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Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança

Mestrado em Educação Musical – 2005

Agradecimentos:

À Doutora Elisa Lessa, pela orientação eficaz e sem reservas que prestou à minha

dissertação, e também pelo apoio que dispensou em termos de usufruto do espólio do

compositor, disponibilizando uma ajuda significativa na identificação dos diferentes

documentos.

Ao Dr. Jorge Alves Barbosa, pela sua atenção e dedicação ao meu trabalho dando

sugestões, que se revelaram bastante úteis na elaboração desta investigação.

César Gonçalves iii


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Mestrado em Educação Musical – 2005

RESUMO

A presente investigação permitirá um esclarecimento da faceta de pedagogo que

Eurico Thomaz de Lima sempre manifestou ao longo da sua vida. Para atingirmos este

objectivo, foram seleccionados para estudo os seus duetos para piano originais, destinados

à infância.

De forma a enquadrar a sua obra na restante produção deste género, é apresentada,

primeiramente, uma contextualização geral dos duetos ao nível da música ocidental,

cingindo-se em seguida esta abordagem para as composições dos autores nacionais.

Finalmente propõe-se uma análise da extensa lista de músicas destinadas somente à

infância.

Contextualizado o estudo, a dissertação centra-se exclusivamente em Eurico

Thomaz de Lima, através da elaboração de um quadro cronológico, de apontamentos sobre

a sua biografia, da realização do catálogo de todas as suas obras e breves considerações

sobre as mesmas.

Em particular, são estudados os duetos para a infância em múltiplos aspectos,

culminado na realização de um quadro e consequentes interpretações e conclusões, de

forma a determinar o contributo de Eurico Thomaz de Lima para o repertório infantil

português.

César Gonçalves iv
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Mestrado em Educação Musical – 2005

SUMMARY

The present investigation will allow an explanation of educator's facet that Eurico

Thomaz de Lima always manifested along all his life. In order to reach this purpose, we

selected and studied their original “piano duets” for the childhood.

In way to context his work in the remaining production of this genre, we present,

firstly, a small introduction about the duet form in the western music, binding this

approach soon afterwards for the Portuguese authors compositions, and finally we will do

an analysis of the extensive list of music destined only to the childhood.

After these considerations the dissertation is centered exclusively in the personality

of Eurico Thomaz de Lima: his life, an elaboration of a chronological picture, notes on his

biography, accomplishment of the list of all their works and some allusions on the same

ones.

Concretely, they are thoroughly studied the piano duets for the childhood in

multiple aspects, culminating in the accomplishment of a picture, a consequent

interpretations and conclusions, in order to determine the contribution of Eurico Thomaz

de Lima for the Portuguese children’s piano repertoire.

César Gonçalves v
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ÍNDICE

INTRODUÇÃO 1

1. Os duetos para piano no contexto da história da música ocidental 5

2. Os duetos para piano no contexto da história da música em Portugal 12

3. A literatura para piano a quatro mãos destinada à infância 18

II

1. Uma cronologia e biografia de Eurico Thomaz de Lima 26

1.1 Cronologia 26

1.2 Alguns dados biográficos de Eurico Thomaz de Lima 39

2. A obra musical 44

3. O repertório para a infância 61

4. Os duetos para piano 63

4.1 Contexto de produção das obras 66

4.2 Análise dos aspectos musicais e pedagógicos 78

CONCLUSÃO 115

BIBLIOGRAFIA 118

DISCOGRAFIA 121

ANEXOS 126

III
PARTITURAS 133

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Introdução

Eurico Thomaz de Lima foi uma personalidade de vulto na nossa cultura musical,

desenvolvendo uma carreira artística que se foi repartindo por três vertentes: como

intérprete, pianista exímio, discípulo dos Mestres Alexandre Rey Colaço e Vianna da

Mota, alcançou notoriedade tanto ao nível nacional como internacional; como compositor,

deixando-nos o legado de uma vasta obra em termos de quantidade e qualidade, abarcando

múltiplos géneros e finalmente como pedagogo, exercendo o seu magistério em várias

instituições, com grande dedicação e empenho.

Dos aspectos enunciados anteriormente, esta investigação pretende debruçar-se

sobre a sua faceta de pedagogo, contemplando as respectivas obras que Eurico Thomaz de

Lima compôs com este propósito. Os restantes aspectos musicais da sua vida serão

devidamente contextualizados a fim de que se possam entender, de uma forma inequívoca,

as suas convicções musicais e a sua relação com o meio cultural da época.

A grande dedicação que Eurico Thomaz de Lima manifestou pelo ensino da

música, especialmente no que se refere ao piano, torna-se evidente quando tomamos

conhecimento do grande número de obras que compôs destinadas aos seus alunos. Em

virtude do elevado número de obras deixadas pelo compositor para a infância, o nosso

estudo propõe-se cingir o seu âmbito a uma categoria específica da sua produção artística –

As obras a quatro mãos ou dois pianos para a infância – composições peculiares em que o

próprio autor partilhava o teclado com os seus alunos, obras frequentemente escutadas em

inúmeras audições, de modo a estabelecer um vínculo directo entre o professor e aluno.

César Gonçalves 1
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A escolha do tema foi igualmente motivada pelo facto de este género de

composição não estar suficientemente documentado na nossa história musical,

pretendendo-se, de certa forma, contribuir para um conhecimento da evolução do género

em Portugal, uma vez que a ausência de informação não significa inexistência de uma

prática habitual deste género. É evidente que quando, em meados do século XVIII, se deu

o grande florescimento deste género, o nosso país estava mais voltado para o teatro lírico

por influência dos compositores italianos que por cá trabalhavam, pelo que o gosto por

uma música de câmara de elevado nível não encontrava no nosso meio uma significativa

importância. Sendo assim, esta dissertação propõe-se fazer uma abordagem deste género a

partir da sua evolução ao nível da música ocidental, efectuando depois alguns

esclarecimentos sobre a sua relevância em Portugal para se centrar definitivamente na obra

de Eurico Thomaz de Lima.

Relativamente a este compositor, são escassos os trabalhos de investigação,

podendo-se citar o estudo de Manuel Afonso (1998) elaborado como dissertação final do

Curso de Estudos Superiores Especializados da Universidade do Minho – Instituto de

Estudos da Criança e que constitui uma ampla investigação pioneira sobre os vários

aspectos da vida e obra do compositor, possuindo, no entanto, algumas incorrecções e

incongruências, sendo necessário analisá-lo com rigor para que as informações

apresentadas sejam correctas e justas para com Eurico Thomaz de Lima. Uma outra

investigação, desenvolvida pela Doutora Elisa Lessa, apresentada no II Encontro do

Ensino da Música em Portugal (2001), foca as obras para piano destinadas à infância,

constituindo este trabalho uma preciosa ajuda nesta investigação.

Além destes contributos para o conhecimento do nosso autor, deveremos referir as

duas exposições ao público do seu espólio: a primeira em Braga, na Universidade do

Minho – Instituto de Estudos da Criança de 31 de Maio a 2 de Junho de 2001 e a segunda

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em Guimarães, no Museu de Alberto Sampaio, em Março de 2003, que serviu para

reavivar a personalidade ímpar de Eurico Thomaz de Lima que, actualmente, permanece

esquecida, mas que em tempos não muito recuados era conhecida e divulgada pelo meio

cultural da época e pela comunicação social. O espólio musical de Eurico Thomaz de Lima

foi doado pelo seu filho Eurico Adolfo Thomaz de Lima à Universidade do Minho em 31

de Maio de 2001, permanecendo desde então nas instalações do Instituto de Estudos da

Criança 1 . Devido a esta circunstância o seu espólio foi a fonte base da nossa investigação,

uma vez que inclui os álbuns, cuidadosamente elaborados ao longo da vida, programas de

concertos, recortes de jornais, partituras da sua autoria, a sua biblioteca musical,

correspondência, certidões, documentos pessoais, obras impressas e discos de vinil. Assim,

o facto de termos acesso a este material, de certa forma organizado pelo compositor,

permitiu reconstruir alguns aspectos da sua vida. Com este trabalho, pretendemos também

contribuir um pouco mais para a redescoberta desta personalidade, permitindo, ao mesmo

tempo, possibilitar a realização de investigações futuras, para que se conheça a fundo a

obra deste músico português.

A estrutura desta dissertação assenta em três capítulos que apresentamos

identificados com a numeração romana. O primeiro aborda os compositores e respectivas

obras, no que se refere aos duetos para Piano. Trata-se de uma revisão bibliográfica sucinta

e não exaustiva. O segundo é dedicado inteiramente à vida e obra de Eurico Thomaz de

Lima. Finalmente, apresentamos a transcrição das partituras estudadas, reunidas

cronologicamente e prontas para futura edição.

1
O catálogo deste Espólio está a ser elaborado pela Doutora Elisa Lessa, docente do Instituto de Estudos da
Criança – Universidade do Minho.

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César Gonçalves 4
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1. Os duetos para piano no contexto da história da música ocidental

Segundo o New Grove 2 , existem dois tipos de duetos para piano, os que recorrem a

dois intérpretes para um piano – neste caso a partilha do teclado inibe as totais

possibilidades técnicas de cada pianista, pois estes não dispõem da totalidade do teclado –

e os duetos nos quais cada instrumentista possui o seu próprio instrumento – onde cada

indivíduo pode utilizar toda a sua extensão e evidenciar toda a sua técnica. O primeiro tipo

de dueto concentrou a maior parte das produções dos compositores. Tal ocorrência deve-se

ao facto de se destinarem, na sua maior parte, a ambientes domésticos, podendo-se obter

grandes efeitos sem necessidade de se ser um grande virtuoso do teclado, e ainda pelo facto

de não utilizar um segundo piano, tornando-se menos dispendioso. A questão do espaço

pode também ter sido uma razão pela qual os compositores escreveram mais para quatro

mãos. Por último, uma finalidade pedagógica está também ligada a este tipo de dueto.

A prática de compartilhar o teclado com vários músicos, remonta a épocas

recuadas, sendo o primeiro testemunho conhecido na Idade Média, no século VIII, onde

dois músicos tocam um “organum”, no órgão 3 . Os duetos mais antigos, de que há

conhecimento, datam do início do século XVII, na transição do Renascimento para o

Barroco, em território inglês. Trata-se de uma obra a três mãos denominada A Battle, and

2
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980
3
HENRIQUE (1999) Instrumentos Musicais

César Gonçalves 5
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no Battle, atribuindo-se a sua autoria a John Bull 4 . De Nicholas Carleton e Thomas

Tomkins, chegaram algumas obras manuscritas: In nomine de Nicholas Carleton, e uma

Fantasia de Tomkins, compostas provavelmente por ambos e para serem interpretadas

pelos dois ao mesmo tempo 5 . Uma referência escrita nas peças Um verso para dois para se

tocar num Virginal ou Órgão, pode implicar não só um uso doméstico, mas também uma

função litúrgica.

É, no entanto, na segunda metade do século XVIII, que se assiste a uma larga

difusão dos duetos para piano 6 , ilustrados pela famosa pintura da família de W. A.

Mozart 7 , na qual o compositor partilha o teclado com a sua irmã enquanto o pai Leopold

Mozart segura um violino. W. A. Mozart interpretava estas obras a quatro mãos desde

1764-5 aquando da sua viagem a Londres, tendo inclusive composto, por essa altura, a

Sonata K19d, que Leopold Mozart considerou como a primeira no seu género. De facto, as

composições referidas anteriormente não são sonatas e não desencadearam aparentemente

nenhum seguimento notório nessa época.

Apesar de se começar a assistir a uma larga difusão deste género neste período, o

que se deve, em parte, ao interesse que a música feita em casa suscitava em músicos

amadores, esta ideia não foi imediatamente seguida 8 . As primeiras obras impressas a

quatro mãos datam apenas de 1777 compostas por C. Burney9 – Four sonatas or duets for

two performers on one pianoforte or hapsichord. Em 1780, este compositor escreveu uma

sonata a três mãos. Além disso, C. Burney possuía um piano de seis oitavas construído por

4
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. John Bull (c.
1562 – 1628), compositor e organista inglês, compôs música para teclado e para grupos instrumentais
evidenciando uma elaborada técnica contrapontística e algumas passagens virtuosísticas.
5
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. Nicholas
Carleton (c.1570 – 1630), compositor inglês. Thomas Tomkins (1572 – 1656), compositor inglês, discípulo
de W. Byrd compôs música de igreja, madrigais e obras para violas e virginal.
6
ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano
7
Óleo de Johann Nepomuk Della Croce de 1780
8
DOWN, Philip G. (1992) Classical Music
9
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. Charles
Burney (1726 – 1814) historiador, cronista, organista e compositor inglês.

César Gonçalves 6
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J. J. Merlin, especificamente para os seus duetos, pois considerava que o piano de cinco

oitavas não dispunha de espaço suficiente para duas pessoas adultas 10 . Johann Christian

Bach publicou, entre 1778 e 1780, algumas sonatas a quatro mãos, catalogadas entre as op.

15 e op. 18 11 . Estas tornaram-se os modelos para as composições de Muzio Clementi e W.

A. Mozart. As características mais notáveis nas obras destes dois compositores, dentro do

género, assentam no frequente recurso a texturas de índole orquestral resultantes das

sonoridades plenas da execução a quatro mãos.

Esta particularidade orquestral e rica das texturas a quatro mãos originou, a partir

dos finais do século XVIII, diversas transcrições de sinfonias e de outras obras de

proporções sinfónicas para piano a quatro mãos. Em 1798-1800, o editor Birchall publicou

em Londres todas as Sinfonias Londrinas de J. Haydn nesta forma e também as sinfonias

de W. A. Mozart e L. V. Beethoven e outros compositores mais tardios tornando, deste

modo, mais acessível o contacto de músicos amadores com o repertório orquestral da

época 12 . Torna-se evidente, mais uma vez, a finalidade doméstica deste tipo de obras e a

popularidade que adquirem nesta época, pela possibilidade de grande parte do público

interpretar e ouvir as obras mais significativas dos grandes compositores, e pelo facto de a

maior parte delas não apresentar grandes dificuldades.

Ainda neste período, salientam-se as obras dos compositores, J. Dussek, cuja

música antecipa muitas das características do período romântico, uma vez que a sua escrita

revela invenção, admiráveis relações harmónicas, modulações remotas, dissonâncias

fantásticas, aliadas a uma escrita melódica muitas vezes ornamentada e colorida que

anuncia F. Chopin e R. Schumann. Segundo, as obras de L. Kozeluch 13 para quatro mãos

10
LOESSER, Arthur (1990) Men, Women and Pianos A Social History
11
ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano
12
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980
13
Leopold Kozeluch (1748 – 1818), compositor checo da escola vienense e contemporâneo de Vanhal.
Compôs de uma forma prolífica em todas as formas, gozou de imensa popularidade no seu tempo, tendo
sucedido a Mozart no seu posto na corte da Áustria em 1792.

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são agradáveis, bem escritas e melodiosas destinando-se a um nível intermédio. Também

A. Sterkel 14 compôs para um nível médio de dificuldade revelando, no entanto, um estilo

mais clássico.

No Romantismo realizam-se inúmeras transcrições de obras teatrais, sinfónicas ou

de câmara para piano a 4 mãos. É o apogeu do género, tornando possível adquirir quase

todo o repertório na versão de duetos para piano 15 . Além destas adaptações, o século XIX

vê surgir um vasto repertório original para piano a quatro mãos, do qual se destaca a

produção de F. Schubert com obras como o Grande Duo op. 140 D812, e a Fantasia em Fá

menor op. 103 D617, tendo este autor composto ainda vários Rondós, Variações, Marchas

e Danças 16 . Também nesta época muitos compositores utilizam este género para criarem

danças de carácter nacionalista como, J. Brahms com as suas famosas Waltzer op. 39 e

Danças Húngaras, Antonin Dvorak, com as notáveis Danças Eslavas ou ainda Edvard

Grieg com as Danças Norueguesas. Na Rússia, o folclore proporcionou a vários

compositores como P. I. Tchaikovsky ou M. Balakirev inspiração para a realização de

arranjos de canções tradicionais.

Com as Six petites piéces faciles op. 3 (1801) de Karl Maria von Weber inaugura-se

uma nova forma de abordar as obras a quatro mãos, organizadas em grupos de músicas

breves e bastante atractivas para os executantes 17 , procedimento que seria seguido por

vários compositores dos séculos XIX e XX. Dentro da vasta produção legada pelo séc.

XIX neste género, destacam-se o Bilder aus Osten op. 66 de R. Schumann, as Trois

marches de C. V. Alkan 18 , o Bal costumé de A. Rubinstein e as Lendas op. 59 de A.

Dvorák. Na transição do século sobressaem as Trois morceaux en forme de poire de E.

14
Abbé Sterkel (1750 – 1817), músico amador e sacerdote alemão, compôs sinfonias, música coral e de
câmara, assim como para piano e canções.
15
HENRIQUE (1999) Instrumentos Musicais
16
ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano
17
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980
18
Charles Valentim Alkan (1813 – 1888) Pianista virtuoso francês, respeitado por Liszt, Chopin, e outros
contemporâneos. Compôs estudos, prelúdios e outras obras de concerto de bravura.

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Satie, as duas Suites, Petite suite de 1889 e as magníficas Six épigraphes antiqúes de 1914

de Claude Debussy e, por fim, a Suite Provençale de Darius Milhaud. Alguns compositores

franceses desta época evocaram, na composição das suas suites, recordações da infância,

resultando num repertório com elevada qualidade que vem sendo executado com bastante

regularidade até aos dias de hoje. Destacam-se Jeux d’enfants op. 38 de G. Bizet, Dolly

op.56 de G. Fauré, Ma Mère l’Oye de M. Ravel e ainda La nursery de D. E. Inghelbrecht 19 .

O segundo tipo de dueto – para dois pianos – parece ter o seu início também em

Inglaterra, com uma pequena obra de G. Farnaby que consta no Fitzwilliam Virginal

Book 20 . Até 1720 a produção de obras neste tipo é quase inexistente, embora F. Couperin e

B. Pasquini tenham dedicado alguma atenção a este género 21 . Somente com os trabalhos

dos três filhos de Bach – Wilhelm Friedemann, Carl Philipp Emanuel e Johann Christian –

os duetos para dois pianos adquirem um novo fôlego. M. Clementi compôs duas sonatas e

W. A. Mozart a Sonata K448/375ª e a Fuga K426 a que podemos acrescentar algumas

obras de J. Dussek e de N. Jomelli.

Na época de L. V. Beethoven e F. Schubert o interesse por este tipo de composição

foi menor, sendo preciso esperar pelo alto Romantismo para que o interesse fosse reatado.

F. Chopin compôs o Rondo op. 73, uma obra póstuma e rara na sua forma, uma vez que o

primeiro piano é mais difícil que o segundo. Segundo Rowland, F. Chopin queria executá-

lo com um amigo menos dotado 22 . F. Liszt fez arranjos de obras suas e de outros

compositores para dois pianos. Também os concertos de piano eram publicados numa

versão para estudo, com a parte da orquestra transcrita para um segundo piano. Existem

igualmente outras obras como é o caso de Andante e Variações op. 46 de R. Schumann que

19
Désiré-Émile Inghelbrecht (1880 – 1965), maestro francês, compôs ballets, obras corais e orquestrais,
música de câmara e para piano.
20
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. Giles
Farnaby (c. 1565 – 1640) compositor inglês, sobrevivem da sua autoria 54 obras para teclado, 20 canções e 9
salmos.
21
MONTU-BERTHON, Suzanne (1987) La Musique a deux claviers
22
ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano

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originalmente tinha partes para dois violoncelos e uma trompa, ou ainda algumas obras de

J. Brahms como Variações sobre um tema de Haydn op. 56b com o seu equivalente

orquestral e a Sonata em Fá Menor op. 34b que existe também como Quinteto de piano,

em versões para dois pianos.

Além destas obras de grande renome referem-se também pela sua inegável

qualidade, três conjuntos de variações – op. 86, op. 96 e op. 132a – de Max Reger que

revelam uma escrita de excepcional riqueza, as Variações sobre um tema de Beethoven op.

35 de C. Saint-Saëns, um dos seus melhores trabalhos, e o Scherzo op. 87 do mesmo autor

que também gozou de certa fama 23 . Obras como En Blanc et noir de C. Debussy, Sonata

de I. Stravinsky, Sonata para dois pianos e Percussão de B. Bartók, duas Suites de S.

Rakhmaninov, Sonata de P. Hindemith, Visions de l’amen de O. Messiaen e Sonata de H.

Martelli 24 contam-se entre as maiores realizações neste género na música do século XX. E.

Chabrier também contribuiu para o desenvolvimento deste género com Trois valses

romantiques (1883) que reflectem o seu estilo efervescente e humorístico e G. Ropartz

escreveu a obra Pièce en si mineur (1894) notável pela diversidade rítmica, melódica e

harmónica, uma expressão intensa e uma sólida construção que revela influências de C.

Franck 25 . Obras como a Suite de A. Arensky 26 , Scaramouche de D. Milhaud e Infante de

A. Bax, assim como as suas pequenas obras para dois pianos, tornaram-se muito

populares 27 . Como curiosidade, referira-se que E. Grieg acrescentou um segundo piano a

três sonatas de Mozart: K533/494, K545 e K283, à Fantasia K475 e à Sonata K457,

utilizando o seu estilo característico.

23
MONTU-BERTHON, Suzanne (1987) La Musique a deux claviers
24
Henry Martelli (1895 - ), compositor francês. O seu estilo é neo-clássico e dotado de uma certa
austeridade. A sua obra inclui música orquestral, para rádio e teatro, de câmara, de ballet e óperas.
25
MONTU-BERTHON, Suzanne (1987) La Musique a deux claviers
26
Anton Arensky (1861 – 1906), compositor russo, aluno de Rimsky-Korsakov, compôs num estilo lírico
semelhante a Tchaikovsky.
27
Arnold Bax (1883 – 1953), compositor inglês. A sua obra é composta por música de orquestra, de câmara,
vocal, coral, canções e para piano. A sua obra revela um equilíbrio entre diatonismo e cromatismo.

César Gonçalves 10
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Como obras modernas de grande qualidade poderemos citar as sonatas de H.

Genzmer 28 e A. Cooke 29 , variações de M. Roberts 30 e G. Bush 31 , a Suite op. 6 de L.

Aubert 32 , Introdução e Fuga de Vaughan Williams e as obras de F. Martin 33 , K.

Hessenberg 34 , G. Tailleferre 35 , L. Berkeley 36 e J. Wyttenbach 37 . Pelo seu turno as obras de

J. Cage e C. Cardew 38 representam a vanguarda neste campo. Com intuitos marcadamente

pedagógicos, há poucos exemplos a apontar, se exceptuarmos os arranjos de B. Bartók de

algumas das suas obras do Mikrokosmos, ou ainda as obras fáceis que C. Gurlitt 39 e outros

autores compuseram.

28
Harald Genzmer (1909 - ), compositor alemão e professor, compôs num estilo neo-clássico influenciado
por Hindemith. Entre as suas obras contam-se: concertos, obras orquestrais, música de câmara e para piano.
29
Arnold Cooke (1906 - ), compositor e professor inglês. Estudou com Hindemith, cuja forma de compor o
influenciou. As suas obras incluem música orquestral, vocal, de câmara e para piano.
30
Mervyn Roberts (1906 - ), compositor e professor de origem galesa. A sua produção artística é enorme e a
mais importante destina-se ao piano, mas também escreveu música de câmara, coral e canções. A sua escrita
é cromática mas tonal dentro da tradição de A. Bax e da Irlanda.
31
Geoffrey Bush (1920 - ), compositor inglês, a sua música é tonal e as suas melodias são de inspiração vocal
mesmo nas obras instrumentais. Compôs óperas, música coral, canções, para orquestra, música de câmara e
para piano.
32
Louis Aubert (1877 – 1968), Compositor francês aluno de Fauré. Escreveu música orquestral, canções,
música para piano e a Ópera A Floresta Azul, que é uma história de encantar. O seu estilo revela afinidades
com Ravel e Debussy.
33
Franck Martin (1890 – 1974), de origem suíça foi compositor e professor, definiu um estilo muito pessoal
combinando elementos latinos e germânicos. Stockhausen foi seu aluno em composição.
34
Kurt Hessenberg (1908 - 1994), compositor alemão. A sua obra revela um estilo neo-clássico e
contrapontístico com livres dissonâncias. Escreveu música orquestral, de câmara, vocal, para órgão, para
piano e uma ópera.
35
Germaine Tailleferre (1892 - 1983), pianista francesa, membro do grupo de “Os seis”. Compôs ballets,
óperas, canções, música orquestral, música de câmara e para piano.
36
Lennox Berkeley (1903 – 1989), compositor inglês. O seu estilo é lírico com influências da escola francesa
moderna e de Stravinsky. Compôs óperas, canções, música de filme, orquestral, coral e para piano.
37
Jurg Wyttenbach (1935 - ), compositor, pianista e professor suíço. A sua obra começará sobre influência de
Bartok e Stravinsky para depois evoluir no sentido de uma maior expressão dramática e inclusão de ideias
serialistas e da forma da variação. Obra: música coral, orquestral, vocal, de câmara e para piano.
38
Cornelius Cardew (1936 - 1981) compositor inglês. A sua obra revela as tendências da música de
vanguarda. Trabalhou com Stockhausen e conheceu Cage. Compôs música orquestral, de câmara, vocal, para
grupos indeterminados e obras literárias.
39
Cornelius Gurlitt (1820 – 1901), pianista, organista e compositor alemão, compôs música atractiva e com
propósitos educativos para piano.

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2. Os duetos para piano no contexto da história da música em Portugal

Pareceria evidente que o conhecimento do dueto para piano em Portugal fosse uma

realidade na transição do século XVIII para o XIX. Esta afirmação pode ser corroborada

por uma obra de Marcos Portugal 40 (1762-1830) que se encontra na Biblioteca Nacional:

trata-se de um Minuete para cravo a 4 mãos. Além deste exemplo, apenas subsistem os

arranjos para piano de Domingos Bomtempo da sua Sinfonia op. 11 e da Marcha do Hino

Lusitano op. 10.

Esta escassez de elementos neste período pode não significar a não existência de

obras deste tipo, mas a insuficiência de informação a respeito. É certo que a ópera e a

música religiosa de estilo operático dominavam o panorama musical português da época,

mas há notícias de que uma tradição de concertos públicos e também privados, em que se

cultivava a música instrumental para orquestra ou conjuntos de câmara, teve lugar nesta

altura 41 . Consideramos, por isso, que o culto da música instrumental no nosso país nesta

época foi, de certa forma, uma realidade, embora sem as condições e nos termos que

fizeram com que noutros países este tipo de música suplantasse em importância a música

vocal, nomeadamente a de influência italiana que ainda perduraria no nosso país pelo

século XIX adentro.

40
Os compositores e obras referidas nestes três primeiros parágrafos foram retirados do catálogo da
Biblioteca Nacional disponibilizado pela Internet: http://pesquisa.bn.pt/
41
BRITO (1989) Estudos de História da Música em Portugal

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No século XIX, também existem alguns testemunhos desta prática como é o caso de

uma Sonata em Si bemol a 4 mãos de Joaquim Casimiro Júnior 42 (1808-1862) publicada

em 1838, e um fragmento das Lições de piano improvisadas em Dó Maior, publicadas

entre 1835 e 1862. Também de Joaquim Silvestre Serrão 43 chegou a obra Os Aliados da

Crimeia – múzica para piano solo ou dois pianos – entre os anos de 1868 e 1879, em Paris.

André Navarro, que terá morrido cerca de 1900, deixou um Hino a Nossa Senhora das

Graças, para pianoforte a 4 mãos, uma redução efectuada pelo autor e publicada entre

1890 e 1910. Além destes compositores ainda há menção de uma Dança para piano a 4

mãos de Sérgio Bettencourt Sampaio (c. 1900), de uma Abertura para piano a 4 mãos de

Alfredo Cipriano Gazul (1844-1908), de um Quinteto (pequeno) para piano a 4 mãos, 2

violinos e uma flauta, publicada em 1854, de autoria de Manuel Inocêncio Liberato dos

Santos 44 ; D. J. dos Santos 45 ( -1855) compôs a obra Danças quadrille de contradanses

piano a 4 mãos, organizada em quatro conjuntos numerados.

