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Agradecimentos:
À Doutora Elisa Lessa, pela orientação eficaz e sem reservas que prestou à minha
documentos.
Ao Dr. Jorge Alves Barbosa, pela sua atenção e dedicação ao meu trabalho dando
RESUMO
Eurico Thomaz de Lima sempre manifestou ao longo da sua vida. Para atingirmos este
objectivo, foram seleccionados para estudo os seus duetos para piano originais, destinados
à infância.
infância.
sobre as mesmas.
português.
César Gonçalves iv
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Mestrado em Educação Musical – 2005
SUMMARY
The present investigation will allow an explanation of educator's facet that Eurico
Thomaz de Lima always manifested along all his life. In order to reach this purpose, we
selected and studied their original “piano duets” for the childhood.
In way to context his work in the remaining production of this genre, we present,
firstly, a small introduction about the duet form in the western music, binding this
approach soon afterwards for the Portuguese authors compositions, and finally we will do
of Eurico Thomaz de Lima: his life, an elaboration of a chronological picture, notes on his
biography, accomplishment of the list of all their works and some allusions on the same
ones.
Concretely, they are thoroughly studied the piano duets for the childhood in
César Gonçalves v
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ÍNDICE
INTRODUÇÃO 1
II
1.1 Cronologia 26
2. A obra musical 44
CONCLUSÃO 115
BIBLIOGRAFIA 118
DISCOGRAFIA 121
ANEXOS 126
III
PARTITURAS 133
César Gonçalves vi
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Introdução
Eurico Thomaz de Lima foi uma personalidade de vulto na nossa cultura musical,
desenvolvendo uma carreira artística que se foi repartindo por três vertentes: como
intérprete, pianista exímio, discípulo dos Mestres Alexandre Rey Colaço e Vianna da
Mota, alcançou notoriedade tanto ao nível nacional como internacional; como compositor,
sobre a sua faceta de pedagogo, contemplando as respectivas obras que Eurico Thomaz de
Lima compôs com este propósito. Os restantes aspectos musicais da sua vida serão
conhecimento do grande número de obras que compôs destinadas aos seus alunos. Em
virtude do elevado número de obras deixadas pelo compositor para a infância, o nosso
estudo propõe-se cingir o seu âmbito a uma categoria específica da sua produção artística –
As obras a quatro mãos ou dois pianos para a infância – composições peculiares em que o
próprio autor partilhava o teclado com os seus alunos, obras frequentemente escutadas em
César Gonçalves 1
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em Portugal, uma vez que a ausência de informação não significa inexistência de uma
prática habitual deste género. É evidente que quando, em meados do século XVIII, se deu
o grande florescimento deste género, o nosso país estava mais voltado para o teatro lírico
por influência dos compositores italianos que por cá trabalhavam, pelo que o gosto por
uma música de câmara de elevado nível não encontrava no nosso meio uma significativa
importância. Sendo assim, esta dissertação propõe-se fazer uma abordagem deste género a
podendo-se citar o estudo de Manuel Afonso (1998) elaborado como dissertação final do
Estudos da Criança e que constitui uma ampla investigação pioneira sobre os vários
apresentadas sejam correctas e justas para com Eurico Thomaz de Lima. Uma outra
Ensino da Música em Portugal (2001), foca as obras para piano destinadas à infância,
César Gonçalves 2
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esquecida, mas que em tempos não muito recuados era conhecida e divulgada pelo meio
cultural da época e pela comunicação social. O espólio musical de Eurico Thomaz de Lima
foi doado pelo seu filho Eurico Adolfo Thomaz de Lima à Universidade do Minho em 31
Criança 1 . Devido a esta circunstância o seu espólio foi a fonte base da nossa investigação,
uma vez que inclui os álbuns, cuidadosamente elaborados ao longo da vida, programas de
o facto de termos acesso a este material, de certa forma organizado pelo compositor,
permitiu reconstruir alguns aspectos da sua vida. Com este trabalho, pretendemos também
obras, no que se refere aos duetos para Piano. Trata-se de uma revisão bibliográfica sucinta
1
O catálogo deste Espólio está a ser elaborado pela Doutora Elisa Lessa, docente do Instituto de Estudos da
Criança – Universidade do Minho.
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Segundo o New Grove 2 , existem dois tipos de duetos para piano, os que recorrem a
dois intérpretes para um piano – neste caso a partilha do teclado inibe as totais
possibilidades técnicas de cada pianista, pois estes não dispõem da totalidade do teclado –
e os duetos nos quais cada instrumentista possui o seu próprio instrumento – onde cada
indivíduo pode utilizar toda a sua extensão e evidenciar toda a sua técnica. O primeiro tipo
de dueto concentrou a maior parte das produções dos compositores. Tal ocorrência deve-se
grandes efeitos sem necessidade de se ser um grande virtuoso do teclado, e ainda pelo facto
pode também ter sido uma razão pela qual os compositores escreveram mais para quatro
mãos. Por último, uma finalidade pedagógica está também ligada a este tipo de dueto.
recuadas, sendo o primeiro testemunho conhecido na Idade Média, no século VIII, onde
Barroco, em território inglês. Trata-se de uma obra a três mãos denominada A Battle, and
2
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980
3
HENRIQUE (1999) Instrumentos Musicais
César Gonçalves 5
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pelos dois ao mesmo tempo 5 . Uma referência escrita nas peças Um verso para dois para se
tocar num Virginal ou Órgão, pode implicar não só um uso doméstico, mas também uma
função litúrgica.
difusão dos duetos para piano 6 , ilustrados pela famosa pintura da família de W. A.
Mozart 7 , na qual o compositor partilha o teclado com a sua irmã enquanto o pai Leopold
Mozart segura um violino. W. A. Mozart interpretava estas obras a quatro mãos desde
1764-5 aquando da sua viagem a Londres, tendo inclusive composto, por essa altura, a
Sonata K19d, que Leopold Mozart considerou como a primeira no seu género. De facto, as
Apesar de se começar a assistir a uma larga difusão deste género neste período, o
que se deve, em parte, ao interesse que a música feita em casa suscitava em músicos
amadores, esta ideia não foi imediatamente seguida 8 . As primeiras obras impressas a
quatro mãos datam apenas de 1777 compostas por C. Burney9 – Four sonatas or duets for
two performers on one pianoforte or hapsichord. Em 1780, este compositor escreveu uma
sonata a três mãos. Além disso, C. Burney possuía um piano de seis oitavas construído por
4
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. John Bull (c.
1562 – 1628), compositor e organista inglês, compôs música para teclado e para grupos instrumentais
evidenciando uma elaborada técnica contrapontística e algumas passagens virtuosísticas.
5
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. Nicholas
Carleton (c.1570 – 1630), compositor inglês. Thomas Tomkins (1572 – 1656), compositor inglês, discípulo
de W. Byrd compôs música de igreja, madrigais e obras para violas e virginal.
6
ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano
7
Óleo de Johann Nepomuk Della Croce de 1780
8
DOWN, Philip G. (1992) Classical Music
9
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. Charles
Burney (1726 – 1814) historiador, cronista, organista e compositor inglês.
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J. J. Merlin, especificamente para os seus duetos, pois considerava que o piano de cinco
oitavas não dispunha de espaço suficiente para duas pessoas adultas 10 . Johann Christian
Bach publicou, entre 1778 e 1780, algumas sonatas a quatro mãos, catalogadas entre as op.
A. Mozart. As características mais notáveis nas obras destes dois compositores, dentro do
Esta particularidade orquestral e rica das texturas a quatro mãos originou, a partir
proporções sinfónicas para piano a quatro mãos. Em 1798-1800, o editor Birchall publicou
época 12 . Torna-se evidente, mais uma vez, a finalidade doméstica deste tipo de obras e a
popularidade que adquirem nesta época, pela possibilidade de grande parte do público
interpretar e ouvir as obras mais significativas dos grandes compositores, e pelo facto de a
música antecipa muitas das características do período romântico, uma vez que a sua escrita
fantásticas, aliadas a uma escrita melódica muitas vezes ornamentada e colorida que
10
LOESSER, Arthur (1990) Men, Women and Pianos A Social History
11
ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano
12
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980
13
Leopold Kozeluch (1748 – 1818), compositor checo da escola vienense e contemporâneo de Vanhal.
Compôs de uma forma prolífica em todas as formas, gozou de imensa popularidade no seu tempo, tendo
sucedido a Mozart no seu posto na corte da Áustria em 1792.
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mais clássico.
de câmara para piano a 4 mãos. É o apogeu do género, tornando possível adquirir quase
todo o repertório na versão de duetos para piano 15 . Além destas adaptações, o século XIX
vê surgir um vasto repertório original para piano a quatro mãos, do qual se destaca a
produção de F. Schubert com obras como o Grande Duo op. 140 D812, e a Fantasia em Fá
menor op. 103 D617, tendo este autor composto ainda vários Rondós, Variações, Marchas
e Danças 16 . Também nesta época muitos compositores utilizam este género para criarem
danças de carácter nacionalista como, J. Brahms com as suas famosas Waltzer op. 39 e
Danças Húngaras, Antonin Dvorak, com as notáveis Danças Eslavas ou ainda Edvard
Com as Six petites piéces faciles op. 3 (1801) de Karl Maria von Weber inaugura-se
uma nova forma de abordar as obras a quatro mãos, organizadas em grupos de músicas
breves e bastante atractivas para os executantes 17 , procedimento que seria seguido por
vários compositores dos séculos XIX e XX. Dentro da vasta produção legada pelo séc.
XIX neste género, destacam-se o Bilder aus Osten op. 66 de R. Schumann, as Trois
14
Abbé Sterkel (1750 – 1817), músico amador e sacerdote alemão, compôs sinfonias, música coral e de
câmara, assim como para piano e canções.
15
HENRIQUE (1999) Instrumentos Musicais
16
ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano
17
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980
18
Charles Valentim Alkan (1813 – 1888) Pianista virtuoso francês, respeitado por Liszt, Chopin, e outros
contemporâneos. Compôs estudos, prelúdios e outras obras de concerto de bravura.
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Satie, as duas Suites, Petite suite de 1889 e as magníficas Six épigraphes antiqúes de 1914
de Claude Debussy e, por fim, a Suite Provençale de Darius Milhaud. Alguns compositores
franceses desta época evocaram, na composição das suas suites, recordações da infância,
resultando num repertório com elevada qualidade que vem sendo executado com bastante
regularidade até aos dias de hoje. Destacam-se Jeux d’enfants op. 38 de G. Bizet, Dolly
O segundo tipo de dueto – para dois pianos – parece ter o seu início também em
Inglaterra, com uma pequena obra de G. Farnaby que consta no Fitzwilliam Virginal
Book 20 . Até 1720 a produção de obras neste tipo é quase inexistente, embora F. Couperin e
B. Pasquini tenham dedicado alguma atenção a este género 21 . Somente com os trabalhos
dos três filhos de Bach – Wilhelm Friedemann, Carl Philipp Emanuel e Johann Christian –
os duetos para dois pianos adquirem um novo fôlego. M. Clementi compôs duas sonatas e
foi menor, sendo preciso esperar pelo alto Romantismo para que o interesse fosse reatado.
F. Chopin compôs o Rondo op. 73, uma obra póstuma e rara na sua forma, uma vez que o
primeiro piano é mais difícil que o segundo. Segundo Rowland, F. Chopin queria executá-
lo com um amigo menos dotado 22 . F. Liszt fez arranjos de obras suas e de outros
compositores para dois pianos. Também os concertos de piano eram publicados numa
versão para estudo, com a parte da orquestra transcrita para um segundo piano. Existem
igualmente outras obras como é o caso de Andante e Variações op. 46 de R. Schumann que
19
Désiré-Émile Inghelbrecht (1880 – 1965), maestro francês, compôs ballets, obras corais e orquestrais,
música de câmara e para piano.
20
DAWES, Franck Piano Duet in Grove’s Dictionary of Music and Musicians – Londres, 1980. Giles
Farnaby (c. 1565 – 1640) compositor inglês, sobrevivem da sua autoria 54 obras para teclado, 20 canções e 9
salmos.
21
MONTU-BERTHON, Suzanne (1987) La Musique a deux claviers
22
ROWLAND (1998) The Cambridge Companion to the Piano
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originalmente tinha partes para dois violoncelos e uma trompa, ou ainda algumas obras de
J. Brahms como Variações sobre um tema de Haydn op. 56b com o seu equivalente
orquestral e a Sonata em Fá Menor op. 34b que existe também como Quinteto de piano,
Além destas obras de grande renome referem-se também pela sua inegável
qualidade, três conjuntos de variações – op. 86, op. 96 e op. 132a – de Max Reger que
revelam uma escrita de excepcional riqueza, as Variações sobre um tema de Beethoven op.
que também gozou de certa fama 23 . Obras como En Blanc et noir de C. Debussy, Sonata
Martelli 24 contam-se entre as maiores realizações neste género na música do século XX. E.
Chabrier também contribuiu para o desenvolvimento deste género com Trois valses
escreveu a obra Pièce en si mineur (1894) notável pela diversidade rítmica, melódica e
harmónica, uma expressão intensa e uma sólida construção que revela influências de C.
A. Bax, assim como as suas pequenas obras para dois pianos, tornaram-se muito
três sonatas de Mozart: K533/494, K545 e K283, à Fantasia K475 e à Sonata K457,
23
MONTU-BERTHON, Suzanne (1987) La Musique a deux claviers
24
Henry Martelli (1895 - ), compositor francês. O seu estilo é neo-clássico e dotado de uma certa
austeridade. A sua obra inclui música orquestral, para rádio e teatro, de câmara, de ballet e óperas.
25
MONTU-BERTHON, Suzanne (1987) La Musique a deux claviers
26
Anton Arensky (1861 – 1906), compositor russo, aluno de Rimsky-Korsakov, compôs num estilo lírico
semelhante a Tchaikovsky.
27
Arnold Bax (1883 – 1953), compositor inglês. A sua obra é composta por música de orquestra, de câmara,
vocal, coral, canções e para piano. A sua obra revela um equilíbrio entre diatonismo e cromatismo.
César Gonçalves 10
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algumas das suas obras do Mikrokosmos, ou ainda as obras fáceis que C. Gurlitt 39 e outros
autores compuseram.
28
Harald Genzmer (1909 - ), compositor alemão e professor, compôs num estilo neo-clássico influenciado
por Hindemith. Entre as suas obras contam-se: concertos, obras orquestrais, música de câmara e para piano.
29
Arnold Cooke (1906 - ), compositor e professor inglês. Estudou com Hindemith, cuja forma de compor o
influenciou. As suas obras incluem música orquestral, vocal, de câmara e para piano.
