? — indaga e
eu caio na risada.
— Homem de Deus, você já me comeu no chuveiro hoje! — rebato
e ele dá de ombros, como se não fosse nada.
— Não tenho culpa se quero te comer o tempo inteiro.
Eu rio enquanto empurro Augusto para dentro de casa a
gargalhadas. O barulho chama a atenção de Pluto, que se une a nós dois
nessa bagunça.
Logo estamos deitados no sofá e eu procuro um filme de suspense
para assistirmos. Sei que Augusto odeia comédias românticas, então deixo
essas para quando estou com Giovana.
Quando os créditos surgem na tela, Augusto encaixa o rosto no meu
pescoço enquanto sua mão acaricia a minha coxa. É uma carícia tão lenta,
tão gostosa que me pego ronronando feito uma gatinha em seus braços. Eu
amo essa posição de conchinha, porque meu namorado sempre encaixa seu
corpo ao meu de um jeito perfeito.
E, mesmo que ele tenha brincado sobre ficarmos pelados, não sinto
nenhuma ereção se formar por aqui.
Porque não é algo sexual, é puro carinho…
É uma forma de Augusto se manter por perto, mostrando que não
consegue ficar longe de mim.
Assim como não consigo viver longe dele.
Na verdade, se pudesse passaria a minha vida inteira aqui em seus
braços, eu nunca me cansaria.
CAPÍTULO 44 - Augusto

— Uau… — Bárbara murmura ao retirar o capacete e olhar para o


imponente prédio da Superintendência da Polícia Federal.
Desde que assumimos o nosso relacionamento, que eu me recuperei
da cirurgia e voltei ao trabalho, prometi a ela que a traria para conhecê-lo
em um dia tranquilo.
Hoje, ela conseguiu sair um pouco mais cedo da agência e eu a
busquei de moto para que conhecesse o lugar onde passo tantas horas da
minha vida.
— E não tem mesmo problema que eu venha até aqui? — pergunta e
eu nego.
— Você é mulher de um delegado, Babi — explico, encaixando os
capacetes no retrovisor. — Você pode o que quiser. Vem?
Segurando sua mão, eu a guio até o prédio principal e a apresento
para todos que passam por nós. Noto Bárbara olhar tudo maravilhada ao seu
redor e isso me faz um bem absurdo.
É bom ver a mulher que eu amo feliz em um dos meus lugares
favoritos da vida.
Sigo pelo prédio e mostro a ela a divisão de delegacias, encontrando
vários colegas pelo caminho. Alguns já sabem do nosso namoro e acabam
fazendo alguma brincadeira conosco. Outros ficam surpresos ao me ver
com uma garota tão jovem. E confesso que isso faz um bem danado para o
meu ego.
— É um tanto intimidador estar em um prédio com tantos policiais
federais — confidencia e eu rio baixo. — Mesmo estando de mãos dadas
com um.
— Quem não deve não teme, hein, dona Bárbara? — brinco
aliviando a tensão e ela ri baixinho ao meu lado. — Quer ver a sala de
depoimentos? — ofereço.
— É sério que tem uma de verdade aqui? Como nos filmes? — seu
olhar surpreso me tira uma risada.
— Mas é claro que sim!
Conduzo-a até o local e seu gritinho abafado me faz rir mais. Mostro
a ela a sala separada por vidro e, mesmo que esta esteja vazia, Bárbara
consegue ver a mesa e cadeiras lá dentro.
— Uau… Deve ser muito legal assistir a isso daqui.
— Eu prefiro interrogar a assistir.
Bárbara então se vira e me abre um lindo sorriso.
— Meu delegado é da ação, né? — A piscadinha que ela me dá me
tira mais uma risada.
— Mas é claro.
Depois de dar uma rápida explicação a ela sobre como conduzimos
os interrogatórios, deixamos o local e seguimos com nosso tour pelo prédio
até finalmente chegarmos ao meu gabinete.
E, quando lê meu nome gravado na porta, ela para, encarando com
admiração.
— Delegado Augusto Ferraz — recita com um suspiro. —
Delegacia de Repressão a Entorpecentes – DRE.
Não vou negar o quanto me sinto orgulhoso ao notar seu
deslumbramento a algo tão rotineiro para mim.
— É diferente a sensação de estar aqui — comenta, com um brilho
no olhar. — Você é realmente um delegado de verdade.
E isso me arranca mais uma risada.
— Claro que eu sou. Me deixe te apresentar o meu gabinete.
Abro a porta e gesticulo para que ela entre à minha frente. Abraçada
à sua bolsa, minha garota observa tudo ao redor parecendo encantada com o
que vê.
Não há muita coisa por aqui, além da minha mesa, uma pilha de
pastas e armários de duas portas.
Mas é quando se aproxima da mesa de madeira que eu vejo seu
sorriso se ampliar. Ao lado de um porta-retratos com uma foto minha e de
Giovana, agora também há uma foto de nós dois, que tiramos em um de
nossos passeios ao parque.
— Não sabia que mantinha uma foto nossa, delegado — diz,
brincalhona, mas em seu tom de voz sei que está emocionada.
Chego por trás dela e afasto seus cabelos, beijando seu pescoço.
— Vocês duas são meus motivos para voltar para casa todos os dias
— explico, beijando-a um pouco mais. — É bom ter as fotografias aqui
para que eu sempre me lembre disso.
— Ah, Augusto…
Ela devolve o porta-retratos para o móvel e se vira, circulando-me
pelo pescoço. Quando acaricia minha nuca, puxando os cabelos daquele
jeito que eu amo, não resisto a puxá-la para um beijo.
Estou perdendo o fôlego em seus lábios quando ouço uma
movimentação próxima e dou um passo para trás, vendo Murilo entrar em
minha sala com um sorriso divertido no rosto.
— Interrompo os pombinhos de novo? — brinca e eu faço uma
careta para ele.
— Quando é que você não faz isso? — indago, lembrando-me de
sua visita repentina ao hospital.
— Vim só ver mesmo se era verdade que a novinha do delegado
estava por aqui — zomba e Babi ri. — Não se fala de outra coisa nos
corredores.
— Vocês estão com pouco trabalho para sobrar tempo para cuidar da
minha vida, não? — reclamo e ele ri.
— Não é todo dia que o delegado mais rabugento de Curitiba
aparece apaixonado por alguém.
— Tadinho, Murilo. Ele não é rabugento — ela defende e meu
amigo cruza os braços, franzindo o cenho.
— Não é com você, né? Chega aqui em um dia em que ele acorda
azedo para ver como é…
Reviro os olhos e ele ri.
— Mas então, está gostando de conhecer o nosso humilde lugar de
trabalho? — Meu agente se volta para ela.
— Humilde? Este lugar é muito chique! Nunca vi tanto policial de
preto junto na minha vida — ela constata e eu não resisto, caio na risada
junto com Murilo.
— Essa foi boa…
— Já conheceu o pátio? — ele pergunta e eu nego.
— Ainda não. Estávamos terminando o tour pelo prédio antes. Vou
levá-la à academia também.
— Vocês falam de um jeito tão natural e para mim é como um
cenário de filme — Babi comenta, suspirando, e nós dois rimos.
— É costume. — Dou de ombros. — Agora vamos, que ainda tenho
muita coisa para te mostrar.
Pego sua mão e a guio para fora da minha sala. Murilo nos
acompanha pelos corredores e termino de apresentar a ela as instalações.
Quando deixamos o prédio principal, eu a conduzo até o pátio de viaturas e
Bárbara estaca no lugar, cobrindo a boca com as mãos de um jeito fofo.
— Augusto! É enorme! — exclama e eu rio.
— São nove delegacias, amor. Tem que ter várias viaturas para nos
atender.
— Caramba…
Ela olha tudo maravilhada e eu cumprimento alguns colegas
enquanto mostro a ela as fileiras de carros e motocicletas.
— Tem o heliponto também.
Levo-a até lá e Bárbara dá um gritinho ao ver um helicóptero de
perto pela primeira vez.
— Foi esse que te levou para Foz do Iguaçu? — pergunta e eu nego.
— Não, esse é outro.
Ela assente observando tudo maravilhada e aquela sensação boa de
paz me toma. Eu não sabia que tinha que trazer Bárbara ao meu local de
trabalho até trazê-la aqui. A sua empolgação genuína a tudo o que vê é
contagiante.
— Vem, vou te mostrar a academia agora e encerramos no canil.
— Ah… Os cães farejadores, né?
— Exatamente!
Faço uma apresentação rápida para Bárbara da academia, mas não
me prolongo, porque encontramos vários policiais fazendo seus exercícios
por aqui.
— É incrível vocês terem uma academia própria — constata ao
deixarmos o local.
— Faz parte da nossa jornada de trabalho. Precisamos cumprir uma
hora por dia ali.
— Vocês precisam de resistência física, né? — pondera e eu
concordo.
— Não dá para imaginar um policial que não aguenta correr, não é?
— solto e ela ri.
— Verdade.
Ainda segurando a sua mão, levo-a até o canil e de longe Babi vê
alguns policiais treinando com cachorros.
— Eles são adestrados na sede da SECAN em Brasília — explico
me referindo ao canil da Polícia Federal. — Quando estão aptos, são
enviados às delegacias de todo o Brasil.
— Nossa… Que incrível. E de qual raça eles são? Não é só pastor
alemão pelo que estou vendo…
— Não, além deles, tem pastor belga e pastor holandês.
— São lindos…
— E cada um tem uma função por aqui. Cães diferentes são
treinados para detectar entorpecentes e outros para explosivos.
Bárbara me encara e solta um assovio.
— Isso é mesmo uma coisa de filme.
Rio baixo.
— Eles são extremamente importantes para o nosso trabalho. Seja
em campo, em aeroportos…
— Eu nem consigo imaginar. E vocês cuidam tão bem deles, né?
Agora ela aponta para um agente acariciando um cão, depois de vê-
lo cumprir sua tarefa.
— Eles são muito respeitados por aqui. Cuidamos deles como de
nossos agentes.
Bárbara olha para mim e sorri.
— Isso é lindo… Não sei se eu serviria para um trabalho como o
seu, mas admiro muito o que você faz.
Nos afastamos do canil e agora seguimos até o estacionamento, para
nos prepararmos para sair.
— Obrigada por ter me trazido aqui, Augusto. Significou muito para
mim conhecer mais uma parte da sua vida.
Aproximo-me dela e abraço a sua cintura, colando os nossos lábios
devagar. Aproveito que estamos sozinhos por aqui e a beijo com mais
volúpia agora, desfrutando dessa boca que eu tanto amo.
— Você não tem ideia do quanto me fez bem te ver aqui em um dos
lugares que eu mais amo estar.
— Um dos? — indaga, sorrindo divertida.
— É. Um dos…
— E qual é o seu lugar favorito, delegado?
Eu rio e a puxo para mais perto de mim, abraçando ainda mais seu
corpo.
— Aqui, Bárbara.
Roço meus lábios nos seus e a sinto estremecer.
— Você é o meu lugar favorito.
Nem dou a ela tempo de resposta e a beijo mais uma vez.
Mostrando não só em palavras o quanto significa para mim.
CAPÍTULO 45 - Bárbara

