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ADVOCACIA-GERAL DA UNIÃO

PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL JUNTO AO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO
CEARÁ
PROCURADORES
RUA JORGE DUMAR, 1703 - JARDIM AMÉRICA- CEP: 60410-426 - FONE (85) 3401.2326

PARECER n. 00214/2021/GABPROC/PFIFCEARÁ /PGF/AGU

NUP: 23822.000647/2021-04
INTERESSADOS: INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ - IFCE
ASSUNTOS: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO

EMENTA: DIREITO ADMINISTRATIVO. DÚVIDAS SUSCITADAS. CURSOS FIC. PARTICIPAÇÃO


DOS TAE. ATIVIDADES DE EXTENSÃO. ATRIBUIÇÃO EXCLUSIVA DOS INTEGRANTES DAS
CARREIRAS DO MAGISTÉRIO.

Senhor Procurador-Chefe,

I – RELATÓRIO

1. Os autos do processo em destaque foram encaminhados a esta Consultoria, por meio do


Ofício nº 460/2021/PROEXT/REITORIA-IFCE (SEI 3154472), para análise e manifestação acerca da
possibilidade dos técnicos administrativos em educação atuarem na capacitação profissional através da
oferta e coordenação de cursos de formação inicial e continuada ofertados pelo CIDTS, ministrando
parte ou o curso de forma integral.

2 . Os documentos que instruem o processo se encontram integralmente anexados ao


SAPIENS/AGU através de endereço de redirecionamento ao SEI, dentre os quais:
- Ofício nº 9/2021/CIDTS-BVG/DG-BVG/BOA VIAGEM-IFCE (SEI 3106283);
- Ofício nº 460/2021/PROEXT/REITORIA-IFCE (SEI 3154472);
- Resolução nº 15, de 18 de fevereiro de 2019, do Presidente do Conselho Superior do IFCE,
que aprova o Regulamento dos Cursos de Formação Inicial e Continuada (SEI 0522817); e
- Resolução nº 100, de 04 de dezembro de 2019, que aprova a Política de Extensão do IFCE
(SEI 1238609).

3. É breve o relatório. Passa-se à análise jurídica.

II - ASPECTOS FORMAIS E PRÉVIOS

4. Considera-se conveniente a consignação de que a presente manifestação toma por base,


exclusivamente, os elementos que constam, até a presente data, nos autos do processo administrativo
em epígrafe. Sob esse enfoque, à luz do art. 131 da Constituição Federal de 1988 e do art. 11 da Lei
Complementar n° 73/1993, incumbe a este Órgão de Execução da Advocacia-Geral da União prestar
consultoria sob o prisma estritamente jurídico, não lhe competindo adentrar no exame de conveniência
e oportunidade dos atos praticados no âmbito do Instituto consulente, nem tampouco analisar aspectos
de natureza eminentemente técnica ou administrativa.

5. No mesmo sentido, o Enunciado nº 7 do Manual de Boas Práticas Consultivas, aprovado


pela Portaria Conjunta nº 01/2012, da Consultoria-Geral da União, Procuradoria-Geral Federal e
Corregedoria-Geral, todas da Advocacia-Geral da União, que dispõe: O Órgão Consultivo não deve emitir
manifestações conclusivas sobre temas não jurídicos, tais como técnicos, administrativos ou de
conveniência ou oportunidade.

III - FINALIDADE E ABRANGÊNCIA DO PARECER JURÍDICO

6. A presente manifestação jurídica tem o escopo assistir a autoridade assessorada no


controle interno da legalidade administrativa dos atos a serem praticados ou já efetivados. Ela envolve,
também, o exame prévio e conclusivo dos textos de contratos ou instrumentos congêneres a serem
celebrados e publicados.

7. Nossa função é justamente apontar possíveis riscos do ponto de vista jurídico e


recomendar providências, para salvaguardar a autoridade assessorada, a quem compete avaliar a real
dimensão do risco e a necessidade de se adotar ou não a precaução recomendada.

8. Importante salientar que o exame dos autos processuais se restringe aos seus aspectos
jurídicos, excluídos, portanto, aqueles de natureza técnica. Em relação a estes, partiremos da premissa
de que a autoridade competente se municiou dos conhecimentos específicos imprescindíveis para a sua
adequação às necessidades da Administração, observando os requisitos legalmente impostos.