As obras aqui enumeradas mostram que este género era utilizado de várias formas:

quer como produção original, quer como transcrição de obras dramáticas, religiosas ou

orquestrais, prática que, como foi enunciado no primeiro capítulo, era corrente na música

europeia. E apesar de constarem apenas estes elementos, não é de excluir o facto de que

ainda muitas obras estejam na obscuridade de bibliotecas, espólios dos compositores ou na

posse de particulares que desconhecem o seu conteúdo. Portanto não é de todo errado

afirmar que esta prática dos duetos estivesse na realidade mais difundida em todo o país

42
Joaquim Casimiro Júnior (1802 – 1862), organista e compositor português, filho de Joaquim Casimiro da
Silva. Compôs sobretudo obras religiosas e teatrais num estilo marcadamente italiano, encontrando-se
actualmente esquecidas do grande público.
43
Padre Joaquim Silvestre Serrão (1801 – 1877), compositor e organista português. Foi muito considerado
como compositor de música de igreja e como organista nos Açores. As suas obras revelam influência do
estilo teatral italiano em voga no século XIX.
44
Manuel Inocêncio Liberato dos Santos (1805 – 1887), organista e compositor português, gozou de
protecção da corte de D. Miguel a D. Luís. Escreveu música religiosa para a capela real e três óperas.
45
Duarte Joaquim dos Santos ( - 1855), organista, pianista e compositor. Efectuou concertos em Lisboa e
Porto e em 1826 mudou-se para Londres como docente, tendo como aluna a futura rainha D. Maria II. No
final da vida mudou-se para a ilha da Madeira onde compôs música religiosa.

César Gonçalves 13
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Mestrado em Educação Musical – 2005

durante o século XIX, pois o piano tinha cada vez mais aceitação em Portugal 46 e,

portanto, este factor pode ter funcionado como estímulo para a criação de obras destinadas

apenas ao piano e, entre elas, os duetos para piano. Contudo são apenas hipóteses que

carecem de comprovação, pelo que seria interessante levar a cabo um estudo nesta área

para salvaguarda deste repertório e da sua repercussão na história da música portuguesa.

Um facto singular a atestar que este modelo se encontrava difundido no meio musical

português é o de que aquando da vinda de F. Liszt a Portugal, o pianista se apresentou no

Teatro S. Carlos, em 1845, tocando com João Guilherme Daddi a dois pianos, uma obra de

F. Liszt 47 .

Até meados do século XX os duetos parecem ainda não despertar grande interesse

nos compositores nacionais, excepção feita a Vianna da Mota que aborda pela primeira

vez, de que há conhecimento, este género na sua vertente para a infância, como é o caso

das suas 6 peças fáceis Erinerungen. Para níveis mais avançados, Vianna da Mota compôs

ainda mais três obras: Ein Dorffest (1885), Recordações op.7 (1885) e uma Fantasia sobre

a ópera de Meyerbeer “Robertm le Diable” op. 42, para piano a 6 mãos (1881). Há ainda

notícias de duas obras extraviadas: Suite op. 6 (1885) e Sonata (1893) com uma parte de

violino 48 .
49
Contudo, a partir de meados do século XX, os duetos para piano mereceram a

atenção de numerosos compositores, aumentando de forma significativa a produção

nacional deste tipo de obras. Assim, pode-se referir a obra Paris 1937, para dois pianos, de

Fernando Lopes Graça, de Fernando Correia de Oliveira o Tríptico op. 13, para piano a 4

mãos e 1 percussão, Nocturnos op. 29 e Sonata op. 41 para 2 pianos. De Maria Lurdes

46
BRITO e CRANMER (1990) Crónicas da Vida Musical Portuguesa na Primeira Metade do Século XIX
47
BRITO e CYMBROM (1992) História da Música Portuguesa
48
As obras de Vianna da Mota foram retiradas do livro José Vianna da Mota 50 anos depois da sua morte
1948-1998 (1998)
49
As obras enumeradas no presente parágrafo foram retiradas do livro Invenção dos sons de Sérgio Azevedo
(1998)

César Gonçalves 14
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Martins chegou até nós Dança (1949) para dois pianos. Continuando nas obras para dois

pianos, salienta-se as Figurações III (1969) e o Stretto (1987) ambas de Filipe Pires, o

Intermezzo IV a/b (1993) de Álvaro Salazar e as Confluências I (1997) de Cândido Lima.

António Victorino D’Almeida também dedicou quatro obras para o género de dois pianos:

Dia de Mercado op. 11, Pantomina op. 13, Concerto de pífaro e fungagá op. 14 e Páscoa

no Minho op. 15. Verifica-se portanto nos compositores portugueses uma predilecção pelos

duetos para dois pianos, confirmada ainda pelas obras dos seguintes autores: Badim (1992)

de Amílcar Vasques Dias, Para dois pianos (1986) de António Sousa Dias,

Reminescences, Rêves (1991) de Pedro Rocha, Sonata (1996) e Concertino (1996) de

Sérgio Azevedo. Este último compositor, na obra Romance da Raposa (1997-99), dedica

uma das partes ao piano a 4 mãos. Pode-se ainda referir a obra Collage (1962-65) de Jorge

Peixinho, o Nocturno no cabo do mundo (1993), Para 3 pianos e harmónicos (1967) para

um ou mais pianos e dispositivo de ecos (magnetofones).

Em relação às obras didácticas para piano a 4 mãos, a lista é substancialmente

menor, constituída apenas pelo Presto op. 11 de Fernando Corrêa de Oliveira, pelos 3

Estudos para jovens (1960-64) de Cândido Lima, pelo Caleidoscópio (1987-98) de Sérgio

Azevedo de que fazem parte 8 pequenas peças e ainda as duas obras, Suite Veraneja e

Cubana, esta última para piano a 6 mãos. Para finalizar mencionemos a peça Martelinhos

de Vitória Reis, esta última escrita, também, para piano a 6 mãos.

No espólio do compositor Eurico Thomaz de Lima 50 sobrevivem numerosos

programas de audições onde constam obras a quatro mãos de autores portugueses

destinados a vários níveis, incluindo obras suas, pelo que a execução das obras de outros

autores pode ter influenciado as composições do próprio Eurico Thomaz de Lima. Do

levantamento efectuado deparamos com as seguintes referências:

50
Os duetos para a infância deste compositor serão objecto de estudo no capítulo II desta investigação.

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De Hernâni Torres, encontramos mencionadas duas pequenas valsas – Lucianinha

e Branquinha, duas discípulas do autor, e também obras mais elaboradas para este género:

O Vira, Valsa, Mazurka em Lá menor op. 6 n.º 1 e Rapsódia sobre motivos portugueses.

Frederico de Freitas compôs duetos a quatro mãos para a infância com títulos sugestivos

evocativos da infância como foi referido anteriormente: Tia Alice, O relógio, Carrocel, O

burrinho trabalhador e Giroflé-flé-flá, ou ainda situações inusuais tal como a obra Tocam

as pretinhas, sendo esta última retirada de O Livro da Maria Frederica. Também

Gonçalves Simões dedicou algumas das suas obras a quatro mãos para a infância, como é o

caso de Corridinho e Burrinho Toc-toc.

Em relação aos restantes compositores que aparecem no espólio, podem não ter

composto os duetos para a infância, mas contribuíram com certeza para o desenvolvimento

deste género com obras mais elaboradas. Ivo Cruz compôs Cortejo e Dança da Amadis,

Minuete e Ritornello e Minueto. De Ruy Coelho chega-nos Alfama, Dança do Norte e

Valsa Rústica. Claúdio Carneyro também abordou este género com as obras Cantar

d’Amigo, Guajira, Dança Japonesa, Mote popular e Vito, assim como Hermínio do

Nascimento com a Suite n.º 2 Quioca. Para finalizar esta breve lista, falta mencionar duas

obras, Canção de Goa de Luís Varella-Cid e Vira de Rey Colaço.

A abordagem deste género não foi realizada de forma sistemática pelos

compositores portugueses, embora apareçam bastantes obras com propósitos e

características diferentes, e pertencentes a várias épocas, pelo que se conclui que a prática

dos duetos não foi tão escassa como pode aparecer à primeira vista. É verdade, que existem

poucas publicações e, desta forma, muitas obras permanecem manuscritas e esquecidas do

grande público. Porém, a sua execução acontecia em bastantes recitais, a avaliar, por

exemplo, pelas inúmeras referências que constam nos respectivos programas que podemos

encontrar no espólio de Eurico Thomaz de Lima.

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Aos duetos portugueses falta, no entanto, alguma coerência relativamente à

evolução deste género, bastante dispersa e quase ausente no século XVIII, e apenas um

pouco melhor no século seguinte. É verdade que ao longo do século XX se assiste a uma

maior produção, mas, como não existe uma tradição continuada, não é possível ainda

determinar quais as grandes linhas da evolução deste género no nosso país.

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3. A literatura para piano a quatro mãos destinada à infância 51

O interesse pedagógico das obras para piano a quatro mãos tem merecido a atenção

de bastantes compositores ao longo dos últimos séculos. Da produção de obras para a

infância com esta função, destacam-se três tipos diferentes:

- Os Estudos e Exercícios Técnicos: cujos maiores representantes são C. Czerny, H.

Köhler e H. Wohlfahrt. As obras destes compositores são familiares a todos os estudantes

de piano e constituem uma preciosa ajuda para o desenvolvimento da técnica de tocar em

dueto. Estes trabalhos são curtos, assim como outros similares dos compositores do século

XIX e XX, mas fornecem os elementos necessários para o desenvolvimento musical em

geral e para a prática da música de conjunto em particular.

- As obras com partes desequilibradas: neste caso apenas uma das partes se destina

à criança, enquanto a outra parte é assegurada pelo professor ou por alunos mais

experientes. Este modelo concentra uma parte substancial da produção da literatura para

piano a 4 mãos destinada à infância, particularmente no formato em que o primeiro piano

se destina à criança. São exemplos desta forma de composição: Teacher and pupil, oito

duos para instrução e recreação, op. 26 1869-1897 de W. Mason 52 ; Dialogues (Marche,

51
Este capítulo foi elaborado com base nas informações do livro de MCGRAW (2001), e apenas desenvolve
os assuntos relacionados com os duetos onde os pianistas partilham o mesmo teclado.
52
William Mason (1829 – 1908), pianista e compositor, estudou com Moscheles e Liszt, as suas obras
revelam uma escrita refinada dentro do estilo do século XIX.

César Gonçalves 18
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Menuet, Quiétude, Valse) de 1958 compostas por A. Ferté 53 , obras pedagógicas atractivas,

em linguagem tradicional e apurada; Quinze protraits d’enfants d’Auguste Renoir de J.

Françaix 54 , publicada em 1971, obras curtas, inspiradas nos retratos de Auguste Renoir, em

estilo francês, e onde cada peça está acompanhada por uma imagem cujo título fornece

também o título da música, e ainda o álbum Beginner and teacher s.d. de M. Jacobson 55 .

As pequenas variações de J. Haydn intituladas Il maestro e lo scolare, destinadas ao

professor e ao aluno também se incluem nesta categoria.

Dentro deste género há que assinalar um tipo de composição específico, onde a

parte destinada à criança apenas se serve de cinco notas e que constitui uma parte

significativa deste tipo de obras. Muitos compositores utilizaram os seus maiores recursos

artísticos e musicais na composição deste género musical popular, que parece ter sido

desenvolvido inicialmente por Anton Diabelli. Os exemplos são inúmeros, pelo que

faremos apenas alusão a algumas obras e compositores: B. Damcke 56 , que compôs a

Sonatine sur le cinq notes de la gamme, editada em 1876; C. Reinecke 57 e os seus 12

Clavierstücke op. 54 de 1857; H. Berens 58 criou a obra intitulada Melodische

Uebungsstücke, op. 62 de 1861; de R. Friml 59 subsiste a obra Musical adventures for four

little hands (Wishing moon; in magic land; Chatterbox; Blue fairy; Foxy Kitten) publicada

em 1925, com pequenas peças atractivas e pedagógicas; Cesar Cui (1835-1918) que

compôs obras de pequena dimensão, fáceis, imaginativas e com harmonias inusitadas e

53
Armand Ferté (1882 – 1973), pianista e professor francês de renome, tendo dotado uma parte da sua
produção pianística de propósitos educativos.
54
Jean Françaix (1912 - ) pianista e compositor francês. A sua obra manifesta influência de Stravinsky, mas
também revela a claridade da música francesa, engenho, espontaneidade e uma restrição clássica.
55
Maurice Jacobson (1896 – 1976), compositor, pianista, pedagogo e editor inglês. Os seus trabalhos foram
escritos num estilo conservador e inclui música de ballet, orquestral, coral, música de câmara e bastantes
obras para piano.
56
Berthold Damcke (1812 – 1875), violoncelista e professor alemão amigo de Berlioz. Compôs oratórios,
canções, obras para piano.
57
Carl Reinecke (1824 – 1910), compositor alemão de obras orquestrais, concertos, música de câmara óperas
e música de piano num estilo romântico influenciado por Mendelssohn e Schumann.
58
Hermann Berens (1826 – 1880), compositor e pianista sueco de origem alemã, compôs óperas, música
incidental, canções e para piano.
59
Rudolf Friml (1879 – 1972), pianista e compositor checo, com residência nos EUA. A sua música de piano
é leve e melodiosa tal como as suas famosas operetas Rose Marie e The Vagabond King.

César Gonçalves 19
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especialmente felizes na escrita para ambas as partes que intitulou Ten pieces on five notes

op. 74 de 1906; Ettore Pozzoli 60 que também criou obras destinadas às crianças neste

molde, Sorrisi infantili publicadas em 1948 e 1968 – 23 obras curtas, melodiosas num

idioma compacto e tradicional e J. Andriessen 61 com o seu Kayhenka’s music book (5

peças fáceis) s.d., pequenas obras onde o primeiro piano é de fácil execução, enquanto que

o segundo apresenta maiores dificuldades técnicas. A sua escrita cuidada e correcta faz

com que as notas exclusivas nas teclas brancas do primeiro piano se misturem com as

atractivas harmonias do segundo de uma forma original.

Mais difícil de encontrar é a estrutura em que a parte infantil se encontra no

segundo piano e especialmente quando se serve apenas de cinco notas. Porém,

permanecem algumas obras das quais destacamos: 59 Täglische Studien über die

Harmonisierten Scalen op. 107 de I. Moscheles (1794-1870), escalas com vários ritmos

acompanhadas pela parte harmonizada do primeiro piano. O resultado é agradável além de

estimular o estudo das escalas; Também M. Moszkowsky (1854-1925) compôs Le maître

et l’élève, 8 morceaux (Prologue, Moment musical, Mélodie, Air de Ballet, Arabesque,

Berceuse, Valse, Tarantelle) s.d., em que o segundo piano apenas utiliza cinco notas; F.

Maxson 62 nas 5 Melodious duets op. 7 de 1890 também se serve apenas de cinco notas.

Mais insólito é o caso de I. Stravinsky com as suas Três peças fáceis de 1915, em que a

segunda parte é quase absurdamente simples, consiste num padrão de 2 ou 3 notas repetido

do início ao fim de cada peça. A Marcha é dedicada a A. Casella, a Valsa a E. Satie e a

Polka a S. Diaghilev.

60
Ettore Pozzoli (1873 – 1957), pianista italiano, professor e autor de obras pedagógicas e teóricas. A sua
obra inclui música coral, de câmara, orquestral e para piano.
61
Juriaan Andriessen (1925 - ), pianista e compositor alemão, as suas obras sofreram influências de
Stravinsky e da escola francesa. Compôs música de filme, de câmara, concertos, obras para orquestra e piano.
62
Frederik Maxson (1862 – 1934), organista norte-americano, compôs anthems, canções e obras para órgão e
piano.

César Gonçalves 20
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- As obras com partes equilibradas: constituem um repertório em que ambas as

partes podem ser interpretadas por dois jovens pianistas. Este tipo foi, de longe, o mais

empregue por todos os compositores, de uma forma consistente mantendo-se actualmente

um enorme interesse por este género. As melhores contribuições manifestam-se nas

melodias bem delineadas, harmonias variadas, atractivas e construídas nas mais diversas

formas e estilos, desde o mais tradicional até ao vanguardista. As partes encontram-se bem

distribuídas, atingindo o duplo objectivo de divertir e ensinar. Salientam-se: Sonatina

(anónimo, de finais do século XVIII) – uma obra num único movimento em estilo clássico;

as 12 Valses op. 27 e 28 de J. C. H. Rinck 63 (1809) que constituem um encantador

conjunto de graciosas valsas; dois conjuntos intitulados A little concert (36 obras em dois

livros) de 1914 e Tunes for two (10 obras com títulos muito sugestivos, apelativas e num

estilo convencional) de 1925 compostas por A. Carse 64 ; Ten little duets de 1922 de H. G.

Kinscella 65 ; Musical Miniatures (Barcarolle, Hop, Skip and jump, Pastorale dance,

Peasant dance, Reverie rondino) de S. Applebaum 66 de 1953; Zkratky, conjunto de 10

obras publicadas em 1963 por M. Kopelent 67 e de Alain Auda 68 chega uma colectânea

intitulada Pour les petites personnes, peças fáceis em todos os tons, destinadas ao primeiro

nível de ensino, e compostas em 1973.

Ainda dentro deste esquema de composição podem-se encontrar obras onde ambos

os executantes se servem de cinco notas, embora os compositores não dispensassem muita

atenção a esta forma: Tunes for two (The japanese toy man; Trailing moon vine; The quick

63
Johann Christian Heinrich Rinck (1770 – 1846), compositor, organista e professor alemão. Escreveu para
órgão, música sacra coral, música de câmara e obras pedagógicas para piano.
64
Adam Carse (1878 – 1958), professor inglês, escreveu sobre a música e também obras orquestrais, música
de câmara e música destinada a práticas pedagógicas.
65
Hazel Gertrude Kinscella (1895 – 1960), musicóloga e compositora norte-americana. Escreveu
extensivamente sobre a música na América. A sua obra inclui música coral e para piano.
66
Stanley Applebaum (1922 - ), compositor americano, maestro e produtor.
67
Marek Kopelent (1932 - ). Compositor checo. Escreveu música orquestral, de câmara, para piano e para a
infância
68
Alain Auda (1942 - ), compositor francês. A sua obra inclui música para piano, religiosa, para órgão,
ballets, canções, marchas, filmes e para a infância.

César Gonçalves 21
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step; The clock man; The sunrise trail; Row, brother, row!; The maid in green; The old-

time fiddler) composta por D. Blake 69 em 1925 e Zpevem a tancem de 1954, escrita por O.

Sin 70 , conjunto de oito obras muito fáceis, com melodias bem elaboradas e ritmos agitados.

As obras aqui enumeradas encontram-se, na sua maior parte, estruturadas em

pequenos conjuntos tal como fez K. M. V. Weber. Porém, persistem também obras

isoladas de qualquer contexto, publicadas separadamente, como: Song for Kathleen de

1955 de A. M. Procter71 , ou ainda Lullaby de 1951 e Happy go lucky s.d. da mesma autora;

Light Heart s.d. de F. Swinstead 72 e Legend de 1950 de C. M. Campbell 73 , obra

imaginativa com influências modais e uma harmonia fora do comum.

Uma constante neste tipo de obras destinadas à infância é a recorrência a títulos que

reflectem de algum modo o imaginário infantil, os seus ambientes, brincadeiras e situações

familiares. Com esta prática pretenderam, de certa forma, cativar os mais pequenos, ou

aproximar os seus trabalhos à mentalidade das crianças, de forma a proporcionar o gosto

pelo instrumento, mas sem perder de vista os ideais pedagógicos. As obras que a seguir se

mencionam são disso exemplo: S. A. Emery 74 compôs An evening at home, oito obras

fáceis e apelativas (Before the fire, a story of the war, the sister plays, the mother’s story,

children and Kittens, the sleeping boy, evening song, quiet rest) op. 26 publicadas em

1870; A. Gretchaninoff 75 publicou em 1926 a suite On the green meadow (On the green

meadow; Mother’s song; Ballad; Lost in the woods; On a walk; Spring morning; Fairy

69
Dorothy Blake (1893 - ), professora e pianista norte-americana. Compôs canções e obras pedagógicas para
piano.
70
Otakar Sin (1881 – 1943), professor e compositor checo, escreveu livros de teoria musical. O seu estilo
musical é influenciado pela música folclórica checa.
71
Alice McElroy Procter (1915 - ), pianista e compositora norte-americana, estudou no Smith College e no
Eastman School of Music. Escreveu um excelente número de obras para piano destinadas à educação.
72
Félix Swinstead (1880 – 1959), pianista inglês e professor, compôs principalmente músicas pedagógicas
destinadas ao piano num estilo conservador.
73
Colin Macleod Campbell (1890 – 1953), compositor inglês e maestro. Escreveu óperas, ballets infantis e
música para piano.
74
Stephen Albert Emery (1841 – 1891), organista alemão, compôs uma ópera, música sacra e muitas obras
pedagógicas para piano.
75
Alexander Gretchaninoff (1864 – 1956), compositor russo aluno de Rimsky-Korsakov e residente nos
EUA. Compôs óperas, música litúrgica, sinfonias, canções e para piano. Cultivou um estilo germânico pós-
romântico.

César Gonçalves 22
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tale; In the village; In the mountains; Serenade) op. 99, uma obra bastante atractiva, com

partes perfeitamente equilibradas; De L. Aubert76 conhece-se Feuille d’images – cinq

pièces enfantines (Confidence, Chanson de route, Sérénade, Des pays lointains, La danse

de l’ours de peluche) publicadas em 1930; N. Dello Joio 77 publica em 1962, Family Album

(family meeting, Play Time, Story time, Prayer Time, Bed Time).

Outra particularidade destas composições para a infância é o recurso ao folclore

como base da criação ou inspiração artística. O seu objectivo prende-se com a valorização

deste património cultural por parte da criança, e também pela consciencialização de

práticas musicais alternativas, diversificadas e válidas, proporcionando uma perpetuação

das antigas tradições musicais e sua inserção nos modelos actuais. Nesta categoria também

se incluem numerosos compositores, podendo-se destacar os seguintes: G. G. Lobachëv 78

que compôs Seven songs of diffrent peoples op. 20 de 1926, melodias de vários grupos

étnicos soviéticos com arranjos peculiares; R. Alexandrescu 79 compôs trei piese usoare

pentru pian la patra Mîini de 1957 – três peças fáceis para piano a 4 mãos, pequenas e

encantadoras, baseadas nas canções folclóricas da Roménia; W. Scher 80 compôs A Chinese

fairy tale s.d., trabalho curto empregando clichés da música oriental; De A. Rowley 81

conhece-se a obra Bergerettes, com quatro músicas baseadas no folclore francês.

Além destas características aqui enumeradas, certas obras apresentam algumas

particularidades cujo objectivo só poderia ser o de facultar à criança uma visão mais ampla

76
Ver descrição anterior.
77
Norman Dello Joio (1913 - ), compositor, pianista e organista norte-americano. Estudou com Hindemith e
compôs num estilo lírico neo-clássico. Também se interessou pela música da liturgia católica.
78
Grigorii Grivgorevich Lobachëv (1888 – 1953), compositor russo que escreveu canções, música de
câmara, obras para coro e orquestra sobre temas Soviéticos e composições pedagógicas.
79
Romeo Alexandrescu (1902 - ), compositor romeno, pianista, musicólogo e professor.
80
William Scher (1900 - ), compositor norte-americano com uma prodigiosa quantidade de obras
pedagógicas previsíveis e sóbrias num estilo conservador, mas apelativas, atractivas, úteis e do agrado do
executante.
81
Alec Rowley (1892 – 1958), pianista, compositor e autor dos primeiros guias em inglês para as obras a
quatro mãos. A sua obra é extensa, nomeadamente a que foi composta para o género dos duetos para piano,
que reflectem a sua experiência como professor de grande mérito. Desde o mais elementar até ao nível de
dificuldade médio, os seus duetos são sólidos, atractivos, contém técnicas de execução diversificadas e
possuem um idioma harmónico tradicional e refinado.

César Gonçalves 23
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da interpretação pianística, das suas possibilidades e das inúmeras explorações técnicas e

tímbricas e a sua respectiva infindável busca expressiva. Os seguintes exemplos ilustram

esta situação: G. Shaw 82 compôs 6 Black key duets publicados em 1938. São duetos de

características pedagógicas, cuidadosamente arranjados e gratificantes para quem os

executa; Ruth Perdew 83 (1912-) criou o Penguin chatter, publicado em 1972, uma obra

curta, caracterizada pela politonalidade e por sonoridades pouco convencionais e Dorian

dance (1972), com uma melodia em modo dórico no primeiro piano, enquanto o segundo

realiza um acompanhamento rítmico e combinações tonais pouco frequentes, mas eficazes;

compôs ainda Whistle Tune, publicada em 1977, uma obra alegre e bem-humorada que

utiliza a escala pentatónica. C. Poole 84 vai mais longe, na obra Clapping song, de 1965,

alternando fragmentos melódicos com palmas ritmadas de belo efeito e na sua obra Conga

domina também o elemento rítmico.

82
Geoffrey Shaw (1879 – 1943), músico, organista e pedagogo inglês. A sua obra compreende música de
igreja, para órgão, orquestral, coral e para piano.
83
Ruth Perdew (1912 - ), compositor e professor norte-americano. Dedicou uma parte da sua música a
finalidades pedagógicas de forma excepcional.
84
Clifford Poole (1916 – 2003), pianista, compositor, professor e maestro canadiano. Compôs bastantes
obras destinadas à infância para piano.

César Gonçalves 24
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II

César Gonçalves 25
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1. Uma cronologia e biografia de Eurico Thomaz de Lima

1.1 Cronologia

ANO VIDA OBRA

1908 Eurico Thomaz de Lima nasce na cidade de


Ponta Delgada, Ilha de São Miguel, Açores,
no dia 17 de Dezembro. Filho de António
Thomaz de Lima – violinista, compositor,
chefe de orquestra, professor no
Conservatório Nacional de Música de Lisboa
– e de Maria Ernestina Santos Lima.

1910 Vem muito cedo para o continente, com


apenas 18 meses de idade.

1914 Primeiros improvisos musicais (com 5 anos e 4


meses) anotados pelo pai;
1921 Frequenta o Conservatório Nacional de
Música, sendo discípulo dos Mestres:
Alexandre Rey Colaço e Vianna da Mota nas
Classes de Piano, de Luís de Freitas Branco
em Estética, Acústica e História da Música,
de Hermínio do Nascimento em Composição
e de Fernando da Costa Pereira em Solfejo.

1924 O seu nome surge pela primeira vez na


primeira audição dos alunos do
Conservatório Nacional de Música no dia 5

César Gonçalves 26
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de Maio, interpretando duas obras: 1.º


Andamento da Sonata em Mi menor de J.
Haydn e Estudo em Ré menor de S. Heller.

1925 Em 7 de Junho na festa de distribuição de


prémios, no Asilo D. Pedro V, o jornal
“Diário de Notícias” de Junho, apelida-o de
“Exímio artista”.
No dia 2 de Dezembro Thomaz de Lima
actua no Teatro de S. Carlos interpretando
Fantaisie-Impromptu de Chopin recebendo
grandes aplausos e ovações por parte do
público e dos meios de comunicação.

1926 A Sociedade Nacional de Música de Câmara


de Lisboa convida Thomaz de Lima para
uma série de concertos. O primeiro em 1926,
e os restantes em 1929, 1931 (2 vezes), 1935,
1937 (recital com obras do compositor e
1939 (recital com obras de F. Chopin).

1927 Colabora em “Uma hora de Arte”, recital de


música erudita dedicado aos operários de
Lisboa e realizado no Asilo-Escola António
Feliciano de Castilho. Esta participação vai-
se estender aos anos de 1928, 1930 (2 vezes),
1931 (4 vezes) e 1936.