30
Mervyn Roberts (1906 - ), compositor e professor de origem galesa. A sua produção artística é enorme e a
mais importante destina-se ao piano, mas também escreveu música de câmara, coral e canções. A sua escrita
é cromática mas tonal dentro da tradição de A. Bax e da Irlanda.
31
Geoffrey Bush (1920 - ), compositor inglês, a sua música é tonal e as suas melodias são de inspiração vocal
mesmo nas obras instrumentais. Compôs óperas, música coral, canções, para orquestra, música de câmara e
para piano.
32
Louis Aubert (1877 – 1968), Compositor francês aluno de Fauré. Escreveu música orquestral, canções,
música para piano e a Ópera A Floresta Azul, que é uma história de encantar. O seu estilo revela afinidades
com Ravel e Debussy.
33
Franck Martin (1890 – 1974), de origem suíça foi compositor e professor, definiu um estilo muito pessoal
combinando elementos latinos e germânicos. Stockhausen foi seu aluno em composição.
34
Kurt Hessenberg (1908 - 1994), compositor alemão. A sua obra revela um estilo neo-clássico e
contrapontístico com livres dissonâncias. Escreveu música orquestral, de câmara, vocal, para órgão, para
piano e uma ópera.
35
Germaine Tailleferre (1892 - 1983), pianista francesa, membro do grupo de “Os seis”. Compôs ballets,
óperas, canções, música orquestral, música de câmara e para piano.
36
Lennox Berkeley (1903 – 1989), compositor inglês. O seu estilo é lírico com influências da escola francesa
moderna e de Stravinsky. Compôs óperas, canções, música de filme, orquestral, coral e para piano.
37
Jurg Wyttenbach (1935 - ), compositor, pianista e professor suíço. A sua obra começará sobre influência de
Bartok e Stravinsky para depois evoluir no sentido de uma maior expressão dramática e inclusão de ideias
serialistas e da forma da variação. Obra: música coral, orquestral, vocal, de câmara e para piano.
38
Cornelius Cardew (1936 - 1981) compositor inglês. A sua obra revela as tendências da música de
vanguarda. Trabalhou com Stockhausen e conheceu Cage. Compôs música orquestral, de câmara, vocal, para
grupos indeterminados e obras literárias.
39
Cornelius Gurlitt (1820 – 1901), pianista, organista e compositor alemão, compôs música atractiva e com
propósitos educativos para piano.
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Pareceria evidente que o conhecimento do dueto para piano em Portugal fosse uma
realidade na transição do século XVIII para o XIX. Esta afirmação pode ser corroborada
por uma obra de Marcos Portugal 40 (1762-1830) que se encontra na Biblioteca Nacional:
trata-se de um Minuete para cravo a 4 mãos. Além deste exemplo, apenas subsistem os
arranjos para piano de Domingos Bomtempo da sua Sinfonia op. 11 e da Marcha do Hino
Esta escassez de elementos neste período pode não significar a não existência de
obras deste tipo, mas a insuficiência de informação a respeito. É certo que a ópera e a
mas há notícias de que uma tradição de concertos públicos e também privados, em que se
cultivava a música instrumental para orquestra ou conjuntos de câmara, teve lugar nesta
altura 41 . Consideramos, por isso, que o culto da música instrumental no nosso país nesta
época foi, de certa forma, uma realidade, embora sem as condições e nos termos que
fizeram com que noutros países este tipo de música suplantasse em importância a música
vocal, nomeadamente a de influência italiana que ainda perduraria no nosso país pelo
40
Os compositores e obras referidas nestes três primeiros parágrafos foram retirados do catálogo da
Biblioteca Nacional disponibilizado pela Internet: http://pesquisa.bn.pt/
41
BRITO (1989) Estudos de História da Música em Portugal
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No século XIX, também existem alguns testemunhos desta prática como é o caso de
entre 1835 e 1862. Também de Joaquim Silvestre Serrão 43 chegou a obra Os Aliados da
Crimeia – múzica para piano solo ou dois pianos – entre os anos de 1868 e 1879, em Paris.
André Navarro, que terá morrido cerca de 1900, deixou um Hino a Nossa Senhora das
Graças, para pianoforte a 4 mãos, uma redução efectuada pelo autor e publicada entre
1890 e 1910. Além destes compositores ainda há menção de uma Dança para piano a 4
mãos de Sérgio Bettencourt Sampaio (c. 1900), de uma Abertura para piano a 4 mãos de
violinos e uma flauta, publicada em 1854, de autoria de Manuel Inocêncio Liberato dos
As obras aqui enumeradas mostram que este género era utilizado de várias formas:
quer como produção original, quer como transcrição de obras dramáticas, religiosas ou
orquestrais, prática que, como foi enunciado no primeiro capítulo, era corrente na música
europeia. E apesar de constarem apenas estes elementos, não é de excluir o facto de que
posse de particulares que desconhecem o seu conteúdo. Portanto não é de todo errado
afirmar que esta prática dos duetos estivesse na realidade mais difundida em todo o país
42
Joaquim Casimiro Júnior (1802 – 1862), organista e compositor português, filho de Joaquim Casimiro da
Silva. Compôs sobretudo obras religiosas e teatrais num estilo marcadamente italiano, encontrando-se
actualmente esquecidas do grande público.
43
Padre Joaquim Silvestre Serrão (1801 – 1877), compositor e organista português. Foi muito considerado
como compositor de música de igreja e como organista nos Açores. As suas obras revelam influência do
estilo teatral italiano em voga no século XIX.
44
Manuel Inocêncio Liberato dos Santos (1805 – 1887), organista e compositor português, gozou de
protecção da corte de D. Miguel a D. Luís. Escreveu música religiosa para a capela real e três óperas.
45
Duarte Joaquim dos Santos ( - 1855), organista, pianista e compositor. Efectuou concertos em Lisboa e
Porto e em 1826 mudou-se para Londres como docente, tendo como aluna a futura rainha D. Maria II. No
final da vida mudou-se para a ilha da Madeira onde compôs música religiosa.
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durante o século XIX, pois o piano tinha cada vez mais aceitação em Portugal 46 e,
portanto, este factor pode ter funcionado como estímulo para a criação de obras destinadas
apenas ao piano e, entre elas, os duetos para piano. Contudo são apenas hipóteses que
carecem de comprovação, pelo que seria interessante levar a cabo um estudo nesta área
Um facto singular a atestar que este modelo se encontrava difundido no meio musical
Teatro S. Carlos, em 1845, tocando com João Guilherme Daddi a dois pianos, uma obra de
F. Liszt 47 .
Até meados do século XX os duetos parecem ainda não despertar grande interesse
nos compositores nacionais, excepção feita a Vianna da Mota que aborda pela primeira
vez, de que há conhecimento, este género na sua vertente para a infância, como é o caso
das suas 6 peças fáceis Erinerungen. Para níveis mais avançados, Vianna da Mota compôs
ainda mais três obras: Ein Dorffest (1885), Recordações op.7 (1885) e uma Fantasia sobre
a ópera de Meyerbeer “Robertm le Diable” op. 42, para piano a 6 mãos (1881). Há ainda
notícias de duas obras extraviadas: Suite op. 6 (1885) e Sonata (1893) com uma parte de
violino 48 .
49
Contudo, a partir de meados do século XX, os duetos para piano mereceram a
nacional deste tipo de obras. Assim, pode-se referir a obra Paris 1937, para dois pianos, de
Fernando Lopes Graça, de Fernando Correia de Oliveira o Tríptico op. 13, para piano a 4
mãos e 1 percussão, Nocturnos op. 29 e Sonata op. 41 para 2 pianos. De Maria Lurdes
46
BRITO e CRANMER (1990) Crónicas da Vida Musical Portuguesa na Primeira Metade do Século XIX
47
BRITO e CYMBROM (1992) História da Música Portuguesa
48
As obras de Vianna da Mota foram retiradas do livro José Vianna da Mota 50 anos depois da sua morte
1948-1998 (1998)
49
As obras enumeradas no presente parágrafo foram retiradas do livro Invenção dos sons de Sérgio Azevedo
(1998)
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Martins chegou até nós Dança (1949) para dois pianos. Continuando nas obras para dois
pianos, salienta-se as Figurações III (1969) e o Stretto (1987) ambas de Filipe Pires, o
António Victorino D’Almeida também dedicou quatro obras para o género de dois pianos:
Dia de Mercado op. 11, Pantomina op. 13, Concerto de pífaro e fungagá op. 14 e Páscoa
no Minho op. 15. Verifica-se portanto nos compositores portugueses uma predilecção pelos
duetos para dois pianos, confirmada ainda pelas obras dos seguintes autores: Badim (1992)
de Amílcar Vasques Dias, Para dois pianos (1986) de António Sousa Dias,
Sérgio Azevedo. Este último compositor, na obra Romance da Raposa (1997-99), dedica
uma das partes ao piano a 4 mãos. Pode-se ainda referir a obra Collage (1962-65) de Jorge
Peixinho, o Nocturno no cabo do mundo (1993), Para 3 pianos e harmónicos (1967) para
menor, constituída apenas pelo Presto op. 11 de Fernando Corrêa de Oliveira, pelos 3
Estudos para jovens (1960-64) de Cândido Lima, pelo Caleidoscópio (1987-98) de Sérgio
Azevedo de que fazem parte 8 pequenas peças e ainda as duas obras, Suite Veraneja e
Cubana, esta última para piano a 6 mãos. Para finalizar mencionemos a peça Martelinhos
destinados a vários níveis, incluindo obras suas, pelo que a execução das obras de outros
50
Os duetos para a infância deste compositor serão objecto de estudo no capítulo II desta investigação.
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e Branquinha, duas discípulas do autor, e também obras mais elaboradas para este género:
O Vira, Valsa, Mazurka em Lá menor op. 6 n.º 1 e Rapsódia sobre motivos portugueses.
Frederico de Freitas compôs duetos a quatro mãos para a infância com títulos sugestivos
evocativos da infância como foi referido anteriormente: Tia Alice, O relógio, Carrocel, O
burrinho trabalhador e Giroflé-flé-flá, ou ainda situações inusuais tal como a obra Tocam
Gonçalves Simões dedicou algumas das suas obras a quatro mãos para a infância, como é o
Em relação aos restantes compositores que aparecem no espólio, podem não ter
composto os duetos para a infância, mas contribuíram com certeza para o desenvolvimento
deste género com obras mais elaboradas. Ivo Cruz compôs Cortejo e Dança da Amadis,
Valsa Rústica. Claúdio Carneyro também abordou este género com as obras Cantar
d’Amigo, Guajira, Dança Japonesa, Mote popular e Vito, assim como Hermínio do
Nascimento com a Suite n.º 2 Quioca. Para finalizar esta breve lista, falta mencionar duas
características diferentes, e pertencentes a várias épocas, pelo que se conclui que a prática
dos duetos não foi tão escassa como pode aparecer à primeira vista. É verdade, que existem
grande público. Porém, a sua execução acontecia em bastantes recitais, a avaliar, por
exemplo, pelas inúmeras referências que constam nos respectivos programas que podemos
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evolução deste género, bastante dispersa e quase ausente no século XVIII, e apenas um
pouco melhor no século seguinte. É verdade que ao longo do século XX se assiste a uma
maior produção, mas, como não existe uma tradição continuada, não é possível ainda
César Gonçalves 17
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O interesse pedagógico das obras para piano a quatro mãos tem merecido a atenção
dueto. Estes trabalhos são curtos, assim como outros similares dos compositores do século
- As obras com partes desequilibradas: neste caso apenas uma das partes se destina
à criança, enquanto a outra parte é assegurada pelo professor ou por alunos mais
experientes. Este modelo concentra uma parte substancial da produção da literatura para
se destina à criança. São exemplos desta forma de composição: Teacher and pupil, oito
51
Este capítulo foi elaborado com base nas informações do livro de MCGRAW (2001), e apenas desenvolve
os assuntos relacionados com os duetos onde os pianistas partilham o mesmo teclado.
52
William Mason (1829 – 1908), pianista e compositor, estudou com Moscheles e Liszt, as suas obras
revelam uma escrita refinada dentro do estilo do século XIX.
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Menuet, Quiétude, Valse) de 1958 compostas por A. Ferté 53 , obras pedagógicas atractivas,
Françaix 54 , publicada em 1971, obras curtas, inspiradas nos retratos de Auguste Renoir, em
estilo francês, e onde cada peça está acompanhada por uma imagem cujo título fornece
também o título da música, e ainda o álbum Beginner and teacher s.d. de M. Jacobson 55 .
parte destinada à criança apenas se serve de cinco notas e que constitui uma parte
significativa deste tipo de obras. Muitos compositores utilizaram os seus maiores recursos
artísticos e musicais na composição deste género musical popular, que parece ter sido
desenvolvido inicialmente por Anton Diabelli. Os exemplos são inúmeros, pelo que
Uebungsstücke, op. 62 de 1861; de R. Friml 59 subsiste a obra Musical adventures for four
little hands (Wishing moon; in magic land; Chatterbox; Blue fairy; Foxy Kitten) publicada
em 1925, com pequenas peças atractivas e pedagógicas; Cesar Cui (1835-1918) que
53
Armand Ferté (1882 – 1973), pianista e professor francês de renome, tendo dotado uma parte da sua
produção pianística de propósitos educativos.
54
Jean Françaix (1912 - ) pianista e compositor francês. A sua obra manifesta influência de Stravinsky, mas
também revela a claridade da música francesa, engenho, espontaneidade e uma restrição clássica.
55
Maurice Jacobson (1896 – 1976), compositor, pianista, pedagogo e editor inglês. Os seus trabalhos foram
escritos num estilo conservador e inclui música de ballet, orquestral, coral, música de câmara e bastantes
obras para piano.
56
Berthold Damcke (1812 – 1875), violoncelista e professor alemão amigo de Berlioz. Compôs oratórios,
canções, obras para piano.
57
Carl Reinecke (1824 – 1910), compositor alemão de obras orquestrais, concertos, música de câmara óperas
e música de piano num estilo romântico influenciado por Mendelssohn e Schumann.
58
Hermann Berens (1826 – 1880), compositor e pianista sueco de origem alemã, compôs óperas, música
incidental, canções e para piano.
59
Rudolf Friml (1879 – 1972), pianista e compositor checo, com residência nos EUA. A sua música de piano
é leve e melodiosa tal como as suas famosas operetas Rose Marie e The Vagabond King.
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especialmente felizes na escrita para ambas as partes que intitulou Ten pieces on five notes
op. 74 de 1906; Ettore Pozzoli 60 que também criou obras destinadas às crianças neste
molde, Sorrisi infantili publicadas em 1948 e 1968 – 23 obras curtas, melodiosas num
peças fáceis) s.d., pequenas obras onde o primeiro piano é de fácil execução, enquanto que
o segundo apresenta maiores dificuldades técnicas. A sua escrita cuidada e correcta faz
com que as notas exclusivas nas teclas brancas do primeiro piano se misturem com as
permanecem algumas obras das quais destacamos: 59 Täglische Studien über die
Harmonisierten Scalen op. 107 de I. Moscheles (1794-1870), escalas com vários ritmos
Berceuse, Valse, Tarantelle) s.d., em que o segundo piano apenas utiliza cinco notas; F.