9. De fato, presume-se que as especificações técnicas contidas no presente processo,


inclusive quanto ao detalhamento do objeto da contratação, suas características, requisitos e avaliação
do preço estimado, tenham sido regularmente determinadas pelo setor competente do órgão, com base
em parâmetros técnicos objetivos, para a melhor consecução do interesse público.

10. De outro lado, cabe esclarecer que, via de regra, não é papel do órgão de
assessoramento jurídico exercer a auditoria quanto à competência de cada agente público para a
prática de atos administrativos. Incumbe, isto sim, a cada um destes observar se os seus atos estão
dentro do seu espectro de competências.

11. Em face disso, o ideal, para a melhor e completa instrução processual, é que sejam
juntadas as publicações dos atos de nomeação/designação, ou as citações destes, da autoridade e
demais agentes administrativos, bem como dos atos normativos que estabelecem as respectivas
competências, a fim de que possa ser facilmente comprovado que quem praticou determinado ato tinha
competência para tanto. Todavia, a ausência de tais documentos, por si, não representa, a nosso ver,
óbice ao prosseguimento do feito.

12. Finalmente, é nosso dever salientar que determinadas observações são feitas sem
caráter vinculativo, mas em prol da segurança da própria autoridade assessorada a quem incumbe,
dentro da margem de discricionariedade que lhe é conferida pela lei, avaliar e acatar, ou não, tais
ponderações.

13. Todavia, as questões relacionadas à legalidade são apontadas para fins de sua
correção. Logo, o prosseguimento do feito sem a observância desses apontamentos será de
responsabilidade exclusiva da Administração.

IV - ANÁLISE JURÍDICA

IV.1 - OBJETIVOS DO IFCE

14. Vejamos as seguintes disposições da Lei nº 11.892/08, que versa sobre a criação dos
IFETs:

Art. 5 o Ficam criados os seguintes Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia:


(...)
§ 6 o Os Institutos Federais poderão conceder bolsas de pesquisa, desenvolvimento,
inovação e intercâmbio a alunos, docentes e pesquisadores externos ou de empresas, a serem
regulamentadas por órgão técnico competente do Ministério da Educação. (Incluído pela Lei nº 12.863,
de 2013)

Seção II
Das Finalidades e Características dos Institutos Federais

Art. 6 o Os Institutos Federais têm por finalidades e características:


I - ofertar educação profissional e tecnológica, em todos os seus níveis e modalidades,
formando e qualificando cidadãos com vistas na atuação profissional nos diversos setores da economia,
com ênfase no desenvolvimento socioeconômico local, regional e nacional;
II - desenvolver a educação profissional e tecnológica como processo educativo e
investigativo de geração e adaptação de soluções técnicas e tecnológicas às demandas sociais e
peculiaridades regionais;
III - promover a integração e a verticalização da educação básica à educação profissional e
educação superior, otimizando a infra-estrutura física, os quadros de pessoal e os recursos de gestão;
IV - orientar sua oferta formativa em benefício da consolidação e fortalecimento dos
arranjos produtivos, sociais e culturais locais, identificados com base no mapeamento das
potencialidades de desenvolvimento socioeconômico e cultural no âmbito de atuação do Instituto
Federal;
V - constituir-se em centro de excelência na oferta do ensino de ciências, em geral, e de
ciências aplicadas, em particular, estimulando o desenvolvimento de espírito crítico, voltado à
investigação empírica;
VI - qualificar-se como centro de referência no apoio à oferta do ensino de ciências nas
instituições públicas de ensino, oferecendo capacitação técnica e atualização pedagógica aos docentes
das redes públicas de ensino;
VII - desenvolver programas de extensão e de divulgação científica e tecnológica;
VIII - realizar e estimular a pesquisa aplicada, a produção cultural, o empreendedorismo, o
cooperativismo e o desenvolvimento científico e tecnológico;
IX - promover a produção, o desenvolvimento e a transferência de tecnologias sociais,
notadamente as voltadas à preservação do meio ambiente.
Seção III
Dos Objetivos dos Institutos Federais