1928 No ano lectivo de 1928/1929 faz parte da Nocturno op. 1, Prelúdio e Estudo de Concerto
classe de piano de virtuosidade do professor para piano;
Vianna da Mota.
Em Maio, nas audições do Conservatório
Nacional, é novamente distinguido com as
mais altas considerações pelos jornais e
revistas da época (O Século – 8 de Maio, A
Lira – Abril).
No exame de 9.º ano (3.º ano do curso
superior) é-lhe atribuída a máxima
classificação “Distinção e Louvor” em
Virtuosidade, atribuída pela primeira vez

César Gonçalves 27
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naquele estabelecimento de ensino.

1929 Adquire o diploma de Professor particular da Capricho para violino e piano; Valsa para
disciplina de Piano, concedido pelo piano;
Ministério de Instrução Pública – Direcção
Geral de Belas Artes a 14 de Março.
Apresenta no 12º concerto da Associação
Académica do Conservatório Nacional de
Música quatro obras suas: Valsa, Prelúdio e
Estudo de Concerto para piano e Capricho
para piano e violino, recebendo muitos
elogios.
Thomaz de Lima obtém no exame de
Virtuosidade, mais uma vez a classificação
“Distinção e Louvor”.
A partir desta data inicia uma série de
concertos por todo o país.
No dia 8 de Dezembro dá-se a sua estreia
com a orquestra, sendo escolhida a obra de
L. V. Beethoven, Concerto em Dó Maior n.º
1 para piano e orquestra, sob direcção do
Maestro Fernandes Fão. Este acontecimento
constituiu um enorme êxito, valendo-lhe
artigos, não só nos meios nacionais de
comunicação como também na Revista
“Musica” de Barcelona em Janeiro de 1930 e
no “Le Courrier Musical” de Paris em
Janeiro desse ano.

1930 Pela primeira vez pai e filho apresentam-se Estudo em forma de Dança e Estudo de
num concerto no salão do Conservatório Execução Transcendente em Mi bemol Maior
Nacional. Dos inúmeros recitais e concertos para piano;
que realiza, destaca-se a sua colaboração
com o Orfeão Lusitano, num Sarau de Arte
no Grémio dos Açores e dois concertos em
Coimbra e Porto, sendo muito elogiado e
aplaudido.

1931 Na Academia Mozart do Porto realiza um


concerto com o seu pai. Também é

César Gonçalves 28
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convidado para tocar no Conservatório


Nacional e na emissora de rádio TSF.
É convidado pelo Director da Academia de
Amadores de Música de Lisboa, Professor
Tomaz Borba, para a classe de piano.

1932 Em Janeiro abandona a classe de piano na Tema e Variações em Fá Maior, Estudo n.º 1
Academia de Amadores de Música de (Staccato), Estudo em Sol bemol e Fantasia em
Lisboa. Assume o cargo de Director Artístico Sol bemol para piano; Poemeto Heróico para
e professor de piano na Academia Mozart do dois pianos;
Porto.
No dia 10 de Novembro apresenta pela
primeira vez um recital só com composições
suas, cuja crítica nos jornais contemporâneos
o consagrou como compositor.

1933 A vida musical da Academia impregna-se de Estudo n.º 2, 1.ª Sonata, Barcarola e Minuete
um forte dinamismo musical, provocado para piano;
pelos constantes concertos de Thomaz de
Lima. A sua fama levou a que os media
estivessem presentes nestes recitais e os
gravassem integralmente para serem
transmitidos pela rádio: Emissora Nacional,
TSF e Invicta Rádio Limitada.

1934 Thomaz de Lima compõe Canto e Amor Canto de Amor para flauta e piano; Poema para
dedicada ao flautista brasileiro Moacyr violino e piano; Dança Portuguesa para piano;
Liserra, e apresenta-a em primeira audição a
25 de Abril.
Casa com Ângela Lapa, no Porto, e um ano
mais tarde nasce o seu filho com o mesmo
nome do compositor. O Padrinho de
casamento foi o flautista brasileiro Moacyr
Liserra.
Deixa a Academia Mozart, pelo que passa a
viver exclusivamente de aulas particulares e
dos seus recitais.

1935 No Salão Orfeo, Thomaz de Lima dá um 2.ª Sonata e Dança Negra n.º 1 – Angola para
recital de música com obras de Beethoven. piano;

César Gonçalves 29
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Também organiza a primeira audição dos


seus discípulos no salão do Clube dos
Fenianos Portuenses e um recital novamente
no Salão Orfeo só com obras da sua autoria.

1936 Canção da vida e da Morte para canto e piano;

1937 Realiza-se um concerto para festejar a Balada dos olhos tristes para canto e piano;
abertura da Academia Beethoven na cidade
do Porto, onde participam os futuros
professores dessa instituição; entre eles,
Thomaz de Lima, que fica responsável por
uma classe de piano.

1938 Thomaz de Lima participa no sarau “Noite Sonatina n.º 1 para piano; Mors-Amor para
da Figueira” na Figueira da Foz radiofundido canto e piano;
pela Emissora Nacional. Organiza um
concerto no Salão Orfeo, um recital no
Primeiro Congresso Açoreano no Casino
Estoril e um concerto com composições suas
no Clube Fenianos Portuenses.

1939 Realiza um recital com obras de Chopin no Marcha e Improviso sobre canções Populares
Salão Orfeo e um recital com Celso Carvalho Açoreanas para dois pianos;
– violoncelista – no Salão Orfeo. Sai da
Academia Beethoven e no Verão faz uma
tournée pelas seguintes localidades: Termas
de Vidago, Pedras Salgadas, Gerez e Caldas
de Rainha.

1940 É nomeado Chefe das Missões Culturais do Dança Negra n.º 2 – Angola e Abelhas
Secretariado da Propaganda Nacional nas Douradas para piano; Canção para canto e
temporadas de 1940/1941, realizando cento e piano;
quatro concertos por todo o país. Nestas
digressões participaram nomes importantes
do panorama artístico-musical do momento,
e nos programas constavam muitas vezes
obras inéditas compostas por eles. É o caso

César Gonçalves 30
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de Thomaz de Lima que apresentou as


seguintes obras: Fandango, Minuete, Dança
Portuguesa, entre outras. Estas viagens por
todo o país permitiriam ao compositor tomar
conhecimento do repertório musical local,
que iria, em parte, condicionar a sua criação
musical.
Nos “Jogos Florais da Primavera”
organizados pela Emissora Nacional de
Radiodifusão concorreu com a obra Canção
para canto e piano, sendo-lhe atribuída uma
Menção Honrosa.

1941 Concorrendo aos “Jogos Florais”, alcança Fantasia à memória de Chopin e Algarve para
desta vez o Primeiro Prémio – Papoila de piano; Canção e Senhora Quintaneira para
Ouro”, atribuído por um júri constituído canto e piano;
pelos Maestros Pedro de Freitas Branco,
Pedro Blanch, Frederico de Freitas e Tomaz
Borba.
Compõe a obra Fantasia à memória de
Chopin, para homenagear um dos seus
autores predilectos.

1942 Participa num concerto em Fafe, no Teatro- Ó Ribeira, ribeirinha e Vira para canto e piano;
Cinema com a soprano Soledade
Summavielle. Neste concerto interpreta em
primeira audição Algarve – obra para piano
em oito quadros e Vira de Ponte de Lima.
Estas obras ilustram o interesse pela música
Nacional e pelo folclore que os compositores
da época nutriam.

1943 No teatro Rivoli do Porto, com a Orquestra Dança Negra n.º 3 – Angola, Divertimento e
Nacional, Thomaz de Lima interpreta o Estudo n.º 3 para piano; Dorme, dorme, meu
Concerto em Dó menor para piano e menino e Verde Gaio para canto e piano;
orquestra em três andamentos de Júlio do
Nascimento, em benefício da Cruz Vermelha
Portuguesa.

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1944 Participa num concerto no Teatro Jordão em Marcha n.º 1 para piano; Fantasia “Depois de
Guimarães e também no Teatro Rivoli no uma leitura de Camilo” para piano e orquestra
Festival da arte. e uma versão da mesma para dois pianos; Triste
Cantiga de Amor para canto e piano;

1945 Dá-se a criação da Orquestra Sinfónica do Samba e Buchenwald para piano;


Porto, sendo seu titular o Maestro Frederico
de Freitas. No primeiro concerto, a 24 de
Janeiro, Thomaz de Lima integrando o
elenco de instrumentistas interpreta a sua
obra Rumba, entre outras de diversos autores.
Inicia uma classe de piano, na cidade de
Guimarães, onde, durante 18 anos, dirigirá
cursos de aperfeiçoamento e interpretação
pianística.

1946 No mês de Dezembro no Porto, num recital Marianita e Trovas Satíricas para canto e
promovido pela Associação para a paz, piano; Marianita – arranjo para coro;
Thomaz de Lima interpretou a obra
Buchenwald, obra inspirada no drama dos
campos de concentração alemães. O seu
acolhimento bastante positivo originou a
execução desta obra em diversos recitais
posteriores.

1947 Em entrevista ao Jornal “Diário do Minho”, Suite Portuguesa n.º 1 e Pantomima Rústica
o próprio Eurico Thomaz de Lima para piano;
reconhece-se como um verdadeiro
nacionalista, defendendo o nosso rico
património musical folclórico genuíno –
viras, fandangos e toadas, não aceitando o
fado como genuína música nacional.

1948 Em Guimarães apresenta no Salão Nobre do Variações Vimaranenses, Sonata n.º 3 e Dança
Grémio do Comércio de Guimarães as obras Negra n.º 4 – Angola para piano; Chula do
Sonata n.º 2 e Suite Portuguesa. Douro, Valsa para piano a 4 mãos e adaptação
Em Junho, na mesma cidade, organiza a do Samba (1945) para dois pianos;
primeira audição de alunas no salão de festas
do Teatro Jordão com visível êxito. Estas
audições serão uma constante no final de

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cada ano lectivo até ao ano de 1962. Devido


ao favorável acolhimento das suas obras e do
êxito dos seus concertos, Thomaz de Lima
compõe a Sonata n.º 3 estreada no Clube
Fenianos Portuenses no dia um de
Dezembro, e as Variações Vimaranenses
sobre o tema do Hino da cidade, executada
em primeira audição no dia 1 de Junho de
1949 na cidade de Guimarães.

1949 Executa em primeira audição “Samba”. Valsa para piano a 4 mãos;


Realiza, em Setembro, uma “tournée” de
concertos pelo Brasil com visível êxito,
registado nos meios de comunicação da
época e pelos elogios manifestados pela
crítica. Recebe do “Liceu Literário
Português” e da “Casa do Porto” do Rio de
Janeiro, os respectivos diplomas de “Sócio
Honorário”.

1950 Execução da obra O Ferreiro para orquestra, 2.ª Sonatina, O Ferreiro e Marcha n.º 2 para
no 218º Serão Cultural e Recreativo da piano;
FNAT a 5 de Agosto de 1950. Thomaz de
Lima participa num sarau de poesia e música
no Clube Fenianos Portuenses.

1951 Apresenta um recital dedicado Morna n.º 1 – Cabo Verde para piano; Suite
exclusivamente à música brasileira a 5 de Portuguesa para flauta e piano;
Março.

1952 Pela primeira vez actua num recital na Chula do Douro e Toccata para piano;
Galiza, em Abril, integrado na “Hora da
Arte” em Santa Cruz.
Nova digressão pelo Brasil, que consolida o
seu prestígio como compositor e intérprete já
patente na primeira viagem.
No dia 13 de Agosto grava na rádio
Ministério da Educação e Saúde, para a
professora da disciplina de “Folclore” na

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Escola Nacional de Música do Rio de Janeiro


– Henriquets Braga as seguintes obras:
Morna n.º 1, Três danças Negras e Coral
Alentejano da Suite Portuguesa n.º 1. Meses
mais tarde estas composições foram
transmitidas pela Rádio Renascença, Estação
do Porto.

1953 Sob o patrocínio do Orfeão Valadares Morna n.º 2 – Cabo Verde e Lundum Açoreano
Thomaz de Lima participa no “Grande para piano; Brasil e Este Lenço em que chorei
Concerto de Piano”. No âmbito do 12º para canto e piano;
concerto da Associação Cultural do Norte
realiza um recital. Também no Teatro Jordão
em Guimarães Thomaz de Lima organiza um
recital.

1954 Em 24 de Maio no Porto, no clube Fenianos Sonata n.º 4 e Suite Portuguesa n.º 2 para
Portuenses, apresenta seis obras da sua piano;
autoria em primeira audição: Sonata n.º 4,
Estudo n.º 6, Tocata n.º 3, Pirilampos,
Polichinelozinho e a Suite Portuguesa n.º 2.

1955 Thomaz de Lima participa num Concerto no Prelúdio e Scherzino e Dança para piano; Por
Teatro Aveirenses e realiza um recital no tuas próprias mãos para canto e piano;
Salão do Clube Fenianos Portuenses e
novamente no Teatro Jordão em Guimarães.

1956 No mês de Maio, no Conservatório de Regresso dos Ceifeiros para piano;


Música do Porto, realiza pela primeira vez
um recital com a cantora Lucinda da Rocha
Barbosa Henriques, onde executa
composições suas em primeira audição:
Prelúdio e Scherzino e Brasil, esta última
com versos do poeta brasileiro Carlos Valle,
personalidade responsável pelas suas
digressões no Brasil.

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1957 Em Maio, no salão do Conservatório de O Bailador de Fandango para piano; Suite para
Música do Porto, realiza um recital das suas Violoncelo e Piano;
composições, sendo uma delas em primeira
audição: Fantasia, depois de uma leitura de
Camilo, versão para dois pianos com
Thomaz de Lima e o pianista José Neves.

1958 É convidado pela “Pró-Arte”, delegação de Barcarola e Dança Cigana para dois pianos;
Leiria da Fundação Calouste Gulbenkian,
para dar um recital a três partes, sendo a
primeira apenas com obras suas.

1959 É convidado para a realização do primeiro Estudo Brasileiro para piano;


recital de piano, por ocasião da inauguração
dos Estúdios do Porto da Rádio Televisão
Portuguesa, em Outubro.

1960 Executa vários concertos organizados pela


“Pró-Arte”, patrocinados pelo Instituto para a
Alta Cultura e pela Fundação Calouste
Gulbenkian, actuando nas cidades de S. João
da Madeira, Vila da Feira, Guarda, Covilhã e
Castelo Branco.

1961 As suas obras são interpretadas nos Rondino, Marcha Humorística e Toadilha para
Concertos da Pró-Arte em Viseu, Lisboa, piano a 4 mãos;
Odivelas, Évora e Ponta Delgada. Nos
concertos de Natália Andrade são executadas
obras de Canto e Piano de Thomaz de Lima.

1962 A sua obra Depois de uma leitura de Camilo,


é estreada na versão piano e orquestra no
Teatro Cine da Covilhã, em 25 de Maio, com
a Orquestra Sinfónica do Sindicato dos
Músicos sob direcção do Maestro Raul de
Lemos e com a colaboração do Orfeão da
Covilhã.

1963 Thomaz de Lima realiza vários recitais na Toccata (3.ª versão do autor) para dois pianos;
TSF e na Emissora Nacional. A partir desta

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data nas audições dos discípulos de Campos


Coelho constarão regularmente obras de
Thomaz de Lima.

1964 Thomaz de Lima interpreta ao piano uma


Fantasia orquestrada por José Neves, no
Cinema Nun’Alavres, com a Orquestra
Sinfónica do Conservatório do Porto, tendo
como maestro Silva Pereira.

1965 Efectua inúmeros recitais na rádio e na Vira para coro;


televisão.
Assume o cargo de Director Artístico e
professor de piano da Academia de Música e
Belas-Artes da ilha da Madeira.
Em 22 de Novembro iniciam-se as primeiras
audições de Thomaz de Lima nesta
Academia, em honra de Santa Cecília, sendo
a primeira parte preenchida com
composições suas: quatro Lieder sobre
poesias de autores portugueses, cantados por
Renate von Schenckendorff, com Thomaz de
Lima ao piano.

1966 No dia 14 de Maio, realizam-se as primeiras Ilha do Paraíso para piano;


audições escolares do ano lectivo de
1965/1966 da Academia de Música e Belas-
Artes da Ilha da Madeira, sendo a maior
parte das obras escritas pelo compositor.
A 14 de Dezembro apresenta a obra Ilha do
Paraíso como homenagem à Madeira, uma
Suite em seis quadros e, segundo o autor,
inspirada na paisagem e folclore da ilha.

1967 Terminado o contrato, Thomaz de Lima A minha primeira valsa para piano a 4 mãos;
regressa definitivamente ao continente em
Julho, sendo convidado para leccionar na
Academia Parnaso, novamente no Porto.

1968 Dança Portuguesa n.º 1 para dois pianos;

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1969 Thomaz de Lima realiza um recital em Valsa Caprichosa para piano;


Barcelos e uma audição dos seus discípulos
da Academia Parnaso.

1970 Thomaz de Lima é convidado a apresentar Canção sem palavras e Profecia para piano;
obras suas para o X Concurso Parnaso, a fim Dança Portuguesa n.º 2 para dois pianos;
de serem apresentadas como prova
obrigatória para os diversos concorrentes.

1971 São emitidos inúmeros recitais de Thomaz de


Lima, através da rádio e alguns pela
televisão, actuando pela primeira vez na
Maia, em Abril.

1972 O Conservatório de Música Calouste Dança do Pica-Pau para dois pianos;


Gulbenkian convida-o para leccionar as
classes de piano, desempenhando funções até
ao limite de idade permitido por lei, como
servidor civil do Estado.

1973 O seu método Gradual é adoptado Gradual – “Colecção de 28 peças para a


oficialmente pelos programas oficiais do mocidade” – as obras presentes nesta
Conservatório Nacional para os 2.º e 3.º anos colectânea foram compostas entre 1932 e 1962
da classe de piano. e destinam-se ao piano;

1975 Fim do contrato com a Academia Parnaso.

1978 Jubilação com setenta anos de idade no


Conservatório de Música Calouste
Gulbenkian, no dia 17 de Dezembro onde
Eurico Thomaz de Lima é homenageado,
realizando também um recital com obras da
sua autoria.

1989 Eurico Thomaz de Lima morre na cidade da


Maia no dia 8 de Junho.

1998 Homenagem ao compositor através da


realização de um recital no Instituto de

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Estudos da Criança – Universidade do


Minho, inteiramente com obras de sua
autoria, pelos alunos do Curso de Estudos
Superiores Especializados em Educação
Musical no dia seis de Junho.

2001 Doação do Espólio Musical de Eurico


Thomaz de Lima à Universidade do Minho,
pelo seu filho Eurico Adolfo Thomaz de
Lima em 31 de Maio, permanecendo no
Instituto de Estudos da Criança.
Exposição do seu espólio no Instituto de
Estudos da Criança – Universidade do
Minho, na cidade de Braga, de 31 de Maio a
2 de Junho.
Publicação da colectânea Para os pequenos
pianistas tocarem, Edição da Universidade
do Minho Centro de Estudos da Criança.

2002 Publicação da obra Chula do Douro para


piano a 4 mãos, na separata da Revista de
Educação Musical n.º 113-114 da APEM.

2003 Exposição do seu espólio no Museu de


Alberto Sampaio, na cidade de Guimarães,
durante o mês de Março.

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1.2 Alguns dados biográficos de Eurico Thomaz de Lima

Eurico Thomaz de Lima nasceu na cidade de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel,

Açores, a 17 de Dezembro de 1908. Era filho de António Thomaz de Lima, uma

personalidade de grande vulto no panorama musical contemporâneo e que desempenhava

as funções de violinista, compositor, maestro e professor no Conservatório Nacional de

Música de Lisboa. Sua mãe chamava-se Maria Ernestina Santos Lima.

Com apenas dezoito meses muda-se para o continente, para a cidade de Lisboa.

Chega a cursar os dois primeiros anos do Liceu Camões mas, a partir de 1921, levado pela

paixão da música e como consequência do ambiente artístico que se respirava em casa dos

seus pais, Eurico Thomaz de Lima frequenta o Conservatório Nacional de Música, sendo

discípulo dos Mestres Alexandre Rey Colaço e Vianna da Mota nas Classes de Piano, de

Luís de Freitas Branco em Estética e História da Música e de Hermínio do Nascimento em

Composição. Convém referir que o grande impulsionador da carreira musical de Eurico

Thomaz de Lima foi Rey Colaço, que acompanhou o seu percurso até à sua morte em

1928. Rey Colaço, cedo reconheceu as suas capacidades excepcionais para a música, já que

antes de entrar para o Conservatório Nacional, Eurico Thomaz de Lima tinha executado

um Fox-trot 85 da sua autoria e Rey Colaço logo desejou tomá-lo como seu discípulo. Esta

dedicação era tal que nas vésperas do seu exame final, estando Rey Colaço internado no

hospital da Universidade de Coimbra para ser operado, enviou um telegrama a desejar-lhe

boa sorte.

As primeiras obras de fôlego conhecidas, de Eurico Thomaz de Lima, datam de

1928: Nocturno op. 1, Prelúdio e Estudo de Concerto para piano. Nos exames finais do

85
Esta seria a sua primeira composição de que há conhecimento, no entanto não aparece no espólio, nem em
catálogos feitos pelo autor. Informação retirada da revista ilustrada “Os Açores” de Agosto de 1928, Lisboa.

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Curso Superior e de Virtuosidade, em 1929, Eurico Thomaz de Lima obteve a mais alta

classificação pela primeira vez atribuída pelo Conservatório Nacional de Lisboa:

“Distinção e Louvor”. Também é neste último ano do Conservatório que Eurico Thomaz

de Lima apresenta quatro obras suas: Valsa, Prelúdio e Estudo de Concerto para piano e

Capricho para piano e violino no 12º concerto da Associação Académica do Conservatório

Nacional de Música, iniciando assim a sua carreira de compositor.

Após ter finalizado o seu curso, e ainda no ano de 1929, Eurico Thomaz de Lima

principia uma carreira artística intensa como pianista, realizando concertos nas principais

cidades do país e interpretando com frequência obras suas, empenhando-se activamente na

divulgação da música portuguesa. Em 1931 é convidado pelo Director da Academia de

Amadores de Música de Lisboa, o Professor Tomaz Borba, para a classe de piano, cargo

que assumiria até 1932.

A sua enorme reputação como artista e músico fez com que se apresentasse

regularmente em recitais na Rádio Difusão Portuguesa (ex-Emissora Nacional), no Rádio

Clube Português, Rádio Renascença e na Radiotelevisão Portuguesa – Estúdios do Porto. É

preciso relembrar que os meios de comunicação social sempre fizeram uma crítica

favorável e entusiasta aos seus concertos e recitais. Este facto é comprovado pelos

inúmeros artigos de revistas e jornais que o compositor foi guardando ao longo da sua vida

e que se encontram no seu espólio 86 . Além disso, nos programas de concertos que Eurico

Thomaz de Lima cuidadosamente guardou, compreende-se, através das anotações do

compositor, que muitas das suas obras eram bisadas, ou interpretadas outras obras como

extra-programa que o público conhecia e apreciava. Portanto não é exagero afirmar que as

suas aparições em público eram coroadas de êxito e que a sua fama como intérprete e

86
Em anexo encontra-se a lista de jornais, revistas e boletins que se referem a Eurico Thomaz de Lima –
Anexo A

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solista era sólida e apreciada também pelas personalidades de vulto da cultura musical

portuguesa da época 87 .

Em 1932, Eurico Thomaz de Lima assume o cargo de Director Artístico e professor

de piano na Academia Mozart do Porto, desempenhando as suas funções convenientemente

até 1934, quando passa a viver apenas das aulas particulares e de recitais e concertos.

Porém, entre os anos de 1937 e 1939, Thomaz de Lima é convidado para leccionar na

Academia Beethoven, no Porto, ficando responsável por uma classe de piano.

Nos “Jogos Florais da Primavera”, em 1940, organizados pela Emissora Nacional

de Radiodifusão, o compositor concorreu à modalidade de “Canção para canto e piano”,

sendo-lhe atribuída uma Menção Honrosa. Concorrendo novamente no ano seguinte,

alcança desta vez o Primeiro Prémio – “Papoila de Ouro” – atribuído por um júri

constituído pelos Maestros Pedro de Freitas Branco, Pedro Blanch, Frederico de Freitas e

Professor Tomaz Borba, o que atesta definitivamente a sua qualidade como compositor.

Nas temporadas de 1940/41, Eurico Thomaz de Lima é nomeado Chefe das

Missões Culturais do Secretariado da Propaganda Nacional, participando nestes recitais

nomes sonantes da cultura musical portuguesa – Madalena Sá e Costa, Paulo Manso e

Leonor Vianna da Mota, realizando um total de 104 concertos por todo o país.

Como virtuoso do piano a maior parte das suas composições centra-se neste

instrumento, evidenciando toda a sua técnica e expressão que são explorados ao máximo

pelo compositor. Exemplo disto são as obras: Fantasia à memória de Chopin (1941),

Algarve (1941), Samba (1945), Buchenwald – protesto musical (1945), Variações

Vimaranenses (1948) ou ainda os seus diversos Estudos e Sonatas. Todavia, Eurico

Thomaz de Lima abordou igualmente os outros géneros musicais, dos quais se destaca:

Depois de uma leitura de Camilo, Fantasia para piano e orquestra (1944), Suite Portuguesa

87
Em anexo encontram-se testemunhos de várias personalidades da época sobre Eurico Thomaz de Lima –
Anexo B

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para piano e flauta (1951) ou ainda a Suite para violoncelo e piano. Também se dedicou à

composição de obras de canto e piano, que colheram o entusiasmo de muitos intérpretes

consagrados como é o caso de Natália Andrade que nos seus programas incluía obras de

Thomaz de Lima.

A partir de 1945, iniciou uma classe de piano, na cidade de Guimarães, onde

durante 18 anos, dirigiu cursos de aperfeiçoamento e interpretação pianística. Esta

iniciativa foi acolhida com entusiasmo por parte dos jovens pianistas, e as audições

regulares que se efectuavam com os seus discípulos revelaram-se um grande êxito na vida

cultural vimaranense. O último destes recitais realizou-se em 11 de Junho de 1963.

Em 1949 realizou uma “tournée” no Brasil, dando cumprimento a um desejo que

alimentava há muito e expresso nas suas entrevistas aos meios de comunicação social. A

sua digressão constitui um assinalável êxito, apresentando-se nas salas de concertos mais

importantes desse país. De facto o êxito é tal que Eurico Thomaz de Lima realiza em 1952

nova viagem ao Brasil consolidando o seu prestígio como compositor e intérprete. Além

disso, efectua no Rio de Janeiro gravações que serão mais tarde transmitidas pela rádio

Renascença e Estação do Porto. Esta ida ao Brasil testemunha o facto de a música deste

compositor não estar confinada aos limites do território nacional; aliás Eurico Thomaz de

Lima tinha conhecimento de que a sua obra era executada noutros países tendo elaborado

inclusive, uma lista onde constam os intérpretes e locais da execução das suas obras além

fronteiras 88 .

No ano de 1959 é convidado para a realização do primeiro recital de piano, por

ocasião da inauguração dos Estúdios do Porto da Rádio Televisão Portuguesa. No ano

seguinte faz parte do lote de concertos organizados pela “Pró-Arte”, patrocinados pelo

88
Em anexo encontra-se a lista que Eurico Thomaz de Lima elaborou das interpretações das suas obras fora
de Portugal – Anexo C

César Gonçalves 42
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

Instituto para a Alta Cultura e pela Fundação Calouste Gulbenkian, actuando nas cidades

de S. João da Madeira, Vila da Feira, Guarda, Covilhã e Castelo Branco.

Em 1965, Eurico Thomaz de Lima assume a função de Director Artístico e

professor de piano da Academia de Música e Belas-Artes da ilha da Madeira até terminar o

seu contrato em 1967, pois era seu desejo regressar ao continente, nomeadamente à cidade

do Porto. Durante a sua estadia na ilha da Madeira compõe uma Suite em seis quadros

intitulada Ilha do paraíso em homenagem ao arquipélago da Madeira.

No Porto, em 1967, Eurico Thomaz de Lima é convidado para leccionar na

Academia Parnaso, cargo que cumprirá até 1975. Entretanto em 1972 o Conservatório de

Música Calouste Gulbenkian de Braga também convida Thomaz de Lima para a classe de

Piano, função que deixará por ter atingido o limite de idade permitido por lei, como

servidor de Estado em 1978. O seu método “Gradual”, que reúne 28 obras para a infância

compostas entre os anos de 1932 a 1962, é adoptado oficialmente em 1973 pelos

programas oficiais dos Conservatórios Nacionais.