— Que casa linda a deles! — elogio logo que Augusto estaciona o


carro na porta de Murilo.
Finalmente o tão esperado jantar chegou.
Era para ter acontecido há meses, mas alguns desencontros não
permitiram. Quando Augusto estava na fase final da fisioterapia, sentindo-
se melhor para vir, Laura precisou se ausentar da cidade por um tempo para
ficar com a irmã que sofreu um acidente. Só retornou recentemente, quando
já estava tudo sob controle.
— O lar deles é mesmo muito bonito — Augusto concorda, pegando
a travessa de pudim de minhas mãos para que eu saia do carro.
Logo que piso na calçada, pego de volta de suas mãos.
— Eles não têm filhos? — pergunto enquanto ainda estamos
sozinhos para que não cometa nenhuma gafe lá dentro.
— Não, mas por escolha mesmo. Nenhum dos dois tem essa
vontade, então preferem ficar sozinhos.
Encaro Augusto e assinto, agradecida.
Sei que nem todos se imaginam sendo pais um dia, mas não consigo
me imaginar vivendo sozinha com Augusto pelo resto da vida.
Quero construir nossa família, quero multiplicar o nosso amor…
Quero deixar o nosso legado neste mundo.
Quando Augusto aperta o interfone, ajeito a postura enquanto espero
pela abertura do portão. O movimento balança meus cabelos e ele só me
encara de lado.
— Você está muito gostosa, Bárbara — murmura e sinto meu rosto
corar.
Nem mesmo ter esse homem ao meu lado em todos esses meses faz
com que eu seja imune aos seus elogios.
— Você também não está nada mal — pisco para ele, que sorri.
Eu amo que Augusto se vista de preto, combina tanto com ele.
Confere-lhe um ar imponente, elegante, ele fica simplesmente incrível. Para
combinar com seu visual, também escolhi um vestido preto soltinho de
alças finas.
Quando saímos de casa e eu nos olhei no espelho, percebi que
somos o casal mais bonito deste mundo.
— Olha se não é o nosso delegado e sua novinha — Murilo brinca
logo que nos abre o portão e eu solto uma risada.
Acho linda a amizade deles e valorizo muito a presença de Murilo
na vida de Augusto, sei o quanto são parceiros e se ajudam em tudo nessa
vida.
— Diz isso por pura inveja porque fui capaz de conquistar uma
mulher quase vinte anos mais nova — Augusto diz todo orgulhoso e ganha
um soquinho no braço do amigo.
— Seja bem-vinda, Bárbara. — Murilo estica o braço e pega a
travessa de minhas mãos.
— Obrigada, Murilo. É um prazer ter recebido seu convite.
— Venham. Laura já está esperando vocês.
Seguimos o amigo de Augusto e ele nos guia até os fundos da casa,
onde há uma área gourmet muito bonita.
— Aqui, amor, o pudim da Bárbara. — Murilo a entrega e ela me
abre um sorriso grato.
— Não precisava se incomodar, mas fico feliz de finalmente
experimentar seu famoso pudim.
Sinto-me corar diante disso, porque amo saber que Augusto fala
tanto de mim.
Quando ela acomoda a sobremesa no freezer, vira-se para me
receber em um abraço gostoso.
— Seja bem-vinda à nossa casa. Estou muito feliz de recebê-los
aqui.
— Obrigada, Laura.
— E você está cuidando muito bem do nosso delegado, hein? Ele
está até mais bonito!
A esposa de Murilo o puxa em um abraço fraterno.
— E mais bem humorado também — Murilo completa. — Para
quem trabalha com ele, isso é um alívio.
— Mas é implicante… — Augusto resmunga e soltamos uma risada.
— Sentem-se, vamos abrir um vinho.
Quando nos acomodamos a uma mesa debaixo de uma árvore,
Murilo vem até nós com uma garrafa de vinho. Serve-nos e brindamos,
enquanto temos uma conversa relaxada.
— Murilo me contou que você é pintora artística além de designer?
— Laura pergunta e eu confirmo, corando ao ver toda a atenção sobre mim.
— Hoje em dia eu pego menos festas do que de costume, porque
Augusto tem me ajudado bastante.
Olho para o meu namorado e sorrio, vendo-o piscar para mim e
pegar minha mão. Mesmo que eu pague pelas minhas contas, Augusto faz
questão de me ajudar com as despesas que eu tenho com diabetes, alegando
que tem condições de pagar e faz questão de fazer isso por mim. Eu consigo
ver em seus olhos que tudo o que faz por mim é por amor, por isso aceito
ser cuidada por ele.
Em virtude disso e da minha promoção na agência, o trabalho nas
festas infantis tem diminuído, ainda mais nos últimos meses, que dediquei
aos cuidados de Augusto. Mas ainda assim, sempre que posso, pego um
trabalho, porque amo estar perto dos pequenos, é algo que sempre me faz
bem.
— Mas eu adoro trabalhar com crianças, elas me fazem um bem
absurdo.
— Posso imaginar… Deve ser um trabalho lindo.
— É cansativo também — explico. — Algumas festas, a fila dá uma
volta imensa e eu mal tenho tempo de beber uma água, mas ainda assim
vale a pena. O sorriso de satisfação delas ao ver o rostinho pintado enche o
meu coração. Fora os inúmeros abraços gostosos que recebo de cada uma.
— Consigo entender por que meu amigo se apaixonou por você —
Murilo solta e eu coro mais uma vez.
— Vocês não viram nada… Essa mulher é incrível.
Augusto se inclina para deixar um beijo em meus cabelos e eu fecho
os olhos por um instante, recebendo esse carinho.
— Mas ainda não entendo por que você se apaixonou por ele —
Murilo fala e eu solto uma risada baixa. — Tão rabugento…
— Nossa, como se você fosse a Miss Simpatia — Augusto debocha,
revirando os olhos, e todos nós rimos.
— Quando o conheci, ele era muito fechado mesmo. Sua presença
até me intimidava — começo a falar e percebo que os olhos de Augusto
brilham, atento ao que vou falar. — Mas fala sério, Murilo. Você conhece
alguém mais gentil e bondoso que Augusto? Mais protetor? Ele nem me
conhecia direito e me colocou dentro da casa dele, porque eu não tinha mais
para onde ir…
— Você é a melhor amiga da minha filha — justifica. — Eu não te
deixaria desamparada.
— Viu só? Sem contar que revirou os escombros da minha casa para
me devolver uma lembrança…
— Eu me lembro desse dia — Murilo diz sorrindo. — Ainda fomos
parar na empresa que faz restauração de fotos todos sujos de lama.
— Eu não conseguiria esperar pelo dia seguinte. Gosto de resolver
as coisas logo.
Abro um sorriso para Murilo, que acena para mim. Ainda que goste
de provocar o amigo, ele sabe bem o motivo de eu ter me apaixonado por
Augusto.
Na verdade, estranho seria se eu não me apaixonasse por ele.
Meu coração tinha que estar morto, essa é a realidade.
— Augusto tem o coração lindo — Laura diz e então nos viramos
para ela. — Sempre disposto a ajudar quem precisa, sempre atento a tudo o
que está ao seu redor. Um jantar nunca será o suficiente para agradecer o
que você fez por mim, Augusto, o que fez por nós dois. — Ela pega a mão
do marido sobre a mesa agora. — Mas, ainda assim, obrigada. A sua
persistência nos salvou.
Vejo que os olhos de Augusto brilham e ele balança a cabeça,
sorrindo encabulado. O delegado não é muito acostumado a receber elogios
assim e eu acho um tanto fofo como ele fica desconcertado.
— Eu só cumpri o meu papel de amigo. — Augusto aperta o ombro
de Murilo. — Esse cara é como um irmão para mim.
Vejo que Murilo também se emociona e me pego pensando no que
esse casal diante de mim enfrentou. Em como foi difícil viver algo tão
pesado em um casamento. Não consigo sequer mensurar o tamanho do
trauma vivido por Laura.
— Obrigado, Augusto.
Os dois se olham e eu abro um sorriso.
— Viu? Impossível não me apaixonar por esse delegado. Sem contar
que esses olhos azuis são um charme… — brinco e todos caem na risada,
relaxando em meu comentário.
— Já podemos jantar? — É Laura quem pergunta e assentimos.
Augusto pergunta sobre o cardápio para me ajudar a calcular os
carboidratos e eu aplico a insulina mesmo na presença deles, vendo como