Art. 7 o Observadas as finalidades e características definidas no art. 6 o desta Lei, são


objetivos dos Institutos Federais:
I - ministrar educação profissional técnica de nível médio, prioritariamente na forma de
cursos integrados, para os concluintes do ensino fundamental e para o público da educação de jovens e
adultos;
II - ministrar cursos de formação inicial e continuada de trabalhadores,
objetivando a capacitação, o aperfeiçoamento, a especialização e a atualização de
profissionais, em todos os níveis de escolaridade, nas áreas da educação profissional e
tecnológica;
III - realizar pesquisas aplicadas, estimulando o desenvolvimento de soluções técnicas e
tecnológicas, estendendo seus benefícios à comunidade;
IV - desenvolver atividades de extensão de acordo com os princípios e finalidades
da educação profissional e tecnológica, em articulação com o mundo do trabalho e os
segmentos sociais, e com ênfase na produção, desenvolvimento e difusão de conhecimentos
científicos e tecnológicos;
V - estimular e apoiar processos educativos que levem à geração de trabalho e renda e à
emancipação do cidadão na perspectiva do desenvolvimento socioeconômico local e regional; e
VI - ministrar em nível de educação superior:
a) cursos superiores de tecnologia visando à formação de profissionais para os diferentes
setores da economia;
b) cursos de licenciatura, bem como programas especiais de formação pedagógica, com
vistas na formação de professores para a educação básica, sobretudo nas áreas de ciências e
matemática, e para a educação profissional;
c) cursos de bacharelado e engenharia, visando à formação de profissionais para os
diferentes setores da economia e áreas do conhecimento;
d) cursos de pós-graduação lato sensu de aperfeiçoamento e especialização, visando à
formação de especialistas nas diferentes áreas do conhecimento; e
e) cursos de pós-graduação stricto sensu de mestrado e doutorado, que contribuam para
promover o estabelecimento de bases sólidas em educação, ciência e tecnologia, com vistas no
processo de geração e inovação tecnológica.

15. Constata-se indubitavelmente, das regras acima, que o IFCE pode realizar a oferta de
cursos FIC, seja de maneira regular ou esporádica, bem como desenvolver atividades de extensão.

IV.2 - ENQUADRAMENTO DOS CURSOS FIC

16. Na LDB não se vislumbra uma definição precisa quanto ao enquadramento da formação
inicial e continuada em um dos vieses da educação. E existe dissenso entre os profissionais da área e
até mesmo na alocação destes cursos nas unidades administrativas das IFES.

17. Pensamos que o ensino é parte inata e perpassa em todas as atuações empreendidas
pelas IFES, fazendo-se o enquadramento na extensão, pós-graduação, pesquisa ou inovação a partir da
preponderância finalística do conteúdo do curso.

18. Sem embargo, entendemos que refoge à competência desta Procuradoria o


enquadramento dos cursos ofertados no conceito de ensino ou extensão, sendo da competência dos
órgãos internos do IFCE fazê-lo.

IV.3 - COMPETÊNCIA DE DOCENTES E DE SERVIDORES TÉCNICO-ADMINISTRATIVOS


EM EDUCAÇÃO (TAE) - OFERTAS REGULARES E ESPORÁDICAS - CARGA HORÁRIA - DESVIO DE
FUNÇÃO

19. As atribuições dos professores do magistério do ensino básico, técnico e tecnológico e


dos técnicos-administrativos em educação estão definidas nos estatutos jurídicos que regem as
carreiras.

20. Vejamos as seguintes disposições legais que corroboram a afirmação:

LEI Nº 12.772/12

Art. 2º São atividades das Carreiras e Cargos Isolados do Plano de Carreiras e Cargos de
Magistério Federal aquelas relacionadas ao ensino, pesquisa e extensão e as inerentes ao
exercício de direção, assessoramento, chefia, coordenação e assistência na própria
instituição, além daquelas previstas em legislação específica.
§ 1º A Carreira de Magistério Superior destina-se a profissionais habilitados em atividades
acadêmicas próprias do pessoal docente no âmbito da educação superior.
§ 2º A Carreira de Magistério do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico destina-se a
profissionais habilitados em atividades acadêmicas próprias do pessoal docente no âmbito da educação
básica e da educação profissional e tecnológica, conforme disposto na Lei nº 9.394, de 20 de dezembro
de 1996, e na Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008.
§ 3º Os Cargos Isolados de provimento efetivo objetivam contribuir para o desenvolvimento
e fortalecimento de competências e alcance da excelência no ensino e na pesquisa nas Instituições
Federais de Ensino - IFE.

Art. 27. O corpo docente das IFE será constituído pelos cargos efetivos integrantes do Plano
de Carreiras e Cargos de que trata esta Lei e pelos Professores Visitantes, Professores Visitantes
Estrangeiros e Professores Substitutos.