Eurico Thomaz de Lima morre, anos mais tarde, na cidade da Maia, em 8 de Junho,

no ano de 1989.

O seu nome figura na Secção Portuguesa da “Sociedade Internacional de Música

Contemporânea” com sede em Londres na qualidade de compositor e também na

Enciclopédia Luso Brasileira da Cultura, no volume n.º 15, página 83 89 .

89
Em anexo encontra-se a entrada referente ao compositor – Anexo D

César Gonçalves 43
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

2. A obra musical

A inventariação da obra do compositor, que a seguir se apresenta, foi elaborada

tendo em conta as partituras que se encontram no espólio do compositor, doado ao Instituto

de Estudos da Criança da Universidade do Minho e também dos programas de concertos e

recitais que Eurico Thomaz de Lima conservou, assim como de catálogos elaborados pelo

próprio e pelo seu filho Eurico Adolfo Thomaz de Lima. Convém lembrar que esta lista

não está ainda fechada, pois a localização de algumas obras permanece desconhecida.

Talvez as obras em falta estejam na posse de instrumentistas, na família dos antigos alunos,

ou no espólio dos compositores seus contemporâneos como é o caso de Campos Coelho,

professor do Conservatório Nacional de Lisboa.

Em cada tabela dão-se informações sobre o título, tal como consta nos manuscritos;

sobre a data de composição, e no caso em que não é possível indicar a data de composição

constará a primeira audição ou a sua primeira referência em programas de concertos de

modo a obter-se uma ideia da época da sua composição, a cidade onde foram compostas,

se possuem ou não dedicatória e por fim se o manuscrito se encontra ou não no espólio. Na

falta de alguma informação sobre um destes campos, o mesmo estará trancado.

César Gonçalves 44
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Mestrado em Educação Musical – 2005

1. Música Sinfónica

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


Depois de uma leitura de
Camilo – Fantasia para piano Julho a Outubro de 1944 Porto Não Sim
e orquestra
Sem data. Executada no dia
Minuete – orquestra 3 de Maio de 1944 no Teatro ------------ Não Sim
Jordão em Guimarães
Sem data. Executada no dia
Pequena Suite – orquestra de 13 de Julho de 1946 no 37º
Serão Cultural e Recreativo
------------ Não Sim
arcos
da FNAT
Sem data. Executada no dia
Dança Negra “Angola” – 30 de Abril de 1954 no Salão
de Festas do Clube Fenianos
------------ Não Sim
orquestra
Portuenses
Sem data. Executada no dia
5 de Agosto de 1950 no 218º
O Ferreiro – orquestra Serão Cultural e Recreativo
------------ Não Sim
da FNAT

2. Música de Câmara

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


Capricho op. 5 – piano e
10 de Maio de 1929 Lisboa Não Sim
violino
Sem data. Executada no
dia 10 de Novembro de
Rêverie – piano e violino ------------ Não Não
1932 na Academia
Mozart
Sem data. Executada no
Arlequim – Scherzino – piano dia 10 de Novembro de
------------ Não Não
e violino 1932 na Academia
Mozart
Sem data. Executada no
Poema – piano e violino dia 22 de Março de 1934 ------------ Não Não
na Academia Mozart
Canto de Amor – Flauta e “A Moacyr
1934 Porto Sim
Piano Liserra”
Suite Portuguesa – Flauta e
1951 Porto Não Sim
Piano
Suite – Violoncelo e Piano Janeiro de 1957 Porto Não Sim

César Gonçalves 45
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Mestrado em Educação Musical – 2005

3. Canto e Piano

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


Canção da vida e da Morte –
versos de Ludovina Frias de 1936 Porto ------------------ Não
Matos
Balada dos olhos verdes –
1937 Porto ------------------ Não
versos de Amélia Vilar
Canção 1940 Porto Não Sim
Canção 1941 Porto Não Sim
Mors-Amor – soneto de
Maio de 1938 Porto Não Sim
Antero de Quental
Senhora Quintaneira – Serpa 13 de Junho de 1941 Porto Não Sim
Ó Ribeira, ribeirinha – Fafe 1942 Porto ------------------ Não
És tu! – soneto de Florbela “Alma Cunha
1942 Porto Sim
Espanca de Miranda”
Vira – Ponte de Lima 1942 Porto Não Sim
Dorme, dorme, meu menino –
Toada – versos de Augusto 1943 Porto Não Sim
Gil
Não, na posse
Verde Gaio 1943 Porto ------------------ de Soledade
Summavielle
“A exma. Senhora
Triste Cantiga de Amor – D. Maria da
1944 Porto Assunção Vaz Não
poema de António Botto
Fernandes Borges”
Marianita – Baixo Alentejo 23 de Junho de 1946 Porto Não Sim
Trovas Satíricas – versos de
Novembro de 1946 Porto Não Sim
Amélia Vilar
Brasil – versos de Carlos
Março de 1953 Porto Não Sim
Valle
Este lenço em que chorei –
versos de Rebelo de 7 de Agosto de 1953 Porto Não Sim
Bettencourt
“À Ex.ma Senhora
Por tuas próprias mãos – D. Lucinda da
25 de Outubro de 1955 Porto Rocha Barbosa Sim
versos de Lacyr Schettino
Henriques”

César Gonçalves 46
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Mestrado em Educação Musical – 2005

4. Piano solo

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


Primeiros improvisos
musicais (com 5 anos e 4 4 de Maio de 1914 Lisboa Não Sim
meses) anotados pelo pai.
Nocturno op. 1 22 de Maio de 1928 Lisboa --------------- Não
Gavinhos
Prelúdio 25 de Setembro de 1928 --------------- Não
de Bairro
Gavinhos
Estudo de Concerto 29 de Setembro de 1928 --------------- Não
de Bairro
Sem data. Executada no dia
Valsa 20 de Junho de 1929 no ------------- --------------- Não
Conservatório Nacional
“Alfredo
Azenhas
Estudo em forma de Dança 29 de Setembro de 1930 Pinto Sim
do Mar
(Sacavém)”
Estudo de Execução
Transcendente em Mi bemol 4 de Dezembro de 1930 Lisboa Não Sim
Maior
Fantasia em Sol bemol Julho de 1932 Porto --------------- Não
Tema e Variações Setembro de 1932 Porto Não Sim
Executada no dia 10 de
Estudo em Sol Bemol Novembro de 1932 na ------------- --------------- Não
Academia Mozart
Estudo n.º 1 20 de Outubro de 1932 Porto Não Sim
Estudo n.º 2 23 de Janeiro de 1933 Lisboa Não Sim
1.ª Sonata 1933 Lisboa Não Sim
Minuete 16 de Dezembro de 1933 Porto Não Sim
Barcarola 1933 Porto À sua esposa Não
Executada no dia 22 de
Fantoches Março de 1934 na ------------- --------------- Não
Academia Mozart.
“D. Adelaide de
Dança Portuguesa 23 de Fevereiro de 1934 Porto Barros Freire” Sim
Executada no dia 5 de Abril
Ironias de 1934 na Academia ------------- --------------- Não
Mozart
“À minha
2.ª Sonata 1935 Porto Ângela”
Sim
Danças Negras “Angola”
Junho de 1935 Porto Não Sim
n.º 1
Sem data. Executada no dia 17
Estudo em Mi bemol de Dezembro de 1935 no salão ------------- --------------- Não
Nobre do Orfeão do Porto
1.ª Sonatina 1938 Porto Não Sim
Sem data. Executada no dia 15
Porto Nocturno de Julho de 1939 no salão da ------------- --------------- ----------------
Academia Beethoven
Hino do Patronato de S.
---------------------------------- ------------- --------------- ----------------
João Bosco*
Danças Negras “Angola”
21 de Junho de 1940 Porto Não Sim
n.º 2
Abelhas Douradas Outubro de 1940 Porto Não Sim
Fantasia à memória de De 27 de Fevereiro de 1940
Porto Não Sim
Chopin a 4 de Janeiro de 1941

César Gonçalves 47
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

Cadências para o Concerto


10 de Julho de 1941 Porto Não Sim
em Dó Maior de Mozart
Algarve – Suite em 8 De 1 de Outubro de 1941 a Barcelos –
Não Sim
quadros 8 de Novembro de 1941 Porto
Danças Negras “Angola”
Maio de 1943 Porto Não Sim
n.º3
Divertimento 10 de Maio de 1943 Porto Não Sim
Estudo n.º 3 1943 Porto Não Sim
Sem data. Executada no dia 26
Rumba de Junho de 1943 no Salão ------------- --------------- Não
Nobre do Orfeão do Porto
Marcha n.º1 29 de Maio de 1944 Porto Não Sim
Samba Maio de 1945 Porto Não Sim
Buchenwald – Protesto
Novembro de 1945 Porto Não Sim
Musical
Sem data. Executada no dia 9
de Fevereiro de 1947 no
Ritmo Palácio de la Música – ------------- --------------- Não
Barcelona, acompanhada pela
dançarina Hisa de Varim
1947 (segunda versão em Porto
Suite Portuguesa n.º1 Não Sim
Setembro de 1971) (Maia)
Do povo e para o povo (1- Executada no dia 22 de
Vira; 2-Coral Alentejano; 2- Maio de 1947 no Clube ------------- --------------- Não
Fandango) Fenianos Portuenses
Pantomima Rústica 1 de Dezembro de 1947 Porto Não Sim
Variações Vimaranenses – S. João da
Tema: “Hino da Cidade de 9 a 26 de Agosto de 1948 Vila Boa – Não Sim
Guimarães” Barcelos
1948 (2.ª versão a 14 de
Sonata n.º 3 Porto Não Sim
Maio de 1963)
Vila Nova
Danças Negras “Angola” 1948 (2.ª versão em Agosto de
Não Sim
n.º4 de 1960) Famalicão
(Porto)
2.ª Sonatina 1950 – 2.ª versão Porto Não Sim
O Ferreiro 22 de Maio de 1950 Porto Não Sim
7 de Novembro de 1950 –
Marcha n.º 2 Porto Não Sim
2.ª versão
Executada no dia 15 de Junho
de 1951 por ocasião da 3.ª
Fandango audição do Curso de
------------- --------------- Não
Guimarães
Morna n.º 1 “Cabo Verde” 1951 Porto Não Sim
Chula do Douro 30 de Março de 1952 Porto Não Sim
De 23 de Abril de 1952 a 24
Toccata Guimarães Não Sim
de Abril de 1952
De 16 de Fevereiro de 1953
Morna n.º 2 “Cabo Verde” Porto Não Sim
a 2 de Março de 1953
Lundum Açoreano Agosto de 1953 ------------- Não Sim
De Fevereiro a Março de
Sonata n.º 4 Porto Não Sim
1954
“Ao meu
2.ª Suite Portuguesa Março de 1954 ------------- querido filho Sim
Eurico Adolfo”
Prelúdio e Scherzino 14 de Outubro de 1955 Porto Não Sim
Dança 7 de Dezembro de 1955 Porto Não Sim

César Gonçalves 48
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

Setembro de 1956 – 2.ª


Regresso dos Ceifeiros Porto Não Sim
versão
O Bailador de Fandango 22 de Fevereiro de 1957 Porto Não Sim
Sem data. Executada no dia
Ronda dos Ceifeiros 31 de Maio de 1957 no ------------- --------------- Não
Conservatório de Música
Estudo Brasileiro 22 de Abril de 1959 Porto Não Sim
Sem data. Executada no dia
Toccata n.º 2 2 de Julho de 1960 no Clube ------------- --------------- Não
Fenianos Portuenses
Férias na Madeira – “Ilha
De 2 de Dezembro de 1965
do Paraíso” (Suite em 6 Funchal Não Sim
a 10 de Janeiro de 1966
quadros)
Sem data. Executada no dia
“Bailhos” cruzados 4 de Janeiro de 1967 no ------------- --------------- Não
Ateneu Comercial do Porto
Sem data. Obra executada no
dia 18 de Dezembro de 1969 na
Malhão Academia de Música de
------------- --------------- Não
Luanda
“À sua distinta
discípula Ex.ma
Valsa Caprichosa 1969 ------------- Senhora D. Não
Maria Adelaide
Santos”
Canção sem palavras 31 de Janeiro de 1970 Maia “A M. A.” Sim
Profecia 6 de Fevereiro de 1970 Maia Não Sim

* Esta obra é referida no trabalho de Manuel Afonso (1998), Eurico Thomaz de Lima
“Uma vida pela música” mas não aparece no seu espólio nem é mencionada nos
álbuns de memórias do compositor, pelo que temos dúvidas se de facto esta música foi
composta por Eurico Thomaz de Lima.

César Gonçalves 49
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

Repertório para a Infância

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


Para as pequeninas pianistas À discípula
Judith Ângela
tocarem (I – Pequena Canção; 1932 Porto de Lima Sim
II – Pequena Dança)* Fuentes
Executada no dia 15 de
Junho de 1951 por ocasião
Marcha da 3.ª audição do Curso de
------------ --------------- Não
Guimarães
O Piano da Mariinha (1- Executada no dia 9 de
Pequena Marcha; 2-Adormecendo a Julho de 1954 por ocasião
da 5.ª audição do Curso de
------------ --------------- Não
boneca; 3-Historieta; 4-Pequena
Dança) Guimarães
Executada no dia 9 de
Julho de 1954 por ocasião
Brincadeira da 5.ª audição do Curso de
------------ --------------- Não
Guimarães
Executada no dia 27 de
Junho de 1955 por ocasião
Diálogo da 6.ª audição do Curso de
------------ --------------- Não
Guimarães
Barcarola idem ------------ ------------ Não
Valsa idem ------------ ------------ Não
Dança idem ------------ ------------ Não
Prelúdio idem ------------ ------------ Não
Executada no dia 28 de
Junho de 1957 por ocasião
Pequeno estudo da 8.ª audição do Curso de
------------ ------------ Não
Guimarães
Executada no dia 30 de
Junho de 1959 no Salão
Passeio Infantil do Clube Fenianos
------------ ------------ Não
Portuenses
Dança cigana Idem ------------ ------------ Não
Executada no dia 19 de
Junho de 1961 por ocasião
O piano de João Carlos da 9.ª audição do Curso de
------------ ------------ Não
Guimarães
Pequeno estudo Idem ------------ ------------ Não
Executada no dia 22 de
Junho de 1961 no Salão
Passeio infantil ------------ ------------ Não
do Clube Fenianos
Portuenses
Santa Lúcia (canto napolitano) Idem ------------ ------------ Não
O gato e o rato 1975 ------------ Não Sim

César Gonçalves 50
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

Gradual

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


1. Pequena marcha 1953 ------------- Não Sim
2. Pequena canção 1953 ------------- Não Sim
3. Historieta 1953 ------------- Não Sim
4. Dança Rústica 1953 ------------- Não Sim
5. Dança de Roda 1952 ------------- Não Sim
6. Canção 1955 ------------- Não Sim
7. O Cuco 1955 ------------- Não Sim
8. Diálogo Infantil 1957 ------------- Não Sim
9. Bagatela 1957 ------------- Não Sim
10. A minha primeira valsa 1958 Porto Não Sim
11. Fábula 1958 Porto Não Sim
12. Passeio 1 de Maio de 1953 Guimarães Não Sim
13. Caixinha de música 11 de Abril de 1959 Porto Não Sim
14. Madrigal 27 de Abril de 1962 ------------- Não Sim
15. Dança 1959 ------------- Não Sim
16. Canção Portuguesa*
17. Dança Portuguesa*
18. Lenda 1957 ------------- Não Sim
19. Carrocel 1957 ------------- Não Sim
20. Prelúdio 1955 ------------- Não Sim
21. Toada 10 de Abril de 1956 Porto Não Sim
22. Dança popular 13 de Abril de 1956 Porto Não Sim
23. Valsa melancólica Fevereiro de 1958 ------------- Não Sim
24. Toccata 9 de Fevereiro de 1958 Porto Não Sim
19 de Setembro de
25. Valsa Caprichosa Porto Não Sim
1948
26. Marcha Egípcia Março de 1957 Porto Não Sim
27. Coral 1958 Porto Não Sim
28. Tamborileiros 23 de Janeiro de 1958 Porto Não Sim

* Estas duas obras pertencem ao conjunto “Para as pequeninas pianistas tocarem” de 1932.
Thomaz de Lima alterou os títulos e efectuou algumas modificações na “Canção Portuguesa”
mas a “Dança Portuguesa” mantém-se igual.

Versões

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


Malaguenha – da Ópera
14 de Fevereiro de 1944 Porto Não Sim
Boabdil de M. Moszkowski
Executada no dia 13 de
Chinesinho – de Alec Rowley Julho de 1967 no ------------ --------------- Não
Conservatório Nacional
A Lenda do Boto – de Laura de
----------------------------- ------------ Não Sim
Figueiredo

César Gonçalves 51
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

5. Piano a 4 mãos/2 pianos 90

Nível Avançado

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


Poemeto Heróico (2 pianos) Setembro de 1932 Porto Não Sim
Marcha (2 pianos) 1939 Porto Não Sim
Cantares Açoreanos (2 pianos) Novembro de 1939 Porto Não Sim
Fantasia “Depois de uma
24 de Outubro de 1944 Porto Não Sim
leitura de Camilo” (2 pianos)
Samba (2 pianos) 1948 ------------ Não Sim
Toccata (2 pianos) 1963 – 3.ª versão Porto Não Sim
Dança Portuguesa n.º 1
Setembro de 1968 Porto Não Sim
“Malhão” (2 pianos)
Dança Portuguesa n.º 2 “Ó
ladrão que te vais embora” (2 11 de Julho de 1970 Maia Não Sim
pianos)

Para a Infância

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


Chula do Douro (4 mãos) 1948 ------------ Não Sim
Valsa (4 mãos) 1948 ------------ Não Sim
Valsa (4 mãos) 1949 ------------ Não Sim
Sem data. Executada no dia
Dança Cigana 8 de Junho de 1949 em ------------ --------------- Não
Guimarães no Teatro Jordão
Dança Cigana (2 pianos) 30 de Dezembro de 1958 ------------ Não Sim
Barcarola (2 pianos) 14 de Dezembro de 1958 ------------ Não Sim
Toadilha (4 mãos) 1961 ------------ Não Sim
Rondino (4 mãos) 1961 ------------ Não Sim
Marcha Humorística (4 mãos) 1961 ------------ Não Sim
A minha primeira valsa (4 mãos) 1967 ------------ Não Sim
Sem data. Executada no dia Não. Encontra-
O ratinho 12 de Julho de 1969 no ------------ --------------- se em poder de
Conservatório Nacional Campos Coelho
Sem data. Executada no dia Não. Encontra-
Tilintar de Campainhas 12 de Julho de 1969 no ------------ --------------- se em poder de
Conservatório Nacional Campos Coelho
Sem data. Executada no dia
Ao Luar 12 de Julho de 1969 no ------------ --------------- Não
Conservatório Nacional
Sem data. Executada no dia
Canção de Embalar 12 de Julho de 1969 no ------------ --------------- Não
Conservatório Nacional
Sem data. Executada no dia
Dança Portuguesa 11 de Julho de 1970 no ------------ --------------- Não
Conservatório Nacional
Dança do Pica-pau (2 pianos) 13 de Fevereiro de 1972 Maia Não Sim

90
Para diferenciar os duetos será colocado a seguir ao título a designação de 2 pianos ou 4 mãos, caso a
partitura não conste no espólio do compositor, nada será indicado por motivo de ausência de informações.

César Gonçalves 52
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

Versões

Nome Data Autor Espólio


Rondo (2 pianos) 1948 Muzio Clementi Sim
Valsa Eslava (2 pianos) 1948 Ch. M. Widor Sim
Marcha Militar (2 pianos) 1948 Schubert Sim
Marcha Turca (2 pianos) 1957 Mozart Sim
Vozes da Primavera (2
1957 J. Strauss Sim
pianos)
“Le biondina” – Bagatela
1958 Weigl Sim
(4 mãos)
Sem data. Executada no
dia 11 de Junho de 1963
Prelúdio em Dó menor J. S. Bach Não
no Salão do Clube
Fenianos Portuenses
Galope (4 mãos) 1966 Emile Fischer Sim
Berceuse (2 pianos) 1967 Brahms Sim
Não, em poder de
Passarinho de Loiça 1968 Miguel Pessoa Jorge
Campos Coelho
Sem data. Executada no dia
Ao luar 13 de Julho de 1968 no Jessie Blake Boosey Não
Conservatório Nacional
Sem data. Executada no dia
O chinesinho 11 de Julho de 1970 no Alec Rowley Não
Conservatório Nacional
A um arranha-céus Idem Thompson Não
Valsa Idem E. Grieg Não
Saudação à Rainha Idem Thompson Não
Dança Campestre Idem Thompson Não
Sem data. Executada no dia
Campainhas de Natal 10 de Julho de 1971 no Alec Rowley Não
Conservatório Nacional
Dança Russa Idem Ward Não
Marcha Idem Ward Não
Zé Pereira Idem Leanza Não
Romanza op. 10 n.º 1 (2
1971 Hernâni Torres Sim
pianos)
Sem data. Executada no dia
O mundo das fadas 15 de Julho de 1972 no Thompson Não
Conservatório Nacional
Moda da Carranquinha Idem Vill-Lobos Não
Valsa Idem Beethoven Não
Tambourin Idem Rameau Não
Sem data. Executada no dia
Tema 14 de Julho de 1973 no Haydn Não
Conservatório Nacional
Marcha Militar Idem Aguilar Não
Dedicatória Idem Granados Não

César Gonçalves 53
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

Não, em poder de
Maple Leaf Reag 1975 Scott Joplin
Campos Coelho
Sem data. Executada no dia
Caixa de Música 12 de Julho de 1975 no Bull Não
Conservatório Nacional
O fantasma Idem Granados Não
A uma rosa silvestre Idem Mac-Dowell Não
Canção do Solvej (2
1977 E. Grieg Sim
pianos)
Sem data. Executada no dia
Tambourin en Rondo 6 de Julho de 1977 no Rameau Não
Conservatório Nacional
Laendler (2 pianos) 1978 F. Schubert Sim
Sem data. Executada no dia
Canção 10 de Julho de 1978 no F. Schubert Não
Conservatório Nacional
A um botão de rosa Idem Mac-Dowell Não
Três Escocesas (2 pianos) 1979 F. Schubert Sim
Sem data. Executada no dia
Dança 8 de Julho de 1981 no F. Schubert Não
Conservatório Nacional
Duas danças Campestres Idem Beethoven Não
A grande porta de Kiev (2
1981 M. Moussorgsky Sim
pianos)
Sem data. Executada no dia
O ratinho 7 de Julho de 1982 no Alec Rowley Não
Conservatório Nacional
Cortejo Real Idem Thompson Não
Roda (2 pianos) 1982 Lorenzo Fernandez Sim
A Grecian cradle song (2
1982 Jean Williams Sim
pianos)
Não, em poder de
Le petit chinois Sem data Alec Rowley
Campos Coelho
Não, em poder de
Pierro – au clair de lune Sem data Jessie Blake Boosey
Campos Coelho

6. Música Coral

Nome Data Cidade Dedicatória Espólio


Hei-de m’ír para o Algarve –
Sem data ------------ Não Sim
Baixo Alentejo (4 vozes)
Marianita – Baixo Alentejo
1946 ------------ Não Sim
(arranjo a duas e três vozes)
Vira – 4 vozes 2 de Agosto de 1965 Porto Não Sim

César Gonçalves 54
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

7. Obras Editadas

- Canção da vida e da morte – Edição do Quinzenário Ritmo n.º 72 de 25 de Março


de 1937;
- Balada dos olhos verdes (1937) – Edição Tipografia Costa, Carregal, Depositária
Casa Moreira de Sá, (s.d.);
- Triste Cantiga de Amor (1944) – Edição Tipografia Costa, Carregal, Depositária
Casa Moreira de Sá, (s.d.);
- Barcarola – Edição Tipografia Costa, Carregal, Depositária Casa Moreira de Sá
em 1933;
- Danças Negras “Angola” n.º 1 – Edição do Quinzenário Ritmo n.º 42 de 25 de
Junho de 1935, Lisboa;
- Valsa Caprichosa – Edição Tipografia Editorial Franciscana, 1969, Braga,
Depositária Biblioteca Musical, Porto;
- Para os pequeninos pianistas tocarem – Universidade do Minho Centro de
Estudos da Criança, Braga, 2001;
- Chula do Douro (1948) – Revista de Educação Musical n.º 113, 114, APEM,
Braga, 2002;
(A data refere-se à sua composição e edição, salvo na caso destas últimas duas
obras)

8. Obras gravadas

Vinil

Discos gravados no Rio de Janeiro em Agosto de 1952


Com obras de Thomaz de Lima

Disco 1 – Editora Odeon


- 2.ª Sonatina: Pastoral, Vira e Allegro deciso

Disco 2 – Editora Odeon


- Marcha
- Toccata
- Pantomima Rústica
- O Ferreiro

Disco 3
- Coral Alentejano – da Suite Portuguesa
- Chula do Douro

Disco 4 – Editora RCA Victor


- Chula do Douro
- Barcarola

Disco 5
- Abelhas Douradas
- Morna (Cabo Verde)

César Gonçalves 55
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

Disco 6 – Editora Hebraico e Idish – Discos de Israel


- Dança Negra n.º 1,2 e 3

Disco 7
- Brasil
Piano: Eurico Thomaz de Lima

Disco gravado na Emissora Nacional a 24 de Abril de 1941

- Fantasia à memória de Chopin


Piano: Eurico Thomaz de Lima

Outros discos

Disco 1 – L’Echo du Monde


- Mors-Amor
- Vira
- Dorme, dorme, meu menino
- Marianita

Piano: Eurico Thomaz de Lima/ Canto: Alma Cunha de Miranda

Disco 2 – Inglaterra, Editora Emidisc


- És tu
- Triste Cantiga de Amor
- Canção (1940)
Piano: Eurico Thomaz de Lima/ Canto: Alma Cunha de Miranda

Disco 3 – L’Echo du Monde


- 2.ª Sonatina
- Coral Alentejano
- 3.ª Sonatina: Allegro final
- Divertimento
- O Ferreiro
- Dança Negra n.º 3
Piano: Eurico Thomaz de Lima

Disco 4 – New York USA Ed. Audiodiscs


- Brasil
- Súplica

b) Fita
- Fantasia para piano e orquestra
- Diversas obras da sua autoria

César Gonçalves 56
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

A lista de obras que se apresenta contém um total de 219 composições, se tivermos

em conta os seus improvisos, as cadências para o Concerto em dó Maior de W. A. Mozart

e as versões para piano solo e para os duetos a 4 mãos ou dois pianos. Destas obras,

constatamos que o volume de obras consagradas ao género do dueto é impressionante: 8

obras de grandes proporções para um nível avançado, 16 para a infância e 48 versões das

quais apenas seis se destinam a pianistas avançados e as restantes dedicadas aos mais

pequenos, totalizando 72 obras.

Apesar da sua obra ter sido pouco publicada, os seus incontáveis concertos e

recitais, bem como a sua actividade pedagógica, serviram de estímulo para a composição.

Todavia, no início da sua carreira, Eurico Thomaz de Lima apresenta peças de outros

compositores, mas as suas obras vão acabar por dominar os programas, embora dedique

ainda recitais a compositores como Chopin ou Beethoven. Apenas a obra Trovas Satíricas

permanece inédita mas o seu manuscrito encontra-se no espólio doado pelo filho do

compositor.

