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XXIX Congresso da Associação Nacional de Pesquisa e Pós-Graduação em Música – Pelotas - 2019

Oneyda Alvarenga e Curt Lange: análise documental de uma relação


epistolar

MODALIDADE: COMUNICAÇÃO

SUBÁREA: MUSICOLOGIA E ESTÉTICA MUSICAL

Júlio Guatimosim
Universidade Federal de minas Gerais - juliogn96@gmail.com

Natália Braga
Universidade Federal de minas Gerais - nataliabraga.nb@gmail.com

Julia Tempesta
Universidade Federal de minas Gerais - juliatempestab@gmail.com

Edite Rocha
Universidade Federal de minas Gerais - editerocha@ufmg.br

Resumo: A partir do levantamento da correspondência entre Oneyda Alvarenga (1911-1984) e


Francisco Curt Lange (1903-1997), no Acervo Curt Lange - UFMG (ACL), além de outras fontes
bibliográficas e documentais, o presente trabalho analisa a relação epistolar de ambos e o contexto
de uma relação indireta entre os musicólogos. Através do mapeamento das cartas foi possível
identificar três fases nesse percurso: 1940, 1942-1960 e 1962-1979.

Palavras-chave: Oneyda Paoliello de Alvarenga. Musicologia no Brasil. Musicóloga. Mário de


Andrade

Oneyda Alvarenga and Curt Lange: A Documental Analysis of an Epistolary Relationship

Abstract: From the survey of correspondence between Oneyda Alvarenga (1911-1984) and
Francisco Curt Lange (1903-1997), in the Curt Lange Collection - UFMG (ACL), in addition to
other bibliographic and documentary sources, this paper analyzes the epistolary relationship of
both and the context of an indirect relationship between these musicologists. Through the mapping
of the letters it was possible to identify three phases in this path: 1940, 1942-1960 and 1962-1979.

Keywords: Oneyda Paoliello de Alvarenga. Musicology in Brazil. Musicologist. Mário de


Andrade

Introdução1
De acordo com as cartas disponíveis no Acervo Curt Lange, Oneyda Paoliello de
Alvarenga, diretora da Discoteca Pública Municipal de São Paulo (DPM-SP) entre 1935 e
1968, correspondeu com Francisco Curt Lange ao longo de 39 anos (1940 - 1979). Destas
cartas, 102 se encontram na série 2.1 destinadas a Oneyda Alvarenga, enviadas entre 25 de
fevereiro de 1940 e 30 de dezembro de 1978, e, na série 2.2, pode-se ter acesso a 88 cartas
recebidas de Oneyda Alvarenga, datadas entre o período de 6 de março de 1940 e 8 de
fevereiro de 1979.

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Para análise dessa correspondência, realizou-se uma pesquisa sobre a produção


bibliográfica e acadêmica relacionada aos dois musicólogos, cujo principal objetivo foi
delinear o percurso das atividades profissionais de Oneyda Alvarenga e Curt Lange ao longo
do período de sua relação epistolar, no âmbito das ações que promoviam as linhas de
pensamento musicológico no século XX. Nesse processo, foram considerados diversos
trabalhos que promovem, em diferentes perspectivas, uma contextualização de momentos das
carreiras individuais que complementam as informações encontradas na correspondência e
que se destacam para a identificação das temáticas a serem destacadas neste artigo2. Além
disso, o cruzamento de dados encontrados na bibliografia nos possibilitou ter maior clareza
em relação ao período anterior à correspondência, no qual provavelmente ocorreram os
primeiros contatos entre Oneyda Alvarenga e Curt Lange, e que favoreceu identificar
elementos sobre o posicionamento social e profissional de cada musicólogo no momento em
que estes começaram a se corresponder, em 1940.