não me deixam desconfortáveis para isso.
Então desfrutamos de uma noite de massas e vinhos muito agradável
e eu já deixo o convite para recebê-los em nossa casa. O casal de amigos de
Augusto é incrível e adorei tê-los por perto. Quando chega a hora da
sobremesa, recebo inúmeros comentários positivos pelo pudim. Augusto só
não come mais do que todos porque me fez fazer outra sobremesa para ele,
e ela está na geladeira de nossa casa.
Ele é mesmo sem limites quando o assunto é pudim.
Vai ficando tarde e, mesmo não querendo que a noite se acabe,
nosso momento vai chegando ao fim.
Nos despedimos deles na promessa de que nos reencontraremos em
breve e, quando finalmente estamos sozinhos no carro, eu solto um suspiro
relaxado.
— Foi uma noite incrível, Augusto. Obrigada por ter me trazido.
O delegado sorri e pega a minha mão para dar um beijo, sorrindo de
lado.
— Eles são muito especiais para mim, fico mesmo feliz de ver que
vocês se deram tão bem.
— São maravilhosos.
Augusto acena e solta a minha mão, voltando a atenção para o
trânsito. Estico o braço para ligar o som do carro e, quando começa uma
música baixa e bem sugestiva, eu tenho uma ideia.
Uma ideia bem louca, mas Augusto me leva a testar os meus limites.
Vejo que pelo horário as ruas da cidade estão bem vazias, o que só
me dá ainda mais impulso para fazer o que tenho em mente.
Tiro o cinto de segurança e meu namorado me olha de lado,
confuso.
— Consegue dirigir devagar? — pergunto, engatinhando em sua
direção.
— O que está tramando?
Quando minha mão toca o zíper da sua calça, ele arregala os olhos
para mim.
— Ficou louca?
— A-hã — respondo, abrindo o fecho e enfiando a mão lá dentro.
Quando toco o seu pau, ele começa a endurecer em minha mão,
fazendo-me sorrir maliciosa.
— Fiquei louca, sim, delegado… Louca para chupar esse seu pau
gostoso.
Inclino o corpo e toco a cabecinha com a língua, ouvindo Augusto
gemer.
— Fica atento ao trânsito e dirige com cuidado, amor. O resto você
deixa comigo.
Enfio seu pau inteiro na boca e ele urra, fazendo-me sorrir
maliciosa.
— Porra, Bárbara… Você só pode estar de sacanagem comigo.
Eu rio em sua pele e corro a língua por toda a sua extensão, fazendo
o caminho das veias grossas e sentindo Augusto virar um porrete em minha
mão.
Delicioso.
— Ah, mas é sacanagem mesmo o que estou fazendo com você,
delegado.
Engulo-o por inteiro, indo até o talo e adorando o sabor em minha
boca. Augusto está quente, a cabeça rosada lisinha roça em meus lábios e eu
fico ainda mais excitada.
Os gemidos que ele solta e a forma como aperta o volante com força
me fazem sorrir orgulhosa.
Eu adoro tirá-lo do rumo, exatamente como faz comigo.
— Hummmm… Que gostoso, Augusto.
Bombeio com a mão enquanto sugo a glande e corro a língua de
novo antes de chupá-lo com vontade. Subo e desço a boca com gosto em
seu pau e o som do atrito da minha saliva em sua carne só deixa tudo mais
excitante por aqui.
— Caralho, Bárbara — a voz rouca causa arrepios em mim. — Você
é uma puta safada!
Eu rio em sua pele, sentindo-o erguer os quadris para foder a minha
boca. O movimento é tão brusco que quase me faz engasgar, e eu não me
acanho, pelo contrário.
Chupo Augusto com vontade, como o belo delicioso que ele é. E,
quando eu começo a massagear as suas bolas, o ouço gemer mais alto.
— Vou gozar desse jeito — anuncia e não paro.
Augusto continua fodendo minha boca, impulsionando o quadril à
medida que o levo cada vez mais fundo para dentro de mim.
— Pode gozar, amor — falo, sugando a pontinha e erguendo os
olhos para ele. — Eu vou engolir tudinho.
A minha voz manhosa o desestrutura e eu continuo mamando
quando sinto o primeiro jato quente em minha boca.
— Porra, Bárbara — ele geme, tremendo, gozando, derramando-se
inteiro em mim. — Cacete… Caralho… Puta que pariu…
Eu rio da forma como ele xinga todo descontrolado e apenas o
lambo inteiro, sugando cada gotinha de seu sêmen.
— Sua porra é sempre tão gostosa…
Uma última chupada e eu o guardo de volta na calça, fechando o
zíper e voltando a me sentar.
Augusto me olha de lado e vejo seu pescoço vermelho, os cabelos
umedecidos pelo suor.
— Te descontrolei, amor? — provoco e ele assente, ofegante. —
Quem diria que o delegado mais famoso de Curitiba receberia um belo
boquete enquanto dirige…
— Você ainda vai me matar, Bárbara — responde e eu gargalho. —
Eu tenho certeza disso.
— Sabe que chupar você me deixou com um tesão do caralho?
Ergo o meu vestido apenas o suficiente para que ele veja a minha
calcinha e então corro os dedos pelo tecido fino.
— Ainda estamos muito longe de casa?
Augusto pisa no acelerador e eu gargalho alto, vendo o quanto o
deixei descontrolado.
Eu amo causar isso nele.
Porque ele faz exatamente o mesmo por mim.
Sempre me deixa à beira de enlouquecer.
Pelo final do trajeto, provoco Augusto me tocando e masturbando
devagar.
O homem fica louco e, pela forma como me olha, sei que despertei
aquele seu melhor lado.
Aquele lado animal que eu amo.
Quando chegamos em casa, Augusto mal estaciona o carro na
garagem e já salta do veículo, dando a volta e abrindo a minha porta com
brusquidão.
— Achou que eu deixaria isso barato, safada?
A puxada que ele me dá me derruba na poltrona e meus olhos
brilham ao vê-lo abrir o zíper da calça.
Ele vai mesmo me comer aqui?
Dentro do carro?
— Não aguenta esperar entrar em casa? — provoco, escancarando
as pernas para ele.
— E você aguenta?
Quando tenho a visão de seu pau duro, minha boca saliva.
Ergo o quadril e arranco a calcinha, subindo o vestido e inclinando o
corpo para ele.
— Vem aqui, delegado — chamo-o, e ele cola a ereção em minha
entrada. — Vem comer a sua safada.
Quando Augusto me penetra de uma só vez, indo até o talo, nós dois
gememos juntos.
Delicioso.
Sua mão toca o meu queixo e me segura assim, mantendo meu olhar
fixo ao seu enquanto entra e sai de mim em um ritmo louco, gostoso
demais.
— Ai, Augusto… — gemo quando ele tira seu pau inteiro para
meter fundo de uma só vez.
Desço o olhar para o ponto que nos une e tenho aquela visão que
mais ano neste mundo.
Seu pau grande, grosso, entrando e saindo da minha boceta
completamente encharcada por ele.
Porra, este homem é uma delícia…
— Posso tirar o vestido? — pergunto, sentindo uma onda súbita de
calor me invadir.
— Estamos sozinhos em casa, amor, fodendo dentro do carro. Você
pode o que quiser.
Meus olhos brilham e eu puxo o vestido por cima, arrancando-o do
corpo e ficando completamente nua.
Augusto parece adorar a visão que tem, então ergo o corpo para
ficar mais perto dele e empino os seios em uma oferta silenciosa, que ele
rapidamente aceita.
Augusto cai de boca em meus peitos, mamando com tanto gosto,
com tanta vontade, que só sei gemer.
O carro balança com o atrito do nosso corpo e nem por isso ele para,
pelo contrário, meu delegado só me estoca mais forte, mais duro, rasgando-
me inteira.
E, nossa, como eu amo isso…
Amo que ele me fode com força, como o animal que é.
— Ai, delegado, que delícia… — murmuro e seus olhos brilham.
— Gosta que eu te coma com força, safada? — pergunta, puxando-
me pelos cabelos agora. — Gosta de um sexo bruto, né?
— Só com você, Augusto — confesso e ele me abre um sorriso
orgulhoso.
— Quem te viu toda corada no jantar hoje, tímida, nem imagina a
safada que é… — Augusto se inclina e puxa meus mamilos nos dentes,
fazendo-me gemer mais. — Nem imagina que gosta de ser fodida dentro do
carro, como uma puta.
Um calor me toma e eu só consigo gemer descontrolada ao senti-lo
em mim.
Seu calor.
A forma como desliza dentro de mim.