Eurico Thomaz de Lima realizou a sua formação musical no Conservatório

Nacional de Música entre 1921 e 1929. Um dos acontecimentos mais importantes que se

deu nesta época foi a mudança de atitude face à música instrumental, pois como é sabido a

música operática de estilo italiano tinha dominado todo o século XIX. Mas, graças às

influências germânicas e francesas, que os compositores da transição do século sofreram,

bem como à acção que a Real Academia de Amadores de Música desenvolveu ao revelar

parte do repertório sinfónico oitocentista e ao convidar grandes maestros estrangeiros e

concertistas nacionais, assim como o facto de possuir na sua vertente pedagógica,

professores de formação musical germânica 91 e, finalmente, ao incremento do gosto pela

música instrumental operada pela proliferação das sociedades de concerto ocorrida no

91
BRITO e CYMBROM (1992) História da Música Portuguesa

César Gonçalves 57
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

início do século XX 92 , tornou-se possível o culto das formas puramente instrumentais e

livres da influência da música lírica italiana. Esta viragem foi, contudo, lenta, pois em 1914

Vianna da Mota ainda escrevia que “a suprema ambição de um compositor português é

fazer uma ópera” 93 . Na década de 20 a música instrumental suplanta em importância e

produção a música operática, servindo-se dos exemplos germânicos e franceses 94 .

Também no Conservatório Nacional se tinham processado grandes mudanças com

a reforma proposta por Vianna da Mota e implementada a partir de 1919, a qual provocou

grandes mudanças e inovações na formação musical dos alunos que frequentaram esta

instituição 95 . Não é de admirar que a produção musical de Eurico Thomaz de Lima se

tenha orientado na sua grande maioria para a música instrumental, não compondo uma

única ópera. Pelo contrário, abordou vários géneros instrumentais: sinfónico, de câmara,

vocal e instrumental, coral e para piano solo, além da significativa produção para a

infância.

Quanto ao estilo musical das suas obras ainda não é possível situá-lo numa corrente

estilística determinada. Pois o estudo do seu imenso repertório ultrapassa o âmbito desta

dissertação. Podemos, no entanto, apontar algumas características que sobressaem nas

designações das músicas e nas críticas que a comunicação social dispensou aquando dos

seus concertos e recitais e que Eurico Thomaz de Lima cuidadosamente guardou nos seus

álbuns.

Assim, depreende-se dos títulos das suas obras que a sua música possui uma faceta

nacionalista, corrente que inspirou muitos compositores em meados do século XX e a que

Eurico Thomaz de Lima não foi alheio. Aliás, em entrevista ao Diário do Minho em 1947,

reconhece-se que este compositor é um verdadeiro nacionalista, pelo modo como defende

92
CASTRO (1999) Sínteses da cultura portuguesa, História da Música
93
In VIEIRA DE CARVALHO (1984) pp. 183-4
94
CASTRO (1999) Sínteses da cultura portuguesa, História da Música
95
CASCUDO, Teresa et Alli (2003) Frederico de Freitas (1902-1980)

César Gonçalves 58
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

o nosso rico património musical folclórico genuíno – viras, fandangos e toadas, não

reconhecendo no fado a genuína música nacional. Além deste aspecto nacionalista que

dominou outros compositores desta época como Lopes-Graça, a crítica aponta por vezes

que Eurico Thomaz de Lima utiliza as mais modernas tendências da composição dentro de

uma linha tradicional, referindo a obra Marcha como um ensaio atonal cuja execução

agradou na sua digressão pelo Brasil. Também se constata através da crítica que a suas

obras revelam um equilíbrio entre ideia e forma, assinalando ainda que no seu discurso

musical não há prolongamentos inúteis e sem sentido, o que quer dizer que o compositor

apenas transmite o essencial do seu pensamento musical sem mais delongas ou repetições

fastidiosas que poderiam desvirtuar a composição musical. A crítica também menciona

que, no caso das obras para piano, os recursos sonoros do piano são explorados de forma

magistral e natural, e traduzem uma concepção decisivamente pianística. No caso das obras

para canto e piano faz-se menção do facto de a linha vocal ser “transparente, concisa,

sincera, lírica, sem artifícios” 96 e de o acompanhamento utilizar uma linguagem tonal onde

a componente diatónica alterna com a cromática, de forma equilibrada, mas que revela os

processos da composição moderna, referindo que “sabe usar artisticamente todas as

técnicas até agora experimentadas…” 97 . Além destas considerações de ordem mais técnica,

a comunicação social também se referia à obra de Eurico Thomaz de Lima de uma forma

mais subjectiva, mas sempre numa linha positiva e entusiástica, reconhecendo grandes

virtudes na obra do compositor.

No que diz respeito à sua relação com o regime ditatorial, que dominou

praticamente a sua vida criadora, não há muitas referências, mas é certo que Eurico

Thomaz de Lima era adepto de um regime democrático. O seu desfavor por uma política

repressora e intolerante é comprovado pela composição da obra “Buchenwald” – inspirada

96
Jornal da Madeira, 25/11/1965
97
idem

César Gonçalves 59
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

no drama dos campos de concentração alemã. A sua primeira apresentação envolveu

alguma polémica pois o director da casa de espectáculos não queria que Eurico Thomaz de

Lima interpretasse esta obra porque encontravam-se na plateia personalidades do regime

de Salazar, mas o compositor não se intimidou e a recepção calorosa e sincera do público

comprovou a sincera homenagem do compositor às vítimas desta tragédia 98 . A sua

contestação ao regime é evidente também nas conversas com os seus amigos, mesmo em

locais públicos, como por exemplo no Café “Brasileira” no Porto, defendendo um regime

democrático 99 . Além disso, se tivermos em conta o seu percurso pelas instituições de

ensino, constata-se que Eurico Thomaz de Lima não leccionou em instituições públicas,

tendo apenas sido convidado em 1972 para o Conservatório de Música Calouste

Gulbenkian de Braga, já na fase final do regime.

Aos compositores desta época eram oferecidas três vias: colaborar nas realizações

do Estado Novo, utilizar a obra como contestação ao regime instituído e à estética imposta

ou ainda compor para a gaveta 100 . Eurico Thomaz de Lima colaborou de facto em

realizações do Estado Novo, mas também utilizou uma obra como contestação ao regime

Nazi. A sua fama de intérprete e compositor era grande e apreciado por todos,

especialmente na cidade do Porto, facto que terá sido essencial para que ele não fosse

detido por ser contestatário do regime 101 . Além disso era constantemente chamado para

recitais da Emissora Nacional, sendo igualmente convidado para a inauguração dos

Estúdios do Porto da Rádio Televisão Portuguesa e para Chefe das Missões Culturais do

Secretariado da Propaganda Nacional nas temporadas de 1940/1941, como já se afirmou.

98
AFONSO (1998) Eurico Thomaz de Lima “Uma vida pela música”
99
idem
100
CASTRO (1999) Sínteses da cultura portuguesa, História da Música
101
AFONSO (1998) Eurico Thomaz de Lima “Uma vida pela música”

César Gonçalves 60
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

3. O repertório para a infância

Eurico Thomaz de Lima, além de se dedicar à interpretação pianística e à

composição, também se destacou na área do ensino musical. Ao longo da sua vida

percorreu vários estabelecimentos de ensino: Academia de Amadores de Música de Lisboa,

de 1931 a 1932, Academia Mozart no Porto, de 1932 a 1934, Academia Beethoven, de

1937 a 1939, Academia de Música e Belas-Artes na ilha da Madeira, de 1965 a 1967,

Academia Parnaso, de 1967 a 1975 e Conservatório de Música Calouste Gulbenkian em

Braga, de 1972 a 1978. Além disso, entre 1945 e 1963, dirigiu um curso de

aperfeiçoamento e interpretação pianística na cidade de Guimarães.

Esta actividade como pedagogo incentivou a criatividade de Eurico Thomaz de

Lima ao ponto de destinar praticamente metade da sua produção musical aos mais jovens:

são 104 obras, onde estão incluídos os géneros de piano a solo e em dueto, cujo valor

estético e pedagógico não se encontra devidamente estudado. Eurico Thomaz de Lima, ao

compor estas obras para as crianças, enriqueceu o património musical infantil português. O

número de obras é impressionante sobretudo se comparada com o catálogo das obras dos

outros compositores onde não encontramos notícia de lista tão vasta. Assim, poder-se-á

afirmar que Eurico Thomaz de Lima foi um compositor em que a preocupação pelo ensino

pianístico foi uma constante ao longo da vida, esforçando-se por dotar o repertório musical

dos mais novos de obras para piano verdadeiramente portuguesas.

César Gonçalves 61
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

A confirmar esta ideia temos o facto de o “Gradual” – conjunto de 28 obras que

foram compostas ao longo da sua vida, seleccionadas e organizadas pelo compositor tendo

em conta uma crescente complexidade técnica e expressiva – ter sido adoptado pelos

programas oficiais dos Conservatórios Nacionais, no ano lectivo de 1973/1974, para os

Cursos de Piano do 2.º e 3.º anos, o que evidencia, de certa forma, que estas obras para a

infância eram apreciadas pelos seus contemporâneos e o seu valor educativo relativamente

reconhecido. Como já afirmámos refira-se, também, que Campos Coelho utilizava

regularmente as obras para a Infância de Eurico Thomaz de Lima nas audições dos seus

alunos, no Conservatório Nacional, o que revela mais uma vez, a consideração que estas

obras gozavam.

Além da colectânea anterior, podemos mencionar algumas pequeninas peças,

interessantes e curiosas, que Eurico Thomaz de Lima dedicou aos mais pequeninos: O

piano de João Carlos, Passeio Infantil, Diálogo Infantil e O gato e o rato. A maior parte

destas músicas foi composta isoladamente; apenas as obras Para as pequeninas pianistas

tocarem e O Piano da Mariinha é que foram compostas em colectâneas. O Gradual, de

acordo com o que foi referido anteriormente, é um caso excepcional pois a sua organização

foi efectuada a partir de obras que tinham sido compostas isoladamente.

Como tivemos oportunidade de referir, esta parte da obra de Eurico Thomaz de

Lima carece de um estudo mais aprofundado. A sua produção parece estar relacionada com

os incontáveis recitais que o seu autor realizava com os seus alunos, quer das instituições

de ensino, quer dos cursos ou aulas particulares.

César Gonçalves 62
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

4. Os duetos para piano

Eurico Thomaz de Lima abordou este género musical ao longo de toda a sua

carreira. Estas obras não são todas destinadas à infância pois muitas delas exigem uma

técnica bastante apurada, prevendo a sua execução por pianistas experientes. A seguinte

lista refere-se às obras – constantes do espólio do compositor doado por seu filho – agora

confiadas ao Instituto de Estudos da Criança da Universidade do Minho 102 :

1. Poemeto Heróico (1932) – dois pianos;

2. Marcha (1939) – dois pianos;

3. Improviso sobre Canções Populares Açorianas (1939) – dois pianos;

4. Fantasia “Depois de uma leitura de Camilo” (1944) – dois pianos;

5. Samba (1948) – dois pianos;

6. Chula do Douro (1948) – quatro mãos*;

7. Valsa (1948) – quatro mãos*;

8. Valsa (1949) – quatro mãos*;

9. Dança Cigana (1958) – dois pianos*;

10. Barcarola (1958) – dois pianos*;

11. Rondino (1961) – quatro mãos*;

12. Marcha Humorística (1961) – quatro mãos*;

102
A designação desta instituição será realizada, ao longo desta secção, pelas suas iniciais UM-IEC.

César Gonçalves 63
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

13. Toadilha (1961) – quatro mãos*;

14. Toccata (3.ª versão do autor) (1963) – dois pianos;

15. A minha primeira Valsa (1967) – quatro mãos*;

16. Dança Portuguesa n.º 1 (1968) – dois pianos;

17. Dança Portuguesa n.º 2 (1970) – dois pianos;

18. Dança do Pica-Pau (1972) – dois pianos*.

As obras assinaladas com asterisco são as que se destinam à infância, perfazendo

um total de dez obras. Todavia existem ainda mais seis que, apesar de não se encontrarem

no espólio, constam em programas de audições para a classe de piano dos mais pequenos.

São elas:

1. Dança Cigana 103 ;

2. Ao Luar;

3. Canção de Embalar;

4. Dança Portuguesa;

5. Tilintar de Campainhas;

6. O ratinho.

A preocupação de Eurico Thomaz de Lima por este género é notória. Compôs um

total de 72 obras. Destas, 24 são composições originais, sendo as restantes 48 arranjos de

obras de outros compositores, que ele converteu em obras a 4 mãos ou para dois pianos, de

forma a serem executadas por alunos experientes – seis, que estão assinaladas com

asterisco na lista que se segue – e pelas crianças – quarenta e duas. No espólio doado à

universidade do Minho encontram-se as seguintes obras:

1. Muzio Clementi – Rondó (1948) dois pianos*;

103
Esta designação aparece em dois programas com datas diferentes e Eurico Thomaz de Lima anotou nesses
dois programas que esta obra era executada como primeira audição, pelo que concluo que sejam músicas
diferentes, mas como as partituras não se encontram no espólio do UM-IEC, a conclusão não é definitiva;
podendo tratar-se efectivamente de versões diferentes. Não seria caso único, uma vez que encontramos em
Thomaz de Lima várias versões da mesma obra.

César Gonçalves 64
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

2. Ch. M. Widor – Valsa Eslava (1948) dois pianos*;

3. F. Schubert – Marcha Militar (1948) dois pianos*;

4. W. A. Mozart – Marcha Turca (1957) dois pianos*;

5. J. Strauss – Vozes da Primavera (1957) dois pianos*;

6. Weigl – “Le biondina” – Bagatela (1958) quatro mãos;

7. Emile Fischer – Galope (1966) quatro mãos;

8. J. Brahms – Berceuse (1967) dois pianos;

9. Hernâni Torres – Romanza op. 10 N.º 1 (1971) dois pianos;

10. E. Grieg – Canção do Solvej (1977) dois pianos;

11. F. Schubert – Laendler (1978) dois pianos;

12. F. Schubert – Três Escocesas (1979) dois pianos;

13. M. Moussorgsky – A grande porta de Kiev (1981) dois pianos*;

14. Lorenzo Fernandez – Roda (1982) dois pianos;

15. Jean Williams – A Grecian cradle song (1982) dois pianos;

Além destas versões, existe ainda um conjunto de obras que estavam em poder de

Campos Coelho, professor do Conservatório Nacional, de acordo com as indicações

constantes do espólio, e outras obras cujo paradeiro é desconhecido, tendo nós

conhecimento da sua existência através dos programas dos recitais e concertos.

Este número impressionante de versões para 4 mãos ou dois pianos e também de

obras originais mostra mais uma vez a preocupação que este compositor teve em relação ao

ensino do piano, enriquecendo o panorama musical com estas contribuições. Ao contrário

de outros contemporâneos, com Eurico Thomaz de Lima, este género musical adquire

proporções inauditas num compositor português. Se a sua produção de música dedicada à

infância já era um caso excepcional, é também impressionante neste domínio. Tão vasto

património não merece ficar esquecido, sobretudo se tivermos em conta a aclamação dos

César Gonçalves 65
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

media da sua época, os seus êxitos em recitais e concertos, e mesmo a partir dos vaticínios

optimistas que grandes vultos da cultura e da música da época dispensaram a Thomaz de

Lima.

A análise e estudo das obras a quatro mãos, que apresentamos nesta dissertação,

incidirá unicamente sobre as obras originais, de forma a proporcionar um conhecimento, na

medida do possível, mais profundo das mesmas dando o nosso contributo para que esta

obra perdure e seja interpretada pelos jovens pianistas.

4.1 Contexto de produção das obras

Nesta primeira secção, poremos em destaque uma perspectiva histórica destas

obras, apresentadas sempre por ordem cronológica. Nos casos em que não foi possível

determinar a data exacta da sua composição, utilizar-se-á, para a sua ordenação, a sua

primeira audição, segundo os elementos presentes nos programas de concertos ou

audições.

Para cada música é indicado o título e o efectivo instrumental, de acordo com o que

consta no manuscrito autógrafo. De igual forma, será referida, sempre que possível, a data

de composição, data e local de estreia, intérpretes, objectivos das obras e acolhimento

destas por parte do público. Aspectos contraditórios sobre estas obras ou outros

apontamentos curiosos serão igualmente descritos nesta secção.

César Gonçalves 66
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

1. Chula do Douro

Para piano a 4 mãos ou dois pianos

- Data de composição: 1948 – não menciona o local. O manuscrito autógrafo

encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem contém nenhuma

dedicatória;

- Data e local de estreia: 7 de Junho de 1948 na cidade de Guimarães, no salão de

festas do Teatro Jordão – por ocasião da primeira audição dos discípulos do autor

do Curso de piano da cidade;

- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e a sua aluna Maria Manuela de Aguiar

Mendes Ribeiro;

- Apesar de ser indicado pelo compositor que esta obra se destina aos dois tipos de

dueto, obviamente apenas incluirei esta música na categoria de piano a 4 mãos,

pois a utilização de um segundo piano é dispensável.

2. Valsa

Dois Pianos ou Piano a 4 mãos

- Data de composição: 1948 – não menciona o local. O manuscrito autógrafo

encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem contém nenhuma

dedicatória;

César Gonçalves 67
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

- Data e local da estreia: 7 de Junho de 1948 na cidade de Guimarães, no salão de

festas do Teatro Jordão – por ocasião da primeira audição dos discípulos do autor

do curso de piano da cidade;

- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e a sua aluna Maria Manuela de Aguiar

Mendes Ribeiro;

- Em relação a esta obra convém observar que no folheto do programa o nome que

consta é o de Pequena Valsa. O facto de esta designação não aparecer em

quaisquer outros documentos ou em nenhum manuscrito original, de possuir

dimensões modestas e o mesmo ano de composição da obra anterior leva-nos a

crer que se trata desta obra. Além disso, era prática do compositor substituir os

nomes das obras, evidência que ocorrerá em situações posteriores;

- Segundo a imprensa da época, esta audição suscitou muita curiosidade entre os

“musicófilos vimaranenses” 104 , pois era a primeira apresentação pública de

algumas discípulas de Thomaz de Lima, provenientes de famílias com muita

tradição no meio cultural de Guimarães. De acordo com o Jornal “Notícias de

Guimarães” de 13 de Junho de 1948, a audição “foi brilhante”, tendo acorrido

numerosa assistência. As alunas interpretaram com bastante correcção e retiraram

do mestre bons ensinamentos artísticos e técnicos recolhendo, portanto, bastantes

aplausos e elogios do público. O agradecimento por parte das suas alunas foi feito

de forma simbólica, oferecendo ao seu professor um “formoso ramo de flores” 105 ;

- O que foi referido quanto ao efectivo instrumental na obra anterior é válido

também em relação a este caso.

104
Notícias de Guimarães – 23/5/48
105
Notícias de Guimarães – 13/6/48

César Gonçalves 68
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

3. Valsa

Dois Pianos ou Piano a 4 mãos

- Data de composição: 1949 – não menciona o local. O manuscrito autógrafo

encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem contém nenhuma

dedicatória;

- Data e local de estreia: 8 de Junho de 1949 na cidade de Guimarães, no salão de

festas do Teatro Jordão – por ocasião da segunda audição dos discípulos do autor

do curso de piano da cidade;

- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e sua discípula Maria Helena de Aguiar

Mendes Ribeiro;

- Esta obra também se incluirá no género de Piano a 4 mãos, pelos motivos

expostos anteriormente.

4. Dança Cigana

- Data de composição: O manuscrito não se encontra na UM-IEC, pelo que não é

possível determinar com exactidão o ano da sua composição. Tudo leva a crer

que tenha ocorrido no primeiro semestre de 1949, por se destinar à audição do

final do ano lectivo de 1948/1949 e porque, relativamente às obras anteriores,

também se observou esta prática de compor as obras no próprio ano em que

foram estreadas.

César Gonçalves 69
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

- Data e local de estreia: 8 de Junho de 1949 na cidade de Guimarães, no salão de

festas do Teatro Jordão – por ocasião da segunda audição dos discípulos do autor

do curso de piano da cidade;

- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e sua discípula Maria Manuela de Aguiar

Mendes Ribeiro;

- Esta segunda audição também se revestiu de considerável êxito, com numerosa e

selecta assistência. Mais uma vez as discípulas manifestaram um bom domínio

técnico e uma notável progressão em relação à exibição anterior 106 . Os aplausos

foram entusiásticos e o público não poupou “elogios ao professor pela

competência e zelo demonstrados” 107 .

5. Dança Cigana

Dois Pianos a 4 mãos

- Data de composição: 1958, concluída a 30 de Dezembro – não menciona o local.

O manuscrito autógrafo encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem

contém nenhuma dedicatória;

- Data e local de estreia: a primeira referência desta obra data de 19 de Junho de

1961, na cidade de Guimarães, no salão de festas do Teatro Jordão – por ocasião

da nona audição dos discípulos do autor do curso de piano da cidade. Thomaz de

Lima tinha por hábito anotar nos folhetos dos programas se as suas obras estavam

a ser executadas em primeira audição. Todavia em relação a esta música não

106
Comércio do Porto 11/6/1949
107
idem.

César Gonçalves 70
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

existe qualquer referência no Programa sobre se ela já tinha sido apresentada em

público. Em programas dos anos anteriores esta obra não aparece pelo que a

partir do ano da sua composição esta é a sua primeira aparição em audições de

que temos conhecimento. É de estranhar, no entanto, o longo período de três anos

entre a data da composição e a da primeira audição, já que nas obras anteriores a

estreia ocorria no mesmo ano da sua composição.

- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e sua discípula Maria José Guimarães Faria

Portela.

- O efectivo instrumental sugerido pelo compositor é estranho pois parece indicar

que são precisos dois pianos e cada um com dois executantes o que, de acordo

com a partitura, não é verdade. Esta música foi composta para dois pianos pois

ambos os executantes realizam cruzamentos e a obra apresenta para cada pianista

uma extensão melódica que não é exequível no género a 4 mãos.

6. Barcarola

Para dois pianos a 4 mãos

- Data de composição: 1958, concluída a 14 de Dezembro; não menciona o local. O

manuscrito autógrafo encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem

contém nenhuma dedicatória;

- Data e local de estreia: 14 de Maio de 1966 na cidade do Funchal, por ocasião da

primeira audição escolar do ano lectivo de 1965/1966, da classe de piano de

Thomaz de Lima na Academia de Música e Belas Artes da Madeira.

César Gonçalves 71
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e sua discípula Conceição Maria Sousa

Nunes.

- Em relação a esta audição foi referida a inclusão das obras a 4 mãos de Thomaz

de Lima no programa, e que novos valores artísticos se afirmaram e que darão

que falar num futuro próximo 108 ;

- Da mesma forma que a obra anterior, a partitura indica que se trata do género de

dois pianos, pelas mesmas particularidades apontadas anteriormente.

7. Toadilha

Para dois pianos

- Data de composição: 1961 – não menciona o local. O manuscrito autógrafo

encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem contém nenhuma

dedicatória;

- Data e local de estreia: 19 de Junho de 1961, na cidade de Guimarães, no salão de

festas do Teatro Jordão – por ocasião da nona audição dos discípulos do autor do

curso de piano da cidade;

- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e o seu discípulo João Carlos Barreira

Teixeira Ferreira;

- De forma a corroborar o que foi afirmado relativamente à segunda obra, sobre a

mudança de nome, também aqui se deu o mesmo caso. No programa original o

título da obra era o de Lenda. Acontece que Thomaz de Lima rasurou este nome e

108
Jornal da Madeira – Funchal 15/5/1966 e Diário de Notícias – Funchal 15/5/1966

César Gonçalves 72
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

colocou o presente título. Por isso supõe-se que se trata da mesma obra, tanto

mais que esta designação não aparece em mais nenhum manuscrito.

- Mais uma vez a indicação do efectivo instrumental causa estranheza, pois os dois

pianistas podem executar esta obra no mesmo teclado, dado não existirem

impedimentos para tal. Assim será considerado que esta música se enquadre no

género a 4 mãos.

8. Rondino

Para dois pianos

- Data de composição: 1961 – não menciona o local. O manuscrito autógrafo

encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem contém nenhuma

dedicatória;

- Data e local de estreia: 19 de Junho de 1961 na cidade de Guimarães, no salão de

festas do Teatro Jordão – por ocasião da nona audição dos discípulos do autor do

curso de piano da cidade;

- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e a sua discípula Emília da Conceição de

Campos Ferreira Leite;

- Sobre esta obra observa-se a mesma situação da anterior: mudança de nome. O

título original era Rondó, mas o compositor rasurou o nome no mesmo Programa

da música anterior e optou pelo presente título. Para comprovar este facto, no

manuscrito original sobrevive uma rasura do primeiro título colocando por baixo

César Gonçalves 73
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

a designação definitiva de Rondino; esta alteração deve-se, provavelmente, às

pequenas dimensões da obra, que não corresponderiam a um verdadeiro rondó;

- Também esta obra será considerada como pertencente ao género a 4 mãos pelos

motivos expostos anteriormente.

9. Marcha Humorística

Para Piano a 4 mãos ou 2 Pianos

- Data de composição: 1961 – não menciona o local. O manuscrito autógrafo

encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem contém nenhuma

dedicatória;

- Data e local de estreia: 19 de Junho de 1961 na cidade de Guimarães, no salão de

festas do Teatro Jordão – por ocasião da nona audição dos discípulos do autor do

curso de piano da cidade;

- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e o seu discípulo Manuel Álvaro de Campos

Ferreira Leite;

- Mais uma vez a audição que marca o encerramento do ano lectivo foi bastante

concorrida, com numerosa assistência, e os aplausos foram muitos, tanto para os

alunos como para Eurico Thomaz de Lima 109 ;

- Também neste caso a obra será apenas classificada dentro do género a 4 mãos de

acordo com o que foi referido na obra Todilha.

109
Notícias de Guimarães 25/6/1961

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Mestrado em Educação Musical – 2005

10. A minha primeira valsa

Para dois Pianos

- Data de composição: 1967 – não menciona o local. O manuscrito autógrafo

encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem contém nenhuma

dedicatória;

- Data e local de estreia: 15 de Julho de 1967, na cidade de Lisboa, Conservatório

Nacional – por ocasião de uma audição de música portuguesa pelos discípulos do

professor Campos Coelho;

- Intérpretes: Campos Coelho e seu discípulo Pedro Geraldes Barba Pessoa Jorge;

- Mais uma vez a indicação parece contrariar o que está na partitura, uma vez que

esta obra também se pode executar a 4 mãos sem problemas, e por isso será

colocada nesta categoria.

11. O Ratinho

- Data de composição: O manuscrito encontra-se em poder de Campos Coelho pelo

que não é possível determinar a data de composição que deve ter ocorrido numa

ocasião bastante próxima da sua estreia;

- Data e local de estreia: 12 de Julho de 1969 na cidade de Lisboa, no

Conservatório Nacional – por ocasião da audição a dois pianos dos discípulos de

Campos Coelho;

- Intérpretes: Campos Coelho e seu discípulo Luís Manuel Neto de Almeida e

Brito.

César Gonçalves 75
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

12. Tilintar de Campainhas

- Data de composição: O manuscrito encontra-se em poder de Campos Coelho, pelo

que a situação é análoga à da obra anterior;

- Data e local de estreia: 12 de Julho de 1969 na cidade de Lisboa, no

Conservatório Nacional – por ocasião da audição a dois pianos dos discípulos de

Campos Coelho;

- Intérpretes: Campos Coelho e seu discípulo Luís Manuel Neto de Almeida e

Brito.

13. Ao Luar

- Data de composição: O manuscrito não se encontra na UM-IEC, pelo que não é

possível determinar com exactidão o ano da sua composição.

- Data e local de estreia: 12 de Julho de 1969 na cidade de Lisboa, Conservatório

Nacional – por ocasião da audição a dois pianos dos discípulos de Campos

Coelho;

- Intérpretes: Campos Coelho e sua discípula Alexandra Alvarenga Solnado.

14. Canção de embalar

- Data de composição: O manuscrito não se encontra na UM-IEC, pelo que não é

possível determinar com exactidão o ano da sua composição.

César Gonçalves 76
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

- Data e local de estreia: a primeira referência de execução desta obra é 12 de Julho

de 1969 na cidade de Lisboa, no Conservatório Nacional, por ocasião da audição

a dois pianos dos discípulos de Campos Coelho. Porém, no Programa, não está

mencionado se é primeira audição, pois como era hábito Thomaz de Lima

escrevia esta indicação se a música estivesse a ser tocada pela primeira vez;

- Intérpretes: Campos Coelho e seu discípulo Luís Manuel de Brito Palma Nunes.