Maxson 62 nas 5 Melodious duets op. 7 de 1890 também se serve apenas de cinco notas.
Mais insólito é o caso de I. Stravinsky com as suas Três peças fáceis de 1915, em que a
segunda parte é quase absurdamente simples, consiste num padrão de 2 ou 3 notas repetido
Polka a S. Diaghilev.
60
Ettore Pozzoli (1873 – 1957), pianista italiano, professor e autor de obras pedagógicas e teóricas. A sua
obra inclui música coral, de câmara, orquestral e para piano.
61
Juriaan Andriessen (1925 - ), pianista e compositor alemão, as suas obras sofreram influências de
Stravinsky e da escola francesa. Compôs música de filme, de câmara, concertos, obras para orquestra e piano.
62
Frederik Maxson (1862 – 1934), organista norte-americano, compôs anthems, canções e obras para órgão e
piano.
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partes podem ser interpretadas por dois jovens pianistas. Este tipo foi, de longe, o mais
melodias bem delineadas, harmonias variadas, atractivas e construídas nas mais diversas
formas e estilos, desde o mais tradicional até ao vanguardista. As partes encontram-se bem
(anónimo, de finais do século XVIII) – uma obra num único movimento em estilo clássico;
conjunto de graciosas valsas; dois conjuntos intitulados A little concert (36 obras em dois
livros) de 1914 e Tunes for two (10 obras com títulos muito sugestivos, apelativas e num
estilo convencional) de 1925 compostas por A. Carse 64 ; Ten little duets de 1922 de H. G.
Kinscella 65 ; Musical Miniatures (Barcarolle, Hop, Skip and jump, Pastorale dance,
obras publicadas em 1963 por M. Kopelent 67 e de Alain Auda 68 chega uma colectânea
intitulada Pour les petites personnes, peças fáceis em todos os tons, destinadas ao primeiro
Ainda dentro deste esquema de composição podem-se encontrar obras onde ambos
atenção a esta forma: Tunes for two (The japanese toy man; Trailing moon vine; The quick
63
Johann Christian Heinrich Rinck (1770 – 1846), compositor, organista e professor alemão. Escreveu para
órgão, música sacra coral, música de câmara e obras pedagógicas para piano.
64
Adam Carse (1878 – 1958), professor inglês, escreveu sobre a música e também obras orquestrais, música
de câmara e música destinada a práticas pedagógicas.
65
Hazel Gertrude Kinscella (1895 – 1960), musicóloga e compositora norte-americana. Escreveu
extensivamente sobre a música na América. A sua obra inclui música coral e para piano.
66
Stanley Applebaum (1922 - ), compositor americano, maestro e produtor.
67
Marek Kopelent (1932 - ). Compositor checo. Escreveu música orquestral, de câmara, para piano e para a
infância
68
Alain Auda (1942 - ), compositor francês. A sua obra inclui música para piano, religiosa, para órgão,
ballets, canções, marchas, filmes e para a infância.
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step; The clock man; The sunrise trail; Row, brother, row!; The maid in green; The old-
time fiddler) composta por D. Blake 69 em 1925 e Zpevem a tancem de 1954, escrita por O.
Sin 70 , conjunto de oito obras muito fáceis, com melodias bem elaboradas e ritmos agitados.
pequenos conjuntos tal como fez K. M. V. Weber. Porém, persistem também obras
1955 de A. M. Procter71 , ou ainda Lullaby de 1951 e Happy go lucky s.d. da mesma autora;
Uma constante neste tipo de obras destinadas à infância é a recorrência a títulos que
familiares. Com esta prática pretenderam, de certa forma, cativar os mais pequenos, ou
pelo instrumento, mas sem perder de vista os ideais pedagógicos. As obras que a seguir se
mencionam são disso exemplo: S. A. Emery 74 compôs An evening at home, oito obras
fáceis e apelativas (Before the fire, a story of the war, the sister plays, the mother’s story,
children and Kittens, the sleeping boy, evening song, quiet rest) op. 26 publicadas em
1870; A. Gretchaninoff 75 publicou em 1926 a suite On the green meadow (On the green
meadow; Mother’s song; Ballad; Lost in the woods; On a walk; Spring morning; Fairy
69
Dorothy Blake (1893 - ), professora e pianista norte-americana. Compôs canções e obras pedagógicas para
piano.
70
Otakar Sin (1881 – 1943), professor e compositor checo, escreveu livros de teoria musical. O seu estilo
musical é influenciado pela música folclórica checa.
71
Alice McElroy Procter (1915 - ), pianista e compositora norte-americana, estudou no Smith College e no
Eastman School of Music. Escreveu um excelente número de obras para piano destinadas à educação.
72
Félix Swinstead (1880 – 1959), pianista inglês e professor, compôs principalmente músicas pedagógicas
destinadas ao piano num estilo conservador.
73
Colin Macleod Campbell (1890 – 1953), compositor inglês e maestro. Escreveu óperas, ballets infantis e
música para piano.
74
Stephen Albert Emery (1841 – 1891), organista alemão, compôs uma ópera, música sacra e muitas obras
pedagógicas para piano.
75
Alexander Gretchaninoff (1864 – 1956), compositor russo aluno de Rimsky-Korsakov e residente nos
EUA. Compôs óperas, música litúrgica, sinfonias, canções e para piano. Cultivou um estilo germânico pós-
romântico.
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tale; In the village; In the mountains; Serenade) op. 99, uma obra bastante atractiva, com
pièces enfantines (Confidence, Chanson de route, Sérénade, Des pays lointains, La danse
de l’ours de peluche) publicadas em 1930; N. Dello Joio 77 publica em 1962, Family Album
(family meeting, Play Time, Story time, Prayer Time, Bed Time).
como base da criação ou inspiração artística. O seu objectivo prende-se com a valorização
das antigas tradições musicais e sua inserção nos modelos actuais. Nesta categoria também
que compôs Seven songs of diffrent peoples op. 20 de 1926, melodias de vários grupos
étnicos soviéticos com arranjos peculiares; R. Alexandrescu 79 compôs trei piese usoare
pentru pian la patra Mîini de 1957 – três peças fáceis para piano a 4 mãos, pequenas e
fairy tale s.d., trabalho curto empregando clichés da música oriental; De A. Rowley 81
particularidades cujo objectivo só poderia ser o de facultar à criança uma visão mais ampla
76
Ver descrição anterior.
77
Norman Dello Joio (1913 - ), compositor, pianista e organista norte-americano. Estudou com Hindemith e
compôs num estilo lírico neo-clássico. Também se interessou pela música da liturgia católica.
78
Grigorii Grivgorevich Lobachëv (1888 – 1953), compositor russo que escreveu canções, música de
câmara, obras para coro e orquestra sobre temas Soviéticos e composições pedagógicas.
79
Romeo Alexandrescu (1902 - ), compositor romeno, pianista, musicólogo e professor.
80
William Scher (1900 - ), compositor norte-americano com uma prodigiosa quantidade de obras
pedagógicas previsíveis e sóbrias num estilo conservador, mas apelativas, atractivas, úteis e do agrado do
executante.
81
Alec Rowley (1892 – 1958), pianista, compositor e autor dos primeiros guias em inglês para as obras a
quatro mãos. A sua obra é extensa, nomeadamente a que foi composta para o género dos duetos para piano,
que reflectem a sua experiência como professor de grande mérito. Desde o mais elementar até ao nível de
dificuldade médio, os seus duetos são sólidos, atractivos, contém técnicas de execução diversificadas e
possuem um idioma harmónico tradicional e refinado.
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esta situação: G. Shaw 82 compôs 6 Black key duets publicados em 1938. São duetos de
executa; Ruth Perdew 83 (1912-) criou o Penguin chatter, publicado em 1972, uma obra
dance (1972), com uma melodia em modo dórico no primeiro piano, enquanto o segundo
compôs ainda Whistle Tune, publicada em 1977, uma obra alegre e bem-humorada que
utiliza a escala pentatónica. C. Poole 84 vai mais longe, na obra Clapping song, de 1965,
alternando fragmentos melódicos com palmas ritmadas de belo efeito e na sua obra Conga
82
Geoffrey Shaw (1879 – 1943), músico, organista e pedagogo inglês. A sua obra compreende música de
igreja, para órgão, orquestral, coral e para piano.
83
Ruth Perdew (1912 - ), compositor e professor norte-americano. Dedicou uma parte da sua música a
finalidades pedagógicas de forma excepcional.
84
Clifford Poole (1916 – 2003), pianista, compositor, professor e maestro canadiano. Compôs bastantes
obras destinadas à infância para piano.
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II
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1.1 Cronologia
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1928 No ano lectivo de 1928/1929 faz parte da Nocturno op. 1, Prelúdio e Estudo de Concerto
classe de piano de virtuosidade do professor para piano;
Vianna da Mota.
Em Maio, nas audições do Conservatório
Nacional, é novamente distinguido com as
mais altas considerações pelos jornais e
revistas da época (O Século – 8 de Maio, A
Lira – Abril).
No exame de 9.º ano (3.º ano do curso
superior) é-lhe atribuída a máxima
classificação “Distinção e Louvor” em
Virtuosidade, atribuída pela primeira vez
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1929 Adquire o diploma de Professor particular da Capricho para violino e piano; Valsa para
disciplina de Piano, concedido pelo piano;
Ministério de Instrução Pública – Direcção
Geral de Belas Artes a 14 de Março.
Apresenta no 12º concerto da Associação
Académica do Conservatório Nacional de
Música quatro obras suas: Valsa, Prelúdio e
Estudo de Concerto para piano e Capricho
para piano e violino, recebendo muitos
elogios.
Thomaz de Lima obtém no exame de
Virtuosidade, mais uma vez a classificação
“Distinção e Louvor”.
A partir desta data inicia uma série de
concertos por todo o país.
No dia 8 de Dezembro dá-se a sua estreia
com a orquestra, sendo escolhida a obra de
L. V. Beethoven, Concerto em Dó Maior n.º
1 para piano e orquestra, sob direcção do
Maestro Fernandes Fão. Este acontecimento
constituiu um enorme êxito, valendo-lhe
artigos, não só nos meios nacionais de
comunicação como também na Revista
“Musica” de Barcelona em Janeiro de 1930 e
no “Le Courrier Musical” de Paris em
Janeiro desse ano.
1930 Pela primeira vez pai e filho apresentam-se Estudo em forma de Dança e Estudo de
num concerto no salão do Conservatório Execução Transcendente em Mi bemol Maior
Nacional. Dos inúmeros recitais e concertos para piano;
que realiza, destaca-se a sua colaboração
com o Orfeão Lusitano, num Sarau de Arte
no Grémio dos Açores e dois concertos em
Coimbra e Porto, sendo muito elogiado e
aplaudido.
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1932 Em Janeiro abandona a classe de piano na Tema e Variações em Fá Maior, Estudo n.º 1
Academia de Amadores de Música de (Staccato), Estudo em Sol bemol e Fantasia em
Lisboa. Assume o cargo de Director Artístico Sol bemol para piano; Poemeto Heróico para
e professor de piano na Academia Mozart do dois pianos;
Porto.
No dia 10 de Novembro apresenta pela
primeira vez um recital só com composições
suas, cuja crítica nos jornais contemporâneos
o consagrou como compositor.
1933 A vida musical da Academia impregna-se de Estudo n.º 2, 1.ª Sonata, Barcarola e Minuete
um forte dinamismo musical, provocado para piano;
pelos constantes concertos de Thomaz de
Lima. A sua fama levou a que os media
estivessem presentes nestes recitais e os
gravassem integralmente para serem
transmitidos pela rádio: Emissora Nacional,
TSF e Invicta Rádio Limitada.
1934 Thomaz de Lima compõe Canto e Amor Canto de Amor para flauta e piano; Poema para
dedicada ao flautista brasileiro Moacyr violino e piano; Dança Portuguesa para piano;
Liserra, e apresenta-a em primeira audição a
25 de Abril.
Casa com Ângela Lapa, no Porto, e um ano
mais tarde nasce o seu filho com o mesmo
nome do compositor. O Padrinho de
casamento foi o flautista brasileiro Moacyr
Liserra.
Deixa a Academia Mozart, pelo que passa a
viver exclusivamente de aulas particulares e
dos seus recitais.
1935 No Salão Orfeo, Thomaz de Lima dá um 2.ª Sonata e Dança Negra n.º 1 – Angola para
recital de música com obras de Beethoven. piano;
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1937 Realiza-se um concerto para festejar a Balada dos olhos tristes para canto e piano;
abertura da Academia Beethoven na cidade
do Porto, onde participam os futuros
professores dessa instituição; entre eles,
Thomaz de Lima, que fica responsável por
uma classe de piano.
1938 Thomaz de Lima participa no sarau “Noite Sonatina n.º 1 para piano; Mors-Amor para
da Figueira” na Figueira da Foz radiofundido canto e piano;
pela Emissora Nacional. Organiza um
concerto no Salão Orfeo, um recital no
Primeiro Congresso Açoreano no Casino
Estoril e um concerto com composições suas
no Clube Fenianos Portuenses.
1939 Realiza um recital com obras de Chopin no Marcha e Improviso sobre canções Populares
Salão Orfeo e um recital com Celso Carvalho Açoreanas para dois pianos;
– violoncelista – no Salão Orfeo. Sai da
Academia Beethoven e no Verão faz uma
tournée pelas seguintes localidades: Termas
de Vidago, Pedras Salgadas, Gerez e Caldas
de Rainha.
1940 É nomeado Chefe das Missões Culturais do Dança Negra n.º 2 – Angola e Abelhas
Secretariado da Propaganda Nacional nas Douradas para piano; Canção para canto e
temporadas de 1940/1941, realizando cento e piano;
quatro concertos por todo o país. Nestas
digressões participaram nomes importantes
do panorama artístico-musical do momento,
e nos programas constavam muitas vezes
obras inéditas compostas por eles. É o caso
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1941 Concorrendo aos “Jogos Florais”, alcança Fantasia à memória de Chopin e Algarve para
desta vez o Primeiro Prémio – Papoila de piano; Canção e Senhora Quintaneira para
Ouro”, atribuído por um júri constituído canto e piano;
pelos Maestros Pedro de Freitas Branco,
Pedro Blanch, Frederico de Freitas e Tomaz
Borba.
Compõe a obra Fantasia à memória de
Chopin, para homenagear um dos seus
autores predilectos.