LEI Nº 11.091/05

Art. 8º São atribuições gerais dos cargos que integram o Plano de Carreira, sem prejuízo das
atribuições específicas e observados os requisitos de qualificação e competências definidos nas
respectivas especificações:
I - planejar, organizar, executar ou avaliar as atividades inerentes ao apoio técnico-
administrativo ao ensino;
II - planejar, organizar, executar ou avaliar as atividades técnico-
administrativas inerentes à pesquisa e à extensão nas Instituições Federais de Ensino;
III - executar tarefas específicas, utilizando-se de recursos materiais, financeiros e outros de
que a Instituição Federal de Ensino disponha, a fim de assegurar a eficiência, a eficácia e a
efetividade das atividades de ensino, pesquisa e extensão das Instituições Federais de Ensino.
§ 1º As atribuições gerais referidas neste artigo serão exercidas de acordo com o ambiente
organizacional.
§ 2º As atribuições específicas de cada cargo serão detalhadas em regulamento.

21. Verifica-se destas regras uma distinção fundamental entre as carreiras: a prestação
dos serviços finalísticos de ensino, pesquisa e extensão das instituições federais de ensino é
atribuição exclusiva dos integrantes das carreiras do magistério, incumbindo aos técnicos as
chamadas atividades-meio, de apoio às atividades-fim.

22. Cremos assim que não pode um servidor TAE "ministrar" cursos no IFCE, seja em
atividades regulares ou esporádicas, desde que as esteja executando na condição de TAE, como será
explicado adiante.

23. No âmbito das ações de extensão, há polêmica quanto à possibilidade dos TAE
exercerem a coordenação dos projetos, o viés mais antigo da extensão, tema que abordaremos pela
semelhança com o objeto da consulta, eis que o FIC está encartado na extensão do IFCE.

24. Vejamos os argumentos desenvolvidos com maestria pela Procuradora Federal Vania
Mendes no PARECER n. 00159/2020/GAB/PFUFLA/PGF/AGU (23090.019272/2020-79), aprovado pelo
DESPACHO DE APROVAÇÃO n. 00086/2020/GAB/PFUFLA/PGF/AGU, no qual enfrenta a questão:

33. Por seu turno, o conceito de coordenação extraído do dicionário é o “ato de conjugar,
concatenar um conjunto de elementos, de atividades, etc.”. Portanto, deve-se avaliar se o conjunto de
atos a serem conjugados para realização de um propósito, ou seja se a coordenação dos projetos de
extensão contemplam ou não atribuições exclusivas dos docentes. Exemplificativamente, citam-se a
impossibilidade de exercício das coordenações pedagógicas, coordenações que envolvam supervisão
direta de realização e supervisão de pesquisas, cursos ou programas que envolvam orientação de
discentes, de prestação de serviços tipicamente acadêmicos, científicos ou educacionais, dentre outras
que abranjam atividades acadêmicas típicas.

34. No caso dos docentes é sempre pressuposto que exerçam, como regra, as atividades de
coordenação, porquanto as atividades do cargo englobam o conjunto de atribuições tipicamente
acadêmicas e científicas, mas também atividades administrativas e de gestão. Essa circunstância não é
tão simples para os técnicos administrativos, mas é também possível de ser exercida por eles nas
hipóteses em que a coordenação seja dotada de caráter técnico acessório, administrativo e operacional
das atividades de ensino, pesquisa e extensão, observando-se, ainda, as limitações inerentes às
especializações dos respectivos cargos.

35. Nos projetos e ações diversas que envolvam atuação discente é sempre necessário
redobrar as cautelas, visto que os estudantes são sujeitos em formação acadêmica e profissional, e,
como tal, atuam, como regra, sob orientação e supervisão direta dos professores responsáveis pelas
atividades de ensino e pesquisa correlatas, o que fica expressamente consignado na Lei 12.155/2009:

"Art. 6º A concessão das bolsas de extensão referidas no art. 1º, inciso II, observará
disciplina própria da instituição, aprovada pelo órgão colegiado competente para a extensão e por seu
órgão colegiado superior, para fomentar a extensão, em articulação com o ensino e a pesquisa, visando
a interação transformadora entre a universidade e outros setores da sociedade, por meio de processo
interdisciplinar educativo, cultural e científico.
Parágrafo único. As atividades de extensão devem, preferencialmente, estar inseridas em
programas e projetos estruturados, com base em linhas de trabalho acadêmico definidas e que integrem
áreas temáticas estabelecidas pela instituição, garantindo a continuidade das atividades no tempo e no
território, sempre com a participação de estudantes , articulando-se com as práticas acadêmicas de
ensino e pesquisa."