1. Cruzamentos e conexões
Alguns indícios nos levam a considerar que Oneyda Alvarenga e Curt Lange
tomaram consciência um do outro em meados da década de 1930. Em 1934, Curt Lange
profere três conferências em São Paulo (REMIÃO, 2018, p. 125), às quais Mário de Andrade,
então professor de Oneyda, provavelmente teria a incentivado a ir caso esta se encontrasse na
capital paulista durante a ocasião, dado que Oneyda nessa época ainda transitava entre
Varginha (MG) e essa cidade. Considerando alguns trechos das cartas, datadas próximas a
este período, podemos inferir que Curt Lange não foi apresentado pessoalmente à musicóloga
antes de 4 de setembro de 1935 - data em que Oneyda se torna encarregada da DPM-SP.
Francisco Curt Lange, frequentemente, procurava indivíduos influentes, ligados à
música e à musicologia no Brasil, que se destacassem pela seriedade de seus trabalho e que
pudessem colaborar com um dos seus maiores projetos de então, o Boletín Latino-Americano
de Música (BLAM). Luiz Heitor Corrêa de Azevedo (1905-1992), então amigo pessoal do
musicólogo, indicava e recomendava vários desses profissionais a Curt Lange. Em uma carta
de Oneyda Alvarenga para Mário de Andrade de 8 de agosto de 1935, Alvarenga comenta que
Luiz Heitor pediu-lhe, por meio de carta, uma colaboração para o BLAM (ALVARENGA;
ANDRADE, 1983, p. 124). Alguns dias depois, o mesmo enviou uma carta a Curt Lange
afirmando “A Oneyda Alvarenga, que publicou aquelle estudo sobre ‘expressão musical’ na
nossa ‘Revista’, vae colaborar no próximo numero do Boletim [II volume] 3.”4 . Esta citação –

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referente à Revista Brasileira de Música, fundada em 1934 e que teve como editor principal o
próprio Luiz Heitor -, nos leva a constatar que Curt Lange já conhecia o trabalho da
musicóloga e/ou mantinha contato indireto com ela. Além disso, numa carta de Mário de
Andrade a Curt Lange5, escrita um dia depois de Alvarenga iniciar seus trabalhos na DPM-SP,
o musicólogo exalta o potencial da sua ex-aluna e atual encarregada da instituição sem
contudo, escrever explicitamente o seu nome, reforçando a possibilidade de ainda não ter
havido, anteriormente, um primeiro contato entre Lange e Alvarenga. Porém, a fim de
esclarecer melhor as circunstâncias nas quais se iniciou a relação de Oneyda Alvarenga com
Curt Lange, encontra-se uma referência no artigo de Fernanda Nunes Moya que se contrapõe
a essa possibilidade ao afirmar "Oneyda, antes de tornar-se diretora da Discoteca, já
colaborava com o pesquisador uruguaio enviando-lhe artigos a serem publicados no Boletín
Latino Americano de Música" (MOYA, 2011a, p. 5). O fato da primeira contribuição de
Oneyda Alvarenga no BLAM ocorrer somente em 1938, data esta após a musicóloga ter
tomado posse como diretora da DPM-SP em 4 de setembro de 1935 (MOYA, 2011b, p. 116),
reafirma uma incongruência entre essa citação e as informações encontradas.
Embora o fato de Oneyda ter colaborado no boletim de Curt Lange em 1938 ( e
posteriormente em 1946), o primeiro registro da relação epistolar data de 1940 e não há
indícios de que a correspondência tenha começado antes deste período. Isso se deve
justamente à grande probabilidade deste musicólogo ter mantido contato indireto com Oneyda
Alvarenga por intermédio de Mário de Andrade, durante um período anterior, e Luis Heitor,
como já referido anteriormente (ALVARENGA; ANDRADE, 1983, p. 131). Não obstante
desconhecer-se com exatidão o marco inicial da relação de ambos, é certo que a relação
epistolar entre os dois a partir de 1940 marca um relacionamento que demonstra um interesse
claro do musicólogo em ter Alvarenga como amiga e colaboradora, provavelmente pela sua
posição dentro da Discoteca Pública. O musicólogo demonstra estar especialmente
interessado, não só no começo, mas ao longo de sua correspondência, na Revista do Arquivo
Municipal criada em 1934 e em 1935 incorporada ao recém criado Departamento de Cultura
de São Paulo, ao qual a Discoteca Pública era subordinada.