A nossa sintonia.
A forma como nosso corpo se une…
Nossa, é tão gostoso…
— Ai, Augusto… — gemo ao sentir sua língua ávida em meus
seios.
Ele se reveza neles sem aliviar o ritmo das estocadas e sei que estou
próxima do ápice.
— Vou gozar com você mamando assim — aviso, com a voz
afetada, e ele apenas ergue os olhos para mim.
Sem soltar meus seios, Augusto segue fazendo um trato e eu gemo
mais.
Quando circulo seu quadril com as pernas e trago-o para mais perto
de mim, suas estocadas se tornam mais gostosas e sinto a primeira onda de
tremores anunciar o meu orgasmo.
— Porra, delegado — eu grito, gozando, tremendo e rebolando em
seu pau.
Augusto acelera o ritmo e logo goza também, derramando-se em
mim.
— Caralho, Bárbara…
Seu corpo desaba sobre o meu e eu rio.
— Te dei uma canseira hoje, amor? — brinco e ele ri ao se afastar.
— Levanta daí sozinha, que eu quero ver quem deu canseira em
quem hoje.
Augusto pega meu vestido, a calcinha e minha bolsa, estendendo a
mão para mim.
Logo que aceito e coloco os pés no chão, sinto as pernas
fraquejarem e ele gargalha orgulhoso.
— Ai, Augusto…
— Não vou te carregar, safada. Vai andar sozinha para aprender.
Ainda nua, sigo até a entrada de casa. Logo que abrimos a porta,
Pluto vem em nossa direção, mas Augusto não permite que ele pule em
mim.
Depois de dar um pouco de atenção ao cachorro, seguimos até o
nosso quarto e, logo que eu vejo a enorme cama de casal à nossa frente,
meu corpo se acende.
Eu nunca vou me cansar de Augusto, não importa quantas vezes ele
acabe comigo.
Ajoelho-me no colchão e engatinho, vendo-o me olhar curioso.
— Sabe, Augusto… Adoro quando você me deixa assim… — Toco
minha boceta e espalho seu sêmen, que começa a escorrer. — Toda
lambuzada.
Fico de quatro para ele, provocando-o e correndo os dedos por todo
meu sexo.
— Ah, Bárbara, puta que pariu.
Vejo meu delegado retirando a roupa com velocidade e logo aquele
pau grosso ganha vida de novo, fazendo-me sorrir.
— Quer que eu encha sua boceta de porra de novo? — pergunta,
aproximando-se da cama para tocar o meu quadril.
Mas balanço a cabeça negando.
Desde que fizemos sexo anal aquela primeira vez, não tivemos outra
oportunidade e estou sempre pensando na chance de repetir.
— Não, amor… Agora eu te quero comendo o meu rabo.
E, quando falo isso, ganho um tapa estalado na bunda.
— Quer me dar o seu cu, safada? — indaga e eu gemo, empinando a
bunda para ele.
Mais um tapa estalado e eu rebolo mais.
— Deixa eu só lubrificar primeiro — penso que ele vai buscar um
gel, mas me surpreendo, sentindo-o penetrar a minha boceta.
— Oh…
— Você está tão molhada, Bárbara, que meu pau vai escorregar
gostoso em seu cuzinho.
Rebolo a bunda enquanto Augusto come a minha boceta de um jeito
tão gostoso, que, se ele não sair agora, vou gozar de novo.
— Ai, Augusto… Vem foder meu cuzinho, vem.
O homem geme quando me estapeia mais uma vez.
Sinto-o colocar um dedo na minha boca e eu chupo com gosto.
Olhando de lado, vejo-o enfiá-lo dentro de mim com cuidado, fazendo-me
gemer mais.
Ele ainda não saiu de dentro de mim enquanto seu dedo faz um vai e
vem absurdo de gostoso em meu cu.
— Augusto… — chamo e ele inclina a cabeça para me olhar. —
Vem…
O safado sorri antes de me dar mais um tapa.
— Está louca para me dar esse cu, não é?
Assinto, agarrando os lençóis, e ele sorri, afastando-se de mim.
Sinto uma gota de suor percorrer a minha coluna quando ele
posiciona o pau em minha abertura.
Tensiono o corpo ao sentir a sua grossura forçar a entrada e Augusto
massageia as minhas costas com carinho.
— Relaxa, amor… Se relaxar bem, não vai doer.
Assinto, respirando mais leve e relaxando o corpo para recebê-lo.
Ainda que não seja a primeira vez, Augusto entra com certa
dificuldade e, à medida que eu vou relaxando mais, ele vai penetrando em
mim, metendo até o fundo.
E quando chega lá, não sei quem geme mais alto.
Se é ele, ou eu.
— Caralho de cu apertadinho, Bárbara. Você me fode desse jeito…
— Mas é você que tem que me foder, Augusto — peço e o safado ri,
tirando o seu pau para meter de novo, um pouco mais rápido agora.
— Você não faz ideia de como é gostosa… Toda de quatro, a bunda
empinada e meu pau enterrado em seu rabo.
Suas estocadas se tornam mais rápidas agora e eu só sei gemer.
— Ai, Augusto…
Nossa, é tão gostoso…
É tão forte…
Tão intenso…
Afundo a cabeça no colchão e agarro os lençóis com força, sentindo
Augusto entrar e sair cada vez mais rápido de mim, dando-me um prazer
indescritível.
— Porra, Augusto — gemo, sentindo suas estocadas firmes.
É simplesmente delicioso ter esse homem dentro de mim.
Ainda que tenha a sensação de que ele vai me rasgar inteira, não
deixa de ser gostoso.
É absurdo, é…
— Foder a sua boca, a sua boceta e o seu cu no mesmo dia… —
murmura, me comendo de um jeito insano agora. As estocadas são tão
brutas, seu quadril bate tão forte contra o meu que penso que vamos quebrar
essa cama. — Caralho, Bárbara, você é a porra da mulher mais gostosa que
existe.
Eu sorrio, mesmo não conseguindo dizer muita coisa.
A sensação deste homem dentro de mim assim, de um jeito tão
insano, é absurda, é…
Nunca pensei que fosse amar tanto ser fodida por trás até conhecer
Augusto.
Ele me proporciona as melhores sensações, me leva ao ápice do
prazer e sempre fico querendo mais.
Augusto despertou em mim um lado que até eu desconhecia.
Um lado não só sedento, como determinado.
Com ele eu sei o poder que tenho, sei tudo o que quero e posso
fazer.
E sei que vai passar a vida inteira me proporcionando isso…
Sensações indescritíveis, orgasmos intensos, e uma insaciedade…
Porque eu nunca vou me cansar dele.
Nunca.
— Augusto… — chamo, rebolando descontrolada contra ele. — Eu
acho… Eu vou…
Nunca pensei que fosse gozar apenas com sexo anal, mas Augusto
me come de um jeito tão gostoso, tão intenso, que eu sei que não preciso
tocar a minha boceta para chegar lá.
— Já vai gozar, safada? — pergunta e eu choramingo, sentindo seu
aperto aumentar.
Meus cabelos estão esparramados ao colchão, minha boca está seca
em gemidos constantes e só sei sentir diante deste homem me comendo
deste jeito.
— Augusto…
— Vou gozar junto com você, Bárbara.
E, quando meu corpo se convulsiona, sinto seu aperto em meu
quadril, nossos orgasmos se unem e se tornam um só.
Eu estremeço, eu gemo e desabo na cama, sentindo Augusto sair de
dentro de mim e se jogar ao meu lado.
— Caralho, amor — é tudo o que ele diz e eu apenas balanço a
cabeça.
Não sei explicar, só sentir.
Em todos esses meses juntos.
É tanta entrega, é tanto amor…
Ficamos um tempo apenas nos encarando em silêncio, quando
Augusto ergue a mão para tocar meu rosto, afastando meus cabelos
umedecidos de suor.
— Foi a primeira vez que você me gozou inteira, Augusto —
murmuro e ele sorri de lado. — Na minha boca, na boceta, no cu… Sua
porra está em todo o meu corpo.
Ele gargalha orgulhoso e se inclina para beijar os meus lábios com
carinho.
— Isso te incomoda?
— Lógico que não — respondo rápido e ele gosta do que ouve. —
Como me incomodaria em ter você em cada pedacinho de mim?
Meu delegado sorri e me beija mais uma vez.
— Você também está em cada pedaço meu, Bárbara. Em cada poro
do meu corpo… Na minha alma e no meu coração. Você faz parte de mim.
Meus olhos marejam e eu lhe dou um selinho.
— Eu te amo, Augusto.
— Ah, amor… Eu te amo mais. Muito mais.
Quando Augusto envolve meu corpo com seu calor, eu fecho os
olhos e sinto seu coração disparado bater contra o meu.
Ele nem precisa dizer que me ama, porque eu posso sentir.
Ah, Augusto…
Eu amo tanto você.
CAPÍTULO 46 - Augusto