36. Essa premissa é reforçada pelo disposto no Decreto nº 7.416/2010, que delega aos
docentes, nesse caso com exclusividade, a coordenação de projeto de extensão que gere bolsa ao
discente:

"Art. 9º A concessão de bolsas de extensão deverá estar prevista em programa ou projeto


que preencha os seguintes requisitos:
I - ter sido aprovado por órgão colegiado competente para as atividades de extensão, nos
termos da disciplina própria da instituição;
II - ser coordenado por docente em efetivo exercício na instituição;
III - ser desenvolvido por no mínimo dois terços de pessoas vinculadas à instituição, sejam
docentes, servidores técnico-administrativos ou estudantes regulares de graduação ou pós-graduação; e
IV - estar inserido em sistema informatizado da instituição, disponível para consulta do
público."

37. Portanto, não se identifica uma vedação a priori quanto ao exercício da coordenação
por servidores técnicos-administrativos, vez que as diversas espécies de coordenações de um
programa, projeto ou ação de extensão podem revestir-se de caráter técnico de apoio, de cunho
administrativo ou operacional. Todavia, em cada circunstância deverá ser avaliada a compatibilidade
das atividades do cargo do servidor responsável com aquelas a serem desempenhadas na atividade de
extensão.

25. Logo, tem-se que as atribuições a serem desempenhadas pelos TAE devem ser
sempre de apoio, ainda que eles estejam incumbidos da atribuição de coordenar, na forma do
art. 3º, X, da Lei nº 11.091/05. Com efeito, não podem legitimamente exercer coordenação ou
qualquer outra atividade de ensino, pesquisa ou extensão inerente às competências dos
integrantes do magistério, o que configuraria desvio de função.

26. É sabido que há ampla competência das IFES para instituição dos mais variados cursos,
programas e atividades, em todos os níveis e modalidades de educação. Diante da amplitude do rol de
atribuições e até mesmo pelas próprias características e objetivos, é natural que cada instituição oferte
cursos regularmente e outros de maneira esporádica ou apenas em uma única oportunidade.

27. Para a oferta regular de cursos, deve necessariamente haver o planejamento e


observância de toda a estrutura existente na instituição, notadamente a possibilidade de atendimento,
pelo seu quadro de docentes, para as atividades finalísticas; e de técnicos, para o apoio.

28. Também a oferta dos cursos e atividades esporádicos deve contar com a avaliação do
corpo funcional, mas neste caso pode haver a execução de projetos não perenes, que ensejem o
pagamento de bolsas aos servidores, observando-se suas atribuições funcionais, se pela condição de
servidores ingressarem no projeto.

29. Normalmente, as atividades executadas pelos técnico-administrativos e pelos docentes


em cursos ofertados regular ou esporadicamente deve ser computada em sua carga-horária, salvo se
houver o pagamento de bolsa, quando então deve haver atuação fora da carga-horária.

30. Vale destacar que a PGF indica duas normas da Lei de Inovação que permitem o
exercício das atividades durante a jornada de trabalho na seara de PD&I, ainda que haja percepção de
bolsa ou adicional variável, como se verá adiante.

31. Dito isto, conclui-se que, na oferta de qualquer curso instituído pelo IFCE, a regra é que
as atividades sejam desenvolvidas pelos servidores com observância de suas atribuições e somente
com a percepção de seus estipêndios, podendo haver o pagamento de bolsa no caso de execução de
projetos, oportunidade em que deverão os bolsistas observar as atribuições de seus cargos e executar
as atividades, em regra, fora da jornada de trabalho, computando-se, todavia, na jornada as atividades
executadas com percepção de bolsa na área de PD&I.

32. A Administração Pública não pode, sob o manto de qualquer justificativa, designar
servidor para o exercício de atribuições diversas daquelas inerentes ao cargo para o qual fora nomeado
após aprovação em concurso, de modo que a participação dos técnicos e dos docentes na
execução das atividades das IFES deve sempre observar as atribuições de seus cargos, ainda
que esta atuação se dê na execução de ações em projetos, desde que a participação dos mesmos se dê
em face da condição de servidores.