2. Análise diacrônica da correspondência


Analisando as cartas trocadas entre estes dois musicólogos, foi possível destacar
três períodos, tendo em consideração os contextos, fluxo de correspondência e os temas
predominantes que sobressaíram em cada fase. Essa categorização é composta por um período

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inicial (1940), correspondente a sete cartas (quatro de Curt Lange e três de Oneyda
Alvarenga); um período intermediário, caracterizado por ser a fase de maior fluxo de
colaboração entre os musicólogos (1942-1960), composto por 130 cartas (76 de Curt Lange e
54 de Oneyda Alvarenga); e um período final (1962-1979), de caráter menos profissional e
mais pessoal, relativo a 53 cartas (22 de Curt Lange e 31 de Oneyda Alvarenga).
Essa demarcação das fases nos proporcionou uma maior compreensão a respeito
da construção e desenvolvimento da relação dos dois musicólogos e os diferentes momentos
que a permeiam, facilitando assim um olhar diacrônico. Francisco Curt Lange enviou em
1940 a primeira carta à musicóloga, na qual demonstra um forte interesse na vida profissional
da mesma e em seus trabalhos correntes, além de ter proposto informalmente um trato de
mútua colaboração entre o Instituto Interamericano de Musicologia e a Discoteca Pública
Municipal de São Paulo, então chefiados, respectivamente, pelo musicólogo e pela
musicóloga. Nessa carta, Curt Lange requisita os exemplares da Revista do Arquivo
Municipal, e sugere retomar os "[...] vínculos com tão afetuosos colaboradores como [...]"6
Oneyda, observação essa que provavelmente faz referência à colaboração de Alvarenga no
BLAM IV com o artigo sobre uma "Pequena contribuição ao estudo das questões de
organização discotecária" (ALVARENGA, 1938, p. 267). Desta forma, inicia-se o primeiro
período da relação epistolar. 7

3.1. Período inicial (25/02/1940 - 27/08/1940)


Este período é pautado por uma fase breve baseada apenas em sete cartas, na
maioria das quais Curt Lange procura saber de Oneyda formas de obter os exemplares
anteriores publicados da Revista do Arquivo, tendo em vista que os volumes desta já estavam
esgotados na discoteca. Além disso, o musicólogo esboça alguma iniciativa de colaboração,
enviando a Oneyda um estudo seu do Handbook of Latin American Studies 8. A musicóloga
procura ajudar Curt Lange, enviando-lhe nomes de livrarias de "segunda mão", ou usados,
pelas quais o musicólogo poderia adquirir exemplares passados da Revista do Arquivo 9 e se
compromete a enviar-lhe os novos volumes à medida que estes fossem publicados, dentro das
suas possibilidades de obtenção da mesma, dado que a revista não era de sua responsabilidade
direta. A partir de então, a correspondência se interrompe com um hiato de quase 2 anos, e se
retoma com uma doação, feita por Oneyda Alvarenga ao Instituto Interamericano de
Musicologia, de discos pertencentes à série de música Erudita Paulista, gravados pela própria
10
DPM-SP . Esse ato da musicóloga marca o primeiro envio de registros fonográficos,

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demonstrando uma clara iniciativa de Oneyda para impulsionar a colaboração profissional


mútua sobre a qual os musicólogos haviam concordado e que permite iniciar uma nova etapa
da correspondência entre ambos.

3.2 Período intermediário (06/02/1942 - 15/04/1960)


Após a contribuição inicial dos registros fonográficos por Oneyda, identifica-se
uma sucessão de colaborações mútuas, ocorridas durante todo o período, de itens ou trabalhos
em geral que foram doados, comprados, trocados ou simplesmente requisitados; desde discos
de música folclórica e erudita até publicações individuais de ambos musicólogos ou de seus
respectivos vínculos institucionais. Além disso, Curt Lange convida Oneyda Alvarenga a
participar em algumas publicações; tais como a do BLAM VI (1946), bastante discutida nas
cartas devido aos problemas ocorridos em sua edição (BRAGA; ROCHA, 2017), e duas
contribuições para a Enciclopédia Ricordi, relativas à biografia e bibliografia de Mário de
Andrade e de Oneyda Alvarenga.
Em 1944, Curt Lange descobre um outro lado da musicóloga, o de poetisa, através
do seu contato com canções de Camargo Guarnieri e Cláudio Santoro compostas sobre o seu
ciclo de poemas "A Menina Boba"11. Posteriormente, Oneyda chega a dedicar, inclusive, um
poema a Curt Lange durante o período final da correspondência.12

DEDICATÓRIA
(à maneira de Manuel Bandeira)

A meu velho amigo


Francisco, a quem todos,
Por mui merecido,
Chamam Professor
Doutor (mais que douto
Nas coisas da música,
Nas coisas da história)
Francisco Curt Lange.
(9-8-1973)