Um ano depois

— Sabe que isso é covardia, né? — Babi resmunga ao meu lado e eu


rio baixo.
— Ainda é dia e, se você reconhecer para onde estamos indo, perde
toda a graça.
O biquinho fofo dela me faz rir mais, inclinando-me para lhe dar um
selinho.
Estou dirigindo e levando minha namorada para aquela praia que
marcou um ponto decisivo de nosso relacionamento. Mas, como não quero
que ela reconheça de cara o caminho, eu a vendei. E é por isso que está
reclamando comigo durante todo o caminho. Mesmo que eu saiba, pelo
sorriso de seus lábios, ela está adorando esse suspense.
— Vou colocar uma música de que você gosta para te distrair.
Estico a mão e ligo o som do carro, que começa a tocar uma banda
de pop rock baixinho. Bárbara sorri relaxada e se recosta na poltrona do
carro.
— Já que não tenho outra escolha, né? — reclama e eu rio, pegando
sua mão para beijar.
— Você não vai se arrepender, amor. Eu prometo.
Ela me abre um sorriso lindo.
Volto a atenção para a rodovia, mas a todo momento me viro para
encará-la e ver o quanto é linda.
Não só em beleza, mas em tudo o que essa mulher representa.
Ela é meu tudo.
Já são mais de um ano juntos e eu sempre me pego pensando em
tudo o que enfrentamos juntos para chegar até aqui. Em cada perda, cada
obstáculo e cada vitória.
É incrível o quanto crescemos como casal, mas principalmente
como pessoas.
Tanto o Augusto, quanto a Bárbara lá de trás em nada se parecem
com essas duas pessoas de hoje.
E eu, que tinha deixado de acreditar em destino, me pego grato por
essa mulher maravilhosa ter cruzado o meu caminho.
A cada dia que passa, tenho ainda mais certeza do que eu quero.
Quero viver todos os meus dias ao lado dela, enquanto estiver aqui.
Quero realizar todos os seus sonhos e lhe dar tudo aquilo que pensou que
não poderia ter.
Porque ela pode tudo.
Tudo mesmo.
E eu estarei aqui todos os dias para lembrá-la disso.
Quando a vista do oceano me atinge, eu sorrio sozinho vendo que
cheguei na hora certa.
Tudo o que eu planejei para hoje…
Tudo o que eu tenho a dizer…
Sigo pelo caminho até o estacionamento de carros, quando desligo o
motor.
— Chegamos — anuncio e ela se vira para mim.
— Já posso tirar a venda?
— Ainda não, Bá. Aguenta só mais um pouquinho.
Desço do veículo e dou a volta, abrindo a porta e pegando sua mão
para ajudá-la a descer. Pego a mochila no banco traseiro e jogo nos ombros,
seguindo de mãos dadas com minha namorada até a trilha que nos leva à
praia.
A mesma praia em que abri todo o meu coração a ela.
Quando Bárbara ouve o som do mar, ela me encara com um sorriso
lindo no rosto.
Imenso.
Daqueles que fazem o meu coração dar um salto aqui dentro.
— Isso… é o que eu estou pensando, Augusto?
Não respondo nada, apenas a levo para mais perto e, quando a areia
toca seus pés, Bárbara solta um gritinho de euforia.
Como eu previa que hoje colocaríamos o pé na areia, instruí a ela
que calçasse apenas chinelos para vir. Ajudo a retirar o calçado de seus pés
e faço o mesmo com o meu, segurando-os enquanto a levo para mais perto
da borda, bem próximo ao mar.
Abro a mochila e retiro uma manta, estendendo sobre a areia. Ajudo
Babi a se sentar sobre ela, acomodando-me ao seu lado.
— Só aproveita que está vendada e aprecia essa paz ao nosso redor
— sussurro e ela sorri.
Segurando a sua mão, também fecho os olhos e sinto a brisa do mar
balançar meus cabelos.
O som da água se balançando, as ondas baixas quebrando ao mar e
alguns pássaros cantando ao longe…
Tudo é lindo e deixa esse cenário ainda mais apaixonante.
É aquele cenário de paz, como Bárbara disse na primeira vez que
esteve aqui comigo.
Por sorte, o local está bem vazio, então estamos praticamente
sozinhos aqui, o que nos deixa muito mais à vontade.
Depois de ficar um tempo assim, só curtindo o momento, eu me
inclino para beijá-la.
Acariciando seu rosto, eu a tomo em um beijo lento, gostoso e cheio
de significados.
Ainda sem soltar a sua boca, ergo a mão até os seus cabelos e
desfaço o nó do tecido, retirando a venda de seus olhos. A seda cai ao chão
e eu continuo beijando-a, saboreando-a, enchendo-a com todo o meu amor.
— Eu te amo… — sussurro entre seus lábios molhados antes de
tomá-los mais uma vez.
Enquanto retribui o beijo e sua língua se enrosca a minha em um
ritmo leve e gostoso, Bárbara sobe os dedos, acariciando meus cabelos
daquele jeito que eu amo.
— Ah, Augusto… — murmura se afastando apenas o suficiente para
olhar em meus olhos. — Eu amo tanto você…
Sorrio e lhe dou mais uma sequência de selinhos, correndo os dedos
pelo seu rosto com carinho antes de me afastar.
— Pensei que fosse gostar de vir até aqui — digo, apontando para o
mar à nossa frente, e ela finalmente se vira para olhar.
— É tão lindo… Durante o dia é ainda mais bonito — diz.
— Você vai ver como vai ficar lindo quando o pôr do sol começar
— aviso, lembrando que não falta muito para o espetáculo começar.
— Jura? Dá para ver daqui? — pergunta e eu confirmo, vendo o seu
sorriso se ampliar.
— Não vai demorar a acontecer. Mas até lá… Podemos curtir essa
visão mais um pouquinho.
— É perfeito…
— Ou você quer entrar no mar? — ofereço e ela nega, dobrando os
joelhos para abraçá-los.
— Só de ficar aqui, sentada ao seu lado, vendo essa paisagem à
minha frente, já é perfeito.
— Quer saber o motivo de eu ter te trazido aqui? — pergunto e ela
se vira para mim, olhando-me curiosa.
— Tem mais alguma coisa especial? — indaga e eu faço que sim.
— Claro que só te tirar esse sorriso já seria o suficiente para eu te
trazer aqui — falo e ela sorri mais. — Mas tenho uma notícia para te dar.
Ganho sua atenção e ela endireita a postura.
— E qual é?
— Recebi uma ligação da Dra. Janaína — começo e consigo ouvir
sua respiração pesada. — Finalmente saiu a sentença do seu processo. O
plano de saúde tem trinta dias para te entregar a bomba de insulina.
— É O QUÊ? — Bárbara grita tão alto que me arranca um sorriso.
Eu nem tenho tempo de responder, quando ela se atira em meus
braços e eu a recebo em meu colo, quando envolve minha cintura com as
pernas.
— Você conseguiu, amor — digo, secando as lágrimas que caem de
seu rosto e sentindo meus olhos marejarem também.
Não consigo saber o que ela está sentindo agora, mas sei o que eu
estou sentindo.
E, porra, é alívio, é felicidade, é…
Minha mulher merece tanto, mas tanto…
— Augusto… Eu… não acredito… — sua voz é trêmula e eu
acaricio sua cintura, deixando todo o meu amor.
— Você conseguiu — repito várias vezes e ela pisca os olhos para
mim, sorrindo.
Bárbara ri, chora, grita, treme, tudo ao mesmo tempo.
E sua felicidade me contagia tanto que é inevitável que uma lágrima
me escorra também, porque sei o que esse feito significa.
Significa uma vida mais tranquila, mais confortável para ela.
Juntos, conseguimos a melhor bomba de insulina do mercado para
dar mais liberdade para o amor da minha vida.
Eu não sei nem mensurar o tamanho da minha felicidade.
Quando a advogada me ligou ontem para contar o ocorrido, eu tive
que me segurar muito para não sair contando a Bárbara logo em seguida. Eu
queria trazê-la para este lugar que eu já tinha planejado, apenas adiantei um
pouco.
Porque não é só isso que eu tenho para lhe contar hoje…
— Obrigada, Augusto — diz, após secar as minhas lágrimas e me
dar um beijo cheio de amor. — Eu só consegui porque você estava lá
comigo. Então nós dois conseguimos, meu amor. Nunca vou ter palavras
para agradecer tudo o que você faz por mim, tudo o que você é…
— Eu te amo — sussurro, olhando em seus olhos. — Sempre vou
fazer tudo por você. Sempre.
Ela sorri, beijando-me mais uma vez.
E, pelos próximos minutos, sou tomado de beijos, carinhos e
palavras de euforia. Nunca vi esta mulher tão feliz antes e isso enche o meu
peito de uma forma inexplicável.
Eu escolhi o dia certo para lhe contar uma decisão.
— Posso deixar o seu dia um pouco mais feliz? — indago e ela
arqueia a sobrancelha para mim.
— E tem jeito?
— Nunca subestime um delegado, amor — brinco e ela gargalha em
meu colo.
— E então… O que é?
Toco seu rosto e a faço olhar para mim, deslizando os dedos em sua
pele macia.
— Estive em consulta com meu urologista e passei por alguns
exames — falo e ela mantém os olhos fixos em mim, sem nem mesmo
piscar. — É o mesmo com que eu fiz a cirurgia na época, e fui ver se no
meu caso existia uma possibilidade…
Deixo a frase no ar e consigo ouvir sua respiração pesar, Bárbara
fica completamente alheia ao que está ao nosso redor.
— E qual é? — sua voz é um fio e eu subo a mão livre em suas
costas, fazendo uma carícia lenta.
— Já faz muito tempo que eu venho pensando nisso, e estava
esperando o momento certo para tomar a decisão. Eu já fiz a minha parte,
amor. Agora é com você.
— Não estou entendendo…
— Minha vasectomia é reversível — falo e Bárbara paralisa. — Se
esse ainda for o seu sonho, estou disposto a fazer isso por você. Por nós
dois…
Uma lágrima lhe escorre e eu a seco com carinho.
— Mas…
— Também pesquisei sobre a Fertilização In Vitro — completo. —
Andei procurando clínicas e me consultei com especialistas. Não é um
bicho de sete cabeças, amor. E eu estou disposto a pagar cada centavo, a
fazer tudo o que estiver ao meu alcance, para ter filhos com você.
As lágrimas caem desenfreadas em seu rosto e Bárbara apenas
agarra meu pescoço.
Tão forte, que sinto o seu coração bater contra o peito.
Rápido, intenso, descompassado, enquanto ela chora de soluçar em
meus braços.
— Isso… Isso é mesmo real? — murmura ao se afastar.
Os olhos inchados, a pontinha do nariz vermelha de tanto chorar.
Ainda assim, linda…
Linda como nunca.
— Você vai mesmo fazer isso por mim? — sua voz é um fio e eu
assinto, colando meus lábios aos seus em um selinho.
— Qual a parte de que faço tudo por você que não entendeu ainda?
— brinco e lhe arranco um sorriso. — Além do mais, não estou fazendo só
por você. Mas também por mim, por nós dois… Quero ter um filho com
você, Bárbara.
Ela sorri e me toma em mais um beijo cheio de amor.
Quando finalmente nos afastamos, eu acaricio seus cabelos,
jogando-os por trás do ombro.
— Nunca imaginei que um dia fosse querer ter filhos de novo, que
fosse querer uma família — abro meu coração a ela mais uma vez. —
Giovana me bastava, ela era tudo o que eu queria, até você chegar.
Inclino-me novamente para tomar seus lábios nos meus.
— Mas eu te amo tanto, Bárbara, que passei a reconsiderar muita
coisa na minha vida. E seu sonho de ser mãe só fez com que aquela vontade
de ser pai voltasse aos poucos em meu coração. Aquela chama tinha se
apagado quando Helena foi embora levando um filho na barriga…
Foi doloroso me lembrar daquele período, mas, quando contei para
Bárbara a outra parte feia da minha vida, ela me acolheu. Minha namorada
validou a minha dor e eu não consigo nem dizer o quanto seu apoio foi
fundamental para mim.
O quanto me fez bem ter alguém que sabe tudo de mim, que
conhece todos os meus lados, até os mais feios, e ainda assim me escolheu.
— Mas você mudou a minha vida, amor, e trouxe esperança de
novo. Por isso, esperei que eu estivesse forte o bastante para te oferecer
mais uma parte de mim, que é toda sua.
Mais uma lágrima lhe escorre e eu acabo me unindo a ela, colando
nossa testa e olhando no fundo de seus olhos.
— Só me diz que você quer e eu marco essa cirurgia amanhã
mesmo… — falo e seu sorriso se amplia.
— Como… Como eu não vou querer um filho seu? Como não
querer realizar um sonho com você, Augusto? Logo com você?
Sorrio antes de colar meus lábios nos seus, selando este momento
único.
— Eu te amo, Bárbara, e vou sempre fazer tudo por você… Sempre
vou te dar tudo de mim.
Ela roça seus lábios nos meus e mordisca devagar.
— E eu sempre estarei com você, Augusto. Te amando, te apoiando,
sendo seu refúgio…
Meu coração dispara no peito ao pensar que estamos prestes a tornar
essas promessas ainda mais reais.
— Olha para lá, amor — digo, apontando para o sol, que começa a
querer se pôr.
Giro Bárbara no colo e a coloco de frente para o mar. Suas costas
encostam em meu peito, e a envolvo pela cintura para assistirmos ao
espetáculo.
Ela fica tão absorta à paisagem à nossa frente, que nem me vê
esticar a mão e abrir a mochila ao meu lado, pegando uma caixinha lá
dentro.
— Nossa, é lindo…
Quando o sol está quase tocando o mar, eu colo meu ouvido ao seu.
— Casa comigo?
Sinto o corpo de Bárbara se retesar quando ela se vira de lado para
mim.
— Como…
— Casa comigo, Bárbara? Me deixa te fazer feliz todos os dias da
nossa vida? Ter nossos filhos, te levar para viajar, realizar todos os seus
sonhos? Te amar e te cuidar até o fim da minha vida?
Mais lágrimas lhe escorrem e eu lhe estendo a caixinha, revelando o
delicado anel de ouro com diamantes que escolhi com todo carinho para ela.
— Augusto… Eu… Meu Deus! É claro que sim! Por Deus, sim!
Eu rio de sua euforia e tomo sua mão esquerda para deslizar o anel.
Seus dedos estão trêmulos e eu trago aos meus lábios em um beijo cheio de
amor.
— Eu te amo, Bárbara. Obrigado por ter chegado em minha vida.
Prometo continuar te amando todos os dias de nossa vida.
Bárbara me agarra pelo pescoço e me toma em um beijo que nos tira
o fôlego.
— Eu te amo tanto, Augusto. E prometo passar a vida inteira te
fazendo feliz.
Eu a calo em mais um beijo.
Ah, Bárbara…
Você nem precisa me prometer isso.
Só de te ter ao meu lado, você já me faz feliz.
Só de ter aceitado passar o resto da vida ao meu lado, já me faz o
homem mais feliz do mundo.
Abraço-a contra meu corpo e sinto todo o seu calor.
Eu, que nunca me imaginei sendo tão feliz de novo, sendo tão
amado, tão cuidado…
Pego-me sendo grato à vida por ter me trazido simplesmente a
mulher dos meus sonhos.
Para ser minha.
Finalmente minha.
Para sempre.
EPÍLOGO 1 - Bárbara