33. Em que pese a vedação como regra, não vislumbramos proibição para o exercício de
atividades de ensino, pesquisa ou extensão no IFCE por TAE, desde que tal exercício se dê em razão da
condição de servidor ocupante de outro cargo acumulável; ou como cidadão, de forma eventual,
voluntária, precedida de processo seletivo impessoal.

34. Em casos que tais, a atuação deve se dar sem prejuízo das atribuições legais inerentes
ao cargo que o servidor ocupa. Portanto, de forma completamente distinta da relação estatutária regida
pela Lei n. 11.091/2005. E devem ser observadas as vedações contidas na LDO e as situações que
possam configurar conflito de interesses. A verificação deve ser feita caso a caso, eis que são múltiplas
as possibilidades de parcerias, convênios, acordos e afins, com o objetivo de realização das atividades
finalísticas.

35. Deste modo, no nosso entendimento os TAE não podem exercer atribuições
inerentes ao cargo de docente, nem nas ofertas regulares nem nas esporádicas, tais como
ministrar curso FIC, ainda que as atividades devam ser executadas por meio de projeto e com
percepção de bolsa, se nesses projetos ingressarem na condição de TAE.

36. Se executarem suas atividades em ofertas regulares, ou mesmo nas esporádicas, mas
sem percepção de bolsa e na condição de TAE, deve o trabalho ser computado em sua jornada. Na
seara de PD&I, as atividades podem ser executadas durante a jornada de trabalho se houver percepção
de bolsa, de acordo com entendimento da Procuradoria-Geral Federal - PGF. E não devem, em qualquer
caso, executar atividades próprias de docente; mas apenas, repita-se, aquelas inerentes ao cargo que
ocupam.

IV.4 - ENTENDIMENTOS DA PGF SOBRE PAGAMENTO DE BOLSAS DIRETAMENTE


AOS TAE, INCLUSIVE EM CASO DE AÇÕES NA ÁREA DE PESQUISA E INOVAÇÃO E JORNADA DE
TRABALHO

37. Como dito alhures, a evidente impossibilidade de prestação de todos os objetivos do


IFCE enseja a execução de suas atividades por meio de projetos diretamente ou por intermédio das
fundações de apoio.

38. São variados também os programas governamentais executados desta maneira, tais
como PRONATEC, ETEC, NOVOS CAMINHOS etc., todos com concessão de bolsa para os mais diversos
beneficiários.

39. Na seara da pesquisa, desenvolvimento e inovação, houve alteração da Constituição


Federal, e também os novos marcos legais têm fomentando o repasse de bolsas e outras modalidades
de auxílio para os mais diversos atores.

40. A Procuradoria-Geral Federal já emitiu pareceres vinculantes sobre algumas das


questões suscitadas.

41. Vejamos o Parecer n. 9/2014/CÂMARAPERMANENTECONVÊNIOS/DEPCONSU/PGF/AGU


(NUP: 01341.000953/2013-01), aprovado parcialmente pelo Despacho do Diretor do Departamento de
Consultoria/PGF nº 49/2014:

20. Resumindo a questão, concluímos o que se segue:


a) as ICTs e as IFES poderão remunerar diretamente participantes de projetos apenas
quando se referirem a projetos de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente
produtivo, na forma da Lei 10.973/2004;
b) a interveniência de fundação de apoio nos projetos de pesquisa científica e tecnológica é
facultativa;
c) os projetos descritos na Lei 10.973/2004, em especial quanto aos seus artigos 8º e 9º, e
na Lei 8.958/1994 são aqueles decorrentes de contratos ou parcerias celebrados com outras instituições
públicas ou privadas. Esta é a principal diferença entre a participação em projeto e o desempenho das
atividades rotineiras do servidor ou empregado público;
d) a participação nos projetos é remunerada porque não deve ser confundida com a
atividade rotineira do servidor, militar ou empregado público;
e) o pagamento de bolsa de estímulo à inovação se dá quando o projeto, bem como os
recursos referentes à sua execução, são originados em acordos de parceria celebrados pelas as IFES e
ICTs com outras instituições públicas ou privadas;
f) o pagamento de adicional variável é devido quando o projeto, bem como os recursos
necessários à sua execução, são exclusivamente oriundos de contratos de prestação de serviços
celebrados pelas IFES e ICTs com outras instituições públicas ou privadas;
g) a participação nos projetos não poderá prejudicar o cumprimento das jornadas de
trabalho legalmente estabelecidas dos servidores, militares e empregados públicos, contudo, a
participação sob a forma que se refere o art. 8º da Lei nº 10.973, de 2004 poderá ocorrer no curso das
referidas jornadas de trabalho.