Mário de Andrade falece em 1945 e, com isso, Oneyda começa gradualmente a


trabalhar no processo de compilação e salvaguarda do legado do mestre-amigo. Curt Lange
incentiva esse projeto e destaca que somente a musicóloga teria capacidade para o executar
com qualidade compatível à importância do trabalho.13
Uma década depois Oneyda envia uma carta a Curt Lange14, questionando-o sobre
certas afirmações por ele dadas em um artigo (LANGE, 1955) que publicara na revista
uruguaia do Servicio Oficial de Difusión, Radiotelevisión y Espectáculos (SODRE), referentes

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ao seu papel na criação da DPM-SP (GUATIMOSIM; ROCHA; BRAGA; TEMPESTA,


2019)15. Após esse atrito, devido a um suposto distanciamento esboçado por Oneyda, o
musicólogo procura reatar sua correspondência com a musicóloga indicando-lhe propostas de
publicação. Contudo, a correspondência somente recobre sua dinâmica anterior quando Curt
Lange a informa do incêndio que assolou sua biblioteca em 1957 16, o que desencadeia em
Oneyda um sentimento de solidariedade.
Posteriormente, perante um interregno de quase seis anos entre 1960 e 1966
causado por um período de uma maior permanência de Curt Lange em vários países
(Alemanha, Portugal, Estados Unidos, Brasil), encontram-se-se quatro cartas de Oneyda, das
quais não temos acesso a uma possível resposta na documentação do ACL17. Essas não
possuem o local para onde foram remetidas, o que dificulta averiguar as circunstâncias nas
quais o musicólogo poderia as ter recebido. Contudo, pelo grande hiato da correspondência e
pelo teor das cartas - numa delas, Oneyda reporta ao musicólogo a morte de seu marido -, é
presumível que Curt Lange tenha entrado em contato com estas num momento muito
posterior ou, possivelmente, telefonado para Oneyda durante o período, tendo em vista que
uma resposta a tal notícia da musicóloga mereceria, presumivelmente, uma maior atenção. Por
fim, de acordo com a correspondência disponível no acervo, Curt Lange somente retoma a
correspondência com Oneyda Alvarenga em 1966, apesar de ambos terem se encontrado
durante uma estadia de Curt Lange em São Paulo, no ano de 1965, num curso ministrado pelo
musicólogo e no qual Oneyda se inscrevera.

3.3 Período final (06/04/1962 - 08/02/1979)


Se a correspondência do período intermediário possui um alto cunho profissional,
a do período final - introduzida pelo aviso de Oneyda sobre a morte de seu marido - é
pautada, principalmente, por conversas de natureza pessoal, nas quais são expostas angústias,
tristezas e felicidades de ambas as partes.
No começo dessa fase, de cerca de 17 anos, tanto Curt Lange quanto Oneyda
perderam entes queridos, o que os levou a desabafar e compartilhar sentimentos pessoais. No
caso de Oneyda, especificamente, o caso se demonstra ser mais grave, tendo em vista que, em
meio a sua aposentadoria e uma complicada transferência do acervo da DPM-SP ao Instituto
de Estudos Brasileiros, a musicóloga relata a Curt Lange estar em depressão profunda. Este,
então, reage ao estado da amiga, enviando-lhe pedidos de participação em sua Revista de
Estudios Musicales e também no Léxico Riemann. Contudo, Oneyda se diz indisponível

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devido às suas questões de saúde, que parecem se amenizar somente no final da


correspondência, em 1973. Neste contexto, a musicóloga demonstra conseguir se engajar em
alguns trabalhos, principalmente naqueles relacionados ao legado deixado por Mário de
Andrade e a sua relação com este.
A correspondência termina com uma carta animada de Oneyda, agradecendo Curt
Lange pelo envio do volume I da História da Música na Irmandade de Vila Rica: "O volume
ficará aguardando uma vinda a São Paulo, para receber a sua dedicatória indispensável.”
(1979)18 Oneyda faleceu cinco anos após (1984) e, entretanto, não foi possível identificar a
ocorrência de contatos pessoais ou telefônicos entre eles desde a última carta.