Um ano depois

— Estou ansiosa, Augusto! — falo, logo que deposito o palito na


pia do banheiro, e meu marido abre os braços para mim, em um convite
silencioso.
— Já deu certo, amor. Tenho certeza disso.
— Serão os cinco minutos mais demorados de toda a década —
solto e ele gargalha alto.
— Então vamos esperar pacientemente por cada um deles.
A serenidade de Augusto neste momento é algo que chega a me
admirar. De pé, no banheiro da nossa suíte, esperamos pelo momento mais
decisivo de nossa vida.
Estou uma pilha de nervos, já Augusto, uma paz absurda.
Ele acaricia meus cabelos com tranquilidade e me enche de um
carinho inexplicável.
Eu amo este homem.
E vou passar todos os dias da minha vida o amando.
Se a minha vida já tinha mudado no primeiro ano ao seu lado, nesse
último deu um giro de cento e oitenta graus.
Nos casamos no mês seguinte ao pedido de casamento na praia, em
uma cerimônia simples, apenas com as pessoas que mais nos importam. Foi
lindo, único e inesquecível.
Naquele mesmo dia, usei a bomba de insulina efetivamente pela
primeira vez e me senti a noiva mais linda do mundo carregando o aparelho
no vestido.
Consigo me lembrar da imagem de Augusto emocionado ao me ver
com um vestido branco delicado, coroa de flores nos cabelos e a bomba
presa na cintura. Ele ficou tão emocionado quanto eu, porque sabe tudo o
que aquilo significa para mim e para nós dois.
Uma nova vida estava começando para o casal Ferraz naquele dia,
em todos os sentidos.
Não foi fácil o período de adaptação à bomba de insulina e, no
último ano, passei por alguns perrengues, mas me sinto muito vitoriosa por
ter conseguido. Esse aparelho me trouxe uma qualidade de vida inestimável
e Augusto percebeu isso. Ele só teve real noção da dimensão de tudo isso
quando comecei a usar e viu o quanto me trouxe mais tranquilidade e
conforto.
Depois de passarmos por todo esse período de adaptação e mais uma
etapa vencida, começamos a nos preparar para o momento mais importante
de nossa vida.
Como prometido, Augusto fez a cirurgia de reversão da vasectomia
e esta foi um sucesso.
Às vezes, nem mesmo acredito no que ele fez por mim, por nós
dois.
Eu nunca vou ter palavras suficientes para descrever o quanto esse
gesto significou para mim.
Nós tínhamos outras possibilidades, mas Augusto não mediu
esforços para me dar o que eu mais queria: gerar um filho seu.
E essa, com toda certeza, foi a maior prova de amor que esse
homem fez por mim.
Depois de consultarmos com especialistas, avaliarmos nossa
situação e passar por diversos exames, finalmente conseguimos realizar o
procedimento de Fertilização In Vitro.
Há duas semanas eu estava na clínica recebendo os embriões e
estava tão ansiosa quanto agora. Mas em todo momento Augusto se fez
forte por mim. Ele esteve tranquilo, confiante e me transmitindo toda a
serenidade de que eu precisava.
Como agora.
Enquanto sou a tempestade, ele é a calmaria.
— Viu? Nem demorou tanto tempo assim — ele diz, afastando-se
para me olhar.
Augusto toca o meu rosto com carinho e deixa um beijo delicado em
meus lábios.
Eu me pego por um momento olhando em seus olhos azuis, que são
os mais lindos deste mundo.
Meu marido hoje tem quarenta e cinco anos, mas arrisco a dizer que
se parece mais jovem do que quando o conheci.
E mais bonito.
Com o passar do tempo, Augusto só fica mais lindo.
— Vamos lá, amor? — indaga e eu assinto, ganhando mais um
selinho.
Ainda estou com o coração acelerado quando vamos em direção à
pia pegar o palito. E, como combinado, olhamos o resultado juntos.
Quando a imagem dos dois tracinhos surge à nossa frente, um
soluço me escapa.
— Augusto…
— Eu falei que ia dar certo, Bárbara! Porra, eu falei!
O delegado dá um soco na bancada, de empolgação, e me toma nos
braços, abraçando-me tão forte, que sinto o seu coração bater disparado
contra o meu.
Eu ainda estou em choque.
Eu ainda estou incrédula.
Eu…
Por tantos anos da minha vida, vivi achando que este dia nunca
chegaria.
Por tantos anos pensei que nunca fosse realizar um sonho e o
enterrei no fundo do coração.
Por tantos anos eu pensei que não fosse amada por isso…
Uma parte de mim foi embora quando recebi aquele diagnóstico e
um pedaço do meu coração morreu.
Pensei que nunca viveria essa experiência, que nunca veria um
exame positivo…
E cá estou eu, tremendo e chorando nos braços do homem que me
devolveu tudo isso.
Augusto não só me devolveu a possibilidade de ter filhos, como
reacendeu em mim uma parte que havia morrido.
Ele fez com que eu me sentisse inteira de novo, que me sentisse
completa, que me sentisse mulher.
— Nós vamos ser pais, meu amor — ele diz, afastando-se para
acariciar meu rosto e secar minhas lágrimas.
Ainda não consegui dizer nada, mas nem preciso.
Com os olhos tão marejados quanto os meus, Augusto beija meus
lábios com delicadeza e me mostra que este mundo é real.
Que tudo isso é real.
Que um mundo onde eu construí a minha família existe.
Eu, meu marido e nossos filhos.
Dou um passo para trás e baixo o olhar para a barriga, tocando-a
com os dedos trêmulos.
Lágrimas caem desenfreadas em meu rosto quando ergo os olhos
para Augusto e sorrio.
— Tem um bebê aqui, amor, tem um bebê aqui… — sussurro e ele
me abre um enorme sorriso.
— Tem, meu amor. O bebê mais amado e mais esperado deste
mundo.
Balanço a cabeça assentindo, quando sinto sua mão cobrir a minha
sobre o meu ventre, em um gesto carregado de amor.
Disso eu não tenho dúvidas.
Não existe um bebê tão amado e tão esperado quanto esse.
Simplesmente não existe.
Porque nós lutamos por ele.
Nós fizemos tudo, tudo para que ele viesse ao mundo.
Para que nascesse um fruto do nosso amor.
Augusto cola a testa na minha e nós dois encaramos nossas mãos
entrelaçadas, que cobrem a minha barriga.
Vem, meu amor…
Estamos prontos para te receber.
A mamãe e o papai amam tanto você.
EPÍLOGO 2 - Bárbara

Três anos depois

— Gael, segura! — Augusto avisa, mas é tarde demais.