42. Como se vê, o parecer traça parâmetros para o pagamento de bolsas e do adicional
variável, jungindo-os a projetos decorrentes de acordos de parceria ou contratos de prestação de
serviços.

43. A questão do cumprimento da jornada de trabalho foi alterada pelo PARECER n.


00024/2016/DEPCONSU/PGF/AGU, devidamente aprovado pelo Procurador-Geral Federal
(00780.000120/2016-42):

28. Ante o exposto, em face da alteração do disposto no art. 9º, § 1º, da Lei n.º 10.973, de
2004, promovida pela Lei n. 13.243, de 11 de janeiro de 2016, o entendimento firmado no Parecer n.º
9/2014/CÂMARAPERMANENTECONVÊNIOS/DEPCONSU/PGF/AGU deve ser parcialmente atualizado.
29. Tal atualização volta-se especificamente a alterar o item “g” de suas conclusões, que
deve doravante figurar com a seguinte redação: “g) a participação nos projetos não poderá prejudicar o
cumprimento das jornadas de trabalho dos servidores, militares e empregados públicos, exceto nas
hipóteses previstas nos arts. 8º e 9º da Lei n.º 10.973, de 2004”.

44. Com a alteração da Lei de Inovação pela Lei nº 13.243/16, a PGF passou a entender que
também as atividades exercidas em face de acordos de parceria para execução de projetos podem ser
executadas durante da jornada de trabalho.

45. Quanto ao pagamento de bolsas aos técnico-administrativos diretamente pelas IFES,


seguem as conclusões do Parecer nº 023/2014/DEPCONSU/PGF/AGU (00407.005803/2014-91), aprovado
pelo Procurador-Geral Federal em 6 de março de 2015:

Ementa:
I – Consulta acerca da possibilidade jurídica de Institutos Federais concederem bolsas a seus
servidores técnico-administrativos.
II – Exigência de lei específica autorizando o pagamento de bolsas, em razão de sua
natureza de doação civil, já pacificada no âmbito da Procuradoria-Geral Federal, por ocasião do Parecer
n.º 93/PGF/LCMG/2010.
III – No que se refere ao pagamento realizado diretamente por IFES, a disposição legal
autorizadora, constante do § 6º do art. 5º da Lei nº 11.892, de 2008, restringe-se a alunos, docentes e
pesquisadores.
IV – Ausente a autorização legal específica, não há possibilidade jurídica de pagamento
direto pelas IFES de bolsas a seus respectivos servidores técnico-administrativos.
V – Impossibilidade não extensível ao recebimento de bolsas concedidas por fundações de
apoio ou agências de fomento, nos termos das Leis nos 8.958, de 1994 e 10.973, de 2004.
(...)
51. Ante o exposto, opina-se no sentido de que:
a) por ausência de autorização legal específica, não há possibilidade jurídica de pagamento
direto de bolsas pelas IFES a seus servidores técnico-administrativos, sendo tal modalidade restrita a
alunos, docentes e pesquisadores, observadas as demais exigências normativas; e
b) a impossibilidade de pagamento direto de bolsas pelas IFES não impede que seus
servidores técnico-administrativos possam vir a ser contemplados com o seu recebimento, desde que
por fundações de apoio, nos termos que dispõem a Lei n.º 8.958, de 1994, e o Decreto n.º 7.423, de
2010, que a regulamenta, ou por agências de fomento, nos termos da Lei n.º 10.973, de 2004, e o
Decreto n.º 5.563, de 2005, que a regulamenta.

46. Diante da clara previsão contida na Lei nº 11.892/08 de que seriam beneficiários de
bolsas pagas pelos IFETs os alunos, docentes e pesquisadores, entendeu a PGF que não seria possível o
pagamento aos TAE.