1942 Participa num concerto em Fafe, no Teatro- Ó Ribeira, ribeirinha e Vira para canto e piano;
Cinema com a soprano Soledade
Summavielle. Neste concerto interpreta em
primeira audição Algarve – obra para piano
em oito quadros e Vira de Ponte de Lima.
Estas obras ilustram o interesse pela música
Nacional e pelo folclore que os compositores
da época nutriam.
1943 No teatro Rivoli do Porto, com a Orquestra Dança Negra n.º 3 – Angola, Divertimento e
Nacional, Thomaz de Lima interpreta o Estudo n.º 3 para piano; Dorme, dorme, meu
Concerto em Dó menor para piano e menino e Verde Gaio para canto e piano;
orquestra em três andamentos de Júlio do
Nascimento, em benefício da Cruz Vermelha
Portuguesa.
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1944 Participa num concerto no Teatro Jordão em Marcha n.º 1 para piano; Fantasia “Depois de
Guimarães e também no Teatro Rivoli no uma leitura de Camilo” para piano e orquestra
Festival da arte. e uma versão da mesma para dois pianos; Triste
Cantiga de Amor para canto e piano;
1946 No mês de Dezembro no Porto, num recital Marianita e Trovas Satíricas para canto e
promovido pela Associação para a paz, piano; Marianita – arranjo para coro;
Thomaz de Lima interpretou a obra
Buchenwald, obra inspirada no drama dos
campos de concentração alemães. O seu
acolhimento bastante positivo originou a
execução desta obra em diversos recitais
posteriores.
1947 Em entrevista ao Jornal “Diário do Minho”, Suite Portuguesa n.º 1 e Pantomima Rústica
o próprio Eurico Thomaz de Lima para piano;
reconhece-se como um verdadeiro
nacionalista, defendendo o nosso rico
património musical folclórico genuíno –
viras, fandangos e toadas, não aceitando o
fado como genuína música nacional.
1948 Em Guimarães apresenta no Salão Nobre do Variações Vimaranenses, Sonata n.º 3 e Dança
Grémio do Comércio de Guimarães as obras Negra n.º 4 – Angola para piano; Chula do
Sonata n.º 2 e Suite Portuguesa. Douro, Valsa para piano a 4 mãos e adaptação
Em Junho, na mesma cidade, organiza a do Samba (1945) para dois pianos;
primeira audição de alunas no salão de festas
do Teatro Jordão com visível êxito. Estas
audições serão uma constante no final de
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1950 Execução da obra O Ferreiro para orquestra, 2.ª Sonatina, O Ferreiro e Marcha n.º 2 para
no 218º Serão Cultural e Recreativo da piano;
FNAT a 5 de Agosto de 1950. Thomaz de
Lima participa num sarau de poesia e música
no Clube Fenianos Portuenses.
1951 Apresenta um recital dedicado Morna n.º 1 – Cabo Verde para piano; Suite
exclusivamente à música brasileira a 5 de Portuguesa para flauta e piano;
Março.
1952 Pela primeira vez actua num recital na Chula do Douro e Toccata para piano;
Galiza, em Abril, integrado na “Hora da
Arte” em Santa Cruz.
Nova digressão pelo Brasil, que consolida o
seu prestígio como compositor e intérprete já
patente na primeira viagem.
No dia 13 de Agosto grava na rádio
Ministério da Educação e Saúde, para a
professora da disciplina de “Folclore” na
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1953 Sob o patrocínio do Orfeão Valadares Morna n.º 2 – Cabo Verde e Lundum Açoreano
Thomaz de Lima participa no “Grande para piano; Brasil e Este Lenço em que chorei
Concerto de Piano”. No âmbito do 12º para canto e piano;
concerto da Associação Cultural do Norte
realiza um recital. Também no Teatro Jordão
em Guimarães Thomaz de Lima organiza um
recital.
1954 Em 24 de Maio no Porto, no clube Fenianos Sonata n.º 4 e Suite Portuguesa n.º 2 para
Portuenses, apresenta seis obras da sua piano;
autoria em primeira audição: Sonata n.º 4,
Estudo n.º 6, Tocata n.º 3, Pirilampos,
Polichinelozinho e a Suite Portuguesa n.º 2.
1955 Thomaz de Lima participa num Concerto no Prelúdio e Scherzino e Dança para piano; Por
Teatro Aveirenses e realiza um recital no tuas próprias mãos para canto e piano;
Salão do Clube Fenianos Portuenses e
novamente no Teatro Jordão em Guimarães.
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1957 Em Maio, no salão do Conservatório de O Bailador de Fandango para piano; Suite para
Música do Porto, realiza um recital das suas Violoncelo e Piano;
composições, sendo uma delas em primeira
audição: Fantasia, depois de uma leitura de
Camilo, versão para dois pianos com
Thomaz de Lima e o pianista José Neves.
1958 É convidado pela “Pró-Arte”, delegação de Barcarola e Dança Cigana para dois pianos;
Leiria da Fundação Calouste Gulbenkian,
para dar um recital a três partes, sendo a
primeira apenas com obras suas.
1961 As suas obras são interpretadas nos Rondino, Marcha Humorística e Toadilha para
Concertos da Pró-Arte em Viseu, Lisboa, piano a 4 mãos;
Odivelas, Évora e Ponta Delgada. Nos
concertos de Natália Andrade são executadas
obras de Canto e Piano de Thomaz de Lima.
1963 Thomaz de Lima realiza vários recitais na Toccata (3.ª versão do autor) para dois pianos;
TSF e na Emissora Nacional. A partir desta
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1967 Terminado o contrato, Thomaz de Lima A minha primeira valsa para piano a 4 mãos;
regressa definitivamente ao continente em
Julho, sendo convidado para leccionar na
Academia Parnaso, novamente no Porto.
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1970 Thomaz de Lima é convidado a apresentar Canção sem palavras e Profecia para piano;
obras suas para o X Concurso Parnaso, a fim Dança Portuguesa n.º 2 para dois pianos;
de serem apresentadas como prova
obrigatória para os diversos concorrentes.
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Eurico Thomaz de Lima nasceu na cidade de Ponta Delgada, Ilha de São Miguel,
Com apenas dezoito meses muda-se para o continente, para a cidade de Lisboa.
Chega a cursar os dois primeiros anos do Liceu Camões mas, a partir de 1921, levado pela
paixão da música e como consequência do ambiente artístico que se respirava em casa dos
seus pais, Eurico Thomaz de Lima frequenta o Conservatório Nacional de Música, sendo
discípulo dos Mestres Alexandre Rey Colaço e Vianna da Mota nas Classes de Piano, de
Thomaz de Lima foi Rey Colaço, que acompanhou o seu percurso até à sua morte em
1928. Rey Colaço, cedo reconheceu as suas capacidades excepcionais para a música, já que
antes de entrar para o Conservatório Nacional, Eurico Thomaz de Lima tinha executado
um Fox-trot 85 da sua autoria e Rey Colaço logo desejou tomá-lo como seu discípulo. Esta
dedicação era tal que nas vésperas do seu exame final, estando Rey Colaço internado no
boa sorte.
1928: Nocturno op. 1, Prelúdio e Estudo de Concerto para piano. Nos exames finais do
85
Esta seria a sua primeira composição de que há conhecimento, no entanto não aparece no espólio, nem em
catálogos feitos pelo autor. Informação retirada da revista ilustrada “Os Açores” de Agosto de 1928, Lisboa.
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Curso Superior e de Virtuosidade, em 1929, Eurico Thomaz de Lima obteve a mais alta
“Distinção e Louvor”. Também é neste último ano do Conservatório que Eurico Thomaz
de Lima apresenta quatro obras suas: Valsa, Prelúdio e Estudo de Concerto para piano e
Após ter finalizado o seu curso, e ainda no ano de 1929, Eurico Thomaz de Lima
principia uma carreira artística intensa como pianista, realizando concertos nas principais
Amadores de Música de Lisboa, o Professor Tomaz Borba, para a classe de piano, cargo
A sua enorme reputação como artista e músico fez com que se apresentasse
preciso relembrar que os meios de comunicação social sempre fizeram uma crítica
favorável e entusiasta aos seus concertos e recitais. Este facto é comprovado pelos
inúmeros artigos de revistas e jornais que o compositor foi guardando ao longo da sua vida
e que se encontram no seu espólio 86 . Além disso, nos programas de concertos que Eurico
compositor, que muitas das suas obras eram bisadas, ou interpretadas outras obras como
extra-programa que o público conhecia e apreciava. Portanto não é exagero afirmar que as
suas aparições em público eram coroadas de êxito e que a sua fama como intérprete e
86
Em anexo encontra-se a lista de jornais, revistas e boletins que se referem a Eurico Thomaz de Lima –
Anexo A
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solista era sólida e apreciada também pelas personalidades de vulto da cultura musical
portuguesa da época 87 .
até 1934, quando passa a viver apenas das aulas particulares e de recitais e concertos.
Porém, entre os anos de 1937 e 1939, Thomaz de Lima é convidado para leccionar na
alcança desta vez o Primeiro Prémio – “Papoila de Ouro” – atribuído por um júri
constituído pelos Maestros Pedro de Freitas Branco, Pedro Blanch, Frederico de Freitas e
Professor Tomaz Borba, o que atesta definitivamente a sua qualidade como compositor.
Leonor Vianna da Mota, realizando um total de 104 concertos por todo o país.
Como virtuoso do piano a maior parte das suas composições centra-se neste
instrumento, evidenciando toda a sua técnica e expressão que são explorados ao máximo
pelo compositor. Exemplo disto são as obras: Fantasia à memória de Chopin (1941),
Thomaz de Lima abordou igualmente os outros géneros musicais, dos quais se destaca:
Depois de uma leitura de Camilo, Fantasia para piano e orquestra (1944), Suite Portuguesa
87
Em anexo encontram-se testemunhos de várias personalidades da época sobre Eurico Thomaz de Lima –
Anexo B
César Gonçalves 41
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para piano e flauta (1951) ou ainda a Suite para violoncelo e piano. Também se dedicou à
consagrados como é o caso de Natália Andrade que nos seus programas incluía obras de
Thomaz de Lima.
iniciativa foi acolhida com entusiasmo por parte dos jovens pianistas, e as audições
regulares que se efectuavam com os seus discípulos revelaram-se um grande êxito na vida
alimentava há muito e expresso nas suas entrevistas aos meios de comunicação social. A
sua digressão constitui um assinalável êxito, apresentando-se nas salas de concertos mais
importantes desse país. De facto o êxito é tal que Eurico Thomaz de Lima realiza em 1952
nova viagem ao Brasil consolidando o seu prestígio como compositor e intérprete. Além
disso, efectua no Rio de Janeiro gravações que serão mais tarde transmitidas pela rádio
Renascença e Estação do Porto. Esta ida ao Brasil testemunha o facto de a música deste
compositor não estar confinada aos limites do território nacional; aliás Eurico Thomaz de
Lima tinha conhecimento de que a sua obra era executada noutros países tendo elaborado
inclusive, uma lista onde constam os intérpretes e locais da execução das suas obras além
fronteiras 88 .
seguinte faz parte do lote de concertos organizados pela “Pró-Arte”, patrocinados pelo
88
Em anexo encontra-se a lista que Eurico Thomaz de Lima elaborou das interpretações das suas obras fora
de Portugal – Anexo C
César Gonçalves 42
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Instituto para a Alta Cultura e pela Fundação Calouste Gulbenkian, actuando nas cidades
seu contrato em 1967, pois era seu desejo regressar ao continente, nomeadamente à cidade
do Porto. Durante a sua estadia na ilha da Madeira compõe uma Suite em seis quadros
Academia Parnaso, cargo que cumprirá até 1975. Entretanto em 1972 o Conservatório de
Música Calouste Gulbenkian de Braga também convida Thomaz de Lima para a classe de
Piano, função que deixará por ter atingido o limite de idade permitido por lei, como
servidor de Estado em 1978. O seu método “Gradual”, que reúne 28 obras para a infância
Eurico Thomaz de Lima morre, anos mais tarde, na cidade da Maia, em 8 de Junho,
no ano de 1989.
89
Em anexo encontra-se a entrada referente ao compositor – Anexo D
César Gonçalves 43
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2. A obra musical
recitais que Eurico Thomaz de Lima conservou, assim como de catálogos elaborados pelo
próprio e pelo seu filho Eurico Adolfo Thomaz de Lima. Convém lembrar que esta lista
não está ainda fechada, pois a localização de algumas obras permanece desconhecida.
Talvez as obras em falta estejam na posse de instrumentistas, na família dos antigos alunos,
Em cada tabela dão-se informações sobre o título, tal como consta nos manuscritos;
sobre a data de composição, e no caso em que não é possível indicar a data de composição
modo a obter-se uma ideia da época da sua composição, a cidade onde foram compostas,
César Gonçalves 44
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1. Música Sinfónica
2. Música de Câmara
César Gonçalves 45
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3. Canto e Piano
César Gonçalves 46
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4. Piano solo
César Gonçalves 47
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César Gonçalves 48
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* Esta obra é referida no trabalho de Manuel Afonso (1998), Eurico Thomaz de Lima
“Uma vida pela música” mas não aparece no seu espólio nem é mencionada nos
álbuns de memórias do compositor, pelo que temos dúvidas se de facto esta música foi
composta por Eurico Thomaz de Lima.
César Gonçalves 49
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César Gonçalves 50
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Gradual
* Estas duas obras pertencem ao conjunto “Para as pequeninas pianistas tocarem” de 1932.
Thomaz de Lima alterou os títulos e efectuou algumas modificações na “Canção Portuguesa”
mas a “Dança Portuguesa” mantém-se igual.
Versões
César Gonçalves 51
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Nível Avançado
Para a Infância
90
Para diferenciar os duetos será colocado a seguir ao título a designação de 2 pianos ou 4 mãos, caso a
partitura não conste no espólio do compositor, nada será indicado por motivo de ausência de informações.