15. Dança Portuguesa

- Data de composição: O manuscrito não se encontra na UM-IEC, pelo que não é

possível determinar com exactidão o ano da sua composição.

- Data e local de estreia: 11 de Julho de 1970 na cidade de Lisboa, no

Conservatório Nacional, por ocasião da 46.ª audição dos discípulos de Campos

Coelho;

- Intérpretes: Campos Coelho e seu discípulo Sérgio Alexandre de Almeida

Barreto.

16. Dança do Pica-Pau

Para dois Pianos

- Data de composição: 1972, na cidade da Maia e concluída a 13 de Fevereiro. O

manuscrito autógrafo encontra-se na UM-IEC em Braga, não foi editado nem

contém nenhuma dedicatória;

César Gonçalves 77
Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

- Data e local de estreia: 15 de Julho de 1972 na cidade de Lisboa, Conservatório

Nacional – por ocasião da 48.ª audição dos discípulos de Campos Coelho;

- Intérpretes: Campos Coelho e seu discípulo Artur Manuel da Nóbrega Pizarro de

Brito Subtil, com apenas 3 anos, que interpretou também A Minha Primeira

Valsa;

- Esta audição foi marcada pela quase exclusividade de música para dois pianos,

com numerosa assistência, composta essencialmente pelos familiares dos

pequenos artistas. Do vasto programa, salienta-se a estreia de obras a 4 mãos de

Eurico Thomaz de Lima, Frederico de Freitas e Ruy Coelho 110 . O Jornal “A

Època” também referiu a sensacional actuação do pequeno Artur Manuel da

Nóbrega Pizarro de Brito Subtil, com apenas 3 anos, que tocou pela pauta e

recebeu numerosos aplausos da assistência.

4.2 Análise dos aspectos musicais e pedagógicos

Os parâmetros que irão constituir objecto da análise nas obras para piano de Eurico

Thomaz de Lima são questões de Forma, Harmonia, Aspectos Estilísticos e por último as

Características Pedagógicas, cuja finalidade se prende com a averiguação dos benefícios

que estas obras podem proporcionar nas vertentes técnica e expressiva e sua influência

numa formação musical sólida das crianças.

A análise só incide sobre as obras para a infância que se encontram no espólio

doado à Universidade do Minho, isto é, as que se encontram prontas para futura publicação

estando reunidas no terceiro capítulo como referência para esta análise.

110
Época, Lisboa – 16 de Julho de 1972

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Mestrado em Educação Musical – 2005

1. Chula do Douro

a) Forma

Em termos de estrutura, a obra adopta a forma binária. A parte A divide-se em dois

períodos 111 : A e A’, sendo cada um constituído por duas frases. O período A’ é uma

variação rítmica e melódica de A. Cada frase é composta por duas semifrases iguais. Em

relação à parte B, esta possui um período com duas frases, sendo a segunda uma variação

da primeira. Cada frase está também dividida em duas semifrases iguais.

b) Harmonia

A tonalidade desta obra é Dó Maior. O seu desenvolvimento harmónico é muito

simples. Apenas se cinge a um movimento pendular entre os dois graus fundamentais: I e

V. Isto pode dever-se ao facto de o compositor pretender, de certa forma, recriar o

ambiente da música tradicional, na qual estes graus são a base de elaboração.

c) Aspectos Estilísticos

- Segundo piano

O acompanhamento da mão esquerda do segundo piano recorre a um padrão

rítmico típico da Chula, e também a um ostinato harmónico de V-I, como já foi referido

anteriormente. A mão direita realiza um contraponto em relação à melodia do primeiro

piano, mantendo, as frases a mesma estrutura e características melódicas e rítmicas do

primeiro piano.

111
A nomenclatura aqui utilizada é a seguinte: um período – 8 compassos, uma frase – 4 compassos e uma
semifrase – 2 compassos, as excepções serão devidamente assinaladas.

César Gonçalves 79
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Mestrado em Educação Musical – 2005

- Primeiro piano

No primeiro piano, ambas as mãos tocam a mesma melodia à distância de uma

oitava na tessitura aguda (entre sol3 e fá5). Depreende-se destas características que a

primeira parte se destine às crianças, por conter movimentos melódicos paralelos e um

âmbito que não ultrapassa a sétima menor (Sol-Fá), não sendo necessário fazer a passagem

do polegar.

d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

No primeiro piano, as duas primeiras semifrases, por utilizarem ritmos pontuados,

semicolcheias e repetição de notas, tornam-se tecnicamente difíceis de interpretar pelas

crianças. O segundo piano, sendo interpretado normalmente pelo professor, como se atesta

na sua estreia, também pode ser destinado a crianças, devido às suas repetições formais,

assinaladas anteriormente, e também pelo acompanhamento em ostinato ser acessível às

crianças. Esta situação é comprovada, pelo facto de, na 3.ª audição dos Discípulos de

Thomaz de Lima, no Curso da Cidade de Guimarães, esta obras serem interpretadas por

duas crianças.

- Aspectos Expressivos

Salienta-se nesta composição o facto de o compositor apresentar nela traços

nacionalistas, evidentes no título e, por conseguinte, no conteúdo musical. A simplicidade

da música provoca uma maior proximidade entre a criança e a música tradicional e, desta

forma, a criança aprende a valorizar este tipo de música, facto que é significativo e que faz

parte da nossa identidade cultural.

César Gonçalves 80
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Mestrado em Educação Musical – 2005

2. Valsa (1948)

a) Forma

Esta obra adopta a forma ternária. Na parte A, o primeiro período é repetido duas

vezes, sendo este, por sua vez, composto de duas frases idênticas, modificando-se apenas a

parte melódica do último compasso. As semifrases, também são idênticas no ritmo,

mudando apenas as notas em função da harmonia. O segundo período é formado por 12

compassos, em duas frases desiguais. A primeira obedece ao padrão clássico de quatro

compassos, a segunda, no entanto, comporta 8 compassos, devido ao prolongamento

derivado do desenvolvimento do motivo rítmico da obra: 2 colcheias e duas semínimas. A

parte B é bastante mais pequena; apenas possui um período de 9 compassos. A primeira

frase é formada por duas semifrases semelhantes, diferenciadas apenas no fim, pelo facto

do acorde ser alterado para a sétima da Dominante de Lá Maior. A segunda frase possui 5

compassos, sem diferenciação de semifrases, uma vez que vai desenvolvendo um motivo

de colcheias no segundo piano na mão direita, e por isso há a necessidade de alongar para

se efectuar a transição de novo para a parte A, a qual é repetida integralmente, sem algum

tipo de modificação.

b) Harmonia

A tonalidade base da obra é Dó Maior. Mesmo que a parte central comece na base

harmónica de lá menor, nunca é afirmado pela relação de V-I e, no final, após uma série de

passagens cromáticas no baixo, modula a Mi menor, para depois regressar à primeira parte

em Dó Maior com um acorde de sétima da dominante com 5.ª aumentada. De facto, ao

nível harmónico é mais sofisticada que a anterior, pois utiliza várias passagens cromáticas,

acordes alterados, modulações passageiras no interior das frases e encadeamentos

César Gonçalves 81
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harmónicos pouco habituais na harmonia tonal, conferindo à obra momentos musicais

muito mais variados e interessantes.

c) Aspectos Estilísticos

- Segundo piano

Em relação ao acompanhamento, no primeiro período da parte A, o ritmo da valsa é

claramente enunciado pelo segundo piano; todavia, no segundo período, ele esbate-se um

pouco na primeira frase, pois a mão esquerda harpeja espaçadamente os respectivos

acordes, enquanto realiza a melodia com a mão direita enriquecida com algumas notas do

acorde. Na segunda frase, nos dois primeiros compassos, há uma polirritmia derivada da

circunstância de no primeiro piano se manter a acentuação ternária reforçada por uma

indicação do autor, enquanto que no segundo piano, a mão esquerda acentua de dois em

dois, mudando momentaneamente o compasso para 3/2 ou 2/4. Esta passagem causa

alguma surpresa, pois até este momento o ritmo tinha sido claramente marcado e sentido.

Parece afectar de tal forma a música que até ao final desta parte e da parte intermédia o

segundo piano não utilizará o acompanhamento típico da Valsa.

Quanto à relação entre os dois pianos, existe uma certa variedade de combinações:

melodia acompanhada – primeiro período da parte A, e primeira frase da parte B, ecos e

troca de temas – primeira frase do segundo período da parte inicial e na segunda frase da

parte intermédia, contraponto – primeiros dois compassos da segunda frase do segundo

período da parte A, ostinatos melódicos nos últimos 6 compassos da parte A, e ostinatos

rítmicos e melódicos na segunda parte.

César Gonçalves 82
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- Primeiro piano

O primeiro piano é claramente destinado à criança. Apresenta semelhanças com a

música anterior em certos aspectos. Ambas as mãos tocam o mesmo, à distância de uma

oitava; todavia isto é somente válido para a parte A, porque na seguinte, na primeira frase,

as melodias desenrolam-se à distância de uma sexta e, no final de cada semifrase, os ritmos

para cada mão são diferentes enquanto que na segunda frase as mãos tornam a evoluir à

distância de oitava.

d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

Poderá haver algumas dificuldades técnicas na interpretação da parte B, mas o

compositor teve o cuidado de utilizar um âmbito melódico reduzido – de 5.ª perfeita para a

mão esquerda e 6.ª menor para a mão direita – pelo que não exige saltos nem passagem do

polegar, o mesmo sucedendo no resto da obra. Existe também a situação da polirritmia

apontada anteriormente, mas nesta passagem a melodia evolui por graus conjuntos e

descendentemente, facilitando a sua interpretação.

- Aspectos Expressivos

Se na obra anterior a criança começa a valorizar mais o património popular

português e as suas possibilidades de integração na música erudita, neste caso será a sua

variedade e os múltiplos efeitos a conquistar a sensibilidade infantil, quer pela riqueza do

acompanhamento, quer pelo desenvolvimento melódico e rítmico, induzindo os mais

pequenos a uma descoberta da música contemporânea de forma progressiva.

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3. Valsa (1949)

a) Forma

Em relação à forma, apresenta duas partes, no entanto não se encontram claramente

diferenciadas, pelo que esta análise poderá considerar-se discutível. Devido aos longos

valores das notas que compõem a melodia no primeiro piano, por uma questão prática, os

períodos, frases e semifrases podem ser convertidos para o dobro dos compassos

normalmente admitidos para cada um deles. Utilizando este método, a música divide-se

então em dois períodos, o primeiro com dezassete compassos e o segundo com dezasseis.

No primeiro período, encontram-se duas frases de oito compassos, tendo a segunda mais

um compasso para se encadear com o segundo período. As frases estão compostas por duas

semifrases de 4 compassos cada, exceptuando a última pelo motivo assinalado

anteriormente. No segundo período, também temos duas frases de oito compassos com

duas semifrases em cada uma, mais perceptíveis, quer pela natureza da melodia quer pela

mudança de acompanhamento verificada na primeira semifrase do segundo período. Toda

esta estrutura se repete duas vezes, e como acaba em aberto, numa sétima da dominante,

torna-se necessário uma espécie de coda para finalizar. Neste caso a coda é composta por

um período de doze compassos, com duas frases de seis compassos cada e uma coda de

três compassos no final.

b) Harmonia

A tonalidade da obra é Dó Maior. A ausência de partes claramente distintas, nota-se

também na harmonia, que apenas apresenta modulações passageiras pelo quinto, quarto,

sexto e segundo grau respectivamente. Tal como a música anterior, também apresenta ao

César Gonçalves 84
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nível harmónico encadeamentos fora do vulgar, acordes alterados, de nona, passagens

cromáticas e ambiguidade entre os modos maior e menor.

c) Aspectos Estilísticos

- Segundo Piano

Na maior parte da obra o acompanhamento que o segundo piano efectua é

característico da Valsa. A excepção que se verifica acontece no início do segundo período,

na primeira semifrase, em que ambas as mãos repetem um ostinato rítmico, melódico e

harmónico, acontecendo o mesmo no primeiro piano, constituindo uma certa novidade no

discurso musical e renovando o interesse pela obra. Nesta música, verifica-se uma

predominância da melodia acompanhada, havendo dois momentos em que existe polifonia

entre os dois pianos: no final do primeiro período e início do segundo.

- Primeiro Piano

Também nesta obra, o primeiro piano é destinado à criança. Apresenta as mesmas

características da música anterior, mas a sua execução é mais fácil. Os valores longos da

maior parte da música, mínimas pontuadas, o facto de as duas mãos estarem à distância de

oitava e não ultrapassarem a distância duma quinta perfeita, confirmam esta afirmação. Na

coda existe uma situação que poderá resultar numa certa dificuldade, pois o primeiro piano

fica sozinho por dois compassos, uma vez que nesses dois compassos o segundo piano não

toca. Esta situação acontece duas vezes e confere à obra uma nota de interesse na parte

final, surpreendendo mais uma vez de forma positiva os ouvintes. Na cadência final as

duas mãos encontram-se separadas a uma distância de décima menor.

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d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

Existe uma dificuldade ou mesmo uma debilidade na composição da Coda uma vez

que nos dois compassos em que criança tem que sustentar a nota sol em duas mínimas

pontuadas ligadas, ter que realizar uma contagem mental de seis tempos. Portanto a

utilização desta música beneficia a aquisição desta competência de uma forma gradual e

fácil.

- Aspectos Expressivos

Mais uma vez o compositor pretende envolver a sensibilidade musical da criança na

música erudita apresentando uma linguagem conservadora salpicada por algumas

novidades que renovam o interesse pela obra por parte do público.

4. Dança Cigana (1958)

a) Forma

A obra apresenta duas partes distintas e uma coda, sendo a primeira parte repetida

antes de encadear a referida coda, pelo que se pode considerar que adopta a forma ternária.

O modo como aparece a primeira frase sugere uma espécie de introdução donde se extrai o

motivo da obra: duas colcheias e uma semínima. A primeira parte começa, no quinto

compasso com uma frase de seis compassos, sendo os dois últimos uma preparação do

período que se segue. Este, formado por oito compassos, faz uso da frase introdutória, mas

ligeiramente alterada para o quinto grau. Os oito compassos resultam da sua repetição,

primeiro no modo menor e depois no modo maior (com sol sustenido). Cada frase compõe-

se de duas semifrases idênticas, só mudando a nota final. O período seguinte é uma

César Gonçalves 86
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variação do primeiro com uma alteração na semifrase final de forma a preparar a parte B.

Nesta parte distinguem-se dois períodos semelhantes de oito compassos cada e um período

que realiza a transição para a parte inicial, formada por dez compassos. O primeiro período

é semelhante ao que aparece na primeira parte, mas na tonalidade de Dó Maior. Compõe-se

também de duas frases regulares. O período seguinte é uma espécie de variação segundo as

mesmas características do anterior. No período final verifica-se o uso da semifrase

introdutória repartida pelos dois pianos variando o final de forma a reiniciar a obra. Na

coda existe um período que é repetido duas vezes embora em oitavas diferentes. É formado

pela repetição da frase inicial da parte A, com leves alterações de forma a tornar-se

conclusiva na tonalidade principal.

b) Harmonia

A harmonia desta obra centra-se na tonalidade de Lá menor. Não se verifica uma

grande variedade harmónica nem modernismos muito acentuados. Mas desde o primeiro

compasso dá para se aperceber que o autor faz uso de harmonias próprias do ambiente

sonoro que tradicionalmente associamos aos ciganos. Normalmente caracteriza-se pelo uso

do seguinte encadeamento harmónico no modo menor: I, VII sem sensível, VI e V, e

também ocasionalmente pela consequente subida. É este o ambiente sonoro que se faz

sentir desde o início e se prolonga pela primeira frase da primeira parte. Em seguida, o

compositor detém-se no quinto grau mas alternando entre o modo maior e menor ficando a

música um pouco estática, embora mantendo o interesse suscitado pela ambiguidade maior

e menor. O período final da primeira parte oferece dois pontos de interesse: a continuação

da ambiguidade maior/menor e também o recurso ao ambiente sonoro da frase inicial, que

mascara a anterior oposição de modos onde o maior acabará por vencer. A parte B passa

no entanto sem avisar para o relativo maior e para um momentâneo esbatimento da tensão

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anterior. No primeiro período realiza modulações momentâneas e encadeamentos fora do

comum e acordes de nona como sucede no penúltimo compasso. O período seguinte

caracteriza-se por uma rarefacção da harmonia causada pela utilização de apenas duas

notas em simultâneo a uma distância de segunda menor e de forma alternada entre as duas

mãos causando uma ligeireza e sentido cómico a esta parte da música. O período que

estabelece a transição é marcado pelo modalismo que advém da utilização alternada do IV

e V grau, reforçado pelo facto de os acordes não conterem a terceira. No último compasso

o autor decide estabelecer novamente um rumo tonal para a obra, com o emprego da

dominante de lá menor. Na coda nada de importante a assinalar, a não ser a solidez da

harmonia, marcada pela alternância do I e V grau e que afirma de vez a tonalidade

acabando na tónica.

c) Aspectos Estilísticos

- Segundo Piano

O segundo piano apresenta uma variedade de efeitos que não tem precedentes nas

obras anteriores deste género. Primeiro utiliza um acompanhamento típico da dança, neste

caso com harmonia típica da música cigana, como já foi referido. Em seguida, este padrão

transforma-se e torna-se menos pesado, uma vez que o acompanhamento é realizado

apenas pela mão esquerda e utilizando reminiscências do “baixo de Alberti”, enquanto que

a direita realiza a melodia. Depois desta situação o acompanhamento detém-se, tornando-

se mais pausado mas nem por isso menos pesado, já que a utilização das semínimas realça

o carácter obstinado desta obra. Na secção seguinte a situação torna-se ainda mais insólita.

O segundo piano abandona a tessitura grave e servindo-se de um intervalo harmónico de

segunda menor (Fá#/Sol) em jeito de percussão alternada por ambas as mãos, tornando o

ambiente mais cómico e ligeiro. Depois desta secção, o segundo piano age em forma de

César Gonçalves 88
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eco, embora mais reforçado harmonicamente com movimentos paralelos. Na coda, volta a

realizar acompanhamento na mão esquerda, melodia e nota pedal (Mi) na mão direita,

enriquecendo o ambiente sonoro final.

- Primeiro Piano

O primeiro piano é o que está destinado à criança. As duas mãos realizam os

mesmos movimentos melódicos à distância de uma oitava. O seu âmbito é bastante

alargado, décima menor, e na coda salta uma oitava para cima em ambas as mãos,

explorando a zona mais aguda do piano. Contudo, continua a utilizar valores rítmicos

simples em algumas partes da obra, tais como mínimas, sem função melódica. No resto da

obra é utilizada a célula rítmica de duas colcheias e semínima, como motivo unificador da

obra e referência para o ambiente exótico da música. Mais uma vez não utiliza alterações

cromáticas, utilizando a escala de Lá menor natural.

d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

Esta obra apresenta alguns aspectos técnicos interessantes para a criança. Primeiro

existe no início e noutros pontos da obra a utilização de uma melodia sincopada, que a

ajuda a criança a trabalhar as acentuações. Quando esta situação aparece, a melodia

desenvolve-se num âmbito restrito, de modo que a criança consiga concentrar-se

unicamente na superação desta tarefa sem elementos perturbadores. Depois existe a

alternância em oitavas da nota mi, que também ajuda tecnicamente na aquisição desta

competência, pois mais uma vez o compositor, para facilitar esta situação, utilizou

mínimas que também funcionam como nota-pedal, mas na região aguda. No final, o salto

de oitava e a exploração tímbrica da região mais aguda do piano também enriquecem a

César Gonçalves 89
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experiência pianística da criança. O compositor só efectua esta transição no final do

período, para se mudar com segurança e tempo.

- Aspectos Expressivos

Ao contrário das outras obras, esta faz uso de elementos alheios à nossa cultura

musical. Já não é a utilização do nosso folclore o ponto de partida, como na Chula do

Douro, ou as formas convencionais da Valsa ou a utilização de linguagem conservadora

com aspectos modernos. Trata-se de uma abertura da criança no sentido de alargar os seus

horizontes musicais e descobrir os valores que outras culturas diferentes da nossa possuem.

O impulso rítmico que anima esta obra e a inclusão de alguns efeitos próprios da música

contemporânea são factores decisivos para a motivação da criança e o seu gosto pelo

instrumento.

5. Barcarola

a) Forma

A obra está estruturada em três partes, se não se tiver em conta as repetições, e uma

pequena coda. A primeira parte contém 2 períodos de 9 compassos, sendo o segundo a

repetição do primeiro, mas na oitava superior. É formado por duas frases, tendo a segunda

mais um compasso, em virtude de o segundo piano realizar uma pequena descida

cromática no interior dos acordes, e daí a necessidade de o primeiro piano sustentar a nota

pelo espaço de dois compassos. A segunda parte desenvolve a melodia apresentada

inicialmente. Podem-se distinguir dois momentos: o primeiro contém 18 compassos, e vai

desenvolvendo fragmentos da melodia, distinguindo-se 4 frases regulares se exceptuarmos

a segunda que é constituída por 6 compassos; o segundo momento caracteriza-se por

César Gonçalves 90
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estabelecer uma ligação com a parte inicial, distinguindo-se 2 períodos, o primeiro com 8

compassos onde o factor harmónico é privilegiado em desfavor da melodia e o segundo

com 10 compassos que desenvolve uma espécie de motivo, retirado do final das frases

iniciais, e repercutido 5 vezes até se estabelecer o ambiente harmónico necessário para a

ligação com a parte inicial. A coda utiliza as cinco primeiras notas da melodia inicial, mas

alargadas quatro tempos, com alterações cromáticas e acompanhamento diferente,

perfazendo um total de 11 compassos devido ao acorde final.

b) Harmonia

A obra encontra-se na tonalidade de Dó Maior. Porém, a harmonia é bastante

variada e pouco convencional, isto é, utiliza notas acrescentadas nos acordes, sétimas sem

preparação e resolução, progressões harmónicas fora do comum de forma a obter efeitos

diferenciados e cativantes. Analisando mais em pormenor, no início da obra, o primeiro

acorde é o de primeiro grau, mas com uma sexta menor adicionada que provoca uma

indefinição harmónica desde o início. Esta nota mantém-se no acorde seguinte provocando

um acorde de nona no quinto grau, que se resolve no primeiro grau, mas agora com uma

sétima maior, e assim sucessivamente os acordes aparecem ou com notas estranhas ou com

sétimas e nonas, havendo ainda mudança de acordes sobre ostinatos na mão esquerda do

segundo piano. Apesar de os acordes aparecerem com este aspecto há uma tendência para

uma organização tonal dependente do modelo tradicional de encadeamento tonal e o

ouvinte apercebe-se de que os movimentos harmónicos se encontram mascarados mas não

evitados de todo. Esta variedade harmónica continua na segunda parte onde existe uma

mudança de modo e o discurso musical evolui por Dó menor e seu relativo. Todavia, no

segundo período o encadeamento harmónico faz-se sem que os acordes tenham relação

entre si, obtendo-se um efeito de paralelismo semelhante às harmonizações da música

César Gonçalves 91
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tradicional, com as melodias desenvolvendo-se em terceiras e quintas relativamente à

original. Esta novidade desfaz-se no período seguinte que apenas realiza uma progressão

cromática descendente de forma convencional culminando num acorde de sexta

aumentada, precedendo a preparação da reentrada da primeira parte que ocorre sobre um

pedal da dominante enquanto a harmonia desce por graus conjuntos – Dó, Dó bemol, Si

bemol, Lá, Lá bemol e finalmente Sol, tudo acordes maiores e outra vez, note-se, o efeito

de paralelismo harmónico. Dois acordes, o primeiro sobre o segundo grau e com nona

maior e o segundo sobre o quinto grau, mas com dois movimentos harmónicos – primeiro

utiliza o sétimo grau com sétima menor e depois o quinto grau com sétima – preparam a

reentrada de forma natural, pois a ambiguidade deste encadeamento está em concordância

com a primeira parte da obra. Na coda existem também alguns aspectos inovadores: a

alternância entre o acorde de sexta aumentada e o de quinto grau da sétima da dominante e

finalmente a descida harmónica típica das danças ciganas que faz de cadência da obra que,

realizada em uníssono, contrasta com as divergências de linhas melódicas encontradas ao

longo da obra.

c) Aspectos Estilísticos

- Segundo Piano

O segundo piano assume essencialmente a função de acompanhante. No primeiro

período bate os acordes de forma alternada entre colcheias e tercinas para depois se

desdobrar, no segundo período, em semicolcheias distribuídas pelas duas mãos em

harpejos. Existe contudo cumplicidade entre os dois pianos, pois no final de cada período o

segundo piano responde com uma descida cromática nos dois compassos em que o

primeiro piano mantém a nota. Na segunda parte existem outros aspectos variados, o

harpejo continua mas quando o primeiro piano acaba a sua primeira frase o segundo piano

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responde com um harpejo tocado em uníssono pelas duas mãos, e na segunda vez realiza

uma espécie de imitação na parte aguda da mão direita, enquanto que a partir do segundo

período dobra na parte intermédia a melodia do primeiro piano. Na progressão o padrão é

ligeiramente modificado, mas a nota da melodia continua no harpejo. No episódio que

prepara a entrada da primeira parte, o segundo piano enuncia um breve motivo que passa

para o primeiro piano, enquanto que o segundo piano realiza um pedal na dominante e tudo

se torna menos agitado até acalmar totalmente. A coda traz algumas modificações para o

acompanhamento pois, em primeiro lugar, esta realiza um harpejo extenso em quatro

oitavas e em tercinas distribuídas pelas duas mãos, para depois ambas as mãos também o

realizarem, mas com um âmbito reduzido e concluírem com o uníssono já descrito

anteriormente.

- Primeiro Piano

O primeiro piano destina-se à criança. Na primeira parte as duas mãos evoluem à

oitava e na repetição ambas passam para a oitava superior. Na segunda parte, a linha

melódica distribui-se pelas duas mãos no primeiro período. No segundo retorna à oitava,

porém esta segunda parte está cheia de alterações cromáticas – sustenidos, bemóis e

bequadros – não utilizando as notas naturais da escala de Dó Maior. No último momento

desta parte os acordes são distribuídos pelas duas mãos com notas diferentes, cabendo uma

linha melódica à mão direita e duas à esquerda, para depois retornar à tradicional oitava.

Na Coda, as duas mãos também tocam à distância de uma oitava desdobrando-se no final

para um acorde dissonante.

César Gonçalves 93
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Mestrado em Educação Musical – 2005

d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

Esta obra apresenta um âmbito melódico amplo, devido ao contraste que o

compositor utiliza entre as diferentes secções, uma vez que cada frase não ultrapassa a

oitava e no caso do período inicial utiliza um âmbito de quinta perfeita. Quanto à

independência das mãos, apenas aparece em dois momentos: no início da segunda parte,

onde a linha se distribui pelas duas mãos e no final desta parte, mas somente porque o

acorde está distribuído também pelas duas mãos, já que o ritmo é igual. No resto da obra

observa-se a habitual progressão por oitavas, normalmente por graus conjuntos, ou alguns

saltos, mas sem recorrer à passagem do polegar. Esta obra apresenta uma grande

diversidade de acidentes, sendo muitas das notas alteradas em função da harmonia que,

como se verificou na segunda parte, é mais instável e por isso o executante tem que ter em

atenção estas mudanças de tonalidade.

- Aspectos Expressivos

No campo da expressão esta obra vai mais longe que as precedentes. A sua

linguagem é bastante mais moderna. A tonalidade existe, mas está muito esbatida e, na

parte que antecede a reentrada, quase desaparece. Além disso, é evidente uma espécie de

descritivismo, procurando reproduzir a ondulação da água através dos diferentes padrões

de acompanhamento no segundo piano que põe em relevo a melodia. Estas características

induzem a criança à descoberta de um novo ambiente sonoro mais próximo da sua época,

mesmo assim atenuado pelos vínculos com o passado para que o contacto seja progressivo

e mais compreensível.