47. Destaque-se que o Parecer nº 023/2014/DEPCONSU/PGF/AGU foi parcialmente alterado


pelo PARECER n. 00022/2016/DEPCONSU/PGF/AGU (00840.000005/2016-16), nos termos das conclusões
colacionadas adiante:

18. Ante o exposto, em face da alteração do disposto no art. 9º, § 1º, da Lei nº 10.973, de
2004, levada a efeito pela Lei nº 13.243, de 11 de janeiro de 2016, o entendimento firmado no Parecer
nº 23/2014/DEPCONSU/PGF/AGU deve ser parcialmente revisto.
19. Tal revisão volta-se especificamente a reconhecer que a nova redação dada ao § 1º do
art. 9º da Lei nº 10.973, de 2004 permite que haja pagamento direto de bolsas de estímulo à inovação
por Instituições Federais de Ensino a servidores técnico-administrativos, mas tão somente nos termos
desse dispositivo e nas situações nele especificamente tratadas, quais sejam: para realização de
atividades conjuntas de pesquisa científica e tecnológica e de desenvolvimento de tecnologia, produto,
serviço ou processo, observadas as demais exigências normativas.
20. De resto, permanece vigente a conclusão exarada no Parecer nº
23/2014/DEPCONSU/PGF/AGU de que, por ausência de autorização legal específica, não há possibilidade
jurídica de pagamento direto de bolsas pelas IFES a seus servidores técnico-administrativos, sendo tal
modalidade restrita a alunos, docentes e pesquisadores, nos termos da Lei n.º 11.892, de 2008.

48. Então, em face das alterações da Lei de Inovação pela Lei nº 13.243/16, passou a
entender a PGF que seria possível o pagamento de bolsas aos servidores técnico-administrativos,
diretamente pelas IFES, nos casos de projetos de firmados com base no art. 9º.

49. Assim, conclui-se, dos pareceres da PGF, que é possível o pagamento de bolsas pelo
IFCE aos TAE para realização de atividades conjuntas de pesquisa científica e tecnológica e de
desenvolvimento de tecnologia, produto, serviço ou processo, observadas as demais exigências
normativas, sendo vedado, pelas razões já expostas neste parecer, o exercício de atividades
inatas ao ensino, razão pela qual não podem ministrar cursos ofertados pelo IFCE se nos
projetos ingressarem na condição de TAE, sejam eles de FIC ou de qualquer outro nível ou
modalidade de educação.

50. Quanto ao pagamento aos TAE de bolsas de extensão, diante dos entendimentos da PGF
circunscrevendo a percepção de bolsas pagas diretamente pela IFES aos casos previstos nos artigos 8º e
9º da Lei de Inovação, tem-se que somente pode haver tal concessão se a extensão realizada for a
tecnológica, conceituada no art. 1º, XIII, da referida lei, ressalvando-se nosso entendimento quanto ao
respeito às atribuições dos docentes, se na condição de TAE ingressarem no projeto.

V – CONCLUSÃO

51. Diante do exposto e do que consta dos autos, nos limites da análise jurídica e excluídos
os aspectos técnicos e o juízo de oportunidade e conveniência, entende este Órgão Jurídico que os
servidores técnico-administrativos em educação (TAE) não podem exercer atribuições
exclusivas dos integrantes das carreiras do magistério.

É o parecer, ressalvados os aspectos técnicos, econômicos e financeiros.

À consideração superior.

Fortaleza/CE, 7 de dezembro de 2021 .

LUCIANA DO VALE UCHOA


Procuradora Federal
PF/IFCE

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PROCURADORIA-GERAL FEDERAL
PROCURADORIA FEDERAL JUNTO AO INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO
CEARÁ
GABINETE PROCURADOR-CHEFE
RUA JORGE DUMAR, 1703 - JARDIM AMÉRICA- CEP: 60410-426 - FONE (85) 3401.2326

DESPACHO n. 00489/2021/GAB-PFIFCE/PFIFCEARÁ /PGF/AGU

NUP: 23822.000647/2021-04
INTERESSADOS: INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO CEARÁ - IFCE
ASSUNTOS: DIREITO ADMINISTRATIVO E OUTRAS MATÉRIAS DE DIREITO PÚBLICO

1. Aprovo o PARECER n. 00214/2021/GABPROC/PFIFCEARÁ /PGF/AGU, por sua própria


fundamentação, nos termos do inciso I do art. 8º da Portaria AGU nº 1.399 de 05/10/2009.
2. Ressalte-se que a presente análise cinge-se exclusivamente à manifestação jurídica
emitida, sem qualquer nova análise ou estudo dos autos processuais.
3. Remetam-se os autos ao Consulente.

Fortaleza, 28 de dezembro de 2021.

TARCISIO BESSA DE MAGALHÃES FILHO


PROCURADOR FEDERAL

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