César Gonçalves 52
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Versões
César Gonçalves 53
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Não, em poder de
Maple Leaf Reag 1975 Scott Joplin
Campos Coelho
Sem data. Executada no dia
Caixa de Música 12 de Julho de 1975 no Bull Não
Conservatório Nacional
O fantasma Idem Granados Não
A uma rosa silvestre Idem Mac-Dowell Não
Canção do Solvej (2
1977 E. Grieg Sim
pianos)
Sem data. Executada no dia
Tambourin en Rondo 6 de Julho de 1977 no Rameau Não
Conservatório Nacional
Laendler (2 pianos) 1978 F. Schubert Sim
Sem data. Executada no dia
Canção 10 de Julho de 1978 no F. Schubert Não
Conservatório Nacional
A um botão de rosa Idem Mac-Dowell Não
Três Escocesas (2 pianos) 1979 F. Schubert Sim
Sem data. Executada no dia
Dança 8 de Julho de 1981 no F. Schubert Não
Conservatório Nacional
Duas danças Campestres Idem Beethoven Não
A grande porta de Kiev (2
1981 M. Moussorgsky Sim
pianos)
Sem data. Executada no dia
O ratinho 7 de Julho de 1982 no Alec Rowley Não
Conservatório Nacional
Cortejo Real Idem Thompson Não
Roda (2 pianos) 1982 Lorenzo Fernandez Sim
A Grecian cradle song (2
1982 Jean Williams Sim
pianos)
Não, em poder de
Le petit chinois Sem data Alec Rowley
Campos Coelho
Não, em poder de
Pierro – au clair de lune Sem data Jessie Blake Boosey
Campos Coelho
6. Música Coral
César Gonçalves 54
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7. Obras Editadas
8. Obras gravadas
Vinil
Disco 3
- Coral Alentejano – da Suite Portuguesa
- Chula do Douro
Disco 5
- Abelhas Douradas
- Morna (Cabo Verde)
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Disco 7
- Brasil
Piano: Eurico Thomaz de Lima
Outros discos
b) Fita
- Fantasia para piano e orquestra
- Diversas obras da sua autoria
César Gonçalves 56
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e as versões para piano solo e para os duetos a 4 mãos ou dois pianos. Destas obras,
obras de grandes proporções para um nível avançado, 16 para a infância e 48 versões das
quais apenas seis se destinam a pianistas avançados e as restantes dedicadas aos mais
Apesar da sua obra ter sido pouco publicada, os seus incontáveis concertos e
recitais, bem como a sua actividade pedagógica, serviram de estímulo para a composição.
Todavia, no início da sua carreira, Eurico Thomaz de Lima apresenta peças de outros
compositores, mas as suas obras vão acabar por dominar os programas, embora dedique
ainda recitais a compositores como Chopin ou Beethoven. Apenas a obra Trovas Satíricas
permanece inédita mas o seu manuscrito encontra-se no espólio doado pelo filho do
compositor.
Nacional de Música entre 1921 e 1929. Um dos acontecimentos mais importantes que se
deu nesta época foi a mudança de atitude face à música instrumental, pois como é sabido a
música operática de estilo italiano tinha dominado todo o século XIX. Mas, graças às
bem como à acção que a Real Academia de Amadores de Música desenvolveu ao revelar
91
BRITO e CYMBROM (1992) História da Música Portuguesa
César Gonçalves 57
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livres da influência da música lírica italiana. Esta viragem foi, contudo, lenta, pois em 1914
a reforma proposta por Vianna da Mota e implementada a partir de 1919, a qual provocou
grandes mudanças e inovações na formação musical dos alunos que frequentaram esta
tenha orientado na sua grande maioria para a música instrumental, não compondo uma
única ópera. Pelo contrário, abordou vários géneros instrumentais: sinfónico, de câmara,
vocal e instrumental, coral e para piano solo, além da significativa produção para a
infância.
Quanto ao estilo musical das suas obras ainda não é possível situá-lo numa corrente
estilística determinada. Pois o estudo do seu imenso repertório ultrapassa o âmbito desta
designações das músicas e nas críticas que a comunicação social dispensou aquando dos
seus concertos e recitais e que Eurico Thomaz de Lima cuidadosamente guardou nos seus
álbuns.
Assim, depreende-se dos títulos das suas obras que a sua música possui uma faceta
Eurico Thomaz de Lima não foi alheio. Aliás, em entrevista ao Diário do Minho em 1947,
reconhece-se que este compositor é um verdadeiro nacionalista, pelo modo como defende
92
CASTRO (1999) Sínteses da cultura portuguesa, História da Música
93
In VIEIRA DE CARVALHO (1984) pp. 183-4
94
CASTRO (1999) Sínteses da cultura portuguesa, História da Música
95
CASCUDO, Teresa et Alli (2003) Frederico de Freitas (1902-1980)
César Gonçalves 58
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o nosso rico património musical folclórico genuíno – viras, fandangos e toadas, não
reconhecendo no fado a genuína música nacional. Além deste aspecto nacionalista que
dominou outros compositores desta época como Lopes-Graça, a crítica aponta por vezes
que Eurico Thomaz de Lima utiliza as mais modernas tendências da composição dentro de
uma linha tradicional, referindo a obra Marcha como um ensaio atonal cuja execução
agradou na sua digressão pelo Brasil. Também se constata através da crítica que a suas
obras revelam um equilíbrio entre ideia e forma, assinalando ainda que no seu discurso
musical não há prolongamentos inúteis e sem sentido, o que quer dizer que o compositor
apenas transmite o essencial do seu pensamento musical sem mais delongas ou repetições
que, no caso das obras para piano, os recursos sonoros do piano são explorados de forma
magistral e natural, e traduzem uma concepção decisivamente pianística. No caso das obras
para canto e piano faz-se menção do facto de a linha vocal ser “transparente, concisa,
sincera, lírica, sem artifícios” 96 e de o acompanhamento utilizar uma linguagem tonal onde
a componente diatónica alterna com a cromática, de forma equilibrada, mas que revela os
técnicas até agora experimentadas…” 97 . Além destas considerações de ordem mais técnica,
a comunicação social também se referia à obra de Eurico Thomaz de Lima de uma forma
mais subjectiva, mas sempre numa linha positiva e entusiástica, reconhecendo grandes
No que diz respeito à sua relação com o regime ditatorial, que dominou
praticamente a sua vida criadora, não há muitas referências, mas é certo que Eurico
Thomaz de Lima era adepto de um regime democrático. O seu desfavor por uma política
96
Jornal da Madeira, 25/11/1965
97
idem
César Gonçalves 59
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alguma polémica pois o director da casa de espectáculos não queria que Eurico Thomaz de
contestação ao regime é evidente também nas conversas com os seus amigos, mesmo em
locais públicos, como por exemplo no Café “Brasileira” no Porto, defendendo um regime
ensino, constata-se que Eurico Thomaz de Lima não leccionou em instituições públicas,
Aos compositores desta época eram oferecidas três vias: colaborar nas realizações
do Estado Novo, utilizar a obra como contestação ao regime instituído e à estética imposta
ou ainda compor para a gaveta 100 . Eurico Thomaz de Lima colaborou de facto em
realizações do Estado Novo, mas também utilizou uma obra como contestação ao regime
Nazi. A sua fama de intérprete e compositor era grande e apreciado por todos,
especialmente na cidade do Porto, facto que terá sido essencial para que ele não fosse
detido por ser contestatário do regime 101 . Além disso era constantemente chamado para
Estúdios do Porto da Rádio Televisão Portuguesa e para Chefe das Missões Culturais do
98
AFONSO (1998) Eurico Thomaz de Lima “Uma vida pela música”
99
idem
100
CASTRO (1999) Sínteses da cultura portuguesa, História da Música
101
AFONSO (1998) Eurico Thomaz de Lima “Uma vida pela música”
César Gonçalves 60
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Braga, de 1972 a 1978. Além disso, entre 1945 e 1963, dirigiu um curso de
Lima ao ponto de destinar praticamente metade da sua produção musical aos mais jovens:
são 104 obras, onde estão incluídos os géneros de piano a solo e em dueto, cujo valor
compor estas obras para as crianças, enriqueceu o património musical infantil português. O
número de obras é impressionante sobretudo se comparada com o catálogo das obras dos
outros compositores onde não encontramos notícia de lista tão vasta. Assim, poder-se-á
afirmar que Eurico Thomaz de Lima foi um compositor em que a preocupação pelo ensino
pianístico foi uma constante ao longo da vida, esforçando-se por dotar o repertório musical
César Gonçalves 61
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foram compostas ao longo da sua vida, seleccionadas e organizadas pelo compositor tendo
em conta uma crescente complexidade técnica e expressiva – ter sido adoptado pelos
Cursos de Piano do 2.º e 3.º anos, o que evidencia, de certa forma, que estas obras para a
infância eram apreciadas pelos seus contemporâneos e o seu valor educativo relativamente
regularmente as obras para a Infância de Eurico Thomaz de Lima nas audições dos seus
alunos, no Conservatório Nacional, o que revela mais uma vez, a consideração que estas
obras gozavam.
interessantes e curiosas, que Eurico Thomaz de Lima dedicou aos mais pequeninos: O
piano de João Carlos, Passeio Infantil, Diálogo Infantil e O gato e o rato. A maior parte
destas músicas foi composta isoladamente; apenas as obras Para as pequeninas pianistas
acordo com o que foi referido anteriormente, é um caso excepcional pois a sua organização
Lima carece de um estudo mais aprofundado. A sua produção parece estar relacionada com
os incontáveis recitais que o seu autor realizava com os seus alunos, quer das instituições
César Gonçalves 62
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Eurico Thomaz de Lima abordou este género musical ao longo de toda a sua
carreira. Estas obras não são todas destinadas à infância pois muitas delas exigem uma
técnica bastante apurada, prevendo a sua execução por pianistas experientes. A seguinte
lista refere-se às obras – constantes do espólio do compositor doado por seu filho – agora
102
A designação desta instituição será realizada, ao longo desta secção, pelas suas iniciais UM-IEC.
César Gonçalves 63
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um total de dez obras. Todavia existem ainda mais seis que, apesar de não se encontrarem
no espólio, constam em programas de audições para a classe de piano dos mais pequenos.
São elas:
2. Ao Luar;
3. Canção de Embalar;
4. Dança Portuguesa;
5. Tilintar de Campainhas;
6. O ratinho.
obras de outros compositores, que ele converteu em obras a 4 mãos ou para dois pianos, de
forma a serem executadas por alunos experientes – seis, que estão assinaladas com
asterisco na lista que se segue – e pelas crianças – quarenta e duas. No espólio doado à
103
Esta designação aparece em dois programas com datas diferentes e Eurico Thomaz de Lima anotou nesses
dois programas que esta obra era executada como primeira audição, pelo que concluo que sejam músicas
diferentes, mas como as partituras não se encontram no espólio do UM-IEC, a conclusão não é definitiva;
podendo tratar-se efectivamente de versões diferentes. Não seria caso único, uma vez que encontramos em
Thomaz de Lima várias versões da mesma obra.
César Gonçalves 64
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Além destas versões, existe ainda um conjunto de obras que estavam em poder de
obras originais mostra mais uma vez a preocupação que este compositor teve em relação ao
de outros contemporâneos, com Eurico Thomaz de Lima, este género musical adquire
infância já era um caso excepcional, é também impressionante neste domínio. Tão vasto
património não merece ficar esquecido, sobretudo se tivermos em conta a aclamação dos
César Gonçalves 65
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media da sua época, os seus êxitos em recitais e concertos, e mesmo a partir dos vaticínios
Lima.
A análise e estudo das obras a quatro mãos, que apresentamos nesta dissertação,
medida do possível, mais profundo das mesmas dando o nosso contributo para que esta
obras, apresentadas sempre por ordem cronológica. Nos casos em que não foi possível
determinar a data exacta da sua composição, utilizar-se-á, para a sua ordenação, a sua
audições.
Para cada música é indicado o título e o efectivo instrumental, de acordo com o que
consta no manuscrito autógrafo. De igual forma, será referida, sempre que possível, a data
destas por parte do público. Aspectos contraditórios sobre estas obras ou outros
César Gonçalves 66
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1. Chula do Douro
dedicatória;
festas do Teatro Jordão – por ocasião da primeira audição dos discípulos do autor
Mendes Ribeiro;
- Apesar de ser indicado pelo compositor que esta obra se destina aos dois tipos de
2. Valsa
dedicatória;
César Gonçalves 67
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festas do Teatro Jordão – por ocasião da primeira audição dos discípulos do autor
Mendes Ribeiro;
- Em relação a esta obra convém observar que no folheto do programa o nome que
crer que se trata desta obra. Além disso, era prática do compositor substituir os
aplausos e elogios do público. O agradecimento por parte das suas alunas foi feito
104
Notícias de Guimarães – 23/5/48
105
Notícias de Guimarães – 13/6/48
César Gonçalves 68
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3. Valsa
dedicatória;
festas do Teatro Jordão – por ocasião da segunda audição dos discípulos do autor
Mendes Ribeiro;
expostos anteriormente.
4. Dança Cigana
possível determinar com exactidão o ano da sua composição. Tudo leva a crer
foram estreadas.
César Gonçalves 69
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festas do Teatro Jordão – por ocasião da segunda audição dos discípulos do autor
Mendes Ribeiro;
5. Dança Cigana
Lima tinha por hábito anotar nos folhetos dos programas se as suas obras estavam
106
Comércio do Porto 11/6/1949
107
idem.
César Gonçalves 70
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público. Em programas dos anos anteriores esta obra não aparece pelo que a
- Intérpretes: Eurico Thomaz de Lima e sua discípula Maria José Guimarães Faria
Portela.
que são precisos dois pianos e cada um com dois executantes o que, de acordo
com a partitura, não é verdade. Esta música foi composta para dois pianos pois
6. Barcarola
César Gonçalves 71
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Nunes.
- Em relação a esta audição foi referida a inclusão das obras a 4 mãos de Thomaz
- Da mesma forma que a obra anterior, a partitura indica que se trata do género de
7. Toadilha
dedicatória;
festas do Teatro Jordão – por ocasião da nona audição dos discípulos do autor do
Teixeira Ferreira;
título da obra era o de Lenda. Acontece que Thomaz de Lima rasurou este nome e
108
Jornal da Madeira – Funchal 15/5/1966 e Diário de Notícias – Funchal 15/5/1966
César Gonçalves 72
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colocou o presente título. Por isso supõe-se que se trata da mesma obra, tanto
- Mais uma vez a indicação do efectivo instrumental causa estranheza, pois os dois
pianistas podem executar esta obra no mesmo teclado, dado não existirem
impedimentos para tal. Assim será considerado que esta música se enquadre no
género a 4 mãos.
8. Rondino
dedicatória;
festas do Teatro Jordão – por ocasião da nona audição dos discípulos do autor do
título original era Rondó, mas o compositor rasurou o nome no mesmo Programa
da música anterior e optou pelo presente título. Para comprovar este facto, no
manuscrito original sobrevive uma rasura do primeiro título colocando por baixo
César Gonçalves 73
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- Também esta obra será considerada como pertencente ao género a 4 mãos pelos
9. Marcha Humorística
dedicatória;
festas do Teatro Jordão – por ocasião da nona audição dos discípulos do autor do
Ferreira Leite;
- Mais uma vez a audição que marca o encerramento do ano lectivo foi bastante
- Também neste caso a obra será apenas classificada dentro do género a 4 mãos de
109
Notícias de Guimarães 25/6/1961
César Gonçalves 74
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dedicatória;
- Intérpretes: Campos Coelho e seu discípulo Pedro Geraldes Barba Pessoa Jorge;
- Mais uma vez a indicação parece contrariar o que está na partitura, uma vez que
esta obra também se pode executar a 4 mãos sem problemas, e por isso será
11. O Ratinho
que não é possível determinar a data de composição que deve ter ocorrido numa
Campos Coelho;
Brito.