Considerações finais
Com base na análise diacrônica proposta, foi possível observar o percurso da
relação de Francisco Curt Lange e Oneyda Alvarenga, que, provavelmente, se originou e se
manteve em virtude de alguns fatores específicos, como a função desempenhada por cada um
em instituições de importância para a musicologia daquele período - o Instituto
Interamericano de Musicologia e a Discoteca Pública Municipal de São Paulo -, os trabalhos
por ambos realizados e a mútua intenção de colaboração para a divulgação da música e
musicologia na América Latina. A partir de interesses profissionais, essa relação adquiriu, no
decorrer dos anos, também um caráter de amizade, até mesmo pelas perdas de ambos. Embora
alguns hiatos epistolares tenham sido identificados, nota-se que o vínculo não se rompeu em
nenhuma fase, sendo a correspondência facilmente retomada.
O período de 39 anos em que Oneyda Alvarenga e Curt Lange mantiveram a
relação epistolar, o escopo temporal dessa pesquisa, é representado por um trajeto de forte
consolidação profissional e reconhecimento social, em que estes dois musicólogos passaram a
ocupar posições de grande destaque ao longo de suas respectivas carreiras; o que torna a troca
de correspondência entre Francisco Curt Lange e Oneyda Alvarenga uma fonte documental de
grande relevância. Considerando a motivação em criar laços pessoais e institucionais que
promovessem maior produção, divulgação e aquisição de diversos materiais de valor
musicológico e cultural, muito do que foi compartilhado na correspondência - como
publicações, projetos musicológicos e administrativos de suas respectivas instituições e
questões relacionadas à salvaguarda e divulgação do legado de Mário de Andrade -, vincula-
se diretamente com temáticas mais destacadas da musicologia do século XX, revisitadas e
aprofundadas em trabalhos recentes.

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Em suma, a análise dessa correspondência não somente traça as origens desta e


evidencia alguns acontecimentos, temáticas e situações que a permeiam, mas também atua
diretamente no seu processo de reconhecimento enquanto objeto de estudo de referência
dentro do meio científico da musicologia no Brasil, capaz de servir de apoio e base para
inúmeras pesquisas e revisões musicológicas futuras.

Referências bibliográficas
ALVARENGA, Oneyda. Pequena contribuição ao estudo das questões de organização
discotecária. Boletín Latin-Americano de Música, Bogotá, v.IV, p.267-278, 1938.
ALVARENGA, Oneyda; ANDRADE, Mário de. Cartas. São Paulo: Livraria Duas Cidades,
1983.
BRAGA, Natália; ROCHA, Edite. Francisco Curt Lange e o Boletín Latino Americano de
Música VI: publicações da crítica musical brasileira. In: I Simpósio de Música e Crítica. N.°1,
2017, Pelotas. Anais do I Simpósio Internacional Música e Crítica: lembrança aos 80 anos do
falecimento de Oscar Guanabarino. Pelotas: 2019. 101-108
CAROZZE, Valquíria Maroti. A menina boba e a discoteca. 370f.. Mestrado em Filosofia.
Instituto de Estudos Brasileiros, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.
LANGE, Francisco Curt. La Discoteca Pública: una necesidad impostergable. Revista do
SODRE, Uruguai, v. II, p. 49–60, 1955.
MOYA, Fernanda Nunes. O americanismo musical de Francisco Curt Lange (décadas de
1930 e 1940). In: Simpósio Nacional de História–ANPUH-XXVI, 2011a, São Paulo. Anais do
XXVI Simpósio Nacional de História. São Paulo: ANPUH-SP, 2011, p. 1-12.
MOYA, Fernanda Nunes. A Discoteca Pública Municipal de São Paulo: um projeto
modernista para a música nacional. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011b.
MOYA, Fernanda Nunes. Diálogos entre Mário de Andrade e Francisco Curt Lange:
nacionalismo e americanismo musicais nas décadas de 1930 e 1940. 207f.. Doutorado em
História. Universidade Estadual Paulista-UNESP, São Paulo, 2014.
REMIÃO, Cláudio. O caso Curt Lange: análise de uma polêmica. Porto Alegre, 2018, 320f..
Doutorado em História. Escola de Humanidades, Pontifícia Universidade Católica do Rio
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SAMPIETRI, Carlos Eduardo. A Discoteca Pública Municipal. In: Simpósio Nacional de
História–ANPUH-XXIV, 2007, São Leopoldo. Anais do XXIV Simpósio Nacional de
História. São Leopoldo. 2007, p. 1–8.
TONI, Flávia Camargo; CAROZZE, Valquíria Maroti. Mário de Andrade, Francisco Curt
Lange e Carleton Sprague Smith as discotecas públicas, o conhecimento musical e a política
cultural. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, São Paulo, n. 57, p. 181–204, 2013.