Logo Nero, nosso golden retriever, se chacoalha inteiro, jogando
espuma e água para todo lado.
Eu não resisto e caio na risada ao ver a bagunça se formando em
nosso quintal. Augusto está sentado no chão, tentando dar um banho em
nosso cão com a ajuda de nossos filhos. Mas a real é que eles estão mais
brincando e se divertindo do que tudo.
É lindo ver Augusto brincando com eles, ele se torna um menino
quando está com nossos pequenos. Bem diferente da postura de delegado
no trabalho, quando meu marido chega em casa, ele se transforma.
E eu amo isso.
Há pouco mais de dois anos, nossos filhos chegaram ao mundo e
coloriram nossos dias. Os gêmeos Sara e Gael nasceram cheios de saúde e
não existe um dia sequer em que eu não me sinta grata por tê-los em nossa
vida.
Esses pequenos mudaram tudo.
Gael tem o coração muito bondoso, desde novo se preocupa com os
que estão ao seu redor e é extremamente protetor com Sara. Os dois são
melhores amigos e a nossa menina é um poço de doçura.
Eu não poderia ser mais abençoada por ter filhos tão incríveis.
— Ainda estou em dúvida se é o Nero que está tomando banho ou
se são vocês — brinco e Augusto me olha divertido.
— Daqui vamos todos para o banho. Mais tarde eu vou acender a
churrasqueira.
— Vai fazer carninha, papai? — Sara pergunta e Augusto toca seus
cabelos escuros com carinho.
— Vou, princesa. Mas antes precisamos terminar de dar banho no
Nero, ok?
A pequena assente e eu sorrio para eles.
— Você bem que podia nos ajudar, Bá — fala e eu faço uma careta.
— Alguém nesta casa tem que ficar seco para dar banho em vocês.
— Ah, eu também ganho banho?
O sorriso malicioso de Augusto me faz fuzilá-lo com o olhar, e ele
só gargalha.
— Não demore muito, porque as crianças estão molhadas — peço e
meu marido assente, agilizando o processo.
Fico acompanhando a farra dos quatro e meu coração se enche mais
uma vez por essa cena.
E ver Nero tão à vontade com eles me causa aquele aperto no peito,
por me lembrar de Pluto.
Aquele cãozinho marcou nossa vida e jamais vou me esquecer dele.
Há pouco mais de um ano nosso companheiro nos deixou, fazendo um
buraco imenso em nosso coração. Nero não veio em substituição, mas para
alegrar um pouco a vida de nossos filhos, que amam animais assim como
nós dois.
Hoje, somos nós cinco por aqui.
Eu, Augusto, nosso cachorro e dois filhos.
Há cerca de um ano, Giovana decidiu sair de casa e morar sozinha.
Minha amiga alugou um apartamento pequeno em um bairro próximo do
nosso e, mesmo que não more mais aqui, sempre está por perto, porque é
simplesmente apaixonada pelos irmãos.
Não houve um de nós que não sofreu com sua partida, mas
percebemos o quanto era necessário esse passo em sua vida. A filha mais
velha de Augusto hoje tem vinte e três anos e se formou há alguns meses. Já
com o registro na Ordem de Advogados, conseguiu um trabalho como
advogada júnior em um dos escritórios mais conceituados de Curitiba.
Ainda na faculdade, ela conseguiu um emprego de assistente e foi
batalhando até conseguir algo melhor. Começou no novo trabalho há cerca
de uma semana e está extremamente eufórica com a nova jornada. E eu,
bastante orgulhosa dela.
Sei que está só no começo de uma longa jornada.
— Amor, pega o secador — Augusto me pede e eu sigo pela casa
até buscar o acessório para secar o nosso cão.
Uma nuvem de pelos se forma ao redor dele e eu só escuto as
risadas gostosas de nossos meninos.
Tudo para eles é festa.
Quando terminam o trabalho com Nero, sigo com os meninos pela
casa para dar banho neles. Augusto leva Gael para a nossa suíte, enquanto
sigo para o banheiro social a fim de dar um banho em nossa menina.
— Seu cabelo também molhou, amor? — pergunto a Sara, que
balança a cabeça para mim.
— Voou sabão, mamãe. Descupa.
— Imagina, princesa. Isso acontece. Bom que você já fica limpinha.
Eu me abaixo no boxe para ajudá-la a se banhar e busco seu xampu
com cheirinho de frutas, que é o seu favorito.
Durante o banho, cantamos juntas algumas músicas e o sorriso lindo
da menina sempre me aquece. Eu amo esse tempo que passamos juntas.
Desde que os meninos nasceram, eu e Augusto dividimos a tarefa
dos banhos. Ele sempre ficou encarregado de Gael e eu, de Sara. Ensinamos
a eles desde pequenos que adultos não podem vê-los nus, principalmente
homens. Pedimos sempre permissão para tocá-los, ensinando desde sempre
a importância disso.
— Posso lavar a sua vulva, Sara? — peço, quando chego bem perto
de ensaboá-la por ali.
— Pode sim, mamãe.
Agradeço e lavo-a com todo o cuidado, evitando tocá-la por tempo
demais.
Depois de conferir que está tudo certinho, puxo a toalha e a envolvo,
secando-a antes de levar para o seu quarto.
Lá dentro, já encontro Augusto terminando de vestir Gael, sentado
na cama do menino.
— A Gio vem para o almoço? — meu marido pergunta e eu
confirmo.
— Ela me disse que passaria no escritório agora de manhã e depois
viria para cá — respondo, enquanto abro o guarda-roupa para pegar um par
de roupas limpas para a nossa menina.
— Certo. Vou dar um jeito de organizar aquela área enquanto isso.
Vamos, Gael?
— Bora, papai!
O menino dá um pulo da cama e eu o contenho.
— Sem pentear os cabelos? — indago e ele faz uma carinha fofa.
Ergo os olhos para Augusto, que faz uma careta para mim.
— Foi mal, amor.
Entrego-lhe a escova e ele na mesma hora penteia os cabelos do
pequeno. Eu sorrio satisfeita ao final.
— Perfeito.
Dou um beijo em Gael e ele me retribui, antes de saírem os dois do
cômodo.
— Posso escolher o lacinho, mamãe? — Sara pede quando eu volto
a atenção para ela.
— Claro que sim.
Termino de passar o vestido pelo seu corpinho e penteio seus
cabelos, levantando-me para buscar a bolsinha cheia de laços de cabelo.
— Qual você quer hoje?
Sara procura por todos até escolher um lindo de cor azul.
— Este!
— É lindo! Vou colocar em você.
Junto seus fios com as mãos e prendo o laço no topo dos cabelos,
pegando o espelho para que ela confira.
— Fiquei bonita — constata e eu rio baixo.
— Ficou linda! Como uma princesa. — Beijo seu rosto e ganho um
estalado na bochecha. — Agora vamos lá ajudar os meninos?
Descemos da cama e seguimos até os fundos da casa, onde Augusto
lava o quintal com nosso filho ao seu lado.
E olhar assim, para os dois homens da minha vida, é impossível não
sorrir.
Juntos, organizamos tudo e, ao terminarmos, Augusto acende a
churrasqueira.
Estamos entretidos quando ouço o som do portão sendo aberto e o
ronco da moto ecoando no ar.
Na mesma hora, os dois saem correndo na direção da irmã.
— Gigi!
Daqui consigo ouvir os gritos dos dois, que mal esperam Giovana
descer da moto e já praticamente a derrubam.
Eles são alucinados pela irmã mais velha e eu nem mesmo os culpo,
Gio é mesmo incrível.
— Eu amo ver os três juntos assim — Augusto diz, parando ao meu
lado e me envolvendo pela cintura. — Deixa o meu coração de pai tão em
paz.
A imagem que ele vê é realmente linda, então consigo entendê-lo.
Ainda que Giovana não seja a minha filha, é uma pessoa
extremamente especial para mim, que eu amo como uma irmã, então sou
capaz de compreender.
— Nós construímos uma família linda, não foi? — indago e ele
assente, beijando meu ombro com carinho.
— Nós somos foda, Bárbara — brinca e eu rio baixo.
— É… Nós somos, sim.
Logo os três se juntam a nós e vira uma festa por aqui.
Todas as vezes que Giovana vem, é recebida com tamanha euforia e
não poderia mesmo ser diferente.
Dividimos uma refeição gostosa e um momento único, como todas
as vezes que estamos reunidos.
Ao terminarmos, seguimos para casa, onde vamos todos ver um
filme infantil.
Eu me deito no sofá com Gael em meus braços e Augusto se
acomoda no tapete com as duas filhas.
Quando dá play no filme, eu acaricio os cabelos do menino e sorrio
ao sentir seu cheirinho gostoso.
Logo Nero se une a nós e a família está finalmente completa.
Nós seis aqui, juntos, e sei que não preciso de mais nada.
Augusto me olha do chão e abre um sorriso de lado, sabendo
exatamente o que estou pensando agora.
Ele também sente isso.
Nosso amor é tamanho que transborda, que bate fora do peito.
Olho mais uma vez para a família que construímos e só consigo
sentir gratidão.
Quando Augusto forma um “eu te amo” nos lábios, eu abro um
lindo sorriso, respondendo de volta.
Já são mais de cinco anos juntos e só consigo amá-lo ainda mais a
cada dia.
Só consigo ser grata ao homem que me devolveu o sorriso.
Ainda olhando em seus olhos, beijo os cabelos de Gael e ele faz o
mesmo por Sara e Giovana, os amores da nossa vida.
Em silêncio, dizemos, sem palavras, o quanto somos felizes juntos.
O quanto somos orgulhosos daquilo que construímos.
Ah, Augusto…
Obrigada por ser tudo na minha vida.
Por ser simplesmente o meu tudo.
AGRADECIMENTOS