César Gonçalves 75
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Campos Coelho;
Brito.
13. Ao Luar
Coelho;
César Gonçalves 76
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a dois pianos dos discípulos de Campos Coelho. Porém, no Programa, não está
escrevia esta indicação se a música estivesse a ser tocada pela primeira vez;
- Intérpretes: Campos Coelho e seu discípulo Luís Manuel de Brito Palma Nunes.
Coelho;
Barreto.
César Gonçalves 77
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Brito Subtil, com apenas 3 anos, que interpretou também A Minha Primeira
Valsa;
- Esta audição foi marcada pela quase exclusividade de música para dois pianos,
Nóbrega Pizarro de Brito Subtil, com apenas 3 anos, que tocou pela pauta e
Os parâmetros que irão constituir objecto da análise nas obras para piano de Eurico
Thomaz de Lima são questões de Forma, Harmonia, Aspectos Estilísticos e por último as
que estas obras podem proporcionar nas vertentes técnica e expressiva e sua influência
doado à Universidade do Minho, isto é, as que se encontram prontas para futura publicação
110
Época, Lisboa – 16 de Julho de 1972
César Gonçalves 78
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1. Chula do Douro
a) Forma
períodos 111 : A e A’, sendo cada um constituído por duas frases. O período A’ é uma
variação rítmica e melódica de A. Cada frase é composta por duas semifrases iguais. Em
relação à parte B, esta possui um período com duas frases, sendo a segunda uma variação
b) Harmonia
c) Aspectos Estilísticos
- Segundo piano
rítmico típico da Chula, e também a um ostinato harmónico de V-I, como já foi referido
primeiro piano.
111
A nomenclatura aqui utilizada é a seguinte: um período – 8 compassos, uma frase – 4 compassos e uma
semifrase – 2 compassos, as excepções serão devidamente assinaladas.
César Gonçalves 79
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- Primeiro piano
oitava na tessitura aguda (entre sol3 e fá5). Depreende-se destas características que a
âmbito que não ultrapassa a sétima menor (Sol-Fá), não sendo necessário fazer a passagem
do polegar.
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
crianças. O segundo piano, sendo interpretado normalmente pelo professor, como se atesta
na sua estreia, também pode ser destinado a crianças, devido às suas repetições formais,
crianças. Esta situação é comprovada, pelo facto de, na 3.ª audição dos Discípulos de
Thomaz de Lima, no Curso da Cidade de Guimarães, esta obras serem interpretadas por
duas crianças.
- Aspectos Expressivos
da música provoca uma maior proximidade entre a criança e a música tradicional e, desta
forma, a criança aprende a valorizar este tipo de música, facto que é significativo e que faz
César Gonçalves 80
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2. Valsa (1948)
a) Forma
Esta obra adopta a forma ternária. Na parte A, o primeiro período é repetido duas
vezes, sendo este, por sua vez, composto de duas frases idênticas, modificando-se apenas a
frase é formada por duas semifrases semelhantes, diferenciadas apenas no fim, pelo facto
do acorde ser alterado para a sétima da Dominante de Lá Maior. A segunda frase possui 5
compassos, sem diferenciação de semifrases, uma vez que vai desenvolvendo um motivo
de colcheias no segundo piano na mão direita, e por isso há a necessidade de alongar para
se efectuar a transição de novo para a parte A, a qual é repetida integralmente, sem algum
tipo de modificação.
b) Harmonia
A tonalidade base da obra é Dó Maior. Mesmo que a parte central comece na base
harmónica de lá menor, nunca é afirmado pela relação de V-I e, no final, após uma série de
passagens cromáticas no baixo, modula a Mi menor, para depois regressar à primeira parte
nível harmónico é mais sofisticada que a anterior, pois utiliza várias passagens cromáticas,
César Gonçalves 81
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c) Aspectos Estilísticos
- Segundo piano
claramente enunciado pelo segundo piano; todavia, no segundo período, ele esbate-se um
acordes, enquanto realiza a melodia com a mão direita enriquecida com algumas notas do
acorde. Na segunda frase, nos dois primeiros compassos, há uma polirritmia derivada da
indicação do autor, enquanto que no segundo piano, a mão esquerda acentua de dois em
dois, mudando momentaneamente o compasso para 3/2 ou 2/4. Esta passagem causa
alguma surpresa, pois até este momento o ritmo tinha sido claramente marcado e sentido.
Parece afectar de tal forma a música que até ao final desta parte e da parte intermédia o
Quanto à relação entre os dois pianos, existe uma certa variedade de combinações:
troca de temas – primeira frase do segundo período da parte inicial e na segunda frase da
César Gonçalves 82
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- Primeiro piano
música anterior em certos aspectos. Ambas as mãos tocam o mesmo, à distância de uma
oitava; todavia isto é somente válido para a parte A, porque na seguinte, na primeira frase,
para cada mão são diferentes enquanto que na segunda frase as mãos tornam a evoluir à
distância de oitava.
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
compositor teve o cuidado de utilizar um âmbito melódico reduzido – de 5.ª perfeita para a
mão esquerda e 6.ª menor para a mão direita – pelo que não exige saltos nem passagem do
apontada anteriormente, mas nesta passagem a melodia evolui por graus conjuntos e
- Aspectos Expressivos
português e as suas possibilidades de integração na música erudita, neste caso será a sua
César Gonçalves 83
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3. Valsa (1949)
a) Forma
diferenciadas, pelo que esta análise poderá considerar-se discutível. Devido aos longos
valores das notas que compõem a melodia no primeiro piano, por uma questão prática, os
períodos, frases e semifrases podem ser convertidos para o dobro dos compassos
normalmente admitidos para cada um deles. Utilizando este método, a música divide-se
então em dois períodos, o primeiro com dezassete compassos e o segundo com dezasseis.
No primeiro período, encontram-se duas frases de oito compassos, tendo a segunda mais
um compasso para se encadear com o segundo período. As frases estão compostas por duas
anteriormente. No segundo período, também temos duas frases de oito compassos com
duas semifrases em cada uma, mais perceptíveis, quer pela natureza da melodia quer pela
esta estrutura se repete duas vezes, e como acaba em aberto, numa sétima da dominante,
torna-se necessário uma espécie de coda para finalizar. Neste caso a coda é composta por
um período de doze compassos, com duas frases de seis compassos cada e uma coda de
b) Harmonia
também na harmonia, que apenas apresenta modulações passageiras pelo quinto, quarto,
sexto e segundo grau respectivamente. Tal como a música anterior, também apresenta ao
César Gonçalves 84
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Mestrado em Educação Musical – 2005
c) Aspectos Estilísticos
- Segundo Piano
discurso musical e renovando o interesse pela obra. Nesta música, verifica-se uma
- Primeiro Piano
características da música anterior, mas a sua execução é mais fácil. Os valores longos da
maior parte da música, mínimas pontuadas, o facto de as duas mãos estarem à distância de
oitava e não ultrapassarem a distância duma quinta perfeita, confirmam esta afirmação. Na
coda existe uma situação que poderá resultar numa certa dificuldade, pois o primeiro piano
fica sozinho por dois compassos, uma vez que nesses dois compassos o segundo piano não
toca. Esta situação acontece duas vezes e confere à obra uma nota de interesse na parte
final, surpreendendo mais uma vez de forma positiva os ouvintes. Na cadência final as
César Gonçalves 85
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Mestrado em Educação Musical – 2005
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
Existe uma dificuldade ou mesmo uma debilidade na composição da Coda uma vez
que nos dois compassos em que criança tem que sustentar a nota sol em duas mínimas
pontuadas ligadas, ter que realizar uma contagem mental de seis tempos. Portanto a
utilização desta música beneficia a aquisição desta competência de uma forma gradual e
fácil.
- Aspectos Expressivos
a) Forma
A obra apresenta duas partes distintas e uma coda, sendo a primeira parte repetida
antes de encadear a referida coda, pelo que se pode considerar que adopta a forma ternária.
O modo como aparece a primeira frase sugere uma espécie de introdução donde se extrai o
motivo da obra: duas colcheias e uma semínima. A primeira parte começa, no quinto
compasso com uma frase de seis compassos, sendo os dois últimos uma preparação do
período que se segue. Este, formado por oito compassos, faz uso da frase introdutória, mas
ligeiramente alterada para o quinto grau. Os oito compassos resultam da sua repetição,
primeiro no modo menor e depois no modo maior (com sol sustenido). Cada frase compõe-
César Gonçalves 86
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Mestrado em Educação Musical – 2005
variação do primeiro com uma alteração na semifrase final de forma a preparar a parte B.
Nesta parte distinguem-se dois períodos semelhantes de oito compassos cada e um período
que realiza a transição para a parte inicial, formada por dez compassos. O primeiro período
também de duas frases regulares. O período seguinte é uma espécie de variação segundo as
introdutória repartida pelos dois pianos variando o final de forma a reiniciar a obra. Na
coda existe um período que é repetido duas vezes embora em oitavas diferentes. É formado
pela repetição da frase inicial da parte A, com leves alterações de forma a tornar-se
b) Harmonia
grande variedade harmónica nem modernismos muito acentuados. Mas desde o primeiro
compasso dá para se aperceber que o autor faz uso de harmonias próprias do ambiente
sonoro que tradicionalmente associamos aos ciganos. Normalmente caracteriza-se pelo uso
também ocasionalmente pela consequente subida. É este o ambiente sonoro que se faz
sentir desde o início e se prolonga pela primeira frase da primeira parte. Em seguida, o
compositor detém-se no quinto grau mas alternando entre o modo maior e menor ficando a
música um pouco estática, embora mantendo o interesse suscitado pela ambiguidade maior
e menor. O período final da primeira parte oferece dois pontos de interesse: a continuação
mascara a anterior oposição de modos onde o maior acabará por vencer. A parte B passa
no entanto sem avisar para o relativo maior e para um momentâneo esbatimento da tensão
César Gonçalves 87
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Mestrado em Educação Musical – 2005
caracteriza-se por uma rarefacção da harmonia causada pela utilização de apenas duas
notas em simultâneo a uma distância de segunda menor e de forma alternada entre as duas
mãos causando uma ligeireza e sentido cómico a esta parte da música. O período que
e V grau, reforçado pelo facto de os acordes não conterem a terceira. No último compasso
o autor decide estabelecer novamente um rumo tonal para a obra, com o emprego da
acabando na tónica.
c) Aspectos Estilísticos
- Segundo Piano
O segundo piano apresenta uma variedade de efeitos que não tem precedentes nas
obras anteriores deste género. Primeiro utiliza um acompanhamento típico da dança, neste
caso com harmonia típica da música cigana, como já foi referido. Em seguida, este padrão
apenas pela mão esquerda e utilizando reminiscências do “baixo de Alberti”, enquanto que
se mais pausado mas nem por isso menos pesado, já que a utilização das semínimas realça
o carácter obstinado desta obra. Na secção seguinte a situação torna-se ainda mais insólita.
segunda menor (Fá#/Sol) em jeito de percussão alternada por ambas as mãos, tornando o
ambiente mais cómico e ligeiro. Depois desta secção, o segundo piano age em forma de
César Gonçalves 88
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Mestrado em Educação Musical – 2005
eco, embora mais reforçado harmonicamente com movimentos paralelos. Na coda, volta a
realizar acompanhamento na mão esquerda, melodia e nota pedal (Mi) na mão direita,
- Primeiro Piano
alargado, décima menor, e na coda salta uma oitava para cima em ambas as mãos,
explorando a zona mais aguda do piano. Contudo, continua a utilizar valores rítmicos
simples em algumas partes da obra, tais como mínimas, sem função melódica. No resto da
obra é utilizada a célula rítmica de duas colcheias e semínima, como motivo unificador da
obra e referência para o ambiente exótico da música. Mais uma vez não utiliza alterações
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
Esta obra apresenta alguns aspectos técnicos interessantes para a criança. Primeiro
existe no início e noutros pontos da obra a utilização de uma melodia sincopada, que a
alternância em oitavas da nota mi, que também ajuda tecnicamente na aquisição desta
competência, pois mais uma vez o compositor, para facilitar esta situação, utilizou
mínimas que também funcionam como nota-pedal, mas na região aguda. No final, o salto
César Gonçalves 89
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Mestrado em Educação Musical – 2005
- Aspectos Expressivos
Ao contrário das outras obras, esta faz uso de elementos alheios à nossa cultura
com aspectos modernos. Trata-se de uma abertura da criança no sentido de alargar os seus
horizontes musicais e descobrir os valores que outras culturas diferentes da nossa possuem.
O impulso rítmico que anima esta obra e a inclusão de alguns efeitos próprios da música
contemporânea são factores decisivos para a motivação da criança e o seu gosto pelo
instrumento.
5. Barcarola
a) Forma
A obra está estruturada em três partes, se não se tiver em conta as repetições, e uma
repetição do primeiro, mas na oitava superior. É formado por duas frases, tendo a segunda
cromática no interior dos acordes, e daí a necessidade de o primeiro piano sustentar a nota
César Gonçalves 90
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Mestrado em Educação Musical – 2005
estabelecer uma ligação com a parte inicial, distinguindo-se 2 períodos, o primeiro com 8
com 10 compassos que desenvolve uma espécie de motivo, retirado do final das frases
ligação com a parte inicial. A coda utiliza as cinco primeiras notas da melodia inicial, mas
b) Harmonia
variada e pouco convencional, isto é, utiliza notas acrescentadas nos acordes, sétimas sem
acorde é o de primeiro grau, mas com uma sexta menor adicionada que provoca uma
indefinição harmónica desde o início. Esta nota mantém-se no acorde seguinte provocando
um acorde de nona no quinto grau, que se resolve no primeiro grau, mas agora com uma
sétima maior, e assim sucessivamente os acordes aparecem ou com notas estranhas ou com
sétimas e nonas, havendo ainda mudança de acordes sobre ostinatos na mão esquerda do
segundo piano. Apesar de os acordes aparecerem com este aspecto há uma tendência para
evitados de todo. Esta variedade harmónica continua na segunda parte onde existe uma
mudança de modo e o discurso musical evolui por Dó menor e seu relativo. Todavia, no
segundo período o encadeamento harmónico faz-se sem que os acordes tenham relação
César Gonçalves 91
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original. Esta novidade desfaz-se no período seguinte que apenas realiza uma progressão
pedal da dominante enquanto a harmonia desce por graus conjuntos – Dó, Dó bemol, Si
bemol, Lá, Lá bemol e finalmente Sol, tudo acordes maiores e outra vez, note-se, o efeito
de paralelismo harmónico. Dois acordes, o primeiro sobre o segundo grau e com nona
maior e o segundo sobre o quinto grau, mas com dois movimentos harmónicos – primeiro
utiliza o sétimo grau com sétima menor e depois o quinto grau com sétima – preparam a
com a primeira parte da obra. Na coda existem também alguns aspectos inovadores: a
finalmente a descida harmónica típica das danças ciganas que faz de cadência da obra que,
longo da obra.
c) Aspectos Estilísticos
- Segundo Piano
período bate os acordes de forma alternada entre colcheias e tercinas para depois se
harpejos. Existe contudo cumplicidade entre os dois pianos, pois no final de cada período o
segundo piano responde com uma descida cromática nos dois compassos em que o
primeiro piano mantém a nota. Na segunda parte existem outros aspectos variados, o
harpejo continua mas quando o primeiro piano acaba a sua primeira frase o segundo piano
César Gonçalves 92
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Mestrado em Educação Musical – 2005
responde com um harpejo tocado em uníssono pelas duas mãos, e na segunda vez realiza
uma espécie de imitação na parte aguda da mão direita, enquanto que a partir do segundo
prepara a entrada da primeira parte, o segundo piano enuncia um breve motivo que passa
para o primeiro piano, enquanto que o segundo piano realiza um pedal na dominante e tudo
se torna menos agitado até acalmar totalmente. A coda traz algumas modificações para o
oitavas e em tercinas distribuídas pelas duas mãos, para depois ambas as mãos também o
anteriormente.