César Gonçalves 94
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Mestrado em Educação Musical – 2005

6. Toadilha

a) Forma

A obra está em forma ternária com partes estruturalmente equilibradas. Assim, na

primeira existe um período que se repete textualmente, composto por duas frases de 4

compassos diferentes mas sem efectuar nenhum contraste entre si. As duas semifrases que

compõem cada frase também são sempre diferentes, mantendo porém a mesma unidade

que caracteriza todo o período. Na parte intermédia, também existe apenas um período que

se repete exactamente duas vezes. Compõe-se de duas frases de quatro compassos. Na

primeira frase as semifrases são idênticas, embora exista uma inversão de funções; a

segunda frase começa de forma semelhante à primeira, mas noutro ambiente harmónico e a

semifrase final continua com o esquema da anterior embora com notáveis modificações

para se preparar tanto para a repetição como para o encadeamento da parte inicial. Esta

primeira parte é quase totalmente repetida, mas como havia necessidade de acabar a

música, o compositor optou por tirar os dois compassos finais da primeira e substituí-los

pelo compasso final na tónica, acelerando harmonicamente o penúltimo compasso para

estabelecer a relação de V-I.

b) Harmonia

A tonalidade desta obra é Dó Maior. Na primeira parte não existe nenhuma

modulação. Quanto a alterações cromáticas, apenas há duas: o emprego do quarto grau

menor e o quinto grau com a quinta alterada ascendentemente. Na segunda parte, a

harmonia passa para o relativo menor, mantendo-se estática na primeira frase, enquanto

que na segunda frase se assiste à definição da tonalidade, que parece um bocado forçada

porque na restante secção a música parece algo vaga em virtude das sétimas menores da

César Gonçalves 95
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Mestrado em Educação Musical – 2005

primeira frase. Na repetição da parte inicial apenas há a referir a semifrase final que

modula ao V grau embora antes de o atingir passe pelo II grau do modo menor para

estabelecer finalmente a cadência.

c) Aspectos Estilísticos

- Segundo Piano

Quanto à relação entre os dois pianos verifica-se que na parte A, a primazia

melódica cabe ao primeiro piano, ficando o segundo com um acompanhamento de acordes

batidos enquanto o baixo esboça um leve fundo melódico que contrapõe à melodia. Na

parte intermédia a melodia passa para o segundo piano, onde existe uma espécie de

transferência de funções, pois em cada repetição da semifrase a melodia passa para a mão

esquerda enquanto que a direita mantém a base harmónica. O primeiro piano realiza uma

espécie de nota pedal no agudo, repetindo na primeira frase a nota dó e na segunda a nota

mi. A sensação de contínuo movimento, transmitida pelo acompanhamento na primeira

parte, desvanece-se quer pela progressão harmónica mais lenta quer pelo uso de bordões e

notas pedais, portanto, um contraste nítido e que renova o interesse auditivo da obra.

- Primeiro Piano

A parte destinada à criança é o primeiro piano, que manifesta as características

apontadas em obras anteriores: evolução melódica à distância de oitava entre as duas mãos,

âmbito melódico reduzido, de quinta perfeita, neste caso, ritmo lento, mínimas e

semibreves. Não existe passagem do polegar e a melodia está sempre ao alcance da mão de

uma criança sem ser necessário alargar os dedos; contudo, esta aparente simplicidade pode

servir os propósitos da obra, uma vez que se trata de uma espécie de canção tradicional que

o compositor estiliza e adequa ao ensino do piano. Desta forma, pode resultar a leveza

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Mestrado em Educação Musical – 2005

melódica do primeiro piano que o acompanhamento delicado do segundo piano realça e

aprofunda.

d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

A dificuldade evidente desta obra é a sustentação dos valores longos. O seu

andamento é de certa forma lento (Andante), e serve-se apenas de mínimas e semibreves. É

um bom exemplo para se trabalhar a contagem mental e sentir a métrica do movimento, o

seu âmbito reduzido ajuda a desenvolver esta tarefa assim como o acompanhamento que

enriquece e estimula o seu estudo. Também se pode trabalhar a alternância de dedos na

repetição das notas, embora não esteja assinalado no manuscrito do autor, mas como se

trata de valores longos e constantes não constitui grandes problemas.

- Aspectos Expressivos

A música nacional marca mais uma vez o ponto de partida do autor para a criação

das suas obras. A utilização de um andamento lento é também uma novidade e permite às

crianças aperceber-se dos efeitos que os diversos andamentos provocam na expressão

musical.

7. Rondino

a) Forma

Quanto à forma, a obra adopta a forma ternária, desta vez com as partes claramente

delimitadas. Assim a parte A, é constituída por dois períodos semelhantes, só se

modificando o final, pois a primeira vez acaba na dominante, de forma a permitir nova

César Gonçalves 97
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repetição do período que termina na tónica. Cada período é composto por duas frases, cujas

diferenças se encontram no acompanhamento diferenciado para cada uma das frases, e pela

curva melódica ascendente da primeira e descendente da segunda. As frases, por sua vez,

podem-se dividir em duas semifrases, delimitadas por duas mínimas ligadas, com excepção

para a terceira que faz ligação directa com a quarta, de forma a preparar o elo de ligação

com o período seguinte. Uma vez que o segundo período é a repetição do anterior, a

divisão anterior mantém-se, existindo apenas uma diferença no final, pois a última

semifrase é modificada nos dois pianos para finalizar na tónica. Também nesta obra, os

valores das semifrases, frases e períodos foram modificados para o dobro, para permitir

uma análise mais coerente de acordo com o que se apreende auditivamente. Na parte B, há

um abrandamento da pulsação pela indicação de Meno mosso, contribuindo para uma

maior diferenciação das partes. Seguindo o método anterior contém apenas um período de

16 compassos, dividido em duas frases de oito compassos. Na primeira pode-se distinguir

duas semifrases que desenvolvem uma progressão melódica descendente, enquanto que a

segunda frase desenvolve os dois primeiros compassos da primeira semifrase de uma

forma ascendente, culminando na sétima da dominante e desta maneira encadeia-se com a

parte A.

b) Harmonia

A tonalidade base da obra é Dó Maior. Na primeira parte, a frase inicial

desenvolve-se numa relação harmónica de transição, pois a progressão para a base de Mi é

entendida pelo facto de ambos os acordes partilharem a nota Mi e servir de elo de ligação

entre os dois acordes. Esta característica aliada à descida cromática e posterior subida nas

duas semifrases acentua uma imprecisão na harmonia. Na segunda frase, a tonalidade é

mais perceptível, todavia a progressão harmónica por quartas, leva ao relativo menor,

César Gonçalves 98
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situação que o compositor resolve recorrendo ao segundo grau do modo menor – o sol

sustenido que se encontra no final do período deve ser entendido como lá bemol – e desta

forma regressa à tonalidade principal. A parte central começa numa base harmónica de Lá

menor, nunca se chegando a afirmar pela relação de V-I; permanece uma ambiguidade

modal no encadeamento harmónico que o autor utiliza. A progressão de acordes de sétima

sem relação directa entre si e sem preparação contribuem para a indefinição harmónica que

se sente nesta parte central.

c) Aspectos Estilísticos

- Segundo Piano

Em relação ao acompanhamento, já foi evidenciado o recurso ao cromatismo

melódico de que o compositor se serve na frase inicial de cada período da primeira parte. A

correspondente ondulação da mão esquerda do segundo piano contribui para um maior

realce da melodia do primeiro piano – à semelhança da técnica do “baixo de Alberti” no

período clássico. Há uma mudança repentina na segunda frase de cada período, pois o

segundo piano recorre a uma padrão de acompanhamento típico das danças, aligeirando

um pouco o ambiente. Este contraste é bastante eficaz e confere variedade à peça. Na parte

central o acompanhamento modifica-se ainda mais. Ao “agitato” da parte anterior seguem-

se longas notas ligadas na mão esquerda, enquanto que a direita dobra a melodia do

primeiro piano acrescentando mais uma nota e enriquecendo a textura. Na segunda frase o

desenvolvimento melódico atinge as duas mãos do segundo piano evoluindo

ascendentemente. O efeito desta segunda parte faz lembrar o estilo coral pela sua

tranquilidade e polifonia.

Na relação entre os dois pianos, existe um equilíbrio entre o puro acompanhamento

melódico e o contraponto. A primeira frase encerra um misto dos dois tipos: melodia plana

César Gonçalves 99
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Mestrado em Educação Musical – 2005

no primeiro piano e cromatismo e ondulação no segundo piano. A segunda frase, por sua

vez, consiste apenas em melodia acompanhada. A segunda parte serve-se mais do

contraponto, ainda que na primeira frase seja um contraponto rudimentar, situando-se a

segunda melodia paralelamente a uma distância de terceira. Apenas na segunda frase existe

um contraponto de certa forma mais elaborado, recorrendo ao movimento contrário, mas

continua sendo elementar.

- Primeiro Piano

Nesta obra, o primeiro piano destina-se, mais uma vez, à criança. Tessitura na

região aguda do piano, ambas as mãos à distância de oitava, âmbito melódico para cada

parte de 5.ª perfeita – dó sol na primeira parte e fá dó na segunda – são características que

comprovam esta afirmação. Também não existe passagem do polegar, a melodia

desenvolve-se essencialmente por graus conjuntos e os eventuais saltos encontram-se no

âmbito da mão. Pode constituir uma certa dificuldade a repetição da mesma nota em cada

semifrase, mas prestando atenção ao acompanhamento do segundo piano consegue-se

superar esta dificuldade.

d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

A repetição da mesma nota na parte inicial da música é uma oportunidade para se

trabalhar a técnica da repercussão. Como o desenvolvimento melódico se efectua num

âmbito reduzido e por graus conjuntos na sua maioria, a aquisição desta técnica torna-se

um factor preponderante. A rapidez de execução desta obra é um factor decisivo pois

permite que criança adquira eficazmente esta técnica e lance as bases para situações futuras

mais complexas.

César Gonçalves 100


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Mestrado em Educação Musical – 2005

Os valores longos, na segunda frase, aliados à circunstância da música ser mais

lenta na parte intermédia, também podem dificultar a execução, sendo necessária uma

contagem mental e o sincronismo com a mão esquerda do segundo piano.

- Aspectos Expressivos

Desta vez o autor recorre a um género da música absoluta, como ponto de partida

da criação desta obra. É evidente o contraste entre as três partes da obra nos dois pianos, o

que ajuda a criança a interiorizar o conceito de forma e a sua relevância na estruturação das

obras musicais. A inclusão, mais uma vez, de aspectos da música contemporânea, permite

que esta música contenha efeitos que permitam à criança o contacto com a música

contemporânea de uma forma leve e motivadora.

8. Marcha Humorística

a) Forma

A música adopta a forma ternária. A parte A é constituída por dois períodos

semelhantes com uma pequena alteração no final que permita concluir na tónica, em vez da

dominante como acontece da primeira vez. Esta estrutura é perfeitamente regular, pois

cada período é formado por duas frases de 4 compassos, e cada frase por duas semifrases

de dois compassos. A parte B compõe-se de 12 compassos, não se distinguindo frases nem

semifrases, a não ser talvez os últimos quatro compassos que fazem a transição para a

repetição da parte A.

César Gonçalves 101


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b) Harmonia

A tonalidade da obra é Lá menor. Na primeira frase, uma espécie de bordão com as

notas lá e mi na mão esquerda do segundo piano, e as passagens cromáticas na semifrase

posterior acentuam a característica do humor que se pretende com a obra. A semifrase final

estabelece finalmente a relação de V-I de forma a consolidar a tonalidade. A parte central

começa na base harmónica de Dó Maior, o relativo da tonalidade principal. Porém a

progressão harmónica que se vai desenvolvendo ao longo desta parte leva de novo a Lá

menor, não se chegando a sentir realmente que estamos numa tonalidade nova.

c) Aspectos Estilísticos

- Segundo Piano

Em relação ao acompanhamento já se referiu o bordão e as passagens cromáticas e

suas consequências para o carácter da obra. No entanto há que assinalar que nesta peça

existe uma maior predominância melódica no segundo piano, manifestando-se em toda a

parte A. Na parte intermédia existe um contraste nítido, pois a agitação da mão esquerda

desaparece, dando lugar a valores longos – mínimas – enquanto o harpejar da mão direita

também contribui para uma maior contraste, reforçando a linha melódica do primeiro

piano.

- Primeiro Piano

O primeiro piano assume pouca importância melódica na primeira parte. Na

primeira frase, a repetição da nota mi cria uma espécie de nota pedal na região aguda, e na

segunda apenas reforça a melodia do segundo piano. Na segunda parte, a melodia tem uma

progressão mais lenta sendo constituída ritmicamente por mínimas, para contrastar com as

figuras mais curtas da primeira parte.

César Gonçalves 102


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Mais uma vez, o primeiro piano se destina à criança: desenvolve-se na tessitura

aguda do piano com as duas mãos à distância de uma oitava sendo o âmbito melódico

reduzido, apenas uma 5.ª perfeita de dó a sol, evoluindo sempre por graus conjuntos. Esta

aparente facilidade pode derivar do facto de a obra ter que ser interpretada em andamento

Allegro, e daí a necessidade de facilitar o primeiro piano para uma execução rápida e

consistente.

d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

À semelhança da obra anterior, a repetição de notas é novamente explorada,

embora incida sempre na nota cujo motivo já foi enunciado no tópico anterior. Neste caso

os valores da nota repetida são metade dos da obra anterior, e mesmo sem haver indicação

de velocidade no manuscrito, esta será demasiado rápida, se tivermos em conta que se trata

de uma marcha. Quanto à segunda parte, a criança terá que ter em atenção que os valores

são mais longos e que têm que se articular com o baixo do segundo piano de forma a

realçar aí o harpejo da mão direita.

- Aspectos Expressivos

Nesta obra, o compositor alia à forma musical da dança um título que muitas vezes

acompanha as obras musicais para a infância. Os efeitos humorísticos notam-se no recurso

ao bordão, nos encadeamentos harmónicos fora do normal, em passagens cromáticas e

também pela velocidade. A tonalidade menor acentua a ironia de uma música que se quer

cheia de humor e alegre. O uso do “staccato”, das acentuações e “sforzando” contribui

também de forma significativa para o título desta obra. A estrutura fechada em três partes

contrastantes entre si é bem visível nesta obra à semelhança da anterior. Na parte central, o

César Gonçalves 103


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carácter da dança e do humor esbatem-se um pouco o que realça ainda mais o ambiente da

primeira parte.

9. A minha primeira Valsa

a) Forma

Formalmente a obra apenas contém uma parte, complementada por uma pequena

introdução de 4 compassos, sem a participação do primeiro piano, e uma coda de 9

compassos. O corpo da música está formado por dois períodos de 8 compassos; cada

período tem 2 frases regulares e cada frase duas semifrases de dois compassos. As

primeiras semifrases de cada período são sempre repetidas, embora a harmonia se altere.

b) Harmonia

Em relação ao plano harmónico, a tonalidade base é Dó Maior. Porém, na

introdução o compositor decidiu utilizar o modo menor, utilizando apenas o acorde da

tónica com uma pequena ornamentação cromática. Quanto ao resto da música, o

compositor utilizou harmonias fora do comum embora estejam integradas na progressão

harmónica tonal clássica. Há modulações passageiras à dominante, acordes de nona,

acordes menores com sétima menor, acordes de 5.ª aumentada e encadeamentos fora do

comum, mas que tendem sempre para a resolução final. Na coda a harmonia esbate-se um

pouco, e a descida cromática, prevista no início, continua no segundo piano até atingir a

dominante com saltos de oitava quebrada e desta forma concluir na tónica no modo maior.

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c) Aspectos Estilísticos

- Segundo Piano

O segundo piano utiliza, na maior parte da obra, o acompanhamento típico da valsa.

A partir do segundo período, a mão direita dobra a melodia do primeiro piano, continuando

com o padrão de acompanhamento, e na segunda frase desse período, há uma nova melodia

a contrapor à do primeiro piano, embora sem independência rítmica. Esta situação provoca

uma mudança de ritmo na mão esquerda que tem que evoluir mais rapidamente para que a

obra não perca ritmo. Na coda já se referiu que há uma mudança brusca de

acompanhamento: em vez do padrão típico da valsa encontramos a repetição da mesma

nota em três oitavas diferentes, e a obra continua sem quebra de ritmo.

- Primeiro Piano

No primeiro piano encontra-se a parte da criança. Ambas as mãos contêm as

mesmas notas, mas em oitavas diferentes, âmbito de 5.ª perfeita (Dó-Sol) para as duas

mãos, ritmo moderado: mínimas e semínimas, progressão por graus conjuntos e sem

passagem do polegar.

d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

Esta peça apresenta algumas particularidades que se podem referir: a Introdução só

com o segundo piano oferece estabilidade para a criança pois já estabelece o andamento e

ajuda à contagem mental dos compassos de espera, pelas características harmónicas já

apontadas anteriormente. Outra característica é a utilização de uma passagem cromática na

melodia – o ré sustenido nas primeiras semifrases de cada período – que causa uma certa

ambiguidade entre o modo maior e menor. Na coda, a semifrase inicial serve de motivo

César Gonçalves 105


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para a sua elaboração, repetindo-se primeiro alternadamente em cada mão e depois em

ambas as mãos por aumentação com mínimas pontuadas ligadas. Na Coda existe o silêncio

causado pelo segundo piano quando o primeiro piano toca o motivo inicial alargado, de

forma que antes de atacar cada nota o segundo piano tem um compasso de espera; terá que

haver uma grande coordenação entre os dois pianos e segurança no primeiro piano para

tocarem ao mesmo tempo o início de cada compasso, desenvolvendo também a contagem

mental.

- Aspectos Expressivos

A obra utiliza uma linguagem claramente impregnada de modernismos que se

aliam a um ritmo constante de valsa, o que confere à obra uma graciosidade intensa. É uma

obra simples, com alguns preciosismos na escrita que ajudam a criança a compreender

alguns processos da criação musical: a alternância do modo maior e menor, a

harmonização da mesma melodia de formas diferentes e a utilização de motivos para

finalizar uma obra.

10. Dança do Pica-pau

a) Forma

A música encontra-se estruturada em três secções a que se acrescenta uma coda

para finalizar a música. Na secção A, podem-se distinguir duas partes A e A’. Na primeira

parte, existem dois períodos de 8 compassos cada. O primeiro é formado por duas frases

iguais, cada uma com uma semifrase distribuída pelas duas mãos. O segundo período,

também de 8 compassos, consiste numa progressão melódica ascendente que se encaixa

com o A’. A divisão para a parte anterior mantém-se; no entanto o primeiro piano executa

César Gonçalves 106


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a melodia uma oitava acima e o segundo período não contém as mesmas notas, apesar de

exibir o mesmo ritmo no primeiro piano. Além disso o acompanhamento e a harmonia do

segundo piano são diferentes em relação ao período equivalente na parte A; contudo

mantém-se o mesmo ambiente, pelo que se pode julgar como seu semelhante. Em seguida

surge um novo período, no qual a melodia é transferida para o segundo piano, enquanto o

primeiro apresenta apenas acordes sustentados a cada dois compassos. Passado este

episódio, regressa o primeiro período da parte A’, encadeando-se de seguida a Coda que se

serve da primeira semifrase como base da sua elaboração ao longo de 9 compassos.

b) Harmonia

A harmonia base é Dó Maior; contudo, os acordes aparecem quase sempre com

notas acrescentadas que dotam a música de um carácter harmonicamente indefinido. Por

exemplo, a primeira semifrase inicia com um acorde de sétima maior no primeiro grau e no

segundo compasso da semifrase seguinte existe um sétimo grau realizado pelo primeiro

piano e mão direita do segundo, mas que a mão esquerda dissimula mantendo uma espécie

de bordão com as notas de fá e dó como um suposto quarto grau. Também existem

encadeamentos fora do comum, como os que acontecem na progressão melódica, em que

os acordes se vão sucedendo ascendentemente por graus conjuntos sem relação tonal entre

si, ou na Coda, quando a mão esquerda realiza uma espécie de bordão e a mão direita

executa a contratempo acordes sem a terceira, apenas alternando entre o terceiro e segundo

grau e se acaba a música com o acorde de primeiro grau com a nota lá acrescentada pelo

primeiro piano. Também se destaca o mi bemol verificado na Coda introduzindo uma certa

novidade no discurso musical e salientando a oposição maior e menor num ambiente

harmonicamente ambíguo e progressista.

César Gonçalves 107


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c) Aspectos Estilísticos

- Segundo Piano

O acompanhamento realizado pelo segundo piano é diversificado e cheio de humor.

No primeiro período utiliza acordes quebrados: às vezes as duas mãos realizam

movimentos contrários, outras vezes uma das mãos sustenta a harmonia ficando a outra

encarregada de harpejar o acorde. No segundo período, quando o primeiro piano está em

silêncio, o que só acontece no tempo final de cada compasso, é que o segundo piano toca,

criando um efeito muito cómico derivado também da apogiatura cromática que acompanha

a progressão harmónica ascendente. Após terminar a parte A, o compositor, para não

estabelecer uma contraste muito nítido com o início da parte A’, utiliza na primeira

semifrase um acompanhamento rarefeito, composto por duas notas em simultâneo que se

vão percutindo a cada dois tempos, e na segunda semifrase, como o harpejar é só confiado

à mão direita enquanto a esquerda sustenta a harmonia, o contraste é menor. No segundo

período da parte A’, o acompanhamento desenvolve o padrão anunciado na segunda

semifrase até chegar o episódio intercalar, onde a mão direita, em vez de harpejar

simplesmente a harmonia, se entretém com a primeira semifrase. Na Coda o

acompanhamento modifica-se e torna-se mais pesado pelo facto de a mão esquerda usar

um registo muito grave e a mão direita, em vez de harpejar, utilizar contratempos com duas

notas ao mesmo tempo. O segundo piano privilegia o modelo de melodia acompanhada,

com excepção do episódio em que a primazia melódica passa para o segundo piano.

Contudo a sua acção é importante, ao complementar o primeiro piano e fornecer ambientes

sonoros adequados à melodia e ao tema da obra.

César Gonçalves 108


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- Primeiro Piano

O primeiro piano destina-se à criança, porém as duas mãos actuam com certa

independência rítmica e melódica. Não existe o paralelismo à oitava, e o âmbito melódico

de cada mão é maior que o habitual: mão direita – Lá2/Mi5, mão esquerda – Dó2/Sol4, o

que justifica o uso de dois pianos. Na primeira frase a linha melódica é repartida pelas duas

mãos e na segunda semifrase a mão direita apenas reforça a harmonia com duas

semibreves. Para encadear o período seguinte, a segunda frase acaba com um paralelismo

de sexta, que se prolonga para o período seguinte que consiste apenas nesta técnica. Na

parte A’, o primeiro período é igual, embora na oitava superior, enquanto que no segundo

período, apesar de ambas as mãos terem o mesmo ritmo, as notas são diferentes: na mão

esquerda estão dispostas por graus conjuntos, enquanto que na mão direita realizam um

salto de quarta. O episódio intercalar, traz uma novidade para o primeiro piano, pois este

tem que sustentar e complementar a harmonia com notas diferentes distribuídas pelas duas

mãos. Na coda existe a passagem do Mi bemol para o Mi natural, que exige o uso das duas

mãos, e nos compassos finais, as duas mãos realizam funções diferentes: a direita

fragmentos melódicos e a esquerda um acompanhamento simples tipo ostinato, apesar de

manterem o mesmo ritmo. Depois desta descrição apercebemo-nos de que a peça é

bastante diversificada e estimulante para as crianças que a executam, sem cair em excessos

técnicos e interpretativos.

d) Características Pedagógicas

- Aspectos Técnicos

Pelas características referidas anteriormente, esta obra oferece muitas

possibilidades técnicas e expressivas para a criança. Contém diversidade melódica,

independência das mãos, grande âmbito melódico sem apresentar passagem do polegar

César Gonçalves 109


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Mestrado em Educação Musical – 2005

nem fragmentos melódicos extensos, sempre diferenciados com pausas para a criança

restabelecer com segurança a posição das mãos.

- Aspectos Expressivos

Além disso, abundam as indicações de dinâmica e articulação, que contribuem para

uma formação expressiva mais consistente e profunda, que leva além da mera preocupação

em tocar as notas certas. Contém uma linguagem mais moderna, embora ligada de modo

remoto à tonalidade, e introduz a criança de forma cautelosa nas concepções artísticas,

utilizando um tema marcadamente infantil – o uso de animais nas composições para a

infância – mas onde os efeitos não só devem ser associados ao animal em questão mas

também a aspectos essencialmente musicais.

César Gonçalves 110


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Mestrado em Educação Musical – 2005

Breve síntese das características das obras analisadas:

Localização
Âmbito da Paralelismo
Obras Género da parte da Forma Tonalidade Andamento
melodia da melodia
criança
Primeiro e Sim, à
Chula do Sétima menor Allegro
4 mãos segundo distância de Binária (AB) Dó Maior
Douro (Sol-Fá) marcato
piano oitava
Sim, à
distância de
11ª para a mão oitava na
Primeiro Ternária
Valsa (1948) 4 mãos direita e 8.ª para primeira parte Dó Maior Moderado
piano (ABA)
a mão esquerda e de sexta no
início da parte
intermédia
Sim à
Quinta perfeita Primeiro Binária (AB)
Valsa (1949) 4 mãos distância de Dó Maior Moderado
(Dó-Sol) piano +Coda
oitava
Décima menor, Introdução +
Dança Sim à
mas no final Primeiro Ternária
Cigana 2 pianos distância de Lá Menor Allegro
salta para a piano (ABA) +
(1958) oitava
oitava superior Coda
Décima menor, Na maior
mas por vezes parte da obra
salta para a Primeiro apresenta Ternária
Barcarola 2 pianos Dó Maior Andantino
oitava superior piano paralelismo à (ABA)+Coda
quando repete a distância de
melodia oitava
Sim, à
Quinta perfeita Primeiro Ternária
Toadilha 4 mãos distância de Dó Maior Andante
(Dó-Sol) piano (ABA)
oitava
Sim, à
Primeiro Ternária
Rondino 4 mãos Nona maior distância de Dó Maior Allegro molto
piano (ABA)
oitava
Sim, à
Marcha Quinta perfeita Primeiro Ternária
4 mãos distância de Lá Menor Allegro
Humorística (Dó-Sol) piano (ABA)
oitava
A minha Sim, à
Quinta perfeita Primeiro Introdução+A Allegro
primeira 4 mãos distância de Dó Maior
(Dó-Sol) piano +Coda moderato
valsa oitava
Só no
segundo
Mão direita –
período da Ternária
Dança do Lá2/Mi5, mão Primeiro
2 pianos primeira parte (ABA’) + Dó Maior Allegretto
Pica-pau Esquerda – piano
e à distância Coda
Dó2/Sol4
de sextas e
terceiras

Uma das particularidades destas obras é o facto de não constituírem pequenos

conjuntos como acontecia com a prática inaugurada por K. M. V. Weber, mas sim obras

isoladas, que foram aparecendo com o passar dos tempos, sendo compostas com a

finalidade de se dirigirem a determinados executantes e não preparadas em ciclos para

publicação ou direccionadas a um público vasto. Assume-se, por isso, que estejamos

perante uma constante preocupação por parte de Eurico Thomaz de Lima pelo ensino

artístico e pelas especificidades dos seus alunos.

César Gonçalves 111


Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança
Mestrado em Educação Musical – 2005

Quanto ao modelo adoptado para as suas obras a 4 mãos, de acordo com o que foi

explicado anteriormente, as suas músicas inserem-se na categoria de Obras com partes

desequilibradas, localizando-se a parte destinada às crianças no primeiro piano seguindo

deste modo a maioria das composições dos outros autores. A única excepção será a Chula

do Douro cujo segundo piano pode também ser executado pelos mais novos, mas esta

situação não parece prevista pelo compositor, pois na primeira audição o segundo piano foi

interpretado pelo próprio. Sendo assim, esta obra pode ser incluída na categoria de Obras

com partes equilibradas, onde se concentra a maior parte das produções neste género dos

outros compositores, mas que no presente caso constitui precisamente o contrário.

Nas obras para dois pianos, Dança Cigana (1958), Barcarola e Dança do Pica-pau,

a parte destinada às crianças também se encontra no primeiro piano. Estas obras

enriquecem, sem dúvida, o património dos duetos para dois pianos destinados à infância

pois como foi mencionado na revisão bibliográfica, apesar de existirem inúmeros exemplos

para níveis mais avançados, as obras para os mais novos são pouco numerosas e sem a

importância marcante das peças mais exigentes.