Notas
1
Esse artigo provém do projeto "A correspondência de Curt Lange no contexto da música e musicologia no
Brasil do século XX: a relação com musicólogas brasileiras", sob coordenação da Prof. Doutora Edite Rocha, o
qual, a partir de um conjunto documental epistolar, pretende analisar o contexto de atuação e receptividade
destas mulheres, situações e questões profissionais presentes em suas cartas - assim como a posição tomada por
Curt Lange nestas -, a fim de situar as contribuições das musicólogas brasileiras em seu meio profissional no
Brasil do século XX.
2
A menina boba e a discoteca de Valquíria Maroti Carozze (2012); Diálogos entre Mário de Andrade e
Francisco Curt Lange: nacionalismo e americanismo musicais nas décadas de 1930 e 1940 de Fernanda Nunes
Moya (2014); A Discoteca Pública Municipal de Carlos Eduardo Sampietri (2007); Mário de Andrade,

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Francisco Curt Lange e Carleton Sprague Smith as discotecas públicas, o conhecimento musical e a política
cultural de Flávia Camargo Toni e Valquíria Maroti Carozze (2013).
3
Oneyda Alvarenga não chegou, de fato, a publicar neste volume. Sua primeira primeira contribuição ocorre no
BLAM IV (1938).
4
Carta de Luiz Heitor Corrêa de Azevedo a Francisco Curt Lange, Rio de Janeiro, 19/08/1935.
BRUFMGBUCL2.2.S15.0876
5
Carta de Mário de Andrade a Francisco Curt Lange, São Paulo, 10/09/1935. BRUFMGBUCL2.2.S15.0826.
6
Original: "[...] vínculos con tan afectuosos colaboradores como [...]". Carta de Francisco Curt Lange a Oneyda
Alvarenga, Montevidéu, 25/02/1940. BRUFMGBUCLS2.1.015.333.
7
Os acontecimentos e temas retratados em cada período não estão necessariamente em ordem cronológica.
8
Data de publicação e tema não explicitados.
9
Carta de Oneyda Alvarenga a Francisco Curt Lange, São Paulo, 04/04/1940. BRUFMGBUCL2.2 S19.1247.
10
Carta de Oneyda Alvarenga a Francisco Curt Lange, São Paulo, 23/01/1942. BRUFMGBUCL2.2.S19.1247.
11
Carta de Francisco Curt Lange a Oneyda Alvarenga, Rio de Janeiro, 14/08/1944.
BRUFMGBUCL2.1.029.273.
12
Carta de Oneyda Alvarenga a Francisco Curt Lange, São Paulo, 04/09/1973. BRUFMGBUCL2.2.S15.0821
13
Carta de Francisco Curt Lange a Oneyda Alvarenga, Rio de Janeiro, 12/04/1945. BRUFMGBUCL2.1.031.117
14
Carta de Oneyda Alvarenga a Francisco Curt Lange, São Paulo, 23/02/1956. BRUFMGBUCL2.2.S15.0821.
15
Artigo aprovado e em processo de publicação nos Anais do II Encontro de Musicologia Histórica do Campo
das Vertentes: arquivos, técnicas e ferramentas do estudo documental (2018), São João del Rey, Minas Gerais.
16
Carta de Francisco Curt Lange a Oneyda Alvarenga, Rio de Janeiro, 22/11/1958.
BRUFMGBUCL2.1.080.070.
17
Quatro cartas de Oneyda Alvarenga a Francisco Curt Lange, São Paulo, 30/08/1960.
BRUFMGBUCL2.2.S15.0821, 06/04/1962. BRUFMGBUCL2.2.S15.0821, 05/04/1965.
BRUFMGBUCL2.2.S15.0821, 29/04/1965. BRUFMGBUCL2.2.S15.0821.
18
Carta de Oneyda Alvarenga a Francisco Curt Lange, São Paulo, 08/02/1979. BRUFMGBUCL2.2.S15.0821.

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