- Primeiro Piano
oitava e na repetição ambas passam para a oitava superior. Na segunda parte, a linha
melódica distribui-se pelas duas mãos no primeiro período. No segundo retorna à oitava,
porém esta segunda parte está cheia de alterações cromáticas – sustenidos, bemóis e
desta parte os acordes são distribuídos pelas duas mãos com notas diferentes, cabendo uma
linha melódica à mão direita e duas à esquerda, para depois retornar à tradicional oitava.
Na Coda, as duas mãos também tocam à distância de uma oitava desdobrando-se no final
César Gonçalves 93
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Mestrado em Educação Musical – 2005
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
compositor utiliza entre as diferentes secções, uma vez que cada frase não ultrapassa a
independência das mãos, apenas aparece em dois momentos: no início da segunda parte,
onde a linha se distribui pelas duas mãos e no final desta parte, mas somente porque o
acorde está distribuído também pelas duas mãos, já que o ritmo é igual. No resto da obra
observa-se a habitual progressão por oitavas, normalmente por graus conjuntos, ou alguns
saltos, mas sem recorrer à passagem do polegar. Esta obra apresenta uma grande
diversidade de acidentes, sendo muitas das notas alteradas em função da harmonia que,
como se verificou na segunda parte, é mais instável e por isso o executante tem que ter em
- Aspectos Expressivos
No campo da expressão esta obra vai mais longe que as precedentes. A sua
linguagem é bastante mais moderna. A tonalidade existe, mas está muito esbatida e, na
parte que antecede a reentrada, quase desaparece. Além disso, é evidente uma espécie de
induzem a criança à descoberta de um novo ambiente sonoro mais próximo da sua época,
mesmo assim atenuado pelos vínculos com o passado para que o contacto seja progressivo
e mais compreensível.
César Gonçalves 94
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Mestrado em Educação Musical – 2005
6. Toadilha
a) Forma
primeira existe um período que se repete textualmente, composto por duas frases de 4
compassos diferentes mas sem efectuar nenhum contraste entre si. As duas semifrases que
compõem cada frase também são sempre diferentes, mantendo porém a mesma unidade
que caracteriza todo o período. Na parte intermédia, também existe apenas um período que
primeira frase as semifrases são idênticas, embora exista uma inversão de funções; a
segunda frase começa de forma semelhante à primeira, mas noutro ambiente harmónico e a
semifrase final continua com o esquema da anterior embora com notáveis modificações
para se preparar tanto para a repetição como para o encadeamento da parte inicial. Esta
primeira parte é quase totalmente repetida, mas como havia necessidade de acabar a
música, o compositor optou por tirar os dois compassos finais da primeira e substituí-los
b) Harmonia
harmonia passa para o relativo menor, mantendo-se estática na primeira frase, enquanto
que na segunda frase se assiste à definição da tonalidade, que parece um bocado forçada
porque na restante secção a música parece algo vaga em virtude das sétimas menores da
César Gonçalves 95
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primeira frase. Na repetição da parte inicial apenas há a referir a semifrase final que
modula ao V grau embora antes de o atingir passe pelo II grau do modo menor para
c) Aspectos Estilísticos
- Segundo Piano
batidos enquanto o baixo esboça um leve fundo melódico que contrapõe à melodia. Na
parte intermédia a melodia passa para o segundo piano, onde existe uma espécie de
transferência de funções, pois em cada repetição da semifrase a melodia passa para a mão
esquerda enquanto que a direita mantém a base harmónica. O primeiro piano realiza uma
espécie de nota pedal no agudo, repetindo na primeira frase a nota dó e na segunda a nota
parte, desvanece-se quer pela progressão harmónica mais lenta quer pelo uso de bordões e
notas pedais, portanto, um contraste nítido e que renova o interesse auditivo da obra.
- Primeiro Piano
apontadas em obras anteriores: evolução melódica à distância de oitava entre as duas mãos,
âmbito melódico reduzido, de quinta perfeita, neste caso, ritmo lento, mínimas e
semibreves. Não existe passagem do polegar e a melodia está sempre ao alcance da mão de
uma criança sem ser necessário alargar os dedos; contudo, esta aparente simplicidade pode
servir os propósitos da obra, uma vez que se trata de uma espécie de canção tradicional que
o compositor estiliza e adequa ao ensino do piano. Desta forma, pode resultar a leveza
César Gonçalves 96
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aprofunda.
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
seu âmbito reduzido ajuda a desenvolver esta tarefa assim como o acompanhamento que
repetição das notas, embora não esteja assinalado no manuscrito do autor, mas como se
- Aspectos Expressivos
A música nacional marca mais uma vez o ponto de partida do autor para a criação
das suas obras. A utilização de um andamento lento é também uma novidade e permite às
musical.
7. Rondino
a) Forma
Quanto à forma, a obra adopta a forma ternária, desta vez com as partes claramente
modificando o final, pois a primeira vez acaba na dominante, de forma a permitir nova
César Gonçalves 97
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repetição do período que termina na tónica. Cada período é composto por duas frases, cujas
diferenças se encontram no acompanhamento diferenciado para cada uma das frases, e pela
curva melódica ascendente da primeira e descendente da segunda. As frases, por sua vez,
podem-se dividir em duas semifrases, delimitadas por duas mínimas ligadas, com excepção
para a terceira que faz ligação directa com a quarta, de forma a preparar o elo de ligação
com o período seguinte. Uma vez que o segundo período é a repetição do anterior, a
divisão anterior mantém-se, existindo apenas uma diferença no final, pois a última
semifrase é modificada nos dois pianos para finalizar na tónica. Também nesta obra, os
valores das semifrases, frases e períodos foram modificados para o dobro, para permitir
uma análise mais coerente de acordo com o que se apreende auditivamente. Na parte B, há
maior diferenciação das partes. Seguindo o método anterior contém apenas um período de
duas semifrases que desenvolvem uma progressão melódica descendente, enquanto que a
parte A.
b) Harmonia
entendida pelo facto de ambos os acordes partilharem a nota Mi e servir de elo de ligação
entre os dois acordes. Esta característica aliada à descida cromática e posterior subida nas
mais perceptível, todavia a progressão harmónica por quartas, leva ao relativo menor,
César Gonçalves 98
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Mestrado em Educação Musical – 2005
situação que o compositor resolve recorrendo ao segundo grau do modo menor – o sol
sustenido que se encontra no final do período deve ser entendido como lá bemol – e desta
forma regressa à tonalidade principal. A parte central começa numa base harmónica de Lá
menor, nunca se chegando a afirmar pela relação de V-I; permanece uma ambiguidade
sem relação directa entre si e sem preparação contribuem para a indefinição harmónica que
c) Aspectos Estilísticos
- Segundo Piano
melódico de que o compositor se serve na frase inicial de cada período da primeira parte. A
período clássico. Há uma mudança repentina na segunda frase de cada período, pois o
segundo piano recorre a uma padrão de acompanhamento típico das danças, aligeirando
um pouco o ambiente. Este contraste é bastante eficaz e confere variedade à peça. Na parte
se longas notas ligadas na mão esquerda, enquanto que a direita dobra a melodia do
primeiro piano acrescentando mais uma nota e enriquecendo a textura. Na segunda frase o
ascendentemente. O efeito desta segunda parte faz lembrar o estilo coral pela sua
tranquilidade e polifonia.
melódico e o contraponto. A primeira frase encerra um misto dos dois tipos: melodia plana
César Gonçalves 99
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Mestrado em Educação Musical – 2005
no primeiro piano e cromatismo e ondulação no segundo piano. A segunda frase, por sua
segunda melodia paralelamente a uma distância de terceira. Apenas na segunda frase existe
- Primeiro Piano
Nesta obra, o primeiro piano destina-se, mais uma vez, à criança. Tessitura na
região aguda do piano, ambas as mãos à distância de oitava, âmbito melódico para cada
parte de 5.ª perfeita – dó sol na primeira parte e fá dó na segunda – são características que
âmbito da mão. Pode constituir uma certa dificuldade a repetição da mesma nota em cada
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
âmbito reduzido e por graus conjuntos na sua maioria, a aquisição desta técnica torna-se
permite que criança adquira eficazmente esta técnica e lance as bases para situações futuras
mais complexas.
lenta na parte intermédia, também podem dificultar a execução, sendo necessária uma
- Aspectos Expressivos
Desta vez o autor recorre a um género da música absoluta, como ponto de partida
da criação desta obra. É evidente o contraste entre as três partes da obra nos dois pianos, o
que ajuda a criança a interiorizar o conceito de forma e a sua relevância na estruturação das
obras musicais. A inclusão, mais uma vez, de aspectos da música contemporânea, permite
que esta música contenha efeitos que permitam à criança o contacto com a música
8. Marcha Humorística
a) Forma
semelhantes com uma pequena alteração no final que permita concluir na tónica, em vez da
dominante como acontece da primeira vez. Esta estrutura é perfeitamente regular, pois
cada período é formado por duas frases de 4 compassos, e cada frase por duas semifrases
semifrases, a não ser talvez os últimos quatro compassos que fazem a transição para a
repetição da parte A.
b) Harmonia
posterior acentuam a característica do humor que se pretende com a obra. A semifrase final
progressão harmónica que se vai desenvolvendo ao longo desta parte leva de novo a Lá
menor, não se chegando a sentir realmente que estamos numa tonalidade nova.
c) Aspectos Estilísticos
- Segundo Piano
suas consequências para o carácter da obra. No entanto há que assinalar que nesta peça
parte A. Na parte intermédia existe um contraste nítido, pois a agitação da mão esquerda
desaparece, dando lugar a valores longos – mínimas – enquanto o harpejar da mão direita
também contribui para uma maior contraste, reforçando a linha melódica do primeiro
piano.
- Primeiro Piano
primeira frase, a repetição da nota mi cria uma espécie de nota pedal na região aguda, e na
segunda apenas reforça a melodia do segundo piano. Na segunda parte, a melodia tem uma
progressão mais lenta sendo constituída ritmicamente por mínimas, para contrastar com as
aguda do piano com as duas mãos à distância de uma oitava sendo o âmbito melódico
reduzido, apenas uma 5.ª perfeita de dó a sol, evoluindo sempre por graus conjuntos. Esta
aparente facilidade pode derivar do facto de a obra ter que ser interpretada em andamento
Allegro, e daí a necessidade de facilitar o primeiro piano para uma execução rápida e
consistente.
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
embora incida sempre na nota cujo motivo já foi enunciado no tópico anterior. Neste caso
os valores da nota repetida são metade dos da obra anterior, e mesmo sem haver indicação
de velocidade no manuscrito, esta será demasiado rápida, se tivermos em conta que se trata
de uma marcha. Quanto à segunda parte, a criança terá que ter em atenção que os valores
são mais longos e que têm que se articular com o baixo do segundo piano de forma a
- Aspectos Expressivos
Nesta obra, o compositor alia à forma musical da dança um título que muitas vezes
também pela velocidade. A tonalidade menor acentua a ironia de uma música que se quer
também de forma significativa para o título desta obra. A estrutura fechada em três partes
contrastantes entre si é bem visível nesta obra à semelhança da anterior. Na parte central, o
carácter da dança e do humor esbatem-se um pouco o que realça ainda mais o ambiente da
primeira parte.
a) Forma
Formalmente a obra apenas contém uma parte, complementada por uma pequena
compassos. O corpo da música está formado por dois períodos de 8 compassos; cada
período tem 2 frases regulares e cada frase duas semifrases de dois compassos. As
primeiras semifrases de cada período são sempre repetidas, embora a harmonia se altere.
b) Harmonia
acordes menores com sétima menor, acordes de 5.ª aumentada e encadeamentos fora do
comum, mas que tendem sempre para a resolução final. Na coda a harmonia esbate-se um
pouco, e a descida cromática, prevista no início, continua no segundo piano até atingir a
dominante com saltos de oitava quebrada e desta forma concluir na tónica no modo maior.
c) Aspectos Estilísticos
- Segundo Piano
A partir do segundo período, a mão direita dobra a melodia do primeiro piano, continuando
com o padrão de acompanhamento, e na segunda frase desse período, há uma nova melodia
a contrapor à do primeiro piano, embora sem independência rítmica. Esta situação provoca
uma mudança de ritmo na mão esquerda que tem que evoluir mais rapidamente para que a
obra não perca ritmo. Na coda já se referiu que há uma mudança brusca de
- Primeiro Piano
mesmas notas, mas em oitavas diferentes, âmbito de 5.ª perfeita (Dó-Sol) para as duas
mãos, ritmo moderado: mínimas e semínimas, progressão por graus conjuntos e sem
passagem do polegar.
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
com o segundo piano oferece estabilidade para a criança pois já estabelece o andamento e
melodia – o ré sustenido nas primeiras semifrases de cada período – que causa uma certa
ambiguidade entre o modo maior e menor. Na coda, a semifrase inicial serve de motivo
ambas as mãos por aumentação com mínimas pontuadas ligadas. Na Coda existe o silêncio
causado pelo segundo piano quando o primeiro piano toca o motivo inicial alargado, de
forma que antes de atacar cada nota o segundo piano tem um compasso de espera; terá que
haver uma grande coordenação entre os dois pianos e segurança no primeiro piano para
mental.