Outros dos aspectos referidos na secção anterior foi o facto de muitas músicas

adoptarem um âmbito de quinta perfeita no desenvolvimento melódico, o que também se

encontra em três obras do compositor: Valsa (1949), Toadilha, Marcha Humorística e A

Minha Primeira Valsa, realizando as duas mãos um paralelismo à oitava. Nas obras

referidas no terceiro ponto do primeiro capítulo, muitos compositores utilizaram o folclore

como ponto de partida das suas criações musicais e também em Eurico Thomaz de Lima

encontramos os mesmos princípios em grande parte da sua obra e também neste género em

particular: Chula do Douro, Toadilha e Dança Portuguesa. A recorrência a títulos

evocativos da infância também ocorre neste compositor, como por exemplo: Canção de

Embalar, Dança do Pica-pau, O ratinho e Tilintar de Campainhas.

César Gonçalves 112


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Mestrado em Educação Musical – 2005

Quanto à linguagem musical utilizada neste género, ela inscreve-se num molde

tradicional, mantendo-se apegada às convenções tonais. É certo que por vezes aparecem

elementos mais ousados, cromatismos, notas acrescentadas aos acordes, encadeamentos

harmónicos inusitados e outros efeitos que revelam uma certa familiaridade com as

tendências da música de vanguarda. Esta síntese entre tradição e inovação, apontada pelos

meios de comunicação da época para a restante obra do compositor, sente-se sem dúvida

nestes duetos para a infância mas prevalecendo sempre o sistema harmónico tonal. As

obras onde as incursões mais ousadas se sentem são: Barcarola, Dança Cigana (1958) e

Dança do Pica-pau, onde o sentimento tonal se encontra bastante enfraquecido mas ainda

subsistem algumas atracções na sua harmonia, e efeitos curiosos que mantém uma relação

com o título da obra.

Torna-se evidente que o compositor, apesar de conhecer os elementos da música de

vanguarda e de, nas obras para níveis avançados por vezes estes elementos se tornarem

mais fortes e suscitar a admiração da imprensa da época, não pode ser considerado como

um genuíno compositor de vanguarda. Apesar de ter vivido já no século XX, e baseando-

me, novamente, nos registos da comunicação social da época, a necessidade de romper

com a herança clássico-romântica não determinou profundamente a sua forma de compor.

Os procedimentos seriais, a nível dodecafónico ou integral, a atonalidade ou a

politonalidade não estão presentes na generalidade da sua obra, pelo menos de uma forma

sistemática e profunda e os duetos para piano destinados à infância são disso um exemplo,

pois inscrevem-se definitivamente num formato mais convencional.

O seu ponto de partida para a maioria da sua obra foi, muitas vezes, a música

tradicional portuguesa e neste aspecto Eurico Thomaz de Lima inscreve-se no movimento

nacionalista que inspirou vários compositores de meados do século XX. Mas, ao contrário

dos grandes autores internacionais desse século, como B. Bartok ou Z. Kodály, os

César Gonçalves 113


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Mestrado em Educação Musical – 2005

elementos da música tradicional não provocaram o aparecimento de novas formas nem

renovaram a linguagem musical de uma forma original e profunda, se avaliarmos os

comentários que diversas personalidades do meio cultural da época dispensaram a Eurico

Thomaz de Lima através da comunicação social da época; pelo contrário, estes elementos

folcloristas encontram-se diluídos na linguagem tonal e nas formas correntes, pelo que,

neste aspecto, a sua composição revela uma preferente influência do nacionalismo

oitocentista. Nas obras aqui apresentadas – Chula do Douro e Toadilha esta situação é

visível, pois a forma não é renovada – no primeiro caso é binária e no segundo ternária,

formas já exploradas pelos românticos para a música destinada à infância, e o discurso

musical conserva as principais características dos períodos anteriores.

Como também já se afirmou, a obra de Eurico Thomaz de Lima é marcada por um

equilíbrio entre ideia e forma e que não existe lugar para prolongamentos inúteis e

supérfluos. De facto, nos duetos para piano destinados à infância nota-se uma certa

brevidade, na maioria das obras, com excepção na Dança Cigana (1958) e Barcarola que

são ligeiramente mais desenvolvidas. Além disso, as melodias sucedem-se sem acrescentos

e desenvolvimentos; apenas existe o essencial. Poderemos pensar que esta forma de

apresentar o material domina as concepções estéticas do compositor. Todavia quanto às

restantes músicas será necessário um estudo mais aprofundado para se definir claramente a

orientação estética do compositor que, pelo culto das formas e linguagem tradicionais, em

conformidade com aspectos mais modernos e folcloristas, revela influência dos neo-

clássicos do século XX e dos nacionalistas românticos. Estas obras para a infância de

Eurico Thomaz de Lima, apesar de não constituírem propriamente uma inovação da

linguagem musical portuguesa enriquecem, no entanto, a literatura para piano,

nomeadamente no que se refere aos duetos para piano destinados aos mais novos,

providenciando múltiplas experiências musicais e o gosto pela música nacional.

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Mestrado em Educação Musical – 2005

Conclusão

O presente estudo permitiu, no nosso entender, a abertura a novas perspectivas

sobre o panorama da criação artística portuguesa para infância. Os estudos anteriormente

realizados deram o impulso necessário para um despertar da obra de Eurico Thomaz Lima

fazendo-o emergir no contexto do panorama musical português como uma figura cultural e

musical de grande importância.

Ao longo desta dissertação constatamos que existe um vastíssimo repertório para a

infância na forma de duetos, tanto para dois pianos como a quatro mãos, cujos autores não

se coibiram ao compor para os mais novos e comportando as necessárias exigências que tal

escrita exige. Por isso na extensa lista de compositores que abordaram este género figuram

os mais diversos autores, dos menos divulgados até aos grandes mestres da história da

música ocidental, que também puseram ao dispor dos mais pequenos as suas concepções

estéticas e musicais, e cujas obras ainda são executadas hoje em dia com grande empenho e

entusiasmo.

Se no caso dos outros países esta evolução foi clara, o mesmo não aconteceu no

nosso país. As informações são escassas, pouco acessíveis, as fontes não se encontram

devidamente identificadas, e por isso qualquer trabalho de investigação neste campo torna-

se difícil, mas nem por isso menos motivador. Deste modo, as referências que encontramos

permitiram-nos traçar alguns aspectos do desenvolvimento do género em Portugal, embora

a abordagem se encontre, naturalmente, bastante incompleta e as referências aos autores e

obras sejam díspares e pouco consistentes. Porém, conseguimos identificar numerosas

obras em vários estilos, formas e em vários níveis de dificuldade, mostrando assim que este

César Gonçalves 115


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género teve alguma representação no nosso país, mas que na maior parte dos casos não

fomos capazes de conservar.

Eurico Thomaz de Lima teve a admiração de várias personalidades de grande

renome da nossa cultura musical contemporânea, tais como, Vianna da Mota e Luís de

Freitas Branco, por possuir inegáveis qualidades musicais que, se foram notórias aos olhos

dos grandes músicos do seu tempo, não podem deixar de ser significativas e

enriquecedoras para a nossa cultura musical que muitas vezes esquece os seus melhores

valores.

Este esquecimento é difícil de se entender depois de termos constatado ao longo

desta investigação que durante a sua vida nunca deixou de exercer as suas funções de

professor, compositor e intérprete, sendo divulgado pela comunicação social da época.

Após a sua morte, foram realizadas homenagens, através de recitais, exposições do seu

espólio e alguns estudos para que o seu nome constitua uma referência fulcral da história

da música portuguesa.

Por conseguinte, não posso deixar de considerar este enquadramento, análise e

transcrição dos seus duetos para piano como um contributo para o conhecimento daquela

faceta de pedagogo, que Eurico Thomaz de Lima sempre viveu com dedicação e

entusiasmo, para além da de compositor, uma vez que a composição destas obras para a

infância não revela um alheamento às qualidades musicais que sempre devem estar

presentes em qualquer trabalho sério.

Fica também provado com este trabalho que as suas obras para a infância

enriquecem o património musical português, nomeadamente no que concerne ao ensino

artístico musical e do piano. Como já se afirmou, a sua produção original de duetos para a

infância é significativa, e as suas versões são ainda mais substanciais. Se a composição dos

duetos em Portugal verificou-se dispersa e pouco consistente, neste presente caso, estamos

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perante um volume de obras compostas por um único compositor que sempre manifestou

entusiasmo e dedicação aos mais novos, tendo partilhado o teclado com os seus alunos

inúmeras vezes. Este repertório torna-se, por isso, inestimável para as crianças que assim

têm à sua disposição novas práticas e valores musicais que com agrado irão assimilar.

Concluímos que Eurico Thomaz de Lima desenvolveu este género musical na sua vertente

pedagógica e por isso o seu nome não deve ser esquecido quando futuramente se abordar

esta questão.

Com esta dissertação, esperamos que os duetos que Eurico Thomaz de Lima

compôs para a infância, se tornem acessíveis para os professores e educadores de música

actuais, de forma a proporcionar às crianças um contacto mais profundo com a música

erudita portuguesa, e que desta forma o interesse por esta pequena parcela de composições

se estenda à restante obra de Eurico Thomaz de Lima, para que futuramente todos tenham

acesso incondicional à suas músicas. Este facto levou-nos a incluir a lista das suas obras e

sucintas apreciações pela sua vida e obra para que este despertar para as qualidades

artísticas de Eurico Thomaz de Lima se efectue a partir de bases concretas e esclarecidas.

Ao mesmo tempo, este trabalho de investigação revestiu uma importância fulcral

para o desenvolvimento da nossa capacidade crítica e reflexiva, enquanto músico e

educador, ao mesmo tempo que se torna evidente a necessidade de privilegiar a nossa

cultura ao nível dos trabalhos de investigação nos nossos meios académicos, pois somos

cidadãos de um país cujos valores musicais, enquanto fazem parte da nossa realidade

histórica do passado, poderão ajudar a compreender a nossa realidade actual e

eventualmente dar um enorme contributo para uma educação musical das novas gerações

que seja capaz de criar neles um verdadeiro sentido de futuro.

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BIBLIOGRAFIA

Geral

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Portugal, Hoje, Caminho: Lisboa;

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América: Mem Martins;

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Estampa: Lisboa;

BRITO & CRANMER (1990). Crónicas da Vida Musical Portuguesa na Primeira Metade

do Século XIX. Imprensa Nacional-Casa da Moeda: Lisboa;

BRITO, Manuel Carlos & CYMBRON, Luísa (1992). História da Música Portuguesa.

Universidade Aberta: Lisboa;

CASCUDO, Teresa (2003). Frederico de Freitas (1902-1980). Instituto Português de

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HENRIQUE, Luís (1999). Instrumentos Musicais, Fundação Calouste Gulbenkian: Lisboa;

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LESSA, Elisa (2001). Contributos para a História da Literatura Pianística Portuguesa

para a Infância – as obras de Eurico Thomaz de Lima, in Actas do II Encontro de História

do Ensino da Música em Portugal, Centro de Estudos da Criança, Universidade do Minho:

Braga;

LESSA, Elisa, Eurico Thomaz de Lima (1908-1989), Roteiro da Exposição do Espólio do

Pianista e Compositor Eurico Thomaz de Lima doado à Universidade do Minho, exposto

em Braga na Universidade do Minho – Instituto de Estudos da Criança de 31 de Maio a 2

de Junho de 2001;

LESSA, Elisa, Cursos de Guimarães (1945 a 1963) de Eurico Thomaz de Lima, Catálogo

do Espólio do Pianista e Compositor Eurico Thomaz de Lima doado à Universidade do

Minho, exposto em Guimarães no Museu de Alberto Sampaio em Março de 2003;

LIMA, Eurico Thomaz de Lima, Para os pequeninos pianistas tocarem, Universidade do

Minho – Centro de Estudos da Criança: Braga, Edição: Elisa Lessa;

LOESSER, Arthur (1990). Men, Women and Pianos A Social History. DOVER

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de Educação Musical: Lisboa;

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TRINDADE, Maria Helena & CASCUDO, Teresa (1998). José Vianna da Mota 50 Anos

depois da sua morte 1948-1998. Instituto Português de Museus – Museu da Música:

Lisboa;

VIEIRA DE CARVALHO, Mário (1993). “Pensar é Morrer” ou a Ópera de Lisboa

(Teatro de São Carlos) na Mutação de Sistemas Sociais-Comunicativos de Fins do Século

XVIII aos nossos dias, Imprensa Nacional Casa da Moeda: Lisboa.

Dicionários e Enciclopédias

BORBA, Tomás, e GRAÇA, Fernando Lopes, Dicionário de Música (Ilustrado), 2 vols.,

Lisboa, Edição Cosmos, 1956-58, 2.ª impressão: 1962-3;

Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Editorial Enciclopédia, Limitada: Lisboa,

Rio de Janeiro (s.d.);

New Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980;

Fontes Primárias

Espólio do Compositor no Instituto de Estudos da Criança – Universidade do Minho

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DISCOGRAFIA

Arensky: 4 Suites for 2 Pianos, James Anagnoson e Leslie Kinton, CBC Records, 2001,

723721145125, CD;

Arensky: Suites for 2 Pianos, Stephen Coombs e Ian Munro, Hyperion, 1994,

034571167558, CD;

Bach: Brandenburg Concertos / Reger: Variation & Fugue on a Theme of Mozart,

Santiago Rodriguez e Peter Rosel, Elan Records, 1995, 675754503123, CD;

Bartók: Mikrokosmos / Sonata for 2 Pianos & Percussion, Henry J. Baker, Ditta Bartok

Pasztory e Edward J. Rubsan, Pearl/Pavilion, 2003, 727031017929, CD;

Bartók: Sonata for 2 Pianos / Miraculous Mandarin / 2 Pictures, Michel Cerruti, Jean-

Francois Heisser, Florent Jodelet e Marie-Josèphe Jude, Praga, 2004, 794881680924,

SACD;

Boulez: Structures pour deux pianos, Alfons Kontarsky e Alioys Kontarsky, Wergo, 1992,

093046486822, CD;

Brahms: Hungarian Dances/Waltzes op. 39, Jean-François Hessier e Marie-Josèphe Jude,

Naïve Astrée, 2002, 709861048922, CD;

Brahms: Piano Quintet op. 34 / Piano Quartet op. 60, Schubert Ensemble of London,

Resonance, 2004, 743625300222, CD;

Brahms: Waltzes opp. 39 & 21 / Hungarian Dances, Cynthia Raim e David Allen Wehr,

Connoisseur Society, 2000, 762434422222, CD;

British Music for Piano Duet, Peter Lawson e Alan MacLean, Campion Records, 2001,

739574135329, CD;

César Gonçalves 121


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Cage: Complete Piano Music Vol. 5 - 2 Pianos, Josef Christof e Steffen Schleiermacher,

MD&G, 2000, 760623078922, CD;

Chabrier: Complete Works for Piano Duet & 2 Pianos, Pinuccia Giarmana e Alessandro

Lucchetti, Gall, 1995, 034060981825, CD;

Children’s Corner, Yaara Tal e Andreas Groethuysen, Sony Music, 2002, 0899432000,

CD;

Clementi: Piano Sonatas for 2, Genova e Dimitrov Piano Duo, CPO, 2004, 761203993529,

CD;

Clementi: Piano Sonatas for 4 Hands, Allen Brings e Genevieve Chinn, Centaur, 1993,

750582970139, CD;

Debussy / Ravel / Bax / Casella: Works for 2 Pianos, David Bradshaw e Cosmo Buono,

Connoisseur Society, 1995, 762434417129, CD;

Debussy: Complete Music for 2 Pianos, Stephen Coombs e Christopher Scott, Hyperion,

1999, 034571150147, CD;

Debussy: Music for 2 Pianos, Dag Achatz e Yukie Nagai, BIS, 1994, 750582498824, CD;

Dussek: Duos for 2 fortepianos, Janine Johnson e John Khouri, Music & Arts, 2001,

017685108129, CD;

Dvorák: Four-Hand Piano Music Vol. 1, Christian Köhn e Silke-Thora Matthies, Naxos,

1996, 730099413725, CD;

Dvorák: Four-Hand Piano Music Vol. 2, Christian Köhn e Silke-Thora Matthies, Naxos,

1997, 730099413824, CD;

Dvorák: Legends, Igor Ardasev e Renata Ardasevová-Lichnovská, Supraphon, 2001,

675754363024, CD;

Dvorák: Slavonic Dances, James Anagnoson e Leslie Kinton, CBC Records, 2001,

059582108826, CD;

César Gonçalves 122


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Erik Satie: Piano Works Vol. 4, Klara Kormendi e Gábor Eckhardt, Naxos, 1994, 8550699,

CD;

Fernando Lopes-Graça, Miguel Henriques e Ana Valente, Portugalsom/Strauss, 2000, SP

4352, CD;

Hindemith: Music for 1 & 2 Pianos, Bernard Roberts e David Strong, Nimbus Records,

1996, 710357545924, CD;

Inghelbrecht: La Nursery, Lise Bouchard, Atma, 2003, 722056226622, CD;

Le Group des Six, Piano Duets, Edouard Exerjean e Philippe Corre, Pierre Verany, 1991,

723721350321, CD;

Master Pieces for 2 Pianos, Amalie Malling e Hans Pälsson, BIS, 1994, 750582921827,

CD;

Medtner / Rachmaninov: Music for 2 Pianos, Dmitri Alexeev e Nikolai Demidenko,

Hyperion, 1994, 034571166544, CD;

Messiaen: Visions de l’Amen, Edmund Niemann e Nurit Tilles, New Albion Records,

1994, 022551004528, CD;

Messiaen: Visions de l’Amen, Gerard Bouwhuis e Cees van Zeeland, Channel Classics,

1993, 723385459224, CD;

Milhaud: Music for 2 Pianos, Diane Andersen e Osvaldo Salas, Arcobaleno, 1997,

793515940229, CD;

Milhaud: Scaramouche / Le Carnival d’Aix / Suite Français / Suite Porvencale, Michel

Béroff, Jean-Philippe Collard, Christian Ivaldi, Nöel Lee, Monte Carlo Philharmornic

Orchestra, EMI, 2003, 724357474023, CD;

Mozart / Brahms / Saint-Saëns / Reger: Variations, Dale Bartlett e Jean Marchand, CBC

Records, 2002, 059582115121, CD;

César Gonçalves 123


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Mozart: Concerto for 2 pianos / Sonata for 2 Pianos, Alicia de Larrocha e André Previn,

RCA Victor, 1995, 090266804429, CD;

Mozart: Music for 2 Pianos / Piano Duets, Paul Badura-Skoda, Jörg Demus, Ludwig

Hoffmann e Ingrid Haebler, Philips, 1996, 028945402628, CD;

Mozart: Piano Music for 4 Hands, Christof Eschenbach e Justus Frantz, Deutsche

Grammophon, 1999, 459475-2, CD;

Mussorgsky / Stravinsky: Music for 2 Pianos, Mark Anderson e Tamriko Siprashvili,

Nimbus Records, 2004, 710357573323, CD;

One Piano Four Hands, Igor Kipnis e Karen Kushner, Parnassus, 2000, 675754159023,

CD;

Prokofiev: Cinderella Suite / Ravel: Ma Mère L’Oye, Martha Argerich e Mikhail Pletnev,

Deutsche Grammophon, 2004, 028947481720, CD;

Rachmaninov: Music for 2 Pianos, Vladimir Ashkenazy e André Previn, Decca, 1995,

028944484526, CD;

Rachmaninov: Suites for 2 Pianos, Emanuel Ax e Yefim Bronfman, Sony Classical, 2001,

074646176726, CD;

Ravel: Ma Mère L’Oye / Rapsodie Espagnole / Introduction et Allegro / Boléro, Luis

Lortie e Hèlèn Mercier, Chandos Records, 1992, 095115890523, CD;

Schubert: 4 Hand Piano Works Vol. 1, Claire Aebersold e Ralph Neiweem, Summit

Records, 2002, 099402339924, CD;

Schubert: Duo-Piano Works, David Bradshaw e Cosmo Buono, Albany Records, 1995,

034061006923, CD;

Schubert: Grand Duo, Daniel Barenboim e Radu Lupu, Teldec Classics, 1997,

706301714621, CD;

César Gonçalves 124


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Schubert: Piano Duets, Imre Rohmann e András Schiff, Hungaroton, 1993,

750582148026, CD;

Schubert: Piano Works for 4 Hands, Rico Gulda e Christopher Hinterhuber, Naxos, 2003,

747313593026, CD;

Schubert: Piano Works for 4-Hands, Jenö Jandó e Zsuzsa Kóllar, Naxos, 1998,

730099444125, CD;

Schumann: Piano Quintet / Andante & Variations / Fantasiestücke / Märchenbilder,

Martha Argerich, Natalia Gutman, Lucia Hall, Nobuko Imai, Mischa Maisky, Marie-

Louise Neunecker, Alexandre Rabinobitch e Dora Schwarzberg, EMI, 2002,

724355730824, CD;

Stravinsky: Music for 2 Pianos, Benjamin Frith e Peter Hill, Naxos, 1996, 730099438629,

CD;

Tailleferre / Bartók: Piano Duets, Mark Clinton e Nicole Narboni, Elan Records, 1999,

675754002022, CD;

Tailleferre: Music for 2 Pianos, Mark Clinton e Nicole Narboni, Elan Roecords, 2000,

789368631926, CD;

Ungarische Tänze, Alfons Kontarsky e Aloys Kontarsky, Deutsche Grammophon, 1989,

429180-2, CD;

Valse for Piano Duet, Simon Crawford-Philips e Philip Moore, Deux-Elles, 2003,

666283104028, CD;

Vaughan Williams / Britten: Works for 2 Pianos, Robert Cowan e Joan Yarbrough,

Centaur, 1993, 750582961526, CD;

César Gonçalves 125


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ANEXOS

César Gonçalves 126


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ANEXO A

Artigos escritos sobre (e por) Eurico Thomaz de Lima, publicados em


Revistas, Boletins e Livros Nacionais e Estrangeiros

(Esta lista foi retirada dos álbuns do compositor)

ƒ Boletins do “Salão Silva Porto” – Porto


ƒ Revista “Portucale” – Porto
ƒ Boletins da “Casa do Porto no Rio de Janeiro” – Brasil
ƒ “Arte Musical” – Lisboa
ƒ Boletins da Associação Feminina Portuguesa para a Paz” – Lisboa
ƒ “O Brasil Cultural” – n.º 4 – Porto
ƒ “Mundo Literário” – Lisboa
ƒ “Rádio Mundial” – Lisboa
ƒ “Vamos Ler!” – Lisboa
ƒ “Arquivo Musical Português” – César Leiria (7 volumes: 1939-1946) – Lisboa
ƒ “Horas d’Arte” – Alfredo Pinto (Sacavém) – Lisboa – 1913
ƒ “Vida Musical” – Vasco Mariz – Porto
ƒ “Padrão” – Rio de Janeiro
ƒ “Anuário Radiofónico Português”: 1.º volume (1936), 2.º volume (1937) – Lisboa
ƒ Revista “Música” – Barcelona
ƒ “Le courrier musical” – Paris
ƒ “Lyrica” – Paris
ƒ “La Revue Internacionale de Musique” – Bruxelas
ƒ “Ritmo” – Lisboa
ƒ “Ilustração Brasileira” – Rio de Janeiro
ƒ Jornal “O Malho” – Rio de Janeiro
ƒ “Ilustração” Lisboa
ƒ O “Notícias Ilustrado” – Lisboa
ƒ “Eva” – Lisboa
ƒ “Lyra” – Lisboa
ƒ “ABC” – Lisboa
ƒ “Ilustração Portuguesa” – Lisboa
ƒ “Sol Nascente” – Porto
ƒ “Os Açores”
ƒ Revista “Movimento” – Porto
ƒ “Le Menestrel” – Paris
ƒ “Renascença” – Lisboa
ƒ “Semana Ilustrada” – Lisboa
ƒ “Jornal dos Teatros” – Lisboa
ƒ “Orfeu” – Porto
ƒ “Diário do Norte” – Porto
ƒ “Correio dos Açores” – Ponta Delgada
ƒ Revista “Crónica Feminina”, n.º 586, de 1968

César Gonçalves 127


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Mestrado em Educação Musical – 2005

ƒ Jornal “O comércio do Porto” – Porto


ƒ Jornal de Notícias – Porto
ƒ Diário do Minho – Braga
ƒ Jornal do Comércio e Colónias – Lisboa
ƒ Jornal “Estremoz 24” – Estremoz
ƒ Diário de Notícias – Lisboa
ƒ Jornal “O século” – Lisboa
ƒ Jornal da Mulher
ƒ Jornal “O primeiro de Janeiro” – Porto
ƒ Semanário Sol Nascente
ƒ Jornal “Democracia do Sul”
ƒ Jornal do Barreiro
ƒ Diário do Alentejo
ƒ Jornal “O Setubalense”
ƒ Diário da Manhã
ƒ Correio da Manhã – Brasil
ƒ Jornal “Notícias de Guimarães”
ƒ Jornal da Madeira

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ANEXO B

Comentários referentes a Eurico Thomaz de Lima por alguns dos seus


contemporâneos

(Comentários reunidos pelo próprio e pertencentes ao seu Espólio)

José Vianna da Mota:

“Possui qualidades artísticas excepcionais, fina musicalidade que lhe permite penetrar
inteligentemente o sentido das obras que executa, perfeição técnica, excelente sonoridade,
maleabilidade de interpretação e a maior probidade artística, trabalhando com rigoroso
método e consciência”.

Luís de Freitas Branco:

“As peças para piano do nosso compatriota E. T. Lima, por ele próprio executadas,
deixaram agradável impressão. São escritas com técnica que revela o conhecimento das
tendências da moderna composição musical e o seu conteúdo expressivo não fica
prejudicado pelas preocupações da escrita”

“A passagem de E. T. Lima, pelo nosso Conservatório, marcou como um exemplo pouco


vulgar”

Ruy Coelho:

“E. T. de Lima, dadas as suas indiscutíveis qualidades pianísticas, suficientemente


demonstradas na brilhante execução de ontem, encontra-se numa altura da sua carreira em
que a ida e demora nos meios estrangeiros está nitidamente indicada”

Alfredo Augusto Pinto:

“E. T. de Lima, reúne, quanto a mim, todas as qualidades para ser um artista que possa dar
nome a Portugal. Disposições naturais e que a arte tem iluminado sempre, para
encaminharem intrépidas na florida estrada que o novel artista pensa seguir”

Joaquim de Freitas Gonçalves:

“E. T. de Lima é um nome que nos honra duas vezes; pelo talento, que é seu e pelos
mestres que são nossos”

Hermínio do Nascimento:

“Eurico Thomaz de Lima, nosso estudioso discípulo e um valor autêntico dentro das
classes do Conservatório”

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ANEXO C

Intérpretes Estrangeiros das obras de Eurico Thomaz de Lima

(Lista coligida pelo próprio e pertencente ao seu Espólio)

ƒ Moacyr Liserra – Flautista brasileiro


ƒ Alma Cunha de Miranda – Cantora brasileira
ƒ Letícia de Figueiredo – Cantora brasileira
ƒ Nair Bevilacqua Barrozo Netto – Pianista brasileira
ƒ Hisa de Varim – Dançarina espanhola
ƒ Samuel Lazar – Pianista alemão
ƒ José de Sousa Lima – Pianista brasileiro
ƒ Fernando Elias de Quirós – Pianista espanhol
ƒ Ruth Heim – Pianista Alemã
ƒ Piera Brizzi – Pianista italiana
ƒ Sylvaine Billieter – Pianista francesa
ƒ Murilo Tertuliano dos Santos – Pianista brasileiro
ƒ Leonora Gondina – Pianista brasileira
ƒ Renate von Schenckedorff – Cantora alemã
ƒ Lisetta Zarone – Pianista italiana

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ANEXO D

Entrada da Enciclopédia Luso-Brasileira referente a


Eurico Thomaz de Lima – pág. 83

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III

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PARTITURAS

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