Para esta história, vou começar agradecendo a uma leitora beta que
teve uma missão especial por aqui. Conhecer a Luana e acompanhar um
pouco sua luta com o DM1, fez aquela pequena chama se acender dentro de
mim. Eu a chamei no privado e perguntei: Um dia quero escrever uma
mocinha diabética, você me ajudaria? E a sua resposta cheia de carinho me
fez constatar que isso não demoraria a acontecer.
Quando Augusto e Bárbara vieram para mim, eu sabia que seria esse
momento. E não poderia ter casal mais perfeito para retratar essa realidade
tão delicada.
Obrigada, Lu, por abrir o seu coração para mim e me mostrar um
lado mais delicado de seu dia a dia para dar vida à Babi. Meu coração
sempre será grato!
Obrigada também a mais duas betas que foram de extrema
importância nesse projeto: Aline e Jordana. Os surtos de vocês sempre
serão meu combustível.
Aproveito para agradecer a minha querida Liz Stein que fez leitura
crítica da obra e me apontou várias coisas que contribuíram para que este
livro ficasse ainda melhor. Você foi uma grata surpresa na minha vida!
Não deixando de fora minhas amigas autoras que são minhas
parceiras de surto, de ideias mirabolantes e apoio quando mais preciso:
Lucy Foster, Mi Passos, Ju Policarpo, Gisa, Nat Dias, Sil Zafia e Sara
Fidelis. Amo vocês!
Às minhas assessorias que conduzem minha carreira literária de
maneira ímpar: Vanessa Pavan e Lari Aragão. Vocês são perfeitas! E
completando o time de bastidores, Deh, Rosinha, Jack e May. Eu tenho a
equipe mais foda!
E, claro, ao meu maior apoiador, que não me deixa desistir nenhum
dia sequer: Juliano Santana. Obrigada por me dar forças quando me sinto
cansada demais para continuar. Eu realmente jamais teria chegado até aqui
sem você.
E a você, leitor (a), que me acompanha em cada livro, que surta
comigo, que vibra em cada conquista. Se eu continuo firme, é por você.
Obrigada por existir na minha vida.
Minha gratidão eterna a todos! Eu amo muito vocês!
BIOGRAFIA

Fernanda Santana mora em Timóteo, Minas Gerais, com seu esposo


e três filhos felinos.
Formada em Ciências Contábeis, atualmente é sócia de um
escritório de contabilidade e, por mais que ame o que faz, sua paixão
sempre foi a literatura.
Leitora compulsiva desde a adolescência, sempre teve facilidade na
escrita e capacidade de tirar lágrimas das pessoas com suas palavras.
É fã de carteirinha de Nicholas Sparks e o tem como principal
inspirador na sua escrita.
Mesmo sendo amante de um romance fofo e clichê, também adora
livros de terror e suspense. A adrenalina do medo é algo que a fascina.
É autora de outras obras de romance, sempre cercada de drama e
histórias que levam os leitores a muitas reflexões.
REDES SOCIAIS

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Vocês estão preparados para a história da filha do delegado?
Um gostinho do que vem aí...
PRÓLOGO

Giovana
Cinco anos atrás

— Vou buscar mais um drinque — aviso às minhas colegas de


faculdade e elas assentem enquanto conversam animadas.
Estamos esperando o show de Os Paralamas do Sucesso começar e
estou extremamente empolgada. Passamos o dia no maior Congresso de
Direito do país, assistindo a palestras com mentes brilhantes, participando
de debates perfeitos e agora encerramos o dia com um show incrível.
Acho que estou vivendo um sonho, pois esses dias em São Paulo
estão sendo memoráveis. Tenho a sensação de que nunca vou me esquecer
de tudo que viverei aqui.
Passo pelas pessoas e sigo até o bar, onde peço mais um Mojito para
mim. Enquanto espero, pego meu celular na bolsa a fim de mandar uma
mensagem para o meu pai e lhe dar notícias. Ele nunca fez o tipo
controlador, mas sei que se preocupa comigo, ainda mais por eu estar a
centenas de quilômetros longe de casa.
— Olha só se eu não encontrei a garota brilhante por aqui…
Uma voz masculina surge ao meu lado e eu ignoro, continuando a
mexer no celular. Mas, quando percebo que não se move, ergo os olhos para
encará-lo.
— Desculpe, está falando comigo?
O sorriso que ele abre é tão charmoso que faz com que os olhos
castanhos se fechem de leve.
— Não foi você quem participou do debate sobre Justiça de gênero?
Abro um sorriso orgulhoso, pois adorei participar desse debate.
Fiquei eufórica quando soube que haveria abertura para um participante da
plateia e fiz de tudo para que fosse escolhida.
— Fui eu mesma — digo, colocando uma mecha de cabelo atrás da
orelha.
— Pois então… Brilhante — elogia e logo meu drinque chega.
Quando faço menção de pagar, o moreno me interrompe. — Deixa por
minha conta.
Eu agradeço, então observo pagar a conta e pedir uma long neck de
cerveja.
— Então você assistiu ao debate? — pergunto e ele assente,
colocando a carteira no bolso.
— Sim, cheguei um pouco atrasado, mas perdi somente a
introdução. Foi fantástico, adorei todas as suas pontuações.
Sinto meu rosto corar levemente enquanto puxo o drinque pelo
canudinho.
— Obrigada.
— A propósito — ele começa e para, pegando a garrafa de cerveja
para um longo gole.
Observo seu pomo-de-adão subir e descer levemente pelo
movimento e penso no quanto isso é tanto sexy.
— Henrique, muito prazer. — Ele estende a mão para mim e eu
sinto o calor de seu toque ao aceitá-la, apertando de leve.
— O prazer é meu, Henrique. Eu me chamo…
— Giovana — interrompe e eu arregalo os olhos para ele.
— Não sou um stalker, não se preocupe. — Dá uma piscadinha
charmosa. — É que ali na plateia todos sabíamos os nomes de quem estava
no palco.
Solto um suspiro de alívio e ele ri baixo.
— Como te disse, te achei brilhante. Não teria como esquecer o seu
nome.
— Você também estuda Direito? — pergunto.
Estamos sentados na banqueta ao lado do bar e eu pego apenas o
celular para mandar uma mensagem avisando às meninas o motivo do meu
sumiço.
— Eu acabei de me formar — explica e bebe mais um gole da
cerveja.
Aproveito este instante para reparar no quanto ele é lindo.
Ainda que seja noite e estejamos em baixa iluminação, consigo
notar seus traços perfeitos. Os cabelos castanhos estão bem-penteados e a
barba baixa adorna seu rosto perfeitamente. Henrique veste uma camisa
gola polo e calça jeans escura, ambas bem justas ao corpo.
— Já fez a prova da Ordem? — pergunto e ele assente, me
encarando com um brilho no olhar.
— Já… Passei de primeira — revela e eu solto um assobio.
Ele me sorri bastante orgulhoso.
— Uau… E quais são seus planos agora?
— Meu avô quer que eu assuma o escritório dele, porque está
prestes a se aposentar…
— E você não quer? — indago, notando o receio em seu olhar.
— Ele mora em outro estado e eu não sei se quero deixar minha
vida para trás…
— Hummmm… Entendo. E não tem um plano B?
Henrique dá de ombros.
— Procurar um emprego por aqui. Já comecei a espalhar alguns
currículos, vamos ver.
— Vai dar certo — afirmo e ele sorri.
— E você? Quais são os seus planos?
— Ainda estou no primeiro período do curso, tenho uma longa
jornada pela frente — digo, puxando mais um pouco do drinque pelo
canudo. — Mas quero me tornar juíza.
É a vez de Henrique soltar um assobio impressionado.
— Eu tenho certeza de que você vai se tornar uma juíza muito foda
— diz e eu sorrio.
— Espero muito que sim.
Quando a banda é anunciada no palco, eu chamo Henrique para
assistirmos mais de perto e ele concorda, acompanhando-me. Encontramos
minhas colegas de curso e logo começamos a curtir o show, que é
simplesmente incrível.
Todo mundo se agita e dança ao som da música; durante todo o
tempo, Henrique fica ao meu lado, deixando-me apenas para buscar bebidas
para a gente.
Conhecê-lo foi uma grata surpresa deste Congresso.
Ele é divertido, alegre e está sempre sorrindo.
E seu sorriso é lindo…
Parece que ilumina todo este lugar, muito mais do que as luzes no
palco.
Quando sua mão toca a minha cintura, eu sinto o meu corpo inteiro
se arrepiar e não resisto a me virar, ficando de frente para ele.
Abro um sorriso ao envolver seu pescoço enquanto balançamos ao
ritmo da música e ele se inclina para beijar a minha boca.
Fecho os olhos para sentir o calor de seus lábios sobre os meus e me
delicio em seu sabor.
Nossa…
É bom…
É muito bom.
Bom nada, é delicioso…
Puxo Henrique para mais perto de mim e os corpos se chocam,
fundindo-se ao se perderem neste beijo gostoso demais.
As mãos do moreno sobem e descem pelas minhas costas em uma
carícia lenta e absurda de tão sensual.
E aqui, perdida em seus lábios, eu me esqueço de onde estamos, no
show, e só consigo pensar nele.
Em seus lábios quentes.
Em seu cheiro gostoso.
Nas mãos firmes que se recusam a me soltar.
— Henrique… — gemo ao senti-lo se afastar para morder o meu
queixo e percebo que estou ofegante.
— Quer vir para o hotel comigo? — sussurra em meu ouvido e eu
estremeço inteira.
Mordo os lábios devagar e penso no show, que ainda está rolando, e
no pesar de abandoná-lo antes do fim. Mas deixei de prestar atenção em
qualquer coisa desde que Henrique tocou em mim.
Pondero por um instante e toco sua barba baixa, roçando os dedos
pelos fios macios.
— Eu quero… Mas não vou com você — eu me inclino para dizer
em seu ouvido e ele franze o cenho para mim, claramente confuso. — É
você quem vem comigo.
Puxo-o pela mão e o levo para longe da multidão.
— Não confia em mim? — pergunta, logo que estamos longe de
todo barulho.
— Sou filha de um delegado federal, Henrique — digo, chegando à
saída, em direção ao meu hotel. — Eu não confio em ninguém.
Ele gargalha e me segue, sendo puxado pela mão.
Estamos prestes a chegar na esquina e ele me para, puxando-me pela
cintura em um rompante.
— Ah, Giovana… Você nunca vai se cansar de me surpreender.
E, antes que eu responda, ele me cala, em mais um beijo daqueles de
tirar o fôlego.
Em um beijo que eu tenho certeza de que nunca vou me esquecer.
Em breve...
[1]
Delegacia de Repressão a Entorpecentes
[2]
Delegacia de Crimes Fazendários
[3]
Delegacia de Crimes Previdenciários.

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