- Aspectos Expressivos
aliam a um ritmo constante de valsa, o que confere à obra uma graciosidade intensa. É uma
obra simples, com alguns preciosismos na escrita que ajudam a criança a compreender
a) Forma
para finalizar a música. Na secção A, podem-se distinguir duas partes A e A’. Na primeira
parte, existem dois períodos de 8 compassos cada. O primeiro é formado por duas frases
iguais, cada uma com uma semifrase distribuída pelas duas mãos. O segundo período,
com o A’. A divisão para a parte anterior mantém-se; no entanto o primeiro piano executa
a melodia uma oitava acima e o segundo período não contém as mesmas notas, apesar de
mantém-se o mesmo ambiente, pelo que se pode julgar como seu semelhante. Em seguida
surge um novo período, no qual a melodia é transferida para o segundo piano, enquanto o
primeiro apresenta apenas acordes sustentados a cada dois compassos. Passado este
episódio, regressa o primeiro período da parte A’, encadeando-se de seguida a Coda que se
b) Harmonia
exemplo, a primeira semifrase inicia com um acorde de sétima maior no primeiro grau e no
segundo compasso da semifrase seguinte existe um sétimo grau realizado pelo primeiro
piano e mão direita do segundo, mas que a mão esquerda dissimula mantendo uma espécie
os acordes se vão sucedendo ascendentemente por graus conjuntos sem relação tonal entre
si, ou na Coda, quando a mão esquerda realiza uma espécie de bordão e a mão direita
executa a contratempo acordes sem a terceira, apenas alternando entre o terceiro e segundo
grau e se acaba a música com o acorde de primeiro grau com a nota lá acrescentada pelo
primeiro piano. Também se destaca o mi bemol verificado na Coda introduzindo uma certa
c) Aspectos Estilísticos
- Segundo Piano
movimentos contrários, outras vezes uma das mãos sustenta a harmonia ficando a outra
silêncio, o que só acontece no tempo final de cada compasso, é que o segundo piano toca,
criando um efeito muito cómico derivado também da apogiatura cromática que acompanha
estabelecer uma contraste muito nítido com o início da parte A’, utiliza na primeira
vão percutindo a cada dois tempos, e na segunda semifrase, como o harpejar é só confiado
semifrase até chegar o episódio intercalar, onde a mão direita, em vez de harpejar
acompanhamento modifica-se e torna-se mais pesado pelo facto de a mão esquerda usar
um registo muito grave e a mão direita, em vez de harpejar, utilizar contratempos com duas
com excepção do episódio em que a primazia melódica passa para o segundo piano.
- Primeiro Piano
O primeiro piano destina-se à criança, porém as duas mãos actuam com certa
de cada mão é maior que o habitual: mão direita – Lá2/Mi5, mão esquerda – Dó2/Sol4, o
que justifica o uso de dois pianos. Na primeira frase a linha melódica é repartida pelas duas
mãos e na segunda semifrase a mão direita apenas reforça a harmonia com duas
semibreves. Para encadear o período seguinte, a segunda frase acaba com um paralelismo
de sexta, que se prolonga para o período seguinte que consiste apenas nesta técnica. Na
parte A’, o primeiro período é igual, embora na oitava superior, enquanto que no segundo
período, apesar de ambas as mãos terem o mesmo ritmo, as notas são diferentes: na mão
esquerda estão dispostas por graus conjuntos, enquanto que na mão direita realizam um
salto de quarta. O episódio intercalar, traz uma novidade para o primeiro piano, pois este
tem que sustentar e complementar a harmonia com notas diferentes distribuídas pelas duas
mãos. Na coda existe a passagem do Mi bemol para o Mi natural, que exige o uso das duas
mãos, e nos compassos finais, as duas mãos realizam funções diferentes: a direita
bastante diversificada e estimulante para as crianças que a executam, sem cair em excessos
técnicos e interpretativos.
d) Características Pedagógicas
- Aspectos Técnicos
independência das mãos, grande âmbito melódico sem apresentar passagem do polegar
nem fragmentos melódicos extensos, sempre diferenciados com pausas para a criança
- Aspectos Expressivos
uma formação expressiva mais consistente e profunda, que leva além da mera preocupação
em tocar as notas certas. Contém uma linguagem mais moderna, embora ligada de modo
infância – mas onde os efeitos não só devem ser associados ao animal em questão mas
Localização
Âmbito da Paralelismo
Obras Género da parte da Forma Tonalidade Andamento
melodia da melodia
criança
Primeiro e Sim, à
Chula do Sétima menor Allegro
4 mãos segundo distância de Binária (AB) Dó Maior
Douro (Sol-Fá) marcato
piano oitava
Sim, à
distância de
11ª para a mão oitava na
Primeiro Ternária
Valsa (1948) 4 mãos direita e 8.ª para primeira parte Dó Maior Moderado
piano (ABA)
a mão esquerda e de sexta no
início da parte
intermédia
Sim à
Quinta perfeita Primeiro Binária (AB)
Valsa (1949) 4 mãos distância de Dó Maior Moderado
(Dó-Sol) piano +Coda
oitava
Décima menor, Introdução +
Dança Sim à
mas no final Primeiro Ternária
Cigana 2 pianos distância de Lá Menor Allegro
salta para a piano (ABA) +
(1958) oitava
oitava superior Coda
Décima menor, Na maior
mas por vezes parte da obra
salta para a Primeiro apresenta Ternária
Barcarola 2 pianos Dó Maior Andantino
oitava superior piano paralelismo à (ABA)+Coda
quando repete a distância de
melodia oitava
Sim, à
Quinta perfeita Primeiro Ternária
Toadilha 4 mãos distância de Dó Maior Andante
(Dó-Sol) piano (ABA)
oitava
Sim, à
Primeiro Ternária
Rondino 4 mãos Nona maior distância de Dó Maior Allegro molto
piano (ABA)
oitava
Sim, à
Marcha Quinta perfeita Primeiro Ternária
4 mãos distância de Lá Menor Allegro
Humorística (Dó-Sol) piano (ABA)
oitava
A minha Sim, à
Quinta perfeita Primeiro Introdução+A Allegro
primeira 4 mãos distância de Dó Maior
(Dó-Sol) piano +Coda moderato
valsa oitava
Só no
segundo
Mão direita –
período da Ternária
Dança do Lá2/Mi5, mão Primeiro
2 pianos primeira parte (ABA’) + Dó Maior Allegretto
Pica-pau Esquerda – piano
e à distância Coda
Dó2/Sol4
de sextas e
terceiras
conjuntos como acontecia com a prática inaugurada por K. M. V. Weber, mas sim obras
isoladas, que foram aparecendo com o passar dos tempos, sendo compostas com a
perante uma constante preocupação por parte de Eurico Thomaz de Lima pelo ensino
Quanto ao modelo adoptado para as suas obras a 4 mãos, de acordo com o que foi
deste modo a maioria das composições dos outros autores. A única excepção será a Chula
do Douro cujo segundo piano pode também ser executado pelos mais novos, mas esta
situação não parece prevista pelo compositor, pois na primeira audição o segundo piano foi
interpretado pelo próprio. Sendo assim, esta obra pode ser incluída na categoria de Obras
com partes equilibradas, onde se concentra a maior parte das produções neste género dos
Nas obras para dois pianos, Dança Cigana (1958), Barcarola e Dança do Pica-pau,
enriquecem, sem dúvida, o património dos duetos para dois pianos destinados à infância
pois como foi mencionado na revisão bibliográfica, apesar de existirem inúmeros exemplos
para níveis mais avançados, as obras para os mais novos são pouco numerosas e sem a
Outros dos aspectos referidos na secção anterior foi o facto de muitas músicas
Minha Primeira Valsa, realizando as duas mãos um paralelismo à oitava. Nas obras
como ponto de partida das suas criações musicais e também em Eurico Thomaz de Lima
encontramos os mesmos princípios em grande parte da sua obra e também neste género em
evocativos da infância também ocorre neste compositor, como por exemplo: Canção de
Quanto à linguagem musical utilizada neste género, ela inscreve-se num molde
tradicional, mantendo-se apegada às convenções tonais. É certo que por vezes aparecem
harmónicos inusitados e outros efeitos que revelam uma certa familiaridade com as
tendências da música de vanguarda. Esta síntese entre tradição e inovação, apontada pelos
meios de comunicação da época para a restante obra do compositor, sente-se sem dúvida
nestes duetos para a infância mas prevalecendo sempre o sistema harmónico tonal. As
obras onde as incursões mais ousadas se sentem são: Barcarola, Dança Cigana (1958) e
Dança do Pica-pau, onde o sentimento tonal se encontra bastante enfraquecido mas ainda
subsistem algumas atracções na sua harmonia, e efeitos curiosos que mantém uma relação
vanguarda e de, nas obras para níveis avançados por vezes estes elementos se tornarem
mais fortes e suscitar a admiração da imprensa da época, não pode ser considerado como
politonalidade não estão presentes na generalidade da sua obra, pelo menos de uma forma
sistemática e profunda e os duetos para piano destinados à infância são disso um exemplo,
O seu ponto de partida para a maioria da sua obra foi, muitas vezes, a música
nacionalista que inspirou vários compositores de meados do século XX. Mas, ao contrário
Thomaz de Lima através da comunicação social da época; pelo contrário, estes elementos
folcloristas encontram-se diluídos na linguagem tonal e nas formas correntes, pelo que,
oitocentista. Nas obras aqui apresentadas – Chula do Douro e Toadilha esta situação é
visível, pois a forma não é renovada – no primeiro caso é binária e no segundo ternária,
equilíbrio entre ideia e forma e que não existe lugar para prolongamentos inúteis e
supérfluos. De facto, nos duetos para piano destinados à infância nota-se uma certa
brevidade, na maioria das obras, com excepção na Dança Cigana (1958) e Barcarola que
são ligeiramente mais desenvolvidas. Além disso, as melodias sucedem-se sem acrescentos
restantes músicas será necessário um estudo mais aprofundado para se definir claramente a
orientação estética do compositor que, pelo culto das formas e linguagem tradicionais, em
conformidade com aspectos mais modernos e folcloristas, revela influência dos neo-
nomeadamente no que se refere aos duetos para piano destinados aos mais novos,
Conclusão
realizados deram o impulso necessário para um despertar da obra de Eurico Thomaz Lima
fazendo-o emergir no contexto do panorama musical português como uma figura cultural e
infância na forma de duetos, tanto para dois pianos como a quatro mãos, cujos autores não
se coibiram ao compor para os mais novos e comportando as necessárias exigências que tal
escrita exige. Por isso na extensa lista de compositores que abordaram este género figuram
os mais diversos autores, dos menos divulgados até aos grandes mestres da história da
música ocidental, que também puseram ao dispor dos mais pequenos as suas concepções
estéticas e musicais, e cujas obras ainda são executadas hoje em dia com grande empenho e
entusiasmo.
Se no caso dos outros países esta evolução foi clara, o mesmo não aconteceu no
nosso país. As informações são escassas, pouco acessíveis, as fontes não se encontram
devidamente identificadas, e por isso qualquer trabalho de investigação neste campo torna-
se difícil, mas nem por isso menos motivador. Deste modo, as referências que encontramos
obras em vários estilos, formas e em vários níveis de dificuldade, mostrando assim que este
género teve alguma representação no nosso país, mas que na maior parte dos casos não
renome da nossa cultura musical contemporânea, tais como, Vianna da Mota e Luís de
Freitas Branco, por possuir inegáveis qualidades musicais que, se foram notórias aos olhos
dos grandes músicos do seu tempo, não podem deixar de ser significativas e
enriquecedoras para a nossa cultura musical que muitas vezes esquece os seus melhores
valores.
desta investigação que durante a sua vida nunca deixou de exercer as suas funções de
Após a sua morte, foram realizadas homenagens, através de recitais, exposições do seu
espólio e alguns estudos para que o seu nome constitua uma referência fulcral da história
da música portuguesa.
transcrição dos seus duetos para piano como um contributo para o conhecimento daquela
faceta de pedagogo, que Eurico Thomaz de Lima sempre viveu com dedicação e
entusiasmo, para além da de compositor, uma vez que a composição destas obras para a
infância não revela um alheamento às qualidades musicais que sempre devem estar
Fica também provado com este trabalho que as suas obras para a infância
artístico musical e do piano. Como já se afirmou, a sua produção original de duetos para a
infância é significativa, e as suas versões são ainda mais substanciais. Se a composição dos
duetos em Portugal verificou-se dispersa e pouco consistente, neste presente caso, estamos
perante um volume de obras compostas por um único compositor que sempre manifestou
entusiasmo e dedicação aos mais novos, tendo partilhado o teclado com os seus alunos
inúmeras vezes. Este repertório torna-se, por isso, inestimável para as crianças que assim
têm à sua disposição novas práticas e valores musicais que com agrado irão assimilar.
Concluímos que Eurico Thomaz de Lima desenvolveu este género musical na sua vertente
pedagógica e por isso o seu nome não deve ser esquecido quando futuramente se abordar
esta questão.
Com esta dissertação, esperamos que os duetos que Eurico Thomaz de Lima
erudita portuguesa, e que desta forma o interesse por esta pequena parcela de composições
se estenda à restante obra de Eurico Thomaz de Lima, para que futuramente todos tenham
acesso incondicional à suas músicas. Este facto levou-nos a incluir a lista das suas obras e
sucintas apreciações pela sua vida e obra para que este despertar para as qualidades
cultura ao nível dos trabalhos de investigação nos nossos meios académicos, pois somos
cidadãos de um país cujos valores musicais, enquanto fazem parte da nossa realidade
eventualmente dar um enorme contributo para uma educação musical das novas gerações
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Geral
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Vaughan Williams / Britten: Works for 2 Pianos, Robert Cowan e Joan Yarbrough,
ANEXOS
ANEXO A
ANEXO B
“Possui qualidades artísticas excepcionais, fina musicalidade que lhe permite penetrar
inteligentemente o sentido das obras que executa, perfeição técnica, excelente sonoridade,
maleabilidade de interpretação e a maior probidade artística, trabalhando com rigoroso
método e consciência”.
“As peças para piano do nosso compatriota E. T. Lima, por ele próprio executadas,
deixaram agradável impressão. São escritas com técnica que revela o conhecimento das
tendências da moderna composição musical e o seu conteúdo expressivo não fica
prejudicado pelas preocupações da escrita”
Ruy Coelho:
“E. T. de Lima, reúne, quanto a mim, todas as qualidades para ser um artista que possa dar
nome a Portugal. Disposições naturais e que a arte tem iluminado sempre, para
encaminharem intrépidas na florida estrada que o novel artista pensa seguir”
“E. T. de Lima é um nome que nos honra duas vezes; pelo talento, que é seu e pelos
mestres que são nossos”
Hermínio do Nascimento:
“Eurico Thomaz de Lima, nosso estudioso discípulo e um valor autêntico dentro das
classes do Conservatório”
ANEXO C
ANEXO D
III
PARTITURAS